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Fisiologia
Autora: Profa. Daniella do Carmo Buonfiglio
Colaboradoras: Profa. Fernanda Torello de Mello
Profa. Cristiane Jaciana Furlaneto
Profa. Claudia Ferreira dos Santos Ruiz Figueiredo
Profa. Paula Juliana Ferreira Albero
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Professora conteudista: Daniella do Carmo Buonfiglio
Daniella do Carmo Buonfiglio é licenciada e bacharel em Ciências Biológicas pela Universidade Metodista de
São Paulo e doutora em Ciências (na área de fisiologia humana) pela Universidade de São Paulo. Seu interesse em
neurofisiologia e, particularmente, na cronobiologia conduziu‑a a realizar o doutorado com o professor doutor José
Cipolla‑Neto, do Instituto de Ciências Biomédicas, da USP. Durante seu doutorado, desenvolveu um projeto paralelo
como parte de um estágio na Université Louis Pasteur, em Strasbourg, França, na qual aprendeu novas técnicas
que seriam utilizadas posteriormente em seu trabalho no Brasil. Já pós‑graduada, decidiu continuar sua linha de
pesquisa, no doutorado, sobre os ritmos circadianos na retina de animais diabéticos, aprofundando nos mecanismos
de ação. Durante seu pós‑doutorado, começou a experiência docente com a orientação de alunos de iniciação
cientifica. Atualmente, ministra aulas de fisiologia humana, citologia e histologia na Universidade Paulista (UNIP),
para os cursos de graduação em Biologia, Farmácia e Biomedicina. Recentemente, retornou à pesquisa, realizando
um novo pós‑doutorado na Universidade de São Paulo, estudando o impacto da obesidade no comportamento
maternal e lactação.
CDU 612
U508.84 – 20
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem
permissão escrita da Universidade Paulista.
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Deise Alcantara Carreiro – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto
Revisão:
Gustavo Guiral
Lucas Ricardi
Sumário
Fisiologia
APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................7
Unidade I
1 SISTEMA RENAL...................................................................................................................................................9
1.1 Morfologia funcional do rim...............................................................................................................9
1.2 Filtração glomerular............................................................................................................................. 14
1.3 Absorção, excreção e formação da urina.................................................................................... 17
1.4 Túbulo proximal..................................................................................................................................... 18
1.5 Alça de Henle.......................................................................................................................................... 20
1.6 Túbulo distal e túbulo coletor.......................................................................................................... 22
2 REGULAÇÃO DO SISTEMA RENAL.............................................................................................................. 23
2.1 Regulação da reabsorção de NaCl e água................................................................................... 23
2.2 Regulação do volume e osmolaridade pelo rim....................................................................... 23
3 SISTEMA ENDÓCRINO.................................................................................................................................... 28
3.1 Classificação dos hormônios............................................................................................................ 28
3.2 Regulação da secreção hormonal.................................................................................................. 31
3.3 Sistema hipotálamo‑hipófise........................................................................................................... 32
3.4 Neuro‑hipófise (posterior)................................................................................................................. 33
3.5 Adeno‑hipófise (anterior).................................................................................................................. 33
3.6 Glândula tireoide................................................................................................................................... 40
3.6.1 Síntese dos hormônios tireoidianos................................................................................................. 41
3.6.2 Secreção dos hormônios tireoidianos............................................................................................. 42
3.6.3 Funções dos hormônios tireoidianos............................................................................................... 43
3.7 Glândula paratireoide.......................................................................................................................... 45
3.8 Pâncreas endócrino.............................................................................................................................. 46
3.9 Glândula adrenal................................................................................................................................... 49
3.9.1 Medula adrenal......................................................................................................................................... 50
4 GÔNADAS – SISTEMAS REPRODUTORES MASCULINO E FEMININO........................................... 54
4.1 Sistema reprodutor masculino........................................................................................................ 54
4.2 Sistema reprodutor feminino........................................................................................................... 60
Unidade II
5 SISTEMA CARDIOVASCULAR........................................................................................................................ 77
5.1 Circulação do sangue (circulação pulmonar e sistêmica).................................................... 79
5.2 Ciclo cardíaco.......................................................................................................................................... 81
5.2.1 Bulhas cardíacas....................................................................................................................................... 83
5.3 Débito cardíaco...................................................................................................................................... 83
5.4 Automatismo cardíaco........................................................................................................................ 84
5.5 Potencial de ação cardíaco................................................................................................................ 85
5.6 Ritmicidade cardíaca e o sistema de condução........................................................................ 88
5.7 Eletrocardiograma (ECG).................................................................................................................... 89
5.8 Regulação da pressão arterial.......................................................................................................... 90
5.9 Regulação neural da pressão arterial............................................................................................ 92
5.10 Regulação humoral da pressão arterial..................................................................................... 94
6 SISTEMA SANGUÍNEO.................................................................................................................................... 97
6.1 Composição do sangue (porção líquida e celular)................................................................... 97
6.2 Funções dos eritrócitos, leucócitos e plaquetas.....................................................................100
6.3 Tipos sanguíneos.................................................................................................................................105
6.4 Hemostasia............................................................................................................................................107
Unidade III
7 SISTEMA RESPIRATÓRIO..............................................................................................................................115
7.1 Vias aéreas – porção condutora e respiratória........................................................................115
7.2 Mecânica ventilatória, volumes e capacidades pulmonares.............................................119
7.3 Difusão dos gases, transporte dos gases pelo sangue e pressões de trocas
gasosas............................................................................................................................................................124
7.4 Transporte de oxigênio no sangue...............................................................................................126
7.5 Controle nervoso da respiração.....................................................................................................130
8 SISTEMA DIGESTÓRIO...................................................................................................................................130
8.1 Estrutura geral do sistema digestório: processos de mastigação,
deglutição, digestão, absorção e defecação....................................................................................130
8.2 Resposta integrada a uma refeição.............................................................................................138
8.3 Glândulas anexas: fígado e pâncreas..........................................................................................150
8.4 Digestão e absorção dos carboidratos........................................................................................152
8.5 Digestão e absorção das proteínas..............................................................................................153
8.6 Digestão e absorção dos lipídios...................................................................................................154
8.7 Secreção e absorção de água e eletrólitos................................................................................155
APRESENTAÇÃO
Iniciaremos nossos estudos abordando os aspectos fisiológicos do sistema renal, responsável pela
depuração do organismo. Em seguida, trataremos do sistema endócrino, o qual, por meio dos hormônios,
modula e integra todas as funções do organismo.
Por fim analisaremos o sistema digestório, que trata dos eventos relacionados à mastigação, à
digestão e à absorção dos nutrientes oriundos da alimentação.
INTRODUÇÃO
A palavra “fisiologia” origina‑se de dois termos gregos: physis (natureza) e logos (estudo). Então, de
forma literal, significa o estudo da natureza. Entretanto, o termo refere‑se aos estudos dos fenômenos
naturais de origens biológicas, tanto animal quanto vegetal. O presente livro abordará a fisiologia como
a ciência que investiga as funções naturais do organismo vivo e, também, os mecanismos pelos quais
ocorrem os diversos fenômenos biológicos essenciais à vida.
Pretendemos, com este livro, não apenas contribuir para a formação de futuros biólogos, mas
também despertar a disposição, em cada aluno, ao aprofundamento na investigação dessa poderosa
máquina, que é o corpo humano.
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FISIOLOGIA
Unidade I
1 SISTEMA RENAL
O organismo humano apresenta dois rins, órgãos com a forma de feijão situados na região lombar,
de ambos os lados da coluna vertebral (figura 65). Os rins são órgãos que filtram o sangue e produzem
a urina, uma solução aquosa que contém grande número de substâncias dissolvidas, muitas delas
produtos do metabolismo celular que são excretados, como ureia, ácido úrico, creatinina e outros, mas
também eletrólitos como NaCl, KCl, ácidos, bases como o bicarbonato, íons cálcio, fosfato, sulfato,
entre outros, cuja excreção urinária contribui para a regulação da constituição hidrossalina do meio
interno, particularmente do meio extracelular. Portanto, a partir da filtração sanguínea, as duas funções
principais do rim são:
Rim Rim
Artéria aorta
Ureter
Bexiga urinária
Próstata
Uretra
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Unidade I
O rim é composto por uma parte mais externa ou superficial, o córtex renal, e a porção interna, a
medula renal, constituída por pirâmides, cuja ponta está envolvida pelos cálices; eles, por sua vez, vão
juntar‑se na pélvis renal, estrutura membranosa que vai coletar a urina liberada na ponta das pirâmides
e levá‑la ao ureter (figura 66). Os dois ureteres, um proveniente de cada rim, terminam na bexiga, e de
lá a urina será levada ao exterior pela uretra, cujo meato ou abertura externa está localizado na ponta
da glande do pênis, no homem (figura 67), e na região vulvar, na mulher (CURI; PROCOPIO, 2009).
Cápsula glomerular
(ou cápsula de Bowman) Corpúsculo renal
(ou corpúsculo
Cápsula de Malpighi)
Glomérulo
Córtex
Medula Néfron
Duto coletor
Duto coletor maior
(ou duto de Bellini)
Artéria renal Artéria interilobular
Sangue
Árvore cortical
Hilo
Veia renal Cálice menor
Pélvis ou bacinete Cálice maior
Glomérulos
justamedulares
Ureter
Pirâmide
Papila da pirâmide Glomérulos
Veia interiobular
Rim completo
A circulação renal é iniciada com a artéria renal, entrando no rim pelo hilo, em proximidade ao
ureter, e daí divide‑se em artérias interlobares e arqueadas. Dessas artérias, originam as artérias
interlobulares, das quais partem as arteríolas aferentes dos glomérulos renais, estruturas responsáveis
pela ultrafiltração do sangue. As arteríolas eferentes dos glomérulos dão origem aos capilares
peritubulares, que vão irrigar os túbulos renais, e por fim vão originar as vênulas e veias renais. As
arteríolas e os capilares mais profundos, próximos à medula renal, podem dar origem a longas alças
capilares que se aprofundam na medula, podendo atingir a ponta das pirâmides renais. Somente depois de
completar esse percurso, de volta ao córtex, é que essas alças vão formar vênulas e veias. Tais vasos capilares
longos são chamados vasos retos (vasa recta) e têm grande importância no sistema contracorrente da
medula renal, responsável pela concentração da urina e formação de urina hipertônica. Há também
vasos retos formados diretamente a partir das artérias interlobulares, que não passam pelo glomérulo.
Cada um dos glomérulos, por sua vez, dá origem a um néfron (figuras 68 e 69): uma estrutura tubular
que vai modificar o ultrafiltrado do sangue por reabsorção da sua maior parte e por secreção de algumas
substâncias. A urina final formada será levada pelos ductos coletores até a ponta das pirâmides renais
e daí à pélvis renal, ureter, bexiga e, por meio da uretra, ao exterior. Em seu conjunto, os dois rins contêm
10
FISIOLOGIA
cerca de 2 milhões de néfrons, tendo cada néfron a capacidade de formar urina por si só. Por conseguinte,
na maioria dos casos, não é necessário considerar todo o rim, mas apenas a função de um único néfron,
para explicar a função do rim. O néfron é constituído basicamente por:
• um longo túbulo no qual o líquido filtrado é transformado em urina no seu trajeto até a pélvis
renal (GUYTON; HALL, 2011; CURI; PROCOPIO, 2009).
Arteríola eferente
Cápsula glomerular
Túbulo contorcido proximal
Glomérulo Túbulo
renal contorcido
distal
Arteríola
aferente
Alça néfrica
Duto
coletor
desta alça. Esse ramo ascendente aproxima‑se novamente ao glomérulo renal, e é nesse local que se
situa a mácula densa, estrutura diferenciada do túbulo que funciona como um detector de variações na
concentração iônica do lúmen tubular, sendo parte de um mecanismo de regulação da reabsorção de sal.
Em seguida, já de volta ao córtex renal, inicia‑se o túbulo contorcido distal, ao qual se segue um curto
segmento denominado túbulo conector. Começa em seguida o duto coletor cortical, que é formado
pela junção de vários néfrons, e que se aprofunda em direção à medula renal. Seguem‑se o duto coletor
medular externo, na medula externa, e o coletor medular interno, na medula interna, o qual se abre na
ponta da pirâmide renal. O coletor medular externo pode ser subdividido em segmentos da faixa externa e
da faixa interna da medula renal (GUYTON; HALL, 2011; CURI; PROCOPIO, 2009).
Artéria renal
Túbulo
Veia renal coletor
Alça de
Henle
12
FISIOLOGIA
Em volta dos capilares e na base em que se começa a formar o tufo capilar há um conjunto
de células, as células mesangiais, que têm características contráteis e apresentam fibrilas
musculares semelhantes àquelas das células do músculo liso, e são sensíveis a peptídeos
como angiotensina e peptídeo atrial natriurético, que podem elevar a sua contração ou
dilatação, respectivamente, modificando a dinâmica do filtrado glomerular. Por outro lado,
no ângulo entre as arteríolas aferente e eferente, está um conjunto de células denominado
aparelho justaglomerular, composto pela mácula densa, conjunto de células especializadas
da parede do início do túbulo contorcido distal, que se opõe ao glomérulo nesse local. Fazem
parte do aparelho justaglomerular também as células situadas no ângulo entre as arteríolas,
constituindo a almofada polar, e células musculares lisas modificadas da parede da arteríola
aferente, portadoras de grânulos de renina, uma enzima que participa da formação do
peptídeo angiotensina, regulador do tônus vascular que causa a elevação da pressão arterial
por constrição de arteríolas em todo o organismo, por exemplo, quando há perda de sangue
ou retração do volume extracelular. O aparelho justaglomerular, apesar de não se conhecerem
ainda todos os mecanismos de sua atuação, é um importante componente da regulação da
função renal, incluindo a magnitude do ritmo de filtração glomerular (RFG) e da reabsorção de
água e sal ao longo do néfron.
O túbulo contorcido proximal é constituído de três segmentos principais, S1, S2, e S3, com
características celulares próprias. A porção inicial do túbulo, S1, é constituída por células ricas em
mitocôndrias e com orla em escova bem desenvolvida, demonstrando uma grande capacidade de
reabsorção de fluido. O segmento S2 constitui a maior parte do túbulo contorcido proximal (cortical), e
o S3 principalmente a porção reta descendente deste segmento tubular. Esses segmentos tendem a ter
cada vez menos mitocôndrias em direção à alça de Henle, e orla em escova menos desenvolvida (CURI;
PROCOPIO, 2009).
Os ramos delgados da alça de Henle têm células muito achatadas, com poucas mitocôndrias,
demonstrando assim pouca atividade metabólica e de transporte. Mas têm, mesmo assim, muita
importância no sistema de concentração e diluição da urina. O segmento mais importante
desse sistema é o ramo ascendente grosso, de células cuboides, ricas em mitocôndrias, e
responsáveis por uma parcela importante da reabsorção de sal, embora esse segmento seja
impermeável à água. Na região medular, na faixa externa, está o coletor medular externo e,
na interna, o coletor medular interno. Na porção terminal da pirâmide renal, denominada
papila, está o coletor papilar, mais grosso que os demais devido à junção de vários coletores
mais externos. A partir do segmento de conexão situam‑se pelo menos dois tipos celulares,
as células principais, responsáveis pela absorção de NaCl e pela secreção de K +, e as células
intercaladas, responsáveis pela acidificação da urina, por meio da secreção de H + e da
reabsorção ou secreção de bicarbonato. Nos coletores medulares interno e papilar, a atividade
de transporte torna‑se mais limitada, ocorrendo no fim somente um tipo celular responsável
pelos vários tipos de transporte. Uma característica interessante das células do duto coletor
é sua permeabilidade à água, que, na ausência do hormônio antidiurético, é muito baixa,
levando à produção de uma urina muito diluída (hipotônica). No entanto, sua permeabilidade
à água eleva‑se significativamente na presença desse hormônio, o que causa reabsorção de
água e formação de urina hipertônica (concentrada). A permeabilidade à água dos segmentos
13
Unidade I
tubulares deve‑se à presença de canais de água em suas membranas celulares, que são
moléculas proteicas, denominadas aquaporinas, inseridas nessas membranas. As modificações
de permeabilidade devem‑se à remoção ou inserção desses canais de água.
Cerca de 20‑25% do volume de sangue bombeado pelo coração passa pelos rins por unidade
de tempo. Eis uma magnitude de irrigação tecidual muito maior que aquela de todos os demais
tecidos, e reflete a característica particular dessa circulação; o sangue que irriga o rim não tem
unicamente a função nutriente, mas majoritariamente uma função de depuração desse sangue,
além de regular a constituição do meio interno. Sendo, no humano, o fluxo sanguíneo renal (FSR)
de cerca de 1200 ml/min, e o debito cardíaco de 5000 ml/min, em aproximadamente 4 minutos
todo o sangue do organismo será distribuído pelos aproximadamente 2 milhões de néfrons dos
dois rins, onde será filtrado. A partir da pressão média da artéria renal, da ordem de 100 mmHg,
igual à pressão sistêmica, há uma queda desta pressão ao longo da arteríola aferente, um vaso de
resistência, até 50 mmHg no capilar glomerular. Ao longo dele, há pouca modificação da pressão,
que cai novamente ao longo da arteríola eferente até cerca de 15 mmHg, valor agora semelhante
aos dos capilares de outros tecidos, decrescendo depois para os valores venosos. A característica
fundamental dessa circulação é a interposição de uma capilarização entre duas arteríolas, que
mantém a pressão elevada, base para a formação do ultrafiltrado glomerular. A formação desse
ultrafiltrado depende essencialmente das forças descritas por Starling, isto é, do equilíbrio de
pressão hidrostática intracapilar, empurrando o fluido por meio da sua parede e da pressão
oncótica ou coloidosmótica, que tende a manter o fluido (água e solutos dissolvidos) dentro dos
capilares. As proteínas são as únicas moléculas que mantêm pressão osmótica em relação à parede
capilar por terem uma massa molecular elevada, não sendo a parede dos capilares permeável
a elas, ao contrário das demais moléculas, bem menores, como íons, glicose, aminoácidos etc.
Em consequência, o ultrafiltrado é uma solução de características semelhantes ao plasma, porém
quase sem proteínas.
A filtração glomerular é o processo que inicia a formação da urina. Nesse evento, cerca de 20%
do plasma que entra no rim e alcança os capilares glomerulares são filtrados, atingindo o espaço
de Bowman. Os 80% de plasma restante, que não foram filtrados, circulam ao longo dos capilares
glomerulares, atingindo as arteríolas eferentes, dirigindo‑se para a circulação capilar peritubular e
retornando à circulação geral (figura 69) (AIRES, 2008; CURI; PROCOPIO, 2009).
14
FISIOLOGIA
Arteríola Arteríola
aferente eferente
Cápsula de
Bowman
Glomérulo
Túbulo
proximal
Filtrado
O fluido filtrado é um ultrafiltrado do plasma e contém todas as substâncias existentes no plasma, exceto
a maioria das proteínas e substâncias que se encontram ligadas a elas, como é o caso dos cerca de 40% do
cálcio circulante. As células do sangue também não passam pelo processo de filtração glomerular. Como
água e soluto são filtrados em proporções iguais, a composição e a concentração do filtrado glomerular
são quase iguais às plasmáticas. Consequentemente, a composição e a concentração do fluido que atinge
a arteríola eferente também são iguais às plasmáticas, porém sua concentração proteica é mais elevada.
Em humanos, o valor da filtração glomerular é cerca de 120 ml/min (CURI; PROCOPIO, 2009).
As forças responsáveis pela filtração glomerular do plasma são as mesmas que estão presentes em
todos os leitos capilares. A ultrafiltração ocorre porque as forças de Starling (pressões hidrostática e
oncótica) impulsionam o líquido da luz dos capilares glomerulares por meio da barreira de filtração, para
o espaço de Bowman. A pressão hidrostática do capilar glomerular (PCG) está orientada para promover o
movimento de líquido do capilar glomerular para o espaço de Bowman. Como o ultrafiltrado glomerular
é desprovido de proteínas, a pressão oncótica do espaço de Bowman (πEB) aproxima‑se a zero. Portanto,
a PCG é a única força que favorece à filtração. A pressão hidrostática no espaço de Bowman (PEB) e a
pressão oncótica do capilar glomerular (πCG) se opõem à filtração (KOEPPEN; STANTON, 2009).
15
Unidade I
Existe uma pressão efetiva de ultrafiltração (PUF) de 17 mmHg na extremidade aferente do glomérulo;
já, na extremidade eferente, seu valor é de 8 mmHg (em que PUF = PCG – PEB – πCG). É importante frisar
dois pontos adicionais com relação às forças de Starling e a essa variação de pressão. Em primeiro lugar,
a PCG diminui ligeiramente ao longo do capilar, devido à resistência ao fluxo, causada pelo comprimento
do capilar. Em segundo, a πCG aumenta ao longo do capilar glomerular. Como a água é filtrada e as
proteínas continuam no capilar glomerular, aumenta a concentração de proteínas no capilar e também
a πCG (KOEPPEN; STANTON, 2009).
A intensidade de filtração glomerular (IFG) é proporcional à soma das forças de Starling existentes
por meio dos capilares da seguinte forma:
A IFG pode ser alterada modificando‑se o Kf ou qualquer uma das forças de Starling. Em pessoas
saudáveis, a IFG é regulada por alterações na PCG, mediadas, principalmente, por alterações na resistência
das arteríolas aferente ou eferente. A PCG pode ser afetada por três maneiras:
16
FISIOLOGIA
A autorregulação do FSR e da IFG se dá por meio de dois mecanismos. Um deles responde a alterações
da pressão arterial, e outro a alterações da concentração de NaCl no líquido tubular. Ambos regulam
o tônus da arteríola aferente. O mecanismo sensível à pressão, chamado mecanismo miogênico, está
relacionado à propriedade intrínseca da musculatura lisa vascular de se contrair quando distendida. Da
mesma forma, quando a pressão arterial se eleva e a arteríola aferente se distende, a musculatura lisa
se contrai. Como o aumento da resistência arteriolar contrabalança o aumento da pressão, o FSR e a
IFG permanecem constantes. O segundo mecanismo é conhecido como feedback tubuloglomerular.
Esse mecanismo envolve uma alça de feedback na qual a mácula densa do aparelho justaglomerular
afere a concentração de NaCl no líquido tubular, convertendo‑a em um ou mais sinais que afetam a
resistência da arteríola aferente e, portanto, a IFG. Quando a IFG aumenta, elevando a concentração
de NaCl no líquido tubular, mais NaCl penetra nas células da mácula densa, o que leva ao aumento
da formação e liberação de ATP e adenosina (um metabolito do ATP) por essas células, provocando a
vasoconstrição da arteríola aferente. Essa vasoconstrição, por sua vez, faz com que a IFG retorne ao nível
normal. Por sua vez, quando a IFG e a concentração de NaCl no líquido tubular diminuem, menos NaCl
penetra nas células da mácula densa, reduzindo a produção e liberação de ATP e adenosina. A queda
da concentração de ATP e adenosina causa a vasodilatação da arteríola aferente, normalizando a IFG. O
oxido nítrico (NO), vasodilatador produzido pela mácula densa, atenua o feedback tubuloglomerular, e a
angiotensina II estimula‑o. Por tanto, a mácula densa pode liberar vasoconstritores e um vasodilatador
que executam ações opostas sobre a arteríola aferente (KOEPPEN; STANTON, 2009).
• a secreção dos solutos selecionados para o fluido tubular. Após a sua formação, o filtrado
glomerular circula pelos túbulos renais e a sua composição e volume são modificados pelos
mecanismos de reabsorção e secreção tubular, existentes ao longo do néfron. É chamado de
reabsorção tubular renal o processo de transporte de uma substância do interior tubular para
o capilar sanguíneo que envolve o túbulo; o mecanismo no sentido contrário é denominado
secreção tubular. Pelos processos de reabsorção e secreção, os túbulos renais modulam o volume
e a composição da urina, que, por sua vez, permitem que os túbulos controlem precisamente o
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Unidade I
Portanto, o processo de depuração renal, além de se dar pela filtração glomerular, pode também
ser feito por meio da secreção tubular, já que o sangue que passou pelos glomérulos e não foi filtrado
atravessa uma segunda rede capilar, peritubular. Por outro lado, graças à reabsorção tubular, muitas
substâncias depois de filtradas voltam ao sangue que percorre os capilares peritubulares entrando na
circulação sistêmica pela veia renal que sai do órgão.
A reabsorção e a secreção dos vários solutos por meio do epitélio renal são feitas por mecanismos
específicos, passivos ou ativos, localizados nas membranas da célula tubular. Todos os sistemas de transporte
são interdependentes. Por exemplo, um mecanismo importante como a reabsorção de Na+, que utiliza uma
fração significativa de energia, exerce uma grande influência no gradiente eletroquímico através do epitélio
tubular, o que acaba afetando o transporte dos demais solutos pela parede tubular. Além disso, a reabsorção de
sódio e cloreto, os mais abundantes solutos existentes no filtrado glomerular, estabelece gradientes osmóticos
através do epitélio tubular que permitem a reabsorção passiva de água. Ela passa do interstício para a circulação
peritubular por meio de um balanço entre as pressões oncótica (exercida pelas proteínas plasmáticas) e
hidrostática (existentes no interior dos capilares peritubulares). A reabsorção de água aumenta a concentração
dos solutos dentro do túbulo; portanto, a reabsorção de água modifica o gradiente químico que medeia o
transporte passivo de determinados solutos por meio do epitélio, como no caso da ureia (AIRES, 2008).
O túbulo proximal reabsorve em termos aproximados 67% da água filtrada, Na+, Cl‑, K+, e outros
solutos. Além disso, o túbulo proximal reabsorve quase toda a glicose e aminoácidos, filtrados pelo
glomérulo. O elemento‑chave na reabsorção no túbulo proximal é a Na+‑K+‑ATPase (bomba de sódio e
potássio) na membrana basolateral (membrana em contato com os capilares) que transporta ativamente
três íons sódio para fora da célula e dois íons potássio para dentro dela.
O Na+ é reabsorvido por diferentes mecanismos na primeira e segunda metade do túbulo proximal.
Na primeira metade, o Na+ é reabsorvido, principalmente, com bicarbonato e diversos outros solutos
(glicose, aminoácidos, fósforo e lactato). Em contrapartida, na segunda metade, o Na+ é reabsorvido,
em sua maior parte, com Cl. Tal disparidade é mediada pelas diferenças nos sistemas de transporte,
na primeira e segunda metades do túbulo proximal e nas diferenças da composição do fluido tubular,
nessas regiões (KOEPPEN; STANTON, 2009).
Qualquer Na+ que entre na célula por meio da membrana apical (a que está em contato com os
túbulos) deixa a célula e entra no sangue via Na+,K+‑ATPase. Resumidamente, a reabsorção de Na+ na
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FISIOLOGIA
Na segunda metade do túbulo, o Na+ é reabsorvido em sua maior parte com Cl‑ pelas vias
transcelular (através das células) e paracelular (entre as células). O Na+ é, em sua maioria, reabsorvido
com Cl‑, em vez de ser reabsorvido com os solutos orgânicos ou bicarbonato como ânion que o
acompanha, porque os mecanismos de transporte de Na+, na segunda metade diferem dos da primeira
(KOEPPEN; STANTON, 2009).
O túbulo proximal reabsorve 67% de água filtrada. A força propulsora para a reabsorção de água
é o gradiente osmótico transtubular estabelecido pela reabsorção de solutos (NaCl, glicose‑Na+). A
reabsorção de Na+ com os solutos orgânicos, bicarbonato e Cl‑ do fluido tubular no espaço lateral
intercelular reduz a osmolaridade do fluido tubular e aumenta a osmolaridade do espaço intercelular
lateral. Como as membranas apical e basolateral das células do túbulo proximal expressam canais de
água (aquaporinas), a água é principalmente reabsorvida através das células do túbulo proximal. Uma
pequena porcentagem de água também é reabsorvida através das junções fechadas (via paracelular).
O acúmulo de fluidos e de solutos no espaço intercelular lateral aumenta a pressão hidrostática nesse
compartimento. A pressão hidrostática aumentada força o fluido e os solutos para os capilares. Assim, a
reabsorção de água segue a reabsorção de solutos no túbulo proximal.
Observação
As poucas proteínas filtradas pelo glomérulo são reabsorvidas no túbulo proximal. Os hormônios
peptídicos, pequenas proteínas e pequenas quantidades de proteínas grandes, como a albumina, são
filtrados pelo glomérulo. Assim, apenas uma pequena porcentagem de proteínas passa pelo glomérulo
e entram no espaço de Bowman. Entretanto, a quantidade de proteína filtrada por dia é significativa,
porque a IFG é alta (KOEPPEN; STANTON, 2009).
As proteínas entram nas células por endocitose intactas ou sendo parcialmente degradadas pelas
enzimas na superfície de células do túbulo proximal. Uma vez que as proteínas e peptídeos estão na
célula, as enzimas as digerem nos aminoácidos constituintes, que, então, deixam a célula, por meio da
membrana basolateral, pelas proteínas de transporte e são devolvidas para o sangue. Normalmente,
esse mecanismo reabsorve quase todas as proteínas filtradas, e, assim, a urina fica livre de proteínas.
19
Unidade I
Entretanto, devido a esse mecanismo ser facilmente saturado, o aumento das proteínas filtradas
causa proteinúria (presença de proteínas na urina). A ruptura da barreira de filtração glomerular às
proteínas aumenta a filtração de proteínas e resulta em proteinúria, um quadro visto com frequência
nas doenças do rim.
As células do túbulo proximal também secretam cátions e ânions orgânicos. A secreção de cátions
e ânions orgânicos pelo túbulo proximal desempenha um papel‑chave na limitação do corpo aos
compostos tóxicos derivados de reservas endógenas e exógenas (isto é, xenobióticos). Muitos dos
ânions e cátions secretados pelo túbulo proximal são os produtos finais do metabolismo, que circulam
no plasma. O túbulo proximal também secreta numerosos compostos orgânicos exógenos, incluindo
numerosos fármacos e compostos tóxicos. Muitos desses compostos orgânicos podem ligar‑se às
proteínas plasmáticas, e não são prontamente filtrados. Portanto, apenas, uma pequena proporção
dessas substâncias potencialmente toxicas são eliminadas do corpo via excreção após apenas sua
filtração. Tais substâncias são também secretadas dos capilares peritubulares para o fluido tubular. Esses
mecanismos secretórios são muito potentes e removem quase todos os ânions e cátions orgânicos do
plasma que entram nos rins. Assim, essas substâncias são removidas do plasma por filtração e secreção
(KOEPPEN; STANTON, 2009).
A alça de Henle reabsorve aproximadamente 25% do NaCl filtrado e 15% da água filtrada. A
reabsorção de NaCl, na alça de Henle, ocorre em ambos os segmentos ascendente fino e ascendente
grosso. O ramo descendente fino não reabsorve NaCl. A reabsorção de água ocorre exclusivamente no
ramo descendente fino via aquaporinas. O ramo ascendente é impermeável à água. Além disso, Ca2+ e
bicarbonato são também reabsorvidos na alça de Henle.
O segmento ascendente fino reabsorve NaCl por um mecanismo passivo. A reabsorção de água,
mas não de NaCl no ramo descendente fino, aumenta a NaCl no fluido tubular que entra pelo ramo
ascendente fino. Como o fluido rico em NaCl move‑se em direção ao córtex, o NaCl difunde‑se para
fora do fluido tubular, por meio do ramo ascendente fino, para o fluido intersticial medular, ao longo do
gradiente de concentração, dirigido do fluido tubular para o interstício.
reabsorção de Na+, assim como a secreção H+ (por meio da reabsorção de bicarbonato) no segmento
ascendente espesso. O Na+ deixa a célula por meio da membrana basolateral via a Na+‑K+‑ATPase,
enquanto o K+, Cl‑ e o bicarbonato deixam a célula pela membrana basolateral, por vias distintas
(KOEPPEN; STANTON, 2009).
• o transporte aumentado de NaCl pelo ramo ascendente espesso aumenta a amplitude da voltagem
positiva no lúmen; e
• essa voltagem é uma força impulsionadora importante para a reabsorção de diversos cátions,
incluindo Na+, K+, Mg2+ e Ca2+, pela via paracelular (KOEPPEN; STANTON, 2009).
Em resumo, a reabsorção de NaCl no ramo ascendente espesso ocorre pelas vias transcelular e
paracelular. Cinquenta por cento da reabsorção de NaCl é transcelular e 50% é paracelular. Como o
segmento ascendente espesso não reabsorve água, a reabsorção de NaCl e de outros solutos reduz a
osmolaridade do fluido tubular para menos de 150 mOsm/kg de água. Assim, devido ao ramo ascendente
espesso produzir um fluido que é diluído em relação ao plasma, o segmento ascendente da alça de Henle
é chamado de segmento diluidor.
Lembrete
— por estar envolto em um interstício hipertônico e por ter uma alta permeabilidade a sais e
ureia, a concentração do fluido no lúmen aumenta em direção às papilas, tanto por saída de
água como por entrada passiva de solutos.
21
Unidade I
— o fluido no interior desses ramos é diluído à medida que sobe para a região cortical, daí serem
chamados segmentos diluidores (AIRES, 2008).
O túbulo distal e o túbulo coletor reabsorvem cerca de 8% do NaCl filtrado, secretam quantidades
variáveis de K+ e H+ e reabsorvem quantidades variáveis de água (de 8 a 17%). O segmento inicial do
túbulo distal (começo do túbulo distal) reabsorve Na+, Cl‑ e Ca2+ e é impermeável à água. A entrada de
NaCl na célula por meio da membrana apical é mediada por um simporte de Na+‑Cl‑. O Na+ deixa a
célula via ação da Na+‑K+‑ATPase e o Cl‑ deixa a célula via difusão pelos canais de Cl‑. Assim, a diluição
do fluido tubular começa no segmento ascendente espesso da alça de Henle e continua no segmento
inicial do túbulo distal.
O último segmento do túbulo distal e do ducto coletor são compostos por dois tipos de células: as
células principais e as células intercaladas. As células principais reabsorvem NaCl e água e secretam K+.
As células intercaladas secretam H+ ou bicarbonato e são desse modo, importantes na regulação do
balanço ácido‑base. As células intercaladas também reabsorvem K+ pela H+‑K+‑ATPase, localizada na
membrana apical. A reabsorção de Na+ e a secreção de K+ pelas células principais dependem da atividade
da Na+‑K+‑ATPase, na membrana basolateral. Pela manutenção de baixa concentração de Na+ intracelular,
essa bomba gera um gradiente químico favorável para o movimento de Na+ do fluido tubular para a
célula. Como o Na+ entra na célula através da membrana apical via difusão pelos canais seletivos ao Na+
nas células epiteliais (ENaCs), na membrana apical, a carga negativa dentro da célula facilita a entrada de
Na+. O Na+ deixa a célula por meio da membrana basolateral e entra no sangue via ação da Na+‑K+‑ATPase.
A reabsorção de Na+ gera voltagem negativa no lúmen no final do túbulo distal e do ducto coletor que
gera uma força propulsora para a reabsorção de Cl‑, pela via paracelular. Quantidade variável de água é
reabsorvida pelas células principais, no final do túbulo distal e do ducto coletor. A reabsorção de água é
mediada por aquaporinas (diferentes daquelas que agem na alça de Henle), localizados na membrana
plasmática apical e pelos canais aquaporinas localizados na membrana basolateral das células principais.
Na presença do hormônio antidiurético (ADH), a água é reabsorvida. Em contrapartida, na ausência do
hormônio ADH, o túbulo distal e o ducto coletor reabsorvem pouca água (KOEPPEN; STANTON, 2009).
O K+ é secretado do sangue para o fluido tubular pelas células principais, em duas etapas:
• o K+ deixa a célula via difusão passiva. Como a concentração de K+ no interior das células é alta
(150 mEq/l) e no fluido tubular é baixa (10 mEq/l), o K+ difunde‑se, diminuindo seu gradiente de
concentração, por meio dos canais de K+, na membrana apical das células, para o fluido tubular.
Embora o potencial negativo nas células tenda a reter o K+ na célula, o gradiente eletroquímico, por
meio da membrana apical favorece a secreção de K+ da célula para o fluido tubular. A reabsorção
de K+ pelas células intercaladas é mediado por H+‑K+‑ATPase, localizadas na membrana apical da
célula (KOEPPEN; STANTON, 2009).
22
FISIOLOGIA
Existem vários hormônios que regulam a reabsorção de NaCl e, portanto, a excreção urinária de NaCl.
Entre eles, estão: a angiotensina II, a aldosterona, as catecolaminas e os peptídeos natriuréticos. Outros
mecanismos que participam da reabsorção e excreção do NaCl são as forças de Starling e o fenômeno
do balanço glomérulo‑tubular. O ADH é o único hormônio que regula diretamente a quantidade de água
excretada pelos rins.
O íon sódio é o principal cátion do meio extracelular e ele exerce pressão osmótica efetiva,
estando diretamente relacionado ao volume desse compartimento. Como o controle do balanço
corporal de sódio é fundamental para a manutenção do volume do LEC, ele também é importante
23
Unidade I
para o controle da pressão arterial. O organismo possui diferentes receptores para a detecção de
alterações da volemia. Eles são:
• receptores de pressão intrarrenais, localizados nas arteríolas aferentes, junto ao aparelho justaglomerular,
que detectam alterações na perfusão sanguínea renal. Em situações de hipovolemia e queda da pressão
arterial, ocorre o estímulo para a liberação de renina na circulação, ativando a cascata do sistema
renina‑angiotensina‑aldosterona, o que aumenta a pressão arterial tanto pela intensa vasoconstrição
sistêmica que provoca como pelo aumento da reabsorção renal de sódio e consequente elevação do
LEC. Em situações de hipervolemia, a liberação de renina é inibida (CURI; PROCOPIO, 2009).
Lembrete
Frente às alterações do LEC, em resposta aos sinais dos receptores descritos, são ativados diferentes
sistemas efetores que podem causar aumento da volemia (mecanismos antinatriurétricos) ou a sua
diminuição (mecanismos natriuréticos):
• aumento da reabsorção renal de sódio. Isso pode ocorrer diretamente, por aumento na reabsorção
tubular de sódio no túbulo proximal, ou indiretamente, por estímulo da síntese e secreção de
aldosterona, que promove a reabsorção distal de sódio; e
• indução da proliferação celular, por exemplo, dos fibroblastos. Esse efeito de substituição do
tecido normal por fibroblastos prejudica o funcionamento de diversos tecidos, contribuindo para
o estabelecimento de doenças (como as glomerulonefrites) (CURI; PROCOPIO, 2009).
24
FISIOLOGIA
Observação
A endotelina, o tromboxano A2 e a adenosina são substâncias produzidas nos rins que atuam
nas células vizinhas ou na própria célula. Seus efeitos antinatriurétricos podem ser mediados por
vasoconstrição ou por ação tubular direta, modulando a atividade de transportadores iônicos (CURI;
PROCOPIO, 2009).
O peptídeo natriurético atrial (ANP) é o mais importante. É sintetizado nos miócitos cardíacos e
secretado em resposta ao estiramento do átrio decorrente do aumento do retorno venoso, que pode
estar associado ao aumento da volemia. Hormônios como ADH, glicocorticoides e adrenalina também
estimulam a secreção de ANP. Seus principais efeitos são:
As prostaglandinas e o óxido nítrico são moléculas produzidas localmente com ação natriurética
por relaxamento das células mesangiais, vasodilatação dos vasos retos levando à diluição do
interstício medular com perda da hipertonicidade, e diminuição da reabsorção de sódio por meio da
modulação dos transportadores. Em situações em que o sistema renina‑angiotensina‑aldosterona
está ativado, causando intensa vasoconstrição sistêmica, as prostaglandinas são essenciais para
manter a adequada irrigação sanguínea renal, agindo localmente no rim, garantindo a função desse
órgão (CURI; PROCOPIO, 2009).
A ureia concentra‑se na luz do túbulo coletor cortical graças à reabsorção de água pelas
aquaporinas sujeitas à ação do ADH. Uma vez concentrada no túbulo coletor, ao atingir as
regiões medular interna e papilar, pode ser reabsorvida para o interstício a favor de gradiente de
concentração. Assim, estando concentrada no interstício medular a ureia é secretada no ramo
fino ascendente da alça de Henle. Na medida em que o sódio vai sendo reabsorvido ao longo
da alça de Henle, a ureia vai tornando‑se um osmólito importante na luz tubular. Portanto, a
recirculação de ureia não só contribui na geração de hipertonicidade medular por meio de seu
transporte passivo, como permite uma maior reabsorção de sódio, também passivamente, a favor
do seu gradiente de concentração, no ramo fino ascendente da alça de Henle, o que contribui
igualmente para a formação da hipertonicidade medular. Esses mecanismos multiplicadores são
diretamente dependentes do efeito unitário, derivado da reabsorção de NaCl, por meio do epitélio
do túbulo distal reto, impermeável à água, pela associação do transportador na membrana luminal,
à Na+‑K+‑ATPase na membrana basolateral.
26
FISIOLOGIA
A concentração de NaCl no fluido tubular no ramo fino ascendente da alça seria maior que
no interstício, devido à absorção de água verificada ao longo do ramo fino descendente pela
hipertonicidade do interstício. Isso é possível devido à alta permeabilidade à água desse epitélio,
pela presença de aquaporinas na membrana luminal, associada à baixa permeabilidade à ureia.
Por outro lado, a concentração de ureia seria maior no interstício do que no fluido tubular no
interior do ramo ascendente fino da alça de Henle. Essa maior concentração de ureia deve‑se à
sua recirculação. Assim, ocorre reabsorção passiva de NaCl para o interstício e secreção de ureia
na luz tubular.
A composição da urina difere da do fluido extracelular em vários aspectos. Enquanto 95% dos
solutos do fluido extracelular são constituídos por íons, a urina tem altas concentrações de moléculas
sem carga, principalmente ureia. Um indivíduo normal excreta mais sódio na urina quando sua dieta
salina é elevada do que quando é baixa; porém, em ambas as situações, o equilíbrio entre ingestão e
excreção de sódio é mantido. Similarmente, o volume urinário é maior em condições de sobrecarga de
água em comparação com o quadro de restrição hídrica. Essas relações indicam que não existem valores
normais absolutos para a excreção urinária de água e solutos, havendo uma gama de variações que
reflete a ingestão diária (AIRES, 2008).
27
Unidade I
Saiba mais
3 SISTEMA ENDÓCRINO
O sistema endócrino, assim como o nervoso, ajusta e integra as atividades dos vários sistemas
corporais, tornando‑as apropriadas às demandas relativas aos ambientes externo e interno. O
sistema endócrino atua por meio de sinais químicos que são secretados na corrente sanguínea por
glândulas que não possuem ductos. Essas moléculas sinalizadoras são denominadas hormônios
e regulam diversos processos metabólicos. Um hormônio, produzido por uma célula secretora e
liberado na corrente sanguínea, age em uma célula alvo que é capaz de reconhecer tal hormônio
e alterar funções em resposta a esse hormônio. Uma célula alvo é capaz de reconhecer um
hormônio a partir do momento em que expressa um receptor específico para esse hormônio.
O receptor hormonal é fundamental para que haja uma resposta endócrina (CURI; PROCOPIO,
2009; GANONG, 2006).
Um hormônio pode agir em uma célula alvo que está distante do seu local de produção, nesse caso,
ele chega através do sangue. Esse sistema de ação hormonal é denominado endócrino. No sistema
de ação parácrino, o hormônio difunde‑se no interstício agindo em células‑alvo vizinhas da célula
secretora e, no sistema de ação autócrino, o hormônio, uma vez secretado, volta a agir na própria célula
secretora (CURI; PROCOPIO, 2009).
Os hormônios podem ser classificados de acordo com a sua natureza química. Dependendo da
composição química de um hormônio, ele pode ser classificado como hidrossolúvel ou lipossolúvel.
Os hormônios hidrossolúveis são hidrofílicos, ou seja, possuem afinidade por moléculas polares, como
a água, já os hormônios lipossolúveis são lipofílicos e possuem afinidade por moléculas apolares,
como os lipídios presentes na membrana plasmática das células. A membrana plasmática representa
uma barreira à passagem de moléculas hidrofílicas e, opostamente, moléculas que são lipofílicas
solubilizam‑se na membrana plasmática, podendo atravessá‑la facilmente. Compreende‑se então
que, dependendo da composição química de um hormônio, ele pode ser hidrossolúvel ou lipossolúvel
e, consequentemente, o mecanismo de ação nas células alvo decorrerá dessa propriedade (CURI;
PROCOPIO, 2009).
28
FISIOLOGIA
Lembrete
O hormônio hidrossolúvel não entra na célula alvo, ele liga‑se a receptores que estão presentes
na membrana plasmática da célula alvo. O fator determinante para que um tecido responda a
um dado hormônio é a presença de um receptor e da maquinaria pós‑receptor na célula. Cada
receptor reconhece um hormônio de forma específica e de alta afinidade, e transforma essa ligação
(hormônio‑receptor) em um sistema de transdução específico que gera um efeito final (CURI;
PROCOPIO, 2009).
Alguns ligantes, quando interagem com seus receptores de membrana, podem causar alteração na
condutância de canais iônicos. Porém, muitos outros ligantes, quando interagem com seus receptores,
ativam mecanismos que envolvem mensageiros químicos intracelulares, que desencadeiam alterações
da função celular. Os ligantes extracelulares (no caso, o hormônio hidrossolúvel) são denominados
primeiros mensageiros, e os mediadores intracelulares são conhecidos como segundos mensageiros
(GANONG, 2006).
transcrição de vários genes. Os segundos mensageiros exercem esses efeitos, em parte, ao ativar
fatores de transcrição que já estão presentes na célula, e esses fatores ativados induzem a transcrição
de outros genes, que, por sua vez, podem ativar outros genes, que induzem efeitos mais prolongados
(GANONG, 2006).
Os hormônios esteroides podem ser gerados tanto no córtex da glândula adrenal quanto nas gônadas.
O tipo de hormônio a ser sintetizado em cada território depende da presença de enzimas específicas
na célula. Embora bioquimicamente esses hormônios sejam bastante parecidos, a atividade biológica
é bastante diversa, incluindo‑se desde ações no metabolismo do carboidrato (glicocorticoides) e no
balanço hidroeletrolítico (mineralocorticoides) até ações nas funções reprodutivas feminina (estrógenos)
e masculina (andrógenos).
Lembrete
Hipófise
Tirotrofina
Tireoide
Estimula
Inibe
Tiroxina
(baixo) (alto)
31
Unidade I
Hipotálamo
Tratoipofisário
Neuropófise
(posterior)
Adenoipófise
(anterior)
Hipófise
intermediária
32
FISIOLOGIA
A parte neural da hipófise é denominada neuro‑hipófise e consiste em uma projeção para baixo do
tecido hipotalâmico. Na extremidade superior da neuro‑hipófise, desenvolve‑se uma tumefação em
forma de funil chamada de eminência mediana, que é a região onde a haste hipofisária se insere
na base do hipotálamo. A neuro‑hipófise é uma estrutura neurovascular e corresponde ao local de
liberação de neuro‑hormônios que foram produzidos no hipotálamo (CURI; PROCOPIO, 2009; KOEPPEN;
STANTON, 2009).
Neurônios hipotalâmicos, cujos corpos celulares estão localizados nos núcleos supraópticos (NSP)
e nos núcleos paraventriculares (NPV), projetam‑se para a neuro‑hipófise e secretam, em um rico
leito de capilares fenestrados, os hormônios peptídicos antidiurético (ADH, ou arginina vasopressina) e
a oxitocina. Os corpos celulares desses neurônios são denominados magnocelulares (corpos celulares
grandes) e projetam seus axônios para baixo (até a neuro‑hipófise), pela haste infundibular, como
tratos hipotalâmico‑hipofisários. A hipófise posterior é amplamente vascularizada, e seus capilares são
fenestrados, o que facilita a difusão dos hormônios para dentro dos vasos.
O hormônio antidiurético e a oxitocina são hormônios peptídicos, com apenas nove aminoácidos
e com estrutura similar, que diferem entre si em apenas dois aminoácidos. O ADH e a oxitocina são
liberados na neuro‑hipófise em resposta a estímulos detectados primeiramente pelos corpos celulares e
dendritos de neurônios situados no NSO e NPV do hipotálamo. O estímulo leva à exocitose do ADH ou
da oxitocina (dependendo do estímulo) que cai no líquido extracelular da neuro‑hipófise e tem, então,
acesso à circulação periférica, podendo ser detectado no sangue. O ADH age primariamente nos rins,
promovendo a retenção de água (antidiurese). A oxitocina age principalmente no útero de mulheres
grávidas induzindo o parto, atua também nas células mioepiteliais das mamas causando ejeção do leite
durante a amamentação.
A hipófise anterior é composta de cinco tipos de células endócrinas que produzem seis tipos de
hormônios e, como mencionado anteriormente, suas secreções estão sob o controle do hipotálamo. Por
isso, antes de analisarmos separadamente cada hormônio da adeno‑hipófise, é importante entender a
organização estrutural e funcional desses eixos endócrinos (KOEPPEN; STANTON, 2009).
Hipotálamo
Adenoipófise
Neuroipófise
Hipotálamo
Epífese
Hipófise Glândula tireoidea
Glândulas paratireoideas
Timo
Adrenais
Pâncreas
Ovários
Testículos
34
FISIOLOGIA
Observação
A secreção do ACTH tem um padrão diário pronunciado, com um pico no início da manhã e uma queda
no final da tarde, refletindo no perfil de secreção do cortisol que, também, apresenta um pico de secreção no
início da manhã. O eixo‑hipotálamo‑hipófise‑adrenal possui vários reguladores, e vários deles são mediados
pelo SNC. Muitos tipos de estresse, tanto neurogênicos (por exemplo, medo) quanto sistêmicos (como
infecção), estimulam a secreção do ACTH. A resposta a muitas formas de estresse intenso pode persistir, apesar
da retroalimentação negativa desencadeada pelos altos níveis de cortisol. Isso significa que o hipotálamo
tem a capacidade de redefinir o ponto de equilíbrio do eixo em resposta ao estresse. A depressão crônica,
grave, é capaz de redefinir esse eixo como resultado da hipersecreção do CRH e causar uma hipersecreção de
cortisol. Como o cortisol tem efeitos intensos no sistema imunológico, o eixo hipotálamo‑hipófise‑adrenal
e o sistema imune estão intimamente associados (KOEPPEN; STANTON, 2009). As funções do cortisol são
tratadas mais profundamente no tópico sobre a glândula adrenal, mais adiante.
35
Unidade I
Quando o TRH liga‑se ao seu receptor nos tireotrofos, será estimulada a liberação de TSH que é um
hormônio glicoproteico composto de uma subunidade alfa (α‑GSU, subunidade glicoproteica) e uma
beta (β‑TSH). Por sua vez, o TSH liga‑se ao seu receptor localizado nas células epiteliais da tireoide. Como
será discutido mais adiante, a produção dos hormônios tireoidianos, T3 e T4, é um processo complexo
e composto de muitas etapas. O TSH estimula praticamente todos os aspectos da função tireoidiana,
tendo um forte efeito trófico estimulando a hipertrofia, a hiperplasia e a sobrevida das células epiteliais
da tireoide. Em uma situação patológica em que os níveis de TSH estão altos, ocorre um crescimento
notável da glândula tireoide, condição denominada bócio.
Uma vez sintetizados, os hormônios tireoidianos regulam sua própria produção através de uma
retroalimentação negativa. Eles agem tanto nos tireotrofos inibindo a expressão do β‑TSH e diminuindo
sua sensibilidade ao TRH, quanto no hipotálamo inibindo a produção e secreção de TRH (KOEPPEN;
STANTON, 2009).
Tanto a secreção do FSH quanto a do LH são reguladas pelo hormônio liberador de gonadotrofinas,
o GnRH (também conhecido como LHRH) produzido por um subgrupo de neurônios parvicelulares
do hipotálamo. O GnRH é um peptídeo que possui dez aminoácidos, e também é produzido como
um pró‑hormônio maior que é modificado até virar GnRH. O GnRH é liberado de forma pulsátil, e
tanto a secreção pulsátil quanto a frequência de pulsos têm efeitos distintos nos gonadotrofos. Quando
a frequência de liberação for um pulso por hora, o GnRh aumenta a secreção de LH, já quando a
frequência é mais baixa, de um pulso a cada 3 horas, o GnRH aumenta preferencialmente a secreção de
FSH (KOEPPEN; STANTON, 2009).
exógena nos homens também inibe a função gonadotrófica e, por isso, está sendo considerada
como um possível ingrediente de uma pílula contraceptiva masculina. Além disso, a inibina
exerce uma retroalimentação negativa seletiva sobre a secreção de FSH em homens e mulheres.
Nas mulheres, a progesterona e a testosterona exercem uma retroalimentação negativa sobre a
função gonadotrófica hipotalâmica e hipofisária. Em doses baixas, o estrógeno também exerce
uma retroalimentação negativa sobre a secreção do FSH e do LH, contudo, níveis altos de estrógeno
mantidos por três dias produzem um pico na secreção de LH e, em menor grau, na secreção de FSH.
Esse é um exemplo de retroalimentação positiva observada no hipotálamo e na hipófise. Os níveis
elevados de estrógeno causam no hipotálamo aumento da amplitude e frequência dos pulsos de
GnRH e, na hipófise, ocorre o aumento da sensibilidade dos gonadotrofos ao GnRH, pelo aumento
no número de receptores de GnRH.
O hipotálamo exerce controle duplo sobre a secreção de GH, ele estimula predominantemente a
secreção de GH por meio de um peptídeo, o hormônio liberador de GH (GHRH). O GHRH intensifica
a secreção de GH e a expressão do gene do GH nos somatotrofos. O hipotálamo também inibe a
síntese de GH por meio de outro peptídeo, a somatostatina. A somatostatina age na adeno‑hipófise
inibindo tanto a liberação de GH quanto a de TSH. A secreção de GH também pode ser estimulada
pela grelina, que é produzida principalmente pelo estômago, mas também é expressa no hipotálamo.
A grelina aumenta o apetite e pode agir como um sinal que coordena a aquisição de nutrientes com
o crescimento.
O GH apresenta um ritmo diário de secreção, com pico no início da manhã, um pouco antes de
despertar. Essa secreção é estimulada durante o sono profundo, de ondas lentas (estágios III e IV), e
atinge o valor mais baixo durante o dia. Esse ritmo está atrelado a padrões de sono‑vigília, e não a
padrões de claro‑escuro; por essa razão, ocorre um deslocamento de fase nas pessoas que trabalham em
37
Unidade I
turnos invertidos. A secreção do GH também é pulsátil, sendo regulada por vários estados fisiológicos
diferentes. Em situações de estresse, tanto neurogênico quanto físico, a secreção de GH aumenta. Ele
promove a lipólise (quebra de lipídios), aumenta a síntese de proteínas e antagoniza os efeitos da
insulina, ou seja, impede que a insulina reduza os níveis de glicose do sangue. Não é surpreendente,
portanto, que a hipoglicemia (queda da glicose sanguínea) aguda seja um estímulo para a secreção
de GH e que o GH seja classificado como um hormônio hiperglicemiante. Em contrapartida, o
aumento da glicemia ou dos ácidos graxos circulantes inibe a secreção de GH. A obesidade também
inibe a secreção de GH, em parte por causa da resistência à insulina (hiperglicemia relativa) e do nível
elevado de ácidos graxos circulantes; já o exercício físico e a inanição estimulam a secreção de GH.
Alguns hormônios também estimulam a secreção de GH; entre eles, estão o estrógeno, os andrógenos
e o hormônio tireoidiano.
Algumas ações do GH são diretas, outras, indiretas (via IGF‑1). Diretamente, o GH age sobre o
fígado, músculos e tecido adiposo para regular o metabolismo energético. Ele desvia o metabolismo
para que os lipídios sejam utilizados como fonte de energia e os carboidratos e as proteínas sejam
preservados, portanto, o GH é um hormônio lipolítico e anabolizante. Lipolítico, pois ativa lipase
sensível aos hormônios, uma enzima capaz de degradar lipídios que vai mobilizar as gorduras do tecido
adiposo, causando um aumento nos níveis séricos de ácidos graxos, que serão utilizados na produção de
energia pelos músculos e fígado e anabolizante, pois age estimulando a síntese proteica. Ele aumenta a
captação celular de aminoácidos e sua incorporação em proteínas, além de inibir a proteólise (quebra de
proteínas). Acredita‑se que a perda muscular que acompanha o envelhecimento é causada, pelo menos
em parte, pela diminuição da secreção de GH que ocorre nessa fase da vida.
O GH altera o metabolismo dos carboidratos, porém parte desse efeito pode ser secundário ao
aumento da mobilização e da oxidação da gordura. O GH aumenta a glicose sanguínea, esse efeito
hiperglicemiante é resultante da diminuição da captação e da utilização da glicose pela musculatura
esquelética e pelo tecido adiposo, e o aumento dos ácidos graxos livres séricos inibe a captação da
glicose por esses tecidos. O aumento da oxidação dos ácidos graxos e, consequentemente, a elevação
da acetil coenzima A (acetil CoA) hepática estimulam a gliconeogênese, que é seguida do aumento da
produção de glicose de substratos como o lactato e o glicerol. Além disso, o GH antagoniza a ação da
insulina, ele produz uma insensibilidade à insulina, e por isso é considerado um hormônio diabetogênico.
Quando secretado em excesso pode causar diabetes mellitus.
os IGFs em altas concentrações imitam as ações metabólicas da insulina. Os IGFs estimulam a captação
de glicose e aminoácidos e a síntese de proteínas e DNA, e medeiam a ação do GH sobre o crescimento
das cartilagens e dos ossos.
Os lactotrofos produzem o hormônio prolactina (PRL), uma proteína de 199 aminoácidos. A ação
primária da PRL nos humanos está relacionada ao desenvolvimento e ao funcionamento das glândulas
mamárias durante a gravidez e a lactação. Vale ressaltar que há duas diferenças importantes entre os
lactotrofos e as demais células da adeno‑hipófise:
• os lactotrofos não participam de nenhum eixo endócrino. Isso significa que a prolactina age
diretamente sobre as células não endócrinas (principalmente da mama) para produzir as alterações
fisiológicas; e
• a produção e secreção de prolactina são controladas principalmente pelo hipotálamo, que exerce
um efeito inibitório sobre os lactotrofos. Por isso, a ruptura da haste hipofisária e dos vasos
porta hipotalâmicos‑hipofisários leva ao aumento dos níveis de PRL, enquanto todos os demais
hormônios (ACTH, TSH, FSH, LH e GH) diminuem.
39
Unidade I
A glândula tireoide foi descrita pela primeira vez em 1656, por Thomas Warton. A palavra “tireoide”
vem do grego e significa “em forma de escudo” – thyreós significa escudo e óides, na forma de.
A descoberta do papel fisiológico da tireoide surgiu de observações que relacionavam a atividade
tireoidiana com a taxa metabólica basal. Atualmente, sabe‑se que a essa função somam‑se outras, como
a participação ativa de seus hormônios nos processos de crescimento e desenvolvimento do organismo
dos vertebrados.
A glândula tireoide está localizada na região anterior do pescoço, abaixo da cartilagem tireóidea
e imediatamente abaixo da cartilagem cricóidea (ou tireóidea), aderida antero‑bilateralmente à
traqueia (figura 73). Possui dois lobos, direito e esquerdo, unidos por istmo de parênquima glandular.
É uma glândula de tamanho relativamente grande comparada às outras, pesando cerca de 15‑25 g
no homem adulto. É ricamente vascularizada, daí sua cor avermelhada, sendo seu aporte sanguíneo
proveniente das artérias tireóideas superiores e inferiores, que são ramos da carótida; sua drenagem
sanguínea é feita pelas veias tireóideas, que desembocam na veia jugular. Recebe inervação simpática
e parassimpática, sendo que a inervação simpática é a principal responsável pela modulação do fluxo
sanguíneo tireoidiano. Frente à estimulação simpática, o fluxo sanguíneo tireoidiano é reduzido, o que
reduz a oferta de TSH para a glândula, principal hormônio estimulante de sua atividade.
Epiglote
Cartilagem tireoidea
Glândulas
paratireoideas
superiores
Glândula tireóidea
Glândulas
paratireoideas inferiores
Traqueia
Histologicamente, a tireoide caracteriza‑se por apresentar folículos, que são estruturas globulares
formadas por um epitélio simples cúbico. Quando temos uma hiperatividade da glândula tireoide,
essas células foliculares aumentam em número e tornam‑se cilíndricas e, inversamente (tornam‑se
pavimentosas), quando a atividade tireoidiana diminui. Os folículos tireoidianos são preenchidos
por coloide, cujo principal componente é uma proteína chamada tireoglobulina (TG). O processo de
síntese dos hormônios tireoidiano ocorre em duas etapas; a primeira etapa é intracelular e ocorre nas
células foliculares, e a segunda etapa é extracelular e ocorre no coloide. Entre os folículos, estão células
de origem embriológica distinta das células tireoidianas, chamadas de células C ou parafoliculares.
Elas são responsáveis pela produção da calcitonina, hormônio relacionado ao metabolismo de cálcio
(CURI; PROCOPIO, 2009).
40
FISIOLOGIA
A tireoglobulina (TG) é uma glicoproteína de alto peso molecular, constituída por duas subunidades.
É sintetizada exclusivamente na célula tireoidiana e secretada para o interior dos folículos tireoidianos,
em resposta à ação do TSH. Ela apresenta vários resíduos do aminoácido tirosina, os quais, durante
o processo de síntese dos hormônios, sofrem iodação, razão pela qual é considerada a matriz para a
biossíntese desses hormônios, bem como o reservatório deles.
O processo de síntese inicia‑se com a captação de iodeto (I‑) pela porção basal da célula folicular
tireoidiana. Essa captação ocorre contra o gradiente eletroquímico devido ao potencial de membrana
da célula tireoidiana ser negativo e por ela apresentar alta concentração de iodeto. Esse processo
de captação depende de uma proteína chamada NIS (co‑transportadora de Na+/I‑), que promove a
entrada de iodeto utilizando a força movente do Na+, o qual adentra a célula a partir do gradiente de
concentração do Na+, gerado pela Na+‑K+‑ATPase. Uma vez no interior da célula, o iodeto dirige‑se à
porção apical da célula, onde será oxidado pela enzima tireoperoxidase (TPO) – esse processo depende
de um sistema gerador de peróxido, também localizado no polo apical da célula. A TPO também oxida
um ou dois sítios de algumas tirosinas presentes na tireoglobulina, criando‑se condições para que o iodo
oxidado aí se incorpore.
Quando um iodo é incorporado à tirosina, gera‑se a monoiodotirosina (MIT); quando dois iodos
são incorporados à tirosina, temos a diiodotirosina (DIT). Esse processo de incorporação de iodo à
tirosina, presente na tireoglobulina, é conhecido como iodação da tireoglobulina. Após a iodação
das tireoglobulinas ocorre o acoplamento entre elas, ou seja, ocorre a união entre as MITs e as DITs,
gerando as tironinas iodadas (duas tirosinas = uma tironina), e esse processo também é catalisado
pela TPO. O acoplamento de uma MIT com uma DIT gera a triiodotironina (uma tironina com 3 iodos –
T3), enquanto o acoplamento de duas DITs resulta na geração da tetraiodotironina (uma tironina com 4
iodos – T4). O acoplamento de duas MITs gera a diiodotironina (uma tironina com 2 iodos – T2), que não
apresenta efeito biológico significativo, já que os receptores dos hormônios tireoidianos apresentam
41
Unidade I
baixa afinidade e especificidade a essa molécula. Essas moléculas geradas permanecem do coloide,
presas à tireoglobulina. A síntese dos hormônios tireoidianos é dependente do hormônio hipofisário TSH
(CURI; PROCOPIO, 2009).
Para que os hormônios atinjam a circulação, eles devem ser removidos da tireoglobulina. Inicialmente
ocorre a endocitose do coloide, e esse processo de captação do coloide depende da atividade das
microvilosidoades presentes na membrana apical das células foliculares. Essas expansões citoplasmáticas
estão voltadas para o coloide e apresentam movimentos, cuja intensidade está relacionada à atividade
da célula folicular. A movimentação dessas microvilosidades faz com que suas extremidades apicais
fundam‑se, e o resultado é a formação de vesículas contendo coloide que se incorporam ao citoplasma.
No citoplasma, as vesículas contendo coloide fundem‑se aos lisossomos, que provocam a quebra da
molécula de tireoglobulina e liberação de T3, T4, T2, MITs e DITs. Os MITs e DITs sofrem ação das desiodases
e as tirosinas e iodos liberados são reutilizados pela glândula (CURI; PROCOPIO, 2009).
Devido à sua baixa hidrossolubilidade, os hormônios tireoidianos são transportados pela corrente
sanguínea junto com proteínas transportadoras específicas, as TBG (globulina transportadora
de hormônios tireoidianos), a TBPA (pré‑albumina transportadora de hormônios tireoidianos ou
transtiretina – TTR) e a albumina. A TBG e a TBPA possuem maior afinidade ao T4 que ao T3, de modo
que, em termos porcentuais, há mais T3 livre do que T4 circulando na forma livre. Quando os hormônios
tireoidianos dissociam‑se das proteínas transportadoras, ficam na forma livre, tornando‑se disponíveis
para exercerem seus efeitos biológicos em seus tecidos‑alvo.
Como descrito anteriormente, a glândula tireoide está sob o controle do hipotálamo e da hipófise
no eixo hipotálamo‑hipófise‑tireoide. A função tireoidiana é regulada diretamente pelo hormônio
tireotrófico (TSH) produzido pelos tireotrofos da adeno‑hipófise. O TSH estimula todas as etapas
de síntese e secreção dos hormônios tireoidianos, bem como a proliferação das células foliculares
tireoidianas. A síntese e secreção de TSH está sob o controle de dois hormônios hipotalâmicos, o TRH e
a somatostatina (SS). O TRH age estimulando os tireotrofos a produzirem TSH, e a somatostatina age
inibindo‑os. Os hormônios tireoidianos também exercem efeitos diretos nos tireotrofos, reduzindo a
secreção de TSH, bem como no hipotálamo, reduzindo a secreção de TRH e estimulando a liberação de
SS. Esse mecanismo de controle da função tireoidiana, que é desencadeado pela própria concentração
plasmática dos hormônios tireoidianos, é o mecanismo de retroalimentação negativa ou de feedback
negativo.
42
FISIOLOGIA
Apesar da sua solubilidade em meio lipídico o hormônio tireoidiano acessa as células‑alvo através de
proteínas transportadoras específicas (para T3 e T4) localizadas na membrana plasmática. Os receptores
de hormônios tireoidianos são proteínas nucleares que atuam como fatores transcricionais. Eles
reconhecem sequências específicas na região promotora de genes‑alvo dos hormônios tireoidianos,
conhecidas como elementos responsivos aos hormônios tireoidianos, às quais se ligam, para
posteriormente interagirem com o T3. Quando o hormônio se liga ao seu receptor, ele ativa ou inibe a
transcrição de genes específicos e, portanto, a síntese de proteínas específicas, que são as responsáveis
pelos efeitos biológicos. Esse mecanismo de ação é denominado ação genômica. O T3 é o seu principal
mediador, já que os receptores dos hormônios tireoidianos apresentam maior afinidade e especificidade
a este que ao T4 (em torno de 10 vezes). Ainda, o T3 apresenta efeito biológico cerca de 4‑5 vezes maior
que o T4.
Existem outros efeitos dos hormônios tireoidianos que ocorrem muito rapidamente e na presença
de bloqueadores da transcrição gênica, o que indica que também exerçam ações não genômicas. Essas
ações são mediadas principalmente por T4, T3 reverso e T2, e são evidenciadas em mitocôndrias, no
citoesqueleto e na membrana celular.
De forma geral os hormônios tireoidianos são os principais reguladores da taxa metabólica basal,
sendo imprescindíveis para a manutenção da temperatura corporal. Eles ativam processos que levam à
produção de calor. Suas ações calorigênicas envolvem a ativação da síntese e degradação de carboidratos,
lipídios e proteínas, processos que aumentam tanto a síntese quanto a hidrólise de ATP, processos estes
que geram calor.
No sistema respiratório, os efeitos dos hormônios tireoidianos são decorrentes de suas ações
sobre a taxa metabólica basal. Assim, a elevação da taxa metabólica, observada no hipertireoidismo,
gera aumento no consumo de O2 e da produção de CO2, promove queda da PO2 e pH e aumento
44
FISIOLOGIA
da PCO2 sanguíneos. Essas alterações são rapidamente detectadas por quimiorreceptores centrais
e periféricos, gerando‑se uma hiperventilação reflexa, para correção desses parâmetros (CURI;
PROCOPIO, 2009).
A glândula tireoide contém outro tipo de célula além das células foliculares, são as células
parafoliculares. As células parafoliculares também são denominadas células C, distribuem‑se de
uma forma esparsa na glândula tireoide e produzem o hormônio polipeptídico calcitonina. Ele
age principalmente nos ossos e rins, controlando o metabolismo do cálcio, sendo considerado um
marcador histoquímico bastante útil do câncer medular de tireoide (KOEPPEN; STANTON, 2009).
Maiores detalhes sobre a calcitonina serão discutidos adiante junto com o tópico que trata da
glândula paratireoide.
As glândulas paratireoides são quatro estruturas localizadas ao redor da glândula tireoide (figura 73).
São formadas predominantemente por células principais que estão arranjadas em forma de cordões
epiteliais, podendo também estar arranjadas em forma de folículos ou ácinos. O hormônio paratireoide
(PTH) ou paratormônio é o principal hormônio que protege o corpo contra a hipocalcemia (baixos
níveis plasmáticos de cálcio). Seus alvos primários são os ossos e os rins. O PTH também estimula a
produção da 1,25‑di‑hidroxivitamina D (AIRES, 2008; KOEPPEN; STANTON, 2009).
O cálcio (Ca2+) e o fosfato são essenciais para a vida humana, porque desempenham papéis estruturais
importantes nos tecidos duros (ossos e dentes) e são reguladores importantes das vias metabólicas e de
sinalização. No sangue, a maior parte do fosfato está na forma ionizada do ácido fosfórico, denominada
fosfato inorgânico (Pi).
O cálcio é um nutriente essencial para o organismo que se obtém da ingesta alimentar assim
como de uma vasta reserva nos ossos, que pode ser requisitada para manter os níveis de cálcio
circulante normais nos períodos de restrição alimentar e durante a gravidez e amamentação, quando
a demanda está aumentada. O cálcio circulante é encontrado em três formas: cálcio ionizado livre,
cálcio ligado a proteínas e complexos de cálcio com ânions (por exemplo, fosfatos, bicarbonato ou
citrato). A forma ionizada representa 50% do cálcio circulante e, por ser a forma fundamental para
muitas funções celulares, a concentração de cálcio nos compartimentos extracelular e intracelular
está sob o controle hormonal direto e a sua concentração é mantida dentro de um intervalo de
variação restrito. Uma quantidade reduzida de cálcio (hipocalcemia) ou elevada (hipercalcemia)
pode causar uma grande variedade de alterações fisiopatológicas, que incluem disfunção
neuromuscular, disfunção do sistema nervoso central, insuficiência renal, calcificação de tecidos
moles e doenças ósseas.
45
Unidade I
O principal sinal que estimula a secreção de PTH é a baixa concentração de cálcio circulante.
A concentração extracelular de cálcio é detectada pelos receptores sensíveis ao cálcio das células
principais das paratireoides. Nessas células, quantidades crescentes de cálcio extracelular ligam‑se
a esses receptores e ativam as vias de sinalização que inibem a secreção de PTH (KOEPPEN;
STANTON, 2009).
46
FISIOLOGIA
Lembrete
47
Unidade I
Assim como a insulina, o principal estímulo que regula a secreção de glucagon é a glicemia.
Porém, no caso do glucagon, a diminuição da glicemia é o estímulo que faz as células α secretarem
o hormônio e, por outro lado, o aumento da glicemia inibe a secreção de glucagon, sendo, então, sua
ação contrária à da insulina. O sistema nervoso autônomo, hormônios, ácidos graxos e aminoácidos
interferem na sua secreção.
No caso da somatostatina, a resposta secretória é bastante parecida com a descrita para insulina. O
polipeptídio pancreático ainda não tem uma função completamente conhecida.
A insulina e o glucagon, de forma integrada e por meio de um balanço equilibrado de secreção e ação
(no geral, inversamente proporcional), são responsáveis pela manutenção da homeostasia glicêmica.
Esse equilíbrio envolve a manutenção da glicemia entre 70 e 100 mg/dl. Uma importante conquista
evolutiva dos mamíferos é a capacidade de estocar os nutrientes provenientes de uma refeição para
posteriormente, na ausência de outra refeição, mobilizar esses estoques, proporcionando substratos
necessários para garantir a vida celular e com isso a sobrevivência do organismo. Nesses processos, a
insulina desempenha um papel‑chave, auxiliada pela ação contrarreguladora do glucagon e ainda de
outros hormônios, como catecolaminas, cortisol e GH. Após uma refeição, o organismo entra em um
período caracteristicamente anabólico em que, em tipos celulares específicos, a insulina estimula:
O diabetes mellitus (DM) é uma síndrome metabólica que apresenta, entre outras tantas manifestações,
a hiperglicemia (valores de glicemia ≥126 mg/dl em jejum e ≥200 mg/dl duas horas depois da refeição)
contínua ou intermitente. Classifica‑se o diabetes mellitus em dois grandes grupos: DM do tipo 1,
cuja causa primaria é a falência pancreática (destruição autoimune das células β) e DM tipo 2, cuja
causa primaria é a resistência à insulina (diminuição na resposta das células‑alvo). Entretanto, essa
classificação não exclui a possibilidade de que os portadores de DM tipo 1 desenvolvam resistência à
insulina, assim como os pacientes com DM tipo 2 possam evoluir para falência pancreática, passando a
depender de insulina exógena.
O DM tipo 2 é a forma mais frequente de DM, apresentando um fator genético importante (com alta
incidência familiar). Vários fatores ambientais também estão relacionados ao DM tipo 2, muitos deles
relacionados ao envelhecimento, já que a incidência do DM tipo 2 aumenta com a idade. Um importante
fator predisponente é a obesidade, que além de induzir resistência insulínica em resposta à ingestão
excessiva de alimentos, induz superestimulação da secreção de insulina, contribuindo com a exaustão e
falência das células β (AIRES, 2008).
As glândulas adrenais (ou suprarrenais) são estruturas bilaterais localizadas imediatamente acima
dos rins. As glândulas adrenais são similares à glândula hipófise, pois ambas são derivadas tanto de
tecido neural quanto de tecido epitelial (ou semelhante ao tecido epitelial) e, portanto, são produzidas
duas classes de hormônios, as catecolaminas e os esteroides. Essa glândula é composta por duas grandes
regiões: a medula, que produz adrenalina e noradrenalina (figura 76) e o córtex que, por sua vez, é
dividido em três zonas: a glomerulosa, a fasciculada e a reticular, que produzem mineralocorticoides,
glicocorticoides e androgênios adrenais, respectivamente (KOEPPEN; STANTON, 2009).
Suprarrenais
Córtex
Rim
Medula
A medula da adrenal é formada por células cromafins, derivadas das células da crista neural. As
células cromafins são, na verdade, neurônios simpáticos pós‑ganglionares modificados, e são inervadas
por neurônios simpáticos colinérgicos. Sintetizam o neurotransmissor da classe das catecolaminas
noradrenalina, a partir do aminoácido tirosina. A noradrenalina pode ser transformada em adrenalina
49
Unidade I
pela ação de uma feniletanolamina N‑metil transferase. A adrenalina é o produto hormonal final da
medula adrenal (KOEPPEN; STANTON, 2009).
O sinal químico para a secreção da catecolamina pela medula da adrenal é a acetilcolina, secretada
pelos neurônios pré‑ganglionares simpáticos, que se liga a receptores nicotínicos nas células cromafins.
A acetilcolina estimula a síntese e secreção de catecolaminas, portanto, a síntese de catecolaminas
está intimamente acoplada à sua secreção. Pelo fato da medula da adrenal ser diretamente inervada
pelo sistema nervoso autonômico, a resposta adrenomedular é muito rápida, e as respostas podem ser
antecipadas. Entretanto, alguns estímulos, como a hipoglicemia, produzem uma resposta adrenomedular
mais forte que a da terminação nervosa simpática.
Muitos órgãos e tecidos são afetados pela resposta simpático‑adrenal. Um exemplo é a resposta
ao exercício físico. O exercício físico é similar à resposta luta ou fuga, mas sem o elemento subjetivo
de medo, envolvendo maior resposta adrenomedular (a função endócrina da adrenalina) do que uma
resposta nervosa simpática (função neurotransmissora da noradrenalina). O objetivo geral do sistema
simpático‑adrenal durante o exercício é responder à demanda energética aumentada dos músculos
cardíaco e esquelético, enquanto é mantido um suprimento suficiente de oxigênio e glicose para o
cérebro. A resposta aos exercícios inclui as seguintes ações fisiológicas principais da adrenalina:
• O fluxo sanguíneo aumentado para os músculos é obtido pela ação integrada da noradrenalina e
adrenalina sobre o coração, veias, vasos linfáticos e arteríolas não musculares e musculares.
O cortisol tem uma ampla faixa de ação e é frequentemente caracterizado como “hormônio
do estresse”. Em geral, o cortisol mantém os níveis de glicemia, as funções do SNC e as funções
cardiovasculares durante o jejum, e aumenta a glicemia em episódios de estresse. O cortisol tem
um papel anti‑inflamatório muito importante, diminuindo a atividade do sistema imunológico. O
cortisol também desvia a energia para enfrentar um determinando tipo estresse, inibindo as funções
reprodutoras.
O cortisol, por ser um glicocorticoide, é um hormônio esteroide do córtex adrenal que regula a
glicemia. Ele aumenta a glicemia por estimular a gliconeogênese. O cortisol aumenta a expressão
gênica de enzimas gliconeogênicas hepáticas e diminui a captação de glicose no músculo esquelético
e tecido adiposo. Durante o período interdigestivo (baixa razão insulina‑glucagon), o cortisol promove
a poupança de glicose potencializando os efeitos das catecolaminas sobre a lipólise, disponibilizando
ácidos graxos livres como fonte de energia. O cortisol inibe a síntese de proteínas e aumenta a
proteólise, especialmente no músculo esquelético, fornecendo uma rica fonte de carbonos para a
gliconeogênese hepática.
As respostas inflamatória e imune são, frequentemente, parte das respostas ao estresse. Entretanto,
as respostas inflamatória e imune possuem o potencial de causar dano significativo, até a morte,
caso não sejam mantidas em equilíbrio homeostático. Sendo um hormônio de estresse, o cortisol
desempenha um papel importante na manutenção da homeostase imune. O cortisol, junto à adrenalina
e à noradrenalina, reprime a produção de citocinas pró‑inflamatórias, estimulando a produção de
citocinas anti‑inflamatórias.
O cortisol exerce um efeito trófico sobre a mucosa do TGI. Na ausência de cortisol, a mobilidade
do TGI diminui, a mucosa do TGI degenera e a produção de ácidos e enzimas diminui. Já o excesso de
cortisol estimula a secreção de ácido gástrico e pepsina, aumentando o risco de desenvolvimento
de úlceras.
estimulam a produção de cortisol que, por sua vez, atua negativamente (feedback negativo) sobre o
hipotálamo e a hipófise para manter seu ponto de equilíbrio. A forma neurogênica de estresse (medo)
e a sistêmica (hipoglicemia, hemorragia, citocinas) estimulam a liberação de CRH. O CRH está, também,
sujeito a uma forte regulação rítmica diária dos núcleos supraquiasmáticos no hipotálamo, fazendo com
que o nível de cortisol aumente no final da madrugada e nas primeiras horas da manhã e vá continuamente
declinando durante o dia até o anoitecer. O ACTH liga‑se ao receptor de mineralocorticoides localizado
nas células da zona fasciculada exercendo seus efeitos de curto, médio e longo prazo (KOEPPEN;
STANTON, 2009).
A zona mais interna, a zona reticular, começa a aparecer após o nascimento, aos 5 anos de idade
aproximadamente. O androgênio adrenal, especialmente o DHEAS, o principal produto da zona reticular,
começa a ser detectável aos 6 anos de idade, em um momento chamado de adrenarca. Os níveis
de DHEAS continuam aumentando, atingem o valor máximo entre 20 e 30 anos e, depois, declinam
progressivamente com a idade. O DHEAS pode ser convertido de volta em DHEA pelas sulfatases
periféricas. Já o DHEA e a androstenediona podem ser convertidas em androgênios ativos (testosterona
e di‑hidrotestosterona), perifericamente, em ambos os sexos.
A zona fina mais externa do córtex adrenal, a zona glomerulosa, produz o mineralocorticoide
aldosterona, que regula a homeostase de sal e a volemia. A zona glomerulosa é minimamente
influenciada pelo ACTH e primariamente pelo sistema renina‑angiotensina, pela [K+] no plasma e pelo
peptídeo natriurético atrial (ANP).
Por não contar com a enzima necessária, as células da zona glomerulosa nunca produzem cortisol,
nem qualquer forma de androgênio adrenal.
Saiba mais
Devido às diferenças anatômicas e fisiológicas entre o sistema reprodutor masculino e feminino, nós
iremos estudar primeiro o sistema reprodutor masculino e, em seguida, o feminino.
O aparelho reprodutor masculino (gônadas e trato reprodutor) está representado na figura 77.
Diferentemente da mulher, o sistema reprodutor masculino apresenta uma gametogênese contínua, ou
seja, que perdura por toda a vida. Em um homem adulto, as funções básicas dos hormônios gonadais
são manter:
• a gametogênese (espermatogênese);
• as características sexuais secundárias e a libido. Não existem ciclos dessa atividade no homem
(KOEPPEN; STANTON, 2009).
54
FISIOLOGIA
Ureter
Vesícula
Bexiga seminal
Próstata
Uretra
Glândula de Cowper
Vaso deferente
Testículo
Pênis
Escroto
Uretra
As gônadas masculinas são os testículos (figuras 77 e 78), que estão fora da cavidade
abdominal no escroto. Tal localização é muito importante, pois mantém a temperatura testicular
cerca de 2 graus mais baixa do que a temperatura corporal, o que é crucial para o desenvolvimento
ótimo do espermatozoide. O testículo humano é recoberto por uma cápsula de tecido conjuntivo e
é dividido em cerca de 300 lóbulos por septos fibrosos. Cada lóbulo possui quatro alças de túbulos
seminíferos, sendo cerca de 500 túbulos seminíferos por testículo. Cada alça desemboca em uma rede
anastomótica de túbulos, denominada rede do testículo. Essa rede desemboca em ductos menores,
os ductos eferentes, que levam os espermatozoides do testículo para a cabeça do epidídimo. Uma
vez no epidídimo, os espermatozoides passam da cabeça para o corpo e, em seguida, para a cauda
do epidídimo. Do epidídimo, os espermatozoides seguem para o ducto deferente. O espermatozoide
viável pode ser armazenado na cauda do epidídimo e no ducto deferente por vários meses (KOEPPEN;
STANTON, 2009).
Células
intersticiais Espermatozoides
Túbulos seminíferos
Epidídimo
x 180
Túbulos seminíferos
Canal deferente
55
Unidade I
Espermatogônias...
(2n)
Espermatócito I
(2n)
maturação
Período de
(meiose)
Espermatócitos II
(n)
Espermátides
Espermiogênese
(n)
Espermatozoides
(n)
Figura 15 – Espermatogênese
À medida que as espermátides sofrem maturação para espermatozoides, o tamanho do núcleo fica
reduzido e uma cauda proeminente forma‑se. A cauda tem as estruturas microtubulares que propulsionam
o espermatozoide, como um flagelo. A cromatina do núcleo do espermatozoide condensa‑se e a maioria
do citoplasma é perdida. A cabeça do espermatozoide apresenta uma estrutura chamada acrossoma,
delimitada por uma membrana que atua como um lisossoma e contém enzima hidrolíticas, importantes
para a fecundação. Essas enzimas permanecem inativas até que a reação acrossômica ocorra (KOEPPEN;
STANTON, 2009).
56
FISIOLOGIA
De forma geral, as células de Sertoli geram e mantêm todas as condições necessárias para o
desenvolvimento e sobrevivência dos espermatozoides. Elas possuem um papel endócrino muito
importante, elas produzem o hormônio antimülleriano (AMH), o qual induz a regressão dos
ductos müllerianos embrionários, que são programados para originar o trato reprodutor feminino.
Produzem também a inibina, que retroalimentam negativamente os gonadotrofos, inibindo a
produção de FSH.
57
Unidade I
As células de Leydig são células esteroidogênicas, elas sintetizam, adquirem e armazenam colesterol.
Elas possuem toda maquinaria molecular essencial para a conversão e modificação do colesterol
em hormônios esteroides. O hormônio esteroide produzido pela célula de Leydig é a testosterona,
que tem diversos destinos e múltiplas ações. Devido à proximidade das células de Leydig com os
túbulos seminíferos, quantidades significativas de testosterona difundem‑se para os túbulos e são
concentrados no compartimento adluminal. A quantidade de testosterona nos túbulos seminíferos
é cem vezes superior à quantidade de testosterona circulante, e é determinante para que ocorra a
espermatogênese normal.
58
FISIOLOGIA
Além dos testículos, o aparelho reprodutor masculino tem o epidídimo, que é dividido em cabeça,
corpo e cauda, tem o ducto deferente, o ducto ejaculatório, a uretra prostática, a uretra membranosa
e a uretra peniana. Quando os espermatozoides emergem dos ductos eferentes, deixam a gônada e
penetram no trato reprodutor masculino, que tem a função de conduzir o espermatozoide até o final
do trato masculino (ponta da uretra peniana). O final do trato reprodutor masculino conecta‑se ao trato
urinário distal (uretra masculina).
A ereção do pênis é um evento neurovascular. O pênis é composto de três corpos eréteis: dois
corpos cavernosos e um corpo esponjoso, todos eles constituídos de tecido erétil. A uretra peniana
atravessa o corpo esponjoso. Durante o estado flácido, flui pouco sangue pelos os espaços cavernosos
– isso se deve à vasoconstrição da vasculatura e ao desvio do fluxo sanguíneo para fora dos espaços
cavernosos. Em resposta à excitação sexual, os nervos parassimpáticos cavernosos que inervam a
musculatura lisa vascular liberam óxido nítrico, que causará o relaxamento muscular e vasodilatação.
A vasodilatação permite que o sangue flua para os espaços cavernosos, induzindo a ereção (KOEPPEN;
STANTON, 2009).
Não existe andropausa definida no homem. Entretanto, à medida que o homem envelhece a
sensibilidade das gônadas ao LH reduz‑se e a produção dos andrógenos decai. À medida que isso ocorre,
os níveis séricos de LH e FSH aumentam. Apesar da produção de espermatozoide, tipicamente, iniciar
seu declínio após os 50 anos de idade, muitos homens podem manter uma função reprodutiva e a
espermatogênese por toda a vida.
59
Unidade I
O sistema reprodutor feminino é composto das gônadas, denominadas ovários, e do trato reprodutor
feminino, o qual inclui as trompas de Falópio, útero, colo uterino, vagina e genitália externa (figura
80) (KOEPPEN; STANTON, 2009).
Trompa ou tuba
Útero Ovário
Endométrio
Colo
Vagina
O ovário está dentro de uma dobra do peritônio denominada ligamento largo, próxima à parede
lateral da cavidade pélvica. Como o ovário estende‑se para dentro da cavidade peritoneal, os óvulos
liberados permanecem brevemente na cavidade peritoneal antes de serem capturados pela trompa de
Falópio (KOEPPEN; STANTON, 2009).
O ovário é dividido em um córtex externo e uma medula interna. Elementos neurovasculares inervam
a camada medular do ovário. O córtex do ovário é composto de um estroma densamente celular. No
interior desse estroma, figuram os folículos ovarianos (figura 81), que contêm um oócito primário
circundando por células foliculares. O córtex é recoberto por uma cápsula de tecido conjuntivo, a túnica
albugínea e uma camada de epitélio simples consistindo em células epiteliais da superfície ovariana.
Não existem ductos emergindo do ovário para conduzir seus gametas para o trato reprodutor. Dessa
forma, o processo de ovulação envolve um evento inflamatório que causa erosão da parede do ovário.
Após a ovulação, as células epiteliais da superfície ovariana rapidamente dividem‑se para reparar a
parede (KOEPPEN; STANTON, 2009).
Vasos sanguíneos
Folículo maduro
Corpo albígeno
Corpo amarelo
Ovócito expulso
(ovulação)
60
FISIOLOGIA
Lembrete
O folículo ovariano é a unidade funcional do ovário e tem tanto funções gametogênicas como
endócrinas. O ovário de uma mulher, antes da menopausa, contém estruturas foliculares em vários
estágios de desenvolvimento – eis a ordem:
Nos folículos primordiais, o gameta é derivado da oogônia que iniciou a primeira divisão meiótica
e que são chamados de oócitos primários. Os oócitos primários passam por grande parte da prófase da
primeira divisão meiótica em um período de duas semanas e, então, param antes de completar a meiose
I (KOEPPEN; STANTON, 2009).
61
Unidade I
O oócito continua secretando fatores parácrinos que regulam o crescimento e diferenciação das
células foliculares. Durante esse período, as células granulosas expressam receptores para FSH, mas
são primariamente dependentes de fatores secretados pelo oócito para crescer. Elas não produzem
hormônios ovarianos nesse estágio inicial. As células da teca são análogas às células de Leydig
testiculares, pois residem fora das células de sustentação epiteliais, expressam receptores de LH
e produzem andrógenos. Assim, o principal produto das células da teca é a androstenediona, que é
mínima nesse estágio.
Os folículos pré‑antrais maduros desenvolvem‑se em folículos antrais iniciais. Uma vez que o epitélio
da granulosa tenha aumentado para seis a sete camadas, espaços preenchidos por líquido aparecem entre
as células e coalescem em um antro. Durante um período de cerca de 45 dias, essa onda de folículos
continua crescendo originando folículos antrais grandes e recrutáveis. Tal período é caracterizado por um
crescimento de cerca de cem vezes das células granulosas e um crescimento da cavidade antral, a qual,
progressivamente, divide as células granulosas em duas populações discretas.
As células granulosas murais formam a parede externa do folículo. A camada basal encontra‑se
aderida à lâmina basal e em proximidade às camadas da teca de revestimento interno. As células
granulosas murais tornam‑se altamente esteroidogênicas e permanecem no ovário após a ovulação
para diferenciarem‑se no corpo lúteo.
As células do cumulus (coroa radiata) são as células mais internas que circundam o oócito. Essas
células mantêm‑se aderidas ao oócito e são liberados juntos durante a ovulação. São fundamentais para
que as fimbrias das trompas de Falópio capturem e movam o oócito, por meio de movimento ciliar, ao
longo da extensão da trompa até o local de fertilização.
Os folículos antrais iniciais são dependentes de FSH hipofisário para seu crescimento normal.
Já os folículos antrais grandes tornam‑se altamente dependentes de FSH hipofisário, para seu
crescimento e manutenção da viabilidade. Folículos de 2 a 5 mm são recrutados para entrar em
uma fase de crescimento rápido, pelo aumento transitório de FSH, que ocorre durante o final do
ciclo menstrual anterior.
62
FISIOLOGIA
O oócito cresce rapidamente nos estágios iniciais dos folículos antrais e o crescimento torna‑se
menor nos folículos maiores. Durante o estágio antral, o oócito sintetiza quantidades suficientes de
componentes do ciclo celular, de tal forma que se torna competente para completar a meiose I da
ovulação. Assim, nos folículos primários e secundários iniciais, o oócito não completa a meiose I devido
à falta de proteínas específicas. Entretanto, folículos maiores ganham competência meiótica, mas ainda
mantém a interrupção meiótica até o surto de LH do meio do ciclo.
No final de um ciclo menstrual prévio, um grupo de folículos antrais grandes são recrutados para
iniciar o desenvolvimento rápido e dependente de gonadotrofina. À medida que os níveis de FSH
declinam os folículos em crescimento rápido vão sofrendo atresia até que reste apenas um folículo, o
folículo dominante.
O oócito é competente para completar a meiose I, mas permanece preso no folículo dominante até
o surto de LH. O crescimento do oócito continua com uma velocidade menor.
O folículo começa a fase de esteroidogênese ovariana, processo que requer tanto células da teca
como da granulosa. As células da teca expressam receptores de LH e produzem andrógenos. O LH
basal estimula as enzimas esteroidogênicas e os andrógenos produzidos são liberados da teca e se
difundem pelas células granulosas murais ou penetram nos vasos que circundam o folículo.
As células granulosas murais apresentam um grande número de receptores de FSH, sendo que o
FSH estimula a expressão da aromatase, enzima que sintetiza estrógeno a partir de testosterona. O
FSH também induz a expressão de inibina durante a fase folicular. Outra função do FSH é a de induzir
a expressão de receptores de LH nas células granulosas murais durante a segunda metade da fase
folicular. Assim, as células granulosas murais tornam‑se responsivas a ambas as gonadotrofinas, o que
permite que mantenham altos níveis de aromatase, mesmo quando o FSH estiver declinando. Também
garante que as células granulosas murais respondam ao surto de LH.
63
Unidade I
Antes da ovulação, o oócito primário é competente para completar a meiose, mas fica estagnado na
prófase I. O surto de LH induz o oócito a progredir para a metáfase II. O oócito permanece nessa fase
até a fertilização.
Tanto as células da teca quanto as granulosas murais expressam receptores de LH. O surto de
LH induz a diferenciação das células granulosas. Durante o período periovulatório, o surto de LH
induz mudanças na atividade esteroidogênica das células granulosas murais inibindo a expressão
da aromatase e, portanto, tanto diminuindo os níveis de estrógeno como aumentando os níveis de
progesterona.
Após a ovulação, o remanescente da cavidade antral é preenchido por sangue proveniente dos
vasos danificados, dando origem ao corpo hemorrágico. Nos dias seguintes, os eritrócitos e debris
são removidos por macrófagos, e fibroblastos preenchem a cavidade antral com matriz extracelular.
No corpo lúteo maduro, as células granulosas, agora denominadas células granulosas luteínicas,
aumentam de tamanho e enchem‑se de lipídios. Essas células aumentadas colapsam para dentro da
antiga cavidade antral e a preenchem parcialmente. As células da teca, junto aos vasos sanguíneos,
mastócitos, macrófagos, leucócitos e outras células do tecido conjuntivo, infiltram a camada granulosa
em múltiplos locais.
O corpo lúteo humano está programado para viver em torno de 14 dias (podendo viver dois dias
para mais e para menos, de 12 a 16 dias), a menos que seja resgatado pela gonadotrofina coriônica
humana (hCG), hormônio semelhante ao LH que se origina do embrião implantado. Se resgatado, esse
corpo lúteo permanecerá viável durante a gestação. Depois dos 14 dias, se não ocorrer resgate, o corpo
lúteo é reabsorvido e transformado em um corpo cicatricial denominado corpus albicans, o qual se
aprofunda na medula do ovário e é lentamente absorvido.
A produção de progesterona pelo corpo lúteo aumenta gradualmente com o início do surto de
LH e atinge um máximo durante a fase lútea média. O principal propósito dessa temporização é o de
transformar o revestimento uterino em uma estrutura adesiva e de sustentação para a implantação e
gestação inicial. A produção de estrógeno reduz‑se transitoriamente em resposta ao surto de LH, mas
então volta a aumentar e atinge outro pico na fase lútea média.
A produção hormonal lútea é totalmente dependente de níveis basais de LH, e está fortemente
correlacionada com um padrão pulsátil de liberação de LH. Tanto o LH quanto o FSH são reduzidos a níveis
basais durante a fase lútea, pelo feedback do estrógeno e a progesterona. Além disso, as células granulosas
produzem inibina, a qual reprime seletivamente a secreção de FSH.
O corpo lúteo deve gerar grandes quantidades de progesterona para sustentar a implantação e
início da gestação. Diversos fatores que perturbam a secreção hipotalâmica e hipofisária durante a fase
folicular, incluindo exercícios pesados, jejum, níveis altos de prolactina e função anormal da tireoide,
podem provocar uma deficiência da fase lútea e infertilidade (KOEPPEN; STANTON, 2009).
Atresia folicular refere‑se à morte de um folículo ovariano. Durante a atresia, as células granulosas
e os oócitos sofrem apoptose. As células da teca persistem e repopulam, em geral, o estroma celular do
64
FISIOLOGIA
ovário. Essas células da teca ainda mantêm receptores de LH e a capacidade de produzir andrógenos,
sendo coletivamente denominadas glândula intersticial do ovário. Os folículos podem sofrer atresia a
qualquer momento durante seu desenvolvimento (KOEPPEN; STANTON, 2009).
A primeira metade do ciclo menstrual é chamada fase folicular do ovário, e é caracterizada pelo
recrutamento e crescimento de 15 a 20 folículos antrais grandes, seguido da seleção de um desses
folículos como folículo dominante e crescimento até que ocorra a ovulação. O folículo dominante deve
conter um oócito totalmente desenvolvido e células somáticas foliculares, que secretam altos níveis de
estrógeno. Dado que o folículo demora vários meses para atingir o crescimento ideal para ser recrutado,
esse processo ocorre independentemente do ciclo menstrual. A segunda metade do ciclo é chamada
fase lútea do ovário, e é dominada pelas secreções hormonais do corpo lúteo. Durante essa fase,
pequenos folículos continuam desenvolvendo‑se no estroma ovariano.
O desenvolvimento folicular final e a função lútea são dependentes das funções hipotalâmicas e
hipofisárias normais. Como acontece no homem, os neurônios hipotalâmicos secretam GnRH de forma
pulsátil. O GnRH, por sua vez, estimula a produção de LH e FSH pelos gonadotrofos na hipófise. Uma
alta frequência de pulsos de GnRH promove a produção de LH, enquanto a baixa frequência favorece
a secreção de FSH. A principal diferença entre os eixos reprodutivos feminino e masculino é o surto
de gonadotrofinas no meio do ciclo, o qual é dependente de um nível alto de estrógeno e constante,
proveniente do folículo dominante.
A variação hormonal do ciclo menstrual pode ser descrita nas seguintes etapas (figura 82):
• Evento 1: na ausência de fertilização e implantação, o corpo lúteo regride e morre (luteólise), levando
a uma queda drástica dos níveis de progesterona, estrógeno e inibina no dia 24 do ciclo menstrual.
• Evento 2: na hipófise, o gonadotrofo percebe o final da função lútea pela interrupção do feedback
negativo, o que permite a elevação de FSH, dois dias antes do início da menstruação. A elevação
de FSH pode ser explicada pela baixa frequência de pulsos de GnRH, consequente do alto nível de
progesterona.
• Evento 3: o aumento de FSH recruta um grupo de folículos antrais grandes para iniciarem um
crescimento rápido e dependente de gonadotrofina. Esses folículos produzem níveis baixos de
estrógeno e inibina.
• Evento 5: o ovário responde à diminuição de FSH com a morte de todos os folículos recrutados
com exceção do folículo dominante, por ser mais responsivo ao FSH. Geralmente, apenas o
maior folículo, com o maior número de receptores de FSH e melhor suprimento sanguíneo, pode
sobreviver. Esse folículo produz grandes quantidades de estradiol e inibina. O FSH também induz
a expressão de receptores de LH nas células granulosas murais do folículo dominante.
65
Unidade I
• Evento 6: depois que o folículo dominante eleva os níveis de estrógeno acima dos 200 pg/ml
durante 50 horas, o estrógeno produz um feedback positivo nos gonadotrofos, induzindo o surto
de LH no meio do ciclo. Isso é acentuado pela pequena quantidade de progesterona secretada nesse
momento do ciclo. Os receptores de GnRH e a sensibilidade à sinalização pelo GnRH aumentam
muito nos gonadotrofos. O hipotálamo contribui para o surto de gonadotrofina pelo aumento da
frequência de pulsos de GnRH e a secreção de uma pequena quantidade de progesterona.
• Evento 8: a elevação dos níveis de progesterona, estrógeno e inibina, pelo corpo lúteo maduro,
retroalimentam negativamente os gonadotrofos. Mesmo com altos níveis de estrógeno, os níveis
de progesterona bloqueiam qualquer retroalimentação positiva. Em consequência, tanto o FSH
como o LH voltam aos níveis basais.
• Evento 9: níveis basais de LH (mas não de FSH) são absolutamente necessários para o funcionamento
normal do corpo lúteo. Entretanto, o corpo lúteo torna‑se progressivamente insensível à sinalização
pelo LH e morrerá a menos que uma atividade semelhante ao LH (no caso, a hCG de um embrião
implantado) aumente. Em um ciclo em que não haja fertilização, o corpo lúteo da menstruação
regredirá em 14 dias, e os níveis de progesterona e estrógeno começarão a declinar em cerca de
dez dias; dessa forma, o ciclo volta ao evento 1 (KOEPPEN; STANTON, 2009).
Menstruação
Ovulação
FSH
Gonadotrofinas
LH
LTH
os
gen Progesterona
Hormônios Es tró
ovarianos
2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28
Figura 18 – Gráfico da variação dos hormônios sexuais femininos durante o ciclo menstrual
Observação
66
FISIOLOGIA
No ciclo menstrual, o ovário é o relógio primário que coordena esses eventos. O tempo em
que ocorrem os principais eventos de origem hipofisária (a elevação transitória do FSH que
recruta os folículos e o surto de LH que induz a ovulação) é determinado por dois eventos
ovarianos. Eles são, respectivamente, a expectativa de vida regular de 14 dias do corpo lúteo
e o crescimento do folículo dominante até o ponto em que ele possa manter a alta produção
de estrógeno, que induzirá, na hipófise, a mudança por um feedback positivo (KOEPPEN;
STANTON, 2009).
As trompas de Falópio (também denominadas tubas uterinas) são tubos musculares cujas
terminações distais estão próximas a cada ovário e cujas terminações proximais atravessam a parede do
útero. As trompas são divididas em quatro seções (da porção distal para a proximal):
• o segmento intramural ou intrauterino, que se estende por meio da parede uterina nos cornos
superiores do útero.
• capturar o oócito durante a ovulação e transferi‑lo para a porção medial (a junção ampola‑istmo),
onde ocorre a fertilização. Secreções da trompa revestem e impregnam o oócito e podem ser
necessárias para a viabilidade e capacidade de fertilização;
• proporcionar um local para o armazenamento do espermatozoide. Mulheres que ovulam até cerca
de cinco dias após uma relação sexual podem engravidar. O espermatozoide permanece viável
por aderir às células epiteliais que revestem o istmo. As secreções da trompa também induzem a
capacitação e hiperatividade do espermatozoide; e
• secretar fluidos que proporcionam suporte nutricional ao embrião antes da implantação (KOEPPEN;
STANTON, 2009).
O tempo da movimentação do embrião para o útero é crítico, porque o útero tem uma janela de
implantação de, aproximadamente, três dias. A trompa precisa reter o embrião recém‑formado até que
ele atinja o estágio de blastocisto (cinco dias após a fertilização) e, então, permitir que o blastocisto
passe para a cavidade uterina.
A parede da trompa é composta por uma camada mucosa, uma muscular dupla e uma camada
externa de tecido conjuntivo. A camada mucosa possui muitas pregas, que quase obliteram o lúmen,
e é revestida por dois tipos de células: ciliadas e secretoras. Os cílios, mais numerosos no infundíbulo,
67
Unidade I
propelem o oócito em direção ao útero. Quando o oócito penetra na ampola, passa a ser propulsado
pelos cílios e por contrações peristálticas da muscular.
As células secretoras produzem um muco rico em proteínas ao longo da trompa que mantém o epitélio
saudável, movimenta o oócito em direção ao útero e direciona os espermatozoides em movimento
(KOEPPEN; STANTON, 2009).
O estrógeno secretado durante a fase folicular aumenta o tamanho das células da mucosa,
aumenta o fluxo sanguíneo, promove a secreção de muco espesso no istmo e aumenta seu tônus
muscular para ajudar na fertilização. Altos níveis de progesterona, junto ao estrógeno durante a fase
lútea inicial até a fase média, reduzem o tamanho e função das células epiteliais. A progesterona
promove a diminuição dos cílios, reduz a secreção de muco espesso e relaxa o tônus muscular do
istmo.
O útero é um órgão único localizado na linha média da cavidade pélvica entre a bexiga e o reto.
A mucosa do útero é denominada endométrio; a espessa parte muscular que possui três camadas é
chamada miométrio, e o tecido conjuntivo e a serosa externos são denominados perimétrio. As partes
do útero são:
• o istmo, uma porção curta e estreitada da parte final inferior do corpo uterino; e
• limitar a invasão do embrião em implantação, de forma que ele permaneça no endométrio, e não
alcance o miométrio;
• crescer e expandir junto ao feto, de forma que ele se desenvolva em um ambiente aquoso, e não
adesivo; e
• produzir contrações musculares fortes para, ao final da gestação, expelir o feto e a placenta
(KOEPPEN; STANTON, 2009).
68
FISIOLOGIA
Cerca de dois terços da porção luminal do endométrio são perdidos durante a menstruação. Essa
parte do endométrio é chamada de estrato funcional, e a parte basal do endométrio que permanece
é chamada estrato basal.
As oscilações mensais nos esteroides ovarianos alteram a composição do endométrio uterino (figura
83). No momento da seleção do folículo dominante e de sua produção de estrógeno, o endométrio
uterino está terminando a menstruação. O estrato funcional foi descamado e apenas o estrato basal
permanece. Os níveis de estrógeno em elevação, durante a fase folicular média e final, induzem a
fase proliferativa do endométrio uterino. O estrógeno induz o crescimento e a divisão de todos os
tipos celulares do estrato basal. O estrógeno também controla o crescimento uterino indiretamente,
pela produção local de fatores de crescimento. Finalmente, o estrógeno também induz a expressão de
receptores de progesterona, preparando o endométrio uterino para que ele seja capaz de responder à
progesterona durante a fase lútea ovariana.
Em um ciclo não fértil, a morte do corpo lúteo resulta na repentina redução de progesterona,
o que leva a mudanças no endométrio uterino, que redundam na perda do estrato funcional.
A menstruação normalmente dura de quatro a cinco dias e o volume de perda de sangue
varia de 25 a 35 ml. A menstruação coincide com a fase folicular inicial do ovário (KOEPPEN;
STANTON, 2009).
Lembrete
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Unidade I
O colo do útero é a extensão inferior do útero que se projeta para dentro da vagina. O colo atua
como um portão de entrada para o trato feminino superior, e no meio do ciclo, o canal endocervical
facilita a viabilidade e a entrada do espermatozoide. Durante a fase lútea, o canal endocervical impede
a passagem do espermatozoide e de microrganismos, dessa forma, inibindo a superimplantação de um
segundo embrião ou uma infecção ascendente para a placenta, membranas fetais e feto. Ao final da
gestação, um amolecimento e dilatação do colo permitem a passagem do recém‑nascido, e da placenta,
do útero para a vagina.
A vagina é uma das estruturas copulatórias da mulher e atua como o canal de parto. As
células superficiais do epitélio vaginal descamam‑se continuamente, e a natureza destas células
é influenciada pelo ambiente hormonal. O estrógeno estimula a proliferação do epitélio vaginal e
aumenta seu conteúdo de glicogênio. O glicogênio é metabolizado em ácido láctico por lactobacilos
comensais, dessa forma, mantendo um ambiente ácido. Isso inibe a infecção por bactérias não
comensais e fungos. A progesterona aumenta a descamação das células epiteliais (KOEPPEN;
STANTON, 2009).
A genitália externa feminina é circundada pelos grandes lábios (homólogos ao escroto) lateralmente
e pelo monte do púbis anteriormente. É chamada vulva a área que inclui os lábios maiores e o monte
do púbis, junto aos pequenos lábios, o clitóris, o vestíbulo da vagina, as glândulas vestibulares
e o orifício uretral externo. As estruturas da vulva possuem função de excitação e clímax sexual, de
direcionamento do fluxo da urina e de recobrir parcialmente a abertura da vagina, inibindo a entrada
de patógenos.
70
FISIOLOGIA
O clitóris é o homólogo embrionário do pênis, e é composto de dois corpos cavernosos, que o ligam
aos ramos isqueopúbicos e à glande. Tais estruturas são compostas de tecido erétil e sofrem um processo
de ereção, essencialmente da mesma maneira que o pênis. Diferentemente do pênis, o tecido do clitóris é
completamente separado da uretra. Dessa maneira, o clitóris está envolvido na excitação sexual e clímax
durante o orgasmo. A vagina está igualmente envolvida na satisfação sexual, mas também funciona
como órgão copulatório e canal do parto (KOEPPEN; STANTON, 2009).
Resumo
Exercícios
Fonte: LUTZ, S. et al. mtDNA as a tool for identification of humans remains: identification using mtDNA. lntemational Journal of
Legal Medicine (adaptado).
I – O mtDNA, de herança estritamente materna, não está sujeito à recombinação na meiose, possuindo
centenas de cópias por célula, o que facilitaria a sua chance de recuperação e análise.
Porque
II – Devido ao modo de transmissão, filhos e filhas, assim como a mãe, não podem ser
distinguidos entre si pelo mtDNA, e a análise desse material não deve ser utilizada para fins de
confirmação de paternidade.
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Unidade I
Justificativa geral: a meiose forma gametas com metade do número de cromossomos para que
na fecundação o ser humano mantenha seu cariótipo. O óvulo é uma célula que mantém todas as
organelas, mas o espermatozoide em sua transformação morfológica perde o citoplasma preservando
apenas a carga genética. A mitocôndria possui um DNA próprio que não participa da meiose, portanto
pode ser analisado, mas será o mesmo para todos os organismos pois deriva apenas do óvulo.
O teste de paternidade é realizado com a carga genética nuclear. O mtDNA não indica a paternidade,
pois o espermatozoide durante a fecundação não fornece mitocôndrias para o zigoto. Este fato não
justifica nem a redução da carga genética ocorrida na meiose (formando os gametas), nem a mudança
morfológica do espermatozóide.
Questão 2. (Enade 2010) A avaliação do estado nutricional, incluindo consumo alimentar, perfil
bioquímico e antropometria, constitui importante instrumento da prática do profissional nutricionista.
A síndrome metabólica é um transtorno complexo que promove alterações significativas no perfil
bioquímico e antropométrico. Por isso, o nutricionista tem papel fundamental dentro de equipes
multiprofissionais cujo objetivo é promover ações voltadas para prevenção e tratamento dessa síndrome.
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