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2022

Nome da obra: COMBINAÇÃO IMPLACÁVEL


Revisão e Preparação de Texto: Dani Smith Books
Diagramação: Mavlis
Capa: Mavlis
Nome do autor: Mari Cardoso
www.maricardoso.com.br

Copyright © 2022 por Mariana Cardoso

INFO RM AÇÕ ES
Esta é uma obra de ficção que não deve ser reproduzida sem
autorização. Nenhuma parte desta publicação pode ser transmitida
ou fotocopiada, gravada ou repassada por qualquer meio eletrônico
e mecânicos sem autorização por escrito da autora. Salvo em casos
de citações, resenhas e alguns outros usos não comerciais
permitidos na lei de direitos autorais.
Esse é um trabalho de ficção. Todos os nomes, personagens,
alguns lugares, casos envolvidos, eventos e incidentes são frutos da
imaginação da autora. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou
mortas, ou eventos reais é apenas espelho da realidade ou mera
coincidência.
SUMÁRIO
Sumário
SINOPSE
CARTA DA AUTORA
Prólogo
Prólogo
Capítulo Um
Capítulo Dois
Capítulo Três
Capítulo Quatro
Capítulo Cinco
Capítulo Seis
Capítulo Sete
Capítulo Oito
Capítulo Nove
Capítulo Dez
Capítulo Onze
Capítulo Doze
Capítulo Treze
Capítulo Quatorze
Capítulo Quinze
Capítulo Dezesseis
Capítulo Dezessete
Capítulo Dezoito
Capítulo Dezenove
Capítulo Vinte
Capítulo Vinte e Um
Capítulo Vinte e Dois
Capítulo Vinte e Três
Capítulo Vinte e Quatro
Capítulo Vinte e Cinco
Capítulo Vinte e Seis
Capítulo Vinte e Sete
Capítulo Vinte e Oito
Capítulo Vinte e Nove
Capítulo Trinta
Capítulo Trinta e Um
Capítulo Trinta e Dois
Capítulo Trinta e Três
Epílogo
Epílogo
SOBRE A AUTORA:
AGRADECIMENTOS
SINOPSE

Uma combinação implacável entre um magnata e uma sugar baby.


Klaus Delacroix tinha tudo o que queria. O arrogante dono de
cassinos em Las Vegas, mestre em manipulação e em jogos
emocionais, tinha muita ciência do seu poder, além de ser perigoso
para aquelas que ousavam entrar em seu caminho. Sendo um
homem impossível de lidar, também era solitário, vivendo com um
passado difícil, que assombrava seus dias ensolarados. Incapaz de
se envolver emocionalmente, ele desejava ter alguém ao seu dispor,
para controlar e submeter a tudo o que ele queria.
“Estou te avisando para não se apaixonar por mim ou irei te
destruir”.
Ziva Costello sabia que não podia confiar em ninguém. Jovem,
mas não idiota, aprendeu a sobreviver nas ruas perigosas de Vegas
quando chegou à cidade com a prima, ainda muito jovens. Fugidas
de uma cidade pequena, elas tinham o pacto de sempre cuidar uma
da outra. Ao ficar inesperadamente sozinha, ela se vê precisando
tomar atitudes drásticas para continuar sobrevivendo.
“Ele dizia para que eu não me apaixonasse, mas era tarde
demais… para nós dois.”
Klaus envolveu Ziva em sua teia… até o jogo ficar nebuloso.
Entre o passado perseguindo-os e o futuro incerto, as linhas do
acordo serão borradas com beijos aquecidos e noites intensas.
CARTA DA AUTORA

Quando cismo com uma história, eu preciso escrevê-la e aos


poucos, estou me permitindo abrir mão do cronograma e da agenda
apertada para me entregar a romances que me trazem aquele
gostinho de escrever algo que eu quero ler. Quando passei a
trabalhar com a escrita, deixei de lado aquele tipo de plot que pode
não agradar a todos, mas era o que queria fazer e ponto.
Não é minha primeira vez com uma temática de sugar baby. Eu
adoro uma age gap, relacionamento por contrato e homens intensos
que se transformavam em massinhas de modelar na mão de sua
amada. Então, eis aqui Klaus e Ziva. A história tem uma pegada mais
forte e complicada no começo, que se transforma em algo doce e
tranquilo porque os personagens buscavam a leveza de viver com
amor.
Ao contrário de Bem Me Quer, minha primeira experiência com
o tema, esse livro não contém muitas cenas de sexo. É sobre duas
pessoas muito quebradas que não querem consertar o outro, mas
irão consertar a si mesmo para que possam ser felizes. Sabe aquela
história que pessoas legais, porém, confusas, machucam outras
pessoas? Esse livro é sobre o que devemos fazer quando não
estamos bem: buscar ajuda para cuidar da nossa saúde mental.
Mesmo não contendo aquele hot de deixar com vergonha na
rua, tem cenas de sexo explícito, palavrões, violência e personagens
com uso de drogas, luto e é recomendado para maiores de dezoito
anos.
Espero que gostem da leitura.
Com amor, Mari Cardoso
Uma história de amor que começa
intensa termina deliciosa como um
conto de fadas.
Prólogo
Ziva
A rua nunca pareceu tão longa. Esse era o efeito que dava
quando você precisava correr para salvar sua vida. Eu conhecia
aquele lugar, foi onde dei meus primeiros passos, ralei os joelhos e
dei meu primeiro beijo. Aquela quadra inteira era como meu lar,
porque minha casa ficava bem no meio, mas não estava segura.
Eu precisava sair.
As sirenes soavam altas enquanto Tate e eu corríamos entre os
arbustos, passando pelos jardins nos fundos e tendo nossos braços
arranhados. Escorreguei e caí, ela me pegou, arrastando-me mesmo
quando meu tornozelo parecia estar quebrado. Nós continuamos nos
arrastando pela beira do rio, atravessando uma estrada perigosa e
pulamos para que o ônibus parasse.
O motorista não fez perguntas quando jogamos algumas notas
de dólares no colo dele, muito mais do que o valor da passagem, e
sentamos ao fundo. Sujas, ofegantes e quase livres.
Quase.
Nossos nomes estariam em cartazes de PROCURA-SE antes
mesmo que o sol nascesse.
Prólogo
Klaus
Meu rosto ardeu com o primeiro tapa. Controlei a vontade de
colocar a mão no local quando ela me acertou novamente.
Mamãe estava furiosa.
Ela batia no meu peito e onde mais podia alcançar, gritando no
meio do corredor do hospital que era minha culpa. Eu não conseguia
ouvi-la direito, preso no bipe lento que vinha de dentro do quarto.
Mamãe agarrou as lapelas da minha camisa cheia de sangue e
me sacudiu, fazendo-me olhar em seus olhos pela primeira vez desde
que chegou.
— Você sempre foi a ruína da nossa família!
Ele estava morrendo e era culpa minha.
Eu matei meu irmão.
Capítulo Um
Ziva
A casa estava lotada, quente e até um pouco difícil de respirar
com tanta fumaça de cigarro e eu não estava me referindo apenas
aos comuns. Desviei de uma mesa onde um casal quase transava e
equilibrei a bandeja, colocando os copos com drinques na frente de
um grupo de homens que comemoravam uma despedida de solteiro.
Um deles me agarrou, tentando lamber entre os meus seios e o
empurrei, saindo de perto tão rápido quanto possível.
Voltei para o bar e respirei aliviada por estar temporariamente
segura atrás do balcão. Meu chefe pediu para que atendesse os
pedidos de cerveja enquanto ele preparava os drinques, peguei as
notas e os copos, cansada pelas botas de cano alto e salto fino que
faziam com que minhas panturrilhas queimassem. O suor escorria
pelas minhas costas, mesmo usando um top de renda e uma calça
jeans justa, de cintura baixa
Meu cabelo também estava grudando, tudo culpa da falta do ar
condicionado, que não parecia querer funcionar. Ninguém se
importava. Vegas era sempre quente e seca. Eu já deveria ter me
acostumado, porém, mesmo estando ali há quatro anos, ainda era
difícil. Olhei para o relógio, vendo ser apenas uma da manhã. Ainda
havia muitas horas de trabalho.
— Ei, caipira! Estamos em falta no segundo andar, recebemos
a notícia de que os chefes estão chegando! Vá se ajeitar e suba! —
Ally, nossa gerente principal, gritou do outro lado.
— E eu vou ficar sem apoio? Ziva é a mais rápida de todas as
meninas, vai ser foda controlar o caos aqui!
— Ela é uma das bonitas, sabe como funciona. Eu vou mandar
três garçons — avisou. Terminei de servir as cervejas, peguei minha
bolsa e atravessei a multidão até o lado dos funcionários.
Eu tinha um vestido ali dentro, porém, preferi me lavar
rapidamente, prender o cabelo em um rabo de cavalo e refazer a
maquiagem. Reforcei o desodorante e o perfume, que não era dos
mais caros, mas o que eu podia ter. Coloquei um chiclete na boca,
morrendo de fome e subi as escadas, preparando as bandejas e a
sala vip.
O clube em que eu trabalhava tinha dois donos. Eram sócios em
outros empreendimentos, a mídia dizia que a amizade recente trouxe
muito lucro para ambos. Devon Winterfield[1] era muito famoso. A
mãe foi uma cantora que cresci ouvindo, já o outro, era um tanto
mais discreto, mas a cidade adorava persegui-lo. Sendo natural de
Vegas, ele era dono de alguns cassinos e hotéis, assim como o
sócio.
Soube que estavam acontecendo eventos no hotel e uma das
meninas comentou que eles estavam ali para comemorar. A primeira
a passar por mim foi Katrina Winterfield, esposa de Devon. Ela
estava muito bem arrumada e como sempre, foi extremamente
simpática com todas as meninas.
— Gostaria de uma Coca-Cola com gelo e limão — ela pediu e
eu fui até o bar pegar. Antes que pudesse abrir o freezer de gelo,
senti um arrepio na espinha. Não precisava virar para saber que
Klaus Delacroix estava no ambiente e com os olhos fixos em mim.
Era sempre assim, desde a primeira vez, o olhar dele queimava
na minha pele ao ponto de ser difícil disfarçar o quanto me afetava.
Ele era o tipo de homem que a mera existência me instruía a ficar
longe. Não só por ser o chefe, o que mandava em tudo e pagava
meu salário, mas por ser perigoso. Todas as meninas comentavam
no vestiário que ele era muito difícil de lidar, gostava de manipular e
brincava com quem aparentasse inocência. Ally já havia percebido
que ele me olhava e ficava em cima, até sendo chata.
Eu não queria mais problemas, já tinha mais do que o
suficiente.
— Por que sua prima não veio trabalhar hoje? — Ally me parou.
Droga. Tate era um dos problemas que eu precisava gerenciar.
Ela era minha melhor amiga e a única família que eu tinha, mas do
tipo que vacilava mais do que ajudava. Eu a amava
incondicionalmente, só não tinha mais paciência e muito menos
desculpas para dar com os furos que ela dava no trabalho. Nós duas
precisávamos dele.
— Eu saí cedo, estava no restaurante do hotel e vim direto para
não perder a hora. Sinto muito, Ally. Não sei o que te dizer.
— Se eu tivesse metade das funcionárias responsáveis com os
horários como você é, estaria muito bem. Avise a Tate para me
procurar depois — ela orientou, assenti e levei a bebida para Katrina.
O marido dela pediu uísque e os dois logo voltaram a conversar, me
afastei e parei em frente à mesa do sr. Delacroix.
— O que gostaria de beber essa noite, senhor? Gostaria do
menu?
— Olá, Ziva. — Ele sempre cantava meu nome, como se fosse
algo delicioso rolando em sua língua. — Apenas água.
— Algo especial em sua água?
— Não. Simples.
Dei um aceno e pelo reflexo dos espelhos, vi que ele virou o
rosto para acompanhar meu caminhar. Como mulher, meio que me
envaidecia o quanto atraía a atenção dele, já que Klaus Delacroix
não se aproximava de nenhuma garota, nem mesmo daquelas que eu
sabia que esticavam o expediente nos quartos dos hotéis com os
clientes. Ele era muito sério, o tempo todo portava uma expressão
maldosa e havia um vinco entre as sobrancelhas dele que fazia com
que os funcionários corressem feito baratas quando unia-se a um
estalar de língua insatisfeito com o desempenho.
Servi a bebida do sr. Winterfield, a água e abri a porta para
recepcionar o restante dos convidados. A sala ficou relativamente
cheia, o que fez com que eu tivesse um pouco de trabalho para
atender a todos, mantendo a postura e o sorriso no rosto. Já
cansada, minha memória começou a falhar e eu tive que recorrer ao
uso do bloco.
Ally sinalizou que um grupo de empresários sentados com o sr.
Delacroix queria ser atendido, arrumei minha postura e me aproximei.
Um deles, formalmente vestido e parecendo muito bêbado, moveu o
indicador como se quisesse que eu desse uma voltinha.
— Essa aqui é bem gostosa, será que ela não pode subir para
uma festinha privada? — Ele tentou tocar minha coxa e me afastei.
— Ela não precisa querer. — Soltou e todos riram. Fiquei congelada
ao pensar que entre homens, a piada de estuprar uma mulher era
divertida enquanto meu estômago torcia de medo.
— Não comece ou eu vou enfiar sua cabeça na privada —
Delacroix falou de forma fria. — Traga água a todos e solicite que
meu segurança prepare o carro. Já estou de saída e seu turno
encerra agora.
Voltei para o bar, atravessei até o escritório e encontrei o
segurança, que estava de pé perto do vidro olhando todo o ambiente
com atenção. Ele já parecia saber o que eu iria falar, colocou o terno
e avisou que estava de saída. Ally me abordou, dizendo que era
melhor eu ir embora.
— Parece que os últimos convidados não estão com ideias
muito boas. — Ela fez uma careta, mas encarou como se fossem
ossos do ofício. Eu não ia discutir. Algumas garotas já haviam sido
abusadas por clientes e nem todas tinham coragem de denunciar,
preferiam sair.
Devon Winterfield era um homem implacável quando essa
situação acontecia, mas ele também não era Deus e a única coisa
que podia fazer era banir a presença desses homens. Desci as
escadas, peguei minhas coisas e saí pelos fundos, caminhando pelos
becos com meu telefone no ouvido querendo saber onde Tate
estava. Ela não me atendia.
Decidi ir até um traficante com quem ela costumava se prostituir
para conseguir mais drogas. Era um inferno lidar com aquilo, meu
pior pesadelo. Sempre tentava lembrar quando a garota alto astral e
corajosa se tornou dependente química. Eu culpava o ex-namorado
dela, mas sabia que a nossa vida não era um conto de fadas e no
fim, parecia mais fácil buscar conforto em algo que entorpecia os
sentidos.
— Ei, John — chamei por um dos homens do traficante. — Tate
passou por aqui? — Parei um pouco longe, pois não confiava nele.
— Olhe algumas quadras à frente. — Ele riu de um jeito
sombrio.
Girei em meus saltos e cortei caminho pelos fundos de alguns
bares, hotéis, desviando da rota dos turistas bêbados saindo das
capelas. Meus pés travaram quando vi a polícia usando uma fita de
isolamento em um beco, vários curiosos observavam um corpo no
chão. Reconheci aqueles sapatos e corri, rezando para que fosse
outra garota que também havia comprado tênis com detalhes rosa
neon em uma fast fashion muito famosa.
Podia ser qualquer uma, repeti para mim mesma.
Não era Tate.
Deus, por favor, que não seja a Tate.
Implorei com todo meu ser, quase sem fôlego, o coração
explodindo no peito de tal maneira que poderia sair pela minha boca,
pulando pelo chão. Tomada pelo desespero, derrapei e bati contra
um policial. Cobri minha boca, em choque. Eu ia gritar e senti minhas
pernas falharem simultaneamente quando o oficial agarrou meu
braço.
Homens fardados eram o meu pesadelo pessoal.
— Você a conhece?
— Não muito. Apenas da rua — menti, tentando recuperar meu
fôlego e lembrando que mesmo que Tate estivesse morta e
merecesse um enterro digno, eu não poderia dar aquilo a ela.
— Sabe quem é a moça?
— Não sei o nome dela. Sei que vivia por aí, sempre perto do
bar em que eu trabalho.
— Uma viciada, então. — Anotou no caderno. — Mais uma
vadia morrendo por cheirar demais — comentou com o amigo e
lentamente fui me afastando.
Olhei para Tate mais uma vez e beijei o cordão que tínhamos
juntas, cada uma com uma peça, o símbolo de que, mesmo
separadas, completávamos uma à outra. Aproveitei que uma
multidão de curiosos cobriu a visão dos policiais e corri para o mais
longe possível, com a dor querendo explodir. Eu queria chorar mas
só podia fazê-lo em um local que não atraísse tanta atenção.
Ninguém podia descobrir que eu estava em Vegas.
Capítulo Dois
Ziva
As ruas de Las Vegas estavam cheias de turistas e música alta
explodindo nos alto-falantes dos estabelecimentos. Puxei um pouco
mais meu casaco, tentando apressar meus passos até o ponto de
ônibus. Cheguei àquela cidade com uma mochila nas costas e
duzentos dólares escondidos no sutiã.
Minha prima e eu sequer tínhamos onde dormir naquela noite,
vagamos pelos lugares movimentados, revezando no sono e na
vontade de ir ao banheiro.
Nós passamos fome e frio.
Tudo estava acabado.
Eu estava sozinha… e só de pensar, meu coração apertava. O
que iria fazer sem ela? Nós prometemos que ficaríamos juntas para
sempre. Como pudemos ser tão ingênuas ao ponto de acreditar que
poderíamos sobreviver em um mundo tão cruel?
Lutamos para nada.
Tate estava morta e eu completamente perdida.
O capanga do traficante dela arrombou a porta do nosso
apartamento no meio da madrugada. Não vivia no lugar mais belo e
nem mesmo mais seguro da cidade, mas ele invadiu, me pegando de
surpresa depois do banho. Estava com o rosto inchado de tanto
chorar, no único momento em que podia lamentar a morte da pessoa
que mais amava na vida.
Eu não tinha mais ninguém e agora, carregava marcas de
queimadura nos braços para não esquecer da dívida de trezentos mil
dólares. Ele me cobrou pela venda de cocaína a minha prima, entre
outras coisas, com juros e correção monetária. Cinco dias. Ou
precisaria me tornar sua prostituta. Para piorar, estava sendo
seguida, assim eles garantiriam que não sairia da cidade.
Não tinha outro lugar para ir e não tinha certeza do alcance dele
para fugir e recomeçar em uma nova cidade. Levei muito tempo para
ter um teto para dormir, era difícil pensar que precisaria deixar tudo
de novo. Quando poderia ter uma casa sem medo de ser
encontrada? Eu estava com dor e ao mesmo tempo, com raiva.
Avisei a Tate que poderíamos conseguir sem que ela precisasse
dormir com vários homens.
Ela conseguia deitar e fingir que o sexo estava sendo bom.
Eu não chegava perto dos homens o suficiente para isso. Não
namorava. Minha vida era trabalhar e conseguir dinheiro para comer,
pagar as contas e continuar não sendo encontrada. Queria namorar,
me apaixonar e viver um romance como nos filmes que assistia, mas
havia pessoas destinadas a sofrer e eu era uma delas.
Minha vida não começou normal.
Era estupidez alimentar esses desejos. Já tinha beijado e quase
transado com um dos seguranças que trabalhavam na boate, porém,
ele descobriu que eu era virgem e disse que não queria uma mulher
sonhadora atrás dele. Quis rir.
Eu? Sonhadora?
Se havia quaisquer borboletas sobrevoando meu estômago,
elas estavam podres. Dentro do meu peito não havia espaço para
que eu me sentisse como uma mulher normal.
Eu só queria transar mesmo, depois dele, não tentei de novo.
Todo tempo livre que tinha, era buscando Tate pela cidade, salvando-
a de enrascadas, de clientes abusivos ou pegando-a completamente
chapada com o braço todo furado em algum banheiro fedido. Minha
família roubou minha infância, meu padrasto tomou a minha inocência
e Tate engoliu meu tempo.
Ela não era egoísta, apenas estava ferida.
Nós sempre reagíamos a um problema de maneiras diferentes.
Ela deixava que suas emoções a dominassem e eu, era mais de
brigar. Bater primeiro, correr depois, chorar se sobrasse tempo.
Apesar de ser pequena e magra, eu tinha força nos punhos. Sabia
onde acertar e incapacitar um homem, meu pai me ensinou e eu
sentia falta dele todos os dias.
Sequei meu rosto antes de entrar no bar e sem prestar
atenção, bati em uma pessoa, escorregando no piso molhado. Caí
de bunda no chão, mas logo me recuperei.
— Com pressa, pequena?
Porra. Tinha que ser logo o segurança do chefão?
— Eu sinto muito, Patrick. Não vai se repetir.
— Não houve dano. Você está bem? — Ele analisou meu rosto.
Parecia uma merda completa, com medo, mal fiquei em casa e não
estava arrumada como era de costume. Alguma coisa atraiu seu
olhar para além de mim e virei, o capanga do traficante estava
olhando para dentro do bar, ainda me intimidando. — Sabe que não
pode trabalhar aqui se estiver envolvida com aquele tipo de pessoa.
— Eu não estou. — Defendi-me rapidamente. — Não uso
drogas, nem vendo e não me prostituo.
— E por que um dos pivetes do Mangiello está te seguindo?
— Não quero falar sobre isso. — Passei por ele, que agarrou
meu braço. Silvei de dor, puxando e tentando não chorar com a
queimação.
— O que porra está acontecendo aqui? — Pulei ao ouvir a voz
potente de Delacroix.
— Ela está sendo seguida por um dos homens do Mangiello.
— Eu juro que não tenho nada a ver com eles. — Meus olhos
encheram-se de lágrimas. — Por favor, acreditem em mim.
Não podia perder aquele emprego.
— Por que seu braço doeu quando toquei? — Patrick deu um
passo à frente. — Eles costumam queimar quem deve dinheiro a eles
como um lembrete.
Puta que pariu. Estava lívida.
— O que você tem com isso? — vociferei. — Estou tentando
seguir com a minha vida!
— Eu posso te ajudar, Ziva.
— Nem te conheço, não se meta. — Bufei e subi as escadas,
correndo até o vestiário.
Antes de descer e pronta para enfrentar a noite, passei pomada
em meus braços, ainda me perguntando como me livraria daquela
dívida. Eu mal tinha dois mil dólares debaixo do colchão, seria
impossível conseguir pagar tudo no tempo que ele queria e eu
preferia morrer a ser prostituta. Quer dizer, eu não queria ofender
ninguém, mas a ideia de dormir com vários homens por noite me
deixava nauseada.
Se eu quisesse transar com vários por minha escolha e prazer,
talvez fosse diferente. Envolver a necessidade e obrigação doía meu
estômago. Tate nunca me explicou como aguentava. A relação dela
com o sexo começou diferente da minha. O primeiro garoto que me
tocou na escola tocou porque eu quis, foi um amasso gostoso na
parte de trás do carro; já a dela, foi um homem que a iniciou da pior
maneira possível.
— Quanto vocês ganham dançando aqui? — questionei a uma
das meninas. Ela terminou de passar gloss e me deu uma olhada
pelo espelho.
— Não muito, mas as gorjetas compensam. Se você rebolar
bem, usar o mínimo de roupa possível e ser sensual, vai conseguir
uns cinco mil por mês. — Ajeitou o decote e me deu uma olhada. —
Se quiser tentar, fale com a Ally.
O dinheiro era muito bom mas ainda assim, não o suficiente.
Agradeci e voltei a me encarar no espelho, percebendo que mesmo
com o rosto inteiro pintado ainda parecia muito assustada. Formulei
um plano na minha cabeça, se eu conseguisse convencer Mangiello a
pagar tudo parcelado, eu me esforçaria em manter meu emprego no
restaurante e pediria para ser garçonete. Alguns dos meninos
sustentavam suas famílias com as gorjetas dos clientes, eu podia
conseguir o mesmo.
E de noite, eu me aventuraria em todas as oportunidades que o
clube poderia me dar.
Encontrei Ally no escritório, ela pareceu confusa e ao mesmo
tempo, animada ao notar que eu queria dançar. Não havia
exatamente uma coreografia, bastava rebolar e sensualizar. Ganhei
um uniforme para começar antes de servir as mesas. Alguns clientes
gostavam de ter suas bebidas entregues pelas garotas que eles
haviam babado na bunda minutos antes.
— Não posso chamar isso aqui de biquíni. — Ergui as peças.
A calcinha sumiu entre as minhas nádegas e a cortininha em
cima mal cobria meus mamilos. O vestido era curto, transparente e a
bota, ia até os joelhos. Uma dançarina disse que eu deveria soltar os
cabelos e tirar os brincos grandes, pois se alguém me puxasse, não
iria me machucar. Agradeci e respirei fundo, qualquer dinheiro que
ganhasse iria direto para as mãos do imbecil.
Meus braços doíam muito, definitivamente era impossível
esquecer da dívida com aquela dor latejante.
As luzes no palco eram confusas, agarrei o poste e passei
adiante. Não sabia como dançar nele e nem ousaria, apenas entrei
no ritmo da música, rebolando, passando a mão pelo corpo e
jogando meu cabelo para o lado. Um idiota lambeu minha coxa antes
de enfiar dinheiro na minha bota. Outro queria colocar no meu sutiã e
a merda era que eu tinha que deixar. Abaixei e ele colocou apenas
dez dólares.
Filho da puta. Ele estava pensando estar em uma casa de
dança qualquer, como as do bairro em que eu morava? Os clientes
colocavam muito dinheiro ali. Dei a ele um sorriso e me afastei,
trocando com as próximas meninas. Antes que pudesse sair do
palco, fui puxada de forma brusca e caí contra a parede.
Era Paco, o ex-namorado de Tate.
— Mangiello mandou dizer que você não pode dançar para
ninguém. Se vai foder, vai ser pagando a porcentagem dele. — Ele
agarrou meu cabelo e puxou.
— Vai se foder, filho da puta miserável! — rosnei, morrendo de
dor, mas ele jamais arrancaria um grito meu.
De repente, Patrick se jogou nele e ambos caíram no chão,
trocando socos. A multidão se afastou e mais seguranças da casa
se aproximaram, expulsando Paco enquanto Patrick me puxava pelos
punhos até a sala da segurança, onde eu sabia que seria demitida.
— O que você deve a ele? — Patrick me soltou.
— Eu não devo nada! Aquele idiota está me cobrando a dívida
da minha prima!
— E onde ela está? Já faz alguns dias que ela não vem
trabalhar… — Patrick franziu o cenho e eu olhei para os meus pés,
respirando fundo.
— Morta. Tate está morta.
Patrick ofegou, mas a porta da sala foi aberta e seu chefe
passou. Klaus estava impecável, de preto, com os cabelos
penteados para trás e o anel de ouro chamando a atenção. Ele
parou, olhando entre nós dois e sinalizou para que seu homem
saísse. Por algum motivo, Patrick pareceu relutante mas por fim
obedeceu, fechando a porta.
— Você sabe as regras, Ziva. Drogadas e prostitutas de rua
não trabalham nos meus estabelecimentos. — Klaus foi até a cadeira
e se sentou, me obrigando a virar para encará-lo.
— Eu não uso drogas e não me prostituo — esclareci com
calma. — Sinto muito pelo incidente lá embaixo, foi a minha primeira
vez no palco e eu só comecei porque preciso de mais dinheiro.
— Então, está devendo ao Mangiello. — Inclinou a cabeça para
o lado. — Essa é a sua oportunidade de me contar a verdade antes
que eu descubra.
— Eu não sabia que você lidava com as demissões
pessoalmente, senhor.
Seu olhar quase me quebrou ao meio, minha pulsação acelerou
e minha boca ficou seca. Queria sair correndo.
— O clube é meu, faço o que bem entender aqui dentro.
Quando quiser, comece a falar a verdade. — Apoiou os cotovelos na
mesa e me encarou com expectativa.
— A dívida é da minha prima. Tate era quem se prostituía e se
drogava — confessei, me sentindo sem alternativas. — Eu não faço
essas coisas, meu emprego diurno é no novo restaurante da sra.
Winterfield e a noite, aqui. Ela começou a namorar Paco e depois,
tudo desandou.
— E por qual motivo ele não está cobrando a ela?
— Ela está morta. Tate teve uma overdose ontem à noite.
Klaus encostou na cadeira, unindo as pontas dos dedos.
— Interessante. Não chamou a polícia? Ou não quer que ela se
envolva? — Ele riu de forma sombria e troquei meu peso de perna,
pensando em que resposta dar. — Ziva Costello…
Fiquei toda arrepiada. Ele sabia a porra do meu nome
verdadeiro.
— Nascida em Nebraska e procurada por…
— Pare. Apenas pare. — Ergui minha mão, desesperada. — O
que você quer?
— Eu posso pagar a sua dívida com Mangiello e cuidar do seu
probleminha na sua cidade. Em troca…
Como ele ousava dizer ser apenas um probleminha? Eu perdi a
minha vida!
— Em troca do quê?
— Seja minha.
Eu ri.
— Não sou uma mercadoria. Posso estar vestida como uma
puta, mas não sou uma!
— Não é, mas pode se submeter a um contrato de
relacionamento no qual atenderá minhas necessidades e cumprirá
algumas exigências. — Ele sorriu de lado. — Eu posso te livrar do
Mangiello em um piscar de olhos e quanto a sua pequena cidade…
— Klaus parou. — Já imaginou como seria a sua vida se fosse uma
mulher livre?
Eu sequer me permiti sonhar.
Era impossível ser livre nascendo uma mulher.
Capítulo Três
Klaus
A vida era preto e branco, se tinha uma verdade, existia uma
mentira. Nada era igual. Coincidências não existiam. Dentro do meu
mundo, criado entre caça-níqueis e mesas de jogos, eu sabia que as
pessoas eram capazes de tudo por dinheiro. A vida em Vegas era
sobre quem ganhava, o deserto podia te engolir, assim como as
luzes brilhantes e a música que as máquinas soavam.
Eu era um homem atento. Comandava meus negócios a punho
de ferro, não deixava passar pequenos detalhes, principalmente
quando eram do meu interesse. Não havia nada de mais na minha
vida: trabalho, muito trabalho, negócios e então, Ziva. Lembrava da
primeira vez em que a vi. Foi no treinamento dela. Ao contrário das
outras meninas, usava um vestido romântico, florido e até os
joelhos.
Atrapalhada, deixou cair alguns copos, mas foi a única a
conseguir finalizar todas as tarefas e era sim, uma das melhores
atendentes do bar. Chamava muita atenção com sua beleza mesmo
não existindo nenhum atributo extraordinário. Cabelos castanhos,
olhos em um tom de uísque e a boca tentadora bem preenchida. O
corpo não era volumoso, mas havia curvas deliciosas nos lugares
certos.
Ziva estava sempre sorridente, animada e se dedicava. Era a
única mulher que meus olhos não conseguiam desviar. Eu não era um
homem de me envolver, não por falta de tentativa, mas porque as
mulheres corriam depois que viam o quanto eu podia destruí-las.
Todo dinheiro e glamour não eram o suficiente, elas queriam sempre
o mesmo: domar o CEO perigoso de passado sombrio.
Quando não conseguiam, ficavam loucas, frustradas e fodendo
a minha paciência.
Eu escolhia ter relacionamentos nos meus termos, assim, tinha
o que queria, com as minhas regras e com ninguém me enchendo o
saco. Com trinta e oito anos, eu estava cansado de estar sozinho,
mesmo ciente de que não era merecedor de nenhuma felicidade.
Minha vida estava fadada ao caos e sofrimento. De tanto sentir dor,
meus sentimentos estavam enterrados no fundo do poço.
Não amava ninguém e não era capaz de amar. Nem queria.
— Não sou uma prostituta — Ziva falou baixinho. Eu sabia bem
que não. Tate sim, ela não.
— Não estou pedindo para dormir com muitos homens, não
quero ser seu cafetão, porra — grunhi. Nenhum outro homem a
tocaria. Eu não compartilhava nada. — Estou oferecendo um
contrato de relacionamento, no qual eu vou quitar a sua dívida, te
livrar do passado e em troca, será minha. — Levantei e dei a volta,
parando à sua frente. — Quanto você quer, Ziva? Hum? Dê-me um
preço.
Estava disposto a pagar muito.
— Por que eu? — Ela exalou, os olhos arregalados.
Era uma pergunta sem uma boa resposta. Eu a queria. Era
simples na minha cabeça. Talvez soasse como uma criança salivando
por um novo brinquedo, mas eu não me importava.
— Eu sempre tenho o que desejo.
Suas bochechas ficaram em um tom muito agradável de
vermelho. Imaginei todo seu corpo com aquele rubor, porque só a
mim ela reagia daquela maneira. Qualquer outro homem a faria
recuar, ela costumava ficar fora do caminho de quem poderia tocá-la.
Seu olhar de tempestade, normalmente dado a clientes
irritantes, não apareceu.
— Eu acho que… ter a mim é pouco, comparado ao que vai
gastar. Quer dizer, tudo isso por sexo? Você pode conseguir em
qualquer lugar. Algumas garotas aqui fariam de graça.
Não era uma mentira. Sexo por sexo eu tinha em qualquer lugar,
sendo que eu ficava exausto querendo foder e ao mesmo tempo em
alerta por não confiar nas desconhecidas que iam parar na minha
cama.
— Não é só sexo, Ziva. É mais do que isso, é como… um
relacionamento, sem sentimentos e com regras.
Ela franziu o cenho.
— Tá querendo me espancar ou coisa do tipo? Eu não gosto
dessa merda. Se me bater, vai ter de volta!
Eu quis soltar uma gargalhada. Ela percebeu minha diversão e
ficou um misto de tímida com furiosa. Será que seria capaz de
controlar seu temperamento?
— Alguns tipos de tapa não doem e talvez você goste bastante.
Mas não, eu não sou um espancador. Qualquer tapa que der na sua
bunda, será unicamente pelo prazer.
Minha provocação foi recebida com sucesso. A pele dela
arrepiou e a vermelhidão mais ainda.
Ziva pareceu refletir. Mordendo o lábio, olhou para as marcas
de queimadura em seus braços e suspirou. O olhar mostrava que a
mente estava correndo a muitos quilômetros por segundo,
procurando chegar a uma conclusão.
Era bom que ela dissesse alguma coisa antes que aquele
diálogo ficasse cansativo.
— Eu quero meio milhão. Duzentos para mim, quero que me
ensine a investir e ser rica. — Ela olhou em meus olhos. Boa garota.
Esperta. — Se vai me ajudar a ser livre, eu quero poder recomeçar
minha vida em qualquer lugar sem ter medo da minha sombra.
— Apenas isso?
Eu podia dar-lhe tanto se ela prometesse ser minha, que não
me desafiasse e soubesse o seu lugar…
— Não. Eu não quero ser obrigada a nada quando não quiser e
também não farei o que não estiver confortável. — Sua voz ficou
mais baixa. — Eu sou virgem e isso não será como um prêmio para
você. — Erguendo o queixo, com os cantos dos olhos repletos de
lágrimas não derramadas, me encarou com toda coragem. — Eu
sempre serei minha dona.
Imaginava que era inexperiente dada a maneira que agia,
estando sozinha e trabalhando em dois lugares. Mas nunca imaginei
ser virgem.
Eu não fodia virgens de nenhuma maneira, mas era ela e não
abriria mão. Virgindade não era fetiche para mim, porém, sendo ela
a mulher que eu desejava há meses… podia mudar alguns termos.
Eu abaixei meu rosto e ela continuou firme no mesmo lugar, me
dizendo pela postura que não seria derrubada facilmente.
— Acordo feito, bebê. Patrick irá levá-la em sua residência e
depois, para um dos meus hotéis enquanto todo trâmite será
preparado. Enquanto isso, não irá trabalhar aqui e muito menos subir
no palco com essas roupas. — Abri a porta. Patrick me deu um olhar
recriminador. Ele não concordava com minha maneira de se
relacionar, mas fazia o que eu mandava.
Percebendo que foi dispensada, Ziva seguiu com ele, ainda de
cabeça erguida e ereta. Ela não permitia que pensassem que podiam
diminuí-la, um enorme contraste da garota doce que começou a
trabalhar ali seis meses antes, após ser demitida do emprego de
camareira.
Foi culpa da outra. Investiguei a fundo porque não precisava de
mulheres problemáticas na equipe e Ally a queria muito. Tate Costello
tinha uma história difícil e acreditem em mim, eu entendia pessoas
fodidas, mas ela era como um peso que amarrava os pés de Ziva ao
fundo do oceano.
Tate causava problemas na equipe que eram apaziguados por
Ziva. Ela estava sempre protegendo a prima. Por que eu sabia
disso? Era uma boa pergunta. Como um bastardo obcecado, eu
sabia tudo sobre Ziva e agora, ela seria minha baby.
Geralmente eu não me importava com a idade das mulheres
com quem eu me envolvia. Fui apresentado ao mercado de sugar
babies quando um amigo me disse que era mais fácil no quesito
contratual. Eu nunca tive nenhuma, apenas observei como funcionava
e achava os meios interessantes.
Ter um relacionamento considerado normal era impossível na
minha vida.
Mulheres querem casamento e filhos. Elas desejam um felizes
para sempre, uma casa bonita, um quintal com gramado e cartão de
Natal perfeito para ser enviado pelos correios. Para ter algo como
isso, era preciso ser comum e eu não era esse tipo.
Para sobreviver comandando o grupo Delacroix, eu tinha que ir
além dos princípios aceitáveis pela sociedade. Desde que me
aproximei mais intimamente de Devon, ele vivia me enchendo o saco
sobre como era feliz com esposa e filhos.
Devon teve uma mãe maluca, mas ele nunca experimentou o
sabor da dor opressora que esmagava minha vida. Ele jamais
saberia.
— Senhor? Está tudo bem com Ziva? — Ally parou em uma
distância segura. Ela tinha atração por mim e ao mesmo tempo,
medo. Mas era profissional demais para ceder aos próprios
impulsos.
— Sim. Ela precisou sair mais cedo. Procure outra garota para
o lugar dela. — Passei por ela, fechando meu terno e não lhe ofereci
qualquer explicação.
Patrick deixou Jayden para me levar para a cobertura. Ainda
tinha mais trabalho a fazer, mas que poderia ser realizado no
escritório da minha casa. Ao entrar, fui saudado com escuridão e
silêncio. Estava com cheiro de limpo, climatizado, um ambiente
agradável para ficar.
Tomei banho e andei de cueca pela casa, preparei um lanche e
liguei meu computador, ciente de que precisaria virar a madrugada
trabalhando. Uma vez, uma das minhas assistentes brincou que os
homens dos livros nunca trabalhavam e tinham tempo para tudo. Mal
sabiam os escritores de romance que para comandar um império era
preciso muita dedicação.
Patrick me ligou.
— Como foi?
— O lugar estava revirado e quebrado, deixaram outro recado.
Entrei em contato com amigos da polícia. Tate foi levada ao
necrotério e irão esperar que uma família se manifeste ou será
enterrada como indigente.
— Faça o manifesto, mas não dê os nomes verdadeiros, ou ela
irá parar no sistema.
— Sim, senhor. Ziva ainda está recolhendo suas coisas entre o
caos de itens quebrados.
— Mande matar Paco como um recado a Mangiello. Eu o avisei
para que mantivesse seus homens longe dos meus negócios —
ordenei, olhando para a cidade através da janela. — Em seguida,
avise que faremos o pagamento da dívida. Não imediatamente. Ele
precisa aprender com quem está lidando.
Patrick encerrou a chamada sem falar nada. Ele não
concordava comigo em muitas coisas, mas no que se tratava de
Mangiello, estaria ao meu lado sem fechar os olhos. Sentindo-me
agradavelmente satisfeito, virei uísque no meu copo e apreciei cada
gole.
Capítulo Quatro
Ziva
A água estava começando a ficar fria e eu ainda não tinha
forças para sair da banheira luxuosa do quarto em que estava
hospedada. Abraçada às minhas pernas, as lágrimas não paravam
de cair do meu rosto. O luto, a dor que espremia meu coração,
todas as coisas que comprei com muito sacrifício foram quebradas.
O apartamento inteiro ficou em pedaços, meu dinheiro no colchão
fora roubado e a pouca estabilidade que tinha, destruída.
Eu não estava segura. Não mais.
Mangiello me queria por ódio e orgulho. Tate o desafiava o
tempo todo e depois, transava com ele, mas isso era um joguinho no
qual eu não pertencia. Nunca quis deitar com nenhum dos homens e
minha prima dizia que minha negativa era como um gatilho para ele.
Não me importava. Se ele achava interessante uma mulher lhe dizer
não, iria se decepcionar comigo.
Escorreguei na banheira e afundei, pensando em Klaus
Delacroix e o motivo pelo qual estava ali. Outro homem perigoso que
me queria, mas esse podia pagar minha dívida, que nem deveria ser
minha, e dizia ter poder o suficiente para me livrar do passado. Eu
estava sem alternativas. Mangiello tinha um alcance que me
assustava e não desejava estar morta como Tate, eu merecia viver.
Também não conseguia aceitar ser justo ter apenas doze anos
de vida feliz ao lado dos meus pais e depois, tudo começar a rolar
ladeira abaixo. Primeiro foi lentamente, mas ao fugirmos, nossa vida
se transformou em uma bola de neve até tornar-se uma avalanche.
Emergi, puxando o ar e passei a mão no rosto. A ideia de pertencer
a alguém por um contrato me rasgava ao meio.
Ele queria sexo, intimidade, um relacionamento com regras e
que eu fizesse tudo que quisesse como uma boa garota obediente.
Não sei por quanto tempo fiquei na banheira. Saí quando
comecei a tremer, me sequei usando um grande roupão e escovei o
cabelo para que não secasse embolado. Na frente do espelho, vi o
quanto minhas pálpebras estavam inchadas e o restante do rosto um
pouco pálido. Estava tarde, Delacroix deixou o recado de que falaria
comigo quando tivesse toda a papelada pronta.
Ele não especificou o tempo que isso poderia levar.
As roupas que não foram picotadas pelos capangas do
Mangiello estavam penduradas no armário. Sobrou uma calça jeans
e duas camisetas. Pareciam ter focado muita atenção na minha
gaveta de calcinha. Levaram tudo que era da Tate para o beco ao
lado, queimaram nossas fotos juntas, fazendo parecer que ela nunca
havia existido.
Tiraram meu direito de ter as coisas dela.
Uma batida soou na porta, olhei antes de abrir.
Patrick. Eu não sabia qual era o problema pessoal que tinha
com Mangiello, mas existia um. Não acreditava ser apenas um tanto
de honra que faria um homem como ele se importar com garotas
como eu. O chefe dele se importou tanto que quis algo em troca,
com isso eu podia lidar. Favores me deixavam completamente
desconfortável.
— O que você quer?
— Entregar parte da papelada para sua leitura e caso não
tenha ficado óbvio, você é livre para fazer uso do serviço de quarto.
Peça o seu jantar. — Ele deixou os envelopes na mesa e saiu.
Antes de ler, peguei o menu. Eu não comia há muito tempo.
Pedi a primeira coisa que apareceu na minha frente, sem muito
apetite.
Os papéis entregues por Patrick estavam em um envelope preto
com a letra D em um formato charmoso, marcando o centro. Dentro,
em toda folha havia uma marca d’água, que era DELACROIX. Sentei
no meio da cama, lendo cada item e usei um lápis para dar ok no
que concordava e riscar o que não concordava. Não havia um prazo
de validade, mesmo que ele dissesse ser apenas por uns meses, o
contrato era aberto e eu fiquei na dúvida se isso era bom ou ruim
para mim.
Talvez fosse ruim para os dois.
Comi lendo o contrato, que parecia interminável, mas se ele me
enviou com antecedência, significava que realmente queria a minha
leitura. O homem era rico e estava pagando por uma esposa, mas
por uma que não lhe enchesse o saco, fazendo exigências. Ele
queria sexo e se comprometia em me deixar sexualmente satisfeita,
além de encontros semanais - tudo pontualmente marcado, nada
espontâneo. Também dizia que eu seria a única mulher em sua
cama.
Em anexo, tinha seus exames, nenhuma doença sexualmente
transmissível e caramba, deveria ser muito bom ter uma boa
alimentação e acesso a cuidados, porque todas as taxas dele eram
incríveis. Ele solicitou que eu fizesse alguns exames também. Tirando
o fato de que eu não tinha DST, todo restante seria uma vergonha.
Eu não tinha oportunidade de ter hábitos saudáveis.
Peguei o preparo do exame e na manhã seguinte, Patrick me
levou a uma clínica. Eu me deixei levar nos procedimentos, sem
pensar muito na atitude drástica que estava tomando na minha vida.
Eu me encontrava a um passo de viver presa em um contrato em
troca de dinheiro e proteção, e no meu histórico fodido, era lucro.
Por dentro, não era como me sentia.
Eu não vi Delacroix por duas semanas. Entre médicos, um
banho de loja e ficar protegida no quarto do hotel, ele esteve fora do
país cuidando de alguns negócios internacionais. Ele assinou
primeiro. A linha esperando minha assinatura parecia que ia pular e
me enforcar, mas ele já havia feito mais do que havia prometido.
Entreguei as folhas assinadas para Patrick e respirei fundo, por
mais que mantivesse minha postura, eu sabia que por um tempo
indeterminado pertenceria a ele. Klaus Delacroix, poderoso, com
fama de perigoso, que tinha poder e controle sobre a vida de muitas
pessoas em Las Vegas.
— Vou viver aqui nesse quarto de hotel e ele virá quando sentir
necessidade? — questionei ao Patrick, sentando à mesa e comendo
morangos.
— Não, garota. Suas coisas serão levadas para a cobertura.
Como vai cuidar das refeições estando aqui se ele precisa de você
lá?
— Entendi.
A parte de dividir a vida com outra pessoa era muito
assustadora. Tirando Tate, vivi apenas com meus pais, depois, com
minha mãe e o marido dela. Olhei para a janela, me questionando
sobre o que meu pai diria ao me ver sendo uma puta particular de um
homem rico. Algo que ele, que sonhava que eu fosse independente e
estudada, nunca desejaria para mim. Eu odiaria envergonhá-lo.
De manhã, eu mal havia acordado direito quando uma equipe de
mulheres entrou organizando minhas coisas em malas e caixas para
fazer a mudança. Separei uma roupa bonita ao ser informada que
Delacroix me esperava em seu escritório. Escolhi um terninho preto e
um macacão branco, a roupa toda me deixava bem feminina e um
pouco social.
Cabelos escovados, de saltos altos e maquiada, segui Patrick
para o carro. Ele e mais dois seguranças andavam ao meu redor,
fazendo parecer que eu era uma artista famosa. Fui fotografada
apenas pela curiosidade e cobri meu rosto até sairmos. Conhecia o
prédio que ficava o escritório, nunca havia passado do quinto andar e
conforme o elevador subia, comecei a sentir náuseas. Era muito
alto.
O andar estava movimentado, muitas pessoas trabalhando e
andando de um lado ao outro. Patrick atravessou determinado e
bateu na porta. Klaus estava atrás da mesa, usando óculos de leitura
e com documentos em mãos. Entrei e fui para o canto.
Delacroix ergueu os olhos escuros como a noite e me encarou.
— Sente-se, Ziva. Eu não vou demorar. — Gesticulou para a
poltrona. Deixei minha bolsa de lado. — Chame Loretta, preciso que
atualize a minha agenda. Cancelei alguns compromissos.
Patrick deu um aceno e saiu, fechando a porta. Permaneci
quieta, ele parecia ocupado de verdade e não só fingindo para me
deixar intimidada. Toda vez que se preparava para falar comigo, o
telefone tocava ou sua assistente, Loretta, entrava com mais pastas
repletas de documentos que ele deveria assinar antes de ir embora.
Aproveitei a oportunidade para observá-lo e sim, ele era capaz
de tirar o fôlego sem fazer nada. Quando olhava, era mais de causar
medo, mas distraído era simplesmente bonito. Atraente para uma
garota de cidade pequena como eu, que perderia os sentidos com
apenas um sorrisinho de canto de boca.
— Você está pronta? — Ele pegou a jaqueta do terno e vestiu.
— Eu não sei para o quê, mas sim, estou pronta.
Esperava que ele não quisesse transar de imediato porque
havia uma parte do meu cérebro completamente em pânico.
— Vamos jantar e depois, casa.
Porra. Meu estômago estava em nós.
— Tudo bem, estou com fome. — Foi uma coisa estúpida de se
dizer. Ele riu e nada mais.
Saindo ao lado dele, senti todos os olhares em mim. Klaus
segurou minha mão, que foi engolida por entre seus dedos grandes
e, determinado, foi direto para o elevador. Apesar de toda a
sensação de poder, eu não conseguia me sentir ligada a ele, o
abismo social e emocional entre nós me dava vontade de correr na
direção oposta.
— O carro está na parte da frente — Patrick nos avisou.
— Eu não gosto de sair assim… — Klaus resmungou, olhando
para o relógio. — Esconda seu rosto com esse envelope — instruiu e
o peguei, percebendo que o saguão estava cheio porque alguma
celebridade devia estar chegando.
Patrick e os outros criaram um cordão humano para nos
conduzir e Klaus agarrou minha cintura, colocando-me à sua frente. A
maneira como ele me segurou foi uau demais. Era como se sentisse
sua mão em todo meu corpo, para entrar no carro foi a mesma
loucura e ele precisou me ajudar quando meu salto prendeu na
calçada.
Nunca pensei que um homem pudesse ser todo duro, com
músculos trabalhados, mas ele tinha uma coxa que poderia ser de
aço.
— Eu simplesmente odeio sair pela porta da frente, porra —
Klaus vociferou.
— Garagem em reforma, desculpa. — Patrick nos colocou no
trânsito e subiu a privacidade do carro. Quis bater nele, pois assim
eu teria que conversar com Klaus.
— Parece que teve um dia bastante agitado. — Fiz conversa, já
que sabia que não teria como fugir daquela situação.
— Todos os meus dias são assim. — Ele ajeitou as mangas da
camisa. — Está preparada para fazer parte disso?
— Não. — Fui honesta com uma risada. — É interessante ver o
mundo corporativo de Vegas funcionar. Não era algo que eu tive
acesso antes, mas parece ser muita coisa.
Ele riu comigo, de maneira suave e encantadora, fazendo com
que meus olhos não conseguissem desviar da beleza de seu rosto.
Inclinando-se para frente, pegou minha mão e a beijou, arrastando os
lábios com um sussurro sedutor que causou uma torção em meu
peito. Olhando em meus olhos, mordeu a pontinha do meu dedo
mindinho e aí sim, eu senti o puxão de excitação começando um fogo
lento em meu ventre.
O abismo pareceu um pouco menor.
Capítulo Cinco
Ziva
A comida na minha frente não era nada que eu esperava.
Imaginei que pessoas ricas comiam aqueles muitos pratos com um
grão de arroz no centro, mas Klaus me surpreendeu ao me levar
para um famoso, porém delicioso restaurante oriental, enchendo a
mesa com diversos itens. Ele parecia saber o caminho dos seus
favoritos, como era algo novo ao meu paladar, que só tinha comido
alguns sushis na vida, fui experimentando um pouco de cada.
— Esse é bem apimentado. Cuidado. — Ele apontou. Peguei
com cautela e cheirei, realmente, parecia bem picante. — Prove um
pouco para ver se gosta.
— Acho que vou passar isso. O que mais é gostoso e não tão
picante?
Ele me deu uma olhada, parando um pouco em meu decote e
arqueou a sobrancelha, me fazendo rir de embaraço.
— Prove o macarrão. — Colocou o bowl decorado na minha
frente e comi logo, para ocupar minha boca. Eu me sujei um pouco,
ele pegou o guardanapo de linho, limpando e bebi mais do drinque
gostoso, que não sabia o que era, para me ajudar a engolir. —
Prefere os crus?
— Eu gosto de comer, então, prefiro um pouco de tudo. —
Gesticulei para a mesa.
— Isso me fez lembrar dos seus exames. Talvez seja o momento
de uma dieta mais equilibrada, minha chef irá garantir que o menu
seja agradável para o paladar, mas que também seja saudável.
— Você é maníaco por controle até com a comida?
— Gosto de controlar tudo, foi a maneira que encontrei para que
a vida seja o mais perfeita possível. E sim, eu quero que você seja
saudável, pratique exercícios físicos e coma bem. — Ele ergueu o
dedo, sinalizando para o garçom muito discreto se aproximar. —
Traga água.
Sem um por favor ou qualquer tom de gentileza.
— Existe perfeição? — Arqueei a sobrancelha. — Na minha vida
essa palavra não existe. Ela apenas acontece, e em sua maior parte,
como um acidente de trem. Um choque épico e perigoso.
— Eu posso controlar toda a sua vida e talvez encontre um
pouco de perfeição. — Ele pegou minha mão, brincando com meus
dedos e o toque foi bem-vindo, não me senti mal ou inadequada.
Muito menos invadida.
— Acho que vou esperar para ver porque não acredito que o
controle possa garantir isso. Para mim, um homem controlador só
quer evitar o lado humano da vida e disso é impossível fugir. Nós
somos feitos de carne, osso e emoção. — Klaus beijou meu pulso.
— Se você quer sentir prazer, significa que existe uma parte do seu
coração que anseia ser humano.
— Sexo faz com que eu me sinta vivo, não vou negar nada
quanto a isso, mas todas as outras emoções podem ser boas para
pessoas normais. Não pense que eu não admiro quem tem amor e
família, muitos dos meus amigos são incrivelmente felizes com suas
esposas e filhos. — Ele se inclinou e segurou meu queixo. — Mas
existem pessoas que nascem destinadas a serem fodidas,
quebradas e isso, esse lado bom e normal, não nos pertence. Não
tente me consertar, Ziva. Não se apaixone por mim ou eu irei te
destruir.
— Eu não sei se sou capaz de me apaixonar, Klaus. Só quero
sobreviver.
— Ótimo. — Ele me deu um selinho suave. — Quer a
sobremesa?
Uma mudança brusca de assunto, que foi bem acolhida por mim.
Pedi sorvete, porque era o que mais gostava de comer e ele, algo
complicado com um bolo no meio que estava uma delícia. Eles
limparam a mesa porque um show oriental iria começar e mudei
minha cadeira, por estar de costas para o palco. Tudo ficou ainda
mais escuro.
Foi como estar no escurinho do cinema com o garoto que eu
queria beijar. A coxa dele ficou perto da minha, o braço no encosto e
o polegar fazendo um carinho no meu ombro. Ele pegou minha mão e
colocou na coxa, em meio às luzes e ao show, relaxei no lugar. Klaus
tirou meu cabelo do caminho, descendo a mão para minha cintura e
me puxou para mais perto.
A apresentação era um pouco de comédia e apesar de não
haver falas, apenas músicas e danças com luzes impressionantes,
era possível compreender as intenções. Em dado momento, eles
espirraram água do palco, eu me cobri, soltando uma risada e virei o
rosto, para ver se Klaus estava se divertindo. Sorrindo, ele não
estava, mas sua expressão era mais relaxada do que antes, uma
prova de que em algum lugar dentro dele existia um senso de humor.
Olhou para o meu rosto também, e seus lábios pareciam
convidativos, mas eu virei, surpresa com a minha vontade de beijá-lo.
Meu Deus, amolecida com um jantar e um aconchego no escuro. Eu
era mais carente do que imaginava. Havia assinado um contrato, era
meu dever apreciar e me entregar. Acariciei sua coxa, indo até o
joelho e apertei. Voltei a encará-lo e o beijei.
Klaus ficou surpreso, riu contra minha boca e aprofundou o beijo.
Ele beijava bem. Gostoso, explorativo e mesmo em público,
aquecido. Acariciei sua nuca, ganhando uma mordida no lábio e
suspirei, satisfeita por ter sido bom. Alguns minutos depois, o show
acabou, bebi mais água e saímos da mesa para irmos embora.
Na fila do elevador, ele ficou atrás de mim, mexendo em seu
telefone e eu como uma criança não querendo que a mulher nojenta
do outro lado entrasse na minha frente. Se ela estava me olhando
com desprezo, iria esperar a próxima viagem.
— Deixe de ser implicante — ele cochichou.
— Não. Ela está me olhando — murmurei, ajeitando minha
pulseira.
— Ela está vendo uma mulher jovem e bonita com um homem
mais velho. — Klaus beijou meu pescoço. — É você chamando
atenção.
— Será que está pensando que sou uma prostituta?
— Ela está pensando que eu sou um homem com quase
quarenta saindo com uma garota mais nova ou talvez, em levar uma
foto do seu rosto para um cirurgião plástico. Acredito que ela precise
— ele brincou e voltou para o seu lugar.
Soltei uma risada e cobri a boca, tentando ser discreta. As
portas do elevador abriram, Patrick sinalizou para entrarmos e parou
na frente, impedindo que tivéssemos companhia. Klaus e eu ficamos
sozinhos. Ele estava de um lado e eu do outro, encostado na parede
de metal. Com as mãos enfiadas nos bolsos, seu olhar subia e
descia.
— Por que está me olhando assim?
— Eu quero te beijar de novo — pontuou lentamente.
— Parece que você quer fazer isso há muito tempo pela maneira
que me olha…
— Eu te olho há meses, isso é um fato e não fiz questão de
esconder, para que soubesse das minhas intenções.
Ele não escondeu o quanto queria me devorar da cabeça aos
pés.
— Nunca entendi por que estava sempre me olhando.
— Porque eu te vi e desejei. A única coisa que podia fazer era
olhar.
As portas do elevador se abriram e eu olhei para fora antes de
encará-lo.
— Agora, você pode fazer mais — falei baixo e saí andando,
ciente de que seu olhar estava concentrado na minha bunda.
Caprichar no rebolado era meu dever como mulher.
Klaus estava acostumado a manipular seus jogos. Ele
transformava todos ao redor em peças para mover conforme queria
e eu não queria ser alguém conduzida por suas ações friamente
calculadas. Eu era uma garota acostumada a sobreviver, passei por
muito pior, medo, fome e frio. Não seria um CEO gostoso que me
faria sentir como uma mulher esmagada pela vida.
Eu cumpriria com o contrato e manteria minha cabeça erguida.
No carro, sentamos lado a lado. Ter o corpo dele por perto não
foi estranho como da primeira vez. Ele estava no telefone,
trabalhando e apenas relaxei, louca para tirar os sapatos e toda a
maquiagem. O trajeto até a cobertura foi silencioso e tranquilo,
Patrick parou na garagem e saiu primeiro, abrindo minha porta. Klaus
deu a volta, pegou minha mão e eu tentei memorizar o caminho, mas
foi bem rápido considerando que um vizinho chegou com a família e
Delacroix não era um homem sociável.
— Uau! É muito alto e sofisticado aqui. — Deixei minha bolsa no
aparador.
— Seja bem-vinda. — Ele tirou o terno e deixou no sofá. — Os
quartos ficam no segundo andar, meu escritório no fim do corredor e
do outro lado, minha academia privada. Eu treino na academia de
Hedrer, no centro, alguns dias por semana.
— Gosta de praticar luta ou de bater em pessoas? —
questionei, olhando para o pé direito e para o lustre perto da escada.
Era lindo. Uma decoração quente e agradável, parecia um lar
confortável, bonito. Estava encantada.
— É bom para tirar o estresse e bater em pessoas, só quando
necessário.
— Vou poder contar com seus punhos ou ter medo deles? —
Encostei no sofá.
— Eu não bato em mulheres, só se elas pedirem.
Ele estava andando e coloquei minha palma em seu abdômen,
impedindo-o de continuar. Klaus riu e eu fiz uma careta.
— Eu não vou pedir que bata em mim.
— Nem mesmo um tapinha quando estiver com essa bunda
empinada na minha frente?
— Hum… eu não sei? Não consigo pensar em como um tapa
pode ser sexy.
— Vamos voltar a esse assunto depois. — Ele beijou minha
bochecha. — Ainda tenho muito trabalho a fazer. Vou te mostrar a
casa para que fique à vontade. Tenho duas funcionárias, uma que
coordena a limpeza e outra que cuida da cozinha. As tarefas
determinadas no seu contrato começam amanhã, elas chegam
cedo.
Eu fiquei confusa. Ele não reivindicaria os direitos do que estava
pagando?
— Você não vai querer sexo hoje? — Franzi o cenho. Meus
nervos estavam à flor da pele, pensando em como tudo seria na
cama, e ele preferia trabalhar? — Suas coisas funcionam? Precisa
de um remédio?
Klaus explodiu em uma gargalhada que até ele ficou surpreso.
— Não é assim que funciona, maluca.
Fiz um beicinho. Não era nada doida. Ele segurou meu queixo,
dando uma lambida nos meus lábios e arrastou a boca pela minha
bochecha até o ouvido.
— Eu vou te foder, bem lento, bem rude e de todas as maneiras
possíveis, mas seu corpo precisa de um preparo. O meu também.
Sexo por fazer, eu contrataria uma puta da rua, se eu quis um
contrato é porque quero prazer e muita entrega. — Ele parou e olhou
em meus olhos. — Entendeu, Ziva?
— Entendi.
— Vamos para o segundo andar.
Mais aliviada de que não precisaria deitar na cama como um
porco com uma maçã na boca, subi atrás dele e fiquei ainda mais
encantada com os quartos. O principal era maior, acolhedor e o
closet, pertencia aos sonhos de toda garota. Minhas coisas, e muito
mais roupas do que eu tinha inicialmente, estavam alinhadas ali com
perfeição.
— Tenho uma reunião que começa agora, fique a vontade. —
Ele saiu, já com o telefone no ouvido. Será que pessoas ricas
também não dormiam?
Em todo caso, eu dormia. Peguei um pijama, fui tomar banho e
deitei na cama grande, tendo a vida de princesa que eu merecia ter.
Capítulo Seis
Klaus
Minha reunião terminou às três horas da manhã. Subi as
escadas, exausto, com a cabeça doendo e um tanto irritado que nem
tudo aconteceu do jeito que eu queria. O resultado geral foi bom.
Meu quarto estava parcialmente escuro e o abajur do meu lado da
cama estava aceso. Ziva entendeu que o canto vazio era o que ela
deveria dormir.
Descoberta, usava um pijaminha de seda, com a bunda
empinada e abraçada a um travesseiro. Ela estava dormindo muito
profundamente, chegando a ressonar. Tomei banho, cansado demais
para pensar em algo mais e me deitei nu. Ela iria descobrir como eu
era nu cedo ou tarde, não precisava bancar um homem com pudores
que não tinha.
Acordei com o sol no rosto, deixei as cortinas abertas para não
perder a hora. A cama estava vazia, meu relógio tocou e eu ignorei o
telefone, precisando de um tempo para acordar. Tomei um banho
gelado e vesti as roupas da academia, necessitado por extravasar
minha energia. Eu deveria ser uma das poucas pessoas na vida que
já amanhecia com raiva.
Desci as escadas e encontrei Ziva na cozinha, rindo com minhas
funcionárias. As três ficaram sérias quando me viram.
— Bom dia, Klaus. Gostaria do seu café agora? — Ziva deu a
volta pelo balcão e parou na minha frente. Ela usava um vestido
vermelho com bolinhas brancas, uma sapatilha e os cabelos presos.
Por que ela parecia tão perfeita naquela manhã?
— Eu vou malhar primeiro.
— Tudo bem. Eu tenho consulta médica, não sei se…
— Eu vou com você — avisei e fui para a academia.
Malhei sozinho por uma hora, comi sozinho porque Ziva já tinha
comido cedo e as funcionárias estavam ocupadas. Patrick entrou no
meu apartamento, pronto para sairmos e inclinou a cabeça,
mostrando que gostaria de falar comigo em particular.
— Mangiello pegou o dinheiro.
— Então ele não tinha lealdade com Paco.
O imbecil já estava na vala há algumas semanas.
— Ou talvez ele não se importe o suficiente para ficar sem o
pagamento. Avisei que deve ficar longe de Ziva e de todas as
garotas que trabalham para você.
— Esse bastardo deu as caras?
Patrick pareceu muito frustrado.
— Não. Um dos capangas que fez a coleta e ouviu nosso
recado.
— Mantenha os olhos abertos, sabe que ele pode querer se
vingar mesmo assim. — Ajeitei meu relógio e Ziva desceu as
escadas novamente, segurando uma bolsa e, dessa vez, com o
cabelo solto.
Ela estava cheirosa e pronta para sairmos. Eu queria estar
presente em sua consulta médica porque havia prometido que
cuidaria dela em todos os aspectos necessários, assim como ela se
comprometeu em ser minha em tudo. Não poderia cobrar sem fazer
a minha parte. Decidi dirigir, por estar irritado demais para ser
conduzido e ela segurou minha mão timidamente. Patrick iria nos
seguir.
— Esse carro é muito legal. — Ziva passou a mão no painel do
meu Maserati com admiração. Inclinou-se para olhar o volante e virou
para o banco estreito atrás. — É tão refinado. Combina com você.
Usa sapatos italianos e dirige um carro italiano. Você tem alguma
preferência pela Itália?
— Eu gosto da Itália.
— Seu sobrenome é francês, certo?
— Minha mãe é alemã e meu pai é francês, mas ele é filho de
uma italiana. Meus pais vieram para Vegas a negócios muitos anos
atrás e assim, eu nasci aqui — expliquei, ligando o carro. Ziva
assobiou para o som do motor. — Você gostaria de tirar habilitação?
O olhar esperançoso dela foi bem bonito.
— Eu adoraria.
— Falarei com Loretta para providenciar suas aulas.
Ela apertou minha coxa bem feliz e soltou um gritinho, como se
aprender a dirigir fosse a coisa mais incrível do mundo e não um ato
corriqueiro na vida de qualquer pessoa adulta. Pegamos um pouco
de trânsito para chegar ao consultório do cardiologista, era uma
consulta de rotina ou melhor, para saber se havia algo a ser tratado,
já que Ziva não passava por médicos há muitos anos.
O andar estava vazio, ela preencheu a ficha e entregou para a
recepcionista, que me deu um sorriso e uma piscadinha.
Ziva inclinou a cabeça para o lado, analisando e considerou se
iria falar alguma coisa, mas escolheu apenas perguntar onde
deveríamos aguardar.
— Você está acostumado com o assédio feminino? — Ela se
sentou ao meu lado. O tom não parecia ciumento, só curioso.
— Nem toda mulher faz alguma coisa, elas apenas olham e é
isso. Não arrancam pedaço. Isso vai te incomodar?
— Não sei. — Deu de ombros. — Não gosto quando homens
me olham. Uma coisa é olhar de admiração, de “nossa, que mulher
bonita”, outra é o olhar de “nossa, que pedaço de carne que eu
quero devorar sem a permissão dela”.
— Eu vou ficar muito incomodado se homens ficarem te olhando
— confessei. Ela apenas riu e me deu um olhar como se eu fosse um
homem bobo.
— Como disse: olhar não arranca pedaço, ou eu não existiria
mais de tanto que ficava me encarando feito um tarado — cantarolou
e eu ri, balançando a cabeça suavemente.
Uma enfermeira a chamou pelo nome, segurando uma
prancheta e ficamos de pé.
— Eu vou levá-la para fazer alguns exames, não será preciso
acompanhante.
Ziva entrou na sala e não vê-la trouxe um pouco de angústia,
ficar sentado em um corredor hospitalar, esperando, sem notícias,
me deixou ainda mais irritado. Eu precisava sair e bater um pouco no
saco de areia para conseguir me acalmar. Patrick se aproximou ao
perceber que eu não conseguia ficar parado, até mesmo meu
telefone lotado de mensagens não me distraiu. Eu queria entrar lá.
— Se eram só exames, por que estão demorando tanto?
— Ela vai aparecer, fique calmo. — Parei e olhei para Patrick.
— Não fique calmo. Quebre tudo então, porra.
— Quem não quer ficar calmo? — Ziva apareceu com uma
camisola de papel. Ela olhou para nós dois com expectativa e
desistiu de ter uma resposta. — Eu estou com fobia de ficar sozinha
na sala e ela disse que eu poderia pedir um acompanhante.
— Eu vou entrar. Isso poderia ter sido evitado se eu estivesse
aqui desde o começo.
— Não sei por qual motivo está dando um ataque, já estou
nervosa o suficiente, ela vai usar um negócio no meu peito para ver
meu coração. Eu detesto ser apalpada por médicos — Ziva reclamou
e guardei meu comentário de que se o médico a tocasse de um jeito
estranho, eu enfiaria a porrada nele.
Com ela voltando a deitar na cama, fui instruído a ficar do outro
lado. Felizmente, todos os exames mostraram estar tudo bem e não
existiam problemas cardíacos que deveríamos nos preocupar.
Saímos do consultório dentro do horário previsto, eu a deixaria na
cobertura e iria trabalhar.
— Estou me sentindo uma esposa de programas de televisão,
mas preciso saber. Vai estar em sua casa para o jantar? — Ziva
ajeitou o cabelo no reflexo das portas do elevador.
— Faltou o tom doce e a palavra "querido" na sua frase para
ficar ainda mais real — murmurei, sem desviar os olhos das
mensagens que Loretta me enviava, resumindo o que precisava da
minha atenção logo que chegasse ao trabalho. Também tinha um
idiota que foi pego contando cartas e a segurança aguardava meu
aval sobre o que fazer com ele.
A mídia andava em cima de mim, se outro babaca aparecesse
todo quebrado por tentar subornar a banca, mais uma vez meu rosto
iria parar nos noticiários e eu não queria exposição naquele
momento.
— Estou em treinamento, tenha paciência. Então, querido.
Estará em casa para o jantar? — Ela bateu os cílios para soar como
uma doce garota. — Acho que vou gostar de brincar de casinha.
— Provavelmente sim, avisarei mais tarde. Seu novo aparelho
de telefone será entregue daqui a pouco.
— Klaus?
Merda. Eu me virei.
— Camille.
— Seria ideal perguntar: como vai? Faz tempo que não nos
vemos! — Ela se aproximou e olhou para Ziva com o jeito ciumento e
desprezível de sempre. — Outra das suas caridades? Está cuidando
ou pegou para criar?
— Uma caridade não adestrada, querida. Eu mordo. — Ziva
deu-lhe um sorriso adorável e um olhar debochado.
— Não se meta nos meus assuntos. — Vociferei.
— Eu sou sua irmã e sim, vou me intrometer na sua vida
sempre que achar necessário. Quem é a garota?
— Minha namorada, Camille — esclareci. Por contrato, mas
minha irmãzinha não precisava saber de todos os detalhes. Ela abriu
a boca, em choque. Minha família me acusava de ser insensível
demais para me relacionar com uma mulher.
— Ela está com você por escolha? — Cami riu e virou-se para
Ziva. — Pisque duas vezes se precisa de ajuda.
— Deixe de ser ridícula. Eu tenho mais o que fazer.
— Eu sou irmã desse babaca, nós temos uma relação peculiar
e desculpe-me pela maneira que me aproximei. Klaus nunca tem
namoradas que pareçam pessoas normais, por isso já cheguei
atacando. — Ela tirou um cartão da bolsa. — Me ligue se precisar.
Ou me convide para um café. Vou adorar saber mais sobre você.
— Obrigada por me considerar normal, eu acho. — Ziva pegou
o cartão com a testa franzida. — Eu te chamo a qualquer momento.
Não aconteceria. No elevador, tentei pegar o cartão de suas
mãos, mas ela enfiou dentro do vestido, sorrateira.
— Acha que vai me impedir de meter as mãos nos seus peitos?
Eu não quero que fale com a minha irmã, estou avisando e é sério.
— Duvido que fará isso na frente de Patrick, onde eu poderei
mostrar meus mamilos para todos que estiverem nos observando
nesse elevador panorâmico. — Ziva deu de ombros, sentindo-se
muito esperta. Patrick tossiu para disfarçar a risada. — Além do
mais, esqueceu de colocar como cláusula no nosso contrato que eu
só posso falar com quem você quiser. Como isso não existe, acho
que um café com sua irmã vai ser maravilhoso.
— Eu disse que não e é melhor não me desafiar.
Ziva andou na minha frente, rebolando e ignorando
completamente o fato de eu estar bufando atrás dela. Tudo estava
indo bem até a intrometida da Camille aparecer. Minha família
sempre estava dando um jeito de foder toda a minha organização e
tirando a minha paz.
Capítulo Sete
Ziva
A mesa do jantar estava perfeita. Preparei salada e aprendi a
como fazer salmão. As duas funcionárias de Klaus eram divertidas,
curiosas e muito protetoras do patrão. Elas não deram com a língua
nos dentes em muitas informações, mas eu soube que trabalhavam
com ele há dez anos e seus filhos tinham escolas e faculdades pagas
pelo chefe. Ele as levava em viagens internacionais e já tinham
conhecido o mundo inteiro com Delacroix.
Ao descer, ambas já sabiam meu nome e quem eu era (a nova
namorada do chefe), mas não pareciam saber detalhes do contrato.
Eu era a segunda mulher a viver com Delacroix, a primeira, foi a
noiva, nove anos antes e nenhuma das duas me disse o que
aconteceu com o relacionamento. Pesquisei na internet e não achei
nada de mais. Ele deve ter pagado para deletar ou não teve um
escândalo.
Pronta para receber o homem da casa, coloquei um curto
vestido branco, com meus cabelos soltos e uma maquiagem leve.
Não quis calçar nenhum salto, optei por ficar descalça, a casa era
tão limpa que podia passar minha língua no chão. Justine e Maze
garantiam que o chefe não tivesse nada para reclamar, porque
aparentemente, era a atividade favorita dele.
Não era de admirar que buscasse pagar alguém para brincar
de casinha…
E bem, ele era um homem que dava vontade de brincar de
muitas coisas. Ao acordar, a primeira coisa que vi foi seu corpo nu.
Uma vez, Tate me contou que somente homens seguros de sua
masculinidade ficavam de pau mole na frente de uma mulher. A
maioria gostava de esconder e mostrar somente ereto. Não era um
problema para Klaus, porque ele dormiu nu e estava muito bem na
cama, parecendo um Adônis perfeito para ser adorado.
Os músculos que senti eram trabalhados de verdade. Quis
tocar. Aquele abdômen dava vontade de lamber de ponta a ponta. O
pau ganhou minha inspeção minuciosa, também. Ninguém mandou
ficar disponível para minha análise. A única coisa que me preocupou
um pouco era: se mole estava daquele jeito, de que tamanho ficaria
ereto? Se soubesse usar direito, talvez eu ficasse satisfeita. Tate
dizia que muitos homens não sabiam usar seus instrumentos.
Tentei me reprimir por gostar do que vi, por sentir excitação,
mas depois parei de bobeira. Eu era uma mulher, jovem, porém, com
sentimentos. Meu corpo não estava morto. Quando Klaus passou
pela porta, meu coração acelerou, provando que eu estava muito
viva. Deixei a taça de vinho ao lado e permaneci sentada no balcão,
vendo-o caminhar diretamente na minha direção, parando entre
minhas pernas.
— Começou sem mim? — Ele pegou a taça e virou o que tinha.
— Apenas para provar. Sempre me disseram que era bom.
Eu tinha certeza que o sabor estaria ainda melhor na língua
dele.
— Como foi seu dia? — Tocou minha coxa e acompanhei seus
dedos brincando com minha pele, subi o olhar pelo peitoral e agarrei
a gravata, para afrouxar.
— Consegui me ambientar bem. Ainda vai trabalhar ou eu posso
tirar?
— Tenho uma reunião de madrugada, mas pode tirar.
Soltei lentamente e abri alguns botões, ele passou o braço por
minha cintura e me puxou para si. Soltei um ofego com aquela
pegada, olhei para sua boca segundos antes de ele me beijar com
possessão. Sua mão foi parar no meu cabelo, manipulando meu
rosto e toquei seu pescoço, entregue, querendo me fundir àquele
corpo que pulsava junto ao meu. Encostando a testa na minha, soltou
um gemido suave com o arranhão na nuca.
Tudo meu latejava.
— Vamos jantar.
Maldito.
Ele não me deu espaço para descer do balcão, arrastei-me por
todo seu corpo e fiquei de pé, acertando o vestido. Klaus apertou
minha bunda, beijando meu pescoço e eu me senti sendo
transformada em gelatina. Quis perguntar se ele tinha certeza de que
eu não seria o jantar, afinal, eu era virgem, não pudica. Estava doida
para gozar e de preferência com ele.
Com a mão na minha cintura, me levou para a mesa e ainda
puxou minha cadeira. Estava ansiosa que provasse minha comida e
gostasse. Minha mãe cozinhava para o meu pai, eles trabalhavam
muito, mas o jantar era o momento sagrado deles. Um estava
sempre preparando a refeição favorita do outro e depois, dançavam
ouvindo as músicas de Elvis Presley no rádio. Éramos pobres, com a
vida simples, mas nunca faltou nada.
Já eu, me encontrava em um ambiente luxuoso e com um
homem que não me amava.
Por que o sentimento de aprovação insistia em aparecer? Eu
queria que ele me desse um elogio pelo meu esforço e em algum
canto da minha cabeça, uma luz vermelha de alerta acendia sem me
dizer exatamente o motivo pelo qual aquilo parecia errado. Essa era
a merda de ser inexperiente na vida. As respostas não apareciam de
graça.
— Está bom?
— Eu nem comi ainda, ansiosa. — Ele serviu salada no meu
prato. — Por que está pulando na cadeira?
— Nunca fiz esse tipo de comida antes.
— Eu sei e parece bom, então, sossegue.
— Parecer bom não é o suficiente. — Cutuquei um tomate-
cereja e arrastei no molho, comendo. Estava bom para mim.
— Se estiver ruim, vou dizer.
Não tinha dúvidas daquilo. Ele parecia não saber como elogiar.
Levei em consideração que comeu e repetiu, sem usar a bebida para
ajudar a engolir. Ou foi apenas tolerável. Ele não comia doces, mas
peguei um bombom de uma marca de chocolates cara para terminar
meu vinho. O telefone dele não parava de vibrar e ele estava
ignorando.
— Por que você trabalha de madrugada? Não é exaustivo?
— Nem tudo funciona no nosso fuso-horário e o mercado nunca
dorme. — Virou a tela para baixo, como se estivesse incomodando.
— Parece irritante não poder ter uma noite de sono completa
porque o mundo é incapaz de parar de fazer dinheiro.
— É assim que homens como eu ficam ricos.
— Eu quero viver bem mas não quero perder uma noite de
sono. — Estiquei minhas pernas e ele as pegou, colocando-as em
seu colo.
— Ter as duas coisas parece muito… — Apertou minha
panturrilha e subiu as mãos até a parte de trás da minha coxa,
arranhando um pouco antes de descer novamente. — Minha reunião
será no clube. Quer ir comigo?
— Tudo bem.
Eu não queria ficar em casa sozinha, nem considerava aquele
lugar como meu para começo de conversa e seria bom rever
algumas das meninas para conversar. Era ainda mais estranho não
estar pela cidade caçando Tate. Parecia que eu tinha muito tempo
livre.
— Vai precisar se arrumar?
— Eu preciso? — Joguei de volta. Ele engatou o dedo no meu
decote e puxou para frente, olhando para os meus seios e sorrindo
de lado.
— Coloque um sutiã.
Não falei nada ao levantar, levei minha taça comigo, coloquei
música em meu novo telefone moderno, do último lançamento e
escolhi um vestido ainda mais decotado, curto, com saltos
altíssimos. Escovei meu cabelo, escurecendo um pouco a
maquiagem. Ele entrou no closet e parou atrás de mim, me olhou e
disse que estava pronto para sair. Peguei a bolsa e o segui,
descendo a escada com cuidado.
— É melhor que eu não tenha nenhum vislumbre da sua
calcinha.
Ignorei.
— Ziva, porra.
— Sim, senhor — soei doce. Ele me encarou pelo espelho do
elevador e sorri, inocente. Seus olhos escuros estavam carregados
de uma seriedade que mostrava não estar brincando.
— Eu não quero nenhum filho da puta vendo o que é só meu. —
Segurou meu cabelo e expôs meu pescoço.
— Uma assinatura e já está todo possessivo? — provoquei com
um ofego, porque sua boca estava me fazendo querer lamuriar por
mais.
— O contrato me garante que você é minha e eu posso ser tão
possessivo quanto quiser. — Ele mordeu o lóbulo da minha orelha.
Virei e o beijei. Klaus levantou minha perna e pressionou a coxa
no meu centro. Soltei um gemido e fiquei toda arrepiada. Baguncei
seu cabelo e notei haver um pouco da minha maquiagem pelo rosto
dele, que limpei quando a porta do elevador se abriu. Ele só passou
a mão no cabelo novamente, segurando minha mão e nos conduziu
para o carro. Patrick iria nos levar.
No escuro do banco de trás, ele provocou minha perna com a
ponta dos dedos, subindo e descendo por minha coxa até a virilha.
Tomei a iniciativa do beijo, sem conseguir soltar minha boca da dele,
louca para pular em seu colo e me esfregar até satisfazer todos os
meus impulsos. Ao chegar no clube, parecia embriagada.
Entramos pelos fundos e eu senti todos os olhos em mim por
estar ao lado dele. Ally chegou a parar de atender a um cliente,
abrindo a boca e virando o rosto como se não me conhecesse.
— Mande um garçom para o camarote — Klaus ordenou a ela e
não parou.
Ally olhou nos meus olhos e ficou séria. Eu ignorei. Não podia
permitir que fizesse com que eu me sentisse pequena por estar com
ele, ela não sabia o que havia acontecido e não tinha o direito de me
julgar.
Parecia que estávamos em cima da hora, o grupo de homens
de terno já havia chegado, esnobes e bons demais para estarem ali.
Klaus não era o único acompanhado, a esposa de um empresário me
convidou para sentar com ela. Seu nome era Jenna e bebemos
champanhe juntas.
— Vocês estão juntos há muito tempo? — ela me questionou
com um risinho.
— Não muito. Por que?
— No começo do meu namoro, meu marido também me olhava
como se quisesse me devorar. — Ela riu e virei, olhando pelo meu
ombro. Klaus estava no lado mais escuro, com uma tela de
computador à sua frente, mas o olhar em mim. Era tão intenso que
eu não conseguia parar de pensar no quanto seu beijo era
avassalador, nas mãos me pegando com firmeza e o perfume
inebriante.
Dei a ela um sorriso e perguntei se queria dançar. Caminhamos
para a pista, ele me acompanhou com o olhar e sorriu de lado com a
primeira rebolada que dei. Se ele queria me deixar incendiada, eu o
faria pegar fogo primeiro. Vários homens começaram a se
aproximar, Patrick sinalizou que não e continuei dançando, jogando
meus braços para o alto e sensualizando como se estivesse no
palco.
Girei e parei de frente. Ainda no sofá, seu olhar atento em mim
era hipnotizador. Eu dancei de novo, mas só para ele. Sua atenção
estava toda em mim e não no trabalho. Klaus parecia pouco se foder
para aquela reunião.
Se estivéssemos sozinhos, não haveria nenhuma distância entre
nós.
Capítulo Oito
Ziva
Klaus ergueu o dedo e sinalizou. Eu ri. Desafiei.
Balançando a cabeça, falou alguma coisa com seu parceiro e
levantou, dando passos largos até onde eu estava, no meio da pista.
Passando o braço por minha cintura, me beijou, marcando território.
Agarrei-o de volta, ainda envolvida naquele feitiço.
— Pare de me provocar. — Mordeu meu queixo.
— É tudo que eu posso fazer. — Soltei uma risada.
— Eu tenho que trabalhar e depois, vamos embora. Comporte-
se — ordenou e fiz um beicinho, indo para o bar pegar uma nova
bebida. Pedi um drinque com champanhe.
— Você está namorando o chefe, garota? Me deixou aqui no
caos para subir de nível, estou ligado. Falando nisso, onde Tate se
meteu?
Peter, meu antigo chefe e barman principal, preparou minha
bebida fazendo conversa. Ele sempre foi muito gentil e paciente
comigo, principalmente na época do aprendizado.
— Algo como isso. E minha prima, está por aí. — Desconversei
e peguei o drinque, dando um bom gole. — Sabe onde está Ally?
— Foi para o escritório. Ela não pareceu muito feliz em te ver
com o chefe.
— E sabe o motivo?
Ele riu, limpando uns copos.
— Acho que todas as mulheres aqui gostariam de estar no seu
lugar.
Achava um motivo idiota, mas, eu entendia o choque. Saí em
um dia, fiquei semanas sem pisar no clube e voltei de mãos dadas
com o chefe. No entanto, não devia satisfações a ninguém. Ally abriu
portas para mim e sempre teve paciência quando se tratava de Tate,
mas, ela não sabia da minha história para ficar com raiva dos meus
atos.
Fui ao banheiro e ao voltar, Klaus segurou meu pulso,
convidando-me para sentar perto dele. Estava cansada e querendo
dormir, ele me ofereceu a jaqueta do terno e aceitei, cobrindo-me.
Fiquei quieta jogando no celular até terminar a reunião. Meus olhos
estavam pesados. Patrick e Klaus conversavam sobre o jogo que
não puderam assistir, reclamaram do placar e eu sorri para o único
assunto normal que presenciei entre eles.
Daquele modo pareciam amigos, não chefe e patrão. Eles
tinham intimidade e ficava bem nítido na maneira com que Patrick
falava com Klaus sem ser repreendido.
— Você está quase dormindo em pé. Como aguentava trabalhar
em dois lugares? — perguntou, já em casa.
— Confesso que era pura adrenalina, ficava muito cansada.
Quando não precisava buscar Tate, apagava. Ainda durmo pesado,
não consigo aguentar.
— Percebi ontem. — Ele riu e foi para o closet. — Você pode
dormir sem medo. Patrick é o único homem que entra aqui em casa
além de mim, o quarto dele fica no primeiro andar, mas ele só usa
em casos específicos. Tem um lugar só dele porque é solteiro e você
sabe…
— Pensei que tivesse uma namorada. Tem uma menina lá no
restaurante que é louca por ele — comentei, sentando no banquinho
e tirando as sandálias.
— Não conte isso a ele. Já se acha demais… — Klaus tirou a
roupa. Ele não tinha inibições e eu nenhuma vergonha em olhar. —
Preciso tomar um banho. Detesto esse cheiro de boate que fica
impregnado nas roupas.
— Eu vou em seguida. Posso trazer água para o quarto?
Ele me deu uma olhada.
— Pode fazer o que quiser. — Foi para o banheiro.
Desci rapidamente, vendo os alarmes piscando por causa dos
sensores e peguei duas garrafas antes de subir. Coloquei-as no
aparador e senti o cheiro de sabonete misturado ao barulho da água,
me deixando tentada a espiar. Curiosa, andei de fininho até o
banheiro e parei contra a porta ao vê-lo nu, de costas, com a água
caindo pelo corpo. Ele virou o rosto suavemente para o espelho e ao
me ver, abriu um sorriso convencido.
Voltei para o closet e pelo reflexo das portas do armário, vi que
estava toda embaraçada e afetada. Klaus foi para a cama e eu para
o banho, o que me acalmou um pouco. Usando um pijama de cetim,
que era uma delícia para dormir, parei na porta do banheiro e entendi
porque ele ainda não tinha me reivindicado. Além do prazer de me
cozinhar em fogo lento, eu não sentia mais o abismo, já havia uma
conexão.
Eu podia beijar aquela boca tentadora e tocar aquele corpo.
Ao invés de dar a volta na cama, passei por cima e ele me
segurou. Meu rosto ficou a centímetros do seu e me aproximei um
pouco, tocando meu nariz no dele. Nossos lábios se encostaram. Eu
montei em seu colo, ficando confortável. Klaus apertou minha bunda,
aprofundando o beijo, me enlouquecendo. Meu corpo parecia em
chamas. Eu queria tudo que nunca consegui fazer antes.
Segurando minhas coxas, ele nos rolou na cama, ficando por
cima sem soltar minha boca. Seus lábios pressionaram acima da
minha pulsação no pescoço, subindo a camiseta do pijama, expondo
meus mamilos ao ar frio do quarto. Observei com fascínio sua boca
brincar com meus bicos intumescidos, causando uma onda de prazer
incontrolável. Explodindo em gemidos, arranhei suas costas.
Klaus olhou em meus olhos. Ele sabia o efeito que causava em
mim e o quanto estava louca por ele. Tanto que não agiu como se eu
fosse uma garotinha virgem e indefesa na cama, tirou meu short e o
jogou longe, com um sorriso arrogante ao ver que minha boceta
estava ensopada sem que tivesse sequer tocado ali antes.
— Me faça gozar — pedi baixinho.
— Eu vou, bebê. — Arrastou o polegar pelo meu clitóris e soltei
um gritinho, automaticamente fechando as pernas por conta da
intensidade. Klaus beijou minha virilha, dando uma suave mordida no
interior da minha coxa, prolongando o tempo de tortura. Agarrei o
lençol, choramingando. Ele apoiou a mão na minha barriga,
mantendo-me no lugar e precisei segurar seu cabelo para que nunca
mais perdesse a sensação daquela língua entre minhas dobras.
Mordi meu dedo para conter as sensações. Meus dedinhos
dobravam e eu não tinha controle do fogo que consumia minha
corrente sanguínea. Era como uma droga, porra, queria mais.
— Pare. Eu quero te ouvir. Não se contenha, solte essa boca,
agora — ordenou com sua voz poderosa, o que trouxe um retumbar
dentro do meu corpo, ecoando e bagunçando tudo. Ele tinha tanto
poder sobre mim naquele momento que era impossível lutar então,
me rendi, gozando, desfalecendo como manteiga.
Ao mesmo tempo, quebrando e me despedaçando como
milhares de cacos de vidro.
Estávamos na ponta da cama e Klaus me puxou pelas pernas.
Ele me beijou e me sentei, colocando os pés no chão. Na minha
frente, reuniu meu cabelo e o segurou.
— Eu quero foder sua boca.
Sim, sim… porra, sim! Havia lágrimas não derramadas nos
meus olhos porque minha consciência estava oprimida com tantas
emoções. Ficando de pé, ele parecia um deus. Arrastando a cabeça
do seu pau contra meus lábios, o lambi, experimentando o sabor e
me preparando para recebê-lo da maneira que queria. Acumulei
saliva na boca e Klaus gemeu, me deixando dominar. Observando
minhas ações, me soltou, mas não era um expectador silencioso. Ali,
ele era muito capaz de mostrar o quanto estava gostando.
— Você é perfeita, porra. Chupe tudo. — Acariciou meu queixo.
— Gostosa.
Seu corpo demonstrou o gozo se aproximando, ele estava
entregue ao prazer tanto quanto eu e por esse motivo, pela emoção,
eu engoli tudo. Klaus me pegou e me beijou, caímos juntos na cama,
o que me fez rir. Era uma bagunça, minhas pernas emboladas com
as dele. Aquele encontro foi um nocaute mal calculado e ainda assim,
indescritível.
As batidas do meu coração acalmaram conforme seus toques
foram ficando mais suaves. Ele era o mestre e eu a orquestra,
seguindo aquele ritmo, hipnotizada pelo olhar intenso. Abraçados no
centro da cama, deitei minha cabeça em seu peito, gostando da
proximidade e adorando a carícia da ponta dos seus dedos no meio
das minhas costas.
— Por que Vegas? — ele questionou baixinho.
Meu estômago apertou.
— Tate queria Los Angeles, mas nós não sabíamos como
chegar lá, o primeiro ônibus nos deixou aqui e não tínhamos mais
dinheiro para nada. — Brinquei com os poucos pelos do seu peitoral,
tentando fazer um cacho. — Estávamos com fome. Chegamos no
inverno, era frio, a noite e a fome… — Parei de falar. Ele moveu os
lábios para a minha testa, apertando-me um pouco. — Ela achava
que seria como o filme Uma Linda Mulher.
— Tate escolheu a prostituição?
Minha prima era dois anos mais velha do que eu, se dizia mais
esperta e experiente, eu só tinha a ela para confiar. Sei que fez o
que achou melhor, mesmo que não concordasse.
— Eu não sei. Por quê?
— Quero entender o quadro geral da sua vida, Ziva.
— Boa sorte. — Soltei um risinho. — Por que um
relacionamento por contrato?
— Você já esteve em um relacionamento antes?
— Claro que não. Acho que lá na minha antiga cidade, o
namoradinho com quem só dei uns amassos e fiz sexo oral no banco
de trás de um carro não conta.
— Porra, não fale de outro te tocando.
Comecei a rir e ele grunhiu, por estar falando sério.
— Saia da era das cavernas. Sério, responda a minha pergunta.
Relacionamentos comuns são tão ruins assim?
— São imprevisíveis. Eu não tenho tempo para uma mulher
fazendo exigências, querendo tempo, desenhando planos futuros que
eu não quero para a minha vida. Por isso, eu prefiro determinar tudo
nas linhas de um contrato. — Acariciou minha nuca e assenti. Fazia
sentido, era mais prático e menos arriscado… se estivéssemos
falando de robôs e não de humanos.
Beijei-o, mudando de assunto e ele embarcou na minha, dando
mais um pouco do que eu queria antes de dormirmos.
Completamente nua, acordei sozinha na cama, com a cabeça
doendo. Olhei para o relógio e eram nove da manhã. Meu telefone
estava com o despertador desligado, o lado dele estava frio.
Levantei, tomei banho e me cuidei. Eu tinha que malhar uma hora por
dia devido ao contrato e decidi acabar com aquela tortura logo, para
ficar livre.
Desci as escadas, encontrando as funcionárias na cozinha,
Maze estava quieta, concentrada em um livro de receitas e Justine
sorriu.
— Deixei seu desjejum pronto. Quer agora?
— Acho que só depois, vou fazer esteira, ainda não estou
costumada com academia. — Soltei um bocejo. — Klaus já comeu?
Ele saiu?
— Está desde cedo no escritório com Patrick. Ele disse que
não deveríamos fazer barulho para não te acordar. Posso subir para
arrumar os quartos?
— Claro. Tem algum remédio para dor de cabeça?
— Encontrei isso nas roupas para lavar. — Justine me entregou
o cartão da irmã de Klaus. Eu li o nome bonito ali. Psicóloga. Ela era
linda, parecia com o irmão e um tanto agressiva. Devia ser coisa de
família.
— Eu vou guardar, obrigada. Estarei na academia.
— Tem certeza que é bom malhar sentindo dor de cabeça? —
Maze ergueu o rosto do livro, parecendo preocupada.
— Vai passar — garanti e segui para os fundos.
A madrugada anterior parecia um filme na minha cabeça,
repetindo incessantemente, causando efeitos no meu corpo e ao
mesmo tempo, dando um nó no meu cérebro. Sempre me orgulhei de
ter o controle de mim mesma, diferente de Tate, eu conseguia
manter minha cabeça no lugar mesmo nas piores situações. O medo
gritava nos meus ouvidos e ainda mantinha meus pés em movimento.
Só houve uma vez que paralisei e o gosto era amargo mesmo anos
depois.
Ontem não foi paralisia. Foi envolvimento. Ele avisou que seria
capaz de manipular minhas emoções. Klaus estava brincando com a
minha libido, ele sabia atiçar, apagar o fogo e me fazer atacar. Ele
era o mestre do jogo e isso o tornava perigoso para mim. Eu
precisava saber como limitar aquele poder e aprender a jogar
também, ou me tornaria uma mulher destruída quando nosso
contrato acabasse.
Capítulo Nove
Klaus
— Deixa de ser um pau no cu, porra — Patrick resmungou
porque eu não estava concordando em fazer o que ele queria.
— Não vai ser com o sangue quente que irá matar Mangiello —
avisei, ainda tranquilo no meu lugar. — Venturinni[2] me enviou uma
coisinha interessante.
— Pare de se envolver com a máfia.
— Eu vou me envolver com quem eu quiser. São meus
negócios, não se intrometa.
— Ao contrário do que pensa, somos amigos de infância, você
é a minha família. Lembra do que esse lunático fez quando a esposa
foi sequestrada?
— Com isso, ganhou minha admiração e um parceiro de
negócios. Um homem que honra e defende a família merece um
pouco mais de respeito por aquilo que faz. Não acha?
Patrick bufou, ele concordava meio que discordando. O que nos
tornava diferentes dos italianos mafiosos? Estávamos caçando um
traficante que ninguém sabia o rosto. Podia ser qualquer um ao
nosso redor, um empresário rico que inventou um codinome para
mandar nas ruas. Alguém que estava crescendo muito depois que os
sérvios foram exterminados na região.
— O advogado deu algum retorno sobre a questão de Ziva na
cidade?
— Por algum motivo, nunca chegou a ser procurada a nível
federal, o que me dá a sensação de ser armação. Ela já falou sobre
isso? — Patrick pegou o telefone.
— Não. Só age como se fosse culpada.
— E se foi? Ela teve muitos motivos para fazer o que fez. —
Dei de ombros. Eu não me importava que Ziva pudesse ser
considerada assassina. Se ela matou, foi necessário. Se não matou,
pelo que sabia, deveria ter matado.
— Eu nunca vou entender essa merda. — Patrick balançou a
cabeça.
— Homens são perigosos apenas por serem… homens.
— Tenho que sair. — Ele levantou e foi embora, precisando
fazer coisas que pedi na rua. Eu não iria trabalhar no escritório
naquela semana porque minha sala estava passando por reformas e
eu não queria ficar na barulheira.
Patrick deixou a porta aberta e pude ver Ziva deitada no chão
da academia, mexendo no celular. Ela não percebeu que eu estava
observando-a enrolar nos exercícios. Entre cada aparelho, passava
dez minutos rindo de vídeos na internet e bocejando. Preguiçosa. Eu
ia bater naquela bunda se ficasse de corpo mole para praticar
exercícios físicos.
Não resisti e saí do meu lugar, atravessei o corredor e a peguei
no meio de um alongamento bobo.
— Eu vou contratar um personal.
— Não… — choramingou meio rindo, ciente de que a peguei de
enrolação. — Eu vou fazer tudo certinho sozinha.
— Usando pesos de dois quilos?
— Não julgue os meus métodos, minha bunda não balança.
— Deixe-me conferir de perto. — Puxei-a para os meus braços
e apertei sua bunda. — Vou trabalhar em casa essa semana. Não
seja uma distração.
Ela apenas sorriu, diabólica, ali naquele momento eu soube que
iria atentar meu juízo. Começou ao aparecer de banho tomado,
usando uma camiseta curta e larga, sem sutiã e um short de tecido
folgadinho, com as pernas e barriga de fora. Ofereceu-me um
sanduíche e deixou o copo, roçando o peito no meu braço.
Depois, encontrei-a deitada na poltrona longa da sala, lendo um
livro com uma expressão muito concentrada.
— Não tem nada água com açúcar nessa casa não? Eu não
entendo de economia política — reclamou, irritada de verdade.
— Não é uma leitura difícil, mas você pode comprar quantos
livros quiser.
— Já acabou seu trabalho? — perguntou com uma voz
manhosa.
— Não.
Com um beicinho, voltou a ler, resmungando que eu parecia um
velho. Para os padrões dela, eu era velho. Tínhamos quase vinte
anos de diferença. Na idade dela, eu era inconsequente, maluco
radical, só queria aprontar e viver a vida alucinadamente sem
nenhuma responsabilidade. Ziva era muito mais tranquila que eu e
meus amigos. Podia ser dela mesmo ou a vida que a fez pisar no
freio e ser muito madura antes do tempo.
Quando anoiteceu, ela ficou no quarto por horas depois que eu
tomei banho após malhar. Ao descer novamente, estava com uma
calça de pijama caída no quadril e um top de mangas, o cabelo
preso e me deu um sorrisinho ao passar para a cozinha. Fez alguns
barulhos e já que estávamos sozinhos, não resisti.
— Não estou sendo uma distração, é você que é curioso e está
vindo atrás de mim — ela falou e enfiou uma colher de sorvete na
boca. — Quer? Acho que não vai conseguir trabalhar em casa.
Não falei nada e voltei para o escritório. Ziva passou o dia
inteiro inquieta, agitada por estar excitada. Sabia que não
conseguiria parar de pensar sobre a noite anterior, na agitação dos
lençóis e no quanto a provoquei intensamente até chegar ao ponto de
que não conseguia pensar mais. Eu não iria fodê-la até que parasse
de se julgar. Ela não estava totalmente entregue, ainda pensava que
nosso relacionamento a colocava em uma posição de prostituta.
Ser minha, integralmente, devota e intensa ainda levaria um
tempo e eu podia esperar, nosso contrato não tinha um prazo
estipulado. Para o sexo, faltava pouco para que eu dominasse sua
mente e o desejo. Eu a queria exatamente daquela maneira,
passando pelo escritório, me olhando e pensando se podia entrar e
me beijar.
Decidi dar a ela um refresco.
— Ziva?
— Sim? — ela respondeu da sala, provavelmente deitada no
sofá. Apareceu segundos depois, com o pote na mão e a colher
enfiada dentro.
— Agora eu quero um pouco do seu sorvete.
— Na colher ou na minha língua?
Maldita mulher.
— Vem aqui e eu vou decidir onde irei provar o sorvete. —
Sinalizei, ela entrou na minha sala com cuidado e agarrei seu quadril,
colocando-a sentada à minha frente na mesa. Peguei o pote, que
estava quase no fim, e levei uma colherada à boca, saboreando.
Ziva arqueou a sobrancelha, esperando o que eu ia fazer.
Pinguei algumas gotas em sua barriga e lambi, e depois mordi.
Estremecendo, apoiou as mãos ao lado do corpo. Subi sua
camisetinha, passando a colher um pouco cheia no biquinho.
— Ai, porra! — Ela soltou um gritinho e depois gemeu com
minha língua. Repeti o mesmo do outro lado, lambi até que os seios
ficassem inchados e marcados com a minha barba para fazer.
— Estou satisfeito com a minha sobremesa tardia. — Dei-lhe
um beijinho na boca. — Preciso trabalhar agora, bebê.
Sua expressão furiosa quase me fez rir. Ela saiu da mesa,
batendo os pés e a porta. Ri sozinho, voltando a me concentrar no
computador e deixei que as horas passassem até terminar tudo o
que tinha pendente. Já bem tarde, apaguei as luzes, subi e ela
estava dormindo. Deitei ao seu lado e, durante o sono, ela se
aproximou, mais à vontade em ter contato na cama do que na
primeira noite.
Fui acordado com um suave gemido no meu ouvido e um
movimento leve ao meu lado. Abri os olhos e me deparei com a cena
mais deliciosa da minha vida: Ziva estava se tocando. Ela virou o
jogo. Não tinha planejado tocá-la naquela noite, para aumentar sua
necessidade por mais, mas ela mostrou que não era mulher de
esperar pelo prazer. A descoberta foi divertida e prazerosa.
— Eu posso fazer parte dessa festinha?
Ziva me deu um olhar insolente.
— Depende. Você me deixou assim de propósito e ainda quer
participar? — Ela tirou os dedos molhados da boceta e segurei seu
pulso, lambendo, apreciando o gosto. — Não conseguia dormir.
— Bom saber. — Beijei seu pescoço. Empinando a bunda no
meu pau, ela deu uma breve rebolada. — É ótimo saber que te deixei
tão louca e necessitada ao ponto de perder o sono.
— Eu já gozei, obrigada. Vamos dormir?
Puxando o edredom sobre nós, beijou meu braço e quis ficar de
conchinha. Perdi o show completo, mas também voltei a dormir
segurando seu peito. Pela manhã, o primeiro raio de sol nos acordou
e estávamos em outra posição. Ela jogou o cabelo para o lado e fez
um beicinho, ainda querendo dormir mais.
Peguei o controle para descer a persiana, o quarto ficou
completamente escuro e voltamos a dormir.
— Não tem que levantar agora?
— Estou precisando dormir mais uma hora. — Deitei sua
cabeça em meu peito.
Ziva despertou algum tempo depois, ficou com a mãozinha boba
pela minha barriga e desceu para o meu pau, acariciando até
finalmente segurá-lo. Deixei que soubesse que eu estava apreciando
aquilo, não me incomodava que tomasse a iniciativa, até gostava.
Enquanto ela beijava meu pescoço, abaixei a calça, liberando meu
pau para que pudesse tocá-lo com mais liberdade.
Escorregando para debaixo do edredom, Ziva fez um showzinho
com a língua antes de me levar à boca e tentar uma bela de uma
garganta profunda. Segurei seu cabelo, sentindo tanto tesão que
minha mente estava em branco, mas o boquete dela era bom de
verdade. Ela se entregava e me chupava com gosto.
Gemi, trincando os dentes, e ela sabia que eu iria gozar, então
se preparou para receber toda a minha porra. Querendo me
provocar, brincou com ela na língua antes de engolir.
— Eu odeio o gosto dessa merda, mas adoro o olhar que você
faz.
— Me sinto ainda mais possessivo, o que me faz ter residência
fixa nas cavernas.
— Vai me puxar pelos cabelos? — Engatinhou em cima de mim.
— E dar tapas na sua bunda também.
— Hoje é o dia do nosso encontro semanal. O que faremos?
Quero saber o que vestir…
— Considerando o quanto estou com tesão e louco para
empurrar meu pau nessa boceta, que sei que está meladinha agora,
use nada e deite na cama. — Segurei seu rosto e a beijei com
tranquilidade. — Vou te levar para jantar. Quero que conheça meu
restaurante favorito e coma do melhor que o chef irá preparar.
— E se eu não quiser sair?
— A expectativa está te matando, é? — Apertei seus peitos e
beijei entre eles.
— E se eu desejar transar agora?
— Boas coisas vêm para aqueles que esperam. — Esfreguei
meu nariz no dela.
— O que você quer? Me fazer implorar ou…
— Quero que não pense no que o sexo significa no nosso
acordo, quero sexo entregue de verdade, você está com tesão, mas
ainda está presa ao contrato.
— Está me deixando confusa.
— Quando pensa em dormir comigo, ainda sente que é uma
prostituta?
Ziva ficou ruborizada, mas parou para refletir.
— Antes, sim. Era muito sobre a Tate dormir com um homem
por dinheiro. Agora, acho que já entendi sobre o contrato e o porquê
dele ser importante para isto funcionar entre nós. — Ela olhou em
meus olhos. Inclinei-me e a beijei, satisfeito que havia entendido que
o nosso pacto era mais intenso e profundo. Aquelas linhas em um
papel com a nossa assinatura, só garantiam a segurança física e
emocional.
Capítulo Dez
Ziva
Patrick chegou durante o café e a expressão dele não era de
bom dia. Klaus ofereceu um lugar a ele e dei um sorriso, não sabia
ao certo se era um problema comigo, mas parecia que não, era
apenas estresse do trabalho. Era ele quem lidava com os
espertinhos contando cartas ou tentando burlar a banca, em Vegas,
os cassinos sempre ganhavam. A ilusão dos turistas de que podiam
vir para a cidade tentar enganar as regras era o que mais matava
pessoas.
Terminei de comer, lavei a louça e os deixei conversando na
mesa de jantar. Maze já estava preparando o cardápio da semana e
Justine pegando as roupas sujas. Recebi o cronograma da
floricultura, tentando me inteirar da rotina da cobertura e cuidar de
tudo como Klaus precisava. Entendia serem detalhes idiotas que não
eram necessários para ocupar a cabeça dele. Afinal, eu não tinha um
império para comandar e ele sim.
Malhei, dessa vez sem enrolar tanto, mas ainda perdendo
tempo olhando os vídeos engraçados da internet. Klaus bateu na
minha bunda, dizendo que era preguiçosa e fingi que não ouvi. Eu me
arrumei para sair, precisando me preparar para mais tarde porque
estava cheia de planos maliciosos.
Deixei minha bolsa em cima da mesa, dei uma última olhada no
espelho e bati na porta do escritório. Eles pararam de discutir
acaloradamente. Patrick abriu a porta.
— Preciso ir ao centro… posso ir sozinha?
— O que precisa fazer no centro? — Klaus ignorou a minha
pergunta, fazendo outra. — Eu não lembro de nenhum compromisso
agendado hoje além do nosso mais tarde.
Apesar da naturalidade e por se referir ao jantar, fiquei
ruborizada. Evitei olhar para Patrick.
— Preciso ir a uma espécie de clínica.
— Você tem uma consulta agendada que eu não saiba? — Ele
me deu o olhar que descobri que me enervava.
— Vou dar licença porque acho que a resposta é íntima. —
Patrick me deu um sorrisinho e saiu, fechando o terno.
— O que estavam discutindo? — Encostei na parede,
analisando-o. — Era sério?
— Coisa de trabalho. Então?
— Precisarei falar de todos os compromissos que tiver na rua
com os mínimos detalhes? Existe um limite para intimidade e
segredo, sabia?
— Não entre nós. O que vai fazer que eu não posso saber? —
ele rebateu e o joguinho da conversa ficaria exaustivo, já que ele
parecia ser do tipo que não desistia nunca. — Acho que posso te
ouvir melhor se sentar aqui no meu colo.
Eu me rendi, atravessando a sala e dei a volta na grande mesa,
passando o braço pelo seu ombro e me acomodando em seu colo.
Ele me deu um beijo, cheirando meu pescoço e encarou meu
decote.
— Será que eu posso deitar aqui e ficar? — brincou, dando um
beijo em cada monte.
— Como hoje à noite teremos um encontro, eu queria comprar
umas coisas e fazer uma necessária visita ao centro de estética para
fazer minhas unhas, cabelos… e me depilar.
— Não parece nada de errado, mas se é o que precisa, quero
torturar Patrick, por isso, ele vai te acompanhar. Entre em todas as
lojas femininas que conseguir.
Klaus me deu um cartão de crédito logo que nosso contrato foi
assinado e eu nunca perguntei se tinha um limite. Não parecia ter,
percebi isso conforme fui passando nas lojas, comprando uma bolsa
de luxo, um vestido magnífico e sapatos dos sonhos. Era a minha
primeira vez e meu namorado por acordo era rico, então, meu lado
princesa adorava ser mimado.
Patrick soltou um grunhido quando entrei na clínica de estética.
Cheio de mulheres, ele era o único homem grande, usando terno e
gravata, parecendo deslocado. Eu fiz as unhas ouvindo a mulherada
falar mal dos homens, deixando-o com as orelhas vermelhas. Fui
servida com champanhe e canapés chiques.
A depilação a cera não foi a parte mais divertida, em nenhuma
das áreas que eu solicitei, mas gostava da sensação da pele lisa.
Comprei novas maquiagens, deixando os braços de Patrick cheios de
sacolas. Ele não parecia cansado quando sinalizei que iria entrar na
livraria, queria ter acesso a títulos não chatos na cobertura quando
tivesse tempo para ler.
— Por que Klaus me pediu para que entrasse no máximo de
lojas femininas que conseguisse? Você tem vergonha? — Peguei um
livro de romance e coloquei na cestinha.
— Ele quer me irritar.
— Parece que sempre consegue.
— Não me importo de te acompanhar, o importante é mantê-la
segura, pode não parecer, mas Klaus também tem inimigos.
Klaus me disse que a dívida foi paga e não entrou em mais
detalhes, como se não fosse da minha conta. Eu não me preocupava
em não estar segura, porque a cobertura tinha um forte esquema de
alarmes e sensores, além dos carros blindados e os inúmeros
guarda-costas. Mangiello teria um pouco de dificuldade de chegar
perto de mim, se é que depois de receber o dinheiro ainda
mantivesse algum interesse.
Ele arrumaria outra garota indefesa para perturbar.
Ao chegar na cobertura, coloquei música no quarto. De porta
fechada, me preparei para jantar no restaurante mais caro e muito
exclusivo de Vegas. Ouvi falar dele algumas vezes e não dei atenção,
porque sempre foi um lugar inatingível para mim. Eu nunca me senti
tão bonita. Parecia uma garota que nasceu rica, herdeira de milhões.
Dinheiro fazia toda a diferença no cuidado pessoal…
Não deixei que ele me visse, quando entrou no banheiro, fugi do
quarto para a sala. Nervosa, decidi beber um pouco para relaxar
meus nervos, as expectativas para minha primeira vez nas alturas.
Ouvi tantas coisas sobre sexo que fiquei com inveja das outras
meninas, porque depois da fuga, perdi o direito de viver etapas da
vida como uma mulher normal. Fui obrigada a amadurecer e ao
mesmo tempo, retardei uma parte natural, que era de me apaixonar,
entregar, ter meu coração partido, falar mal dos homens com minhas
amigas e ouvir músicas tristes como se estivesse em um videoclipe.
— Você está pronta? — Klaus questionou do topo da escada.
— Creio que sim. — Soltou um assobio e me comeu com os olhos.
— Porra, talvez eu nem tenha como dizer o quanto está linda.
— Você está… bem. — Fiz graça só porque ele tinha
dificuldade de elogiar e foi merecido. — Gosto quando usa preto.
Fica sexy.
— Nada se compara a você. Acho que vou deixar o jantar para
outro dia… — Klaus beijou meu pescoço e deu uma mordidinha, me
fazendo rir com o apertão no meu bumbum. — E essa calcinha?
Deixe-me vê-la.
— Ah, não! Deu muito trabalho ficar assim… — Ajeitei sua
camisa e o beijei. — Vamos, está na hora da reserva. Vai dançar
comigo?
— Eu não vou te soltar, pode apostar nisso. — Fomos andando
abraçados para o elevador e Patrick apenas sorriu, nos dando
privacidade para descermos sozinhos.
— Não sou boa com apostas. Sabia que nunca joguei?
A expressão dele foi impagável.
— Morando em Vegas, nunca tentou a sorte em uma máquina
antes?
— Nunca. Toda moeda que tinha era contada e não para perder
para quem já tinha muitas. Eu não acredito na sorte e sou péssima
em contar cartas.
— Eu adoraria te pegar contando cartas — sussurrou em meu
ouvido.
— Faria questão de me punir pessoalmente, não é?
— Porra, sim. Talvez eu te amarrasse na sala de interrogatório
e bateria na sua bunda, até que implorasse para te foder.
— Que fantasia safada. — Puxei os cabelos de sua nuca.
— Acho que vou começar a noite um pouco diferente hoje. —
Ele sorriu contra minha boca e apertou o botão para parar o elevador
pouco antes de chegar no andar da garagem. A luz diminuiu, ele caiu
de joelhos na minha frente e subiu meu vestido.
— O homem quando quer ver uma calcinha não desiste… —
Apoiei minhas mãos nos aparadores. Ele não se deu ao trabalho de
negar, dando um beijo em cima da renda trabalhada, passando
minha perna por cima de seu ombro e afastando o tecido da calcinha
para o lado. — Ai, meu Deus! — Cobri meu rosto, gemendo,
incrédula que ele estava me chupando no elevador só por causa do
efeito que meu visual arrumado causou. — Oh, Klaus!
Ele murmurou um som de apreciação com a boca nos meus
outros lábios, lambendo, dando uma chupada maravilhosa no meu
clitóris. Deixei minha bolsa cair no chão, segurando o cabelo dele ao
gozar e batendo no espelho. Klaus levantou, ajeitando a roupa,
voltando a ficar impecável mas seus lábios brilhavam. Ele me
pressionou contra a parede, beijando-me e ao mesmo tempo,
abaixando a saia do meu vestido.
Coloquei minha calcinha no lugar, extasiada, peguei minha bolsa
e tentei parecer que não estava caminhando nas nuvens. Minhas
pernas estavam bambas.
Nós mal conseguimos manter nossas bocas longe durante todo
o trajeto. Ao chegarmos, ele precisou ajustar o pau na cueca, puxou
o terno um pouco para baixo e me fez caminhar na frente dele. Klaus
era um homem conhecido, foi abordado por diversas pessoas até a
nossa mesa. O ambiente era requintado, estava cheio, uma mistura
de boate com restaurante refinado. As garçonetes eram lindas,
cabelos perfeitos, saltos altos e roupas coladas.
Alguns garçons me deixaram bem distraída também.
— Precisa sair de um catálogo de modelo para trabalhar aqui?
— Comporte-se…
— Olha as coxas daquela mulher, me faz parecer montada em
dois palitos. — Apontei e ele riu, sinalizando para pedir nossas
bebidas. — Puta merda. — Quase sufoquei com o homem
mascarado que parou para nos atender. Klaus apertou minha coxa,
fazendo o pedido e escondi meu rosto no cardápio ao perceber que
o homem riu do meu embaraço. — O quanto preciso malhar para
ficar com aquele corpo?
— Se parar de gastar trinta minutos assistindo vídeo deitada no
chão da academia, talvez consiga em pouco tempo — Klaus
comentou com um risinho.
— Ei! Pare de implicar comigo! — Cutuquei-o e percebi que
estávamos longe demais um do outro. Ele analisou a distância e
segurou a parte de baixo da minha cadeira, arrastando-a para seu
lado e organizando os lugares à minha frente. — Acho que está bem
melhor assim.
A chupada no elevador só me deixou mais excitada e louca para
comer logo, ir embora e ter mais daquela onda incrível que se
chamava orgasmo. Talvez estivesse me tornando uma viciada. Klaus
arrastou o nariz por meu pescoço, sussurrando que eu estava linda e
o quanto me queria, a confissão trouxe um sorriso para meu rosto,
mas uma mulher parada no fundo do restaurante com o olhar fixo em
nós tirou toda a minha concentração com o arrepio de medo que me
causou.
— Você está bem? Ficou tensa… — Klaus segurou meu queixo.
— Eu vi uma mulher me encarando e ela me deixou
desconfortável.
— Quem? — Ele virou, procurando e não a encontrei mais.
— Não a conheço, é bobeira minha, desculpe. Volte com sua
boca aqui e diga aquelas belas palavras para fazer o meu dia. —
Puxei-o novamente e com um sorriso, voltamos para a nossa bolha
perfeita.
Capítulo Onze
Ziva
Klaus estava do outro lado da mesa da sala de jantar, com um
sorriso divertido para minha maneira quase sonhadora. Eu segurava
minha caneca cheia de café preto sem açúcar, para me manter
acordada depois de uma noite inteira em claro. Culpa dele, que
depois do nosso encontro, acabou realizando meus sonhos mais
bobos de menina. Fechei os olhos e lembrei de sua boca
pecaminosa me fazendo choramingar por mais, no quanto fiquei
molhada e tive prazer em sentir aquele pau todo dentro de mim.
A parte da virgindade foi meio chata, doeu, mas não
exageradamente. Talvez pela bebida, pelo quanto queria, pela forma
que ele era capaz de me deixar subindo pelas paredes, tomada por
tanta excitação que eu não conseguia pensar direito. Olhei em seus
olhos e sorri, envaidecida, satisfeita e um tanto otimista de que sexo,
definitivamente, nunca seria um problema para nós dois.
— Pare de me olhar assim ou eu te levarei para o quarto
novamente — ele determinou, pronto para sair, já que tinha uma
reunião do outro lado da cidade.
— É com essa ameaça que quer que eu pare? — Deixei minha
caneca na mesa.
Ele me chupou no elevador e a primeira coisa que fez ao
amanhecer, depois de termos dormido apenas uma hora e meia, foi
me fazer gozar. Como ele queria que eu parasse?
— Mais tarde eu sou todo seu. — Ele pegou minha mão e
beijou a palma. — Está pronta para sairmos?
— Vou escovar os dentes, para tirar o gosto do café da minha
língua e já volto.
— Não demore.
Subi as escadas rapidamente, organizando minha bolsa e
escovei os dentes. Ao descer, ouvi Klaus falar ao telefone:
— Já te disse para não me ligar — ele disse baixo. — Não te
interessa quem ela é, o que faço da minha vida não é mais da sua
conta, Gisele. Eu te deixei em paz, agora está na hora de fazer o
mesmo.
Com quem estava falando?
— Ziva! Não quero me atrasar! — ele gritou e fiz barulho na
escada.
— Estou aqui, vamos.
Quis perguntar quem era, mas não podia. O maldito contrato
me impedia de ser curiosa, porque Klaus tinha o direito de manter o
que quisesse de sua vida reservado e eu não podia fazer perguntas
sobre o passado. Como além de sua ajuda, eu não queria que ele
futucasse o meu, aceitei prontamente. No entanto, seria uma mulher?
Algum antigo relacionamento? A ex-noiva, talvez?
Ele conversou com Patrick por todo o caminho e eu fiquei
quieta, fingindo ler no meu telefone para disfarçar o quanto a ligação
me incomodou. Ao chegarmos em um dos seus hotéis, entramos
direto no estacionamento e o elevador estava parado, esperando-
nos para nos levar até o penúltimo andar. A sala de reuniões estava
cheia, os funcionários ansiosos, falando e ele entrou, assumindo seu
lugar.
Loretta me deu um sorriso, me chamando para ficar ao lado
dela. Ela sempre foi simpática comigo apesar de ser toda mandona
com Patrick.
Klaus queria que o acompanhasse o dia inteiro e tudo que eu
sentia era sono. Desejei descer para um dos quartos e tirar um
cochilo.
— Onde posso pegar um pouco de café?
— A sala da copa fica na segunda porta à esquerda. — Loretta
apontou.
Deixei minha bolsa na cadeira e fui só com o celular. Klaus me
acompanhou com o olhar, sem nem disfarçar que parou de prestar
atenção na apresentação e sinalizei para que ficasse tranquilo. Eu
não ia fugir. Encontrei a copa e a máquina era como a do clube, fácil
de preparar um expresso duplo. Tinha um monte de copos térmicos
dos bons no canto.
— Viram a namorada do chefe? — Ouvi uma mulher comentar
no cômodo ao lado. — Típico de homem rico. Ela é nova e linda.
— Ele é lindo e gostoso, claro que iria namorar uma mulher
bonita. Esse povo se atrai feito ímã — outra respondeu com uma
risada. — Achei que ela é muito educada e simpática. Namorando
um homem rico como ele, poderia ser esnobe e nos olhar como se
fôssemos apenas pobres mortais.
— E não é o que somos? — Elas riram juntas.
— Fico feliz em saber que ele tem alguém. O chefe é todo sério
e bravo, parecia infeliz muitas vezes, então, ver que ele é capaz de
sorrir para uma pessoa me faz acreditar que tem um coração
humano.
Sozinha, ri para mim mesma, eu não era a única a pensar que
ele era um robô. Voltando com meu café, percebi que Patrick estava
indo ao meu encontro.
— Não brigue comigo, é ele que não se aguenta.
— Eu só preciso ficar acordada. — Mostrei o copo.
— Não quero comentar sobre isso. — Patrick riu e voltou para o
seu lugar.
Dei a língua para Klaus, para que deixasse de ser chato e ele
sorriu de volta, inabalável. Avisou que não queria que saísse do seu
campo de visão e apenas ri, ainda deitada no sofá, ignorando-o.
Quando fui ao banheiro, pensei que sairia atrás de mim. Eu estava
com um short de alfaiataria, blusa social e um terninho branco,
parecendo sensual e elegante, mas obviamente, não como uma
mulher de negócios.
Na hora do almoço, ele tinha outra reunião, dessa vez com um
empresário que estava acompanhado da esposa. Eles já estavam no
restaurante. Ela me deu uma olhada irritante, analisando, pensando
se valia a pena ser legal comigo ou não. Eu lidei com muitas
mulheres como ela no trabalho, principalmente as dançarinas
inseguras que gostavam de competir.
— Klaus, é muito bom te ver. — Ela o abraçou com intimidade
e, durante o ato, avaliou minha reação. Fiz cara de paisagem.
— Cary e eu nos conhecemos desde a escola — Klaus me
esclareceu.
Vaca. Eu fui simpática e distante com o marido dela, porque
tinha caráter e não iria retribuir na mesma moeda dando em cima de
um homem que não conhecia. Durante toda a refeição, ela fingiu que
eu não existia, porque mulheres como ela não gostavam de outra
mulher bonita por perto. O jeito atraente, rico e inacessível de Klaus
atraía uma gama de admiradoras loucas para consertá-lo.
Mal sabiam elas que um homem quebrado como ele só buscava
mulheres quebradas como eu. Quando foram embora, ficamos
sozinhos para a sobremesa, ele guardou o telefone, apoiei minha
mão em sua coxa e beijei sua bochecha.
— Satisfeito em me ter o dia inteiro ao alcance dos seus olhos?
— Claro que sim, é como meu colírio particular.
— E o que vamos fazer agora?
— Meu escritório ainda está em reforma, vou malhar e depois,
trabalhar mais um pouco. Quer fazer algo especial mais tarde?
— Filme e pipoca?
Ele riu contra minha boca.
— Sim, filme e pipoca — confirmou e dei-lhe um abraço.
Eu passei o restante do dia pensando na nossa primeira vez.
Desejei ter uma amiga para conversar. Alguém que não fosse rir de
mim como Tate, por romantizar o momento, mas eu tive o que queria:
um jantar romântico, uma dança e Klaus adicionou safadeza, tesão,
me deixou ligada na dele e louca para cavalgar como nunca havia
feito.
Klaus me disse que Tate tinha um túmulo, eu podia visitar
quando quisesse, mas não conseguia. Estava com raiva demais para
chorar. Queria gritar com ela por me deixar sozinha para lutar tantas
batalhas. Prometemos que ficaríamos juntas para sempre e no fim,
estava sozinha, completamente. Eu estava me apegando a um
homem que só estava comigo por um contrato.
— Ei, menina! — Justine me recebeu na cobertura. — Deixei
algumas caixas no quarto ao lado. Chegaram pelo correio.
— São besteiras que comprei pela internet.
— Está com um sorrisinho bobo no rosto. O encontro foi bom
ontem?
— Foi perfeito. — Apoiei minhas mãos no balcão. — Vamos
jantar mais cedo hoje. Pode preparar a sala de cinema para
usarmos?
— É claro. Vou deixar tudo pronto.
Elas trocaram um risinho quando saí da cozinha, pareciam duas
bobas suspirando por Klaus e eu sem saber a nossa verdadeira
natureza. Entrei no quarto e estava tudo limpo, as roupas da noite
anterior já arrumadas. Tomei banho, tirei toda a maquiagem e me
desmontei da imagem de namorada gostosa do CEO para usar um
pijama largo e me jogar na cama.
Mesmo agitada, rolando de um lado ao outro, consegui
descansar. Klaus me acordou com um toque suave no rosto e em
seguida, uns beijinhos carinhosos.
— Você falou muito dormindo. O que está te deixando inquieta?
Quer conversar sobre isso? — Ele sentou na ponta da cama.
— Você conversa suas coisas íntimas e seus pensamentos
mais bobos com alguém?
— Depende. Eu não sou de abrir minha intimidade ou
pensamentos estúpidos, guardo para mim mesmo. Qualquer outra
coisa, falo com Patrick.
— Eu queria ter um Patrick e talvez seja por isso que estou
agitada.
— Posso dividir Patrick com você, mas também posso te ouvir.
O que quer falar?
— Vai me achar uma boba. — Eu me sentei na cama e abracei
um travesseiro. — Eu queria falar sobre ontem.
— Ontem? — Ele recostou também. — Foi ruim para suas
expectativas?
— Quieto. Não pode ficar dando opiniões, tem que ouvir e só
depois dizer alguma coisa.
— Perdoe-me por ser novo nessa história de conversa de
meninas. Quer aproveitar e pintar minhas unhas? — resmungou e
puxei seu cabelo. Ele grunhiu. — Tudo bem, pode falar.
Eu deitei minha cabeça em seu peito, falando como me senti
com a minha primeira vez, o quanto havia doído, o que teve de
prazer, fingi que não era ele o homem que me deixou fora da minha
órbita. Ele beijou minha testa, rindo da minha descrição do orgasmo
e de tudo que senti.
— Você é louca. Parecia ter formigas nos seus pés?
— Foi assim que eu senti, o resto, não sei descrever. É como
uma explosão e eu fiquei bem grata que me fez gozar antes da
penetração — comentei, com sono novamente. — Foi bom para você
também?
— Não apenas bom, foi ótimo.
— Entendi por que você não reivindicou isso semanas atrás,
não faria sentido e eu estava mesmo sentindo que seria como sexo
por dinheiro.
— Isso é um problema pessoal para você.
— Eu nunca quis que Tate seguisse esse caminho, foi assim que
eu a perdi e não queria me perder da mesma maneira. — Mudei de
posição, passando minha perna por sua cintura e montei seu colo. —
Se você quer a conexão, por que não quer os sentimentos? Não
estou perguntando por maldade, apenas sinto curiosidade.
— Por que você não quer os sentimentos, Ziva? — Ele jogou de
volta e mordi meu lábio, pensativa.
— Na minha curta experiência, eles doem, devastam e nos
quebram ao meio. Todas as pessoas que eu amei na minha vida, me
feriram muito e eu não quero passar por isso de novo.
Klaus apenas arqueou a sobrancelha. Ele também foi ferido e
não queria mais.
— Será que você sabe que é inevitável fugir dos sentimentos?
— Talvez. — Ele segurou meu rosto e me beijou. — Mas talvez
aconteça da maneira que eu quero, como eu quero e do jeito que eu
quiser.
— Controlador, mandão e possessivo… — cantarolei, lambendo
seu lábio.
A única resposta dele foram uns tapas simultâneos no meu
bumbum, eu ri e voltei a beijá-lo.
Capítulo Doze
Klaus
Ziva estava esfregando os pés nos meus. Eu tinha uma pilha
de trabalho para fazer e escolhi deitar no cinema, assistir a um filme
ruim, mas valia a pena. Ela virou, colocando a mão no meu peito,
murmurando que a personagem principal era uma chata, me fazendo
rir baixinho. Ela discutia com a televisão como se fizesse parte da
história, porém, seus olhos estavam pesados e cada vez mais
sonolenta.
— Você está quase dormindo. Vamos para a cama. — Apertei
sua bunda, ela riu e bocejou. Desliguei a tela e ficou tudo tão escuro
que não encontramos a saída.
— Espero que Patrick não esteja pela casa ou ele vai me ver de
calcinha.
— Ele está na rua.
Saindo correndo como uma fugitiva, subiu as escadas
praticamente dançando na minha frente e para meu deleite,
engatinhou na cama só com a pequena tira entre suas nádegas
bonitas. O corpo de Ziva era exatamente como fantasiei nos últimos
meses, o som de sua risada também e o perfume ainda melhor. Tirei
as muitas almofadas, jogando-as longe e desforrei a cama. Fiquei nu
e ela fez um sinal parar que não me movesse.
— O que foi?
— Eu acho que deixei uma marquinha aqui. — Apontou para
uma mancha de chupão na minha barriga. Ficando de joelhos na
cama, beijou do outro lado. — Talvez eu deva deixar outra para que
ela não se sinta sozinha.
— Pode deixar quantas marcas quiser. Depois, ocupe sua boca
com meu pau.
Ziva lambeu a região antes de morder e sugar para marcar. Ela
pegou meu pau, bombeando em uma punheta gostosa e separei
meus lábios, deixando que os gemidos escapassem. Ela estava
brincando comigo, me levando ao gozo e parando, acariciando
minhas bolas e dando mordidas na minha barriga. Cansei da
brincadeira, jogando-a na cama e deitei por cima, beijando sua
boca.
— Você está bem para fazermos de novo?
— Estou louca para fazermos de novo. — Soltou uma risadinha,
arranhando minhas costas. Mordi sua cintura, ela gritou e rasguei a
calcinha. Ziva me deu um tapa pela renda beliscando sua pele. —
Não seja bruto.
— Quieta. — Desci a boca para sua boceta, chupando-a.
Cuspi, deixando-a bem molhada. Ziva me puxou pelo cabelo e eu
subi novamente, dando mordidas suaves em cada bico. Ela tinha os
seios lindos, arrebitados, que me atentavam durante o dia quando
usava decotes com as blusinhas apertadas.
Esfreguei meu pau em suas dobras, provocando o clitóris e
empurrei dentro. Nós gememos juntos, porque porra, estar dentro de
Ziva era um caralho de uma delícia. Encostei minha testa na dela,
estocando e ela dobrou as pernas para me encontrar. Puxei para
fora, virando-a de lado, tocando seu clitóris para levá-la ainda mais
perto do orgasmo. Voltei a meter, firme, buscando cada vez mais o
nosso prazer.
Sua pele estava tão arrepiada quanto a minha. Era uma
conexão única. Nossas bocas se encontraram, ela gozou e eu
também. Eu podia sentir seu coração acelerado, batendo no mesmo
ritmo que o meu.
— Você sente isso? — Ela fechou os olhos, ainda delirando em
prazer.
Eu não gostava de admitir o que sentia em nenhum momento da
minha vida, mas no sexo, com ela, eu podia me entregar porque Ziva
era só minha.
— Sim, eu sinto isso. — Beijei seu pescoço suado. Ela virou e
tomou minha boca.
Agarrei seu peito, puxando o mamilo, torcendo. Ziva reagiu
esfregando a boceta na minha coxa.
— Você precisa sair cedo?
— Por que? Será outra noite que não vai me deixar dormir? —
Mordi sua clavícula.
— Não precisamos dormir. Vamos fazer sexo de novo, de novo
e de novo… até a exaustão.
Peguei um travesseiro para fodê-la em uma posição diferente e
passamos a noite praticamente em claro. Quando amanheceu, ela
me chutou da cama por ter meu telefone despertando a cada cinco
minutos e por vingança, deixei todas as persianas levantadas.
Furiosa de sono, foi tomar banho, batendo as coisas, me fazendo
rir.
— Não precisa descer para comer comigo, volte a dormir. —
Abracei-a no banheiro.
— Quando eu sugerir trocar uma noite de sono por sexo, seja
adulto e responsável, diga que não. — Ela bocejou, coçando os
olhos.
Mandei-a de volta para a cama, sem precisar me acompanhar
na rua, comi com Patrick e fui verificar a reforma da minha sala.
Estava expandindo e clareando o ambiente, o arquiteto seguiu todas
as minhas recomendações. Todos os detalhes de decoração
estavam a cargo de Loretta, que acabou falando com Ziva e elas
estavam trocando mensagens sobre cores e cortinas. Eu não ia me
importar com aquela merda.
No final do dia, encontrei Devon e Stuart em um café. Eles
estavam abrindo uma nova academia e eu, interessado nas lojas na
parte inferior para investimento.

Stuart era conhecido como Don Hedrer[3], um famoso lutador de


MMA que deixou a carreira depois de muito sucesso. Atualmente, ele
era um empresário bem-sucedido e instrutor concorrido. Ele salvou
minha mente muitas vezes através da luta e nós começamos uma
amizade fora do tatame. Devon Winterfield era como eu: criado em
Vegas, só que diferente de mim, que herdei os cassinos do meu pai,
ele fez a sua própria história e era um excelente jogador.
— Faz tempo que não vai treinar — Stuart me cumprimentou,
ficando de pé.
— Ele está namorando. — Devon dedurou, com um sorriso.
— Gostei do lugar. Katrina tem escolhido bem seus negócios.
— Quando não está se intrometendo na vida dos outros, minha
esposa demonstra seus dons para os negócios. — Devon riu,
relaxado na cadeira.
— Eu vou fazer alguns pedidos. — Patrick se afastou até o
balcão.
— Como anda a vida morando com a namorada?
Devon não sabia que eu estava com um contrato, apenas contei
que entrei em um novo relacionamento e estávamos morando juntos.
Ele ficou feliz por mim, sem saber que nada na minha vida seria
normal e louvável. Ziva era o único pedaço de alegria em que eu
estava me agarrando, como uma boia, antes que eu afundasse
completamente e ainda assim, a parte mais racional me alertava o
tempo inteiro para manter o controle.
— Patrick disse que queria mostrar algumas fotos. — Stuart
inclinou-se para a frente, me olhando com interesse.
— Estou procurando alguém… que você pode ter conhecido no
seu passado. É importante conhecer o rosto desse homem.
— Do que está falando? — Stuart franziu o cenho.
— Já ouviu falar sobre Mangiello?
— Alguns caras da academia estão comentando que ele é um
novo cafetão e andou assediando-os para lutas clandestinas, mas
soube que Mansuetto cuidou disso.
— Eu sei que Mangiello ainda não teve culhões para enfrentar
Fernando Mansuetto[4], mas, ele está sendo ousado o suficiente para
aliciar algumas garotas. Ele persegue, queima, assusta, cria dívidas
absurdas e transforma a vida delas em um completo inferno.
Principalmente se são viciadas ou estão a caminho disso.
Devon e Stuart trocaram um olhar.
— Foi isso que aconteceu com Elisa? — Devon questionou com
pesar. Olhei rapidamente para Patrick. — Foram muito discretos e
eu não quis perguntar, mas fiquei preocupado na época.
— Elisa enfrentou problemas com remédios controlados depois
do acidente e a partir daí, ela buscou outras alternativas para lidar
com a dor. Eu não sei como ela acabou conhecendo Mangiello, mas
um dos nossos informantes disse que ela sabia quem ele é — falei e
vigiei Patrick. Ele não queria que muitas pessoas soubessem
detalhes da morte da Elisa, mas eu confiava em Devon e
principalmente, em Stuart. Ele era um homem que venceu a vida
obscura da luta e tinha a cabeça no lugar. — Outra garota que
supostamente sabia quem Mangiello é, era a prima da minha
namorada e ela foi morta recentemente. Mangiello queimou os
braços de Ziva cobrando uma dívida absurda para fazê-la desistir e
trabalhar para ele.
— Puta que pariu! Ela está bem? — Devon deu um salto na
cadeira.
— Sim. Eu paguei a dívida, para livrá-la da perseguição, mas
isso não ficará assim. Quanto às marcas, estamos fazendo um
acompanhamento com a dermatologista, não está com nenhuma
cicatriz. Sei que vocês não se envolvem com isso, nem quero, mas
talvez seja alguém do passado…
— O que eu puder ajudar, farei. Mostre-me as fotos, tentarei
dar os nomes.
Stuart ajudou dando nomes aos homens que uma das minhas
informantes fotografou em uma noite. Eu coloquei três mulheres
treinadas para se infiltrar entre as prostitutas do Mangiello para ver
se conseguia algum vislumbre dele e do porquê esse maldito homem
resolveu perseguir mulheres que trabalhavam para mim ou que
tiveram algum contato comigo.
Não foi só Elisa, a irmãzinha de Patrick, alguém que eu vi
crescer. A secretária da minha irmã, Cami, também foi drogada e
acordou com marcas nos braços. Várias garotas do meu clube, mas
Tate foi a única que caiu na teia dele e parecia que o viu. Ziva não
fazia ideia. Ela não reconhecia a maioria das fotos que mostrava.
— Temos que encontrar mais informantes, alguém que consiga
lidar com ele diretamente — Patrick comentou no carro.
— Vá com calma. Não podemos nos expor ou iremos perder
todas as vantagens que temos.
— Eu sei. — Ele trincou os dentes, acelerando pelas ruas e
entrou no meu prédio. — Te vejo amanhã.
— Tem certeza de que não quer ficar aqui e jantar conosco?
Ele ficou em silêncio.
— Não gosto de mentir para você. — Patrick suspirou e me
olhou pelo retrovisor. — Eu vou jantar com a Cami.
Eu não falei nada, apenas saí do carro e bati a porta. Pensei
que com o divórcio, eles deixariam de ter esses encontros
emocionais que só fodiam tudo. Entrei em casa, estava escuro e
silencioso. Ziva ficou quieta a maior parte do dia, não fiquei surpreso
em encontrá-la na cama, dormindo novamente.
— Passou o dia inteiro na cama? — Puxei a coberta e ela só
resmungou.
— Não. Fui para a aula de culinária e direção, voltei e deitei de
novo.
— Eu vou tomar banho.
— Vai trabalhar?
— Não. Vou dormir, sou humano também, apesar de dizer o
contrário. Estou exausto. — Belisquei sua coxa, ela riu e bateu no
espaço vazio ao lado da cama.
— Estou bem aqui te esperando com muitos beijos e abraços
acumulados.
Aquela frase trouxe um efeito calmante para o estresse do dia.
Era tudo que eu precisava naquele momento.
Capítulo Treze
Ziva
Lojas de luxo nunca chegariam aos pés das lojas de
departamento. Eu estava dentro de uma que parecia um museu com
uma música chata e uma taça de champanhe nas mãos enquanto
aguardava uma vendedora trazer um vestido para o baile em que
acompanharia Klaus. Era Dia de Ação de Graças e apesar de Klaus
ter dito que não comemorava datas festivas, decidi que sim, nós
iríamos comemorar e passei a maior parte do dia cozinhando.
Saí rapidamente após a ligação da compradora pessoal e ele
ficou de me encontrar ali para irmos embora juntos. John Doe, como
eu chamava o guarda-costas que estava comigo, moveu-se
desconfortável e parou. Eu me virei, seguindo sua linha de olhar e
abri um sorriso para a figura que caminhava em minha direção.
— Ziva, certo? — Cami acenou, empolgada.
— Irmã do Klaus, certo? — brinquei de volta.
— É, sou eu! — Ela parou e me deu um rápido abraço. —
Estou feliz em te reencontrar. Imagino que ainda esteja com meu
irmão.
— Ainda estou com ele. Está para chegar a qualquer momento,
estou com aquele ali, que não sei o nome e chamo de João
Ninguém. — Apontei com o polegar, abrindo um sorriso. — Não sei
o nome dele e não posso andar sozinha.
— Klaus não permite que saiba o nome do seu segurança? —
Cami analisou e eu percebi que havia falado demais. — Hum… Ele
não quer que saiba o nome do homem que fica por perto. Confia nele
o suficiente para te proteger, mas não para que tenham uma ligação.
Isso é bem típico de um homem ciumento.
Eu duvidava que Klaus tivesse ciúmes de mim. Era posse.
E até bem estúpido sentir insegurança com seu segurança.
— Eu não quero me intrometer, até porque, se ele sonhar que
dei alguma opinião vai arrancar a cueca pela cabeça com um ataque
épico. — Ela pegou uma bolsa do aparador e deu uma olhada. —
Patrick está com ele?
— Até onde sei, sim. Eles viriam me buscar. Hoje é Dia de Ação
de Graças, vai jantar em algum lugar?
— Não. Nós não comemoramos nada do tipo… — Ela foi
evasiva.
— Eu preparei um peru enorme, que deu muito trabalho, fiz
purê, vagens com um tempero de mostarda delicioso e muito milho,
porque eu sou da terra do milho e amo. Quer comer conosco?
— É fofo da sua parte me convidar. — Ela apertou minha mão.
— Meu irmão aceitou fazer um jantar de ação de graças?
— Eu tenho meios de convencê-lo. — Dei de ombros, com um
risinho.
Ele resmungou, disse que era ridículo ter um peru daquele
tamanho só para nós dois e eu ignorei, indo às compras e
preparando tudo com muito carinho. O mínimo que precisava fazer
era sentar, agradecer e comer. Afinal, cozinhar não era exatamente
uma tarefa muito simples e eu fiquei cansada em segurar aquela
coisa para temperar, enfiar no forno e ficar vigiando como se fosse
um filme durante toda a noite, ouvindo-o reclamar que eu não estava
na cama.
Patrick foi o primeiro a entrar na loja e ele meio que estagnou
quando viu Cami. Ele abriu e fechou a boca. Olhei para a tensão
entre os dois, ficando sem fôlego com o olhar intenso. Era desejo e
saudade. Ela sorriu timidamente, dando um aceno e ele retribuiu,
mas ficaram mudos.
— Cami estava me dizendo que adoraria beber um café. — Eu
sugeri a Patrick, ele piscou e balançou a cabeça. — Hoje é Dia de
Ação de Graças, talvez devam pedir uma torta de abóbora para
compartilhar. Ouvi dizer que tem bebidas especiais para a data
também, com gengibre e chantili.
— Eu adoraria que me levasse para uma bebida, adorável ex-
marido — ela brincou, ele ficou com as pontas das orelhas vermelhas
e a notícia caiu em mim feito uma bomba. Eles foram casados? Uau!
Aquela fofoca quente o idiota do Klaus nunca me contou.
Observei-os saindo da loja ainda de boca aberta. Klaus tocou
minha cintura, pegou meu queixo e roubou um beijo enquanto eu
ainda estava em choque. Dei-lhe uma cotovelada.
— O que eu fiz agora? — Ele acariciou o local.
— Você quer saber todas as minhas fofocas e nunca me contou
que eles já foram casados! Como assim? Convidei sua irmã para
jantar conosco…
— Pode esquecer. Eles sempre têm recaídas que levam horas.
A vendedora chegou com o vestido em uma capa, ela abriu e
mostrou que estava em perfeito estado antes de colocar na grande
bolsa de papel luxuosa. Sem Patrick, voltamos para casa.
— Algo cheira muito bem aqui. — Ele deixou o terno no encosto
do sofá. — Você preparou tudo?
— Dei folga para as funcionárias para que pudessem passar o
dia com as famílias. É uma data importante.
— É apenas mais um dia idiota em que o mercado lucra. — Ele
foi até o bar e revirei os olhos. Parei ao ado dele, fiz com que virasse
na minha direção e afrouxei a gravata. Klaus olhou em meus olhos,
beijou minha testa e voltou a pegar o copo com o drinque.
Eu abri o vinho que separei para mim e organizei os pratos na
mesa. Acendi as velas, colocando a salada, o purê e o milho, tudo
aquecido. Klaus olhou de perto, com uma expressão indecifrável e eu
apontei para o forno. Era muito pesado para pegar sozinha. Com as
luvas, ele levou para a mesa e colocou no centro.
— Pode fazer as honras? Eu quero a coxa e pare de agir como
se isso fosse ridículo. — Entreguei-lhe a faca e um pegador. Seu
olhar poderia gelar o inferno e não me importei. — Estou com fome,
pode caprichar.
Com nossos pratos servidos, eu peguei sua mão e a outra.
— Agora, vamos agradecer.
— Sério mesmo que está me obrigando a fazer isso?
Eu saí do meu lugar e sentei no colo dele, passando meus
braços por seu ombro.
— Por que não podemos agradecer? Você não tem nenhum
motivo para ser grato? Eu estou grata por estar viva, por ter muito
alimento à mesa, um teto e mesmo com todos os motivos, grata por
estar com você. Eu não tive a chance de ter um jantar assim desde
que fugi de casa. — Esfreguei meu nariz no dele, dando-lhe um beijo.
— Agradeça comigo.
Klaus fechou os olhos, ficou em silêncio e encostou a testa na
minha.
— Agradeço por estar aqui com você e se é tão importante,
teremos todos os jantares de comemoração que quiser.
— Obrigada. Agora, vamos comer. Espero que goste.
— Eu gosto da sua comida, caçadora de elogios — ele brincou,
relutando em me deixar sair do colo. — O peru parece bem macio.
Quanto tempo ficou assando?
— A noite toda.
— Não é muito só para nós dois?
— Você sabe que eu vou comer metade disso, pare de se fazer
de sonso. Também vou fazer um prato para o porteiro de plantão,
para o John Doe e deixar um no forno para Patrick.
— Meus seguranças e os demais funcionários vão ficar mal-
acostumados com tanto mimo. Você é boa demais com todos. — Ele
beijou minha mão. — O engenheiro me deu um retorno hoje. Ele
disse que, infelizmente, a mancha que está no teto do quarto
principal é uma infiltração. Vai precisar de uma reforma.
— E o que vai decidir?
— Eu vou aproveitar para reformar todo o apartamento,
podemos estudar um projeto juntos e nos mudar temporariamente
para uma residência.
— Com piscina? — Soei esperançosa.
— Com o que você quiser. — Ele riu e limpou a boca. — Tenho
algo para você. Não quero estragar o clima de ação de graças, mas
é importante.
— O advogado entrou em contato?
— Ele voltou de Nebraska ontem e depois de cavar bastante,
conseguiu o vídeo de uma câmera de segurança que registrou a
fuga. Seu padrasto ainda estava vivo quando saíram correndo, ele
ainda perseguiu vocês duas na plantação até a estrada… — Klaus
apertou meus dedos. — Mas seu tio, ele morreu e houve omissão de
socorro.
— Então, o marido da minha mãe não chamou o socorro…
— Para que vocês fossem procuradas pela polícia. — Ele
completou. Mordi meu lábio, sentindo dor de cabeça. — O que
acontece agora é que vamos anexar isso a sua defesa. Você tem
provas de que agiu por legítima defesa naquela noite, você é
inocente, Ziva.
— Por que diz isso? E Tate?
Klaus respirou fundo.
— Eu posso te mostrar, mas acho que não deve ver. Tate e seu
tio já tinham relações sexuais antes daquela noite. Ele abusava dela
há anos, eu digo que é abuso, porque ela era menor de idade e
certamente foi manipulada para o ato sexual, mas, nem sempre era
forçado… — Ele adicionou cuidadosamente.
— Está me dizendo que Tate fazia sexo com meu tio, nosso tio,
por querer?
— Não é por querer nesses casos, segue sendo abuso e
pedofilia, tanto do seu padrasto quanto do seu tio. Ela era uma
criança. — Klaus foi enfático e engoli em seco.
— Só não era a primeira vez — concluí, me sentindo devastada.
Klaus passou o polegar na lágrima que caiu. — Tate foi abusada pelo
orientador pedagógico da nossa escola aos quatorze anos. Ela
começou a vida sexual cedo, mas naquele dia, quando eu peguei os
dois com ela, apenas gritou por socorro, pedindo ajuda e eu sequer
pensei. Eu os ataquei com a pistola do meu padrasto.
— Tudo isso agora é de conhecimento público, Ziva. O caso foi
reaberto e eu tenho os melhores advogados nisso. Talvez seja
preciso que relate o abuso que sofreu do seu padrasto antes…
— Ele não foi até o fim, minha mãe não acreditou em mim e eu
achei que ninguém mais acreditaria. Não contei para o meu pai, o
divórcio deles foi tão ruim, meu pai sofreu muito quando minha mãe o
deixou para ficar com o homem rico… — Prendi meu cabelo,
sentindo calor e bebi água. Klaus puxou minha cadeira, fazendo com
que ficasse de frente para ele.
— Ele tocou a garota que deveria amar e proteger, não importa
o quanto tenha avançado.
— Tem certeza de que eu não vou ser presa?
— Existe um motivo pelo qual eu sou um homem rico. Sei
comprar as pessoas certas, eu te prometo, que daqui de Nevada e
do meu lado, você não vai sair.
— Isso significa que agora, meu pai sabe de tudo — comentei,
sentindo vergonha.
Amava meu pai e sentia a falta dele todos os dias. Ele era um
homem bruto do campo que perdeu a esposa para o forasteiro rico
que chegou na cidade, encantando muitas mulheres com seu charme
e fazendo amizade com o imbecil do meu tio desocupado. Mamãe
virou a cabeça ao ter a vida que sempre sonhou, uma mulher fugida
da Turquia, sonhando em ter luxo, mas ao se casar com um
imigrante colombiano, o máximo que conseguiu foi trabalhar colhendo
milho.
Eu nasci desse casamento, houve um tempo em que eles se
amavam e demonstravam esse amor. Papai fazia tudo por ela e não
foi o suficiente.
— Ele ainda vive na fazenda e eu deixei que Todd contasse a
ele que está viva e bem. Seu pai gravou um vídeo, eu não sabia que
já era um homem idoso.
— Ele deve estar acabado, a vida no campo não é fácil, tem
mais de sessenta… pode me mostrar? Sinto tanta falta dele, Klaus.
Pegando o telefone, deu play no vídeo e cobri minha boca ao
chorar de emoção vendo meu pai, com um pedaço de palha na boca,
seu velho chapéu e as roupas sujas das plantações, falando da
maneira mais arrastada possível. Tanto sotaque que até perdi o
costume. Faltava pouco para finalmente poder abraçá-lo novamente.
— Quando tudo acabar, vamos trazê-lo para conhecer Vegas e
assim vão poder recuperar o tempo perdido. Eu daria muito dinheiro
para ter mais tempo com pessoas que muito amei — Klaus
comentou e olhei em seus olhos para que não duvidasse das minhas
palavras. Elas vinham do meu coração.
— Obrigada. É o melhor presente de ação de graças que
poderia me dar. — Segurei seu rosto e o beijei, sentindo meu interior
borbulhando por ele.
Capítulo Quatorze
Ziva
— Conte-me algo que nunca contou para ninguém — pedi a
Klaus, na banheira, com meus pés apoiados em seu peito. — Sem
palhaçada, você me deve por nunca ter contado que Patrick e sua
irmã têm um rolo. Eu te contei toda a fofoca de Justine namorando
um dos porteiros. — Cutuquei-o, ele riu e não negou ser um curioso
nato.
— Tudo bem, deixe-me pensar.
— Pare de graça, até parece que é um livro aberto — briguei.
Ele detestava meu tom de reprimenda e reagiu, beliscando minha
coxa. Foi de leve. Dei a língua de volta.
— Eu não sou um homem fácil de revelar meus segredos, mas
já tem anos que a minha vida é completamente focada no trabalho e
nos meus objetivos.
— Eu vou começar: Nunca fiz sexo anal.
— Jura? Acharia estranho se tivesse feito, considerando que
sou o único homem que te fodeu, porra. — Ele jogou um pouco de
água em mim. — Quer fazer? Estou à sua disposição! — Balançou
as sobrancelhas e ri, negando.
— A porta dos fundos é só para saída. Estou tentando aliviar o
clima, não precisa me confessar um crime, só me contar um
segredo. — Mudei de posição, ficando em cima dele. Klaus me
abraçou.
— Já me apaixonei pela minha professora. Nunca contei isso a
ninguém porque era ridículo, mesmo adolescente, eu sabia que
nunca teria chances e era completamente ilógico. — falou baixinho,
me fazendo rir. — Não vale rir.
— Você jogou água em mim pelo meu segredo, é óbvio que
posso rir do seu. — Mordi seu peito, dando uma chupada no
mamilo.
Estávamos na banheira aproveitando o quentinho, conversando
há mais de uma hora. Eu gostava do quanto tínhamos assunto, ele
era inteligente e falava sobre tudo sem me fazer parecer jovem e
estúpida. Decidimos ler um livro por semana juntos, era um motivo
para fazer algo na cama que não era só sexo (o que acontecia
depois da leitura dos capítulos, ou por ter brigado por ele ler rápido
demais ou por estarmos felizes que não entramos em uma discussão
boba).
Klaus aceitava tudo o que eu queria fazer: malhávamos juntos,
fazíamos aula de ioga para casais, ele me levava para treinar
direção e experimentava minhas aventuras culinárias. Ainda era o
mesmo homem ocupado que passava muitas noites acordado,
trabalhando, tendo reuniões com pessoas e falando línguas que eu
não entendia. Passei a preparar chá ao invés de um drinque, assim
ele estava bebendo menos a noite e indo dormir melhor.
Por mais que tentasse me conter, presa às linhas do contrato,
eu não conseguia não cuidar dele e desejar vê-lo bem. Klaus dizia
que eu não conseguia controlar meu lado maternal, querendo ver
todo mundo feliz, dos funcionários que trabalhavam na cobertura a
ele. Era nossa primeira noite na casa temporária, uma mansão
lindíssima que ele me deixou escolher para vivermos enquanto a
cobertura estava em reforma para conter a infiltração e fazer
melhorias.
A casa era incrível, coisa de cinema, ele até se interessou em
comprar para manter como investimento. Por enquanto, estava
alugada. Ele tinha outras residências, mas somente com o intuito de
fazer o dinheiro rodar em vários tipos de negócios.
Saímos da banheira com o clima perfeito para continuar uma
festinha na cama. Ele abriu as gavetas do móvel ao lado e franziu o
cenho.
— Cadê as camisinhas?
— Eu não sei. Quem arrumou suas coisas pessoais foi você.
— Porra, não — gemeu, indo para o outro lado, procurando. —
Não lembro se guardei, se ainda tinha. Puta que pariu!
— Não tem camisinha? — Comecei a rir. — Tenho uma notícia
para te dar, garanhão. Estou no meu período fértil. Sem camisinha,
sem festinha.
— Ah… cacete. — Ele puxou o cabelo, de pau duro, o que me
fez ter uma crise de riso. — Não é engraçado.
— Não. É trágico! — Cobri minha boca, gargalhando.
Nós nunca transamos sem camisinha antes. Apesar de tomar
pílulas, era de mútuo acordo que podíamos evitar frutos humanos.
Eu sequer pensava em ter pequenas coisas. Klaus achava crianças
bem fofas, mas na casa dos outros e longe de nós. Já eu, nunca
cheguei perto de bebês antes e pretendia continuar assim.
— Vem aqui, bebezão — chamei com o indicador, ele veio para
a cama praticamente com um beicinho e se deitou. Comecei a beijá-
lo abraçando sua coxa com minhas pernas, rebolando sutilmente
para causar fricção onde queria.
— Ziva… pare de me atentar — gemeu, apertando minha
bunda, brincando com as minhas dobras molhadas. — Eu te quero
tanto. Cacete, preciso te foder.
— Podemos nos divertir sem o restante. — Beijei seu pescoço,
provocando sua orelha do jeito que ele perdia a cabeça. — Ou…
você pode tirar antes.
— Se eu vou foder sua boceta sem camisinha é pra ver minha
porra escorrendo. — Agarrou meu cabelo, rude, me beijando tão
intensamente que eu sabia ser culpa da fantasia rolando na cabeça
dele. Montei em seu colo, começando movimentos de vai e vem com
seu pau aninhado entre minhas dobras.
— Você sabe que eu fico louca quando banca o homem das
cavernas…
— Gosta de brincar com fogo? — Ele riu, acariciando minhas
coxas, tentando se acalmar para não perder o controle da situação.
Se fosse um homem desconhecido, alguém que estivesse me
relacionando temporariamente, eu jamais ousaria transar sem
proteção. Além de exames que comprovavam que era seguro por
questões de DST, nós estávamos em um relacionamento
monogâmico e por esse motivo, eu o levei para dentro, dando uma
boa rebolada.
Qualquer pensamento coerente na cabecinha dele, evaporou.
Uma das minhas principais regras para lidar com Klaus era fazê-lo
perder, mesmo que por pouco tempo, todo o controle que tanto
amava segurar. Apoiei minhas mãos em seu peito e mesmo sem
muita experiência em ficar por cima, dei o meu melhor. Ele ajudou,
agarrando meu quadril e começamos uma dança deliciosa.
Eu gozei, arranhando-o e ele me manteve parada para gozar
dentro.
Inclinei-me para trás, para que visse o que tanto queria.
Passando o polegar no meu clitóris, mordi o lábio e o encarei.
— Caralho… — Ele me deu um sorriso safado.
— Eu sei.
Deitei ao seu lado, ele colocou a mão na minha cintura e disse
que estava fazendo uma bagunça com a vida dele. Apenas sorri, sem
sentir culpa. Ele jogava de um jeito e eu de outro, assim era a regra
de sobrevivência.
Beijei seu queixo, cansada. Mudança, nossa noite do encontro e
já era quase manhã. Com muita preguiça, levantei para tomar banho
enquanto ele trocava os lençóis que já estavam zoneados com a
nossa bagunça desde cedo. Deitamos para dormir com as cortinas
fechadas, o que significava que ele não precisaria trabalhar logo.
Fui acordada com o som do cortador de grama, que estava
programado para meio-dia, e meu estômago deu olá.
— Acordou a bela adormecida — Patrick brincou quando
apareci na cozinha. Soltei um bocejo em resposta.
Klaus estava no fogão, mexendo em uma panela e abracei-o
por trás, espiando os ovos com queijo e presunto.
— O dia está tão lindo, pare de cozinhar, vai começar a chover.
— Nada engraçado — ele resmungou. — Você deu folga às
funcionárias e estou com fome. Não tinha ninguém para cozinhar.
— Era só ter me acordado. — Beijei suas costas.
— E ele atrapalharia o sono da princesa? Quase matou o
jardineiro por fazer barulho! — Patrick riu alto.
— Cale a porra da boca. — Klaus continuou mal-humorado. —
Você dormiu bem?
— Como a princesa que sou. — Alfinetei Patrick e ao mesmo
tempo, fiz um pouco de dengo. — Vai sentar, eu termino isso aqui.
— Deixa que eu faço os ovos, prepare as torradas — pediu,
carinhoso. Patrick continuou digitando em seu computador enquanto
Klaus e eu experimentávamos o terror de dividir a cozinha.
Era por isso que casais fazendo comida juntos só era bonito nos
filmes. Sorte que depois da noite anterior, nada tiraria o nosso bom
humor, mas eu tive esse pensamento cedo demais. Enquanto
preparava o suco de laranja, a tela do telefone dele acendeu com
uma ligação.
A foto profissional de uma mulher apareceu e o que me chamou
a atenção foi que eu a conhecia de algum lugar. Klaus encerrou a
chamada sem atender.
— Quem é ela?
— Uma parceira de negócios.
— E você tem o número registrado sem um nome de alguém
com quem trabalha? — Coloquei uma mão na cintura, dando-lhe um
olhar incisivo. Klaus abaixou o rosto, beijando a pontinha do meu
nariz e em seguida os lábios, murmurando que sim com um sorriso.
Ele foi para o balcão com os pratos. Tentei ignorar o sentimento
conflituoso que cresceu. Não tinha o direito de sentir ciúme, mas ao
lembrar que ela era a mulher que me encarou no dia do meu primeiro
encontro com ele, algumas peças fizeram sentido na minha cabeça.
Antes de comer, contei a ele. Klaus fez uma expressão de
paisagem que me deixou irritada.
— A empresa irá oferecer uma festa de Natal. Loretta está
muito ocupada com a expansão do cassino para lidar com os
detalhes. Você pode assumir a organização? — Klaus começou outro
assunto. — Terá duas assistentes para lhe auxiliar.
— Claro. Será um prazer. E quanto a nossa ceia?
Klaus engoliu o pedaço de pão com dificuldade e mesmo sem
olhar na direção de Patrick, percebi que parou de digitar.
— Vamos decidir isso depois. — Ele apertou minha mão, não
querendo dizer algo negativo que me fizesse insistir, porque iria.
Não precisávamos dar uma festa, nem convidar outras pessoas,
mas podíamos comemorar sozinhos, como foi no Dia de Ação de
Graças. Ainda olhando para meu rosto, suspirou e pegou minha mão,
beijando e aquele movimento foi a sua maneira de prometer que
pensaria no assunto.
Queria saber por que as datas comemorativas eram
emocionalmente difíceis para Klaus. Ele não me contaria por livre e
espontânea vontade. Talvez Cami pudesse me ajudar a desvendar
esse mistério.
Capítulo Quinze
Klaus
Uma garota que nasceu quase vinte anos depois de mim, me
colocou na palma de sua delicada mão e eu era um otário que fazia
tudo que ela desejava. Eu não queria uma árvore de Natal, nem uma
decoração natalina e muito menos a porra de uma ceia na minha
casa, mas ela? Foda-se meus argumentos. Ziva me fez sair de casa
muito cedo para ir até um parque de venda de árvores e cortar
pessoalmente a que ficaria na sala de casa.
Enquanto andava atrás dela feito um idiota, segurando uma
serra elétrica e uma lona, ela analisava os pinheiros como se fosse
especialista.
— Eu gostei dessa! Ainda bem que eles ainda deixaram
algumas árvores boas…
— O que quer dizer? — Encarei o tronco com ódio.
— Ouvi por aí que a corrida da árvore perfeita começa na black
friday. — Deu de ombros, dando um tapinha no meu braço. — Pode
começar!
— E se ela não der na sala?
— O pé direito é enorme, além do mais, você pode diminuir o
tronco.
— Quando foi que eu me tornei o seu lenhador particular?
Ela fez um beicinho charmoso.
— Sempre achei que seria um lenhador muito sexy. — Agarrou
minha camisa e roubou um beijo, me hipnotizando com seus lábios
doces. — Corta, vai. Vamos decorar nossa árvore hoje e depois,
tomaremos um bom banho juntos naquela banheira incrível.
Maldita. Furioso e sem alternativas, porque ela não me deixaria
em paz, comecei a cortar. Fui instruído por um funcionário, porém, fiz
a maior parte sozinho. Ela me chamou de riquinho mimado quando
paguei para carregarem a coisa gigantesca, porque eu não faria
aquilo e nem permitiria que ela fizesse. Agendei um horário para ser
entregue e a levei para almoçar.
Ela escolheu uma lanchonete beira de estrada em que eu nunca
pisaria, mas era famosa na internet pela variedade de pratos bonitos
para tirar foto. Ziva entrou na minha frente, empolgada, querendo
olhar o menu e parei ao seu lado, enfiando a mão no bolso de trás
de seu short jeans e beijando o ombro, lendo por alto o que tinha.
Assim que uma mesa vagou, puxei a cadeira e esperei que
limpassem.
— Senta aqui do meu lado. Não quero ficar longe de você. —
Passou os braços ao meu redor, beijando o pescoço, toda serelepe.
— Você está feliz, baby?
— Estou e muito! Obrigada! — Ela abriu o sorrisão pelo qual eu
me encantei desde a primeira vez. Era bonito e verdadeiro. Algo só
dela. — E você?
— Estou aqui, com você, preferia não ter cortado uma árvore e
espero que ela seja tratada, que não entre nenhum bicho na nossa
casa e eu não enlouqueça com…
Ziva calou minha boca com um beijo. Ela não se importava que
não estávamos sozinhos e me fez sentir tesão no meio de uma
lanchonete lotada de pessoas curiosas. Apertei sua coxa, olhando
em seus olhos, deixando-a bem ciente de que depois de toda aquela
palhaçada com decoração de Natal, ela tinha um encontro comigo.
Era raro ter um dia de folga, eu sequer fazia questão de tirar
um tempo do trabalho, mas ela andava infernizando meu juízo sobre
a maldita árvore e as compras para nossa ceia que, no meio de uma
discussão inútil, me vi prometendo que faria o que ela queria.
Satisfeita, parou de falar no mesmo instante e foi dançando pela
casa, me deixando em paz.
Eu ainda não podia acreditar que fui enrolado. Ziva sabia o que
estava fazendo. Caí no seu jogo de beicinhos e olhares de
cachorrinho abandonado, de ficar grudenta na cama ou manhosa
para comer. Patrick disse que eu estava mimando-a excessivamente
e achava engraçado.
Não tinha graça.
Mas era impossível conter meu impulso em fazê-la feliz o tempo
todo.
Se não era saudável, também não me importava. Apenas queria
ver o sorriso de trazer covinhas às bochechas e o olhar brilhante. A
turbulência do meu coração encontrava paz nesses momentos.
Dirigi de volta para casa com tranquilidade. O segurança relatou
um carro nos acompanhando por boa parte da estrada, que parecia
ser da imprensa. Ziva dormiu por todo o caminho, acordando cheia
de energia na garagem. Ela foi direto para as caixas de decoração
na sala.
Segurar todas aquelas luzes e guirlandas trouxe um aperto ao
meu estômago. Lembrar de tempos felizes que jamais voltariam era
muito doloroso. Parte do meu ser quis quebrar tudo e mandar a ideia
de um Natal para a puta que pariu. Outra parte, a vencedora, estava
agarrado a alegria dela em ter um Natal depois de muitos anos.
— Olá, casal. — Patrick entrou em casa. Ele estava com minha
irmã, a convite de Ziva. Nós nos encaramos. Não pude impedir
aquilo. Eu tentei e muito, mas Patrick queria tentar de novo e eu cedi,
por ele.
— Oi, irmão.
— Oi, Cami. Seja bem-vinda à minha casa…
— Obrigada pelo convite. Estou realmente feliz por estar aqui.
— Ela se aproximou, tocando meu braço. Trocamos um abraço
relutante, que ela apertou, suspirando. — Você está bem?
Eu tinha o direito de ficar bem?
Com a minha falta de resposta, Cami foi para Ziva. Elas
sorriram, empolgadas. Para me afastar daquilo, decidi preparar
bebidas.
— Você tem algo a me dizer? — questionei Patrick em um tom
rude.
— Nada ruim. Ziva usou boa parte do dinheiro disponível na
conta bancária dela para fazer uma doação hoje cedo.
— Para quem?
— Um centro comunitário. Cavando um pouco, encontrei a ficha
dela… e o relato do assistente social que a encontrou dormindo na
rua dias antes do Natal. — Patrick olhou na direção delas. Senti um
nó se formar na minha garganta. — Como ela consegue ser tão
efusiva depois de tudo que passou?
Eu não sabia. Era admirável. Obviamente, ela também era
brava e desconfiada, mas sem as armaduras levantadas, era doce e
apaixonante.
— Talvez esse seja o segredo da força que tem. — Refleti,
pegando as taças. — Ela me fez cortar a maldita árvore. Ainda
filmou, enquanto me incentivava. Essa mulher vai me dar cabelos
brancos.
— Eu não sei, mas ela já te enrolou todo. — Patrick gargalhou e
fugiu do soco que tentei lhe dar.
Cami e Ziva fizeram a maior parte do trabalho com a
decoração. Eu fiquei segurando a escada ou pendurando coisas que
Ziva não alcançava. Após terminarmos, Patrick levou minha irmã para
a casa dele, logo ao lado, que também aluguei para que ele ficasse
perto, confortável e com privacidade.
Tomei banho e desci para uma ligação privada de trabalho, mas
por algum motivo, me vi sentado na sala com as luzes principais
apagadas e a árvore acesa.
— É lindo, não é? — Ziva suspirou atrás de mim. Eu virei,
contemplando sua beleza. Afastando-se da porta, subiu no sofá pelo
encosto e caiu ao meu lado.
— É bonito.
— Hoje foi um bom dia ou um dia difícil?
— Um pouco dos dois. Foi agridoce — confessei e ela beijou
meu braço. — Meu pai morreu na noite de Natal. Nossa casa sempre
foi a mais iluminada da rua, tínhamos festas exuberantes e
animadas. Depois que ele se foi, mamãe nunca mais quis
comemorar. Cami tinha doze anos na época e ela perdeu isso…
— Eu sinto muito pelo seu pai.
— Eu também. Sinto falta dele.
— Eu vou adorar ouvir sobre ele sempre que quiser conversar
sobre isso.
Fofa. Eu ri baixinho, beijando sua testa. Ficamos em silêncio,
abraçados, ela perguntou se podíamos pedir pizza e concordei. Ziva
estava com a bateria no fim, depois de comer, nada no mundo a
tiraria da cama.
— Klaus?
— Eu não sei o que você quer a essa hora, mas a resposta é
não.
— Quanta agressividade! — Ela riu, subindo no meu colo.
— Toda vez que vem com essa voz manhosa, vai me pedir algo
que não quero fazer e farei para não te ver triste.
Ela só continuou rindo porque sabia que ganhava tudo.
— Eu ia dizer que só temos essa vida para amar e viver com
quem amamos. Eu entendo você querer fugir dos sentimentos, tudo
que vivi com Tate está aqui dentro, me sufocando, mas eu também
daria tudo para tê-la de volta porque era minha única família.
— O que você quer dizer com isso?
— Sua irmã te ama. Está tudo bem dar amor a ela também. —
Ela acariciou minha nuca. — Não sei da história da sua vida com sua
família, mas só queria te dizer isso.
Eu não falei nada. Ela pegou meu telefone para pedir pizza,
voltando a deitar em mim. Fomos para a cama cedo. Um dia cheio
de aventuras, exaustivo de muitas maneiras e eu não demorei a
pegar no sono. Exceto que no meio da noite, eu precisei atacar
minha mulher.
Acordei com Loretta bombardeando meu telefone com
solicitações via mensagem.
Mal abri os olhos e minha cabeça já estava doendo. Ziva
acordou quando estava massageando minhas têmporas. Ela olhou
para o meu aparelho, tomou da minha mão e desligou, colocando na
gaveta. Sem falar nada, segurou meu rosto, beijando minha boca e
me cobriu novamente para voltar a dormir.
Fazendo uma carícia, peguei no sono com o cafuné. Eu tinha
muitos compromissos, várias reuniões, mas ficar na cama foi a
melhor decisão que pude tomar para renovar as energias que não
imaginava serem necessárias.
Fui acordado com um barulho suave. Ziva estava enrolada no
roupão, segurando uma bandeja.
— O que é isso?
— Estou mimando meu homem. — Ela sorriu e soltou o apoio,
colocando a bandeja com café da manhã na cama.
— Seu homem?
— Alguém me acordou de madrugada para transar, grunhindo
que eu era dele, então, imagino que a recíproca seja verdadeira. —
Ela me deu um sorriso exuberante.
— Completamente verdadeira.
— Hoje nós vamos fazer coisas leves, chamei uma massagista
e também aluguei alguns filmes para assistirmos à noite.
— Massagista? — Balancei as sobrancelhas.
— Não desse tipo! — Ela me mordeu forte no braço. —
Pensando bem, eu farei a massagem.
— Estou gostando dessa ideia. Temos algum óleo?
— Quando compramos o vibrador, ganhei dois frascos. Aquela
mulher queria te agradar a todo custo. — Revirou os olhos.
— Gastamos dez mil em brinquedos sexuais, claro que ela
queria me agradar.
— Não foi só em brinquedos. Aquelas roupas íntimas tinham o
mesmo preço de um rim no mercado negro, mas você é sem noção
e não quis me ouvir que tinha mais barato em outra loja —
resmungou, eu ri com uma expressão de foda-se. Eu ganhava
milhares de dólares por minuto, mesmo sem trabalhar. — Riquinho.
— Não me importo. Aquele conjunto vermelho pode entrar na
massagem? Minha cabeça dói tanto…
Ziva riu e jogou um pedaço de pão em mim.
— Sonso. Eu vou pensar no seu caso…
Sem aviso, peguei-a de forma brusca. Ela gritou e quase
derrubou toda a comida na cama. Fiz cosquinhas e ela implorou que
parasse, mas sua risada alta era como música para os meus
ouvidos, aliviando a pressão no meu peito.
Eu podia sentir aquela felicidade florescendo dentro de mim.
Capítulo Dezesseis
Ziva
Klaus apontou a lanterna para o meu rosto e eu dei a língua. A
culpa não era minha que estávamos sem luz, mas ele tinha que
reclamar que era o excesso de luzes? A porra da casa tinha mais de
mil lâmpadas, que sequer ficavam acesas o tempo todo e foi
justamente a minha decoração de Natal que fez com que acabasse a
energia? Ele vestiu as roupas e foi para a garagem. Com medo de
ficar sozinha, fui atrás.
— Não precisamos sequer discutir. Use seus dons de homem
da casa, pegue as ferramentas e conserte!
— Se eu lhe mando agir como mulher da casa, você dá uma
crise épica me chamando de machista — ele resmungou de volta. Eu
ia retrucar, quando cobriu minha boca, apagando a lanterna. —
Quieta. O portão está sendo acionado manualmente — cochichou e
fomos para a janela da garagem, olhamos para a rua e
definitivamente, havia alguém do lado de fora com um carro.
Senti uma pontada no coração que não foi exatamente
agradável. Enfiei minha mão no bolso, acendendo a tela do meu
celular.
— Seu telefone também ficou sem sinal? — Mostrei meu
aparelho.
— Vá para o quarto do pânico. — Ele me puxou para a escada
e agarrei seu braço.
— Vamos para o quarto do pânico — corrigi.
Quem ele pensava que era? O super homem?
— Eu preciso ir até a cozinha usar o telefone comum para
chamar a polícia.
— Vamos fazer isso juntos, por favor. Estou com medo.
— Fique perto de mim. — Ele segurou uma barra de ferro.
Passamos pelo corredor sem fazer barulho. Era o meio da
madrugada, só acordamos porque não fazia muito tempo que Klaus
havia deitado, trabalhando até tarde, compensando os dias que tirou
folga. Enquanto eu segurava a camisa dele, ouvi enquanto ligava
para a polícia primeiro e depois para Patrick.
Acionamos o alarme do escritório, que não dependia de luz e
sim de um controle à bateria. Pelo reflexo do vidro da varanda, vi as
luzes da sirene do segurança do bairro e em seguida, sons de
disparo. O vidro quebrou, eu gritei e Klaus se jogou em mim,
cobrindo-me com seu corpo.
Ele me arrastou para debaixo da mesa de madeira e grudei
nele, com o coração dando saltos no peito. Tão rápido quanto
começou, terminou. Ouvimos o portão abrir e Klaus me puxou para
ficar em pé atrás dele.
— Senhor Delacroix?
— Klaus? Ziva? — Patrick gritou com um pouco de desespero.
Ele derrapou armado para dentro do escritório. — Porra, vocês
estão bem?
— Que caralho aconteceu?
— Uma tentativa de assalto mal sucedida. A segurança do
condomínio e a polícia receberam o alerta do alarme.
— Graças a Deus… — Suspirei, ainda agarrada a Klaus.
Em minutos, a casa ficou cheia: policiais, seguranças, vizinhos
igualmente assustados e no portão, até a imprensa. Nós demos o
depoimento mais de uma vez, a luz foi consertada e Klaus estava
furioso, grosseiro e preocupado. Eu tentava parar de tremer com o
susto e não conseguia.
— Deixe-me passar! Eu sou Camille Delacroix! — Ouvi um
gritinho feminino. Ela invadiu a sala, com o olhar alterado, procurando
o irmão. — Klaus!
— Estou aqui, Cami. — Ele saiu de trás de um grupo de
policiais. Ela se jogou nele, chorando. — Acalme-se, estou bem.
— Saiu nos jornais que havia um homem ferido e outro morto,
Patrick disse que estava bem, mas ele não falou nada sobre você e
entrei em desespero.
Puxei um pouco mais a colcha que me envolvia, pensando no
olhar de dor e medo que eles compartilharam. Algo tão profundo que
rompeu a barreira que Klaus levantou contra a irmã, porque ele a
puxou para um novo abraço dizendo baixinho que estava bem.
Eu funguei, emocionada. Ele me encarou com preocupação.
— Você está pálida, Ziva. — Cami apertou meu ombro. — Está
ferida?
— Não. Assustada.
— Eu vou invadir sua cozinha e preparar um chá.
Klaus me abraçou, pedindo para Patrick dar um jeito em
esvaziar a casa porque eu estava cansada. Deitei minha cabeça em
seu peito, ouvindo seu coração e aliviada de que foi apenas um
susto. A polícia iria investigar, mas não faziam ideia de quem poderia
ter sido.
Fui para cozinha com Cami. Ela abriu os armários, procurando
os itens necessários e eu orientei por alto. Apesar de Klaus ter
desafetos declarados, como ex-sócios, funcionários insatisfeitos e
concorrentes, eu sentia no fundo do meu coração que tinha tudo a
ver comigo.
Mangiello. A dívida foi paga, mas Klaus continuava querendo
saber quem ele era e o motivo de perseguir as mulheres
relacionadas ao clube. Eu não lembrava direito quando Tate
conheceu Paco, mas foi depois que entramos no clube e a pedra de
ruína final.
— Está bem doce, para você se acalmar.
— A tremedeira está passando. — Dei um gole, olhando para
Klaus falando com o detetive. — A mídia está noticiando muito?
— Uma cobertura completa.
— Tudo que Klaus odeia.
— Fiquei muito nervosa. Desculpe pela maneira que invadi sua
casa…
— Eu faria o mesmo se fosse meu irmão.
Cami pegou seu telefone tocando na bolsa e fez uma careta.
Ela apagou a tela.
— Mamãe quer falar com Klaus.
Klaus tinha uma mãe? Cami percebeu minha expressão alterada
porque era uma novidade.
— Sua sogra já sabe sobre você e está louca para te conhecer,
mas está respeitando o tempo de Klaus. O relacionamento da nossa
família não é dos melhores. — Ela também olhou para ele. — Alguns
sustos são necessários para mostrar o que realmente vale a pena.
O peso de não saber nada sobre a vida de Klaus me deixou
enjoada. Nós dormíamos juntos, ele sabia toda a minha vida de
ponta a ponta. Escolhi não ter segredos com ele e aconteceu o que
eu não consegui lutar contra: ele manteve os muros dele.
Ficou um pouco óbvio o quanto eu estava despida enquanto ele
tinha segredos guardados a sete chaves. Não foi falta de aviso.
Klaus disse que manipularia minhas emoções porque era assim que
funcionava: controlando, submetendo as suas vontades e por mais
que me mimasse muito, eu não fazia parte da vida dele.
Maldito contrato.
— Acho que preciso deitar. — Empurrei a caneca. — Obrigada
por ser tão atenciosa.
Cami não deve ter entendido a mudança do meu tom e humor,
mas eu estava cansada e escolhi ficar no limite sobre o que me
incomodava, até conseguir digerir, porque eu fiz uma escolha ao
assinar aquele acordo e precisava lidar com as consequências.
Minha vida era uma mentira.
Klaus não era meu de verdade. Eu sequer sabia que a mãe
estava viva em algum canto desse mundo. Ele nunca falava da
família ou do passado. A culpa era de quem?
Passei por eles sem falar nada. Não tinha muito a dizer,
principalmente com os eventos da noite. Entrei no quarto sem
acender as luzes, um pouquinho preocupada que alguém surgisse da
escuridão para me agarrar, mas não o suficiente para reagir.
Deitei na cama com a mente fervilhando. Quando ele apareceu,
muito tempo depois, fingi dormir até realmente pegar no sono.
Acordei diversas vezes com ele tão perto de mim que estava quente.
Dormimos muito e mesmo depois de horas de descanso, meus
olhos ainda ardiam.
— Sente-se melhor? — Ele virou na cama, tirando meu cabelo
do rosto. — Estava pálida e trêmula. Teve um sono agitado…
— Foi por pouco. Se continuássemos dormindo ou se
tivéssemos bebido muito, nem ouviríamos a entrada deles. Foi
sofisticado e organizado.
— Eu tenho muitos inimigos, Ziva. Irrito muitas pessoas
diariamente.
— Não acha que foi Mangiello?
— Teoricamente não existe um motivo plausível além da morte
de Paco… mas obviamente, eu não descarto o envolvimento dele.
Afinal, nossas histórias parecem relacionadas de alguma maneira
que eu não tenho explicação.
— Eu ainda acho que é alguém que fez ou faz parte da sua
vida. Você tem muitos segredos e mistérios…
Klaus franziu o cenho e com o indicador, ergueu meu queixo.
— O que está insinuando?
— Nada. Estou conjecturando que pode ser alguém do seu
passado, me desculpa se te ofendi. — Desvencilhei-me das
cobertas. — Vou tomar banho. Eu não cumpri meu horário de
exercícios hoje.
Dei a volta na cama e ele se sentou.
— Pode ir parando aí, porra. Eu vou perguntar o que está
acontecendo nessa cabeça uma única vez. O que deu em você?
Está com raiva por ontem? — Ele também ficou de pé. — Não foi
minha culpa. Não tenho feito muita coisa para irritar alguém
recentemente.
— Não está acontecendo nada, sou apenas consciente das
minhas responsabilidades. — Dei as costas, indo para o banheiro.
— Pare agora! Ziva…
— O que foi?
Ele fechou completamente a expressão.
— O que a minha irmã falou com você?
Merda. Eu não podia confessar que ela deixou escapar sobre a
mãe deles. Klaus se afastaria. Não era justo com a relação
danificada deles que eu fizesse qualquer coisa para afastar.
— Sua irmã só me deu um chá, estou cansada, irritada e quero
tomar banho. Temos um contrato. Você cumpre todas as partes dele
com maestria e eu não gosto de falhar com as minhas…
Daquela vez ele me deixou ir, porém, muito desconfiado de que
eu não estava arisca só por ter um humor ruim. Eu não estava
conseguindo controlar a mágoa da minha própria inexperiência no
jogo. Ele acabava dançando conforme as minhas regras e ainda não
era o suficiente.
Eu estava na dúvida se aquele era o momento de derrubar seus
muros como um trator demolindo uma casa ou se deveria pensar em
uma estratégia mais sutil.
Sem respostas e sendo manipulada sentimentalmente eu não
iria ficar.
Capítulo Dezessete
Ziva
Klaus me observou malhar e não tirou os olhos de mim pelas
horas seguintes. Ele não foi trabalhar no escritório, ficou em casa o
tempo todo e até me irritando um pouco, porque trouxe um vai e vem
de funcionários em reuniões. Loretta estava muito nervosa, Patrick
ficando por perto exageradamente e eu precisando organizar a festa
de Natal do grupo Delacroix.
A maneira como ele se tornava intragável e difícil de lidar
quando ficava irritado, me fazia questionar como era possível
conviver sem estrangulá-lo durante o sono. Ele percebeu a minha
frieza, porque eu era tomada pelas minhas emoções, impulsiva e
pronta para brigar. Engolir calada não era nada bom e infelizmente,
questioná-lo estava fora de cogitação. Eu só tinha que abrir um
caminho para vencer aquela barreira.
— Ziva? — Ele me procurou pelo corredor, entrando no quarto.
— Você está bem?
— O que precisa?
Klaus me deu um olhar gelado.
— Não foi isso que perguntei.
Abri um sorriso doce.
— Estou ótima e curiosa sobre o que seus investigadores têm a
dizer. A polícia deu algum retorno?
— Estão analisando as câmeras de segurança de toda a
vizinhança. — Ele tirou o relógio e colocou na mesinha. — O que vai
fazer agora?
— Eu ia tentar fazer ioga, não estou muito concentrada, talvez
deixe para mais tarde. E você? Banho e mais trabalho? — Cruzei
minhas pernas em posição de borboleta, olhando com interesse.
Dependendo do que fosse fazer, iria dormir.
— Não. Vim ficar com você. — Ele segurou meu pescoço, seus
olhos escuros me analisaram friamente e me beijou. Eu odiei o
quanto amoleci, desejando mais beijos e principalmente, ficar com
ele.
— Loretta parecia muito estressada e com muito trabalho.
— Isso é problema dela — ele rebateu de forma seca. Dei-lhe
um olhar bravo, ele podia até ser todo misterioso com a vida dele,
mas não podia ser grosso comigo ou o faria comer o próprio pau. —
Desculpe, bebê. Também estou estressado e quero tirar um tempo
com você, apenas isso.
Eu queria ter cabeça para pensar em todo o quadro, porque
sabia que Klaus estava jogando comigo, ele me sentiu distante
emocionalmente e queria me puxar de volta. Começou a tirar a
roupa, me convidando para o chuveiro e eu não conseguia resistir.
Deveria saber uma maneira de construir uma distância entre nós,
como o contrato determinava.
Acionando o chuveiro na água morna, na exata temperatura que
eu gostava, deixou as luzes no tom suave que me relaxava e pegou
meu sabonete líquido favorito. Perguntei-me como ele podia saber
tanto sobre mim, se importar com pequenas coisas bobas e ainda
me deixar de fora.
— Pare de pensar tanto, Ziva.
— O que te faz crer que ando pensando demais? — Peguei a
esponja, passando-a em seu peitoral.
— A convivência me fez te conhecer um pouco mais. Você é
dominada por suas emoções, está sempre buscando se divertir, é
desinibida e brincalhona. Nunca deixa de ter uma resposta esperta e
mais ainda, gosta de ficar perto. — Ele segurou minha cintura. — Ou
está com muito mais medo sobre o que aconteceu ou algo mais está
acontecendo que não quer falar comigo. Seja o que for, eu não vou
te deixar ficar longe. Você não vai se afastar.
Parei os movimentos, sem conseguir encará-lo. Ele tocou
minhas bochechas, acariciando meus lábios com o polegar, o que me
fez erguer o rosto, deliciada com aquele carinho.
— Não estou me afastando, só aconteceu muita coisa e acho
que não tive tempo para assimilar.
— E por que não está conversando comigo?
Eu encolhi os ombros. Não tinha uma resposta que fosse
gostar, porque queria acusá-lo de muitas coisas que não eram meu
direito. Ao invés de respondê-lo, abracei-o, encostando minha
cabeça em seu peito. Isso fez com que ele interpretasse que eu
estava apenas com medo e deixei assim, aproveitando a
oportunidade para chegar mais perto e, quem sabe, escorregar para
dentro de seu coração.
Klaus começou a me lavar, acariciando cada pedaço de pele
com as mãos e a boca. Era incrivelmente erótica a maneira com que
ele conseguia me enfeitiçar. Do chuveiro, fomos parar na cama, sem
nos secar direito, deitei e o observei pingar gotas de óleo entre meus
seios até o umbigo. Soltei um arquejo ao sentir esquentar e depois,
ele assoprou.
Espalhando óleo pelo meu corpo, beijou meu joelho.
— Sua boca está muito longe da minha — falei baixinho.
— Minha boca é sua. — Ele inclinou-se, brincando com meus
lábios, beijando meu queixo, pescoço e provocando meus mamilos
com os dedos.
— Me beija.
— Você é minha, Ziva? — Klaus pressionou a ereção em mim,
gemi, mordendo meu lábio inferior.
— Você sabe que sim. — E era a droga de uma verdade.
— Eu sei? Quero que diga…
— Sou sua, Klaus Delacroix. — Segurei-o pela nuca, beijando-o.
Ele suspirou, encostando a testa na minha. — Completamente sua.
Eu me sentia esmagada. Ele dizia para que eu não me
apaixonasse, mas era tarde demais… para nós dois. Ou pelo menos,
era para mim. Ao contrário dos planos iniciais, fizemos amor
lentamente, unidos, aos beijos e ao atingir o orgasmo, as lágrimas
caíram. Tudo que sentia era forte e inexplicável, eu apenas queria
fazer parte dele como ele fazia parte de mim.
Peguei no sono com a bochecha colada em suas costas, mas
acordei sozinha. Estava escuro e a fome me expulsou da cama.
Busquei uma roupa confortável, prendi o cabelo e quis saber onde
ele estava. Provavelmente voltou a trabalhar. Ele só queria me
controlar, me manter conectada, depois que conseguiu, foi fazer o
que bem entendia.
Antes de descer a escada, parei ao ouvir a voz dele.
— O que você falou para Ziva ontem à noite?
— Boa noite para você também, querido irmão. — Ela soou
doce, sabendo que iria irritá-lo por não responder a pergunta.
— Deixe de besteira, Cami. Você estava nervosa ontem e deve
ter falado alguma coisa. — Klaus cortou a irmã de forma rude.
— Estava preocupada com você. Haviam noticiado que tinha um
homem morto e me desculpe por não querer perder outro membro
da minha família.
— O que você falou? — Ele repetiu a pergunta, perdendo a
paciência.
— Eu ofereci chá, acho que falei da mídia e ah, que a mamãe
estava preocupada. — Ela sentou no sofá e cruzou as pernas. Klaus
xingou baixinho. — O quê? Você pode dar a ela a vida de princesa,
mas não quer que ela saiba da sua família? Como é dividir a vida
com uma pessoa oferecendo apenas meias verdades?
— Vai se foder, porra. Pare de me analisar.
— Alguém precisa fazer isso, deveria voltar para o seu
psiquiatra e tratar dessa sua compulsão por controle. Você não pode
envolver uma pessoa na sua vida sem que ela saiba quem é de
verdade. — Cami foi incisiva, mas a maneira na qual soou, fez
parecer que Klaus era um monstro e ela o culpava daquilo. — Ziva
tem todo direito de saber da verdade. Se ela te ama, vai escolher
ficar. Se for embora, é porque não deveria estar na sua vida.
— É com esse sábio conselho que está reatando com seu ex-
marido? Será que não deveria deixá-lo ir? Ou esqueceu que a mania
de controle está no nosso sangue?
— Patrick e eu estamos tentando porque nos amamos,
queremos ser felizes e eu tenho a secreta esperança de que com
Ziva, você também encontre a felicidade. — Cami relaxou a postura.
— Estou grávida, Klaus. Eu amaria criar meu filho com o pai.
Eu podia considerar que Klaus ficou completamente sem fala.
— É uma pegadinha? — ele sussurrou, se aproximando dela. —
Cami, se estiver brincando com isso, eu vou te matar.
— Não é uma brincadeira. Patrick pediu um tempo para te
contar, porque não sabia como iria reagir, mas nós tivemos um
encontro e isso gerou um bebê. Estou com oito semanas… ainda é
cedo para saber o sexo, fui ao médico hoje, vamos fazer um exame
de imagem na outra semana.
— Camille, porra. — Klaus a abraçou apertado e eu quis chorar.
Ela deitou a cabeça no peito dele, ficaram em silêncio e admirei o
quão bonitos eles eram juntos.
— Faz tempo que um bebê não nasce nessa família.
— Por minha culpa — Klaus falou baixinho.
— Seu filho não morreu por sua culpa, Klaus — ela falou baixo,
mas eu ouvi perfeitamente. Klaus teve um filho. — Foi má formação
genética, ele lutou, tanto quanto pôde. Sei que você o amou e fez o
que estava ao seu alcance. Por três horas, ele sentiu seu amor e foi
mais do que o suficiente para descansar em paz. Por favor, te
imploro para que entenda isso.
Klaus não falou nada, ele beijou a testa dela e saiu, indo em
direção ao escritório. Encostei na parede, decidindo voltar para o
quarto, deitei na cama e fechei meus olhos com a mente explodindo.
Eram tantas informações que chegava a latejar. Cobri meu rosto,
assimilando o quanto a dor dele era profunda, cheia de camadas.
Eu não podia imaginar a dor de perder um filho.
— Ei, Ziva. — Ele tocou meu ombro e me assustei. — Calma,
desculpe. Só vim te acordar para comer. Cami e Patrick têm uma
novidade.
— Eu ia descer, voltei para a cama por estar com dor de
cabeça.
Ele tirou meu cabelo do rosto, que estava bagunçado do rabo
de cavalo se desfazendo.
— Deve ser falta de comida. Não vi se alimentando direito. —
Pegou minha mão, me ajudando a levantar, soltou meu cabelo e me
deu um beijo. Descemos de mãos dadas, Patrick e Cami estavam na
cozinha abrindo caixas de pizza. Klaus riu ao meu lado. — Seu alívio
em ver pizza e não um prato com legumes foi engraçado.
A irmã dele riu, dando uma mordida generosa e eu logo
acompanhei.
— Depois de tudo o que aconteceu, eu só preciso de
refrigerante e gordura. Comida saudável não é confortadora.
— Não mesmo. Inclusive, beberei uma cerveja. — Patrick foi
até a geladeira. Klaus disse que queria uma e eu neguei, aquela
mistura não era agradável ao meu paladar.
Nós comemos conversando sobre assuntos amigáveis,
divertidos. Cami contou sobre a gravidez e a felicidade no olhar dela
me desmontou toda. Patrick parecia orgulhoso. Eles ainda não
sabiam como levariam o relacionamento adiante, porque estavam se
divorciando, ficaram dois anos sem olhar no rosto um do outro. A
única coisa certa era que estavam felizes com aquele bebê não
planejado.
Eu não acreditava que mulheres só podiam ser felizes com
filhos, mas também acreditava no amor maternal. Se Cami estava
feliz, eu também ficaria. O apoio que ela precisasse, mesmo sem
nos conhecer direito, eu daria. Klaus estava feliz, só não admitiu. Ele
amava a irmã e Patrick. A relação deles era muito forte.
— Por que está quase chorando? — Patrick implicou comigo.
— Estou feliz porque estão felizes, ainda estou meio emocional
por tudo o que aconteceu e isso é um refresco.
— Você tem toda razão, cunhadinha. — Cami me abraçou.
Estava emocionada porque lembrei do quanto a notícia foi como
uma bomba para Klaus. Ele culpava a si mesmo pela morte do filho.
Eu sabia que havia mais coisas dolorosas. O quão obscuro era seu
passado para que ele pensasse que não o amaria conhecendo-o de
verdade?
Capítulo Dezoito
Ziva
A festa de Natal da empresa estava linda. Klaus me deu um
sorriso orgulhoso por ver tudo bonito, bem decorado e
principalmente, com uma organização impecável. Eu sabia que ele
daria um ataque épico se fosse qualquer coisa remotamente
bagunçada e foi uma das minhas principais exigências com as
assistentes que Loretta designou. Acostumadas com o chefe pé no
saco, entenderam rapidinho que não poderíamos falhar.
Não era um evento para crianças, apenas funcionários com
acompanhantes adultos, estava cheio e as mesas com muitas
conversas e risadas. Klaus e eu estávamos perto do palco, rodeados
de pessoas que eu não conhecia e queriam puxar assunto, fazer
parecer que eram próximos do poderoso chefão. Ele manteve a mão
na minha cintura, sem esquecer do ciúme bobo que nos fez brigar
antes de sairmos.
Meu vestido era vermelho e brilhante como Vegas. Longo, com
um lascado generoso até o meio da minha coxa, sem decote, mas
com as costas inteiras nuas. Usei um cordão inverso, com uma joia
brilhando na curva do meu cóccix para o bumbum.
Um homem se aproximou e deu uma boa olhada em mim antes
de piscar e cumprimentar Klaus, gaguejando. Ele saiu quando
percebeu estar perto de levar um soco na boca.
— Eu vou matar o próximo filho da puta que…
— Comporte-se… — cantarolei, dando um beijo em sua
bochecha. — Você disse que eu estava linda quando experimentei o
vestido.
— Você foi muito baixa, Ziva.
— Por que? — Me fiz de inocente.
Klaus só me olhou e voltou a encarar a festa. Cobri minha boca
para rir discretamente, imaginei que ele poderia dar um ataque com
o vestido e mostrei para ele quando estava no sono do pós sexo. Ele
achou lindo, tivemos mais uma rodada e deixei que o modelo caísse
no esquecimento, guardado no fundo do armário, sem mencionar
novamente e fazendo-o acreditar que eu usaria o vestido preto que
passou uma semana pendurado no cabideiro.
Patrick e Cami se aproximaram, atrasados e um pouco
bagunçados.
— Desejos grávidos? — provoquei. Klaus grunhiu e Cami sorriu
como o gato que havia comido um bom canário, enquanto Patrick
ficava com as orelhas vermelhas. — Acho que estou com desejos
também — cochichei para Klaus. — Ouvi dizer que as salas do
segundo andar estão abertas… e têm chave na porta.
Klaus disse que iríamos pegar mais bebidas, viramos juntos e
estávamos quase fugindo da festa quando fomos abordados por um
casal.
— Todd! Ei! Pensei que não fosse vir. — Klaus pareceu feliz.
— Consegui pousar mais cedo — Todd respondeu com alegria.
— Oi, Klaus! Como vai? — A esposa dele foi simpática. —
Você deve ser Ziva. Fico feliz em conhecê-la. Klaus fala muito sobre
você.
— Eu compro aquela torta de chocolate na loja dela — Klaus
me explicou e eu fiquei exuberante que ele falava sobre mim para
pessoas fora da família. — Todd é um dos meus advogados. Ele
conheceu seu pai.
— Ah, obrigada por gravar o vídeo. Eu assisto o tempo todo. —
Apertei a mão dele.
— Eu estou ao seu dispor, senhora. — Todd inclinou a cabeça.
— Doryan está pela festa?
— Não lembro se meu primo confirmou presença. Ele não tem
sido o mesmo há algum tempo…
Os homens começaram a falar em um tom baixo, aproveitei o
momento para fazer a social com a esposa de Todd. O nome dela
era Margot e também conhecia Cami. Minha escapada para uma
rapidinha foi interrompida, mas pelo menos, eu tive um momento de
muitas risadas com outras mulheres.
Eu sentia falta de ter amigas. Klaus vivia me incentivando a ir
em uma academia do nosso bairro, fazer amizades, mas eu sempre
achava que era inadequada entre tantas mulheres que nasceram
ricas. Sempre que meu sotaque aparecia em uma conversa, recebia
uma olhadinha torta.
— O show vai começar. — Klaus me encontrou, pegando minha
mão. Puxou-me para poder ficar de pé e não me deu espaço, logo
me agarrando. — Você está linda. Que sorte a minha de ser o
homem estando ao seu lado.
Eu sorri, toda boba. Abracei-o e ganhei um beijo, que chamou a
atenção de várias pessoas ao nosso redor. Ele segurava minha mão
e tocava minha cintura, mas sempre foi discreto com nossos toques
em público. Fomos conduzidos para nosso lugar na frente, na
primeira mesa diante do palco, onde teria a apresentação de uma
cantora muito famosa que cobrou caro para uma hora de show.
Os convidados foram à loucura quando ela entrou no palco,
acenando e puxa vida, fiquei abismada com o quanto era mais bonita
pessoalmente. Recostei na cadeira e Klaus me puxou para seus
braços. Ela cantava tão bem que em algumas músicas, cheguei a
chorar, secando as lágrimas com o lenço dele. Cami riu de mim,
dizendo que ela que estava grávida e eu a emocional.
— Só espero que você não esteja grávida também — Klaus
brincou e eu neguei no mesmo instante. Ele sabia ser impossível,
minha menstruação quase me fez matá-lo na semana anterior. Eu
também considerei assaltar uma loja de chocolates.
Se ele estava brincalhão, eu decidi jogar.
— Nada de bebês até que seja perfeitamente planejado.
Klaus deu um gole de seu uísque e beijou meus lábios,
encostando a testa na minha, como se pudesse sonhar com aquela
possibilidade. Abracei-o quando tocou uma música romântica,
cantando alguns trechos no seu ouvido, ele me colocou em seu colo
e meio que dançamos juntos ali no escuro enquanto a estrela brilhava
no palco.
Estava contando os minutos para chegarmos em casa e
ficarmos sozinhos. Acostumada com a nossa bolha, ficar muito
tempo em público era exaustivo.
O show acabou e o jantar foi servido. A organização me
entregou um rádio para me comunicar com a cozinha, mas tudo
estava correndo muito bem, tirando alguns funcionários bêbados
começando a falar mais alto e a derrubar coisas. Cami e eu ficamos
sozinhas pouco antes de irmos embora, ela estava falando animada
quando seu tom e olhar mudaram completamente.
— Olá, Camille. Como vai?
Eu girei e me deparei com a mulher que ligava para Klaus de
vez em quando.
— Gisele! Estou bem e você? — Cami respondeu
educadamente, percebendo que eu estava sendo encarada. — Você
já conhece a Ziva?
— Não tive esse imenso prazer.
— Ziva, essa é Gisele Mansur. Empresária bem conceituada
aqui em Vegas e recentemente, adquiriu o The Lounge. — Cami
gesticulou entre nós duas. — Ziva Costello, ela quem organizou esse
lindíssimo evento e é minha cunhada.
— Cunhada? Interessante. — Ela sorriu de um jeito frio. Odiei
estar sentada, porque parecia que tinha certo poder sobre mim,
estando em uma pose arrogante com seu corpo perfeito e o sorriso
de miss universo.
— The Lounge é o restaurante favorito do Klaus, nós adoramos
ir lá. A comida é maravilhosa.
— Passarei o recado ao chef, mas sei que é o favorito do Klaus
há muito tempo, desde que estávamos noivos. — Gisele sorriu com
um trunfo, porque minha expressão me traiu. Ela era a ex-noiva.
Seria a mãe do bebê também? — Sabe como é Klaus, ele gosta de
algumas novidades, quando enjoa, volta para seus confortos antigos.
Filha da puta! Ela queria uma resposta? Tudo que pensava em
responder era enfiando meus dedos nos olhos daquela vaca.
Reconheci outra mulher se aproximando e bufei. Elas tinham
que ser amigas.
— Olá, Cami.
— Carrington. — Camille foi indiferente. — Ziva, essa é a puta,
desculpe, adorável ex-mulher do meu marido.
Cary e Patrick? Puta que pariu.
— Agora entendi por que achava que conhecia a senhora
Mansur. — Inclinei minha cabeça para o lado, subindo meu olhar por
ela, caprichando no desprezo. — Conheci Cary em um almoço de
negócios, no qual ela adorou esfregar esses peitos falsos no braço
de Klaus a cada oportunidade, mesmo na frente do marido. Agora
vendo que as duas mulheres do passado são amigas, reconheci o
veneno que corre nas veias de ambas.
Cami soltou uma risada, eu peguei a taça e dei um gole do vinho
para acalmar minha vontade de voar no pescoço delas.
— Cuidado, Gisele. Sua amiga quer sentar na cadeira que você
acha que é dona. Enquanto isso, eu vou me divertindo, tá? Prometo
não devolvê-lo muito gasto. — Dei uma piscadinha.
Cary segurou Gisele, que se moveu para avançar em mim. O
segurança que estava mais próximo pulou na frente, chamando a
atenção. Continuei sentada, fazendo uma expressão doce e inocente,
levando a mão ao peito por ter tomado um susto. Cami ficou de pé,
sangue quente como o irmão, querendo brigar de volta e a puxei,
arregalando os olhos e sussurrando para que bancasse a sonsa.
Patrick se aproximou rápido e Cary tentou choramingar com ele,
entrando no caminho e dizendo que foi apenas um mal-entendido.
— Ai, meu Deus! Não desmaie, Cami! — Dei batidinhas em seu
rosto, ela entendeu meu jogo e ficou toda mole. Patrick empurrou
Cary para o lado, ajoelhando ao meu lado e gritando por um médico.
Klaus chegou com sua voz de trovão e a maioria saiu de perto.
Ele tocou meu ombro, querendo saber se estava bem, abaixando na
minha frente. Sem olhar na direção de Gisele e da amiga, que foram
afastadas gentilmente por Loretta e dois seguranças, abracei-o,
fingindo estar abalada e em suas costas, sorri. Esperava que ela
tivesse aprendido a lição em me provocar.
Eu não sabia como o relacionamento deles havia terminado,
mas quando o conheci, garantiu estar solteiro há muitos anos. Não
precisava passar por aquela situação desconfortável de novo. Os
paramédicos garantiram que Cami estava bem, mas deveria ir para
casa, descansar. Não era recomendado uma grávida sofrer nenhum
tipo de estresse.
Klaus aproveitou para irmos embora juntos, saindo da festa que
não tinha hora para acabar pelos fundos.
Patrick e Cami estavam em um carro diferente do nosso.
Enrolada com o terno dele, fiquei olhando para a estrada.
— Você está bem? Ela chegou a te agredir? — Ele pegou
minha mão e beijou, acariciando meu pulso.
— Por que nunca me disse que seu restaurante favorito
pertencia a sua ex-noiva? — questionei, ainda olhando para a janela.
— Nós vamos lá quase toda semana. Temos nossas noites de
encontros em um lugar que pertence à mulher com quem você quase
casou.
— A informação não era importante e muito menos do seu
interesse. — Ele tentou chamar minha atenção para que eu virasse
meu rosto. — Ela ser dona do local é completamente irrelevante
para mim. Frequento o local antes mesmo de pertencer a ela.
Eu me virei no banco, completamente indignada.
— Não era do meu interesse? Como você ia se sentir se meu
local favorito fosse o restaurante do meu ex-namorado que ainda me
quer?
— Nós tivemos uma noite incrível. Por que temos que brigar por
causa de alguém como Gisele? — Ele acalmou o tom, segurando
minha mão e beijando-a. Eu fiquei quieta por todo o trajeto restante,
saí do carro antes que o segurança pudesse abrir minha porta e fui
direto para o quarto. Entrei no closet com ele atrás de mim. — Ziva,
por favor, ela não é importante e não tem que estragar nossa vida,
porra. Estávamos bem.
— Estávamos? Será?
— O que você quer dizer?
— O que eu quero dizer é que a porra do contrato é o único
motivo pelo qual não estou gritando feito louca. — Apontei para o
cofre, onde ficavam as nossas cópias. — Estou com ciúmes, Klaus.
É isso que você quer que eu deixe claro? Você teve uma vida com
uma pessoa que ainda te ama. Uma vida que eu não sei porque você
me deixa de fora. É sua escolha não me contar sobre seu passado e
a sua família.
— Ziva… — Ele deu um passo à frente.
— Você me fez esquecer do contrato. Ficou mais fácil me ter
entregue, amando a nossa vida e rotina. A bolha perfeita que
criamos praticando ioga juntos, tendo refeições, saindo para
caminhar, assistindo filmes e acompanhando séries… e no fundo, eu
não sei quem é Klaus Delacroix. Eu não sei quem é o homem por
quem me apaixonei, se o que divide a vida comigo é o seu verdadeiro
eu. — Respirei fundo. — Agora, eu quero ficar com raiva e com
ciúmes. Mas não se preocupe, eu vou tomar banho para acalmar a
vontade de gritar e chorar. Amanhã você vai ter a garota perfeita
com quem assinou o contrato.
— Eu não quero a garota perfeita.
— Não? Então por que não falamos sobre sentimentos? Por
que eu não sei quem é sua mãe? O que aconteceu com a sua
família? Se você não quer a garota perfeita, por que existe um muro
entre o seu coração e eu?
Estava prestes a chorar e não queria fazer aquilo na frente dele,
então, dei as costas e fui para o banheiro.
Capítulo Dezenove
Klaus
— Você quer saber os meus sentimentos? — Eu a parei antes
de entrar no banheiro. Ela fungou, querendo esconder que estava
chorando a todo custo. — Quando estou com você, eu sinto
satisfação. Eu queria um relacionamento que o prazer fosse
duradouro, além do sexo casual, com uma conectividade que não se
rompesse.
Ziva virou-se para mim com os olhos vermelhos.
— Satisfação?
— Sim. É diferente, porque você não é só como uma namorada,
é uma amiga. Alguém com quem eu me sinto confortável em acordar
rabugento porque sei que vai fazer alguma bobeira para me tirar uma
risada ou se estiver igualmente irritada, vamos beber café olhando
para o nada sem cobrar interatividade do outro. — Segurei sua mão
e entrelacei nossos dedos. — Você me abraça toda noite,
entrelaçando os pés nos meus e beija meu peito mesmo em seu
sono. Isso faz com que eu me sinta um homem amado.
— Mas… — Ela engoliu seco. — Você não quer sentimentos.
— Eu não quero alguém que tente me consertar e fique
frustrada por não conseguir. Eu não preciso de uma mulher tentando
ser minha mãe e resolvendo meus problemas, só queria uma mulher
ao meu lado, mas você foi além, sendo minha companheira em noites
que trabalho até tarde, preocupada se eu estava bebendo demais,
passou até a preparar chá.
— Eu não quero te consertar, Klaus. — Ziva balançou a cabeça.
— Quero te conhecer, sentir que faço parte da sua vida, te apoiar
nos bons e maus momentos. Eu quero sentir que amar você não vai
me destruir. — Seu semblante mudou e ela começou a chorar,
batendo no meu peito. — Não quero esse aperto no meu peito que
mesmo dormindo ao seu lado toda noite, não tenho o maldito direito
de ter uma crise de ciúme porque no fundo, você não é meu.
— Eu sou seu — afirmei com toda a verdade do meu coração.
— Satisfação e prazer, amizade e amor, eu só aprendi a diferença
disso porque você me permitiu conhecer o seu lado mais bonito e o
mais feio.
— Me deixe conhecer todos os seus lados. O que te faz pensar
que vou sair correndo? Eu só quero estar aqui dentro. — Apoiou a
mão no meu peito.
— E se aqui for o pior lugar do mundo? — Coloquei minha mão
por cima.
Ela lambeu o lábio, com o rosto todo molhado de lágrimas e
olhou bem dentro dos meus olhos, com tanta certeza que soube que
ela não estava disposta a ir embora.
— Se eu não corri com você sendo um idiota estúpido, difícil de
lidar, arrogante, que fica calado a maior parte do tempo e quando
abre a boca é para dar um fora em alguém… o que vai me fazer ir?
— Subiu a mão para o meu pescoço e eu encostei minha testa na
dela. — É verdade que sempre volta para ela?
— Oh, bebê. Sua insegurança é tão boba. — Sorri, segurando
seu queixo e a beijei. — Por muito tempo, meu coração estava vazio
e Gisele foi a única mulher que amei. Planejamos uma vida juntos,
uma família, tivemos um filho que…
Ziva apenas me encarou com doçura e continuou no mesmo
lugar.
— Ele tinha uma má formação genética, descobrimos ainda na
gestação e não havia nada que pudéssemos fazer. Era irreversível,
se ele sobrevivesse, teria muitas limitações. — Passei meu braço
por sua cintura, precisando senti-la, porque meu peito doía ao
lembrar do meu filho. — Ele viveu por três horas depois do parto.
— Eu sinto muito, Klaus.
— Eu também sinto… — Fechei meus olhos, beijando sua testa.
— Meu relacionamento com Gisele apenas decaiu depois disso. Nós
não soubemos lidar com a perda. Tivemos muitas idas e vindas,
sempre com a culpa, a dor nos unindo de alguma maneira, mas não
era bom continuarmos juntos. Quando Elisa, a irmã do Patrick,
morreu, eu afundei um pouco mais na escuridão e decidi dar um
ponto final. Desde esse dia, eu nunca mais me aproximei dela
romanticamente, nem de maneira saudosa e não importa o que ela
diga, eu não quero voltar.
— Não a ama mais?
— Eu não a amo há muito tempo e agora, meus sentimentos
pertencem a você. Não sou fácil de lidar, ainda acredito que não
mereça nenhum tipo de felicidade e sou constantemente castigado
por atos cruéis do meu passado. Eu…
— Se você não a ama e não quer ficar com ela, eu vou
acreditar. Sua palavra é tudo o que importa, até que traia minha
confiança. — Ficou na ponta dos pés. — Eu sinto muito pela dor que
vocês compartilharam, sinto mais ainda pelo seu coração ter partido
ao perder seu filho. Sei que tem mais e isso te faz sentir medo de
ser feliz, mas estou aqui. Eu quero estar aqui.
— Com ou sem um contrato?
Era importante para mim ouvir de sua boca, mesmo que no meu
íntimo, já soubesse a resposta. Ela abriu um sorriso que me
enlouquecia.
— Sabe que sem um contrato, meu sapato vai voar na sua
direção cada vez que uma mulher insinuar que vai me deixar para
voltar para ela. Aquele pedaço de papel é a única coisa que me
mantém… não agressiva. — Mordeu meu lábio, me provocando.
— Acho que vou correr o risco. — Fui até o cofre, digitando a
senha. Ziva tropeçou ao me acompanhar para o quarto, acendi a
lareira elétrica e joguei os contratos no fogo.
— O que está fazendo? Está maluco? — Ela agarrou meu
braço, com os olhos arregalados. — Eu me declarei e você quer
terminar?
Comecei a rir, fugindo dos tapas e segurei sua cintura, dando-
lhe diversos beijos na boca, bochecha, queixo e na pontinha do
nariz.
— Não quero terminar, maluca. O contrato está sendo
queimado porque eu quero tentar… sem regras, sem dias marcados
para encontros e sem podar os sentimentos. — Desci minhas mãos
para sua bunda e apertei. Ela abriu o sorriso mais lindo do mundo,
com um olhar brilhante, apaixonado e eu só a beijei, tomado pela
exuberância do momento e as batidas do coração explodindo. Ziva
gemeu contra minha boca, agarrando meu cabelo e foi tentando abrir
minha camisa.
— Acho que essa noite merece uma comemoração mais
adequada. Eu estava planejando te deixar na seca e implorando sexo
pelos próximos dias, mas aí…
— Sei que você é perfeitamente capaz de ser cruel…
Ziva soltou um gritinho ao ser pega no colo e cruzou as pernas
na minha cintura. Joguei-a na cama de forma brusca, rasgando o
vestido que eu amei e odiei igualmente. Ele era sexy e revelador,
fazendo com que a maioria dos homens perdessem a fala ao vê-la.
Até Patrick brincou que minhas orelhas ficariam quentes naquela
noite.
Ela não tinha culpa de ser linda e nem que eu era um idiota
ciumento. Sem o contrato, eu podia picar aquela roupa todinha e
mostrar que o único homem que tinha o poder de tocá-la era eu,
porque ela era minha. Rindo, tirou as sandálias e jogou-as longe.
Vestida apenas com uma calcinha pequena, sentou na cama e abriu
meu cinto.
Puxando minha camisa de dentro da calça, ela abriu com tanta
força, que os botões voaram longe. Com um olhar safado, mordeu
entre meu umbigo e a cueca. Tirei meus sapatos, com as meias e
talvez, nunca tenha ficado nu tão rápido. A pressa era unicamente o
desejo de estar dentro dela.
— Klaus Delacroix… você é meu? — ela sussurrou de um jeito
sedutor, tocando meu pau, passando os lábios pela cabeça e
colocando a língua para fora. Ah caralho… — Hum? Você é?
Fiquei todo arrepiado.
— Não existe uma parte minha que não seja integralmente sua.
— Bom saber. — Ela sorriu antes de levar meu pau
completamente à boca.
Puta que pariu!
Eu já estava duro, com aquelas chupadas, fiquei ainda mais e o
tesão era tanto que precisei trincar os dentes para controlar a força
em que queria foder aquela boca duramente. Ziva me provocou,
impiedosa. Avisei que iria gozar e a maldita não parou, querendo
levar toda minha porra na boca.
— Eu amo te ver gozar. — Passou o polegar nos lábios,
secando-os um pouco. Sexy e irresistível. Eu era louco por ela.
— Vá para o meio da cama. — Dei um tapinha em sua coxa e
ela se arrastou para trás, afastando os joelhos e tocando a si
mesma, mordendo o lábio. Peguei seu pé, beijando o tornozelo e
mordi a panturrilha, arrastando meus lábios e a língua até a virilha.
Deixei um chupão bem ao lado e ela gemeu, segurando meu
cabelo. Sensível e molhada, contraiu o abdômen com a primeira
chupada. Rodeei minha língua no clitóris, atiçando sua entrada com
os dedos. Ziva puxou meu cabelo com força, pressionando a boceta
na minha boca e rebolando. Eu parei antes que gozasse.
— Não! Não pare! — Ela estava perdida, me arranhando. Beijei
sua boca, esfregando o pau em sua entrada.
— Não vou parar, bebê. Quero que goze com ele todo dentro.
Nós dois gememos contra a boca um do outro, trocando
mordidas e beijos aquecidos. Era o fim do nosso contrato e começo
do relacionamento. Havia uma enorme parte minha que estava
desesperada, apavorada, mas outra parte, mais corajosa e
apaixonada, estava disposta a tentar. Apegado ao fio de esperança
de que ela estava certa, de que ainda existia chance de ser feliz
nessa vida.
Ziva olhou em meus olhos e o magnetismo que nos atraía, nos
manteve ligados. Ela gozou, dando-me o melhor show e o prazer de
sentir seu orgasmo. As lágrimas escorreram e as lambi. Gozei em
seguida, abraçando-a, com o ritmo das batidas dos nossos corações
em sincronia. Rolei para o lado, fazendo com que deitasse em cima
de mim.
Beijei sua testa, acariciando as costas suadas.
— Sabe a parte mais importante disso tudo? — Ela colocou a
mão no meu peito. — Cami e Patrick estão formando uma família e
nós estamos juntos em um relacionamento real. O destino deu um
jeitinho de nos fazer unidos nesse momento.
— Acha que é a magia do Natal? — brinquei, sem acreditar
naquilo.
— Não. É apenas a magia da vida. — Ela se moveu,
escorregando a coxa por entre as minhas e segurou meu rosto. —
Eu nunca mais acreditei que tudo poderia ficar bem depois de ter
fugido com Tate. Não parecia possível viver sem aquela dor, mas
estando aqui, entre seus braços, onde me sinto segura… me faz crer
que sim, a felicidade não é impossível.
— Eu sinto algo bom, incrível e diferente. É leve e intenso ao
mesmo tempo, tira a pressão que me afunda todos os dias, mas
ainda não acredito que seja possível alguém fodido como eu, ser
plenamente feliz. Não depois de toda dor que causei a minha mãe e
irmã depois de termos perdido nosso pai.
— Vamos dar tempo ao tempo. — Ela me beijou e voltou a
deitar, fechando os olhos, parecendo muito satisfeita.
Ela estava certa. Era importante dar tempo e também aprender
a caminhar ao invés de correr.
Capítulo Vinte
Ziva
Abri os olhos completamente e sorri. Eu estava feliz. Estiquei-
me na cama, dando aquela espreguiçada boa e enfiei a mão no
cabelo, sentindo-o todo embolado por ter ido dormir com ele
molhado. Klaus saiu do banheiro usando a calça do pijama, peito nu,
cabelo bagunçado e rosto amassado. Era manhã de véspera de
Natal, o clima parecia abafado, porém, sem sol. Mais tarde
poderíamos ser presenteados com uma ventania digna de noites no
deserto.
— O que está fazendo acordado? — Bocejei ao ver a hora,
tinha que levantar para começar o preparo do jantar mas também
queria rolar para o lado e dormir mais.
— Resolvendo algumas pendências do trabalho.
— No seu mundinho de CEO com uma gravata bonita, é
impossível tirar folga até no Natal? Sabe, não é por você, mas seus
funcionários provavelmente são pessoas normais que querem ter
esse dia com as famílias.
— E assim, vão morrer pobres. — Ele adicionou de forma seca.
— Tenho muitos funcionários talentosos, mas que não são
ambiciosos e obcecados o suficiente. Vão morrer trabalhando para
mim.
Revirei os olhos explicitamente.
Era cedo demais para ele começar o dia sendo arrogante.
— Não foi você que herdou os cassinos do papai?
Ele riu, puxando a colcha.
— Eu herdei um cassino em falência e hoje eu tenho um grupo
de hotelaria, entretenimento e jogos que vale bilhões de dólares.
— Não fez mais do que a sua obrigação — murmurei e ganhei
um tapa na bunda. — Vamos dormir só mais um pouquinho?
— E o peru no tanque? Não vai estragar?
— Ele está descongelando, tenho que rechear e amarrar as
coxas até umas nove horas, depois vai ficar assando até ficar pronto.
— Ainda acho que é muita coisa só para nós dois — ele
comentou e eu não respondi nada. — Não seremos apenas nós?
— Cami está grávida e eu sei que você não iria passar longe do
Patrick, certo? Serão apenas eles, eu prometo. Loretta nos convidou
para um brunch amanhã e acho que será bem divertido… — Rodeei
seu mamilo com meu indicador. Ele suspirou, contrariado e continuei
calma, sem reagir, assim não teria motivos para retrucar. Beijei seu
peito, voltando a dormir.
Klaus me acordou nove em ponto. Tive que tomar outro banho
para conseguir pentear meu cabelo, sequei e fiz uma trança para
mantê-lo no lugar. Com a ajuda dele, preparei o peru e sutilmente,
percebi que ficou por perto, para que eu não carregasse peso, mas
no fundo, ele queria participar dos preparativos da ceia. Arrumamos
a mesa juntos, fizemos alguns lanches durante o dia, mas sem sair
da cozinha.
Um pouco confiante do humor dele, coloquei músicas, nem
todas natalinas para não dar nos nervos e abri uma garrafa de vinho
branco frisante.
— Ah, eu cantei essa música no show de talentos da escola e
ganhei o milho de ouro! — Aumentei o som, ele me olhou divertido,
peguei uma cenoura e comecei a cantar junto, fazendo uma dancinha
e estalando os dedos.
Rodopiei atrás dele, parando contra suas costas e dei uma
reboladinha. Ele riu e virou, puxei-o de perto do balcão para dançar
livremente. Não foi a primeira vez que dançamos juntos, normalmente
ele usava essa artimanha para me envolver e seduzir. Aquela dança
foi de um casal que só queria ficar junto e se divertir. Sem pressão e
sem intenções, tinha até sabor de liberdade.
Klaus não ficou calculando o que aquilo significava e nem o
quanto poderia nos afetar. Ele apenas dançou e para mim, foi um
dos atos mais importantes da nossa vida como casal, justamente no
primeiro dia sem contrato. Ele me pegou pela cintura, rodopiando e o
beijei, porque caramba, quando não estava tentando controlar tudo e
manipular minhas emoções, ele era incrível.
— Essa música sempre terá uma lembrança especial para mim.
— Abracei-o bem apertado. — Merda! O molho!
Corri para o fogão, desligando e por sorte, não havia queimado
muito no fundo. Klaus voltou a cortar os legumes, seu telefone tocou
e ele atendeu ali mesmo, sem se afastar. Nem tudo sobre o trabalho
ele tratava de modo sigiloso, dentro do escritório. Eu não ficava
ouvindo as conversas privadas. Respeitava também o fato de que eu
não trabalhava para o grupo Delacroix e muitas informações não
eram do meu interesse.
— Saiu uma nota na imprensa sobre o evento de ontem — ele
comentou e virei no mesmo instante. — Muitos elogios a minha
lindíssima namorada pela festa maravilhosa.
Eu sorri, cheia de orgulho de mim mesma.
— Falaram sobre o show?
— Não, só alguns funcionários relataram nas redes sociais que
foi um dos melhores eventos que minha empresa produziu. — Ele me
encurralou contra a pia. — Parabéns, Ziva. Estou realmente feliz com
os resultados, gostei muito, se não fosse um momento de trabalho e
contatos para mim, teria me divertido mais.
— Gostei do nosso momentinho no show e até estive pensando
que podíamos ir em uma residência… tem uma cantora que eu adoro
fazendo uma nessa temporada.
— Vamos tirar um dia para ir — prometeu, me dando um beijo.
— Eu vou entender, por causa da sua agenda corrida, em
manter a noite do encontro. Também podemos nos ajustar em outras
datas, contanto que nossos dias a dois não fiquem de lado.
— Acha que nosso relacionamento pode cair na rotina?
— Tudo na vida é passível de cair na rotina. Aprendi que a vida
é imprevisível e pode causar muitas reviravoltas, se você se
comprometer em não se abater, sempre tentar, saiba que eu
também estarei comprometida.
— Combinado. — Ele me beijou de novo e ouvimos um limpar
de garganta.
— Viemos mais cedo para saber se precisam de ajuda, porém,
acho que estão namorando na cozinha — Patrick brincou, segurando
uma caixa de torta.
— Nada diferente do que estávamos fazendo. — Cami passou
por ele, exuberante em um vestido verde-escuro. Ela tinha os
cabelos escuros assim como os olhos, igualzinha ao irmão, a
diferença era a estatura e o corpo feminino bem delicado.
— Puta que pariu, eu não preciso saber disso. — Klaus bufou,
voltando para a tábua onde cortava as cenouras.
— Quase quarenta anos nas costas e ainda fica de palhaçada
que sua irmã de trinta anos faz sexo? Como acha que esse bebê
veio parar aqui dentro? — Ela arregalou os olhos de um jeito cômico,
me fazendo rir. — Oi, cunhada! — Cami passou o braço por meu
ombro. — Precisa de ajuda com alguma coisa? Estava sentindo o
cheiro de refogado lá da casa de Patrick.
— Sabe fazer purê? Eu vou para o arroz colorido, vi a receita
na internet, mas nunca fiz. Temos uma panela de arroz, porém, não é
algo que costumamos comer.
Patrick e Klaus saíram da cozinha depois de um tempo e pude
conversar sozinha com Cami. Ela contou que eles tiveram uma noite
maravilhosa depois do caos no fim da festa. Como estava curiosa
sobre o relacionamento dele com Cary, logo perguntei.
— Eles namoraram na escola, casaram na faculdade, mas
como você disse… apesar de Gisele ser cega sobre Cary, meu
marido percebeu que ela sempre foi mais interessada em Klaus do
que era normalmente saudável. — Cami pegou as batatas cozidas e
levou-as para o balcão. — Eu acho que foi quando meu irmão
começou a se tornar uma potência, sabe? Os negócios da nossa
família estavam muito mal e todos sabiam, fora os escândalos,
estávamos com uma fama negativa. Muitos ditos amigos se
afastaram, apenas Patrick ficou, os outros tentaram voltar quando
Klaus se reergueu, mas ele só manteve Devon, que apesar de não
ser o mais próximo, não mudou conosco. Vanessa sempre foi gentil e
discreta sobre tudo o que estava acontecendo.
— Klaus não parece ser do tipo que esquece.
— Ele trata a Cary bem, porém, de forma distante. Não precisa
sentir ciúmes dela.
— Eu não tive, achei o comportamento dela, para uma mulher
comprometida, muito inaceitável. Se fosse solteira, até lidaria melhor,
afinal, ela não me conhece. Mas casada? Na frente do marido e
agora pior ainda, sendo ex-mulher do melhor amigo? Ela é uma
vaca!
Cami soltou uma gargalhada e cochichamos sobre nosso show
na noite anterior. Ela era toda agressiva como o irmão, parecia um
trator sem freio quando queria, mas eu era do tipo que jogava baixo.
Aprendi nas ruas. Se eu não derrubasse meu oponente primeiro,
seria derrubada. A lei na selva de pedra era diferente do mundo dos
ricos, por isso as duas ficaram horrorizadas com meu revide.
— Klaus e eu tivemos uma briga ontem.
— Por causa da Gisele?
— Eu fiquei mordida de ciúme, porque não foi fácil ouvir que ele
se diverte com as novidades e volta para o conforto antigo. Já
estava chateada com algumas coisas e foi o estopim.
— Acha que Klaus está apenas se divertindo com você? —
Cami deixou o purê pronto coberto com papel alumínio. — Ele não
morou com ninguém depois dela. Teve vários envolvimentos, mas
nenhum que ele quisesse ter uma conexão. Eu acho que o tempo
cobrou isso dele, a necessidade humana de ter alguém, ele apenas
não quis repetir os mesmos erros só porque teve a oportunidade.
Klaus tem muitos defeitos, ele é… — Ela parou de falar e abriu um
sorrisinho. — Tenebroso. Espero que saiba bem, porque sim, meu
irmão pode ser terrível sem nenhuma desculpa a oferecer, mas
também não faz nada que não queira. Se está com você, morando e
fazendo planos, é porque ele quer.
— Tivemos uma importante conversa e agora, sinto isso.
Tiramos um muro que estava entre nós e simplesmente decidimos
começar algo que me assusta um pouco. Nunca estive em um
relacionamento antes.
— Não tem segredo. Essas pessoas que vendem a fórmula do
relacionamento perfeito são um bando de mentirosos. Tem que ter
respeito, muito mesmo, entender que o outro não é obrigado a fazer
o que você quer e é diferente. — Ela fez uma careta. — Esse foi um
dos motivos do meu divórcio. Assim como Klaus, eu também sou
muito controladora e castrei muito o Patrick. Ele perdeu a irmã, eu
tinha perdido o meu irmão antes, meu pai e Klaus estavam em um
momento ruim. Tudo culminou para o nosso fim, faltou conversa e
maturidade também.
Perdeu um irmão? Ela estava falando de Klaus ou de outra
pessoa? Disfarcei minha confusão com um sorriso tranquilo.
— Me conta como vocês ficaram juntos?
— Só se você me contar como você e Klaus ficaram. Não me
leve a mal, vocês são muito diferentes. Meu irmão está sempre sério
e focado no trabalho, sendo intransigente, arrogante e fodendo com
a vida de quem pode…
Soltei uma risadinha.
— Segundo ele, foi meu sorriso o que chamou a atenção e
desde a primeira vez em que nos vimos, não disfarçou o interesse.
Ele olhava, sorria quando ninguém estava prestando atenção, era
gentil só comigo e todo mundo me dizia para ficar longe dele, mas o
homem não parava de me olhar e me causava umas coisinhas… —
Balancei as sobrancelhas, ela cobriu a boca, divertida.
— Eu beijei Patrick. Sempre fui apaixonada por ele, desde os
meus quinze anos, achei que ia morrer de chorar no dia do
casamento dele. Klaus foi o padrinho, eu nem fui. Mamãe ficou
dizendo que ia me internar se eu continuasse chorando, porém, como
uma boa Delacroix, eu sempre consigo o que quero e não perdi a
oportunidade quando me toquei que ele estava solteiro, eu mais
velha e ele podia se interessar por mim. Casamos um ano depois. —
Ela soou orgulhosa. Não imaginava como poderia ser suportável ver
o homem da sua vida casando com outra pessoa.
Klaus entrou na cozinha no instante em que estava concluindo
que eu era tóxica o suficiente para sequestrá-lo antes de dizer sim no
altar. Confessei em voz alta, fazendo-o rir e prometer que se um dia
ele fosse entrar em uma capela como noivo, seria apenas comigo
como noiva.
Era piegas, mas eu amei ouvir aquilo e guardei no meu
coração.
Capítulo Vinte e Um
Ziva
A melhor parte de estar em um relacionamento real era que eu
sabia quando ele estava me presenteando porque queria e não por
ser um acordo contratual. Dei a ele uma lembrancinha emocional de
Natal e ele um diamante, mas no dia seguinte, ele me surpreendeu
ao colocar uma foto nossa no escritório dele. Claro que eu amei a
pedra de diamante, eu adorava joias, mas a foto foi mais sentimental
e fofo (para os padrões dele).
Klaus era romântico à maneira dele. No dia de Ano Novo, ele
me entregou um bilhete com palavras doces e uma caixa do meu
chocolate favorito, assim como me deu um carro, já que eu estava
oficialmente habilitada. Ele era de zero a cem em questão de
segundos em qualquer atitude, sempre intenso, talvez fosse por isso
que tinha tanto medo de se machucar. Ele se entregava muito e
provavelmente, não recebia a mesma intensidade de volta.
Não era um problema para mim. Ele arrumou a namorada mais
louca do mundo. Maluca por ele, pela nossa vida e pelo gosto de
liberdade que estava se aproximando. Todd nos ligou com boas
notícias sobre o processo. A acusação contra mim foi arquivada,
mudando para legítima defesa e o estado abriu um processo contra
o meu padrasto. Infelizmente, era possível que eu precisasse voar
até Nebraska para depor, mas o escritório caro que Klaus pagava
para cuidar de tudo fez muita coisa acontecer rapidamente.
Era bom ter dinheiro. Sozinha, estaria presa, esperando que
alguém acreditasse em mim. Sem Tate para depor ao meu favor,
algo que em vida ela já avisava que se recusaria a fazer, estaria
fodida. Patrick acreditava que ela se culpava por não ter lutado, dito
algo contra nas outras vezes em que foi abusada. Eu me arrependia
por nunca ter dito que não era culpa dela. Como uma criança poderia
lutar contra o abuso?
Acho que ela desistiu da vida quando minha mãe não acreditou
em mim. Sempre que voltava a pensar no assunto, tinha nítidas
memórias dela em desespero e refletindo bem, não era sobre mim.
Era sobre o que ela estava vivendo e ninguém sabia.
Klaus chegou em casa mais cedo e me surpreendeu, ele não
havia avisado. Era a primeira semana do ano, todo mundo parecia
com pressa e o trabalho dele não dava pausas. Não nos falamos
depois que Todd pediu uma reunião em vídeo conosco para me
orientar, ainda não era seguro que eu fosse reconhecida, não até
que o caso terminasse e fosse arquivado.
Fechei o notebook para que não visse minhas pesquisas. Ainda
não estava com cabeça para conversar com ele sobre voltar a
trabalhar.
— Oi! Está tudo bem? — Ele parou atrás de mim e beijou minha
cabeça. — Está com uma expressão desanimada.
— Eu estava pensando em ter que voltar para o Nebraska para
depor.
— Eles são muito caros para que isso, o máximo que pode
acontecer, é depor por vídeo. — Klaus me virou no banquinho. —
Quer conversar sobre o que está acontecendo aí dentro? Hoje cedo
você estava serelepe e dançante. Pulou em cima de mim antes que
eu sequer lembrasse meu nome e falou mais de dez mil palavras só
enquanto estava no banheiro.
— Assim você faz parecer que sou uma tagarela. — Fiz um
beicinho, ele mordeu e me puxou para um abraço. Encostei minha
cabeça em seu peito. — Como foi seu dia no trabalho? Derrubou
quantas empresas e irritou quantas pessoas?
— Eu derrubei algumas, comprei outras e acho que posso ter
irritado muitas. O que estava olhando no notebook quando cheguei?
— Nada de mais. — Eu me afastei um pouco e decidi ser
honesta. — Estava procurando emprego.
— Um emprego? O que aconteceu? Está com outra dívida com
um traficante que eu não saiba?
Belisquei sua barriga, rindo, ele deixou sua pasta em cima do
balcão.
— Agora que não temos mais um contrato e não tenho
obrigação de fazer nada do que acordamos, eu decidi que devo
voltar a estudar logo que possível e procurar um emprego.
— E o dinheiro que investi para você?
— O fato de querer ter muito dinheiro na conta não anula o fato
de que preciso trabalhar. Ficar o dia inteiro cuidando da casa é
chato, trabalhoso e muito chato.
Ele foi até a geladeira, pegando o vinho e duas taças. Achei que
fosse brigar, dizer não sem que pudéssemos discutir o assunto.
Sabendo que eu não tinha terminado a escola, sem formação e
experiência além de camareira e garçonete, minhas opções de
emprego eram bem reduzidas.
— Pretende trabalhar em alguma coisa diferente? — Ele serviu
vinho de maneira elegante, girando a garrafa para não pingar e
colocando-a no aparador.
— Um dos motivos da minha frustração. — Peguei minha taça,
dando um gole. — O que eu sei fazer além de ser sexy em uma
roupa curta, servindo bebidas ou limpando quartos de hotéis? Não
ter escolaridade, ter passado dos vinte fora de uma universidade e
sem um curso técnico não me ajuda muito.
— Sendo honesto, a ideia de voltar a trabalhar em um clube me
deixa com os nervos alterados. — Ele bebeu quase todo o vinho.
— Obrigada por não estar gritando sobre isso.
— Eu queria, mas você está triste e eu não quero te deixar
triste. — Ele franziu o cenho, desci do meu banquinho e o abracei. —
Você se saiu muito bem organizando o evento. Minha empresa não
tem nenhum setor sobre isso, apenas os cassinos.
— E você vai criar um setor só para que eu trabalhe?
— A empresa é minha, posso fazer o que eu quiser. Na
verdade, eu acho que deveria aproveitar para voltar a estudar, vai
tomar seu tempo. Está fora da escola, precisará se dedicar para
obter seu diploma.
— Sempre fui uma boa aluna, só que faz muito tempo. Pode me
ajudar com meus estudos?
— É claro que sim, bebê.
Feliz, propus o brinde e lhe dei a notícia de que iria pedir
comida fora porque não tinha preparado o jantar. Klaus estava
acostumado a ter tudo na mão. Justine estava de férias forçadas,
devido a uma lesão no ombro e Maze era uma só para lidar com a
casa inteira. Desde que começamos a ficar juntos, atingi meu peso
ideal e ele ultrapassou o dele. O Personal chegou a brincar que um
homem só provava estar em um relacionamento de verdade quando
ganhava peso.
Enquanto a comida não chegava, ele foi tomar banho e eu
escolhi um filme aleatório para assistirmos. Seu telefone tocou três
vezes. Costumava atender quando era Patrick ou Loretta, mas o
número era de um homem, membro da máfia, que me fez travar no
lugar. Klaus estava tão disposto a descobrir quem era Mangiello que
estava unindo-se às forças que me assustavam.
Muito ouvi falar sobre Fernando Mansuetto quando ainda vivia
nas ruas. Foi uma das noites mais assustadoras quando a filha e
esposa do poderoso chefe, que também comandava as ruas, foi
sequestrada. Tate quase apanhou só por ter feito as perguntas
erradas. Algum tempo depois, soubemos de um tal Biancchi[5], que
mandava em outra parte da cidade, que um dia pertenceu à outra
família. De todo jeito, tudo que aprendi foi: fique fora do caminho dos
italianos.
E era justamente com eles que Klaus estava se relacionando
para descobrir quem era Mangiello. Ao que tudo indicava, os homens
contratados para invadir a casa naquela noite não tinham relação
com nenhum inimigo conhecido do meu namorado, nem mesmo da
ex-noiva. Minhas apostas continuavam no traficante. Parecia pouco,
pelas coisas que ele fez, desistir só por causa de um pagamento.
Até porque, Klaus não quis só pagar a dívida, ele provocou
abertamente para obter uma reação. Ele desceu, com uma calça de
pijama caída na cintura. Não me dei ao trabalho de disfarçar meu
olhar de apreciação.
— Seu telefone estava tocando.
Ele leu uma mensagem, franziu o cenho e apagou a tela.
— Somente uma atualização. Nada novo. — Passou o braço
por meu ombro, para me fazer deitar em seu peito. Ele dominou o
controle, mudando de canal e colocando na série chata que cismou
de assistir até o final e me dava sono.
— Acha que ele vai tentar novamente?
Eu não precisava dizer o nome.
— O primeiro trabalho foi bem porco. Ele deve gastar o máximo
para proteger sua identidade, os homens que paga para agir nas
ruas não são os mais treinados ou mais espertos. O que me
incomoda é que ele segue atacando as meninas do clube, minhas
funcionárias e hoje cedo, Cami foi seguida de novo. — Klaus estalou
a língua, frustrado. — Em falar nisso, soube que ela está se
mudando. — Ele fofocou, me fazendo rir.
— Hum, a história de não morar juntos durou pouco.
— Eu sabia que não ia durar. Eles são um grude quando estão
juntos.
— Tipo eu e você? — provoquei. Ele fez uma expressão de que
eu estava exagerando. — Coisa feia criticar os outros e fazer o
mesmo com crueldade.
— Pode ser coisa de família ser tão grudento. — Escorregou
no sofá, colocando os pés no apoio à frente e diminuiu as luzes. —
Eu não pretendo mudar.
Não queria que mudasse. Beijei-o e deixei que assistisse um
episódio em paz antes de voltar a falar, testando sua sanidade e
colocando todos os assuntos que tinha na minha mente em dia. Ele
me deu um olhar de quem já estava começando a ficar maluco com
meu tagarelar e agradeceu, ao ponto de erguer as mãos, quando a
comida chegou.
— Você é como um bebê, quando está de estômago cheio,
sempre dorme.
Idiota.
— Se estava tão irritado com meu falatório, por que não ocupou
minha boca?
Klaus abriu a boca para responder, mas logo fechou, enquanto
eu ria de me acabar no sofá. Ele balançou a cabeça, murmurando
que eu não tinha jeito e saiu, todo desconcertado. Eu adorava
quando quebrava sua arrogância inesperadamente. O lado tímido do
sr. Delacroix era fofo.
Capítulo Vinte e Dois
Klaus
Ziva estava rebolando no meio da pista. Ela não podia lutar
contra seus genes latinos. Com uma mistura de quadril solto árabe e
uma boa rebolada colombiana, minha namorada estava chamando a
atenção com um vestidinho azul, os cabelos esvoaçantes saltos
altíssimos. Ela apoiou as mãos no parapeito, indo até o chão e olhou
sobre os ombros, com um sorriso safado. Mordi o lábio, segurando
meu copo de uísque quase vazio.
Ajustei o pau na calça, estava excitado desde que saímos mais
cedo para jantar, ter um encontro a dois em outro restaurante e por
fim, dançar. Se minha mulher queria se divertir, era óbvio que eu
fecharia o segundo andar de uma das boates mais badaladas do
grupo Delacroix para que se divertisse. Cami e Patrick foram embora
cedo.
Minha mulher estava longe de cansar.
Voltando na minha direção, dançou e parou entre minhas coxas,
subindo o vestido para que pudesse montar em meu colo. Estávamos
no escuro, no lado mais tranquilo, principalmente porque os
camarotes estavam fechados. Acariciei suas coxas, subindo minhas
mãos por dentro do seu vestido até o bumbum. Ela estava usando
uma calcinha muito pequena.
Beijei seu pescoço e ela arranhou minha nuca ao sentir meus
dedos em suas dobras. Por trás, provoquei sua entrada. Ziva
agarrou meu cabelo, me beijando, toda arrepiada. Ficando cada vez
mais molhada e escorregadia, estremeceu, quase chegando ao
orgasmo. Parei, ela me deu um olhar embriagado, frustrada e me
assistiu lamber meus dedos.
— Delicioso. Simplesmente o melhor sabor do mundo.
— Vamos para o escritório, corredor ou qualquer lugar. — Ela
agarrou meu rosto, me beijando, rebolando contra minha ereção
cheia de vontade. — Klaus…
— Eu adoro quando choraminga meu nome.
Um beicinho foi projetado e eu ri, ciente de que provocá-la
impiedosamente desde que saímos havia funcionado. Ziva estava no
último estágio antes de me atacar. Ela tinha o próprio jogo, podia até
seguir o meu, levada pela excitação, mas se eu ultrapassasse a linha
de seu desejo, ela assumia o controle. Levei-a para casa e, como
estava dirigindo, apenas a provoquei, acariciando do joelho até bem
perto de sua virilha.
Em casa, acionamos o alarme antes de tudo, mas logo que as
portas e janelas estavam cuidadosamente trancadas, ela parou no
meio do corredor. Erguendo as mãos sensualmente, prendeu o
cabelo e em seguida, soltou o botão que prendia o vestido no
pescoço. Movendo os ombros com um morder de lábios, ele foi
caindo. Seus mamilos estavam arrepiados e, com uma rebolada, o
que sobrou do tecido caiu fluído em seus pés.
Atravessei o corredor, pegando-a pela cintura, ela cruzou as
pernas ao redor do meu corpo e a carreguei até o quarto.
Pressionei-a contra a parede, beijando-a de forma rude. Meu
telefone começou a tocar. Eu estava de folga, então, quem me
ligasse certamente sabia que deveria ser urgente ou alguma das
empresas pegando fogo.
Eu ignorei, mas a insistência tirou toda a minha concentração.
— Não ouse. — Ela me puxou, furiosa.
— Calma, amor. — Ri, pegando o aparelho e era Patrick. — O
que foi?
— Problemas muito sérios. Elas devem ficar juntas.
Fiquei sério no mesmo instante.
— O que houve? — Ziva parou ao meu lado.
— Patrick apenas disse que são problemas sérios. Cami ficará
aqui com você. — Eu peguei minha camisa, me vestindo novamente.
— Fique bem, me ligue se precisar de mim.
— Não me deixe no escuro, me mande uma mensagem logo
que for possível. — Ela me abraçou rapidamente, deu um beijo e
pegou um roupão.
Cami estava entrando quando desci, ela usava pijama, estava
com os olhos inchados e bocejando. Ziva a levou para um dos
quartos de hóspedes e me deu um aceno. Patrick estava sério
dentro do carro, ele dirigiu em alta velocidade pelas estradas vazias
e parou em um descampado no deserto perto de outro carro.
— O que tem para mim, Fernando? — Saí, indo direto para o
outro carro.
— O filho da puta recrutou novos capangas, alguns desertores
de uma gangue latina que meu genro matou boa parte no passado —
Fernando me explicou e acendeu a tela do tablet. — Ele interceptou
uma carga minha e está vendendo nas esquinas a um preço absurdo.
Encontrei esses papelotes dentro do seu clube. Está drogando várias
prostitutas de graça, chamando a atenção da polícia.
— Um detetive me avisou que a polícia vai abrir uma
investigação sobre o grupo Delacroix permitir drogas em seus
estabelecimentos.
— A pretensão é que isso seja um grandíssimo circo midiático
— Fernando me alertou.
Quem cuidava de toda a parte jurídica e assessoria de
imprensa da Delacroix era meu primo, Doryan Delacroix, com sua
empresa de comunicação, mas eu estava de saco cheio dele há um
tempo e não confiava completamente. Todd poderia fazer essa
sujeira desaparecer e eu tive que tirar o homem da cama enquanto
Fernando fazia o que a máfia era mestre em fazer pelas ruas. O
problema em si não era o escândalo, eu não vendia drogas nos
clubes e não me interessava onde elas eram vendidas.
Aquilo não era problema meu.
O ponto principal era que minha família já havia sido alvo da
mídia maldosa e o novo assunto cavaria matérias e problemas do
passado que não condiziam com a minha identidade atual. Nem com
a vida que planejava construir com Ziva. Pela primeira vez em anos
eu estava me permitindo sonhar. Não era justo passar por aquele
pesadelo novamente.
Cheguei em casa pela manhã, o sol já estava no alto e apesar
de não ser verão, estava quente o suficiente para Ziva surgir em um
biquíni minúsculo na beira da piscina. Cami estava deitada na
espreguiçadeira, ainda sem sinais físicos visíveis de uma gravidez.
Como sempre foi chata, não saberia dizer se eram os hormônios ou
sua natureza irritante mesmo.
— Estava mais divertido ficarmos sozinhas. — Cami fez um
beicinho.
— Não sentiu minha falta? — Patrick foi até ela. — Pensei que
iria para o consultório.
— Eu tive que cancelar minha agenda, não acordei me sentindo
bem e Ziva é uma enfermeira má. Ela não me deixou fazer nada. —
Cami apontou para minha namorada. — Eu senti sua falta. Dele…
— E está na minha casa?
— Ei, Klaus! Seja educado! — Ziva me repreendeu. — Sua irmã
e eu estávamos nos divertindo. Fiquei com medo que passasse mal e
apenas quis mantê-la feliz. — Ela me abraçou, tocando meu peito. —
Como foi?
— Exaustivo, mas nada que eu não possa lidar. — Beijei a
pontinha de seu nariz e depois, os lábios.
— Seja o que for, vamos resolver juntos. — Ziva deu tapinhas
no meu peito. — Vá trocar de roupa, vou preparar uma refeição para
todos e depois, vamos descansar.
Ziva era acolhedora e um tanto maternal, gostava de cuidar das
outras pessoas, dando o melhor de si. Não era porque havia nascido
na pobreza, compartilhando coisas simples ou o tempo na rua. Era
de sua natureza gentil. Eu nunca havia me relacionado com uma
mulher capaz de dar valor às pequenas coisas. Ela amou o diamante,
mas chorou de emoção por causa de uma fotografia.
Meu pai adoraria conhecê-la, meu irmão acharia incrível ter
alguém na família que gostasse de dançar tanto quanto ele gostava.
Minha mãe provavelmente ficaria horrorizada ao vê-la comer frango
com a mão, com os pés para o alto, segurando uma garrafa de
refrigerante sem um guardanapo de linho no colo.
Em alguns momentos, eu me odiava por ter me apaixonado.
Não era para ter sido assim. Eu tinha que ter dominado meus
sentimentos e controlado minhas emoções. Mas não aconteceu
como eu planejei. Nada. A porra do contrato foi só a porta que se
abriu entre nós. Ziva simplesmente tomou o que eu tinha de bom, me
consumindo e me fazendo sentir esperanças de que a minha vida
poderia mudar.
Ela nunca tentou me consertar, me fazer um homem melhor, ela
só queria que eu fosse o homem dela, que estivesse na cama toda
noite e não faltasse o jantar. Ziva queria viver a vida e não nos
sufocava de planos. Filhos, casamento, a vida perfeita… ela
esperava que o curso natural ditasse como nós seríamos, sem
pressão. Talvez por ser jovem, por tudo que passou, ter apenas uma
visão da vida era liberdade.
Era isso que me fazia querer tudo com ela.
Cami e Patrick se despediram, cansados e foram dormir.
— Você está me paquerando já tem vários minutos. — Ela
deixou a garrafa em cima da mesa. — Quer compensar que me
deixou molhada e excitada a madrugada toda?
— Não cuidou disso?
— Eu cuidei de uma grávida. — Deu de ombros. — E o fato
dela estar grávida meio que quebrou meu tesão. — Completou, me
fazendo rir. — Cami me perguntou se teremos filhos. Acho que uma
mulher grávida sempre quer saber se terá outra por perto.
— É um movimento natural da vida.
— Bem, na minha vida, esse movimento pode esperar uns anos.
Não acha?
— Eu faço quarenta em breve, mas um homem pode ter filhos
por mais tempo que uma mulher. Então, estamos seguros. — Dei-lhe
uma piscadinha.
— Como é falar sobre o assunto sem querer quebrar alguma
coisa? — Ela esticou a mão para entrelaçar nossos dedos.
— Eu não sinto vontade de quebrar nada, apenas sei que eu
não mereço ter um filho. Não quando eu perdi um e nunca soube
como lidar com a perda.
— Temos tempo para lidar com todas essas questões. — Ela
ficou de pé e deu a volta na mesa. — Eu não estou preparada para
ser mãe, porque tenho questões com a minha própria para lidar. E se
fizermos terapia?
— Terapia?
— Ouvi dizer que é muito importante e pode ajudar com
problemas emocionais que temos. Nosso passado é um fardo que
não devemos tentar consertar um do outro. Apenas apoiar, ficarmos
juntos e saber os passos que devemos dar.
Eu odiava terapia. Odiei todas as vezes que fui obrigado a falar
sobre meus sentimentos com uma pessoa, para ser analisado como
um rato de laboratório. Estive em psiquiatras, psicólogos, psicanálise
e nada deu jeito. Ziva não tinha a experiência.
— Não precisa perder seu tempo com isso.
— Meu cabeça dura favorito. — Ela puxou meu cabelo. — Não
precisamos decidir nada agora. Sei que você é um turrão que pensa
que terapia é coisa de maluco.
— E não é?
— Todo ser humano ao nascer nesse mundo precisa de terapia,
sendo louco ou não. Vem, vamos dormir. Quero que tire um cochilo
para que possamos voltar de onde paramos ontem à noite.
Capítulo Vinte e Três
Ziva
A melhor parte de conhecer Klaus profundamente, além de eu
ter certeza de que o amava, era vê-lo jogar e manipular outra
pessoa, percebendo atos sutis que ele fez comigo no começo do
nosso contrato. Os jogos mentais, as palavras bem usadas,
movimentos que causavam fascínio. Roupas bonitas, luxo, prazer…
ele brincava com os desejos mais profundos de um ser humano sem
que a outra pessoa percebesse.
Sentada em uma sala de reuniões, em um restaurante famoso
na cidade, observei um grupo de idiotas cair na lábia dele como eu
caí um dia. Se eu não fosse segura que o Klaus que andava
descalço e descabelado em casa, que comia minha comida e me
acordava com beijos carinhosos, não fosse real, sairia correndo. Era
triste pensar que ele pensava que eu só me apaixonaria por ele
através da manipulação.
O Klaus fora do muro que se escondia, longe de um contrato e
regras, era um homem incrível.
Eu não me importava que ele fizesse jogos nos negócios, afinal,
o mundo não era um conto de fadas. Mas ele sabia que se jogasse
comigo novamente, iria picá-lo em muitos pedaços porque não era
uma boneca em seus braços. Nosso relacionamento era real e não
um produto idealizado por ele, como aquelas pessoas, caindo na
dele com sorrisos nos rostos.
Coloquei minha mão em sua coxa, apenas observando, sem
interagir. Conversei pouco, não eram pessoas que despertavam meu
interesse em ser amiga. Bajuladores e falsos em sua maior parte. A
comida também não era das melhores e eu preferia comer pizza na
frente da televisão do que estar ali, mas Klaus precisava fazer
negócios e eu não quis ficar sozinha.
Quando a sobremesa foi servida, pedi licença para ir ao
banheiro. Jayden, um dos John Doe que eu agora sabia o nome, me
acompanhou. Ele deu uma olhada no interior antes de me permitir
entrar. Fiz malabarismo para não encostar em nada e usei bastante
álcool nas mãos, ao voltar, vi que um homem conversava com Klaus,
mas saiu rapidamente, sumindo na multidão que dançava no primeiro
piso.
— Quem era?
Klaus me deu uma olhada, mania de saber se estava tudo bem.
— O idiota do meu primo. Ele estava com pressa…
— Parece que nunca vou conhecer esse homem, escorrega
feito sabonete.
— Você já conhece quem importa da minha família. — Klaus
pegou minha mão. — Vamos embora?
Sair sem se despedir era outra das táticas dele para causar
ansiedade. Klaus sequer olhou para trás conforme saímos pela
lateral até o carro. Jayden nos conduziu com segurança. Klaus
estava falando sobre minha sandália ter machucado meus pés e que
eu era teimosa em usar algo que me feria só para ficar bonita. Com
a intimidade, percebi que um homem interessado aprecia roupas
sexys e lingeries finas, mas ele não se importava com pijamas largos
e chinelos. Abandonei um pouco as camisolas sensuais cheias de
renda para dormir com shorts largos e camisetas. Normalmente, não
era empecilho para o tesão.
Antes de chegarmos em casa, o telefone dele apitou e vi que
era uma mensagem de Cami. Ela só digitou: Mamãe está na cidade.
— Pronta para conhecer sua sogra?
— Eu não sei o que esperar. — Dei de ombros. Ajudaria se ele
falasse alguma coisa sobre o passado dele ou, no mínimo, me desse
um histórico de relacionamento.
— Também não sei como te preparar. Não sei como ela irá
reagir a Patrick e Cami juntos, a gravidez… essa porra está me
estressando. Não sei o que vai acontecer e isso me irrita
profundamente.
— E se a convidarmos para um jantar? Primeiro, Cami e eu
podemos encontrá-la em uma espécie de brunch ou até mesmo, chá
da tarde. Depois, um jantar. Vamos dividir as informações por
encontros, poderemos controlar os danos conforme os ambientes…
— Sugeri com tranquilidade. — Ela é uma mulher, não um dragão.
Ajudaria se me falasse um pouco sobre…
— Ela nunca gostou que Cami ficasse com Patrick porque
tomava as dores da minha irmã mimada. Além dele ser meu amigo
há muitos anos… ela achava que não era boa pessoa para estar
com Camille. — Ele contou, mas não era o que eu queria saber. —
Ela adorava Gisele.
Ah, puta merda!
— Só posso duvidar da sanidade da sua mãe por gostar
daquela vaca.
— Gisele era falsa com ela. — Ele tentou consertar. Minha
insegurança já estava com as armas prontas, esperando o primeiro
ataque.
— E a sua relação com ela? Como era?
Klaus ficou em silêncio, olhando em meus olhos e me sugando
para a intensidade dolorosa dos sentimentos pela mãe. Dor, rejeição,
medo… eu vi um pouco de tudo que sentia pela minha. A falta de
apoio, não confiança e o fato de que ela nunca se preocupou em me
proteger. Eu deveria ter ido morar com meu pai na fazenda quando o
casamento acabou, mas senti que seria como trair minha mãe e a
escolha de ser feliz.
— Não acredito que em algum dia minha mãe tenha gostado de
mim e eu também nunca facilitei nosso relacionamento. Eu era tudo o
que ela odiava. Indisciplinado, boca suja, teimoso… e talvez, eu seja
um pouco como ela. Controlador demais para ser controlado — ele
falou baixo, olhando pela janela. — Nunca fiz o que ela quis e por
isso, nunca estive dentro do círculo em que ela dava amor. Depois
que meu pai morreu, não fazia sentido ficarmos próximos e eu me
afastei completamente.
— Se vai te ferir, não preciso conhecer. Não vou te obrigar a ter
uma convivência com ela, pensei que estava me escondendo, mas se
é algo tão profundo…
— Tem certeza?
Eu não queria que ele me obrigasse a estar perto da minha mãe
novamente e não faria isso com ele. Se não estava pronto para um
reencontro, não era justo forçar. Só pioraria tudo. Fazíamos um
grande esforço diariamente em sermos honestos um com o outro.
Duas pessoas com personalidades fortes, mas ele tinha a tendência
a ser esmagador e eu não permitiria que me afundasse.
Ser dona de mim mesma e com o direito de andar de cabeça
erguida pela rua sempre seriam minhas prioridades. Ele não fazia por
mal na maior parte do tempo, na cabeça dele, resolver tudo por mim
facilitaria minha vida. Estava aprendendo a me incluir nas decisões,
porque não havia mais um contrato anulando a minha voz.
— Cami pode lidar com a mãe sozinha. Elas parecem se falar
de tempos em tempos. Por que nós não viajamos? Apenas esse final
de semana. Que tal algum lugar de praia como Miami ou Los
Angeles? Podemos passear, comer algo gostoso, fazer muito sexo e
descansar.
— Eu gosto dessa ideia. Ao retornamos, vamos direto para a
cobertura, encontrar com o arquiteto e ver o andamento da reforma.
— Ele entrelaçou nossos dedos. — Ziva?
— Sim, amor?
— Obrigado.
— Diálogo, compreensão, puxa vida, parece que a psicóloga
que ando acompanhando na internet não é canastrona como você
disse.
— Sempre tem que estar certa, não é?
Eu bufei com uma risada. O senhor incapaz de pedir desculpas
e rei da razão estava falando o quê?
— Eu acho que você deveria ficar quieto, não tem um histórico
que favorece humildade e no quesito conversa, meu amor, você é
muito difícil.
Klaus me puxou e fez cosquinhas, querendo me obrigar a retirar
o que disse só porque estava tentando ser um homem menos
explosivo. Reconhecia todas as tentativas dele, só não mudava o
fato de que ele era como uma tempestade. Quando ficava furioso,
imaginava nuvens densas se formando acima da cabeça. Ele ficava
mais assustador do que trovões e raios.
Mordi seu braço, rindo. Jayden parou na garagem, sem se
abalar com a nossa bagunça. Desejamos boa noite antes de
entrarmos. Klaus foi para o escritório e eu, direto para a cozinha.
Justine deixou uma nota, dizendo que uma entrega particular estava
na mesa. Como não havia comprado nada pela internet (eu usava
tudo no nome do Klaus), achei muito esquisito ter uma carta com
meu nome.
— Recebeu alguma correspondência? — Ele abriu a geladeira,
pegando uma garrada de água. Rasguei o envelope e olhei o
conteúdo. — Ziva? O que foi?
— Não sei quem me enviou isso.
— O quê? — Klaus quase derrubou a água. — Porra. Não olhe
isso, vem aqui.
Era uma única folha em tamanho ofício com uma colagem de
fotos que pareciam registros da polícia, da noite que atirei contra o
meu tio por abusar de Tate com meu padrasto. Era o corpo dele sem
vida, nossas pegadas no chão e o depoimento do meu padrasto
dizendo que eu o surpreendi por trás, sendo uma garota
problemática, que abusava do uso de drogas por não aceitar o
casamento dele com minha mãe.
Abaixo de tudo aquilo, havia uma mensagem:
“Está pronta para ser reconhecida nas ruas, Ziva?”
— Não tenha medo disso, sabe que não permitirei. Querem
brincar conosco e causar pânico. Você já foi inocentada, Ziva. Em
poucas semanas, estará livre desse pesadelo. — Klaus me abraçou.
Eu estava tremendo, porque não conseguia evitar o medo. Por
muitos anos, aquela noite me assombrou. Era meu pesadelo ser
encontrada e levada para a cadeia porque protegi Tate. — Não fique
assim. Eu vou cuidar de tudo.
Klaus me tirou de perto da folha como se ela fosse uma bomba,
mas que já havia explodido no meu rosto. Eu não queria ter
vergonha. Se as pessoas soubessem da verdade, talvez não me
olhassem como uma assassina e por muito tempo, fugitiva. Ele me
levou para o sofá, entregou um copo de água e pegou o telefone.
Eu nunca duvidei de que ele cuidaria de mim e me protegeria.
Ciente do poder e bons relacionamentos, talvez aquilo fosse somente
uma ameaça, algo que poderíamos resolver facilmente. A lembrança,
no entanto, queimava dentro de mim e provavelmente levaria muito
tempo para que conseguisse superar o fato de que eu era apenas
uma criança que não foi protegida.
Eles eram os culpados. Roubaram minha adolescência e
principalmente, a minha inocência. Roubaram minha vida e saíram
ilesos.
Eu disse para mim mesma que aquela era minha casa, minha
vida e ele era o homem por quem estava profundamente apaixonada.
Não existiria lugar mais seguro e ninguém poderia me machucar ali
dentro. Respirei fundo, acalmando as batidas do meu coração e
fiquei de pé, porque eu não permitiria que me derrubassem
justamente quando estava no caminho da felicidade.
Capítulo Vinte e Quatro
Ziva
A sala de reuniões principal da sede do grupo Delacroix estava
cheia de homens e mulheres bem vestidos. Eram tantos advogados,
que a garota fugitiva que habitava em mim queria sair correndo.
Klaus estava segurando minha mão por cima da mesa, talvez porque
eu tenha passado a noite em claro revivendo aquela noite e com
medo de precisar voltar a viver nas ruas. Daquela vez, eu não tinha a
esperteza de Tate para sobrevivermos.
Eu o amei ainda mais por prometer, a cada oportunidade
possível, que eu não estava sozinha. O homem fofo ficou em casa.
Ali ele estava no modo Klaus Delacroix que fui muito orientada a ficar
longe. Todd reconheceu que a imagem foi copiada da pasta do
processo que estava no escritório e todas aquelas pessoas na sala
trabalhavam para minha liberdade completa, fazendo o impossível
para que eu não fosse levada ao Nebraska.
Quando Klaus apertou a ponta do nariz, eu contei os segundos
antes da explosão. Já sabia que a voz grossa dele iria fazer todo
mundo pular na cadeira. Mantive minhas mãos no colo, observando-o
berrar. Ele levantou, batendo na mesa. Todd manteve a postura,
impecável. Klaus estava quase passando dos limites e ainda bem
que telefones celulares foram proibidos na sala.
— Ok, vamos dar uma pausa! — Levantei também e sorri
gentilmente para Todd. — Você pode conduzir seu grupo para o
saguão. Loretta terá chá e café para todos. Muito obrigada.
Klaus sentou novamente, bufando com o rosto vermelho e
encostei na mesa. Olhei-o com cuidado. Ele ergueu o rosto, mordi o
lábio e sorri.
— Acho que você pode se acalmar.
— Não me diga o que fazer. Eu pago caro para que informação
vaze dessa maneira? Não aceito. É inadmissível.
— Eu sei que é inadmissível e eu acho muito sexy a maneira na
qual fica furioso para me defender, mas nem tudo precisa ser
resolvido no grito. — Sentei em seu colo. — Algumas pessoas não
conseguem lidar com a pressão e talvez seja o meio mais eficaz de
saber quem agiu com tamanha má-fé. Todd valoriza a relação de
trabalho que possuem, até porque, ele está maluco para pegar a
conta principal que hoje é do seu primo.
Klaus respirou fundo, aproveitei que já havia relaxado a postura
para beijar seu pescoço. Ele grunhiu, baixinho, gostando do meu
ataque. Beijei sua boca, provocando a língua e sussurrando algumas
coisas bem safadas em seu ouvido. Ele se acalmou, ficando
excitado, sem calcular que eu estava distraindo-o propositalmente.
Se tivéssemos tempo, daria a ele um boquete espetacular para
deixá-lo relaxado.
— Agora eu vou pedir que eles entrem para terminarmos isso.
— Saí de seu colo e fui rebolando até a porta.
— Filha da puta — ele xingou com um misto de raiva e
admiração por eu ter usado a mesma tática que ele para distrair e
acalmar.
— Aprendi com o melhor mestre. — Abri a porta e mantive o
sorriso de miss simpatia, porque não queria que aquelas pessoas
pensassem que me assustavam pelo conhecimento e poder que
tinham sobre a minha vida. — Vamos começar novamente, pessoal?
Klaus balançou a cabeça para mim, porém, ficou nítido o quanto
me sentir conectada a ele ajudou bastante na maneira com que
recebeu o restante das informações. No final do dia, descobrimos
que uma estagiária, filha de um amigo em comum do Todd e de
Klaus, foi quem tirou xerox da folha. Ela levou para casa e fofocou
com a mãe, que fazia aulas de pilates com ninguém menos que Cary
e Gisele.
À contra gosto, Klaus contou na frente da irmã dele, que
sempre odiou a ex-cunhada e não economizava no bem feito a cada
oportunidade. Eles brigavam muito porque eram parecidos demais.
Era até meio irritante lidar com ambos ao mesmo tempo. Sentia
pena de Patrick que, por anos, ficava no meio da guerra nuclear.
— Elas tornam minha sororidade um pouco difícil — Cami
comentou com um franzir de nariz.
— Viver na rua me ensinou que algumas mulheres soltam as
mãos das outras, sim. Nem todas querem ou devem ser protegidas
pelas outras, é claro que não vou retribuir na mesma moeda e nem
vou me estapear por Klaus, mas também vou fingir que elas não
existem na minha vida e é melhor que nunca precisem de mim.
— O que elas ganham com isso? Queimar você faria Klaus
voltar para ela?
— Apenas irritar, causar desgaste, colocar o nome no meio de
uma fofoca e porque ela sabe que o passado da família não é o mais
doce. Trazer à tona matérias antigas poderia prejudicar todos nós…
— Patrick respondeu a Cami.
Klaus estava estranhamente quieto, ele não falou sobre o
assunto em momento algum durante o jantar e muito menos depois.
Cami e eu conversamos até tarde, já que o dia seguinte era sábado.
Mostrei a ela fotos da curta viagem até Miami, onde ficamos no
quarto a maior parte do tempo, fazendo coisas que adultos com
tesão fazem. Mal vi a praia. Levei um monte de biquínis e fiquei nua
o tempo todo.
— Foi bom vocês terem ido depois desse estresse, acho que
meu irmão lidou muito melhor do que lidaria antes. Ele não socou
ninguém, não precisamos tirá-lo da cadeia por agressão. — Ela
encolheu os ombros e fiquei um pouco ofendida. Apesar de ainda
querer muito fazer terapia de casal com Klaus, eu sabia que a luta o
ajudou muito. Stuart não só ensinava Klaus a lutar, como mostrou o
caminho de canalizar e controlar a raiva. — Tudo bem, defenda-o.
— Eu não estava aqui em todas essas vezes e talvez, você
também precise abrir mão de todo esse ressentimento por
problemas que passaram. Ninguém precisa me dizer que se amam e
por isso, brigam tanto, porque querem o outro bem. Klaus te quer
bem e por um tempo, você e Patrick não faziam bem um ao outro…
— Mordi meu lábio ao ver que ela estava quase chorando. — Sei
que ele tem uma maneira peculiar de mostrar os sentimentos.
— Você está certa.
— É horrível admitir que estou certa.
— Sim. — Cami projetou um beicinho, me fazendo rir. — É
impossível não perceber as mudanças, mesmo as que seriam sutis.
Engraçado é que ele quis mudar e faz todo sentido. Todo mundo se
aproximou dele a vida inteira querendo consertá-lo, você não quis.
— Klaus nunca foi um homem ruim. Ele estava tentando me
manipular e conseguiu várias vezes, assim como controlar, mas
conviver com uma pessoa viciada me ensinou que elas fazem de tudo
para se proteger. São as mentiras de que não estavam usando, as
promessas de que irão parar, o comportamento… — Encolhi minhas
pernas no sofá. — Ele não era um viciado, e sim, alguém
desesperado para se proteger. Eu me vi nele, porque eu também
estava jogando com as minhas regras para me manter intacta. Só
não sabia que a convivência faria com que nossos verdadeiros lados
dessem tão bem.
— Ah, Ziva. Isso é amor, não é só paixão. O que vocês têm, em
tão pouco tempo, alguns casais levam anos para construir. Não é
mais sobre o sexo incrível que você vive falando para me atormentar,
é amizade, companheirismo. Vejo o quanto conversam, olham nos
olhos um do outro o tempo todo e confiam. — Cami pegou minha
mão. — Eu pensei que meu irmão nunca encontraria alguém além do
Patrick que o entendesse tanto.
— Eu nunca nem pensei no amor, porque os contos de fadas
pareciam bons demais para mim.
— Todos nós merecemos amar e sermos felizes.
Klaus não acreditava ou pelo menos, não quando nos
conhecemos. Ele parecia estar aceitando lentamente. Ao ouvir a
maneira na qual a mãe deles reagiu sobre Cami estar grávida e de
Patrick, me fez agradecer por termos ido para bem longe.
— Ela agiu como se fosse uma gravidez adolescente e eu tenho
trinta anos! Foi ridículo, no fim, antes de ir embora, me ligou para
saber quando pretendo fazer um chá de bebê para que ela possa
organizar a agenda. Só pode ser louca.
Eu simpatizava com mães malucas. A deles só parecia
complicada e um tanto amargurada, mas amava os filhos (ou
somente a Cami). Sabia que Klaus tinha ou teve um irmão, só não
sabia se era mais velho ou mais novo. Era um assunto delicado,
muito mais do que qualquer outro, por isso não estava sendo
invasiva, só comendo pelas beiradas até Klaus estar pronto para me
contar.
Ele sentia muita culpa e em um nível que me preocupava.
Fui dormir quase de manhã, tanto que não acordei quando ele
saiu cedo e estranhei, porque não sabia para onde. Mandei uma
mensagem e ele não me respondeu. Tomei café sozinha, limpei a
cozinha e o nosso banheiro, que estava cheio de cabelos no chão e
as funcionárias só voltariam no começo da próxima semana.
Aonde ele iria sem me falar previamente?
Depois de tudo que havia acontecido, passamos vários dias
após o retorno de Miami, mergulhados nesse estresse da carta de
ameaça. Pensei que teríamos um descanso juntos…
Parada em frente ao espelho, minha paranoia deu olá. Ele não
me falaria se fosse confrontar a ex-noiva dele, porque sabia que eu
morria de ciúmes e daria um belo ataque. Klaus não disse nada
depois que soubemos que foi ela. Não contou o que iria fazer, nem
resmungou sobre quebrar coisas. Ele escolheu ficar mudo porque
sabia que iria encontrá-la. Ele a perdoaria? Deixaria de lado?
Meu interior começou a queimar e não porque queria explodir. O
ciúme e a insegurança sobre o passado deles me deixou inútil, até
ouvir o carro entrar na garagem. Ele foi para o escritório, deixou as
chaves, colocou o telefone para carregar e me olhou.
— Você foi vê-la — acusei, com raiva.
— Sim, eu fui — ele confirmou. Sua expressão não dizia nada.
Dei as costas, respirando fundo. — Ziva, volte. Vamos conversar.
Ergui meu dedo do meio, ainda me afastando, escolhendo não
ser madura e ter meu momento para mandá-lo para a puta que pariu.
Peguei a chave do meu carro e minha bolsa. Não tinha o costume de
dirigir, porém, não iria longe. Eu merecia um sorvete, sair de casa e
não cometer uma agressão contra o meu namorado. Jayden se
assustou e correu para a moto, para me seguir. Com música alta,
parei em frente a uma lanchonete e pedi de dentro do carro o maior
sundae que eles tinham.
Ouvindo Leona Lewis, tentei pensar em como deveria reagir
quando voltasse para casa e não obtive nenhuma resposta racional.
Eu queria ser louca e quebrar tudo. Daquela vez, Klaus descobriria
que ele não era o único a ficar assustador quando estava com raiva.
Capítulo Vinte e Cinco
Ziva
Meu pote de sorvete estava quase no fim e as lágrimas
molhavam meu peito quando uma batida no vidro me assustou. Klaus
estava pedindo para que eu abrisse a porta, com o olhar solene que
me quebrava ao meio. Funguei, negando, dizendo que falaria com ele
depois. Sem querer aceitar, continuou insistindo e destravei apenas o
lado do carona. Era meu carro, eu era a única autorizada a conduzi-
lo.
Dando a volta meio contrariado, abriu a porta e se sentou.
— Podemos conversar?
— Irônico que quando você pisa na bola é podemos conversar,
mas se sou eu que ouso fazer algo do tipo, será preciso uma roupa
de batalha. — Enfiei mais uma colher na boca. — Eu não quero
conversar. Não quero te entender agora, quero enfiar essa colher no
seu olho e arrancar sua orelha por sair sem me falar nada para
encontrar a sua ex-mulher.
— Ex-noiva, sim. Mulher, não. Nunca casamos. — Ele soou sério
e me virei no banco de forma brusca, quase avançando. — Eu fui
falar com ela e não te contei. Você estava dormindo, foi uma semana
complicada para nós e não queria já amanhecer brigando porque
sabia que você não me deixaria ir.
— Como se alguém pudesse controlar o todo poderoso Klaus
Delacroix.
— Ziva… por favor, me escute. Sei que você está com a mente
dominada por uma insegurança infundada. Eu nunca a escolhi diante
de você, sequer falei dela, foi Gisele que enfiou na sua cabeça que
iríamos voltar. Não vai acontecer, só para deixar bem claro.
— Então, por que ela não recebeu a fúria conhecida e sim,
apenas uma visita?
Klaus suspirou e tentou pegar minha mão. Não deixei.
— Nós tivemos um filho e perdê-lo doeu muito em nós dois.
Nunca soubemos como lidar com a morte dele, nos tornamos
pessoas ainda piores do que éramos na época e eu quis dar a ela a
chance de não repetir esse erro porque não irei perdoá-la — ele
confessou e xinguei baixinho. Era golpe baixo usar o bebê, mas
entendi e me odiei mais ainda porque queria ficar com raiva. —
Amor, eu entendo sobre sentir ciúme, acredite em mim, mas eu não
vou voltar com Gisele. Assim como não quero que ela ache que pode
nos infernizar. Foi um aviso, o último, se ela escolher continuar eu
vou esquecer a dor que compartilhamos, mesmo que ela nunca me
perdoe por ter insistido na gravidez.
Klaus pegou minha mão, querendo que eu me virasse no banco
para olhar em seu rosto. Ele estava cansado. Os olhos fundos, o
rosto abatido e quis levá-lo para casa. Provavelmente estava com a
enxaqueca que o perseguia em situações de estresse e não estava
me falando porque eu queria levá-lo ao médico.
— Eu odiei que você foi falar com ela sem me consultar antes.
Odiei ter percebido isso sozinha devido ao seu comportamento e não
porque conversamos. Mesmo que eu fique com raiva! Você tem que
falar comigo, Klaus!
Ele respirou fundo, com seu temperamento na borda por
perceber que estava errado e não queria dar o braço a torcer.
— Espero mesmo que tenha sido uma visita de cortesia pelo
passado de vocês e que tenha sido a última. Não vou aceitar que
trate a sua ex como um bibelô delicado, dando chances para que ela
volte a me provocar e me ameaçar.
— Eu sinto muito. Não quis te deixar assim, nem te fazer chorar,
sabe que eu odeio as suas lágrimas e mais ainda, odeio que sinta
ciúme de uma situação que não vai acontecer. Eu te amo, Ziva. Foi
você que me fez querer viver novamente, sentir que estou vivo e que
eu posso viver, mesmo quando tudo me diz o contrário. — Klaus me
puxou para um abraço e subi em seu colo, mesmo meio apertado,
dei um jeitinho de ficar ali. — Não chore pensando que vou te deixar
ou te trair. Eu não sou esse tipo de homem e nem no pior momento
da minha vida, fui infiel.
— Desculpas aceitas — falei baixinho.
— Você está chateada por me perdoar?
— Claro que sim, queria ficar com raiva por mais tempo, mas
você esclareceu e passou. O que não significa que não jogarei isso
bem no meio do seu focinho quando me irritar.
— Focinho? Virei um cachorro agora?
— Está precisando ser adestrado, repita comigo: nunca mais
sairei sem falar com a minha namorada.
Ele riu, sacana e só me beijou, descendo as mãos para a minha
bunda.
— Vamos para casa fazer as pazes. — Mordeu minha boca.
— Quer foder, é? Só porque pediu desculpas?
— Não. Eu vivo em um estado constante de desejo pela mulher
que amo.
Fiz um beicinho. O imbecil sempre sabia o que dizer.
— Só para constar, eu também te amo e sou louca por você.
Klaus sorriu da maneira mais linda do mundo, enchendo meu
peito de amor. Como era possível sentir tantas coisas por uma única
pessoa?
— Vá para o seu carro. Te encontro em casa.
— Deixe que levem o seu e vem comigo.
— Não. — Beijei-o e abri a porta, expulsando-o.
Contrariado, saiu e fechou a porta. Para ter certeza de que não
iria desviar do caminho, ficou com sua Mercedes colada na bunda do
meu carro. Andei bem devagar propositalmente, ele piscou os faróis,
mas não dei bola, cantando bem alto e levando a paciência do
homem ao limite. Estacionei na garagem, ainda cantarolando, ele
pegou minha mão e foi me rebocando para dentro.
— Estou suada. Quero tomar banho. — Desviei para o banheiro,
rindo.
— Vamos foder no banho. — Ele me seguiu. Agarrei-o, dando o
beijo que o enlouquecia, acariciando seu pau por cima da calça
jeans. Gemendo, segurou meu cabelo, pedindo baixinho para que eu
tirasse minha roupa. Ergui meu top, deixando meus mamilos
expostos. Klaus abaixou o rosto, chupando-os. Gemi baixinho,
jogando a cabeça para trás.
— Onde enfiou todo o romantismo que usou para me acalmar no
carro?
— Você quer flores agora? — Ele apontou para o pau duro.
Tirei minha calça de ginástica com a calcinha, chutando as meias
e o tênis longe. Klaus arrancou a roupa de forma brusca, me
pegando e me colocando em cima do balcão. Ele deu um tapa forte
na minha bunda que me fez arquejar e eu pensei em todas as vezes
que jurei que iria odiar apanhar no sexo. Puta merda, o quanto foi
bom. Gemi, ele riu e o belisquei para que não falasse nada.
Klaus bateu de novo, mordendo meu pescoço e chupando. Ele
sempre deixava marcas quando brigávamos. Era errado, mas não
chamava a atenção. Eu gostava.
— Você já me quer? — Ele esfregou o pau nas minhas dobras.
— Mete. E mete gostoso… — Mordi seu lábio, rebolando meu
quadril. Segurei seu pau, bombeando e encaixando a cabeça na
entrada, conduzindo-o para dentro. Ele ficava maluco quando eu o
colocava em mim.
Como estava apoiada no balcão, ele me levantou, estocando
deliciosamente. Agarrei seu braço. Porra. Tão bom. Eu o amava por
mil e um motivos, mas o sexo era simplesmente espetacular. Klaus
me colocou no chão, virando-me de forma brusca e voltou a meter
sem aviso. Agarrando meu cabelo, olhou em meus olhos através do
espelho.
— Você gosta disso, não é, minha safada?
— Eu adoro. — Sorri, empinando minha bunda ainda mais. — Eu
amo o jeito que você me fode.
Klaus bateu de novo e soltei um grunhido, batendo a mão na pia
e chegando a um orgasmo de falhar as pernas. Ele afundou os
dedos no meu quadril, deixando marca e puxou para fora, gozando
entre minhas nádegas. Suada e ofegante, minhas costas chegavam a
escorregar contra o peito dele.
— Banho e segunda rodada. Ninguém mandou você brigar
comigo…
Eu não estava reclamando de fazer muito sexo de reconciliação.
Passamos a tarde na cama namorando, ignorando o mundo lá
fora e só saímos para comer. Ele fez pão com queijo quente. Não
era um queijo barato e tinha um gosto esquisito, meu paladar torceu
o nariz e por isso, enchi de ketchup, como uma criança faria. Klaus
comeu tomando um vinho e eu achocolatado, porque nem sempre
ficava no espírito de uma bebida alcoólica e não tinha mais
refrigerante.
— Quer enfrentar a tarefa doméstica do mercado amanhã?
— Prefiro deixar que Justine faça as compras — ele retrucou
com um sorrisinho. — Elas estão cheias de regalias porque você é
muito atenciosa com a nossa casa.
— Fazer compras de mercado e pagar as contas não é ser
atencioso, somos adultos e podemos cuidar de algumas coisas
sozinhos.
— Você precisa de amigas dondocas para saber que elas não
fazem nada. — Soltou uma risada e bufei. As mulheres da academia
me assustavam com tanta futilidade. Ainda bem que algumas
auxiliares do Personal eram legais, gente comum e foi com elas que
fiz mais amizade.
— Eu acho que não quero ser esse tipo de mulher. Embora não
faça ideia de que faculdade seguir, usar um terno e sentar atrás de
uma grande mesa me atrai muito mais. — Dei a última mordida no
meu queijo. — Falando nisso, estava pensando em aumentar a
família.
Klaus cuspiu o vinho.
— Como fomos de mulher de negócios para mãe em alguns
segundos?
— Eu ainda não sou uma mulher de negócios, estou empolgada
em produzir o próximo evento. — Peguei a mão dele, rindo da
reação exagerada. — E se nós nos tornarmos pais de pet?
— Sim, sim. Quantos bichos quiser. — Ele tossiu, ainda nervoso.
— Você precisa parar de trabalhar comigo. Usar minhas táticas
contra mim vai me matar. Você não pode jogar coisas assim, Ziva.
Terei um ataque cardíaco.
— Apenas sinta orgulho de que tem uma aprendiz muito aplicada.
Peguei sua taça e bebi, de forma delicada. Klaus pegou o
telefone e disse que iria buscar um canil para que procurássemos
nosso bebê de quatro patas. Se eu pedisse de uma maneira
convencional, ele diria não, porque um cachorro traria muita sujeira
pela casa e iria alterar a nossa rotina.
Alguns assuntos, só no susto.
Capítulo Vinte e Seis
Klaus
Ziva estava andando na minha frente segurando um filhote de
cachorro peludo no colo como se fosse um bebê. Ele me olhava
pelos ombros dela e eu já sabia que aquela praga compartilharia a
atenção da minha mulher comigo. Já começou na noite anterior,
horas depois de chegar em casa, ficando entre nós dois no sofá e
por fim, me empurrando com as patas. Quando ela não estava, ele
só me olhava, aceitava o carinho, balançava o rabo, me lambia, mas
com Ziva por perto? Só existia ela.
Empurrando o carrinho atrás dela, coloquei os sacos de ração,
brinquedos e várias besteiras para que ele tivesse com o que se
distrair em casa. Ciente de que cresceria muito nos próximos meses,
estava me perguntando como lidaríamos com um cachorro grande.
Ziva queria um labrador e tínhamos condições financeiras para
aquilo.
Só me perguntei se tínhamos as condições emocionais.
— Ele não é fofinho dormindo no meu ombro?
— Ele não é um bebê de verdade — acusei, porque o cão não
estava dormindo e sim, me olhando. — Ele precisará aprender a
andar na coleira, ficará muito grande para o colo e terá que ser
adestrado.
— Quieto. — Ziva me deu um beijo. O cachorro lambeu meu
pescoço. — Viu só? Ele ama o papai.
Papai. Aquela palavra me causava arrepios. Foi por susto que
aquele cão estava nas nossas vidas, porque Ziva já tinha mencionado
algo sobre termos um animal de estimação e ignorei, fingindo que
sua loucura não iria me dominar. Mas ela era uma peste, fritou meu
cérebro me fazendo acreditar que queria filhos humanos para
conseguir ter o cachorro.
Ziva não escondia sua vontade no futuro e isso causava um
ânimo novo em mim, mas naquele momento, eu não saberia lidar
bem com uma criança. Seria um péssimo momento para ser pai
porque meu coração ainda estava dividido na dor e no medo de tudo
dar errado. O pavor no meu peito de atrair qualquer negatividade
para a vida dela e do bebê me sufocava e com isso, nada de filhos,
não até que aquela sensação passasse.
Estava dando tempo ao tempo, conforme havia prometido para
Ziva, deixando que bons sentimentos me dominassem. Era uma
tentativa lenta, muitas coisas em mim jamais mudariam, porque fazia
parte do meu ser, mas ser melhor para a mulher que eu amava e ter
uma família era um cenário que eu podia ver acontecendo no futuro.
Rony, nosso cachorro com nome de humano, amava correr na
grama. Eu me perguntei como seria mantê-lo na cobertura quando a
reforma acabasse. Ziva e eu sentamos à mesa da varanda, bebendo
vinho branco e comendo alguns petiscos.
— Eu não acredito que vocês pegaram um cachorro. — Cami
se aproximou e puxou uma cadeira. — Posso ficar aqui? Patrick está
jogando e eu sinto que quero matá-lo por todo o barulho que está
fazendo.
— Claro que sim, vou pegar um suco e mais biscoitos de queijo.
— Ziva foi até a cozinha com a bandeja.
— Ela queria um cachorro.
— E você faz tudo que ela quer?
— Sim. — Dei de ombros. — Ziva já foi castigada demais na
vida.
— Eu sei, ela me contou… caramba. Ainda penso nisso todo
dia, não consigo superar que quem deveria amá-la sequer a
protegeu. — Cami olhou rapidamente para a cozinha. — Você fez a
coisa certa em cuidar de tudo. Ziva precisava de alguém para lutar
as batalhas dela.
— Mesmo nos meus métodos não ortodoxos que sempre
condenou?
Cami recostou na cadeira, acariciando a barriga.
— Lembra quando um garoto me encurralou no vestiário e me
beijou a força? Eu cheguei em casa tremendo porque a professora
não havia acreditado em mim. Você e Kitty foram até lá, enfiaram a
porrada nele e quebraram o carro da professora, para aprenderem a
nunca mexer com um Delacroix. — Ela pegou minha mão. — Fiquei
assustada e furiosa, mas vocês estavam lá por mim, como os irmãos
mais velhos mais protetores do mundo.
— Foi a minha primeira prisão por agressão e você ficou sem
falar comigo por um ano, mas valeu a pena limpar a cidade. Eu faria
de novo.
— Eu era imatura, você estava sempre se metendo em
problemas e deixava a mamãe… hoje eu vejo coisas que não via na
época.
— Mamãe nunca gostou de mim.
— Eu não entendo, Klaus. O que aconteceu? Por favor, me
conta. Onde tudo deu errado? Para de fugir desse assunto, sou
adulta, estou casada e grávida. Pare de me empurrar para longe
como se ainda fosse a adolescente irritante. — Ela agarrou meu
pulso. — Quando Ziva veio, fez muitas perguntas e eu não falei da
sua vida. Eu juro.
— Cami, eu não sou filho dela — falei com tranquilidade. — Sou
fruto de uma traição do papai. A mulher engravidou, mas não quis
ficar comigo. Mamãe aceitou e acho que não deveria. Ela sempre
tratou vocês dois com muita diferença, quando descobri, me senti
traído, mas finalmente entendendo por que eu não era amado
igualmente.
— Meu Deus, Klaus? Como?
Ziva se aproximou com calma e colocou a bandeja na mesa. Ela
sentou ao meu lado e fez o seu clássico gesto de apoio: colocou a
mão no meu joelho e apertou. Eu admirava o quanto era forte,
porque por mais que fosse abatida e até caísse no chão, ela
levantava de queixo erguido.
— Descobri encontrando minha certidão de nascimento antes
da adoção e confrontei o papai. Ele relutou, brigou, me colocou de
castigo, mas eventualmente cedeu e contou a verdade. Foi pouco
depois do seu aniversário de três anos.
— Você era só um adolescente. — Cami levou a mão à boca,
triste. — Eu sinto muito que tenha passado por isso. Por que nunca
nos contou? Kitty sabia?
Eu me movi desconfortável. Não queria falar sobre meu irmão
na frente de Ziva.
— Prometi a eles que não contaria.
Cami ficou em silêncio, olhando para a mesa e secou uma
lágrima que caiu. Ela saiu do lugar e me abraçou. Depois de muitos
anos, dei colo para minha irmãzinha caçula.
— Você não é e nunca foi a ruína da nossa família — falou
baixinho e engoli seco, tentando expulsar a emoção. — O bebê e eu
te amamos.
— E eu também. — Ziva me cutucou, fazendo graça de
propósito para aliviar o clima. Minha baby perfeita. Peguei sua mão e
a beijei.
Ouvimos o barulho de algo quebrando e o filhote apareceu
correndo, cheio de terra. Nós três começamos a correr atrás dele.
Cami conseguiu pegá-lo e eu vi o caos em que ele transformou os
vasos de planta perto do jardim. Ziva começou a rir e o levou para
um dos banheiros, porque seria necessário um banho, o que foi outra
bagunça infernal. Ficamos molhados e ele odiou o secador.
A única parte boa foi que o caos fez com que ele dormisse,
afinal, era um bebê. Deitado em sua cama no corredor, em frente ao
nosso quarto, não acordou nem mesmo com Ziva cantando no
chuveiro e fazendo o seu estilo de bagunça favorito antes de dormir.
Foi um longo dia, só queria me aconchegar na cama e renovar as
energias.
Conversamos na cama até tarde. Ziva não tocou no assunto
sobre minha mãe, conhecia os meus limites, mas seus beijos foram
mais carinhosos. Normalmente, ela já estava quase dormindo, só
colava os lábios nos meus e procurava uma posição para se
aconchegar.
Não gostava de pensar na minha mãe. Aos trinta e oito,
assumia que nunca facilitei nosso relacionamento depois que percebi
as diferenças. Não tentei consertar meus erros com ela, assim como
mãe, ela nunca se preocupou o quanto suas palavras iriam me ferir.
Eu era problemático desde novo e em uma briga, mamãe me disse
que eu era como a vadia da minha progenitora.
No fundo, nós dois éramos exatamente iguais e por esse
motivo, sabia que nunca ficaríamos bem.
Olhei para Ziva em seu sono, ela estava bufando e falando.
Uma tagarela mesmo adormecida. Parecia brava pela maneira que
as sobrancelhas estavam unidas. Nossa última briga estava recente
na minha mente. Eu odiava me desentender com ela porque no
fundo, sem o contrato, Ziva estava comigo porque queria e bastava
não querer mais para meu castelo inteiro ruir. Não era possível
prever e controlar suas ações.
Entendia o quanto ficou chateada por eu ter ido procurar Gisele,
mas eu nunca dei ponto de limite a minha ex-noiva por acreditar na
dor que nos feriu. No entanto, ameaçar minha mulher foi além do que
eu podia suportar. Trazer aquele olhar de medo ao rosto de Ziva era
imperdoável para mim e por isso, ela precisava saber da minha boca
e olhando em meus olhos o que eu faria com toda sua vida e
pessoas que amava.
Ziva não tinha nada a ver com nosso passado. Se ela quisesse
me ferir, tudo bem. Eu podia lidar com qualquer merda que jogasse
na minha direção. Como um aviso, mandei executar uma dívida que
tinha com o Grupo Delacroix, ela perdeu um restaurante e já estava
fechado, sem que pudesse entrar para retirar os itens mais
pessoais. O encontro foi cortesia, o aviso era para que me levasse
muito a sério.
Eu sempre amaria nosso filho e sentiria a dor de perdê-lo, mas
eu também amava Ziva e a nossa vida. Amava muito mais o que
estávamos construindo e não permitiria que o passado colidisse com
meus planos futuros, ferrando com o presente. Queria que Ziva
mantivesse no rosto o sorriso alegre que me tirou do rumo meses
antes de ficarmos juntos.
Por ela, eu era capaz de tudo.
Capítulo Vinte e Sete
Ziva
Rony passou correndo com as meias de Klaus e meu namorado
apareceu, escovando os dentes, me dando um olhar indicativo de
que nosso cão era uma peste. Eu estava me vestindo ainda, não
podia sair correndo atrás dele e eram só meias! Sendo um filhote,
roubar coisas e sair correndo era uma das atividades favoritas dele.
Meu bebê só queria se divertir.
— Ziva! Ele fez xixi nos meus sapatos!
E disputar o território com o outro macho da casa.
Klaus queria uma fêmea porque sabia que um macho iria marcar
a casa inteira, mas Rony ia um pouquinho além. Eu já era dele. A voz
de comando que obedecia era a de Klaus (e quem não obedeceria?),
mas todo mimo, amor e dengo era comigo. Não economizava na voz
de bebê e nos afagos. Ele chegou para tornar nossa vida ainda
melhor, mais divertida e amorosa.
O telefone de Klaus tocou, era uma mensagem, ele gritou
pedindo que eu lesse e entrou no chuveiro. Peguei e fiquei meio
incerta, eu não gostava de ler nada do número desconhecido que ele
usava para se comunicar com os italianos. Curiosa, abri. Era uma
imagem ruim, com muita granulação, mas confirmando que Mangiello
era mesmo um homem refinado, de cabelos castanhos escuros ou
pretos e o porte físico de quem malhava.
Não dava para ver o rosto, mas havia uma familiaridade nele.
Talvez fossem as roupas. Fiquei confusa. Entrei no banheiro e
mostrei a Klaus.
— Não dá para ver muita coisa ao ponto de tirarmos uma
conclusão.
— Não. Só prova que ele é real e gasta muito para que não
saibam quem é. — Ele estava com o olhar sério e carregado.
— Por que isso? Por causa da polícia?
— A maioria dos homens que trabalham com ele não o
conhece, aceitam pelo dinheiro, status e poder. Eles morrem
facilmente, porque se expõem no lugar.
Engoli em seco antes de perguntar.
— Você mandou matar mais alguém além do Paco?
— Não. Esse foi pessoal, eu avisei para que não entrasse no
meu clube e não mexesse com as mulheres lá. Ele não me ouviu. Os
demais foram pela guerra do tráfico mesmo, os italianos de ambos
os lados, até mesmo os latinos do sul da cidade.
— Tem um traficante com quem Tate comprava drogas. Já
tentou alguma coisa com ele? Fica em um beco atrás da Strip, entre
o hotel Flamingo e uma lanchonete de fast food. O nome dele
provavelmente não é Johnny de verdade, mas…
— Patrick já deve ter pedido que passassem por ali. Havia
alguém mais com quem Tate pegava droga?
— Além desses? Quando ela dormia com Mangiello, ele
aplicava nela, é tudo que sei.
— Ele deu mole o suficiente para que conseguissem essa
imagem, mesmo que ruim. Isso me dá esperanças de que estamos
perto.
Dei um aceno, deixando o telefone na pia e saí do banheiro
pronta para minha aula de mamãe com Cami. Patrick estava
acompanhando as aulas de parto com a enfermeira e cuidados com
o bebê após o nascimento, mas eu fui eleita a ir em todas as aulas
de exercícios pré-parto e primeiros socorros. Depois, Cami e eu
fazíamos exercícios. Eu bem mais pesado que ela, desejando
definição muscular.
Eu gostava de ter uma família e da aproximação dos irmãos.
Patrick parecia aliviado que não era uma briga e não tinha que
escolher um lado. A amizade dele com Klaus era inquebrável, os dois
confiavam muito um no outro e conversavam sobre tudo o tempo
todo, talvez meu namorado falasse mais com Patrick durante o dia
do que comigo. Sorte a minha que também fui acolhida por eles.
Atravessei o quintal e pulei a parte mais baixa da cerca, com
preguiça de dar a volta pela rua. Dei pulinhos na trilha de pedra,
chamando-a para avisar que estava chegando.
— Está pronta, Camille? — Entrei na casa deles.
Ela gritou da sala.
— Calçando o tênis! Acordei com um pouco de enjoo, já estou
no segundo trimestre e simplesmente não passa.
— Quer companhia hoje? Eu posso ficar no consultório com
você depois da academia. Se ficar tonta ou coisa do tipo, Jayden
poderá nos trazer rapidamente.
— Ainda não sei se vou conseguir trabalhar, acho que só farei
uma caminhada na esteira e voltar para deitar.
Fiquei preocupada, avisei a Klaus que estava saindo e entrei no
carro com Jayden. Nós estávamos falando sobre a compra do
enxoval quando Jayden acelerou e disse que deveríamos nos
segurar. Gritei com o primeiro solavanco, estavam batendo no nosso
carro. Minha cabeça acertou o vidro milhares de vezes, na última, fez
tudo girar. Doeu muito. Cami estava assustada, mas não gritando,
ela apertou meu cinto, querendo me tirar do lado mais atingido.
Jayden conseguiu chegar em uma avenida e rapidamente
buzinou para uma patrulha. O carro que estava nos seguindo saiu em
disparada pela pista, fugindo, e outro carro da polícia o seguiu. Não
consegui me mover de tanto que minhas pernas tremiam. A policial
foi gentil, nos acalmando e ainda segurou o cabelo de Cami enquanto
ela vomitava.
Toquei minha nuca, sentindo o sangue e o latejar nos pontos
específicos.
— A senhora precisa de atendimento médico?
— Acho que sim. — Olhei para os meus dedos molhados.
Ouvi uma freada brusca, virei e avistei Klaus e Patrick saindo do
carro com rapidez. Cami correu até eles, mas eu ainda permaneci no
carro porque não conseguia me mover. Meu lado da porta estava
todo batido, o impacto fez com que meu corpo começasse a doer.
— ZIVA! — Klaus gritou e parou ao meu lado. Através do vidro
rachado, falou comigo.
— Os paramédicos chegam em alguns minutos. Fomos
orientados a deixá-la no mesmo lugar, já que ela não está
conseguindo se mover — a policial explicou.
— Ziva, bebê. Fale comigo, o que está sentindo? — Klaus tocou
o vidro.
— Estou bem.
Eu sequer sabia dizer o que estava sentindo de verdade e
decidi que não iria desesperá-lo. A sonolência estava aumentando,
assim como o gosto ruim na boca, provavelmente alguma das muitas
cabeçadas que dei estava causando um efeito ruim agora que o
carro estava parado e toda a adrenalina se esvaindo.
Klaus deu a volta no carro, entrando pela porta que Cami havia
saído e ignorou a ordem da policial para não me mover. Deitei minha
cabeça em seu peito, necessitada por ele, precisando daquele colo.
— Amor, não durma. Já ouço a ambulância chegar e tudo vai
ficar bem.
— Por que só atingiram meu lado do carro?
Era curioso e ao mesmo tempo, sentia gratidão. Cami não
podia perder o bebê. Seria devastador para todos nós, eu era forte,
já havia acontecido tantas situações bizarras na minha vida que não
seria um acidente de carro que me derrubaria. Foi proposital. Alguém
queria me machucar.
Eu não aguentava mais me sentir como um alvo.
Klaus ficou me sacudindo sutilmente para que eu não dormisse
e deu espaço para que os paramédicos trabalhassem em mim.
Minhas pernas doíam, deveria ser tensão. Meu coração parecia mais
acelerado do que o aceitável e eu precisava de um forte remédio
para dor. O passeio de ambulância não foi divertido e ficar sozinha
com médicos e enfermeiras no hospital me fez ter um ataque de
pânico.
O médico tentava conversar comigo, me acalmar, mas era forte
demais e dominou toda a minha mente. O medo me paralisou. Senti
meu coração parar e por mais assustador que tenha sido, as vozes
que gritavam na minha cabeça ficaram em silêncio e aquela
sensação de paz foi crescendo e me tranquilizando, me deixando
descansar.
Eu fiquei naquele limbo até começar a ouvir Klaus.
Ele estava falando bem baixinho ao meu lado, pedindo que eu
acordasse porque estava na hora e lentamente, fui me sentindo
sugada para a realidade. Abri meus olhos, encarando o teto cinza
escuro e virei o rosto.
— Eu queria dormir mais.
— Sei que ama dormir, mas o médico disse que já estava na
hora de acordar.
— Minha cabeça está latejando. — Tentei erguer a mão, mas
estava presa à medicação. — O que aconteceu?
— Você teve uma crise nervosa e eu não podia ficar na sala de
exames. A parte boa é que, do acidente, você só vai ficar dolorida
pelos próximos dias. O inchaço na base da sua cabeça está
diminuindo. — Ele beijou os nós dos meus dedos.
— Parece assustado. Estou bem, tirando o gosto ruim na boca
e um pouco de dor — falei baixo, querendo voltar a dormir.
— Você me assustou muito e te ver desacordada em uma cama
foi como viver em meu pior pesadelo.
— Não vai se livrar de mim tão facilmente, ainda vou te ver bem
velho e continuarei bem gostosa.
Klaus riu e deu um beijo na minha testa, dizendo que ia chamar
o médico. Uma enfermeira entrou de fininho, provavelmente sabendo
que havia um tambor dentro da minha cabeça me fazendo querer sair
correndo. Fiquei feliz em ver Cami de pé perto da porta, ela acenou
animada, com os olhos cheios de lágrimas e Patrick surgiu logo
atrás. Eu soprei um beijo para mostrar que estava bem.
Eles eram a minha família.
Klaus voltou com o médico, foi chato ser aferida, cutucada e
responder um monte de perguntas que pareciam inúteis. Meu
péssimo humor divertiu a todos. Comi uma sopa que tinha gosto de
tudo, menos do que dizia no menu, mas estava quentinha e
saborosa. Eu nunca reclamaria de comida na minha vida, não
importava do que ela fosse.
Tomei banho, vesti meu pijama favorito e com o controle,
procurei um besteira para ficar passando no mudo só para me
distrair. Estremeci com frio e Klaus imediatamente foi até a bolsa.
— Você quer meias? Eu trouxe algumas não mastigadas pelo
Rony.
— Como meu bebê está?
— Com saudades. Ele vai ficar muito feliz quando voltar para
casa, embora esteja sendo terrivelmente mimado pela minha irmã.
Acredita que Patrick o colocou para dormir na cama com eles?
— Eu acredito. Eles precisarão de um pouco mais de firmeza
com o bebê. — Comecei a rir, imaginando o bebê mimado, porque
eu não iria educar ninguém. Seria o tipo de tia que estraga muito a
criança.
— Duvido muito. — Klaus me cobriu melhor.
— Vem aqui, amor. Estou bem, pode dormir em casa. Prometo
não ter uma crise.
— Eu não vou a lugar algum. — Sentou ao meu lado, esticando
as pernas na poltrona. — Estou perfeitamente confortável aqui.
Estiquei minha mão e ele a pegou, entrelaçando nossos dedos,
como ficávamos na cama à noite durante nossos muitos momentos
de conversa. Eu sabia que de todas as pessoas da minha vida,
independentemente do que fosse acontecer com nosso
relacionamento amoroso, Klaus era, acima de tudo, meu melhor
amigo. O amor que construímos me ajudava a ter a certeza de que
ele nunca iria me deixar.
Capítulo Vinte e Oito
Ziva
Klaus preparou uma grande cama na sala. Ele teve o trabalho
de descer um dos colchões do quarto de hóspedes para que eu não
subisse a escada. Ainda precisaria repousar pelos próximos dias,
não era ideal fazer esforço e a claridade excessiva me deixava com
dor. Ele dispensou todos os funcionários para que não houvesse
nenhum ruído que me causasse desconforto e manteve as cortinas
fechadas.
Fiquei sentada no sofá. Quis deitar um pouco no sol pela
manhã, logo que chegamos do hospital, com o rosto bem coberto. Lá
era muito frio e eu queria me aquecer. Enquanto isso, ele cozinhou o
almoço, me serviu e agitado, não parou mais. Estava bem,
considerando os dias no hospital, só queria descansar. Cami me
alertou que Klaus tinha trauma com familiares internados, para que
eu tivesse um pouco de paciência se ele surtasse, mas foi tudo bem.
Não desejei ficar longe dele. Preocupei-me com o trabalho, com
seu descanso, alimentação e ficamos bem juntos.
— Ele vai acabar dormindo conosco.
— Aproveitando que será apenas aqui na sala. — Klaus colocou
o último travesseiro e escorreguei para o chão. — Sua medicação é
em uma hora.
— Não estou com muito sono, posso esperar acordada.
— Vou buscar meu notebook, não se mova. — Ele sinalizou
para que eu ficasse parada.
Mordi o lábio para não rir. Rony deitou ao meu lado e liguei a
televisão, diminuindo o brilho e deixando no mudo. O corte na minha
boca estava com pontos e incomodava um pouco, principalmente ao
deitar, que era quando parecia latejar mais. Klaus retornou e
trabalhou um pouco, tentando ser o mais silencioso possível.
— Ainda sem nenhuma informação sobre quem causou o
acidente?
— O homem foi preso e não pude, ainda, arrancar a verdade
dele nos métodos não convencionais. — Deixou o notebook de lado.
— Não quero te estressar com esse assunto, já não tem sido muito
fácil para mim lidar com as inverdades de toda essa situação. Já se
tornou pessoal há muito tempo.
— Lidar com um inimigo oculto é muito pior do que os monstros
que já conhecemos.
— A única coisa que eu sei é que precisa acabar. Estou
monitorando todas as pessoas ao meu redor, que possam ser, mas
não é nenhuma delas. — Ele parecia frustrado. — Até mesmo minha
ex-noiva, sua amiga, meus sócios…
— Devon te ajudou com a lista?
— Sim. Chegou um momento em que Patrick e eu já não
sabíamos mais em quem pensar. Acho que não é uma boa coisa eu
ter irritado tantas pessoas ao longo da minha vida, porque eu
simplesmente vejo que hoje tenho mais opções de inimigos do que
amigos.
— Você tem os amigos que importam. — Rolei para seu lado
com cuidado. — Tem a mim, sua irmã, Patrick…
— Vocês são minha família.
Era muito gostoso ouvi-lo admitir.
Não foi surpresa para nós, quando alguns dias depois,
soubemos que o homem que estava na direção do veículo foi morto
na cadeia antes que os contatos de Klaus pudessem interrogá-lo em
uma transferência de penitenciária. Ele foi silenciado, o que me
causava mais noites insones e arrepios por não saber quem estava
ao nosso redor querendo nos destruir.
A única coisa boa na semana seguinte foi a minha total e
completa liberdade. Eu não era mais uma fugitiva. Apesar de ter sido
condenada a pagar cestas básicas pela fuga e fazer um tratamento
psicológico obrigatório devido ao trauma vivido naquela noite, meu
padrasto foi preso por aliciamento de menores e pedofilia. Sem
fiança. Eu assisti a todos os vídeos do jornal local e não vi minha
mãe em nenhuma das imagens.
Tate não foi a única vítima dele.
— Como se sente podendo sair por aí? — Cami questionou
quando abrimos o champanhe para comemorar. Nós não podíamos
beber, mas os homens sim.
— Sinto que Klaus vai poder me levar a Paris. — Joguei a
indireta.
— Eu vou te levar para onde quiser. — Ele beijou minha
bochecha. — Mais torta?
— Sim, por favor.
Estava amando ser servida. Ele não me deixava pegar uma
única colher, mal me vestia sozinha depois do banho. Ser uma sugar
baby tinha sim, algumas vantagens…
— Falando sério, tudo que sinto agora é que posso viver minha
vida de verdade. Vou poder voltar a estudar, fazer uma faculdade, ter
um emprego e sair do país. Posso sair de Vegas sem medo de ser
presa, isso é… incrível.
— Você não deveria ter passado por tudo aquilo, Ziva. Era só
uma menina. — Cami lamentou. Ela sempre ficava mexida com a
minha história.
— Fui obrigada a crescer em muitos aspectos e retardei minha
vida em outros, foi confuso, mas a vida é agora. Eu vou vivê-la. —
Encolhi os ombros, sentindo um pouco da opressão de que, de
repente, eu que não podia nada, com um simples pedido de
desculpas do Estado do Nebraska, podia fazer tudo.
O que seria tudo?
— Tudo bem, sei que parece muita coisa agora, mas você
precisa se acalmar e aceitar ser vendada. — Cami saiu de seu lugar
e pegou uma faixa. — Promete não ter um ataque? Klaus vai me
matar se você morrer.
— Eu vou mesmo. — Klaus adicionou em um tom seco, mas
estava com um olhar divertido. — Pode vendar. — Ele piscou.
— Confesso que a ideia de ser vendada só pelo Klaus é mais
excitante, mas tudo bem. Não me matem do coração.
Cami estava tão empolgada que fui contagiada pela alegria
dela. Minha cunhada me vendou e Klaus me conduziu até a sala
principal, não a que estava uma zona pelo nosso acampamento de
dormir. Eu já estava subindo escadas, só não desmontamos o ninho
confortável por pura preguiça. Klaus andava cansado e por isso não
estava brigando para manter a casa em ordem. Estiquei as mãos à
frente, curiosa e eles ficaram rindo. Pelo ventinho quente, percebi
que a porta foi aberta, senti um cheiro familiar, só não sabia de onde
era.
— De quem é esse perfume? — questionei com a voz trêmula.
Aquele cheiro tinha lembrança de casa. Papai. — Meu pai está aqui?
— Eu estou aqui, fia. — Ele soou rouco, com aquele sotaque
forte. Tirei a venda, abrindo a boca em choque ao vê-lo em pé à
minha frente. — Minha menininha!
— Ai, meu Deus! Papai! — Eu me joguei nele, abraçando-o
muito apertado. Ele me pegou, desequilibrando um pouco, mas não
caímos. — Não acredito que você está aqui!
— Seu marido mandou me buscar num avião enorme. A cidade
parou para ver aquele helicóptero. — Ele segurou meu rosto. — Não
deveria ter fugido, minha Ziva. Sou velho, mas cuidaria de tudo,
ninguém encostaria em você.
— Ah, papai. Foi o medo e a Tate…
— Senti sua falta, tive medo. Chorei achando que estava
morta… — Ele me abraçou de novo, beijando meu rosto.
— Sinto muito por toda dor que te causei, mas passou, estou
livre — falei contra seu peito, com a saudade finalmente deixando de
apertar meu coração. — Que felicidade te ver. Deixe-me apresentar
minha nova família.
Klaus já havia falado com meu pai por chamada de vídeo, mas
a ideia da surpresa foi de Cami, com toda logística de Patrick.
Abracei os três, muito grata. Mostrei a casa para meu pai, arrumei o
quarto de hóspedes rapidamente e não desgrudei. Até peguei no
sono na cama dele, de tanto falar. Acordei com Klaus me carregando
para a nossa. Passei a noite em seus braços um pouco agitada,
talvez ele tenha me abraçado para me manter na cama.
Acordei cedo, porque sabia que meu pai costumava estar no
campo antes do sol nascer. Preparei a maior mesa de café, servindo
panquecas, torradas, bolo, até fiz com que Patrick fosse buscar
umas mini tortinhas que eram deliciosas.
— Parece uma festa. — Klaus desceu, pronto para o trabalho.
— Volto na hora do almoço, só vou passar por uma reunião e ficarei
livre para passearmos com seu pai.
— Obrigada por tudo, amor. Estou muito feliz.
— Eu sei, seu rosto é o reflexo da felicidade. — Ele me beijou,
também feliz.
Ele sabia o que eu precisava, cuidava de tudo e ainda tirava
tempo na agenda maluca para me mimar. Klaus achava que controle
e manipulação eram a receita para um relacionamento dar certo e
ser duradouro. Aquele contrato nos levaria à ruína. Ainda bem que
aprendemos que sermos dois de verdade podia ser infinitamente
melhor quando havia entrega, amor, paixão e muito companheirismo.
Papai nos divertiu muito com o sotaque carregado, ele também
me contou que não via minha mãe desde que as buscas por mim
encerraram. Devido a toda fofoca, parou de frequentar a cidade e
optou por viajar quilômetros a mais para fazer compras de
suprimentos. Na fazenda não tinha internet. Televisão só por cabo e
quando ventava muito, não funcionava. Ele usava celular e um
telefone fixo, mas sua maior distração era o rádio e as palavras
cruzadas do jornal.
Um jeito muito simples de viver, que na idade dele, me
preocupava de que ficasse isolado. Conversamos sobre melhorias
necessárias, até mesmo para que sua produção melhorasse. Eu
tinha dinheiro e podia investir, só não entendia muito. Klaus assumiu
essa parte, chamando um amigo para fazer um projeto e nos dias
que papai ficou conosco, além de passeios por Vegas, também
estudamos como melhorar a fazenda.
Eu não estava pronta para voltar ao Nebraska e meu pai
entendia. Ele até disse que a cidade não merecia minha presença, o
que me fez rir. Reconectar com meu pai foi fácil. Não nos separamos
por falta de amor. Foi a vida infeliz e alguns caminhos que nos
separaram. Prometi a mim mesma não passar mais nenhum dia sem
falar com ele. Ele foi embora com um sorriso fácil e deixando muitos
ditados que ficamos repetindo em casa por vários dias.
Klaus chegou em casa mais cedo, pegando Cami e eu dobrando
roupinhas de bebê.
— Enxoval completo?
— Esquecemos algumas coisas, foi um pouco exaustivo para
sua irmã, vamos voltar depois de amanhã ou encomendar pela
internet — expliquei e ele pegou um sapatinho, dando um sorriso. —
Fofo, não é? O que tem aí nessa pasta de papel?
— Detalhes da sua consulta obrigatória.
Peguei e abri, lendo o nome da psicóloga, os horários e no final,
percebi que havia dois nomes como pacientes. Ergui meu olhar e
sorri, puxando-o pela gravata e dando-lhe um beijo.
— Faremos algumas sessões em conjunto e outras, separados.
Se você vai enfrentar isso, eu também vou.
— Eu te amo. — Meus olhos se encheram de lágrimas. Aquilo
era muito importante, um gesto de amor. — Obrigada.
Cami fez um som fofo, que deixou Klaus sem graça e então, ele
saiu, sem falar mais nada, para se esconder no escritório. Nós duas
rimos como duas bobas, no fundo, eu só me sentia como a mulher
mais feliz do mundo inteiro.
Capítulo Vinte e Nove
Klaus
Eu odiava terapia. Não era minha primeira vez fazendo um
tratamento e parecia que não seria a última, afinal, uma pessoa
atormentada como eu não ficaria “curada” facilmente. Mas o amor é
uma coisa bizarra. Ziva tinha horas para cumprir, então, nós unimos o
útil ao agradável. Eu decidi ceder a uma coisa que ela queria muito
que fizéssemos a dois: cuidar da nossa saúde mental para, um dia,
termos filhos.
Não era um plano imediato, até porque, ela queria muito viver
coisas que não pôde enquanto estava se escondendo. Falar sobre
meu passado e meus sentimentos trouxe uma instabilidade à nossa
relação. Ziva era mais aberta em aceitar suas dificuldades e falhas,
ela sabia como olhar para sua trajetória. Eu não. Odiava lembrar da
minha infância, adolescência e começo da vida adulta.
Odiava muito mais ter que falar sobre as grandes perdas da
minha vida: meu pai, meu irmão e meu filho.
Cada vez que chegávamos a esse tópico, eu sentia vontade de
quebrar tudo, sair e deixar as duas falando sozinhas. Ziva sempre
segurava minha mão, ela dizia que não importava o que fosse
confessar, sempre ficaria ao meu lado. Eu sabia que sim, só não
tornava voltar aos meus tempos obscuros mais fácil. Parecia
impossível seguir em frente.
Fomos desafiados a lidar com coisas que estávamos
protelando e ela escolheu visitar o túmulo de Tate.
Acordamos cedo, ela vestiu branco e eu meu estilo usual: tudo
em tons escuros. Deixamos Rony com minha irmã já que, ao ficar
sozinho, ele destruía algum móvel ou fazia xixi nas minhas coisas.
Patrick quis me acompanhar. Ele estava preocupado que fosse muito
difícil. Cami começou a chorar logo que entramos no carro, ela sabia
o que eu iria fazer e isso também trouxe lembranças a ela.
Ziva manteve a mão na minha perna por todo o caminho, mas
olhou para a janela com os olhos marejados. Encontramos um mapa
e nos orientamos pelas ruas arborizadas do cemitério, que parecia
tranquilo. Apesar das muitas lápides espaçadas, a grama verde dava
uma sensação de que estávamos em um jardim. De mãos dadas,
subimos uma escada e encontramos Tate.
Ziva ficou parada com as flores sem falar nada.
— Eu não sabia que mensagem colocar. Podemos trocar, se
quiser.
— Ela seria enterrada como indigente, essa lápide é linda, bem
grande. — Abaixou e colocou as flores no vaso fixo. — Caramba. —
Ela começou a chorar. — Não ver me fazia pensar que ela só estava
sumida por aí, que aquela mulher no chão do beco não era ela. Eu te
odiei, Tate. Odiei muito por me deixar sozinha para lutar, por me
fazer crescer sem você. Todo dia me pergunto o que poderia ter feito
diferente para mudar esse destino e não encontro as respostas. Eu
espero que saiba que eu te amo, sempre vou amar e queria ter
cuidado mais de você. Me perdoe por não ter sido mais forte…
— Vem aqui, amor. — Eu a peguei. Ziva escondeu o rosto
molhado no meu peito. — Não foi sua culpa, você sabe disso. Lidar
com um vício não é tão simples como cuidar de uma pessoa
necessitada.
— Eu não consigo me livrar da sensação de ter falhado.
— Você fez o que podia e tenho certeza, que nos momentos de
sobriedade, Tate sabia disso.
Ziva chorou no meu peito por quase uma hora e eu deixei,
porque ela nunca pôde se despedir adequadamente da prima e
melhor amiga. Quando se acalmou, ofereci um lenço e Patrick lhe
deu água. Sem falar nada, peguei sua mão e ao invés de
retornarmos pelo caminho, fui adiante, indo para a parte mais alta.
Ela parou ao ver o jazigo da minha família.
— É aqui que estão todos os Delacroix falecidos? — Ela
apertou meus dedos.
— Meus avós paternos faleceram aqui na América, então,
estão eles, meu pai, meu filho… e meu irmão. — Levei-a para a
frente do túmulo de Kitty.
— Kerington Delacroix, amado filho e irmão. — Ziva leu,
baixinho. — Esse é o Kitty? Ele faleceu com dezoito anos?
— Sim. Ele estava sem cinto no banco do carona e foi
arremessado para fora do carro pela alta velocidade em que eu
conduzia um carro esportivo — assumi baixinho. — Foi um acidente,
eu nunca quis matar meu irmão.
— Você estava sóbrio?
— Eu sim, ele não. Kitty estava usando drogas na época, papai
havia morrido e ele encontrou essa maneira para aliviar o estresse
do luto. Eu costumava beber muito, mas nesse dia, eu não bebi. Fui
buscá-lo em uma festa, os amigos dele me ligaram dizendo que ele
havia brigado com um traficante. — Passei meu braço por seus
ombros. — Na estrada, nós fugimos desse mesmo homem, mas eu
perdi o controle do carro quando um caminhão entrou
inesperadamente na mesma pista que eu.
Senti o arrepio do terror daquela noite, ficar preso nas
ferragens e ver meu irmão no meio da pista. Vários carros passaram
por nós e ninguém ajudou. Apenas olharam e seguiram em frente até
uma patrulha chegar e chamar os primeiros socorros. Fiquei
consciente de tudo que estava acontecendo ao meu redor, até
mesmo dos paramédicos falando baixinho “talvez o outro não
sobreviva” e outro dizendo “esse tem mais chances”.
Eles ignoraram meus gritos pedindo para que salvassem meu
irmão.
— Eu queria trocar de lugar com ele, dar meu coração e toda
minha vida por ele. Kitty era a alegria em forma de pessoa. Estava
sempre dançando, risonho, brincava sobre tudo e contava as
melhores piadas. Ninguém era infeliz perto dele — falei contra os
cabelos dela. — Viver sem ele foi como se tivessem apagado toda
luz do mundo. Primeiro ficou em coma, mas quando o estado
vegetativo foi para morte cerebral, eu não aceitei e briguei na justiça
contra minha mãe para mantê-lo conectado aos aparelhos. Eu vi todo
tipo de caso milagroso de pessoas saindo do coma e acreditava que
ele podia sair também. Chamei todos os médicos famosos,
pesquisadores, estudei, implorei para que me ajudassem a trazer
Kitty de volta à vida. Fazer isso só trouxe mais dor a minha irmã e
mãe, elas venceram na justiça e Kitty teve a vida encerrada dois
anos depois do acidente.
Eu o perdi para sempre.
Ziva apenas assentiu, intuindo que eu ainda tinha muito a falar.
— Nunca pensei que fosse possível amar alguém o quanto eu
amava meu irmão. Eu amo a Cami, não me entenda mal, mas ela é
oito anos mais nova e ele era como minha alma gêmea, meu melhor
amigo. Não fazíamos nada sem o outro. — Suspirei, com a eterna
saudade borbulhando em meu peito. — A vida sem Kitty ficou mais
difícil. Eu não queria viver, depois perdi meu filho, tudo parecia cinza.
Até você chegar.
— Eu sei que estar aqui não é só por mim, mas porque você
está enxergando que sim, foi imprudente, irresponsável mas não
assassino. Você nunca teve a intenção no seu coração de matar
Kitty. Foi um acidente, vocês poderiam ter sobrevivido, assim como
os dois poderiam ter morrido. — Ziva olhou em meus olhos. — Essa
é a curva imprevisível da vida. Ela te empurra para lugares e
situações que nunca cogitaríamos. Quando cheguei em casa naquela
noite, estava com minha roupa da escola e uma maçã na mão. Eu
não pensei que encontraria o que encontrei, nem que acabaria
fugindo pelo mato para viver. Eu era uma criança fugindo do chefe da
polícia.
— Ainda não entendo o porquê. O erro de Kitty eram as
drogas. Eu era alguém com uma índole muito mais duvidosa. Já
estava envolvido com coisas e pessoas para recuperar os negócios.
— A vida não escolhe inocentes ou culpados. O destino traça
seus caminhos sem a nossa escolha. — Ela colocou a mão no meu
peito. — Obrigada por me trazer aqui e contar sobre seu irmão.
Patrick e eu deixamos as flores que costumávamos deixar.
Abaixei e limpei as folhas secas do túmulo do meu filho e acertei a
estátua perto do meu pai. Não era de fazer visitas, mas gostava de
manter a área limpa e bem cuidada. Ziva pegou minha mão
novamente. Era estranho me sentir mais leve e ainda mais conectado
a ela. Não havia mais segredos. Ela não correu de mim e nem me
julgou ser um assassino.
— Eu quero que você saiba uma coisa, se seu irmão era tão
próximo assim de você, ele sabia que ninguém estava bem na sua
família. A dor nos faz cometer mais erros.
— Minha mãe não me perdoou.
Aquilo era uma outra dor completamente diferente.
— Cada um tem seu tempo, o que me interessa agora é que
você encontre o perdão. Você só precisa aceitar que foi um acidente,
foi trágico, mas a sua vida não acabou e eu duvido muito que o Kitty
que me descreveu gostaria que se punisse tanto para sempre. —
Deu-me um beijo na bochecha. — Meu amor por você continua aqui.
Para sempre e sempre. Você vai ficar velho e eu…
— Continuar uma bela de uma gostosa, eu já sei. — Segurei
seu rosto e a beijei.
Patrick nos levou para casa. Fizemos churrasco no quintal,
usamos a piscina. Minha irmã já estava com uma barriga grande e
ainda faltavam semanas para o parto. Sentir o bebê da minha irmã
mexer também ajudava a colar os pedaços quebrados da minha alma
com a partida precoce do meu filho. Eu podia recomeçar, havia
alguém ansioso para viver a vida e ser feliz comigo.
Ziva estava livre para construir a história dela em qualquer lugar
e com qualquer pessoa. Ela podia colocar um ponto final entre nós e
mudar, mas escolheu fazer isso ao meu lado. Não era pelo dinheiro,
muito menos pelo poder, ela não se importava com isso. Ela amava
um Klaus que eu não sabia que existia, escondido no fundo do meu
ser. Ele foi ganhando espaço com a alegria e o amor dela.
No raso da piscina, Ziva estava rindo com minha irmã e
dançando com Rony. Eu olhei para seu sorriso brilhante e pensei já
estar na hora de dar-lhe outro diamante. Um mais bonito, com
significado emocional, para deixar bem registrado que meu amor
pela futura senhora Delacroix era raro como um cometa.
Capítulo Trinta
Ziva
Klaus me chamou em seu escritório, fazia tempo que eu não ia
lá. O acidente foi de conhecimento público e depois disso, eu sumi,
não só para me cuidar, mas para preservar minha imagem. Melhor,
decidi caprichar na minha imagem, escolhi uma roupa poderosa, fiz
meu cabelo e percebi que bons produtos e mais cuidados me
transformaram em outra pessoa. Já era bonita antes, depois, fiquei
espetacular.
Virei de costas para conferir se estava tudo bem e percebi que
parte da calça não estava passada direito. Eu era péssima com
ferro. Fingi que estava amassada porque sentei em algum lugar. O
carro também me traria rugas, então, estava tudo certo. Minha
desculpa era que a vida é muito curta para ajeitar apenas um
pedacinho de roupa.
A sociedade que me perdoasse por não estar com a roupa bem
lisinha. Pelo menos, a minha bunda estava em um formato incrível.
Virei de frente de novo, ajeitando meus peitos no decote, passei
mais gloss e pronto. Incrível. Minha auto estima havia mudado muito
depois que passei a dormir bem e ter comida na mesa.
A escassez transforma coisas simples em algo miserável
demais para lidar.
Tirei uma foto e mandei para ele, avisando que estava saindo.
Jayden me deu um sorriso e ao contrário de todas as vezes, fui no
banco da frente, com cinto. Nossa viagem foi tranquila. Eu estava
com um pouco de pânico de sair de casa, mas lidando com aquilo na
terapia, considerando que o mundo não queria me matar. Sim, havia
apenas uma pessoa, mas ela estava ficando sem alternativas para
se esconder.
O prédio do grupo Delacroix já não me assustava como antes.
Aquelas pessoas muito arrumadas com olhar esnobe já me
conheciam como a namorada do chefe e me tratavam um pouco
melhor. A festa também ajudou a tirar a impressão de que eu era
uma patricinha fútil namorando um homem mais velho.
Loretta foi a primeira pessoa que vi quando passei pelos
corredores principais, ela estava ocupada falando com um grupo e
eu passei direto. Bati, mas não esperei para entrar, já saí abrindo a
porta. Klaus não estava sozinho. Ele estava com um homem alto, de
cabelos escuros e igualmente bem arrumado, que não virou com a
minha chegada.
Uma atitude meio babaca, nada novo entre homens ricos que
achavam serem donos do mundo. Eu detestava esse tipo.
— Desculpa, amor. Achei que estava desocupado.
— Não tem problema, bebê. — Ele esticou a mão, me
convidando para entrar ainda mais. — Finalmente irá conhecer meu
primo. Ziva, esse é Doryan Delacroix.
Eu virei para o homem, oferecendo minha mão e seu rosto era
estranhamente familiar, mas talvez fosse porque parecia com Klaus.
Ele foi frio, esquisito, logo saiu da sala dizendo que voltaria depois e
eu fiquei sem entender nada.
— Mal vejo a hora de me livrar desse idiota. Culpa da minha
mãe, que me obrigou a contratar. — Ele foi até a mesa, pegando
algumas folhas. — Já estou terminando. Quero te mostrar algo
especial.
Eu olhei para a porta, ainda incomodada com o primo dele. A
sensação na boca do meu estômago estava forte. Apontei, ainda
sem fala, mas de repente, a lembrança surgiu na minha mente como
um chute que chegou a me deixar tonta. Cambaleei ao perceber que
ele era o homem que ficava dentro do SUV com Paco quando eles
passavam para buscar Tate. Uma vez, a única vez que realmente
olhei dentro dos seus olhos, foi quando ele despejou Tate drogada na
calçada bem na minha frente.
— Klaus! Ele é o Mangiello! — Ofeguei. Klaus me pegou
quando parecia que eu ia cair com meu coração acelerado.
— O que? Ele quem? Doryan?
Contei exatamente o que lembrava. Klaus pegou o telefone e
gritou ordens para que os seguranças contivessem Doryan, mas por
rádio, fomos informados que ele havia saído às pressas do prédio e
acelerado pela rua, alegando ter um compromisso urgente. Eu
encostei contra a parede, sentindo a boca seca. Mangiello estava
bem debaixo do nosso nariz.
Patrick invadiu a sala e por Klaus estar muito nervoso, repeti
tudo de novo, com mais detalhes, forçando minha mente a lembrar
de tudo. Eu tinha certeza. Doryan estava com alguns minutos de
vantagem e ele fez um saque alto, o valor máximo permitido no caixa
eletrônico. Por câmeras de segurança, o vimos andar em alta
velocidade em alguns pontos específicos da cidade. Klaus alertou
todas as pessoas envolvidas.
A atitude desesperada dele só colaborava para acreditarmos
que ele sabia o tempo todo que eu poderia reconhecê-lo. Era por
isso que me tornei um alvo. Mantendo um relacionamento com Klaus,
eu fui a única mulher que conhecia seu rosto e ficou viva. Preocupado
com a minha segurança, Patrick organizou uma comitiva para nos
levar para casa que deixaria o serviço secreto com inveja.
Cami estava de pé na sala quando entramos.
— Sempre achei que ele era estranho e invejoso. — Ela
abraçou Patrick.
— Vocês tinham um relacionamento ruim? — questionei a
Klaus. Ele vivia xingando esse primo, porém, ele xingava muitas
pessoas todos os dias. Para meu adorável namorado, todos os seus
parentes eram inúteis, imbecis e idiotas. Tanto que conhecia poucos.
Cami também não era próxima, por isso não achei estranho. Eu não
gostava de muita gente da minha família e por isso não podia julgar a
atitude deles.
Eu deveria ter desconfiado de Doryan. O homem não apareceu
em nenhum momento e sempre dava um jeito de sumir quando eu
chegava. O problema de conviver com muitas pessoas esquisitas era
isso…
Vegas era lotada de pessoas estranhas.
— Não posso dizer que sequer tínhamos um relacionamento,
crescemos como primos, mas ele sempre foi o garoto certinho com
quem minha mãe gostava de me comparar. A mãe dele tentava
forçar a barra… — Klaus estava com raiva. — Ele se enquadra na
descrição, pode ser o homem das fotos e tem motivos. Filho da puta
miserável.
— A cidade inteira agora tem um rosto para procurar. Ele vai
ser encontrado e logo. — Tranquilizei-o. Não existia mais para onde
fugir. Doryan estava na lista negra de muitas pessoas perigosas e o
que o manteve vivo esse tempo todo foi a identidade oculta.
— Nunca imaginei que ele tivesse intelecto para isso. Poderia
ter usado toda essa criatividade para fazer algo útil e bom, gastou
muito só para se vingar. Por que? Qual o motivo tão grave? — Cami
foi até a janela, cruzando os braços.
— Pensando bem, foi uma junção de fatores. A comparação
infantil, a competição entre vocês, o fato de que Klaus enriqueceu
muito mais que o pai de vocês e não deu muita confiança para o
restante da família… também podemos adicionar que ele tinha uma
paixonite pela Gisele — Patrick comentou, olhando para Klaus.
— Porra. E se ela estiver envolvida? — Ofeguei pela milésima
vez no dia. Eram muitas emoções.
— Ela foi muito descuidada com a foto do processo e ficou bem
assustada com a minha visita, mortificada por ter sido pega, não
acho que esteja envolvida. É muito burra. Se ele tem um parceiro, é
alguém tão discreto e inteligente quanto. — Klaus abriu o terno,
tirando-o, parecendo com calor e puxou o cabelo. — Não dá para
negar que ele foi cuidadoso e se não fosse sua preocupação com
Ziva reconhecendo, é bem provável que o filho da puta conseguisse
me matar e eu jamais saberia.
— Ele não te matou porque não quis, estando tão perto,
convivendo na empresa, isso só pode significar que Doryan queria te
enlouquecer antes de te matar. Lembre-se que ele usou artifícios de
exposição, perseguição, morte e controle. Coisas que alguém
próximo saberia que mexeria com seu equilíbrio delicado. — Patrick
passou a mão na nuca. — Preciso de uma bebida. Minha cabeça
está doendo.
— Eu vou preparar. — Cami foi para o bar e eu parei na frente
de Klaus.
Rony estava deitado aos pés dele, ele adorava ficar perto, não
importava o motivo e a situação.
— Não deixe que isso te empurre de volta para a escuridão.
Apenas foque sua atenção em resolver e vamos voltar a viver nossa
vida. — Abri os botões de sua camisa, tocando seu peito e subi
minhas mãos para sua nuca. — Temos tantas coisas importantes.
Nossa viagem, as descobertas deliciosas do mundo, aproveitar que
agora somos completamente livres para viver nosso amor.
Klaus segurou minha cintura, puxando-me para si e pulei o
cachorro com cuidado. Nós ficamos agarradinhos, em um abraço
gostoso mesmo com o mundo prestes a pegar fogo.
— Não há nada nesse mundo que me impeça de te proteger e
eu vou até o inferno por isso, porém, não se preocupe. O homem
que você ama está bem aqui e não vai a lugar algum. — Ele beijou a
pontinha do meu nariz. — Ainda vamos dançar em frente a Torre
Eiffel, como é o seu sonho, vamos dar mergulhos impressionantes
nas praias de Ibiza e dar um passeio naqueles iates gigantes pela
costa azul da França. Depois, Londres e por último, Nova Iorque.
— Nossa viagem dos sonhos antes do bebê.
— Não vou mudar nossos planos, nada vai nos impedir de ser
feliz. Eu te prometo, Ziva. Essa história do Mangiello acaba de
terminar — ele falou baixo em meu ouvido e balancei a cabeça,
entendendo e aceitando aquelas palavras. Satisfeita, encostei minha
cabeça em seu peito, ouvindo as batidas do seu coração.
Para minha surpresa, estavam calmas e não frenéticas como as
de um homem raivoso. Aquilo só significava frieza. Klaus não iria agir
de cabeça quente, ele sabia o que queria e provavelmente, já tinha
um plano. Eu confiei que me proteger e manter nossa família a salvo
era o seu principal objetivo e fiquei em paz.
Nunca fui o tipo sonhadora, quando me permiti ter esperanças
da vida, eu não deixaria que nada roubasse a minha alegria.
Capítulo Trinta e Um
Ziva
Patrick estava pensativo, olhando para a janela e deixei uma
garrafa de cerveja na frente dele. Eu não queria atrapalhar. Saber
que Mangiello era Doryan, alguém próximo, trouxe a dor da traição
junto ao luto pela irmã. Eu vi uma foto, ela era linda, parecia cheia de
vida e com um sorriso adorável.
Lamentável que assim como Tate, não conseguiu se livrar das
drogas e perdeu a vida porque um idiota abusou de seu vício. Apertei
seu ombro e o deixei sozinho. Cami estava na cozinha, lavando a
salada com um olhar fixo no marido. Ela me deu um sorriso triste,
voltando a se concentrar no preparo do almoço. Klaus estava no
quintal com Roni, ele saiu do escritório dizendo que precisava de um
tempo.
— Ele pensa nele todos os dias — Cami comentou baixinho.
— Sei como é.
— Klaus e Kitty eram como uma coisa só e eu sentia inveja da
amizade deles. Sempre me deixavam de fora, porque eu era menina
e mais nova. Ficava com muita raiva deles, arrumava motivos para
brigar e fazer parte. — Ela continuou lavando excessivamente os
tomates. — Quando Kitty se foi, eu senti que meu coração tinha ido
com ele. Eu queria ter a força e a esperança de Klaus. Ele não
desistia.
— Ele não cansa de lutar por quem ama.
— E eu lutava contra ele. Quando Patrick perdeu a irmã, pensei
no quão difícil seria se eu perdesse Klaus também e foi muito difícil
reparar nosso relacionamento.
— Vocês estão bem agora.
— Só posso atribuir a você, que chegou como uma cola. — Ela
sorriu e peguei um pano, fazendo com que parasse de lavar. —
Estou nervosa, desculpe. Acho que estraguei o tomate.
— Você é a única pessoa entre nós que não pode se estressar,
portanto, vá se sentar. Vou fazer aquele suco de morango com
laranja que adora. — Apontei para a cadeira e com sua barriga
esticada à frente, ela se sentou. Preparei o suco bem gelado, doce o
suficiente, que estava uma delícia, até renovou o meu ânimo.
Fiz sanduíches de frango grelhado, avocado e salada. Sentamo-
nos para comer e não falamos muito. Klaus estava o tempo todo no
telefone e eu dando espaço porque o humor dele não estava dos
melhores. Doryan não tinha saído da cidade, um dos informantes
confirmou que ele estava agrupando para atacar e não para fugir.
Era tudo ou nada, um jogo de poder, agora que sabiam quem ele
era, só existia duas opções: morrer ou dominar.
Ele queria dominar. Não tinha certeza se ele podia confiar na
máfia italiana e na maneira que eles agiam, com tanto poder. Eu
dormi nas ruas, conhecia bem do que eles eram capazes e só de
imaginar, ficava arrepiada. Klaus percebeu e pegou na minha mão,
apertando meus dedos e passando confiança. Abri um sorriso para
que não se preocupasse comigo, ficaria bem, eram só meus
pensamentos idiotas.
Cami e Klaus começaram a trocar suas usuais farpas. Qualquer
coisa era motivo para que eles começassem. Patrick e eu rimos,
porque era o jeito deles de demonstrar amor. Um pouquinho de
normalidade em dias caóticos cairia muito bem. De repente, o
telefone dos dois tocou, era alguém pedindo carros e dinheiro.
Klaus estava financiando uma possível guerra que começaria
nas ruas. Tudo que eu rezava era para que não respingasse em nós,
não precisávamos de mais nada. Um sequestro? Não, obrigada.
Alguém ferido? Definitivamente, não. Observei os dois e percebi que
Cami ficou nervosa. Ela andava com a pressão arterial elevada e nós
estávamos sendo cuidadosos com as informações que recebia.
— Que tal irmos para o quarto do bebê terminar de separar as
roupas para lavar?
— Vai ser bom para distrair. — Cami aceitou minha ajuda para
se levantar. — Nunca pensei que um bebê pequeno precisasse de
tantas roupas.
— Ouviu o que a enfermeira disse, eles cagam e sujam tudo.
Você terá muito cocô para limpar nos primeiros meses.
— E não vou poder contar com a titia?
— Para a parte do cocô? — Soltei uma risada. Nem fodendo.
Entramos em sua casa e subimos a escada diretamente. Por
questões de segurança, fomos orientadas a sempre acionar os
alarmes silenciosos e de movimento, assim os guardas do
condomínio ficavam atentos, assim como os nossos particulares e a
polícia era imediatamente acionada. Patrick estava andando armado
a todo momento e eu ficava com um canivete na cintura porque… um
ataque desprevenido já foi mais do que o suficiente.
Quando dormia nas ruas, nunca deixei o spray de pimenta e
nem a faca fora do meu alcance. Eu senti o gosto da selva, nunca
mais perdi minha guarda. Por mais assustador que tenha sido ouvir
aqueles disparos, me dava mais proteção sentir o canivete no meu
bolso desde que Doryan fugiu da empresa e por todas as vezes que
chegou bem perto.
O quartinho do bebê estava lindo.
Não tinha um tema específico porque ela e Patrick não
chegaram a um acordo. Bem típico da família. Podia ver Klaus e eu
odiando as mesmas coisas e detestando qualquer sugestão um do
outro. Duvidava que a gente chegaria a um consenso sobre o nome
do bebê. Peguei as roupinhas, amando o cheirinho do amaciante que
eu escolhi. Ser tia estava sendo muito legal.
Cami estava na poltrona, balançando, ela ficava mais boba e
contemplando as coisas do que realmente arrumando. Grávidas
tinham sorte.
— Ziva, pegue meu telefone. Está vibrando na cômoda — ela
pediu e olhei a tela. Era uma mensagem de Patrick nos alertando
que deveríamos ir para o banheiro.
Ergui meu rosto e fitei o aparelho do alarme silencioso
piscando. Peguei a mão de Cami, sussurrando que deveríamos
entrar no banheiro, mas eu já podia ouvir passos suaves no corredor.
Era alguém leve. Ajudei-a a entrar no banheiro, que não era
espaçoso, porque era de um quarto de hóspedes. Não cabia nós
duas ali, encostei a porta, pensando no que fazer e decidi que
deveria atrair quem quer que fosse para fora da casa.
Era importante que Cami e o bebê ficassem a salvo. Do lado de
fora, havia os seguranças. Não sabia exatamente o que era e estava
ciente de que eu não era ninja, nem treinada como uma profissional,
mas eu não estava carregando uma criança. Nervosa, corri o mais
silenciosamente possível e desci as escadas, ao virar a curva do
corredor, parei abruptamente.
— Olá, Ziva! Bom te ver. — Ela riu, armada. — Justamente a
pessoa que eu mais queria encontrar.
— Ally? — Ofeguei, surpresa e então, tudo fez sentido. As
garotas do clube sendo assediadas, o estacionamento como um dos
primeiros lugares em que as meninas foram drogadas. O que
apareceu na minha memória foi que ela sabia que Tate estava morta
quando me questionou sobre o desaparecimento dela.
A filha da puta matou minha prima. Sem pensar, me joguei nela,
não lhe dando tempo para reagir. Ally gritou e sua arma disparou,
mas não me atingiu. Bati seu braço repetidas vezes contra o balcão,
dando-lhe uma cabeçada, ela gritou e soltou a pistola. Agarrei seu
cabelo, louca para arrancar fio por fio. Fui bruscamente puxada para
trás e vi um policial contendo Ally no chão.
— Me solte, Patrick! Eu vou matar essa filha da puta!
Klaus tentou me segurar e eu só me debatia, ele gritou comigo,
segurando minhas pernas e me fez olhar em seus olhos.
— Por que você saiu da porra do banheiro? Tínhamos tudo sob
controle!
— Ela matou a Tate!
Klaus me puxou para seus braços.
— Eu sei, amor. Mas não será você o juiz dela.
Tirando-me de perto, Patrick foi correndo buscar Cami e nos
reunimos na minha casa. Por lei, tínhamos que prestar depoimento,
ainda mais porque eu a agredi, mas por ter sido uma invasão,
enquadrou como legítima defesa.
— Foi ordem de sequestro. Enquanto Doryan atacava um lado
da cidade, ele achou que isso iria nos distrair. A polícia percebeu a
intenção, tiveram a confirmação quando o alarme disparou para eles
e nós decidimos agir sem chamar a atenção. — Klaus me entregou
um copo de água. — Eu quase morri quando te vi fora do quarto.
Qual é o seu problema em obedecer?
— Eu não li toda a mensagem, me desculpe. Só entrei em
pânico, pensando em proteger Cami e o bebê. — Encolhi os ombros,
dando-lhe um olhar de vítima. — Desculpa. Eu perdi minha cabeça
quando percebi quem era. Foi um caos dentro de mim. Ela me
perguntou sobre Tate sabendo que já estava morta naquele beco.
Isso é simplesmente horrível.
— Eu sinto muito, Ziva. — Cami me abraçou. — Está tudo bem
chorar. Coloque para fora, você tem o direito de estar com raiva.
Klaus me levou para o quarto, para tomar banho, afinal eu já
tinha tirado as fotos da perícia e na privacidade, ele me contou que
foi feito um acordo em que a polícia prenderia todos eles e a mídia
faria o circo necessário, transformando Doryan em um vilão. Assim,
quando eles desaparecessem ao fim dessa história, não haveria
comoção. Ninguém sentiria pena. Até porque, os amigos perigosos
de Klaus precisariam de espaço para fazer o que faziam.
— Eu preciso saber como Ally entrou em tudo isso e o porquê.
Tenho que ter essa história, porque não faz sentido. Por que uma
mulher faria tantas atrocidades com outras que confiavam nela? —
Peguei a toalha, voltando a chorar. — Quantas vezes eu me abri por
tudo que estava acontecendo com Tate e ela sabia de Doryan?
— Vou buscar todas as respostas que conseguir. — Klaus
beijou minha testa.
Não consegui relaxar, nem tirar um tempo para acalmar minha
mente. Decidi descer e começar a beber. Cami estava no sofá de
sua sala, cheguei entrando sem aviso e fui direto para o bar. Ela riu e
não falou nada. Preparei um drinque, sentando-me ao seu lado.
Klaus apareceu atrás de mim, querendo saber o que estava fazendo.
— Não sabia que podia lutar, Ziva. Melhor Klaus ficar de olhos
bem abertos — Patrick brincou ao descer as escadas.
— Ele é treinado.
— Eu fujo dos sapatos que ela joga em mim quando está com
raiva.
— Nos dias em que estou irritada, ele decide testar para ver o
quanto mais posso me estressar e passa o tempo inteiro me
provocando. — Revirei os olhos porque ele detestava o ato. Klaus
bufou, apertando minha coxa.
— Isso é normal, todo homem faz isso e é por esse mesmo
motivo que eles vivem bem pouco — Cami adicionou com um olhar
para o marido.
Foi um dia muito estressante. Eu ainda estava me sentindo
fervendo por dentro e querendo sangue, mas não podia negar o
sentimento de alívio por estar bem e com todas as pessoas que
amava na vida sãs e salvas.
Capítulo Trinta e Dois
Klaus
— Uau, olá! Tudo bem, gostoso? — Ziva comemorou quando
saí do closet, pronto para o nosso dia de folga. — Gosto muito de te
ver com as roupas formais, fica sexy, ainda mais com esse ar
sombrio de vilão de novela. — Ela começou a rir com a minha risada.
— Camisa preta e jeans fica muito bem em você.
— Adoro quando me enche de adulação. Você está linda.
— Esse vestidinho simples que parece um guardanapo para
usar com tênis? Só custou mil dólares. — Ela riu, saindo da cama e
pegou sua bolsa. — Meu pai mandou um abraço. Ele está muito feliz
com as máquinas novas, dá para ver o brilho no olhar.
— Fico feliz que ele esteja alegre. — Segurei sua mão. —
Pronta?
— Não acredito que estou indo buscar meu passaporte! — Ziva
foi pulando na minha frente. — E depois, comprar malas! Biquínis!
Férias!
Eu nunca pensei que merecia tirar férias. Raramente folgava,
mas depois de tudo que havia acontecido, tantos ataques,
perseguições e muito estresse, era um descanso necessário. Sem
contar que seria a primeira vez de Ziva fora do país, realizando um
sonho e era um motivo pelo qual estava fazendo muita questão.
Sua felicidade contagiante arrancou sorrisos de todas as
pessoas que encontramos. Ela fez um funcionário meu, muito
rabugento, cair na gargalhada. Foi uma cena inédita. O ar atrevido, o
olhar brincalhão e a boca esperta eram atraentes. Não era só a
beleza que me tirava o fôlego.
Por causa de um acidente, o trânsito estava sendo desviado
para uma avenida muito movimentada por turistas. Ficamos presos
em um engarrafamento para buscar suas encomendas no shopping.
Eu podia mandar qualquer funcionário fazer aquilo, deveria, porque o
estresse de estar no carro não compensava o desejo da minha
mulher em fazer coisas comuns porque éramos humanos.
— Jayden consegue nos ouvir do banco da frente?
— Só se gritarmos. Para falar com ele com a privacidade
ligada, somente pela comunicação interna. Por que?
— E o quão escuros são esses vidros? — Ela olhou para fora,
só havia carros e mais carros. Estava quente, parecia uma
reprodução do inferno.
— Muito escuros. O que você vai aprontar?
— Eu queria saber se poderia ser ouvida e vista se fizesse isso
aqui. — Soltou o cinto e montou no meu colo. Sorri, acariciando suas
coxas. — Meu vestido é tão mole, sabe? Decotado, fácil de abaixar
e expor meus seios.
— Quer matar o tempo transando?
— Não até o fim, porque eu não sei se vou conseguir ser
silenciosa e eu não quero ninguém nos ouvindo. Podemos brincar, o
que acha?
Minha resposta foi chupar seu peito. Eu não tinha inibição de
sexo em público, ela tinha ressalvas. Fodemos dentro do carro mais
de uma vez, eu a chupei em um elevador, transamos na piscina
mesmo com o risco de algum vizinho nos ouvir e nos divertimos muito
nos escuros das boates. A calcinha dela, daquela vez, não ajudou
muito.
Era apertada, de cintura alta e grande.
— Estou com um vestido leve e minha barriga estava inchada.
Você sabe que não uso aquelas calcinhas o tempo todo, só coloco
para te enlouquecer mesmo.
— Normalmente, você fica sem calcinha, o que para mim é
como viver no paraíso.
Existia algo melhor do que tocar sua mulher na cama sem
impedimentos? Não. Eu dormia nu e ela sem calcinha quando estava
de pijama ou camisola. O céu era o nosso quarto. Melhor dizendo, o
céu e todas as coisas boas do mundo, se resumiam a ela.
— Gosto quando você me olha assim, mas eu quero saber o
motivo agora.
— O motivo? Eu me apaixonei por uma garota que assisti fazer
um treinamento dentro de um dos meus negócios, agora, quero que
ela seja minha esposa.
Ziva analisou bem meu rosto.
— Você tem falado sobre casamento na terapia também. Isso
será uma novidade para nós dois, nunca passamos pelo matrimônio,
eu por mal ter saído das fraldas — pontuou e apertei suas costelas.
— Calma, eu não ia te chamar de velho… dessa vez.
— Dessa vez? Passei a noite te mostrando que não sou nada
velho.
— Eu sei e foi incrível. — Esfregou o nariz no meu. — Adoro te
chupar enquanto usa o vibrador em mim e depois, me come de lado,
gostoso. É tão bom.
Porra. Meu pau pulsou nas calças, querendo liberdade
desesperadamente.
— Você está me atentando.
— Eu sei e só para constar, vou dizer sim. Muitas vezes e
quantas perguntar.
Amar alguém e querer passar a vida inteira com ela trazia
plenitude nas mínimas coisas. Até mesmo na porra do trânsito.
Conseguimos buscar as encomendas e estávamos com quase tudo
pronto para a nossa viagem. Ao chegar em casa, Patrick sinalizou
que precisava falar comigo discretamente, aproveitei a distração de
Ziva com as compras e me tranquei no escritório com ele.
— Alguma novidade?
— Sim, muitas. — Ele me entregou seu telefone. — Fernando
me mandou o vídeo da conversa que teve com Doryan e Ally.
Meu primo foi pego no mesmo dia em que arquitetou invadir a
casa da minha irmã, porque sabia que seria mais fácil do que entrar
na minha. Ele estava disposto a tudo o que lhe fizesse ter uma
vantagem, considerando o quanto tinha que provar seu valor
assumindo sua posição publicamente. Era matar ou morrer.
Tínhamos a teoria de que sequestrar uma das nossas mulheres lhe
daria mais tempo para agir.
No entanto, a máfia italiana já estava no limite, saber o rosto
dele só completou o quadro, porque eles já sabiam os métodos. Em
Vegas, o território não era comandado por qualquer pessoa. Para
ser um empresário na cidade, principalmente com os cassinos, era
preciso saber com quem estava lidando de verdade e isso nunca foi
um problema para mim. Contanto que cada um fizesse a sua parte
sem alterar a ordem de funcionamento, eles não provocavam
ninguém.
Seguimos o acordo, primeiro a polícia poderia fazer o dela e
depois, vingança de verdade. Eram horas de tortura, foi difícil assistir
tudo, cortei em partes, parando de tempos em tempos por ficar com
dor de cabeça e até um tanto enjoado. Não era muito divertido lidar
com aquilo.
Depois do café do dia seguinte, eu tinha assistido tudo.
— Ele começou só para prejudicar a imagem do meu negócio e
foi evoluindo porque descobriu que o dinheiro era melhor e muito
mais do que ganhava trabalhando na empresa. Doryan queria me
prejudicar porque nunca foi bom o suficiente para competir comigo.
O quão babaca um homem tem que ser para se transformar nisso?
— Ally entrou no jogo pelo dinheiro e por sentir rancor por você
nunca promovê-la para mais do que uma gerente. — Patrick encheu
mais nossas canecas de café. — Não conhecemos as pessoas,
Klaus. Elas estão ao nosso redor, fingindo que gostam de estar
perto, ou elas querem nos foder ou querem nos usar como degraus
para o benefício próprio. É por isso que sempre te disse o quão
importante é valorizar quem está do nosso lado de verdade, sem
pretensões, porque o mundo é de gente filha da puta.
— Eu não me importo com as pessoas, quero que elas se
fodam. Doryan sempre foi um cuzão, pé no saco, que adulava minha
mãe e achou que viveria às minhas custas como os pais dele sempre
viveram às custas dos meus.
— Cortar a grana de toda a família foi o estopim do ódio. Ele
deve ter pensado que se você voltasse a ser associado como um
criminoso publicamente, afundaria o que estava construindo.
Não era segredo que limpar minha imagem custou caro. Eu tive
que sorrir em eventos de caridade e cortar laços em centros
comunitários financiados pela minha empresa. Tirar a imagem de bad
boy complicado, que vivia sendo preso por agressão e depois se
envolveu em um acidente de carro com um traficante, resultando na
morte do irmão custou uma fortuna. Todos em Vegas sabiam quem
eu era de verdade e fingiam que não, porque paguei para isso.
— Fernando descobriu quem fornecia as drogas e aplicava, já
estão lidando com isso e não será um problema para nós. Com
Doryan fora da jogada, isso acabou completamente.
— Ele causou milhares de problemas.
— Foi engenhoso, bem articulado e muito alimentado por Ally.
Ela deveria ser o cérebro, sabe como é, mulher mata
silenciosamente sem deixar rastros. — Patrick deu de ombros. Ziva
deveria ter batido nela um pouco mais. — Deixe isso no passado. A
morte da minha irmã e de Tate foi vingada, meu filho vai nascer e
você tem Ziva. Estamos bem.
Ele tinha razão. Estávamos muito melhores do que quando essa
história começou a nos infernizar. Patrick percebeu que meus
pensamentos estavam indo por um caminho ruim e bateu sua caneca
na minha.
— Ansioso para a viagem? — ele questionou, olhando sobre os
ombros. — Comprou a aliança? É aquela que escolhemos?
— Precisou de um ajuste, peguei ontem e está escondida.
— Ziva vai adorar, é chamativa, mas combina com vocês. Ela
vai dizer que sim.
— Ela vai.
No fundo, senti medo de que ela dissesse que não. Era jovem,
estava livre a pouco tempo e com um anseio quase sem controle de
aproveitar a vida. Mas aprendi que podíamos realizar nossos sonhos
juntos. Viver cada etapa de um casal sem pressão, fazendo nossas
escolhas, conscientes do que queríamos separadamente.
— A terapia tem feito muito bem a você.
Fiquei de pé e peguei minha caneca ainda cheia.
— Vá se foder.
Patrick riu. Eu jamais daria o braço a torcer e sairia por aí
pregando a palavra de que um psicólogo era bom demais. Isso
nunca iria acontecer.
Capítulo Trinta e Três
Ziva
A aliança em meu dedo brilhava mais do que o lustre do
restaurante. Talvez estivesse sendo um pouquinho exagerada, mas
ela não era nada discreta e combinava comigo. Eu a adorei, gritei
mais por ela do que pelo pedido de casamento em si porque já
imaginava que aconteceria em algum momento durante nossa viagem
pela Europa.
Foi ainda mais mágico do que todos os lindos momentos que
passamos juntos. Chorei tanto que saí uma bagunça inchada nas
fotos, amém à maquiagem à prova d'água. Klaus percebeu meu olhar
para a aliança e pegou meu punho, dando um beijo de boca aberta
para sentir minha pulsação.
— Eu não sei se existirá aliança mais bonita. Já escolheu a
sua?
— Está guardada em casa.
— E quanto tempo meu futuro marido espera pelo casamento?
— Eu espero por um casamento na primeira capela que
encontrarmos quando voltarmos para Las Vegas.
— É por isso que eu te amo. — Inclinei-me pela mesa e o beijei.
— Louca para voltar e ser sua esposa.
O garçom retornou com a segunda garrafa de vinho branco,
uma delícia pela qual eu me apaixonei e queria beber em todo lugar.
Klaus pediu para que eu sentasse ao seu lado, mudamos a posição
da mesa para olharmos para a varanda e o belíssimo fim de tarde.
Brindamos e o beijei. Ele virou-se, segurando minha cintura e eu
queria me beliscar, porque viver aqueles momentos era como um
sonho.
A realização de tudo o que brigava com a minha própria mente,
quando eu deitava no frio e ficava olhando para o céu.
Estávamos experimentando uma seleção de frutos do mar
quando ouvimos uma senhora chamar por Klaus. Eu virei
automaticamente, ele apenas suspirou e xingou baixo, dando um gole
generoso do vinho. Não fazia a mínima ideia de quem era a mulher,
mas ela parecia em conflito sobre se aproximar ou não.
— Oi, mãe. — Klaus ficou de pé.
— Klaus, oi. — Ela respirou fundo. — Não sabia que estava na
Europa.
— Estou fazendo uma viagem com minha noiva.
Ela olhou para mim e ao invés de agir com hostilidade, abriu um
sorriso educado. Não foi simpático, também não me fez querer
torcer o nariz.
— Ziva, certo?
— Olá, sra. Delacroix. — Fiquei de pé também e apertei sua
mão.
— Um casamento na família. — Ela foi contida, o que parecia
ser muito difícil. — Um casamento e um bebê no mesmo ano. Parece
que a sombra negra pairando acima dos Delacroix finalmente está
indo embora. — Dando mais um olhar para Klaus, pegou a bolsa. —
Bom te ver, filho. Felicidades no seu casamento.
Klaus não falou nada. Era bem provável que a mãe dele sabia
que não seria convidada.
— Até que foi tudo bem — comentei, pegando minha taça e
bebi, para acalmar a sensação de nervoso que cresceu com aquele
encontro.
— Cami deve ter dito a ela que você não tem problemas em
agredir — ele brincou e fiquei tranquila por ele não estar surtando,
nem estragando o nosso jantar. Eu entendia manter uma relação fria
com a mãe, porque eu mesma não queria saber da minha e pedi a
Todd para que comunicasse a ela que eu não estava interessada em
uma aproximação.
Não sabia se já tinha desistido de tentar me contactar, mas não
havia nada que pudesse me dizer, nem mesmo pedir perdão. Estava
bem com aquilo, ela fez uma escolha, acreditou no marido e a
consequência foi monstruosa para mim. Felizmente, aquele era
apenas um recorte na minha vida. Para ela, seria eterno. Eu estava
noiva e feliz, com muitos planos, pronta para viver tudo que fui
impedida.
Terminamos de comer e de mãos dadas, caminhamos até o
hotel. Passamos em frente à Torre Eiffel de novo e quis tirar fotos de
novo, mas dessa vez, exibindo minha aliança alegremente. Mandei
para Cami, com uma mensagem em letras garrafais para anunciar
que, em breve, seríamos cunhadas de verdade.
— Eu acho incrível a sua capacidade de sorrir o tempo todo. —
Klaus me segurou pela cintura. Próximo a nós, havia um músico de
rua, com um chapéu, cantando jazz.
— Eu amo sorrir — confessei, começando a me balançar de um
lado ao outro.
— Foi esse sorriso aí que me enlouqueceu.
Nós dançamos, sem nos importar com os passantes ou com
qualquer pessoa que pudesse achar estranho nosso comportamento.
Outros casais se aproximaram para aproveitar também e foi lindo,
deixei uma generosa gorjeta e o cantor agradeceu. Chegamos no
quarto, tirei minhas sandálias apoiando na mesinha da entrada,
deixando celular e bolsa ali.
Klaus foi para o banheiro, se despiu e eu segui atrás, tirando
minhas joias para colocá-las no cofre, mas não tirei a aliança, por
mim, ela ficaria em meu dedo para sempre. Livrei-me do vestido de
cetim, que era uma vergonha, pequeno, fino, não se podia usar um
sutiã e custou uma fortuna. As roupas caras das boutiques de Vegas
eram uma vergonha. Estava louca para fazer mais compras pela
Inglaterra.
— Você vai entrar aqui? — Ele olhou para o lado de fora do
box, o corpo cheio de espuma.
— Vou tirar a maquiagem ou antes de terminar, estarei como
um panda. — Peguei o algodão. — Não termine o banho ainda.
— Vou te esperar, exagerada.
Minha pele estava agradavelmente bronzeada. Foi incrível
aproveitar os dias de verão em um iate, mergulhar e conhecer outras
línguas. Estava pronta para visitar Londres antes de voltarmos para
os Estados Unidos.
Entrei no box, abraçando meu noivo, beijando-o e de surpresa,
empurrando-o contra a parede. Ele gemeu, provavelmente pelo
contraste do frio da pedra, água quente e minha brutalidade.
Escorregando por conta de toda a espuma, beliscou meu mamilo, me
fazendo rir por ter sido desastrado. Nossas bocas não se separaram
mais e dali, fomos para a cama, e a diferença do sexo do começo do
nosso relacionamento para o atual, era que havia muito amor.
Londres foi uma grata surpresa, apesar do calor, conseguimos
passar por todos os pontos turísticos. Voltamos para casa e eu
dormi quase dois dias de tanto cansaço, acordei com meu telefone
tocando e Klaus pedindo que fosse até Cami porque ela estava em
trabalho de parto. De pijama mesmo, corri pelo quintal com Rony e
encontrei minha cunhada no banheiro.
— Chegou o momento de trazer esse menino. — Ela me deu
um sorriso meio esquisito. — E só para constar, dói.
— Ok. Vamos te secar e sentar na cama. Patrick e Klaus estão
chegando o mais rápido possível.
Cami agarrou meus dedos, apertando-os com muita força,
soltando um grunhido e eu quase gritei junto de tanto nervoso com as
contrações. Mantive a postura, pois ela já teria que encarar Patrick
tendo um ataque ou Klaus desejando governar o mundo.
E eu não estava errada.
Klaus surgiu histérico mandando em tudo, Patrick quase
desmaiou, Cami gritava de dor e eu era a única lúcida entre eles.
Deu tempo de trocar de roupa e seguir de carro com Jayden.
Patrick entrou com Cami e nós seguimos para a sala de
espera.
— Não precisa ficar nervoso, Klaus. — Dei um tapinha em seu
peito.
— Eu vou matar a equipe médica inteira se alguma coisa der
errado. — Ele apertou a ponta do nariz, suspirou, puxou o cabelo e
ficou andando de um lado ao outro.
Deixei que quase criasse um caminho na minha frente, assisti
televisão, comi salgadinhos, até conversei com uma mãe que a filha
também estava em trabalho de parto. Ela estava tricotando e me deu
parte para ensinar, enquanto Klaus seguia quase parindo o próprio
estômago.
— Você vai precisar de mais dez anos de terapia quando for a
vez do nosso parto — comentei com um sorrisinho. Ele me deu um
olhar irritado e foi até a enfermaria para saber se estava tudo bem.
Já haviam se passado muitas horas, porém, ouvi dizer que partos
naturais demoravam mesmo.
— Não é possível que não tenha nascido. Quanto tempo mais?
Será que deu algum problema? Patrick me chamaria, certo?
Obviamente Klaus seria a última pessoa que eu chamaria, era o
mais desequilibrado de todos. Não respondi nada, continuei
tricotando alguma coisa que não fazia ideia do que era, mas estava
indo bem ou a senhorinha estava com pena de mim por ter que
aturar Klaus mais nervoso do que o próprio pai.
— Meu filho nasceu, porra! — Patrick explodiu pela porta,
tirando a touca. Saltei de pé e demos um abraço triplo. — Ele é tão
lindo e grande, chorou muito e tem o olhar enfezado da Cami!
— Meus parabéns!
— Porra, estava tão preocupado. Quando poderei vê-lo? E
minha irmã?
— Ela está bem, foi muito forte, aguentou todo o parto sem
anestesia. Ele está indo para o berçário para que possam ver e à
noite tem o horário de visitas — Patrick nos explicou e uma
enfermeira acostumada com a euforia da família nos levou para ver
nosso sobrinho.
Muitos cabelos escuros, um olhar bravo e mãos fechadas.
Um Delacroix.
Comecei a chorar, emocionada ao ver o quanto Klaus parecia
feliz. Ficamos no hospital até tarde, entramos no quarto e pudemos
segurar nosso novo pacotinho de amor. Ele estava mais calmo, limpo
e usando a roupinha que eu escolhi. Cami exibia a exuberância do
pós-parto, um misto de cansaço com felicidade indescritível.
— Ele é muito perfeito — comentei e ele abriu os olhos. — Oi
amor, titia já te ama tanto! Você é tão doce!
— Eu não acredito que depois de tudo, eu tenha um filho que
parece com o Klaus — Patrick brincou. Cami bateu nele, dizendo que
parecia com ela e não com o irmão.
— É culpa desse tipo de amor eterno que vocês dois
compartilham — brinquei, sem desviar os olhos do bebê. Ainda bem
que ele iria embora para uma casa ao lado da minha. A reforma da
cobertura já tinha terminado e nós fingimos que nada estava
acontecendo, muito confortáveis ali para sair do conforto daquela
casa.
— Ninguém mandou casar com minha irmã, seu idiota — Klaus
resmungou, pendurado no meu ombro. Ele segurou a mãozinha,
acariciando-a com o polegar. — Bem-vindo à família, Kerington
Delacroix Spencer.
Não havia melhor maneira de homenagear a memória de Kitty
do que aquela. Ele estaria sempre vivo e pulsando no coração dos
irmãos.
Epílogo
Ziva
Klaus e eu nos casamos quase três meses depois do
nascimento de Kitty, para que Cami pudesse estar mais confortável
nas nossas festividades. Escolhemos uma capela bonita e
tradicional, ao invés de um Elvis, foi uma pessoa normal habilitada
para celebrar a cerimônia. Meu vestido de noiva não foi dos mais
românticos, porém, não foi curto. Era longo, bonito, com um decote
chamativo e um lascado generoso.
Escolhi não usar um véu, apenas um penteado chique,
elaborado e dediquei todo o restante em nossa decoração de
almoço. Convidamos um total de trinta pessoas, que tínhamos
certeza de que apesar de não serem tão próximas quanto Cami e
Patrick, torciam por nós. Amigos que permaneceram com Klaus ao
longo da vida, como Devon e Stuart com suas famílias, Loretta e o
esposo, entre outros.
Papai ficou bem emocionado ao me conduzir, ele tentou
disfarçar, dizendo que era alergia às flores e eu ri. Em todas as
fotos, estou com uma expressão boba. Ele ficou lindo em um terno
branco, o cabelo cortado e, finalmente, aquela barba feita.
— Minha senhora Delacroix? — Klaus se aproximou, me
convidando para ficar de pé. — Mais uma dança antes de sairmos
para nossa lua de mel?
— Não vai contar aonde vamos?
— Não. É a minha surpresa de casamento.
— Pensei que o colar com aquela pedra de diamante perfeita
era a surpresa.
— Não. Apenas algo que quero que use na cama e nada mais.
— Ele me beijou. — Vamos dançar.
Todos pararam para assistir o que seria uma tentativa de dança
tradicional do casal. Eu dancei com Patrick enquanto Cami dançava
com Klaus. Antes de ir embora, fiquei alguns minutos com meu
bebezinho lindo no colo. Ele olhava para todos de modo taciturno,
mas sempre abria um sorriso gostoso quando nos via. O pequeno
Kitty era o centro do nosso universo, mudou tudo e para muito
melhor.
Klaus me levou para o carro depois que troquei de roupa e
joguei o buquê. A neta de Loretta pegou, toda feliz, também não
havia muitas solteiras no casamento.
— Helicóptero? Significa que não vamos muito longe…
— Ou vamos encurtar o caminho para o aeroporto — ele
adicionou em um tom seco.
— Caramba! Eu não vou saber nunca? — Cruzei meus braços.
— E se não separei as roupas certas?
— É só comprar novas no local. — Deu de ombros e soltei uma
risada. Era simples ser rico. — Nada vai me fazer falar. Surpresa é
surpresa, não sou como certas pessoas, que ao comprar pela
internet já fica ansiosa, pulando no lugar, querendo abrir a boca.
— Estou levando a ofensa para o lado pessoal — resmunguei e
ele só me beijou, pressionando a boca na minha por mais tempo.
— Ansiosa. — Continuou me provocando.
O helicóptero pousou em um aeroporto particular, onde um jato
privado nos aguardava e as malas já estavam sendo colocadas
enquanto o piloto conversava com as comissárias. Um tapete
vermelho foi estendido e para dar sorte, Klaus me pegou no colo. Ao
subir as escadas comigo, brincou que ganhei peso.
— Ainda bem que a academia e os suplementos fazem efeito.
— Imagina só se você malhasse de verdade. — Ele riu.
— O fato de demorar bastante entre as séries e tirar um cochilo
no final da ioga não quer dizer que eu não malhe de verdade! —
Cutuquei seu peito. Ele só me jogou na poltrona, me fazendo rir e
fugiu do meu chute. — Quantos anos você tem, idiota?
— Já vai começar nosso casamento me chamando de idiota? —
Klaus arregalou os olhos, fingido estar muito chocado.
— Você me conheceu sendo brava, não adianta bancar o sonso
agora.
— O contrato te mantinha quieta.
— Eu gosto mais deste contrato! — Ergui minha mão com a
aliança. Ele beijou a palma, depois a minha boca e sentou-se à minha
frente.
Brindamos antes de decolar, porque ainda faltava um tempo e o
piloto não informou o destino, apenas que o tempo estava excelente
para voar e que teríamos um bom voo. Coloquei o cinto e apertei o
couro dele, um pouco nervosa com a decolagem porque voar ainda
era novidade para mim. Klaus soltou o cinto logo que a aeronave
estabilizou e me puxou para seu colo.
— Terá frio? Já sei, vamos esquiar?
— Em outubro? — Ele gargalhou tão alto que a comissária
chegou a dar uma espiada. Bati em seu braço, com o rosto
vermelho.
— Tem neve em algum lugar o ano inteiro!
— Não terá neve, podemos fazer isso em outro momento.
— Então, montanhas? — Balancei minhas sobrancelhas.
Duvidava que Klaus ficasse em algum lugar remoto e sem sinal.
Como ele iria controlar o universo?
— Nada de montanhas.
Risquei a casa de Aspen, a ideia de fazer bonecos na neve e
então, sobrava um lugar que ele havia prometido que me levaria
antes de completar quarenta anos (porque ele já estava com trinta e
nove). Eu queria ter trazido o Rony, ele foi um excelente pajem,
carregando as alianças e babando nos vestidos alheios. Ele adorava
pisar em pés e tinha um monte deles para que ele fizesse essa
traquinagem.
Fingi que não sabia para onde estava indo, a não ser que fosse
outro lugar, mas já tinha matado a charada. Tivemos horas de voo e
com companhia, namoramos em ritmo de casal em lua de mel,
porém, sem constranger ninguém. Peguei no sono em cima dele,
com o efeito de todo o champanhe e acordei com o piloto informando
que o pouso em Honolulu aconteceria dentro de alguns minutos, sem
problemas.
— Você é maravilhoso por realizar todos os meus sonhos.
A casa dele, melhor dizendo, nossa casa, era perfeita e em
frente a uma pequena praia deserta. Nós deixamos as malas nos
quartos, abri apenas o compartimento onde havia deixado as roupas
de banho e corremos para a areia enquanto ainda estava quente. Dei
pulinhos na faixa de areia e ele me carregou para que eu não
queimasse meus pés. O mar estava uma delícia, não sabia nadar,
mas ficava somente no raso.
Klaus era um bom nadador. Com ele, tive confiança de ir um
pouco além, mas sem perder a segurança de voltar para o raso
rapidamente.
— Esse biquíni é muito tentador e parece fácil de tirar, esposa.
— Klaus brincou com o laço e sem que precisasse mover muito,
empurrei o tecido molhado para o lado.
— Ele é. Eu coloquei justamente porque essa lua de mel
promete.
Divertido, ele fez uma expressão engraçada com um sorriso
safado, que fez tudo dentro de mim revirar. Klaus e eu nunca
quisemos mudar um ao outro, apenas encontrar nossas melhores
versões para ficarmos juntos. Ele consertou coisas que não estavam
quebradas e nessa jornada, buscou o homem que não pretendia ser
para que pudéssemos formar uma família. O paixão me pegou
desprevenida, porque o contrato não me dava espaço para amar e
por fim…
O melhor momento da minha vida estava apenas começando.
Nossa combinação era perfeita.
Nosso amor era implacável.
Klaus quis aproveitar a praia até mais tarde, eu consegui
escapar quando ele foi preparar o jantar. Escolhemos não ter
companhia, porque não ficaríamos muitos dias e podíamos lidar com
a comida e a limpeza sozinhos. Enquanto ele grelhava as carnes, me
preparei com um pouco de creme hidratante perolado para deixar
minha pele bronzeada ainda mais brilhante e não usei nada além do
colar estrondoso que ele havia me presenteado algumas horas antes
de nos casarmos.
Era um diamante de três centímetros pendurado no meu
pescoço. Meu humor bobo, ao vê-lo brilhando contra a minha pele,
considerou chamá-lo de pequeno lustre, mas o motivo pelo qual
Klaus me dava joias exuberantes era para que eu não esquecesse
que nasci para brilhar e meu valor não podia ser calculado. Ele podia
dizer isso de muitas maneiras e eu que não iria reprimir a forma que
encontrou de me fazer entender.
Desci as escadas e parei no último degrau com a mão na
cintura. Ele desligou o fogo imediatamente, com toda a atenção em
mim. A forma como meu marido me olhava, me transformava na
mulher mais poderosa do mundo. Eu era inteira, dona de mim
mesma, livre para viver minha vida, mas a escolha de ser dele era
sem igual.
Epílogo
Klaus
Anos depois.
— Você tem tudo? — Ziva conferiu pela milésima vez.
— Sim, tudo certo. — Conferi as malas, riscando todos os itens
da nossa lista. — Precisa que eu pegue algo mais?
— E a cadeirinha? — Ela soou nervosa.
— Patrick e eu montamos no meu carro, porque é maior e
provavelmente teremos mais coisas no retorno. — Fechei a mala e
assobiei para Rony. Minha irmã o soltou, ele correu até nós, primeiro
ficou em pé em mim com a língua para fora. Cocei sua orelha,
elogiando-o pelo bom comportamento e em seguida, levei-o até Ziva.
Rony sempre pulava em nós, era bruto, queria brincadeiras
violentas e derrubava tudo. Ficou muito maior do que esperávamos.
Acalmou um pouco na fase adulta, porém, ainda era grudento e
ciumento com Ziva. Quando descobrimos a gravidez, ele mudou um
pouco mais. Passou a ser agressivo com quem se aproximava de
forma brusca, ficou protetor e cheirando as coisas do bebê conforme
comprávamos.
Para mim, um dos dias mais felizes da minha vida, foi quando
Ziva entrou no meu escritório sacudindo um bastão. Não entendi
nada, ela só gritava e sorria, me abraçando e então, fez sentido que
nossas tentativas haviam dado certo. Nosso bebê muito planejado
estava a caminho e a partir daquele momento, mesmo nos
rompantes de humor e nos sustos, a alegria nunca saiu do meu peito.
Eu não tive medo. Acompanhei cada exame e obviamente,
minha esposa teve acesso aos melhores médicos e suporte. Mas eu
não temi, nem pensei que meu bebê seria acometido por meu antigo
azar. Não era só no jogo que estava me dando bem, no amor e na
vida principalmente.
Tudo começou três anos após o nosso casamento, com ela no
café da manhã dizendo que a casa estava muito vazia. De imediato,
associei à falta de Kitty, que estava viajando com minha irmã pela
Europa, para visitar nossa mãe adoentada. Eu disse “tudo bem, ele
volta logo”. Afinal, nosso sobrinho era parte vital da nossa rotina. Ele
vivia tanto na minha casa quanto com os pais dele.
Minha esposa abriu um sorriso e logo soltou “quero engravidar”.
Foi simples, sem um porquê, ela queria um bebê porque estava
pronta para ter um. Consideramos seus estudos, criamos um
planejamento, fomos ao médico e logo emendamos em um
tratamento para que tudo ocorresse da maneira mais saudável
possível. Oito meses depois, o positivo apareceu e isso nos levou
àquele momento.
A despedida para o parto. Tentamos que fosse natural, mas o
bebê não queria sair. A data do parto já havia passado e por esse
motivo, Ziva estava internando para uma cesariana antes que os
sintomas mínimos se tornassem um grande problema. Ela estava
ansiosa como toda mãe de primeira viagem e por dentro, me sentia
queimando. Não de medo. Felicidades e um pouco de apreensão. Eu
sabia que merecia aquela felicidade com ela, pelo nosso amor e tudo
que lutamos muito para conquistar emocionalmente.
Nosso casamento nunca passou por altos e baixos, não
considerávamos nos separar quando as brigas ficavam feias, não
dormíamos longe um do outro (exceto em viagens). Não foi fácil. A
terapia ajudou e também atrapalhou em alguns momentos, porque
lidar com as nossas emoções mais cruas era difícil e descontar no
outro era mais fácil. Eu era o alvo favorito dela quando confrontada e
me tornava alguém complicado de conviver também.
Encontrar o equilíbrio fez com que as brigas diminuíssem cada
vez mais e o que sempre nos salvou foi a amizade acima de qualquer
coisa. Ela era minha esposa e também, minha melhor amiga. E
agora, seria mãe do meu bebê.
Rony lambeu a barriga dela, Cami o chamou novamente e
prometeu que estaria conosco em breve. Dei um último aceno e
segui para o hospital.
Ziva internou e foi preparada para a cirurgia. Assisti tudo,
nervoso, ela sorria e pedia para que eu não perdesse o momento em
que ele ou ela fosse tirado da barriga. Ainda bem que não desviei
meus olhos, porque foi lindo.
Minha filha nasceu tranquila, soltou um chorinho baixo,
reclamando e logo parou. A primeira vez em que a segurei parecia
que o mundo havia parado. Se existia perfeição antes, provavelmente
pertencia à minha esposa, porque minha menina tinha os meus
cabelos escuros e a expressão doce da mãe.
— Nós temos uma menina. — Eu me aproximei de Ziva,
abaixando-me ao seu lado. — Ela é linda.
— Você pode acreditar que ela é real? — Ziva chorou, sem
conseguir desviar os olhos da nossa princesa. — Caramba, Klaus!
Ela é uma obra de arte! Nosso pequeno diamante!
Vencendo nossos temores, a cirurgia correu bem. Eu pude
acompanhar Ziva até o quarto, para descansar no pós-operatório e
depois, mostrei minha filha para Patrick, Cami e Kitty. Eles estavam
do outro lado do vidro, vibrando, felizes e apaixonados. Não anunciei
para ninguém que minha filha estava nascendo, sequer comentei
para muitos que Ziva estava grávida. Decidimos levar a gravidez com
o máximo de discrição e privacidade.
Aprendemos muitas lições com o que passamos e
valorizávamos ainda mais nosso espaço.
— Você vai ficar o tempo todo me olhando amamentá-la? —
Ziva questionou, no dia seguinte. Ela estava com o rosto amassado
de sono, desconfortável com a incisão e um pouco oscilando entre rir
e chorar.
— Se soubesse o quanto essa visão é linda, não me
questionaria.
— Olha, filha. O papai está apaixonado — ela brincou,
acariciando o cabelinho e me dando um sorriso. — É um dom dos
bebês dessa família nascer com essa massa escura.
— É o DNA forte dos Delacroix. — Sorri de lado e me inclinei na
cama, beijando os pés cobertos da minha pequena. Danna Costello
Delacroix. Ziva não quis tirar seu sobrenome com o casamento e
queria que nossos filhos também o mantivessem, porque ela amava
o pai e tinha orgulho de quem ele era. Eu não me opus.
Meu sogro era um homem do mato muito na dele que quando
abria a boca, sempre tinha o melhor conselho a dar. Sem
pretensões, me acolheu na vida como um filho. Ligava para o
telefone fixo do meu escritório quase todos os dias para saber se eu
estava bem, tentava fazer parte da vida da filha da melhor maneira e
com a idade avançada, contratamos uma empresa para gerenciar a
fazenda. Ele passou a viver em Vegas quando Ziva ligou e contou
que ele seria avô.
Danna era um nome colombiano, foi minha escolha, porque
desejava que nossos filhos tivessem um pouco de cada cultura que
fazia parte da nossa família. Ela chegou no momento certo. Meu
coração estava pronto para todos os desafios da paternidade e
principalmente, a minha cabeça para ser o pai que ela merecia ter.
— Sei o que está pensando. — Ziva tocou meu ombro com a
mão livre.
— Estou bem. É muita felicidade.
— Obrigada. — Ela me puxou para um beijo. — Eu te amo e
obrigada por me dar um lar e uma família, por me ajudar a ser
alguém melhor e por, principalmente, ter trabalhado muito comigo
para estarmos com ela nos braços.
— Não foi um sacrifício — brinquei, relacionando ao sexo. —
Inclusive, foi incrível e estou pronto para o próximo.
Ziva franziu o nariz com uma careta engraçada.
— A cirurgia dói muito, prefiro que o próximo saia naturalmente
ou irei obrigá-lo. E a coisa de amamentar, bem, não está sendo
divertido.
— Eu entendi o que você estava falando antes que começasse
a brincar e quero que saiba que seu amor por mim mudou tudo. Sou
muito grato a isso.
Ela sorriu e me beijou novamente, voltando a olhar Danna
mamando de olhos fechados. Eu me apoiei ali, sem querer sair de
perto e babando um pouco mais no presente divino que recebemos.

Fim.
SOBRE A AUTORA:

Mari Cardoso nasceu no início da década de noventa, na


região dos lagos do Rio de Janeiro. Incentivada pela mãe, que
lia histórias bíblicas e entre outras, sempre teve aguçado o
amor pelos livros.
Em 2008, passou a se aventurar no mundo das fanfics da
Saga Crepúsculo até que, anos mais tarde, resolveu começar
escrever originais. Em 2019, iniciou a carreira como autora
profissional e hoje tem duas séries em destaque: Elite de Nova
Iorque e Poder e Honra, dezessete livros publicados e algumas
milhares de leituras acumuladas.
Tornou-se autora best seller no ano de 2020 com o
romance Perigoso Amor – Poder & Honra.

Ela possui
Suas redes sociais:
www.instagram.com/autoramaricardoso
www.twitter.com/eumariautora
http://www.maricardoso.com.br/
Grupo do Facebook.
AGRADECIMENTOS

Este trabalho não seria possível com a incomparável ajuda


profissional da revisora Dani Smith, da betagem sensível da Paula
Guizi. Agradeço imensamente o apoio dessas mulheres no período
de construção da história. Não poderia deixar de fora a torcida das
minhas leitoras nos grupos de contato e o carinho excepcional (e
paciência) da minha amada mãe nos dias de muito trabalho.
Gratidão eterna.

[1]
Personagem de Amor Em Jogo – Cidade do Pecado 1
[2]
Chefe da máfia de Prometida Para Um Mafioso
[3]
Personagem de Aposta Arriscada – Cidade do Pecado 2
[4]
Personagem do livro Prometida Para Um Mafioso
[5]
Dante Biancchi – Personagem da série Poder e Honra (Coração Perigoso).

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