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A REPRODUÇÃO E A DEESCOLARIZAÇÃO)
Nedison Faria1
Nesta reflexão tem-se presente que várias teorias tentaram e tentam interpretar e propor
alternativas para o agir humano na sociedade e nele o agir pedagógico. Nem todas, porém,
contribuem efetivamente para dar melhores perspectivas e entusiasmo ao quefazer docente. Há
casos, e não são poucos, em que uma teoria, apesar de seus aspectos válidos para finalidades
específicas, no seu todo, acaba por gerar descrença, passividade, decepção. Acontece isso com o
modelo escolástico, ainda presente em nossos dias, quando propõe metas extemporâneas, em
total desacordo com os rumos do tempo presente. Acontece de forma parecida com as propostas
tecnicistas e da teoria do capital humano, esta nos dias atuais com o rótulo de qualidade total,
mais direcionadas à manipulação do aparato escolar para fins técnico-burocráticos do que à
expansão e à elevação do nível cultural da população. Por outro lado, as teorias da
desescolarização de Ivan Illich (1973) e da reprodução de Althusser (1970), de Bourdieu-
Passeron (1975) e de Baudelot-Establet (1975), com crítica às estruturas sociais e que não
conseguem visualizar além de males nas instituições escolares e no trabalho docente.
1
Prof essor T i t ul a r d e F und am e nt os Hi st ór i c os , Soc i o l ó gi c os e F i l osóf i c os d a
Edu c a ç ã o , Dep ar t a m e n t o de F unda m e nt os da Ed uc a ç ã o , C en t r o d e Edu c a ç ã o da Uni v er si da d e
F ede r a l de S an t a Ma ri a . S ant a Mar i a , out u br o de 1998 .
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dos antigos, enfim, pela prática de exercícios intelectuais com a finalidade de robustecer a
memória e capacitar o raciocínio para fazer comentários de textos.”
Platão assegurou que as essências existem e que o acesso a elas, embora penoso, é
possível. A geometria é uma prova disso: trata de figuras que não existem na "realidade"
empírica, mas explicam, de forma perfeita (ideal), os triângulos, os retângulos, etc. Eles são
imperfeitos, mas existem materialmente. Também os conceitos revelam a existência da essência
ideal das coisas. Há muitos cavalos (de tamanhos, cores, velocidades, diferentes), mas há uma só
idéia de cavalo. Os seres empíricos são como que cópias dos seres ideais. Procuram imitá-los,
mas não são mais do que sombras. O fundador da Academia de Atenas utiliza a "Alegoria da
Caverna"2 e o "Mito da Parelha Alada"3 para demonstrar como os homens são prisioneiros da
matéria e, nessa condição, obrigados a perceber apenas as sombras do real (que é o que pode ser
percebido empiricamente - através dos sentidos).
Mas tendo a alma experimentado a verdade, quando de sua passagem pelo mundo das
idéias, não chega a perder totalmente o acesso a ela depois que se junta à matéria. Sofre, nesse
impacto de junção com a matéria, um processo de esquecimento quase total, porém reversível.
Conhecer é, portanto, recordar, e esse processo chama-se, para Platão, "reminiscência" 4. A
"educação do pensamento" não se dá, portanto, através da observação sensível das coisas, mas
por um processo interno do próprio pensamento.
É importante notar também que Platão, ao estabelecer uma divisão entre o mundo das
idéias e o mundo das sombras, divide também o homem entre o "eu empírico" e o "eu essencial".
O corpo, o desejo, os sentidos pertencem ao mundo imperfeito, transitório, sombrio. Enquanto
isso, a alma (ou o espírito pensante) faz parte do mundo verdadeiro, belo e bom. Platão dá
primazia ontológica e temporal à essência, em detrimento da existência empírica; à alma, em
detrimento do corpo; à forma, em detrimento da matéria. Para Suchodolski (1978: 19)"Estas
distinções constituíram o motivo clássico que conduziu a pedagogia da essência a descurar tudo
o que é empírico no homem, e em torno do homem, e a conceber a educação como medidas para
desenvolverem no homem tudo o que implica a sua participação na realidade ideal, tudo o que
define a sua essência verdadeira, embora asfixiada pela sua existência empírica."
2
PLATÃO, Diálogos: A república, s/d, p. 181-185.
3
PLATÃO, Diálogos: Mênon-Banquete-Fedro, s/d, p. 151-154.
4
Cf.: PLATÃO, Diálogos: Mênon-Banquete-Fedro, s/d, p. 154-157.
4
substanciais. Quando se diz, por exemplo, 'Pedro está sentado', o termo 'sentado' indica a forma
atual de Pedro, mas é apenas acidental: sentado ou não, Pedro é Pedro. Mas se se afirma 'Pedro
é homem', a palavra 'homem' indica-lhe a forma substancial ou essencial, sem o que Pedro não
poderia ser Pedro. (...) A ciência é, assim, o conhecimento dessas formas substanciais que
indicam a essência das coisas".5
A escolástica também é responsável pela concepção que aproxima o ato de educar com o
sacerdócio, o professor com o pastor, com todos os atributos de despojamento, dedicação,
completa doação, gratuidade, que definem, ao menos teoricamente, um ministro consagrado da
igreja. Ora, com a profissionalização da atividade docente e com o aviltamento progressivo que
esta veio experimentando nas últimas décadas, a visão tradicional foi submetida a uma violenta
crítica. O professor esfarrapado e descalço é, por certo, um sujeito inconformado ou, pelo menos,
insatisfeito.
5
História do Pensamento (Vol.1): das origens à Idade Média, 1987, p. 90.
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Isso tudo gera um ambiente de insatisfação, mal-estar e desânimo, frente ao ensinar com
"postura autoritária.”6 Em última instância, o modelo de ensino escolástico também é
responsável pelo desencanto do professor perante sua profissão.
6
Na crítica que Benincá faz à escolástica e sua relação com a pedagogia tradicional, salienta: "O
pensamento escolástico é um pensamento que oferece segurança. A primeira segurança é adquirida pela via
teológica. Conhecendo-se as idéias descobre-se a racionalidade do mundo e chega-se às idéias Daquele que pensou
o mundo, Deus.(...). Uma segunda segurança advém da certeza do conhecimento de que as coisas são assim.
Podemos afirmá-lo com certeza e segurança. Isto concede certeza e autoridade. Eu sei. Conheço. As coisas são
assim. (...).A adequação entre inteligência e objeto fornece ao conhecedor segurança e certeza. O processo do
conhecimento se caracteriza, praticamente, como um processo messiânico de apreensão das coisas. Trata-se de um
modo objetivo de conhecer. Uma outra segurança, como conseqüência desse modo de conhecer, é a possibilidade de
interrogar aos mestres, detentores do conhecimento geral e universal. Aquele que conhece é o que se apossa das
idéias universais que são o pensamento daquele que pensou as idéias.(...)." E conclui dizendo: "Do ponto de vista
pedagógico, parece-nos que um educador, na perspectiva escolástica, será sempre um que sabe das coisas porque
conhece. Porque conhece, tem o domínio da verdade e o direito de ensinar. Tendo o direito de ensinar torna-se
autoridade. Tornando-se autoridade pode falar como conhecedor das coisas, assumindo normalmente a postura
autoritária." ( Elli Benincá. A Escolástica, s/d., p. 8 e 9.)
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Os princípios da Escola Nova continuaram presentes nas propostas educacionais brasileiras, afirmando-
se, sobretudo, a partir dos anos 80, na vertente construtivista.
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Essa teoria busca seus fundamentos na constatação de que o capital não se amplia e
aumenta por conta do investimento feito em termos materiais ou por vantagens obtidas na
comercialização dos bens produzidos. O fator responsável pela diferença entre capital inicial e
capital final é o homem que, com seu trabalho qualificado, cria capital novo sobre o investimento
primeiro. Daí advém que o melhor investimento que um país pode fazer para aumentar sua
riqueza é investir na educação de sua população, isto é, no capital humano.
No Brasil, esse pensamento entra segundo Gomes (1979: 518), "nos anos 60, com uma
certa defasagem. Importamos a teoria do capital humano e o planejamento educacional. As
novas tendências se ajustaram como uma luva à conjuntura política, que enfatizava a
tecnocracia." Sobretudo a partir do golpe militar, em 1964, as perspectivas de grandes
investimentos industriais que as empresas estrangeiras prometiam fazer em nosso país
entusiasmaram os tecno-burocratas9 brasileiros que, em contrapartida, ofereciam-lhe mão-de-
obra qualificada.
Libâneo (1985: 29) "produzir indivíduos competentes para o mercado de trabalho, transmitindo,
eficientemente, informações precisas, objetivas e rápidas." Ou, nas palavras de Pimenta (1985:
89) , "preocupados com a desejável racionalidade administrativa, mas desconhecendo-se o
caráter multiversitário da universidade, adotam-se procedimentos e métodos de administração
'eficazes e eficientes', por exemplo, em um complexo siderúrgico ou em uma fábrica de sapatos,
mas que nada têm a ver com instituições de ensino superior!"
O ânimo que possa ter existido, no início do processo de implantação desse modelo,
corria por conta da não explicitação de suas reais motivações. Mas durou pouco. Logo os
professores perceberam o engano em que se envolveram e o ensino, assim descaracterizado,
tornou-se mais um fator de desmotivação e desencanto por parte daqueles que estavam
diretamente envolvidos com a função docente, esperando de seus trabalhos mais do que modelar
comportamentos de homens como se se tratasse de autômatos. Esse modelo tecnicista de ensino,
para Löwy (1987: 17) se baseia no positivismo.
Por certo, pode-se dizer que, a partir do século XIX, a metafísica não encontra mais lugar
favorável à sua permanência. Todas as correntes de pensamento que se está a analisar têm em
conta a preocupação de não voltar àquela forma mecanicista de pensar. Poder-se-ía sintetisar as
proposições epistemológicas do positivismo da seguinte forma:
Na visão de Löwy (1973: 181), "A sociedade pode, portanto, ser epistemologicamente
assimilada pela natureza (...) e ser estudada pelos mesmos métodos, démarches e processos
empregados pelas ciências da natureza." E de que,
A rápida aceitação e a ampla difusão das teorias rotuladas como reprodutivistas, ganharam
espaços do norte ao sul, do leste ao oeste brasileiro, em encontros educacionais. Seus aspectos
positivos se evidenciaram, principalmente na década de 70, onde os reprodutivistas
representaram, no caso brasileiro, um forte apoio epistemológico às críticas da época à pedagogia
oficial, ao tecnicismo imposto pela ditadura militar. Realizavam a crítica ao aparato repressivo do
regime político-autoritário, então vigente no País, o qual assumia a responsabilidade pela política
educacional com reformas do ensino de 1º, 2º e 3º Graus, a partir das leis 5540/68 e 5692/71.
Buscaram, no pensamento de Althusser e de Bourdieu-Passeron, as armas teóricas necessárias ao
questionamento da escola, enquanto reprodutora das relações sociais de dominação.
Louis Althusser, filósofo marxista francês, assumiu como tarefa intelectual incorporar ao
materialismo histórico as contribuições da psicanálise lacaniana e, principalmente, do
estruturalismo de Levi-Strauss. Dessa aproximação saiu uma postura teórica vigorosa e muito
simpática aos intelectuais que, de alguma forma, estavam interessados na crítica ao capitalismo
ocidental. O livro "Ideologia e aparelhos ideológicos do Estado" teve enorme repercussão nos
setores da esquerda, incluída aí a brasileira.
Aos poucos professores que tentam voltar-se contra a ideologia, Althusser (1970: 68) pede
desculpas por ter-lhes atribuído um papel eminentemente reprodutor. E continua afirmando que a
maioria "tem tão poucas dúvidas, que contribuem até pelo seu devotamento a manter e a
alimentar a representação ideológica da Escola que a torna hoje tão 'natural', indispensável-útil
9
e até benfazeja aos nossos contemporâneos, quanto a Igreja era 'natural', indispensável e
generosa para os nossos antepassados de há séculos."
A análise de Bourdieu-Passeron volta-se para demonstrar que os dotes pessoais não são
tão pessoais assim. Ao contrário, é muito reduzida a quota que, no indivíduo, pode ser atribuída à
natureza. Grande parte de suas características é formada socialmente. O gosto artístico, por
exemplo, é um prazer cultivado: internalizado, resulta de todo um aprendizado que vai da
infância à vida adulta, passando pela escola.
Existe uma oposição inconciliável entre as perspectivas dos diferentes grupos sociais. Os
trabalhadores, pelo seu contato com as condições materiais de existência, criam um instinto de
classe que constitui a força viva da ideologia proletária. O instinto de classe constitui o único
estimulante, o fio condutor, ao mesmo tempo necessário e suficiente, como guia através de um
tal itinerário, não carecendo de teorias e instituições outras para sistematizar e conduzir sua
prática de luta.
A escola, nessa perspectiva, é um espaço puramente burguês. Não há luta de classes ali,
porque as forças progressistas não dispõem de nenhum ponto de apoio a que se agarrar, uma vez
que toda a escolaridade é apresentada como mistificação burguesa. Há uma única circunscrição
onde se dá a luta de classes e onde há a cultura verdadeira: é a esfera do trabalho. A
superestrutura poderá exercer papel importante somente depois de revolucionadas as condições
de produção.
A teoria da desescolarização é defendida por Ivan Illich (1973). Ele parte do princípio de
que a sociedade industrial está fora de rota. A humanidade errou quando submeteu-se à ditadura
da grande máquina, das complexas burocracias e da vida sofisticada das grandes cidades.
Naufragaram o indivíduo, a família, as relações cordiais, a felicidade... A megamáquina requer
um ritmo de produção e consumo infinitos e, por isso, precisa criar necessidades artificiais que
não conseguirá satisfazer. Primeiro, porque são artificiais e, depois, porque, dentre todas, uma
será a grande necessidade: renovar, trocar, buscar o novo. Temos aí o homem dependente,
insaciável, infeliz e a sociedade desigual, confusa, desencontrada.
vive para afrontar o destino, modelar o mundo de acordo com o plano que ele arquitetou. Illich
chama homens epimeteus àqueles que, pelo contrário, depositam suficiente confiança na bondade
da natureza para respeitar a ordem que nela está inscrita: conformar-se com a terra maternal.
Nessa perspectiva, importa, antes de tudo, acabar com a escola estruturada e pôr, em seu lugar,
redes espontâneas de ensinar-e-aprender. A escola sonha com a modelagem autoritária e persegue
incansavelmente essa meta. É preciso opor-lhe alternativas radicais. Que desapareçam o
professor perito, a avaliação, a diretividade, o diploma, a presença obrigatória, os pré-requisitos
de entrada, os programas pré-estabelecidos, etc. Destronada a escola, é certo que as demais
estruturas sociais opressoras também virão abaixo, seguindo-a. Segundo Illich (1973: 181) "os
esforços para encontrar novo equilíbrio no meio-ambiente global dependem da
desinstitucionalização dos valores."
A estrutura é um sistema integrado, o que faz com que mudanças num elemento
provoquem alterações nos outros. Um todo (matemático, físico ou social) não é a mera soma das
partes; as partes estão conectadas entre si e subordinadas a leis que caracterizam um sistema
específico. A estrutura mostra-se nos elementos que a compõem, nos seus efeitos, mas não está
neles, propriamente falando, não se resume neles, transcende-os.
Não existem estruturas universais, o que impede a ciência de adotar modelos estruturais
que ultrapassem em valor explicativo certos limites factuais.
O resultado das teorias reprodutivistas não foi positivo para o ensino 11. Ao contrário,
contribui em grande parte para o desânimo e a acomodação do professor e de toda a comunidade
escolar. É, portanto, necessário que lhe sejam feitas as devidas críticas. Com relação a Althusser
10
O estruturalismo difundiu-se, enormemente, a partir de 1930, e modificou o teor das pesquisas
em ciências sociais. "A noção de estrutura tem-se mostrado de extraordinária fecundidade, não só para
aprimorar os modelos explicativos nas ciências humanas como principalmente para proporcionar um rico
intercâmbio entre as ciências que se utilizam desse conceito" (História do Pensamento, vol.4, p.705). O
estruturalismo, enquanto método, foi utilizado por muitos autores nas ciências empírico-naturais e nas
ciências humanas.
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Na reflexão educacional o reprodutivismo demonstra a quase negação da história e da dialética e a
supervalorização da estrutura.
12
é preciso dizer que "o fato de o autor distinguir a escola como o Aparelho Ideológico do Estado
número 1, nas sociedades capitalistas, coloca-nos algumas reservas. Temos na realidade
brasileira um contingente enorme de não-escolarizados, bem como outro índice significativo de
evadidos escolares. A obrigatoriedade escolar ainda é um propósito, bem como temos uma
redução do tempo do aluno na escola. Isso força-nos a destacar que, no todo social brasileiro,
temos forte influência da família, da religião, bem como do aparelho ideológico de informação e
suas influências na formação cultural do nosso povo. Se olharmos a penetração, audiência e
tempo de influência diária da televisão, pode-se ressaltar sua importância marcante. Esse
contexto (família, religião, meios de comunicação) contrapõem o espaço da escola na sua
função primaz de inculcação ideológica." 12
Não só Althusser, mas o reprodutivismo como um todo acaba por eliminar a possibilidade
de luta de classe no âmbito da escola, no âmbito da cultura. A única possibilidade de crítica
parece ser, nessa óptica, a da análise sociológica que desvenda a estrutura e o funcionamento do
mecanismo social. Porém, se for considerado que a cultura não é um mero enfeite ou qualquer
outra coisa fictícia, mas um complexo de lutas históricas, resultado do trabalho, do progresso e
das lutas sociais, nossa perspectiva passa a ser diferente. As idéias dominantes não são só idéias
da classe dominante: são bens da humanidade. A apropriação de alguma coisa não determina a
sua natureza. Assim, o mundo cultural não se resume num disfarce; tem sua objetividade e seu
valor e, por isso, é justo concebê-la como um espaço de lutas sociais, onde também pode se dar a
emancipação dos setores dominados.
Melhorar o ensino e não fugir dele; torná-lo mais verdadeiro, mais científico, mais crítico
parece ser o desafio. Sabe-se que a cultura primeira (de massas, proletária, espontânea) não se
basta a si mesma; requer ser aprimorada e aprofundada pela contribuição da cultura elaborada.
Como bem diz Snyders (1973: 181), o povo (enquanto operariado, classes populares) é
"rebaixado ao nível de animal de carga", chegando às raias do embrutecimento e da barbárie.
Abandonado em sua cultura, seu mundo corre o risco de ser nivelado por baixo, ficando mais à
mercê da dominação e da exploração.
Illich não consegue conviver com a sociedade complexa. Seu modelo de pensamento e seu
objeto de desejo são comunidades primárias, simples, pequenas. Reatualiza o mito do "bom
selvagem". Essa perspectiva de retorno histórico é mistificadora: desvia a atenção das dimensões
reais e urgentes da história para introduzi-la na esfera do romantismo fictício. O afastamento da
realidade cria, como resultado final, a decepção e o desencanto, quando o que realmente se
precisa é ânimo e disposição para agir, para transformar, enfim ter gosto pela pela profissão
docente.
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Nedison FARIA, Ensaio crítico sobre "Ideologia e aparelhos ideológicos do estado" de Louis Althusser,
p. 8 (mimeo).
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BIBLIOGRAFIA