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FILOSOFIA 10º ANO

II. A Ação Humana e os Valores


A ação humana – análise e compreensão do agir
Determinismo e liberdade na ação humana (Metafísica)

Problemática do livre-arbítrio:
Será que somos livres ou a liberdade não passa de uma ilusão?

A) Respostas Incompatíveis:

1. Determinismo Radical.
Tese
Argumentos
Críticas
Objeção da responsabilidade moral.

2. Libertismo

Tese
Argumentos
Críticas

B) Resposta compatível

1. Determinismo Moderado

Tese
Argumento
Críticas

Determinismo e Liberdade na ação humana.


O livre-arbítrio é a capacidade para decidir (arbitrar) em liberdade.

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O Determinismo é a tese de que todos os acontecimentos estão causalmente determinados pelos
acontecimentos anteriores e pelas leis da Natureza.

Problema do Livre-Arbítrio

problema do livre-arbítrio consiste em tentar compatibilizar o determinismo que encontramos na


Natureza com a perspetiva de senso comum que temos de nós mesmos.
Este problema levanta algumas questões:
● Poderemos ser realmente livres num universo determinista?
● Ou será que temos de aceitar que a liberdade é uma ilusão porque tudo está determinado?
E se o Universo não estiver inteiramente determinado?

A problemática do livre-arbítrio poderá ser então apresentada da seguinte forma:


“Será que escolhemos o que fazemos ou as nossas ações são causadas por fatores que não
controlamos?”

Qual a razão de ser deste problema? Como surge?


O livre-arbítrio é um problema porque, apesar de acreditarmos que escolhemos realmente o que
fazemos, também somos profundamente influenciados pela explicação científica da natureza ou do
mundo físico. Ora, esta explicação baseia-se no determinismo, na crença de que tudo é
determinado por acontecimentos anteriores, ou que o estado de coisas atual do mundo resulta
necessariamente, segundo as leis da natureza, de um estado de coisas anterior que é a sua causa.
Sabemos que, no mundo físico, se atirarmos um tijolo contra um vidro de uma janela, este
partir-se-á. Este efeito é uma consequência inevitável de uma causa – atirar o tijolo. De modo
semelhante, talvez as nossas escolhas, decisões e ações não sejam mais do que efeitos inevitáveis
do funcionamento do nosso cérebro, do nosso património genético e educação que recebemos, das
escolhas anteriores que fizemos.
A crença no determinismo, tal como a crença no livre-arbítrio, parecem assim crenças naturais e
evidentes e a maior parte das pessoas não só acredita em ambas como, normalmente, não vê
qualquer problema em fazê-lo. Talvez isto aconteça porque as pessoas julguem que o determinismo,
a ideia de que tudo resulta de causas anteriores, se aplica apenas a objetos físicos e, quando muito,
aos animais, e não se apercebam de que é possível que a sua aplicação se estenda aos seres
humanos e aos seus comportamentos e ações. Com efeito, se o determinismo for verdadeiro,
provavelmente não são apenas os corpos físicos inanimados e os animais inferiores que lhe estão
sujeitos, mas o que quer que exista no universo, quer se trate de átomos e corpos naturais, de
cérebros e dos respetivos estados mentais ou deliberações, escolhas e ações humanas.

A importância prática da resposta que se dá ao problema do livre-arbítrio implica, então, a seguinte


reflexão:

Será que podemos ser responsabilizados pelas nossas ações se o determinismo for verdadeiro, se
não houver livre-arbítrio?

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O interesse por este problema não é apenas teórico. O problema do livre-arbítrio tem importantes
implicações práticas, a principal das quais relacionada com a responsabilidade moral.

Em que condições pode um agente ser considerado moralmente responsável por um


acontecimento?
Uma pessoa pode ser considerada moralmente responsável por um acontecimento quando podia
não ter feito o que fez?
Tudo parece indicar que se não houver livre-arbítrio, então também não é possível responsabilizar
moralmente um agente pelas ações que pratica e, consequentemente, puni-lo ou recompensá-lo,
elogiá-lo ou censurá-lo.

Será possível construir a vida social sem a ideia de responsabilidade moral?


Se não houver livre-arbítrio, não estará o nosso sistema penal todo errado? Não será que o
criminoso, de modo análogo à pessoa que sofre de asma e assim vê o seu organismo prejudicado,
não deve ser punido, mas sim tratado de modo a deixar de ser prejudicial à sociedade? Se a crença
no livre-arbítrio for falsa, parece legitimo concluir que quer o assassino que tenha cometido o crime
mais hediondo quer o herói que tenha realizado o ato mais altruísta que seja possível imaginar não
podem ser responsabilizados pelos seus atos.
Esta conclusão desafia as nossas convicções morais mais elementares.

As teorias que respondem ao problema do livre-arbítrio dividem-se em dois grupos:


Teorias incompatibilistas e teorias compatibilistas.

● As teorias incompatibilistas defendem que o livre-arbítrio não é compatível com o


determinismo.
● As teorias compatibilistas defendem que o livre-arbítrio é compatível com o determinismo.

Há dois tipos de teorias incompatibilistas: O determinismo radical e o libertismo.


Determinismo Radical – Defende que não temos livre-arbítrio e que o universo é determinista.
Libertismo – Defende que temos livre-arbítrio e que só o universo físico é determinista: a vontade e
a consciência não são determinadas pelas cadeias causais do universo físico.

Teorias Há livre-arbítrio? Tudo está determinado?

Incompatibilismo Determinismo Radical Não Sim


Libertismo Sim Não

Compatibilismo Determinismo moderado Sim Sim

1. Determinismo Radical
“Na mente não há vontade absoluta ou livre. A mente é determinada a ter uma ou outra volição
por uma causa, que é também determinada por outra causa, e esta por outra, e assim por diante
ad infinitium.”

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Bento Espinosa

Ponto de vista segundo o qual só o determinismo é verdadeiro, e, consequentemente, quem pensa desta
maneira chama-se determinista radical.

Para o determinista radical, a crença no determinismo significa acreditar que TODO e qualquer
acontecimento é o desfecho necessário de acontecimentos anteriores.

Dadas as leis da natureza, de um dado conjunto de causas só pode resultar um efeito. Todas as nossas
ações são o resultado necessário de acontecimentos anteriores: são, por isso mesmo, efeitos de causas
necessárias. Fazemos o que o nosso passado determina que façamos e não aquilo que queremos. Assim,
como as nossas ações não dependem de nós, mas de fatores que não podemos controlar, NÃO SOMOS
LIVRES.

Argumentos dos deterministas radicais:

A crença no livre-arbítrio é a crença de que há acontecimentos (ações humanas) que não são o simples
desfecho de acontecimentos anteriores, isto é, dependem da nossa vontade. O determinismo radical
considera falsa esta crença, um dos seus argumentos é o seguinte:

Todos os acontecimentos, sem exceção, são causalmente determinados por acontecimentos anteriores e
pelas leis da natureza.

As escolhas e ações humanas são acontecimentos.

Logo, todas as escolhas e ações humanas são causalmente determinadas por acontecimentos anteriores
e pelas leis da natureza (não livres).

Outro dos argumentos apresentado é o seguinte:

Premissa 1: Se o determinismo é verdadeiro, não há livre-arbítrio.


Premissa 2: O determinismo é verdadeiro.
Conclusão: Logo, não há livre-arbítrio.

Defesa das premissas:

Defesa da premissa 1: O determinista argumenta que ter livre arbítrio implica poder agir de
maneira diferente, partindo exatamente da mesma situação. (Exemplo: A Ana decidiu dar um chuto
numa bola.) Há um conjunto de cadeias causais que conduzem a essa decisão. O determinista
argumenta que o livre-arbítrio implica a possibilidade de a Ana decidir ou não dar um chuto na bola,
apesar de o conjunto de cadeias causais ser exatamente o mesmo. Mas isso é precisamente a
negação do determinismo; o determinismo é a ideia que, dada uma certa cadeia causal, o seu efeito
não pode ser diferente do que é. Logo, se o determinismo é verdadeiro, não há livre-arbítrio.

Defesa da premissa 2: O determinista argumenta que sem o pressuposto do determinismo não é


possível compreender o mundo. A biologia, a física e a química, por exemplo, são disciplinas
centrais sem as quais é impossível compreender adequadamente o mundo. Mas em todas estas
disciplinas se pressupõe o determinismo: dadas as mesmas causas, seguem-se os mesmos efeitos.
Até no dia-a-dia nós pressupomos o determinismo: quando damos um chuto numa bola não nos
surpreende que a bola se desloque; quando riscamos um fósforo não nos surpreende que acenda.
Em todos estes casos, estamos a pressupor que, perante causas idênticas, seguem-se efeitos

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idênticos. Quando riscamos um fósforo e este não acende, procuramos imediatamente a causa
adicional que explica esta situação: talvez o fósforo esteja molhado, por exemplo.

Assim, o determinista está obrigado a defender que o livre-arbítrio é uma ilusão. Mas por que razão
temos essa ilusão?

Estar causalmente determinado não é como ser obrigado a fazer uma coisa que não se quer nem se
decidiu. Estar causalmente determinado é não poder decidir nem poder querer outra coisa além do
que efetivamente decidimos e queremos. Por isso, parece-nos que somos livres, desde que
ninguém nos impeça de fazer o que decidimos e queremos. (A água poderia dizer a si mesma que
tem a liberdade de “fazer” várias coisas – e pode, desde que estejam reunidas as causas
apropriadas). O mesmo acontece com os seres humanos: temos a falsa sensação de que somos
livres, porque escolhemos fazer uma coisa em vez de outra, desconhecendo as causas que
determinam as nossas ações. Mas escolhemos o que escolhemos em função das cadeias causais
que antecedem o momento da decisão. Sentimos que agimos livremente quando agimos em função
do que escolhemos. Mas o que escolhemos resulta de cadeias causais que não podemos controlar.
Logo, o livre arbítrio é apenas uma ilusão.

Críticas ao Determinismo Radical:

Se o determinismo radical tiver razão, não temos livre-arbítrio.


Se não tivermos livre-arbítrio, não poderemos ser moralmente responsáveis.
Se não formos moralmente responsáveis, não podemos ser castigados.
É absurdo defender que não podemos ser castigados.
Logo, o determinismo radical é falso.

As críticas defendem que o determinismo é falso porque a responsabilidade moral não pode existir
sem a liberdade e, por isso, não podemos ser castigados, o que é absurdo. Não é possível construir a
vida social sem a ideia de responsabilidade moral.

A objeção da responsabilidade moral

A experiência de que somos livres é muito forte;


Esta crença faz parte do próprio processo de agir;
Quando agimos não podemos deixar de sentir que somos livres.
Uma pessoa só é moralmente responsável pelas suas ações se estas estão sob o controlo do seu
livre-arbítrio.
Parece haver uma conexão entre a responsabilidade moral e a nossa liberdade. Aparentemente, se
não formos livres, não podemos ser moralmente responsáveis pelo que fazemos. E se não formos
responsáveis pelo que fazemos, os tribunais e prisões não fazem sentido.

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2. Libertismo
“O homem está condenado a ser livre. Condenado, porque não se criou a si mesmo; contudo, em
todos os outros aspetos, é livre porque uma vez lançado no mundo é responsável por tudo o que
faz.”
Jean-Paul Sarte

Segundo o libertismo, as ações do ser humano decorrem das suas deliberações e não são
necessariamente causadas por acontecimentos anteriores.

O Libertismo é uma teoria que defende essencialmente o seguinte: as nossas escolhas e ações são livres
se não forem mais um elo numa longa cadeia de causas e efeitos, ou seja, defende que as nossas ações
são livres se desencadearem uma nova cadeia causal de acontecimentos. Somos nós que controlamos
essa cadeia de causas e efeitos, não somos controlados por ela.

O passado não pesa de modo esmagador sobre as nossas ações. Podemos, em certa medida, pô-lo entre
parênteses.

Temos livre-arbítrio e nem todos os acontecimentos estão determinados. As nossas ações não são
causalmente determinadas, resultam das nossas deliberações.
O Libertismo é a teoria segundo a qual temos livre-arbítrio e nem todos os acontecimentos estão
determinados.

Argumento dos libertistas:


Premissa 1: Se temos livre-arbítrio, o determinismo é falso.
Premissa 2: Temos livre-arbítrio.
Conclusão: Logo, o determinismo é falso.

O argumento é válido, mas será sólido?

Defesa das premissas

Defesa da premissa 1: O libertista defende que ter livre-arbítrio é não estar determinado a escolher
de uma certa maneira. Por exemplo, ter livre-arbítrio é estar perante uma encruzilhada e poder
escolher ir por um caminho ou por outro, sendo as causas anteriores exatamente iguais. Mas o
determinismo é a ideia de que, dada uma certa cadeia causal até ao momento presente, a minha
decisão está determinada. Posso ter uma sensação de que estou a escolher, mas não é realmente
uma escolha. Logo, o livre-arbítrio implica a falsidade do determinismo. (Não estamos
determinados a escolher de uma certa maneira. Escolhemos praticar uma ação mas podíamos ter
escolhido e agido de forma diferente, por isso o determinismo é falso.)

Defesa da premissa 2: O libertista argumenta que não podemos evitar vermo-nos como seres
dotados de livre-arbítrio. No próprio ato de tomar uma decisão, exercemos o livre-arbítrio.
Não é possível aceitar realmente que as nossas decisões estão todas determinadas por
acontecimentos anteriores. (Não é possível aceitar que as nossas decisões estão todas
determinadas por acontecimentos anteriores. Se decidimos é porque temos livre-arbítrio. O
determinismo radical diz o contrário, logo é falso.)

● O libertista defende que as nossas escolhas e ações só são verdadeiramente livres se


pudéssemos ter escolhido ou agido de modo diferente.
● De acordo com os libertistas uma escolha ou ação só é verdadeiramente livre se desencadear uma
nova cadeia causal de acontecimentos.
● Os libertistas alteram o significado e a amplitude do conceito de causa. Para eles não há só um tipo
de causas a produzirem efeitos no mundo. Uma coisa é falar da causa dos eclipses do Sol e da Lua,

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da queda dos corpos ou de tsunamis. Outra bem diferente é falar das causas das ações realizadas
por nós. Em termos mais técnicos, uma coisa é a causalidade dos acontecimentos, outra a
causalidade da vontade humana. A causalidade dos acontecimentos significa que um
acontecimento ou fenómeno natural ocorre antes de outro e causa necessariamente o
acontecimento seguinte. A causalidade dos agentes ocorre quando algo resulta da vontade de uma
agente.
● Nem todos os acontecimentos do universo são o efeito de causas estudadas pelos físicos e biólogos.
Os seres humanos são seres com um estatuto diferente, e nem todas as suas ações seguem as leis
que regem o com portamento das plantas e animais. Não escolho livremente ter asma, tensão
arterial elevada. Contudo, escolho livremente se caso ou não, se leio um livro ou revista. Embora
essas decisões possam ser influenciadas por vários fatores, não são causalmente determinadas por
condições anteriores (estados psicológicos anteriores ou fatores externos).

Críticas ao Libertismo:
Segundo o determinismo moderado, a minha ação é livre se for causada por desejos e crenças – estados
internos – que são meus. Segundo o libertismo, a minha ação é livre se for causada por mim e não por
um dos meus estados internos.

O que é este eu que através das suas deliberações é, segundo os libertistas, a causa de certas ações?
Uma entidade física? Então não escapa ao determinismo universal, ao encadeamento causal necessário
que rege todas as coisas físicas.

Uma entidade não física? Mas as ações são atos físicos, acontecem num dado momento e lugar, como é
que uma causa puramente mental pode produzir efeitos físicos? Se a mente é que causa as nossas
ações, será que é possível que exista independentemente do cérebro que é obviamente uma realidade
física?

Este contra-argumento parece condenar os libertistas a terem de reconhecer o seguinte: que as ações de
uma pessoa só são livres se não tiverem nenhuma causa, nem mesmo as suas próprias crenças e
desejos. Ora, deste modo, o libertismo transforma-se numa espécie de indeterminismo, algo que os
libertistas sempre rejeitaram.

● O determinismo diz que as deliberações do agente, tal como as suas crenças e desejos são
determinadas por acontecimentos anteriores. Mas o libertista não pode aceitar isso, pois
defende que o livre-arbítrio é incompatível com o determinismo.

● O problema dos libertistas é, então, explicar como é que um ato é realmente livre sem ser
determinado por acontecimentos anteriores, mas que também não é “aleatório”, quer dizer,
ao acaso.

3. Determinismo Moderado

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“O livre-arbítrio é o poder para agir ou não agir segundo as determinações da vontade.”

David Hume

Para o determinismo moderado, não há incompatibilidade entre livre-arbítrio e determinismo. Por isso,
recebe também o nome de compatibilismo.
O determinista moderado define a liberdade do seguinte modo:

● É livre uma ação em que o agente não é impedido por fatores externos de realizar a ação. Na
ausência destes obstáculos, o agente pode fazer o que tem vontade de fazer.
● Defende que são compatíveis as proposições “Um agente praticou livremente a ação A” e “A
ação praticada por esse agente tem uma causa e deriva necessariamente dessa ação”

Liberdade e Determinismo são compatíveis para esta teoria.


- O que é uma ação livre para o determinismo moderado?
Ações cujas causas imediatas são ESTADOS INTERNOS do sujeito como as suas crenças e desejos
(constituem a personalidade que o agente formou normalmente).
- O que é uma ação não livre para o determinismo moderado?
Ação cujas causas imediatas são FATORES EXTERNOS, que o agente não pode controlar.

As ações livres são ações determinadas pela personalidade – crenças, desejos e inclinações – do agente.
Essa personalidade resulta de um conjunto de experiências e de processos educativos que determinam a
sua maneira de ser, pensar e de agir.

Argumentos.
● Nem todas as causas são impedimentos à liberdade. É um erro pensar que as ações não são
livres simplesmente porque são causadas. As causas que nos levam a fazer o que queremos
potenciam a nossa liberdade, enquanto outras (constrangimentos, por exemplo) impedem a
nossa liberdade.

● As nossas ações livres são causadas pela nossa personalidade, inclinações e desejos ainda que
estes estejam determinados por acontecimentos anteriores. Se as ações não fossem causadas
pelo nosso caráter e pelos nossos motivos, não poderíamos ser responsabilizados pelas nossas
ações. Não seriam as “nossas” ações.

Concluindo:

● Se as causas de uma ação estão em mim (nas minhas crenças e desejos), então são livres. Se não
são causadas pelas crenças e desejos que constituem a minha personalidade, então não são livres.

Críticas ao Determinismo Moderado/Compatibilismo:


O determinismo moderado, apesar das aparências, não distingue claramente ações livres de ações não
livres e não salvaguarda a nossa ideia comum de liberdade.

Os compatibilistas argumentam que somos livres se agirmos sem constrangimentos ou obstáculos,


internos ou externos, que nos impeçam de fazer o que desejamos. Mas, se aquilo que desejamos
fazer se encontra determinado por acontecimentos anteriores (determinismo) então as nossas

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ações estão constrangidas por acontecimentos anteriores. Não temos é consciência de que
estamos a ser constrangidos.

O compatibilismo não explica porque é que ser constrangido por acontecimentos anteriores é um
ato livre e ser constrangido por alguém já não é um ato livre.

O problema do livre-arbítrio – um problema em aberto


Como vimos, não há, sobre o problema do livre-arbítrio uma teoria consensual. Há filósofos que
acham que nenhuma destas teorias é plausível. É o caso dos filósofos Searle e Nagel que
consideram que não há boas razões para negar o determinismo que encontramos na Natureza pois,
sem ele as ciências da natureza seriam impossíveis. Por outro lado, não podemos negar o
livre-arbítrio, como faz o Determinismo Radical porque a experiência da liberdade faz parte da
experiência de agir.

Por outro lado, afirmam que a teoria compatibilista não implica de forma plausível a diferença entre
ser constrangido e ser causado a agir de determinada maneira.

Conceitos:
Determinismo: Tese de que todos os acontecimentos estão causalmente determinados pelos
acontecimentos anteriores e pelas leis da natureza.

Livre-arbítrio: Capacidade para decidir (arbitrar) em liberdade.

Fatalismo: Tese de que alguns acontecimentos são inevitáveis, independentemente do que


possamos decidir ou fazer.

Compatibilismo: No debate sobre o livre-arbítrio, as teorias que defendem que o determinismo e o


livre-arbítrio podem coexistir.

Incompatibilismo: No debate sobre o livre-arbítrio, as teorias que defendem que o determinismo e


o livre-arbítrio não podem coexistir. O libertismo e o determinismo radical são duas dessas teorias.

Libertismo: No debate sobre o livre-arbítrio, as teorias que defendem que não há determinismo
porque temos livre-arbítrio.

Determinismo Radical: No debate sobre o livre-arbítrio, as teorias que defendem que não temos
livre-arbítrio, porque tudo está determinado.
Contradição performativa: Quando se afirma algo que é negado pelo ato de afirmar. Por exemplo,
alguém que diga “Não estou a falar”.

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