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Cidade do Pecado

Livro 2
2021

1ª edição.
Nome da obra: Aposta Arriscada

Revisão: Dani Smith Books


Diagramação: Mavlis
Capa: Mavlis

Nome do autor: Mari Cardoso

http://www.maricardoso.com.br/

Copyright © 2021 por Mariana Cardoso

INFORMAÇÕES

Esta é uma obra de ficção que não deve ser


reproduzida sem autorização. Nenhuma parte desta

publicação pode ser transmitida ou fotocopiada, gravada

ou repassada por qualquer meio eletrônico e mecânicos

sem autorização por escrito da autora. Salvo em casos


de citações, resenhas e alguns outros usos não

comerciais permitidos na lei de direitos autorais.

Esse é um trabalho de ficção. Todos os nomes,


personagens, alguns lugares, casos envolvidos, eventos

e incidentes são frutos da imaginação da autora.

Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas, ou

eventos reais é apenas espelho da realidade ou mera

coincidência.
Sumário
Prólogo | Stuart.

1 | Vanessa

2 | Vanessa

3 | Stuart

4 | Vanessa

5 | Vanessa

6 | Stuart

7 | Vanessa

8 | Vanessa

9 | Stuart

10 | Vanessa

11 | Vanessa

12 | Stuart

13 | Vanessa

14 | Vanessa

15 | Stuart

16 | Vanessa

17 | Vanessa

18 | Stuart

19 | Vanessa

20 | Vanessa
21 | Stuart

22 | Vanessa

23 | Vanessa

24 | Stuart

25 | Vanessa

26 | Vanessa

27 | Stuart

28 | Vanessa

29 | Vanessa

30 | Stuart

Epílogo | Vanessa
AVISO IMPORTANTE:

APOSTA ARRISCADA é sequência de AMOR EM JOGO, ambos fazem parte da

duologia CIDADE DO PECADO. Alguns personagens e acontecimentos fazem


parte de Amor Em Jogo. É possível fazer a leitura separadamente, mas, volto
a afirmar: são histórias entrelaçadas. Para melhor compreensão, leia o

primeiro livro.

Esta é uma história de amor, baseada na família e na realização de sonhos.


Se você espera grandes tramas, violência, erotismo em excesso,

perseguições e etc., Este não é o livro indicado para o seu desejo. Stuart e

Vanessa protagonizam um romance apaixonante, bem do jeitinho deles, que


conquistou a curiosidade da maioria dos leitores no primeiro livro.
Dedicatória

Para todas as minhas leitoras.

Mãe, te amo.

Obrigada por todo seu apoio.

Este livro contém cenas de sexo, recomendado para maiores de

dezoito anos e pode conter gatilhos emocionais devido ao passado

de ambos os personagens.
Prólogo | Stuart.

O corredor da maternidade estava vazio. Era meio da


madrugada e, além da conversa baixa das enfermeiras

no posto próximo, eu não podia ouvir nada do outro lado


das paredes. Debra estava dando à luz o nosso filho. Ela

não me deixou participar do parto, pediu gritando que


me afastasse e em seguida, seu advogado disse que eu

deveria sair ou ele chamaria a polícia.

Andei de um lado ao outro, puxando meus cabelos e


sentindo dor nos nós dos meus dedos, ainda feridos da

minha última luta. As horas pareciam nunca passar. O


parto mais longo da minha vida. Bati com meu punho na

parede, depois com a cabeça e tentei não sucumbir à


ansiedade.

As enfermeiras me olhavam e eu não podia me importar


menos. A imprensa logo saberia, isso se já não

estivessem do lado de fora querendo entrar e flagrar o

momento de maior angústia da minha vida. Era para

estar do lado dela, segurando sua mão e assistindo os

primeiros segundos do meu filho fora da sua barriga.


— O bebê nasceu. — O advogado, merdinha

engomadinho, se aproximou. — Ele é bem saudável.

Debra não quer que você entre e como mãe, o hospital

lhe dá o direito.

— Eu quero ver o meu filho.

Ele parecia em conflito ao falar. Soltou um suspiro.

— Infelizmente, não há nada que prove que o filho é seu

e ela está irredutível. Se você contar, eu vou negar até a

morte. Saia daqui e procure um advogado bom que


possa acordar um juiz, te dar uma ordem de exame de

DNA e assim você terá o direito de segurar seu filho.

— Ela não vai deixar que eu veja o bebê nem no


berçário? — gritei, perdendo a cabeça. — É meu filho! Eu

tenho direitos!

— Não adianta gritar comigo, você tem que recorrer à

justiça. É a única maneira que poderá lutar contra ela. —

O idiota falou e saiu.

Meu coração retumbava no peito enquanto era

dilacerado. Vi o meu bebê passar em uma incubadora e

um segurança me impediu de seguir adiante, logo sendo


acompanhado por outro, criando uma muralha. Ele

chorava, estava vermelho, enrolado em uma manta e

sendo empurrado por duas enfermeiras.

Toquei o vidro e prometi que aquela seria a única vez que

ficaria afastado dele.


1 | Vanessa

Meu irmão vivia me dizendo para nunca acreditar em


contos de fadas. Lembro que ainda pequena, quando ele

mesmo lia as histórias da Disney para mim, reforçava


que um romance como aquele não existia na realidade.

Era difícil não acreditar em príncipes encantados, quando


via minha melhor amiga passar pelo tapete vermelho,

usando o vestido de noiva mais lindo do mundo e com


um olhar de amor incrível.

Como não acreditar em contos de fadas quando Katrina e

Devon [1]
estavam se casando em uma cerimônia tão

linda? Katrina e Devon, preciso repetir? Os dois eram

como cão e gato pela maior parte da minha vida, de

repente, beberam, casaram e quase derrubaram a casa

ao consumar o casamento.

Os dois protagonizaram um romance que nunca achei

possível. Eram diferentes em tudo. Devon era quieto,


Katrina falava pelos cotovelos, ambos competitivos e

encontraram uma força no amor que me dava orgulho.


Ver as duas pessoas que eu mais amava no universo se

unindo, deixava o meu coração explodindo no peito.

Foi difícil conter minhas emoções. As lágrimas estavam


escorrendo no meu rosto e Stuart, segurando nossa

afilhada, Halley, me deu seu lenço. Aceitei sem graça,

secando meu rosto e sorri para minha garotinha favorita.

Ela me devolveu o sorriso, com os dedos na boca e

voltou a olhar para os pais que se casavam no salão de


eventos do hotel que era importante para o

relacionamento deles.

Quando a cerimônia acabou, foi inevitável não ficar


vermelha com Stuart oferecendo seu braço para

seguirmos o cortejo final. Ser o par dele não era uma


novidade, considerando que era o melhor amigo do noivo

e eu, da noiva. Nós dois éramos amigos também, mas,

depois que as coisas ficaram confusas no ano anterior,

não consegui não me sentir um tanto envergonhada.

Fui na casa dele no meio da madrugada. Apesar de bom,

tinha vontade de matar Katrina por me convencer. Foi

importante para estreitar laços com ele, mas tudo se


esfriou muito rápido e acabou fazendo com que me

sentisse inadequada.

— Você está linda — Stuart cochichou, enquanto Katrina

e Devon paravam para uma foto. — Esse tom de azul

combina muito com você.

Sorri, corei e tentei não parecer uma garotinha afetada.

— Obrigada. Você está muito bem também. Mesmo todo

babado... — Apontei para o fio de baba que Halley deixou

escorrer para a roupa dele.

— Ofícios de padrinho de todo jeito. — Secou a baba dela

com habilidade.

Melanie se aproximou com os braços esticados, querendo


pegar a neta e a levou sem falar nada. Mal tive tempo de

reagir, logo fomos conduzidos para fotografar com os

noivos na área externa. Katrina queria um álbum

completo, já que apesar de ter se casado com Devon há

mais de um ano, era a única festa de casamento deles.

— Preciso da sua ajuda! — Katrina me agarrou e saiu

correndo, me levando junto. Comecei a rir e subimos


para um dos quartos. — Meus peitos estão vazando e

minha mãe sumiu com minha bezerra!

Rapidamente abri os botões atrás, descendo o zíper, ela

já estava toda molhada. Pegou uma toalha e procurou a

bomba de leite enquanto ligava para Mel subir com

Halley para mamar.

— Se eu sentar, o vestido vai rasgar. — Voltou a rir. —

Isso tinha que acontecer!

— O que houve? Por um momento, pensei que minha

irmã estava fugindo com a minha mulher! — Devon


entrou no quarto com Halley nos braços. — Está

seminua? Não era com minha irmã e nossa filha que

imaginei te ver sem vestido.

— Cale-se. Eu preciso amamentar! — Katrina pegou

Halley e a ajeitou no peito enquanto o outro seio já

estava com a bomba. Era uma cena engraçada, o vestido

na cintura, toalha pendurada nos ombros, um bebê que

parecia uma bolotinha e uma coisa colada no seio saindo

leite. — Se tirar uma foto, eu vou te matar.

Ergui meu telefone e tirei duas .


— Vou deixar vocês...

— Nada disso. Estou fugindo da zona de guerra para

começar a beber. Esse casamento está sendo muito caro


para desperdiçar... — Devon foi se retirando do quarto. —

Tenho uma aposta para ganhar. — Sorriu torto e fechou a

porta a tempo ou ganharia uma escova na cabeça. A

maternidade deu um pouco de mira para Katrina, ou o

casamento. Devon a irritava tanto que melhorou suas

habilidades.

— Vocês fizeram uma aposta?

— Claro, ou não teria graça nenhuma. — Katrina sorriu.

Halley soltou o peito, com um olhar sonhador de quem

estava em coma de leite. Peguei-a, limpando a boca e

acariciando as costas, enquanto sua mãe tentava se

ajeitar novamente.

Minha sobrinha deitou a cabecinha no meu ombro,

provavelmente exausta e dando sinais de que logo tiraria

um cochilo. Com tantos braços ansiosos para segurá-la

na festa, isso não seria um problema. Katrina precisou de

ajuda para fechar o vestido, renovada, com seios vazios,


novos absorventes de amamentação e a maquiagem

retocada.

No elevador, Halley me deu um sorriso e seus olhos

arregalaram quando bateram nos meus brincos. Não fui

ágil o suficiente para segurar sua mãozinha. Ela agarrou

e puxou junto com meu cabelo, tirando os fios do

penteado. Soltei um gritinho e fui me inclinando,

tentando desembolar seus dedos. Katrina me salvou do

ataque. Nossa bolotinha amava puxar cabelos, brincos e

cordões.

— Não pode, Halley! — Katrina castigou, mas a menina

sorriu, ignorando.

Retornamos para a festa e a primeira pessoa que

encontramos foi Everly. Ela estava muito linda em um

vestido magenta e um corpo de parar o trânsito. Abrindo

um sorriso para Halley, que fez gracinha, ela olhou para

Katrina.

— Pode dizer que sou a noiva mais linda que já viu.

— Nunca nessa vida, no entanto, eu digo que essa

menininha é a dama de honra mais fofa do mundo. E a


mais bonita também. — Everly arrulhou para Halley, que

abriu um sorrisão quase desdentado. — A boquinha cheia

de leite.

— Com isso eu não posso retrucar. Ela é perfeita. — A

mãe derreteu.

As duas nunca iriam parar de implicar uma com a outra.

A cerimonialista encontrou Katrina, levando-a para o


salão. Melanie apareceu e pegou Halley para fazer

algumas fotos. Everly me convidou a pegar uma bebida


no bar, então ajeitei meu cabelo que minha sobrinha fez

a gentileza de bagunçar.

Ela pediu uma taça de espumante e eu um drinque


colorido com gin que o barman ofereceu.

— Trouxe algum acompanhante? — Fiz conversa.

— Não. Até pensei se seria horrível aparecer no


casamento do meu ex sozinha, mas decidi que não

precisava convidar um primo ou amigo só para não


parecer desesperada. — Sorriu e olhou ao redor. — Além

do mais, tem muitos homens bonitos aqui. Sabe se Stuart


está solteiro?
Quase me engasguei. Everly era o tipo de mulher que
sabia o seu lugar no mundo. Certo, o corpo havia

passado por algumas plásticas, mas era lindo. Cheio de


curvas. Ao lado dela, eu parecia uma garota. Ganhei

peso, um formato agradável de bunda depois que


comecei a malhar, mas não se comparava. Se ela

investisse, será que Stuart cederia? Afinal, Everly ficou


com meu irmão, mas homens ...

— Sabe? — Ela cortou meus devaneios.

— Stuart é reservado com sua vida íntima — murmurei

com o canudinho na boca, sentindo um peso no coração


de que ele poderia sair daquele casamento

acompanhado.

— É verdade. Ele é um dos poucos homens que são

discretos com mulheres. — Everly bebeu, sem perceber


minha confusão. Era bom que ninguém soubesse dos
meus sentimentos, não queria ser motivo de chacota. —

Por mais que esteja falando, decidi dar um tempo. Estou


tão cansada, Vanessa.

Isso me chamou atenção.


— O que houve?

— Sei que não sou perfeita, eu sou grudenta, ciumenta e

um tanto melosa. Nunca soube como me relacionar de


verdade, meus pais não são um exemplo e meu irmão é

um pacote de Chernobyl com pernas. — Suspirou e


soltou a taça. — Todos os meus relacionamentos acabam

porque eu minto e finjo ser quem não sou. Tento ser a


mulher que o homem quer, para não ficar sozinha.

— É ruim quando a gente sente que não podemos ser

quem somos para agradar o outro. Entendo o que está


falando... — Segurei sua mão.

— Comecei a fazer terapia e decidi tirar um tempo

sozinha, sem conhecer ninguém. — Pegou outra taça. —


Vamos ver quanto tempo vou aguentar. Ficar sem transar

é complicado...

— Você não consegue ficar sem?

Everly riu.

— Quem consegue? Sexo quando é bom a gente quer

sempre. — Ergueu a taça e brindamos.


Me senti uma falsa, eu não transava há muitos

anos. Basicamente perdi minha virgindade em um


relacionamento e quando ele acabou, quase levando

minha vida junto, não transei mais. Nem beijei na boca.


Caramba... bebi mais um pouco e acenei pedindo outro

copo, no dia do casamento do meu irmão eu não podia


me sentir uma fracassada.

Não era culpa de Everly. Ela não sabia da minha vida e

não falou por mal. Estava feliz por ela ter entendido a
necessidade de se colocar em primeiro lugar, se amar e

aceitar um relacionamento somente com o homem com


quem pudesse ser ela mesma.

Katrina sinalizou do outro lado do salão, peguei outra

bebida e pedi licença. Meu irmão passou o braço por meu


ombro, querendo saber se estava bem, já que eu

raramente bebia. Não em público. Perder a noção só na


segurança de casa.

— Estou bem. Quero ficar bêbada com você, afinal, esse

dia é único. — Sorri e beijei sua bochecha.


— Quero beber também! É injusto ser a única lactante

aqui! — Katrina fez um beicinho. Devon sorriu daquele


seu jeito apaixonado.

— Já disse que você está linda? — Ele se derreteu por


ela.

Tio Saul se aproximou, sorridente e até fez uma

dancinha. Shannon se recusou a vir ao casamento para


que ninguém a visse sem cabelos. O tratamento se

tornou agressivo quando não obtivemos bons resultados


nas primeiras semanas, o câncer estava se espalhando

muito rápido.

A cerimonialista sinalizou que era o momento do


discurso, para seguirmos com a dança entre os padrinhos

e noivos, depois, o jantar. E aí estaríamos livres das


obrigações, até o momento de Katrina jogar o buquê

antes de ir embora.

Eu estava meio alegrinha quando peguei o microfone.

— Normalmente, as madrinhas falam especificamente da

noiva, mas seria impossível seguir essa tradição quando


minha melhor amiga acabou se casando com meu irmão,
que é o meu melhor amigo. — Dobrei a cola que fiz por
achar que ficaria nervosa, mas a bebida me deixou

desinibida. — Quando conheci Katrina, ela bateu em um


dos garotos que estavam me assediando na minha
primeira semana na escola. Ela era tão pequena e

magra, mas com uma força sem igual. Essa mesma força
me encantou e me sustentou todas as vezes que

precisei. — Minha voz começou a tremer. — Katrina


salvou minha vida tantas vezes e de tantas maneiras,

que não posso enumerar. Ela é a melhor amiga do


mundo, sua coragem e determinação é o meu maior

orgulho. Sou grata por sua amizade e sinto orgulho em


vê-la construindo sua família com o melhor irmão do

mundo. — Sequei meu rosto. Katrina estava toda


vermelha e chorosa. — Devon, sem você, eu não teria

nada. Você era tão jovem quando decidiu que cuidaria de


mim e me amaria. Você nunca desistiu da nossa família e

eu te amo mais do que tudo. Sejam felizes, que esse


amor se multiplique em mais sobrinhos. Eu amo vocês!

Stuart ficou de pé para que Katrina pudesse me abraçar

apertado. Nós olhamos uma para a outra, chorosas e


rimos. Ela sempre ria quando eu chorava. Devon me deu
um beijo na testa e o abraço mais apertado do mundo.

Voltei para o meu lugar, deixando que Stuart desse seu


discurso.

— Certamente não serei tão emocionante. — Stuart


brincou. — A primeira vez que vi Devon, soube que

seríamos melhores amigos e não foi porque estávamos


em uma briga no meio de um beco sujo de Las Vegas. Na
verdade, ele estava apanhando. — Todo mundo riu. — E

quando vi Katrina, eu disse: Uau, que gata! — provocou


meu irmão, que fingiu avançar nele. — Mas na verdade,

eu vi que ela era a única mulher que poderia deixar


Devon de joelhos. E estava certo. Vocês dois são a

combinação do amor, a realização de um conto de fadas


impossível e meus melhores amigos. Desejo que sejam
felizes e me deem mais afilhados. Eu amo vocês!

Stuart sentou ao meu lado depois de abraçar os noivos.

Katrina e Devon foram para a pista de dança, as luzes


diminuíram e lembrei das brigas que eles tiveram
durante os ensaios. As notas iniciais de Come Away With
Me , da Norah Jones, soaram e eles se encontraram no
centro do salão, começando a dançar.

— Você foi melhor que eu — cochichei com Stuart.

— Nada. Você fez chorar, eu fiz rir. — Sorriu e tocou a

pulseira que estava usando. Ele me deu no meu


aniversário do ano anterior. — Fico feliz cada vez que
usa.

— É um dos meus presentes favoritos.

— Fico feliz em saber disso. — Sorriu.

Melanie e Michael entraram na pista de dança para

trocar com os noivos. Stuart ficou de pé e ofereceu sua


mão, era nossa vez de entrar. Desci as escadas com
cuidado e o DJ conseguiu engatar a batida de Perfect do
Ed Sheeran, que era a segunda música escolhida por

Katrina. Na verdade, por mim, ela estava surtando com


Halley chorando e não queria escolher música nenhuma.

Coloquei minha mão no ombro dele e outra no braço,


soltando um ofego com sua puxada para frente. Olhei em

seus olhos, perdida em sua beleza e começamos a


dançar. A letra era linda, mas tê-lo cantando baixinho me
deixava desorientada. Stuart não desviou o olhar do
meu, sua mão desceu e subiu nas minhas costas e

apertei seu braço, engolindo seco. Devon parou ao nosso


lado, quebrando o transe que estávamos e então dancei
com meu irmão, que não desviava o olhar do meu.

— Sabe o que acontece nos casamentos? — ele


perguntou baixinho. — A madrinha sempre beija o

padrinho.

— Cala a boca — grunhi.

— Estou apenas te provocando. — Beijou minha testa. —


Eu te amo.

— Eu também te amo.

Dancei com Michael e a terceira música estava quase

acabando quando Katrina pegou sua mãe para dançar de


surpresa. Ela entrou com Melanie e a dança tradicional
pai e filha, na verdade, tornou-se mãe e filha. Parei na
beira da pista, emocionada e senti a presença de Stuart
ao meu lado. Ele tocou meu cotovelo e olhei para o seu

rosto, trocamos um sorriso e ficamos juntos.


— Se não é a minha menininha! — Ele arrulhou quando

Michael apareceu com Halley chorando. Nosso pequeno


Kevin estava junto. — Vovô não fez suas vontades?

— Papai faz todas as vontades dela. — Kevin resmungou.


Ele tinha um pouco de ciúme de Halley, mas
normalmente, ficava ao lado dela sem problemas. —

Você está linda, Tia Vanessa.

— E você é o menino mais lindo dessa festa. Quer dançar


comigo?

— Eu quero!

Stuart começou a dançar com Halley e eu com Kevin,


fazendo com que todos os convidados se animassem e

começassem a povoar a pista. A festa estava regada de


muita comida e bebida, quando o jantar foi servido, a
maioria dos mais velhos foram comer. Como estava
faminta e um tanto bêbada, decidi jantar.

— Eu preciso comer! — Katrina se jogou ao meu lado

com Halley no colo. O garçom nos serviu e achei fofo o


pratinho com carne e legumes feito exclusivamente para
nossa bolotinha. Ela pegou um brócolis, enfiando na
boca, mordendo, meio chupando. — Que delícia, meu

amor.

Halley me ofereceu sua carne. Aceitei e dei um pouco da


minha comida para ela. Era comum nós três
compartilharmos a refeição. Com Katrina trabalhando em
casa a maior parte do tempo, eu acabava ficando

também, assim poderíamos nos ajudar nas nossas


funções na empresa e nos cuidados com Halley.

Devon se juntou a nós com Stuart, os dois riam e


bebiam, falando alto e eu sabia que não importava o que
aconteceria na nossa vida, nós sempre ficaríamos juntos.
2 | Vanessa

O sol estava escaldante. Me inclinei para trás,


procurando me bronzear um pouco e fechei os olhos.

Estava quente e ao mesmo tempo, bom. Katrina estava


deitada ao meu lado. Depois de brincarmos com Kevin e

Halley na piscina, era bom curtir um pouco sem crianças


para cuidar.

— Seu irmão deve ter dormido junto com a Halley.

— Ela faz qualquer um dormir. Demora uma vida —


murmurei ainda de olhos fechados.

— Muito silêncio. — Katrina ainda estava desconfiada.

— Estamos longe. Ele não ronca tão alto... — Soltei uma


risada.

— Seu irmão em silêncio está aprontando e não

dormindo. — Ela o conhecia tão bem. Abri os olhos e virei


em direção à casa. Na dica, Devon saiu com um balde e

nossos cachorros se trombaram atrás dele. Ele olhou

para casa do vizinho, pegou uma bola do tipo festa e

arremessou. — Devon! — Katrina ofegou. — Depredar


patrimônio alheio é crime! Você tem uma filha para

criar!

— O que está fazendo, maluco? — Fiquei de pé e vi que


as bexigas estavam cheias de tintas de diferentes cores

misturadas com água. — Devon!

A casa ao lado estava fechada há um ano. Os vizinhos se


mudaram para Atlanta e desde então, permaneceu vazia.

A única vez que estive lá foi quando Polo conseguiu pular

as cercas e invadir o jardim deles. Havia uma distância

de uma quadra de tênis grande entre as duas casas,

mesmo assim, meu irmão estava decorando o paredão


com várias cores.

— Se você vai preso, eu também vou. Vanessa vai criar

nossa filha. — Katrina pegou uma e jogou também,

gritando quando acertou.

— FILHO DA PUTA! — Ouvimos um retumbar masculino.

— Fodeu! — Katrina se escondeu atrás de Devon. De

repente, a cabeça de Stuart apareceu na cerca. Ele olhou

para a parede e para o meu irmão com raiva.

— Bem-vindo à vizinhança! — Devon gritou.


— Corno!

— Ei! — Katrina reagiu jogando uma bola com tinta em

Stuart. Dessa vez, ela acertou no peito dele. — Essa

palavra é proibida!

— Desculpa! — Stuart gemeu. — Devon! Minha parede!

— Você vai ter que reformar a casa de qualquer jeito!

— Me dá uma cerveja para que eu supere isso! — Stuart

continuou choramingando.

Katrina entrou em casa dizendo que ia pegar bebidas e

alguma coisa para comer, o que na língua do meu irmão

significava acender a churrasqueira. Comíamos

churrasco quase todo final de semana. Ele fazia questão


de ir ao mercado para comprar suas carnes especiais e

assistia a milhares de vídeos... até que estava indo bem.

Sempre se superando nos temperos e nas carnes

macias.

Devon entrou atrás dela, deixando Stuart e eu sozinhos

no quintal com dois cachorros de espectadores. Eu

estava só de biquíni e esse era o modelo que Katrina me

obrigava a usar para pegar uma marquinha sexy. Ela


sabia que eu tinha algumas questões com meu corpo

que, com o tempo, estavam se curando. Já não sentia

culpa de comer chocolate ou me encher de macarrão


tarde da noite.

Pelo reflexo das portas de vidro percebi que ele estava

me olhando. Coçou o queixo, balançou a cabeça e

chamou os cachorros, se distraindo na brincadeira.

— Então, você é meu novo vizinho? Você sempre disse

que esse condomínio era um saco, cheio de regras... —

Inclinei minha cabeça para o lado.

— É verdade. — Ele coçou as orelhas de Polo. —

Precisava de uma casa familiar, sabe? Quartos seguros,

um ambiente agradável, vizinhança tranquila...

basicamente o lugar perfeito para o juiz aprovar. Quero

tentar que meu filho passe finais de semana comigo e

depois, quem sabe, as férias inteiras.

— Isso é maravilhoso, Stuart. Se você precisar de ajuda

com qualquer coisa, pode contar comigo. Estou torcendo

por você.
Ele abriu um sorriso e ficou de pé, se aproximando. Sua

altura sempre me impressionava, os músculos

trabalhados me deixavam quase babando e olhei para o

alto, para encarar seu rosto marcado pela profissão.

Ainda assim, ele era de tirar o fôlego. Esse homem mexia

tanto comigo que me deixava com tesão, o que era

inédito. Cheguei a pensar que era frígida por não sentir

atração ou vontade de transar.

Se Stuart quisesse, eu toparia. Só a sua proximidade me

deixava arrepiada.

— Tenho certeza de que vou precisar de ajuda,

principalmente para decorar a casa de um jeito que a

assistente social olhe e pense que é o lugar perfeito para

uma criança. — Sorriu timidamente.

— Eu adoraria. Um dia vai me contar tudo que aconteceu

entre você e a mãe do seu filho para estarem nessa

guerra pela guarda?

Ele me deu um sorriso bonito.

— Um dia — prometeu.
Devon saiu de casa fazendo barulho e eu

propositalmente me afastei, não querendo ouvir qualquer

piadinha do meu irmão. Com calor e sem querer entrar

na piscina, acionei a torneira do chuveirão e tomei um

banho rápido refrescante. Ouvi um splash e olhei para

Stuart dobrado, segurando as bolas e com a região da

calça molhada e manchada de tinta. Meu irmão estava

assobiando, abrindo uma cerveja.

Katrina saiu de casa com as carnes temperadas e me deu

um olhar confuso, dei de ombros. Ela ofereceu uma

sunga e bermuda de banho do Devon para o Stuart e

meu irmão não ficou nada feliz, soltando um resmungo.


Kevin acordou do seu cochilo, saiu da sala coçando os

olhos e esticou os braços, querendo colo. Peguei-o e dei

um beijo, sua sunga ainda estava meio molhada e o

corpo quentinho.

Dias divertidos em casa não eram incomuns, na verdade,

desde que Katrina veio morar conosco eles se tornaram

rotina. Com Halley acordada e sentada no cercadinho,

cheia de brinquedos, com os dois cachorros de guarda e

Kevin ao lado, minha melhor amiga propôs uma briga de


galo dentro da piscina. Meu irmão relutou, mas pensou

nas probabilidades: ou ele teria sua esposa nos ombros

do seu melhor amigo ou sua irmã.

As duas opções pareciam deixá-lo nervoso.

Foi voto vencido, não muito por mim, porque eu estava


nervosa em ficar tão perto de Stuart, mas Katrina não

precisava de muita ajuda quando queria algo.

Devon mergulhou depois de dar um olhar para seu amigo


e ergueu a esposa sobre os ombros. Stuart avisou

baixinho, segurou minha cintura e afundou. Soltei um


gritinho quando ele levantou e cobri minha boca, rindo.

— Preparada? Eu vou te afundar! — Katrina esfregou as


mãos. Competidora nata, não aceitaria perder e se jogou

em mim com tudo. Filha da mãe! Stuart agarrou minhas


coxas, me dando firmeza e assim tive jogo para revidar.

Foi difícil, quase ficamos sem biquíni e sem cabelos,

porque ela jogava sujo. Perdi completamente a noção ao


sentir os braços dele abraçando minhas coxas. Katrina

aproveitou minha fraqueza para me derrubar, mas caiu


junto. Mergulhei e fui puxada para cima, sentindo o corpo
dele pressionado ao meu e foi bom. Seus gominhos eram
realmente duros. Passei meus braços por seus ombros,

olhando em seus olhos e separei meus lábios, desejando


beijá-lo.

— Vanessa... — Ele chegou bem pertinho.

— Devon, não! — Katrina gritou e senti meu irmão

jogando um mundo de água em nós dois. — Eu


sinceramente estou pronta para ficar viúva.

— Se você vai beijar minha irmã, não vai ser na minha


frente. Eu não preciso ver isso. — Fez uma careta e eu

fiquei vermelha, me afastando. Caramba... o que Stuart


deveria estar pensando? Ignorei todos eles, saí da

piscina, peguei um roupão e fui para o meu quarto.

Tomei banho, lavei meu cabelo, fiz hidratação, escova e


até pintei minhas unhas. Katrina entrou no meu quarto

com Halley chorando. Minha sobrinha estava com os dois


dedos na boca e o rosto molhado.

— Ela vai parar assim que o peito ficar de fora. — Sentou

na minha cama e começou a amamentar nossa princesa.


— Ufa, paz! Você é um pesadelo, garota.
— O que houve?

— Fome, irritação, gênio, tudo misturado no corpinho de

um bebê. — Revirou os olhos. — Vim te ver. Seu irmão é


insuportável. Agora está bebendo e conversando com

Stuart como se nada tivesse acontecido.

— Não sei o que dizer quanto a isso... — Voltei a pintar


minhas unhas. — Devon está me irritando, mas no fundo,

ele tem razão. Não existe só Stuart no mundo e eu


preciso abrir meus horizontes.

Katrina me olhou um tempo e voltou a encarar Halley,

como se tivesse desistido de falar o que estava


pensando. Era bem incomum dela. Eu sabia que minha

melhor amiga era a minha maior torcedora.

— O que não está me falando? — Assoprei minhas

unhas.

— Você tem que viver sua vida independente da opinião


do seu irmão. Ele está com ciúme e um tanto

preocupado, parte com razão, porque Stuart está se


mudando para criar a vida perfeita para o filho. — Ela me

deu um olhar sério. — O único medo que eu e ele temos


é que ele acabe te jogando de lado porque está focado

em conseguir a guarda compartilhada.

— Também penso nisso e acredito que o próprio Stuart


não tomou nenhuma iniciativa porque pensa que não

pode se entregar a mim por completo. Eu quero sair com


outras pessoas, ter encontros, como você diz, voltar para

o jogo e fazer apostas arriscadas que toda garota solteira


faz ao conhecer um novo homem. — Me olhei no espelho.

— Vou entrar em um aplicativo de relacionamentos. O


que poderia acontecer?

— Além de um sequestro, o cara pode ser apenas idiota.

Sorte que você tem seguranças, portanto, só pedir para


darem um soco e vir embora.

— Esse é o espírito! — Comemorei. — Vai colocar ela no


berço e ficar com eles ou vai para o quarto?

— Vou fazer o Kevin dormir. Michael entrou em uma

cirurgia de emergência e não faz ideia de que horas vai


sair, então, meu irmãozinho vai ficar. Deixei-o

perturbando o Devon, mas ele merece. E essa mocinha


aqui, vai para a cama. — Katrina olhou com carinho para
a filha. — Comeu seu prato todo de comida e ainda

mamou. Alimentando bem essas dobrinhas.

Cada vez que via minha melhor amiga com seu bebê nos

braços meu útero se revirava, implorando por um


bebezinho também. Ser mãe sempre foi muito mais meu

sonho do que de Katrina, mas ela nos surpreendia a cada


dia, enfrentando a maternidade com os pés no chão. Ela

passar pela experiência antes de mim era maravilhoso,


porque sem uma mãe por perto, precisaria de toda ajuda
possível. Estava aprendendo para quando chegasse a

minha vez.

Katrina foi para o quarto da bebê e eu tomei coragem,


descendo a escada. Stuart estava sozinho na varanda,

com uma cerveja, passei com calma e toquei seu ombro


antes de pegar uma almofada e me acomodar no sofá.

Marco começou a correr atrás do gato do vizinho, que


vivia mais no nosso quintal do que no dele.

— Sinto muito pela situação na piscina, não quis te


deixar desconfortável — falou baixo.
— Não foi você que me deixou envergonhada, foi a
atitude infantil do meu irmão. Ele vai ter sessenta anos e

ainda vai agir como um adolescente quando o assunto


sou eu. — Revirei os olhos. Devon me estressava. Ele
bancava o irmão desconstruído enquanto estava solteira.

Entendia todos os seus medos porque eu enlouqueci com


Luke e me tornei uma pessoa diferente por causa dele,

mas quem não erra no começo da vida adulta?

Não era mais aquela garota.

Me tornei uma mulher e queria ser respeitada.

— Ele faz isso porque te ama e quer te proteger.

— Até de você? — Soltei uma risada.

— Devon me conhece por dentro e por fora, ele sabe de


todos os meus defeitos e minhas qualidades. Ele só quer

alguém perfeito para você.

— Não existe perfeição — falei e fechei minhas mãos tão

forte que chegou doer. — Podemos ser quem devemos


ser, nossos erros e acertos nos definem e constroem

como ser humano.


— Vanessa... eu sei. — Stuart segurou minha mão. —
Calma, ok? — Abriu minha palma, franzindo o olhar para

as marcas das minhas unhas. — Nunca aceite um


relacionamento que um homem exija de você perfeição.

— Beijou as marcas e suspirei. — Você é incrível, sabia?

— Não precisa dizer isso, estou bem. Se fosse antes, só a

palavra me faria chorar, mas... hoje eu sei melhor. Não


quero o homem perfeito. — Olhei em seus olhos. —
Quero um homem que me ame.

Stuart envolveu sua mão na minha.

— Eu sei, e você vai ter. — Beijou meu pulso e se afastou


quando ouvimos Katrina saindo com Kevin. Devon estava

logo atrás, segurando uma bandeja com petiscos

variados.

Kevin subiu em mim, querendo minha atenção e


enciumado com a proximidade de Stuart. Ele era
pequeno e dominava todas as mulheres da família. Era
tão engraçado pensar que, alguns anos antes, era

apenas Devon e eu em casa sozinhos todo dia e de


repente, nossa família dobrou de tamanho. Era um sonho
realizado.

Estava pronta para realizar mais.


3 | Stuart

— Acho que você deveria colocar um toldo ou uma


proteção nessa parede lateral. — Devon deu um gole em

sua cerveja, empurrando o carrinho de Halley para frente


e para trás, fazendo-a dormir. — O sol bate o dia inteiro

ali. Vai ajudar a manter o ambiente fresco, mesmo com a


climatização.

— Eles disseram que me entregam a casa em duas

semanas e já vou poder começar a mudar os móveis,


comprar o que precisa de decoração...

— Podemos inaugurar a casa com seu jantar de


aniversário. Talvez se mostrar que está propenso a

eventos mais tranquilos esse ano... — Devon ponderou.

— Eu adoro festejar e organizaria um aniversário na

boate para você, mas temos que pensar como a


assistente social pensaria.

— Eu sei, não estou animado para nenhuma festa esse

ano e quero reduzir minha imagem na noite. Quero que


ela me veja como um homem responsável para ficar com
Harry nos finais de semana — falei e um carro passou por

nós dois devagar, parou em frente à casa dele e eu

observei a moto do guarda costas de Vanessa parar na

esquina, dando uma distância. Olhei para o carro

novamente e o homem se inclinou no banco.

— Quem é? — Devon estava confuso. — Vanessa?

O casal dentro do carro parecia se beijar e eu senti nas

minhas entranhas. Vanessa saiu do carro, linda de tirar

meu fôlego, usando um vestido azul escuro até o meio

das coxas, o que significava que ao sentar, estava ainda

mais curto. Fechei meus olhos, sentindo uma repentina


dor de cabeça de me deixar tonto.

— Quem era? — Devon fez a pergunta que eu queria

fazer.

— Um encontro. — Vanessa respondeu, sem graça. — Oi

Stuart.

— Por que não fui informado que sairia? Seu segurança?

— Porque a partir de hoje, quem paga o salário do meu

guarda-costas sou eu e eu digo a ele qual informação ele


deve repassar a você. — Ela abriu um sorriso. Pensei que

meu amigo fosse cair duro no chão.

Devon abriu a boca, fechou e Halley começou a chorar.

Sem falar nada e puto nas calças, ele voltou a andar na

rua, empurrando o carrinho para fazê-la dormir.

— Você está linda. — Olhei-a de cima a baixo, devagar. —

Azul fica muito bem em você... e esses saltos são bons.

— Mordi a pontinha do meu lábio, vendo suas

panturrilhas trabalhadas e as coxas que estavam ficando

torneadas. — Foi um bom encontro?

— Na verdade, não. — Abriu um sorriso. — Me inscrevi

em um aplicativo de paquera e comecei a conversar com

esse há uns dias. Aceitei sair para um jantar.

— O que deu errado? — Enfiei minhas mãos nos bolsos

da calça.

— Achei que ele falou demais sobre si mesmo e não

pareceu se interessar muito por mim. Era como se

estivesse ali fazendo um favor para mim, sabe? A

sensação foi: “sou uma mercadoria linda, você é gata,

mas ei, olhe para mim... eu sou a melhor pessoa entre


nós”. Depois de tagarelar sobre a vida dele, me trouxe

em casa e ainda quis me beijar. — Ela suspirou. Meu

sangue ferveu. — Eu não quis, me despedi e saí. É o


segundo encontro que eu vou que não sinto que o que

falo é importante. Nenhum deles prestou atenção nas

minhas palavras, como você está fazendo agora.

— Tudo o que fala é importante para mim.

Ela sorriu timidamente.

— Eu sei. — Olhou para casa. — Então, quando vai se

mudar?

Aceitei sua mudança de assunto e tagarelei sem parar

sobre a casa, acendi as luzes e dei a ela um tour pela

parte de baixo, evitando onde estava zoneado da

reforma. Na área externa, seus cachorros começaram a

latir quando ouviram a voz dela.

— Ao invés de um toldo, poderia colocar aquelas ripas de

madeira... não sei o nome, mas são aquelas que as

trepadeiras se entrelaçam e dão flores lindas na

primavera. Aí aqui você coloca um banco de madeira ou

ferro, com almofadas e uma mesa, pode ser um lugar


fofo para tomar chá de noite. — Ela me deu um olhar. —

No seu caso, cerveja. Ou vinho.

— É uma ótima ideia. Vou falar com a arquiteta. —


Ficamos parados no escuro do quintal. — Você quis beijar

seu encontro?

Vanessa ficou brincando com as chaves.

— Não. E você, tem beijado alguém?

— Não.

— Everly me perguntou se você estava com uma

pessoa... — gaguejou, vermelha. — Não quer dizer que

eu quero saber da sua vida.

— Não tenho beijado ninguém, mas eu quero. — Dei um

passo à frente, havia um espaço tão fino quanto uma

folha entre nós. Nossos narizes estavam quase se

tocando. — Talvez eu faça isso no momento certo.

— Talvez deva fazer sim. — Soltou um suspiro suave e

olhou em meus olhos. — Eu vou entrar. Nos vemos

amanhã?

— Claro. Boa noite, Vanessa. — Beijei sua bochecha.


— Boa noite, Stuart. — Ela retribuiu o beijo e eu quis

muito que fosse na boca.

Observei-a atravessar o meu quintal, o tempo todo

focando no gingado maravilhoso de seus quadris. Passou

pelo portão recém colocado e entrou em casa, lutando

contra os cachorros que queriam atenção. Ao fundo,

podia ouvir Halley chorar. Devon acendeu a luz do

corredor, andando com ela de um lado ao outro. Encostei

na parede, pensando no quanto sentia saudade de

segurar meu filho.

Voltei para minha casa, me preparei para dormir e logo

cedo, saí da cama, tomei banho, fiz minha barba e me

arrumei, abrindo as cortinas e prendendo o celular no

suporte. Sentei no meu lugar e fiquei esperando a

ligação. Nove em ponto, o rostinho do meu filho


preencheu a tela.

— Oi papai! — Ele apareceu com seus óculos azuis

escuros e acenou.

— Oi, meu amor. Papai está morrendo de saudades de

você!
— Eu também! Quando você vem me ver? Podemos sair

para tomar sorvete?

— Você está de castigo de sorvete! — Sua babá corrigiu

ao fundo e ele fez uma careta que me fez rir. — Sr.

Hedrer, Harry fez uma gracinha essa semana e a mãe

proibiu guloseimas. — Me informou e suprimi a risada.

— O que você aprontou?

Harry passou o dedo nos lábios, como se estivesse


selando.

— Ele passou cola permanente no assento da cadeira, o


convidado da Sra. Becker para o jantar sentou e ficou

com a calça prejudicada. — Eleanor, a babá, falou por


ele.

— Ele é um idiota e dá tapinhas na minha cabeça como

se eu fosse um cachorro! — Harry se defendeu, furioso.


Ele era tímido na maior parte do tempo, quieto, vivia

com o rosto enfiado no seu tablet e não interagia com


outras pessoas. Sua mãe chegou a levá-lo em diversos

médicos querendo saber se havia algo errado porque ele


era muito retraído.
Debra estava com um novo namorado. Ela nunca me
falava quando apresentava um homem para o meu filho,

o que acontecia com frequência. Não me importava com


sua vida, até que suas atitudes provocassem qualquer

estresse em Harry. Uma coisa que a mãe dele não


entendia era que seu relacionamento influenciava

diretamente na rotina e particularmente, seus


namorados eram sempre uns merdas.

Chamei atenção dele, mas não me debrucei sobre isso

porque eu só tinha uma hora para conversar com ele por


vídeo duas vezes na semana. Felizmente, no sábado, fui

autorizado a passar o dia inteiro com ele em Nova Iorque.


Estava ansioso. Fazia um mês que não o via

pessoalmente. Debra inventou uma viagem para ver uns


parentes fora do país e perdi meus dias de visitação

porque ela tinha a guarda.

— Te amo, papai!

— Eu te amo muito, filho!

Ele encerrou a chamada com um aceno e suspirei,

caramba, eu o amava muito mesmo. Tirei meu telefone


do suporte e havia uma mensagem de Katrina, usando a
Halley para me convidar para o jantar. Devon deve ter

pedido. Ela não saberia o meu estado melancólico depois


de falar com meu filho e não poder segurá-lo. Minha

afilhada curaria um pouco do meu coração partido.

Saí de casa de carro indo para o trabalho, estava de boné

e óculos, tentava andar disfarçado, mas sempre tinha


alguém me fotografando. O escândalo do meu

rompimento com minha empresária permanecia


dominando os jornais. Ainda estava preso em algumas
lutas nos próximos anos, mas eu podia controlar meu

tempo e carreira, além de participar apenas das


principais.

Pensei que seria o fim da minha vida não lutar mais, mas

depois que inaugurei a academia, ganhei outro sentido.


Estar lá me fazia bem e gostava do meu trabalho. Era

estranho sair todo dia para trabalhar, abrir cedo, ver se


os funcionários chegavam no horário, gerenciar

pagamentos e ficar até fechar.

Devon estava me ensinando tudo que precisava

para cuidar do negócio, como meu sócio, ele não se


metia muito, só me orientava nos gastos e nos ganhos.

Eu tinha um bom dinheiro guardado. Fiz muita grana

como lutador e com a publicidade que envolvia. Com a


academia, algumas marcas me acompanharam, na parte

de baixo havia algumas lojas que Devon deu a ideia de


montarmos. Multimarcas voltadas para roupas de

academia. Além disso, tinha um patrocinador de açaí, um


ex-lutador brasileiro, outro patrocínio de proteínas e

vários de roupas. Cuidar da minha vida e carreira era


incrível.

Fechei quando o último cliente saiu, me despedi da

recepcionista e dos professores, retornando para meu


bairro. Estacionei o carro na garagem da minha nova

casa, dei uma olhada no que foi mudado e logo


atravessei o gramado.

— Olá! Família? — Entrei no quintal. Os cachorros

pularam em mim. — Cadê todo mundo?

— Estamos na cozinha! — Devon gritou de volta, passei

pela sala e segui para a lateral da casa. Vanessa foi a


primeira pessoa que vi, ela usava um vestido branco,
longo, os cabelos estavam embolados no alto e a franja

bagunçada. Ela me deu um olhar e um sorriso doce.


Parecia um anjo. — Oi, e aí? Falou com ele?

— Sim! Ele parece maior e está com os óculos que


comprei na última vez. Falamos por uma hora. Acredita

que passou cola na cadeira?

Era a primeira vez que falava abertamente do meu filho


na frente de Katrina e Vanessa. Elas foram gentis o

suficiente para não saírem fazendo perguntas. Abaixei e


beijei a cabeça de Halley, que comia cenouras e vagem

com a mão enquanto sua mãe lhe dava purê com a


colher, mantendo o prato longe dela.

Devon abriu duas cervejas e me entregou uma. Nós

treinávamos a semana inteira e mantínhamos a


alimentação o mais saudável possível para no final de

semana beber e comer à vontade. Katrina me entregou o


pratinho de Halley, para que eu continuasse dando

comida a ela e foi fazer a salada. Vanessa estava fazendo


risoto de camarão, segundo ela, sua especialidade.

— Está uma delícia, amiga. — Katrina elogiou.


— O melhor que já experimentei — falei, terminando meu
prato rapidamente.

— Eu não vou elogiar porque não consegui comer. —

Devon estava lutando com os braços de Halley, que


tentava pegar tudo na mesa e já tinha derrubado um

bocado de comida. — Ano que vem, quando conseguir


comer, irei te dizer se aprovei.

O jantar foi divertido. Katrina e Vanessa tiraram no

palitinho quem iria lavar a louça enquanto Devon fazia


Halley dormir sua soneca da tarde. Vanessa perdeu e eu

me ofereci para ajudar, secando e guardando, porque


conhecia a casa como se fosse minha.

— O que vai fazer amanhã? — Me passou um prato.

— Eu vou passar o final de semana com meu filho. —


Sequei e coloquei no balcão, na pilha de outros pratos.

— Posso perguntar onde ele mora? — Me deu um olhar

cuidadoso.

— Em Nova Iorque.

— Acredita que nunca fui lá? Já visitei várias cidades no

país, mas nunca fui em Nova Iorque. Devon sempre me


disse que lá era muito cheio para ir sozinha. Kat e eu
tínhamos planos, mas ela casou, engravidou e agora está

tentando equilibrar sua vida. — Seguiu lavando os


pratos.

— Quer vir comigo? — A pergunta saiu antes que


pudesse segurar. Pensei e soltei. Vanessa me deu um

olhar assustado, porque bem, foi inesperado. — Não


precisa aceitar, foi...

— Eu adoraria ir com você, Stuart.

— Obrigado.

Ela voltou a lavar louça e eu peguei as coisas, sem falar


nada, confuso com meu impulso e com um breve

sentimento de pânico que Vanessa conheceria meu filho.

Nunca apresentei ninguém a ele. Tinha irmãos, mas não


falava com nenhum deles, todos eram bem mais velhos e
viviam suas vidas. Nunca conheci minha mãe, não sabia
se meu pai tinha família. Harry ouvia falar do Devon, da
Katrina e mostrei fotos de Halley.

Por algum motivo desconhecido, nunca falei dela. Meu


filho era quieto, mas observador e inteligente. Ele
certamente saberia que havia algo mais dentro de mim
por Vanessa e faria perguntas que eu não tinha

respostas.

Evitava ficar perto dela, e agora, faríamos uma viagem


juntos.
4 | Vanessa

Não consegui dormir de tanta ansiedade em viajar com


Stuart. Não falei nada com Devon, apenas comentei com

Katrina e ela me ajudou a fazer uma mala pequena.


Escolhemos todas as roupas, fotografamos, passamos

quase uma hora definindo quais maquiagens iria levar


porque eu raramente saía de casa e não tinha noção de

como montar um kit de viagem.

A noite passou em uma lentidão tão irritante que


foi difícil não roer minhas unhas. Nosso voo estava

marcado para logo cedo. Stuart conseguiu um encaixe de


uma poltrona ao lado dele, comprando logo depois que

conversamos. Tentei dar a ele o dinheiro, que recusou


alegando que eu era sua convidada.

Nos primeiros raios de sol, eu já estava pronta.


Katrina saiu do quarto, descabelada, enrolada em um

roupão e me ajudou a descer com minhas coisas.

Tomamos café da manhã fazendo o mínimo de barulho

possível para não acordar meu irmão e Halley.


— Ele deve sair do quarto a qualquer momento. Me

sinto uma criança saindo escondido... é ridículo. — Joguei

meu pedacinho de pão para Marco e ele pegou no ar. —

Bom garoto.

— Seu irmão vai tirar a cabeça da bunda, nem que

eu precise arrancar. — Katrina ficava irritada com o

ciúme e extrema proteção de Devon. Ele morria de medo

de que qualquer homem pudesse me magoar de novo e


eu fizesse o que fiz. Devon não entendia que me curei.

— É minha culpa que ele seja assim...

— Foi uma experiência traumática para nós três. —

Kat segurou minha mão. — Nós duas encontramos um

caminho para superar. Eu fiz o que fiz e você na terapia.

Ele vai encontrar o caminho dele... e não se preocupe,

não quero te falar o que fiz, mas seu irmão está um

pouco cansado.

— Eca, Katrina. Quando vai parar?

Ela riu forte.

— Nunca. — Apertou minha bochecha.


Ouvimos o barulho do Jeep do Stuart se

aproximando da casa, ele desligou e fechou a porta. Os

cachorros se agitaram, mas correram quando Rosa saiu

do quarto. Ela não entendeu nada porque não estava em

casa na noite anterior, mesmo assim, me deu um abraço

e desejou boa viagem.

Stuart estava irresistível em uma roupa

confortável. Usava uma camiseta branca, que era o

sonho de toda mulher, justinha no corpo, calças de

moletom e tênis. Para viajar, era importante não usar


roupas apertadas ou complicadas. Ele estava bem e de

babar. Escolhi uma camiseta longa, um pouco larga,

calças leggings e all star.

— Deixa que eu pego isso... — Pegou minhas

bolsas e colocou no banco de trás, junto com as suas. —

Bom dia. — Me deu um beijo na bochecha. Sua

proximidade sempre me deixava tonta. Ele cheirava tão

bem...

— Bom dia, Stuart.

— Tchau, pombinhos. — Katrina falou atrás de mim.


— Oi Kat... — Stuart abriu a porta para mim. —

Tchau, Kat.

Acenei para minha amiga e Stuart entrou no carro,

logo dando partida. De manhã cedo, as ruas estavam

bem tranquilas e levamos metade do tempo para chegar

no aeroporto com uma conversa leve. Ele foi direto para

a área do estacionamento, pagando as estadias no

guichê e subindo para o local reservado e coberto.

Ele não deixou que eu carregasse nada além da

minha bolsa, seguindo para o elevador. Usando boné e

óculos escuros, sabia que estava se escondendo dos

fotógrafos que já ficavam de plantão no aeroporto.

Alguns conseguiam acesso às listas de passageiros já

esperando encontrar algum famoso.

Entramos na sala da primeira classe, só havia um

casal de idosos tomando café. Stuart não tinha comido,

então, pegou algumas coisas e eu, de olho, belisquei

umas frutas até que encontrei doces.

— Brigadeiro. O que é isso?


— É um doce brasileiro. Faz muito sucesso entre os

passageiros. É chocolate, prova que vai gostar. — A

funcionária me respondeu com um sorriso. Como eu

amava chocolate, peguei um e dei uma mordida

pequena. Meus olhos se arregalaram quando o sabor

explodiu na minha boca. — Imaginei que fosse gostar. —

Ela me entregou uma caixinha com cinco.

Voltei para a mesa com meu prato, me deliciando

com os docinhos. Ofereci uma mordida para Stuart, ele

aceitou e riu da minha paixão. Sua dieta era muito

restrita, ele não comia doce de nenhuma espécie, só em

ocasiões muito especiais ou bêbado.

— Acabei de devorar cinco brigadeiros. — Limpei

minha boca. — E comeria mais dez sem piscar.

Nosso voo foi chamado, ele limpou a boca e levou

o prato até o balcão. Ao retornar, pegou a mochila e a

minha bolsa.

— Vamos encontrar um jeito de achar mais. —

Ofereceu sua mão e peguei, pensei que fosse soltar, mas


ele me envolveu com seus dedos e puxou em direção ao

corredor de embarque com nossas passagens nas mãos.

A área da primeira classe estava vazia. O casal de

idosos foi para os fundos. Ele me deu o assento da

janela, puxei o banco e me acomodei, colocando o cinto

conforme as instruções. Após todos os procedimentos,

iniciamos a viagem que não era longa, cinco horas no

máximo e esperava que passasse rápido. Trouxe meu

kindle para me distrair, embolei minhas pernas e

recostei, imersa na leitura.

Stuart estava lendo o jornal e a capa era uma

matéria com sua antiga empresária, alegando processá-

lo pelo rompimento do contrato. Ele pagou uma multa,

na verdade, Devon pagou, porque os dois se tornaram

sócios na academia. Sei que meu irmão fez para livrar


seu amigo da vida que não concordava. Mais uma vez

conversamos que apesar de Stuart ter ganho muito

dinheiro, ele era escravo das lutas.

Perdida nos meus pensamentos, acabei caindo no

sono com meu kindle no colo e acordei assustada com a

aeromoça inclinada de um jeito sugestivo para Stuart,


servindo um copo de suco. De alguma maneira, caí em

seu peito e ele estava com o braço por trás de mim, me

segurando no lugar.

— Pedi suco de laranja para você, vamos pousar

em meia hora — falou baixinho. Ele ignorou totalmente a

presença da mulher, que com um sorriso, saiu rebolando.

— Não dormi muito a noite, estava ansiosa.

— Eu também não dormi muito. — Me deu um


sorriso.

O suco estava uma delícia, geladinho, desceu


muito bem. Fui ao banheiro e me olhei no espelho,

ajeitando meu cabelo e roupa.

Não menti quando disse que nunca estive em Nova


Iorque. Pensei que sairíamos do aeroporto e

encontraríamos a confusão de pessoas e táxis amarelos.


Esqueci totalmente que estava com um homem famoso.

Ele já tinha um motorista aguardando-o e o carro em um


espaço reservado. Alguns fotógrafos o reconheceram na

saída, ele abaixou o rosto e escondeu o meu no seu peito


até o carro.
Ficamos de cabeça baixa até sairmos de perto.

A cidade era muito mais legal pessoalmente do que


pela tevê. Estava acostumada com caos e confusão, mas

era Nova Iorque, o lugar das pessoas apressadas,


imensos painéis de publicidade e táxis por todo lado.

Nós passaríamos no hotel rapidamente para tomar

banho, trocar de roupa e ir buscar o filho dele. Eu sabia


que estava ansioso, então, não demorei. Escolhi meu

vestido amarelo que era de um modelo romântico, de


alças, justo em cima e soltinho na saia. Calcei o mesmo

par de tênis, soltando o cabelo, escovando e fazendo


uma maquiagem simples.

Com minha bolsa de passeio, encontrei-o na sala


que compartilhávamos entre os nossos quartos. Ele saiu

quase ao mesmo tempo, de calça jeans, blusa preta,


carteira, óculos e celular nas mãos. Nós paramos,
bebendo a visão um do outro e sorrimos.

O motorista estava nos aguardando na garagem e


quinze minutos depois, paramos em frente a um prédio

de luxo próximo ao Central Park. O porteiro nos deixou


passar sem fazer perguntas, provavelmente conhecendo
Stuart, mas fez uma ligação quando entramos no

elevador.

Saímos no vigésimo andar e ainda não era a

cobertura. Ele andou até a porta e tocou a campainha.


Fiquei mais afastada, mas vi uma senhora abrir. Ela

usava preto, deu um sorriso para Stuart e então um


homem bem vestido apareceu na porta.

— Oi, Stuart. Ele estava escovando os dentes

quando o verifiquei...

— Tudo bem. — Stuart parecia ansioso. O homem


me olhou. — Jackson, essa é minha amiga, Vanessa

Winterfield. — Então, me olhou. — Ele é advogado da


mãe do meu filho.

— Olá. — Dei um aceno.

— A assistente social nos informou que você


poderá ficar com ele até o horário do jantar. Segundo a

babá, ele costuma comer às sete e meia e se prepara


para dormir às nove, então, pode trazê-lo às oito e meia.

É um horário bom para você?


— É claro. Estarei aqui. — Prometeu com fervor. Ele

me disse que costumava ficar com o filho até as seis.


Estar autorizado a ficar mais duas horas era

simplesmente incrível e estava feliz em fazer parte


daquele momento.

— Meu pai já chegou? — Ouvi uma voz infantil bem

suave.

— Sim. — Uma mulher respondeu seca.

— Posso te dar um beijo, mamãe?

— Estou de maquiagem. — Ela retrucou e ouvi a

frase como um soco no estômago. Quantas vezes ouvi


aquilo ao longo da minha vida?

O advogado abriu a porta e um menininho

apareceu correndo, gritando pelo pai. Ele era menor do


que eu esperava, usava óculos de grau que deixavam

seus olhos ainda mais redondos, tinha um cabelo curto,


preto, usava uma camisa azul, calças jeans e tênis

brancos. Stuart o pegou em um abraço e ficou ali por


muito tempo, falando baixinho. A babá estava com uma

mochila, fechou a porta atrás dela e aguardou como eu.


— Você está pronto para passear? — Stuart

questionou animado, mas seu filho olhou para mim. —


Quer conhecer minha amiga?

Sem falar nada, Harry apenas balançou a cabeça.

— O nome dela é Vanessa e é minha amiga há


muito tempo.

— Amiga como os amigos da mamãe? — Ele foi

direto ao ponto.

— Se eu tivesse sorte, sim. — Stuart sorriu torto.

— Oi, Harry. Estou feliz em te conhecer! — Me

aproximei com calma. — Espero que esteja tudo bem ter


a minha companhia no seu passeio hoje.

— Você gosta de brincar no play? — Seu olhar


curioso me deixou derretida.

— Eu nunca fui. — Decidi ser honesta. Kevin ainda

não estava na idade de brincar nessas coisas. Quando o


levávamos ao shopping, ele não se interessava muito.

— Acho que posso te ensinar. Podemos, papai?

— Claro que sim! Ela vai se surpreender com as


suas habilidades! — Stuart sorriu.
O garotinho agarrou a mão do pai com tanta
felicidade que meu coração explodiu de amor. Os dois

foram conversando o caminho inteiro. A babá simpática,


que pediu para ser chamada de Lena, foi no banco da
frente com o motorista deixando com que nós três

ficássemos atrás. Enquanto pai e filho se reconectavam,


tomei coragem e liguei meu telefone.

Katrina me enviou uma mensagem perguntando se


estava tudo bem e uma foto de Halley com a boca cheia

de banana. Respondi a ela e a Rosa que estava bem.


Devon não mandou nada, seu silêncio era ainda mais

irritante que as mensagens que usualmente mandaria.


Guardei de novo e prestei atenção na conversa, não

querendo perder nada do passeio por ficar com o


telefone na mão.

Nossa primeira parada foi o restaurante temático

que Harry adorava almoçar. Naquela semana, os


funcionários estavam fantasiados de Guerra Nas Estrelas

e o delírio do menino me deixou extasiada. Ele sabia o


nome de todos os personagens, mas se escondeu atrás
do pai quando a garçonete falou com ele. Sua timidez
lembrava a minha. Ficou vermelho, com o olhar
apavorado e sem responder diretamente.

— Harry... eu não entendo nada. Você pode me


contar essa história? — Agachei ao seu lado, nivelando

meu olhar com o dele e o distraindo do que o afligia.

— Eu posso. — Era só um sussurro.

Segurei sua mão e o levei para uma mesa. Tirando


seu tablet da bolsa da babá, ele foi ágil e cheio de

habilidades em me mostrar várias imagens dos filmes,


livros, bastidores e o que mais ele encontrou para

exemplificar o quanto amava.

— Ainda não assisti tudo, só um filme, mas quando

crescer eu vou ver tudo que já li.

Seu tom de voz era tão suave, que completava o

olhar doce. Stuart estava com o rosto apoiado nas mãos,


basicamente babando o filho. Estiquei meu braço, passei
a mão por seu queixo, fingindo secar a baba e ele riu,
beijando minha palma. Lena olhou para nós dois e logo

disfarçou. Fizemos nossos pedidos e tivemos um dia


realmente incrível.
Bancar a turista foi muito legal. Harry era
empolgado, apaixonado pelo pai e Stuart deixou meu

coração apertadinho no peito com o quanto ele amava o


filho. Vê-lo agindo como pai era tão diferente de tudo que
conhecia, foi tão bom olhar aquele lado que ele mantinha
escondido a sete chaves. Me senti orgulhosa por permitir
minha presença.

Jantamos pizza e ele dormiu no caminho de volta.


Stuart o carregou e entregou para a babá na porta do
apartamento.

— Te amo, filho.

Harry abriu os olhos devagar.

— Te amo, papai. Volta logo. Eu vou te ligar terça-

feira às nove horas.

Meus olhos se encheram de lágrimas.

— Tchau, Vanessa — ele sussurrou.

— Tchau, Harry. — Dei um beijinho em sua


bochecha. — Você é um menino maravilhoso.

Nos despedimos da babá, ela entrou com cuidado, o


apartamento parecia vazio e estava escuro. A porta se
fechou e Stuart ainda ficou encarando, como se quisesse
continuar segurando seu filho por mais tempo. Toquei

seu braço, ele me encarou e simplesmente o abracei


apertado. Escondendo o rosto no meu pescoço, sua
respiração tremeu, em um choro que estava preso.

— Você vai vê-lo em breve.

— Eu espero. Obrigado por vir. — Beijou minha testa. —

Obrigado mesmo.

— Eu é que agradeço por poder estar aqui com você.

De mãos dadas, saímos do prédio e ficamos em silêncio.


Eu sabia que sua mente estava em um turbilhão de
emoções e eu estava presa nas semelhanças que

encontrei em Harry. O filho de Stuart era como eu e só no


mísero segundo de interação que ouvi vindo da mãe
dele, me perguntei se ela era como Shannon.

Se sim, aquele menininho precisava de muito amor.


5 | Vanessa

Ao retornarmos para o hotel, Stuart me convidou para


conhecer um pub meio restaurante que era muito

badalado e basicamente, um dos pontos de encontro


jovem da cidade. Perguntei se ele estava bem para ir e

imediatamente disse que queria que eu curtisse um


pouco. Empolgada, fui para o quarto e me dediquei em

me preparar. Sorte que tinha na mala um vestido mais


arrumado.

Era azul escuro, com um decote em V profundo e ia até o

meio da coxa. Nos pés, sandálias meia pata pretas. Tomei


banho, fiz o cabelo, maquiagem um pouco mais escura e

ri das mensagens de Katrina, me enviando um monte de


vídeos de uma mulher ensinando a colocar uma

camisinha na banana. Ela sempre me fazia rir quando

ficava muito nervosa.

Pronta, enviei uma foto para ela e no mesmo minuto,

meu irmão mandou uma mensagem querendo saber se

eu estava bem.
“Estou bem, foi um bom dia e eu te amo. Por favor, não

se preocupe”.

“Te amo e eu nunca vou deixar de me preocupar”.

Devon sempre foi muito protetor, mas ele ficou cem

vezes pior depois que me encontrou na banheira. Todo

seu colo e carinho foi vital no meu período de


recuperação, mas depois, ele simplesmente tinha medo

de enxergar que eu estava bem e pronta para voltar a

viver.

— Está pronta? — Stuart bateu na porta. Enfiei meu

telefone na bolsa e fui ao seu encontro. — Uau!

Vanessa... — Ele me olhou de cima a baixo. — Você

está...

— Obrigada. — Sorri, feliz por deixar o homem sem

palavras. — Você está muito bonito. — Corei feito uma

boba.

— Não tanto como você.

Comecei a rir, sentindo um misto de borboletas no

estômago e uma vontade de sair dançando pelo quarto

do hotel. Ele me acompanhou e ofereceu seu braço.


Minha mão não envolvia seus bíceps por inteiro, era

impossível. Campeão de peso pesado, ele pesava mais

de cem quilos e não havia gordura em seu corpo.

O lugar estava lotado, mas o segurança abriu a corrente

e disse que havia um lugar reservado no segundo andar.

Ganhamos dois bancos altos no bar, que também era o

local que faziam as refeições. Stuart pediu gin e tônica

para nós dois, brindamos e o DJ estava tocando um

setlist maravilhoso para ficar sentada. Sem muito

espaço, fiquei assistindo ao show e fazendo uma


dancinha tímida na frente dele, que permaneceu

sentado.

O DJ incitou a uma coreografia e eu imitei, rindo,

adorando a diferença da balada de Nova Iorque com a de

Las Vegas. Não sabia explicar, simplesmente não era

igual.

— A dama de azul mandou muito bem, por favor, um

drinque da casa na minha conta para a senhorita! — Ele

falou do microfone e quase morri no lugar. Todo mundo

olhou para cima. — Calma, rapazes. Ela está muito bem

acompanhada. O cara é grande e bate bem. — Ele


brincou e ri, olhando para Stuart. — Senhoras e senhores,

temos um campeão na casa. Quero todo mundo batendo

palma... — Soltou a música do Rocky Balboa que Stuart


usava para entrar nas lutas porque ele era muito fã. —

Don Hedrer!

Olhei para ele, rindo da sua timidez, mas ergueu o braço

e o público foi ao delírio. Várias pessoas se aproximaram

para cumprimentá-lo, tirar uma foto e a mulherada

jogava pesado. Uma delas tentou passar por mim e me

empurrou, caí sentada no colo dele. Suas coxas eram

firmes e o corpo bem quentinho, porque ele passou os

braços na minha cintura e me protegeu ali. Ela fez uma

careta e pediu uma foto, ele só inclinou a cabeça e

sorriu.

Os seguranças se aproximaram, pedindo que a multidão

se dispersasse. O barman colocou mais duas bebidas na


nossa frente, a coragem líquida me fez puxá-lo para

dançar e nós nos divertimos muito. Bebi mais do que

estava acostumada, comi batatas fritas e no caminho

para o hotel, ele pediu ao motorista que parasse em um

fast food, porque eu queria um milkshake.


— Você está bem? — questionou ao voltarmos.

— Estou feliz. Foi muito bom! — Dancei pelo quarto. — E

você?

— Eu também me diverti, mas estou preocupado que

passe mal.

— Não vou, estou bem, só um pouco alegrinha.

Entrei no meu quarto para tomar banho, o cheiro de

minha roupa era intragável. Vesti meu pijama e senti

sede. A luz estava apagada, provavelmente ele estava

em seu quarto, então, eu podia pegar uma garrafa de

água no frigobar da sala sem incomodá-lo. Abri a porta

de fininho e tomei um susto ao vê-lo jogado no sofá,


virado para a varanda com os pés para o alto, pensativo

e olhando para a noite.

— Não vai dormir?

— Sem sono ainda, e você?

— Me deu sede. — Peguei a garrafa de água. — Posso

sentar aí?

— É claro que sim. — Bateu no lugar vazio e me

acomodei ali. — Nova Iorque é tudo que esperava?


— Cedo para dizer. Preciso vir e ficar mais dias, mas o

pouco que conheci, eu amei. É engraçado, cresci em

Vegas, nada deveria ser uma surpresa para mim, mas

ainda assim, cada coisa nova tem um sabor diferente. —

Bebi um pouco, aplacando a sede. — O que mais gosta

aqui?

— Não gosto muito daqui. Sou reconhecido a cada

esquina, é um pesadelo. Acho que em Vegas estão

acostumados a me ver pelas ruas e não é tão

impressionante com tantos outros famosos sempre

circulando na cidade. Aqui é diferente. Só estou aqui

sempre por causa do Harry.

— Seu filho é lindo. — Toquei sua mão. — Você e a mãe

dele não se falam?

— Não, desde que ela engravidou. Gritamos sempre que

precisamos trocar mais que algumas palavras... é muito

complicado.

— Como chegaram a essa situação?

Stuart segurou minha mão.


— Ela era mulher do meu pai. Quer dizer, namorada. Eu

tinha vinte e um anos quando a conheci, era muito mais

nova que ele, porém, mais velha que eu. Meu pai me

agenciava na época, junto com essa empresária que eu

rompi. — Stuart passou a mão no rosto. — Debra

percebeu que meu pai não era fiel, ou leal, então, nós

nos aproximamos. Eu sinceramente não sei se ela

começou a ficar por perto para irritar meu pai porque ela
tem um gênio horrível. É muito vingativa. Um dia, tive

uma luta realmente difícil na gaiola da morte, meu pai


ainda me obrigava a fazer as lutas clandestinas porque

dava muito dinheiro. Quase morri naquela noite e não


nego que gostei de receber o carinho e atenção dela. Nós

bebemos muito e no dia seguinte, acordei com ela na


cama.

— Caramba...

— Meu pai e eu nunca fomos próximos. Eu era sua

máquina de fazer dinheiro. A história com ele é muito...


— Stuart estava com dificuldade de falar.

— Não precisamos falar dele. — Apertei seus dedos.


— Enfim... Debra engravidou. Ela exigiu que eu me
casasse com ela e eu disse que não, que podíamos criar

o bebê sem sermos um casal. Foi aí que o inferno


começou. Ela é o tipo de mulher que cresceu ciente da

beleza que tinha, com pais que nunca ousaram dizer não,
brincando com perigo, se envolvendo com homens que

tinham dinheiro e davam a ela tudo que queriam. — Ele


parou um pouco. — Minha negativa a levou a começar
uma guerra. Foi aos poucos, sabe? Quando ela estava

com sete meses, me ligou dizendo que um ex estava


importunando-a e pediu para que eu resolvesse. Eu disse

para chamar a polícia. Alguns minutos mais tarde, ela me


ligou chorando, que ele estava do lado de fora da casa

dela. Eu fui até lá, o homem me enfrentou. Eu nunca


começo uma briga fora do ringue, mas naquele momento

pensei que a mãe do meu filho estava em perigo.

— E ela estava?

— Nós brigamos, chamaram a polícia e eu fui preso por

agressão. Quando meu advogado chegou, adivinha a


minha surpresa ao descobrir que ela me acusou de

agressão. Ela disse que eu estava perseguindo-a, que as


ligações eram para falar sobre o bebê e eu queria mais.
— Stuart olhou em meus olhos. — O juiz deu a ela uma

medida protetiva. Quando eu pedi os direitos do bebê,


ela alegou que não sabia se o filho era meu. Eu sempre

soube que era meu, ela também, só estava tentando me


ferir e conseguiu. Só segurei meu filho pela primeira vez

quando ele tinha um mês de vida...

— E por que não consegue reaver a guarda?

— Sempre acontece alguma coisa. Ela me acusa e o juiz

acata. Ela chora e diz que sou um homem violento do


qual ela tem medo. Todas as minhas visitas são

supervisionadas e reduzidas dependendo do que


acontece. — Me aproximei dele, entrelaçando nossos
dedos. — Lembra quando saiu aquela notícia que eu

estava me drogando?

— Sim. Devon te ajudou com os advogados...

— Eu tinha acabado de romper todo meu envolvimento


com meu pai. Ele soltou a notícia para foder com meu

contrato, porque perdeu o dinheiro. Ao mesmo tempo,


Debra usou a notícia para me impedir de ver Harry até
que eu provasse que estava limpo. Nunca tive que fazer

tanto exame na minha vida. — Abriu um sorriso amargo.

— É por isso que é tão fechado?

— Sou fichado por agressão e perseguição de mulher.


Fico na minha porque é o melhor. Eu me sujeito a tudo

que ela quer, a pensão, as viagens, carros, tudo... só


para ver meu filho. — Mordi a pontinha da minha unha,

aflita com sua história. Fazia todo sentido quando Devon


explodiu sobre Stuart não ser feliz. Ele estava sofrendo

há muito tempo. — Estou lutando arduamente para


mudar minha imagem para que o juiz veja que sou bom e

responsável. Tudo que quero é ter direito de ver meu


filho, de criá-lo como todo pai normal faz.

— Você vai conseguir. Acredite em mim. — Beijei sua


bochecha e deitei minha cabeça em seu ombro. Stuart
me abraçou e assim ficamos agarrados até que peguei

no sono.

Acordei com o som de um telefone vibrando. Estávamos

embolados e eu não sabia como não caímos do sofá. Ele


estava em uma posição horrível e deveria estar todo
dolorido só para que eu ficasse confortável em seus

braços. Ele esticou o braço e atendeu a ligação, com a


voz rouca de sono. Mesmo meio dormindo, meu cérebro

registrou que era bem sexy.

— Meu advogado está vindo para nossa reunião mensal

sobre a guarda — falou baixinho comigo.

— Eu vou ficar no quarto para dar privacidade a vocês. —


Bocejei.

— Não precisa, só temos que levantar, nos arrumar e

pedir o café da manhã.

— Tudo bem. — E não me movi.

Stuart começou a rir e cutucou minhas costelas para me

acordar, saltei rindo, meio emburrada de sono e fui para


o meu quarto. Me preparei com calma, sonolenta.

Sempre ficava distraída e acabava me batendo nas


paredes, ganhando hematomas das trombadas nas

maçanetas e chutando móveis. Ouvi que ele pediu o café


e dez minutos depois a campainha tocou.

O advogado era um gato, puta merda. Se chamava

Arthur e eles pareciam realmente próximos. Ele me deu


um sorriso deslumbrante e um beijo na mão, sendo
galante.

— Continue e você vai sair daqui desempregado. —

Stuart avisou, me fazendo rir.

— Eu sempre sou agradável com uma dama bonita. —


Arthur piscou para mim.

— Você não vai ter uma aparência agradável muito em


breve. — Stuart retrucou. — Vem, vamos sentar. O que

tem para mim?

Tomei meu café sem interferir no que falavam. Arthur era


bem direto ao ponto, sem adulações. Ele afirmou que

Debra tentou lutar contra a decisão da assistente social


de dar a Stuart mais horas com Harry, mas que isso era

um passo importante.

— Há um novo juiz no seu caso. O outro foi afastado por


motivos sigilosos, mas em breve irei descobrir, porém,

soube que ela ficou furiosa. — Arthur foi sincero. — Tem


coisa aí, Stuart. Estou te dizendo isso desde que peguei o

caso. Ela tem conexões. Acredito que o pai dela seja


amigo de algum dos juízes. Ou ele tinha certa influência
em Las Vegas e depois, ela veio pra cá porque seria onde
conseguiria controlar.

— Não tenho como provar nada disso e só me impede de


ficar com meu filho.

— Eu sei, mas se eu descobrir algo...

— Se descobrir, vamos cavar. — Stuart concordou. — E

agora? O novo juiz?

— Ele é muito tradicional. Frio, mas acredita na família,

na coisa toda de papai, mamãe e filhinhos. Mais do que


nunca, é importante mudar sua imagem. As fotos que

saíram ontem não vão pesar tanto porque estava em um


lugar conceituado, frequentado por “pessoas de bem” —

Ele fez aspas e revirou os olhos. — E muito bem

acompanhado. Você precisa entrar no jogo dele.

— Comprei a casa, ela está em reforma e logo vou


mobiliar. É um bairro muito bom, só tem famílias,
crianças e cachorros. Condomínio fechado, segurança
vinte e quatro horas, não estou mais na noite, só

trabalhando na academia e não tem nada


comprometedor lá.
— Ele vai querer que a equipe investigue tudo. De ponta
a ponta, mas a chave para conquistar a atenção dele é

mostrar que você é um homem de família.

Stuart esfregou o rosto.

— Sou solteiro, como vou mostrar isso? Comprando um


cachorro?

Eu sabia como.

— Você precisa se casar — falei pela primeira vez e os


dois me encararam. — Você precisa de uma casa boa, de

um bom bairro e uma vizinhança segura. Ok, já tem. Mas


no quadro familiar, falta uma esposa. A mulher que pode
representar o equilíbrio na sua imagem, criando um ar
conservador. — Fiquei nervosa com a atenção dada a

mim. — Aprendi na faculdade, é primordial quando


precisamos criar uma imagem para o cliente. É isso que
Katrina faz quando acontece uma merda catastrófica na
Winterfield.

— Essa é uma excelente ideia — Arthur falou, satisfeito.

— Qual o relacionamento de vocês e quando podem se


casar?
Stuart se engasgou com o suco.

— Nós não... nós dois... — Ele gesticulou tentando

explicar.

— Nós não temos um relacionamento — expliquei por


ele. — Somos apenas amigos. Eu quis ajudar, desculpa
me intrometer.

— Não tem problema, você é bem-vinda. — Stuart se


recuperou.

— Que bom que são amigos. — Arthur sorriu. — Casem-


se. Façam ensaios fotográficos, alimentem as redes
sociais, criem um sonho americano de amor que deixe os
filmes de romance mais famosos parecerem novela

mexicana mediante a realidade de vocês. Stuart, me


ouça. Esse homem não vai permitir uma guarda
compartilhada com um solteiro putão. Debra é esperta,
ela esconde todos os relacionamentos dela e adivinhe? É
sempre vista sozinha. Ela vai a todas as sessões como a

perfeita dona de casa e você, nada contra sua aparência,


mas é enorme, forte, com cara de mal encarado e ainda
por cima, é um lutador profissional. — Arthur era tão
agressivo que me dava medo. — Casar com alguém com

a aparência sofisticada, com um rostinho de anjo e com


um sobrenome de peso, vai levantar suas chances. Se
você conquistou uma mulher que pode muito bem entrar
para a realeza, por que não poderia criar seu filho?

Stuart estava congelado, absorvendo as informações e

eu segurei sua mão.

— Eu faço isso — garanti.

— Não posso te arrastar para o meu inferno — ele falou


baixo.

— Se nos casarmos, você poderá sair dele. — Olhei em


seus olhos.

— Vanessa...

Virei na direção de Arthur.

— Nós vamos nos casar — afirmei com muita convicção.

Arthur abriu um sorriso digno de quem estava louco para


devorar criancinhas.

— Nós vamos nos casar. — Stuart confirmou e beijou


minha mão.
Eu ia me casar com Stuart. Acho que ia desmaiar.
6 | Stuart

Observei os cílios perfeitos descansando nas bochechas


levemente coradas. Sua cabeça estava no meu ombro,

um pouco caída no meu peito, a franja bagunçada e o


cabelo longo preso em um rabo de cavalo. Ela era muito

cheirosa. Beijei sua cabeça, olhei para a mão


descansando bem acima do meu coração. Seu dedo nu

me lembrou do plano inusitado que me dava dor de


cabeça.

Casar com Vanessa era a melhor ideia. O casamento em

si, em questão do plano e da imagem que precisava


montar para o juiz, era perfeito. Mas havia muito mais

por trás disso. Eu não podia ignorar a óbvia atração que


sentíamos um pelo outro, todo inferno onde minha vida

estava presa, e não podia jogá-la nisso.

Além do mais, Devon me mataria. Por outro lado, eu era

capaz de fazer qualquer coisa para ter a guarda do meu

filho.
Voltei a olhar para o seu rosto, hipnotizado pela beleza.

Reparei que um garoto do outro lado do corredor ergueu

o telefone e me fotografou. O comissário percebeu e

chamou atenção, pedindo para respeitar a privacidade

dos demais passageiros. Em seguida, passou na minha


cabine e perguntou se queria algo.

— Um suco de laranja, por favor.

Ela acordou e se espreguiçou, bocejando. Ainda

sonolenta, voltou para o seu lugar, e peguei sua mão,

beijando. Eu precisava conversar com ela francamente

sem a interrupção irritante de Arthur. Ele era como um


tubarão. Se farejava sangue, como estava sentindo que

havia algo errado com todo meu histórico em relação a


guarda, não parava de caçar.

Nos conhecemos há muitos anos, somente quando

saiu da Califórnia para Nova Iorque que começamos a


trabalhar juntos.

— Estou sempre dormindo em cima de você —

resmungou com as bochechas vermelhas. Guardou seu


kindle e puxei-a de volta, não queria falar ainda e muito

menos que se afastasse de mim.

O comissário entregou o suco e ela bebeu devagar,

com sono. Dormimos pouco nos últimos dias, era normal

estar cansada da maratona que foi a viagem. Ao

pousarmos, peguei nossas malas e, antes de sair do

desembarque, percebi a presença de fotógrafos. Coloquei

meu boné em sua cabeça e os óculos, o tempo todo

andando na frente e cobrindo a visão que eles poderiam

ter dela.

Entramos no elevador e saímos no estacionamento.

Resgatei o ticket e entreguei ao manobrista, abrindo a


mala e guardando as bagagens. Vanessa entrou no

banco do carona e me aguardou.

— Precisamos conversar sobre o...

— Até que você demorou para desistir — ela falou

baixo, com um sorriso inseguro.

— Eu não desisti, mas temos que pensar nos prós e

contras.
— Só tem um pró que importa, tudo que for contra

vai se ajustar. Eu acredito que vai dar certo e não temos

porque não tentar. Se você não quiser, tudo bem. — Ela


me encarou. — Só quero te ajudar.

— Eu sei e admiro ainda mais o seu coração por

isso. — Peguei sua mão. — Devon me preocupa. Ele é

meu melhor amigo, quando contarmos, ele não vai

gostar.

Vanessa mordeu o lábio.

— Não quero que conte a ele antes de casarmos.

— Não posso fazer isso. Ele é meu amigo e vai ser

uma traição.

— Devon acha que é meu pai e isso é sobre minha

vida, sobre você e sobre o Harry. Ele não tem que

aprovar nada, estou cansada dessa implicância. Depois

que fizermos, ele vai entender.

— Ele vai ficar magoado.

— Vai sim e vai passar. Se falar antes, ele vai fazer

de tudo para impedir. Meu irmão é capaz de te

apresentar outra pessoa e até se divorciar de Katrina


para que ele mesmo seja seu marido. — Soltou uma

pequena risada. — Parte disso será porque ele vai

entender a importância e ao mesmo tempo, por querer

me enfiar de volta na bolha.

Esconder qualquer coisa de Devon me embrulhava

o estômago.

— Não vai contar para Katrina? — Desafiei.

— Não. E não vai ser porque ela não me apoiaria,

pelo contrário, ela celebraria o casamento pessoalmente.

— Virou um pouco de lado no banco. — Eu não quero que

Devon fique chateado com ela também. Katrina é minha

melhor amiga e eu a conheço o suficiente para saber que

vai me apoiar e enfrentar o marido. Não quero causar

problemas no casamento deles.

— Tem razão... é só... fodido. Nunca menti para

Devon.

— Não é mentir, é omitir. Além do mais, é minha

decisão e não dele.

Passei a mão no meu rosto.

— Quando vamos fazer isso?


— Estive pensando que devemos fazer umas fotos

juntos, informais no celular mesmo, até considerei postar

algumas que tiramos na viagem... e fazer dois tipos de

ensaio profissional com roupas diferentes. — Pegou o

telefone. — Não sou a melhor nisso, mas quando contar a

Katrina, ela vai mudar a nossa imagem completamente.

Você vê alguém falando da vida antiga do Devon?

— Não. — Franzi o cenho.

— Katrina centralizou todo marketing da empresa

somente nas festas, afastando a imagem do Devon de

solteiro disponível que amava causar uma diversão. A

Winterfield passou a vender mais eventos com a

mudança de visual. — Mostrou umas fotos de casais em

um aplicativo de imagens. — Pegando um pouco do que

trabalhei com ela, sei o que fazer, depois, ela pode nos
ajudar. Ela é melhor nisso, eu sou melhor com textos,

trazendo um pouco de sensibilidade para as mensagens

da empresa.

— Teremos que nos expor um pouco?


— Um tanto, mas tem que soar real, não só para o

juiz, mas para os juízes da internet porque se acontecer

qualquer merda, existe uma grande possibilidade que

acreditem em nós porque passaremos credibilidade no

dia a dia. — Olhou em meus olhos. — Apesar de acreditar

que o casamento deva ser discreto e com a sorte de

morarmos em Vegas, precisamos escolher uma das

capelas tradicionais.

Abri um sorriso e relaxei no banco.

— Não sabia que você podia ser tão dominadora

com um planejamento.

Ela ficou vermelha.

— Desculpa! Eu não quis...

— Estou implicando com você. — Soltei uma risada

e beijei sua mão. — Posso te levar para jantar agora?

— Eu adoraria. — Sorriu do seu jeito apaixonante.

Liguei o carro, saindo do estacionamento e ela

enviou mensagens, provavelmente avisando que


havíamos chegado. Guardou o telefone na bolsa e mexeu
no rádio, procurando uma lista de reprodução agradável.
Começou a rir ao perceber que só tinha músicas de
academia, porque ficava tudo sincronizado.

— Você precisa de músicas mais calmas. — Brincou

e deixou tocar um setlist de um DJ que ela adorava.

Dirigi até um bistrô calmo em um lado da cidade


que não era tão cheio. Costumava frequentar o local

porque era discreto. Vanessa foi ao banheiro logo que


escolhemos a mesa e peguei meu telefone, olhando as

mensagens. Devon me enviou um dedo médio sem falar


mais nada. Ele estava muito certo em se preocupar com

a irmã. Apesar de eu não saber todos os detalhes, algo


muito sério aconteceu com ela no passado que a levou a

cometer loucuras.

Vanessa lidava com muitas questões emocionais

complicadas e eu faria de tudo para não ser mais um


motivo. Era por isso que estava com medo. Foi por isso
que no passado, não me senti pronto para tentar algo

mais. A ideia de machucá-la me dilacerava. Causar


qualquer tipo de dor ao invés de felicidade me levaria ao

chão. Eu tinha certeza de que o casamento ia embolar


tudo entre nós, mas...
Eu já não tinha forças para me afastar.

Observei-a andar com calma até a mesa. Usava uma

calça justa, camisa branca de botões um tanto ajustada


na cintura e mais larga no quadril. Seu cabelo estava

preso e o rosto livre de maquiagem. Abri um sorriso e


percebi que o homem da outra mesa parou de comer

para vê-la passar. Ela sentou à minha frente, pegando o


menu e anunciando que estava com fome de verdade.

Olhei diretamente para o idiota, que deu de ombros e

voltou a comer. Acompanhada, otário.

O jantar foi tranquilo, ela era calma e gentil, cheia de


piadas inteligentes e um riso contagioso. Sempre ficava

vermelha e com os olhos lacrimejando quando


gargalhava. Deixá-la em casa depois de vários dias ao

seu lado foi difícil. Os cachorros latiram e gritaram


quando entrou. Estava tarde e eu não queria perturbar o

sono de Halley.

Devon apareceu no portão, abriu a porta do meu carro e

entrou.

— Eu vou ter que perguntar?


— Nós só viajamos juntos... não aconteceu nada íntimo.

— Não é isso, idiota. Quais são suas intenções?

Revirei os olhos.

— Partir o coração dela — ironizei.

— Ótimo, assim minha filha não vai me odiar por matar o

padrinho dela. — Me deu um sorriso torto. — Minha


esposa passou os últimos dois dias me fazendo sentir o

pior amigo e pior irmão do mundo, eu sei que você é um


bom homem, mas toda história com seu filho me
preocupa que vá machucar minha irmã.

— Eu sei, Devon. Não quero machucar Vanessa.

— Tudo bem. — Ele respirou fundo. — Sei que certas


coisas são inevitáveis, mas se puder se esforçar...

— Eu vou me esforçar — garanti, com muita vontade de

contar a ele sobre o casamento. Estava me sentindo


péssimo e entre a cruz e a espada. Se eu contasse,

Vanessa iria me matar. Ela estava disposta a fazer algo


tão sério e importante por mim, não custava acatar o que

tinha me pedido.
— Como foi com ele? — Devon sorriu. — Vanessa me

mandou umas fotos. Ele cresceu tanto.

— Cresceu, mas ainda é tão tímido. A mãe dele se

recusou a dar-lhe um beijo de despedida, alegando estar


maquiada. Eu odeio tanto o quanto ela é fria. — Bati

minha cabeça no encosto. — Ele é tão inteligente, Devon.


Contou a saga de Star Wars toda para Vanessa em

minutos, comeu tudo e nós nos divertimos no play,


depois no parque... só segurá-lo não foi o suficiente.

— Vanessa ouviu? A parte da mãe?

— Sim, por que?

— Shannon fazia isso conosco. Mais com ela, eu


rapidamente aprendi a não chegar perto, mas Vanessa é

boa e ela não desiste.

— Faz sentido. — Parei para pensar. — Ela fez o Harry


dar-lhe um beijo porque ela precisava muito.

Devon abriu um sorriso.

— Sou louco para conhecê-lo.

— Espero que seja em breve.


Ele saiu do carro e sinalizou para que eu entrasse com
ele. Em silêncio, pediu que o seguisse. Sem entender

nada, eu fui. Subimos a escada e ele abriu a porta do


quarto de Halley. Ela estava acordada ainda, sozinha,
falando e brincando com os pés.

— Katrina costuma deixá-la alguns minutinhos brincando


no berço, assim podemos observar algumas das suas

evoluções antes de dormir. Ela tem falado sozinha.


Começou há uma semana. Sua língua de bebê está

variando... — Ele sorriu e se inclinou. — Oi meu


cometinha, adivinha quem vai te fazer dormir hoje? Seu

padrinho.

Minha garganta apertou de emoção. Halley me deu um


olhar risonho, já com sono e a peguei em meus braços,

dando um beijo na cabecinha cheirosa.

— Leve o tempo que precisar. — Devon me deu uma


fralda e me deixou sozinho com ela. Halley coçou os

olhos e sorriu de novo. Minha menina perfeita.

Como ele explicou, ela queria conversar. Deitei-a

em meus braços, ela agarrou meu dedo, ficou


tagarelando e eu respondi baixinho, andando de um lado
ao outro, sorrindo para suas pernas inquietas cheias de

dobrinhas. Lentamente, foi pegando no sono até que


soltou minha mão, dormindo efetivamente. Ainda fiquei

parado, observando sua perfeição por um longo tempo.

Devon sabia do que eu precisava. Ele me deu um

presente.

Coloquei-a em seu berço com cuidado e balancei


suavemente quando resmungou. Katrina apareceu na

porta e entrou, tocando minhas costas.

— Eu vou te chamar todo dia a partir de agora.


Ninador de bebês . — Me provocou.

— Obrigada por me deixar fazer parte da vida dela.

— Eu é que agradeço por ser um padrinho tão bom.

— Ela piscou.

— Ei, vocês. — Devon cochichou. — Saia de perto


da minha mulher.

— Você ainda não se tocou que ele quer ser seu


cunhado e não furar teu olho? — Katrina riu e saiu, me
deixando sem graça no meio do quarto.
— Acho que vou para casa — avisei e saí sem olhar
para trás.

Enviei uma mensagem de boa noite para o meu

filho, como fazia todo dia. Ele tinha seu próprio aparelho
celular, mas a babá monitorava para que ele não falasse
comigo fora dos horários agendados. Eu confiava em
Lena e não a culpava por obedecer às ordens do juiz. Ela

estar com ele o tempo todo me dava paz, porque Debra


não era nada cuidadosa ou maternal.

Bastou uma noite dormindo com Vanessa para


sentir falta dela quando deitei em minha cama. Estava
acostumado a dormir sozinho, porque nunca dormi

acompanhado. Não tive relacionamentos na minha vida.


Nenhuma namorada. As garotas que ficava era para
foder. Sexo sem compromisso. Nada de partilhar a cama
ou dormir de conchinha. A primeira mulher que dormiu

comigo foi ela...

Eu não dormi, só a observei, caí no sono já tinha


amanhecido. Se pudesse, ficaria naquele momento para
sempre.
A segunda-feira chegou com meu telefone tocando
logo cedo. Era meu recepcionista do turno da manhã

avisando que ia se atrasar. Tomei banho rápido, me vesti


e saí mais cedo que o usual para não prejudicar a
abertura. Ao chegar, abri tudo, o pessoal da limpeza
chegou e logo começaram sua rotina. Precisei ficar no

balcão, recebendo os alunos, liberando entradas e


atendendo aos curiosos.

Algumas pessoas passavam só para ver se me


encontravam ali de verdade, pediam uma foto e alguns
turistas queriam autógrafos. Era por isso que eu evitava

ficar exposto. Devon chegou na academia e ao invés de


malhar, parou para me ajudar. Alguns dos professores
perceberam que a agitação estava grande e pegaram os
alunos, começando as aulas sem esperar uma

determinação.

Foi uma loucura.

— Cheguei chefe. — Ele derrapou para dentro. —


Desculpa. Minha avó caiu da cama e machucou o quadril,
precisei levá-la para o hospital porque minha mãe não
dirige — explicou afobado. Ele estava com a etiqueta da

emergência na blusa, foi trocar de roupa e voltou.

— Sem problemas. Quer tirar o dia?

— Não. Minha mãe está lá e minha irmã está vindo


para a cidade. Ela mora depois do deserto — explicou e
abriu um sorriso para um grupo de alunos que estava
chegando.

Deixei-o tomando conta da entrada, dei uma


olhada no salão, passei nas salas com aulas de luta e
subi a escada. Devon sinalizou que estava indo, que
tinha hora e fui para meu escritório colocar a papelada
em dia. Meu estômago alertou que a fome voraz iria

causar estragos no meu humor em pouco tempo.

Olhei a hora e saí da minha sala, verificando as


mensagens. Estava prestes a clicar nas não lidas de
Vanessa quando a vi de quatro em um tapete, fazendo

exercício de glúteo com seu personal. Ele passou a mão


na panturrilha, falando algo e meu sangue ferveu.

— Toques inadequados causam demissão. — Me


aproximei. Vanessa me olhou pelo espelho.
— Não, senhor. Ela me pediu para mostrar quais

músculos são trabalhados nesse tipo de exercício... —


gaguejou.

— Desaparece da minha frente. — Rosnei e ele saiu


rápido. Vanessa sentou e pegou sua garrafa de água. Ela
usava um top cinza escuro e uma calça preta, a camiseta

estava jogada ao lado. — Oi.

— O que foi isso?

Estiquei minha mão ajudando-a a levantar do


chão.

— Marcando meu território. É melhor que ele não

fique tocando em você.

— Ciumento, Stuart?

— Não faz ideia do quanto. — Segurei sua mão. —


Estou morrendo de fome, vem almoçar comigo?

— É claro. — Pegou suas coisas e voltou a


entrelaçar nossos dedos

Pela primeira vez, andei de mãos dadas na frente

dos meus funcionários e era melhor que eles se


acostumassem com ela ao meu lado.
7 | Vanessa

Stuart escolhia nossos sanduíches no balcão enquanto eu


olhava a página de McKenna, com todas as fotos que

saíram do final de semana. Ela estava caçando rumores,


necessitada por informações, me mandou mensagens e

eu não respondi. Em algum momento, poderia precisar


da fofoca dela de maneira positiva, mas ainda não era o

momento.

Katrina estava compartilhando tudo que


encontrava com meu nome e o de Stuart, com carinhas

de riso. Eu não me sentia culpada por esconder meus


planos dela, porque a conhecia o suficiente para saber

que iria entender totalmente.

— Sanduíche de frango defumado com cream

cheese, sua salada e o chá. — Ele colocou a bandeja na


minha frente e voltou para buscar a dele. Eu não deveria

comer algo que me deixava toda suja, mas não

conseguia evitar. Era o meu favorito. — Está tudo bem?

Parecia séria no telefone.


— Atualizando as fofocas que saíram sobre nós.

Você vai ter um tempo hoje?

— Depende. O que precisa?

— Pensei em fazermos umas fotos... posso pegar a

câmera de Katrina e o controle, assim podemos fazer

sozinhos. É bom com a luz do dia...

— Algum lugar em mente?

— Em casa para não correr o risco de sermos vistos

juntos. — Abri meu sanduíche. — Achei que envolver um

fotógrafo agora, considerando que não tenho ninguém de

confiança, poderia ser arriscado.

— Eu posso sair por um tempo e voltar para


fechar.

— Ansiosa por isso.

Nós comemos em um silêncio confortável, trocando

amenidades, mas sem um clima estranho. Ele estava

faminto e devorou seu lanche, dizendo que não

conseguiu comer de manhã. Na volta, caminhamos


devagar para a academia, que não era muito longe. Ele
me acompanhou até o carro e me deu um beijo na

bochecha.

Fiquei sonhando com seus lábios na minha

bochecha por todo o caminho até a casa de Shannon. Já

fazia um tempo que não passava para vê-la. Era

complicado ficar perto por muito tempo, e ao mesmo

tempo me sentia culpada por me afastar. Quando ela não

morava na cidade e não estava doente, era muito mais

fácil.

Estacionei na garagem e saí do carro, percebendo

que Tio Saul e o marido dela provavelmente não estavam

em casa. Abri a porta da frente com o código.

— Shannon? — chamei, pendurando minha bolsa

no aparador. — Shannon! Estou aqui! Mãe? — Minha voz

chegou a fazer eco na casa enorme. A enfermeira virou


no corredor e me assustou. — Oi! Tudo bem?

— Olá, querida. — Ela era simpática e santa por

aguentar minha mãe. — Ela está na varanda dos fundos

tomando suco. Vou buscar os próximos remédios.

— Tudo bem, obrigada. — Sorri e saí pela lateral.


Encontrei Shannon na sombra, ela usava branco,

estava de pernas cruzadas e com um turbante vinho

combinando com o batom. Seu suco ainda estava


intocado. Percebendo minha presença, virou o rosto e me

olhou de cima a baixo. Estava com roupa de academia,

com o cabelo bagunçado e sem maquiagem.

— Não vejo os ossos do colo do seu seio. — Foi a

primeira coisa que falou. — Está engordando muito. Ano

passado estava a nível de uma passarela, esse ano você

está como uma modelo plus size.

Era difícil para Shannon entender que meu biotipo

não era magro, mesmo que eu fosse alta. Ficar abaixo do

peso só estava me fazendo mal, porque estava tentando

alcançar um padrão de beleza impossível, sem aceitar

minha real aparência.

— Oi para você também. — Puxei uma cadeira e

sentei. — Como está?

— Do mesmo jeito que ontem e anteontem.

— Onde está Tio Saul? — Olhei ao redor. O jardim

estava bem cuidado.


— Não sei. Provavelmente abatendo carteiras como

sempre. — Pegou o suco e deu um gole. Seu telefone

acendeu em uma mensagem e vi que o plano de fundo

era uma foto de Halley. Ela raramente via a neta e

quando via, não era o mesmo calor e amor que Melanie e

Rosa tinham com a nossa cometinha. Shannon nem se

referia a ela como neta.

— E o seu marido? — Fiz conversa antes de

perguntar do tratamento naquela semana. Ela estava se

escondendo da mídia desde que vazaram uma foto dela

no hospital.

Shannon deu uma risada seca.

— Deve estar com a futura esposa. Uma garota

com metade da sua idade que tem uma paixão por

diamantes... — Deu um estalo com a língua. — Ele pensa

que não sei, mas está apenas me esperando morrer para

ficar com a ninfeta gastadeira.

— Sinto muito.

— Não sinta, é a lei da vida. Um dia eu fui uma

dessas garotas... não duramos para sempre. — Me deu


um sorriso seco. — Você está passando da idade de

arrumar um marido rico. A sorte é que é bonita, se

emagrecer um pouco, seu ar virginal ainda pode

encantar algum bilionário que frequenta o cassino do seu

irmão.

— Eu não preciso de um homem rico — rebati e ela

ignorou.

— Apesar da idade, pode enganar com sua

inexperiência sexual, essas roupinhas românticas

precisam desaparecer... — Então, ela sorriu de um jeito

muito maldoso. — Talvez até possa casar com meu

marido. Ele fez um acordo pré-nupcial, então, não vai

receber nada meu. Não que eu tenha... mas com uma

garota mais jovem que pode dar a ele o sexo

inesquecível e fazer sentir que é único, quem sabe? O


dinheiro vai continuar em família.

Saí do meu lugar e ela continuou falando como era

importante mudar minha aparência para ser uma sugar

baby com quase trinta anos. Ao virar a esquina do

corredor, ela ainda seguia falando, sem perceber que eu


não estava mais por perto para ouvi-la. A enfermeira me

deu um sorriso triste quando peguei minha bolsa e saí.

As lágrimas caíram enquanto dirigia e mantive meu

maxilar travado, me impedindo de me debruçar sobre

esse pensamento.

Cheguei em casa, estacionei na garagem e não sai

do carro, tomando um tempo para me recuperar. Sequei


meu rosto e me olhei no retrovisor. Vi que Rosa estava na

sala com Halley, desviei para a cozinha e Katrina estava


cortando frutas enquanto ouvia um áudio em seu

telefone. Coisa do trabalho. Para que não visse minha


expressão de choro, tentei passar direto.

— Para e volta. — Katrina falou e olhou para o meu

rosto. — Você foi na Shannon.

— Estou bem, logo vai passar. — E era verdade.

Não me feriu como antes.

— Você precisa se afastar. — Kat fez um pequeno


beicinho. — Vai, me conta.

Me joguei na cadeira, peguei parte das frutas de

Halley e joguei açúcar em cima, comendo e tagarelando.


Katrina soltou os morangos e começou a rir.

— Se você vai ser uma “old baby” eu também


quero!

— Sossega, você já casou com um homem rico. —


Bati em seu ombro.

— E ainda assim, ela diz que dei o golpe da

barriga.

— Ninguém mandou você infernizá-la e não bajular

sua ilustre presença. — Suspirei, me fazendo de


dramática. — A conversa está boa, mas eu preciso dar
um beijo na minha afilhada, tomar banho e me arrumar.

Tenho um compromisso e preciso da sua câmera


emprestada.

— Claro! Está no escritório do seu irmão, verifique

se as baterias estão carregadas — falou, distraída com


seu telefone.

Brinquei um pouco com Halley, conversando com


Rosa e quando Katrina voltou com as frutas, estava na

hora de subir para tomar banho. Queria usar uma roupa


casual, porém, bonita o suficiente para não parecer que
estava com qualquer coisa em casa. Escolhi um vestido
azul, de mangas três quartos e tênis.

Arrumei minha bolsa e recebi a mensagem de


Stuart que já estava em casa. Avisei ao meu guarda que

não precisava de companhia, ainda não confiava que ele


não fosse falar para Devon, mesmo que tenha começado

a pagar o seu salário. Apesar de ser perto, fui de carro e


Stuart abriu o portão para que eu pudesse estacionar

dentro.

Banhado, usava calça jeans, camisa preta e estava


descalço. Era sempre um choque vê-lo, porque eu

achava lindo e mexia tanto comigo que ficava sem ar.


Abri um sorriso, passando por ele e deixei minha bolsa na
mesa.

— Vamos começar? — Fui direto ao assunto.

— Você é a diretora criativa. — Apontou para a

sala.

Tirei a câmera e o tripé, organizando e seguindo a


luz. Apesar do estranhamento, os primeiros cliques

ficaram muito bons. Aos pouquinhos, fomos nos soltando,


relaxando com as poses e eu troquei de roupa, prendi o

cabelo, passei um batom e ele mudou a roupa também.


Fomos para o sofá, ficando próximos e ele me deu um

olhar antes de me pegar no colo e me ajeitar entre suas


pernas. Foi o mais próximo que ficamos um do outro, seu

perfume era maravilhoso e resisti à vontade de beijar seu


pescoço.

Apertei o botão do controle sem tirar os olhos dele.

Stuart ficou com o nariz bem perto do meu, sem desviar


e aos pouquinhos fui atraída para sua boca. Nossos

lábios se tocaram devagar inicialmente, segurei seu rosto


e me entreguei, completamente rendida, entregue ao

gosto da sua boca, a mão dele firme na minha cintura e


seu corpo musculoso me sustentando.

Nos afastamos um pouco, tomando fôlego e logo

voltando, nos perdendo de vez. Caramba! A sensação era


como se estivesse explodindo fogos de artifício. Larguei o

controle, montando em seu colo, ele agarrou minhas


coxas, subindo as mãos para minha bunda e apertou.

Soltei um gemido, rebolando contra ele, sedenta.

— Cristo, Vanessa! — gemeu contra minha boca.


— Stuart... — Suspirei, derretida. — Me beija de

novo.

Fazia tanto tempo que eu não beijava na boca que

não queria parar mais. Ele atendeu ao meu pedido e nós


ficamos quase uma hora no sofá. Seu telefone começou

a tocar, interrompendo bruscamente nosso momento e


me senti autoconsciente. Constrangida.

— Não se afasta, por favor. — Ele segurou meu

queixo.

— Será que deveríamos ter...

— Você será minha esposa amanhã à tarde. —

Sorriu torto e me beijou de novo. — Preciso voltar. Tenho


um aluno de luta livre agora.

— É claro. — Saí de seu colo. — Acho que fomos

bem.

Stuart sorriu.

— Fomos muito bem.

Antes de ir embora, me pressionou contra o carro

deliciosamente. Enquanto dirigia, toquei meus lábios,


sonhadora. Cheguei em casa com o humor tão leve e tão
bom que ignorei as piadas de Devon, preparei o jantar
nas nuvens e me despedi para dormir mais cedo.

Fiquei enfiada no meu quarto olhando as fotos e

sorri para as que a câmera pegou. Em uma das últimas,


estava montada em seu colo e ele com as duas mãos na

minha bunda, dando um aperto que me deixou toda


aquecida.

Enviei a foto para ele com a mensagem “Acho que

essa deve ficar de fora”.

Ele visualizou e respondeu quase no mesmo

instante: “Essa devemos repetir para ter certeza de que


ficou boa”.

Me joguei na cama, rindo feito uma garotinha.

Agarrei o travesseiro para abafar o som, com vontade de


gritar e sair pulando pelo quarto.

“Quero te beijar tanto... não consigo trabalhar, só

penso na sua boca”

Daquela vez, tive que gritar. Fechei meu

computador e o sorriso deveria estar rasgando minha


face. Katrina bateu na porta, enfiou a cabeça dentro e
desejou boa noite. Nós nunca dormimos sem falar uma
com a outra.

Às vezes, eu ignorava a existência do meu irmão


porque ele era muito irritante e me tirava do sério. Era

sua missão como irmão mais velho. Soprei um beijo para


ela e apaguei a luz do meu quarto.

Fiquei trocando mensagens com ele, que estava

fechando a academia, parou para comprar seu jantar e


seguiu para casa. Falamos sobre a reforma e decoração,

no qual ele estava preocupado com os prazos para se


mudar logo. Eu me diverti decorando nossa casa quando
compramos e era uma das coisas que mais gostava de

fazer.

Peguei no sono com o telefone na mão, acordei no


meio da madrugada com o choro de Halley e vi que ele
se despediu quando parei de responder. Enviei uma que
dormi e um emoji de beijinho. Saí da cama e encontrei

meu irmão andando no corredor com a filha chorosa nos


braços. Ela esticou os bracinhos quando me viu e não
resisti, aninhando-a em meus braços.
— Vou pegar a mamadeira — ele avisou e desceu.

Marco me seguiu para dentro do quarto dela,


sentei na cadeira de balanço e comecei a balançar.

Halley chorou um pouco, resmungando porque gostava


de ficar no colo com a gente em pé. Era uma coisinha
cheia de vontades. Passei a mão na sua cabeça, seus
cabelos loiros eram bem ralinhos, ainda dando a

sensação de que era carequinha como nasceu.

— Minha gulosinha está com fome? — Passei meu


dedo em sua bochecha.

— Dadadê. — Ela soltou, sonolenta.

— Você vai dar? — Devon entrou com a


mamadeira.

Eu sabia que aquele momento era apenas deles

dois, já que Katrina passava o dia inteiro com Halley em


casa. Deixei os dois sozinhos e voltei para meu quarto
com Marco. Polo ficou com Devon. Me joguei na cama,
querendo pegar no sono novamente quando percebi que

no dia seguinte me tornaria uma mulher casada.


Stuart e eu não falamos sobre moradia. Será que
eu precisaria me mudar para sua casa? Ficaríamos em

casas separadas e fingiríamos tudo com as visitas da


assistente social? Quando Harry passasse a vir, será que
ele ficaria sozinho com o pai ou eu precisaria estar
presente? Eram tantas questões que meu sono

desapareceu.

No dia seguinte, minha vida iria mudar.

Eu me tornaria uma mulher casada. Não foi assim


que imaginei que seria o meu casamento, mas estava
igualmente empolgada como se fosse um conto de fadas.
Ele me deixava maluca, com o coração batendo rápido

como asas de colibri e um sorriso apaixonado surgia sem


que tivesse controle.

Gostava de Stuart há muito tempo. O interesse foi


surgindo devagar. Não foi amor à primeira vista e muito

menos algo que surgiu de um interesse na noitada. Foi


bem aos poucos, com conversas, trocas de olhares,
alguns toques sem querer e crescendo ao ponto de não
conseguir disfarçar mais.
Os últimos dois anos foram ainda mais difíceis de

esconder. Todo mundo percebeu, ensaiamos uma


aproximação e ele se fechou do nada, me deixando um
tanto magoada, mas depois eu entendi. Devon explodiu
da maneira errada, mas estava certo. Stuart estava
sofrendo pelo filho e respeitei seu tempo.

Não foi fácil porque fiquei confusa. Eu não sabia se


deveria seguir em frente ou esperar, mesmo que ele
nunca tivesse sequer mencionado essa possibilidade.

O futuro desconhecido entre nós dois me trouxe


uma onda de ansiedade que passei a noite

completamente em claro, ficando com a aparência que


uma noiva não deveria ter no dia do seu casamento.
8 | Vanessa

Parada na frente do espelho do banheiro da capela, me


olhei usando um vestido branco até os joelhos, com um

busto justo e uma saia rodada, bem romântica. Meu


cabelo estava solto, com um pequeno véu, bem discreto,

maquiagem simples e sapatos rosa claro. Minhas mãos


estavam suadas.

— Tudo pronto, noivinha? — A assistente do celebrante

bateu na porta.

— Estou saindo — avisei.

Guardei tudo na bolsa, peguei meu buquê e a encontrei

no corredor. Ela me deu um elogio, segurou minha bolsa


e pediu que parasse para fazer algumas fotografias no

pequeno jardim improvisado. O fotógrafo era da casa,


mas ele ficou dizendo que eu era linda e quis fazer

milhares de fotos. Ela precisou interromper, ou me

atrasaria.

— A música vai tocar e é só caminhar em direção ao

homem da sua vida — explicou e foi o que me deixou


ainda mais nervosa.

Assenti, com um riso ansioso e olhei para frente. As

notas começaram a tocar, era apenas o instrumental de


uma música que eu amava. Símbolo de casamento. A

Thousand Years era romântica o suficiente. Não

estávamos em uma capela brincalhona e sim, uma

tradicional, por dentro, parecia uma igreja. O

cerimonialista não era religioso, apesar de estar vestido


como um. Era apenas uma pessoa autorizada a celebrar

casamentos.

Caminhei pelo curto tapete com os olhos focados nele.


Stuart usava jeans, uma camiseta branca e um paletó

bem ajustado que devia ter sido encomendado. Era


impossível ter seu tamanho na loja. Parei à sua frente,

com um sorriso e ele devolveu. Mal ouvi o que estava

sendo dito, concentrada nele. Apoiei meu buquê na

mesinha quando foi pedido que segurássemos a mão do

outro.

Nossos votos foram simples e tradicionais, prometemos

honrar, respeitar, apoiar e nos entregar. Eu prometi amá-

lo porque sabia que era um caminho inevitável. Esperava


não ter meu coração partido, mas estava disposta a lutar.

Ele pegou a aliança no bolso e fiquei surpresa com a

beleza e delicadeza da joia, que combinava muito bem

comigo.

— Eu aceito ser sua esposa, Stuart — sussurrei, meio

emocionada. Ele deslizou a aliança em meu dedo. Peguei

a dele no meu buquê e meus dedos estavam tremendo.

— Aceito ser seu marido, Vanessa. — A mão dele ficou

muito bonita com o anel.

— Eu vos declaro marido e mulher. — O celebrante

sorriu. — Pode beijar a noiva, Sr. Hedrer.

Stuart soltou minhas mãos, agarrou minha cintura e não

perdeu tempo para me beijar. Sua boca na minha era um

sonho. Macia, quentinha e o gosto da língua era viciante.

Eu poderia beijá-lo o dia inteiro. Passei meus braços por

seu pescoço, não querendo parar de selar o nosso

casamento.

— Olá, Sra. Hedrer. — Stuart falou contra meus lábios.

— Olá, Sr. Hedrer.


Nossas testemunhas bateram palmas e o fotógrafo disse

que as fotos tinham ficado ótimas. Stuart e eu tiramos

mais algumas pela capela, no jardim da entrada e


recebemos os primeiros documentos do nosso

casamento. Segurando o buquê e ele a minha bolsa,

saímos por trás, onde o carro estava escondido e meu

guarda vigiando para que não fôssemos fotografados por

paparazzi.

Dentro do carro, Stuart me deu um olhar e trocamos um

sorriso excitado.

— Nós casamos! — Soltei, animada.

— Casamos! — Ele sorriu, se inclinou e me deu um beijo

suave nos lábios. — Agora eu vou levar minha esposa

para almoçar.

Para minha surpresa, ele fechou um restaurante para o

nosso almoço de núpcias. O lugar estava decorado com

rosas brancas, um pequeno bolo e com um dos meus

pratos favoritos: paella de frutos do mar. O garçom

estourou o champanhe, servindo nas taças e nos

felicitando. Stuart puxou a cadeira, sentei, ele ficou ao


meu lado ao invés de na minha frente. Brindamos e nos

fotografei com meu telefone.

— Já contou para Arthur?

— Vou enviar essa foto. — Ele sorriu.

— Quando tudo pode começar?

— Vai ser com ele, mas a real, é que preciso me mudar.

Enquanto minha casa não for adequada para crianças,

posso ficar prejudicado na visita. Ela tem que ser segura,

Harry tem baixa visão e é importante que consiga andar

pela casa sem se machucar se estiver sem óculos —

explicou e assenti, anotando mentalmente para não

esquecer daquilo durante a decoração. — Você vai se


mudar para a minha casa ou vai esperar a casa nova?

— Não sei. Acho que primeiro precisamos contar para

nossa família e eu acho que com a possibilidade de uma


visita surpresa da assistente social, seria ideal estarmos

juntos. Qualquer coisa só dizer a ela que estamos de

mudança. Vai soar menos ruim do que morarmos em

casa separadas... — Bebi o champanhe porque fiquei

nervosa com o aspecto de estar sob o mesmo teto que


ele todos os dias. — Vamos fazer o que for confortável

para você.

— Está certa e além do mais, somos casados. Marido e

mulher dormem juntos.

— E o nosso casamento vai ser... — Engoli em seco.

— Real? Acho que podemos dar tempo ao tempo. —

Pegou minha mão e beijou.

— Tudo bem. — Respirei fundo, aquietando minha

ansiedade. — Vai dar tudo certo — murmurei para mim

mesma, percebendo que estava perdendo o controle dos

meus nervos. Virei toda minha taça de uma vez só, ia

servir mais, porém, Stuart segurou minha mão com

carinho.

— Fica calma, está bem? Eu estava meio que

brincando sobre dormir junto... podemos ficar em quartos

separados.

— Acha que estou nervosa por isso?

— Não?

— Também, mas não é tudo. Estou nervosa com o

aspecto geral da coisa toda. — Minha voz tremeu com a


realidade do que fizemos, talvez pela adrenalina do sim

ter diminuído. — Stuart! Nós casamos!

— Sim... um com o outro. — Sorriu e me deu um beijo

suave, que me deixou calma.

Nosso almoço de núpcias foi uma delícia e bem íntimo.


Estar sozinha com ele não me deixava desconfortável

como em qualquer encontro. Ele não me fazia sentir mal


comigo mesma. Infelizmente, era um dia comum e ele

precisava encontrar com alguns patrocinadores. Nós


fomos direto para sua casa, troquei de roupa no meu

futuro quarto e já deixei meu vestido ali. Ele me deixou


em casa e foi embora, meio atrasado.

Rosa não estava em casa, os cachorros não desceram

para me ver e eu imaginava que minha cunhada


estivesse no quarto dela ou no de Halley.

— Kat?

— Quarto da Halley!

Subi a escada praticamente correndo, passei pelo


corredor e entrei no quarto da minha sobrinha. Eu não

falei com ela desde que saí pela manhã, após brigar com
Devon porque, como sempre, estava se metendo onde
não foi chamado e sendo irritante. Katrina me deu um

olhar e ela me conhecia tão bem que franziu o cenho.

— O que aconteceu? Bateu com o carro do seu irmão? —


Sorriu do seu jeito traquina. — Já se resolveram?

— Ainda não nos falamos, e acho que ele não vai falar

comigo tão cedo. — Fui honesta. Devon me daria o


tratamento do silêncio.

— Não seja dramática. É só mandá-lo tomar conta da


própria vida. — Pegou um vestidinho, esticando todas as

partes para colocar em um cabide. Ela balançou a


cabeça, meio irritada. — Pensei que ser pai faria com que

ele relaxasse, mas o homem decidiu que queria controlar


o mundo inteiro.

Não queria que os dois brigassem por minha causa mais

uma vez.

— Acho que é o reflexo de tentar fazer um mundo melhor


para Halley. — Defendi as atitudes do meu irmão. No

fundo, não era sem razão. Nós passamos por muita coisa
e ele nunca buscou um tratamento para se curar. Ele
precisava falar sobre nosso passado e suas questões
emocionais com um profissional, não somente comigo ou

com sua esposa.

— Então, o que você fez? Te conheço, sei que fez alguma

coisa. — Voltou sua atenção para o meu rosto. Mordi o


lábio antes de erguer a mão e mostrar minha aliança

ostentosa no dedo. Katrina riu. — Você ganhou essa coisa


aí em uma máquina de balas?

Agora ou nunca.

— Não. Eu casei hoje cedo.

Ela abriu a boca e fechou, soltando o vestido.

— Sério? Henry Cavill estava na cidade? A não ser que


você tenha uma nova melhor amiga, eu não sabia que

você estava namorando. — Colocou a mão na cintura e


com a outra, agarrou a minha, analisando o anel. —

Vanessa Winterfield, com quem você se casou?

Abri um sorrisinho hesitante, com medo de sua reação e


preocupada que não me perdoasse, mas eu sabia que

iria entender quando ouvisse toda a história. Stuart sabia


que eu não esconderia detalhes da minha melhor amiga.
— Meu sobrenome agora é Hedrer. Eu casei com Stuart.

Katrina ficou em silêncio.

— Acho que não entendi. O que aconteceu?

— Podemos sentar e conversar com calma? — pedi,


nervosa com sua reação.

Assentindo, pegou Halley do berço, que ficou meio


irritada por sair da sua brincadeira com o mobile e

ameaçou chorar. Katrina a colocou no seio, para mamar e


assim, poder me ouvir. Fomos para o meu quarto, que
era mais próximo e nos sentamos na cama. Com muita

calma, contei tudo desde o começo, de como surgiu o


plano e porque escolhi esconder dela.

Stuart não estava muito confortável que Katrina

soubesse que ele era fichado por agressão, mas ela


também era e jamais o julgaria sem saber de toda a

história. O motivo pelo qual ela nunca conseguiu um


emprego, sempre trabalhando como freelancer, era

minha culpa. Ela reagiu para me defender, como sempre


fez.
— A mãe do Harry é uma vaca. — Katrina fungou. — Não

deixou beijá-la?

— Sei que foi só uma coisa que eu presenciei e todo

restante sei por Stuart, mas o tom de voz dela me levou


diretamente ao passado, Kat. Lembrei de todas as vezes

que quis beijar minha mãe e ouvi aquela resposta —


Meus ombros caíram.

— Halley, mamãe precisa que você solte o peito que está

fazendo de chupeta. — Ela foi sincera com a filha do seu


jeito engraçado. — Fique no colo da sua madrinha que eu

tenho uma lista para fazer. — Me entregou a criança e foi


correndo até o escritório, que era basicamente dela
depois que a Halley nasceu.

Minha sobrinha riu da corrida da mãe, fazendo força para


ir para o chão. Ela engatinhou até seus brinquedos,

virando o saco e pegou um bloco, batendo um contra o


outro.

— Precisamos fazer uma lista de ações para que isso

tudo dê certo. — Katrina se jogou empolgada ao meu


lado. — O primeiro item é: eu não consigo imaginar os
dois não sendo tímidos um com o outro, mesmo com
esses beijos e amizade. A assistência social vai farejar

qualquer sinal, e vocês precisam ser um casal sólido, de


muita confiança no outro, então, já que estão tão
envolvidos precisam passar mais tempo juntos.

— Stuart acha que devemos morar juntos.

— É óbvio. Vai ajudar na intimidade, mas também na


visita que vai ser surpresa. — Ela começou a anotar. —

Preciso ter acesso ao processo de acusação de agressão


e ao de guarda, porque eu quero os nomes completos

dos dois desgraçados.

— Por que?

— Buscar por transações financeiras... já passou muito

tempo, mas nunca se sabe o que podemos encontrar.


Além do mais, Stuart por ter ficado quieto, foi muito mal

assessorado. Se ele tivesse me contado antes... — Ela


suspirou, já perdida em seu planejamento. Essa era a

Katrina que eu amava enlouquecidamente. Uma general


de guerra. — O que foi?

— Eu te amo, obrigada por entender tudo.


Ela olhou para a filha, que enfiava a cabeça de uma
boneca na boca.

— Eu sou mãe, Vanessa. A maternidade me trouxe um


lado novo e aflorou todos os outros. Vou investigar Debra

bem de perto, se ela for minimamente boa mãe, tudo


bem, mas se não for... — Katrina me deu um olhar sério.

— Ela vai descobrir o que é uma mãe furiosa de


verdade.

Segurei suas mãos e a puxei para um abraço. Aquilo era

tão importante para Stuart e por consequência, para mim


também.

— Temos que contar para o seu irmão. — Ela se afastou.

— Não vou adoçar, ele vai surtar e vai ser um grande

babaca. Sabe que ele não lida bem com mentiras...

— Na verdade... Stuart vai contar a ele. Cada um ficou


com o seu melhor amigo.

Na dica, ouvimos um estrondo e vozes alteradas. Eu


reconhecia as duas. Outro estrondo e som de vidro

quebrando. Devon e Stuart estavam brigando


fisicamente, não era a primeira vez, mas na última,
ambos ficaram doloridos por dias.

— Você casou com a minha irmã? — Devon berrou.

Atravessei o quintal correndo, ignorando os gritos de

Katrina para não me meter. Devon e Stuart estavam


discutindo, sem ouvir o que o outro dizia. Parei na
entrada e assobiei, o som ecoando por toda a casa. Os
dois saltaram e me encararam, ambos suados,

vermelhos e com hematomas aparecendo.

— Quantos anos vocês dois tem? Cinco? Desde quando


homens adultos resolvem problemas na porrada? —
Coloquei minha mão na cintura, furiosa.

— Você se casou sem me falar nada? — Devon acusou.

— Fez o mesmo e eu não fiz esse escândalo.

— Eu estava bêbado! — Ele gritou, furioso.

— E continuou casado, teve uma filha e é feliz. Fiz algum


inferno? Não! — Estiquei minha mão. — Por todo amor
que você tem por mim e pelo Stuart, pode ouvir nossos
motivos como um ser humano decente e não um irmão

troglodita?
— Eu não amo o Stuart! — Ele cuspiu feito uma criança.
Revirei os olhos com vontade de rir. Bebezão.

— Então, por amor a mim? — insisti.

Contrariado, deixou seus ombros caírem em derrota e


suspirou. Dei um olhar de desculpas a Stuart e pedi que
os dois me seguissem até a casa. De propósito,
trombaram um no outro, fazendo o estrondo da porta

ecoar na casa vazia. Virei, com raiva e eles se afastaram


imediatamente.

Katrina estava na sala com Halley no colo, furiosa e se eu


estivesse na pele de Devon, ficaria com medo. Quando
ela começava a falar...

Apontei para o sofá e eles sentaram separados. Sentei na


frente do meu irmão, mas segurei a mão de Stuart,
entrelaçando nossos dedos e Devon estremeceu. Repeti
toda história, olhando nos olhos dele.

— Você entende, Devon?

— Vocês dois sabem que eu faria qualquer coisa pela

guarda do Harry... — Ele passou a mão no rosto. — Mas


casar? Vanessa, se você se envolver demais...
Perdi totalmente a minha paciência.

— Pare de me tratar como uma criança suicida! Eu cresci,

caramba! Me dá a chance de viver, cometer erros e


aprender com eles! Para de me proteger, por favor! —
Alterei meu tom de voz ao ponto de Halley se assustar. —
Essa é a minha vida, minha decisão, eu te apoiei em

absolutamente tudo a nossa vida inteira. Chegou a sua


vez de me apoiar cegamente e confiar em mim. E aí,
qual vai ser a sua escolha?
9 | Stuart

Vanessa me entregou um saco de gelo que coloquei em


meu olho e jogou um saco de ervilha para o irmão, que

botou no olho dele. Ela e Katrina foram para o quarto


enquanto a pizza que encomendamos não chegava.

Halley estava no chão entre seu pai e eu, mordiscando


um biscoito, recostada no cachorro e cheia de brinquedos

ao redor.

Dei um gole da minha cerveja e desceu bem, gelada.


Estiquei minhas pernas na frente, pensativo. Devon

recebeu a notícia tão bem quanto possível, furioso,


gritando e claro, avançando em mim. Brigamos muito ao

longo da vida, mas aquilo, eu sabia que era sério para


nós dois.

— Você gosta dela de verdade? — Ele moveu o saco de


ervilhas.

— Do tipo apaixonado? Não. Mas eu gosto dela há muito

tempo, você sabe disso. — Fui honesto. — Nunca me


permiti pensar ou me aprofundar nos sentimentos,
porque não era bom para ela. Ainda não sou, mas vou

me esforçar. Não consigo mais me segurar. E quanto ao

Harry, estou pronto para lutar com todas as armas, se é

ser trapaceiro, não me importo. Eu já perdi muito sendo

honesto.

Devon colocou a cerveja na orelha que eu puxei na nossa

briga.

— Você tinha que ter me contado antes... os detalhes,

Stuart. Detalhes fazem toda diferença. Ficar com

vergonha? Sei que é fichado há muito tempo, mas não

liguei uma coisa à outra, não tive acesso ao processo.

— É fodido. Só quero meu filho.

— Vai ter. — Devon garantiu. — Preciso que saiba de uma

coisa... — Ele olhou para ter certeza de que elas não

estavam vindo. — O dia mais assustador da minha vida

foi quando eu tirei minha irmã daquela banheira. Eu não

esqueço. Assim como não esqueço a primeira vez que

Rosa a colocou em meus braços e Shannon tinha ido

embora. Dias depois do parto. Tenho poucas lembranças


da infância, mas essa, não esqueço. Sempre foi minha
irmã e eu para tudo até Katrina chegar e depois, você.

Sei que sou idiota e super protetor, mas toda vez que

penso que ela poderia ter morrido, se Katrina não fosse

tão curiosa e não desse privacidade a ninguém, mesmo

no banho. Se estivesse sozinho com ela, eu jamais iria

conferir, era um simples banho.

— Não foi sua culpa, Devon. Como poderia saber?

— Ela é minha irmã e eu deveria ter prestado atenção

aos sinais. Prometi a mim mesmo nunca mais relaxar. Sei

que ela gosta de você há tempos, foda-se que ela vai me

matar por falar isso, mas eu pedi que se afastasse.

— Sei disso. Eu me afastei. Quero ser feliz, quero fazê-la

feliz, mas sinto que não posso fazer isso sem meu filho.

Seria incompleto. — Coloquei minha garrafa na mesa. —

Não consigo sentir que ele é feliz, amado e cuidado como


toda criança deve ser.

— Ele já te falou algo?

— Não quando a babá está perto, mas quando consegue,

ele reclama que a mãe o deixa triste. Eu odeio não ter

abertura para ouvi-lo de verdade. Debra mantém um


controle nas nossas conversas, ela vê tudo, o que me

deixa ainda mais desconfiado que algo acontece e ela

tem desespero em não me deixar saber.

— Vamos descobrir. Agora você tem um time inteiro

caçando qualquer falha dela. Nós vamos conseguir.

Katrina já deve estar com um planejamento de

investigação militar. — Ele sorriu e a campainha tocou. —

É a pizza. Você casou com minha irmã pelas minhas

costas, então, você vai pagar o jantar.

Dei a ele o dedo médio e fui atender o portão. Três pizzas

e mais cervejas. Devon gritou para as meninas. Vanessa

estava fazendo as malas com algumas coisas que

poderia precisar e deixaria a mudança para a casa nova,

que se tudo desse certo, ficaria pronta para moradia na

próxima semana. Eu ia gastar uma nota, mas como os

quartos, banheiros e cozinha tinham móveis planejados,


a prioridade era mobiliar o restante.

A casa era relativamente nova e os móveis de excelente

qualidade, mas os primeiros donos não foram muito

cuidadosos. Nós comemos juntos e nem parecia que

Devon e eu tínhamos brigado algumas horas antes.


Halley ficou no meu colo, comendo seu jantar,

fazendo uma bagunça infernal, me deixando sujo de

comida, mas eu amava o quanto ela era inteligente.

Queria comer em pé no meu colo, segurava a gola da

minha camisa para ter apoio e ainda enfiava pedaços de

legumes na minha boca, querendo minha pizza em

troca.

Katrina e Vanessa estavam determinadas. Elas falavam

dos próximos passos com tanta certeza, sendo tão

criativas, que deixariam Arthur maluco. Ele ia se sentir

no céu. Devon estava rindo, mas prometeu não ir com

sede ao pote. Todo mundo sabia que ele era meu melhor

amigo, se ele, pessoalmente, saísse por aí fazendo

perguntas e pesquisas, logo iriam desconfiar que

tínhamos planos.

Depois de comermos, Devon ajudou a colocar as coisas

de Vanessa na mala do carro. Ela iria dirigindo o dela,

para deixar na minha garagem. Melhor dizendo, nossa

garagem. Eu estava um pouco ansioso porque eu nunca

dividi minha casa com nenhuma pessoa, muito menos


com uma mulher. Vivia sozinho e sabia que tinha manias.

Era organizado, mas não muito.

Não tinha empregadas fixas, apenas uma pessoa que

fazia comida e deixava pronto para comer se quisesse e

ela monitorava uma empresa de limpeza que fazia a

faxina. Enquanto dirigia pelas ruas devagar, seguindo-a,

que parecia estar protelando ficar sozinha comigo, passei

a ficar ansioso. Como poderia quebrar o gelo entre nós?

Minha vontade era agarrá-la e mostrar todo meu desejo.

Era louco por ela, mexia comigo, mas não queria assustá-

la. Não queria foder tudo na nossa primeira noite como

casados. Ela deu a seta, liberei o portão e estacionou no

canto. Parei ao lado e saímos do carro quase ao mesmo

tempo. Abri o bagageiro e peguei duas malas, ela, em

silêncio, recolheu as bolsas pequenas.

— Quer um tour agora?

— Se você não se importar, eu olho tudo amanhã — falou

baixinho.

— Tudo bem. Eu levo suas coisas para o quarto de

hóspedes ou para...
— Seu quarto. — Limpou a garganta. — Nosso quarto.

Assenti e levei tudo para o meu closet. Estava tarde, nós


dois precisaríamos trabalhar no dia seguinte. Vanessa

tinha horários mais flexíveis, mas Katrina estava um

pouco sobrecarregada com Halley, lidando com as

demandas sozinha.

— Você pode ficar à vontade, eu vou olhar a casa,


trancar tudo e posso usar o banheiro de hóspedes —

avisei e saí, sem dar-lhe tempo para falar nada. Desci a


escada rodando a aliança no meu dedo. Era uma

sensação nova ficar tanto tempo com um anel. Devon


quase arrancou meu dedo fora, portanto, estava meio

dolorido ainda.

Fiz um tempo no andar debaixo, mandei mensagem para


o meu filho, bebi água e voltei para o quarto. Ela estava

no chuveiro, peguei uma calça de pijama e segui para o


quarto de hóspedes. Não tinha muita coisa nele, era

meio depósito de troféu e com algumas caixas que nunca


abri depois que me mudei. Tomei banho, vesti o pijama e

parei na frente do espelho. O que iria acontecer?


Com calma, entrei no meu quarto, o cheiro do sabonete
era delicioso e pela porta fechada, ela estava no closet.

Escovei meus dentes, deixei o quarto a meia luz e deitei


na cama. Ela levou uma eternidade para sair. Abriu a

porta tímida, me deu um olhar e porra... usava um


conjuntinho de short e camisa de seda.

— Estava tomando coragem? — Provoquei.

— Um pouco. Katrina simplesmente saiu jogando tudo na

mala, precisei me achar. — Sorriu timidamente e andou


até o outro lado, puxando o edredom. Se eu a beijasse,

não ia conseguir parar. Ciente da sua presença na cama,


seu cheiro estava me enlouquecendo. — Você está bem?

Virei de lado e ela também, ficamos frente-a-frente, não


tão perto. Segurei sua mão, beijei e coloquei no meu

braço. Me aproximei devagar, ela subiu a mão para


minha nuca e me beijou. Foi um catalisador. Tudo que
meu instinto precisava era do seu gosto para explodir.

Agarrei-a, puxando para frente ao ponto de quase me


fundir a ela. Esfregando-se em mim como uma gatinha,

soltou um gemido que deixou meu pau muito duro.


Vanessa se afastou um pouco.

— Você vai ficar chateado se eu disser que eu realmente

quero fazer tudo , mas ainda não me sinto pronta? —


Suas bochechas estavam vermelhas. — Faz muito

tempo... muito mesmo.

— Não se preocupe com isso, não vou negar que te


quero, estou louco por você e cheio de tesão. — Me movi

sugestivamente. — Tudo entre nós tem que ser gostoso e


não quero que faça nada por pressão, por achar que tem

que fazer. Seja sempre honesta comigo. — Segurei seu


queixo e beijei seus lábios.

— Não é que não quero, só não quero pular etapas.

Estamos nessa dança do acasalamento... além do mais,


eu acho que hoje eu me sentiria estranha — confessou,

baixo. — Sexo sempre foi um tanto desconfortável para


mim e dessa vez, eu quero que seja bom.

— Vai ser bom. — Passei minha boca por sua bochecha,


parando perto do ouvido, chupando o lóbulo da orelha. —

Eu vou te fazer gozar muito gostoso. Vai gritar de prazer


e implorar por mais, de tanto tesão. — Ela enfiou as
unhas no meu braço. — Acho que precisaremos de folga

porque eu tenho certeza de que não vou te deixar sair da


cama.

Ela ergueu a perna, deixando a minha entre as suas e

deu uma rebolada que me fez agarrar seu bumbum


redondo, macio e apertar contra mim. Deixei que usasse

minha coxa para o seu prazer à vontade. Entre beijos e


beliscos suaves nos seus mamilos por cima da blusa,

assisti-la foi a coisa mais erótica da minha vida. Minha


mulher redescobrindo o prazer comigo era excitante pra

caralho.

Seu gemido contra minha boca foi uma delícia.

— Não acredito que fiz isso...

— Foi simplesmente incrível. — Acariciei sua coxa. — Não

fica envergonhada.

— Eu gostei. — Seu sorriso satisfeito me deixou feliz.

Beijei sua testa, fazendo-lhe um cafuné, e se

aconchegando em mim, caiu no sono. Demorei para


dormir, excitado, um tanto assustado com as reações

avassaladoras do meu corpo em relação a ela e cheio de


pensamentos sobre como seria a minha rotina dali em

diante. Vanessa estava acostumada a conviver com


outras pessoas, mas tinha a privacidade do seu quarto.

Eu precisaria me acostumar a ter uma mulher na minha


vida.

Em algum momento entre meus pensamentos, caí no


sono, acordei com o despertador do meu telefone,

desliguei e virei na cama. Vanessa estava encolhidinha


no seu canto da cama, com uma expressão tranquila e
ela era tão bonita, que ao invés de voltar a cochilar,

fiquei observando-a.

Beijei seus lábios suavemente.

— Bom dia, você tem que sair?

— Tenho. Vai malhar hoje?

— Talvez em casa com Katrina. Quer dizer, na casa do


meu irmão — falou sonolenta. — Vamos nos falando

durante o dia?

— Claro. Falamos por mensagem.

Comecei a me arrumar o mais silenciosamente possível


para não perturbar seu sono. Para minha infelicidade, eu
ainda estava excitado, mas sem tempo até para uma
punheta. Deixei-a dormindo e dirigi para a academia,

começando a loucura da rotina matinal ali. Dei duas


aulas e quando um aluno me abordou e desejou
parabéns pelo casamento, agradeci e verifiquei meu

telefone.

Vanessa postou uma foto nossa. Ela deve ter recebido

fotos do fotógrafo. A mídia estava interessada depois de


algumas que postamos juntos, o ensaio que fizemos na

minha casa registrou a parte mais quente e foi bonito de


ver.

Quando contei a Harry que iria me casar com Vanessa,

ele disse “Ok, ela é bonita, inteligente e eu gostei dela”.


Sorri para sua sinceridade, então emendou com um

suspiro “Eu espero que ela não parta nosso coração, pai.
Ouvi dizer que as mulheres são complicadas”. Tentei ter

alguma réplica, mas apenas ri por um bom tempo.


Aparentemente, meu pequeno homem já tinha uma

opinião sobre as mulheres.

Escolhi uma das fotos que me enviou, publicando na


minha conta sem nenhuma legenda, apenas um emoji
com uma aliança e um coração. Eu era péssimo para
comentar qualquer coisa, mas, me esforcei em ser tão

agradável quanto meu estilo. Meu privado vivia cheio de


mensagens, eu nunca olhava, era muita gente. No

entanto, recebi a notificação de McKenna me marcando


em uma postagem.

Como se não bastasse minha cota de perseguição, agora,


precisaria lidar com a fã número um dos Winterfields.

— Será que posso lhe parabenizar pelo casamento? — A

voz horripilante da minha antiga empresária, Pauley


Harmon, quebrou meus pensamentos. — Soube no
caminho.

— Acho que pode ir direto ao ponto e dizer o que está

fazendo aqui.

Ela abriu um sorriso. Se ela estava feliz, certamente


ficaria muito infeliz.

— Temos um novo patrocinador para uma luta.

— Você sabe que quem está gerenciando a minha


carreira agora é o Devon e deve falar com ele. — Fui

honesto e quis feri-la um pouco. Devon comprou 40% do


“Don Hedrer” e me deu 60%, assim eu poderia controlar
minha própria vida, algo que nunca tive oportunidade.

— Esse patrocinador nós não podemos dizer não até que

eu consiga pagar o que devemos a ele. O fato de ter


saído não anula a responsabilidade com tudo que peguei
para investir em você ao longo dos anos. — Cruzou os
braços, sentindo-se presunçosa. — Não se preocupe, vai

ser uma única luta fora da organização. Só um


espetáculo para leilão.

— Quem é o patrocinador?

— Fernando Mansuetto. — Senti um arrepio na espinha.


— Entende por que não podemos dizer não? — Sorriu
torto, feliz por me arrastar de volta ao ringue sob seu

domínio. — Ele quer que o valor mínimo seja três


milhões. Você precisa ganhar ou ele vai cobrar a dívida
da sua maneira.

Fiquei tão furioso que preferi ficar quieto. Eu ia explodir

na frente dos meus clientes, alunos da academia e


causar um escândalo que certamente iria parar nas redes
sociais em questão de segundos. Ciente que me deixou
sem palavras, Pauley sorriu ainda mais, alegando que
cuidaria de todos os detalhes com Devon, dando meia

volta e saindo da minha academia.

Maldita.

Ela me enfiou em mais uma luta que era sobre ganhar ou


morrer.
10 | Vanessa

Rosa estava fazendo uma trança espinha de peixe no


meu cabelo. Emburrada, aceitou com muito custo,

porque não estava falando comigo. Eu sabia que ela


ficaria muito chateada, porque não acreditava no

casamento pelas razões na qual casei, mas ela iria


entender em algum momento. Katrina estava

respondendo seus e-mails, balançando o carrinho de


Halley e me olhando com diversão.

— Vai me dar o tratamento de silêncio até que horas?

Rosa me deu um olhar bravo pelo pequeno espelho que


estava em cima da mesa. Estávamos na varanda,

pegando um pouco do frescor da tarde porque foi um dia

tão quente que mesmo a climatização da casa não deu

conta em alguns ambientes. Normalmente não


precisávamos ligar os aparelhos de ar de suporte, só o

central, no entanto, não foi só necessário como um alívio.

Halley ficou estressada com o calor.


— Você se casou escondido. O que você e seu irmão tem

na cabeça? — Rosa ralhou, irritada. — Um casamento é

sério, é amor, comprometimento para a vida toda. Tem

que ter certeza antes de dar esse passo! É importante!

— Hey! Fizemos uma festa enorme e muito cara para

compensar! — Katrina se defendeu.

— Rosa... Stuart precisa de ajuda.

— Não tem nada a ver com seus sentimentos por ele? —

Ela arqueou a sobrancelha.

— Tem tudo a ver, só estamos indo devagar nessa parte,

justamente por sabermos das nossas limitações. Ele

precisa resolver a vida dele com o filho, e eu não quero


me jogar e cair em queda livre. Mesmo tão conscientes,

sabemos que é um passo emocional arriscado. — Virei na

cadeira. — Acredita em mim, estamos levando a sério e é

para um bem maior.

— Eu não vou te ver vestida de noiva? — Rosa quase

chorou.

— Isso eu também não vi. — Katrina se meteu e dei a ela

um olhar maléfico.
— Tenho fotos... e depois posso me vestir para que veja

pessoalmente. Só não posso prometer que Stuart e eu

vamos chegar a um nível de comprometimento suficiente

para fazer uma festa, com tudo pra valer. — Segurei sua

mão. — É uma área cinzenta ainda.

— Não foi isso que sonhei para você, mas é sua vida, eu

te amo e meu colo sempre será seu. — Ela beijou minha

testa. — Espero que seja feliz.

— Obrigada. — Abracei-a apertado.

— Fofo — Katrina resmungou. — Mas sigo frustrada que

não te vi de noiva.

— Cala a boca. — Dei a língua. Ela só queria me irritar.

— Te amo! — Sorriu e voltou a olhar o computador. — O

advogado do Stuart é lindo, puta merda. Esse homem

deve deixar calcinhas pegando fogo em Nova Iorque —

comentou e meu irmão passou pela porta no exato

segundo, vestido de terno e gravata, todo sério e

olhando para a esposa. — Não tão lindo quanto você,

amor da minha vida! — Ela emendou no mesmo instante,


me fazendo rir. Devon não caiu na dela. — O que está

fazendo em casa?

— Stuart está vindo. Precisamos de uma reunião de

família urgente. — Se jogou na cadeira, com uma

expressão tensa que me deixou preocupada.

— O que houve? — Meu coração estava martelando no

peito.

— Ele foi desafiado a uma luta de vida ou morte, a

empresária filha da mãe não pode cancelar porque um

homem realmente perigoso está cobrando investimentos


que fez em Stuart ao longo da carreira. — Devon puxou o

cabelo. — Tentei contato com o homem. Ele é quase

impossível de falar. Seus homens são uma barreira.

— Por que entrou em contato?

— Quero pagar o que ela deve a ele e encerrar essa

história, assim Stuart não precisa lutar. São esses

eventos perigosos e oficiosos que Debra usa contra ele

no processo.

Droga. Era tudo que não precisávamos.

— O que vamos fazer? — Rosa levou a mão ao coração.


— Não sei. Se esse Fernando Mansuetto não me

responder, Stuart vai lutar e se o leilão não cobrir o valor

com todos os juros, vou pagar. Vamos pagar. — Ele

parecia nervoso.

— Quem é o oponente? — Katrina segurou a mão de

Devon.

— O homem que eu impedi a luta no passado. Ele está

sedento para derrubar o Stuart há anos... se ele negar,

vão cobrar a dívida com vida. Ele precisa lutar.

Esfreguei meu rosto, me sentindo derrotada e já

imaginando as manchetes em torno disso. Rosa esfregou

meus ombros, a preocupação era tanta que minha

cabeça estava doendo. O portão da garagem abriu,

agitando um pouco os cachorros e Stuart parou o carro

na vaga de visitante. Sua expressão estava carregada,

sentou ao meu lado e me deu um sorriso pequeno.

Segurei sua mão, ele beijou a minha, entrelaçando

nossos dedos.

Nós debatemos por horas, rodando no mesmo assunto

até que Devon decidiu ir atrás de Fernando Mansuetto


pessoalmente. Fiquei em casa com Katrina pois já estava

ficando tarde e gerenciei a entrega de alguns móveis que

comprei na mesma loja de luxo que fornecia para os

hotéis do Devon. Eles foram bem ágeis em atender meus

pedidos com um pouco de pressão... estava com pressa e

não me arrependia de ter usado meu sobrenome.

Era estranho ser uma Hedrer, mas todos ainda me

conheciam como Winterfield.

Depois que Halley dormiu, senti o cansaço bater e decidi

ir para minha nova casa. Chegar sozinha me deu um

pouco de medo, pois estava tudo escuro. Subi direto para

o quarto, tomei banho, vesti um pijama, fiz uma salada

com atum e comi em pé mesmo na cozinha, lavando o

que sujei e voltando para o quarto. Estava preocupada e

não queria dormir antes de ele voltar.

Fiquei lendo, vigiando a hora e ouvi o barulho do carro.

Stuart abriu a porta, jogou a chave no aparador e esperei

que subisse, mas passou um tempo e ele não apareceu.

De fininho, espiei do corredor de cima uma pontinha da

sala. Ao vê-lo no sofá, jogado e no escuro,

imediatamente sai do meu lugar e fui até ele.


— Oi. Foi tudo bem? — Sentei ao seu lado. Ele foi

escorregando até deitar a cabeça no meu colo. — Não foi

tudo bem?

— Ele não quer o dinheiro. Quer a luta, no entanto, vai

ser a última. Se eu vencer...

— Você vai vencer. — Cortei, enfática.

— Ele disse que se eu vencer, aceitará que pague o


restante da dívida. Arthur está puto, isso vai foder com
tudo. Logo agora que conseguimos mais horas de

visitas... — Stuart esfregou o rosto e seus olhos brilharam


como se quisesse chorar. — Debra vai conseguir tirar

meu filho. Eu vou perdê-lo, Vanessa.

— Não vai, confia em mim. — Me inclinei e beijei seus

lábios, depois o queixo, ele sorriu e voltei a beijá-lo.

— Tipo o beijo do Homem-Aranha — falou baixinho.

— Mais confiante agora?

— Não. Me beija mais... — Mudou de posição, segurando

meu rosto e me dando um beijo de nublar os


pensamentos. — Estou apaixonado por seu beijo.

— Eu também... — E era pura verdade.


Nós subimos aos beijos. Puxei sua camisa, querendo
sentir o torso nu e ele foi me empurrando para o

banheiro. Depois de dar um aperto na minha bunda,


empurrou meu short para baixo, deixando a calcinha, em

seguida, subiu minha blusa e eu mesma tirei. Stuart


olhou para os meus seios como um homem sedento no

deserto encontrando seu oásis. Ele lambeu o lábio em


uma admiração safada que aqueceu tudo em mim.

Com rapidez, se livrou do restante das roupas e eu parei

absolutamente tudo ao olhar para seu pênis. Eu não


tinha certeza se caberia. Ele era um homem enorme,

todo trabalhado e seu membro acompanhava a


grandeza.

— Você me mata olhando assim... — gemeu, segurando

minha nuca e me beijando rudemente. — Vamos tomar


um banho bem interessante agora... — falou contra

minha boca e foi para meu ouvido. — Tira sua calcinha.

Eu estava me sentindo bêbada. Segurei as laterais e


deslizei por minhas pernas. Estava depilada, mas não

muito, não planejei aquele encontro e deveria ter me


atentado. Stuart não parecia se importar. O olhar dele
era o avesso dos olhares que eu recebia do meu ex
namorado quando me via com pelos.

Era impossível não comparar, principalmente que


estar nua no chuveiro era novidade. Stuart acionou a

torneira, mexeu no painel da temperatura e esticou a


mão, me convidando. Ainda meio tímida, segurei e fui

tomada. Me pegando no colo, pressionou-me contra a


parede e soltei um ofego. Caramba! Ele literalmente me

ergueu como se eu não pesasse nada.

Meus mamilos estavam durinhos, arrepiados e


joguei a cabeça para trás, com sua boca tomando-os em

várias chupadas deliciosas. Ele parecia não saber qual


queria saborear, mamando com desejo, queria me
esfregar nele e aplacar um pouco do tesão que me

consumia como labaredas.

Stuart me colocou no chão, olhei para seu corpo,

hipnotizada e toquei o peitoral com as pontas dos meus


dedos, querendo ter a certeza de que era real. Passei

minha mão nos gominhos da barriga e parei, percebendo


que parecia uma idiota quase de boca aberta.
— Quero que me toque — ele falou baixo. — Pega o

sabonete... hoje, você vai espalhar toda a espuma em


mim.

Mordi o lábio, fazendo espuma nas mãos e ele riu

por eu ter escolhido começar pelo pescoço. Fiquei


vermelha, acabei rindo e fui descendo, lavando seu

abdômen com prazer.

— Desce um pouco mais... — pediu com um


suspiro.

— Acho que não sei fazer isso que você quer.

Eu era a não-virgem mais virgem de todas. Minha


inexperiência era irritante, mas não podia mentir.

— Toque e vou te dizer como...

Fiquei na ponta dos pés para beijá-lo e ainda assim,


ele precisou abaixar o rosto para me encontrar. Com

coragem, toquei-o. Ele gemeu, chupou minha língua e foi


falando baixinho. Depois de um dia estressante, ele

parecia necessitar daquilo e estava orgulhosa em dar a


ele.
Stuart era meu marido. Essa realidade me deixava

louca de felicidade.

Seus gemidos me impulsionaram a mais. Apoiando

a mão no azulejo atrás de mim, avisou que iria gozar.


Não parei, observando os jatos saírem e sujarem minha

mão.

Eu ia fazer uma piada ao lavar minha mão, até


porque, pensei que iríamos encerrar o banho e irmos

para cama, mas Stuart me pegou com fome, desligou o


chuveiro e me arrastou para a cama sem tirar a boca de

mim. Caí deitada, com uma risadinha e gemi com suas


chupadas pelos seios, barriga e afastei os joelhos
involuntariamente, de tanto tesão.

Sua carícia começou suave nas minhas dobras,


explorando com calma, me dando tempo para absorver

todas as emoções. Rodeando o polegar no meu clitóris,


fiquei toda arrepiada, com uma fisgada de excitação que

raramente acontecia quando me tocava sozinha. Ele


introduziu devagar e senti desconforto, apertei os lençóis

e ao mesmo tempo, gemi, gostando daquilo.


— Shh. Calma... — ele falou baixo. — Porra, baby.
Você é muito apertada.

Soltei um riso nervoso.

— Eu disse que fazia muito tempo — choraminguei.

— Que delícia, baby.

— Eu não estou depilada — sussurrei ao perceber

que ele estava olhando diretamente para o ápice entre


minhas pernas.

— E o que isso importa? — Stuart me fez gemer

alto, curvando o dedo dentro de mim. Puta merda, que


gostoso! Ele abaixou o rosto e deu uma senhora lambida,
em seguida, chupando meu clitóris. Saltei no lugar, sem

controle das sensações maravilhosas que me


dominaram.

— Cristo, Jesus! Stuart!

Ele só me olhou e continuou chupando. Aquilo era


simplesmente demais. Meus músculos estavam

retesando, o orgasmo crescendo de maneira


avassaladora e explodindo. Stuart me segurou no lugar,

observando com prazer e me abraçou. Procurei seu rosto


e o beijei, incrédula em como meu corpo alcançou tanto.
Foi mágico. Foi único.

— Você está bem? — Acariciou meu rosto.

— Estou ótima. E você?

Stuart não me respondeu em palavras. Seu beijo


foi o suficiente.

A nudez me deixou um pouco consciente e quis me


cobrir, mas ele não deixou que colocasse roupas,

puxando o lençol para cima de nós dois e abaixo dele,


seguimos abraçados, falando baixinho sobre o dia dele e

eu podia ouvi-lo falar com paixão da academia por toda


eternidade.

Era muito bonito a maneira como ele parecia


realmente feliz profissionalmente pela primeira vez na

vida. Acreditava que não se arrependia de ter lutado, ele


fez nome e dinheiro, mas ter seus bens controlados na
justiça por causa da guarda não lhe dava muitas
oportunidades.

Mais calmo, sentiu fome, fomos ao banheiro

separadamente e descemos com pouca roupa. Ele abriu


um vinho e cortei alguns pedaços de queijo, enquanto
ele preparava um enorme sanduíche com um monte de

coisa que tinha na geladeira. Eu sentia falta de viver algo


assim, mesmo sem saber. Quando observava casais à
minha volta, lia livros, desejava ter um pouco de
normalidade, experimentar momentos, sem medo de ter
meu coração partido.

Eu queria mais da vida. O fato de não termos


transado naquela noite não me magoava, eu estava bem
porque ele havia entendido o ritmo que eu precisava.
Mesmo que fosse um casamento para ajudá-lo com a

guarda, iniciamos algo sem rótulo e eu merecia ser


cortejada. Adorava suas mensagens durante o dia e o
lado brincalhão mais íntimo que descobri depois que
fomos a Nova Iorque juntos.

Aceitar aquela viagem foi uma decisão impulsiva

que melhorou minha vida.

— Será que enquanto você treina para a luta, você


teria um tempinho para me ensinar defesa pessoal? É
algo que sempre quis, mas tenho medo de ficar tão perto
de outra pessoa e acabar surtando no meio das aulas. —
Me inclinei no balcão.

— Um dia vai me contar o que aconteceu? — Ele


beijou meus lábios.

— Um dia, não hoje. Não quero estragar o clima...

— Podemos treinar em casa ou na academia. —


Deu um gole do vinho. — Depois que estiver mais à
vontade e dominando movimentos, vai precisar treinar

com outra pessoa que não seja eu.

— Por que? Pode ser o Devon?

— Não. Você não vai querer machucar nenhum de


nós dois, vai ter confiança que não será machucada.
Precisa temer para reagir. — Ele percebeu minha

hesitação. — Não vai ser agora, primeiro o único a te


tocar no tatame serei eu. E fora dele, pelo resto da vida.
— Segurou meu rosto, me beijando para reacender toda
brasa.

Logo voltamos para o quarto e criamos um pouco

mais de intimidade.
11 | Vanessa

Acordei com Stuart me abraçando apertado, beijando


meu pescoço. Depois de tanto carinho, ele foi se arrumar

para o trabalho. Fiquei ainda por um tempo na cama,


enrolando, mas depois senti fome e resolvi levantar.

Tomei banho e vesti um short jeans que Katrina me deu.


Era muito mais curto do que me deixava confortável, a

popa da minha bunda aparecia, mas eu estava me


sentindo confiante e até escolhi um cropped. Calcei um

par de tênis amarelos, prendi meu cabelo e não passei


maquiagem.

Arrumei minha bolsa e desci a escada. Stuart estava na

cozinha, bebendo água, parei ao lado dele, que passou o


braço por minha cintura, apertando minha bunda e me

beijando. De brincadeira, enfiou o dedo no meu short e

me virou, analisando bem. Comecei a rir de sua

apalpada.

— O que é isso, Stuart?


— Tocando bem o que é meu. — Hum, uma sessão mais

íntima e o homem já estava todo possessivo.

— Seu? — Guinchei com a mordida na minha nádega.

— Sim, assim você vai andar o dia inteiro lembrando do

quanto estou apaixonado pela sua bunda. — Deu um

aperto. — Posso te levar para tomar café?

— Eu adoraria. Depois vou ao mercado. Quero ter

refeições em casa...

— Se me esperar abrir a academia, podemos fazer isso

juntos.

Pela primeira vez, saímos de casa juntos depois que

casamos. Ainda estávamos nos habituando ao


casamento, a chamar o mesmo lugar de lar, mas

estávamos nos policiando para não escorregar em

nenhum momento e para criarmos um elo.

Stuart colocou óculos de sol e ele ficou bonito. Eu


gostava do seu estilo, mesmo para trabalhar, estava

sempre bem arrumado e estiloso, além de cheiroso.

Como era muito cedo, o trânsito estava tranquilo. Katrina

me enviou mensagens perguntando se poderia


acompanhá-la em uma missão de investigação.

Imaginando ser algo do nosso portal online, concordei e

guardei meu telefone.

Aumentei o som do rádio quando começou a tocar uma

música que eu adorava. Keane cantava Somewhere Only

We Know, cantei baixinho e olhei para Stuart durante o

refrão. Ele sorriu e pegou minha mão, dando um beijo.

Chegar ao prédio da academia ainda fechado era

estranho. Ali era muito movimentado. Stuart acordou um

garoto bêbado que dormia na porta, algo bem comum

em Vegas quando a polícia não passava e levava os

farristas. Ajudei-o a abrir as portas, não levou dez


minutos para a equipe de limpeza chegar, depois o

recepcionista, logo houve um falatório amigável pela sala

dos funcionários e cozinha.

— Depois que voltar da rua com Katrina, poderia

encontrar com o arquiteto para mim? Ele vai entregar as

chaves, só falta os móveis e você fazer sua mágica para

nos mudarmos. — Stuart conferiu a mensagem em seu

telefone. — Arthur está dizendo que não poderá estar


aqui na luta, se não temos como fugir, ele quer planejar

reverter a imagem negativa que isso me causará.

— Nós vamos vencer essa. — Dei-lhe um beijo, ele me

abraçou e aprofundou.

O recepcionista começou a rir, me afastei de Stuart e vi

Devon fazer uma expressão de quem ia vomitar. Ele deu

o dedo médio para meu marido e me tirou dos braços

dele, me agarrando apertado.

— Você é má — choramingou.

— Por que?

— Me deixou vivendo praticamente sozinho com Katrina.

Ela é louca.

Soltei uma risada.

— Você se casou com ela. Precisa aguentar.

— Ela falou até às três da manhã. Quando dormiu, Halley


acordou e começou a falar até às cinco. Por que acha que

estou aqui tão cedo? Achei melhor malhar logo, já que as

mulheres da minha vida não queriam me deixar dormir.

Me senti tentada a avisar onde ia, mas parei. Não

precisava mais dar satisfação a ele. Se queria que me


visse como uma mulher adulta, precisava agir como

uma. Desejei boa malhação, segurei a mão de Stuart e

saímos da academia. Não entendia muito sobre como

cuidar de uma casa, mas decidi ir ao mercado que Rosa

fazia nossas compras, peguei um carrinho e me orientei.

Não tinha uma lista, mas a casa precisava de

absolutamente tudo. Apenas em alguns dias senti falta

de coisas simples na cozinha e na despensa. Stuart ficou

andando atrás de mim como um segurança mal

encarado e cobrindo a visão de qualquer um da minha

bunda. Antigamente, perceber que estava chamando

atenção me faria sentir vergonha, mas a confiança ainda

estava agarrada ao meu pescoço.

Me inclinei para pegar uns pacotes de carne e ouvi um

suspiro.

— Você está bem? — Olhei para Stuart.

— Estou incrível. — Sorriu torto. Coloquei as carnes no

carrinho e olhei ao redor, pensando o que fazer em

seguida. Ele passou o braço por minha cintura, me

puxando para perto e enfiou a mão no bolso do meu


short, dando uma leve pressionada. — Só estou

pensando que estou louco para te ter de quatro na minha

frente e chupar essa buceta gostosa.

Soltei um ofego, sentindo meu rosto quente e ergui meu

olhar. Caramba... o jeito que ele me encarava era capaz

de incendiar uma floresta.

— Você quer isso, baby?

— Sim... eu quero — sussurrei, tentando não colapsar por


ele simplesmente ter jogado aquilo no meio de um

supermercado, durante nossas compras de mês. Eu

queria largar tudo e ir embora para casa com ele.

Stuart abaixou o rosto e me deu um beijo suave, bom

para o local público que estávamos e insuficiente para a

brasa viva no meu ventre.

— Que tal algumas frutas? — Abriu um sorriso, ciente

que estava completamente perdida. Assenti e virei, ele

ficou atrás de mim, empurrando o carrinho, quando

paramos, me pressionou de um jeito delicioso que quase

deixei cair as maçãs. O que esse homem estava fazendo

comigo? — Gosto de morango. É bem suculento e desde


ontem, se tornou a minha fruta favorita porque me faz

lembrar...

— Stuart! — guinchei. Meu sabonete era de morango e

ficava um cheirinho realmente gostoso. Parecia infantil,

mas, aparentemente, ele não se importava nenhum

pouco.

— O que foi? — Sorriu. Cínico. — É aquela fruta que na


boca, chega a escorrer...

— Meu Deus.

Rindo, beijou meus lábios e pegou duas caixas, dizendo


que faria vitaminas pela manhã. Minha mente ficou

dispersa, ainda assim, enchemos um carrinho grande. A


mulher do caixa parecia que tinha ganhado na loteria

quando reconheceu Stuart, ficando de boca aberta e


depois me olhou, também me reconhecendo. Achei bem

engraçado. Normalmente as pessoas disfarçavam bem,


afinal, meu irmão e minha mãe que eram famosos. Eu

era o efeito colateral.

Com Stuart, eu estava no olho do furacão.


Arrumamos as compras na mala do carro, que era
enorme e encostei na lateral. Ele fechou, empurrou o

carrinho para a área vazia e voltou, parando na minha


frente e me pressionando contra a porta. Abracei-o pelo

pescoço, aceitando seu beijo e desejando me fundir a ele


para sempre.

— Acho melhor irmos embora para casa — falou baixinho

contra meus lábios.

— Você precisa voltar que horas?

— Tenho tempo o suficiente para fazer o que você quer.

— Beijou o meu pescoço.

Dirigindo para casa, sua mão parou no meu joelho.


Apesar da música romântica tocando, seus dedos

começaram uma carícia e foram subindo pela coxa,


dando apertos que eu não sabia que podiam ser

eróticos.

— Separa as coxas para mim, baby — pediu com a voz


rouca. — Me deixe sentir o quanto está quente... — Seu

dedo entrou entre o short e a minha calcinha,


provocando. — Está em chamas. Estou louco para... me
afundar aqui.

Ele estava fazendo pouco devido ao espaço entre o short


e a calcinha, mas o suficiente para me deixar tão acesa

que abri mais minhas pernas e me empurrei, querendo


pressionar seu dedo ainda mais. Ao chegarmos em casa,

saímos do carro e não tiramos as compras. Ele me


pressionou contra a porta com uma pegada rude

enquanto tentava abrir. A chave caiu duas vezes até


finalmente conseguir.

Stuart avançou em mim com tudo. Caí de costas no sofá,

ele em cima de mim e aos beijos, foi tirando meu short.


Agarrando meu quadril, me colocou sentada.

— Vira e empina a bunda.

Ofegante e sem acreditar que ele realmente faria o que


prometeu, virei no sofá, me apoiando no encosto e ouvi

seu suspiro, acariciando minhas nádegas, puxando a


calcinha e tirando-a do seu caminho. Eu estava tão

vermelha quanto molhada. Nunca pensei que meu corpo


poderia reagir de tal maneira a um toque.
— Porra... que delícia — falou baixo, excitado, soltei um

gemido com seus dedos explorando minhas dobras.


Tombei para frente, encostando a testa no couro frio com

a pressionada incrível no meu clitóris.

Meus gemidos ecoavam pela sala. O que Stuart estava


fazendo deveria ser proibido. Ele estava me fodendo com

o dedo e quando começou a me chupar, me perdi


totalmente. Aquela posição era tão íntima, tão invasiva e

eu não conseguia sentir vergonha. Cheguei ao orgasmo


de um jeito que nunca achei ser possível.

— Stuart! — Choraminguei. Ele me abraçou, me

acalmando. — Stuart...

— Eu sei, baby. — Me beijou. Sempre pensei que sentir

meu gosto seria algo completamente nojento. Ele era o


primeiro homem a fazer oral em mim, mas ao contrário
dos meus medos, era incrível. — Foi lindo. Você goza tão

gostoso...

Seu telefone começou a vibrar e não queria parar de

beijá-lo. Puxei sua camisa, querendo seu peito contra o


meu a todo custo.
— Que droga! — gemi quando ele atendeu. — Não...

— Oi, Devon. — Stuart riu da minha careta. Aff, eca! Meu


irmão ligar no meio de um amasso, era brochante. —

Estou em casa com Vanessa. O quê? — Ele saiu de perto


gentilmente. — Porra, não.

Fiquei atenta, recolhi minhas coisas e fui ao banheiro

rapidamente. Abri o chuveiro e Stuart entrou, tirando a


roupa. Ele não falou o que meu irmão queria e eu não me

importei muito quando me beijou. Devolvi o orgasmo


com outro, pela primeira vez, engolindo o esperma.

Stuart chegou a bater com a cabeça no azulejo. Era


gostoso ver o quanto que ele se entregava ao sexo. Meu
ex me deixava insegura, agindo como um boneco.

— Tenho que voltar para a academia. — Me enrolou na


toalha.

— Tudo bem. — Minhas bochechas ainda estavam


vermelhas.

— Tem noção do quanto me sinto sortudo por estar aqui

com você? — Segurou meu rosto. — É a realização de um


sonho que eu não mereço.
— Merece sim. — Beijei seus lábios.

— Te encontro mais tarde. — Me deu um abraço e foi se


vestir.

Me ocupei secando o cabelo, corri para guardar as

compras nos armários e geladeira. Katrina me ligou,


avisando que estava saindo de casa para me buscar, me

vesti rapidamente e ao terminar de escovar os dentes,


ela buzinou. Arrumei minha bolsa rapidamente e corri

para o carro.

— Linda e cheirosa, essa é a minha melhor amiga. — Ela

me recebeu com um sorriso. — E aí, como está a vida de


casada? — Deu partida no carro, saindo da rua em alta

velocidade. Katrina reclamava do Devon, mas estava


dirigindo como ele.

— Quero transar com ele. — Soltei.

— Não foi ainda? Pensei que tivesse rolado em Nova

Iorque.

— Não... não. Foi tudo muito doce lá e só depois do

casamento as coisas começaram a esquentar entre nós.


Insegura, pedi que fôssemos devagar porque estava com
medo. Ainda estou com muito medo. A última vez foi
aquela vez . — Olhei-a e ela suspirou, parando em um

sinal. — Pensei que fosse ser estranho. Achei que ia


demorar a sentir vontade, quer dizer, ele sempre mexeu

comigo e me atraía como nenhum outro, mas a coisa


toda sexualmente é uma explosão.

Katrina sorriu, orgulhosa.

— Você está sentindo vontade pela primeira vez em


anos. Isso é muito bom... se entrega. Vai sem medo, se

na hora for desconfortável pelo tempo ou por qualquer


lembrança, fale com ele.

— Ele é tão intenso e tudo que faz é bom, eu pensei que

me sentiria inadequada, que seria vergonhoso, mas

quando estamos juntos esqueço de tudo. — Suspirei,


ainda sonhadora com tudo que aconteceu no sofá. —
Acredita que falou algo bem quente no mercado? Bem no
meio das compras, com senhoras e crianças ao redor,

fiquei toda excitada.

— Uau! — Katrina sorriu. — Se você quer um conselho, se


entregue ao seu prazer. Você sabe que Nick era horrível
na cama e antes dele, minhas experiências foram todas
meia boca. Com seu irmão... só o sexo me faria ficar

casada com ele pelo resto da vida. Depois do nosso


casamento naquela capela, eu me descobri sexualmente.
Você precisa se descobrir.

— Eu sei... é só que tenho medo de que ele não sinta


tesão porque eu não sei, por exemplo, ficar por cima —

falei baixo. Katrina ligou a seta e parou em um posto de


gasolina, desligou o carro e virou no banco. — Sem gritar
comigo.

— Não vou gritar. Estou fazendo download da Katrina que


é mãe de adolescente alguns anos antes. — Me deu um

olhar engraçado e projetei um beicinho. — Igualzinho o


da Halley. Que fofa! — Agarrou minhas bochechas e não
soltou. — Vai dar, safada. Se não souber, pede que ele te
ensine. Stuart tem quase dois metros e mais de cem

quilos, um corpo trabalhado em músculo e segundo a


sua investigação, o material não é pequeno. Se diverte.
Faz dele seu objeto de descoberta, seu parque de
diversões particular.
Por um segundo, imaginei-o nu, na cama, parado, me
deixando fazer o que bem entendesse. A cena foi

engraçada e ao mesmo tempo excitante.

— Obrigada. Eu vou tentar sim, na verdade, é o que


quero. Tenho direito de ser feliz e viver uma vida normal.

Katrina mordeu o lábio.

— Ter dúvida é normal, nos sentir inadequadas também,


mas o que difere é o que fazemos mediante a esses

momentos. Luke não era um homem, ele era um


monstro. Tudo que ele fez e falou não tem nada a ver
com você e sim com ele. — Segurou minha mão. — Você
é linda por dentro e por fora. Aquele babaca não gostava

de mulher, para começo de conversa. Solta a loba sexual


que vive dentro de você, foi alimentada com romances
eróticos e agora precisa viver.

— Loba? Ridícula! — Soltei uma risada. — Te amo mesmo


assim. Agora vamos para o nosso compromisso. O que

vamos fazer?

— Stuart me deu algumas informações da denúncia por


agressão, então, eu fiz o que mais amo fazer: investiguei.
— Abriu um sorriso e voltou a ligar o carro. — Descobri

que o homem envolvido abriu uma construtora no


mesmo ano. Mais precisamente, algumas semanas
depois. Nós vamos visitar o lugar, tirar algumas fotos e
dar uma olhadinha...

— Não podemos ser vistas.

— Eu não sou amadora, fofinha. — Ela me entregou uma

peruca, boné e óculos escuros. — Se arrume enquanto eu


dirijo.

Minha peruca era ruiva e muito bonita. Katrina pegou


com as dançarinas do cassino. Ajeitei o boné, coloquei
óculos escuros e ela parou em um estacionamento

privado, pegou sua bolsa, arrumou a peruca de cabelo


preto, o boné e pedimos um táxi para a construção de
um prédio.

Só tinha homens ao redor, fiquei um pouco insegura, mas

ao aparecer uma mulher bem vestida, soltei um suspiro


de alívio. Katrina tomou a frente, se apresentando e disse
que íamos nos casar em alguns meses, mas estávamos
planejando conhecer a área para investir em um imóvel.
Ela nos levou para o apartamento padrão e em seguida,

nos liberou para passear ao redor. Havia operários por


todo lado, carregando sacos, falando alto e Katrina ficou
fotografando como se fosse uma turista maluca. Quando
avistamos quem queríamos, fiquei posando, fazendo

graça, soprando beijo para câmera para disfarçar os


cliques dela. Não demoramos para não ficar muito
evidente, voltamos para o táxi que estava nos
aguardando e ele saiu de lá bem rápido.

Não tiramos as nossas fantasias até estarmos dentro do

carro dela. Devon estava ligando, mandando mensagens,


mas ainda precisávamos ir em outro lugar, segundo
Katrina.

— O que vamos fazer agora?

— A avó de Debra vive em uma casa de repouso não

muito longe. Devon faz doações para o lugar e ano


passado fiz um favor para a diretora, então, vou cobrar a
ela com algumas informações. Precisamos descobrir toda
vida financeira da mãe de Harry porque eu suspeito que
tem muito mais por trás de uma mulher má.
Entendendo sua linha de raciocínio, peguei a câmera e

comecei a olhar as fotos do homem que Stuart agrediu


para supostamente defender a mãe do seu filho. Ele era
o chefe. De todos os operários, apesar do capacete,
estava com roupas de marca e relógio de ouro. Seu

sapato custava em torno de dez mil, porque era um tênis


exclusivo.

Katrina tinha razão. Havia muito mais.


12 | Stuart

Entrei na casa de Devon querendo saber porque Vanessa


desapareceu e não recebeu as chaves da casa e os

móveis que estavam previstos. Felizmente, o arquiteto


chamou Rosa e ela cuidou de tudo. Agradeci assim que a

vi, desviei dos cachorros animados e encontrei meu


amigo com minha afilhada na sala.

— Sua esposa vai devolver a minha esposa? — Me joguei

no sofá.

— Enquanto causa uma dor terrível no meu estômago te

ouvir se referir à minha irmãzinha como sua esposa, você


precisa aprender que aquelas duas podem facilmente

nos trocar uma pela outra. — Ele sorriu torto, olhando

para Halley batendo a cabeça de uma boneca no chão. —

Não imaginava que elas demorariam tanto.

— O que estão fazendo?

— Mac disse que rodaram meia cidade, desapareceram

por uma hora e meia, me deixaram com dor de cabeça,


cabelos brancos e úlceras, depois apareceram de novo e

foram a uma casa de repouso. Agora estão no shopping.

— Por que ela não olha o telefone?

Devon sorriu.

— Vanessa não está acostumada com a comunicação do

casamento. Acredite em mim, no começo, Katrina ligava

para avisar coisas para minha irmã e não para mim. Foi

um processo até que ela me incluísse.

Passei a mão no meu rosto, preocupado. Não era como

se eu falasse com ela o dia inteiro antes do casamento,

mas eu imaginei que depois de tudo, manteríamos mais

contato. Ela sumiu do mapa. Pelo menos parecia que não


havia falado com ninguém o dia todo. No entanto, não

conseguia evitar a insegurança, porque tivemos uma

manhã incrível e eu estava ansioso para vê-la.

Ouvi o barulho do portão abrindo e levantei. Katrina

estacionou de qualquer jeito, elas saíram cheias de

sacolas e abriram a mala, revelando mais bolsas.

— Vocês perderam o caminho de casa? — Devon saiu

com Halley no colo.


— Não. Fizemos compras para a casa nova da Vanessa.

— Sua esposa sorriu. Eles trocaram um beijo e ela pegou

Halley, que sorria apaixonada para a mãe.

Desviei meu olhar para minha esposa. Ela soltou as

bolsas que segurava, me deu um sorriso, se aproximou e

a abracei, esquecendo totalmente que estava irritado

com ela por desaparecer. Beijei seus lábios com calma,

suave, olhei para o rosto perfeito e sorri. Ela estava toda

bagunçada, parecendo exausta, ainda assim, era a mais

linda de todas.

— Vamos para casa? — Ela apoiou as mãos nos meus

ombros.

— Vamos sim. — Beijei a pontinha do seu nariz.

Vanessa ficou com Halley no colo, enquanto eu carregava

todas as coisas que ela comprou para casa ao lado, que

já estava entregue e precisando de uma faxina e

decoração. Assim que terminei, tranquei tudo e nos

despedimos. Ainda devia ser estranho para ela sair da

casa que viveu nos últimos anos para sua futura


residência. Ficamos em silêncio no carro, ela parecia
nervosa, esfregando as mãos na calça. Logo que

chegamos, foi tomar banho. Estava exausto de dar aulas

o dia inteiro e começar o treinamento para minha


próxima luta.

Tomei banho no quarto de hóspedes, querendo relaxar e

fui para cozinha preparar nosso jantar. Estava muito

tarde para comer qualquer coisa pesada. Preparei uma

salada com folhas verdes, presunto, azeitonas e frango

desfiado. Quase deixei a panela cair no chão ao vê-la

desfilar com um shortinho que parecia uma cueca, de

renda e enfiado entre suas nádegas perfeitas.

— Belo pijama. — Passei meu indicador na borda da

renda.

— Nunca usei, achei que poderia estrear.

— É verdade. Eu peguei uma cueca nova também, afinal,

estamos em lua de mel. — Brinquei e servi nossos

pratos. — Quer água, suco ou vinho? Parece que

trouxemos o mercado inteiro para casa. Minha geladeira

nunca ficou tão cheia.


— Quero uma taça de vinho, preciso relaxar um pouco. —

Pegou o azeite e colocou um fio na sua salada, em

seguida, queijo parmesão ralado.

— Aconteceu alguma coisa? — Abri o vinho.

— Na verdade... Katrina e eu não fomos só fazer compras

quando saímos. — Apoiou as mãos no balcão. — Ela


encontrou George Finnegan — anunciou e parei de servir

o vinho. — Antes que surte, me ouça.

— Por que vocês fizeram isso?

— Calma, Stuart. Me ouve. — Ergueu as mãos. — Katrina

descobriu que ele abriu uma construtora apenas um mês

depois que você foi preso por agressão. Ele não tinha
fundos para isso e é bem dúbio em como conseguiu

investir no negócio já que, aparentemente, ele não tinha

onde cair morto.

Balancei a cabeça, resignado.

— Eu já fui por esse caminho, inclusive, cheguei a acusá-

lo. Meu advogado, na época, não conseguiu provar nada.

George apresentou um documento que recebeu uma

herança.
— Sem nenhum registro oficial? Ele está sonegando

imposto, então? — Vanessa rebateu, esperta. — Quem

pagava seu advogado na época?

— Pauley. — Soltei um suspiro.

— Stuart, você é uma máquina de fazer dinheiro, mas foi

usurpado todos esses anos. No atual cenário, nada nos

garante que você foi bem assessorado juridicamente.

Está bem claro que sua antiga empresária te envolveu

em uma cama de gato. — Se aproximou com calma. —

Tudo que nós queremos é descobrir a verdade para que

você e o Harry possam ficar juntos.

Puxei-a para um abraço. Seu cheiro me acalmou do

pânico.

— Não queria que ele te visse. Eu não confio em ninguém

e simplesmente acho...

Vanessa riu.

— Acha que somos amadoras? Katrina pegou perucas


com as dançarinas do cassino, usamos óculos escuros,

bonés e fomos de táxi. Além do mais, o vimos de longe.

Fotografamos o que conseguimos do lugar e amanhã


vamos analisar cada item com calma. — Passou a mão

no meu peito. — Vamos descobrir. Katrina derrubou uma

companhia, o que é a sua ex-mulher no páreo?

— Não quero que fique em perigo. Vai me matar se

acontecer qualquer coisa com você.

— Vamos ficar bem. Somos espertas. — Beijei a pontinha

do seu nariz. Ele devolveu o beijo, mas em meus lábios.

Voltando para o seu lugar, começamos a comer,


conversando sobre o dia maluco que elas passaram.

Devon tinha razão. Vanessa era mentalmente casada


com Katrina. As duas viviam uma pela outra mais do que

para qualquer outra pessoa. Não me ofendia muito, só


queria ser incluído na sua vida e rotina. Ou talvez

estivesse me sentindo carente.

Compartilhamos o jantar e o vinho falando sobre a casa

nova. Vanessa iria mergulhar de cabeça no


planejamento, para que nos mudássemos o mais rápido

possível. Devon estava reclamando que fazia tempo que


ela não aparecia na empresa para trabalhar, porém, eu
sabia que estava pegando no pé dela gratuitamente,
como sempre.

Ela sumiu enquanto eu lavava a louça e guardava tudo.

Fui ao banheiro escovar os dentes e não a vi. Voltei para


a sala, ligando a tevê e coloquei no canal de noticiários

para me atualizar do que estava acontecendo no mundo.


Liguei meu iPad, dando uma olhada nos e-mails pessoais

que não consegui ver durante o dia.

Vanessa desceu a escada com calma, estava com o


cabelo com um rabo de cavalo e a franja presa com um

grampo no alto. Sentou ao meu lado e se jogou, deitando


com as pernas nas minhas coxas e o telefone na mão.

Me distraí totalmente do que iria fazer com sua presença.


Tentei chegar até o quarto e-mail não lido, mas seus pés

acariciando minha coxa eram uma distração e tanto.


Joguei o aparelho de lado, apaguei um pouco das luzes
no controle geral da casa e comecei a massagear suas

panturrilhas.

Vanessa soltou o telefone e sentou devagar, olhando em

meus olhos. Reparei na pontinha do seu colar, caindo no


decote da blusinha.

Lambendo o lábio suavemente, se aproximou e me deu

um beijo tímido. Nós nos conhecíamos há muitos anos,


vivemos muitas coisas juntos e compartilhamos

adoráveis momentos em família, antes da coisa toda de


sermos um casal acontecer. Vanessa era alguém familiar,

ainda assim, eu me sentia nervoso ao beijá-la. Queria ser


o melhor homem da sua vida, não era perfeito, mas me

esforçaria para ser o melhor.

Devagar, ela avançou, como se aos poucos tomasse


coragem para aprofundar nosso beijo e eu deixei que

ditasse o ritmo. Gostava de provocá-la e mostrar o


quanto sentia tesão. O que fizemos pela manhã foi
incrível, vê-la tão receptiva e cheia de tesão me deixava

tão maluco quanto aquele beijo tímido e a montada no


meu colo.

Agarrei sua bunda, sem resistir e escorreguei mais no


sofá, mostrando que estava excitado. Ela precisava sentir

o que fazia comigo para não ficar insegura. Minha ereção


lhe deu gás para seguir com sua boca me dando beijos

por onde conseguia.


— Tira essa blusinha. — pedi baixo. Ela respirou fundo, e

percebi que suas mãos tremiam, mas tirou, nervosa.


Vanessa pensava demais sobre si mesma, o que era um

problema e algo terrível, porque era linda da cabeça aos


pés. Agarrei seu rabo de cavalo, imobilizando sua

cabeça. — Você é tão gostosa, baby. Quero mamar


nesses peitos maravilhosos o dia inteiro... — Belisquei
seu mamilo. Ela gemeu alto, jogando a cabeça para trás

e desci minha boca, dando uma boa lambida antes de


chupar seu biquinho duro.

Agarrando meus ombros, enfiou a unha na pele, sentindo


prazer e rebolando suavemente contra meu pau. Ela

estava ficando cada vez mais quente, desejosa. Dei total


atenção ao seu outro seio, deixando-os vermelhos com

minha barba para fazer e a boca faminta.

— Vamos para o quarto. — ela sussurrou, excitada. —


Quero você. Vamos subir. — Segurou meu rosto. — Não

pergunte, apenas vamos.

Assenti e ela levantou, segurando minha mão. Deixei


tudo do jeito como estava e fui atrás dela. Meu quarto

estava todo escuro e embora ela quisesse as luzes


apagadas, deixei o abajur aceso porque nada me

impediria de apreciar seu corpo nu. Tirei o shortinho de


renda, acariciando suas coxas sem desviar o olhar de seu

sexo.

Deliciosa.

Beijei seu joelho, descendo cada vez mais e afastei seus

lábios. Ela estava me olhando com desejo e expectativa.


Dei um beijo acima dos pelos, sentindo o cheiro do seu

aroma natural. Lambi o clitóris, dando golpes com minha


língua e assistindo as reações de seu corpo com prazer.

— Stuart — gemeu, agarrando meu cabelo. — Eu quero

você — choramingou e beijei sua barriga. — Estou bem.

— Não duvide que quero você, porque eu quero e muito.

— Beijei seus lábios, tateando a gaveta e peguei uma


camisinha. — Quer colocar em mim?

— Não sei colocar. — Suas bochechas ficaram vermelhas.

— Quer aprender? — Entreguei a ela o pacote. — Não

abra com os dentes ou nós daremos um irmão para Harry


em pouco tempo.
— Hummm. — Ela abriu com cuidado e colocou na palma
da mão.

Com calma, instruí como colocar e ter sua mão no meu

pau deixava o momento educativo. Quando terminou, me


deu um olhar ansioso. Era a nossa primeira vez e ao

contrário das minhas fodas, aquela era especial. Era ela.


Minha Vanessa. Minha esposa. Um sonho que achei

impossível. A garota que eu gostava se tornou minha


mulher.

— Eu vou devagar — prometi, voltando a relaxá-la ao

invés de seguir. Beijei-a com todo meu sentimento,


acariciando seu corpo nu e provocando seus mamilos

onde ela demonstrava ser muito sensível.

Pronta, assentiu, me incentivando. Aninhei meu pau na


sua entrada, tomando todo cuidado para não pesar em

seu corpo e metendo bem devagar.

— Caralho, baby. Muito apertada... — Parei um pouco ao

ouvir seu choramingo. Era como tirar uma virgindade. Eu


nunca tirei uma, mas parecia que era assim. Nunca
experimentei tamanho aperto e aquilo dava um tesão do
cacete. — Posso ir mais?

— Sim. Do mesmo jeito — falou baixo, como se estivesse


um pouco sem ar. Entrei tudo e parei, dando-lhe um

tempo para se acostumar. — Pode se mover.

Comecei as estocadas lentas e precisas, preocupado em


lhe dar prazer. Era sua primeira vez depois de muito

tempo e apesar de ser inevitável não ficar dolorida,


queria que fosse memorável. Seus gemidos eram

incríveis, suas unhas arranhavam minhas costas e


braços. Quando gemeu, pedindo mais, me perdi
totalmente, cheio de tesão e desejando foder para

sempre.

Vanessa gozou, gritando meu nome que ecoou no quarto.


Foi o suficiente para me fazer gozar com tanta pressão
que minha mente apagou completamente. Rolei para o
lado, abraçando-a. Nossas respirações estavam erráticas,

tirei a camisinha, amarrei e joguei fora. Ela ergueu o


rosto e sorriu.
— Você está bem? — Passei meu polegar no seu lábio e
beijei em seguida.

— Estou perfeita. — Suspirou, me abraçando. — Você

gostou?

Abri um sorriso.

— Espero que você tenha gostado, porque eu duvido


muito que ficarei longe da minha esposa tão gostosa. —
Segurei seu queixo. — Vanessa, você é linda. Sabe há

quanto tempo te desejo? Estar com você nessa cama é


algo que imaginei que nunca seria possível. Então, sem
vergonha e pudores comigo, quero você de tantas
maneiras que acho que vai ficar assustada.

Vanessa me deu um olhar feliz.

— Você me desejava do tipo sexualmente antes? Eu

pensei que foi algo que acabou acontecendo depois que


nos beijamos. — Sua surpresa era fofa.

— Eu quis ficar com você desde a primeira vez que te vi.


Acho que me encantei quando cheguei e você estava

toda irritada com Devon, gritando que ele era um cuzão


idiota, no dia seguinte de uma briga. — Rimos juntos.
— Isso faz muito tempo.

— Sei disso, então, não duvide. — Beijei sua boca.

— Eu não vou duvidar. — Mordeu o lábio e desceu o olhar

pelo meu corpo nu com calma. Parecendo apreciar o que


via, tocou meu abdômen e foi me explorando sem
desviar os olhos. Chegando perto do meu pau, me
encarou. — Posso?

Como resistir a um pedido baixo, rouco, sensual e que

ainda ganhou um olhar sexy? Balancei a cabeça tão


ansiosamente que devo ter parecido um completo idiota,
mas não me importei quando sua língua passou na
glande, descendo para o corpo como se eu fosse um

picolé muito saboroso. Eu viveria observando-a em um


boquete. Era o paraíso.
13 | Vanessa

Acordei sozinha na cama, rolei para o lado me


espreguiçando e não consegui conter o sorriso muito

feliz. Me estiquei e senti os músculos doerem um pouco,


porém, era uma dor deliciosa de todas as atividades da

noite anterior. Eu não podia acreditar que sexo era tão


incrível. Todas as minhas experiências com Luke foram

insatisfatórias, ele me fazia sentir muito mal, inadequada


e não tinha como comparar.

Stuart me fez sentir a mulher mais incrível do mundo.

Nem quando me masturbava era tão intenso e gostoso.


Ele me deu atenção, acalmou meus nervos e tudo foi

perfeito. As duas primeiras vezes foram gostosas, porém,


doloridas. Senti que ficaria incomodada, optei por tomar

uma medicação antes de dormir e quando amanheceu,

ele me acordou cheio de beijos, mãos bobas e atiçou

meu tesão.

Não doeu e eu sabia que o mundo poderia desabar que

não me importaria. Nada tiraria a felicidade induzida pela


endorfina de orgasmos e a minha própria cota de alegria

por me sentir mulher.

Saí da cama e fui ao banheiro, tomei banho, arrumei meu


cabelo e vi a temperatura. A meteorologia prometia um

dia muito quente. Como iria faxinar a casa, colocar

móveis no lugar, começar a fazer mudança e

encomendar decoração pela internet, escolhi uma

camisetinha leve, short jeans e ficaria de chinelos. Prendi


meu cabelo no alto, sem maquiagem, só seguindo minha

rotina de cuidados com a pele.

Stuart estava no escritório falando com Harry, ele


sinalizou para aparecer e sentei no braço da poltrona.

Seu filho parecia desanimado, o que me deixou em


alerta. Ele reclamou que sua cabeça estava doendo. Nós

tentamos animá-lo. Stuart ficou muito tenso ao perceber

que o filho estava sozinho com a mãe, sem a babá e pelo

reflexo, percebemos que ela estava atrás do telefone,

prestando atenção em tudo que falava e parecia

ameaçadora.

Uma hora depois, a chamada foi encerrada. Stuart

apoiou os cotovelos na mesa e colocou as mãos na


cabeça, frustrado, com o peito trêmulo como se

segurasse a vontade de chorar. Abracei-o e beijei sua

nuca, falando baixinho para confiar que tudo ficaria bem.

Levou um tempo para sair do lugar, de cabeça erguida e

me deu um beijo nos lábios. Descemos para tomar café,

preparei ovos e torrada, ele comeu e foi dar aulas de


defesa pessoal, já meio atrasado.

Nós entramos em um clima de lua de mel delicioso nos

dias seguintes.

Stuart me surpreendeu em um dia comum, mandou uma

mensagem e disse: “ use algo belo, se arrume e irei te

buscar em algumas horas ”. Devon entrou na minha casa


como se fosse dono do lugar, pegou roupas no armário

do meu marido e saiu assobiando. Olhei para o telefone,

meio confusa porque estava concentrada no trabalho e

dei de ombros. Se ele queria me surpreender, iria seguir

a programação.

No final do dia, levei uma eternidade para decidir o que

usar. Rosa me ajudou, aprovando um sexy vestido

vermelho que Katrina me deu de presente, depois de

viver usando um meu até que pegou para si. Era justo,
até os joelhos, com um lascado na coxa e confortável de

usar. Escolhi sandálias de salto fino, por ser alta, evitava,

optando por tênis e botas, mas ele era maior que eu e


me sentia muito feminina ao seu lado.

— O que quer fazer no cabelo? — Rosa segurou meus

ombros quando me sentei em frente à penteadeira. — Às

vezes sinto falta de te ter pequena, correndo atrás de

mim e reclamando do cabelo que não ficava preso por

nada. Você cresceu e ele mudou totalmente.

— Ainda bem, era horrível. — Sorri e segurei suas mãos.

— Eu quero aquele penteado que fez para meu baile de

formatura. É meu primeiro encontro com meu marido e

desejo estar bela.

— Stuart está sendo misterioso.

— Ele me envia mensagens fofas o dia todo, é muito

atencioso e presta atenção em absolutamente tudo que

me envolve. É tão calmo que chega a ser estranho,

nunca grita, é ríspido ou aparenta perder a paciência. —

Soltei um suspiro. — É tão estranho que apesar de

conhecê-lo há anos, só agora temos intimidade e


percebo o quão bom ele é. Sei que haverá coisas que

irão tirá-lo do sério, mas precisará ser algo realmente

forte.

— É bom que ele seja assim. Ninguém merece um

homem desnecessariamente violento. Confesso que eu

tinha muita preocupação. Sei que não é tão frágil quanto

Devon pensa, mas nos deu sustos ao longo da vida. —

Apertou meu nariz de brincadeira. — Sabia que era um

homem bom porque senti no meu coração, mas tinha

medo que as personalidades fossem distintas. Vejo que

estava enganada. Ao contrário do seu irmão com Katrina,

que são uma avalanche, vocês dois são paz e calmaria.

Abri um sorriso que não dava para dizer que não era

apaixonado.

— Encontrei o homem da minha vida.

Stuart me buscou em casa todo arrumado, com flores e

um presente. Ele me levou para jantar no Le Cirque,

reservando uma mesa sofisticada no lado mais calmo do

salão, com a acústica perfeita para o piano e um espaço

para dançar.
— Sabe que não sou tão pomposa assim. Eu adoraria

qualquer lugar que me levasse — falei ao perceber que

ele estava meio nervoso. Eu era simples, gostava de

coisas normais e não queria que pensasse que precisava

de extravagância para me conquistar.

— Não é isso. Eu sempre quis vir a um lugar assim, mas

nunca achei que era, sei lá… digno. Cresci na periferia e

ao ganhar dinheiro, me mantive escondido. Estava

procurando um lugar para sairmos juntos e pensei: por

que não?

Estiquei minha mão e agarrei a dele, beijando. Ficou a

marca do meu batom vermelho mas não nos

importamos.

— Eu não ligo para lugares chiques e comidas pomposas,

mas sempre que quiser, podemos frequentar um lugar

como esse. Somos livres e dignos de estar onde

quisermos.

Stuart me deu um sorriso lindo e decidi acrescentar.

— Não pense que tem que ser mais do que é por mim. Eu

gosto de você bem assim… foi seu jeito simples e


descomplicado que me atraiu.

— Você é, na linguagem do meu mundo, o melhor


prêmio.

Se eu pudesse, derreteria ali mesmo.

— Mal posso esperar para chegar em casa e tirar esse

vestido — falou baixinho e senti que meu rosto aqueceu,

mas não desviei o olhar. — Pela marca do vestido, sua


calcinha é minúscula. Imagino um pequeno triângulo
enterrado nessa bunda perfeita. Eu vou tirar com os

dentes e depois…

— Stuart. — Ofeguei. Ele riu e beijou meu pulso

acelerado.

— Em casa, baby. — Era uma promessa deliciosa.

Nas primeiras semanas do meu casamento, me

dediquei em deixar a nova casa habitável. Stuart estava


treinando muito para sua luta, ele perdeu gordura,

ganhou massa magra, músculos e o cheiro das bebidas


que fazia era intragável. Estava correndo todo dia pela
manhã e eu o acompanhava com alguns bons passos de

distância, não tinha o mesmo pique que ele.


Devon me encheu o saco por não estar trabalhando, eu
ignorei, porque ele era meu sócio e irmão, não meu

chefe. Antes, isso iria me deixar nervosa e insegura,


depois de um tempo, me dava nos nervos. Ainda assim,

morar em casas separadas me fez sentir falta de ficar


conversando com ele até tarde, beber cerveja na beira

da piscina e receber todo seu mimo.

Contamos com a ajuda da nossa família na mudança e


quando tudo ficou pronto, me senti uma adulta pela

primeira vez ao oferecer um churrasco no meu quintal.

— Terminei a salada de batatas. — Katrina bateu palmas,


exibindo a travessa com alguns pequenos pedaços de

bacon decorando.

— Obrigada. A salada verde está pronta e acho que não

precisa de mais nada, certo? Os homens só comem o


churrasco e isso é o suficiente para as crianças. —
Analisei a mesa, satisfeita, peguei os copos e arrumei.

Stuart chegou da rua, tirou a camisa e secou o suor.

Foi difícil fazer qualquer coisa.

— Quer um babador? — Katrina me empurrou.


— É difícil não ficar babando. — Apoiei minhas mãos na
mesa. — Ele é lindo.

— Se você diz... — Ela parou ao meu lado. — Prefiro


aquele daddy ali que eu posso foder sempre que quiser.

Acho que quando Devon leva Halley no parquinho, as


mães devem pirar. Eu piro ao vê-lo com nossa filha.

Devon estava na piscina com Halley. Stuart colocou dois

guarda-sóis na piscina para que ela e Kevin pudessem


brincar à vontade. Sonhei com o dia que fosse Harry ali,

se divertindo conosco. Ele não parecia ser muito de


piscina e diversão, mas poderíamos brincar um pouco.

— Vou tomar banho. — Stuart se aproximou e me deu um

beijo suave nos lábios. Katrina se afastou, sorrindo e foi


para a piscina. — Quer tomar banho comigo?

— Temos visitas — falei contra seus lábios.

— Ainda não estreamos o banheiro da casa nova. —


Beijou meu pescoço.

— Mais tarde, quem sabe?

— Eu vou cobrar. — Passou o braço por minha cintura e

me deu um beijo que me deu vontade de largar tudo e ir


atrás dele.

Por sorte, Mel, Michael e Kevin chegaram, assim me

distraí da vontade de transar no chuveiro e me tornei


uma excelente anfitriã. Rosa passou pelo portão entre as

casas com a sobremesa, não estava de roupa de banho,


ela não gostava da piscina, mas ficou com a toalha na

mão e brigando com Devon sobre as brincadeiras com


Halley na água.

Michael assumiu a churrasqueira. Ele se tornou o nosso

churrasqueiro oficial, porque Devon e Stuart bebiam e na


segunda rodada, começavam a queimar tudo.

Stuart desceu sem camisa, com um short de banho e foi


direto cumprimentar quem não viu. Ele esperou Devon

dar Halley para Katrina nos degraus para se jogar na


parte mais funda, com dois metros e meio de
profundidade, com tudo. Seu peso fez com que a piscina

criasse uma onda que enlouqueceu Kevin em sua boia


que imitava um navio pirata.

— Isso foi muito bom, tio Stuart! — Kevin gritou.


— Vou fazer de novo! — ele avisou e saiu. Dessa vez,

Devon pulou junto.

— Dois idiotas. — Katrina entregou Halley para sua mãe

e tirou a roupa. Era a primeira vez que usava um biquíni


depois que sua filha nasceu. — Vamos mostrar a eles o

que é se divertir na piscina.

Tímida porque Michael estava presente, não usava um


maiô e sim um biquíni vermelho que Stuart deixou em

cima da cama antes de sair para correr. Ele deixou uma


nota informando que amaria me ver com aquelas peças.

Pensei em ignorar, mas aceitei. Ficava enterrado na


minha bunda, bem cavado na frente e me senti aliviada
de ter feito depilação a cera dois dias antes.

— Puta merda — Katrina cochichou. — Você está gostosa.


Vou começar a me exercitar com vocês de manhã. —

Cutucou minha bunda. — Ganhou peso e a droga da


bunda nem balança. Sortuda.

Sempre fui magra, não que meu biotipo fosse magro, eu

era do tipo que tinha corpo com pernas longas. Alta, com
busto satisfatório e nádegas redondas, mas minha mãe
sempre me disse que meu corpo era de uma plus size
disfarçada. Criança e adolescente, não havia nada que

ninguém pudesse fazer para me convencer do contrário.


Era desesperada para ter a aprovação dela em alguma
coisa.

Cheguei a ficar bulímica e anêmica, precisei fazer


tratamento médico para recuperar o peso e tinha

complexos pesados sobre me mostrar. Foi preciso muito


tratamento e eu venci, até me tornei uma das

incentivadoras no grupo de apoio durante as reuniões.


Me libertei da pressão, aprendi a importância de cuidar

de mim e comer o que eu bem entendesse.

Katrina e eu demos as mãos e corremos. Devon gritou,


sem ter tempo de sair da frente. Me joguei com tudo,

fazendo uma bola de canhão e emergi, rindo. Stuart me


segurou pela cintura, pois era muito fundo para mim. Era

fundo para ele também, mas tinha mais segurança do


que eu. Me apoiei nas suas costas, ele afundou e nadou.

Bebi um pouco de água, rindo e comecei a brincar com

Kevin. Ele sentia muito ciúme de Stuart, assim como


tinha de Devon. Para ele, as mulheres da família eram
suas. Resolvemos brincar de bola, começar a beber e eu
sabia que todo sol e agitação me deixaria esgotada. No

final do dia, estava bêbada, rindo de babar do meu


marido e meu irmão dançando e cantando Backstreet

Boys, I Want It That Away.

— Tell Me Why...

Devon afinou a voz e me perdi de vez. Katrina soluçava

de rir. As performances em dias de churrasco eram uma


das nossas brincadeiras favoritas. Me joguei para trás,

olhando para o céu e sorri, me sentindo muito feliz.

Tarde da noite, limpamos a bagunça. Kevin foi embora


dormindo e Halley capotou cedo, o que significava que

seus pais passariam a noite acordados. Katrina ainda não

estava bebendo porque amamentava, já meu irmão, não


conseguia andar reto. Ele seria outro a dormir sem saber
seu próprio nome em questão de minutos.

Era a primeira vez que Stuart e eu ficávamos bêbados


juntos. Pensei que sexo no estado que estávamos era

mito, que o equipamento dele não funcionaria e eu


ficaria enjoada, mas não foi isso que aconteceu.
Transamos mais de uma vez. Ele estava mais bruto, vocal
e falando muita putaria. Não me incomodou, fiquei

excitada e quando acabamos, desmaiei.

Acordei com uma dor de cabeça miserável, suada,


ardendo e ao olhar meu braço, vermelha. Stuart ainda
estava dormindo ao meu lado. Virei de lado, colocando
minha perna em cima da sua. Seu telefone estava

vibrando, ele dormia pesado, me estiquei por cima dele e


vi que era Harry. Achei bem estranho porque não era o
dia da ligação.

— Oi, Harry! — Atendi para que a ligação não caísse.

— Oi, tia Vanessa. Meu pai está aí? — sussurrou tão


baixinho que quase não ouvi. — Lena está na cozinha .

Cutuquei Stuart com força e ele abriu os olhos assustado.

— Por que está ligando escondido? — questionei e


acionei o viva-voz. Ao ouvir a voz do filho, soando bem
baixa, Stuart sentou na mesma hora.

— Harry?

— Um garoto me bateu na escola. — Ele fungou um

pouco. — Quebrou os meus óculos. — Stuart abaixou a


tela do meu telefone e começou a gravar a ligação. —
Eles me zoam o tempo todo.

— Filho... estou te ouvindo. Você está sem óculos?

— Estou usando os antigos até a mamãe voltar de


viagem — resmungou. Stuart e eu trocamos um olhar.

— Sua mãe saiu faz tempo?

— Tem mais de uma semana. Estou sozinho com a Lena.

Nós ficamos conversando com ele e ouvindo coisas que


não costumava dizer quando ligava normalmente, se

sentindo à vontade para falar. Encerrou a chamada


depois de cochichar que a babá estava voltando.

— Vou enviar essa gravação para Arthur e ele vai fazer a


festa. Debra abandonou nosso filho quando ele mais
precisava emocionalmente e não comunicou à justiça sua

ausência. Ela fez na confiança de que Lena nunca falaria


nada. — Stuart estava nervoso, digitando rápido para seu
advogado e lhe enviei a gravação da tela depois de
conferir que capturou todo áudio.

— Harry vai ficar bem. Lena é responsável. — Beijei seus

lábios. — Bom dia.


— Bom dia, baby. — Retribuiu o beijo com carinho. —

Você está toda corada.

— Muito sol ontem. Vai treinar hoje?

— Não. Hoje é folga. O que quer fazer?

— Mal ficamos sozinhos ou em casa desde que nos


mudamos, foi uma tremenda loucura a nossa rotina e
acho que podemos ficar aqui sozinhos. — Esfreguei meu

nariz no dele. — Podemos ligar para Arthur e pedir para


que ele veja o Harry mais tarde. Assim como o advogado
dela tem direito a vê-lo, o seu também deveria ter.

— Ele vai depois do que mandei, com toda certeza. Além


de advogado, é meu amigo. E sim, vamos descansar. Não

estou com cabeça para fazer qualquer coisa... — Se


jogou para trás e me puxou. — Acha que Harry ficou
melhor no fim da ligação?

— Estava sim, até riu da sua piada terrível — provoquei.

— Não sei se um dia serei capaz de fazer meu filho feliz.

— Passou a mão no rosto.

— Claro que você vai fazer, na verdade, ele é feliz


sempre que fala com você. Tudo que precisamos é
acabar com essa guerra. Tenho certeza de que Harry vai

entender que terá tempo com ambos os pais e lidar com


isso como toda criança que tem pais separados. — Me
inclinei e beijei seus lábios. — Vou preparar um café da
manhã bem gostoso. O que meu marido quer comer?

— Eu diria minha esposa primeiro. — Sorriu torto. — Mas

eu sei que fomos além.

— Só um pouquinho. — Brinquei sinalizando um espaço


pequeno entre meus dedos. — Café fitness ou gorduroso?

— Gorduroso. Amanhã eu dobro o treino. — Esfregou as


mãos na barriga.

Me inclinei e mordi sua barriga. Ele saltou no lugar, rindo,


saímos da cama juntos e com pouca roupa, cozinhamos o
que iríamos comer. Stuart comia muito. Devon implicava
que as galinhas no mundo estavam morrendo para
produzir ovos o suficiente para ele e não era exagero.

Rosa sempre recebia uma mensagem minha: “se for no


mercado, traga ovos”. Katrina já saía de casa e voltava
com ovos. Virou uma piada de família.

Arthur ligou, e cheguei a prender a respiração.


— Acabei de ir à residência. Levei um brinquedo e ele

adorou, pedi a receita para encomendar os óculos novos.


— Começou a falar. — Ele está bem, limpo, alimentado e
arrumado. Jackson ficou furioso ao me ver, mas adivinhe?
Ele não sabia que Debra viajou. Ficou puto, mexeu nas

coisas dela e encontrou o passaporte, então, não saiu do


país. Ela não atendeu as ligações e com derrota, rosnou
para formalizar. Já liguei para a assistente social e abri a
denúncia.

— E o que acontece agora?

— Debra precisa aparecer em quarenta e oito horas, caso


contrário, irei declarar abandono parental. Pode apostar
que a guarda será sua, provisoriamente, mas será sua.

Stuart chegou a soltar o telefone.

— E se aconteceu alguma coisa com ela? Quero dizer... é

comum sumir desse jeito? — perguntei aos dois.

— Ela costuma viajar com seus namorados, porém,


nunca deixou de avisar. — Stuart respondeu. — Nunca
algo assim.

— Será que aconteceu alguma coisa? — Me preocupei.


— Eu não me importo . — Arthur sendo Arthur, soltou. —
Em breve, envio as novidades. Enquanto isso, sejam o
casal perfeito. Soltem notas sobre o relacionamento,
façam o público amar vocês dois, que estou trabalhando

em abafar a porra da luta. Se eu matar sua ex-


empresária, arrumem um bom advogado. Amo vocês,
crianças. — Encerrou a chamada.

Arthur tinha um bom humor, mas Stuart me avisou que


ele só mostrava essa faceta para as pessoas próximas.

Normalmente, era como um tubarão voraz. Ele e Devon


se davam super bem, trabalharam juntos em alguns
processos antes dele fixar com o advogado que nos
atendia no âmbito pessoal. Everly seguia sendo nossa

advogada nas empresas, mesmo com todo rolo do


passado.

Stuart ergueu o olhar do telefone e me matou a


esperança que vi ali. Ele nunca diria em voz alta, mas
estava torcendo para Debra não aparecer. Enquanto isso,

me preocupava, porque se qualquer coisa acontecesse


com ela, isso afetaria Harry emocionalmente.

De repente, ele suspirou, parecendo culpado.


— Não queria conseguir a guarda do Harry dessa
maneira — falou baixo.

— Se acontecer qualquer coisa com ela...

— Isso é estranho. Talvez deva ligar para a mãe dela?

— Ela é mãe do seu filho. Harry vai sofrer se a mãe se

machucou. Precisamos pensar nele.

— Você tem razão. A mãe dela ainda vive aqui em


Vegas... — Pegou o telefone e me olhou. — Ela é um
pouco como a Shannon, então...

— Tudo bem, eu posso ficar aqui — garanti. Não deixaria


de apoiá-lo em momento nenhum, mesmo que uma mãe

como a minha fosse um gatilho ainda difícil de lidar.

A mãe de Debra atendeu, parecendo estar de ressaca.


Ela disse que não falava com a filha há dois anos e que
não seria nenhuma novidade que ela sumisse e deixasse

o filho, porque era irresponsável e mimada. Encerrou a


ligação sem demora, após despejar duras críticas à
própria filha. Stuart me encarou, perdido. Se a família
dela não estava preocupada em procurá-la, quem a
procuraria?
14 | Vanessa

— Parece que só porque queremos, o telefone não


toca nunca. — Katrina resmungou, olhando para o celular
de Stuart. Ele e Devon estavam na academia de casa,
lutando com um treinador. Stuart ainda precisava se

preparar para a luta, que eu evitava pensar senão


sentiria vontade de desmaiar. Enquanto isso, estávamos

no último dia do prazo estabelecido pela justiça para


Debra aparecer.

— E se ela aparecer?

— Ainda pode. — Katrina suspirou. — Se isso não

acontecer, é provável que tenha uma criança com


problemas de visão e autoestima na sua vida. Está

preparada para isso?

— Eu quero fazer parte da vida do Stuart. Quero que

nosso casamento seja real, evolua para filhos. Harry é


uma parte dele. Não posso amar Stuart sem amar seu

filho, aceitei fazer parte disso ciente que o coração dele

tem a forma de um pequeno ser humano com nome e

sobrenome.
Katrina segurou minha mão.

— Harry tem muita sorte em ter uma madrasta como

você. Sei que ele será bem recebido e amado aqui. — Ela
sorriu, boba e orgulhosa. — Você e o Stuart são pessoas

incríveis e fico muito feliz em ver o relacionamento

dando tão certo. Devon está começando a entender e

respeitar o casamento de vocês. Estava começando a

ficar com vergonha.

Soltei uma risada.

— Sabe que Devon é teimoso. Ele não aceita perder,

exatamente como alguém que eu conheço. — Olhei-a

incisivamente e ganhei um beijinho debochado. O

telefone vibrou e nós duas gritamos.

Stuart parou de lutar na hora, era Arthur e pulei no lugar

até que atendesse. A ansiedade para saber como tudo

estava acontecendo em Nova Iorque estava me

consumindo.

— Jackson acabou de me ligar. — Arthur começou sem

enrolação. — Ele oficializou o desaparecimento. Ela não

foi encontrada em lugar nenhum. Falei com a assistente


social, por enquanto, Harry ficará em um apartamento

provisório com Lena. Sem saber com o que a mãe dele se

meteu, tomei a iniciativa de contratar um guarda-costas.

— Ele não vai ficar comigo? — Stuart ficou pálido. Harry

não poderia parar no sistema. Isso o mataria

completamente.

— Calma. Como vocês moram em outra cidade, o juiz vai

determinar uma visita surpresa da equipe dele. A casa

inteira será vasculhada, se tiver bebidas, deixe coisas

simples como vinho e licor, nada de drogas lícitas ou

ilícitas, muito menos remédio controlado.

— Não temos nada disso. — Stuart garantiu. Nosso bar

estava vazio e os vinhos foram comprados para uso

imediato.

— A casa está equipada com luzes, tomadas e com toda

aquela coisa para ele que tem baixa visão?

— Sim. Eu contratei uma empresa e fizemos as

verificações duas vezes... Tem sensor de movimento,

luzes que acendem e portão na escada.


— Ótimo. Mantenham a casa perfeita, a visita pode

acontecer a qualquer momento. Enquanto isso, deem um

cala boca naquela maldita da McKenna Foy. Ela está


ameaçando espalhar sobre a luta. Se eu pisar aí, será

para cortar a língua dela fora — Arthur resmungou e

desligou.

Ficamos em silêncio, respirando fundo.

— Eu vou falar com McKenna — avisei, pegando meu

telefone.

— O que vai fazer? — Katrina me parou.

— Desviar o foco dela para outro escândalo. Shannon vai

adorar voltar à mídia, mesmo que seja pela infidelidade

do marido com a amante novinha.

Stuart chamou sua equipe para uma reunião. Ele tinha

uma assessora de imprensa, assistentes, técnicos e

treinadores. Gus era o principal. Deixei que ele lidasse

com o que pudesse e subi, pensando que nunca fui de

expor os segredos da minha família nem sem querer.

Construir uma ponte com McKenna era perigoso, mas eu


estava disposta a fazer qualquer coisa para que Harry

não perdesse o pai depois de ter a mãe desaparecida.

Era importante que ele ficasse em família, qualquer coisa


além disso poderíamos resolver juntos.

McKenna aceitou encontrar comigo em um discreto café

em um bairro comercial não muito badalado. Meu


segurança foi comigo e ele dirigiu, porque fiquei nervosa

de estar frente-a-frente com uma mulher que fez a

internet me amar e me odiar várias vezes conforme seu

humor distorcido. Fiquei no carro uns cinco minutos.

Katrina queria vir comigo e neguei, primeiro porque

precisava aprender a resolver meus problemas sozinha,

sem envolver meu irmão e cunhada. Como seria uma

esposa e madrasta precisando sempre que me

defendessem? Segundo porque minha melhor amiga iria

avançar em McKenna se ela soltasse qualquer piadinha

sobre a nossa família.

Devon iria pagar mais uma fiança para tirar Katrina

da cadeia por agressão.


Entrei no café com calma, ela estava sentada em

uma mesa com o telefone na mão. Meu segurança foi na

frente, nós combinamos com o dono de desligar as

câmeras do local por uma quantia e ele pediu o telefone

dela, verificando se estava com escutas no corpo. Com

aquela doida, precisava de tudo.

— Você é muito mais bonita pessoalmente. —

Soltou assim que me sentei à sua frente. — Seu cabelo

brilha.

— Obrigada, eu acho. Vou direto ao assunto. Você

tem chantageado o advogado do meu marido sobre um

evento que não queremos que seja de conhecimento

geral. — Olhei em seus olhos. — Tenho uma contra

oferta. Terá direito a fazer três perguntas sobre o meu

casamento e eu vou decidir se responderei dependendo


do quão invasiva você for. E tenho algo exclusivo sobre

minha mãe.

McKenna sorriu de um jeito assustador.

— Você poderia ter parado nas perguntas, mas eu

quero tudo.
— Não sorria, não para mim. Eu não sou sua amiga,

o que está fazendo é sério e estou te dando uma

oportunidade para entender que deve ficar longe de

fofocas que possam prejudicar o meu marido. — Me

inclinei. — Se você tentar novamente, eu não vou

impedir que o advogado dele esmague sua vida. Talvez

impeça, para fazer pessoalmente. Seu emprego, sua

fama, tudo... você vive em Las Vegas. E eu sou dona de


metade dela, fui clara?

Ela precisava entender que não estava dando as


cartas. Precisava da sua influência para causar uma
distração, mas que não ousasse me provocar, porque vê-

la tão feliz de uma maneira doentia me causou raiva.

— Muito clara. — McKenna recuou um pouco.

Nosso encontro durou trinta minutos, respondi as

perguntas de modo que pudesse parecer que nós dois


éramos o conto de fadas no estilo de Vegas e ainda ferrei

com a imagem do marido da minha mãe. Ela gostava do


escândalo porque a fazia vender mais músicas e

ultimamente, andava meio apagada.


Ao retornar para casa, ainda estava segura do que
fiz. Não me arrependia.

Dei privacidade para Stuart seguir com sua equipe

na sala, falando sobre a luta e fiquei no escritório, me


atualizando rapidamente do trabalho, fazendo algumas

solicitações. Precisaria estar na empresa nos próximos


dias para recrutar alguns funcionários. Katrina separava

o currículo e eu entrevistava, ela não era muito boa


porque se empolgava e queria contratar todo mundo.

Me perdi no trabalho por horas. Não vi o tempo

passar. Ao levantar da cama, estava dolorida, já havia


anoitecido e meu estômago reclamava da negligência

em não ter me alimentado direito no dia. Stuart me


deixou quieta, provavelmente trabalhando também.

Desci a escada, a casa estava escura e vazia. Havia uma


nota na geladeira avisando que iria treinar e correr, ele

voltaria em breve pelo horário.

Comi um pouco da salada de frutas e olhei para o


quintal dos fundos. A piscina estava linda, reluzindo as

luzes do jardim e com o calor, mesmo àquela hora da


noite, desejei dar um mergulho. Sem querer subir para
colocar um biquíni, abri a porta dos fundos e tirei minha
roupa. Ficar só de calcinha e sutiã no quintal era uma

travessura que nunca tive coragem de fazer, mas era


minha casa.

Nossa piscina era como um lago, ela começava


bem rasa e ia aumentando de largura, criando

profundidade. Andei com calma para não escorregar e


logo que deu, mergulhei. Nadei de um lado ao outro, me

divertindo. Morando com meu irmão, ele reclamaria


sobre ficar doente e eu morreria de vergonha em ficar de
roupa íntima tão exposta. Parecia que ter minha casa me

desinibiu.

Era o sabor da liberdade.

— Acho que eu tenho uma sereia. — Stuart

apareceu e começou a tirar a roupa. — Banho noturno


sem roupa?

— Estou de calcinha e sutiã — avisei.

— Fácil de tirar. — Sorriu torto e tirou a cueca,


jogando em mim.
— Da próxima vez, faça uma dancinha. Já te

disseram que é uma versão mais bruta daquele ator do


Magic Mike? — Comecei a rir de sua careta ciumenta.

— É a primeira vez e é melhor que eu seja o único

fazendo mágica nas suas fantasias, ou irei colocar a


cueca de volta — ameaçou emburradinho.

Esperei que ficasse bem pertinho para pular nele.

Rindo, me segurou e abracei sua cintura com minhas


longas pernas. Stuart brincava que eu tinha um metro e

vinte de perna, dava para fazer muitas posições


interessantes. Ser alta me dava a sensação de ser a

girafa do filme Madagascar. Levei um tempo para


apreciar o meu tamanho.

Stuart me beijou, apertando minha bunda e foi me


levando mais para o fundo, onde ele ainda conseguia
ficar em pé. No canto entre os arbustos que imitavam

uma pequena selva próxima à piscina, ele tirou meu


sutiã. A prova de que eu estava irrevogavelmente

apaixonada era que eu não me importava em estar nua


ali.
Não me importava com nada. Eu era intensa

quando amava, me entregava de corpo e alma. Da última


(e única) vez, não soube lidar com tudo. Quase morri. A

diferença era que Stuart não me fazia sentir mal quando


se afastava, e eu estava infinitamente mais segura

comigo mesma. Era por isso que meu coração não


acelerava de medo, como quando era com Luke. Com

Stuart, ele palpitava.

Por muitos anos, eu o olhava à distância. Espiava.


Imaginava que era inatingível. Cada vez que ele ficava

com uma mulher, me sentia ainda mais distante daquela


realidade. Foi importante construirmos um laço de

amizade, porque estávamos vivendo o tempo certo.


Beijei-o intensamente ali dentro e o calor gostoso do

nosso toque começou a crescer.

Stuart agarrou meu bumbum, me erguendo para fora da


água e foi saindo. Embolei minhas pernas na sua cintura,

ganhando um tapa na nádega esquerda, que ardeu pela


intensidade e por estar molhada. Ele voltou a me beijar

com o jeito que me deixava com vontade de fazer tudo,


era envolvente, saboroso e eu podia passar horas com
minha boca na dele, ciente que sempre seria gostoso.

Com adoração, me deitou em uma espreguiçadeira bem

confortável que era como um sofá, empurrando as


almofadas do caminho, seu olhar desceu sobre mim com

fogo. No passado, esse momento era de vergonha e


antecipação, ficava preocupada ansiosa, depois dele,

com intimidade e tudo que sentia, era um tesão maluco.

Eu sabia que seria incrível como todas as vezes que


fizemos sexo. Stuart me idolatrava na cama - e fora dela.

Com o mesmo cuidado, tirou o sutiã, mas ele não


manteve o toque excessivamente delicado ao chupar

meus mamilos como um homem faminto e ativando todo


desejo como um botão. Seus dedos se espalharam pelas

minhas dobras, acariciando meu clitóris deliciosamente.

— Você é tão bela. — Stuart suspirou. Sorri, feliz,


lisonjeada e apaixonada. Eu tinha um homem que me

amava da cabeça aos pés. — Você gosta disso, baby? —


Introduziu seu dedo, torcendo e causando maravilhas.

Ele sabia onde me tocar e sempre encontrava meu ponto


G. Achava que era mito. Foi durante um sexo meio
bêbado, até ele ficou surpreso, depois, não esqueceu
mais o caminho.

— Eu adoro — choraminguei, toda arrepiada.

— Isso, amor. Geme gostoso…

Tirando seu dedo, abaixou a cueca e pressionou o pau na


minha entrada. Entrelaçamos nossos dedos e trocamos

um olhar intenso. Eu estava feliz que meu coração era


dele. Mais feliz ainda, que o sentimento era totalmente

recíproco. Ali, no quintal da nossa casa, me entreguei


com paixão.

— Não podemos ser presos por atentado ao pudor


no nosso quintal, certo? — Ergui o olhar. Atrás era um

terreno vazio e do outro lado, ficava a rua. Apenas da

casa de Devon tinha uma visão para a nossa, mas, havia


uma boa distância e árvores próximas aos muros.

— Minha casa, minhas regras — ele falou de olhos


fechados.

— Parece delirante. — Dei um beijinho em seus


lábios.
— Sexo gostoso na beira da piscina depois de um
dia estressante. Estou me sentindo nas nuvens — falou

baixo, com um sorrisinho. — Me disseram que o


casamento era um pesadelo, mas estou muito bem.

— Isso porque não brigamos, não caímos na rotina


e ainda estamos em lua de mel. — Apertei seu nariz e ele
riu.

— Assim que tudo se resolver com o meu filho, nós

vamos sair só nós dois e depois, ou antes, não sei, vamos


viajar com ele. Harry nunca foi à praia e ele sonha em ir.

— Sério? Será a nossa primeira viagem de família


logo que pudermos. — Me inclinei e beijei seus lábios. —
Vamos entrar. Não podemos ficar doentes.

Tomamos banho juntos e nos preparamos para


dormir. Stuart me acordou cedo para corrermos. Eu não
aguentava o ritmo dele e normalmente, terminava uns
quarenta minutos depois. Naquela manhã, decidi tentar

aumentar minha disposição. Devon ficou gritando,


incentivando, fazendo com que Stuart repetisse alguns
movimentos, dando o apoio no calor que só a força da
amizade permitia.

O sol estava forte logo cedo, eles foram ficando


cada vez mais distantes, comecei a diminuir o ritmo ao
perceber os pontos pretos na minha visão.

— VANESSA! — Ouvi o grito de Devon e senti o


asfalto quente no braço.

— Baby, fala comigo. — Stuart me ergueu

enquanto Devon dava tapinhas no meu rosto. Os dois


começaram a falar ao mesmo tempo e discutir um com o
outro.

— Estou bem. — Tentei me afastar. — Está quente

e eu não aguento acompanhar vocês. Correm muito


rápido. — Apoiei minha cabeça no peito de Stuart.

— Vamos para a sombra. — Meu marido me levou


para o canto da calçada. — Está pálida, baby. O que
houve?

— Fui além. Minha pressão deve ter caído.

— Sua pressão sempre foi baixa.


— Continuem treinando, vou ficar aqui na sombra,

ainda não estou bem para voltar andando e não quero


ficar sozinha. — Escorreguei para o chão. Não adiantava
nada que ficassem em pé ao meu lado.

Treinaram no mesmo trecho da rua, indo e voltando


praticando movimentos. Encostada na parede, filmei os

dois, tão comprometidos. Essa luta me deixava ansiosa


em muitos níveis. Já ficava nervosa com as lutas pela
organização, as clandestinas me tiravam o sono. Eu
confiava em Stuart, sabia que ele não era um assassino,

mas seu oponente era. Meu marido era conhecido como


campeão nas duas arenas, ele tinha um diferencial: não
precisava matar ninguém para vencer.

Talvez fosse por isso que era tão odiado. Sua antiga
empresária o jogava nessas merdas, ciente que ele

precisava de dinheiro para manter sua vida e por


consequência, poder lutar pela guarda do filho. Eu não
sabia da história com o pai dele. Ele se recusava a falar.
Devon sabia de alguma coisa, mas não tudo.

As costas dele tinham algumas cicatrizes, não era

só da luta. De vez em quando, dava um beijinho. Stuart


era como uma cebola. Ele precisava ser descamado com

calma, sabendo o lado certo de um corte e tomando


cuidado para que a informação seguinte não nos fizesse
chorar.

Quando terminaram, nós voltamos para casa


devagar e eu tomei um café da manhã reforçado sob o

olhar atento de Rosa. Ela sempre ficava preocupada


quando esses desmaios aconteciam. Sempre tive pressão
baixa. Ficaria o resto do dia em casa, já que havia me
comprometido a tomar conta das crianças para Katrina

arrastar meu irmão para um checkup médico. Ele andava


reclamando de dor de cabeça e ficava até sem dormir.

Stuart saiu meio preocupado, pediu umas trinta


vezes para ligar se me sentisse mal. Ele iria se
acostumar. Devon já tinha até esquecido.

Kevin chegou com sua mochila, empolgado em


passar o dia comigo, e Halley ainda estava comendo seu
café da manhã. Katrina trouxe toda a comida do dia
pronta, para não dar trabalho. Rosa iria ficar comigo,
para ajudar, porque eram dois.
— Você quer comer alguma coisa? — Agachei na

frente de Kevin, para olhar em seus olhos e ele me deu


um sorriso. Era apaixonada por esse menino. No começo,
era tímido, depois se soltou. Já chamava a Mel de
mamãe, Katrina de irmã e eu era sua tia favorita.

— Papai fez panquecas. Posso brincar no quintal?

— Me dá um beijo e pode ir — falei e ganhei um


beijão. Rosa foi com ele. Kevin era bem arteiro, não podia
ficar sem supervisão.

Terminei de dar o café de Halley, que chorou um


pouco depois que limpei sua boca e ela chamou pela

mãe. Distraí os dois com brincadeiras, envolvendo os


cachorros. Rosa preparou frango desfiado com salada
para mim e misturou macarrão com legumes para as
crianças. Kevin comeu e logo dormiu no sofá, exausto da

bagunça. Já Halley estava levando uma eternidade,


querendo espalhar a comida no balcão e cuspir boa parte
que lhe dava com a colher.

A campainha tocou e eu estava com a franja zoada,

um pouco suja de macarrão com molho, a casa estava


com brinquedos espalhados e dois cachorros deitados no
caminho. Peguei Halley e abri a porta ao ver pela câmera
uma mulher arrumada do outro lado. Meu coração
acelerou porque ela só podia ser uma assistente social.

— Sra. Hedrer?

— Oi, sim. Sou Vanessa Hedrer. — Abri um sorriso.

— Sou Corinne Dornan. — Esticou a mão e apertei.


Ela sorriu para Halley, que simpática, soprou um beijo do
jeito que sabia. Ela era dada como Katrina. — Olá,
menininha.

— Em que posso te ajudar?

— Sou a assistente social enviada pelo Estado de


Nova Iorque — explicou e me mantive calma. — Acho
que cheguei antes do assistente social daqui, mas,
podemos começar sem ele. Estou aqui para verificar a
residência e a família.

— Entendo. Pode entrar... desculpe a bagunça. Eu


tenho dois labradores e estávamos brincando com as
crianças. — Mudei a Halley de lado. — Essa é minha
sobrinha, filha do meu irmão com minha melhor amiga. O
menino no sofá se chama Kevin e ele é irmão dessa
minha amiga.

— Você fica com eles todos os dias?

Expliquei rapidamente como funcionava a nossa


família e que na verdade, nos ajudávamos porque

éramos unidos. Ansiosa, não sabia o que esperar, mas


estava certa de que não havia nada errado na nossa casa
e muito menos entre nossos familiares para que fosse
um impedimento. Tudo que podia fazer era ser eu

mesma.
15 | Stuart

Fiquei sem atender meu telefone por quase duas horas,


enquanto dava aulas de defesa pessoal e depois, de

judô. Deixei meu telefone no escritório, acreditando que


se Vanessa passasse mal, Rosa ligaria para a recepção.

Ao pegar meu telefone, vi que tinha uma mensagem de


Vanessa, informando que estava com dois assistentes

sociais na nossa casa, fazendo uma entrevista extensa e


uma verificação da residência.

Eles apareceriam no meu trabalho, para verificar que

todas as informações dadas para a justiça eram


verdadeiras. Lavei meu rosto, me ajeitei o máximo que

pude e os vi sendo levados para um tour pelo meu


recepcionista. Esperei que me procurassem. Se o olhar

da assistente social para minha aparência embrutecida

fosse o martelo final, eu estava fodido. Me esforcei para

ser o mais simpático e amigável possível.

Vanessa deve ter ligado para Devon, porque meu melhor

amigo chegou como quem não queria nada, fingindo que

tínhamos um compromisso agendado. Ele acabou sendo


entrevistado porque era irmão da minha esposa e meu

sócio. Saíram da academia quase no horário de fechar.

— E agora? Porra, estou ansioso. — Devon esfregou o


rosto.

— Meu estômago dói. — Encostei no balcão.

— Foi tudo bem, o lugar é perfeito, a casa é linda, segura

e a minha irmã é a pessoa mais encantadora do mundo

inteiro. Eu tenho certeza de que os dois saíram de lá com

informações consistentes. — Devon me animou. — O que


fode é o desaparecimento de Debra. Se ela voltar, como

ficamos?

— Depois de desaparecer sem motivos, a não ser que


seja um sequestro, o que não parece ser ou... não gosto

de pensar, uma tragédia, mas voltar do nada? Por que

ela sumiu, em primeiro lugar? Arthur tem falado com o

advogado. O último namorado que conheceu não faz

ideia de onde ela possa ter se metido. — Enfiei minhas

mãos nos bolsos. — As câmeras mostraram que ela

entrou em um táxi na porta do prédio. O taxista a deixou


em um hotel, encontraram imagens dela entrando, mas
não saindo. Nenhum funcionário a reconheceu como

hóspede ou acompanhando alguém.

Devon me deu um olhar intenso.

— E se estiver tudo conectado? Seu pai, Pauley e por fim,

Debra?

Soltei uma risada irônica.

— Eu não me importo com nenhum deles. Só quero meu

filho e viver com minha família. Quero construir uma vida

com Vanessa. Estou desde os treze anos no ringue, curti,


bebi e fiz muitas coisas? Sim. Mas eu era um prisioneiro.

Estou livre para ser feliz com a garota que eu gosto há

muito tempo e farei de tudo para não perder nada disso.

Devon colocou a mão no meu ombro, me acalmando. Ele

disse que deveríamos ir para casa encontrar com nossa

família e pedir comida. Fechei a academia e enviei uma

mensagem para Vanessa, avisando que estava indo

embora. Ela respondeu que preparou o jantar para todos,

que os pais de Katrina também comeriam antes de ir

embora, ambos esgotados do trabalho.


Dirigi para casa com calma. Ao contrário do maluco do

Devon, não apreciava a velocidade. A vida me ensinou a

ter calma e paciência fora do ringue. Aprendi a ficar


calado e que nem tudo se conquista na briga.

Ao chegar em casa, vi Devon sendo atacado por Kevin

com as pistolas de água. Dei a volta no quintal e entrei

pelos fundos, o pequeno ficou frustrado que não

conseguiu me pegar também. Lavei as mãos e braços,

dei um beijo em Vanessa, mas aproveitei que Halley

ainda estava acordada para ter um tempinho com ela.

Minha afilhada me deu um sorriso, empolgada, ciente

que eu era o cara bobo que a fazia rir de babar.

As mulheres ficaram na cozinha, falando tão alto que

parecia que havia vinte e não apenas quatro. Devon

pegou cerveja para Michael e água para mim, não ingeria

bebida alcoólica no pré-treino e não estava mantendo


nenhuma em casa para evitar que a assistente social

achasse que era um bêbado.

Minha afilhada me deu um sorriso desdentado, cheia de

amor e encheu meu coração de alegria. Vanessa me deu

um olhar tão intenso que eu soube que em um futuro


próximo, aquela mulher estaria carregando meu bebê.

Pensei que não teria mais filhos. Não passava pela minha

cabeça me estabelecer com ninguém porque meu foco

sempre foi meu filho, mas estar casado com Vanessa

estava me permitindo sentir duas coisas que sempre

reprimi: esperança e felicidade.

Abri um sorriso para ela e pisquei para deixá-la corada

de timidez. O rubor do seu rosto era lindo. Desviando o

olhar de volta para a cozinha, percebi seu sorrisinho ao

falar com Katrina. As duas olharam na minha direção

mais uma vez e voltaram a rir. Devon me cutucou com o

pé, rindo.

— Seu relógio biológico está batendo, Stuart?

— Quem sabe, depois que tudo estiver bem. — Dei

de ombros, sem negar.

Eu não podia mais viver preso no medo. Eu tinha

alguém que estava ao meu lado, que correspondia meus

sentimentos e perdi muito tempo separado dela por não

me sentir digno. Faria de tudo ao meu alcance para


Vanessa sentir que ao meu lado era o lugar dela e se ela

quisesse uma família de cinco filhos, eu estava dentro.

Michael começou a falar sobre o quanto ele se

arrependia de não ter tido mais filhos. Kevin era seu

sobrinho biológico e se tornou filho com a morte do

irmão, no entanto, chegou à sua vida de surpresa. Ele

era grato por encontrar Mel, assim, acabou ganhando

uma filha pelo casamento e mais três agregados. Em tão

pouco tempo, ele agiu mais paternalista comigo do que

meu pai nos vinte anos da minha vida que convivemos.

Às vezes me dava curiosidade saber onde ele

estava, o que estava aprontando, mas eu sabia que era

melhor assim. Cada um de um lado, sem comunicação.

Da última vez que apareceu, bêbado, desafiou meu

próximo oponente na luta. Entrei em pânico. Fazia tempo


que não participava de lutas clandestinas, não estava no

meu melhor peso e definitivamente, fora do páreo.

Fui tomado pelo ódio e mergulhei diretamente na

escuridão. Naquela noite eu sabia que era sobre matar

ou morrer, em todos os sentidos da palavra. Me tornei o

Don Hedrer porque eu nunca matava meus oponentes.


Eu os deixava extremamente arrebentados,

inconscientes e incapazes de fazer qualquer coisa por

muito tempo. Era isso ou ser assassinado no ringue.

Nunca fui um assassino, mas se Devon não tivesse me

impedido naquela noite, teria me tornado um.

Ou estaria morto.

Rosa anunciou que o jantar estava sendo servido e


como uma grande família, nos reunimos na mesa da sala

de jantar, sentei na ponta como o homem da casa e


Vanessa, que cozinhou deliciosamente bem, estava ao

meu lado, rindo da colherada de feijão que Halley


arremessou no olho de Devon, que distraído, não viu a

filha dar seus clássicos tapas. Ela achou tão divertido ter
o pai sujo que tentou fazer de novo.

Aquela realidade, de ter uma casa bonita, uma

esposa e uma família compartilhando uma refeição


nunca pareceu crível o suficiente para poder sonhar.

Abaixei meu rosto, com a garganta embargada porque só


faltava meu filho ali. Nunca desejei mal a Debra para que

pudesse ficar com meu filho, sempre entendi que uma


criança precisava dos pais para crescer bem. Por mais
odiosa que ela fosse, estava preocupado como o seu
desaparecimento iria impactar na saúde emocional do

meu filho.

Estar longe dele me deixava de coração partido.


Não poder falar nem por mensagens até o juiz decidir o

seu destino, devido à situação da briga pela guarda, me


matava. Ainda bem que Lena estava com ele e Arthur

tinha livre acesso, o que me tranquilizava bastante e


dava esperanças de que meu filho ficaria comigo, pelo

menos até toda situação com a mãe se resolver.

Devon e eu fomos responsabilizados pela louça.


Mel e Michael foram embora, cansados e precisavam

colocar Kevin na cama. Rosa foi se recolher, Katrina e


Vanessa compartilhavam um vinho na beira da piscina

olhando Halley dormir no carrinho. Aquilo significava paz


para mim. Era uma calmaria mais gostosa que a beira da

praia no fim de tarde.

Quando nossos vizinhos foram embora, Vanessa foi


tomar banho e falamos em mais detalhes sobre a visita

dos assistentes sociais. Eles não nos disseram quando


dariam uma resposta e eu não quis parecer o surtado
ansioso. Arthur me garantiu que o processo estava no
plantão do judiciário porque havia uma criança sem os

pais, na responsabilidade de dois advogados e uma


babá.

Vanessa deitou ao meu lado, com a cabeça no meu


peito e a abracei. Ela dormiu, minha ansiedade não me

permitiu acompanhar seu sono. Observei-a dormir. Beijei


sua testa e os lábios quando o dia amanheceu. Meu

coração estava misteriosamente acelerado, um arrepiar


que me deixou preocupado. Meu telefone vibrou.

Era Arthur.

— Arrume suas coisas e venha buscar seu filho —

falou como se me pedisse para sair e comprar sorvete. —


A guarda é sua de modo provisório. Teremos uma

audiência em algumas semanas porque o juiz acredita


que devemos dar um lar e estabilidade a Harry o mais

rápido possível.

— Porra. Não brinca comigo. — Cheguei a sentar na

cama.

— O que houve? — Vanessa acordou assustada.


— Não estou brincando. Acabei de ser acordado

com isso, deixei uma mulher muito gostosa na minha


cama e estou indo até o apartamento garantir que

Jackson me encontre lá quando receber a notícia. —


Arthur explicou. — Peguem o próximo voo, aluguem um

jatinho, tirem o Harry da cidade o mais rápido possível,


porque os advogados de Debra costumam jogar sujo.

Pulei da cama, contando tudo para Vanessa no

processo. Ela foi se vestir e ligou para o irmão. Tentei


entrar no site da companhia aérea para ver o próximo

voo e comprar as passagens, mas o primeiro não dava


mais para fazer o check-in e o segundo, lotado. Vanessa

saiu do closet de calça jeans e camiseta.

— Vá se vestir. Vou resolver o voo em minutos —


falou com calma.

— Só tem a tarde, isso significa que vamos chegar

lá à noite.

Ela abriu um sorriso.

— Você esqueceu que se casou com uma

Winterfield? Vá se vestir.
Confiei que ela resolveria o que pudesse. Fiz uma

pequena mochila com roupas nossas e itens necessários,


ouvindo-a falar no quarto em seu telefone, mas não

conseguia entender. Fiquei pronto e fui escovar os


dentes, ela estava no primeiro andar anotando algo em

um papel. Devon entrou pela lateral, de cueca,


sonolento, pegou o telefone e foi ditando ordens.

— O que está havendo?

— Shannon tem um avião particular. Digo, a


empresa que Shannon representa, não é exatamente da

minha mãe. Eu mandei que preparassem, mas não


entendo muito. Tio Saul deve estar dormindo, então,
acordei meu irmão. — Vanessa me explicou. — Eles vão

preparar o jatinho, solicitar autorização e provavelmente


vamos conseguir chegar lá muito mais cedo que por voo

comercial.

Porra.

— Obrigado, baby. — Beijei seus lábios. — Muito

obrigado.
— Não me agradeça por isso. Vamos trazer nosso
menino para casa.

Ela ficou na ponta dos pés e me deu um beijo

gostoso nos lábios. Devon soltou um bocejo, disse que


acordaria Katrina e eles iriam arrumar tudo para que

Harry tivesse uma boa recepção quando voltássemos à


noite. Ele foi trocar de roupa para nos levar no aeroporto

privado. Vanessa conferiu tudo, dinheiro, bolsa,


documentos e eu mal conseguia pensar.

O quarto do meu filho foi decorado com tudo que

ele gostava e ainda assim bateu a insegurança que ele


poderia odiar tudo por estar sem a mãe. Uma coisa era

desejar me ver mais vezes e até querer passar mais


tempo comigo, outra era morar e passar a viver com

uma madrasta em uma cidade diferente. Eu estava


pronto para lidar com o que viesse, o que importava era

a felicidade dele, que ficasse em paz, bem alimentado e


seguro.

A equipe estava se preparando para embarcar,

fomos orientados a aguardar em uma sala. Só reparei


que minhas mãos tremiam quando Vanessa as segurou.
Ela me deu um olhar calmo, transmitindo toda sua paz.
Minha mulher era meu porto seguro.
16 | Vanessa

Enquanto a aeronave sobrevoava um lindo céu azul de

uma manhã de começo de verão, Stuart estava tão

agitado que quase roeu as unhas duas vezes. Esse era

um hábito que ele não tinha e tirei sua mão da boca,

segurando entre as minhas. Entendia todo seu

nervosismo, estava tão ansiosa que meu estômago doía,

mas eu precisava dar paz a ele.

Era um momento que ansiou por muito tempo e

mantinha a certeza no meu coração que ele, mesmo na

raiva, nunca desejou o mal dela.

Ansioso, passou a mão no rosto e olhou a hora, como se

verificar o relógio a cada dois minutos fizesse o avião

voar mais rápido. Foi um milagre conseguir autorização

de voo tão em cima da hora. Havia um casal que iria usar


o jatinho, o filho de um dos empresários dela com a

esposa, mas eles desistiram e o piloto ainda não havia

informado. Foi quase um encaixe.


Apesar de ter um avião à disposição, o céu não era livre.

Tudo parecia estar conspirando para chegarmos bem em

Nova Iorque. De todas as nossas preocupações e medos,

pelo menos, Harry estaria conosco. Poderíamos cuidar

dele, ter certeza que ficaria bem e não isolado em um


apartamento com a babá.

— Lena virá conosco? — Virei de lado, olhando-o. Stuart

estava de olhos fechados e os abriu, me deixando um


pouco mais apaixonada. Ele era bonito, mas embrutecido

pela profissão.

Sua profissão lhe deu cicatrizes e um nariz torto.


Era todo grande, malhado, pesado e nossa diferença de

altura não era muita porque eu era alta. Podia usar salto
tranquilamente ao seu lado e ficar agradavelmente

escondida em seus braços.

— Eu não sei. Arthur falou apressado e sem


detalhes. Ela deve ter uma vida na cidade. — Pegou

minha mão e beijou. — Estou muito nervoso. Espero que

ele fique bem com toda mudança. Até vou tirar folga da

academia, pedirei ao Devon para manter um olho lá, e a


outro professor para assumir minhas aulas. Quero dar

toda atenção para ele.

— Nós daremos. Tenho certeza que ele vai ficar

bem conosco e vamos descobrir o que aconteceu com a

mãe dele para resolvermos essa história com ela.

— Eu não sei o que aconteceu e tenho medo de me

envolver. E se for mais uma armadilha? Eu sei que ela

armou para mim e eu nunca pude provar. E se agora me

acusarem de ter desaparecido com ela para ficar com o

Harry? — Seu olhar assustado encontrou o meu. Só ele

sabia na pele o que passou e eu não podia desqualificar

sua desconfiança. Era um medo real.

— Vamos fazer tudo da maneira mais legal

possível. O importante é o Harry. Sem saber com o que a

mãe dele se envolveu, precisamos pensar nele em


primeiro lugar.

Stuart ficou em silêncio e me puxou para um

abraço. Deitei minha cabeça no seu ombro, sentindo seu

cheirinho gostoso e beijei seu pescoço.


— Sei que casou comigo para me ajudar a ter a

guarda compartilhada do Harry, mas ter uma criança em

tempo integral é totalmente diferente — falou baixo. —


Se você não quiser fazer parte disso, irei entender.

— Quero fazer parte de tudo na sua vida. Entrei

nessa com tudo e vou ficar ao seu lado em todos os

momentos. — Me afastei um pouco e beijei seus lábios.

— Você quer ter filhos?

— Eu adoraria ter. Não sei quantos a vida vai me

dar, mas eu queria mais de um. Minha família sempre foi


Devon, Rosa e eu. Quando conheci Katrina, eu soube o

quão incrível foi crescer com uma irmã. Foi a vida que

me deu, mas meus filhos podem não ter a mesma sorte.

— Abri um sorriso. — E você?

— Pensei que nunca mais teria filhos, porque não

passava na minha cabeça me envolver com alguém. Com

você, me permito pensar em um futuro que tenhamos

filhos. Que o Harry esteja comigo…

— Se você quiser, nós teremos. Aprendi na terapia

que podemos mentalizar nossos sonhos e correr atrás. Já


temos o sonho e toda vontade.

— Que sorte a minha ter você. Sempre soube que

era uma mulher incrível, ou eu não ficaria tão ligado por


todos esses anos, mas sendo seu marido, descubro todos

os dias que você é muito mais do que eu imaginava. —

Segurou meu rosto e me deu um beijo no qual me

entregaria para sempre.

— Não sou perfeita, mas com você, quero ser tudo.

Confia em mim, se depender da minha vontade, teremos

uma vida muito feliz e uma família linda. Basta querer e

lutar ao meu lado.

— Eu sou um lutador, baby. Esta é a minha

especialidade. — Sorriu torto.

— Você é o meu campeão — garanti.

— Não sabe o quão importante é ter alguém que


confie em mim. Obrigado por isso, sempre vou honrar a

sua confiança.

Deitei minha cabeça em seu ombro e ficamos em

silêncio pelo restante do voo. Acabei pegando no sono, a

cabine estava escura e Stuart me cobriu com uma


colcha. Acordei assustada com as luzes e o piloto

informando que iríamos pousar em breve. Dormir me

ajudou a acalmar ainda mais, não era o tipo de pessoa

que funcionava com sono.

Os procedimentos de pouso começaram assim que

retornei do banheiro e felizmente, aconteceu sem

problemas.

Agradecemos a equipe e saímos com nossas coisas

para a sala privativa, onde o motorista que Stuart

costumava contratar já nos aguardava. Ele nos deu um

bom dia educado e nos conduziu até o carro. Durante o

trajeto, ficamos de mãos dadas, mas em silêncio. Não

levou muito tempo, mesmo com o trânsito chato, para

chegar no prédio onde Harry estava hospedado.

Situações desconhecidas me davam medo. Meu

guarda costas ficou na cidade, porque eu estava com

Stuart e ele iria me proteger de qualquer coisa. Meu

receio ali era em como iríamos encontrar a situação ao

todo. A sala estava cheia. Os dois advogados, um

segurança, assistente social e um homem que se

apresentou como testemunha do caso.


Apesar da tensão de Arthur e da irritação de

Jackson, a assistente social foi muito educada e querida,

falando com calma, mantendo a paz do ambiente tanto

quanto eu queria. Lena abriu a porta para espiar e sorriu

aliviada ao nos ver ali.

— Papai? — Harry chamou baixinho e apareceu.

Assim que viu Stuart, correu. Meu marido caiu no chão,

de joelhos e o abraçou apertado. — Que bom que você


chegou, papai. Estava com medo. Não gosto desse

apartamento, quero as minhas coisas. Lena me explicou


que precisou arrumar tudo porque vou ficar com você. É
verdade?

— Sim, filho. Papai vai te levar para Las Vegas, e eu


prometo te explicar tudo para que você possa entender.

— Jackson me disse que ninguém encontra a

mamãe e o Arthur falou que a justiça disse que vou ficar


com você. Sabe onde a mamãe foi?

— Não sei, mas vamos descobrir. Tenho certeza


que ela não quis te deixar, filho. Vamos descobrir, eu

prometo.
Harry parecia aflito, mas assentiu, voltando a
abraçar o pai muito apertado como se estivesse seguro.

Eu entendia. Aqueles braços também me davam a


mesma sensação. Ele ergueu o olhar e me viu. O sorriso

que abriu quase me fez cair no chão.

— Você veio me buscar! Tia Vanessa! — gritou de


alegria. Ele só me viu pessoalmente uma vez e depois,

em quase todas as chamadas de vídeo com seu pai.


Soltando Stuart, me abraçou apertado. Beijei sua

bochecha, tão aliviada que estava bem dentro do


possível.

Arthur sinalizou que era hora de falar sério e eu

não queria que Harry ouvisse qualquer coisa séria,


principalmente palavras que pudessem ofender sua mãe.

Eu não estava passando a mão na cabeça de Debra, mas


fui uma criança que a mãe foi, mais de uma vez,

depreciada e humilhada na televisão.

Era horrível ver os tabloides expondo os


escândalos, todas as vezes que Shannon foi encontrada

bêbada em boates ou no dia que ela ergueu o vestido em


um show e mostrou que estava sem calcinha. Eu ouvi
que minha mãe era uma prostituta por semanas na
escola.

Parei de ir às aulas por um tempo ou Katrina seria


expulsa de tantas brigas que entrou para me defender.

Adulta, tinha consciência que minha mãe estava errada,


e que as pessoas foram muito cruéis não só com ela,

mas comigo, que era criança e não tinha nada a ver.

Não permitiria que Harry fosse machucado do


mesmo jeito. Errada ou certa, Debra era sua mãe e ele

era só uma criança programada para amá-la até


entender todos os parâmetros da vida.

Me afastei com ele, ficando no quarto. Lena estava

arrumando suas coisas, havia algumas caixas e


imediatamente percebi que não poderíamos levar tudo.

Liguei para o meu irmão, pedindo ajuda para agilizar os


processos de logística enquanto Stuart estava na sala

com os advogados.

— Pode me ajudar com minhas coisas? Estou com

dor de cabeça. — Harry apontou para seus brinquedos.


— Ele não dormiu muito essa semana e está com

dores. Acredito que agora que está com o pai vai


conseguir descansar mais. — Lena me explicou.

— Claro que irei te ajudar. — Segurei sua mão e fui

para a mala de brinquedos.

Enquanto arrumava, vigiei meu telefone. Devon


acreditava que era melhor passarmos a noite em Nova

Iorque. As caixas de Harry precisariam ser despachadas


por uma empresa de transporte e ele conseguiu um

encaixe por algumas horas.

Lena me entregou uma caneta e fui etiquetando as

caixas e lacrando. Interrompi a reunião para avisar ao


Stuart e ele concordou. Alguns minutos depois, ouvi que

a assistente social foi embora junto com a testemunha e


Jackson.

Fechei a porta do quarto para falar com os dois.

Arthur estava com uma expressão cansada e Stuart


parecia alterado.

— Então?
— O filho da puta vai precisar provar o que fala —

Arthur resmungou.

— Ele te acusou? — Falei bem baixinho.

— Deu a entender. — Stuart esfregou o rosto. —

Foda-se. Ele não tem como provar. Eu não fiz nada dessa
vez. Na primeira eu fui um idiota, realmente agredi

alguém, acreditando que ela estava em perigo.

— Nada vai acontecer — Arthur garantiu. — Além


do mais, você me tem como advogado. Estou me

precavendo. Confia em mim, aprendi a cobrir minhas


bases. Se jogam sujo comigo, jogo a merda no ventilador.

Se concentra em pagar a porra daquela dívida e cuidar


do seu filho. O resto é comigo.

— Confio em você — Stuart garantiu. — Só quero


cuidar do meu filho, realmente.

Harry abriu a porta, desconfiado e suspirou aliviado

ao ver que o pai ainda estava na sala. Ele correu,


sentando ao lado de Stuart e sorriu, querendo se inteirar

do assunto. Arthur começou a implicar com ele, falando o


nome dos seus personagens favoritos todos errados
enquanto eu dava uma olhada no lugar.

Pedi comida, tomei um banho e como passaríamos

a noite, esperei a empresa vir recolher as caixas. Stuart


verificou tudo e despachou. No final da refeição, Lena se

ofereceu para nos acompanhar por uma semana, assim


Harry não sofreria com tantas mudanças.

— Eu agradeço de coração, Lena. Obrigado por

tudo que faz pelo meu filho. Não existem palavras o


suficiente — Stuart falou com calma. Parecia que o

estresse estava deixando seu corpo em ondas.

— Meu interesse sempre foi o bem-estar dele. Com

tudo que está acontecendo, sou grata que ele terá uma
temporada de paz.

Lena não podia entrar em detalhes porque ela era

uma testemunha. Terminamos a refeição, ela foi se


preparar para dormir e eu dei privacidade para pai e filho

conversarem. Troquei mensagens com Katrina, deitada


no sofá de pijama.
Acabei pegando no sono. Acordei com um cutucão
no braço.

— Você não vai dormir com a gente? — Harry


cochichou. — Papai já pegou no sono, mas eu fiquei te

esperando.

— Dormi conversando com a minha cunhada —


expliquei e soltei um bocejo.

— Harry? Vanessa? — Stuart saiu do quarto. — É

uma reunião na sala?

— Ele veio me buscar para dormir — avisei, peguei

na mão de Harry e nós três voltamos para o quarto.

Stuart cobriu o filho na cama improvisada ao lado,


em um sofá de solteiro, e eu deitei de um lado. Esperei
que ele se acomodasse para buscar sua mão e apertar.

Ele me deu um beijo suave, sem fazer barulho e ficamos


bem próximos.

Acordei com o despertador ainda na parte suave e


logo desliguei. Deixei que os dois dormissem e preparei
as bolsas no maior silêncio possível com Lena.
Encomendamos o café da manhã para sairmos
alimentados.

Devon me avisou que as caixas chegaram e deixou

em um dos quartos de hóspedes fechado para não


bagunçar o quarto do Harry. Quando os meninos
acordaram, a comida chegou quase ao mesmo tempo.

— Lá tem esse bacon? — Harry estava curioso


sobre Vegas.

— É outro estado, não outro país. — Stuart brincou


e roubou a fatia de bacon da mão do filho.

Esperava que em casa tivéssemos muitos


momentos de felicidade e muita comunhão. Devon e eu
crescemos contando um com o outro para tudo. Meu

irmão era muito chato, mas era a melhor pessoa do


mundo. Ter ele como minha família era um imenso
privilégio. Desejava que Harry encontrasse amor na
nossa família e se sentisse bem-vindo.
17 | Vanessa

Harry ficou um pouco assustado no aeroporto. Ele


foi corajoso o suficiente para não falar nada, mas seus

olhos arregalados e os dedos apertando firme os meus


eram o indicativo que entrar em um avião era novidade.

Stuart explicou que ele era muito pequeno quando se


mudou de Vegas para Nova Iorque.

Ficamos sem saber se ele ficaria enjoado ou em

pânico durante o voo. Para acalmar seus nervos, decidi


explicar cada mínima coisa que iriamos fazer e permiti

que o comissário desse uma longa palestra. Harry se


acalmou quando todos prenderam os cintos e fechou os

olhos durante a decolagem.

Stuart e eu o distraímos com jogos e algumas

brincadeiras. Quando ele cansou, pegou seu tablet e


ficou assistindo seus vídeos salvos. Ele era um menino

muito fofo. Se tivesse bochechas, eu apertaria. Harry era

um menino magro, pretendia levá-lo aos médicos para

entender bem a sua condição de baixa visão e ver se

havia algum problema com o peso.


Nós pousamos sem problemas e meu irmão estava

nos aguardando. Foi uma maravilha ver a expressão

ansiosa dele para ser apresentado ao Harry.

— Filho, esse é o amigo do papai.

— Melhor amigo. — Devon corrigiu rapidamente.

Stuart revirou os olhos. — Oi, carinha. Eu era louco para


te conhecer.

Harry ficou com as bochechas vermelhas e meio

escondido atrás de mim, ainda analisando se Devon era


de confiança.

— Vejo suas fotos com meu pai, ele fala muito de

você, então, acho que são melhores amigos sim. Você é


irmão da tia Vanessa? — Seus olhos mostravam

curiosidade.

— Sou sim.

— Você pode confiar no tio Devon como confia em


mim. — Stuart garantiu. Harry olhou para o pai e abriu

um sorriso confiante, soltou minha mão e ofereceu ao

meu irmão, que pegou com firmeza. Após o aperto, Harry


voltou a me agarrar. Orgulhosa, dei um beijo nos seus

cabelos. — Pronto para conhecer a nossa casa?

— Estou pronto. — Ele abriu o sorriso igual ao do

pai, que me deixava derretida.

Devon sinalizou a direção que estava o carro e

seguimos com nossas coisas. Lena ainda estava meio

tímida e estranhando a temperatura. Prometi a ela que a

casa era climatizada. Sorriu, envergonhada e ficou

quieta. A mulher era uma santa. Devia estar exausta,

lidando sozinha com uma criança sofrendo de

ansiedade.

Durante o caminho, meu irmão fez questão de

mostrar alguns pontos turísticos, fazendo um trajeto um

pouco mais longo e pela maneira que olhava seu smart

relógio, estava protelando propositalmente. Não


perguntei nada, porque deveria ser uma surpresa.

Katrina, minha melhor amiga, era um furacão, não

deixaria o momento passar em branco.

A vida nos ensinou a importância de comemorar


todos os momentos. Nossos aniversários eram sagrados
e se divertir era a nossa lei. Mesmo depois de casada,

nada mudou. Stuart ainda ficava maluco com nós duas.

Devon criou um lugar na mente para se refugiar.

— Sua casa é bonita. — Harry falou assim que saiu

do carro. — Nunca morei em uma casa antes. Mamãe

dizia que apartamentos eram mais seguros.

— Em Nova Iorque, sim. Aqui é um condomínio com

segurança e nós temos uma equipe privada também —

Stuart explicou.

— Nunca brinquei em um quintal antes. Deve ser


legal. Tem piscina? Eu não sei nadar. — Harry agarrou a

mão do pai. Devon me deu um abraço apertado e beijei

sua bochecha, grata por ter um irmão tão parceiro.

Sinalizei para Lena nos acompanhar e ri da minha

porta, envolvida com um tecido azul cheio de estrelas e

um Chewbacca no meio da minha sala. Katrina decorou

todo o lugar como uma festa de boas-vindas temática.

Harry era louco por Guerra nas Estrelas. Seu olhar

para tudo era de admiração e paixão. Deu um pulo para

bater na mão do personagem que o cumprimentava.


— Obrigada, amiga. — Abracei-a apertado. — Olha

a felicidade dele!

— Imaginei que meu sobrinho ficaria muito feliz em


me escolher como sua tia favorita. — Ela me deu um

sorriso torto.

— Boba.

Harry foi apresentado a Rosa, ele não entendeu de

primeira quando a apresentei como minha mãezinha do

coração e prometi contar a história depois. Em seguida,

sorriu encantado para Halley, que quis o colo de Stuart

só para olhar para Harry com o jeito desconfiado igual ao

do pai. Era impressionante.

Lena ficou um pouco mais à vontade ao perceber

que apesar da região que morávamos, éramos pessoas

simples e familiares. Ela e Rosa engataram em uma

conversa animada na cozinha.

Eu estava exausta fisicamente, precisando de um

banho quentinho, daqueles que relaxam os músculos,

além de dormir umas quinze horas seguidas. Durante o

dia, ficamos ao redor de Harry. Mostramos as duas casas,


ambos os quintais, e seu pai prometeu levá-lo para

conhecer a academia no dia seguinte.

À noite, jantamos apenas nós quatro. Preparei

espaguete com almôndegas e muito queijo. Arrumei o

quarto de hóspedes para Lena e pela primeira vez em

muito tempo, Stuart colocou seu filho na cama. O menino

estava tão esgotado que mal ouviu a história que

escolheu.

Apesar de grandinho para ser colocado na cama,

tanto pai quanto filho precisavam desse momento. Foi

lindo assistir. Encostamos a porta, trancamos a escada e

deixamos as luzes dos degraus acesas, assim como os

abajures do corredor.

Entramos em nosso quarto e ficamos na dúvida

sobre a porta aberta ou encostada. Decidimos deixar

aberta sem o trinco. Sozinhos, ela ficava aberta, era a

primeira vez que tínhamos outra pessoa conosco.

Tirei minha roupa, tomei um banho rápido e

revigorante, parei na frente do espelho fazendo minha

rotina noturna de cuidados com a pele enquanto Stuart


tomava banho. Envolvida apenas em um roupão de seda

curtinho, percebi que estava me olhando.

— Vê algo que gosta? — Provoquei, ao vê-lo fechar

a torneira do chuveiro e mexer no painel do termostato

da água.

Stuart passou a toalha apenas no cabelo e não se

deu o trabalho de secar muito.

— Vejo algo que gosto e quero. — Se aproximou e


parou atrás de mim, me pressionando e subindo as mãos

pelo meu quadril, enfiando por baixo do roupão. Observei


sua mão chegar aos meus seios. O beliscão simultâneo

me fez saltar com um raio de excitação, lambi meu lábio


e o encarei pelo espelho.

Seu olhar era atento de tesão. Soltei o laço para


ver bem suas mãos fazendo mágica em mim. Ele desceu

por minha barriga, acompanhei com o olhar e arquejei


com o primeiro contato do seu dedo no meu clitóris.

— Assista. Não desvie o olhar — cochichou no meu

ouvido e mordeu o lóbulo da minha orelha. — Veja o quão


gostosa você é. — Pressionou minha entrada e gemi,
lutando para manter os olhos abertos. — Molhadinha...
que delícia. Você quer isso lento, apaixonado ou forte?

— Forte aqui e apaixonado na cama. — Escolhi

duas opções porque eu não podia me conter. Stuart e eu


fazíamos o que o mundo conhecia por sexo muito bom.

Não sei como fiquei tanto tempo sem fazer, mas


duvidava que me deixasse tão feliz e satisfeita quanto

com Stuart, porque meu coração era dele.

— Seu desejo é uma ordem. — Me virou


bruscamente, tirando o roupão de qualquer jeito,

agarrando minha bunda e me colocando sentada no


balcão da pia do banheiro. Jogando a toalha no chão,

tocou seu pau na minha frente e esfregou nas minhas


dobras molhadas, espalhando a umidade. Pressionando

na minha entrada, empurrou e gememos. — Puta que


pariu. — Mordeu meu pescoço. — Quero viver dentro de

você para sempre.

Passando o braço por trás do meu joelho, me


manteve tão próximo quanto possível e estocou firme e

ruidoso. O som das nossas carnes se batendo ecoava no


espaço junto com o cheiro de sexo. Mordi seu ombro para
segurar meu gemido no ápice do orgasmo, arranhando
seus braços, me contorcendo no lugar e ele gozou

dentro. Nós conversamos sobre isso, mas não chegamos


a fazer sem camisinha.

Tomava pílulas e filhos... por mais louco que fosse,


nós dois queríamos. Só desejávamos ter depois que toda

a guarda do Harry se resolvesse. Aos beijos, me levou


para a cama, cumprindo a segunda parte do meu pedido,

fazendo amor apaixonadamente comigo. Ainda ficamos


conversando por horas, aproveitando a privacidade para
falarmos do jeito que gostávamos: sem medo, tabus,

sem segredos. Eu gostava da nossa transparência e


intimidade. Acreditava que sermos amigos antes de

ficarmos juntos só corroborava para nossa cumplicidade


pós-casamento.

Foi uma decisão para ajudá-lo, porém, nós dois

sabíamos que era algo mais. Dormi entre seus braços,


ficamos totalmente agarradinhos e acordei com a cama

vazia, mas ainda não era manhã. Ele voltou para o


quarto com uma garrafa de água, de pijama e disse que

foi verificar o Harry.


— Beba um pouco. — Me entregou aberta. — Eu

estou com medo de dormir.

— Não é um sonho. Ele está bem?

— Roncando baixinho e todo descoberto. — Sorriu


torto.

— Dorme igual ao pai. — Revirei os olhos, rindo.


Devolvi a garrafa na metade, e ele terminou de beber. —

Não fica ansioso, vem dormir. Deixa a porta aberta, ele


vai vir aqui se precisar.

— Marco está no corredor. Ele me viu na cozinha e

pediu para entrar, subiu comigo e deitou ali.

— Ele vai pedir para sair em breve. — Bufei e bati


ao meu lado na cama. — Vem dormir.

Stuart se deitou, mas não dormiu. Levantou a cada


uma hora para olhar Harry. Quando ele tossiu, nós dois

nos levantamos, mudamos a climatização do quarto e o


cobri melhor. Em seu sono, tirou as meias, que gostava

de dormir. Coloquei de volta, pensando que um menino


da sua idade ainda não precisava mais desses cuidados,

mas ele tinha necessidades especiais. Me preocupava se


tinha alguma limitação neurológica para não agir como

as crianças de dez anos.

Acordei com o despertador. Era cedo, saí logo da

cama porque não conhecia os horários de Harry e a Lena


poderia ficar sem graça de sair do quarto se não me

visse pela casa. Troquei de roupa em silêncio, usando um


short jeans, camiseta e prendi o cabelo em um rabo de

cavalo. Stuart estava dormindo pesado e não quis


acordá-lo. Desci de fininho, abrindo todas as portas da
varanda e ligando a máquina de café.

Empolgada, fiz panquecas, fritei ovos e assei tiras


de bacon. Arrumei a mesa, porque gostava que as
refeições fossem feitas na sala de jantar. Devon e eu

comíamos na cozinha ou no sofá, mas sempre juntos.


Depois que Katrina passou a viver conosco, ficávamos

juntos na mesa. Era importante ter momentos em família


e manteria a tradição com a minha.

Lena desceu a escada, me deu bom dia e logo


começamos a conversar. Ela pediu desculpas por não ter

acordado para verificar o Harry e eu a tranquilizei. Não a


culpava por estar exausta.
— Não costumo comer muito pela manhã. — Lena
aceitou apenas café.

— Tem certeza? Minhas panquecas são muito

boas.

— Não sinto fome, não sei porque. Bebo café e fico


satisfeita. — Ela sorriu. — Se importa se sair para

caminhar pelo bairro? Eu nunca estive em Vegas.

— Claro que não, vá explorar. Te aconselho a

passar protetor solar e boné. Quando os meninos


acordarem, podemos fazer um passeio turístico.

Fiquei no sofá com minha caneca de café depois

que ela saiu e ouvi Harry sair do quarto. Ele olhou o pai
dormindo, coçou a cabeça e virou, se aproximando do

parapeito do corredor. Abriu um sorriso em seu rosto


sonolento e ajeitou os óculos, desceu com cuidado e se

jogou ao meu lado com um bocejo enorme.

— Seu pai ficou a noite toda te verificando, logo ele


vai acordar. — Passei meu braço por seus ombrinhos. —

Quer tomar café da manhã?

— Ainda estou com sono. — Bocejou de novo.


— Quer deitar no meu colo?

Ele sorriu torto como o pai. Senti vontade de

esmagar suas bochechas e não me contive. Harry riu


alto, fugindo de mim.

— Não sou um bebê, mas aceito que deite comigo.

Deixei minha caneca na mesinha na frente do sofá

e deitei. Harry se acomodou em minha frente, se


aconchegando com carinho, puxei a colcha que ficava no

sofá como decoração e nos cobri. Polo passeou pela sala,


nos viu deitados e subiu junto, ficando aos nossos pés.

Harry ficou tenso, com medo, mas ao perceber que o


cachorro só queria ficar junto, acabou relaxando e caiu

no sono.

Beijei sua cabeça, fechando os olhos, tirando um


cochilo muito bom, até sentir que estava sendo
observada. Abri os olhos e me deparei com Stuart
sentado na mesinha de centro, com uma caneca de café
e uma expressão de amor e admiração que me deixou

ainda mais apaixonada por ele. Com cuidado, se inclinou


e beijou meus lábios, em seguida, beijou a testa do filho.
— Ver vocês dois juntinhos assim me deixa muito
feliz. — Me beijou novamente.

— Ele só queria um pouco de aconchego.

— Vai ter tudo que quiser agora. — Stuart sorriu

torto. — Estou feliz em construir minha família com você.


Harry e eu somos muito sortudos.

— Eu que sou sortuda.

Stuart continuou nos admirando sem falar nada.


Fiquei quieta porque queria que Harry descansasse. Lena

voltou do seu passeio, entrou em casa junto com Katrina


e Rosa. Halley soltou um dos seus gritinhos estridentes e
felizes sempre que via um dos cachorros. Polo latiu para
ela, o que fez com que Harry acordasse meio assustado.

Ele esqueceu o medo quando viu Halley, saindo do

sofá e se aproximando de Katrina. Stuart pegou nossa


afilhada, colocou no cadeirão alto da nossa casa e puxou
uma cadeira para Harry ficar ao lado. Escolhi um lugar
para mim, com o estômago rosnando de fome.

— Eu vim comer aqui porque não quero fazer


comida. — Kat começou a se servir. Ela deu uma banana
para Halley se distrair enquanto comíamos. Servi Harry
com panquecas e ele quis algumas frutas por cima com

mel.

— Tem certeza de que não está grávida? — Rosa


perguntou.

— Sua menstruação está atrasada? — Entrei na


conversa.

— Eu não quero comer a minha comida. Estou

cansada do meu tempero. — Kat suspirou. — Gosto de


comer na casa da minha melhor amiga. Não preciso lavar
a louça porque sou lactante.

— Deixa de ser cara de pau. — Joguei um pedaço

de pão nela, que riu e me deu a língua para diversão das


crianças.

— Estou pronto para mais afilhados. — Stuart


brincou.

Harry estava comendo bem atento, olhou para Halley e


depois para mim, ficando pensativo. Seu olhar desceu

para minha aliança e virou para o pai.


— Você vai engravidar a Tia Vanessa e me dar um

irmão?

Engasguei com meu pão, surpresa com a pergunta.

— Não quer ter filhos com meu pai? — Harry pareceu


triste.

— Sim, nós queremos ter filhos, mas não ainda. — Stuart


garantiu.

— Por que não? Por minha causa?

— Porque ainda queremos fazer coisas juntos como casal

e depois, vamos ter filhos. Você é o meu mais velho e sei


que será um irmão incrível. — Stuart se inclinou e beijou
a cabeça do filho. — Coma tudo. Você precisa ficar bem
forte para cuidar da nossa família comigo.

Harry sorriu, todo empolgado e voltou a comer. Katrina,


como sempre, não conseguia ficar quieta.

— Se quiser treinar em como ser um irmão mais velho


com a Halley, pode pegar. Eu adoro quem distrai essa
menina para que eu possa fazer qualquer coisa sem ela

engatinhando atrás de mim e me chamando


disparadamente.
— Ela é muito fofinha. Nunca vi um bebê carequinha na

idade dela — ele comentou com suavidade.

— O cabelo dela é muito ralo e muito loirinho, quando


crescer, vai ter mais. Talvez até escureça. — Katrina
sorriu, apaixonada pela filha que estava com o rosto
tomado de banana, assim como a cadeira e a roupa.

— Eu era um bebê cabeludo, pai?

Stuart ficou um pouco melancólico porque ele não viu o


filho muitas vezes nos primeiros meses de vida, ainda na
batalha para fazer um exame de DNA e conseguir o
direito de visitação, mas ele logo se recuperou e pegou

seu telefone, mostrando para Harry todas as fotos que


tinha das primeiras semanas de vida até seus dois anos,
onde a mãe passou a cortar o cabelo dele curto igual do
pai.

Em uma das fotos, era possível ver que Harry estava no

colo de Debra. Eu não podia esperar por respostas que


não iriam aparecer magicamente. Olhei para Katrina e
ela compreendeu. Precisava saber o que realmente havia
acontecido e decidi ir atrás. Pelo jeito, tinha uma grande
aliada. Minha melhor amiga muito curiosa e uma

excelente investigadora, não me deixaria sozinha nessa


busca.
18 | Stuart

— Vai, pega! — Harry jogou a bolinha para Polo pegar. Ele


riu que os cachorros começaram uma competição pelo

mesmo brinquedo. — E agora? Eles sabem compartilhar?

— Sabem sim. — Devon tranquilizou e olhou a hora. —

Por que sempre que aquelas duas saem juntas, elas

resolvem que voltar para casa é superestimado?

— Não sei. Vamos adiantar as coisas do churrasco, estou

com fome e não vou esperar mais.

— Certo. — Devon soltou sua cerveja. — Harry, quer


aprender a temperar carnes?

Meu filho sorriu e assentiu, correndo para lavar as mãos.


Ainda era inacreditável que ele estivesse comigo. Uma

semana, e todos os dias achava que era um sonho. Lena

voltou para Nova Iorque. Harry ficou meio sentido,

choroso, ficou grudado em Vanessa o dia inteiro e sem


falar comigo, me bateu o desespero que me culpasse por

todas as mudanças e não sabia o que fazer. Decidimos


ligar para uma terapeuta que nos foi indicada no grupo

de terapia de Vanessa.

Em primeiro lugar, ela nos acalmou e logo começamos


uma sessão sem ele. Fiz duas sozinho, não gostava de

terapia, mas para que meu filho tivesse o lar mais

saudável possível, eu faria qualquer coisa. Em segundo,

foi muito importante porque soubemos como descansar

nossos nervos e voltar toda atenção para ele. Quando


Harry começou a falar com ela por chamada de vídeo,

ele quis que ficasse ao seu lado, segurando sua mão,

mas ao sentir confiança, passou a falar sozinho.

A próxima sessão seria na outra semana, mas após uma

conversa senti diferença nele, ao voltar a me abraçar e


beijar, querer jogar videogame comigo e não só grudar

em Vanessa. Ela nos alertou que ele sofreu um abandono

materno e se recusava a falar sobre isso, ao mesmo

tempo, estava se envolvendo emocionalmente com outra

mulher que representava a figura materna na casa.

Tínhamos que ter muito cuidado.

Lena ligava todos os dias, para que ele não sentisse

tanta ausência. No entanto, com Devon e Katrina por


perto, a presença tranquilizadora de Rosa e o carinho de

Mel com Michael, ele estava se soltando rapidamente.

Deu um pouco de choque com Kevin. Harry era tímido e

o outro bem extrovertido. Depois de um dia ignorando

um ao outro, começaram a brincar juntos.

Kevin era mais novo, porém, grandinho, robusto. Harry

era magro e aparentava ser mais novo que sua idade,

usava óculos e não era o tipo de criança que corria,

pulava e fazia artes. Ele era quieto, de ficar no tablet ou

lendo livros. Era irônico, que eu, um lutador profissional,


um homem que adorava esporte e luta, dono de

academia, tinha um filho nerd. Eu daria a ele o mundo

que desejasse. O importante, como pai, era que fosse

feliz.

— Nós chegamos! — Katrina gritou da frente.

— Stuart? — Vanessa me chamou e apareceu, linda como

sempre. Seu vestidinho era curto, exibindo as pernas

longas que eu era louco. Ela me abraçou e deitou a

cabeça no meu peito. — Oi, baby.

— Oi, senti sua falta. — Me inclinei e beijei seus lábios.


— Também senti. Foi um longo dia, estou exausta.

— O que estavam fazendo? — Olhei em seus olhos.

— Conversando na cama. Tenho muito a te contar, mas

não quero que Harry perceba nada. Prefiro ter certeza de

que está dormindo.

Fiquei preocupado. Katrina cismou de cutucar o vespeiro

do meu passado. Eu ainda não estava pronto para abrir

coisas que aconteceram na minha infância e

adolescência. Elas juraram que não falariam sobre ou

com meu pai, mas queriam investir a fundo o George, o


idiota que armou para mim junto com Debra.

Eu realmente o agredi, errei, pensei que ele estava

ameaçando a vida da mãe do meu filho. Paguei pelo meu

erro de muitas maneiras, não só sendo preso, fichado,

acusado e pagando minha sentença com serviço social e

não podendo sair de Vegas por dois anos a não ser para

lutas que um agente me acompanhava.

Perdi muito do meu filho e isso, eu era incapaz de

perdoar. O desaparecimento de Debra era confuso para

mim. Me preocupava que fosse mais um golpe para me


quebrar ao meio e ao mesmo tempo queria resolver logo

por amor ao meu filho, que merecia saber o que diabos

aconteceu com a mãe. Vanessa estava certa de que

descobriria a verdade. Ela não estava satisfeita e jurava

que havia muito mais.

Cansei de teorias. Por anos, mergulhei nelas e

tentei provar, mas nunca consegui. Confiei nas pessoas

erradas, fiquei preso a uma mulher que só me via como

uma máquina de dinheiro e queria sugar todas as minhas

energias. Chegou um momento em que eu só queria

sobreviver dia após dia e aproveitar o tempo que tinha

com meu filho.

— Compramos algumas coisas para assar junto

com o churrasco. — Katrina colocou as bolsas do

mercado na mesa. Harry subiu no banco para olhar. —

Quer me ajudar a montar espetinhos?

— Sim. Minhas mãos estão limpas — ele respondeu

animado.

Halley estava dormindo na sala, no escurinho e

com os cães ao redor. Ela estava agitada e não parava


nunca. Engatinhou o quintal inteiro, enfiou grama na

boca, puxou algumas flores, mexeu na ração dos

cachorros e chupou um brinquedo que não sabíamos

onde encontrou. Sua roupa estava imunda. O banho foi

uma bagunça terrível. Devon estava em uma reunião por

vídeo e ela me deixou ensopado.

Ainda bem que conseguia fazê-la dormir. A menina

era tão sapeca que saiu engatinhando enquanto eu

lembrava como se colocava uma fralda.

— Minha filha te deu trabalho? — Katrina viu a

minha blusa molhada.

— Não. Ela é um anjinho.

— Estamos falando da mesma criança? — Arqueou

a sobrancelha, rindo.

— Ela molhou o papai todo e fugiu pelada. — Harry

me dedurou.

— Essa é a Halley que eu conheço. — Katrina riu.

Percebi que Devon e Vanessa estavam discutindo

baixinho um pouco mais afastados. Ela estava quase

chorando e levou tudo de mim para intervir. Katrina


moveu os lábios, falando Shannon e eu não precisava de

mais nada para saber que aquilo era motivo o suficiente

para deixar minha esposa desestabilizada.

Ajudei a montar os espetinhos e arrumar a mesa

do quintal. Devon abraçou a irmã e foi acender a

churrasqueira. Vanessa entrou na nossa casa, sem olhar

para trás, e pedi licença. Harry ficou distraído em furar os

legumes e não me deu muita atenção.

Vanessa estava na sala, secando o rosto.

— Hey, vem aqui. — Puxei-a para meus braços. —


O que foi?

— Os médicos ligaram para Tio Saul. Ela não


responde mais ao tratamento e eles acreditam que a

partir de agora, tudo que podem fazer é deixá-la


confortável até...

— Sinto muito, baby.

— Estou triste. Ela é minha mãe, está prestes a


morrer e é tão má. Pensei que ficar doente lhe daria uma
nova visão da vida, que entendesse a importância da

família, mas a última vez que nos vimos ela sugeriu que
procurasse um marido rico enquanto mantenho um ar
virginal. — Secou o rosto, com raiva. — Ela me mandou

mensagens horríveis quando soube do casamento. Eu


queria dar a desculpa de que essa atitude é pelos

remédios e pela idade, mas ela sempre foi assim. Parecia


que me fazer sentir uma merda de pessoa era seu

esporte favorito. — Vanessa ergueu o olhar e me


devastou vê-la tão quebrada. — Shannon vai morrer e eu
não vou conseguir perdoá-la por não ter sido uma boa

mãe para mim. Eu desejava ardentemente qualquer


pingo de atenção.

— Tudo tem seu tempo. Você não precisa perdoar


agora, apenas trabalhar para que consiga fazer algum

dia.

— Eu sei. Vou falar sobre isso com a minha


terapeuta, mas obrigada por me ouvir. Seu apoio e

consolo é muito importante para mim.

— Sempre ao seu lado. — Beijei seus lábios e para


aliviar o clima, apertei sua bunda. Ela saltou e riu,

devolvendo o aperto na minha. — A luta é em alguns


dias, vou entender se quiser ficar em casa com o Harry.
— Não. Vou com você. É bem provável que eu grite
e entre no ringue se ele te machucar, mas estarei lá

torcendo. Rosa vai ficar com as crianças junto com Mel.


— Segurou meu rosto. — Sei que vai vencer e vai voltar

para casa comigo.

— Sempre saio das lutas machucado e inchado,

estou preocupado com a reação do Harry. Vamos contar a


ele?

— Apenas no dia, para que não sofra muito de

ansiedade e para que entenda o estado que irá voltar


para casa. — Sua voz falhou um pouco. — Eu odeio esse

Fernando Mansuetto.

— A culpa não é inteiramente dele. Quem se


envolve com um homem como ele, sabe das

consequências. A culpa é da Pauley. Ela tinha que pagar


a porra dessa dívida sozinha. — Mantive meu rosto

pertinho do seu. — Vou ganhar e segurar sua mão,


saindo de lá o mais rápido possível para nossa casa.

— Confio em você. — Ela sorriu do seu jeito


adorável. A primeira vez que vi aquele sorriso, fiquei
parado como um idiota, Devon me deu um soco no

braço. — Meu campeão. — Me abraçou apertado.

Aproveitando a proximidade e aconchego,


começamos um breve amasso no escurinho. Sem Harry

por perto, apertei sua bunda e a ergui, movimentando-


me para mostrar o quanto a queria. Vanessa gemeu

contra minha boca, pedindo para fechar a porta, fiz no


mesmo instante e fomos para o sofá, que ficava em uma

parte mais reservada.

— Você quer isso?

— Rapidinho. Eu preciso de você desse jeito agora

— falou ofegante e abri minha calça, puxando meu pau


duro e animado para foder em um piscar de olhos.

Vanessa ergueu o vestido, tirou a calcinha e montou no


meu colo. — Nós nunca fizemos assim.

Ela estava falando sobre rápido e desleixado.

— Vamos fazer mais vezes — gemi contra sua

boca. — Rebola, baby. — Segurei seu rosto, sussurrando


todo tipo de putaria no seu ouvido, só para deixá-la ainda
mais excitada, rebolando com mais vontade até gozar.

Agarrei sua bunda e meti rápido, gozando em seguida.

Ficamos abraçados, recuperando a respiração e

meu pau ainda pulsava dentro dela. Beijei sua boca e


rindo, ela foi correndo para o banheiro se ajeitar para

voltarmos. Tentei manter minha aparência o mais


tranquila possível, o sorriso no meu rosto denunciava a

intervenção gostosa da minha mulher no meu humor. De


mãos dadas, voltamos para o quintal ao lado.

Harry estava usando um avental e misturando a

salada com Rosa. Ele estava amando cozinhar. Vanessa o


ensinou a fazer massa de panquecas, porém, com sua
atenção na comida, decidimos bloquear o fogão sempre

que não estávamos por perto. Harry era inteligente e


gostava de ser independente.

— Você vai provar os espetinhos que fiz, papai? —


Ele se aproximou correndo. — Estão assando.

— Será meu prato principal.

Vanessa começou a arrumar a mesa enquanto


Katrina vigiava as carnes. Devon estava no telefone,
verificando um problema no cassino principal e ele
andava meio estressado. Me afastei um pouco da

academia para dar atenção ao meu filho. Harry quis ir


trabalhar comigo e ficava me esperando para terminar
de treinar. Não ficava até tarde. Buscava Vanessa na

empresa e nós três voltávamos para casa juntos.

Era questão de tempo até a mídia explodir que eu

tinha um filho. Logo veriam a criança comigo. Eu não


sabia como seria o impacto disso no processo, mas, por

enquanto, eu não podia lutar contra a imprensa.

Vanessa aumentou o som quando começou a tocar


Home do Michael Bublé. Ela começou a cantar segurando

uma colher e dançou sozinha. Harry ficou parado,


olhando-a e ela riu da expressão dele, esticando a mão e

convidando para dançar. Para minha surpresa, ele


aceitou. Os dois dançaram juntinhos, rindo dela forçando-

o a fazer movimentos e ela encantada.

— Expressão de babaca apaixonado é o que


significa soldado abatido. — Devon sentou ao meu lado.

— Mais um pouco, precisa de um babador.


— Olha quem fala. — Dei-lhe o dedo.

— Eu não me importo em ser um babaca

apaixonado. Katrina e Halley significam o mundo para


mim. — Esticou a mão e pegou uma cerveja no balde de

gelo.

— Ainda acha que vou quebrar o coração da sua


irmã?

— Nunca achei que você, deliberadamente,

quebraria o coração dela. Sempre soube que estava na


dela, desde a primeira vez. O que eu acreditava, ainda

acredito em parte, é que toda situação que te envolve


pode partir vocês dois ao meio. — Deu um gole

preguiçoso, colocando os pés para o alto, apoiados na

cadeira. — Vejo que minha irmã é forte, ela tem


demonstrado equilíbrio e determinação, no trabalho
também está diferente, confiante. Ainda é a pessoa mais
doce e gentil do mundo inteiro, mas existe algo mais.

Acho que você e Harry afloraram o lado leoa dela.

— Ela é muito protetora. Uma mulher incrível. Não


existe absolutamente nada nela que não seja perfeito. —
Peguei uma cerveja para mim.

— A ideia de vocês dois juntos me dava pânico,


mas, até que são bonitinhos. Ela será uma mãe incrível.

— Apontou para onde minha mulher e meu filho ainda se


divertiam juntos. — É a pessoa mais amorosa e
paciente.

— Não quero colocar a pressão nela de ser mãe do


Harry, afinal, ele tem uma e nós não sabemos onde ela

está. Estou disposto a aceitar o que Vanessa puder


participar.

— Ela vai tomar tudo para si. Essa é a minha irmã,


com jeitinho e sutileza, toma todo o espaço. Diferente de
Katrina, que é como um trator, Vanessa é assim. Por isso

que as duas se dão muito bem.

Voltei a olhar para minha esposa, seu sorriso quase


fez o meu coração explodir no peito e a gargalhada alta
do meu filho trouxe lágrimas aos meus olhos. Katrina se

juntou na bagunça, dançando uma nova música mais


animada e ele estava se sentindo o fruto bendito entre
duas mulheres lindas. Virou na minha direção, com seus
óculos um pouco tortos, os dentes grandes meio
separados na frente em plena exibição e ergueu ambos

os polegares sinalizando que estava muito bem.

Se as duas pessoas mais importantes da minha


vida estavam felizes, eu também estava.
19 | Vanessa

— Você vai voltar para casa? — Harry questionou a Stuart


após contarmos a ele sobre a luta no dia seguinte. Estava

um pouco mais afastada, dobrando as roupas dele no


closet, mas totalmente atenta à conversa. — Não quero

ficar sem você também.

Foi aí que quase chorei e virei de costas. Meus nervos


estavam à flor da pele com essa luta e meu coração

disparava com cada possibilidade de perder Stuart. Seu


oponente estava agressivo, enviando mensagens, os

homens dele passeando pela academia. Stuart estava


tão irritado, que ficava chateado se eu saísse e

demorasse muito, porque sentia medo e preocupação.

Harry e eu não ficamos sem guarda-costas ou

completamente sozinhos. Meu irmão estava rabugento. A


luta alterou os ânimos da nossa casa. Enquanto isso,

recebemos uma visita surpresa da assistente social,

estávamos em evidência em todo lugar, Shannon voltou

para o hospital e Debra seguia desaparecida.


— Claro que irei voltar. — Stuart o cobriu. — Você vai

ficar com a Rosa aqui em casa. Espero que a ajude a

olhar Halley e seja paciente com a energia do Kevin.

— Eu serei, papai. Poderei assistir meus filmes?

— Sim, poderá, mas não até tarde. Nada de pular seu

horário de dormir, ou vai ficar com dor de cabeça.

— Vou torcer por você. — Harry sorriu e tirou os óculos

depois de bocejar. — Boa noite. Eu te amo.

— Eu também te amo. — Stuart o beijou. Me aproximei

devagar e dei-lhe um beijo de boa noite também,

apagamos as luzes e Marco ergueu a cabeça do corredor,

onde estava jogado. Agora ele estava querendo dormir


ali toda noite. De vez em quando, Polo ficava junto

também. — Se comporta. — Stuart foi severo.

Fui direto para o quarto, querendo tomar banho e me

permiti chorar no chuveiro. Nunca achei que me deixar

levar nas minhas emoções era um sinal de fraqueza,

aprendi a respeitar os meus sentimentos logo nas

primeiras sessões da terapia, mas, eu não queria que


Stuart me visse chateada. Dessa vez era para proteger a

mente dele de uma preocupação comigo.

Lavei meu rosto, o cabelo e não sequei, deixei como

estava. Vesti uma camisola e meu marido entrou para

tomar banho. Dei privacidade e fui para a cama, abrindo

a gaveta ao lado. Descobri coisas importantes sobre o

passado dele, algo que tinha certeza de que ele não

sabia e não falei nada para não tirar a sua concentração

da luta. Já estava preocupada em como iria receber a

notícia e me sentia culpada por não ter contado


imediatamente.

Guardei as folhas de volta e tranquei a gaveta. Ele


estava quase voltando, me cobri e apaguei o abajur do

meu lado da cama.

— Estou exausto, mas não o suficiente para não perceber


que você chorou sozinha no banheiro e está mais tensa

que eu. — Deitou em cima de mim com cuidado. — Me

dê um beijo e fale comigo.

— Estou preocupada sim, é só tensão com tudo que está


acontecendo. — Abracei-o apertado, mas não consegui
mover minhas pernas porque estava coberta. — O que

costumava fazer antes de uma luta?

Ele se moveu desconfortável.

— Não quero que fique chateada... mas vou ser sincero.

Eu gostava de foder a noite inteira antes de lutar.

Liberava a tensão e eu acordava bem. — A maneira que

suas bochechas ficaram vermelhas foi adorável.

— Nada te impede de fazer o mesmo com sua esposa,

impede? — Arqueei a sobrancelha, desafiando-o. — Ou

isso tudo aí é contar vantagem?

Stuart se afastou, olhando bem para o meu rosto e abriu

um sorriso lento.

— Você vai se arrepender de me desafiar logo com sexo.

— Puxou a coberta que estava entre nós. — Vai passar o

dia inteiro amanhã ainda me sentindo... — Enfiou a mão

por dentro da minha camisola, arrastando a calcinha

pelas minhas pernas e jogou pelos ombros. — Foder sua

buceta gostosa a noite toda será um imenso prazer. —

Sorriu torto.
Stuart avançou com tudo para cima de mim e foi uma

das noites mais deliciosas da minha vida. Nós nunca

transamos daquela maneira. Percebi o quão intenso e

tarado ele podia ser ao descontar a tensão da luta e

amanheci ciente das nossas atividades a cada passo. Ele

tinha muito mais disposição física do que eu, precisava

malhar mais, no entanto, a noite de sexo nos deixou

muito próximos o dia todo.

Nossas mãos estavam sempre unidas, não fiquei longe

durante a pesagem e preparei todas as suas refeições.

Stuart era bem preparado mental e tecnicamente para a

luta, mas seu oponente era preparado para luta suja. Já

tinha assistido algumas pela televisão, mas eu nunca o vi

sem regras. A noite chegou muito mais rápido do que

estávamos preparados. Vesti um macacão de ginástica,

camisa da equipe e um imenso casaco cinza com o nome

dele nas costas.

O vestiário de um ginásio clandestino em que a luta foi

alocada estava caindo aos pedaços. Toda equipe dele

estava lá dentro, assim como Devon, Katrina, Mac e o

restante dos nossos seguranças.


Meu marido se aqueceu, pulando corda, praticando

movimentos e ficando quieto. Quando deu a hora, ele

cochichou algo com seu assistente, que pediu que todo

mundo saísse. Stuart segurou minha mão e me beijou.

— Não vou te beijar lá fora porque não quero atrair

atenção para você.

— Sem beijo da sorte antes de subir?

— Esse é o meu beijo da sorte. Você é meu amuleto. —


Segurou meu rosto e me beijou mais vezes. — Te amo,

Vanessa.

Meus olhos encheram-se de lágrimas, agarrei seus

braços, querendo me fundir nele. Meu coração acelerou

com tudo que ele enfrentaria nos próximos minutos.

— Te amo há muito tempo. — Seguiu falando.

— Te amo, Stuart. Sou sua e estou te esperando para

voltar para casa. — Olhei em seus olhos, na ponta dos

pés, segurando sua nuca. — Não importa o que tenha


que fazer, vamos lidar com quaisquer consequências,

mas lute para vencer. Meu campeão.


Assentindo, ouvimos o sinal de que ele deveria ir e saiu

do vestiário rodeado pela sua equipe. Devon segurou

minha mão, entrelaçando nossos dedos e Katrina parou

do meu outro lado, me dando apoio porque sentia que

iria cair. Por não ser uma luta oficial, o local estava

precário e muito cheio. Fomos levados para um pequeno

camarote, de frente onde Pauley estava com Fernando.

O homem era bonito, sombrio, bebia um líquido âmbar


em um copo ornamentado e tinha um charuto entre os

dedos. Pauley estava sentindo-se poderosa ao seu lado,


me encarando com raiva. Arqueei a sobrancelha,
desafiando-a. Que ela viesse. Eu estava com tanta raiva

que poderia me jogar naquele ringue com ela.

Stuart escolheu entrar sem música. Ele não daria uma


performance. Não fez nenhuma das graças que

costumava fazer e seu público amava. Claro que


sentiram falta e começaram a vaiar. Fernando cochichou

algo com Pauley, que tentou falar com o chefe da equipe


de Stuart e Devon fez sinal de corte para ela. Estava

fora. Ela era nada. Não tinha nenhum poder sobre Stuart
e com isso, seu rosto amassou de raiva.
Ergui minha garrafa de água, oferecendo um brinde. Que
ela bebesse no inferno.

Jim Diablo entrou fazendo graça, pulando, dando

cambalhotas e fazendo um sinal de morte com os dentes


pintados de vermelho. Stuart estava no canto, olhando,

sem demonstrar nenhuma emoção. Nunca senti tanto


medo em toda minha vida e por mais que confiasse

cegamente no treino e preparo de Stuart, não confiava


em seu oponente.

A luta começou e quase vomitei. Foi letal. Os sons eram

assustadores. Katrina ficou firme ao meu lado e por amor


ao Stuart, não saí do meu lugar. Segurei a barra de ferro

com tanta força que meus dedos estavam doendo. A


multidão gritava, as apostas rolando alto. Devon estava

controlando os valores pelo telefone e de vez em


quando, via Fernando Mansuetto sendo informado.

Pauley olhava fixamente para o ringue e eu senti que o

que ela tinha por Stuart era mais que uma ambição. Era
posse. Ela tinha sentimentos perigosos por ele e era

melhor que ficasse bem longe do meu marido.


Stuart avançou na luta, virando o jogo, ele partiu com
tudo para cima de Jim e quando deu um nocaute, pensei

que o lugar fosse ruir de tanto que a multidão gritou. Ele


não parou, estava nítido que Jim perdeu a consciência no

soco, mas ele precisava derrubar o homem para a luta


acabar. Devon me segurou no lugar porque eu estava

quase pulando ali.

Fernando Mansuetto ergueu a mão, parando a luta, e um

sinal explodiu nos autos falantes. Três homens enormes


pularam no ringue, puxando Stuart de cima e a equipe
dele interveio. Meu marido ficou arfando, no canto, um

homem abaixou e tocou o pescoço de Jim. Eu sabia que


aquele era o momento que mudaria a vida de Stuart para

sempre.

— Ele está vivo, mas está fora — falou alto.

Fernando Mansuetto sinalizou que a luta estava

encerrada.

O juiz ergueu o braço de Stuart como campeão. Observei

a equipe de Jim tirando-o do ringue.


Meu marido abaixou o braço, pegou seu roupão e pulou

fora. Devon saiu do camarote sem falar nada. Katrina


tentou ir atrás dele, mas Mac nos segurou ali.

— O que ele foi fazer? — Entrei em desespero.

Não levou dois minutos para ver meu irmão invadindo o

camarote da frente, falando diretamente com Fernando


Mansuetto. Pauley tentou falar algo, mas foi silenciada. O

tempo parecia se arrastar e só percebi que segurei a


respiração ao ver os dois apertando as mãos. Fernando

aceitou o pagamento e Stuart estava livre.

Mac puxou o capuz na minha cabeça quando uma briga

começou entre as torcidas. Teve sons de disparos. Ele


espremeu Katrina e eu entre a equipe de segurança,

levando para fora do lugar o mais rápido possível. Entrei


em um carro separado de Katrina, que avançou um
pouco e parou de repente. Stuart abriu a porta e entrou.

Ele ainda estava todo suado, com o calção e com uma


toalha enrolada no pescoço. Sem me importar com seu

estado, apenas me joguei nele. Subi em seu colo,


beijando seu rosto, cada ferimento e por fim, seus lábios.
Não me importei nenhum pouco com a velocidade do

carro. Nós entramos no estacionamento e de lá,


mudamos para o nosso carro. Esperamos Devon e

Katrina e saímos juntos, com nossos seguranças nos


seguindo.

Stuart quis dirigir, o tempo todo atento à estrada e só


parei de olhar pelo retrovisor quando entramos em casa.

Saímos em silêncio para não acordar as crianças.

Devon sinalizou para entrarmos na casa dele. Katrina


estava com taças nas mãos.

— Eu vou estourar a porra de um champanhe porque

você está livre, caralho! — gritou. Eles se abraçaram,


pulando no lugar, dando tapas nas costas. — Pauley filha

de uma puta que me aguarde, que agora vou com tudo


pra cima dela!

— Ele aceitou a luta como último pagamento? — Stuart


parecia que ia chorar.

— Sim, sim e sim!

— Graças a Deus! — Ele suspirou e me pegou. — Meu

amuleto da sorte poderoso. — Me beijou bem suave


comparado ao seu estado de agitação.

Devon estourou o champanhe e Katrina saiu correndo,


voltando com um sorriso.

— Fui verificar se tinha leite o suficiente para Halley

porque eu quero beber metade dessa garrafa para aliviar


minha tensão. — Agarrou a taça. — Pode encher.

— Todos nós precisamos beber e brindar hoje. — Stuart


me entregou uma e pegou outra. — Obrigado por serem

os melhores amigos e a melhor família que um homem


pode ter. Vocês são um suporte e tanto. Serei grato pelo

resto da minha vida.

— Awn que fofinho, mas você precisa tomar um banho. —


Katrina fez uma careta depois que brindamos e bebemos.

— Ah, eu vou. Mas você não vai querer saber os detalhes

do meu banho. — Stuart me encarou. — Beba tudo.

Virei de uma vez e olhei para minha família.

— Vocês me deem licença, mas eu preciso cuidar do meu

marido. Amanhã vamos brindar e beber até cair. —


Segurei a mão de Stuart e o reboquei para fora. Katrina
estava rindo e meu irmão bebendo direto da garrafa para
fingir que não estava ouvindo nada.

Atravessamos o quintal e subimos de fininho. Rosa


estava dormindo no quarto de hóspedes, Harry todo

atravessado na cama e com muito cuidado, acionamos o


alarme novamente e fomos para o nosso quarto. Preparei

um banho relaxante na banheira, ele entrou primeiro e


me dediquei a cuidar dos pequenos cortes, fazendo
compressa onde já tinha hematomas, seguindo suas

instruções experientes.

— Estou bem. Vem aqui, quero ficar com você.

Tirei minha roupa com cuidado e entrei, sentando-me

entre suas pernas e recostando em seu peito. Stuart

espalhou espuma pelo meu corpo, dando uma atenção


especial aos mamilos, e virei, era minha chance de
cuidar dele. Fiz com que se deitasse parcialmente em
cima de mim, massageando seus músculos e me

sentindo muito grata por ele estar bem.

— Ficou com medo?


— Fiquei apavorada. — Suspirei com a verdade. — No
entanto, me segurei por você. Quando acabou, senti um

alívio indescritível.

— Pela primeira vez, senti medo. Antes eu pensava no


meu filho, mas ele tinha a mãe e eu não tinha ninguém.
— Ergueu o rosto e me deu um beijo. — Dessa vez, eu
tinha vocês me esperando. Trouxe uma responsabilidade

enorme para mim.

— Nesse tipo de luta não precisará entrar nunca mais,


agora é só seguir com sua programação normal com o
contrato que ainda tem com o UFC e se dedicar a sua
academia. Pauley perdeu em todos os sentidos.

— Ela que me aguarde agora. — Ele bufou.

— Não vamos falar disso... essa noite, eu vou cuidar do


meu marido. Vou te dar duas opções: sexo ou massagem
para relaxar? — Dei um beliscão em seu mamilo.

— Sexo bem gostoso, que vire uma massagem. — Sorriu


torto.

Fomos para o quarto e mal dormimos, estar um com o


outro era tudo que importava. Antes de amanhecer, já
estávamos vestidos, apenas deitados lado-a-lado,
compartilhando uma garrafa de suco e falando baixo

enquanto o sono não vinha. Harry apareceu timidamente


na porta, olhando para o quarto e vi o alívio ao ver o pai.

— Vem cá, filho. — Stuart bateu na perna, o menino


correu e subiu nele. — Acordou preocupado?

— Eu tentei esperar acordado, mas Rosa não deixou.

Peguei no sono mesmo assim. Você está bem? — Ele


tocou o supercílio cortado com cuidado.

— Estou muito bem. Estamos sem sono, quer ficar


conosco?

Cheguei para o lado e ele ficou bem entre nós dois,

conversando sobre sua noite. Contou do jantar, dos


filmes que assistiu e acabou pegando no sono sozinho.
Stuart e eu escorregamos na cama, ficando em silêncio e
ele fez um cafuné em mim para me fazer dormir.

Acordei sozinha na cama, já era pouco depois de uma da


tarde e soltei um bocejo, sentindo uma dor no corpo

como se fosse adoecer. Fui ao banheiro e fui levada para


a cozinha pelo cheiro de comida. Harry estava colocando
a mesa e Stuart grelhando frango. Já tinha uma salada

pronta e milho cozido.

— Estou esquentando algumas sobras. Acordamos com


muita fome. — Stuart explicou. Harry me deu um sorriso
ao recolher os copos do armário já bem familiarizado
com a nossa casa. — Ia te acordar quando tudo ficasse

pronto. — Beijou meus lábios e deu um tapinha na


bunda.

Meus meninos não queriam ajuda, mandaram que eu


sentasse e esperasse a comida ficar pronta. Era a
primeira vez que os dois me serviam e foi tudo feito com

muito amor. Eu me senti a mulher mais sortuda do


mundo inteiro.
20 | Vanessa

Stuart segurou a mão de Harry enquanto uma


coordenadora pedagógica mostrava as instalações da

escola. Era a mesma escola particular onde Kevin


estudava. Já conhecia algumas pessoas por ter ido

buscá-lo ali e foi a nossa primeira opção para matricular


o Harry. Ainda estávamos no meio das férias de verão,

porém, fomos orientados não só pela psicóloga, como


pela assistente social, que era importante que Harry se

ambientasse com futuros colegas antes das aulas


começarem.

As palavras não foram ditas diretamente, mas ficou bem

óbvio que o motivo era a diferença dos gostos dele para


os meninos da sua idade. É claro que isso ativou a minha

paranoia e meu lado protetor. Foi difícil decidir que ele

deveria ficar para a colônia de férias, mas ele estava

empolgado em fazer amizades. A alegria dele foi o que


me tranquilizou.

Seu olhar ficou infinitamente mais animado ao ver o

laboratório de ciências e o de informática. Eu soube que


ele amou a escola a partir dali. Ele ficaria em uma sala

equipada para alunos com sua deficiência visual e era

incrível o quanto a escola foi acolhedora. Por ter outros

alunos com baixa visão, talvez não sofresse tanto.

— Você quer ficar hoje? Podemos vir te buscar às três em

ponto. — Ofereci, ao vê-lo olhar as crianças fazendo

atividades no laboratório.

— Eu quero. Posso ligar se não gostar?

— É claro que sim, mas seu pai e eu queremos que tente,


está bem? Sei que é forte e corajoso, você é meu

campeão também. — Beijei sua testa.

— Tudo bem. Tchau, papai. — Ele acenou e foi com a


professora.

Stuart segurou minha mão e eu não me movi. Ele riu e

redirecionou meus ombros para a saída, me puxando

para o carro. Saímos de casa juntos e pretendíamos

voltar em família.

— Sei que depois da luta, pedi que não me contasse o

que descobriu. Não quis ser grosseiro e ainda estou me


sentindo culpado por ter cortado o assunto. — Stuart

começou enquanto dirigia. — Desculpa.

— Já me pediu e eu já entendi. Você tem todo direito de

querer ficar bem. Só me dá ansiedade sentir que estou

escondendo algo importante.

— Não é esconder. Sei que você sabe... sou eu que não

quero saber. — Segurou minha mão e beijou. — Hoje a

noite, vamos jantar em família, colocar o Harry para

dormir e ter uma conversa de adultos.

— Fazemos isso todos os dias. — Provoquei para aliviar o

clima.

— Melhor parte do meu dia.

Stuart me deixou na empresa e foi para a academia.

Entrei pelo saguão principal, percebendo que estava

sendo fotografada e acenei de longe, logo entrando no

elevador e digitando o código da cobertura. Katrina foi a

primeira pessoa que eu vi. Halley estava vermelha de

tanto chorar, agarrada à camisa dela, se recusando a ir

com a babá que estava em teste naquela semana. Minha

afilhada ficava muito bem com Rosa e Mel, ela mal dava
atenção a Katrina comigo, mas com qualquer pessoa

estranha ela abria um berreiro que deixava qualquer um

maluco.

Devon criou um quarto exclusivamente no andar para

que Katrina pudesse voltar a trabalhar fora e Halley

ficasse por perto enquanto fosse tão pequena. Em pouco

tempo, ela iria para uma creche-escola e socializaria com

outras crianças. Ela ainda iria completar um ano em

algumas semanas, estava ensaiando andar e mexia em

absolutamente tudo que estivesse em seu caminho.

— O que aconteceu? — Me aproximei e peguei meu

bebezinho. — Não fica assim, amorzinho da minha vida.

— Eu não aguento mais. — Katrina começou a chorar

junto. — Sou uma mãe terrível que quer voltar a

trabalhar e a filha não está pronta. Sou muito egoísta. —

Fungou.

— Não, amiga. — Puxei-a para um abraço também. —

Você não é cruel.

Levei as duas para a sala, mãe e filha ficaram no sofá,

abraçadas e sorri para o rosto manhoso de Halley


querendo mamar a todo custo. Liguei meu computador,

começando a trabalhar. Minha sala ficava ao lado da de

Katrina, com a expansão do setor de comunicação, o

restante da equipe ficava em uma área maior no andar

inferior e nós duas, com salas interligadas. Devon queria

que ficássemos ao lado dele, mas eu não precisava ouvir

o casal maravilha nas escapadas.

Não que desse para ouvir, mas, eu não era idiota. Toda

vez que Katrina sumia e voltava feliz era porque teve um

momento de amor. Depois de ficar com Stuart, não podia

culpá-la.

Apenas quando Halley dormiu a babá conseguiu tirá-la

da sala e minha companheira de trabalho conseguiu me

passar o que precisava. Tivemos uma reunião por quase

duas horas. Devon estava implantando algumas

mudanças que me dariam dor de cabeça em transformar

em algo agradável para o público, principalmente para os

funcionários.

— Já contou a Stuart? Estou sem dormir. — Katrina


mudou de assunto do nada. Ela estava se segurando
para não falar. — Devon disse para irmos com calma

porque envolve o pai dele e pode ser um gatilho.

— Estou nervosa para falar logo. Ele não quis saber

depois da luta, precisando de um tempo para se desligar

de tudo aquilo e acho que a minha expressão denunciou

que não era bom. — Me inclinei na mesa, apoiando meus

cotovelos e bufei. — Como vou contar a ele que parece

que o pai dele está por trás de tudo?

— Minha intuição diz que não. — Katrina foi sincera como

sempre. — Ainda aposto minhas fichas na Pauley. Ela

tirou todas as pessoas que poderiam afastar Stuart do

ringue. Primeiro o pai, depois Debra e o filho...

— Acha que Debra foi comprada?

— Eu acho que a coisa toda da gravidez foi um acidente

para ela também. Não sabemos exatamente o que ela

queria, mas talvez, quisesse o Stuart, ele negou, disse

que assumiria a criança e pelo visto, sendo uma mulher

movida por emoções pode ter aceitado um plano e um

dinheiro. Não sei, não estou falando nada com nada. É

tão confuso.
— Uma coisa é realmente certa: tem uma enorme

armação por trás de tudo isso. — Peguei a caneta,

desenhando os pontos que eu achava que tinha ligação.

— Acho que o George realmente foi pago pela Debra

para incriminar Stuart, mas não consigo ver ligação com

a Pauley e muito menos com o pai dele. O que nós

encontramos foi grave, mas não liga os pontos.

— Stuart vai ficar arrasado. — Ela fez uma expressão


triste.

— Acho que sim, mas por um lado, ele não vai ficar

surpreso. — Brinquei com a minha caneta, batendo na


mesa.

— Se precisarem de apoio, estaremos lá. — Ofereceu de

coração.

Abri um sorriso e segurei sua mão.

— Obrigada, amiga. Eu sei disso, mas prefiro falar com

ele sozinha.

Katrina recostou na poltrona, me olhando com carinho.

— Casada e madrasta, bem, sendo mãe em tempo


integral. Quem diria? Acho que as coisas nas nossas
vidas funcionam dessa maneira.

— Tudo tem um tempo certo, não é? Estou tão feliz,


Katrina. Eu sei que tem muita coisa acontecendo e que

ainda existe muito a ser resolvido, mas toda vez que


entro na minha casa, vejo meu marido, meu enteado e é

a minha vida. É meu. Tenho algo que sempre sonhei... —


Soltei um suspiro completamente apaixonada. — Nós

falamos sobre mais filhos.

— Não me faça chorar de novo. Vocês, Winterfield, me


transformaram em uma boba. Você sempre quis ter sua

casa, filhos, viver a vida que não tiveram e te ver


realizando esse sonho me deixa tão feliz. — Ela fungou e

caí na gargalhada.

— Katrina? Você está grávida?

— O quê? — Secou o rosto. — Claro que não.

— A primeira vez você disse que não também e estava

muito grávida.

Seus olhos se arregalaram.

— Acha que devo fazer um teste?


— Pensei que sua segunda gravidez seria juntinho
comigo. — Fiz um beicinho.

— Engravida logo que resolveremos o problema. —


Soltou uma risada. — Espero que não esteja grávida.

Quero um segundo filho, mas queria que Halley estivesse


um pouco maior, ela mal solta os meus peitos.

— Mais tarde vamos comprar um teste, agora, foque-se

no trabalho. Temos muito que fazer até o fim do


expediente. — Entreguei a ela uma pasta com alguns

recortes de jornais. Eram matérias que saíram sobre a


empresa e precisávamos analisar. — Temos que

trabalhar.

— Está parecendo o Devon, credo. Eu amo te ver segura


assim. — Piscou e soprou um beijo. — Até daqui a pouco.

Me concentrei no trabalho e recebi uma mensagem fofa


do Harry dizendo que ele estava bem, fazendo um

experimento no laboratório e se divertindo. Ainda


finalizou que era para não me preocupar. Nós

conversamos sobre a saudade que sentia da mãe e eu


não queria que ele crescesse sem ela, para isso,
precisava encontrá-la. A polícia de Nova Iorque não nos

atualizava em nada e o advogado dela entregou os


pontos, assumiu que errou ao culpar Stuart e aceitou

ajuda de Arthur.

No final, não importava mais a guerra da guarda, era


importante encontrar Debra. Minha intuição me dizia que

ela não sumiu porque quis ou simplesmente em uma


tentativa de prejudicar Stuart. Esperamos a possibilidade

de que julgassem ele culpado, como foi com a agressão,


mas até o momento, nada havia surgido. Até o advogado

dela recuou, a mãe não estava interessada e o atual


namorado já estava com outra. Tirando o Harry, não

havia ninguém mais procurando por ela.

Isso era triste.

Voltei a me concentrar no trabalho, ficando dispersa em


vários momentos e ao precisar me encontrar com Devon,

topei com Everly no corredor.

— As quietinhas são as piores. — Ela bateu palmas e

comecei a rir. — Garota! E eu querendo chegar no Stuart


no casamento. Queria me ver levando um não bem

grande?

— E o que nos garante que ele diria não?

— É melhor que diga, ou eu serei aquela a arrancar o pau

dele fora por te machucar. — Me deu um sorriso. — Vocês


dois ficam lindos juntos. Quando estava com o Devon,

sempre desconfiei que ele era super na sua, mas seu


irmão ficava me cortando.

— Você adora lembrar o tempo que ficou com meu

marido. — Katrina meio que trombou nela, fingindo ser


sem querer.

— Foi só um comentário, psicótica. — Everly riu. —


Falando na sua loucura, o que tem para mim? Devon

disse que havia algumas pautas a serem analisadas.

— Infelizmente, sim. Eu não gosto muito de ficar na sua


presença. — Katrina era nojenta quando queria.

— Eu muito menos, mas você paga meu salário.

Comecei a rir.

— Quando vocês vão finalmente parar com isso? Já


somos adultas.
Ambas deram de ombros, rindo. Elas nunca deixariam de
implicar uma com a outra, aquilo fazia parte delas.

— Srta. Mendez? — A recepcionista se aproximou. — Tem

um homem te procurando. Ele parece meio irritado.

Nós três saímos da área reservada para ver quem era.


Everly ficou vermelha.

— Você é maluca! Pichou meu carro?! — Ele gritou, tão


vermelho quanto ela. Só que de raiva. O homem parecia

trabalhar com obras, ou coisas do tipo, estava meio sujo


de barro e cimento. — Imagina só ir em casa tomar um

banho e ver o meu carro todo pintado!

— Eu te avisei que o seu carro seria cruelmente


crucificado se colocasse na minha vaga novamente. —

Everly aprumou a postura, tentando soar superior e


calma, mas podia ver que estava fervendo.

— Sua vaga? Ela tem o seu nome? — Ele apontou,

furioso.

— Não preciso colocar um nome porque ela sempre foi

minha! Até você se mudar e achar que ela te pertence!


Está em frente à minha casa e eu coloco meu carro ali
todos os dias pelos últimos quatro anos! — Ela berrou.
Era tão difícil ver Everly se perder que Katrina e eu

trocamos um olhar segurando a risada.

— Eu comprei a casa com a vaga!

— Você não pode comprar uma coisa que pertence a

outra pessoa!

Devon surgiu no corredor e finalmente reparei que


estávamos com uma plateia e tanto. Ele acabou com a

discussão, pedindo que o homem saísse da empresa e


que Everly se acalmasse. Uma das secretárias a levou

para a salinha do café, para beber água e sair da zona de


atenção.

— Acabou o show! Vão trabalhar! — Devon falou com os

funcionários. — É a primeira vez que tem uma gritaria na


recepção e a minha esposa não está envolvida.

— Engraçado, a gritaria anterior foi da sua filha. —


Katrina riu.

— Quase larguei a reunião. Cada grito dela me deixou


maluco. — Passou a mão no cabelo. — Como foi a

adaptação do Harry? — Meu irmão me encarou.


— Ele está muito feliz. Tem outras crianças com baixa
visão lá e pelo que a Lena me falou, esse era um

problema que Debra enfrentava. Essa mulher me


confunde, alguns traços de boa mãe e alguns bem
egoístas.

— Ela pode ser as duas coisas. Se existe algum traço


bom nela, é o que explica a afeição do Harry. Na idade

dele, eu não me importava mais com Shannon. — Devon


encolheu os ombros. Eu me importava e a idolatrava.
Cada criança reage à rejeição de uma maneira e com
isso, não dava para saber quem realmente ela era.

De repente, tive uma ideia.

— Será que você pode me fazer um favor como irmão? —

pedi rápido, para não perder a coragem.

— Tudo por você, sabe disso. — Devon sorriu torto,


abraçado a Katrina.

— Quero que encontre o pai do Stuart porque eu preciso


de algumas respostas que só ele pode me dar. — Fui

direta ao ponto. — Ele é um homem que gosta do que eu


tenho de sobra. Tenho certeza de que vai abrir a boca por
algumas notas... ou muitas.

Devon e Katrina me encararam como se eu fosse louca.

— Stuart não vai gostar disso. Ele não fica bem com o pai
por perto e eu duvido que ele, um homem tão protetor,
vai permitir o pai tóxico perto de você. — Devon não ia
fazer nada sem que Stuart aprovasse.

Precisava convencê-lo sem expor todos os meus motivos.

— Eu sei e eu quero descobrir o que aconteceu. Meu


marido merece saber a verdade. Além do mais, posso me
proteger.

— Vou procurar, mas se achar que não é seguro, nenhum


encontro irá acontecer. — Ele determinou, mas troquei

um olhar com Katrina. Precisava apenas que ele achasse


com seus contatos, o restante, nós duas poderíamos lidar
sem sua intervenção. — Sei que quer resolver isso logo e
que está ansiosa, mas a última coisa que Stuart quer é
que se meta em problemas ou fique em perigo por causa

dele. Terei que matá-lo e será o fim da nossa amizade. É


isso que quer?
Katrina e eu começamos a rir. Ela até se afastou para

olhar no rosto dele.

— Valeu a intenção do drama. — Agarrei a bochecha dele


e apertei. — Tenho mais o que fazer antes de Stuart vir
me buscar. Se comportem. — Dei uma piscadinha marota
e voltei para a minha sala, com um plano formado na

minha mente.

Stuart iria me perdoar ao entender que ele merecia


respostas honestas depois de tanto tempo. Tudo que
estava fazendo era por amor e em busca de lhe dar paz
para seguir em frente. Depois de ser crucificado

injustamente por ambição alheia, chegou o momento de


viver a vida com todas as bênçãos que merecia. E eu
daria isso a ele.
21 | Stuart

Dar aulas de defesa pessoal para mulheres era um dos


meus momentos favoritos do dia. Me sentia muito bem

ensinando-as como se defender e dando a chance em


momentos de vulnerabilidade.

Toda vez que uma aluna saía satisfeita, era mais do

que o dever cumprido como professor e dono da


academia em oferecer um bom serviço. Era sobre minha

mãe que nunca pode se defender do meu pai e morreu


sem ajuda. Era sobre Vanessa, minha esposa, que ainda

jovem, sofreu abuso físico e mental.

Sobre Katrina, que perdeu sua casa e precisou ficar

reclusa porque um babaca não aceitava não como

resposta. Cada mulher que eu conhecia sofreu algo nas

mãos de homens, situações que eram além de um


coração partido.

Assim que minhas duas últimas alunas do dia saíram

felizes da aula com o outro instrutor, eu vi Pauley


passear pela minha academia como se fosse dona do
lugar. Aquela infeliz não desistia nunca, porra. Esperei

que ela subisse as escadas, se estava ali, era porque

precisava destilar seu veneno em mim. Daquela vez, ela

ouviria de volta.

— Eu adoro te ver nesse lugar. Quem diria, o menino de

roupa suja que encontrei em um beco, todo urinado e

ensanguentado enquanto o pai bebia o que ganhou na

luta da esquina. — Me rodeou, com o indicador quase


tocando em mim, mas ela sabia bem que não deveria. —

Te transformei em um homem.

— Você quis me transformar em uma máquina de matar.


— Me afastei dela. — Você tentou me fazer um brinquedo

e por anos conseguiu usurpar dos meus ganhos. O que


eu me tornei não tem nada a ver com você.

Pauley abriu um sorriso cínico.

— Não tinha onde cair morto, Stuart. Eu te dei uma casa,

um nome e te fiz um campeão. Você só tem o que tem

porque eu investi em você.

— Na sua mente distorcida, talvez. Você ficou com todo

meu dinheiro e ainda por cima, vendeu a minha alma


para o diabo, criando dívidas com pessoas perigosas.

Você quase me destruiu e pior ainda, me fez sair da

minha própria empresa com quase nada. Então, nada

disso aqui é graças a você. O que quer, Pauley? O que

pensa que está fazendo?

Ela cruzou os braços, sem se abalar.

— O que acha? Sua última luta mostrou que ainda

podemos ser muito lucrativos juntos. Ainda podemos

fazer mais, Stuart. Por que parar agora? — Deu um passo

à frente e ergui meu braço, impedindo que se

aproximasse com o cotovelo. — Você se casou com uma

mulher rica. Precisa dar a ela a vida que está


acostumada.

— Fora da minha academia.

— Tem certeza? — Arqueou a sobrancelha. — Tem uma

família agora. Não vai me agradecer por realizar seu

sonho? — Sorriu torto. — Stuart, querido. Eu sei que

quando seu castelo perfeito ruir... filho, esposa e amigos

desaparecerem, você vai correr para mim. Não se


preocupe. Estarei esperando.
Ela saiu como se tivesse a palavra final, triunfante, mas a

verdade era que eu não tinha motivos para bater boca

com ela. Não me rebaixaria ao seu nível. A vida me


ensinou que as respostas e consequências dos nossos

atos chegam, mais cedo ou mais tarde. Pauley podia me

aguardar sentada, a única coisa que ela encontraria seria

a revanche.

Para esfriar minha cabeça antes de ir buscar Vanessa e

Harry, fiquei um pouco na varanda dos fundos, olhando a

movimentação da rua, bebi um copo de suco fresco e

voltei para minha sala. Estava quase na hora de sair. Abri

a porta e me deparei com a pessoa mais bonita do

mundo sentada na minha mesa, com as pernas abertas

na frente do ar e os sapatos jogados.

— Me ignore, eu vim andando. — Vanessa estava

vermelha de calor.

— Por que não me esperou?

— Vim da rua. Na verdade, precisei tirar dinheiro e

habilitar meu telefone, achei melhor adiantar e era aqui


perto. Me arrependi porque o bafo quente lá fora é uma

vergonha. — Se abanou.

— Quer se refrescar? Tenho meu próprio banheiro.

Vanessa parou e me encarou, mordendo o lábio.

— Quero sim, mas só se meu marido tirar a roupa e

entrar comigo no chuveiro.

Todo mundo ia perceber que tomamos banho, mas se ela

não se importava, eu estava pouco me fodendo. Não

desperdiçaria uma oportunidade de ficar nu com minha

mulher, principalmente se ela queria transar. Rindo como

dois adolescentes, corremos para o banheiro, tranquei a

porta e a levei contra a parede. Eu amava o quanto ela


podia ser desinibida e safada no sexo, tímida, suave e

gentil na vida de modo geral. Ela era doce todo tempo,

na cama, uma devassa.

No começo, ela ficava com vergonha, conforme

passamos mais tempo juntos, ela foi se soltando. O sexo

começou estrondoso e se tornou incrível. Passamos os

últimos dias um tanto calmos em casa porque Harry

precisou muito da nossa atenção. Queria poder viajar


com ela, mas eu não podia sair da cidade com ele e não

iria sair sem que meu filho estivesse totalmente seguro

com isso.

Mais tarde, saímos da academia com um sorriso no rosto

e fomos buscar meu filho animado. Ele estava

conversando com um amigo que usava uma bengala

guia e ria do que meu filho falava. Vanessa segurou

minha mão bem apertado e nos aproximamos.

— Papai! Tia Vanessa! — Harry gritou de felicidade.

— Você gostou do seu primeiro dia? — Me abaixei na sua

frente.

— Eu amei! Esse é meu novo amigo, Ethan! Ele tem

deficiência visual como eu e nós vamos sentar juntos.

Vanessa parecia que ia derreter ali mesmo enquanto eu

só sentia orgulho do meu filho. Ele era muito corajoso.

Venceu sua timidez, seus medos e se entregou à nova

vida com interesse e bravura. Harry era um Hedrer da

cabeça aos pés. Era nítido o quanto demonstrava

felicidade e segurança. Eu não sabia até que ponto era


Debra que o segurava ou se o ambiente que ele vivia lhe

dava medo de ser quem era.

Voltamos para casa ouvindo-o contar sobre o

experimento no laboratório, onde eles usaram diferentes

soluções para explodir um vulcão. A professora explicou

e ele compreendeu, chegando a fazer sozinho e nos

mostrando o vídeo. Como ainda era relativamente cedo,

decidi praticar natação com ele. Vanessa ficou dentro de


casa, sem participar da aula.

Queria que Harry soubesse nadar, mas ele se recusava a

ficar com um instrutor da academia, então, estava


ensinando-o. Compramos um óculos de mergulho de

grau. Ele ainda não podia usar lentes, quando atingisse


determinada idade, poderia fazer a cirurgia para corrigir
sua visão.

— Papai, você sempre quis ser lutador? — Harry me


perguntou quando nos secamos e ficamos no sol um

pouco. Polo estava nadando de um lado ao outro e Marco


na sombra, com a língua para fora. Vanessa ia gritar

quando visse os cachorros molhados, mas eles não


podiam ver ninguém na água que pulavam dentro.
— Não sei o que pensava quando criança, filho. Sempre
lutei, por um tempo, foi a única coisa que sabia fazer e

precisava viver disso. Hoje eu sou feliz com a academia,


em dar aulas, em ter meu próprio negócio.

— Não te deram opção? Mamãe dizia que você era o

melhor e fazia muito dinheiro. Ela não me deixava


assistir suas lutas, mas via com os amigos — ele

comentou e fiquei em alerta. — Ela dizia que quanto


mais você ganhasse, mais rica ela ficava. Nós somos

ricos?

Puta que pariu.

— Nós vivemos muito bem — desconversei. Eu não

queria que ele fosse um garoto apegado ao dinheiro.

— Tia Vanessa é muito rica?

Com toda certeza era. Devon dividia absolutamente tudo


que ganhava com a irmã e agora, com a esposa. Para

ele, a segurança financeira delas era uma religião.

— Por que diz isso?

— Antes da mamãe sumir, eu ouvi ela gritar no telefone

que você se casou com uma mulher muito rica e de uma


família poderosa aqui. Ela parecia brava no começo e
depois com medo. Ela sumiu por que você se casou? —

Seu olhar encontrou o meu e ele queria honestidade.

— Não sei o que levou a sua mãe a desaparecer. Eu

quero encontrá-la para que tudo se esclareça. — Segurei


sua mão. — Sua mãe e eu não éramos próximos, nunca

fomos amigos e eu não posso dizer que a conheço com


profundidade. Nós ficamos juntos uma única vez e isso

resultou em você, a melhor parte da minha vida.

— Pensei que ela tivesse ficado com ciúme, mas se não


eram próximos, por que ela sumiu?

— Vamos descobrir. — Beijei sua testa.

Vanessa apareceu nos fundos e me deu um olhar severo.

— Você vai dar banho e secar os cachorros antes de


entrar para o jantar. — Sinalizou para Harry. — Vem,

entra. Não quero que pegue o vento da tarde. Vá tomar


banho e poderá jogar por uma hora.

Harry sequer se ofereceu para me ajudar com os

cachorros, saiu correndo. Foi difícil controlar as duas


pestes, quando ficaram limpos, coloquei ambos no
quintal da casa ao lado. Se fizessem qualquer merda,

seria problema deles.

Entrei em casa e encontrei minha linda mulher na


cozinha, lendo um livro de receitas, algo bom cheirando

no forno e meu filho com videogame a toda altura. Tomei


banho rapidamente e me reuni com eles. Jantamos purê

de batata, peixe e legumes cozidos. Vanessa ainda


preparou uma torta de morango de sobremesa. Olhei

para as frutas e depois para ela, que ficou vermelha e


desviou o olhar.

Depois que Harry dormiu, peguei vinho e as taças,

levando para a mesa que ficava no gazebo da frente.


Vanessa surgiu com uma pasta.

— Não vou enrolar. — Me entregou as folhas. — Segundo


esses documentos, seu pai praticamente te vendeu para
Pauley em troca de uma pensão. Ela o pagou até o último

ano. Ele não saiu de cena porque você pediu, foi embora
ainda ganhando com você.

Foda-se. Peguei as folhas e li tudo sobre as transações


bancárias.
— Como conseguiram isso?

— Devon tem um amigo que trabalha no setor financeiro


e Katrina começou a infernizá-lo na última semana, em

troca de informações. — Encolheu os ombros. — Prometi


a ele uns ingressos na sua próxima luta pela UFC mês

que vem.

— Vocês são terríveis. Isso significa que ele estará na


cidade à procura de dinheiro e confusão. A última vez

que apareceu, desafiou Jim Diablo e fez de tudo para me


queimar na mídia... foi quando perdi o direito de visitar o

Harry. — Coloquei as folhas na mesa. — Não posso correr


o risco de que ele faça qualquer coisa que coloque meu
filho diretamente em um lar adotivo.

Vanessa segurou minhas mãos.

— Eu não ia te contar agora, mas eu pedi que Devon

procurasse seu pai.

— Por que fez isso?

— Porque eu tenho o que ele quer e eu vou dar em troca


de algumas respostas. — Ela foi firme, olhando em meus

olhos. Balancei a cabeça negativamente. — Eu te amo,


Stuart. Amo tanto que nem sei exemplificar. Eu amo a
nossa família, eu amo que atravessamos anos e anos

gostando muito um do outro, sabendo respeitar que não


estávamos prontos para ficar juntos.

— Eu também te amo, Vanessa. Só que meu pai...

— Não quero que me conte, eu posso imaginar o que

aconteceu e não quero te ferir. Quero te proteger, mas,


estou fazendo isso pelo Harry. Seu pai é uma peça

importante do quebra-cabeça da história toda. Ele pode


me ajudar a desvendar o desaparecimento da Debra.

Vanessa tinha razão, mas eu não a queria perto do meu


pai nem por um decreto.

— Eu posso encontrá-lo. — Suspirei, passando a mão no

meu rosto. — Isso é fodido, Vanessa. Eu sei que sou um


homem adulto e que preciso lidar com meus traumas,

mas é muita...

— Acredite em mim, eu entendo. — Se inclinou e me deu


um beijo nos lábios.

— Estarei com você lá — prometi. Ela jamais ficaria


vulnerável na frente dele. Eu o mataria se a machucasse.
Vanessa se afastou um pouco e me deu um sorriso que já
conhecia. Ela iria negar minha ajuda com gentileza.

— Acho que ele não vai responder minhas perguntas com


você por perto. Devon pode ir comigo e vai me proteger,

além do mais, posso me defender. — Me silenciou com


um beijo. — Confie em mim, é tudo que peço.

— Eu confio.

Trocamos um abraço apertado e meu coração estava

acelerado no peito só com a possibilidade de reencontrar


meu pai. De repente, ouvimos um barulho e a risada de

Devon. Katrina surgiu pulando no lugar, sacudindo um


bastão branco.

— Solta minha melhor amiga. — Ela me empurrou e

passou por cima de mim para se jogar em Vanessa. — É


melhor você engravidar logo porque vai ser titia de novo!
— gritou. Olhei para Devon, ele estava com os olhos
vermelhos e com um sorriso enorme. Saí do meu lugar
para lhe dar um abraço apertado.

— Estou muito feliz, muito feliz mesmo! — ele grunhiu.

— Não acredito! Ai, Kat! — Vanessa começou a chorar.


— Stuart, ativa seus nadadores! Nós fizemos uma
promessa de dedinhos de que teríamos bebês juntas. A

primeira vez aconteceu, a segunda também, não vou


esperar a terceira! — Katrina comandou, nos fazendo rir,
mas foi o olhar de Vanessa que me fez tomar a decisão.
Impulsividade, maluquice ou o que fosse: eu ia
engravidar a minha mulher.

Devon queria comemorar a notícia da gravidez e como


da primeira vez, estouramos um champanhe e fumamos
um belo charuto cubano. Nossas esposas ficaram na sala
fazendo planos e eu pensei que mesmo com uma nuvem

negra pairando acima da minha cabeça, era a primeira


vez que eu estava leve de corpo, alma e coração para
viver a minha vida sem sentir medo.

O amor fazia isso.


22 | Vanessa

Katrina estava analisando as fotos que o investigador


particular nos entregou. Quando fomos sozinhas ver a

empresa de construção do George, ela e Devon


brigaram. Eu não soube disso imediatamente, ela decidiu

contratar um investigador para seguir e cutucar a vida


das pessoas que nos interessavam. Foi melhor assim, até

porque, Pauley sabia quem éramos e dava muito


trabalho disfarçar.

— Eles estiveram no mesmo hotel. — Katrina me

entregou as folhas. — George e Pauley. Nós


conseguimos!

Stuart se inclinou e olhou a foto.

— Filha da puta — ele gemeu. — Sempre soube que ela


queria me manter preso a ela e até desconfiava que

tinha me sacaneado mais de uma vez, mas armar para

me prender foi o golpe mais baixo.

— Ainda acho que ela desapareceu com Debra. — Katrina

colocou os pés na mesa, sentindo-se a poderosa


chefinha. Ela ficava maluca quando provava a sua

intuição. — Talvez para te incriminar ou para limpar o

caminho.

— Ela pode ter eliminado quem poderia contar a

verdade. — Coloquei mais uma opção na mesa. —

George continua na cidade e pelo visto, aliado a ela. Não

sabemos até que ponto Debra estava disposta a ir. Sem

Stuart, Pauley perdeu dinheiro.

Nós ficamos quase uma hora debatendo possibilidades.

Conversamos com Arthur, que ciente da informação

repassada por Harry na semana anterior, conseguiu


infiltrar uma pessoa na equipe de Jackson. Na arrumação

das coisas de Debra para um depósito, foram


encontrados pinos de cocaína e pílulas manipuladas sem

receitas. Harry confirmou com sua psicóloga que, quando

Lena ia embora, a mamãe tomava muitos remédios para

dormir.

Arthur não dormia no ponto e já estava lutando pela

guarda definitiva do Harry. Era como enxergar uma luz de

esperança no fim do túnel. Eu tinha certeza de que um

peso sairia dos nossos ombros quando o medo de perdê-


lo para qualquer pessoa desaparecesse. Após encerrar a

chamada, Stuart foi verificar se Harry precisava de ajuda

para se arrumar. Devon estava lutando com Halley, pelos

gritos, ela não estava nada feliz em ser vestida. A

menina adorava rolar no chão de fralda, era muito filha

de Katrina mesmo.

— Já pensou vir outra menina? — Katrina riu do marido

que apareceu bagunçado, mas a filha estava pronta. —

Seu pai tem muito estilo. Você está linda, filha!

Halley sorriu, apaixonada pela mãe mais boba do mundo.

Ela estava com uma calça jeans, tênis all star e uma

camiseta escrito “garotas arrasam”. Meu irmão me deu


um beijo nos cabelos e se jogou na poltrona, exausto.

— Se vier outra menina, vão isolar nossa casa. Teremos

dois pequenos furacões iguais à mãe. — Ele arregalou os


olhos, rindo.

— O gênio indomável da Halley é igual ao meu, sendo

que você é a pessoa mais teimosa do universo.

— Eu? Eu sou teimoso, Katrina? — Devon caiu na

gargalhada e ela ficou vermelha. Deixei os dois


discutindo e fui me arrumar.

Decidimos levar as crianças ao parque. Na verdade,

Katrina e eu estávamos morrendo de saudades de sair

para nos divertir. Não tinha coração para ir a um lugar

legal e não levar os pequenos, então, Devon e Stuart

iriam conosco assim como Rosa. Ela me ajudava tanto

com Harry que ele já estava chamando-a de vovó.

Passei por ela na minha sala, lendo um livro e comendo

seu biscoitinho de aveia. Dei-lhe um beijo barulhento e

subi a escada correndo.

— Você vai cair da escada! — ralhou e ri.

Quase caí, o que a fez estalar a língua. Harry riu da

minha corridinha engraçada e Stuart fez uma expressão

severa. Ele vivia falando da minha mania de andar

rápido, o que me fazia bater pelas paredes e portas,

ficando com manchas roxas. Toda vez que ia malhar ou

treinar defesa pessoal com ele, acabava marcada. Stuart

era tão delicado comigo que não aceitava hematomas de

nada.
Tirando no sexo, todos os toques dele eram muito

carinhosos. Até conversei com a minha terapeuta,

porque eu pensei que determinadas posições e até um

tanto de sexo bruto fosse gatilho para mim e não foi.

Chegamos à conclusão de que eu confiava nele e sabia

que não iria me machucar, além do fato de que não era

mais uma menina indefesa. Eu me amava, confiava em

mim e não permitiria que um homem me fizesse sentir

menos do que eu era. Saí da sessão tão feliz, que ele

ganhou uma noite incrível.

Havia muitas questões a serem resolvidas na nossa

vida, mas eu me sentia muito sortuda por viver um amor

tão doce.

Terminamos de nos arrumar e saímos de casa uma

hora depois. Rosa foi com meu irmão, para ficar com

Halley no banco de trás. Harry não precisava sentar em

uma cadeirinha por conta de sua altura e felizmente,

ganhou uns bons quilos desde que passou a viver

conosco. Os ossos do seu colo e clavícula estavam

sumindo com a dieta que a nutricionista passou.


Lena estava certa de que havia um grupo

alimentar que ele rejeitava, era um custo fazê-lo comer

tudo nos dias que cozinhava feijão com legumes. Eu não

tinha vergonha de subornar: videogame por um prato de

comida.

— Espero que não ache estranho que sua tia

Katrina seja uma competidora nata. Quando ela começar

a discutir com todo mundo, ignore e siga em frente. —

Stuart orientou Harry no carro. — Sabemos que sua tia é

doida e nós a amamos mesmo assim. — Riu e bati na

coxa dele, virei no banco, olhando para o banco de

trás.

— Ela é um pouquinho competitiva, mas a intenção

é se divertir.

— Tudo bem. — Ele sorriu, sem entender.

O parque não estava muito cheio porque era dia de

semana, conseguimos duas vagas relativamente perto da

entrada e esperamos Devon armar o carrinho de Halley.

Esperamos Mel e Michael chegarem com Kevin para

escolhermos o brinquedo que queríamos ir primeiro.


Harry ainda estava tímido e assustado, olhando para

todo lado, como se quisesse absorver as informações o

mais rápido possível.

Fomos no carrinho bate-bate, tiro ao alvo, pescaria

e dominamos uma cabine de fotos tentando fazer com

que os meninos parassem para uma fotografia e Halley

não chorasse.

— Se você comer mais um cachorro-quente, vai

explodir. — Katrina me recriminou. — Parou de se


prevenir?

— Não começamos a tentar, eu só amo comer no

parque e sabe disso. Acabaram os nossos dias de sair


daqui direto para um restaurante mexicano. Temos

crianças para colocar na cama. — Dei uma mordida bem


grande, ela olhou, suspirou e pediu mais um também. —

Mocinha, você é a única que não pode.

— Cale-se. Vou comer antes que Devon apareça e

me dê uma palestra infinita sobre minha alimentação na


gravidez. — Revirou os olhos. Depois ela dizia que ele era
o teimoso da relação. — Olha só o sorriso da minha
mãe...

Virei e reparei que Melanie gargalhava abraçada

com Michael. Eu amava vê-la tão feliz, realizada no amor


e na carreira. Ela lutou muito para dar uma boa vida para

Katrina, abriu mão de tudo pela filha e me acolheu em


sua casa como se tivesse saído do seu ventre. Mel era

um tipo de mulher rara.

— O amor faz bem a todo mundo — Katrina


refletiu. — Stuart tem um semblante mais leve. É

verdade que dizem que a família faz o homem ser


completo.

— Para aqueles que querem isso, sim. — Olhei para


meu marido e trocamos um sorriso. — Sou louca por ele.

— Entendo. Ainda fico olhando para seu irmão

como uma adolescente apaixonada. Nem parece que ele


me irrita. — Sorriu torto. Brigar fazia parte da essência

dos dois, porque amavam fazer as pazes.

— No fundo, nós somos adolescentes apaixonadas.


Devon tirou o telefone do bolso e franziu o cenho.
Ele atendeu, bem sério. Stuart segurou Kevin pela

camisa, colocando de volta no lugar e Harry riu. Halley


estava bebendo água na mamadeira, no colo de Rosa,

que me encarou ao ouvir o que meu irmão falava no


telefone. Ela não precisava dizer nada, nós duas

tínhamos uma ligação sobrenatural. Eu não a chamava


de mãe do meu coração atoa.

— Shannon. — Katrina e eu falamos ao mesmo


tempo.

Meu irmão se aproximou com cuidado e segurou a

minha mão.

— Ela quer se despedir. Os médicos acreditam que


não passa dessa noite... no mais tardar, amanhã. Está

em falência — falou com calma.

Minha mente entrou em completo parafuso porque

meus pensamentos desapareceram. Olhei ao redor e o


parque parecia me sufocar. Senti como se o chão

estivesse ruindo aos meus pés.


— Tenho que colocar o Harry na cama. Hoje é meu

dia.

— Vanessa... Mel leva as crianças para casa com a


Rosa. Eles vão ficar bem. — Devon me puxou para um

abraço. Eu não queria chorar ali e me afastei. Dei as


costas e fui andando para o estacionamento. — Van?

— Deixa. — Katrina deve ter segurado para não vir

atrás de mim.

Caminhei até o carro e encostei na lateral,

ofegante, sentindo um ataque de pânico crescendo.


Stuart apareceu devagar e me puxou em um abraço,

mesmo sem querer. Segurei o choro, não podia


desmoronar. Não ainda. Ele cochichou que Harry foi

embora, feliz em dormir na casa de Mel com o Kevin,


fazendo planos de jogar até tarde.

Ele abriu a porta do carona e entrei, colocando o

cinto. Stuart dirigiu atrás do meu irmão o tempo todo até


o hospital. Entramos nós quatro e encontramos o tio Saul

na portaria, fumando. Ele estava conversando com uma


enfermeira, que reconheci como uma das muitas que

cuidou de Shannon em seu primeiro tratamento.

— Como você está, tio? — Devon se aproximou

dele.

— Já esperava por isso, agora é só lidar com tudo.


— Soprou a fumaça. — Ela pediu para ver vocês. Está

bem pálida e debilitada. Nem sempre fala algo coerente,


então, se preparem.

Segui todo mundo no automático. Devon entrou

primeiro, ficou sozinho com ela por um tempo e em


seguida, chamou Katrina. Minha amiga saiu chorando um

pouco e foi para o final do corredor. Meu irmão abriu a


porta, me convidando para entrar e não soltei a mão do

Stuart porque não conseguia.

Shannon estava no centro da cama, ligada a

máquinas e tubos, pálida e voltou o olhar na minha


direção. O câncer a destruiu por completo. Ela ignorou a
presença de Stuart, eu não sabia se não estava lúcida o

suficiente ou porque se recusava a aceitar (como me


disse poucos dias depois do casamento) que eu me casei
com um homem sem descendência e sobrenome
luxuoso.

— Vocês são tão lindos — ela gemeu baixinho e

tossiu.

— Descanse. — Devon não queria que ela falasse


nada.

— Quero dizer que são perfeitos. Os dois são


perfeitos. Eu sei que amei a vocês do meu jeito, sinto

muito por não ser do jeito que precisavam.

Aquilo me atingiu como uma bola no coração.


Cheguei a cair para trás. Durante toda minha vida,

sonhei em ouvir aquilo dela. Uma palavra carinhosa. Um


pouco de atenção positiva. Ela foi a razão de muitos dos

meus problemas e eu odiei o quanto meu coração se


encheu de raiva e dor, porque só foi capaz de reconhecer

seu amor por mim segundos antes de morrer. Como ela


tinha coragem de se despedir daquela maneira?

Stuart me abraçou por trás, bem apertado. Me

inclinei e segurei a mão dela, dando-lhe conforto, porque


por mais que estivesse um completo caos por dentro, ela
podia fechar seus olhos e ir em paz. Era o fim de uma
era. Uma mulher que, para o mundo, revolucionou o que

a mídia conhecia como artista. Conhecida como


autêntica, ganhadora de prêmios, colecionadora de

maridos e capaz de transformar qualquer situação em


música.

Seu polegar tocou o meu indicador e fechou os


olhos. Não levou dez minutos para o fim dela chegar. A
represa dentro de mim rompeu ali mesmo, tentei

controlar com todos os exercícios de respiração que


conhecia, os mantras e as palavras de sabedoria que

aprendi em anos de terapia. Nada foi o suficiente.

Stuart me pegou antes que caísse no chão e me

desliguei totalmente.

Acordei na minha cama, em casa, de pijama e


coberta. Ouvi o som do chuveiro e senti o cheiro do
sabonete líquido do meu marido. Minha cabeça estava

explodindo e a garganta seca, lembrei de ter saído do


hospital praticamente carregada e Devon me entregando
um dos meus calmantes prescritos. Katrina ficou ao meu
lado até que apaguei de vez.
Fazia muito tempo que não tinha uma crise.

A televisão estava ligada e na tela aparecia uma


imagem da minha mãe com a frase: Shannon

Winterfield teve seus últimos minutos ao lado dos


filhos, que possuía mais de dez músicas dedicadas
a eles e à maternidade.

Irônico. Ela sabia falar sobre o assunto sem nunca


ter vivido. Ela se recusava a dizer quem era meu pai,

meu irmão descobriu o pai dele e a história em como foi


concebido, isso me fez recuar na ânsia e curiosidade de
conhecer meu progenitor. E se fosse um envolvimento
ainda pior? Shannon levou consigo seus segredos. Uma

caixa de surpresas que nunca seria desvendada. Só ela


sabia seus motivos e nunca quis explicar a ninguém.

Shannon era o tipo de mulher que eu não tinha


coragem de julgar. Depois que cresci, não critiquei suas
escolhas de casamento e carreira, me ative ao que

apenas me afetava: sua ausência emocional como mãe,


suas duras críticas, sua falta de amor e principalmente, a
falta de elo entre nós. Eu a quis muito.
Estiquei a mão e desliguei a tv, sem querer assistir
mais nada daquilo. Stuart saiu do banheiro vestindo uma

calça de pijama e me viu acordada. Imediatamente


sentou ao meu lado.

— Você está bem, amor?

Eu me derretia da cabeça aos pés ao ouvi-lo me


chamar de amor. Meu bruto apaixonado tinha um

coração de manteiga.

— Com você, estou ótima. Eu sabia que mais cedo


ou mais tarde isso iria acontecer, também sabia que
nada que dissesse pra mim mesma iria me impedir de
sofrer. — Segurei sua mão e beijei. — Te assustei?

— Não, fiquei preocupado, apenas isso. Harry ligou.


Melanie levou os dois para um play e eles brincaram o
dia todo, agora vão lanchar e ele pediu para dormir lá de
novo. Rosa levou algumas roupas para mim. Apesar da
diferença de idade, os dois parecem estar se dando bem.

— Harry é um amor, mas nesse caso, é impossível

não se afeiçoar ao Kevin. Ele é aquela criança que te


obriga a gostar dele porque gosta de estar em tudo. —
Sentei na cama e recostei na cabeceira. — Se fosse

irmão biológico da Katrina não seria tão igual.

Stuart recostou ao meu lado e deitei minha cabeça


em seu ombro. A tristeza ainda estava no meu coração e
eu lidaria com ela com todo respeito que um luto
merece.
23 | Vanessa

Stuart estava se preparando para entrar no ringue e era


nítida a diferença de uma luta profissional para uma

clandestina. Começando pelas instalações. Não


estávamos na Arena de Devon, até porque, a luta estava

acontecendo em Los Angeles, cidade onde morei alguns


anos e tinha boas lembranças. Algumas nem tanto. Ele

disse que entendia se não quisesse acompanhá-lo, mas


isso era algo fora de cogitação.

Depois de semanas desanimada, muito triste,

trabalhando, cuidando da casa, do Harry e lidando com


meu luto, eu precisava desesperadamente de um final de

semana fora. Essa luta não me preocupava. Havia regras


e limites, ele se sairia muito bem. Com as câmeras

ligadas, implicou e desafiou seu oponente, com elas

desligadas, brincou, riu, e até fui apresentada à esposa.

Sua equipe estava relaxada. Devon, como seu

empresário, estava de olho em tudo. Katrina ficou em

casa, sofrendo com enjoo e com a Halley pequena, não

quis viajar. Foi bom porque Harry estava com ela e Rosa,
assim eu podia estar ali tranquilamente. Diferente da

primeira vez que o acompanhei, estava bem arrumada,

afinal, era um evento. Usava um body prata com uma

saia de couro vermelha escuro, sapatos scarpin de salto

fino pretos e os cabelos soltos, escovados e com cachos


feitos por babyliss.

— Pessoal, circulando. — Seu assistente determinou.

Eram duas da manhã, hora dele entrar.

— Beijo aqui e beijo lá? — Brinquei. Eu não sabia se ele

iria manter a tradição do beijo da sorte. Ele tinha certeza

de que a pessoa que entraria no ringue com ele seria eu


se beijasse outra mulher.

— Beijo lá. Só quero dizer que te amo.

Abri um sorriso.

— Te amo, meu campeão. Temos espaço para mais um

cinturão.

— Eu vou levar. — Piscou e puxou o capuz, saindo do

vestiário.

Devon me levou para nossos lugares, acenando para

conhecidos e reparei que havia muita gente famosa. O


local estava cheio, barulhento, todo mundo foi ao delírio

com a música Eye Of The Tiger na versão remix que meu

marido usava. Ele era tão fã do Rocky Balboa que tinha

tatuagens e fez com que Harry assistisse mais de uma

vez.

Ele passou pelo corredor pulando, fazendo graça,

fingindo entrar em uma luta com um convidado e parou

na minha frente, tirando o capuz e eu ri da faixa escrito

VANESSA que colocou na cabeça. Sem nenhum preparo,

me pegou bruscamente, beijando de um jeito que só


fazia no quarto, ergueu minha coxa ao lado da sua perna

e me tombou. Beijo de cinema. Um extremo beijo da

sorte que me deixou toda acesa.

— Gostosa, te amo.

Comecei a rir com a multidão gritando, ele pulou no


ringue e ergueu os braços. O telão reproduzia o beijo

com vários gifs de pessoas desmaiando. Caí na

gargalhada ao ver a expressão do meu irmão horrorizado

com o beijo e depois, meio “ok, solta minha irmã”. Bati

em seu ombro, sua careta era bizarra, ele ainda tinha

ciúme e acho que teria para sempre.


A luta correu bem. Ela durou mais do que imaginei,

porém, era um evento midiático e pré-programado para

manter a imagem de Stuart como campeão. Dessa vez,


eu curti e torci, gritando no lugar feito louca. Bebi

cerveja, comi pipoca e ainda fiz meu irmão correr atrás

de um cachorro-quente.

— Tem certeza de que não tem um sobrinho no forno?

Você nunca comeu tanto cachorro-quente na vida. — Ele

me entregou e tomou a cerveja. — Nada de bebida até

fazer um teste.

— Já percebeu que sou maior de idade, certo?

— Sempre será minha bebezinha. — Apertou minha

bochecha e eu ri. Ele nunca ia mudar mesmo. — Se

estiver carregando um bebê, eu vou enlouquecer com

vocês duas grávidas.

— Essa sempre foi a intenção — gritei para que ele me

ouvisse em meio à multidão e ele riu.

Devon e eu estávamos sendo muito fotografados, mas,

eu não me importei. Sempre me escondi da mídia, do

que podiam falar sobre mim e sofria com os comentários


terríveis gerados, muitas vezes, por atitudes da minha

mãe. Eu me sentia livre e desimpedida de ser eu mesma,

em torcer pelo homem que amava e aproveitar uma

noite adulta. Stuart foi declarado campeão depois de um

nocaute.

Ele fez a sua graça, ergueu o braço e depois que o ringue

soou, ajudou seu oponente a levantar, acordando do

desmaio. Pulei no lugar e bati palmas, ele sorriu para

mim e soprou um beijo.

Depois da luta, foi para seus cuidados e já era

madrugada. Apesar de estar rolando uma festa em

homenagem a ele, nós não comparecemos. Ninguém ia

se importar. Comida e bebida de graça. Ainda estávamos

receosos que a imagem dele voltasse como um homem

da noite, então, fui para o hotel e ele para massagem e o

check up com a equipe. Tomei banho, me desmontando e

vesti um pijama.

Pensei no que Devon disse, sobre estar grávida, mas eu

não estava. Stuart queria passar a luta para conversar


com a psicóloga e assistente social. Arthur nos garantiu

que aumentar a família não era um problema. Mesmo


assim, queríamos ser cautelosos. Harry ficou muito feliz

com a gravidez de Katrina, ele não deixava que ela

pegasse um copo de água e ainda se oferecia para olhar

a Halley.

A maneira como ele se envolveu com a família foi

incrível. Meu menininho era um doce, um amor de

pessoa e se encontrou. Lena ficava muito feliz, porque

em Nova Iorque, ele era isolado. Debra saía muito e

raramente permitia que brincasse com outras crianças.

Em Vegas, a própria assistente social ficou surpresa em

vê-lo tão falante, fazendo dancinhas, rindo e brincando.

Tudo que precisava era de liberdade.

Claro que eu tinha o mesmo medo de Debra. Ela o

isolava por medo da ridicularização, que batessem nele

na escola e ao mesmo tempo, para não ter muito


trabalho. Eu não me importava que se sujasse, contanto

que fosse feliz. A escola com crianças iguais a ele estava

fazendo muito bem. Obviamente, tinha os valentões,

sempre iria existir e para que alcançasse maturidade,

precisava aprender a lidar com eles.


Ter Harry me ajudou a superar o luto da minha mãe de

maneira saudável. Eu sabia que era apenas sua

madrasta, mas era uma parte importante e maternal na

sua vida e isso me deu segurança para entender que o

que aconteceu entre Shannon e eu ao longo da minha

vida inteira não foi minha culpa.

Fiquei na cama sozinha, comendo chocolate e pensei que

Stuart chegaria exausto, mas a mensagem safadinha de


que estava louco para derrubar as paredes do hotel me

fez correr para a mala, pegar um sexy conjunto de


roupas íntimas, dar uma mudada no visual de quem ia
dormir e quase caí na gargalhada ao parar em uma pose

sensual no batente da porta. Stuart chegou, me olhou de


cima a baixo e depois riu. Foi o suficiente para me fazer

explodir. Sempre que tentava ser sexy era desajeitado,


mas, era o meu jeitinho.

— Ainda vou fazer umas aulas com as dançarinas do

cassino para conseguir ficar sem rir toda vez que tento
ser sensual para você.

Stuart jogou a mala no chão e tirou a camisa. Ele estava


um pouco inchado e com hematomas, mas bem
cuidado.

— Você é sensual para mim o tempo todo, até mesmo


quando está com o cabelo para o alto e xingando porque

está morrendo de calor. — Sorriu e segurou minha


cintura. — Quando usa essas coisas pequenas e

transparentes, é simplesmente incrível. — Puxou a tira da


minha calcinha. — Sabia que você estava um tesão

torcendo por mim? Perdi a concentração na luta mais de


uma vez só de te ver pulando com aquele body safadinho

e esses peitos balançando...

— Você foi acertado por essa distração? — Fiquei na


ponta dos pés, passando meus braços por seu pescoço.

— A primeira foi bem aqui. — Apontou para o supercílio.


Dei um beijinho bem em cima. — A segunda foi aqui. —

Passou o indicador na bochecha, repeti o beijo, porém,


um pouco mais longo. — Você viu o soco que me deu
aqui? — Fez um ligeiro beicinho no lábio inferior. Segurei

seu rosto, ele sorriu e se preparou para o meu ataque.

Enquanto o beijava, agarrou minha bunda e me ergueu

em seu colo, caminhando diretamente para a cama. Me


depositando com cuidado no centro, soltou os lábios dos
meus e me olhou com adoração. Suas mãos calejadas

passaram dos meus ombros para os braços enquanto seu


olhar se fixava nos meus seios, com a renda do sutiã

brincando de pique esconde com meus mamilos.

Sem delongas, ele abaixou o rosto e abocanhou meu seio

esquerdo, mamando com os olhos no meu rosto. Era uma


das cenas eróticas mais excitantes da minha vida. A

fricção da sua língua com o tecido estava me levando à


loucura. A calcinha de seda logo ficaria destruída, meu
clitóris pulsava desejando que sua boca fizesse o mesmo

com ele. Meu outro seio recebeu a mesma atenção e me


contorci no lugar.

— Sabe o que eu quero? Sua boca...

— Na buceta? Você adora quando te chupo, amor?

— Simplesmente amo. — Confessei sem nenhuma

vergonha.

Stuart me deu um sorriso convencido e foi descendo


beijos pela minha barriga, até me fazendo cosquinha.
Soltei uma risadinha que morreu com sua boca no meu

clitóris. Ele me chupou deliciosamente.

Nós transamos de um jeito mais pervertido e sem


tabus, com a liberdade para aproveitar como se fosse

uma pequena lua de mel. Em casa, só fazíamos quando


tínhamos certeza de que Harry estava dormindo pesado.

Nosso final de semana fora foi uma delícia e recarregou

minhas energias. Participei da cerimônia de homenagem


a Shannon com tranquilidade. Vários artistas cantaram

suas músicas em tributo e passaram vários trechos dos


filmes dela. Parou a cidade. Em parte, foi emocionante.

Eu precisava admitir que minha mãe soube como criar


uma carreira, mas era só isso que importava para ela.

A equipe que trabalhava com ela nos ofereceu a ideia de


criar um museu em sua homenagem. As entradas seriam
revertidas em doações para instituições de pesquisa para

cura do câncer.

Apesar de ela ter sido um caso de extrema

negligência consigo mesma, Devon e eu decidimos


apoiar a causa e estávamos juntos nessa. Eu sabia que
meu irmão não estava naquilo pela Shannon, mas sim

por mim e porque acreditava que o dinheiro faria


diferença na vida de muitas pessoas.

O lugar iria mostrar toda sua trajetória, seus icônicos


vestidos, joias, músicas e milhares de pedaços da vida

privada. A única coisa que eu pedi era que a verdade do


nosso relacionamento fosse relatada. Eu estava cansada

de vê-la receber parabéns por ser uma mãe incrível


mesmo depois de falecida.

— Engraçado. Shannon tinha uma voz linda. — Katrina

começou a falar no final do show, enquanto


caminhávamos no estacionamento. — Devon não puxou
esse talento em nada.

— Ei! Você adora quando canto em serenata — meu


irmão comentou atrás de nós.

— Ouço por amor. — Ela lhe deu um sorriso.

— Cretina. — Devon deu um tapa na bunda dela.

Nós ficamos rindo até o carro. Stuart me segurou antes


que pisasse em um buraco e provavelmente, caísse. Ele

brincou que nunca olhava para frente, quando chegamos


aos carros, Mac sinalizou para meu tio Saul no canto,
fumando. Depois que minha mãe morreu de câncer,

pensei que ele deixaria o vício de lado.

— Oi, tio! O que tem aí? — Devon se aproximou dele.

— Um pacote para Vanessa. — Soprou a fumaça.

— Para mim? Não é meu aniversário ainda.

Tio Saul sorriu.

— Talvez seja um presente, ou não . Você decide porque


merece saber a verdade. — Saiu misterioso depois de me

entregar o envelope.

Mac estava desconfortável porque a multidão estava se


dispersando e logo ficaria bem difícil sair dali. Stuart

abriu a porta e me acomodei no banco da frente. Katrina


e Devon entraram no banco de trás. Mac e os demais

seguranças entraram nos outros carros.

Abri o envelope, curiosa, acendendo a luz do painel


enquanto o meu marido dirigia. Dentro, havia algumas

folhas e fotos. Minhas mãos começaram a tremer quando


percebi o que significava.
— O que tem aí dentro? — Katrina se debruçou no banco.
— Ai meu Deus! — Ela suspirou ao entender o mesmo

que eu.

— O que está acontecendo? — Stuart estava tentando

espiar e meu irmão tateando as folhas, querendo ler. —


Amor, fala comigo! O que é isso?

— Acho que tio Saul me entregou informações para

encontrar o meu pai. Tem um teste de DNA feito quando


nasci e algumas fotos dele, além de um contrato de

trabalho — falei meio ofegante de tão surpresa. —


Aparentemente, meu pai era o guarda costas da Shannon
na época.

— Ele sabe sobre você?

— Eu não sei. Acho que preciso conversar com tio Saul


para entender todos os detalhes, porém, ele deixou aqui
o atual endereço dele. Vive em Vegas, é casado e tem
dois filhos.

Devon conseguiu pegar tudo das minhas mãos e

começou a ler. Ele imediatamente ligou para nosso tio,


fazendo todas as perguntas que estavam entaladas na
minha garganta. Minha surpresa era tanta que não sabia
como reagir. Então, comecei a rir. Bati minha cabeça no

encosto do banco, com uma gargalhada que borbulhava


no meu peito.

— Agora... ela precisa de uma camisa de força. — Katrina


me provocou.

— Vocês não entendem a ironia? Eu aposto todo o


dinheiro que tenho no banco que Shannon nunca me

contou quem era meu pai porque ele era um funcionário.


Um homem sem sobrenome, sem riqueza, sem fama e
sem poder. — Voltei a rir.

— É uma aposta bem arriscada, amor. Não sabemos dos


detalhes. — Stuart me deu um olhar engraçado. —

Quando se trata da sua mãe, tudo é possível.

— Eu sempre soube que tinha um pai por aí, porque


obviamente, ela não fez um procedimento. Quando
descobri sobre o pai do Devon, desisti de querer saber.

Eu não queria me decepcionar. Agora, no entanto, eu sei


quem é, que tenho irmãos e não faço ideia se ele
realmente sabe da minha existência.
Stuart segurou minha mão e beijou. Katrina e Devon
ainda estavam olhando tudo, prestando atenção nos

detalhes que eu não consegui ver.

— A pergunta que não quer calar, é: você quer conhecê-


lo? — Katrina se debruçou no banco. Seu olhar era
carinhoso e compreensivo. Ela sempre me entendia.

— Primeiro quero saber da verdade e depois, pensar

sobre isso.

— Tudo no seu devido tempo. — Stuart garantiu e no


primeiro sinal fechado disponível, se inclinou e me deu
um beijo nos lábios. — Eu estou do seu lado em qualquer
decisão que tomar.

— Sei disso, amor. Obrigada. — Devolvi o beijo


rapidamente.

Devon limpou a garganta e, ouvi uma risadinha vinda de


Katrina.

— Estamos aqui. Ainda sou seu irmão e eu também vou


te apoiar.

Voltei a rir e me deliciar com meu momento em família

porque, mesmo em uma eterna guerra de ciúme, eles


eram tudo para mim. Meu porto seguro e minha maior

base de amor.
24 | Stuart

Não existia sensação melhor do que acordar com o som


da risada do meu filho. Estava sozinho na cama, o cheiro

de café flutuava pela casa e as risadas surgiram


novamente. Levantei e rapidamente saí do quarto,

virando no corredor e olhando na direção da sala.


Vanessa estava dançando na cozinha com uma colher de

pau na mão e Harry pulando junto com a música. Era


algo pop que só Vanessa costumava ouvir.

Me debrucei no corrimão, olhando-os com felicidade. A

cumplicidade com a qual Vanessa conquistou meu filho


era linda. Ele confiava nela, adorava quando era

colocado para dormir e os momentos que passavam


sozinhos. Nós formamos uma linda família e isso enchia

meu peito de orgulho.

Vanessa estava bem, mesmo depois de descobrir a

identidade do pai. Prática e bem calma, pediu mais

informações antes de decidir se deveria deixar a vida

como já estava ou se iria conhecê-lo. Nós demos uma

olhada no que já tínhamos e seus irmãos pareciam com


ela. Sabia que ter uma família além de Devon mexia

muito com ela e aumentou um pouco da sua mágoa em

relação a Shannon.

Sentindo-se solitária, pediu que a acompanhasse na

terapia. Fui de apoio, ela falou sozinha, chorou e segurou

minha mão sempre que sentiu necessidade.

Conversamos muito sobre seus sentimentos. Pela

primeira vez entendi porque ela sempre me perguntava o


que estava sentindo e pedia honestidade. Era incrível ter

alguém na vida que se importava comigo e eu me

dediquei em ser seu companheiro.

Seu coração era bom demais para se debruçar em

sentimentos ruins e em pouco tempo, estava bem e


sorridente. A prova de que iria encarar o que viesse

estava bem ali, na sua dancinha matinal com meu

menino que ela tomou para si com amor.

Fui ao banheiro rapidamente e desci a escada para

encontrá-los. Meu filho gritou de alegria, me chamando

para dançar, estava todo suado e com os óculos tortos.

Vanessa avisou que os ovos estavam prontos e fomos

para a mesa, ela caprichou na arrumação.


— Precisa comer tudo que está no seu prato. — Vanessa

falou para Harry. Ele adorava enrolar com a comida. —

Você dormiu bem, amor? — Se inclinou e me deu um

beijo de bom dia.

— Eu sempre durmo bem com você. — Fui todo galante,

porque ter uma mulher linda como aquela, era uma

conquista diária. Trouxe flores na noite anterior e ela até

chorou, emocionada, dizendo que só havia ganhado

flores do irmão a vida toda. Eu não era do tipo romântico,

mas por ela, seria todos os dias.

— Como diz a tia Katrina, eca, se comportem. — Harry

brincou nos fazendo rir.

— Quando você crescer e arrumar uma namorada, vai

entender.

— Não pensa nisso agora. — Vanessa falou rápido.

Ciumenta.

— Tia Katrina disse que ela e o tio Devon se amam tanto

que fizeram um bebê. Eu sei que adultos fazem sexo,

estava escrito no livro de biologia da biblioteca da minha

antiga escola. — Harry furou sua panqueca enquanto eu


e Vanessa estávamos congelados no lugar. — Vocês

fazem sexo para ter um bebê?

Vanessa pulverizou o café e eu comecei a rir.

— Nós vamos conversar sobre isso depois. Papo de pai e

filho.

— Certo. Eu não vou ter um irmão?

— Você quer um? — Vanessa sorriu.

— Eu gosto da Halley e do Kevin, vai ser legal ter um

irmãozinho.

— Pode vir menina e bebês choram muito. — Ela

completou.

— Eles crescem. — Harry deu de ombros.

Vanessa e eu trocamos um olhar e era a resposta que

precisávamos para começar a tentar. Ela era mais velha

que eu um ano e meio, não fazia a mínima diferença para


nós dois. Éramos maduros, já na beira dos trinta e com

vontade de ter uma família grande. Após o café, ela

costumava tomar seu anticoncepcional, pegamos a

cartela e jogamos no lixo. Era uma pena que Harry


estava muito bem acordado porque eu já queria começar

a tentar.

— Pai, posso sair com tio Devon? — Harry entrou


correndo em casa. Devon apareceu com Halley no colo.

— Ele vai levar a Halley no mercado.

— Por mim, tudo bem.

— Katrina me deu uma lista infinita de coisas. Além de

ovos, querem alguma coisa? — Devon me entregou

Halley para que eu desse um beijo. Minha afilhada

agarrou minhas orelhas quando explodi beijos na sua

barriga.

— Ovos sempre. — Vanessa riu e pegou uma folha. —


Vou te dar uma lista, vê se presta atenção. Kat não é a

única que vai comer seu fígado se não trouxer certo.

— O que tá acontecendo com vocês? — Devon se


estressou. Ele ficava maluco quando as duas resolviam

mandar nele. — Eu sei fazer as coisas sozinho. — Pegou a

lista, Halley e Harry voltou, pronto para sair. — Vem,

garoto. Eu vou te dizer algumas coisas sobre mulheres.

Vanessa começou a rir do irmão e me deu um olhar.


— Eu sei o que você quer e terá que ser mais tarde,

porque preciso sair. — Me deu um beijo. — Prometi que

acompanharia a Rosa em uma série de coisas que

precisa resolver na rua. Só tenho tempo de me arrumar e

sair.

Fiz um pequeno beicinho.

— Fica de olho na Katrina, ok? Ela deve estar deitada

sofrendo de enjoo para não ter saído com meu irmão e

ainda ter pedido para levar a Halley.

— Tudo bem, eu vou tomar conta da psico. — Brinquei e

ganhei um tapa no braço.

Enquanto Vanessa se arrumava, atravessei o quintal e

encontrei Katrina jogada no sofá. Sua expressão

nauseada dava pena. O notebook estava aberto, assim

como uma série de coisas, resolvi me oferecer para

ajudá-la com as publicações do jornal online. Havia

algumas matérias que era só anexar fotos e enviar.

Vanessa apareceu e se despediu. Rosa deu a Katrina um

copo de chá gelado. Trabalhar no lugar de uma

workaholic era um pesadelo. Só Vanessa para aguentar a


confusão e agitação de Kat quando se tratava do seu

trabalho e seu nariz curioso.

— Você precisa de alguma coisa a mais?

— Pode ir. O enjoo costuma passar depois do almoço. —

Sentou-se devagar e puxou uma pasta. — Agora eu ia dar


uma olhada no que o investigador particular me mandou.

Ele deu uma aprofundada na vida da Pauley. As


transações financeiras dela são uma bagunça...

— Ainda me surpreendo em como vocês conseguem as

coisas. — Peguei e olhei as folhas. — Uau. Ele conseguiu


informações de antes dela trabalhar comigo.

— Infelizmente, é difícil fazer o rastreio do dinheiro, mas


pelo menos podemos ter uma noção do que fez todos

esses anos. — Se inclinou sobre meus ombros e leu junto


comigo. Katrina ficou em silêncio, olhando umas folhas e

me deparei com as datas. — O que foi?

— Você tem as datas das audiências e reuniões que tive


com a Debra sobre a guarda?

— Tenho o que Arthur me enviou. Acho que ele desconfia

sobre os pagamentos, por que? Eu pedi justamente para


ver se tinha alguma coisa. — Katrina percebeu o que
estava olhando. — Puta merda, Stuart! Puta merda! —

Saltou do lugar, passando por cima do meu ombro para


arrancar as folhas da minha mão. — Pegamos a filha da

puta! Vanessa ia desmaiar se tivesse aqui, caramba, ela


estava certa o tempo todo.

— Agora ele tem a confirmação. Olha só... — Minhas

mãos tremiam ao ver a data de alguns pagamentos


batendo exatamente com os valores recebidos por

Debra. A mãe do meu filho foi paga por muitos anos para
mantê-lo longe de mim. — Te peguei, Pauley — falei para

mim mesmo.

— Seu pai pode ter mais respostas, Stuart. Ele era


namorado da Debra e foi ele quem encontrou a Pauley —

Katrina falou bem séria. — Precisamos dar um


contragolpe nessa mulher. Ela está por trás de tudo,

desde a condenação à briga pela guarda. Te fez de peão


para te manter preso a ela. Você era o garoto de ouro.

— O quanto essa mulher ganhou às minhas custas... —

Continuei olhando as folhas. — Eu poderia comprar um


pequeno país e me nomear rei. Miserável. Eu lutando
para manter a pensão do Harry, sem conseguir escapar
dela, batalhando com as exigências do juiz... tudo

armado. Até as notas pagas, os flagras... porra, até a


merda da fofoca que eu me drogava.

Katrina sentou ao meu lado ao se tocar da minha


desolação. Devon chegou em casa com as crianças e

percebeu nossas expressões, logo pedindo que Harry


ficasse com Halley no chão da sala de televisão,

sentando conosco. Nós o colocamos a par de tudo, que


ficou não tão surpreso, mas com a mesma sensação ruim
de que fui tão usado.

Fui tão idiota.

— Não se culpe. Você começou nessa vida muito jovem,


ninguém te ensinou o que era certo ou errado, apenas te

usaram como um galo de briga. — Devon apertou meu


ombro. — Você evoluiu muito como homem desde que te

conheci. Era só um garoto perdido e hoje, é um homem,


pai de família e um bom marido para minha irmã.

— Era só uma criança, Stuart. Treze anos... é só imaginar


o Harry um pouco mais velho. Não se culpe. Não por isso.
— Katrina me deu um abraço.

Minha garganta estava fechada. Pedi licença a eles e que

olhassem meu filho por um tempo. Entrei na minha casa


e subi direto para o escritório onde ficavam todos os

meus troféus e cinturões. Minha vontade era jogar tudo


no chão, quebrar todos eles, mas eram minhas vitórias.

Minhas conquistas. Pauley pode ter usufruído do dinheiro


que as lutas trouxeram, mas eu venci.

Me apoiei na parede, com a respiração ofegante e meu

coração parecia que ia explodir no peito por todas as


vezes que sonhei ter meu filho e na verdade, nós éramos

peças de um jogo ambicioso.

— Meu marido campeão se encontra nesse recinto? —

Vanessa encostou na soleira da porta e cruzou os braços.


— Acho que estou olhando para o homem mais bonito do
mundo e digo isso por dentro e por fora. Um vencedor

que não tem medo de nenhuma batalha. Acho que sou


uma tremenda sortuda, porque me apaixonei por esse

homem incrível anos atrás e tive o privilégio de me


tornar sua esposa.
Suas palavras me deram ânimo e me fez sentir amado

como nunca senti. Só ela tinha esse dom de me


transformar em um piscar de olhos.

— Cheguei e eles me atualizaram de tudo. Ainda precisa


de um tempo sozinho? — Seu doce olhar encontrou o

meu.

— Não. Quero ligar para Arthur e descobrir o que


podemos fazer juridicamente, além de formalizar uma

denúncia ou o que puder contra Pauley. Eu não me


importo que ela esteja envolvida com pessoas perigosas,

ela precisa pagar por tudo.

— Então, vamos correr atrás disso. — Esticou a mão e


peguei. — Estamos juntos nessa e só vamos parar

quando tudo se resolver.

Ao retornar para a casa de Devon, eles ainda estavam na

sala. Katrina parecia que tinha engolido uma bateria de


caminhão, digitando freneticamente no seu computador.
Devon, como meu empresário e dono de parte da

empresa Don Hedrer , estava falando com Arthur, meu


advogado. Ao mesmo tempo, trocava mensagens com o
advogado dele, que resolvia todas as suas questões em
Vegas.

Peguei meu telefone e mandei uma mensagem.

— Falou com ele? — Vanessa olhou para a tela.

— Agora é questão de tempo até ele aparecer. — Enfiei


meu telefone no bolso.

Arthur era um tubarão e já estava bem mais à frente. Ele


queria pegar a Pauley na curva, em uma dessas muitas
ameaças veladas dela. Nós já estávamos com a faca e o

queijo na mão.

Harry entrou correndo na sala e parou na minha frente.

— Podemos fazer uma noite de cinema hoje? Quero

pipoca e refrigerante.

— Eu topo se tiver cachorro-quente. — Vanessa brincou.

— Quando você engravidar, vai virar uma salsicha. —

Katrina brincou.

Vanessa só me deu um olhar animado. Em breve,


provavelmente, ela não suportaria sentir o cheiro.
Voltamos para nossa casa e preparamos tudo para a
noite de cinema. Harry ficou tão empolgado que não

reclamou de ir tomar banho, como fazia todo dia.


Vanessa abriu o sofá, espalhou almofadas, abriu uns

pacotes de doce e fez pipoca. Colocamos todos os filmes


que ele gostava, que por sinal, eram nerds que eu mal

conseguia entender sem uma breve explicação.

— Ela sempre dorme no começo dos filmes? — Harry riu


de Vanessa embolada em si mesma. Seu rosto sereno era

lindo. Me inclinei, beijei sua testa e a cobri direito. Meu


filho ainda estava ligado no 220w para dormir.

— Os que ela não gosta, dorme sim.

— Que pena, esses filmes são ótimos. Dorme não, pai.

Ainda tem mais um.

Puta merda. Duas horas de filme.

Harry ficou muito bem acordado e ainda queria que eu


alugasse um dos últimos, mas disse que não porque
estava muito tarde. Acabou dormindo no meio da nossa

conversa, arrumei tudo na sala e chamei Vanessa para a


cama. Me preparei para dormir. Meu telefone vibrou e era
um número desconhecido. Talvez fosse a convivência
com Katrina que me fez apertar o gravador de tela do

telefone e colocar a ligação no viva-voz.

— Alô?

— Stuart? — Reconheci a voz baixa da Debra.

— Onde você está? O que aconteceu com você? — Sentei


na cama bruscamente. Vanessa acordou assustada. —
Debra, fala comigo!

— Se você quer a guarda do seu filho, recue suas

investigações. — Uma voz robótica soou, mas eu podia


dizer que era masculina. — Não diga que não foi avisado.

A ligação foi encerrada em seguida.

— Ela ainda está viva — Vanessa sussurrou. — Deus,


Stuart! O que é isso tudo?

— Eu não sei, amor. Cada vez que damos um passo à

frente, algo novo acontece. Dessa vez, precisamos


envolver a polícia. Não vou colocar a vida do meu filho
em risco.

Eu faria de tudo para proteger meu filho, de todos,


inclusive de mim mesmo. Se a minha presença na sua
vida o colocava em risco, ia lutar com todas as minhas
forças para que esse pesadelo terminasse.
25 | Vanessa

Arthur entrou na minha casa como um furacão. Ele


conseguiu fretar uma viagem particular com o avião da

empresa da mãe assim que nós ligamos. Saber que


Debra estava viva nos causou uma confusão enorme: ela

estava com eles ou presa por eles? Não dormimos a noite


inteira, falamos com a polícia e por fim, entregamos tudo

que tínhamos. Se tornou além de conjecturas. Era um


possível sequestro.

Tomamos muito cuidado para Harry não ouvir nada. Eu

estava preocupada que ele absorvesse a nossa tensão.

— Eu vou levá-lo para casa da Mel para se distrair com o

Kevin após a escola. — Rosa esfregou meus braços. —

Minha filha, sei que está preocupada, mas se aquiete.

— Meu medo é que acusem Stuart de ter sumido com

Debra. Ainda bem que ele gravou a chamada. Estou aflita

com o que possam ter armado contra meu marido —

confessei. Rosa me abraçou, me passando sua paz.


— Confie em mim, filha. Essa história está terminando. —

Beijou minha testa.

— Obrigada, mãezinha.

— Sempre com você. — Sorriu e chamou Harry para levar

até a colônia de férias.

Arthur e Stuart estavam alterando as vozes no

escritório. Devon andava de um lado ao outro. Katrina

ergueu o olhar e sinalizou para me aproximar.

— Você está bem? Está enjoada?

— Não se preocupe comigo. — Garantiu e puxei a


cadeira ao seu lado. — Que reviravolta. Se ela está

envolvida, o bicho vai pegar, porque temos prova de que


ela está diretamente envolvida com pessoas que devem

ter a polícia na folha de pagamento. Agora estou ainda

mais preocupada.

— Eu também. Não saber o que vai acontecer me


deixa ainda mais histérica. Como poderíamos intervir

nessa situação sem que a merda exploda no ventilador?

— Minha preocupação é que sei que seu irmão não

é santo. Ele tem negócios com pessoas realmente


perigosas na cidade e tenho medo de até onde é capaz

de ir para proteger a nossa família. — Prendeu o cabelo e

olhou para a sala, onde os homens discutiam. — Minha

vontade é sair por aí fazendo alguma coisa, mas eu perdi

as minhas estribeiras ao ouvir aquela mulher. Se ela

estiver mentindo, que aquela voz foi ensaiada, eu vou


esquecer a minha empatia e avançar nela. Nem gosto e

estou preocupada. Odeio o meu coração.

— Eu me preocupo em parte. Acho que não sou tão

boa, porque eu penso em como isso pode afetar o Stuart


e o quanto pode machucar o Harry.

— Vamos ficar bem. — Katrina segurou minha mão


e apertou.

Quando os três saíram do escritório, sentaram

próximo. Arthur estava o tempo todo no telefone


enquanto Stuart e Devon garantiram que deveríamos

esperar o que a polícia iria fazer. Como Debra

desapareceu em Nova Iorque e descobriram que a

ligação partiu da cidade, a investigação permaneceria lá.

Me dava aflição, porque Pauley estava em Vegas. Stuart


jurava que era um homem e eu só identifiquei uma voz

robótica.

— Eu odeio esperar. Ela vai se safar se esperarmos

— Katrina resmungou.

— Ela é o tipo de mulher que está entrando em

desespero, porque Stuart não está lhe dando atenção.

Toda vez que aparece com essas ameaças, ele sequer

responde. Casou sem que ela soubesse e ainda agimos

com a guarda da maneira mais sorrateira possível, que

nem Jackson previu. Ele ficou muito surpreso e iria ficar

ainda mais quando saísse a definitiva. — Arthur

comentou sem tirar os olhos do telefone. — Eles não são

os únicos que têm contato. Sabe o que me chamou

atenção nessas transações bancárias? Seu antigo

advogado recebia duas vezes mais do que foi acordado

com você. Estou movendo um processo contra ele, me


agradeça com um bônus.

Stuart abriu um pequeno sorriso.

— Esse será seu último caso? — Devon o encarou.

Fui pega de surpresa, não sabia que ele deixaria de


advogar.

— Sim. Quero deixar a advocacia em grande estilo.

— O que vai fazer? — Katrina, curiosa, não deixaria

passar batido.

— Vou assumir a empresa da minha mãe. Ela

decidiu se aposentar. Portanto, esse caso precisa de um

encerramento para deixar meus amigos advogados bem

nervosos. — Ele deu um sorriso torto. Seu telefone tocou.

— Arthur Baxter. — Sinalizou que iria se afastar e encarei

meu marido, me inclinando e o beijando.

— Vamos ficar bem — prometi baixinho.

— Eu sei, amor. Apesar do susto dessa ligação,

sinto que era o que precisávamos para descobrir onde

Debra está. Eles sabem que estamos chegando muito

perto e estão nervosos. — Beijou minha testa e ficamos


juntinhos. — Você está com os olhos fundos, deve estar

exausta. Vai descansar, prometo que vai ficar tudo bem e

eu te acordo se acontecer qualquer coisa.

— Não. Quero estar atenta se Harry precisar de

mim. — Acabei soltando um bocejo. — Vou fazer um café.


O dia passou lento, com poucas informações, nada

muito novo e com isso, liberei Rosa da função de buscar

Harry na escola e fui sozinha com meu guarda-costas me

seguindo de moto. Não estava me sentindo segura para

sair desacompanhada, mas não quis falar com Stuart no

meio de sua reunião com Arthur sobre os próximos

passos para finalizar a guarda do Harry.

Parei o carro bem na frente e abri a porta do banco

de trás. Harry se despediu dos seus colegas, entrando no

carro com sua usual alegria.

— Pensei que fosse para casa do Kevin. Ele saiu

mais cedo, o pai dele veio buscar — comentou,

colocando o cinto de segurança e travei as portas. —

Está tudo bem?

— Estava com saudades de você. Papai ficou em

uma reunião com o Arthur — expliquei e ganhei uma

buzinada de algum pai apressado. Minha vontade foi

erguer meu dedo médio e mandar esperar, mas era uma

zona escolar, manteria a educação.


Harry contou sobre a escola e como todo dia,

perguntou sobre a mãe. Não me senti mal por mentir,

porque eu não queria que ele sofresse com o

desconhecido. Ele amava a mãe, não importava quem

ela era ou o que tinha feito.

Debra era mãe dele e não seria eu a pessoa a

transformá-la em uma vilã. Se nem a própria família

estava preocupada com o seu desaparecimento, não


podia pular etapas. Um dia, Harry saberia de toda a

verdade, principalmente quando tivesse maturidade.

Apesar de estar prestando atenção nele, reparei


que um carro me seguia. Aparentemente, parecia

inofensivo, apenas um carro seguindo o fluxo, mas a


motorista em questão pensava que podia praticar
assédio sem consequências. Ela não me conhecia. Meu

sangue ferveu com a ousadia. Meu guarda ficou por


perto. Steve era muito atento. Não éramos próximos, ele

fazia o seu trabalho.

Em dado momento, ela me fez aumentar a

velocidade ou bateria na minha traseira. Quase causou


um acidente com um caminhão e a possibilidade de
bater com o carro, ferindo o Harry, me irritava muito.

— Está tudo bem? — Harry percebeu que parei de

falar.

— Sim. Nós vamos chegar em casa logo.

Pauley parou de me seguir quando entrei no meu

condomínio. Mandei uma mensagem de áudio para meu


segurança pedindo que não a perdesse de vista. Parei na

entrada de casa e olhei para Harry. Abri um sorriso para


disfarçar a minha fúria. Ela pensou o quê? A imagem da

doce Vanessa, que tinha medo de tudo e entrava em


clínicas de reabilitação por problemas com a mãe, era o

que ela sabia sobre mim.

— Avise ao seu pai que eu já volto. — Virei no


banco.

— Você parece brava, o que vai fazer? — Me deu

um olhar desconfiado.

— Resolver um problema.

Harry saiu do carro, abriu o portão e entrou. Assim

que ouvi o barulho da fechadura digital, arranquei com o


carro, fazendo a manobra na rua. Vi o Stuart aparecer
confuso na calçada e depois explicaria. Mal estava

pensando. Steve mandou mensagem de onde estava,


costurei o trânsito em alta velocidade, pela primeira vez,

usando toda potência do meu conversível.

Assim que vi o carro dela, avancei com tudo. Ela

tomou um susto que trocou de faixa inesperadamente.


Buzinei para o babaca não ficar entre nós duas.

Pauley acelerou e eu fiquei atrás. Antes de uma

curva, bati na sua traseira, ela taxiou no asfalto, quase


batendo na mureta e se recuperou a tempo. Entrou em

um estacionamento, subindo as rampas com rapidez e


bati de novo na traseira do seu carro até que ela ficou
sem alternativa ou bateria em uma pilastra. Freou e saiu

do carro com a bolsa.

— O que foi? Não gosta quando devolvem a

provocação? — Bati a porta do meu.

— Você é louca! Olha o estrago que fez!

— Louca? Não faz ideia do quanto, Pauley. Ameace

colocar a minha criança em risco novamente e eu vou


acabar com você!

— Eu só estava passeando por perto.

— Não estava! Não banque a desentendida

comigo, querida. Você me julgou errado e agora se


prepare para as consequências. — Apontei, certa de que

ela iria embora com meu recado bem dado. — Nunca


mais chegue perto do Harry novamente!

Pauley abriu um sorriso cínico.

— Stuart deveria me agradecer que eu dei de


presente a ele o que tanto queria. O filho deficiente. Tirei

a mãe do caminho para que pudesse brincar de casinha


por um tempo, porque quando tudo isso acabar, ele vai

encontrar conforto nos meus braços. Vai perceber que


nunca deveria ter se afastado.

Perdi todo meu controle, avançando com tudo pra

cima dela, chegando a derrubá-la contra o carro,


acertando seu rosto, mas braços fortes me impediram.

Steve me agarrou pela cintura enquanto me debatia,


atraindo atenção de vários espectadores. Pauley ficou se

abanando, fingindo que estava sendo agredida


injustamente, gritando que eu era louca e ciumenta. Filha

da mãe!

Não prestei atenção quando meu irmão chegou

com Stuart. Apenas me dei conta quando Mac a conduziu


para longe de mim e Stuart me agarrou, levando de volta

para o carro. Ele entrou no lado do motorista, saindo


rapidamente do lugar e evitando que fôssemos ainda

mais fotografados. Provavelmente fiz uma besteira épica,


porém, meu sangue estava quente demais para me
arrepender. A bofetada ainda causava ardência na minha

palma e o coração retumbava no peito.

— Stuart...

— Não fala nada. — Me cortou e virei no banco. —

Não, Vanessa. Não quero discutir enquanto estou


dirigindo.

— O que tem para discutir?

Ele me olhou, incrédulo.

— Você saiu feito louca atrás de uma fodida


psicopata que pode ter sequestrado minha ex-mulher e

tem conexões com um mafioso, que até poucas


semanas, me enfiou em uma luta que poderia morrer! —
berrou e só me deu vontade de gritar ainda mais.

— Ela me seguiu, tentando me assustar e

colocando Harry em risco! Quase bati com o carro em um


caminhão! Estou cansada de agir pacificamente

deixando que ela pense que tem o direito de chegar


perto dele, ainda dizer que te deu de presente, tirando a

mãe dele do caminho! Ela confessou bem na minha


frente que está por trás de tudo e não posso provar!

Stuart parou em uma rua deserta, próximo a sua

antiga casa e me olhou.

— Poderia ser uma armadilha, Vanessa. Entende

que eu morreria se algo acontecesse com você? — Ele


estava tão nervoso que se atropelou com as palavras
com o rosto vermelho. Meu lado racional queria acalmar

a situação, mas a leoa que existia dentro de mim e


esteve adormecida por todo esse tempo, ainda queria

rugir.

— Sinto muito, mas não me arrependo. Se ela

ousar ameaçar a integridade física do Harry como


brincou com o emocional dele durante todo esse tempo,
eu vou passar com meu carro em cima dela!

Segurando minhas mãos que gesticulavam com


braveza, me puxou para seu colo. Agarrei-o com a

adrenalina correndo solta, conforme me acalmava, mal


podia acreditar no que fiz. Uma perseguição e um

barraco em um estacionamento muito frequentado quase


no centro de Las Vegas, onde paparazzis e fofoqueiros
preenchiam cada metro quadrado.

— Nunca te vi tão brava. — Deu um meio sorriso


começando a se acalmar.

— Eu amo o Harry como se fosse meu, porque ele é

seu e faz parte da nossa vida. Não me importo que seja

fruto de outro relacionamento, porque para mim, se é teu


filho, tem meu coração.

— Ele é seu. Sou grato por cuidar e amá-lo como se


tivesse saído do seu ventre. Tenho certeza de que por
mais louca que Debra seja, existe uma parte dela que

ama o Harry e seria grata. — Segurou meu rosto e beijou


meus lábios suavemente. — Embora, nunca mais se
coloque em risco. Nós dois te amamos demais para te
perder.

— Não vou, prometo. Só não prometo que se ela...

Stuart calou minha boca com um beijo. Voltei para

meu lugar e fomos para casa, nossa família estava


preocupada conosco. Como nunca fui inconsequente,
meu irmão foi a primeira pessoa que pintou na minha
frente com uma expressão muito brava. Rosa quase

arrancou minha orelha fora e os hormônios de Katrina


determinaram que ela ia chorar de raiva e me abraçar ao
mesmo tempo.

— Foi irresponsabilidade, maluquice, algo


realmente muito doido, mas puta merda! Mãe-urso mais

brava do universo! — Katrina arregalou os olhos.

— Não incentive esse comportamento! — Rosa


brigou conosco.

— Ah, para. Você avançou em uma babá que


chamou a Vanessa de bastarda. — Devon soltou e nós

caímos na gargalhada com o vermelho que surgiu nas


bochechas de Rosa. — Eu lembro que precisei separar a
briga.

— Isso foi diferente — Rosa resmungou.

— Mãe é assim, a gente não pensa na hora que o


sangue esquenta. — Katrina esfregou minhas costas. —
O seguro não cobre perseguição.

— O seguro não cobre maluquices de modo geral.


— Arthur bufou da sala. — Eu vou até a polícia pedir

imagens das câmeras, provar que Pauley começou a


perseguição. Seu segurança precisará vir comigo, ele é
uma testemunha e eu quero caçar alguém que ouviu o
que ela disse.

O homem não perdia tempo. Eu podia ter feito uma


loucura, mas pelo menos consegui mais do que
alcançamos nos últimos meses: uma bela confissão no
ápice da raiva.
26 | Vanessa

Nunca entendi bem o que significava a calmaria depois


da tempestade, até aquele momento da minha vida.

Depois de uma semana muito confusa, na qual tivemos


que ir até Nova Iorque prestar depoimento e retornar

para que Harry não ficasse muito tempo sozinho, eu me


vi à beira da exaustão física e mental. Foi muito

estressante.

Pauley ameaçou me processar, mas recuou quando


Arthur foi para cima dela com toda sua ferocidade. Além

do mais, as câmeras de trânsito flagraram que ela não


estava nada pelo local a passeio, e sim vigiando a saída

da escola e me seguindo deliberadamente. Fui chamada


atenção pelo que fiz, colocando a vida de outras pessoas

em risco, mas não cheguei a ser penalizada devido à

dimensão de todo caso.

A perseguição não saiu na mídia, só a discussão, e

McKenna fez a gentileza de colocar a matéria ao meu

favor. Ela sabia que tinha mais a ganhar ficando do meu

lado do que contra. Conforme os dias foram passando,


nossa rotina foi retornando e o verão estava quase no

fim. Katrina teve o seu primeiro ensaio fotográfico e eu

fiz o meu primeiro xixi no pote, que deu negativo para

minha tentativa de engravidar.

Joguei o teste fora e não falei nada com meu marido.

Minha menstruação estava atrasada, mas podia ser

consequência do estresse.

Necessitando de um dia feliz, combinamos um evento

em família. Melanie nos convidou para inaugurar a nova

área externa. Michael fez uma varanda gourmet em

anexo com a piscina, criando uma área coberta e um


jardim mais arborizado para refrescar durante o verão.

Levamos nossa máquina de karaokê, baralhos e mais


alguns jogos, porque competir um com o outro era a

nossa forma favorita de diversão.

Harry desapareceu pela casa com Kevin logo que


chegamos e eu fui para a cozinha. Katrina chegou mais

cedo, estava cozinhando batatas e Halley estava tirando

todas as vasilhas do armário, espalhando pelo chão da

cozinha. Ela estava de pé. A safadinha ainda não tinha


andado sozinha, só com apoio ou pequenos passos, logo

caindo de bumbum.

— Precisa de ajuda?

— Só estou cozinhando alguns legumes para Halley

comer. Minha mãe deixou tudo adiantado e Michael já

preparou as carnes. No quesito organização, eles deram

um banho na gente. — Sorriu torto.

— Não é à toa que eles são os melhores pais do mundo.

— Brinquei e puxei um banquinho. — Stuart me deixou

aqui e foi encontrar com Devon. Foram olhar o ar-

condicionado da academia que pifou essa noite.

— Você lembra a primeira vez que viu o Stuart? — Kat

pegou um pote com brócolis já cozido e colocou um

pouco de cenoura.

— Acho que Devon o levou em casa em um dia comum e

eu estava jogada no meu quarto. Eu espiei pela porta, ele

não me viu e pensei “caramba, esse é gostoso”.

— Ele me disse que te viu pela primeira vez em uma

festa.

— Provavelmente sim. Não lembro direito. Por quê?


— Estou nostálgica hoje. Lembrando todas as minhas

primeiras vezes com Devon e fiquei curiosa sobre isso. —

Deu de ombros, concentrada na sua tarefa em preparar a


comida da pequena arteira, que se pendurou entre

minhas pernas com um sorriso sapeca.

— Todas as minhas primeiras vezes com Stuart foram

mágicas. A parte realmente íntima tem ficado melhor a

cada vez e eu fico impressionada no quanto. — Abri um

sorriso. — Eu confio nele. Sempre me perguntei se eu

seria como você ou como as mocinhas dos livros que

leio, mas na real, ser eu mesma é ainda melhor. Parar de

me comparar com outras pessoas me deu segurança.

Stuart é tudo o que eu sonhei. Ele me respeita, me ama,

cuida de mim nos pequenos detalhes e ainda presta


atenção em coisas que deixo passar.

Katrina saiu da frente do fogão e se sentou ao meu lado.

— Eu sei que costumamos generalizar e reclamar dos

homens, também sei que ninguém é perfeito, mas,

quando tem que acontecer, quando nosso coração

encontra o par perfeito, tudo age naturalmente.


— Vale a pena acreditar no amor.

— Fofa. — Katrina apertou minhas bochechas, me

fazendo rir. Bati nas suas mãos, peguei minha pequena


coisinha bagunceira e fui brincar no quintal.

Kevin estava aprendendo a jogar com Harry. Os gritos

deles espalhavam pela casa, mal quiseram deixar o


equipamento para brincar na piscina. Só pararam quando

Michael colocou os dois para o quintal à força. Crianças

eram naturalmente atraídas pela tecnologia, era

impressionante.

Quando Stuart voltou, já estava alegrinha. Ele olhou para

meu copo de bebida, franzindo o cenho e dei de ombros.

O teste deu negativo, por que não beberia? Talvez o dia

de sol e piscina ajudasse a descer a menstruação

atrasada.

— Resolveu o ar? — Me aproximei dele.

— Que ar? — Ele franziu o cenho.

— Você e Devon disseram que foram resolver o problema

do ar que parou de funcionar essa madrugada.

Stuart arregalou os olhos.


— Ah, sim! Claro! Sim, acertamos. Tudo resolvido... me

distraí com seu irmão na rua e acabei me perdendo

nesse detalhe. — Me deu um sorriso irresistível.

— O que aprontaram que não posso saber?

— Nada. Coisas de homens — falou todo brincalhão. Eles

viviam saindo juntos, não era novidade. — Está tudo

bem?

— O que quer dizer?

— Sua menstruação atrasou, eu te vi olhando o

calendário e estava esperando que falasse comigo.

Quero saber se está tudo bem.

— Fiz um teste e deu negativo. Acho que fiquei meio

chateada... resolvi beber.

— Me fala sobre isso, amor. Sabe que estou aqui para te

ouvir.

— Eu pensei que seria de primeira, tenho medo de

sermos aqueles casais que vivem tentando, fazem

posições e loucuras para conceber. Não quero que sexo

se torne um estresse porque queremos engravidar. —


Coloquei meu copo de bebida na mesa. — Estou sendo

ansiosa, sei disso.

Stuart sorriu torto e se inclinou.

— Faremos muitas posições e loucuras até engravidar,

durante a gravidez e depois dela. Confie em mim, do


jeito que te amo e te quero, nunca será estressante. —

Beijou minha bochecha.

— Vamos praticar hoje, então. — Corei um pouco, mas


não me inibi em me mudar para seu colo e o abraçar. —

Eu sempre te quero...

— Inclusive agora?

Devon bateu com as garrafas de cerveja na mesa.

— Desculpa, atrapalhei?

Ele estava apenas brincando, e só para provocar, dei um


beijo de cinema no meu marido. Meu irmão fingiu que ia

vomitar, se jogando na cadeira. Katrina saiu da sala meio


dançando que Halley havia dormido e se jogou no colo do

marido, exausta. Sua barriga já era evidente e a médica


disse que era normal aparecer mais rápido na segunda
gestação, ainda mais que era um tanto recente.
Voltei a olhar para meu marido e percebi que ele me
fitava encantado. Soltei uma risada e o beijei de novo,

meu bobo apaixonado, o melhor amigo que conquistei na


vida.

Stuart era meu par.

Ele sempre teve medo de se aproximar, acreditando que

destruiria a minha vida, mas na verdade, no momento


certo, nós nos tornamos mais fortes juntos. O elo que

criamos era bonito e sentia orgulho desse fato.

Harry correu na nossa direção, quebrando meus

pensamentos. Seu jeitinho desengonçado era muito fofo.


Começou a falar sem parar que deu um grande mergulho

com Kevin, tirou os óculos e sequei um pouco seus olhos,


atenta ao seu tagarelar e muito feliz. Dei a ele um pouco

de água para voltar a brincar. Nós quase gritamos


quando simplesmente se jogou na piscina, mas ele
emergiu e nadou como um peixinho.

— Vou cancelar as aulas de natação da Halley. Ela tem


um padrinho que pode ensiná-la. — Katrina olhou

admirada.
— Eu adoraria. Vai ser divertido ensinar aquela menina
cheia de dobrinhas a nadar. — Stuart sorriu.

Nós chegamos em casa bem tarde naquele dia. Harry


ficou um pouco rabugento, soltando algumas birras e

reclamando que o pai era insistente em mandar que


tomasse banho para dormir. Irritado, não quis ninguém

no quarto dele e adormeceu sozinho. Stuart era muito


paciente e não se abalava em nada, era normal uma

criança ser teimosa de vez em quando.

— Oi! Posso entrar? — Katrina bateu na porta lateral. —


Acabei de receber isso aqui do investigador. É sobre seu

pai. — Me entregou o envelope. Agarrei sua mão e puxei


para a sala de jantar. Seja lá o que tivesse ali dentro,
queria minha melhor amiga ao meu lado.

— Eu vou fazer um café para vocês e já volto. — Stuart


avisou, nos dando privacidade. No começo, ele ficava

meio enciumado, depois entendeu que meu amor por ele


era uma coisa, minha relação com Katrina era algo

totalmente diferente.
Tirei as folhas e começamos a ler. Meu pai se chamava

Jason Phillips. Ele era ex-militar, especializado em


segurança e trabalhou como guarda-costas de muitas

pessoas famosas. Incluindo minha mãe. Por dois anos, a


mídia especulou que Shannon teve um caso com ele,

mas ninguém confirmou nada. Para minha surpresa, o


público só descobriu sobre a minha existência aos seis
meses de idade, quando ela, de repente, enviou uma foto

para os jornais.

Conhecendo-a como eu a conhecia, provavelmente me

usou como o momento certo para divulgar algum


trabalho. Foi um choque. O investigador reuniu todos os

recortes de jornal que encontrou, até seria bom, porque


iria para o museu.

— Acho que ele não sabe que sou filha dele. — Suspirei

ao ler que o exame de DNA foi feito depois que nasci, por
insistência dele, mas havia duas cópias: uma negativa e

uma positiva. Segundo o banco de dados do laboratório


usado, que ainda existia, o verdadeiro era o positivo.

— Shannon pode ter entregue o falso para ele. Tio Saul

disse que fez o que ela pediu, então...


— É inútil me perguntar por que ela era do jeito que era.

Stuart colocou duas canecas na nossa frente. Rosa


entrou de fininho com Devon. Halley estava dormindo no

carrinho e ele estacionou na sala, com a luz apagada.


Meu marido foi um excelente anfitrião servindo a todos

enquanto mastigava meus lábios, absorvendo todas as


informações disponíveis sobre meu pai. Provavelmente,

ficaria chateada se ele tivesse renunciado a mim em um


acordo com ela, mas a possibilidade que ele me quis e
recebeu um resultado falso, me deixava dividida.

— Acham que ele me quis?

— Você só vai saber se o procurar. O que tem a perder é


mais uma decepção para enfiar no bolso, mas também

tem a ganhar um pai. — Katrina segurou minha mão. —


Eu daria tudo para que meu pai se importasse comigo o

suficiente para ser meu pai.

— Eu sei. — Olhei para Stuart, procurando sua opinião.

— Estou com você, amor. A decisão que tomar. Se quiser

pegar o carro amanhã e ir encontrá-lo, nós vamos.


Devon se inclinou na mesa, confuso, como sempre,
duelando entre sair correndo comigo no colo e me

proteger ou me deixar ir. Ele me abraçou apertado, o que


me fez chorar muito. O pai dele faleceu e apesar de não
ter dito nada, sei que precisou de um tempo para lidar

com seus sentimentos. Devon tem irmãos, que sabem da


existência dele e não falam sobre isso.

Após a morte do pai, milhares de mulheres foram a


público revelando que foram obrigadas a fazer o teste do

sofá. Shannon nunca se pronunciou sobre. Nós não


sabíamos se ela foi uma dessas, que resultou em uma

gravidez. Eu não duvidava que ela usou Devon ao seu


favor para subir na carreira, sua falta de escrúpulos e a

ambição sem medidas, não me fazia acreditar que ela foi


apenas uma vítima. Talvez tivesse usado algo ruim ao

seu favor. Era isso que machucava meu irmão, as


infinitas possibilidades não eram agradáveis.

— Você vai saber lidar com tudo? — Segurou meu rosto.

— Eu vou contar com você para me dar um abraço

sempre que precisar — respondi enquanto ele beijava


minha testa. — Lembra dele?
— Um pouco. Ele era legal, jogava bola comigo, mas é
tudo muito vago.

— Eu lembro dele, sim. — Rosa segurou a foto. — Mas eu


nunca imaginei que poderia ser seu pai. Quando Shannon

me contou que estava grávida, eu trabalhava com ela a


poucas semanas e mantive minha distância cuidando do

Devon em uma casa separada da dela. Logo você nasceu


e nós nos mudamos para o apartamento.

— Caramba. — Katrina soltou do nada. — Mesmo depois

de morta a mulher deixou várias granadas para explodir.


E aí, o que decide?

— Quero procurá-lo. Você tem razão, posso ganhar um

pai ou posso ganhar uma decepção. Vou lidar com o que

vier — anunciei para minha família.

Nós ficamos jogando conversa fora, até sentirmos fome.


Pedimos pizza e precisamos controlar as risadas para não
acordar as crianças. Fomos dormir às cinco da manhã,
meu corpo reclamando de todo o sol, bebida, pizza e por

volta da hora do almoço saí da cama correndo para o


banheiro. Stuart estava lendo na cama e Harry jogado no
sofazinho, com seus gibis. Os dois pularam de susto.

Despejei tudo no sanitário. Eu nunca vomitava. Nunca

mesmo.

— Ela está bem? — Harry perguntou da porta.

— Pega um copo de água, acenda as luzes da escada


porque a sala está escura ainda. Não levantei as cortinas.
— Stuart orientou e eu quase pedi que esperasse, porque

tinha pavor de Harry se confundir nos degraus e cair.


Meu estômago não me deixou fazer isso. — Ei, calma.
Respira fundo.

— Acho que acabou. Quero lavar a boca. — Minha voz


estava meio rouca.

— Foi a pizza?

— Foi tudo. — Bufei. Minha mente, no entanto, estava


presa a outra coisa. Enxaguei minha boca, bebi a água
que Harry me entregou e me ajeitei no banheiro. —
Preciso falar com Katrina, já volto.

— O quê? — Stuart ficou confuso.

— Espera aqui. — Me enrolei no roupão e fui saindo.


— Vanessa? O que está havendo?

Não respondi mais, atravessei o quintal e ouvi a voz

suave de Katrina na cozinha. Ela estava dando comida


para Halley, com o rosto todo amassado e de pijama.
Meu irmão lia o jornal, ambos me olharam com surpresa.

— Preciso de você — falei para ela, que percebendo meu


olhar, entregou o prato de comida para Devon e segurou

minha mão, saindo da cozinha. — Ainda tem aquele teste


mais sensível? Eu fiz ontem à tarde, deu negativo, eu
acho. Na verdade, a segunda listrinha apareceu muito
clara e pensei que fosse apenas um risco.

— Sim, ainda tenho. Está na validade ainda. O que

houve? — Katrina foi subindo a escada, preocupada. —


Passou mal?

— Eu vomitei e ainda quero vomitar.

Ela arregalou os olhos, ciente que aquilo era algo que só


acontecia se estivesse muito doente.

— Sua menstruação está atrasada?

— Sim.

— Seios doloridos?
— Não sei se estão sensíveis porque minha menstruação

vai descer ou porque estou grávida. Não percebi nada


diferente neles além do fato de que não quero que Stuart
toque neles como normalmente faz. — Entramos no
banheiro e ela abriu a gaveta.

— Enjoo hoje ou já tem uns dias?

— Achei que fosse coisa da minha cabeça, mas acho que

tem uns dias. Fiquei me policiando porque parar a pílula


poderia me fazer pensar que qualquer sintoma seria de
uma gravidez e não queria me decepcionar. — Agarrei o
teste, ela fechou a porta e sentou no chão. Entrei no

recuado do sanitário e fiz xixi no pote, ligando o teste


eletrônico e seguindo as orientações. — E agora? Ele
demora muito?

— Mais que os comuns, porém, é certeiro.

Me limpei, lavei as mãos e esperei. Minhas mãos tremiam

quando a tela ficou no looping eterno de carregar a


resposta. Katrina ficou ao meu lado e quando o resultado
apareceu, soltei a respiração que prendia e as lágrimas
começaram a escorrer pelo meu rosto.
27 | Stuart

Da janela da sala, observei Vanessa atravessar o quintal


e empurrar a porta de vidro da lateral. Deixei Harry no

quarto, assistindo a um filme e estava quase indo atrás


da minha esposa maluca, que acordou passando mal, se

enfiou na própria cabeça e praticamente saiu correndo,


mas ela já estava voltando com o rosto molhado de

lágrimas e os olhos brilhando. Entrei em um breve


desespero.

— Amor, você está me assustando!

Sem falar nada, tirou algo do bolso e me entregou. Era


um teste de gravidez e ali dizia GRÁVIDA . Ergui meu

olhar e ela só balançou a cabeça, chorando. Abracei-a

tão apertado, com meu cérebro em nós que... puta

merda! Ela estava grávida!

— Vamos ter um bebê? — questionei baixinho, ela

segurou meu rosto.

— Sim, nós vamos — confirmou com amor.


— Porra, Vanessa. — Dessa vez, quem começou a chorar

fui eu. Meu corpo inteiro estava tomado por uma emoção

tão grande que parecia que meu coração ia explodir no

peito. — Te amo tanto, amor. Estou tão feliz! Tão feliz! —

Voltei a abraçá-la bem apertado. Nós ficamos muito


tempo abraçados, trocando beijos e chorando.

Ouvimos passos suaves no corredor e nos preparamos

para o Harry.

— Papai? Está tudo bem?

— Vem aqui, meu amor. — Vanessa sinalizou para que

descesse a escada. Ele veio desconfiado, observando

nossos rostos.

— Terei que ir embora? — Seus olhos arregalaram.

— Claro que não. — Minha mulher manteve a voz calma

e o abraçou. — Lembra quando conversamos sobre

aumentar nossa família?

— Sim, eu lembro.

— Sua orelha está bem onde seu irmão ou irmã está


crescendo — ela cochichou como se fosse um

segredinho. Harry afastou o rosto, com um olhar tão feliz


que voltei a chorar. Ele apontou para a barriga dela,

querendo uma confirmação. Vanessa assentiu e para

nossa surpresa, ele afastou o roupão, ergueu a camisa do

pijama e beijou a barriga dela. — Ai meu Deus, eu te amo

tanto!

— Sou um irmão mais velho! — Harry gritou, realizado.

— Você é! — confirmei, todo feliz.

— Bate aqui, papai! — Ergueu a mão e batemos.

O clima de felicidade só aumentou quando Vanessa


contou a Devon e a Rosa. Ela os convidou para almoçar e

na praticidade, optamos por preparar um churrasco. Seu

irmão estava desconfiado, porque ela descobriu sozinha

com Katrina, mas Rosa foi pega de surpresa e teve a

reação mais linda do mundo. A ligação das duas era

poderosa como mãe e filha, era por isso que eu tinha

certeza, que no coração da minha mulher, não haveria

diferença entre Harry e os filhos que teríamos juntos. A

capacidade dela de amar era infinita.

Vivemos as semanas seguintes em função de todos os

exames que sua médica passou, nas consultas e


aguardando com ansiedade a primeira ultrassonografia.

Ainda era bem cedo, mas ela estava bem grávida. A

médica mostrou preocupação com a pressão arterial


inicialmente, porque Vanessa estava acelerada querendo

fazer tudo ao mesmo tempo, consumida pela ansiedade,

mas com muita conversa e ciente que precisava cuidar

da saúde, se acalmou.

Não cabia em mim a felicidade de estar vivendo com

meu filho, casado com a mulher que eu amava e

esperando um bebê. Era um sonho que nunca me permiti

ousar sonhar. Estava trabalhando feliz, assobiando,

dando aulas bem empolgado e até me preparei para

minha próxima luta com felicidade. Devon comentou que

eu parecia outra pessoa, alegando que o garoto raivoso e


sombrio que ele conheceu não existia mais.

— Sou orgulhoso do homem que você se tornou. — Deu


um soco no meu ombro. — Fico feliz por tudo que está

vivendo.

— Parte disso preciso te agradecer. Te salvar daquela luta

no beco me deu uma família, um foco e você me abriu os

olhos para muito.


— Jamais deixaria um amigo meu afundar. Você é meu

irmão, Stuart. — Ele ia falar mais alguma coisa, mas

parou. Seu telefone estava tocando. — Fala, Arthur. Sim,

ele está do meu lado.

Tateei meu bolso e percebi que estava sem meu telefone.

— E aí, o que aconteceu?

— Acabei de ser informado que a audiência final da

guarda foi marcada para daqui a sete dias. Eu estava

preparando tudo para te ligar quando meu contato da

polícia me mandou uma mensagem. — Arthur parecia

estar andando. — Debra foi encontrada. Ela foi achada

desacordada em um beco. Há marcas de cordas nos seus

pulsos, sei lá. Estou indo para o hospital.

— Cacete! Ela está bem dentro do possível? — Devon fez

a pergunta que eu não consegui. Minha mente estava

trabalhando em milhares de possibilidades.

— Não sei como está, o que me deixou muito surpreso é

que ela pediu proteção policial e que me ligassem. Enviei

meus seguranças na frente. Acho que estava certo desde

o começo. — Arthur falou e ouvimos o barulho da cidade,


depois, parecia estar dentro do carro. — Jackson está

envolvido até o último fio do pescoço. Por que ela seria

encontrada e não gostaria de ver seu fiel advogado?

— Puta que pariu! Estou indo para Nova Iorque. Ela é

mãe do meu filho e provavelmente, estava ajudando a

me foder. Eu quero saber a verdade. — Finalmente me

pronunciei.

— Se não conseguirem um voo, me avisem que darei um

jeito. — Arthur encerrou a chamada.

Devon e eu decidimos agir. Corremos em casa, Vanessa

estava no shopping com Katrina e as crianças. Ligamos

para Mac, avisando para reforçar a segurança. Elas,

provavelmente, perceberiam que seus guardas ficariam

mais próximos. Arrumei uma mochila rapidamente,

enviando uma longa mensagem de voz tentando deixar a

minha voz bem calma para não a estressar além do

necessário nessa situação.

Não queria que fosse comigo, porque poderia ser

arriscado. Não sabia o que nos aguardava lá.

Conseguimos um voo e faltava muito pouco para precisar


fazer o check-in, começamos pelo aplicativo e corremos

pelo aeroporto com as passagens para garantir que

iríamos embarcar o mais rápido possível.

Vanessa começou a me ligar quando finalmente ouviu a

minha mensagem.

— Tem certeza de que vai ficar tudo bem? Quero ir com

você!

— Baby, você precisa ficar em casa. Vai ser estressante,


e Harry não pode perceber nada até que seja o momento

certo de contar que sua mãe foi encontrada.

Ela soltou um resmungo insatisfeito.

— Me mantenha informada. Nós ficaremos seguros. Eu te

amo, nós três te amamos muito! Fique bem e volte para


casa!

— Também amo vocês.

Meu nível de estresse estava tão grande que não


consegui ficar quieto durante o voo. Meu coração estava

acelerado. Devon ficou no telefone, trocando mensagens,


precisando estar no controle da situação. Quando
finalmente aterrizamos, já era noite e fomos direto para o
hospital. O motorista que usava na cidade foi enviado por
Arthur e já estava nos aguardando.

Meu advogado foi a primeira pessoa que vimos na

recepção. Ele falava com a polícia e sinalizou para


esperarmos ali.

— Ela acabou de dar o depoimento. Está lúcida, meio

dolorida, desidratada, precisa de uns cuidados médicos,


mas já abriu a boca. — Arthur se aproximou.

— Quero falar com ela. Preciso ouvir tudo dela.

— Pode entrar. Jackson já sabe que está sendo procurado


e provavelmente, começou a fugir quando ela escapou.

Entrei com pedido para bloquear seus bens, já não têm


mais acesso às contas bancárias e é oficial: Pauley será

acusada. No entanto, ela tem muitas conexões em Vegas


e estou fazendo o meu melhor daqui.

Assenti e sinalizei que ia entrar.

— Vou ficar aqui e ligar para quem conheço na polícia


para nos ajudar. Tente não a matar, ok? — Devon

segurou meu ombro.


— Estou com raiva, mas não muito. Tenho o que preciso
na vida — falei baixo e empurrei a porta aberta. Debra

estava acordada, olhando para a janela e apesar de não


dever, me compadeci da sua aparência. Uma pessoa não

podia fingir aquilo. Magreza excessiva, seus longos


cabelos cortados de maneira estranha, secos, pontudos e

o rosto perfeito, que deixava homens no chão, ressecado


e com alguns cortes. — Debra?

Ela virou o rosto lentamente e suspirou.

— Stuart. Antes de despejar tudo, pode me dizer como


Harry está?

— Ele está bem.

— Lena está com ele?

— Não. Depois que você desapareceu, o juiz me


concedeu a guarda provisória. Desde então, ele tem

vivido comigo e minha esposa.

Debra lambeu os lábios.

— E as dores de cabeça? Antes de eu sair de casa, ele


tinha me dito que sentia dores, mas eu ia voltar...
— Era um pequeno reajuste nos óculos somado a

diminuir o tempo com aparelhos eletrônicos. — Puxei


uma cadeira e sentei. — Não vou gritar, não vim aqui

para brigar, eu só quero a verdade que foi dita a polícia.


Quero ouvir tudo da sua boca.

Debra ficou quieta.

— Quando me envolvi com seu pai, foi para irritar meus

pais. Acabou que o relacionamento se desenrolou e eu


conheci você. Do meu jeito, me apaixonei, mas já tinha

feito uma bagunça e quando ficamos juntos, pensei que


ficaria tudo bem.

— Eu não gostava de você dessa maneira, Debra. Além


de ser namorada do meu pai, fizemos algo errado,

estávamos bêbados.

— Você não queria muito, estava além da consciência e


eu insisti, te provocando até que fizemos. Eu não estava

tão bêbada assim. Na minha cabeça, era a única


oportunidade. — Revirou os olhos e me mantive quieto.

— Então, você acordou, implorou por desculpas e


desapareceu. Contou para Pauley, certo?
— Sim, eu estava me sentindo culpado, odiava meu pai,

mas foder com a mulher dele era escroto demais até


para mim.

— Ela me ligou no dia seguinte e me mandou ficar longe


de você. Fiquei com tanta raiva de vocês dois que contei

para seu pai, ele me bateu, jogou todas as minhas coisas


no lixo e me trancou fora de casa. Acho que foi a última

vez que o vi até descobrir que estava grávida, eu tinha


certeza de que era seu, porque não batia com a data da
última vez que estive com ele. — Tossiu um pouco e

peguei o copo de água, ajudando-a a beber. — Obrigada.

— Continue — falei entredentes.

— Eu te liguei e contei sobre o bebê.

— Você queria um casamento...

— Sua rejeição doeu. Eu era mimada e egoísta, ainda


sou, mas não tanto quanto antes. Quando contou a

Pauley, ela ficou me assediando, oferecendo dinheiro


para tirar o bebê, me mantendo isolada e eu estava sem

a ajuda dos meus pais, aceitei o dinheiro dela para alugar


um lugar. Você começou a me dar dinheiro, mas não
tanto quanto ela, então... — Ela parou um pouco. —
Pauley me disse que você precisava de uma carreira e

não de uma família, que ela me daria duzentos mil


dólares por mês se seguisse o plano dela. Eu aceitei pelo
dinheiro, por estar com raiva e por ser... quem sou. —

Encolheu os ombros. — Não tenho desculpas para te dar,


Stuart. Essa é a verdade.

— Apenas continue, Debra.

— Ela armou toda a situação da agressão, só segui o


plano e tudo que aconteceu a seguir foi ideia dela. Eu

recebia o dinheiro e ficava na minha, mas foi ficando


difícil sustentar a mentira e achei melhor me mudar. Foi

assim que Jackson entrou no jogo, ele me levou para


Nova Iorque e assumiu a posição de advogado.

— O que ele é da Pauley? — Cruzei meus braços.

— Não sei direito. Acho que é filho do homem que


trabalha para pessoas perigosas em Vegas. Acredito que

o pai dele seja um dos contadores. Ele vive longe, tem


aquela aparência refinada, mas faz parte do esquema

dela.
Filho da puta miserável.

— Todas as coisas referentes a guarda, parte era porque

era tarde demais para voltar atrás e parte porque, em


determinado momento, eu me tornei refém deles.

Jackson me pressionava em tudo, ele dizia que tiraria o


Harry de mim se eu não colaborasse, falaria sobre meu

vício e perdi o controle que achava que tinha. — Debra


me encarou. — Sei que não sou o exemplo de mãe, que
não sou perfeita e tenho minhas limitações, mas eu amo

meu filho. Amo muito. Tanto que eu tentei desistir antes


da penúltima audiência. Quando eu disse em juízo que

concordava que você o visse todos os sábados, Jackson


me tirou do país com o Harry. Tive que inventar uma

história para que Harry não desconfiasse e visse pessoas


que eu sempre detestei da família.

— O que aconteceu?

— Quando soube do seu casamento, eu sabia que era o

fim. Sua proximidade com Devon Winterfield sempre me


preocupou, porque ele é um homem muito influente, mas
Pauley ainda tinha um grande controle sobre você. Ao
romper com ela, fiquei com medo, quando ele te
assumiu, entrei em pânico — confessou, mas não havia
muito arrependimento na sua voz. Ela estava com medo

de ser pega, não de tudo que fez. — Falei com Jackson


que com Devon controlando sua carreira e você casado
com uma mulher com sobrenome tão poderoso, seria
questão de tempo para tudo ruir. Eu disse que iria contar
a verdade em troca de um acordo, que estava pulando

fora e não saí mais daquele quarto. Jackson me acertou


no rosto e eu apaguei, quando acordei, estava em outro
lugar.

Fiquei de pé e enfiei minhas mãos no bolso.

— Você colocou nosso filho em uma guerra, Debra. Seu

principal interesse deveria ser protegê-lo de tudo. —


Balancei a cabeça negativamente. — Não tem amor por
ele, porque uma mãe não deve ser tão egoísta.

— Eu sei disso. Não é nada novo e nada do que disser vai


me convencer de que não amo meu filho. Entendo que

não vou ganhar um prêmio, mas quero o melhor para ele.


Sempre quis.
— O melhor para ele é que fique bem longe. Não vou
permitir que o machuque. — Saí do quarto antes que

perdesse o controle.

Arthur queria falar comigo sobre meus próximos passos.


Minha mente estava explodindo, voltando ao passado e
revivendo cada maldito momento que fui enganado na
minha vida. Pedi um tempo, sinalizando que falaria no

telefone e me enfiei em uma sala vazia. Tirei o aparelho


do bolso e liguei para Vanessa por chamada de vídeo.

Seu lindo rosto preencheu a tela.

— Oi amor! Você demorou a dar notícias...

— Eu vou contar tudo com calma, agora, só preciso ver

vocês.

— Tudo bem. — Ela sorriu, amorosa. — Harry, papai quer


dizer olá!

Meu filho tomou o telefone e mostrou que passou uma


fase no videogame, rindo da expressão de Katrina, que
estava aprendendo a jogar e claro, odiava perder.

Vanessa mostrou que estava cozinhando hambúrgueres e


Rosa estava com Halley, dando comida e impedindo que
derrubasse meus pequenos bonecos de lutadores que

ficavam em um aparador na sala.

— Quando vem para casa? — ela perguntou com calma.

— Ainda não sei, mas não vou demorar. Mais tarde, te


ligo com calma.

— Vou aguardar. Te amo.

Soprei um beijo, dizendo que a amava de volta e encerrei


a chamada. Devon abriu a porta e se jogou na cadeira ao

lado.

— Descobri onde seu pai está e o motivo pelo qual não


apareceu. — Limpou a garganta, desconfortável. Dei de
ombros, pronto para merda que viria. — Ele foi preso.
Está na penitenciária estadual de Oklahoma.

— Qual acusação?

— Seu irmão mais novo contou na escola o que acontecia


em casa... teve provas e ele foi levado a julgamento, foi
condenado à prisão. — Devon foi cuidadoso com as
palavras.

— Ele tentou fazer comigo. Entrou no meu quarto e

começou a falar merda, a me convencer de que aquilo


era legal, normal. Eu sabia que não era e enfiei a porrada

nele, foi assim que percebeu que eu era muito bom com
meus punhos. Não levou muito tempo para me jogar em
um ringue e dizer “ se quiser viver, saia de lá ”. —
Encostei minha cabeça na parede. — Nunca mais tentou,

porque sabia que iria reagir. Quanto mais forte ficava,


quanto mais lutas ganhava, ele via que podia abusar de
mim de outras maneiras. Não conheço nenhum dos meus
irmãos, nunca nem vi, eu simplesmente me desliguei

dele.

Devon brincou com seu telefone na perna.

— Você tem dois irmãos, um tem doze e outro tem sete.


Eu não tenho informações sobre a criança que ele disse
ter na última vez que apareceu.

— Onde essas crianças estão?

— Em uma casa de acolhimento do estado. Eles alegam

não saber onde a mãe foi parar...

— Não sou registrado por ele. Hedrer é o sobrenome da


minha mãe. Talvez seja por isso que não me
encontraram. — Olhei para o alto. — Ainda vou conversar

com sua irmã, mas...

— Eu já me adiantei, Stuart. Entrei em contato com uma


assistente social.

— Obrigado. Não sei o que fazer, não sei mesmo, mas


não vou deixar essas crianças sozinhas na vida.

— Não iremos. Família é para ficar junto. — Devon


garantiu.

Quando você encontra as pessoas certas, não importa a


ligação sanguínea. São os atos que nos tornam um só.
Família era tudo o que me importava na vida.
28 | Vanessa

Encerrei a chamada com Stuart tarde da noite e olhei


para Katrina deitada ao meu lado. Ele estava muito

cansado e ao mesmo tempo aliviado ao noticiar que


Jackson foi pego tentando sair do país. Através do

depoimento de Debra, descobriram uma verdadeira


operação de desvio de dinheiro através das lutas

clandestinas em vários estados.

Além disso, tinha os dois irmãos dele, que estavam em


um lar de apoio e viriam para nossa casa em alguns dias.

De repente, a nossa família estava crescendo em um


piscar de olhos, mas eu jamais deixaria duas crianças

sem um lar. Eles eram irmãos do meu marido. Se fossem


meus irmãos, ele faria o mesmo.

— Ele está arrasado. Devon está preocupado. — Katrina


suspirou.

— Stuart vai ficar bem assim que voltar para casa. Ele só

precisa de uns dias em família para voltar ao normal. —


Coloquei meu telefone de lado.
— Jackson ser preso é um alívio. Ainda bem que Stuart

não vai precisar pagar por todas as lutas que foi

colocado.

— É verdade. Ele foi manipulado e jogado nesses lugares

como um cachorro de rinha. Ouvir o depoimento dele me

deixou muito triste, não falei nada, porque não quero que

pense errado. Ele tem tanta vergonha do passado...

— O que o pai dele fez foi horrível. Ainda bem que o

homem está preso ou eu seria presa. Como um pai faz

isso com os filhos? Sou tão grata por ter Devon como pai

dos meus filhos, ele daria o próprio coração pelos nossos


bebês. — Katrina se emocionou e acabou chorando um

pouco. — Esse encontro deles no passado, me faz crer


que o destino sempre escolhe o melhor. Stuart estava

passando quando Devon estava apanhando.

— Assim como você passou exatamente quando eu


estava sendo assediada. — Bati com meu pé no dela,

rindo. — A vida se faz, Kat. E a nossa vida... quem diria?

— Quando éramos novinhas e prometíamos ficar juntas


para sempre, não imaginamos a vida que teríamos. Olha
só... melhor que qualquer sonho. — Demos as mãos e

olhamos para Halley adormecida entre nós.

Com nossos maridos viajando juntos, decidimos dormir

na mesma casa. Por causa de Harry, ficamos na minha

casa. Ele estava dormindo no quarto dele. Rosa ficou

conosco até sentir sono demais e foi deitar em um dos

quartos de hóspedes.

Devon brincou que com eles fora, Kat e eu

estávamos lembrando o tempo que dormíamos juntas.

Falamos tanto que bebemos quase todas as garrafas de

água que levamos para o quarto. Estar longe de Stuart

me causava um pouco de ansiedade. Queria estar por


perto, consolar e segurar a mão dele nos momentos mais

difíceis. Ele passou por tanto na última semana, sendo

dando depoimento ou enfrentando reuniões com juizado

de menor sobre seus irmãos e sobre a guarda de Harry.

Muita coisa ainda precisaria ser resolvida em

Vegas. Everly e Matt, nossos advogados, estavam

trabalhando muito e sendo uma ajuda sem igual.

Acariciei minha barriga, ainda estava no início, mas eu

me sentia muito grávida. A sensibilidade nos meus seios


intensificou e o enjoo piorou. Estava lidando com as

mudanças do meu corpo com carinho, mas até o

momento, estar grávida não era muito divertido, não. A


expectativa de ter meu bebê que tornava tudo mágico.

Acabei pegando no sono com Katrina ainda falando

sobre precisar arrumar um quarto para as crianças que

iriam chegar e acordei no susto, com meu telefone

tocando. Era Stuart.

— Oi, amor. O que houve? — Sentei na cama, o

coração acelerado. Katrina estava amamentando Halley

com uma expressão sonolenta.

— Calma, está tudo bem . — Ele garantiu e fungou.

— Está tudo ótimo, na verdade. Acabei de saber. Arthur

me ligou e disse que Harry está definitivamente conosco,

baby.

— Ah, meu Deus! — Coloquei minha mão no

coração.

— Debra ainda não terá direito a visitação. Ela não

será presa porque fez um acordo, mas não pode sair do

estado por fraude e envolvimento com lavagem de


dinheiro, mesmo que indiretamente. O juiz não gostou

nada das coisas que fez para me incriminar e me impedir

de ver Harry, usando nosso filho como uma peça nesse

jogo distorcido da Pauley. Não sei como vamos trabalhar

essa questão com ele...

— Vamos procurar ajuda profissional, com amor e

carinho, vamos superar tudo em família. Estou feliz que

essa parte da guarda acabou. Harry é feliz conosco,

amor. Confia.

— Confio. Daqui iremos para Oklahoma buscar

meus irmãos. Eles não estão dificultando em nada, a

casa em que eles estão está cheia demais e precisam se

livrar dos meninos. Não pude falar com eles, vi apenas

fotos, são grandinhos, bonitos, estão meio mal tratados e

precisam de um banho — comentou e passou a mão no

rosto. — Estou louco para voltar, amor.

— Vá buscar seus irmãos. Temos uma casa grande

e vamos cuidar de tudo. Fique bem, estou te esperando

com saudade.
Encerramos a chamada e percebi que minha

melhor amiga me olhava com carinho.

— O que vocês dois estão fazendo por esses

meninos é lindo, Vanessa. Eles precisam de um lar e

amor, sinto muito orgulho do seu coração e coragem.

Você é um exemplo, mulher. Depois de tudo que passou

com sua mãe e com Luke, construiu uma vida linda. —

Ela esticou a mão. — Toda quieta e com a força de uma

leoa.

— Eu não imaginava que era assim até Harry

surgir. Acho que ele aflorou meu instinto maternal,

porque eu o amo como se fosse meu.

Na dica, Harry apareceu na porta e as bochechas

vermelhas mostravam que ouviu o que disse. Ainda

tímido, subiu na cama e meio que se jogou em cima de

mim. Ele sabia que não precisava de permissão para

beijos e abraços, eu os daria sempre que pudesse por

todos os dias da minha vida. Querendo um pouco de

dengo, ficamos agarradinhos na cama até que Halley

começou a perturbar, querendo descer.


Preparamos um café da manhã muito gostoso.

Rosa se animou de ficar na piscina com as crianças

enquanto dava um jeito nas roupas de Harry e começava

a ajeitar o quarto para os meninos. Tínhamos espaço

para que cada um ficasse em um quarto, mas eu não

sabia se eles gostariam de ficar separados.

— Será que conseguimos pegar duas camas de

solteiro no hotel? — Analisei a disposição do quarto. —


Não sei do que eles gostam para decorar. O que faço?

— Vou ligar para a hotelaria sobre as camas e

deixe para decorar com eles, talvez seja uma forma de


aproximação entre vocês. — Katrina me tranquilizou. —

Deixei o closet e o banheiro limpos.

— Vou buscar roupas de cama e toalhas. — Saí do


quarto enquanto ligava.

Em pouco tempo, ela tinha tudo resolvido.


Somando o jeito Katrina de ser, mais seu sobrenome, ela

era uma potência difícil de parar. Mac se ofereceu para ir


até o hotel resolver a questão das camas e pedir que o

caminhão que fazia serviços de entrega as trouxesse,


para que ele montasse no dia seguinte. Steve pegou as
ferramentas e começou a desmontar a cama de casal

enquanto arrumava as camas.

Harry entrou correndo em casa e foi para a


geladeira, pegando suco e eu amava que ele havia

deixado totalmente a timidez de lado, interagindo com as


pessoas e a casa como deveria. Desci a escada e abri a

garrafa para ele, que voltou para o quintal.

— Vanessa? — Mac entrou em casa, sério. —


Acabei de receber uma ligação do meu amigo da polícia.

Pauley tentou fugir com um homem, eles foram pegos na


fronteira. Iam se isolar no México.

Fechei meus olhos, toda arrepiada.

— Ela foi detida.

Alguém como ela ficava realmente impune?

Ainda bem que seguimos nosso instinto e

decidimos ficar reclusos ao invés de nos expor


desnecessariamente enquanto tudo isso estava

acontecendo.
Nosso condomínio tinha uma segurança apertada,
com a presença de outras famílias abastadas, havia

muitos guardas privados como os nossos. Era


praticamente impossível tentar fazer qualquer coisa ali

dentro e ela era tão burra quando movida pelo desespero


que havia tentado sua última cartada.

— Temos que fazer alguma coisa? — Mordi meu


lábio, incerta sobre o que sentir. Alívio ou apreensão? Era

confuso.

— É com as autoridades. Achei melhor avisar antes


que soubessem pela televisão. Foi um show. Vou informar

ao Sr. Winterfield. — Mac pegou seu telefone e foi para o


quintal.

Devon iria arrancar a cueca pela cabeça e dar uma

bela surtada, mas estávamos bem e seguros em casa.


Nós descobrimos que George também foi preso, era ele o

homem que estava com Pauley no carro. Cheguei a


sentar para entender todos os detalhes da prisão. Ela era

envolvida com pessoas realmente perigosas, o que


aconteceria dali em diante?
— Será que ela vai abrir o bico? — Katrina sentou

na minha frente, na mesinha de café. — Ela vai cutucar


um vespeiro perigoso.

— Isso se não a silenciarem — comentei, me

jogando no encosto com um enjoo enorme. — Estou


preocupada e ao mesmo tempo, muito aliviada que ela

está presa. Não falei nada com Stuart, mas estava com
medo sobre o que a obsessão dela poderia causar ainda.

— Até cogitei a possibilidade de procurar meu pai e

pedir que a encontrasse, como ele fez com Nick. —


Katrina confessou com as bochechas vermelhas. — Não

quero falar com ele, não sinto vontade, mas por essa
situação eu faria com toda certeza.

— Ainda bem que não precisou. O universo devolve


tudo que a gente faz, cedo ou tarde, pessoas recebem de
volta tudo que fizeram. Pauley usurpou e feriu Stuart,

estava na hora de pagar.

— Esses meses foram exaustivos e ao mesmo

tempo, alguns dos mais felizes da minha vida. Olho para


nossa família e meu coração só fala de amor. Estamos
grávidas e cercadas por pessoas que nos amam muito. —

Katrina colocou a mão na minha barriga. — Te ver


grávida é meu sonho realizado.

Abri um sorriso e meus braços, nos agarramos,


rindo. Harry entrou em casa e não entendeu nada, piscou

e foi para o quarto. Ele ainda não fazia ideia no que a sua
mãe estava envolvida. Não queria esconder a verdade,

mas achava que era muito novo para saber de tudo.

Stuart voltou para casa três dias depois, junto com


ele estavam meu irmão e mais dois meninos. Eles eram

altos para a idade, porém, magros e precisando de


cuidados. Ambos estavam assustados, de mãos dadas, o
menor, segurava o mais velho como se sua vida

dependesse disso.

— Olá! Eu sou Vanessa e estava muito ansiosa para

conhecer vocês. Fizeram uma boa viagem? — Me


aproximei com calma. Stuart beijou meus cabelos e meu

irmão ainda ficou parado longe, dando privacidade.

O mais novo olhou para o mais velho antes de


assentir. O mais velho se apresentou.
— Eu sou David e ele é Andrew.

— Vocês dois têm nomes muito bonitos, sabiam? —


Ofereci minhas mãos para cada um pegar. — Vamos

entrar... quero que conheçam a nova casa de vocês e


toda a família. — Ainda desconfiados, aceitaram meu

convite e andaram ao meu lado. — O gato comeu a


língua de vocês?

Os meninos pareciam um pouco com Stuart. O

mais novo principalmente. Deveriam ser parecidos com o


pai. Em suas certidões, descobrimos que eram irmãos de

mães diferentes. Eles adoraram a casa e sorriram para o


novo quarto. Conheceram Katrina e olharam para Stuart

abraçado com um Harry cheio de saudades.

Um ano atrás, eu estava sozinha. De repente, me


casei, me tornei mãedrasta por um tempo até ser apenas

mãe, engravidei e ganhei mais dois meninos. No final,


realizei meu sonho de ter uma família bem grande.

Melanie e Michael chegaram à noite para conhecer


os meninos. Eles estavam banhados, de cabelo cortado e

usando as novas roupas. O mais velho era muito quieto,


até meio agressivo, lembrava muito Stuart quando nos
conhecemos. Era questão de tempo e cuidado para que

se acalmasse. Ele era extremamente protetor com o


caçula, que mais aberto, foi conquistado por Katrina, logo

foi brincar com Kevin e aceitou que Harry lhe ensinasse a


jogar.

Eu não tinha ideia se estava preparada para lidar


com três meninos dentro de casa e grávida, mas eu
nunca fugia de um desafio. Além de ser uma Winterfield,

me tornei uma Hedrer. Éramos lutadores. Só entrávamos


no ringue para ganhar.
29 | Vanessa

Harry aceitou bem os meninos. Ele entendia que


eram irmãos de seu pai, mas seriam criados por nós. Seu

coração empático compreendeu que família era cuidar do


outro. As primeiras semanas foram muito confusas: com

escola, uniformes, horários trocados e ajustando a nossa


rotina. Stuart era muito paciente, mas tinha uma

organização militar com a agenda dos meninos.

— Você quer ajuda? — David se aproximou. Ele


raramente falava com qualquer um de nós. Andrew já se

sentia em casa, era amoroso e meu grudinho. Eu amava


ficar com ele no sofá até tarde vendo filme. — Posso

colocar a mesa.

— Eu adoraria. — Sorri e lhe entreguei a toalha.

Com crianças, descobrimos que apenas o descanso de


prato era pouco. Como eles eram capazes de sujar

qualquer coisa? Minha máquina de lavar nunca foi tão

usada.
Stuart me abraçou por trás e observamos os três

colocando a mesa.

— Você pode acreditar que temos três meninos e


mais um a caminho?

— Não. Às vezes, parece mentira. — Ele riu,

acariciando minha barriga que ainda era pequena. Eu


estava no primeiro trimestre ainda, faltava pouco para o

segundo. — Eles estão ficando mais à vontade.

— Sim. Logo vão se sentir em casa. — Dei-lhe um


beijo na bochecha.

— Você é linda, já te disse isso hoje?

— Não nas últimas duas horas.

— Você é linda — cochichou e sorri, beijando seus

lábios. — Eu te amo.

Nossa vida ficou muito louca, mas nós nos

ajustamos. Enfrentamos reuniões judiciais em relação à

guarda dos meninos, em seguida, uma briga com Debra

sobre Harry e no fim, aceitamos que ela tivesse visitas


supervisionadas. Não era por revidar e sim porque não

confiávamos que ela não poderia desaparecer com Harry.


No entanto, ele ficou confuso e isso nos rendeu muita

terapia e conversa na cama.

Quando completei três meses de gestação,

anunciei para quem quisesse saber que estava

esperando um menino e me tornei mãe de mais três. Foi

uma comoção na mídia. A história de Stuart foi recebida

com tanta curiosidade que um produtor de cinema nos

procurou, interessado em retratar a vida dele nas

telonas.

Claro que o escândalo da prisão da Pauley rendeu

nos jornais ao ponto que paramos de ligar a televisão.

Pior ainda foi escrever matérias sobre isso no nosso


jornal, porque bem, ninguém podia desconfiar. De vez em

quando, falávamos mal de nós mesmos só para

despistar. Como Stuart costumava chamar Katrina de

psico, casava muito bem com as merdas que ela

inventava sobre a nossa família.

— Temos que ir vestidos assim? — Andrew puxou a

gola da camisa que Katrina colocou nele. David riu. Eu

tinha três mini Stuart em casa, era impressionante. —

Estou parecendo um bobo.


— E eu sou lá mulher de vestir alguém como um

bobo?

— Não. — Ele suspirou e escondi a risada.

Já pronto, desceu com o irmão para ficar na sala

junto com Harry. Eles foram orientados a não brigar,

correr atrás um do outro e muito menos se sujar.

— Caramba. Tu foi ter uma filharada em menos de

um ano, minha coluna não aguenta esse evento. — Ela

suspirou. Veio me ajudar a arrumar a tropa. Stuart saiu

mais cedo, ajudando Devon em algo urgente.

Era noite de inauguração do Museu Shannon

Winterfield. Trabalhei muito com a equipe durante todo

esse tempo, dei depoimentos, gravamos vídeos e

reunimos um material imenso. Os ingressos da abertura

esgotaram horas depois que abriram as vendas no site

oficial. Ainda convidamos algumas pessoas específicas

porque queríamos que fosse um local bem frequentado,

focados na causa onde as entradas seriam revertidas.

Pensar na minha mãe me dava vontade de

procurar meu pai. Eu não fui adiante porque muita coisa


aconteceu e a minha prioridade era cuidar das minhas

crianças. Talvez agora, com a nossa vida mais calma, o

final do ano se aproximando, pudesse reunir coragem e

bater na porta dele para me apresentar.

Pronta, me olhei no espelho e conferi minha

aparência. Meu vestido era rosa escuro, uma das minhas

cores favoritas, longo, com um lascado até os joelhos e

todo justo. Era de manga três quartos, um decote

agradável com meus seios de mamãe.

— Como estou? — Olhei para Katrina através do

espelho. Ela já estava pronta, usando um longo vestido

azul que evidenciava sua barriga. A minha era menor,

mas era um montinho fofo.

— Linda como sempre. Vamos tirar uma foto?

Registro das barrigas.

Descemos a escada e os meninos ficaram de pé.

— Estamos bonitas, rapazes? — Katrina provocou.

— Muito lindas! — Andrew bateu palmas. Harry

ergueu os polegares e David tentou dar de ombros, fingir


que não se importava. Fiz cosquinhas nele até sorrir e

dizer que estávamos realmente gatas.

Mac e Steve estavam prontos, de smoking e nos

conduziram em um grande carro até o local do evento.

Rosa foi sincera ao dizer que não se interessava pela vida

da Shannon e com isso, optou por ficar em casa com

Halley. Melanie e Michael foram os primeiros que

encontramos na entrada dos fundos. Katrina e eu

passamos pelo tapete vermelho enquanto os meninos

ficavam com Melanie, já dentro do evento.

Stuart chegou em cima da hora, ele estava meio

suado e não entendi onde estava. Não pudemos falar

muito, havia a imprensa para dar atenção e um

cronograma a seguir. Ignorei todas as informações, não

prestei atenção no vídeo documentário sobre meu


relacionamento com minha mãe e me refugiei na minha

mente porque queria ficar bem até o final.

De mãos dadas, passamos pelo evento, olhando

todas as estações programadas até que Stuart me travou

no caminho.
— Será que você pode me acompanhar?

— Temos que ir para o jantar. — Apontei em


direção à sala.

— Na verdade, preciso muito te mostrar algo.

Sem entender nada, o segui na direção oposta a

que deveríamos ir. Eu o seguiria para qualquer lugar,

sem pensar duas vezes.

Stuart me levou para o carro e se recusou a dizer


para onde estávamos indo. Fiquei observando o caminho,

querendo saber o destino e estranhei ao entrarmos no


Bellagio. Entregou as chaves ao manobrista que parecia

estar nos aguardando em uma entrada discreta. Subimos


por uma escada e ele me colocou na sua frente.

— Pode entrar, por gentileza?

— Estou grávida, sabe que não posso levar um susto —


avisei, ele sorriu e simplesmente sumiu na escuridão da

escada. Quase fui atrás dele, mas segui sua orientação.

Girei a maçaneta da porta, estava tudo escuro, entrei


com cuidado e parei até que as luzes foram acendendo
lentamente. Cobri minha boca ao perceber a beleza de
um salão de festas inteiro repleto de flores. Havia muitas,
com luzes azuis, rosa e em vermelho, meu nome sendo

refletido no teto.

Desci a escada com cuidado, percebendo que havia


frases em vários cartazes, parei com calma e fui lendo.

Todas elas eram mensagens contrárias de tudo que


minha mãe sempre me disse, de coisas que eu mesma

me depreciei ao longo dos anos e era um sopro de amor


nos mínimos detalhes.

Após as frases, várias fotos ao longo da minha vida, de

momentos especiais que ao lembrar me fez sentir muito


preciosa, até o casamento e a mudança brusca da minha

vida. Meu coração explodiu de amor com a última foto,


um quadro enorme entre milhares de rosas, retratando

Stuart e eu mais no alto, com a mão na barriga e os


meninos abaixo. Era lindo. Cobri minha boca, chorando.

Stuart entrou por uma porta lateral, com um sorriso

pequeno e ajoelhou na minha frente, segurando minhas


mãos.
— Foi aqui que eu te vi pela primeira vez. Você dançava
com Katrina e a sua risada me chamou atenção. Te olhei

e pensei que nunca tinha visto mulher mais bonita. Você


ficou na minha mente e coração por todo esse tempo,

até estarmos prontos para construir uma família como


sonhamos. É por isso que eu quero te pedir em

casamento como deveria ter sido. — Tirou uma caixinha


do bolso. — Vanessa, você aceita ser minha esposa para

sempre?

— É claro que quero me casar com você! Faria isso mil


vezes!

— Eu prometo te amar todos os dias da minha vida, ser


um marido presente e um bom pai para as nossas
crianças. Seremos felizes e realizaremos mais sonhos

juntos. — Deslizou a aliança complementar no meu dedo.


— Sra. Hedrer, você é a luz da minha vida.

— Você é o homem dos meus sonhos. Não pense nem


por um segundo que não sou feliz ao seu lado. Nossa

vida deu uma guinada muito louca e apesar de estar um


pouco assustada, estou muito feliz. — Ele ficou de pé e

me joguei nele, beijando-o com todo meu amor.


Sexo ficou bem papai e mamãe nas últimas semanas. Eu

estava muito cansada, com enjoo e quando me deitava,


desmaiava. Vencer o enjoo e o cansaço, por mais que eu

o amasse muito, era difícil. Isso mudou com a virada do


trimestre e a minha libido estava brincando com a minha

mente. Ele lavou o carro mais cedo e eu tive milhares de


fantasias com seu torso todo molhado e cheio de
espuma.

Um beijo simples no meio daquele salão cheio de flores,


fotos, frases de amor e uma promessa de uma vida feliz

foi um catalisador.

— Deus, amor. Que porra de beijo — gemeu. — Ainda


tem mais, não me faça te arrastar para o quarto agora.

Eu marquei essa surpresa hoje porque sei que sua mãe


mexe com você.

— Entendi quando vi as frases e simplesmente amei.

Você me compreende como ninguém! Obrigada por


sempre se preocupar com os meus sentimentos.

Um jantar foi servido e ele mandou preparar meus pratos


favoritos. Recebemos um vídeo dos meninos se
acabando de dançar na festa, incluindo David, que ria de

Melanie rodopiando ao seu redor. Saber que eles


estavam bem aplacava a culpa de estar longe deles. Meu

coração de mãe ficava confuso com a coisa de aproveitar


bons momentos sem eles estarem junto.

Era importante para nós dois como casal curtir um


pouco. Até planejamos uma viagem a dois antes do bebê

nascer, como a lua de mel que ainda não tivemos e era


muito necessária.

— Dança comigo? — Ele ofereceu sua mão depois da

sobremesa.

— Nós treinamos muito em casa. — Brinquei.

Dançar na cozinha durante o preparo do jantar ou

depois que os meninos dormiam se tornou algo nosso.


Ele ficava para beber um vinho ou um bourbon, eu o

acompanhava na água, conversando e namorando um


pouco. Talvez fosse por isso que eu já ia dormir cansada,
mas não trocava nossos momentos de conversa até

tarde da noite por nada.


Stuart segurou minha cintura quando a música
começou a tocar e apoiei minhas mãos nos seus ombros.

Ele me beijou, balançando de um lado ao outro, ao som


de Perfect, do Ed Sheeran, que nós nomeamos como
nossa música oficial. Ele cantou baixinho no meu ouvido

e diferente do casamento, mudou o trecho de eu não vou


desistir de você dessa vez para eu não vou desistir de

você nunca . Não cabia em mim o quanto amava aquele


homem. Meu melhor amigo. Meu campeão em tudo.

A suíte presidencial estava toda arrumada para nós dois,


com fotos, flores, bebidas e doces. Ele fechou a porta

atrás de si e comecei a tirar a minha roupa, sem querer


perder tempo. A meia luz, fizemos amor com uma bela

visão para a cidade iluminada. Eu nunca imaginei viver


algo assim, ousado, intenso e ao mesmo tempo tão

romântico que meus hormônios não economizavam nas


lágrimas bobas.

— Ainda bem que já estou ficando acostumado com seus

rompantes emocionais. — Acariciou meu rosto. — Nunca


te agradeci por ter me esperado depois que nos
aproximamos mais intimamente. Não era o momento
certo, sei que te deixei confusa e até magoada, jamais
tive coragem de chegar e falar “ei, espera só mais um

pouco”.

— Eu te esperei porque quis, porque sabia que em algum

momento ficaríamos prontos um para o outro, mas eu


não me arrependo dos encontros que fui. Só me deu a

certeza que era com você que eu queria ficar. —


Esfreguei meu nariz no dele e lhe dei um beijo suave.
Estávamos nus, sentados tão próximos que nossas

pernas estavam emboladas. — Katrina sempre teve a


teoria que o destino se encarrega de unir o que nos faz

bem. De alguma maneira, me apeguei a isso. Desde


aquele dia da sopa, que eu ainda não sei como tive

coragem de ir até lá.

— Eu amei tanto, me senti querido e me deu esperança


de que um dia, poderia viver o que vivemos hoje. Somos
pais, amor! Não é louco? — Seus olhos brilhavam de

felicidade.

Soltei uma risada. Diga-me sobre uma loucura.


Se minha mãe estivesse viva, ela iria cair dura no
chão. Minha vida atualmente era tudo que ela não queria

para mim e por incrível que pudesse parecer, era tudo


que sempre sonhei. Shannon que lidasse com o fato,
onde quer que estivesse, que mesmo depois de tudo que
me causou emocionalmente eu me encontrei e com isso,
finalmente senti o sabor da felicidade.
30 | Stuart

Alguns meses depois...

David correu com a bola de futebol americano no jogo


improvisado no quintal e soltou uma risada com o irmão,

Andrew, tentando ser um bloqueador. Harry estava


pulando no lugar, esquecendo que era, supostamente, de

um time adversário, torcendo porque ele não entendia


absolutamente nada sobre o jogo.

Os três meninos estavam muito sujos, molhados,


com grama colada pelo corpo e eu queria que

crescessem assim: na simplicidade e cumplicidade.

Era difícil. Eles brigavam, caíam na porrada, ficavam sem


falar um com o outro e às vezes, queriam fazer a mesma

coisa ao mesmo tempo. Era uma loucura administrar os

três. Vanessa era uma santa e a adoração deles. Ela

falava calma, com amor e os três ficavam quietos porque


quando ficava brava... até o teto da casa queria sair

correndo.
Seu pulso firme e seus castigos não diminuíam em

nada a intensa afeição que sentiam por ela. Eu era muito

mais de conversar. Levar para o quarto e ter um diálogo

aberto. Quando ela perdia a paciência, gritos soavam.

— Almoço pronto! — Katrina gritou da cozinha. — Lavem

as mãos.

Devon me deu um sorriso, jogado no chão e ouvimos um

choro. Me estiquei para ver qual deles estava chorando e

era o dele. Halley estava próxima aos dois meninos,

dormindo no carrinho com cara de quem havia feito

besteira.

— Você acordou seu irmão, garota? — Devon foi até lá e

pegou o bebê.

— Neném mimindo . — Ela apontou para o primo, no

caso, meu menininho pequeno.

— Deixa dormindo, Halley. Vem aqui. — Vanessa chamou

da cozinha. Ela me deu um sorriso e piscada, pegando

nossa afilhada pimentinha.

Archie Jaime Hedrer nasceu depois de longas horas de

trabalho de parto e tinha um prazer imenso em deixar a


mãe e eu muito bem acordados a noite toda. Ele

mamava como um bezerro e era um bebê grande como

eu fui.

Perfeito da cabeça aos pés, era a nossa paixão. Os

meninos ficaram encantados, é claro que desapareciam

quando a fralda ficava suja e o choro descontrolado

nunca cessava, mas eram os melhores irmãos, ajudantes

e companheiros que minha esposa e eu poderíamos ter.

Harry estava na lua por ter tantos irmãos. Ele ainda

falava com a mãe e nós lidávamos com todas as

questões emocionais que ela provocava nele na terapia.

Debra não era agressiva ou cruel, às vezes era fria, um


contraste imenso de Vanessa e com isso, ele sentia que

não era tão amado.

Atualmente, Debra morava fora do país, depois de


sair praticamente ilesa de todo processo, decidiu que

seria melhor viver na Europa.

Suas ligações eram por vídeo algumas vezes na semana

e até então, não tivemos problema. Ela falava mais com


Vanessa do que comigo, que não tinha a mínima vontade
nem de socializar. As duas eram bem educadas uma com

a outra e minha esposa, como a figura materna bem

ativa da nossa família, era muito firme com Debra, que


nunca ousou contrariar.

Vanessa me orgulhava e me inspirava todos os dias. Ela

ainda era a mesma pessoa doce e extremamente gentil

que conheci anos atrás, mas o casamento e a

maternidade lhe deram uma força sobrenatural. Era

quase inquebrável. Seu jeitinho de nunca desistir de

nada, alicerçava nossa família todos os dias.

O almoço foi uma barulheira. Melanie rindo alto de um

caso estranho que Michael teve no trabalho. Kevin

tagarelando com Andrew. A idade próxima transformou

os dois em melhores amigos para sempre, eram

inseparáveis. Harry estava ouvindo atentamente o que

Rosa lhe dizia e David mal comia, para prestar atenção


no que Devon lhe explicava sobre futebol americano.

Vanessa segurou minha mão antes de começar a comer.

Seu rosto ainda estava bochechudo da gravidez e apesar

de ela odiar cada vez que apertava, eu achava lindo. Ver

seu corpo se transformando para gerar nosso bebê foi


mágico. Sua barriga ficou enorme, até brincamos que

tinha mais de um ali dentro, mas sendo meu filho, seria

difícil ser pequeno.

Harry tinha algumas deficiências devido ao vício de

sua mãe, mesmo assim, ele era um menino muito

inteligente, com notas altas e depois que passou a viver

comigo, bem mais ativo.

Após o almoço, David foi assistir televisão no

quarto e falar com seus amigos da escola. Só tinha dois.

Devido ao que aconteceu no passado, tinha muita

dificuldade de aceitar pessoas ao seu redor e foi muito

difícil que participasse da Educação Física da escola,

porque o professor era homem e tinha a postura física do

nosso pai.

Fiquei sem dormir por várias noites, preocupado

com seus pesadelos, acalmando seus medos e mesmo

grande, Vanessa precisou deitar com ele e o abraçar até

pegar no sono. Quase o tirei da escola para estudar em

casa até que estivesse pronto, mas vencemos essa fase.


De todos os três, David era o mais difícil de lidar e

de se aproximar de qualquer pessoa. Ele só trocou

algumas palavras com Michael quando o bebê nasceu.

Devon era o tio favorito, porque fazia uma bagunça

infernal e todas as vontades. Ele estava para minhas

crianças como eu estava para as dele.

Era irônico que duas pessoas que foram quebradas

na vida de muitas maneiras se tornaram pais de crianças

que tiveram a inocência esmigalhada. Eu conhecia a dor

e ela sabia bem como era ser rejeitado, talvez fosse isso

que nos tornava uma família unida.

— Quer um pouco mais de sorvete? — Vanessa saiu

da cozinha com um pote. Meu pé empurrava o carrinho

de Archie, que acordado, olhava para o pequeno móbile

com interesse, mas se eu parasse de balançar, ele


chorava.

Katrina amamentava o pequeno Edward. Dessa

vez, o nome era comum, mas com a desculpa de que

como uma boa fã de uma saga de vampiros, precisava

nomear seu filho em homenagem. Devon chorou tanto

no nascimento do filho que não se importou com nada.


Eu zoei por um tempo até Vanessa entrar em trabalho de

parto, ter tanta força e determinação de trazer nosso

bebê da maneira mais saudável possível e então...

Ele estava nos meus braços. Lembrar do

nascimento dele era agridoce. Foi mágico. A emoção

mais intensa da minha vida. Meu menino, todo

gosmento, chorando muito, vermelho e inchado, se

mexendo e querendo entender que diabos estava


acontecendo, foi um contraste enorme com o nascimento

de Harry que eu sequer pude participar.

Vanessa e eu ainda queríamos mais filhos, porque para


nós, eu, o garoto da periferia criado em trailers e ringues

e ela, a menina rica que foi cruelmente rejeitada pela


mãe, vivendo isolada como um segredinho sujo com o
irmão, queríamos mais. Queríamos dar todo amor que

gostaríamos de ter recebido na nossa infância.

— Ele está ensinando as crianças a trapacear. — Apontei

para Devon mostrando baralhos.

— É bom que daqui a pouco eles darão um belo olé nele.

— Minha esposa riu, sentando-se ao meu lado. — Não


esqueça de agradecer a Arthur o presente que mandou
para os meninos.

— Não esquecerei.

Vanessa me deu um olhar engraçado. Ela sabia que eu ia


esquecer. Ninguém podia me culpar por estar com a
mente cheia. A academia estava com duas filiais, tinha

quatro crianças em casa e uma vida corrida. Arthur que


esperasse uma mensagem. Ele era o tio legal que

mandava coisas caras pelo correio, estragando toda


educação simples que fazíamos questão de dar para

nossos filhos.

Queríamos que eles soubessem dar valor a tudo, sem

pensar que “ papai ganha bem e mamãe é rica, eu posso


fazer o que quiser” . Eles tinham boas roupas, estudavam

em escolas caras, mas precisavam fazer tarefas para


ganhar mesada e entendiam o valor de cada centavo
gasto em casa.

— Acho que estou pronta para encontrar com meu pai. —


Vanessa deitou a cabeça no meu ombro. — Quis dar um

tempo para viver tudo que tinha em mãos, mas desde


que Archie nasceu, não consigo parar de pensar nisso. É
como se fosse uma questão que meu cérebro precisava

resolver logo para deixar de lado.

— Entendo, baby. Vamos encontrá-lo.

— Deseja rever seu pai?

— Com ele e Pauley presos, quero distância. Não desejo


ver nenhum deles e o quero bem longe do David. Não sei
o que serei capaz de fazer se ele se aproximar.

— Que bom, estava preocupada que na terapia do David


falamos sobre enfrentar o passado. Meu coração entrou

em parafuso. — Segurou minha mão e sorri. Sempre


preocupada. — Não queria nenhum dos meninos perto

dele novamente, muito menos você. Ele já está pagando


pelo que fez.

Beijei sua cabeça e Archie soltou um choro agudo, ele

andava meio irritadinho. Halley se aproximou, querendo


ver porque estava chorando. Enquanto Vanessa

acalmava nosso menino, segurei minha afilhada curiosa,


que falava pelos cotovelos e dominava a arte de aprontar

como seus pais.


Vanessa ficou mais segura em procurar o pai depois do

meu apoio. Não queria que ela desistisse de novo porque


a nossa vida era realmente louca. Confirmamos o

endereço alguns dias antes de decidirmos aparecer, em


um sábado. Deixamos os meninos em casa, com Rosa e

os tios tomando conta.

Minha esposa ficou com as mãos suadas, secando na


calça jeans e me dando olhares assustados conforme eu

dirigia para um dos bairros residenciais de classe média


do outro lado do centro. Estacionei na frente de uma

casa mediana, muito bem cuidada, com dois carros na


garagem e bicicletas em aparadores. Não dei tempo para

que ela surtasse, logo saindo do Jeep e dando a volta


para abrir sua porta.

De mãos dadas, passamos pelo caminho de pedras

vermelhas entre arbustos bem cuidados, até a porta.


Toquei a campainha. Não levou muito tempo para um

homem alto, forte, com os mesmos olhos azuis gentis da


minha esposa abrir a porta. Ele ia falar alguma coisa

quando me viu, mas fechou a boca ao ver Vanessa ao


meu lado.
Chegando a soltar a porta e o pano que segurava, ficou

mudo.

— Olá, eu sou Stuart Hedrer e essa é minha esposa...

— Vanessa Winterfield. — Ele completou.

Ela corou.

— Agora sou Hedrer também — falou baixo.

— Se você está aqui, é porque estive certo o tempo


todo.

— Podemos conversar?

— Claro, por favor, entrem. Meus filhos estão jogando,


eles fazem uma barulheira... minha esposa está aqui em

algum lugar. — O homem parecia nervoso. — Você é


linda. Desculpa, eu não deveria dizer isso. Soou estranho,

certo?

Era dali que ela puxou a simpatia e o jeito engraçado de


se embaralhar com as palavras. Nós trocamos um olhar e

rimos. Ele relaxou e nos levou para a cozinha,


começando a preparar um café porque estava ansioso

demais para ficar parado. Sua esposa apareceu, ela ficou


surpresa, mas foi igualmente simpática.
Vanessa segurou minha mão antes de começar a falar.
Ela contou sobre como descobriu a paternidade,

confirmando que o teste entregue a ele foi falso e


mostrando o verdadeiro. Por sua vez, falou o lado dele da
história, que foi pressionado e ameaçado para não

insistir no assunto. Na época, ele estava preso em um


contrato de confidencialidade.

— Quando recebi o teste negativo, disse pra mim mesmo


que não fazia sentido insistir. Além de ter recebido uma

visitinha nada agradável do Saul. — Bebeu um pouco do


seu café.

— Meu tio fazia tudo que minha mãe pedia. Ele desistiu

de lutar contra as vontades dela há muito tempo... —


Vanessa brincou com sua caneca. — Eu e meu irmão não

sabíamos sobre você até pouco tempo.

— Lembro do Devon. Era um garoto muito inteligente e


agitado. — Jason abriu um pequeno sorriso.

— Então, você acredita que é meu pai? — Vanessa


questionou, vermelha.
— Querida, vocês parecem que estão se olhando no
espelho. — Suzie se meteu pela primeira vez, nos

fazendo rir. — Eu sempre disse para ele que o teste era


falso. Te via nos jornais e pensava “estou olhando a

versão de saia e franja dos meus filhos”.

Jason soltou um suspiro e segurou a mão da minha

esposa com cuidado.

— Não quis atrapalhar sua vida, fazer parecer que queria


alguma coisa, além do mais, Shannon me deu motivos o

suficiente para acreditar que não era seu pai. Foi um


caso de algumas noites, não tínhamos um
relacionamento, confundimos a proximidade com paixão

e com o tempo, ficou complicado. — Ele fez uma

pequena careta. — Eu sinto muito que fui covarde o


suficiente para não ter lutado.

— Não te culpo em nada relacionado a Shannon. —


Vanessa foi rápida em o tranquilizar. — Talvez com o

tempo, possa te contar tudo, se quiser refazer um teste


de DNA eu concordo e se tiver espaço na sua vida para
uma filha, eu adoraria. — Ela se emocionou um pouco.
— Mesmo que seja negativo como a primeira vez, minha
vida sempre terá espaço para você. — Ele garantiu e a

abraçou apertado.

Quando os meninos desceram, eu entendi o que Suzie


quis dizer. Na minha opinião, não precisava de teste
nenhum. Estava bem claro que os três compartilhavam
um DNA paterno. Jason não perdeu tempo e apresentou

ela como a irmã mais velha que eles não conheciam.


Como eram adolescentes, entenderam a história.

Mark e Mitch pareciam tanto com Vanessa que eu não


conseguia parar de olhar. Jason ficou feliz em saber que
era avô. Suzie se derreteu com nossas fotos de família e

a conexão foi tão imediata que parecia que eles se


conheciam há anos. Fomos embora tarde da noite na
promessa de nos encontrar em breve.

Vanessa estava tão feliz que o sorriso rasgava a


face. Nada abalou seu humor, nem mesmo Harry e

Andrew brigando feio pelo controle, David ainda sem


tomar banho e Archie desesperado para mamar. Quando
acalmamos a tempestade da nossa casa e deitamos
juntos no nosso quarto, olhei para seu rosto bonito com
admiração.

— Eu acho que nós dois fomos o tipo de aposta


mais arriscada que Vegas já ouviu falar. — Segurei sua
mão e entrelacei nossos dedos.

— Tínhamos todo material pesado para dar errado,


mas deu certo. — Ela se inclinou e me deu o beijo

apaixonado que eu tanto amava.

Não vou negar que acreditei que jamais poderia ser


feliz e completo como eu era, mas eu aceitei a centelha
de esperança quando Vanessa olhou nos meus olhos e
disse que se casaria comigo. Ainda bem, porque foi a

decisão impulsiva mais bem feita e nos deu tudo aquilo


que sonhamos e acreditamos que não era possível.

Se eu pudesse, diria para quem quisesse ouvir, que


a vida pode nos surpreender positivamente. Erga a
cabeça diante da adversidade, olhe para o desafio e

mostre que é capaz. Você pode vencer a sua mente e


assim, ficará forte o suficiente para derrubar os
obstáculos.
Seja um campeão orgulhoso da sua própria

história.
Epílogo | Vanessa

Alguns anos depois...

Soltei uma risada ao ver Katrina perseguindo as crianças

com uma pistola de água, molhando-os completamente.


A expressão furiosa de Halley era um espelho da que o

meu irmão fazia, sempre que era contrariado. Edward

levou mais na esportiva.

Archie correu da madrinha maluca, se escondendo

atrás de Stuart, que estava servindo bebidas para um


grupo de adolescentes na beira da piscina.

David chegou na nossa vida de repente, foi aquela

surpresa que precisamos nos adaptar junto com o irmão.


Eu estava grávida e lidando com Harry. Foi tudo tão

rápido e tão acertado que não podia acreditar que ele


estava se formando e indo para universidade como

jogador de futebol americano.

— Posso voltar para a piscina agora? — Eliza, minha

caçulinha, questionou emburrada. Ela estava com suas

boias, de braços cruzados e com o cabelo escuro como o


meu, todo embolado. Olhei a hora e assenti. Pela

primeira vez desde que mandei que saísse da água para

almoçar, duas horas atrás, me deu um sorriso.

Existe uma coisa chamada lei do karma: é quando seu

filho puxa a personalidade irritante do irmão. Assim como

Devon, minha garotinha odiava receber ordens e ser

contrariada. Ficava taciturna ou no modo irritante.

Sorte que ela também tinha o meu humor bobo.

— Sra. Hedrer, gostaria de uma bebida? — Stuart se


aproximou com um copo vermelho de plástico com

refrigerante. Observei David sorrir para uma garota e

revirei os olhos. Eu sabia que ele teve algumas

namoradinhas no ensino médio, mas eu não estava

pronta para ser sogra de ninguém. — Soube que o

Michael vai levar as crianças para acampar como

presente de formatura do David.

— Até o Archie vai. — Abri um sorriso. — Sabe o que isso

significa, Sr. Hedrer?

— Sexo. Muito sexo — cochichou no meu ouvido e

cheguei a ficar arrepiada. Trocamos um beijo que fez com


que os adolescentes gritassem.

Nossos meninos estavam acostumados com

demonstrações de afeto.

— Eles estarão de volta a tempo da sua última luta, mas

teremos um espaço de tempo o suficiente para lembrar

como é o seu preparo. — Dei um beijo na sua bochecha

antes de me afastar, para verificar se ainda havia

bastante comida na mesa.

Andrew chegou do treino de judô e Harry da hora na

biblioteca. Ele era um monitor muito orgulhoso e um

devorador nato de livros. Ainda era meu menininho que

fazia birra para jogar videogame fora do horário, mas

isso só mudaria quando ele fosse morar sozinho e criasse

suas próprias regras.

Três adolescentes em casa, cada um com uma

personalidade, a despensa precisava ser abastecida com

frequência e os hormônios normalmente ficavam à flor

da pele. Felizmente, com o passar dos anos, eles se

tornaram melhores amigos e aguentavam Eliza


aprontando com amor. Archie era mais calmo, muito
parecido com Stuart, já minha filha nasceu do avesso. Ela

era única. Chegou para completar a trupe enorme que

conquistei com prazer.

Minha vida mudou muito e para representar, fiz

tatuagens em cima das cicatrizes que representavam o

dia que quis deixar de viver. Em um pulso, minha data de

casamento com Stuart e no outro, cinco corações que

batiam fora do meu peito: David, Harry, Andrew, Archie e

Eliza.

— Amo você, mãe. — Harry me deu um beijo antes

de entrar na van que os levaria para o camping. Ele

pegou a mochila e correu. Depois da cirurgia, ainda

usava óculos de grau, mas não eram tão intensos quanto

os primeiros. De vez em quando, usava lentes. Cresceu e

ficou lindo.

— Não coma meus doces, mamãe. — Eliza me

orientou. Um pingo de gente que sabia muito bem o que

queria. Ela dormiria com a Rosa, para ajudar na folga do

papai e da mamãe. Era pequena demais para uma

aventura como acampar. Já estava nervosa com Archie,

com ela, iria surtar.


— Quem come seus doces é a sua madrinha —

falei de volta, ela fez uma expressão horrorizada e correu

para Katrina, pedindo que não comesse mais.

— Você vai alimentar meu gato? — Andrew passou

por mim, me deu um beijo e pegou sua mala pequena.

— Deixarei com fome porque eu sou má. — Rebati,


ele riu e correu.

— Tem certeza de que não vai precisar de ajuda

para limpar tudo? — David parou ao meu lado com suas

coisas. Ele me passou na altura e tinha músculos

trabalhados. Era um menino lindo, por dentro

principalmente. Superou o que passou e vivia sua vida

como um jovem normal, honrado, muito responsável e

um filho – porque ele me aceitou no seu coração como

sua mãe -, muito amoroso.

— Seus tios perderam a aposta da última jogatina e

o pagamento é a limpeza. Pode ir tranquilo e aproveite.

— Garanti. — Está tudo bem?

— Quero te dar uma coisa. — Tirou do bolso uma

sacolinha de veludo cinza escuro. — Espero que goste.


— Não é meu aniversário ainda. — Brinquei e abri,

virando na mão uma pulseira de prata simples com uma

plaquinha com o dizer: “melhor mãe do mundo”. — Ah,

querido! — Puxei-o para um abraço apertado.

— Muito obrigada por acolher Andrew e eu aqui,

por nos dar o que não tínhamos: casa, sobrenome e uma

família.

David ficava envergonhado quando se emocionava,

ele era bem resistente em fazer coisas carinhosas, então,

aquele gesto era simplesmente tudo para mim. Sem

querer que eu falasse mais, me deu um beijo e entrou no

carro.

Sequei meu rosto, emocionada com o presente e

logo coloquei no pulso.

— Vamos, pessoal! — Kevin gritou, ansioso. O

garoto ganhou corpo e não mudou em nada. Era inquieto

e tagarela.

— Ei, e o meu beijo?

Kevin foi a primeira criança da família e abriu as

portas para o restante. Ele me abraçou apertado e voltou


para o carro. Katrina se aproximou com Halley, Archie e

Edward. Os três eram uma potência juntos.

— Obedeçam ao Vovô Michael. Vocês vão dormir na

barraca com a Vovó Mel, não façam bagunça e não

coloquem nenhum bicho gosmento na cama de ninguém.

— Katrina foi severa. Halley mordeu o lábio. Ela

aprontava muito. — Liguem se precisarem e iremos

buscá-los. Sejam bons e não birrentos, fui clara?

— Seu avô Jason chegará amanhã para passar o


dia no camping. Ele vai levar os instrumentos de

pescaria, o lago é artificial e não é para mergulho. Não


insista, entendeu? — Agachei na frente do Archie. O

garoto era chamado de NEMO pelos irmãos de tanto que


era difícil tirá-lo da água. Era um excelente nadador e até
participou de uma competição infantil.

— Sim, mamãe. Eu vou me comportar.

Se eu acreditasse nisso, uma fada iria morrer. Sorri

e lhe dei um beijo. Os três menores foram os últimos a


entrarem no carro. Não era a primeira vez que Michael

levava as crianças para acampar junto com a Melanie.


Normalmente, meu pai também passava as noites, mas a
minha madrasta estava recém-operada e ele não podia

ficar fora.

Meus irmãos mais novos moravam em Los Angeles,


ambos cursando faculdade e construindo suas vidas.

Eu amava ter um pai. Jason e eu tínhamos uma

amizade linda, que se estendeu ao meu irmão, que por


mais que não o chamasse assim, considerava. O teste

deu positivo como já sabíamos e desde então, ficou


comum estarmos tão juntos, como se tivesse sido assim

a vida inteira.

O dia que o conheci foi um dos mais emocionantes

da minha vida. Estava nervosa, suando, com medo de


ser rejeitada e que a história real fosse totalmente

diferente da que eu compreendi. Ainda bem que Stuart


foi dirigindo e não me deixou desistir. Meu estômago
doía. Assim que meu pai abriu a porta, reconheci meu

olhar no seu. Foi uma conexão imediata.

Eu me senti amada e acolhida como nunca senti

com a minha própria mãe. Ele era um pai amoroso e um


avô que as crianças eram loucas de paixão. Nossa família
se encaixou muito bem. Descobri que tinha muito dele

sem saber e com o tempo, só nos amamos mais.

Suzie era muito querida, animada, ela e Katrina

falavam tanto que às vezes, dava vontade de sair


correndo. No entanto, o quebra-cabeça que a minha

família era no passado, com peças espalhadas por todo


lado, era mais unido que muitas famílias tradicionais.

Tio Saul ainda vivia em Vegas, aparecia e sumia

sempre que queria. Ele era assim e respeitamos seu


jeitinho. Estava bem idoso, mas não sossegava.

Contratamos pessoas de confiança para cuidarem dele, o


que não era uma tarefa fácil. As crianças amavam
quando ele aparecia porque ensinava besteira e dava

dinheiro escondido.

— Dê boa noite a mamãe, papai, seus tios e venha

com a vovó. — Rosa orientou a Eliza logo que voltei para


dentro de casa. Devon e Stuart estavam bebendo no

quintal, conversando sobre o assunto deles que nunca


tinha fim.
Eliza me agarrou com um beijo molhado e foi

correndo se despedir de todo mundo. Abracei a Rosa,


desejando boa noite e agradecendo por cuidar da

pequena por mim, que precisava desesperadamente ser


só Vanessa por algumas horas. Normalmente, tinha meu

tempo sozinha ou com meu marido.

Stuart era um parceiro sem igual e ter uma família


grande ajudava muito na divisão das tarefas. Seguia

trabalhando fora, na minha empresa, no museu e não


tínhamos mais o jornal online, ele tomou uma proporção

muito grande para nós duas e vendemos para uma


corporação editorial.

Katrina e eu fundamos uma empresa de

comunicação e publicidade depois de muito pensar se


deveríamos deixar a Winterfield e ter o nosso lugar. Nós

seguíamos metendo nosso nariz onde não éramos


chamadas porque fazia parte da nossa essência.

— Oficialmente sem filhos. — Ela pegou uma

garrafa de tequila. — Verdade ou desafio?


— A vida é sempre um jogo com você. — Peguei os

pequenos copos.

— O que vamos apostar? — Ela foi andando na

minha frente, com seu cabelo loiro na altura dos ombros,


balançando de um lado ao outro. — Devon e eu

queremos sair de lua de mel para comemorarmos nosso


aniversário de casamento. Quem ganhar, viaja. Quem

perder, toma conta da prole.

— Queridinha, eu tenho cinco filhos. Minha vida é


um jogo todo dia.

Ela virou o rosto, sorriu e me deu seu clássico olhar

desafiador.

— Que vença o melhor casal.

FIM

(CONFIRA A SEGUIR)
Arthur Baxter precisou assumir a BAXTER-FITZSGERALD

INC no lugar de sua mãe. Um homem cínico por


natureza, feroz como um tubarão e atento como uma

águia, era o advogado perfeito, assim como o CEO que a


empresa necessitava.

Sua vida estava indo muito bem até que um dia, o

serviço de entrega particular da companhia deixou uma


carta do seu falecido pai na mesa. O homem que o

abandonou quando jovem. Ele, o filho que pensava ser


amado, foi deixado de lado como todos os bens.

Mais cartas foram chegando pelo correio, crescendo a

curiosidade: quem estava lhe enviando? Sua


investigação o leva direto para os braços da mulher que

o destruiu.

Sarah.
SOBRE A AUTORA

Mari Cardoso, é como se chama a autora nascida no


litoral fluminense, no início dos anos 90. Com a mãe
professora Mari sempre teve aguçado o amor pelos

livros. Em 2019 iniciou sua carreira como autora


profissional, hoje possui duas séries em destaque; Elite

de Nova Iorque e Poder e Honra.

Tornou-se autora best seller no ano de 2020 com o


romance Perigoso Amor.

Ela possui algumas histórias publicadas na Amazon.

Suas redes sociais:

www.instagram.com/mcmaricardoso

www.twitter.com/mcmaricardoso

www.mcmaricardoso.com.br
AGRADECIMENTOS

Este trabalho não seria possível com a incomparável


ajuda profissional da revisora Dani Smith, da betagem
sensível da Carla Freitas e Paula Guizi. Agradeço

imensamente o apoio destas mulheres no período de


construção dessa história. Não poderia deixar de fora a

torcida das minhas leitoras em nossos grupos de contato


e o carinho excepcional (e paciência) da minha amada

mãe nos dias de muito trabalho.

Gratidão eterna.

[1]
Protagonistas do primeiro livro: Amor em Jogo.

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