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Citologia

Autor: Prof. Francisco Benedito Kuchinski


Colaboradores: Profa. Fernanda Torello de Mello
Prof. Fábio Mesquita do Nascimento
Professor conteudista: Francisco Benedito Kuchinski

Francisco Benedito Kuchinski, nascido em 1946, em São Paulo – SP, graduado em 1972 em Ciências Biológicas pela
Universidade de Mogi das Cruzes (UMC), portador de três especializações em Ciências Morfológicas pelas Universidades:
de Brasília (UnB), de Mogi das Cruzes (UMC) e Brás Cubas (UBC). Doutor em Ciências (Histologia) pela Universidade
Mackenzie. Professor de Ciências Físicas e Biológicas do Ensino Fundamental e de Biologia do Ensino Médio, nas
escolas e colégios estaduais do governo do estado de São Paulo (1969/1978). No ambiente universitário, é coordenador
de cursos da área da saúde (UMC, Uniararas, Faculdades Integradas de Guarulhos) e como docente universitário, das
disciplinas de Citologia, Histologia e Embriologia, desde o ano de 1973. Professor titular das Faculdades de Guarulhos
(FG) (1980/2013). Professor assistente, adjunto e titular dos cursos de Medicina, Odontologia, Ciências Biológicas
e Ciências Biomédicas da UMC (1973/2003), professor assistente e titular dos cursos de Biologia, Biomédicas e
Odontologia da Uniararas (1975/1998), professor da Universidade São Judas Tadeu nos cursos de Ciências Biológicas
e Farmácia (1998/até a presente data), professor adjunto da Universidade Paulista – Unip, dos cursos de Odontologia,
Medicina Veterinária, Ciências Biológicas e Ciências Biomédicas (1980/até a presente data). Material didático publicado:
livro de Histologia Dental e Periodontal pela editora Graftipo, 8ª edição, 1998; Resumos e Apontamentos de Biologia
Marinha/Oceanografia, v. 1, 2, 3 e 4, pela editora Graftipo, 2001; Glossário de Enfermagem, Editora Graftipo, 1980;
Apontamentos de Citologia, Histologia e Embriologia/Laboratório, Editora Graftipo, 3ª edição, 1999; Resumos de
Embriologia Animal, no Professor Online do curso de Medicina Veterinária da UNIP. Resumos de Citologia, Histologia e
Embriologia e de Histologia Dental e Periodontal, no Professor Online do curso de Odontologia da UNIP.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

K95c Kuchinski, Francisco Benedito.

Citologia. / Francisco Benedito Kuchinski. São Paulo: Editora Sol,


2020.

160 p. il.

Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e


Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230.

1. Citologia. 2. Constituição química. 3. Mitose e meiose. I. Título

CDU 576.3

U507.07 – 20

© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
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Unip Interativa – EaD

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Material Didático – EaD

Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)

Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos

Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto

Revisão:
Virgínia Bilatto
Amanda Casale
Sumário
Citologia

APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................7

Unidade I
1 CÉLULAS EUCARIÓTICAS: MÉTODOS DE ESTUDO E CONSTITUIÇÃO QUÍMICA...........................9
2 CONSTITUIÇÃO QUÍMICA DA CÉLULA EUCARIÓTICA (CÉLULA TÍPICA)....................................... 36
3 MEMBRANA PLASMÁTICA............................................................................................................................ 40
3.1 Estrutura e constituição química................................................................................................... 40
3.2 Transportes (passagens) pela membrana plasmática............................................................. 43
3.3 Especializações da membrana plasmática.................................................................................. 49
4 ORGANELAS CITOPLASMÁTICAS................................................................................................................ 52
4.1 Retículo endoplasmático................................................................................................................... 52
4.2 Ribossomos.............................................................................................................................................. 54
4.3 Complexo de Golgi............................................................................................................................... 57
4.4 Lisossomos............................................................................................................................................... 58
4.5 Peroxissomos........................................................................................................................................... 61
4.6 Mitocôndrias........................................................................................................................................... 61

Unidade II
5 MICROFILAMENTOS, MICROTÚBULOS E FILAMENTOS INTERMEDIÁRIOS................................. 80
6 INCLUSÕES E PIGMENTOS CELULARES................................................................................................... 86

Unidade III
7 COMPONENTES DO NÚCLEO INTERFÁSICO........................................................................................... 94
8 MITOSE E MEIOSE...........................................................................................................................................108
APRESENTAÇÃO

A citologia, também denominada nos dias atuais de biologia celular, abrange o estudo
micromorfológico da estrutura dos seres vivos. Trata‑se de uma ciência básica, que fornece diversos
tipos de subsídios para outras ciências; portanto, é de suma importância.

O conhecimento adequado sobre os microscópios, propicia a compreensão da diversidade


química constituinte da célula, como meios para a identificação das organelas citoplasmáticas e dos
componentes do núcleo celular, além das inclusões e dos pigmentos presentes no citoplasma ao nível
da microscopia óptica.

Ao término deste estudo, você deverá caracterizar os diferentes tipos celulares constituintes do ser
humano, ter domínio dos processos citofisiológicos, reconhecer a importância da citologia para sua
formação profissional e utilizar diversos aprendizados que propiciem a atualização na disciplina com
reflexão ética, crítica e de aplicabilidade.

INTRODUÇÃO

Foi no século XIX que diversos pesquisadores iniciaram a descrição de conhecimentos sobre as
células (Teoria Celular) e, até a presente data, novas descobertas são realizadas e descritas sobre a
estrutura e função das células eucarióticas e procarióticas. O desenvolvimento científico em relação
à ciência química e bioquímica, nas formulações de reagentes químicos para elucidar estrutura e
funcionamento celular, foi e é preponderante, bem como novas tecnologias que a física desenvolveu,
como os microscópios eletrônicos.

Este material possui um texto didático dirigido primordialmente para fundamentação básica do
estudante, isto é, para proporcionar uso racional de horas de estudo, permanência mais constante dos
conhecimentos teóricos, facilidades nos conceitos citológicos. A organização deste conteúdo segue a
sequência didática dos livros tradicionais de citologia/biologia celular, com atualizações, referendada
com base nas normas da ABNT e com ênfase para o desenvolvimento de uma citologia educacional.

Nosso estudo tem início com a apresentação dos diferentes tipos de classificações celulares, suas
localizações e dimensões. Há um destaque especial para células-tronco. Em sequência, são apresentados
os procedimentos técnicos para observação da constituição química da célula, bem como de tipos
celulares e seus principais constituintes inorgânicos e orgânicos, além dos fundamentos básicos sobre
microscopia óptica. Depois, o estudo torna‑se específico sobre membrana plasmática, citoplasma,
organelas citoplasmáticas e núcleo, bem como sobre os processos de reprodução celular em células
somáticas e na elaboração dos gametas. Por fim, apresentaremos um atlas de citologia que possui
imagens de lâminas de citologia, com métodos citológicos e citoquímicos, o qual muito contribuirá para
a compreensão das estruturas celulares.

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CITOLOGIA

Unidade I
1 CÉLULAS EUCARIÓTICAS: MÉTODOS DE ESTUDO E CONSTITUIÇÃO QUÍMICA

A Citologia é a ciência que estuda células eucarióticas, que estruturam plantas e animais e
células procarióticas, que formam as bactérias. As células eucarióticas também são denominadas
de células típicas. Um organismo animal é constituído por diferentes sistemas, como o respiratório.
Sistemas são formados por órgãos, como o pulmão. Órgãos são formados por tecidos, como o tecido
epitelial das vias respiratórias. Tecidos são formados por células e por material extracelular fibrilar
e afibrilar. Células eucarióticas são formadas por três componentes básicos: membrana plasmática,
citoplasma e núcleo. No citoplasma, há inúmeras organelas citoplasmáticas, como as mitocôndrias,
e, no núcleo, há também elementos distintos, como o nucléolo e os cromossomos (Figura 1).
Sistema
golgiense
Núcleo
Centrossomo Nucléolo
Cromatina

Ribossomo

Mitocôndria

Retículo Membrana
endoplasmático plasmática

Citoesqueleto Lisossomo

Figura 1 – Esquema de célula eucariótica animal com base


na microscopia eletrônica de transmissão (MET)

Exemplo de aplicação

Identifique os componentes celulares: membrana plasmática, citoplasma com suas organelas e


núcleo (vide Figura 5).

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Unidade I

Assim, a Citologia é a parte da Biologia que estuda células e seus componentes celulares e citoplasmáticos:
organelas, inclusões, pigmentos; além dos mecanismos de divisões – reprodução celular (mitose e meiose) –
processos de apoptose e necroses, diferenças entre células animais e vegetais, mecanismos de diferenciação
celular, comunicação celular, células‑tronco, entre muitos outros conteúdos desta ciência morfológica
microscópica, que comprova, já há alguns séculos, a importância das células na organização dos seres vivos.
É interessante ressaltar que a Biologia Molecular realiza estudos do DNA (ácido desoxirribonucleico), dos
diferentes tipos de RNAs (ácidos ribonucleicos), das proteínas e das enzimas envolvidas com as diferentes
reações químicas por que passam os ácidos nucleicos, como replicação, transcrição e tradução do DNA. Estuda
ainda os diferentes tipos de técnicas (PCR – reação de polimerase em cadeia, Wester Blot – para detectar
proteínas e enzimas; e RFLP – polimorfismo de comprimento de fragmentos de restrição para o sequenciamento
do DNA/sequenciamento de bandas no DNA), que envolvem estes ácidos e proteínas. Neste campo científico,
também é desenvolvido o manuseio correto de equipamentos (ferramentas, como a cuba de eletroforese,
termociclador, solventes estratores de ácidos nucleicos, primer/tipo de reagente), utilizados para tais estudos
envolvendo todos os componentes celulares e citoplasmáticos, com ênfase em elementos do núcleo celular.

A dedicação do estudante pela história da ciência Citologia trará aquisições de conhecimentos, como o
dado marcante, em 1838/1839, quando Schleiden e Schwann propuseram a Teoria Celular: “todos os seres
vivos são formados por células”. Procure saber sobre: Nehemias Grew e Marcelo Malpighi (1862), Rudolf
Virchow, Wilson, Brachet, entre outros. Paralelamente à história da Citologia, a história e a evolução dos
aparelhos denominados de microscópios também contribuíram e continuam contribuindo nas descobertas
dos componentes e do funcionamento celular (microscópios de Robert Hooke – 1665, de Leewenhoek –
1674). O microscópio de luz atual (microscópio óptico composto) e os microscópios especiais, como os
eletrônicos de transmissão e o de varredura, entre muitos outros tipos destes aparelhos ampliadores da
potencialidade sensorial humana (a visão), continuam contribuindo nas descobertas sobre a estrutura e o
funcionamento celular. O tamanho das células é diminuto, sabemos que um centímetro dividido por dez
é igual a um milímetro, e um milímetro dividido por mil será igual a um micrômetro. Células apresentam
tamanho na ordem de micrômetros. No final do século passado, pesquisadores propuseram mudanças em
relação à nomenclatura e à quantidade de reinos que agrupam todos os seres vivos formados ou não por
células (mais de dez reinos). Estabeleceram, ainda, o agrupamento dos reinos em nível ainda superior ao
reino, o que chamaram de “domínios” (Bacteria, Archeaea e Eukarya). Os organismos procariontes ficam
agrupados nos dois primeiros “domínios” citados e todos os organismos eucariontes no “domínio” Eukarya.

Como células são estruturas diminutas, é interessante que o estudante adapte a nomenclatura
de dimensões celulares, assim, quando da divisão de um micrômetro por mil, obtém‑se a unidade
nanométrica (um nanômetro). Apenas para concluir unidades de medidas, um nanômetro dividido por
dez é igual a um angstrom. Observe todas elas representadas a seguir:

1mm = 1cm/10

1µm = 1mm/1000

1nm = 1µm/1000

1Å = 1nm/10
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CITOLOGIA

As células eucarióticas animais podem ser classificadas de diferentes maneiras, levando‑se em


consideração vários aspectos, como: morfológicos, funcionais, embriológicos, genéticos, histológicos,
patológicos, entre outros. O sistema de classificação com base nos graus de diferenciação e maturidade
(potencialidade) celular reúne os diferentes tipos em: lábeis, estáveis e permanentes; já os com base
nos graus de individualidade relativa das células são reunidos em: livres, federadas, anastomosadas,
sincício e plasmódios. O mecanismo da diferenciação entre as células promove essas especializações
morfológicas (na forma) e fisiológicas (na função). No ser humano, esse mecanismo tem início por volta
do quinto dia após a fecundação, aproximadamente após a formação das primeiras duzentas células, num
estágio embrionário bem próximo à formação do blastocisto. Em todo o período do desenvolvimento
embrionário (desde a fecundação até a oitava semana/dois meses/sessenta dias) ocorrem inúmeros
processos de especializações, diferenciando as células que constituirão os tecidos. Toda a coordenação
destas especializações encontra‑se no ácido desoxirribonucleico (DNA), o principal constituinte dos 46
cromossomos.

Células lábeis: são células dotadas de ciclo vital curto, produzidas de forma contínua pelo organismo.
Fornecem e/ou produzem o crescimento e a renovação constante dos tecidos onde ocorrem, por exemplo,
as células epiteliais constituintes das mucosas intestinais, da mucosa gástrica, da epiderme (na pele) e
células sanguíneas, como os glóbulos brancos (leucócitos) e glóbulos vermelhos (hemácias/eritrócitos).

Células estáveis: são células dotadas de ciclo vital médio ou longo, podendo durar meses ou
anos, produzidas durante o período de crescimento do organismo (na vida intrauterina – períodos
embrionário e fetal, como também pós‑nascimento – até o início da vida adulta). Essas células só
voltam a ser formadas em condições excepcionais, como na regeneração de tecidos (uma fratura óssea,
por exemplo). São exemplos de células estáveis: célula óssea (osteoblasto), célula do fígado (hepatócito),
célula do pâncreas (acinosa pancreática), célula muscular lisa (fibra muscular lisa involuntária).

Células permanentes: são células de ciclo vital muito longo, coincidindo, geralmente, com o tempo
de vida do indivíduo, produzidas apenas durante os períodos embrionário e fetal e com desenvolvimento
após o nascimento. Quando da morte destes tipos celulares, não há reposição, algumas destas células
aumentam em volume (hipertrofia celular), acompanhando o crescimento do indivíduo. São exemplos
de células permanentes: células nervosas (neurônios), células musculares estriadas (fibras musculares
estriadas esqueléticas e cardíacas).

Células livres: apresentam autonomia, são isoladas, vivem nos ambientes líquidos (seres unicelulares
– protozoários), células sanguíneas (glóbulos vermelhos e brancos).

Células federadas: organizam‑se sob a forma de tecidos. Tornam‑se especializadas e perdem parte
de sua autonomia em favor do conjunto, passando a viver umas na dependência das outras. Apresentam
certa individualidade, estabelecem com as células vizinhas certas relações, trocam nutrientes entre si,
através dos líquidos intersticiais.

Células anastomosadas: são células fusionadas umas às outras, por meio de ligações citoplasmáticas,
são alguns exemplos: células mesenquimais indiferenciadas do tecido conjuntivo e células ósseas jovens
(osteoblastos).
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Unidade I

Sincícios: são células que apresentam vários núcleos mergulhados no citoplasma, com
ausência de individualidade celular, casos típicos ocorrem nas células musculares estriadas
esqueléticas (fibras musculares esqueléticas), nas células placentárias (sincíciotrofoblasto) e células
do tegumento da lombriga (Ascaris lumbricoides). Todos os exemplos dados surgem pela fusão de
células uninucleadas.

Plasmódios: originam‑se de células mononucleadas, que sofrem sucessivas divisões do núcleo sem
ocorrer divisão do citoplasma.

Outras denominações celulares:

Células somáticas: são exemplos as células epiteliais (de origem dos três folhetos embrionários:
ectoderma, mesoderma e endoderma); as células conjuntivas (de origem mesenquimal – o
mesênquima origina‑se do mesoderma); as células musculares (de origem mesodérmica); e as
células nervosas (de origem ectodérmica). As células somáticas possuem 46 cromossomos ou 23
pares de cromossomos, isto é, são células diploides (2n), portanto, o genoma destas células é igual
a 46 cromossomos.

Células gaméticas (ou germinativas): são exemplos o espermatozoide e o oócito ou


ovócito de segunda ordem (óvulo como denominação geral, porém incorreta). As células
gaméticas possuem 23 cromossomos, isto é, são haploides, o genoma destas células é igual a 23
cromossomos.

Células diploides: como (n) representa 23 cromossomos, estas células são portadoras de 46
cromossomos, sendo 23 cromossomos maternos e 23 cromossomos paternos; portanto, são assim
denominadas (2n). Também se pode afirmar tal expressão para um indivíduo que apresenta cariótipo
normal com 2n cromossomos (homem = 22 pares de cromossomos autossomos e 1 par de cromossomos
sexuais 22A + XY, e mulher 22A + XX).

Células haploides: como (n) representa 23 cromossomos, estas células são produzidas para
reprodução da espécie. Nos testículos o processo do ciclo meiótico (meiose) reduz o número de
cromossomos inicialmente, de 46 para 23 cromossomos no espermatozoide.

Em relação aos oócitos (ovócitos de 2ª ordem), uma menina, ao nascer, já é portadora destes em
seus folículos nos dois ovários, porém estas células ainda não terminaram o ciclo meiótico, e quando do
processo da ovulação, são eliminadas na fase da anáfase II da meiose (com 46 cromossomos). Se caso
ocorrer a fecundação, a penetração do espermatozoide no oócito faz com que ele termine sua meiose,
isto é, passa para a fase de telófase II, eliminando um corpúsculo polar (célula com núcleo portador de 23
cromossomos e com pequeníssima quantidade de citoplasma), e, desde a entrada do espermatozoide, tal
figura celular deixa de ser denominada de oócito e passa a ser denominada de óvulo. Portanto, a célula
com dois núcleos, cada um com 23 cromossomos é a célula óvulo. Após o encontro destes dois núcleos e
consequente pareamento cromossômico (anfimixia), forma‑se a célula ovo ou zigoto (100 micrômetros),
restabelecendo o genoma humano. Esta célula formada realizará a primeira divisão celular mitótica
(mitose) após trinta horas, formando duas células denominadas de blastômeros, as quais realizarão
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CITOLOGIA

suas mitoses sucessivamente, processo este que será descrito na ciência Embriologia, conhecido por
segmentação ou clivagem celular. Deve‑se registrar que as primeiras duzentas células deste processo de
clivagem no ser humano são consideradas células‑tronco embrionárias (aproximadamente quatro/
cinco dias após a fecundação).

Células vegetais: são células eucarióticas desprovidas de lisossomos e de centríolos, com a presença
de parede celulósica impregnada por lignina (polissacarídeo) e revestida por pectatos (polissacarídeo)
de cálcio e de magnésio, que constituem a lamela média. Possui um vacúolo grande que armazena
água e uma série de compostos orgânicos (ácido húmico e betalaínas, que é uma glicoproteína) e
inorgânicos, como cristais de cálcio (drusas) e de silício (ráfides). A membrana do vacúolo é denominada
de tonoplasto. Nas células vegetais providas de cloroplastos ocorre a fotossíntese, porém, nas células
desprovidas de cloroplastos, como as da raiz de um tronco do interior de um fruto e de uma semente,
não há síntese de glicose. O cloroplasto é uma organela de membrana dupla, portadora de ácido
desoxirribonucleico (DNA), na forma de um único cromossomo em formato de anel, semelhante ao
DNA bacteriano e da organela mitocôndria. Possui também ribossomos em seu estroma. Nas plantas
superiores (gimnospermas e angiospermas), os núcleos das células vegetais geralmente não possuem
nucléolos. Organelas como o retículo endoplasmático, Golgi e mitocôndrias se fazem presentes nas
células das plantas e a divisão celular ocorre do centro para a periferia, já nas células animais é ao
contrário (Figura 2).
Citoplasma Cloropasto
Lisossomo Ribossomo
Mitocôndria
Retículo
endoplasmático

Vacúolo
Núcleo
Membrana
nuclear
Poro
Parede
celular

Membrana
celular
Complexo
de Golgi

Figura 2 – Esquema de célula vegetal eucariótica com


base na microscopia eletrônica de transmissão (MET)

Observe a parede celular e vacúolo, componentes citoplasmáticas que não ocorrem em células
eucarióticas animais.

Quando de uma comparação entre células procarióticas (bactérias) com eucarióticas que
formam animais e vegetais, podem‑se resumir as seguintes características marcantes: o tamanho
é muito maior nas eucarióticas, chegam até a 40 µm, enquanto nas procarióticas esse está
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Unidade I

compreendido entre 0,5 até 5 µm, possuindo em sua parede celular polissacarídeos e aminoácidos,
pois, nas plantas há celulose, e nos fungos, a quitina. As células dos animais não apresentam tal
parede. O material genético (DNA) nos organismos procariontes mantém contato direto com o
citoplasma (há um nucleoide), enquanto nos eucariontes há um ou mais núcleos protegidos por
um envoltório, a membrana do núcleo. As organelas de membrana, como retículo endoplasmático,
Golgi, mitocôndrias e cloroplastos, só se fazem presentes nas células eucarióticas. Há ribossomos
em ambos os tipos celulares, porém muito pequenos nas bactérias. As estruturas respiratórias das
células procarióticas são representadas pela membrana e pelo citoplasma, já nas eucarióticas essa
representação é feita pelas mitocôndrias e também pelo citoplasma. A fotossíntese nas bactérias
ocorre por lamelas, enquanto nas células eucarióticas das plantas, pelos cloroplastos. A célula animal
eucariótica não realiza fotossíntese. Nas células bacterianas, especializações como os flagelos são
simples e não apresentam revestimento de membrana plasmática. Em células procarióticas, os
flagelos são estruturas representadas por um complexo citoesqueleto celular, e ainda são revestidos
por membrana plasmática (Figura 3).

Pili

Citoplasma

Novelo de
DNA (nucleoide)
Parede
celular Ribossomos

Cápsula

Membrana
citoplasmática

Flagelos

Figura 3 – Esquema de célula procariótica (de uma bactéria)

Os vírus são agregados de proteínas e ácidos nucleicos (DNA ou RNA, nunca os dois ácidos
se apresentam juntos num vírus). Bactérias e cianofíceas são maiores que os vírus, com
organização físico‑química bem mais complexa, porém são mais simples do que as células
eucarióticas (Figura 4).

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CITOLOGIA

Figura 4 – Esquema de vírus com base na microscopia


eletrônica de varredura (MEV)

As riquétsias situam‑se entre bactérias e vírus. Em relação aos tamanhos, podem‑se citar: vírus do
mosaico do tabaco de 150/180 até 3.000 angstrom; bactérias do tipo bacilo, de 0,5 até 3 micrômetros;
bactéria Escherichia coli, de 1 até 2 micrômetros; e célula glóbulo vermelho, de 7 micrômetros. A maioria
das células eucarióticas que constitui o ser humano fica compreendida entre 30 até 50 micrômetros,
na média 20 micrômetros. A célula vegetal em média possui cerca de 30 micrômetros. A organela
citoplasmática mitocôndria possui tamanho de 0,2 a 3 x 10 micrômetros, já os ribossomos, 250 angstrom,
e a molécula da hemoglobina (Hb), 64 x 55 x 50 angstrom.

Lembrete

Uma das principais ferramentas de trabalho do biólogo é o microscópio


óptico composto; logo, o conhecimento da estrutura fundamental dos
seres vivos, as células, tanto animais como vegetais, constitui base sólida
para o futuro biólogo.

A forma celular (morfologia) pode ser constante e/ou variável, dependendo de influências internas,
como rigidez da membrana, viscosidade ou tensão superficial do citoplasma; como também de externas,
como pressões das células vizinhas. Assim, podem‑se classificar morfologicamente as células em:

Células planas (pavimentosas) ou achatadas: são encontradas no tecido epitelial, juntas são
chamadas de epitélio pavimentoso. Essas células estão localizadas na camada mais superficial celular da
epiderme, abaixo da queratina, e, quando localizadas na camada mais interna dos vasos sanguíneos, são
denominadas de células endoteliais (endotélio).

Células colunares (prismáticas) ou cilíndricas: são encontradas no epitélio gástrico e também no


intestinal e em ductos de glândulas exócrinas.

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Unidade I

Células cúbicas: possuem três dimensões semelhantes, lembram um “dado”, localizadas, por
exemplo, na glândula endócrina tiroide.

Células esféricas: como os glóbulos brancos (leucócitos) do sangue, oócito. Os glóbulos vermelhos
são discos bicôncavos (células discoides).

Células estreladas: como os neurônios multipolares (células nervosas), essas células possuem
ramificações (os dendritos e o axônio).

Células fusiformes: são células afiladas nas extremidades, típicas fibras musculares lisas dos órgãos,
como estômago, intestino, útero, vagina, vasos sanguíneos.

Observação

A célula eucariótica possui núcleo organizado, já as células procarióticas


não o possuem, são desprovidas do envoltório nuclear (a carioteca). Estas
células procarióticas constituem organismos primitivos unicelulares
(procariontes), como as bactérias e algas cianofíceas.

Em todo o mundo, inclusive no Brasil, que foi o pioneiro em transplantes de células‑tronco de


medula óssea, descobertas e relatos sobre este tipo celular ocorrem anualmente, e, devido à importância
destas descobertas, segue descrição sumária com o intuito de estimular o estudante no envolvimento e
na pesquisa sobre estes tipos de células:

Células‑tronco: pesquisas com células‑tronco (CT) têm suscitado controvérsias científicas,


religiosas e éticas. É bom estimular a reflexão sobre as seguintes relações: CT x alma, alma x embriões
congelados e alma x cultura de tecidos. A célula é a unidade fundamental e básica do ser vivo. Suas
partes fundamentais são: membrana, citoplasma e núcleo. A maioria das células é uninucleada, algumas
são binucleadas e as células musculares (fibras musculares estriadas esqueléticas) são multinucleadas.
As células que apresentam a mesma origem e desempenham as mesmas funções formam os tecidos
fundamentais: epiteliais, conjuntivos, muscular e nervoso. Estes quatro tecidos apresentam vários
subtipos, os quais constituem órgãos dos diferentes sistemas que formam o organismo. Alguns tecidos
apresentam mais material extracelular que outros, caso típico são os tecidos conjuntivos, material
extracelular que pode estar mineralizado (caso dos tecidos ósseos) e não mineralizado, (caso dos demais
tecidos conjuntivos). O núcleo apresenta no seu interior, além do nucléolo (responsável pela produção
dos RNAs ribossômico‑RNAr e transportador‑RNAt), a cromatina (DNA + proteína histona), material
que forma os cromossomos, que por sua vez contém os genes. Estes contêm o material genético do
indivíduo.

O conjunto de genes é o genoma. Há também material genético no citoplasma, mais precisamente


nas mitocôndrias (esse DNA existente na mitocôndria é originário somente de nossas mães). Células
gaméticas ou sexuais apresentam apenas 23 cromossomos, enquanto as células somáticas apresentam
46 cromossomos. O processo de fertilização – fecundação dos gametas – pode ocorrer por meio natural,
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CITOLOGIA

através de uma relação sexual ou mediante um procedimento laboratorial in vitro denominado de


reprodução assistida (não é clonagem). Fertilização são os meios, e fecundação é o ato do encontro das
células gaméticas ou sexuais.

Quando uma célula apresenta potencialidade, ou seja, é capaz de se diferenciar dando origem às
demais células do organismo, como musculares, ósseas, nervosas, entre outras, ela ainda não possui
especialização, ainda não se diferenciou. Todas as células não diferenciadas (células indiferenciadas) são
células‑tronco (CT) e na espécie humana essas células existem até o 5º dia após a fecundação, quando
há no máximo um número de 200 células, aproximadamente. Após trinta horas da fecundação, há 2
blastômeros, denominação dada às células provenientes da primeira divisão da célula ovo ou zigoto.
Depois do estágio de 9 células, os blastômeros mudam de forma e aderem firmemente uns aos outros,
formando uma bola compacta de células, é a fase de compactação, a qual irá possibilitar a formação de
uma massa de células mais internamente denominada de embrioblasto. Com 3 dias após a fecundação,
há um número de 12 até 16 células (blastômeros) que constituem a figura embriológica mórula.
Do quarto ao quinto dia, surgem 32, 64, 128 células. No quinto dia ocorre a chegada desta figura
embrionária no útero. Neste quinto dia, já há 256 células. No sexto dia, a figura embrionária se encontra
bem encostada/aderida na mucosa uterina e, no sétimo dia, a nidação já teve início (penetração do
blastocisto na mucosa uterina). Neste sétimo dia ocorre o surgimento do hipoblasto, que dará origem
ao primeiro folheto embrionário, o endoderma. No nono dia, o blastocisto está totalmente implantado
num local escolhido por ele mesmo. Essas células (200 células aproximadamente) são totipotentes, pois
são capazes de originar os 216 tecidos, inclusive os anexos embrionários: placenta, cordão umbilical,
âmnio e alantoide. A partir do 5º dia, as CT presentes no embrião serão praticamente as mesmas
encontradas no recém‑nascido e durante toda a sua vida (infância, puberdade, adulta e senil). O período
embrionário compreende um espaço de tempo: vai desde a fecundação até o final do 2º mês (oito
semanas aproximadamente), enquanto o período fetal inicia‑se a partir do 3º mês (9º semana) até
o nascimento, por volta da 38ª semana. A partir do 5º dia, as CT do embrião já são denominadas de
pluripotentes, uma vez que não originam a placenta e outros anexos embrionários.

A terapia com CT é a possibilidade do uso das CT, isto é, de empregá‑las como células em tecidos
lesados ou doentes, como nos casos de Alzheimer, Parkinson, doenças neuromusculares em geral,
diabetes, entre outras. O Brasil é pioneiro em terapia com CT de medula óssea. As terapias estão
relacionadas principalmente ao tratamento de cardiopatias: doenças coronárias, isquemias agudas e
infartos agudos e crônicos. Atualmente, as pesquisas avançam no tratamento para a cura da doença de
Chagas.

Células‑tronco embrionárias (CTE) ainda não são usadas em pacientes, apenas as da medula óssea
e as do cordão umbilical. As CTE não são reconhecidas pelo organismo que a recebeu, porque não
expressa compatibilidade e porque também não expressa incompatibilidade (há certas controvérsias dos
cientistas).

Quando células‑tronco tornam‑se maduras, diferenciam‑se, passam a expressar os antígenos de onde


vieram e passam também a ser reconhecidas pelos receptores existentes em outras células constituintes
do organismo como corpo estranho e sofrem rejeição. Portanto, não é solução. A solução é a clonagem
terapêutica ou o uso de CTE como vetor. As CTE apresentam características interessantes: poderão num
17
Unidade I

futuro bem próximo ser usadas na terapia de doenças genéticas, ao contrário do “autotransplante”, uma
vez que todas as células do corpo estão geneticamente afetadas. Assim, a Engenharia Genética traz
esperanças para pacientes com distrofia muscular (consulte o capítulo sobre citoesqueleto).

Na terapia com CT, o que importa é a sua capacidade de se fundir com a célula doente, construir
uma nova célula, reconstruir a função inicial da célula, sem o risco de ser reconhecida como corpo
estranho e sofrer rejeição. As células‑tronco embrionárias (CTE) carecem ainda de muita pesquisa. Por
serem indiferenciadas, são capazes de formar uma grande variedade de tipos de tumores. São tipos
de células‑tronco: CTE (altamente eficientes), CT do cordão umbilical (CTCU), que são moderamente
eficientes, e CT da medula óssea (CTMO), que são eficientes. As CTCU e as CTMO são pluripotentes,
como as existentes na pele e no couro cabeludo, cérebro, retina, músculo e no tecido adiposo. Os órgãos
citados a seguir são passíveis de reposição para CT: cérebro, pulmão, coração, fígado, rins, pâncreas,
ossos, músculos, vasos e, num futuro bem próximo, assim se espera, medula espinhal (medula nervosa).

As CTMO podem regenerar órgãos como o fígado e o coração (trabalhos já provam a regeneração).
As CTCU já são estocadas para tratamento de leucemia. Espera‑se, para um futuro bem próximo, o uso
de CTCU para tratamento de Parkinson e de Alzheimer. A lei brasileira permitiu o uso de CTE estocadas
há mais de três anos. Segundo pesquisadores, essas células já passaram da fase de serem colocadas no
útero. Se colocadas não vão originar a placenta (Lei de Biossegurança – março/2005).

Culturas de células e de tecidos são realizadas em um determinado meio nutritivo (meio de cultura)
apropriado, e assim as células se multiplicam (se reproduzem) e se mantêm vivas, indefinidamente.

Pergunta‑se: que tipo de vida existe nas células presentes nessas culturas de tecido? Resposta: são
células sadias de um indivíduo vivo e dotado/portador de um espírito ou alma. Essas células em meio de
cultura se mantêm vivas e ostentam um fenômeno biológico que dispensa a presença de um espírito/
alma? O indivíduo que doou às células para cultura de tecido pode até já estar morto, mas suas células
continuam vivas.

Clonar, produzir um clone, é fazer reprodução assexuada. É a cópia geneticamente idêntica de um


ser vivo. Quando se remove o núcleo de um óvulo e se introduz, em seu lugar, o núcleo de uma célula
somática, por exemplo, da pele, este núcleo é portador de 46 cromossomos. Primeiramente, para o sucesso
da clonagem, o núcleo precisa regredir e voltar a ser indiferenciado, assim, a célula começa a se dividir,
iniciando o processo de formação de um embrião. Após a implantação no útero, o processo pode dar certo
ou errado, originando um clone ou não. Clones já foram obtidos de animais. Quando da não implantação
no útero, os embriões serão congelados em nitrogênio líquido. O tipo de vida que está se manifestando
no embrião congelado é o mesmo tipo de vida que existe nas culturas de células e de tecidos.

Muitas perguntas serão formuladas sobre o assunto, por exemplo: que tipo de vida há ou está
se desenvolvendo nesse embrião congelado? Há espírito ou alma no embrião congelado? O embrião
clonado e congelado é comparável a uma cultura de tecido? Os embriões congelados podem ou não ser
usados para o desenvolvimento de recursos capazes de curar doenças por meio da terapia celular (que é
a medicina regenerativa). É muito importante o avanço tecnológico, a evolução científica neste campo
científico.
18
CITOLOGIA

A medicina regenerativa não defende a clonagem reprodutiva para formar seres humanos. Os EUA
proíbem a clonagem reprodutiva. O Reino Unido já aprovou o uso de CTE para terapia. O Brasil possui
resultados satisfatórios com o uso de CTMO e do cordão umbilical. Futuramente, serão divulgados os
primeiros ensaios com uso de CTE por países como Inglaterra, Israel e Austrália. A posição dos religiosos
é geral: proibição do uso de CTE e do processo de clonagem reprodutiva. Praticamente, todos sustentam
que a vida se manifesta pelas células e as células estão sob a regência de uma “alma”; portanto, o uso
de CTE é considerado um aborto por esses grupos.

Dentro de um contexto religioso, a origem da alma é explicada pelos estudiosos do livro Gênesis, o
primeiro da Bíblia, da seguinte maneira: a palavra é usada no original hebraico e relacionada à tarefa de
“criar do nada” (bara), referindo‑se à criação do universo, da vida e da alma a partir no “nada”. Segundo
muitos religiosos, a alma é criada por Deus.

Surgem divergências, como: quando e como se dá a criação da alma? A tentativa de resposta é dada
por 3 teorias conhecidas por: Teoria I – Teoria da Preexistência; Teoria II – Teoria do Criacionismo; e
Teoria III – Teoria da dualidade.

A Teoria da Preexistência postula que as almas preexistem no plano espiritual e sua união com o corpo
físico e posterior nascimento caracteriza a “reencarnação”. A Teoria do Criacionismo sustenta que Deus cria
a “alma” no momento da concepção ou do nascimento, ou em um ponto entre estes dois eventos. Uma vez
criada, é mantida no corpo físico. Essa teoria contesta a comprovada Teoria da Evolução (consulte textos sobre
o tema filosofia da ciência). A Teoria da Dualidade propõe que toda a raça humana foi criada em “Adão”. Assim,
Deus criou o Homem com a faculdade de transmitir aos seus descendentes não só o corpo físico, mas também
a “alma”. Após todas essas considerações, permanecem perguntas, tais como: o que é embrião? É possível a
vida nas células embrionárias sem a presença de uma “alma”? Nos embriões congelados, o que acontece
com a “alma”, se ela, realmente, estiver unida ao embrião? Qual a relação entre a vida celular embrionária,
se o embrião não for implantado em um útero, e a vida presente em uma cultura de células (de tecidos)?
Historicamente, será um erro ou um acerto permitir o uso terapêutico das células‑tronco embrionárias?

O processo de evolução por seleção natural foi proposta por Darwin e por Wallace (1823 – 1913), em
1858, tem como elemento essencial o tempo. Assim, uma parcela de uma população, ao sair de um ambiente
inicial, se mantém isolada da população de origem. Com o tempo, no novo ambiente, alguns caracteres
presentes nesse grupo, que permitem uma melhor adaptação ao novo ambiente, serão selecionados e haverá
vantagens para sobreviver e deixar descendentes; logo, vão dominar na população. A seleção natural age no
sentido de eliminar aquilo que não se adapta ao meio. Com o tempo e o isolamento, uma nova espécie irá
surgir no novo ambiente (é um processo dinâmico e pode levar milhões de anos). Isto explica a biodiversidade.
Hoje, o papel da Genética é, em particular da Genética Molecular, explicar o grau de parentesco entre as
espécies. Evolução é um processo que precisa de muito tempo para agir. A Teoria da Evolução é, sem dúvida,
uma teoria elaborada e a sua compreensão exige grande conhecimento de suas bases.

As espécies apresentam caracteres, variedades ou estados, genes que atuam no processo de seleção
natural. A molécula do DNA/ADN existe em todas as células. Nesta molécula do DNA, localizam‑se todas
as informações. Durante a meiose, no processo da permutação (crossing‑over), há recombinação das
informações que serão enviadas pelas células gaméticas (espermatozoide e oócito).
19
Unidade I

Durante a fecundação, ocorre uma soma dessas informações, restabelecendo‑se um novo DNA de
uma nova geração. A molécula de DNA humana, se estendida, daria mais de um metro de informação.
Sua constituição é representada por ácido fosfórico e bases nitrogenadas: adenina, guanina, timina e
citosina, açúcar (pentose) constituído por cinco carbonos, a desoxirribose e por pontes de hidrogênio. É
bom registrar que há outras teorias para a origem da nossa espécie e dos outros seres vivos.

O esquema/desenho a seguir é hipotético de célula eucariótica animal com seus componentes


estruturais. O desenho é hipotético, pois foram introduzidos neste esquema componentes celulares totais;
assim, não existe nenhuma célula que é portadora ao mesmo tempo de microvilosidades e de cílios.
Glicocálix Cílio

Gotículas Gotículas
de proteína de lipídeo

Complexo
de Golgi
R. E. R.
Poro
nuclear
Nucléolo
Núcleo
Mitocôndria
Cristal
Matriz
citoplasmática
R. E. L.

Desmossomo
Polirribossomos
livres

Centríolo

Membrana basal
Lisossomo

Figura 5 – Esquema hipotético de uma célula eucariótica

20
CITOLOGIA

Observe na figura anterior todos os componentes celulares e organelas citoplasmáticas, além de


algumas especializações da membrana plasmática, como desmossomos, microvilosidades (microvilos) e
cílios.

Saiba mais

Consulte o site sobre células‑tronco:

<www.criogenesis.com.br/>.

Para o conhecimento das células eucarióticas, se faz necessário o uso de diferentes métodos de
estudo. Sabe‑se que os primeiros foram feitos com tecidos vivos, sem nenhum preparo. Nessas condições,
a observação dos componentes celulares era muito precária. Surgiu, então, o emprego de corantes que
pudessem tingir as várias partes celulares, de modo diverso e seletivo, oferecendo, assim, um bom
contraste entre elas. De início, empregaram-se corantes naturais, depois, as anilinas artificiais. Durante
este período, os microscópios também sofreram aprimoramentos. Um problema que os citologistas
enfrentavam era o da conservação e preparação do material que seria levado ao microscópio. Os tecidos
vivos, quando destacados/retirados de seus organismos de origem, degeneram rapidamente (sofrem
autólise). Devem, portanto, receber tratamento químico ou físico que garanta a sua conservação,
tratamento este denominado de fixação do material. Sabe‑se que os fixadores alteram a estrutura das
células, portanto, o que observamos no microscópio não é a célula tal como ela existe nos tecidos,
mas os citologistas têm conseguido extraordinários progressos, de modo que os agentes que hoje são
empregados alteram pouco a estrutura original da célula. São tipos de exames microscópicos:

Exame in vivo (exame imediato) a fresco: trata‑se de estudo de células vivas. Pode ser feito com
o emprego de corantes, utilizando‑se o microscópio de fase, ou ainda com emprego de corantes que
não causam a morte das células (coloração vital ou supravital), como o azul de metileno, o vermelho
neutro, o verde Janus e o azul de Trypan. O exame das células vivas é favorecido pelo cultivo de tecidos,
que consiste em manter tecidos vivos em líquidos nutritivos. Para esses estudos, há contribuição dos
micromanipuladores, que são aparelhos que permitem o delicado manuseio de estruturas microscópicas.

Exame post mortem (fixação): trata‑se do estudo de células mortas, fixadas e conservadas pelos
vários processos. A preparação de uma lâmina para estudo microscópico pela técnica de rotina (método
de coloração pela hematoxilina e eosina – H&E) compreende várias etapas que serão descritas a seguir:

Sobre a coleta (colheita) do material:

— Biópsia – muito utilizada pela ciência Patologia. Normalmente retira‑se um fragmento de tecido
ou órgão do organismo vivo por meio de anestesia local.

— Necropsia ou autópsia – é mais utilizada pela Patologia. Aqui, o organismo já se encontra morto.

21
Unidade I

— Vivissecção – mais utilizada pela Histologia e Citologia. Consiste em retirar tecidos ou órgãos de
uma cobaia, rato e/ou outro animal a partir de um ato cirúrgico, seguindo um protocolo aprovado
pela Comissão de Ética da Instituição de Ensino.

A Citologia e a Histologia nem sempre se utilizam de material humano para estudo, aliás, em raras
ocasiões o material é humano. As razões para tais procedimentos são várias: difícil obtenção, nem
sempre é didático para estudos e, às vezes, o órgão é grande demais. Assim, os animais mais utilizados
são: ratos, coelho, gato, cão, porco, cabra, boi, macaco, dependendo do estudo, certas espécies de aves,
sapos, peixes e organismos invertebrados.

Exemplo de aplicação

As pesquisas de iniciação científica nas Instituições de Ensino Superior, que envolvem experimentos
com animais, são dependentes de aprovação do Comitê de Ética. Em substituição ao uso dos ratos,
cobaias, sapos, entre outros animais, experimentos estão sendo realizados com o peixe Zebra fihs –
Danio ratio. Pesquise sobre o assunto.

• Fixação do material

O material, uma vez coletado, é imediatamente lavado em água e introduzido no fixador. A fixação
visa à preparação da morfologia e da constituição química das células e tecidos. Uma vez mergulhado o
órgão no fixador, as células morrem imediatamente, evitando processos autolíticos. Agentes fixadores:
físicos (calor, frio) e químicos (formol, Bouin, Zenker). O calor é muito utilizado para a fixação de
preparações usadas principalmente pela Microbiologia e Hematologia. No processo do congelamento,
o metabolismo fica nulo, mas não fixa o material, pois uma vez passado o processo de congelamento o
órgão pode sofrer os processos autolíticos normais. Esse método é muito utilizado pela Histoquímica. Os
métodos químicos são os mais utilizados pela Citologia, Histologia e Embriologia. Existem muitos tipos
de soluções fixadoras. Os mais utilizados são: formol a 10%, líquido de Bouin, de Helly e de Zenker. É
muito comum o uso do líquido de Bouin.

Preparação do fixador Bouin (para 1 litro de solução):

— solução aquosa saturada de ácido pícrico – 750 ml;

— formaldeído 40% – 200 ml;

— ácido acético glacial P. A. – 50 ml.

Misturam‑se os três componentes em uma proveta de 1 litro.

Todo fixador endurece o material, assim, deixa‑se por volta de uma hora no fixador e em seguida
faz‑se o recorte do órgão, obtendo‑se uma “peça” ideal, da qual, posteriormente, serão tirados os cortes.

22
CITOLOGIA

Esses fragmentos devem continuar no fixador para uma perfeita fixação. O tempo mínimo ideal é de
mais ou menos 48 horas, variando de acordo com o tamanho da “peça”.

Não se deve deixar o material por muito tempo no fixador, mais ou menos por um mês, depois
disso, pode ficar muito endurecido e quebradiço, além de ter estruturas delicadas alteradas. O ideal é
armazenar o material em solução de álcool a 70%.

Propriedades dos fixadores em geral:

— A – fixar o material;

— B – evitar autólise;

— C – conservar o material;

— D – penetrar nos tecidos;

— E – endurecer levemente o órgão e não em demasia;

— F – não interferir nos corantes;

— G – insolubilizar os componentes tissulares e celulares;

— H – não provocar alterações nas estruturas de células e tecidos.

Uma vez fixado o material, dele já podem ser obtidos os cortes, mas talvez apresente o inconveniente
de não ser bastante endurecido para que dele possam ser retirados os cortes. Um dos artifícios utilizados
neste caso é impregná‑lo com parafina, mas não podemos fazê‑lo diretamente, pois ele se encontra
hidratado.

• Desidratação do material

O material é desidratado com álcool, pois é solúvel na água e no xilol. Utiliza‑se uma bateria alcoólica
de concentrações crescentes.

Procedimento:

— álcool 75% – de 12 a 24 horas;

— álcool absoluto I – 1 hora;

— álcool absoluto II – 1 hora;

— álcool absoluto III – 1 hora.


23
Unidade I

Preparo do álcool 75%:

— 750 ml de álcool absoluto;

— 250 ml de água destilada.

• Diafanização do material

Nesta etapa utiliza‑se xilol, que é ao mesmo tempo solvente do álcool absoluto e da parafina. Além
disso, o xilol clareia a peça, tornando‑a translúcida, pois dissolve os lipídeos.

— xilol I – 1 hora;

— xilol II – 1 hora;

— xilol III – 1 hora.

• Impregnação do material

Nesta etapa o xilol será substituído pela parafina fundida a mais ou menos 60º C. Utiliza‑se
parafina histológica com preparação especial. Componentes para a preparação de 1,2 kg de parafina
histológica:

— parafina em barras – 1 kg;

— cera de abelha – 150 g;

— ácido esteárico – 50 g;

— vaselina líquida – 10 ml.

Hoje, a parafina histológica presente no mercado pode ser utilizada de forma direta.

Procedimento: derrete‑se a parafina com a cera e, quando estiver quase fervendo, acrescentam‑se
ácido esteárico e, em seguida, a vaselina. Deixa‑se ferver cerca de uma hora. Filtra‑se na estufa.

Funções dos componentes:

— cera – dar maior elasticidade à parafina;

— ácido esteárico – dar maior “liga” entre a cera e a parafina;

— vaselina – retardar a solidificação facilitando a inclusão.

24
CITOLOGIA

Procedimento para a impregnação:

— parafina I – 1 hora;

— parafina II – 1 hora;

— parafina III – 1 hora.

Procura‑se evitar que a estufa fique muito tempo aberta, isso dificultará a perfeita impregnação.

Para inclusão ou emblocamento, utiliza‑se uma forminha de papel e/ou peças de alumínio

Procedimento: isto ocorre fora da estufa. Enche‑se uma forminha com a parafina líquida. Com uma
pinça aquecida, pega-se a peça e se a introduz no fundo da forminha. Quando a parafina começa a
se solidificar, acrescenta‑se água na cuba que contém a forminha. A inclusão é importante para dar
suporte ao material.

Aparamento do bloco de parafina: depois de sua solidificação, este é aparado com o auxílio de um
bisturi ou espátula aquecida. Costuma‑se grudar um suporte de madeira ao bloco para sua melhor
fixação no micrótomo.

Microtomia

Para a realização dessa etapa, utiliza‑se um aparelho chamado micrótomo, que tira finas fatias de
5 a 10 micrômetros do bloco de parafina. Antes de se iniciar esta etapa, devem‑se limpar com álcool
absoluto com o auxílio de uma gaze as lâminas que irão receber os cortes. As lâminas são colocadas
em um suporte de madeira. Em seguida, são albuminizadas para ajudar a aderência dos cortes. Outro
procedimento utilizado é o banho‑maria.

• Preparação da albumina:

— albumina natural – 1 parte;

— glicerina – 1 parte;

— cristais de timol – 1 cristal para evitar proliferação de fungos.

Durante a microtomia, obtém‑se uma fita de cortes. Estes cortes serão isolados com o auxílio
de um bisturi e de um pequeno pincel, cada corte é colocado na superfície liquida do banho‑maria
histológico que se encontra a uma temperatura de cerca de 45°C. No banho‑maria, o corte se
distende e é possível ser “pescado” pela lâmina. Estas lâminas, já com o corte, irão para a estufa
ou para a platina aquecedora a 60°C por alguns minutos, para derreter a parafina e haver a maior
distensão do corte. Estas lâminas serão guardadas em temperatura ambiente, longe da poeira,
aguardando a coloração.
25
Unidade I

• Preparação do banho‑maria (componentes necessários para a preparação de 2 L de solução):

— água destilada – 2 litros;

— gelatina em pó – 5 g;

— solução saturada de bicromato e potássio – 5 gotas.

Juntar os ingredientes a uma temperatura em torno de 40‑45°C. A função da gelatina é permitir


maior aderência do corte na lâmina.

Coloração das lâminas

Estas serão coradas pela hematoxilina e pela eosina. Trata‑se de uma coloração bicrômica.

Atuação dos corantes: a hematoxilina é um corante básico e cora estruturas ácidas em azul ou roxo.
A hematoxilina é um corante vermelho escuro, e, quando uma estrutura uma vez corada apresenta cor
diferente do corante, diz‑se que essa estrutura exibe o fenômeno chamado metacromasia em relação a
esse corante. As estruturas ácidas que apresentam afinidade por corante básicos diz‑se que são basófilas.

A eosina é um corante ácido de cor vermelha e cora estruturas básicas, como o citoplasma e fibras
colágenas, em róseo. Essas estruturas são ditas acidófilas ou eosinófilas.

• Preparação da hematoxilina de Harris (componentes necessários para um litro de corante):

— hematoxilina – 5g;

— alúmen de potássio ou de amônio – 100g;

— água destilada – 1 litro;

— óxido de mercúrio vermelho – 2,5g;

— álcool absoluto – 50 ml.

Para preparar corantes ou outras soluções, deve‑se sempre usar um recipiente com o dobro do maior
volume encontrado (para 1 litro, usa‑se um recipiente com capacidade para 2 litros). Isto é necessário devido
às eventuais reações bruscas. Na preparação do corante, o recipiente será um balão de vidro de fundo chato
de 2 litros. Dissolvem‑se, em primeiro lugar, no balão, as 100g de alumem de potássio ou de amônio em 1 litro
de água destilada. Para maior rapidez, leva‑se tudo à chama de um bico de Bunsen. Logo a seguir, dissolve‑se,
em béquer de 100 ml, 5g de hematoxilina em 50 ml de álcool absoluto. Para a operação ser mais rápida,
aproveita‑se a temperatura da tela de amianto usada na etapa anterior. Depois de dissolvido o alúmen na
água e a hematoxilina no álcool, despeja‑se a hematoxilina dissolvida no balão com o alúmen, resultando em
alúmen + água + álcool absoluto e hematoxilina. Leva‑se tudo à chama por alguns minutos até começar a
26
CITOLOGIA

ferver. A seguir, despejam‑se as 2,5 gramas de óxido de mercúrio no balão, aos poucos e com muito cuidado,
pois a reação pode ser muito violenta. Deixa‑se na chama por mais alguns minutos, até ferver. Rapidamente,
resfriamos o balão com o corante num balde com gelo, para que a mudança de temperatura seja bem rápida.
Depois que o corante esfriou, filtramos e, então, a hematoxilina de Harris está pronta para uso imediato.

• Preparação da eosina amarela (componentes necessários para 1 litro de corante):

— eosina – 10g;

— álcool absoluto – 100 ml;

— bicromáto de potássio – 5g;

— água destilada – 900 ml;

Inicialmente, dissolvem‑se as 10g de eosina em 100 ml de álcool absoluto. A seguir, as 5g de bicromáto


de potássio em 900 ml de água destilada. Juntam‑se as duas soluções e acrescentam‑se 200 ml de solução
aquosa saturada de ácido pícrico. Filtra‑se, e o corante já se encontra pronto para uso imediato.

Esses corantes são hidrossolúveis. Deve‑se lembrar de que as lâminas estão impregnadas de parafina.
Portanto, antes de se introduzirem as lâminas nos corantes, deve‑se desparafiná‑las e hidratá‑las.
Podem‑se realizar a desparafinação física na estufa e/ou a química, com o uso de bateria de xilol.

• Procedimentos para a desparafinação química das lâminas:

— xilol I – 5 minutos;

— xilol II – 5 minutos;

— xilol III – 5 minutos.

• Procedimentos para a hidratação:

— álcool absoluto I – 5 minutos;

— álcool absoluto II – 5 minutos;

— álcool a 75 % – 5 minutos;

— água corrente com várias trocas – 5 minutos;

— carbonato de lítio – 5 min. (para remoço do ácido pícrico do fixador Bouin);

— água corrente – 5 minutos.


27
Unidade I

• Procedimento para coloração:

— hematoxilina por cerca de 8 minutos;

— água corrente com várias trocas;

— limpeza das lâminas com auxílio de uma gaze;

— diferenciador de hematoxilina – 10 segundos (5 ml de ácido clorídrico em 100 ml de álcool


75%);

— água corrente – 2 minutos com uma troca;

— eosina – de 30 segundos a 3 minutos;

— água corrente – 1 minuto;

— diferenciador de eosina – álcool 75 % – 1 minuto.

A lâmina já se encontra corada e pode até ser observada ao microscópio. A próxima etapa é a
montagem da lâmina.

Montagem da lâmina

Consiste em colar uma lamínula sobre o material para protegê‑lo. A resina utilizada, o bálsamo
do Canadá, não é hidrossolúvel, por essa razão, temos que desidratar as lâminas antes de se efetuar a
montagem.

• Procedimento:

— álcool absoluto I – 1 minuto;

— álcool absoluto II – 1 minuto;

— álcool absoluto III‑ 1 minuto;

— xilol I – 1 minuto;

— xilol II – 1 minut;o

— xilol montagem – a lâmina permanece aqui até a montagem. Depois de montada, deixa‑se ao
ambiente para secagem por 48 horas.

28
CITOLOGIA

Lembrete

O núcleo é ácido, logo, possui afinidade por corante básico (alcalino),


como a hematoxilina. Assim, o núcleo apresenta basofilia celular; já o
citoplasma é alcalino (básico), possui afinidade pelo corante ácido eosina.

• Análise das lâminas – ao se observarem as lâminas, podem‑se constatar alguns artefatos de


técnica, a saber:

— A – dobras;

— B – pregas ou rugas;

— C – rupturas;

— D – deslocamentos com deslocamentos;

— E – sobrecoloração;

— F – bolhas de ar;

— G – emulsões;

— H – dentes de navalha;

— I – precipitados de corantes;

— J – outros.

A lâmina boa para estudos citológicos e histológicos é aquela que apresenta um menor número de
artefatos, o ideal é que não apresente nenhum artefato.

Existem outras técnicas histológicas, principalmente as técnicas tricrômicas, isto é, técnicas que
se utilizam de três corantes diferentes. Eis alguns tipos mais comuns: Tricrômico de Mallory, que
evidencia as fibras colágenas em azul, os núcleos em laranja e o tecido em tom arroxeado; Tricrômico
de Van Gieson, que evidencia fibras colágenas em vermelho, epitélios em amarelo e núcleos em preto;
Tricrômico de Masson, em que fibras colágenas aparecem em tom esverdeado, tecido muscular em
púrpura e núcleos em preto; Tricrômico de Nilceo Marques de Castro, com fibras colágenas em
azul intenso, núcleos em vermelho e tecido muscular arroxeado; Fucsina‑resorcina de Weigert, que
evidencia em púrpura as fibras elásticas; e impregnação argêntica, que evidencia fibras reticulares
em preto e as colágenas em marrom. Conforme o tipo de impregnação (métodos de Golgi, Cajal),
são evidenciadas células do tecido nervoso (neurônios e células gliais). Há também as impregnações

29
Unidade I

metálicas, que consistem em produzir sobre determinadas estruturas um delgado precipitado de metal
reduzido. O metal entra em contato com o tecido sob a forma de soluções salinas, como o nitrato
de prata. A redução ocorre, em parte, da própria ação redutora dos tecidos e, em parte, da ação de
substâncias redutoras utilizadas ou da própria luz. Os metais mais empregados são: a prata, o ouro e o
ósmio. Utilizam‑se as impregnações metálicas para se evidenciarem fibras nervosas, fibras reticulares
e organelas celulares. Já as técnicas histoquímicas são empregadas quando se deseja evidenciar a
presença de compostos químicos em células e tecidos. Existem técnicas para se detectarem lipídios,
proteínas, glucídios, ácidos nucleicos, enzimas etc. Os desenvolvimentos dessas técnicas já requerem um
laboratório bem equipado.

Observação

Nas técnicas citoquímicas, a contraprova é muito importante; assim,


quando há o uso da saliva (contém amilase) sobre a lâmina de fígado com
glicogênio, submetida ao PAS, este será negativo.

Os procedimentos deste aprendizado, na prática, podem ser realizados em laboratórios de anatomia


patológica e/ou em laboratórios de Citologia, Histologia e Patologia de diversas IES.

Algumas imagens das etapas de preparação de lâminas:

Figura 6 – Fígado na etapa da fixação Figura 7 – Fígado já fixado em Bouin

Desidratação
Objetivo
Retirada da água do material

Bateria crescente de álcool

+ / – 2h + / – 2h + / – 2h + / – 2h

Figura 8 – Esquema da etapa desidratação (uso de bateria crescente de álcool)

30
CITOLOGIA

Diafanização
Objetivo
Retirada de impurezas do material
Preparar o material para a impregnação

Baterial de xilol

+ / – 2h + / – 2h + / – 2h

Figura 9 – Esquema da etapa da diafanização/clareamento (uso de bateria de xilol)

Impregnação
Objetivo
Preencher o material com parafina
Preparar o material para microtomia

Baterial de parafina (em estufa – 63ºC)

+ / – 2h + / – 2h + / – 2h

Figura 10 – Esquema da etapa de impregnação do material (em parafina líquida)

Figura 11 – Estufa Figura 12 – Material na estufa (impregnação)

Figura 13 – Peças de alumínio para inclusão do material Figura 14 – Bloco de parafina com cinco órgãos

31
Unidade I

Figura 15 – Micrótomo Figura 16 – Etapa da microtomia

Figura 17 – Banho‑maria Figura 18 – Pesca do material no banho‑maria

Desparafinização Reidratação

5’ 5’ 5’ 5’ 5’ 10’

Xilol I Xilol II Álcool Álcool Álcool Água


absoluto 96% 70% corrente
Coloração Desidratação

2’ 10’ 2’ 1’ 5’ 5’ 5’ 5’ 5’

Hematoxilina Água Eosina Água Álcool Álcool Álcool Xilol I Xilol II


corrente corrente 96% absoluto absoluto II

Figura 19 – Esquema da etapa da coloração: desparafinação química,


reidratação (uso de bateria crescente de álcool), coloração propriamente dita e desidratação

32
CITOLOGIA

Figura 20 – Células hepáticas (hepatócitos) corados pela


técnica do H&E – hematoxilina e eosina (em roxo, núcleo,
nucléolo, grânulos de cromatina; em róseo, citoplasma)

O estudante deve guardar as seguintes informações: como o corante hematoxilina (H) é uma base,
os componentes ácidos da célula terão afinidades por ele, logo, o núcleo, como possui ácidos nucleicos,
terá tal afinidade. Nesta reação do núcleo com a hematoxilina, forma‑se um sal roxo mais água. Como o
núcleo é ácido e gosta de corante alcalino (base), afirma‑se que o núcleo apresenta basofilia celular. Já o
citoplasma (citossol) possui natureza química alcalina (é uma base), logo, possui afinidade pelo corante
eosina, o qual é um ácido, portanto, nesta reação de citoplasma com a eosina, forma‑se um sal róseo
mais água. Assim, o citoplasma apresenta acidofilia e/ou eosinofilia. A água formada pela reação de um
ácido com uma base e de uma base com um ácido será retirada na etapa da coloração (d) – desidratação.

Saiba mais

BEÇAK, W. Técnicas de citologia e histologia. 1 ed. Rio de Janeiro: Livros


Técnicos e Científicos S. A., 1976.

BEÇAK, W. Técnicas de citologia e histologia. São Paulo: Nobel, 1970.

BEHMER, A. O.; TOLOSA, E. M. C.; NETO, A. G. F. Manual de técnicas para


histologia normal e patológica. 1 ed. São Paulo: Edart, 1976.

MAIA, V. Técnica histológica. 2 ed. São Paulo: Atheneu, 1979.

MICHALANY, J. Técnica histológica em anatomia patológica. 1 ed. São


Paulo: E. P. U., 1980.

O microscópio óptico composto (MOC), ou microscópio de luz, é um aparelho que serve para auxiliar
a observação de objetos que não podem ser percebidos com a vista desarmada, dois pontos separados

33
Unidade I

por uma distância menor que 0,2mm parecem‑nos constituir um só ponto. Com o auxílio da lente,
torna‑se possível individualizar pontos muitos próximos (a isto chamamos poder de resolução da
lente/do microscópio). O sistema lâmina‑objeto‑lamínula é colocado sobre a perfuração da platina,
placa metálica, fixa ou móvel, circular ou quadrangular, de acordo com o tipo e marca do aparelho.
Geralmente, as lâminas citológicas/histológicas medem 76x26x1mm, e as lamínulas 10x17x0,1mm.
Ambas devem ser guardadas em álcool e lavadas em água, bicromato de potássio e ácido sulfúrico, na
proporção de 10:1:1 (é a solução sulfocrômica). O canhão é um tubo metálico, em cujas extremidades
estão montados dois sistemas de lentes: o sistema ocular, na extremidade superior, próximo ao olho do
observador; e o sistema objetivo, na outra extremidade; portanto, próximo ao objeto a ser examinado/
observado. O canhão, em geral, mede 16 a 17 cm. O aumento do objeto observado é obtido pelo produto
dos aumentos da ocular e das objetivas, assim, se a ocular for igual a 10x, e a objetiva, 4x, o aumento total
é de 40x (geralmente é o menor aumento dos microscópios de luz, pois os outros aumentos são: 100x,
400x e 1000x). Há microscópios com apenas uma ocular e outros com duas oculares, respectivamente,
monocular e binocular.

O sistema objetivo (a) consta de duas ou mais lentes superpostas. Para um dos sistemas objetivos
do microscópio (objetiva de imersão), em geral identificável por uma circunferência preta, interpõe‑se
entre a lamínula e a objetiva uma gota de óleo de cedro (óleo de imersão com índice de refração
1,575). Tal procedimento visa captar os feixes luminosos desviados quando se usam objetivas secas,
pelas superfícies da lâmina. Lembre‑se sempre de que a nitidez da imagem depende da objetiva, então,
a nitidez será máxima com grandes aumentos, objetivas de 100x de aumento e pequenas oculares.
O revólver localiza‑se na parte inferior do canhão, sua função é de cambiar (revolver) as objetivas
(é bom lembrar que se deve iniciar a observação utilizando‑se a objetiva de menor aumento). Há os
parafusos de focalização, o macrométrico (para a primeira focalização) e o micrométrico, este acha‑se
no centro do macrométrico (para a focalização com nitidez). Estes parafusos, para maior comodidade,
são monoaxiais. A platina é dotada de um sistema Charriot, que, além de prender a lâmina, move‑a nos
sentidos horizontais e verticais, como também de nônios para micrometria. O sistema condensador é
constituído por: condensador, diafragma e filtro. Há um parafuso para mover tal sistema, como peças
independentes de manuseio do diafragma. O condensador é um sistema de lentes, concentra os raios
luminosos para a objetiva. O diafragma tem a função de eliminar raios luminosos e deve ser utilizado
tanto aberto como fechado. Quanto maior for o aumento, maior a necessidade de raios luminosos.
O filtro filtra os raios luminosos. A lâmpada (fonte luminosa) localiza‑se no pé do microscópio. São
marcas de excelentes microscópios de luz (MOC): Zeiss, Nikon, Olympus, Carton, Wildieitz, entre outras.
Portanto, esse aparelho é constituído por peças ópticas (oculares, objetivas e condensador) e por peças
mecânicas (tubo ou canhão, revólver, platina, parafusos do sistema Charriot, do sistema condensador,
parafuso macro e micrométrico, base ou pé, platina ou mesa). Sobre a focalização, são suas etapas:
certificar‑se da voltagem, 110 volts ou 220 volts, antes de ligar a luz, iluminar o aparelho, abaixar a
platina, certificando‑se de que a objetiva inicial de trabalho é de menor aumento (4x), colocar a lâmina
sobre a platina, posicionando o material da lâmina no orifício da platina para que o feixe de luz o
atravesse. Em seguida, usar o parafuso macrométrico, erguendo a platina vagarosamente, até encontrar
a imagem desejada. Após tal encontro, manusear o parafuso micrométrico para ajuste perfeito (nitidez
total). Para mudar de aumento, isto é, para focalizar com aumento de 100x (ocular de 10x e objetiva de
10x), apenas revolva a objetiva de 4x, usando a de 10x, e mova apenas o parafuso micrométrico. Se for
necessário, realize ajuste no Charriot. Faça o mesmo procedimento para o aumento de 400x. Não mova
34
CITOLOGIA

mais o parafuso macrométrico. O microscópio deve ser transportado com as duas mãos, uma no estativo
ou braço e a outra na base ou pé.

Há outros microscópios utilizados em Citologia e Histologia, são exemplos: microscópio eletrônico


de transmissão (MET) e de varredura (MEV), microscópio de contraste de fase e de contraste diferencial
de interferência, microscópio confocal, microscópico de campo escuro, microscópio ultravioleta,
microscópio de fluorescência, microscópio de polarização e microscópico de força atômica. Há também
outras técnicas, são exemplos: a) cultura de células e de tecidos; b) radioautografia; c) fracionamento
celular (centrifugação celular); d) citoquímica e histoquímica; e) imunocitoquímica; f) hibridização.
Essas técnicas serão estudas na ciência Histologia. Nesta ciência, realizaremos comentários sobre:
Citoquímica e Hibridização ou hibridação celular. A citoquímica é utilizada para identificar e localizar
substâncias nas células e/ou entre as células (no material extracelular), em cortes histológicos e/ou
em culturas celulares. Para que uma reação citoquímica e ou histoquímica seja válida, os compostos
a serem analisados não podem ser difusíveis, daí a importância da utilização do fixador correto. São
utilizados fixadores para insolubilização quase total do composto/substância a ser estudada/pesquisada.
Utilizam‑se fixadores com álcool para estudo do glicogênio (que é hidrossolúvel). Evita‑se o uso de
fixadores ácidos nas técnicas para visualização de fosfato de cálcio, que se dissolve em meio ácido. Em
algumas destas técnicas/reações cito e histoquímicas, a intensidade da cor produzida é proporcional à
concentração da substância analisada. Nestes casos, se aplica a Lei de Lambert‑Beer, que permite, com
auxílio do histofotômetro, dosar as substâncias nas células e nos tecidos. As técnicas citoquímicas e
histoquímicas são reações específicas e se fazem com o uso da contraprova para não deixar margens
de dúvidas. Esse método produz como resultante substâncias químicas que são insolúveis, apresentam
certa coloração no MOC e são elétron‑densas (constituídas por elementos químicos de grande número
atômico) para a MET. O elemento químico ferro da quebra da proteína hemoglobina pode ser observado
“em azul‑celeste” no baço pela histoquímica do H&E + Pearls, já o elemento químico cálcio pode ser
visto em áreas de calcificação do disco epifisário dos ossos longos em preto. O DNA ou ADN é revelado no
núcleo das células pela técnica do Feulgen em púrpura (coloração avermelhada). Em cortes do órgão
testículo, o DNA, além de ser visto no núcleo, também pode ser observado no interior das mitocôndrias
existentes na cauda (no flagelo do espermatozoide). As enzimas, como as fosfatases, podem ser vistas
em células renais pelas técnicas de Gomori e Hölt, respectivamente, fosfatase alcalina na coloração
bem escura – preto – e fosfatase ácida, na coloração mais clara – marrom avermelhado. O glicogênio
(tipo de polissacarídeo) pode ser demonstrado pela técnica do ácido periódico com o reativo de
Schiff (PAS) na coloração vermelho-magenta (tipo de roxo avermelhado), nas células hepáticas e
musculares. A técnica do Alcian Blue revela glicoproteínas (secreções mucosas – contêm proteínas,
água e açúcar) na coloração azulada. Lipídios podem ser observados pela imagem positiva através da
técnica de Sudam IV e Sudam Black, na coloração escura, e na forma de imagem negativa (ausência
no material, devido à técnica empregada) pela técnica do H&E. Técnicas citadas anteriormente são
utilizadas em diagnósticos laboratoriais de várias doenças, as quais acumulam no organismo o elemento
químico ferro, glicogênio e tipos diferentes de lipídios. Nas técnicas de imunocitoquímica, ocorre
reação de uma proteína denominada de anticorpo e produzida pelo organismo nas células plasmócitos
(imunoglobulina – IG), com uma determinada molécula que foi introduzida no organismo e reconhecida
pelo anticorpo. Há dois procedimentos técnicos desta técnica: 1. Técnica direta de imunocitoquímica;
e 2. Técnica indireta de imunocitoquímica. A técnica de hibridização ou hibridação visa analisar
moléculas que estão envolvidas em diversos processos celulares, tais como: replicação e transcrição do
35
Unidade I

DNA. Consiste na ligação entre duas moléculas, por exemplo, DNA com DNA e/ou RNA com RNA e até
RNA com DNA (o DNA possui cadeia dupla, porém é utilizada apenas uma única cadeia). O mRNA – RNA
mensageiro possui apenas uma única cadeia. Nesta ligação entre cadeias, uma deve reconhecer a outra
(através das bases nitrogenadas), constituindo novas cadeias duplas.

Sobre a interpretação de cortes em células e nos tecidos

Sobre a interpretação de cortes em células e nos tecidos, durante a observação no MOC, deve‑se
“reconstruir mentalmente” a forma pela qual foi feito o corte, em três dimensões. Assim, imagine um
“pão de forma”. Há neste pão um maior eixo e um menor eixo, os cortes, secções neste pão, foram
realizado no menor eixo, logo, são ditos transversais. Já no pão utilizado para hot dog, a secção foi
realizada no maior eixo, logo, é dito longitudinal. Uma secção longitudinal num ovo cozido, que não
secciona a gema, apenas a clara, é dito longitudinal excêntrico e, se foi realizado bem perifericamente,
também não seccionando a gema, o corte é dito tangencial. As imagens observadas no MOC não são
em três dimensões, apenas em duas, portanto, cabe ao estudante realizar a construção da imagem em
três dimensões. Para não deixar dúvidas ao estudante, cabe realizar esses tipos de cortes em diversos
materiais, tais como: laranja ou limão, ovos cozidos, pecíolo da planta mamona – Ricinus comunis e no
fruto abacate, e reproduzi‑los com lápis preto num caderno de desenho.

O exercício descrito a seguir deverá enriquecer seus conhecimentos sobre processos de interpretação
de cortes: imagine uma célula com três mitocôndrias dispostas no citoplasma de formas diferentes. Uma
delas encontra‑se inclinada, a segunda, numa posição vertical e a terceira, na horizontal. Realizando
um corte, uma secção transversal na célula e consequentemente nestas três mitocôndrias, pergunta‑se:
como serão interpretados os cortes nas mitocôndrias? Resposta: na mitocôndria inclinada, a imagem
será de corte do tipo oblíquo (sempre revela estruturas elípticas – com pontas afiladas), na segunda
mitocôndria (“em pé”), a imagem será de corte transversal e, na terceira (deitada), a imagem será
de corte longitudinal. Portanto, uma secção transversal nunca vai seccionar todos os componentes
celulares transversalmente, pois estes apresentam localização diversa, forma irregular e posicionamento
complexo no citoplasma.

2 CONSTITUIÇÃO QUÍMICA DA CÉLULA EUCARIÓTICA (CÉLULA TÍPICA)

Protoplasma é a denominação dada para a matéria viva, enquanto paraplasma, para a matéria morta.
Na constituição química do protoplasma há componentes inorgânicos (água e sais minerais) e orgânicos
(os principais são: proteínas, hidratos de carbono, lipídios e ácidos nucleicos). Portanto, a matéria que
é formada por elementos químicos na forma pura e, combinada, constitui vários tipos de compostos
classificados em inorgânicos e orgânicos.

Compostos inorgânicos: água é o componente mais comum, constituindo cerca de 70% do


protoplasma. É solvente de soluções verdadeiras e fase dispersante de coloides. A desidratação do
organismo e, consequentemente, das células, é grave. Elevadas quantidades de água ficam retidas entre
as células do tecido conjuntivo, na substância intersticial amorfa. Os sais minerais são os solúveis,
constituem o soluto das soluções verdadeiras; muitas vezes, são mencionados como seus precursores
(ácidos, como o ácido úrico, e bases, como o hidróxido de cálcio).
36
CITOLOGIA

Compostos orgânicos proteínas: são compostos formados por aminoácidos, ora constituindo
células, ora armazenadas na célula como produto do metabolismo e/ou como produto de secreção celular
(saída de material da célula). Quando os constituintes das proteínas, os aminoácidos, formam cadeias de
médio peso molecular, temos os peptídeos e/ou quando de grande peso molecular, as proteínas. São
ditas proteínas simples quando na constituição só há aminoácidos. Quando as proteínas apresentarem
grupos prostéticos, como carboidratos (glicose) aderidos na proteína, são ditas proteínas conjugadas.
Pela união de dois aminoácidos (cada aminoácido é formado por três bases nitrogenadas; por exemplo,
CUG é o aminoácido valina, em que C é a base nitrogenada citosina, U é a uracil/uracila e G é a guanina),
forma‑se um dipeptídeo; pela união de três, um tripeptídeo; e pela união de vários, um polipeptídeo.
A união entre os aminoácidos é feita através de uma ligação química denominada peptídica, entre o
OH do grupo COOH de um aminoácido com o H+ do grupo NH2 do outro aminoácido; portanto, nesta
ligação, ocorre a formação de uma molécula de água.

Proteoglicanas são proteínas conjugadas, exemplo: glicosaminoglicanas (não formam cadeia


ramificada); glicoproteínas (formam cadeia ramificada) Algumas glicosaminoglicanas apresentam
sulfato, isto é, são sulfatadas, como o ácido condroitinosulfúrico. O ácido hialurônico não é sulfatado. São
exemplos de glicoproteínas: tireoglobulina da glândula endócrina tiroide, os hormônios gonadotrofinas:
LH (hormônio luteinizante – responsável pela ovulação); ICSH (hormônio estimulante das células
intersticiais dos testículos – produzem testosterona); FSH (hormônio folículo estimulante, que age no
processo de crescimento e maturação do folículo ovariano); LTH (hormônio luteotrófico ou prolactina
– age nas glândulas mamárias/mamas). As glicosaminoglicanas são muito hidrófilas (gostam da água),
realizam a retenção da água, como já dito, na substância intersticial amorfa do tecido conjuntivo.

Sobre os aminoácidos: são elementos considerados nutrientes que formam/constituem as proteínas. Na


natureza, há vinte aminoácidos, nove são obtidos através do processo da alimentação, pois não são produzidos,
isto é, não são sintetizados pelo organismo; daí, a denominação para estes de aminoácidos essenciais. Estudos
revelam que há mais de quinhentos aminoácidos descobertos, porém apenas vinte formam o universo das
proteínas (há um número superior a 80.000 proteínas). Aminoácidos são assim definidos quimicamente:
são nutrientes provenientes da introdução de um radical amina (NH2) em substituição a um hidrogênio na
molécula de um ácido carboxílico. Quando o organismo, através de reações de transaminações, não consegue
sintetizar um tipo de aminoácido, este é denominado de essencial. No processo da ingestão de alimentos
de origem vegetal e animal, obtêm‑se as proteínas, as quais serão degradas pela via enzimática no tubo
digestivo, produzindo os aminoácidos. Estes serão absorvidos pelas células e utilizados para a produção de
“novas proteínas” pelos ribossomos. Os aminoácidos essenciais são: valina, leucina, isoleucina, triptofano,
fenilalanina, histidina, metionina e treonina. Os demais aminoácidos são: serina, glicina, asparagina, tirosina,
cisteína, prolina, ácido glutâmico, ácido aspártico, glutamina, arginina e alanina. No ser humano, há mais de
cem diferentes tipos de proteínas, como a proteína colágeno, a qual é a mais abundante, e o seu principal
aminoácido é a prolina. É importante ao estudante de Ciências Biológicas obter conhecimentos sobre o
“papel” de cada aminoácido. Os aminoácidos valina, leucina e isoleucina são denominados de aminoácidos de
cadeia ramificada (BCAA’s), são suas funções: aumentam a produção das proteínas que atuam como fonte de
energia durante diversas atividades, como exercícios, portanto, aumentam a resistência e reduzem a fadiga.
Quando ocorrer deficiência de aminoácidos no organismo, surgirão distúrbios, deficiências (problemas no
crescimento, na renovação do colágeno, entre muitos outros), pois proteínas não serão produzidas. Conclui‑se
que alimentação balanceada e diversificada é a base sólida para a saúde física e mental.
37
Unidade I

Hidratos de carbono ou carboidratos ou glicídio: sua formulação mínima é assim representada:


CH2O. São exemplos: as pentoses (tipos de açúcares) C5H10O5 e as hexoses (outros tipos de açúcares)
C6H12O6.

As pentoses importantes são as encontradas nos ácidos nucleicos, ribose no DNA e desoxirribose
no DNA. Glicose, frutose, galactose são monossacarídeos; maltose e sacarose são dissacarídeos;
celulose, amido, glicogênio são polissacarídeos. Doces (açúcares) são apenas os mono e dissacarídeos,
polissacarídeos não são doces, são insolúveis (celulose) ou formam coloides (amido). É importante
ressaltar que os carboidratos são utilizados tanto como combustíveis como também para estruturações/
construções de estruturas celulares.

Lipídios/gorduras: estas substâncias resultam da reação entre um álcool (glicerol, álcool etílico,
entre outros,) e um ácido carboxílico (palmítico, esteárico, oleico). Nesta reação, além do lipídio, também
se forma água. Lipídios isolados apresentam‑se na forma de óleos (líquidos na temperatura ambiental)
ou ceras (sólido). Os triglicerídeos são lipídios formados pela ligação estérica de três ácidos graxos
(iguais ou diferentes) com uma molécula única de glicerol (álcool). São triglicerídeos: gorduras e óleos.
A concentração no sangue humano deve oscilar entre 40 e 150 mg/dl. As estruturas lipídicas celulares
são hidrofóbicas (possuem aversão à água).

Ácidos nucleicos: são encontrados no núcleo e no citoplasma. Esses ácidos formam cadeias de
nucleotídeos. São os principais exemplos: ácido desoxirribonucleico (DNA) e ácido ribonucleico (RNA). No
DNA ocorre tanto o armazenamento da “carga hereditária/material genético”, como também é o responsável
por transmitir essa “carga genética” para as células filhas. Cada nucleotídeo contém: um açúcar (pentose),
bases nitrogenadas púricas = adenina (A), guanina (G)) e pirimídicas = timina (T), citosina (C) e uracila (U),
além do fosfato. Portanto, o DNA possui: A + T + G + C + PO4 + desoxirribose, enquanto o RNA possui: A +
U + G + C + PO4 + ribose. O DNA comanda todo o funcionamento celular, transmite a informação genética
via cromossomos (herança) para as outras células. Localiza‑se no núcleo celular, na mitocôndria em células
animais e em cloroplastos nas células vegetais e em certos vírus (adenovírus). Possui forma de dupla hélice,
realiza replicação/duplicação no estágio S da interfase, é do tipo semiconservativa e dependente de enzimas
como a helicase e a DNA polimerase. Já o RNA possui cadeia simples, com funções bem conhecidas: há o
RNAr, que é o constituinte dos ribossomos livres ou aderidos no retículo endoplasmático; o RNAm ou mRNA,
que surge da transcrição do DNA pela ação da enzima RNA polimerase II (RNA mensageiro – é o códon); e o
RNAt (anticódon, RNA transportado, transporta aminoácidos do citoplasma para o ribossomo (RNAr).

Vitaminas: são substâncias orgânicas especiais que funcionam como coenzimas, ativando uma
grande quantidade de enzimas para o bom funcionamento do organismo, portanto, agem no metabolismo
geral, mantendo a homeostasia. As vitaminas são produzidas em algumas células vegetais e também em
alguns protozoários. Células animais não produzem vitaminas e estas nunca se constituem em fonte
de energia como também não desempenham funções estruturais. Avitaminose é o termo empregado
para indicar a deficiência de vitaminas no organismo, por exemplo, avitaminose “C” (causa distúrbio na
síntese da proteína colágeno, pelas células fibroblastos). A expressão provitamina é atribuída à substância
precursora de uma determinada vitamina; assim, o caroteno encontrado na cenoura é a provitamina
que irá se transformar em vitamina A (ácido retinoico). O esgosterol (provitamina D2), sob a ação dos
raios ultravioletas na pele, transforma‑se em calciferol, que já é a vitamina D (quando de procedência
38
CITOLOGIA

animal é denominada de 7‑deidrocolesterol). As vitaminas são classificadas em hidrossolúveis (tiamina/


B1, riboflavina/B2, piridoxina/B6, nicotinamida ou niacina/PP, cobalamina/B12, biotina/H, rutina/P, e ácido
ascórbico/C) e em lipossolúveis (retinol ou ácido ascórbico/A, calciferol/D, tocoferol/E e fitoquinona/K).
A seguir, alguns dados sobre tipos de vitaminas, seus benefícios e riscos:

• Vitamina A: dose média diária para as mulheres é de 4.000 u.i (unidades internacionais) e, para
os homens, 5.000 u.i É encontrada no fígado, no rim, na gema de ovo e no espinafre. Este tipo
de vitamina é de fácil absorção, uma cenoura crua oferece 11.000 u.i Benefícios: A vitamina
A conserva a acuidade visual e fortalece as defesas naturais do organismo contra infecções,
porém, doses maciças (50.000 a 100.000 u.i), durante longo período, passa a ser tóxica, causando
náuseas e problemas articulares. Em relação ao betacaroteno, é comum em frutas, como pêssego,
e em hortaliças, como os brócolis. Quando transformado em vitamina A, melhora a visão e o
funcionamento do sistema imunológico. Ele também está associado à redução de riscos em certos
tipos de câncer. O betacaroteno é transformado pelo organismo quando for necessário.

• Vitamina B6: a dose diária para mulheres é de 1,6 mg (miligramas) e, para os homens, de 2
microgramas. A banana, abacate, grão‑de‑bico e batata estão todos na lista dos que contêm
vitamina B6. Pequenas quantidades estão presentes no espinafre, ervilha, noz e no germe de trigo.
A vitamina B6 ajuda o sistema imunológico e pode reduzir a dor em certos males, como síndrome
pós‑menstrual e síndrome do túnel carpal.

• Vitamina B12: a dose diária para mulheres e para homens é de 2 microgramas. Alimentos de origem
animal ou alimentos fermentados são as fontes naturais de vitamina B12. Carne bovina, fígado e
marisco enlatado contêm muita B12, a qual ajuda a manter e substituir as células do organismo,
inclusive as responsáveis pela imunidade a infecções e pela coagulação sanguínea.

• Vitamina C: a dose diária para homens e mulheres é de 60 mg. Frutas cítricas e couve‑de‑bruxelas
são vegetais ricos neste composto orgânico. A vitamina C pode reduzir certos danos celulares,
como em alguns tipos de câncer e, ainda, retardam o processo do envelhecimento. Existem
indícios de maior resistência aos resfriados.

• Vitamina D: a dose diária para mulheres e homens é de 200 u.i. Uma xícara de leite com vitamina
D oferece 100 u.i. Uma das fontes são as sardinhas em lata, que contêm 1.100 u.i em 98 mg.
A vitamina D também é considerada um agente anticancerígeno, além de estar diretamente
associada ao metabolismo dos ossos e do sistema imunológico.

• Vitamina E: a dose diária para mulheres é de 12 u.i., enquanto para os homens é de 15 u.i. As
melhores fontes naturais são: o germe de trigo e o óleo de girassol. Ela se encontra em menor
quantidade na pera e na ameixa seca. Grandes doses de vitaminas E, que é antioxidante, pode
proteger contra doenças cardíacas e certos tipos de câncer. Estudos mostram que ela também
pode ajudar a tratar a artrite e alguns males da pele.

• Ácido fólico: a dose diária recomendada para as mulheres é de 180 microgramas, já para os
homens é de 200 microgramas. Fígado e hortaliças de folhas verde‑escuro estão entre as melhores
39
Unidade I

fontes de ácido fólico, como também a levedura de cerveja. O ácido fólico regula a divisão das
células e pode ser capaz de reverter alguns tipos de lesões nos tecidos, relacionadas ao câncer. É
de suma importância para a formação e desenvolvimento do sistema nervoso.

• Niacina: a dose diária para mulheres é de15 mg e, para os homens é de 19 mg. A carne de galinha,
de salmão e a bovina são boas fontes de niacina. Em relação à niacina de origem vegetal, pode
ser encontrada na ervilha e na manteiga de amendoim. O organismo humano consegue segregar
niacina a partir da proteína contida nos ovos e no leite.

• Vitamina K: a dose diária para mulheres e homens é de 65 microgramas. Encontrada em hortaliças


como brócolis, folhas de nabo e repolho, queijo, gema de ovo, pêssego e batata. A vitamina K
ajuda a regular o processo da coagulação normal do sangue.

Exemplo de aplicação

No século passado, com o desenvolvimento da biotecnologia, foi possível isolar e detectar o DNA de
diversos organismos, tanto animais como vegetais.

Reflita sobre tal recurso como contribuição para diversas áreas científicas e pesquise ainda como tal
técnica é realizada.

3 MEMBRANA PLASMÁTICA

3.1 Estrutura e constituição química

A célula eucariótica possui externamente um envoltório denominado de membrana plasmática. Sua


estrutura é representada por uma bicamada de fosfolipídios contendo proteínas. Seu tamanho é de 0,008
até 0,01 de um micrômetro (1µm é a milésima parte do milímetro); portanto, a membrana plasmática
só é perceptível no MET. Mantém contato íntimo com o citoplasma, como também com alguns de seus
componentes (o citoesqueleto). Para essa membrana, outras denominações já foram atribuídas, como
membrana citoplasmática, celular, plasmalema e plásmica. A estrutura desta membrana é responsável
pela sua capacidade de permeabilidade seletiva, afirmação que também é válida para muitas organelas
citoplasmáticas de membrana. O citoplasma possui uma matriz citoplasmática também denominada
de citossol. É formado por substância coloidal, a qual é aquosa, contendo moléculas químicas simples
e complexas, além das organelas citoplasmáticas, do citoesqueleto, de inclusões e pigmentos. No
citoplasma, ocorre uma série de reações químicas vitais para o funcionamento celular. Também no
citoplasma se faz presente o núcleo, o qual é o coordenador das atividades celulares. Portanto, a
membrana plasmática envolve, protege, faz comunicações e realiza uma série de atividades, mantendo
a integridade celular.

A membrana plasmática é a estrutura que separa o meio extracelular do intracelular. Sua


constituição química facilita e regula o transporte de substâncias para dentro e para fora da célula,
através dos seus constituintes químicos. A estabilidade desta estrutura membranosa, como também das

40
CITOLOGIA

demais membranas que formam as organelas citoplasmáticas portadoras de membrana, como o retículo
endoplasmático, é devida aos seus constituintes fosfolipídicos. Assim, as proteínas, como também
carboidratos presentes nesta membrana, desempenham funções como receptores de sinais químicos;
transportam íons e moléculas para os meios intra e extracelular; formam complexos de aderências entre
células; de aderências com moléculas extracelulares; e ainda comunicação com células adjacentes e
com o meio extracelular através das proteínas integrinas. Há proteínas que atravessam toda a espessura
da membrana, comunicando moléculas extracelulares com moléculas intracelulares, são as proteínas
transmembranas. A estrutura de bicamada de fosfolipídios (são moléculas anfipáticas) possui a cabeça
polar hidrofílica, a qual possui afinidade por água e repele lipídios, e a sua porção alongada, que é
hidrofóbica, de hidrocarbonetos, repele água e possui afinidade por lipídios (Figura 6).
Glicoproteína

Glicolipídio Glicocálix

Fosfolipídios
Proteína
intrínseca

Proteína
extrínseca

Citoplasma

Filamentos do
citoesqueleto

Figura 21 – Representação da estrutura da membrana plasmática. Reconhecer a


bicamada de fosfolipídios, proteínas intrínsecas e extrínsecas, glicolipídios e
glicocálix. Presença de filamentos finos de actina, representando o citoesqueleto

O modelo de mosaico fluido corresponde à disposição das proteínas nesta bicamada lipídica. Essas
proteínas são dinâmicas, porém muitas delas estão presas a outras moléculas do citoesqueleto celular,
o qual é formado também por proteínas. Quando há uma comparação entre a membrana plasmática e
a membrana das organelas de membrana, como as que formam o Golgi, entre outras, nestas, há uma
quantidade maior de enzimas (proteínas simples).

Na superfície externa da membrana plasmática há hidratos de carbono (HC) ligados a lipídios e a


proteínas, os quais constituem o glicocálice. Essa estrutura é, na realidade, uma extensão da membrana e
tem na sua constituição porções de açúcar das moléculas de glicolipídeos, glicoproteínas e proteoglicanas.
Certos glicolipídeos apresentam moléculas glicídicas complexas. A glicoproteína em maior quantidade
é a fibronectina, molécula em forma de V (vinculina) que se combina com moléculas dos meios intra
e extracelular e com a superfície de outras células. A vinculina está sobre a membrana plasmática.
Denomina‑se de fibronexus o conjunto destas interações moleculares intra/extramembrana.

41
Unidade I

Todos os processos no interior das células envolvem moléculas hidrossolúveis; logo, a membrana deve
impedir a água e outras moléculas de fluírem descontroladamente para dentro ou para fora das células.
Assim, a membrana mantém a integridade das células, função diretamente ligada a sua composição de
fosfolipídeos (camada bimolecular = bicamada). Esses fosfolipídios são denominados de fosfatidilcolina,
esfingomielina, fosfotidilinositol, fosfatidilserina e fosfatidoletanolamina. Todos são neutros, exceto a
fosfatidilserina, que tem carga negativa.

São alguns dados relacionados com a membrana plasmática para a compreensão a seguir: bomba,
do latim bombus, ruído. Bomba de sódio é um mecanismo regulador dos íons sódio e potássio no
interior da célula (no meio intracelular). Difusão, do latim, derramamento. Diálise é uma difusão
simples. Diálise é dissolução, desmembramento. A diálise é dependente do tamanho das partículas (só
ocorre quando as partículas medirem menos de 0,001 de diâmetro do micrômetro). Na diálise passa o
soluto (fase dispersa), enquanto na osmose passa o solvente (fase dispersante). O transporte ativo é
um transporte termossensível. A energia usada é da degradação da glicose, pois a inibição da glicólise
bloqueia o transporte. Tipos de canais iônicos: dependente de ligante e dependente de voltagem.
Ionóforos são substâncias que aumentam a permeabilidade da membrana para determinados íons.

Venenos de abelhas, de cobras, de aranhas e diversas substâncias tóxicas, como solventes orgânicos,
mudam a viscosidade da membrana ou ainda eliminam ou modificam os fosfolipídios existentes
nela. As lipolipases rompem os ácidos graxos dos fosfolipídeos causando a quebra da membrana e,
consequentemente, a morte celular (necrose). Se fosse possível manusear a membrana plasmática com
os dedos, imagine, esta lembraria uma bexiga de aniversário murcha, pois possui grande elasticidade.

Portanto, pode‑se afirmar que são funções da membrana:

• barreira seletiva;

• transporte seletivo sem e com gasto de energia;

• regulação iônica do citoplasma;

• construção de junções intercelulares (oclusivas, de adesão, e comunicantes);

• processo de sinalização celular.

Pela membrana, há transportes, isto é, ocorrem passagens entre os meios intra e extracelular.
Esses transportes são assim classificados: passivo, quando há difusão de uma substância sem gasto de
energia; e ativo, quando há gasto energético. O transporte em massa (endocitose) pode ser de material
sólido (fagocitose) e de material líquido (pinicitose). O transporte passivo é a passagem de pequenas
moléculas e de íons, feitas a favor de um gradiente e sem gasto de energia, isto é, a passagem destas
moléculas e destes íons do lado de maior concentração para o lado de menor concentração, tendendo
a produzir um equilíbrio por um processo físico sem gasto energético. Já o transporte ativo é realizado
com ajuda das proteínas existentes na membrana, denominadas de proteínas transportadoras. Nesse
transporte de entrada ou de saída de material da célula, há gasto de energia proveniente da hidrólise de
42
CITOLOGIA

ATP (adenosina trifosfato ou trifosfato de adenosina). Aqui, o material/substância pode ser transportado
de um lado de menor concentração para o lado de maior concentração, isto é, contra o gradiente. Há
ainda outra maneira de transporte pela membrana, denominado de transporte facilitado. Esse tipo
também se encontra na dependência de proteínas existentes na membrana plasmática, porém sem
gasto de energia. É uma difusão que se processa a favor do gradiente, porém com velocidade maior
quando comparado com o transporte passivo por difusão simples.

A endocitose é um processo em que as células transferem para o seu interior moléculas grandes
e partículas (microrganismos), por meio da fagocitose e até da pinocitose, constituindo atividades
endocíticas, sendo que as atividades de transferir material do meio intra para o extracelular denomina‑se
atividade exocítica – exocitose. Há mais atividades de fagocitose do que de pinocitose.

Conclui‑se que as passagens/transportes anteriormente descritas são dependentes, por exemplo, de


“proteínas de transporte”, como a aquaporina, que permite a passagem da água. “Proteínas carreadoras”
fixam a molécula a ser transportada, modificando‑a para facilitar o transporte. A presença de uma
determinada proteína carreadora na membrana facilita a sua velocidade de passagem. Se comparado
com o processo da difusão, este é muito lento; logo, transporte por membranas carreadoras é diferente
de transporte por difusão.

As células se comunicam entre si por sinais químicos (moléculas sinalizadoras), visando a várias
atividades metabólicas. Há diversos tipos de sinalização. Na sinalização endócrina, as moléculas são
os hormônios, que são transportados pelo sangue e podem agir bem distantes dos locais onde foram
produzidos. Já na sinalização parácrina, as moléculas são produzidas, agem bem próximo ao local de
origem e são prontamente inativadas. Cabe registrar que estas duas formas de sinalizações dependem
de moléculas sinalizadoras e também dos receptores dessas moléculas, os quais se encontram tanto na
membrana plasmática como também nas organelas citoplasmáticas; portanto, o processo é altamente
seletivo. Outra maneira de sinalização é a do sistema nervoso, denominada de sinalização elétrica;
aqui, são gerados impulsos nervosos com alteração no potencial elétrico da membrana plasmática, pela
entrada de íons sódio e saída de íons potássio. Esse processo é muito rápido quando comparado com
processos de sinalizações químicas realizadas pelos hormônios, os quais são lentos.

Lembrete

Ao passar pela bicamada de fosfolipídios, os anestésicos mudam a


configuração da porção apolar da membrana plasmática, promovendo o
fechamento temporário do canal iônico; logo, o indivíduo fica anestesiado.

3.2 Transportes (passagens) pela membrana plasmática

O principal solvente encontrado na Natureza é a água, considerada como solvente universal, pois
é dispersante, dispersora, desfaz, dissolve os solutos. Portanto, a solução é constituída de um solvente
mais um soluto. Substâncias que são dissolvidas em água são denominadas hidrossolúveis, e as que
são dissolvidas em lipídios são lipossolúveis. Há concentrações ditas hipertônicas e hipotônicas,
43
Unidade I

respectivamente, com maior e menor concentração de soluto. Soluções isotônicas são as que apresentam
a mesma concentração de solutos. Em 2003, médicos americanos (MacKinnon e Agre) ganharam o
premio Nobel de Química, pois descobriram os canais existentes na membrana plasmática que controlam
o fluxo de água e de íons cálcio. Afirmam os pesquisadores que há, na membrana, canais específicos
para entrada e saída de água e de íons: cálcio, potássio, sódio, cloro, entre outros. Esses canais são
específicos, só reconhecem estes tipos de íons. A seguir, descreveremos o estudo dos diferentes tipos de
transportes pela membrana:

• Transporte passivo: não requer consumo de energia e depende do gradiente de concentração


(diferença de concentração entre os meios intra e extracelular). Há transporte passivo por difusão
simples, por difusão facilitada e osmose.

— Difusão simples: a difusão de soluto através da membrana plasmática ocorre obedecendo


a um gradiente de concentração, quando se tem um lado da membrana mais concentrado
(hipertônico) do que o outro (hipotônico). O lado mais concentrado perde soluto para o menos
concentrado, até que ocorra uma igualdade entre eles (isotônicos). Por difusão, temos a
passagem de substâncias hidrossolúveis, lipossolúveis e voláteis. Como exemplo, podemos citar
O2, CO2, N2, benzeno, H2O e anestésicos.

— Difusão facilitada: ocorre pelo mesmo mecanismo da difusão simples, isto é, obedecendo a um
gradiente de concentração. Nesse caso de transporte, temos a participação de uma proteína de
membrana que atua como proteína transportadora ou carreadora, denominada de permease.
Como exemplo de sustâncias que são transportadas por difusão facilitada, podem‑se citar a
glicose e os aminoácidos.

— Osmose: a osmose é um tipo de transporte passivo em que o gradiente de concentração não


interfere. Nesse mecanismo de transporte, a membrana é permeável ao solvente e impermeável
ao soluto. A passagem de solvente se dá do meio menos concentrado (hipotônico) para o meio
mais concentrado (hipertônico), até que as concentrações dos meios fiquem iguais (isotônico).
Observe as figuras: 22, 23, 24, 25, 26, 27, 28 e 29.

Tonoplasto
Parede celular

Plasmafema

Núcleo
Suco
vacuolar

Vacúolo
Núcleo Citoplasma

Célula túrgida
Estrutura da célula vegetal

Figura 22 Figura 23

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CITOLOGIA

Núcleo Vacúolo

Célula murcha

Figura 24

Osmômetro Tubo de PT=PO P.T.


de Pfeffer vidro
Funcionamento
Equilíbrio do osmômetro

Vaso
de barro Solução
Solução
P.O.

Membrana semipermeável
de Cu2[Fe(CN)6] H2O
Solvente

Figura 25

As figuras 22, 23, e 24 ilustram a célula vegetal. Na figura 23, a célula (o vacúolo) teve aumento de
volume, igualando a pressão osmótica com a da parede de celulose; já na figura 24, o vacúolo perdeu
água. Conclui‑se que, na figura 23, a célula foi colocada numa solução hipotônica e, na figura 24, numa
solução hipertônica. A figura 25 ilustra o processo da osmose (entrada e/ou saída de água (solvente)
pela membrana semipermeável.
Núcleo

PT DPD

PO

Figura 26 – Na osmose, a água sempre passa da solução hipotônica para hipertônica

45
Unidade I

A membrana reage
contra a distensão
(M)
A água penetra na
célula por causa da
pressão osmótica do
suco vacuolar (PO) A água que penetrou Núcleo
na célula pressiona a
H2O membrana celulósica Vacúolo
(PT)
Citoplasma

Núcleo

Figura 27 Figura 28

As figuras 27, 28 e 29 resumem o processo da osmose (tipo de transporte passivo sem consumo –
gasto de ATP). Na figura 27, veem‑se explicações gerais (vide texto). Nesta figura, o núcleo encontra‑se
em vermelho e o vacúolo em azul. Já na figura 28, o núcleo encontra‑se em azul e o vacúolo em
vermelho, representando a célula em meio hipertônico.

A B C D

Figura 29

Exemplo de aplicação

Na figura anterior (29), identifique as indicações A, B, C e D.

Resposta: A é igual a D (célula colocada em meio hipotônico), B e C são células que foram colocadas
em soluções de concentrações distintas: a solução em (B) é menos concentrada que em (C), e/ou a
solução (C) é mais concentrada que a solução (B), onde foi colocada tal célula.

• Transporte ativo: requer consumo de energia que vem da quebra da molécula de ATP (adenosina
trifosfato ou trifosfato de adenosina), formando ADP (adenosina difosfato + fósforo). Ocorre
contra o gradiente de concentração; aqui, o transporte do soluto é do meio menos concentrado
para o meio mais concentrado.

A bomba de sódio (Na+) e potássio (K+) ocorre por transporte ativo. Na maioria das células, a
concentração de sódio (Na+) no meio extracelular é maior que no meio intracelular e a concentração de
46
CITOLOGIA

potássio (K+) no meio intracelular é maior que no meio extracelular. No mecanismo da bomba de (Na+)
e (K+), o transporte iônico ocorre através do canal iônico presente na proteína transmembrana e se dá
contra o gradiente de concentração, o sódio (Na+) sai da célula e o potássio (K+) entra na célula.

Solutos

ATP

ADP
Membrana

Passivo Ativo

Transporte

Figura 30

Água ∆t
Solução
hipotônica Solução
Açúcar hipertônica

Membrana semipermeável

Figura 31

As figuras 30 e 31 indicam transportes sem gasto de ATP (passivo), pois ocorre a favor do gradiente
de concentração; e com gasto de ATP (ativo), que ocorre contra o gradiente de concentração. No passivo,
o soluto passa da solução hipertônica para a hipotônica e, no ativo, o soluto passa da solução hipotônica
para a hipertônica. Na figura 31, o desenho da direita indica um maior volume de água em uma das
colunas. O que deve ter ocorrido?

47
Unidade I

Solução isotônica Solução hipertônica Solução hipotônica

Hemácia normal Hemácia crenada Hemólise (ruptura)

Figura 32 – Solução isotônica é a solução cuja concentração se iguala á


concentração da célula, no caso de um glóbulo vermelho (hemácia)

Nesta solução, não entra e nem sai água da célula. Já na solução hipertônica, a hemácia perdeu água
para a solução (a água saiu da hemácia e foi para a solução, portanto, ocorreu osmose). Finalmente, na
solução hipotônica, entrou água na hemácia até um ponto onde há a quebra da hemácia. Tal técnica é
utilizada para estudo da membrana plasmática.

Endocitose: fagocitose, pinocitose e endocitose mediada por receptores

Endocitose é o nome dado para entradas de material na célula. Há três tipos de endocitose:
fagocitose, pinocitose e endocitose mediada por receptores. O processo de fagocitose ocorre quando
uma célula realiza o englobamento de partículas grandes ou elementos estranhos para a célula vindo
do meio extracelular (material sólido). O reconhecimento do que vai ser fagocitado é feito através
dos receptores de membrana presentes na célula fagocitária (células: macrófagos, certos tipos de
leucócitos e osteoclastos). Durante esse processo, ocorre a formação de projeções intracitoplasmáticas
da membrana, formando os pseudópodos, que passam a envolver o material a ser fagocitado. Neste
processo, participam os filamentos de actina do citoesqueleto celular, presentes no citoplasma e que são
os responsáveis pela invaginação da membrana na forma de “saco/vesícula”, caracterizando a fagocitose,
pois, quando a invaginação possuir forma de “tubo vesicular”, ocorrerá a pinocitose (ingestão de material
líquido). O processo da fagocitose é mais comum, pinocitose ocorre em poucas células. A partir do
englobamento, ocorre a formação de uma bolsa de membrana, contendo no seu interior o material
fagocitado, o qual não entra em contato com o citoplasma. Com a fusão dos lisossomos primários, surge
o vacúolo digestivo ou fagossomo. Os lisossomos lançam suas enzimas no interior do vacúolo digestivo
e passam a ser chamados de lisossomos secundários.

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CITOLOGIA

Alimento Pseudópode

Fagossomo

Figura 33 – Processo de endocitose por fagocitose (englobamento de material sólido)

Na figura anterior, observe o processo de invaginação da membrana, o qual é causado por elementos
do citoesqueleto (actina). Após o processo da fagocitose, entrarão em atividade os lisossomos.

No processo de pinocitose, o material a ser englobado pela célula corresponde a gotículas de líquidos
que, graças a projeções citoplasmáticas delgadas, são englobadas para formar bolsas ou vesículas
(pinossomo) contendo esse material no seu interior. Em algumas células, como no macrófago e nas células
endoteliais, dependendo do tamanho da projeção citoplasmática e da gota a ser absorvida (transportada),
ocorrem os eventos de micropinocitose e macropinocitose. Portanto, fagocitose e pinocitose constituem
processos de endocitose (Figura 33). A saída do material pela membrana (exocitose) pode ocorrer por
secreção (quando o material foi elaborado pela célula) e por clasmocitose (resíduos de processos de
endocitoses). Assim, à medida que a atuação dos lisossomos vai ocorrendo no interior da bolsa formada,
o material interiorizado vai sendo quebrado em partículas menores para ser utilizado no citoplasma ou,
então, para formar o corpo residual e ser eliminado da célula por clasmocitose.

No processo da endocitose mediada por receptores, o caso clássico é o processo de absorção do


colesterol, tipo de lipídio importantíssimo para a fabricação de membranas celulares e de muitos
esteroides, como cortisol, cortisona, entre outros. Na corrente sanguínea, há lipoproteínas (partículas de
colesterol) de baixa densidade (LDL – lipídio + proteína). O LDL funciona como um “ligante”, isto é, se
fixa num receptor existente na membrana plasmática e, após este acoplamento, penetra para o interior
da célula por endocitose. Se ocorrer problemas neste mecanismo de recepção com as lipoproteínas,
haverá aumento de lipídios na corrente sanguínea, principalmente se o hábito alimentar for incorreto,
proporcionando, num futuro próximo, o acúmulo de colesterol no sangue, ou seja, placas de aterosclerose
em vasos importantíssimos, que promovem a diminuição do fluxo sanguíneo e, em consequência final,
morte de células, como é o caso do infarto agudo do miocárdio (IAM).

3.3 Especializações da membrana plasmática

Células epiteliais de revestimento interno, constituintes da mucosa intestinal (do duodeno), com
morfologia colunar, apresentam no polo apical prolongamentos citoplasmáticos recobertos pela
membrana plasmática, com função de aumentar a área de superfície celular. Essas expansões são

49
Unidade I

denominadas de microvilosidades ou microvilos e constituem‑se em especialização da membrana.


Pela técnica de hematoxilina e eosina (H&E), na microscopia óptica, essas microvilosidades formam a
borda estriada; portanto, a função dos microvilos está associada diretamente ao aumento da capacidade
de absorção das células epiteliais duodenais (células epiteliais constituintes do epitélio estratificado
pavimentoso da mucosa bucal, isto é, presentes no assoalho ou soalho bucal/abaixo da língua, apresentam
excelente capacidade de absorção de alguns fármacos, como também do álcool etílico/bebidas, porém
essas células epiteliais não possuem microvilosidades). As células epiteliais dos túbulos renais, mais
especificamente, dos túbulos contorcidos proximais (TCP), também são portadoras de microvilos e/ou
microvilosidades. Outra especialização da membrana no polo apical é a observada nas células epiteliais
da mucosa dos túbulos epididimários, denominadas de estereocílios. Sua função é de aumentar a
superfície celular, facilitando a entrada de líquidos e de certas moléculas. É de suma importância
registrar que estas duas especializações citadas não possuem movimentações como as encontradas em
outras especializações de membrana, como nos cílios, nas células epiteliais, encontradas nas mucosas
das vias respiratórias e na mucosa da tuba uterina; e nos flagelos, encontrados na célula gamética, o
espermatozoide. Estas duas últimas especializações são móveis e dependem do citoesqueleto celular de
microtúbulos. Outras especializações estão relacionadas com a adesão celular, contato entre membranas
plasmáticas que, além de fornecerem aderência, vedam espaços entre membranas e realizam processos
de sinalização celular/comunicação celular. São as junções celulares, que podem ser de três tipos:
oclusivas, de adesão e comunicantes. São especializações observadas no MET (microscópio eletrônico
de transmissão). São bem desenvolvidas nas células epiteliais, pois estas estão relacionadas com
processos de revestimento e apresentam entre si escassa quantidade de material extracelular, quando
comparadas com células dos outros tecidos. Sobre tais junções, as do tipo junções oclusivas (ou tight),
fazem parte do complexo juncional, cujas principais funções são: separar compartimentos, estabelecer
barreiras celulares impermeáveis e participar também da polarização das células. Nesta junção, há um
tipo de selamento de proteínas entre as membranas adjacentes, e são diversas as proteínas, entre elas,
as claudinas e as ocludinas. Em relação às junções de adesão (Figuras 34 e 35), fazem parte deste
sistema de união as junções denominadas de adesão e os desmossomos (ou junções de ancoramento),
tipo de junção que mantém contato com dois citoesqueletos distintos, isto é, de células adjacentes; já
os hemidesmossos, que também fazem parte deste tipo juncional, estabelecem contato do citoesqueleto
com o material extracelular (comum nas membranas basais de células epiteliais em contato com a
lâmina basal). Caderinas são proteínas transmembrana (há diversos tipos já descritos) que se encontram
aderidas em proteínas de ancoragem que, por sua vez, estão aderidas ao citoesqueleto de filamentos de
actina. Nos desmossomos, há pontos de adesão mais desenvolvidos, isto é, mais fortes, quando existe
uma comparação com outros tipos de junções. Aqui não ocorre associação com a actina, mas, sim, com
filamentos intermediários de citoqueratinas do citoesqueleto, também denominados de tonofilamentos
(tonofibrilas). Nas fibras musculares estriadas cardíacas, há junção de desmossomos nos discos ou traços
intercalares (local de junção entre duas fibras musculares). Também há nos desmossomos uma placa
densa constituída de proteínas, como a placoglobina e placofilina.

As junções comunicantes (ou gap), presentes nas células de quase todos os tecidos adjacentes,
apresentam tamanho na ordem de nanômetros (2nm). Essas membranas formam “canais” menores que
2nm de diâmetro, o que permite o trânsito de moléculas e íons entre duas células. Esses “canais” são
denominados de conéxons e são formados pela proteína conexina. As junções gap são importantes
no processo do desenvolvimento embrionário/fetal (nas células vegetais, as junções do tipo gap são
50
CITOLOGIA

associadas aos plasmodesmos). Finalmente, sobre comunicação celular: proteínas transmembranas


denominadas de integrinas, além de realizarem ligação da célula com o material extracelular, fazem
também ”respostas” diante destes diversos componentes químicos do material extracelular. São sinais
que são enviados da matriz extracelualar para a célula e vice‑versa, regulando atividades celulares.
Essas proteínas integrinas não agem como os receptores de membrana para hormônios e outras
moléculas de sinalização que são solúveis, pois se ligam aos ligantes com afinidade baixa. As integrinas
são glicoproteínas que interagem com o citoesqueleto via actina. Há certos tipos de integrinas que
se ligam a moléculas da matriz extracelular, é o caso da fibronectina ou laminina. Outras integrinas
conseguem reconhecer a sequência RGD de aminoácidos em certas proteínas (R = arginina, G = glicina
e D = ácido aspártico). Sabe‑se ainda que a interação de integrinas com ligantes está na dependência
de cátions bivalentes (cálcio e magnésio). Assim, todos os sinais externos recebidos pela célula serão
transformados em respostas no meio intracelular. O sinal proveniente do meio externo é o “ligante”,
o qual carece de um receptor de membrana altamente específico. Após a união ligante – receptor,
ocorre mudança na forma do receptor, o que denominamos de “início da transdução do sinal”. Esse
receptor de membrana apresenta‑se unido a uma proteína citoplasmática denominada de G. Portanto,
a ligação do ligante ativa o receptor específico de membrana que, por sua vez ativado, ativa a proteína
G citoplasmática, a qual ativa outras proteínas citoplasmáticas, propagando‑se desta forma um tipo
de sinalização intracelular via transdução. Muitas respostas intracelulares são assim interpretadas, tais
como: abertura e fechamento de canais de proteínas existentes na membrana plasmática, com funções de
regulação dos diferentes tipos de íons/moléculas entre outras substâncias. Conclui‑se que mudanças nas
proteínas citoplasmáticas estão diretamente relacionadas com a comunicação intracelular/sinalização/
transdução de sinal. Cada mudança constitui uma determinada via de comunicação. Além da proteína
G, o monofosfato de adenosina (AMP cíclico) e o cálcio também funcionam como tipos de mensageiros.
Esse mecanismo de sinalização intracelular é um tipo de coordenação celular específico. Processos de
transcrições (DNA originando RNAm), ativação e/ou desligamento de genes, ação de enzimas (proteínas
simples) e organização e desestruturação dos componentes do citoesqueleto estão sob comando desses
mecanismos de sinalizações; logo, controlam até a morfologia celular.

Junção ocludente

Junção aderente

Desmossomos

Junção comunicante

Figura 34 – Desenho de processos da especialização da membrana plasmática,


porção apical (microvilosidades) e da porção lateral, visando adesão celular (junções e desmossomos)

51
Unidade I

Microvilosidades

Mitocôndria

Interdigitação
Mitocôndria Núcleo

Núcleo

Mitocôndria

Invaginações

Figura 35 – Microvilosidades (função de absorção – aumento de superfície), interdigitações (adesão celular) e


invaginações da membrana no polo basal contendo mitocôndrias (característica típica das células epiteliais
de origem mesodérmica, constituintes do túbulo contorcido proximal – TCP do rim)

Essas células epiteliais do TCP realizam absorção de 65% do filtrado; logo, devido à grande quantidade
de mitocôndrias, se conclui que há elevado gasto energético.

Saiba mais

Leia:

CAMPBELL, N. A. Biologia. 8 ed. Porto Alegre: Artmed, 2010.

JUNQUEIRA; CARNEIRO. Biologia celular e molecular. 9 ed. São Paulo,


2013.

ROSS M. H.; PAWLINA, W. Histologia. 6 ed. São Paulo: Gen/Guanabara


Koogan, 2012.

4 ORGANELAS CITOPLASMÁTICAS

4.1 Retículo endoplasmático

Retículo endoplasmático (RE) granular, também denominado de rugoso (RER ou REG), assim como
o RE agranular ou liso (REL ou REAg), são organelas de membrana e estão localizadas no citoplasma,
o qual se localiza entre as organelas e inclusões citoplasmáticas, nos espaços intracelulares desta
matriz citoplasmática (citossol). Há uma rede constituída por filamentos de proteínas denominada de
“rede microtrabecular” que, provavelmente, possui função de posicionar as organelas e as inclusões
citoplasmáticas.

52
CITOLOGIA

Os retículos são organelas citoplasmáticas não perceptíveis na microscopia óptica, mesmo com
o aumento máximo de 1000x (microscopia de luz), pois seu tamanho (área) no citoplasma é de
aproximadamente 5 a 10 micrômetros. No RER, a sua constituição química é de natureza ácida, devido
à presença de ribossomos aderidos nessas membranas. Reage com corantes alcalinos (bases), sendo
denominada nesta microscopia de região basófila e/ou ergastoplasma, pois apresenta basofilia celular
(reage com corante básico, já que os ribossomos são constituídos de ácido ribonucleico – RNA).

Já no MET (microscópio eletrônico de transmissão), o REG possui forma de sáculos achatados


formando “cisternas”, as quais apresentam em suas partes externas os ribossomos aderidos por
proteínas de ancoragem ribossômicas. A função do RER é de servir de apoio aos ribossomos (os
responsáveis pela síntese/produção das proteínas) e abrigar essas proteínas por um determinado
espaço de tempo, essas proteínas produzidas na área do RER serão exportadas, isto é, serão secretadas/
sairão da célula, pois as proteínas produzidas pelos ribossomos livres no citoplasma serão utilizadas
pela célula, não são proteínas de exportação. O RER também se relaciona com processos de alterações
químicas nas proteínas, além de sínteses de lipídios das membranas. É importante salientar que o RER
mantém contato direto com a membrana externa (lamela externa) da carioteca/envoltório do núcleo.
Portanto, quem produz a proteína é o ribossomo e não o RE. Essas proteínas guardadas no interior
do RER são liberadas através de vesículas para o aparelho ou complexo de Golgi. Essas vesículas se
aderem no Golgi pela face CIS.

Pode‑se também afirmar que a morfologia do RER lembra retículos (Figura 36), canais, sáculos,
que constituem uma rede no citoplasma. Esses canais e sáculos são formados por uma membrana
contínua e com forma achatada. Denomina‑se cisterna a porção interna destes canais e ou sáculos.
Todas as células que produzem proteínas apresentam o RER bem desenvolvido. Essas proteínas serão
exportadas da célula, isto é, a célula vai secretá‑las. São exemplos: célula acinosa pancreática que produz
o suco pancreático (proteína zimógeno ou zimogênio); e célula plasmócito, que produz as proteínas de
defesa de base humoral, os anticorpos (imunoglobulinas IGE). Nas cisternas também há enzimas (são
proteínas simples) que podem transformar as proteínas que serão exportadas, como a adição de açúcar
às proteínas que se inicia dentro destas cisternas. Ainda nas cisternas, são isoladas certas proteínas que
ficarão dentro do citoplasma, sendo, porém, portadoras de uma cápsula (envoltório membranoso) com
“passagem” para o Golgi. O RE do neurônio (célula nervosa) é denominado de Corpúsculo de Nissl.

O REAg e/ou REL consiste em túbulos anastomosados curtos, é desprovido de ribossomos e/ou de
poliribossomos e suas cisternas são tubulares. Já o REG possui os polirribossomos sintetizando proteínas
e injetando‑as nas cisternas. Possui fisiologia diversificada. São suas mais importantes funções: produz,
isto é, sintetiza os fosfolipídeos das membranas celulares e das organelas citoplasmáticas; apresenta
enzimas que agem na síntese de hormônios esteroides (por exemplo, nas células do córtex da suprarrenal);
e também apresenta enzimas que degradam hormônios e que neutralizam substâncias tóxicas como
álcool, barbitúricos (por exemplo, nas células hepáticas – fígado). São nomes destas enzimas: hidrolases,
metilases, glicose‑6‑fosfatase, ATPases, lipídio‑oxidases, entre outras. Este retículo também é um
armazenador de cálcio, função esta muito desenvolvida nas células denominadas de fibras musculares
estriadas esqueléticas. Nestas fibras, constitui‑se uma invaginação da membrana plasmática/sarcolema
denominada de sistema T, devido à semelhança com tal letra. Este sistema com duas cisternas do REL
formam uma tríade, vista no MET. Este retículo libera o cálcio para o citoplasma após estímulo dos
53
Unidade I

neurotransmissores (acetilcolina) na junção neuromuscular, portanto, o REL armazena e libera o cálcio


para o citoplasma (sarcoplasma).

Na microscopia óptica, observa‑se o RER/REG por técnicas citoquímicas/histoquímicas, como a


gallocianina, e mesmo só pelo uso da hematoxilina. Na realidade, o que se observa é o produto de uma reação
química entre os constituintes do RER com os corantes alcalinos (bases). A coloração observada corresponde a
que chamamos nesta microscopia de basofilia celular, pois o RER só é observado nos microscópios eletrônicos.

Envolutório nuclear

Ribossomo

Retículo
endoplasmático granuloso Retículo endoplasmático
não granuloso (liso)

Figura 36 – Desenho do retículo endoplasmático granular ou rugoso (REG/RER) com ribossomos

Tal organela citoplasmática mantém contato com a membrana do núcleo (envoltório do núcleo) e
relaciona‑se com o processo da síntese de proteínas.

4.2 Ribossomos

Ribossomos possuem tamanho na ordem de 0,025 do micrômetro, invisíveis no MOC. São organelas
citoplasmáticas constituídas por ácido ribonucleico (RNA) e por proteínas (ácido ribonucleico ribossômico
– RNAr + proteínas). Um ribossomo é formado por duas subunidades, uma maior e outra menor, que
só se juntam quando o ribossomo vai sintetizar/produzir proteínas (cadeias de polipeptídeos). Essas
subunidades possuem densidades diferentes e ficam ligadas durante a síntese das proteínas pelos íons
magnésio. Portanto, o ribossomo não é constituído por membranas como os retículos e o complexo de
Golgi. O ribossomo traduz a sequência de codificação da proteína a partir de um códon/código,
que é o RNA mensageiro (mRNA ou RNAm). Pode‑se assim afirmar que os ribossomos são os executores
do material genético contido no DNA, expressando‑se na forma de diferentes tipos de proteínas. O
RNAm é produzido pela transcrição do DNA no núcleo, por ação da enzima RNApolimerase II. No MET,
aparecem como pontos de elétrons densos (manchas pretas/escuras). Os ribossomos “caminham/correm”
pelo mRNA quando livres no citoplasma, se fixam no mRNA pela subunidade menor e, quando presentes
nas membranas do RE, se fixam pela subunidade maior, constituindo assim o RER (Figura 36).
54
CITOLOGIA

Durante o processo da produção de proteínas, participam os seguintes componentes: uma molécula


de RNA mensageiro (RNAm) e vários ribossomos. Quando os vários ribossomos se prendem no RNAm,
dá‑se o nome de polirribossomo. O RNAm traz uma mensagem “copiada” do DNA, mensagem esta que
é um código (códon) da sequência dos aminoácidos que vão formar uma determinada proteína. Um
polirribossomo pode ser encontrado no citoplasma livre ou preso no retículo endoplasmático, formando
o retículo endoplasmático granular ou rugoso. Há uma grande diferença entre as proteínas produzidas
por polirribossomos livres (serão utilizadas pelas células) e pelos polirribossomos do RE (serão exportadas
– secreção celular).

Observação

Não confundir as expressões replicação (duplicação) do DNA com


transcrição do DNA. A primeira refere‑se à formação semiconservativa de
novos DNAs, enquanto a segunda na produção do códon, representada
pela molécula do mRNA.

Antibióticos agem nos ribossomos, que é o local da tradução do DNA e o local da produção – da
síntese da proteína. Os antibióticos agem principalmente sobre os ribossomos das bactérias. Também
há ações dos antibióticos sobre os ribossomos das células eucarióticas. São exemplos de antibióticos e
suas respectivas ações: cloranfenicol, que impede as ligações peptídicas; estreptomicina, que afeta o
início da tradução, logo, afeta a proteína; eritromicina, que impede a locomoção do RNAm (bloqueia a
translocação); tetraciclina, que impede acoplamentos das trincas no sítio A; quiromicina, que impede o
alongamento, isto é, o crescimento da proteína; e a Puromicina, que interrompe a síntese de proteína
agindo no sítio A. Certas bactérias podem ficar resistentes aos antibióticos por causa do uso incorreto de
desinfetantes (pequenas quantidades e/ou muito diluído). Pesquisas na Universidade Nacional da Irlanda,
em Galway, adicionaram doses crescentes de desinfetantes a culturas de Pseudomonas aeruginosa. Essa
bactéria causa infecção em pessoas quando o sistema imunológico estiver debilitado ou quando da
presença de certas doenças, como fibrose cística e diabetes. Descobriram que o processo contribuiu para
selecionar bactérias resistentes não apenas ao próprio desinfetante, mas também à ciprofloxacina,
um tipo de antibiótico muito usado. Os pesquisadores demonstraram que o desinfetante eliminou
microrganismos com estratégias menos eficientes para expelir os agentes microbicidas do seu interior;
também identificaram mutação no DNA, a qual proporcionava às bactérias uma maior resistência à
ciprofloxacina.

Em relação ao mecanismo da síntese de proteínas, este pode ser assim descrito: o DNA possui cadeia
dupla e suas bases nitrogenadas são: adenina, guanina, timina e citosina, respectivamente simbolizadas
pelas letras A, G, T e C. Essas bases encontram‑se sempre ligadas na molécula do DNA por pontes de
hidrogênio duplas e triplas, respectivamente, adenina com timina e guanina com citosina.

Como o DNA é portador de cadeia dupla, apenas uma cadeia e/ou uma sequência de bases de uma
dessas duas cadeias será utilizada para a produção do mRNA ou RNAm (RNA mensageiro), pela ação
da enzima RNA polimerase II. O mRNA é portador de uma cadeia simples. Esse processo de produção
do mRNA é denominado de transcrição do DNA. O mRNA é denominado de códon, pois possui uma
55
Unidade I

sequência de bases nitrogenadas complementares ao do DNA, as quais correspondem a um código


de síntese, que será traduzido pelos ribossomos (RNAr). O mRNA é produzido no núcleo da célula na
interfase e não durante a mitose, nas fases de prófase, metáfase, anáfase e telófase. Os ribossomos
ficam livres no citoplasma e/ou aderidos no RE, constituindo o RER ou REG. Concluímos que o mRNA
precisa deixar o núcleo e se deslocar para o citoplasma.

Os diferentes tipos de RNAs apresentam as seguintes bases nitrogenadas: adenina (A), guanina (G),
citosina (C) e uracila (U). Nenhum tipo de RNA possui a base nitrogenada timina (T). Em sua substituição,
há outra base nitrogenada denominada de uracila/uracil (U). Se o DNA transcrito apresentar a seguinte
sequência de bases nitrogenadas: ATGCTA, isto é, seis bases, o mRNA terá o seguinte códon: UACGAU.

O códon UACGAU se constituiu de forma complementar. No DNA havia a base adenina, porém no
RNA não há timina, e sim, uracila; logo, a base complementar é U. A base complementar da timina
é a adenina, daí a segunda letra do código ser A. Guanina possui sempre a complementar citosina e
vice‑versa. Como no DNA a terceira base era G, a complementar só pode ser C; assim, se a quarta base
no DNA é C, no mRNA vai ser G. No DNA a quinta base é T, logo, no mRNA vai ser A. Neste exemplo, a
última base no DNA é A, então no mRNA vai ser U, pois, como já descrito, no RNA não existe timina e
sim uracila. Portanto, o mRNA (o códon) será representado pela sequência: UACGAU.

Especificamente, cada sequência de três bases nitrogenadas (trinca) forma um nucleotídeo, isto é,
um códon. Cada trinca codifica um aminoácido específico. No exemplo dado, há duas trincas; logo,
há codificação de apenas dois aminoácidos. Há 64 trincas, sendo que algumas codificam processos de
iniciação e de término da síntese proteica. Na Natureza só há 20 aminoácidos; logo, conclui‑se que há
trincas diferentes que codificam o mesmo tipo de aminoácido.

Quadro 1 – UCAG: terceira base do códon

**U **C **A **G


UUU‑fenilalanina UCU‑serina UAU‑tirosina UGU‑cisteína
UUC‑fenilalanina UCC‑serina UAC‑tirosina UGC‑cisteína
*U UUA‑leucina UCA‑serina UAA‑finalização UGA‑finalização
UCAG
UUG‑leucina UCG‑serina UAG‑finalização UGG‑triptofano**
CUU‑leucina CCU‑prolina CAU‑histidina CGU‑arginina
C CUC‑leucina CCC‑prolina CAC‑histidina CGC‑arginina UCAG
CUA‑leucina CCA‑prolina CAA‑glutamina CGA‑arginina
CUG‑leucina CCG‑prolina CAG‑glutamina CGG‑arginina
AAU‑isoleucina ACU‑tireonina AAU‑asparagina AGU‑serina
A AUC‑isoleucina ACC‑tireonina AAC‑asparagina AGC‑serina UCAG
AUA‑isolecina ACA‑tireonina AAA‑lisina AGA‑arginina
AUG‑metionina* ACG‑tireonina AAG‑lisina AGG‑arginina
GUU‑valina GCU‑alanina GAU‑aspartato GGU‑glicina
G GUC‑valina GCC‑alanina GAC‑aspartato GGC‑glicina UCAG
GUA‑valina GCA‑alanina GAA‑glutamato GGA‑glicina
GUG‑valina GCG‑alanina GAC‑glutamato GGG‑glicina

*Primeira base do códon **Segunda base do códon

56
CITOLOGIA

No processo da produção da proteína, a subunidade menor procura se associar ao primeiro códon,


e, se isto ocorrer, tem início tal processo. O primeiro códon sempre fica localizado na extremidade 5’
do mRNA e nunca na extremidade 3’ do mRNA. Realizada tal etapa, o códon (a trinca) fica à espera
da associação com o anticódon, que é o RNA transportador – RNAt, o qual transporta o aminoácido
correspondente ao códon do mRNA. Com base no exemplo dado, a primeira trinca é UAC, portanto,
o anticódon (o complementar) deste é AUG, o qual corresponde a um determinado aminoácido (MET
– metionina). Já a segunda trinca é GAU; logo, o anticódon é CUA, que codifica o aminoácido LEU –
leucina. Conclui‑se, também, que o ribossomo sintetiza proteínas em direção à extremidade 3’ do mRNA.

Observação

O DNA não possui a base nitrogenada uracil/uracila, possui timina.


Todos os ácidos ribonucleicos (RNAr, mRNA e RNAt) não possuem a base
nitrogenada timina, possuem uracil/uracila. No DNA, o pareamento é A‑T
ou T‑A; já no RNA, a complementaridade é sempre A com U ou U com A.

Os aminoácidos transportados pelo RNAt para os ribossomos encontram‑se no citoplasma, são


produtos da degradação das proteínas de origem animal e vegetal ingeridas na alimentação (são os
aminoácidos essenciais, aqueles que o organismo não consegue sintetizar), pois há outros aminoácidos
cuja origem pode ser assim descrita: é a introdução de um radical amina NH2 num ácido carboxílico
(ácido orgânico), em substituição a um átomo de hidrogênio.

4.3 Complexo de Golgi

É uma organela citoplasmática semelhante a um conjunto de sáculos que possui geralmente


localização sobre o núcleo, na região apical das células epiteliais secretoras. Já nas células nervosas,
nos neurônios, ocupa posição ao redor de todo o núcleo. O Golgi apresenta grande relacionamento
com microtúbulos e, durante a mitose, se fragmenta. Também, como o RER, REL e ribossomos não são
perceptíveis na microscopia de luz, sua visualização é realizada por técnicas especiais. A área também é
diminuta, cerca de 5 a 10 micrômetros. Suas cisternas não apresentam ribossomos e recebem vesículas
provenientes do RER (área da fase CIS do Golgi) e liberam, soltam, vesículas pelas suas cisternas (área
da fase trans do Golgi), que vão constituir vesículas de dois tipos: umas serão vesículas que guardam
materiais a serem secretados da célula, e outras vesículas se constituirão em organelas citoplasmáticas
denominadas de lisossomos (Figura 37). É importante registrar que o Golgi retém água das vesículas
que chegam em seu interior; logo, o Golgi aumenta a concentração das substâncias em seu interior.
Na face CIS, além de ocorrer a entrada das vesículas, se dá a fosforilação das proteínas já nesta face
trans. Além das saídas, ocorrem atividades proteolíticas e adição de açúcares nas substâncias internas
ao Golgi. Pode‑se dividir morfologicamente o Golgi em três partes: face CIS (ou imatura), Golgi central
e face trans (ou madura).

Na parte central, o Golgi adiciona resíduos nas proteínas, liga carboidratos (CHO) nas proteínas e liga
também CHO nos lipídeos, constituindo, respectivamente, glicoproteínas e glicolipídios.

57
Unidade I

Pode‑se ainda afirmar que o Golgi é uma organela citoplasmática portadora de membrana simples como o
RER, o REL, o lisossomo e o peroxissomo. Essas membranas formam, como já dito, sáculos golgigianos. O Golgi,
em certas células, pelo MET, é visto como conjunto de quatro a seis cisternas (sacos achatados) com forma de
U, localizado geralmente na porção apical das células, como já descrito, em células epiteliais secretoras.

São outras funções do Golgi: proteólise de peptídios na face CIS, seleção de substâncias secretadas
pela célula, transporte, armazenamento, conjugação, formação do acrossomo do espermatozoide
e, ainda, formação os lisossomos. Concluindo: o Golgi realiza processos de síntese (fabricações), de
modificações de material que adentra em suas vesículas e de emcaminhamento/tipo de despachante de
produtos celulares (como vesículas de secreção e os lisossomos).

É evidenciado na microscopia óptica pela técnica citoquímica/histoquímica de Aoyama (nitrato de


prata), por exemplo, no epidídimo, pois em tais células é bem desenvolvido.
Brotamento de vesículas

Sáculos

Vesículas

Figura 37 – Desenho do Complexo de Golgi com suas vesículas

As vesículas provenientes do retículo endoplasmático penetram em seu interior pela fase CIS, e as que
o deixam, pela fase trans. Essas vesículas que saem poderão ser secretadas pela célula ou permanecerão
no citoplasma, originando os lisossomos.

4.4 Lisossomos

São vesículas que guardam no seu interior proteínas simples (enzimas) hidrolíticas/hidrolases, como
as fosfatases. A função dos lisossomos é a digestão intracelular de macromoléculas. Essas moléculas
são hidrolisadas e também participam ativamente dos processos de endocitose (fagocitose, pinocitose e
endocitose por receptores). Essas enzimas agem em pH 5; portanto, em pH ácido.

Lisossomos são vesículas com tamanho médio entre 0,2 até 0,5 do micrômetro, visíveis na microscopia
óptica/microscopia de luz por técnicas citoquímicas/histoquímicas (técnica de Gomori para fosfatase
alcalina e técnica Holt para fosfatase ácida).
58
CITOLOGIA

A membrana do lisossomo é resistente à digestão hidrolítica, que ocorre no seu interior; além disso,
essa membrana possui uma bomba de H+,

Os lisossomos são encontrados nas células animais, vegetais e nos protozoários. Os lisossomos primários
são as vesículas com enzimas hidrolíticas (proteases, nucleases, glicosidases, lípases, fofolipases, entre outras).

Fagossomo é o vacúolo que vai sofrer ação da digestão (membrana plasmática + material fagocitado).
Assim, constitui uma vesícula proveniente do meio extracelular, o heterofagossomo (processo da
heterofagia). Denomina‑se corpo residual o resíduo que deverá ser eliminado pela célula, proveniente do
processo da digestão intracelular efetuada pelos lisossomos; tal eliminação é chamada de clasmocitose.
O pigmento de lipofucsina dos neurônios, resíduo que não consegue ser eliminado (digerido/lisado/
quebrado), vai se acumulando e acarretando danos ao neurônio, ou seja, ao sistema nervoso; portanto,
o neurônio não faz clasmocitose de lipofucsina.

Já o autofagossomo é o proveniente do meio intracelular, toda vez que uma organela citoplasmática
deixa de funcionar, membranas do REL realizam um processo de envelopamento e, a partir desta ação
citoplasmática, lisossomos primários atacam e constituem o autofagossomo.

O processo de endocitose, entrada de material na célula, como já descrito no capítulo de membrana


plasmática, pode ocorrer por pinocitose de fase fluída; por endocitose mediada por receptor de membrana
e por fagocitose. Partículas de amianto (asbestose), de sílica (silicose), cristais de urato de sódio (doença
da gota) e cristais de oxalato de cálcio (da planta comigo ninguém pode) causam a quebra da membrana
do lisossomo, acarretando doenças graves.

Defeitos genéticos no DNA, isto é, nucleotídeos alterados e/ou ausentes, promovem alteração das
enzimas hidrolases. Se o códon – mRNA – codifica hidrolase alterada e/ou diferente ou, ainda, codifica
proteína produzida simples, essa hidrolase não realizará sua função corretamente. Trata‑se de uma
doença autossômica recessiva causada por um único gene (autossômica porque se relaciona com
os cromossomos autossomos e não com o par de cromossomos sexuais). Por exemplo, pode‑se ter o
armazenamento incorreto de glicogênio (falta de maltase ácida), caso da doença de Tay‑Sachs, que
causa degeneração nos neurônios, devido à falta da enzima que degrada um esfingolipídio, tipo de
ácido graxo + esfingosina. Outras doenças relacionadas a problemas de armazenamento (devido à falta
de enzimas): a) mucopolissacaridoses (os indivíduos terão problemas mentais, cegueira e nanismo); b)
síndrome de Hurler (indivíduo vive só até 10 anos – é uma herança autossômica recessiva); c) síndrome
de Hunter (indivíduo vive só até 20 anos – é uma herança sexual recessiva); d) doença de Pompe
(indivíduo vive até 6 anos, há aumento dos órgãos, ocorre a falta da enzima glicosidase, promovendo
o aumento do glicogênio no fígado, nos músculos e no miocárdio). Não há glicerol no esfingolipídio.

Exemplo de aplicação

Pesquise sobre a ação das células macrófagos. São células conjuntivas relacionadas com processos
de defesa em relação ao hematoma (área roxa observada na pele após traumatismo), posicionando as
organelas lisossomos.

59
Unidade I

O Prêmio Nobel de Química de 2004 foi dado para três pesquisadores que descobriram como as células
fazem para se livrar de proteínas indesejadas. O processo ocorre da seguinte maneira: a) as proteínas que
precisam ser eliminadas são etiquetadas com uma ou mais moléculas de ubiquitina (é um peptídeo
conhecido como selo de destruição ou beijo da morte) presas ao alvo; b) uma vez marcadas, as proteínas
indesejadas são levadas para estruturas citoplasmáticas “organelas” denominadas de proteassomas,
que funcionam como trituradores das proteínas e de outros compostos indesejados, gastando energia –
ATP, ao contrário dos lisossomos, que não consomem energia. Sabe‑se que a limpeza malfeita na célula
é prejudicial à célula (surgem doenças e reações imunológicas). Essas pesquisas tiveram início na década
de 1970, prolongando‑se pelos anos 1980. Os proteassomas não são estruturas vesiculares.

Em relação a processos de apoptose, células eucarióticas sob determinadas condições fisiológicas


cometem suicídio por meio de morte celular programada geneticamente, isto é, dirigida por genes. Não
ocorrem autólise nem processo inflamatório, porém há gasto de ATP. Pode ocorrer durante a formação
do embrião/feto, como também na vida adulta. As causas deste tipo de morte podem ser atribuídas à
manutenção da homestasia (manutenção do equilíbrio interno), regulação celular/tecidual, ou estímulos
patológicos, como lesão no DNA (por ações de radiação química e viral). Enzimas como as endonucleases
que fragmentam o DNA, de proteases que dissociam o citoesqueleto e das capazes (enzimas citosólicas)
que desencadeiam a apoptose, são alguns tipos de enzimas que atuam neste processo de morte
programada, isto é, de “morte fisiológica”. Durante o processo apoptótico, observam‑se a diminuição do
volume celular (atrofia celular), agregação dos componentes celulares, alterações no núcleo (a cromatina
se fixa na lamela interna da membrana do núcleo), o núcleo adquirindo aspecto denso, como também
se fragmentando (cariorréxis), e surgem os corpos apoptóticos. As células macrófagos entram em ação
(são células de defesa) para realizar os processos de fagocitose. Apoptose pode ocorrer por estímulos
fisiológicos, como é o caso da destruição do ducto tireoglosso na gênese (origem) da glândula endócrina
tireoide a partir do endoderma que recobre a região dorsal da raiz da língua, como também da notocorda
(corda dorsal), processos estes que ocorrem durante o desenvolvimento embrionário e fetal. Também
ocorrem em tecidos epiteliais e conjuntivos da mucosa uterina, isto é, em células endometriais, e, ainda,
no processo de renovação de células lábeis em processos de manutenção da epiderme, ocorrências
estas da vida pós‑natal. Certas respostas imunológicas e ações do leucócito, denominado de linfócito
T, também promovem apoptose. Pesquisas recentes indicam que telômeros curtos (são as pontas dos
cromossomos) promovem apoptose.

Já nos processos de necrose celular, os tipos de lesões podem ser reversíveis e irreversíveis; nesta
última, ocorre morte celular não fisiológica (não programada), as células liberam seus conteúdos
citoplasmáticos do núcleo para o meio e, desta maneira, morrem e causam a morte das células vizinhas.
Há, portanto, autólise. Suas causas são diversas, surge inflamação, pode ocorrer a parada de funções
orgânicas, como também do metabolismo. Os agentes causadores de necrose podem ser agrupados
em: físicos (traumatismos/ação mecânica, temperatura, radiação, megnetismo), químicos (álcool,
fenóis, detergentes, medicamentos/fármacos, entre muitos outros) e biológicos (vírus, bactérias, fungos,
parasitas). Esses agentes físicos, químicos e biológicos causam o comprometimento celular, por exemplo,
problemas na respiração celular (agem nas mitocôndrias) e no processo da síntese de proteínas (agem
no estágio G1 da interfase e nos ribossomos). São esses comprometimentos que causam a perda do
equilíbrio interno (a homeostasia). São alguns tipos de necrose: anêmica (devido à queda na taxa de
oxigenação), asséptica (sem infecção), avascular (devido à vascularização deficiente), central (devido à
60
CITOLOGIA

morte celular central e não periférica), caseificada (ocorre no pulmão e é típica quando da tuberculose),
hemostática/coagulação (típica do infarto agudo do miocárdio), liquefação (o protoplasma torna‑se
líquido), gordurosa (ocorre nas células adiposas/lipócitos, portanto, no tecido adiposo), isquêmica (devido
à queda de vascularização) e tubular (típica dos túbulos renais/néfron/rins). As alterações celulares que
podem ser descritas na necrose são: o núcleo possui redução de volume, fica hipercorado, a cromatina
se condensa e o DNA se fragmenta (picnose); a cromatina sofre em seguida dissolução e acaba sumindo
do interior do núcleo (cromatólise e/ou cariolise). O citoplasma torna‑se opaco, há desorganização total
do citoesqueleto, ocorre a condensação das organelas citoplasmáticas, a membrana plasmática pode
romper‑se e há intensa eosinofilia citoplasmática. Pesquisas recentes associam outras descrições em
relação à necrose: há alterações na bomba de sódio e potássio, crucial para lesão irreversível. Este fato
acarreta edema intracelular (aumento de líquido no citoplasma). O carboidrato glicogênio e o ácido
lático se acumulam e, em consequência, o pH diminui e lisossomos liberam enzimas hidrolíticas, as quais
causam a hidrólise das proteínas do citoplasma (autólise).

4.5 Peroxissomos

São organelas citoplasmáticas que também guardam enzimas em seu interior. Só são observadas por
técnicas especiais, pois ocupam área muito pequena no citoplasma, cerca de 0,2 até 0,5 micromêtros.
Sua função principal é a digestão oxidativa. As enzimas presentes nesta organela citoplasmática realizam
processos de oxidação de substâncias (há perda de elétrons, a expressão redução é o recebimento de
elétrons). Quando da oxidação de uma determinada substância, esta será destruída. No processo da
oxidação, os peroxissomos utilizam o oxigênio e produzem o peróxido de hidrogênio, o qual será destruído
de imediato pela ação da enzima catalase, processo que é realizado também pelos peroxissomos, pois a
substância peróxido é tóxica para a célula. Logo, conclui‑se que os peroxissomos realizam a produção e a
destruição de peróxidos. Os peroxissomos também realizam a oxidação de ácidos graxos. Ao oxidar ácidos
graxos, há liberação de energia existente no nutriente. Por oxidação, as células hepáticas (no fígado)
mantêm os níveis normais sanguíneos de lipídeos e do colesterol e, ainda, por reações de hidroxilação
(adição de OH‑) também em células hepáticas, promovem a produção de ácidos biliares. A origem mais
aceita dos peroxissomos é a partir de peroxissomos preexistentes ou que surgem ainda por fissão. Há
pesquisadores que associam sua origem a partir do REL. Antigamente, os peroxissomos eram conhecidos
por microcorpos.

Exemplo de aplicação

Ao desinfetar um ferimento com água oxigenada a 10 volumes, observa‑se a formação de várias


bolhas sobre o ferimento. É, sem dúvida, um gás que está sendo liberado. Pesquise e explique tal
fenômeno e associe a uma dessas organelas estudas.

4.6 Mitocôndrias

As primeiras células eucarióticas eram anaeróbicas. Há 3,5 bilhões de anos, não existia oxigênio
na atmosfera; portanto, as bactérias existentes só faziam a glicólise anaeróbica, processo semelhante
à fermentação. Os tipos de células existentes produziam uma pequena quantidade de energia.

61
Unidade I

Provavelmente, num determinado momento, ocorreu a entrada de bactérias (células procarióticas) nas
células eucarióticas anaeróbicas. Houve um tipo de invasão ou foram fagocitadas por estas células,
desenvolvendo uma relação de simbiose (simbiótica) entre organismos diferentes. Por um lado,
estavam as bactérias que haviam desenvolvido a capacidade de utilizar o oxigênio (bactérias que se
tornariam mais tarde organelas citoplasmáticas – as mitocôndrias) e, por outro lado, estavam as células
eucarióticas anaeróbicas em processo de “evolução”. Assim, certas formas de bactérias – mitocôndrias
foram englobadas pelas células eucarióticas anaeróbicas, passando estas agora a serem denominadas
de células eucarióticas aeróbicas. Essa hipótese pode ser justificada e é aceita pelas seguintes razões: 1)
bactérias e mitocôndrias apresentam DNA circular; 2) DNA mitocondrial apresenta bases nitrogenadas
diferentes do DNA do núcleo das células e também não apresenta as proteínas histonas; 3) bactérias e
mitocôndrias apresentam RNAs semelhantes, os quais são diferentes dos RNAs das células eucarióticas;
4) DNA e RNA mitocondriais se assemelham ao DNA e RNA bacterianos. A partir da presença de
mitocôndrias no interior das células eucarióticas, estas passaram a ser aeróbicas e a produção de energia
aumentou, possibilitando todo o processo de sua evolução. Nas mitocôndrias há aproximadamente
700 proteínas diferentes. Cerca de 600 proteínas são provenientes dos ribossomos do citoplasma. As
mitocôndrias só produzem cerca de 5% de proteínas, oriundas, portanto, de seus ribossomos.

As mitocôndrias são encontradas nas células eucarióticas dos animais e dos vegetais, nas algas, nos
fungos e protozoários. Algas e plantas são organismos autótrofos. Animais, fungos, protozoários e certas
bactérias são heterótrofos. Os seres humanos apresentam mitocôndrias de origem apenas materna.
A palavra mitocôndria pode ser assim traduzida: mitos = filamentos e côndria = grãos. A expressão
condrioma é utilizada para designar o conjunto das mitocôndrias.

A morfologia (forma) das mitocôndrias pode ser: de grão, bastonete, filamento, arredondada
e esférica. A forma é dependente da pressão osmótica e do pH. As mitocôndrias mudam de forma
devido à concentração de proteínas e se localizam nas células, no citoplasma. Em células epiteliais, as
mitocôndrias, geralmente, estão localizadas no polo basal. Quando o pH for ácido, as mitocôndrias são
esféricas. Durante a mitose, cessam os movimentos das mitocôndrias. O tamanho das mitocôndrias é na
ordem de 0,2 micrômetro até 10 micrômetros em certos tipos filamentosos.

O número de mitocôndrias é variável de célula para célula, assim: no espermatozoide há 25; em


hepatócitos (células do fígado), de 500 até 1600; nas células renais, 300; em uma ameba, 10.000; e em
certos ovócitos, 300.000 mitocôndrias. Células vegetais apresentam pequeno número de mitocôndrias.
Nas células do fígado de rato, as mitocôndrias possuem tempo de vida de 5 até 7 dias. A demonstração
das mitocôndrias pode ser realizada pelas seguintes técnicas: Polak (impregnação argêntica); fucsina
ácida (há reações com as membranas interna e externa); e verde‑janus B, que é a coloração supravital
(devido à presença na mitocôndria de citocromo oxidase).

Na mitocôndria, são identificáveis: membrana externa e interna, espaço intramembranoso, matriz


mitocondrial e cristas mitocondriais. São autorreplicantes, pois são geradas de mitocôndrias preexistentes
(mitocôndria possui DNA circular). É de 10 dias, aproximadamente, o tempo médio de vida. Podem
concentrar proteínas, lipídios e metais, como prata (Ag), ferro (Fe) e cálcio (Ca). Em células cancerosas, o
número, a forma, tamanho e estrutura ficam alteradas (Figuras 38 e 39).

62
CITOLOGIA

Membrana externa

Membrana interna

Cristal mitocondrial

Figura 38 – Desenho da mitocôndria

Observe suas membranas externa e interna, o espaço entre estas membranas e as cristas mitocôndrias
oriundas da membrana interna, pois a externa é lisa. A matriz mitocondrial corresponde às áreas claras
revestidas pela membrana interna, local que ocorre o ciclo de Krebs ou ciclo do ácido cítrico.

Quadro 2 – Ultraestrutura mitocondrial e respectivas funções

Estrutura Funções
Membrana externa é lisa. Síntese de lipídios e metabolismo dos ácidos graxos,
Apresenta enzimas (as porinas): ATP acil COA sintetase; permeável a pequenas moléculas, sais, açúcar, nucleotídeos.
citocromo B, NADH citocromo B redutase, fosfotidase A proteína porina é quem favorece o transporte. Apresenta
fosfatase, fofolipases. 50% de proteínas e 50% de lipídios

Espaço intramembranoso. Apresenta moléculas semelhantes às existentes no


citoplasma. Há processos de fosforilação de nucleotídeos.
Possui conteúdo semelhante ao do citoplasma. O ATP se constitui a partir de ADP. Alguns metabólitos
saem deste espaço e vão para o citoplasma da célula
Apresenta enzimas: adenilato cinase, nucleosídeo e estão presentes prótons provenientes da matriz
difosfocinase e nucleosídio monofosfocinase. mitocondrial.
Membrana interna é pregueada, forma cristas. Local da ocorrência da cadeia respiratória e do processo
Possui “cardiolipina”, que é um fosfolipídio. Além de ATPase, há de fosforilação oxidativa (produção de ATP); ocorre
citocromos a, a3, b, c, o NAD desidrogenase, que libera um par também a separação da cadeia lateral de colesterol. Essa
de elétrons para a cadeia respiratória, o succinato desidrogenase, membrana apresenta 80% de proteínas e 20% de lipídios,
que cataliza reações no ciclo de Krebs e a enzima carnitina é impermeável até para pequenas moléculas; portanto,
aciltransferase, que permite a entrada dos ácidos graxos. o transporte é específico. Agem as lipoproteínas como
a porina, cardiolipina, as quais favorecem o transporte.
Como apresenta mais proteínas do que fosfolipídios, é mais Há muita cardiolipina (fosfolipídio). Nesta membrana há
rígida, não possui fluidez (a qual se deve aos fosfolipídios). enzimas (ATPsintetase) responsáveis pelo processo de
Há muitas outras enzimas. gerar energia no processo da cadeia respiratória.
Matriz mitocondrial. Local do ciclo de Krebs (ciclo do ácido cítrico). Há
Apresenta enzimas que atuam no ciclo de Krebs e na ribossomos com diâmetro de 12 nm. Há enzimas para
biosíntese de ácidos graxos. oxidar ácidos graxos e piruvato (ácido pirúvico). Local
do DNA mitocondrial é circular e faz sua duplicação
Apresenta DNA circular mitocondrial= DNAc. (replicação). Quando pela sua transcrição, origina o
O fluido desta matriz possui 50% de proteínas (muitas são enzimas mRNA. Esse DNA mitocondrial também origina os demais
que degradam ácidos graxos e piruvatos). Há RNAs (RNAr, RNAt, RNAs: RNAr e RNAt. Admite‑se que o DNA mitocondrial
RNAm) e também densos grânulos de fosfolipoproteínas. Esses codifique apenas 13 proteínas e há genes só para 22 RNAt.
grânulos também se ligam ao magnésio e ao cálcio. Portanto, codifica 5% das 700 proteínas aí existentes.
Há, em certas, regiões contatos entre as duas Constituem vias para proteínas e pequenas moléculas que
membranas. entram e deixam a matriz.

63
Unidade I

São dados, conceitos importantes, relacionados à mitocôndria:

Metabolismo = anabolismo + catabolismo. No processo do anabolismo ocorre a união de


moléculas e, portanto, há consumo de energia. No catabolismo há quebra da molécula com liberação
de energia.

Oxidação é a perda de elétrons (há reações químicas com perda de elétrons). Há representações
de moléculas oxidadas, como: NAD e o FAD. Ao ganhar elétrons, a substância fica reduzida. NAD é
um transportador de hidrogênios denominado de nicotinamida adenina dinucleotídeo, e o FAD, que
também possui a mesma função, é a flavina adenina dinucleotídeo. Redução é o ganho de elétrons
(há reações químicas com ganho de elétrons). Representações de moléculas reduzidas: NADH2 e FADH2.

Coenzimas: são moléculas que ficam juntas das enzimas, aceleram reações químicas.

Glicólise é a quebra da glicose, é uma fermentação anaeróbica, pois ocorre no citoplasma na


ausência de oxigênio.

No ciclo de Krebs, quando ocorrer reações com a perda de gás carbônico, o processo é denominado
de descarboxilação e, quando ocorrer perda de hidrogênios, o processo é chamado de desidrogenação.
Em resumo, no ciclo de Krebs: 4 pares de átomos de hidrogênio são liberados; 3 pares de átomos de
hidrogênio vão reduzir o NAD em NADH = 3NADH2; 1 par de átomos de hidrogênio irá reduzir um FAD
em FADH2.

Forma‑se ATP a partir de ADP, por hidrólise de GTP (guanidina trifosfato). ATP é um nucleotídeo,
é uma molécula denominada de trifosfato de adenosina, é um transportador universal de energia
na célula. Apresenta ligações ricas em energia. É denominado de trifosfato por ter três fosfatos
de adenosina (base nitrogenada = adenina + açúcar = ribose). O ATP é a soma de um nucleosídeo
(adenina + açúcar) mais três fosfatos; portanto, torna‑se um nucleotídeo. O ADP é um nucleotídeo
com dois fosfatos, e o AMP, apenas de um fosfato. O ATP é um doador de energia nas diferentes
partes da célula. Resumidamente, o ATP fornece molécula de alta energia terminal, ficando na
forma de ADP. Mas pode voltar a ser ATP por ação dos produtores de energia, localizados na
membrana interna da mitocôndria. Essa volta, essa reconstrução/regeneração de ADP em ATP,
efetua‑se pela degradação da glicose e de ácidos graxos. Os ATPs se difundem por toda a célula.
Em resumo: denomina‑se adenosina o conjunto da base nitrogenada adenina (A) com o açúcar
ribose que possui cinco carbonos (pentose). Assim, A + ribose = adenosina, e quando a adenosina é
unida a três fosfatos, adenosina + P + P + P, torna‑se trifosfato de adenosina (ATP). Quando o ATP
perde um fosfato, forma‑se o ADP (ATP – P = ADP) e quando o ADP ganha um fosfato, forma‑se
novamente o ATP (ADP + P = ATP). Se o ADP perder outro fosfato (ADP – P= AMP), forma‑se o
monofosfato de adenosina (AMP). Portanto, AMP + P = ADP + P = ATP.

O ácido cítrico possui seis carbonos. É um ácido tricarboxílico.

O ácido oxalacético inicia uma série de reações enzimáticas. Ao terminar essa série de reações
químicas, surge novamente o ácido oxalacético; portanto, este ácido é o substrato inicial e terminal.
64
CITOLOGIA

A beta‑oxidação dos ácidos graxos – o ácido graxo só é oxidado quando ativado pela combinação
com a coenzima A e quando penetra na matriz mitocondrial. A enzima carnitina é quem permite a
passagem pela membrana interna dos ácidos graxos. O processo de oxidação se desenvolve na matriz
em etapas sucessivas. Em cada etapa, o ácido graxo perde dois átomos de carbono – radical acetil:
CH3CO. São ácidos graxos: esteárico, palmítico, láurico, mirístico, oleico e araquidônico. As células não
conseguem utilizar diretamente os ácidos graxos (nem a glicose), então, usam a energia contida nessas
moléculas, transformando‑as para ATP.

A grande maioria das proteínas mitocondriais é codificada pelo DNA do núcleo da célula. Essas
proteínas passam para as mitocôndrias por transporte ativo.

Enzimas proteolíticas (pepsina, tripsina, quimotripsina, carboxipeptidase) realizam a hidrólise das


proteínas ingeridas, produzindo aminoácidos livres. Esses vão para o fígado, onde ocorre o catabolismo.
Exemplo: aminoácidos originam glicose.

Quanto maior o número de cristas, maior o metabolismo energético. A célula muscular cardíaca
possui mais mitocôndrias com cristas do que uma mitocôndria de célula óssea (osteócito).

Respiração celular – compreende três momentos: a glicólise no citoplasma; ciclo do ácido cítrico ou
ciclo de Krebs, na matriz mitocondrial; cadeia respiratória e fosforilação oxidativa na membrana interna
da mitocôndria. Assim, a respiração celular possui etapas no citoplasma (glicólise) e na mitocôndria (ciclo
de Krebs, cadeia respiratória e fosforilação oxidativa). A disciplina de Citologia não entrará nas discussões
de todas as reações químicas, esses assuntos serão tratados pela disciplina de Bioquímica. Assim sendo, as
mitocôndrias produzem energia (ATP) pela degradação da glicose e de ácidos graxos, catalizam a síntese
de ácidos graxos e de aminoácidos e dão início à síntese de hormônios esteroides. Isto é, na mitocôndria
inicia‑se essa síntese com a separação da cadeia lateral do colesterol, tipo de reação química catalisada por
enzimas da membrana interna da mitocôndria. Essa síntese hormonal continua no REL (Figuras 40, 41 e 42).

Lembrete

Célula transportadora de íons, como as células parietais do estômago,


relacionadas com transporte de íons H+ e Cl‑ para dentro do órgão, possuem
muitas mitocôndrias, o que é justificável, pois o transporte é ativo.

Etapa da glicólise – a glicose é degradada (quebrada) parcialmente no citoplasma e na ausência


de oxigênio; portanto, trata‑se de um processo anaeróbico. Há dez diferentes tipos de reações (vide
Bioquímica). Nesta degradação, formam‑se quatro ATPs; porém, como são gastos dois ATPs no processo,
o saldo será de dois ATPs, quatro hidrogênios e dois ácidos pirúvicos (dois piruvatos/sal). Os dois
piruvatos vão se dirigir para a matriz mitocondrial, onde sofrerão processos de reações químicas. Os
quatro hidrogênios serão transportados por coenzimas para a membrana interna da mitocôndria. Essas
coenzimas são denominadas de NAD (nicotinamida adenina dinucleotídeo) e são em número de duas.
Cada NAD transporta dois hidrogênios. Portanto, o NAD oxidado passa para a forma NADH2 reduzido.
Como são quatro hidrogênios, a representação fica: 2NADH2. Os ATPs serão utilizados no citoplasma.
65
Unidade I

Etapa do ciclo de Krebs – cada piruvato na matriz mitocondrial reage com a coenzimaa, produzindo:
acetil COA, dióxido de carbono (CO2) e dois hidrogênios. Se chegarem à matriz mitocondrial ácidos graxos,
estes também sofrerão reações químicas e se transformarão em acetil COA. Este processo é denominado
de “beta‑oxidação”, processo que também ocorre nos peroxissomos. Pode‑se afirmar que o acetil COA é
o ativador para o ciclo de Krebs (o radical acetil é: CH3CO).

Resumindo o ciclo de Krebs e/ou ciclo do ácido cítrico: na matriz mitocondrial, o acetil COA reage
com o ácido oxalacético. Desta reação, forma‑se o ácido cítrico que, por sua vez, solta a COA e perde um
dióxido de carbono (CO2) e dois hidrogênios, se convertendo em ácido alfa – cetoglutárico. O acetil COA
possuía dois carbonos, enquanto o ácido oxalacético, quatro carbonos. Como ambos reagiram formando
o ácido cítrico, este possuirá seis carbonos. Com a perda de um carbono do ácido cítrico na forma de
dióxido de carbono, constituiu‑se outro ácido com cinco carbonos, denominado de alfa‑cetoglutárico.
Este ácido, após reações químicas, também perde um carbono na forma de dióxido de carbono, além
de dois hidrogênios, se convertendo em ácido succínico, o qual passa a ter quatro carbonos. Uma
vez formado o ácido succínico com quatro carbonos, com perda apenas de dois hidrogênios deste
ácido, forma‑se um novo ácido, o fumárico. Este, por sua vez, ganha água e perde dois hidrogênios,
constituindo um novo ácido, o málico, o qual apenas vai perder dois hidrogênios, transformando‑se
em ácido oxalacético. Este ácido, com quatro carbonos na matriz mitocondrial, reage novamente com
acetil‑coenzima A com dois carbonos, constituindo novamente o ácido cítrico com seis carbonos. É um
ciclo, o ciclo do ácido cítrico ou ciclo de Krebs. Os hidrogênios serão captados pelo NAD e transportados
para a membrana interna da mitocôndria.

Apenas os dois hidrogênios liberados quando da formação do ácido succínico serão transportados
pelo FAD (flavina adenina dinucleotídeo – FADH2). Os dióxidos de carbono produzidos serão eliminados
da célula e constituirão produtos finais da respiração.

No ciclo de Krebs há liberação de elétrons. Esses elétrons são transportados pelo NAD e pelo FAD
para uma cadeia respiratória. Nessa cadeia respiratória, há reações de oxirredução. Os elétrons se unem
aos prótons e ao oxigênio para formar água. A energia desse processo oxidativo é usada na fosforilação
oxidativa, isto é, para formar ATP a partir de ADP + fósforo inorgânico.

Tanto na glicólise como no ciclo de Krebs, quando o NAD e o FAD ficarem reduzidos, isto é, NADH
e FADH, haverá processos de reoxidação, e estes se tornarão oxidados novamente: NAD e FAD, pois os
elétrons foram transferidos para outro aceptor “pegador” de elétrons, mantendo um estado de equilíbrio.

Na formação do acetil coenzima A, afirma‑se que o processo é catalizado, quem age são as enzimas, no
caso, o piruvato desidrogenase. Neste processo, forma‑se também NADH, e o acetil se liga à coenzima A.

A coenzima A fica praticamente intacta, contribuindo para anexar um grupo acetil no ácido
oxalacético e para sintetizar o ácido cítrico.

Neste ciclo, algumas substâncias que se formam são desviadas para servir de matéria‑prima para
a síntese de outras substâncias orgânicas (é o processo de anabolismo): sínteses de aminoácidos, de
nucleotídeos e de gordura.
66
CITOLOGIA

As denominações com nome dos ácidos utilizadas no ciclo são substituídas pelas denominações
dos sais correspondentes: ácido málico, por malato e assim sucessivamente. Pois os ácidos são muito
instáveis e formam sais de imediato.
Membrana Membrana externa
interna

Grânulos

Matriz mitocondrial
Crista mitocondrial

Figura 39 – Desenho “estilizado” da mitocôndria

Nessa organela citoplasmática, ocorre a produção da maior quantidade de ATP, pois também há
produção de ATP no citoplasma pela quebra da glicose (processo denominado de glicólise).

Glicose

Energia Energia
ADP

Trabalho
celular
Glicose
ATP

Figura 40 – Representação do processo da glicólise


(quebra do açúcar glicose) que ocorre no citoplasma da célula

Neste processo, são elaborados como produto final, em relação às moléculas energéticas, apenas
dois trifosfatos de adenosina (ATP).

67
Unidade I

A glicose e o ciclo de Krebs


Íons H+ + e–

Glicose Ácido
acético
Coenzima-A
Ácido
pirúvico Acetil-CO-A

CO2 Ácido Ácido


oxalacético cítrico

Composto
de 5-C

NAD NAD 2H+

Figura 41 – Representação resumida do “início” do ciclo de Krebs ou ciclo do ácido cítrico

2H+

NAD 2H FAD Citoc. b Citoc. c Citoc. a Citoc. a3 2H+


2e– 2e– 2e– 2e– 2e– 2e–
H2+1/2 O2
ATP ATP ATP H2O

Figura 42 – Representação do processo da cadeia respiratória e da produção de ATP (fosforilação oxidativa)

Etapa cadeia respiratória e fosforilação oxidativa – os hidrogênios liberados no processo da


glicólise e do ciclo de Krebs serão utilizados para processos de obtenção de energia. Esses hidrogênios
são captados pelo NAD e pelo FAD, os quais ficam reduzidos a NADH e FADH. Essas moléculas reduzidas
(são redutores) vão fornecer elétrons para a membrana interna da mitocôndria, isto é, para a cadeia
respiratória. Na cadeia respiratória, os elétrons são transferidos (hidrogênios) de aceptor “pegador”
para aceptor “pegador”, até chegar no último aceptor da cadeia respiratória, que é o oxigênio. Neste
encontro com o oxigênio, forma‑se a água. Também neste momento do encontro com o oxigênio,
ocorre a ejeção de próton para o espaço intramembranoso, depois para fora da mitocôndria, indo
para o citoplasma. Esse oxigênio é proveniente do ar atmosférico (da respiração). A combinação dos
elétrons (hidrogênios) com diferentes aceptores “pegadores” intermediários antes do encontro final
com o oxigênio é o processo da cadeia respiratória. Esses aceptores intermediários, por exemplo, são
proteínas conhecidas por citocromos. Esses aceptores apresentam o grupo heme (possuem ferro).
O grupo heme permite a transferência de elétrons, aceita elétrons e fica reduzido, porque ganhou
elétrons. Este grupo, ao doar o elétron para o oxigênio, fica oxidado, perdeu elétron. Nesse processo
de combinação dos hidrogênios com essas substâncias intermediárias, há perda de energia, que é
pequena; porém, é utilizada para unir um grupo fosfato no ADP, constituindo‑se assim o ATP, processo
denominado de fosforilação oxidativa. Os aceptores (NAD, FAD e citocromos) ficam na membrana
interna da mitocôndria. Conclui‑se que a cadeia respiratória na membrana interna da mitocôndria
é um local de reações químicas de oxidação e de redução (oxirredução). O processo da fosforilação
68
CITOLOGIA

oxidativa ocorre na presença de oxigênio. Esse processo produz mais ATP do que o anaeróbico – a
glicólise. Vide mais informações na disciplina de Bioquímica.

Há duas transformações de energia: a primeira é a transformação química em elétrica, e a segunda é


a elétrica em química. Quando ocorre a quebra da ligação entre dois átomos de carbono, surge a energia
elétrica a partir da energia química. Assim, na quebra do ácido cítrico liberando gás carbônico, há perda
de elétrons, os quais serão captados pelo NAD, que ficará reduzido. Agora o NAD vai fornecer os elétrons
para a membrana interna da mitocôndria – para a cadeia respiratória, ocorrendo a ejeção de prótons
para fora da mitocôndria. A Teoria Quimiosmótica afirma: na passagem de elétron na cadeia respiratória,
ocorre uma ejeção de prótons da matriz para o espaço intramembranoso e para o citoplasma, gerando
um gradiente de H+ entre o interior da mitocôndria e o meio citoplasmático. Esse gradiente de H+
mais o potencial da membrana plasmática somados resultam numa força próton‑motiva “FPM” = força
motora de prótons = fpm. Essa força faz os H+ voltarem para a matriz. Como a membrana interna da
mitocôndria é impermeável ao H+, ele só volta pela ação da enzima ATPase sintetase.

A função da cadeia respiratória é formar ATPs, processo denominado de fosforilação oxidativa, assim:

• 1 molécula de NADH2 no início da cadeia respiratória vai produzir 3 ATP a partir de: NADH2 + l/2
O2 + 3 ADP + 3 PO4 = H2O + 3 ATP + NAD

• 1 molécula de FADH2 no início da cadeia respiratória vai produzir 2 ATP a partir de: FADH2 + ½ O2
+ 2 ADP + 2 PO4 = H2O + 2 ATP + FAD

• Em resumo: C6H12O6 + 602 + 38 ADP + 38 PO4 → 6 CO2 + 6 H2O + 38 ATP.

Uma molécula de glicose se relaciona com a produção de 38 ATPs.

Uma molécula de glicose é correspondente a 180 gramas de carboidratos:

• C6H12O6 possui seis carbonos, doze hidrogênios e seis oxigênios. O número atômico do carbono é
igual a 12, assim, 12 x 6 é igual a 72g; o número atômico do hidrogênio é igual a 1, assim, 1 x 12
é igual a 12g; o número atômico do oxigênio é igual a 16, assim, 16 x 6 é igual a 96g. A soma de
72g+12g+96g=180g de carboidrato (CHO).

• C6H12O6 + 602 + 38 ADP + 38 Pi → 6CO2 + 6H20 + 38ATPs.

• Cada ATP produz 10.000 K/cal.

• Como são 38 ATPs, 10.000 x 38 ATPs = 380.000K/cal.

• Uma glicose no aparelho calorímetro produz 690.000 K/cal.

Como explicar a diferença entre 690.000 – 380.000, que é de 310.000 k/cal? Essa perda ocorre na
forma de calor. Em resumo:
69
Unidade I

Glicólise: 2ATP 2 ATP

2 NADH2 (3 ATP na cadeia respiratória) 6 ATP

Na síntese do Acetil CoA

2 NADH2 (3 ATP na cadeia respiratória) 6 ATP

No ciclo de Krebs

2 ATP 2 ATP

6 NADH2 (3 ATP na cadeia respiratória) 18 ATP

2 FADH2 (2 ATP na cadeia respiratória) 4 ATP

Total de 38 ATP

Nos animais hibernantes, a oxidação não está acoplada à fosforilação, resultando na


formação de calor em vez de ATP. Esse processo é dependente da presença de desviadores
de prótons, conhecidos por termogeninas, que se assemelham à ATP‑sintetase, mas que não
podem gerar ATP.

Portanto, mitocôndrias são as organelas das células animais que transformam energia química com
o auxílio do oxigênio em ATP, isto é, a respiração celular (não confundir com respiração pulmonar). Já os
cloroplastos existentes na célula vegetal convertem a energia solar em energia química, processo este
denominado de fotossíntese, com produção de compostos orgânicos e liberação de oxigênio a partir de
dióxido de carbono mais água.

Saiba mais

SIVIERO, F. Biologia celular. 1 ed. São Paulo: Gen/Roca, 2013.

Fermentação – é um conjunto de reações químicas enzimáticas que resultam na produção de


pequenas moléculas orgânicas (compostos simples). Nessas reações químicas, há pequena liberação de
energia. São tipos de fermentação: alcoólica, lática e acética. Quando ocorrer a fermentação da glicose,
há sua ativação pelo recebimento de dois PO4 e, portanto, a glicose passa a ser denominada de frutose 1,
6 difosfato (apresenta 6 carbonos e dois fosfatos). Após essa etapa, a frutose é quebrada, originando duas
moléculas de gliceraldeído 3 fosfato (apresenta 3 carbonos e um fosfato). Essa molécula agora formada
permite o acoplamento de mais um fosfato e, portanto, passa a ser denominada de gliceraldeído 1, 3
difosfato (apresenta 3 carbonos e dois fosfatos). Como são duas moléculas que se originaram, temos
então quatro fosfatos que serão transportados para quatro ADPs, os quais formarão em conjunto 4

70
CITOLOGIA

ATPs. Os gliceraldeídos originaram o ácido pirúvico. Na fermentação, a quebra da glicose (glicólise) irá
produzir 2 ATPs, pois 2 ATPs foram usados para iniciar o processo.

Fermentação alcoólica é realizada por leveduras (são fungos) e por bactérias, o açúcar origina álcool
etílico mais dióxido de carbono:

açúcar → álcool etílico + CO2

Fermentação lática é realizada por bactérias, o açúcar do leite origina o ácido lático:

açúcar do leite → ácido lático

Nas fibras musculares (células) estriadas esqueléticas dos mamíferos, também pode ocorrer esse tipo
de reação, produzindo o ácido lático, por falta de oxigenação correta (motivo da câimbra).

Fermentação acética é realizada por bactérias, o açúcar do vinho origina o ácido acético.

açúcar do vinho → ácido acético

No processo da fermentação (processo sem a presença de oxigênio), a cadeia respiratória fica


inoperante, porque não possui oxigênio. Como se sabe, o oxigênio é o último aceptor de hidrogênio.
Assim, sem oxigênio, os hidrogênios são transportados para o NAD e são devolvidos para o ácido pirúvico
(piruvato), o qual se transforma em: álcool etílico, ácido lático e ácido acético. Em outros compostos,
como na manteiga, bactérias fermentam a gordura, formando o ácido butírico, produzindo o sabor/
gosto rançoso. Bactérias fermentam a lactose produzindo o leite azedo (Figura 43).

O OH
II I
C — OH CH3
Glicólise
C6H12O6 2 I +4H+ + 4e– → I + 2CO2
C=O CH3
I
C — H3 Álcool
etílico (etanol)
Ácido pirúvico

O O
II II
C — OH C — OH
Glicólise
C6H12O6 2 I +4H+ + 4e– 2 I
C=O H — C — OH
I I
C — H3 CH3

Ácido pirúvico Ácido lático

Figura 43 – Representações de reações químicas de processos de fermentação

71
Unidade I

Resumo

Células eucarióticas são constituídas por moléculas químicas. Essas


moléculas originam‑se dos nutrientes ingeridos no processo da alimentação;
portanto, alimentação correta tem tudo a ver com a estrutura e o bom
funcionamento celular. Alimentação é o ato de alimentar‑se, isto é, o ato
de consumir alimentos. Nutrição é o conjunto de processos pelos quais
um organismo utiliza a energia dos alimentos, além de transformá‑los
em componentes próprios, para garantir seu desenvolvimento e sua
manutenção. Alimento é a fonte de matéria e de energia para o organismo.
Matéria é usada para construir o organismo e para repor o que ele consome.
Energia garante esses processos e é representada pela molécula energética
ATP (trifosfato de adenosina), sintetizada nas mitocôndrias. Boa ou má
alimentação é influenciada por diversos fatores: condição socioeconômica,
hábitos, ignorância/cultura; enquanto a nutrição é afetada pela quantidade
e qualidade dos alimentos, como também pelas condições metabólicas do
organismo para aproveitá‑los.

Os alimentos podem ser classificados quanto à origem animal (carne,


leite, ovos, manteiga, queijo, peixe, iogurte); vegetal (frutas, verduras,
azeite, açúcar, arroz, feijão, aveia, milho, cenoura); ou mineral (sal, água).
Já os nutrientes são classificados conforme sua natureza: com o carbono
são os orgânicos, e sem o carbono são os inorgânicos. Com base em suas
funções, os alimentos/nutrientes são assim classificados: construtores ou
plásticos, utilizados na formação e reposição celular; energéticos, utilizados
para obtenção da energia; e os reguladores, utilizados para manter em
estado de normalidade as diferentes funções do organismo.

Os nutrientes orgânicos são encontrados exclusivamente nos vegetais


e nos animais. Os inorgânicos são de origem vegetal, animal e mineral.
São exemplos de construtores: as proteínas, os minerais e a água; de
energéticos: carboidratos e lipídeos; e, finalmente, os reguladores, vitaminas
e sais minerais.

O valor nutritivo de um alimento é o poder que o alimento tem de


nutrir um organismo normal. Esse poder reflete as quantidades dos seus
nutrientes, assim como suas características químicas e físicas que podem
favorecer ou dificultar seu aproveitamento pelo organismo. O valor
nutritivo varia conforme o tipo de alimento. Um exemplo clássico é que
um copo de leite tem maior valor nutritivo do que um copo de café. A
variedade de alimentos no processo de alimentação garante sem dúvida
uma vida saudável. Os alimentos citados a seguir apresentam bom valor

72
CITOLOGIA

nutritivo: leite, ovos, feijão, soja, ervilha, amendoim, aveia, queijo, entre
muitos outros. A digestão, circulação e respiração são três funções
envolvidas diretamente no processo da nutrição. Assim, a nutrição não
depende apenas do sistema digestório. A digestão possui etapas que
envolvem fenômenos físicos, como mastigação, deglutição e peristaltismo,
e fenômenos químicos, caracterizados por reações químicas: insalivação,
quimificação e quilificação. A circulação garante a distribuição dos
nutrientes para todas as células e o transporte de resíduos até os órgãos
de excreção (rins e glândulas: sebáceas e sudoríparas). A maior parte dos
nutrientes (carboidratos, aminoácidos, minerais e vitaminas) é absorvida
no intestino. O processo da respiração (inspiração e expiração) é traduzido
pelo fenômeno fundamental denominado de respiração celular, que ocorre
dentro da célula, mais precisamente na mitocôndria, com produção de 36
moléculas de ATP. Nesta organela citoplasmática, ocorre a oxidação ou
queima dos nutrientes. É essa queima/oxidação que libera energia para
formação do (ATP), mais gás carbônico e água. Quando os nutrientes
apresentarem, por exemplo, nitrogênio (como os derivados das proteínas),
sua oxidação/queima dá origem à amônia, que é nociva ao organismo,
além de água e gás carbônico. O fígado capta a amônia e a combina com
o gás carbônico, produzindo a ureia, que será eliminada pelos rins. Isto
serve para dar uma ideia da organização de trabalho integrado realizado
pelas células: a homeostasia. Em resumo, os cinco grupos podem assim ser
definidos: a) proteínas (estruturam o corpo); b) glicídios ou carboidratos
(fornecem energia); c) lipídios (formam reserva de energia); d) vitaminas
(reguladores e protetores); e) água e sais minerais (a água compõe dois
terços do organismo, e os sais minerais são elementos constituintes
fundamentais para a homeostasia). São algumas fontes dos grupos de
nutrientes: proteínas (carne, aves, peixe, ovos, leite, queijo, soja, feijão,
lentilha, grão‑de‑bico, pinhão); glicídios cereais (arroz, trigo, aveia, milho)
e seus derivados (pão, massas, farinhas, mingaus, certas frutas como a
banana, raízes e tubérculos, como beterraba, mandioca, batata); lipídios (as
gorduras/óleos). Origem externa são os alimentos de origem animal (banha,
toicinho, manteiga) e de origem vegetal (óleo, azeite, abacate, amendoim
castanha, coco). Os lipídios de origem interna surgem do excesso de glicídios,
que ultrapassam a capacidade de armazenamento pelo fígado e, assim,
são transformados em gordura pelo próprio fígado. Vitaminas auxiliam as
enzimas aumentando a velocidade das reações químicas. As lipossolúveis
são as vitaminas A, D, E e K; e as hidrossolúveis são as vitaminas B e C.
Exemplos de sais minerais: cálcio e fósforo, que são encontrados no leite,
queijo, casca de ovo, castanha‑do‑pará e alimentos preparados com cal
(doce de abóbora); ferro, que é encontrado no fígado e rins, caldo de carne
e de galinha, feijão, lentilha, requeijão, carne, ovos, verduras de folhas
verde‑escuras; e o iodo, nos frutos do mar e no sal iodado. Finalmente,
estudos comprovam que os compostos orgânicos (proteínas) constituem
73
Unidade I

cerca de 20% da massa celular do ser humano; já os lipídios (fosfolipídios,


colesterol e triglicerídeos), cerca de 2%. As gorduras neutras nas células
adiposas (nos lipócitos) são representadas pelos triglicerídeos e, em algumas
circunstâncias, podem constituir até 95% da massa celular; os carboidratos,
compostos de carbono, hidrogênio e oxigênio, possuem papel na nutrição
celular, representam 1% da massa e 3% a 6% nas fibras musculares
estriadas esqueléticas. Os compostos carboidratos são armazenados nas
células na forma de um polímero da glicose, o glicogênio, revelado pela
técnica citoquímica/histoquímica do PAS e/ou hematoxilina + PAS (PAS –
ácido periódico + reativo de Schiff).

O pesquisador francês Jean Rostand chamou de “a aventura do


protoplasma” a relação entre a membrana e o oxigênio, que permitiu o
surpreendente progresso da vida e do homem. A membrana é a origem
da vida, pois tudo se passa obrigatoriamente por seu intermédio, sua
integridade condiciona a sobrevida. Por ela passam todos os fenômenos
vitais, e sua alteração coloca em risco a célula e anuncia antecipadamente
o enfraquecimento e o declínio do organismo inteiro. Pode‑se afirmar que
são cinco as funções da membrana:

1) barreira: determina compartimentos distintos que impedem os


conteúdos de se misturar.

2) Lugar de intercâmbio: é intermediário obrigatório das relações


exteriores à célula, como também entre as diferentes organelas
intracelulares constituídas por membrana. A membrana apresenta
permeabilidade seletiva (transportes passivo e ativo, processos de
endocitose e pinocitose).

3) Estrutura elétrica: é positiva externamente e negativa internamente,


e ainda mantém permanentemente uma diferença de concentração
iônica em suas partes externa e interna. Isto resulta numa polarização
de membrana, influindo, por exemplo, na propagação da condução
nervosa.

4) Local de transmissão de informação: ocorre entre o meio externo e


partes internas. Os transmissores agem na membrana.

5) Um elemento secretório: efetua sínteses a partir de sua própria


substância.

Quimicamente, a membrana apresenta lipídeos e proteínas. Há três


tipos de transporte passivo: difusão simples, difusão facilitada e osmose.
No transporte ativo, há o envolvimento de movimento molecular contra
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CITOLOGIA

um gradiente de concentração; logo, com gasto de energia. Esse transporte


é realizado por uma proteína com canal. Algumas moléculas existentes na
membrana atravessam a bicamada para realizar funções, são moléculas de
proteínas, que são classificadas como proteínas transmembranas. Estas se
estendem através da bicamada lipídica, deixando parte da sua molécula em
ambos os lados. São usadas como meios de transporte de moléculas para
dentro ou para fora da célula. As proteínas transmembranas, que possuem
a parte dentro da membrana plasmática, são denominadas de proteína
integral e/ou integrais.

Quando essas proteínas atravessam (ultrapassam) a membrana uma única


vez, são denominadas “unipasso” e, quando várias vezes, de “multipasso”.
Proteínas interligadas fornecem estabilidade para a membrana. Proteínas
receptoras são moléculas envolvidas na transdução de sinais. Proteínas
enzimáticas são moléculas com fisiologia para catalisar reações químicas
internas, em resposta a sinal externo. A cobertura de carboidratos da
membrana denomina‑se glicocálice, cuja função é de proteção mecânica
e química (isolando e favorecendo a ligação de moléculas), caso típico
é o processo da diapedese (migração leucocitária de glóbulos brancos –
neutrófilos) para o mecanismo de defesa.

As organelas citoplasmáticas portadoras de membrana são: retículo


endoplasmático granular ou rugoso, retículo endoplasmático agranular
ou liso, Complexo de Golgi, lisossomos, peroxissomos e mitocôndrias.
Ribossomos não possuem membranas. O citoplasma possui compostos
inorgânicos e orgânicos e sua matriz é denominada de citossol, contendo
estes compostos, os quais aí existem em perfeita homeostasia celular (bom
funcionamento celular). No retículo endoplasmático granular, ocorre a
síntese das proteínas pelos ribossomos fixados em suas membranas, como
também sínteses de lipídios de membrana, além de promoverem alterações
na composição química das proteínas. Já no retículo endoplasmático
agranular, sua principal função é na síntese de lipídios e de lipídios complexos,
como os esteroides. Enquanto o retículo granular é desenvolvido em células
produtoras de proteínas, como as conjuntivas denominadas de plasmócitos,
e nas pancreáticas, responsáveis pela síntese do suco pancreático, o retículo
agranular, por exemplo, é bem desenvolvido nas células das glândulas
suprarrenais (adrenais). O complexo de Golgi, além de ser um “almoxarifado”
de materiais enviados pelo retículo endoplasmático, também realiza
alterações químicas nesses materiais (geralmente proteínas). Realiza a
secreção de vesículas para o citoplasma com finalidades de secreção celular
e da gênese lisossomal. As organelas com membrana simples, denominadas
de lisossomos, originam‑se do Golgi e relacionam‑se com o processo da
digestão intracelular de macromoléculas. Após processos de endocitose
celular, atuam, portanto, em processos de heterofagia e de autofagia.
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Unidade I

Peroxissomos ou microcorpos são vesículas também de membrana simples


que agem no metabolismo da digestão oxidativa de ácidos graxos, possuem
enzimas que realizam a destruição de peróxidos (produtos do metabolismo,
como a água oxigenada). As mitocôndrias são organelas de membrana dupla,
responsáveis por processos de transformação e produção de moléculas
energéticas. Essa energia produzida é utilizada pelas células para realizarem
várias atividades, como sínteses, contrações, movimentações, transportes,
entre outras. A origem dessa energia é da quebra, tipo de ruptura gradual
de ligações químicas covalentes de certas moléculas energéticas (ácidos
graxos, açúcares como hexoses – glicose).

A célula não pode usar diretamente esses nutrientes (ácidos


graxos e açucares), precisa obter a energia contida neles, que é o ATP
(adenosina‑trifosfato). É o ATP que as células usam como energia. O
processo de glicose anaeróbica ocorre no citoplasma da célula e na
ausência de oxigênio, é um processo pouco produtivo de produção de
energia. Neste processo, uma molécula de glicose é transformada em duas
moléculas de ATP por ação de enzimas existentes no citoplasma e sem
usar oxigênio. Quando as células adquiriram as mitocôndrias (Teoria de
Robertson), desenvolveram outro processo de produção de energia, só que
em maior quantidade, é o processo denominado de fosforilação oxidativa,
que ocorre dentro das mitocôndrias, na presença de oxigênio; portanto, é
um processo aeróbico, em que uma molécula de glicose irá produzir 38
moléculas de ATP. É bom ressaltar que as mitocôndrias também participam
da produção de hormônios esteroides. As mitocôndrias são organelas
que apresentam duas membranas, a externa lisa e a interna, formando
cristas. Nestas, há enzimas que participam da produção do ATP. Na matriz
mitocondrial (área interna às cristas) existem moléculas circulares de DNA,
as quais codificam proteínas para uso dentro das mitocôndrias. Porém,
a maior porcentagem de proteínas mitocondriais é codificada pelo DNA
(ácido desoxiribonucléico) do núcleo da célula, produzida pelos ribossomos
do citoplasma e depois transferidas por transporte ativo para o interior da
mitocôndria. Cabe ressaltar que o DNA mitocondrial é circular, semelhante
ao das células procarióticas (bactérias), como também dos cloroplastos das
células vegetais, e que, em nossas células, só há mitocôndrias maternas.
Fermentação é o conjunto de reações químicas enzimáticas que resultam
na produção de pequenas moléculas orgânicas. Nestas reações químicas,
há liberação de energia. É um processo de respiração anaeróbica, realizada
por leveduras e por certas bactérias, que consiste num tipo de degradação
parcial, tipo de quebra incompleta da glicose, a qual não é totalmente
degrada em CO2 e H2O. O processo termina com compostos orgânicos, em
cujas cadeias de carbono se encerra certa quantidade residual de calorias
que não foi aproveitada.

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CITOLOGIA

Exercícios

Questão 1. (Enade 2011) Uma das funções essenciais da divisão celular em eucariotos complexos é a
de repor células que morrem. Nos seres humanos, bilhões de células morrem todos os dias e, basicamente,
a morte celular pode ocorrer por dois processos morfologicamente distintos: necrose e apoptose.

Considerando que a distinção entre eles é de especial importância no diagnóstico de doenças, avalie
as afirmações abaixo.

I – Na apoptose, os restos celulares são fagocitados pelos macrófagos teciduais.

II – Como processos ativos, tanto a apoptose quanto a necrose requerem reservas de ATP.

III – Na necrose, ocorre extravasamento de substâncias contidas nas células, o que resulta em um
processo inflamatório.

IV – Tanto o mecanismo de necrose como o da apoptose envolvem a degradação do DNA e das


proteínas celulares.

É correto apenas o que se afirma em

A) I.

B) II.

C) I e III.

D) II e IV.

E) III e IV.

Resposta correta: alternativa C.

Análise das afirmativas.

I – Afirmativa correta.

Justificativa: a figura a seguir ilustra o processo de apoptose. Durante esse processo há uma
retração da célula e condensação da cromatina junto à carioteca. Em seguida, a membrana
celular forma prolongamentos em forma de bolhas e ocorre fragmentação do núcleo. As bolhas
membranosas aumentam em quantidade e tamanho e se rompem, abrigando, em seu interior,
o conteúdo celular. Essas bolhas membranosas destacadas, contendo organelas e fragmentos

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Unidade I

nucleares, são denominadas corpos apoptóticos. Ao final do processo, os corpos apoptóticos são
fagocitados por macrófagos teciduais.
Célula em início Célula em fase final de
Célula pré-apoptótica de apoptose Bolhas de apoptose
membranosas
Corpos
apoptóticos

Fragmentos
nucleares

II – Afirmativa incorreta.

Justificativa: a apoptose é um processo ativo, uma vez que requer reservas de ATP em suas etapas
iniciais. No entanto, ao contrário do que diz a afirmativa, a necrose não é um processo ativo, pois é um
fenômeno degenerativo que se instala justamente quando há depleção total de ATP.

III – Afirmativa correta.

Justificativa: a figura a seguir ilustra o processo de necrose. Após a ocorrência da injúria, a


célula passa por aumento de volume, desorganização do citoplasma e agregação da cromatina.
Simultaneamente, a integridade da membrana celular é perdida, o que leva à ruptura da célula e
extravasamento de seu conteúdo. Esse conteúdo extravasado causa dano às células vizinhas e uma
reação inflamatória no local.

Aumento do Rompimento da menbrana e


volume celular liberação do conteúdo celular
Célula normal

IV – Afirmativa incorreta.

Justificativa: durante a apoptose, ocorre a ativação de enzimas que, de fato, degradam o DNA nuclear
e as proteínas citoplasmáticas. Esse tipo de degradação não ocorre durante a necrose.

Questão 2. (Enade 2005) Uma cultura de células de levedura foi tratada durante 14 horas com
brometo de etídio. Essa substância inativou o DNA mitocondrial das células e, consequentemente, suas
mitocôndrias tornaram-se não-funcionais. Espera-se que as leveduras assim tratadas:

A) adaptem-se, passando a realizar fosforilação oxidativa.

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CITOLOGIA

B) morram, porque são incapazes de produzir ATP.

C) sobrevivam, porque podem realizar quimiossíntese.

D) morram, porque são incapazes de fazer fermentação.

E) sobrevivam, porque são capazes de realizar glicólise.

Resolução desta questão na plataforma

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