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Por
Aparício F. Nhacole
*
Rosto pálido, olhos vermelhos, mãos nos queixos, joelhos entre as orelhas e
impossíveis. E mais do que esses planos frustrados estava o pesadelo de saber que
não podiam contar com mais ninguém na vida, a não ser Deus e a sua humilde mãe.
morte). Esse tirano usando das suas densas trevas tirou aquilo que era considerado
pelo Vandro o último baluarte da fortaleza pessoal: a sua amada a avó Celeste e seu
batidas na cabeça e no peito com uma exclamação que desafia qualquer mente, até
dos gurus da inteligência emocional artificial: O que o Pai queria escrever! Porque
única pessoa que poderia responder não estava vivo, tinha partido com suas
palavras, com o seu saber e possivelmente com a vida e os sonhos dos seus filhos,
pagar para estarmos ao lado da pessoa que amamos e escutarmos a fala delas em
Este pequeno romance, tenta abordar uma situação muito comum na maior
de alguém. As pessoas não só desparecem do mundo, como também vão com todo
sustento para os filhos pela ocasião da morte do marido, entretanto com cartões
cheios de dinheiro nos bancos deixados pelos malogrados? Quantos
Caro (a) leitor, se esse livro chegou nas suas mãos, é o sinal de que você
ainda esta vivo. Não cometa o erro deliberado de partir para outra realidade sem
deixar o tesouro aos descendentes. Alias como diz a Bíblia, “não deixa para
_Alóoo. Bom dia vovó! Como está? – Perguntava o Sr Jonas a sua sobrinha que
_ Tio, não trago boas notícias._ Nesse exacto momento o coração de Sr Jonas
captar sinal de um perigo. Afinal a voz da sua sobrinha era conhecida pela sua
pesadelo preste a ouvir numa mentira de dia 1 de Abril era um desejo que aliviaria
o Sr Jonas, que já se sentia socialmente carregado, pois não só respondia pela vida
dos seus filhos, da mãe e cunhada como também de suas duas irmãs viúvas. Ele era
o único homem da família, destino esse causado pelas mortes em série do seu irmão
_ O que aconteceu vovó? Questionava o Sr Jonas, mesmo sabendo que não queria
saber da resposta.
_ Tio a avó tomou veneno e está grave. Não fala, não se mexe. Neste momento
carinhosamente chamada por vovó, em virtude de ser xara da irmã do avo paterno
do Sr Jonas.
_ Sim tio. Respondia a sua sobrinha com a voz tremula e carregada de tanto pesar.
Afinal não passava dois anos que perdera o pai e pelas mesmas circunstâncias.
_ Mamã pha! Porque ela fez isso? Esse assunto de ingerir veneno de novo? _
Questionava o Sr Jonas com as poucas forças que lhe restavam na sua debilidade
experimentava era dor no peito, ao ver a sua avó com rosto dormente, morrendo
agonizante e sem nenhum poder para mudar o quadro e trazer de volta a sua vida.
Esse é o mistério da vida. O homem só tem uma vida original. Não existem
rascunhos para ensaios. Desperdiçou-a ela escapa, destroçando irreparavelmente
_Obrigado por me avisar vovó. Embora não me sinto bem, irei sair ainda hoje para
_ Tchau.
_ Entra.
_ Bom dia chefe _ Saudava o Sr Jonas ao seu chefe com um ar muito apressado.
_ Nada bem chefe. Recebi notícias tristes de casa a pouco tempo. A minha mãe está
hospitalizada e num estado muito critico. Tenho que partir para Moçambique
urgentemente.
_ Que noticia triste Jonas. Que foi? Questionava Lezi de forma impulsiva e
dos prantos.
_ Amigo lamento muito por isso. Peço encarecidamente para tentar ser forte.
Espero que tudo dê certo e que sua mãe saía desta situação_ Lezi mostrava a sua
jamais fizera. Jonas era de uma personalidade muito reservada e com uma
outros, nalguns casos era suspeito de ter uma paranóide, até pelo seu grande
companheiro Lezi.
_ Amigo que está a fazer? Não precisa deixar as chaves comigo. Você nunca fez
isso antes e não será desta que iras fazer. Vai para casa e assim que terminar voltas
para cá.
_ Toma as chaves_ Insistia Sr Jonas, deixando cada vez mais desconfortável o Sr
Lezi, afinal de contas era uma atitude muito estranha e nem momento oportuno
para entender realmente o que estava acontecer. Sr Jonas agia como se nunca mais
_ Está certo. As suas chaves estarão bem aqui na minha gaveta, esperando a sua
_ Vai com Deus amigo. Até a sua volta. _ Os dois se abraçaram vagarosamente e
profundamente. Era tão notável o amor fluindo em altas dozes entre os braços,
peitos desses dois homens, prestes a se distanciar por motivos de força maior. O
_ Aló.
_ Eu não estou bem. A sua tia tentou se suicidar, tomou veneno e está clinicamente
critica. Preciso que me acompanhe para casa, pois não me sinto bem_ O Sr Jonas a
dias que não se sentia bem de saúde. Procurou o diagnóstico junto do seu médico
Labemo inconsolavelmente fazia uma rajada de questões, mesmo sabendo qua não
teria resposta, pois tanto ele como o Sr Jonas estavam longe de entender o cerne do
desastre, era mesmo atirar no escuro, procurar cabrito perdido em cima de uma
árvore elevada.
_ Eu também não sei Labemos, acabo de ter essa informação de casa._ Respondia
volta as origens, a terra que os viu nascer como dois cachorros banidos da alcateia
com os rabos entre as pernas. Angustia, dor, desânimo tomavam conta dos seus
ares. A viaje da RSA à Moçambique geralmente era feita num clima de satisfação e
ternura, ao saber que em breve iriam rever os seus prezados, por hora era um
terrível martírio.
Tudo o que os dois homens angustiados queriam, era entender a situação, ter
esclarecimento das suas muitas perguntas, bem como torcer por um milagre divino.
Afinal a pessoa de uma mãe na vida de qualquer que seja, ocupa um relevo de
único ser que deu a sua vida por ele. Afinal uma mãe é uma criatura incumbida
pelo criador a maior função de mostrar o amor. Deus em sua infinita inteligência
sabia o que estava fazendo, pois deu o amor que mais se aproxima dele: um amor
Em 09 (nove) meses de espera... Talvez Deus tenha pensado: vou dar todo esse
tempo para que tenham paciência do encargo que chega... E são meses de
dia do encontro, da ansiedade de ver a carinha do anjinho que chega, também é dia
beleza da vida.
Como bem disse Barbosa Filho << Ser mãe é assumir de Deus o dom da criação,
amor divino.
Todas essas epopeias e virtudes sobre o valor de uma mãe, passavam em câmara
lenta no pensamento do Sr Jonas. Afinal ele amara sua mãe de forma incondicional,
tendo até acusado pelo seu falecido pai, obviamente num claro ciúme barato de
_ Mãe! Porque fez isso? _ Questionava entre soluços o Sr Jonas, ao mesmo tempo
que tentava esconder a sua dor em meio a uma viagem no carro público.
_ Tudo vai ficar bem. _ Ganhava uma certa coragem o Sr Labemos, ao tentar a
odre velho contendo o vinho novo. Não era o lugar, embora fosse o momento.
Nessa hora da dor, tudo o que se podia usar era o falso ego machista, ensinado aos
incontinentes e mimadasfossem.
**
da safra no seu celeiro, sentou na sua poltrona com os pés apoiados no seu
pronunciou as seguintes palavras: “…”. O que ele não sabia era que naquela mesma
No relógio dava zero horas no período do inverno. Na longa sala pintada de branco
denunciando que nos encontrávamos não muito longe da zona costeira. Todos os
acabava de deixar no eterno descanso a sua avó, e a dois anos atras fe-lo repousar
amargamente o seu tio e avo. Decerto a experiência com a doença na mente dele
anormais do suor, e sem poder fazer nada, a esperança de ver o pai melhorado era
remoto.
. No pensamento do Vandro, era o momento para essa conversa. O pai poderia falar
forma de palavras de sabedoria, como aquelas que o rei David falou para Salomão,
aquelas que Jesus falou para seus discípulos nas vésperas da morte.
_Sim! Podemos filho. Respondia o Sr Jonas com uma voz debilitada pela dor física
que sentia.
_Amanhã vai para Escola. Respondia o Sr Jonas sem pensar duas vezes.
_ Mas como é que podia ir para Escola, deixando o Pai numa situação como está?
Como teria eu a moral de estudar nessa condição Pai! Numa tentava fracassada,
Vandro instigava o pai a revelar a vida, o saber, o tesouro naquele homem tão
discreto e conservador.
A última vontade que o Pai tinha para o filho, nas últimas palavras, e na última
_ Passadas duas horas, após a tentativa fracassada do Vandro, para conversar, eis
que o Sr Jonas pedirá caneta para escrever alguma coisa, mas contra a sua vontade
Afinal, como isso aconteceu? O que estava acontecer? Vamos recuar algumas horas
do dia 12/10/2009.
_Alo cunhado Nado. Como está?_ Ligava de Zavala todo agitado o Nado, com
_ Cunhado não trago boas noticias. Por isso irei-lhe pedir para ser forte, o assunto
que trago não é simples de gerir. Nesse momento o coração do Vandro batia a uma
velocidade estrondosa, afinal foi avisada que a avó tomara veneno naquela manhã
fria do dia doze, no entanto o Vandro tinha fé que a sua avó sairia do perigo.
_ Que foi cunhado? Perguntava o Vandro, ao mesmo tempo que ficava estático.
volta das suas vistas a uma velocidade do disco de Newton, uma dor indolente no
_ Aló, aqui é o Xavier, o Vandro não pode falar agora. Xavier decidiu pegar o
_ Está bem. Irei tomar as devidas precauções. Pode ficar sossegado que estarei com
ele.
_ Muito obrigado.
_Leo, Leo, Leo; Costa, Costa… Venham aqui por favor, venham aqui por favor _
comboio de cubatas1 feitas de caniço nas paredes e macute o teto. O tio António
da Província.
_ O que aconteceu questionava mais uma vez o Leonel. _ Nesse exacto momento a
sala, cozinha e quarto estava abarrotada de gente que viera em diversos cantos do
1
. As cubatas são residências típicas da cidade de Inhambane.
_ Vandro desmaiou. Ele está desmaiado. _Pontuava o Custódio com uma
convicção.
_ Apliquem-lhe o alho na palma dos pés e nas mãos. Neste momento de palpites de
jovens feitos anciões pela ocasião, um corpo masculino possante, abria as alas em
direcção ao corpo inerte do Vandro estatelado no chão, acompanhado por uma voz
experiente que rasgava o ar de preocupações sem soluções que tomava conta das
Em pouco tempo o alho estava pilado e pronto para ser aplicado. O Custódio com
_ Fiquei órfão! Fiquei órfão! Minha avó não! Minha avó não! Minha avo não.
Pranteava Vandro com uma voz tremula acompanhada de soluços intermitentes que
Se calhar os avos são considerados tão acessórios que não exigem um termo que
especifique a sua perda. Dos avós não se é órfão nem viúvo. De forma natural,
deixam-nos pelo caminho, como por distracção se deixam ficar, pelo caminho, os
guarda-chuvas.
_ Vandro! Vandro! Sou o tio António. Olha penso que se acalme meu filho.
_ Ela era tudo para mim. Minha avó era a minha mãe, foi ela quem cuidou de mim,
foi ela. Como é possível que isso tenha acontecido. Minha avozinha. Exponha
Vandro, ao mesmo tempo que batia-se no peito. Parece que as palavras do tio
fortes memórias. Os lamentos eram tão intensos, que mesmo o mais douto
forma de entronizar a dor, não era coisa dos orientais antigos desprovidos de
comentários.
_ A vovó Celeste foi quem cuidou do Vandro desde os sete anos quando os pais se
amor das avós tem um saber característico, nele só existe duas receitas: cuidar e
mimar os netos. É um amor diferente das mães que tem misturas do doce e azedo,
cuidados e disciplinas. A mãe-avo está sempre mais atenta e mais bondosa do que
uma mãe-mãe.
De novo florescer
É um filho açucarado
Summary d
In this research, I try to problematize the lived experiences of food in the context of
dialogue with the concepts: lived experiences, social representations, chronicity and
nutritional reductionism.
I try to analyze the experiences of eating in the context of diabetes, in those who
are under medical care. Through the ethnographic method, fundamentally based on
meanings built on food in the context of diabetes. I argue that the experience of
food lived by people with diabetes as a practice and meanings attributed by them,
(Continuaaaaa)