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FISIOLOGIA

Fisiologia
Autora: Profa. Daniella do Carmo Buonfiglio
Colaboradoras: Profa. Fernanda Torello de Mello
Profa. Cristiane Jaciana Furlaneto
Profa. Claudia Ferreira dos Santos Ruiz Figueiredo
Profa. Paula Juliana Ferreira Albero

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Professora conteudista: Daniella do Carmo Buonfiglio

Daniella do Carmo Buonfiglio é licenciada e bacharel em Ciências Biológicas pela Universidade Metodista de
São Paulo e doutora em Ciências (na área de fisiologia humana) pela Universidade de São Paulo. Seu interesse em
neurofisiologia e, particularmente, na cronobiologia conduziu‑a a realizar o doutorado com o professor doutor José
Cipolla‑Neto, do Instituto de Ciências Biomédicas, da USP. Durante seu doutorado, desenvolveu um projeto paralelo
como parte de um estágio na Université Louis Pasteur, em Strasbourg, França, na qual aprendeu novas técnicas
que seriam utilizadas posteriormente em seu trabalho no Brasil. Já pós‑graduada, decidiu continuar sua linha de
pesquisa, no doutorado, sobre os ritmos circadianos na retina de animais diabéticos, aprofundando nos mecanismos
de ação. Durante seu pós‑doutorado, começou a experiência docente com a orientação de alunos de iniciação
cientifica. Atualmente, ministra aulas de fisiologia humana, citologia e histologia na Universidade Paulista (UNIP),
para os cursos de graduação em Biologia, Farmácia e Biomedicina. Recentemente, retornou à pesquisa, realizando
um novo pós‑doutorado na Universidade de São Paulo, estudando o impacto da obesidade no comportamento
maternal e lactação.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

B943f Buonfiglio, Daniella do Carmo.

Fisiologia. / Daniella do Carmo Buonfiglio. – São Paulo: Editora


Sol, 2020.

168 p., il.

Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e


Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230.

1. Fisiologia. 2. Sistema endócrino. 3. Sistema cardiovascular. I. Título.

CDU 612

U508.84 – 20

© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
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Vice-Reitora de Graduação

Unip Interativa – EaD

Profa. Elisabete Brihy


Prof. Marcello Vannini
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli

Material Didático – EaD

Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)

Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Deise Alcantara Carreiro – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos

Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto

Revisão:
Gustavo Guiral
Lucas Ricardi
Sumário
Fisiologia

APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................7

Unidade I
1 SISTEMA RENAL...................................................................................................................................................9
1.1 Morfologia funcional do rim...............................................................................................................9
1.2 Filtração glomerular............................................................................................................................. 14
1.3 Absorção, excreção e formação da urina.................................................................................... 17
1.4 Túbulo proximal..................................................................................................................................... 18
1.5 Alça de Henle.......................................................................................................................................... 20
1.6 Túbulo distal e túbulo coletor.......................................................................................................... 22
2 REGULAÇÃO DO SISTEMA RENAL.............................................................................................................. 23
2.1 Regulação da reabsorção de NaCl e água................................................................................... 23
2.2 Regulação do volume e osmolaridade pelo rim....................................................................... 23
3 SISTEMA ENDÓCRINO.................................................................................................................................... 28
3.1 Classificação dos hormônios............................................................................................................ 28
3.2 Regulação da secreção hormonal.................................................................................................. 31
3.3 Sistema hipotálamo‑hipófise........................................................................................................... 32
3.4 Neuro‑hipófise (posterior)................................................................................................................. 33
3.5 Adeno‑hipófise (anterior).................................................................................................................. 33
3.6 Glândula tireoide................................................................................................................................... 40
3.6.1 Síntese dos hormônios tireoidianos................................................................................................. 41
3.6.2 Secreção dos hormônios tireoidianos............................................................................................. 42
3.6.3 Funções dos hormônios tireoidianos............................................................................................... 43
3.7 Glândula paratireoide.......................................................................................................................... 45
3.8 Pâncreas endócrino.............................................................................................................................. 46
3.9 Glândula adrenal................................................................................................................................... 49
3.9.1 Medula adrenal......................................................................................................................................... 50
4 GÔNADAS – SISTEMAS REPRODUTORES MASCULINO E FEMININO........................................... 54
4.1 Sistema reprodutor masculino........................................................................................................ 54
4.2 Sistema reprodutor feminino........................................................................................................... 60
Unidade II
5 SISTEMA CARDIOVASCULAR........................................................................................................................ 77
5.1 Circulação do sangue (circulação pulmonar e sistêmica).................................................... 79
5.2 Ciclo cardíaco.......................................................................................................................................... 81
5.2.1 Bulhas cardíacas....................................................................................................................................... 83
5.3 Débito cardíaco...................................................................................................................................... 83
5.4 Automatismo cardíaco........................................................................................................................ 84
5.5 Potencial de ação cardíaco................................................................................................................ 85
5.6 Ritmicidade cardíaca e o sistema de condução........................................................................ 88
5.7 Eletrocardiograma (ECG).................................................................................................................... 89
5.8 Regulação da pressão arterial.......................................................................................................... 90
5.9 Regulação neural da pressão arterial............................................................................................ 92
5.10 Regulação humoral da pressão arterial..................................................................................... 94
6 SISTEMA SANGUÍNEO.................................................................................................................................... 97
6.1 Composição do sangue (porção líquida e celular)................................................................... 97
6.2 Funções dos eritrócitos, leucócitos e plaquetas.....................................................................100
6.3 Tipos sanguíneos.................................................................................................................................105
6.4 Hemostasia............................................................................................................................................107

Unidade III
7 SISTEMA RESPIRATÓRIO..............................................................................................................................115
7.1 Vias aéreas – porção condutora e respiratória........................................................................115
7.2 Mecânica ventilatória, volumes e capacidades pulmonares.............................................119
7.3 Difusão dos gases, transporte dos gases pelo sangue e pressões de trocas
gasosas............................................................................................................................................................124
7.4 Transporte de oxigênio no sangue...............................................................................................126
7.5 Controle nervoso da respiração.....................................................................................................130
8 SISTEMA DIGESTÓRIO...................................................................................................................................130
8.1 Estrutura geral do sistema digestório: processos de mastigação,
deglutição, digestão, absorção e defecação....................................................................................130
8.2 Resposta integrada a uma refeição.............................................................................................138
8.3 Glândulas anexas: fígado e pâncreas..........................................................................................150
8.4 Digestão e absorção dos carboidratos........................................................................................152
8.5 Digestão e absorção das proteínas..............................................................................................153
8.6 Digestão e absorção dos lipídios...................................................................................................154
8.7 Secreção e absorção de água e eletrólitos................................................................................155
APRESENTAÇÃO

A disciplina de Fisiologia pretende demonstrar o desempenho e a disposição dos diversos órgãos,


abordando aspectos fisiológicos, anatômicos e moleculares de cada sistema estudado, para que o aluno
possa integrar esse conhecimento à sua área de atuação profissional.

Iniciaremos nossos estudos abordando os aspectos fisiológicos do sistema renal, responsável pela
depuração do organismo. Em seguida, trataremos do sistema endócrino, o qual, por meio dos hormônios,
modula e integra todas as funções do organismo.

Posteriormente serão estudados os sistemas cardiovascular e sanguíneo, responsáveis pelo transporte


e pela distribuição de substâncias para todo organismo; bem como o sistema respiratório, especializado
na captação do oxigênio (O2) e na eliminação do gás carbônico (CO2).

Por fim analisaremos o sistema digestório, que trata dos eventos relacionados à mastigação, à
digestão e à absorção dos nutrientes oriundos da alimentação.

INTRODUÇÃO

A palavra “fisiologia” origina‑se de dois termos gregos: physis (natureza) e logos (estudo). Então, de
forma literal, significa o estudo da natureza. Entretanto, o termo refere‑se aos estudos dos fenômenos
naturais de origens biológicas, tanto animal quanto vegetal. O presente livro abordará a fisiologia como
a ciência que investiga as funções naturais do organismo vivo e, também, os mecanismos pelos quais
ocorrem os diversos fenômenos biológicos essenciais à vida.

As pesquisas sobre fisiologia humana interrogam as características e os mecanismos do


funcionamento do corpo humano. Para que ele funcione adequadamente, é necessário que todos
os sistemas (cardiovascular, respiratório, digestório, renal, endócrino e nervoso) trabalhem de forma
integrada, com o propósito de manter o equilíbrio do meio interno, denominada “homeostase”. Quando
um dos sistemas deixa de funcionar de forma natural, ou seja, não fisiológica, determinado sistema
pode perder total ou parcialmente a função; nesse momento, entramos em outro campo de estudo: a
patofisiologia. Porém, para entendermos os mecanismos das doenças, antes, precisamos entender como
é o funcionamento de um organismo saudável, e isso é responsabilidade da fisiologia.
O estudante sabe, baseado em experiência de vida (de forma empírica), o que é fisiologia. Ao decorrer
das unidades, ele perceberá que diversos eventos fisiológicos, aqui descritos, são observáveis em seu dia
a dia. Ele entenderá, por exemplo, porque salivamos quando sentimos o cheiro de comida apetitosa ou
porque nossas avós estavam corretas quando diziam que, para crescer, precisávamos dormir. O corpo
funciona a partir de diversos processos complexos, que serão abordados neste livro de forma clara e
bastante harmoniosa para facilitar a aprendizagem do estudante de ciências biológicas.

Pretendemos, com este livro, não apenas contribuir para a formação de futuros biólogos, mas
também despertar a disposição, em cada aluno, ao aprofundamento na investigação dessa poderosa
máquina, que é o corpo humano.

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FISIOLOGIA

Unidade I
1 SISTEMA RENAL

1.1 Morfologia funcional do rim

O organismo humano apresenta dois rins, órgãos com a forma de feijão situados na região lombar,
de ambos os lados da coluna vertebral (figura 65). Os rins são órgãos que filtram o sangue e produzem
a urina, uma solução aquosa que contém grande número de substâncias dissolvidas, muitas delas
produtos do metabolismo celular que são excretados, como ureia, ácido úrico, creatinina e outros, mas
também eletrólitos como NaCl, KCl, ácidos, bases como o bicarbonato, íons cálcio, fosfato, sulfato,
entre outros, cuja excreção urinária contribui para a regulação da constituição hidrossalina do meio
interno, particularmente do meio extracelular. Portanto, a partir da filtração sanguínea, as duas funções
principais do rim são:

• a eliminação de produtos tóxicos provenientes da degradação de moléculas do metabolismo


celular; e

• a regulação da constituição do meio interno, por meio da regulação da reabsorção ou secreção de


vários componentes desse meio (CURI; PROCOPIO, 2009).

Veia cava inferior

Rim Rim

Artéria aorta

Ureter

Bexiga urinária
Próstata

Uretra

Figura 1 – Anatomia do aparelho excretor

9
Unidade I

O rim é composto por uma parte mais externa ou superficial, o córtex renal, e a porção interna, a
medula renal, constituída por pirâmides, cuja ponta está envolvida pelos cálices; eles, por sua vez, vão
juntar‑se na pélvis renal, estrutura membranosa que vai coletar a urina liberada na ponta das pirâmides
e levá‑la ao ureter (figura 66). Os dois ureteres, um proveniente de cada rim, terminam na bexiga, e de
lá a urina será levada ao exterior pela uretra, cujo meato ou abertura externa está localizado na ponta
da glande do pênis, no homem (figura 67), e na região vulvar, na mulher (CURI; PROCOPIO, 2009).

Cápsula glomerular
(ou cápsula de Bowman) Corpúsculo renal
(ou corpúsculo
Cápsula de Malpighi)
Glomérulo
Córtex
Medula Néfron
Duto coletor
Duto coletor maior
(ou duto de Bellini)
Artéria renal Artéria interilobular
Sangue
Árvore cortical
Hilo
Veia renal Cálice menor
Pélvis ou bacinete Cálice maior

Glomérulos
justamedulares
Ureter
Pirâmide
Papila da pirâmide Glomérulos
Veia interiobular
Rim completo

Figura 2 – Anatomia interna do rim humano

A circulação renal é iniciada com a artéria renal, entrando no rim pelo hilo, em proximidade ao
ureter, e daí divide‑se em artérias interlobares e arqueadas. Dessas artérias, originam as artérias
interlobulares, das quais partem as arteríolas aferentes dos glomérulos renais, estruturas responsáveis
pela ultrafiltração do sangue. As arteríolas eferentes dos glomérulos dão origem aos capilares
peritubulares, que vão irrigar os túbulos renais, e por fim vão originar as vênulas e veias renais. As
arteríolas e os capilares mais profundos, próximos à medula renal, podem dar origem a longas alças
capilares que se aprofundam na medula, podendo atingir a ponta das pirâmides renais. Somente depois de
completar esse percurso, de volta ao córtex, é que essas alças vão formar vênulas e veias. Tais vasos capilares
longos são chamados vasos retos (vasa recta) e têm grande importância no sistema contracorrente da
medula renal, responsável pela concentração da urina e formação de urina hipertônica. Há também
vasos retos formados diretamente a partir das artérias interlobulares, que não passam pelo glomérulo.
Cada um dos glomérulos, por sua vez, dá origem a um néfron (figuras 68 e 69): uma estrutura tubular
que vai modificar o ultrafiltrado do sangue por reabsorção da sua maior parte e por secreção de algumas
substâncias. A urina final formada será levada pelos ductos coletores até a ponta das pirâmides renais
e daí à pélvis renal, ureter, bexiga e, por meio da uretra, ao exterior. Em seu conjunto, os dois rins contêm

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FISIOLOGIA

cerca de 2 milhões de néfrons, tendo cada néfron a capacidade de formar urina por si só. Por conseguinte,
na maioria dos casos, não é necessário considerar todo o rim, mas apenas a função de um único néfron,
para explicar a função do rim. O néfron é constituído basicamente por:

• um glomérulo, pelo qual o líquido é filtrado do sangue; e

• um longo túbulo no qual o líquido filtrado é transformado em urina no seu trajeto até a pélvis
renal (GUYTON; HALL, 2011; CURI; PROCOPIO, 2009).

Arteríola eferente

Cápsula glomerular
Túbulo contorcido proximal

Glomérulo Túbulo
renal contorcido
distal
Arteríola
aferente

Alça néfrica
Duto
coletor

Figura 3 – Estrutura do néfron: a unidade funcional do rim

As características dos néfrons diferem ligeiramente, dependendo de sua profundidade no interior da


massa renal. Os néfrons cujos glomérulos ficam situados próximo à superfície do rim são denominados
néfrons corticais. Esses néfrons possuem segmentos delgados muito curtos em suas alças de Henle
(alça néfrica), e as alças penetram apenas por uma distância muito pequena na porção externa da medula.
Cerca de um quinto a um terço dos néfrons apresenta glomérulos localizados na profundidade do córtex
renal, próximo à medula; esses néfrons são denominados néfrons justamedulares. Possuem alças de
Henle muito longas com segmentos delgados especialmente longos que penetram profundamente na
zona interna da medula; algumas seguem até as pontas dos cálices renais. A primeira estrutura que faz
parte do néfron é o glomérulo, em que ocorre o processo de ultrafiltração; em seguida, o ultrafiltrado
penetra em um sistema de túbulos renais, o primeiro dos quais é o túbulo contorcido proximal, repleto
de convoluções que lhe aumentam o comprimento e a área. Segue‑se a parte reta do túbulo proximal,
aprofundada linearmente em direção à medula renal. Essa parte reta já integra a alça de Henle, seguindo‑se
o ramo descendente delgado dessa alça, que é longa nos néfrons justamedulares, percorrendo a faixa
interna da medula externa e toda a medula interna, mas que é quase inexistente nos néfrons corticais,
nos quais não penetra na medula interna. Após a dobra da alça, inicia‑se o ramo ascendente delgado da
alça de Henle, seguido pelo ramo ascendente grosso ou espesso da alça. A alça de Henle é a estrutura
mais importante na geração da hipertonicidade urinária, que é baseada na disposição em contracorrente
11
Unidade I

desta alça. Esse ramo ascendente aproxima‑se novamente ao glomérulo renal, e é nesse local que se
situa a mácula densa, estrutura diferenciada do túbulo que funciona como um detector de variações na
concentração iônica do lúmen tubular, sendo parte de um mecanismo de regulação da reabsorção de sal.
Em seguida, já de volta ao córtex renal, inicia‑se o túbulo contorcido distal, ao qual se segue um curto
segmento denominado túbulo conector. Começa em seguida o duto coletor cortical, que é formado
pela junção de vários néfrons, e que se aprofunda em direção à medula renal. Seguem‑se o duto coletor
medular externo, na medula externa, e o coletor medular interno, na medula interna, o qual se abre na
ponta da pirâmide renal. O coletor medular externo pode ser subdividido em segmentos da faixa externa e
da faixa interna da medula renal (GUYTON; HALL, 2011; CURI; PROCOPIO, 2009).

Uma característica fundamental da circulação renal é a capilarização na própria circulação arterial,


isto é, entre as arteríolas aferente e eferente do glomérulo. A arteríola aferente subdivide‑se em um tufo
capilar, um novelo de capilares, e esses capilares juntam‑se novamente para formar a arteríola eferente,
sendo que esta agora vai formar os capilares peritubulares, equivalentes aos capilares dos outros tecidos
do organismo. A consequência dessa disposição é que a pressão nos capilares glomerulares é muito
mais elevada (45‑50 mmHg), que aquela nos capilares peritubulares (10‑15 mmHg). Isso possibilitará
a ultrafiltração do plasma nos capilares glomerulares. Esses capilares são cobertos por uma camada de
células epiteliais, que constituem o folheto visceral da cápsula de Bowman (figura 68), estrutura que
envolve o tufo capilar. O ultrafiltrado que é formado nesse local permanecerá inicialmente entre este
folheto visceral e a parede externa da cápsula de Bowman, o seu folheto parietal, também constituído
por uma camada de células epiteliais. O glomérulo também consta de uma membrana filtrante que,
de dentro do capilar para fora, consta do endotélio capilar, que não é contínuo, mas fenestrado,
com espaços livres entre suas células. Abaixo dessas células encontra‑se a membrana basal, estrutura
constituída de material fibroso, predominantemente de proteínas ligadas a hidratos de carbono. Por
fora, estão as células epiteliais, denominadas podócitos, que apresentam prolongamentos em forma de
pés (pedicélios), que se inserem na membrana basal (CURI; PROCOPIO, 2009).
Glomérulo Cápsula de
de Malpighi Bowman
Arteríola
aferente Arteríola
eferente

Túbulo distal Túbulo


proximal

Artéria renal
Túbulo
Veia renal coletor

Alça de
Henle

Figura 4 – Detalhe das estruturas que compõem o néfron

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FISIOLOGIA

Em volta dos capilares e na base em que se começa a formar o tufo capilar há um conjunto
de células, as células mesangiais, que têm características contráteis e apresentam fibrilas
musculares semelhantes àquelas das células do músculo liso, e são sensíveis a peptídeos
como angiotensina e peptídeo atrial natriurético, que podem elevar a sua contração ou
dilatação, respectivamente, modificando a dinâmica do filtrado glomerular. Por outro lado,
no ângulo entre as arteríolas aferente e eferente, está um conjunto de células denominado
aparelho justaglomerular, composto pela mácula densa, conjunto de células especializadas
da parede do início do túbulo contorcido distal, que se opõe ao glomérulo nesse local. Fazem
parte do aparelho justaglomerular também as células situadas no ângulo entre as arteríolas,
constituindo a almofada polar, e células musculares lisas modificadas da parede da arteríola
aferente, portadoras de grânulos de renina, uma enzima que participa da formação do
peptídeo angiotensina, regulador do tônus vascular que causa a elevação da pressão arterial
por constrição de arteríolas em todo o organismo, por exemplo, quando há perda de sangue
ou retração do volume extracelular. O aparelho justaglomerular, apesar de não se conhecerem
ainda todos os mecanismos de sua atuação, é um importante componente da regulação da
função renal, incluindo a magnitude do ritmo de filtração glomerular (RFG) e da reabsorção de
água e sal ao longo do néfron.

O túbulo contorcido proximal é constituído de três segmentos principais, S1, S2, e S3, com
características celulares próprias. A porção inicial do túbulo, S1, é constituída por células ricas em
mitocôndrias e com orla em escova bem desenvolvida, demonstrando uma grande capacidade de
reabsorção de fluido. O segmento S2 constitui a maior parte do túbulo contorcido proximal (cortical), e
o S3 principalmente a porção reta descendente deste segmento tubular. Esses segmentos tendem a ter
cada vez menos mitocôndrias em direção à alça de Henle, e orla em escova menos desenvolvida (CURI;
PROCOPIO, 2009).

Os ramos delgados da alça de Henle têm células muito achatadas, com poucas mitocôndrias,
demonstrando assim pouca atividade metabólica e de transporte. Mas têm, mesmo assim, muita
importância no sistema de concentração e diluição da urina. O segmento mais importante
desse sistema é o ramo ascendente grosso, de células cuboides, ricas em mitocôndrias, e
responsáveis por uma parcela importante da reabsorção de sal, embora esse segmento seja
impermeável à água. Na região medular, na faixa externa, está o coletor medular externo e,
na interna, o coletor medular interno. Na porção terminal da pirâmide renal, denominada
papila, está o coletor papilar, mais grosso que os demais devido à junção de vários coletores
mais externos. A partir do segmento de conexão situam‑se pelo menos dois tipos celulares,
as células principais, responsáveis pela absorção de NaCl e pela secreção de K +, e as células
intercaladas, responsáveis pela acidificação da urina, por meio da secreção de H + e da
reabsorção ou secreção de bicarbonato. Nos coletores medulares interno e papilar, a atividade
de transporte torna‑se mais limitada, ocorrendo no fim somente um tipo celular responsável
pelos vários tipos de transporte. Uma característica interessante das células do duto coletor
é sua permeabilidade à água, que, na ausência do hormônio antidiurético, é muito baixa,
levando à produção de uma urina muito diluída (hipotônica). No entanto, sua permeabilidade
à água eleva‑se significativamente na presença desse hormônio, o que causa reabsorção de
água e formação de urina hipertônica (concentrada). A permeabilidade à água dos segmentos
13
Unidade I

tubulares deve‑se à presença de canais de água em suas membranas celulares, que são
moléculas proteicas, denominadas aquaporinas, inseridas nessas membranas. As modificações
de permeabilidade devem‑se à remoção ou inserção desses canais de água.

Uma característica importante do epitélio tubular renal é a densidade de ligação entre as


células, que depende da presença das zônulas de oclusão ( tight junctions), que são moléculas
proteicas localizadas próximas à superfície apical e que ligam células adjacentes. Tais complexos
limitam o movimento de fluido e substâncias entre as células, pela assim denominada via
paracelular, cuja permeabilidade varia consideravelmente nos vários segmentos do néfron
(CURI; PROCOPIO, 2009).

Cerca de 20‑25% do volume de sangue bombeado pelo coração passa pelos rins por unidade
de tempo. Eis uma magnitude de irrigação tecidual muito maior que aquela de todos os demais
tecidos, e reflete a característica particular dessa circulação; o sangue que irriga o rim não tem
unicamente a função nutriente, mas majoritariamente uma função de depuração desse sangue,
além de regular a constituição do meio interno. Sendo, no humano, o fluxo sanguíneo renal (FSR)
de cerca de 1200 ml/min, e o debito cardíaco de 5000 ml/min, em aproximadamente 4 minutos
todo o sangue do organismo será distribuído pelos aproximadamente 2 milhões de néfrons dos
dois rins, onde será filtrado. A partir da pressão média da artéria renal, da ordem de 100 mmHg,
igual à pressão sistêmica, há uma queda desta pressão ao longo da arteríola aferente, um vaso de
resistência, até 50 mmHg no capilar glomerular. Ao longo dele, há pouca modificação da pressão,
que cai novamente ao longo da arteríola eferente até cerca de 15 mmHg, valor agora semelhante
aos dos capilares de outros tecidos, decrescendo depois para os valores venosos. A característica
fundamental dessa circulação é a interposição de uma capilarização entre duas arteríolas, que
mantém a pressão elevada, base para a formação do ultrafiltrado glomerular. A formação desse
ultrafiltrado depende essencialmente das forças descritas por Starling, isto é, do equilíbrio de
pressão hidrostática intracapilar, empurrando o fluido por meio da sua parede e da pressão
oncótica ou coloidosmótica, que tende a manter o fluido (água e solutos dissolvidos) dentro dos
capilares. As proteínas são as únicas moléculas que mantêm pressão osmótica em relação à parede
capilar por terem uma massa molecular elevada, não sendo a parede dos capilares permeável
a elas, ao contrário das demais moléculas, bem menores, como íons, glicose, aminoácidos etc.
Em consequência, o ultrafiltrado é uma solução de características semelhantes ao plasma, porém
quase sem proteínas.

1.2 Filtração glomerular

A filtração glomerular é o processo que inicia a formação da urina. Nesse evento, cerca de 20%
do plasma que entra no rim e alcança os capilares glomerulares são filtrados, atingindo o espaço
de Bowman. Os 80% de plasma restante, que não foram filtrados, circulam ao longo dos capilares
glomerulares, atingindo as arteríolas eferentes, dirigindo‑se para a circulação capilar peritubular e
retornando à circulação geral (figura 69) (AIRES, 2008; CURI; PROCOPIO, 2009).

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FISIOLOGIA

Arteríola Arteríola
aferente eferente

Cápsula de
Bowman
Glomérulo

Túbulo
proximal

Filtrado

Figura 5 – Filtração glomerular

O fluido filtrado é um ultrafiltrado do plasma e contém todas as substâncias existentes no plasma, exceto
a maioria das proteínas e substâncias que se encontram ligadas a elas, como é o caso dos cerca de 40% do
cálcio circulante. As células do sangue também não passam pelo processo de filtração glomerular. Como
água e soluto são filtrados em proporções iguais, a composição e a concentração do filtrado glomerular
são quase iguais às plasmáticas. Consequentemente, a composição e a concentração do fluido que atinge
a arteríola eferente também são iguais às plasmáticas, porém sua concentração proteica é mais elevada.
Em humanos, o valor da filtração glomerular é cerca de 120 ml/min (CURI; PROCOPIO, 2009).

A barreira de filtração glomerular determina a composição do ultrafiltrado plasmático, restringindo


a filtração de moléculas com base em seu tamanho e carga elétrica. Em geral, moléculas neutras, com
raio menor a 20 Å, são filtradas livremente, moléculas com mais de 42 Å não são filtradas e moléculas
com raios entre 20 e 42 Å são filtradas em graus variáveis. Por exemplo, a albumina plasmática, proteína
com raio de 35.5 Å, é pouco filtrada, e normalmente é reabsorvida com avidez pelo túbulo proximal –
na prática, não se nota albumina na urina. Para qualquer raio molecular, as moléculas catiônicas são
filtradas com mais facilidade que as aniônicas. A menor intensidade de filtração das moléculas aniônicas
explica‑se pela presença de glicoproteínas com carga negativa na superfície de todos os componentes da
barreira de filtração glomerular. Essas glicoproteínas com carga negativa repelem moléculas com carga
semelhante. Como a maior parte das proteínas plasmáticas tem carga negativa, as cargas negativas
da barreira de filtração restringem a filtração de proteínas, com raio molecular de 20 a 40 Å ou mais
(KOEPPEN; STANTON, 2009).

As forças responsáveis pela filtração glomerular do plasma são as mesmas que estão presentes em
todos os leitos capilares. A ultrafiltração ocorre porque as forças de Starling (pressões hidrostática e
oncótica) impulsionam o líquido da luz dos capilares glomerulares por meio da barreira de filtração, para
o espaço de Bowman. A pressão hidrostática do capilar glomerular (PCG) está orientada para promover o
movimento de líquido do capilar glomerular para o espaço de Bowman. Como o ultrafiltrado glomerular
é desprovido de proteínas, a pressão oncótica do espaço de Bowman (πEB) aproxima‑se a zero. Portanto,
a PCG é a única força que favorece à filtração. A pressão hidrostática no espaço de Bowman (PEB) e a
pressão oncótica do capilar glomerular (πCG) se opõem à filtração (KOEPPEN; STANTON, 2009).

15
Unidade I

Existe uma pressão efetiva de ultrafiltração (PUF) de 17 mmHg na extremidade aferente do glomérulo;
já, na extremidade eferente, seu valor é de 8 mmHg (em que PUF = PCG – PEB – πCG). É importante frisar
dois pontos adicionais com relação às forças de Starling e a essa variação de pressão. Em primeiro lugar,
a PCG diminui ligeiramente ao longo do capilar, devido à resistência ao fluxo, causada pelo comprimento
do capilar. Em segundo, a πCG aumenta ao longo do capilar glomerular. Como a água é filtrada e as
proteínas continuam no capilar glomerular, aumenta a concentração de proteínas no capilar e também
a πCG (KOEPPEN; STANTON, 2009).

A intensidade de filtração glomerular (IFG) é proporcional à soma das forças de Starling existentes
por meio dos capilares da seguinte forma:

IGF = Kf [(PCG – PEB) – (πCG – πEB)]

em que Kf é o produto da permeabilidade intrínseca do capilar glomerular pela área de superfície


glomerular disponível para a filtração. A intensidade da filtração glomerular é consideravelmente maior
nos capilares glomerulares que nos sistêmicos, principalmente, porque o Kf é cerca de 100 vezes maior
nos capilares glomerulares. Além disso, a PCG é em torno de duas vezes maior que a pressão hidrostática
nos capilares sistêmicos.

A IFG pode ser alterada modificando‑se o Kf ou qualquer uma das forças de Starling. Em pessoas
saudáveis, a IFG é regulada por alterações na PCG, mediadas, principalmente, por alterações na resistência
das arteríolas aferente ou eferente. A PCG pode ser afetada por três maneiras:

• variações da resistência da arteríola aferente, em que a redução da resistência aumenta a PCG e a


IFG e o aumento da resistência as reduz;
• variações da resistência da arteríola eferente, em que a redução da resistência reduz a PCG e a IFG,
e o aumento da resistência as eleva; e
• variações da pressão arteriolar renal, em que o aumento da pressão arterial aumenta,
transitoriamente, a PCG (o que eleva a IFG), e a redução da pressão arterial diminui, transitoriamente,
a PCG (o que reduz a IFG).

O fluxo sanguíneo renal (FSR) executa diversas funções importantes:

• determina, indiretamente, a IFG;


• modifica a intensidade da reabsorção de solutos e de água pelo túbulo proximal;
• participa da concentração e da diluição da urina;
• fornece O2, nutrientes e hormônios às células do néfron e devolve CO2, bem como o líquido e os
solutos reabsorvidos à circulação geral; e
• transporta substratos que serão excretados na urina (KOEPPEN; STANTON, 2009).

16
FISIOLOGIA

As arteríolas aferentes e eferentes e as artérias interlobulares são os principais vasos de resistência


dos rins, determinando, dessa forma, a resistência vascular renal. Assim como na maioria dos órgãos, os
rins regulam seu fluxo sanguíneo, ajustando a resistência vascular, em resposta às alterações da pressão
arterial. Esses ajustes são tão precisos que o fluxo sanguíneo permanece relativamente constante
enquanto a pressão varia entre 90 e 180 mmHg. A IFG também é regulada ao longo dessa mesma
faixa de pressões arteriais. O fenômeno pelo qual o FSR e a IFG se mantêm relativamente constantes,
chamado autorregulação, é executado por modificações de resistência vascular, principalmente pelas
arteríolas aferentes dos rins.

A autorregulação do FSR e da IFG se dá por meio de dois mecanismos. Um deles responde a alterações
da pressão arterial, e outro a alterações da concentração de NaCl no líquido tubular. Ambos regulam
o tônus da arteríola aferente. O mecanismo sensível à pressão, chamado mecanismo miogênico, está
relacionado à propriedade intrínseca da musculatura lisa vascular de se contrair quando distendida. Da
mesma forma, quando a pressão arterial se eleva e a arteríola aferente se distende, a musculatura lisa
se contrai. Como o aumento da resistência arteriolar contrabalança o aumento da pressão, o FSR e a
IFG permanecem constantes. O segundo mecanismo é conhecido como feedback tubuloglomerular.
Esse mecanismo envolve uma alça de feedback na qual a mácula densa do aparelho justaglomerular
afere a concentração de NaCl no líquido tubular, convertendo‑a em um ou mais sinais que afetam a
resistência da arteríola aferente e, portanto, a IFG. Quando a IFG aumenta, elevando a concentração
de NaCl no líquido tubular, mais NaCl penetra nas células da mácula densa, o que leva ao aumento
da formação e liberação de ATP e adenosina (um metabolito do ATP) por essas células, provocando a
vasoconstrição da arteríola aferente. Essa vasoconstrição, por sua vez, faz com que a IFG retorne ao nível
normal. Por sua vez, quando a IFG e a concentração de NaCl no líquido tubular diminuem, menos NaCl
penetra nas células da mácula densa, reduzindo a produção e liberação de ATP e adenosina. A queda
da concentração de ATP e adenosina causa a vasodilatação da arteríola aferente, normalizando a IFG. O
oxido nítrico (NO), vasodilatador produzido pela mácula densa, atenua o feedback tubuloglomerular, e a
angiotensina II estimula‑o. Por tanto, a mácula densa pode liberar vasoconstritores e um vasodilatador
que executam ações opostas sobre a arteríola aferente (KOEPPEN; STANTON, 2009).

1.3 Absorção, excreção e formação da urina

A formação de urina envolve três processos básicos:

• a ultrafiltração do plasma pelo glomérulo;

• a reabsorção de água e eletrólitos do ultrafiltrado; e

• a secreção dos solutos selecionados para o fluido tubular. Após a sua formação, o filtrado
glomerular circula pelos túbulos renais e a sua composição e volume são modificados pelos
mecanismos de reabsorção e secreção tubular, existentes ao longo do néfron. É chamado de
reabsorção tubular renal o processo de transporte de uma substância do interior tubular para
o capilar sanguíneo que envolve o túbulo; o mecanismo no sentido contrário é denominado
secreção tubular. Pelos processos de reabsorção e secreção, os túbulos renais modulam o volume
e a composição da urina, que, por sua vez, permitem que os túbulos controlem precisamente o
17
Unidade I

volume, osmolaridade, composição e pH dos compartimentos dos fluidos extracelular e intracelular.


Finalmente, a excreção renal é o processo pelo qual a urina é eliminada pela uretra (AIRES, 2008;
KOEPPEN; STANTON, 2009).

Portanto, o processo de depuração renal, além de se dar pela filtração glomerular, pode também
ser feito por meio da secreção tubular, já que o sangue que passou pelos glomérulos e não foi filtrado
atravessa uma segunda rede capilar, peritubular. Por outro lado, graças à reabsorção tubular, muitas
substâncias depois de filtradas voltam ao sangue que percorre os capilares peritubulares entrando na
circulação sistêmica pela veia renal que sai do órgão.

A reabsorção e a secreção dos vários solutos por meio do epitélio renal são feitas por mecanismos
específicos, passivos ou ativos, localizados nas membranas da célula tubular. Todos os sistemas de transporte
são interdependentes. Por exemplo, um mecanismo importante como a reabsorção de Na+, que utiliza uma
fração significativa de energia, exerce uma grande influência no gradiente eletroquímico através do epitélio
tubular, o que acaba afetando o transporte dos demais solutos pela parede tubular. Além disso, a reabsorção de
sódio e cloreto, os mais abundantes solutos existentes no filtrado glomerular, estabelece gradientes osmóticos
através do epitélio tubular que permitem a reabsorção passiva de água. Ela passa do interstício para a circulação
peritubular por meio de um balanço entre as pressões oncótica (exercida pelas proteínas plasmáticas) e
hidrostática (existentes no interior dos capilares peritubulares). A reabsorção de água aumenta a concentração
dos solutos dentro do túbulo; portanto, a reabsorção de água modifica o gradiente químico que medeia o
transporte passivo de determinados solutos por meio do epitélio, como no caso da ureia (AIRES, 2008).

Quantitativamente, a reabsorção de NaCl e água representa a principal função dos néfrons.


Aproximadamente 25000 mEq/dia de Na+ e 179 l/dia de água são reabsorvidos nos túbulos renais. Além
disso, o transporte renal de muitos outros solutos importantes está ligado direta ou indiretamente à
reabsorção de Na+ (KOEPPEN; STANTON, 2009).

1.4 Túbulo proximal

O túbulo proximal reabsorve em termos aproximados 67% da água filtrada, Na+, Cl‑, K+, e outros
solutos. Além disso, o túbulo proximal reabsorve quase toda a glicose e aminoácidos, filtrados pelo
glomérulo. O elemento‑chave na reabsorção no túbulo proximal é a Na+‑K+‑ATPase (bomba de sódio e
potássio) na membrana basolateral (membrana em contato com os capilares) que transporta ativamente
três íons sódio para fora da célula e dois íons potássio para dentro dela.

O Na+ é reabsorvido por diferentes mecanismos na primeira e segunda metade do túbulo proximal.
Na primeira metade, o Na+ é reabsorvido, principalmente, com bicarbonato e diversos outros solutos
(glicose, aminoácidos, fósforo e lactato). Em contrapartida, na segunda metade, o Na+ é reabsorvido,
em sua maior parte, com Cl. Tal disparidade é mediada pelas diferenças nos sistemas de transporte,
na primeira e segunda metades do túbulo proximal e nas diferenças da composição do fluido tubular,
nessas regiões (KOEPPEN; STANTON, 2009).

Qualquer Na+ que entre na célula por meio da membrana apical (a que está em contato com os
túbulos) deixa a célula e entra no sangue via Na+,K+‑ATPase. Resumidamente, a reabsorção de Na+ na
18
FISIOLOGIA

primeira parte do túbulo proximal é acoplada à do bicarbonato e a diversas moléculas orgânicas. A


reabsorção de muitas moléculas orgânicas é tão ávida que elas são quase completamente removidas do
fluido tubular na primeira metade do túbulo proximal. A reabsorção de bicarbonato de sódio e do sódio
com solutos orgânicos estabelece um gradiente osmótico transtubular (onde a osmolaridade do fluido
intersticial que banha o lado basolateral das células é mais alto que a osmolaridade do fluido tubular), o
que gera a força que impulsiona a reabsorção passiva de água por osmose. Como mais água do que Cl‑ é
reabsorvido na primeira metade do túbulo proximal, a concentração de Cl‑ no fluido tubular aumenta
ao longo do comprimento no túbulo proximal.

Na segunda metade do túbulo, o Na+ é reabsorvido em sua maior parte com Cl‑ pelas vias
transcelular (através das células) e paracelular (entre as células). O Na+ é, em sua maioria, reabsorvido
com Cl‑, em vez de ser reabsorvido com os solutos orgânicos ou bicarbonato como ânion que o
acompanha, porque os mecanismos de transporte de Na+, na segunda metade diferem dos da primeira
(KOEPPEN; STANTON, 2009).

O túbulo proximal reabsorve 67% de água filtrada. A força propulsora para a reabsorção de água
é o gradiente osmótico transtubular estabelecido pela reabsorção de solutos (NaCl, glicose‑Na+). A
reabsorção de Na+ com os solutos orgânicos, bicarbonato e Cl‑ do fluido tubular no espaço lateral
intercelular reduz a osmolaridade do fluido tubular e aumenta a osmolaridade do espaço intercelular
lateral. Como as membranas apical e basolateral das células do túbulo proximal expressam canais de
água (aquaporinas), a água é principalmente reabsorvida através das células do túbulo proximal. Uma
pequena porcentagem de água também é reabsorvida através das junções fechadas (via paracelular).
O acúmulo de fluidos e de solutos no espaço intercelular lateral aumenta a pressão hidrostática nesse
compartimento. A pressão hidrostática aumentada força o fluido e os solutos para os capilares. Assim, a
reabsorção de água segue a reabsorção de solutos no túbulo proximal.

Observação

O nome da doença diabetes mellitus deve‑se à presença de açúcar na


urina (mellitus, em latim, significa “mel”), pela saturação do transporte
renal glicose‑Na+, em decorrência da hiperglicemia.

As poucas proteínas filtradas pelo glomérulo são reabsorvidas no túbulo proximal. Os hormônios
peptídicos, pequenas proteínas e pequenas quantidades de proteínas grandes, como a albumina, são
filtrados pelo glomérulo. Assim, apenas uma pequena porcentagem de proteínas passa pelo glomérulo
e entram no espaço de Bowman. Entretanto, a quantidade de proteína filtrada por dia é significativa,
porque a IFG é alta (KOEPPEN; STANTON, 2009).

As proteínas entram nas células por endocitose intactas ou sendo parcialmente degradadas pelas
enzimas na superfície de células do túbulo proximal. Uma vez que as proteínas e peptídeos estão na
célula, as enzimas as digerem nos aminoácidos constituintes, que, então, deixam a célula, por meio da
membrana basolateral, pelas proteínas de transporte e são devolvidas para o sangue. Normalmente,
esse mecanismo reabsorve quase todas as proteínas filtradas, e, assim, a urina fica livre de proteínas.
19
Unidade I

Entretanto, devido a esse mecanismo ser facilmente saturado, o aumento das proteínas filtradas
causa proteinúria (presença de proteínas na urina). A ruptura da barreira de filtração glomerular às
proteínas aumenta a filtração de proteínas e resulta em proteinúria, um quadro visto com frequência
nas doenças do rim.

As células do túbulo proximal também secretam cátions e ânions orgânicos. A secreção de cátions
e ânions orgânicos pelo túbulo proximal desempenha um papel‑chave na limitação do corpo aos
compostos tóxicos derivados de reservas endógenas e exógenas (isto é, xenobióticos). Muitos dos
ânions e cátions secretados pelo túbulo proximal são os produtos finais do metabolismo, que circulam
no plasma. O túbulo proximal também secreta numerosos compostos orgânicos exógenos, incluindo
numerosos fármacos e compostos tóxicos. Muitos desses compostos orgânicos podem ligar‑se às
proteínas plasmáticas, e não são prontamente filtrados. Portanto, apenas, uma pequena proporção
dessas substâncias potencialmente toxicas são eliminadas do corpo via excreção após apenas sua
filtração. Tais substâncias são também secretadas dos capilares peritubulares para o fluido tubular. Esses
mecanismos secretórios são muito potentes e removem quase todos os ânions e cátions orgânicos do
plasma que entram nos rins. Assim, essas substâncias são removidas do plasma por filtração e secreção
(KOEPPEN; STANTON, 2009).

1.5 Alça de Henle

A alça de Henle reabsorve aproximadamente 25% do NaCl filtrado e 15% da água filtrada. A
reabsorção de NaCl, na alça de Henle, ocorre em ambos os segmentos ascendente fino e ascendente
grosso. O ramo descendente fino não reabsorve NaCl. A reabsorção de água ocorre exclusivamente no
ramo descendente fino via aquaporinas. O ramo ascendente é impermeável à água. Além disso, Ca2+ e
bicarbonato são também reabsorvidos na alça de Henle.

O segmento ascendente fino reabsorve NaCl por um mecanismo passivo. A reabsorção de água,
mas não de NaCl no ramo descendente fino, aumenta a NaCl no fluido tubular que entra pelo ramo
ascendente fino. Como o fluido rico em NaCl move‑se em direção ao córtex, o NaCl difunde‑se para
fora do fluido tubular, por meio do ramo ascendente fino, para o fluido intersticial medular, ao longo do
gradiente de concentração, dirigido do fluido tubular para o interstício.

O elemento‑chave para a reabsorção de soluto pelo segmento ascendente espesso é a Na+‑K+‑ATPase,


na membrana basolateral. Como ocorre com a reabsorção no túbulo proximal, a reabsorção de cada soluto
pelo ramo ascendente espesso é ligado à Na+‑K+‑ATPase. Essa bomba mantém baixa a concentração de
Na+ intracelular, o que gera um gradiente químico favorável para o movimento de Na+ do fluido tubular
para a célula. O movimento de Na+ através da membrana apical a célula é mediado pelo simporte
1Na+‑1K+‑2Cl‑ (NKCC2) que acopla o movimento de um Na+ aos de um K+ e dois Cl‑. Usando a energia
liberada pelo movimento descendente de Na+ e Cl‑, esse simporte direciona o movimento K+ para o
interior da célula. O canal de K+ na membrana plasmática apical desempenha um papel importante na
reabsorção de NaCl pelo ramo ascendente espesso. Esse canal de K+ permite que o K+ seja transportado
para a célula via o NKCC2 para reciclá‑lo de volta no fluido tubular. Como a concentração de K+ no fluido
tubular é relativamente baixa, esse K+ é necessário para a operação continua do NKCC2. Um antiporte
de Na+‑K+ (saída de Na+ e entrada de K+ na célula) na membrana apical da célula também medeia a
20
FISIOLOGIA

reabsorção de Na+, assim como a secreção H+ (por meio da reabsorção de bicarbonato) no segmento
ascendente espesso. O Na+ deixa a célula por meio da membrana basolateral via a Na+‑K+‑ATPase,
enquanto o K+, Cl‑ e o bicarbonato deixam a célula pela membrana basolateral, por vias distintas
(KOEPPEN; STANTON, 2009).

A voltagem no decorrer do ramo ascendente espesso é importante para a reabsorção de diversos


cátions. O fluido tubular tem carga positiva, em relação ao sangue, devido à localização única das
proteínas de transporte, nas membranas apical e basolateral. Dois pontos são importantes:

• o transporte aumentado de NaCl pelo ramo ascendente espesso aumenta a amplitude da voltagem
positiva no lúmen; e

• essa voltagem é uma força impulsionadora importante para a reabsorção de diversos cátions,
incluindo Na+, K+, Mg2+ e Ca2+, pela via paracelular (KOEPPEN; STANTON, 2009).

Em resumo, a reabsorção de NaCl no ramo ascendente espesso ocorre pelas vias transcelular e
paracelular. Cinquenta por cento da reabsorção de NaCl é transcelular e 50% é paracelular. Como o
segmento ascendente espesso não reabsorve água, a reabsorção de NaCl e de outros solutos reduz a
osmolaridade do fluido tubular para menos de 150 mOsm/kg de água. Assim, devido ao ramo ascendente
espesso produzir um fluido que é diluído em relação ao plasma, o segmento ascendente da alça de Henle
é chamado de segmento diluidor.

Lembrete

A osmolaridade fisiológica no fluido tubular é de 300 mOsm/kg de


água. Dependendo do segmento do néfron, essa osmolaridade pode ser
aumentada (hipertonicidade) ou diminuída (hipotonicidade).

Resumidamente, as características funcionais específicas de cada ramo da alça de Henle são:

• O ramo descendente fino:

— é altamente permeável à água, que é reabsorvida passivamente a favor do gradiente osmótico


existente entre o fluido tubular e o interstício hipertônico que o envolve;

— por estar envolto em um interstício hipertônico e por ter uma alta permeabilidade a sais e
ureia, a concentração do fluido no lúmen aumenta em direção às papilas, tanto por saída de
água como por entrada passiva de solutos.

• Os ramos ascendentes fino e grosso:

— têm baixa permeabilidade à água;

21
Unidade I

— possuem alta reabsorção de sais gerada pela alta atividade da Na+‑K+‑ATPase; e

— o fluido no interior desses ramos é diluído à medida que sobe para a região cortical, daí serem
chamados segmentos diluidores (AIRES, 2008).

1.6 Túbulo distal e túbulo coletor

O túbulo distal e o túbulo coletor reabsorvem cerca de 8% do NaCl filtrado, secretam quantidades
variáveis de K+ e H+ e reabsorvem quantidades variáveis de água (de 8 a 17%). O segmento inicial do
túbulo distal (começo do túbulo distal) reabsorve Na+, Cl‑ e Ca2+ e é impermeável à água. A entrada de
NaCl na célula por meio da membrana apical é mediada por um simporte de Na+‑Cl‑. O Na+ deixa a
célula via ação da Na+‑K+‑ATPase e o Cl‑ deixa a célula via difusão pelos canais de Cl‑. Assim, a diluição
do fluido tubular começa no segmento ascendente espesso da alça de Henle e continua no segmento
inicial do túbulo distal.

O último segmento do túbulo distal e do ducto coletor são compostos por dois tipos de células: as
células principais e as células intercaladas. As células principais reabsorvem NaCl e água e secretam K+.
As células intercaladas secretam H+ ou bicarbonato e são desse modo, importantes na regulação do
balanço ácido‑base. As células intercaladas também reabsorvem K+ pela H+‑K+‑ATPase, localizada na
membrana apical. A reabsorção de Na+ e a secreção de K+ pelas células principais dependem da atividade
da Na+‑K+‑ATPase, na membrana basolateral. Pela manutenção de baixa concentração de Na+ intracelular,
essa bomba gera um gradiente químico favorável para o movimento de Na+ do fluido tubular para a
célula. Como o Na+ entra na célula através da membrana apical via difusão pelos canais seletivos ao Na+
nas células epiteliais (ENaCs), na membrana apical, a carga negativa dentro da célula facilita a entrada de
Na+. O Na+ deixa a célula por meio da membrana basolateral e entra no sangue via ação da Na+‑K+‑ATPase.
A reabsorção de Na+ gera voltagem negativa no lúmen no final do túbulo distal e do ducto coletor que
gera uma força propulsora para a reabsorção de Cl‑, pela via paracelular. Quantidade variável de água é
reabsorvida pelas células principais, no final do túbulo distal e do ducto coletor. A reabsorção de água é
mediada por aquaporinas (diferentes daquelas que agem na alça de Henle), localizados na membrana
plasmática apical e pelos canais aquaporinas localizados na membrana basolateral das células principais.
Na presença do hormônio antidiurético (ADH), a água é reabsorvida. Em contrapartida, na ausência do
hormônio ADH, o túbulo distal e o ducto coletor reabsorvem pouca água (KOEPPEN; STANTON, 2009).

O K+ é secretado do sangue para o fluido tubular pelas células principais, em duas etapas:

• a captação de K+ por meio da membrana basolateral é mediada pela ação da Na+‑K+‑ATPase;

• o K+ deixa a célula via difusão passiva. Como a concentração de K+ no interior das células é alta
(150 mEq/l) e no fluido tubular é baixa (10 mEq/l), o K+ difunde‑se, diminuindo seu gradiente de
concentração, por meio dos canais de K+, na membrana apical das células, para o fluido tubular.
Embora o potencial negativo nas células tenda a reter o K+ na célula, o gradiente eletroquímico, por
meio da membrana apical favorece a secreção de K+ da célula para o fluido tubular. A reabsorção
de K+ pelas células intercaladas é mediado por H+‑K+‑ATPase, localizadas na membrana apical da
célula (KOEPPEN; STANTON, 2009).
22
FISIOLOGIA

2 REGULAÇÃO DO SISTEMA RENAL

2.1 Regulação da reabsorção de NaCl e água

Existem vários hormônios que regulam a reabsorção de NaCl e, portanto, a excreção urinária de NaCl.
Entre eles, estão: a angiotensina II, a aldosterona, as catecolaminas e os peptídeos natriuréticos. Outros
mecanismos que participam da reabsorção e excreção do NaCl são as forças de Starling e o fenômeno
do balanço glomérulo‑tubular. O ADH é o único hormônio que regula diretamente a quantidade de água
excretada pelos rins.

A angiotensina II é um hormônio que age como um potente estimulador da reabsorção de NaCl


e água, no túbulo proximal. Ele também é encarregado de estimular a reabsorção de Na+ no ramo
ascendente fino da alça de Henle, assim como no túbulo distal e no ducto coletor. A diminuição do
volume do fluido extracelular (LEC) ativa o sistema renina‑angiotensina‑aldosterona, aumentando a
concentração plasmática de angiotensina II.

A aldosterona é sintetizada pelas células da camada glomerulosa do córtex da suprarrenal e estimula


a reabsorção de NaCl. Atua sobre o ramo ascendente espesso da alça de Henle, o túbulo distal e o ducto
coletor. A maioria de seus efeitos sobre a reabsorção de NaCl reflete sua ação sobre o túbulo distal e
o ducto coletor. A aldosterona também estimula a secreção de K+ pelo túbulo distal e ducto coletor e
aumenta a quantidade de transportadores simporte Na+‑Cl‑ no começo do túbulo distal. Ela aumenta a
reabsorção de NaCl pelas células principais, no túbulo distal e no ducto coletor por quatro mecanismos:

• aumento da quantidade de Na+‑K+‑ATPase na membrana basolateral;


• aumento da expressão dos canais de Na+ (ENaC) na membrana apical da célula;
• aumento indireto da expressão de ENaCs na membrana apical da célula através de uma enzima
estimuladora de glicocorticoides no soro; e
• expressão de serina protease que também ativa ENaCs por proteólise. Esses mecanismos aumentam
a captação de Na+ pela membrana apical da célula e facilita a saída de Na+ da célula para o
sangue. O aumento da reabsorção de Na+ gera voltagem negativa no lúmen do túbulo distal e
ducto coletor. Essa voltagem negativa do lúmen origina a força propulsora eletroquímica para a
reabsorção de Cl‑ por meio das vias paracelulares no túbulo distal e ducto coletor. A secreção de
aldosterona é aumentada pela hipercalemia (aumento da concentração de K+) e pela angiotensina
II (após ativação do sistema renina‑angiotensina‑aldosterona). Pela sua estimulação da reabsorção
de NaCl no ducto coletor, a aldosterona também aumenta indiretamente a reabsorção de água
nesse segmento do néfron (KOEPPEN; STANTON, 2009).

2.2 Regulação do volume e osmolaridade pelo rim

O íon sódio é o principal cátion do meio extracelular e ele exerce pressão osmótica efetiva,
estando diretamente relacionado ao volume desse compartimento. Como o controle do balanço
corporal de sódio é fundamental para a manutenção do volume do LEC, ele também é importante
23
Unidade I

para o controle da pressão arterial. O organismo possui diferentes receptores para a detecção de
alterações da volemia. Eles são:

• receptores de volume localizados nas paredes das grandes veias;

• receptores de pressão, localizados nas paredes das grandes artérias; e

• receptores de pressão intrarrenais, localizados nas arteríolas aferentes, junto ao aparelho justaglomerular,
que detectam alterações na perfusão sanguínea renal. Em situações de hipovolemia e queda da pressão
arterial, ocorre o estímulo para a liberação de renina na circulação, ativando a cascata do sistema
renina‑angiotensina‑aldosterona, o que aumenta a pressão arterial tanto pela intensa vasoconstrição
sistêmica que provoca como pelo aumento da reabsorção renal de sódio e consequente elevação do
LEC. Em situações de hipervolemia, a liberação de renina é inibida (CURI; PROCOPIO, 2009).

Lembrete

Quando aumenta a pressão arterial, também aumenta o volume


urinário excretado. Os processos de natriurese (excreção de sódio) e diurese
(excreção de água) ocorrem em paralelo.

Frente às alterações do LEC, em resposta aos sinais dos receptores descritos, são ativados diferentes
sistemas efetores que podem causar aumento da volemia (mecanismos antinatriurétricos) ou a sua
diminuição (mecanismos natriuréticos):

O sistema renina‑angiotensina‑aldosterona é ativado a partir da liberação de renina pelas células do


aparelho justaglomerular. Os principais estímulos para a liberação de renina são: hipoperfusão (diminuição
do volume de sangue) ou isquemia (diminuição da quantidade de oxigênio) renal; estimulação adrenérgica
(pela ativação do sistema simpático) e diminuição da concentração de NaCl no lúmen do túbulo
distal reto percebida pelas células da mácula densa (mecanismo de autorregulação renal ou balanço
túbuloglomerular). Na circulação, a renina cliva o angiotensinogênio (peptídeo produzido no fígado),
dando origem a angiotensina I. A angiotensina I, pela ação da enzima conversora de angiotensina (ECA), é
clivada, originando a angiotensina II. A angiotensina II age nos seus receptores e provoca:

• vasoconstrição arterial sistêmica;

• vasoconstrição arterial renal;

• aumento da reabsorção renal de sódio. Isso pode ocorrer diretamente, por aumento na reabsorção
tubular de sódio no túbulo proximal, ou indiretamente, por estímulo da síntese e secreção de
aldosterona, que promove a reabsorção distal de sódio; e

• indução da proliferação celular, por exemplo, dos fibroblastos. Esse efeito de substituição do
tecido normal por fibroblastos prejudica o funcionamento de diversos tecidos, contribuindo para
o estabelecimento de doenças (como as glomerulonefrites) (CURI; PROCOPIO, 2009).

24
FISIOLOGIA

O hormônio antidiurético (ADH) ou arginina‑vasopressina está primariamente relacionado à


regulação da osmolaridade do LEC, atuando nos mecanismos de concentração e diluição da urina.
Nas situações de grande hipovolemia, pela ação da angiotensina II no sistema nervoso central, ocorre
estimulação não osmótica para a liberação de ADH. Esse hormônio atua em seus receptores levando a
vasoconstrição arterial sistêmica, diminuindo o ritmo de filtração glomerular e aumentando a reabsorção
renal de água.

Observação

O álcool age inibindo a secreção de ADH, levando a diminuição da reabsorção


de água (aumento da diurese) e a formação de uma urina mais diluída.

A endotelina, o tromboxano A2 e a adenosina são substâncias produzidas nos rins que atuam
nas células vizinhas ou na própria célula. Seus efeitos antinatriurétricos podem ser mediados por
vasoconstrição ou por ação tubular direta, modulando a atividade de transportadores iônicos (CURI;
PROCOPIO, 2009).

O peptídeo natriurético atrial (ANP) é o mais importante. É sintetizado nos miócitos cardíacos e
secretado em resposta ao estiramento do átrio decorrente do aumento do retorno venoso, que pode
estar associado ao aumento da volemia. Hormônios como ADH, glicocorticoides e adrenalina também
estimulam a secreção de ANP. Seus principais efeitos são:

• aumento da natriurese/diurese por vasodilatação da arteríola aferente, levando ao aumento do


ritmo de filtração glomerular, além da diminuição da hipertonicidade medular por vasodilatação
dos vasos retos;

• inibição do sistema renina‑angiotensina‑aldosterona, do ADH e da endotelina, antagonizando


seus efeitos antinatriurétricos;

• vasodilatação sistêmica, favorecendo a hipotensão arterial e aumentando a permeabilidade


vascular, o que leva à formação de edema (CURI; PROCOPIO, 2009).

As prostaglandinas e o óxido nítrico são moléculas produzidas localmente com ação natriurética
por relaxamento das células mesangiais, vasodilatação dos vasos retos levando à diluição do
interstício medular com perda da hipertonicidade, e diminuição da reabsorção de sódio por meio da
modulação dos transportadores. Em situações em que o sistema renina‑angiotensina‑aldosterona
está ativado, causando intensa vasoconstrição sistêmica, as prostaglandinas são essenciais para
manter a adequada irrigação sanguínea renal, agindo localmente no rim, garantindo a função desse
órgão (CURI; PROCOPIO, 2009).

A formação de urina concentrada ou diluída depende dos segmentos distais do néfron,


pois a reabsorção proximal de água é isosmótica. O plasma é ultrafiltrado no glomérulo
aproximadamente a 300 mOsm/kg. No final do túbulo proximal, o fluido tubular mantém a
25
Unidade I

mesma osmolaridade, em decorrência da reabsorção isosmótica de água, o que ocorre graças à


presença de aquaporinas na membrana luminal dessas células. Na porção descendente da alça de
Henle, altamente permeável à água, pela presença das mesmas aquaporinas, o fluido tubular vai
se concentrando em equilíbrio com o meio hipertônico do interstício medular até alcançar seu
valor máximo na dobradura da alça. No ramo fino ascendente e no túbulo distal reto, todavia,
a membrana luminal é impermeável à água, onde não tem aquaporinas. Por causa disso, a
reabsorção dos solutos nessa região faz com que o fluido tubular seja progressivamente diluído
até alcançar 50‑100 mOsm/kg no final do túbulo distal reto. Por essa razão, são denominados
segmentos diluidores do néfron. Se não houver reabsorção de água no túbulo coletor, a urina
terá a mesma osmolarilade final em torno dos 50‑100 mOsm/kg, ou seja, hipotônica em relação
ao plasma. Para a urina ser concentrada, a água deverá ser reabsorvida no túbulo coletor, e
para isto é necessário tanto a hipertonicidade do meio intersticial como o túbulo cortical ser
permeável à água. Nessas condições, a osmolaridade urinária pode atingir seus valores máximos,
em torno de 1200 mOsm/kg, ou seja, hipertônica ao plasma.

A formação de um meio hipertônico na medula renal em decorrência da reabsorção de solutos que


ocorre nos segmentos diluidores é fundamental para a reabsorção passiva de água no túbulo coletor.
Esse segmento do néfron pode ser impermeável ou permeável à água, o que depende da inserção de
aquaporinas nas membranas luminais por meio da ação do hormônio antidiurético (ADH). Quando isso
ocorre, a água é reabsorvida osmoticamente da luz tubular para o interstício hipertônico, retornando daí
à circulação sistêmica pelos vasos retos.

Esse sistema é conhecido como sistema contracorrente multiplicador da alça de Henle.


Tal modelo é baseado no fato da estrutura da alça proporcionar a possibilidade do fluido tubular
percorrer a segunda parte desse caminho em sentido oposto ao primeiro: a urina se concentraria
no ramo descendente (permeável à água e impermeável aos solutos) e se diluiria no ramo
ascendente (impermeável à água e permeável aos solutos). Esse modelo leva em consideração dois
gradientes osmóticos: um gradiente vertical de osmolaridade observado no eixo córtico‑medular
e um gradiente horizontal entre o ramo ascendente da alça de Henle e o interstício (CURI;
PROCOPIO, 2009).

A ureia concentra‑se na luz do túbulo coletor cortical graças à reabsorção de água pelas
aquaporinas sujeitas à ação do ADH. Uma vez concentrada no túbulo coletor, ao atingir as
regiões medular interna e papilar, pode ser reabsorvida para o interstício a favor de gradiente de
concentração. Assim, estando concentrada no interstício medular a ureia é secretada no ramo
fino ascendente da alça de Henle. Na medida em que o sódio vai sendo reabsorvido ao longo
da alça de Henle, a ureia vai tornando‑se um osmólito importante na luz tubular. Portanto, a
recirculação de ureia não só contribui na geração de hipertonicidade medular por meio de seu
transporte passivo, como permite uma maior reabsorção de sódio, também passivamente, a favor
do seu gradiente de concentração, no ramo fino ascendente da alça de Henle, o que contribui
igualmente para a formação da hipertonicidade medular. Esses mecanismos multiplicadores são
diretamente dependentes do efeito unitário, derivado da reabsorção de NaCl, por meio do epitélio
do túbulo distal reto, impermeável à água, pela associação do transportador na membrana luminal,
à Na+‑K+‑ATPase na membrana basolateral.
26
FISIOLOGIA

A concentração de NaCl no fluido tubular no ramo fino ascendente da alça seria maior que
no interstício, devido à absorção de água verificada ao longo do ramo fino descendente pela
hipertonicidade do interstício. Isso é possível devido à alta permeabilidade à água desse epitélio,
pela presença de aquaporinas na membrana luminal, associada à baixa permeabilidade à ureia.
Por outro lado, a concentração de ureia seria maior no interstício do que no fluido tubular no
interior do ramo ascendente fino da alça de Henle. Essa maior concentração de ureia deve‑se à
sua recirculação. Assim, ocorre reabsorção passiva de NaCl para o interstício e secreção de ureia
na luz tubular.

Os vasos retos possuem papel importante na manutenção da hipertonicidade medular. Além


do baixo fluxo sanguíneo direcionado à medula (menos de 10% do fluxo total), sua organização
em ramos descendente e ascendente, semelhante à alça de Henle, também funciona como um
sistema de contracorrente. Esse sistema denominado contracorrente permutador funciona da
seguinte maneira: o sangue no ramo descendente perde água para o interstício hipertônico (por
meio das aquaporinas) e ganha solutos, aumentando progressivamente a concentração de solutos
no plasma, equilibrando‑se com o interstício. Então, no ramo ascendente, ocorre o inverso, com
entrada de água no vaso e saída e solutos para o interstício. Como a entrada de água no ramo
ascendente é maior que a saída no ramo descendente, a resultante do processo é a remoção de
água e solutos para a circulação sistêmica, com manutenção do interstício hipertônico (CURI;
PROCOPIO, 2009).

Em resumo, ao longo do néfron uma série de forças atua no sentido de modificar a


concentração das substâncias presentes no filtrado glomerular, variando a quantidade de solutos
que são excretados na urina final. A reabsorção de água tende a aumentar a concentração de
todos os solutos do fluido tubular, havendo alguns cuja concentração intratubular varia apenas
em função desse processo, não sendo reabsorvidos nem secretados. Nesse caso, a quantidade de
soluto filtrado é igual à excretada na urina final. Entretanto, a maioria dos solutos encontrados
no filtrado é reabsorvida ao longo do túbulo e volta ao sangue, sendo sua quantidade filtrada
maior que a excretada, porém sua concentração na urina final pode ser maior ou menor que a
encontrada no filtrado glomerular, dependendo da quantidade de água que for reabsorvida nos
túbulos. Poucos solutos, como o potássio e o ácido úrico, além de serem filtrados são reabsorvidos
e secretados pelo epitélio tubular; dessa forma, suas quantidades excretadas apresentam grandes
variações.

A composição da urina difere da do fluido extracelular em vários aspectos. Enquanto 95% dos
solutos do fluido extracelular são constituídos por íons, a urina tem altas concentrações de moléculas
sem carga, principalmente ureia. Um indivíduo normal excreta mais sódio na urina quando sua dieta
salina é elevada do que quando é baixa; porém, em ambas as situações, o equilíbrio entre ingestão e
excreção de sódio é mantido. Similarmente, o volume urinário é maior em condições de sobrecarga de
água em comparação com o quadro de restrição hídrica. Essas relações indicam que não existem valores
normais absolutos para a excreção urinária de água e solutos, havendo uma gama de variações que
reflete a ingestão diária (AIRES, 2008).

27
Unidade I

Saiba mais

A fim de propiciar inter‑relações entre os conteúdos da unidade, leia o


artigo a seguir:

BASTOS, M. G.; BREGMAN, R.; KIRSZTAJN, G. M. Doença renal crônica:


frequente e grave, mas também prevenível e tratável. Rev. Assoc. Med. Bras.
[online]. 2010, v. 56, n. 2, p. 248‑253. Disponível em: <http://www.scielo.br/
pdf/ramb/v56n2/a28v56n2.pdf>. Acesso em: 2 jul. 2015.

3 SISTEMA ENDÓCRINO

O sistema endócrino, assim como o nervoso, ajusta e integra as atividades dos vários sistemas
corporais, tornando‑as apropriadas às demandas relativas aos ambientes externo e interno. O
sistema endócrino atua por meio de sinais químicos que são secretados na corrente sanguínea por
glândulas que não possuem ductos. Essas moléculas sinalizadoras são denominadas hormônios
e regulam diversos processos metabólicos. Um hormônio, produzido por uma célula secretora e
liberado na corrente sanguínea, age em uma célula alvo que é capaz de reconhecer tal hormônio
e alterar funções em resposta a esse hormônio. Uma célula alvo é capaz de reconhecer um
hormônio a partir do momento em que expressa um receptor específico para esse hormônio.
O receptor hormonal é fundamental para que haja uma resposta endócrina (CURI; PROCOPIO,
2009; GANONG, 2006).

Um hormônio pode agir em uma célula alvo que está distante do seu local de produção, nesse caso,
ele chega através do sangue. Esse sistema de ação hormonal é denominado endócrino. No sistema
de ação parácrino, o hormônio difunde‑se no interstício agindo em células‑alvo vizinhas da célula
secretora e, no sistema de ação autócrino, o hormônio, uma vez secretado, volta a agir na própria célula
secretora (CURI; PROCOPIO, 2009).

3.1 Classificação dos hormônios

Os hormônios podem ser classificados de acordo com a sua natureza química. Dependendo da
composição química de um hormônio, ele pode ser classificado como hidrossolúvel ou lipossolúvel.
Os hormônios hidrossolúveis são hidrofílicos, ou seja, possuem afinidade por moléculas polares, como
a água, já os hormônios lipossolúveis são lipofílicos e possuem afinidade por moléculas apolares,
como os lipídios presentes na membrana plasmática das células. A membrana plasmática representa
uma barreira à passagem de moléculas hidrofílicas e, opostamente, moléculas que são lipofílicas
solubilizam‑se na membrana plasmática, podendo atravessá‑la facilmente. Compreende‑se então
que, dependendo da composição química de um hormônio, ele pode ser hidrossolúvel ou lipossolúvel
e, consequentemente, o mecanismo de ação nas células alvo decorrerá dessa propriedade (CURI;
PROCOPIO, 2009).

28
FISIOLOGIA

Os hormônios hidrossolúveis, os mais abundantes, são proteicos ou peptídicos. Variam desde


um único aminoácido modificado, passando por peptídeos simples até grandes proteínas, que podem
formar cadeias de proteínas glicosiladas (possuem um radical açúcar ligado a um aminoácido) ou
fosforiladas (possuem um grupo fosfato ligado a um aminoácido). Os menores hormônios hidrossolúveis
são os aminoácidos modificados, por exemplo: a tirosina dá origem à adrenalina e à noradrenalina;
a histidina dá origem à histamina; e o triptofano origina a serotonina. A síntese desses hormônios
depende da disponibilidade intracelular do aminoácido precursor e da atividade das enzimas que
são responsáveis pelo processo de modificação dos aminoácidos. Os demais hormônios, peptídicos e
proteicos, são expressos por genes específicos e envolvem os mecanismos básicos de síntese proteica
(transcrição gênica e tradução).

Devido à característica polar dos hormônios hidrossolúveis, eles solubilizam‑se facilmente no


interstício e no sangue, de forma que podem circular livres. Entretanto, algumas exceções são encontradas,
como o hormônio do crescimento que circula ligado a uma proteína carregadora. A ligação de um
hormônio a uma proteína circulante tem ao menos duas vantagens, além de propiciar o transporte até
a célula alvo:

• garante um reservatório hormonal circulante, minimizando flutuações nas concentrações


plasmáticas do hormônio; e

• prolonga a meia vida de um hormônio na circulação (CURI; PROCOPIO, 2009).

Lembrete

Meia vida de uma molécula é definida como o tempo necessário para


que sua concentração ou atividade seja reduzida à metade.

O hormônio hidrossolúvel não entra na célula alvo, ele liga‑se a receptores que estão presentes
na membrana plasmática da célula alvo. O fator determinante para que um tecido responda a
um dado hormônio é a presença de um receptor e da maquinaria pós‑receptor na célula. Cada
receptor reconhece um hormônio de forma específica e de alta afinidade, e transforma essa ligação
(hormônio‑receptor) em um sistema de transdução específico que gera um efeito final (CURI;
PROCOPIO, 2009).

Alguns ligantes, quando interagem com seus receptores de membrana, podem causar alteração na
condutância de canais iônicos. Porém, muitos outros ligantes, quando interagem com seus receptores,
ativam mecanismos que envolvem mensageiros químicos intracelulares, que desencadeiam alterações
da função celular. Os ligantes extracelulares (no caso, o hormônio hidrossolúvel) são denominados
primeiros mensageiros, e os mediadores intracelulares são conhecidos como segundos mensageiros
(GANONG, 2006).

Os segundos mensageiros desencadeiam muitas alterações de curta duração na função celular,


por exemplo, alteram a função enzimática, promovem a exocitose e, principalmente, alteram a
29
Unidade I

transcrição de vários genes. Os segundos mensageiros exercem esses efeitos, em parte, ao ativar
fatores de transcrição que já estão presentes na célula, e esses fatores ativados induzem a transcrição
de outros genes, que, por sua vez, podem ativar outros genes, que induzem efeitos mais prolongados
(GANONG, 2006).

Os hormônios lipossolúveis são sintetizados a partir de uma molécula precursora lipídica. A


grande maioria desses hormônios deriva do éster de colesterol, e por isso são chamados de hormônios
esteroides. Para que ocorra a síntese desse tipo de hormônio, é necessário que a célula secretora tenha
um aporte do precursor lipídico e tenha, também, as enzimas específicas que metabolizam a molécula
lipídica precursora até chegar a forma ativa. Por meio de conversões enzimáticas, vários metabólitos
vão sendo gerados a partir do precursor, cada um deles com atividade biológica variável tanto na sua
intensidade quanto no tipo de ação.

Os hormônios esteroides podem ser gerados tanto no córtex da glândula adrenal quanto nas gônadas.
O tipo de hormônio a ser sintetizado em cada território depende da presença de enzimas específicas
na célula. Embora bioquimicamente esses hormônios sejam bastante parecidos, a atividade biológica
é bastante diversa, incluindo‑se desde ações no metabolismo do carboidrato (glicocorticoides) e no
balanço hidroeletrolítico (mineralocorticoides) até ações nas funções reprodutivas feminina (estrógenos)
e masculina (andrógenos).

Diferentemente dos hormônios hidrossolúveis, os lipossolúveis não são armazenados em grânulos,


eles são secretados por difusão simples através da membrana plasmática à medida que vão sendo
sintetizados. Dessa maneira, não há estoque na célula secretora, e a secreção hormonal é regulada
diretamente pela maior ou menor atividade da enzima‑chave do processo de síntese hormonal (CURI;
PROCOPIO, 2009).

Por sua característica hidrofóbica, os hormônios lipossolúveis encontram dificuldades para se


deslocar no interstício e no meio sanguíneo, por isso, é fundamental que esses hormônios liguem‑se
a proteínas (estas hidrossolúveis) que, englobando a molécula lipídica, lhe confere solubilidade ao
meio aquoso, permitindo o deslocamento desses hormônios pelo plasma. Existem várias proteínas,
em geral de formato globular e, portanto, chamadas de globulinas, que são ligantes específicos
de vários hormônios lipossolúveis. Além disso, a albumina, proteína encontrada em maior
quantidade no plasma sanguíneo, também é um ligante importante de hormônios lipossolúveis.
Assim, hormônios esteroides circulam ligados a proteínas carregadoras. Em geral, 1% ou menos
do hormônio total presente no plasma está na forma livre, e, portanto, biologicamente ativo. Essa
característica é extremamente importante, pois o efeito biológico dos hormônios lipossolúveis
depende da quantidade de hormônio livre.

Por sua solubilidade em lipídios, os hormônios esteroides conseguem atravessar diretamente


a membrana plasmática das células. Quando livres, imediatamente se difundem para o meio
intracelular e vão agir em seus receptores intracelulares de suas células alvos. A ação dos
hormônios lipossolúveis é desencadeada a partir de sua ligação a receptores intracelulares, cujo
complexo hormônio‑receptor termina por se ligar em sítios específicos da região promotora de
genes alvo, atuando como fatores transcricionais.
30
FISIOLOGIA

3.2 Regulação da secreção hormonal

A secreção hormonal é regulada por retroalimentação, ou seja, baseia‑se no equilíbrio entre


o estímulo e inibição da síntese e secreção do hormônio. Esse equilíbrio tem uma importante base
funcional: o mecanismo de feedback (retroalimentação), que pode ser negativo, como ocorre na
maioria dos sistemas hormonais, ou positivo. No feedback negativo (figura 70), quando a concentração
do hormônio aumenta, são ativados mecanismos inibidores da sua produção, que atuam tanto na
síntese quanto na secreção, fazendo com que a concentração do hormônio diminua. E, uma vez que a
concentração do hormônio diminuir, serão ativados mecanismos estimuladores da sua produção, fazendo
com que a concentração do hormônio aumente. Dessa maneira, ao longo do tempo, a concentração
do hormônio se mantém oscilando em torno de um valor constante. Já o feedback positivo é menos
comum nos sistemas hormonais, e ocorre quando um determinado hormônio tem sua concentração
aumentada e são ativados mecanismos que fazem com que sua síntese e secreção aumente mais ainda.
Nesse sistema, um estímulo recebido é amplificado, por exemplo, as alças de retroalimentação positiva
controlam os processos que levam à ruptura de um folículo através da parede ovariana ou à expulsão
do feto de dentro do útero (CURI; PROCOPIO, 2009; KOEPPEN; STANTON, 2009).

Lembrete

Na retroalimentação (feedback) negativa, a diminuição do hormônio


tireoidiano na corrente sanguínea leva a estimulação de sua produção
através do aumento de tirotrofina. Já o aumento de sua concentração
plasmática, por meio da inibição de sua produção através da diminuição
de tirotrofina.

Hipófise

Tirotrofina

Tireoide
Estimula

Inibe

Tiroxina
(baixo) (alto)

Figura 6 – Exemplo de retroalimentação (feedback) negativa

31
Unidade I

Além dos mecanismos de retroalimentação negativa e positiva, existem variações periódicas na


liberação dos hormônios que são influenciadas por mudanças sazonais, pelos estágios de desenvolvimento,
envelhecimento e pelo ciclo sono‑vigília. Um exemplo é a correlação do hormônio de crescimento, o
GH, com os estágios do sono. No início do sono, há aumento da secreção desse hormônio, porém, nos
estágios mais avançados, há diminuição. Muitas dessas mudanças cíclicas hormonais estão relacionadas
às alterações da atividade de vias neurais envolvidas no controle da liberação de hormônios (CURI;
PROCOPIO, 2009).

3.3 Sistema hipotálamo‑hipófise

O hipotálamo, apesar de constituir menos de 1% do volume cerebral, é um centro de integração


de funções que visa manter a homeostase do organismo animal. Não existe função no organismo que,
direta ou indiretamente, não seja controlada pelo hipotálamo. O hipotálamo localiza‑se na porção
terminal anterior do diencéfalo, que repousa abaixo do sulco hipotalâmico e à frente dos núcleos
interpedunculares. Divide‑se em uma variedade de núcleos e áreas nucleares, e tem conexões com
diversas estruturas, entre elas a hipófise (CURI; PROCOPIO, 2009; GANONG, 2006).

Embriologicamente, a hipófise surge como uma evaginação do assoalho do terceiro ventrículo


e localiza‑se no interior da sela túrcica, no osso esfenoide na base do crânio, sendo conectada
com o hipotálamo pela haste hipofisária. Também chamada de glândula pituitária, a hipófise
é uma estrutura pequena, porém complexa. No ser humano, possui dois lobos com origens
embriológicas distintas, um lobo epitelial chamado de adeno‑hipófise (ou hipófise anterior) e
outro lobo neural chamado neuro‑hipófise (ou hipófise posterior) (figura 71). A adeno‑hipófise
constitui 80% do volume da glândula e é composta por cinco tipos de células que produzem
e secretam seis tipos de hormônios, enquanto a neuro‑hipófise libera vários neuro‑hormônios.
Todas as funções endócrinas da hipófise estão sob o comando do hipotálamo e são reguladas
por alças de retroalimentação positiva e negativa (CURI; PROCOPIO, 2009; KOEPPEN; STANTON,
2009; GANONG,2006).

Hipotálamo

Tratoipofisário

Neuropófise
(posterior)
Adenoipófise
(anterior)
Hipófise
intermediária

Figura 7 – Representação esquemática do sistema hipotálamo‑hipófise

32
FISIOLOGIA

3.4 Neuro‑hipófise (posterior)

A parte neural da hipófise é denominada neuro‑hipófise e consiste em uma projeção para baixo do
tecido hipotalâmico. Na extremidade superior da neuro‑hipófise, desenvolve‑se uma tumefação em
forma de funil chamada de eminência mediana, que é a região onde a haste hipofisária se insere
na base do hipotálamo. A neuro‑hipófise é uma estrutura neurovascular e corresponde ao local de
liberação de neuro‑hormônios que foram produzidos no hipotálamo (CURI; PROCOPIO, 2009; KOEPPEN;
STANTON, 2009).

Neurônios hipotalâmicos, cujos corpos celulares estão localizados nos núcleos supraópticos (NSP)
e nos núcleos paraventriculares (NPV), projetam‑se para a neuro‑hipófise e secretam, em um rico
leito de capilares fenestrados, os hormônios peptídicos antidiurético (ADH, ou arginina vasopressina) e
a oxitocina. Os corpos celulares desses neurônios são denominados magnocelulares (corpos celulares
grandes) e projetam seus axônios para baixo (até a neuro‑hipófise), pela haste infundibular, como
tratos hipotalâmico‑hipofisários. A hipófise posterior é amplamente vascularizada, e seus capilares são
fenestrados, o que facilita a difusão dos hormônios para dentro dos vasos.

O hormônio antidiurético e a oxitocina são hormônios peptídicos, com apenas nove aminoácidos
e com estrutura similar, que diferem entre si em apenas dois aminoácidos. O ADH e a oxitocina são
liberados na neuro‑hipófise em resposta a estímulos detectados primeiramente pelos corpos celulares e
dendritos de neurônios situados no NSO e NPV do hipotálamo. O estímulo leva à exocitose do ADH ou
da oxitocina (dependendo do estímulo) que cai no líquido extracelular da neuro‑hipófise e tem, então,
acesso à circulação periférica, podendo ser detectado no sangue. O ADH age primariamente nos rins,
promovendo a retenção de água (antidiurese). A oxitocina age principalmente no útero de mulheres
grávidas induzindo o parto, atua também nas células mioepiteliais das mamas causando ejeção do leite
durante a amamentação.

3.5 Adeno‑hipófise (anterior)

A hipófise anterior é composta de cinco tipos de células endócrinas que produzem seis tipos de
hormônios e, como mencionado anteriormente, suas secreções estão sob o controle do hipotálamo. Por
isso, antes de analisarmos separadamente cada hormônio da adeno‑hipófise, é importante entender a
organização estrutural e funcional desses eixos endócrinos (KOEPPEN; STANTON, 2009).

Cada eixo endócrino é composto por três níveis de células endócrinas:

• neurônios hipotalâmicos, que produzem os hormônios liberadores ou inibidores;

• células endócrinas da adeno‑hipófise, que secretam hormônios tróficos;

• glândulas endócrinas periféricas, que secretam hormônios periféricos.

Os neurônios do hipotálamo secretam os hormônios liberadores hipotalâmicos específicos que


chegam na adeno‑hipófise e estimulam, especificamente, a secreção dos hormônios tróficos da
33
Unidade I

adeno‑hipófise. Os hormônios tróficos da adeno‑hipófise caem na circulação e vão agir em glândulas‑alvo


endócrinas periféricas específicas, estimulando essas glândulas a liberar hormônios periféricos (figura
72). Esses hormônios periféricos vão regular aspectos da fisiologia humana e vão, também, exercer
uma retroalimentação negativa (na grande maioria dos casos) sobre o hipotálamo e a adeno‑hipófise,
inibindo a produção e a secreção dos hormônios liberadores e tróficos, respectivamente (KOEPPEN;
STANTON, 2009).

Hipotálamo

Adenoipófise
Neuroipófise

Hipotálamo
Epífese
Hipófise Glândula tireoidea

Glândulas paratireoideas

Timo

Adrenais

Pâncreas

Ovários

Testículos

Figura 8 – Representação das glândulas periféricas controladas pelo sistema hipotálamo‑hipófise

Os grupos de neurônios hipotalâmicos que estimulam a adeno‑hipófise localizam‑se em várias


regiões do hipotálamo, e coletivamente são chamadas região hipofisiotrófica. Os neurônios dessa região
distinguem‑se dos neurônios magnocelulares dos NSO e NPV (que se projetam para a neuro‑hipófise)
por terem corpos celulares pequenos, ou parvicelulares. Os neurônios parvicelulares projetam axônios
para a eminência mediana e lá secretam, de suas terminações axônicas, hormônios liberadores. Os
hormônios liberadores penetram em um plexo primário de capilares fenestrados e são, em seguida,
conduzidos pelos vasos porta hipotalâmico‑hipofisários até um segundo plexo capilar localizado
na adeno‑hipófise. No plexo secundário, os hormônios liberadores difundem‑se para fora dos vasos e
ligam‑se a seus receptores específicos situados em tipos de células específicas dentro da adeno‑hipófise
(KOEPPEN; STANTON, 2009).

34
FISIOLOGIA

Observação

Um vaso “porta” é definido como o que começa e termina nos capilares


sem passar pelo coração.

A conexão neurovascular (haste hipofisária) posicionada entre o hipotálamo e a hipófise é um tanto


frágil e pode ser rompida por traumatismo físico, cirurgia ou doença hipotalâmica. A lesão da haste e o
subsequente isolamento funcional da hipófise anterior provocam um declínio de todos os hormônios da
hipófise anterior, exceto da prolactina (ver adiante).

A adeno‑hipófise é constituída dos seguintes tipos de células endócrinas: corticotrofos, tireotrofos,


gonadotrofos, somatotrofos e lactotrofos.

Os corticotrofos estimulam o córtex da glândula adrenal e, junto ao hipotálamo, constituem o eixo


hipotálamo‑hipófise‑adrenal. Os corticotrofos estão sob o controle do hipotálamo, de onde recebem
estímulos para produzirem o hormônio adrenocorticotrófico (ACTH; também conhecido como
corticotrofina). Um subgrupo de neurônios parvicelulares hipotalâmicos produz o hormônio liberador
de corticotrofina (CRH). O CRH estimula de modo imediato a secreção de ACTH pelos corticotrofos
(KOEPPEN; STANTON, 2009).

O ACTH é um peptídeo com 39 aminoácidos sintetizado como parte de um pró‑hormônio maior, a


proopiomelanocortina (POMC). Por essa razão, os corticotrofos também são conhecidos como células
POMC. A POMC alberga a sequência peptídica que originará o ACTH, o MSH (hormônio estimulante
dos melanócitos), as endorfinas (opiódes endógenos) e as encefalinas. O corticotrofo humano expressa
apenas a pró‑hormônio convertase que produz o ACTH, o único hormônio ativo secretado por essas
células. O ACTH circula na forma de hormônio livre e tem uma meia vida curta, cerca de 10 minutos. Ele
liga‑se ao receptor 2 da melanocortina (MC2R) localizado nas células do córtex da glândula adrenal.
O ACTH aumenta de modo abrupto a produção de cortisol e andrógenos adrenais, aumenta a expressão
dos genes das enzimas esteroidogênicas e, em longo prazo, promove tanto o crescimento quanto a
sobrevida das camadas do córtex da adrenal.

A secreção do ACTH tem um padrão diário pronunciado, com um pico no início da manhã e uma queda
no final da tarde, refletindo no perfil de secreção do cortisol que, também, apresenta um pico de secreção no
início da manhã. O eixo‑hipotálamo‑hipófise‑adrenal possui vários reguladores, e vários deles são mediados
pelo SNC. Muitos tipos de estresse, tanto neurogênicos (por exemplo, medo) quanto sistêmicos (como
infecção), estimulam a secreção do ACTH. A resposta a muitas formas de estresse intenso pode persistir, apesar
da retroalimentação negativa desencadeada pelos altos níveis de cortisol. Isso significa que o hipotálamo
tem a capacidade de redefinir o ponto de equilíbrio do eixo em resposta ao estresse. A depressão crônica,
grave, é capaz de redefinir esse eixo como resultado da hipersecreção do CRH e causar uma hipersecreção de
cortisol. Como o cortisol tem efeitos intensos no sistema imunológico, o eixo hipotálamo‑hipófise‑adrenal
e o sistema imune estão intimamente associados (KOEPPEN; STANTON, 2009). As funções do cortisol são
tratadas mais profundamente no tópico sobre a glândula adrenal, mais adiante.

35
Unidade I

Os tireotrofos regulam a função tireoidiana por meio da secreção do hormônio estimulador da


tireoide (TSH; também conhecida como tireotrofina), esse é o eixo hipotálamo‑hipófise‑tireoide.
Os tireotrofos são estimulados pelo hormônio liberador de tireotrofina (TRH) que é produzido por
um subgrupo de neurônios hipotalâmicos parvicelulares. O TRH é sintetizado como um pró‑hormônio
maior que contém seis cópias do TRH em sua sequência, e liga‑se ao receptor de TRH localizado nos
tireotrofos. Sua liberação segue um ritmo diário de secreção, com níveis mais altos durante a noite, e
níveis mais baixos por volta da hora do jantar. A secreção de TRH é regulada por numerosos estímulos
mediados pelo SNC, por exemplo, vários tipos de estresses (estresse físico, inanição e infecções) inibem
a secreção de TRH.

Quando o TRH liga‑se ao seu receptor nos tireotrofos, será estimulada a liberação de TSH que é um
hormônio glicoproteico composto de uma subunidade alfa (α‑GSU, subunidade glicoproteica) e uma
beta (β‑TSH). Por sua vez, o TSH liga‑se ao seu receptor localizado nas células epiteliais da tireoide. Como
será discutido mais adiante, a produção dos hormônios tireoidianos, T3 e T4, é um processo complexo
e composto de muitas etapas. O TSH estimula praticamente todos os aspectos da função tireoidiana,
tendo um forte efeito trófico estimulando a hipertrofia, a hiperplasia e a sobrevida das células epiteliais
da tireoide. Em uma situação patológica em que os níveis de TSH estão altos, ocorre um crescimento
notável da glândula tireoide, condição denominada bócio.

Uma vez sintetizados, os hormônios tireoidianos regulam sua própria produção através de uma
retroalimentação negativa. Eles agem tanto nos tireotrofos inibindo a expressão do β‑TSH e diminuindo
sua sensibilidade ao TRH, quanto no hipotálamo inibindo a produção e secreção de TRH (KOEPPEN;
STANTON, 2009).

Os gonadotrofos secretam as gonadotrofinas, FSH (hormônio folículo estimulante) e LH (hormônio


luteinizante) que regulam a função das gônadas em ambos os sexos – esse eixo é chamado de
eixo‑hipotálamo‑gonadal. O FSH e o LH são armazenados em grânulos distintos e são secretados de maneira
independente pelos gonadotrofos. Suas ações sobre a função gonadal são complexas, principalmente na
gônada feminina, e serão discutidas em detalhes mais adiante. De modo geral, as gonadotrofinas promovem
a secreção de testosterona nos homens e a secreção de estrógeno e progesterona nas mulheres. O FSH
também aumenta a secreção de um hormônio proteico relacionado ao fator de crescimento transformador
β (TGF‑ β), denominado inibina em ambos os sexos.

Tanto a secreção do FSH quanto a do LH são reguladas pelo hormônio liberador de gonadotrofinas,
o GnRH (também conhecido como LHRH) produzido por um subgrupo de neurônios parvicelulares
do hipotálamo. O GnRH é um peptídeo que possui dez aminoácidos, e também é produzido como
um pró‑hormônio maior que é modificado até virar GnRH. O GnRH é liberado de forma pulsátil, e
tanto a secreção pulsátil quanto a frequência de pulsos têm efeitos distintos nos gonadotrofos. Quando
a frequência de liberação for um pulso por hora, o GnRh aumenta a secreção de LH, já quando a
frequência é mais baixa, de um pulso a cada 3 horas, o GnRH aumenta preferencialmente a secreção de
FSH (KOEPPEN; STANTON, 2009).

As gonadotrofinas aumentam a síntese dos esteroides sexuais. Nos homens, a testosterona e o


estrógeno exercem uma retroalimentação negativa sobre o hipotálamo e a hipófise. A progesterona
36
FISIOLOGIA

exógena nos homens também inibe a função gonadotrófica e, por isso, está sendo considerada
como um possível ingrediente de uma pílula contraceptiva masculina. Além disso, a inibina
exerce uma retroalimentação negativa seletiva sobre a secreção de FSH em homens e mulheres.
Nas mulheres, a progesterona e a testosterona exercem uma retroalimentação negativa sobre a
função gonadotrófica hipotalâmica e hipofisária. Em doses baixas, o estrógeno também exerce
uma retroalimentação negativa sobre a secreção do FSH e do LH, contudo, níveis altos de estrógeno
mantidos por três dias produzem um pico na secreção de LH e, em menor grau, na secreção de FSH.
Esse é um exemplo de retroalimentação positiva observada no hipotálamo e na hipófise. Os níveis
elevados de estrógeno causam no hipotálamo aumento da amplitude e frequência dos pulsos de
GnRH e, na hipófise, ocorre o aumento da sensibilidade dos gonadotrofos ao GnRH, pelo aumento
no número de receptores de GnRH.

Os somatotrofos produzem o hormônio de crescimento (GH, também chamado de somatotrofina)


que vai ter como alvo o fígado – é o eixo‑hipotálamo‑hipófise‑hepático. O fígado é um alvo importante
do GH, pois esse hormônio estimula a produção hepática do fator de crescimento semelhante à
insulina tipo 1 (IGF‑1). O GH é uma proteína com 191 aminoácidos, e é semelhante à prolactina
(PRL) e ao lactogênio placentário humano (hPL); como consequência dessa similaridade, ocorre uma
certa sobreposição na atividade desses hormônios. Há várias formas de GH no soro, elas constituem
uma “família de hormônios”. A forma com 191 aminoácidos (22 KDa) representa aproximadamente
75% do GH circulante. Cerca de 50% da forma sérica de GH com 22 KDa está ligada à uma proteína
de ligação de GH (GHBP). Os anões de Laron, que não possuem receptores funcionais para o GH, mas
que têm secreção normal de GH, não apresentam níveis detectáveis da GHBP no soro. O GHBP reduz a
depuração renal e aumenta a meia‑vida biológica do GH, que é cerca de 20 minutos. O fígado e os rins
são os principais locais de degradação do GH.

O hipotálamo exerce controle duplo sobre a secreção de GH, ele estimula predominantemente a
secreção de GH por meio de um peptídeo, o hormônio liberador de GH (GHRH). O GHRH intensifica
a secreção de GH e a expressão do gene do GH nos somatotrofos. O hipotálamo também inibe a
síntese de GH por meio de outro peptídeo, a somatostatina. A somatostatina age na adeno‑hipófise
inibindo tanto a liberação de GH quanto a de TSH. A secreção de GH também pode ser estimulada
pela grelina, que é produzida principalmente pelo estômago, mas também é expressa no hipotálamo.
A grelina aumenta o apetite e pode agir como um sinal que coordena a aquisição de nutrientes com
o crescimento.

A retroalimentação negativa é exercida primariamente pelo IGF‑1. O GH estimula o fígado a produzir


IGF‑1 que, por sua vez, inibe a síntese e secreção do GH agindo na hipófise e no hipotálamo. Além disso,
o próprio GH, em uma alça de retroalimentação negativa curta, atua no hipotálamo inibindo a liberação
do GHRH. O GH também atua aumentando a liberação de somatostatina, que irá inibir o eixo (KOEPPEN;
STANTON, 2009).

O GH apresenta um ritmo diário de secreção, com pico no início da manhã, um pouco antes de
despertar. Essa secreção é estimulada durante o sono profundo, de ondas lentas (estágios III e IV), e
atinge o valor mais baixo durante o dia. Esse ritmo está atrelado a padrões de sono‑vigília, e não a
padrões de claro‑escuro; por essa razão, ocorre um deslocamento de fase nas pessoas que trabalham em
37
Unidade I

turnos invertidos. A secreção do GH também é pulsátil, sendo regulada por vários estados fisiológicos
diferentes. Em situações de estresse, tanto neurogênico quanto físico, a secreção de GH aumenta. Ele
promove a lipólise (quebra de lipídios), aumenta a síntese de proteínas e antagoniza os efeitos da
insulina, ou seja, impede que a insulina reduza os níveis de glicose do sangue. Não é surpreendente,
portanto, que a hipoglicemia (queda da glicose sanguínea) aguda seja um estímulo para a secreção
de GH e que o GH seja classificado como um hormônio hiperglicemiante. Em contrapartida, o
aumento da glicemia ou dos ácidos graxos circulantes inibe a secreção de GH. A obesidade também
inibe a secreção de GH, em parte por causa da resistência à insulina (hiperglicemia relativa) e do nível
elevado de ácidos graxos circulantes; já o exercício físico e a inanição estimulam a secreção de GH.
Alguns hormônios também estimulam a secreção de GH; entre eles, estão o estrógeno, os andrógenos
e o hormônio tireoidiano.

Algumas ações do GH são diretas, outras, indiretas (via IGF‑1). Diretamente, o GH age sobre o
fígado, músculos e tecido adiposo para regular o metabolismo energético. Ele desvia o metabolismo
para que os lipídios sejam utilizados como fonte de energia e os carboidratos e as proteínas sejam
preservados, portanto, o GH é um hormônio lipolítico e anabolizante. Lipolítico, pois ativa lipase
sensível aos hormônios, uma enzima capaz de degradar lipídios que vai mobilizar as gorduras do tecido
adiposo, causando um aumento nos níveis séricos de ácidos graxos, que serão utilizados na produção de
energia pelos músculos e fígado e anabolizante, pois age estimulando a síntese proteica. Ele aumenta a
captação celular de aminoácidos e sua incorporação em proteínas, além de inibir a proteólise (quebra de
proteínas). Acredita‑se que a perda muscular que acompanha o envelhecimento é causada, pelo menos
em parte, pela diminuição da secreção de GH que ocorre nessa fase da vida.

O GH altera o metabolismo dos carboidratos, porém parte desse efeito pode ser secundário ao
aumento da mobilização e da oxidação da gordura. O GH aumenta a glicose sanguínea, esse efeito
hiperglicemiante é resultante da diminuição da captação e da utilização da glicose pela musculatura
esquelética e pelo tecido adiposo, e o aumento dos ácidos graxos livres séricos inibe a captação da
glicose por esses tecidos. O aumento da oxidação dos ácidos graxos e, consequentemente, a elevação
da acetil coenzima A (acetil CoA) hepática estimulam a gliconeogênese, que é seguida do aumento da
produção de glicose de substratos como o lactato e o glicerol. Além disso, o GH antagoniza a ação da
insulina, ele produz uma insensibilidade à insulina, e por isso é considerado um hormônio diabetogênico.
Quando secretado em excesso pode causar diabetes mellitus.

Os efeitos indiretos do GH estão relacionados ao crescimento, e são executados via fatores


de crescimento semelhantes à insulina (IGFs). Indiretamente o GH aumenta o crescimento do
esqueleto e das vísceras; crianças sem GH têm atraso de crescimento ou nanismo. O GH também
promove o crescimento das cartilagens, do comprimento dos ossos longos e do periósteo (KOEPPEN;
STANTON, 2009).

Os IGFs são hormônios multifuncionais que regulam a proliferação, a diferenciação e o metabolismo


celular. Tanto a estrutura quanto a função desses hormônios proteicos são semelhantes às da insulina.
O IGF‑1 e o IGF‑2 são produzidos em diversos tecidos e têm ações autócrinas, parácrinas e endócrinas.
O IGF‑1 é principalmente produzido em adultos e o IGF‑2 em fetos, sendo considerado um regulador do
crescimento fetal. Os IGFs e a insulina reagem de modo cruzado, um ocupando o receptor do outro, e
38
FISIOLOGIA

os IGFs em altas concentrações imitam as ações metabólicas da insulina. Os IGFs estimulam a captação
de glicose e aminoácidos e a síntese de proteínas e DNA, e medeiam a ação do GH sobre o crescimento
das cartilagens e dos ossos.

Embora o GH seja um estimulador eficaz da produção de IGFs, a correlação entre o GH e o


IGF‑1 é muito maior que a correlação com IGF‑2. Durante a puberdade, quando os níveis de GH
aumentam, os níveis de IGF‑1 aumentam paralelamente. A insulina também estimula a produção
de IGFs, e o GH não consegue estimular a produção de IGFs na ausência de insulina. A inanição
inibe de maneira eficaz a secreção de IGFs mesmo quando os níveis de GH estão elevados. Os
IGFs são mitogênicos e têm efeitos importantes nos ossos e nas cartilagens. Eles estimulam o
crescimento dos ossos, cartilagens e tecidos moles e regulam todos os aspectos do metabolismo
dos condrócitos, que são as células que formam as cartilagens. Eles estimulam a replicação dos
osteoblastos, a síntese de colágeno e matriz óssea. Os níveis séricos de IGF correlacionam‑se bem
com o crescimento nas crianças.

Os lactotrofos produzem o hormônio prolactina (PRL), uma proteína de 199 aminoácidos. A ação
primária da PRL nos humanos está relacionada ao desenvolvimento e ao funcionamento das glândulas
mamárias durante a gravidez e a lactação. Vale ressaltar que há duas diferenças importantes entre os
lactotrofos e as demais células da adeno‑hipófise:

• os lactotrofos não participam de nenhum eixo endócrino. Isso significa que a prolactina age
diretamente sobre as células não endócrinas (principalmente da mama) para produzir as alterações
fisiológicas; e

• a produção e secreção de prolactina são controladas principalmente pelo hipotálamo, que exerce
um efeito inibitório sobre os lactotrofos. Por isso, a ruptura da haste hipofisária e dos vasos
porta hipotalâmicos‑hipofisários leva ao aumento dos níveis de PRL, enquanto todos os demais
hormônios (ACTH, TSH, FSH, LH e GH) diminuem.

Homens e mulheres apresentam concentrações séricas basais semelhantes. A inibição tônica da


PRL é mediada pela dopamina que é secretada na eminência mediana. A inibição da secreção da
dopamina é responsável pela liberação da secreção de PRL. Há também indícios da existência de um
fator liberador de prolactina (PRF). A natureza exata desse composto é desconhecida, embora
muitos fatores que incluem o TRH e os hormônios da família do glucagon (secretina, glucagon, VIP
e polipeptídio inibidor gástrico) sejam capazes de estimular a liberação da PRL.

A PRL é um dos muitos hormônios liberados em resposta ao estresse. As cirurgias, o medo, os


estímulos excitatórios e os exercícios físicos são todos estímulos eficazes. Como ocorre com o GH, o sono
aumenta a secreção de PRL, que exibe um ritmo diário e pronunciado associado ao sono, entretanto, não
a uma fase específica do sono. As drogas que interferem na síntese ou na ação da dopamina aumentam
a secreção de PRL. Os anti‑hipertensivos e os antidepressivos tricíclicos, prescritos frequentemente, são
inibidores da dopamina. A somatostatina, o TSH e o GH também inibem a secreção de PRL (KOEPPEN;
STANTON, 2009).

39
Unidade I

3.6 Glândula tireoide

A glândula tireoide foi descrita pela primeira vez em 1656, por Thomas Warton. A palavra “tireoide”
vem do grego e significa “em forma de escudo” – thyreós significa escudo e óides, na forma de.
A descoberta do papel fisiológico da tireoide surgiu de observações que relacionavam a atividade
tireoidiana com a taxa metabólica basal. Atualmente, sabe‑se que a essa função somam‑se outras, como
a participação ativa de seus hormônios nos processos de crescimento e desenvolvimento do organismo
dos vertebrados.

A glândula tireoide está localizada na região anterior do pescoço, abaixo da cartilagem tireóidea
e imediatamente abaixo da cartilagem cricóidea (ou tireóidea), aderida antero‑bilateralmente à
traqueia (figura 73). Possui dois lobos, direito e esquerdo, unidos por istmo de parênquima glandular.
É uma glândula de tamanho relativamente grande comparada às outras, pesando cerca de 15‑25 g
no homem adulto. É ricamente vascularizada, daí sua cor avermelhada, sendo seu aporte sanguíneo
proveniente das artérias tireóideas superiores e inferiores, que são ramos da carótida; sua drenagem
sanguínea é feita pelas veias tireóideas, que desembocam na veia jugular. Recebe inervação simpática
e parassimpática, sendo que a inervação simpática é a principal responsável pela modulação do fluxo
sanguíneo tireoidiano. Frente à estimulação simpática, o fluxo sanguíneo tireoidiano é reduzido, o que
reduz a oferta de TSH para a glândula, principal hormônio estimulante de sua atividade.

Epiglote

Cartilagem tireoidea
Glândulas
paratireoideas
superiores

Glândula tireóidea
Glândulas
paratireoideas inferiores

Traqueia

Figura 9 – Ilustração das glândulas tireoide e paratireoide

Histologicamente, a tireoide caracteriza‑se por apresentar folículos, que são estruturas globulares
formadas por um epitélio simples cúbico. Quando temos uma hiperatividade da glândula tireoide,
essas células foliculares aumentam em número e tornam‑se cilíndricas e, inversamente (tornam‑se
pavimentosas), quando a atividade tireoidiana diminui. Os folículos tireoidianos são preenchidos
por coloide, cujo principal componente é uma proteína chamada tireoglobulina (TG). O processo de
síntese dos hormônios tireoidiano ocorre em duas etapas; a primeira etapa é intracelular e ocorre nas
células foliculares, e a segunda etapa é extracelular e ocorre no coloide. Entre os folículos, estão células
de origem embriológica distinta das células tireoidianas, chamadas de células C ou parafoliculares.
Elas são responsáveis pela produção da calcitonina, hormônio relacionado ao metabolismo de cálcio
(CURI; PROCOPIO, 2009).

40
FISIOLOGIA

3.6.1 Síntese dos hormônios tireoidianos

Os hormônios tireoidianos, a triiodotironina (T3) e a tiroxina ou tetraiodotironina (T4), apresentam


duas substâncias essenciais em sua composição: o iodo e a tireoglobulina (CURI; PROCOPIO, 2009).

O iodo presente na composição dos hormônios tireoidianos é oriundo da alimentação, portanto,


é necessário um suprimento alimentar adequado de iodo para garantir a síntese dos hormônios
tireoidianos em quantidades apropriadas. A baixa ingestão de iodo é um limitante para a síntese
dos hormônios tireoidianos, reduzindo suas concentrações circulantes e seus efeitos biológicos,
condição conhecida como hipotireoidismo. Em populações em que o aporte de iodo nutricional
diário é insuficiente, observa‑se o aumento do volume da tireoide, caracterizando o bócio endêmico.
Os principais alimentos que são fonte de iodo são os de origem marinha, no entanto, para prevenir
o bócio e levando‑se em consideração a variabilidade de hábitos alimentares em todo o planeta,
definiu‑se como estratégia, para garantir a oferta adequada de iodo, a colocação de iodo no sal
de cozinha. O iodo ingerido é reduzido a iodeto no trato digestório, por ação de bactérias, sendo
absorvido no intestino delgado. Na circulação, o iodeto será captado pela tireoide e utilizado para
biossíntese hormonal.

A tireoglobulina (TG) é uma glicoproteína de alto peso molecular, constituída por duas subunidades.
É sintetizada exclusivamente na célula tireoidiana e secretada para o interior dos folículos tireoidianos,
em resposta à ação do TSH. Ela apresenta vários resíduos do aminoácido tirosina, os quais, durante
o processo de síntese dos hormônios, sofrem iodação, razão pela qual é considerada a matriz para a
biossíntese desses hormônios, bem como o reservatório deles.

O processo de síntese inicia‑se com a captação de iodeto (I‑) pela porção basal da célula folicular
tireoidiana. Essa captação ocorre contra o gradiente eletroquímico devido ao potencial de membrana
da célula tireoidiana ser negativo e por ela apresentar alta concentração de iodeto. Esse processo
de captação depende de uma proteína chamada NIS (co‑transportadora de Na+/I‑), que promove a
entrada de iodeto utilizando a força movente do Na+, o qual adentra a célula a partir do gradiente de
concentração do Na+, gerado pela Na+‑K+‑ATPase. Uma vez no interior da célula, o iodeto dirige‑se à
porção apical da célula, onde será oxidado pela enzima tireoperoxidase (TPO) – esse processo depende
de um sistema gerador de peróxido, também localizado no polo apical da célula. A TPO também oxida
um ou dois sítios de algumas tirosinas presentes na tireoglobulina, criando‑se condições para que o iodo
oxidado aí se incorpore.

Quando um iodo é incorporado à tirosina, gera‑se a monoiodotirosina (MIT); quando dois iodos
são incorporados à tirosina, temos a diiodotirosina (DIT). Esse processo de incorporação de iodo à
tirosina, presente na tireoglobulina, é conhecido como iodação da tireoglobulina. Após a iodação
das tireoglobulinas ocorre o acoplamento entre elas, ou seja, ocorre a união entre as MITs e as DITs,
gerando as tironinas iodadas (duas tirosinas = uma tironina), e esse processo também é catalisado
pela TPO. O acoplamento de uma MIT com uma DIT gera a triiodotironina (uma tironina com 3 iodos –
T3), enquanto o acoplamento de duas DITs resulta na geração da tetraiodotironina (uma tironina com 4
iodos – T4). O acoplamento de duas MITs gera a diiodotironina (uma tironina com 2 iodos – T2), que não
apresenta efeito biológico significativo, já que os receptores dos hormônios tireoidianos apresentam
41
Unidade I

baixa afinidade e especificidade a essa molécula. Essas moléculas geradas permanecem do coloide,
presas à tireoglobulina. A síntese dos hormônios tireoidianos é dependente do hormônio hipofisário TSH
(CURI; PROCOPIO, 2009).

3.6.2 Secreção dos hormônios tireoidianos

Para que os hormônios atinjam a circulação, eles devem ser removidos da tireoglobulina. Inicialmente
ocorre a endocitose do coloide, e esse processo de captação do coloide depende da atividade das
microvilosidoades presentes na membrana apical das células foliculares. Essas expansões citoplasmáticas
estão voltadas para o coloide e apresentam movimentos, cuja intensidade está relacionada à atividade
da célula folicular. A movimentação dessas microvilosidades faz com que suas extremidades apicais
fundam‑se, e o resultado é a formação de vesículas contendo coloide que se incorporam ao citoplasma.
No citoplasma, as vesículas contendo coloide fundem‑se aos lisossomos, que provocam a quebra da
molécula de tireoglobulina e liberação de T3, T4, T2, MITs e DITs. Os MITs e DITs sofrem ação das desiodases
e as tirosinas e iodos liberados são reutilizados pela glândula (CURI; PROCOPIO, 2009).

Os T3 e T4 liberados das tireoglobulinas, em função de sua lipossolubilidade, difundem‑se por meio


da membrana da célula folicular e caem na corrente sanguínea. Uma porcentagem do T3 que sai da
célula é produto da desiodação de T4 que ocorreu no citoplasma da célula. Cerca de 75% da produção
hormonal tireoidiana corresponde ao T4, sendo os 25% restantes representados pelo T3. Porém, grande
parte do T4 gerado sofrerá desiodação em tecidos periféricos (fígado, rins, músculo esquelético e nos
leucócitos) gerando T3, o qual passa para a circulação contribuindo para a manutenção da concentração
desse hormônio no sangue. O processo de desiodação do T4 ocorre por meio de enzimas conhecidas
como desiodases.

Devido à sua baixa hidrossolubilidade, os hormônios tireoidianos são transportados pela corrente
sanguínea junto com proteínas transportadoras específicas, as TBG (globulina transportadora
de hormônios tireoidianos), a TBPA (pré‑albumina transportadora de hormônios tireoidianos ou
transtiretina – TTR) e a albumina. A TBG e a TBPA possuem maior afinidade ao T4 que ao T3, de modo
que, em termos porcentuais, há mais T3 livre do que T4 circulando na forma livre. Quando os hormônios
tireoidianos dissociam‑se das proteínas transportadoras, ficam na forma livre, tornando‑se disponíveis
para exercerem seus efeitos biológicos em seus tecidos‑alvo.

Como descrito anteriormente, a glândula tireoide está sob o controle do hipotálamo e da hipófise
no eixo hipotálamo‑hipófise‑tireoide. A função tireoidiana é regulada diretamente pelo hormônio
tireotrófico (TSH) produzido pelos tireotrofos da adeno‑hipófise. O TSH estimula todas as etapas
de síntese e secreção dos hormônios tireoidianos, bem como a proliferação das células foliculares
tireoidianas. A síntese e secreção de TSH está sob o controle de dois hormônios hipotalâmicos, o TRH e
a somatostatina (SS). O TRH age estimulando os tireotrofos a produzirem TSH, e a somatostatina age
inibindo‑os. Os hormônios tireoidianos também exercem efeitos diretos nos tireotrofos, reduzindo a
secreção de TSH, bem como no hipotálamo, reduzindo a secreção de TRH e estimulando a liberação de
SS. Esse mecanismo de controle da função tireoidiana, que é desencadeado pela própria concentração
plasmática dos hormônios tireoidianos, é o mecanismo de retroalimentação negativa ou de feedback
negativo.
42
FISIOLOGIA

3.6.3 Funções dos hormônios tireoidianos

Apesar da sua solubilidade em meio lipídico o hormônio tireoidiano acessa as células‑alvo através de
proteínas transportadoras específicas (para T3 e T4) localizadas na membrana plasmática. Os receptores
de hormônios tireoidianos são proteínas nucleares que atuam como fatores transcricionais. Eles
reconhecem sequências específicas na região promotora de genes‑alvo dos hormônios tireoidianos,
conhecidas como elementos responsivos aos hormônios tireoidianos, às quais se ligam, para
posteriormente interagirem com o T3. Quando o hormônio se liga ao seu receptor, ele ativa ou inibe a
transcrição de genes específicos e, portanto, a síntese de proteínas específicas, que são as responsáveis
pelos efeitos biológicos. Esse mecanismo de ação é denominado ação genômica. O T3 é o seu principal
mediador, já que os receptores dos hormônios tireoidianos apresentam maior afinidade e especificidade
a este que ao T4 (em torno de 10 vezes). Ainda, o T3 apresenta efeito biológico cerca de 4‑5 vezes maior
que o T4.

Existem outros efeitos dos hormônios tireoidianos que ocorrem muito rapidamente e na presença
de bloqueadores da transcrição gênica, o que indica que também exerçam ações não genômicas. Essas
ações são mediadas principalmente por T4, T3 reverso e T2, e são evidenciadas em mitocôndrias, no
citoesqueleto e na membrana celular.

De forma geral os hormônios tireoidianos são os principais reguladores da taxa metabólica basal,
sendo imprescindíveis para a manutenção da temperatura corporal. Eles ativam processos que levam à
produção de calor. Suas ações calorigênicas envolvem a ativação da síntese e degradação de carboidratos,
lipídios e proteínas, processos que aumentam tanto a síntese quanto a hidrólise de ATP, processos estes
que geram calor.

Os hormônios tireoidianos agem no metabolismo de lipídios, são potentes estimuladores


da lipogênese no fígado, tecido adiposo marrom e branco e glândula mamária. Por outro lado,
eles são muito eficientes em promover a lipólise nesses mesmos tecidos. O mesmo ocorre com o
colesterol, os hormônios da tireoide estimulam tanto a síntese quanto a degradação do colesterol,
sendo que o catabolismo predomina sobre a síntese. Sobre o metabolismo de carboidratos, os
hormônios da tireoide estimulam a sua absorção intestinal e a produção hepática de glicose
(gliconeogênese), aumentando o aporte de glicose plasmática. Também aumentam a utilização
de glicose pelas células e estimulam a síntese do transportador de glicose isoforma 4 (GLUT4),
que é altamente expresso no tecido adiposo branco, marrom, músculo cardíaco e esquelético.
No metabolismo de proteínas, é estimulada tanto a síntese quanto o catabolismo. Esses efeitos
são mais evidentes na musculatura esquelética, que constitui o principal depósito de proteínas
no organismo.

Um indivíduo com hipotireoidismo, situação em que ocorre redução da concentração de hormônios


tireoidianos na circulação e, consequentemente, redução de seus efeitos, apresenta intolerância ao
frio, com ativação de mecanismos que evitam a perda de calor, como vasoconstrição periférica, razão
pela qual ocorrem palidez e ressecamento da pele, enfraquecimento dos cabelos e unhas. Observam‑se
também aumento de massa gorda e da colesterolemia, além de redução da massa muscular decorrente
da diminuição da síntese proteica (CURI; PROCOPIO, 2009).
43
Unidade I

Ao contrário, no hipertireoidismo, a elevação da calorigênese ativa processos termolíticos para a


manutenção da temperatura corporal, como vasodilatação periférica, de modo que a cútis fique mais
avermelhada e umedecida, os cabelos mais brilhantes, as unhas mais fortes, entre outras alterações.
No hipertireoidismo, observam‑se emagrecimento, cujo grau depende do estado hipertireoidico
estabelecido, e redução da colesterolemia. Há predomínio de catabolismo proteico, razão pela qual
ocorre intensa fraqueza muscular.

Os hormônios tireoidianos têm função essencial no crescimento e desenvolvimento. Eles estimulam


a expressão do gene do GH (efeito genômico), o que aumenta a síntese desse hormônio. Crianças com
hipotireoidismo apresentam deficit de crescimento, o qual é prontamente reestabelecido pela reposição
de T4. Eles também aumentam a produção de IGFs em tecidos como músculos, bem como influenciam
positivamente a produção do fator de crescimento neuronal (NGF) e IGF no sistema nervoso central. No
período fetal, os hormônios tireoidianos têm um papel essencial na síntese e na secreção da substância
surfactante pulmonar, cuja função é diminuir a tensão superficial alveolar, evitando o colabamento dos
alvéolos pulmonares.

Durante o período embrionário, o T3 é fundamental para o desenvolvimento do sistema nervoso.


O T3 é responsável pela multiplicação celular e sinaptogênese no SNC, assim como pela mielinização
neuronal. Esses efeitos são decorrentes de seu estímulo sobre a síntese de NGF. A vascularização do
sistema nervoso também depende de IGFs produzidos por estímulos tireoidianos. No período neonatal,
o T3 dá continuidade aos processos de sinaptogênese; assim, a deficiência de hormônios tireoidianos
no feto traz consequências extremamente graves para o desenvolvimento do sistema nervoso, levando
ao quadro de cretinismo, caracterizado por um extremo grau de retardamento mental. Essa deficiência
pode ser detectada ao nascimento, com o teste do pezinho, no qual é dosado o TSH que, se elevado,
indica hipotireoidismo congênito. O tratamento imediato com T3 pode fazer com que o quadro seja
praticamente revertido, já que a sinaptogênese e a mielinização poderão ser estimuladas, o que fará os
neurônios, mesmo em número reduzido, poderem estabelecer conexões sinápticas adequadas (CURI;
PROCOPIO, 2009).

No período adulta, os hormônios tireoidianos são importantes para determinar o nível


de atenção, manutenção e desenvolvimento dos processos cognitivos (aprendizado). No
hipertireoidismo, o indivíduo apresenta um estado de alerta contínuo que facilita o aprendizado,
mas, por outro lado, leva à insônia. No hipotireoidismo, o indivíduo apresenta dificuldade de
aprendizado e sonolência.

No sistema cardiovascular, os hormônios tireoidianos conferem maiores velocidade e força de


contração ao músculo cardíaco; isso causa um aumento do volume sistólico. Por essas razões, no
hipertireoidismo, o débito cardíaco encontra‑se elevado. No entanto, a pressão arterial média não se
modifica devido à vasodilatação periférica reflexa que ocorre em virtude do efeito calorigênico dos
hormônios tireoidianos.

No sistema respiratório, os efeitos dos hormônios tireoidianos são decorrentes de suas ações
sobre a taxa metabólica basal. Assim, a elevação da taxa metabólica, observada no hipertireoidismo,
gera aumento no consumo de O2 e da produção de CO2, promove queda da PO2 e pH e aumento
44
FISIOLOGIA

da PCO2 sanguíneos. Essas alterações são rapidamente detectadas por quimiorreceptores centrais
e periféricos, gerando‑se uma hiperventilação reflexa, para correção desses parâmetros (CURI;
PROCOPIO, 2009).

A glândula tireoide contém outro tipo de célula além das células foliculares, são as células
parafoliculares. As células parafoliculares também são denominadas células C, distribuem‑se de
uma forma esparsa na glândula tireoide e produzem o hormônio polipeptídico calcitonina. Ele
age principalmente nos ossos e rins, controlando o metabolismo do cálcio, sendo considerado um
marcador histoquímico bastante útil do câncer medular de tireoide (KOEPPEN; STANTON, 2009).
Maiores detalhes sobre a calcitonina serão discutidos adiante junto com o tópico que trata da
glândula paratireoide.

3.7 Glândula paratireoide

As glândulas paratireoides são quatro estruturas localizadas ao redor da glândula tireoide (figura 73).
São formadas predominantemente por células principais que estão arranjadas em forma de cordões
epiteliais, podendo também estar arranjadas em forma de folículos ou ácinos. O hormônio paratireoide
(PTH) ou paratormônio é o principal hormônio que protege o corpo contra a hipocalcemia (baixos
níveis plasmáticos de cálcio). Seus alvos primários são os ossos e os rins. O PTH também estimula a
produção da 1,25‑di‑hidroxivitamina D (AIRES, 2008; KOEPPEN; STANTON, 2009).

O cálcio (Ca2+) e o fosfato são essenciais para a vida humana, porque desempenham papéis estruturais
importantes nos tecidos duros (ossos e dentes) e são reguladores importantes das vias metabólicas e de
sinalização. No sangue, a maior parte do fosfato está na forma ionizada do ácido fosfórico, denominada
fosfato inorgânico (Pi).

O cálcio é um nutriente essencial para o organismo que se obtém da ingesta alimentar assim
como de uma vasta reserva nos ossos, que pode ser requisitada para manter os níveis de cálcio
circulante normais nos períodos de restrição alimentar e durante a gravidez e amamentação, quando
a demanda está aumentada. O cálcio circulante é encontrado em três formas: cálcio ionizado livre,
cálcio ligado a proteínas e complexos de cálcio com ânions (por exemplo, fosfatos, bicarbonato ou
citrato). A forma ionizada representa 50% do cálcio circulante e, por ser a forma fundamental para
muitas funções celulares, a concentração de cálcio nos compartimentos extracelular e intracelular
está sob o controle hormonal direto e a sua concentração é mantida dentro de um intervalo de
variação restrito. Uma quantidade reduzida de cálcio (hipocalcemia) ou elevada (hipercalcemia)
pode causar uma grande variedade de alterações fisiopatológicas, que incluem disfunção
neuromuscular, disfunção do sistema nervoso central, insuficiência renal, calcificação de tecidos
moles e doenças ósseas.

O Pi também é um nutriente essencial para o organismo e está armazenado em grandes quantidades


nos ossos formando complexos com o cálcio. A maior parte do Pi circulante está na forma ionizada
livre, e há uma pequena parte que circula ligada a proteínas ou na forma de complexos com cátions
(KOEPPEN; STANTON, 2009).

45
Unidade I

O Pi é um componente intracelular de importância fundamental. De fato, são as ligações fosfato


de alta energia do ATP que mantêm a vida. A fosforilação e desfosforilação de proteínas, lipídios,
segundos mensageiros e cofatores correspondem às etapas reguladoras básicas de numerosas vias
metabólicas e de sinalização, e o fosfato também forma a estrutura dos ácidos nucleicos.

As duas principais fontes de Ca2+ e Pi circulantes são os alimentos e os ossos do esqueleto. A


1,25‑di‑hidroxivitamina D (também chamada de calcitriol) e o hormônio paratireoide (PTH),
regulam a absorção intestinal de cálcio e fosfato e a liberação desses elementos para a circulação após
a reabsorção óssea. Os principais processos responsáveis pela remoção de cálcio e fosfato do sangue são
a excreção renal e a formação óssea. A 1,25‑di‑hidroxivitamina D e o PTH regulam ambos os processos.

O principal sinal que estimula a secreção de PTH é a baixa concentração de cálcio circulante.
A concentração extracelular de cálcio é detectada pelos receptores sensíveis ao cálcio das células
principais das paratireoides. Nessas células, quantidades crescentes de cálcio extracelular ligam‑se
a esses receptores e ativam as vias de sinalização que inibem a secreção de PTH (KOEPPEN;
STANTON, 2009).

A calcitonina é um hormônio produzido principalmente pelas células parafoliculares ou células C


da glândula tireoide. O principal efeito da calcitonina é reduzir os níveis circulantes de cálcio e fósforo,
principalmente pela inibição da saída desses minerais do osso. Portanto, a calcitonina e o PTH agem
antagonicamente regulando os níveis de cálcio no sangue (AIRES, 2008).

3.8 Pâncreas endócrino

O pâncreas endócrino é constituído por aglomerados de células formando estruturas arredondadas


ou ovoides, dispersas no tecido acinar pancreático (figura 74). Essas estruturas são chamadas ilhotas
de Langerhans ou ilhotas pancreáticas (figura 75). No pâncreas humano, há de 1 a 2 milhões de
ilhotas que correspondem a 2 % de seu peso total. São estruturas formadas por quatro tipos de células:
as células α, dispostas perifericamente formando um revestimento das ilhotas e são responsáveis pela
produção de glucagon; as células β, produtoras e secretoras de insulina, ocupando a parte central da
ilhota e formando o núcleo dela; as células δ, produtoras de somatostatina, localizadas na periferia e
próximo a capilares; e as células PP, produtoras do polipeptídio pancreático, tendo a mesma disposição
que as células δ. A maior parte da ilhota é composta pelas células β, com 60% do número total de células
e seguidas pelas células α, com 25% das células. A irrigação das ilhotas é centrifuga, sendo as células
β as primeiras a receberem o sangue oxigenado que depois irriga a periferia. As ilhotas pancreáticas
são ricamente inervadas por fibras do sistema nervoso simpático e parassimpático. A noradrenalina, a
acetilcolina, o peptídeo intestinal vasoativo (VIP), entre outros, são mediadores químicos nas ilhotas
(AIRES, 2008).

46
FISIOLOGIA

Figura 10 – Pâncreas e duodeno seccionados (d = duodeno; dpa = duto pancreático acessório;


dpp = duto pancreático principal; cp = cabeça do pâncreas; cop = corpo do pâncreas; cap = cauda do pâncreas)

Lembrete

O pâncreas é uma glândula mista por produzir enzimas digestivas


secretadas na luz do duodeno, considerado meio externo (pâncreas
exócrino), e hormônios secretados no sangue (pâncreas endócrino).

A regulação da secreção de insulina é feita fundamentalmente pela quantidade de glicose circulante.


O aumento da glicemia causa elevação da secreção de insulina, a qual, por meio de sua ação nos
diferentes tecidos do organismo, aumenta o transporte de glicose para os mesmos tecidos, diminuindo
a glicemia. Com a diminuição da glicemia, o estímulo secretório desaparece e, consequentemente, a
secreção do hormônio diminui. Assim, é estabelecido um mecanismo regulador da glicemia, fundamental
para a manutenção da homeostasia glicêmica (AIRES, 2008).

Figura 11 – Representação da ilhota pancreática

47
Unidade I

Além da glicose, outros substratos, hormônios e o sistema nervoso interferem na secreção de


insulina. O sistema nervoso autônomo modula ativamente a secreção de insulina. Durante a fase cefálica
da digestão a secreção de insulina ocorre antes do início da refeição, o aroma do alimento provoca
um reflexo condicionado que determina uma intensa estimulação vagal nas ilhotas pancreáticas. A
acetilcolina, secretada pelas terminações nervosas parassimpáticas, induz a sensibilização das células
β para que ocorra uma resposta secretória mais eficiente de insulina frente ao estímulo alimentar.
Diferentemente, no caso de um estado de alerta, a noradrenalina secretada pelos nervos simpáticos age
nas células β causando a inibição da secreção de insulina, aumentando a glicemia que é necessária para
a reação de alerta do indivíduo.

Vários hormônios participam da modulação da secreção de insulina. Alguns agem diretamente


inibindo as células β, como o glucagon e a somatostatina. Outros, como o cortisol ou o GH, agem
aumentando a resistência periférica à insulina, consequentemente, elevando a concentração de glicose
circulante, o que leva ao aumento da secreção de insulina. Os hormônios gastrintestinais estimulam a
secreção de insulina, sendo os responsáveis pelo maior aumento da secreção do hormônio logo após a
ingestão do alimento, antes mesmo da sua absorção.

Assim como a insulina, o principal estímulo que regula a secreção de glucagon é a glicemia.
Porém, no caso do glucagon, a diminuição da glicemia é o estímulo que faz as células α secretarem
o hormônio e, por outro lado, o aumento da glicemia inibe a secreção de glucagon, sendo, então, sua
ação contrária à da insulina. O sistema nervoso autônomo, hormônios, ácidos graxos e aminoácidos
interferem na sua secreção.

No caso da somatostatina, a resposta secretória é bastante parecida com a descrita para insulina. O
polipeptídio pancreático ainda não tem uma função completamente conhecida.

A insulina e o glucagon, de forma integrada e por meio de um balanço equilibrado de secreção e ação
(no geral, inversamente proporcional), são responsáveis pela manutenção da homeostasia glicêmica.
Esse equilíbrio envolve a manutenção da glicemia entre 70 e 100 mg/dl. Uma importante conquista
evolutiva dos mamíferos é a capacidade de estocar os nutrientes provenientes de uma refeição para
posteriormente, na ausência de outra refeição, mobilizar esses estoques, proporcionando substratos
necessários para garantir a vida celular e com isso a sobrevivência do organismo. Nesses processos, a
insulina desempenha um papel‑chave, auxiliada pela ação contrarreguladora do glucagon e ainda de
outros hormônios, como catecolaminas, cortisol e GH. Após uma refeição, o organismo entra em um
período caracteristicamente anabólico em que, em tipos celulares específicos, a insulina estimula:

• a captação de aminoácidos e síntese proteica;

• a captação de glicose, síntese de glicogênio e participação na síntese e estoque de lipídios; e

• a metabolização hepática e estoque de lipídios no tecido adiposo. No estado pós‑absortivo, em


que a concentração de insulina retorna ao basal, a secreção de glucagon aumenta e as vias
metabólicas mencionadas acima começam a reverter os efeitos da insulina, para que o organismo
se mantenha em estado de jejum (AIRES, 2008).
48
FISIOLOGIA

O diabetes mellitus (DM) é uma síndrome metabólica que apresenta, entre outras tantas manifestações,
a hiperglicemia (valores de glicemia ≥126 mg/dl em jejum e ≥200 mg/dl duas horas depois da refeição)
contínua ou intermitente. Classifica‑se o diabetes mellitus em dois grandes grupos: DM do tipo 1,
cuja causa primaria é a falência pancreática (destruição autoimune das células β) e DM tipo 2, cuja
causa primaria é a resistência à insulina (diminuição na resposta das células‑alvo). Entretanto, essa
classificação não exclui a possibilidade de que os portadores de DM tipo 1 desenvolvam resistência à
insulina, assim como os pacientes com DM tipo 2 possam evoluir para falência pancreática, passando a
depender de insulina exógena.

O DM tipo 2 é a forma mais frequente de DM, apresentando um fator genético importante (com alta
incidência familiar). Vários fatores ambientais também estão relacionados ao DM tipo 2, muitos deles
relacionados ao envelhecimento, já que a incidência do DM tipo 2 aumenta com a idade. Um importante
fator predisponente é a obesidade, que além de induzir resistência insulínica em resposta à ingestão
excessiva de alimentos, induz superestimulação da secreção de insulina, contribuindo com a exaustão e
falência das células β (AIRES, 2008).

3.9 Glândula adrenal

As glândulas adrenais (ou suprarrenais) são estruturas bilaterais localizadas imediatamente acima
dos rins. As glândulas adrenais são similares à glândula hipófise, pois ambas são derivadas tanto de
tecido neural quanto de tecido epitelial (ou semelhante ao tecido epitelial) e, portanto, são produzidas
duas classes de hormônios, as catecolaminas e os esteroides. Essa glândula é composta por duas grandes
regiões: a medula, que produz adrenalina e noradrenalina (figura 76) e o córtex que, por sua vez, é
dividido em três zonas: a glomerulosa, a fasciculada e a reticular, que produzem mineralocorticoides,
glicocorticoides e androgênios adrenais, respectivamente (KOEPPEN; STANTON, 2009).

Suprarrenais
Córtex

Rim

Medula

Figura 12 – Adrenal ou glândula suprarrenal (observe a glândula em corte transversal à direita)

A medula da adrenal é formada por células cromafins, derivadas das células da crista neural. As
células cromafins são, na verdade, neurônios simpáticos pós‑ganglionares modificados, e são inervadas
por neurônios simpáticos colinérgicos. Sintetizam o neurotransmissor da classe das catecolaminas
noradrenalina, a partir do aminoácido tirosina. A noradrenalina pode ser transformada em adrenalina
49
Unidade I

pela ação de uma feniletanolamina N‑metil transferase. A adrenalina é o produto hormonal final da
medula adrenal (KOEPPEN; STANTON, 2009).

3.9.1 Medula adrenal

As catecolaminas adrenomedulares (adrenalina e noradrenalina) são secretadas no sangue e atuam


como hormônios. Cerca de 80% das células da medula adrenal secretam adrenalina e os 20% restantes
secretam noradrenalina. Apesar da adrenalina circulante ser totalmente derivada da medula adrenal,
somente cerca de 30% da noradrenalina vem da medula. Os 70% restantes são liberados pelos terminais
nervosos pós‑ganglionares simpáticos e difundem‑se no sistema vascular.

A secreção da adrenalina e noradrenalina da medula adrenal é regulada, principalmente, em resposta


a várias formas de estresse, incluindo exercícios, hipoglicemia e hipovolemia hemorrágica. Os centros
autonômicos primários que iniciam a resposta simpática estão no hipotálamo e no tronco encefálico, e
recebem informações do córtex cerebral, do sistema límbico e de outras regiões do hipotálamo e tronco
encefálico.

O sinal químico para a secreção da catecolamina pela medula da adrenal é a acetilcolina, secretada
pelos neurônios pré‑ganglionares simpáticos, que se liga a receptores nicotínicos nas células cromafins.
A acetilcolina estimula a síntese e secreção de catecolaminas, portanto, a síntese de catecolaminas
está intimamente acoplada à sua secreção. Pelo fato da medula da adrenal ser diretamente inervada
pelo sistema nervoso autonômico, a resposta adrenomedular é muito rápida, e as respostas podem ser
antecipadas. Entretanto, alguns estímulos, como a hipoglicemia, produzem uma resposta adrenomedular
mais forte que a da terminação nervosa simpática.

Os receptores adrenérgicos (de adrenalina e noradrenalina) são geralmente classificados em


receptores α e receptores β adrenérgicos. Cada um desses grupos está subdividido em α1 e α2, e β1,
β2 e β3. Ambas as catecolaminas são potentes agonistas dos receptores α, β1, e β2, já a noradrenalina é
um agonista mais potente de receptores β2.

Muitos órgãos e tecidos são afetados pela resposta simpático‑adrenal. Um exemplo é a resposta
ao exercício físico. O exercício físico é similar à resposta luta ou fuga, mas sem o elemento subjetivo
de medo, envolvendo maior resposta adrenomedular (a função endócrina da adrenalina) do que uma
resposta nervosa simpática (função neurotransmissora da noradrenalina). O objetivo geral do sistema
simpático‑adrenal durante o exercício é responder à demanda energética aumentada dos músculos
cardíaco e esquelético, enquanto é mantido um suprimento suficiente de oxigênio e glicose para o
cérebro. A resposta aos exercícios inclui as seguintes ações fisiológicas principais da adrenalina:

• O fluxo sanguíneo aumentado para os músculos é obtido pela ação integrada da noradrenalina e
adrenalina sobre o coração, veias, vasos linfáticos e arteríolas não musculares e musculares.

• A adrenalina promove a glicogenólise no músculo. Promove a lipólise do tecido adiposo, que é


coordenada com o aumento da cetogênese hepática; e o aumento da glicemia pelo aumento
da glicogenólise e gliconeogênese hepática. Os efeitos das catecolaminas sobre o metabolismo
50
FISIOLOGIA

são reforçados por estimularem a secreção de glucagon e inibirem a secreção de insulina. As


catecolaminas também melhoram o suprimento de oxigênio por relaxar a musculatura lisa
bronquiolar.

• As catecolaminas diminuem a demanda de energia pela musculatura lisa visceral. Em geral, a


resposta simpático‑adrenal diminui a motilidade dos músculos lisos no TGI e no trato urinário,
conservando energia onde ela não é necessária (KOEPPEN; STANTON, 2009).

A zona fasciculada é a região central do córtex adrenal e produz o hormônio glicocorticoide


cortisol. É um tecido ativamente esteroidogênico composto de cordões retos de células grandes.
Essas células têm um citoplasma espumoso porque são cheias de gotículas de lipídios que
representam ésteres de colesterol armazenados. Tais células produzem e importam o colesterol
do sangue na forma de lipoproteína de baixa densidade (LDL) e lipoproteína de alta densidade
(HDL). O colesterol livre é, então, esterificado e armazenado em gotículas de lipídios. O colesterol
armazenado é continuamente transformado em colesterol livre e esse processo é acelerado em
resposta ao estímulo de síntese do cortisol.

O cortisol é transportado pelo sangue, predominantemente, ligado à globulina ligante de


corticosteroide (CBG), que liga cerca de 90% do hormônio circulante, e à albumina, que liga de 5% a 7%.
O cortisol é reversivelmente inativado pela conversão em cortisona. Essa conversão ocorre em tecidos
que expressam o receptor de glicocorticoides, incluindo o fígado (sítio predominante de inativação,
facilitando sua excreção pelos rins), tecido adiposo e sistema nervoso central (SNC), assim como a pele
(por isso, cremes à base de cortisona podem ser aplicados na pele para frear a inflamação) (KOEPPEN;
STANTON, 2009).

O cortisol tem uma ampla faixa de ação e é frequentemente caracterizado como “hormônio
do estresse”. Em geral, o cortisol mantém os níveis de glicemia, as funções do SNC e as funções
cardiovasculares durante o jejum, e aumenta a glicemia em episódios de estresse. O cortisol tem
um papel anti‑inflamatório muito importante, diminuindo a atividade do sistema imunológico. O
cortisol também desvia a energia para enfrentar um determinando tipo estresse, inibindo as funções
reprodutoras.

O cortisol, por ser um glicocorticoide, é um hormônio esteroide do córtex adrenal que regula a
glicemia. Ele aumenta a glicemia por estimular a gliconeogênese. O cortisol aumenta a expressão
gênica de enzimas gliconeogênicas hepáticas e diminui a captação de glicose no músculo esquelético
e tecido adiposo. Durante o período interdigestivo (baixa razão insulina‑glucagon), o cortisol promove
a poupança de glicose potencializando os efeitos das catecolaminas sobre a lipólise, disponibilizando
ácidos graxos livres como fonte de energia. O cortisol inibe a síntese de proteínas e aumenta a
proteólise, especialmente no músculo esquelético, fornecendo uma rica fonte de carbonos para a
gliconeogênese hepática.

O cortisol estimula a síntese de eritropoietina e aumenta a produção de células vermelhas.


Ocorre anemia quando há falta de cortisol e policitemia quando o cortisol está em excesso (KOEPPEN;
STANTON, 2009).
51
Unidade I

As respostas inflamatória e imune são, frequentemente, parte das respostas ao estresse. Entretanto,
as respostas inflamatória e imune possuem o potencial de causar dano significativo, até a morte,
caso não sejam mantidas em equilíbrio homeostático. Sendo um hormônio de estresse, o cortisol
desempenha um papel importante na manutenção da homeostase imune. O cortisol, junto à adrenalina
e à noradrenalina, reprime a produção de citocinas pró‑inflamatórias, estimulando a produção de
citocinas anti‑inflamatórias.

A resposta inflamatória a lesões consiste em dilatação local de capilares e aumento da permeabilidade


capilar, tendo como resultado edema local e acúmulo de células brancas sanguíneas. O cortisol estabiliza
as membranas lisossomais, diminuindo a liberação de enzimas proteolíticas que aumentam a formação
local de edema. Em resposta à lesão, os leucócitos normalmente migram para o local da lesão e deixam
o sistema vascular. Esses efeitos são inibidos pelo cortisol, assim como ocorre com a atividade fagocítica
dos neutrófilos, apesar da liberação dos neutrófilos na medula óssea ser estimulada. Análogos de
glicocorticoides são utilizados farmacologicamente devido a suas propriedades anti‑inflamatórias
(KOEPPEN; STANTON, 2009).

Os glicocorticoides aumentam a reabsorção óssea e diminuem a absorção intestinal e renal de cálcio.


Ambos os mecanismos servem para diminuir a [Ca2+] sérica. Como a [Ca2+] sérica cai, a secreção do
hormônio paratireoide (PTH) aumenta e o PTH imobiliza o cálcio dos ossos por estimular a reabsorção
óssea. Apesar de os glicocorticoides serem úteis para tratar inflamações associadas com artrites, o uso
excessivo resultará em perda óssea (osteoporose).

O cortisol inibe a proliferação fibroblástica e a formação de colágeno. Em quantidades excessivas de


cortisol, a pele torna‑se mais fina e facilmente danificada.

O cortisol inibe a secreção e a ação do hormônio antidiurético (ADH). Na ausência de cortisol, a


ação do ADH é potencializada, o que torna difícil aumentar a liberação de água livre em resposta a
uma sobrecarga de água, aumentando a probabilidade de intoxicação hídrica. Esse efeito é balanceado
pelo equilíbrio entre cortisol e cortisona. O cortisol aumenta a taxa de filtração glomerular tanto por
aumentar o débito cardíaco quanto por agir diretamente nos rins.

O cortisol exerce um efeito trófico sobre a mucosa do TGI. Na ausência de cortisol, a mobilidade
do TGI diminui, a mucosa do TGI degenera e a produção de ácidos e enzimas diminui. Já o excesso de
cortisol estimula a secreção de ácido gástrico e pepsina, aumentando o risco de desenvolvimento
de úlceras.

O cortisol é necessário para o desenvolvimento normal do SNC, da retina, da pele, do TGI


e dos pulmões. O sistema mais bem estudado são os pulmões, nos quais o cortisol induz a
diferenciação e maturação das células alveolares tipo II. Durante a parte final da gestação, essas
células produzem surfactantes que reduzem a tensão superficial nos pulmões e permitem o
início da respiração no nascimento.

A produção do cortisol pela zona fasciculada é regulada pelo eixo hipotálamo‑hipófise‑adrenal


envolvendo o hormônio liberador de corticotrofina (CRH), ACTH e cortisol. O hipotálamo e a hipófise
52
FISIOLOGIA

estimulam a produção de cortisol que, por sua vez, atua negativamente (feedback negativo) sobre o
hipotálamo e a hipófise para manter seu ponto de equilíbrio. A forma neurogênica de estresse (medo)
e a sistêmica (hipoglicemia, hemorragia, citocinas) estimulam a liberação de CRH. O CRH está, também,
sujeito a uma forte regulação rítmica diária dos núcleos supraquiasmáticos no hipotálamo, fazendo com
que o nível de cortisol aumente no final da madrugada e nas primeiras horas da manhã e vá continuamente
declinando durante o dia até o anoitecer. O ACTH liga‑se ao receptor de mineralocorticoides localizado
nas células da zona fasciculada exercendo seus efeitos de curto, médio e longo prazo (KOEPPEN;
STANTON, 2009).

A zona mais interna, a zona reticular, começa a aparecer após o nascimento, aos 5 anos de idade
aproximadamente. O androgênio adrenal, especialmente o DHEAS, o principal produto da zona reticular,
começa a ser detectável aos 6 anos de idade, em um momento chamado de adrenarca. Os níveis
de DHEAS continuam aumentando, atingem o valor máximo entre 20 e 30 anos e, depois, declinam
progressivamente com a idade. O DHEAS pode ser convertido de volta em DHEA pelas sulfatases
periféricas. Já o DHEA e a androstenediona podem ser convertidas em androgênios ativos (testosterona
e di‑hidrotestosterona), perifericamente, em ambos os sexos.

Nos homens, a contribuição dos androgênios adrenais para os androgênios ativos é


negligenciável. Em mulheres, entretanto, a adrenal contribui com cerca de 50% dos androgênios
ativos circulantes, que são necessários para o crescimento dos pelos púbicos e axilares, também
para a libido. Androgênios adrenais em excesso nas mulheres podem ocasionar vários graus de
virilização e disfunção ovariana.

O ACTH é o principal regulador de a zona reticular. Ambos o DHEA e a androstenediona ciclam no


mesmo ritmo do cortisol. Ademais, a zona reticular apresenta as mesmas mudanças atróficas que a
zona fasciculada em condições de pouco ou nenhum ACTH. Entretanto, outros fatores devem regular a
função androgênica adrenal.

A zona fina mais externa do córtex adrenal, a zona glomerulosa, produz o mineralocorticoide
aldosterona, que regula a homeostase de sal e a volemia. A zona glomerulosa é minimamente
influenciada pelo ACTH e primariamente pelo sistema renina‑angiotensina, pela [K+] no plasma e pelo
peptídeo natriurético atrial (ANP).

Por não contar com a enzima necessária, as células da zona glomerulosa nunca produzem cortisol,
nem qualquer forma de androgênio adrenal.

No sangue, a aldosterona liga‑se à albumina e à proteína ligadora de corticosteroides com baixa


afinidade, portanto, tem uma meia‑vida curta. A aldosterona atua de forma muito semelhante ao cortisol
(e os hormônios esteroides), liga‑se a um receptor intracelular específico (receptor de mineralocorticoides).
A aldosterona é o mineralocorticoide natural mais forte encontrado em humanos. Esse mineralocorticoide
promove a reabsorção de sódio e água pelos túbulos distais e dutos coletores, enquanto promove a
secreção renal de potássio e íons hidrogênio. A aldosterona produz a absorção de água e sódio no
cólon e nas glândulas salivares; também apresenta um efeito pró‑inflamatório e fibrótico no sistema
cardiovascular e causa hipertrofia e remodelação ventricular esquerda.
53
Unidade I

Saiba mais

Para entender melhor a ação de hormônios esteroides no corpo em


situações de exercício, aumentando o conhecimento dos conceitos
discutidos na presente unidade, leia o artigo:

AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE. O uso de esteróides


anabolizantes nos esportes. Ver. Bras. Med. Esporte, v. 4, n. 1, p. 31‑36,
Niterói, jan./fev. 1998. Disponível em: <www.scielo.br/scielo.php?pid=S151
7‑86921998000100010&script=sci_arttext>. Acesso em: 2 jul. 2015.

4 GÔNADAS – SISTEMAS REPRODUTORES MASCULINO E FEMININO

O aparelho reprodutor é composto de dois elementos básicos: as gônadas e o trato


reprodutor. As gônadas (testículos e ovários) desempenham uma função endócrina, regulada
pelo eixo hipotalâmico‑hipofisário‑gonadal, e uma função exócrina, a gametogênese. O
trato reprodutor está envolvido em vários aspectos do desenvolvimento, função e transporte
dos gametas, e na mulher, permite a fertilização, implantação e gestação. A gametogênese e
o desenvolvimento do trato reprodutor são dependentes da função endócrina das gônadas
(KOEPPEN; STANTON, 2009).

Devido às diferenças anatômicas e fisiológicas entre o sistema reprodutor masculino e feminino, nós
iremos estudar primeiro o sistema reprodutor masculino e, em seguida, o feminino.

4.1 Sistema reprodutor masculino

O aparelho reprodutor masculino (gônadas e trato reprodutor) está representado na figura 77.
Diferentemente da mulher, o sistema reprodutor masculino apresenta uma gametogênese contínua, ou
seja, que perdura por toda a vida. Em um homem adulto, as funções básicas dos hormônios gonadais
são manter:

• a gametogênese (espermatogênese);

• o trato reprodutor masculino e a produção de sêmen; e

• as características sexuais secundárias e a libido. Não existem ciclos dessa atividade no homem
(KOEPPEN; STANTON, 2009).

54
FISIOLOGIA

Ureter
Vesícula
Bexiga seminal

Próstata
Uretra
Glândula de Cowper

Vaso deferente

Testículo
Pênis
Escroto
Uretra

Figura 13 – Representação do aparelho reprodutor masculino

As gônadas masculinas são os testículos (figuras 77 e 78), que estão fora da cavidade
abdominal no escroto. Tal localização é muito importante, pois mantém a temperatura testicular
cerca de 2 graus mais baixa do que a temperatura corporal, o que é crucial para o desenvolvimento
ótimo do espermatozoide. O testículo humano é recoberto por uma cápsula de tecido conjuntivo e
é dividido em cerca de 300 lóbulos por septos fibrosos. Cada lóbulo possui quatro alças de túbulos
seminíferos, sendo cerca de 500 túbulos seminíferos por testículo. Cada alça desemboca em uma rede
anastomótica de túbulos, denominada rede do testículo. Essa rede desemboca em ductos menores,
os ductos eferentes, que levam os espermatozoides do testículo para a cabeça do epidídimo. Uma
vez no epidídimo, os espermatozoides passam da cabeça para o corpo e, em seguida, para a cauda
do epidídimo. Do epidídimo, os espermatozoides seguem para o ducto deferente. O espermatozoide
viável pode ser armazenado na cauda do epidídimo e no ducto deferente por vários meses (KOEPPEN;
STANTON, 2009).

Células
intersticiais Espermatozoides
Túbulos seminíferos

Epidídimo
x 180

Túbulos seminíferos

Canal deferente

Figura 14 – Representação esquemática do testículo e do epidídimo do aparelho reprodutor masculino

55
Unidade I

O compartimento intratubular (dentro do túbulo seminífero) é revestido por um complexo


epitélio seminífero composto por dois tipos celulares: as células espermáticas que estão em
vários estágios de espermatogênese e as células de Sertoli, que são as células de suporte e estão
em contato íntimo com todas as células espermáticas. A espermatogênese envolve os processos de
mitose e meiose. As espermatogônias são células‑tronco que residem no nível basal do epitélio
seminífero, elas fazem mitose para gerar as espermatogônias filhas em um processo chamado de
espermatocitogênese. A maioria das espermatogônias filhas entra em divisão meiótica, o que resulta
em um espermatozoide haploide quando a meiose se completa. À medida que entram na primeira
prófase meiótica as espermatogônias migram para longe da lâmina basal, em direção apical. Neste
momento são chamadas de espermatócitos primários. Ao término da primeira divisão meiótica são
chamados de espermatócitos secundários, os quais rapidamente (cerca de 20 minutos) completam
a divisão meiótica. Os produtos da divisão meiótica são as espermátides haploides, que são células
pequenas e arredondadas que sofrerão uma notável metamorfose denominada espermiogênese. Os
produtos da espermiogênese são os espermatozoides (figura 79).
crescimento germinativo
Período de Período

Espermatogônias...
(2n)
Espermatócito I
(2n)
maturação
Período de

(meiose)

Espermatócitos II
(n)

Espermátides
Espermiogênese

(n)

Espermatozoides
(n)

Figura 15 – Espermatogênese

À medida que as espermátides sofrem maturação para espermatozoides, o tamanho do núcleo fica
reduzido e uma cauda proeminente forma‑se. A cauda tem as estruturas microtubulares que propulsionam
o espermatozoide, como um flagelo. A cromatina do núcleo do espermatozoide condensa‑se e a maioria
do citoplasma é perdida. A cabeça do espermatozoide apresenta uma estrutura chamada acrossoma,
delimitada por uma membrana que atua como um lisossoma e contém enzima hidrolíticas, importantes
para a fecundação. Essas enzimas permanecem inativas até que a reação acrossômica ocorra (KOEPPEN;
STANTON, 2009).

56
FISIOLOGIA

Os espermatozoides ficam na superfície luminal dos túbulos seminíferos e a liberação deles


(espermiação) é controlada pelas células de Sertoli. O processo de espermatogênese dura cerca de
72 horas, e a cada 16 dias um grupo de espermatogônias entra no processo, porém nem todas as
espermatogônias iniciam o processo de espermatogênese ao mesmo tempo. Devido à quantidade e ao
tamanho dos túbulos seminíferos, os espermatozoides acabam sendo gerados continuamente (KOEPPEN;
STANTON, 2009).

As células de Sertoli são as verdadeiras células epiteliais do epitélio seminífero e se estendem da


lâmina basal ao lúmen. Elas circundam as células espermáticas e proporcionam suporte estrutural no
epitélio; elas formam junções aderentes e comunicantes com as células espermáticas em todos os
estágios. E no estágio final, a espermiação requer a destruição final das junções entre as células de
Sertoli e a espermática. As células de Sertoli também formam junções oclusivas entre si fornecendo
base física para a formação da barreira hematotesticular, que divide o epitélio seminífero em um
compartimento basal, contendo espermatogônias e espermatócitos primários, e um compartimento
adluminal, contendo espermatócitos em estágios avançados e todos os estágios subsequentes das células
espermáticas. A barreira hematotesticular cria um microambiente especializado e imunologicamente
seguro para o desenvolvimento do espermatozoide.

A célula de Sertoli é essencial para a viabilidade e desenvolvimento da célula espermática.


Porém a espermatogênese é dependente da testosterona produzida pelas células de Leydig, que
estão no compartimento peritubular. Todavia são as células de Sertoli que expressam o receptor
para a testosterona, e não as células espermáticas em desenvolvimento. Da mesma forma que o
FSH (hormônio folículo estimulante), produzido pela hipófise, também é necessário para a produção
máxima de espermatozoides e, novamente, são as células de Sertoli que expressam receptor para o FSH,
e não as espermátides em desenvolvimento. Assim, esses hormônios sustentam a espermatogênese
indiretamente por meio do estímulo funcional das células de Sertoli; daí a importância da existência de
junções comunicantes entre essas células. Além disso, as células de Sertoli convertem a testosterona
em um estrógeno altamente potente (17β‑estradiol), que é capaz de aumentar a espermatogênese
em humanos.

De forma geral, as células de Sertoli geram e mantêm todas as condições necessárias para o
desenvolvimento e sobrevivência dos espermatozoides. Elas possuem um papel endócrino muito
importante, elas produzem o hormônio antimülleriano (AMH), o qual induz a regressão dos
ductos müllerianos embrionários, que são programados para originar o trato reprodutor feminino.
Produzem também a inibina, que retroalimentam negativamente os gonadotrofos, inibindo a
produção de FSH.

O outro compartimento é o peritubular (localizado entre os túbulos seminíferos), que é


composto por elementos neurovasculares, células do tecido conjuntivo frouxo, células imunes e
as células intersticiais de Leydig, que têm como função principal produzir testosterona. Possui
uma rede capilar peritubular riquíssima que proporciona nutrientes para os túbulos seminíferos
(por meio das células de Sertoli) enquanto leva testosterona para fora do testículo, em direção à
circulação periférica.

57
Unidade I

As células de Leydig são células esteroidogênicas, elas sintetizam, adquirem e armazenam colesterol.
Elas possuem toda maquinaria molecular essencial para a conversão e modificação do colesterol
em hormônios esteroides. O hormônio esteroide produzido pela célula de Leydig é a testosterona,
que tem diversos destinos e múltiplas ações. Devido à proximidade das células de Leydig com os
túbulos seminíferos, quantidades significativas de testosterona difundem‑se para os túbulos e são
concentrados no compartimento adluminal. A quantidade de testosterona nos túbulos seminíferos
é cem vezes superior à quantidade de testosterona circulante, e é determinante para que ocorra a
espermatogênese normal.

A testosterona circulante é convertida em estrógeno em diversos tecidos, mas principalmente no


tecido adiposo. Nos homens, esse estrógeno periférico desempenha um importante papel na maturação
e biologia dos ossos, ele é responsável pelo fechamento das epífises ósseas. Estudos envolvendo
homens com deficiência de aromatase (enzima que converte testosterona em estrógeno), ou seja, com
incapacidade de produzir estrógeno, apresentaram alta estatura e osteoporose. O estrógeno nos homens
também promove a sensibilidade à insulina, melhora os perfis de lipoproteínas (aumenta o HDL e reduz
triglicerídeos e LDL) e estabelece uma retroalimentação negativa com os gonadotrofos (KOEPPEN;
STANTON, 2009).

A testosterona também pode ser convertida em di‑hidrotestosterona (DHT), um potente andrógeno


necessário para a masculinização da genitália externa in utero e, para muitas das mudanças associadas
à puberdade, incluindo crescimento e atividade da próstata, crescimento do pênis, escurecimento e
pregueamento do escroto, crescimento dos pelos pubianos e axilares, crescimento de pelos faciais e
corporais, além do aumento da massa muscular.

As ações diretas da testosterona ocorrem em vários tipos celulares. Como mencionado


anteriormente, ela regula a função da célula de Sertoli, induz o desenvolvimento do trato masculino
e possui vários efeitos metabólicos. A testosterona per se aumenta a quantidade de lipoproteínas de
densidade muito baixa (VLDL e LDL), enquanto reduz a lipoproteína de alta densidade (HDL), promove
a deposição de tecido adiposo abdominal, aumenta a produção de eritrócitos, promove o crescimento
e a rigidez dos ossos, exercendo um efeito anabolizante proteico nos músculos. É suficiente para
manter a função erétil e a libido. Tanto a testosterona quanto a DHT atuam pelo mesmo receptor
androgênico (AR).

O testículo é regulado pelo eixo endócrino hipotalâmico‑hipofisário‑testicular. As células de


Leydig apresentam receptores para o LH, o qual atua nas células causando hidrólise dos ésteres
de colesterol e ativação da maquinaria responsável pela síntese de testosterona. Em longo prazo,
o LH promove o crescimento e a proliferação das células de Leydig. A testosterona retroalimenta
negativamente a produção de LH pelo gonadotrofos hipofisário, seja na forma de testosterona, DHT
ou 17β‑estradiol. Eles também inibem a liberação de GnRH pelos neurônios hipotalâmicos. Já as
células de Sertoli são estimuladas tanto pela testosterona como pelo FSH. O FSH estimula a síntese de
proteínas que estão envolvidas com o aspecto funcional de “célula de suporte” da célula de Sertoli,
estimula também a síntese de inibina que retroalimenta negativamente os gonadotrofos, inibindo
seletivamente a produção de FSH.

58
FISIOLOGIA

Além dos testículos, o aparelho reprodutor masculino tem o epidídimo, que é dividido em cabeça,
corpo e cauda, tem o ducto deferente, o ducto ejaculatório, a uretra prostática, a uretra membranosa
e a uretra peniana. Quando os espermatozoides emergem dos ductos eferentes, deixam a gônada e
penetram no trato reprodutor masculino, que tem a função de conduzir o espermatozoide até o final
do trato masculino (ponta da uretra peniana). O final do trato reprodutor masculino conecta‑se ao trato
urinário distal (uretra masculina).

Além disso, o trato reprodutor masculino é importante para que ocorra:

• maturação espermática: os espermatozoides permanecem cerca de um mês no epidídimo, onde


sofrem maturação;

• armazenamento e emissão do espermatozoide: os espermatozoides são armazenados na


cauda do epidídimo e no ducto deferente por vários meses sem que haja perda de viabilidade,
e são propelidos para a uretra via ducto diferente durante o ato sexual (fenômeno chamado de
emissão);

• produção e mistura do espermatozoide com o conteúdo seminal: durante a emissão a


contração do ducto deferente coincide com a contração das capas musculares das glândulas
sexuais acessórias (vesículas seminais e a próstata); nesse ponto, o espermatozoide é misturado
com todos os componentes do sêmen; e

• ereção e ejaculação, a emissão precede imediatamente à ejaculação, que é a propulsão do


sêmen para fora da uretra masculina. A emissão e a ejaculação ocorrem durante o coito em
resposta a um arco reflexo que envolve estimulação sensorial do pênis (via nervo pudendo),
seguida de estimulação motora simpática da musculatura lisa do trato masculino e estimulação
motora somática da musculatura associada à base do pênis. Entretanto, para que ocorra
a relação sexual em primeiro lugar, o homem tem que atingir e manter a ereção do pênis
(KOEPPEN; STANTON, 2009).

A ereção do pênis é um evento neurovascular. O pênis é composto de três corpos eréteis: dois
corpos cavernosos e um corpo esponjoso, todos eles constituídos de tecido erétil. A uretra peniana
atravessa o corpo esponjoso. Durante o estado flácido, flui pouco sangue pelos os espaços cavernosos
– isso se deve à vasoconstrição da vasculatura e ao desvio do fluxo sanguíneo para fora dos espaços
cavernosos. Em resposta à excitação sexual, os nervos parassimpáticos cavernosos que inervam a
musculatura lisa vascular liberam óxido nítrico, que causará o relaxamento muscular e vasodilatação.
A vasodilatação permite que o sangue flua para os espaços cavernosos, induzindo a ereção (KOEPPEN;
STANTON, 2009).

Não existe andropausa definida no homem. Entretanto, à medida que o homem envelhece a
sensibilidade das gônadas ao LH reduz‑se e a produção dos andrógenos decai. À medida que isso ocorre,
os níveis séricos de LH e FSH aumentam. Apesar da produção de espermatozoide, tipicamente, iniciar
seu declínio após os 50 anos de idade, muitos homens podem manter uma função reprodutiva e a
espermatogênese por toda a vida.
59
Unidade I

4.2 Sistema reprodutor feminino

O sistema reprodutor feminino é composto das gônadas, denominadas ovários, e do trato reprodutor
feminino, o qual inclui as trompas de Falópio, útero, colo uterino, vagina e genitália externa (figura
80) (KOEPPEN; STANTON, 2009).

Trompa ou tuba

Útero Ovário
Endométrio
Colo
Vagina

Figura 16 – Aparelho reprodutor feminino

O ovário está dentro de uma dobra do peritônio denominada ligamento largo, próxima à parede
lateral da cavidade pélvica. Como o ovário estende‑se para dentro da cavidade peritoneal, os óvulos
liberados permanecem brevemente na cavidade peritoneal antes de serem capturados pela trompa de
Falópio (KOEPPEN; STANTON, 2009).

O ovário é dividido em um córtex externo e uma medula interna. Elementos neurovasculares inervam
a camada medular do ovário. O córtex do ovário é composto de um estroma densamente celular. No
interior desse estroma, figuram os folículos ovarianos (figura 81), que contêm um oócito primário
circundando por células foliculares. O córtex é recoberto por uma cápsula de tecido conjuntivo, a túnica
albugínea e uma camada de epitélio simples consistindo em células epiteliais da superfície ovariana.
Não existem ductos emergindo do ovário para conduzir seus gametas para o trato reprodutor. Dessa
forma, o processo de ovulação envolve um evento inflamatório que causa erosão da parede do ovário.
Após a ovulação, as células epiteliais da superfície ovariana rapidamente dividem‑se para reparar a
parede (KOEPPEN; STANTON, 2009).

Folículo imaturo Vesícula folicular


Células germinativas

Vasos sanguíneos
Folículo maduro

Corpo albígeno

Corpo amarelo
Ovócito expulso
(ovulação)

Figura 17 – Estágios diferentes de desenvolvimento do folículo no ovariano

60
FISIOLOGIA

Lembrete

Diferentemente do feminino, no sistema reprodutor masculino, o canal


deferente transporta os espermatozoides do epidídimo para a uretra.

O folículo ovariano é a unidade funcional do ovário e tem tanto funções gametogênicas como
endócrinas. O ovário de uma mulher, antes da menopausa, contém estruturas foliculares em vários
estágios de desenvolvimento – eis a ordem:

• folículo primordial quiescente;

• folículo pré‑antral (primário e secundário) em crescimento;

• folículo antral (terciário) em crescimento;

• folículo dominante (pré‑ovulatório, de Graaf);

• folículo dominante no período periovulatório;

• corpo lúteo (da menstruação ou da gestação); e

• folículos atrésicos (KOEPPEN; STANTON, 2009).

Os folículos primordiais quiescentes são as estruturas foliculares mais precoces e simples do


ovário. De forma semelhante à interação da célula de Sertoli com o espermatozoide, uma subpopulação
de células granulosas permanece intimamente ligada aos oócitos durante seu desenvolvimento. As
células granulosas fornecem nutrientes para sustentar a maturação do oócito. Os folículos primordiais
representam os folículos de reserva do ovário. Essa reserva é reduzida de um número inicial de 7 milhões
para menos de 300 mil folículos na maturidade sexual. Deles, a mulher ovulará cerca de 450, entre a
menarca (primeiro ciclo menstrual) e a menopausa (cessação dos ciclos menstruais). Na menopausa,
menos de mil folículos primordiais restam no ovário. Devido ao fato da reserva folicular ovariana ser um
número fixo e finito, a velocidade com que os folículos primordiais quiescentes morrem ou iniciam seu
desenvolvimento determinará a expectativa de vida reprodutiva de uma mulher. A idade da menopausa
tem um forte componente genético, mas também é influenciada por fatores ambientais. O tabagismo
reduz significativamente a reserva ovariana. A determinação de um folículo quiescente entrar na fase
inicial de crescimento é principalmente dependente de fatores parácrinos intraovarianos, que são
produzidos tanto pelas células foliculares como pelos oócitos.

Nos folículos primordiais, o gameta é derivado da oogônia que iniciou a primeira divisão meiótica
e que são chamados de oócitos primários. Os oócitos primários passam por grande parte da prófase da
primeira divisão meiótica em um período de duas semanas e, então, param antes de completar a meiose
I (KOEPPEN; STANTON, 2009).

61
Unidade I

O primeiro estágio de crescimento folicular é o pré‑antral. Um dos primeiros sinais é a aparição de


células granulosas cuboides. Nesse ponto, o folículo é denominado primário. À medida que as células
granulosas se proliferam, formam um epitélio com múltiplas camadas (estratificado) ao redor do oócito.
Nesse ponto, o folículo passa a ser folículo secundário. Quando o folículo secundário adquire de
três a seis camadas de células granulosas, ele secreta fatores parácrinos que induzem as células do
estroma adjacente a diferenciarem‑se em células epitelioides da teca. Uma vez que as células da teca
formam uma camada ao redor do folículo, ele passa a ser chamado de folículo pré‑antral maduro. O
desenvolvimento do folículo está associado a uma movimentação do folículo do córtex externo para o
córtex interno, próximo à vasculatura da medula ovariana. Os folículos secretam fatores angiogênicos
que induzem o desenvolvimento de uma a duas arteríolas, que formam uma coroa vascular ao redor do
folículo. Durante esse estágio, o oócito inicia seu crescimento e secreta glicoproteínas que vão formar
a zona pelúcida. Essa região aumenta a espessura, tornando‑se um local de ligação específico para o
espermatozoide durante a fertilização.

O oócito continua secretando fatores parácrinos que regulam o crescimento e diferenciação das
células foliculares. Durante esse período, as células granulosas expressam receptores para FSH, mas
são primariamente dependentes de fatores secretados pelo oócito para crescer. Elas não produzem
hormônios ovarianos nesse estágio inicial. As células da teca são análogas às células de Leydig
testiculares, pois residem fora das células de sustentação epiteliais, expressam receptores de LH
e produzem andrógenos. Assim, o principal produto das células da teca é a androstenediona, que é
mínima nesse estágio.

Os folículos pré‑antrais maduros desenvolvem‑se em folículos antrais iniciais. Uma vez que o epitélio
da granulosa tenha aumentado para seis a sete camadas, espaços preenchidos por líquido aparecem entre
as células e coalescem em um antro. Durante um período de cerca de 45 dias, essa onda de folículos
continua crescendo originando folículos antrais grandes e recrutáveis. Tal período é caracterizado por um
crescimento de cerca de cem vezes das células granulosas e um crescimento da cavidade antral, a qual,
progressivamente, divide as células granulosas em duas populações discretas.

As células granulosas murais formam a parede externa do folículo. A camada basal encontra‑se
aderida à lâmina basal e em proximidade às camadas da teca de revestimento interno. As células
granulosas murais tornam‑se altamente esteroidogênicas e permanecem no ovário após a ovulação
para diferenciarem‑se no corpo lúteo.

As células do cumulus (coroa radiata) são as células mais internas que circundam o oócito. Essas
células mantêm‑se aderidas ao oócito e são liberados juntos durante a ovulação. São fundamentais para
que as fimbrias das trompas de Falópio capturem e movam o oócito, por meio de movimento ciliar, ao
longo da extensão da trompa até o local de fertilização.

Os folículos antrais iniciais são dependentes de FSH hipofisário para seu crescimento normal.
Já os folículos antrais grandes tornam‑se altamente dependentes de FSH hipofisário, para seu
crescimento e manutenção da viabilidade. Folículos de 2 a 5 mm são recrutados para entrar em
uma fase de crescimento rápido, pelo aumento transitório de FSH, que ocorre durante o final do
ciclo menstrual anterior.
62
FISIOLOGIA

O oócito cresce rapidamente nos estágios iniciais dos folículos antrais e o crescimento torna‑se
menor nos folículos maiores. Durante o estágio antral, o oócito sintetiza quantidades suficientes de
componentes do ciclo celular, de tal forma que se torna competente para completar a meiose I da
ovulação. Assim, nos folículos primários e secundários iniciais, o oócito não completa a meiose I devido
à falta de proteínas específicas. Entretanto, folículos maiores ganham competência meiótica, mas ainda
mantém a interrupção meiótica até o surto de LH do meio do ciclo.

As células da teca dos folículos antrais grandes produzem quantidades significativas de


androstenediona e testosterona. Os andrógenos são convertidos em estradiol pelas células da granulosa.
Entretanto, nesse estágio, o FSH estimula a proliferação de células da granulosa e induz a expressão da
enzima aromatase, necessária para a síntese de estrógeno. Além disso, as células granulosas murais dos
folículos antrais maiores produzem inibina durante a fase folicular inicial. Níveis baixos de estrógeno e
inibina retroalimentam de forma negativa a secreção de FSH, contribuindo, desta forma, para a seleção
do folículo com o maior número de células responsivas ao FSH.

No final de um ciclo menstrual prévio, um grupo de folículos antrais grandes são recrutados para
iniciar o desenvolvimento rápido e dependente de gonadotrofina. À medida que os níveis de FSH
declinam os folículos em crescimento rápido vão sofrendo atresia até que reste apenas um folículo, o
folículo dominante.

O oócito é competente para completar a meiose I, mas permanece preso no folículo dominante até
o surto de LH. O crescimento do oócito continua com uma velocidade menor.

O folículo começa a fase de esteroidogênese ovariana, processo que requer tanto células da teca
como da granulosa. As células da teca expressam receptores de LH e produzem andrógenos. O LH
basal estimula as enzimas esteroidogênicas e os andrógenos produzidos são liberados da teca e se
difundem pelas células granulosas murais ou penetram nos vasos que circundam o folículo.

As células granulosas murais apresentam um grande número de receptores de FSH, sendo que o
FSH estimula a expressão da aromatase, enzima que sintetiza estrógeno a partir de testosterona. O
FSH também induz a expressão de inibina durante a fase folicular. Outra função do FSH é a de induzir
a expressão de receptores de LH nas células granulosas murais durante a segunda metade da fase
folicular. Assim, as células granulosas murais tornam‑se responsivas a ambas as gonadotrofinas, o que
permite que mantenham altos níveis de aromatase, mesmo quando o FSH estiver declinando. Também
garante que as células granulosas murais respondam ao surto de LH.

O período periovulatório é definido desde o início do surto de LH e a ovulação. Simultaneamente


à ovulação, ocorre a luteinização, uma mudança na função esteroidogênica das células da teca e
murais da granulosa. Esse processo culmina com a formação do corpo lúteo, que pode produzir grandes
quantidades de progesterona, junto ao estrógeno, poucos dias depois da ovulação. Assim, o surto de
LH induz o início de processos complexos durante o período periovulatório, que completam a função
gametogênica do ovário e modificam a função endócrina para preparar o trato reprodutor feminino
para a implantação e a gestação.

63
Unidade I

Antes da ovulação, o oócito primário é competente para completar a meiose, mas fica estagnado na
prófase I. O surto de LH induz o oócito a progredir para a metáfase II. O oócito permanece nessa fase
até a fertilização.

Tanto as células da teca quanto as granulosas murais expressam receptores de LH. O surto de
LH induz a diferenciação das células granulosas. Durante o período periovulatório, o surto de LH
induz mudanças na atividade esteroidogênica das células granulosas murais inibindo a expressão
da aromatase e, portanto, tanto diminuindo os níveis de estrógeno como aumentando os níveis de
progesterona.

Após a ovulação, o remanescente da cavidade antral é preenchido por sangue proveniente dos
vasos danificados, dando origem ao corpo hemorrágico. Nos dias seguintes, os eritrócitos e debris
são removidos por macrófagos, e fibroblastos preenchem a cavidade antral com matriz extracelular.
No corpo lúteo maduro, as células granulosas, agora denominadas células granulosas luteínicas,
aumentam de tamanho e enchem‑se de lipídios. Essas células aumentadas colapsam para dentro da
antiga cavidade antral e a preenchem parcialmente. As células da teca, junto aos vasos sanguíneos,
mastócitos, macrófagos, leucócitos e outras células do tecido conjuntivo, infiltram a camada granulosa
em múltiplos locais.

O corpo lúteo humano está programado para viver em torno de 14 dias (podendo viver dois dias
para mais e para menos, de 12 a 16 dias), a menos que seja resgatado pela gonadotrofina coriônica
humana (hCG), hormônio semelhante ao LH que se origina do embrião implantado. Se resgatado, esse
corpo lúteo permanecerá viável durante a gestação. Depois dos 14 dias, se não ocorrer resgate, o corpo
lúteo é reabsorvido e transformado em um corpo cicatricial denominado corpus albicans, o qual se
aprofunda na medula do ovário e é lentamente absorvido.

A produção de progesterona pelo corpo lúteo aumenta gradualmente com o início do surto de
LH e atinge um máximo durante a fase lútea média. O principal propósito dessa temporização é o de
transformar o revestimento uterino em uma estrutura adesiva e de sustentação para a implantação e
gestação inicial. A produção de estrógeno reduz‑se transitoriamente em resposta ao surto de LH, mas
então volta a aumentar e atinge outro pico na fase lútea média.

A produção hormonal lútea é totalmente dependente de níveis basais de LH, e está fortemente
correlacionada com um padrão pulsátil de liberação de LH. Tanto o LH quanto o FSH são reduzidos a níveis
basais durante a fase lútea, pelo feedback do estrógeno e a progesterona. Além disso, as células granulosas
produzem inibina, a qual reprime seletivamente a secreção de FSH.

O corpo lúteo deve gerar grandes quantidades de progesterona para sustentar a implantação e
início da gestação. Diversos fatores que perturbam a secreção hipotalâmica e hipofisária durante a fase
folicular, incluindo exercícios pesados, jejum, níveis altos de prolactina e função anormal da tireoide,
podem provocar uma deficiência da fase lútea e infertilidade (KOEPPEN; STANTON, 2009).

Atresia folicular refere‑se à morte de um folículo ovariano. Durante a atresia, as células granulosas
e os oócitos sofrem apoptose. As células da teca persistem e repopulam, em geral, o estroma celular do
64
FISIOLOGIA

ovário. Essas células da teca ainda mantêm receptores de LH e a capacidade de produzir andrógenos,
sendo coletivamente denominadas glândula intersticial do ovário. Os folículos podem sofrer atresia a
qualquer momento durante seu desenvolvimento (KOEPPEN; STANTON, 2009).

A primeira metade do ciclo menstrual é chamada fase folicular do ovário, e é caracterizada pelo
recrutamento e crescimento de 15 a 20 folículos antrais grandes, seguido da seleção de um desses
folículos como folículo dominante e crescimento até que ocorra a ovulação. O folículo dominante deve
conter um oócito totalmente desenvolvido e células somáticas foliculares, que secretam altos níveis de
estrógeno. Dado que o folículo demora vários meses para atingir o crescimento ideal para ser recrutado,
esse processo ocorre independentemente do ciclo menstrual. A segunda metade do ciclo é chamada
fase lútea do ovário, e é dominada pelas secreções hormonais do corpo lúteo. Durante essa fase,
pequenos folículos continuam desenvolvendo‑se no estroma ovariano.

O desenvolvimento folicular final e a função lútea são dependentes das funções hipotalâmicas e
hipofisárias normais. Como acontece no homem, os neurônios hipotalâmicos secretam GnRH de forma
pulsátil. O GnRH, por sua vez, estimula a produção de LH e FSH pelos gonadotrofos na hipófise. Uma
alta frequência de pulsos de GnRH promove a produção de LH, enquanto a baixa frequência favorece
a secreção de FSH. A principal diferença entre os eixos reprodutivos feminino e masculino é o surto
de gonadotrofinas no meio do ciclo, o qual é dependente de um nível alto de estrógeno e constante,
proveniente do folículo dominante.

A variação hormonal do ciclo menstrual pode ser descrita nas seguintes etapas (figura 82):

• Evento 1: na ausência de fertilização e implantação, o corpo lúteo regride e morre (luteólise), levando
a uma queda drástica dos níveis de progesterona, estrógeno e inibina no dia 24 do ciclo menstrual.

• Evento 2: na hipófise, o gonadotrofo percebe o final da função lútea pela interrupção do feedback
negativo, o que permite a elevação de FSH, dois dias antes do início da menstruação. A elevação
de FSH pode ser explicada pela baixa frequência de pulsos de GnRH, consequente do alto nível de
progesterona.

• Evento 3: o aumento de FSH recruta um grupo de folículos antrais grandes para iniciarem um
crescimento rápido e dependente de gonadotrofina. Esses folículos produzem níveis baixos de
estrógeno e inibina.

• Evento 4: o gonadotrofo responde ao lento aumento de estrógeno e inibina pela redução da


secreção de FSH. A diminuição de estrógeno e progesterona causa um aumento na frequência nos
pulsos de GnRH, aumentando a síntese e secreção de LH.

• Evento 5: o ovário responde à diminuição de FSH com a morte de todos os folículos recrutados
com exceção do folículo dominante, por ser mais responsivo ao FSH. Geralmente, apenas o
maior folículo, com o maior número de receptores de FSH e melhor suprimento sanguíneo, pode
sobreviver. Esse folículo produz grandes quantidades de estradiol e inibina. O FSH também induz
a expressão de receptores de LH nas células granulosas murais do folículo dominante.
65
Unidade I

• Evento 6: depois que o folículo dominante eleva os níveis de estrógeno acima dos 200 pg/ml
durante 50 horas, o estrógeno produz um feedback positivo nos gonadotrofos, induzindo o surto
de LH no meio do ciclo. Isso é acentuado pela pequena quantidade de progesterona secretada nesse
momento do ciclo. Os receptores de GnRH e a sensibilidade à sinalização pelo GnRH aumentam
muito nos gonadotrofos. O hipotálamo contribui para o surto de gonadotrofina pelo aumento da
frequência de pulsos de GnRH e a secreção de uma pequena quantidade de progesterona.

• Evento 7: o surto de LH induz a maturação meiótica, a ovulação e a diferenciação das células


granulosas em células produtoras de progesterona.

• Evento 8: a elevação dos níveis de progesterona, estrógeno e inibina, pelo corpo lúteo maduro,
retroalimentam negativamente os gonadotrofos. Mesmo com altos níveis de estrógeno, os níveis
de progesterona bloqueiam qualquer retroalimentação positiva. Em consequência, tanto o FSH
como o LH voltam aos níveis basais.

• Evento 9: níveis basais de LH (mas não de FSH) são absolutamente necessários para o funcionamento
normal do corpo lúteo. Entretanto, o corpo lúteo torna‑se progressivamente insensível à sinalização
pelo LH e morrerá a menos que uma atividade semelhante ao LH (no caso, a hCG de um embrião
implantado) aumente. Em um ciclo em que não haja fertilização, o corpo lúteo da menstruação
regredirá em 14 dias, e os níveis de progesterona e estrógeno começarão a declinar em cerca de
dez dias; dessa forma, o ciclo volta ao evento 1 (KOEPPEN; STANTON, 2009).
Menstruação

Ovulação

FSH
Gonadotrofinas
LH

LTH

os
gen Progesterona
Hormônios Es tró
ovarianos

2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28

Figura 18 – Gráfico da variação dos hormônios sexuais femininos durante o ciclo menstrual

Observação

O teste de gravidez obtido na farmácia detecta o hormônio beta‑hCG


na urina, produzido exclusivamente a partir da implantação do óvulo,
confirmando a gestação.

66
FISIOLOGIA

No ciclo menstrual, o ovário é o relógio primário que coordena esses eventos. O tempo em
que ocorrem os principais eventos de origem hipofisária (a elevação transitória do FSH que
recruta os folículos e o surto de LH que induz a ovulação) é determinado por dois eventos
ovarianos. Eles são, respectivamente, a expectativa de vida regular de 14 dias do corpo lúteo
e o crescimento do folículo dominante até o ponto em que ele possa manter a alta produção
de estrógeno, que induzirá, na hipófise, a mudança por um feedback positivo (KOEPPEN;
STANTON, 2009).

As trompas de Falópio (também denominadas tubas uterinas) são tubos musculares cujas
terminações distais estão próximas a cada ovário e cujas terminações proximais atravessam a parede do
útero. As trompas são divididas em quatro seções (da porção distal para a proximal):

• o infundíbulo, ou terminação aberta da trompa, que possui projeções digitiformes denominadas


fimbrias, que “varrem” a superfície do ovário;

• a ampola, que possui um lúmen relativamente amplo e muitas pregas na mucosa;

• o istmo, o qual possui um lúmen relativamente estreito e menos pregas na mucosa; e

• o segmento intramural ou intrauterino, que se estende por meio da parede uterina nos cornos
superiores do útero.

As principais funções das trompas são:

• capturar o oócito durante a ovulação e transferi‑lo para a porção medial (a junção ampola‑istmo),
onde ocorre a fertilização. Secreções da trompa revestem e impregnam o oócito e podem ser
necessárias para a viabilidade e capacidade de fertilização;

• proporcionar um local para o armazenamento do espermatozoide. Mulheres que ovulam até cerca
de cinco dias após uma relação sexual podem engravidar. O espermatozoide permanece viável
por aderir às células epiteliais que revestem o istmo. As secreções da trompa também induzem a
capacitação e hiperatividade do espermatozoide; e

• secretar fluidos que proporcionam suporte nutricional ao embrião antes da implantação (KOEPPEN;
STANTON, 2009).

O tempo da movimentação do embrião para o útero é crítico, porque o útero tem uma janela de
implantação de, aproximadamente, três dias. A trompa precisa reter o embrião recém‑formado até que
ele atinja o estágio de blastocisto (cinco dias após a fertilização) e, então, permitir que o blastocisto
passe para a cavidade uterina.

A parede da trompa é composta por uma camada mucosa, uma muscular dupla e uma camada
externa de tecido conjuntivo. A camada mucosa possui muitas pregas, que quase obliteram o lúmen,
e é revestida por dois tipos de células: ciliadas e secretoras. Os cílios, mais numerosos no infundíbulo,
67
Unidade I

propelem o oócito em direção ao útero. Quando o oócito penetra na ampola, passa a ser propulsado
pelos cílios e por contrações peristálticas da muscular.

As células secretoras produzem um muco rico em proteínas ao longo da trompa que mantém o epitélio
saudável, movimenta o oócito em direção ao útero e direciona os espermatozoides em movimento
(KOEPPEN; STANTON, 2009).

O estrógeno secretado durante a fase folicular aumenta o tamanho das células da mucosa,
aumenta o fluxo sanguíneo, promove a secreção de muco espesso no istmo e aumenta seu tônus
muscular para ajudar na fertilização. Altos níveis de progesterona, junto ao estrógeno durante a fase
lútea inicial até a fase média, reduzem o tamanho e função das células epiteliais. A progesterona
promove a diminuição dos cílios, reduz a secreção de muco espesso e relaxa o tônus muscular do
istmo.

O útero é um órgão único localizado na linha média da cavidade pélvica entre a bexiga e o reto.
A mucosa do útero é denominada endométrio; a espessa parte muscular que possui três camadas é
chamada miométrio, e o tecido conjuntivo e a serosa externos são denominados perimétrio. As partes
do útero são:

• o fundo, a porção superior às entradas das trompas;

• o corpo do útero, que forma quase todo o órgão;

• o istmo, uma porção curta e estreitada da parte final inferior do corpo uterino; e

• o colo do útero, que se estende para o interior da vagina.

As funções definidas do útero são todas relacionadas à fertilização e gestação:

• auxiliar o movimento do espermatozoide, da vagina até a trompa;

• proporcionar um local adequado para a adesão e a implantação do blastocisto, o que inclui um


estroma espesso e rico em nutrientes;

• limitar a invasão do embrião em implantação, de forma que ele permaneça no endométrio, e não
alcance o miométrio;

• prover o lado materno da arquitetura placentária madura;

• crescer e expandir junto ao feto, de forma que ele se desenvolva em um ambiente aquoso, e não
adesivo; e

• produzir contrações musculares fortes para, ao final da gestação, expelir o feto e a placenta
(KOEPPEN; STANTON, 2009).
68
FISIOLOGIA

Cerca de dois terços da porção luminal do endométrio são perdidos durante a menstruação. Essa
parte do endométrio é chamada de estrato funcional, e a parte basal do endométrio que permanece
é chamada estrato basal.

As oscilações mensais nos esteroides ovarianos alteram a composição do endométrio uterino (figura
83). No momento da seleção do folículo dominante e de sua produção de estrógeno, o endométrio
uterino está terminando a menstruação. O estrato funcional foi descamado e apenas o estrato basal
permanece. Os níveis de estrógeno em elevação, durante a fase folicular média e final, induzem a
fase proliferativa do endométrio uterino. O estrógeno induz o crescimento e a divisão de todos os
tipos celulares do estrato basal. O estrógeno também controla o crescimento uterino indiretamente,
pela produção local de fatores de crescimento. Finalmente, o estrógeno também induz a expressão de
receptores de progesterona, preparando o endométrio uterino para que ele seja capaz de responder à
progesterona durante a fase lútea ovariana.

No momento da ovulação, a espessura funcional foi restabelecida, pelas ações proliferativas do


estrógeno. Após a ovulação, o corpo lúteo produz altos níveis de progesterona, junto com estrógeno. A
fase lútea ovariana muda a fase proliferativa do endométrio uterino para a fase secretória. Em geral, a
progesterona inibe maior crescimento do endométrio e induz a diferenciação das células epiteliais e do
estroma. A progesterona também induz mudanças na capacidade de adesão do epitélio de superfície,
gerando a janela de receptividade para a implantação de um embrião, e promove a diferenciação das
células do estroma para estar preparadas tanto para formar a decídua da gestação ou orquestrar a
menstruação, na ausência de gestação.

Em um ciclo não fértil, a morte do corpo lúteo resulta na repentina redução de progesterona,
o que leva a mudanças no endométrio uterino, que redundam na perda do estrato funcional.
A menstruação normalmente dura de quatro a cinco dias e o volume de perda de sangue
varia de 25 a 35 ml. A menstruação coincide com a fase folicular inicial do ovário (KOEPPEN;
STANTON, 2009).

Lembrete

No ciclo menstrual, há alterações sofridas na parede uterina


durante um ciclo menstrual de 28 dias. Tais alterações são devidas à
influência hormonal: a partir do dia 4 do ciclo, estendendo‑se até o dia
14, tem‑se o crescimento do endométrio (fase proliferativa), devido à
ação, principalmente, dos estrógenos. No dia 14 ocorre a ovulação, sob
a influência do hormônio luteinizante. Do dia 14 ao 28, sob a ação de
estrógeno e, principalmente, de progesterona, tem‑se maior proliferação
do endométrio, com expulsão de restos celulares e sangue (menstruação),
em razão da queda da taxa de progesterona

69
Unidade I

Refrigeração do epitélio descamado, 7 8


proliferação glandular 6 9
5 10 Fase folicular
Menstruação do 1º ao 4º dia 4 11 Proliferação do 5º ao 14º dia

Estrato compacto e estrato 3 12


esponjoso descamam para o Fluxo menstrual
interior do útero, com certa 2 13
quantidade de sangue Ovulação
Se ocorrer a fertilização, a
Início do ciclo implantação do blastocisto 14º dia (± 1 dia)
Primeira perda de sangue 1 dar‑se‑á, aproximadamente, 14
(isquemia): 28º dia; entre o 20º e o 23º dia. Endométrio
vasoconstrição da artéria espiral; Miométrio (somente
necrose do estrato compacto 28 15 parte deste é mostrada)
Estrato compacto
Artéria espiral 27 16
Estrato esponjoso
Glândula dilatada 17
26 Estrato basal
A secreção contém
muco e glicogênio 25 18
Fase progestacional
24 19
23 20 Secreção do 15º ao 27º dia
22 21

Figura 19 – Ciclo menstrual

O colo do útero é a extensão inferior do útero que se projeta para dentro da vagina. O colo atua
como um portão de entrada para o trato feminino superior, e no meio do ciclo, o canal endocervical
facilita a viabilidade e a entrada do espermatozoide. Durante a fase lútea, o canal endocervical impede
a passagem do espermatozoide e de microrganismos, dessa forma, inibindo a superimplantação de um
segundo embrião ou uma infecção ascendente para a placenta, membranas fetais e feto. Ao final da
gestação, um amolecimento e dilatação do colo permitem a passagem do recém‑nascido, e da placenta,
do útero para a vagina.

A vagina é uma das estruturas copulatórias da mulher e atua como o canal de parto. As
células superficiais do epitélio vaginal descamam‑se continuamente, e a natureza destas células
é influenciada pelo ambiente hormonal. O estrógeno estimula a proliferação do epitélio vaginal e
aumenta seu conteúdo de glicogênio. O glicogênio é metabolizado em ácido láctico por lactobacilos
comensais, dessa forma, mantendo um ambiente ácido. Isso inibe a infecção por bactérias não
comensais e fungos. A progesterona aumenta a descamação das células epiteliais (KOEPPEN;
STANTON, 2009).

A genitália externa feminina é circundada pelos grandes lábios (homólogos ao escroto) lateralmente
e pelo monte do púbis anteriormente. É chamada vulva a área que inclui os lábios maiores e o monte
do púbis, junto aos pequenos lábios, o clitóris, o vestíbulo da vagina, as glândulas vestibulares
e o orifício uretral externo. As estruturas da vulva possuem função de excitação e clímax sexual, de
direcionamento do fluxo da urina e de recobrir parcialmente a abertura da vagina, inibindo a entrada
de patógenos.

70
FISIOLOGIA

O clitóris é o homólogo embrionário do pênis, e é composto de dois corpos cavernosos, que o ligam
aos ramos isqueopúbicos e à glande. Tais estruturas são compostas de tecido erétil e sofrem um processo
de ereção, essencialmente da mesma maneira que o pênis. Diferentemente do pênis, o tecido do clitóris é
completamente separado da uretra. Dessa maneira, o clitóris está envolvido na excitação sexual e clímax
durante o orgasmo. A vagina está igualmente envolvida na satisfação sexual, mas também funciona
como órgão copulatório e canal do parto (KOEPPEN; STANTON, 2009).

Resumo

O organismo humano apresenta dois rins, órgãos com a forma de feijão


situados na região lombar, de ambos os lados da coluna vertebral. Os rins
são órgãos que filtram o sangue e produzem a urina, uma solução aquosa
que contém grande número de substâncias dissolvidas. A unidade funcional
do rim é o néfron.

Os quatro segmentos principais do néfron (túbulo proximal, alça


de Henle, túbulo distal e ducto coletor) determinam a composição e o
volume de urina, pelos processos de reabsorção de solutos e água seletivos
e secreção dos solutos. A formação de urina começa com o movimento
passivo do ultrafiltrado plasmático, dos capilares glomerulares para o
espaço de Bowman. As células epiteliais dos capilares glomerulares são
recobertas por uma membrana basal revestida por podócitos. O endotélio
capilar, a membrana basal e os processos podais dos podócitos formam a
chamada barreira de filtração.

A reabsorção tubular permite aos rins reterem substâncias que são


essenciais e regularem seus níveis no plasma, alterando o grau de reabsorção
e/ou excreção. A reabsorção de sódio, cloreto, outros ânions e cátions junto
com a água constituem a maior função do néfron. As células do túbulo
proximal reabsorvem 67% do ultrafiltrado glomerular e as células da alça
de Henle reabsorvem cerca de 25% do NaCl que foi filtrado, além de cerca
de 15% da água que foi filtrada. Os segmentos distais do néfron (sistema
do túbulo distal e ducto coletor) têm uma capacidade de reabsorção mais
limitada. Entretanto, os ajustes finais na composição e no volume da
urina, bem como a maioria da regulação pelos hormônios e outros fatores,
ocorrem nos segmentos distais.

A sinalização endócrina envolve a secreção regulada de um hormônio,


no fluido extracelular; a difusão do hormônio no corpo por meio da
circulação; e a difusão do hormônio para fora do compartimento vascular
no espaço extracelular e ligação a um receptor específico dentro das células
de um órgão‑alvo. A retroalimentação (feedback) negativa representa um
mecanismo importante de controle que confere estabilidade aos sistemas
71
Unidade I

endócrinos. Os ritmos hormonais dependem de alças de retroalimentação


negativa (na maioria dos casos) e positiva.

De forma geral, as duas grandes classes de hormônios são: (1) os


hormônios proteicos ou peptídicos, que são hidrossolúveis e por essa razão
não atravessam as membranas celulares – eles são armazenados em grânulos
nas células secretórias, e atuam por meio de receptores de membrana –; e
(2) os hormônios esteroides, derivados de ésteres de colesterol, que são
lipossolúveis e, portanto, atravessam as membranas celulares para agir em
receptores intracelulares. Também diferem dos hormônios proteicos por
não serem estocados em grânulos e circularem associados a proteínas.

A glândula pituitária (também chamada de hipófise) é composta de


tecido epitelial (adeno‑hipófise) e tecido nervoso (neuro‑hipófise). Os
neurônios hipotalâmicos magnocelulares dos núcleos supraóptico e
paraventricular projetam seus axônios par baixo, pela haste infundibular,
e terminam na pars nervosa, região posterior da neuro‑hipófise, onde os
neuro‑hormónios são liberados e se difundem para os vasos. A adeno‑hipófise
secreta vários hormônios tróficos que fazem parte dos eixos endócrinos.
Esses eixos são definidos como hipotálamo‑hipófise‑glândula endócrina
periférica. O ponto de equilíbrio do eixo é em grande parte controlado pelo
hormônio periférico através de alças de retroalimentação negativa sobre
o hipotálamo e a hipófise. A adeno‑hipófise contém cinco tipos de células
endócrinas que secretam seis hormônios diferentes. Os corticotrofos
secretam ACTH, os tireotrofos secretam TSH, os gonadotrofos secretam
FSH e LH, os somatotrofos secretam GH, e os lactotrofos secretam PRL. A
síntese e liberação desses hormônios da adeno‑hipófise, com exceção da
PRL, são reguladas pelo hipotálamo através de seus hormônios liberadores.
A secreção de PRL é inibida pelo hipotálamo por meio da dopamina.

O GH estimula o crescimento principalmente por meio da regulação


de IGF‑1 e IGF‑2. Além de ser lipolítico e ter um efeito anabolizante sobre
as proteínas, o GH eleva a glicemia reduzindo a utilização de glicose pelos
tecidos periféricos.

A glândula tireoide localiza‑se na região ventral do pescoço e é


composta por dois lobos ao redor da traqueia. Ela é composta por folículos
que, por sua vez, são constituídos por células epiteliais que rodeiam um
lúmen central que contém coloide e hormônios armazenados, sendo os
principais T3 e T4, por terem ação biológica: T4 funciona basicamente como
um pró‑hormônio, sendo convertido a T3, o principal hormônio ativo, e
T3 aumenta e é o maior regulador da taxa de metabolismo basal. Outros
efeitos sobre os sistemas nervoso central e esquelético são cruciais para um
crescimento e desenvolvimento normais.
72
FISIOLOGIA

As glândulas paratireoides estão localizadas ao redor da glândula


tireoide e são responsáveis por regularem o metabolismo de Ca2+ e fosfato.
O Ca2+ e o fosfato são essenciais para a vida humana pois desempenham
funções estruturais importantes nos tecidos duros (ossos e dentes) e são
reguladores importantes das vias metabólicas e de sinalização intracelular.

O hormônio paratireoide (PTH) e a 1,25‑di‑hidroxivitamina D (estimulada


pelo PTH) regulam a absorção intestinal de cálcio e fosfato e a liberação
desses elementos para a circulação após a reabsorção óssea. O principal sinal
que estimula a secreção de PTH é a baixa concentração de cálcio circulante.
A calcitonina, um hormônio produzido pela glândula tireoide, reduz os níveis
circulantes de cálcio e fósforo, agindo de forma contrária ao PTH.

O pâncreas é uma glândula mista com um componente exócrino e


outro componente endócrino. O pâncreas endócrino é formado por ilhotas
de Langerhans. Cada ilhota é constituída por quatro tipos de células: as
células α, produtoras de glucagon; as células β, produtoras e secretoras
de insulina; as células δ, produtoras de somatostatina; e as células PP,
produtoras do polipeptídio pancreático.

A glicose circulante é o principal regulador da secreção de insulina,


assim como de glucagon. O aumento da glicemia aumenta a secreção de
insulina e inibe a secreção de glucagon e, antagonicamente, a diminuição
da glicemia leva à inibição da insulina e aumento da secreção de glucagon.
Assim, o equilíbrio entre esses dois hormônios estabelece um mecanismo
regulador da glicemia, fundamental para a manutenção da homeostasia.

O diabetes mellitus (DM) é uma síndrome metabólica que apresenta


entre outras tantas manifestações a hiperglicemia contínua ou intermitente.
É classificada em DM do tipo 1, cuja causa primária é a falência pancreática
e DM tipo 2, cuja causa primária é a resistência à insulina. O DM tipo 2
é a forma mais frequente de DM, apresentando um fator genético
importante. Fatores ambientais, como o envelhecimento e a obesidade, são
predisponentes ao DM tipo 2.

A glândula adrenal é composta por um córtex que produz hormônios


esteroides e uma medula que produz catecolaminas. As catecolaminas
(noradrenalina e adrenalina) aumentam a glicemia e os níveis de ácidos
graxos, estimulam a glicogenólise e a lipólise e aumentam o débito
cardíaco, mas têm efeitos seletivos sobre o fluxo sanguíneo em diferentes
órgãos. Já o córtex da adrenal, apresenta um zoneamento estrutural e
funcional evidente: a zona glomerulosa, que produz o mineralocorticoide
aldosterona; a zona fasciculada, que produz o glicocorticoide cortisol; e a
zona reticular, que produz os androgênios fracos DHEA e DHEAS.
73
Unidade I

O cortisol é o hormônio secretado frente a diversas situações de estresse


(neurogênico ou não). Classicamente, é um hormônio hiperglicemiante
e, de forma geral, tem várias funções, sendo das mais importantes o
efeito imunossupressivo e anti‑inflamatório. Os androgênios DHEA,
DHEAS e androstenediona são precursores androgênicos, que podem ser
convertidos, perifericamente, para androgênios ativos e correspondem
a 50% do androgênio circulante nas mulheres. A aldosterona é um
mineralocorticoide natural muito forte, que promove a reabsorção de
Na+ e água pelos túbulos distais e dutos coletores, enquanto promove
a secreção renal de H+ e K+. A aldosterona também promove a absorção
de água e Na+ no cólon e glândulas salivares, apresenta um efeito
pró‑inflamatório e fibrótico no sistema cardiovascular e causa hipertrofia
e remodelação ventricular esquerda.

Os sistemas reprodutores são compostos por gônadas, trato reprodutor


interno, com glândulas associadas e genitália externa. As glândulas
mamarias são glândulas reprodutoras acessórias, na mulher. As gônadas
têm duas funções principais: a produção de gametas e de hormônios, os
quais são fundamentais para a função normal e cuja produção é regulada
pelo eixo hipotálamo‑hipófise‑gônadas.

No homem, os túbulos seminíferos do testículo contêm células


de Sertoli e células espermáticas em desenvolvimento, que, por
meio da espermatogênese, formam espermatozoides maduros. A
testosterona, produzida fora dos túbulos nas células de Leydig, e o FSH
são fundamentais para a produção de espermatozoides, agindo nas
células de Sertoli. Essas células produzem inibina, hormônio que regula
centralmente os níveis de FSH, e formam a barreira hemato‑testicular,
a qual protege o processo de espermatogênese.

O trato masculino inclui estruturas tubárias (epidídimo, ductos


deferentes e uretra masculina), glândulas sexuais acessórias (vesícula
seminal e próstata) e o pênis.

No aparelho reprodutor feminino, o folículo é a unidade funcional


do ovário. Os folículos contêm células epiteliais (granulosas e cumulus)
e células do estroma (células da teca). Todas essas células dispõem‑se
ao redor do oócito primário que permanece estacionado na primeira
prófase meiótica até logo antes da ovulação. Os folículos desenvolvem‑se
de um folículo pequeno (primordial) até um folículo antral grande por
ação das gonadotrofinas.

O ciclo menstrual é de aproximadamente 28 dias, dirigido pelos seguintes


eventos ovarianos: desenvolvimento de um folículo antral grande em um
74
FISIOLOGIA

folículo pré‑ovulatório (a fase folicular), ovulação, formação e morte do


corpo lúteo (fase lútea). A fase folicular ovariana corresponde às fases
menstrual e proliferativa do endométrio uterino. A fase lútea ovariana
corresponde à fase secretória do endométrio uterino.

O folículo dominante é selecionado em cada ciclo menstrual, sendo


normalmente o folículo com a maior quantidade de receptores para FSH.
Quantidades elevadas de estradiol que ocorrem ao redor do meio do ciclo
(14 dias) exercem feedback positivo na hipófise e induz o pico de LH (e
um surto menor de FSH). O pico de LH induz: (a) maturação meiótica do
oócito primário, de forma que ele progrida para oócito secundário que
fica estacionado na metáfase II, (b) ruptura da parede ovariana e folicular
possibilitando a expulsão do complexo cumulus‑oócito (ovulação), e (c)
diferenciação das células foliculares restantes em um corpo lúteo, que
produz altos níveis de progesterona, estradiol e inibina. Se a gestação não
ocorrer, o corpo lúteo irá morrer em 14 dias, os quais constituem a fase
lútea do ciclo menstrual.

Exercícios

Questão 1. (Enade 2013) O perfil genético de um indivíduo, comumente utilizado na identificação


humana, é baseado na combinação de diversos marcadores moleculares que são herdados de seus
genitores. Esses marcadores são, geralmente, diferenças nas sequências de DNA nuclear entre os
indivíduos (polimorfismos). Em alguns casos, entretanto, a análise do DNA nuclear não é suficiente
para se chegar a uma identidade, sendo a análise do DNA mitocondrial (mtDNA) uma das alternativas
recomendadas.

Fonte: LUTZ, S. et al. mtDNA as a tool for identification of humans remains: identification using mtDNA. lntemational Journal of
Legal Medicine (adaptado).

A respeito do uso do mtDNA na análise de paternidade, avalie as afirmativas a seguir e a relação


proposta entre elas:

I – O mtDNA, de herança estritamente materna, não está sujeito à recombinação na meiose, possuindo
centenas de cópias por célula, o que facilitaria a sua chance de recuperação e análise.

Porque

II – Devido ao modo de transmissão, filhos e filhas, assim como a mãe, não podem ser
distinguidos entre si pelo mtDNA, e a análise desse material não deve ser utilizada para fins de
confirmação de paternidade.

A respeito dessas afirmativas, assinale a opção correta:

75
Unidade I

A) As afirmativas l e ll são proposições verdadeiras, e a ll é uma justificativa correta da l.


B) As afirmativas l e ll são proposições verdadeiras, mas a ll não é uma justificativa correta da l.
C) A afirmativa l é uma proposição verdadeira, e a ll é uma proposição falsa.
D) A afirmativa l é uma proposição falsa, e a ll é uma proposição verdadeira.
E) As afirmativas l e ll são proposições falsas.

Resposta correta: alternativa B.

Análise das alternativas

Justificativa geral: a meiose forma gametas com metade do número de cromossomos para que
na fecundação o ser humano mantenha seu cariótipo. O óvulo é uma célula que mantém todas as
organelas, mas o espermatozoide em sua transformação morfológica perde o citoplasma preservando
apenas a carga genética. A mitocôndria possui um DNA próprio que não participa da meiose, portanto
pode ser analisado, mas será o mesmo para todos os organismos pois deriva apenas do óvulo.

O teste de paternidade é realizado com a carga genética nuclear. O mtDNA não indica a paternidade,
pois o espermatozoide durante a fecundação não fornece mitocôndrias para o zigoto. Este fato não
justifica nem a redução da carga genética ocorrida na meiose (formando os gametas), nem a mudança
morfológica do espermatozóide.

Questão 2. (Enade 2010) A avaliação do estado nutricional, incluindo consumo alimentar, perfil
bioquímico e antropometria, constitui importante instrumento da prática do profissional nutricionista.
A síndrome metabólica é um transtorno complexo que promove alterações significativas no perfil
bioquímico e antropométrico. Por isso, o nutricionista tem papel fundamental dentro de equipes
multiprofissionais cujo objetivo é promover ações voltadas para prevenção e tratamento dessa síndrome.

Considerando essas informações e os parâmetros estabelecidos pela Diretriz Brasileira de Síndrome


Metabólica, assinale a opção que apresenta três fatores bioquímicos e/ou antropométricos que
caracterizam o cuidado nutricional e a prescrição dietética específica na síndrome metabólica.

A) Obesidade abdominal, triglicérides plasmático e glicemia de jejum.


B) Triglicérides, ácido úrico plasmático e obesidade abdominal.
C) Composição corporal, glicemia de jejum e HDL-colesterol plasmático.
D) Circunferência da cintura, ácido úrico plasmático e resistência à insulina.
E) VLDL-colesterol, triglicérides plasmático e obesidade abdominal.

Resolução desta questão na plataforma.

76

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