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Carlos I (Lisboa, 28 de setembro de 1863 – Lisboa, 1 de fevereiro de 1908) foi o Rei de Portugal

e Algarves de 1889 até ao seu assassinato. Era filho do rei Luís I de Portugal e de sua esposa a
princesa Maria Pia de Saboia.[2]

Nascido em Lisboa, foi cognominado "o Diplomata" (devido às múltiplas visitas que fez a
Madrid, Paris e Londres, retribuídas com as visitas a Lisboa dos reis Afonso XIII de Espanha,
Eduardo VII do Reino Unido, do imperador Guilherme II da Alemanha e do presidente da
República Francesa Émile Loubet), "o Martirizado" e "o Mártir" (em virtude de ter morrido
assassinado), ou O Oceanógrafo (pela sua paixão pela oceanografia,[3] partilhada com o pai e
com o príncipe do Mónaco).

Infância e educação

O baptismo de D. Carlos pelo Cardeal-Patriarca de Lisboa, pintura do acervo do Palácio


Nacional da Ajuda.

Carlos nasceu na qualidade de príncipe herdeiro da coroa, pelo que recebeu desde cedo
os títulos oficiais de Príncipe Real e Duque de Bragança. Na verdade o seu nascimento
significou um verdadeiro alívio para a sucessão dinástica constitucional portuguesa
(depois da morte de três filhos varões de Maria II), afastando-se assim as pretensões do
ramo miguelista. O Príncipe recebeu desde muito cedo a cuidada educação reservada
aos sucessores reais, incluindo o estudo de várias línguas estrangeiras. Ainda jovem
viajou por várias cortes europeias (Grã-Bretanha e Irlanda, Alemanha, Áustria-Hungria,
etc.). Foi numa dessas deslocações que conheceu a princesa francesa Amélia de Orleães,
filha primogénita do Conde de Paris (pretendente ao trono de França). Após um curto
noivado veio a desposar a princesa, em Lisboa, na Igreja de São Domingos, em 22 de
Maio de 1886. Ainda como herdeiro do trono esteve ligado ao grupo Vencidos da Vida
e ao movimento da Vida Nova, personificando uma certa esperança de renovação
cultural e social.

Reinado
Crise do ultimato
Cerimónia de aclamação de El-Rei D. Carlos

Carlos subiu ao trono em 19 de outubro de 1889, por morte de seu pai. Sua aclamação
como Rei de Portugal ocorreu em 28 de dezembro de 1889 e teve a presença de seu tio-
avô D.Pedro II, Imperador do Brasil, exilado desde o dia 6 do mesmo mês.

Carlos foi um homem considerado pelos contemporâneos como bastante inteligente mas
dado a extravagâncias. O seu reinado foi caracterizado por constantes crises políticas e
consequente insatisfação popular. Logo no início do seu governo, o Reino Unido
apresentou a Portugal o Ultimato britânico de 1890, que intimidava a Portugal (movido
pelo seu desejo expansionista, materializado no Mapa cor-de-rosa) a desocupar os
territórios compreendidos entre Angola e Moçambique num curto espaço de tempo,
caso contrário seria declarada a guerra entre os dois países. Como Portugal se
encontrava na bancarrota, tal movimentação foi impossível e assim se perderam
importantes áreas. A propaganda republicana aproveitou o momento de grande emoção
nacional para responsabilizar a coroa pelos desaires no ultramar. Estalou então a revolta
republicana de 31 de janeiro de 1891, no Porto, que apesar de sufocada mostrou que as
ideias republicanas avançavam com alguma intensidade nos tecidos operários e urbanos.

"O Diplomata"

Apesar da grave crise que Carlos enfrentou no início do seu reinado face à Inglaterra,
então a maior potência mundial, o rei soube inverter a situação e, graças ao seu notável
talento diplomático conseguiu colocar Portugal no centro da diplomacia europeia da
primeira década do século XX. Para isso contribuiu também o facto de Carlos ser
aparentado com as principais casas reinantes europeias. Deslocou-se inúmeras vezes ao
estrangeiro, representando inclusivamente Portugal nas exéquias da rainha Vitória, em
1901. Uma prova do seu sucesso foi o facto da primeira visita que Eduardo VII do
Reino Unido fez ao estrangeiro (como monarca) ter sido a Portugal, onde foi recebido
com toda a pompa e circunstância, em 1903.

Nos anos seguintes, Carlos recebeu em Lisboa as visitas de Afonso XIII, o jovem
monarca espanhol, da rainha Alexandra (esposa de Eduardo VII), de Guilherme II da
Alemanha e, em 1905, do Presidente da República Francesa, Émile Loubet. Todas estas
visitas deram algum colorido à corte de Lisboa, porém a visita do presidente francês
seria marcada por entusiastas manifestações dos republicanos. Carlos e Amélia
visitaram também, nesses anos de ouro da diplomacia portuguesa Espanha, França e
Inglaterra, onde foram entusiasticamente recebidos em 1904. Em 1908, estava ainda
prevista uma memorável visita ao Brasil (para comemorar o centenário da abertura dos
portos brasileiros pelo seu bisavô D.João VI), e que não veio a acontecer devido aos
trágicos acontecimentos desse ano.

Rei constitucional e situação política

Pintura equestre do rei D. Carlos I de Portugal

De facto, durante todo o reinado de Carlos, o país encontrou-se a braços com crises
políticas e económicas, que se estenderam ao ultramar. Essas crises decorriam do
envelhecimento do sistema conhecido como Rotativismo, pelo qual os dois principais
partidos, o Partido Regenerador e o Partido Progressista, se alternavam no poder. Esta
mecânica era possível não só pela atribuição de poderes pela Constituição, como pelo
sistema eleitoral. De facto, quando um ministério cessava funções, cabia ao rei designar
outro, o que este fazia dissolvendo o parlamento, marcando novas eleições e chamando
para formar novo governo o partido que havia estado na oposição. Este não tinha outra
função enquanto o novo parlamento fosse eleito, que não fosse precisamente o de
organizar essas eleições. Naturalmente, dado o limitado corpo eleitoral (cidadãos
masculinos, alfabetizados com rendimentos acima de certo valor), o partido no governo
não falhava, mediante promessas e combinações com os dignitários locais, em
conseguir a vitória eleitoral. Esta influência notava-se menos nos dois grandes centros
urbanos, onde os partidos minoritários – o Partido Republicano Português e o Partido
Socialista Português – conseguiam ter alguma expressão (sobretudo o primeiro), mas
nunca de molde a ameaçar o resultado. Ao longo de todo o período do Rotativismo,
nunca o partido no poder na altura das eleições falhou em garantir uma maioria no
parlamento, o que quer dizer que o rei era o único garante da rotatividade, de quem se
esperava, uma vez o governo fora de funções, que chamasse os do partido oposto para
governar.

O sistema tinha os seus vícios, pois de cada vez que um partido assumia os cargos
políticos no ministério, os membros do partido cessante assumiam as funções
administrativas não governamentais, como por exemplo a presidência do Crédito
Predial, etc. Assim se garantia que os membros de ambos os partidos tinham sempre
cargos estatais, o que não era de molde a incentivar uma séria fiscalização
governamental.
D. Carlos I, rei de Portugal.

D. Carlos I, rei de Portugal.

Apesar disto, o sistema, de inspiração britânica, teve o seu período áureo entre 1878 e
1890, dando ao país a estabilidade que lhe faltara nas décadas anteriores. Por volta de
1890, no entanto, começou a dar mostras de desgaste, agravado pelas crises financeiras,
provocadas quer pelo maciço investimento nas obras publicas feito durante o Fontismo,
quer pelo investimento militar levado a cabo em África para cumprimento do princípio
de ocupação efectiva decidido na Conferência de Berlim em 1889. A esta situação se
juntavam os escândalos financeiros (como a Questão dos adiantamentos) com que a
propaganda republicana aproveitou para atacar o sistema, e com que a oposição atacava
o governo.

A falta dos líderes carismáticos das décadas anteriores também pode ter tido influência
no desagregar dos partidos tradicionais. Em 1901, dá-se a primeira cisão, com a
formação do Partido Regenerador Liberal, liderado por João Franco, a partir de um
número de deputados do Partido Regenerador. Para agravar a situação, dá-se em 1905
uma segunda dissidência, desta vez a partir do Partido Progressista, quando José Maria
Alpoim entra em ruptura com o seu partido e funda a Dissidência Progressista. Ao
contrário do movimento de João Franco, esta nova cisão parece ter sido motivada
apenas pelas ambições pessoais do seu líder, e a dissidência progressista vai acabar por
juntar-se a movimentos conspirativos com o Partido Republicano. Antes disto, no
entanto, esta cisão vai acirrar os ânimos entre os partido tradicionais, já que aquando da
acção de Franco em 1901, o Partido Progressista não se aproveitou dessa fraqueza do
seu rival, mas agora o Partido Regenerador alia-se inicialmente aos Dissidentes. Isto foi
considerado uma traição pelo líder Progressista, José Luciano de Castro, que prometeu
vingar-se do seu rival Regenerador Hintze Ribeiro.

Franquismo

Era esta a situação quando, após a queda de mais um governo de Hintze Ribeiro o rei
decide chamar para formar governo o regenerador liberal João Franco. Este teve o
imediato apoio dos progressistas, com quem fez um governo de coligação (a chamada
concentração-liberal). Estava consumada a vingança dos progressistas. João Franco
afirma querer governar à inglesa (19 de maio de 1906), prometendo o aprofundamento
da democracia. Liquidada a questão dos tabacos, com o novo contrato dos tabacos de
Outubro de 1906, João Franco dedicou-se à implantação das suas reformas,
apresentando ao parlamento as da contabilidade pública, da responsabilidade
ministerial, da liberdade de imprensa e da repressão anarquista.

Face à greve académica de 1907 na Universidade de Coimbra e à crescente agitação


social, o apoio parlamentar dos progressistas é retirado e os ministros progressistas
demitem-se: temiam que João Franco fortalecesse o seu partido à custa do deles e
contavam ser chamados para formar governo assim que Franco caísse. Enganavam-se
pois Carlos tomou uma atitude diferente do que se esperava, apoiando firmemente João
Franco.

Este, afrontado pelos constantes ataques provenientes da Câmara dos Deputados


solicitou ao rei que dissolvesse o parlamento, adiando por algum tempo as novas
eleições, ao que Carlos acedeu, e João Franco passa a governar à turca (2 de maio de
1907).

Ao proceder deste modo o rei não estava a ir contra a letra da Lei, dado que fazia parte
das suas funções, mas contra o espírito da lei, pelo menos da maneira como era
interpretada pelos políticos tradicionais, que viam assim ameaçado o seu monopólio
político.

A oposição (não só a republicana, mas também os monárquicos opositores de Franco)


lançou então uma forte campanha antigoverno, envolvendo também o próprio rei,
alegando que se estava em ditadura. Tratava-se de facto de uma ditadura administrativa,
visto que se governava sem o concurso do parlamento, no entanto, não se tratava de
uma ditadura institucionalizada, como veio a ser posteriormente a II República, antes
uma medida de excepção, visando criar as condições que permitissem ao partido no
governo ganhar as eleições seguintes.

O apoio dado por Carlos a João Franco, assim como a manutenção da ditadura, não
eram inteiramente apoiados pelos seus mais próximos. A rainha mãe, Maria Pia, a
rainha Amélia, o príncipe real e o seu irmão Afonso, eram contra este papel do rei nos
assuntos públicos. Já o seu secretário particular, o conde de Arnoso, bem como
Mouzinho de Albuquerque, e o Dr Tomás de Melo Breyner eram defensores de João
Franco. Por mais controverso que tenha sido este caminho, visava um objectivo preciso,
que é bem visível na carta de Carlos ao seu amigo, o príncipe Alberto do Mónaco
escrita em Fevereiro de 1907:

Considerando que as coisas aqui não iam bem, e vendo os exemplos de


“ toda a Europa, onde não vão melhor, decidi fazer uma revolução
completa em todos os procedimentos do governo daqui, uma revolução
a partir de cima, fazendo um governo de liberdade e de honestidade,
com ideias bem modernas, para que um dia não me façam uma
revolução vinda de baixo, que seria certamente a ruína do meu país.[4] ”
Na mesma carta, o rei dá conta dos seus medos, que acabariam por concretizar-se depois
da sua morte: "Até ao momento, tenho tido sucesso, e tudo vai bem, até melhor do que
eu julgava possível. Mas para isso, preciso de estar constantemente na passerelle e não
posso abandonar o comando um minuto que seja, porque conheço o meu mundo e se o
espírito de sequência se perdesse por falta de direcção, tudo viria imediatamente para
trás, e então seria pior do que ao princípio."[4]

D. Carlos, aos 22 anos (1886).

Contra o conselho de Carlos ("não se apaga fogo lançando-lhe lenha."), João Franco
reaviva a questão dos adiantamentos (as dívidas da casa Real ao Estado), que antes
dissera ter que ser resolvida no Parlamento, mas que agora o faz sem ele. Especula-se
(Rui Ramos), que visava prender o apoio do rei, dado que este já havia recusado antes
dar a ditadura a Hintze ou a José Luciano, e não podia ter certeza do contínuo apoio do
monarca, do qual dependia inteiramente a sua posição.

É neste contexto de crescente oposição que se dá o episódio da entrevista ao jornal


francês Le Temps, que veio acirrar ainda mais os ânimos e a contestação direta ao rei.
Nesta entrevista dada por D. Carlos ao jornalista francês Joseph Gaultier, o monarca
reitera o seu apoio a João Franco, dizendo que esperou pela opção da ditadura até achar
alguém com carácter.

O efeito desta entrevista, que supostamente visava tranquilizar as praças financeiras


acerca da estabilidade do país, teve um efeito muito negativo. A tradução do termo
"caráter", dita em francês no original, como possuidor de coragem e firmeza, foi vista
no sentido português, implicando falta de carácter aos outros políticos. Também outros
termos, como "Teremos eleições, teremos seguramente a maioria", implicava uma falta
de distanciamento face a um partido que ia contra o papel do monarca. A entrevista
havia tido lugar por insistência de João Franco, mesmo com a oposição de outros
franquistas (Vasconcelos Porto e Luciano Monteiro), de forma a cimentar a sua posição,
mas teve um efeito contrário na oposição.

Apesar da oposição, o partido regenerador-Liberal de João Franco consegue tecer a véu


de compromissos necessários com os círculos eleitorais de forma a garantir a esperada
maioria, e são marcadas eleições para o parlamento, o que poria fim à ditadura
administrativa. É neste contexto de regresso a uma normalidade e estabilidade
parlamentares, que republicanos e dissidentes progressistas se decidem a agir pela força,
levando a cabo uma tentativa de golpe de estado (28 de janeiro de 1908).

Regicídio
Ver artigo principal: Regicídio de 1908

O Regicídio.

Como era habitual no início de cada ano, Carlos partiu com toda a família para Vila
Viçosa, a morada ancestral dos Bragança e o seu palácio preferido. Aí reuniu pela
última vez os seus amigos íntimos (raramente levava convidados oficiais para a vila
alentejana), promovendo as suas célebres caçadas. É nesta altura que tem lugar a
tentativa de golpe de Estado já citada, que é gorada por pronta acção do governo,
baseado na inconfidência de um conjurado, que tentou aliciar um polícia seu conhecido,
com o resultado de que este foi dar parte do sucedido aos seus superiores.

São imediatamente presos, além do comerciante, António José de Almeida, o dirigente


Carbonário Luz Almeida, o jornalista João Chagas, França Borges, João Pinto dos
Santos, e Álvaro Poppe. Afastados estes, a liderança do movimento recai sobre Afonso
Costa, mas este também é apanhado, junto com outros conspiradores, entre eles
Francisco Correia de Herédia, 1.º Visconde da Ribeira Brava, e o Dr. Egas Moniz, de
armas na mão, no Elevador da Biblioteca, de onde contavam chegar à Câmara
Municipal. José Maria de Alpoim consegue fugir para Espanha, enquanto alguns grupos
de civis armados, desconhecedores do falhanço, ainda fizeram tumultos pela cidade.

João Franco decidiu ir mais longe e preparou um decreto prevendo o exílio para o
estrangeiro ou a expulsão para as colónias, sem julgamento, de indivíduos que fossem
pronunciados em tribunal por atentado à ordem pública,[5] o que se aplicaria aos
revoltosos republicanos. O rei assinou o decreto ainda em Vila Viçosa, e conta-se que,
ao assiná-lo, declarou: "Assino a minha sentença de morte, mas os senhores assim o
quiseram."

A 1 de fevereiro de 1908, a família real regressou a Lisboa depois de uma temporada no


Palácio Ducal de Vila Viçosa. Viajaram de comboio até ao Barreiro, onde apanharam
um vapor para o Terreiro do Paço. Esperavam-nos o governo e vários dignitários da
corte. Após os cumprimentos, a família real subiu para uma carruagem aberta em
direcção ao Palácio das Necessidades. A carruagem com a família real atravessou o
Terreiro do Paço, onde foi atingida por disparos vindos da multidão que se juntara para
saudar o rei. O rei D. Carlos I, que morreu imediatamente, após ter sido alvejado. O
príncipe herdeiro D. Luís Filipe de Bragança foi ferido mortalmente e o infante Manuel
ferido num braço. Os autores do atentado foram Alfredo Costa e Manuel Buíça, e foram
considerados à época os únicos, embora a historiografia recente reconheça que faziam
parte de um grupo cuja acção visando o rei, pelo seu papel de suporte a Franco, já fazia
parte integrante do Golpe de estado gorado. Os assassinos foram mortos no local por
membros da guarda real e reconhecidos posteriormente como membros do movimento
republicano.

A morte do rei D. Carlos e do príncipe real indignaram toda a Europa, especialmente a


Inglaterra, onde o rei Eduardo VII lamentou veementemente a impunidade dos chefes
do atentado. Esta impunidade ficou a dever-se à queda de João Franco, responsabilizado
pelo ódio ao rei e, mais justamente, pela falta de protecção policial, e pelo rápido
retorno ao poder dos partidos tradicionais, tal como o monarca havia previsto na carta
ao príncipe do Mónaco. O rei D. Carlos não desconhecia os riscos que corria, mas
também não achava que podia fugir deles, como ficou patente no seu desabafo ao seu
ajudante de campo, tenente-coronel José Lobo de Vasconcelos, alguns meses antes:
Velório de D. Carlos e D. Luís Filipe, na Igreja de São Vicente de Fora, a 8 de
Fevereiro de 1908.

«Tu julgas que eu ignoro o perigo em que ando? No estado de excitação em que se
acham os ânimos, qualquer dia matam-me à esquina de uma rua. Mas, que queres tu
que eu faça? Se me metesse em casa, se não saísse, provocaria um grande descalabro.
Seria a bancarrota. E que ideia fariam de mim os estrangeiros, se vissem o rei
impedido de sair? Seria o descrédito. Eu, fazendo o que faço, mostro que há sossego no
País e que têm respeito pela minha pessoa. Cumpro o meu dever. Os outros que
cumpram o seu.»

E de facto morreu no cumprimento do seu dever, e com ele morreu o que talvez fosse a
última tentativa séria de reforma do sistema parlamentar monárquico.

Cientista, lavrador e pintor

O Sobreiro (1905), pintura de Carlos I.

Carlos era um apreciador das tecnologias que começavam a surgir no princípio do


século XX. Instalou luz eléctrica no Palácio das Necessidades e fez planos para a
electrificação das ruas de Lisboa. Embora fossem medidas sensatas, contribuíram para a
sua impopularidade visto que o povo as encarou como extravagâncias desnecessárias.
Foi ainda um amante da fotografia e autor do espólio fotográfico da Família Real. Foi
ainda um pintor de talento, com preferências por aguarelas de pássaros que assinava
simplesmente como "Carlos Fernando". Esta escolha de tema refletia outra das suas
paixões, a ornitologia. Recebeu prémios em vários certames internacionais e realizou
ensaios notáveis na área de cerâmica.[6] Também se encontra colaboração fotográfica da
sua autoria na revista Boletim Fotográfico[7] existente entre 1900 e 1914.

Para além da ornitologia, era um apaixonado pela oceanografia, tendo adquirido um


iate, o Amélia, especificamente para se dedicar a campanhas oceanográficas.
Estabeleceu uma profunda amizade com Alberto I, Príncipe do Mónaco, igualmente um
apaixonado pela oceanografia e as coisas do mar. Desta relação nasceu o Aquário Vasco
da Gama, que pretendia em Portugal desempenhar papel semelhante ao Museu
Oceanográfico do Mónaco. Alguns trabalhos oceanográficos realizados por Carlos, ou
por ele patrocinados, foram pioneiros na oceanografia mundial. Honrando esta faceta do
monarca, a Armada Portuguesa opera atualmente um navio oceanográfico com o nome
de D. Carlos I.

Carlos foi também um excelente agricultor, tendo tornado rentáveis as seculares


propriedades da Casa de Bragança (património familiar destinado a morgadio dos
herdeiros da Coroa), produzindo vinho, azeite, cortiça, entre outros produtos, tendo
também organizado uma excelente ganadaria e incentivado a preservação dos
prestigiados cavalos de Alter.

Jaz no Panteão Real da Dinastia de Bragança, no Mosteiro de São Vicente de Fora, em


Lisboa, ao lado do filho que com ele foi assassinado. As urnas com tampas
transparentes ficaram aí depositadas durante 25 anos. Só em 1933 é que uma comissão
privada abriu uma subscrição nacional que levou à inauguração de dois belos túmulos,
concebidos pelo arquiteto Raúl Lino, junto dos quais está uma figura feminina,
representando "A Dor", esculpida por Francisco Franco, conjunto esse que ainda hoje
pode ser visto.

Moeda de Carlos I, 1 000 reis de 1899

Selo de D. Carlos I, 25 reis de 1895


Descendência
Filhos legítimos

Do casamento com D. Amélia de Orleães, Princesa de França (1865-1951):

 D. Luís Filipe, Príncipe Real de Portugal (1887-1908)


 D. Maria Ana de Bragança, Infanta de Portugal (1888)
 D. Manuel II, Rei de Portugal (1889-1932)

Bastardos

Alegadamente D. Carlos I teve várias relações extraconjugais, das quais terão nascido
alguns bastardos. De uma americana terá tido uma filha.[8] De Grimaneza, peruana viúva
de um diplomata brasileiro que chefiou a legação do Brasil em Lisboa, terá tido uma
filha chamada Maria Pia nascida antes de 1902. Grimaneza terá sido a última grande
paixão do Rei.[9] Alegadamente teve também da brasileira Maria Amélia de Laredó e
Murça uma outra filha bastarda nascida em 1907 e chamada Maria Pia (1907-1995).[10]
[11]
Durante a sua vida nunca o Rei D. Carlos reconheceu oficialmente a paternidade de
qualquer filho bastardo, apesar do próprio se encarregar de alimentar as suspeições
sobre a sua prole ilegítima.[12]

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