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O PROBLEMA DA LIBERDADE HUMANA

Livre-arbítrio
A identificação e análise das diversas componentes da ação
humana, pressupõem que o homem possuí livre-arbítrio. O
livre-arbítrio é a capacidade de agir livremente. Como
doutrina filosófica, a teoria do livre-arbítrio defende que as
pessoas têm o poder de escolher as suas ações. A questão
que agora se coloca é a de saber se de facto o homem é livre
para escolher.
Livre-arbítrio e liberdade política
O livre-arbítrio não é o mesmo que a liberdade política.
Saber se as pessoas são ou não são livres é uma questão
metafísica. Saber se e até que ponto devem as pessoas ser
livres é uma questão da filosofia política. Nesse sentido, o
problema que vamos agora estudar, o do livre-arbítrio, é um
problema metafísico.
Livre-arbítrio ?
«Suponhamos o seguinte caso. Uma jovem recebe duas cartas no
mesmo correio; uma é um convite para ir com o seu namorado a
um concerto, a outra é um pedido para que visite uma criança
doente num bairro de lata. A rapariga é uma grande apreciadora de
música e receia bairros de lata. Ela deseja ir ao concerto e estar
com o namorado; ela receia as ruas imundas e as casas sujas, e
evita correr o risco de contrair sarampo ou febre. Mas ela vai ver a
criança doente e não vai ao concerto. Porquê?
Livre-arbítrio ?
Porque o seu sentido do
dever é mais forte do que
seu amor-próprio. Ora, o
seu sentido do dever é
em parte devido à sua
natureza ― isto é, à sua
hereditariedade ― mas é
principalmente devido ao
meio. Como todos nós, a
rapariga nasceu sem
quaisquer conhecimentos
e com apenas uns
rudimentos de uma
consciência. Mas foi bem
ensinada e a instrução faz
parte do seu meio.
Livre-arbítrio ?
Podemos dizer que a rapariga é livre de agir como escolhe, mas
ela age de facto como foi ensinada que deve agir. Este ensino, que
faz parte do seu meio, controla a sua vontade. Podemos dizer que
um homem é livre de agir como escolhe. Ele é livre de agir como
ele escolhe, mas ele escolherá como a hereditariedade e o meio o
fizerem escolher. Porque a hereditariedade e o meio fizeram com
que ele seja aquilo que é.»
A tese do determinismo
Determinismo: teoria física segundo a qual, tudo o que
acontece no mundo é causado por acontecimentos
anteriores. A teoria afirma que todos os acontecimentos se
explicam por uma relação de causa e feito (CE).
● Assim, segundo o determinismo, se soubermos quais são
os acontecimentos anteriores podemos determinar quais os
acontecimentos futuros.
Determinismo Radical
O determinismo radical é a teoria filosófica que defende que o
determinismo físico tem necessariamente de se aplicar à ação
humana. Se todas os acontecimentos estão sujeitos à relação
de causa e efeito, então as nossas ações (que são
acontecimentos) também estão sujeitas à lei da causalidade.
Determinismo Radical
Mas se tudo o que
fazemos é determinado
por acontecimentos
passados, poderemos
afirmar que as nossas
escolhas são livres?
Os deterministas
radicais consideram que
não. Segundo o
determinismo radical, o
determinismo físico não
é compatível com a
noção de livre arbítrio.
Liberdade e Determinismo Radical
De acordo com o determinismo radical a liberdade não
passa de uma ilusão. Segundo os defensores do
determinismo radical, a falsa sensação de liberdade, que o
ser humano possuí, provém do desconhecimento das causas
que antecederam as nossas acções.
Determinismo Radical
Desta forma, significa que se o determinismo radical for
verdadeiro, a responsabilidade moral deixa de se poder
imputar ao agente. Se todas as acções estão determinadas
por acontecimentos anteriores, então o agente não é
responsável pelas suas acções.
Determinismo Radical - Argumentação
Quando examinado, o determinismo radical revela basear-se
em três princípios:

1. O princípio do determinismo – tudo o que acontece tem


uma causa.
2. O princípio de que se uma acção é determinada, então
não é livre (a pessoa não poderia realmente ter
escolhido não a fazer).
3. O princípio de que a pessoa é moralmente responsável
apenas por acções livres.
Estrutura lógica do determinismo radical

1. As nossas acções são determinadas pelos


acontecimentos anteriores e pelas leis da
natureza
2. Se as nossas acções são determinadas pelos
acontecimentos anteriores e pelas leis da
natureza, então não há acções livres
3. Logo, não há acções livres
4. Se não há acções livres, então ninguém é
responsável pelas suas acções
5. Logo, ninguém é responsável pelas suas
acções
Objeções ao determinismo radical
Mas será o determinismo radical uma teoria consistente,
uma teoria verdadeira? Será aceitável que o ser humano
não possa ser responsabilizado pelas suas acções?
Alguns pensadores defendem que o determinismo radical
não é uma teoria consistente. Iremos estudar quatro
objeções apresentadas ao determinismo radical:

• A objeção da responsabilidade moral;


• A objeção da persistência da escolha;
• A objeção da imaterialidade da mente;
• A objeção da impossibilidade da perenidade das
leis naturais.
A objeção da responsabilidade moral
Os críticos do determinismo radical não aceitam que a responsabilidade
moral não possa ser imputada aos seres humanos. Ou seja, se o ser
humano não escolhe as acções que pratica, então não pode ser
responsabilizado pela prática das mesmas.
Mas isso seria um absurdo, pois faria com que a regulação da sociedade
(através de tribunais ou sanções) fosse impossível e injusta.
A objeção da responsabilidade moral
Por outro lado, não valeria a pena praticar boas acções, nem
alcançar objetivos, pois a noção de mérito também
desapareceria. Aplicando o determinismo radical à vida
prática, as prisões, os tribunais, ou qualquer sistema de
punição e recompensa, teriam de ser abolidos. Tal situação
conduziria ao caos na sociedade pois tudo seria legalmente
permitido, uma vez que não existiriam culpados.
A objeção da persistência da escolha
Outra das objecções
clássicas ao determinismo
radical prende-se com a
persistência da escolha.
Isto é, o ser humano é
constantemente
confrontado com a
possibilidade da escolher
entre pelo menos duas
alternativas possíveis. Ao
contrário dos animais não
humanos, o
comportamento humano
não é puramente instintivo.
A objeção da persistência da escolha
A complexidade da sociedade, exige que o comportamento não seja um
mero reflexo instintivo, mas sim, o resultado de uma aquisição de um
complexo conjunto de regras. Por outro lado, o homem por vezes age de
acordo com seu instinto primitivo, quebrando as regras que a sociedade
impõe. O que mostra que o comportamento humano é complexo e
imprevisível e não pré-determinado como supõe o determinismo radical.
A objeção da imaterialidade da mente
A terceira objecção que iremos apresentar, prende-se com a natureza da
mente. O determinismo radical parte do pressuposto que as nossas acções
estão determinadas porque são o efeito de acontecimentos anteriores. No
entanto, o esquema do determinismo aplica-se apenas à matéria. A
questão que agora se coloca é a de saber se a mente é material.
A objeção da imaterialidade da mente
Sabemos que o cérebro,
composto por células (feitas de
matéria) é o suporte físico da
mente, mas os processos
mentais não são
necessariamente materiais.
Quando pensamos numa
imagem, uma montanha de
ouro, por exemplo, sabemos
que as células que compõe o
cérebro (os neurónios)
estabelecem ligações entre si
para formar a imagem na nossa
mente, mas nada nos garante
que há um suporte físico dos
nossos pensamentos ou ideias.
A objecção da imaterialidade da mente
Ora, uma vez que o processo que desencadeia o desfecho de uma acção,
é uma operação mental e não uma operação meramente física, o
esquema do determinismo não se aplicaria à tomada de decisão
consciente, que está na base das nossas acções. Dessa forma, as acções
seriam livres, sem que o determinismo fosse abandonado.
A objeção da impossibidade da
perenidade das leis naturais
#2
#E=mc
- É impossível demonstrar que as leis naturais são uniformes e para
sempre constantes;
- É com base no princípio da constância das leis físicas e naturais que é
possível sustentar a previsibilidade dos acontecimentos;
- Mesmo que aceitássemos o determinismo, não poderíamos demonstrar
a perenidade das leis naturais.

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