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01/04/2023, 22:12 Educação e Renascimento

Educação e Renascimento
Flavia Miguel de Souza

Descrição

Explicação das importantes mudanças ocorridas em âmbito mundial, pois o que foi vivido no passado ainda está presente na contemporaneidade.
Esclarecimento de como a aliança entre Educação e Renascimento inaugurou a ideia de modernidade e construiu a cultura ocidental diante do
embate: tradição versus pensamento moderno.

Propósito

Entender o mundo contemporâneo a partir do reconhecimento da modernidade, do pensamento renascentista e dos embates com a religião. Buscar
o passado que nos identifica a fim de apontar a origem de nossa língua, de nossa história e os caminhos que marcam nossa maneira de pensar a
Educação.

Objetivos

Módulo 1

Modernidade
Conceituar modernidade para a História.

Módulo 2

Educação no Renascimento
Reconhecer a Educação no Renascimento.

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Módulo 3

Reforma e Contrarreforma na educação jesuítica no Brasil


Identificar o movimento da Reforma, da Contrarreforma e o modelo de educação jesuítica implantado no Brasil.

Módulo 4

Pensamento pedagógico na modernidade


Distinguir as linhas do pensamento pedagógico na modernidade.

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Introdução
Quantas vezes escutamos, em nosso dia a dia, o uso da expressão “moderno” se referindo a algo novo ou diferente? Mas de onde vem exatamente
essa ideia sobre o que é moderno?

É importante analisarmos mais detalhadamente o conceito de moderno para compreendermos como ele interfere na Educação que conhecemos.
Moderno e seu derivado, modernidade, não são apenas palavras; são conceitos e, por isso, podem ter múltiplos significados.

1 - Modernidade
Ao final deste módulo, você será capaz de conceituar modernidade para a História.

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Origens

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Invenção da sociedade ocidental
Neste vídeo, os professores Flávia Miguel e Rodrigo Rainha debatem conceitos importantes para a construção do entendimento sobre o Ocidente e
a modernidade. Vamos assistir!

A origem da ideia de moderno como novo surge de uma construção histórica. Tradicionalmente, os historiadores convencionaram dividir a História
em eras para melhor compreendê-la e ensiná-la. Essa proposta, que chamamos de linha do tempo, foi muito utilizada como método de estudo,
sobretudo no século XIX, pelos positivistas.

Saiba mais
Conforme Abbagnano (2012), o positivismo foi adotado por Augusto Comte para a sua filosofia e, graças a ele, passou a designar uma grande
corrente filosófica que, na segunda metade do séc. XIX, teve numerosíssimas e variadas manifestações em todos os países do mundo ocidental.

A característica do positivismo é a romantização da Ciência, sua devoção como único guia da vida individual e social do ser humano, único
conhecimento, única moral, única religião possível. O positivismo acompanha e estimula o nascimento e a afirmação da organização técnico-
industrial da sociedade moderna e expressa a exaltação otimista que acompanhou a origem do industrialismo.

Nesse recurso, vemos que a História começa na Idade Antiga com o aparecimento da escrita. Isso se fundamenta na premissa da tradição europeia
de que povos sem escrita não teriam história, por isso, Pré-História.

Tradicionalmente, a organização cronológica no Ocidente pode ser dividida assim:

Essa concepção justifica, por exemplo, o estudo dos povos indígenas e africanos ter sido relegado durante tanto tempo.

Após a Idade Antiga, surgiu a Idade Média, considerada a Idade das Trevas. Esse termo surge no período renascentista, já na Idade Moderna. Os
historiadores desse período não viam um valor na Idade Média, entendendo-a simplesmente como uma fase entre a cultura clássica e a moderna.
Daí a visão, equivocada, de que a Idade Média havia sido um período de estagnação e obscurantismo.

O Moderno surge em oposição ao Medieval. O novo e o velho. Essa ideia se populariza, e temos ainda dificuldade em compreender que o moderno é
algo concebido em seu próprio tempo. Nesse caso, seguindo a convenção, entre os séculos XV e XVIII.

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Moderno novo

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Medieval velho

Embora ainda utilizemos o recurso da linha do tempo - que atualmente possui diversos usos, desde histórico até biográfico –, é sempre importante
fazê-lo de forma crítica, entendendo que representa apenas convenções.

Um período histórico não começa e termina com um único evento, por mais importante e significativo que ele seja. O conhecimento e a cultura são
frutos de um acúmulo, que ocorre ao longo dos séculos. Temos, portanto, em nosso modo de viver, contemporâneo, diversos legados de períodos
anteriores, dos quais alguns são notórios enquanto outros são menos evidentes.

Como exemplo, podemos citar a nossa percepção estética, que é claramente derivada da cultura clássica, greco-romana. Com certeza gostos,
culturas e ideais de beleza se alteram, porém de modo lento e sempre deixando resquícios.

Qual delas chama sua atenção de forma mais imediata?

A Pietá, esculpida por Michelangelo no século XV, é influenciada pela estética greco-romana.
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A urna marajoara feita pelos povos indígenas brasileiros é do período pré-cabralino. As técnicas de pintura e escultura fariam da arte marajoara
uma das mais importantes da América.

Seu olhar provavelmente foi direcionado para a primeira imagem, enquanto na segunda é possível que tenha havido um certo estranhamento. Isso
acontece porque parte significativa de nossa “educação estética” esteve voltada para os padrões europeus e não para o continente americano.

Essa construção estética que observamos foi articulada durante a Idade Moderna, período em que parte da sociedade ocidental como conhecemos
se estruturou.

Veja como Deus pode ser retratado de formas diversas.

Idade Antiga

Os fenômenos do mundo e da vida humana eram explicados pela mitologia. Havia deuses que se encarregavam de manter a ordem da Terra e seu
funcionamento.

Idade Média

Os deuses deram lugar a um único Deus cristão, em torno do qual o mundo medieval se organizava culturalmente.

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Idade Moderna

O saber científico começa a ganhar espaço.

Iluminura do racionalismo medieval, considerado o movimento pai da modernidade.

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Idade Contemporânea
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Saber científico modificando as sociedades. A locomotiva a vapor é um grande símbolo das transformações econômicas e sociais que são a marca
do mundo contemporâneo.

Período Moderno
A Idade Moderna foi um período de intensos questionamentos e rupturas. Não que, subitamente, tudo se fez novo e tudo que era ultrapassado tenha
desaparecido. Mas, aos poucos, surgem novas formas de ver o mundo, novas maneiras de explicar aquilo que se vive.

O ser humano é questionador por natureza; e esse desejo de aprender sobre si e sobre o ambiente em que vive fortalece e consolida a criação de
instituições escolar. Em cada tempo histórico, esse aprendizado teve um fundamento, uma forma de organização.

Atenção!
Perceba que o fato da Ciência começar a se estruturar como fonte de conhecimento na modernidade não faz, de forma alguma, com que a questão
religiosa seja deixada de lado ou esquecida. A religião, em geral, e o cristianismo, em particular, assumem novos papéis na ordem social que se
altera progressivamente.

Consolidação do moderno
Dois elementos foram fundamentais para que a Idade Moderna se consolidasse:

Família expand_more

A família passa a ser fundamental para a inserção e o desenvolvimento do indivíduo na sociedade. Com a decadência do feudalismo, um
processo que levou séculos, as cidades passaram a recuperar sua importância comercial, com o estabelecimento de feiras e a intensificação
do comércio, e aquele que nelas vivia – o burguês – passou a ser sinônimo de comerciante. À medida que alcançava prosperidade financeira,
o burguês criava para si um novo tipo de família. Seus filhos deveriam ser instruídos e educados para continuarem seu ofício e assumirem
seus negócios.

Escola expand_more

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A construção de um ambiente governamental que tinha função de dar formação de maneira estruturada aos alunos é um fenômeno
moderno. Ainda que existissem escolas – ou espaços que tendemos a atribuir o nome de escolas – no mundo grego, romano e na Idade
Média, a ideia de um prédio fundamental, com funções públicas para formação dos sujeitos em níveis diversos é nova. Mais ainda, se antes
dependia-se de professores particulares ou iniciativas da Igreja, passamos a falar de modelos previstos em lei, mantidos pelo Estado e com
funções de preparar o sujeito para o Estado. Veremos mais sobre a escola – por seus aspectos práticos – no próximo módulo.

Se antes apenas as crianças de origem nobre eram alvo de alguma educação estrutural, agora também se começa a educar fora da nobreza. Um
dos principais estudiosos da questão familiar, Philippe Ariès (1914-1984), afirma que:

Os pais não se contentavam mais em pôr filhos no mundo, em estabelecer apenas alguns deles,
desinteressando-se dos outros. A moral da época lhes impunha proporcionar a todos os filhos
(no fim do século XVII, até mesmo às meninas), e não apenas ao mais velho, uma preparação
para a vida.
(ARIÈS,1986, p.277)

Essa estrutura familiar, que se tornou uma das características da modernidade, fez com que surgisse outro conceito que modificaria definitivamente
as relações sociais: a infância. Retomando Ariès (1986), no medievo não havia uma grande separação entre as idades, e as crianças eram tratadas
como pequenos adultos.

Até então, não houvera grande preocupação com as crianças, seu desenvolvimento, aprendizado ou bem-estar. A mortalidade infantil no medievo
era acentuada, a mobilidade social, improvável. Se o destino de uma criança era repetir – se tivesse sorte – o ofício de seu pai, a educação formal,
letrada, não fazia sentido.

Virgem e o menino

Foram a modernidade e a retomada do letramento como algo a ser apreciado que modificaram, pouco a pouco, esse cenário. A criança deixou de
ser um “adulto em miniatura” e tornou-se um indivíduo com necessidades próprias e sobre o qual ampliam-se as expectativas familiares.

A modificação da forma como a infância era entendida reflete uma alteração no comportamento social, e a escola, elaborada a partir de então,
traduz essa mudança. O sentido de aprendizado passa a se estruturar em torno de uma proposta didática que, por sua vez, constitui o cerne de
diversas disciplinas e saberes organizados.

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Podcast
Agora vamos conhecer um pouco mais sobre Educação e Modernidade com o professor Rodrigo Rainha:

Falta pouco para atingir seus objetivos.

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Vamos praticar alguns conceitos?


Questão 1

Alguns autores justificam a definição de Pré-História para o período anterior ao da escrita (como se apresenta na linha do tempo), afirmando
que, como o termo “História”, orginalmente grego, significa “pesquisa, investigação”, a forma mais segura para tal seria a documentação escrita.
Daí, somente após o desenvolvimento dessa técnica teríamos verdadeiramente a História. Por outro lado, sabemos que essa concepção de Pré-
História:

A relegou o estudo de povos indígenas e africanos.

B determinou que a linha do tempo não tivesse mais qualquer sentido no estudo de História.

C contribuiu para que os positivistas negassem a utilização da linha do tempo.

D continua presente e é reconhecida como a melhor forma de compreensão do tema.

E definiu como histórico apenas os fatos ocorridos após a fundação de Roma.

Parabéns! A alternativa A está correta.


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Questão 2

Sabemos que a Modernidade foi um período de intensos questionamentos e rupturas. Porém, sabemos que tais questionamentos não surgiram
de uma hora para outra, mas foram consolidando-se ao longo da evolução da sociedade humana; e que continua em desenvolvimento. Assim,
se observarmos cada tempo histórico, perceberemos que o aprendizado teve um fundamento, um modo de se organizar. Sobre isso podemos
afirmar, exceto:

A Na Idade Antiga, era a mitologia que dava sustento aos fenômenos do mundo; nela buscavam-se justificativas para a realidade.

Na Idade Média, um único Deus cristão deu lugar a divindades míticas, e em torno dessa fé o mundo medieval organizou-se
B
culturalmente.

C Na Idade Moderna, o saber científico assumiu o papel de fundamentar e organizar o conhecimento do mundo.

Na Idade Contemporânea, a tecnologia digital substitui definitivamente o saber científico, apresentando explicações inovadoras
D
para a realidade que nos cerca.

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E Embora o modelo de estrutura familiar da modernidade não altere o modelo medieval, o conceito de infância é substituído.

Parabéns! A alternativa D está correta.


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2 - Educação no Renascimento
Ao final deste módulo, você será capaz de reconhecer a Educação no Renascimento..

Renascimento
O Renascimento, movimento intelectual ocorrido no final da Idade Média e durante a Idade Moderna, é um tema que tem sido exaustivamente
estudado. Não só pela sua importância na concepção da história intelectual do Ocidente, mas também pelas rupturas que provocou na organização
do conhecimento até então estabelecido.

Quando falamos em Renascimento, imaginamos a arte do período e seus representantes, como Michelangelo e Leonardo da Vinci.

A Inspiração de São Mateus

Essa é a face mais popular do movimento e tem sido constantemente recuperada em filmes e obras literárias de ficção. Não que esse aspecto seja
irrelevante; longe disso, a questão estética e cultural é um dos fundamentos da ideologia renascentista. Segundo Abbagnano (2012), pode-se
denominar ideologia toda crença usada para o controle dos comportamentos coletivos, entendendo-se o termo crença, em seu significado mais
amplo, como noção de compromisso da conduta, que pode ter ou não validade objetiva.

Contudo, é preciso desfazer o equívoco de que esse seja o principal aspecto de toda a movimentação intelectual gerada pelos cientistas, artistas e
filósofos do período.

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Dica
Assista ao filme O Mercador de Veneza, baseado na obra de William Shakespeare, que apresenta uma narrativa envolvente, instigante e ainda nos
ambienta na Veneza renascentista.

O Mercador de Veneza
Na Veneza do século XVI, quando um comerciante pega um grande empréstimo com um agiota judeu para ajudar um amigo com ambições românticas,
o credor amargamente vingativo exige um pagamento horrível.

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Renascimento e arte
Neste vídeo, os professores Rodrigo Rainha e Flávia Miguel debatem conceitos importantes para a construção do entendimento sobre a Arte no
Renascimento. Vamos assistir!

O Renascimento não é apenas um. Por ser multifacetado, ele pode ser pensado em aspectos distintos (comercial, urbano, científico e cultural), os
quais estão interligados e juntos compõem um quadro de mudanças extraordinárias e de grande movimentação intelectual que marcaria
definitivamente o campo da Educação.

A dinâmica do Renascimento é expressa em um movimento de rupturas e continuidades. Por um lado, há a retomada de valores clássicos que
passaram a ser discutidos e aperfeiçoados, não só do ponto de vista estético – a arte renascentista recupera em grande medida a arte clássica –,
mas também do ponto de vista político e filosófico.

É necessário atentar para a ideia de retomada que tão frequentemente se utiliza ao discutir esse momento. Essa “retomada de valores” não é, sob
nenhuma circunstância, uma mera transposição. Historicamente, não é possível fazer uma transposição sem alteração de um período histórico para
outro.

Um bom exemplo é a transformação das tecnologias e como elas impactam o mundo. Se antes os livros eram belos e coloridos feitos nos scriptoria,
com a prensa de Gutenberg sua produção foi acelerada e houve o aumento de leitores.

Saiba mais
Vamos utilizar o pensamento do filósofo Heráclito de Éfeso, que viveu no século V a.C., para compreendermos melhor essa impossibilidade. Ele
afirmava que uma pessoa jamais se banharia duas vezes no mesmo rio, pois suas águas nunca são as mesmas; estão sempre fluindo. Da mesma
forma, a humanidade muda todos os dias: suas ideias, concepções, gostos e opiniões são impermanentes. Em essência, o pensamento de Heráclito
traduz a ideia de mutação constante.

Quando se recuperam valores ou modos de pensar que existiram no mundo clássico greco-romano, eles são adaptados ao pensamento moderno,
ou seja, a um tempo diferente daquele em que foram originalmente concebidos. Portanto, por mais que o pensamento renascentista traga para a
modernidade conceitos clássicos, como a ideia de cidadão, ele o faz de acordo com seu próprio tempo e não apenas reproduzindo o que se
entendia como cidadão na Antiguidade.

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Heráclito de Éfeso
Conhecido como “o obscuro”, foi um pensador e filósofo pré-socrático considerado o pai da Dialética.

O Renascimento foi um terreno fértil para que se discutisse a condição humana. As mudanças no modo de vida da população, a substituição
progressiva do sistema feudal pela centralização política, a recuperação e dinamização do comércio trouxeram novos questionamentos ao indivíduo
moderno e, dentre eles, qual era a natureza humana de fato e, sendo ela estabelecida, qual o papel do Estado no seu controle.

À medida que o Feudalismo, fundamentado na fragmentação de poder, era substituído pela centralização política, tornava-se importante
compreender o Estado que derivaria dessa centralização.

Feudalismo
No sentido mais geral, o termo refere-se ao sistema de organização da sociedade medieval (Idade Média), compreendendo elementos sociais, políticos,
econômicos e ideológicos daquele período.

Pensadores
O pensamento educacional no Renascimento e no movimento intelectual que o segue, o Iluminismo, estrutura-se apoiado em diversos autores.
Analisaremos dois diferentes pensadores para compreendermos suas ideias e como eles influenciaram o campo da educação.

Comecemos pelo italiano Nicolau Maquiavel (1469-1527), autor de uma das principais obras de política já produzidas, O Príncipe; um manual de
política escrito no século XVI, que expunha suas principais ideias acerca da arte de governar.

Nicolau Maquiavel
Foi um filósofo, historiador, poeta, diplomata e músico renascentista. É reconhecido como fundador do pensamento e da ciência política moderna, pelo
fato de ter escrito sobre o Estado e o governo como realmente são, e não como deveriam ser.

Atenção!
De sua obra-prima, nasceu o termo maquiavélico, que adquiriu o sentido de luta e manutenção do poder a qualquer custo.

Os estudiosos da obra de Maquiavel contestam amplamente esse sentido porque - apesar de ter afirmado que os fins justificam os meios - há
ressalvas e condicionantes, como a ideia de justiça e bem comum, também trabalhadas pelo filósofo.

Quais as funções de um rei e suas obrigações com o povo?

Quais os limites impostos ao soberano, se é que deve haver limites?

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Esses questionamentos estão no cerne da obra de Maquiavel e, em busca dessas respostas, o filósofo discorre extensamente sobre a natureza
humana, o Estado e o papel da Educação.Note que não é ainda a ideia de educação formal como mais tarde seria estruturada, mas uma educação
prática, para a vida em sociedade.

La Divina Commedia di Dante, de Domenico di Francesco.

Maquiavel e outros pensadores que o sucederam entendiam que o ser humano em estado natural tende a ser selvagem. Sem um Estado e leis que o
regulem, ele é dominado por suas paixões e seus desejos, tomando para si aquilo que cobiça sem que haja consequências ou punições. Essa
natureza torna impossível a vida em sociedade, pois - sem disciplina e regulamentos, além de uma figura de autoridade para impor, mesmo que com
o uso da força - não haveria a ordem social.

A educação dá-se pelo exemplo. Cabe ao governante educar pelo exemplo para que se construa o sentido da cidadania e formem-se bons cidadãos.

Depreende-se das reflexões de Maquiavel que ele concebe o ser humano como agente de seus
atos, portanto capaz de escolher seu caminho, pelo fato de possuir livre arbítrio, mas precisa de
um direcionamento que o ajude a fazer as escolhas corretas. Esse direcionamento pode ser
realizado por meio do exemplo do governante, pela educação e com boas leis.
(OLIVEIRA e RUBIM, 2012)

É importante percebermos que esse sentido de educação pelo exemplo é uma das primeiras concepções de educação da modernidade. Na
ausência de um formalismo, o mestre torna-se exemplo daquilo que deve ser aprendido. Essa ideia de mestre e discípulo, de aprendizado pelo
exemplo, já existia na Antiguidade entre as primeiras escolas filosóficas, onde também se debatia a natureza humana e seu comportamento social.
Esse é um exemplo de retomada de valores clássicos, adaptados por Maquiavel ao mundo moderno.

A Educação para Maquiavel estava, inegavelmente, vinculada à virtude. Mas ele não é o único pensador moderno que entendia a educação dessa
maneira.

O sentido de virtude aparecia em outras propostas pedagógicas, como a do filósofo inglês John Locke (1632-1704).

Autores contratualistas
O pensador John Locke faz parte do que chamamos de autores contratualistas.

ohn Locke
John Locke viveu em uma Inglaterra dividida entre um parlamento e a monarquia. Sua origem burguesa fez com que tendesse para a defesa do
parlamento e o desenvolvimento de teorias, que constituiriam o sistema liberal, basilares para a história política e econômica da Inglaterra.

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Locke

Esses pensadores acreditavam na existência de um contrato social que seria, de forma bastante resumida, um contrato tácito entre Estado e
indivíduo. Para ter direito à vida em sociedade, à manutenção da propriedade e à garantia da vida e da segurança, o indivíduo abriria mão de seu
direito fundamental, a liberdade, legando ao Estado o direito de prender, julgar e punir com a privação da liberdade e, em casos extremos, da vida
para garantir o bem comum.

A despeito de considerar Deus como fundamental para o desenvolvimento das sociedades, Locke condena a participação da Igreja em assuntos de
Estado. Durante a Idade Média e boa parte da Idade Moderna, Igreja e Estado funcionavam como um e, não raro, a Igreja Católica possuía
prerrogativas de Estado, como julgar e punir.

Exemplo
O processo da Inquisição teve início na Europa do século XII. A despeito de seu caráter religioso, os inquisidores eram dotados de amplos poderes
políticos, podendo prender, conduzir julgamentos, proceder investigações, punir e até condenar à morte.

Apesar de os renascentistas questionarem e criticarem a Igreja como instituição, entendiam-na separada da fé em Deus. Os movimentos do
Renascimento não eram ateus, mas colocavam em xeque as instituições e a forma como elas se relacionavam.

O racionalismo renascentista permitiu que essas discussões ocorressem. Esse princípio buscava compreender o mundo por meio da observação
dos fenômenos, recusando explicações simplistas ou de caráter religioso. Mesmo os questionamentos simples possuíam anteriormente respostas
teológicas.

A partir do momento em que o ser humano se dedica a estudar o mundo que o cerca a partir de outro olhar que não seja o religioso, diferentes
explicações tornam-se possíveis, e a Ciência começa a se estruturar como fonte legítima de conhecimento.

O sistema solar segundo Nicolau Copérnico na Harmonia Macrocosmica de Andreas Cellarius (1660).

A Física, a Química, a Medicina e a Botânica passam a oferecer novas formas de compreender o mundo. Essas ciências se baseiam no empirismo,
na observação dos fenômenos.

O empirismo foi um dos pilares da modernidade e, como pensamento, está presente até nossos dias.

Locke pode ser considerado um dos primeiros racionalistas. Podemos afirmar que sua lógica é o conhecimento que surge a partir da razão e da
empiria. Fora desse campo, é apenas matéria de opinião ou, como diríamos, “achismo”. Considerando a razão e a empiria, o conhecimento seria a
construção de um processo observatório – interpretativo. Apesar disso, suas dinâmicas são diferentes entre os autores.

Empirismo
Segundo Abbagnano (2012), foi uma corrente filosófica para a qual a experiência era critério ou norma da verdade; o empirismo não se opõe à razão
nem a nega, a não ser quando a razão pretende estabelecer verdades necessárias, que valham em absoluto, de tal forma que seria inútil ou
contraditório submetê-las a controle.

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Ele também fundamentou dinâmicas pautadas na liberdade e na condição social de formação do sujeito. A partir desses fundamentos, formulou
uma série de propostas pedagógicas que acreditou serem importantes para estabelecer princípios educacionais sólidos e bem-sucedidos. Essas
propostas foram reunidas em sua obra Alguns pensamentos sobre a Educação, produzida em 1693.

Saiba mais
Para John Locke, a educação possuía um caráter eminentemente moral. De nada adianta a um indivíduo dominar os princípios da Ciência se isso
não o torna uma pessoa e um cidadão melhor. Vemos aí uma sofisticação da premissa maquiavélica de educação virtuosa posto que, também
segundo Locke, a Educação deve servir a um propósito maior.

A preocupação com o mestre, que Locke chama de tutor, é constante:

O preceptor não deve ser somente um indivíduo bem educado; é preciso que conheça o mundo,
os costumes, os gostos, as loucuras, as mentiras, as faltas do século em que o destino tem
lançado, sobretudo, o país em que vive. É preciso que saiba fazer conhecer e descobrir tudo isso
a seus discípulos, à medida que estes se capacitam para compreender; que os ensine a conhecer
os homens e seus caracteres; que descubra a careta com que disfarçam com frequência seus
títulos e suas pretensões; que faça distinguir o que está oculto no fundo dessas aparências.
(LOCKE apud BALABAN, 2012)

Educar pelo exemplo, educação para cidadania. Esses princípios são fundamentais para compreender a Educação no Renascimento. A eles, Locke
acrescenta outro viés, herdado das concepções greco-romanas: a saúde e o desenvolvimento físico. Locke demonstra cuidado no aperfeiçoamento
moral e físico do ser humano.

Renascimento ou Iluminismo?
Você já deve ter notado que é muito comum confundir o pensamento Renascentista com o Iluminista. Embora o primeiro tenha acontecido nos
séculos XV e XVI e o segundo no século XVIII, parece que são a mesma coisa. Não são! Contudo, são inegáveis as influências e continuidades na
ruptura desses pensamentos.

A razão e a empiria renascentista eram alguns dos pilares do movimento iluminista, que ocorreu no século XVIII. Esse período ficou conhecido
como Século das Luzes, em oposição às trevas que obscureciam a razão. Cada vez mais razão e ciência passaram a ser vistas como fontes de
conhecimento, e aumentava a necessidade de se educar com base nos princípios da empiria e da razão.

Um experimento em um pássaro em uma bomba de ar

Um de seus principais representantes, no que toca o debate acerca do conhecimento e do aprendizado, foi Immanuel Kant (1724-1804). Filósofo
prussiano amplamente considerado como o principal filósofo da era moderna, Kant operou, na epistemologia, uma síntese entre o racionalismo
continental e a tradição empírica inglesa.

Sua proposta fundamentava-se na seguinte ideia:

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Todo conhecimento deve ser questionado, afastando, cada vez mais, o conhecimento científico do
teológico.

Partindo desse princípio, Kant foi além: defendia que devemos criticar a própria razão e que nem mesmo ela é imune a erros.

A pedagogia expressa na filosofia kantiana, embora fiel aos ideais iluministas, é, ao mesmo
tempo, uma crítica a esses mesmos ideais. Para Kant, a razão jamais deve prescindir de uma
crítica de sua própria capacidade. A preocupação essencial do filósofo com a educação insere-se
no campo da moral, posto que o ser humano não nasce moral, mas torna-se por meio da
educação, cuja função primordial consiste em fazer despertar a reflexão crítica no aluno. A
formação do caráter na pedagogia kantiana assenta-se no cultivo da boa vontade, cujo
fundamento é o imperativo categórico que, por meio do exercício crítico da razão, une o
subjetivo e o objetivo, o individual e o coletivo numa mesma ordem.
(SILVA, 2007)

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Podcast
Vamos conhecer um pouco mais sobre Educação e Renascimento com o professor Rodrigo Rainha.

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01/04/2023, 22:12 Educação e Renascimento

Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?


Questão 1

Se falarmos em Leonardo da Vinci (1452-1519), Michelangelo Buonarroti (1475-1564), Donatello (1386-1466) e Rafael Sanzio (1483-1520),
estaremos falando de alguns dos artistas que representaram o movimento histórico chamado Renascimento, o qual:

A era multifacetado, devendo ser pensado em diversos aspectos distintos: renascimento comercial, urbano, científico e cultural.

foi marcado por uma única dinâmica: continuidade; pois retomou valores clássicos que passaram a definir o valor estético do
B
período.

possuía todos os seus aspectos interligados entre si, possibilitando mudanças extraordinárias e grande movimentação
C
intelectual.

provocou mudanças também no campo da Educação, especialmente como resultado da amplitude e intercâmbio de todos os
D
seus aspectos.

foi essencialmente marcado pela Arte: elemento que provocou, posteriormente, mudanças também na economia, na política, na
E
sociedade como um todo.

Parabéns! A alternativa B está correta.


%0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%3Cp%20class%3D'c-
paragraph'%3EO%20que%20chamamos%20de%20%E2%80%9Cdin%C3%A2mica%20do%20Renascimento%E2%80%9D%20%C3%A9%20exatamente%2

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Questão 2

A centralização política nas mãos de um monarca também caracterizou a Idade Moderna. Essa centralização, porém, confrontada com a
fragmentação que marcou o período anterior, gerou uma série de questionamentos que tentaram ser respondidos pelos filósofos do período.
Sobre isso, podemos afirmar:

I. Entre esses questionamentos estavam aqueles acerca do limite do poder do rei e de suas obrigações com seus súditos.

II. Alguns filósofos, como Kant, incluíam nesses questionamentos o papel da Educação frente àquela nova realidade.

III. Maquiavel foi importante representante desse período e buscou responder a essas inquietações.

Das afirmações acima:

A Somente I é verdadeira.

B Somente II é verdadeira.

C Somente II é falsa.

D Somente III é falsa.

E I e II são verdadeiras.

Parabéns! A alternativa B está correta.


%0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%3Cp%20class%3D'c-
paragraph'%3EOs%20questionamentos%20sobre%20Educa%C3%A7%C3%A3o%20tamb%C3%A9m%20est%C3%A3o%20presentes%20no%20per%C3%

3 - Reforma e Contrarreforma na educação jesuítica no Brasil

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Ao final deste módulo, você será capaz de identificar o movimento da Reforma, da Contrarreforma e o
modelo de educação jesuítica implantado no Brasil.

Religião no Renascimento
Apesar de a Idade Moderna ter sido marcada pelo enaltecimento da razão, o quesito religioso não deixou de ser importante. Seria um equívoco
enorme imaginar que suas manifestações não estavam em meio à religião.

Pietà, 1499. Basílica de São Pedro, Vaticano

Se na Idade Média a religião era o centro do conhecimento e da vida em sociedade, na Idade Moderna ela se modificou e adquiriu novo sentido.

Isso ocorre, em parte, devido às transformações, como os movimentos renascentistas, e pelo movimento de Reforma Religiosa. As obras de
Michelangelo são encontradas no Vaticano e não chegaram lá por acidente!

Atenção!
Se as ideias mudaram, a vida social mudou, tornando-se mais individualista, e o próprio conceito de Ciência se alterou; certamente a religião, parte
tão importante da cultura ocidental, também sofreu mudanças.

No caso da Igreja Católica, as propostas de mudança remontam ainda à Idade Média. Ao longo do tempo, a Igreja se tornara uma grande
proprietária de terras, acumulando imensa riqueza e poder. Sua soberania e influência política na maior parte dos reinos europeus entrava em
contradição com aquilo que era pregado pela Bíblia, sobretudo no que diz respeito ao Novo Testamento.

O papel primeiro da Igreja, salvar almas, foi, na visão de seus críticos, sendo deixado de lado.

A Incredulidade de São Tomé (Caravaggio)

A Arte é um bom relevo do poderio da Igreja e da contradição de sua força social. Essa representação foi feita de muitas formas, contudo uma das
melhores é absorver toda a dor e a contradição nos detalhes das obras de Caravaggio. A perspectiva, a Arte, a serviço da crença. À medida que a
instituição enriquecia, afastava-se das questões espirituais e se aproximava do campo da política.

Reforma Religiosa
Não havia uma separação entre Igreja e Estado. Isso significa que a Igreja podia prender e julgar aqueles que, segundo seu entendimento,
cometessem crimes de fé, como renegar princípios católicos. A despeito do temor que as punições provocavam, diversos pensadores, chamados de
reformistas, questionavam a conduta da Igreja Católica, o que desencadeou, na Idade Moderna, na chamada Reforma Religiosa.

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Um dos primeiros pensadores a questionar a doutrina e a conduta da Igreja Católica foi Jan Hus (1369-1415), ainda no século XIV. Para Hus, a Igreja
devia se aproximar de seus fiéis e, por essa razão, defendia que as missas deviam ser celebradas na língua de cada povo.

A modificação do idioma para facilitar a compreensão da missa (naquela época, as missas eram rezadas somente em latim, idioma que a
população não compreendia) tornou-se um tema constante para os reformistas, os quais acreditavam que dessa maneira poderiam aproximar os
fiéis da prática religiosa.

Jan Hus

Jan Hus nasceu na Região da Boêmia, atual República Tcheca, e defendia os ideais de pobreza e caridade bíblicos, além de condenar o acúmulo de
riquezas da Igreja Católica. Por defender o que a Igreja considerava como heresia, Jan Hus foi condenado à morte na fogueira, em 1415.

Queima de Jan Hus na fogueira no Concílio de Constança

Embora houvesse punições severas, elas não impediram o movimento reformista. Diversas contradições eram apontadas pelos críticos da Igreja:

Comércio de relíquias
Enriquecimento ao invés da caridade
Venda de indulgências
Adoração de santos
Celibato

Atenção!
A condenação da usura, do enriquecimento pelo lucro, incomodava particularmente a burguesia, que tinha aí sua fonte de riqueza. Além disso, era
visto como contraditório a Igreja ser uma instituição rica, mas não permitir que a população também o fosse. À medida que essas contradições se
tornavam mais evidentes, os reformistas foram ganhando apoio não só das classes burguesas, mas também de alguns governantes, reis e
príncipes, cujo poder era cerceado pela interferência eclesiástica.

Atuação de lutero
É nesse contexto que as reformas de Martinho Lutero (1483-1546), considerado o pai da Reforma Protestante, ganham força. Daquilo que via como
contradição, era a venda de indulgências um dos principais alvos de suas críticas.

Lutero nasceu em 1483, na atual Alemanha. Jovem, entrou para a ordem dos agostinianos e, como monge, estudou com afinco a Bíblia. Seus
estudos o levaram a questionar a prática católica.

Sua recusa em retroceder em suas críticas o fez ser excomungado em 1521. Sua defesa da salvação somente pela fé, no entanto, o fez ser acolhido
em principados dos quais se tornou protegido.

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Martinho Lutero

As propostas teológicas de Lutero logo se espalharam, em parte devido a uma invenção que modificou o mundo intelectual: a imprensa. A
impressão de livros permitiu que a Educação ganhasse corpo e que a leitura, antes restrita, começasse a ser popularizada. O reformista traduziu a
Bíblia para o alemão, aumentando assim o número de pessoas com acesso à sua doutrina.

Martinho Lutero e a Reforma Protestante provocaram uma enorme mudança na Educação, posto que na Idade Média cabia apenas à Igreja Católica
o papel de ensinar, além de ela monopolizar a produção de livros.

Dica
Assista ao filme O Nome da Rosa, de 1986, baseado no romance homônimo do crítico literário italiano Umberto Eco; No filme, é possível ver o
scriptorium de um mosteiro medieval, onde os monges se dedicavam à cópia dos livros permitidos pela Igreja.

O Nome da Rosa
Um monge franciscano investiga uma série de assassinatos em um remoto mosteiro italiano. Isso provoca uma guerra ideológica entre os franciscanos
e os dominicanos, enquanto o monge lentamente soluciona os misteriosos assassinatos.

Lutero estimulava o desenvolvimento da Educação a fim de que não fosse restrita à elite e à nobreza, mas alcançasse a população para que esta
pudesse ler a Bíblia livremente, permitindo-lhe se aproximar de Deus e de sua própria salvação.

Contrarreforma
A Reforma Protestante provocou a resposta da Igreja Católica, conhecida como Contrarreforma Católica. Foi realizado então o Concílio de Trento,
que começou em 1545, cujas competências eram:

Reforçar a autoridade do Tribunal da Inquisição (que existia desde o século XIII)


Estabelecer o Index Librorum Prohibitorum (uma lista de livros que deveriam ser abolidos e cuja leitura era proibida)
Enfatizar a autoridade papal (segundo a doutrina, o papa era infalível, o que era criticado pelos reformistas)
Constituir os seminários para promover e controlar a formação do corpo eclesiástico

nfalível
É importante destacar que leitura de infalibilidade papal é posterior.

A infalibilidade papal, no que concerne à doutrina, foi estabelecida no Concílio Vaticano I (primeiro): 1869 -1870.

No entanto, desde Gregório VII, em um documento chamado Dictatus Papae, é afirmada continuamente a ideia de que a Igreja é uma herança direta de
Jesus e o papa é sua escolha, junto com os seus sucessores Pedro e Paulo, criando o discurso que se aproxima da lógica de infalibilidade.

Saiba mais
Não podemos esquecer que o século XVI foi o século da expansão marítima. Os reinos europeus se lançaram ao mar a fim de conquistar novas
terras e chegaram ao continente americano, habitado por povos que desconheciam o cristianismo. Para a Igreja, a conversão dos povos nativos da
América era fundamental para manter seu corpo de fiéis e consolidar sua influência no novo continente.

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É importante explicar que uma historiografia vista mais de perto observa que não podemos considerar a Contrarreforma como uma resposta pura e
simples, mas sim como a consolidação de um processo que a Igreja já experimentava: retomar seus preceitos conservadores, rompendo ciclos de
“devassidão” muito atribuídos a papas como Rodrigo Borgia, recuperando os mandamentos que marcam a Igreja.

A fundamentação teológica da Igreja é que, se houve perda de fiéis, foi porque alguns fundamentos, caminhos, precisavam ser recuperados, os
desvios combativos.

A fé precisava ser quente, pregada; ainda que o ideal das missões militares do período das cruzadas não devesse mais existir, seu sentido
missionário – cumprir e atender uma missão – deveria ser alcançado.

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Reforma e Contrarrefoma
Neste vídeo, Rodrigo Rainha e Flavia Miguel debatem a Reforma e a Contrarreforma. Vamos assistir!

Os jesuítas
Santo Inácio de Loyola (1491-1556) deixou a Autobiografia com a qual podemos conhecer um pouco mais de suas inspirações. Na obra, sobre a
Educação, ele afirma:

anto Inácio de Loyola


Fundador da Companhia de Jesus, uma das mais importantes ordens eclesiásticas, encarregada da conversão e catequese de fiéis. Seus membros,
denominados jesuítas, desenvolveram práticas pedagógicas que, na América, foram aplicadas aos indígenas para obter sua conversão ao catolicismo.
Os jesuítas foram, então, os pioneiros na Educação no Brasil.

De fato, a presença jesuítica foi tão marcante e está tão arraigada em nossa cultura que julgamos que eles estiveram presentes desde o início da
colonização. Quando vemos obras como o quadro A Primeira Missa no Brasil, de Vitor Meirelles, nosso imaginário de imediato nos faz acreditar que o
padre que rezou essa missa era um jesuíta, o que não é correto. Frei Henrique Soares de Coimbra, quem oficia o primeiro culto, era franciscano. Em
1500, a ordem jesuíta ainda não existia, foi criada por Inácio de Loyola em 1534.

Exercitava-se em dar exercícios espirituais e a declarar a doutrina cristã, e com isso fazia-se
fruto para a glória de Deus. E houve muitas pessoas que chegaram a grande conhecimento e
gosto de coisas espirituais.
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(AUTOBIOGRAFIA, Santo Inácio de Loyola)

O exercício do ensinar e do aprender não podia ser para si, mas para conduzir, para levar os outros à divindade, à salvação. O princípio máximo
jesuítico era ensinar o caminho da salvação e, para isso, era necessário ser educado, direcionado.

Os jesuítas eram considerados uma ordem militar. Sua missão era converter os povos não cristãos e desde sua origem aproximaram-se da
Educação, seguindo o que ficou conhecido como metodologia inaciana, em referência ao fundador da ordem, Inácio de Loyola. Sua pedagogia
estava fundamentada no Ratio Studiorum, publicado em 1599.

Saiba mais
Os jesuítas chegaram ao Brasil com o Governo Geral, em 1549, portanto, antes da publicação do Ratio Studiorum. Nos primeiros anos da presença
jesuíta, destaca-se a atuação do padre Manoel da Nóbrega (1517-1570), que criou os aldeamentos, locais onde os índios de diferentes etnias eram
agrupados a fim de serem catequizados.

Não podemos esquecer que a prática pedagógica jesuíta possuía um objetivo: converter os não cristãos. Além disso, a visão do europeu sobre o
indígena era extremamente etnocêntrica, desconsiderando que esses povos tinham sua própria cultura e formas diversas de organização.

Os primeiros ensinamentos jesuítas focavam o domínio da língua portuguesa pelos indígenas, o estudo da doutrina católica e, posteriormente, o
aprendizado de um ofício. Os jesuítas viviam junto aos índios, nos aldeamentos, para coordenar e manter o processo de catequese. Surgem então
os chamados colégios jesuítas, aos quais se deve a fundação de cidades como São Paulo, cujo núcleo de povoamento inicial se deu através do
colégio fundado por Manoel da Nóbrega e José de Anchieta, denominado Colégio de São Paulo de Piratininga.

Com o estabelecimento do Ratio Studiorum, os jesuítas ganharam uma importante ferramenta pedagógica. Esse manual determinava não só os
conteúdos e as disciplinas que deveriam ser ministrados, mas se detinha de forma detalhada na própria prática docente que seria aplicada pelos
membros da ordem.

José de Anchieta e a Educação no Brasil


Anchieta foi um dos precursores do processo de educação no Brasil, estando no entorno da fundação de algumas das principais cidades, como Rio
de Janeiro, e ativo em Salvador e São Vicente. Organizou missões entre os Tapuias e coordenava as terras e ações jesuíticas no Brasil.

O modelo de constituir missões e colégios nos quais os membros do corpo jesuítico se organizavam e estruturavam a sua presença foi outra marca
importante, sendo Anchieta figura vital para entender a fundação da cidade de São Paulo (ainda chamada de marco zero), com o estabelecimento
do colégio jesuíta na cidade.

No Rio de Janeiro, os jesuítas ocupavam o Morro do Castelo e possuíam algumas grandes propriedades de terra, nas quais mantinham um sistema
econômico e sua busca de troca e catequização dos indígenas. Chama a atenção a variedade dessas atuações ao longo de todo o litoral, sendo
considerados salvadores e inimigos, aliados do governo e grupos perigosos ao longo de nosso período colonial. Por quê? Onde existia interesse na
escravização de indígenas, como nas fronteiras do Norte e de São Paulo, sua atuação era vista como um problema, um empecilho econômico. Em
áreas de conflito, o seu uso como interlocutores era visto como uma possibilidade de ocupação e dinamização com o território.

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Anchieta é notório pelas práticas empreendidas. O volume de cartas trocadas entre ele e a sede da ordem na França permite-nos perceber o
cotidiano. Anchieta é precursor também do estudo do vocabulário Tupi, criando um dicionário, o que demonstra a tentativa que somente muitos
anos depois veríamos ser defendida em nossa República. A catequese e a tentativa de levar o texto de forma didática é outro elemento importante,
com a adoção do teatro e das dinâmicas do lúdico para entendimento.

Atenção!
É importante frisar que o Ratio Studiorum foi um dos primeiros planejamentos pedagógicos e escolares da educação ocidental, tendo influenciado a
Pedagogia séculos depois de sua elaboração. Constitui-se de uma sistematização inédita de métodos, teorias, procedimentos curriculares que se
tornaram um dos pilares da pedagogia moderna. A despeito do objetivo catequético, o Ratio Studiorum teve como fundamento a formação do
indivíduo, considerando aspectos como virtude e caráter, aliando as Artes Liberais e as Letras, unindo campos como Retórica e Gramática, além da
Teologia. Coube, portanto, aos jesuítas, o primeiro modelo educacional brasileiro, que influenciou, de uma forma ou de outra, todos os demais que o
seguiram.

headset
Podcast
Vamos conhecer um pouco mais sobre os jesuítas com o professor Antônio Giácomo:

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Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?


Questão 1

A Reforma foi um movimento que marcou profundamente o período da Idade Moderna. Dentre os chamados reformadores, destaca-se o
alemão Martin Luther (ou Martinho Lutero). Suas ideias influenciaram não somente a religiosidade da época, como também aspectos culturais
de outros âmbitos. Sobre tais ideias, podemos afirmar, exceto:

Lutero era um monge da ordem de Santo Agostinho e com seu estudo aprofundado da Bíblia começou a questionar a prática da
A
Igreja Católica, à qual ele pertencia.

A invenção da imprensa auxiliou o projeto reformista de Lutero, que, ao traduzir a Bíblia para o alemão, conseguiu meios para
B
popularizá-la.

A Educação foi um ponto no qual Lutero teve dificuldade de atuar, pois acreditava que ela não seria capaz de formar plenamente
C
o ser humano do mesmo modo que a fé o faria.

O rompimento de Lutero com a Igreja Católica, e desta com ele, fez com que Lutero fosse acolhido em principados alemães,
D
onde se tornou protegido e pôde divulgar suas ideias.

Lutero não foi o único reformador, mas seu discurso e propostas foram bem acolhidos naquele contexto – realidade e
E
momentos históricos – e por isso tiveram tamanho impacto.

Parabéns! A alternativa C está correta.


%0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%3Cp%20class%3D'c-
paragraph'%3EA%20Educa%C3%A7%C3%A3o%20tornou-
se%20um%20instrumento%20fundamental%20para%20Lutero%20divulgar%20suas%20ideias.%20Como%20era%20centrada%20nas%20m%C3%A3os

Questão 2

A chamada Contrarreforma foi uma resposta da Igreja Católica ao Movimento Reformista. O marco principal dessa ação foi o Concílio de
Trento, que definiu alguns dos pontos de reação, entre eles a necessidade de não apenas manter, mas ampliar o número de fiéis. Nesse
contexto, surgiu a Companhia de Jesus, os jesuítas, fundada em 1534 por Inácio de Loyola. Sobre os jesuítas e sua atuação no Brasil colonial,
podemos afirmar, exceto:

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Os jesuítas desenvolveram práticas pedagógicas que, na América, foram aplicadas aos indígenas com o objetivo de convertê-los
A
ao catolicismo.

Aproximar-se da Educação era fundamental para os jesuítas. Por isso, desenvolveram a metodologia inaciana, fundamentando
B
sua pedagogia no documento chamado Ratio Studiorum.

No Brasil, os primeiros ensinamentos jesuítas focavam no domínio da língua portuguesa pelos indígenas, no estudo da doutrina
C
católica e, posteriormente, no aprendizado de um ofício.

Apesar de o objetivo primordial em relação aos índios ter sido o de catequese (instrução da fé), os jesuítas não permaneciam
D
junto às aldeias.

Embora se possa ter muitas vertentes de análise acerca da atuação dos jesuítas, uma crítica a eles – que pertenciam a uma
E congregação religiosa – que parece não ter muito sentido está na afirmação de que queriam converter os nativos à fé cristã
(católica).

Parabéns! A alternativa D está correta.


%0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%3Cp%20class%3D'c-
paragraph'%3EOs%20aldeamentos%20e%20miss%C3%B5es%20eram%20locais%20incrustrados%20no%20interior%20do%20Brasil%2C%20junto%20%
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4 - Pensamento pedagógico na modernidade


Ao final deste módulo, você será capaz de distinguir as linhas do pensamento pedagógico na
modernidade.

A pedagogia na modernidade
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Pedagogos
Nesse vídeo, Rodrigo Rainha e Flávia Miguel mostram como as ideias nascidas no Renascimento marcam toda a Modernidade.

A Idade Moderna trouxe uma preocupação com a natureza do conhecimento, o que levantou alguns questionamentos:

Qual o método de aprendizagem mais eficiente?


Como acontece o aprendizado?
O aprendizado se dá somente por aquilo que aprendemos ao longo da vida?
Nascemos com algum conhecimento?
Nascemos como telas em branco?

Apesar de terem sido formulados há séculos, alguns desses questionamentos ainda não possuem uma resposta consensual. É o caso do
conhecimento inato. Nascemos com algum tipo de conhecimento ou somos uma tabula rasa como dizia John Locke?

Saiba mais
A expressão em latim tabula rasa tem o sentido de “folha de papel em branco”. Busque saber mais sobre esse conceito de Locke e aprofunde seus
conhecimentos!

Você consegue reparar que nossa forma de ver, pensar e discutir a Educação tem muita influência desse momento?

Essa época trouxe modelos que ainda nos guiam e ofertam possibilidades de vivenciar a Educação.

Vamos conhecer essa herança!

Como educar
Se, na Idade Média, não houve uma grande preocupação em sistematizar a Educação para todos, de modo geral, a partir de então, começa-se a
pensar qual a melhor e mais eficiente forma de educar.

O pensamento moderno foi muito importante para se debater a natureza do conhecimento. A disciplina, tão importante na Idade Média e na
educação religiosa, seria rediscutida, sendo revista como o principal fator do aprendizado.

Não houve uma ruptura definitiva. Os projetos pelo racionalismo e pela empiria influenciaram o processo iluminista, passaram a se digladiar e
acabaram se unindo.

Autores
Para entender esse projeto, precisamos conhecer um autor muito importante: Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827). Ele escreveu depois do início
do movimento que marcou a modernidade, porém tornou-se um ícone desse movimento por não estar preso à dinâmica do pensamento iluminista
francês, mas às demais correntes filosóficas presentes na sociedade.

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Pestalozzi nasceu na Suíça do século XVIII; tinha uma formação religiosa sólida e durante sua vida buscou o que seria, em sua concepção, a melhor
forma de servir e de ajudar o próximo. Assim, dedicou-se à Educação e a encontrar maneiras eficientes e completas de educar as crianças.

Saiba mais
No final do século XVIII, a Suíça foi invadida pela França durante as chamadas Guerras Napoleônicas. Essa invasão provocou um aumento no
número de crianças órfãs. Pestalozzi reuniu as crianças para que fossem cuidadas e educadas, desenvolvendo algumas de suas ideias mais
significativas a partir de então.

Para Pestalozzi, o afeto seria um dos principais componentes do processo educacional. É o amor que estimula a criança a aprender, preenchendo-a
de dentro para fora. Sua teoria comparava a escola a uma casa. Uma casa bem organizada funciona a partir do amor e da disciplina.

A disciplina não seria o principal fator do aprendizado, mas sim o afeto. O que não quer dizer que ela fosse deixada de lado, apenas não seria obtida
a partir de castigos e punições.

Antes de se dedicar à Educação, Pestalozzi tentou ser agricultor, tarefa na qual não obteve sucesso. Essa curta experiência permitiu que ele
comparasse a criança à semente, referindo-se ao potencial que esta teria se bem cuidada.

Johann Heinrich Pestalozzi

Os valores e o desenvolvimento moral seriam, em sua perspectiva, mais importantes do que somente o conteúdo que pudesse ser aprendido. O
aprendizado se dá pela prática e pelo exemplo dos mestres. Pestalozzi entendia que alunos e mestres deveriam compartilhar todos os aspectos da
vida, frequentemente vivendo no mesmo lugar e estimulando o pensamento autônomo, o que faria da criança um indivíduo racional e moral.

Suas ideias, extremamente avançadas, encontraram eco e se tornaram o fundamento de práticas educacionais que aboliram, progressivamente, a
disciplina de forma repressora e violenta, buscando uma educação mais autônoma e harmônica.

Se a afetividade de Pestalozzi se afastava do caráter científico proposto pela Idade Moderna, não podemos dizer o mesmo das teorias de Johann
Friedrich Herbart (1776-1841). Ao compartilhar a ideia de Locke sobre a tabula rasa, entendendo que nascemos desprovidos de conhecimento e o
vamos adquirindo ao longo da vida, Herbart via a Educação como uma ciência.

Coube a Herbart a tarefa de cientificizar a Pedagogia, dotando-a de métodos, formas de medir e de avaliar o conhecimento obtido. Um aspecto
fundamental e revolucionário em sua obra foi a aproximação com a Psicologia, ciência que, no início do século XIX, ainda engatinhava.

Essa aproximação mudou fundamentalmente o pensamento pedagógico, influenciando alguns de seus mais importantes pensadores, como Jean
Piaget (1896-1980), e construindo a psicologia do desenvolvimento.

Assim como Pestalozzi, Herbart também defendia que o objetivo final do processo educativo era a formação moral e não meramente conteudista,
mas entendia que a forma para chegar a esse objetivo era distinta da afetividade proposta por Pestalozzi. Sua proposta se dividia em três
procedimentos fundamentais:

ohann Friedrich Herbart


Johann Friedrich Herbart foi um filósofo, psicólogo e pedagogista alemão, fundador da Pedagogia como disciplina acadêmica.

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Governo
Controle comportamental. A criança deveria educar seu comportamento. Os primeiros educadores, neste caso, eram os pais e depois os
professores.

Instrução
O processo de aprendizado era baseado nos interesses e nas aptidões do educando. Para Herbart, a instrução moral e intelectual eram parte de um
único processo, formando um indivíduo pleno.

Disciplina
Fundamentada na autonomia. Cabia ao próprio aluno manter-se fiel aos princípios aprendidos e focar na aquisição do conhecimento. A disciplina
era vista como uma virtude a ser desenvolvida.

Dos três processos, a instrução – o processo de aprendizado propriamente dito – seria o mais importante. Não podemos desvincular a pedagogia
científica de Herbart do seu contexto de produção.

Herdeira da tradição iniciada por Kant acerca da racionalidade e da razão, essa pedagogia é fruto das transformações intelectuais ocorridas entre os
séculos XVIII e XIX. A Idade Moderna era baseada no individualismo enquanto a Pedagogia, progressivamente, voltava-se para uma concepção mais
coletiva, o aprender como prática social.

Atenção!
Tanto Herbart quanto Pestalozzi trabalharam o aprendizado como algo individual, particular, o que a Pedagogia contemporânea tende a rejeitar
como objetivo final do processo educativo.

A criança saiu do adulto em miniatura, na Idade Média, para o sujeito do pensamento pedagógico nos séculos XVIII e XIX. Essa premissa se torna
mais evidente ao estudarmos o pensamento de um dos mais notáveis discípulos de Pestalozzi, o alemão Friedrich Wilhelm August Fröbel (1782-
1852).

Nascido na Prússia, Friedrich Wilhelm August Fröbel foi aluno de Johann Heinrich Pestalozzi. Suas teorias pedagógicas reconheciam que as
crianças têm necessidades e capacidades únicas, servindo de base para a educação moderna. Ele foi o responsável por criar o conceito de "jardim
de infância“ e também desenvolveu os brinquedos educacionais conhecidos como presentes/dons de Froebel.

Assim como Pestalozzi, Fröebel foi criado na doutrina protestante, o que influenciou sobremaneira seu pensamento. Desenvolveu várias ideias de
Pestalozzi, criando o primeiro segmento educacional voltado totalmente para a criança, o que chamamos de jardim de infância.

A ideia de jardim vem do princípio de a prática do educador ser semelhante à do jardineiro, que cuida de suas plantas até que alcancem seu total
desenvolvimento. A expansão das potencialidades da criança seria alcançada não somente pelo aprendizado rígido, mas por uma proposta lúdica.

Fröebel foi quem primeiro entendeu o brincar como uma forma de aprender e desenvolveu a ludicidade como ferramenta pedagógica. Ainda preso
ao individualismo da modernidade, Fröebel propôs o desenvolvimento autônomo, não vinculado a uma prática coletiva, embora focasse também na
moralidade como objetivo do processo de aprendizagem.

Ludicidade
Luckesi (apud ALBUQUERQUE, 2016, p. 128) afirma que o lúdico situa-se na esfera do simbólico, caracterizando-se assim como uma experiência do
sujeito, o modo como a pessoa se comporta.

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Segundo Luckesi, algumas atividades, como as brincadeiras e os jogos, só serão verdadeiramente lúdicas se propiciarem uma experiência de plenitude
à pessoa que as vivencia.

Resumindo
É interessante notar que esses pensadores têm em comum a ideia de uma educação prática. Que o aprendizado só ocorre por meio do fazer e que a
teoria, sozinha, é algo vazio. Essa característica está muito ligada à modernidade, em que a ideia do “saber fazer” se desenvolve dotando a
Educação de seu caráter prático.

Evolução não linear da educação


Os fatores culturais renascentistas contribuíram para a busca de uma melhor forma de educar. Embora os desdobramentos históricos desse
movimento não tenham seguido uma linearidade, ora sendo influenciados pela Ciência, ora pela religião, também não se pode dizer que sofreram
um ruptura definitiva; ainda somos guiados por alguns desses modelos quando vivenciamos a Educação.

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Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?


Questão 1

Pestalozzi é um representante da Idade Moderna, especialmente nas questões referentes à Educação, embora sua produção se dê no período
de transição da Idade Moderna para a Contemporânea, portanto, período de grandes transformações. Sobre suas ideias e o seu impacto na
Educação, podemos afirmar:

Preocupado com o estímulo necessário ao aprendizado das crianças, apresentou o afeto como um dos principais componentes
A
do processo educacional.

Dedicou-se prioritariamente à Educação como uma forma de serviço abnegado às crianças e, embora tivesse sólida formação
B
religiosa, sua proposta educacional era laica.

A disciplina não foi abandonada de suas propostas educacionais, mas não permitia que fosse obtida a partir de castigos e
C
punições.

D Suas ideias foram além de seu tempo, influenciando a busca por uma educação cada vez mais autônoma e harmônica.

A proposta educacional de Pestalozzi era laica porque ele era um forte opositor às ideias religiosas, tendo se afastado delas ao
E
longo de toda sua vida.

Parabéns! A alternativa B está correta.


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Questão 2

Dois representantes do pensamento Moderno foram Herbart e Fröebel. Graças a eles, como também ao pensamento de Pestalozzi, a criança
não mais seria considerada como adulto em miniatura, mas sujeito do pensamento pedagógico. E sobre o pensamento pedagógico de Herbart
e Fröebel, podemos afirmar:

I - Herbart muda fundamentalmente o pensamento pedagógico ao aproximar a Psicologia da Educação. Essa aproximação somente será
rompida com a Psicologia do Desenvolvimento, de Jean Piaget.

II - Herbart, diferentemente de Pestalozzi, afirma que o objetivo do processo educativo não é a formação moral, mas sim a aquisição de
conteúdo pelas crianças.

III – Fröebel, desenvolvendo as ideias de Pestalozzi, cria o primeiro segmento educacional voltado totalmente para a criança, o jardim de
infância, valorizando a ludicidade no processo educacional.

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Sobre as afirmativas acima:

A I e II são falsas.

B Somente III é falsa.

C I e III são verdadeiras.

D Somente II é verdadeira.

E Somente I é falsa.

Parabéns! A alternativa A está correta.


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Considerações finais
Falamos sobre Renascimento ou modernidade? De ambos! Modernidade é um termo genérico criado para definir o momento de ruptura e afirmação
do poderio Europeu.

Apesar de sua construção, ele é cheio de contradições, que você acompanhou ao longo deste conteúdo. Então, uma vez que, no século XV-XVI, a
Europa inaugura uma ruptura do pensamento, conhecida como Renascimento, descortina-se um conjunto enorme de possibilidades. Ao mesmo
tempo, o campo religioso se coloca em disputa na Reforma × Contrarreforma, chegando até o Brasil e marcando a questão jesuítica.

A Educação é influenciada e passa a ser uma métrica ocidental valorizada que aponta para o entendimento do nosso mundo. O Renascimento foi a
pedra angular que inaugurou uma profunda mudança de nosso mundo.

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Podcast
Agora com a palavra os professores Rodrigo Rainha, Fernanda Matos, Alex Oliveira e Wilna Melo.

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Referências
ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. Rio de Janeiro: Martins Fontes, 2012.

ALBUQUERQUE, C. Preparados para atuação docente? Curitiba: APPRIS, 2016.

ARIÈS, P. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986.

COMBY, J. Para ler a História da Igreja. Tomo 1. São Paulo: Edições Loyola, 2001.

OLIVEIRA, T.; RUBIM, S. R. F. Reflexões sobre a influência de Maquiavel na educação e na formação do Estado Moderno. Educação em Revista. Belo
Horizonte, v. 28, n. 1, p. 131-156, mar. 2012.

SILVA, L. Kant e a Pedagogia. Revista Inter Ação, 32(1), 33-45. 2007.

Explore +
1. Acesse o site do museu do Vaticano e faça um tour virtual. Perceba como a cultura renascentista – crítica ao pensamento religioso – manifesta-
se fortemente nos espaços da cultura religiosa.
2. Procure assistir ao vídeo Os Primeiros Tempos: A Educação pelos Jesuítas, da UNIVESP.
3. Inspirado pelo contexto da época? Viva um pouco dessa experiência por meio da obra O mercador de Veneza, de William Shakespeare.

Para aprofundar as temáticas aqui apresentadas, vale conferir as obras:

Maquiavel e a Educação: a formação do bom cidadão, de J. Ames.

Concepção de Educação no pensamento de John Locke, de J. Balaban.

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