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História

➢ As transformações das primeiras décadas do século XX

1.1 Um novo equilíbrio global

Após o fim da primeira guerra mundial (1914-1918) deu-se a Conferência de Paz em Paris
(janeiro 1919), na qual participaram apenas as nações vencedoras, a Grã Bretanha, a França
e os EUA. O presidente Wilson, escreveu a mensagem em 14 pontos que serviu como base
para as negociações, defendeu:

● prática de uma diplomacia transparente;


● liberdade de navegação no acesso ao comércio internacional;
● redução dos armamentos (principalmente à Alemanha);
● respeito para com todas as nacionalidades;
● regulação das reivindicações coloniais;
● criação da Sociedade das Nações (SDN).
↳ organismo destinado a salvaguardar a paz e a
segurança internacionais.

De todos os acordos destacou-se o Tratado de Versalhes que impôs à Alemanha:

● o pagamento de indemnizações pela guerra;


● a perda de todas as colónias;
● cedência de territórios;
● redução do exército e do armamento;
● cessão do serviço militar obrigatório;
● o Estado-Maior alemão foi extinto;
● perda dos recursos naturais (minas de carvão do Sarre).

*ficou separada da Prússia Oriental pela ligação da Polónia ao mar (corredor de Danzig)

Os efeitos políticos resultaram na criação de uma nova geografia política e de uma nova
ordem internacional, enquanto os efeitos económicos passaram pelo declínio da Europa e
pela ascensão dos Estados Unidos.

Relativamente à geografia política:


● o império otomano perdeu o domínio que tinha sobre o médio oriente;
● o império russo e alemão perderam os seus territórios;
● o império austro-húngaro desmembrado;

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Desta forma, reajustaram-se as fronteiras, nomeadamente da França, de Itália e da Grécia
e formaram-se novos Estados, como a Hungria, a Áustria, a Turquia e a Finlândia.

1.1.1 A Sociedade das Nações: esperança e desencanto

A Sociedade das Nações foi criada com o objetivo



desenvolver a cooperação entre as nações, garantindo a paz e a segurança
a independência territorial
proteção das minorias nacionais
promoção do desarmamento
solução dos litígios via da arbitragem pacífica

Neste contexto, os países signatários comprometem-se a manter relações francas e


abertas e criaram o Tribunal Permanente de Justiça Internacional para resolver as
discordâncias entre os estados.
Era ainda previsto o desarmamento dos estados e seriam definidas sanções para os países
que não respeitassem os acordos. A sociedade das nações foi um instrumento de esperança
para que a primeira guerra mundial não se repetisse.

Contudo, a SDN não foi eficaz:


● os tratados foram impostos pelos países vencedores aos países vencidos, estes nem
sequer participaram na sua deliberação/sentiram-se humilhados;
● os próprios países da SDN não tinham a capacidade de manter a ordem entre os
eles;
● alguns países ficaram descontentes com a distribuição do dinheiro relativo às
reparações da guerra;
↳ começaram a surgir novamente rivalidades hegemónicas entre os
países vencedores, nomeadamente entre Inglaterra e França;
● frustrados nos interesses geoestratégicos, que tinham motivado a sua intervenção
ao lado dos Aliados;
● a questão das minorias nacionais não foi devidamente considerada, uma
multiplicidade de povos ficou espalhada por vários dos novos países sem respeito
pela sua identidade étnica e cultural;
● os EUA decidiram não integrar-se na SDN.

não aceitaram a reconstrução do vencedores à custa da asfixia económica dos vencidos

Assim, despromovida do apoio americano, a SDN viu-se impossibilitada de desempenhar o


seu papel de organizadora da paz.

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1.1.2 A difícil recuperação económica da Europa

Após a guerra, a situação económica e financeira da Europa ficou bastante abalada:


1. a guerra resultou num número elevado de mortos, o que reduziu a população ativa,
ou seja, a mão de obra;
2. elevada população envelhecida e maioritariamente feminina, o que resultou num
setor produtivo insuficiente e desorganizado, isto é, na baixa produção.
3. para financiar a guerra, foi necessário recorrer à inflação*, com o aumento da massa
monetária, o que provocou uma desvalorização monetária. Assim, a balança
comercial era deficitária e como era necessário reconstruir a economia e ter acesso
a matérias-primas, recorreu-se a empréstimos junto dos Estados Unidos, o que
levou à acumulação de dívidas e, inevitavelmente, à dependência face aos EUA;

necessidade de reconstrução
de infraestruturas de adaptação à modernização das indústrias, da economia da paz
e o aumento do consumo// relançar a economia;
4. perdas materiais, sendo o setor produtivo atingido: solos agrícolas, casa, fábricas,
minas destruídas e vias de comunicação desorganizadas.

Inflação - Alta geral de preços derivada de distorções existentes entre a procura dos
produtos e a oferta dos bens, a quantidade de moeda que circula e a produção/circulação
de riquezas.
Quando a oferta de bens não corresponde à procura dos compradores capazes de pagar,
estes últimos, para conseguirem as mercadorias, sujeitam-se a pagar mais caro e fazem
subir preços. Em geral, a inflação tem origem na necessidade de criar meios de
pagamento suplementares através, da emissão de papel-moeda.
*desvalorização da moeda

a sua reconversão dependeu



capital americano

pagamento de reparações da guerra pela Alemanha aos Aliados

*Conferência de Genebra, 1922


↳ estabilidade económica ↴
uma moeda passaria a ser convertida numa outra
moeda considerada convertível em ouro.

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O principal centro financeiro do mundo, neste contexto, os EUA eram os principais
credores da Europa, aumentado cada vez mais a dependência europeia face à americana.
Assim, para intensificar o desenvolvimento industrial e comercial, foi necessário adotar o
taylorismo, com a racionalização do trabalho com o trabalho em cadeia e linha de
montagem e, por fim, recorreram à concentração de empresas. Foi assim a Era da
Prosperidade Americana caracterizada por grandes progressos tecnológicos.

1.2 A implantação do marxismo-leninismo na Rússia: a construção do modelo


soviético

Marxismo-leninismo - Desenvolvimento teórico e aplicação prática das ideias de Marx e


de Engels na Rússia por Lenine.
Caracterizou-se por enfatizar:
★ o papel do proletariado, rural e urbano, na conquista do poder, pela via da
revolucionária e jamais pela evolução política;
★ a identificação do Estado com um partido comunista, considerado a vanguarda do
proletariado;
★ recurso à força e à violência na concretização da ditadura do proletariado.

Sovietes - Conselhos de camponeses, operários, soldados e marinheiros da Rússia. Os


primeiros sovietes, apenas com operários, remontam à Revolução de 1905 e foram
instalados nas fábricas, como focos de ligação e dinamização dos grevistas. Contidos pelo
fracassos do movimento, reapareceram em fevereiro de 1917. A revolução bolchevista de
outubro buscou nos sovietes a legitimação popular e fez deles a base da futura
organização do Estado da URSS.

Na Rússia, Czar continua a governar de forma autocrática, com o apoio da Igreja e do


exército. Para além disso, reforçou a censura, a polícia política e reprimiu a oposição
violentamente.
Devido a tais medidas, cresceu uma grande contestação social e política e surgiram novos
partidos, o Partido Constitucional Democrata, formado pela burguesia e pela nobreza
liberal, o Partido Operário Social-Democrata Russo, formado por
Mencheviques/Bolcheviques, marxistas que defendiam a tomada do poder pelo
operariado, e os Socialistas-Revolucionários, apoiado por camponeses. Neste contexto
político, no ano de 1917 a Rússia viveu duas revoluções.

A revolução de fevereiro (a revolução burguesa) para além de ter motivos políticos teve
também motivos económicos, nomeadamente o atraso económico vivido, em que a
agricultura era a atividade dominante, a indústria era atrasada e a economia estava
dependente de outros países.

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Assim, a população revoltou-se contra a política autocrática do Czar e sentiu-se crescer no
país o desejo de reformas, a oposição dos partidos e a desmoralização face às derrotas
militares.
Desta forma, a revolução de fevereiro foi liderada por soldados, pelos Sovietes de
Petrogrado, por operários e pela burguesia liberal, que exigia o fim do regime.
O poder foi entregue a um Governo Provisório para governar o país até às eleições, foi
liderado por Lvov e, depois, por Kerensky (socialista moderado) e caracterizava-se por um
modelo democrático parlamentar.

Decreta o estabelecimento das liberdades públicas:


● a amnistia para os presos políticos
● as 8 horas de trabalho diário
● a separação entre a Igreja e o Estado
● o sufrágio universal e o voto das mulheres.

Os sovietes opunham-se ao governo provisório. Desta forma, sovietes e bolcheviques


liderados por Lenine defendiam uma revolução como forma de levar ao poder o
operariado, de retirar o país da guerra e de pôr fim ao governo provisório.

*governo provisório pretende continuar na guerra e usufrui do dinheiro dos vencidos

A revolução de outubro teve o principal propósito de se instaurar a ditadura do


proletariado e, para tal, liderados por Lenine e Trotsky. Deu-se a queda do Governo
Provisório e na passagem do poder para um Conselho de Comissários do Povo.
O Conselho era constituído por bolcheviques e liderado por Lenine, Trotsky assume a
Pasta da Guerra e Stalin assume a Pasta das Nacionalidades.
Contudo, no mesmo ano, são realizadas eleições para a Assembleia Constituinte, em que os
bolcheviques perdem.

1.2.1 A democracia dos sovietes

O novo governo iniciou funções com a publicação dos decretos revolucionários.

● o decreto sobre a paz, para retirar a Rússia da guerra;


● o decreto sobre o controlo operário, para os operários gerirem as fábricas;
● o decreto sobre a terra, para se eliminar a grande propriedade fundiária e se
entregarem as terras aos sovietes camponeses;
● o decreto sobre as nacionalidades, para acabar com as desigualdades no país.

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No entanto:

❏ A Rússia assina uma de paz separada com a Alemanha, uma paz desastrosa mas
necessária;
↳ perde a Ucrânia, a Polónia, a Estónia, Letónia e a Lituânia, a Finlândia (¼ da sua
população e das suas terras cultiváveis, 3/4 das minas de ferro e de carvão);
❏ proletários e empresários criaram os > obstáculos à aplicação dos decretos relativos
à terra e ao controlo operário;
❏ 7 milhões de soldados, que não se conseguiram reintegrar na vida civil;
❏ inflação e banditismo;

fraca adesão da população russa ao projecto bolchevique

A resistência ao bolchevismo resultou na na guerra civil em 1918-20.

exército branco } mencheviques/moderados ↠ opositores aos bolcheviques


↳ apoio internacional (EUA, França, Inglaterra e Japão)

impedir que o bolchevismo se espalhe pelo mundo

exército vermelho } bolcheviques e sovietes



serviço militar obrigatório ↠ vencem em > quantidade

Neste contexto, o líder do exército vermelho implanta o comunismo de guerra e acaba por
ganhar, instalando o centralismo democrático. Lenine toma a decisão de dissolver a
Assembleia e transferir todo o poder para o Congresso dos Sovietes.
Para mais:
● o único partido permitido era o partido comunista, formado por bolcheviques,
● nacionalizou-se as terras, as fábricas e o comércio;
● proibiram-se as greves;
● os opositores tinham de enfrentar a polícia política e os campos de concentração.

1.2.2. O comunismo de guerra, face da ditadura do proletariado (1918-1921)

Comunismo - Etapa final para que caminha a revolução proletária. Caracteriza-se pelo
desaparecimento das classes sociais pela extinção do Estado e pela instauração de uma
sociedade de abundância.

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Ditadura do proletariado - Segundo a teoria marxista, é a etapa por que deve passar a
revolução socialista antes da edificação do comunismo. A ditadura do proletariado surge
para desmantelar a estrutura do regime burguês, possibilitando a supressão do Estado e a
eliminação da desigualdade social.

Lenine tomou medidas energéticas – o comunismo de guerra



● nacionalização das indústrias e empresas com + de 5 operários;
● proibição de qualquer forma de oposição e de liberdade de expressão;
● proibição de partidos políticos;
● abolição de serviços particulares;
● instauração do trabalho obrigatório;
● criação da III internacional comunista para reforçar a coordenação e controlo dos
partidos e preparar a revolução mundial;
● não há comércio livre;
● abolição dos serviços particulares;
● trabalho obrigatório 16-50 anos;
● prolongou o tempo de trabalho;
● imposição da venda de produtos, preços fixados pelo Estado;
● criar a polícia política ↠ Tcheca
⤷ deportação, campos de concentração
● coletivização das terras;
⤷ estatais são atribuídas conforme as necessidades revolucionárias

*agravou a economia, enormes perdas humanas e materiais

Em 1920, a economia russa estava em ruína:


- sistema produtivo apresentava níveis baixos;
- havia muita miséria e muita fome;
- a política do país também não favorecia o seu desenvolvimento industrial e
económico.

Assim Lenine substituiu o comunismo de guerra pela Nova Política Económica (NEP),
com o propósito de garantir a independência económica e repor os níveis de produção.

A NEP permitiu: ↔️(retorno parcial e temporário ao capitalismo e à economia de


mercado)
- a exploração privada das terras;
- permissão para a associação de empresas privadas;
- prémios de produção;
- hierarquização dos salários;

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- substituição das requisições, por um imposto pago em géneros;
- pequena burguesia comercial;
acordos comerciais com a Alemanha e a Inglaterra;
- estabelecer uma moeda;
- reintrodução do comércio livre;
- abrandamento da nacionalização das terras;
- contratação de técnicos estrangeiros;
- os camponeses passaram a poder produzir e a vender os seus excedentes no
mercado;
- a desnacionalização das empresas mais pequenas;
- o investimento estrangeiro.

A NEP pretendeu reanimar a economia russa, a atividade económica e reconciliar os


camponeses com o regime. Rússia conseguiu aumentar os níveis de produtividade e
modernizou-se, conseguindo assim a recuperação da economia.

1.2.3 (a democracia dos sovietes ao) centralismo democrático

Centralismo democrático - Princípio básico que norteia a organização do Partido e do


Estados comunistas, segundo o qual todos os corpos dirigentes são eleitos de baixo para
cima, enquanto as suas decisões são de cumprimento obrigatório para as bases.

Desde 1922, a Rússia converteu-se na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS),
um Estado multinacional e federal cujas repúblicas, iguais em direitos, dispunham de uma
Constituição e de uma certa autonomia. Assim, para conciliar a disciplina e a democracia
formou-se o centralismo democrático.
Consistia num sistema de sufrágio universal exercido de baixo para cima. Dominava então o
marxismo-leninismo, que consistia no poder ser democrático e exercido pelo povo, havendo
apenas um partido, que centralizava o poder. Assim, os diferentes níveis de poder eram
obrigados a respeitar a hierarquia e deviam obedecer aos níveis superiores do partido.

1.3 A regressão do demoliberalismo

1.3.1 O impacto do socialismo revolucionário; dificuldades e radicalização dos


movimentos sociais; emergência de autoritarismos

No contexto pós-guerra foram atravessados profundas dificuldades económicas. Viram-se


greves e movimentos revolucionários que irromperam na Europa, alimentados pelo
exemplo da revolução bolchevique na Rússia Soviética. Assistiu-se a uma radicalização
social e política.

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O demoliberalismo mostrou-se frágil e instável
+
instabilidade política
+
aparecimento de 2 grandes partidos, extrema esquerda e a extrema direita
+
junta-se o nacionalismo de alguns países
+
Dificuldades económicas da Europa:
campos destruídos;
fábricas paradas;
transportes desorganizados;
finanças deficitárias;
inflação galopante;
⤷ greves/agitação revolucionária socialista

O Komintern e o impacto do socialismo revolucionário

O estímulo fornecido pela Rússia Soviética à causa do socialismo revolucionário sentiu-se


mais fortemente após a fundação, em 1919, da III Internacional, (Internacional Comunista
ou Komintern).
Propunha-se a coordenar a luta dos partidos operários a nível mundial para o triunfo do
marxismo-leninismo.
Lenine e Trotsky ↠ Mentores

impuseram condições rigorosas para que a revolução socialista se concretizasse na Europa

deveria ser conduzida por pcp decalcados do modelo russo e fiéis ao marxismo-leninismo

- 1920 Segundo Congresso do Komintern

obrigados a defender a Rússia Bolchevista e o centralismo democrático



partidos socialistas e sociais-democratas ↠ obrigados a libertarem-se das tendências
reformistas-revisionistas, anarquistas e pequenos burgueses

Radicalização social e política

Alemanha:
- espartaquistas viram os seus líderes executados;
- falta de confiança do proletariado.

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Hungria:
- tentativa de revolução operária, o dirigente comunista acaba por se retirar.

Itália:
- vagas de ocupações de terras e fábricas;
- o governo determina o fim do controlo operário por falta de crédito bancário.

França, Portugal, Grã-Bretanha → precário nível de vida, baixos salários, inflação dos preços

violentas greves

Emergência de autoritarismos

medo do bolchevismo ↔ afecta principalmente a grande burguesia proprietária e


financeira
*não lhes agradava o controlo operário e camponês da produção

Com manifesta desaprovação, assistiam à escala grevista e às regalias sociais concedidas


aos revoltosos pelos governos democráticos que elas haviam ajudado a eleger.

➔ Patriotas
➔ Conservadores
➔ Amantes da ordem
➔ Classes médias + classes possidentes (classe com posses)

Acabam por defender um governo forte como garantia da paz social, riqueza e dignidade

Política Europeia ↔ soluções autoritárias de direita, conservadoras e nacionalistas



principalmente nos países onde a democracia liberal não dispunha de raízes sólidas e/ou
onde a guerra provocaria gravíssimos problemas económicos, humilhações e insatisfações.

Fascismo ↔ 1925 ↔ Implantado na Itália


*modelo de inspiração a muitos outros países europeus durante mais de 20 anos

Espanha ↔ 1923-1930 ↔ ditadura militar do general Miguel Primo de Rivera

● Hungria (1920);
● Bulgária e na Turquia (1923);
● Grécia, em Portugal, na Polónia, na Lituânia (1926) e na Jugoslávia (1929).

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Agastada com a recuperação económica, contestada pelo proletariado, pelas classes
médias e grandes proprietários, a democracia liberal europeia, triunfante em 1919, parecia,
em fins dos anos 20, um organismo pálido e doente. A emergência dos autoritarismos
confirma, de facto, a regressão do demoliberalismo.

1.4 Mutações nos comportamentos e na cultura

No século XX a vida urbana sofreu grandes transformações. Verificou-se um grande


crescimento das cidades, principalmente devido à concentração de indústrias, comércio e
serviços que atraiam a população do campo.
Neste contexto, as cidades são centros de atividade relacionadas com a política, com o
comércio, com a administração, com a indústria e com os serviços públicos essenciais.

A nova sociabilidade urbana

A mudança vivida nas cidades levou inevitavelmente a uma mudança nos padrões de vida
tradicionais.
Verifica-se:
- anonimato e o individualismo;
- desagregação das solidariedades tradicionais;
- desumanização do trabalho, em que o trabalho operário passou a ser dominado pela
utilização da máquina de montagem, ou seja, pelo trabalho em série que explorava
fortemente o trabalhador.

Para além disso, surge nas cidades novos comportamentos, como o consumismo, as
maneiras semelhantes de vestir, as atitudes semelhantes e as novas maneiras de passar os
tempos livres, havendo a cultura do lazer.
Por fim, a estrutura familiar também sofre mudanças, pois legaliza-se o divórcio, o
casamento passa a ser algo pouco estável e com o desenvolvimento de métodos
contracetivos verificou-se uma redução da natalidade.

A crise dos valores tradicionais

A Europa proporcionava prosperidade económica e social que trouxe ao povo europeu um


sentimento de confiança e otimismo. Porém, quando se iniciou a primeira guerra mundial,
esses mesmos sentimentos deixaram de existir. A guerra resultou em inúmeras mortes, em
desequilíbrios sociais e na perda de poder da Europa, o que provocou nos europeus um
sentimento de pessimismo e medo em relação ao futuro da Europa. O pessimismo vivido
mudou a forma de pensar das pessoas e a ciência foi posta em causa, tal como o
casamento, o papel da mulher, a arte, a política democrática, o cristianismo e a lei.
Desta maneira, construiu-se um clima de anomia social, em que não havia regras ou
normas morais.
Este relativismo de valores, que tudo punha em questão, acelerou as mudanças já em
curso que, num turbilhão, invadiram o dia a dia das grandes cidades

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Anomalia social - Ausência de um conjunto de normas consistente e genericamente
aceite pelo grupo social.
A anomia pressupõe a fragilidade e a relativização dos valores que ditam a conduta dos
indivíduos. É uma característica das sociedades atuais em que as mudanças rápidas
impedem a consolidação de um código moral rígido.

uma crise na consciência europeia



- o choque da guerra;
- perda de confiança na ciência;
- incerteza e inquietação;
- medo e desespero;
- crise intelectual.

crise dos valores tradicionais

- crise dos valores humanistas;
- cedência da moralidade cristã;
- cedência do purismo burguês;
- subversão da ordem social tradicional;
- crise do demoliberalismo;
- crescente materialização da vida;
- anomia social.

uma nova sociabilidade urbana

- desenraizamento das pessoas;
- desagregação das solidariedades tradicionais;
- desumanização do trabalho;
- novos comportamentos dos anos 20;
- uma nova cultura de lazer e evasão;
- emancipação feminina.

Velha Cultura Nova Cultura

- valoriza a produção; - valoriza a abundância;


- carácter; - imagem;
- poupança; - consumo;
- trabalho; - ócio;
- papel tradicional da mulher; - emancipação feminina;
- tradição; - olhar para o futuro;
- família; - valoriza a individualidade;
- privilegia a cultura de elite. - cultura de massas.

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Os movimentos feministas

Feminismo - Movimento de contestação e luta empreendido pelas mulheres com vista ao


fim da sua situação de dependência e inferioridade relativamente ao sexo masculino.
As reivindicações do movimento feminista centra-se, pois, na igualdade (jurídica, social,
económica, intelectual e política) entre os dois sexos.

Durante a primeira guerra mundial, as mulheres ganharam mais poder, pois tinham de
substituir os homens enquanto estes estavam na guerra, passando a mulher a ser utilizada
na indústria, que apesar de proporcionar salários muito baixos, permitiu à mulher ganhar a
independência financeira que até aí não possuía.
Apesar da mulher ter conseguido poder financeiro, ainda não possuía poder social ou
político e, com o fim de lutar pela liberdade e pela igualdade de direitos, surgiram
movimentos feministas.
Entre as principais conquistas dos movimentos feministas no final dos anos 20, destaca-se o
reconhecimento às mulheres, em muitos países:
- do direito a participar em sufrágios eleitorais e a exercer funções políticas;
- da plena igualdade no quadro familiar e no trabalho.

Emancipadas e libertas de todos os preconceitos, as mulheres passam a conviver


socialmente:

● frequentam as festas, os clubes noturnos, sem necessitarem de companhia


masculina;
● viajam sozinhas, praticam desporto, fumam e bebem livremente em espaços
públicos;
● preocupam-se com a moda e apresentam-se elegantemente vestidas com saias até
ao joelho, travadas, sem terem problemas em evidenciar as formas físicas;
● passam a usar cabelo curto, cortado e penteado à garçonne;
● abandonam o espartilho e adotam o soutien, numa manifestação de repúdio por
todos os entraves à sua libertação.

1.4.2 A descrença no pensamento positivista e as novas conceções científicas

Relativismo - Abordagem científico-filosófica que admite a impossibilidade do


conhecimento absoluto e acredita que o conhecimento depende das condições, do
tempo, do meio e do sujeito que conhece.

No início do século XX, o pensamento ocidental revela-se contra este quadro de estrita
racionalidade valorizando outras dimensões do conhecimento. Nesta conjuntura intelectual,
a crença de que o ser humano conseguiria desvendar, com certeza absoluta, todas as leis
que regem o Universo e aplicar essas leis a todas as áreas do conhecimento, incluindo as
ciências sociais e humanas, é profundamente abalada com a formulação de teorias que
defendem a existência de áreas do conhecimento em que a certeza é impossível, não se
podendo ir além das probabilidades e da intuição.

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Abriam-se novos campos do conhecimento que, gradualmente, têm de abandonar o culto
ao racionalismo clássico, da certeza positivista e adotar a incerteza e o relativismo.
*(sistema filosófico que, banindo a metafísica e o sobrenatural, se funda na consideração do
que é material e evidente).
Enquanto Einstein deu início à teoria da relatividade, que negava a característica absoluta
do espaço e do tempo, afirmando que dependiam um do outro, eram relativos. Várias
teorias modificaram completamente o conhecimento que se tinha até aí sobre o universo,
pois passou a haver a consciência de que a certeza era impossível.
Freud contrariou a ideia de que o homem apenas obedecia à razão e que era capaz de
controlar todos os seus impulsos através da vontade.
Criou a psicanálise, isto é, um método de pesquisa que incide na análise de sonhos e de
pensamentos, chegando à conclusão que os comportamentos humanos eram comandados
por impulsos inconscientes, que resultavam da história de vida, nomeadamente de
recordações e de pensamentos.

Psicanálise - Ciência psicológica criada por Sigmund Freud que abarca um corpo doutrinal
teórico (sobre o psiquismo), um método de pesquisa e um processo terapêutico.
A psicanálise abriu à psicologia um novo campo de fenómenos (o inconsciente), através
do qual procura explicar comportamentos até aí tidos como inexplicáveis.

1.4.3 As vanguardas: ruturas com os cânones das artes e da literatura

A crise do pensamento positivista e as novas conceções científicas acabaram por se refletir


na produção cultural da primeira metade do século XX.
Com efeito, nos inícios do século, jovens artistas e homens das letras, na sua maioria
desconhecidos nos grandes fóruns intelectuais, aceitando a relatividade do conhecimento
e as teses psicanalíticas de Freud, constituem-se como movimentos de vanguarda cultural
e iniciam-se num conjunto de experiências inovadoras, que acabam por revolucionar as
velhas concepções plásticas e literárias ao proporem uma estética inteiramente nova. Este
movimento cultural ficou conhecido como modernismo.

Modernismo - Movimento cultural das primeiras décadas do século XX que revolucionou


as artes plásticas, a arquitetura, a literatura e a música, estendendo-se também às
restantes manifestações culturais. O modernismo reivindica a liberdade de criação
estética repudiando todos os constrangimentos em especial os preceitos académicos.

Vanguarda cultural - Movimento inovador no campo artístico, literário ou em qualquer


outra área cultural que rejeita os cânones estabelecidos e antecipa tendências anteriores.

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Fauvismo - Corrente vanguardista, marcadamente francesa, iniciada em 1905 e liderada
pelo pintor Henri Matisse. Defende o primado da cor e utiliza-a com total liberdade, em
tons fortes e agressivos, negligenciando a precisão da representação. Como grupo, os
fauves tiveram uma curta duração desmembrando-se por volta de 1908.

Como movimento de vanguarda, os fauvistas repudiaram o convencionalismo académico da


pintura tradicional patente no traçado rigoroso da perspectiva e pormenorização das
formas. Em contrapartida, afirmam a autonomia da obra de arte relativamente à realidade
que motivava as produções clássicas.
Os Fauvistas defendem o primado da cor sobre a forma. É na cor onde os artistas
encontram a sua forma de expressão artística, deve ser, por isso, utilizada com toda a
liberdade. A cor desenvolve-se em grandes manchas que delimitam planos.
É aplicada de forma pura em tons intensos, sem sombreados, porque o claro escuro estraga
a verdadeira beleza da cor. Finalmente, a cor é independente da realidade, ou seja, quando
o pintor desenha uma árvore as cores não têm que ser necessariamente castanho (no
tronco) e verde (nas folhas), podem ser por exemplo azul e amarelo.

● utilização de cores puras;


● emprego arbitrário da cor;
● simplificação das formas;
● influência da arte primitivista;
● não compromisso com a representação fiel à realidade;
● natureza morta/ambientes naturais/retratos;
● impulsivo;
● emotivo e subjetivo;
● liberdade total.

O movimento fauvista foi de curta duração. Os grandes pintores fauvistas foram: Henri
Matisse, André Derain, Georges Rouault, Maurice de Vlaminck

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Expressionismo - Designa as formas artísticas que tendem para a expressão subjetiva e
emotiva. Num sentido restrito, designa uma corrente de vanguarda das três primeiras
décadas do século XX, marcadamente alemã, que proclama como objetivo da arte a
representação de emoções e insiste na escolha de temas fortes de índole psicológica e
social.

Este movimento artístico desenvolveu-se em algumas cidade alemãs, tratava-se de jovens


pintores libertários, fortemente críticos do conservadorismo e da moral dos burgueses de
que pretendiam afirmar-se como ponte de união de todos os elementos agitadores e
revolucionários.
Foram apelidados de expressionistas porque, nas suas produções artísticas, repudiaram a
materialização de impressões objetivas e afirmaram a pintura como expressão instintiva e
individual de sentimentos, energias e tensões inerentes à vida humana e à aventura da
existência. Assim, visaram denunciar o mal-estar vivido nas primeiras décadas do século,
sobretudo nas classes operárias oprimidas e exploradas, provocado pelo ambiente de
tensão política, pelos desajustes sociais e pela crescente massificação e consequente
desumanização das cidades e do trabalho. Criticar o conservadorismo e a moral burguesa.
Nas pinturas expressionistas alemãs, predominam cenas de rua e retratos.

● deformação intencional das imagens visuais;


● grandes manchas de cor, intensas e contrastantes;
● temáticas pesadas (angústia, desespero, sexo, morte e a miséria social);
● impulsivo e individualista;
● formas primitivas e caricaturas;
● subjetivo;
● forte tensão emocional.

O grupo Die Brücke era constituído por: Kirchner, Heckel, Bleyel e Schmidt-Rottluf, já o
grupo Der Blaue Reiter, composto por Vassily Kandinsky, Franz Marc, Otto Dix e Emil Nold.

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Cubismo - Movimento artístico iniciado por Picasso e Braque, cerca de 1907, que rejeita a
representação do objeto em função da perceção ótica e a substitui por uma visão
intelectualizada globalizante de tipo geométrico. Distingue-se entre o cubismo analítico e
o cubismo sintético.

Combinando os diferentes planos em que o objeto pode ser observado, os pintores


cubistas conseguem desmantelar por completo a perspectiva, a regra máxima da
representação clássica, e propor uma visão intelectualista do espaço. Ora para os cubistas,
além da realidade imediatamente visível, existe outra realidade que só pode ser vista em
diferentes momentos e quando observada nos seus diversos ângulos de visão.

Características gerais do cubismo:

● geometrização das formas;


● perspetiva bidimensional;
● inspiração na cultura primitiva e africana;
● liberdade criativa;
● destruição completa das leis da perspetiva;
● distorção e fragmentação dos objetos;

Fase do Cubismo Analítico - criado no verão de 1908 e onde se destacam Picasso e Braque.

● tons monocromáticos (azul, cinzento e castanho);


● destruição das leis das perspetivas;
● geometrização e simplificação das formas (cones, cilindros, cubos, poliedros);
● criação subjetiva;

Fase do Cubismo Sintético - surgiu no fim de 1911, quando o cubismo analítico já tinha sido
levado ao extremo.

● utilização de materiais do quotidiano como recortes de jornais, tecidos, cordas,


vidros, madeira, entre outros;
● sobreposição dos materiais;

17
● ideia de relevo;
● uso de cores.

Abstracionismo - Movimento artístico que rejeita o tema ligado à realidade concreta, à


descrição do visível. A obra de arte abstrata procura uma linguagem universal capaz de
superar as diferenças intelectuais e culturais dos espectadores.

O abstracionismo surgiu na Rússia, em 1910, e esta vanguarda artística rompe com as


últimas manifestações da arte figurativa e de perspectiva clássica que ainda persistiam na
produção plástica. Constitui, por isso, o culminar da pintura liberta de todas as
preocupações representativas enquanto expressão absoluta da abstração. Assim, nas
produções abstratas, o objeto desaparece totalmente, resultando uma pintura, não mais do
que um conjunto, harmonioso ou não, de linhas, de cores e de formas que, aparentemente,
nada representam, a não ser uma emoção ou um estado de espírito do seu criador.
Ao representarem as suas emoções, os artistas abstracionistas colocam na tela o seu
mundo interior, numa realidade subjetiva, oculta e mais profunda.
Esta corrente desenvolveu-se em dois caminhos opostos:

Abstracionismo lírico:

● não figurativo;
● subjetivo;
● anula a representação da realidade;
● linguagem assenta nas cores, linhas e geometrização;
● explosão de manchas de cor, linhas e formas sem significado aparente;
● originalidade;
● relação analógica com a musicalidade.

Abstracionismo geométrico:

● formas geométricas básicas e redução da paleta de cores (cores primárias)


complementadas com cinzento, preto e branco;
● objetivo (supressão de qualquer emotividade pessoal);
● simplificação;
● formas geométricas simples (quadrado e retângulo);

18
● originalidade:
● racionalidade.

Futurismo - Movimento artístico criado pelo escritor F.Marinetti em 1909. Caracteriza-se


pela rejeição total da estética do passado e pela exaltação da sociedade industrial.
Os futuristas nutrem particular admiração pela tecnologia moderna e pela velocidade.

Os futuristas desenvolveram uma batalha sem tréguas contra as formas culturais


tradicionais de inspiração burguesa. Repudiaram de forma absoluta os valores do passado e
reivindicaram exclusivamente o culto do futuro, através da exaltação da tecnologia, da
cidade, as luzes elétricas, as máquinas, os aviões, as locomotivas, a beleza do movimento,
a dinâmica do movimento. Assumem a agressividade, a violência da guerra, o militarismo e
o patriotismo.

● representação dos corpos e máquinas em movimento;


● ambientes ruidosos e dinâmicos (cidade);
● glorifica o automóvel, as luzes, os sons;
● linhas e formas sobrepostas;
● geometrização das formas;
● decomposição dos planos;
● fracionamento do objeto;
● utilizado como propaganda para o fascismo (revistas, cartazes, exposições,
espetáculos).

19
Dadaísmo - Movimento de contestação artística que recusa todos os modelos plásticos e a
própria ideia de arte. Nascido na Suíça, em 1916, o dadaísmo difunde-se
internacionalmente e atinge o seu apogeu em França, cerca de 1920. Verdadeiramente
desconcertante e inovador, levando ao extremo a espontaneidade e irreverência, Dada
influenciou os mais importantes movimentos artísticos da segunda metade do século XX,
como o Happening, a Pop Art e a Arte Conceptual. Diretamente, a via dadaísta
desembocou, por intermédio de alguns do seus membros (F. Picabia, Man Ray, Max Ernst,
André Breton…) no movimento surrealista.

20
De forma crítica e provocatória, os dadaístas, assumidamente niilistas, negavam a realidade
substancial, a verdade, as normas morais e cívicas e toda autoridade política.
O objeto fundamental dos dadaístas era negar todos os conceitos de arte e de técnicas
artísticas, vulgarizar a criação artística, pela dessacralização dos objetos e das técnicas.
Por conseguinte as características dadaístas são:

● despreza os fundamentos da arte;


● espírito vanguardista e de protesto;
● espontaneidade, improvisação e irreverência artística;
● anarquismo e niilismo;
● busca do caos e desordem;
● teor ilógico e irracional;
● destruição dos padrões de beleza;
● caráter irônico, radical, destrutivo, agressivo e pessimista;
● aversão à guerra e aos valores burgueses;
● rejeição ao nacionalismo e ao materialismo;
● crítica ao consumismo e ao capitalismo.

Surrealismo - Movimento estético iniciado em França, em 1924, que, tendo aparecido no


campo da literatura, se estendeu rapidamente à pintura, à escultura e ao cinema. O
movimento surrealista fez a apologia da arte como mecanismo de projeção do
inconsciente, recorrendo aos mais diversos meios para expressar a realidade interior do
artista.

A
principal inovação introduzida pelo surrealismo é a sua estreita ligação ao pensamento
freudiano. Negando a razão na sua superintendência dos comportamentos humanos, os
surrealistas afirmam que o inconsciente é altamente condenado pelo pensamento. Assim
as obras surrealistas são dominadas pela expressão interioridade nos seus níveis mais
recônditos do inconsciente, considerada a realidade mais autêntica.

Na literatura:

21
● refletem as transformações que ocorrem na ciência e na arte;
● romances fragmentados;
● escrita gramaticalmente sem sempre correta;
● falta de rigor na construção frásica;
● surge o anti-herói, alguém que sofre e que é fraco, ou seja, mais humano,
● procura outra realidade.

Na arte:

● expressividade espontânea;
● influência das teorias da psicanálise;
● valorização do inconsciente.
● libertaram a figuração do sujeito ao modelo, distorcendo as formas e utilizando
arbitrariamente as cores, sem entender a fidelidade ao mundo real;
● desconstruíram o espaço pictórico que, desde o Renascimento, se organizava
segundo as leis da perspetiva;

Nova Objectividade

Surgiu na Alemanha, no pós-primeira guerra mundial. Retrata os problemas económicos e


políticos da Alemanha, através da caricatura e da crítica social. Esta vertente foi iniciada
durante os anos 20 e teve o objetivo de reagir ao expressionismo. Com a derrocada da
República de Weimar e o início da tomada do poder pelo partido nazista, a Nova
Objetividade terminou. Com influência em diversas outras escolas posteriores, o movimento
teve a aplicação de seu conceito no cinema, fotografia, arquitetura, música, literatura e na
arte pictórica.

● Realismo acentuado;
● Desespero e tragédia;
● A técnica não importa, o que importa é a crítica.

1.5 Portugal no primeiro pós-guerra

22
1.5.1 As dificuldades económicas e a instabilidade política e social; a falência da 1º
República

Nos anos que se seguiram ao fim da Primeira Guerra Mundial, mantinham-se em Portugal
as dificuldades económicas e financeiras que se agravaram pela participação na guerra. Tal
como em toda a Europa, deu-se um clima de agitação social a que os frágeis governos
republicanos não conseguiam fazer face. Com a sua credibilidade cada vez mais minada pela
inoperância política, prenunciava-se a transição da democracia liberal para a ditadura.
❖ instabilidade governativa → devido ao parlamentarismo instalado;
❖ laicismo da República → a proibição das congregações religiosas, as humilhações
impostas a sacerdotes e a excessiva regulamentação do culto, entre outras medidas
granjearam à República a hostilidade da igreja e do país conservador e católico.

Nesta situação pouco favorável, a participação de Portugal na Primeira Guerra Mundial foi
fatal.

As dificuldade económicas e instabilidade social

Quando Portugal entrou na guerra, a instabilidade económica acentuou-se e o


descontentamento social aumentou bastante. A economia portuguesa dependia da
agricultura, que neste caso não era desenvolvida, verificando-se no Norte do país pequenas
propriedades onde não era possível haver investimentos, enquanto no Sul do país havia
grandes propriedades com o solo esgotado, o que resultou numa grande escassez de bens
(o porto de Lisboa, não conseguia fazer face aos estrangeiros.).
Para além disso, verificou-se uma queda na produção industrial (também causada pela
debilidade do setor dos transportes e das comunicações) que provocou um aumento no
défice da balança comercial. O governo ia ficando cada vez mais com menos receitas e com
mais despesas e, para resolver a situação, foi necessário multiplicar o dinheiro em
circulação, medida que teve efeitos muito negativos, porque desvalorizou a moeda,
aumentou a inflação e a dívida do país ficou cada vez maior. A inflação, por sua vez,
aumentou o custo de vida dos portugueses, agravando a fome com o aumento constante
dos preços.

❏ falta de bens de consumo;


❏ racionamento;
❏ especulação;
❏ produção industrial em queda;
❏ défice da balança comercial;
❏ dívida pública disparou;
❏ diminuição das receitas orçamentais e aumento das despesas.

multiplicação da massa monetária em circulação

desvalorização da moeda

inflação galopante

23
O processo inflacionista permaneceu para além da guerra, subindo o custo de vida e
afetando os que viviam de rendimentos fixos e poupanças, ou seja, as classes médias e os
operários, vítimas de desemprego e o operariado. A agitação social em 1919-1920 levava a
frequentes greves organizadas pelas anarco-sindicalistas que recorriam a atentados
bombistas.

O agravamento da instabilidade política


A política era baseada nas oposições dentro do próprio partido republicano, pois todos
queriam ter mais poder, o que resultou na desagregação do partido em pequenas facções,
continuando a haver divergências políticas. Neste contexto, os republicanos foram ficando
cada vez mais divididos, sendo que nunca se verificaram maiorias parlamentares, que
seriam necessárias para a estabilização política.
Assim, devido aos desentendimentos dentro da política Portugal teve inúmeros governos
que duraram muito pouco tempo e que quando caiam davam lugar ao seguinte que
também iria durar pouco, pois não se verificava um trabalho conjunto entre as diferentes
facções republicanas.
Devido à situação económica e aos sucessivos falhanços do governo, começou a verificar-
se contestações sociais, pois não havia competência da parte do governo para estabilizar a
situação do país. As classes médias sentiam-se traídas pela República, já que o seu poder de
compra diminuía consideravelmente da década de 10 para 20; o operariado organizava
greves inspiradas pelos ideais bolchevistas. Verificou-se uma agitação social muito violenta,
com manifestações, greves e atentados bombistas, onde o governo devido à sua
incompetência não conseguia impor ordem.
A 5 de dezembro de 1917, deu-se um golpe de Estado liderado por Sidónio Pais, um militar
muito apoiado pela burguesia e proprietários:
❏ dissolveu o Congresso;
❏ proibiu partidos republicanos;
❏ destituiu o presidente;
❏ instaurou uma ditadura onde concentrava em si todos os poderes do Estado;
❏ alterou a constituição portuguesa de 1911;
❏ mudou a lei eleitoral de modo a garantir a sua eleição para presidente da República.

*Sidónio Pais foi assassinado por um opositor.


Os monárquicos tentaram várias vezes instaurar uma monarquia. Em janeiro de 1919,
houve uma guerra civil, em Lisboa e no Norte, onde os monárquicos, aproveitando a
fragilidade do partido republicano, proclamaram uma monarquia que durou, apenas, um
pequeno período. A Igreja, revoltada com o anticlericalismo e o ateísmo republicano (foram
retirados todos os bens à Igreja e esta tornou-se aliada das facções conservadoras de forma
a recuperar o seu poder. Em 1917, as aparições de Fátima exacerbaram o fervor religioso e
tiveram um papel importante no declínio do anticlericalismo. A população quer um governo
autoritário e forte que consiga garantir a paz e solucionar todos os problemas. A população
seguia o exemplo de Primo de Rivera (ditador espanhol) e Mussolini (ditador italiano). Eram
agora antiparlamentares e antidemocratas.

A falência da 1º República

24
Como o governo não dava sinais de conseguir controlar a agitação social ou os problemas
financeiros e económicos, crescia pelo país a vontade de um governo, que possibilitasse a
instalação da ordem e da estabilidade económica. Neste contexto, as características
económicas, sociais e políticas contribuíram para enfraquecer o regime republicano em
Portugal e para o tornar mais vulnerável a golpes militares. Desta forma, ocorreu o golpe
militar de 28 de maio de 1926, dirigido pelo General Gomes da Costa, que teve como
resultado a queda da Primeira República e a instalação de um regime de ditadura militar,
em que o novo governo terminou com as liberdades individuais, impondo ordem no país.

❏ dissolveu o poder;
❏ ditadura militar;
❏ Mendes Cabeçadas era o líder do governo.

Iniciou-se um período de paz e de estabilidade, sem manifestações, no entanto, os


problemas económicos não foram resolvidos: chamou-se um professor de Coimbra, Oliveira
Salazar.

1.5.2 Tendências culturais: entre o naturalismo e as vanguardas


Enquanto as vanguardas se desenvolviam no resto da Europa, Portugal permanecia com a
literatura classicista e com a pintura académica, abordando temas de realismo popular e de
naturalismo. Porém, com a agitação social vivida, começaram a surgir movimentos de
vanguardas pelo país. Surgiu o modernismo que foi divulgado em revistas e exposições.
O modernismo na literatura teve dois momentos:
● o primeiro modernismo foi praticado pela revista Orpheu, que o introduziu no país
com a publicação de poemas de contestação à antiga ordem literária, de Almada
Negreiros, Fernando Pessoa, entre outros e com a publicação de pinturas futuristas.
A revista foi considerada um escândalo e acabou por ser proibida a sua publicação,
pois continha gostos e padrões culturais que o regime não aprovava.
● O segundo modernismo foi praticado pela revista Presença, que continuou o
trabalho da revista Orpheu, na luta pela liberdade da crítica e contra o academismo.
Esta revista recebeu igualmente críticas.
Ao mesmo tempo, verificou-se o modernismo na pintura, na escultura e na arquitetura. A
pintura era divulgada em exposições independentes e consistiam em caricaturas da sátira
social e política e cenas boémias. Tal como na literatura, a pintura foi igualmente criticada e
considerada escandalosa. A escultura não teve muito sucesso e acabou por ser também
proibida pelo regime. Por fim, a arquitetura caracterizou-se pelo uso de vidro nos terraços,
de betão armado e da linha reta sobre a curva.

25
2.1 A

grande depressão e o seu impacto social


Uma vez ultrapassados os obstáculos iniciais, a economia internacional registou elevados
níveis de prosperidade até finais da década: serão os “felizes anos vinte”. Os Estados Unidos
beneficiavam de um período de constante desenvolvimento, na indústria automóvel, de
eletrodomésticos e na produção de energia.
❏ economia fortalecida;
❏ novos produtos e tecnologias;
❏ salários aumentavam e desemprego diminuía;
❏ política de facilitação de créditos (empréstimos);
❏ bolsa de valores de NY atraia muitos investidores, sobretudo para os novos setores
como as empresas automóveis, de aviação, de rádio, entre outros. As pessoas
passaram a investir na compra de ações.

2.1.1 A dimensão financeira, económica e social da crise


A partir de 1927, começou-se a sentir os primeiros sinais de fragilidade da economia
americana. Os EUA sofriam de graves carências estruturais, nomeadamente, junto do setor
agrícola e das indústrias tradicionais (têxtil, ferroviária), que, em oposição às mais dinâmicas
(automação, eletrodomésticos), estavam defasadas do resto da economia.
No entanto, o móbil da conjuntura da crise consistiu sobretudo no crescente processo de
inflação do crédito.

A produção continuou a aumentar, graças aos créditos, mas a queda dos preços (deflação)
indicava uma redução da procura, o que redundou numa série de falências estendidas a
todo o mundo.
*o poder de compra e o consumo eram mantidos de forma ilusória→ recurso a crédito

Resumindo, a especulação da Bolsa falhara, originando uma superprodução insustentável


pelos consumidores e, por conseguinte, o encerramento das indústrias, arrastando consigo
o desemprego. A crise generalizou-se e começou, então, uma fase de depressão, de
regressão económica.

❏ aumento do desemprego devido à intensa mecanização nas indústrias;

26
❏ desvalorização da moeda (o que levou ao protecionismo);
❏ superprodução que originava baixa dos preços e queda de lucros;
❏ desemprego e consequente perda do consumo e do poder de compra;
❏ instabilidade social e económica levou ao abrandamento das indústrias como a
construção civil e a indústria automóvel;
❏ a compra de ações aumentou consideravelmente o que favoreceu a especulação,
isto é, os valores das ações aumentaram o que acentuou o desfasamento entre o
valor real das empresas e o seu valor em bolsa.

modernização dos processos produtivos + racionalização do trabalho



acumulação de stocks agrícolas e de matérias-primas

estagnação do consumo interno e externo

superprodução
A partir de 21 de outubro, rumores que as empresas estavam a perder valor começaram a
circular, o que levou a que milhares de pessoas começassem a vender as suas ações.
A 24 de outubro de 1929 (quinta-feira negra), milhões de ações foram postas à venda a
preços baixíssimos e sem compradores. Esta catástrofe ficou conhecida como Crash de Wall
Street, e nos meses em que se seguiram, centenas de milhares de acionistas ficaram na
ruína, pois não havia quem comprasse as suas ações. Uma vez que a maioria das ações
tinham sido compradas com recurso ao crédito, centenas de bancos fecharam porque não
tinham como ser reembolsados. Bancos retiraram os bens (casas, automóveis, …) a famílias
que não tinham como pagar os seus débitos, empresas faliram, o desemprego disparou, a
produção industrial diminuiu e os preços baixaram. Agricultores destruíam as suas
produções de modo a que os preços dos produtos não diminuíssem.
Os Estados Unidos entram numa grande crise que originou manifestações violentas, greves
e um grande descontentamento social.

diminuição do consumo ↔ falência das empresas ↔ desemprego

Crash bolsista - Termo empregue nas operações financeiras de bolsas de ações para
caracterizar a quebra de valores dos papéis e títulos postos à venda.

Deflação - Situação económica, geralmente de crise, caracterizada por uma diminuição


dos preços, do investimento e da procura, acompanhada de uma progressão do
desemprego. Frequentemente, são os Estados que originam essa situação no intuito de
combater a inflação dos meios de pagamento, a especulação e a alta de preços. Para o
efeito, diminuem a quantidade de papel-moeda, restringem o crédito e reduzem os gastos
do Estado.

ruína dos accionistas /dificuldades financeiras


27
empréstimos não reembolsados/ retirada dos depósitos dos bancários

dificuldades bancárias/afundamento do sistema de crédito

baixa da procura, dos preços, do investimento, produção, dos lucros

falências desemprego

depressão

2.1.2 A mundialização da crise; a persistência da conjuntura deflacionista


A Grande Depressão propagou-se às economias dependentes dos Estados Unidos: aos
fornecedores de matérias-primas e àqueles cuja reconstrução se baseava nos créditos
americanos.
À Europa, toda ela dependente ainda dos empréstimos dos EUA, estes pediram que ela
lhes pagasse todas as suas dívidas. A Europa, que estava ainda a recuperar-se, não tinha
como pagar aos Estados Unidos. Estes viram-se obrigados a fechar fábricas americanas que
se localizavam na Europa, o que veio, não só aumentar o desemprego e consequentemente
diminuir o poder de compra europeu, como levou a que países fornecedores de matérias-
primas vissem as suas exportações a diminuir.

2.1.3 O intervencionismo do Estado

Intervencionismo - Papel ativo desempenhado pelo Estado no conjunto das atividades


económicas a fim de corrigir os danos ou inconvenientes sociais derivados da aplicação
estrita do liberalismo económico. Concretizou-se no controlo dos preços, em leis sobre os
salários, na legislação do trabalho e de carácter social. O intervencionismo esteve também
na origem da participação do Estado como empresário e produtor dos serviços públicos.
Entre estes, contam-se a produção de energia, os caminhos de ferro, os correios, os
telefones.

New Deal - É a expressão pela qual ficaram conhecidas as reformas e iniciativas


económicas e sociais implementadas pelo presidente Franklin Roosevelt, a partir de 1933.
para ultrapassar a Grande Depressão. O New Deal assentou numa forte intervenção na
Banca e nos créditos, que foram incentivados, na atribuição de prémios de produção, no
reajustamento entre nível salarial e o dos preços, na desvalorização do dólar e numa
política intensiva do comércio externo.

Segundo o Keynesianismo, o Estado deveria ter um papel ativo de organizador da


economia e de regulador do mercado. Em 1932, os EUA elegeram Franklin Roosevelt como
novo presidente e este, seguindo as ideias de Keynes, decidiu, pela intervenção do Estado
na economia americana, pôr em prática um conjunto de medidas que ficaram conhecidas
por New Deal.

28
Na primeira fase (1933-1934), o New Deal estabeleceu como metas o relançamento da
economia:
❏ encerro temporário dos Bancos;
❏ desvalorização da moeda americana de modo a aumentar as exportações e os
preços dos produtos;
❏ diminuição das dívidas dos agricultores;
❏ limitação da produção agrícola e industrial;
❏ conceder indemnizações e empréstimos aos agricultores;
❏ fixação do preço dos produtos industriais;
❏ conceder subsídios a algumas empresas;
❏ fixação do horário semanal;
❏ estabelecimento de um salário mínimo;
❏ autorização da liberdade sindical e do direito à greve;
❏ criação de um organismo estatal que ajude a população a arranjar emprego;
❏ desenvolvimento de um programa de obras públicas;
❏ contratação de jovens desempregados para trabalhos de conservação (plantação de
árvores, manutenção de parques).

A segunda fase (1935-1938) do New Deal era de cunho social:


❏ criação de um seguro de velhice e de sobrevivência;
❏ criação de um sistema federal de apoio à velhice e à assistência médica.

Os Estados Unidos tornaram-se um Estado-Providência, isto é, o Estado intervencionista


promove a segurança social de modo a garantir a felicidade, bem-estar e o aumento do
poder de compra dos seus cidadãos. Estas medidas levaram ao aumento do emprego, do
poder de compra, da produção, da construção de obras públicas e à criação de programas
de assistência social. O país modernizou-se e a qualidade de vida da população melhorou.

2.3.2 Os governos de Frente Popular e a mobilização dos cidadãos

Em França e em Espanha surgiu um governo de frente popular, devido às dificuldades


económicas e à instabilidade política.
A Frente Popular em França integrou socialistas reformistas, comunistas e partidos
radicais, que denunciaram o avanço do nazismo, e criaram medidas para relançar a
economia e melhorar as condições de vida dos trabalhadores, acabando por ganhar as
eleições.
Assim, os governos de frente popular adotaram uma política intervencionista:
- nacionalizaram o banco de França;
- desvalorizaram a moeda;
- impulsionaram a legislação social, com greves e ocupações de fábricas;
- aumentaram a escolaridade obrigatória;
- nacionalizaram setores da economia.
A ação dos governos resultou em acordos laborais que aumentaram os salários, reduziram
as horas de trabalho e implementaram o direito a férias, o que permitiu aos trabalhadores

29
terem poder de compra e a criação de mais empregos, combatendo-se assim a crise e
melhorando as condições de vida.
A Frente Popular em Espanha integrou socialistas e comunistas que tiveram a necessidade
de aumentar o protesto, uma vez que a situação económica se ia agravando cada vez mais.
Devido à crescente contestação, o governo demite-se, sendo proclamada a República, em
que a Frente Popular vence as eleições e dá início a um intenso programa de reformas
políticas e sociais favoráveis aos interesses das classes trabalhadoras.
É decretada:
- a separação entre a Igreja e o Estado;
- o direito à greve, ao divórcio e à ocupação das terras;
- os salários são aumentados.
Perante tais medidas, os partidos nacionalistas de direita e monárquicos formam a Frente
Nacional que, opondo-se à Frente popular, dá início à guerra civil.

2.2 As opções totalitárias

Totalitarismo - Sistema político, no qual o poder se concentra numa só pessoa ou num


partido único, cabendo ao Estado o controlo da vida social e individual

2.2.1 Os fascismos, teoria e práticas

Fascismo - Sistema político instaurado por Mussolini, a partir de 1922. Profundamente


ditatorial, totalitário e repressivo, o fascimo suprimiu as liberdades individuais e coletivas,
defendeu a supremacia do Estado, o culto do chefe, o nacionalismo, o corporativismo, o
militarismo e o imperialismo.

Nazismo - Sistema político instaurado por Hitler na Alemanha, a partir de 1933, Para além
de partilhar os princípios ideológicos do fascismo, distinguiu-se pelo racismo violento,
fundamentando-o numa suposta superioridade biológica e espiritual do povo ariano, ao
qual pertenciam os alemães. Ao Estado nazi incubiria não só a preservação da raça
superior, libertando-a de contactos impuros - daí as perseguições aos judeus - mas,
também a sua expansão - do que resultou a teoria do ‘espaço vital’ e o imperialismo
alemão.

Corporativismo - Forma de organização socioeconómica que defende a constituição de


corpos profissionais de trabalhadores, patrões e serviços, que conciliam os seus interesses
de modo a promoverem a ordem, a paz e a prosperidade, ou seja, o bem-estar geral.
Os regimes nazi-fascistas rejeitam:
➔ o individualismo, pois em primeiro lugar estava os interesses do Estado;
➔ a igualdade, pois impõem a ideia de que existem raças superiores e raças inferiores;
➔ o liberalismo económico, pois privilegia os interesses individuais,

30
➔ os comportamentos baseados na razão;
➔ o sistema parlamentar, pois é uma forma de manifestar as fraquezas do poder;
➔ a democracia, pois é um regime considerado fraco e incapaz de contribuir para o
bem do estado;
➔ o pluripartidarismo que apenas gera discussões inúteis e divisões que põem em
causa a coesão e a força da Nação;
➔ comunismo e o socialismo, por conduzirem a divisões na sociedade que prejudicam
a afirmação internacional do estado.

Por outro lado, os regimes nazi-fascistas defendem:


➔ o militarismo, pois a violência impõe ordem e respeito;
➔ o ultranacionalismo, pois consideram a nação como um bem supremo;
➔ o socialismo nacional, na forma de corporativismo considerado como a melhor
forma de combater o internacionalismo comunista e a luta de classes. Contrapõe
uma forma de relações socioeconómicas através da qual patrões e operários
cooperam no mesmo objetivo de grandeza nacional, em vez de lutarem por
interesses individuais;
➔ o partido único;
➔ a autarcia, ao defenderem que o Estado deve ser autossuficiente, quer em produtos
agrícolas, quer em industriais;
➔ o autoritarismo do Estado como primeira condição para a prosperidade da Nação.
Propõe regimes de ditadura, estados nacionais;
➔ a formação de um homem novo, viril, apto para o comando, duro para si próprio e
os seus subordinados. Caracteriza-se por ter coragem, espírito de disciplina e rigor
no cumprimento do dever nacional. Despromovido de qualquer espírito crítico, deve
ser formado para acreditar, obedecer e combater;
➔ o culto do chefe da Nação;
➔ o imperialismo, ao defenderem que o nacionalismo deve ser ativo e ambicioso. Deve
impedir a Nação superior para fora das suas fronteiras, seja pela via diplomática, seja
pela conquista militar. As nações superiores devem subordinar as nações inferiores;

Os regimes nazi-fascistas atuavam de diversas maneiras de forma a impor os seus ideais:


➔ as milícias armadas e polícias políticas intervinham na repressão das greves e
manifestações, vieram a constituir as forças de sustentação do Estado,
transformando-se em forças policiais institucionais de repressão dos opositores ao
regimes;
➔ ocorriam manifestações de força e ordem, em que militares divulgavam os ideais de
orgulho nacional e de culto ao chefe da nação, cativando a população;
➔ eram ensinados aos jovens as regras do Estado e do chefe, a guerra e os valores
impostos, com o principal objetivo de formar potenciais servidores do regime e a
propaganda ia sendo cada vez mais intensa, controlando as pessoas, ao impor a sua
ideologia e os seus valores, prometendo ordem e estabilidade, prometendo o fim da
agitação social, apelando à superioridade da raça e prometendo emprego e
prosperidade económica.

31
As ideias e os valores fascistas eram incutidos nos jovens desde pequenos para que estes
amassem a sua nação. Estes faziam parte de organizações fascistas, de frequência
obrigatória, como as Juventudes Fascistas. Os rapazes e as raparigas frequentavam
organizações diferentes. Os primeiros aprendiam a prática do desporto e da violência,
enquanto que as raparigas deveriam saber cuidar do lar e os valores maternais. Nas escolas
os manuais estavam cheios de propaganda fascista, e os professores tinham de fazer um
juramento que eram apoiantes do regime. Os adultos, para se mostrarem bons cidadãos,
teriam de fazer parte do Partido Fascista e integrar sindicatos autorizados.
➔ repressão da inteligência, sendo que se controlavam as publicações, a rádio, o
cinema, os jornais e até perseguiam os intelectuais.
Alma coletiva

criação de meios de enquadramento

destinadas a veicular os princípios ideológicos fascistas

organizações militares fascistas de juventude, de frequência obrigatória

obediência total ao Estado

Propaganda - Conjunto de meios destinados a influenciar a opinião pública. Nos Estados


totalitários, a propaganda procura inculcar nas massas a sua ideologia e os seus valores
culturais e morais. Entre os meios utilizados, citam-se os discursos, a imprensa, panfletos,
cartazes, a rádio, o cinema, a televisão, marchas, canções, uniformes, emblemas,
manifestações.

Como referido anteriormente, o modelo económico dos regimes nazi-fascistas foi a


autárquica, com o propósito de tornar a nação autossuficiente e de resolver o nível de
desemprego. Para tal, foram adotadas políticas económicas de grande intervenção que
respondiam às necessidades do estado:
Na Alemanha, Hitler chegou ao poder com promessas de inverter a situação de
desemprego e de tornar a Alemanha independente dos empréstimos estrangeiros. Para tal,
foram tomadas políticas de grandes obras públicas, com o desenvolvimento de setores,
com o relançamento da indústria militar e com a reconstituição do exército e da força
aérea, de forma a preparar o país para a guerra. No geral, a Alemanha tornou-se
autossuficiente, a indústria desenvolveu-se e houve uma diminuição do desemprego.

A violência racista

Genocídio - Política praticada por um governo visando a eliminação em massa de grupos


étnicos, religiosos, económicos ou políticos. Embora a história registe múltiplos
genocídios, foram os regimes totalitários que levaram a extremos a prática do genocídio.

32
Antissemitismo - O mesmo que hostilidade aos judeus. No século XIX, o antessemitismo
asusmiu, em alguns países europeus, o carácter de racismo, ao identificar o povo judeu
como uma raça inferior e destruidora.
Esta forma forma de antissemitismo atingiu o auge no século XX, na Alemanha nazi,
originando a morte de milhões de judeus.

O nazismo instaurado por Hitler na Alemanha apostou muito no culto da violência e na


negação dos direitos humanos, uma vez que as milícias exerciam grande violência,
espancando e torturando pessoas e, mais tarde, a polícia política passou a exercer um
controlo ainda maior sobre a população. Assim, foi intensificado o racismo, pois Hitler
defendia que os povos superiores eram os arianos. A raça ariana, a que pertencia o povo
alemão, era considerada superior a todas as outras e, como tal, deveria manter-se pura,
eliminando as raças inferiores, consideradas impuras. Os nazis fomentaram assim a
natalidade entre arianos com boas qualidades e eliminaram deficientes e idosos. Para além
disso, perseguiram judeus, com o objetivo de os exterminar, pois consideravam que os
males da sociedade provinham dessa raça inferior. Para esse fim, proibiu-se o trabalho a
judeus, foram privados de ter nacionalidade, foram confiscados os seus bens, foram
destruídos os seus locais de culto e, por fim, muitos foram levados para os campos de
concentração onde foram explorados e mortos.
Mais particularmente, o fascismo instaurado por Mussolini em Itália e o nazismo instaurado
por Hitler na Alemanha diferiam nalguns aspetos:
O fascismo instaurado por Mussolini em Itália apostou muito no corporativismo, que
tinha como propósito ultrapassar as dificuldades industriais sem prejudicar o
desenvolvimento de outros setores:
➔ é permitida a propriedade privada, porém é necessário haver a intervenção do
Estado de forma a haver uma organização nacional da produção.

Para tal, criaram-se corporações de patrões e trabalhadores que promovem a colaboração
e conciliam os seus interesses. Desta forma, o Estado tem o poder de planificar a produção e
de dispensar os sindicatos, havendo assim um único sindicato nacional, que tinha a
responsabilidade de resolver eventuais conflitos que surgissem e de proibir greves.
As corporações ajudavam na planificação mais detalhada da aquisição de matérias, da
quantidade de produção e dos salários. Além disso, foram divulgadas campanhas que
mostravam os trabalhadores a serem explorados para conseguirem um nível elevado de
produção. Assim, aumentou-se a produção, o que fez diminuir as importações e o défice,
aumentando o número de exportações e ajudando na evolução de indústrias menos
desenvolvidas. Controlava-se ainda a subida dos direitos alfandegários, por forma a entravar
as relações comerciais com outros países, e investia-se na exploração dos territórios
coloniais, nomeadamente nas fontes de energia, minérios e borracha artificial.

2.2.2 O estalinismo
Estaline tinha como principais objetivos a construção irreversível da sociedade socialista e
a transformação da URSS numa grande potência mundial. Para tal, foi necessário tomar
medidas, nomeadamente, a coletivização e planificação da economia e a instauração de
um Estado totalitário.

33
Coletivização e planificação da economia
➔ reforçou o centralismo económico, nacionalizando todos os setores da economia, ou
seja, aboliu toda a propriedade privada;

O Estado apropriou-se da terra, do subsolo, das instalações fabris, das redes de


distribuição, do comércio e até de capitais e de outros rendimentos do trabalho. A oposição
a este processo por parte dos kulaks e dos nepmen provocou a repressão em massa da
população, o que resultou em milhões de mortos e deportados para campos de trabalho
forçado.

➔ implantou também a planificação económica, tanto no setor agrícola como no setor


industrial.
A economia era integralmente dirigida e subordinada a planos fixados pelo Estado, que
impunham metas de produção a atingir.
No setor agrícola, as terras de cultivo foram organizadas em quintas coletivas chamadas
Kolkhozes, em que as terras eram cultivadas em conjunto pelos camponeses. Assim, uma
parte da produção ficava para o Estado e a restante era dividida pelos camponeses,
registando-se um aumento da produção agrícola, nomeadamente na produção do trigo e na
produção do algodão. E os Sovkhozes eram também grandes propriedades dirigidas
diretamente pelo Estado, onde os trabalhadores auferem um salário fixo, normalmente
baixo.
O setor industrial funcionava de acordo com os planos quinquenais, o que proporcionou o
desenvolvimento da Rússia.
➔ O 1º plano teve como principal objetivo o desenvolvimento da indústria pesada, de
forma a garantir a independência económica do país.
➔ O 2º plano deu prioridade à indústria alimentar, de forma a proporcionar à
população produtos de consumo a baixo preço, para elevar o nível de vida.
➔ O 3º plano pretendia desenvolver a energia e a indústria química, mas foi
interrompido devido ao início da segunda guerra mundial.

A concretização e o sucesso dos planos constituíram outra manifestação da autoridade


central. Com efeito, considerando as dificuldades estruturais, a revolução estalinista só foi
possível:
- através de uma forte disciplina que passava pela imposição e pelos trabalhos
forçados;
- por deportações em massa de trabalhadores para locais onde eram necessários;
- pelo apelo ao empenhamento pessoal através da instituição de prémios, como
glorificações públicas;
- através de amplas campanhas de propaganda nacionalista que instituíram o culto a
Estaline a ao Estado soviético.
O comércio foi organizado à semelhança da propriedade rural, em cooperativas de
consumo local ou em grandes armazéns estatais.

Estado Totalitário

34
➔ transforma o centralismo democrático na ditadura do Partido Comunista (partido
único autorizado e monopoliza o poder), e assim eliminou todas as oposições ao
poder;
➔ ausência de liberdade intelectual, em consequência da liberdade de imprensa que
foi severamente reprimida, assim como a produção intelectual severamente, vigiada,
censurada e colocada ao serviço da propaganda do regime pela difusão dos ideais
socialistas e soviéticos;
➔ praticou-se a arregimentação das massas em organizações, os jovens inscritos nos
Pioneiros e depois as Juventudes Comunistas, aos trabalhadores tinham que estar
filiados aos sindicatos ligados ao partido comunista;
➔ elites com determinados privilégios, que punha em causa a igualdade social pela
eliminação das classes;
➔ impôs o culto ao chefe (“pai dos povos”) e do Estado, através de manifestações
culturais;
➔ cultivo à violência e a negação dos direitos humanos, pela forte ação da polícia
política (NKVD) que, perseguia, prendia e julgava.

2.4 A dimensão social e política da cultura


2.4.1 A cultura de massas

Cultura de massas - Conjunto de manifestações culturais partilhado pela maioria da


população. A cultura de massas é difundida pelos mass media, é típica das sociedades
industriais do século XX.

Media - Palavra inglesa que designa os meios de comunicação de grande impacto. Os


mass media (meios de comunicação de massas) dirigem-se a um público vasto,
heterogéneo e disperso.
● é estandardizada e produzida em série nas suas múltiplas formas, como qualquer
bem de consumo;
● é lançada a baixos preços no mercado;
● e efémera, uma autêntica cultura descartável, com o objectivo de proporcionar
prazer imediato;
● aborda os temas de maneira superficial, sem grandes preocupações literárias ou
estéticas;
● visa apaziguar tensões e angústias geradas no quotidiano laboral;
● visa homogeneizar um tipo de pessoa média, pela inculcação de valores e de
modelos comportamentais, através da publicidade e do marketing.

Na primeira metade do século, a imprensa, a rádio e o cinema, fizeram chegar todo o tipo
de mensagens a camadas cada vez mais vastas da população, afirmando-se como os
grandes veículos de difusão dos valores e das normas de comportamento.

Imprensa

35
Sob a forma de jornais e de revistas, dirige-se a um público cada vez mais vasto,
preferencialmente urbano, mas não descurando os meios rurais. É graças ao aumento de
consumidores que a imprensa se expande cada vez mais, isto proporcionado:

❏ progressos verificados na alfabetização das populações;


❏ desenvolvimento da qualidade de vida e generalização de novos hábitos de leitura;
❏ variedade e qualidade das publicações, bem como diversidade de informação
transmitida graças às modernas técnicas de impressão;
❏ carácter sensacionalista das notícias divulgadas por um jornalismo cada vez mais
dinâmico;
❏ desenvolvimento dos transportes que levavam a informação aos locais mais
recônditos, mais rapidamente.

Rádio
O mais poderoso veículo de informação. Para isso contribuiu:
❏ a criação de laços entre emissores e receptores, reduzindo o isolamento;
❏ a variedade e qualidade de géneros radiofónicos;
❏ os progressos verificados na difusão radiofónica e no fabrico dos aparelhos de
recepção;
❏ o interesse dos poderes políticos na generalização da expansão da rádio.

Cinema
Símbolo do desenvolvimento do capitalismo industrial, cedo o cinema passou a constituir a
maior atracção da época:
❏ os espectadores identificavam-se com os heróis e mitos e imaginavam os seus
mundos de sonho e de ilusão, em resposta às contrariedades da vida;
❏ a procura de novas formas de socialização nos meios urbanos.
❏ a facilidade de compreensão da mensagem nos filmes, não exigia grande formação e
actividade intelectual;
❏ o desenvolvimento da indústria cinematográfica permitiu tornar os preços mais
acessíveis;
❏ transformou-se numa arte onde se afirmam verdadeiros artistas de realização e de
representação que passaram a constituir novos modelos – as estrelas de cinema.

2.4.2 As preocupações sociais na literatura e na arte


cresceu o sentimento de que a literatura e a arte não possuíam um valor puramente
estético

tinham também uma missão social a cumprir
-
temáticas psicológicas ligadas à vida interior

desinteressantes para escritores dos anos 30
-

36
depressão económica gerada nos excessos do capitalismo liberal proporcionou-lhes novas
motivações e novas temáticas

a realidade material da condição humana

A literatura passa a associar as preocupações com os novos problemas sociais e políticos:


● os protagonistas deixam de ser personagens singulares e tornam-se tipos sociais.
● o tema fundamental era a luta entre exploradores e explorados, uma criação em
que o burguês capitalista representa todo o mal humano e em que o proletário
simboliza a defesa das verdade histórica e da justiça.

2.4.3 A cultura e o desporto aos serviços do Estado


As ditaduras compartilhavam o mesmo objetivo de colocar a cultura ao serviço do poder,
procurando assegurar que a criação intelectual contribuísse eficazmente para a construção
da “nova ordem” que defendiam.

Realismo Socialista - “Arte oficial" da União Soviética, estabelecida no período estalinista.


Defendida por Andrei Jdanov, em 1934, como a “descrição da realidade na sua dinâmica
revolucionária”, o realismo socialista dirige-se às massas, tendo como objetivo suscitar a
sua adesão ao regime. Os temas remetem geralmente para o mundo proletário e a vida
feliz dos trabalhadores na sociedade socialista.

Uma arte propagandista


A arte, a literatura e o cinema tinham a missão de exaltarem as conquistas do proletariado
e contribuir para a educação das massas. Para que esta tarefa tivesse êxito, era necessária a
utilização de uma linguagem acessível a todos, a linguagem do realismo.

artistas e homens de letras



agrupados em cooperativas de intelectuais, e a seguir a actividade de criação literária e
plástica, (realismo socialista) com parâmetros definidos pelo Estado:

● enaltecer conquistas do proletariado;


● enaltecer êxitos económicos resultantes da economia coletivizada e planificada;
● enaltecer empenhamento dos trabalhadores na construção do Estado socialista;
● enaltecer excelência do centralismo democrático;
● enaltecer grandes obras do Estado;
● enaltecer a figura do chefe.

Nos Estados totalitários conservadores, são idênticos os objetivos da criação artística, mas,
colocada ao serviço dos valores nacionais, a superioridade da raça ariana, na Alemanha, ou
a grandeza do povo romano, na Itália, por exemplo.

A politização do desporto

37
A disputa levada a cabo pelos competidores, identificados pelos símbolos nacionais, passou
a representar a disputa nacionalista dos países por que competiam. Deste modo, a
superioridade desportiva verificada nas diversas modalidades identificava-se com a
superioridade das nações em competição, tão frenética era a aclamação das vitórias por
parte das multidões.
- o desporto, espectáculo de massas, foi utilizado para fins propagandísticos;
- a sua internacionalização tornou-o susceptível de aproveitamento político;
- os eventos desportivos internacionais suscitam sentimentos nacionalistas e
patrióticos;
- o desporto era considerado essencial à formação do ser humano perfeito,
disciplinado, capaz de auto-controlo e sacrifício físico.

O Funcionalismo

Funcionalismo - Conjunto de soluções arquitetónicas inovadoras que marcam o início de


uma arquitetura verdadeiramente moderna. O funcionalismo une estreitamente a forma
e a função numa economia de custos de racionalidade de linhas, pondo em evidência a
estrutura volumétrica dos edifícios.

Numa Europa destruída havia necessidade de reerguer numerosos edifícios e de realojar os


seus cidadãos. Impunha-se uma construção simples e barata, mas digna. Só um
planeamento eficiente, altamente racionalizado podia suprir as carências habitacionais e
gerar o bem-estar de todos. Para isto, era necessário o corte radical com as fórmulas
arquitectónicas oitocentistas.
1º Funcionalismo [Revolução Arquitectónica]
● renovação da concepção de espaço, esta terá de ser prática e racional, ou seja,
funcional;
● volumes simples das casas;
● ausência de elementos decorativos;
● elevação do edifício sobre pilares;
● janelas rasgadas, de grandes dimensões;
● terraços;
● plantas livres (flexibilidade no uso do espaço).

2º Funcionalismo [Arquitetura + humanizada]


A arquitectura orgânica não nega o funcionalismo mas liberta-se dos seus dogmas.
● nova concepção de planta (1º delimitam-se os espaços interiores e só depois o
exterior);

38
● continua a ser uma casa funcional, à medida do homem, mas agora a escala, além de
física, é também espiritual;
● a concepção do edifício como um ser vivo que vai crescendo segundo as leis
biológicas, isto é, na sua construção o edifício cresce em harmonia com o ambiente
natural que se insere;
● a individualidade de cada solução, pois cada caso era singular e único, do que
resultava a rejeição da sobreposição de andares dos edifícios urbanos;
● a assimetria, a diversidade e a originalidade deveriam ser as determinadas da
composição e da organização do espaço;
● recurso a materiais inovadores e a novas tecnologias construtivas, com preferência
para os materiais característicos da região onde o edifício se insere.

As preocupações urbanísticas
Os debates sobre arquitetura e urbanismo originaram a primeira Conferência Internacional
de Arquitectura Moderna (CIAM), que foi seguida de muitas outras.
Depois de uma análise crítica de diversas cidades, as conclusões da conferência foram
publicadas na célebre Carta de Atenas. Segundo a Carta, a cidade deve satisfazer quatro
funções principais: habitar, trabalhar, recrear o corpo e o espírito, e circular. Numa lógica
estritamente funcionalista cada uma destas funções ocuparia uma zona específica da
cidade. As três zonas articular-se-iam por uma eficiente rede de vias de comunicação.

2.5 Portugal: o Estado Novo


2.5.1 O triunfo das forças conservadoras; a progressiva adoção do modelo fascista
italiano nas instituições e no imaginário político

Da Ditadura Militar ao Estado Novo (1933)


Após o golpe militar de 28 de maio (1926) a crise política e financeira agravou-se cada vez
mais. Neste contexto, António de Oliveira Salazar é nomeado para tratar das finanças do
país, cargo que aceita com a condição de ter o controlo geral das despesas públicas, de
forma a inverter a situação financeira vivida.
Salazar implanta medidas de controlo das despesas públicas e aumenta gradualmente os
impostos, o que resulta no equilíbrio do orçamento do estado e na eliminação do défice
público.
Com os resultados obtidos na gestão das finanças do país, Salazar começa a ganhar poder e
prestígio, que lhe permitem ser nomeado chefe do governo. Com Salazar no governo, inicia-
se a edificação do Estado Novo, que será constituído na Constituição de 1933.
O Estado Novo revelaria um forte autoritarismo e o condicionamento das liberdades
individuais aos interesses da nação, utilizando slogans como “estado forte” e “tudo pela
nação, nada contra a nação".

1928 - durante este tempo→ Portugal→saldo positivo no orçamento


1930 - foram lançadas bases orgânicas da União Nacional (partido único) e promulgou-se o
Acto Colonial (que estabelecia as regras de organização e assim das colónias)
1932 - Salazar na chefia do governo→ queria instaurar uma nova ordem política ↴

39
criou estruturas institucionais necessárias
1933 - publicação do Estatuto do Trabalho e da Constituição

Apoiantes de Salazar:
➔ hierarquia religiosa e devotos católicos;
➔ grandes proprietários agrários;
➔ alta burguesia ligada ao comércio colonial e externo;
➔ média e pequena burguesias;
➔ monárquicos;
➔ simpatizantes fascistas;
➔ integralistas;
➔ militares.

A progressiva adoção do modelo fascista italiano


O Estado Novo afirmou-se antiliberal, antidemocrático e anti-parlamentar. Salazar adota o
modelo fascista italiano e para impor a ordem social, são criadas um conjunto de
instituições:
- a União Nacional que deu lugar ao único partido autorizado;
- o Ato Colonial, que reafirma a missão civilizadora de Portugal nos territórios
ultramarinos e clarificava as relações de dependência das colónias;
- o Estatuto do Trabalho Nacional, que regulamentava a organização corporativista do
setor do produtivo nacional;
- a Constituição de 1933, que marcava a transição da ditadura militar para a ditadura
civil.
Neste contexto, em 1933 institucionalizou-se o Estado Novo, um regime autoritário,
conservador, nacionalista, repressivo e corporativista.
O Estado Novo era autoritário e dirigista:
● rejeita a liberdade e a soberania popular;
● rejeitava o sistema parlamentar pluripartidário;
● subalternizado o poder legislativo, o que sobressaía era a figura do presidente do
conselho;
● para Salazar, só a valorização do poder executivo garantia um Estado forte e
autoritário (constituição de 1933, reconhece autoridade do presidente da república
como primeiro poder dentro do Estado, independente da assembleia nacional,
parlamento);
atribui também grandes competências ao Presidente do Conselho (Primeiro
Ministro):
- pode legislar através de decretos-leis;
- pode nomear ou exonerar os membros do Governo;
- pode referendar os actos do Presidente da República, sob a pena de serem
anulados.↴
leva-nos a um presidencialismo bicéfalo

partilha de poderes entre as da república e do conselho

40
● segundo Salazar, a nação era um todo orgânico e não um conjunto isolado de
indivíduos.
por isso, resultaram duas consequências fundamentais:
- os interesses da nação sobrepõem-se aos interesses dos indivíduos;
- os partidos políticos constituíram um elemento desagregador da unidade da nação e
um factor de enfraquecimento do Estado.
● Salazar encarnou na perfeição a figura do chefe providencial, intérprete supremo do
interesse nacional.

O Estado Novo era conservador:


● família, rural, conservadora e tradicional devia ser a imagem da sociedade
portuguesa, em que a mulher era apenas esposa e mãe, não tendo qualquer
importância económica ou social e em que o homem era quem sustentava a família;
● consagrou o rural e a tradição como imagem das virtudes, (o mundo urbano e
industrial era para Salazar um espaço onde imperava a desordem e a indisciplina
geradas pela modernidade dos novos tempos e pela luta de classes da sociedade
industrial);
● protegeu-se a religião católica ⇾ grande ligação entre o Estado e a igreja;
● assentou em valores inquestionáveis: Deus, pátria, família, autoridade, paz social,
moralidade, etc.

O Estado Novo era nacionalista:


● Salazar afirmava que tudo pela nação e nada contra a nação;
● havia a glorificação da história de Portugal, através da consagração dos heróis e do
seu passado;
● união de todos os portugueses através da União Nacional;
● exaltação dos valores nacionais;
● criaram-se milícias nacionalistas de enquadramento de massas
● valorizava-se o estilo de vida português e os produtos nacionais.
A inculação destes valores fazia-se na escola que visava a formação de consciências
identificadas com a tradição, obediência, o respeito pela autoridade, o patriotismo e a
aversão à modernidade estrangeira.

O Estado Novo era repressivo:


● o interesse da Nação se sobrepunha aos interesses individuais;
● censura prévia à imprensa, teatro, cinema, rádio e televisão;
● perseguições e mortes aos opositores do regime;
● polícia política↠PVDE↠PIDE (polícia internacional de defesa do Estado);

o Estado Novo era corporativista (ordem, disciplina, autoridade):


● sistema económico e social estava organizado em corporações que integravam
patrões e trabalhadores (evitava conflitos sociais);
● juntamente c/ as famílias, as corporações concorriam para a eleição dos municípios.
corporações e municípios enviavam os seus delegados à câmara corporativa;

41
● empenhado na unidade da nação e no fortalecimento do Estado;
● nega a luta de classes propondo o corporativismo, onde as pessoas se reuniam
conforme a sua profissão para debaterem aquilo que as incomoda, chegando a um
consenso de interesses;
● casa do povo, casa dos pescadores, os grémios, sindicatos nacionais (corporações
económicas)/ instituições de assistência e caridade (corporações morais)/
universidades e as suas agremiações científicas, técnicas, literárias, artísticas e
desportivas (corporações culturais).

Personalizado no chefe - o culto da personalidade:


● consolidação do Estado Novo passou também pelo culto do chefe, que fez de Salazar
“salvador da pátria”;
● figura central da governação, interveniente em todos os setores da vida nacional, a
sua imagem estava presente em todos os lugares públicos, era venerado pelas
multidões.

O enquadramento das massas


A longevidade do Estado Novo pode-se explicar pelo conjunto de instituições e processos
que conseguiram enquadrar massas e obter a sua adesão ao projecto do regime.
➔ Secretariado da Propaganda Nacional (1933): papel activo na divulgação do ideal do
regime e na padronização da cultura e das artes;
➔ União Nacional (1930): para congregar “todos os portugueses de boa vontade” e
apoiar incondicionalmente as actividades políticas do governo.
A unidade da nação só foi conseguida com a extinção de partidos e com a limitação severa
da liberdade de expressão. Por isso, em 1934 a União Nacional é transformada em Partido
Único.
➔ Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho (FNAT) (1935) – destinava-se a
controlar os tempos livres dos trabalhadores, criando actividades recreativas e
“educativas” seguindo a moral do regime;
➔ Obra das mães para a Educação Nacional (1936) - destinada à formação das futuras
mulheres e mães;
➔ controlou-se o ensino, especialmente ao nível do primário e secundário, expulsou-se
professores opositores ao regime e adoptou-se o livro único;
➔ obrigou-se o funcionalismo público a fazer prova da sua fidelidade ao regime através
de um juramento;
➔ recorreu-se a organizações milicianas:
- Legião Portuguesa, destinada a defender o património espiritual da Nação, o
Estado corporativo e a ameaça bolchevista.
- Mocidade Portuguesa, destinava-se a ideologizar a juventude, incutindo-lhes
valores nacionalistas e patrióticos.

2.5.2 Uma economia submetida aos imperativos políticos


A economia do Estado Novo tinha como objetivo garantir a autossuficiência do país,
incrementando o nacionalismo económico. Ficou patente nas políticas financeira, agrícola,

42
de obras públicas, industrial e colonial adaptadas. Salazar conseguiu equilibrar as finanças
através do intervencionismo e da autarcia.
Salazar consegue equilibrar o orçamento, através da criação de novos impostos (imposto
complementar sobre o rendimento, imposto profissional sobre salários e rendimentos das
profissões liberais, imposto de salvação pública sobre os funcionários, taxa de salvação
pública sobre o consumo de açúcar, gasolina e óleos minerais leves) e o aumento das tarifas
alfandegárias sobre as importações, o que se relacionou com a redução das dependências
externas, ditada pelo regime de autarcia.
A autarcia conseguiu tornar Portugal menos dependente do exterior e o intervencionismo
divulgou campanhas de produção e incentivos à especialização de certos produtos.
Os novos impostos permitiram aumentar a receita fiscal e para além disso, a neutralidade
de Portugal na segunda guerra mundial, permitiu que não houvesse consequências
negativas, aproveitando-se Portugal das necessidades económicas dos países em guerra.
- mais receitas com as exportações (no caso do volfrâmio);
- reservas de ouro⇾níveis significativos⇾ estabilidade monetária;
- poupou-se nas despesas com o armamento e defesa do território.
estabilização financeira (o milagre)

conferiu uma imagem de credibilidade e de competência governativa ao Estado Novo

Defesa da ruralidade
Anos 30 ↠ exacerbado ruralismo
Ao privilegiar o mundo rural, preservava-se a simplicidade, a humildade, a família e o
trabalho.
Deu-se um fomento da agricultura, que proporcionava um meio de autossuficiência,
● construção de inúmeras barragens – melhor irrigação dos solos;
● a Junta de Colonização Interna fixou população em algumas áreas do interior;
● política de Arborização por parte do Estado melhorou alguns terrenos;
● fomentou-se a cultura da vinha – crescimento da produção vinícola;
● alargaram-se também as produções de arroz, batata, azeite, cortiça e frutas

De todas as medidas agrícolas, a que mais impacto teve pelos objectivos e resultados foi a
dinamização da produção do trigo, visando tornar o país autossuficiente neste sector ainda
fundamental da alimentação da população. Foram os tempos da Campanha do trigo, entre
1929 e 1937, que teve como objectivo alargar a área de cultura deste cereal. O crescimento
significativo da produção cerealífera forneceu a produção de adubos e de maquinaria
agrícola e deu emprego a milhares de portugueses.
O Estado concedeu proteção aos proprietários, adquirindo-lhes as produções (o mercado
do trigo foi completamente estatizado) e estabelecendo o protecionismo alfandegário.
*As colónias também foram um fator importante na economia portuguesa, pois permitiram a
venda de produtos nacionais e o abastecimento de matérias-primas baratas.

Obras públicas (combate o desemprego)

43
● a rede de caminhos-de-ferro não sofreu transformações de vulto a não ser no
material circulante e nos serviços prestados;
● a construção e reparação de estradas mobilizaram grandes esforços do regime
[duplicaram até 1950];
Forneceu a unificação do mercado nacional e proporcionou uma melhor acessibilidade
relativa aos mercados
● edificação de pontes (Lisboa, Aveiro, Leixões, Funchal);
● expansão das redes telegráfica e telefónica;
● obras de alargamento nos portos;
● aeroportos (embora em < escala) também mereceram a atenção do regime;
● construção de barragens;
● expansão da electrificação.
A política de obras públicas, que se tornou um dos símbolos orgulhosos da administração
salazarista inclui ainda a construção de edifícios públicos (hospitais, escolas, tribunais,
estádios, quartéis, prisões, universidades, bairros operários, estaleiros, pousadas, restauro e
monumentos históricos)

O condicionamento industrial
Num país de exacerbado ruralismo, a indústria não constitui prioridade para o Estado.
● o condicionamento industrial consistia na limitação, pelo Estado, do nº de empresas
existentes e do equipamento utilizado, pois a iniciativa privada dependia, em larga
medida, da autorização do Estado;
● defesa do nacionalismo económico;
● aumento da burocratização que dificultava a criação de empresas;
● regulação da atividade produtiva e da concorrência.

O condicionamento industrial levou:

● impediu a concorrência;
● protegeu empresas;
● favoreceu a concentração industrial em determinadas atividades, que o regime
acabaria por proteger, já que a burguesia empresarial a eles associada tornar-se-ia
o grande suporte social do regime;
● limitou a modernização, não existiram avanços tecnológicos e níveis de
produtividade foram arcaicos.

A liberdade dos agentes económicos era sacrificada ao interesse de um Estado que se


afirmava fortemente dirigista e intervencionista.
Tratava-se antes de mais de uma política conjuntural anti-crise. Mais do que o
desenvolvimento industrial, procurava-se evitar a sobre produção, a queda dos preços, o
desemprego e a agitação social.
Corporativização dos sindicatos
O Estado Novo publicou, em 1933, o Estatuto do Trabalho Nacional, um diploma que
estipulava que nas várias funções públicas os trabalhadores deveriam-se reunir em
sindicatos nacionais e os patrões e grémios. Estes negociavam entre si os contratos

44
coletivos de trabalho, estabeleciam normas e cotas de produção e fixavam preços e
salários. Evitava-se a concorrência, assegurava-se o direito do trabalho e o salário justo,
proibindo as greves e promovendo a riqueza da Nação e, consequentemente, o poder do
Estado.

A política colonial
O Ato Colonial, promulgado em 1930, e integrado na constituição de 1933, afirmou a
missão histórica civilizadora dos portugueses nos territórios submarinos, considerando-os
possessões imperiais. Não há colónias, há Portugal além-mar.
As colónias desempenharam uma dupla função no Estado Novo. Foram um elemento
fundamental na política de nacionalismo económico (tornaram-se mercados de escoamento
dos produtos industriais metropolitanos e fornecedores de matérias-primas baratas) e um
meio de fomento do orgulho nacionalista (forma de propaganda já que dava a ideia de que
Portugal era um país que abrangia um vasto território pluricontinental, e que resultava da
história e do papel civilizador de Portugal no mundo).
*Foram submetidas aos interesses nacionais.
O Estado Novo esforçou-se para incutir no povo português uma mística imperial, que uma
série de congressos, conferências e exposições ajudaria a propagandear (exposição colonial
do Porto em 1934 e a exposição do mundo português em 1940).

O projeto cultural do regime – a “Política do Espírito"


De forma a incutir em todos os portugueses os ideais do Estado Novo e de padronizar a
cultura e as artes, promoveu-se um projeto totalizante envolvido numa intensa propaganda
designada por “política de espírito”.
A produção cultural foi submetida aos interesses do Estado. Assim, valores defendidos pelo
regime como o espírito da Nação, o gosto popular, a tradição e o amor à Pátria deveriam
estar presentes em todas as formas de cultura, caso contrário, seriam censurados. Para
além de evidenciar o nacionalismo e a tradição, a arte deveria ser moderna e aberta ao seu
tempo. Os modernistas foram chamados a colaborar com o regime, promovendo uma
controversa e problemática união entre o conservadorismo e a vanguarda. Autorizou-se a
cultura mas restringiu-se a liberdade de produção cultural.
O Secretariado Nacional de Propaganda desenvolveu um programa de regeneração do
espírito português através da realização de múltiplas manifestações de carácter cultural e
social, cuidadosamente vigiadas pela censura, como exposições, congressos, inauguração de
grandes obras públicas, marchas, concursos, comédias cinematográficas e organização de
festas. Com isto, promoveu-se a educação popular, apoiaram-se artistas e o Estado Novo
ganhou reconhecimento internacional.

3.1 A irradiação do fascismo no mundo


As ideais fascistas e nazistas alastraram-se, não só pela Europa, como também pelo resto
do mundo.
Na década de 30, as ditaduras espalharam-se pelo continente europeu, alimentadas pelos
efeitos da Grande Depressão e pela descrença da democracia parlamentar em solucionar os
problemas.
Vários países europeus tornaram-se regimes conservadores e autoritários:

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- Portugal;
- os Estados Bálticos;
- Polónia;
- Grécia.
Na América Latina
- Brasil;
- Argentina;
- Chile;
Extremo Oriente
- Japão.

1. em 1936, a Alemanha e a Itália criaram um pacto militar (Eixo Roma-Berlim)


2. em 1936, a Alemanha e o Japão celebraram o Pacto Anti-Komintern, também
conhecido por Eixo Berlim-Tóquio, onde ambas as nações se comprometeram a
tomar medidas para se protegerem contra a ameaça da Internacional Comunista e a
que a Itália e a Espanha fascista dariam a sua adesão, mais tarde.
3. em 1939, foi oficializado uma aliança (alemanha e itália) entre estas duas potências
(Pacto de Aço).

3.2 Reacções ao totalitarismo fascista


As principais potências fascistas começaram a expansão do seu território e dos ideais
fascistas:
● Em 1931, o Japão invade a Manchúria e, em 1933, abandona a SDN;
● A Itália conquistou a Etiópia (1935-36) e a Albânia (1939);

em 1933, a Alemanha deixa a SDN ↠ em 1935 conquista o território do Sarre, estabeleceu


o serviço militar obrigatório ↠ em 1936, remilitarizou a Renânia.

em 1938 anexou a Áustria e, pelos acordos de Munique (30 de setembro de 1938), a
Alemanha recebeu a região dos Sudetas, na Checoslováquia.↴
em 1939, ocupa o resto da Checoslováquia.
em 1939, Hitler assinou com a URSS um pacto de não agressão, em caso de guerra, que
previa a partilha da Polónia e a invasão dos Países Bálticos e da Finlândia, algo que ia contra
as cláusulas do Tratado de Versalhes.
A Guerra Civil de Espanha opunha os nacionalistas liderados pelo General Franco
(monárquicos, católicos e conservadores) aos republicanos que defendiam os valores
comunistas da frente popular. Este conflito estendeu-se para além das fronteiras, já que
países como a Itália e a Alemanha dispuseram de apoio militar e económico aos
nacionalistas.
Além disso, Mussolini pretendia espalhar a ideologia fascista na Península Ocidental,
enquanto que Hitler testava o seu material bélico. Os republicanos apenas contaram com
uma pequena ajuda da URSS, o que facilitou a vitória dos nacionalistas, em 1939, e com ela
o aparecimento de mais um regime totalitário fascista na Europa.

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A França e a Grã-Bretanha inverteram a sua política externa de não interferirem nos
assuntos políticos dos restantes países, e proclamaram o seu apoio aos países ameaçados
pelo imperialismo Eixo nazi-fascista.
A 1 de setembro de 1939, a Alemanha invade a Polónia e, a 3 de setembro, a França e a
Inglaterra declaram guerra e a SDN dissolveu-se.

3.2.2 A mundialização do conflito


A 2ª Guerra Mundial (1939-1945) caracterizou-se, num primeiro momento, por um rápido
avanço da força do Eixo nazi-fascista (Guerra-relâmpago).
Os Eixos cometem as maiores atrocidades: tiram riquezas, obrigam a população a
trabalhar, torturam, massacram e remetem para campos de concentração.
Depois do Pearl Harbor (ataque militar surpresa que destruiu parte da frota americana) os
EUA e a URSS entram na guerra (1941).
A partir do verão de 1942, os americanos recuperaram o controlo do Pacífico e os
britânicos derrotaram os alemães no norte de África.
Nos últimos dois anos da guerra, o Eixo mostra-se mais enfraquecido.
O desembarque dos aliados na Normandia, em junho de 1944, e o avanço soviético para
ocidente libertam a Europa e aniquilam a Alemanha, que é derrotada a 8 de maio de 1945.
Na Ásia, o lançamento de duas bombas atómicas conduz o Japão à rendição.

➢ Nascimento e afirmação de um novo quadro geopolítico

1.1 A reconstrução do pós-guerra


1.11 A definição de áreas de influência

Quando o mundo emergiu da Segunda Guerra Mundial, era já clara a alteração de forças
nas relações internacionais. Antigas potências como a Alemanha e o Japão, que tinham
sonhado com grandes domínios territoriais, saíam da guerra vencidas e humilhadas. Outras,
como o Reino Unido e a França, embora vitoriosas, viam-se empobrecidas e dependentes da
ajuda externa. No quadro da ruína e desolação do pós-guerra, só duas potências se
agitavam: a URSS e os EUA.

Construção de uma nova ordem internacional: as conferências de paz


Entre 4 e 11 de Fevereiro de 1945, Roosevelt, Stalin e Churchill reúnem-se na conferência
de lalta, com o objectivo de estabelecer as regras que devem sustentar a nova ordem
internacional do pós-guerra.

● definiram-se as fronteiras da Polónia;


● estabeleceu-se a divisão provisória da Alemanha em 4 zonas de ocupação dirigidas
pelo Reino Unido, pelos Eua, pela URSS e pela França;
● decidiu-se a reunião da conferência preparatória da Organização das Nações
Unidas;
● estabeleceu-se a quantia de 20 000 milhões de dólares pelas reparações de guerra a
pagar pela Alemanha;

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● a divisão da Coreia em duas zonas de influência - o Norte, pela URSS, e o Sul pelos
EUA;
● a celebração de eleições livres nos estados subtraídos à ocupação nazi,
supervisionadas pelas potências vencedoras.

Conferência de Potsdam

A finais de julho do mesmo ano, reuniu-se em Potsdam uma nova conferência com o fim de
consolidar os alicerces da paz. Tinha como objetivo de ratificar e pormenorizar os aspectos
já acordados em Ialta:

● a perda provisória da soberania da Alemanha e a sua divisão em 4 áreas de


ocupação;
● a administração conjunta da cidade de Berlim, igualmente dividida em 4 sectores
de ocupação;
● o montante e o tipo de indemnizações a pagar pela Alemanha;
● o julgamento dos criminosos de guerra nazis por um um tribunal internacional;
● redefinição de um mapa político da Europa, sobretudo da Europa central e leste;
● divisão, ocupação e desnazificação da Áustria, em moldes semelhantes ao que
aconteceu na Alemanha.

O novo quadro geopolítico

No ocidente, a Europa também foi destruída e reconstruída graças às ajudas económicas


dos EUA, em cuja influência iria acabar por cair.
No leste, uma Europa também destruída, libertada da ocupação nazi e onde os governos
comunistas pós-soviéticos ascendem ao poder. A chamada Europa do Leste é constituída
pela Hungria, Roménia, Polónia, Bulgária, Checoslováquia e a República Federal Alemã. A
Albânia e a Jugoslávia também aderiram ao regime socialista, mas afastaram-se da esfera
soviética.
A divisão da Europa acabou por reforçar a desconfiança relativamente a Stalin e levou ao
endurecimento de posições dos dois blocos geopolíticos (comunismo e capitalismo) que
dividiram, já na Guerra Fria, o mundo.
1.1.2 Organização das Nações Unidas
Fundada em abril de 1945, na Conferência de São Francisco, os principais objetivos desta
organização são:
● manter a paz e reprimir os atos de agressão;
● desenvolver relações de amizade entre os países do mundo, baseadas na igualdade
dos povos e no seu direito à autodeterminação;
● desenvolver a cooperação internacional no âmbito económico, social e cultural e
promover a defesa dos direitos humanos;
● funcionar como centro harmonizador das ações tomadas para alcançar estes
propósitos.

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Sob o impacto do holocausto e disposta a impedir, no futuro, as atrocidades cometidas
durante a 2ª Guerra Mundial, a ONU tomou uma feição profundamente humanista que foi
reforçada em 1948 com a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Órgãos básicos de funcionamento da instituição

● Assembleia-Geral, formada pela generalidade dos Estados-Membros, cada um com


direito ao voto, funciona como parlamento mundial.
● Conselho de Segurança, composto por 15 membros, cinco dos quais os EUA, a URSS,
o Reino Unido, a França e a China, e 10 flutuantes eleitos pela Assembleia-geral por
dois anos. Estes cinco membros permanentes têm direito de veto e basta a oposição
de um deles para inviabilizar qualquer decisão. Órgão responsável pela manutenção
da paz e da segurança.
● Secretariado-Geral, coordena o funcionamento burocrático da Organização.
● Conselho Económico e Social, promove a cooperação económica, social e cultural
entre as nações.
● Tribunal Internacional de Justiça, órgão máximo da justiça internacional.
● Conselho de Tutela (ou Conselho de Administração Fiduciária), administra
territórios que outrora se encontravam sob alçada da SDN.

1.1.3 As novas regras da economia internacional


O ideal de cooperação económica

Em julho de 1944, um grupo de conceituados economistas de 44 países reuniu-se em


Bretton Woods (EUA) com o fim de prever e estruturar a situação monetária e financeira do
período de paz com base na cooperação internacional.
Os Estados Unidos preparam-se para liderar uma nova ordem económica baseada na
cooperação internacional. Como estrutura de fundo, procedeu-se à criação de um novo
sistema monetário internacional que garantisse a estabilidade das moedas indispensável ao
incremento das trocas. O sistema assentou no dólar como moeda-chave.
Na mesma conferência, e com o objectivo de operacionalizar o sistema, criaram-se 2
importantes organismos:
● o Fundo Monetário Internacional (FMI), ao qual recorriam os bancos centrais dos
países com dificuldades em manter a paridade fixa da moeda ou equilibrar a sua
balança de pagamentos;
● o Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento (BIRD), também
conhecido como Banco Mundial, destinado a financiar projectos de fomento
económico a longo prazo.
Só em 1947, na Conferência Internacional de Genebra, se assinou um Acordo Geral de
Tarifas e Comércio (GATT), em que 23 países signatários se comprometeram a negociar a
redução dos direitos alfandegários e outras restrições comerciais.
Estas medidas levaram à criação do BENELUX, uma união entre a Bélgica, os Países Baixos e
o Luxemburgo que mais tarde iria constituir um embrião da Comunidade Económica
Europeia.

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1.1.4. A primeira vaga de descolonizações

Descolonização - Processo de involução do imperialismo europeu. O termo aplica-se,


sobretudo, ao período subsequente à 2ª Guerra Mundial, altura em que, num curto
espaço de tempo, se tornaram independentes as colónias da Ásia e da África.

A Carta Fundadora da ONU refere que todos os povos poderiam ser independentes se
assim o quisessem. Com a guerra, povos colonizados começaram a ver as injustiças da
dominação estrangeira.
A URSS e EUA apoiavam os povos que quisessem ser independentes porque:
→ URSS → Ao demonstrar que o modelo comunista era “perfeito”, o comunismo ganharia
adeptos e, deste modo, espalhava-se pelo mundo.
→ EUA → Já foram uma colónia e agora são independentes e bem-sucedidos e também
porque querem defender o seu sistema económico .

No Médio Oriente, tornaram-se independentes:


- Síria;
- Líbano;
- Jordânia;
- Palestina onde, em 1948, nasce, um clima de guerra, o Estado de Israel.
- Ceilão;
- Birmânia;
- Malásia;
- Indonésia;
- Vietname;
- Laos;
- Camboja.
A Índia foi dividida em dois Estados: a União Indiana, hindu e o Paquistão, muçulmano.

1.2. O tempo da Guerra Fria – A consolidação de um mundo bipolar


1.2.1 Um mundo dividido
O mundo defendido pelos Estados Unidos consistia num regime democrático-liberal e
numa economia capitalista, enquanto o mundo defendido pela União Soviética consistia
num regime socialista de centralismo democrático e numa economia planificada e
coletivizada. Mais do que ambições hegemónicas das duas superpotências, eram duas
concepções opostas de organização política, via económica e estruturação social que se
confrontavam: de um lado, o liberalismo, assente sobre o princípio da liberdade individual;
do outro, o marxismo, que subordina o indivíduo ao interesse da colectividade.
Apesar das medidas tomadas para a reorganização do pós-guerra, a Europa viu-se incapaz
de reerguer, sozinha, a sua economia. É neste contexto que o secretário de Estado
americano George Marshall anuncia, em Junho de 1947, um plano de ajuda económica à
Europa, convidando-a a resolver em comum os seus problemas. Este programa de auxílio,
conhecido como Plano Marshall, foi acolhido pela generalidade dos países ocidentais. Mas
também serviu como principal objetivo de travar o avanço do comunismo.

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Para uma eficiente distribuição dos fundos do plano criou-se, em Paris, a OECE
(Organização Europeia de Cooperação Económica), que integrou os EUA e os 16 países que
aceitaram a ajuda americana.
para ajudar na reconstrução da Europa, que acabou por não ter o resultado esperado, uma
vez que a União Soviética tinha já muita influência sobre alguns países europeus, que se
viram obrigados a recusar a ajuda americana. Desta forma, a União Soviética criou o
COMECON, que fomentava a cooperação económica entre os países da Europa central.
A URSS começou a expansão da sua influência na Europa Ocidental, países que tiveram o
nome de democracias populares. Consistiam assim na oposição à democracia liberal, na
representação dos trabalhadores que controlavam o Estado, a economia e a cultura, através
do Partido Comunista. As democracias populares eram supervisionadas politicamente pelo
KOMINFORM, economicamente pelo COMECON e militarmente pelo Pacto de Varsóvia.
COMECON (Conselho de Ajuda Económica Mútua), instituição destinada a promover o
desenvolvimento integrado dos países comunistas, sob a égide da União Soviética. A OCDE e
a COMECON funcionaram como áreas económicas transnacionais, coesas e distintas uma da
outra; contribuíram para reforçar, pela via económica, a “cortina de ferro” entre o Ocidente
e a URSS.
O primeiro conflito: a questão alemã
Este clima de desentendimento e confrontação refletiu-se na gestão do território alemão
que, na sequência da Conferência de Potsdam, se encontrava dividido e ocupada pelas
quatro potências vencedoras. Em 1948-1949, a expansão do comunismo no 1º ano de paz
fez com que ingleses e americanos olhassem para Alemanha como um aliado imprescindível
à contenção do avanço soviético. Assim, os Estados Unidos, a Grã-Bretanha e a França
juntaram os seus territórios da Alemanha, formando a RFA, República Federal Alemã e a
União Soviética formou a RDA, República Democrática Alemã.
Este processo de divisão trouxe para o centro da discórdia a situação de Berlim, já que na
capital, situada na área soviética, continuavam estacionadas as forças militares das três
potências ocidentais. Stalin interpretou a política ocidental como um afrontamento e
acusou os antigos aliados de pretenderem criar um bastião do capitalismo. Em retaliação,
decretou o Bloqueio de Berlim. Numa tentativa de forçar a retirada dessas forças militares,
Stalin bloqueia aos três aliados todos os acessos terrestres à cidade. Perante a
impossibilidade dos países ocidentais se deslocarem por terra até Berlim, foi organizada
uma ponte aérea que fez chegar todo o género de produtos à população da zona ocidental
da capital.
A rivalidade destas 2 potências, dividiu o mundo em 2 blocos antagónicos: de um lado os
países capitalistas, liderados pelos EUA; do outro, as nações socialistas, sob a égide da URSS.
Impregnou-se um forte clima de tensão e desconfiança: foi o tempo da Guerra Fria.

A Guerra Fria

Guerra Fria - A expressão designa o clima de tensão e antagonismo entre o bloco soviétivo
e o bloco americano (1947-1985). Numa aceção mais restrita, a Guerra Fria corresponde à
primeira fase desse mesmo afrontamento (1947-1955). São características salientes da
Guerra Fria a corrida aos armamentos, com particular relevância para o nuclear, a
proliferação dos conflitos localizados e crises militares nas mais diversas zonas do Mundo,
bem como uma visão simplista e extremada do bloco contrário.

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Tratou-se de uma guerra fria porque os contendores se abstiveram de recorrer
diretamente às armas nucleares, mas:
- utilizavam, um contra o outro, as mais refinadas e agressivas formas de propaganda
ideológica;
Recorriam a formas de propaganda ideológica, com vista a exaltar a sua superioridade e a
apresentar a visão extremada do adversário para instigar o medo e o ódio do opositor.

- intensificaram a corrida ao armamento, cada vez mais sofisticado, que incluía armas
atómicas e que exibiam ostensivamente;
O antagonismo entre os dois blocos abrangia também o campo militar, através de
exibições e desfiles das forças militares e na formação de alianças militares defensivas.

- desenvolviam uma intensa ação de espionagem sobre inovações bélicas e sobre a


interferência em países terceiros ou organizações internacionais;
Este clima de desconfiança e o receio de ameaças mútuas fizeram com que os serviços
secretos e de espionagem se mostrassem particularmente ativos, com a criação da CIA
(EUA) e do KGB (URSS). Usaram- se métodos que instigaram à perseguição e denúncia de
cidadãos considerados simpatizantes do bloco contrário. Vivia-se um clima de equilíbrio
pelo terror.

- organizaram-se em alianças estratégicas de carácter político-militar, (NATO e Pacto


de Varsóvia);
- intervinham no fomento de conflitos localizados em apoio, por vezes pouco
dissimulado, dos beligerantes.
O início da Guerra Fria
O primeiro momento de tensão ocorreu em 1945, quando Stalin pretendeu impor um
governo da sua confiança na Polónia, em vez de realizar eleições livres. Em 1947, criou-se a
Kominform (Secretariado de informação comunista), que se tornou um importante
organismo de controlo da União Soviética. Churchill, vendo que a tutela diplomática e
política soviética estava a ganhar cada vez mais poder, acusou a URSS, em 1946, de fazer
descer sobre a Europa uma “cortina de ferro”, e rejeitou a ideia de uma possível guerra.
Em março de 1947, perante as pressões soviéticas sobre a Turquia e a Grécia, o presidente
Truman assumiu a liderança da oposição aos avanços socialistas e expôs a sua visão em
relação ao mundo, discurso que ficou conhecido por Doutrina de Truman:
● apresenta a divisão do mundo em modelos antagônicos;
● considera os EUA o modelo representante da democracia e da liberdade;
● identifica a URSS como representante da opressão e da vontade da minoria;
● enuncia o papel dos EUA como líderes da contenção do expansionismo soviético;
● defende a ajuda americana à reconstrução europeia, como forma de garantir a
estabilidade política;
● assume para os EUA o papel de garante da paz e da segurança mundial.
Em setembro do mesmo ano, os soviéticos respondem a Truman com a Doutrina de
Jdanov:

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● apresenta a divisão do mundo em dois campos políticos opostos entre as duas
principais potências;
● considera os EUA a principal força dirigente do campo imperialista juntamente com a
Inglaterra e a França;
● acusa o campo imperialista de ser apoiado pelos Estados coloniais, e por países com
regimes reacionários e antidemocráticos, como a Turquia e a Grécia e por países
dependentes dos EUA, como o Oriente, a América do Sul e a China;
● identifica as forças anti-imperialistas e antifascistas que formam o outro campo
liderado pela URSS;
● defende que o campo anti-imperialista tem uma dimensão ampla e internacional;
● assume que deve haver resistência ao imperialismo dos EUA pelos partidos
comunistas a quem cabe o papel de resistirem ao plano americano de escravidão da
Europa, apelando à defesa da soberania nacional, da liberdade e de independência
dos países.

Era o início da Guerra Fria que até meados da década de 80 marcou a consolidação de um
mundo bipolar- mundo capitalista e mundo comunista.

1.2.2 O mundo capitalista


A política de alianças liderada dos Estados Unidos:
Em 1947, de modo a impedir o expansionismo socialista na Europa, o governo americano
propôs um amplo programa de ajuda económica e técnica aos países europeus destruídos
pela guerra, no sentido de relançar de imediato as suas economias e criar condições e
estabilidade política. O Plano Marshall, aplicado através da OECE, uma aliança económica
europeia que coordena a ajuda financeira prestada e as relações económicas, foi bastante
importante política e economicamente:
❖ é apresentado como sendo dirigido a todos os países da Europa no seu todo,
incluindo a URSS e os países do Leste;
❖ era um programa que não devia ser imposto mas que se destinava a envolver os
países;
❖ a apresentação do programa foi igualmente uma estratégia de influência dos EUA na
Europa, para conter o avanço do comunismo;
❖ era uma ajuda para a recuperação económica da Europa a fim de evitar
perturbações económicas, sociais e políticas graves;
❖ era uma situação que restabeleceu os laços entre os Ocidentais e os EUA;
❖ revelava o empenho dos EUA para apoiar uma saudável recuperação económica do
mundo;
❖ a ajuda económica era entendida pelos EUA como condição essencial para manter a
estabilidade política e a paz duradoura.

Em termos político-militares, os EUA criaram várias alianças com todos os continentes com
o objetivo de evitar a expansão do comunismo para o ocidente e reforçar a presença
americana na Europa. Nestes territórios, eram colocadas bases militares com o objetivo de
intervir prontamente em potenciais conflitos que pudessem pôr em causa a hegemonia
destas regiões.

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❖ Organização dos Estados Americanos (OEA);
❖ Pacto do Rio, EUA e América Latina;
❖ Organização do Tratado Central (CENTO);
❖ CENTO (1954), EUA e Médio Oriente;
❖ ANZUS (Pacto do Pacífico com a Austrália e a Nova Zelândia);
❖ Pacto do Atlântico, que deu origem à Organização do Tratado do Atlântico Norte
(NATO);
❖ Organização do Tratado da Ásia do Sudeste (OTASE).

A política económica e social das democracias ocidentais

Social Democracia - Corrente do socialismo que teve origem nas concepções defendidas
por Eduard Bernstein, na II Internacional (1899). A social-democracia rejeita a
revolucionária proposta por Marx, opondo-lhe a participação no jogo democrático, como
forma de atingir o poder, e a implementação de reformas socializantes, como meio de
melhorar as condições de vida das classes trabalhadoras.

Democracia Cristã - Corrente política inspirada pela doutrina social da igreja. A


democracia cristã pretende aplicar à vida política os princípios da justiça, entreajuda e a
valorização da pessoa humana, que estiveram na base do cristianismo. Deste modo,
embora de índole conservadora, esta ideologia defende que a democracia não se limita à
aplicação das regras do sufrágio universal e da alternância política, mas tem por função
assegurar o bem-estar dos cidadãos.

O triunfo sobre os totalitarismo nazi-fascistas repercutiu-se, nos anos que se seguiram à


guerra, na ascensão ao poder de partidos defensores de políticas reformistas e
intervencionistas, em prejuízo dos velhos partidos conservadores identificados com o
capitalismo liberal e com a Depressão dos anos 30 a ele associada e suspeitos de terem
dado apoio ao nazi-fascismo.
O conceito de democracia adquiriu, no ocidente, um novo significado. Para além do
respeito pelas liberdades individuais, do sufrágio universal e do multipartidarismo,
considerou-se que o regime democrático deveria assegurar o bem-estar dos cidadãos.
A social-democracia surge como um compromisso entre o capitalismo e o socialismo e tem
como objetivo garantir o desenvolvimento económico e o bem-estar da população,
defende:
- pluralismo democrático;
- controlo dos setores chave da economia;
- o Estado tem de intervir na economia;
- proporcionar o bem-estar da população;
- defende a livre concorrência;
- defende que o Estado tem de ajudar na redistribuição da riqueza daqueles que têm
rendimentos mais elevados, através da proteção social.

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Por toda a Europa, destacam-se nomes como Olof Palme (Suécia), Willy Brandt (Alemanha)
e Clement Attlee (Inglaterra).

A democracia cristã foi inspirada pela doutrina social da igreja e tem como objetivo
garantir o desenvolvimento económico e o bem-estar social baseando-se nos princípios do
cristianismo (liberdade, justiça e solidariedade), defende assim:
- concilia o espírito laico da democracia com os valores do cristianismo;
- o Estado tem de defender os princípios de justiça, de liberdade, de entreajuda e de
valorização dos humanos, condenando assim os excessos do liberalismo capitalista;
- pluralismo democrático.

ambas as ideologias defendem uma profunda reforma económica e social



os Estados lançam-se num vasto programa de nacionalização de empresas e de setores,

tornando-se o principal agente económico do país, o que lhe permite exercer a sua função
como regulador da economia

garantir emprego e definir políticas salariais.

os impostos aumentam, o que possibilitou o aumento das receitas e, assim, assegurar uma
redistribuição mais justa da riqueza nacional, sob forma de auxílios sociais.

Estado-Providência

A afirmação de um Estado-Providência
Após a guerra, os países capitalistas desenvolvem as concepções keynesianas e assumem
uma clara intervenção na resolução das dificuldades económicas. Para o efeito, o Estado
afirma-se como elemento equilibrador e organizador da economia e promotor da justiça
social.
Neste caso, o Estado passou a funcionar como elemento equilibrador:
- financiou obras públicas;
- definiu os salários;
- nacionalização dos setores vitais da economia, como o setor energético, o setor
siderúrgico e metalomecânico, o setor financeiro, os transportes;
- estabeleceu horários de trabalho;
- controlou a produção.
- intervenção mais no ensino;
- supervisionou as taxas de juro.

Para conseguirem essa capacidade financeira, os governos adotam sistemas de tributação


progressiva dos rendimentos, de modo que o Estado possa absorver uma maior parte dos
rendimentos dos mais ricos, e estes serão orientados para a garantia das necessidades
básicas dos cidadãos, através da instituição de um complexo sistema de serviço social.
Neste âmbito, passa a ser dever do Estado:

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- acautelar as situações de: desemprego, doença, invalidez por acidente, velhice,
mediante a atribuição de ajudas financeiras sob a forma de subsídios;
- garantir serviços públicos de educação, saúde e habitação;
- promover uma melhor qualidade de vida das famílias através da atribuição de um
vasto leque de outras ajudas financeiras em determinados actos da vida civil, como
nascimento de filhos, abonos de família, casamento e óbito, mesmo instituindo um
salário mínimo de sobrevivência para os mais carenciados.

A prosperidade económica
O mundo capitalista conheceu um período de grande prosperidade económica entre 1947
a 1970, os designados Trinta Gloriosos. Tratou-se de um tempo de crescimento acelerado da
economia com origem nos EUA e que se estendeu aos restantes países do bloco capitalista.
Este crescimento económico deveu-se:
- intervenção do Estado na promoção da qualidade de vida da população, que se
traduziu no aumento do poder de compra da população;
- o surto demográfico baby-boom que aumentou significativamente o mercado
consumidor e levou ao rejuvenescimento da população;
(o aumento dos consumidores ⟶ aumento da indústria e das multinacionais, que
comercializavam os seus produtos em todo o mundo ⟶ devido à maior liberdade de
comércio proporcionada pela diminuição das barreiras alfandegárias).
- a liberalização das trocas comerciais;
- a diminuição das taxas alfandegárias e de outros entraves à circulação de
mercadorias;
↳ o que proporcionou a internacionalização das trocas de produtos (aumento das
exportações), o aumento das trocas entre o Ocidente e os países exportadores de
matérias- primas, permitiu o desenvolvimento dos países mais pobres e acentuou a
dicotomia Norte-Sul.
- Plano Marshall, FMI, a criação do GATT, os acordos de Bretton Woods e a criação
da CEE (1957 – reforço da cooperação económica dos países europeus), que
consolidaram as relações dos vários países;

As economias cresceram de forma contínua, sem períodos de crise, é possível destacar as


seguintes características:
- Aceleração do progresso científico que atingiu todos os setores: desenvolvimento
da aviação comercial, da astronáutica, da indústria eletrónica, dos automóveis, das
telecomunicações, da informática e da robótica. Além do mais, facilitou a
modernização da indústria e a aposta nos bens de equipamento, o que significa que
produtos como o fogão, frigorífico e televisão eram, agora, acessíveis a todos;
- O baixo preço do petróleo e das matérias-primas favoreceu os lucros e o
crescimento económico dos países capitalistas;
- Modernização dos setores tradicionais como a agricultura, que levou ao aumento
da produção e da libertação de mão-de-obra do campo para as cidades;
- Aumento dos níveis de escolaridade possibilitou o aumento do setor terciário, já
que a população jovem se tornou mais qualificada para as profissões liberais. Os

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trabalhos que exigem menos qualificação profissional passaram a ser exercidos por
imigrantes;
- A disponibilidade de capitais que eram investidos na modernização e construção de
infraestruturas (escolas, hospitais, fábricas, caminhos de ferro, entre outros). O
crescimento do consumo deveu-se ao aumento dos salários e ao estímulo da
produção;
- Aumento da concentração industrial e do número de multinacionais: estas
empresas financiam o desenvolvimento tecnológico, a investigação científica e estão
presentes em todos os setores económicos;
- Afirmação de uma sociedade de consumo.

A sociedade de consumo

Sociedade de consumo - Sociedade de abundância característica da segunda metade do


século XX. Identifica-se pelo consumo em massa de bens supérfluos, que passam a ser
encarados como essenciais à qualidade de vida.
A sociedade de consumo é também identificada como a sociedade do desperdício, já que
a vida útil dos bens é artificialmente reduzida pela vontade da sua renovação.

O maior resultado dos Trinta Gloriosos foi a sociedade de consumo, caracterizada pelo
enorme aumento de consumo de bens essenciais e de bens supérfluos, o que foi conseguido
com a estabilidade dos empregos, com a produção de produtos a preços acessíveis e com os
salários razoáveis. Assim, o aumento do poder de compra promoveu o conforto material e
melhorou o estilo de vida dos cidadãos, que passaram a usufruir de novos eletrodomésticos,
veículos e férias, sendo assim incentivados através de publicidades de recurso ao crédito, a
comprar produtos mesmo para sendo eles inúteis.

- o carácter essencial dos produtos passou para segundo plano;


- necessidade de substituição rápida dos produtos;
- surgimento de supermercados com enorme variedade de bens, na década de 60;
- a generalização do frigorífico, do aspirados e de outros bens facilitou a vida
quotidiana e aumentou o conforto dos lares;
- as necessidades de consumo foram alimentadas pela publicidade que suscita novas
necessidades à aquisição de produtos.

1.2.3 O mundo comunista

Democracia Popular - Designação atribuída aos regimes em que o Partido Comunista,


afirmando representar os interesses dos trabalhadores, se impõe como partido único,
controlando as instituições do Estado, a economia, a sociedade e a cultura.

O expansionismo soviético
Mecanismos de domínio
Grande consequência da intervenção americana nas economias da Europa ocidental

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Confirmação do ambiente de Guerra Fria pela intensificação da influência soviética nos
países de Leste:
● Influência Política
- COMINFORM, organização internacional dos partidos comunistas dos vários
países do bloco socialista, sob coordenação do Partido Comunista da URSS,
fundada em 1947.

● Influência Económica
- COMECON (1949), conselho de assistência económica mútua através do qual
se estabelece a coordenação dos planos económicos dos países membros e a
ajuda financeira da URSS aos seus aliados; reacção soviética à organização
económica do Oriente (OECE).

● Influência Militar
- Pacto de Varsóvia, organização militar que integrava a URSS e os seus Estados
satélites; é uma resposta à formação da NATO.

Formação das democracias populares


O COMINFORM, COMECON, e o Pacto de Varsóvia, acabaram por ser instrumentos
dominação dos países da “cortina de ferro”. Estes países tinham passado pela mais violenta
dominação nazi-fascista e a reação fora dirigida por fortes movimentos de inspiração
comunista apoiados pelo Exército Vermelho. Após a derrota do nazismo, a URSS reclamou o
direito de intervir diretamente na reorganização económica e política dos Estados cuja
libertação tinha sido conseguida por sua ação direta, até como forma de compensação
material dos prejuízos tidos com a sua intervenção.
Na sequência das conferências de paz, praticamente todos os países tinham aderido ao
modelo parlamentar de tipo ocidental, em que todos os partidos comunistas, apesar de
fortes, eram minoritários. Perante as dificuldades dos partidos comunistas ascenderem ao
poder pela via democrática, Jdanov impõe nos países de Leste a rutura com o imperialismo
ocidental pela instituição das democracias populares com recurso à força.
As democracias populares eram formas políticas de transição entre a democracia
parlamentar ao centralismo democrático.Os partidos comunistas foram-se impondo
gradualmente no domínio dos aparelhos de Estado, transformando as democracias liberais
em democracias de tipo soviético.

O processo de conquista do poder foi igual em todos os países:


- 1º fase → o partido comunista formava, com outros partidos de esquerda, governos
de coligação, onde conseguiam a tutela dos ministérios mais importantes e
influentes;
- 2º fase → utilizavam o poder para apoiar organizações de base (sindicatos e milícias
armadas) de que se serviam para pressionar os sectores da oposição liberal, esta
pressão podia mesmo passar pela perseguição política, eliminação física ou prisão
em consequência de processos judiciais obscuros;
- após a generalização da repressão sobre as forças liberais:

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➔ perdem influência;
➔ remetem-se à inoperância política com o silêncio ou a fuga dos seus dirigentes;
- por fim, o poder tornou-se propriedade exclusiva das classes trabalhadoras, cuja
vanguarda era constituída pelos partidos comunistas, é o centralismo democrático
na plenitude do seu exercício.
O exercício do poder totalitário nestes países contava com o “apoio” do Exército Vermelho,
que passou a ser constituído como força militar integrante do Pacto de Varsóvia.

O expansionismo soviético na Ásia


● Apoio aos movimentos comunistas asiáticos

A URSS expandiu também a sua influência para a Ásia, nomeadamente para a China e para
a Coreia. Na China formou-se a República Popular da China, ficando apoiada no modelo
soviético, em que adotou os planos quinquenais, de forma a desenvolver a indústria, e os
planos de coletivização da agricultura.
A Coreia após a guerra foi libertada pela URSS e pelos EUA, ficando dividida em duas áreas,
a República Popular da Coreia (URSS) e a República Democrática da Coreia (EUA).

A influência soviética na evolução política da América Latina e no continente africano.


● A importância de Cuba na irradiação do comunismo na América do Sul
De início, os revolucionários não assumiram um claro relacionamento com Moscovo e não
pretendiam hostilizar os Estados Unidos, mas as relações agravaram-se à medida que Cuba
se aproximou económica e militarmente da URSS e deu início à nacionalização das principais
empresas americanas sediados na ilha. Os EUA passaram a apoiar os opositores de Fidel
Castro e participaram na organização de um golpe contra-revolucionário, em 1961, que
acabaria por fracassar por falta de apoio interno. Como resposta, a URSS coloca na ilha
rampas de lançamento de mísseis nucleares com poder de alcance capaz de atingir o solo
americano. Quando foram descobertas, os EUA entendem que é uma provocação e uma
agressão à paz e à estabilidade mundial, o que não impediu que Kruchtchev continuasse a
armar Cuba com potencial atómico, mediante o argumento de que se tratava apenas de
mísseis defensivos.
O Governo americano passa a exigir a retirada dos mísseis soviéticos colocando o mundo
perante a iminência de um conflito entre as duas potências.
O presidente soviético acabou por desmantelar as bases militares. Os EUA suspenderam o
bloqueio entretanto imposto à ilha e prometeu respeitar o Governo revolucionário.
A solução da Crise de Cuba não deixou de confirmar a ilha como um bastião do comunismo
internacional às portas de Washington e ponto de partidas grandes investidas soviéticas nos
anos 70 em apoio dos movimentos revolucionários da Bolívia, Colômbia, Peru, Guatemala,
El Salvador e Nicarágua.

● A presença soviética em África


É de Cuba que irradia a influência soviética para o continente africano. São os
revolucionários cubanos que percorrem as savanas africanas em apoio dos movimentos
independentes africanos dos anos 60 e são os militares do exército cubano, já nos anos 70,

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quem vai apoiar as propostas marxistas de organização do poder de muitos países africanos,
após a sua independência, como aconteceu em Angola e Moçambique.
Opções e realizações da economia de direcção central:

A 2º guerra mundial interrompeu os consideráveis sucessos económicos resultantes da


implementação dos planos quinquenais instituídos por Stalin em finais dos anos 20; e
também provocou uma acentuada quebra na produção industrial e consequente
degradação da situação económica da URSS. Era urgente restaurar o sector produtivo para
que a condição de potência política correspondesse à paralela condição de potência
económica.

❖ A acção de Stalin
Para reverter a situação, Estaline retoma o modelo de economia planificada, isto é, o IV e V
Plano Quinquenal, dando prioridade à reestruturação da indústria pesada e das
infraestruturas, à investigação científica e ao desenvolvimento dos meios de comunicação.
➔ IV Plano, lançado imediatamente a seguir à guerra e vigora até 1950.
- privilegia o desenvolvimento da indústria pesada;
- relançamento dos sectores hidroeléctrico e siderúrgico;
- grande importância à investigação científica, para a produção de armamento
e conquista do espaço interplanetário.
➔ V Plano, 1950-1955 .
- mantém as preocupações em dotar a URSS de um poderoso sector industrial
de base;
- desenvolvimento dos meios de comunicação.

Final da década, segunda potência industrial do mundo.


No entanto, a orientação económica estalinista não tinha em conta a necessidade de
produzir bens de consumo e de criar outras condições socioeconómicas, no sentido de repor
os níveis de produtividade capazes de proporcionar o bem-estar das populações.
Os excessos do centralismo estavam na origem do fortalecimento do aparelho
burocrático, que acabava por constituir um bloqueio à capacidade de iniciativa e ao
crescimento.
O nível de vida das populações não acompanha esta evolução económica.
● as jornadas de trabalho mantém-se excessivas;
● os salários sobem a um ritmo muito lento e as carências de bens de toda a espécie
mantêm-se;
● a agricultura, a construção habitacional, as indústrias de consumo e o sector
terciário avançam lentamente.
As longas filas de espera para adquirir os bens essenciais tornam-se uma rotina diária.
Após a rápida industrialização, começaram a aparecer falhas, porque a planificação em
excesso não dava qualquer autonomia às empresas que se limitavam a cumprir o que era
imposto, não havendo qualquer investimento.

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Devido às consequências registadas, implementaram-se algumas reformas, em que se
investiu nas indústrias, na agricultura e na habitação, reduziu-se as horas de trabalho e
incentivou-se a produtividade.
Os bloqueios económicos
Passando o primeiro impulso industrializador, as economias planificadas começam a
mostrar, de forma mais evidente, as suas debilidades:
● a planificação excessiva entorpece as empresas, que não gozam de autonomia na
selecção das produções, do equipamento e dos trabalhadores, na fixação de salários
e preços, ou na escolha de fornecedores e clientes;
● uma gestão burocrática limita-se a procurar cumprir as quantidades previstas no
plano, sem atender à qualidade dos produtos ou ao potencial de rentabilidade dos
equipamentos e da numerosíssima mão-de-obra;
● nas unidades agrícolas, a falta de investimento, a má organização e o desalento dos
camponeses reflectem-se de forma severa na produtividade.

❖ A acção de Kruchtchev
Contestou a rigidez e os excessos da centralização estalinista e assumiu como prioridade o
aumento da produção de bens de consumo, industriais e agrícolas, desvalorizando a
indústria pesada.
Põe em prática uma economia dirigida mas sujeita a planos anualmente ajustáveis
prolongados por sete anos.
❖ A política de Brejnev
Regressa aos excessos do centralismo e à prioridade à indústria militar em tempo de
agravamento das tensões Leste-Oeste.
Tenta a exploração de recursos naturais, porém os tempos são de grandes dificuldades
financeiras e os custos do processo inviabilizam a sua implementação. Confirma-se o tempo
da burocracia e do aumento incontrolado da corrupção.
A estagnação das economias de direcção central reflecte, sobretudo, as falhas do sistema,
que se foram agravando ao longo das décadas.

1.2.4 A escalada armamentos e o início da era espacial


A escalada armamentista
A iminência de um conflito armado levou as duas potências a intensificarem a corrida ao
armamento.
A nova escalada armamentista aconteceu numa altura de grandes progressos científicos e
técnicos verificados na produção de armas, durante a Segunda Guerra Mundial, que
culminaram com a explosão de duas bombas nucleares americanas, em 1945, para terminar
com a resistência japonesa e pôr fim à guerra no Pacífico.
Em 1949, após intensos estudos e canalização de importantes investimentos, no âmbito do
plano quinquenal em que era privilegiado o desenvolvimento científico e a sua colocação ao
serviço do sector militar, Staline assiste à explosão da primeira bomba atómica de fabrico
soviético.
Em 1953, os americanos conseguem a bomba de hidrogénio, no entanto, no ano seguinte,
os soviéticos também conseguiram a sua produção.

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Depois disto, segue-se a construção de todo o tipo de armamento cada vez mais
destrutivo. As relações internacionais passam a ser condicionadas pelo terror nuclear.
No entanto, os dois blocos tinham consciência que ninguém sairia vencedor de uma guerra
nuclear. E assim, o poder nuclear acabou por ser a grande força dissuasora de um novo
conflito mundial que, esteve iminente por várias vezes.

O início da era espacial


As intenções bélicas dos dois blocos há muito que vinham motivando o desenvolvimento
de projectos de conquista do espaço interplanetários através do lançamento de satélites
artificiais com potencialidades de exploração para fins militares, entre outros de carácter
científico.
Em 1957, a URSS envia o primeiro satélite artificial para o espaço e assim começa a era
espacial. Os soviéticos conseguiram demonstrar que tinham reunido capacidades técnicas e
financeiras para superar o seu grande rival na produção de grandes foguetões que os
colocariam à frente na conquista do espaço sideral
Quando a URSS envia o Sputnik II, coloca o primeiro ser vivo no espaço, a famosa Laika.
Neste momento dá-se uma inversão de poder no ambiente da Guerra Fria. Pela primeira
vez, a URSS tem mais poder que os EUA.
No final dos anos 60, os EUA conseguem colocar o primeiro homem na lua, em 1969.
1.3 A afirmação de novas potências
1.3.1 O rápido crescimento do Japão
No final da 2º guerra mundial, o Japão é um país militarmente vencido, politicamente
submetido à ocupação americana e economicamente arrasado pela perda do vasto império
colonial, destruição da marinha mercante e ruína do sector produtivo.
A ocupação americana modernizou
- incentivaram o controlo da natalidade e o acesso ao ensino.
Após a vitória de Mao Tsé-Tung na China, em 1949, o Japão passou a ser visto como um
precioso aliado do bloco ocidental no Oriente. O ambiente de Guerra Fria foi favorável ao
desenvolvimento do Japão. Interessava aos EUA constituir um Japão forte, com capacidade
para resistir ao avanço do comunismo no Sudeste Asiático. A reconstrução económica do
Japão constituiu uma preocupação imediata durante a ocupação americana sob direção do
general MacArthur que:
- coordenou o Plano Dodge (um plano de ajuda parecido com o plano Marshall);
- promoveu a democratização do país, através do restabelecimento das liberdades
públicas;
- incentivaram o controlo da natalidade e o acesso ao ensino;
- aprovação de uma Constituição que estabelecia o regime parlamentar em prejuízo
da tradicional autoridade imperial;
- impôs uma reforma agrária, que passou pela expropriação das grandes propriedades
senhoriais e sua distribuição por antigos camponeses, que se transformaram em
antigos e novos proprietários;
- desmantelou as antigas indústrias bélicas, no seguimento da política de
desarmamento e desmilitarização;
- o potencial humano e técnico foi canalizado para o sector produtivo de bens de
consumo.

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A partir da segunda metade dos anos 50, o Japão viveu um autêntico milagre económico,
patente:
- estabilidade política, assegurada pelo Partido Liberal-Democrata no poder desde
1955.

A mentalidade japonesa foi também um importante factor de crescimento. Os lucros foram


reinvestidos continuamente e os trabalhadores chegavam a doar à empresa os seus
pequenos aumentos de salário para promover a renovação tecnológica. Esta ligação afectiva
entronca na tradição japonesa do trabalho vitalício que transforma o patrão no protector
dos seus funcionários, os quais, por sua vez, dedicam uma incondicional lealdade à empresa.
Mas muito do crescimento do Japão também se ficou a dever à originalidade da
mentalidade da população e do seu modelo capitalista:
- o elevado nível de educação;
- a mentalidade tradicional - marcada pela disciplina, obediência quase servil aos
patrões e por um sentido de empresa único no mundo, caracterizado por um
elevado espírito de dedicação, cumprimento de horários intensos, mesmo com
sacrifício de interesses pessoais em favor dos interesses da empresa;
- importação de tecnologias estrangeiras que eram aperfeiçoadas e adaptadas a uma
indústria de ponta em grande desenvolvimento;
- a intervenção inteligente e eficaz do Estado - no incentivo das actividades
económicas através de um regime fiscal favorável ao investimento e à entrada de
capitais estrangeiros canalizados para a indústria moderna e para as tecnologias, sob
iniciativa privada;
- manutenção dos sectores económicos tradicionais - agricultura e artesanato, onde o
recurso à mão de obra abundante e mal paga superava as dificuldades de
modernização.
Munido de mão-de-obra abundante e barata e de um sistema de ensino abrangente mas
altamente competitivo, o Japão lançou-se à tarefa de se transformar na 1ª sociedade de
consumo da Ásia. primeiro desenvolvimento da economia japonesa decorreu entre 1955 e
1961. Neste curto período, a produção industrial praticamente triplicou.
No início dos anos 60, a economia japonesa conheceu um 2º surto de crescimento tão
possante quanto o anterior. O comércio externo acompanha esta expansão: as exportações
duplicam, assim como as importações.
Entre 1966 e 1971:
- a produção industrial duplicou e criaram-se 2,3 milhões de novos postos de trabalho.
- desenvolvimento dos sectores clássicos (como a siderurgia);
- novos sectores de bens de consumo duradouros (produção de automóveis, rádios,
frigoríficos,etc.);
- indústria pesada (construção naval, máquinas-ferramentas, química);
Este 2º desenvolvimento fez do Japão a 3ª maior potência económica mundial, atrás dos
EUA e da URSS.

1.3.2 O afastamento da China e do bloco soviético

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Maoísmo - Forma particular de marxismo aplicada na China por Mao Tsé-Tung. O
maoísmo defende a viabilidade de uma revolução comunista liderada pelos camponeses,
sem o concurso do proletariado. Segundo Mao, uma revolução profunda e autêntica
implica um processo longo durante o qual as mudanças revolucionárias devem emanar
das massas e nunca ser impostas pelas estruturas governativas.

A partir de 1953, ano da morte de Estaline, as relações sino-soviéticas deixavam


transparecer já algumas divergências sobre a estratégia a adoptar na implementação das
transformações políticas.
A China era predominantemente rural, onde o operariado não tinha grande relevância
política. Ora, enquanto a revolução soviética foi uma revolução liderada pelo Partido
Bolchevique, autoproclamado como vanguarda da classe operária, Mao Tsé-Tung não podia
contar com o operariado como motor da revolução, como preconizava Karl Marx, porque
ele não existia. Mao Tsé-Tung fez a revolução na China apoiado na imensa população
camponesa. A revolução chinesa foi um movimento de massas, foi uma revolução liderada
pelas massas e não por estruturas partidárias. E aqui reside a grande particularidade da
revolução maoista.
Esta política foi complementada, em 1958, com o “grande salto em frente”:
- que tinha por base o fomento da agricultura;
- integração dos camponeses em comunas populares lideradas pelo Partido
Comunista Chinês.
A prioridade à indústria pesada foi então posta de lado e a ênfase passou para os campos,
onde se deveriam desenvolver tanto as produções agrícolas como pequenas indústrias
locais. No entanto, esta reforma redundou em fracasso (1960), pois os meios técnicos eram
reduzidos e os métodos de trabalho utilizados nas oficinas eram antiquados.
Em vez da subserviência a Moscovo, Mao estabeleceu, ele mesmo, os fundamentos
doutrinários de um socialismo nacionalista. Criticou o comunismo de Kruchtchev, acusando-
o de não “escutar a opinião das massas”.
Em 1964 o culto a Mao e ao maoísmo foi estimulado através da chamada Revolução
Cultural, movimento que pretendia aniquilar todas as manifestações culturais – na
literatura, na arte, no ensino – que se afastassem do modelo socialista de Mao. A
propaganda ideológica tinha por base o “livro vermelho” que reunia citações de Mao e que
era venerado como detentor da verdade absoluta. A revolução cultural deu origem a
excessos de agitação social que resultaram na humilhação, perseguição e assassínio de
muitos cidadãos considerados contra-revolucionários.
Os esforços de Mao foram coroados de êxito quando, em 1971, o país entrou para a ONU.

1.3.3 A ascensão da Europa


A Europa reconheceu a sua herança cultural comum e a necessidade de se unir e
reecontrar a prosperidade económica e a sua influência política.
A formação de uma comunidade económica no Ocidente europeu comum confirmava-se,
por conseguinte, como solução para os primeiros passos na sua afirmação internacional.
Nos anos 50, a cooperação económica dos países europeus deve ser entendida como a
afirmação da Europa Ocidental como entidade económica e política capaz de fazer frente ao
expansionismo americano e à afirmação da URSS. Mais tarde, já nos anos 70, a união

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económica da Europa ocidental visa mesmo fazer frente à hegemonia dos Estados Unidos e
ao fulgurante crescimento das economias asiáticas.

Da CECA à CEE
Por proposta de Jean Monnet, concretiza-se a doutrina de Schuman, que preconizava a
cooperação da França e da Alemanha na produção de carvão e de aço. Com a adesão
também da Itália, Bélgica, Holanda e Luxemburgo, é criada a Comunidade Europeia do
Carvão e do Aço - CECA, com objectivos:
- de organizarem em comum a gestão dos recursos de carvão e ferro;
- contribuir para a elevação do nível de vida dos habitantes dos estados-membros.

Em 1957, surge, finalmente, a Comunidade Económica Europeia – CEE, constituída pelos 6


países referidos. A CEE, cujos fundamentos foram expressos no Tratado de Roma (1957)
tinha objectivos predominantemente económicos:
- desenvolvimento coordenado das suas actividades económicas;
- a livre circulação de pessoas, mercadorias e capitais, bem como a livre prestação de
serviços;
- a progressiva superação de eventuais divergências em questões de transportes,
produção agrícola e energética;
- e, a longo prazo, “uma união cada vez mais estreita” dos povos europeus.

A Europa dos Seis acabou por se abrir à integração de novos países. Em 1973 aderem o
Reino Unido, a Irlanda e a Dinamarca. A Europa económica passa a ser conhecida como a
Europa dos Nove. A CEE tornar-se-á mais sólida com a integração de 18 novos países e com
a adopção de políticas tendentes a consolidar a união económica e a constituir uma união
política.

1.3.4 A segunda vaga de descolonizações. A política de não alinhamento.

Movimentos nacionalistas - Movimentos que visam a recuperação da identidade cultural


e nacional dos povos colonizados. Estes movimentos adquiriram rapidamente uma
dimensão política, exigindo a autodeterminação dos territórios coloniais e constituindo-se
nos partidos que lideram, quer pela via negocial, quer pela força das armas, o processo de
autodeterminação dos novos países.

A descolonização africana
O processo de descolonização em África seguiu o sentido norte-sul: primeiramente
tornaram-se independentes os países do norte de África e, progressivamente, os países da
África Negra foram reclamando autonomia, onde se organizam também movimentos
nacionalistas que encabeçam a luta contra o estado colonizador.
Com o fim de criarem um sentimento de identidade nacional e de fazerem reviver o
orgulho perdido, os líderes nacionalistas promovem a revalorização das raízes ancestrais do
seu povo, a sua cultura comum.

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A luta pela independência assume, assim, a dupla vertente de uma luta política e de uma
luta contra a pobreza e o atraso económico. O processo independentista contou com o
apoio da ONU, que, honrando os ideais de igualdade e justiça, se colocou inequivocamente
ao lado dos povos dominados.
Em 1960, a Assembleia Geral aprovou a Resolução de 1514 que consagra o direito à
autodeterminação dos territórios sob administração estrangeira e condena qualquer ação
armada das metrópoles.
* 1960: “o ano da descolonização”, o mundo viu nascer 18 novos países (Líbia, Marrocos,
Argélia, Tunísia, etc.)

Um Terceiro Mundo

Terceiro Mundo - Conceito elaborado, em 1952, pelos economistas franceses A. Sauvy e


G. Balandier, para designar os países excluídos do desenvolvimento económico.
Geograficamente, o Terceiro Mundo estendia-se pelo Sul do Globo, abrangendo a América
Latina, a África e a Ásia de Sul e Sudeste (com exceção do Japão). Porém, nas últimas
décadas, a emergência dos NPI (Novos Países Industrializados) tem reconfigurado a área
geográfica do Terceiro Mundo.

Neocolonialismo - Forma de dominação que sucede ao colonialismo e se exerce de forma


indireta, através da supremacia técnica, financeira, e económica das nações mais
desenvolvidas. Embora de carácter essencialmente económico, o neocolonialismo pode
também manifestar-se no campo político e cultural.

Nascido da descolonização, o Terceiro Mundo permaneceu sob a dependência económica


dos países ricos.
Estes países continuaram a explorar, através de grandes companhias, as matérias-primas,
minerais e agrícolas do mundo subdesenvolvido, fornecendo-lhe, como no passado,
produtos manufacturados.
Tal situação tem perpetuado o atraso destas regiões: por um lado, os lucros das
companhias não são reinvestidos no local; por outro, enquanto o preço dos produtos
industriais têm vindo a subir, o valor das matérias-primas tem decaído. Combinados, estes
dois fatores resultaram na exploração dos recursos dos países economicamente mais
débeis, em benefício das potências industrializadas.
Considerada um verdadeiro neocolonialismo, tal situação foi, desde logo, denunciada pelas
nações do Terceiro Estado, que reivindicaram, sem sucesso, a criação de uma “nova ordem
económica internacional”.

A política de não-alinhamento
Para além da sua aceção económica, social, a expressão do Terceiro Mundo reveste
também uma conotação política: os novos países representam a possibilidade de uma
terceira via, uma alternativa relativamente aos blocos capitalista e comunista.
Cientes dos seus interesses comuns, os países saídos da descolonização esforçaram-se para
estreitar os laços que os unem e por marcar uma posição na política internacional. Em 1955

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convoca-se uma conferência para definir as linhas gerais de atuação dos países recém-
formados. A conferência, em Bandung, na Indonésia, reuniu 29 delegações afro-asiáticas.
Foi possível adoptar um conjunto de princípios que definem as posições políticas do
Terceiro Mundo:
- condenação do colonialismo;
- rejeição da política dos blocos;
- apelo à resolução pacífica dos diferendos internacionais.
Embora não tenha tomado medidas práticas, a conferência de Bandung teve um efeito
notável no processo de descolonização. Ela foi o ponto de partida para a afirmação política
dos povos do Terceiro Mundo que, desde então, estreitaram relações diplomáticas e
conjugaram os seus esforços para apressar o fim do colonialismo.
A mensagem da Bandung foi tomando corpo através de sucessivos encontros
internacionais que desembocaram no Movimento dos Não-Alinhados, criado oficialmente
na conferência de Belgrado, empenhando-se no estabelecimento de uma via política
alternativa à bipolarização mundial.
O não-alinhamento atraiu um número crescente de países da Ásia, da África e da América e
tornou-se o símbolo do sonho de independência e de liberdade das nações mais frágeis.

1.4 O termo da prosperidade económica: origens e efeitos


Os “trinta gloriosos” anos de abundância e crescimento económico do mundo capitalista
cessaram bruscamente, em 1973.
A crise afetou essencialmente os sectores siderúrgico, a construção naval e automóvel bem
como o têxtil. Muitas empresas fecharam, outras reconverteram a sua produção e o
desemprego subiu em flecha. Paralelamente a inflação tornou-se galopante. Este fenómeno
inédito recebeu o nome de estagflação, termo que aglutina as palavras estagnação (na
produção industrial) e inflação.

Os factores da crise
A interrupção do crescimento económico nos anos 70 deveu-se, sobretudo, à conjugação
de dois fatores: a crise energética e a instabilidade monetária.
No final da década de 60, o petróleo era a fonte de energia básica de que dependiam os
países industrializados.
Em 1973, os países do Médio Oriente, membros da OPEP (Organização dos Países
Exportadores de Petróleo) decidiram subir o preço de venda do petróleo para o quádruplo,
numa tentativa de pressionar o Ocidente a desistir de auxiliar Israel na guerra israelo-
palestiniana.
Em 1979, a situação agravar-se-á com novas subidas de preço devido à crise política no Irão
e à posterior guerra Irão-Iraque.
Estes “choques petrolíferos” que multiplicaram por 12 o preço do petróleo provocaram um
acentuado aumento dos custos de produção dos artigos industriais e, consequentemente, o
encarecimento dos artigos junto do consumidor, gerando uma escalada da inflação.
Um outro fator determinante desta depressão económica foi a instabilidade monetária. A
excessiva quantidade de moeda posta em circulação pelos Estados Unidos levou o
presidente Nixon a suspender a convertibilidade do dólar em ouro, o que desregulou o
sistema monetário internacional → desregulamentação do sistema financeiro internacional,
forte desvalorização das moedas dos países mais afetados).

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- modelo de organização racional do trabalho
↳ revelou-se incapaz de aumentar a sua produtividade
↘ o sistema fordista conduziu à desmotivação dos operários e a um
elevado absentismo que, conjugados com o aumento dos encargos sociais e salariais,
diminuiu fortemente os ganhos dos empresários.

*As empresas procuraram mão-de-obra não reivindicativa iniciando a deslocalização das


empresas.
O aumento da despesa e do endividamento do Estado como forma de resposta à crise pôs
em causa o modelo económico intervencionista → regresso ao liberalismo.

2.1 Imobilismo político e crescimento económico do pós-guerra a 1974


1945 – 1974

Portugal vive um período de desenvolvimento tardio, que não acompanhou o crescimento
económico do Ocidente europeu, marcado pela estagnação do mundo rural e pela
emigração, por um lado, e por um considerável surto industrial e urbano, por outro. As
colónias foram também objeto de preocupações, já que, mais não fosse, para justificar a
tese de que trata de extensões naturais do território continental.

2.1.1 Coordenadas económicas e demográficas


A estagnação do mundo rural
Após a Segunda Guerra Mundial, a agricultura era a atividade dominante em Portugal,
caracterizada por ser pouco desenvolvida e com índices de produtividade baixos, o que
tornava o país atrasado em relação ao resto da Europa, para além de ser necessário recorrer
à importação de produtos alimentares.
- A assimetria verificada na dimensão e titularidade da terra

A baixa produtividade estava relacionada com as assimetrias entre o Norte e Sul do país .
No Norte havia, na grande maioria, minifúndios, que como eram tão pequenos não
permitiam a mecanização e serviam apenas para o autoconsumo. Por outro lado, no Sul
havia, na grande maioria, latifúndios, que estavam subaproveitados por falta de interesse
dos proprietários.

- A resistência dos proprietários à alteração da estrutura fundiária

Outro fator para a baixa produtividade estava relacionado com a estrutura fundiária
precária, que teve necessariamente de ser mudada através do II Plano de reformas que
persistia na exploração agrícola média:
Norte → Propriedades mais vastas → Emparcelamento de pequenas propriedades e
vendidas a jovens empreendedores, dispostos a investir em novas técnicas e produtos
agrícolas de que o país necessitava.
Sul → Tenta-se estimular a constituição de propriedades mais pequenas.

68
Para além disso, investiu-se mais na indústria e, consequentemente, verificou-se um grande
êxodo rural, como forma de procura de melhores condições de vida, o que levou ao défice
agrícola e à continuação da necessidade de importar.
Esta modernização não contou, no entanto, com o apoio dos proprietários que, no Norte,
preferiram continuar agarrados ao bocado que herdaram e que garantia a sua subsistência
e, no Sul, preferiram continuar a viver à custa da perpetuação dos baixos salários e dos
subsídios e outros apoios subaproveitados do Estado, sem perceberam as mudanças
operadas no consumo resultantes do aumento do poder de compra da população urbana.

- O êxodo rural e a falência do sector agrícola

Para além disso, investiu-se mais na indústria e, consequentemente, verificou-se um


grande êxodo rural, como forma de procura de melhores condições de vida, o que levou ao
défice agrícola. As importações continuaram a ser a única solução, com graves
consequências para o agravamento das contas do Estado.
A década ficou marcada por um decréscimo brutal da taxa de crescimento do Produto
Agrícola Nacional e por um êxodo rural maciço.
A emigração
As causas da emigração:
- pobreza/ melhores condições de vida: as pessoas sabiam que nos países
industrializados, os salários eram mais elevados e, por isso, a qualidade de vida era
muito mais elevada;
- fuga de muitos jovens à incorporação militar obrigatória e consequente avança para
as frentes de combate na guerra colonial;
- a promoção por parte do poder político da ocupação dos territórios ultramarinos co
população branca, como forma de “valorização” desses territórios e de resolver as
dificuldades do país em sustentar uma população em crescimento;
- a despenalização da emigração clandestina a partir do momento em que Salazar
entende o quão importante era receber as remessas enviadas pelos emigrantes.

As formas de emigração:

Os emigrantes eram, na sua maioria, homens, principalmente jovens entre os 18-29 anos,
dispostos a aceitar qualquer tipo de trabalho que proporcionasse um rendimento inatingível
na ocupação que tinham nas suas terras.
Perante os obstáculos que, ao início eram colocados à emigração para a Europa, a maior
parte da emigração era feita clandestinamente, com grandes benefícios materiais para os
“passadores” muitas vezes desprovidos de escrúpulos, que conduziam grupos de emigrantes
por roteiros fronteiriços mediante o pagamento de avultadas importâncias. A legislação
portuguesa impunha entraves, uma vez que era necessário um certificado de habilitações
mínimas e ter o serviço militar cumprido.
Com efeito, eram enormes as dificuldades para quem partia nestas condições:
- o elevado custo da passagem, em muitos casos, a detenção da PIDE ou pelas forças
de segurança e, sobretudo;
- ausência de protecção civil com que chegavam aos locais de destino.

69
A solução era o alojamento em barracas, de familiares. Porém, o Estado interveio pelos
interesses dos emigrantes portugueses, pois apercebeu-se dos benefícios económicos e
financeiros que poderia usufruir. Realizou então acordos com os países de acolhimento que
permitiram a transferência dos rendimentos dos emigrantes para Portugal, beneficiando
assim o equilíbrio financeiro e o aumento do consumo.
Consequências negativas da emigração:

- perda dos melhores trabalhadores;


- desagregação das famílias;
- envelhecimento da população;
- intensificação do despovoamento do interior;
- má imagem internacional do regime.

Consequências positivas da emigração:

- a transferência para Portugal das poupanças amealhadas (remessas dos emigrantes)


com peso nas contas públicas;
- a dinamização do consumo interno por parte dos familiares que ficavam cá;
- a resolução dos desequilíbrios entre o crescimento demográfico e o atraso
económico;
- a alteração de mentalidades devido ao contacto com outros países/ culturas/ modos
de vida;
- alteração das velhas estruturas rurais.

Na década de 60, muitos portugueses emigraram para França e RFA, seguidos da


Venezuela, Canadá e os EUA.
A urbanização
Nos anos 50 e 60, o êxodo rural acelerou o processo de urbanização. Crescem, sobretudo,
as cidades litorais entre Braga e Setúbal, onde se concentram as indústrias e serviços.
Em Lisboa e no Porto surgem os subúrbios, os “dormitórios” das grandes cidades onde se
concentra a maior parte da população ativa. Com o surto industrial, verificou-se uma
urbanização intensa nas cidades do litoral, onde se encontravam as indústrias e os serviços.
Assim, como a população não tinha capacidade monetária para comprar casa no centro das
cidades, concentrava-se na periferia, onde não havia estruturas suficientes para a procura,
verificando-se então falta de estruturas sanitárias, de instalações sociais e de transportes.
Fruto destes problemas, aumentaram as construções clandestinas, proliferaram os bairros
de lata, degradaram as condições de vida, as longas filas de espera pelos meios de
transporte e a viagem em condições de sobrelotação.
No entanto, o crescimento urbano teve também aspetos positivos:
❏ contribuiu para a expansão do setor dos serviços e para um maior acesso ao ensino e
aos meios de comunicação.
Desta forma, formou-se um conjunto populacional numeroso e escolarizado capaz de
intervir social e politicamente e a mentalidade da população tornou-se menos conservadora
e mais aberta aos caminhos de mudança.

70
O surto industrial
A política de autarcia do Estado Novo não alcançou o seu objetivo: Portugal continuou
dependente do estrangeiro e sem capacidade de abastecer as suas próprias necessidades.
A partir de 1945, foram implementados Planos de Fomento com o objetivo de
industrializar Portugal, aumentar as exportações, dinamizar o mercado interno e diminuir
o desemprego.
Esta primeira fase, através da Lei do Fomento e Reorganização Industrial (1945), considerou
que o principal objetivo era a substituição das importações, ou seja, Portugal continuava,
ainda no pós-guerra, a adotar um ideal de autarcia que o colocava à margem da economia
internacional.

I Plano de Fomento (1953-1958):


● dá prioridade ao desenvolvimento dos setores elétricos, dos transportes e das
comunicações, à construção de infraestruturas e à vocação agrícola do país;

II Plano de Fomento (1959-1964):


● desenvolvimento da indústria transformadora de base (siderurgia, refinação de
petróleo, adubos, químicos);
● formação de técnicos;
● foca-se no aumento do PIB e da produtividade;
● melhorar a qualidade de vida;
● diminuição das importações;
● integração de Portugal na economia internacional
↳ em 1960, integra a Associação Europeia de Comércio Livre (EFTA) – sete países
que não queriam aderir à CEE;
→ no mesmo ano assina o acordo BIRD e o FMI;
→ em 1962, assina o GATT.

As adesões a estas organizações contribuíram para a inversão política da autarcia do


Estado Novo.
Segunda fase (2ª metade dos anos 60)
Marcada pela abertura ao exterior, pelo fim do condicionamento industrial, pelo
crescimento do setor terciário e pelo reforço da economia privada, Marcello Caetano
inaugura o Plano Intercalar de Fomento (1965-1967) cujo resultado se traduziu uma
inversão da política da autarcia das primeiras décadas do Estado Novo. Era o fim do ciclo
conservador e ruralista de Salazar e a afirmação de novas opções para a economia nacional.
Terceira fase (até 1973)
Em 1968, Marcello Caetano lança o III Plano de Fomento que vigoraria até 1973. A
implementação deste plano veio:
● confirmar a internacionalização da economia portuguesa;
● o desenvolvimento da indústria privada como setor principal na economia nacional;
● o crescimento o setor terciário, e consequente incremento urbano;

71
● o aumento das exportações de produtos nacionais;
● a consolidação de grandes grupos económico-financeiros.

Apesar destes Planos de Fomento, o país continuou a sentir um grande atraso


comparativamente à Europa desenvolvida.
O fomento económico das colónias
Até aos anos 40, o Estado Novo desenvolvera um colonialismo típico. As décadas seguintes
seriam marcadas por um reforço da colonização branca, pela escalada dos investimentos
públicos e privados e pela maior abertura ao capital estrangeiro. Angola e Moçambique
receberam uma atenção privilegiada. Os investimentos do Estado nas colónias, a partir de
1953, foram incluídos nos Planos de Fomento.
Havia necessidade de demonstrar à comunidade internacional que o governo central se
empenhava no fomento económico das suas “províncias ultramarinas” como forma de
legitimar este novo conceito de colónias.

O Estado procedeu:
- primeiro, à criação de infra-estruturas: caminhos-de-ferro, estradas, pontes,
aeroportos, portos, centrais hidroeléctricas.
- desenvolveram-se os sectores agrícolas (sisal, açúcar e café em Angola; oleaginosas,
algodão e açúcar em Moçambique) e extrativos (diamantes, petróleo e minério de
ferro, em Angola), virados para o mercado externo.

Associado a este fomento económico esteve o lançamento de projectos de colonização


intensiva com populações brancas, sobretudo após o início da guerra. A consolidação da
presença portuguesa em áreas onde era pouco notada a influência branca era também uma
forma de evidenciar particularidade das relações de Portugal com as suas colónias e, por
outro lado, constituía uma forma de atrair as populações locais para o lado português e
suster o avanço dos guerrilheiros.
No que se refere ao sector industrial, as duas colónias conhecem um acentuado
crescimento, propiciado pela progressiva liberalização da iniciativa privada, pela extensão
do mercado interno e pelo reforço dos investimentos nacionais e estrangeiros. O fomento
económico das colónias recebeu um forte impulso após o início da guerra colonial.
A ideia da coesão entre a metrópole e as colónias viu-se reforçada (em 1961) com a criação
do Espaço Económico Português (EEP) que previa a constituição de uma área económica
unificada, sem quaisquer entraves alfandegários. É no âmbito deste objectivo que se assiste
à beneficiação de vias de comunicação, construção de escolas, hospitais e, sobretudo, ao
lançamento de obras grandiosas.
No entanto, a subordinação das economias ultramarinas aos interesses de Portugal, bem
como os diferentes graus de desenvolvimento dos territórios coloniais, acabaram por
inviabilizar a efectivação deste “mercado único”.

72
O imobilismo político do pós-guerra a 1974
Em 1945 estavam reunidas as condições políticas para, também em Portugal, Salazar
enveredar pela reclamada democratização do país. Demonstra a sua preocupação em
renovar a imagem do regime. Para isso criou, estas medidas (entre outras):
- concedeu amnistia a alguns presos políticos;
- renovou a polícia política (PVDE »» PIDE);
- antecipou a revisão constitucional para introduzir o sistema de eleições dos
deputados por círculos eleitorais, em vez de um círculo nacional único;
- liberdade de imprensa;
- dissolveu a Assembleia Nacional e convocou novas eleições;
- convidou a oposição para participar nas eleições que anunciou “tão livres como as da
livre Inglaterra”.

No entanto, a estrutura da nova política e a actuação do Governo não evidenciaram as


alterações e as novas eleições não eram nada diferentes das eleições anteriores:
- não foi dado tempo aos partidos da oposição para organizarem as listas de
candidaturas;
- não havia condições para que a oposição pudesse desenvolver livremente a sua
intervenção política junto dos eleitores;
- os cadernos eleitorais não eram atualizados, pelo que muitos que já tinham falecido
continuavam a votar;
- campanhas eleitorais vigiadas pela polícia;
- resultados manipulados.

Enfim, o anúncio do carácter democrático das eleições era apenas para dar cumprimento à
letra da Constituição e para iludir a opinião pública internacional. Na realidade, a abertura
política anunciada por Salazar contribuiu para que os opositores ao regime se dessem a
conhecer, o que lhes valeu a intensificação das perseguições, prisão, despedimentos dos
seus empregos, exílio, etc. A feição autoritária e conservadora e autoritária do regime dava
sinais de permanecer, evidenciando o imobilismo político de Salazar, que contava com
alguns apoios internacionais. Com efeito, o carácter anticomunista do Estado Novo até
agradava às democracias ocidentais.
Vivia-se o ambiente de Guerra Fria e, por isso, os EUA e a Inglaterra chegaram mesmo a
apoiar-nos, como o demonstra a aceitação de Portugal como país fundador da NATO (1949)
e como membro da ONU (1955).
2.1.2 A radicalização das oposições e o sobressalto político de 1958

Oposição democrática - Termo que designa, correntemente, a oposição legal ou semilegal


ao Estado Novo, a partir de 1945. Aproveitando a relativa abertura proporcionada pela
revisão constitucional desse mesmo ano, as forças oposicionistas passam a ter maior

73
visibilidade, sobretudo nas épocas eleitorais, em que lhes é permitido que atuem
legalmente, embora com inúmeras restrições.
A 8 de outubro de 1945, surge um movimento oposicionista, o MDU (Movimento de
Unidade Democrática).Para garantir a legitimidade no acto eleitoral, o MUD formula
algumas exigências, que considera fundamentais:
- o adiamento das eleições por 6 meses (a fim de se instituírem partidos políticos);
- a reformulação dos cadernos eleitorais;
- liberdade de opinião, reunião e de informação.
As esperanças fracassaram. Nenhuma das reivindicações do Movimento foi satisfeita e este
desistiu por considerar que o acto eleitoral não passaria de uma farsa. A apreensão das
listas pela PIDE permitiu perseguir a oposição democrática. Em 1949 o nosso país tornou-se
membro fundador da NATO, o que equivalia a uma aceitação clara do regime pelos
parceiros desta organização.
Um momento de grande contestação do regime acontece em 1949, ano das eleições do
Presidente da República. A oposição apresentou o candidato Norton de Matos, um general
que conseguiu reunir as tendências oposicionistas. No entanto, face à intensa repressão e à
inevitabilidade de uma derrota, Norton de Matos desistiu do processo eleitoral. Todavia, a
candidatura do general entusiasmou a opinião pública e esta foi bastante importante para
abrir o caminho ao grande sobressalto do regime.
Este movimento denunciou os abusos do regime e reclama eleições verdadeiramente
justas e, em consequência do seu sucesso, formou-se no país uma oposição democrática
que, até 1974, não iria dar tréguas ao regime.

O sobressalto político de 1958


1958 é o ano de novas eleições para a Presidência da República e a Oposição apresentou
Humberto Delgado como o candidato que iria derrotar o candidato da União Nacional,
Américo Tomás. Afirmando publicamente a sua intenção de demitir Salazar, caso fosse
eleito, e assumindo o título de “General sem medo”, congregou à sua volta um movimento
de apoio tão amplo que fez tremer o regime pela primeira vez. O resultado revelou mais
uma vitória esmagadora do regime, apoiada numa massiva manipulação e fraude eleitoral.
A credibilidade do Governo foi posta em causa. Salazar introduziu mais uma alteração à
Constituição, segundo a qual era anulada a eleição por sufrágio direto do Presidente da
República, que passava a ser eleito por um colégio eleitoral restrito.

Radicalização das oposições


A necessidade de divulgar internacionalmente a natureza antidemocrática do regime, a
Oposição intensificou a sua contestação:
- A carta do bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes, em que criticava a situação
político-social e religiosa do país (denuncia a miséria do povo e a falta de liberdades
cívicas). A consequência foi o seu exílio em 1959;
- O exílio e o assassinato de Humberto delgado na sequência das eleições
presidenciais. Este retirou- se para o Brasil e, em 1963, fixou-se na Argélia onde
passa a dirigir a Frente Patriótica de Libertação Nacional. A sua ação estava a
manchar de tal forma a imagem do regime que, em fevereiro de 1965, Salazar
ordenou a execução do general;

74
- O assalto ao Santa Maria. Em janeiro de 1961, em pleno mar das Caraíbas, o navio
português Santa Maria é assaltado e ocupado por Henrique Galvão, como forma de
protesto contra a falta de liberdades cívicas e políticas em Portugal. Este ato foi visto
a nível internacional como um protesto legítimo, apesar do Governo português o ter
tentado rotular como um ato de pirataria. Henrique Galvão foi entregue à armada
americana que o conduziu ao exílio no Brasil.
- O desvio de um avião da TAP. Em 1961, um grupo de Oposicionistas liderado por
Palma Inácio, assalta um avião da TAP e inunda Lisboa de propaganda antifascista.
Palma Inácio conseguiu escapar e exilou-se em Marrocos.
- O assalto à dependência do Banco de Portugal, levado a cabo por Palma Inácio em
1967 com o objetivo de angariar fundos para posteriores ações de revolta. Esta
operação foi a que mais feriu o orgulho de Salazar, visto que todos os pedidos
solicitados ao estrangeiro foram recusados porque esta operação tinha um carácter
político.
A tomada da cidade de Covilhã liderada por Palmo Inácio foi um fracasso e levou-o à
prisão, no entanto, outras ações violentas levadas a cabo por opositores fizeram tremer
permanentemente o regime e conduziram-no ao seu fim.

2.1.3 A questão colonial


Com o fim da 2a Guerra Mundial, a Exposição do Mundo Português, a aprovação da Carta
das Nações e as crescentes pressões internacionais, o Estado Novo viu-se obrigado a rever a
sua política colonial e a procurar soluções para o futuro do Império.

Soluções preconizadas
A adaptação aos novos tempos processou-se em duas vertentes, uma ideológica e outra
jurídica:
Vertente ideológica
Na década de 30, Gilberto Freire, apresentou a teoria do lusotropicalismo, segundo a qual
era confirmada a ideia, já presente no Ato Colonial de 1930, de que a presença portuguesa
em África se revestia de características particulares e não podia ser considerada uma
presença colonial. Os portugueses haviam demonstrado uma surpreendente capacidade de
adaptação à vida nas regiões tropicais, onde, por ausência de convicções racistas, se tinham
entregado à fusão de culturas, retirando-lhe o carácter opressivo que assumiam outras
nações. A estas características acrescenta-se o papel histórico de Portugal como estado
evangelizador.

Vertente jurídica
Em 1951, revoga-se o Ato Colonial e inseriu-se o estatuto dos territórios na Constituição.
Desta forma, Portugal deixou, legalmente, de ter colónias e passou a ter Províncias
Ultramarinas, que ganharam equivalência jurídica a qualquer território continental. Portugal
apresentava-se então como um Estado pluricontinental e multirracial

Em 1961, eclodem as primeiras revoltas em Angola e confrontam-se duas teses distintas:

75
● Tese integracionista: Política que defendia a integração plena das Províncias
Ultramarinas.
● Tese federalista: Defendida não só pela oposição ao regime, mas também por altos
quadros da hierarquia militar e por alguns membros do Governo, esta política
considerava não ser possível, prevendo as dificuldades económicas e humanas,
manter uma guerra. Os defensores desta tese chegaram a propor a destituição de
Salazar.

Face aos sinais da rebelião independentista (e à aposta no federalismo), Salazar enviou


para Angola os primeiros contingentes militares. Começara uma das mais longas guerras
que se prolongaria até à queda do regime.

A luta armada
A recusa do governo português de aceitar a possibilidade de autonomia das colónias
africanas fez extremar as posições de libertação que se formaram em África:
● Em Angola, em 1955, surge a UPA (União das Populações de Angola), liderada por
Holden Roberto que, sete anos mais tarde, se transforma na FNLA (Frente Nacional
de Libertação de Angola); o MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola)
dirigido por Agostinho Neto, em 1956; e a UNITA (União para a Independência Total
de Angola) que surgiu com Jonas Savimbi, em 1966.
● Em Moçambique, em 1962, surge a FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique),
criada por Eduardo Mondlane.
● Na Guiné, em 1956, foi criado o PAIGC (Partido para a Independência da Guiné e
Cabo Verde), fundado por Amílcar Cabral.

A guerra de libertação foi iniciada no norte de Angola em 1961, na sequência de ataques


da UPA a várias fazendas e postos administrativos portugueses. A guerra rapidamente se
espalhou pelo resto do território, obrigando à mobilização de milhares de portugueses.
Em 1963, a guerra alastrou-se à Guiné e, no ano seguinte, a Moçambique. Abriram-se assim
três frentes de combate que, à custa de elevadíssimos custos materiais e humanos, chegou
a surpreender a comunidade internacional.
As pressões internacionais e o isolamento do país
Quando, em 1955, Portugal passou a ser membro da ONU, continuava a recusar-se a ceder
as suas colónias. Esta oposição do governo português levou a Assembleia Geral, sob fortes
pressões dos países do Terceiro Mundo, a colocar sob a mesa a questão colonial. A ONU,
não só não aceitou a tese do lusotropicalismo, como condenou a atitude colonialista
portuguesa e aprovou sucessivas resoluções para pressionar Portugal a arrancar com um
efetivo programa de descolonização.
A condenação internacional do colonialismo português culminou com a aprovação da
resolução 1514, a 14 de dezembro de 1960, que confirmou as possessões portuguesas
inseridas no conceito de colónias previsto pela Carta da ONU. Portugal continuava a rejeitar
o direito à autodeterminação de à liberdade das colónias o que conduziu ao desprestígio do
nosso país internacionalmente. Para além das dificuldades que lhe foram colocadas pela
ONU, Portugal viu-se, no início dos anos 60, com a hostilidade da administração americana
de Kennedy. Os americanos mostraram-se convictos que o prolongamento da guerra

76
colonial apenas iria favorecer os interesses soviéticos, visto que afastava os estados
africanos de Portugal e, consequentemente, da NATO. Deste modo, os EUA não só
financiaram alguns grupos nacionalistas, como propuseram sucessivos planos de
descolonização procurando vencer as resistências de Salazar. De forma a conseguir
sustentar a sua posição colonial, Portugal permitiu a utilização das bases das Lajes, nos
Açores, vital para os Americanos durante a Guerra Fria.
A intensificação da hostilidade internacional, incluindo a da administração americana, da
generalidade dos membros da NATO e mesmo Espanha que deixou de votar ao lado de
Portugal na ONU, o país estava cada vez mais isolado das diversas instituições
internacionais.

2.1.4 A primavera marcelista


↳ assumiu-se como um período de esperança de abertura do regime, que se
traduziu na implantação de um conjunto de medidas de carácter mais liberal e reformista.
Reformismo político
Em 1968, Marcello Caetano foi escolhido pelo presidente Américo Thomaz para substituir
António de Oliveira Salazar e assumir a 27 de setembro o cargo de Presidente do Conselho.
Oriundo de uma via mais liberal no seio do regime, Marcello Caetano procurou conciliar os
interesses dos setores mais moderados e dos conservadores. Por um lado, procurou manter
as linhas mais conservadoras da política de Salazar e, por outro, mediante várias reformas,
procurou aquilo que ficou designado por “renovação na continuidade”.

- autorizou o regresso ao país de alguns exilados, como Mário Soares e o bispo do


Porto;
- concedeu uma maior liberdade à oposição política com a autorização de realização
do II Congresso Republicano em Aveiro, em maio de 1969, e do III Congresso da
Oposição Democrata, em 1973;
- a PIDE passou a denominar-se DGS (Direção Geral de Segurança);
- a União Nacional foi reformada e passou a chamar-se Ação Nacional Popular (ANP);
- o Governo integrou, pela primeira vez, uma mulher (Maria Teresa Lobo como
secretária de Estado da Saúde e da Assistência);
- a censura foi denominada de Exame Prévio e a sua atuação tornou-se mais
moderada;
- a nova legislação sindical permitiu a eleição de direções sindicais, sem a aprovação
do ministério;
- alargou o sufrágio feminino a todas as mulheres escolarizadas;
- a Sistema de Previdência Social foi alargado aos trabalhadores rurais e criou-se a
assistência social aos funcionários públicos (ADSE);
- implementou-se a escolaridade obrigatória para os seis anos, diversificou-se a oferta
de formação e o número de alunos aumentou;
- a economia portuguesa foi aberta à Europa e ao investimento estrangeiro, o que
favoreceu a modernização de infraestruturas;
- passou a justificar a intervenção militar no ultramar com base na ideia da defesa das
populações locais, contra os ataques a guerrilha;
- Angola e Moçambique tornaram-se regiões autónomas e receberam a denominação
de “Estado”.

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Foi durante a primavera marcelista, num ambiente de relativa abertura política que
ocorreram as eleições legislativas de 26 de outubro de 1969. Pela primeira vez concorreram
a Comissão Eleitoral de Unidade Democrática (CEUD) e a Comissão Eleitoral Monárquica
(CEM), para além da União Nacional.
Durante a campanha eleitoral, a oposição beneficiou de uma maior liberdade de ação e de
expressão, teve acesso aos cadernos eleitorais e à fiscalização das mesas de voto.
Apesar de ter sido um ato eleitoral mais livre, não deixou de ocorrer fraude eleitoral. Estas
eleições acabaram com a vitória da União Nacional, cujas listas incluíram, pela primeira vez,
elementos mais liberais como Francisco Sá Carneiro, José Pedro Pinto Leite, João Bosco
Mota Amaral e Francisco Pinto Balsemão (a Ala Liberal).

A contestação ao regime voltou a intensificar-se e a radicalizar-se. Uma nova crise


académica na Universidade de Lisboa, a partir de 1968, com greves e protestos, revelou o
descontentamento dos estudantes com o regime e a continuação da guerra colonial.
A contestação alastrou-se até à Universidade de Coimbra, em 1969. Outros setores de
atividade também conheceram um ambiente de contestação, marcado por uma onda de
greves e manifestações. O regime marcelista respondeu a estas contestações com o
endurecimento da sua posição e com acentuado conservadorismo.
- encerrou associações de estudantes;
- prendeu e incorporou estudantes do exército colonial;
- destituiu direções sindicais;
- reprimiu manifestações com as forças policiais;
- retomou as prisões de oposicionistas;
- impediu o regresso ao país de Mário Soares.

Foi interrompida a via liberalizadora e reformista que culminou com o abandono dos
deputados da AlaLiberal da Assembleia Nacional e com a reeleição, em 1971, de Américo
Thomaz.
Marcello Caetano acabou por se aliar aos setores mais conservadores e a mudança que se
esperava com a primavera marcelista não se verificou. A política marcelista recuou na
abertura (política, económica e social) que tinha encetado em 1968. A transição para a
democracia ainda não era possível.

O impacto da guerra colonial


Aquando da escolha de Marcello Caetano, as Forças Armadas impuseram que o novo chefe
executivo mantivesse a guerra em África. Marcello Caetano concordou, afirmando a sua
intenção de continuar a defender os interesses da população branca que residia nas
colónias. Paralelamente, dando convicção às convicções federalistas, redigiu um projeto de
revisão das colónias onde as encaminhava para uma maior autonomia. Embora este novo

78
estatuto de “Estados honoríficos”, pouco ou nada mudava para os movimentos
independentistas.
Assim, a guerra continuava à medida que o isolamento internacional de Portugal se
acentuava:
- em 1970, o Papa Paulo VI recebeu líderes de movimentos independentistas,
provocando uma humilhação para Portugal;
- as manifestações de protesto que envolveram a visita de Marcello Caetano a
Londres, em 1973, em consequência do conhecimento dos massacres portugueses a
Moçambique;
- declaração unilateral da independência da Guiné- Bissau, em 1973, e o seu
reconhecimento pela Assembleia-geral da ONU.

Entretanto, internamente, a pressão aumenta e o regime esboroa-se:


- crescem, sobretudo entre as camadas estudantis, fortes movimentos de oposição à
guerra e acentuam-se as fugas à incorporação militar;
- grupos de católicos progressistas levam a cabo manifestações públicas de
condenação da guerra e de reconhecimento do direito dos povos africanos à
independência;
- em finais de 1973, os deputados da Ala Liberal da Assembleia Nacional protestam
contra a guerra, abandonando o Parlamento;
- em inícios de 1974, perante a iminência de uma derrota vergonhosa, é um membro
da alta hierarquia militar, o general António Spínola, antigo governador e
comandante-chefe das Forças Armadas da Guiné, quem denuncia a falência da
solução militar com a publicação do seu livro “Portugal e o Futuro”.

Marcello Caetano percebeu que o golpe de Estado era inevitável.

2.2 Da revolução à estabilização da democracia


2.2.1 O movimento das forças armadas e a eclosão da revolução

Em 1974, o problema da guerra colonial continuava por resolver.


Na Guiné, o PAIGC ocupava parte significativa do território e já tinham declarado
independência. A guerra estava perdida. Em Angola e Moçambique, a situação continuava
difícil. Perante uma recusa do Governo de fazer algo em relação a isto, os militares
entenderam que se tornava urgente pôr fim à ditadura e abrir caminho à democratização do
país.

A esta conjuntura política acrescentava-se:


- o crescente descontentamento popular contra o aumento do custo de vida, causado
pela crise petrolífera;
- descontentamento dos setores militares (o que originou o Movimento dos Capitães);
- insatisfação do sector empresarial moderno, descrente no marcelismo e desejoso de
aproximação à Europa comunitária e que via a democratização do país como único
meio de o país alcançar o progresso;
- intensificação da violência levada a cabo pelos movimentos clandestinos armados.

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Devido à situação de isolamento internacional vivida por Portugal relativamente à política
colonial e também devido à insatisfação da população face à ditadura instalada e face ao
custo de vida elevado, surgiu em 1973 o Movimento de Capitães.
O Movimento dos Capitães, nasceu em julho de 1973, como forma de protesto contra a
integração na carreira militar de oficiais milicianos ao quadro permanente do exército.

O movimento dos capitães


Com as dificuldades da guerra colonial, os militares aperceberam-se que esta era uma
causa perdida. Foi este sentimento que levou o general Spínola a publicar Portugal e o
Futuro e que levou à criação de movimentos de oficiais.
Muito rapidamente, as reivindicações adquiriram um cariz político, orientando-se para a
democratização do regime. Considerando que este objetivo político exigia a intervenção de
altas patentes, o movimento depositou a sua confiança nos generais Costa Gomes e Spínola,
chefe e vice-chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, respetivamente.
Face a estas oposições, Costa Gomes e António Spínola recusaram-se a participar numa
manifestação de apoio ao Governo e à sua política, pelo que foram destituídos dos seus
cargos, ficando disponíveis para congregar a confiança do movimento de contestação que
crescia no meio militar.
Assumindo como principal objetivo pôr fim à política do Estado Novo, o movimento
corporativo cresceu com a adesão das principais unidades militares, tornando-se mais forte
e mais bem organizado. O Movimento dos Capitães evoluiu para o Movimento das Forças
Armadas (MFA).
Operação “Fim-Regime”
São as Forças Armadas que vêm para a rua na madrugada de 25 de abril de 1974 e
conseguem levar a cabo a revolução que pôs fim ao regime. A ação militar, sob coordenação
de Otelo Saraiva de Carvalho, teve início cerca das 23 horas do dia 24 de abril com a
transmissão, pela rádio, da canção “E Depois do Adeus”, de Paulo de Carvalho. Era a
primeira indicação que tudo estava a decorrer com normalidade. Às 00.20 do dia 25, era
transmitida a canção “Grândola, Vila Morena”, de José Afonso. Estava dado o sinal de que as
unidades militares podiam avançar para a ocupação dos pontos considerados estratégicos,
como as estações de rádio e da RTP, os aeroportos civis e militares, as principais instituições
de direção político-militar, entre outros.

A única falha no plano previsto foi a neutralização dos comandos do regime de Cavalaria 7
de Lisboa que não aderiram ao golpe e que apresentaram resistência, defendendo o regime.
Salgueiro Maia, um jovem destacado da Escola Prática de Cavalaria de Santarém, não
autorizou os seus homens a abrir fogo contra o regime de Cavalaria 7 e, corajosamente,
falou com o inimigo. Coube também a Salgueiro Maia dirigir o cerco ao Quartel do Carmo,
onde se tinham refugiado alguns membros do Governo. A resistência ao quartel terminou
18 horas depois, quando Marcello Caetano se rendeu, dignamente, ao general Spínola,
entregando-lhe o poder. Terminou a operação “Fim Regime”.
Entretanto, já o golpe militar era aclamado nas ruas pela população portuguesa, cansada da
guerra e da ditadura. A multidão acorrera às ruas em apoio aos militares a quem distribuía
cravos vermelhos. Só a polícia política é que resistia, mas render-se-ia na manhã seguinte,

80
sem antes disparar sobre a população, provocando os únicos quatro mortos da Revolução
dos Cravos.
A facilidade com que o regime autoritário caiu às mãos do seu próprio exército é a prova
evidente do isolamento em que tinha mergulhado a vida política portuguesa.

2.2.2 A caminho da democracia


Em 1976 o país viveu um período de grande instabilidade e conheceu também grandes
tensões sociais e fortes afrontamentos políticos.
O desmantelamento das estruturas do Estado Novo
No próprio dia da revolução, Portugal viu-se sob a autoridade de uma Junta de Salvação
Nacional, constituída por acordo entre o MFA e a hierarquia das Forças Armadas. A Junta
tomou imediatamente, de acordo com o programa do MFA, um conjunto de medidas
tendentes à liberalização da política partidária e ao desmantelamento das estruturas do
regime deposto.
- Américo Tomás (PR) e Marcello Caetano (PGov) foram destituídos do poder, presos
e, mais tarde, exilados para o Brasil;
- Assembleia Nacional e Conselho de Estado são Dissolvidos;
- Constituição de 1933 é revogada;

81
- todos os governadores civis, no continente, governadores dos distritos autónomos,
nas ilhas adjacentes, e governadores-gerais, nas províncias ultramarinas são
destituídos;
- extinção das principais estruturas repressivas da ditadura e a prisão de grande parte
dos seus membros;
→ Censura
→ PIDE
→ Legião Portuguesa
→Acção Nacional Popular
- extinção de todas as organizações políticas de propaganda e de arregimentação do
regime;
- presos políticos amnistiados e libertados e os exilados regressaram ao país;
- formação de novos partidos políticos e de sindicatos livres;
- procedeu-se à nomeação de um Governo Provisório que integrava personalidades
representativas das várias correntes políticas;
- preparou-se eleições livres para eleger uma Assembleia Constituinte que iria redigir
uma nova Constituição;
- a 15 de Maio o general Spínola foi nomeado PR e Adelino Carlos convidado para
presidir à formação do I Governo Provisório.

Tensões político-ideológicas na sociedade e no interior do movimento revolucionário:


No dia 1º de Maio de 1974, gigantescas manifestações de rua celebraram, em unidade, o
regresso da democracia. No entanto, os anos 74 e 75 ficaram marcados por uma enorme
agitação social, pela multiplicação dos centros de poder e por violentos confrontos políticos.

O “período Spínola”
Nos meses que se seguiram à queda da ditadura, foi complicado organizar a sociedade,
tendo passado o país por confrontos políticos e sociais. O I Governo Provisório e o
Presidente Spínola não reuniam condições para controlar as imposições que se faziam ouvir
de uma população que queria alcançar a liberdade e igualdade social que há muito não
tinham, o que resultou na demissão do Governo.
O II Governo Provisório teve como primeiro-ministro Vasco Gonçalves, onde se registou
uma tendência revolucionária de esquerda, aproveitada por estudantes e por trabalhadores
para imporem processos sumários de saneamento de docentes e de empresários ou
gestores identificados com o antigo regime, de ocupações de instalações laborais, fábricas,
de campos agrícolas de residências devolutas. Cresciam por todo o país organizações com
forte poder reivindicativo e que se iam assumindo com força para imporem ao poder
público a resolução dos seus problemas. Eram manifestações de poder popular que
emergiam em Portugal.
Entretanto, foi então criado o COPCON - comando operacional do continente, sob
liderança de Otelo Saraiva de Carvalho, que fará deste órgão de poder militar e político
(forte apoio do partido comunista)um elemento essencial de ligação entre o MFA e as
movimentações populares, tendo, com o decorrer dos acontecimento, evoluído para o
apoio a uma construção de formas de poder popular.

82
Entretanto, agravam-se as divergências entre o PR (Spínola) e o Movimento das Forças
Armadas sobre os rumos a tomar no processo da descolonização e sobre a evolução política
do país. Spínola apoia o lado conservador mas, no entanto, o MFA apoia o esquerdismo
revolucionário, cada vez mais influente no exercício do poder, em prejuízo da autoridade do
Presidente da República.
Neste contexto, Spínola ao perder a influência que tinha, demite-se e Costa Gomes é
indicado para Presidente da República. Mais tarde, Spínola tenta um golpe militar, porém
não é bem-sucedido e tem de fugir para Espanha, triunfando assim as forças revolucionárias
de esquerda.

A radicalização do processo revolucionário


A revolução tende a radicalizar-se. Para chefiar o II Governo Provisório foi nomeado um
militar próximo do PCP, o general Vasco Gonçalves, enquanto era criado o Comando
Operacional do Continente (COPCON) para intervir militarmente em defesa da revolução,
tendo o seu comando sido confiado a Otelo Saraiva de Carvalho, cada vez mais próximo das
posições de extrema-esquerda. Reagindo a este processo, as forças conservadoras tentaram
um derradeiro golpe, em 11 de Março de 1975, que fracassou, obrigando o general Spínola
e alguns oficiais a procurar refúgio em Espanha.
O 11 de Março de 1975 – iminência de confrontação militar
O 11 de Março acentuou o radicalismo na revolução portuguesa e provocou o aumento da
conflitualidade política e social. Ao nível das forças armadas, foi constituído o Conselho da
Revolução, em substituição da anterior Junta de Salvação Nacional, com o propósito de
orientar o Processo Revolucionário em Curso (PREC), que deveria encaminhar Portugal para
uma sociedade socialista. Além disso, as forças de extrema-esquerda enveredaram por uma
estratégia de poder popular.

Poder Popular - Poder direto do povo, que toma em mãos a resolução dos seus
problemas e a gestão dos meios de produção. Exerce-se, normalmente, através de
conselhos ou comissões eleitas localmente. O poder popular é um conceito revolucionário
ligado à ideologia marxista.

Por todo o país se procede a saneamentos sumários de quadros técnicos e outros


funcionários considerados “de direita”; nas empresas privadas, as comissões de
trabalhadores assumem o comando, impedindo os proprietários de entrarem nas
instalações e destituindo os corpos gerentes; nas cidades e vilas constituem-se “comissões
de moradores” e “comités de ocupação” que levam a cabo a ocupação de casas vagas, do
Estado ou de particulares, quer para fins habitacionais, quer para a instalação de
equipamentos sociais de iniciativa popular (creches, centros clínicos, parques infantis); no
sul, a Reforma Agrária toma uma feição extremista com a ocupação de grandes herdades
pelos trabalhadores rurais, que as transformaram em “unidades coletivas de produção”.
Tudo parecia, nesta altura, encaminhar Portugal para a adoção de um modelo coletivista,
sob a égide das Forças Armadas.
As eleições de 1975 e a inversão do processo revolucionário
A inversão do processo deveu-se ao forte impulso dado pelo Partido Socialista à efectiva
realização, no prazo marcado, das eleições constituintes prometidas pelo programa do MFA.

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Estas eleições, as primeiras em que funcionou o sufrágio verdadeiramente universal,
realizaram-se no dia 25 de Abril de 1975, marcando a vida cívica e política portuguesa.
Tanto a campanha como o acto eleitoral decorreram dentro das normas de respeito e de
pluralidade democrática.
Deu-se a vitória do Partido Socialista, seguido do Partido Popular Democrático, nas eleições
para a Assembleia Constituinte. Todavia, a predominância política continua a ser detida pelo
Partido Comunista através da sua ligação ao sector mais radical do MFA e a alguns membros
do Conselho da Revolução, que se iam constituindo como verdadeiros detentores do poder.
Como forma de protesto, PS e PPD abandonam o Governo e passam a afirmar-se como
forte oposição aos governos de Vasco Gonçalves tendo em vista o regresso ao programa
inicial do MFA. Neste Verão de 1975 (conhecido como “Verão Quente”), a oposição entre as
forças políticas atinge o rubro, expressando-se em gigantescas manifestações de rua,
assaltos a sedes partidárias e pela multiplicação de organizações armadas revolucionárias de
direita e de esquerda. Foi um tempo que esteve iminente o confronto entre os partidos
conservadores e os partidos de esquerda.
Política económica antimonopolista e intervenção do Estado no domínio económico-
financeiro:
O “Processo Revolucionário em Curso”
PREC → vaga de atividades revolucionárias levadas a cabo pela esquerda radical com vista
à conquista do poder e ao reforço da transição para o socialismo marxista.
Aonde de agitação social que se desencadeou após o 25 de Abril foi acompanhada de um
conjunto de medidas que alargou a intervenção do Estado na esfera económica e financeira.
Estas medidas tiveram como objectivo a destruição dos grandes grupos económicos,
considerados monopolistas, a apropriação, pelo Estado, dos sectores-chave da economia e o
reforço dos direitos dos trabalhadores. A intervenção do Estado em matéria económico-
financeira encontrava-se já prevista no Programa do I Governo Provisório, que referia a
nacionalização.

Nacionalização - Apropriação pelo Estado de uma unidade de produção privada ou de um


setor produtivo. Ao contrário da “estatização”, a nacionalização não determina a perda da
personalidade jurídica e da autonomia financeira. Portugal não acompanhou o processo
de nacionalizações que se registou na Europa após a segunda guerra mundial. Em
contrapartida, na sequência do 25 de Abril, foram nacionalizadas, num curto espaço de
tempo, as instituições financeiras, as empresas ligadas aos setores económicos mais
importantes, bem como grandes extensões de terra agrícola.

Foi nesta altura que assistiu-se à intervenção do Estado na eliminação dos privilégios
monopolistas do débil sector capitalista português, em consequência das medidas
socializantes adoptadas pelos sucessivos governos de Vasco Gonçalves, como:

- apropriação pelo Estado dos sector-chave da economia nacional (indústria química,


banca, seguros, transportes e comunicações, cimentos, celuloses e siderurgia);
- intervenção do Estado na administração de pequenas e médias empresas;
- grandes campanhas de dinamização cultural e acção cívica;
- reforma agrária com a expropriação institucional das grandes herdades e a
organização da sua exploração em Unidades Colectivas de Produção (UCP).

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Reforma Agrária - Processo de coletivização dos latifúndios do Sul, que decorreu entre
1975 e 1977. São traços característicos da reforma agrária a ocupação de terras pelos
trabalhadores, a sua expropriação e nacionalização pelo Estado e a constituição de
Unidades Coletivas de Produção (UCP),

Com o objectivo de explicar às populações do interior rural o significado da revolução, o


valor da democracia e a importância do voto popular nos diversos sufrágios em curso, bem
como os direitos dos trabalhadores.
Grandes conquistas dos trabalhadores que viram a sua situação social e económica muito
beneficiada.
- direito à greve;
- liberdade sindical;
- instituição de um salário mínimo nacional;
- controlo dos preços dos bens de primeira necessidade;
- redução do horário de trabalho;
- melhoria das pensões e das reformas;
- generalização de subsídios sociais;
- aplicação de medidas tendentes a promover as garantias de trabalho pela criação de
dificuldades aos despedimentos.

O “Documento dos Nove” - inversão do processo revolucionário


Face à crescente radicalização do processo revolucionário um grupo de 9 oficiais do
próprio Conselho da Revolução, encabeçados pelo major Melo Antunes, num documento
criticam abertamente os sectores mais radicais do MFA: contestava o clima de anarquia
instalado, a desagregação económica e social e a decomposição das estruturas do Estado.
O “25 de Novembro” – fim da fase extremista do processo revolucionário
Esta inversão do processo revolucionário traduziu-se no agravamento da confrontação
política e social de tal modo que as desobediências e revoltas nos quartéis faziam prever a
eclosão de um conflito militar generalizado.
É então que, em 25.10, dizendo que se estava a preparar uma tentativa de golpe,
encorajada pela esquerda militar e pelo PCP, um grupo de militares moderados liderados
pelo general Ramalho Eanes responde com um contra golpe. O que aconteceu no dia 25 foi
uma arriscada acção militar contra o avanço da esquerda radical, que acabou por conduzir
as forças moderadas ao poder.
Vasco Gonçalves é demitido e um VI GovProv é entregue a Pinheiro de Azevedo, outro
militar, politicamente mais moderado. Assim termina a fase mais extremista do processo
revolucionário. A revolução regressava aos princípios democráticos e pluralistas de 25.4,
confirmados com a promulgação da Constituição de 1976.
A opção constitucional de 1976
A Constituição consagra o Estado português como uma república democrática e pluralista
porque:
- garante liberdades individuais;
- garante alternância democrática.

85
↳ através da realização de eleições livres e universais que dão a liberdade dos
cidadãos escolherem os seus representantes para as várias instituições do poder
Assim, a Constituição de 1976 ao conseguir conciliar as diferentes concepções ideológicas
subjacentes ao processo revolucionário, pode ser considerada o documento fundador da
democracia portuguesa.
No seguimento da promulgação da Constituição, realizam-se eleições para: Primeira
Assembleia da República (25.4.76).
O Partido Socialista ganha formando o I Governo Constitucional chefiado por Mário Soares
e para a Presidência fica a cargo de Ramalho Eanes.
O poder local foi estruturado em municípios e freguesias dotados de um órgão legislativo,
respetivamente, a Assembleia Municipal e a Assembleia da Freguesia, e de um órgão
executivo, a Câmara Municipal e as Juntas de Freguesia.
Reconhece autonomia administrativa das ilhas adjacentes. Na Madeira e Açores foram
dotados de governos regionais suportados por assembleias legislativas regionais. Como
representante máximo da soberania nacional é designado, pelo Chefe de Estado, um
ministro da República com competências paralelas a nível local.
2.2.3 O reconhecimento dos movimentos nacionalistas e o processo de
descolonização
O outro processo imediatamente iniciado foi o da descolonização (o terceiro dos “D” que
nortearam a revolução: Democracia, Desenvolvimento e Descolonização).
Tratou-se de um complicado processo marcado por profundas divergências sobre a ação a
empreender:
- o programa do MFA propunha “o claro reconhecimento do direito à
autodeterminação e a adopção de medidas tendentes à autonomia administrativa e
política dos territórios ultramarinos”;
- uma corrente política mais moderada, representada por Spínola (PR) propunha o
“lançamento de uma política ultramarina que conduza à paz”.

Os tempos eram favoráveis ao triunfo da opção do MFA:


- os movimentos independentistas exigiam a rápida solução do problema colonial
pelo imediato reconhecimento da independência, com transferência do poder para
os movimentos de libertação, sem passar por qualquer acto eleitoral;
- pressão internacional, sobretudo da ONU e dos países da Organização da Unidade
Africana e, mesmo, de alguns países europeus e até do Brasil, excluía um processo
de descolonização faseado, pelo tempo que iria demorar;
- aos governantes portugueses também não era de todo alheia vontade de resolver o
problema o mais rapidamente possível, para fazer regressar os militares
portugueses e para que, internacionalmente, não restassem dúvidas sobre o caráter
democrático e anticolonial do novo regime;
- também os responsáveis do MFA nos três territórios de guerra, expressando a
vontade das tropas portuguesas aí colocadas, pressionarem o poder político para o
estabelecimento de conversações tendentes a um cessar fogo imediato.
Com a tomada de posse do II GovProv, o MFA inicia as negociações para a transferência de
poderes.
Os processos pacíficos

86
Após a revolução, a ONU apelou que Portugal libertasse as colónias, situação que era
apoiada pela maioria dos partidos do novo regime português. Por essa razão, o Estado
reconhece a independência das colónias e iniciam-se negociações:
- o processo negocial para a independência da Guiné inicia-se a 1 de Julho de 1974;
→ sendo o PAIGC o único parceiro com legitimidade para assumir o poder
→ a nova República é reconhecida com a assinatura do Acordo de Argel
- na sequência do Acordo de Argel a 5 de julho de 1975, é reconhecida a
independência de Cabo Verde e inicia-se o processo de independência;
- o poder em S. Tomé e Príncipe é entregue ao MLSTP, um movimento não militar,
organizado no exílio e reconhecido pelo Governo português, em 12 de julho de 1975.
Estes processos não ofereceram grandes problemas , quer no decurso das negociações
quer nas suas posteriores evoluções políticas. Porém, os casos de Angola e Moçambique
vieram a tornar-se muito complicados
O caso de Moçambique
Existia apenas um movimento de libertação reconhecido pelo MFA como único
representante legítimo do povo moçambicano, FRELIMO.
No entanto, surgem organizações políticas a contesta a exclusividade da presença desta
organização no processo negocial, tanto mais que se identificava com a ideologia comunista.
↳ contestação aumenta quando Governo português celebra com os representantes da
FRELIMO o Acordo de Lusaca
↳ estabelece o cessar-fogo e a formação de um governo de transição
Imediatamente surge a Renamo:
→ grupo de resistência armada
↳ contra o que considera ser o desvirtuamento da democracia com a entrega
do poder a um único movimento de representatividade parcial

como consequência, Moçambique entra numa guerra civil
Provocou o abandono do território por parte de milhares de portugueses, a grande maioria
voltou à metrópole, o Movimento dos Retornados.
O processo político moçambicano ficou resolvido com a assinatura dos acordos de paz
celebrados em outubro de 1992, o que implicou a alteração constitucional, segundo o qual o
regime admite o pluripartidarismo. A paz foi confirmada com a realização de eleições livres,
em 1994, ganhas pelo partido FRELIMO.

O caso de Angola
O caso de Angola foi muito mais complexo:
↳ luta contra dominação colonial portuguesa
→ empreendida por 3 movimentos de libertação:
- com tendências políticas diferentes
- eram constituídos por etnias rivais dominantes na população angolana

Angola era a província economicamente mais poderosa, onde:


- interesses da população branca eram mais fortes

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↳ impunham uma intervenção política mais cuidada por parte do Governo
português
A 15 de setembro de 1975, após algumas dificuldades, consegue-se a assinatura do Acordo
de Alvor
↳ previa o reconhecimento dos três movimentos como legítimos representantes do povo
angolano
- marca-se a independência para 11 de novembro
De seguida formar-se-ia as Forças Armadas Integradas e a organização de eleições livres e
democráticas para uma assembleia legislativa pluripartidária. Nada disto se concretizou, até
pelo contrário
↳ movimentos reforçam as suas posições militares no terreno e, em maio, iniciou-se o
conflito armado entre o MPLA (apoio da URSS) e a FNLA (apoio dos EUA).
julho → conflito agrava-se e internacionaliza-se ainda mais com a intervenção directa de
alguns países:
● Apoiantes da FNLA E da UNITA (que entretanto também inicia luta armada):
- África do Sul;
- Zaire;
- EUA.

● Apoiantes do MPLA:
- Europa de Leste;
- Congo;
Cuba.

Agravamento do conflito → formação de dois governos:

República Popular de Angola República Democrática de Angola

● MPLA ● UNITA/FNLA
● Sede Luanda ● Sede Huambo
● Presidida por José Eduardo Dos ● Presidida por Jonas Savimbi
Santos

O governo português veio a reconhecer o Governo do MPLA em Fevereiro de 1976.


A população branca angolana inicia também o processo de retorno à metrópole
aumentando o movimento dos retornados iniciando em Moçambique, deixando os
angolanos numa violenta crise civil.
O acordo de paz chega a ser celebrado e, em 1989, as eleições são feitas como previsto no
Acordo de Alvor. No entanto, a direcção da UNITA não reconheceu os resultados e as
divergências políticas continuam por resolver até ao início de 2000.
Só a partir de 22 de Fevereiro de 2002 (quando o líder da UNITA foi morto) é que o
problema da pacificação de Angola entrou no caminho da resolução definitiva.
2.3 O significado internacional da revolução portuguesa

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A revolução de Abril contribuiu para quebrar o isolamento e a hostilidade de que Portugal
tinha sido alvo, recuperando o país a sua dignidade e a aceitação nas instâncias
internacionais.
Para além deste reencontro de Portugal com o mundo, o fim do Governo marcelista teve
uma influência apreciável na evolução política espanhola. Em Espanha, a morte do General
Franco, em 1975, criou condições para uma rápida transição para a democracia; Estímulo
para os opositores ao regime militarista de carácter conservador instituído na Grécia (1967)
A influência da revolução portuguesa estendeu-se também a África, onde a independência
das nossas colónias contribuiu para o enfraquecimento dos últimos bastiões brancos da
região, como a Rodésia (que mais tarde viria a ser o Zimbábue) e a África do Sul; a
independência da Namíbia está ligada à evolução política da África do Sul e à evolução da
guerra civil em Moçambique e Angola.
2.2.4 A revisão constitucional de 1982 e o funcionamento das instituições
democráticas
Em 1982 foi realizada a primeira revisão da Constituição de 1976, que tinha recebido
diversas críticas relacionadas com o excesso de comprometimento com o socialismo e com
a presença militar no governo.
1982 → democracia portuguesa dava sinais de que o processo revolucionário tinha
assumido definitivamente o carácter democrático e pluralista da Constituição de 1976.
Os tempos do Verão Quente de 1975 iam sendo esquecidos com a normalização das
relações institucionais entre os diversos órgãos de soberania e, principalmente, com a
aproximação das forças políticas mais moderadas cuja importância na construção do
Portugal moderno, e em fase de plena afirmação na comunidade europeia, era reconhecido
pela instituição militar.
É neste contexto que o revolucionário pacto MFA/Povo é substituído por um novo pacto
↳ MFA/Partidos, criando as condições para que considerado excessivo comprometimento
do primitivo texto constitucional
Em 1982 o PS, PSD e o CDS chegam a acordo sobre as alterações a introduzir na
Constituição de 1976
↳ para torná-la mais ajustada aos novos e importante objectivos da governação,
quer internamente, quer no que diz respeito à integração de Portugal na Europa
comunitária.
As principais alterações ocorreram na organização do poder político, uma vez que se
conservaram as disposições de carácter económico (nacionalizações, intervencionismo do
Estado, planificação, reforma agrária).
Foi abolido o Conselho da Revolução como órgão coadjuvante da Presidência da República.
Na mesma linha, limitaram-se os poderes do presidente e aumentaram-se os da instituição
parlamentar. O regime viu, assim, reforçado o seu cariz democrático-liberal, assente no
sufrágio popular e no equilíbrio entre órgãos de soberania:

O funcionamento das instituições democráticas


➔ o Presidente da República, eleito por sufrágio directo e por maioria absoluta. O
mandato presidencial é de 5 anos, sendo interdito ao mesmo presidente mais do
que dois mandatos consecutivos, representante máximo da soberania nacional:
- comanda as Forças Armadas;

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- dissolve a Assembleia da República;
- nomeia e exonera o Primeiro-ministro;
- manda promulgar leis;
- exerce o direito de veto.
➔ a Assembleia da República, constituída por deputados eleitos por círculos eleitorais.
Cada legislatura tem a duração de 4 anos e os deputados organizam-se por grupos
parlamentares:
- faz leis;
- aprova alterações à constituição, os estatutos das regiões autónomas, a lei do
plano e do orçamento de Estado;
- concede ao Governo autorizações legislativas.
➔ o Governo, o órgão executivo ao qual compete a condução da política geral do país
● Constituído por:
- primeiro-ministro;
- ministros;
- secretários e subsecretários de Estado;

● Compete-lhe:
- conduzir a política geral do país através de decretos-lei;
- propostas de leis que tem de submeter à aprovação da Assembleia da
República, e outros normativos regulamentadores da vida pública
nacional;
- dirige a administração pública.
➔ os Tribunais, a Constituição tornou o poder judicial verdadeiramente autónomo,
proporcionando as condições para a sua imparcialidade. A Revisão de 1982 criou,
ainda, o Tribunal Constitucional:
- zelar pelo cumprimento dos princípios presentes na Constituição, ao lado do
Presidente da República;
- garantir o funcionamento da democracia nomeadamente tutelar os vários
processos eleitorais.

O governo das regiões autónomas exerce-se através de uma Assembleia Legislativa


Regional, um Governo Regional e um ministro da República. Quanto ao poder local,
estruturou-se este em municípios e em freguesias, dispondo ambos de um órgão legislativo
e de um órgão executivo.

3.1 Artes, letras, ciência e técnica


3.1.1 A importância dos polos culturais anglo-americanos

90
Em Nova Iorque produzir-se-ão as alterações mais significativas e as grandes polémicas no
mundo da arte. Nos EUA, um generoso mecenato privado irrompeu e patrocinou a fundação
de galerias e de grandes museus. A Europa devastada pela guerra não fornecia um cenário
estimulante para a produção cultural e, por isso, muitos foram os intelectuais que a América
anglo-saxónica acolheu e incentivou. Do seu encontro brotou aquela que é designada por
Escola de Nova Iorque, a grande responsável pela dinamização das artes no pós-guerra. A
ela se deveram as experiências vanguardistas do expressionismo abstracto.
3.1.2 A reflexão sobre a condição humana nas artes e nas letras
O expressionismo abstracto (1945-1960)
Expressionismo abstrato - Termo que designa um conjunto de tendências pictóricas nos
anos 40 e 50 do século XX. Têm em comum a substituição do figurativismo pelo
abstracionismo, no qual integram processos técnicos de execução das formas e de
aplicação de cor influenciados pelo surrealismo e pelo expressionismo.

O expressionismo abstracto procurou desconstruir a ideia de que a pintura era portadora


de uma mensagem para acentuar apenas os sentimentos que desperta no observador.
Numa clara aproximação ao automatismo psíquico dos surrealistas, a pintura tornava-se um
testemunho de sensibilidade individual e de ocorrências psíquicas do autor, que escapavam
a um controlo racional, como eram os sonhos, os pesadelos, os traumas.

A pop art (1958-1965)


Pop Art - Literalmente, significa arte popular, pretendo exprimir a aproximação à cultura e
aos meios de comunicação de massas. Desenvolveu-se nos finais dos anos 50 e nos anos
60 do século XX, tendo integrado objetos e temas da sociedade de consumo no mundo da
arte.

A pop art reconcilia o grande público com a arte. Em primeiro lugar, porque retoma a
figuração e se revela de fácil apreensão. Depois, porque retira os seus temas e objectos do
mundo de produtos e imagens que a sociedade de massas abundantemente consumia.

91
Os quadros substituem-se à publicidade, seja na divulgação de objectos de consumo
corrente, seja na exibição de rostos de artistas e personalidades famosas. Os ingleses
distinguem-se pelo senso de humor subtilmente provocatório. Para além dos processos de
impressão, fazem ainda uso de colagens e da integração de objectos comuns.

A arte conceptual (anos 60 e 70)


Arte Conceptual - Movimento artístico internacional dos anos 60 e 70 do século XX, que
se caracteriza por secundarizar a obra de arte enquanto objeto físico, privilegiando o
conceito ou a ideia que lhe está subjacente.

Inspirada no absurdo dadaísta que afirmava a superioridade do pensamento do artista em


relação à execução da obra, a arte conceitual
desprezou a existência material da arte.
Ao objecto artístico a arte conceptual antecipa
o processo criativo que antecede a sua
execução. Recorre, por isso, com frequência, à
escrita e à fotografia, que documentam o
pensamento do artista e, simultaneamente, se
elevam à categoria de obras de arte. A arte
conceptual apela à reflexão filosófica. Trata-se
de uma arte que, mais do que vista, deve ser
pensada.

A literatura existencialista
Existencialismo- Corrente filosófica surgida na Europa, no período entre as duas guerras
mundiais, que centra a sua reflexão na liberdade individual, privilegiando a existência não
como tributo do ser mas como experiência pessoal.

92
No segundo pós-guerra, as vanguardas consumaram a destruição da arte enquanto obra
sublime do espírito humano. Sob o impulso da filosofia existencialista, colocava-se agora,
maior importância no sentido da existência humana. Para Sartre, o Homem é obra de si
próprio, produto das suas ações, um ser absolutamente livre que constrói o seu projecto
pessoal. Sartre considerava que, num mundo hostil e sem Deus, o Homem estava
inexoravelmente condenado à liberdade de encontrar por si próprio um sentido para a vida.
3.1.3. O Progresso científico e a inovação tecnológica
Os avanços científicos, fruto de equipas interdisciplinares de sábios, traduzem-se em
avanços tecnológicos que se universalizam e massificam. A Física, a Química e a Biologia
foram as ciências em que se processam maiores investigações teóricas. Os seus efeitos
tecnológicos mais marcantes fizeram-se sentir na produção e na utilização da energia
nuclear, na electrónica, na informática e na cibernética e, finalmente, nos progressos
médicos e alimentares que cuidaram da vida.
A energia nuclear
Na década de 50, a energia nuclear conheceu fins pacíficos. Desde 1956, a produção de
eletricidade por processos nucleares tornou-se tecnicamente possível. Posteriormente,
construíram-se submarinos e navios alimentados a partir de energia nuclear.
Electrónica, informática e cibernética
A invenção do transítor (1948) permitiu a miniaturização dos materiais. Uma década depois
passou-se à utilização do chip. Estes inventos permitiram o aperfeiçoamento da rádio,
televisão, computadores, telefones, eletrodomésticos e automóveis. O laser viria a ser uma
das maravilhas electrónicas do futuro, com aplicações na medicina, no lar e na guerra.
A informática registou notáveis avanços e revolucionou todos os domínios da atividade
humana. Os computadores aceleram os cálculos, o armazenamento, a recuperação e a
distribuição da informação.
Os progressos da electrónica e da informática interligaram-se com a expansão da
cibernética e as pesquisas sobre a inteligência artificial. Surgem os robôs, que penetraram
na indústria e transformaram profundamente a organização das empresas. A automatização
assim conseguida contribuiu fortemente para a terceirização da sociedade.
Os progressos na medicina e na alimentação
A penicilina foi produzida industrialmente na década de 40, permitindo salvar imensas
vidas. Efeito semelhante tiveram as vacinas. Os transplantes cardíacos, iniciados em 1967,
registaram uma taxa razoável de sucesso, suscitando a confiança progressiva na medicina
cirúrgica. Surge a primeira criança cuja concepção ocorreu com a fertilização in vitro.
Em 1953 descobre-se a estrutura do ADN e do código genético. As informações genéticas
contidas nos filamentos de ADN auxiliaram nas pesquisas patológicas e imunitárias.
Resultado de avanços na agronomia, nas técnicas reprodutivas e na genética viria a iniciar-
se, em 1962, a chamada Revolução Verde. O cultivo de variedades de trigo, milho e arroz, de
grandes rendimentos e resistência às pragas, converteu-se num auxiliar precioso para os
agricultores empobrecidos, solucionando muitas carências alimentares.
Mais bens de consumo foram prodigalizados, a esperança média de vida aumentou e a
humanidade ficou interligada por uma rede de comunicações que fez da Terra uma aldeia
global.
3.2. Media e hábitos socioculturais

93
3.2.1. Os novos centros de produção cinematográfica
O cinema converteu-se num grande espectáculo de massas, após 1945. Surgem
superproduções musicais que atraíram multidões e evitaram a decadência dos estúdios. Ao
mesmo tempo, Hollywood investia em temáticas socioculturais mais próximas do novo
público que frequentava os cinemas. Entretanto, novos centros de produção
cinematográfica surgiram no mundo, ficando assim o cinema conhecido com o estatuto
digno de Sétima Arte.
3.2.2. O impacto da televisão e da música no quotidiano
A televisão
Só após 1945 a televisão se junta ao cinema e à rádio como grande meio de comunicação.
Desde então, os EUA assumem a dianteira no que toca a progressos tecnológicos que
embrutecem a televisão e a tornam mais atrativa. A televisão assumiu-se como um veículo
privilegiado de entretenimento. Ao entretenimento, a televisão associou o papel de fonte
de informação e de conhecimento dos grandes acontecimentos internacionais. Cientes do
poder da TV, os políticos não a negligenciam. Desde a campanha presidencial americana de
1960, ficou provado o impacto da televisão nos comportamentos eleitorais.
A música
O crescente protagonismo dos jovens nas sociedades ocidentais do pós-guerra e as
maravilhas da electrónica contribuíram de forma decisiva para a popularidade da música
ligeira a partir dos anos 50. Muito em particular o rock and roll parecia ser a música que
melhor exprimia a rebeldia e o anticonformismo de uma nova juventude. Em 1956 que, na
cena nacional dos EUA, emergiu a primeira super-estrela do rock and roll, Elvis Presley. Em
1962 surgem os Beatles, um grupo britânico de Liverpool que construiu uma das mais
fulgurantes carreiras de que há memória na música ligeira. Os Rolling Stones constituíram
outro êxito da música britânica. Criaram, no entanto, uma imagem de “perigosos
degenerados” A canção converteu-se em instrumento de crítica social e política. O rock
continuava a assumir-se como um dos pilares da contestação juvenil, que marcou
profundamente o final dos anos 60.
3.2.3. A hegemonia dos hábitos socioculturais norte-americanos
Os filmes de Hollywood e os programas de TV difundem os valores e os estereótipos do
american way of life. Para os pequeno-burgueses que conheceram as dificuldades dos anos
da guerra, possuir uma casa individual e ter um carro são sonhos que fazem viver.
As donas de casa rendem-se aos cafés solúveis, às sopas instantâneas e às comidas
previamente cozinhadas que lhes aliviam a escravatura do lar. Apesar de criticada pelos
conservadores, a Coca-Cola torna-se a bebida favorita. Quanto aos jovens, usam e abusam
dos blue jeans, dos blusões de couro e das pastilhas elásticas.
3.3. Alterações na estrutura social e nos comportamentos
3.3.1. A terciarização da sociedade
Os 30 anos de expansão económica até 1970 acentuaram tendências anteriores ao nível da
estrutura da população activa. Assim, a mecanização da agricultura continuou a fazer
regredir a percentagem da população camponesa. Relativamente à indústria, os avanços
tecnológicos ocorridos contribuíram para a estabilização da respectiva mão-de-obra.
Foi ao nível do sector terciário que se verificou um forte crescimento, motivando a
terciarização da sociedade, devido ao incremento das funções sociais do Estado, à

94
complexificação da actividade económica, ao desenvolvimento dos meios de comunicação
social e dos transportes.
3.3.2. Os anos 60 e a gestação de uma nova mentalidade.
O ecumenismo
Ecumenismo - Movimento que preconiza a união de todas as igrejas cristãs. Os contactos
tornaram-se frequentes depois da Primeira Guerra Mundial e convergiram na criação do
Conselho Ecuménico das Igrejas (COE), em 1948. Reunido em Genebra, conta, sobretudo,
com a colaboração de ortodoxos e de protestantes. Embora a Igreja Católica não seja
membro do Conselho, não tem deixado de enviar observadores às suas assembleias desde
o pontificado de João XXIII.

A igreja católica procura adaptar-se aos novos tempos. O Concílio Vaticano II (1962-1965)
aborda questões relacionadas com a Guerra Fria, a promoção da paz, a desigualdade entre
homens e povos, a par de assuntos especificamente religiosos. O ecumenismo ficou como
uma das heranças do concílio. No entanto, os resultados do Concílio ficaram aquém das
expectativas. A igreja católica manteve-se arraigadamente conservadora, não conseguindo
deter a vaga de descristianização.
A ecologia
Ecologia - Ciência que estuda as relações dos seres vivos e do ambiente. As grandes
preocupações ambientalistas datam dos anos 60 e motivaram a criação de associações
para a proteção da Natureza. Com grande influência do movimento pacifista, essas
organizações veriam a sua ação completada com o desenvolvimento, já nos anos 80, dos
partidos ecologistas.

Depressa a comunidade científica e os leigos se aperceberam do alto preço a pagar pelos


progressos tecnológicos. Era necessário reduzir as experiências nucleares e dar mais
atenção ao problema da poluição e do esgotamento dos recursos naturais. Um conjunto de
organizações e de iniciativas se sucederam, desde os anos 60, com o objectivo de controlar
o crescimento económico e de garantir a protecção ambiental.
A contestação juvenil
Movimento pacifista - Conjunto de ações, como manifestações, marchas e boicotes,
protagonizadas em grande parte pelos jovens, como repúdio do envolvimento dos EUA na
guerra do Vietname e ao clima de insegurança que pairava no mundo.
O baby-boom do pós-guerra determina, nos anos 60, a existência de um excedente
considerável de jovens. Procurando um estilo de vida alternativo ao dos progenitores, os
jovens protagonizaram um poderoso movimento de contestação. Para além das suas
reivindicações específicas, os estudantes americanos mostravam-se atentos aos grandes
problemas que os cercavam, o que os fez envolver-se no movimento pacifista que se
insurgiu contra a participação dos EUA na guerra do Vietname.
Em 1968, Paris tornou-se o epicentro de uma revolta estudantil sem precedentes que
atingiu a Europa, ficou conhecida pelo nome de maio de 68. A crise, que começou por ser
um problema estudantil, ganhou rapidamente foros de sublevação social e política. Apesar
de fracassado, pela reposição pronta da ordem, o maio de 68 tornar-se-ia o símbolo de um

95
combate em que se viveu um conflito de gerações, o descontentamento social e a reação ao
autoritarismo.
Uma outra faceta da contestação juvenil fez-se sentir na revolução dos costumes
desencadeada pelo movimento hippie. Iniciado nos EUA, caracterizou-se pelo facto de os
jovens assumirem atitudes de contracultura em oposição às práticas sociais e à moral
tradicional: uso de drogas, despojamento de bens, amor livre, grandes confraternizações.

Contracultura - Estilo de vida que denuncia os valores materialistas da sociedade


capitalista, aos quais contrapõe a ausência de regras sociais e morais, o espiritualismo, o
pacifismo e o regresso à Natureza. Este fenómeno idealista, que conduziu muitos jovens
dos EUA e da Europa à auto marginalização nos anos 60, teve raízes nos costumes
libertários e nos gostos artísticos da geração beat (boémios e intelectuais americanos dos
anos 50.

Afirmação dos direitos da mulher


Ao longo dos anos 60, os movimentos feministas receberam um impulso notável,
convertendo-se em instrumento de emancipação das mulheres. O feminismo dos anos 60
tornou-se particularmente ativo na luta pela igualdade de direitos da mulher. Essa igualdade
pretendeu-se civil, no trabalho e na vida afectiva. Citam-se as campanhas pela
contracepção, pelo direito ao divórcio e ao aborto, que mobilizaram a opinião pública,
adquirindo um cariz de “revolução sexual” efectuada no feminino.

➢ O fim do sistema internacional da Guerra Fria e a persistência da


dicotomia Norte-Sul
1.1 O fim do modelo soviético
Quando, em finais de 1982, morreu Brejnev, apesar das profundas alterações que tinham
marcado a conjuntura internacional no pós-Segunda Guerra Mundial, o marxismo-leninismo
interpretado por Stalin nos anos 20 mantinha-se inalterado nos seus príncipios e nas
propostas políticas deles decorrentes. Fiel aos seus princípios do centralismo democrático, o
PC continuava a confundir-se com o Estado e os seus altos dirigentes, ao servirem-se do
poder para garantirem a perpetuação dos seus privilégios.
Também na URSS começavam a ser visíveis sinais de crise do modelo soviético:
- Afirmação de uma forte corrente intelectual
↳ influenciada pela evolução política do ocidente
→ denunciava o caráter não democrático do regime
→ exigia reformas tendentes à liberalização da União

- O ressurgimento das velhas tradições czaristas

96
↳ entre a população desiludida com:
→ marxismo-leninismo
→ ausência de originalidade nos padrões culturais do regime

- Várias nacionalidades → contestavam excessos do centralismo de Moscovo


- Poderosas minorias nacionalistas → reclamam maior autonomia e independência
- Estagnação económica
↳ investimentos canalizados para a escalada armamentista (Guerra Fria) em
prejuízo do desenvolvimento do sector produtivo, concretamente das indústrias
cada vez mais arcaicas
→ URSS vivia uma situação económica e financeira que a tornava dependente da
intervenção internacional
- A pobreza e a falta de liberdade do mundo socialista
↳ fuga das populações de Leste para o mundo capitalista
contradição ↔ URSS, potência nuclear

população vive privada do conforto material

1.1.1 A era Gorbatchev


Uma nova política

Perestroika - Reestruturação profunda do funcionamento do modelo soviético


empreendida por M.Gorbatchev, a partir de 1985. Tendo carácter marcadamente
económico, a perestroika assumiu também uma vertente política (a glasnot) que procurou
reconciliar o socialismo e a democracia.
Embora não pretendesse pôr em causa o regime, o fracasso económico da perestroika e a
torrente de contestação interna que a acompanhou acabaram por conduzir ao colapso do
bloco soviético e da própria URSS, no início dos anos 90.

Em março de 1985, Mikhail Gorbatchev é eleito secretário-geral do Partido Comunista da


União Soviética. O novo dirigente tinha consciência das dificuldades por que passava a
economia soviética e sentiu que o sistema socialista, apesar de não ter sido substituído,
necessitava de uma reforma. Do mesmo modo, entende os anseios de liberdade
manifestados pela população.
Neste contexto, Gorbatchev enceta uma política de diálogo e aproximação ao Ocidente,
propondo aos Americanos o reinício das conversações sobre o desarmamento. O líder
soviético procura assim criar um clima internacional estável que refreie a corrida ao
armamento e permita à URSS utilizar os seus recursos para a reestruturação interna.
Decidido a ganhar o apoio popular para o seu plano de renovação económica, anunciou o
seu programa de reformas designado perestroika (reestruturação), e implementar a
glasnost (política de transferência), em que iria iniciar-se uma ampla abertura política.

97
Este programa previa a alteração do modelo de planificação económica em vigor desde
Stalin, (descentralizar a economia), através da concessão de mais autonomia às empresas,
criação de um sector privado com maior grau de flexibilidade para responder às solicitações
do mercado e uma abertura social e política (glasnost), de modo a incentivar a participação
dos cidadãos e na viabilização da realização de eleições livres e pluripartidárias – abertura
democrática.
O colapso do bloco soviético
Entretanto, a descompressão política de Gorbatchev estendia-se a todos os países da
“cortina de ferro”, onde a democracia e a liberdade eram também ansiadas por amplos
setores da população;
Na Polónia, Hungria, Checoslováquia, Bulgária, Roménia, RDA e a Jugoslávia intensifica-se a
contestação ao poder instituído; os partidos comunistas perdem o seu lugar de “partido
único” e realizam-se as primeiras eleições livres do pós-guerra (e antigos líderes da oposição
saem das prisões e assumem a liderança política).
Neste processo, a “cortina de ferro” que separava a Europa levanta-se finalmente: as
fronteiras com o Ocidente são abertas e, em 9 de Novembro, cai o Muro de Berlim.
Depois de uma ronda de negociações entre os dois Estados alemães e os quatro países que
ainda detinham direitos de ocupação, a Alemanha reunifica-se. No mês seguinte é
anunciado, sem surpresa, o fim do Pacto de Varsóvia e, pouco depois, a dissolução do
COMECON.
A aceitação, por parte de Moscovo, da liberalização e democratização dos países da
“cortina de ferro”, por um lado traduzir-se-ia numa substancial redução de encargos
financeiros que poderiam ser canalizados para o desenvolvimento do setor produtivo; por
outro lado, facilitaria o sucesso das negociações com os Estados Unidos e garantiria o apoio
político das democracias ocidentais. Cada país acharia o seu próprio caminho.
O fim da URSS
Nesta altura, a dinâmica política desencadeada pela perestroika tornara-se já incontrolável,
conduzindo, também, ao fim da própria URSS. O extenso território das Repúblicas Soviéticas
desmembrou-se, sacudido por uma explosão de reivindicações nacionalistas e confrontos
étnicos.
Gorbatchev, que nunca tivera em mente a destruição da URSS ou do socialismo, tenta
parar o processo pela força, intervindo militarmente nos Estados Bálticos. Esta situação faz
com que o apoio da população se concentre em Boris Ieltsin, que foi eleito presidente da
República da Rússia, em Junho de 91. O novo presidente toma a medida extrema de proibir
as atividades do partido comunista.
No outono de 91, a maioria das repúblicas da União declara a sua independência. Em 21 de
Dezembro, nasce oficialmente a CEI – Comunidade de Estados Independentes, à qual
aderem 12 das 15 repúblicas que integravam a União Soviética,que excluía qualquer
manifestação de autoridade central. Ultrapassado pelos acontecimentos e vencido no seu
propósito de manter unido o país, Mikhail Gorbatchev abandona a presidência da URSS.
1.1.2 Os problemas da transição para a economia de mercado
A transição da economia de direcção central ou planificada para uma economia de
mercado implicou profundas perturbações. Por um lado, muitas empresas, desprovidas dos
subsídios estatais, foram à falência, provocando o aumento do desemprego. Ao mesmo

98
tempo, a contínua escassez dos bens de consumo, a par da liberalização dos preços,
estimulou uma inflação galopante.
Muito complicada a transição da economia socialista para a economia de mercado.
Factores:
- Estagnação da população
→ habituada à intervenção do Estado e à inexistência de iniciativa privada
- Decadência das infra-estruturas
→ vias de comunicação antiquadas
→ indústria arcaica
→ sistema da distribuição ineficaz
Brejnev apenas se concentrou na produção de armamento e presença militar nos outros
países que faziam parte da ex-URSS, o que gastava imensas capitais, deixando assim, o
desenvolvimento económico para 2º plano.

- Ausência de quadros dirigentes dotados de mentalidade capitalista e capazes de


lidar com a gestão autónoma das empresas
↳ estimular a concorrência e resolver o problema da escassez crónica de bens
de consumo
- Ausência de uma estratégia de sólida reestruturação económica
→ O único ponto claro da perestroika era a liquidação do antigo sistema de
planificação centralizada, mas a estruturação de um novo sistema era pouco clara e
rigorosa
→ Instabilidade política provocada pela resistência comunista, bem como a
instabilidade provocada pelos conflitos nacionalistas não favoreceram a confiança dos
investidores estrangeiros no sucesso da economia de mercado no Leste da Europa
Os países de Leste viveram também, de forma dolorosa, a transição para a economia de
mercado. Privados dos importantes subsídios que recebiam da União Soviética, sofreram
uma brusca regressão económica. De acordo com o Banco Mundial “a pobreza espalhou-se
e cresceu a um ritmo mais acelerado do que em qualquer lugar do mundo”.
Os reflexos na vida das populações
Consequência negativas para a população dos novos estados independentes:
- Desemprego;
- Inflação galopante;
→ Liberalização dos preços + Escassez de produtos resultante do descontrolo
económico e sucessiva desvalorização do rublo provocaram um aumento acentuado
do custo de vida, que não podia ser acompanhado pelo aumento dos salários, dadas
as dificuldades financeiras de todos os estados
- Fragmentação social;
→ Grande maioria da população
↳ Onde se incluíam os quadros técnicos que, sem emprego ou com emprego
remunerado com valores insuficientes para garantir a subsistência digna, se viu

99
obrigada a emigrar para o Ocidente capitalista, onde os salários mais baixos
superaram os valores praticados nas suas terras de origem.
- Minoria de oportunistas;
→ constituída por antigos gestores
→ quadros do partido
→ chefes de redes mafiosas

Os antigos satélites da União Soviética tiveram os mesmos problemas, durante os últimos


anos de dependência política e, agora, na ausência do apoio económico, no quadro das
relações instituídas pelo COMECON, veem-se sem meios materiais para suportar as
necessidades da população. Passam a viver também uma regressão económica em que há
uma sucessão de falências, desemprego e inflação galopante. Países como a Hungria,
Polónia, República Checa foram objecto de grandes investimentos estrangeiros e alvo de
grande procura turística o que proporcionou níveis económicos de prosperidade.
1.2.Os pólos do desenvolvimento económico
Já nos anos 80, com a crise do modelo soviético e consequente implosão da URSS, os EUA
passam a ter todas as condições para se afirmarem como única superpotência e
determinarem os rumos de uma nova ordem internacional.
O início do novo milénio é marcado pela hegemonia dos EUA, que detêm sobre o resto do
mundo:
- superioridade militar;
- beneficiam próspera economia;
- vanguarda do desenvolvimento científico e tecnológico;
Profundamente desigualitário, o mundo atual concentra a maior parte da sua riqueza e da
sua capacidade tecnológica em 3 pólos de intenso desenvolvimento: os Estados Unidos, a
União Europeia e a zona da Ásia-Pacífico.

1.2.1. A hegemonia dos Estados Unidos


A prosperidade económica
● A conjuntura de prosperidade
Constituídos como nação independente sob a bandeira do liberalismo, os americanos
fizeram da livre concorrência e da livre iniciativa os princípios orientadores da sua atividade
económica.
Em conformidade com estes princípios desenvolveu-se nos EUA uma das economias mais
livres e mais abertas do mundo. A presença do Estado na regulação da economia quase não
é notada, e são muito poucas as restrições à livre circulação de mercadorias e de capitais.
Nos anos 80, como forma de dinamizar o processo produtivo e de consolidar a hegemonia
americana, os governos republicanos de Reagan e de Bush adotaram medidas neoliberais:
- redução da carga fiscal e dos encargos com a segurança social, bem como a
atenuação das restrições aos despedimentos e à deslocação de mão de obra
excedentária;
- os avultados investimentos em máquinas e equipamentos de ponta, tendo em vista
o aumento da produtividade e a diminuição de custos da produtividade;

100
- a política de valorização do dólar e a insistência na liberalização da circulação
financeira mundial, com o objetivo de atrair capitais estrangeiros e de fomentar o
retorno de capitais americanos investidos no mundo;
- a vulgarização do recurso ao crédito por produtores e consumidores, como forma de
reduzir o tempo que decorre entre o investimento das mais-valias pelas empresas e
de antecipar o usufruto dos bens pelos consumidores;
- expansão do mercado externo através do estreitamento de relações económicas
com novas regiões de desenvolvimento, tendo em vista a exploração das suas
potencialidades, mediante investimentos diretos de capitais ou deslocalização de
empresas para aproveitamento do baixo custo da mão de obra e das matérias-
primas locais.

Numa época hegemónica, o presidente Bill Clinton intensificou os laços comerciais com a
Ásia no âmbito:
- Da APEC → cooperação Económica Ásia-Pacífico
- Impulsionou a criação do NAFTA
→ North American Free Trade Agreement
→ Acordo de Comércio Livre da América do Norte
A APEC acabou por ser um poderoso bloco económico para promover o livre comércio
entre 20 países de uma região em forte crescimento. Por outro lado, o NAFTA constituiu-se
como um instrumento de integração das economias do Canadá e do México na esfera de
interesses americanos.
Os sectores de actividade
Marcadamente pós-industrial, a economia americana apresenta um claro predomínio do
sector terciário.
Altamente mecanizadas, sabendo rentabilizar os avanços científicos, as unidades agrícolas e
pecuárias americanas têm uma elevadíssima produtividade. Assim, e apesar de algumas
dificuldades geradas pela concorrência externa, os EUA mantêm-se os maiores exportadores
de produtos agrícolas. A agricultura americana inclui ainda um vasto conjunto de indústrias,
desde a produção de sementes e maquinaria agrícola até à embalagem, comercialização e
transformação dos seus produtos. Um verdadeiro complexo agro-industrial (exporta os seus
serviços para o mundo:seguros, vestuário, música, alimentos, turismo).
Responsável por um quarto da produção mundial, a indústria dos EUA sofreu, nos últimos
30 anos, uma reconversão profunda. Os sectores tradicionais, como a siderurgia e o têxtil,
entraram em declínio e cederam perante o dinamismo das indústrias de alta tecnologia.
O dinamismo científico-tecnológico
Os EUA, ao lado do Japão foram os pioneiros no progresso científico-tecnológico,
disponibilizando para a investigação científica e desenvolvimento tecnológico verbas que
ultrapassam os investimentos dos restantes países desenvolvidos.
Actualmente, constituem poderosas manifestações do dinamismo científico e tecnológico:
- massificação do computador pessoal, com a criação da World Wide Web (internet);
- proliferação dos parques tecnológicos, onde se articula a pesquisa científica levada a
cabo por prestigiadas universidades e a aplicação dessas pesquisas por empresas

101
que fazem da inovação tecnológica o seu cartão de apresentação nos grandes
mercados internacionais;
- imagem de marca da prosperidade americana pela Microsoft.

Supremacia militar
● A hegemonia político-militar
Enquanto a URSS teve de reduzir os seus investimentos na produção de armamento,
acabando por enfraquecer como potência militar, os EUA:
- continuam a injetar dinheiro na indústria aeroespacial, bélica e electrónica, tendo
como objetivo garantir a supremacia no sector estratégico-militar e controlo
exclusivo do espaço;
- resistem em assinar vários tratados tendentes a limitar a proliferação de armamento
não convencional;
- recusam-se a assinar o Protocolo de Quioto sobre problemas ambientais por limitar,
entre outros programas industriais, o desenvolvimento da sua indústria militar;
- rejeitam submeter os seus militares à acção do Tribunal Penal Internacional;
- dão continuidade à Iniciativa de Defesa Estratégica (“Guerra das Estrelas”), lançada
por Reagan, com objectivo de proteger o território americano de ataques nucleares
e de limitar possíveis concorrentes;
- intervêm militarmente em todo mundo;
- desenvolvem intensos programas de inovação tecnológica com o objectivo de levar a
guerra para fora do seu território e minorar os riscos de vida dos soldados e civis
americanos, mas também os danos colaterais dos alvos visados. É a chamada guerra
eletrónica, suportada por uma poderosa força aérea e por um arsenal de alta
tecnologia que inclui as armas mais poderosas da terra.

Os “polícias do mundo”
Os EUA foram a grande contribuição para que dois conflitos mundiais fossem resolvidos.
Por isso, os americanos recusam tolerar que outras ameaças venham pôr em causa os
princípios que presidiram à formação da ONU. E recusam-nos de forma mais veemente se
essas ameaças puserem em causa os interesses geoestratégicos do Ocidente, em particular
se estiverem incluídos os seus próprios interesses.
É nesta conjuntura que, nas duas últimas décadas do século XX, assistimos:
- ataque contra alvos na Líbia, em 1986, alegando o apoio do ditador Kadafi ao
terrorismo internacional;
- intervenção militar na Guerra do Golfo, em 1991, contra o Iraque, por ter ocupado
Kuwait, violando o direito internacional;
- operação “Devolver a Esperança” na Somália
- intervenção militar na Sérvia, acusada de violar os direitos do Homem na ação de
repressão sobre a população albanesa da província de Kosovo, integrados numa
força multinacional, no âmbito da NATO.

O hiperterrorismo
A agressividade da política militar americana, sobretudo a intervenção na Guerra do Golfo,
de que resultou o reforço da presença dos EUA no mundo árabe, e o apoio prestado ao
Governo israelita na repressão da resistência palestina à ocupação do seu território,

102
motivaram uma violenta reacção por parte da comunidade muçulmana identificados com o
fundamentalismo religioso.
Denunciam o que consideram ser o ressurgimento da Cruzada do Ocidente contra o Islão e
fazem do terrorismo organizado contra os interesses americanos e dos seus aliados nas
diversas partes do mundo o alvo privilegiado dos seus ataques.
Momento mais marcante da reação islâmica, o 11 de Setembro de 2001 quando membros
de uma rede terrorista da Al-Qaeda conseguem desviar 4 aviões e dirigir 3 deles contra os
símbolos do poder económico e militar dos EUA (torres gémeas e o pentágono).
A “pax americana”
O terrorismo tornou-se a pior ameaça à segurança internacional e, nessa medida, o
antiterrorismo passou a ser o novo paradigma da política internacional dos EUA, definido na
Nova Estratégia de Segurança nacional de Bush.
Começando por dividir o Mundo entre os países que estavam do lado da liberdade e da
democracia e os que estavam do lado do terrorismo, o “Eixo do Mal”, o presidente
americano anunciou que os EUA:
- reconhecem o direito de levar a cabo acções de guerra preventiva contra os países
hostis e grupos terroristas que desenvolvam planos de produção de armas de
destruição maciça;
- não permitirão que nenhuma potência estrangeira diminua a enorme dianteira
militar assumida pelos EUA;
- expressam um compromisso de cooperação internacional multilateral;
→ com objectivo de combater o terrorismo internacional mas deixam claro que não
hesitarão em agir unilateralmente se for necessário, para defender os interesses e a
segurança nacionais
- proclamam o objectivo de disseminar a democracia e os direitos humanos em todo o
mundo, especialmente no mundo muçulmano.

É no âmbito da Doutrina de Bush contida nestes pressupostos, que:


→ 2001, os EUA invadem Afeganistão numa tentativa de capturar Osama Bin Laden, o
suposto organizador dos ataques de 11 de Setembro. Apesar dos EUA não terem capturado
Bin Laden, conseguiram promover a difícil democratização do país;
→ 2003, invadem Iraque, destituem e prendem o seu presidente Saddam Hussein e o
respectivo suporte político-militar;
→ intensa campanha de denúncia, com ameaças pelo meio, dos programas nucleares da
Coreia do Norte e do Irão.

103
1.2.2. A União Europeia
No final da Segunda Guerra Mundial, no âmbito do Plano Marshall, nasceu a primeira
aliança económica europeia - OSCE (a Europa reconhece a necessidade de se unir para
reencontrar a prosperidade económica e, se possível, a sua influência política).
Seguiram-se outras formas de aliança, dentro das quais a Comunidade Europeia do Carvão e
do Aço - CECA (1951), constituída pela França, Alemanha, Bélgica, Holanda, Luxemburgo e a
Itália, e tinham o objetivo de organizarem em comum a gestão dos recursos do carvão e o
ferro, mas também de contribuir para a elevação do nível de vida dos habitantes dos
estados-membros.
A primeira Europa comunitária
A 25 de maio de 1957, o sucesso económico da CECA ao lada da fragilidade revelada pela
Europa Ocidental em questões de política internacional motivaram a celebração do Tratado
de Roma (Alemanha, Bélgica, França, Itália, Luxemburgo, Holanda), com o objetivo de
alargar e aprofundar o mercado comum, pela união aduaneira dos estados-membros, tendo
em conta:
- o desenvolvimento coordenado das suas atividades económicas;
- a livre circulação de pessoas, mercadorias e capitais, bem como a livre prestação de
serviços;
- a progressiva superação de eventuais divergências em questões de transportes,
produção agrícola e energética;
- e, a longo prazo, ”uma união cada vez mais estreita” dos povos europeus.

Nos termos deste tratado, era também criada mais uma comunidade de interesses, a
Euratom - Comunidade de Energia Atómica Europeia, e ficava instituída a Comunidade
Económica Europeia.
Dando prioridade à integração aos países com elevada taxa de emprego nos setores de
serviços e indústria e mais reduzidas na agricultura, a Europa dos Seis acabou por se abrir à
integração de novos povos países.
Em 1973, aderem o Reino Unido, a Irlanda e a Dinamarca e a Europa económica passa a ser
conhecida como a Europa dos Nove.
A consolidação da Comunidade Europeia
O primeiro grande objectivo da CEE foi a união aduaneira (implica a livre circulação de
mercadorias e a adoção pelos Estados-membros, de uma mesma estrutura tarifária para o
comércio com o exterior) que só se concretizou em 1968, depois de uma cuidadosa
preparação. Concebida como uma estrutura aberta, a CEE foi criando um conjunto de
instituições progressivamente mais elaboradas e atuantes. Apesar destes avanços, a
Comunidade enfrentava, no início dos anos 80, um período de marasmo e descrença nas
suas potencialidades e no seu futuro.

Integração das novas economias da Europa do Sul


O Tratado de Roma previa que todos os estados europeus podiam requerer a sua adesão à
Comunidade Europeia, bastando-lhe cumprir alguns critérios:
- sólido equilíbrio financeiro;

104
- desenvolvimento económico e social;
- reconhecimento dos direitos humanos;
- consolidação da democracia pluralista.

Por isso, só depois do triunfo da democracia em meados dos anos 70, que os países da
Europa do Sul (Portugal, Espanha e Grécia) passam a ter a condição fundamental para
requererem a adesão. Portanto, depois de medidas tomadas em cada país, a adesão da
Grécia é reconhecida em 1981 e a adesão de Portugal e Espanha é reconhecida em 1986,
que passam a fazer parte da Europa dos 12.
A Europa da união económica à união política
É a partir de 1985, com a ação de Jacques Delors, instituído como novo presidente da
Comissão Europeia, que dá-se a criação e consolidação das instituições que hão de dar
forma à UE.

● Os Acordos de Schengen
Em 1985 a França, Alemanha, Bélgica, Luxemburgo e Holanda criam entre si um espaço
sem restrições à circulação de pessoas. Para efeito, era proposta a criação de uma fronteira
externa única e a abolição de medidas para salvaguarda da segurança dos cidadãos. Mais
tarde, em 1997, já abrangia todos os países da UE, com exceção à Irlanda, ao Reino Unido, à
Islândia e à Noruega, que não integram a União.
Segundo o Tratado de Amesterdão, as decisões adotadas desde 1985, passariam a
constituir mais um fundamento institucional da União Europeia desde 1 de maio de 1999.
Ficavam abrangidos pelos acordos:
- condições de entrada de estrangeiros no espaço Schengen e de circulação pelas
fronteiras internas dos estados-membros;
- harmonização de políticas relativas à concessão de vistos de entrada e de asilo;
- reforço da cooperação entre os sistemas policiais e judiciários dos países membros,
visando o combate ao terrorismo e ao crime organizado.

Ato Único Europeu


Relativamente ao estreitamento dos laços comunitários, Jacques Delors, presidente da
Comissão Europeia, com o objetivo de relançar o projeto europeu, promoveu o
desenvolvimento da União Económica e a consolidação das instituições da União Europeia.
Neste contexto, foi assinado o Ato Único Europeu, que:
❖ reforçou o poder do Conselho e do Parlamento Europeu (reforçar o carácter
supranacional dos órgãos do governo comunitário);
❖ encontrar novos mecanismos que conferissem maior coesão e solidariedade à
Europa na defesa internacional comuns;
❖ estabeleceu um mercado único em que as mercadorias e as pessoas circulavam
livremente (contribuir para a aceleração da união económica da Europa).

O Tratado da União Europeia (Tratado de Maastricht)


Neste seguimento, foi também assinado o Tratado da União Europeia/Tratado de
Maastricht, que introduziu alterações nos textos dos tratados anteriores, em particular o
Ato Único Europeu, e instituiu oficialmente o nome de União Europeia em substituição da
Comunidade Europeia.

105
Segundo o Tratado de Maastricht, a UE passa a estruturar-se em “três pilares”:
1. incide sobre matérias de carácter económico e social, onde releva a adoção de uma
moeda única e a ampliação da noção da cidadania europeia domínio;
2. incide sobre o domínio da PESC, política externa e de segurança comum;
3. incide sobre o domínio da justiça e dos assuntos internos, em que deve haver
cooperação entre os estados-membros.
Maastricht representou um largo passo em frente no caminho da União, quer pelo reforço
dos laços políticos, quer, sobretudo, por ter definido o objectivo da adopção de uma moeda
única, a 1 de janeiro de 1999, onze países, inauguram oficialmente o euro (completou a
integração das economias europeias). Na mesma altura começou também a funcionar um
Banco Central Europeu que define a política monetária da União.
A CE tornou-se a maior potência comercial do mundo, com um PIB conjunto semelhante ao
dos Estados Unidos. No entanto, no fim do século, a Comunidade Europeia mostrou-se
menos pujante que os Estados Unidos.
O Tratado de Nice
Assinado em dezembro de 2000, deu-se a 4ª revisão constitucional operada no
ordenamento jurídico comunitário desde o Acto Único Europeu de 1986.
O princípio da integração das novas democracias é aceite e a Cimeira de Copenhaga define
os critérios que devem condicionar as entradas na União:
- instituições democráticas,
- respeito pelos Direitos do Homem;
- economia de mercado viável;
- aceitação de todos os textos comunitários.
O Tratado de Nice recolhe o Protocolo sobre a Ampliação da União Europeia. Esta
ampliação concretizar-se-á com o alargamento da UE aos países do Leste da Europa.
Por conseguinte, após a adesão da Finlândia, Áustria e Suécia, em 1995, formou-se a
Europa dos 25 com a integração dos países da antiga “cortina de ferro”: República Checa,
Eslováquia, Eslovénia, Polónia, Hungria, Letónia, Lituânia e a Malta e o Chipre em 2004. Em
2007 aderiu a Roménia e Bulgária, formando a Europa dos 27, e em 2013 a Croácia.

A UE e as dificuldades da construção de uma Europa política

Cidadania Europeia - Criada pelo tratado da União Europeia (Maastricht), a cidadania


europeia coexiste com a cidadania nacional e exprime-se pelo direito de voto nas eleições
europeias e autárquicas na zona de residência do cidadão, independentemente desta se
situar no seu país de origem. Estabelece ainda o direito de apresentar propostas à
Comissão Europeia, endereçar petições ao Parlamento Europeu, apresentar queixas e
beneficiar de protecção diplomática, por parte das embaixadas ou consulados de qualquer
Estados-membros, caso não existam delegações do país de origem.

Relativamente às dificuldades vividas, estas baseiam-se em características políticas e


económicas que vão dividindo cada vez mais os estados-membros.

106
Neste contexto verificou-se nos países mais desenvolvidos, uma certa resistência à perda
de soberania, nomeadamente no Reino Unido, na Suécia e na Dinamarca, que se recusaram
a adotar o euro e para além disso, as dificuldades económicas foram muitas, uma vez que
não foi possível combater totalmente os níveis de desemprego, registando-se um
desenvolvimento económico fraco face ao desenvolvimento americano.
- elevados índices de abstenção registados nas eleições para o Parlamento Europeu.
- resistência à adopção de uma política externa comum.
- controvérsia suscitada pelo projecto de Constituição Europeia.

A integração de novos povos com culturas e passados claramente diferentes da tradição


cultural e política ocidental também não tem favorecido os sentimentos de abertura à
constituição de uma Europa unida e muito menos federal.
No seguimento da falta de sentimento europeísta que caracterizava a união entre os
estados-membros, realizou-se uma Convenção para determinar o futuro da Europa e
assinou-se o Tratado de Lisboa.
O Tratado de Lisboa e a confirmação das dificuldades
Em 2007 os Estados-membros reúnem-se em Lisboa
↳ aprovaram um tratado reformador da Constituição europeia, com entrada em vigor
prevista para 2009
No entanto, a sua ratificação → recusada por referendo pela Irlanda (2008)
Mesmo depois de ratificado pelos parlamentos nacionais dos outros estados-membros,
surgem muitas dúvidas sobre a sua implementação:
→ Alemanha → legalidade do Tratado de Lisboa → contestada entre os sectores da
oposição ao Governo de Angela Merkel
Esta contestação leva o tratado à apreciação pelo Tribunal Constitucional sob o pretexto de
roubar competências ao Parlamento nacional
→ República Checa → demoram vários meses a tomar uma decisão
Este arrastamento resultou, entre outras coisas, do facto de considerarem que o Tratado de
Lisboa vem reforçar o peso dos grandes países em detrimento dos pequenos.
1.2.3 O espaço económico da Ásia-Pacífico
Os quatro dragões: Hong Kong, Singapura, Coreia do Sul e Taiwan
Estruturalmente pobres, com poucos recursos naturais e energéticos e sem tradição
industrial, a Coreia do Sul, Hong-Kong, Singapura e o Taiwan arrancaram, nos anos 70, para
um surpreendente processo de desenvolvimento económico assente na produção e
exportação de bens de consumo.
Conseguida a estabilidade política, os governantes destes países assumiram a direção
centralizada da economia e arrancaram para um processo de modernização e
desenvolvimento económico, seguindo o modelo japonês;
- forte intervenção do Estado na economia, com a criação de linhas de crédito e
outros incentivos às empresas nacionais;
- adoção de políticas protecionistas e de estímulo ao trabalho;
- absorção de tecnologias e capitais estrangeiros que associavam a nascentes grupos
locais ou ao próprio Estado;

107
- aproveitamento de uma mão de obra abundante, esforçada, de mentalidade
conformista, que aceitava a disciplina e a ordem dispunha a trabalhar muito e
mediante baixas remunerações;
- lançamento de amplos programas de educação e formação, tendo em vista a
qualificação profissional da população.

Estes países careciam de terras em boas condições, de materiais, de meios para


investimento e de recursos naturais. Porém, apesar das adversidades, conseguiram
desenvolver-se economicamente através da exportação excessiva. Assim, conseguiram ter
produtos suficientes para incrementarem a exportação, caracterizada por preços muito
baixos, devido à mão de obra esforçada e barata
Nesta conjuntura, os dragões asiáticos fizeram da eletrónica e dos têxteis os setores de
arranque industrial e inundaram o mercado internacional com produtos de consumo a
preços imbatíveis pelas economias ocidentais. Deste modo, em 1976, juntamente com o
Japão, os Novos Países industrializados (NPI) do Oriente asiático produziam cerca de 60%
dos produtos manufaturados consumidos em todo o mundo.
Com o capital acumulado, a Coreia do Sul, em concorrência com o Japão, passou a investir
nos poderosos setores automóvel e da construção naval, enquanto os restantes se
especializaram na produção de componentes eletrónicos de elevada tecnologia.
Os tigres asiáticos dos anos 80
Neste contexto, verifica-se o desenvolvimento de outros países asiáticos, os tigres
asiáticos, ou seja, Tailândia, Indonésia, Filipinas e Malásia.

formavam a ASEAN (Associação de Nações do Sudeste Asiático), uma organização
económica, que ligando-se aos dragões asiáticos, tomaram medidas para complementar a
cooperação económica e a troca de produtos.

O desenvolvimento destes países é uma consequência das necessidades de matérias-


primas, recursos energéticos (petróleo) e bens alimentares de que eram importantes
produtores por parte do Japão e restantes países industrializados da região.
Por conseguinte, a segunda vaga da industrialização dos países asiáticos é um efeito de
arrastamento do desenvolvimento das economias do primeiro grupo de países quando, face
ao abrandamento da economia ocidental, na segunda metade dos anos 70, tiveram de se
voltar para o próspero mercado do Sudeste Asiático, que passou a crescer de forma
integrada. Os estados do arco do Pacífico tornaram-se um pólo económico articulado, com
elevado volume de trocas inter-regionais.
O crescimento asiático alterou a balança da economia mundial, até aí concentrada na
Europa, Eua e o Japão. Teve, no entanto, custos ecológicos e sociais muito altos: a Ásia
tornou-se a região mais poluída do Mundo e a sua mão-de-obra permaneceu,
maioritariamente, pobre e explorada.
A questão de Timor
Em 1974, a Revolução dos Cravos agitou também Timor-Leste que se preparou para a
independência. Na ilha, onde não tinham ainda surgido movimentos de libertação,
nasceram três partidos políticos: a UDT (União Democrática Timorense), que defendia a
união com Portugal, passando Timor a constituir uma região autónoma; a APODETI
(Associação Popular Democrática Timorense), favorável à integração do território na

108
Indonésia; e a FRETILIN (Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente), com um
programa independentista, ligado aos ideais de esquerda.
O ano de 1975 foi marcado pelo confronto entre os três partidos, cuja violência Portugal
não tem conseguido conter. FRETILIN declara a independência de Timor-Leste.
Imediatamente as correntes oposicionistas acusaram o partido de estar ligado ao
movimento comunista internacional e, a 7 de dezembro, o líder indonésio Suharto ordena,
em nome da sua cruzada anticomunista, a invasão do território, dando início a um violento
processo de integração que passou pelo desrespeito dos direitos humanos Demasiado
absorvido pela descolonização dos grandes territórios, os portugueses acabaram por se
retirar de Timor sem reconhecer a sua independência e sem legitimar um novo governo.
Neste seguimento a ONU continua a considerar Timor um território sob administração
portuguesa e não reconhece a ocupação da Indonésia e, para tal, Portugal tinha a
responsabilidade de proporcionar independência a Timor.
Em 1997, a ONU começou a tratar da questão de Timor. Nesse mesmo ano, Nelson
Mandela visitou Xanana Gusmão, o líder da resistência de FRETILIN que foi preso em 1992
pelos indonésios. Entretanto, a crise económica dos países asiáticos afetou duramente a
Indonésia. O regime ditatorial de Suharto começou a sofrer diversas pressões internacionais
e, em maio de 1998, perante o agravamento da revolta popular, Suharto é forçado a
demitir-se, pondo fim à ditadura indonésia de 32 anos.
O novo presidente indonésio lançou um programa de reformas democráticas que
reconhecia o direito à independência timorense. Em maio de 1999, Portugal, a Indonésia e a
ONU assinaram um acordo para a realização de um referendo marcado para 30 de agosto. O
referendo supervisionado pelas Nações Unidas, a UNAMET, deu uma vitória à
independência, mas desencadeou uma escalada de terror por parte dos pró-indonésios.
A solidariedade e a indignação internacional contribuíram, mais uma vez, para a solução
deste problema. As pressões levaram ao envio de uma força de paz patrocinada pela ONU, a
INTERFET (Força Internacional para Timor-Leste), que conseguiu a pacificação do território.
A 20 de maio de 2002, numa cerimónia solene que contou com a presença de Portugal,
Timor tornou-se oficialmente a República Democrática de Timor-Leste e, pouco depois, o
191º membro das Nações Unidas.
1.2.4 Modernização e abertura da China à economia de mercado
O arranque da China e o seu desenvolvimento económico começou em 1978 com a
ascensão política de Deng Xiaoping, após a morte de Mao Tsé-Tung, em 1976. Com o fim da
antiga política coletivista, a China adotou um conjunto de reformas capitalistas (criou a
economia socialista de mercado).
Deng dividiu a China em duas áreas geográficas: o interior, especialmente rural, e o litoral
que se abriria ao capital estrangeiro, integrando-se no mercado internacional.
A agricultura, aproveitando a abundância de matérias-primas do solo chinês, tinha o papel
de alimentar as indústrias nascentes, foi profundamente reestruturada.
- as terras foram descoletivizadas e entregues aos camponeses;
- dada a abundante mão-de-obra, não houve necessidade de uma profunda
modernização das técnicas agrícolas;
- a privatização das terras foi acompanhada pela liberdade dos camponeses de
comercializarem os excedentes e de se apropriarem dos lucros;
- os níveis de produtividade aumentaram extraordinariamente.

109
- A indústria pesada foi substituída pela de produtos de consumo e têxteis destinados
à exportação.

De modo a manter o carácter socialista do regime “um país, dois sistemas”, criaram-se
quatro Zonas Económicas Especiais (SEZ/ZEE) totalmente abertas à indústria financiada com
capital estrangeiro e com total liberdade para a realização de trocas comerciais com o
exterior. Era a influência capitalista num sistema socialista. O sucesso económico da SEZ
estimulou a criação de mais zonas livres.
Apesar da liberalização industrial e comercial das regiões costeiras numa fase inicial, o
capital estrangeiro acabou por penetrar também no interior em busca da abundante mão-
de-obra barata. Todos os setores da economia beneficiaram com esta abertura, com
exceção dos setores estatais como as telecomunicações, indústria espacial e militar.
Neste país socialista, as desigualdades entre o litoral e o interior, entre os ricos e os pobres,
cresceu exponencialmente. No litoral encontra-se uma burguesia empresarial suportada por
um próspero operariado urbano, enquanto as classes camponesas continuam
empobrecidas.
A liberalização económica não foi acompanhada pela liberalização política. O Partido
Comunista continua a ser o único do país e o aparelho repressor permanece inato e a
liberdade de expressão não existe. Existe um grande descontentamento com a falta de
democracia e os protestos aumentam.
A modernização da China implicou também o reatamento de relações diplomáticas com
blocos capitalistas. Em 1978, a China celebrou o tratado de paz com o Japão, pondo fim à
inimizade que surgiu com a 2ª Guerra Mundial e, no ano seguinte, reatou relações
económicas com os EUA.
Em 1980, aderiu ao FMI e ao Banco Mundial (o que lhe permitiu receber fundos de auxílio)
e, em 1986, apresentou a sua candidatura ao GATT. Em 2001 aderiu à Organização Mundial
do Comércio. Como resultado, os produtos chineses começaram a invadir os mercados
ocidentais: setor manufatureiro, automóveis e alta tecnologia.
Atualmente, a China tem uma das maiores economias do mundo e apresenta um dos
maiores PIB do mundo.
A Integração de Hong Kong e Macau
Dois territórios localizados no Sul da China que se encontram sob administração inglesa e
portuguesa. A constituição destes dois territórios como zonas económicas especiais fazia
parte dos planos de Deng. Assim, começaram as negociações entre os três países no sentido
de integrar estes territórios na soberania chinesa. Garantido o funcionamento democrático
das instituições políticas, que inclusivo conservaram a moeda própria, o sistema económico,
financeiro, cultural e social, Hong Kong passou a ser território chinês a 1 de julho de 1997 e
Macau a 20 de dezembro de 1999.
Atualmente, são regiões de grande crescimento económico baseado no turismo e na
exportação de produtos têxteis, eletrónicos e bugigangas chinesas. Com a integração destes
dois territórios, fechou-se um ciclo e domínio político no Oriente para Portugal e Inglaterra.

110
1.3 Permanência de focos de tensão em regiões periféricas
1.3.1 A África Subsariana
A degradação das condições de existência
Desde sempre muito débeis (fome, epidemias, ódio étnicos, ditaduras), as condições de
existência dos africanos degradaram-se pela combinação de um complexo de factores:
- o crescimento acelerado da população, que abafa as pequenas melhorias na
escolaridade e nos cuidados de saúde;
- a deterioração do valor dos produtos africanos, o progressivo abaixamento dos
preços das matérias-primas reduziu a entrada de divisas e tornou ainda mais pesada
a disparidade entre as importações e as exportações;
- as enormes dívidas externas dos Estados africanos, que originaram um círculo
vicioso de juros e novos empréstimos, consumindo uma parte elevada do
rendimento nacional;
- a dificuldade em canalizar investimentos externos e a diminuição das ajudas
internacionais, com o fim da Guerra Fria, as nações desenvolvidas perderam o
interesse em aliciar os países africanos e os programas de ajuda diminuíram, (em
parte sob o pretexto de que os fundos eram desviados para a compra de armas e
para as contas particulares de governantes corruptos).

O atraso tecnológico, a desertificação de vastas zonas agrícolas e, sobretudo, a guerra são


responsáveis pela subnutrição crónica dos africanos. A peste chegou sobre a forma da sida,
que tem devastado o continente.
Nos anos 90, os conflitos proliferaram e, apesar dos esforços internacionais, mantêm-se
acesos ou latentes.
A instabilidade política: etnias e Estados
Tribalismo - Apego forte a um grupo (étnico, cultural, familiar, etc.) que leva à rejeição
dos outros grupos considerados estrangeiros e, muitas vezes, inimigos. O sentimento de
pertença a uma grupo particular e o acatamento das ordens dadas pelos seus líderes
impede a formação da identidade nacional quando, num Estado, coexistem várias
“tribos”.

111
Fim da colonização → Organizam novos e complexos problemas em consequência da
subalternização dos estados às etnias, nos termos do seguinte quadro político:

● construção artificial dos estados africanos

Numa situação normal, um Estado resulta da fixação de uma sociedade politicamente


organizada e unida por um forte sentimento nacional num determinado espaço geográfico.
No continente africano as fronteiras foram feitas de forma artificial pelas potências
colonizadoras, sem ter em contas as várias etnias dos povos que por elas ficavam
abrangidas: o Estado procedeu à Nação

● ausência de uma sólida consciência nacional

Em grande parte dos estados africanos → Multiplicidade de tribos


Diferentes:
- etnias;
- religiões;
- culturas.

● inviabilidade da democracia pluralista

Falta de uma sólida consciência nacional


↳ Inviabiliza as políticas de democratização e pacificação em grande
número de estados africanos onde o tribalismo substitui o pluripartidarismo

● conflitualidade permanente

Processo político → não há alternância democrática do poder


- constante luta pelo domínio de uns sobre os outros;
- constantes Golpes de Estado;
- violentos conflitos étnicos que, em casos extremos atingem o genocídio tribal.

● controlo dos recursos naturais

Outros conflitos eclodiram devido às lutas pelo controle de recursos naturais, urânio,
diamantes e o petróleo.
Novas perspectivas
Na última década, a imagem de África alterou-se significativamente: as riquezas do subsolo
têm alimentado um crescimento económico contínuo; os investidores estrangeiros
mostram-se cada vez mais interessados em colocar em África os seus capitais; os africanos
fizeram nascer as suas primeiras grandes empresas de sucesso; o peso da classe média tem
vindo a reforçar-se; a tecnologia - telefone móvel e a internet difundem-se pelo continente.
1.3.2. A América Latina
A descolagem contida e endividamento externo

112
Os países latino-americanos procuraram libertar-se da sua extrema dependência face aos
produtos manufaturados estrangeiros. Encetaram, então, uma política industrial
protecionista com vista à substituição das importações. Orientado pelo Estado este fomento
económico realizou-se com recurso a avultados empréstimos contraídos junto dos
organismos financeiros internacionais e das instituições privadas de crédito.
Nas décadas seguintes, estes empréstimos, mal geridos, tornaram-se um fardo difícil de
suportar. Esta situação fez-se sentir com mais força nas nações latino-americanas, as mais
endividadas do mundo.
A dívida externa refletiu-se no agudizar da situação económica das populações latino-
americanas, pois foi necessário tomar medidas de contenção económica como
despedimentos e redução dos subsídios e dos salários.
Face a tão maus resultados, a salvação económica procurou-se numa política neoliberal.
Procederam à privatização do sector estatal, sujeitando-o à lei da concorrência e
procuraram integrar as suas economias nos fluxos do comércio regional e mundial. O
comércio registou um crescimento notável e as economias revitalizaram-se.
Ditaduras e movimentos de guerrilha. O advento das democracias
Nas décadas de 60 e 70, o subcontinente conheceu um enfraquecimento dos movimentos
de guerrilha. Este fenómeno lançou-a num clima de guerra civil e contribuiu para o atraso
da região.
EUA → Intervém no apoio ao estabelecimento de ditaduras militares em muitos países da
América Latina, principalmente após a revolução cubana (1959).

objectivo → conter o avanço da influência soviética
* praticamente todo o continente sul-americano acabou por se transformar num protetorado dos
EUA (exceto Cuba).
- censura à imprensa e à liberdade de opinião;
- prisões arbitrárias;
- tortura;
- assassinatos;
- desaparecimento de opositores
↳ principalmente de militantes de movimentos de esquerda

→ violência das ditaduras


→ tempo que duram
↳ motivaram (anos 60 e 70) formação de movimentos de guerrilha de inspiração
marxista-leninista ↠ criando ambiente de guerra civil
Em 1975, só a Colômbia, a Venezuela e a Costa Rica tinham governos eleitos. Os restantes
países encontravam-se sob regimes repressivos.
Nos anos 80 dá-se a conjugação da acção dos movimentos de guerrilha com:
- as dificuldades económicas;
- crescimento do desemprego;
- taxas de inflação;
- endividamento;
- crescente mobilização popular.

113
Unem-se os socialistas, comunistas, operários, os movimentos feministas, os sectores da
igreja progressista e os movimentos liberais de modo a contestarem os opressores e
reivindicar regimes democráticos.
Denúncias internacionais do carácter repressivo destes regimes e o recuo dos governos
americanos no apoio dos regimes ditatoriais

Conduziu ao desmoronar das ditaduras militares e à sua substituição por regimes de
carácter democrático
A ação dos movimentos de guerrilha também acalmou Muitos movimentos declaram o
abandono da luta armada optando pela sua transformação em partidos legais e
consequente integração no sistema político-institucional.
Embora firme, o caminho da América Latina rumo à democracia não está ainda isento de
dificuldades. As graves clivagens sociais, o aumento do narcotráfico, bem como a corrupção
e a violência herdadas do passado, continuam a comprometer a estabilidade política e o
futuro económico da região.
1.3.3. O Médio Oriente e os Balcãs
Nacionalismos e confrontos políticos e religiosos no Médio Oriente
Fundamentalismo ismlâmico - O fundamentalismo representa a reação extremista à
ocidentalização sofrida pelas sociedades muçulmanas durante o domínio estrangeiro. Os
fundamentalistas consideram-se os únicos depositários da verdadeira fé e defendem que
os princípios do Corão devem reger os Estados, fundindo-os num só poder político e
poder religioso. Nas últimas décadas, têm proliferado as organizações fundamentalistas
de cariz religioso.

Formação do Estado de Israel no mundo árabe e o apoio político-militar dos países


ocidentais no conflito em que se envolveu com os Palestinianos
↳ origem da violenta afirmação nacionalista fundamentalista
islâmico e consequente desenvolvimento de uma nova ameaça à paz e à segurança mundial
A questão israelo-palestiniana
Sionismo - Movimento nacionalista de cariz político-religioso fundado, no fim do século
XIX, com o objetivo de criar um Estado hebraíco na Palestina. O sionismo advoga o
regresso dos judeus espalhados pelo mundo à sua pátria original. Em função deste ideal, o
Estado hebraíco promulgou, em 1950, a “lei do regresso”, que confere a nacionalidade
israelita a qualquer judeu, de qualquer parte do mundo, que pretenda habitar no
território.

Conflito gerado → Difícil convivência entre árabes e judeus


Agravou-se em 1896 → Fundação do Sionismo
- movimento de cariz religioso e político que defendia o regresso da cultura hebraica à
terra de Sião
↳ considerava um dever a fundação de um Estado judeu na Palestina (uma
região majoritariamente árabe)
Movimento sionista ganha força → Declaração de Balfour

114
➔ 1917
➔ governo britânico apoia o estabelecimento, na Palestina, do povo judeu
➔ A colocação deste território sob tutela administrativa britânica pela SDN

perseguições e o extermínio nos anos 40


↳ intensificar a sua deslocação para a Palestina
→ reivindicar a formação do Estado de Israel independente
Perante agravamento das tensões entre judeus e árabes → Inglaterra entrega a resolução
do problema às Nações Unidas
Assembleia-Geral → Sobre pressão dos EUA e URSS, aprova a divisão do
território em dois estados: um árabe e um judeu
Em 1948, os judeus proclamam a independência do Estado de Israel
↳ estados árabes não reconhecem o estado judeu
↳ declaram guerra a Israel em apoio da causa
palestiniana

Apoiados pelos Estados Unidos e pelos judeus de todo o mundo mobilizados pelo sionismo
internacional, os israelitas têm demonstrado uma vontade inflexível em construir a pátria
que sentem pertencer-lhes.
No campo oposto, os árabes defendem igualmente a terra que há séculos ocupam. A sua
determinação em não reconhecer o Estado de Israel desembocou em conflitos repetidos
que deixaram patente a superioridade militar judaica. Tal situação induziu os Israelitas a
ocuparem os territórios reservados aos Palestinianos onde instalaram numerosos colonatos.
Neste contexto, a revolta palestiniana cresceu e encontrou expressão política na OLP –
Organização de Libertação da Palestina.
Na sequência de uma violenta revolta juvenil nos territórios ocupados - a intifada -, os
Estados Unidos pressionaram Israel para abrir negociações com a OLP que, conduzidas
secretamente desembocam no primeiro acordo israelo-palestiniano.
Assinado em 1993, em Washington, o acordo estabeleceu o reconhecimento mútuo das
duas partes, a renúncia da OLP à luta armada, a constituição de uma Autoridade Nacional
Palestiniana e a passagem progressiva do controlo dos territórios ocupados para a
administração palestiniana. Uma escalada de violência tem martirizado a região.
Aos atentados suicidas, cada vez mais frequentes, sobre alvos civis israelitas, o exército
judaico responde com intervenções destruidoras, nos últimos redutos palestinianos.
Nacionalismos e confrontos político-religiosos nos Balcãs
Criada após a 1ª guerra mundial, a Jugoslávia correspondeu ao sonho sérvio de unir os
“Eslavos do Sul”, mas foi sempre uma entidade artificial que aglutinava diferentes
nacionalidades, línguas e religiões.
A Jugoslávia era uma federação com 6 repúblicas (Sérvia, Croácia, Eslovénia, Bósnia-
Herzegovina, Macedónia e Montenegro) e 2 regiões autónomas (Kosovo e Voivodina)
↳ politicamente unificadas sob o governo do marechal Tito e com capital em
Belgrado
No entanto, a união política sob o regime comunista de Tito não impediu que em todas as
repúblicas, emergissem movimentos independentistas que foram alimentando entre si
fortes tensões étnicas que, a qualquer momento, podiam gerar violentas confrontações.

115
Factos que contribuíram para a desintegração da Jugoslávia:
- morte de Tito (1980)
- desmoronamento da URSS
- queda dos regimes comunistas da Europa de Leste

Em junho de 1991, a Eslovénia e a Macedónia (processo pacífico) e a Croácia (processo


violento com uma guerra civil) declararam a independência. Recusando a fragmentação do
país, o presidente sérvio Slobodan Milosevic desencadeou a guerra que só cessou no início
do ano seguinte, após a intervenção da ONU.
Pouco depois, a Bósnia-Herzegovina proclama, por sua vez, a independência e a guerra
reacende-se. Com a guerra da Bósnia, a Europa revive episódios de violência e atrocidades
que julgava ter enterrado no fim da 2ª guerra mundial. Em nome da construção de uma
“grande Sérvia” levam-se a cabo operações de limpeza étnica.
Finalmente, após muitos impasses e hesitações, uma força da OTAN sob comando
americano impôs o fim das hostilidades na Bósnia e conduziu aos Acordos de Dayton (1995),
que dividiram o território bósnio em 2 comunidades autónomas, uma sérvia e outra croato-
muçulmana.
No fim da década, o pesadelo regressa aos Balcãs, desta feita à região do Kosovo, à qual,
em 1989, o governo sérvio tinha retirado autonomia. Face à revolta iminente, desenrola-se
uma nova operação de limpeza étnica que a pressão internacional não conseguiu travar. A
OTAN decidiu, então, intervir de novo, mesmo sem mandato da ONU.
Depois da comunidade internacional intervir, Milosevic aceita a derrota e as tropas
jugoslavas (sérvias) abandonam o Kosovo
↳ gob protecção das Nações Unidas
➔ em 2008 o parlamento kosovar aprova independência e o Kosovo separa-se
institucionalmente da Sérvia.

2.1 Mutações sociopolíticas e novo modelo económico


2.1.1 O debate do Estado-Nação
O conceito de Estado é-nos dado por Aristóteles quando considera como elementos
essenciais para existência de uma polis um território, um corpo cívico e um conjunto de leis.
Por território entende-se um espaço geograficamente definido por fronteiras estáveis; por
um corpo cívico entende-se a população que coabita nesse espaço; e por leis entende-se a
respetiva organização político-administrativa.
Ao longo do tempo, destes três elementos , o que prevaleceu no conceito de Estado foi a
ideia de soberania, traduzida internamente, no exercício da administração e da ordem
públicas e externamente na garantia da independência nacional. Assim, em termos práticos,
o Estado acabou por ser identificado pelo aparelho burocrático-administrativo (o

116
funcionalismo público) e a respetiva tutela governativa (Governo dependente de um chefe
supremo).
Por Nação entende-se a população com a mesma origem que se fixou num determinado
espaço e que, ao longo do tempo, foi consolidando por um conjunto de características e de
interesses comuns.
Por Estado-Nação entende-se um território onde coabita uma nação politicamente
organizada. É o Estado mononacional que resultou do princípio das nacionalidades, segundo
o qual a casa Nação deve corresponder um Estado, o que significa que à unidade geopolítica
deve corresponder uma unidade nacional.
No século XX, o Estado-Nação torna-se o principal elemento estruturador da ordem
internacional, em que cada nação estruturada politicamente corresponde a um Estado.
Neste contexto, o Estado-Nação caracteriza-se por centralizar o poder e a soberania, por
possuir novas estruturas administrativas, por se preocupar pela diplomacia internacional,
verificando-se ainda o princípio das nacionalidades e a autodeterminação das nações.
Dos Estados “plurinacionais” e nações “pluriestatais” ao Estado-Nação
Existem desde sempre → Estados plurinacionais
↳ Várias nações, dentro das mesmas fronteiras
↳ submetidas à mesma autoridade
política

→ Nações espalhadas por vários estados


→ Nações submetidas a múltiplas tutelas político-administrativas
Por conseguinte, embora a tendência seja para a não aceitação de uma autoridade
estranha por parte de nações submetidas à autoridade e ao território de outras nações, ou
para as nações submetidas à autoridade e ao território de outras nações, ou para nações
dispersas por vários estados se unirem e constituírem o seu Estado soberano, a realidade é
que o Estado e Nação não são realidades inseparáveis. Podem existir um sem o outro,
embora a convicção seja a de que um sem o outro originam uma realidade sociopolítica
incompleta.

Dúvidas sobre a ideia de Estado-Nação


A partir do fim do século XX, o Mundo parece evoluir de uma maneira aparentemente
contraditória:
- por um lado, é a eclosão de novos nacionalismos separatistas em vários estados, em
consequência da afirmação de novas realidades étnicas, com novas formas de vida,
diferentes religiões, outros hábitos culturais;
↳ nos inícios do século XXI, os estados-nações parecem evoluir para
novas unidades políticas e territoriais em que os sentimentos nacionalistas se
afirmam cada vez mais estreitos e apertados.
Assistimos ainda, num quadro de defesa dos direitos humanos, à tendência crescente para
a valorização do direito à diferença por parte de grupos específicos dentro dos estados, o
que vem a criar algumas dificuldades à afirmação de uma identidade nacional.

117
- por outro lado, é o reconhecimento generalizado do esgotamento do papel do
Estado-Nação face aos desafios provocados pela globalização e questões
transnacionais: migrações, questões de segurança, problemas ambientais

2.1.2 A explosão das realidades étnicas


No século XX, as diversas identidades que o mundo engloba agitam-se, intensificando
assim as diferenças étnicas e os ataques terroristas organizados. Esta agitação deve-se a
questões étnicas, separatistas e também a questões nacionalistas.
As questões étnicas verificaram-se em grande escala na Índia entre o hindu e a sikh e no Sri
Lanka entre os tamil e os budistas. As questões separatistas verificaram-se em grande escala
em Espanha entre os bascos e catalães.
As questões nacionalistas verificaram-se em grande escala com o tcechenos que se opõem
à soberania da Rússia. Na maior parte dos casos, os confrontos têm como incentivo a
pobreza e a marginalidade vividas, o que muitas vezes resulta em números elevados de
mortos causados por ataques terroristas que o Estado não consegue prever ou travar.
2.1.3 A questões transnacionais, migrações, segurança, ambiente
Na sociedade atual, o mundo é afetado por questões transnacionais, nomeadamente as
migrações, o ambiente e a segurança, sendo então indispensável resolvê-las de forma a não
continuarem a ter um impacto negativo nas sociedades.
Migrações
Interculturalidade - Processo de relações recíprocas que se estabelecem entre duas
culturas distintas, que procuram conhecer-se, compreender-se e partilhar pontos de vista
e experiências. Fruto das crescentes migrações, a interculturalidade aprofunda os laços
entre a cultura do país de acolhimento e as novas culturas que nele se fixam.

Relativamente às migrações, estas foram aumentando cada vez mais, em grande parte
devido a motivos económicos e políticos.
A nível económico, as pessoas procuram sempre alternativas para as condições em que
vivem, de forma a melhorá-las, recorrendo assim à migração para fugir à miséria,
nomeadamente para países mais ricos.
A nível político, as pessoas procuram alternativas para o ambiente de guerra, de
instabilidade política ou de catástrofe natural que predomina na região em que vivem, uma
vez que não é proporcionada segurança, sendo assim necessário refugiarem-se em países
que proporcionem segurança aos seus habitantes.
Outra característica dos migrantes é que a maioria é do sexo feminino e são pessoas com
formação profissional elevada.
As migrações trazem também problemas para os países de acolhimento, nomeadamente
conflitos étnicos, problemas demográficos por passar a haver população em excesso e
problemas económicos por não haver capacidade de integrar os migrantes em postos de
trabalho o que aumentará o desemprego, podendo assim a migração obter respostas
negativas por parte da população original, como os casos de discriminação, xenofobia,
hostilidade ou racismo.
Segurança
Depois da Guerra Fria terminar, começaram a existir outras ameaças à segurança mundial.

118
➔ Expansão do terrorismo internacional associado aos múltiplos conflitos étnicos,
religiosos e políticos por todo o mundo
Pelo mundo são cada vez mais os casos de terrorismo, dominando então um clima de
insegurança nas sociedades, que não têm forma de combater eficazmente os ataques, como
foi o caso do atentado a 11 de setembro de 2001.
Neste contexto, é muito difícil para os Estados combaterem as redes de terrorismo
internacional, uma vez que com o progresso tecnológico e cientifico são utilizadas técnicas
cada vez mais desenvolvidas, em que diferentes grupos se ajudam mutuamente.
Para além disso, com a liberdade proporcionada, há mais facilidade em abalar a segurança
mundial, uma vez que existem números elevados de criminalidade, nomeadamente em
compras de armas ilegais, tanto nucleares como químicas, que são adquiridas pelos grupos
terroristas.
Ambiente
Ambientalismo - Conjunto de teorias e práticas que visam a preservação do meio
ambiente.

Relativamente ao ambiente, este tem vindo a ser destruído ao longo dos anos e a situação
tem vindo a piorar cada vez mais, estando então o planeta cada vez mais degradado.
Essa degradação deve-se, em grande parte, ao crescimento demográfico, ao
desenvolvimento económico, à constante exploração dos recursos naturais e ao progresso
industrial e tecnológico.

Assim, todos esses fatores resultaram:


- na destruição de florestas;
- na extinção de espécies animais;
- na poluição da terra, do mar e do ar;
- na escassez dos recursos naturais;
- no empobrecimento do solo;
- no aquecimento global;
- na destruição de habitats e da camada de ozono.

Anos 60 → Começam as preocupações com a protecção do ambiente e a procura de um


equilíbrio entre o Homem e a Natureza
Anos 70 → Assumem forma institucional com a atividade política de partidos políticos
ecologistas “Verdes” e o reconhecimento internacional das ONG.
Realizou-se em 1992 a Cimeira da Terra, onde se acordou um conjunto de propostas,
designadas de “desenvolvimento sustentável” para se gerirem os recursos naturais, de
forma a resguardar a qualidade de vida das gerações futuras.
Em 1997 realizou-se o Protocolo de Quioto e os seus signatários comprometeram-se a
reduzir os níveis de emissão de gases industriais, principalmente dióxido de carbono, tendo
como objectivo combater o aquecimento global e os consequentes cataclismos naturais.
2.1.4 Afirmação do neoliberalismo e globalização da economia

119
Neoliberalismo - Adaptação do liberalismo económico do século XIX pelo capitalismo dos
anos 80 do século XX. Criticando a intervenção do Estado na vida económica e social, o
neoliberalismo defende o respeito pelo jogo da oferta e da procura.

Globalização - Vocábulo de origem anglo-saxónica, que designa a organização à escala


mundial da produção e comercialização de bens e serviços, como se o mundo constituísse
um enorme mercado comum.
Para além da dimensão económica, a globalização faz-se acompanhar da troca de
conhecimentos e de informações à escala mundial. Por isso, também se fala de
globalização cultural.

O Estado-Providência, devido aos choques petrolíferos, ao crescimento da inflação e ao


aumento do desemprego, entra em crise e dá lugar ao neoliberalismo, que tem como
objetivos a redução da inflação e o equilíbrio orçamental.
O neoliberalismo teve origem nos EUA e na Grã-Bretanha e, para cumprir os seus objetivos,
defende:
- a valorização da livre concorrência e da livre iniciativa;
- restrição da intervenção do Estado na economia;
- implementação de uma política de privatização de serviços públicos;
- implementação de medidas tendentes a estimular o emprego no setor privado;
- assunção de políticas de rigoroso controlo das despesas públicas, cujos efeitos
imediatos se refletem na diminuição do número de funcionários, redução de salários
reais e limitação das despesas sociais;
- implementação de políticas tendentes a reduzir a inflação, entre as quais se
destacam a limitação das emissões monetárias e as restrições salariais.
- o investimento científico e tecnológico.
No mundo dos anos 80, caminhava-se a passos largos para a globalização da economia. A
globalização apresenta-se como um fenómeno incontornável.
Apoiadas nas modernas tecnologias da informação e da comunicação (TIC), a concepção, a
produção e a comercialização de bens e serviços, bem como os influxos dos imprescindíveis
capitais, ultrapassam as fronteiras nacionais e organizam-se à escala planetária.
Os mecanismos da globalização
A liberalização das trocas
Os Estados recuam nas medidas protecionistas e enveredam pelo livre-câmbio. Desde
finais dos anos 80 que o comércio internacional acusa um crescimento excepcional, mercê
de progressos técnicos nos transportes e da criação de mercados comuns.
Em 1995, a Organização Mundial do Comércio entrou em vigor. Tendo em vista a
liberalização das trocas, incentiva a redução dos direitos alfandegários e propõe-se arbitrar
os diferendos comerciais entre os Estados-membros.
Deparamo-nos, consequentemente, na aurora do século XXI, com um fluxo comercial
prodigioso, num mundo que quase parece um mercado único.
Às zonas da Europa Ocidental, da Ásia-Pacífico e da América do Norte, a chamada Tríade,
cabe o papel de pólos dinamizadores das trocas mundiais.
O movimento de capitais

120
Os movimentos de capitais aceleram-se desde os anos 80. As grandes bolsas de valores,
como as de Nova Iorque, Tóquio, Londres e Singapura, mobilizam massas crescentes de
acções, em virtude de um aligeiramento das regulamentações que pesavam sobre a
circulação de capitais
Um novo conceito de empresa
Possuindo uma tendência para a internacionalização, as grandes empresas sofrem
mudanças estruturais e adotam estratégias planetárias.
Desde os anos 90, aumenta o número de empresas em que a concepção do produto ou do
bem a oferecer, as respectivas fases de fabrico e o sector da comercialização se encontram
dispersos à escala mundial.
Eis-nos perante as firmas da era da globalização, as chamadas multinacionais ou
transnacionais.
É essa lógica de rendibilidade das condições locais que conduz, em momentos de crise ou de
diminuição de lucros, as multinacionais a abandonarem certos países. Encerram aí as suas
fábricas e/ou estabelecimentos comerciais, para os abrirem noutros locais onde a mão-de-
obra, por exemplo, é muito mais barata.
A deslocalização de empresas para outros países teve como consequência imediata o
aumento do número de desempregados, as desigualdades entre países desenvolvidos e
países em desenvolvimento ficaram mais acentuadas e a degradação do ambiente tornou-se
mais intensiva.
A crítica à globalização
O crescimento económico proporcionado pelo neoliberalismo e pela globalização suscita
acesos debates em finais dos anos 90.
Os seus defensores lembram que as medidas tomadas permitiram resolver a gravíssima
crise inflacionista dos anos 70, ao mesmo tempo que apreciáveis franjas da Humanidade
acederam a uma profusão de bens e serviços.
Já os detratores da globalização invocam o fosso crescente entre países desenvolvidos e
países em desenvolvimento, frisando que, nas próprias sociedades desenvolvidas, existem
casos gritantes de pobreza e exclusão.
A alter-globalização contrapõe-lhe o projecto de um desenvolvimento equilibrado, que
elimine os fossos entre homens e povos, respeite as diferenças, promova a paz e preserve o
planeta.
2.1.5 Rarefação da classe operária; declínio do sindicalismo e da militância política
O fim dos operários?
Um conjunto de fatores determinam o recuo do sector industrial e a rarefacção da classe
operária, levando a que se fale na existência de uma era pós-industrial.
Indústrias que tinham sido motor de crescimento, tais como:
- têxtil;
- minas de carvão;
- siderurgia;
- construção naval;
- automóvel.
Sofrem com as dificuldades económicas dos anos 70 uma acentuada crise.

121
Nos anos 80, período do neoliberalismo, prossegue a redução dos operários no conjunto
da população activa. Com a sua política de privatização e de incentivos à iniciativa privada,
o Estado neoliberal permite aos empresários credibilizar custos, mediante despedimentos
em massa e a flexibilização de salários e do trabalho.
O trabalho conhece a realidade do contrato a prazo, realizando-se, muitas vezes, a tempo
parcial, quando não é temporário ou precário.
Sob a globalização em aceleração nos anos 90, o mundo operário parece entrar em
declínio.
- A elevada automatização praticada nas cadeias de montagem, permite eliminar
mão-de-obra menos qualificada.
- As deslocalizações aumentam, por sua vez, os desempregados.
Num sector em que o número de trabalhadores parece não ser decisivo, a mão-de-obra
desempenha tarefas cada vez mais qualificadas, mediante a aquisição de uma maior
formação geral e técnica.
O sector de serviços parece funcionar em moldes industriais, com muitos dos seus
trabalhadores alinhados em escritórios e balcões.
Facto controverso é, porém, o desemprego que progride nas sociedades desenvolvidas,
onde o rendimento das famílias operárias regride ou estagna.
Declínio do sindicalismo e da militância política
Declínio do sindicalismo
No fim do século XX o mundo do trabalho estava profundamente alterado na sua estrutura
e composição.
- o declínio da consciência de classe;
- o conformismo instaurado;
- a precariedade das condições de trabalho. A crescente flexibilização dos vínculos
laborais, num quadro de políticas neoliberais que não facilita a participação ativa dos
trabalhadores reivindicativos;
- o arrefecimento económico e alto nível de desemprego;
- a concorrÊncia dos novos países industrializados , sobretudo os países emergentes
do Oriente asiático que inundaram o mercado mundial, conseguida mediante o
pagamento de baixos salários, originando novos temores entre os trabalhadores
ocidentais perante a iminÊncia do desemprego;
- a ascensão ao poder de governos de direita conservadora que estão determinados a
limitar a excessiva ação dos sindicatos na sociedade.

Declínio da militância política


O declínio do sindicalismo traduz uma outra crise, que é a do exercício da cidadania nas
sociedades democráticas. Tal défice de participação democrática denota-se nomeadamente
nos partidos políticos, que perderam militantes e mostram pouca eficácia na mobilização de
massas. E são várias as razões que acrescem para que isso aconteça:
- a crise ideológica, a ideologia cede lugar ao utilitarismo
- o poder dos media;
- a crescente descrença nos políticos e nas suas propostas;
- a materialização da vida e do individualismo;
- a subordinação das políticas nacionais;

122
- a afirmação crescente de novas formas de associativismo e de militância
concorrentes com a militância política.

2.2 Dimensões da ciência e da cultura no contexto da globalização (aldeia global)


2.2.1 Primado da ciência e da inovação tecnológica
A economia globalizada, que se constrói a partir dos anos 80, estimula a investigação
científica e a inovação tecnológica que dela resulta. Rentabilizar recursos humanos e
materiais, gerir empresas, dominar mercados, controlar a informação, melhorar a qualidade
de vida das populações, sem a qual o consumo declinaria, tornam-se objetivos que o
capitalismo neoliberal persegue.
Governos e entidades privadas investem significativamente na ciência e na tecnologia,
tendo em conta a obtenção de melhores desempenhos na educação, no exercício
profissional e na produção de serviços e bens.
O mundo dos computadores, da Internet, da realidade virtual e dos telemóveis, as questões
levantadas relativas ao ADN, ao genoma e à clonagem, à biodiversidade e ao aquecimento
global enchem as páginas dos jornais e das revistas e abrem os noticiários televisivos. Os
livros de vulgarização científica, antes em número reduzido, tornam-se comuns nas livrarias.
Nos domínios da eletrónica, da informática, da comunicação e das biotecnologias,
marcaram a entrada na era da 3ª revolução industrial.
Eletrónica, informática, revolução
Ao progresso da eletrónica se deve uma autêntica revolução nas indústrias da electrónica,
automóvel e aeroespacial.
- digitalização de dados e a capacidade de os armazenar nos suportes mais variados e
mais cómodos;
- portabilidade do telefone e as imensas potencialidades proporcionadas pelos seus
sucessivos desenvolvimentos tecnológicos;
- complexas redes de televisão por cabo e satélite;
- “Milagre” da internet é acessível a cada vez mais pessoas.
↳ Vieram a revolucionar os comportamentos e as mentalidades e transformam o
mundo numa aldeia, através dos gostos mais uniformizados e dos padrões culturais.

Ciência e desafios éticos


Biotecnologia - Aplicação tecnológica que utiliza sistemas biológicos, organismos vivos ou
seus derivados para criar ou modificar produtos.

Os desenvolvimentos científicos e tecnológicos acabaram por originar novos problemas à


comunidade científica.
A polémica reside na contradição entre o aproveitamento científico da manipulação
genética e os limites impostos ao conhecimento científico que advêm das convicções
espirituais de cada ser humano. Vantagens da engenharia genética:
- Produção de alimentos transgénicos (combate à fome);
- Clonagem de animais e de plantas (pode aumentar a produção agropecuária);

123
- Uso de células estaminais na investigação médica;
- Decodificação dos genes (pode ajudar na descoberta de novos tratamentos para
algumas doenças).
Estas vantagens proporcionam uma melhoria na qualidade de vida e um aumento na
esperança média de vida, no entanto, é a própria dignidade humana que pode ser colocada
em causa se as experiências forem aplicadas para fins imorais e perversos.

2.2.2 Declínio das vanguardas e pós-modernismo


Pós-modernismo - Conjunto de tendências em vigor na arte ocidental desde os anos 80,
que se caracteriza pela abertura a diferentes repertórios estilísticos, sejam figurativos ou
vanguardistas. O termo pós-modernismo teve a sua primeira aplicação, ainda nos anos 70,
na arquitetura, sendo forjado pelo crítico norte-americano Charles Jenks.

As novas concepções intelectuais e artísticas (pós-modernismo) afastam-se da


modernidade racionalista e propõem uma produção intelectual com novas características,
tais como:
- Fim da tradição de mudança e ruptura;
- Fim da fronteira entre a alta costura e a cultura de massa;
- Prática da apropriação e da citação de obras do passado;
- Aproveitamento intencional de técnicas e de recursos variados;
- Culto das minorias;
- Humor e ironia.

Neoexpressionista e transvanguarda
Os pintores neoexpressionistas fazem renascer as formas e as tonalidades que
caracterizavam o expressionismo e o expressionismo abstracto. Para o conseguir,
reproduziram figuras distorcidas e temáticas ligadas a motivos mitológicos, étnicos e
nacionalistas, eróticos, e tradicionais.
No movimento Transvanguarda, um conjunto de pintores considerava que as suas obras
eram “para lá das vanguardas históricas”.
2.2.3 Dinamismos socioculturais
Revivescência do fervor religioso e perda de autoridade das igrejas
Relativamente à religião, nos últimos anos do século XX há uma clara revitalização da
religião. Explica esta revivescência de fervor religioso:
- recrudescimento do integrismo religioso que defende o regresso das religiões às
suas práticas originais;
- resposta à crise de valores e aos excessos do materialismo consumista que leva as
populações a procurarem resposta para as suas dúvidas na espiritualidade das seitas
religiosas;
- procura de conforto para os múltiplos problemas provocados pelas catástrofes
naturais e pela pobreza crónica que afecta muitas populações;
- reação à globalização económica e cultural que leva os crentes a procurarem na sua
religião uma forma de afirmar a sua individualidade;

124
- resposta ao vazio intelectual deixado pela crise das grandes ideologias que
dominaram todo o século XX, em especial da ideologia comunista.
Contraditoriamente, as igrejas tradicionais não aproveitam esta revivescência religiosa
para reforçarem a sua autoridade. Pelo contrário, a resistência da igreja, em particular da
católica, em acompanhar as transformações que se dão na sociedade no que concerne aos
novos hábitos e às novas práticas, bem como a acomodação e perda de capacidade de
mobilização dos fiéis, a que acrescem comportamentos criticáveis de alguns membros da
hierarquia religiosa levam os crentes a procurar movimentos religiosos não católicos a
resposta para as suas necessidades emocionais em matéria de fé.
Individualismo moral e novas formas de associativismo
- Novos ritmos de trabalho e de vida
- Competitividade do dia-a-dia
- Desenvolvimento do conforto doméstico, em consequência do desenvolvimento
tecnológico e da maior capacidade das populações acederem aos bens de consumo.
Porém, nas últimas décadas do século XX, há uma proliferação de novas formas de
associativismo motivadas pelas complicações do mundo contemporâneo.

Favoreceram a desagregação das antigas solidariedades e a crescente afirmação do
individualismo moral
Assim, os problemas ligados:
- Pobreza crónica;
- Catástrofes naturais;
- Violência dos conflitos armados.
Mobilizam um grande número de pessoas na formação de novas solidariedades que
procuram, com a sua ajuda material e humana, atenuar os problemas dos que sofrem.
Assistimos também à expansão do associativismo em apoio dos emigrantes, refugiados e
excluídos, marginalizados, idosos, toxicodependentes, vítimas de agressões, etc.
Hegemonia da cultura urbana
A multiculturalidade domina as sociedades desenvolvidas e, muito em particular, a sua
paisagem urbana.
Novas manifestações culturais, ligadas ao espetáculo, à música e ao desporto, elegeram
cidades como palco nas últimas décadas. São os jovens que protagonizam muitas destas
formas de cultura.
A cultura urbana está interligada ao rap, ao techno, com a moda, teatro, espetáculos
desportivos, museus e galerias e concertos.
3.1 A integração europeia e as suas implicações
Em 1986 Portugal integra-se na Comunidade Económica Europeia com o objetivo de se
integrar num mercado em desenvolvimento e de beneficiar de programas de modernização
que a comunidade proporciona aos seus membros.
A integração de Portugal provocou modificações no país, tanto a nível económico, político,
social e de infraestruturas.
3.1.1 A evolução económica
O impacto imediato da integração

125
Economicamente, o país tinha dificuldades, estando então menos desenvolvido e, para se
desenvolver a economia portuguesa, a CEE financiou programas de apoio económico e
financeiro a Portugal, nomeadamente:
➔ o PEDIP, que investia na indústria;
➔ o PEDAP, que investia na agricultura;
➔ o PRODEP, que investia na educação.

O resultado foi positivo, uma vez que a economia portuguesa se desenvolveu, verificando-
se então a diminuição da dívida externa e da inflação, para além do investimento
estrangeiro, das exportações e das regalias sociais terem aumentado.

Politicamente, são consolidadas as instituições democráticas, uma vez que deixa de haver
ameaças revolucionárias e se verifica liberdade total, compromissos entre políticos que
fortalecem a democracia e internacionalmente destacam-se identidades portuguesas, como
Durão Barroso, que é convidado para o cargo de Presidente da Comissão Europeia.
Socialmente, a vida da população torna-se melhor:
- criação de novos postos de trabalho;
- o Estado dá regalias sociais e os salários são melhores, o que culmina no aumento do
consumo, devido ao poder de compra dos portugueses que vai aumentando.

Por fim, relativamente às infraestruturas, verificou-se igualmente a modernização das


mesmas, nomeadamente, com a modernização dos sistemas de abastecimento de água, de
eletricidade e de gás, nas autoestradas e nas telecomunicações.
As dificuldades do terceiro milénio
A entrada no terceiro milénio foi feita com bastantes dificuldades. Portugal sofre:
- choques petrolíferos (desde 1999);
- agravamento do terrorismo;
- recessão mundial;
- maior deslocalização de empresas multinacionais + encerramento das empresas que
não resistem à crise → desemprego aumenta;
- potencial competitivo de novos membros da UE
Fragilidades:
- dependência energética;
- baixo nível de escolaridade e formação profissional;
- burocracia dos serviços (Programa Simplex por exemplo);
- nível excessivo do consumo público/ custos do Estado;
- baixo investimento na investigação e desenvolvimento;

3.1.2 As transformações demográficas, sociais e culturais


Desde a integração de Portugal na CEE, a demografia portuguesa tem demonstrado
acentuadas alterações.
● população não pára de envelhecer;
● interior desertificado;
● grandes cidades (desordem e falta de qualidade)

126
Contudo, com a entrada no terceiro milénio, Portugal começa a evidenciar dificuldades,
uma vez que a concorrência não permite ao país destacar-se, o desemprego aumenta, as
empresas nacionais têm dificuldade em manter-se e verificam-se assimetrias relativamente
à distribuição da população pelo país.
Para além disso, o país depende da importação de energias, deixa de haver tanto
investimento, torna-se difícil controlar a imigração ilegal, o nível de escolaridade continua
baixo e verificam-se números elevados de população envelhecida.
3.2 As relações com os países lusófonos e com a área ibero-americana
PALOP - Sigla que designa os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa: Angola,
Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e, desde 2014, a Guiné
Equatorial. Juntamente com Portugal, Brasil e Timor-leste, fazem parte da Comunidade
dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

Portugal, para além de manter relações com os Países da CEE, mantém igualmente
relações com os países lusófonos, isto é, países que partilham a língua portuguesa, como o
Brasil e os países africanos de língua oficial portuguesa, os PALOP.
3.2.1 O mundo lusófono
Portugal e os PALOP
Os PALOP têm uma economia pouco ou nada desenvolvida, sendo então imprescindível a
ajuda de Portugal, que beneficiaria do desenvolvimento destes países, como forma de
internacionalizar setores económicos e aproximá-los da União Europeia. Neste contexto são
assinados protocolos de cooperação e ajudas a nível económico, do turismo, da energiae e
de desenvolvimento de infraestruturas.
Paralelamente à cooperação económica, Portugal concede importante apoios no âmbito
da educação e da cultura, da ciência e da técnica, da saúde e do combate à pobreza, tendo
em vista consolidar a identidade cultural lusófona dos novos países.
Portugal e o Brasil
As relações económicas entre Portugal e Brasil incrementam-se nos anos 90.
O Brasil contribui com produtos primários, enquanto Portugal encontra, no mercado
brasileiro, boas condições para o investimento na metalomecânica, no têxtil, em energias
alternativas, no turismo, nas telecomunicações.
A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa
Portugal, Brasil e os PALOP fundaram, em 1996, a CPLP, a que Timor-Leste aderiu, em
2002, na sequência da sua independência. A CPLP pugna:
- pela concertação político-diplomática;
- pela cooperação económica, social, cultural, jurídica e técnico-científica.
A CPLP tem como contributo mais importante, o facto de elevar o português a língua
internacional.
3.2.2 A área Ibero-americana
A vertente atlêntica das relações externas de Portugal inclui também o relacionamento
com os Estados Unidos e com a América Latina.

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Portugal como membro da comunidade ibero-americana, beneficia de trocas a nível
económico, cultural, científico e educacional e também da internacionalização da economia
portuguesa.
Em conformidade com o plano bilateral, Portugal confirma e estreita as suas relações
diplomáticas com os EUA, no âmbito da renovação dos Acordos das Lajes de 1979 e 1983, e,
no plano multilateral, reforça a sua predença na NATO e renova o seu empenho nos
compromissos que a guerra colonial tinha obrigado a abandonar desde os anos 60.
No contexto das relações internacionais e inter-regionais, a participação de Portugal na CIA
pode assegurar-lhe maior visibilidade e prestigio.

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