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ClP-Brasil. Catalogação-na-Publicação ( ) ypJi>


Câmara Brasileira do Livro, SP

Humbert, Elie G.
H899j Jung / Elie G. Humbert ; [tradução de Marianne
Ligetij. — São Paulo : Summus, 1985.
(Novas buscas em psicoterapia ; v. 25)

Bibliografia.

1. Jung, Carl Gustav, 1875-1961 I. Título.

CDD-150.195092
85-1065 -150.1954

índices para catálogo sistemático:


1. Jung, Carl GustaY : Psicologia analítica
150.1954
2. Psicanalistas : Biografia e obra 150.195092

PASTA:_
FOLHA (s;:
DATA: 7
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III

Consciente - Inconsciente

O consciente

Para compreender a vida de seus pacientes, Jung chegou à


hipótese dos arquétipos. Agora assume este ponto de vista geral, para
considerar o homem.

"A história da natureza conta-nos a metamorfose fortuita, aos


acasos das espécies, que através de centenas e milhões de anos,
se devoraram e entredevoraram. A história biológica e política
da humanidade também nos ensina mais do que o necessário
sobre esse assunto. Mas a história do espirito inscreve-se noutro
registro. É aqui que aparece o milagre da consciência refletida,
a segunda cosmogonia." (47, p. 385)

.O mundo só existe pela consciência. "Foi a primeira a criar a


existência objetiva e foi assim que o homem encontrou seu lugar
indispensável no grande processo do ser." (47, p. 295)
Ê pela consciência que se pode encontrar um sentido. "Final
mente, o elemento decisivo é sempre^-Q^ consciente; é o consciente
que deve compreender as manifestações^dlo inconsciente, apreciá-las
tomar posição com relação a elas." (47, p. 218)
É por isso que "a. terapêutica tempot £biejjyoreforcar ò cons
ciente". (52, p. 136) ^"^
Por mais importante que seja, o consciente —> ou consciência
(considerarei ambos os termos como.sendo equivalentes por não poder
discutir aqui as variações vocabulares de Jung e seus tradutores). —
ele é, entretanto, frágil e limitado.
"Nossa consciência nSo sé cria a si própria. Emana de profun
dezas desconhecidas. Na infância, desperta gradativamente e du
rante a vida, desperta pela manhã, emerge das profundezas do
sono, em um estado de incõnsciência. É como uma criança que
nasce .cótidianamente do ventre materno do inconsciente." (G. W.
11,' § J>35)

105
"A miqyp. real e verdadeira é o inconsciente, enquanto o consciente conta que não há conteúdo da consciência que não seja incons

í só pode ser considerado como um fenômeno temporário." (G. W.


16, § 205)
ciente sob outro ponto de vista. Talvez não haja psiquismo
inconsciente que não seja consciente ao mesmo tempo!" (40,
pp. 504-505)
("As causas e as metas ultrapassam o consciente de um modo
que não se deve subestimar, e isso implica que suas naturezas e O ônconsciente aparece então como um vir-a-ser consciente. É
suas ações sejam irreversíveis e inalteráveis enquanto não sejam curioso que o vocabulário de Jung para designar este vir-a-ser, seja
objetos de consciência. Só podem ser corrigidos pela perspicácia estável (Bewusstwerderi), quando varia para designar o ser-consciente
consciente da determinação moral; é por isso que o autoconheci-
mento, tão necessário é também tão temido.** (G. W. 9/2, § 253) {Bewusstsein).
Este vir-a-ser passa por limiares, o que "pressupõe um ponto
A obra do consciente tem um valor cósmico, mas consiste no de vista engrjéüco segundo o qual a consciência dos conteúdos
autoconhecimento. Jung considera sempre a consciência como função psíquicos '3epeT53e essencialmente de sua intensidade" (49, p. 488)
do sujeito. * e de seu vaígL (49, p. 483) Isso corresp"S5ae~=aTT-tá,to que a cons
ciência é um sistema de percepção e que seu acesso depende de uma
"Nenhum conteúdo pode ser consciente, se não for representado diferença energética.
a um sujeito." (G. W. 9/2, § 1)
Mas ainda é preciso que o consciente disponha de meios de
O consciente define-se então segundo duas dimensões: tratar a informação. Jung analisa o que chama "fenômenos de
1) em relação an conjunto da psique, a consciência não é recepção" e chama a atenção para o papel dos conceitos aperceptivos.
s(?(p?n a íntllig5" íntima dft processo objetivo da vida". (28, p. 103) que sao em primeiro lugar o conteúdo das ciências e tradições e
*Ç) termo empregado para intuição — Anschauung — enfatiza o fato que a experiência de cada um forma depois à sua medida.
que a consciência é uma reflexão do processo da vida, sobre si
mesmo;
( "Muitas perturbações neuróticas' são devidas ao fato que certos
conteúdos são constatados no inconsciente mas não podem ser
2) em relação ao sujeito, "o consciente é a r^gç^o ^ntre ym assimilados por falta de conceitos aperceptivos capazes de apre
conteúdo Psíquico e O egO — O que naO está qpsnniarln an «pó. per- endê-los." (G. W. 9/2, § 254)
'^TaTW. 14/2, § 522 nota 400)
No trabalho do consciente, Jung distingue a asjimj^gcjio que é
A existência destas duas dimensões explica que a ampliação "a adjunção de um novo conteúdo consciente a mTJteriãis subjetivos.
do consciente implique na transformação Ão sujeito. A retirada das ecõmos quais se tusiona" (18^jx_412) e a^^egracã^quejadoca o
•projeções e a tomada de consçiência_da sombra, colocam o ego egcTém causa e o obnga a^modiiicãr-se. A tonjjgjja^cfé^ consciência é
em^conflito. uma assimilação, acaba na maioria das vezes por reforçarjum_gQm-
plexo dominante —-• ^nvargamante, a_ integração comejãljpox-Jiina
f O processo de desenvolvimento e diferenciação do consciente
leva à crucificação do ego." (G. W. 9/2, § 79) "lesão" do ego (12, p. 128) e termina com umajreliçao .diferenciada;
"mlepà^Tjtô é, retirado da projeção e agora capaz. de ser sentido
Tornar-se consciente "cõinoimTpÕder psíquico determinante". (4§, p. 283) '
lt O trabalho do consciente opõe ao inconsciente uma exigência
Função de um sujeito que apenas existe no começo, de sua íciação: •••'.•''
história e de uma reflexão da vida sobre si mesmo, da qual (reflexão)
não sabemos quase nada, o consciente não é uma zona de contornos "A diferenciação constitui a própria essência e a condição sine
definitivamente claros. É analógico, isto é, os dinamismos psíquicos
são "mais ou menos" conscientes e isso dá lugar a estruturas de
i qua non do consciente.". (44, p. 216)

consciência, diferentes umas das outras. Esta observação leva Jung a pensar que as categorias de espaço
e tempo, a partir das quais se desenvolve a diferença, são "postu
"Entre 'eu faço' e 'tenho consciência daquilo que faço', não há ladas" pelo consciente.
. só um abismo, mas às vezes, há até uma vmarcada oposição. Existe Leva-o também a completar a definição de consciente. Havia
" pois lffl_conscien^e^jm qi^a] a inriwisci&nfiia «farofa, como há
Um «nnseiftnteftm qiift^*A-^M»«w?énçía. qnc domina. Bsta situação sido estabelecido em relação ao conjunto da psique e em relação ao
paradoxal Trca imediatamente compreensível quando nos damos sujeito; reconhece-lhe agora uma terceira dimensão:

106 Í07
"Ali onde não existe o 'outro', onde não existe ainda, cessa toda- ao que existe atualmente". Cada aspecto seria apreendido por uma
{ possibilidade de consciSncia." (G. W. 9/2, § 301)
função especifica que ele denomina, por ordem: sensação (Empfin-
dung) — pensamento (Verstand) — s^iitimento {Gefüht) — intuição
Tipologia e orientação do consciente (Intuitiori).
Dado o enfoque do consciente, uma das funções adianta-se às
Como é que o consciente recebe o que lhe é estranho? putras, seja por disposição inata, seja" por terHstdo-Sais útIPnas
circunstancias da primeira infância. O consciente orienta-se então
Jung começou a refletir sobre isso ao observar o contraste que de maneira estável segundo esta função, isto é, tria o mundo segundo
separa os histéricos dos doentes atingidos de demência precoce. o aspecto que lhe corresponde.
Parecia-lhe que a distinção proposta então, entre extroversao e
Existem pois oito tipos de orientação, combinando a extroversao
introversão, expressavam bem esta diferença.
e a introversão com as quatro funções.
Mais tarde, ficou impressionado ao ver Freud e Adler se oporem O interesse não reside entretanto na classificação. O valor da
em função dé duas teorias que lhe pareciam igualmente válidas, e tipologia junguiana está no dinamismo que implica e nas tensões
explicava a ruptura pela impossibilidade de admitirem que sua que põe em evidência.
divergência tinha a ver com suas estruturas, extrovertida para Com efeito, se o consciente é orientado por determinado-tipo, o
Freud, introvertida para Adler. tipo oposto fica de certo modóTuTúãnte, não está ligado ao ego, e
Este exemplo, que o tocava particularmente, tornou-lhe presente em compensação, é por ele que virá a ação mais autônoma do incons
a necessidade de compreender em que consistem tais diferenças, a ciente. A mudança, o desenvolvimento, far-se-ão através deste oposto,
fim de hão ser enganado pela maneira pela qual o consciente que Jung chama de J^nçãsJnferior. Para um pensador introvertido,
percebe o que lhe é estranho. O exemplo dé Freud e Adler forne ela é, por exemplo, da ordem do sentimento extrovertido.
ceu-lhe também uma primeira indicação: o consciente recebe—em Não posso inserir nesta exposição a análise que merece a dinâ
função do modo como se orienta. Isto fica bem expresso pelos termos mica própria à tipologia de Jung — como também não me foi possível
intro-versão, extro(a)-versão. apresentar a clinica da sombra, da anima e do animus, ou a do self.
Não.podemos pois imaginar o consciente como uma praia já Quero somente chamar a atenção sobre a grande utilidade prática
que nãn g «oriente passivo? nem tratá-lo como uma função neutra, desta tipologia.
igual para todos, já que há pelo menos dois tipos radicalmente Na consulta, o diagnóstico da função principal e da função
diferentes: o extrovertido e o introvertido. O primeiro caracteriza inferior não só permite compreender como o paciente percebe o
um consciente voltado para o objeto, o segundo um consciente vol mundo e se orienta nele, como também esclarece as condições de
tado para o sujeito. maturação deste paciente.
É preciso aportar aqui dois esclarecimentos: a extroversao e a No decorrer de uma análise, a transferência estabelece-se e
introversão caracterizam a estrutura do consciente e não o compor
transforma-se no ambiente determinado pela similitude, a comple
tamento. Encontrámos monges contemplativos extrovertidos e homens mentaridade ou a oposição das estruturas do consciente do analista
'de negocio introvertidos -— Jung explicitou pouco o que entende e do analisando. Pode acontecer que a mola da diferença e da
aqui por objeto e sujeito, mas parece que correspondem ao mundo desestabilizaçâb esteja ligada à oposição dos tipos, ou que uma
externo e ao mundo interno, enquanto ambos são realidades objetivas. cumplicidade dificilmente apagável, provenha de sua similitude..
O introvertido não é necessariamente mais narcísico que o extrover
tido; não o são do mesmo modo; a subjetividade do primeiro, mis Inconsciente
tura-se às percepções internas, enquanto que a do segundo, projeta-se
no inundo concreto. "Tanto de fato quanto por definição,' o inconscienjejttffo pode-
O consciente seria pois estruturado segundo um dos grandes ser alcançado em si-mcsmpr É essencialmente a partir da expe-
srjêgcia~~que temos dele, que podçmos deduzir conclusões sobre
sistemas de informação, externo ou interno. C^o_écjüg á jnfoimaçãó sua natureza.** (49, p. 303)
é tríada depofeTJjmjj^dfcfog*»* entpo gimíro^fl^ècto^^constatar o
que existe reaimáíte rí conhecer. seu significado ^— .apreciar seu Em um movimento que lhe é familiar, o pensamento de Jung
valor —- perceber as possibilidades de origem e de meta subjacentes inverte o sentido da relação sujeito-objeto e considera o inconsciente

108 109
sob o ponto de vista do consciente, depois de havê-lo abordado a O que dissemos dos arquétipos, convida-nos a afastar uma
partir dos arquétipos. figuração espacializante que representa o inconsciente pessoal e o
"Teoricamente não podemos fixar limites ao campo da cons
inconsciente coletivo como dois estratos superpostos. O inconsciente
ciência, já que este é capaz de estender-se indefinidamente. Em-
pessoal é feito de inconsp.iqpte cnlativo- resulta do encõnííõSias
piricamente entretanto, encontra 1ssu-Jimite quando chega ao informações que conduzem o vir-a-ser humano, com as circunstâncias,
desconhecido. Esse constitui-se de tudo aquilo que ignoramos e as particularidades, as escolhas, as hereditariedades, os ambientes, as
que, por conseguinte não tem relação com o ego, centro do tradições, enfim todo o contexto físico e psíquico, social e individual,
campo da consciência. O desconhecido divide-se em dois grupos da existência. Foi este o fenômeno que a psicanálise primeiro percebeu
' de objetos: aqueles que são externos e que seriam acessíveis
pelos sentidos, e os que são internos e que têm a ver com uma e que Freud elaborou. Ao explicitar mais as manifestações do incons
experiência imediata. O primeiro grupo constitui o .desconhecido ciente, Jung chegou à hipótese dos arquétipos. O fato de ter-se
rifi piundn ftxfrrno: o segundo, o H?fi?pnhpriHft Hrt "iiínrtn intãrnn. lançado nela como um pioneiro não diminui em nada a realidade
Chamamos este último de ^inconsciente'." (G. W. 9/2, § 2) e a importância das formações inconscientes pessoais. O analista
Jung define aqui o inconsciente por seus conteúdos, quando que as ultrapassasse para mais depressa alcançar dimensões coletivas,
havia definido o consciente por seu papel. Veremos a seguir como
provocaria umajnflação no analisando. Na realidade, não encontraria
visualiza o papel do inconsciente.
o inconsciente coletivo nesta provação pessoal, profunda, da qual
fala Jung; não teria mais que o reflexo em seu próprio imaginário.
; "O inconsciente não se compõe somente de elementos reprimidos, A experiência das dimensões coletivas do inconsciente faz com
! más também de todos os elementos psíquicos que não alcançaram
\ o limiar da consciência." (11, p. 10) que se sinta uma análise que não as leve em conta, como sendo uma
mutilação absurda, mas permite também verificar o valor de uma
Do ponto de vista da psicologia do consciente, podemos distin afirmação para a qual Jung voltou muitas vezes: não há .outro,
guir três tipos de conteúdos inconscientes, segundo sejam: caminho senão o do autoconhecimento. —
temporariamente subliminais, mas podendo conscientizar-se vo
luntariamente;
O inconsciente coletivo
J^d) ^p&o podendo ser conscientizados voluntariamente;
'3) não podendo absolutamente tornar-se conscientes. (G. W. 9/2, Enquanto que as principais formações do inconsciente pessoal
•^ §4) são as imagos e os complexos, o inconsciente coletivo é constituído
f:apelos ^nstintos-je seus correlativos, os.arquétipos". (28, p. 104)
Inconsciente pessoal — inconsciente coletivo Ajréflexão quejeva à idéia dejgquétipo é ofundamento da obra
Sem negar o interesse que haveria em estudar estes três grupos jdejung. É por isso que a apresentamos por si mê^ã7~è~ênTpfmiêiro
e suas problemáticas respectivas, Jung interessou-se principalmente lugar. Sé chegamos agora à consideração global do inconsciente co
por analisar as manifestações—do inconsciente em função de uma letivo, encontramo-nos com um fator ao qual Jung remete amiúde
psicologia da personalidade, o que o levou a. diferenciar no incons sem tê-lo definido realmente: o_jnstjnto, ou os instintos. Devemos
ciente, o pessoal e ó coletivo. pensar que trata-se de uma realidade análoga ao id? Seria um con
junto de pulsões constituindo os alicerces dinâmicos da psique? Jung
/Enquanto os conteúdos do inconsciente pessoal são adquiridos não diz. Quando fala disto, é para referir-se a um modo de compor-
\ durante a vida do indivíduo, os conteúdos do inconsciente, cole-
/ • tivo são invariavelmente arquétipos, presentes desde o começo." tamento cuja adaptação é regulada.por uma finalidade interna incons
L (O: W. 9/2, § 13) ciente — finalidade que pode ter-se estabelecido por acaso ou por
seleção. A noção de instinto conota igualmente para Jung, uma
Em um plano clínico, Jung explica: continuidade do psíquicos do biológico, assim como o aiitnmntist™
e_a sujeição. Escreve por exemplo: ~~~ '
| "Distinguimos entre um inconsciente pessoal que nos torna capa-
J zes de reconhecer a sombra e um inconsciente impessoal que "As propriedades que caracterizam o instinto, a saber o automa-
i permite reconhecer o símbolo arquetípico: do self" (G. W. 9/2, üsmo, a natureza não influenciável, a reação tudo ou nada "
(49, p. 503) "
i 8261>
110 111
A ripidez do instinto está na origem do caráter repetitivo e Em resumo, Jung define o inconsciente como sendo uma realir
compulsivo, da ação dos complexos sobre o consciente. "^ dade objetiva, cuia atividade é criatiy_a e possuindo o que em termos
De um modo geral, a idéia de inconsciente coletivo remete à J3e consciente çhâgiaríamos de um saber.
de psique inconsciente. "Pelo inconsciente, participamos da psique Observa que os dinamismos inconscientes permanecem na
histórica ^coletiva." (19, p. 167) ' ambivalência e na contaminação, isto é, podem facilmente confun
Jung observa que certos dinamismos inconscientes não são dir-se e inverter-se. É a isso que o consciente opõe uma exigência de
diferenciação.
função da subjetividade e seguem uma lei que lhes é própria.
i

"A idéia da independência e da autonomia do inconsciente, que


diferencia tão radicalmente meus conceitos dos de Freud, ger A estrutura consciente-inconsciente
minou em minha mente já em 1902, quando estudava a história
e ó desenvolvimento psíquico de uma jovem sonâmbula." (44 Tung considera a re1ar^ãQ_rrtnsr.iftnt<>.inçoriS^<»n*" ™m» fTpndo
prefácio, pp. 19-20) uma estrutura.

p inconsciente é uma^ealidade__objetiYa« tão independente da >"Todos os efeitos são recíprocos e nenhum elemento age sobre
subjetividade individual.quanto o é o mundo externo. Na teoria de ^outro sem que ele próprio seja modificado." (G. W. 14/2, § 419)
Jung, esta é sua primeira característica. O inconsgente coletivo é
"idêntico a si mesmo em todos os homens e constitui assim um È_ejta_estpttura^ que chama de J?sique (49, p. 521). Define-a
fundamento psíquico universal de natureza suprapessoal, presente em como totalidade para enfatizar, usando os dois sentidos da palavra
cada um*\ (49, p. 14) Ganzheit, que a possibilidade de cada um tornar-se inteiramente
si próprio, depende do funcionamento. desta estrutura.
O inconsciente caracteriza-se também por sua^^ddadejcriatiyai.
no sentido em que os dinamismos que fazem o humano não são Se o consciente se desenvolve separando-se do inconsciente, de
conscientes. um lado as formações do inconsciente pessoal regridem, isto é,
perdem sua adaptabilidade ao mundo consciente e tornam-se cada
"Para mim, o inconsciente é uma disposição psíquica coletiva, vez mais rígidas e negativas; por outro lado as compensações que
t de caráter criativo." (G. W. 11, § 875) vêm do inconsciente coletivo ficam cada vez mais desafinadas e
irrecebíveis.
Í"0 inconsciente é a matriz de todas as afirmações metafísicas,
de toda mitologia e de toda filosofia — enquanto não sejam Por outro lado, se o vir-a-ser consciente se faz de acordo com
puramente críticas — e de todas as expressões da vida fundadas
sobre premissas psíquicas." (50, p. 28)
imais
is dinamismos inconscientes, a elaboração inconsciente fica também
precisa e melhor adaptada à vida.
Na medida em que estes dinamismos mconsçientes_jnSo._jão ) "O inconsciente só funciona satisfatoriamente se o consciente
caóticos mas, p*^ rantrácMyestãn na origem de um mundo de formas 1 cumpre sua tarefa até ao fim." (G. W. 8, § 568)
'p^jgjffigdfflmp"*™8 relativamente ordenados, somos levados a pensar
que tudo acontece como se houvesse um sahgx inronsnipntp. Isto Para Jung, tornar-se consciente não visa pois reabsorver p
fica confirmado pela maneira por que, os-sonhos especialmente, trazem jnconsciente mas vjsapermjtjr o funcionamento satisfatório da estru-
para a trama da vida uma inf^rma;õQJlW vlfrnrfl>"W ^""tas vezes a jtn^^jgiguiçjB. Trata=se~<re um sistema de troca ern^que u vptimum
do consciente em^adeç^çjoilellpenetração. Por outro lado,. Jung varia muito de um indivíduo para outro, mas què, de todos modos,
condiciona a saúde de cada um.
rèparaT fundamentado noT fenômenos de sincronicidade, que o saber
inconsciente tem um caráter "absoluto**, devido à sua relativa inde
pendência quanto a tempo e espaço.
('"tõa incompreensível que possa parecer, somos finalmente obri-
Vgados a .supor que existe no inconsciente algo como um.conheci-.
/ mento a priori ou uma existência imediata de acontecimentos,
C "sem nenhuma base causai." (G. W. 8, § 856) '

112 113
IV

O Processo de Individuação

"Q crescimento da personalidade faz-se a partir do inconsciente."


^*v"» P» 280}

Esta afirmação tem conseqüências importantes. Leva com efeito


a uma certa atitude diante da vida e condiciona o modo de conceber
a terapia. Situa-se dentro da lógica da experiência junguiana que leva
à confrontação do homem com ele mesmo, até ao encontro dos
dinamismos inconscientes de ordem coletiva.
Se os arquétipos são uma fonte atual de informação, agem de
maneira constante. Todo_o homem continua sob sua influência e
pode ser mudado por eles/Mas, em que sentido se exerce essã~ãçaõ?~
Como e que o sujeito pode recebê-la e integrá-la, dado que é limi
tado pelas circunstâncias, por suas capacidades naturais e pelas
determinações vindas de sua infância e adolescência?
Jung começou a observar esta ação em si próprio nos anos
1912-1918. Concebeu daí, progressivamente, a idéia de um processo
de crescimento, que poderíamos chamar de processo de humanização.
Chamou-o de "individuação", não porque o indivíduo fosse efetiva
mente seu centro, mas porque a relação enire individual e coletivo
(no sentido definido no capítulo sobre os arquétipos) ultrapassa, ao
mesmo tempo que a assume, a relação sujeito-objeto.
C"Foi através do estudo das evoluções individuais e coletivas e
) pela compreensão do simbolismo alquímico que cheguei à noção
\ central de toda a minha psicologia, a noção do processo de indi-
( yiduação." (47, p. 224)
"Em A Dialética do Ego e do Inconsciente, eú havia somente
constatado que nos referimos ao inconsciente, e como o fazemos,
o que aind.a não diz nada sobre p inconsciente mesmo. Ocupado
assiduamente com mjnh^sjmaginacfies, estas pesquisa!} fizeram-me
pressentir que o inconsciente transforma-se e passa por metamor-
JQses. Foi ao; descobrir a alquimia^ que vi, claramente qnT^o
inconsciente é um processo e que as relações do ego com o in-

115
consciente e seus conteúdos, deslancham uma__eyojução, e até Quando o processo acontece inconscientemente, projeta-se em
"umã"verdadeira metamorfose da psiòue. Nos casos individuais símbolg5_coletivos, em mitos, religiões, filosofias, através dos quais,
podemos seguir este processo pelos sonhos -e-fantasias. No mundo aqueles que a eles aderem, recebem uma certa animação. Mas então,
coletivo, este processo inscreveu-se nos diferentes sistemas relir "o fim da evolução fica tão obscura quanto seTTímncípio". (43, p.
giosos^e nas metamorfoses de seus símbolos." (47, pp. 243-244) 236)
A idéia de individuação Por outro lado, quando o processo é consciente, "tantas obscuri-
dades são iluminadas, que de um lado, toda a personalidade fica
A idéia de um princípio de individuação, aparece provavelmente iluminada e de outro, o consciente, ganha infalivelmente, em ampli
pela primeira vez na obra de Jung em 1916, nos Sete Sermões aos tude e profundidade". (43, p. 236)
Mortqs~z num ensaio, Adaptação, Individuação e Coletividade. Tem Podemos pois considerar a individuação como um processo
sua origem em Schoperihauer e Nietzscher assim como no ftBildungs- incojiscjente_que subjaz à duração da vida e que_ se transforma
roman" de GgeJhe; mas Jung transforma-a radicalmente ao funda quando fica consciente, isto é, para Jung. quando o ego experimenta
mentá-la na longa aventura das relações entre ego e self e na p mcQnsciente-eoletiyo. Isto acontece na maioria das vezes quando do
experiência da mandala. encontro com a sombra, ou da diferenciação da anima e do animus
em relação a suas projeções; e sempre sob forma de um conflito
f "Emprego a expressão 'individuação' para designar o processo em que o ego se transforma. "^
pelo qual um ser toraa-se~um m-<hvídup psicológico, isto é uma
unidade autônoma e indivisível, uma totalidade." (21, p. 255)
"Pode parecer supérfluo comentar mais uma vez a diferença, já
constatada há muito tempo, entre a tomada de consciência e a
Tal é a meta implícita dos dinamismos inconscientes. reali^çSn de si (individuação). Mas eu vejo sempre que o pro-
cesso de individuação é confundido com a tomada de consciência
"Sabemos que o inconsciente vai direto ao objetivo, e que isso do ego e que assim o ego ^identificado com r> x*lf Assim, a
não consiste Somente -em acasalar dois animais mas em permitir individuação passa a ser simples egocentrismo e puro auto-ero-
a cada indivíduo tornar-se inteiro (ganz werden)" (G. W. 9/1, tismo." (49, p. 554)
§ 540)
A dinâmica que sustenta esta maneira de ver, apresenta-se ao A individuação supõe- que se reconheça a existência do centro
consciente sob as diferentes figuras do self. Jung chama-a instinto, inconsciente da personalidade e~ * ' ^
para sublinhar que se trata de "umjrÕsgiròo natural e impessoal", jnfetro1'. A coordenação do ego e do setj, realiza a totaUdãSê, seja
ou Logos; para evidenciar que este processo segue e cria uma ordem "quais forem as feridas e as faltas. Pois não se trata nem de ter tudo
nem de_ger tudo, mas de" existir de. fl™?irdo ™"i vm* estrutura flm
inteligível. cgíè~7uncionam princípios opostos.
/"Oseif. representa <•» nhie^vo ri" homem inteiro, a saber ajreali-
| zasaÕTdft sim totalidade e de sua mdjyjdualidade,,cpm ou contra Jung observou que esta estrutura expressa-se segundo um modelo
) sua^xonladp. A dinâmica desse processo, é o instinto, que vigia quaternário. Estudou-a através de múltiplos documentos históricos e
/ para que tudo o que pertence a uma viria individual figure .ali,
\ exatamente, eggi' nw *rm n concordância do sujeito, quer tenha clínicos e distinguiu duas formas principais: "o "duplo par*' (por
consciência do que acontece; quer não." (43, p. 219) exemplo na transferência = anaJfota_e-4uialisanjQ^_jui^^
que representa uma explícitação e coordenação completa dos fatores
N"Na medida em i"* fg«^ processo! se desenvolve, geralmente de em relação dentro de determinada situação e o "3 + 1" (por exemplo
ymodòinçogsciente, como sempre aconteceu, nao significa nem
' mais~nem menos que a transformação de uma glande em car em tipologia = as três_J&neõgs ligadas,ajp_ego_e a função inferior)
valho, de um bezerro em vaca e de uma criança em adulto. que corresponde melhÕrque o duplo par às situações em movimento.
Mas se este processo de individuação é conscientizado, o cons Bem utilizadas, estas fórmulas são provedoras de hipóteses. Chamam
ciente deve então ser confrontado com o inconsciente, para a atenção para as organizações subjacentes a fenômenos aparente
encontrar um equilíbrio entre os opostos.
mente sem relação, e sobre sua provável evolução. ,
Logicamente, isso não é. factível, de "maneira que dependemos
dos símbolos, que tornam possíveis a união e a harmonização O modelo quaternário sobre o qual Jung se detém, em particular
dos opostos. Estes símbolos são criados pelo inconsciente e serão a propósito da individuação, é a cruz. Ela expressa tanto o desen-
amplificados.pelo consciente e sua mediação." (43, pp. 234-235)
117
116
volvimento^uanto o^jrorf1^" ft a_integração. O psiquismo que se "Aquele que. conhece sua sombra, sabe que não é inofensivo,
pois, quando ela surge, é toda a psique arcaica e todo o mundo
^individua i~ihsêcável porque mantém ..jun£aA„a_s„oposições, torna-se arquetípico que entram em contato com a consciência e a impreg
sfii/_Jio__§eu centro, mas juãa-se isola. nam de influências arcaicas." (52, p. 102)
A oposiçãOLdo individual e do coletivo, no sentido definido por
jnngf liga o hnrnem' ao seu ambiente em vez de separá-lo dele; ela j\ssíttjj a conscientização das projeções, leva a uma inflação. Em
Uga^_poxque—diferericia^iSi___AMndividuação é o contrário do iridT7 toda a sua obra, Jung chama a atenção para os_perigos de dissolução
"viauãlismc do_conscje_nte, que dela resultam. Isso é tanto mais necessário porque
A individuação não exclui o universo, inclui-o." (49, p. 554)
Õ fenômeno apresenta-se sob o melhor aspecto. Uma sensação de
liberdade e de força nova substituem as desagradáveis impressões que
("A individuação tem dois aspectos fundamentaisj. de um lado, é haviam acompanhado a análise até então. O analisando sente gosto
) um processo interno e subietiyo de integração: por outro lado e capacidade de afrontar a vida. Propõe terminar o tratamento.
S é um processcT .objetivo, tão indispensável quanto, de relaciona-
/ mento cõm o outro. Ambos são indispensáveis, se bem que estejam Na realidade, sabemos que o afluxo de energia está ainda na
/ em primeiro plano, ora um, ora outro." (52, p.^ 96) dependência dos dinamismos assimilados-pelo ego e não realmente
integrados. O sinal é aincerteza dos limites, as mudanças rápidas de
opinião e comportamentos, as alternâncias de elação e depressão,
Projeção e possessão características do inconsciente. É o que Jung chama de jnflação po
A palavra jndividuação indica que se trata de uma operação sitiva e negativa.
em curso. Talvez não termine nunca; Na maioria das vezes, não se vai mais longe, devido ao benefício.
"~~Aplica-se a um estado de origem que não se confunde com os energético. Acontece entretanto, que a ação da anima ou do animus
começos. Jung chama este estado de "identidade arcaica" ou "par- se torna insuportável, e retoma os. questionamentos. Tratam então
ticjpa^âíLJulísíica" (termo tomado de Lèvy-Brühl). 0efine-o como da natureza das forças às quais se identifica o ego e acabam por
^sendo uma irdifarBncfacSn do sujeito e do-objeto; "â psique é reconhecer seu caráter coletivo.
primeiro o mundo". Se é verdade que isso corresponde ao começo . Para Jung, o processo que parte da identidade arcaica e de,
da vida psíquica, o psiquismo do adulto comporta ainda setores desse um estado de possessão do consciente passa então por dois tempos:
tipo. Nesta medida, a origem é sempre atual. uma separação do mundo externo e do ego, que se opera-pela retirada
O consciente vive habitualmente a evidência, isto é a identidade
com o real, daquilo que experimenta ou pensa. Está então "possuído!' das projeções; e uma separação do ego e do mundo interno, que
pelas forças inconscientes que atualizam-se através do condiciona opera-se pela conscientização da inflação e a objetivação das forças
mento individual. Em contrapartida, beneficia-se de uma energia coletivas inconscientes na sua natureza arquetípica.
que não se limita a si próprio. E de um lado a energia dqs arquétipos,
e de outro, a do jogo social. Assim a personalidade fica duplamente
aferrolhada, de dentro e por fora, e ela percebe inconscientemente Incesto e sacrifício
que deve_ à_jua_não^diferenciação a energia que a faz viver. O destacar-se das projeções e a retirada da inflação processam-se
Será preciso a, derrota ou a patologiã^^fa~qaê^súlJam ques através de rupturas dolorosas, que implicam em um reconhecimento,
tionamentos. ' . f . cada vez mais nítido, dos limites da personalidade^ Jung analisou
Por este penoso caminho, a identidade arcaica tem alguma longamente este processo em Metamorfoses e Símbolos da Libido
chance de desfazer-se. O'indivíduo questionadQ_poderâ descolapsfude (1911-1912). Volta â tratá-lo com freqüência, em especial na Psicolo
suas evidências. Enquanto se constitui um campo sujeito-pbjeto, o gia e Alquimia é no ensaio sobre a Psicologia do Sacrifício dà
consciente'descobre que aquilo qué acreditava ser real era "uma
Missa. (49)
parte do sujeito transferido para o objeto", imffl projeção.
Reconhecex^r^tjrar_uin^_^ojeção, tem como primeiro'efeito, Conserva, para falar destas rupturas necessárias, o termo sacri
o vagTOjQ desencanto, a pen!ã~lÍomarayilhQSO, mas, num segundo fício, no qual elas projetaram-se. durante milênios. Este termo marca
têmpÕTa energia volta ao consciente e mais. precisamente ao ego. bein que a separação, o luto, a-castração, não são somente cortes e
Isso produz uma "extensão da personalidade"; (44, p. 64) a que perdas, mas pertencem,' com a condição de serem vividos até ao
Jung chama de inflação,» fim, a um processo de transformação..

118 119
Cada vez que um mundo (ou imagem do mundo) se constitui,
r» raso de Mks Miller, que Jung estuda nas Metamorfoses, tende a coSrlr ohomem num envolvimento onde atuahzam^e
Jau ^a acentuar a necessidade de separar-se dos primeiros apegos uma dfnâmica de inclusão e o arquétipo da mãe Êo ^e encontra
C°?£ de adaptôT^ à realidade. "O curso natural da vida, exige mos, em níveis diferentes, no gosto pelo poder do desejo no «casuo
a wiro do iovW, que sacrifique sua infância e sua dependência do narcisismo, e também no racionalismo, em que Jung vê o domínio
?ffimft í com SfiS* aseus pais naturais'. (23, p. 592). Este desapego de uma imago materna.
O movimento da vida pode um dia levar a rasgar estes envolvi
ÇWoTStft^^ ao^corpo eàahna" (P. 592
e que "o incon§§iente cria sempre de novo . (p. 673)
mentos, e a história dos mitos ilustra suas rupturas sucessivas..
"Enquanto o sacrifício mitraico» ainda é simbolizado por um
Para libertâr-se dele, é preciso sacrificar o herói infantil ou o sa^SfcS anhnal arcaico etende a domesticar e^ap^arjmi^
mente o homem instintivo, a idéia do sacrifício cnstao tornada
-n faM no auS tomam forma "as fantasias conscientes e incons- sensível pela morte de um homem, exige o abandono do homem
ego ideal no Suai/„ 510) sacrificar também "a nostalgia regressiva
da"^"cim suVviga^cidade efacilidade". Cp. 673) inteiro." (p. 708)
O sacrifício do "homem naturar simbolizado na morte do
Cristo, significa para Jung a consciência à qual chega hoje o proce-
rVerTcom dhnento empírica da psicologia analítica: a necessidade de o ego
do herói com ô qua? M?ss iX
o qu se identifica
^ «núncia a todos "significa.
os laços eabandonar
limitações renunciar a apropriar-se dos dinamismos inconscientes.
8^gTrima\v« desde aépo^ da infância até àidade adulta". A razão é que o sacrifício opera uma mudança de orientação
r^UpT» ltautaç5esPformam um envôlucro que mantém a da libido. Permite sua regressão para o inconsciente e dá, deste
modo uma oportunidade a novas formas Jung comenta assim o sa
indiferenciação.
crifício do cavalo cósmico nos Upanishads:
«Por» aauele que olha para trás, o mundo e até o céu estrelado,
. ? «iída a mãe debruçada sobre ele, e envolvendo^ por todos «o sacrifício do cavalo designa a renúncia ao universo... é
«fiados £mt universal, que tudo •envolve, Purusha i tem uScaSe pelo satrifício do^cavalo que pode Produzir^uma
SLÍáTiü caráter maternaL Ser primeiro, representa um estado fase de introversão igual à que precedeu a criação do mundo,
í^fío Ste5* ê ao mesmo tempo o que envolve e o que é (p. 685)
Sido?
envomuu,
mae e filho ainda não.nascido, estado ijd^cruninado
^ é preciso termmá-lo, é ao mesmo «Vimos aue a Ubido ligada à mãe deve ser sacrificada para
££fSfto ^o^gia' regressiva, deve ser sacrificado para prSzir 2mu^raqui é8o mundo que desaparece pelo sacrifício
o5e também possam nascer seres distintos.» (23, pp. 674 e 676) renovado desta mesma libido." (p. 684)
Ê por isto que o sacrifício não é só separação mas também Podemos aproximar a noção de castração simbólica deste con
condição para 0 nascimento de um mundo. ceito de SíX. Entretanto/uma diferença importe^que,»mo
«« aue o mundo e tudo o que existe imediatamente são uma
o investimento do objeto não tem para Jung aúltmi^palavra, o
criaJE da «pi^taçâo, õsacrifício da Ubido que aspira auma que vem em seguida é um acesso ao inconsciente coletivo.
voul ao Passado, é a origem da criação do mundo. (p. 674) "No sacrifício, a consciência renuncia à possessão e aó poder
-o mundo aparece quando o homem o descobre. Ora, só o em benefício do inconsciente. Assim torna-se possível mna umao
dSêlbw no n?omento%m que sacrifica seu envolvimento na mae d?s o^líos que^eT como conseqüência um desencadeamento
oriSS! em outras palavras, o estado inconsciente do começo, de energias." (23, p. 703)
(p. 677) Oque Jung chama de "união" é uma relação dos opostos. Exclui
»P da renúncia a esta imagem e à nostalgia que dela temos, que
pfovL a ímagém doUròndo que corresponde àciência moderna.
tanto o^olSto* do consciente afastado de suas «^SJ«*J
possessão pelo inconsciente. As perdas e separações liberam a perso-
... Cp. 674) . V
! purusha e! no Rig-Veda, o Ser Primordial, a potencialidade de tudo 1. O sacrifício ao touro no culto de Mitra.
o que foi e de tudo o que será. 121
120
nalidade consciente das identificações e a dispõem a participar, sem cada um desejaria, mas o que aconteceria se nos pudéssemos unir
alienar-se, da moção inconsciente. Neste sentido, um movimento de a eles. O que dá ensejo ao incesto não basta para explicá-lo.
volta para a mãe, à sempre-origem, deve compensar o sacrifício. Qual é então o desafio? reencontrar o Mesmo, isto é, o
inconsciente.
•• 'Reentrar na mãe' significa então: estabelecer uma relação entre Quer se trate do irmão e da irmã ou da filha e do pai unse
o ego e o inconsciente... Neste estágio, o símbolo materno nao
mais remonta aos começos; dirige-se para o inconsciente enquanto outros buscam a Mãe, na proximidade que os une. Mas a realização
matriz criadora do futuro." (23, p. 500) concreta do incesto seria a passagem para o ato, em outras P^vras,
o abortar de um desejo que carrega um projeto completamente dite-
É aqui que precisamos retomar a questão do incesto. A análise, rente Tomado simbolicamente, o desejo de incesto leva ao incons
que o encontra em todos nós, e constata seu poder, não pode con ciente como se volta para a mãe depois de nos termos adequada
tentar-se» ao reabrir as vias ao desejo reprimido, com enviá-lo topar mente separado dela.
com a proibição ou com a impossibilidade prática de sua realização. A relação viva com o inconsciente, que toma emprestada, aqui, a
Jung afirma categoricamente a necessidade da proibição (ver 23, p. emoção e a imagem de uma volta à Mãe, anda junto com a consti
592), mas observa que a problemática do incesto não termina ai. tuição do sujeito. A conjunção.não anula a separação, supoe-na.
Escreveu sobre este assunto, principalmente em três livros: Reencontrar as forças criativas inconscientes só é possível ao preço
Metamorfoses da Alma e seus Símbolos (1911-1952), Psicologia da dos sacrifícios de que falamos, senão a personalidade inchar-se-ia de
Transferência (1946), Mysterium Conjunctionis (1955-56). Considera inflação e finalmente seria engolida na regressão.
o incesto sucessivamente enquanto via de retorno- para a mãe, orga A cultura que se constituiu a partir.da psicanálise teme a volta
nizador da transferência e modelo de diferenciação-conjunçao. ao inconsciente. Agarra-se à proibição do incesto como à ultima
muralha que a defenderia da Natureza e da indiferenciação. Jung
"O terapeuta sabe hoje que o problema do incesto é praticamente participa desses temores, mas encara-os de modo diferente. Porque
universal e que aparece imediatamente quando as ilusões habituais trata a ilusão e a mistificação dentro da problemática da possessão,
são afastadas. Mas geralmente só conhece seu aspecto patológico pode reconhecer a dinâmica positiva que ali se expressa. Apoiado
e deixa-o à reprovação que a ele se liga, sem aprender a lição
da história, segundo a qual, o laborioso segredo do consultório, nessa experiência recusa-se-a restringir a psicanálise a uma arte da
é simplesmente a forma embrionária de um problema que atra frustração e da crítica, fala francamente da Mae e propõe que se
vessa os tempos e que criou, na esfera das alegorias teológicas leve em conta o ritmo vital de separação e conjunção.
e nas primeiras fases das ciências naturais, um simbohsmo da
maior importância." (53, p. 132)
A conjunção dos opostos
Diante do tabu que quase todas as sociedades impõem, existe
a soma dos mitos, contos, temas filosóficos e teológicos, em que o Enganamo-nos muitas vezes sobre o sentido dessa conjunção.
incesto desempenha um papel cosmogônico, e, mais ainda, os rituais Evoca para alguns uma justaposição de atitudes mais ou menos
reais ou sacerdotais durante os quais o incesto, era consumado. contraditórias, para outros, o evitar o conflito, ou ainda um jogo de
Supondo, o que está longe de ser provado, que os mitos e os ritos conversão entre versões simétricas do Mesmo. Quando nos reportamos
de incesto sejam uma sublimação devida ao tabu, nãq deixam de à experiência de que fala Jung, percebemos que trata-se de algo
apresentar o incesto com traços, contexto, desenvolvimento, efeitos completamente diferente.
em que se esboça um significado bem determinado. Não seriam o A questão fundamental poder-se-ia expressar do .seguinte modo:
lugar em que melhor se conta aquilo que está em questão no incesto? a energia, o gosto e o sentido da vida vêm através da participação
A atração sexual por um parente seria um fenômeno banal se com o inconsciente, com a condição que o sujeito se diferencie, isto
não se projetasse ali outra coisa. É como se o psiquismo encontrasse é, rompa a participação.
no conjunto mais ou menos ligado das representações, comportamentos, Como é possível um caminho, nesta contradição? Na realidade
ambientes e tempos que constituem o investimento incestuoso, o os dinamismos inconscientes traçam um, opondo por exemplo, a
quadro de uma realização que ultrapassa seus objetivos aparentes, força de crescimento-que pede ó sacrifício e o desejo que chama- ao
confere-lhe. um significado diferente e, portanto, um atrativo consi incesto, a identificação que propõejum símbolo e a compensação que
deravelmente maior. Não é só o pai, a mãe, o irmão, a irmã, o que coloca essa identificação em questão.
123
122
Na falta de um sujeito, estes dinamismos ficam caóticos e metafísica. A palavra é tomada da matemática e serve para designar
quando encontram um compromisso, projetam-se em religiões ou uma capacidade de elaboração que resulta de um duplo movimento:
ideologias. Por outro lado, se um sujeito os torna conscientes e um dá palavra aos fatores inconscientes, o outro reage a estes pela
entende-se com eles, eles entram em uma história. Aquele que con firmeza dos valores do ego e de seus objetivos.
segue segurar juntos os movimentos opostos, fica transformado. Por
isso Jung podia escrever: "a união dos opostos é ao mesmo tempo a Aos conflitos resultantes, em particular entre o ego e a sombra,
força que provoca o processo de individuação e sua meta". (49, p. 331) substitui-se progressivamente uma organização da tensão, capaz de
Ao aproximar este texto daqueles em que Jung diz que a união propor uma orientação ao consciente. Esta pode ser uma inclinação,
dos opostos é o estado inconsciente de origem, podemos esboçar um uma espécie de voz interior, ou ter a forma de um símbolo. Jung
quadro de evolução. O homem iria de uma conjunção-syzigia cujos insistiu muito mais sobre este segundo aspecto, e por isso dizia que
pólos contrários não podem existir ura sem o outro, para uma organi não há individuação sem símbolos.
zação diferenciada em que o psiquismo é capaz, simultaneamente, de A função transcendente que desempenha o papel de regulação
relação com o outro sexo e de relação ao outro gênero, de introversão autônoma, destaca-se e age progressivamente durante ò processo
e de extroversao, de fidelidade e de traição, não na justaposição ou de individuação. Para Jung, trata-se da verdadeira maturidade.
na alternância, mas sim na unidade do sujeito. Projetaram-se às vezes sobre este processo, imagens de Herói.
No segundo volume de Mysterium Conjunctionis (54), Jung Elas são infantis. Vimos, com efeito, como Jung denuncia a depen
estuda três conjunções sucessivas que considera como sendo par dência do herói frente à mãe "e afirma a necessidade de libertar-se
ticularmente significativas: da alma com o espírito, de ambos reunidos dela. Se descreve o processo de individuação, é para revelar uma
com o corpo, do psíquico e do físico na unidade do mundo. orientação, esclarecer possibilidades terapêuticas e de maturação, e
não para propor um modelo. Responde a um correspondente que o
interroga a esse respeito:
Auto-regulação — função transcendente
"Não posso lhe dizer como é um homem que goza de uma
"O homem... não pode responder totalmente e de modo ideal completa auto-realização, nunca vi nenhum.
às exigências da necessidade externa senão quando está em sin Antes de buscar à perfeição, devemos viver o homem comum,
tonia consigo. Inversamente, não pode adaptar-se à suà realidade sem automutilação."
interna, a não ser que esteja adaptado também às condições do
ambiente." (28, p. 61)

"A individuação, o tornar-se si mesmo, é o problema da vida


em geral." (48, p. 162)

Para viver, o homem é feito de tal maneira que pode dispor de


uma regulação interna, quase autônoma, se conseguir pô-la ém fun
cionamento. A educação, a psicoterapia, a maturidade, devem per
mitir atualizar esta possibilidade.
A auto-regulação de que fala Jung, não é uma homeostase cujo
resultado seria uma estagnação. Ela supõe que múltiplos fatores
psíquicos se organizem de tal modo que entre eles haja uma relação
de compensação. O processo pelo qual o psiquismo se equilibra e
se orienta, situa-se entre o ego e o inconsciente e também ao nível
das pulsões e dos complexos. A auto-regulação é própria de cada
um; varia de um momento para outro; é sempre. aleatória, porque
só se faz progressivamente e depois de muitos conflitos.
Já em 1916, Jung teve a intuição desta possibilidade e começou
a examiná-la no ensaio sobre A Função Transcendente. A transcen
dência de que se trata não tem nada a ver com uma perspectiva

124 125
BIBLIOGRAFIA

OBRAS DE C. G. JUNG

TEXTOS ORIGINAIS

Gesammelte werke (obras completas): 18 volumes + 1 index. Iniciada pela


Rascher Verlag (Zurique), a publicação atualmente é continuada pela Waltér
Verlag (Olten — Suíça).
Em tradução inglesa, collected works. Routledge and Kégan Paul (Londres)
e Princeton University Press (Princeton, New-Jersey, È.U.A.).
Nas "Euvres Completes" não consta- uma obra: Errinerungen Trãume
und Gedanken, compilada e anotada por Aniela Jaffé, Rascher Verlag Zurique,
1963.

CORRESPONDÊNCIA

Correspondance générale escolhida c organizada por Gehrard Adler com


colaboração de Aniela Jeffé, versão alemã: Briefe, Walter Verlag Olten, 3
volumes, 1972 e 1973, versão inglesa: C. G. Jung Letters, Routledge and
Kegan Paul e Princeton University Press, 2 volumes, 1973 e 1976.
Correspondance avec Freud, organizada por W. Mc Guire, versão alemã:
S. Fischer Verlag, Frankfurt, 1974, versão inglesa! Princeton University Press,
1974.

SEMINÁRIOS

Estabelecidos a partir das anotações feitas por certos participantes, à


exceção do "Séminairé sur lTnterprétation des Visions*'.
Úream Anafysis, de novembro de 1928 a junho de',1930, em Zurique;
2 volumes, 215 e 298 pp.
J3m alemão, sem título de 6 e 11 de outubro de 1930, em Küsnacht;
110 pp, 5rilustrações. . V-
The Visions Seminar, de outubro de 1930 a março de 1934, em Zurique;
Spring Publications, Zurique, 1976; 2 volumes, 534 pp, 45 ilustrações.

145
Em alemão, sem título, de 5 e 10 de outubro de 1930, em Küsnacht; 16. "Le Yoga et TOccident" dans Approches de Vinde, textes et études publiés
152 pp, 37 ilustrações. sous Ia direction de J. Masui; Cahiers du Sud, Paris, 1949.
Em alemão, com o Prof. J. W. Haners, de 3 a 8 de outubro de 1932; 17. Introduction à Ia "Psychologie de C. G. Jung", de Yolande Jacobi, traduc
em Zurique, 158 pp. tion V. Baillods; Delachaux et Niestlé, Neuchâtel, 1950; nouvelle édition
Em alemão, sem título, de 26 de junho a 1.° de julho de 1933; em Berlim, revue et augmentée, trad. J. Chavy; Editions du Mont Blanc, Genève,
165 pp. 1964.
Modem Psychology, de outubro de 1933 a julho de 1935; em Zurique, 18. Types Psychologiques, préface et traduction d'Y. Le Lay; Librairie de
241 pp, TUniversité Genève et Buchet-Chastel, Paris, 1951.
Psychological Aspects of Nietzsche's Zarathustra, de 1934 a 1939: em 19. Psychologie de Vinconscient, préface et traduction du Dr. R. Cahen;
Zurique, 10 volumes. Librairie de TUniversité Genève et Buchet-Chastel, Paris, 1951; déjà
traduit sous le titre Vinconscient dans Ia vie psychique normale et
Dream Symbols of the lndividuation Process, 1936: em Zurique, 2 volumes.
anormale.
Modem Psychology, de outubro de 1933 a julho de 1935; em Zurique, 20. Préface de Réalité de VAme — Uénergie psychique, son origine, son but,
Ignatius de Loyolà), de outubro de 1938 a março de 1940: em Zurique, d'Esther Harding, trad. E. Huguenin; La Baconnière, Neuchâtel, 1952.
264 pp.
21. La Guérison Psychologique, préface et adaptation du Dr. R. Cahen;
Kindertrüume und altere Literatur iiber Trãume, semestre de inverno Librairie de TUniversité, Genève et Buchet-Chastel, Paris, 1953.
de 1938-1939: em Zurique, 217 pp.
22. Introduction à VEssence de Ia Mythologie, avec Ch. Kérényi, trad. E.
Kindertrüume, semestre de inverno de 1939-1940: em Zurique, 195 pp. dei Medico; Payot, Paris, 1953.
Alchemy — the process of individualion, de novembro de 1940 a julho Métamorphoses de VAme et ses symboles, préface et traduction d'Y. Le
23.
de 1941: em Zurique, 253 pp. Lay; Librairie de TUniversité, Genève et Buchet-Chastel, Paris, 1953.
24. Préface de Les Mystères de Ia Femme dans les Temps anciens et mo-
TRADUÇÕES" FRANCESAS dernes, d'Esther Harding, traduction E. Mahyère; Payot, Paris, 1953.
25. Préface de Le Livre de Ia Sagesse et de Ia Folie, de John Custance,
1. "Associations d'Idées Familiales", in Archives de Psychologie, 1907, tome traduction C. et J. Bouscaran; Plon, Paris, 1954.
vn. 26. "Psychologie et Poésie" dans Hommage à C. G. Jung, trad. Dr. R. Cahen;
2. I/Analyse des Rêves", in Année Psychologique, 1909, tome XV. Le Disque vert. Bruxelles, 1955.
3. Contribution à 1'Etude des Types Psychologiques", in Archives de Psy 27. "Devenir de Ia Personnalité" dans Hommage à C. G. Jung, trad. Y. Le
chologie, 1913, tome XUJ. Lay; Synthèses Revue Européenne, n.° 115, Bruxelles, décembre 1955.
4. "La Structure de 1'Inconsciente", in Archives de Psychologie, 1916, tome 28. L'Energétique Psychique, préface et traduction d*Y. Le Lay; Librairie de
XVI. TUniversité, Genève et Buchet-Chastel, Paris, 1956, contient notamment
5. JJlnconscient dons Ia Vie Psychique Normale et Anormale, trad. Dr. "Phénomènes occultes", "Ame et Mort", "Croyance aux Esprits". déjà
Grandjean-Bayard; Payot, Paris, 1928. traduits.
6. Essais de Psychologie Analytique, trad. Y. Le Lay; Stock, Paris, 1931. 29. Préface à Essais sur Ia Théorie et Ia Pratique de VAnalyse, par Gehrard
7. Métamorphoses et Symboles de Ia Libido, trad. L. de Vos, introduction Adler, trad. L. Fern et J. Leclercq; Librairie de TUniversité, Genève,
par Y. Le Lay; Montaigne, Paris, 1931. 1957.
8. La Théprie Psychanalytique, trad. Mme M. Schmid-Guisan; Montaigne, 30. Le problème du Quatrième, trad. Y. Le Lay; La Table Ronde, n°s.
Paris, 1932. 120-121, Paris, 1957-58.
9. "Sur Ia Psychologie", trad. Decourdemanche, in Revue cVAllemagne et 31. Psychologie et Religion, trad. M. Bernson et G. Cahen; Buchet-Chastel,
des Pays de Langue Allemande, 1933, tome VJJ. Paris, 1958.
10. Conflits de VAme Enfantine, suivi de La Rumeur, et de Vlnfluence du 32. Contribution à VAlmanach 1958; Librairie Flinker, Paris, 1958.
Père, trad. L. de Vos. etc O. Raevsky, préface d*Y. Le Lay; Montaigne, 33. Le Fripon Divin, un mythe indien avec Paul Radin et Charles Kérényi,
Paris, 1935. trád. A. Reiss; Librairie de TUniversité, Genève et Buchet-Chastel, Paris,
11. Le Moi et Vinconscient, trad. A. Adamov; Gallimard, Paris, 1938. 1958.
12. Phénomènes Occultes, suivi de Anie et Mort et Croyahce aux Esprits, 34. Préface de Aux Frontières de Ia Çonnaissance de Georges Düpleix,
' trád. E. Godet et Y. Le Lay; Montaigne, Paris, 1939. Gazette de Lausanne, 1958.
13. UHomme à Ia Découverte de sbn âme, trad. Dr. R. Cahen; Ed. du Moht 35, Commentaire au Livre Tibétain de Ia Grande Liberation, Adyar, Paris,
Blanc, Genève et Hachette, Paris, 1943; Payot, Petite Bibliofhèque, 1960.
Paris, 1966. \ " _ . 36. "Psychanalyse d'urie grande réalité: TAme", in Arts, Lettres, Spectacles,
14. "De Ia Nature des Rêves", in Revue Ciba, Bale, 1945, n.° 46. , Musique, n.p.. 700, Paris, 5-11 octohre 1960v
15. Aspects du drame contemporaln, préface et traduction du Dr. R. Cahen; 37. Uri Mythe Móderne, préface et adaptation du Dr. R. Cahen; Gallimard,
Librairie de l*Université de Genève. et Buchet-Chastel,. Paris, 1948.: Paris, 1960.

146 147
38 Lettre "Réponse à Ia question du bilinguisme" dans Almanach 1961,
Librairie Flinker, Paris, 1961.
39 Problème de VAme moderne, trad. Y. Le Lay; Buchet-Chastel, Paris,
1961 Rassemble 17 essais de C G. Jung, dont 6 déjá traduits sous le
titre Essais de Psychologie Analytique, ainsi que Psychologie et Poèsie
et Devenir de Ia personnalité.
40 Préface à Complexe, Archétype, Symbole, de Yolande Jacobi, trad. J.
Chavy; Delachaux et Niestlé, Neuchâtel, 1961.
41 Présent et Avenir, préface et traduction du Dr. R. Cahen, avec Ia coUabo- II — ESTUDOS EM FRANCÊS
ration de R. et F. Baumann; Buchet-Chastel, Paris, 1962.
42 Psychologie et Education, trad. Y. Le Lay, Buchet-Chastel, Paris, 1963.
Reprend ce qui avait été traduit sous le titre Conflits de Vâme enfantine,
La Rumeur et Uinfluence du Père. CAHIERS DE PSYCHOLOGIE JUNGIENNE
43. Réponse à Job, avec une postface d*Henri Corbin, trad. Dr. R. Cohen; — Revista trimestral, fundada em 1974. Sede: I Place de 1'Ecole Militaire
Buchet-Chastel, Paris, 1964. — 75007 Paris.
44. Dialectique du Moit et de Vinconscient, trad. du Dr. R. Cahen; Gallimard, Esta revista é dedicada ao pensamento junguiano e à prática analítica nele
1964, Déjà traduit sous titre: Le Moit et Vinconscient.
inspirada.
45 "Essai d*Exploration de TInconscient" dans UHomme et ses Symboles, en
collaboration avec M. L. Von Franz, J. L. Handerson, Y. Jacobi et A.
Jaffé, trad. L. Deutschmeister; Robert Laffont, 1964, Publié seul, avec OBRAS SOBRE JUNG
une introduction de Raymond de Becker, Gonthier, Paris, 1965.
46. UAmê et Ia Vie, textes choisis par Y. Jacobi, trad. Dr. R. Cahen et Gerhard Adeler, — Etudes de psychologie jungienne. Editions Univer-
Y. Le Lay; Buchet-Chastel, Paris, 1965. sitaires Georg, Genebra, 1957.
47 Ma Vie Souvenirs, rêves et pensées recueillis par Aniela Jaffé, trad. Charles Baubouin. — UCEuvre de Jung. Payot, Paris, 1963.
Dr. R. Cahen et Y. Le Lay; Gallimard, Paris, 1967. E. A. Bennet. — Ce que Jung a vraiment dit. Stock, Paris, 1968.
48. Psychologie et Alchimie, trad. Dr. R. Cahen et H. Pernet; Buchet-Chastel, Frieda Fordbam. — Introduction à Ia Psychologie de Jung. Imago,
Paris, 1970. Paris, 1979.
49. Les Racines de Ia Conscience, trad. Y. Le Lay et E. Perrot; Buchet- Marie-Louise von Franz. — C. G. Jung — son mythe en notre temps.
Chastel, Paris, 1970. Buchet-Chastel, Paris, 1975.
50. Préface à Introduction au Boudhisme Zen de D. T. Suzuki, trad. M. Raymond Hostie. — Du Mythe à Ia Religion — Ia psychologie analy
Tisserand et M. Rougier; Buchet-Chastel, Paris, 1978. tique de C. G. Jung. Desclée de Brouwer, Bruges, 1955.
51. Commentaires sur le Mystère de Ia Fleur (VOr, trad. E. Perrot; Albin Yolande Jacobi. — La Psychologie de C. G. Jung. Editions du Mont-
Michel, Paris, 1979. 'Blanc, Genebra, 1964.
52. Psychologie du Transferi, trád. E. Perrot; Albin Michel, Paris, .1980. — Edmond Rochedieu. — Jung. Seghers, Paris 1970; nouvelle édition
53. Mysterium Conjunctionis I, trad. E. Perrot; Albin Michel, Paris, 1980. 1974.
54. Mysterium Conjunctionis J/,trad. E. Perrot; Albin Michel, Paris, 1982. — Número especial sobre Jung na Revue cVAllemagne et des pays de
langue allemandé, 1933, n.° 70.
55 Sigmund Freud — C. G. Jung: Correspondance, éditée par W. Mc Guire, Hommage à C. G. Jung "in" Revue Synthèses, 1955, n.° 115.
traduite par R. Fivaz-Silbermann; Gallimard, Paris, 1975, 2 vpls. .
56. Entretiens avec C. G. Jung, de Richard Evans, avec des commentaires — Número especial sobre C. G. Jung "in" Revue Plahète, 1971.
de E. Jones, préface et adaptation de Ph. Coussy; Payot, Petite Biblio- — Número,especial em homenagem à C. G. Jung, "in" Revue de Psycho
thèque, Paris, 1964. logie et des Sciences de VEducation. Soledi, Iiège, 1975, vol. 10, n.°* 2-3.
57. Entretiens avec C. G. Jung, de Suzanne Percheron; Cahiers de Psychologie Transformation(s) — introduction à Ia pensée de Jung. Centre de
Jungienne, n.° 6, 1975. Psychologie Analytique de Montreal, Editions de TAurore, Montreal, 1977.
Número especial "C. G. Jung et Ia Voie des Profondeurs", Revue Pré-
N3. Geralmente, foram utilizadas [na edição francesa] as traduções existentes, sènce, 1977-78, 4.a série, vol. 1, nouvelle édition La Fontaine de Pierre, 1980.
às quais se remete o leitor indicando seu número de ordem (e à página) Numerosas obras inspiradas em Jung são publicadas, principalmente
nesta bibüografia.: Modificamos ás que parecem se afastar do original. na coleção "UEsprit Jungien" Sephers et Editions du Mail, nas Editions Imago
Para os textos ainda não traduzidos paira o francês, á sigla G.W. remete e nas Editions de La Fontaine: de Pierre, Paris.
à Gesaminelté Wérke, seguida (a sigla) do número do volume e do
parágrafo. A sigla. VA remete aos "Visions Scminar". (Nota da edição André VireL Vocabulaire des Psychothérapies. Fayard, Paris, 1977.
Estudo de 94 temas do vocabulário jungniano.
francesa). .,'••'.'•''

149
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ADC CENTRAL CÓPIA Q
prof. Pedro Cunha W$
CA. 22 ôe Agosto a^- ^

, CIP-Brasil. Catalogação-na-Publicação
Câmara Brasileira do Livro, SP

Humbert, Elie G.
H899j Jung / Elie G. Humbert ; [tradução de Marianne
;" Ligeti]. — São Paulo : Summus, 1985.
i (Novas buscas em psicoterapia ; v. 25)
'I :
l

11 Bibliografia.
1. Jung, Carl Gustav, 1875-1961 I. Título.

CDD-150.195092
85-1065 -150.1954

Índices para catálogo sistemático:


1. Jung, Carl Gustav : Psicologia analítica
150.1954
2. Psicanalistas : Biografia e obra 150.195092
MM
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Figuras do Outro
Jung não propõe modelos de interpretação que permitam trazer
as manifestações do inconsciente para o já conhecido. As categorias
que elabora paralelamente a suas experiências, não correspondem à
estrutura de um aparato psíquico, são categorias do encontro, figuras
*é vi1 do outro. O rigor é dirigido para a maneira que tem o consciente de
1 '•' I. I I deixar aparecer e confrontar-se com as figuras. As categorias pro
!.| postas pela experiência correspondem às formas que os dinamismos
m inconscientes tomam para interferir na vida física e psíquica. Pouco
a pouco desçnha-se uma gramática destes dinamismos e de suas
relações como consciente, mas esta não pode ser reduzida a alguns
! mecanismos. O inconsciente permanece sempre assim. O psiquismo
e seu enraizamentO-^a.^oj^p^_Jia^p^iedade, no_ cosmos, nãoj£o
Ifflerrãmentejaçessíveis^ ao consciente. A questão principal é saber
conío_kliclonarâe^qm^
aJÓ&r^JrlK^
Estas categorias são construídas de tal maneira que não se pa
•. recem em nada a um conceito. Têm cada uma três dimensões: 1)
São primeiro figuras que aparecem no imaginário dos indivíduos e
dos povos. Ao freqüentá-las, constata-se a estabilidade de seu caráter
e de seus papéis sob a diversidade das aparências; 2) Estas imagens
põem no palco dinamismos cuja formação podemos encontrar, re
montando através da anamnese e das associações até às origens do
sujeito, de sua família e de seu meio ambiente e 3) Estas imagens
também fazem história, isto é, manifestam por suas características
próprias, a natureza e orientação das dinâmicas em ação, para o
sujeito.
Contrariamente aos preconceitos, as imagens dos sonhos e
fantasias constituem um vocabulário de surpreendente precisão. Mas
é um vocabulário que se defende mal. A imagem paga com uma
aparente ambigüidade, a plasticidade que lhe permite significar ao
mesmo tempo a natureza de um dinamismo, sua origem e suas possi-
55
Il;
W5?

bilidades de integração. Para compreender corretamente uma imagem, estéril e no plano coletivo, as técnicas que facilitaram a existência,
é preciso levar a análise até. ao ponto onde só uma significação é ameaçam torná-la impossível. A sombra acompanha o indivíduo e
possível, porque só ela leva em conta todos os detalhes. Descobre-se representa, a seu lado, u conseqüência de suas escolhas.
então que a riqueza semântica da imagem é paralela à sua precisão. Além daquilo que a personalidade reprime ao organizar-se e do
Jung dedicou a maior parte de sua obra u buscar e propor pontos
que produzem suas escolhas, existem dinamismo_s_Que ainda_ nao
de referência no confronto com os dinamismos inconscientes. Dis
íiveram a possibilidade de,JQrn^i^.e_^mscientes "por que não havia
tingue vários sistemas que chama de arquétipos. Caria um corresponde
nenhuma possibilidade de apercepção, isto é, a consciência de ego
a uma figura do outr^iora-e-deatroLdo-suieitorVamos considerá-los
não tinha meios para acolhê-los. Permaneceu subliminares, se bem
brevemente,
que, considerados do ponto de vista energético, sejam certamente
suscetíveis de consciência". (49, p. 487) ^ ^
Esta observação esclarece um processo de "posta na sombra
A sombra
•uVr
relativa ao vir a ser consciente e não à repressão; uma boa parte
do psiquismo de cada indivíduo, é projetada no ambiente a tal ponto
A particularidade do ponto de vista de Jung, aparece claramente que o sujeito não tem nenhum meio de atribuí-lo a si mesmo. E o
quando se compara o que ele diz da sjpmbra, com a noção freu que Jung chama H* "identidade arcaica". Quando o trabalho de
diana de repressão. JimJ^olpjcjhs^jriuma perspectiva em jque o fenô tomada de consciência se desenvolve, constatamos que componentes
meno aparece e solicita o sujeito. Supõe a repressão, mas não" a psíquicos que estavam completamente projetados para fora passam
estuda. Não constrói um modelo do mecanismo que produz o a manifestar-se no psiquismo individual em figuras de sombra.
fenômeno, mas observa o que acontece com o sujeito e a história É especialmente o caso das zonas mais primitivas que aparecem
que resulta. sob formaJe_ajujna_is de sangue_frio_ou mesmo_de_^at^chsmas
jiaturais. Jung "fãíã~da cauda de sáurio quç o homem civilizado
A_sombr_a jé_dfitextável_ em_figuras,do,mesmcusexo-que o sujeito esconde de si mesmo, e que terá que redescobrir um dia. Para designar
eqi^^o.iDs pnriQir^js^tores de seus sonhos, e fantasias: "o selvagem esta experiência, emprega o termo "primitivo".
depele bronzeada que me havia acompanhado e tomado a iniciativa Ao apresentarem-se ao consciente como figuras de sombra, os
da emboscada, é uma encarnação da sombra primitiva". (47, p. 210) diferentes componentes que evocamos assumem posição de parceiros
Est^s personagens têm traços de caráter e maneiras de agir que são para uma história possível. De sonho em tomada de consciência, e
ia contrapartida da personalidade consciente. Quanto mais unilateral de modificação de comportamento em novo sonho, Yemos__a_som.bra
é o consciente, mais acentuados são esses personagens; não são nem reagir e mudar. Ela permanece entretanto como o eterno Antagonista,
0 complementar nem o duplo narcísico. Ao analisá-los descobre-se poTs^õãscêTsob outras formas, do próprio desenvolvimento do sujeito.
que encarnam .piilsões_reprimida^r e também valores rejeitados pelo É sempre "o conjunto do que o sujeito não reconhece e que o perse
consciente. Hoje, quando o modelo coletivo é mais o de um indivíduo
.agressivo e sexualmente aberto, a sombra forma-se mais para o lado
gue incansavelmente". (21, p. 267)
Nesta dialética, acontece que a sombra se projeta sobre um par
da fraqueza e do sentimento. Se é verdade que a sombra de uma ceiro concreto e" desencadeia assim um apego que é uma das formas
senhora de idade, retraída e tímida, pode ser uma dançarina de da homossexualidade. Acontece também a sombra derrubar a ordem
flamengo, uma personalidade poderosa pode ter em sua sombra estabelecida e tojnar_j^çonsçiente de maneira temporária ou durável.
uma criança fraca. Assistimos então seja a comportamentos contraditórios, seja a um
Não devemos entretanto concluir que a sombra não seja mais verdadeiro transtorno da personalidade. Na segunda metade da vida
que o oposto do consciente. Representa na realidade q_qjie_fjdta_a acontecem estas "conversões" ou enantiodroraias.
cada personalidade. Ela__é, para cada indi_víduo._a,quila-que---poderia Em geral, tomai, consciência,da jombra provoca_çonflitos que
tQv^i}àâP~-Q~XâQ^áy&x, E assim ela põe no tapete a questão da põem em causa os hábitos, as crenças, os^ãçoTãTêtivos e mais radi
identidade: quem és em relação ao que poderias ter sido? Que calmente os diversos espelhos da consciência de si. E o J^gjmo dos
1fizeste de teu irmão? alquimistas, a jssucifixão e a Jtortujft, A experiência do que foi
Este questionamento vai_além_da rerjressãp. e chama a atenção reprimido ou daquilo que ainda nunca chegou ao consciente de
sobre o que nasce a partir de uma escolha. Observamos com efeito sarticula _o_eu, faz com que perca seus pontos de apoio e
que cada posição engendra seu oposto. Assim, as forças que empur- n InergulnT na o^gejuridade. Vive então uma regressão de modali
ram o homem a tornar-se consciente, alimentam um narcisismo Y/ dades características.
57
56
K.i= «Esta experiência é para Jung, a porta do real. O conflito surgido Não se trata de suprimir a máscara, mas de não mais identifi
,da tomada de consciência da sombra explode as identificações ima car-se com ela, isto é, de não usar mais o papel social e a linguagem
ginárias. Diante das ideologias, espiritualidades, das místicas de todos para substituir o sujeito. |
os gêneros, Jung contenta-se com perguntar onde está a sombra. Dirá É uma pena que Jung tenha escrito pouco sobre a persona, pois
que "o resultado do método freudiano de elucidação é uma minuciosa sua maneira de encará-la hem o mérito de reconhecer a realidade do
elaboração, sem precedentes, sobre a sombra do homem. É o melhor teatro humano. Esta não faz pesar sobre ele exigências de "verdade ,
antídoto imaginável para as.ilusões idealistas". (G. W. 16, § 145) que estariam deslocadas, mas sim, exigências de consciência. A-^fi?"
"NJp__se__trjita_de_ desyiar-se.do negativo,, mas de_experjenciá-lo da ^sxmA_é_a_riossibiMaa^_alue_o_sjjjeito tem_de jestar presenteie manter
manèira_mais_completa possível," (19, p. 267)
ao_mesmo tempo a distância, isto é, de comunicar.
P^nhecimentQ^e_ji_éJlum processo queJeya a compor com o
Outro em nós". (G. W. 14/2, § 365)
A grande mãe
Persona Em Metamorfoses da Alma e seus Símbolos, Jung introduz uma
Na Dialética do Eu e do Inconsciente (1928), Jung propõe a
nova problemática na análise, a da relação com a mãe. Anuncia
noção de persona para designar a forma que assume uma persona
assim os estudos dos analistas que estudarão mais tarde os períodos
lidade em função de seu meio ambiente.
pregenitais. Entretanto, ele mesmo não assume um ponto de vista
de observador, não descreve as etapas da psicogênese; situa-se como
. "A persona 4 ° sistema de adaptação ou a nmaneira como comu-
um homem que teve uma mãe como parceira em diferentes momentos
niçamos com o mjindo." (G. W. 9/1, § 221) de sua vida.

' Ê o resultado de um ajustamento progressivo e duro, enquanto


Encontramos o fio condutor de seu pensamento em algumas
os fracassos iexternos ou a pressão interna da sombra não a ques
páginas do ensaio de 1938 sobre "Os Aspetcos Psicológicos do
tionam. O consciente ignora até então a que ponto se identificou com Arquétipo Mãe."
um papel e uma imagem; tampouco tem meios de saber se esta apa
rência lhe convém ou não.
Sob uma forma quase poética, evoca primeiro sua imagem:
"Podemos dizer, sem exagerar, que a persona é o que alguém na "Essa imagem da mãe que foi cantada e celebrada em todos os
realidade não é, mas o que ele mesmo e os outros pensam que tempos e todas as línguas. É este amor materno que faz parte
ele é." (G. W. 9/1, § 221) das recordações mais tocantes e inesquecíveis da idade adulta, e
que significa a raiz secreta de todo vir a ser e de toda transfor
Sob este aspecto, a persona corresponde ao "falso-se// de mação, a volta ao lar e o recolhimento, o silencioso fundo pri
mordial de todo começo e de todo fim. Intimamente conhecida e
ÍWÍnnlcott. Mas ela não tem só esta dimensão negativa. estranha como a natureza, amorosamente terna e cruel como o
A "persona" era a máscara que usavam os atores no teatro destino, dispensadora voluptuosa e nunca cansada da vida, mae
antigo', servia para fazer ressoar suas vozes (per-sonare) e permitia das dores, porta sombria e sem resposta que se fecha sobre a
morte, a mãe é amor materno, ela é 'minha* experiência e meu
que o público reconhecesse seus papéis. segredo." (49, p. 110)
Quando Jung emprega este termo, quer dizer que a análise do
falso pretexto, da trapaça consigo mesmo, da identificação com o Como poderia haver algo de comum entre esta imagem e "o
papel social, deve situar-se na perspectiva da comunicação. Esta ser humano chamado mãe que — poderíamos dizer — o acaso fez
necessita um intermediário, pois não há comunicação pura. Sem portador desta experiência"? (ibid)
máscara, regredimos a uma participação arcaica ou então precisamos Para conscientizar-nos do que seja a mãe, é preciso desfazer a
isolar.e esconder-nos. AüíojnaalaTxle_cjKü^^ confusão entre o que em nós. se desperta e aquela que é o instru
então na denúncia de uma^akificaçâ^-tein^ajnpém Q .encargo „de
Inserir o sujeito^ na .re^e^ocisÍj^_ci)jntinicação. mento disso.

59
58
r*
Aquele que sabe não mais pode fazer recair este enorme peso r- mas ao entregar-se ao chamado da mãe em si, ao permitir-se regredir
de significação, de responsabilidade e de dever, de.céu e de inferno '
sobre estes seres fracos e falíveis, dignos de amor, de indulgência r pertu» afetiva que ela evoca, todos podemos reencontrar o
de compreensão e de perdão, que nos foram dados como mães" contato com o inconsciente, a porta.
(ibid). •
•'Quando Hiawatha novamente se esconde no seio da natureza,
Cada um deve retomar por conta própria a experiência materna é como o despertar de suas relações com sua mae, e de algo ainda
da vida. mais antigo." (23, p. 553)
"Quando não é perturbada, a regressão não fica na. mãe- vai mais
"Também não tem o direito de hesitar um só instante em aliviar além, para alcançar, poderíamos dizer, um 'eterno temin.no
3 í
mae humana da assustadora carga, por respeito a ela e a si pré-natal, o mundo original das possibilidades arquetipicas no qual
mesmo. Pois é precisamente este peso de significado que nos 'rodeado das imagens de toda criatura', a criança divina espera
amarra à mãe e que a amarra a seu filho, para a perda física cochilando tornar-se consciente." (23, p. 546)
e espiritual de ambos." (49, p. 111)
A "mãe" abre o caminho para uma renovação, isto é, para um
Mas a verdadeira e necessária separação da mãe, não consiste ser mais inteiramente ele mesmo porque melhor ligado a seu incons
só em romper uma afeição:
ciente. Mas por que é preciso uma regressão? Por que e que a criança
'I, I
"Não se desata um complexo materno, reduzindo a mãe unilate- dorme e não vem por si mesma?
ralmente a uma medida humana e por isso dizer 'retificando-a*. Chegamos assim ao longínquo e diferente mundo da matriz
Assim correr-se-ia o perigo de dissolver em átomos a experiência inconsciente. Jung toma para evocá-lo, uma figura da alquimia grega:
mae^. dê destruir um valor supremo e de jogar—longe—a-chave Ouroboros, o dragão que se engendra e se devora a si mesmo E a
'de ouro que uma fada pôs em nosso berço." (49, p. in)
imagem da natureza primeira e da organização fundamental da
Jung denuncia a análise que acredita ter resolvido a questão energia psíquica. Mostra, na maneira pela qual o corpo do dragão
li porque conseguiu repelir o que foi vivido com a mãe e conscientizar desenvolve-se ou esgota-se pela relação fecundante ou devoradora da
o complexo que havia se formado a partir dessa relação. Por quê cabeça e da cauda, como a energia psíquica e uma tensão entre
tanta exigência? opostos. Como ocorpo do dragão, a energia cresce e decresce segundo
o sentido das tensões. Resulta daí uma expansão ou ao contrario
"A força elementar das referências originais desaparece. No seu uma asfixia e uma estase, ou até uma degradação em circulo vicioso.
lugar, instala-se a fixação à imagem materna e quando o conceito Somente a exigência da consciência pode transformar essa energia
ficou suficientemente definido e afiado, encontramo-nos é amar em um crescimento linear.
rados à razão humana e condenados então a crer exclusivamente O Ouroboros corresponde ao caráter aparentemente contraditório
no razoável. De um lado, é sem dúvida uma virtude e uma van
tagem, mas é também uma limitação e um empobrecimento daquela que chamamos a Grande Mãe, a que cria c destrói que
porque aproxima-se do deserto do doutrinai." (49, p. 111) ' realima e castra, que aterroriza e protege. Esta Mae difere ^mui o
daquela que foi, segundo um esquema linear, uma origem. Paiece se
Jung insiste sobre o poder original do que foi vivido com a mais com a Mãe Má e Boa do período de clivagem, mas a maneira
mãe; para ele, esta vivência é a própria mãe: ela é "minha experiên pela qual permite a apercepção da energia sugere.que é osímbolo no
cia'. A tomada de consciência, a retirada das projeções, o reconhe qual a experiência da clivagem se prolonga e assume todo o seu
cimento da imago, só apreendem a moldura e perdem a substância.
O•poder |da vivência "mãe" vai projetar-se em outro lugar e Com efeito, para Jung a Grande Mãe não é um poder oculto.
!provavelmente sob uma forma regressiva. É um símbolo, o chamado de uma experiência e de uma confrontação.
,(< .j Desatar os laços da projeção deixa cada um face a face com
sçu segredo". A mãe nele, maravilhosa ou horrível, plenitude ou
falta, é ele próprio. Rejeitá-la, apagá-la, atribuí-la a outro, restabe Anima — animus
leceria a alienação. Que fazer? Jung sugere que ela poderia ser Jung conta como tomou consciência da anima: ele anotava e
uma chave.
desenhava espontaneamente suas fantasias quando uma voz sugeriu-lhe
Acrescenta: "ser primeiro, a mãe representa o inconsciente". que tratava-se de arte; ficou perturbado, mas em vez de refletir
(23, p. 689) Não que o inconsciente seja mãe ou à imagem da mãe, "sobre" esta voz, deixou-a falar.
i 60 61
£iftíjsí-v- ••»

"A anima não é uma figura substitutiva da mãe, mas ao C°^K


"Nunca me teria passado pela cabeça que minhas fantasias pu rto é muito
aVago verossímil
materna que as qualidades
tão perigosamente numinosas
P^ero». der^Q««^ »J™»\
arque- \
dessem ter a ver com arte; mas pensei: 'Talvez meu inconsciente
II tenha formado uma personalidade que não sou eu, mas que Upo da anima, reencarnado em cada criança de sexo masculino.
gostaria de expressar-se e manifestar sua própria opinião.' Eu (O. W. 9/2, § 26)
sabia que a voz vinha de uma mulher, e reconheci-a como sendo
••Tnda a mãe e toda a bem-amada é assim forçada a ser o
a voz de uma doente psicopata muito talentosa e que sentia
uma forte transferência por mim. Ela tinha passado a ser um veículo "e TncarWo desta imagem sem idade,.g omprgeme,
personagem vivo dentro de mim... Pensei que 'a mulher em correspondente à mais profunda realidade do homem. (U. w.
mim' não dispunha de um centro da palavra, e propus-lhe servir-se 9/2, § 24) j
da minha linguagem. Ela aceitou esta oferta e expôs imediata
mente seu ponto de vista em um longo discurso. Fiquei extrema Veremos, ao estudarmos a noção de arquétipo (II Parte, Cap. 2),
mente interessado pelo fato de uma mulher, vinda do meu inte como Jung liga "imagem" e "estrutura". Digamos desde á que
rior, meter-se no3 meus pensamentos... Mais tarde, compreendi
tratar-se de uma personificação típica ou arquetípica no incons
aTma e animus não se projetam só nas imagens onhricas hteráms
ciente do homem, e designei-a como o termo anima. Chamei a ou mitológicas, mas igualmente no comportamento e: na vídaafiva.
figura correspondente no inconsciente da mulher, de animus."
(47, pp. 215-218)
Organizam tudo aquilo que põe em causa a «^^ « ^
sujeito, em particular o erotismo oral e anal, as fantasias de castra
cão e as relações edípicas. Anima e animus não são então somente
Estas figuras não-se. encontram só^nos-diálogos^de uma Jmagi- fmagenfvktuais ou projetadas do outro sexo. Passam aser em função
^ãnífestam-sft também nns sonhos e fantasias soblorma db vMdo complexos autônomos que exercem considerável pressão
_ jens masculinos: na mulher, e femininos no hürnejn. Suas sobre o sujeito Na medida em que estes complexos permanecem
silhuetas não se parecem com ninguém conhecido e parecem pertencer inconscientes, têm uma ação principalmente negativa^
ap muncjo íntimo do sonhador. Às vezes mudam de roupas, de papel, w
de aspecto ou de idade, e quando aplicamos estas transformações às "r^r^TDÍ:imeira forma inconsciente o animus é uma instância
mudanças da vida afetiva, descobrimos até que ponto as figuras ouT enBendT opiniões espontâneas, não premeditadas; exerce
Oníricas dão um' rosto aos fatores inconscientes ativos na existência ?nftuÊnc?a dominante sobre a vida emocional da mulher, enquanto
oueaaniirT é ma instância que engendra espontaneamente
diurna. ' ^ntimVntrque exercem sua influência sobre a compreensão^
A observação destas correlações faz pensar que cada ser humano homem e levam à sua distorção. (47, p. 43ZJ y
leva em si, inconscientemente, traços do outro sexo. Essas figuras não
sao modelos do feminino e do masculino e não correspondem a um
Anima^Ta^rW^^ PróPrj^'
possessão pelos humores para a anima inconsciente, pelas o^mipe|
,arquétipo da mulher ou do homem. Jung estima que são dispfisjções
pára_a relação com_o_outro sexoJformadas com a humanidade mesma.
£ara cTJrm incidente. (44,rP7Tl7) Jung trata sobretudo da
w i • i ! anÍma' «A anima inconsciente é um ser auto-erótico, totalmente incapaz
1 -iH\ "Não existe experiência humana, e mesmo nenhuma experiência de reSnamento, que não busca outra coisa senão a tomada
é possível, sem disponibilidade subjetiva... Consiste em uma aZ ««««So total do indivíduo, feminizando o homem de per-
estrutura psíquica inata que é o fator que permite ao homem £ciolf^^ manifesta-se por u*j humor ins-
l •' \ , fazer e viver esta experiência. Assim, toda a natureza do homem tável e uma falta de autocontrole que acabam corrompendo as
r ' | pressupõe a mulher e sua natureza, tanto física como psiquica funções até então seguras e razoáveis, por exemplo a mtehgênc.a.
mente." (44, pp. 168-169)
(52, p. 164)
"Esta imagem é um conglomerado heredjtflrio inmnsr.ientq de «Esta perigosa imagem da Mulher pertence ao homem; defende
origem muito longínqua, incrustado no sistema vivo, 'tipo' de todas a lealdade que precisa às vezes esquecer, no maior in eresse pela
as experiências da linhagem ancestral sobre o ser feminino, resto vida; é a tão necessária compensação para os riscos, lutas sacri
de todas as impressões fornecidas pela mulher, sistema de adap fícios que acabam todos em desilusão; é o repouso das amarguras
tação psíquica recebida por herança." (39, p. 173) da vida. E ao mesmo tempo ela é a grande ilusionista, a sedu
tora que atrai para a vida, por sua Maya — e nao só para os
Ao falar de jmima,. Jung inverte as perspectivas usuais afir aspec?os úe?s e razoáveis*da vida mas para seus aaurtad«e.
mando que este elemento feminino do psiquismo masculino „nãa paradoxos e ambivalências onde o bem e o mal, o sucesso e a
ruína, esperança e desespero, contrabalançam-se mutuamente.
resulta de uma interioriz.a,ção,,d_a^rxmgej3i„materna>,.assim_ comQ—P
animi^aimpouGO--vem^do_pai. Os pajs s.ãOj.na .reaHd.ade^A.primeira
Torqúc cLi-Vn-^2!ir^J52L ela pede ° máximo ao hom!m'
(G7W. 9/2, § 24)
aj^alização_dj_dis^osição--mata.
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modo que a anima dá à consciência do homem ^ «g«i*"|«
Estes complexos são particularmente ativos nas relações de de relação e aliança, o animus dá à consciência da mulher uma
casal onde instalam tanto a paixão quanto a discussão. capacffie de reflexão, de deliberaçáoeJe_jonhecetse.._._s,, j
mesma." (O. W. 9/2, 8 33) •
, "Enquanto a nuvem de animosidade que envolve o homem é
. '> principalmente composta de sentimentalismo e ressentimento, o Na sociedade atual, a ligação com ooutro e ainda pata o homem
)^JAjiSr0 anjmus expressa-se na mulher sob forma de pontos de vista que
rV i\ l/j•'->--0*3 são opiniões, interpretações, insinuações e falsas reconstruções, como aauto-afirmação eaPalavra são ainda P"»»"^ "^ fora
^ ""' que têm como característica cortar a relação entre dois seres do sexo inconsciente. São na maioria das ^^^J^^Z
humanos." (G. W, 9/2, § 32)

/ "Nenhum homem pode conversar cinco minutos com um animus\


i | I sem ser vítima de sua própria anima." (G. W^9^. § 29)r"
~Quando animus e anima se encontram, o animus désembajnha a^tmente1,E;eCexertirconcre,o da sexualidade. Êpreciso
sua espada de poder e o anima projeta seu veneno de ilusão _e também a confrontação interior.
sedução. O resultado não é sempre negativo, já que os dois jestão
jgualmente prontos a apaixongrrse^.jÇG. W. 9/2, § 30)/ Ela acontece, particularmente, na consciência ^ ^e^JJ
"Muitas vezes, a relação segue seu próprio curso sem levar em
conta os atores humanos, que depois, nem sabem o que lhes
aconteceu." (G. W. 9/2, § 31)
4! fidade^ umÇgosto. Ogosto pelo *';^£Ta4w
li Não é fácil livrar-se de tal influência.
prazer, ogosto de amar oamor. O^S^^^^t>fS^>
™i« ioníanca e_o noder que alf encontra. /ÇanuBa_J.aa_p_SUÇesjo
"Q_efeitpda_anima e_^_juiin3US3^e__o_eg.o^_,_._é_exu:emamente •^r^^^^J^-ãlíltãtóS^rXry^tam assim a persona-
difícil denslimlnãT^pcírciüe ^èxtraordinarjamente^Jbrte _e. enche a
personalidade de_'um sentimento |nãb~ãTaverna^justíça e certeza.
PõT~òíítró lado, a causa é~"prõjetad*ã ênparece estar ligada aos- fica prisioneira de uma subjetividade sem objeto nem sujeito.
objetos e situações objetivas... A consciência fica fascinada, s &
cativada, como que hipnotizada. Muitas vezes o ego fica com
um sentimento vago de derrota moral e trata tudo na defensiva,
com desafio e autojustificação, estabelecendo assim ura círculo
vicioso que só pode aumentar seu sentimento de inferioridade."
(G. W. 9/2, § 34)
rnediação com oinconsciente, ésex^da, ealcança-se através do sexo
•O distanciamento desta influência se faz por diferenciações inconsciente. . . ,„ r(>iarSp,
sucessivas da anima ou do animus para com as imagos parentais e Resume assim, a propósito da anima, a evolução das relações
para com o ego. Começa na maioria das vezes por um questiona entre essas figuras e o consciente.
mento vindo da sombra.
"A ambigüidade da anima, porta-voz do inconsciente, pode^ per-
"Ê só pelo conhecimento da sojnbra que se chega à anima. É
idêntico para o animus; enquanjto não reconhecem sua sombra,
as mulheres são possuídas pelo animus." (57, p. 33)

•i:.- ' .Na medida_em-que^q-jS£Q„tomA-ÇiM^^


transmite ao consciente as imagens do inconsciente e e isso qu
me parecia mais importante. (47, p. £W)
:l "! animus, e libera-se de sua influénda^e&te.s_tams^
torna-se positiva e~cõntri^ul para^a-maturidade do. psiquismo. "Durante decênios, dirigi-me sempre ^ "j~ q^^ff aÇSSÍ
eme minha afetividade estava perturbada e que me sentia asua"^
"A anima procura unificar e unir, o animus quer distinguir e roZÍificava que algo estava constelado nc^ ^onsc^e ^
tais momentos eu interrogava a anuna: O que está • " ^ ^
conhecer." (52, pp. 173-174) agora? O que vês? Eu quisera sabê-lo.' Depois de algumajresis
^Ãlsím como a anima passa a ser, através da integração, o Eros tència, elaq produzia regularmente e «P^VagSou
discernia. E logo que eu recebia esta imagem, a agitação ou a
ou a consciência, assim o animus será um Logos; e do mesmo
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tensão desapareciam; toda a energia de minhas emoções transfor Como todo o complexo, e apesar de ser o centro do consciente,
mava-se assim em interesse e curiosidade por seu conteúdo. Depois o eroijfflESJfllinfini^^ lsso significa que projeta-se em
eu falava com a anima sobre as imagens, porque era-me neces formações imaginárias tais como a Persona para Jung, e tu ideai e
sário compreendê-las o melhor possível." (47, p. 218)
o Ideal do Eu para Freud.
ali'
Ego/Self "A unidade facilmente danificada do ego, formou-se progressi
vamente durante milênios e somente com a ajuda de inúmeras
I —: A experiência com psicóticos levou Jung a questionar-se medidas de proteção." (47, p. 393)
desde cedo sobre a constituição do sujeito. No hospital Burghõlzli
tinha todos os dias o espetáculo de conscientes fragmentados, presas Na medida em que os outros complexos, como os complexos
de dinamismos autônomos. O problema fundamental era o da unidade parentais, a sombra, a anima e o animus, são autônomos tem o
e organização do psiquismo. Desde 1907, em Psicologia da Demência caráter de "sujeitos secundários" (49, p. 487) e assumem às vezes
Precoce, aborda a questão do ego, pelo qual a psicanálise ainda pouco o papel do eu, a menos que o englobem durante períodos inteiros.
se interessava. Propõe considerar o psiquismo como um conjunto de
•• i .
complexos mais ou menos independentes e opostos uns aos outros. jjnkikâ^ilQ^rime^
1^3c5Q^ei^t^44A,,m.^26j27j. -W* como °-°ff:
e no segundo^caso.Jalara,
O ego seria um complexo; aquele que habitualmente tem o papel de
• ..''
pólo central do consciente. ________ de possessão e_infl.açãQ,.,
II — Tem causado surpresa o fato de Jung não tratar do
I "O ego, não sendo mais que o centro do dampo de consciência,' narcisismo. Na realidade, analisa o mesmo fenômeno numa episte-
i
i I
•••'
/ não se confunde com a totalidade da psique; não é mais que urn^
I complexo entre outros muitos." (18, pp. 478-479) " mologia diferente.
;"Ele é, em sua realidade banal, aquele centro contínuo de^ cons-7 O conceito de narcisismo resulta, com efeito, de uma observação
1» i 1 /ciência cuja presença se faz sentir desde os tempos de infância."/ exterior Narciso s"ênte~diretamente a avidez da busca de si mesmo
V^G. W. 8, §182^- "~ ~~ e a angústia de tudo que lhe ameace a imagem. Jung assume o
"Sob a palavra ego, é preciso compreender esse fator complexo mesmo ponto de vista e descobre a Ichhaftigkeit, o apego a ser
a que todos os conteúdos da consciência se relacionam. Forma eu" e com que o sujeito está às voltas. Estajprça interior levaS
|r»'. !' de certo modo o centro do campo da consciência e se este último •^tijtuiçflo do ^pWn-ft", maS..tende também a fazer girarjtojjflq,
abarca a personalidade empírica, o eué oi sujeito de todos os
atos pessoais da consciência." (G. "vV. y/2, Ô í)
v]da-ps£quica~à^volta_.dele. Antes do ego_gjfeienciar-se numa rglac^,
cojn^rjconsciente^jsstá^^
O ___\J$rí Á .qomente o sujeito, mas é também ele mesmo um uS^enrolar-do-conscierite- sobr^sLmesmo^A^imagem do mundo e a
conteúdo da consciência. Compõe-se, como todo o complexo, de um !&•• image^jip_e^Qorj£m-e^^
conjuliíõ~3e representações e de afetos, combinados sobre uma base A Ichhaftigkeit (G. W. II, § 904) reinaria sobre o psiquismo
de rjereditariedade e de aquisições. inijív{Hi^l Ao. snTTinilateralidade não engendrasse uma sombra, que
4,Ojego_l. jte_juas^Jembranças e afetos^' (13, p. 347) por sua vez tornai um complexo independente e opoe-se a ela A
emergência da sombra, de que a volta do reprimido é só um aspecto
"Enquanto conteúdo específico da consciência, não é um fator aSaualha a organização do ego. Jung analisa o processo de ransfor-
simples ou elementar, mas um complexo que enquanto tal, não
pode ser descrito de modo exaustivo. A experiência mostra que maçã* que então começa. Em vez de estudar o narcisismo, estuda os
se apoia sobre' dois fundamentos aparentemente diferentes: o c^nfHtosTos sacrifícios e as mutações que marcam os momentos
<;••$
somático e^o_E5Íguico." (G. W. 9/2, § 3) m sucessivos! da formação do sujeito.
\l i Do ponto de vista somático, "o ego é a expressão psicológica III Í- Insiste sobre o fato que tornar-se consciente, põe o ego
T* i I' 'ria conexão firmemente associada de todas as sensações corporais em perigo. Um texto de 1941 traz o eco do que ele mesmo viveu
elementa.rp^UG^L^ § 83) — trinta anos atrás.
:^f^l5ó7ponto de vista psíquico, ^o ego parece nascer primeiro do\ "A integração dos conteúdos projetados nas imagos parentab tem
h pmbate entre os fatores somáticos e seu ambiente; uma vez estabe- \ como efeito ativar o inconsciente, pois essas .magos estão, çarre-
' lécido como sujeito, continua a desenvolver-se através dos conflitos/ eadas de toda a energia que possuíam originalmente na infância...
A solidão na consciência de si tem como conseqüência paradoxal,
[ çòm
pòm os mundjps. externo_e_interno". (G. W. 9/2, § 6) — ;
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wr

fazer aparecer nos sonhos e fantasias, conteúdos impessoais que As mandalas sugerem então que este dinamismo inconsciente
; i
são o material que compõe certas psicoses... Um repentino •teria as seguintes características: centro, totalidade, principio de uni-
estado de orfandade, uma falta de família, pode — nos casos em Cde conlunção dos opostos, estrutura quaternária. Entretanto Jung
que há tendência à psicose — ter conseqüências perigosas por absteVese de generalizar estas hipóteses e teorizá-las até ter lido
causa da ativação igualmente repentiná~dõ~inconscíèntè." TG. W. ô Segredo Ua Flor de Ouro, que Richard Wilhelm lhe faz conhecer
16, § 218) -
em 1928. . , t
Mesmo quando suporta esta situação, o eu não escapa a uma Sem bem que esse texto não fale do self, relata as fases
inflação, positiva ou negativa. Ligado aos componentes psíquicos que de uma perdT radical de identificação para com os objetos e repre-
ele integra e à sua própria solidão, deixa-se possuir pelo afluxo de BMtocõese evoca o fogo que jorra a seguir "na caverna do vácuo .
energia, ou defende-se dele identificando-se a seus próprios limites JungTescobrrali uma8 experiência próxima à sua.forma então a
i:i- conscientes. Haverá alguma possibilidade de evitar estas duas falsas idéia do self, e toma emprestado esse termo ao Rig Veda.
soluções? "Eu sabia que havia chegado, com a mandala como-«P"**°
£ self, à descoberta última, à qual me seria dado.chegar.
"Quando chega este momento, entra em jogo uma compensação Talvez outro chegue mais longe, mas eu nao. (47, p. £&)
muito sadia. Surge uma reação do inconsciente coletivo e luta
contra a perigosa tendência a desintegrar-se. Ela caracteriza-se Apartir desta época, Jung consagra a maioria de suas Pesquisas
por símbolos que sinalizam, sem possibilidade de engano, um
processo _dg_cenl£»ligação. Este processo cria nada menos que um ao self e ao processo de individuação. Na primavera de 1934
'i. ü novo centro da personalidade, cujos símbolos mostram a evidên vence suas resistências e mergulha na leitura dos textos alo^imicos
cia de que ele é süpraordenado ao eu e esta posição será provada Sentais. Escreve Psicologia eAlauimia UW, P^^a Tnn*
mais adiante empiricamente. Ejte centro não pode ser posto na ierencia (1946), Mysterium Conjunctionis (1955-56) e vanos estudos
mesma cjfôsjje^jiyj^j^_eux_é^ valor jnais
alto^ Também não se"pode chamá-lo 4èüT e por isso"" dei-lhe o PubncadosemRaízes da Consciência. Mais tarde, retoma o estudo
;i''• nome de sJjQfismo. É um happening vital que provoca uma trans §os texts cristãos egnósticos. Esclarece assim de ™nei»«^#
formação da personalidade. Chamei o processo que leva a esta m- os sonhos de seus pacientes, a observação clinica e as "P««nta5°"
experiência, o "processo de individuação'." (G. W. 16, § 219) coletivas Em função dos temas cristãos, escreve Aion (1951), Res-
Assim, a tomada de consciência e a retirada das projeções levam
^L?flT/of(19M) evários estudos como Psicologia do Sacrifício
da Missa (1954). '
o eu a um estado de inflação (ou deflação) que só se resolve com a É impossível desenvolver aqui a teoria junguiana do self. Uuero
descoberta de um centro inconsciente da personalidade e o estabele^
cjmehto de umai«Ja5ão^^^e_o_eu_je esse^centro. /•- entretanto propor alguns pontos de referência.
Em um primeiro período, Jung enfatiza sobretudo o fato que
"A centralização (Zentrierung) é, na minha experiência, o má reconhecido, figuras
ximo nunca ultrapassado do desenvolvimento, e que se caracteriza
ológJS^^BlSasrNio
geJL^Pg^ft^J"^ será
de a™idéja^Lo PeMs em
Único, centromi^
do
; por coincidir na prática com o máximjp__eiejlo_Jeragêutico." (49, ^So^projeção no cosmos daquilo que existe no psiquismo? A
p. 525) ~"
São pela qual um indivíduo se libera do imaginário e nasce para
O que é esse centro? Jung considerou as mandalas que pintou sTmefmo \zo foi atribuída a figura •djj A^WJ" Z*™
culturas evoluídas? A chegada à personahdade_ consciente de um
ao experienciá-lo, como sendo uma primeira fonte de informação.
impulso inconsciente que dá sentido à vida, nao realiza o que se
I A mandala "pinta o self como uma estrutura concêntrica, anunciava no Cristo e r" F.nçarnacao?
muitas yezes na forma de uma qujdr£iu£a_do_círculo. . . Esta estru Sob a influência da alquimia, o pensamento de Jung interessa-se
tura é invariavelmente sentida como sendo a representação de um menos pelas representações e mais pelos processos, iu^njunçao^s
••ri! estado central ou de um centro da personalidade essencialmente
i!< i' rliferente do ego. Ela é de natureza numinosa". (G. W. 14/2, § 431) o esquema segundo qual podemos compreender a ação do si
mesmo. Jung formula-a em três idéias: ojâr_fl yr segue ^^^
("Podemos dizer, com alguma certeza, que estes símbolos têm um
j
caráter de totalidade. Em geral são símbolos 'unificadores' e
í \ representam a conjunção de um pjar de opostos simples ou duplo."
(G. W. 9/2, § 194-195) ! 'âiferejiciação^.
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&£*":'
A propósito da noção de totalidade que Jung emprega freqüen insubstituível em correlação com oself. Na ^P^^^1^
temente, é preciso lembrar que a palavra em francês trai o original como o eu consciente é a única repcwta JaLJfflyd10^:4^
alemão. Jung utiliza raramente die Totalitãt', mas quase sempre usa EStatâ
r^^s-obriga^ajnscrever-se naijnstõria. e°prmdpl
die Ganzheit (ganz, ganzwerden^X.). Ora, o radical ganz não sig
nifica "total" mas sim |"intéiro"J Deveríamos traduzir Ganzheit Oego é o sujeito'da escolha e do engajamento ético, o único
por um neologismo como "inteireza", que representa melhor as responsável pelas decisões. ^ x/o^UL ^to»\Cál
idéias de integridade e integração do que totalidade. Longe de
pretender ser tudo, possuir tudo ou fazer todas as experiên pd ego éd"olado~d71mrr^r7druma força criativa, conquista
cias, a Ganzheit é correlativa às experiências de dissociação e Itardia da humanidade, a que chamamos yonjaje^CB, p. 90)
r.íK Vw ! fragmentação. Jung esclarece ainda que Ganzheit não é Volkom- "^""Tím Myster~h7mi~ Conjunctionis, Jung reconhece que o ego é a
menheit, "realização total, Jperfeição". Para o homem que sente a condição sine qua non da existência objetiva do mundo (Gegen-
presença de dois seres em si, a Ganzheit aparece como a unidade stündlichkeit der Welt). -
possível. É neste^sfníirin q"* fl «cperiência do self re^Qlyj^dissoclaçãQ
í.-í.:'-.i 9onsciente-inconscieju^£jdl_^^^ • y-— Depois dê~têT~dpQJÍx--£s1^^ e^yerdade,
IV — A tomada de consciência do self foi para Jung uma jumL^ojniláS^^ self, e o perigo "místicoPer]g°
ii_ftík^S^Í^!^ào iacrtlon5an1,sí
da absorção do
espécie de iluminação. Percebeu o sentido de sua existência e o da
terapiai analítica. -.— ego no self.
Foi por isso que inclinou-se~primeiro a apresentar um panorama v "A acentuação da personalidade — ego e do mundo consciente
pode facilmente assumir proporções tais que as figuras do incons-
com duas teses extremas em que o self é apresentado como o verda-j cíeníe são psicologizadas e o self 6 conseqüentemente assimilado
deiro centro da personalidade enquanto que o ego, alienado nos seus/ pelo ego." (G. W. 9/2, §47) ^^y
valores, e objetivos, deve sacrificá-los a fim de submeter-se à orientacãoj M
/ que vem do séj/JEslê"Iwartffch^^
sombra,tem~-Õstraços do que se chamará mais tarde uma castração
de T m^seTTsó^m significação funcional quando pode agir como'
uma compensação de uma consciência do ego. Se o ego se dis
simbólica; todavia, é diferente, já que não termina na simples aceita
solve por identificação com o «//resulta uma espécie de vago
super-homem dotado, de um eu inchado, em detrimento do self.
ção dos limites e da morte, mas desemboca numa relação viva com o (49, p. 553) ___...—
sujeito inconsciente.
Os abandonos, as perdas e os lutos que a personalidade tem O sujgi-o hiMinnn rflali/.a-s. em un^^?ri^ ^^^gg
que Viver \ medida que se conscientiza dão a este jacrifício do ego jLn__c§|defl^^
ilr:J uma amplitude semelhante ao que as tradições orientais ensinam
cpmo sendo uma morte do eu. Depois de algumas formulações hesi 'ríaÕ^éumjgo profunjfl.
tantes, Jung marca nitidamente a diferença entre essas tradições e «A diferença entre o conhecimento do ego e do self dificilmente
a experiência analítica. po^de ser melhor formulada do que pela distinção entre quis
c 'quid'." (G. W. 9/2, § 252)
pNão se l?õde~ cogitar de uma total extinção do ego, pois a sede
I Ida consciência ficaria destruída, e o resultado seria uma completa
! Vnconsçiência." (G. W. 9/2, § 79)_ r —
!, !,• Não! se trata rir» uma mQrte do egor mas do_jsa__rjfleio—da £.*&•'•
hhhâttíglçeit- Não só o eu desaparece, mas os conflitos pelos quais
! passa livrãm-no de seus estados imaginários e fazém-no nascer para
• sua própria realidade.
Logo depois de descobrir a existência do self, Jung acentuou
fortemente sua importância. Foi só progressivamente que foi dando
atenção ao papel do ego, até chegar a insistir sobre sua função
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