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FILOSOFIA 10º ANO

A AÇÃO HUMANA: ANÁLISE E COMPREENSÃO DO AGIR

O PROBLEMA DO LIVRE-ARBÍTRIO

Será que somos livres ou a liberdade não passa de uma ilusão?

 O que se entende por liberdade ou livre-arbítrio?


Capacidade de fazer algo podendo contudo não o ter feito.

 O que se entende por determinismo?


É a teoria filosófica segundo a qual todos os acontecimentos do mundo – incluindo as nossas
ações – fazem parte de uma cadeia causal, sendo cada um o desfecho necessário de
acontecimentos anteriores e das leis da natureza.

 O que é então uma ação determinada?


- uma ação que não pudemos evitar;
- uma ação que não depende da opção do agente.

Será que podemos ser responsabilizados pelas nossas ações se o determinismo for verdadeiro?
Três teorias ou tentativas de resposta ao problema do Livre-arbítrio:

A) RESPOSTAS INCOMPATÍVEIS:

1. DETERMINISMO RADICAL
 Tese
 Argumentos
 Críticas
 Objeção da responsabilidade moral
2. LIBERTISMO
 Tese
 Argumentos
 Críticas

B) RESPOSTA COMPATÍVEL

1. DETERMINISMO MODERADO

 Tese
 Argumento
 Críticas

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PROBLEMA EM ABERTO

DETERMINISMO E LIBERDADE NA AÇÃO HUMANA

O Livre-arbítrio é a capacidade para decidir (arbitrar) em liberdade.


O Determinismo é a tese de que todos os acontecimentos estão causalmente determinados pelos
acontecimentos anteriores e pelas leis da Natureza.

Problema do Livre-Arbítrio
Como compatibilizar a crença de que todos os acontecimentos,
incluindo as ações, são causalmente determinados, segundo as
leis da natureza, com a crença de que o Homem é livre e
responsável pelas ações?

O problema do livre-arbítrio consiste em tentar compatibilizar o determinismo que encontramos na


Natureza com a perspetiva de senso comum que temos de nós mesmos.
Este problema levanta algumas questões:
 Poderemos ser realmente livres num universo determinista?
 Ou será que temos de aceitar que a liberdade é uma ilusão porque tudo está determinado?
E se o Universo não estiver inteiramente determinado?

As teorias que respondem ao problema do livre-arbítrio dividem-se em dois grupos:


Teorias incompatibilistas e teorias compatibilistas.

 As teorias incompatibilistas defendem que o livre-arbítrio não é compatível com o


determinismo.
 As teorias compatibilistas defendem que o livre-arbítrio é compatível com o determinismo.

Há dois tipos de teorias incompatibilistas: O determinismo radical e o libertismo.


Determinismo Radical – Defende que não temos livre-arbítrio e que o universo é determinista.
Libertismo – Defende que temos livre-arbítrio e que só o universo físico é determinista: a
vontade e a consciência não são determinadas pelas cadeias causais do universo físico.

Teorias Há livre-arbítrio? Tudo está


determinado?
Incompatibilismo Determinismo Não Sim
Radical
Libertismo Sim Não

Compatibilismo (determinismo moderado) Sim Sim

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1. DETERMINISMO RADICAL
Ponto de vista segundo o qual só o determinismo é verdadeiro, e, consequentemente, quem pensa
desta maneira chama-se determinista radical.

Para o determinista radical, a crença no determinismo significa acreditar que TODO e qualquer
acontecimento é o desfecho necessário de acontecimentos anteriores.

Dadas as leis da natureza, de um dado conjunto de causas só pode resultar um efeito. Todas as nossas
ações são o resultado necessário de acontecimentos anteriores: são, por isso mesmo, efeitos de
causas necessárias. Fazemos o que o nosso passado determina que façamos e não aquilo que
queremos. Assim, como as nossas ações não dependem de nós, mas de fatores que não podemos
controlar, NÃO SOMOS LIVRES.

A crença no livre-arbítrio é a crença de qua há acontecimentos (ações humanas) que não são o simples
desfecho de acontecimentos anteriores, isto é, dependem da nossa vontade. O determinismo radical
considera falsa esta crença e o seu argumento é o seguinte:

1.Todos os acontecimentos, sem exceção, são causalmente determinados por acontecimentos


anteriores e pelas leis da natureza.

2. As escolhas e ações humanas são acontecimentos.

3. Logo, todas as escolhas e ações humanas são causalmente determinadas por acontecimentos
anteriores e pelas leis da natureza (não livres).

CRÍTICAS AO DETERMINISMO RADICAL

Se não somos responsabilizáveis pelo que fazemos porque não podemos agir de modo diferente –
então:

 Como condenar ou ilibar alguém?

 Como elogiar ou censurar?

 Como dizer a alguém que não deveria ter feito o que fez?

 Como explicar sentimentos de remorso, arrependimento e de culpa?

Não é possível construir a vida social sem a ideia de responsabilidade moral.

A OBJEÇÃO DA RESPONSABILIDADE MORAL

 A experiência de que somos livres é muito forte;


 Esta crença faz parte do próprio processo de agir;
 Quando agimos não podemos deixar de sentir que somos livres.

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Uma pessoa só é moralmente responsável pelas suas ações se estas estão sobre o controlo do seu
livre-arbítrio.
Parece haver uma conexão entre a responsabilidade moral e a nossa liberdade. Aparentemente, se
não formos livres, não podemos ser moralmente responsáveis pelo que fazemos. E se não formos
responsáveis pelo que fazemos, os tribunais e prisões não fazem sentido.

2. LIBERTISMO
Segundo o libertismo, as ações do ser humano decorrem das suas deliberações e não são
necessariamente causadas por acontecimentos anteriores.

O Libertismo é uma teoria que defende essencialmente o seguinte: as nossas escolhas e ações são
livres se não forem mais um elo numa longa cadeia de causas e efeitos, ou seja, defende que as nossas
ações são livres se desencadearem uma nova cadeia causal de acontecimentos. Somos nós que
controlamos essa cadeia de causas e efeitos, não somos controlados por ela.

O passado não pesa de modo esmagador sobre as nossas ações. Podemos, em certa medida, pô-lo
entre parênteses.

Temos livre-arbítrio e nem todos os acontecimentos estão determinados. As nossas ações não são
causalmente determinadas, resultam das nossas deliberações.
O Libertismo é a teoria segundo a qual temos livre-arbítrio e nem todos os acontecimentos estão
determinados.

Argumentos dos libertistas:


Premissa 1: Se temos livre-arbítrio, o determinismo é falso.
Premissa 2: Temos livre-arbítrio.
Conclusão: Logo, o determinismo é falso.
O argumento é válido, mas será sólido?
Temos livre-arbítrio e nem todos os acontecimentos estão determinados. As nossas ações não são
causalmente determinadas, resultam das nossas deliberações.

Defesa das premissas

Defesa da premissa 1: O libertista defende que ter livre-arbítrio é não estar determinado a escolher de
uma certa maneira. Por exemplo, ter livre-arbítrio é estar perante uma encruzilhada e poder escolher
ir por um caminho ou por outro, sendo as causas anteriores exatamente iguais. Mas o determinismo é
a ideia de que, dada uma certa cadeia causal até ao momento presente, a minha decisão está
determinada. Posso ter uma sensação de que estou a escolher, mas não é realmente uma escolha.
Logo, o livre-arbítrio implica a falsidade do determinismo. (Não estamos determinados a escolher de
uma certa maneira. Escolhemos praticar uma ação mas podíamos ter escolhido e agido de forma
diferente, por isso o determinismo é falso.)

Defesa da premissa 2: O libertista argumenta que não podemos evitar vermo-nos como seres dotados
de livre-arbítrio. No próprio ato de tomar uma decisão, exercemos o livre-arbítrio.
Não é possível aceitar realmente que as nossas decisões estão todas determinadas por
acontecimentos anteriores. (Não e possível aceitar que as nossas decisões estão todas determinadas
por acontecimentos anteriores. Se decidimos é porque temos livre-arbítrio. O determinismo radical diz
o contrário, logo é falso.)

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 O libertista defende que as nossas escolhas e ações só são verdadeiramente livres se
pudéssemos ter escolhido ou agido de modo diferente.

De acordo com os libertistas uma escolha ou ação só é verdadeiramente livre se


desencadear uma nova cadeia causal de acontecimentos. Ora, se o mundo for determinista,
Críticas
a escolhaao
da Libertismo:
Diana escolher o caminho 1 em vez do 2 ou do 3 não desencadearia uma nova
cadeia causal, seria apenas mais um elo de uma longa cadeia causal de acontecimentos. E
nesse caso, a escolha da Diana não resultaria das suas deliberações, não estaria sob o seu
Críticas
controlo,ao Libertismo:
pois seria o resultado de acontecimentos anteriores ao seu nascimento.
CRÍTICAS AO LIBERTISMO:

Segundo o determinismo moderado, a minha ação é livre se for causada por desejos e crenças –
estados internos – que são meus. Segundo o libertismo, a minha ação é livre se for causada por mim e
não por um dos meus estados internos.

O que é este eu que através das suas deliberações é, segundo os libertistas, a causa de certas ações?
Uma entidade física? Então não escapa ao determinismo universal, ao encadeamento causal
necessário que rege todas as coisas físicas.

Uma entidade não física? Mas as ações são atos físicos, acontecem num dado momento e lugar como
é que uma causa puramente mental pode produzir efeitos físicos? Se a mente é que causa as nossas
ações, será que é possível que exista independentemente do cérebro que é obviamente uma realidade
física?

Este contra-argumento parece condenar os libertistas a terem de reconhecer o seguinte: que as ações
de uma pessoa só são livres se não tiverem nenhuma causa, nem mesmo as suas próprias crenças e
desejos. Ora, deste modo, o libertismo transforma-se numa espécie de indeterminismo, algo que os
libertistas sempre rejeitaram.

 O determinismo diz que as deliberações do agente, tal como as suas crenças e desejos são
determinadas por acontecimentos anteriores. Mas o libertista não pode aceitar isso, pois
defende que o livre-arbítrio é incompatível com o determinismo.

 O problema dos libertistas é, então, explicar como é que um ato é realmente livre sem ser
determinado por acontecimentos anteriores mas que também não é “aleatório”, quer dizer,
ao acaso.

3. DETERMINISMO MODERADO OU LIVRE-ARBÍTRIO

Para o determinismo moderado, não há incompatibilidade entre livre-arbítrio e determinismo. Por


isso, recebe também o nome de compatibilismo.
O determinista moderado define a liberdade do seguinte modo:

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 É livre uma ação em que o agente não é impedido por fatores externos de realizar a ação. Na
ausência destes obstáculos, o agente pode fazer o que tem vontade de fazer.
 Defende que são compatíveis as proposições “Um agente praticou livremente a ação A” e “A
ação praticada por esse agente tem uma causa e deriva necessariamente dessa ação”

Liberdade e Determinismo são compatíveis para esta teoria.


- O que é uma ação livre para o determinismo moderado?
Ações cujas causas imediatas são ESTADOS INTERNOS do sujeito como as suas crenças e desejos
(constituem a personalidade que o agente formou normalmente).
- O que é uma ação não livre para o determinismo moderado?
Ações cujas causas imediatas são FATORES EXTERNOS, que o agente não pode controlar.

As ações livres são ações determinadas pela personalidade – crenças, desejos e inclinações – do
agente. Essa personalidade resulta de um conjunto de experiências e de processos educativos que
determinam a sua maneira de ser, pensar e de agir.

Argumentos:
 Nem todas as causas são impedimentos à liberdade. É um erro pensar que as ações não são
livres simplesmente porque são causadas. As causas que nos levam a fazer o que queremos
potenciam a nossa liberdade, enquanto que outras (constrangimentos, por exemplo) impedem
a nossa liberdade.

 As nossas ações livres são causadas pela nossa personalidade, inclinações e desejos ainda que
estes estejam determinados por acontecimentos anteriores. Se as ações não fossem causadas
pelo nosso caráter e pelos nossos motivos, não poderíamos ser responsabilizados pelas nossas
ações. Não seriam as “nossas” ações.

Concluindo:

Se as causas de uma ação estão em mim (nas minhas crenças e desejos), então são livres. Se não são
causadas pelas crenças e desejos que constituem a minha personalidade, então não são livres.

CRÍTICAS AO DETERMINISMO MODERADO

O determinismo moderado, apesar das aparências, não distingue claramente ações livres de ações não
livres e não salvaguarda a nossa ideia comum de liberdade.

Os compatibilistas argumentam que somos livres se agirmos sem constrangimentos ou obstáculos,


internos ou externos, que nos impeçam de fazer o que desejamos. Mas, se aquilo que desejamos fazer
se encontra determinado por acontecimentos anteriores (determinismo) então as nossas ações estão
constrangidas por acontecimentos anteriores.

 Não temos é consciência de que estamos a ser constrangidos.

O compatibilismo não explica porque é que ser constrangido por acontecimentos anteriores é um ato
livre e ser constrangido por alguém já não é um ato livre.

O PROBLEMA DO LIVRE-ARBÍTRIO – UM PROBLEMA EM ABERTO

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Como vimos, não há, sobre o problema do livre-arbítrio uma teoria consensual. Há filósofos que acham
que nenhuma destas teorias é plausível. É o caso dos filósofos John Searle e Thomas Nagel que
consideram que não há boas razões para negar o determinismo que encontramos na Natureza pois
sem ele as ciências da natureza seriam impossíveis. Por outro lado, não podemos negar o livre-arbítrio,
como faz o Determinismo Radical porque a experiência da liberdade faz parte da experiência de agir.

 O compatibilismo não implica de forma plausível a diferença entre ser constrangido e ser
causado a agir de determinada maneira.

CONCEITOS:
Determinismo: Tese de que todos os acontecimentos estão causalmente determinados pelos
acontecimentos anteriores e pelas leis da natureza.
Livre-arbítrio: Capacidade para decidir (arbitrar) em liberdade.
Fatalismo: Tese de que alguns acontecimentos são inevitáveis, independentemente do que possamos
decidir ou fazer.
Compatibilismo: No debate sobre o livre-arbítrio, as teorias que defendem que o determinismo e o
livre-arbítrio podem coexistir.
Incompatibilismo: No debate sobre o livre-arbítrio, as teorias que defendem que o determinismo e o
livre-arbítrio não podem coexistir. O libertismo e o determinismo radical são duas dessas teorias.
Libertismo: No debate sobre o livre-arbítrio, as teorias que defendem que não há determinismo porque
temos livre-arbítrio.
Determinismo Radical: No debate sobre o livre-arbítrio, as teorias que defendem que não temos livre-
arbítrio, porque tudo está determinado.

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