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Módulo 4 – A Europa nos séculos XVII e XVIII – sociedade, poder e dinâmicas coloniais

Unidade 1 – A população da Europa nos séculos XVII e XVIII: crises e crescimento

Economia e população:

Até ao fim do século XVIII, vigorou na Europa o chamado sistema económico pré-
industrial: predomínio claro da agricultura, ocupando uma esmagadora maioria da população
ativa. No entanto, no geral, tratava-se de uma atividade pouco desenvolvida, usando-se
técnicas rudimentares, antigas, o que se refletia numa baixa produção. O Homem estava
muito dependente da Natureza, para obter melhores colheitas.

Assim, eram frequentes as crises de subsistência, com muitos anos em que as


colheitas eram insuficientes, provocando períodos de fomes. Rompia-se, assim, o equilíbrio
entre a população existente e os recursos necessários – nestas épocas, havia picos de
mortalidade.

Características do modelo demográfico antigo:

- Elevada mortalidade;

-Elevada mortalidade infantil;

- Elevada taxa de natalidade;

-Baixa esperança média de vida.

Em épocas sem grandes calamidades, a população crescia ligeiramente. No


entanto, eram frequentes as crises demográficas, devido aos efeitos da fome, das doenças e
das guerras. Estas crises de mortalidade eram frequentes até ao século XVIII.

A demografia do século XVII

À semelhança do século XIV, o século XVII foi marcado pela “trilogia negra” – fomes,
pestes e guerras, daí resultando crises demográficas em muitas regiões da Europa. A fome
arrastou consigo as doenças e o clima de guerra permanente (destaque para a Guerra dos
Trinta Anos) agravou a situação demográfica. Em alguns países iriam ser precisos cerca de 100
anos para repor os contingentes populacionais.

Pode-se afirmar que no século XVII, a “morte estava no centro da vida”.


A demografia do século XVIII:

Principalmente a partir da 2ª metade desse século, a demografia irá mudar


radicalmente: regista-se uma acentuada diminuição da mortalidade, o que fará com que a
população europeia comece a crescer a um ritmo mais acelerado. Para esta situação,
contribuíram os seguintes fatores:

- diminuição das crises de subsistência (mais e melhores alimentos);

- menos doenças e epidemias;

- progressos ao nível da higiene pessoal e pública;

- progressos na medicina (aparecimento das primeiras vacinas e cuidados de


obstetrícia);

- nova mentalidade relativamente à infância – mais cuidados maternos e maior


atenção às crianças.

Unidade 2 – A Europa dos estados absolutos e a Europa dos parlamentos

Entre os séculos XVI e XVIII, a Europa viveu um período designado por Antigo Regime,
no qual, no geral, os países apresentam as mesmas características económicas, sociais e
políticas.

A sociedade do Antigo Regime: era uma sociedade de ordens – clero, nobreza e povo
(Terceiro Estado), definidas pelo nascimento e pela função que os seus membros
desempenhavam. Assim, era uma sociedade hierarquizada, em que as ordens não estavam
todas ao mesmo nível em termos de importância e poder. Os vários privilégios que possuíam,
faziam do clero e da nobreza as ordens sociais mais poderosas.

Dentro de cada ordem social, havia vários estratos (graus, categorias…), também eles
hierarquizados, dependendo da função que ocupavam – sociedade estratificada.

O clero: considerada a ordem mais digna, por estar mais próxima de Deus. Beneficiava
de inúmeros privilégios: posse de terras (domínios senhoriais), isenção de pagar impostos
(recebendo-os) e de prestar serviço militar, ocupavam cargos importantes na administração,
tinham leis próprias (direito canónico) e tribunais próprios.

No geral, era uma ordem rica, recebendo muitas ofertas dos crentes. Os seus
membros vêm da nobreza e do povo. Dividia-se em alto clero (bispos, arcebispos, cardeais…) e
baixo clero (párocos, monges…). Muitos elementos do baixo clero levavam uma vida simples,
até com dificuldades financeiras.
A nobreza: ordem de maior prestígio, ocupando os cargos mais importantes na
administração e no exército. Também possuíam muitas propriedades e cobravam impostos
(não pagavam).

As velhas famílias que há várias gerações pertenciam a esta ordem, era a chamada
nobreza de sangue ou nobreza de espada. Esta nobreza estava hierarquizada, desde a nobreza
que vivia na corte à nobreza rural, vivendo esta dos poucos rendimentos dos seus senhorios).

A esta velha nobreza veio juntar-se a nobreza de toga, maioritariamente oriunda da


burguesia. Muitos burgueses, com estudos, começaram a destacar-se e a ocupar cargos
importantes na administração. Para isso, eram nobilitados pelos reis. Pela via do casamento,
estas “duas nobrezas” começaram a misturar-se.

O Terceiro Estado: era a esmagadora maioria da população europeia. Era a ordem


social mais estratificada: à cabeça tínhamos a burguesia (homens de negócios e ligados à
banca), muitos deles com estudos superiores. Depois, vinham os camponeses, artesãos,
mendigos…, vivendo na pobreza, trabalhando nas terras dos grandes senhores, sujeitos ao
pagamento de impostos.

A diversidade de comportamentos e de valores.

A mobilidade social

Cada estrato social diferenciava-se, por exemplo, nas formas de tratamento ou no


vestuário. Assim, a lei definia um conjunto de regras que todos tinham de cumprir: por
exemplo, só o nobre podia usar espada e tecidos ricos. Um nobre tinha de ser tratado, por
exemplo, por Excelência.

A mobilidade social, embora reduzida, existia no Antigo Regime: a principal era a


ascensão de membros do povo (burguesia). Aos poucos, o nascimento deixava de impedir
essa mudança social. Foi o dinheiro e os estudos que abriram o caminho para a burguesia
chegar ao topo da pirâmide social. O desempenho de cargos administrativos levou ao
aparecimento da nobreza de toga. Outra via foi o casamento: muitos nobres arruinados viam
no casamento dos filhos com a burguesia endinheirada uma boa oportunidade de enriquecer.

O absolutismo régio

No Antigo Regime, politicamente, grande parte dos países europeus tinha como
regime o absolutismo régio ou monarquia absoluta. O expoente máximo desse regime foi o
rei de França, Luís XIV, no século XVII.

Principais características do absolutismo:

- o rei concentra em si todos os poderes (legislativo, executivo e judicial);


- o seu poder tem uma origem divina: cumprem a vontade de Deus, são os seus
representantes na Terra. Atentar contra o rei é o mesmo que atentar contra Deus. Tem um
poder sagrado;

- é um poder paternal: tal como um pai, o rei deve proteger os seus súbditos e
contribuir para a sua felicidade;

- o seu poder está submetido à razão: governa com sabedoria, pensando nos seus atos
para decidir o bem.

A corte era o espelho de todo o poder dos reis absolutistas, com destaque para a
corte francesa, situada em Versalhes. O grande palácio foi projetado à imagem do “rei-sol”,
vivendo lá milhares de pessoas, das classes privilegiadas. A estes o rei distribuía benefícios e
privilégios, exigindo em troca a sua fidelidade e obediência. Por outro lado, era uma forma do
rei os manter “debaixo de olho”, para impedir ou descobrir eventuais tentativas de revolta.

Em Versalhes, tudo servia para glorificar o rei, havendo um rígido protocolo que todos
deviam respeitar. Coisas aparentemente insignificantes, como o deitar ou o levantar do rei,
eram pretexto para uma cerimónia, na qual era bem evidente a hierarquização da sociedade.

Sociedade e poder em Portugal no Antigo Regime

A preponderância da nobreza fundiária e mercantil: a nobreza portuguesa teve um


papel fundamental na Restauração da Independência em 1640, que acabou com 80 anos de
domínio filipino. Com D. João IV iria iniciar-se a 4ª e última dinastia monárquica.

A nobreza vai reforçar a sua influência política, aumentando o seu poder junto dos
reis. A nobreza de sangue mantinha a quase exclusividade no acesso aos cargos superiores da
administração e do exército. O mesmo acontecia com os cargos atribuídos nas colónias
portuguesas. Esta situação ia merecendo algumas críticas: “Só os fidalgos governam…mesmo
sem experiência de nada…, homem que não é fidalgo não é chamado para nada.”

Muitos nobres juntavam aos rendimentos da terra os rendimentos obtidos na prática


do comércio por todo o Império, negociando os produtos do Brasil, de África, da Índia… Assim,
uma das especificidades da sociedade portuguesa foi o aparecimento da figura do cavaleiro-
mercador. Sendo uma maneira fácil de ganhar dinheiro, o nobre investia esses lucros na
compra de mais terras ou em luxos excessivos.

Paralelamente, a burguesia portuguesa tinha muitas dificuldades em se afirmar. Por


um lado, enfrentava a concorrência dos nobres no comércio, por outro, os reis procuravam
chamar a si o monopólio do comércio colonial, não dando liberdade de iniciativa aos
burgueses.

O aparelho burocrático do Estado Absoluto: mesmo chamando a si todos os poderes,


também em Portugal os reis organizaram o aparelho de Estado, criando órgãos com funções
específicas para cada área da governação. Tinham alguma autonomia mas estavam sob o
controlo do rei.

Assim, D. João IV criou as Secretarias, com funções na área da Justiça, Defesa e


Finanças. As Cortes começaram a reunir cada vez menos, até deixarem de reunir com D. João
V.

No geral, o Estado era burocrático, lento e insuficiente, estando longe das populações.

O absolutismo joanino: em 1706 subiu ao trono D. João V, que viria a ser o expoente
máximo do absolutismo em Portugal, sendo Luís XIV o modelo que seguiu.

Nunca convocou as Cortes e procurou sempre impor a sua autoridade sobre os


privilegiados. Destacou-se pelo luxo e ostentação, com uma corte cheia de protocolo, à
semelhança de Versalhes, onde ele era o centro de todas as atenções.

Promoveu o mecenato das artes e das letras e empreendeu uma política de grandes
construções, com destaque para o Convento de Mafra. O século XVIII é o século da arte
barroca, arte riquíssima, onde predomina a exuberante decoração e a talha dourada. Este
estilo artístico foi muito utilizado pelos reis absolutistas, como mais uma forma de mostrar
todo o seu poder, autoridade e riqueza.

A Europa dos Parlamentos: sociedade e poder político

No Antigo Regime, alguns países rejeitaram o absolutismo. É o caso das Províncias


Unidas (Holanda) e da Inglaterra.

Na Holanda, os cargos políticos eram disputados tanto pelos nobres como pela
burguesia. Os nobres ocupavam principalmente cargos no exército. Os burgueses, ocupavam
maioritariamente os cargos nas assembleias, principalmente nos Estados Gerais
(Parlamento). Tinham uma mentalidade própria, bem diferente da mentalidade dos grupos
privilegiados de outros países: seguiam valores como a poupança e o trabalho, recusando o
luxo excessivo.

No fim do século XVI, a Holanda iria tornar-se na maior potência comercial e marítima,
rapidamente ultrapassando os países ibéricos. Para isso foi fundamental o fim do “mare
clausum” que fora instituído pelo Tratado de Tordesilhas. Os holandeses defenderam o “mare
liberum” e graças aos argumentos de Hugo Grotius conseguiram acabar com o exclusivo da
navegação transoceânica de Portugal e Espanha.

A recusa do absolutismo na sociedade inglesa: desde cedo que o poder dos reis em
Inglaterra foi limitado pelos seus súbditos. Remonta ao século XIII a Magna Carta, diploma
que viria a estar na base do Parlamento.
No século XVII, o absolutismo impôs-se na Europa. Também em Inglaterra houve
tentativas para seguir o mesmo caminho político. Tal atitude gerou conflitos e tensões: em
1628, Carlos I foi obrigado a aceitar a Petição dos Direitos, documento que o impedia de
lançar impostos de sua única vontade e de ordenar prisões arbitrárias. Dissolveu o Parlamento
e iniciou um governo absolutista. Em 1649 foi condenado à morte, sob influência de
Cromwell. A monarquia foi abolida.

Depois da morte de Cromwell foi restaurada a monarquia.

Em 1689 é coroado Guilherme de Orange (Revolução Gloriosa). O Parlamentarismo


triunfa definitivamente, consagrado na Declaração dos Direitos, que ainda hoje é o texto
fundamental da monarquia inglesa. A burguesia ligada aos negócios e a nobreza fundiária
constituíam a base social de apoio do regime parlamentar.

Coube ao filósofo John Locke a fundamentação teórica do Parlamentarismo,


afirmando que todo o poder depende da vontade dos governados, podendo estes retirar do
poder os governantes que não governem para o bem comum.

Unidade 3 – Triunfo dos Estados e dinâmicas económicas nos séculos XVII e XVIII

Nos séculos XVII e XVIII, o comércio vai assumir, para as principais nações europeias,
um papel fundamental. Portugal, Espanha, França, Inglaterra e Holanda dominavam as
grandes rotas do comércio intercontinental, que gerava grandes lucros. Investir no comércio
passou a ser uma prioridade – capitalismo comercial.

Este dinamismo comercial impulsionou a exploração da América, nomeadamente as


explorações do açúcar, café, tabaco, algodão, ouro e prata. Neste contexto, ganhou relevância
a rota do comércio triangular, que ligava a Europa, África e América, na qual o tráfico de
escravos africanos era fundamental para levar para as plantações e minas na América.

O reforço das economias nacionais – o Mercantilismo

Os reis absolutistas começaram a ver no comércio uma oportunidade para


aumentarem a sua riqueza e o seu poder. Foi assim que alguns países vão adotar uma nova
política económica, que valoriza a atividade comercial – o Mercantilismo.

Para os mercantilistas o objetivo máximo era atingir uma balança comercial positiva,
em que o valor das importações fosse menor que o valor das exportações.

Trata-se de uma teoria económica protecionista, uma vez que são tomadas medidas
para proteger a produção nacional da concorrência estrangeira. Por exemplo, aumentando as
taxas alfandegárias (impostos) sobre os produtos estrangeiros para ficarem mais caros (deste
modo muitas pessoas começariam a optar pelo produto nacional). Outra forma era proibir
mesmo a importação de certos artigos (leis pragmáticas).
O mercantilismo em França: foi adotado no século XVII, no reinado de Luís XIV, pelo seu
ministro Colbert. Principais medidas adotadas:

- Criação de manufaturas (fábricas em que o trabalho era manual), uma vez que os artigos
industriais eram os mais caros (evitar a sua importação e, eventualmente, exportá-los);

- Importação de mão-de-obra estrangeira qualificada;

- Desenvolvimento da frota mercante e da marinha de guerra, para desenvolver o comércio


externo (principalmente nas colónias);

- Criação de Companhias Comerciais Monopolistas: empresas que tinham o exclusivo do


comércio em determinadas regiões (destaque para a Companhia das Índias Orientais).

O mercantilismo em Inglaterra: foi motivado principalmente para diminuir o poderio


comercial e marítimo dos holandeses. Em meados do século XVII foram promulgados os Atos
de Navegação: todas as mercadorias estrangeiras que entrassem em Inglaterra seriam
obrigatoriamente transportadas em embarcações inglesas ou do país de origem. As
mercadorias coloniais só podiam ser transportadas pelos britânicos. As tripulações tinham que
ser maioritariamente constituídas por ingleses.

Tal como os franceses, também os ingleses criaram Companhias Comerciais Monopolistas.

A disputa das áreas coloniais: nos séculos XVII e XVIII vão-se multiplicar os conflitos
entre as principais potências económicas europeias. Por detrás da maior parte desses
conflitos, estão as rivalidades e as lutas pela posse de colónias. Estas eram fundamentais para
a economia dos países europeus – forneciam produtos e matérias-primas a baixo custo e
eram bons mercados para os europeus exportarem os seus produtos.

Entre as metrópoles e as colónias estabeleciam-se relações de dependência e


exclusividade (exclusivo colonial) – as colónias teriam que ser úteis para a sua metrópole e só
com ela estabelecer relações comercias.

O principal conflito desta época decorreu entre 1756-17563 (Guerra dos Sete Anos).
No final, a Inglaterra foi a grande vencedora, reforçando o seu poder colonial na América do
Norte, tornando-se a maior potência económica e colonial da Europa.

A hegemonia económica britânica

Às vitórias militares que permitiram à Inglaterra aumentar o seu poder


colonial, a partir do século XVIII irá juntar-se um notável poder económico – desenvolvimento
agrícola, na indústria, no comércio e na banca.

Os progressos agrícolas: os grandes proprietários ingleses (landlords) vão iniciar um


movimento para rentabilizar as suas terras – as enclosures. Até então predominavam os
minifúndios, quase sempre terras comunais, que podiam ser usados por toda a comunidade.
Eram campos abertos. Depois, os grandes proprietários vão-se apoderar de muitas dessas
terras, procedendo ao seu emparcelamento, de modo a obter grandes propriedades, as quais
vedavam. A produtividade dessas terras iria aumentar de forma significativa, até porque já
podiam usar alguma maquinaria.

Outra alteração importante foi a adoção de um novo sistema de rotação de culturas: o


afolhamento quadrienal, cuja principal novidade é a ausência de pousio. Este é substituído
por leguminosas e forragens, que serviam para fertilizar a terra e alimentar o gado.

A introdução de novas alfaias agrícolas (ceifeiras, debulhadoras,…) e a seleção de


sementes e de animais, são outros progressos que vieram aumentar a produtividade do solo e
o incremento da criação de animais.

Assim, muitos autores falam da existência de uma “revolução agrícola”.

O crescimento demográfico e a urbanização: a Inglaterra foi o país em que, no século


XVIII, o crescimento demográfico foi mais evidente. Isto é reflexo da boa conjuntura
económica que o país atravessava. Mas, o aumento da população também estimulou a
economia: mais mão-de-obra e mais consumidores. Ou seja, economia e demografia
influenciam-se mutuamente.

Registou-se igualmente uma acentuada migração para os centros urbanos (êxodo


rural): muitos eram camponeses que ficaram sem terra devido às enclosures, atraídos pelo
desenvolvimento industrial. Em muitas cidades a população triplicou em poucas décadas.

O mercado nacional: expandiu-se imenso ao longo do século XVIII, estimulado pelo


aumento da população (mais consumidores). Por outro lado, a circulação dos produtos era
facilitada pela ausência de alfândegas internas. Foi igualmente fundamental o
desenvolvimento dos transportes: dotada de uma boa rede hidrográfica, esta era
complementada com uma rede de canais. Ampliaram a rede de estradas, possuíam bons
portos marítimos e estava prestes a surgir o caminho-de-ferro. Tudo isto possibilitava a livre e
mais rápida circulação dos produtos por todo o território inglês.

O mercado externo: os produtos ingleses conquistavam mercados um pouco por todo


o mundo, pela sua qualidade e baixos preços. Até a França, que tomara medidas
protecionistas, via o seu mercado inundado pelos produtos britânicos.

A frota mercante inglesa cruzava oceanos, participando, por exemplo, no comércio


triangular. No oriente, a Companhia das Índias Orientais impunha o seu poder, conquistando
mercados e territórios.

O sistema financeiro: a superioridade inglesa assentava também num sistema


financeiro desenvolvido – em Londres funcionava uma das mais antigas Bolsas de Valores,
onde se financiava o Estado e se transacionavam ações de empresas, com grandes lucros para
os investidores.
Em 1694 foi criado o Banco de Inglaterra, vocacionado para depósitos, transferências
e empréstimos (fundamental para financiar a economia). Havia também os country-banks
(pequenas instituições bancárias espalhadas por toda a Inglaterra).

O arranque industrial: deu-se a partir da 2ª metade do século XVIII. A Inglaterra reunia


uma série de condições que lhe possibilitaram ter sido o país pioneiro na revolução industrial

- muita mão de obra e consumidores devido ao dinamismo demográfico;

- muito capital para investir, devido aos lucros na agricultura e principalmente no


comércio;

- muitas matérias-primas (minérios, algodão, lã…);

- boas vias de comunicação e transporte;

- um bom mercado interno e externo para colocar os produtos;

- os avanços tecnológicos.

Os setores de arranque da revolução industrial foram os têxteis (lã e algodão) e o setor


metalúrgico (ferro) devido à abundância de matérias-primas.

Para que tudo isto fosse possível, foi fundamental James Watt e a criação da máquina
a vapor. Pela 1ª vez na História da humanidade, o Homem conseguia criar uma energia
artificial, uma força mecânica para colocar em funcionamento as máquinas que eram
inventadas.

Assim, passava-se da manufatura à maquinofatura, o que permitiu, em poucas


décadas, que a Inglaterra conseguisse produzir o que antes necessitaria de 40 milhões de
homens!!!

A par da “Inglaterra Verde”, regiões com predomínio da agricultura e criação de gado,


nascia uma “Inglaterra Negra”, ou seja, as grandes cidades industriais. Era o início da era do
capitalismo industrial.

Portugal – dificuldades e crescimento económico

No século XVII, a economia portuguesa esta muito dependente da


reexportação dos produtos coloniais (açúcar, café, tabaco, especiarias…). Na 2ª metade desse
século, as medidas protecionistas adotadas por alguns países (no âmbito do mercantilismo)
levaram-nos a comprar menos produtos ao nosso país, incluindo o sal e o vinho. Por outro
lado, os holandeses, franceses e ingleses começaram a cultivar nas suas colónias açúcar e
tabaco, já não precisando de comprar tanto a Portugal.
Assim, a balança comercial portuguesa apresentava um elevado défice. A solução
para tentar ultrapassar essa situação foi uma aposta na produção nacional, para diminuir as
importações, ou seja, adotar medidas de caráter mercantilista.

Foi no reinado de D. Pedro II, que o seu ministro Conde da Ericeira, vai tomar medidas
muito semelhantes às de Colbert: criação de manufaturas, as quais eram protegidas, dados
privilégios (isenção de impostos) e subsídios; contrataram-se técnicos estrangeiros; tomaram-
se medidas para proteger os produtos nacionais da concorrência estrangeira (aumento das
taxas alfandegárias para ficarem mais caros e publicação de leis pragmáticas). Estas também
tinham por objetivo evitar o luxo excessivo, que pesava muito no défice da balança comercial.

Foram também criadas Companhias de Comércio Monopolistas, para o comércio


colonial.

A inversão da conjuntura – o fracasso das medidas mercantilistas

No final do século XVII e inícios do século XVIII, um conjunto de fatores veio fazer com
que o esforço industrializador do país tivesse fracassado: as exportações começam
novamente a aumentar ligeiramente, mas outros fatores mais decisivos explicam esse
fracasso: finalmente descobriu-se ouro no Brasil. Durante décadas, iriam chegar a Portugal
toneladas de ouro. O país enriqueceu, mas isso teve um efeito negativo na economia: podia-
se ter aproveitado esse ouro para estimular a produção agrícola, industrial e o comércio. Em
vez disso, desinvestiu-se. As manufaturas entretanto criadas foram abandonadas e expostas à
concorrência estrangeira.

Na 1ª metade do século XVIII multiplicaram-se as expedições pelo interior do Brasil,


em busca de escravos e produtos – as bandeiras.

Com tanto ouro, pagar as importações deixava de ser problema e o esforço


industrializador é abandonado. Para as medidas mercantilistas foi também prejudicial a
assinatura, com a Inglaterra, do Tratado de Methuen em 1703 – os têxteis ingleses passam a
ser admitidos em Portugal sem qualquer restrição (anulação das leis pragmáticas). Como esses
produtos eram de boa qualidade e mais baratos, muitas manufaturas não conseguiram
sobreviver pois não vendiam, abrindo falência. No entanto, este tratado foi positivo para os
produtores de vinho, já que este entrava em Inglaterra em condições vantajosas em relação
aos vinhos franceses.

Mas, o saldo de tudo isto para a economia portuguesa foi negativo: aumentou
consideravelmente o défice da balança comercial. Portugal recorria sobretudo ao mercado
inglês, do qual estava cada vez mais dependente. Muito do ouro era para pagar as
importações, ajudando, assim, a enriquecer os outros países (“Portugal…nadando em
ouro….viu-se pobre, quando lhe foi preciso entregar este mesmo ouro à Inglaterra…”).

A política económica e social do Marquês de Pombal

Em meados do século XVIII, as remessas de ouro do Brasil começaram a


diminuir drasticamente. Assim, Portugal vai novamente passar por dificuldades económicas:
pouca produção interna, poucas exportações mesmo dos produtos coloniais e elevado défice
da balança comercial (com menos dinheiro para o suportar).
Foi o Marquês de Pombal, principal ministro de D. José I, que vai tentar solucionar a
crise económica. Para isso, vai adotar, novamente, medidas de caráter mercantilista.

Os grandes objetivos da política económica de Pombal eram: redução do défice e


colocar o Estado a controlar a atividade comercial. Para isso, criou a Junta do Comércio
(espécie de ministério do comércio), órgão que tratava de tudo o que dissesse respeito a essa
atividade. Criaram-se Companhias Monopolistas (com capitais públicos e privados, com
destaque para as que atuavam no Brasil e a Companhia das Vinhas do Alto Douro).

A par destas medidas, deu-se um surto manufatureiro, com a recuperação de muitas


manufaturas já existentes e criação de outras. A todas elas eram concedidos privilégios e
contavam com a vinda de artífices estrangeiros.

Consciente da importância da burguesia, Pombal vai promover este grupo social,


fundamental para o desenvolvimento comercial. Deste modo, em 1759, criou a Aula do
Comércio, 1ª escola comercial da Europa, destinada a formar os futuros comerciantes.

Anos mais tarde, elevou o comércio ao estatuto de “profissão nobre, necessária e


proveitosa” (a alta burguesia, desta forma, acedeu aos títulos de nobreza). Pombal também
decretou o fim da distinção entre cristãos-novos e cristãos-velhos e o Tribunal da Inquisição
ficou sob o controlo do Estado.

Com estas medidas, finalmente víamos a burguesia nacional a ter um papel relevante
no comércio e a ver valorizada a sua função.

Os resultados foram bastante satisfatórios: em poucos anos, o défice da balança


comercial diminuiu significativamente, chegando mesmo a saldos positivos no último quartel
do século XVIII.

Unidade 4 – Construção da modernidade europeia

A revolução científica: apesar dos progressos verificados ao nível do conhecimento


nos séculos XV e XVI (Renascimento), quando chegamos ao século XVII muitos dos fenómenos
da vida e da Natureza continuavam sem explicação de caráter científico. Aliás, muitas crenças
de caráter religioso explicavam muitos desses fenómenos.

A partir do século XVII vai aumentar o desejo de conhecer e aprender. Assim, um


pouco por toda a Europa, surgiram Academias Científicas, locais de partilha de
conhecimentos, de investigação e divulgação das novas descobertas.

Vai ser a adoção de um novo método, o experimental ou indutivo, que vai permitir
uma verdadeira revolução na ciência: coube ao filósofo inglês Francis Bacon, a primeira
definição das etapas desse método, que considerou a única forma de atingir a verdade –
observar factos – formular hipóteses explicativas – fazer experiências repetidamente –
determinar a lei ou teoria científica.

Exemplos de novas descobertas: sobre a circulação sanguínea (Harvey), confirmação


da teoria heliocêntrica (Galileu Galilei), lei da gravitação geral (Isaac Newton)…
Aos poucos estas novas descobertas eram divulgadas, mas encontravam alguns
obstáculos: o analfabetismo e principalmente a oposição da Igreja Católica (ação do Tribunal
da Inquisição…).

A filosofia das Luzes

O século XVIII ficou conhecido como o “século das luzes”, considerando-se que a felicidade
dos homens seria conseguida através da Razão, uma “luz” que guiaria a humanidade, tirando-
a da “escuridão” (ignorância). Iluminismo foi o nome dado a esta corrente de pensamento,
sustentada na ideia que o uso da Razão contribuiria para o progresso da ciência, para a
construção de uma sociedade mais justa.

Os iluministas defendiam uma rutura com o passado, opondo-se à sociedade de ordens,


profundamente injusta e desigual e ao absolutismo monárquico. Pretendiam uma mudança
de paradigma, impondo valores como a Razão, o progresso, a liberdade e a igualdade.

Turgot e Condorcet, proclamavam a liberdade e a igualdade dos indivíduos, eliminando as


distinções sociais. Entendiam que o Homem, enquanto ser racional, deveria exercer a
soberania.

A obra mais importante deste século foi a Enciclopédia, dirigida por D`Alembert e Diderot,
obra que reunia o conhecimento produzido até então.

Os iluministas defendiam o fim dos privilégios do clero e da nobreza, da escravatura e


proclamavam a tolerância, principalmente religiosa – o respeito pelas ideias dos outros,
mesmo que contrárias às nossas.

Politicamente, os iluministas também se mostraram interventivos: criticavam a


concentração de poderes nos reis. De acordo com as suas ideias, uma governação justa e
igualitária só aconteceria se se respeitasse a soberania popular (direito ao voto) e a divisão e
separação de poderes.

Rousseau defendia o contrato social entre governantes e governados: detentor da


soberania, o povo delega o poder nos governantes. No entanto, se estes seguirem uma
governação que não defenda os interesses dos governados, estes têm o poder de os “demitir”.

Esta ideia do contrato social alterou a posição do indivíduo na política: deixou de ser visto
como um mero súbdito, que tinha a obrigação de obedecer, para passar a ser encarado como
um cidadão, com direitos e com poder de intervir na política.

As ideias iluministas eram divulgadas através de livros, jornais, panfletos, folhas avulsas,
associações e clubes culturais, salões, cafés (ponto de encontro de intelectuais e artistas) e da
maçonaria (sociedade secreta). As ideias iluministas foram combatidas pela Igreja Católica,
que tentou reprimir, julgar e condenar os seus defensores.

Portugal – o projeto pombalino de inspiração iluminista

Apesar de criticarem a monarquia absoluta, os pensadores iluministas nunca excluíram a


figura do rei. No entanto, valorizavam um rei culto, justo e empenhado em transformar a
sociedade, tornando-a mais justa e igualitária.
Esta ideia foi apoiada por vários reis europeus, que nas suas cortes, tinham filósofos,
cientistas, escritores e poetas. Surgia, assim, um novo tipo de regime – o despotismo
iluminado ou esclarecido (variante da monarquia absoluta).

Em Portugal, na 2ª metade do século XVIII, foi o rei D. José I, quem personificou este tipo
de regime, apoiado pela ação do também “iluminado” Marquês de Pombal. Este vai
empreender uma profunda reestruturação do aparelho de Estado, reforçando a sua
autoridade.

Deste modo, Pombal levou a cabo várias reformas que visavam tornar o aparelho de
Estado mais moderno e racional: reestruturou a cobrança de impostos, através da criação do
Erário Régio; criou a Intendência Geral da Polícia e eliminou alguns privilégios senhoriais do
clero e da nobreza.

O clero foi um dos principais alvos de Pombal: expulsou os jesuítas do país (controlavam o
ensino), criou a Real Mesa Censória (substituía o papel do Índex).

No dia 1 de novembro de 1755, Lisboa foi assolada por um violento terramoto, que
destruiu grande parte da cidade, principalmente a zona ribeirinha (junto ao Tejo). Na
reconstrução da cidade, ficou bem patente a mentalidade pragmática e o pensamento
iluminista de Pombal: antes de construir, toda a zona destruída foi projetada, tendo sido
elaborado um rigoroso plano. Este, obedecia a uma geometria rigorosa, numa planta regular,
com ruas largas, retilíneas e perpendiculares umas às outras, edifícios iguais, tudo baseado na
Razão. Também foi construído um sistema antissísmico, conhecido por “gaiola”.

Outra área de atuação foi o ensino: era reconhecido o atraso do ensino em Portugal,
principalmente denunciado pelos estrangeirados (portugueses que tinham viajado,
trabalhado ou estudado em outros países). Pombal, dando razão a esses estrangeirados, vai
reformar todo o ensino em Portugal, para o tornar mais prático, assente na observação e
experiência, menos religioso e teórico.

Fundou o Real Colégio dos Nobres (para dar formação aos filhos dos nobres), apostou na
formação de professores, criou mais escolas… Ou seja, diminuir a influência da Igreja Católica
no ensino, colocando o Estado com um papel mais ativo (laicização do ensino).

Reformou também a Universidade de Coimbra, abrindo novas faculdades e introduzindo


métodos de ensino mais práticos (construção de laboratórios, museus, um jardim botânico,
teatros anatómicos….).

Módulo 5 - O Liberalismo- ideologia e revolução, modelos e práticas nos séculos XVIII e XIX

1. A revolução americana – uma revolução fundadora


As ideias iluministas tiveram um grande impacto e irão provocar profundas alterações
nos séculos XVIII e XIX. As revoluções liberais serão a aplicação na prática de muitas das ideias
dos iluministas – as estruturas sociais e políticas do Antigo Regime vão começar a ser
desmanteladas. Será o início da Idade Contemporânea.

A primeira revolução liberal ocorreu na América do Norte, em territórios que


pertenciam à Inglaterra. Entre 1756-1763, Inglaterra e França disputaram a Guerra dos Sete
Anos, da qual os ingleses saíram vitoriosos. Como consequência, alargaram o seu território na
América do Norte, à custa da França.

Nos territórios ingleses, destacavam-se 13 colónias, situadas na costa oriental. Essas


colónias é que se vão revoltar contra a sua metrópole.

Que motivos estão na origem da revolta das colónias?

- Com o fim da Guerra dos Sete Anos, as colónias esperavam poder expandir-se para
os antigos territórios franceses no oeste, mas tal não sucedeu: os ingleses reservaram esses
territórios para os índios, o que desagradou às colónias.

- A Inglaterra decretou um imposto de selo que tinha que ser pago pelas colónias. Esse
imposto recaía sobre todas as publicações e documentos legais.

- A Inglaterra aumentou as taxas aduaneiras sobre os produtos que as colónias


importavam (melaço, açúcar, papel, chumbo e chá), tornando-os mais caros.

- A tensão foi agravada com o exclusivo colonial: os produtos das colónias só podiam
ser exportados para a Inglaterra ou outras colónias britânicas e os colonos só podiam importar
através da metrópole.

Neste contexto, as colónias reagiram: consideraram que o Parlamento britânico devia


ter pedido a sua opinião sobre a questão dos impostos, começando a exigir estar
representados nessa instituição. Em simultâneo, algumas cidades começaram a boicotar os
produtos ingleses.

Face a esta situação, os ingleses recuaram nos impostos aplicados aos produtos,
exceto no caso do chá. Para aumentar o descontentamento, foi dado à Companhia das Índias o
monopólio da revenda desse produto por toda a América do norte.

O auge da contestação aconteceu em dezembro de 1773, em Boston – um grupo de


colonos, disfarçados de índios, atirou ao mar uma carga de chá transportada por navios da
Companhia das Índias (Boston Tea Party). A reação inglesa foi de repressão contra os
revoltosos, o que aumentou a união e o desejo de independência dos colonos. Era o início da
guerra da independência.

A guerra da independência americana: nascimento de uma nação liberal

A 4 de julho de 1776, os representantes das 13 colónias aprovaram, em Filadélfia, a


Declaração de Independência. Esta declaração espelhava os ideais iluministas de igualdade,
liberdade e soberania popular.

Os colonos organizaram a guerra contra a Inglaterra, sob o comando de George


Washington e com o apoio da França, desejosa de vingança.
Em 1783, através do Tratado de Versalhes, a Grã-Bretanha reconheceu a
independência dos Estados Unidos da América.

Obtida a autonomia, era necessário organizar politicamente a nova nação. Assim, em


1787, foi aprovada a primeira Constituição americana. Este documento estabelecia os
direitos, liberdades e deveres dos cidadãos americanos, aplicando o ideal da igualdade de
todos perante a lei.

A Constituição definia também a organização política do país: organizou-se como uma


república federal (um poder central – responsável pela defesa nacional e relações
internacionais, mas dando autonomia em várias áreas a cada estado). A Constituição
estabeleceu também a divisão de poderes: o poder legislativo caberia a um Congresso,
dividido em duas Câmaras (Câmara dos Representantes e o Senado). O poder executivo seria
para um Presidente da República, eleito por sufrágio universal. Escolhia o governo e
comandava o exército. O poder judicial era exercido pelos tribunais.

A revolução francesa – paradigma das revoluções liberais e burguesas

Os antecedentes da revolução:

Socialmente, a França apresentava uma sociedade típica do Antigo Regime:


fortemente hierarquizada e estratificada, dominada pelo clero e nobreza, com muitos
privilégios (posse de terras, ocupação dos cargos políticos, cobrança de impostos,…), apesar de
constituírem apenas cerca de 3% da população. O Terceiro Estado era composto
maioritariamente por camponeses, que trabalhavam nas terras dos grandes senhores,
pagando todo o tipo de impostos feudais. A burguesia, com formação e endinheirada, via-se
afastada dos cargos políticos e militares mais relevantes. Neste contexto, ambicionavam
modificar a realidade do Antigo Regime, tal como o povo.

A vida faustosa da corte francesa, escondia uma profunda e grave crise económica e
financeira, que agravava a tensão social. A produção agrícola e industrial da França desceu
bastante na segunda metade do século XVIII, fazendo aumentar o preço de bens essenciais.
Os maus anos agrícolas foram agravados por invernos rigorosos, que destruíram muitas
colheitas.

Para além desta grave crise económica, a França enfrentava um défice crónico das
finanças públicas, uma vez que as receitas do Estado com a arrecadação de impostos não
chegavam para fazer face às despesas. As enormes quantias gastas pela Corte de forma
supérflua, as despesas com as guerras (Guerra dos Sete Anos e o apoio à revolução liberal
americana) e o pagamento de empréstimos, faziam disparar o défice.

Todos estes fatores de tensão social e económica favoreciam o eclodir de uma


revolução, que alterasse a conjuntura francesa.

A ação de Luís XVI: subiu ao trono em 1774. O ministro das finanças, Turgot,
promoveu a igualdade de pagamento da corveia (trabalhos gratuitos para o Estado),
estendendo essa obrigação aos privilegiados. Naturalmente, as ordens privilegiadas
conseguiram com que fosse demitido… Vários outros ministros procuraram acabar com alguns
privilégios de isenção fiscal que duravam há séculos, tudo acabando por ser boicotado por
clero e nobreza, que dominavam as instituições políticas.

Neste contexto de forte agitação e descontentamento social, Luís XVI convocou todas
as ordens sociais para os Estados Gerais, assembleia que já não reunia há mais de 150 anos,
com o objetivo de se definirem soluções para a situação de crise que se vivia (5 de maio de
1789).

O Terceiro Estado reivindicou que o método de votação deveria ser um voto por
cabeça e não, como era normal, um voto por ordem social, situação que beneficiava clero e
nobreza. Contudo, a maioria dos deputados do clero e da nobreza não aceitou esta exigência e
o rei não conseguiu gerir a situação. Iria ser o início da revolução liberal.

As fases da revolução liberal francesa

1ª Fase – Assembleia Nacional Constituinte: os deputados comprometeram-se a elaborar uma


Constituição.

14 de julho de 1789 – Tomada da Bastilha: prisão que albergava os presos políticos,


adversários do absolutismo. Era destruído um dos grandes símbolos do Antigo Regime.

Os camponeses atacavam castelos, queimavam arquivos fiscais, mataram senhores feudais…


Esta fase culmina com a abolição dos direitos e privilégios feudais (fim das corveias, da
dízima…).

Em agosto de 1789 é aprovada a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão,


determinando o fim do antigo Regime. Esta declaração baseava-se nos princípios da igualdade,
liberdade, direito à propriedade, soberania da nação, tolerância religiosa… Os bens do clero
foram confiscados e o Estado passava a ser laico (sem religião oficial).

Em setembro de 1791 foi aprovada a Constituição. Consagrou a separação dos poderes e a


soberania da nação. O sufrágio era censitário (só votavam os homens maiores de 25 anos, com
determinada fortuna, os que pagavam mais impostos).

2ª Fase – Convenção: depois de ter sido acusado de traição, Luís XVI é preso e acabou por ser
condenado à morte em janeiro de 1793. Era abolida a Monarquia e implantava-se a
República. A Convenção (Assembleia) passou a ser dominada pelos mais radicais
(Montanheses, oriundos do grupo dos Jacobinos). Os Girondinos eram os mais moderados.

Nesta fase o povo toma as rédeas da revolução (os sans-cullotes), reclamando mais
participação política através do sufrágio universal.

A violência foi legalizada, era a fase da guilhotina, que matou milhares de opositores da
revolução. Era a fase do Terror, destacando-se a figura de Robespierre, que acabou na
guilhotina em julho de 1794.

3ª Fase - Diretório: a burguesia volta a comandar a revolução, restabelecendo-se o sufrágio


censitário. O poder executivo foi entregue a 5 Diretores.
4ª Fase - Consulado: devido ao agravamento da crise económico-financeira, o poder foi
entregue a Cônsules, entre os quais Napoleão Bonaparte.

5ª Fase – Império de Napoleão: proclamou-se imperador em 1804, iniciando uma época de


grandes conquistas territoriais.

A implantação do liberalismo em Portugal

1. Antecedentes e conjuntura

Portugal insere-se na primeira vaga de revoluções liberais que assolou a Europa, logo no
início do século XIX. O nosso país apresentava características políticas, económicas e sociais
típicas do Antigo Regime: monarquia absoluta, uma sociedade estratificada e hierarquizada
com predomínio do clero e da nobreza e uma economia assente no comércio colonial e numa
agricultura com grande atraso técnico e com baixos níveis de produtividade.

O tradicionalismo era reforçado pela existência de instituições repressivas, como a


Inquisição, a Real Mesa Censória ou a Intendência-Geral da Polícia (que perseguia e condenava
os suspeitos de defenderem ideias liberais).

Apesar das dificuldades, as ideias liberais iam, aos poucos, chegando a Portugal, por via
dos exiliados franceses ou dos estrangeirados portugueses. Muitos aliaram-se à Maçonaria
(sociedade secreta).

Em 1806, Napoleão decretou o Bloqueio Continental, medida que pretendia fechar os


portos europeus ao comércio com a Inglaterra. O príncipe regente, futuro D. João VI, hesitou,
em nome da velha aliança luso-britânica e das relações comerciais intensas que os 2 países
desenvolviam. Perante isto, Napoleão decidiu invadir Portugal e a família real decide ir para o
Brasil, que passou a ser a sede do governo. Entre 1807 e 1810, Portugal iria sofrer 3 invasões
das tropas francesas.

A 1ª invasão foi comandada pelo general Junot, que entrou sem grande resistência em
Lisboa. A ajuda dos ingleses foi fundamental para a invasão ter sido repelida.
A 2ª invasão afetou a região noroeste do país e foi comandada pelo marechal Soult. O
episódio mais marcante desta invasão foi o desastre da Ponte das Barcas.

A 3ª invasão foi comandada pelo marechal Massena, que não conseguiu alcançar Lisboa,
detido nas linhas fortificadas de Torres Vedras e pela ação do general inglês Wellington.

Os franceses foram expulsos mas a situação do país era caótica: populações e povoações
dizimadas pela guerra, campos e manufaturas destruídos (o que afetou ainda mais a fraca
produção) … A ausência do rei também preocupava: os ingleses mantinham-se por cá, a
ocupar os principais cargos na administração e no exército, o que desagradou aos
portugueses. Portugal parecia uma colónia britânica.

A situação económica do país agravou-se quando, em 1808, o rei decidiu abrir os portos
brasileiros ao comércio com todas as nações. Deste modo, Portugal perdia o exclusivo do
comércio com a sua colónia, perdeu muitos negócios, o que desagradou principalmente à
burguesia nacional.

A conjuntura social também era desfavorável: a população reclamava devido ao estado de


orfandade do reino, devido à ausência do rei, mesmo depois da retirada dos franceses,
deixando os ingleses a ocupar altos cargos de governação (destaque para o marechal
Beresford).

Foi este descontentamento que fez crescer, sobretudo entre a burguesia, o sentimento de
revolta que conduziu a uma tentativa revolucionária em 1817, quando a Maçonaria levou a
cabo uma conspiração contra Beresford, organizada por Gomes Freire de Andrade. A
descoberta do movimento e a confirmação do envolvimento da Maçonaria, desencadeou uma
forte perseguição aos implicados, culminando com a sua condenação à morte. Esta repressão
violenta aumentou o descontentamento dos opositores à regência inglesa.

A Revolução de 1820 e as dificuldades de implantação do liberalismo (1820-1834)

Começou na cidade do Porto, em agosto de 1820, através da ação de membros do


Sinédrio, sociedade secreta que contou com o apoio dos militares, descontentes com a
presença inglesa.

Foi formado um governo provisório, com o objetivo de preparar eleições para a


Assembleia (Cortes), que depois aprovaria uma Constituição.
As primeiras medidas governativas: pôr fim à dominação inglesa, expulsando Beresford e
demais autoridades britânicas; reclamar o regresso de D. João VI a Portugal, impondo que ele
reconheça o processo revolucionário e jure a futura Constituição; preparar eleições para as
Cortes Constituintes; pôr fim a alguns privilégios do clero e da nobreza.

A Constituição de 1822: o Vintismo

Foi aprovada em setembro de 1822. A sua preparação ficou marcada pela discussão
entre uma ala liberal mais moderada (que respeitava a autoridade do rei e influenciada por
ideais católicos) e a ala mais radical (adepta de reformas profundas). No final, a Constituição
aprovada era de cariz radical, uma vez que significava um corte profundo com o passado.

Politicamente, a Constituição de 1822 consagrava a soberania da Nação e instituiu a


Monarquia Constitucional: o poder legislativo foi atribuído às Cortes, cujos deputados eram
eleitos por sufrágio universal, com muitas exceções; o poder executivo pertencia ao rei e ao
governo por si nomeado e o poder judicial pertencia aos Tribunais. Assim, o poder executivo
estava subordinado ao poder legislativo, uma vez que o rei apenas tinha um veto suspensivo
sobre as decisões das Cortes. Algumas leis nem precisavam da sanção do rei.

Socialmente, instituiu a igualdade de todos perante a lei. Extinguiu a Inquisição, aboliu


muitos privilégios senhoriais do clero e da nobreza, reconheceu o direito à liberdade, à
propriedade e à segurança, que incluía o impedimento de prisão sem culpa formada.
Consagrou a religião católica como a religião dos portugueses, mas sem proibir outros cultos.

A desagregação do império atlântico – a independência do Brasil

A presença da corte e da família real no Brasil provocou um grande desenvolvimento


da colónia a todos os níveis. De facto, o Brasil tornou-se a sede do Governo. Por isso, o
território foi dotado de instituições típicas de um país livre, a nível económico, cultural, político
e administrativo.

Assim, em 1815 é elevado à categoria de Reino, enquanto a legislação ia acabando com


deveres coloniais.

O mal-estar provocado pela ausência do rei, fez com que as Cortes exigissem o imediato
regresso de D. João VI a Portugal, o que se concretizou em julho de 1821. Para além disso, os
liberais pretendiam que o Brasil voltasse à efetiva condição de colónia, retirando-lhe os
privilégios e as liberdades entretanto concedidas.

Os brasileiros, descontentes com este retrocesso, exigiram que D. Pedro permanecesse no


brasil e viria a ser ele a comandar a revolta do povo rumo à independência – O Grito do
Ipiranga, em setembro de 1822. Portugal reconheceu esta independência em 1825. Este
acontecimento foi a primeira grande contrariedade para os vintistas.

As dificuldades de implantação do liberalismo em Portugal

Não foi fácil para os revolucionários impor as suas ideias. Para isso contribuíam alguns
fatores:

- as limitações e fraquezas da própria burguesia nacional, pouco numerosa e sem grande


capacidade de investimento;

- as divisões entre a burguesia mais moderada e conservadora e a burguesia mais radical


(vintistas);

- a perda do Brasil desencantou a burguesia mercantil, que se afastou das causas da


revolução;

- a fraca adesão popular ao movimento revolucionário;

- a desfavorável conjuntura internacional: depois da derrota da França de Napoleão, a


tendência foi o querer restaurar as antigas monarquias absolutas;

Os mais conservadores, em Portugal, reagiram aos acontecimentos: uniram-se em torno


de D. Carlota Joaquina (esposa de D. João VI) e de D. Miguel (filho do rei), que se recusaram a
jurar a Constituição. É neste contexto, que D. Miguel foi protagonista de 2 golpes militares,
para tentar restaurar o absolutismo: em 1823, a Vila-Francada e no ano seguinte a Abrilada.
Este último acabou com o exílio de D. Miguel, para Viena.
A Carta Constitucional – uma solução de compromisso

A morte de D. João VI, em 1826, deixou o reino com um problema na sua sucessão: o
legítimo herdeiro era D. Pedro, entretanto imperador do Brasil, acusado de ter, por isso, traído
a pátria. A alternativa era D. Miguel, mas este, como já vimos, era adepto do absolutismo e
não era bem visto pelos liberais.

A solução foi encontrada por D. Pedro: abdicou do trono português em favor da sua filha,
D. Maria da Glória. Esta casaria com o tio, D. Miguel. Este assumiria a regência do país até D.
Maria atingir a maioridade. D. Pedro outorgou ainda um novo texto constitucional, que teria
que ser jurada pelo irmão.

Esta nova Constituição representava uma tentativa de conciliar os interesses dos liberais
mais radicais com os dos liberais mais moderados e até dos mais conservadores (muitos
destes adeptos do Antigo Regime). Assim, manteve a soberania da Nação e o rei recuperou
poderes, fortemente diminuídos na 1ª Constituição.

Logo à nascença, se mostrava o caráter mais conservador do novo texto constitucional :


não fora aprovada na Assembleia democraticamente eleita mas, ao contrário, foi elaborada
pelo monarca. Por outro lado, os direitos e deveres dos cidadãos, apesar de estarem
consagrados, são relegados para a parte final do documento.

A solução proposta por D. Pedro trouxe importantes alterações na organização política do


reino:

- mantém o princípio da separação dos poderes, mas, acrescenta o poder moderador,


exercido pelo rei, o que lhe permitia interferir nos outros poderes (por exemplo, sobre o
poder legislativo tinha um veto efetivo e não apenas suspensivo. No poder judicial, podia
nomear ou demitir juízes…

- para agradar aos conservadores, dividiu as Cortes em duas câmaras: a Câmara dos
Deputados (eleitos temporariamente) e a Câmara dos Pares (composta por membros
nomeados pelo rei, vitalícia e hereditariamente, sem número fixo).

Claramente mais longe do espírito democrático que norteou a Constituição de 1822, a


Carta Constitucional pôs fim à revolução vintista e deu origem a uma nova corrente liberal – o
cartismo.
A Guerra Civil

D. Miguel, em Viena, jurou cumprir a Carta. No entanto, quando chegou a Portugal, em


1828, proclamou-se rei absoluto. Dissolveu as Cortes, anulou a Carta e iniciou uma feroz
perseguição aos liberais, que se viram obrigados a fugir do país. Houve revoltas militares um
pouco por todo o país – estava declarada a guerra civil.

Em 1831, perante a gravidade dos acontecimentos, D. pedro abdicou do trono brasileiro e


veio para a Europa com o objetivo de organizar um exército para intervir em defesa dos
direitos da filha.

Conseguiu apoios dos liberais ingleses e franceses e de muitos liberais refugiados na ilha
Terceira, nos Açores. Em julho de 1832, as tropas liberais desembarcaram no Mindelo (Porto),
quase sem resistência, pois os miguelistas estavam sobretudo concentrados em Lisboa.

Um dos episódios mais marcantes desta guerra civil foi o cerco do Porto, que durou vários
meses e que quase significou a derrota dos liberais.

As principais batalhas desta guerra disputaram-se em Asseiceira e Almoster.

A guerra terminou com a vitória dos liberais. A paz foi assinada na Convenção de Évora-
Monte. O liberalismo triunfou definitivamente, mas até meados do século XIX, as lutas entre
vintistas e cartistas iriam marcar a evolução política do país.

A legislação de Mouzinho da Silveira

A ação política dos primeiros governos cartistas foi marcada pela obra legislativa de
Mouzinho da Silveira, ministro da Fazenda e da Justiça, entre 1832-33. Intransigente defensor
da Carta Constitucional, tinha como principal objetivo remediar a ineficácia da legislação
vintista e acabar, de vez, com as estruturas do Antigo Regime.

A nível socioeconómico, pautou a sua ação pelo combate aos privilégios e obrigações
feudais, que persistiam há vários séculos. Deste modo, libertou a terra, extinguindo os
morgados (herança só para o filho varão), extinguiu a dízima paga à Igreja. Liberalizou o
comércio, suprimindo portagens e outras obrigações que emperravam os negócios,
reorganizou as Alfândegas, reduziu os encargos sobre as exportações, acabou com os
privilégios da Companhia dos Vinhos do Alto Douro…
Administrativamente, empreendeu uma profunda reestruturação na Administração
Pública, para a modernizar, dividindo o país em comarcas, províncias e concelhos. Na justiça,
acabou as “justiças locais” e criou o Supremo Tribunal de Justiça.

Nas finanças, acabou com as tributações do clero e nobreza nos seus domínios, instituindo
um sistema nacional de cobrança de impostos.

Os projetos setembrista e cabralista

A vitória dos liberais não significou, de imediato, a estabilização do país em termos


políticos. Dentro dos liberais eram notórias as divergências, principalmente entre os mais
conservadores (cartistas) e os mais radicais (vintistas). Logo em setembro de 1836, uma
revolução derrubou o governo cartista, comandada pela pequena e média burguesia,
descontentes com a evolução politica e económica do país. Assim, tínhamos de novo um
governo mais radical, próximo das ideias dos vintistas. No novo governo destacaram-se
figuras como Passos Manuel e Sá da Bandeira. Foi este governo que aprovou uma nova
Constituição, em 1838. Esta procurou ser um compromisso entre as duas primeiras – o rei
perdeu o poder moderador, mas continuou a ter o veto efetivo sobre as leis. A Câmara dos
Pares deixava se ser nomeada pelo rei, passando os deputados a ser eleitos.

Destacam-se as seguintes medidas do governo setembrista: adoção de medidas


protecionistas para proteger os produtos nacionais; com a perda do Brasil intensificou-se a
exploração das colónias africanas; fez-se uma reforma no ensino, muito semelhante à do
Marquês de Pombal no século XVIII.

O governo setembrista enfrentou muitas tentativas para restaurar a Carta Constitucional,


o que se concretizou em 1842, através de um golpe de estado protagonizado por Costa Cabral.
Este colocou novamente no poder a alta burguesia, procurando estimular a economia do país
e equilibrar as contas públicas (por exemplo, com a criação do Tribunal de Contas para
fiscalizar todas as receitas e despesas do Estado). Proibiu os enterramentos nas igrejas, o que
terá estado na origem da revolta da Maria da Fonte, no norte do país, num clima de
verdadeira guerra civil. A Patuleia, que decorreu em 1846/47 foi outra série de motins de cariz
popular contra o governo de Cabral.

O legado do liberalismo na 1ª metade do século XIX


As revoluções liberais alteraram a organização política, económica e social dos países
em que ocorreram. Foram muitas as conquistas, algumas delas tendo chegado até aos nossos
dias:

- politicamente, o liberalismo opõe-se a qualquer forma de tirania política (absolutismo,


ditaduras…);

- valoriza os direitos do indivíduo (a liberdade, a igualdade, a segurança e a propriedade),


considerados direitos naturais;

- o indivíduo é um cidadão que intervém na governação (ator político) – votando,


ocupando cargos, assistindo às assembleias, fazendo petições e reivindicações, escrevendo
artigos de opinião…;

- foram aprovados textos constitucionais, que legitimam o poder político, limitando os


poderes de quem o exerce. Consagravam a separação de poderes e a soberania da nação;

- O Estado, neutro, assume-se como um Estado laico, sem religião oficial, separando o
poder político e o espiritual.

O liberalismo económico

O liberalismo também se fez sentir nas atividades económicas. Assim, o liberalismo


económico defende que o Estado não deve intervir nas relações económicas que existem
entre indivíduos, classes ou nações. Defende o livre uso, da parte de cada indivíduo ou
membro de uma sociedade, de sua propriedade (livre iniciativa e livre concorrência).

Esta teoria económica está relacionada com o triunfo das revoluções liberais dos
séculos XVIII e XIX, que foi feita pela classe burguesa (detentora de propriedade e de capital
para investir)

Os defensores do liberalismo afirmam que todos podem alcançar o mais alto nível de
prosperidade de acordo com as suas potencialidades e conhecimentos.

O Estado não deveria intervir nas atividades económicas, regulando-se estas a si


próprias. Por exemplo, os preços deveriam ser regulados pela lei da oferta e da procura. Um
dos mais conhecidos entusiastas da doutrina liberal foi Adam Smith.
Os limites da universalidade dos direitos humanos: a problemática da abolição da
escravatura

Um dos direitos que os liberais proclamavam era o da liberdade. No entanto, a sua


garantia não foi aplicada a todos os seres humanos, uma vez que a escravatura não foi abolida
de imediato. Esta foi uma questão melindrosa, que dividia opiniões, mesmo dentro dos
liberais mais convictos. Desde há séculos que a economia de alguns países dependia muito do
trabalho escravo, daí não ser uma questão pacífica.

Em França, a escravatura só foi abolida em 1848. Nos EUA, pátria da 1ª revolução


liberal, durante décadas o princípio da liberdade coexistiu com a escravatura. Houve,
inclusivamente, uma guerra civil (A Guerra da Secessão), entre 1861-65, que opôs os Estados
do Norte (contra a escravatura) aos do Sul (a favor da escravatura). Em 1863, o Presidente
Abraham Lincoln decretou o fim da escravatura.

Em Portugal, só em 1869 o chefe do governo, Sá da Bandeira, decretou o fim da


escravatura, no reinado de D. Luís.

O Romantismo: expressão da ideologia liberal

Em termos culturais, o liberalismo também teve expressão, nomeadamente no


Romantismo, que marcou a 1ª metade do século XIX.

Principais características: o culto do eu – atenções concentradas no indivíduo,


arrebatado pelo sentimento e pela paixão (herói romântico); exaltação da liberdade (política,
social, económica, estética…), reprimindo o absolutismo; gosto pela Idade Média, época que
viu nascer a maioria dos reinos europeus liberais (valorização da história e da identidade
nacionais).

Principais vultos do Romantismo: Victor Hugo, Goethe, Walter Scott, Alexandre


Dumas e Almeida Garrett e Alexandre Herculano (em Portugal).

O Romantismo expressou-se na literatura, nas artes plásticas, na música…


Módulo 6 – A civilização industrial – economia e sociedade; nacionalismos e choques
imperialistas

Unidade 1 – As transformações económicas na Europa e no Mundo

A expansão da revolução industrial: depois de se ter iniciado na Inglaterra, em meados


do século XVIII, no século XIX alguns autores falam de uma “2ª revolução industrial”. Nesta, a
indústria vai voltar a sofrer muitas alterações e expandir-se para outros países.

É a época da estreita ligação entre a ciência e a técnica. As grandes empresas começam a


apostar na investigação, equipando laboratórios, também em ligação com as Universidades. O
objetivo era estar na vanguarda da tecnologia, para produzir mais e melhor. É aplicado o
conceito de progressos cumulativos – cada descoberta, cada invenção, era apenas o início de
novos desafios, para descobrir mais.

Assim, surgem também novas indústrias, com destaque para a indústria química, que
produzia corantes artificiais, medicamentos, adubos… A siderurgia (fornecedora de máquinas,
carris,…) tornou-se na indústria de ponta da 2ª revolução industrial.

Se o vapor tinha sido a energia do arranque da revolução industrial, no século XIX vão
começar a ser usadas novas energias – o petróleo e a eletricidade. No entanto, durante as
décadas que se seguiram, o vapor continuaria a ser a energia mais utilizada.

Os transportes, fundamentais para a industrialização, tornaram-se mais rápidos,


permitindo transportar produtos em maiores quantidades e mais baratos. O comboio foi o
grande símbolo do progresso no século XIX. Os navios a vapor foram substituindo os antigos
veleiros. No final do século irão surgir os primeiros automóveis.

Concentração industrial e bancária: o século XIX marca o início do capitalismo industrial –


é a grande indústria o grande motor da economia, passando a ser a atividade em que mais se
investe.

Progressivamente, a pequena oficina dá lugar às grandes fábricas. As maiores fábricas


prosperam, abrem sucursais, envolvem enormes somas de capital. Por exemplo, no setor
metalúrgico, a Krupp (alemã), tinha mais de mil operários em meados do século XIX. Na 2ª
metade deste século acelera-se a concentração industrial, pois muitas pequenas e médias
empresas não resistem à concorrência e são absorvidas pelas grandes empresas ou abrem
falência. Existiam 2 tipos de concentração:
- Horizontal: associação de várias empresas para evitar a concorrência (acordam entre si,
por exemplo, as quantidades a produzir, os preços,…);

- Vertical: integração, numa mesma empresa, de todas as fases de produção, desde a


obtenção da matéria-prima à comercialização dos produtos.

Os bancos desempenharam um papel determinante para o desenvolvimento industrial: os


investimentos eram cada vez mais avultados e o recurso ao crédito por parte das empresas
começou a ser prática necessária.

Também na banca se assiste ao fenómeno da concentração. Muitos bancos de pequena


dimensão não resistem e fecham, na sua maioria. Só as grandes instituições bancárias
resistem, abrindo filiais, acumulando lucros.

A racionalização do trabalho

Produzir com qualidade, em grandes quantidades, a baixo preço e em menos tempo,


foram os desafios que se colocaram aos empresários a partir do século XIX.

Foi Taylor quem publicou uma obra na qual expõe o seu método para otimizar o
rendimento numa fábrica (taylorismo) – assentava na divisão máxima do trabalho, em que
cada operário executava uma tarefa simples, repetida, devendo ser feita num tempo mínimo
– o cronómetro entrava na fábrica.

Deste trabalho mecanizado, resultava uma produção maciça de objetos iguais


(estandardizados).

Foi Henry Ford, o empresário que nas suas fábricas pôs em prática este método de fabrico
(Fordismo), introduzindo a linha de montagem. Tapetes rolantes faziam chegar as peças até
aos operários, para evitar que estes se deslocassem. O tempo de montagem do Ford T passou
de 12 horas para uma hora e meia e o seu preço baixou significativamente.

Este método foi alvo de muitas críticas, principalmente por ter transformado o operário
num autómato, escravo de uma cadeia de máquinas.

A geografia da industrialização
Tenho começado na Inglaterra, em meados do século XVIII, a revolução industrial vai-
se expandir para outras regiões no século XIX.

Aproveitando o facto de se ter adiantado, a Inglaterra vai continuar a deter a


hegemonia industrial durante o século XIX. Todavia, aos poucos, outras potências se
aproximam e ultrapassam-na mesmo em alguns setores industriais. A Inglaterra destacava-se
no setor têxtil e metalúrgico, possuía a maior frota mercante do mundo, colocando os seus
produtos em todos os continentes.

Ao aproximar-se o fim do século XIX, a superioridade inglesa começa a diminuir, devido à


dificuldade em acompanhar o constante avanço tecnológico e em reestruturar as suas velhas
empresas, enfrentando uma concorrência cada vez maior.

Assim, outros países começam a destacar-se na indústria: a Alemanha (indústria química,


eletricidade, construção naval e siderurgia), constituindo forte concorrência aos produtos
ingleses.

A França, país muito agrícola, teve um crescimento industrial contínuo mas mais lento.
Possuía menos minas de carvão, o que a colocava em desvantagem face às grandes potências
Inglaterra e Alemanha. Destacou-se nos setores automóvel, eletricidade, cinema e construção.

Os EUA: país com abundantes recursos naturais. Começou por desenvolver os têxteis.
Depois, o grande motor de desenvolvimento foi o siderúrgico, seguido da indústria automóvel.
No início do século XX, os EUA já estavam na liderança industrial a nível mundial.

Na Ásia, o 1º país a industrializar-se foi o Japão, graças à ação do Imperador Mutsu-Hito


(era Meiji). Foi o Estado que promoveu o impulso industrial, atraindo investimentos
estrangeiros e concedendo regalias e privilégios às fábricas criadas.

O livre-cambismo:

A aplicação dos princípios liberais à economia, não recolheu o apoio de todos os


liberais: muitos eram contra a livre circulação de produtos, defendendo medidas
protecionistas para salvaguardar os produtos nacionais.

Foi na Grã-Bretanha que o livre-cambismo encontrou mais adeptos. Os seus principais


defensores foram Adam Smith e David Ricardo. Assim, no século XIX, muitos países
diminuíram as taxas alfandegárias sobre os produtos estrangeiros, outras taxas foram
mesmo abolidas.
O livre-cambismo beneficiava os países mais industrializados, uma vez que produziam em
maiores quantidades, conseguindo preços quase imbatíveis no mercado.

As crises cíclicas: nesta época do capitalismo industrial, de tempos a tempos (entre 6 e 10


anos), começaram a acontecer crises. No entanto, eram crises com características diferentes
das do passado: agora, passam a ser crises de superprodução e não de escassez de produtos.
Antes, os preços aumentavam devido à falta (inflação), agora descem devido à abundância
(deflação), originando muitas falências e desemprego.

A sociedade industrial e burguesa

A explosão populacional: no século XIX, a população mundial registou um aumento de


cerca de 80%, facto inédito, o que leva alguns autores a falar de uma explosão demográfica.
Neste crescimento, sobressaiu a Europa, continente de onde também partiram milhões de
pessoas.

Motivos para este crescimento populacional: decréscimo da mortalidade (melhor


higiene, melhor alimentação e progressos na medicina). Assim, aumentou a esperança média
de vida, que chegará aos 50 anos no início do século XX.

As taxas de natalidade mantiveram-se altas. Só começaram a baixar, nos países mais


desenvolvidos, a partir das últimas décadas do século XIX.

A expansão urbana: o número de pessoas a viver nas cidades aumentou


significativamente ao longo do século XIX, principalmente nos países mais industrializados:
milhões de camponeses saíram em direção às cidades (êxodo rural), em busca de melhores
condições de vida, atraídos pelo emprego nas fábricas.

Muitas cidades cresceram a um ritmo demasiado veloz, o que também fez aumentar os
problemas, pois não estavam preparadas para receber tanta população: faltava habitação
condigna, muitos não encontravam emprego, aumento da fome e da miséria. Proliferação de
doenças e epidemias devido à pouca higiene, prostituição, mendicidade, alcoolismo e
criminalidade faziam parte do quotidiano citadino.
Migrações internas e emigração: sobretudo na 2ª metade do século XIX, foram várias as
correntes migratórias, com destaque para o êxodo rural e para a emigração. A Europa foi o
continente mais ativo neste âmbito, com milhões de pessoas a deslocarem-se para outros
países ou para outros continentes. Os maiores contingentes dirigiram-se para a América do
Norte.

Portugal também se inseriu neste fenómeno da emigração, sendo o Brasil o destino de


eleição da maioria dos que decidiam deixar o país.

A sociedade oitocentista

As revoluções liberais e a revolução industrial provocaram também importantes


alterações na sociedade, tendo terminado a sociedade de ordens típica do Antigo Regime.

Irá surgir uma sociedade de classes, em que o critério para se ascender deixa de ser o
nascimento e passa a ser a capacidade de gerar riqueza. Assim, a mobilidade social será
muito maior: nascer numa família abastada pode não significar estar no topo da sociedade
para sempre e o contrário também pode acontecer.

Eram dois os grandes grupos sociais ou classes em que se dividia a sociedade oitocentista:
a burguesia e o proletariado. Este era constituído pela massa de trabalhadores (o termo
proletariado refere-se principalmente aos operários). A burguesia era uma classe mais
heterogénea, dependendo do estatuto económico.

A alta burguesia empresarial e financeira: elite que dominava a sociedade e o poder


político – donos de grandes empresas industriais, de bancos, transportes…, estando também
presentes nos governos e assembleias, adotando medidas que favoreciam a sua riqueza e
prosperidade económica. Socialmente, impunham os seus valores no ensino, na imprensa, no
lançamento de modas…

No início procuraram imitar os comportamentos da velha aristocracia (nobreza do antigo


regime), construindo palácios, adquirindo propriedades, vivendo no luxo. Aos poucos, foram
tomando consciência de classe, adotando valores próprios (a importância da família e da
educação, do trabalho, da poupança…).

As classes médias: possuíam rendimentos que lhes possibilitavam um nível de vida


satisfatório. Grupo em expansão, principalmente nos países mais industrializados, devido ao
crescimento do setor do comércio e serviços. Estamos a falar de pequenos e médios
industriais, professores, médicos, engenheiros, funcionários do Estado…, que ocupam as
chamadas profissões liberais (médicos, advogados, contabilistas…).

O proletariado: a expressão aplica-se à massa de trabalhadores, principalmente aos


operários. Não possuem capital, apenas a sua força de trabalho, que vendem a troco de
baixos salários. Por isso, muitos vivem em situações de miséria e pobreza. As suas casas não
têm condições de habitabilidade e higiene, têm uma alimentação pobre. No trabalho, para
além dos baixos salários, trabalham muitas horas (em alguns casos 16h por dia, 7 dias por
semana). Nas fábricas estão sujeitos a ambientes doentios e acidentes de trabalho, não
recebendo qualquer indemnização. Não têm direito a férias, subsídios ou reformas, em caso
de desemprego ou velhice. Muita da mão-de-obra utilizada é feminina e infantil (nos têxteis,
nas minas…), pois os seus salários são ainda mais baixos.

Mal alojados e subnutridos, esgotados pelo trabalho, os operários constituíam um terreno


favorável à propagação de doenças. O alcoolismo, a prostituição, a delinquência e a
criminalidade completavam o quadro negro.

O movimento sindical: perante as duras condições de trabalho a que estavam sujeitos, os


operários começaram a ganhar consciência da importância de se unirem para reivindicar
melhores condições. Primeiramente, organizaram-se em associações de socorros mútuos,
para acudir a situações de doença ou desemprego.

Foi na Inglaterra, no século XIX, que surgiram as primeiras associações sindicais, as Trade-
Unions. O recurso à greve começou a ser uma “arma” utilizada para conseguir obter melhorias
das condições de trabalho. Ao longo do século XIX, começou a surgir legislação, em alguns
países, que veio melhorar a situação do proletariado, por exemplo: regulamentação do
trabalho infantil, redução do horário de trabalho, repouso semanal, indemnizações em caso de
acidente de trabalho, reconhecimento dos sindicatos…

As propostas socialistas de transformação revolucionária da sociedade

A sociedade gerada no século XIX, em que a posse de capital era fundamental para a
ascensão social, não acabou com as desigualdades. Deste modo, muitos pensadores vão
começar a insurgir-se contra a sociedade capitalista, chamando a atenção para a situação
miserável dos trabalhadores, sujeitos a duras condições, sendo explorados pelos patrões que
acumulavam cada vez mais lucros. São os chamados pensadores socialistas.
O socialismo utópico: recusa a violência, defendendo a formação de cooperativas de
produção, acabando-se com a propriedade privada. O mais radical foi Proudhon que defendia
que o Estado era desnecessário, onde todos trabalhariam para todos, dividindo
igualitariamente os lucros, originando uma sociedade sem classes (socialista/comunista). São
designados de utópicos uma vez que defendem propostas irrealizáveis.

O marxismo: o socialismo marxista retira o nome do alemão Karl Marx. Em 1848,


juntamente com Friedrich Engels, publicou o Manifesto do Partido Comunista. As suas ideias
irão estar na origem de vários movimentos revolucionários durante o século XX.

Ideias do marxismo: a História da humanidade sempre assentou na luta de classes, entre


oprimidos e opressores, entre exploradores e explorados. No século XIX, essa luta era entre os
capitalistas burgueses e o proletariado. Este deveria revoltar-se, chegando ao poder político,
para dessa forma retirar os meios de produção à burguesia (ditadura do proletariado). A
propriedade privada seria abolida, todas as empresas, terras, banca,…., pertenceriam ao
Estado. A riqueza seria repartida de forma igual para se atingir uma sociedade sem classes.

As internacionais operárias: Marx e Engels apelavam à união e solidariedade dos


trabalhadores por todo o mundo, para dessa forma derrubar o capitalismo. Assim, surgiram
as Associações Internacionais de Trabalhadores, para coordenar as ações a realizar. A 1ª
realizou-se em 1864, em Londres. A 2ª, já sem Marx, realizou-se em 1889, em Paris.

É nesta época que surge outra corrente socialista, o revisionismo, que apela ao
entendimento entre capitalistas e trabalhadores, sem o recurso à revolução.

Evolução democrática, nacionalismo e imperialismo

Na 1ª metade do século XIX, em alguns países, triunfou o liberalismo. Mas, era um


liberalismo moderado (por exemplo, o sufrágio censitário afastava a maioria do voto). Na 2ª
metade do século XIX, vai triunfar o demoliberalismo, ou seja, um aperfeiçoamento desses
regimes, no qual o povo vai, de facto, ganhar mais protagonismo político e o poder dos
Parlamentos vai ser reforçado. O sufrágio torna-se cada vez mais “universal” (por exemplo,
diminuindo a idade para se poder votar).

Aos poucos, começa-se a desenhar outra tendência: a substituição de monarquias por


Repúblicas, regime no qual todos os órgãos políticos são eleitos.
No entanto, nem toda a Europa conheceu esta vaga liberal: principalmente na Europa
Central e Oriental, continuavam os regimes autocráticos, semelhantes às monarquias
absolutas, com destaque para o Império Alemão, Império Austro-Húngaro e Império Russo.
Mesmo quando tinham Parlamentos, os imperadores suspendiam os deputados, as leis…

Nestes grandes impérios havia muitas nações que estavam subjugadas a um só Estado que
as governava (por exemplo, do Império Austro-Húngaro havia os croatas, os sérvios, os
bósnios, eslovacos, checos…). Muitos destes povos ansiavam libertar-se, para se tornarem
estados independentes.

Também havia nações que não estavam unidas, que vão proceder a processos de
unificação: a Itália (sob o impulso de Garibaldi e de Vítor Emanuel II) e a Alemanha
(destacando-se a figura de Bismark).

Imperialismo e colonialismo

Nas vésperas da I Guerra Mundial, a Europa dominava o mundo. Vastos territórios


eram governados por países europeus, principalmente em África e na Ásia – colonialismo,
exercido sobre territórios que não eram independentes – dominados política, económica,
militar e culturalmente.

Muitos países europeus exerciam o chamado imperialismo: exerciam a sua influência


sobre outros territórios independentes (por exemplo, tornando-os dependentes dos seus
produtos).

Nesta época, vai-se assistir a uma corrida à posse de colónias por parte das grandes
potências europeias (França, Inglaterra e Alemanha), sobretudo por motivos económicos: ter
acesso a regiões ricas em produtos e matérias-primas, conquistar mercados para exportar os
seus produtos e investir capitais nesses territórios.

É neste contexto que, em 1884-85, se realizou a Conferência de Berlim, com o intuito de


se fazer a partilha de África pelos países colonizadores, definindo-se as fronteiras de cada
colónia. Foi uma tentativa de diminuir as rivalidades económicas que ameaçavam a paz.

Entretanto, antevendo-se que poderia eclodir um grande conflito armado, alguns países
europeus estabeleceram alianças militares, prometendo auxílio em caso de ataque. Assim, em
1882, surgiu a Tríplice Aliança (Alemanha, Império Austro-Húngaro e Itália); em 1907, surgiu
a Tríplice Entente (França, Inglaterra e Rússia).
No início do século XX, devido à forte aposta no reforço militar e no armamento dos
principais países, vivia-se um clima de “paz armada”.

Portugal, uma sociedade capitalista dependente

A partir de 1851, com o fim do governo de Costa Cabral, iniciou-se uma nova etapa
política no nosso país – a Regeneração. O objetivo era a estabilidade política e social, bem
como o progresso e desenvolvimento económico do país.

Começou por se fazer uma revisão da Carta Constitucional, que alargou o sufrágio e
assegurou-se o rotativismo político, ou seja, a alternância no poder dos 2 principais partidos: O
Regenerador e o Progressista.

O desenvolvimento de infraestruturas: transportes e meios de comunicação: o seu


grande dinamizador foi Fontes Pereira de Melo (Ministro das Obras Públicas), tendo a sua
política recebido a designação de Fontismo.

Investiu-se na rede ferroviária. Em 1856, seria inaugurada a 1ª linha de caminho-de-ferro


do país, ligando Lisboa ao Carregado nas décadas que se seguiram construíram-se centenas de
kms de ferrovia.

Outras medidas: melhoria e ampliação da rede de estradas, construção de pontes (D.


Maria e D. Luís, no Porto), construção e ampliação de portos (Lisboa, Leixões…), instalação do
telégrafo e do telefone e remodelação dos correios. No final do século XIX, surge o automóvel
e o carro elétrico.

Os resultados: criação de um mercado único nacional, com pessoas e mercadorias a


circular por todo o país, acabando com o isolamento de muitas regiões. O contacto com a
Europa, principalmente com Espanha, estava também mais facilitado. Estavam, assim, criadas
condições para desenvolver as atividades económicas (agricultura, indústria e comércio).

Livre-cambismo ou protecionismo?

Nos primeiros anos da Regeneração optou-se pelo livre-cambismo, liberalizando o


comércio, até porque os impostos que recaiam sobre as matérias-primas que o país importava,
encarecia depois o produto nacional. Deste modo, diminuíram as taxas alfandegárias que
recaiam sobre as importações.

Fala-se de um livre-cambismo mitigado, uma vez que, pontualmente, foram tomadas


medidas protecionistas (necessárias para proteger o produto nacional da concorrência
estrangeira).

A agricultura durante a Regeneração: atividade que mais beneficiou com a política livre-
cambista e com a dinamização dos transportes. Por outro lado, aboliram.se definitivamente os
morgadios (extinção iniciada com Mouzinho da Silveira).

Progressos mais significativos: aumento da área de cultivo (com os arroteamentos);


redução do pousio; difusão de máquinas agrícolas; utilização crescente de adubos químicos.

Apesar dos progressos registados, a produção continuava aquém do necessário,


continuando a importar-se em grandes quantidades. Apenas se apostava fortemente nos
produtos mais exportados, como o vinho.

A indústria: também teve um crescimento durante a Regeneração. Para além dos setores
mais tradicionais (têxteis, metalurgia, cerâmica e vidro), surgiram novas indústrias: tabaco,
papel, corticeira, conservas…

Aumentou o número de fábricas e de operários.

Todavia, eram vários os entraves ao desenvolvimento industrial:

- escassez de matérias-primas e recursos energéticos (muitas importações);

- preços pouco competitivos nos mercados internacionais (poucas exportações);

- má preparação, quer dos empresários, quer da mão-de-obra;

- pouco capital para investir.

A dependência face ao estrangeiro: a abertura ao capital estrangeiro proporcionou


amplos investimentos externos, por exemplo nos transportes e comunicações, mas
igualmente na banca e na indústria. No entanto, foram contraídos muitos empréstimos, o que
fez disparar a dívida externa. Como o aumento dos impostos e as remessas dos emigrantes se
revelavam insuficientes para cobrir as despesas do Estado, recorria-se a mais empréstimos, o
que só agravava a situação financeira do país.

Entre 1880 e 1890, a situação económico-financeira do país agravou-se: diminuíram as


exportações agrícolas, aumentavam as importações industriais… Nesta década, o valor das
importações, chegou ao dobro do valor das exportações. Por outro lado, os empréstimos
sucessivos faziam aumentar a dívida externa. Em 1892, o Estado português chega mesmo a
uma situação de bancarrota.

O surto industrial de final do século: em 1892 o governo publicou uma pauta


alfandegária altamente protecionista, tendo como objetivo garantir a colocação dos produtos
nacionais no mercado interno e colonial.

Foi por esta altura que a indústria portuguesa teve uma maior incremento:

-difusão da energia do vapor;

-maior mecanização dos vários setores industriais;

-incremento da indústria química e do cimento e produção de eletricidade;

-concentração de indústrias, com o surgimento de grandes companhias (CUF, ligada aos


químicos, Companhia dos Tabacos, nos transportes a Carris, na banca – Fidelidade…).

A contestação à monarquia

Durante a Regeneração, a estabilidade política foi assegurada pelo rotativismo


partidário, alternando no poder os 2 principais partidos monárquicos: o Regenerador e o
Progressista.

No entanto, a classe política era cada vez mais contestada, acusada de só defender os
seus interesses pessoais e não os do país. O rei, que nomeava o governo, começava a ser
acusado de ser o principal responsável pelos males que assolavam Portugal.

Em 1876 foi fundado o Partido Republicano que, aos poucos, aproveitou a crise
económica e financeira para ganhar adeptos, fazendo propaganda contra os governos
monárquicos. Nos atos eleitorais, o Partido Republicano ia ganhando cada vez mais votos.

Outro fator que fez aumentar a contestação à monarquia foi a questão do mapa cor-
de-rosa: o projeto português de unir Angola a Moçambique chocava com os interesses ingleses
de unir, com a construção de uma ferrovia, o Cairo ao Cabo. Foi neste contexto que, em 1890,
foi feito a Portugal um Ultimato, exigindo os ingleses a retirada das forças portuguesas que
ocupavam os territórios pretendidos. D. Carlos cedeu às pretensões britânicas. A população
acusou-o de cobardia e de não ter protegido os interesses nacionais, causando a humilhação
do país. Crescia, assim, a contestação ao rei.
Foi neste contexto que, no dia 31 de janeiro de 1891, uma revolta tentou derrubar a
monarquia, no Porto. Mal organizada, esta revolta acabou por fracassar.

Com a contestação a aumentar, D. Carlos vai optar por uma maior intervenção na vida
política. Em 1906, nomeou para o governo João Franco. Este acabou por dissolver o
Parlamento e governar em ditadura, o que desagradou a uma faixa importante da população.
Muitos republicanos foram perseguidos.

Em 1906, um escândalo financeiro abalou ainda mais o prestígio da monarquia: à


revelia da lei, foram feitos adiantamentos à Corte para fazer face aos gastos excessivos.

No dia 1 de fevereiro de 1908, o rei D. Carlos e o príncipe herdeiro, Luís Filipe, foram
assassinados. O regicídio colocou no trono D. Manuel II, que viria ser o último rei de Portugal.

No dia 5 de outubro de 1910, uma revolta colocou fim a vários séculos de monarquia,
sendo implantada a República – regime em que todos os governantes são eleitos, por um
tempo limitado.

A 1ª República

Foi constituído um governo provisório liderado por Teófilo Braga. Em 1911 foi
aprovada a 1ª Constituição Republicana. Manuel de Arriaga foi eleito Presidente da
República.

O sistema parlamentar: a Constituição de 1911 deu amplos poderes ao Parlamento


(Congresso) – para além de legislar, o Congresso controlava a política dos governos que eram
frequentemente derrubados pelos deputados. Por outro lado, o cargo de Presidente da
República era ocupado depois de uma eleição feita no Congresso (e não pelos cidadãos). O
Congresso também tinha o poder de destituir o Presidente.

Este poder do Parlamento está na origem da instabilidade política que se viveu


durante a 1ª República, com uma vertiginosa sucessão de governos e de Presidentes da
República.

Medidas dos republicanos:

- promoção da igualdade social, através do fim dos títulos de nobreza e demais


privilégios do nascimento;

- Separação Estado/Igreja – Estado laico, sem religião oficial (exemplo do


anticlericalismo dos republicanos);

- Legalização do divórcio (mais uma medida anti clero…);

- Obrigatoriedade do registo civil;

- Nacionalização dos bens da Igreja e expulsão das ordens religiosas.


Estas medidas desagradaram a muita população, muito apegada à religião. Foi o
ministro Afonso Costa o responsável pela maior parte destas medidas.

Outras medidas dos republicanos:

- na área do trabalho (laboral) – reconhecido o direito à greve, diminuição do horário


de trabalho, instituição do descanso semanal…;

- no ensino: a grande preocupação era diminuir a elevada taxa de analfabetismo.


Assim, foram criadas mais escolas, formados mais professores, ensino obrigatório dos 7 aos 10
anos, reforma no ensino técnico e universitário (criação das Universidades de Lisboa e Porto).

Os caminhos da cultura

A confiança no progresso científico: Augusto Comte criou o Positivismo – crença que


só o método científico poderá fazer com que se atinja o conhecimento, acentuando a crença
nas potencialidades da ciência e dos seus benefícios para a humanidade (cientismo).

No século XIX registram-se imensos progressos nas ditas “ciências exatas” (Química,
Física, Matemática…) e começaram a surgir as chamadas ciências sociais (Sociologia, História,
Psicologia, Geografia…).

A arte e a literatura:

O Realismo: o mundo retratado tal como é, reproduzindo-se de forma desapaixonada


e neutra o que o pintor vê ou o que o escritor escreve.

O Impressionismo: também se retrata a realidade, mas realçando-se as suas


mudanças. Na pintura, o que o distingue é a aplicação das cores de forma pura, com
pinceladas fortes e sobrepostas (sombras com pinceladas coloridas).

O Simbolismo: é o prenúncio do que viria a seguir na arte, ou seja, as tendências do


século XX, em que o artista já não se limita a retratar a realidade tal qual ela é. Os simbolistas
procuravam dar um significado mais espiritual e profundo às suas obras, as quais mergulham
nos mistérios do mundo e da alma…

A Arte Nova: estilo aplicado sobretudo na arquitetura. Principais características: decoração


essencialmente vegetalista e feminina, com superfícies ondulantes e entrelaçadas de
animais frágeis e delicados, como as libelinhas e as borboletas.

Gaudi foi um dos mais destacados arquitetos deste estilo, com inúmeras obras na
cidade de Barcelona.
O dinamismo cultural em Portugal no último terço do século XIX:

O progresso do país ao nível dos transportes e comunicações, verificado na


Regeneração, também favoreceu a chegada de novidades culturais.

Foi um grupo de estudantes de Coimbra (“Geração de 70”), no qual se incluem Antero


de Quental, Teófilo Braga e Eça de Queirós, que esteve na origem de uma polémica conhecida
como “Questão Coimbrã”, na qual criticaram o conservadorismo da cultura nacional,
apelando a uma cultura mais interventiva e moderna, semelhante à do resto da Europa
desenvolvida.

Esta geração de escritores e intelectuais, acreditava no papel da literatura como meio


para transformar a sociedade.

Na pintura, sobressaiu o naturalismo/realismo, destacando-se José Malhoa.

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