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O BRUTO E A BELA
1ª Edição
apaixonem.
Sara Fidélis
Dedico este livro ao sono, do qual abdiquei para concluir,
aos energéticos e cafés que me ajudaram todas as noites e
estudos.
mesa, ela solta os cabelos pretos que são alguns tons mais
falar:
— Isso é…
empresa.
certo!
um ar mais elegante.
Olho no relógio, começando a me preocupar e, ao
clima.
Timóteo apenas aquiesce.
considerar.
que despertei.
Ao longe consigo ver a casa, se é que podemos
casa.
— Entendo…
— A senhorita não parece muito interessada, eu
compreendo, já tivemos cinco governantas nos últimos anos
babaca!
— Então o que o senhor está me dizendo sobre o
quinhentos reais.
refere.
— Não, quem recomendou seus serviços ao patrão foi
questionar.
— Como disse?
— Terminei o ensino médio apenas, como deve ter
visto no meu currículo e sei que a Vevet oferece várias
garrafas de uísque.
lúgubre.
externo.
tempo, mas não faço ideia de que horas são. Não sei se já é
— Que foi?
os olhos para as garrafas aos meus pés —, ela está aqui para
a entrevista.
parte.
— Sim, senhor. Ela aceitou as funções, mas quer um
bônus.
que essa senhora quiser, desde que ela impeça que a casa
Preciso morrer.
— Vou subir e tomar um banho daqui a pouco, tenho
importa em cozinhar.
fechadas.
Interessante…
varanda.
— E na ala direita?
— São outros quartos e cômodos, mas essa ala está
— Por quê?
— São muitos cômodos e pouco funcionários, então o
Presidente decidiu manter apenas parte da casa em
funcionamento.
decente.
— Elis? — o senhor Helder chama e, pela
careta.
bom.
pergunta.
— Chamam o Presidente para o jantar? Quem serve a
mesa?
Elis meneia a cabeça.
trabalho.
Andamos sobre a grama úmida e de onde estamos
consigo avistar as luzes amareladas, já acesas no chalé que
— É aquele?
— Sim, Elis e eu moramos perto também, dividimos
um chalé um pouco para baixo, o Timóteo mora no outro.
— E o senhor Helder?
ficar?
Ela dá de ombros.
— Mesmo?
— Não! Eu ainda estremeço quando ele grita —
responde, rindo.
assustada.
— É mais com as situações, sabe? Tipo, ele não fala,
Suzi você é uma cozinheira de merda! Mas ele diz: Que
porra de comida horrorosa e salgada é essa? No fundo, é a
mesma coisa, não acha?
— Jura?
— Juro! Mas aí vem a questão, a vaga é para trabalhar
aqui.
— Pode deixar!
Encerro a chamada e começo a fotografar tudo
Credo…
Puxo o sofá cama para que abra e arrumo os
travesseiros, estendo os cobertores e me preparo para me
gelo.
Abro os armários e avisto dois pacotes de macarrão
instantâneo, que por sorte não estão vencidos. Preparo um
deles, me ressentindo por ter cozinhado um jantar tão
gostoso pouco antes e agora estar comendo miojo, mas é a
Abro um sorriso.
Bom, não sou milionária, mas sou proprietária de um
salário muito, muito generoso a partir de agora.
**
O dia amanheceu perto das seis horas, mas eu me
levantei antes do sol. Ainda no chalé, construo uma lista de
todas as alas da casa, ainda que eu não tenha certeza
Área externa.
Inclui jardins, frente da casa, varanda e deck.
Gramado.
Área interna.
Salas
Inclui a de visitas, hall, a de jantar e a de televisão
(será que tem uma?)
Piscina
Biblioteca/escritório
Cozinha
Quartos
Banheiros
Tapeçaria
Roupas de cama
Louça
Objetos de decoração
na água suja.
A piscina é uma dessas olímpicas, com raias dividindo
o espaço. Em volta dela o piso é de madeira e, sobre ela, o
teto é de vidro. Colunas em estilo grego estão dispostas pelo
É encantador!
Mas curiosa mesmo estou com o cômodo ao lado. Abro
fazem.
protuberante.
horrível por isso, mas não é algo que esteja no meu controle.
mão.
essa reunião.
gostariam…
— Não — interrompo.
fazer.
tanto detesto.
— Quem?
— Papai. Ele se dispôs a ir e vai ser bom, vão gostar de
me deitar um pouco.
relativamente próxima.
drasticamente.
dela é excelente.
quase em um sussurro.
Ela suspira.
tempo.
— O que foi?
Ele fecha a porta atrás de si e caminha a passos lentos
— E o que seria?
— Ela vai enviar a cadeira quebrada para a marcenaria
e o estofado que se rasgou para a tapeçaria. Mas quanto ao
rondando aqui.
— Mas sua irmã vai vir e o jardim está um desleixo…
— O senhor?
— Tudo bem.
Helder deixa a biblioteca e sigo logo atrás. Subo para
o previsto.
aranha.
Busco roupas de cama limpas e troco tudo, deixando
tempo na piscina.
Desço as escadas rapidamente e entro no escritório,
mas o que encontro não poderia me deixar mais surpresa.
tomo uma decisão. Se não sai por bem, vai sair por mal. Me
abaixo e pego uma delas, dominada pela raiva.
formar.
— Quem você está chamando de sem-vergonha? E
com certeza não sou eu quem está invadindo propriedade
privada e atirando coisas.
cabeça!
homem daqui.
assusta.
— Aconteceu! Tem uma mulher no meu escritório,
acho que deve ser de alguma gangue ou alguma coisa
assim. Ela começou a gritar comigo, começou a jogar
ido embora.
de menos.
— Parece que ao menos a casa está em ordem…
deixar em paz.
com atenção.
mordomo.
responde?
prossegue:
meu olhar.
já arrastando o homem.
carne.
— E a carne?
Respiro fundo para manter a calma.
Essa desgraçada!
maluca.
— Mat, eu…
— Fique calma, Catarina. Helder! — grito, tentando
a força, é uma mulher, por pior que seja. Mas posso assustá-
la.
Isso…
questiona.
— Essa mulherzinha invadiu a minha casa, me atacou
com as minhas botinas e tentou quebrar um troféu na
água.
— Você é a governanta?
pense o quê?
Ela suspira e fecha os olhos. Acho que está tentando
se recompor.
sobrancelhas erguidas.
— Então foi isso…
— Isso o quê?
jardim…
fachada de boazinha.
— Se a senhorita fosse mais eficiente, uma boa
funcionária, teria se apresentado ao seu chefe — comento.
— Nada disso teria acontecido.
Bingo.
Ela cobre a boca com a mão, ciente de que falou
demais.
um insulto.
ainda não tinha me visto. Como isso não passou pela sua
cabeça?
— Por quê?
— Não podia imaginar essa sua aparência — fala, de
repente.
de cueca?
— Isso!
— Não um modelo de cueca…
— Embora?
— Não, voltar ao trabalho.
Ele tem razão por ter ficado furioso, não sei como não
Presidente.
Catarina foi tão educada e gentil, me agradeceu pelo
meneio a cabeça.
Talvez eu pudesse…
A biblioteca, claro!
Eu me sento em minha cama repentinamente, a ideia
ficaria feliz.
interessante.
você tenha culpa, mas o Mat não tem paciência, não perdoa
acha?
Está sempre escuro dentro da casa, mas não
agradar o Presidente.
— Interessante, mas preciso te dizer que quase nada o
agrada...
gosta?
— Posso imaginar.
vamos conversar.
— Você sabe que não devo ser muito mais velha que
você, não sabe? Dá pra parar de me chamar de senhora?
— Ótimo!
sei.
separar no chão.
— O quê?
internet.
— Até tem, se procurar bem, mas foi uma decisão sem
muito alarde, e Matteo não faz aparições públicas, então não
— Ai, Deus…
muitos detalhes.
— Bom, digamos que ele perdeu muito, Matteo era
casado.
também.
— Vinte e sete.
— Viu? Um ano de diferença só entre nós — responde,
e percebo que mudou de assunto propositalmente. Não
insisto.
literários.
— Faz muito bem, eles não ousam nos irritar — ela
sussurra, em tom de segredo. — Você não tem namorado?
— O quê?
— Hum… — Eu e minha grande boca. — É que ele é
forte, mas fechado aqui, não pensei que ele se exercitasse.
— O quê?
comendo demais.
— É a mesma coisa e, bom, a Anabela é a culpada, se
não fizesse coisas tão gostosas eu comeria menos. Nem sei
que tempo ela conseguiu para isso, depois de termos
consentimento.
bem…
— Qual é o problema?
— HELDEEEEEEER!
Sei bem que ele vai ouvir de onde estiver.
Helder logo aparece e seus olhos assustados
encontram os meus. Não preciso dizer muita coisa, como me
— Chamou, Presidente?
colossal.
justificando.
quanto gosta dos seus livros e que ela fez mal em mexer
sem sua permissão, mas não seria melhor esperar até de
por mal…
— Helder, agora.
tem certeza de que quer falar com ela agora? O senhor está
de cabeça quente.
Passo por ele e saio pela porta dos fundos, sigo pelo
— Presidente?
— Agora?
antes…
arte.
— O que deu nessa sua cabeça oca pra fazer essa merda,
paciência?
menor interesse.
que eu não teria lido um livro na vida? Por que sou pobre? —
muito de ler.
gesto.
grato?
Ela coloca as mãos na cintura, ao contrário do que
**
dos olhos dele, tudo está tão nítido dentro de mim, assim
como a lembrança de uma época em que eu era inteiro, e
não estilhaços de um homem que sobreviveu inúmeras
batalhas, mas perdeu a guerra.
pra mim.
Durante esses cinco anos sozinho, preso nessa casa e
no passado, perdi as contas de quantas vezes me masturbei,
fosse com filmes ou imagens, ou até mesmo me utilizando
— Vem ver.
vida de novo. Você até riu! Eu não te ouvia rir havia cinco
anos, Mat, e você obrigou a moça a se demitir!
— Eu não disse que era pra ela ir.
— A sétima?
— Peça desculpas.
Meneio a cabeça.
deveria saber que era bom demais para ser verdade, que um
aturar um chefe idiota, que pensa que pode fazer o que quer
e dizer tudo o que pensa sem que ninguém o enfrente.
Imbecil…
— Do que o senhor precisa? Estou ocupada agora.
muito bom.
— Sim, sei que falei que você não tinha lido nada a
vida toda…
— Falou mesmo.
da comida.
arqueando a sobrancelha.
cabeça. — Não precisa jogar café nos meus livros para fazer
seu trabalho.
— Sei…
nos livros e não devia ter presumido que fosse gostar dos
silencioso de antes.
— Ótimo. Também não vai ficar me olhando daquele
exclama, assustado.
processo.
fizesse?
burro, né?
momentos.
— Pra burro?
dando de ombros.
preferência?
Penso por um momento na proposta, mas enquanto
minha mente vagueia, acabo percorrendo os traços dele
Deus me ajude!
— Senhorita Gonzales.
— Sim…
— Quando os olhares partem da funcionária, isso
— Temos um acordo.
Coloco minha mão na do Presidente e algo esquisito
acontece. Sinto uma onda elétrica que passa dele para mim
e eriça os pelos do meu braço todo.
— Mais uma?
— Vai me deixar ler os livros da sua biblioteca.
minutos.
Catarina e Alberto brigaram pelo último bolinho na
de gordura.
Isso me toma algum tempo e me divido entre a
mas com o tempo de que disponho, até que não é nada tão
simples.
mesa.
jantar.
Estou vasculhando a geladeira quando Catarina me
chama, sua bolsa já está pendurada no ombro e ela abre os
onde está.
— Obrigado por tudo, Anabela e o almoço estava
divino!
antes, mas já que vamos tentar fazer isso dar certo, não vejo
motivos para não aprender sobre suas preferências. Mesmo
— É mesmo? Como?
Helder dá de ombros, como se fosse óbvio.
aqui.
filmes.
Também tem alguma coisa no senhor Viturino que eu
gosto, uma coisa bem pequena, escondida no meio de tudo
que me irrita, algo que não consigo identificar, mas sei que
está lá e com certeza não tem a ver com a sua aparência
ficha caísse.
mas não vou socar nada dessa vez, acho que nem tenho
mais forças para isso. Catarina deve ter razão, estou
adoecendo aos poucos, me tornando parte das paredes
dessa casa: frio, silencioso, escuro e solitário. Pelo menos
antes eu sentia raiva e isso é muito melhor que não sentir
nada.
perco a fome.
Sirvo mais uma dose do uísque que deixei ao lado da
poltrona, no chão e bebo o líquido ardente em um gole só. O
álcool sempre me ajuda a esquecer.
Não consigo dormir depois de falar com Julieta e meus
pais, pelo visto sou do tipo sentimental, nunca tinha ficado
pijama.
barulhão.
— Entre.
Fecho a porta atrás de mim e pisco os olhos, me
adaptando à escuridão.
alguma fraqueza.
— Entendi…
— Alguma sugestão?
brilhantes.
— Romances.
Miseráveis?
meio esquisito.
convicto.
Parece triste.
costas.
lado dele.
bem hoje.
— E se… E se eu te ajudar a subir pra ir dormir? —
Anabela.
— Você é linda…
elogio, mas ele está tão perto e é tão bonito. Meu coração
mim.
Não sei negar isso a ele, não quando sua voz causa
— Anabela…
**
Ainda não acredito que nós nos beijamos. Fico
arrepios.
— Sim?
Sendo sincera, nem sei por que estou tão brava, afinal,
fez.
Ele deveria, não? É meu patrão, não deveria tomar
com as compras.
Beijoqueiro de araque!
Pego um carrinho na entrada do mercado e
acompanhando a lista nas minhas mãos, começo a pegar
tudo o que preciso para encher aquela despensa. Não deixo
pode até ser que ele não goste, com aquela malhação toda,
mas eu gosto — e compro itens específicos para algumas
das receitas que pretendo fazer. As noites frias estão
pedindo por caldos e não vejo a hora de assar uns
marshmallows em uma daquelas lareiras, como sempre vi
negar, mas não para viver solitário assim, sei que ficou
viúvo, mas não sei… Me parece muito tempo para ainda
estar de luto pela esposa, mesmo que a amasse muito.
Ainda assim, pode ser possível. Talvez tenham vivido
— Não, mas…
tentando o incentivar.
— Esqueça isso, senhorita Gonzales, e me desculpe
por invadir sua cozinha. Na verdade, eu não queria comer
isso, foi um desejo momentâneo… — Ele me olha nos olhos
por um instante e respira fundo, batendo a colher de pau
contra o ar. — Um desejo momentâneo, fortíssimo.
— Quem?
Helder?
sugeri.
— Ao menos ele o senhor sabe quem é…
desde crianças.
— Seus irmãos? — questiono, dando uma de
desentendida.
Saio pela porta dos fundos e sigo sem olhar para trás,
mas me odeio por estar torcendo muito para que ele me
chame de volta. O que, claro, o babaca não faz.
Sofia está grávida há pouco tempo, descobrimos duas
semanas atrás, e resolvo fazer uma surpresa, comprar algo
para o bebê e para ela. Uma das minhas muitas tentativas
de melhorar as coisas entre nós.
O bebê com certeza já nos tornou mais próximos, Sofia
agora passa todo o tempo em que eu estou em casa,
comigo, e sempre se programa para dar uma passadinha no
escritório. Voltamos a dormir na mesma cama e pelo que
parece, minha mania de me mexer a noite toda não a
incomoda mais. Com isso, claro, o sexo voltou a acontecer
com mais frequência e, aos poucos, as coisas parecem estar
se encaixando.
No trabalho, no entanto, não está tão fácil. Meu pai
exige muito de mim e meu irmão não para mais no escritório
e nem vai às reuniões, o que me deixa ainda mais
sobrecarregado. Catarina é quem mais me ajuda.
Olho no relógio e percebo que passa das cinco, se não
for rápido não vou encontrar as lojas abertas. Então deixo as
tarefas por fazer e saio do escritório.
Dirijo até o endereço que pesquisei mais cedo e entro
na loja. A vendedora me atende rapidamente e digo a ela
que quero um ursinho para o bebê, mas ainda não sei o
sexo.
— Venha por aqui — ela diz, começando a caminhar.
Sigo a mulher pelo corredor da loja, que está
abarrotada de coisas e chegamos ao final dele. Olho a
estante para a qual ela aponta e vejo os bichinhos de
pelúcia enfileirados, são muitos e de vários tipos, o que
torna minha escolha mais difícil.
Encontro coelhos, cachorrinhos e girafas e até mesmo
um panda bem fofo. Acabo me decidindo por um labrador
enorme e de pelos bem clarinhos.
Ainda estou no caixa quando percebo que
provavelmente o bichinho é muito grande para um recém-
nascido, mas o bebê não vai brincar mesmo por vários
meses, o importante é o gesto.
De posse do cãozinho, volto para o carro e sigo até a
floricultura mais próxima, onde compro flores para Sofia. Ela
não gosta de rosas, as acha convencionais demais, como
sempre diz. Então compro tulipas, bonitas e estilosas.
Olho no relógio e constato, feliz, que ainda não são
seis horas. Vou chegar bem antes do horário de costume e
fazer uma surpresa a ela.
Estaciono diante de casa e entro pela porta da frente
em silêncio. Sofia está na cozinha, ao telefone e não me
ouve entrar. Fico em silêncio, aguardando que encerre a
ligação para me anunciar.
— O que isso importa? Isso não vai acontecer.
Ela parece tensa, está discutindo com alguém e isso
me incomoda.
— Não, não vou deixar o Matteo, já disse isso a você.
O quê? Sinto como se alguém socasse meu estômago
com muita força. De que porra ela está falando? Com quem
ela está falando?
— Mesmo assim, mesmo que o bebê seja seu…
Acordo repentinamente e me sento na cama,
carro em silêncio, sem que ela me visse e saí dali. Não voltei
até que estivesse muito tarde e não disse nada a ela pelos
ao nascer do sol.
Hoje estou com uma dor de cabeça incômoda, talvez
fácil esquecer.
chegou.
incomodando?
cabeça vêm e vão, mas mesmo que esteja irritado com isso
e com o sonho, Helder merece ao menos a consideração de
ser ouvido.
Não vejo seu rosto, mas seu couro cabeludo está bem
diante da câmera.
— Cat?
— Annn… Tá bom.
exagerada.
— Aqui está, sim.
— Mas é inverno…
— Você não tem um bebê enorme e contorcionista
— Perfeito.
vem outra.
mais rápido.
em uma assadeira.
— Qual?
— Preciso que leve a bandeja para o Presidente, não
quero falar com ele.
—, ele vai com a sua cara, pode não parecer, mas se fosse
eu que retirasse os livros todos das estantes, ou jogasse uma
botina na cabeça dele, já teria sido demitida e ainda teria
que arcar com um processo enorme! Mas você fez isso tudo
sério.
Estreito os olhos.
— Só me deixou mais curiosa.
sorrindo.
— Bruto! Aposto que é uma lista de regras para a
casa, como aquelas de não gritar, não ouvir música e não
viver.
— Não viver? Que coisa mórbida, eu nunca disse isso.
novamente.
algo novo. Por exemplo, se vai lutar boxe, que seja com um
oponente. Se vai plantar flores, faça uma estufa e porque
não fazer um piquenique à beira do lago quando for pescar?
Entende? Coisas relaxantes, leve um livro também e sobre
sobrancelhas se arqueando.
resposta satisfatória.
fechado.
pergunta.
— Parece que a tristeza dele, esse isolamento, não é
chifre.
chocada.
— Que coisa…
nenhuma.
não grita com a gente, grita a respeito das coisas que nós
ideia dessas?
preparar o jantar.
direção do deck.
As luzes dos pequenos postes espalhados pela
em voz alta.
No entanto, não esperava obter resposta.
espantando as funcionárias.
continuar assim.
— Matteo…
Reviro os olhos.
— Já disse que não é assim.
interessante.
— É porque mal tinham secado naquele dia, você não
— Usando o quê?
parecer que se refere a algo mais, mas não sei dizer se estou
interpretando bem ou se estou imaginando coisas.
Puxo o cobertor em volta dos ombros para me cobrir
mais.
junto.
mocinha?
migalha de informação.
Ele suspira e coloca o livro fechado de lado, parece
Aquiesço, concordando.
— Deveria. Fiquei pra estudar pro vestibular, depois
achei que seria melhor ir na semana que vem.
— Você mora com quem? Ou morava, antes de vir pra
cá.
você?
— Julieta? É pior! Você acha que eu sou louca, mas
isso porque ainda não a conheceu.
careta.
— E você?
— Bom, hoje somos Catarina e eu, ela é mais nova.
Meus pais também são ótimos, mas admito que não sou o
melhor filho do mundo.
entusiasmo.
— Enlouquecem mesmo.
— E seu pai?
— Ele é mais quieto, mas é um bom homem, coloca
sempre a família em primeiro lugar.
— Se insiste…
Percebo o quanto está mais leve e descontraído e, ao
mesmo tempo, o quanto isso faz meu coração acelerar, meu
rosto se aquecer e meu sorriso aumentar.
— Já vai?
Ele parece se assustar, acho que fui repentina demais.
logo.
tempo.
ouvidos.
gostou!
— Não é, não.
— Demorou um tempão pra cobrir o rosto, Anabela.
— Você não sabe que não pode andar pelado por aí? —
pergunta, ignorando minha provocação. — As virgens
ponto da conversa.
— Nunca tive, mas ando tendo alguns com você.
— Anabela…
— Bom dia, chefe!
E ela se vai.
Passei boa parte do dia no escritório em outra
chamada de vídeo com Catarina. Minha irmã mudava de
se possa desaprender.
A questão é que esses últimos momentos viraram
meu pau desperte outra vez. Porra! Isso está ficando muito
difícil de suportar.
diferente.
Abro a porta de ferro e a empurro com força, acendo
apesar da idade.
corpo dela assim, tão perto, fica difícil relaxar. Essa mulher
adquirir.
bem?
por ela.
move.
parar.
— Você não quer? — pergunto, entre uma carícia e
outra.
não vem.
Volto para dentro do ringue e me aproximo do saco de
areia, a observando cruzar a porta. Ouço seus passos
— Droga…
sobre o uniforme.
ontem.
descansando.
— Estou me sentindo melhor hoje, senhorita — ele
com carinho.
ontem, no ringue.
— Sim, senhorita.
Provavelmente ele quer falar sobre o que aconteceu
Está claro para mim que ele me deseja, mas não sou
entrar.
como aqui.
— E se beijaram de novo?
— Calma! Tô seguindo a ordem dos acontecimentos.
— E como era?
— Julieta!
A imbecil começa a rir do outro lado, se divertindo as
minhas custas.
— O que foi?
— Ele me chamou pra conversar hoje cedo, disse que
— Tá, mas você queria isso? Namorar com ele, sei lá.
— Bom, não, mas eu não sou do tipo que faz sexo
casual, Ju. Não sei nem como lidar com algo assim.
livre.
certeza.
Observo minha imagem no espelho do pequeno
banheiro, no chalé. Não sou ousada o bastante para ser
clara, não vou chegar nele e dizer que mudei de ideia, que
ser o suficiente.
Suzi oferece.
— Não, se puder dar um jeito na louça, eu mesma levo
o jantar dele.
jeito nisso.
trocado de roupa.
— Bom, eu…
— Obrigada.
talheres.
— Parece ótimo.
— Sim?
— Claro.
motivo.
— Você precisa de ajuda para que, exatamente? — ele
área da piscina…
rapidamente.
— Obrigada.
— Agora vai me comprar com beijos… Sou patético,
não sou?
— Não. É maravilhoso.
— Mas?
— Amor.
— Isso. Não é por você, entenda bem, se eu pudesse
me apaixonar, com certeza seria por alguém como você,
— Isso é um sim?
casaco.
do corpo.
— Se decidiu, então?
fique, mas sabe que não sou homem pra você, Anabela.
nada?
que não faço isso que quase voltei à estaca zero. Vou ser
paciente, só não prometo durar muito na primeira vez, eu
estou louco por você. — Ele agora beija meu ombro.
Matteo volta os lábios para minha boca e suas mãos
erguem minha camisola, roçando em minha pele e subindo
— Matteo…
— Calma… vou te deixar pronta pra mim.
— Matteo... — imploro.
— O que quer de mim, Anabela? — Sua língua me
arranca mais um gemido.
vezes.
Enquanto chego ao topo do mundo e despenco
sussurrando seu nome, Matteo afunda o rosto em meus
cabelos e se derrama dentro de mim. E aqui, no calor dos
braços dele, eu percebo que jamais conseguiria separar as
coisas.
informações.
saber?
material necessário.
pergunta.
conta.
incidentes.
franzido.
— E você concordou?
por ter uma razão para trazer Anabela até aqui. Caminho
— Senhora…
— Elis, senhor.
— É, você é péssimo.
noite?
— Não sei, por quê? — pergunta, ainda me encarando
com ar de deboche.
Essa abusada…
— Pensei que pudéssemos jantar juntos, conversar um
pouco.
— Certo.
— E o Helder?
garota.
recebo agora.
o curso.
Elis e Suzi estão cochichando quando entro, e elas me
analisam com curiosidade descarada.
— Que foi?
tempo.
— Sei…
— Depois do trabalho?
— Claro — Helder me interrompe —, queria que o
Presidente a deixasse resolver coisas pessoais durante o
expediente?
— A vida?
postes também.
Sirvo nossos pratos enquanto ele abre o vinho e o
despeja nas taças, depois coloco a panela perto do fogo,
como ele sugeriu, e me sento.
bebericando o vinho.
— Obrigada, mas vou começar a pensar que diz isso
só para me agradar, já que fala que estou linda sempre que
me vê.
não sabe?
— Sei, mas acha mesmo que fui eu que escolhi aquela
atrocidade? Foi minha mãe, são as mesmas roupas que
usam na casa dela, só que lá, ainda adicionam o avental
— Sério?
— Sim, mas estou prestes a abolir esse trambolho
daqui, já que você fica muito mais bonita sem ele.
alargar —, sabe que, pra quem não quer nem ouvir falar de
romance, o senhor é um homem muito galante?
Ele começa a rir.
sobre o curso?
Pego um pouco do risoto com a ponta do garfo e o
assisto a fazer o mesmo. Comemos por um instante, em
silêncio e tomo um gole do meu vinho, antes de responder.
— Qual?
— Odeio matemática.
— Isso seria mesmo um problema.
— Como assim?
— Sua ideia é única, não vai encontrar uma faculdade
cabeça.
— Dessas?
— Que se apaixonam por personagens fictícios.
— Fato.
vejo.
cintura.
também.
— Mas as outras, vão falar… — ela sussurra.
deixar rastros.
sair.
— E Anabela…
— Sim?
levar?
— Certo.
Quando nos encontramos em frente ao chalé, um
hoje.
— Você está…
— Sim, não fica longe, além disso, meu carro não sai
mãos.
por um dia.
— E por quê?
padrão depois.
uma vitória.
você… pesca?
Ela dá de ombros.
cabeça.
— Porque você é gostosa e doce, e inteligente e sexy.
— É mesmo.
Anabela pega um pão de queijo e o recheia com uma
— Se cansou da leitura?
comigo!
do filme.
— Obrigada.
lado do meu corpo, ela se encaixa sobre mim, meu pau roça
contra seu sexo quente, quando Anabela me monta. Ela
Agora.
— Dói?
— Não, isso… É muito bom.
— Já estou sentada.
Sua inexperiência me faz sorrir, ela só fica mais
apelido.
Anabela pega o ritmo rapidamente, mas continuo
auxiliando seus movimentos. Seus seios sobem e descem a
céu aberto, a visão me perturbando o juízo.
Seus cabelos se soltam do coque e caem, cascateando
do chalé.
— Nós não usamos preservativo.
pequeno.
conclusão.
mãe pela mão. Clarissa Viturino não é jovem, mas parece ter
envelhecido dez anos nos poucos meses em que não nos
vimos. Seus olhos estão vermelhos e ela começa a chorar
assim que me vê.
— Mãe?
Vovó. Porra!
— Em um quarto, lá em cima — ela conta, meneando
a cabeça. — Sei que você não tem razão nenhuma para
Está usando essa menina pra enganar vocês, ela pode ser
filha de qualquer um.
O pai de Sofia, Osmar, que um dia foi meu sogro,
aparece no corredor e entra na sala. Seus olhos também
se eu pudesse esquecer.
estômago.
— Isso só pode ser brincadeira. Vocês estão dizendo
que ela não abortou e que abandonou a garota em um
orfanato?
— Infelizmente.
Sem esperar por mais nada, saio da sala e subo as
escadas, pronto para enfrentar a mulher que um dia chamei
de esposa. A última porta do corredor está aberta e eu a
— Oi…
que me encontro.
dia.
— O que… O que você tem? — consigo perguntar
finalmente.
naquela época.
assumiria a menina.
menina, contei aos meus pais sobre ela quando pedi abrigo
e a trouxe pra cá.
Sofia.
facilmente.
— E então?
— Ela não é minha filha, mãe. Não entende? Não é.
questão da menina.
— Merda…
— E sei que você não quer isso, mas pode fazer o teste
antes de ir? Podemos chamar o pessoal do laboratório aqui,
mesmo.
dentro da casa.
lar São José, mas isso é porque várias crianças moram lá.
das coisas.
Ainda não tive tempo para pensar sobre tudo que ela disse
um minuto.
— O que é um modomo?
o que passa em sua cabeça e noto que ela olha de mim para
mesma.
naturalidade.
— Maitê.
Anabela se aproxima dela e volta a agir como de
torturando.
tudo isso.
Minha vida já não ia mal o suficiente? Se é que o que
decepcionada.
tinha que saber sobre seu passado, não era da minha conta.
Mas além de mentir sobre a morte da esposa, esconder uma
encara.
nenhuma instrução.
ombros.
— Por quê? Você tem medo?
— Obrigada!
— Tudo bem. Não precisa agradecer — respondo,
dando tapinhas em sua cabecinha loira.
está na mesma que eu, mas pelo menos tem coragem para
fazer as perguntas certas.
— Claro, querida.
chegar aqui.
consiga dormir.
A noite está fria, como sempre, mas acho que já estou
começando a me acostumar com as baixas temperaturas da
montanha. Volto para o casarão minutos depois, apago as
Meneio a cabeça.
em um único gole.
os apresentar à senhorita.
— Tudo bem.
Helder acerta seu terno e caminha na direção da
lembrando dela.
sua obrigação.
respondem em uníssono.
resultado de um corte.
pessoais do Presidente.
interrompendo. — O Presidente.
os equipamentos de jardinagem.
e de pés no chão.
Batidas na porta.
vai ligar para os meus pais, como fez da primeira vez que
me afundei assim, e tudo que não quero agora é a família
— Pode entrar.
funcionárias.
estivesse aqui.
Vou falar com o Hélder sobre isso, para estabelecer
descem a escada.
Por que raios essa mulher está batendo os pés com
tanta força?
chamando de garota.
Esse sim é o fim do mundo! Agora estou sendo
repreendido por uma menina de cinco anos.
— Não.
— pergunto.
— Não. Trouxe pra você sorrir um pouco, eu não dizi?
Merda…
Helder é quem traz meu almoço mais tarde. Ele entra
Sofia?
— Não sei, eu não senti nada além de desprezo. Ela
nem parece a mesma pessoa, Cat, é como se já estivesse
morta.
inconveniente.
— Ah, Matteo, você me mata de rir! Crianças são
assim, irmão, pode ir se acostumando.
escritório.
— E então?
Cat leva a mão ao coração e abre um sorriso. Eu sei o
que isso quer dizer, porque ela não sorriria se Maitê fosse
filha da infidelidade de Sofia e Miguel.
certo e aos poucos vai se adaptar. Tudo vai ficar bem, não
pense no tempo perdido, mas sim no presente, que está aí
na sua frente agora.
Respiro fundo, tentando me recompor, porque não
posso fazer com que fique nervosa também, mas a verdade
quando souber que a deixei viver como uma órfã e, por mais
irritante que ela seja, não quero ser odiado por ela.
Eu só queria desaparecer agora, fugir dessa dura
realidade onde pessoas ruins destroem vidas, por puro
prazer e crianças inocentes pagam o preço pelos nossos
pecados.
faz por aqui, não é bom deixar para dar banho nela a noite.
cabelos depois.
— Pode entrar.
— Que alergia?
— E quem é a freirinha?
— É uma das que não é freirona, como a diretora.
essa menina não ser filha dele, sendo que tem até a mesma
marca de nascença.
Elis que tome conta dela, enquanto falo com Matteo. Eu não
mais a conversa.
de música.
O homem me encara com curiosidade, aguardando.
suspeitas, claro.
certo…
formato de meia-lua…
sozinhos.
esquerdo!
dessa vez…
responde, de mau-humor.
uma vez.
— Mas…
está transtornado.
com ele.
filha?
consegue ser o homem mais lindo que já vi. Ele não ergue
os olhos para mim e sem dizer nada, me sento ao seu lado
agora…
— O quê?
Ele não olha para mim, seu olhar está perdido. Dessa
vez não há também grosseria em seu tom de voz, é apenas
culpado, por isso não aceitou quando tentei falar com ele,
não queria cogitar a ideia de que fosse mesmo o pai, porque
— Como sabe?
qualquer limite que deveria existir entre nós, puxo seu corpo
para mim e faço com que se deite, colocando a cabeça
seja algo terrível, saber que um filho seu passou por tudo
que Maitê precisou enfrentar. Não por escolha, mas porque a
oportunidade de dar uma vida decente a ela, foi tirada dele.
— Ah, Matteo…
— Ela engravidou. Estávamos em uma fase ruim,
nosso casamento indo ladeira abaixo, mas ela parecia feliz
com a notícia e também fiquei. Pensei que pudesse mudar
tudo.
fáceis.
dia.
disse que não queria ter que ver o rosto dela nunca mais.
tão vítima quanto a Maitê, foi tão privado dela, quanto ela
foi de ter uma família. — Ele não concorda, mas também
não nega, continua me encarando e ouvindo. — Tenho
certeza de que aquela linda menina preferiria ter um pai
Ele não diz nada sobre isso, acho que ainda está
assimilando a nova informação. Depois de um tempo, volta
a falar.
— Eu só não queria conversar sobre isso, ainda tem
imenso.
mesmo.
de pé.
escuro.
vistos juntos.
entendido.
corredor.
Não, isso não faz sentido, é uma criança, ela tem que
acalmar.
a não ser ignorar a menina esse tempo todo, como vou lidar
pergunta.
A mulher começa a apontar para a sala de televisão e
Maitê sozinha mais uma vez. Além disso, não temos tempo a
pelas montanhas.
Deus, proteja minha menina!
Como isso foi acontecer? Bem aqui, debaixo dos
todo.
ela sabe mais do que está dizendo. Tudo bem que Maitê
agora…
— O que houve?
— Vim buscar a água na cozinha, mas a Mariana
que é ela.
sua filha, Presidente, e acho que ela pode ter ouvido isso.
Quando voltei, ela não estava mais lá.
— O quê? — Fecho as mãos em punho e a mulher se
encolhe, como se eu fosse fazer alguma coisa contra ela. —
Vocês foram longe demais dessa vez! Ela merecia saber por
mim e não desse jeito. Agora está lá fora, em algum lugar,
debaixo dessa chuva.
cometeu um erro.
— Me desculpe, Presidente. Anabela veio me
questionar, sobre falar ou não com o senhor a respeito disso
e acredito que tenha sido essa conversa que Mariana ouviu.
me seguem de perto.
— Anabela!
— Matteo! — Sua voz fica cada vez mais forte e ela
continua gritando, guiando meu caminho.
quente.
— Por que ela não acorda? — pergunto, ainda nervoso
com essa situação.
chama a atenção.
do quarto.
diminuir.
eu me posicione.
pra mim, então agora vai estar de folga e ficar com o pé pra
ao ponto.
— Entendo.
os novos funcionários?
a trabalhar…
— Pedro.
dela ou pro inferno, como achar melhor. Não quero nem ver
tom irritado.
duas.
surpreendendo.
baralho às vezes.
às vezes.
chamava Heldina.
— Que coisa…
com ela?
Matteo é meu papai e que não me quis. Ele não me quer por
que eu sou feia? Ou por que eu falo muito?
A pergunta inocente faz com que eu sinta como se
— Eu podia me comportar.
insistem em cair.
Tento me recompor e, depois de alguns instantes,
acho que consigo. Entro no quarto e observo as duas
antes.
de se levantar.
travesseiros.
— Maitê, eu sinto muito que tenha ouvido as coisas
maldosas que aquela moça disse, foi muito feio o que ela
certeza.
— Minha vovó Clarissa é mesmo muito esperta, não é?
exclama, animada.
Não parece mais triste e acho que entendeu que eu
não quis abandoná-la, que por mais que seja horrível, não
foi proposital.
Você pode me perdoar por ter ficado tão sozinha? Por não
ter tido uma família, até hoje?
— Eu não fiquei sozinha — Maitê diz, meneando a
cabeça. — Tinha muitas amiguinhas no lar e as freirinhas e
as freironas.
como uma criança tão jovem pode ser tão forte. Maitê foi
abandonada, não teve ninguém que a amasse e mesmo
Fifi.
Anabela agora está rindo, sem se conter.
— Que meninas?
bem.
— Hum… se você diz. Mas onde nós vamos dormir?
aquecedor.
Arrumo os vários travesseiros sobre a king size e deixo
tudo o mais confortável possível. Retornando ao quarto,
pego primeiro Maitê no colo, que dá risada e se anima com o
— Matteo!
— Hoje você é minha paciente.
mão delicada.
— Você é como se fosse uma cola.
— Matteo…
Como sei que vai ser difícil para que Anabela desça,
sirvo o jantar em um prato para ela e em outro para Maitê,
pego uma bandeja e os coloco sobre ela. Também pego duas
latas de refrigerante na geladeira, provavelmente se
Anabela comprou é porque gosta.
— Juraaaa?
mãozinhas.
brincadeira. — E agora?
— … Eu estava na beirada da prancha, encarando a
decidida.
tanto drama.
— Ah não! São mesmo mil horas até que o papai
mocinha.
segure.
filha fosse criar uma distância entre nós, ela parece gostar
de me ver assim, todo babão por Maitê, isso e todas as
nunca quis ler, porque não é muito o meu estilo, mas estava
procurando alguma coisa que a Maitê fosse gostar.
vez.
Ela está deitada de bruços sobre a cama, os cabelos
mesmo limpos.
nos olhos.
lado dela, que fica entre Anabela e eu. Maitê trata logo de
mão na sua.
engraçada.
— Tudo bem. Vocês são duas e eu sou UM pobre
coitado!
custas.
— Teremos pipoca e brigadeiro, já que insistem.
que ela precisa, mas Maitê merece ter esse amor e vai ter.
Quero fazer como Anabela disse, semear nosso futuro, já
1 ovo
preparo.
aí.
Quando entro no quarto, as duas estão deitadas, uma
panquecas.
— Bem que você disse que sabia fazer, ficaram
Chego a chorar de rir, porque a cada dia fica mais claro que
logo minha mansão vai se tornar um galinheiro.
Ao mesmo tempo em que gargalho com as falas dela,
percebo o quanto isso era incomum, antes de Anabela
vivendo agora.
— Em que você está pensando? — Anabela pergunta.
— Parece que está em outro lugar.
— Com Maitê?
com a lembrança.
ressalvas…
fazer isso com um profissional, mas acho que o que faz essa
sua culpa te corroer é o fato de guardar tudo aí dentro —
diz, colocando a mão sobre o meu peito.
Ficou doido?
— Por que não? Vou dizer que instalei vocês duas aqui
ombros.
outra perspectiva.
de chocolate quente?
— Hum… Será que não vai ter dor de barriga? Já
tomou hoje.
— Pedaço de nuvem, é?
em seu olhar.
ordem. E a pequena?
seu drama.
— Certo.
dias.
entregam aqui.
— Tá bom.
— Ah! Você sabe cozinhar? — pergunto, me
MacKintosh.
impaciente.
lembrava!
— Já você se parece com uma boneca, MacKintosh!
arredores.
— Não é um problema — respondo e, para meu
e peço a ele que avise Anabela e Maitê que estou com Greg
e que depois subo para ficar um pouco com elas.
Viturino?
meio complicadas.
tranquilamente no Brasil.
Sirvo outra dose da bebida para Yan, enquanto
assimilo as informações.
origens, a família…
Aquiesço, compreendendo o dilema.
por carros esportivos. Por outro lado, sei o apreço que sente
pelas terras nas highlands, o lugar em que seus
— Sofia apareceu.
— E então?
cenho.
assunto.
Merda.
— Está gostoso?
Maitê beberica o chocolate quente que Helena trouxe.
— Sei, formiguinha.
cama, esperando.
cama!
Descubro o rosto.
— Maitê!
por merecer.
— Ah, eu sei que não sou tão bonita e nem estudada,
mas eu…
Elis meneia a cabeça e me interrompe com uma
risada divertida.
— Por quê?
— Hum, difícil explicar. Se eu pudesse dar um perfume
a esse livro… Acho que ele cheiraria aquela flor que colocam
nos cemitérios. Credo…
— Sim, é um romance.
— Ela dizeu que é de ódio — completa, meneando a
cabeça.
não?
— Solução mágica.
Estreito os olhos para ele, que trata minha fala com
descaso.
das sapatilhas.
novas.
sorriso.
palavra.
— Venham, meninas, quero que conheçam meus
amigos.
cabelos.
cumprimento.
tempo.
lado.
tem.
estão sorrindo.
com alguém, não que ele não o faça comigo, mas nunca o vi
amizade.
casual.
— Isso mesmo — concordo.
os olhos claros.
carne.
prova.
— Me desculpe, filha.
— Sai fora.
do enorme coelho.
No entanto, quando decidi voltar para o meu chalé, as
— Por que você quer voltar para lá? Todos vão vir,
mas…
— Todos quem? — pergunto, apenas para que ele
— Isso é verdade.
tempo.
— Mas estou.
em um abraço apertado.
— Oi, Maitê.
— Oi… — Ela arrasta os pés no chão e olha para baixo,
envergonhada com a atenção.
pouquinho.
Matteo abre espaço para Maitê e, enquanto ela se
estica, ele se agacha para ficar da altura dela.
vão gostar.
Quando retorno para a sala de jantar, as mulheres,
incluindo Maitê, já estão sentadas à mesa e se servindo.
Clarissa está segurando Maitê no colo e Catarina está ao
engraçada.
audácia brilhando nos olhos, mas não, ele está mais magro
que antes, a barba por fazer e as roupas são casuais demais.
ombro.
está.
Isso é loucura…
angustiante.
— Meu menino, meu Miguel, meu amor…
dominam, me paralisam.
com força.
questionamentos.
sofri com a culpa pela morte dele por todos esses anos,
para a cozinha. Fico grato por isso, não quero mesmo que
consigo vislumbrar.
Deus para essa família que já sofreu tanto, sei que quando
tudo for explicado e Matteo tiver seu próprio tempo, a
— Eu me assustei.
— Quem não se assustaria? Até mais cedo o rapaz
estava morto, por vários anos e então reaparece assim…
nervosos assim.
em momento algum.
— Por que ele faria isso? — pergunto, a cabeça a mil,
seguro voltar para casa com Maitê, mas preciso levá-la para
dentro porque a temperatura já começa a cair na serra.
diferentes.
— Você parece o papai — ela diz, o encarando com
curiosidade.
que quer dizer isso? Por que Miguel faria uma coisa dessas?
Helder já tenha feito isso mais cedo, eles não entendem que
tudo de que preciso é me isolar um pouco e tentar colocar
as ideias no lugar.
Mas quando me viro para dizer a ela que estou sem
anos.
Miguel passa pelas cordas, invadindo meu espaço, as
mãos estão nos bolsos, e percebo que há receio da minha
reação em seus olhos, mas ele não se afasta, ele é como a
porra de um fantasma desses filmes de terror, que depois
dúvidas.
diz, me sondando.
Meneio a cabeça.
— Diga para ele ir embora, não quero falar com
ninguém.
Anabela une as mãos na frente do corpo e ensaia
em voz baixa.
em uma só palavra.
— Insisto.
modo algum.
outra vez.
ainda mais se isso me livrar de ter que ver você com aquela
aquela coisa.
Ela sorri de um jeito triste e agradece o elogio,
sucumbido.
eu.
— Nada.
mesmo gostava.
palavras seguintes.
— Claro que não, mas sabe qual o poder que uma
para sentir algo. Mas Anabela fez com que voltasse a pulsar
e no momento ele arde da pior forma no meio do meu peito,
ritmo se intensifica
— Oi — cumprimenta, gentil.
desse piano.
Miguel se vira outra vez para o instrumento, mas
continua a conversar comigo.
— Meu irmão comprou esse piano para mim, porque
gostava de me ver tocar. — Ele passa os dedos sobre as
garanto.
que ele está fora de si. Ele me puxa pelo braço, fazendo com
que me levante e em seguida me afasta de Miguel. Eu odeio
o jeito bruto com que faz isso.
irmão.
— Eu sei disso, Matteo, fui um idiota, tá bom?
para trás.
— Precisa se acalmar — ele fala, com a voz firme.
desculpar.
As engrenagens começam a girar na minha mente.
Por que ele se desculparia tanto? Estávamos só
conversando.
conserto.
Mas eu com certeza o amo e estou destruída por
finalmente entender a dor a que ele foi exposto, uma traição
como essa não traz apenas vergonha e decepção, ela deixa
marcas muito mais profundas.
Anabela se solta da minha mão logo que entramos em
seu quarto, no chalé. Ela parece abalada, porque agora sabe
parecer com ela, não pode agir como ela e me fazer reviver
o passado.
algo assim.
me contar.
algo assim.
— Não tem a ver com gostar dela, tem a ver com ele.
— Ela era minha esposa, mas ele? Ele é meu irmão, porra!
ainda chorando.
Merda.
amar: não posso passar por nada disso outra vez, eu não
suportaria.
— Um erro?
dia de folga.
intenção.
amar, alguém que confie nela e que possa ser leve, que não
me procurar.
Helder dá de ombros.
pensar que não vai me dizer, mas ele volta a falar um pouco
depois.
— Os dois tiveram uma briga feia, Miguel saiu da casa
onde passou.
— Acha que Matteo vai ficar bem um dia? — Faço a
juro.
mentiu.
falta.
conhecido Matteo.
seja o problema.
porque sei que não vão mais se repetir, mas ainda assim, é
redor.
assim.
É, eu também gosto.
conversa.
— E a Belinha...
— É, e a Anabela que te adora.
Porra...
perdemos.
anos entenda?
Eu a amo e é por isso que dói tanto, por isso que me senti
mal começamos.
Quando voltamos para casa já é quase hora do
almoço, e minha filha se despede de mim para ir atrás de
e se desculpa.
— Perdão, senhor Presidente, ela fugiu de mim e
entrou de repente.
gente?
mesmo.
cidade.
Pescaria e passeios pela cidade. As férias da família
— Por quê?
Ela revira os olhos, impaciente.
dias atrás estava morto e agora decidiu que não quer mais
ficar com ela, mas está aqui na minha frente porque não
quer perder sua governanta.
— Eu… Bom, você falando desse jeito parece horrível
mesmo.
desesperado.
apesar de tudo, e você não sabe o que quer — ela diz com
certeza, apontando seu dedo para o meu peito.
Porra, o que me deixa mais puto é saber que essa
garota tem razão. Ela tem o quê? Uns vinte dois anos, talvez
vêm em seguida.
outra governanta.
Outra governanta…
Eu não quero outra governanta.
coisas.
Por mais fofo que seja o fato de ele vir até aqui, eu
resisto. Matteo pode ser o sonho perfeito de qualquer
mulher quando baixa a guarda, mas não posso viver à
espreita esperando por esses momentos. Não posso estar ali
à disposição dele.
— Ele passou por muitas coisas nos últimos dias… —
ela defende.
defendendo...
trazendo de volta.
— Pulou mesmo, foi incrível.
mãozinhas, ansiosa.
— O que aconteceu?
Ela dá de ombros e arrasta uma espreguiçadeira para
se sentar.
outro irmão?
para me encarar.
— Matteo…
chão, contrariada.
Miguel.
cinco anos sofrendo com a morte dele e agora não quer nem
caso perdido.
vocês dois…
— Ele se fingiu de morto, Cat. Como pode aceitar isso
bem?
está vivo. Não sei por que ele fez o que fez, mas sei que se
profissional.
— Não.
— Por quê?
conversa.
sombra e que não a culpe por coisas que não tem nada a ver
com ela.
mesa.
bolo e você?
— Tudo bem. Quero pão com presunto e muçarela, na
oferecendo.
manifestando.
— Ah, está sim! Eu comprei uma caixa de chocolates e
lembra?
mais nada, não que antes fosse fácil, mas isso torna as
coisas ainda mais difíceis. Não, eu não vou ter um filho, não
é possível que em uma única vez eu fosse engravidar.
por isso deixo que ela leia as instruções e apenas fico quieta.
— Você tem que fazer xixi no copinho e aí vamos
colocar esse palitinho dentro dele. Uma linha significa que
você não está grávida, duas linhas significam que vou ser
tia.
cama.
— Você não quer ver?
na mão.
Meu coração volta a disparar.
Não.
Não tem como.
Grávida.
Minha mente é bombardeada por pensamentos
enquanto ouço a voz de Julieta ao fundo. Eu não estou
pronta para ser mãe, agora desempregada, sem estudos.
medo me faz sentir ainda pior, não digo nada aos meus pais
porque não quero preocupá-los e prefiro contar sobre o bebê
quando souber o que vou fazer e puder dar uma explicação
mais coerente das coisas.
susto.
— Me desculpa.
ficar muito feliz, tenho certeza disso, você disse que ele é
um bom pai para a Maitê.
deixando no ar.
casal, mas ele, como pai, não vai ser um problema se ele se
mas quero pensar que estão juntos e que ela não está
tranquilizando.
Isso vai ser difícil, mas sei que com Matteo vai ser pior,
porque nada com ele é fácil, ainda assim sei que é o certo.
famílias.
Natal?
que eles vieram mesmo depois que eu deixei bem claro que
não queria ver o Miguel!
Merda.
mesa, mas não acho que alguém tenha ouvido porque estão
muito ocupados se abraçando e desejando todas aquelas
coisas bonitas que só são ditas em datas comemorativas,
ele completa.
— Pareço? Você, por outro lado, parece muito bem.
Idiota!
para de me filmar.
Maitê comemora, fazendo uma dancinha, e depois
para me arrepender.
devia ter falado pra ela que não precisava exagerar, Anabela
e eu não gostamos dessa uva amassada.
É a minha vez de concordar, mas Julieta faz uma
carinha engraçada e se vira para a mesa, descobrindo uma
as demais travessas.
também dos outros, fico feliz por estar aqui. Minha família é
o meu refúgio, o lugar para onde sempre poderei voltar. Não
importa aonde eu vá ou o que eu faça, eles sempre estarão
aqui, de braços abertos para me receber.
— É um vídeo da Maitê.
— Finalmente a sobremesa…
preocupada.
noite e, pela manhã quando tiver alta, você deve ir até o seu
médico, o melhor a fazer é começar a tomar um
medicamento que a ajude a manter a gestação e ter muito
cuidado.
— Bela, acho que não vai ter jeito, vamos ter que ligar
para a mamãe…
queria muito o bebê e ela fez com que ele passasse por todo
esse sofrimento dizendo que tinha tirado a criança.
— Mas não é a mesma coisa, você não está fazendo
algo contra seu bebê e, além disso, não vai acontecer nada,
vai dar tudo certo.
risada.
Fico muito feliz por vê-lo melhor, apesar de Miguel e
Noel deixou!
maravilhoso.
a descoberta.
— Ah, sim! Então ele estava na dela? — pergunta, em
estava sentada.
consertar isso, para ter meus dois irmãos de volta, mas sei
que será uma tarefa difícil, os dois são orgulhosos na mesma
grande na mão. Ele está usando terno outra vez e a cada dia
em São Sebastião.
havia sido uma opção. Tudo o que eu queria era poder voltar
adorei.
Não digo que ele deve tentar, porque sei bem como
a confiança de Matteo.
precisávamos.
— Não foi bem isso, pelo que entendi. Acho que ele
terminou com ela e Anabela foi embora porque quis —
explico.
sua resposta.
— Eu havia mentido e traído meu irmão, lógico que
— Uau.
— Não sei, Cat. Ela sabia que havia algo errado, mas
nunca soube sobre tudo. A verdade é que ela tem a alma
de mão, não!
Até Helena, que é sempre muito discreta, está rindo
um pouco, ao passo que Suzi pede para a outra ficar quieta.
me vencendo.
— Eu cheguei aqui na cozinha e encontrei o Timóteo e
contrário, sabe?
— Elis, você é maluca — minha mãe fala. — Timóteo
— O Otávio dormiu?
— Sim. Está dormindo com o Alberto.
ajudar.
Minha mãe parece pensar a respeito, está inclinada a
aceitar.
— Tudo bem.
Começo a andar de costas, acho que ele entendeu o
que quero dizer com isso.
ligou agora a pouco e disse que ela teve alta. Logo, logo, vão
estar em casa. Vocês podem esperar, se quiserem.
nos sentarmos.
— Elas são amigas da Bela. — Então ele se vira para
nós outra vez. — Essa é Maria, minha esposa e mãe da
Anabela.
ele fala.
aflitas.
— Oi, pai. — Ouço a voz embargada de Anabela da
cozinha.
— Que amigas?
Anabela nos vê e seus olhos se arregalam. Ela apoia
um braço na cadeira de rodas da mãe, que segura sua mão
livre e a beija.
— Ah, não! Não, não, não! Sinto muito, não quero ser
Anabela se emociona.
— Obrigada. Obrigada por estarem aqui e por não
brigarem comigo.
o passado.
desesperadas e…
agitada.
acontecendo.
começa.
Ergo a mão, a interrompendo.
— Não ama?
tranquila.
— Podem se explicar?
intrometidas?
em frente.
— Nem que ela quisesse! — Catarina fala, agitando as
mãos.
— Como assim?
resmunga, me corrigindo.
qualquer coisa.
Quero me irritar, mas sei que ela não diz isso sem
motivo.
mãos para o céu outra vez, pelo modo como agem até
isso?
bem?
— Como eu dizia — continuo —, nós fomos procurar
voltado.
Eu me levanto em um pulo.
— Obstetra?
Nunca me julguei lento no raciocínio, mas por algum
motivo a informação não se encaixa de imediato.
compreender tudo.
que ela não te disse e acho que cabe a ela te contar, mesmo
que eu já tenha falado demais, mas precisa se lembrar de
— Ótima ideia!
— Tá bom.
— Ver a Anabela.
precisamos de um plano.
outro carro?
hoje.
— Mas…
e morava na capital.
Mas é isso, o passado já me roubou tempo demais,
— Eu consigo!
— Porque eu a amo.
obrigação.
mim.
— Oi, Bela…
Maitê se afasta e se coloca ao meu lado, Anabela por
para Maitê —, você sabe, não achei justo te fazer sofrer algo
assim outra vez.
Também fito minha filha, que olha de Anabela para
mim sem entender a conversa.
afastasse.
depois.
mim.
animada.
— É mesmo, meu amor?
professor.
que eu deveria ter contado a ele, mas prefere não falar por
— Já fez o ultrassom?
semanas.
— Eu também.
— Bom…
casamento.
vida.
responde.
não adianta, ele parece levar a sério essa coisa de que não
— Matteo!
sono.
nisso.
ganhei um grudinho.
— Estou, sim.
Quero comentar que nem sabia que ele tinha tantos dentes
rápido.
pedido.
— Um bife? Agora?
— É, não quero chás, suquinhos, essas coisas. É que
— Quais são?
pergunto.
essa garota…
— Estou muito feliz pelo irmãozinho. Eu amo bebês —
dos seios.
dedos.
— Eu não sei o que é mirtinho.
só pode!
Ele é o pai, tem todo direito e não posso negar isso a ele.
— Tudo bem. — Levanto minha blusa outra vez,
eriçados. Ele não diz nada, mas o sorriso no canto dos lábios
é a certeza de que percebeu o que seu toque ainda faz
comigo.
— Posso?
Faço que sim com a cabeça, porque as palavras
simplesmente desapareceram.
— Às ordens, Presidente.
que de costume.
Acha que não vão ver sua barriga crescendo? Todo mundo
vai saber de qualquer jeito!
— Eu sei, mas…
um sorriso alegre.
— Nós vamos ter, eu sou o pai — ele diz, como se
alguém não pudesse adivinhar isso.
na cabeça do chefe.
— É linda também — comento, atenta às reações dele.
para o encarar.
— Eu? Com ciúmes? Não sei de onde foi que tirou essa
ideia. Nunca aconteceu e agora também não estou me
sentindo assim, eu adoro a Helena.
reação.
— Santo Deus!
cabeça.
você seja diferente, então vim sugerir perto de você pra que
ele não possa negar.
— Sim, você disse que iria e não podia dar tempo para
que mudasse de ideia — ela diz, sem nem disfarçar.
— Não acredito que você vai mesmo fazer isso… —
comento, ainda em choque.
agitada.
— Maitê dormiu?
título.
no dia.
dizer.
Ela se remexe um pouco e sorri, dando de ombros.
Espertinha.
meias palavras.
exclama, arfando.
— Por favor.
um…
Folheio o livro, à procura de algo que ela vá gostar, e
O retrato na parede
quer dizer.
Ela sorri.
— Boa noite.
proximidade.
— Enjoo…
— Do que precisa?
— Remédio pra náusea, na minha bolsa, e comida,
urgente.
comer rápido.
mãos.
gravidez.
— Mas se podemos fazer alguma coisa pra evitar ou
— Gostou do livro?
— Eu amei!
poemas?
Anabela sorri com a pergunta e fecha os olhos,
ótima.
Passo a mão pelo queixo, satisfeito com o elogio.
não?
— E que pessoa… — ela comenta, em meio a uma
risada. Apesar da sua resistência, Anabela está mais solta
dela na minha.
Bela olha nossos dedos unidos e assiste quando
— Obrigada.
— Pelo quê? É a minha obrigação, amor. Não que eu
esteja fazendo por isso, mas não tem o que me agradecer.
melhor com o fato de que ela está aqui, comigo, ainda que
não exatamente como quero que seja.
— Tive, filha.
último r.
— É um nome bonito, querida. Eu gosto — Bela diz,
— Eu também!
três juntos.
dele.
pergunta, provocando.
dentro do ringue.
— Sério?
— Porra! Sério?
revido.
uma careta.
moça.
idiota.
pediu em casamento?
— Ele disse ao seu papai que casava e eu disse que
casava também.
vão ficar, eu disse que não iria voltar para ele, mas é lógico
que minha resistência não é assim tão inabalável quanto eu
pensava, e ele está sendo maravilhoso, começou a terapia e
tem cuidado tão bem de mim, talvez as coisas acabem se
minha disposição.
mim outra vez. — Vamos lá, meu bem, vamos tirar esse
surpresa.
Meu homem, e que homem!
o vejo engolir a seco, admirado. Desde que voltei ele não viu
mais que minhas pernas ou alguns centímetros de pele
seu olhar.
Mas então ele encara Leonel, que está distraído com
estilista…
pergunto.
atender em domicílio.
meus pais, minha mãe está linda com o vestido rosa que lhe
tão bem. Mamãe fica com dona Clarissa e Maitê, porque nós
temos hora marcada com o médico, dessa vez em seu
impaciência.
Finalmente o Dr. Genivaldo, o médico que tem me
extremidades.
tela, acho que ele viu alguma coisa, ou pelo menos pensa
que viu.
— Exatamente.
pequeno.
— Ah, que fofo! Muito obrigada!
outros…
— Julieta — cumprimento.
— Matteo — ela responde de volta.
brigadeiro?
—, mas acho que vou ter que fazer isso, já que é o motivo de
estar aqui.
Dominic não diz nada, ele apenas espera que eu
coloque as ideias no lugar, e comece a falar.
— O que aconteceu?
— Voltei pra casa um dia e escutei uma conversa dela
ao telefone, falando com alguém que não iria terminar
comigo para ficar com essa pessoa, ainda que o bebê não
fosse meu.
mantém em silêncio.
— Saí de casa arrasado, eu estava muito feliz pelo
bebê — conto, e as lembranças retornam com força —, mas
pelos próximos dias, não disse nada a ela.
apaixonado, eu via o modo como olhava pra ela, sei que não
foi deliberadamente pra me ferrar, ele só foi fraco e não
resistiu. Se fosse comigo e sentisse algo assim por quem
não deveria, me afastaria, Miguel não fez isso.
— Então acha que ele agiu errado, mas que não fez
pra te afrontar…
— E a Sofia?
hoje?
mensagens têm.
"Se o futuro lhe sorrir, sorria de volta. Se o passado te
chamar, apenas ignore."
Finalmente chegou o dia. Estou mais nervosa do que
no ultrassom, porque agora sei que vamos descobrir o sexo.
gesto de surpresa.
certeza de que ele sabe o que quer e que não vai voltar
— Agora vamos?
irmã.
— Vamos!
reunidas e já sentadas.
cobertura.
mais criativa…
— Huum… Uma caixa com balões, então?
tento entender.
eu.
— Pronta?
empolgado.
Anabela.
incomode.
torta na cara…
contendo o riso porque sei que ele vai errar. — Bom, tinha
acerto dele.
— Hum… um parquinho?
cabeça.
Coitado, quem poderia imaginar?
quando criança?
caiam na risada.
— Você disse que não quer voltar pra mim, Bela. Agora
todos.
pela expressão, é bem óbvio que quer ir. Ele se vira para me
encarar, aguardando que eu diga algo, mas ao contrário do
pouco.
— Então vamos… — Greg faz menção de o arrastar,
sozinho em um canto.
— Sério?
me comportar, mãe.
Miguel.
Assisto ao rosto dele se acender com o convite e,
apesar de tudo, chego a sentir pena. Deve ser difícil lidar
— Oi…
Eu me viro e encontro Julieta parada atrás de mim.
— Oi!
— Vai ser um menininho, Bela! Ahhh que coisa mais
fofa!
ele.
— Típico dele.
— Julieta!
— O quê? O homem é um espetáculo, você não pode
fingir que não viu só porque está apaixonada. Anabela, eu,
raciocínio dela.
— Como quem? O escocês!
— Ah, meu Deus! Ele é solteiro sim, mas é muito mais
velho que você e, de acordo com o Matteo, não está
buscando um relacionamento.
totalmente absurdo.
Greg está fazendo par com Miguel e Alberto comigo,
Yan decidiu que vai entrar na próxima, quando um de nós
desistir. Quando Greg encaçapa uma bola e comemora,
Alberto bate o taco na mesa, irritado.
bola.
Alberto comemora, mas não me distraio, já analisando
meu jogo à procura da próxima bola.
— Tá todo felizinho, hein, Miguel? — Mesmo de cabeça
desconvido.
Os outros três começam a rir da careta que ele faz e o
jogo segue assim, permeado por piadinhas e brincadeiras da
quinta série que nunca nos abandona. É a primeira vez que
fico perto de Miguel desde que ele voltou e não sinto ódio ou
vontade de sair de perto imediatamente, estou me
divertindo até.
cacete.
— Já é alguma coisa.
— E você, Greg? Desde que te conheci através dos
risada.
— Com quem?
— Ah, ele não liga muito pra isso. Está ficando velho e
quer um herdeiro para a empresa, coisa de gente das
amanhã.
quartinho do bebê.
analisando o trabalho.
— Você está todo sujo de tinta! — Anabela aponta o
um sorriso de provocação.
meus pensamentos.
pega em flagrante.
o jornal.
suas reações.
com os dois.
surreal!
ver.
seu queixo, trazendo seu rosto para mais perto. Não consigo
mais resistir a isso, não consigo mais evitar e espero que ela
real.
— É. Está muito bonito e acho que o Arthurzinho vai
gostar.
empolgada.
Pego minha pequena no colo e Maitê enlaça seus
ideia do século. Acho que agora que sabe que demos a ela
essa liberdade, um leque de opções se abriu em sua mente,
cabeça juntos.
até desconfiado.
— Ai, para com isso! Depois de tanto sofrimento, você
— Sempre às ordens.
Catarina desliga, e começo também a pensar em
a nossa cara.
muito.
onde passam.
— Maravilhoso.
— A dor passou?
Dor? Eu já nem me lembro mais disso, o que sinto
Seus olhos recaem sobre meus seios, que agora estão bem
maiores, e a forma como ele me olha me faz sentir perfeita.
frase coerente.
cama, como tenho feito desde o início, para que ela possa se
alimentar imediatamente após acordar.
Desço para o escritório e fecho a porta, mas quando
antes.
— Bom dia!
me sinto a séculos.
tudo.
trás.
irmão de volta.
maneira presencial.
— Te incomodamos?
— Não, tudo bem. Foi você quem colocou aquela foto
na minha mesa?
seu lado.
— Pode ser.
Dou as costas a eles e sigo de volta para a biblioteca,
seguida.
— Então… Sei que já fiz isso antes, mas pretendo de
tempos em tempos reformular meu pedido de desculpas, na
vai ser esquisito, mas… estou feliz que esteja vivo, acho que
nunca te disse isso.
— Merda…
Encaro meu irmão e vejo quando seca o canto do olho,
você, Miguel, e acho que já deu, Sofia nem está mais nesse
mundo, não tem por que ficar entre nós.
— Nem acredito nisso, se eu também estivesse
sobre mim, nunca mais, eu não sou mais o homem que fui
um dia, só quero ficar perto de você, dos meus sobrinhos.
nisso, Miguel.
— Com certeza! Por mim é vida nova de agora em
diante.
poltrona até estar diante dele. Não vou mais perder tempo e
quero que ele entenda que isso é definitivo.
— O quê?
— Deixei alguém pra trás quando voltei.
— Uma mulher?
— E aí veio embora?
chega a me interromper.
amigavelmente.
está mesmo.
— E eu a dele.
— Bela? Falei com Miguel e ele disse que pode ficar
aqui, com Maitê. Quero saber se não quer ir comigo ao lago,
um piquenique…
aproveitar um pouco.
— Vamos.
mãos.
— Manjar Turco. Comprei ontem, na cidade, pensei
que fosse gostar.
— Isso.
Desamarro o lacinho de cetim e observo os cubinhos
— O que é isso?
— Veja você mesma, amor.
vida.
— Matteo…
casamento.
Matteo teve a brilhante ideia de trazer meus pais e
assim, minha mão vai ser bem cuidada e Julieta vai ter um
nos demos esse bebê, que vem para somar. Nossa família
fernamenta.
Encaro minha imagem uma última vez no espelho.
— Vamos?
olhos, me acalmando.
nervoso.
brincadeira.
assim.
que sei que ele não faria tudo sozinho, teve o dedo de
casar nos jardins, assim como o chá revelação foi feito aqui.
comigo.
E nós entramos.
estranhamente maravilhoso.
se tornou um pranto.
— Que foi, amor? Quer desistir de mim? — ele
pergunta, sorrindo.
noite.
Uma grande festa foi preparada, aos poucos as mesas
e cadeiras começam a encher, e Matteo e eu seguimos até a
Santo Deus...
médicos necessários.
querendo isso...
— Que foi?
meio constrangida.
— Mas Anabela...
— Matteo! Se eu não fizer agora, vou fazer na maca,
na frente do médico! Vai me deixar passar por essa
— MATTEO!
Abro a porta em um rompante e me deparo com
— Que foi?
— Tive uma sensação esquisita...
Ela me olha de um jeito estranho, é uma mistura de
medo e surpresa.
— Como assim?
Seus olhos demonstram puro pavor.
nascer agora!
coleção.
ainda não parece realidade para mim, mas isso está mesmo
acontecendo. Os leitores estão comprando e presenteando
lembrados.
sido um sucesso!
beleza.
Eu me troco no banheiro mesmo, para a cerimônia
desta noite vou usar calça e blusa social, mas caprichei nos
antes de sair.
atrasada, Bela!
andar de baixo.
Catarina e eu chegamos ao estacionamento e, de
— Mamãe! Mamãe!
um beijinho também.
oficializamos.
carro.
afastando da janela.
Desativo o alarme do meu carro e entro nele, seguindo
centímetros de mim.
não pode ser destruído por uma coisa como essa. De todo
mas agora, têm feito esses discursos de bom grado. Ele está
rede Vevet.
Arthurzinho.
com um sorriso.
sono.
— Eu vou dormir. Boa noite, mãe — ela diz, se
rosto.
1 canela em pau
MODO DE PREPARO
2 xícaras de açúcar
polvilhar)
MODO DE PREPARO
pra ferver.
mistura.
1 ovo
MODO DE PREPARO
Misture a manteiga, açúcar mascavo, açúcar, essência de
de chocolate).
1 cebola picada
MODO DE PREPARO
Adicione os tomates.
Casca de 1 laranja
Essência de baunilha
MODO DE PREPARO
deixe ferver.
fogo.
em finais felizes.
meu combustível para chegar até o final. Aqui não vou citar
nomes, mas vocês sabem quem são. Todos que estão nos
vocês, eu não teria escrito esse livro, se não fosse pelo amor
alguém.
pedir.
Letti Oliver. Meu Deus, não sei nem mesmo o que dizer
pelo Bruto e sua Bela comigo, bem antes que essa história
livro até mais que eu — e sim, dessa vez é com você mesma.
lindeza!
Bom, é isso. Se você chegou até aqui, agradeço em