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Evolução Biológica: unicelularidade e multicelularidade

A vida na Terra foi evoluindo, de forma lenta e gradual, sofrendo diversas modificações
que deram origem à grande diversidade de seres vivos que podemos observar hoje em
dia no nosso planeta. Mas, para compreendermos a evolução da vida temos de
compreender, em primeiro lugar, a história evolutiva da célula.

Nos oceanos primitivos, os primeiros seres vivos teriam uma estrutura comparável à dos
organismos atuais mais simples – seres unicelulares e de organização procariótica, uma 155

vez que:

 Possuem uma simplicidade estrutural (a evolução processa-se de seres


mais simples para mais complexos)

 Os dados fósseis sugerem que os seres eucariontes surgiram 2000 Ma


depois dos procariontes.

Existem dois modelos para explicar a origem das células eucarióticas a partir de
procarióticas: modelo autogénico e modelo endossimbiótico.

Modelo autogénico
De acordo com o modelo autogenético, os organitos membranares resultam da
reorganização de um sistema de membranas existente num ancestral comum aos
eucariotas.

Prolongamentos da membrana citoplasmática deslocaram-se para o interior do


citoplasma originando compartimentos, separados do resto do citoplasma, que
viriam a constituir os organelos celulares. Como resultado dessa
compartimentação ocorreu uma divisão interna das funções celulares. O
primeiro compartimento a surgir terá sido o invólucro nuclear.

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Este modelo é suportado pelo facto de as membranas intracelulares das células


eucarióticas apresentarem a mesma assimetria que se verifica na membrana
citoplasmática dos seres procariontes - a face voltada para o interior dos
compartimentos intracelulares é semelhante à face externa da membrana
citoplasmática, e a face voltada para o hialoplasma é semelhante à face interna da
membrana citoplasmática. Há uma continuidade morfológica e funcional entre a
membrana plasmática e o invólucro nuclear devido a invaginações da membrana
plasmática.

No entanto, neste modelo alguns factos são mal explicados, tendo sido essenciais para
a refutação desta teoria, nomeadamente, o facto de o DNA presente nas mitocôndrias
e cloroplastos, pretensamente migrado do núcleo, apresentar maior nível de
similaridade estrutural com o DNA das bactérias do que com o DNA do núcleo.

Modelo endossimbiótico
O modelo endossimbiótico admite que as células eucarióticas teriam resultado da
incorporação de organismos procariontes (por processos semelhantes à fagocitose),
por outros procariontes, ocorrendo endossimbiose.
Alguns procariontes fotossintéticos fagocitados não teriam sofrido digestão e teriam
começado a fornecer à célula matéria orgânica resultante da sua atividade fotossintética
e a receber em troca proteção, água e dióxido de carbono necessários à fotossíntese, o

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que levou ao aparecimento de cloroplastos. Por um processo similar, a fagocitose de
procariontes aeróbios, eficazes na utilização de oxigénio nos processos de produção de
energia, teria levado ao aparecimento de mitocôndrias.

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O modelo de Lynn Margulis é aquele que reúne, atualmente, maior aceitação pois
existem diversos argumentos favoráveis:

 As relações de simbiose são extremamente comuns no mundo vivo;


 Cloroplastos e mitocôndrias apresentam dimensões muito semelhantes às dos
procariontes atuais;
 Os inibidores da síntese proteica de mitocôndrias, cloroplastos e procariontes
(ex.: estreptomicina) não inibem a dos eucariontes;
 O aminoácido iniciador da cadeia polipeptídica de mitocôndrias e cloroplastos é
a formilmetionina, como nos procariontes, e não a metionina, como nos
eucariontes;
 As mitocôndrias e os cloroplastos têm divisão autónoma (fissão binária);
 O DNA das mitocôndrias e dos cloroplastos não se encontra associado a histonas,
sendo deste modo semelhante, em estrutura, ao material genético dos
procariontes;
 Os cloroplastos possuem ribossomas com tamanho e características muito
semelhantes às dos ribossomas dos procariontes.

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Origem dos seres multicelulares
Depois do aparecimento das células eucarióticas, a vida na Terra apresentava já grande
diversidade.

Os organismos eucariontes, que desenvolveram capacidade de predação, começaram


a aumentar de tamanho, o que favoreceu:

• a captura mais eficiente de outras células;


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• a deslocação que, sendo mais rápida, facilita a fuga e a alimentação;

• o aumento do metabolismo.

À medida que as dimensões da célula aumentam, a razão entre a área da célula e o seu
volume diminui porque o crescimento celular não pode ser indefinido. Então, como o
metabolismo se torna mais ativo, mas a superfície membranar que contacta com o
exterior não tem um aumento proporcional, as trocas com o meio tornam-se menos
eficientes e não são capazes de dar resposta às necessidades das células.

Embora ainda não esteja bem esclarecida, pois o registo fóssil não é suficiente, pensa-
se que a multicelularidade tenha resultado de associações vantajosas entre eucariontes
unicelulares que foram evoluindo:

 inicialmente, todas as células desempenhariam a mesma função;

 posteriormente, algumas células ter-se-iam especializado em


determinadas funções, ocorrendo diferenciação celular;

 a diferenciação celular, em que se verifica interdependência estrutural e


funcional das células, ter-se-á acentuado, originando verdadeiros seres
multicelulares.

Houve a necessidade de estabelecer trocas eficientes com o meio, o que levou ao


surgimento de colónias, e mais tarde da pluricelularidade, por forma a manter
equilibrada a relação área/volume das células.

Atualmente, verifica-se a existência de agregados de seres eucariontes unicelulares da


mesma espécie que estabelecem ligações estruturais entre si,
formando colónias ou agregados coloniais.

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Gonium, Eudorina e Pandorina são organismos coloniais esféricos formados por várias
células sem qualquer especialização celular

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Alga Volvox

Género de algas verdes, é um ser colonial


constituído por uma esfera oca de células
biflageladas, mergulhadas numa matriz
gelatinosa. Os flagelos permitem o movimento
da colónia. As células mantêm a sua
independência, apesar de existirem ligações
citoplasmáticas entre elas.

Algumas células de maiores dimensões têm função reprodutiva, o que indicia uma
incipiente especialização celular. Ainda assim, os organismos coloniais não constituem
seres pluricelulares, uma vez que diferenciação celular praticamente não existe.

Pensa-se que:

Os seres coloniais possam ter estado na origem de algas verdes pluricelulares, algumas
das quais evoluíram mais tarde para plantas;

 Este dado é apoiado pela existência de clorofila a e b nas algas verdes e


nas plantas e, também, pela presença de amido como substância de
reserva em ambas;

Os diferentes tipos de células, já com especialização, originaram tecidos que levaram ao


aparecimento de órgãos e de sistemas de órgãos, havendo uma crescente especialização
e diferenciação celulares.

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Vantagens evolutivas da multicelularidade para os organismos:

 Permite que os organismos tenham maiores dimensões, mantendo a relação


área/volume ideal para a realização de trocas com o meio;

 Possibilita maior diversidade, proporcionando uma melhor adaptação a


diferentes ambientes;

 Diminuição da taxa metabólica, como resultado da especialização celular que


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permitiu uma utilização de energia de forma mais eficaz;

 Maior independência relativamente ao meio ambiente, devido a uma eficaz


homeostasia (equilíbrio dinâmico do meio interno) que resulta da
interdependência entre os vários sistemas de órgãos.

A endossimbiose entre procariontes conduziu ao aparecimento de células eucariontes.


Os seres eucariontes terão constituído associações coloniais, ou seja, a associação
entre seres eucariontes terá conduzido ao aparecimento de colónias. Nas colónias foi
ocorrendo uma progressiva especialização celular, isto é, as células foram-se
diferenciando, estabelecendo uma interdependência funcional, o que conduziu ao
aparecimento de seres multicelulares.

Evolução Biológica: mecanismos de evolução

A explicação para a origem de toda a biodiversidade desafiou o pensamento humano,


tendo surgido explicações de natureza mítica ou científica que procuraram dar resposta
a essa interrogação.

Fixismo

Foi a primeira tentativa de explicação da grande diversidade de seres vivos existentes


na Terra;

Apoiada pela observação de gerações sucessivas de seres vivos que eram sempre
semelhantes;

As espécies surgiram tal como se conhecem atualmente e mantiveram-se fixas e


imutáveis ao longo do tempo;

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As espécies foram criadas independentemente umas das outras;

As principais teorias fixistas são o criacionismo, o espontaneísmo e o catastrofismo

Criacionismo

Ato da criação divina;

As espécies surgiram todas ao mesmo tempo;

Teoria apoiada por aspetos religiosos. 161

Espontaneísmo

As espécies surgem segundo um princípio ativo, a partir do “nada”.

Catastrofismo

Explica a biodiversidade através de catástrofes que ocorreriam e umas espécies


substituiriam outras.

As novas espécies seriam o ato da criação divina ou então seriam espécies que viriam
de outros locais geográficos.

Evolucionismo

Admite que as espécies se alteram de forma lenta e progressiva ao longo do tempo,


dando origem a novas espécies;

As espécies são originadas a partir de ancestrais comuns;

O ambiente intelectual em que o evolucionismo se estabeleceu foi influenciado pelas


ideias de mudança que surgiram, ao mesmo tempo, em todas as áreas do
conhecimento;

Construiu-se com o contributo e a colaboração de várias ciências e, em particular, da


Geologia.

De entre os principais defensores das ideias de evolução destacam-se Lamarck e Charles


Darwin.

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Lamarckismo 162

Admitia uma progressão constante e gradual dos organismos mais simples para os mais
complexos. Esta progressão ocorria segundo dois princípios:

Lei do uso e do desuso

O ambiente é o principal agente responsável pela evolução dos seres vivos.

A necessidade que os seres vivos sentem de se adaptarem a novas condições ambientais


conduz ao uso ou ao desuso contínuo de certos órgãos.

Ex.: A toupeira, pelos seus hábitos subterrâneos, faz pouco uso da visão, o que tornou os seus
olhos pequenos e pouco funcionais – atrofia do órgão sob a influência do meio.

Lei da herança de carateres adquiridos

As transformações sofridas eram transmitidas à descendência.

Essas pequenas modificações, ao acumularem-se ao longo de gerações sucessivas,


provocariam o aparecimento de novas espécies – principal fator de evolução.

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O Lamarckismo sofreu larga contestação e não foi aceite pela comunidade cientifica da
época, uma vez que considerava que a evolução tinha uma finalidade e que os seres
sentiam necessidade de melhorarem e se adaptarem ao meio. Por outro lado, se é certo
que o uso desenvolve as estruturas, não é plausível dizer-se que a descendência herdará essas
estruturas com esse grau de desenvolvimento. Atualmente sabe-se que as alterações que se
transmitem à descendência são apenas aquelas que decorrem de modificações ao nível do
material genético dos gâmetas e não das que são provocadas pelo uso e desuso de certos órgãos
ou estruturas. 163

Situação-exemplo:

Em algumas ilhas do arquipélago das Galápagos são encontrados catos rasteiros, cujas flores
ficam próximas do chão, não tendo sido observada nestas ilhas a presença de iguanas
terrestres. Nas ilhas onde vivem iguanas terrestres os catos são arborescentes e as suas flores
localizam-se longe do chão.

Segundo Lamarck:

A população inicial de catos era constituída por catos rasteiros, com flores próximas do chão. O
meio ambiente, neste caso a presença de iguanas terrestres na ilha, levou à necessidade de
melhor adaptação dos catos, que começaram ao longo dos tempos a fazer um esforço para
ficarem arborescentes e com flores localizadas longe do chão – lei do uso e do desuso.

Esta característica adquirida foi transmitida à descendência que também passam a ser
arborescentes e com flores longe do chão – lei da herança dos caracteres adquiridos.

Assim, ao longo das gerações, a população de catos passa a ser arborescente e com flores longe
do chão.

Darwinismo

O evolucionismo acabou por se impor no mundo científico graças a Charles Darwin.


Dados recolhidos durante uma viagem de circum-navegação e as observações
efetuadas, em especial, no arquipélago dos Galápagos permitiram a Charles Darwin
propor que a seleção natural é o mecanismo que dirige a evolução das espécies. Dado
que o ambiente não possui os recursos necessários para a sobrevivência de todos os
indivíduos, deverá ocorrer uma luta pela sobrevivência durante a qual serão eliminados

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os indivíduos menos aptos. Tal permite a existência de uma variabilidade
intraespecífica dentro de uma dada população.

As espécies originam mais descendentes do que aqueles que podem sobreviver. Os


descendentes que possuem variações vantajosas relativamente ao meio têm maiores
taxas de sobrevivência. São eliminados os indivíduos que possuem variações
desfavoráveis. Os indivíduos portadores de variações favoráveis sobrevivem,
transmitindo as suas características à descendência. A seleção natural conduz à
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acumulação de características que no seu conjunto poderão vir a originar novas
espécies.

A teoria de Darwin, apresentada no seu livro A origem das Espécies, para além de ter
escandalizado a comunidade cientifica, não explicava a variabilidade natural observada
nas diferentes populações de uma espécie, assim como o modo como as características
eram transmitidas à descendência. Por outro lado, os registos fósseis existentes não
corroboravam a ideia de uma evolução lenta e gradual, já que existiam poucos fósseis
com formas de transição entre espécies diferentes em que uma por evolução tivesse
originado a outra.

Os fundamentos desta teoria são os dados geológicos, os dados biogeográficos,


o Malthusianismo, a seleção artificial e a variabilidade intraespecífica.

Dados geológicos

De forma análoga à evolução da Terra, também as espécies sofreram evolução, tal como
comprovam os fósseis.

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Dados biogeográficos

Nos Galápagos, Darwin observou a existência de 7 variedades de tartarugas diferentes,


ocupando cada variedade a sua ilha. Apesar das diferenças apresentavam grandes
semelhanças entre si, o que apontava para uma origem comum.

Malthusianismo

As populações animais tendem a crescer em progressão geométrica devido à sua


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capacidade reprodutiva.

O número de indivíduos não aumenta muito de geração em geração devido à luta pela
sobrevivência.

São gerados mais indivíduos que aqueles que podem sobreviver.

Seleção artificial

O Homem é capaz de selecionar os indivíduos com características desejáveis através de


cruzamentos previamente planeados. Estes cruzamentos introduzem diferenças nas
espécies

Variabilidade intraespecífica

A variabilidade de seres vivos existentes dentro de uma mesma população.

Situação-exemplo:

Em algumas ilhas do arquipélago das Galápagos são encontrados catos rasteiros, cujas flores
ficam próximas do chão, não tendo sido observada nestas ilhas a presença de iguanas
terrestres. Nas ilhas onde vivem iguanas terrestres os catos são arborescentes e as suas flores
localizam-se longe do chão.

Segundo Darwin:

Na população de catos existia variabilidade intraespecífica: catos rasteiros com flores próximas
do chão e catos arborescentes com flores longe do chão. A presença de iguanas na ilha vai
desencadear uma luta pela sobrevivência, em que os mais aptos, que são os arborescentes, vão
ser selecionados e os menos aptos rasteiros com flores próximas do chão vão sendo eliminados
– seleção natural.

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Assim, os catos menos aptos vão sendo eliminados, reproduzindo-se menos e os catos mais
aptos sobrevivem mais e por isso reproduzem-se mais transmitindo à descendência as
características mais vantajosas nesse ambiente – reprodução diferencial.

Assim, ao longo das gerações, a população de catos passa a ser arborescente e com flores longe
do chão.

166

Apesar de existirem lacunas nas explicações lamarckistas e darwinistas, a perspetiva


evolucionista foi tendo cada vez maior aceitação. Para apoiar o evolucionismo foram
utilizados diversos argumentos, sendo os mais importantes os argumentos de anatomia
comparada, os argumentos da paleontologia e os argumentos da citologia.

Argumentos paleontológicos

O estudo do registo fóssil confirma a


presença de espécies extintas, o que
contraria a imutabilidade das espécies;

A descoberta de séries ou sequências de


fósseis ilustram as modificações sofridas ao
longo de um processo evolutivo por
determinados grupos;

A existência de fósseis de transição ou formas sintéticas sugere a existência de


antepassados comuns para diferentes grupos de seres vivos. Estes fósseis apresentam

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características de dois grupos distintos como, por exemplo, Archaeopteryx, que
apresenta carateres comuns aos répteis (dentes e escamas) e às aves (penas e asas).

Argumentos de anatomia comparada

Estruturas homólogas (barbatana de baleia/asa do morcego/braço humano)

Ao estudar comparativamente as características morfológicas dos seres podem


encontrar-se semelhanças em seres que nos parecem à primeira observação muito
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diferentes. É o caso dos vertebrados cujos membros, apesar de apresentarem uma
forma e tamanho muito diferente e poderem desempenhar funções igualmente
diferentes, revelam uma organização estrutural semelhante, ou seja, têm ossos
semelhantes e na mesma posição relativa. Estruturas como estas, designadas estruturas
por estruturas homólogas, que evidenciam uma origem embriológica semelhante,
revelam que os seres que as apresentam tiveram uma origem comum a partir do mesmo
grupo ancestral que ocupou diferentes habitats e que, por isso, foi sujeito a diferentes
seleções naturais, sendo em cada caso selecionados os seres portadores das
características mais vantajosas. Ocorreu, assim, uma evolução divergente.

Permitem construir séries filogenéticas: séries que


traduzem a evolução de estruturas homólogas em
diferentes organismos;

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Séries filogenéticas progressivas:

A evolução verifica-se a partir de um órgão simples que se vai tornando gradualmente mais
complexo.

Por exemplo, o estudo do coração dos vertebrados é um exemplo de evolução progressiva.

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Séries filogenéticas regressivas:

Um órgão que era mais complexo vai evoluindo no sentido de se tornar mais simples,
regredindo.

Por exemplo, a redução dos membros dos répteis.

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No caso particular dos mamíferos ocorreu um tipo particular de evolução divergente,
designada radiação adaptativa.

Radiação adaptativa ou irradiação adaptativa – denominação dada ao fenómeno


evolutivo pelo qual se formam várias espécies a partir de uma mesma espécie ancestral
no qual diversos grupos se separaram, ocupando simultaneamente vários nichos
ecológicos livres, dando origem a varias espécies diferentes.

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As árvores filogenéticas traduzem afinidades evolutivas entre grupos relativamente aos


quais se considera a existência de ancestrais comuns. Como a árvore filogenética é uma
hipótese sobre relações evolutivas, é necessário utilizar características que sejam
indicadores confiáveis de ancestralidade comum – características homólogas.

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Estruturas análogas (cauda da baleia/ barbatana caudal do peixe)

O estudo da anatomia comparada mostra que existem


seres que apresentam estruturas que desempenham as
mesmas funções, mas que não apresentam uma
organização estrutural semelhante. Estes seres não
resultaram de um ancestral comum e tiveram uma
diferente origem embriológica. Estas estruturas,
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designadas estruturas análogas, revelam uma evolução convergente resultante de uma
seleção natural que em ambientes semelhantes favoreceu os seres,
independentemente do grupo a que pertencem, que apresentavam a característica em
causa. As asas de uma borboleta e de uma ave são bons exemplos deste tipo de
estruturas.

Estruturas vestigiais

Estruturas atrofiadas que não possuem significado fisiológico em determinados grupos


de seres vivos, mas que, noutros grupos são desenvolvidas e funcionais;

Uma vez que eram órgãos desenvolvidos


e funcionais em espécies ancestrais,
constituem importantes evidências
anatómicas a favor do evolucionismo;

A seleção natural pode exercer pressões


seletivas que favoreçam indivíduos com
determinado órgão desenvolvidos, mas,
noutro meio, esse órgão pode ser
desnecessário;

São evidentes em séries filogenéticas


regressivas.

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Argumentos de Embriologia

Os estudos do desenvolvimento
embrionário de diferentes seres
permitem observar semelhanças
entre eles (que no estado adulto se
tornam muitas vezes
impercetíveis) e, assim, inferir do 171
grau de parentesco existente entre
os seres considerados. Os
vertebrados nos primeiros
estádios do desenvolvimento
embrionário apresentam-se na
forma de embriões muito semelhantes, que se vão tornando progressivamente
diferentes à medida que decorre o desenvolvimento, o que indicia que estes seres terão
evoluído a partir de um ancestral comum.

Argumentos Biogeográficos

A análise da distribuição geográfica dos seres pode dar indicações de processos


evolutivos que ocorreram. Por exemplo, muitos dos mamíferos que existem na
atualidade na Austrália (marsupiais) são muito diferentes dos existentes em África, o
que indica que a partir do momento em que estes continentes se separaram, as
populações existentes fragmentaram-se em consequência da deriva continental e os
mamíferos em questão evoluíram separadamente, não se encontrando em África as
espécies que existem na Austrália.

Argumentos Citológicos

Todos os seres vivos são constituídos por células. O facto de existir uma certa
uniformidade nos processos e mecanismos celulares dos seres vivos dos vários reinos
(mitoses e meioses) constitui um forte argumento a favor de uma origem comum para
os seres vivos.

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Argumentos da Biologia Molecular e Genética

Reforçam a ideia de origem comum dos diferentes grupos de seres vivos:

 Vias metabólicas comuns;


 Universalidade do código genético e do ATP como energia biológica;
 Semelhança existente entre os compostos orgânicos evidenciada, por
exemplo, através das sequências de aminoácidos em diferentes
organismos ou da sequência de nucleótidos nas cadeias da molécula de 172

DNA;
 Hibridação do DNA em que se misturam fragmentos de cadeias de DNA
de espécies diferentes e espera-se que ocorra o emparelhamento entre
as diferentes cadeias. Quanto mais rápida for a formação de moléculas
híbridas e quanto maior for a quantidade de bases complementares
emparelhadas, mais próximas serão as espécies do ponto de vista
filogenético.

Os dados moleculares são os mais fiáveis, uma vez que dizem respeito ao património
genético dos indivíduos, sendo possível comparar molecularmente os seres vivos.

Neodarwinismo

O desenvolvimento dos conhecimentos de genética e as novas descobertas sobre


hereditariedade permitiram reinterpretar a teoria da evolução de Darwin.
Surgiu uma teoria evolucionista mais consistente que ficou conhecida por teoria
sintética da evolução ou neodarwinismo que pode resumir-se aos seguintes aspetos:

 Os cromossomas são as estruturas que transportam os genes responsáveis pelo


desenvolvimento dos carateres do individuo;
 A ocorrência de mutações, génicas (página 30) e cromossómicas, aumenta a
variabilidade genética;
 A meiose, durante a qual ocorre a segregação dos homólogos e o crossing-over,
conduz ao aparecimento de novas combinações génicas nos gâmetas;
 A fecundação da origem a uma descendência com múltiplas combinações
génicas (recombinação génica) o que reflete uma variabilidade intraespecífica;

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 A seleção natural atua sobre a grande variedade de descendentes dentro da
população que é assim influenciada pelo meio ambiente;
 As populações podem ver alterado o seu fundo genético, evoluindo
gradualmente.

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Situação-exemplo:

Em algumas ilhas do arquipélago das Galápagos são encontrados catos rasteiros, cujas flores
ficam próximas do chão, não tendo sido observada nestas ilhas a presença de iguanas
terrestres. Nas ilhas onde vivem iguanas terrestres os catos são arborescentes e as suas flores
localizam-se longe do chão.

Segundo o Neodarwinismo:

Na população de catos existe variabilidade genética que resulta da ocorrência de mutações e de


fenómenos de recombinação génica durante a reprodução sexuada (na meiose e na
fecundação). Assim, existem catos que possuem no seu fundo genético genes que determinam
a característica rasteiro e com flores próximas do chão e catos cujos genes determinam a
característica arborescente com flores longe do chão.

A presença de iguanas na ilha vai desencadear uma luta pela sobrevivência, em que os mais
aptos, que são os catos com genes que determinam a característica arborescente, vão ser
selecionados e os menos aptos, cujos genes determinam a característica rasteiro com flores
próximas do chão, vão sendo eliminados – seleção natural.

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Assim, os catos menos aptos vão sendo eliminados, reproduzindo-se menos e os catos mais
aptos sobrevivem mais e por isso reproduzem-se mais transmitindo à descendência o conjunto
genético que determina as características mais vantajosas nesse ambiente – reprodução
diferencial.

Assim, ao longo das gerações, o fundo genético da população vai sendo alterado, passando a
aumentar a frequência de genes responsáveis pela arborescência dos catos no fundo genético
da população em detrimento dos genes que determinam a característica catos rasteiros que vão
diminuindo. 174

A Seleção Natural (sobrevivência dos mais aptos) pode ser de 3 tipos

Seleção natural estabilizadora: é favorecido um fenótipo intermédio

Seleção natural evolutiva direcional: favorece fenótipos num dos extremos de


distribuição

Seleção natural evolutiva disruptiva: os organismos selecionados encontram-se em


ambos os extremos de distribuição

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Seleção natural, seleção artificial e variabilidade

O fundo genético diz respeito ao conjunto de todos os genes presentes nos indivíduos
da população, num dado momento. Pode haver predominância de uns genes
relativamente a outros. Pode alterar-se num ambiente em mudança, o conjunto de
genes mais favorável pode deixar de o ser. Quanto maior for a diversidade genética de
uma população maior será o seu fundo genético, logo maiores possibilidades terá de se
manter mesmo quando surgirem alterações no meio que determinem diferentes 175
pressões da seleção natural, pois haverá um conjunto genético que seja por ela
favorecido.

Para além da seleção natural que mantém ou altera um determinado fundo genético
pela seleção dos seres com as características mais vantajosas, em determinado
momento e de acordo com as condições existentes, e das mutações que permitem a
inclusão de novos genes, existem diversos outros fatores que podem modificar o fundo
genético de uma dada população, como as migrações, a deriva genética e a seleção
artificial.

Migrações – deslocações de indivíduos de uma dada população para outra. Conduzem


a alterações do fundo genético porque são responsáveis por um fluxo de genes entre
populações. Em populações isoladas onde se verifica consanguinidade, em que os
movimentos migratórios são inexistentes, a variabilidade genética tende a diminuir com
consequências negativas na capacidade de adaptação da população.

Deriva genética – variações do fundo genético de uma população ao acaso.

• Efeito fundador – ocorre quando um número restrito de indivíduos de


uma dada população se desloca para uma nova área, transportando uma
parte significativa do fundo genético da população original

• Efeito de gargalo – ocorre quando uma determinada população sofre


uma diminuição brusca do seu efetivo devido a ação de fatores
ambientais. Assim, um determinado conjunto de genes será fixado na
população, enquanto que outros genes serão eliminados, não devido à
seleção natural, mas por deriva genética.

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Seleção artificial – o homem pode ser responsável pela modificação de determinadas


espécies. A intervenção do homem pode alterar o sentido da evolução natural de
algumas variedades.

 O uso indiscriminado de pesticidas e de antibióticos leva ao


aparecimento de populações resistentes

 A destruição de habitats e a introdução de espécies invasoras nos


ecossistemas conduzem a alterações nas cadeias e teias alimentares

Evolução Biológica: Sistemática dos seres vivos

A necessidade de classificar os seres vivos surgiu da elevada biodiversidade existente na


Terra, tornando-se necessário agrupar as diferentes espécies para facilitar o seu estudo.
Os critérios usados na classificação de seres vivos são variados, bem como o modo de
cada investigador interpretar os factos, daí que, ao longo do tempo, os seres vivos foram
integrados em grupos diferentes, consoante os critérios utilizados e a interpretação que
se fez destes.

A Taxonomia é o ramo da Biologia que se ocupa da classificação e da nomenclatura dos


diferentes grupos de seres vivos formados. Tem como finalidade adotar sistemas de
classificação uniformes que expressem, da melhor forma, o grau de semelhança entre
os organismos.

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Também relacionada com a classificação, a Sistemática recorre à Taxonomia e à Biologia
Evolutiva e utiliza todos os conhecimentos disponíveis sobre os seres vivos para
compreender as suas relações de parentesco e a sua história evolutiva, desenvolvendo
sistemas de classificação que refletem essas relações.

177

Período pré-Lineano

Classificações práticas: Sistemas de classificação que se baseiam em características práticas, isto


é, propriedades dos seres vivos com interesse para o Homem. Ex.: Plantas comestíveis e plantas
não comestíveis.

Classificações racionais: baseiam-se nas estruturas observáveis nos seres vivos. Sistema
utilizados por Aristóteles que classificava os animais em:

Enaima – animais com sangue vermelho.

Anaima – animais sem sangue vermelho.

Classificações artificiais: baseiam-se num pequeno número de características. Cor do sangue;


estrutura do coração; tipo de reprodução.

Período Lineano e pré-Darwiniano

Classificações naturais: baseiam-se num grande número de características, permitindo formar


grupos com o maior grau de afinidade entre os seres vivos.

Classificações horizontais/fenéticas: sistemas de classificação racionais, quer sejam naturais ou


artificiais, que não consideram o fator tempo.

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Não admitem a evolução dos seres vivos, refletindo ideias fixistas.

Privilegiam os carateres morfológicos


diretamente observáveis.

Chaves dicotómicas, Fenograma

Similaridade não significa


necessariamente relacionamento
evolutivo.
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Período pós-Darwiniano

Classificações verticais

Traduzem a posição de um ser vivo relativamente aos seus ancestrais;

Têm em conta o fator tempo, refletindo ideias evolucionistas;

Atribuem grande valor às relações evolutivas.

Classificações evolutivas ou filogenéticas/filéticas (evolucionistas)

Classificações verticais que pretendem reproduzir a história evolutiva dos organismos, a


filogenia;

Tentam conciliar aspetos morfológicos e aspetos temporais

As semelhanças morfológicas entre os seres vivos são interpretadas como consequência da


existência de um ancestral comum, a partir do qual o grupo se diversificou.

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Os sistemas de classificação atuais mantêm ainda alguns aspetos da estrutura proposta por
Lineu no seu sistema de classificação. A taxonomia hierarquiza os indivíduos. À medida que
progredimos do reino para o género, o número de espécies por nível diminui, mas os seres vivos
vão sendo cada vez mais aparentados.

Os seres vivos são classificados em sete grupos hierárquicos – categorias taxonómicas ou taxa.
O taxon mais abrangente é o Reino, seguindo-se por ordem decrescente de abrangência, o Filo,
a Classe, a Ordem, a Família, o Género e a Espécie. Cada espécie apresenta nomenclatura
binomial, em que o primeiro nome corresponde ao género e o segundo nome é um restritivo 179
específico.

Reinos

Sistema de classificação em dois reinos – Aristóteles e Lineu

Sistema realizado com base no aspeto e


capacidade de movimento (Animais e Plantas).

O Reino Plantae abrange uma grande


diversidade de organismos – seres
fotossintéticos sem locomoção e sem ingestão
e, também, bactérias e fungos.

O Reino Animalia inclui não fotossintéticos que


têm locomoção e que obtêm alimentos por ingestão, tanto os unicelulares
(protozoários) como os pluricelulares (metazoários).

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Não leva em conta a Euglena que tem
locomoção e faz fotossíntese;

Os fungos estão no reino das plantas mas


não fazem fotossíntese e a sua parede
celular tem uma natureza diferente.

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Sistema de classificação em três reinos – Haeckel

Animais, Plantas e Protistas.

O novo reino inclui seres mais primitivos e


ambíguos como as bactérias, os protozoários e os
fungos.

Os seres deste reino têm características pouco


definidas e não se incluem nem nos animais nem
nas plantas.

Sistema de classificação em quatro reinos – Copeland

Surge o reino Monera que inclui todos os procariontes.

Baseia-se nas diferenças estruturais entre os seres eucariontes e procariontes.

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Sistema de classificação em cinco reinos – Whittaker

Os fungos passam a constituir um único reino


independente – Reino Fungi.

Coerente com dados moleculares e baseia-se


em vários critérios.

Dificuldades em separar eucariontes


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unicelulares e pluricelulares, como acontece
com as algas verdes que podem ser
eucariontes unicelulares, coloniais ou
multicelulares.

O sistema de classificação de Whittaker divide os seres vivos em cinco reinos, com base
nos seguintes critérios:

 Nível de organização celular e estrutural – distinguindo os procariontes


de eucariontes e, dentro dos eucariontes, distinguindo unicelulares,
coloniais, multicelulares com baixo grau de diferenciação e seres
multicelulares.

 Modo de nutrição – distinguindo seres autotróficos, seres heterotróficos


por ingestão e seres heterotróficos por absorção.

 Interações nos ecossistemas – distinguindo os seres produtores dos


seres consumidores e, dentro destes, distinguindo macroconsumidores
(heterotróficos por ingestão) e os microconsumidores (heterotróficos
por absorção).

No sistema de classificação de Whittaker modificado verificaram-se alterações no reino


Protista, que passou a incluir os fungos flagelados e as algas, quer sejam unicelulares,
quer sejam multicelulares.

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O facto de o Reino Protista passar a incluir seres multicelulares de baixo grau de


diferenciação leva alguns autores a sugerirem o nome Protoctista.

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Os fungos possuem grande importância ecológica (envolvidos na reciclagem dos solos)


e económica (leveduras – fermentação alcoólica).

Briófitas: Avasculares; Reprodução só pode ser realizada na presença de água. Ex.:


Musgo.

Pteridófitas: Vasculares. Ex.: Feto.

Gimnospermas: Vasculares; Plantas com semente sem desenvolvimento de flor ou


fruto. Ex.: Pinheiro.

Angiospermas: Vasculares; Semente, Flor e Fruto. Ex.: Limoeiro.

O aumento da variabilidade genética e a conquista do ambiente terrestre pelos seres


eucariontes autotróficos estão associados ao predomínio da fase diploide e à união de
gâmetas de plantas diferentes, da mesma espécie.

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Atualmente, há propostas de novos sistemas de classificação:
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Um sistema propõe a existência de seis reinos:

 baseia-se no facto de existirem duas linhagens diferentes de organismos


procariontes;

 propõe a extinção do reino Monera e que, em seu lugar, surjam dois


novos reinos – o das Arqueobactérias e o das Eubactérias.

 um sistema de classificação com dois super-reinos:

 foi proposto em 1980 por Margulis e Schwartz;

 basearam-se em dados morfológicos, de desenvolvimento e em dados


moleculares;

 agruparam os cinco reinos de Whittaker em dois super-reinos.

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Um sistema de classificação em três domínios:

Proposto por Woese e seus colaboradores;

Baseia-se na filogenia molecular, principalmente na comparação de sequências


nucleotídicas de RNA-ribossómico;

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Este sistema tem sido muito criticado porque se baseia apenas em dados moleculares
como critério de classificação.

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