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SUMÁRIO

1. Introdução...................................................................... 3
2. Hematopoiese ............................................................. 4
3. Eritropoiese................................................................... 6
4. Eritropoetina ................................................................ 7
5. Fatores nutricionais.................................................... 9
6. Hemoglobina..............................................................13
7. Membrana dos eritrócitos......................................15
8. Sistema ABO..............................................................15
9. Sistema Rhesus.........................................................16
10. Metabolismos energético dos eritrócitos......17
11. Destruição dos eritrócitos. .................................18
Referências Bibliográficas .........................................21
FISIOLOGIA DAS HEMÁCIAS 3

1. INTRODUÇÃO
Características morfológicas das
células
As hemácias são células anucleadas,
em formato de disco bicôncavo que
contém grande quantidade de hemo-
globina (proteína transportadora de
O2 e CO2). A forma bicôncava dos
eritrócitos normais proporciona gran-
de superfície em relação ao volume,
o que facilita as trocas de gases. Os
eritrócitos são flexíveis, passando fa-
Figura 1. Eritrócitos na micrografia eletrônica
cilmente pelas bifurcações dos capi-
lares mais finos, onde sofrem defor-
mações temporárias. A deformação, SE LIGA! Na análise microscópica de
em termos relativos, não distende esfregaços do sangue, apenas as faces
achatadas são observadas e, portanto,
muito a membrana e por isso não as hemácias são vistas como células cir-
causa ruptura nas células. culares com coloração central mais fraca,
correspondente às regiões bicôncavas.
Esta forma bicôncava é mantida por
proteínas estruturais do citoesquele-
to e ligadas à membrana da hemácia. Em condições saudáveis, o núme-
Anormalidades ou deficiências des- ro médio de hemácias por milímetro
sas proteínas levam à formação de cúbico é de 5.200.00 no homem e
eritrócitos deformados. 4.700.000 nas mulheres. A concen-
tração de hemoglobina é cerca de 34
g por 100 ml de células.

1.2 Função
A principal função das hemácias consis-
te no transporte de hemoglobina (que
constitui 95% das proteínas das hemá-
cias), assim irão transportar oxigênio
dos pulmões aos tecidos, mantendo a
perfusão tissular adequada, e transpor-
tar CO2 dos tecidos aos pulmões.
FISIOLOGIA DAS HEMÁCIAS 4

2. HEMATOPOIESE há a substituição gradual da medula


hematopoiética ativa (vermelha), por
As célula maduras do sangue apre-
um tecido gorduroso (amarelo). Esse
sentam origem comum a partir de
processo ocorre principalmente em
células tronco hematopoiéticas pre-
ossos longos e inicia-se nas diáfases,
sentes na medula óssea. A palavra
restringindo gradualmente o tecido
hematopoiese significa formação
hematopoiético ativo às epífises, além
das células do sangue. Abrange o
de ossos chatos como pélvis, crânio,
estudo de todos os fenômenos rela-
vértebras, costelas e esterno.
cionados com a origem, com a mul-
tiplicação e a maturação das células Para ocorrer a hematopoese é ne-
primordiais ou precursora das células cessário um microambiente normal,
sanguíneas, à nível da medula óssea. capaz de sintetizar fatores necessá-
rios para a sobrevivência das células
Podemos dividir em dois períodos:
progenitoras, favorecer as interações
• Período embrionário e fetal: Inicia entre células de diferentes tipos e
3º dias após a formação do em- acomodar as células em desenvol-
brião, através do surgimento dos vimento, por isso, além das células
eritroblastos primitivos. A capaci- precursoras hematopoéticas, exis-
dade de gerar todas as linhagens tem outras células que constituem o
hematopoiéticas surge na quar- estroma, formado por: fibroblastos,
ta semana de gestação. Ainda na osteoblastos, osteoclastos, células-
vida intrauterina, a hematopoese -tronco mesenquimais, adipócitos,
migra para a placenta e fígado fe- macrófagos, linfócitos e células en-
tal em torno da quinta semana e, doteliais dos sinusoides medulares),
definitivamente, para a medula ós- e um componente acelular, composto
sea na décima segunda semana por substâncias que modulam as ati-
de gestação vidades celulares, chamadas fatores
de crescimento, citocinas e proteínas
• Período pós-natal: Após o nasci-
de matriz extracelular.
mento, cessa a hematopoiese no
fígado, e a medula passa a ser o As hemácias iniciam suas vidas, na
único local de produção de eritró- medula óssea, pela célula tronco he-
citos, granulócitos e plaquetas. matopoética pluripotente (figura 2), da
qual derivam todas as células circu-
lantes no sangue. A medida que essas
Nos primeiros anos da infância, a ativi- células se reproduzem, uma pequena
dade hematopoiética pode ser detec- parcela permanece exatamente como
tada em todos os ossos e em toda a células pluripotentes originais, retidas
medula óssea. Próximo da puberdade, na medula óssea como reserva e a ou-
FISIOLOGIA DAS HEMÁCIAS 5

tra parte, que é maioria, se diferencia eles promovem o crescimento, e NÃO


formando as outras células, que são a diferenciação. Essa função será dos
as células tronco comprometidas, que próprios indutores de diferenciação.
são também chamadas unidade for- A formação desses indutores é de-
madora de colônia de eritrócitos (co- terminada por fatores externos, como
nhecida com a sigla CFU-E, do inglês, por exemplo, exposição do sangue a
colony-forming unit erythrocyte). baixas concentrações de oxigênio.
O crescimento e reprodução das cé- A célula tronco multipotente dará ori-
lulas tronco são controladas por múl- gem a duas linhagens (figura 2): mie-
tiplas proteínas, denominadas indu- loide e linfoide. A linhagem mieloide
tores de crescimento (encontradas no dará origem as células sanguíneas,
microambiente normal descrito aci- sendo elas: megacariócito (que irá se
ma). Dentre esses indutores, temos fragmentar, dando origem aos trom-
a interleucina-3, que irá promover o bócitos), eritrócito, mastócito e mielo-
crescimento e a reprodução de pratica- blasto. A linhagem linfoide, dará ori-
mente todos os diferentes tipos de cé- gem aos linfócitos
lulas-tronco comprometidas. Porém, Figura 2. Hematopoiese

Célula tronco

Progenitor multipotente Progenitor


mieloide linfoide
Mieloblasto

Célula NK Linfócito
Eritrócito Mastócito
pequeno
Megacariócito

Linfócito T Linfócito B

Trombócitos Basófilo Neutrófilo Eosinófilo Monócito Macrófago Plasmócito

SAIBA MAIS!
FISIOLOGIA DAS HEMÁCIAS 6

A medula óssea está localizada dentro do canal medular dos ossos longos e nas cavidades
dos ossos esponjosos. Existem três tipos de medula óssea:
• Medula óssea vermelha: nos recém-nascidos, esta medula é muito ativa na produção de
células sanguíneas. Com o avanço da idade, a maior parte dessa medula transforma-se em
medula óssea amarela.
• Medula óssea hematógena: deve sua cor à presença de diversos eritrócitos em diferentes
estágios de maturação.
• Medula óssea amarela: esta é rica em células adiposas e não produz mais células sanguí-
neas, exceto em casos de hemorragias, onde a medula óssea amarela pode transformar-se
em medula óssea vermelha e voltar a produzir células do sangue. No adulto, a vermelha é
encontrada no esterno, vértebras, costelas, ossos do crânio e, no adulto jovem, nas epífises
proximais do fêmur e do úmero.

3. ERITROPOIESE proeritroblasto, que irá se dividir di-


versas vezes, resultando em hemá-
A eritropoiese compreende o pro-
cias maduras (figura 3).
cesso de produção e maturação
das hemácias. A primeira célula é o

Célula tronco Proeritroblasto Eritroblasto basófilo


multipotente

Medula óssea Eritroblasto Eritroblasto


ortocromático policromatófilo

Reticulócito Eritrócito
Sangue Maturação
periférico

Figura 3. Eritropoiese
FISIOLOGIA DAS HEMÁCIAS 7

A primeira geração após a formação óssea remanescente, caracteri-


do proeritroblasto são os eritroblastos zando a tentativa de suprir a de-
basófilos. Nesse estágio, a célula só manda por hemácias pelo orga-
acumula pequena quantidade de he- nismo. O principal estímulo para a
moglobina. Nas próximas gerações as produção de hemácias por baixa
células ficam cheias de hemoglobina, concentração de oxigênio circu-
o núcleo vai condensando até ficar lante é o hormônio eritropoetina.
em um tamanho bem pequeno e seu
• Número de células no vaso san-
resíduo final é absorvido ou excretado
guíneo, a fim de não impedir o flu-
pela célula, junto como reticulo endo-
xo pela quantidade.
plasmático. Quando ela atinge esse
estágio, é denominada como reticuló-
cito. Ela ainda contém remanescentes 4. ERITROPOETINA
do aparelho de Golgi, mitocôndrias e
A eritropoetina é um hormônio de gli-
algumas outras organelas citoplas-
coproteína. Possui papel fundamental
máticas. Durante esse estágio de re-
para a produção das hemácias, sendo
ticulócito, as células saem da medula
o principal fator de crescimento rela-
óssea, entrado nos capilares sanguí-
cionado. A principal fonte da eritropo-
neos (por diapedese). Ao chegar na
etina no organismo é o tecido renal
corrente sanguíneo, em 1-2 dias, os
(cerca de 90%), sendo os 10% res-
remanescentes desaparecem e a cé-
tantes formada no fígado. O rim pos-
lula passa a ser referida como hemá-
sui alta sensibilidade à oxigenação do
cia madura.
sangue, que eleva os níveis teciduais
do fator induzível por hipóxia-1 (HIF-
Regulação da eritropoiese 1), que é um fator de transcrição da
eritropoetina (e outros genes induzí-
A massa total das células sanguíneas
veis por hipóxia também). Com a eri-
da linhagem vermelha é regulada por
tropoetina formada, se liga ao recep-
alguns limites:
tor de eritropoetina (EpoR), expresso
• Número adequado de hemácias nos precursores eritroides, estimu-
para o transporte de oxigênio dos lando a sua proliferação e diferencia-
pulmões para os tecidos, de for- ção, e resultando em um aumento da
ma que qualquer condição que massa eritrocitária. Da mesma forma,
impeça isso, leve a um aumen- na ausência de eritropoetina, ocorre
to de intensidade na produção a formação de poucas hemácias na
de hemácias. Outro mecanismo medula óssea.
é a destruição da medula óssea,
que leva à hiperplasia de medula
FISIOLOGIA DAS HEMÁCIAS 8

SE LIGA! Fatores de crescimento  célu-


las indiferenciadas;
Eritropoetina  Fase final de diferenciação.

SAIBA MAIS!
A produção deficiente de eritropoetina ocorre em várias formas de anemia, como a anemia da
insuficiência renal crônica, anemia das inflamações crônicas, doenças autoimunes, Aids e ne-
oplasias. Acredita-se que existe uma relação da menor produção de eritropoetina em muitas
dessas doenças com a elevação de IL-1.

O diagrama abaixo mostra os prin- da linhagem vermelha, quando a oxi-


cipais mecanismos da eritropoetina genação dos tecidos diminui:
para aumentar a produção de células

Célula-tronco
hematopoiéticas

Eritropoetina
Proeritroblasto

Hemácias
Diminuição

Oxigenação
tecidual

Diminuição

Fatores que reduzem a


oxigenação:
• Hipovolemia
• Anemia
• Hb baixa
• Fluxo sanguíneo deficiente
• Doenças pulmonares
FISIOLOGIA DAS HEMÁCIAS 9

5. FATORES ção e intensidade de produção estão


NUTRICIONAIS relacionadas ao estado nutricional do
indivíduo.
As hemácias estão entre as células
mais rápidas de crescimento e repro-
dução de todo o corpo. Sua matura-

SAIBA MAIS:
A quantidade total de ferro no corpo é 4-5g, onde cerca de 65% é encontrada na forma de
hemoglobina, 4% na mioglobina, 1% nos compostos heme, 0,1% combinado com a proteína
transferrina, e o restante (15-30%) armazenas no sistema reticuloendotelial e no fígado, so-
bretudo na forma de ferritina.

Ferro Na membrana apical do enterócito


O ferro utilizado pelo organismo é obti- encontram-se as proteínas DMT-1
do de duas fontes principais: da dieta e (transportador de metal divalente –
da reciclagem de hemácias senescen- divalent metal transporter), a ferro
tes. Cerca de 1 mg a 2 mg de ferro são redutase duodenal (Dcytb) e a HCP
absorvidos por dia pelo epitélio duode- (heme carrier protein), as quais estão
nal. Essa absorção é feita em 3 etapas: associadas à absorção do Ferro.
Existem dois ferros que somos capa-
zes de absorver, o ferro hêmico e o
1. Importação: consiste no trans-
ferro não-hêmico. O ferro em carnes
porte do ferro do lúmen intesti-
está na forma heme, o qual é pron-
nal para dentro da célula através
tamente absorvido. Esse grupo heme
da membrana do enterócito.
possui uma proteína carreadora es-
2. Processamento: movimentação pecífica (a HCP – heme carrier pro-
dele dentro da célula. tein), que quando o grupo heme se
3. Exportação: saída do ferro para a liga ao à proteína HCP, formando o
corrente sanguínea. complexo heme-HCP, ele é internali-
zado por endocitose. Agora dentro da
vesícula endossomal, esse complexo
FISIOLOGIA DAS HEMÁCIAS 10

heme-HCP sofre a ação da heme oxi- ácido ascórbico dietético e baixo pH


genasse (HO), liberando monóxido de estomacal, mas a principal forma de
carbono, bilirrubina-IXa e o Fe+2. redução é pela ação da ferro reductase
O ferro não-heme (também chama- duodenal, a Dcytb. Essa proteína tem
do de inorgânico) não é prontamen- a capacidade de transformar o Fe+3
te absorvido, devido a formação de em Fe+2, para que então a internaliza-
precipitados insolúveis com ferro, que ção do ferro inorgânico possa ser feita.
impedem essa absorção. Esse tipo de A importação do Fe+2 para dentro
ferro representa a maior proporção da célula será feita então pela prote-
da ingestão de ferro. Ele está presen- ína DMT-1, a qual transporta o Fe+2
te nos alimentos em duas formas di- para dentro da célula, que pode ficar
ferentes, o Fe+2 (reduzido) e o Fe+3 armazenado na forma de ferritina ou
(oxidado), porém nós só conseguimos transportado até a membrana baso-
absorver o ferro inorgânico na forma lateral do enterócito, onde ele é ex-
reduzida (Fe+2), fazendo com que o portado para fora da célula pela fer-
Fe+3 tenha que sofrer redução para roportina e ligado a transferrina, para
então ser absorvido. então poder ser transportado para as
Essa redução pode ser realizada de outras células do corpo.
diversas formas, como pela ação do

Figura 4. Absorção do ferro. Fonte: Mackenzie e Hediger


FISIOLOGIA DAS HEMÁCIAS 11

Como vimos, o ferro livre é tóxico, em Quando a quantidade total de ferro no


geral é encontrado no corpo ligado a organismo é superior à que pode ser
proteínas, assim o ferro é carregado acomodada no reservatório de deposi-
no sangue (como Fe2+) pela apo- to de apoferritina, ou seja, quando tem
transferrina, com o qual ele forma um mais do que é possível guardar, o fer-
complexo chamado de transferrina. ro será armazenado sob forma de he-
mossiderina (extremamente insolúvel).
Bilirrubina (excretada)

Tecidos
Macrófagos
Ferritina Hemossiderina

Heme

Ferro livre
Hemoglobina degradada Ferro livre Enzimas

Transferrina - Fe
Hemoglobina
Hemácias
Plasma

Perda sanguínea Fe++ absorvido Fe excretado


– 0,7 mg de Fe, (intestino delgado) - 0,6 mg diariamente
diariamente, na
menstruação

Fluxograma 1. Metabolismo do ferro. Fonte: Adaptado de Guyton e Hall

Quando a quantidade de ferro no tempo de vida e são destruídas, o fer-


plasma diminui, parte do ferro no de- ro é reaproveitado. Ele passa a ser
pósito de ferritina é mobilizada com armazenado sob forma de ferritina, e
facilidade e transportada sob forma será usado conforme necessário para
de transferrina pelo plasma para as a formação de uma nova molécula de
áreas do corpo onde é necessária. hemoglobina.
Quando as hemácias completam seu
FISIOLOGIA DAS HEMÁCIAS 12

até transportar oxigênio, porém tem


SE LIGA! Ferritina  é a forma que o sobrevida curta e é mais frágil).
ferro se encontra em maior proporção
e é uma forma mais lábil de armazena-
mento, ou seja, é daqui que tiramos o Vitamina B12 (Cianocobalamina)
ferro quando necessário.
Hemossiderina  é uma forma mais es- A cianocobalamina é uma vitamina
tável e menos acessível do ferro depo- hidrossolúvel do complexo B, que age
sitado. como coenzima de reações químicas
que transferem um grupo metila do
metiltetrafolato para a homocisteína,
O ácido fólico e a vitamina B12 são de
convertendo-a a metionina. A metio-
grande importância para a maturação
nina é um aminoácido essencial e, na
final das células da linhagem verme-
forma transformada, é um importan-
lha. Ambas serão essenciais para a
te doador de grupos metila em várias
síntese de DNA na formação de tri-
reações enzimáticas.
fosfato de timina (unidade da produ-
ção de DNA). Sua deficiência reduz A vitamina B12 é absorvida no trato
a formação do DNA e consequente- gastrointestinal. As células parietais
mente, falha da maturação nuclear e das glândulas gástricas secretam o
da divisão celular. Além disso, resulta fator intrínseco, que se combina a vi-
na formação de macrócitos, que pos- tamina B12 dos alimentos, tornando-
suem uma membrana frágil, irregular, -a disponível para a absorção intesti-
grande e ovalada, que conseguem nal, desta maneira:

Ligação à
Ligação do fator
receptores Liberada para
intrinseco com Trnasporte
específicos na Armazenamento medula óssea,
vit B12 (protege sanguíneo por
membrana da no fígado conforme
da digestão) pinocitose.
borda em escova necessidade.
no íleo.

Se os níveis de vitamina B 12 são DNA, causando a anemia megalo-


insuficientes e os de metionina tam- blástica.
bém, o organismo passa a utilizar e A deficiência de vitamina B 12 cau-
converter o ácido fólico para produzir sa, também, várias alterações neu-
metionina, o que reduz a síntese de rológicas, como neuropatia precoce
FISIOLOGIA DAS HEMÁCIAS 13

(com perdas de reflexos, pareste- consequência da deficiência de áci-


sias, diminuições das sensibilidades do fólico, mas estão ligadas à ativi-
táctil, vibracional e da temperatura), dade da metilmalonil-CoA-mutase,
e comprometimentos psicológicos. outra enzima dependente da vitami-
As alterações neurológicas não são na B12.

SAIBA MAIS:
A deficiência de vitamina BI2 pode ser causada por: (1) dieta vegetariana; (2) envelhecimento;
(3) acloridria com ausência da secreção de HCI e de Fator intrínseco, de origem genética ou
cirúrgica, como por exemplo em pacientes gastrectomizados ou que perderam grande parte
da região do corpo do estômago; (4) ressecção do íleo; (5) na doença de Crohn, que afeta o
íleo; (6) defeitos do carregador da vitamina no íleo e (7) problemas relacionados a um super-
crescimento bacteriano no intestino, em que a vitamina é utilizada pelas bactérias, como pode
ocorrer em casos de múltiplas diverticuloses jejunais que causam estase do conteúdo luminaI.

Folatos nesta condição, há alteração da matu-


ração das hemácias, originando a ane-
O ácido fólico ou ácido pteroilglutâ-
mia megaloblástica ou perniciosa.
mico, na forma reduzida de folato ou
tetraidrofolato, é uma vitamina hi-
drossolúvel do complexo B que age 6. HEMOGLOBINA
como cofator de reações envolvidas
na síntese de timinas e purinas, bases A síntese de hemoglobina começa
componentes da molécula de DNA. nos proeritroblastos e prossegue até
As fontes de folato são: vegetais ver- o estágio dos reticulócitos (como vi-
des, fritas e carnes (fígado, em espe- mos no item “eritropoese”). A hemo-
cial), porém ele é facilmente destruído globina é formada através do succinil-
durante o cozimento. Sua deficiência -CoA, que se liga a glicina, formando
advém da deficiência de absorção in- o pirrol. Quatro pirróis se juntam e for-
testinal ou da baixa disponibilidade mam a protoporfirina IX, que se liga
na dieta. ao ferro, formando a molécula heme.

A deficiência desta vitamina compro- Assim, o heme consiste em um anel


mete a síntese de DNA e a divisão ce- de porfirina coordenado com um áto-
lular, defeito cuja manifestação clínica mo de ferro. O heme é a porfirina mais
é observada em tecidos com alta taxa comum encontrada no corpo. Ela for-
de divisão celular, entre eles a medula ma complexos com as proteínas para
óssea. Como a síntese de RNA e a sín- formar a hemoglobina, mioglobina e
tese proteica não são comprometidas citocromos.
FISIOLOGIA DAS HEMÁCIAS 14

Para a formação da hemoglobina, o delta, conforme sua composição na


heme se liga a globina (sintetizada cadeia de aminoácidos que as for-
pelos ribossomos) formando, assim, mam. A natureza dessas cadeias
uma cadeia de hemoglobina. As ca- (seja alfa, beta, etc) irá determinar a
deias de hemoglobinas podem ser afinidade de ligação da hemoglobina
designadas como alfa, beta, gama e com o oxigênio.

I. 2 succinil-CoA + 2 glicina
II. 4 pirróis  protoporfirina IX
III. protoporfirina IX + Fe++  heme
Pirróis
IV. Heme + polipeptídeo  cadeia de hemoglobina ( ou )
V. 2 cadeias  + 2 cadeias  hemoglobina A

Figura 5. Formação de hemoglobina. Fonte: Adaptado de Guyton e Hall

Quatro cadeias de hemoglobinas se hemoglobina. Cada um desses áto-


ligam para formar aa molécula com- mos pode se ligar a uma molécula de
pleta de hemoglobina. A forma mais oxigênio, totalizando quadro molé-
comum no humano adulto é a hemo- culas de oxigênio (O2) por molécula
globina A, que é composta por duas de hemoglobina. Essa combinação
cadeias alfa + duas cadeias beta. do oxigênio com o ferro é extrema-
mente frouxa e reversível.

4 CADEIAS DE HEMOGLOBINA (ALFA,


BETA, GAMA OU DELTA) = 1 MOLÉCULA DE
HEMOGLOBINA.

Lembre-se que cada cadeia de he-


moglobina possui átomo de ferro.
Assim, são encontradas quatro mo- Figura 6. Molécula de hemoglobina oxigenada e outra
desoxigenada.
léculas de ferro em cada molécula de
FISIOLOGIA DAS HEMÁCIAS 15

7. MEMBRANA DOS e 10% de carboidrato. O esqueleto


ERITRÓCITOS é formado por proteínas estruturais,
dentre elas: espectrina alfa e beta
A membrana do eritrócito compre-
(mais abundantes), anquirina, proteí-
ende uma dupla camada lipídica,
na 4.1 e actina. Elas irão formar uma
proteínas integrais da membrana e
rede horizontal no interior do eritrócito
um esqueleto da membrana. Sendo
importantes na manutenção da forma
a maioria de proteínas (50%), 20%
bicôncava.
de fosfolipídios, 20% de colesterol

Figura 7. Estrutura da membrana do eritrócito

8. SISTEMA ABO
Consiste em três genes alelos: A, B e o B está presente, o sangue é do tipo
O. Os genes A e B controlam a síntese B. Na presenta de A e B, é tipo AB.
de enzimas especificas responsáveis Na ausência do aglutinogênio A ou B,
pela adição de um único resíduo de é tipo O.
carboidrato em uma glicoproteína bá- Quando o aglutinogênio não está
sica antigênica ou em um glicolipídio presente nas hemácias da pessoa,
na membrana, conhecida como subs- anticorpos designados como aglu-
tancia H. O gene O é amorfo e não tininas anti-A se desenvolvem no
transforma a substancia H. Quando plasma. Da mesma forma, quando o
somente o tipo A (também chamado aglutinogênio tipo B não está presen-
de aglutinogênio A) está presente, o te nas hemácias, aglutininas anti-B
sangue é do tipo A. Quando somente se desenvolvem no plasma. O tipo O,
FISIOLOGIA DAS HEMÁCIAS 16

contém aglutininas anti-A e anti-B. E o que resulta nos fenótipos Rh D+ e


o sangue AB contém aglutinogênio A RhD -, ou seja, as hemácias Rh nega-
e B, mas não contem aglutininas. tivas ou positivas referem-se à pre-
sença ou ausência do antígeno D.
Atualmente mais de 50 antígenos já
TIPO
AGLUTINOGÊNIOS AGLUTININAS
foram identificados, sendo os princi-
SANGUÍNEO
pais já citados: D, C, c, E, e. A pes-
soa que tem o antígeno C não tem o
O -
Anti- A e
antígeno c, mas quem não tem o C,
anti-B
sempre terá o c. Assim como o E-e ou
D-d. Além disso, devido ao modo de
A A Anti-B
herança desses fatores, cada pessoa
B B Anti-A
tem três pares de antígenos. Antíge-
nos anti-C, anti-c, anti-E e anti-e são
AB AeB -
vistos ocasionalmente, e podem cau-
sar tanto reações transfusionais como
Tabela 1. Sistema ABO. Adaptado de Guyton e Hall doença hemolítica do recém-nascido.
Anticorpo anti-d não existe.
9. SISTEMA RHESUS
O lócus do grupo sanguíneo Rh é
composto por dois genes estruturais
relacionados: RhD e RhCE, que co-
dificam proteínas de membrana que
tem os antígenos D, Cc e Ee. O gene
RhD pode estar presente ou ausente,
FISIOLOGIA DAS HEMÁCIAS 17

SAIBA MAIS:
Existem aproximadamente 400 antígenos de grupos sanguíneos. Eles possuem importância
na transfusão sanguínea, devido a produção de anticorpos, possibilitando uma reação trans-
fusional. Podemos ver alguns na tabela abaixo:

CAUSA DE REAÇÃO
FREQUÊNCIA DE CAUSA DE DOENÇA HEMOLÍ-
SISTEMAS HEMOLÍTICA
ANTICORPOS TICA DO RECÉM-NASCIDO
TRANSFUSIONAL

ABO (ABO) Quase universal Sim (comum) Sim (geralmente leve)

Rh (RH) Comum Sim (comum) Sim

Kell (KEL) Ocasional Sim (ocasional) Anemia, não hemólise

Duffy (Fy) Ocasional Sim (ocasional) Sim (ocasional)

Kidd (JK) Ocasional Sim (ocasional) Sim (ocasional)

Lutheran (LU) Raro Sim (rara) Não

Lewis (LE) Ocasional Sim (rara) Não

P (PI) Ocasional Sim (rara) Sim (rara)

MNS (MNS) Raro Sim (rara) Sim (rara)

Fonte: Adaptado de Hoffbrand

10. METABOLISMOS celular, ou seja, manutenção da for-


ENERGÉTICO DOS ma da célula, capacidade de se de-
ERITRÓCITOS formar reversivelmente manuten-
ção da bomba de cátions (Na+/K+
Embora as demandas metabólicas
ATPase) para manter a força iônica
sejam menores do que as de outras
dentro da célula e proteção de suas
células sanguíneas, os eritrócitos ain-
proteínas contra fosforilação oxida-
da precisam de energia. Os três pro-
tiva. O ATP é necessário para a ma-
cessos fisiológicos que demandam
nutenção da forma, deformabilida-
energia são:
de, fosforilação dos fosfolipídeos e
• Manutenção da integridade es- proteínas de membrana, transporte
trutural e funcional da membrana
FISIOLOGIA DAS HEMÁCIAS 18

ativo de várias moléculas, síntese enzimas são degradadas e não são


parcial de nucleotídeos; repostas, tornando-as inviáveis; ou
seja, não tem como repor já que não
• Manutenção do ferro hemoglobíni-
tem DNA.
co no estado ferroso (Fe++): Quan-
do o ferro hemoglobínico é oxida- Vários fatores contribuem com o re-
do (Fe+++), o mesmo não possui conhecimento e eliminação das he-
capacidade de transportar o oxi- mácias velhas, em especial a redução
gênio. da atividade metabólica e a oxidação
de hemoglobina. A formação de agre-
• Manutenção das vias metabólicas gados de proteínas de banda 3 (uma
de produção de energia utilizável: proteína transmembrana presente na
Como a hemácia não possui mi- hemácia) são reconhecidas por como
tocôndria, suas vias metabólicas antígenos por anticorpos IgG autólo-
ocorrem no citoplasma. A glicose é gos e complemento. Com a deposição
o substrato primário para o reque- de uma densidade crítica de anticor-
rimento energético dos eritrócitos, pos e moléculas de complemento, as
sendo a maioria captado pela via hemácias velhas são reconhecidas e
glicolítica que tem como produto eliminadas.
o lactado, ou seja, é uma glicólise
anaeróbica. Outra parte é capta- As hemácias velhas são fagocitas e
do pela via das pentoses, que irá decomposta em seus componentes,
gerar duas moléculas de NADPH, sendo o mais importante a membra-
que irão ser essenciais para a pro- na e hemoglobina. A hemoglobina é
dução de grupos tiol da hemoglo- decomposta em globina (que é me-
bina e proteção das proteínas de tabolizada, dando origem a aminoá-
membrana contra a oxidação. cidos) e o catabolismo do heme dos
eritrócitos libera ferro para a recircu-
lação, via transferrina plasmática, que
11. DESTRUIÇÃO DOS é transformada em bilirrubina, indo
ERITRÓCITOS. para o fígado, sendo conjugada com
Os eritrócitos possuem sobrevida glicuronídeos e excretados no duo-
média de 120 dias. As células são deno via bile, onde serão convertidos
removidas extravascularmente pelos em estercobilinogênio e estercobilina.
macrófagos do sistema reticuloendo- O estercobilinogênio e estercobilina
telial (medula óssea, fígado e baço). são parcialmente reabsorvidos e ex-
Como não tem núcleo, seu metabo- cretados na urina como urobilinogê-
lismo deteriora-se à medida que as nio e urobilina.
FISIOLOGIA DAS HEMÁCIAS 19

A via intravascular desempenha pe- normal. Elas se ligam à hemoglobina


queno ou nenhum papel na destrui- formando o complexo hemoglobina-
ção dos eritrócitos. Haptoglobinas -haptoglobina e é removida do plas-
são proteínas presentes no plasma ma pelo sistema reticuloendotelial.

Medula óssea Sangue


7 – 10 dias 120 dias

Hemácias
Eritroblastos

Transferrina

Hemoglobina Membranas

Ferro
Globina

Heme Aminoácidos

Protoporfirina

Urina
Biliverdina

Bilirrubina
Circulação
portal
Bilirrubina
conjugada Circulação
sistêmica

Urobilinogênio
Fezes

Figura 8. Destruição das hemácias. Fonte: Adaptado de Zago


FISIOLOGIA DAS HEMÁCIAS 20

FISIOLOGIA DAS HEMÁCIAS

Apenas em osso e
30º após formação do medula óssea
embrião Megacariócito,
Transporte de
eritrócito,
hemoglobina > Microambiente =
Eritroblastos primitivos mastócito e
Transporte de estroma + fatores de Proeritroblasto > eritroblasto
mieloblasto
oxigênio crescimento+ citocinas basófilo > eritroblasto >
+ ptn eritroblasto ortocromático >
Placenta, fígado, Reticulócito > eritrócito
medula óssea
Período pós-natal Linhagem mieloide
Função
Período Regulação: número adequado
embrionário e fetal para transporte de O2; número
de células no vaso sanguíneo.
Hematopoiese
Células anucleadas, em
formato de disco bicôncavo

Eritropoiese
Genes A e B. Aglutininas
Sistema ABO
anti-A e anti-B

Eritropoetina
Presença ou ausência do
Sistema ABO
antígeno D = Rh + ou Rh - FISIOLOGIA DAS
HEMÁCIAS Principal fator de
crescimento para
produção das
Metabolismo hemácias
energético
Fontes de energia:
ATP e ADP. Sensível à O2 >
 HIF-1 > EpoR > 
hemácias
Destruição das
Não utiliza O2 MO, fígado e baço
hemácias Fatores
nutricionais Fonte: Rins (90%),
fígado (10%)
Membrana dos
eritrócitos
Permite maleabilidade das Hemoglobina
hemácias

Folato Vitamina B12 Ferro


Formada por lipídeos Pigmentação
e proteínas do sangue
Absorção: Intestino
Fonte: Alimento de
delgado
Função: Absorção, origem animal Absorção:
transporte e liberação duodeno
de O2
Folato > vit B12 Transporte:
para os tecidos
Transferrina
Função: maturação
final das hemácias
Formada por: Armazenamento:
Ferritina e
hemossiderina

Heme Globina Regulação: Ingestão,


estoque armazenado.

Metabolismo:
Alfa, beta, Reaproveitado na
4 pirrol > protoporfirina
delta e gama destruição dos
eritrócitos.
FISIOLOGIA DAS HEMÁCIAS 21

REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
HALL, John Edward; GUYTON, Arthur C. Guyton & Hall tratado de fisiologia médica. 13. ed.
Rio de Janeiro: Elsevier, 2017.
Zago. Tratado de Hematologia.
Junqueira, Luiz Carlos Uchoa, 1920-2006 Histologia básica I L.C.Junqueira e José Carneiro.
- [12. ed]. - Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013.
Aires, Margarida de Mello Fisiologia / Margarida de Mello Aires ; colaboração de Ana Maria
de Lauro Castrucci ... [et al.]. - 3.ed. - Rio de Janeiro : Guanabara Koogan, 2008.
Smith, Colleen. Bioquimica médica básica de Marls. 2 ed. Porto alegre. Artmed. 2007.
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