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Copyright © 2022 por Adriana Brasil

Todos os direitos reservados.

Revisão ortográfica: Sheila Mendonça


Diagramação Digital: Dayane Aldaves

É proibida a reprodução de parte ou totalidade da obra sem a


autorização prévia da autora.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela lei
nº. 9.610./98 e punido pelo artigo 184 do código penal.

Todos os personagens e lugares desta obra são fictícios.


Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas
terá sido mera coincidência.

Goiânia – GO
Edição digital | Criado no Brasil
Sumário
Epígrafe

Sinopse

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12
Capítulo 13

Capítulo 14

Capítulo 15

Capítulo 16

Capítulo 17

Capítulo 18

Capítulo 19

Capítulo 20

Epílogo
Epígrafe

Tenho que me apressar, o tempo urge. Não posso perder um


minuto do tempo que faz a minha vida. Amar os outros é a única
salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der

amor e às vezes receber amor em troca.

Clarice Lispector in Aprendendo a Viver


Sinopse

Louise é uma jovem e linda mulher. Ela é inteligente,


advogada e atraente, porém maluca. No passado, fez muitas

loucuras por causa do amor. Brigas, decisões erradas e cenas de


ciúmes fizeram parte de sua história com Alex que a deixou de

coração partido.

Agora, durante o casamento da sua melhor amiga, a qual

seria madrinha, ela teria que encarar o passado. Entretanto, ela não
estava preparada para isso, tomando assim uma decisão que
colocará a sua vida de pernas pro ar!

Fred, melhor amigo e colega de trabalho, vai ajudá-la a

passar por esse momento fingindo ser seu namorado. Por alguma

razão ela se sente totalmente envolvida pelo charme dele e pelos


beijos trocados, mas as coisas nunca foram fáceis na vida de Louise

quando o assunto são coisas do coração. Passado e presente em


um duelo acirrado, e ela vai ter que tomar uma decisão.
Capítulo 1

Há sempre alguma loucura no amor. Mas há


sempre um pouco de razão na loucura.
Friedrich Nietzsche

— Está maluca?

Seus belos olhos verdes me encaram completamente

chocados.

— Eu já disse que não gosto que me chame assim, Fred.

— E quer que eu diga o que então depois de me fazer uma

proposta dessas? Estou surpreso, Louise. Só isso.

Para mim não existe nada mais terrível do que ser chamada

de louca, maluca, doida, pinéu, mesmo porque a verdade dói pra

caralho. Entretanto, já deveria estar acostumada aos adjetivos, já

que os escuto desde criança. Admito que nunca fui uma pessoa

muito normal. Sou impulsiva demais, além de um pouco vingativa e


inconsequente. Corrigindo, eu era assim. Hoje me defino como uma
nova mulher.

Acho que toda essa coisa de ser meio maluquinha começou

de fato na minha infância. Quando eu era pequena sofri uma

enorme injustiça, talvez isso tenha ativado certa maluquice em mim,


digo isso porque foi depois que aprontei o meu primeiro ato de

insanidade que tudo desandou em minha vida. Se existe algo que

detesto é injustiça, por isso me tornei advogada.

Nos meus primeiros anos de escola a minha professora que

eu tanto admirava foi muito tirana comigo. Ela me deu um zero na


prova alegando que eu estava colando, quando, na verdade, era o

colega do lado que estava copiando as minhas respostas. Não

adiantou argumentar, chorar, implorar, invocar o nome dos santos

que era devota e passei a conhecer bem, pois, como disse, eu a

admirava demais. Nem o nome de Deus foi suficiente para

interceder por mim naquele momento de angústia e humilhação

infantil.

Pois bem, eu fiquei muito furiosa, magoada e isso ativou o

meu lado vingativo. Sabe aquele ditado que vingança é um prato

que se come frio? É verdade, pura verdade, nada mais do que a


verdade. Arquitetei um plano e levei a sério esse ditado. Esperei

meses até o Dia dos Professores chegar, arrumei uma caixa linda
de presente, decorada com fita de seda, e coloquei um sapo dentro

deixando sobre a mesa da docente injusta. Eu só não esperava que


ela tivesse batracofobia, já ouviu falar? Nem eu, não naquela época,
hoje sei que é fobia a sapos.

A mulher desmaiou e teve um princípio de infarto. Claro que


descobriram a delinquente juvenil culpada e nada do que eu disse

pôde me tirar dessa fria. Então minha mãe foi chamada e eu


convidada a me retirar da instituição de ensino. Ainda carrego
comigo o nome terrível de “a maluca dos sapos”, ainda bem que não

tenho muito contato com os colegas dessa época. Entretanto, fama


ruim te acompanha aonde você for.

Volto dos meus devaneios e encaro o papel pardo com letras


perfeitas e douradas em minhas mãos como se fosse uma sentença

de morte. Apesar de não passar de um lindo e elegante convite para


ser madrinha de casamento da minha melhor amiga que se casará

em breve. O envelope havia chegado com um colar de pérolas que


eu terei que usar no dia. Eu estava feliz por ela e seria uma honra
ser sua madrinha se ela não estivesse casando com o melhor amigo

do meu ex que certamente será um dos padrinhos.

— Preciso da sua ajuda, Fred. Por favor? — suplico fazendo

a minha melhor cara de coitadinha.

Estou a ponto de implorar de verdade. A quem eu quero

enganar? Eu já estou sim implorando, suplicando e apelaria para


coisa mais drástica como me ajoelhar diante dele, ou fazer

chantagem se fosse preciso. Sim, acho que chantagem adiantaria


muito, uma vez que sei alguns segredinhos sujos do meu colega de
trabalho.

— E o que eu ganho com isso? — inquire coçando o queixo e


me encarando com o cenho franzido.

Mercenário.

Frederico Dantas é um homem lindo. Tem o rosto que poderia

facilmente ser a cara de uma campanha de moda masculina, com


seu corpo atlético, olhos verdes e brilhantes, e um sorriso que é
conhecido como o famoso arranca calcinha. Lembro quando o vi

pela primeira vez no escritório, minhas pernas chegaram a tremer e


eu só não arranquei a calcinha porque sou muito profissional e
nunca, jamais, teria um casinho com um colega de trabalho. Apesar
de certa vez ter fantasiado fazendo um sexo louco sobre a minha
mesa. Ele deve ter percebido o meu interesse na época, pois

quando estávamos quase nos beijando ele olhou dentro dos meus
olhos e disse firme:

— Não vai rolar, Louise. Você é uma mulher linda, sexy, uma

tentação perigosa demais, e não nego que estou bem louco para
cair na perdição. Mas eu não posso te dar o que você quer. Além do

que não fodo colegas de trabalho, muito menos uma que prezo pela
amizade.

Sinto o calor da humilhação queimar meu rosto, como da vez


que eu era pequena e a professora tomou a prova da minha mão e

me presenteou com aquele zero épico que acabei de falar. É uma


grande surpresa ser rejeitada assim, ainda mais porque eu sou

esperta o suficiente para saber quando um homem está atraído por


mim, e pode acreditar, ele está na minha. Abro a boca para replicar,
mas nada sai.

— Não me leve a mal, eu gosto demais de você para estragar


a nossa amizade com sexo. Mesmo que eu tenha um enorme tesão

por você, a nossa amizade é mais importante e eu consigo controlar


isso. Além do mais, não passaria de uma única trepada. Eu não
namoro, não quero um relacionamento e...

Ergo a mão o impedindo de continuar seu discurso de

canalha machista filho da puta.

— Eu já entendi. Só para deixar bem claro, queremos as


mesmas coisas. E você tem razão. Seria um erro terrível. E só para
constar, eu nem sinto tanto tesão assim por você, já tive homem

melhor na minha cama, Frederico.

Mesmo que ele seja terrivelmente irresistível, eu jamais me

rebaixaria, e, mesmo que ele se ajoelhasse aos meus pés, eu não

cederia. E o que falei sobre ter um homem perfeito na cama é a

mais pura verdade.

Com o tempo aprendi a conviver com tamanha beleza e

atração sem me tornar uma boba deslumbrada pelo seu charme.


Além de tudo ele tem um senso de humor maravilhoso, é cativante e

tem uma genialidade incrível que certamente me deixaria

apaixonada e de coração partido, mais uma vez.

— Como assim o que ganha com isso? Não pode apenas


fazer um grande favor para a sua amiga e colega de trabalho
favorita que sempre te ajuda nas suas necessidades?

Coloco o convite sobre a mesa, apoio as mãos na cintura de

forma desaforada.

— Não, não posso.

Abro a boca para retrucar, mas ele ergue um dedo calando-

me.

— E nem vem com sermão, isso eu aprendi com você,

querida. Nesse mundo não levamos nada de graça de ninguém,

assim como aprendi a não dar. E nem vem com essa que tem
“necessidades” — ele diz fazendo aspas na última palavra —, que

você não pode me ajudar.

Reviro os olhos e suspiro fundo. Isso porque você nunca


quis, querido.

— Você é um mercenário, tem que lucrar com tudo?

Ele ergue as sobrancelhas bem-feitas esperando a resposta.

— Uma semana no luxuoso Hotel Villa Vissensa em

Jericoacoara, no Ceará, com tudo pago. E vou te substituir sempre


que você precisar nas audiências.
Observo seu semblante mudar, a surpresa surgir em seus

olhos verdes e seu sorriso encantador se abrir para em seguida se

fechar.

— Só isso?

— É sério, Fred? Como assim só isso? Estamos falando de

uma semana de pura diversão. Sol, praia, passeios, mulheres


lindas, se bem que as mulheres vão ter que ficar de fora.

— Hotel Villa Vissensa em Jericoacoara, no Ceará?

Sua pergunta me faz enxergar uma luz no fim do túnel. Ele

vai aceitar?

— Exatamente.

— Eu só teria que me passar por seu namorado apaixonado

durante a viagem que vai durar uma semana e me manter longe das
gostosas de plantão?

Esse é o ponto, isso eu tenho quase certeza que ele não vai

cumprir, pois as mulheres se jogam aos seus pés. O que é bem


irritante.
— Isso não deve ser muito difícil, eu sei que você tem uma

queda por mim — brinco piscando o olho.

— E você vai cozinhar para mim sempre que eu quiser?

Cerro os olhos e reprimo a vontade de mandar meu colega ir


se foder. Eu preciso dele, então é melhor que eu faça tudo que ele

quiser.

— Sempre que eu estiver disponível.

— Fechado!

— Obrigada, Deus! — grito erguendo as mãos ao céu.

— Não precisa exagerar no elogio, deus já é demais para

mim. Está certo de que sou lindo como um deus grego, mas não é

para tanto — brinca piscando um olho me fazendo revirar os olhos.


— Eu irei, mas com uma condição.

Eu sabia. É um mercenário mesmo.

— Qualquer coisa que quiser.

— Não diga isso, pode ser perigoso. Posso fazer proposta

muito indecente mediante as suas palavras. Como disse, eu tenho


uma queda por você, vai que peço uma noite de sexo quente.

— Desembucha, Frederico, qual a condição?

— Quero saber o que levou uma mulher linda, bem-sucedida

como você a fingir que tem um namorado apaixonado quando

poderia ter o homem que quisesse.

Mordo o lábio inferior sem querer entrar nesse departamento.


No entanto, eu sei que se trata de uma troca justa, ele tem mesmo

que saber um pouco da história para entrar melhor no personagem.

Além do mais, achei que seria algo muito mais difícil.

— Ok, vamos tomar um drink e contarei tudo — anuncio

animada pegando a minha bolsa sobre a mesa e indo em direção à


porta. — Só fique ciente de que será uma longa história e eu vou

precisar de muito álcool para conseguir relatar.


Capítulo 2

Chegamos ao pub que fica a duas quadras do prédio onde é

o nosso escritório. Já somos conhecidos no local, pois o final do dia,

das sextas-feiras principalmente, na maioria das vezes,


acabávamos nele.

— Olá, doutores, o que vão querer hoje?

Faço o pedido e João Lucas, o atendente, estranha a minha


escolha, pois sempre bebo cerveja, no máximo vinho se for uma

ocasião mais especial, e hoje peço de cara uma garrafa de uísque.

— Vou precisar de coragem líquida para contar um pouco do

meu passado para o Fred.

— Você sabe o que dizem sobre o passado? — inquire


direcionando para mim.

— Já ouvi algumas coisas, mas estou curiosa para saber de

você.
Eu adoro ouvir os relatos deles, sempre tem histórias
incríveis para contar e uma sabedora impressionante.

— Dizem que o passado nada mais é do que um fantasma

que às vezes vem assombrar nossas vidas, então o melhor é deixar

o passado lá onde ele deve ficar, no passado. Sem ressuscitar os


mortos.

— Sempre com sábias palavras, João.

Bato palmas e ele faz uma reverência antes de se retirar.

— Como se fosse fácil esquecer o passado assim. Muitas

vezes ele nos persegue, mesmo que tentemos enterrar bem fundo

— Fred fala meio nostálgico.

— Então você também tem uma história do passado? É por

isso que se tornou assim?

— Assim como? Pode me explicar? — Cruza os braços

diante do peito.

— Você é fechado. Não tem relacionamento amoroso,

apenas sexual, apesar de no fundo ser um cara incrível e daria um


namorado perfeito. Deve ter uma história por trás dessa sua aversão

a sentimentos.

— Eu não tenho aversão a sentimentos, posso te


surpreender com isso.

— Sei... Vai me contar a sua história?

— Não, hoje é tudo sobre você, lembra? E nem sempre as


escolhas de um homem têm a ver com uma história trágica,
traumática ou coisas desse tipo.

— Esperto, mas um dia quero saber a sua verdadeira

história, Frederico.

— Um dia, quem sabe.

Minutos depois, João está de volta com as nossas bebidas.


Pego o copo de uísque e viro de uma vez, volto a encher e entorno

novamente.

— Uau, vai devagar.

Fred coloca a mão no meu braço alertando-me.

— Acho que já estou pronta.


— Que maravilha. Sou todo ouvidos. Prometo que não irei te

interromper.

— Eu tinha 16 anos quando fui a uma festa na casa de

alguns amigos da escola. Eu queria ser uma garota normal, me


misturar com a turma e ser como eles. Eu era até bonitinha, mas
não era muito de me enturmar. Era insegura e tímida. Não gostava

das mesmas coisas que as garotas da minha idade, enfim. Naquele


dia eu inventei de tomar cerveja, eu nunca tinha realmente bebido

na vida. Primeiro, achei que não havia nada pior do que o gosto
daquilo, depois fiquei com uma vontade imensa de ir ao banheiro...

Anos antes

Estava cansada e quase mijando na roupa, não encontrava


banheiro disponível. Olhava para todo lado e tinha casal se
pegando, inclusive era um dos motivos dos banheiros estarem

ocupados. Não tive alternativa a não ser a de subir as escadas


apressadamente e entrar no quarto dos pais do dono da festa, lugar

que eu sabia que era proibido, pois ele tinha deixado isso claro
quando chegamos, mas não teve outro jeito, ou iria mijar na roupa.
Entrei no quarto, que estava em uma penumbra, estranhei
que a luz do banheiro estivesse acesa, estava meio tonta e nada
fazia sentido. Entrei no banheiro levantando a saia e puxando a

calcinha para o lado sem tempo de tirar, ou molharia tudo. Fiz xixi
com o tronco para frente e a bunda erguida para trás, porque era

óbvio que eu não sentaria no vazo de um desconhecido. Mesmo


que o banheiro fosse o mais limpo que já tinha visto na vida. Se não
fosse o desespero do momento eu teria limpado a tampa, ou

coberto com papel como sempre costumava fazer.

— Ufa! — exclamei aliviada.

A sensação era tão boa que fechei os olhos. Quando abri


novamente quase morri de susto. Agora me diga, quem em nome de

Deus em uma hora daquelas lembraria das palavras do professor de


biologia dizendo que o sistema genital masculino é composto pela

bolsa escrotal, testículos, vias espermáticas, glândulas sexuais e


pênis? Este último estava no seu estado normal de descanso,
pendurado, mas a coisa era enorme e assustadora mesmo nessas

condições.

— Caralho! — gritei arregalando os olhos.


Com o susto e a falta de equilíbrio causada pelo álcool,
tombei para frente caindo de cara no objeto do desconhecido.

— Minha nossa, cuidado!

O estranho me ergueu de volta feito uma boneca de pano.

Entretanto o órgão assustador ainda estava bem diante dos meus


olhos. Queria sair correndo, gritando, mas o que fiz? Fiquei
hipnotizada encarando a coisa mais linda, ops, feia que já vi na vida.

— Sinto muito, não tinha outro banheiro livre — disparei, eu


sempre falava demais em situações como essa. — Estava apertada,

bebi cerveja demais, não estou acostumada e acabei... bem, você

sabe. Não percebi que tinha alguém no banheiro, devo estar mesmo

muito bêbada. Deveria ter imaginado, a luz estava ligada, mas


estava tudo silencioso, ou minha mente está bloqueada para...

Meus olhos subiram por sua barriga tanquinho e peitoral


malhado. Finalmente encarei o rosto do estranho e paralisei

boquiaberta. O homem era lindo, brilhantes olhos azuis, nariz

anguloso, queixo quadrado e boca terrivelmente tentadora.

— Calma, está tudo bem.


Inclinou-se para pegar a toalha que estava bem atrás de mim

e enrolou na cintura. Cheguei a lamentar por isso. Queria conferir


mais um pouco aquela belezura que mesmo sob efeito de álcool

estava me fazendo lembrar das aulas de biologia do professor

Albanio. A anatomia masculina era mesmo algo fascinante. Como


ficaria se estivesse duro? Ele se importaria se eu tirasse uma foto?

— O que disse?

— Eu disse?

— Sim, você disse.

— O que eu disse?

Ele disparou em uma gargalhada gostosa.

— Você é engraçada.

Seu sorriso era lindo. Ele tinha os dentes de baixo um pouco

irregulares, o que era um charme.

— Preciso ir. — Levantei arrumando a roupa de forma

atrapalhada.
Eu estava agindo feito uma doida, ainda mais do que o

normal.

— Sinto muito. Não quis te assustar.

Ele não assustou apenas, me encantou, me destruiu para

toda e qualquer experiência sexual, pois passei os quatro anos

seguintes sonhando em como seria beijar sua boca, tocar seu


corpo, sentir seu pau. O quê? Uma virgem também tem

pensamentos impuros. Nem vem.

Alex tinha 23 anos, estava tomando conta dos sobrinhos


festeiros enquanto o irmão viajava a trabalho. Ele não viu problema

em deixar os amigos se reunirem na casa do irmão, entretanto,

confessou que não imaginava que a pequena reunião se tornaria


uma grande festa.

Ficamos conversando no jardim enquanto a festa rolava

solta. Ele era inteligente, engraçado e bem diferente dos meninos


babacas que eu tentava tanto me enturmar. Em certo momento ele

me encarou de forma intensa e juro que pensei que ele iria me

beijar, mas nada aconteceu. Ele foi muito respeitador, o que


lamentei durante muito tempo. Fui embora sem conseguir tirar o

homem da minha cabeça.

Nós nos encontramos alguns anos depois. Naquela época o

meu siso ainda não tinha nascido, e resolveu protestar bem no dia

que teria uma entrevista de estágio no lugar que sempre sonhei


trabalhar, mas a Maria Cristina, pessoa que me entrevistaria não

entendeu o meu problema e cancelou sem possibilidade de

remarcar. Eu estava nervosa, agitada e com dor, muita dor. Meus


olhos ardiam de raiva e acabei mandando uma mensagem para a

minha amiga contando o que aconteceu, ela respondeu:

“Ouça esse áudio e vai descobrir que seus problemas podem


sumir como um passe de mágica. Precisa esquecer a Maria Cretina

e focar no que importa. A vida tem muita coisa boa para te oferecer.”

Revirei os olhos. Odiava mensagens de benfazejas, dessas


que dizem: “você vai conseguir”, “se não deu certo, não era para

ser”, “o melhor está por vir”. Quase ignorei. Quase, pois a

curiosidade me fez clicar para ouvir.

Sabe aquele momento que você paralisa, depois tenta

desligar o áudio, ou baixar o volume e nada acontece? Atrapalhada,


deixei o celular cair enquanto uma voz feminina ecoava pelo

consultório odontológico.

— Ah, ah, ah.

O som mais apavorante que já ouvi na vida. Parecia cena de

filme pornô, daqueles que a mulher grita mais do que realmente está

sentindo prazer. E nem vem, uma virgem também assiste essas


coisas, a curiosidade fala mais alto.

— Ah, ah, ah. Oohhh! Yes, yes, fuck me!

Constrangida e desesperada, abaixei para pegar o aparelho e

acabei chutando o infeliz para longe.

— Caralho! — exclamei mais alto do que desejava. — Opa,


desculpe pessoal.

Alguém pegou o demônio barulhento e estendeu em minha

direção, a mulher não parava de berrar.

— Ho! Ho! Baby, fuck me! Yes, yes!

Estava tão envergonhada que quase joguei o aparelho pela


janela se os gemidos não tivessem parado por eles mesmos

indicando que o maldito áudio havia chegado ao fim. Suspirei


aliviada, entretanto a mensagem automática que veio a seguir foi

muito pior.

— Trepar, amiga, é disso que você precisa. Foder até perder

o juízo. Meter gostoso, gozar muito, vai ver como seu humor vai

melhorar. É de pau que você precisa, amiga.

O homem a minha frente sorriu. Sorriu não, gargalhou. Uma

risada gutural, daquelas que vêm do fundo da alma enquanto eu

colecionava mais um momento constrangedor na minha lista.

Essas coisas só aconteciam comigo. Definitivamente era a

rainha do constrangimento e das situações vexatórias.

— Se quiser posso me candidatar para tirar o atrasado,

Louise.

Ergui os olhos e lá estava ele, o homem que não via desde


minha adolescência, o mesmo que habitou meus sonhos eróticos,

que atrapalhou todas as minhas possíveis experiências sexuais

passadas e futuras. Alex Grande estava ainda mais lindo do que


lembrava. Ok, lembrava mais do pau dele do que da pessoa em si,

mas ninguém podia me culpar por isso. Era inesquecível, meu

sonho de consumo.
Quando nos reencontramos no consultório eu estava com 21
anos e virgem, mas com idade suficiente para não ser vista como a

menininha que se assustou com a visão do fruto proibido.

Trocamos telefone, no dia seguinte ele me convidou para sair.


Durante o nosso encontro ele confessou que naquela noite, há cinco

anos, não tentou nada por conta da minha pouca idade e da

situação vexatória que nos conhecemos, mas que não saí de sua
cabeça.

Tornei-me uma mulher apaixonada, amiga leal, namorada

dedicada, porém egoísta, ciumenta, neurótica até a raiz dos


cabelos, desconfiada e ainda mais louca a ponto de fazer coisas

que me envergonhava profundamente. O único culpado era ele.

Com o passar dos anos as coisas começaram ficar estranhas


entre nós, eu vigiava seus passos e agia insanamente. Alex era um
publicitário renomado, criava campanhas de sucesso, vivia no meio

de mulheres lindas de morrer. Isso acabava comigo e levava a


brigas terríveis. Eu chorava, pedia perdão e jurava que nunca mais

faria algo semelhante a rastrear seu celular e aparecer do nada nas


reuniões. Bisbilhotar seu e-mail, conta telefônica e coisas desse
tipo. Puxar os cabelos das modelos e jogar dentro de piscinas, ou
furar o pneu do seu carro e arranhar a lataria.

Por causa do ciúme doentio eu terminava o namoro alegando

que ele havia me traído, depois via a besteira que tinha feito e me
arrependia, ia atrás chorando, implorando por perdão, e ele
perdoava. Entretanto, eu voltava a fazer tudo novamente. Era um

círculo vicioso. Na última vez que terminei, Alex não quis voltar,
partindo meu coração.

Eu fiquei devastada, não sabia lidar com a rejeição, então,


como vingança – já disse que era uma pessoa vingativa – peguei
sua maior paixão, o Audi R8 prata, mirei as paredes de vidro da

agência e entrei com tudo causando o maior transtorno e prejuízo.


Foi a gota d’água, ele ameaçou chamar a polícia e mandar me
internar no hospício.

Foi então que percebi que havia ultrapassado os limites,


desapareci para sempre da sua vida. Mudei de cidade e só voltei
dois anos depois, foi quando comecei a trabalhar no escritório de

advocacia. Evitei todo tipo de contato com ele depois que voltei, até
me afastei dos amigos, exceto da Lucinda que sempre respeitou a

minha decisão, apesar de não concordar. O que nem era


necessário, pois ele tinha se mudado para Londres por causa de
uma proposta de trabalho, então ele vinha poucas vezes ao Brasil,
pois ainda tinha a agência aqui.

Finalizo a história, Fred me encara como se eu fosse outra


pessoa. O que no fundo era verdade. Depois de todo esse tempo e

de anos de terapia, eu me considero uma nova Louise.

— Inacreditável. Não vejo você fazendo nada dessas coisas

que acabou de relatar.

Se ele soubesse do que sou capaz...

Opa! Espera aí, eu era. Só usei o verbo no tempo errado.


Como disse, a terapia me ajudou muito e me entender e me amar
em primeiro lugar.

— Eu sei, nem eu acredito. Só que quando estou em um


relacionamento eu me transformo na pessoa mais ciumenta da face
da Terra. Sou muito desconfiada e possessiva, insegura, entre

outras coisas. Viro uma mulher controladora e totalmente


descontrolada. Já faz três anos que tudo aconteceu, fiz terapia
durante muito tempo. Tenho certeza que Alex está com alguém. Não
quero passar pela vergonha de reencontrá-lo sozinha, seria
humilhante.

Fred segura minha mão carinhosamente.

— Estarei com você.


Capítulo 3

Desligo o notebook apressadamente enquanto falo com a

minha amiga Roberta que me acompanharia na escolha do vestido

para o casamento que será em apenas duas semanas.

— É sério, Louise, não posso mesmo ir com você, estou

vomitando até as tripas, fora que se ficar dois minutos longe do vaso

sanitário é capaz de fazer cocô nas calças mesmo.

Faço uma careta de nojo pela cena que se forma em minha

cabeça.

— Já procurou um médico? Isso pode ser sério.

— Acabei de chegar do hospital, peguei uma virose, ele disse

que passa em sete dias, mas até lá tenho que ficar em repouso.
Além de tudo, estou com febre alta.

— Tudo bem, melhoras para você. Se precisar de alguma

coisa me avisa.
Digo com sinceridade, pois ela mora sozinha e deveria estar
precisando de cuidados.

— Tudo bem, minha irmã veio para ficar comigo. Não tem

como marcar para outro dia mesmo?

Estou colocando o computador dentro da pasta quando o

Fred entra na sala com as mãos nos bolsos da calça escura.

— Infelizmente não. Foi um custo conseguir horário na

Maison, mas não tem problema, eu vou sozinha. Um beijo, tenho


que desligar. Se cuida e qualquer coisa me liga.

— Ei, espera...

Desligo a chamada e encaro meu colega de trabalho. Tenho


certeza que o desespero está estampado na minha cara.

— Posso te ajudar? — pergunto, mas querendo gritar que era

eu que precisava da sua ajuda, mais uma vez.

— Estava pensando em tomar um drink, hoje foi um dia

cheio, vamos comigo?

É costume nas sextas, sairmos com algumas pessoas do

escritório para tomar um drink depois do expediente. A minha vida


social se resume a isso, um pub no final da rua com os colegas de

trabalho que mais tarde iriam para suas casas ou esticariam em


algum outro lugar, enquanto eu vou para casa enfiar a cara no

trabalho.

— Eu não posso, marquei de provar alguns vestidos às 18h e


já estou bem atrasada.

— Quer que eu vá com você? Ouvi que sua amiga não vai

poder ir.

Dou a volta na mesa e paro de frente a ele.

— Jura? Faria isso por mim?

— Louise, isso não seria novidade. Sempre faço tudo por


você.

— Você é o melhor amigo e colega de trabalho que alguém

pode ter. Vai ser ótimo, ainda mais se me der uma carona na sua
moto, como eu disse, estou bem atrasada. Me diz que veio de moto,
hoje, por favor — imploro ajeitando a bolsa Gucci no ombro

esperando a sua resposta.

— Sim, estou de moto.


— Graças a Deus, vamos?

— Preciso pegar a minha carteira e o capacete reserva na


minha sala.

— Vou chamando o elevador.

Fred sempre deixa um capacete no escritório, pois às vezes

saímos para almoçar e com o trânsito terrível de São Paulo, moto é


o transporte mais rápido. Embora não considere muito seguro.

Lembro a primeira vez que andei na sua garupa. Quase


infartei, gritei feito uma desesperada, depois quase matei o Fred,

pois tive muito medo de suas costuradas no trânsito. Com o tempo


acabei acostumando. Na verdade, acabei me apaixonando por duas

rodas e o som potente do motor, a sensação de liberdade. Até


peguei algumas aulas com ele, embora Fred tivesse tanto ciúme de
sua Kawasaki Ninja ZX-10R e nunca me deixava pilotar sem ele

estar atrás comandando tudo. Eu desconfiava que ele gostava de


ficar me agarrando pela cintura, apesar de ele negar até a morte.

Chegamos rapidamente à loja, desço e o entrego o capacete.


— Eu vou entrando enquanto você guarda a moto no
estacionamento, a entrada fica do outro lado.

— Ok, senhorita.

Mostro a língua para ele e subo as escadas correndo. Eu


odeio atrasos, então evito fazer com que os outros esperem por

mim. A porta se abre e uma moça vestida em um terninho rosa e


uma blusa de seda em um tom mais claro me saúda com um sorriso

doce.

— Bem-vinda, você deve ser a Louise.

— Oi, espero não estar muito atrasada.

— Não, bem na hora, vou acompanhá-la até a sala dos


vestidos das madrinhas.

— Um amigo veio comigo e está no estacionamento. Quando

ele chegar pode pedir para ir até lá, por favor?

— Claro.

— O nome dele é Frederico.


O La Maison et Rose fica em uma casa muito elegante de
dois andares. Subimos as escadas para o andar das madrinhas e
me deparo com uma enorme sala com sofás aconchegantes na cor

creme, tapetes que davam vontade de deitar e rolar por toda a sala.
Araras e manequins estão em volta exibindo vestidos lindos que

devem custar uma pequena fortuna.

— Louise, seja bem-vinda.

Sou recebida alegremente por uma mulher linda. Pelo visto

nesse lugar só trabalha modelos.

— Obrigada, você deve ser a Alana, reconheci sua voz.

Ela sorri e antes que ela possa responder, ouço uma voz
aguda gritar meu nome.

— Louise? É você mesma?

Giro o corpo e dou de cara com uma loira estonteante.

Victoria é prima do Claudio, noivo da Lucinda.

— Oi, Vic, como vai?

— Estou bem, vim fazer a última prova do meu vestido. Ficou

um espetáculo. Você deve ter vindo provar o seu, não é? Eu escolhi


um modelo exclusivo, então ficou meio largo porque perdi peso para

o casamento, a moça teve que marcar para apertar. Se não fosse


isso eu colocaria para você ver. Estou curiosa para ver o seu, já que

é a melhor amiga da noiva, responsável por ela estar se casando

com meu primo, obviamente que o seu deve ser ainda mais
exclusivo.

Fico pensando em que momento ela me deixaria falar, pois

ela dispara e ninguém consegue desligar. Lanço um olhar meio


desesperado para a vendedora e ela intercede por mim.

— Louise ainda vai escolher o vestido dela, como está bem

próximo...

— Você é louca? Como assim? Não vai dar tempo de fazer

— interrompe levando a mão à testa de forma dramática. —

Impossível.

— Tenho certeza que aqui tem vestidos perfeitos já prontos,

ajustes é fácil de fazer, como você mesma disse, o seu vai ter
alguns. Então se me permite, vou começar a experimentar.

— Se quiser posso ficar, eu já estava de saída, mas fico para

te ajudar. Sempre levo alguém comigo para me auxiliar na escolha.


Você deveria ter feito o mesmo e não ter vindo sozinha. Uma

segunda opinião é sempre bom. Às vezes não vemos certas coisas,

como...

— Ela não está sozinha — a voz do Fred interrompe o

monólogo da tagarela. — Desculpa a demora, amor, estava em uma

ligação.

Victoria abre e fecha a boca surpresa. Provavelmente

impressionada com a beleza do moreno de olhos impressionantes

que me enlaça pela cintura e deixa um beijo em minha testa.

— Está tudo bem, esta é a Victoria, prima do Claudio, o noivo

da Louise.

Fred estende a mão para ela de forma educada sem soltar a

minha cintura. Confesso que seu toque fez um arrepio percorrer

todo meu corpo.

— Olá, eu sou Frederico, namorado da melhor amiga da

noiva — fala de forma divertida.

Eu o imagino piscando um olho nesse instante. Uma coisa


que ele adora fazer, e que o deixa terrivelmente sexy. Eu confesso
que fiquei caidinha por essa piscada, mas ainda bem que foi só por

um tempo e passou rapidinho.

— Bem, estou vendo que não precisa mesmo de mim,

Louise. A opinião de um homem vale dez vezes mais do que de

uma mulher, não é mesmo?

Sinto vontade de revirar os olhos com a forma derretida que

ela sorri e seca o “meu” homem com os olhos.

— Devo discordar de você. Pois nós mulheres nos vestimos

para impressionar outras mulheres, quando nos despimos aí sim é

para impressionar os homens — digo sorrindo.

— De fato. Minha namorada entende das coisas. Não importa

muito o que está vestindo por cima. Importante mesmo é o que tem

por baixo. E se não tiver nada, melhor ainda.

Vejo a Victoria corar e morder o lábio inferior.

— Ok, a conversa está boa, mas não posso segurar as


meninas aqui muito tempo. Se quiser ficar, Vic, não haverá

problema algum, vou adorar a sua companhia. Se não, te vejo


depois — me inclino beijando seu rosto —, agora preciso mesmo

começar a provar os vestidos.

— Está certo, eu vou indo. Fred, espero que vá também ao


casamento.

— Estarei lá com a minha garota, pode apostar.

Vejo Victoria sorrir de forma enigmática. Provavelmente todo


mundo vai ficar sabendo que eu e Fred estamos juntos em menos

tempo do que esperava. Sigo a vendedora deixando os dois para

trás.

— Separei alguns modelos de acordo com o que me pediu,

apesar de já está em cima da hora, se quiser que confeccionemos


algo exclusivo, posso fazer um esforço para isso acontecer.

Sugere me estendendo um dos modelos.

— Acho que vou encontrar algo aqui, talvez precise de um


ajuste ou outro, mas senão a gente vê como faz. Não deveria ter

esperado tanto.

Saio do provador virando as costas para ela fechar o vestido


para mim. Olho no espelho e adoro o resultado. Ficou maravilhoso,
o decote vai até a cintura onde ele ganha volume na saia, além de

ter uma fenda na perna que dá um charme ainda mais sensual.

— Uau, espero que seu namorado não se importe com o

decote. Ficou perfeito em você.

— Ele vai adorar.

Ergo a saia e sigo para a sala onde encontro Fred sentado no

sofá, concentrado digitando algo no celular. Pigarreio e dou uma


voltinha com as mãos na cintura. Quando volto a ficar de frente o

vejo de boca aberta me encarando.

— Acho que já temos o vestido, não precisa provar mais


nada, esse está perfeito.

Seguro a saia e puxo para o lado revelando a minha perna

até quase a altura do quadril.

— Sério? Não achou muito ousado?

Seus olhos fixam na minha coxa exposta. Ele parece ter


perdido a fala. Eu o vejo engolir em seco antes de falar. Ele inclina o

corpo para frente apoiando os braços nas pernas torneadas.


— Quer saber mesmo o que eu achei? Acho que você vai
atrair mais olhares do que posso ser capaz de lidar. Entretanto, não

posso negar que esse vestido foi feito para você. Está divinamente

linda.

Ele realmente entrou no personagem, seu olhar está cheio de

encantamento, desejo e admiração.

— Exatamente, e nem precisa de ajuste — a vendedora fala

empolgada. — Foi feito exclusivamente para você, e é um dos

modelos exclusivos da loja, a noiva escolheu em seu nome. Ela até

sabia as suas medidas.

Minha nossa, o que esse povo tem com essa tal de

exclusividade? Um vestido que vou usar provavelmente uma única

vez não precisa ser exclusivo. Só não fui a uma loja qualquer
porque a noiva fez questão de que os tons sejam iguais e dessa
loja.

— Mas é claro, só podia ser a Lu, só quero ver se ela vai

pagar por isso, nem quero saber quanto custa, ainda — reclamo
insatisfeita. — Tudo bem, vamos experimentar o outro.
Falo só para contrariar a Lucinda, mesmo que ela não esteja
aqui. Minha amiga me conhece tão bem que sabe que eu deixaria
para a última hora, então cuidou de tudo para que eu não ficasse

menos que perfeita. Mesmo tendo tanta coisa para fazer, ela teve
todo cuidado de escolher o modelo mais lindo do mundo. Sigo para
o provador e coloco outro, um pouco mais discreto, com um decote

nas costas. Volto para a sala e Fred faz um bico repuxando a boca
bem-feita para o lado em desdém. Reviro os olhos e volto para o
provador. No sexto vestido eu desisto assim que viro de frente para

o espelho e admito que nenhum outro vai chegar aos pés do


primeiro.

— Ok, já chega, Lucinda, a noiva neurótica tem razão, o que

ela mandou fazer para mim ficou perfeito.

A vendedora sorri e me ajuda a despir-me. Volto para a sala e

Fred me encara de cenho franzido.

— Vou levar o primeiro mesmo.

— Ótimo, agora a gente pode sair e aproveitar o resto da


noite — comenta piscando de forma sugestiva para Alana. — Agora

vem a melhor parte, a que tiro a sua roupa.


A vendedora sorri tingindo as bochechas de vermelho. Esse é
o efeito Fred nas mulheres. Reviro os olhos com uma pontada de
ciúme que prefiro ignorar e estendo a mão em sua direção.

— Vamos engraçadinho.

Na hora de pagar parcelo o vestido em suaves prestações


para não perder o costume, e porque ele realmente custa uma nota.
Vou embora na garupa da moto do Fred, maravilhada com o seu

perfume gostoso que sempre me deixa um pouco zonza.


Capítulo 4

— Estou muito feliz por você, Lucy — digo à minha melhor

amiga enquanto aceito dois copos da garçonete à nossa frente.

Estamos na festa de despedida de solteira organizada por


mim. Escolho uma boate normal, nada de strippers nem gogo boys.

Foi um acordo entre os noivos e eu mais do que rapidamente

concordei. Apesar de que não seria nada mal um pouco de diversão


mais ousada.

— Eu ainda não consigo acreditar que realmente vou me


casar, Lou.

Ela sorri jogando a cabeça para trás, fazendo seu cabelo

escuro parecer brilhar ainda mais com o efeito das luzes. Seus

olhos verdes são fontes de radiação de felicidade quando ela

estende a mão para olhar para o grande diamante em seu dedo


anelar. Eu soube no momento em que vi Claudio e ela juntos pela

primeira vez que existia um fogo que nada e nem ninguém poderiam

apagar. Eles nasceram um para o outro. Eu não poderia estar mais


feliz por ela, pois o noivo era exatamente o tipo de homem o qual eu
própria escolheria para casar.

Claudio é doce e compreensivo, sempre tenta me aconselhar

em relação ao meu relacionamento com o Alex, seu melhor amigo.

Faz de tudo para abrir meus olhos para as besteiras que estou
fazendo, talvez se tivesse escutado algum dos seus conselhos, não

teria fracassado tanto na vida amorosa.

— Tenho certeza que vocês serão felizes para sempre. Um

brinde ao amor verdadeiro.

Eu levanto meu copo em direção ao dela que sorri e fazemos

o brinde.

— E que você também tenha o seu felizes para sempre —

completa.

É o que mais desejo, embora seja um sonho distante, mas

ela não precisa saber disso. Não agora.

Nossas taças se tocam e em seguida bebemos o líquido de


gosto estranho. Talvez fosse o efeito das palavras dela. Fico feliz

por ela não ter mais tocado no assunto do Alex ainda estar solteiro e
que nós dois estamos destinados a ficar juntos. Ela ainda tem

esperanças que mesmo depois de tanto tempo a gente se acerte,


mas eu sei que as únicas coisas que Alex sente por mim são raiva,

desprezo e mágoa. Nada pode consertar as besteiras que eu fiz.


Posso até ter sido o motivo de trauma em sua vida, pois depois de
ter uma namorada como eu certamente ele se manterá longe de

relacionamentos. Por isso Alex é assunto proibido entre nós.

— Espero que esse tal de Fred saiba o verdadeiro valor que

você tem.

— Ele sabe, pode apostar.

Eu não estou nada satisfeita em mentir para a Lucinda, mas


se contasse que estou levando Fred para servir de muletas, ela não
concordará e fará o maior escândalo. Uma mentirinha de nada de

vez em quando não faz mal a ninguém. E eu farei de tudo para não
estragar os dias perfeitos da minha amiga.

— Vocês duas vão ficar de segredinhos aí? — Victoria grita

bebendo a bebida do meu copo. — Vamos, venham se divertir,


dançar um pouco. Não foi para isso que viemos?

— Você tem razão, Vic.


Sorrindo me levanto e arrasto a noiva para a pista de dança.

***

Acordo com o barulho estridente do meu celular na mesinha


ao lado da cama. Coloco o travesseiro cobrindo a cabeça, mas ele
desparece em segundos. Não o som terrível, mas o travesseiro que

estava servindo de barreira contra o fenômeno acústico que está


perfurando o meu cérebro.

— Oi, Frederico? É a Lucinda... sim, foi bem divertido. Sua


namorada bebeu todas e está ignorando a sua ligação.

Olho para ela sacudindo a cabeça sem acreditar. Depois da


despedida viemos para o apartamento dela. Prometi que a ajudaria

a terminar de empacotar as coisas que levaria para a sua nova


casa, uma mansão em um condomínio de luxo. Não teria bebido
tanto se tivesse me lembrado desse pequeno detalhe.

— Me dê esse telefone aqui, Lucinda, agora.

— Outro, te espero no grande dia... pois é, não vejo a hora.


Ela me estende o celular.

— Oi, Fred.

— Não seria melhor dizer, oi, meu amorzinho?

Começo a rir da sua tentativa de imitar a minha voz.

— Já com saudade, meu amorzinho?

— Muita, estou ligando para lembrar do seu compromisso de


fazer o meu jantar hoje.

Mordo o lábio e percebo que Lucinda mantém os olhos

grudados em mim. Provavelmente está desconfiada de que meu


relacionamento com o Fred não passa de uma grande mentira.

— Estou muito cansada para sair hoje, Fred, mas posso

preparar algo para nós dois. Ficamos em casa mesmo, o que acha?

— Perfeito, assim você me ajuda a redigir o contrato da Filind


& Pronient.

— Você é bem abusado, fez planos muito ousados, mesmo

eu dizendo que estou cansada?

— Devo te lembrar que trato é trato?


— Não vejo a hora. Até mais tarde, amorzinho.

Desligo o telefone sem esperar resposta.

Lucinda segue para o banheiro sem fazer nenhum


comentário. Onde estava com a cabeça quando disse que faria tudo

que Frederico quisesse? Pensei que talvez ele só fosse querer uma
noite de sexo quente, talvez fosse mais fácil.

Eu me jogo para trás sobre o travesseiro imaginando que

será um longo e cansativo dia.

***

— Você deveria arrumar uma namorada, assim ela viria

cozinhar para você em pleno domingo — sugiro colocando algumas


sacolas de compras sobre o balcão da cozinha de Fred. — Pensa

que não tenho nada melhor para fazer?

Passo no mercado para comprar algumas coisas que usarei

para fazer o jantar.


— Tem razão, você certamente tem alguma série para

maratonar, ou algum filme antigo para chorar durante horas, como


Uma Linda Mulher, Titanic...

— É isso aí — concordo apoiando os cotovelos no mármore

escuro da ilha.

— Como era mesmo o nome daquele que você estava

assistindo semana passada? Diário de uma Paixão?

— Para de falar mal dos meus filmes, eu sei que você adora.

Seu olhar desliza pelo meu vestido antes de se fixar em meus


olhos encarando-os profundamente. Faz algum tempo que eu sei

que esse é o jeito dele e não deveria interpretar de forma errônea a

forma quente que me olha, nem as coisas que fala. Eu

simplesmente ignoro. Ele sem dúvida é o rei da bipolaridade e dos


sinais distorcidos.

O apartamento que Fred mora fica na rua do Shopping Frei

Caneca. Ele se mudou recentemente para um prédio recém-


construído. É bem espaçoso para um homem solteiro. Ele mantém

tudo muito bem organizado e sua cozinha é de dar inveja em


qualquer um. Principalmente em mim que moro em um flat que mal

me cabe dentro e a cozinha divide espaço com a sala.

— O que acha de um drinque antes de você começar a


cozinhar? Estou com um vinho prontinho na varanda.

— Nós.

— O que tem nós?

— Você vai me ajudar, Fred.

Ele leva a mão à nuca massageando fazendo cara de

coitadinho.

— Pensei que fosse apenas assistir enquanto você cozinhava


e eu começava a preparar os documentos. E no nosso acordo não

consta que eu te ajudaria, espertinha.

— É mesmo? Por acaso tenho cara de sua empregada?

— Definitivamente não. Não com esse vestido — afirma

piscando um olho. Esse gesto o deixa ainda mais sexy.

O vestido eu tive que pegar emprestado da Lucinda, pois vim

direto da casa dela. Então realmente ficou um pouco tentador na


parte dos seios, já que tenho um pouco mais do que ela.

— Vai ser mais divertido e mais rápido se me ajudar no


preparo. Assim posso ter mais concentração no seu documento.

— Tudo bem — assente se aproximando. — Vou tentar, mas


devo avisar que nunca fui bom na cozinha.

— Isso eu sei muito bem, ou não estaria me explorando de

forma tão descarada.

— Não tenho culpa se você é excelente na cozinha, e a

melhor em redigir contratos.

— Vamos lá, engraçadinho, tenho certeza que você é capaz

de refogar alguns legumes.

Ele ri de lado.

— Qual é o nome do prato?

— Tagliatelle à Bolonhesa.

— Uau, impressionante. E o que é mesmo isso?

— É delicioso, é só o que precisa saber. A não ser que esteja


de dieta, então terei que mudar o prato.
— De forma nenhuma. Gasto muito tempo na academia para

poder ter esses prazeres na vida.

Instintivamente meu olhar se fixa no seu braço com músculo


definido, desce por sua barriga e para na sua bunda bem-feita.

Frequentamos juntos a academia algumas vezes, mas sempre faço

questão de olhar para qualquer lugar, menos para o corpo perfeito

dele.

— E eu pensando que era para enlouquecer as mulheres.

Ele solta uma gargalhada que ecoa por toda a cozinha e faz
algo se esquentar dentro de mim. Eu adoro a sua forma livre de

sorrir, é contagiante, por isso me vejo sorrindo junto com ele, e

claro, imaginando aquela bunda perfeita sem a calça jeans. O que


faz um calor subir por meu rosto.

— Quer dizer que te enlouqueço, Louise?

— Não mais, já estou imune ao seu charme, Frederico.

— Que pena. Permita-me — murmura esticando a mão na

direção do armário, bem diante de mim, roçando o antebraço na


parte superior da minha coxa, ao abrir a portinhola inferior.
Fico paralisada por um instante e um arrepio quente percorre

a parte inferior do meu corpo. Prefiro pensar que foi um toque


acidental, mas, ah, como o meu corpo reage. As pontas dos dedos

dele simplesmente tocam na gaveta cheia de utensílios, que desliza,

abrindo-se automaticamente, retira um saca-rolha de dentro.

Continuo parada, embasbacada. Não me lembro de ter visto nada


parecido. Nem com a reação que o simples toque tem, e nem com

uma gaveta tão bem-arrumada. É tudo automatizado, não precisa

puxar nada.

— Estou no paraíso — exclamo encostando a mão em todas

as partes da cozinha abrindo e fechando tudo feito uma doida

deslumbrada.

Fred fica observando cada gesto com um sorriso no rosto.

Como quem observa uma criança em um parque de diversão. Seus

olhos verdes me assombravam antes com a forma de me olhar


intensamente. Descobri com o tempo que é algo inato dele.

— Acho que eu também.

As palavras que deixam os lábios dele soam sinceras, como

se ele estivesse agradavelmente surpreso. Eu prendo a respiração.


Ele está flertando comigo?

Pare com isso, Louise. Concentre-se. Pense nos motivos de

você ter se tornado imune a ele. Primeiro, uma mulher diferente todo

dia. Segundo, nada de envolvimento, terceiro, te trata como uma


irmã. Então, nada de ficar se iludindo. Fora que você é

completamente apaixonada por Alex.

— Vou separar alguns legumes para você ir cortando. O

molho vai demorar um pouco para cozinhar, então podemos ir

redigindo o seu documento.

Eu lhe dou as costas e ambos nos pusemos a trabalhar, ele

abrindo o vinho, eu separando os ingredientes. Vou cantarolando

baixinho. Após alguns minutos, jogo os legumes na frigideira,

acrescentando azeite de oliva fazendo a frigideira chiar.

— Aqui, mexa isto para mim — ordeno. — Estou dourando a

carne e os legumes, e não quero que queimem.

— Sim senhora. Sabia que esse seu jeito mandão às vezes é

muito sexy? — Ele toma a colher de pau de minha mão e se


concentra na tarefa.
Sabia que você cozinhando é um fetiche perigoso? Penso
enquanto despejo o molho nos legumes e pego a taça de vinho
tomando um gole.

— Agora vamos lá, Don Juan. Vamos trabalhar no seu


contrato antes que eu fique bêbada novamente.

— Quer dizer que tomou todas ontem?

— Mais ou menos.

— Ficou com alguém? Nessas festas geralmente rolam um


pouco de diversão para a madrinha.

— Sim, acabei na cama alguém, com a Lucinda.

Ele solta uma gargalhada.

— Então aquela coisa de despedia comportada foi sério

mesmo?

— Claro que foi.

Começamos a trabalhar no documento, depois terminamos o


jantar. Faço comida suficiente para algumas refeições, ele só
precisará colocar no micro-ondas. Sentamos à mesa para jantar.
— Isso está delicioso, Louise. Você cozinha tão bem quanto a
minha avó.

— Obrigada, Frederico, o sonho de toda mulher é ser

comparada com a avó de alguém.

— Nesse caso deveria se sentir lisonjeada, minha avó é a


melhor pessoa do mundo.

— Sim, eu sei. Obrigada pelo elogio.

Conversar com Fred sobre o que quer que seja é muito bom.
Nem percebo o tempo passar. Já é tarde quando terminamos tudo e

eu enfim posso ir para casa, mas a verdade é que eu gostaria de


ficar mais um pouco em sua companhia.
Capítulo 5

Fred e eu chegamos ao aeroporto quase que no mesmo

instante. Não tivemos muito tempo para conversar antes de

embarcarmos. O voo é tranquilo e como estou bem cansada, acabo


adormecendo encostada no ombro do meu namorado de mentira.

Estamos agindo como um casal apaixonado, apesar de não

haver ninguém conhecido por perto, mas ele acha que devemos
começar a treinar, para já ir acostumando com o personagem. Só

espero que ele não se esqueça disso quando as mulheres

começarem a cair aos seus pés, como é de costume. O homem

parece ter um ímã.

Alugamos um carro para seguir viagem. Durante o caminho

vamos conversando sobre diversas coisas, música, cinema e eu

tento sutilmente arrancar alguma coisa sobre a vida secreta do Fred.

Mas ele sempre responde com evasivas e muda de assunto,


deixando-me com ainda mais curiosidade. Ele é o rei das evasivas.

Tudo que eu sei é que ele foi criado pela avó, pois quando nasceu
os pais eram muito jovens e precisaram deixá-lo com a avó para
estudar e trabalhar. Ele fala dela com muito orgulho.

Quando entramos no hotel, eu fico de cara com a beleza do

lugar. Apesar de ter ajudado Lucinda a escolher algumas coisas

relacionadas ao casamento, de fato não pensei que tudo seria ainda


mais glamoroso pessoalmente.

O quarto é elegante em tons sóbrios misturados com madeira

envernizada. É perfeito. Tem uma cama king size coberta por

pétalas de flores sobre a colcha. Tem uma varanda com piscina

privativa, duas cadeiras e uma espreguiçadeira. A vista é


espetacular de frente para o mar, o que compõe um cenário de

sonhos. Eu ficaria o dia todo só olhando tamanha beleza. O azul do

mar se funde com o céu igualmente azul e quase não consigo parar

de olhar.

— Acho que vamos ter que dividir a cama — Fred fala com

tom decepcionado.

— Poderíamos pedir uma cama auxiliar. Ou podemos usar o

colchão da espreguiçadeira.

— Claro, e você dorme todos esses dias nela.


Eu o repreendo com o olhar.

— Não, claro que não. Você vai ser um cavalheiro e me

deixar com a cama.

— Eu vou ser um cavalheiro e prometer não tocar em você,


mas nada de cama separada. Deixa de bobagem. A cama é

enorme. Tem bastante espaço para os dois. — Ele aponta para a


cama com as mãos na cintura. — A já sei, eu sou extremamente

irresistível e você tem medo de não conseguir se controlar perto de


mim? Porque eu não sou nenhum tarado para te atacar no meio da
noite.

Eu o encaro, chocada. Coloco as mãos na cintura pronta


para despejar um caminhão de palavras, mas escolho me calar.
Dou-lhe as costas e vou para a varanda.

Estou olhando para o mar, respirando o ar fresco e

maravilhoso e me fantasiando nua junto com Fred tomando banho


na banheira ao ar livre. Ouço portas rangerem ao serem abertas. Eu

me viro e me deparo com Fred.

— Esse lugar é lindo — falo como se não tivesse acabado de


discutir com ele.
— É sim.

Por morar em São Paulo, eu quase nunca tenho a


oportunidade de viajar para um lugar como esse. Já que dedico a

minha vida exclusivamente para o trabalho. Tirando as saídas com


os colegas para relaxar, eu sou uma mulher de ficar em casa
cuidando do meu cachorro chamado Luan e do meu papagaio, o

Gaio tagarela. Tive que levar os dois para morar com a minha mãe,
por conta do pouco espaço no meu apartamento. Eles estão mais

felizes lá com ela e todo o espaço da casa com jardim.

Sento em uma espreguiçadeira na sacada e ligo para Lucinda

para avisar que já estou no hotel.

— Lou, chegou? — atende com voz estridente.

— Oi, Lu, acabamos de chegar. Precisa de ajuda com alguma


coisa?

— Que maravilha! Estou passeando de lancha com meus


pais, você falou que chegaria mais tarde, só na hora da festa. Eu
teria ficado para te receber se soubesse.

— Devo ter errado o horário do voo. Desculpe.


— Sem problemas, vou pedir para voltar...

— Não faça isso, não quero atrapalhar o seu cronograma. Me


liga quando voltar e a gente se encontra.

— Está certo. Fred veio mesmo com você?

— Claro que sim, falei que ele viria.

— Sim, mas pensei que você tivesse reconsiderado. Ele sabe

do Alex?

— Sim, ele sabe.

— Toda a história?

— Beijos, Lu, vá aproveitar o seu passeio. E sim, ele sabe


toda a história.

Eu me sinto culpada por mentir sobre o namoro, mas ela

jamais concordaria. Minha amiga acha que eu tive culpa por causa
do rompimento com Alex, segundo ela, eu não deveria ter ido
embora, era só questão de tempo para ele me perdoar. Jura que

Alex não namorou mais ninguém depois de mim, e que se eu


tivesse ficado na cidade e não fugido como uma covarde, teríamos

resolvido as coisas. O fato é que agora ele me odeia.


— Vamos?

A voz rouca e melodiosa de Fred me desperta dos meus


devaneios.

— Vamos aproveitar um pouco o sol. O dia está lindo.

— Sim, está. Eu preciso me trocar — informo um pouco


envergonhada.

— Eu vou descendo e te espero no bar. Assim você fica mais

à vontade. Parece tensa comigo aqui.

Jura? Será que é porque você é lindo, sedutor e eu ainda

tenho uma leve quedinha por você, mesmo que não queira?

Ele está vestido com uma bermuda de tecido leve azul e

camiseta branca, nos pés chinelos de praia, ainda assim exala

beleza.

— Obrigada, não vou negar que é uma situação bem

estranha dividir um quarto com um homem, mesmo que seja você.

— Mesmo que seja eu? Explique-se Louise.


— Você entendeu, somos amigos e nada vai rolar. Vou

colocar um biquíni e já te encontro lá.

— Se precisar de ajuda eu posso esperar, sei lá, talvez

precise de alguém para amarrar o seu biquíni.

Ele adora me provocar.

— Tchau, Fred.

Ele coloca os óculos de sol enquanto sorri de forma divertida,

em seguida sai. Inspiro fundo e sigo para a mala pensando no

quanto vai ser difícil. Talvez não tenha sido uma boa ideia vir
acompanhada por ele.

Coloco minha saída longa de seda com a mesma estampa do

biquíni que devo admitir, parece ter encolhido um pouco. Arrumo o


chapéu de palha sobre a cabeça e saio. Encontro Fred sentado no

banco do bar conversando com uma mulher que praticamente se

derrete toda para ele. Aperto a alça da bolsa sobre meu ombro

enquanto caminho em direção aos dois, uma música antiga toca


animadamente.

“Eu te quero só pra mim


Você mora em meu coração

Não me deixe só aqui

Esperando mais um verão

Espero meu bem pra gente se amar de novo

Mimar você (...)”

Minha saída de praia é presa apenas por um laço na cintura,

por isso ela se abre quando me movimento deixando minhas


pernas, quadris e seios expostos. Fred tira os óculos e seu olhar

percorre todo o meu corpo.

— Falando nela... — sorri animadamente no mesmo instante


que a mulher vira em minha direção — essa é a...

— Fala sério. Louise?

Débora, uma das muitas mulheres que eu já havia implicado

quando estava namorando Alex, interrompe as apresentações. Em

minha defesa ela era muito pegajosa e ele admitiu que ela dava em
cima dele. Depois ficou todo bravo por eu ter tirado satisfação com

ela.
— Oi, Débora, como vai?

Fred me enlaça pela cintura me puxando para o seu lado.


Sinto seus lábios tocarem o canto da minha boca provocando um

monte de coisas que não sei bem o que é. Estou com raiva, como

se realmente ele fosse meu namorado e eu tenho algum direito


sobre ele.

Pelo amor de Deus, Louise, não viaja.

— Estou bem, e pelo visto você está muito melhor. Eu vou

indo. Foi bom te conhecer, Fred — afirma piscando o olho de forma

sexy e abusada. — A gente se vê, Lou. — Em seguida sai

balançando a bunda grande vestida em um fio dental.

— Não pode ficar alguns minutos sozinho que já vai abrindo

as asas, não é gavião? — acuso me afastando em direção à praia.

— Ei... — ele segura a minha mão me impedindo de

continuar — Lou, eu não estava fazendo nada demais, ela que se

aproximou e perguntou se eu estava no hotel para o casamento, e


eu disse que tinha vindo com a minha namorada, uma das

madrinhas. Você pode não acreditar, mas estou aqui por você, e não

vou ficar com nenhuma outra mulher. Deveria saber disso.


Não consigo encarar seu rosto. Percorro os olhos por todo

lado constatando que estamos livres de conhecidos.

— Eu sei, desculpe. Débora sempre me tira do sério. E o


nosso passeio?

Ele dá um de seus sorrisos matadores e leva a minha mão

aos lábios deixando um beijo nas pontas dos meus dedos. Nem
preciso dizer que esse gesto fez uma chama percorrer por todo o

meu corpo.

— Deixa que levo isso para você — informa pegando a bolsa


do meu ombro, em seguida enlaça nossas mãos.

Sinto o olhar da Débora sobre mim quando passamos por ela


na piscina. Reviro os olhos ao constatar que todas as mulheres

olham descaradamente para o homem que segura a minha mão.

Olho de soslaio e acabo me desequilibrando. Teria caído se ele não

tivesse me segurado pela cintura.

— Ei, cuidado — alerta sorrindo da minha falta de equilíbrio.

Caminhamos pela praia sem dizer uma palavra. Paro em uma


espreguiçadeira e tiro a saída. Abaixo pegando o protetor solar
dentro da bolsa.

— Você pode passar um pouco nas minhas costas, por


favor? Se não colocar vou acabar como um camarão.

Viro de frente com a falta de resposta do Fred e o pego no


flagra encarando a minha bunda.

— Fred, eu estava falando com você. Não seria melhor olhar

para cima enquanto eu falo?

Seus olhos que agora estão parados nos meus seios sobem

vagarosamente e encaram meu rosto.

— O que disse?

— Protetor, Fred, pode passar protetor em mim?

Ele inspira fundo e aperta os lábios com força.

— Claro, vire-se — ordena pegando o tubo da minha mão.

— Obrigada.

— Só para deixar claro, esse seu biquíni não esconde muita

coisa, caso não tenha percebido.


— É bem engraçado você pagando de namorado ciumento. E
sim, eu percebi, essa era a intenção.

Viro de costas para ele.

— Me deixar de pau duro? — pergunta perto do meu ouvido.

— É meio constrangedor não poder tirar a bermuda.

Ele não precisava ter dito o que está acontecendo dentro da


sua bermuda, muito menos preciso olhar pra saber que ele está

falando a verdade. Reconheço uma expressão de desejo quando a

vejo, posso sentir na sua voz meio rouca. Frederico Dantas está
com ela estampada nos olhos desde que cheguei ao bar da piscina.

Não sei se o fato de ter a sua mão tocando a minha pele, ou

se por conta do contraste da minha pele quente com o líquido frio,


mas sinto os meus pelos se arrepiarem.

— Engraçadinho.

— Estou falando sério, Louise. Esse biquíni só não é mais

perturbador porque seu corpo já a própria perturbação para um


homem, não podemos culpar apenas a peça de roupa.
Sua mão desce por minhas costas em direção à curva da
minha bunda, então tomo o tubo de sua mão.

— Obrigada, mas nessa parte eu consigo passar.

— Que pena — murmura tirando a camiseta quase me


causando um infarto. — Tem certeza? Não vou reclamar de passar

até nos seus pés se for preciso.

O que são todos esses músculos? Fico paralisada


observando o homem tirar a bermuda. Ele sabe que estou secando-

o com os olhos. Então ajeita a sunga azul deixando evidente que ele
não estava brincando com a coisa do pau duro. Até prendo a
respiração, pois a “coisa” parece maior do que eu imaginei.

— Fecha a boca, Louise. Ter um pau avantajado não é


qualidade apenas do Alex. Vou dar um mergulho.

Ele sai caminhando rebolando um traseiro bem-feito. A


temperatura na praia se elevou em 300 graus. Estou sentindo tudo
pegar fogo dentro e fora de mim.

— Louise, onde você foi se meter?


***

Depois de uma tarde de provocações, banho de mar,


caipirinha, água de coco e muita baba derramada pelo corpo sarado

do Fred, voltamos para o quarto para descansar um pouco. Pedimos


almoço, depois Fred ficou na piscina da varanda trabalhando
enquanto eu dormi um pouco.

Já é final de tarde quando termino de me arrumar para o


luau.

— Você está linda — elogia oferecendo-me o braço.

— Obrigada. Você também.

Retribuo o elogio. Ele é uma perdição, mesmo vestindo uma


roupa tão informal como essa. Calça de linho branca, camisa bege e
sandálias, certamente provocará inveja nas mulheres presentes.

Esse pensamento gera uma pontada de ciúme, e eu não consigo


fazer como sempre faço, esconder em um canto e ignorar.
Caminhamos em direção ao local onde está acontecendo o luau.

— Você está nervosa — afirma apertando a minha mão.


— Um pouco — confesso.

— Está com medo de encontrar seu ex com alguém?

Estou com medo de tanta coisa, mas prefiro não pensar


sobre o assunto.

— Também. Essa é a primeira vez que nos encontraremos


depois de tanto tempo. Não sei o que vou sentir.

— Vamos descobrir então.

— Obrigada por estar aqui.

— Estou adorando cada minuto.

Chegamos à praia e paro para observar tudo. Tochas,


tapetes, sofás e almofadas compõem uma decoração romântica.

Mãos frias, pernas bambas e coração na garganta denunciam meu


nervosismo. Como será que Alex reagirá?

— Louise, quanto tempo, você está linda, como sempre —


Nubia, a mãe do noivo, me elogia. — E esse quem é?

Como se Victoria já não tivesse espalhado pelos quatro


cantos que eu estou namorando.
— Desculpe a minha falta de educação, esse é o Frederico,

meu namorado.

— Prazer, senhora.

Ele segura a mão da mulher e leva aos lábios de forma


educada.

— O prazer é meu, filho.

Sigo apresentando meu namorado ao resto do pessoal.


Graças a Deus não encontro o Alex, o que é bem estranho, uma vez

que ele e o noivo são tão inseparáveis. Foi assim que Lucinda o
conheceu. Fiz um jantar em minha casa e apresentei os dois, que se
apaixonaram no mesmo instante. Foram feitos um para o outro.

— Lou, você está um arraso, amiga.

Lucinda me abraça apertado.

— Você também, onde está o noivo?

— Misturado por aí, daqui a pouco ele aparece. Olá, Fred,


que bom que você veio, fico feliz.
— Obrigado, também estou feliz, parabéns, está tudo
perfeito.

— Casar na praia sempre foi nosso maior sonho, não é

mesmo, Lou?

Fred me encara com as sobrancelhas erguidas.

— É mesmo? Nunca me falou isso.

— Para você se assustar e sair correndo ao ouvir a palavra

casamento?

Ele joga a cabeça para trás em uma gargalhada gostosa,


depois beija minha têmpora de forma carinhosa.

— Talvez você ainda se surpreenda muito comigo, Lou.

— Bom, pombinhos, fiquem à vontade, Lou, canta pra gente

depois? Não aceito não como resposta — avisa beijando meu rosto
e correndo em direção ao grupo musical que toca em um palco
montado.

— Então, você canta? — Fred pergunta pegando uma taça

de uma bebida colorida com um guarda-chuva e uma fatia de


abacaxi enfeitando para mim e outra para ele.
— Sim, eu canto.

— Como eu nunca soube disso? Já vi você cantarolando e

achei que tem uma bela voz, mas cantar de verdade, não fazia
ideia.

— Não sabe muito sobre mim, Fred, assim como você eu


também só deixo que as pessoas vejam de mim até certo ponto. Eu
amava cantar antes, mas algo me fez perder a graça. Fico tanto

tempo no trabalho. Só canto quando alguém pede.

— Na Austrália existe um pássaro raro que se tornou tão


ameaçado que começou a perder a capacidade de cantar, dizem os

cientistas que ele inibe seu canto para não chamar a atenção dos
predadores. Existem outros que no cativeiro perdem a capacidade
de cantar. Talvez seja isso, você parou de cantar por algum motivo.

Abro um sorriso com sua analogia.

— Sabe que adoro essa sua mania de falar sobre coisas

surpreendentes. Acho que você vive grudado naqueles programas


de TV que falam sobre tudo.
— Sou curioso e gosto de saber sobre coisas que estão fora
do meu mundo habitual. — Ele se aproxima do meu rosto e fala em

meu ouvido. — Está menos nervosa agora?

Estava, mas você chegando perto assim as coisas começam


a se agitar.

— Acho que sim, ainda não o vi, então, não sei dizer como

irei reagir.

— Uau, não pensava que ainda gostasse tanto dele assim.

— Nem eu. Para ser honesta, não sei bem o que sinto.

— É normal, mas vai descobrir logo. O que acha de dançar


um pouco?

— Ótima ideia — concordo tomando a taça da sua mão e


colocando sobre a mesinha ao nosso lado.

Estendo a mão para ele e seguimos para a pista de dança


que foi montada no centro de um círculo iluminado por tochas. Uma
brisa leve sopra fazendo meus cabelos ricochetearem sobre meu

rosto. Fred coloca uma mecha atrás da minha orelha.

— Acho que estamos desempenhando um bom papel.


— Verdade, estão todos olhando para a gente.

Ele inclina o corpo sobre o meu puxando-me ainda para mais


perto.

— Mas está faltando a cena principal — sussurra em meu


ouvido enquanto dançamos ao som de Ed Sheeran. — Vou beijar
você agora, Louise.

Não sei o motivo o qual meu coração começa a bater


freneticamente. Talvez a forma intensa que ele fita os meus lábios
antes de selar com um beijo digno de cinema que me deixa de

pernas bambas e calcinha molhada. Sua boca é macia, posso sentir


o gosto de cereja do Martíni que tinha tomado há pouco. Sua língua

é habilidosa, macia e inquieta explorando cada canto da minha boca


que estava em deleite por receber a sua. Além do gosto, tem o
calor, a habilidade e seu hálito inebriante.

— Uau! — exclamo buscando ar, completamente surpresa.

Fred também parece surpreso com a avalanche de

sensações provocada por nosso beijo, tanto que está sem palavras.
— Eu... preciso beber alguma coisa — informa passando a
mão no canto dos meus lábios. — Sujou um pouco aqui.

Abro um sorriso trêmulo sem saber como agir. Nunca pensei

que o homem beijasse tão bem. É perfeição demais para um único


ser.

Ele enlaça a minha mão e seguimos em direção ao bar


montado na praia sob os olhares curiosos de algumas pessoas.
Acho que demos um show e tanto. Pegamos as bebidas e sentamos

em um dos sofás. Um garçom passa com uma garrafa de vodca que


faço questão de pegar para mim.

— Está animada hoje.

— Acho que vou precisar de um pouco de coragem líquida.

— Oi, Louise, quanto tempo — Katia, uma das primas da

Lucinda, me cumprimenta.

— Kat, tudo bem? Esse o...

— Famoso Frederico, já ouvi falar de você — afirma


apertando a mão dele.
— Mesmo? E eu pensei que você não falava de mim para
ninguém?

— O quê? Você é sempre o meu assunto favorito, mas devo


admitir que dessa vez não fui eu — afirmo.

— Estão todos falando de você desde que a Vic encontrou os


dois. Então todo mundo quer conhecer o maravilhoso Frederico.

Ela senta em um pufe ao meu lado e começamos a jogar

conversa fora. Logo está cheio de gente babando no charme do


famoso Frederico, como ela disse.

— Louise, estamos aguardando a sua presença aqui no palco


para cantar um pouco. Isso é um pedido do noivo e uma exigência
da noiva.

Fecho os olhos ao ouvir a voz do vocalista da banda e


suspiro fundo.

— Vai lá, Lou, manda vê.

Levanto um pouco alegre pelo álcool e pronta para mostrar


minhas habilidades vocais para o Fred. Pego o microfone e mordo o

lábio um pouco nervosa.


— Boa noite, desculpe-me, acho que bebi um pouco demais,

não consigo pensar em nenhuma música no momento. O que


sugerem? — pergunto aos integrantes da banda.

— A gente ia cantar Ainda Bem, da Marisa Monte, conhece?

— Sim, é uma das minhas favoritas. Então manda vê — falo


olhando ao redor. — Já aviso que faz tempo que não canto assim,

então, me perdoem se não sair nada que preste... vamos lá. Ainda
bem / Que agora encontrei você / Eu realmente não sei / O que eu
fiz pra merecer / Você.

Por alguns instantes penso ter visto o Alex no canto mais


escuro da praia, mas acho que foi ilusão da minha mente, pois logo
desapareceu. Encontro o olhar do Fred sobre mim enquanto canto.

Ele parece nem piscar e isso me causa certa euforia. Percebo que
na maior parte daquele dia eu nem pensei no Alex, me preocupei
mais em manter-me blindada contra o charme do Fred do que no

momento que o encontraria.

— Quem diria que a meu lado / Você iria ficar / Você veio pra

ficar / Você que me faz feliz / Você que me faz cantar / Assim / Ainda
bem.
Termino de cantar olhando para Fred, como se tivesse

cantando a letra para ele, e cá pra nós, eu estava. Ele joga um beijo
em minha direção lembrando-me que tudo não passava de uma

grande mentira. Cantei mais algumas músicas. Algumas pessoas


estavam fazendo pedidos em pedaços de papel que era entregue ao
vocalista oficial da banda que passou a me acompanhar. Até que

um pedido quase me faz prender a respiração. “Codinome Beija-


flor”, a favorita de Alex, mas ele não está presente, então deve ter
sido uma brincadeira de mau gosto.

Termino de cantar a música como se não tivesse mexido


comigo em nada e finalizo com uma da Ana Carolina, “Quem de nós
dois”.

Procuro Fred por todo lado e o vejo em pé com as mãos no


bolso da calça olhando para o mar. Pego uma garrafa de vinho e

vou em sua direção.

— Se escondendo de mim, moço? — pergunto entregando


uma taça para ele.

— Não, só tentando digerir que você cantou as duas últimas


músicas favoritas do seu ex de forma intensa e não me dedicou
nenhuma canção — fala me puxando para os seus braços.

— Como você sabe disso?

— As pessoas comentam achando que a gente não está


ouvindo. Ou querendo que a gente ouça. Não sei dizer qual dos dois
casos. Seja qual deles for, isso deixaria qualquer pessoa reflexiva,
não acha?

— Você deveria ter sido ator, sabia?

— Já me disseram isso antes.

— Agora, eu vou beijar você, não posso deixar meu


namorado chateado, ou reflexivo.

Deixo a garrafa cair na areia, seguro seu rosto em minhas


mãos e selo sua boca com a minha. Sinto sua mão apertar a minha
cintura enquanto sua boca devora a minha de forma deliciosa.

Virgem Santa, ele beija bem demais.

Estou ciente de que não precisava disso tudo, é só fingir que

estamos nos beijando. É só encostar a boca na bochecha, e,


naquela distância ninguém perceberia nada. No entanto, estou louca
para provar seu beijo mais uma vez, e essa é a desculpa perfeita.
Quando encerramos o beijo, sei lá quanto tempo depois, tento não
mostrar o quanto ele havia me afetado. Pego a garrafa de vinho e
começo a andar de volta para a festa. Fred me segue calado.

Voltamos para o quarto bêbados já é muito tarde. O clima


está meio estranho, muita tensão sexual que tanto ele quanto eu
estamos tentando ignorar. Talvez estejamos tentando fazer isso há

tempo demais. Ele segue para o banheiro primeiro. Enquanto ele


está no chuveiro eu olho para a cama imaginando como será na
hora de dormir, dividir a mesma cama com ele depois de um beijo
daquele vai ser uma tortura. Ele sai do banho com uma toalha
enrolada na cintura e eu praticamente corro para o banheiro.

Estou fantasiando coisas indecentes enquanto tomo banho.


Vejo Fred entrando no banheiro e me prendendo na parede
enquanto me beija e enterra dentro de mim. Mudo a temperatura da

água e a direção dos pensamentos. Tento me lembrar de alguma


coisa aleatória que não seja o homem dentro do quarto.

Fico torcendo para que ele já esteja dormindo quando saio

vestida em um roupão. Minha intenção é tirar quando for para


debaixo das cobertas. Pois não sei o que estava passando por
minha cabeça quando escolhi as roupas de dormir.
E se eu arrancar a roupa e pular em cima dele? Posso
colocar a culpa na bebida. Apesar do banho demorado, eu ainda
não estou com a minha faculdade mental perfeita. Levada por esse
pensamento eu tiro o roupão jogando em cima da poltrona sem tirar
os olhos dele, que está sentado no sofá. Seus olhos percorrem por

meu corpo centímetro a centímetro e sinto como se estivesse


beijando minha pele que se arrepia por inteiro.

— Louise, o que pensa que está fazendo?

— Indo dormir.

— Minha nossa! Como você acha que vou conseguir manter


minhas mãos longe de você vestida assim?

Sinto minha intimidade pulsar, fico instantaneamente úmida


quando seu olhar encara meus seios, minha barriga, minhas pernas
e voltam para a curva dos meus seios.

— Tudo bem, quer que eu tire? — pergunto abaixando a alça


do baby doll.

Eu não estou de toda confiante, mas o desejo por ele fala


mais alto.
— Louise, está brincando com fogo.

— Sim, eu sei, mas se quer saber, eu sou o próprio fogo,


talvez eu não me importe de me queimar.
Capítulo 6

Encaro os verdes olhos intensos do Fred e teria dito que era

brincadeira não fosse a forma cheia de desejo que ele me fita. Bate

um medo danado da rejeição. De estar mais uma vez captando


sinais errados como havia feito quando começamos a tralhar juntos.

Entretanto, a forma que ele está me encarando e o volume que

posso ver em sua cueca boxer branca, diz que ele está tão cheio de
tesão quanto eu. Ele até pode tentar negar, mas as evidências

dizem o contrário. Seus olhos descem por meu corpo e sobem mais

uma vez, como se estivesse tentando descobrir qual é a minha

verdadeira intenção.

— Não brinque comigo, Louise.

— Não estou brincando, Fred.

— Está tentando me seduzir?

— Estou conseguindo?

— Muito mais do que você imagina. É isso que você quer?


— Eu tenho uma proposta para te fazer.

Ignoro a sua pergunta e aproximo-me um pouco mais.

— Estou ansioso para ouvir.

De onde estou posso sentir o calor do seu corpo emanando

para o meu e me deixando arrepiada. O clitóris pulsando com força,

sinto minha vagina molhar só em pensar no que estaria por vir. É

também resultado das fantasias que estava tendo durante o banho.

— Eu não vou negar que estou louca para transar com você,

mas eu te garanto que é só isso. É sexo, desejo. Prometo que não

vou criar expectativas e nem cair de amores por você amanhã. É só

sexo que eu quero. Então a minha proposta é que a gente passe

essa noite juntos, e quando o dia amanhecer, a gente finja que nada

aconteceu. Podemos voltar a ser bons amigos.

Ele apoia os cotovelos nos joelhos e inclina o corpo para

frente me encarando por baixo dos cílios espessos. Ele é lindo

demais para qualquer mulher resistir.

— Você acha mesmo que isso será possível? Acha que

depois de transarmos, não vai ficar estranho, não vai ter


arrependimento, e nenhum de nós dois sairá com o coração

partido?

Sinto um nó se apertar em minha garganta. Isso não posso


garantir, mas quero arriscar.

— Está preocupado com os meus sentimentos ou com os

seus? — brinco.

— Com os dois, Louise. Isso não é brincadeira, pode ser um


caminho sem volta.

— Prefiro arriscar — confesso me aproximando ainda mais.

— Até parece que nunca fez sexo casual antes.

— Não com alguém como você, muito menos com tanta coisa
em jogo.

— Tipo o quê?

— Preciso mesmo responder?

— Basta definirmos alguns termos para esse acordo, caso

concorde.
— Eu aceito todos — afirma me surpreendendo com a

resposta rápida positiva.

Ele coloca as duas mãos nos meus quadris e depois sobe

vagarosamente parando em minha cintura. Em seguida, me puxa


para que me sente em seu colo.

— Sério? Vai aceitar sem saber o que tenho a propor?

— Eu não preciso saber quais são os termos, eu aceito


todos. Não vou negar que estou louco para te foder, muito. Em cada

canto desse quarto e fora dele.

Sento no seu colo, uma perna de cada lado. Sua mão sobe
da minha cintura por minhas costas, uma delas entra em meu

cabelo me puxando para um beijo. Encosto meus lábios nos seus,


mas sem beijar de fato, pois Fred mantém minha cabeça imóvel.

— Se eu te beijar agora, não serei capaz de parar.

Meu corpo vai mais para frente tocando em sua ereção.

Caralho, ele está muito duro, e eu muito molhada.

— Não quero que pare, eu sou toda sua, faça o que quiser

comigo esta noite.


Ele move os lábios sobre os meus e sinto sua língua entrar
explorando minha boca. Eu me derreto toda. O beijo só serve para
atear mais fogo no que já está quente. Ele penetra a minha boca de

uma forma que me deixa insana. Depois desce os beijos pelo meu
pescoço e seios por cima do baby doll. Ele puxa uma alça deixando

um seio de fora abocanhando um e chupando com tudo, segurando


o bico com os dentes, arrancando um gemido desesperado de
minha garganta. Seus lábios e língua me enlouquecem e passo a

me esfregar em sua ereção. Ele se afasta só para tirar a minha


camisola do caminho e jogar longe, deixando meus seios expostos

para suas mãos segurarem quando volta a beijar meus lábios.

Seu beijo é quente, lento, delicioso. Arfo quando sinto seus


dedos entrarem no elástico da minha calcinha e arrebentar com

facilidade. Isso é demais para mim.

— Você rasgou a minha calcinha.

— Desculpe por isso. Ela estava no caminho. — Ele coloca


um dedo dentro de mim. — Porra, você está muito molhada.

A pulsação se torna mais forte a cada segundo que ele move

o dedo dentro de mim e me beija. Confesso que estou tão louca de


desejo que nem sei o que fazer com minhas mãos. Ele levanta de
uma vez comigo agarrada a sua cintura e segue para a cama
colocando-me deitada sobre ela. Ondulo embaixo dele quando sua

boca desce sobro meus seios, barriga dando leves mordidas e


lambidas deliciosas, raspando os dentes e sua língua molhada

sobre a minha pele até alcançar o ponto pulsante, fechando a boca


sobre ele e sugando de uma só vez, exigente e habilidoso.

— Fred...

Minha súplica faz com que se afaste e então passa a pincelar

a língua por toda a extensão diversas vezes de forma

enlouquecedora. Voltando para meu nervo ele gira a língua diversas


vezes para depois enfiar de uma vez penetrando fundo.

Agarro seus cabelos e ergo meu quadril sentindo um prazer


absurdo com o calor da sua língua, eu estava gotejando de tão

úmida. Eu me contorço toda com o prazer se espalhando por

minhas veias como fogo líquido. Ele passa as mãos por meus

joelhos erguendo as minhas pernas e me mantendo firme enquanto


eu me quebrava em mil pedaços. Não tenho mais controle sobre as
minhas reações, meus dedos apertam ainda mais seus cabelos

quando o prazer me cega e me faz perder a noção de tudo ao meu


redor.

Ele se ergue um pouco e me encara seriamente.

— Você pode decidir agora se continuamos com isso, ou se

quer desistir. Será um caminho sem volta.

— Depois da maravilha que acabou de fazer com a boca,


acha mesmo que quero parar? — inquiro levando a mão até a sua

ereção, ele arfa de prazer quando eu aperto minha mão contra seu

membro.

— Eu vou te foder bem gostoso de um jeito que jamais vai

esquecer... — ele sussurra em meu ouvido e em seguida se levanta

indo em direção à mala, me dando uma visão e tanta da sua bunda


bem-feita. Tira a cueca e envolve seu membro com a camisinha, ele

não é nada pequeno e a visão de sua mão subindo e descendo por

sua extensão grossa faz meu sexo latejar.

Como um felino ele se aproxima, segura meu pé direito

depositando beijos do dedão até a minha perna, continua subindo


até chegar novamente em meu sexo já desesperado por atenção

outra vez.

O que esse homem faz comigo?

— Estou ansiosa para saber se você é tão bom como diz ou

é só conversa — provoco.

Ele morde meu queixo e depois vai deixando beijos no meu

pescoço. Com uma mão segura meu rosto pelo queixo para que eu

o encare.

— Quero que fique com os olhos bem abertos, Louise, quero

que saiba que sou eu a te dar o melhor prazer que já teve na vida.

— Nossa, que convencido.

— Me diga isso quando estiver gozando e gritando meu

nome.

Meus lábios encontram os seus, minhas pálpebras fecham

lentamente, e a temperatura quente da sua língua inquieta me faz

ofegar de prazer. Ergo instintivamente meu quadril sem aguentar


mais a espera por ter seu membro dentro de mim.

— Abra os olhos, Louise — ordena com voz rouca.


Abro lentamente as pálpebras pesadas e encontro o seu

olhar perigoso. Sinto a cabeça do seu sexo entrando pouco a pouco


e mordo seu lábio inferior. Os olhos dele brilham fixos aos meus.

Ele não sorri, tampouco desvia o olhar. Ele aperta as minhas coxas

impossibilitando os meus movimentos. O seu quadril mexe um


pouco, mas o suficiente para eu sentir uma ardência pela sua

grossura, pelo espaço que seu membro exige, afinal estou há tanto

tempo sem sexo. Entreabro os lábios, choramingando quando ele

entra mais.

Eu quero tudo.

— Por favor...

— Por favor o quê? Me diga do que precisa.

Ele geme raspando a boca na minha, o membro entrando


mais alguns centímetros.

— Eu quero tudo, quero você dentro de mim.

— Sente o quanto está molhada? — pergunta se movendo

um pouco mais. — Que delícia você é.

— Ah, para de tortura e me come logo.


Ele sorri sacana e, lentamente, começa a estocar. Devagar

demais para a minha sanidade. Afinal, estou há tempo demais sem

ter um homem dentro de mim. Ele continua a tortura. Entrando e

saindo. Entrando e saindo. Fred inspira fundo quando entra mais e


eu gemo alucinada com as sensações.

Tive muitas fantasias em minha mente com ele, mas não

chega nem perto da realidade. Ofego e fecho os olhos quando o


sinto bater bem no fundo em um ponto que nunca havia sentido

antes, tão delicioso. Não resisto e beijo a sua boca, sua língua entra

exigindo a minha. Sinto os batimentos loucos do meu coração em


cada parte do meu corpo, crescendo a cada movimento. As mãos

de Fred sobem das minhas coxas e passeiam por todo meu corpo,

percorrendo cada parte, sem parar as estocadas ritmadas, um entra

e sai lento me fazendo entrar em seu ritmo como uma dança


sincronizada.

Ele segura um seio, apertando e massageando, me fazendo


ofegar e quase suplicar por mais. Ele parece ter escutado os meus

pensamentos e acelera. Uma mão vem para o meu rosto e segura

firme a minha mandíbula.

— Olhe para mim, Louise.


Abro os olhos e ele morde meu lábio inferior como uma

punição por quase fechá-los novamente. Isso faz o desejo aumentar


muito, minha vagina palpita em desespero. Eu me aperto em torno

dele, ele bate o quadril no meu com força e ouço os estalos

ecoaram pelo quarto misturando-se aos grunhidos dele aos meus

gemidos altos. Agarro sua bunda e ergo meu quadril movendo-me


cegamente. Minhas mãos e as suas estão em todos os lugares.

Sinto o orgasmo me pegar com tudo. Eu grito de prazer

convulsionando. Eu já não tenho controle sobre meu corpo. Reprimo


a vontade de fechar os olhos.

— Fred, isso, ah...

— Isso, geme meu nome — ordena com voz rouca.

— Sim, Fred, isso...

— Ah, Louise, você é muito gostosa e goza tão gostoso

apertando meu pau... eu vou...

Ele se afunda dentro de mim, profundamente, me fazendo


gritar pelo prazer prolongado. Suas mãos seguram meu rosto e me

encara com os olhos semicerrados, atentos. Como se buscasse


uma resposta. Quase desvio os olhos para que ele não veja a
verdade dentro dos meus.

Nada será como antes entre nós depois dessa noite.

Ele desce a boca sobre a minha engolindo meus últimos

gemidos.
Capítulo 7

Abro os olhos e levo algum tempo para me situar onde estou.

Aperto as pálpebras com força quando cenas da noite anterior

começam a rondar em minha mente. Eu transei com meu amigo e


colega de trabalho. E lembro cada instante, cada toque, cada

sensação, e porra, foi incrível. Reprimo um gemido, pois só de

lembrar sinto meu sexo latejar de desejo.

Lembro que noite passada, depois da nossa segunda rodada,

tomamos banho juntos, a gente transou na banheira e depois na

cama. Durante a madrugada, eu acordei com as sensações

maravilhosas de seu pau dentro de mim, entrando e saindo


lentamente, delicioso, enquanto o dia estava raiando lá fora e o céu

era pintado com as cores do amanhecer. Adormeci em seguida,

exausta, depois de mais um orgasmo fenomenal. Fred é insaciável,

o tipo de homem perigoso que uma mulher inteligente como eu

deveria evitar se não quisesse ter o coração partido.

Abro os olhos e o procuro pelo quarto e não encontro, o

quarto está na penumbra e não faço ideia de que horas seja. Meu
cérebro me alerta e grita perguntas que não tenho respostas. Como
devo agir? Devo fingir que nada aconteceu? Devo dizer que nunca

mais vai acontecer? Ou seria melhor dizer que estava bêbada e foi

um erro?

Ah não. Eu preciso de mais. Espero que ele tenha gostado da


noite da mesma forma que eu. Pois eu quero desesperadamente

mais dele.

A porta do banheiro se abre e ele surge glorioso com uma

toalha enrolada na cintura enxugando os cabelos com outra. Meus

olhos bebem da imagem perfeita de seu corpo, o mesmo que me


deu tanto prazer na noite passada.

— Bom dia!

Sua voz me faz olhar para o seu rosto. Ele tem um meio
sorriso nos lábios bem-feitos como se soubesse a confusão de

sensações que está causando em mim.

Sim, eu quero você mais uma vez. Satisfeito?

— Bom dia! Que horas são? — pergunto jogando as cobertas

para o lado para me levantar.


Então me dou conta de que estou completamente nua. Cubro

de uma vez meu corpo arrancando uma gargalhada de Fred.

— Não tem nada aí que eu não tenha visto, e provado a noite


toda.

— Engraçadinho.

— Só elucidando um fato.

Ele joga a toalha que usou para secar os cabelos na poltrona

e se aproxima da cama sentando-se na ponta encarando meus


olhos como se quisesse descobrir meus segredos. Os mesmos que

eu trato de esconder a sete chaves sob uma camada de mulher que


está acostumada a transar e não se envolver por isso.

Eu sei, sou uma fraude. Já que nunca fiz nada parecido.

— Está arrependida?

— Não. E você?

— Nem um pouco. Na verdade...

Meu celular começa a tocar “Single Ladies”, o toque

reservado para a Lucinda, impedindo que ele finalize a frase. Fred


se inclina e me entrega o aparelho que está na mesinha ao lado da

cama.

— Oi, Lu.

— Oi, acabou de acordar, dorminhoca?

Só então me lembro do passeio de barco e olho no visor do

celular, 11h45 da manhã. Merda. Oito da manhã eu deveria ter ido


ao passeio de barco que estava no roteiro do casamento. Lembro
que ela ainda me advertiu sobre isso antes de sair do luau.

— Sim, Lu, eu sinto muito por não ter ido ao passeio,

acontece que chegamos no quarto e... — Ergo os olhos e Fred está


me encarando, ele levanta as sobrancelhas me desafiando a

continuar. — A noite foi meio movimentada por aqui, a gente acabou


perdendo a hora. Sinto muito.

— Eu entendo, faria o mesmo que você se tivesse a mínima

possibilidade de passar o dia com meu ex e meu atual no mesmo


barco.

— Nem foi por isso, de verdade, mas desculpa mesmo assim.


— Eu até pensei em ligar quando estávamos saindo, mas
Cláudio não deixou. Bem, preciso desligar, vamos voltar para o mar.
Beijos, te vejo na festa?

— Claro. Que espécie de madrinha pensa que sou?

Ela solta uma gargalhada e desliga sem responder.

— Perdemos o passeio de barco, ela ficou chateada?

— Não, ela entendeu. Eu coloquei meu celular para


despertar. Não sei o que aconteceu.

— Sim, ele despertou, mas você sequer se moveu mesmo

com ele bem ao lado do seu ouvido, então depois de um tempo eu


desliguei. Você estava cansada, nós estávamos. Achei melhor
deixar você dormir mais um pouco.

— Deveria ter me chamado.

— Me desculpa, nem pensei que isso chatearia você. A gente

pode alugar um barco e ir ao encontro deles, se você quiser.

— Deixa pra lá. Estou morta de fome. Acho que vou tomar
um banho e a gente pode sair para almoçar.
Ele senta novamente na beira da cama e tenho certeza que
vai me beijar, então eu saio pelo outro lado.

— Está fugindo de mim, Louise?

— Você levantou, tomou banho e escovou os dentes, acha

mesmo que vou deixar que me beije e sinta meu bafo? Jamais.

Ele sorri balançando a cabeça em negação, levanta e corre

em minha direção, e antes que eu consiga fechar a porta do

banheiro ele me pega pela cintura e me joga de volta na cama.

— Fred, não faz isso...

Segura firme as minhas mãos no alto da minha cabeça e

esmaga meus lábios com os seus. Reprimo a vontade de entreabrir


os meus e sugar a sua língua ousada para dentro da minha boca e

mantenho meus lábios comprimidos. Fred ri e afasta a boca da

minha.

— Por que não pedimos café no quarto? — sugere passando

os lábios por meu pescoço.

Posso sentir seu membro encostado em minha coxa se

avolumando.
Caralho, ele é uma grande tentação, e insaciável.

— Já é quase hora do almoço — sussurro quase como um

gemido.

— Estamos em um resort e quer saber? Qualquer hora é


hora de café da manhã.

— Isso eu concordo com você.

— Só não no fato de que quero beijar essa boca de bafo

agora mesmo.

— Não mesmo, deixa eu escovar os dentes primeiro, depois


posso ver o que faço por você.

Ele morde meu lábio inferior e levanta me deixando livre. Sua


toalha havia caído de sua cintura, seu pau ereto deixando seu

desejo evidente. Ele pega o telefone na maior naturalidade. Deixo

um suspiro sair e me levanto.

— Quer alguma coisa em especial?

— Sexo oral está no cardápio?


Ele solta uma gargalhada e começa a falar com a atendente

enquanto eu entro no banheiro com um imenso sorriso no rosto.

Fazer o que se ele é mestre com a boca.

Ah, Frederico, como não ficar de quatro por você?


Capítulo 8

Quando saio do banho encontro Fred sentado na

espreguiçadeira observando o mar. A água da piscina reflete a

mesma tonalidade dos olhos dele, verdes brilhantes. Seu corpo


coberto apenas por uma boxer branca. Não resisto à tamanha

tentação e vou até ele, deixo a minha toalha cair aos meus pés e me

aproximo para beijar seus lábios. Sento em seu colo e me rendo à


delícia dos seus beijos. Estávamos no maior amasso quando

alguém bate na porta, provavelmente nosso café da manhã. Na

verdade, eu tinha acabado de ter um orgasmo incrível

proporcionado por sua boca.

Fico deitada na espreguiçadeira me recuperando enquanto

Fred recebe o carrinho com a comida, mas o tesão fala mais alto do

que a fome e acabamos na cama, só depois paramos para comer e

conversar.

— Você não está chateada por não ter ido ao passeio?

— Pareço chateada?
Ele gira a cabeça de lado fazendo uma careta engraçada
enquanto me observa morder um pedaço do mamão.

— Não, chateada não, eu diria outra coisa.

— É mesmo? Tipo o quê?

— Bem comida, muito bem comida.

Jogo uma migalha de pão nele.

— Você é um convencido mesmo.

— Já disse, só elucidando os fatos. Na verdade, acho que

fomos perfeitos juntos.

— Sou obrigada a concordar.

Sinto meu rosto enrubescer ao lembrar minha performance

de atriz pornô. Acho que fui um pouco exagerada, mas pelo visto a

satisfação foi mútua.

Depois do café, saímos para um passeio na Vila. Visitamos

algumas lojas, comemos comida típica e depois saímos para um

passeio de barco. Mergulhamos no mar e paramos em uma ilha que


segundo o piloto da lancha tinha uma vista incrível, e tinha um lugar

que poderíamos saltar e mergulhar no mar.

Agora estou aqui, parada diante do oceano azul sem


coragem para pular, embora o homem tenha nos garantido que não

teria problema algum, que é seguro e muita gente faz isso. Ele nos
deixou na praia do outro lado e deu a volta, está no barco nos

aguardando a alguns metros da encosta.

— Sério, Louise? Pensei que você fosse mais corajosa.

— Tenho muita coragem, mas não sou imprudente. Olha a


altura disso! — reclamo apontando para baixo. — Além de tudo tem

água demais, fundo demais. E se tiver tubarão?

— Não tem tubarão, e a quanto ser fundo, isso é bom, torna o

mergulho mais seguro.

— Tem certeza?

— Tenho sim. Já fiz isso diversas vezes, é libertador, você vai


ver. Vamos, eu seguro em sua mão e pulamos juntos.

Respiro fundo e estendo a mão para ele, antes de tocar na


dele eu puxo de volta. Ele revira os olhos sem fazer movimento
mantendo o braço estendido em minha direção. Seguro sua mão e

ele entrelaça nossos dedos. Nós nos aproximamos da beirada e


sinto Fred apertar meus dedos contra os seus. Uma onda de

adrenalina me invade e eu abro um sorriso quando uma brisa


sacode os meus cabelos. O mar está calmo, diferente do meu

coração que está batendo na garganta.

— Pronta?

— Ai, meu Deus, sim. Estou.

— No três? Um, dois, três...

Grito a plenos pulmões enquanto corremos em direção à


borda. A sensação é incrível, liberdade, medo, euforia. Afundamos

juntos na água salgada, Fred não solta e quando emergimos


estamos rindo e gritando feitos bobos. A parte de cima do meu
biquíni desprendeu no mergulho e foi parar sabe-se lá onde, mas

não me importei. Eu me encontro em um estado de felicidade


eufórica que nada pode me importunar. Fred me aperta em seus

braços puxando-me para um beijo apaixonado.

Oi? Eu disse apaixonado? Não viaja, Louise. Um homem


como Frederico jamais se apaixona.
— Vamos voltar para o barco — ele sugere no mesmo
instante que a lancha se aproxima um pouco mais.

— Não sei se percebeu, mas meu biquíni desapareceu.

— Não tem como não perceber, já que estes seios deliciosos


estão roçando em mim — brinca mordendo a pontinha da minha

orelha. — Eu vou pegar para você. Consegue ficar sozinha?

— Sim.

Fred olha ao redor e quando vê a peça branca a alguns


metros da gente ele nada até ela e com toda habilidade de um

exímio nadador. Estou lutando com todas as forças para não me


afogar.

— Obrigada.

— Se não se importar, pode ir sem ele até o barco.

Não respondo e começo a nadar, mas logo ele passa na

minha frente, grita alguma coisa para o biloto que joga duas boias e
desaparece para o outro lado. Quando alcanço uma das boias ele

vem até mim.


— Vire-se — ordena e eu prontamente seguro na escada e
obedeço. Fred me ajuda a colocar o biquíni, mas antes aperta meus
seios provocadoramente enquanto morde a pontinha da minha

orelha. Isso faz um fogo se espalhar por meu corpo.

— Você adora me provocar, não é mesmo? — pergunto, em


seguida viro ficando de frente e me agarrando ao seu pescoço,
passo as pernas por sua cintura me esfregando nele.

— Não tanto quanto você.

— Somos dois provocadores então.

— Acho que a gente meio que se completa.

Esmago meus lábios sem nenhum pudor tentando ignorar a


pontada de esperança, ou seja lá o que foi que fez meu coração

disparar com suas palavras.

Acho que a gente meio que se completa.

O nosso beijo é lento e espalha fogo líquido por minhas

veias, mesmo com toda água fresca sinto-me queimar de desejo.


Ele aperta a minha bunda e se esfrega ainda mais em mim.
— Infelizmente precisamos ir. Não quero que perca mais um

evento por minha causa — sussurra roucamente em meu ouvido. —


Você me deixa doido, sabia?

Levo a mão até a sua sunga e ele ofega fechando os olhos,

apreciando meu toque em sua ereção.

— Será que se a gente afogar o piloto no mar vai pegar mal?

— brinco.

Talvez seja porque fazia muito tempo que não transava com

ninguém, mas eu estou insaciável. Mal posso encostar o corpo no

dele que já quero transar. Isso porque estou realmente bem sensível
pelo tanto de vezes que já fizemos em um pequeno prazo de tempo.

— Mais do que se eu fizer isso aqui. — Então puxa a minha

calcinha para o lado e passa a me acariciar lentamente arrancando


um gemido.

— E se eu fizer isso? — Tiro seu pau para fora, afasto a sua

mão e o coloco na minha entrada. Ele geme baixinho quando entra


todo.
— Caralho, tão molhada e pronta. Adoro como você é

receptiva.

— Tarada, você quer dizer. Acha que ele pode nos ouvir?

— Tenho certeza que sim, mas quer saber? Eu não me

importo — afirma passando a se mover com o mesmo ímpeto que

me beija.

O prazer vem rápido e intenso e vai crescendo a cada

segundo. Preciso cobrir a boca com a mão para não gritar.

Que loucura!

— Você acha que ele sabe o que estamos fazendo aqui? —

pergunto olhando para cima.

— Tenho certeza que sim.

— Ai, que vergonha.

— Ele já deve estar acostumado a ter casais se pegando aqui

nesta escada.

Mordo seu ombro e cravo minhas unhas em suas costas.

Minha nossa!
— Mas eu não estou acostumada a fazer esse tipo de coisa

em público.

— Jura? Não sabe o que é viver perigosamente? Estava

saindo com os homens errados. Você quer que eu pare?

— De jeito nenhum. Se fizer isso eu afogo você.

— Ótimo, porque eu não pretendia parar mesmo.

Ele intensifica as investidas e me vejo gozando no mesmo

instante que uma onda bate forte quase nos jogando de volta para o

mar me fazendo gargalhar.

— Sei sim, seu bobo. Você me faz viver perigosamente

desde que te conheci.

— Então confessa que você é bem mais feliz desde que eu


apareci em sua vida.

— Acho melhor a gente subir — desconverso, ele não vai me

ouvir admitir isso nunca.


Fred me puxa para mais um beijo antes de deixar que me
afaste. Subimos no barco e eu nem tenho coragem de olhar na cara

do piloto.

— Querem ir até a pedra furada? — pergunta.

— Hoje não vai dar, temos uma festa para ir, não podemos

atrasar — Fred responde piscando um olho para mim.

— Fica para a próxima então.

***

Quando retornamos já é quase noite. Ainda vimos o sol se

pôr no barco e nesse instante algo se aperta dentro de mim e eu

não faço ideia do que seja. Quando chegamos ao nosso quarto,

estou louca para cair na cama e dormir.


— Melhor você tomar banho primeiro. Eu adoraria te

acompanhar, mas certamente a gente acabaria atrasados


novamente.

— Tem razão, você não resiste ao meu charme. — Pisco um

olho e sigo para o banheiro.

— O pior é que você está certa.

Ouço Fred sussurrar antes de fechar a porta com um sorriso


bobo nos lábios. Praguejo quando vejo o estado do meu cabelo no

espelho. O jeito será fazer um coque, pois está a maior bagunça.

Deve ser por isso que Lucinda fez questão de ter um dia no SPA.

A festa temática dessa noite será de Cassino em Las Vegas.

Coloco o meu vestido de festa superjusto, longo e vermelho. Em

seguida faço uma maquiagem. Não sou especialista, mas fica muito
boa, pois a minha pele está com um tom dourado pelo sol, não

precisa de muita coisa. Só uma caprichada nos olhos e um batom

vermelho.

— Você é rápida para se arrumar.

— Anos de prática.
Viro em sua direção e meu queixo quase cai. Claro que ele
vestido de qualquer coisa fica lindo, já estou acostumada a vê-lo de

terno, mas o cabelo arrumado para trás com gel e o fraque que

veste o deixam ainda mais lindo.

— Uau, você está linda!

— E você não deve ter se olhado no espelho. Sabe que as


mulheres vão morrer de inveja de mim essa noite?

Ele sorri e beija de leve meus lábios tomando cuidado para

não borrar o meu batom.

— E os homens vão querer estar no meu lugar, tenho

certeza. Em especial um, não é?

Ignoro sua pergunta colocando o batom dentro da bolsa

pequena.

— Preciso de ajuda para fechar o zíper, pode me ajudar?

— Claro, até diria que é um prazer, mas prazer maior tenho


em tirar a sua roupa e não em vestir.

— Você é um safado.
— Eu sei que você gosta.

Você não imagina o quanto.

Ele segura a minha cintura e quando vai subindo o zíper


escova o dedo lentamente por minha coluna causando um arrepio
gostoso. Sinto seu sorriso enquanto ele deixa um beijo demorado

em meu ombro. Fecho os olhos apreciando as sensações que sua


boca causa quando vai subindo por meu pescoço até alcançar um
pondo abaixo da minha orelha.

— Eu queria mesmo era arrancar esse vestido, enterrar meu


pau em você a noite toda.

— Você não cansa? — sussurro quase gemendo quando sua


mão alcança o meu seio e a outra segura a minha garganta.

— Não, quer que te mostre?

— Fred...

— Te espero lá fora.

Ele sorri e se afasta me deixando de pernas bambas e com


um enorme problema de calcinha molhada.
Caminhamos em silêncio e de mãos dadas até o salão onde
está rolando a festa e vai acontecer a recepção depois do
casamento. Tenho medo de perguntar por que ele está tão calado.

Sinto sua tensão pairar sobre mim.

— Está nervosa por que vai encontrar o Alex? — pergunta de

repente me fazendo parar de andar.

— Um pouco — admito, mas sem dizer o real motivo.

Até aquele momento eu nem sequer tinha me lembrado do


Alex, o que é bem estranho dado ao fato de saber que logo estarei
frente a frente com ele. Entretanto, o que está me deixando nervosa

é o silêncio do meu namorado de mentira desde que saímos do


quarto.

Ele leva a minha mão aos lábios e deixa um beijo nas pontas
dos meus dedos.

— Esse encontro vai ser bom para você saber o que de fato

sente por ele.

Engraçado, nesse momento eu penso que será melhor não

descobrir.
— Esse é o problema, tenho quase certeza que já sei.

Temo ter superado completamente, o que é muito ruim, pois

se eu estiver me apaixonando pelo Fred estou tão fodida.


Capítulo 9

O salão com decoração de cassino já está lotado quando

entramos. Eu não esperava que Lucinda fosse convidar tanta gente.

Olho ao redor e ouço alguém gritar meu nome alegremente. Vejo os


noivos vindo em nossa direção.

— Oi, Lu, primeiro quero dizer que a festa está linda, e depois

quero te pedir desculpas mais uma vez por ser uma péssima
madrinha. Desculpa por não ter ido ao passeio de barco com você.

Desculpa, desculpa...

Ela me abraça apertado.

— Para com isso. Você não é uma péssima madrinha, me

ajudou a organizar tudo, nada disso seria possível se não fosse sua

ajuda. Sabe disso. Você não é tão ruim assim. Só tem um ótimo

motivo para não querer sair do quarto — brinca piscando o olho e


beijando o rosto do Fred. — Eu, no seu lugar, não faria diferente.

Com um homem desses até desistiria de casar.


Vejo Claudio revirar os olhos e repuxar a boca para o lado em
um falso desagrado.

— Claudio, ainda bem que você não é nem um pouco

ciumento, se fosse um terço como eu estaria armando um barraco

agora — brinco abraçando o noivo.

— Eu sei com quem de fato ela queria estar presa em um

quarto, então não tem problema que fale essas bobagens. Já estou

acostumado.

— Preciso ir ao banheiro, vem comigo? — Estendo a mão

para a noiva sorridente.

— Só se me prometer que não vai me afogar no vazo por

brincar com o seu namorado, juro, foi brincadeira.

— Besta.

Ela segura em minha mão e caminhamos pelo salão

cumprimentando as pessoas no caminho.

— Se me trouxe aqui para saber do Alex, a minha promessa

de nunca mais dar palpites ainda está de pé, fora que seu namorado

é um...
— Não foi por isso, na verdade eu... — Fecho os olhos e

suspiro fundo. — Nem lembrei que poderia encontrá-lo aqui,


acredita? E confesso que isso me assusta muito.

— Assusta? Por quê? Isso significa que deixou o passado

para trás e está seguindo em frente.

Cubro o rosto com as mãos.

— Isso significa que se deixei o passado para trás, estou me


apaixonando pelo Fred?

Por alguns segundos, esqueço que Lucinda não faz ideia que

meu namoro com meu colega de trabalho se trata de uma farsa. É


algo que eu preciso contar para ela, mesmo que vá deixar minha
amiga magoada. Tenho certeza de que a culpa está estampada em

meu rosto neste momento, pois ela me encara desconfiada.

— Ei, o que tem demais nisso? Ele é seu namorado e já está

em tempo de se apaixonar novamente, se deixar viver, sentir. A não


ser que...

Somos interrompidas pela entrada de algumas mulheres que


no mesmo instante começam a falar todas ao mesmo tempo.
— Conversamos depois. Vou voltar para o Fred — aviso.

Saio deixando as mulheres alvoraçadas com a noiva. Vejo


Fred conversando animadamente com um grupo de homens junto

com o Claudio. Não quero parecer grudenta, então vou para uma
máquina de jogo, descubro que preciso de fichas para jogar. Todos
os convidados têm uma quota e se passar da quantidade oferecida

precisam comprar.

Pego as minhas fichas e começo a andar em direção a uma


mesa de carteado. Mapeio o salão em busca de um dos padrinhos
que mais uma vez parece não estar presente, suspiro aliviada. O

que será que aconteceu para Alex não estar em lugar nenhum?
Queria ter perguntado para a Lucinda antes de sermos

interrompidas, apesar de saber que ela não falaria do assunto.

— Procurando alguém, Louise?

Assusto-me deixando cair as fichas de jogo pelo salão.


Mesmo sabendo que o encontraria, fico abalada com sua presença.

Ridículo.

— Quer me matar do coração, Alex? — inquiro levando a


mão ao peito de forma teatral e exagerada.
A música e as vozes passam a ficar distantes com as batidas
do meu coração me deixando confusa.

Bom, acho que minha reação não foi tão exagerada assim.

— Já desejei te matar de muitas formas, mas um infarto


nunca passou por minha cabeça, talvez pelo fato de precisar ter um

coração para se morrer disso, não é?

Pisco algumas vezes sem acreditar no que acabo de ouvir.


Só então observo que Alex está ainda mais bonito do que antes.

Seus olhos perfeitos e cristalinos parecem água do mar em


movimento refletindo a luz do sol. Hipnotizantes. Seu corte de

cabelo está diferente, os fios estão mais longos e arrumados com


gel. O estilo dele é mais esporte fino, hoje vestido de fraque está um

arraso.

Ele tem que ser tão lindo?

— Eu tenho coração sim, você não conseguiu destruir, não se


preocupe. Estava procurando meu namorado.

Ele cruza os braços com um sorrisinho que não chega aos


olhos.
— Ah sim, vi vocês ontem — revela me fazendo abrir a boca
surpresa. Ele levanta as sobrancelhas ironicamente. Sua voz
carregada de desdém. — Deram um belo show.

— Nem me dei conta que estava assistindo. Na verdade, nem


me lembrei que você existia.

— É mesmo? Pois parecia que estava como agora há pouco,


me procurando por cada canto.

Deixo um som abafado sair da minha garganta.

— Surpreendente, você acredita mesmo nisso que acabou de

dizer?

— Quem sabe? Sabe, Lou, estou surpreso que tenha


conseguido arrumar outro idiota para atormentar com suas loucuras.

Passe bem.

Simplesmente vira as costas e sai me deixando irada,

revoltada. Como se atreve a falar assim comigo?

— Aqui, moça.

Um garçom me entrega as fichas que haviam caído no chão.


— Obrigada.

— Precisa de ajuda? Uma bebida? — ele questiona olhando-

me atentamente.

Devo estar parecendo uma louca desnorteada. Ou será que a


minha aparência é de uma maníaca assassina? Porque vontade eu

estou de matar alguém, em especial o meu ex.

— Não, estou bem. Espera...

— Sim? — Ele se volta para mim.

— Você por acaso tem uma bebida com algum laxante


potente, veneno, sonífero? Uma porção mágica que faça um homem

enorme desaparecer do planeta?

— Não senhora, isso eu não tenho — responde sorrindo.

— Nem uma que diminua o tamanho do pau dele?

Ele gargalha negando com a cabeça.

— Infelizmente não.

— Que pena.
Vou ao encontro de Fred, um pouco mais tranquila, minha

conversa idiota com o garçom foi até divertida e me deixou mais

leve. Fred segura minha cintura me puxando para ele.

— Vamos jogar um pouco? — sussurro em seu ouvido e vejo

a sua pele se arrepiar.

— Seu desejo é uma ordem.

— Lá vem ela monopolizar o homem — Dimitri, amigo de

longa data do noivo, brinca estendendo a mão para mim. — Como

vai, Louise? Faz tempo que não te vejo.

— Dimi, tudo bem, e você?

Dou um abraço apertado nele.

— Estou bem. Estava falando com seu namorado agora

mesmo que precisamos marcar um jantar, não seria bom reunirmos


toda a turma novamente?

Abro um sorriso que morre assim que encontro os olhos

cheios de rancor do Alex me encarando de longe.

Talvez não seja uma boa ideia.


— Claro, vou adorar. E você, o que acha disso, amor?

— Sempre quis conhecer os seus amigos, nunca me disse


que eram tão divertidos.

— Então está combinado, vou te passar o meu novo número


de celular e podemos marcar.

— Eu já peguei o do Frederico, e ele me passou o seu

também.

— Perfeito. Vamos, amor? — Afasto-me puxando a mão do

Fred.

— Está tudo bem? — pergunta quando estamos chegando à

mesa de poker.

— Sim, por que não estaria?

— Louise, nós dois sabemos que não precisa mentir para

mim. Eu vi você conversando com o Alex, depois esse showzinho

na frente dos amigos dele.

Apesar de tentar parecer natural, sua voz soa brava. Eu o

encaro confusa sem saber se é de verdade, ou se faz parte do papel


de namorado ofendido.
— E como sabe que era ele?

— Fomos apresentados pouco antes de você voltar do

banheiro, mas nem precisaria saber de quem se tratava, de longe


deu para perceber a animosidade de vocês dois. Ou a paixão

reprimida com bastante tensão sexual.

Suas últimas palavras soam como uma repreensão.

— Fred, eu...

— Vamos jogar, ou não?

Aponta para a mesa. Afirmo com um aceno de cabeça e

sento-me.

Jogamos algumas partidas que, por sinal, perdi todas. Estava

aérea e sem conseguir pensar direito, a sorte também não estava

ao meu favor. Minhas fichas haviam acabado.

— Acho que precisamos de mais fichas — falo o observando

puxar todas as fichas para ele.

— Não vai adiantar se sua cabeça estiver em outro lugar e


não no jogo — sussurra em meu ouvido.
Não digo nada, pois ele tem certa razão.

— Sabe o que dizem? — Victória pergunta com a mão sobre


o meu braço. — Azar no jogo, sorte no amor, um de vocês dois está

com muita sorte.

— Dado ao fato de ser um casal, isso pode ser um problema.

Ouço alguém comentar no ouvido dela. Será que era para ser

um segredo?

— Quer beber alguma coisa? — Fred pergunta ignorando as

alfinetadas das mulheres na mesa.

— Sim, te espero na sacada.

Ele deixa um beijo em meus lábios e sai em direção ao bar.

— Uau, que homem! Onde encontro um desses para mim? —


a moça pergunta se abanando.

— Você não tem noção do perigo? Não tem medo de ser


arrastada pelos cabelos e jogada no mar? Eu já vi Louise fazer algo

parecido por muito menos — Victoria alerta.


Reviro os olhos e sem responder às provocações das duas
sigo para a área externa querendo um pouco ar. Se tiver alguém

com azar no momento, esse alguém certamente sou eu. Totalmente

confusa.

A varanda tem vista para o mar, a e noite está bonita, a lua

cheia reflete sua luz sobre a água escura do mar. É tão bonito que

parece uma pintura, uma daquelas fotografias que mais parecem


montagem. Espalmo as mãos no parapeito inclinando um pouco o

corpo para frente. Uma brisa suave sopra em meu rosto e eu fecho

os olhos sentindo o prazer da maresia sobre a minha pele. Assim

que abro os olhos, eles são atraídos por um casal conversando no


jardim. O homem fala alguma coisa, a mulher segura em seu braço

e sorri como uma hiena feliz, eles parecem íntimos. O ciúme bate

forte quando percebo que é o Alex. Então as velhas feridas são


reabertas.

Merda. Eu não esperava me sentir assim.

Eu não conheço a mulher, mas será que de perto é tão bonita

quanto parece ser de longe? Uma loira com porte de modelo usando
um vestido que de onde estou parece ser azul-petróleo. O que será
que estão falando? Olho ao redor avistando um barranco, apesar da
claridade da lua, naquele lado está um pouco escuro. Será que se
me aproximar pelo lado oposto não serei notada? Sem pensar, saio
rapidamente pela lateral do salão. Subo vagarosamente pelo terreno

íngreme. Tomando cuidado para não chamar atenção para mim.


Conto com os coqueiros de baixo tamanho e alguns arbustos para
manter o anonimato.

O que estou fazendo? Enlouqueci de vez? Talvez tenha


voltado às minhas raízes de loucura congênita.

— Eu sei o tamanho da sua competência, Alex.

Reviro os olhos. Sim, a “competência” dele é enorme. É claro


que ela sabe disso.

— Ah, que merda — praguejo soltando um grito agudo


quando sinto pequenas agulhas penetrarem minha pele. — Ahhhhh.

O sistema de irrigação é ativado segundos antes me


deixando encharcada. Por causa da água o terreno está
escorregadio. Tento manter o equilíbrio sem sucesso e acabo

rolando barranco abaixo.


Sinto as lágrimas pinicarem meus olhos. Tento me levantar,
mas acabo caindo mais uma vez sobre a grama molhada. Estou
com lama no vestido e no cabelo, humilhada e sem coragem de

encarar o homem que estende a mão para me ajudar.

— Vamos, Louise.

— Me deixe sozinha.

— Sabe que não farei isso.

Aceito a contragosto a mão estendida. Quando fico de pé, as


mãos firmes de Alex me enlaçam pela cintura. Sua boca a

centímetros da minha deixa meu coração louco pulando Carnaval


dentro do peito.

— Velhos hábitos nunca morrem, não é? — pergunta com os

olhos fixos em minha boca.

— Não sei do que está falando, só me enganei com o

caminho. Nem sei como vim parar aqui.

— Você estava me espionando, Louise, admita.

— Por que faria isso?


Espalmo as mãos em seu peito o empurrando, entretanto ele
é bem mais alto e mais forte do que eu, ele nem se move.

— Pelo mesmo motivo que eu não consegui ficar dentro


daquele salão. Ciúme. Não consigo ver você com outro homem,
mesmo depois de tanto tempo. Ficar lá dentro estava me matando,

sabe por quê?

Balanço a cabeça negando. Estou com um nó na garganta

que não deixo sair nenhum som.

— Porque você é minha.

Seus lábios grudam nos meus rispidamente despertando


sentimentos que julgava estarem adormecidos. Minhas mãos vão

para o seu pescoço, meus dedos penetram seus cabelos e puxo


ainda mais para mim, correspondendo com desespero à invasão de
sua língua morna dentro da minha boca.

— Vem comigo para meu quarto, preciso de você — sussurra


com os lábios ainda grudados nos meus.

As razões as quais eu não posso fazer isso vêm à minha


mente. Nós somos nocivos um para o outro, não existem mais
motivos para reviver o passado, e além do mais estou confusa,

posso estar cometendo um grande erro, e há o Fred. Por que de


repente parece tão errado estar nos braços do homem que sempre
amei?

Eu, no fundo, sei bem a resposta.

— Não posso.

— Claro que pode, Louise, a gente precisa conversar. Sabe


que existem coisas que precisamos resolver.

— Alex, eu...

As palavras morrem em meus lábios quando encontro olhos


verdes magoados no meio do pequeno grupo que se forma para

observar a cena. Eu nem sequer havia percebido que não


estávamos sozinhos.
Capítulo 10

— Merda. — Desvencilho-me dos braços de Alex.

Ele não impõe resistência, nem impede que eu saia.

Mancando e com o salto quebrado, corro atrás do Frederico. Ainda


ouço a voz do Alex dizendo o meu nome ao longe e o burburinho

das pessoas que observavam a cena com curiosidade.

Bando de fofoqueiros.

Tiro as sandálias que estão me atrapalhando a correr.


Quando chego ao quarto, a primeira coisa que vejo é uma mala

sobre a cama. Depois Fred aparece em meu campo de visão

colocando algumas roupas dentro dela.

— Acho que não tenho mais nada a fazer aqui.

— Eu sinto muito, não queria que... você não precisa ir

embora por causa disso. Ele me pegou de surpresa e...

— Você correspondeu ardentemente.


— Não. Foi só um beijo, e nós, digo, eu e você não...

— Porra Louise! — braveja me fazendo calar.

Ainda bem, pois eu não estou falando nada com nada,

minhas palavras não fazem sentido nem mesmo para mim.

— Você não percebe mesmo o que está acontecendo, não é?

Balanço a cabeça nem negação, ainda mais confusa.

— Eu não sei por que está tão bravo...

Combinamos que seria apenas sexo.

As últimas palavras morrem em meus lábios, pois no fundo

eu não pensava assim. Não foi só sexo para mim, foi? Ele joga

algumas peças de roupa dentro da mala e para de frente a mim,

encarando meus olhos. Vejo mágoa nas suas orbes verdes.

— Você deve ser muito cega por nunca ter percebido que sou
louco por você. Essa viagem foi só uma desculpa para ficar ao seu

lado, pensei que pudesse te conquistar. Fazer você se apaixonar

por mim, ao menos um pouco. Estava enganado, você ainda ama o

Alex, e acabou de esfregar isso na minha cara de uma forma bem

humilhante.
Suas palavras me deixam em choque, só consigo ficar

encarando-o enquanto ele se afasta e fecha a mala.

— O... o que disse?

— Exatamente o que você ouviu, e não pretendo repetir. Nem


agora nem nunca mais.

— Fred, não vai, por favor. Eu sei que tudo que rolou fez algo
mudar dentro de mim, também gosto de você mais do que amizade.
Só não posso negar que estou confusa pra caralho neste momento.

— Você acha mesmo que eu ficaria aqui depois do que

acabou de acontecer? Nem sendo seu namorado de mentira eu


aguentaria tamanha humilhação.

— Fred, eu sinto muito.

Ele se aproxima colocando carinhosamente uma mecha de

cabelo atrás da minha orelha.

— Eu sei que deve estar confusa, tem assuntos pendentes


para resolver com seu passado, então faça isso. Vai ser melhor para

nós dois.

— O quê?
— Eu vou embora, assim você vai poder entender o que

realmente sente. Estarei esperando para ser seu amigo ou mais do


que isso, deixar de ser seu namorado de mentira para ser o oficial.

Estarei esperando, seja qual for a sua decisão.

— Fred...

Não consigo mais segurar as lágrimas que deslizam por meu


rosto, como enxurrada.

— Faz o que estou dizendo, Louise, essa é a sua grande

chance... com ele.

Fred sai me deixando devastada e confusa com meus


sentimentos. Sento-me na cama e cubro meu rosto com as mãos

deixando meu corpo cair sobre o colchão. Imagens se misturam em


minha cabeça, eu e Fred nesta mesma cama, no barco, na piscina.
Seus olhos me encarando depois de gozar, e depois muito

magoados. Sua revelação de que se apaixonou por mim. Sinto uma


vontade imensa de correr atrás dele, mas eu sei que ele tem razão.

O beijo do Alex mexeu comigo, isso não posso negar.

Um tempo depois me levanto e vou para o banheiro para tirar


a roupa suja de lama e tomar um banho. Não posso fazer mais nada
a não ser deixar a vida correr.

***

Depois de uma noite maldormida acordo com o celular


despertando com o lembrete que preciso ir ao brunch. Envio uma

mensagem para o Fred.

“Bom dia! Preciso de notícias.”

Fico esperando para ver se ele vai visualizar, mas parece que
o celular está desligado, pois não aparece como recebida. Deixo o
aparelho e vou me arrumar.

Eu sei que sou o assunto do momento, tenho certeza quando


entro no salão e todos param de falar ao mesmo tempo. Nem para
disfarçar.

— Bom dia! — cumprimento algumas pessoas e sigo para a

mesa para me servir.


Mecanicamente, coloco um monte de coisas no prato e vou
até a mesa onde está Lucinda, sento ao seu lado.

— Você está bem? Parece que não dormiu a noite toda —

pergunta afagando meu joelho de forma carinhosa.

— Não muito, Fred foi embora.

— Amiga, sinto muito.

— Depois do seu show com o Alex ontem à noite era de se

esperar — Victoria diz.

Suspiro fundo em busca de controle para não explodir com

ela. Sei que não faz por mal, além do mais, ela não falou nenhuma

mentira.

— Vic, agora não — Lucinda repreende a prima.

— Desculpe.

A loira sedutora que estava com Alex na hora do meu show

se senta na nossa mesa. Encaro a taça de iogurte mentalizando


como ficaria o líquido escorrendo por sua cara. Acho que combinaria

com o odor do seu perfume doce.


— Ele ainda é louco por você — anuncia do nada.

— Eu te conheço? Perguntei alguma coisa? — indago

virando em sua direção.

— Eu sou Stela. Não me olhe assim, nunca tivemos nada. Eu


quis, mas Alex jamais mistura trabalho com prazer.

— Sei — ironizo.

A verdade é que eu realmente sei, mas descobri isso tarde

demais. Sempre imaginei que ele era o tipo de homem que não

resistia a um rabo de saia. Só muito tempo depois, descobri que era


pura paranoia da minha cabeça.

— Ele está agora mesmo saindo de barco, sozinho. Você

deveria ir.

A mulher termina de falar, se levanta e sai como se estivesse

desfilando na passarela. Olho para Lucinda que continua calada ao

meu lado, já que jurou nunca mais dizer uma palavra sobre Alex e
eu. O que não impede de deslizar um guardanapo sobre a mesa

escrito:

Vai logo idiota.


— Não acredito que está mesmo me mandando fazer isso.

Ela volta a escrever e me entrega outro papel.

Vocês precisam conversar depois do que rolou ontem.

— Eu não sei, estou com tanto medo de fazer a coisa errada,

mais uma vez — assumo.

Ela vai escrever novamente e eu puxo a caneta da sua mão.

— Quer parar com isso?

Ela leva os dedos aos lábios e faz um movimento como se

tivesse fechando um zíper.

Reviro os olhos.

Levanto da mesa sem dizer nada. Corro pelas ruas de

paralelepípedos sem medo de virar o pé e acabar tendo uma


contusão. Chego ao píer a tempo de ver Alex entrando na lancha.

Grito seu nome correndo e ao mesmo tempo segurando o chapéu

que ameaça voar por causa do vento. Ele se volta em minha direção
me aguardando na ponta da lancha.

— Louise.
— Posso te fazer companhia?

Ele abre um sorriso lindo que desde que o conheci me deixa


de pernas bambas e estende a mão para me ajudar a subir no

barco. Sinto um arrepio quando a sua mão segura firme a minha me

ajudando a entrar. O perfume que vem dele aumenta ainda mais o


ritmo de minha respiração, enfraquecendo-me, revelando minha

vulnerabilidade diante dele.

— E seu namorado?

— Ele... foi embora — informo dando de ombros.

Ao dizer isso sinto um aperto dentro do peito que não sei bem
identificar o que é.

— Foi por causa do beijo — afirma sem deixar a minha mão.

— Também. Ele... eu não sei se... nossa, isso é difícil.

— Sim, sei como pode ser complicado, mas posso facilitar

para você. Não pensei em nada a não ser em você durante todos
esses anos, Louise — diz emocionado. — Eu não queria outra

mulher que não fosse você. Estou morrendo de saudades e eu acho


que você sente o mesmo. Foi por saber disso que ele a deixou. Não

foi?

Sua mão sobe por meu braço até alcançar meus cabelos, ele
enrola uma mecha no dedo antes que sua mão entre em minha

nuca.

— Isso não vai dar certo, nós dois juntos é loucura — afirmo
fechando os olhos.

Ele me cala com um beijo apaixonado, contradizendo tudo

que eu declarei, eu correspondo com ardor. Percebo o quanto estou


nervosa quando ele se afasta para dar partida no barco.

— Não sabia que você sabe dirigir lancha.

— Aprendi uma coisa ou outra quando estava morando fora.

Você vai descobrir.

Dou um sorriso trêmulo e nervoso. Alex para quando já


estávamos longe. Fico ainda mais nervosa quando ele se aproxima.

— Alex, já passou tanto tempo.

— Eu ainda amo você e isso me deixa louco, possesso,

porque em nenhum momento consegui me livrar do que sinto. Não


dá mais para fugir. Ver você com aquele cara... não deu.

— Não sou mais aquela louca ciumenta de antes, Alex. Eu


sei que sou a única culpada pelo fim do nosso relacionamento e...

— Shiii...

Alex cobre meus lábios com um dedo. Seus olhos azuis

refletem o profundo e selvagem desejo antes de esmagar os lábios

nos meus fazendo o sangue correr mais rápido em minhas veias.

Trêmula, luto com os botões da sua camisa. Sinto as pontas

dos seus dedos percorrendo a estreita alça do meu vestido sem as

remover. Enfio a mão em sua bermuda acariciando seu pau


enquanto nos beijamos com selvageria. Alex interrompe o beijo para

tocar com a boca o bico entumecido do meu seio. Uma mão agarra

a minha bunda me puxando ainda mais para ele. Sua boca volta a
tomar a minha com posse. Quando ele puxa a minha perna para se

prender em seu quadril, a imagem de Fred dizendo que estava

apaixonado por mim surge em minha mente. Seu olhar magoado, os

momentos que tivemos juntos, mesmo antes da viagem, ele sempre


cuidando de mim, fazendo questão da minha presença. A forma

intensa que me encarava, e tudo pareceu tão errado e fora do lugar.


Neste momento algo dentro de mim se quebra. Eu percebo o
tamanho do erro que estou cometendo. Estou apaixonada pelo

Fred, e não mais pelo Alex. Só não tinha me dado conta ainda. Se

ainda sentisse alguma coisa pelo meu ex-namorado não estaria


parecendo tão errado estar em seus braços como está sendo agora.

Tão fora do lugar, tão sem sentido. Algo dentro do meu estômago

congela e eu sinto lágrimas pinicarem meus olhos.

— Não... Alex, eu não posso.

Ele paralisa por alguns instantes como se não tivesse

acreditando no que estava ouvindo. Deixa a minha perna deslizar de


volta para o chão e me encara.

— Louise...

Ele fala meu nome como uma lamúria de dor.

— Sinto muito. Não podemos levar isso adiante.


Capítulo 11

— Eu não acredito que você mentiu para mim — Lucinda

reclama depois de ouvir toda a história sobre Fred, Alex e eu.

— Eu sinto muito, queria ter contado antes, mas... me


perdoe.

Ela enfia o rosto dentro do espaço na cama especializada de

massagem ignorando-me completamente enquanto uma mulher


espalha óleo aromático em seus ombros. Estamos no SPA para o

dia da noiva. Até a hora do casamento no final da tarde ficaremos


entre banhos, massagem e muita champanhe.

Assim que disse para o Alex que estávamos cometendo um

erro, pedi que me trouxesse de volta. Ele concordou, mas quis

conversar antes.

— O que aconteceu, Louise, você parecia querer o mesmo

que eu e de repente...
— Eu sinto muito, de verdade, Alex. Eu pensei que ainda
sentisse alguma coisa por você, mas agora... enquanto você me

beijava eu pensei no Fred, senti como se tivesse fazendo algo

terrivelmente errado, mesmo sendo tudo que eu sempre desejei nos

últimos anos, na verdade era, até Fred aparecer e mudar isso.

Ele fechou os olhos e suspirou fundo.

— Sabe, eu quis ter essa conversa muitas vezes, mas nunca

tive a oportunidade. Talvez se você não tivesse ido embora, se

tivéssemos deixado esfriar a cabeça e conversado.

— Agora você vai me culpar por ter feito exatamente o que

você falou que fizesse? Foi você que terminou comigo. Esqueceu?

Mandou que saísse da sua vida, ou... isso não é justo, Alex.

— Tecnicamente foi você quem terminou, eu só não quis


voltar naquele momento. Achei que você precisasse de uma boa

lição. Pensei que um tempo para fazer você pensar seria o certo,

mas então você foi embora e proibiu todo mundo de falar onde você

estava. Você tem amigos leais que mesmo sob ameaça de morte

jamais trairiam um pedido seu. Não sabe o inferno que passei.


Afastei-me e fiquei olhando para o mar. Tanta coisa poderia

ter sido evitada. Será que poderíamos ter dado certo?

— Quer dizer que se eu tivesse ficado...

— Sim, eu te amava demais para aceitar o fim. E quando eu


vi que você não voltaria, aceitei a proposta e fui para Londres. Eu

achei que pudesse te esquecer. Não fazia ideia de que você havia
voltado para São Paulo.

— Não teríamos dado certo, Alex — afirmei ficando frente a

frente do seu rosto. — Apesar dos anos de terapia, de ter entendido


que tudo era coisa da minha mente insegura, tem alguma coisa que

não permite que nós dois...

— A culpa foi minha por você ter se tornado tão louca e

ciumenta — afirmou me fazendo franzir o cenho.

— Não entendi.

— No começo do nosso relacionamento eu achava lindo


como você ficava toda ciumenta, então confesso que muitas vezes

eu provocava, deixa você pensar que todas as mulheres do mundo


estavam interessadas em mim, até deixava transparecer que eu
poderia me envolver com alguma delas. Hoje vejo que foi muita

infantilidade da minha parte, apesar de ser mais velho do que você,


eu sei que fui o imaturo da ralação, olha que admitir isso não é nada

fácil.

— Não entendo.

— Essas coisas devem ter deixado você com muitas dúvidas


e inseguranças acerca de nós dois. Então as cosias saíram do

controle. Eu sou o único culpado por você ter se tornado tão


ciumenta. Não fazia ideia que minhas atitudes levariam você ao
descontrole.

Sua revelação foi como um tapa no rosto que de repente me


fez acordar para a realidade. Eu me tornei o monstro que ele criou.

— Me leva de volta, preciso acompanhar a Lucinda no dia da


noiva e não quero me atrasar.

— Louise...

— Por favor, Alex. Não precisamos mais dessa conversa.

Ele não disse mais nada e fez o que pedi.


No caminho de volta, eu pensei muito sobre tudo. Alex estava
sempre flertando com outras no passado, isso sempre acontecia
quando eu estava vendo, pois diversas vezes eu me escondia para

vigiá-lo e quando ele achava que eu não estava por perto, era um
homem muito sério, o que me fazia culpar as mulheres. Refleti sobre

quantas vezes ele não atendeu as minhas ligações e eu ia feito uma


boba atrás dele, para encontrá-lo cheio de modelos lindas enquanto
comandava alguma campanha. Em como eu fui me tornando uma

maluca ciumenta e controladora. Nunca tive provas de sua


infidelidade, mas a dúvida sempre existiu.

— Você falou a verdade sobre o seu namoro de mentira com


o Fred para o Alex?

A voz de Lucinda me desperta. Sinto as mãos da massagista


apertando meus ombros tensos e um pouco ardentes pelo excesso

de sol e faço uma careta.

— Não, ele não precisa saber de nada, só você. Eu queria ter


te falado antes, mas não tive oportunidade.

Ela ameaça um sorriso e volta a deitar a cabeça. Eu faço o

mesmo.
— Olha, eu confesso que no começo desconfiei que esse
namoro com Fred não passava de uma encenação. Você sempre
falou dele como um solteiro convicto, que era averso a

relacionamentos e que pegava todas, sempre deixou claro que eram


amigos. Conhecendo você como conheço, você jamais entraria em

um relacionamento com um cara como ele. Então só tinha duas


hipóteses, ou estava apaixonada de verdade, ou era uma grande
farsa para enganar o Alex. Só que vendo você dois juntos, dava

para notar que estão loucos um pelo outro.

Ouço sua voz um pouco abafada pela posição que está, ergo
a cabeça para olhar para ela.

— Por favor, não use essa palavra, nada que seja similar a
louco, loucura, maluco, elas são gatilhos para mim.

Lucinda começa a gargalhar e senta em seguida. Apesar de

ter soado engraçado, é a mais pura verdade. Estou me sentindo


uma idiota que foi manipulada pelo namorado. Como ele pôde fazer

uma coisa assim comigo?

— Está certo. Prometo não jogar na sua cara que você é uma
maluca, uma doida que eu amo demais. Vem aqui, anda.
Levanto-me e vou até ela dando um abraço bem apertado.

— Você não sabe a vontade que tive de largar tudo e ir atrás

do Fred.

— Ainda bem que não foi. Preciso da minha madrinha ao


meu lado. Você sabe que se tivesse que escolher apenas uma

pessoa, essa seria você.

— Claro que eu jamais deixaria a minha amiga no seu dia


mais que especial.

— Você não é tão louca quanto pensa.

Depois da massagem vamos fazer o cabelo e em seguida a

maquiagem. Eu termino de me arrumar primeiro e saio para verificar

como estão as coisas. Meus olhos se enchem de lágrimas quando


vejo o cenário já pronto para a cerimônia. Passo a verificar os

detalhes, conversar com alguns convidados que já chegam. Não

demora muito para a cerimonialista avisar que já iremos começar.

Sigo com ela até o local onde os outros padrinhos aguardam.

— Minha nossa, você está linda — Alex estende a mão em

minha direção.
Ele está deslumbrante com um terno bege e gravata da

mesma cor do meu vestido.

— Vocês dois já podem entrar, não esqueçam que estão


sendo gravados e que tudo está sendo transmitido ao vivo pelas

redes sociais da noiva — Analu anuncia com um sorriso acolhedor.

— A propósito, vocês dois formam um casal lindo.

— Obrigada, mas...

Decido não dizer nada, não vai adiantar. Depois do beijo de

ontem será assim que as pessoas irão nos ver, um belo casal. A
mulher que beijou o ex na frente do namorado.

Encaixo meu braço no do Alex e caminhamos pela passarela


ao som de “A Amizade é Tudo” do Thiaguinho. A princípio eu tinha

sido contra a escolha da música, mesmo com os arranjos. Sempre

achei que deveria ser algo mais relacionado ao casal. Entretanto,

tenho que admitir que a letra combina bem, pois não tem muitos
padrinhos, só os melhores amigos. Alex se aproxima para falar algo

em meu ouvido quando já estamos na metade do caminho.

— Você está percebendo como estão nos olhando?


— Devem estar pensando que sou uma vaca que beijou o ex-

namorado na frente do atual.

— Eu duvido que seja isso.

Não falo nada e me sento no lugar reservado para nós dois.


Já no final da cerimônia, que foi linda e emocionante, no momento

que os noivos selam os votos com um beijo, Alex se aproxima

sussurrado em meu ouvido:

— Já pensou que poderia ser nós dois naquele altar?

Quem sabe? Não havia pensado nisso, não naquele

momento. A única coisa que passa em minha cabeça é o que Fred


estaria fazendo, em como ele está, entre outras coisas.

Talvez se você não tivesse me transformado em uma maluca

ciumenta para depois me chutar por ser algo que você mesmo criou.
Penso encarando seu rosto.

***
— Alex, posso roubar essa linda madrinha de você por

alguns minutos? — Analu pergunta segurando em meu braço

quando estávamos voltando pela passarela no final da cerimônia.

— Fiquem à vontade — Alex concorda deixando um beijo em

meu rosto.

Eu o observo se afastar enquanto ouço a cerimonialista falar.

— A música que você vai cantar ainda está de pé? Se sim,

você já pode se aquecer, a banda está te aguardando.

— Claro, vamos.

Seguimos em direção onde aconteceria a recepção. Vou

fazendo o aquecimento vocal enquanto a Analu fala sem parar.


Chegamos e cumprimento o pessoal. Tínhamos ensaiado há alguns

dias, pois fui eu quem contratou a banda e pedi para cantar a

música da primeira dança sem que os noivos soubessem. Eles

acham que a banda irá cantar “She”, do Elvis Costello, tema do filme
“Um Lugar Chamado Notting Hill” a qual eu sugeri que Lucinda

escolhesse porque ela amava. Aviso que preciso ir para o brinde e

que assim que terminar eu volto.


Os pais dos noivos fazem um breve discurso, em seguida

Alex pede a atenção de todos. Ele tinha sido o escolhido para


representar os padrinhos.

— Bom, todo mundo aqui me conhece, então acho que

dispensa apresentações. Não posso deixar de falar o quanto eu


amo o Claudio como um irmão. Somos inseparáveis desde criança.

Seguimos juntos brincando quando crianças, compartilhando

experiências na adolescência e até secando as lágrimas um do

outro, apoiando, vibrando com as vitórias, enfim. Eu poderia falar as


infinitas qualidades que ele tem, mas todos sabem que são

inúmeras, por isso ele conquistou o coração dessa linda e

maravilhosa mulher. Eu desejo toda a felicidade do mundo aos dois,


e assumo diante de todos que estou morto de inveja de vocês, mas

imensamente feliz. Parabéns e felicidades.

Ele ergue a taça e fazemos o mesmo, em seguida


aplaudimos o discurso. Corro ao encontro da banda que se

posiciona em seus lugares e eu sou a última a subir no palco.

— Boa noite pessoal, recebam os noivos para a primeira


dança de suas vidas. — Lucinda está com os olhos arregalados e

surpresos. — Antes de começar a cantar, quero explicar que não foi


essa a escolha da noiva para a sua primeira dança depois de
casados, ela não faz ideia do que estou fazendo aqui.

Ela olha para o marido e ele dá de ombros, pois não faz ideia

do que está acontecendo. Eu continuo:

— A música que vou cantar tem um significado muito maior

do que qualquer outra. Em uma tarde de outono caía uma


tempestade, e duas pessoas que acabaram de se conhecer

estavam presos no meio do nada dentro de um carro que

supostamente estava estragado. Digo supostamente porque depois

Claudio me confessou que foi uma desculpa para ficar mais tempo
sozinho com ela. Então, essa música estava tocando quando os

dois se beijaram pela primeira vez.

Vejo os olhos da minha amiga se encherem de lágrimas


quando a canção “I Want to Know What Love Is” da Mariah Carey
começa a tocar no piano. Os dois se olham de forma apaixonada e

o discurso do Alex me vem à mente, pois sinto uma pontada de


inveja, junto com uma enorme felicidade pelos dois. Finalizo a

música e entrego o microfone para o vocalista que mais uma vez me


faz o convite para cantar na banda.
— Amiga, obrigada pela surpresa. Você cantou lindamente,
como sempre.

Recebo o abraço dos noivos.

— Acho que deveria mudar de profissão — Claudio diz


admirado.

— O quê? Sou uma ótima advogada.

— Mas tem a voz mais linda que já ouvi na vida. O mundo da

música está perdendo sem você — Lucinda elogia.

Deixo os noivos e vou em direção às mesas onde o jantar já


está sendo servido, pois estou morta de fome. Sento ao lado da

mãe do Claudio que está radiante com o casamento do filho e não


para de falar no quanto está feliz e empolgada para ter um neto
logo.

O garçom coloca o prato diante de mim e a figura do Fred


vem na hora em minha cabeça. Fecho os olhos e visualizo tirando o

champignon do meu prato. Eu provavelmente estaria tirando as


ervilhas, os brócolis e mais qualquer coisa que sei que ele não gosta
do prato dele. Era sempre assim, agíamos no automático. Ele sabia
dos meus gostos e eu os dele. Eu amava o sorvete, e ele o bolinho
do petit gateau. Eu odiava a cebola da pizza e ele o ovo, então,
sempre antes de começarmos a comer, estávamos tirando coisas

um do prato do outro de forma natural e automática. Eu gostava da


cobertura de chantilly e ele do cupcake.

Abro os olhos e coloco os talheres sobre a mesa, pois havia


perdido o apetite.

— Está tudo bem, querida? — Dona Valentina indaga


preocupada.

— Está sim, só descobri que não era isso que queria comer.

Acho que vou dar uma olhada nas entradas na mesa de frios. Com
licença.

Levanto-me e pego uma taça de champanhe na bandeja de


um garçom que está passando, faço sinal para ele esperar, bebo
tudo de uma única vez, devolvo a taça e pego outra. Vou até a área

externa tomar um pouco de ar, sorrindo sem graça para todos que
me cumprimentam no caminho. A noite mais uma vez está perfeita,
nunca vi uma lua tão grande e luminosa.

— Atrapalho?
A voz de Alex me faz dar um pulo de susto e virar de uma
vez.

— Não queria te assustar... ai...

Com o reflexo acabo acertando bem no centro de suas

pernas com o meu joelho.

— Desculpe, sinto muito. Meu Deus, você quase me matou


de susto.

— E você acabou com as minhas bolas — geme com as

mãos cobrindo o pau. — Caralho, isso doeu.

— Eu estava distraída, e você chegou assim e...

— Está tudo bem. Louise, eu não queria te assustar e você


não queria me acertar — afirma se erguendo com uma careta. —
Tudo certo.

Cubro a boca com a mão tentando segurar o riso em vão,


pois solto uma gargalhada que acaba contagiando-o a fazer o
mesmo.

— Pensando no namorado? Ou seria ex? — pergunta ainda


sorrindo.
— Sim, eu estava pensando nele.

— Não vou ser hipócrita e dizer que desejo que ele te perdoe
pelo nosso beijo e que fiquem bem novamente, pois quero
exatamente o contrário.

Você acha mesmo que vou dar uma segunda chance para o
homem que me transformou em uma boba insegura? Pensei, e só

não joguei isso na cara dele porque não faz mais importância. Faz
parte do passado, agora eu amo outra pessoa e descobri isso antes
mesmo de estar com esse sentimento de mágoa e decepção.

Abro um sorriso e balanço a cabeça em negação.

— Alex...

— Vamos dançar? Você me deve isso depois de acabar com


as minhas bolas.

— Você não tem jeito.

Ele aponta para a pista de dança indicando que a música já

vai acabar. Desejo que não tivesse sido eu a escolher as músicas,


pois sei que as próximas seguirão o ritmo mais lento como a que
está finalizando. Bem que Lucinda disse que todo mundo iria querer
dançar algo mais alegre, mas a convenci do contrário, pois
estaríamos todos mortos de fome e comer com música ambiente era
mais gostoso, claro que depois a festa ganhará outra direção.

A música que começa a tocar quando nos aproximamos não


está na lista. “Slave To Love” de Bryan Ferry. Exatamente uma das
músicas que tocava na nossa primeira vez. Naquela época Alex

sabia que eu era virgem, então preparou um cenário perfeito em um


hotel fazenda no interior e escolheu as nossas canções favoritas.
Havia velas aromáticas, pétalas de rosas, declarações de amor,

entre outras coisas. Alex era realmente o namorado perfeito.

— Não acredito que você fez isso! — confesso sentindo sua

mão descansar em minha cintura.

— O quê? Não fiz nada, foi pura coincidência — afirma em


meu ouvido.

— Eu até cairia nessa se não tivesse sido eu a responsável

pela escolha das músicas, e garanto que não coloquei esta na lista.

— Touché! A gente joga com as armas que tem.


Dizendo isso ele me aperta mais um pouco em seu corpo
mostrando o tamanho da potência de suas armas. Há um tempo eu

teria gemido e me derretido toda. Entretanto, agora sei que tamanho


não é documento, tem que saber usar, mas isso também seria um
ponto para ele, Alex é o pacote completo.

— Isso não é um jogo, Alex.

— Tem razão, mas me diz uma coisa, não mexeu nem um

pouco com você? Não te lembrou como costumávamos ser bons


juntos?

— Sim, claro que sim, mas isso foi antes de eu me tornar

uma namorada louca, ciumenta e descontrolada. A maioria das


nossas transas passaram a ser sexo de reconciliação, e por culpa
de quem?

Ele suspira fundo e me afasto para olhar o seu rosto. Alex


deve ter tomado isso de forma errada, pois desce o rosto em

direção ao meu, e quando ele está bem próximo, eu viro a cabeça


encostando em seu ombro. Ele fica calado por algum tempo.

Quando a música está finalizando ele diz em meu ouvido:


— Eu não vou desistir de você, Louise. Eu errei, mas posso
fazer melhor.
Capítulo 12

Afasto-me sem dizer nada. Ergo a saia do vestido e

praticamente corro em direção ao banheiro. Dou graças a Deus por

não ter ninguém. Entro em uma das cabines e me sento respirando


fundo. O que ele quis dizer com "não vou desistir de você"? E por

que isso agora?

O ser humano é incrível, bastar ver que perdeu uma coisa


para querer lutar por ela. Os homens sempre querem aquilo que não

podem ter, são como crianças, isso é fato. Aconteceu com Fred, que

esteve tanto tempo ao meu lado e só assumiu seus sentimentos

quando viu que poderia me perder, e agora com Alex.

Alex foi o melhor namorado do mundo, mas ao mesmo tempo

fazia joguinhos para me deixar com ciúmes, e eu quase acabei

enlouquecendo. Cheguei a pensar que eu era a tóxica destrutiva.

Que havia destruído as emoções dele e até provocado traumas,


acreditava que por isso ele não se relacionava com ninguém depois

de mim. Saber a verdade fez meus olhos se abrirem, no entanto não

foi capaz de me dar a paz que preciso.


Já ouvi dizer muitas vezes de mulheres que adoram provocar
seus parceiros. Fazer de conta que outros homens as acham

irresistíveis para deixar seu companheiro com ciúme e aos seus

pés, mas um homem fazendo esse tipo de coisa foi a primeira vez.

Sinto-me uma boba por não ter percebido antes. Claro que eu

sempre fui um pouco ciumenta, mas com Alex essas coisas sempre

eram aumentadas a níveis extremos. Agora sei os reais motivos,


isso me deixa aliviada, mas também me dá muita decepção.

De repente me bate uma vontade imensa de ir embora, pegar

o primeiro voo para São Paulo e encontrar o Fred e confessar o que

sinto, dizer que é com ele que quero ficar. Não pelo que acabei de
descobrir, que tudo que fiz foi por ter sido provocada, manipulada,

que eu era sim capaz de seguir com um relacionamento sem me

tornar tóxica e destruir tudo novamente, mas porque mesmo sem

saber, eu já estou pronta para amar novamente. É exatamente isso

que vou fazer. Uma batida na porta me desperta das minhas

reflexões.

— Já estou saindo — respondo me levantando.

— Está tudo bem? Você está bem?


Franzo o cenho com a voz masculina do outro lado.

— O quê? — Abro a porta de forma abrupta. — Dimitri, o que

está fazendo no banheiro das mulheres?

— Oi?

Ele joga a cabeça para trás em uma gargalhada.

— Qual é o motivo de tanta graça? — indago cruzando os


braços.

— Tão cedo e já está bêbada desse jeito? Esse é o banheiro


dos homens, Louquise, você está no lugar errado, não eu. — Usa o
antigo apelido que costumava me chamar quando eu aprontava

alguma maluquice.

Olho ao redor, chocada. Primeiro penso em sair correndo,


morta de vergonha e com o rabinho entre as pernas, mas depois me

junto a ele na gargalhada. Essas coisas só acontecem comigo.

— Eu nem notei, juro, estava bem tranquila.

— Percebi, você passou por mim feito um raio lá fora, depois


ficou um tempão aí dentro no maior silêncio, fiquei preocupado,
pensei que tivesse desmaiado ou coisa desse tipo. Além do mais, só

para esclarecer, o feminino é do outro lado.

Cubro o rosto com as mãos, morta de vergonha, depois

passo pelos cabelos, o gesto arranca o prendedor da lateral caindo


aos pés do Dimitri. Ainda rindo muito abaixamos ao mesmo tempo
para pegar, o que faz as nossas cabeças se chocarem, ele se

levanta primeiro e eu, toda atrapalhada, consigo prender o cabelo


na fivela do cinto dele.

— Meu cabelo está preso.

— Percebi.

Tento puxar a cabeça, mas a dor me impede.

— Ai...

— Espera que vou tirar o cinto — fala colocando as mãos em

minha cabeça de forma cuidadosa.

Eu tento me equilibrar nos saltos altíssimos, mas é


impossível com o piso escorregadio e acabo de joelhos.

— Dimitri, tira logo isso — ordeno quase com um gemido de

dor.
— Calma, não quero machucar você.

— Que porra é essa que vocês estão fazendo?

A voz do Alex ecoa pelo banheiro nos dando o maior susto.


Dimitri arranca o cinto e eu caio de bunda no chão. Apoio as mãos
ao lado do corpo para tentar levantar.

— Eu posso explicar — Dimitri diz erguendo as mãos para o


alto.

A expressão do Alex muda de surpresa para assassina.

— Eu vou arrebentar a sua cara — avisa partindo para cima

dele.

Eu levanto segurando na borda da pia e entro no meio dos

dois. Alex segura na gola da camisa de Dimitri, eu puxo seu braço


com força e em vão.

— Alex, está ficando doido? — Empurro seu peito que nem

sai do lugar.

— Eu? Agora o doido sou eu? Entro e pego você de joelhos


com a cara no pau do meu amigo dentro do banheiro dos homens.
— Os olhos dele descem para a calça do Dimitri, que graças a Deus
está bem fechada.

— Não que seja da sua conta, mas o prendedor do meu

cabelo caiu, abaixei para pegar e meu cabelo prendeu no cinto dele
— esclareço erguendo o objeto brilhoso diante dos seus olhos.

Ele se afasta a contragosto olhando de Dimitri para mim


desconfiado.

— E você pode me dizer o que faz no banheiro masculino?

— Você não está mesmo insinuando que... eu...

Estou tão chocada que não consigo articular os pensamentos

e finalizar a frase.

— Ela estava distraída, Alex, só entrou no lugar errado. Você

acha mesmo que eu teria coragem de fazer uma coisa dessas com
a sua mulher? — Dimitri grita colocando o cinto de volta na calça de

forma contrariada.

— Eu não sou mulher dele... quer saber. Eu vou embora


daqui.
Saio do banheiro soltando fogo pelas ventas. Esse é o tipo de

coisa que só acontece comigo. A situação toda seria muito


engraçada se Alex não tivesse entrado no banheiro e dado uma de

homem das cavernas.

— Minha mulher, tá de brincadeira — praguejo.

Meus olhos varrem o salão procurando por Lucinda. Ela está

toda feliz dançando na pista com o marido. Como se tivesse sido


atraída por meu olhar, ela me encara e me chama com movimentos

das mãos e um enorme sorriso. Eu suspiro fundo e vou até ela.

— Que cara é essa, amiga?

— Eu... Lucy... é que...

Estou sem saber o que dizer a ela para não estragar o resto
da sua noite. Então sinto um aperto dentro do meu peito e percebo o

quanto tenho sido egoísta. Não posso simplesmente ir embora ao

menos até que ela jogue o buquê. Então abro um sorriso forçado e

dou um abraço apertado.

— Não é nada demais, estou muito feliz por você. É isso.


Um garçom passa por nós duas e ela pega uma taça de

champanhe para mim e outra para ela.

— Sei... e essa cara de cu é o quê mesmo?

— Nada demais, Alex me pegou no banheiro masculino

ajoelhada com a cabeça no meio das pernas do Dimitri, e...

Mal termino de falar e ela cospe o líquido que havia bebido

fazendo um pouco espirrar em mim.

— É o quê? Você e Dimitri no banheiro? Louise...

— Não é nada disso, até você Lucinda? Eu me confundi e

entrei no lugar errado.

— E a parte de você ajoelhada no... você sabe.

Disparamos a rir e eu começo a contar a história nos mínimos

detalhes enquanto caminhamos para a mesa de frios. Acho que fiz o


meu papel de divertir a noiva em seu casamento. Pois ela não

consegue parar de rir. Vejo Alex se aproximando e faço a minha

melhor cara de megera.

— Alex está vindo e eu não quero nem olhar na cara dele,

avise a ele para nem se aproximar de mim — peço entregando a


taça em sua mão. — Já cheguei no meu limite.

Ergo a saia do vestido e vou para a pista de dança me juntar


a um grupo de amigos que dança e canta ao som de “It’s My Life” do

Bon Jovi. Quando Alex vem se juntar a nós, eu me afasto indo em

direção ao bar. Ele então desiste de se aproximar de mim depois de


algumas tentativas falhas. Estou na mesa de docinhos quando

Lucinda surge.

— Vou adiantar o momento de jogar o buquê, assim você

pode se sentir livre para ir embora, ir atrás do Fred como tanto

deseja.

— Lucy...

Ela coloca o dedo sobre meus lábios me calando.

— Eu sei que você ainda não foi embora para não me


chatear, mas não vai, ok. Eu falei com o pessoal do hotel, eles

tinham me oferecido o helicóptero para ir embora para a lua de mel,

mas como vamos viajar de barco eu dispensei. Se você quiser ir,


pode usar, eu já falei com eles e está tudo combinado. Eu não vou

ficar chateada, de verdade. Eu pedi a Kari para verificar os horários


dos voos saindo de Fortaleza para você. Ela está agora mesmo

fazendo uma pesquisa.

Sem conseguir dizer uma única palavra eu a puxo para um


abraço apertado. Eu tenho a melhor amiga do mundo.
Capítulo 13

Olho mais uma vez a tela do meu celular na esperança de

receber ao menos uma mensagem do Fred em resposta a que havia

enviado para ele. Também tentei ligar, mas não obtive resposta.
Assim que Lucinda jogou o buquê, eu, literalmente saí correndo

para arrumar as minhas malas. Infelizmente não havia voos

disponíveis, a orientação era para que eu fosse até o aeroporto e


entrasse na lista de espera, caso houvesse alguma desistência, e

sempre tinha, eu poderia embarcar. Fui no helicóptero do resort até

Fortaleza na esperança de que houvesse alguma desistência.

Consegui um voo cheio de escalas às 7h da manhã que estava

previsto para chegar às 22h no aeroporto de Guarulhos.

Estou morta de cansada, não durmo direito há dias. Sem

conseguir mais segurar as pálpebras pesadas, rendo-me ao sono.

Acordo com uma sorridente aeromoça avisando-me que já

havíamos pousado.

O caminho até a casa do Fred é longo, mas o taxista não

está ajudando muito dirigindo como se estivesse guiando um cortejo


fúnebre.

— Moço, você pode ir um pouco mais rápido, por favor?

— Não quero ganhar uma multa por excesso de velocidade.

— Certo, tem razão, mas isso só acontece se de fato exceder

o limite, você está muito longe disso.

O homem suspira audivelmente e acelera mais um pouco. O

que não é grande coisa, mas tudo bem. Melhor do que a lesma que
ele estava tentando ser. Ele para o carro e eu só me lembro de

pegar a minha bolsa e dizer um muito obrigada antes de entregar o

dinheiro e sair correndo.

— Moça, esqueceu sua mala.

Ouço a voz do motorista quando já estou com a mão para

digitar a senha de entrada do edifício. Sinto alguns pingos de chuva

molhando meu rosto quando me aproximo do carro.

— Está com pressa mesmo, hein? — ironiza enquanto fecha

o porta-malas.

— Não sabe o quanto. Obrigada mais uma vez.


Pego a mala da sua mão e saio arrastando apressada. Digito

a senha e corro para o hall antes que fique encharcada. Meu


coração está aos pulos quando o elevador para no andar do Fred.

Aperto a companhia e levo a mão ao peito como se isso pudesse


acalmar as batidas. Abro um sorriso para a mulher insegura,
eufórica e acelerada que está refletida no espelho diante de mim.

Estou louca para confessar que também sinto o mesmo que ele
olhando dentro daqueles olhos verdes brilhantes.

No caminho até aqui vim o tempo todo imaginando mil cenas


em minha mente, mas nada de fato acontece como havia pensado.
A porta se abre fazendo meu sorriso morrer nos lábios.

— Olá, em que posso te ajudar?

Uma mulher morena de corpo escultural e vestida apenas de

calcinha e sutiã pergunta segurando a porta deixando apenas uma


fresta. Estou paralisada e tenho que piscar diversas vezes para sair

do transe.

— Quem é você? O que está fazendo... onde está o Fred?

— Eu sou Jenny, e Fred está me aguardando na cama, e


você quem é?
— Fred? Que Fred? Eu nem... Acho que... nossa, errei de

andar, sinto muito... é... pode voltar para o que estava fazendo, ok...
certo, tchau.

Corro de volta para o elevador que graças a Deus ainda está


parado no andar. Faço um movimento para voltar antes que a porta
se feche, até poderia ter impedido, mas deixo que as portas de

metal se encontrem e me tirem dali.

Minha mente está em branco, como se eu estivesse fora do


ar, em um universo paralelo, então a cena da mulher quase nua
começa a se repetir em minha mente.

— Ai, que ódio! Como pude ser tão burra?

Saio do elevador praguejando, puxando a maldita da mala


que empaca no vão entre o metal e o piso impecavelmente limpo.
Minhas mãos tremem enquanto peço um carro no aplicativo. Faço

uma força descomunal para segurar as minhas lágrimas. Como ele


pôde fazer isso comigo? Ele disse que estava apaixonado, que

estaria esperando a minha decisão. Aí eu chego dois dias antes e


ele está com uma mulher no apartamento dele?

— Vadio, safado, mentiroso, canalha...


— Moça, está tudo bem? Precisa de ajuda? — o porteiro
pergunta se aproximando.

— Não, está tudo bem, só estou esperando um carro.

— Certo, vou pegar o guarda-chuva para você não se molhar.

Suspiro fundo secando meu rosto com as costas das mãos.

— Obrigada.

Olho na tela do celular e vejo que o carro já está parado me

aguardando. Tão rápido. Caminho no automático com o moço ao


meu lado carregando o guarda-chuva me protegendo dos pingos

frios da chuvosa São Paulo. Nem lembrei que havia deixado a mala
quando ele pede para o motorista esperar que iria trazer para mim.
Sinto meu corpo todo se agitar com uma reação tardia ao que

acabara de acontecer. Minhas mãos tremem e lágrimas quentes e


silenciosas escorrem dos meus olhos.

Eu poderia ter reagido, entrado naquele apartamento e

acabado com o que quer que estivesse acontecendo lá, mas estou
cansada de fazer a louca ciumenta. Jamais me sujeitaria a isso mais
uma vez. Além do mais, que direito eu tenho de fazer algo assim?
Só porque transamos algumas vezes e ele me fez promessas não
quer dizer que eu posso voltar lá e escorraçar a vadia.

Há um tempo eu teria agido de outra forma. Hoje eu sei que

tenho que amar primeiro a mim, que o homem que disser me amar e
estiver na cama com outra não me merece. Apesar de saber que
esse homem não merece as minhas lágrimas não consigo impedir
que elas caiam.

— Você pode parar na porta do The Red Pub, é na próxima

esquina, por favor? — peço para o motorista para assim que


percebo que logo passaremos na porta do bar onde costumava ir

depois do trabalho.

— Tem certeza, moça?

— Sim, eu tenho.

Ele faz o que eu havia pedido. A chuva está ainda mais forte
quando desço arrastando a maldita mala para dentro do bar lotado.

Passo direto para o balcão.

— Olá, Doutora, vai beber o que hoje? — João Lucas


pergunta olhando para a minha mala.
— Me dê o que você tiver de mais forte.

— Está sozinha hoje?

— Não, estava acompanhada, mas matei o cara e coloquei

na mala — respondo sarcasticamente apontando para ela.

— Ha-ha engraçadinha. Não prefere sentar em uma das

mesas? Eu já levo para você.

— Ok, leve a garrafa.

— Você quem manda.

Saio arrastando a mala que provoca olhares por onde passo.

Escolho uma mesa bem escondida. Ainda bem que hoje é meio da

semana e o local não está cheio como costuma ficar. Nem sei por
que diabos decidi descer aqui, já que corria um grande perigo de ter

algum conhecido. Logo João Lucas coloca a garrafa sobre a mesa e

depois puxa a cadeira e senta diante de mim.

— Acho melhor eu te fazer companhia, talvez precise de


alguém para conversar — fala enquanto coloca a bebida em meu

copo. — E esse corpo aí vem de onde? — inquere apontando para

a mala cor-de-rosa.
Eu viro o líquido branco e faço uma careta, pois meu

estômago vazio reclama na mesma hora. Respiro e pego a garrafa

ignorando o copo diante de mim.

— Eu preciso de álcool e de algo que me faça esquecer que

eu fui uma tremenda idiota que se apaixonou por um ordinário que

disse que estava apaixonado por mim e nesse exato momento está

na cama com outra.

— Uau, está me dizendo que viu o Fred na cama com outra?

Ou que é o corpo dele nessa mala?

É por isso que gosto de conversar com o João, ele sempre

me faz rir de alguma forma. Mesmo em uma situação dessas.

— Como sabe que era dele que eu estava falando?

Ele franze o cenho e parece pensar antes o que falar.

— Bom, não era difícil perceber que vocês dois eram mais do

que amigos, talvez só vocês não percebessem isso, mas me conte,

o que aconteceu?

Começo a relatar tudo enquanto vou secando a garrafa de

tequila pura ignorando o limão e o sal no prato no centro da mesa.


Eu provavelmente iria me arrepender dessa conversa depois.

Embora confiasse em João Lucas. Tenho certeza que ele não vai
sair falando para ninguém, o conheço há tempo suficiente para

saber disso.

— Então foi isso. Agora me diz, como vocês homens


conseguem foder com uma mulher estando apaixonado por outra?

Será que ele estava confuso e descobriu que não gosta de fato de

mim? Se arrependeu e desistiu de me esperar?

— Não, eu acho que ele continua apaixonado.

— Sim, claro, e está trepando com outra agora.

— Veja bem, nós homens funcionamos de outra forma. Ok?

— É mesmo? Conte-me mais sobre isso.

— Acho que, às vezes, nós homens agimos irracionalmente.

Quero dizer, a cabeça de baixo não pensa, só sente. Então se

temos um problema, tipo esse de coração partido, nós procuramos


outras... companhias para tentar amenizar o estrago.

— Outras bocetas, você quer dizer...

— Credo, dizendo assim fica pior do que parece ser.


— O que é pior do que trepar com alguém que não sente o

menor... menor... que não sente nada além de tesão?

Ele dá de ombros.

— Que seja. Nossas cabeças funcionam diferente, basta

saber sobre isso. Um exemplo, eu amo a minha namorada, mas se

ela me der um pé na bunda, o que eu vou fazer?

— Trepar com todas.

— Exatamente. Meus sentimentos não impedem de meu pau


subir... você sabe, é fisiológico. Louise, mas você já parou para

pensar que talvez ele tenha feito isso por achar que você escolheu o

outro? Como é mesmo o nome dele?

— Alex, ele se chama Alex. E como Fred poderia saber

disso? Era para eu chegar em dois dias, ele nem sequer esperou

isso acontecer. Então ele supôs que estou com outro, aí já cai na

gandaia? É isso?

— Você deveria conversar com ele primeiro. Por que não

entrou lá e confrontou o homem?


— Para quê? Fazer o tipo de mulher que se rebaixa e faz

barraco com o homem que não se importa com os próprios


sentimentos e está com outra em sua cama? Não faço esse tipo. —

Não mais. Penso.

— E se ele estiver aproveitando os últimos dias de solteirice?


Você mesma disse que quando voltasse iam começar um

relacionamento, caso tivesse escolhido ele.

— Que seja, isso também não serve para mim.

— Boa, concordo com você.

— Ah é? Achei que iria defender o safado.

O fato é que de qualquer forma ele partiu meu coração. E

porra, isso dói demais.


Capítulo 14

Frederico

Estou parecendo uma dessas pessoas que sofrem algum tipo

de problema neurológico, se não me falha a memória se chama


Síndrome das Pernas Inquietas. Eu tinha um amigo na faculdade

que ficava sacudindo a perna o tempo todo. Aquilo me incomodava

tanto que resolvi pesquisar sobre o assunto. Claro que teria sido

mais fácil se eu tivesse perguntado por que a perna dele não parava
de bater na minha cadeira o tempo todo, mas eu gostava de me
aprofundar nos temas. Descobri em minhas pesquisas que isso

poderia ser um problema neurológico que afeta o sistema nervoso,

ou pode ser ansiedade. No meu caso é o segundo.

Eu sempre fui um cara calmo, racional, nunca deixei minhas


emoções dominarem em nenhuma área da minha vida. Não sofro

por antecipação, sei que para tudo existe o momento certo. Até

Louise aparecer e me tirar dos eixos. Desde que a vi pela primeira

vez que senti uma atração muito forte, mas coloquei isso de lado,
pois não queria um relacionamento e estava na cara que Louise
poderia confundir as coisas. Ela é romântica, sensível e sonhadora.

O melhor foi cortar o mal pela raiz, deixando claro que nada

aconteceria entre nós. O tempo passou, e olha onde estou agora.

Nervoso pra caralho só porque as portas do elevador podem se

abrir a qualquer instante e ela entrar.

Não consigo lembrar quando foi que isso aconteceu, quero

dizer, quando foi que ela se tornou o centro do meu mundo. Não foi

no momento que entrei fundo nela e tive o melhor sexo da minha

vida. Isso eu já sei. Fico tentando descobrir quando foi exatamente

que tive meu coração arrancado do peito e entregue de bandeja


para ela. Então percebo que não foi nada assim abrupto, foi aos

poucos, a coisa foi crescendo, tomando conta de tudo e quando

percebi estava apaixonado. Transar com ela só potencializou as

coisas.

Olho no relógio novamente e percebo que ela está atrasada.

Ligo para a nossa secretária.

— Oi.

— Ester, me avise quando a Dra. Louise chegar, por favor.


— Ela não vem hoje, ligou avisando que teve um problema

de família e que só vem na segunda, inclusive ela tinha uma reunião


com um cliente que chega às 10h e vi na sua agenda que você está

disponível, pode atendê-lo?

— Claro, e... a Louise disse que problema de família era


esse?

— Não, ela não disse. Você deveria ligar para ela, vocês são

tão amigos.

— Está certo, vou fazer isso.

Levanto e começo a andar de um lado para o outro. Eu tinha


ignorado as mensagens que ela enviou, uma atitude nada madura e
bem rancorosa, mas eu tinha minhas razões que por sinal nem

gosto de lembrar. Pego o telefone e ligo no número dela. Minhas


mãos estão frias e úmidas quando a chamada finaliza caindo na

caixa de mensagens. Ligo mais duas vezes e nada. Então passo


uma mensagem de texto, curta e direta.

“Ester disse que você teve um problema de família, está tudo

bem?”
A resposta chega imediatamente.

“Pensei que estivesse com algum problema no seu celular, já


que não me respondeu a nenhuma das mensagens que enviei nos

últimos dias.”

“Estou falando sério, Louise, aconteceu alguma coisa? Sua

mãe está bem?”

“Não é da sua conta, Frederico.”

— Olha isso, está nervosinha? Pois bem, veja só o que vou


fazer — falo para a sala vazia enquanto procuro o número da mãe

dela na minha lista de contatos.

Telma é uma mulher maravilhosa, já almocei algumas vezes


com ela quando veio visitar a filha, ela mora com o marido, padrasto

da Louise, em Campinas. É alegre e jovial, professora aposentada


que dá aula de graça para a população carente. É o tipo de pessoa

que você quer ao seu lado como amiga, e foi isso que nos
tornamos.

— Fred, a que devo a honra?

— Telminha, como vai?


— Estou ótima, e você, como foi a viagem? Aproveitaram
muito na praia?

— Louise não contou? Aliás, ela não está com você?

— Não, ainda não falei com ela, liguei mais cedo, mas ela
estava indisposta, nem conversamos direito. Ela ficou de me ligar

mais tarde.

— Sei, eu estava tentando falar com ela, pensei que


estivesse com você.

Amasso uma folha de papel com toda força e jogo na lata de

lixo, ela mentiu para todos.

— E eu pensei que vocês tinham viajado juntos. O que


houve?

— Uma longa história. Resumindo, tive que voltar um dia

antes do casamento e ela ficou.

— Que droga, isso não é bom. Louise sozinha em uma praia


com o Alex não dá em nada que preste.

— Bom, nisso temos que concordar.


— E eu achando que vocês dois poderiam se resolver nessa
viagem. Você sabe que tenho uma queda por você como genro, não
é?

— E eu adoraria ter uma sogra como você, Telma, mas...

— Sempre tem um mas.

— A gente não manda no coração e o da Louise já está

ocupado faz tempo.

— E o seu, Fred, como está?

— Batendo. Fiz alguns exames recentemente, está em

perfeito estado. — Faço graça com a situação, mas ela sabe que

não estou nada bem.

— Está certo.

— A gente se fala depois, Telminha. Com calma, te conto


como está o meu coração.

— Minha filha deve ser muito cega para não ver o homem
que tem diante dela. Fica com Deus.
Encerro a chamada e encaro o celular. Telma soube antes de

mim que eu estava apaixonado pela Louise. Estávamos almoçando


em um restaurante e quando a filha foi ao banheiro ela me olhou

com olhar analítico e experiente e disse que sabia o que eu sentia

pela filha dela. Na hora fiquei confuso, nem tinha me dado conta que
estava observando a filha dela caminhar até desaparecer no

corredor dos banheiros. Telma sorriu e disse que a forma que eu a

olhava era de alguém muito apaixonado. Foi nesse momento que

caiu a minha ficha e um filme começou a rodar em minha cabeça.


Eu pensava nela 24h por dia. Queria agradá-la, fazê-la sorrir, pois

seu sorriso iluminava tudo. E tinha o tesão, o desejo de beijar sua

boca e me perder dentro dela.

Antes que pudesse tomar alguma atitude com relação ao que

sentia, uma semana depois da grande descoberta, Louise me fez a

proposta de ir ao casamento da amiga e fingir que era seu


namorado. Vi ali uma oportunidade de conquistar, mesmo Telma

dizendo que seria complicado, pois apesar de achar que a filha tinha

sentimentos por mim, ela amava o ex-namorado. Confuso, eu sei,

mas quem entende as coisas do coração? Eu tampouco.

Digito uma mensagem para Louise.


“Resolveu prolongar as férias, Louise?”

A sua resposta veio em forma de emoticon com os olhos para

cima, única coisa que ela respondeu me deixando puto da vida.


Comecei a andar de um lado para o outro feito um animal enjaulado.

Ela estava curtindo mais um dia com o Alex pau grande e inventou

uma emergência de família. Não sei por que isso ainda me afetava,

depois de tudo que aconteceu eu ainda esperava que ela me


escolhesse? Talvez não, mas esperava um pouco mais de

consideração, poxa, ela nem ligou para os meus sentimentos. Fecho

os olhos e volto alguns dias no tempo.

Eu tinha saído do quarto depois da nossa discussão por

conta do beijo que ela protagonizou na frente de todo mundo me

fazendo passar por namorado traído. Tinha confessado meus


sentimentos por ela, sabia que não deveria ter feito isso, mas

precisava deixar claro que se ela quisesse, eu estaria esperando por

ela. Eu tinha bebido muito naquela noite e achei perigoso pegar a


estrada, não havia quartos disponíveis no resort, então fiquei em

uma pousada pequena perto do centro. Estava dentro do carro

quando recebi sua mensagem perguntando como eu estava. Digitei


diversas respostas e apaguei todas. Estava tomando coragem de
ligar para ela quando a vi passar correndo em direção ao cais. Eu a

segui com o olhar e de longe pude ouvi-la gritar o nome dele, que
estava em um barco pronto para partir. Ele a ajudou a entrar e os

dois se beijaram, uma cena linda, digna de filme de romance, não

precisei ver mais nada. Liguei o carro e fui embora.

Ela tinha feito a escolha.

Cheguei a São Paulo cinco horas depois e fiz o que qualquer


homem com dor de cotovelo faria, fui encher a cara no bar. Acabei

chorando as minhas lamúrias para o JP que me aconselhou a seguir

em frente. Eu não poderia fazer nada mesmo, e se ela tiver que ser

minha, será.

Passei os dois dias bebendo, imaginando o quanto ela estava

se divertindo. Ainda tive a capacidade de assistir ao casamento que

estava sendo transmitido pelo Instagram da noiva. Isso que é gostar


de sofrer, pois ver os dois entrando juntos naquela igreja, a forma

como ele estava cheio de sorrisos e segredos no ouvido dela me

deixou ainda mais puto. Enchi a cara e levei a primeira mulher que
me deu mole para casa.
Foi a pior coisa que fiz, pois cada instante, mesmo cheio de

álcool, eu pensava nela enquanto a outra estava comigo. Na

verdade, nem sei se dei conta do recado. Eu nunca havia levado

uma mulher para a minha casa. Era meu lugar sagrado e levar
transas de uma noite para o lugar onde a gente vive não é nada

legal. Além do mais saber onde a gente mora pode levar a

perseguições, como já aconteceu certa vez. Então, eu mantinha


minhas relações fora do meu apartamento.

Uma batida na porta me traz de volta para a realidade.

— Dr. Frederico, seu cliente chegou.

Passar o dia trabalhado e com ressaca foi terrível. Saio mais

cedo do que de costume. O dia se arrastou. Quando chego em casa


está tudo limpo e arrumado. Hoje cedo quando fui trabalhar estava a

maior bagunça, garrafas espalhadas por todo lado. Ainda bem que a

diarista deu um jeito em tudo. Tomo um banho demorado e vou

procurar alguma coisa para comer. Eu me recuso comer a comida


que a Louise fez e está no freezer separada em pequenas porções,

então de forma madura peço uma pizza.


No dia seguinte quando chego ao escritório, não esperava

que Louise estivesse lá. Entretanto, foi a primeira pessoa que vi


quando saí do elevador. Estava linda, com cabelos amarrados em

um rabo de cavalo, uma blusa de seda branca e calça social que

realçava sua bunda linda. Meu sangue correu mais rápido fazendo

meu coração acelerar dentro do peito. Tenho vontade de correr até


ela e tomá-la em meus braços, mas a realidade bate forte, ela não é

minha.

— Bom dia, Louise.

— Bom dia, Frederico. Como vai?

Na merda.

— Estou bem, resolveu o seu problema de família?

— Sim, minha mãe mandou um abraço — diz entrando na


sala do café. — Ela não estava passando muito bem, mas não foi

nada grave.

— É mesmo? — pergunto ironicamente cruzando os braços e

encarando sua cara mentirosa pra cacete. — Engraçado, ela me

parecia muito bem ontem quando falei com ela.


Meus olhos se fixam em seus lábios, seu perfume toma conta
de tudo, quase acabando com a minha sanidade. Sinto exatamente

o que sempre sentia quando ela estava por perto, mas antes era

fácil controlar, pois eu não sabia o quão maravilhoso era ter essa
mulher em meus braços. Não tinha sentido o gosto delicioso dos

seus lábios e da sua... Porra, isso vai ser mais difícil do que pensei.

— Você o quê? Está espionando a minha vida? É isso?

— Ester disse que você teve uma emergência de família,

como você não me respondeu, liguei para saber como Telma

estava, sabe que gosto muito da sua mãe e fiquei preocupado, mas
olha o tamanho da minha surpresa ao saber que você estava

mentindo. Que nem apareceu por lá, muito menos havia falado com

ela. Por que fez isso, Louise? Os dias que ficou lá com o seu
namorado não foram suficientes?

Ela abre a boca para retrucar, mas somos interrompidos pela

entrada de um grupo de pessoas na sala. Louise arregala os olhos


como se tivesse visto um fantasma e praticamente se esconde atrás

de armário fingindo pegar alguma coisa. Franzo o cenho por conta


de sua atitude. Ela é realmente maluca.
— Bom dia, Dr. Frederico. A sua cliente das 8h acabou de
chegar e está te aguardando na sua sala — Ester avisa.

— Certo, já estou indo. A gente se fala depois, Louise.

— Louise? Precisa de ajuda com alguma coisa? — Ester


pergunta indo em direção ao armário onde ela está agachada

procurando sabe-se lá o quê.

Entro na minha sala e estaco na porta quando vejo a morena


de longas pernas cruzadas me encarando com um sorriso nos

lábios.

Porra, o que significa isso?

— Surpreso em me ver, Dr. Frederico?

Ela se levanta e estende a mão com unhas longas e

vermelhas em minha direção.

— Um pouco intrigado.

— Não imagina a minha surpresa ao chegar aqui e me


deparar com você.

— Bem, então somos dois. Em que posso te ajudar?


Coloco as mãos dentro dos bolsos enquanto aguardo
resposta. Não era somente uma coincidência, era?

— Não me olhe com essa cara, não vim atrás de você.

Geralmente é meu marido que resolve tudo, mas como ele está fora
do país, preciso assinar alguns documentos que a sua secretária me

pediu ontem.

Aperto os olhos tentando me lembrar de quem se trata.

— Seu marido? Você não me disse que era casada.

— Vamos lá, moço, não precisa ficar como se tivesse visto

um fantasma, ou cometido algum crime hediondo.

Ela joga os cabelos para trás em um gesto calculado.

— Eu só não costumo transar com as minhas clientes, muito


menos as casadas.

— Foi uma coincidência. E quanto ao meu marido, não se

preocupe, temos um relacionamento aberto, ele dorme com quem


quiser, e eu também — explica dando de ombros como se fosse a
coisa mais natural do mundo.

— Isso se enquadra aos advogados também?


— Sim. — Ela sorri sedutoramente e coloca a mão em meu
peito. — Não precisa ficar reticente. Não pelo meu marido.

— Certo, mas temos um grande problema aqui, eu não


misturo trabalho com sexo, não de forma consciente, então quero
deixar claro que não vai rolar nada entre nós. E se soubesse que

você era casada com um dos meus clientes, jamais teria rolado.
Mesmo com o consentimento dele.

— Que pena, realmente uma pena, pois nos divertimos muito


naquela noite. Então vamos lá?

Afirmo com a cabeça e vou pegar os documentos que Ester


havia deixado sobre a minha mesa.
Capítulo 15

Louise

— Ester, quem é a cliente que está na sala do Frederico?

Não a conheço, nunca a vi por aqui, é cliente nova? — pergunto


como quem não quer nada enquanto coloco sei lá quantas colheres

de açúcar na minha xícara de café.

— Ela se chama Jeniffer. É esposa de um cliente antigo do

Frederico, ele está viajando e ela precisou vir assinar alguns


documentos.

Espirro todo o café para fora quando ouço a palavra

“esposa”.

Ainda bem que estou de costas para Ester e de frente para a

pia, o único dano causado é na parede branca diante de mim.

Quando vi o grupo de pessoas chegando reconheci na mesma hora

a mulher que estava no apartamento dele há três dias. Fiquei com

receio que ela me reconhecesse e acabei me escondendo atrás da


bancada fingindo que procurava alguma coisa dentro do armário.
Imaginei que ela pudesse ter vindo atrás dele, como já aconteceu
outras vezes no passado de Frederico, sair com alguma mulher e

ela acabar descobrindo onde ele trabalhava e veio a sua procura

para tentar uma aproximação. Então ele destruía as ilusões delas

dizendo que foi só uma noite. Entretanto com essa parecia ser

diferente, ela até estava na casa dele.

Que merda, ele perdeu o juízo?

— Está tudo bem? Você realmente está muito estranha hoje.

O telefone da mesa dela começa a tocar e ela sai correndo

da copa para atender. Jogo fora o café intragável mais doce do que

mel e coloco a xícara dentro da pia. Passo a mão no meu rabo de

cavalo em um gesto nervoso e sigo para a minha sala passando

com deliberada lentidão pela porta fechada da sala do Fred. Não

consigo ouvir nada. Reprimo a vontade de encostar o ouvido na


porta, ou de entrar na sala com alguma desculpa boba, mas aí ela

poderia me reconhecer e dizer que fui até a casa dele naquela noite.

Na mesma hora tenho uma ideia. Volto para a cozinha e pego um

copo com água e sigo para a minha sala praticamente correndo sob

o olhar atento de Ester. Bebo todo o conteúdo e corro até a parede


que sapara minha sala da dele encostando o fundo do copo para

tentar ouvir o que os dois falam.

Depois de várias tentativas e de ir mudando de posição, não


consigo escutar nada. Assusto-me com uma batida na porta e deixo

o maldito copo cair e espatifar no chão.

Era só o que me faltava.

— Entre.

— O que aconteceu aqui? — Ester pergunta apontando para


os cacos de vidro espalhados próximo à parede.

— Sou muito desastrada, deixei o copo escorregar da minha

mão e cair. Vou pedir para o pessoal da limpeza vir limpar.

— Pode deixar que faço isso para você, o Dr. Fatahr quer
revisar alguns documentos com você, ele pediu para te entregar e

que fosse até a sala dele.

— Tem que ser agora? — questiono sem conseguir esconder


a minha contrariedade.

Merda, eu preciso saber o que está acontecendo na sala ao


lado.
— Bem, ele disse que você já sabia do que se tratava.

Fecho os olhos e suspiro fundo.

— Verdade, me esqueci completamente. Estou indo.

Pego os documentos e sigo para a sala do meu chefe, mas


com a cabeça na reunião que acontecia na sala ao lado. Já passa

da hora do almoço quando terminamos. Ele sai para almoçar com a


esposa e eu vou correndo para a sala do Fred, sem pensar, entro
sem bater. Não esperava que ele estivesse sentado concentrado em

um documento bem na hora do almoço. Não sei bem o que queria


encontrar, essa é a verdade.

— Louise, posso te ajudar?

Coloco o celular em cima da mesa sem nenhum cuidado e

apoio as mãos na madeira de lei inclinando o corpo sobre ela.

— Então agora você trepa com as suas clientes também?


Francamente, Frederico. Não esperava isso de você, ainda mais
uma mulher casada.

Ele parece muito surpreso no primeiro momento e me encara


em choque.
— Como sabe que eu e Jeniffer... desde quando eu te devo
satisfação com quem eu transo ou deixo de transar? E mesmo que
não seja da sua conta, como soube disso?

Pisco diversas vezes para tentar achar uma resposta que não
seja a verdade, que eu a vi no apartamento dele quando fui lá
declarar o meu amor e dizer que era com ele que eu queria ficar.

Burra.

— Eu sei que não me deve nada, mas aquela mulher é


casada, isso pode dar sérios problemas — desconverso.

Ele se levanta e apoia as mãos da mesma forma que eu tinha

feito.

— Por acaso estava ouvindo atrás da porta?

— Até parece que me prestaria a um papel desses.

— Está com ciúme, Louise?

Abro e fecho a boca sem saber o que responder. A verdade


mais uma vez está fora de cogitação. O problema é que sou uma

péssima mentirosa.

— Eu? Claro que não... eu...


— Então por que está aqui me fazendo cobranças?

— Você é muito... não estou cobrando nada além de


profissionalismo...

— Você sabe que é uma péssima mentirosa. Então por que

não me conta logo a verdade?

Meu celular escolhe este exato momento para tocar. Nós dois

olhamos para o aparelho ao mesmo tempo. Não sei se fico aliviada

ou se xingo o universo por essa intervenção.

— Bem, está te ligando o homem que você realmente deve

ter ciúme. Fique à vontade para atender, feche a porta depois que

sair.

Ele pega o celular e as chaves ao lado do computador.

— A nossa conversa ainda não terminou, precisamos


conversar, Frederico.

Ele sai sem dizer nada. Fecho os olhos e atendo a chamada.

— Alex, que surpresa.


— Oi, Lou, tudo bem? Estou passando aqui por perto e

pensei que talvez você quisesse almoçar, se não tiver compromisso,


claro. Preciso muito me desculpar com você pela forma que agi no

casamento.

Aperto a ponte entre os olhos sem saber bem o que


responder. A princípio penso em negar, mas depois penso, por que

não? Estava morta de fome mesmo, e preciso sair daqui o mais

rápido possível.

— Não precisa se desculpar, Alex, já passou, mas aceito o

almoço. Quer que eu te encontre em algum lugar?

— Bem, na verdade, estou parado na porta do seu prédio e...

posso estar bem enganado, mas estou vendo o seu ex-namorado

passando bem na minha frente agora, ele estava com você?

Abro um sorriso pensando em como é bom a pessoa provar

do próprio veneno. Ora, ora, olha só, quem está com ciúme agora?

— Sim, na verdade, ele trabalha na sala ao lado da minha.

Ele fica um instante se dizer nada. Vou até a minha sala e

pego a minha bolsa.


— É, assim a coisa fica mais complicada, não é mesmo?

— Complicada como?

— Esqueça, besteira minha, estou te aguardando.

Passo no banheiro para retocar a maquiagem e desço em

seguida. Encontro Alex me esperando na entrada dos elevadores


com um enorme sorriso no rosto bonito. Vou até ele e o

cumprimento com um beijo na bochecha.

— Oi, você tem algum lugar em mente?

— Tem um restaurante a duas quadras daqui muito bom, o Le

Minister, conhece?

— Sim, mas lá não tem que fazer reservas? É sempre tão

cheio.

— Geralmente sim, mas eu conheço o dono, tenho certeza


que ele pode facilitar para mim. Vamos? — Oferece o braço.

— Se é assim, vamos lá.

— Quer que eu pegue o carro?

— Não, vamos andando mesmo.


Caminhamos pela avenida movimentada com ele falando ao

telefone. Chegamos ao restaurante e a moça vem toda sorridente.

— Alex, seja bem-vindo. Paolo marcou alguma coisa com

você?

— Na verdade não, estava aqui por perto e quis tentar a sorte

em encontrar uma mesa. Adoro a comida daqui.

— Você sabe que o Senhor Paolo sempre vai dar um jeitinho


para você, o melhor publicitário do mundo. Vou pedir para

arrumarem uma para vocês, hoje estamos lotados.

— Como sempre, não é? Não quero dar trabalho, posso ver


se encontramos outro lugar.

Fingido. Reprimo a vontade de revirar os olhos.

— Não é trabalho nenhum. Espera só um instante.

Era isso o que mais me irritava quando estava com o Alex.

Tudo era fácil para ele. Bastava um sorriso e as mulheres faziam


tudo que ele quisesse, e me ignoravam da mesma forma que a

morena está fazendo agora. Era como se só existisse ele.

— Está tudo bem? Parece chateada?


— Tudo bem, só estou com muita fome.

— Já esteve aqui?

— Sim, alguns dos nossos clientes costumam marcar aqui

durante o almoço. Então você faz a publicidade deles?

— Paolo tem vários outros negócios, esse é só um deles. Já

fizemos muitos trabalhos juntos.

— Show.

Não demora e a moça sorridente aparece para nos levar até


a nossa mesa. Tenho vontade de dizer para ela, “oie, estou aqui

vadia”, mas fico na minha. Era assim que teria feito no passado, o

que sempre levava a uma séria discussão com o Alex.

Sento-me e quando ergo os olhos para a moça que ainda

finge que não estou aqui, ela continua falando com Alex, falta

aparecer duas estrelas em seus olhos.

— Fique à vontade, o Theo vai atender você. Vou avisar ao

chefe que está aqui.

— Ok, obrigado.
— Por nada, é sempre um prazer.

Ela se retira com um sorriso bobo no rosto.

— Certas coisas nunca mudam — murmuro contrariada.

— O quê?

— Nada, vamos pedir?

Fazemos o pedido e o garçom se retira.

— Você voltou para São Paulo antes da festa acabar e não

me deu tempo de me desculpar. Eu sinto muito pelo que aconteceu.

Agi feito um idiota.

— Já disse que está tudo bem.

— E... você e o seu namorado, como ficou? Eu o vi passar e


parecia meio nervoso. Vocês estão juntos?

— Não, não estamos juntos.

— Mas estão bem? Digo, vocês trabalham juntos e pode ser

bem desconfortável.
— No começo está sendo sim, não vou negar, mas vai
passar. Antes de qualquer coisa éramos bons amigos.

— Louise, eu realmente sinto muito, por tudo. Principalmente

pelo beijo na frente do seu namorado naquela noite.

Sua mão vem sobre a minha que está apoiada sobre a mesa.

— Tudo bem, Alex, nada disso tem mais importância.

— Você está mesmo diferente.

— Diferente como?

— Mais madura, centrada. Gosto disso.

Ergo os olhos e encontro um par de olhos verdes me


encarando a alguns metros de nós. O que faz algo gelar dentro de

mim e meu coração bater apressado. Puxo minha mão rapidamente.

— Não acredito. Com tanto lugar para ele ir, tinha que ser
aqui? — reclamo sem conseguir esconder a minha contrariedade.

Alex olha para onde estou olhando.

— Sinto muito, podemos ir a outro lugar se preferir.


— Não, não, aqui está ótimo.

Evito olhar para ele mais uma vez, apesar de que o


magnetismo do seu olhar é impossível resistir. Logo estou o

encarando novamente.

— Pelo visto eu não tenho chance, não é mesmo?

Abro um sorriso triste.

— Acho que não. Eu... Alex, você acredita mesmo que a

gente poderia voltar de onde paramos?

— Não, voltar de onde paramos não dá. Acredito que


podemos começar do zero. Não somos mais os mesmos. Você

mudou muito e eu percebi o quanto errei com você, com nós dois.
Se me der uma nova chance, aí sim acredito que podemos dar
certo.

O garçom chega com as nossas bebidas e eu olho mais uma


vez para a mesa do Fred que parece concentrado na conversa com

dois homens que reconheço como clientes dele. Ele ergue o olhar e
encontra o meu. Ficamos nos encarando por um tempo, até que a
voz do Alex me tira do transe.
— Vocês ficaram juntos por quanto tempo?

— Será que a gente poderia falar de outra coisa? Como foi o


tempo que ficou lá em Londres? Você acha que vai voltar?

Ele sorri compreensivo e passa a relatar como foi desde que

se mudou para a Europa.

Não demora muito para Fred se levantar e ir embora sem ao


menos olhar em minha direção. Algo se aperta dentro de mim e

tenho que me segurar para não correr atrás dele. Se Alex percebeu
como estou não comenta nada.

Assim que terminamos de almoçar ele me acompanha de


volta até o escritório.

— Obrigada pelo almoço, Alex, foi muito bom.

— Eu que agradeço. A gente podia sair no sábado, o que


acha?

— Não sei se isso é uma boa ideia.

— Então pense melhor e no sábado eu te ligo para confirmar,

tudo bem?
— Ok.

Nós nos despedimos com um beijo no rosto de forma

amigável. Enquanto subo de elevador penso em como a vida é


cheia de surpresas, quem diria que eu estaria almoçando com o
Alex como se nada tivesse acontecido conosco no passado, e ainda

mais, sem morrer de amores por ele.

— Ester, Fred está na sala dele?

— Não, ele saiu para uma audiência.

— Quando ele voltar você me avisa, por favor?

— Aviso sim.

Já é quase final do dia quando recebo uma chamada da


Ester avisando que Fred havia chegado. Tomo coragem e sigo para
a sala dele. A gente precisa conversar e não pode passar de hoje.
Capítulo 16

Frederico

Entro em minha sala e sento-me na cadeira. Estou olhando

pela imensa janela com vista para o fim de tarde na cidade cheia de
arranha-céus. O dia tinha sido nebuloso, para dizer o mínimo.

Primeiro, o episódio com a Jenny, depois encontrar a Louise com o

Sr. Pau Grande. Estou agindo de forma estranha, como se tivesse

sido traído, e preciso parar com isso. Louise fez uma escolha e isso
não deveria afetar a nossa amizade. O problema é que eu não me
conformo e dói demais.

Ouço uma batida na porta, arrumo minha postura como se

estivesse analisando os papéis sobre a mesa. Como se estivesse

trabalhando e não imerso em pensamentos.

— Entre.

A porta se abre e ela surge. Parece meio vacilante, como se

estivesse nervosa ou algo do tipo. Seus olhos cor de mel cintilam


um brilho intenso que desejo por tudo saber decifrar. Eu a conheço
bem demais para saber que ela tem algo a me dizer, algo que não
irá me agradar. Algo que será doloroso até mesmo para ela.

— Oi.

Tento agir naturalmente, embora meu coração esteja


palpitando feito um louco no meu peito. Como se fosse o de uma

criança andando pela primeira vez na montanha-russa. Estou

aguardando a hora do looping, o momento da descida em alta

velocidade. Sei que eu devia falar alguma coisa, responder seu

cumprimento, mas nada sai.

— Então, você e o Alex voltaram, parabéns.

Ela franze o cenho. Antes eu tivesse ficado calado.

— Fred, eu... bem, preciso que você saiba que... eu não sei

como te dizer isso, eu...

Ela se aproxima vagarosamente e para diante da minha

mesa.

— Louise, não precisa dizer nada, ok? Foi legal o que

aconteceu entre nós dois, mas admito que transar com você foi um
grande erro. Na verdade, fico muito feliz que você tenha se resolvido

com seu ex.

Ela olha desconfiada.

— Como é?

— Veja bem, eu acabei me precipitando e confundindo os

sentimentos, toda aquela aura de romance, praia, dormir e acordar


ao seu lado. Fingir que éramos namorados, tudo isso ajudou. Você
não precisa agir como se me devesse alguma explicação, certo?

Confesso que depois que voltei meus pensamentos clarearam e eu


pude entender que não poderia ser mais do que seu amigo. Eu não

sirvo para ter um relacionamento sério, eu quero me divertir, gosto


de ser livre. Sair com quem eu quiser e na hora que eu quiser,
entende?

Esse sou eu tentando recuperar a minha dignidade. Jamais

ficaria esperando com cara de otário enquanto ela me dá o fora


dizendo que está bem e feliz com o ex babaca depois de saber dos

meus sentimentos por ela.

Não quero a sua pena, Louise. Vou facilitar para você.


Ela me encara como se tivesse levado um susto, seu rosto

fica branco, para depois ganhar uma coloração vermelha. Raiva?

— Então é isso? Você se enganou com o que sentia por mim,

chegou aqui decidiu que quer ser o mesmo de sempre?

Como se eu tivesse escolha.

— Você fez a sua escolha e eu a minha, só acho que não


devemos ficar nos estranhando por uma coisa tão insignificante. Foi
só sexo. Podemos ser amigos, como sempre fomos.

Meu celular toca, salvando-me do pesadelo desta conversa.

— Alô?

— Fred, estou indo embora, enviei o documento que pediu

para o seu e-mail. Até amanhã — Ester avisa.

— A sim, claro. — Espero ela desligar para continuar a


encenação. — Espera um minuto, não, não estou ocupado. Só

organizando umas coisas sem importância — afasto o telefone. —


Desculpe, Louise, preciso atender aqui, a gente pode conversar

depois?
Ela concorda com um aceno de cabeça e sai da minha sala,
mas volta imediatamente, aponta o dedo em riste e fala com muita
raiva no olhar.

— Você, é um tremendo cretino, seu babaca idiota. E você


tem razão, transar com você foi o pior erro que cometi na vida.

Então sai da sala batendo a porta com toda força. O que ela
queria? Que chorasse e implorasse para ficar comigo? Isso nunca.

Eu não imploro, eu não deixo que uma mulher saiba que estou
sofrendo por ela. Que meu coração está aos pedaços. Eu posso até

estar na merda, mas ninguém nunca vai saber disso.

***

Já é noite e ainda estou no escritório, no escuro olhando pela


janela. Estou tão impactado com os acontecimentos dos últimos

dias, o peso em meus ombros é tanto que não consigo me mover.


Ouço meu celular tocar e atendo no automático.

— Alô?
— Oi, meu filho, tudo bem?

Puxo um suspiro longo. Eu sou o cara que foi criado pela avó.
Meus pais estão bem vivos, mas quando nasci eles eram muito

novos para cuidar de uma criança, então a minha avó tomou essa
responsabilidade para si enquanto os meus pais estudavam e
construíam uma carreira. Morei com ela até os meus oito anos, e
depois disso não consegui mais ficar longe, então meus pais

passaram a morar na casa ao lado da minha avó e fomos sempre

uma grande pequena família. Meu pai é professor em uma

universidade, minha mãe é advogada, aquela que sempre me ajuda


no trabalho quando é algum caso mais difícil.

— Oi, vovó, como a senhora está?

É impressionante como ela sempre sente quando eu preciso,

quando estou triste, doente, ou até mesmo, feliz.

— Estava aqui me perguntando que dia você vai vir visitar

essa velha, quando eu morrer não adianta chorar no caixão não,

hein?

Começo a rir da forma como ela faz drama porque tem mais
de duas semanas que não vou a sua casa e nunca passo disso.
— Desculpa, minha velha, as coisas aqui estavam meio

agitadas.

— Filho, está tudo bem mesmo? Parece que essas coisas

meio agitadas não estão te fazendo bem, posso sentir na sua voz.

Fecho os olhos e encosto a cabeça na cadeira.

— E não estão mesmo, fiz um monte de besteira, agora estou

no escritório feito um idiota, no escuro e de coração partido.

Começo a contar tudo para ela. Quando termino estou

chorando feito um bebê.

— Sabe, filho, você deveria ter deixado a mulher falar, eu

sempre te ensinei que se deve ouvir o que uma pessoa tem a dizer,

principalmente uma mulher. Não tem como você saber se era o que
realmente ela tinha a dizer.

Praguejo de raiva e contrariedade.

— Vó, a senhora ouviu a parte que os dois estavam


almoçando hoje como um casal feliz?

— E daí? Talvez não seja o que você está pensando. Talvez


o homem tenha aparecido de surpresa, não se sabe. E se os dois
estiverem mesmo juntos, mas se o relacionamento deles for como

ela disse que era, conturbado e sem confiança um no outro, não vai

dar certo. Não irão muito longe, logo estão terminando novamente...

— E eu vou ser a segunda opção? O estepe? Fala sério,

jamais me prestaria a um papel desses.

— Oxente, e o que tem demais nisso? É só agarrar a


oportunidade e fazer valer a pena. Deveria ter deixado claro que

estaria esperando por ela, e não fazer a moça pensar que não

significou nada o que tiveram. Francamente, como teve coragem de


dizer que foi só sexo? Você às vezes é muito burro, sabia? Fica aí

dando uma de gostosão, mas está com o coração partido e sozinho.

Orgulho não leva ninguém a lugar nenhum, Frederico.

Eu tenho mesmo que levar um puxão de orelhas da Dona

Horácia.

— Obrigado, vovó, a senhora acabou de jogar a última pá de


terra no meu caixão.

— Por nada, filho, mas todo mérito é unicamente seu. Você

cavou a cova, você entrou nela e você puxou a terra para si.
Agora o arrependimento me pega de jeito, me aperta as

entranhas, faz meu estômago se contorcer e meu coração contrair


até doer. Eu gostaria de ter uma máquina do tempo para voltar e

mudar cada palavra do que eu disse para a Louise.


Capítulo 17

Louise

Chego à academia espumando de raiva. Estou agitada

demais para ir para casa, se ficar sozinha certamente farei alguma


besteira, como ligar para Fred e falar tudo que está entalado na

garganta. A outra opção é ir para um bar, mas corro um sério risco

de encher a cara e usar a coragem do álcool para furar os pneus do

carro dele, pintar as camisas brancas e caras com tinta permanente,


entre outras maldades que passam por minha mente. Então o
melhor a se fazer é extravasar na academia.

Queria poder ligar para a minha melhor amiga, mas não

ousaria atrapalhar a sua lua de mel, jamais. Ela está feliz e

incomodar com as minhas lamúrias amorosas só a deixará triste.

Antes de entrar para treinar eu vou até a recepção e peço um

favor para a atendente. Ela não questiona quando me entrega o

papel que pedi que imprimisse para mim. Pego a maldita foto e

caminho para a aula de boxe. Geralmente naquele horário a


academia está lotada, mas como é sexta-feira, poucas pessoas
estão treinando. Vou até o saco de pancadas e colo a foto com a fita

adesiva dupla face que Lania me emprestou.

— O que significa isso? O Frederico não pôde vir com você

hoje e decidiu fazer uma homenagem? — o instrutor pergunta


intrigado.

— Exatamente — afirmo me preparando e desfiro uma

sequência de chutes.

Começo com um spinning back kick, um chute giratório e

acerto no meio da cara do Fred com o calcanhar. Em seguida,

passo a socar sem trégua. Eu sempre fui uma mulher impulsiva e

quando se trata de coisas do coração então tudo piora. Eu preciso

falar com alguém ou irei explodir.

— Minha nossa, ele deve ter feito algo muito ruim para você

estar brava assim.

Essas palavras são suficientes para fazer com que a louca

dentro de mim desperte e eu solte a língua sem pensar.


— Sim, ele fez. Ele me iludiu, me levou para a cama, disse

que estava apaixonado por mim, e sabe o que ele fez depois? —
pergunto voltando a sequência de chutes. — Ele disse que foi um

erro, que estava confuso e que não poderia ter um relacionamento


comigo, porque ele não é homem de ficar com uma mulher só. Foi
só sexo, Louise. — Imito a voz dele usando todo meu desdém.

Provavelmente irei me arrepender de cada palavra dita. Quer


saber? Que se dane, não era segredo para ninguém mesmo.

— Uau, ele pegou pesado. Eu sempre achei que vocês dois


tinham um lance. Uma química diferente, algo como amizade

colorida.

— Não, nós éramos apenas amigos, até eu pedir que ele me


acompanhasse em uma viagem...

Conto toda a minha história para o instrutor, algumas

mulheres param de treinar para ouvir o meu relato. Logo estou rindo
com as ideias de vingança delas. Ainda bem que sou uma nova

mulher, ou estaria agora mesmo com um batalhão de mulheres


colocando as mais loucas ideias em prática.
— Eu deveria ter transado com Alex, sabe? Como fui boba.

Quando estava nos braços dele, só nós dois naquele barco no meio
do mar, senti como se tivesse traindo o Fred. Viram como sou

idiota?

— Amiga, ainda está em tempo de você fazer isso. Você


acabou de dizer que esse Alex pirocudo está na sua, pega o

telefone e manda ver.

Agora é a Elen quem está na sequência de socos e chutes na


imagem já toda rasgada, e essa já é a segunda imagem que
colamos no saco. O jeito vai ser pedir para imprimir mais uma.

— Eu posso resolver o seu problema. Sabia que o meu nome


do meio é Alex? — informa um rapaz uns dez anos mais novo do

que eu me fazendo rir da sua cara de pau. — Juro, na verdade,


pode me chamar do que quiser, gata. Alex, José, meu amor, do que
quiser.

— Sai fora, franguinho. Estamos falando de um homem de

verdade, com um senhor instrumento no meio das pernas. — O


olhar da Elen desce para sua bermuda. — Até que não é de jogar
fora não, Louise.
Sacudo a cabeça sem acreditar no que estou vendo. A
mulher sorri piscando de forma sacana para o rapaz, ele arruma a
bermuda para deixar o volume mais evidente.

— Alex me chamou para sair amanhã, acho que vou aceitar.

— Não faz isso, vai iludir o rapaz e não vai conseguir ir

adiante. Depois de tudo que você contou, você não é esse tipo de
mulher, faz mais o tipo apaixonado que só transa se tiver sentimento

envolvido. Melhor ficar na sua, só não fala nada para esse Fred,
deixa ele pensar que você está na boa com o Alex. Faça ele se

arrepender de cada palavra. Eu sei que você consegue.

Ergo a mão e bato na palma dela em cumprimento.

— Tem razão, é exatamente o que vou fazer.

Chego em casa já passa das 22h. Tomo um banho e só então


olho no celular. Dez chamadas da minha mãe. Faço uma nota

mental para ligar amanhã cedo para ela. Estou tão cansada que não
tenho dificuldade para pegar no sono.

***
— Louise, diga que não voltou com aquele... com aquele que
nem ouso citar o nome.

É assim que minha mãe atende a chamada quando ligo para

ela às 9h da manhã.

— Oi, mamãe, tudo bem comigo, obrigada. E a senhora,

como está? — pergunto colocando pó de café no filtro.

— Não desconversa, Louise. Estou falando sério. Não


acredito que deixou o gato do Fred de lado para voltar para aquele

que não falo o nome.

Suspiro fundo e sento-me na bancada da cozinha minúscula


do meu apartamento. Minha mãe nunca gostou do meu

relacionamento com o Alex. Ela o achava velho demais para mim,

sempre dizia que ele provocava o pior de mim. No fim das contas
ela sempre teve razão.

— Não, mamãe, eu não voltei para o Alex, satisfeita?

— Não diga esse nome que dá azar, ele pode aparecer de

repente, sabia? Não podemos ficar falando certas coisas, sempre


atrai.

Reviro os olhos com as teorias dela.

— Mamãe...

— É sério, filha. Sabe que eu quero o melhor para você.

— Sim, eu sei. Estou falando sério, mamãe, não voltei para

o... aquele que não ouso falar o nome ou a senhora infarta.

— E jura que nem pretende voltar? Isso não passou pela sua

cabeça?

— Telma? Para que isso tudo?

— Para ter certeza de que não vou ter que gastar as minhas

economias e as suas pagando um carro que jamais sonhei em


comprar. Ou sair daqui para tirar você da cadeia.

Claro, esse era o ponto. Ela nunca me deixaria esquecer as

besteiras que fiz no passado. Coloco o telefone no viva voz para


continuar arrumando o meu café da manhã.

— Eu mudei, mamãe. Não sou mais uma louca homicida, ok?

Prova disso é que não fiz nada contra o carro do Fred, ou aquela
moto que ele tanto ama. E estou agora mesmo preparando um belo

desjejum para mim. Nada de greve de fome, satisfeita?

Ela fica em silêncio por um tempo antes de fazer a pergunta


de um milhão.

— Você e o Fred... o que aconteceu, Louise?

Com um suspiro passo a contar toda a história que repito

desde ontem. Estou até pensando em gravar para não ter que ficar

repetindo.

— ... e ele teve a capacidade de dizer que não significou

nada. Que foi apenas sexo.

— Ele disse isso porque acha que você está com o Alex,
filha.

— Está mesmo defendendo o cretino?

— Já pensou que você deve ter feito algo para ele pensar

assim?

— E daí? Nada justifica. Eu me sinto usada, me sinto

humilhada e ninguém faz isso comigo, mamãe, ninguém.


— Está certa, filha, mulher tem que se valorizar em primeiro

lugar, fico muito feliz que tenha aprendido isso. Faça esse filho da
puta rastejar aos seus pés. E pode ter certeza que ele vai, sabe por

quê?

— Não, não faço ideia, mas pelo visto você sim.

— Porque ele te ama. Isso eu já sabia, só você não tinha

percebido ainda.

Fecho os olhos sentindo o impacto de suas palavras.

— Mamãe, vamos mudar de assunto?

***

Passo o final de semana fazendo faxina, separo algumas

roupas para doação, depois vou assistir alguns filmes clichês


românticos daqueles que sempre me fazem chorar. Coloco uma

música e acabo em lágrimas me sentindo a própria Bridget Jones

berrando all by myself.


Lucinda parece sentir que eu precisava conversar com

alguém e me liga no momento exato do meu show, ou diria choro?

— Oi, Lu, tudo bem?

— Tudo maravilhoso, estou amando conhecer a costa

brasileira em um barco com o meu marido. Liguei para saber como

está tudo, você e o Fred?

É nesse momento que eu desabo. Quase não consigo contar

tudo, mas ela ouve pacientemente.

— Desculpa, Lucinda, não queria te incomodar com as

minhas coisas, ainda mais nesse momento que você está feliz.

— Oh, amiga, que é isso? Somos amigas ou não? Claro que


deveria ter ligado.

— Obrigada, estou me sentindo melhor depois de falar com

você.

— Viu? Espero do fundo do meu coração que o pau desse

Fred caia e não levante nunca mais... — ela faz uma pausa e posso

ouvir a voz do Claudio de longe. — Claudio acabou de me


repreender, disse que isso a gente não deseja nem para o pior
inimigo, ainda mais para o homem que certamente será o namorado

da minha melhor amiga.

— Se ele soubesse.

— Ele está na torcida por vocês dois. Apesar de que você


sabe, a preferência dele era o Alex...

Conversamos mais algum tempo e quando desligo já estou

mais leve.

***

Na segunda-feira me levanto decidida a virar a página. Tenho

uma grande vantagem que é o fato de que Fred não faz ideia dos
meus sentimentos por ele, mas eu sim sei o que ele sente por mim,

ou o que disse sentir, vai saber se realmente é verdade. Mesmo que

ele diga que foi um erro, que não estava tão interessado assim, a
verdade pode ser bem diferente disso. Coloco uma saia lápis preta e

uma regata branca, em seguida um terninho para disfarçar o fato de

que... ops, esqueci de colocar o sutiã.


Chego cedo ao escritório, vou para a copa e preparo um
chocolate quente, pois o dia está um pouco frio e eu preciso de algo

que aqueça um pouco. Já que deixei o blazer descansando no

encosto da cadeira na minha sala. Estou com a xicara nas mãos,


encostada na bancada da pia quando Fred entra como de costume

para tomar o café entes de começar o dia. Ele está lindo, como

sempre, não existe ninguém que fique tão bem usando um terno em
tom esverdeado como Fred, parece que foi feito sob medida, e a cor

combina com seus olhos, sexy, atraente e irresistível. Faço uma

força tremenda para me manter firme, pois a caneca ameaça

escapulir das minhas mãos do tanto que ela está tremendo. Abro
um sorriso e encaro seu rosto por cima da xícara.

— Bom dia, Fred.

Eu até posso estar destruída por dentro, mas por fora eu sei

que estou poderosa e pela forma que seus olhos passeiam por meu
corpo, desde os scarpins vermelhos de saltos altíssimos até chegar
aos meus olhos, fazendo uma longa parada em meus seios antes,

eu posso perceber que mexo com ele.

Que comecem os jogos.


Capítulo 18

Frederico

Desde quando virei o cara que tem uma ereção só de olhar

para uma mulher? Nem quando era adolescente algo assim


acontecia. Talvez seja porque não se trata de qualquer mulher, ou

porque a sua blusa é transparente e deixa aqueles montes firmes e

redondos com bicos rijos apontando para mim como quem grita para

serem tocados, sugados, apertados. Certamente o fato de saber a


textura, e por ter sentido o peso em minhas mãos, o sabor em
minha boca tudo fica mais intenso. Ainda bem que não tirei o terno,

ou ela estaria bem visível para qualquer um que entre nesse

momento. Eu faço uma força tremenda para olhar para o rosto dela,

mas meus olhos voltam a admirar a vista sexy pra caralho dos seus

seios.

— Bom dia, Louise.

— Não sei, mas tenho a impressão que esse bom-dia não foi

exatamente para mim, só lembrando que meu rosto é um pouco


mais acima e você poderia parar de olhar para os meus seios dessa
forma.

Como se isso fosse possível. Eles são perfeitos demais.

— Certo, bom dia peitos da Louise. Esqueceu de colocar o


sutiã antes de sair?

Ela olha para os seios fartos e sorri nada tímida. Ela fez de

propósito?

— Acho que sim. Se você não fala não teria percebido.

— Sei...

—Trouxe um bolo para você, sei que adora bolo de cenoura


com cobertura de chocolate.

Franzo o cenho desconfiado com a amabilidade repentina. O

que deu nela? Outro dia estava me xingando e agora isso?

— Jura? Obrigado por se lembrar de mim.

— Eu sempre me lembro de você, Fred, sabe disso — afirma

dando uma piscada sexy que sinto atingir meu pau já dolorido. —
Bem, tenha um bom dia, se precisar de alguma coisa estou na

minha sala, é só chamar. Aproveite o bolo, está uma delícia.

Ela sai rebolando a bunda que está completamente


desenhada por uma saia infernal.

Caralho. Minha mente pervertida e apaixonada toma isso

como um maldito convite e sinto meu pau vibrar de alegria. Onde


está a sua dignidade, meu filho? A mulher tem namorado,

esqueceu?

Vou até o purificador de água e tomo dois copos seguidos,


para tentar refrescar a mente. Deixo a porra do café de lado e vou

para o abrigo e a segurança da minha sala, para bem longe do


maldito bolo que provavelmente ela deve ter comido com o Alex
antes de sair de casa. Esse pensamento é o suficiente para acabar

com a minha ereção.

***
A semana foi um inferno. Louise parecia ter decidido me

provocar de todas as formas. Primeiro aparecendo sem sutiã,


depois com um decote profundo que deixava aparecer parte da

renda preta. E assim a semana seguiu, cheia de amabilidades e


provocações, bolos e sobremesas, olhares sugestivos que eu não

conseguia decifrar. Entrei no jogo dela, devolvendo a provocação na


mesma moeda. Se ela não se importava com o fato de ter um
namorado, por que eu deveria?

Na sexta-feira é dia de happy hour com o pessoal do


escritório. Eu não estou nada animado, pois não quero encontrar
Louise com o Alex, não mesmo. E certamente eles irão juntos.

Estou em minha sala e como de costume a maioria do

pessoal sai mais cedo. Sexta é sempre assim. Louise tinha ido a
uma audiência, pensei que iria direto para o bar, no entanto, mais

uma vez, estou enganado.

— Ainda por aqui, Fred? — pergunta entrando em minha


sala.

— Alguém tem que trabalhar nesse escritório, não é mesmo?


— falo em tom de brincadeira, como sempre faço. — E você, o que
faz aqui? Achei que iria direto para o pub.

— Vim deixar alguns documentos e pegar meu notebook que


esqueci aqui, amanhã vou para a casa da minha mãe e pretendo

trabalhar um pouco, se sobrar tempo, claro.

Reprimo a vontade de perguntar se Alex irá com ela, seria

mais uma pergunta retórica, pois está claro que sim. Então me calo
e volto para meu documento.

— Queria muito que as coisas voltassem a ser como antes —

ela fala do nada e sua voz está carregada de lamento.

Essa mulher é irritante demais, e meu pau está prestes a


explodir, pois o seu perfume chega até minhas narinas trazendo

lembranças e provocando meus sentidos. Louise está parada na


frente da porta, mais linda do que nunca e muito irritada. Como se
tivesse o direito de estar assim.

— Nós demos um passo muito perigoso que mudou as


coisas. Não podemos voltar no tempo e mudar o que fizemos.

Ela aperta os olhos, fecha a porta e caminha até onde estou.


Eu me levanto ficando frente a frente com ela.
— Então é isso, não podemos voltar no tempo e sermos
amigos novamente — Louise afirma, a voz carregada de lamento.

— E quer saber? Se pudesse voltar eu não mudaria nada,

faria tudo do mesmo jeito — confesso, pois é a mais pura verdade.

Quando ela tenta passar por mim, eu agarro seus ombros, a


empurro contra a mesa e a beijo. É como se tivesse saído do inferno
e voltado para o paraíso. Isso é tudo o que eu sempre quis fazer

desde a primeira vez que a vi aqui nesta mesma sala, e depois que

provei não quero nunca mais parar. Inspiro seu cheiro delicioso que
me mata pouco a pouco. Há dias que anseio por isso, que quase

morro por isso. Sinto sua mão em meu rosto e seguro firme em sua

cintura. Somos uma confusão de mãos, bocas, línguas, dentes e


gemidos. Isso é tudo que preciso agora, mas ao mesmo tempo não

é suficiente. Nunca vai ser, porque sei que ela vai me odiar quando

terminar.

— Você está me deixando louco — confesso sussurrando em

seu ouvido. — Se era essa a sua intenção, conseguiu. É isso? Quer

me torturar? Me enlouquecer?

— Sim, essa era a intenção o tempo todo.


— Você é a porra de uma trave no meu caminho, sabia?

Ela iria dar alguma resposta espertinha, como sempre faz,

mas minha boca impede a sua.

Faço o que qualquer homem apaixonado e desesperado de


saudade faria no meu lugar. Seguro sua cintura e a coloco sentada

na mesa de carvalho, depois me ajoelho diante dela. Solto um

gemido quando coloco a sua calcinha de lado e aperto sua bunda


puxando seu corpo um pouco para frente e a penetro com a língua,

estocando-a de forma implacável. Ela segura em meus cabelos

gemendo desesperada a cada ataque da minha língua e lábios. Seu

gosto é a melhor coisa que já provei e eu queria ser o único a sentir


o seu sabor. Não vou parar até que ela esteja gritando meu nome.

— Fred! Puta merda, que delícia!

Ela geme e se contorce, tão linda e perfeita gozando como eu

me lembrava. Quando ela fica em silêncio, levanto e me inclino

sobre seu corpo a beijando até que o fogo está de volta. Eu


desabotoo a calça o suficiente para deixar meu pau livre. Eu me

sinto no céu quando ela levanta uma perna e a envolve em minha

cintura. Encaixo meu pau impaciente dentro dela e seus lábios


gemem meu nome mais uma vez quando me suga para dentro, tão

molhada e pronta. À medida que as estocadas aumentam de

intensidade, gememos mais alto. Seu interior é úmido, quente,


apertado, macio e deliciosamente alucinante. Continuo estocando o

máximo que posso, mas quando gozo, é intenso, delirante.

Quando nos recuperamos, ela me encara com um misto de

satisfação e... arrependimento? Estamos ofegantes e suados.

— Louise, eu sinto...

Sua mão cobre a minha boca, como se não conseguisse


emitir uma única palavra, ela apenas sacode a cabeça em negação.

Vejo a decepção em seus olhos. Ouço vozes no corredor e

provavelmente alguém pode ter nos escutado.

Porra, onde eu estava com a cabeça?

Eu me afasto, ela desce da mesa arrumando a roupa. Eu sigo


para o banheiro para arrumar a bagunça no meu pau.

— Louise, ainda por aqui? — interroga a voz que sei que é dá

Ester.

— Passei aqui para pegar um documento.


— Estamos indo, você vai com o Fred? — Ester pergunta.

— Não, eu preciso resolver uma coisa antes. Encontro vocês


lá.

— Fred já foi?

— Não, ele... está no banheiro, eu acho...

As vozes vão ficando distantes até tudo se tornar um silêncio


completo.

Termino de me limpar e quando saio, ela não está mais em

lugar nenhum e eu me recrimino por ter agido feito um louco


egoísta.

***

— Você está tenso, tudo bem? — Orlando, um dos

advogados da firma, pergunta.


— Impressão sua, estou tranquilo.

— Tranquilo? Tudo que você e a Louise não estão

ultimamente é “tranquilos”. — Faz o gesto das aspas na última


palavra. — O que está rolando entre vocês?

— Como assim? Não está rolando nada.

— Sei, faz de conta que acredito.

Mais uma vez estou com aquele problema na perna, não

consigo fazer com que ela pare de sacudir involuntariamente,


quando percebo que estou parecendo um descontrolado, seguro

firme no lugar, mas quando vejo, lá está ela novamente se

movimentando, meu calcanhar batendo no chão de forma


desritmada. Uma hora depois Louise entra no pub. Prendo a

respiração enquanto ela caminha na direção da nossa mesa. Solto a

respiração aliviado quando percebo que está sozinha.

— Desculpa a demora, tive que resolver um probleminha —


informa sem me encarar.

Ela age como se não tivesse transado comigo na minha sala.


Ou a falta de contato seria o oposto.
— Por acaso esse probleminha se chama Alex?

A pergunta sai sem que eu perceba. Ela me fuzila com o


olhar, ao menos tenho a sua atenção em mim.

Será que terminaram?

— Alex? Quem é esse, Louise? — Ester pergunta

interessada.

— O namorado da Louise, Ester — respondo por ela.

— Não sabia que você estava namorado — Orlando confessa

interessado.

— Que engraçado, nem eu. Eu vou falar com o João Lucas e

já volto — ela joga a bomba e sai.

Fico estático olhando para ela enquanto caminha até o


balcão onde o dono do bar está.

— Ei, terra chamando Frederico — Orlando estala os dedos


diante do meu rosto trazendo-me de volta.

Como assim ela não tem namorado? Que porra é essa? E o

Alex é o quê?
— O que disse?

Olho ao redor e todo mundo está rindo da minha cara de

idiota.

— De onde você tirou que a Louise tem namorado? — Erika

pergunta roubando um amendoim da minha porção.

— Ela não tem? — pergunto parecendo um bobão.

— Me diz você, sempre foram unha e carne, agora parece

que estão se evitando. Isso tem cara de paixão recolhida e tudo a


ver com o tal Alex.

— Tem razão, depois daquela viagem os dois voltaram

diferentes — Orlando afirma.

— Amor, para de ser intrometido, seu fofoqueiro — Camile, a


namorada dele, o repreende.

— Ele tem razão, acho que tem rolo — Ester comenta.

— Vocês não têm nada melhor para fazer não? — pergunto

bebendo minha cerveja em seguida.


— Na verdade, não, estamos só esperando o momento que
vocês dois vão se assumir — Erika responde. — Todo mundo do
escritório espera por isso há muito tempo.

Dirijo meu olhar surpreso pela ela.

— Acho que o Fred já assumiu a paixão reprimida. Não

esconde que está de quatro. Fico só querendo entender por que


ainda não estão juntos se são loucos um pelo outro — Orlando diz
com aquela cara de sabe-tudo.

— Vocês estão viajando. Louise é completamente


apaixonada pelo ex, ou atual, sei lá.

— O tal do Alex?

Afirmo com um aceno de cabeça repuxando a boca para o


lado.

— Você é muito cego mesmo, ou não enxerga mais do que a


distância do seu próprio pau. Ela é apaixonada por você. Sempre

foi.

— Ela está vindo, melhor pararem com as gracinhas — aviso,


mas as palavras do Orlando ecoam em minha cabeça.
Será? Eu cheguei a pensar que ela sentia o mesmo que eu.
Pela forma de olhar, de se entregar, mas depois vi que estava
enganado.

— O que estão conversando tão animadamente?

— Nada muito sério, só estamos discutindo a sua relação


com o Fred e tentando saber quando vão assumir que estão se
pegando — Erika diz —, estamos tentando entender se é puramente

sexual ou envolve outras coisas.

A cabeça da Louise gira de uma vez em minha direção e ela


fica pálida.

— Você contou para eles?

A gritaria foi geral, uma sucessão de “eu sabia”. Eu não ouso

responder, pois fiquei completamente ofendido por suas palavras.


Ela acha mesmo que eu seria capaz de fazer uma coisa dessas?

— Ele não disse nada, mas você sim acabou de confirmar as


nossas suspeitas, Louise. Só conta pra gente, desde quando?

Estamos nos encarando como uma guerra de olhares até que

ela desvia e olha em direção à entrada, eu acompanho seu olhar e


vejo o maldito Alex se aproximando. Quando ele chega mais perto
da nossa mesa eu olho fixamente para ela.

É sério que ela teve a coragem de deixar que ele viesse até
aqui depois do que aconteceu há menos de duas horas na minha
sala?

Ela se levanta e ele a envolve com um abraço. Acho que


cheguei ao meu limite neste exato momento. Eu me levanto de uma

vez fazendo com que a cadeira caia atrás de mim, o que não tem a
menor importância, já que estavam todos olhando para mim, alguns

com cara de surpresa, outros de expetativa, e claro, não podia faltar


a minha favorita; a de pena.
Capítulo 19

Louise

— Para mim deu. Vou nessa, pessoal — Fred fala olhando


para os nossos colegas que estão mudos.

— Já? Acabamos de chegar? — Erika reclama sem entender


direito o motivo de Fred praticamente sair correndo.

Em um piscar de olhos, Frederico passa do homem que eu


queria estrangular para o que eu queria consolar, tomar em meus

braços. Isso tudo por conta do seu olhar desconsolado,

decepcionado.

O que eu fiz? Agi como uma vadia idiota só porque estou

com os sentimentos feridos. Vingativa e sem coração. Não, essa

parte não é verdade, eu tenho um coração, ele está meio


machucado, tomado pelo rancor, mas bate acelerado pelo

Frederico. Tanto que só de ver seu olhar de decepção sinto meu

coração se quebrar.
Eu o vejo caminhar para a saída e nem sequer consigo
prestar atenção ao que Alex diz. Tem muito barulho, muita confusão,

mas não exatamente no ambiente, é tudo dentro da minha cabeça.

As vozes que gritam que eu preciso correr atrás dele e conversar,

pois eu sei dos seus sentimentos, só preciso confessar os meus.

— Louise? — Alex repete meu nome segurando em meus

ombros.

Sinto meus olhos arderem.

— O que disse?

Ele sorri daquele jeito torto que tanto amei um dia.

— Eu disse para ir atrás do Fred. É isso que você quer?


Então não tem nada que te segure aqui. Eu já entendi que nada vai

mudar entre a gente. O nosso momento passou, infelizmente. Eu

ainda amo você, mas quero te ver feliz. Não posso querer ficar ao

lado de uma mulher que olha para outro homem da forma que você

o olha. Só vai.

Aceno com a cabeça em concordância e dou um abraço

apertado nele antes de sair correndo em direção à porta. Entretanto,


as coisas parecem se colocar no meu caminho nessas horas. Eu

acabo tropeçando em algo e caindo por cima de algumas mesas.

— Ai, cuidado, moça.

— Desculpe, desculpe.

Coisas como sair correndo atrás de uma pessoa parece só

funcionar nos filmes, a mocinha se dá conta de que precisa alcançar


o grande amor da sua vida, e tudo acontece de forma linda,
romântica e programada. Entretanto, para mim está sendo uma

batalha conseguir chegar até a porta. As pessoas no meu caminho


parecem ter triplicado, as mesas, pilastras, cadeiras surgem do

nada diante de mim barrando cada passo que dou.

Eu sei que cometi um erro enorme ao convidar o Alex para vir

ao happy hour do escritório. Eu havia declinado de alguns dos seus


convites para sair, mas quando disse que estaria no pub achei uma

boa ideia que ele aparecesse. No entanto, não imaginava que iria
rolar um sexo fenomenal na sala do Fred como foi. Até tentei avisar

para o Alex não vir, liguei, passei mensagem, mas parece que algo
aconteceu com o celular dele e acabamos como estamos, comigo
desesperada e o Fred chateado.
Chego à rua e está chovendo um pouco, mas isso não

impede de ter várias pessoas transitando na calçada na cidade que


nunca para. Olho de um lado para o outro e sei bem por onde ele

deve ter ido. Quando nos reunimos elegemos uma pessoa para ser
o motorista da rodada e alguns vão embora de táxi, já que bebida e

direção não combinam em nada. Avisto Fred de longe e volto a


correr em sua direção.

— Fred...

Grito seu nome, mas ele não se vira, talvez por conta do
barulho da rua. Vou desviando das pessoas que como eu estão

apressadas para chegar ao seu destino, algumas com guarda-


chuvas enormes. Ele para no cruzamento. Suas mãos estão dentro

dos bolsos da calça, cabeça baixa. Ele acena para um táxi que
passa na rua, quem ousaria não parar para um cara lindo de morrer

e usando um terno caro? Eu não consigo alcançar antes que ele


entre no carro, mas tenho sorte de conseguir um logo em seguida.

— Boa noite, para onde?

— Siga aquele carro — digo apontando para frente.


O motorista me encara pelo retrovisor como se eu fosso
louca.

— É sério, moça?

Suspiro fundo, resignada. Isso também parece funcionar


apenas nos filmes.

— Rua Frei Caneca, uma quadra acima do Frei Caneca


Shopping. Rápido, por favor, eu realmente preciso alcançar aquele
táxi.

Ele acelera no trânsito caótico da cidade. Quando paramos

na porta do prédio a chuva havia aumentado muito, mas paramos a


tempo de ver Fred descendo do carro.

— Aqui moço, fica com o troco.

— Obrigado. Boa sorte.

Ele está subindo os degraus da portaria quando o alcanço.

— Frederico...

Ele se vira e me encara com o cenho franzido. A chuva


aumenta, seus cabelos estão grudados na testa e tenho vontade de
ir até ele e escovar a mão por seu rosto triste e retirar os fios
desalinhados.

— O que está fazendo aqui, Louise?

— Você não sabe mesmo? Eu pensei que fosse mais

inteligente, Frederico.

Ele desce os degraus e para diante de mim. Dizem que a

pessoa quando está apaixonada fica cega, deve ser isso.

— Quer saber o que eu sei? Eu sei que abri meu coração


para você, disse que estava apaixonado e o que você fez? Voltou

correndo para o seu ex. Depois ficou brincando comigo como se eu

não tivesse sentimentos, como se não machucasse pra caralho


saber que você o escolheu e não a mim.

— Você é um idiota, não sabe de nada então, porque a

verdade, Frederico, é que eu amo você. E eu te escolhi, deixei tudo


para trás e...

Ele não me deixa terminar de falar, me puxa para os seus

braços me tomando em um beijo desesperado e punitivo. Eu me


agarro a ele segurando em seus ombros como se pudesse me
fundir e sermos um só. A chuva se transforma em tempestade e os

pingos estão tão fortes que chegam a doer minha pele como
pequenas agulhas perfurando. Mas isso não importa. Nada mais

importa, o frio do lado de fora não é nada diante do fogo que cresce

dentro de mim, diante do fato de estar em seus braços. É só o que


de fato importa para mim nesse momento.

Já estamos sem fôlego quando ele interrompe o beijo

segurando em meu rosto mantendo bem próximo ao seu, nossos


lábios quase colados.

— Repete — ordena olhando dentro dos meus olhos.

— Você é um idiota... — falo sabendo que não era isso que

ele queria ouvir.

Ele morde a ponta do meu lábio inferior e sinto sua mão se


chocar em minha bunda. Eu deveria ficar brava por ter ganhado um

tapa no meio da rua, principalmente por ter um lado feminista que

acha que isso não deve ser feito nem de brincadeira, mas do
contrário disso, fico excitada. Devo estar louca mesmo, só pode.

— Não brinque assim comigo, Louise, você sabe o que eu

quero ouvir.
— Você não manda em mim, Frederico, vai ter que encontrar

meios melhores para me convencer a falar.

Ele sorri e me beija novamente.

— Você está aqui e é tudo que importa.

Ele mal acaba de falar e um carro passa em alta velocidade


jogando uma onda de água da chuva em cima de nós dois, nos

fazendo rir feitos bobos.

— Essas coisas só acontecem comigo.

— Vem, vamos sair daqui.

Ele segura a minha mão e me puxa para subirmos os


degraus apressadamente. Fred mora no 15º andar, ele não solta a

minha mão nem por um segundo dentro do elevador, assim como

não deixamos de nos encarar falando mil coisas sem dizer uma
única palavra. Já dentro do apartamento deixamos um rastro de

água enquanto ele me arrasta diretamente para o seu quarto.

— Você pode usar esse banheiro, eu vou pegar algumas


toalhas limpas para você.
O quarto dele tem o seu cheiro delicioso, está tudo muito bem

arrumado. Olho para a cama e faço um bico de contrariedade por


imaginar quantas mulheres já estiveram nela, já bagunçaram os

lençóis.

— Tudo bem, não importa quantas mulheres estiveram aqui,


eu serei a única a partir de hoje.

Começo a tirar a roupa com os olhos na banheira enorme,


algumas ideias surgem em minha cabeça, ideias nada comportadas.

Quando Fred entra no banheiro estou no chuveiro lavando os

cabelos com o seu shampoo.

— Aqui está, deixei uma roupa sobre a cama para você.

— Você não vem?

— Melhor eu usar o banheiro do outro quarto. Nós dois juntos


tomando banho não vai dar muito certo.

— Data vênia, essa banheira está muito convidativa, meu


caro.

Uso uma linguagem formal, data vênia é usada pela defesa

oral nos tribunais quando acontece de discordar em algum momento


daquela autoridade que proferiu uma decisão contrária ao interesse

do seu cliente, e o meu interesse nesse instante é dividir a banheira

com ele.

— Esta banheira está muito convidativa, mutatis mutandis,

precisamos conversar, e nossa conversa não pode ser com você

nua dentro de uma banheira convidativa e cheia de espumas,

Louise. Só esse pensamento já atrapalha o meu raciocínio — ele


usa o argumento para concordar, discordando de mim.

Ele sai do quarto depois de me lançar um olhar pra lá de


quente por todo meu corpo. Termino o banho e encontro as roupas

que ele havia falado sobre a cama. Uma camisa de moletom cinza e

calças combinando. Suspiro fundo, pois vou parecer ridícula com

essa roupa enorme. Resolvo colocar apenas a blusa que chega


quase aos meus joelhos e deixo a calça de lado.

Chego à sala e o encontro colocando duas taças e uma

garrafa de vinho sobre a mesa de centro.

— Não vai ficar com frio? — pergunta sem parar de olhar

para as minhas pernas nuas enquanto serve a bebida.

— Se continuar me olhando assim não.


— Engraçadinha.

Ele me entrega a taça e eu me sento no sofá, ele senta na


outra ponta mantendo certa distância.

— Então, você está mesmo aqui — ele diz me fazendo rir. —


Porra, isso foi ruim, estou um pouco nervoso. Acho melhor você

começar.

— Por que você achou que eu estava com o Alex? Que


tínhamos voltado?

Vou direto ao ponto encarando o líquido dentro da taça em

minha mão.

— Eu estava lá, Louise, quando você foi atrás dele no barco,

eu vi quando se beijaram.

— Como?

— Eu não pegaria a estrada com o tanto que havia bebido,

não tinha quartos no resort, então fiquei em uma pousada na vila, eu


estava dentro do carro quando vi você correndo em direção ao

barco, e quando se beijaram. Eu pensei que você tivesse feito uma

escolha.
Ergo a cabeça encarando seu rosto contrariado, como se a
simples lembrança causasse dor. Suspiro fundo.

— Eu sinto muito. Eu vou contar o que realmente

aconteceu...

Tomo todo o líquido escarlate e começo a contar tudo, desde

que descobri que não amava mais o Alex enquanto o beijava


naquele barco. Contei que fui embora antes mesmo da festa acabar,

e que cheguei aqui e encontrei a Jenny seminua nesse

apartamento.

— Por que você não entrou? Não falou comigo? Se tivesse

me explicado tudo teríamos evitado muita coisa.

— O que queria que eu fizesse? Você disse para me decidir e


que estaria esperando quando voltasse, eu chego aqui e você está
com uma mulher na sua cama, queria mesmo que eu fizesse uma

cena?

— Eu pensei que...

— Eu sei o que você pensou, depois, com a mente mais


clara, eu tentei falar com você, mas aí você veio com aquele papo
de que transar comigo foi um erro, que confundiu os sentimentos...

Ele estende o braço e coloca a ponta do dedo em meus


lábios me calando.

— Por favor, não me lembre do quanto fui idiota. Eu sei


exatamente o que falei. Em minha defesa eu estava magoado, com

dor de cotovelo e com muita inveja do Alex.

— Somos dois idiotas — afirmo colocando a taça sobre a


mesa de centro e me aproximando. — Dizem que as pessoas

perdem a capacidade de raciocinar quando estão apaixonadas.

Sento-me com uma perna de cada lado em seu colo, ele

segura minha cintura puxando-me um pouco mais para perto.

— Então você não... nem pensou em voltar para ele?

Balanço a cabeça que não.

— Não passou de um beijo, um que serviu para me mostrar


que estaria fazendo uma besteira grande. Eu só pensava em você

enquanto estava nos braços dele, isso jamais poderia dar certo.

— Então vocês não transaram — afirma com um risinho

contido como se fosse a coisa mais maravilhosa do mundo.


Homens.

— Obviamente que você não poderia reclamar se eu tivesse


transado com ele, estava se divertindo muito com a sua cliente, e

sabe lá mais quantas passou pela sua cama, não foi mesmo?

— Em minha defesa, eu não sabia que ela era casada, e não


fazia ideia que era com um dos meus clientes, e não costumo trazer
mulheres para cá. Só estava bêbado demais para tomar qualquer

decisão sensata. Se quer saber, nem sei como chegamos até aqui.

— Sei... acho melhor a gente deixar tudo isso para trás —


sugiro me inclinando e encostando minha boca na sua.

— Você sempre tem razão em tudo, sabia?

— Aham.

Seguro seu rosto com as duas mãos e beijo seus lábios. O


beijo que começou calmo se transformou em algo muito intenso.

Sua mão sobe por minhas pernas e cintura e vai levando a blusa até
que tira jogando longe.

— Você não vai ficar com frio?

— Você me esquenta.
— Pode deixar comigo.

Então sua boca desce por meu pescoço até meu seio, ele

suga um bico enquanto acaricia o outro. Eu tiro a sua camiseta e


faço o mesmo que ele, só que saio do seu colo para me colocar de
joelhos. Com ele sentado no sofá eu puxo a sua calça de moletom

só o suficiente para deixar o seu pau de fora e levá-lo à boca.


Chupo com gosto e o levo até a garganta, ele geme.

— Céus, Louise, que boca gostosa... como senti falta disso.

Eu alterno as chupadas com lambidas e uso a mão para

ajudar. Ele ergue o quadril de forma involuntária e está quase


gozando. Então eu paro, vou subindo depositando beijos até que
estamos peito com peito, minha boca na sua. Olhando dentro dos

seus olhos eu o seguro na minha mão e deslizo para dentro de mim,


ele geme. Subo lentamente e depois desço apertando-o. Subo e
desço mais rápido me movendo. Fred segura meu rosto em suas

mãos e seus dedos estão passando por minha bochecha enquanto


me beija.

Estou sem fôlego, nossas testas se encostam e seus olhos


descem observando seu membro saindo e entrando de dentro de
mim. A cena é sensual, aumenta mais o meu tesão. Jogo meus

cabelos para trás e sua boca cai sobre o meu seio sugando com
vontade, depois sobe por meu pescoço até o meu ouvido.

— Diga que me ama — ele pede.

Seu braço passa por minha cintura me mantendo imóvel


enquanto ele entra e sai cada vez mais rápido.

— Eu te amo, Fred, eu te amo demais.

Uma de suas mãos ainda está em meu rosto. Nós nos

movemos cada vez mais rápido, ficando mais próximos do orgasmo.


Então ele para e passa a se mover lentamente como se quisesse
prolongar a sensação.

— Diga novamente.

— Não, agora é a sua vez.

— Eu te amo, Louise, te amo como nunca amei ninguém.


Você me completa, e se você me deixar...

— Eu nunca vou te deixar, nunca — digo olhando


diretamente dentro dos seus olhos. — Eu sou sua. Nunca. Nunca

vou te deixar, meu amor.


Não são apenas palavras ou promessas, eu sinto isso dentro
da minha alma e ele pode ver, pode alcançar. Suas mãos descem e
agarram o meu quadril, ajudando a me mexer, ditando o ritmo

acelerado. Seus olhos se fecham. E nossas bocas se abrem, se


chocam em um beijo desesperado, calando os gemidos um do
outro. Eu me aperto em volta dele.

— Louise...

E juntos chegamos ao ápice do prazer. Nossos corpos

tremem, suados e saciados. Sinto seus braços me apertarem. Toco


seu rosto e beijo-o carinhosamente. Ficamos assim por um tempo,
até que as batidas dos nossos corações se normalizem e nossas

respirações desaceleram. A noite está fria e sinto um arrepio de frio.

— Vem, vamos para a cama.

Eu me levanto, ele me abraça por trás e caminhamos para o


quarto. E transamos novamente. Eu nunca vou me cansar disso.
Capítulo 20

Estamos deitados um ao lado do outro. Dividindo o mesmo

travesseiro. Observo seus cabelos bagunçados por minhas mãos,

seu rosto lindo agora expressa satisfação, felicidade, ternura e amor


por trás do seu sorriso doce. Lá fora a forte tempestade ainda cai

sobre a cidade, a noite está fria, por isso estamos debaixo das

cobertas. Pernas entrelaçadas, corpo tão colado no outro, pois


estamos dividindo o mesmo travesseiro, mas isso eu já falei, mas

estou gostando tanto da experiência que não custa nada repetir.

— Fale de novo — pede com sua voz rouca.

Perco as contas de quantas vezes ele me pediu isso. Reviro

os olhos como se tivesse farta, mas, na verdade, não estou. Estou

feliz e certamente irei dizer isso o tempo todo, mesmo quando ele

não pedir, mesmo quando ele não quiser ouvir. Porque essas

palavras aquecem o meu coração toda vez que as digo de uma


forma que não sei explicar.

— Eu te amo, Fred.
Ele abre um sorriso e suspira fundo. Satisfeito.

— Achei que nunca fosse ouvir isso de você.

Sinto um sorriso em sua voz.

— Eu sempre soube que você tinha uma queda por mim —

brinco.

— É mesmo? Eu sempre soube que você é uma convencida

— ironiza.

— Sou mesmo. Agora me diz, quando soube que estava

apaixonado por mim?

— Foi quando fiz você gozar pela primeira vez. Na minha


boca. O jeito como você gemia, o seu gosto, me fez pensar que

queria isso todas as noites, sempre. E quando meti fundo em você,

tive certeza.

Reviro os olhos, e dessa vez minha indignação foi


verdadeira.

— Fala sério. Isso não foi nada romântico.


— O quê? Você descobriu que estava apaixonada por mim

enquanto beijava outro homem, tem coisa pior do que isso?

— Não, na verdade você deveria ficar lisonjeado, já que é do


Alex que estamos falando.

Ele sorri de lado enquanto passa a mão levemente por meu

braço até chegar ao meu rosto e deixar uma leve carícia.

— Eu descobri que estava apaixonado na última vez que


almoçamos com a sua mãe. Você foi ao banheiro e eu fiquei feito

um bobo olhando você se afastar até desaparecer no corredor.


Então ela disse: Você a ama. Eu até tentei negar, porque a verdade

é que nem eu mesmo sabia. Estava em uma luta, em um estado de


negação comigo mesmo. Claro que eu gostava da sua companhia,
tinha o tesão que eu lutava a todo custo para esconder, mas o

sentimento, essa coisa de nada ser bom se você não estivesse, de


querer estar o tempo todo ao seu lado, isso eu descobri naquele

momento. Então eu tracei um plano para tentar conquistar você.


Para sermos mais do que amigos. Aí você me fez a proposta de ser

seu namorado de mentira. Ser o seu namorado era tudo que eu


mais queria. E agora, tenho você só para mim.
— E como vamos ficar lá no escritório? Não podemos fazer o

que fizemos hoje. Você não pode me atacar daquele jeito, onde fica
a ética?

— Você tinha a opção de dizer não, mas queria tanto quanto


eu, então não sou culpado sozinho.

— Tem razão, eu não resisto a você.

— Tive uma ideia, vai funcionar.

— Vamos lá, diga gênio.

Ele dá uma risadinha e já sei que não vem coisa boa.

— Vou mandar fazer uma placa para colocar na porta escrito:


não perturbe, estou comendo a minha namorada gostosa.

Dou um tapa em seu braço.

— Engraçadinho. Nem brinca com isso. — Abro um sorriso.

— Namorada? Então quer dizer que agora sou sua namorada? Não
estou sabendo disso não.

— Nem brinca com isso. É claro que a partir de hoje você é


minha namorada, e se isso depender de um pedido formal, então se
prepara, vou fazer o pedido de namoro mais brega que você vai ver
na vida. Com carro de som, flores, eu ajoelhado implorando.

— Pelo amor de Deus, era brincadeira. Eu aceito ser sua

namorada desde que você prometa que vou ser a única na sua vida.
E nada dessas coisas bregas.

— Você é a única, não sei se percebeu, mas não tenho um


histórico de relacionamentos.

— Nenhuma ex?

— Nada, nunca tive uma namorada. Então é bom você ficar

preparada, pois posso me tornar pegajoso, ciumento, e cometer


muitos erros. Então vou precisar de algumas dicas de que caminho

seguir.

Pego sua mão e coloco no centro do meu peito que pulsa


acelerado.

— Você já sabe qual caminho seguir, já alcançou o mais

importante, o do meu coração. O resto é simples, só seja o meu


amigo, e continue me fazendo feliz na cama. Assim você vai ser o
melhor namorado do mundo.
— Então vai ser mais fácil do que eu pensei.

— E nada de pedido brega. Prometa.

— Sim, eu prometo.

Ele se deita por cima de mim e me beija intensamente


provando que juntos somos os melhores em tudo.

***

Passamos o final de semana quase todo na cama. Digo


quase porque no sábado de manhã minha mãe ligou avisando que

estava vindo para São Paulo, então desistiu quando Fred apareceu

na chamada de vídeo dizendo que enfim eu tinha aceitado ser sua

namorada e que aquele era o primeiro dia de namoro oficial, ela não
quis atrapalhar, então marcamos de ir no próximo fim de semana

para a casa dela. No domingo, fomos almoçar na casa da avó do

Fred. Uma mulher fantástica que sempre teve a minha admiração.


Os pais dele estavam lá, apesar de Fred quase nunca falar deles,

são incríveis como o filho.


Lucinda chegou da lua de mel e fomos jantar na casa dela no

domingo à noite. Ela estava tão feliz que deu vontade de pedir o
Fred em casamento. Loucura, né? Sei que é muito cedo, mas eu

sinto que o que temos é para sempre e não quero perder tempo

esperando o tempo passar. Quero o meu para sempre hoje.

Segunda-feira, chegamos juntos no escritório. Entramos de

mãos dadas na copa, estão todos tomando café, como raramente

acontece, já que cada um tem horário diferente e nem todo mundo


gosta dessa interação de manhã. No entanto, hoje, claro que todo

mundo estava curioso para saber o que tinha acontecido depois que

saímos no sábado, como se não fosse óbvio.

— Bom dia! — falo indo para a máquina de café.

— Acho que temos um casal no escritório, finalmente —

Ester diz batendo palmas. — Estão namorando?

— Sim, estamos oficialmente namorando.

— Achei que vocês dois não sobreviveriam ao final de


semana — Orlando diz.
— Verdade, mas só se fosse de transar, morrer de transar —

Erika diz me fazendo arregalar os olhos surpresa. — Só me diz uma

coisa, como você trocou aquele cara lindo pelo Frederico? —


implica piscando para mim.

— Nem vou te responder, porque agora eu sou um homem

comprometido, então não posso mostrar o motivo da troca.

— O cara já se achava, agora ele tem toda certeza.

Abro um sorriso e vou até o Fred e beijo sua bochecha.

— Ele pode.

— Então você não vai achar ruim se eu ligar para o seu ex?

— Ester diz, não consigo saber se ela está falando sério ou não,
mas isso não importa.

Fred me encara esperando a resposta.

— De jeito nenhum, vai em frente.

— Me dei bem. Agora vamos trabalhar, pessoal. Fred você


tem uma reunião em trinta minutos, vou deixar os contratos em sua

mesa.
Termino o meu café e vou para a minha sala. Já é quase

horário do almoço quando Ester interfona.

— Louise, chegou uma encomenda, mas o entregador disse

que só você pode receber.

— Tudo bem, mande entrar.

Acho estranho, pois não estou esperando nada. O entregador

entra e coloca o embrulho sobre a mesa.

— Assina aqui, por favor.

— Obrigada.

Assino o papel e espero ele sair para abrir a caixa com um

sorriso bobo no rosto, pois dentro da caixa, por cima de um papel de

seda branco, tem um bilhete do Fred.

Para provar que eu sempre cumpro o que prometo,

namorada.

De seu namorado apaixonado.

Coloco o bilhete fofo de lado e abro o papel com cuidado.


— Filho de uma puta — exclamo colocando a tampa de volta

na caixa.

Passado o momento da surpresa, abro novamente e começo


a rir descontroladamente. Uma placa de um material que parece ser

madeira com aproximadamente 40/20 centímetros com a frase:

“NÃO PERTURBE, ESTOU COMENDO A MINHA NAMORADA

GOSTOSA” em caixa alta me mostra onde fui me meter.


Epílogo

O mar está tão lindo que é impossível não ficar olhando por

horas a fio, fecho os olhos recebendo a brisa suave em meu rosto.

Esse lugar me traz lembranças, e a principal delas é que não sou


mais a mesma que esteve aqui há pouco mais de um ano. Eu mudei

tanto, amadureci e me tornei a namorada do meu melhor amigo.

Estamos comemorando um ano de namoro, então Lucinda


teve a maravilhosa ideia de fazermos uma viagem para comemorar.

Quando digo fazermos, é porque ela e o Claudio também vieram

com a gente. Fred e Claudio se tornaram bons amigos. Ela está

grávida de quatro meses do primeiro filho, nem preciso dizer quem


vai ser a madrinha, não é mesmo? Apesar de que existe certo

impasse por conta de quem vai ser o padrinho. Alex o principal

candidato ao posto está namorando há seis meses com a minha

secretária, Ester. Os dois formam um lindo casal.

— Vamos dar um último mergulho antes de voltar para o

quarto? — Fred sugere segurando a minha mão.


Estamos deitados em uma espreguiçadeira na praia em
frente ao mar.

— Acho que não. Estou um pouco cansada. Você se

importa?

Ele levanta e estende a mão para mim. Fred passou um ano

tentando me provar que poderia ser o namorado perfeito. Eu não

queria um homem perfeito, pois sempre soube que isso não existe,

só queria ele, nem precisava ter perfeição envolvida, mas já que

ganhei a porra do pacote completo eu posso dizer que sou a mulher

mais sortuda do mundo.

Nosso relacionamento passou por dificuldade como qualquer

outro, ainda mais quando se tem um namorado lindo de morrer que

chama atenção por onde passa. Apesar disso, não era o meu ciúme

o problema, e sim o dele. Fred enxergava em mim muito mais do


que eu sou. Também não reclamo disso, de jeito nenhum.

Quando fizemos cinco meses de namoro – que por sinal

fazíamos questão de comemorar todo mês – já estávamos

cansados de passar uma noite em cada apartamento. Não

conseguíamos dormir longe um do outro e isso estava sendo um


grande problema. Então em uma sexta-feira à noite quando

voltávamos do nosso happy hour no pub tentávamos decidir na casa


de quem iriamos dormir, então ele me propôs que morássemos

juntos, eu disse sim, pois era uma coisa que eu já havia pensado, e
não era por conta do espaço e nem da cozinha de sonhos. No
sábado quando acordei havia uma empresa de mudança no meu

apartamento, pronta para levar tudo embora.

— Ei, aquela não é a minha mãe? — inquiro apontando para

a mulher que poderia facilmente ser um clone da Telma.

Apesar de estar de chapéu e óculos, sou capaz de

reconhecer minha mãe no meio de uma multidão.

— Claro que não, o que sua mãe estaria fazendo aqui, amor?

Coloco a mão nos olhos para cobrir a claridade, o sol está se


pondo bem na sua direção e a luz impede a minha visão.

— É ela sim.

— Deixa de ser doida, Louise. Acho que você bebeu demais.

Viro para ele tirando os óculos para que ele veja que estou
fuzilando-o com o olhar por ter me chamado de doida.
— Você me chamou de quê?

Ele começa a rir e me puxa para os seus braços.

— Desculpa. Vamos, preciso de um banho. Tem areia até


onde você não pode imaginar.

Olho na direção onde a mulher estava e não a vejo mais.

— Eu podia jurar que era a minha mãe.

— Acho que vou marcar oftalmologista para você.

— Que bom que não é um psiquiatra.

Consigo arrancar uma gargalhada com o comentário

sarcástico.

Duas horas depois estou pronta para o jantar, um luau


oferecido pelo hotel. Lucinda está radiante exibindo sua barriga que
ainda nem apareceu, mas ela faz questão de estufar para mostrar

que está grávida. A noite está agradável, a música romântica e a


comida deliciosa, sem contar na companhia.

Fred e eu voltamos para o quarto, praticamente bêbados,


fizemos um sexo fenomenal que provavelmente deve ter acordado
os outros hóspedes que estão mais próximos.

Acordo no dia seguinte com meu namorado trazendo o café


na cama.

— Olha só se eu não tenho o melhor namorado do mundo.


Perdemos o passeio de barco outra vez?

— Sim, mas dessa vez eu fiz de propósito.

Franzo o cenho enquanto mordo um pedaço de tapioca.

— Você não queria ir? Deveria ter dito, aí não teria marcado
com a Lucinda e o Claudio.

— Ela está ciente. Eu tenho uma coisa muito importante para


falar com você.

Bebo um pouco de suco e coloco sobre a bandeja e aguardo


o que ele tem a dizer. Ele estende uma caixa dourada, enorme que
deve ter mais de um metro de comprimento por meio de largura e

vinte de altura, eu arregalo os olhos.

— Você comprou um presente para mim?


Levanto empolgada para abrir a caixa, mas ele coloca a mão
por cima impedindo. Acho que meus olhos estão brilhantes de
excitação.

— Espera, só vai poder abrir depois de ouvir o que eu tenho


a dizer.

Sento-me na ponta da cama aguardando cheia de


expectativa, como uma criança que acaba de ganhar o presente de

Natal e não pode abrir.

— Ok, anda logo porque estou curiosa para saber como

escondeu algo grande assim de mim. A não ser que tenha

comprado aqui, claro, deve ser isso, ou foi a Lucinda que trouxe? Eu

não vi...

— Louise... shii, calada.

Passo os dedos por minha boca como um movimento de


fechar zíper. Ele pega a caixa e coloca no chão sentando-se ao lado

dela. Aponta para a sua frente e me manda sentar. Eu sento na

mesma posição que ele. Fred estreita os olhos ao constatar que

estou sem calcinha. Dou de ombros.


— A vista não te agrada? Quer que eu coloque algo?

Ele sorri, pega uma almofada e coloca entre as minhas

pernas.

— É uma vista maravilhosa, mas eu preciso de concentração.

— Você está me assustando, Frederico. Que diabos tem

nessa caixa?

— Feche os olhos, amor. E só abra quando eu mandar.

Promete?

Reviro os olhos antes de apertá-los forte.

— Prometo.

— Ótimo.

Ele fica em silêncio e eu faço uma força enorme para segurar

a vontade de abrir os olhos.

— Fred?

— Louise, você me ama?

Franzo o cenho com a pergunta estranha.


— Sabe que sim, digo isso todos os dias, e mais do que isso,

eu provo todos os dias, mas por que isso agora? Achei que já

tivéssemos passado dessa fase...

— Só responde a minha pergunta, você me ama?

— Sim, eu te amo mais do que imaginei amar alguém um dia.

— Antes de você eu não sabia o que era amar alguém mais

do que a si mesmo. Primeiro eu amei a minha amiga, tinha muito

tesão por ela, claro, mas desejo, tesão a gente consegue controlar,

mas amor, não, amor a gente não controla. Eu te amo e quero


passar o resto da minha vida ao seu lado. Agora repete comigo —

ele faz uma pausa.

Eu sei que estou com um sorriso bobo, mesmo que eu saiba

de tudo que ele disse, que viva cada palavra, é sempre bom ouvir.

Ainda mais hoje que estamos completando um ano de namoro.

— Repita comigo, eu te amo Frederico.

Meu sorriso se amplia.

— Eu te amo Frederico — repito.

— Eu quero passar o resto da minha vida com você.


— Eu quero passar o resto da minha vida com você.

— Aceito me casar com você hoje.

— Aceito me casar com você... — paro de falar e abro os

olhos.

Ele está sorrindo, em sua mão está uma caixa azul com um

anel dentro com uma pedra enorme também azul. Cubro a boca

com as mãos em choque. Eu sabia que ele estava aprontando


alguma coisa.

— Você abriu os olhos antes. Você trapaceou.

— Isso é um diamante?

— Sim, é um diamante azul, muito raro, igual a você e eterno

como o nosso amor.

— Você acabou de me pedir em casamento?

— E você disse sim.

— Você trapaceou, mas claro que eu diria sim. Sim, sim, sim,

mil vezes — afirmo estendendo a mão em sua direção. — Agora

coloca essa belezura em meu dedo.


— Não. Não é bem assim, tem uma condição — afirma

olhando para a caixa. — Você vai dizer sim depois que abrir a caixa

e aceitar os termos. É tudo ou nada.

Levanto em um pulo e vou em direção à bendita caixa. Abro,

retiro o papel de seda revelando um tecido branco fluido com renda

finíssima.

— Isso é um vestido de casamento?

— Sim, essa é a condição, você vai se casar comigo hoje.

Um bolo se forma em minha garganta, meus olhos se

enchem de lágrimas. Mordo o lábio inferior, pois não consigo dizer

nada. Estou emocionada e feliz, sinto como se meu coração fosse


sair para fora. Levo a mão para tirar o vestido da caixa, mas cubro

com a tampa rapidamente.

— Não dá azar o noivo ter visto o vestido antes do

casamento?

— Eu não vi, sua mãe e a Lucinda cuidaram de escolher o

modelo. E antes que reclame que você gostaria de ter escolhido as


coisas do seu casamento, tecnicamente você escolheu tudo,
inclusive o vestido, de acordo com a Lucinda. Está tudo pronto, hoje

no final do dia vamos nos casar, e suas madrinhas estão


aguardando para o seu dia de noiva.

Cubro o rosto mais uma vez e corro em sua direção. Pulo em

seu colo passando as pernas por sua cintura beijando seu rosto em
cada canto possível. Estou sorrindo e chorando ao mesmo tempo.

— Isso é um sim?

— Você sabe que eu não sou louca a ponto de negar me

casar com o homem da minha vida. Não é?

Beijo seus lábios. Nosso beijo é doce, intenso. Ele me coloca


no chão, se ajoelha segurando a minha mão.

— Eu prometo te fazer feliz para sempre.

Então o anel desliza por meu dedo. Ele se levanta e me

abraça apertado.

— Eu quero fazer amor com você agora — confesso.

— Eu adoraria, mas tem um monte de gente lá fora doida

para entrar e te levar para o SPA para o seu dia de noiva.


— Agora vire de costas quero ver o me vestido.

— Sim, senhora. Estou indo para o meu dia de noivo, te

espero no altar?

Afirmo que sim com um aceno de cabeça e aponto para a

porta. Ele sai e eu começo a pular feito uma louca enquanto olho

para o meu anel enorme em meu dedo.

***

Meu dia de noiva é perfeito, acho que até melhor do que se

eu tivesse preparado tudo. Depois da maquiagem leve e do

penteado, uma trança solta para combinar com a elegância e


simplicidade do vestido, estou pronta.

— Esse vestido é perfeito — admito observando a imagem no

espelho.

— Você está perfeita, filha. Estou tão feliz por você.

Abraço a minha mãe e encaro as minhas madrinhas. Ester,


Erika, Lucinda, Rafaela, Victoria, em seguida para a avó e a mãe do

Fred.
— Vamos?

— Calma, que noiva mais ansiosa — brinca a cerimonialista.


— Vamos tirar algumas fotos suas antes. As madrinhas podem ir,

agora só as mães ficam.

Depois de algumas fotos seguimos para o grande momento.

Quando chego na entrada, seguro a respiração e faço uma força


descomunal para não chorar. Uma placa idêntica a que Fred tinha
enviado para mim no nosso primeiro dia de namoro está pendurada

escrito: “Fred e Louise, enfim o felizes para sempre”.

Quem diria há um ano, quando estive nesta mesma praia


entrando com o Alex como padrinho, que hoje eu estaria aqui

caminhando para me casar com o meu melhor amigo e namorado


de mentira. Seguro no braço da minha mãe que vai me levar até o
altar e caminho em direção ao homem mais lindo do mundo. O meu

amigo, o amor da minha vida.

Fim.
Redes sociais

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SURPRESA EM DOBRO
SINOPSE

O que você faria se o destino te surpreendesse e mudasse


todos os seus planos?
Raquel batalhou durante anos para se manter na faculdade,

para ela as coisas nunca foram fáceis, e assim terminou o curso de


direito, com muito sacrifício. Com o tão suado diploma em mãos,
seus maiores desejos estavam prestes a acontecer, trabalhar em

um escritório de renome e viajar com sua melhor amiga. Raquel se


sentia realizada.
Um final de semana dos sonhos.

Algumas noites de loucuras.


A sua vida estava seguindo conforme os seus planos. O que

não estavam neles era três meses depois se ver grávida de


gêmeos, com o contrato de trabalho cancelado e sem saber onde
encontrar o pai dos seus bebês.

Meses depois, vivendo de favor na casa da irmã, ela


descobre algo que pode mudar o futuro, e ela vai atrás. Só não
esperava descobrir que o pai dos seus filhos estava morto, muito

menos encontrar Hugo, um metro e oitenta de altura,


impressionantes olhos verdes e que tinha a certeza de que Raquel

era uma golpista atrás da fortuna do seu irmão gêmeo. Envolver-se


com o tio dos seus filhos era perigoso. No entanto, ignorar a atração
entre eles era impossível.
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Sinopse
“Pode ter passado cinco anos, mas ainda sinto. Lembro-me de cada toque,
de cada palavra dita, de cada promessa proferida. Mesmo que eu prefira
esquecer.”

Renata é inteligente, determinada, apaixonada e cheia de segredos. Ela é mestre


em esconder os seus sentimentos. O tempo não curou suas feridas antigas e a
vida só serviu para adicionar mais dores ao seu coração, resultado de suas
escolhas. Mesmo assim ela vai lutar por uma nova vida e superar os traumas que
um relacionamento abusivo pode ter deixado em sua alma.
As mulheres adoram um homem da lei, um delegado lindo e sexy. Caetano
é viúvo, pai de um menino lindo e de um cachorro, é dedicado à família e ao
trabalho. A fantasia de toda mulher, mas só existe uma para quem ele entregaria
o seu coração.
Na verdade, ele já pertencia a ela.
Quando o destino decide juntar os dois novamente, não há como negar
que a química ainda está lá, e que a paixão nunca deixou de existir. Mas será que
Renata consegue apagar as velhas cicatrizes do seu passado? Será que ela vai
dar uma nova chance para o homem que destruiu seu coração?
A vida tem suas surpresas e quando quer juntar dois corações feridos, ela dá o
seu jeito, podendo até usar uma criança e seu cachorro como cupidos.

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TUDO POR AMOR

SINOPSE

Helena é uma mulher focada na sua carreira. Está no auge


de tudo que sempre sonhou, um namorado perfeito, uma promoção
mais do que desejou. Ela vê o seu mundo ruir de uma hora para

outra quando um grave acidente deixa a sua irmã mais nova com
morte cerebral e com um bebê no ventre.
Helena não pode salvar a vida da irmã, entretanto vai fazer
de tudo para garantir que sua sobrinha venha ao mundo. Helena

perde tudo para arcar com as despesas do hospital enquanto


aguarda a chegada da sobrinha por meses. Perde o namorado e até

a promoção pela qual tanto batalhou. Mas tudo valeria a pena para
ver o sorriso da pequena Valentina a quem jurou proteger com a
própria vida.

Mais uma vez ela está diante de uma jogada do destino


quando coloca o pai da criança em seu caminho. Henrique quer a
guarda da filha, Helena não está disposta a abrir mão dela. Entrarão

os dois em um acordo? Mais uma vez ela fará tudo por amor?
Helena não está disposta a perder mais nada em sua vida, muito
menos o seu coração para o homem que quer tirar a única coisa

que lhe restou.”


MINHA SALVAÇÃO
SINOPSE

Aos 24 anos, Gabriela dedicou a sua vida apenas a estudar,


sem se permitir distrações. Está noiva de um homem que não ama,
mas ela sabe que o amor vem com o tempo.

O que Gabriela não sabe é que sua vida mudará

drasticamente durante uma viagem comemorativa com as amigas.

Um cruzeiro.

Um sequestro.
E a vida dela está nas mãos de um homem irresistível que a

salvou de um trágico fim, e que quer provar que estão destinados a


ficar juntos.

Mas ela não acredita em destino.

Inundada por um oceano de emoções e um súbito desejo


incontrolável, ela entra em pânico. Sabe qual caminho deveria

seguir, mas nem sempre o que se deve é o que se deseja.

Então vai descobrir como a vida pode ser frágil... fácil de

quebrar, difícil de consertar.


MINHA PERDIÇÃO
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SINOPSE

Kamila é uma mulher independente, forte, linda e rica.


Sempre teve tudo que queria. Sua vida não poderia ser melhor.

Tinha as melhores amigas do mundo, e sua família era perfeita.

Não poderia imaginar que uma viagem para o Caribe fosse

causar tantos transtornos. Kamila conheceu o paraíso e também o

inferno.

Depois de ser sequestrada em um cruzeiro, ela se vê

obrigada a dançar em uma casa noturna. Foi resgatada pelo noivo

de sua melhor amiga, Gabriela. Ele estava à procura dela que

também se encontrava desaparecida.

De volta para casa depois de tanto sofrimento, Kamila está,

enfim, pronta para recomeçar sua vida. O que ela não esperava era

cair perdidamente apaixonada por Rafael, o homem que a resgatou


do inferno e que também é comprometido com a sua melhor amiga.

Seu salvador, mas também sua perdição.

ARMADILHAS DO AMOR
https://amz.onl/dcVUgkt
SINOPSE

Fernanda tem uma única coisa em mente: ter um filho. E para

alcançar o seu objetivo vai cometer algumas loucuras. Advogada


bem-sucedida na carreira, entretanto sempre se dá mal quando o
assunto é amor. Ela desistiu há muito tempo de encontrar o príncipe

encantado. Talvez ele nem exista.


Agora, o seu objetivo é ser mãe e dar todo o amor que tem

guardado para o seu filho. Apenas para o seu bebê.

Contudo, quando Fernanda encontra Benjamin Fulber, um

Neurocirurgião lindo, educado e atraente, surge uma atração


irresistível entre os dois. Ela repensa se realmente não existe a sua
cara metade, o homem perfeito tal qual as suas amigas já

encontraram? Como poderia ignorar o que o seu coração sente com


a presença dele em sua vida? E como poderia esconder um

segredo tão sério dele? Seria o amor de Benjamin capaz de perdoar


as loucuras que levaram Fernanda até ele?

Quando pensava já ter respostas, as peripécias do destino


irão trazer Alex de volta para a sua vida.

O que Fernanda deve fazer? Olhar para o futuro e enxergar


em Benjamin tudo que ela precisa? Ou continuar acreditando que
Alex é tudo o que faltava para a sua felicidade?
MAIS UMA CHANCE
https://amz.onl/54frMQk
SINOPSE

Isabela e André se amam desde a infância, mas uma decisão


muda o rumo de suas vidas, afastando-os. “Precisamos conversar...”
Apenas duas palavras, mas carregadas de significados que
trouxeram muita tristeza e um coração partido para Isabela. André,
seu doce e perfeito namorado de infância, que dizia amá-la acima
de tudo, mostrou o que era amor, mas também o que era ter um
coração partido. Isabela pensava que a vida não tinha mais sentido
sem ele, que tudo estava perdido, até encontrar o lindo e sedutor
Matheus. Mas será que o amor que sente por André poderia ser
esquecido? Isabela vai ter que escolher entre dois caminhos. Qual
deles levará a felicidade? Agora com a sua vida perfeita, com um
futuro à sua frente, o passado volta trazendo novamente as mesmas
perguntas. André não quer fazer parte do seu passado, ele quer ser
o futuro. Será Isabela capaz de resistir ao homem apaixonado e
disposto a tudo para reaver o seu amor? O que fazer quando a
emoção não quer ouvir a razão?

MINHA DOCE OBCESSÃO


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Sinopse

Quantos segredos e mentiras o amor é capaz de suportar?

Bianca se apaixonou por Guilherme desde... sempre, é a


única palavra para definir.

Ela tentou de todas as maneiras fazer com que ele a notasse

com olhos além do fraternal.


Seu sonho se realizou quando algum tempo depois

Guilherme não conseguiu resistir aos seus encantos e se tornou seu


namorado, anos mais tarde, seu noivo.

No entanto, Guilherme tinha um segredo guardado, segredo

que poderia colocar o amor dos dois à prova.

Prestes a se casar com o amor da sua vida, através de uma

carta, Bianca descobre que seu noivo na verdade já foi a causa do


sofrimento emocional de sua melhor amiga, que os dois tiveram um

envolvimento e que ambos foram muito apaixonados um pelo outro,

causando uma enorme confusão em sua cabeça e uma dor

profunda no coração.

Guilherme então irá tentar de todas as formas reconquistar o

amor da mulher que ele ama.

Bianca tentará com todas as forças resistir ao que sente por

Guilherme.

E o amor será capaz de sobreviver à mágoa e ao orgulho de


um coração ferido?
Minha vingança
Sinopse

Evy, desde criança, tinha um único objetivo na vida: vingar-se

dos assassinos de sua mãe e dos que colocaram seu pai na cadeia
injustamente. Apaixonar-se não estava em seus planos.

Enzo Maldonado é um homem que adora sua vida

despreocupada, ama sua família e amigos e espera encontrar um


amor como o de seus pais. Herdeiro de uma grande fortuna, está

sempre acompanhado de belas mulheres, mas nenhuma tocou o

seu coração.

Até salvar a bela virgem de olhos cor de jade na saída de

uma boate e apaixonar-se completamente por ela.


O que era um acaso do destino passa a ser um sonho de

amor.

Porém, a vida de Enzo muda completamente quando ele é

abandonado no altar e sua noiva desaparece sem dar nenhuma

explicação, deixando-o de coração partido e procurando-a feito um


louco.

Quatro anos se passaram, Enzo está seguindo adiante e


tentando dar uma nova chance para o amor. Mais uma vez sua vida

muda completamente quando descobre o paradeiro de Evy e que os

dois tiveram um filho.

Será que eles irão resistir ao forte sentimento que nunca


deixou de existir?

Enzo será capaz de perdoar o que Evy fez?

Evy irá esquecer a vingança contra seus inimigos, a família

Maldonado?

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