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DEFINIÇÃO

Apresentação dos caminhos da Educação e da Filosofia da Educação no Brasil, analisando a


Filosofia na prática educacional brasileira.

PROPÓSITO
Compreender os mecanismos educacionais, especificamente no Brasil, a partir da Filosofia da
Educação como disciplina filosófica.

OBJETIVOS
MÓDULO 1

Identificar a relação histórica entre a Educação e a Filosofia

MÓDULO 2

Descrever a história da Filosofia da Educação no Brasil


MÓDULO 3

Identificar alguns dos possíveis papéis da Filosofia na prática educacional

INTRODUÇÃO
No Prefácio da primeira edição de sua História da Filosofia, Nicola Abbagnano aponta duas
características importantes da Filosofia, que servirão como base para o desenvolvimento deste
tema:
Como complementação de seu pensamento, ele afirma que a Filosofia é o próprio homem,
“que em si mesmo se faz problema e busca as razões e o fundamento do ser que é o seu”. Ao
considerar que toda Pedagogia se desenvolve a partir de uma concepção humana, fica fácil
compreender as relações entre Filosofia e Educação. É sobre isso que falaremos neste tema.

NICOLA ABBAGNANO

Nicola Abbagnano (1901-1990) foi um filósofo existencialista italiano, que procurou encontrar
um princípio metafísico a partir do qual todas as outras realidades fossem garantidas, sem que,
contudo, fossem reduzidas a puro racionalismo ou irracionalismo, realismo ou idealismo. O
princípio por ele encontrado foi o conceito de existência.

Fonte: Infopédia.
MÓDULO 1

Identificar a relação histórica entre a Educação e a Filosofia

A FILOSOFIA E A EDUCAÇÃO:
CAMINHANDO NA HISTÓRIA DO OCIDENTE
Como todo bom pensamento, precisamos definir claramente alguns pressupostos.

O conhecimento passou a ser classificado na formulação do pensamento estruturalista no


século XVIII. Antes eles se integravam e, por isso, é difícil separá-los.

A tradição dos cursos de formação de professores não estuda Filosofia da Educação, mas
História da Filosofia da Educação. Não pretendemos adotar esse caminho.

A sociedade ocidental é uma invenção. Ela, ao ser inventada – não é uma invenção pessoal,
mas um discurso formulado e repetido pela sociedade que passa a ser naturalizado como uma
verdade – defende seu passado e “pinça” o que lhe interessa em uma história não linear e
baseada em herança.

Diante desses pressupostos, é importante ressaltar que não nos limitaremos ao tempo, mas
vamos mostrar alguns dos elementos que a contemporaneidade buscou e chamou de Filosofia
da Educação.

Qual a origem da Filosofia?

A Filosofia teve origem na Grécia, no século VI a.C., época em que tudo era explicado pela
mitologia. Tratava-se de uma interpretação da realidade “divino-mitológica”, também chamada
de Cosmogonia. A grande mudança ocorreu quando os gregos passaram a explicar a realidade
mediante o uso da razão e da lógica, dando lugar à Cosmologia. A Filosofia grega perdurou
até o declínio do Império Romano.

Os primeiros filósofos, os pré-socráticos, isto é, anteriores a Sócrates, buscavam a origem do


Universo e, claro, das coisas. Em geral, eram monistas, uma vez que acreditavam ser o
Universo criado a partir de um único elemento. Tales de Mileto (624-548 a.C.), por exemplo,
considerado o primeiro filósofo, acreditava que o Universo teve como primeiro elemento a
água. Contudo, Sócrates, Platão e Aristóteles são considerados, por muitos, os fundadores
da Filosofia ocidental. Suas obras avançaram no tempo e perpassaram as filosofias das
Idades Média, Moderna e Contemporânea.

Interessa, aqui, fazer menção a Platão, que fundou a Academia Ateniense, tida como a
primeira instituição de ensino do Ocidente, seguindo os preceitos do método dialético de
Sócrates. Segundo historiadores, Platão teria sido aluno de Heráclito (540-470 a.C.) e de
Sócrates. Uma introdução a seu pensamento filosófico é encontrada no Crátilo.

Como Platão percebe a humanidade?

Para Platão, a humanidade estava imersa, simultaneamente, em duas realidades, que é a base
de toda a sua teoria:
REALIDADE INTELIGÍVEL

Em que o ser humano reflete sobre aquilo que se pode distinguir e expressar (realidade
imutável das coisas).


REALIDADE SENSÍVEL

É a que afeta os nossos sentidos.

Como Platão percebe a Educação?

Com relação à Educação, Platão acreditava nos métodos de debate e conversação. Ambos
levariam ao conhecimento. Para ele, os próprios alunos deveriam descobrir as coisas. Estava
claro que a Educação seria uma forma de desenvolver o homem moral e, assim, o filósofo se
esforçou para promover o desenvolvimento intelectual e físico de seus alunos. Aulas de
retórica, debates, educação musical, Geometria, Astronomia e educação militar faziam parte
das discussões mantidas no momento de ensinar.
Para Aristóteles, o princípio da aprendizagem era a imitação. E tinha na família o núcleo da
organização das cidades e o primeiro passo na educação das crianças. Porém, governantes e
legisladores tinham o dever de regular e vigiar o crescimento das crianças quanto à saúde e às
obrigações cívicas. Nesse sentido, o Estado se responsabilizaria pela Educação.

CONCLUINDO

A Filosofia teve origem na Grécia Antiga. Um dos principais filósofos da época foi Platão, que
percebia o homem em duas realidades: inteligível e sensível. Nesse contexto, a Educação
deveria usar métodos de debate e conversação, permitindo que o aluno alcance o
conhecimento por meio de descobertas.
Como era a Educação na Idade Média?

É importante ressaltar que existiram autores romanos, do início da Igreja medieval, e filósofos
diversos sobre os quais teríamos que falar se voltássemos a linha temporal. Mas, como
estamos compondo uma ideia – nesta fábula de mundo ocidental que vivemos –, vamos nos
ater aos nomes tomados de forma recorrente.

Na Idade Média, a Igreja foi responsável pelas manifestações, principalmente, culturais. A fé


cristã e, em especial, as instituições eclesiásticas eram as únicas a educar e formar.

Nos séculos XII e XIII foram criadas as universidades, uma das experiências humanas mais
marcantes e decisivas para o mundo ocidental. O preceito dos discursos religiosos,
principalmente na sua formulação de moral, é a base de entendimento da noção de Ocidente.

Antes mesmo de a obra de Aristóteles ser discutida na Universidade de Paris, no século XIII,
muçulmanos, judeus e cristãos já o haviam feito, quando da tradução e interpretação dos
textos do estagirita. O Ocidente, sob o prisma em que foi filosoficamente construído, é fruto
dessas heranças de gregos e medievais, não como uma verdade, mas como uma influência.

CONCLUINDO

Na Idade Média, a Educação era responsabilidade da Igreja, que era a única encarregada por
educar e formar.
A FILOSOFIA E A EDUCAÇÃO NA IDADE
MODERNA E NOS DIAS ATUAIS
Como a Filosofia Moderna foi concebida?

A Filosofia Moderna vem, no entanto, de uma separação. Religião – Filosofia – Ciência, que
eram o tripé de sustentação do homem ocidental, entram em uma lenta e completa separação.
Por isso você pode estranhar um pouco esse movimento inicial, mas a separação deixou
marcas, como se esses campos sempre tivessem sido separados.
É importante ressaltar que o foco deste tema não é a História da Educação, e sim o vínculo
entre a Filosofia e a Educação.

Como a Educação foi concebida na Idade Moderna?

O período moderno teve início no final do século XV, quando foram alterados costumes,
princípios, valores políticos, econômicos, sociais e culturais que vigoravam antes da
Idade Média. A família e a escola foram redefinidas, se modificaram e passaram a comandar a
formação das crianças e dos adolescentes.


Enquanto os pais procuravam dar aos filhos uma preparação para a vida.

A escola instruía, formava e ensinava. Além dos conhecimentos e comportamentos, graças à


Didática, trabalhava a racionalização da aprendizagem dos saberes, a disciplina e
organizava suas finalidades e seus meios específicos.

No início do século XVI, surgiu o colégio como instituição. Com ele, surgiram métodos de
ensino/educação, dentre eles o Ratio Studiorum. Emerge, nessa mesma época, o cuidado
com a disciplina dos estudantes, que teve origem na disciplina religiosa. Sua eficácia era
condição necessária para o trabalho em comum.

Chegamos à era do Iluminismo, importante movimento intelectual – para muitos o criador do


Estado Nação, da noção do Ocidente e do próprio capitalismo. Formula-se, então, a defesa de
que os jovens necessitavam ser instrumentalizados, escolarizados.

Ainda que de forma lenta, a noção de uma escola pública, a multiplicação de leitores e o
surgimento de projetos “nacionais” foram influenciados por esses defensores da razão como
forma de resolver os problemas do mundo. Essa nova escola, presente, valorizada, pública,
tinha alguns preceitos: jovens deveriam ser levados ao caminho do conhecimento e o debate
era o modo de traçar esse caminho. A avaliação foi um dos processos difundidos e
valorizados. O exame passou a ser crucial no trabalho escolar, também como instrumento
disciplinar. O estudante era submetido ao máximo controle.

No Iluminismo, percebemos o divórcio definitivo entre a Filosofia e a fé. A ideia é de que o


pensamento gerou um rompimento do homem com seu mundo. Apesar dos avanços inegáveis
na escrita e dos debates filosóficos, que permitiram a percepção da Pedagogia como um novo
campo de conhecimento, a Filosofia também acabou profundamente descolada da prática,
criando um fosso entre os que pensavam e construíam o conhecimento e aqueles que o
aplicavam no seu dia a dia.

CONCLUINDO

A Idade Moderna iniciou um processo de separação entre Religião, Filosofia e Ciência.


Nesse cenário, a família e a escola foram redefinidas em seus papéis na formação do sujeito:
a família educava para a vida, enquanto a escola ensinava os saberes sistematizados. Essa
formação foi enfatizada com o Iluminismo, que trouxe a necessidade de escolarização dos
jovens, inaugurando a noção de uma escola pública.
Qual o cenário da Educação na Idade Contemporânea?

Na Idade Contemporânea, é vigente o enfrentamento dos desafios impostos pela sociedade à


Educação:

É necessário dizer que esses processos foram longos e complexos, estudados em História da
Educação, Currículo e Política Pública. Isso, no entanto, não rompe com a dicotomia
anteriormente indicada – de um lado estando os operários da Educação e do outro os
intelectuais da Educação.
Também deve ser dada atenção à tecnologia, que cada vez mais faz parte do nosso mundo.
Por isso, a escola precisa estar atenta a ela, pois provoca inúmeras mudanças. A Educação,
enfim, é vista como processo cooperativo e como processo de construção. Sabe-se que a
aprendizagem se dá em diferentes cenários: em casa, na rua, nas escolas etc. Trata-se de um
processo abrangente.

A Educação, portanto, precisa de uma nova Filosofia que a permita ser quem efetivamente é:
o exercício de pensar e valorizar o sujeito.

CONCLUINDO

A Educação na Idade Contemporânea deve ser concebida por todos os sujeitos que atuam
nesse processo, com o objetivo de permitir o desenvolvimento do aluno sem qualquer
limitação. Essa exigência traz a necessidade de uma nova Filosofia, que pense e valorize o
sujeito.

FORMAÇÃO INTEGRAL × CONSTRUÇÃO


DO SUJEITO
A Educação ofertada pela família e por instituições é informal, pois ocorre fora de uma estrutura
oficial de ensino. Nesse caso, ela se dá durante a vida. Os conhecimentos obtidos são os mais
variados e dependem das vivências de cada um. Como a escola é uma instituição que possui
uma estrutura oficial, a Educação nela oferecida é formal. Isto é, tudo o que acontece na escola
é pedagógico (de Pedagogia). Daí a importância do Plano Pedagógico, que envolve tudo e
todos.

Mas o que a Educação oferecida na família e na escola tem a ver com Formação Integral?

A Formação Integral entende o sujeito para além de sua condição cognitiva, considerando seus
afetos, suas dimensões sociais, psicológicas, físicas e sua inserção necessária em um
contexto de relações. É preciso ainda lembrar que o sujeito tem desejos, anseios e demandas
simbólicas, buscando satisfação nas suas diversas formulações de realização. A Educação
familiar e escolar, portanto, devem caminhar juntas na formação do sujeito.

Percebe-se que, atualmente, há um significado atribuído ao termo integral diferente do que era
atribuído no passado. Pensa-se que o estudante não deve se preocupar apenas com os
conhecimentos que o permitirão ingressar numa Instituição de Ensino Superior ou no mercado
de trabalho. Há quem diga que é preciso buscar o desenvolvimento pessoal do aluno.

Aqui está o problema: o termo pessoa tem uma carga religiosa muito grande. Inspira-se na
Santíssima Trindade – a pessoa do Pai, a pessoa do Filho e a pessoa do Espírito Santo.
Portanto, tudo vem de Deus e tudo volta para Ele. Apesar de apontarmos que a separação
ocorreu, algumas tradições permanecem muito vivas, assim como a base cristã de nossa
sociedade. Sendo assim, não se pode valer, num mesmo discurso, dos termos sujeito e
pessoa. Quem se faz autônomo, livre e responsável é o sujeito. Por isso, a ideia de construir-
se sujeito. O sujeito se constrói; ninguém o concebe. Ninguém ajuda a um sujeito; ele é quem
se ajuda. Quando muito, poderemos discutir que o sujeito, de alguma forma, encontre o seu
próprio caminho. Diante disso, vamos imaginar a seguinte situação:

Uma professora de Matemática pediu aos alunos que resolvessem uma lista de exercícios.
Após concluir os exercícios, Jorge pergunta para a professora:

Com base no que vimos sobre formação integral do sujeito, como a professora deve responder
à pergunta de Jorge?

 Clique nos botões abaixo.Objeto com interação. Clique nos botões abaixo.

Claro, verifico se as suas respostas estão certas.

O docente não deve dar a resposta, mas dizer que é o próprio aluno quem precisa ter a
certeza do que fez.

Reveja as suas resoluções, você precisa ter certeza de que as suas respostas estão certas.

O docente não deve dar a resposta, mas dizer que é o próprio aluno quem precisa ter a
certeza do que fez.
Essa situação mostra o quanto a autonomia, a liberdade e a responsabilidade são
importantes na Educação. Considerando esses fatores, ao pedir a Jorge que revise a sua
resolução, a professora estará desenvolvendo nele:

Autonomia

A capacidade de decisão. Jorge decidiu que terminou a resolução da questão.

Liberdade

A capacidade de autodeterminação. Significa que Jorge poderá dizer, ou não, à professora


que terminou a questão.

Responsabilidade

A capacidade de comprometimento. Significa que se Jorge disser à professora que terminou


a questão, arcará com a responsabilidade de ter errado ou acertado. Se errou, terá que refazê-
la; se acertou, era exatamente o que tinha de fazer.

CONCLUINDO

A Filosofia Contemporânea serve para que o aluno possa dialogar com a própria capacidade
de construir o seu conhecimento. Além disso, aportada no sujeito, por exemplo, ela dá
sentido à ruptura com o ensino pautado na transmissão, demonstrando que o único sentido
possível é o da aprendizagem.
Para saber mais sobre a relação entre Filosofia e Educação, assista ao vídeo a seguir que
mostra a narrativa de um trecho do artigo de Anísio Teixeira, publicado em 1959.
RESUMINDO

A Filosofia teve origem na Grécia Antiga. Um dos principais filósofos da época foi Platão, que
percebia o homem em duas realidades: inteligível e sensível. Nesse contexto, a Educação
deveria usar métodos de debate e conversação, permitindo que o aluno alcance o
conhecimento por meio de descobertas.

Na Idade Média, a Educação era responsabilidade da Igreja, que era a única encarregada por
educar e formar.
A Idade Moderna iniciou um processo de separação entre Religião, Filosofia e Ciência.
Nesse cenário, a família e a escola foram redefinidas em seus papéis na formação do sujeito:
a família educava para a vida, enquanto a escola ensinava os saberes sistematizados. Essa
formação foi enfatizada com o Iluminismo, que trouxe a necessidade de escolarização dos
jovens, inaugurando a noção de uma escola pública.

A Educação na Idade Contemporânea deve ser concebida por todos os sujeitos que atuam
nesse processo, com o objetivo de permitir o desenvolvimento do aluno sem qualquer
limitação. Essa exigência traz a necessidade de uma nova Filosofia, que pense e valorize o
sujeito.
A Filosofia Contemporânea serve para que o aluno possa dialogar com a própria capacidade
de construir o seu conhecimento. Além disso, aportada no sujeito, por exemplo, ela dá
sentido à ruptura com o ensino pautado na transmissão, demonstrando que o único sentido
possível é o da aprendizagem.

RAZÃO

Referencial de orientação do ser humano em todos os campos em que seja possível a


indagação ou a investigação. Nesse sentido, diz-se que a razão é uma faculdade própria do ser
humano, distinguindo-o dos animais, por exemplo.

LÓGICA

Ramo da Filosofia que trata das formas do pensamento (indução, dedução, hipótese, inferência
etc.) e, por meio delas, busca determinar os raciocínios considerados válidos.

SÓCRATES, PLATÃO E ARISTÓTELES

Sócrates (469-399 a.C.) é reconhecido pelo seu método dialético de características céticas.
Há, ainda, um debate sobre a sua real existência.
Platão (428-328 a.C.) teria sido discípulo de Sócrates e difusor de suas ideias. Era um cidadão
importante em Atenas, onde fundou a Academia.

Aristóteles (385-323 a.C.) mudou o sentido dialético como forma de perceber o mundo
sensível para, a partir de operações racionais, obter o conhecimento da physis – natureza –
para a metafísica.

CRÁTILO

Crátilo é um diálogo platônico, no qual Sócrates é questionado por dois


homens, Crátilo e Hermógenes, sobre os nomes; se esses são “convencionais” ou “naturais”,
isto é, se a linguagem é um sistema de símbolos arbitrários ou se as palavras possuem uma
relação intrínseca com as coisas que elas significam.

ESTAGIRITA

Nascido em Estagira, na Macedônia. É comum designar Aristóteles como “o estagirita”, por ser
ele natural dessa antiga cidade.

RATIO STUDIORUM

O Ratio Studiorum é uma espécie de coletânea, fundamentada em experiências vivenciadas


no Colégio Romano, a que foram adicionadas observações pedagógicas de diversos outros
colégios, cujo objetivo era instruir rapidamente todo jesuíta docente sobre a natureza, a
extensão e as obrigações do seu cargo.

Fonte: Wikipédia.

ANÍSIO TEIXEIRA
Anísio Teixeira (1900-1971) foi um importante teórico e idealizador das grandes mudanças que
ocorreram na Educação brasileira no século XX. Fez parte do movimento de renovação do
ensino chamado de Escola Nova.

Fonte: eBiografia.

VERIFICANDO O APRENDIZADO

MÓDULO 2

Descrever a história da Filosofia da Educação no Brasil

A FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO NO BRASIL


No Brasil, o surgimento da disciplina Filosofia da Educação passou, simultaneamente, por
três processos:

1
ESTATIZAÇÃO DO ENSINO

O Estado brasileiro assumiu, paulatinamente, sua função de educar.

INSTITUCIONALIZAÇÃO DA FORMAÇÃO DE
PROFESSORES

Busca de uma melhor valorização da profissão docente.

CIENTIFICIDADE DA PEDAGOGIA

A fundamentação epistemológica do discurso pedagógico.

HISTÓRIA DA FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO


NO BRASIL
Para entendermos a história da Filosofia da Educação no Brasil, vamos destacar alguns
acontecimentos importantes.

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para o lado para ver as informações.
 Modelo de ensino da Escola Nova.

Ainda no final do século XIX, surgiram as primeiras preocupações com a cientificidade da


Pedagogia. As ideias da Escola Nova, ancoradas na Psicologia e na Sociologia, passaram a
fazer parte das discussões. A Escola Nova acompanhou a vanguarda dos movimentos
ocorridos no mundo, fruto da urbanização e da industrialização, os quais defendiam uma
estrutura e políticas públicas capazes de ofertar sentido às novas demandas sociais.

 Instituto de Educação do Rio de Janeiro.


Nos anos 1930, com a emergência da Revolução Industrial e do reordenamento político e
cultural da sociedade brasileira, foram feitas exigências para que o Estado se valesse de seu
papel de educador. Nesse contexto, a Educação e a escola se tornaram, praticamente,
responsáveis pelo desenvolvimento do país. Daí, toda atenção dada às instituições que
formariam professores. Antes disso, as Escolas Normais eram as únicas instituições a formar
professores, porém de maneira generalista e enciclopédica, e mesmo essa transição levou
algumas décadas para se fortalecer.

 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências da USP.

No ano de 1934, a formação de professores para o ensino secundário foi institucionalizada,


graças à criação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo
(USP). Em 1939, a Faculdade Nacional de Filosofia impunha outro modelo de formação com a
busca pelo estabelecimento de um novo ensino normal, que tinha como base as Ciências da
Educação e o surgimento das Faculdades de Filosofia, Ciências e Letras.

Foi a Filosofia, portanto, que deu bases de sustentação ao discurso pedagógico, o que
ocasionou uma indistinção entre o discurso filosófico sobre a Educação e o discurso
pedagógico geral. Ideais pedagógicos, natureza da Educação, fundamento moral da
Educação, natureza do homem, dentre outras, tornaram-se questões norteadoras do discurso
filosófico/pedagógico. Nesse ponto, destacou-se a contribuição do escolanovismo como
movimento, reconduzindo a epistemologia da Educação brasileira.
Um dos nomes mais importantes desse contexto é Anísio Teixeira, cuja percepção era de que
a Educação precisava ser cientificizada.

À medida que o discurso científico se impunha, a importância e os objetivos da Filosofia eram


relativizados. Nos cursos de formação de professores secundários, nas Faculdades de
Filosofia, Ciências e Letras, a Filosofia aparece na disciplina História e Filosofia da
Educação. Passou-se a estudar o ideário dos grandes pensadores com vistas à Educação –
Sócrates, Platão, Aristóteles, Rousseau (1712-1778), Kant (1724-1804), dentre outros.

A necessidade de uma cultura filosófica e científica (Ciências da Educação), no conjunto da


formação do professor secundário, tornara-se consenso mundial nos anos 1930 e foi
sustentada pelas ideias reformadoras em Educação. Nesse contexto, também a Sociologia da
Educação tomou para si a principal tarefa da Filosofia da Educação: determinar fins e valores
da Educação.

Nesse período, como a Filosofia era entendida?


A Filosofia da Educação era entendida como originária de um sistema filosófico, do qual
decorria certa concepção de mundo, de homem e uma hierarquia de valores. Portanto, o
ensino da Filosofia da Educação no Brasil foi, em grande medida, o estudo das ideias sobre
Educação de importantes filósofos no contexto da história da Filosofia.

Até meados da década de 1970, a Filosofia e a História da Educação se tornaram disciplinas


de destaque nos cursos de graduação e pós-graduação em Educação. É importante observar
que a disciplina Filosofia da Educação não fazia parte do Departamento de Filosofia; era
apresentada como um saber filosófico “aplicado” à Educação. Logo, tinha outras características
e objetivos.

No artigo Formação de professores: aspectos históricos e teóricos do problema no contexto


brasileiro, Dermeval Saviani apresenta uma síntese interessante. Para ele, no Brasil, a
questão do preparo de professores emerge de forma explícita após a Independência,
cogitando-se a organização da instrução popular. A partir daí, em relação à questão
pedagógica articulada com as transformações que se processaram na sociedade brasileira ao
longo dos últimos dois séculos, podem se distinguir os seguintes períodos na história da
formação de professores no Brasil:


1827-1890

Ensaios intermitentes de formação de professores

1890-1932

Estabelecimento e expansão do padrão das Escolas Normais

1932-1939

Organização dos Institutos de Educação

1939-1971

Organização e implantação dos Cursos de Pedagogia e de Licenciatura e consolidação do


modelo das Escolas Normais


1971-1996

Substituição da Escola Normal pela Habilitação Específica de Magistério

1996-2006

Advento dos Institutos Superiores de Educação, Escolas Normais Superiores e o novo perfil do
Curso de Pedagogia

A primeira Escola Normal criada no Brasil, em Niterói, no estado do Rio de Janeiro, data de
1835. Tinha como objetivo formar professores para o magistério de Ensino Primário e era
oferecido em cursos públicos de nível secundário (atual Ensino Médio). Desde então, o
movimento de criação de Escolas Normais no Brasil passou por diversas reformulações.
Mesmo assim, tornou-se instituição pública fundamental, formadora de professores para o
Ensino Primário.

Com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), de 1971, a Escola Normal foi substituída
pela habilitação específica de Magistério e, em 1996, a nova LDB converteu a formação de
educadores de nível superior em cursos de graduação plena: surgem os Institutos Superiores
de Educação e as Escolas Normais Superiores.
CONCLUINDO

O ensino da Filosofia da Educação no Brasil teve como base o estudo das ideias sobre
Educação de importantes filósofos no contexto da história da Filosofia.

NOVOS CAMINHOS E NOVOS OLHARES


A Filosofia da Educação brasileira recente está em meio a um complexo debate. Dos autores
que trouxeram a Pedagogia da Autonomia para o campo de debate, o principal nome é Paulo
Freire (1921-1997). Darcy Ribeiro (1922-1997) e Cristovam Buarque, apesar de não serem
filósofos e terem atuação mais destacada como políticos, foram defensores desse
entendimento, ainda que de forma parcial.

A relação entre os pedagogos e a política é recorrente. Nilcea Freire (1953-2019), Claudia


Costin, Renato Janine, Paulo Renato Souza (1945-2011), Gabriel Chalita e Fernando
Haddad são alguns nomes de professores de institutos superiores, mas que, pela atividade e
vínculo com a Educação, passaram a exercer cargos políticos. Suas atuações –
independentemente de vínculo político – ajudam-nos a constatar a presença simbólica de
fundamentos filosóficos que dialogam com a perspectiva multidisciplinar que vem marcando a
Educação.

 Nilcea Freire

 Claudia Costin
 Renato Janine

 Paulo Renato Souza


 Gabriel Chalita

 Fernando Haddad

Mais recentemente, um debate conservador sobre as práticas relacionadas ao ensino vem ser
incorporado a essa discussão. Diante dos processos nacionais que, como podemos observar,
são diversos, uma tendência de cunho filosófico é bastante forte: A autonomia.
VAMOS EXERCITAR
O QUE VIMOS ATÉ AQUI!

Leia o trecho do artigo Filosofia da Educação: implicações e impactos na Pedagogia, de Santos


e Bonin (2018):


“O PENSAMENTO FILOSÓFICO É CARACTERIZADO PELA REFLEXÃO,
OU SEJA, A BUSCA DE ALGO POR SI MESMO POR MEIO DA
ESPECULAÇÃO, EXAMINANDO E ANALISANDO COM CUIDADO. AO
DEFINIR A FILOSOFIA COMO REFLEXÃO, ELA SE CONSTITUI COMO UM
CONHECIMENTO DO CONHECIMENTO, ISTO É, FILOSOFAR É ATUAR
SOBRE O PRÓPRIO CONHECIMENTO CIENTÍFICO, INTERROGANDO-O E
PROBLEMATIZANDO-O.
A PEDAGOGIA É ENTENDIDA COMO UMA CIÊNCIA E SEUS PRINCÍPIOS
DEVEM SER SUBMETIDOS À REFLEXÃO FILOSÓFICA, UMA VEZ QUE A
FILOSOFIA NÃO SE LIMITA AO DOMÍNIO DO QUE PODE SER
OBSERVADO PELOS SENTIDOS, ORIENTANDO-SE EM DIREÇÃO AO
CONHECIMENTO DOS PRINCÍPIOS QUE ESCAPAM À PERCEPÇÃO DOS
SENTIDOS. EM FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO, A FILOSOFIA SE COLOCA
COMO FORMA DE CONHECIMENTO E A EDUCAÇÃO COMO UM
PROBLEMA FILOSÓFICO. OS DOIS TERMOS JUNTOS REPRESENTAM O
ESTUDO DOS FUNDAMENTOS DAS TEORIAS E PRÁTICAS EDUCATIVAS
NA SOCIEDADE.
A FUNÇÃO ESSENCIAL DA FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO CONSISTE EM
ACOMPANHAR, CRITICAMENTE, A ATIVIDADE EDUCACIONAL DE FORMA
A EXPLICITAR OS SEUS FUNDAMENTOS, ESCLARECER A FUNÇÃO E A
CONTRIBUIÇÃO DAS DIVERSAS DISCIPLINAS PEDAGÓGICAS E
AVALIAR O SIGNIFICADO DAS SOLUÇÕES ESCOLHIDAS. A AUSÊNCIA
DE ORIENTAÇÃO FILOSÓFICA NO TERRENO DA EDUCAÇÃO ACARRETA
CONSEQUÊNCIAS LAMENTÁVEIS.
SÓ É POSSÍVEL MELHORAR E REFORMAR O SISTEMA EDUCATIVO
QUANDO SE TÊM UMA VERDADEIRA FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO, NA
QUAL HAJA UM ACORDO ACERCA DA FINALIDADE, DAS
POSSIBILIDADES E DAS CONDIÇÕES DA EDUCAÇÃO. ASSIM, PARA O
ÊXITO DA CIÊNCIA PEDAGÓGICA É INDISPENSÁVEL A FILOSOFIA DA
EDUCAÇÃO.”

Com base nessa leitura, construa um texto de sua autoria sistematizando a importância da
Filosofia da Educação e guarde-o. A sugestão é que você faça um portfólio dos seus escritos
e vá guardando ao longo curso. Quando chegar ao final do semestre, ou do curso, perceba o
quanto evoluiu.
CONCLUINDO

O debate da Filosofia da Educação, no Brasil, tem estado muito ligado à política e tem
destacado a autonomia como pressuposto filosófico para se pensar a Educação.

Para saber mais sobre os estudos no campo da Filosofia da Educação Brasileira, assista ao
vídeo a seguir.
RESUMINDO

O ensino da Filosofia da Educação no Brasil teve como base o estudo das ideias sobre
Educação de importantes filósofos no contexto da história da Filosofia.

O debate da Filosofia da Educação, no Brasil, tem estado muito ligado à política e tem
destacado a autonomia como pressuposto filosófico para se pensar a Educação.
DERMEVAL SAVIANI

Dermeval Saviani é professor emérito da USP e um dos maiores nomes da Educação no


Brasil. Inaugurou debates fundamentais sobre as tendências pedagógicas brasileiras,
dialogando com o tripé Filosofia-História-Didática.

ENSAIOS INTERMITENTES DE FORMAÇÃO DE


PROFESSORES

Período que se iniciou com o dispositivo da Lei das Escolas de Primeiras Letras, que
obrigava os professores a se instruírem no método do ensino mútuo, às próprias expensas.
Estendeu-se até 1890, quando prevaleceu o modelo das Escolas Normais.

ESTABELECIMENTO E EXPANSÃO DO PADRÃO


DAS ESCOLAS NORMAIS

Cujo marco inicial foi a reforma paulista da Escola Normal tendo como anexo a escola-
modelo.

ORGANIZAÇÃO DOS INSTITUTOS DE


EDUCAÇÃO

Cujos marcos são as reformas de Anísio Teixeira no Distrito Federal, em 1932, e de


Fernando de Azevedo em São Paulo, em 1933.

VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 3

Identificar alguns dos possíveis papéis da Filosofia na prática educacional

PROFESSORES-PESQUISADORES E A
IMPORTÂNCIA DO MÉTODO
Numa época em que as culturas, responsáveis pela estruturação e organização das
sociedades modernas, são instadas a se responsabilizarem pelo futuro de seus cidadãos –
principalmente por conta dos impactos causados pelo desenvolvimento tecnocientífico e por
conta da emergência de uma economia globalizada que obriga muitos desses cidadãos a
viverem sob condições deploráveis – é imprescindível que a escola forme bem seus
professores. Essa formação precisa estar atenta à não deterioração das relações humanas. E
um dos caminhos para isso é dar um tratamento científico ao que envolve a Educação.
Faz-se necessário, em primeiro lugar, refletir sobre o lugar da pesquisa científica nos cursos,
programas e projetos de formação de professores. Nesse sentido, devem ser observados
alguns dos efeitos da não efetivação da disponibilidade, da vocação e, quase sempre, da
possibilidade dos professores de pesquisar. Por exemplo, não é sem motivo que predominam
atualmente no discurso educacional brasileiro fortíssimos conteúdos de senso comum e
ideológico. Isso efetivamente será solucionado quando a formação do professor objetivar,
também, torná-lo um pesquisador.

Não é possível que somente aqueles que chegam a um curso de pós-graduação stricto sensu
ouçam falar em pesquisa científica. Não se pode criar exigências sobre algo que grande parte
dos professores desconhece. Mas é o professor contemporâneo quem forma os profissionais
do futuro. Por isso, ele precisa estar preparado para as rápidas mudanças que inexoravelmente
ocorrerão.

Cada vez mais se exige, também dos estudantes de graduação, trabalhos de pesquisa. O
Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) é um bom exemplo. Contudo, uma análise, mesmo
que superficial, de alguns TCCs produzidos é capaz de mostrar uma dissonância acerca do
conceito de pesquisa, tanto por parte dos professores quanto dos alunos.

Para um melhor entendimento, pode-se pensar em alguns termos análogos escolhidos a esmo
para pesquisa:
INVESTIGAÇÃO
BUSCA

PROCURA

INDAGAÇÃO

AVERIGUAÇÃO
INQUIRIÇÃO

ARGUIÇÃO

EXAME

SABATINA

ESPÍRITO CRÍTICO
SONDAGEM

ANÁLISE

No entanto, seu uso indiscriminado é uma armadilha. É preciso cuidar de explicitar os sentidos
dos termos de que se vale ao estruturar diferentes argumentos, principalmente os de natureza
científica. O conhecimento humano implica certa reflexão com relação ao que se conhece. E a
metodologia da pesquisa possibilita entender o porquê de as ciências serem qualificadas como
rigorosas. Seus resultados decorrem de pensamentos rigorosos, isto é, aqueles que se
referem, principalmente, a um objeto, mediante um método e são lógicos, coerentes, não
contraditórios. E assim tem que ser, porque a Ciência nasceu sob a égide da razão e da
verdade. Não é, pois, por outro motivo que o rigor da Ciência se encontra atualmente nos seus
próprios discursos.

Além do conhecimento científico, o conhecimento filosófico é também constituído de forma


rigorosa. Por isso, a Filosofia e a Ciência são consideradas interpretações pertinentes da
realidade. O ser humano, ao fazer Ciência, está apenas interpretando a realidade e suas
próprias ações, mas o faz segundo critérios e métodos próprios para validarem seus
resultados. São essas interpretações que se transformam em discursos verdadeiros,
fundamentados e validados. Portanto, em discursos com sentido.

CONCLUINDO

A pesquisa científica deve fazer parte da formação do professor, pois é dessa forma que ele
será capaz de interpretar a sua realidade e, assim, dar sentido à ação educativa.

SUPERANDO A DICOTOMIA TEORIA ×


PRÁTICA
Imagine que o gestor de uma escola é abordado por pais de alunos que dizem não entender a
filosofia da escola. Ele – mostrando dificuldade – defende o socioconstrutivismo (que não é
uma linha filosófica) e se dispõe a chamar os professores para explicar a filosofia.

Qual seria o resultado disso?

Certamente isso geraria uma reprodução equivocada sobre o que é a Filosofia. Essa situação é
recorrente e acontece porque os nossos professores têm trabalhado conteúdos científicos, mas
desconhecem, quase que por completo, o que é a Ciência, suas diferenças e até mesmo o que
é uma disciplina. Não fazem por mal, temos tradições e políticas tecnicistas há tempos na
formação de novos professores, os quais, embora muito experientes, pouco ou nada refletem
sobre sua própria prática. Claro está que não se trata de privilegiar a teoria em detrimento da
prática, mas sim de, exatamente, superar tal dicotomia.

Por outro lado, mesmo sendo considerada moderna, surgida tal como a conhecemos nos
séculos XVI e XVII, é importante não esquecer que a Ciência moderna é caudatária da Ciência
grega e que os gregos identificam Ciência com Filosofia. Tampouco se pode esquecer que a
Idade Média incorporou a Filosofia à Teologia e que só mais tarde, com o advento do chamado
método experimental – um dos principais responsáveis pela caracterização da Ciência como
moderna –, é que se tratou de diferenciá-las. Dicionários de língua portuguesa conferem à
palavra Ciência inúmeras definições. Vejamos algumas:

Ela é tida, num sentido amplo, como um conhecimento ou um saber que se adquire pela
leitura e meditação.



Há, ainda, a definição que lhe confere o significado de processo, mediante o qual o homem
domina a natureza, objetivando seu próprio benefício. Constitui, portanto, uma das
possibilidades de se apreender a realidade, mas de uma maneira que depende muito mais da
ação do que da contemplação.


Em sentido restrito, contudo, é tomada como um conjunto organizado de conhecimentos
relativos a determinados objetos, especialmente os obtidos mediante a observação e a
experimentação.

Um bom exemplo disso pode ser encontrado no trabalho de Tales de Mileto, ao determinar a
altura das pirâmides do Egito por medição direta. Sabendo que a Terra recebia os raios solares
paralelamente, colocou um objeto de altura conhecida próximo da pirâmide e mediu o
comprimento da sombra que esse objeto projetava. Ao mesmo tempo, mediu a extensão da
sombra projetada pela pirâmide e comparou as medidas das sombras para (sabendo que as
extensões eram proporcionais) calcular a altura da pirâmide.
 Ilustração do experimento de Tales.

Como, então, podemos definir a prática?


Em sentido amplo, prática diz respeito à ação ou é propriamente a ação. De maneira mais
comum, o que é imediatamente transformado em ação.

Originariamente, prática, ou fazer, tem o sentido de arte – a tékhne grega – e, como tal, o
sentido de conhecimento daquilo que se faz. Aliás, outro não é o sentido de tékhne que o de
fazer e ensinar (saber) fazer. Noutros termos, para se fazer bem é preciso saber.

Atualmente, o termo técnica possui várias definições. Em geral, coincide com o sentido amplo
da palavra arte, isto é, aquilo que dirige com eficácia uma atividade qualquer.

No que diz respeito ao comportamento humano em relação à natureza, refere-se à produção


de bens. Por esse motivo, afirma-se que a técnica sempre acompanhou o desenvolvimento da
humanidade.

Somos levados a considerar a técnica como um conjunto de conhecimentos que tem por
finalidade a solução de problemas, sem que haja o menor conhecimento dos mecanismos que
a regulam. Com o passar do tempo, porém, julgou-se efetivamente que a sobrevivência e o
bem-estar do ser humano dependiam, fundamentalmente, do desenvolvimento da técnica.
Faltava o saber. Mais especificamente o saber científico. Impôs-se, então, uma diferença
qualitativa – a técnica aliada à Ciência resultaria na tecnologia.

Como esse cenário se reflete na escola?

Nossa escola se encontra culturalmente defasada, isto é, não tem acompanhado o velocíssimo
desenvolvimento da tecnociência. E, o que é também grave, não tem acompanhado as
manifestações das demais áreas da cultura – Filosofia, Arte e Teologia.

A escola tem um papel crucial que urge ser definido, pois somente pela Educação é possível
resguardar e priorizar a qualidade de vida, a luta pela cidadania, a superação das
desigualdades sociais, a dignidade e a felicidade de nosso povo. Há de se pensar numa
urgente reestruturação do caráter da pesquisa em Educação. E mais, a Revolução
Tecnocientífica na Educação não pode se reduzir à introdução de novidades, principalmente da
parafernália de aparelhos nas escolas. É preciso analisar suas consequências nos processos
de democratização do saber e na contribuição que essa democratização trará para a extinção
da dívida social, assim como refletir sobre todas as contradições que o uso indevido do
conhecimento tecnocientífico acarreta ao processo ensino-aprendizagem. É imprescindível aos
educadores entender que os paradigmas científicos são outros e que, por isso mesmo, acabam
por fazer com que muitas práticas e discursos sejam questionados.

CONCLUINDO

A prática tem o sentido de técnica e está intimamente relacionada com o saber. É necessário,
portanto, que a escola seja capaz de refletir sobre a sua prática – técnica, com o objetivo de
entender os mecanismos que embasam e justificam a sua ação, para transformar a realidade
que a cerca.
O RETORNO DO SUJEITO
Vive-se atualmente um novo tipo de racionalidade científica que adota e considera novos
princípios reguladores, entre eles, de extrema relevância, a discussão sobre a subjetividade.
Se antes essa questão era de domínio quase exclusivo da Filosofia e da Teologia, vemos
atualmente, até com certa estranheza, as diferentes ciências se envolvendo e se ocupando
com ela. Por isso, cumpre considerar que houve períodos e obras em que se falava, e ainda se
fala, em homem ou em natureza humana. Outros períodos e outras obras preferiram dar
destaque ao indivíduo, à pessoa ou, até mesmo, à pessoa humana. Vamos entender como
ocorreu esse retorno ao sujeito:

É conveniente também observar que a própria Filosofia considerou o sujeito apenas em uma
perspectiva, isto é, enquanto aquele que conhece – o sujeito cognoscente –, concepção
adotada principalmente por pensadores que viveram no período de Descartes (1596-1650) a
Heidegger (1889-1976).


Depois, a Filosofia perdeu a noção de sujeito. O discurso da morte do sujeito, que reproduz a
expressão nietzscheana da morte de Deus, contribuiu para isso.


Mas, atualmente, fala-se em retorno do sujeito.

É importante acatar a ideia de retorno do sujeito, mas não se pode negar que o mundo das
ideias carece de atualizações das teorias do sujeito, pelo menos em um tratamento não
dicotômico. Claro está que somente um aprofundamento na história do desenvolvimento da
noção de sujeito fará com que entendamos esses desdobramentos. Com certeza, as
especificidades e particularidades serão muitas. É essa admissão da noção de sujeito que
permite explicitar pesquisas as quais não são voltadas para objetos, mas para sujeitos.

Mas o que é ser sujeito?

Assim como o conceito de Educação, também é difícil a tarefa de responder sobre o que é ser
sujeito. Dotados de consciência, os sujeitos têm o poder de interferir sobre suas próprias vidas
– conhecem, agem, sentem e querem. E isso nos dá uma ideia do que significa pesquisar
sujeitos. Por outro lado, toda atividade pedagógica deve também estar voltada para sujeitos. O
que nos leva a admitir que toda atividade pedagógica se dá com vistas a uma concepção de
ser humano. Questão complexa, que exige reflexão profunda. Suas respostas dirigirão toda e
qualquer prática pedagógica.

Pensar a Educação significa pensar o humano, isto é, teorizar sobre sua essência. Assim,
seria útil distinguir pensar a Educação (pensar a prática educativa, em todos os seus
aspectos) de pensar sobre Educação (explicitar cada vez mais o fenômeno educativo). É
preciso, pois, olhar para o sujeito com outros olhos. O sujeito é quem sabe, age, sente e quer.
Por isso a necessidade que temos, todos, de nos construir e nos reconhecer sujeitos. A
anulação do sujeito contamina nossas sociedades, acarreta um mal-estar generalizado no
cotidiano de todos, favorece o aparecimento das assustadoras patologias psicológicas, a
expansão da violência, a banalização da vida e os gritantes indícios no aumento da
discriminação e da desigualdade.
Em especial para aqueles que só pensam em conteúdo, é urgente compreender a necessidade
de mudança. Aquilo que o estudante precisa saber, pode por ele mesmo ser adquirido. Há
inúmeras maneiras de se chegar à aquisição de um conteúdo.

É por esse viés que a formação de professores precisa assumir a perspectiva interdisciplinar
na condução de suas pesquisas e na maneira de encarar os alunos como sujeitos, isto é,
colocando-os diante da realidade, teórica e praticamente, e propiciando que construam e se
reconheçam sujeitos. De acordo com Deckeyser (2006), considerar a questão do sujeito nos
dias atuais equivale, fundamentalmente, a esclarecer seu quadro de emergência e a justificar o
lugar de nascimento de uma interrogação renovada de urgência pela ética.

Cabe, pois, à Filosofia da Educação refletir sobre os processos e sistemas educativos,


sistematizar os métodos didáticos e analisar temas que dizem respeito à Pedagogia. Ela une o
pensar a Educação (a prática educativa) e o pensar sobre Educação (investigação do
fenômeno educativo). Já a análise crítica do discurso pedagógico caberia à epistemologia da
Pedagogia.

CONCLUINDO

O sujeito deve ser o centro do processo de pensar e fazer a Educação. Os alunos, portanto,
são os sujeitos no contexto escolar e devem ser considerados em seu pensar, sentir, agir e
querer.
Assista ao vídeo a seguir para conhecer algumas práticas transformadoras de professores
que entenderam o seu aluno como sujeito do processo de ensinar e aprender.
RESUMINDO

A pesquisa científica deve fazer parte da formação do professor, pois é dessa forma que ele
será capaz de interpretar a sua realidade e, assim, dar sentido à ação educativa.

A prática tem o sentido de técnica e está intimamente relacionada com o saber. É necessário,
portanto, que a escola seja capaz de refletir sobre a sua prática – técnica, com o objetivo de
entender os mecanismos que embasam e justificam a sua ação, para transformar a realidade
que a cerca.
O sujeito deve ser o centro do processo de pensar e fazer a Educação. Os alunos, portanto,
são os sujeitos no contexto escolar e devem ser considerados em seu pensar, sentir, agir e
querer.

TECNOCIENTÍFICO

O termo tecnociência, criado por Gilbert Hottois (1946-2019) ao final dos anos de 1970, faz
referência à íntima ligação entre a Ciência e a tecnologia.

VERIFICANDO O APRENDIZADO

CONCLUSÃO
Conclusão
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste tema, você recebeu suportes para construir o papel da Filosofia da Educação como
elemento fundamental para compreensão do campo, sendo provocado a se situar na
cronologia e a observar qual o efetivo papel da Filosofia na contemporaneidade depois de idas
e vindas.

A Filosofia no século XX e XXI não pode ser mais o sentido máximo da Educação, mas de
alguma forma deve ser o fundamento da estruturação de seu próprio campo, de sua
epistemologia, na compreensão do papel fundamental na relação com o sujeito. Uma vez
entendido o fundamento, aproximamos essas questões no Brasil e quais são os desafios que
temos enfrentado, mostrando como a Educação continua sendo a base para o funcionamento
da sociedade.

PODCAST

Agora, os professores Rodrigo Rainha, Potiguara Pereira e Luis Claudio Dallier encerram o
tema falando sobre os Fundamentos Filosóficos da Educação.
AVALIAÇÃO DO TEMA:

REFERÊNCIAS

ABBAGNANO, N. História da filosofia. 2. ed., v. 1. Portugal: Presença, 1976.

DECKEYSER, A. Éthique du sujet. Problématiser à partir de Foucault. Paris: L’Harmattan,


2006.

SANTOS, A. M.; BONIN, J. C. Filosofia da Educação: implicações e impactos na Pedagogia.


In: Revista Educere et Educare, v. 13, n. 27, Cascavel-PR, 2018.

SAVIANI, D. Formação de professores: aspectos históricos e teóricos do problema no


contexto brasileiro. In: Revista Brasileira de Educação, v. 14, n. 40, jan./abr. 2009.

TEIXEIRA, A. S. Filosofia e Educação. In: Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, v.32,


n.75, jul./set. 1959, p. 14-27, Rio de Janeiro.

EXPLORE +

Para se aprofundar mais sobre o assunto deste tema, leia os textos:

Filosofia e educação, do intelectual e educador Anísio Teixeira, em que ele defende que a
Pedagogia é entendida como uma Ciência, logo “seus princípios devem ser submetidos à
reflexão filosófica”;

Formação de professores: aspectos históricos e teóricos do problema no contexto


brasileiro, de Dermeval Saviani;

Filosofia da Educação: implicações e impactos na Pedagogia, de Adélcio Machado dos


Santos e Joel Cezar Bonin.
CONTEUDISTA

Potiguara Acácio Pereira

 CURRÍCULO LATTES

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