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EVOLUÇÃO BIOLÓGICA

O primeiro ancestral comum a todas as formas de vida na Terra seria: unicelular, procarionte,
anaeróbio, heterotrófico e encontrar-se-ia no meio aquático.

As células procarióticas são estruturalmente simples, mas possuem uma grande diversidade
metabólica. Os dados fornecidos pelos fósseis e a simplicidade estrutural e funcional destas
células constituem os dois principais argumentos que sustentam a hipótese dos seres
procariontes terem estado na origem da biodiversidade da Terra. As células eucarióticas
apresentam uma constituição bem mais complexa e surgiram milhões de anos após as
anteriores.

Caraterísticas Procarióticas Eucarióticas


Tamanho 5 micrómetros em média 40 micrómetros de diâmetro
Rígida (nas plantas, alguns
Parede celular Rígida protistas e maioria dos
fungos)
Sem invólucro nuclear. O
DNA encontra-se disperso no Contido no núcleo. Várias
Material genético citoplasma, na forma de uma moléculas de DNA
simples molécula circular associadas a proteínas
não associada a proteínas.
Não possui organelos.
Organelos Ribossomas de dimensões Diversos organelos
inferiores aos eucariontes
Fotossíntese Os pigmentos localizam-se Apresentam cloroplastos.
nas membranas celulares

Há várias hipóteses para explicar a origem dos eucariontes. Das hipóteses autogenética e
endossimbiótica e uma terceira posição que procura conciliar os pontos fortes das duas
hipóteses.

Modelo autogenético - admite que a célula eucariótica terá surgido a partir de organismos
procariontes por invaginações sucessivas de zonas da membrana plasmática, seguidas de
especialização. Hipótese pouco apoiada, não esclarecendo a causa dos fenómenos que
descreve.

Endossimbiose – admite que a célula eucariótica teria resultado da incorporação de


organismos procarióticos por parte de outros seres procariontes primitivos, ou seja, a
associação entre organismos diferentes em que um dele (endossimbionte) vive no interior do
outro, beneficiando ambos da associação.

A partir de estudos efetuados com o microscópio eletrónico foi possível mais tarde
fundamentar esta teoria:

Uma célula procariótica grande terá capturado outras células procarióticas (células-
hóspedes) que permaneceram no interior da célula hospedeira, resistindo à digestão;
As células hospedeiras e capturadas estabelecem relações de simbiose;
A cooperação foi tão íntima e eficaz entre os diferentes elementos que se tornaram
dependentes uns dos outros e passaram a constituir organismos estáveis e singulares;
As células hóspedes constituem assim alguns organelos da célula eucariótica. (os
cloroplastos originaram-se a partir da captura de cianobactérias, uma vez que
possuem pigmentos fotossintéticos e as mitocôndrias terão resultado da incorporação
de bactérias com eficiente capacidade respiratória);
O flagelo e os cílios poderão também ter surgido de seres procariontes alongados que
se terão fixado na membrana de uma célula hospedeira, favorecendo a procura de
alimento;

Os primeiros seres eucariontes seriam, como os procariontes, unicelulares. A hipótese


endossimbiótica é atualmente muito aceite pois:

Mitocôndrias e cloroplastos assemelham-se a bactérias, quer na forma, quer no


tamanho, quer na composição membranar;
Cloroplastos e mitocôndrias tem o seu próprio genoma e produzem as suas próprias
membranas internas. Dividem-se independentemente da célula e contêm moléculas
de DNA circulares tal como as dos procariontes atuais;
Os ribossomas dos cloroplastos e mitocôndrias são muito mais semelhantes em
tamanho e em características bioquímicas aos dos procariontes do que aos dos
eucariontes;
É possível encontrar, ainda hoje, associações simbióticas entre bactérias e alguns
eucariontes;

A endossimbiose apresenta pontos fracos (levando a ceticismo na comunidade científica)


nomeadamente não explicar a origem do núcleo da célula eucariótica. Por esta razão, alguns
investigadores admitem que o núcleo de células eucarióticas poderia ter surgido por
invaginações da membrana plasmática que envolveram o DNA, conciliando assim os dois
modelos principais. Certas proteínas das mitocôndrias e dos cloroplastos estão codificadas no
núcleo, o que aumenta a dependência mútua.

Origem da multicelularidade

Quando o planeta era povoado por uma biomassa imensa de seres unicelulares, tornaram-se
frequentes os eventos de predação onde os organismos com maior tamanho estavam em clara
vantagem. Os organismos não podem, no entanto, aumentar indefinidamente de tamanho.
Quando uma célula aumenta de tamanho, verifica-se que a razão entre a superfície e o volume
diminui – o volume aumenta a um ritmo maior do que a área de superfície (membrana
plasmática). Assim, cada unidade de área da membrana plasmática tem de realizar trocas com
o exterior para um volume muito maior de citoplasma. Quando há um aumento de volume,
aumenta também o metabolismo, mas a célula não pode contar com um aumento equivalente
na eficácia das trocas com o meio externo, pois quanto maior for a célula menor é a superfície
da membrana por unidade de volume de citoplasma capaz de realizar as trocas com o meio
externo.

Há duas formas possíveis de um organismo maior do que um milímetro sobreviver: pode


reduzir o seu metabolismo – diminui as necessidades de trocas com o meio externo – e pode
apresentar multicelularidade.

Os seres eucariontes unicelulares constituem por vezes, agregados. Quando estas associações
de eucariontes unicelulares dizem respeito a seres da mesma espécie que estabelecem
relações estruturais entre si designam-se por agregados coloniais ou colónias.
Volvox é um género de algas que forma colónias. Apesar de ser constituída por várias células
estruturalmente interdependentes pois estão ligadas entre si, sob o ponto de vista funcional
não ocorreu diferenciação, já que as células são todas semelhantes com exceção das células
reprodutoras. A importância de Volvox é devido a se admitir que a multicelularidade possa ter
surgido na Terra por evolução de seres coloniais do tipo considerado. Assim, os seres coloniais
podem ter estado na origem de algas verdes pluricelulares, algumas das quais terão evoluído
mais tarde para plantas. As algas verdes possuem pigmentos fotossintéticos e substâncias de
reserva (amido) e paredes celulares muito semelhantes às das plantas, o que é um argumento
favorável a esta hipótese. É, pois, provável que em algumas colónias, determinadas células se
tenham especializado no desempenho de funções especificas. A colónia começou então a
comportar-se como um individuo, surgindo a multicelularidade.

A multicelularidade ocorre apenas em seres eucariontes. Carateriza-se por uma associação de


células em que há interdependência estrutural e funcional entre elas. A sua existência permitiu
a ocorrência de mecanismos de regulação que conduziram à diferenciação celular, dando um
grande impulso na evolução dos seres vivos.

A grande diversidade de formas e de funcionalidades possibilitou a adaptação a


diferentes ambientes;
Foi possível a sobrevivência de seres de maiores dimensões sem comprometer as
trocas com o meio externo, uma vez que surgiram células ou órgãos especializados na
realização dessas trocas;
Aumento da eficácia na utilização de energia;
Maior independência em relação ao meio externo pois os vários sistemas de órgãos
passaram a contribuir para a manutenção do meio interno em condições favoráveis à
vida;

Evolucionismo e fixismo

Durante séculos admitiu-se que as espécies surgiram tal como hoje as conhecemos e se
mantiveram imutáveis ao longo do tempo. Esta visão das espécies, conhecida por fixismo,
prevaleceu e ainda prevalece apoiada por princípios religiosos. Esta associação leva ao fixismo
ser muitas vezes confundido com o criacionismo. Na verdade, uma visão estática das espécies
não implica necessariamente que se admita que elas tenham surgido de um ato único de
criação divina, do mesmo modo que uma visão evolucionista não pressupõe a negação da
existência de uma entidade superior que esteja presente nas leis da natureza.

Apesar da força das ideias fixistas, no século XIX vai transitar-se, num ambiente de grande
controvérsia, para uma visão evolucionista – admite-se que as espécies se alteram de uma
forma lenta e progressiva ao longo do tempo, originando outras espécies. Um dos contributos
mais importantes para esta visão veio da Geologia pois os geólogos estabeleceram uma idade
para a Terra muito superior à admitida na época e por outro lado começaram a descrever
formas fósseis muito diferentes das espécies atuais devido ao estudo dos fósseis.

Lamarckismo

A primeira teoria explicativa fundamentada acerca dos mecanismos da evolução dos seres
vivos foi apresentada no século XIX por Lamarck. Este não só defendeu as ideias evolucionistas
como apresentou uma explicação coerente acerca da origem das espécies.
Os seres vivos apresentam modificações que dependem do ambiente em que esses seres se
desenvolvem. O ambiente condiciona a evolução, levando ao aparecimento de caraterísticas
que permite aos indivíduos adaptarem-se às condições em que vivem. A adaptação, segundo
Lamarck representa a faculdade que os seres vivos possuiriam de desenvolver características
estruturais ou funcionais que lhes permitissem sobreviver e reproduzir-se em determinado
ambiente. Este conceito é explicado pela:

Lei do uso e do desuso – a necessidade de um órgão em determinado ambiente cria


esse órgão e a função modifica-o, ou seja, a função faz o órgão. Se um órgão é muito
utilizado, desenvolve-se, tornando-se mais forte ou de maior tamanho e pleo
contrário, se não se usa, degenera e atrofia.

O lamarckismo possui ainda outro princípio fundamental:

Lei da herança dos carateres adquiridos – as modificações que se produzem nos


indivíduos ao longo da sua vida, como consequência do uso ou do desuso dos órgãos,
são hereditárias, originando mudanças morfológicas no conjunto da população.

De acordo com esta lei, os organismos, pela necessidade de se adaptarem ao ambiente,


adquirem modificações durante sua vida que passam aos descendentes. A adaptação é
progressiva e um organismo pode desenvolver qualquer adaptação, desde que seja necessária.

Este modelo foi muito contestado porque fornece uma explicação sobre a evolução que tem
um carater animista – existe uma intenção e finalidade na evolução, de tal forma que as
alterações surgem como resultado de as espécies procurarem o “melhor.” Por outro lado, a
herança dos carateres adquiridos não se verifica experimentalmente – nos organismos com
reprodução sexuada apenas as alterações do DNA transportadas nos gâmetas são transmitidas
aos descendentes.

Darwinismo

Numa viagem no Beagle, Darwin vai recolher uma boa parte dos dados que mais tarde usou na
fundamentação da sua teoria. Este foi influenciado por muitos dados e acontecimentos:

Dados da geologia- princípios estabelecidos por Charles Lyell influenciaram Darwin:

As leis naturais são constantes no espaço e no tempo;


Deve explicar-se o passado a partir dos dados do presente;
Na longa história da Terra ocorreram mudanças geológicas lentas e graduais;

Na sua viagem, é provável que tenha admitido que, se a Terra tem milhões de anos e está em
mudanças constantes e graduais, entao de um modo semelhante, a vida sobre a Terra poderia
ter seguido o mesmo percurso, isto é, teria experimentado ao longos dos anos mudanças
continuas e graduais, inicialmente impercetíveis, mas que com o tempo acabariam por ter
significado.

Dados da Biogeografia – a grande diversidade dos seres vivos e o aspeto exótico que, por
vezes, assumem algumas espécies, bem como a constatação de que a fauna e a flora diferem
de continente para continente e das montanhas para os desertos, constituem elementos
revelantes na formulação da teoria de Darwin.

É de destacar, na sua viagem, as ilhas Galápagos onde estudou nomeadamente as tartarugas e


as aves tentilhões e as diferenças de características encontradas dentro da própria espécie.
Depois de analisar os dados que retirou, concluiu que as ilhas foram provavelmente povoadas
a partir do continente americano e as características particulares de cada ilha condicionaram a
evolução de cada espécie, daí a sua diferenciação.

Seleção artificial, seleção natural e variabilidade

Seleção artificial - ao realizar a criação de animais é possível distinguir pequenas distinções


entre exemplares da mesma espécie. Se um tratador quiser replicar uma destas, pode realizar
um cruzamento entre indivíduos com estas características e ao fim de alguns cruzamentos
pode obter indivíduos com a determinada caraterística. Deste modo, ao fim de algumas
gerações, são substancialmente diferentes dos seus ancestrais selvagens.

Seleção natural – se se pode obter tanta diversidade por seleção artificial «, de um modo
semelhante o mesmo pode ocorrer na Natureza. Uma seleção consumada pelos fatores
ambientais – seleção natural. Este é o conceito que verdadeiramente caracteriza a teoria de
evolução de Darwin.

A teoria de Darwin, que gerou na época grande controvérsia, pode sistematizar-se em alguns
pontos fundamentais:

Os seres vivos, mesmo os da mesma espécie, apresentam variações entre si;


Em cada geração, uma boa parte dos indivíduos é naturalmente eliminada, porque se
estabelece entre eles uma “luta pela sobrevivência” devido à competição pelo
alimento, abrigo, …
Sobrevivem os indivíduos que estiverem mais bem adaptados, os que possuem as
características que lhes conferem qualquer vantagem em relação aos restantes, que ao
longo do tempo serão eliminados progressivamente. Existe, pois uma seleção natural,
processo que ocorre na Natureza e pleo qual só os indivíduos mais bem dotados
relativamente a determinadas condições do ambiente sobrevivem - “sobrevivência do
mais apto”.
Os indivíduos mais bem adaptados vivem durante mais tempo e reproduzem-se mais,
transmitindo as suas características à descendência, enquanto os menos adaptados
deixam menos descendência – reprodução diferencial.
A acumulação das pequenas variações determina, a longo prazo, a transformação e o
aparecimento de novas espécies.

Pode então considera-se que o tempo e a reprodução diferencial das formas favorecidas em
relação às menos aptas produzem mudanças nas espécies existentes, conduzindo à formação
de novas espécies.

Confronto entre lamarckismo e darwinismo

Tendo o lamarckismo os princípios fundamentais da lei do uso e desuso e a herança dos


carateres adquiridos, a morfologia atual di pescoço das girafas poderia se explicar:

A girafa, alimentando-se dos rebentos mais baixos, tentaria chegar aos mais altos
quando esses se escassassem. Cria-se assim a necessidade de aumentar o tamanho do
pescoço. O esticar permanente faz aumentar o seu tamanho. Em cada gerção poderão
ter surgido indivíduos que tinham o pescoço mais longo e que foram transmitindo aos
seus descendentes essas caraterísticas, chegando à forma atual. Esta é uma resposta
do ser vivo à ação do meio.
No darwinismo, o princípio de seleção natural permite explicar a morfologia do pescoço:

Independentemente do meio, existem nas populações de girafas variações naturais e


hereditárias. Assim, teria havido variações hereditárias no tamanho do pescoço. Como
num ambiente em que escasseia o alimento, as girafas cujo pescoço era maior tinham
acesso mais fácil ao alimento, estariam mais bem adaptadas – sobreviviam melhor e
reproduziam-se mais. Deste modo, aumentaria o seu número na população
relativamente ao numero de girafas com o pescoço curto. A seleção natural favoreceu
as girafas com essa determinada caraterística.

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