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Meyer

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reproduzida ou transmitida por qualquer forma, meios eletrônicos ou
mecânico sem consentimento e autorização por escrito da autora.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos


descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com
nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.
Sumário
Sinopse
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Epílogo
Sinopse

Anelise sofreu o maior choque de sua vida aos 18 anos, quando teve
seu bebê, Peter, sequestrado de seus braços. Sem apoio da polícia, ela decidiu
mudar de vida para tentar esquecer. Sete anos depois, agora com 25 anos, ela
volta para sua cidade natal com apenas um objetivo: encontrar seu filho.
Após anos sem sair para se divertir, Anelise usa uma de suas
primeiras noites em sua cidade natal para beber e dançar. Ela só não contava
que seu caminho cruzaria com o de Liam, um homem bonito e sedutor, com
quem ela passa a noite. Anelise perceberia a consequência daquela diversão
crescendo em seu ventre semanas depois.
Liam, que por sua vez, havia terminado com sua namorada, não tinha
ideia de que seria pai. Foi só quando reatou o relacionamento e deu uma boa
olhada na melhor amiga de sua noiva que percebeu a furada em que se meteu.
Anelise não esperava que o pai do seu bebê se tornaria o noivo da sua
amiga de adolescência, e precisaria dar tudo de si para contornar a situação
sem que ninguém saísse machucado.
*Contém cenas inadequadas para menores de 18 anos.
Capítulo 1

Era estranho estar de volta. Depois de sete anos morando em Berlim,


eu finalmente decidi voltar para Frankfurt, minha cidade natal. Lugar onde eu
morei até os meus dezoito anos.
— Anelise, onde ficará essa caixa? — perguntou minha mãe.
— Não toque nisso — falei, com a voz alterada.
Fui até ela e tirei a caixa de suas mãos.
— Tudo bem, mas você trouxe muitas coisas. Penso que não terá
espaço para tudo, o quarto é pequeno.
— Tudo bem, mãe. Eu vejo isso mais tarde. Agora quero descansar
um pouco.
— Já vi que esse quarto voltará a ser a mesma bagunça de sempre —
reclamou a mais velha.
Apenas suspirei. Tinha esquecido como minha mãe conseguia ser
desagradável e insensível.
Ela saiu do quarto ainda reclamando.
Abri a caixa. Era de papelão, não muito grande. Dentro estavam
roupinhas de bebê, o bebê que um dia eu tive.
Não consegui conter a emoção, as lágrimas rolaram pelo meu rosto.
Mesmo depois de tanto tempo, eu ainda chorava como se fosse no primeiro
dia.
Quando tinha dezessete anos, conheci um garoto, Caleb. Ele era
alegre e divertido. Tivemos uma conexão imediata. Eu não gostava muito de
seguir regras, e ele fazia o estilo bad boy. Nós saíamos sem ter hora para
voltar. Só queríamos nos divertir. Meus pais eram contra, falavam que ele
não era companhia para mim.
Muitas vezes matávamos aula para namorar. Para nós tudo era
diversão. Até que descobri que estava grávida. Levamos um choque com a
notícia, mas fomos muito maduros, decidimos que ficaríamos juntos e
criaríamos nosso filho da melhor forma possível.
Meus pais enlouqueceram na época, mas com o tempo, acabaram
aceitando. Caleb era o mais empolgado, toda aquela armadura de garoto
rebelde sumiu. Estávamos focados em ser ótimos pais.
Consegui me formar no ensino médio com muito esforço. Eu estava
com oito meses de gestação na formatura. Apesar de estar com muitas dores,
foi um momento muito especial para mim.
Quando o bebê nasceu, foi o dia mais feliz da minha vida. Demos o
nome de Peter, era um menino lindo e saudável.
Eu ainda morava com meus pais, não pretendia trabalhar ou fazer
faculdade, queria me dedicar somente a Peter, já que tinha a ajuda financeira
de meus pais.
Caleb arrumou um emprego. Também se privou do seu sonho de
fazer faculdade, pelo menos até o bebê crescer um pouco.
Amadurecemos muito rápido. Nem parecíamos os jovens sem
responsabilidade que éramos antes.
Enquanto víamos todos os nossos amigos indo para festas, nós
estávamos cuidando de um bebê, mas não reclamávamos. Estávamos
apaixonados pela nossa nova vida. Peter era tudo para nós.
Quando o bebê tinha três meses, já estávamos fazendo planos de
morar juntos. Caleb estava ganhando dinheiro no seu emprego e nossos pais
ajudavam. Foi aí que tudo mudou.
Caleb trabalhava muitas horas, fazia turnos extras para ganhar mais
dinheiro. O resultado era que eu passava boa parte do tempo sozinha com o
bebê. Meus pais, apesar de ajudarem financeiramente, nunca foram muito
afetivos. Quando eu precisava de algo, eles estavam lá, mas não morriam de
amores de bebê. Apenas aceitaram.
Era um dia nublado, lembro como se fosse hoje. Eu fui em uma
consulta rotineira com o Peter. Estava há duas quadras de casa, quando um
carro cinza parou ao meu lado. Gelei no mesmo instante, pensando que
poderia ser um assalto, mas era mil vezes pior. Um homem alto e loiro saiu
de dentro do carro, veio até mim e simplesmente pegou o bebê de meus
braços. Eu lutei com todas as minhas forças, fiz de tudo para tentar impedir,
mas ele era mais forte do que eu. Eu esperneava, pedia ajuda, gritava por
socorro, mas ninguém me ajudou. A rua estava deserta, e se alguém ouviu,
não fez nada para ajudar.
Ele entrou no carro, havia outra pessoa com ele, alguém dirigindo.
Eles deram partida e foram embora. Tentei memorizar a placa do carro, mas
foi em vão, eu não conseguia fazer nada naquele momento. Estava em
choque.
Fui correndo até a polícia e falei que meu bebê havia sido
sequestrado, mas ninguém deu muita importância. Dias depois acharam o
carro abandonado. Era um carro roubado, o dono tinha dado queixa há uns
dias atrás, mas era só isso, um carro roubado. Não tinha nenhuma prova que
meu bebê havia sido sequestrado. Nenhuma pista, nada.
Depois disso, Caleb e eu terminamos nosso relacionamento. Ele me
culpava pelo que havia acontecido. Disse que eu não havia lutado o
suficiente, que entreguei o nosso bebê, o que não era verdade.
Depois de meses de procura, eu decidi seguir com minha vida. Me
mudei para Berlim, comecei a trabalhar em um pequeno mercado, fiz
faculdade de marketing e consegui me formar. Apesar de minha vida estar
entrando nos eixos, eu nunca esqueci Peter. Não teve um dia que não pensei
nele. Eu nunca consegui superar. Nunca mais tive a mesma alegria de viver.
Minha vida era incompleta, e seria assim até o dia em que eu o encontrasse
novamente.
Eu não sabia se ele estava vivo ou morto, mas meu coração sentia que
estava vivo. Era como se, de certo modo, eu conseguisse me comunicar com
ele.
Eu ainda comemorava seu aniversário, todo ano, pois sabia que ele
estava em algum lugar, eu só precisava o encontrar.
Depois de ser demitida da empresa de marketing onde trabalhava,
decidi voltar para casa. Eu iria procurá-lo, e iria encontrar. Se a polícia não
quisesse me ajudar, eu iria fazer sozinha.
Havia ganhado um bom dinheiro na demissão, e iria usar para alugar
um apartamento, não pretendia ficar na casa de minha mãe. Nunca nos demos
bem de verdade. Pretendia ficar apenas algumas semanas, queria alugar um
apartamento pequeno e arrumar um emprego. Eu sabia que não seria tão
difícil, eu era formada, tinha experiência e era uma ótima profissional.
Depois de instalada, iria seguir com o plano de procurar o meu filho,
e sabia que dessa vez, eu iria encontrá-lo.
Capítulo 2

Eu estava em casa há apenas dois dias, mas já estava fazendo um


currículo. Queria arrumar um emprego o quanto antes. Precisava de um
apartamento, morar com minha mãe não era uma opção. Pelo menos eu ainda
tinha uma boa reserva de dinheiro. Tinha o suficiente para me manter por um
tempo.
Era uma quarta-feira fria e nublada. O outono se aproximava. A rua
já estava repleta de folhas de árvores no chão.
Pensei em aproveitar o final de tarde para dar uma volta na
vizinhança. Quem sabe encontrar alguns dos velhos amigos. E no final de
semana, estava pensando em procurar uma festa, eu precisava distrair a mente
um pouco.
Fui até o guarda roupas, precisava de um casaco mais quente. A
temperatura estava baixa.
Optei por um casaco vermelho de lã. Eu adorava a cor vermelha,
sempre achei que combinava muito comigo.
Observei meu reflexo no espelho. Minha pele parecia estar mais
pálida do que o normal. Decidi usar um pouco de maquiagem. Um batom
rosado nos lábios e máscara de cílios. Soltei meus cabelos loiros, deixando-os
com leves ondas.
Antes de sair, olhei para meu quarto. Ainda havia caixas espalhadas
pelos cantos. Eu não havia guardado tudo. O quarto era minúsculo, não tinha
espaço para nada. O jeito seria deixar em caixas até eu mudar para minha
nova casa. O difícil seria ouvir minha mãe reclamando.
Estar naquele quarto novamente era um misto de sentimentos. Passei
toda minha infância e adolescência nesse lugar. Muitos momentos bons, e
alguns ruins.
Lembrei do dia em que descobri a gravidez. Eu deitei na cama e
chorei por horas. Estava assustada, não sabia o que fazer. Era como seu eu
revivesse tudo de novo. Eu via a Anelise de dezessete anos outra vez, como
se fosse um filme passando na minha mente. Lembro que depois de chorar,
eu fui até a casa de Caleb e contei tudo para ele. Senti um alívio enorme no
momento em que ele disse que ficaria ao meu lado. Eram lembranças que
insistiam em ficar em minha mente.
Enquanto saía de casa, pensei onde estaria Caleb. Eu nunca mais tive
notícias dele. Na verdade, nunca mais tive notícias de ninguém. Nem mesmo
de minha melhor amiga, Mayla. Quando fui para Berlim, eu queria esquecer
de tudo. Na minha cabeça, estar em um lugar novo, me faria esquecer de tudo
e começar uma vida nova, mas é claro que eu estava errada.
Caminhei em passos lentos pelo bairro. Fui até uma pequena praça,
era o nosso ponto de encontro. Costumávamos passear nesse lugar.
Olhei para todos os lados, procurando alguém conhecido, mas nada.
Havia algumas crianças brincando e alguns adolescentes conversando, mas
eu não conhecia ninguém. Por um instante esqueci que o tempo havia
passado, esqueci que já tinha vinte e cinco anos, e que provavelmente todos
já teriam se mudado, quem sabe casados e com filhos.
Sentei em um banco e observei as crianças brincando. Um garotinho
me chamou atenção. Era loiro e magro, assim como eu. Ele deveria ter mais
ou menos uns sete ou oito anos, a idade que meu filho teria hoje. Será que
poderia ser ele?
Eu não conseguia evitar, todos os garotos que via, sempre pensava
que poderia ser meu filho, mas nunca era.
Suspirei desanimada. Era isso, eu não havia encontrado ninguém.
Algumas lembranças vieram à minha mente. Aqui nesse mesmo
banco. Em uma tarde de primavera, eu e Mayla matamos aula e viemos para
cá. Ela estava péssima. Tinha levado um fora de um garoto, e tudo que queria
fazer era chorar e desabafar. Ficamos nessa praça por horas, eu a ouvia e
aconselhava, mas era em vão. Ela ainda levou um bom tempo para se
recuperar daquele fora. Mayla sempre foi intensa, principalmente quando se
tratava de relacionamentos amorosos, sempre se apegava rápido demais.
Pensei em passar na sua casa, mesmo que ela não morasse mais lá, eu
poderia falar com sua mãe, quem sabe pegar seu telefone.
Segui o caminho para casa de Mayla, que ficava no meu caminho de
volta.
A casa parecia a mesma, exatamente como era antes, sem reformas
ou grandes mudanças, pelo menos por fora.
Bati na porta, e não demorou para a mãe de Mayla atender.
— Senhora Klein?
— Anelise! É você?
Ela parecia surpresa ao me ver.
— Sim, sou eu.
Ela abriu os braços e me chamou para um abraço.
A senhora Klein era uma ótima pessoa, sempre nos demos muito
bem. Muitas vezes ela me entendia mais do que a minha própria mãe.
Quando a abracei, eu percebi o quanto eu estava com saudades.
— Você está de volta? Mayla vai adorar ver você.
— Ela ainda mora aqui? Está em casa?
— Sim, ela acabou de chegar do serviço. Está no quarto. Vou chama-
la. Sente e fique à vontade.
Sentei no pequeno sofá e esperei.
A casa era modesta, como sempre foi. A maioria dos móveis eram os
mesmo de sete anos atrás. A televisão era enorme e parecia ser nova, recém
comprada.
Lembrei das noites em que eu e Mayla passávamos naquele mesmo
sofá, assistindo a filmes de terror até de madrugada. Depois disso morria de
medo de dormir sozinha, e na semana seguinte, quando estava começando
esquecer, íamos lá e assistíamos a outro. Era divertido. Me fazia bem
relembrar os bons momentos.
— Ah, meu Deus! Anelise? — exclamou Mayla, entrando na sala.
Estava com os cabelos mais curtos, um pouco acima dos ombros, e
talvez um ou dois tons mais escuros do que antes.
Fui até ela e nos abraçamos.
— Eu senti tanto a sua falta — sussurrei.
— E eu a sua. Por onde você andava? Porque não mandou notícias?
O que tem feito?
Ela parecia empolgada.
— Eu só queria fugir de tudo, mas agora estou de volta.
— Você vai me contar tudo. Senta aqui — falou sorridente.
Contei tudo para Mayla e sua mãe. Falei sobre ter me formado em
marketing, sobre o meu emprego, sobre os casos amorosos que tive durante
esse tempo. Resumi tudo que vivi nesses sete anos longe. Elas ouviam cada
palavra com muita atenção.
— Agora estou de volta e estou decidida a encontrar meu filho —
expliquei.
— Anelise, já faz tanto tempo. Penso que você só irá se machucar —
falou Mayla.
— Eu vou encontrá-lo, eu sei, eu sinto. Ele está em algum lugar
esperando por mim. Eu nunca deveria ter ido embora, devia ter ficado e
enfrentado a situação. Fugir não foi a solução — lamentei, descendo o olhar
para o tapete.
— Não fique assim, querida. Você era apenas uma criança, não teve
culpa de nada — falou a mais velha.
— Eu sei, mas eu era a mãe, eu deveria proteger meu filho, mas não
consegui — lamentei.
— Vamos parar com esse clima triste. Você vai ficar para jantar?
Posso fazer alguma coisa que você goste. Acho que ainda lembro dos seus
gostos.
— Obrigada, senhora Klein. Estava mesmo com saudades da sua
comida — falei, forçando um sorriso.
As duas ficaram ao meu lado quando tudo aconteceu. Apesar de
terem me dado todo o apoio, eu sentia que estava sozinha. Ninguém
acreditava quando eu falava que iria encontra-lo. As respostas eram sempre
as mesmas: esqueça isso, já passou, só vai se machucar, mas para uma mãe,
era impossível esquecer um filho, principalmente quando ele foi arrancado de
você.
Assim que a senhora Klein foi para a cozinha, tentei mudar o assunto.
Falar de meu filho era algo extremamente doloroso.
— E você? Está namorando? — perguntei para Mayla.
— Eu estava. Estávamos juntos há meses, mas terminamos há alguns
dias. Estou tentando me distrair e esquecer, mas a verdade é que sinto muita
falta dele — lamentou Mayla.
— Então nem vamos falar sobre isso. Sua mãe disse que você acabou
de chegar do trabalho, o que está fazendo?
— Trabalho em uma loja de departamento, perto do centro da cidade.
É um trabalho bem cansativo, mas já estou acostumada. Faz dois anos que
estou lá.
Senti uma certa tristeza em sua voz. Mayla tinha o sonho de ser
arquiteta. Fazíamos grandes planos de ir para a faculdade juntas. Pensei que
talvez ela nunca tivesse entrado para a faculdade, caso contrário, teria falado,
por isso decidi não perguntar.
Passamos o tempo falando sobre o passado. Relembramos situações
engraçadas e constrangedoras que passamos juntas.
Logo a comida ficou pronta.
— Está maravilhosa, senhora Klein. Como eu senti falta da sua
comida.
— Obrigada. Agora que está de volta, poderá vir jantar conosco,
como nos velhos tempo.
— Eu virei, com certeza.
— Finalmente tenho minha amiga de volta! — comemorou Mayla.
Ainda estávamos falando sobre histórias do passado, quando lembrei
de uma quase briga nossa. Um das poucas vezes que nos desentendemos.
— Lembra quando você ficou brava comigo por conta daquele
garoto? Como era mesmo o nome dele?
— Adam. E sim, lembro.
Mayla ficou seria. Percebi que ainda havia ressentimento. Fiquei
surpresa com sua reação.
Tínhamos apenas quatorze anos quando chegou um garoto novo na
escola. Quase todas as meninas ficaram interessadas nele, inclusive eu e ela.
Tentávamos de tudo para chamar a atenção de Adam, até que um dia, deu
certo. Ele me chamou para tomar um sorvete depois da escola. Eu fiquei
radiante. Contei para Mayla, mas sua reação foi a pior possível. Ela ficou
brava, com ciúmes, falava que eu estava a traindo. Ficamos dias sem nos
falar, até resolvemos a situação. Eu achei tudo aquilo ridículo. Se fosse
comigo, eu ficaria feliz por ela. Era apenas um garoto bonito, não era algo
sério, e pensava que para ela, era somente isso também, mas não era. E
quanto a Adam, fomos na sorveteria, mas depois disso nunca mais saímos
juntos. Éramos totalmente diferentes.
O jantar foi muito agradável. Foi ótimo passar um tempo com Mayla
e sua mãe. De certa forma, eu voltei para minha adolescência.
Já era noite quando voltei para casa. Eu adorava a noite, sempre
gostei, desde criança.
Olhei para o céu, à procura de alguma estrela, mas nada. Estava
nublado, seria impossível ver qualquer coisa.
Depois de uma rápida caminhada, eu estava de volta em casa, ou
melhor, em minha casa provisória.
— Onde você estava até essa hora? — perguntou minha mãe, assim
que entrei.
— Na casa de Mayla. Jantei com ela e sua mãe.
— O seu pai ligou.
— Você contou para ele que eu estou aqui?
— Claro que sim, é seu pai. Ela disse que irá ligar amanhã. Quer
saber como você está.
— Tudo bem.
Meus pais se separaram logo depois que me mudei para Berlim.
Agradeci por estar longe quando tudo aconteceu, pois mesmo não sendo
muito apegada a eles, eu sabia que iria sofrer.
Eu estava surpresa era por eles terem ficado tanto tempo junto. Para
mim, eles nunca se amaram de verdade. Nunca vi um momento romântico
entre os dois. Eles pareciam mais acomodados.
Os dois tinham na casa dos cinquenta anos, ainda poderiam encontrar
outros companheiros, e eu torcia para isso acontecer, principalmente minha
mãe. Quem sabe se um dia se apaixonasse de verdade, deixaria de ser tão
seca.
Fui para meu quarto feliz com a noite que tive.
O próximo passo seria tentar me distrair. Iria procurar alguma festa
para o final de semana. Eu estava precisando.
Capítulo 3

Era sexta-feira, e tudo que eu queria fazer era relaxar e me divertir


um pouco.
Eu havia passado os últimos dois dias procurando apartamentos,
minha mente estava precisando de um descanso.
Eu havia encontrado um que me chamou atenção. Ficava bem
centralizado, o que facilitaria meu futuro emprego. O valor do aluguel era no
limite do aceitável. Era pequeno, mas pelas fotos, parecia ser muito
aconchegante. Eu faria uma visita na segunda-feira para decidir se ficaria ou
não com esse.
Fui para o banheiro. Iria tomar um banho quente e demorado.
Mais tarde iria para uma festa. Convidei Mayla para ir comigo, mas
ela recusou. Disse ainda estar chateada pelo término do namoro. Eu insisti,
disse que seria bom para se distrair, mas ela não cedeu. Como ainda não
havia conseguido encontrar com nenhum ex-amigo, decidi que iria sozinha,
seria uma boa oportunidade para conhecer novas pessoas.
O lugar não era muito longe, o que era bom, não gastaria muito
tempo para ir e vir.
Depois do banho, fui para meu quarto.
Observei minhas roupas ainda de toalha.
O clima estava frio, mas sabia que ficaria com calor na pista de
dança.
Optei por uma calça jeans azul clara um cropped vermelho e fino de
mangas longas e um bom e grosso casaco.
Aproveitei a oportunidade para caprichar na maquiagem. Usei
marrom e preto nos olhos e vermelho escuro nos lábios.
Nos cabelos, fiz uma chapinha, os deixando completamente lisos.
Depois de pronta, observei meu reflexo no espelho. Eu estava
maravilhosa.
Sempre fui muito confiante e vaidosa, mas depois do ocorrido, tinha
épocas que eu mal me cuidava. Queria mudar isso, eu era uma mulher
incrível, com muitas qualidades, precisava da minha autoestima de volta.
Peguei a minha pequena bolsa preta e sai do quarto.
— Mãe, já estou indo.
— Que horas você volta?
— Eu não sei, não me espere acordada. Eu peguei a chave extra.
— Tudo bem, se cuide e juízo.
— Pode deixar.
Saí de casa e chamei um Uber.
A primeira coisa que compraria depois de achar um emprego seria
um carro. Eu adorava dirigir. Tirei minha habilitação ainda bem jovem,
porém em Berlim eu morava perto de tudo. Ia a pé para todo lugar, não tinha
necessidade de carro, mas agora era diferente. Eu precisava de um. Queria
poder me locomover com mais segurança e liberdade.
A viagem foi mais rápida do que imaginei. O lugar era praticamente
na vizinhança.
Assim que entrei, gostei do lugar de cara. Não era muito grande, mas
estava quase lotado.
Havia muitas pessoas na pista de dança, algumas no bar, e outra
apenas tentando conversar em um canto qualquer.
Fui até o bar e pedi uma bebida, eu precisaria de um empurrãozinho
para me animar, fazia tempo que não ia em uma festa.
Senti o meu corpo inteiro esquentar assim que terminei a primeira
taça.
Fui em direção à pista de dança. Estava tocando uma música que eu
nunca tinha ouvido, mas era bem agitada, então só deixei me levar pela
batida.
Eu estava na segunda música, dançando como se não houvesse
amanhã, foi quando eu o vi.
Era um homem alto, moreno e muito bonito.
Seu olhar se encontrou com o meu.
Ele se aproximou, não o suficiente para dançarmos juntos, mas
estávamos próximos.
Ainda estávamos trocando olhares quando a música terminou, e então
uma mais lenta começou a tocar.
Saí um pouco desnorteada e fui em direção ao bar. Aquele homem
havia mexido comigo. Seu olhar era intenso e penetrante, sem falar que ele
era absurdamente bonito.
— Preciso de mais uma bebida — falei para o atendente.
— Pode deixar por minha conta. — Ouvi uma voz.
Olhei para o lado. Era ele.
— Não precisa — falei.
— Eu insisto — respondeu sorrindo.
— Obrigada.
Bebi o primeiro gole, e mais uma vez, senti meu corpo esquentar. O
que provavelmente não aconteceu por conta da bebida, e sim por estar perto
daquele homem.
Ele se aproximou em alguns centímetros.
— Qual seu nome?
— Anelise, e o seu?
— Liam.
Ele pediu uma bebida para ele também.
Enquanto bebíamos, pensei que ele puxaria algum assunto, mas não.
Ficamos em silêncio, apenas bebendo e de vez em quando, trocando alguns
olhares.
Assim que terminei a bebida, ele se aproximou mais uma vez.
— Quer dançar?
— Claro.
Seguimos para a pista.
Estávamos dançando próximos um do outro.
A luz era fraca, mas consegui perceber que seus olhos eram azuis ou
verdes, eu não tinha certeza. Só sabia que eram claros.
Virei de costas e mexi meu quadril contra seu corpo.
Pela primeira vez, ele me tocou. Sentir o seu toque me fez querer
mais.
Eu roçava meu corpo contra o dele. Liam parecia gostar cada vez
mais daquela situação.
Quando virei de frente pra ele, Liam me envolveu em seus braços e
me beijou.
Era um beijo ardente. Suas mãos apertavam com força minha cintura,
enquanto eu acariciava sua nuca.
Ele me puxava cada vez para mais perto. Suas mãos deslizavam até a
minha bunda, e em seguida voltavam para minha cintura novamente.
Nos separamos por um instante. Liam afastou o cabelo de meu
pescoço, beijando-o em seguida.
Fechei os olhos e aproveitei.
Ele beijava e dava leves chupões, fazendo meus pelos se arrepiarem.
— Quer ir para outro lugar? — sussurrou em meu ouvido.
Mesmo meu cérebro falando que era perigoso sair de uma festa com
um estranho, eu não liguei. Sabia que não era o certo, mas eu queria isso,
meu corpo estava implorando.
— Quero — respondi com um sorriso sugestivo.
Fomos para a rua.
— Meu carro está ali.
— É um lindo carro — comentei.
Ele apenas sorriu.
— Você quer ficar aqui no carro ou prefere ir para um lugar mais
confortável? — perguntou.
— Eu prefiro um lugar mais confortável, mas não sei, você bebeu,
não acho seguro dirigir.
— Não se preocupe com isso. Eu bebi apenas um drink, e conheço
um lugar há algumas ruas daqui. Não vamos demorar mais de um minuto
para chegar.
— Tudo bem.
Liam tinha razão. Chegamos rapidamente. Andamos apenas duas ou
três ruas.
Saímos do carro e entramos em uma recepção.
O lugar era grande, não era muito luxuoso, mas a recepção era muito
bem decorada.
— Um quarto, por favor — pediu Liam.
Pegamos uma chave e fomos até o quarto.
Era bem espaçoso. A cama parecia muito confortável.
Assim que fechamos a porta, Liam veio até mim e me beijou
ferozmente.
Suas mãos foram diretamente para minha bunda, apertando com
força.
Nos separamos por um instante. Pude observar seu rosto com clareza.
Definitivamente seus olhos eram azuis.
Os beijos estavam ficando cada vez mais urgentes.
Sem descolar nossos corpos, caminhamos lentamente até a cama.
Tirei minha blusa, e Liam fez o mesmo com sua camiseta.
Deitei na cama e senti seu corpo em cima do meu.
Ele voltou a me beijar enquanto suas mãos acariciavam meu corpo.
Sua barba por fazer roçava em minha pele. Nossas respirações
estavam ofegantes. Eu já estava explodindo de tesão.
Liam levantou e se provisionou entre minhas penas. Ele abriu o botão
de minha calça jeans, em seguida, desceu o zíper. Levantei o quadril para
facilitar.
Ele tirou minha calça, pensei que tiraria minha calcinha também, mas
não o fez.
Eu estava apenas de calcinha e sutiã.
Liam voltou sua atenção para meus lábios, com beijos ainda mais
quentes. Ele fez uma trilha até meu pescoço, deixando chupões e beijos.
Desceu meu sutiã, deixando meus seios à mostra. Ele passou os
dedos levemente em meu mamilo, antes de usar a boca. Ele revessava entre
os dois seios. Lambia, chupava e apertava.
Sua boca deslizou por minha barriga, até chegar em minha calcinha.
Liam abriu minhas pernas com delicadeza, então beijou a parte de dentro das
minhas coxas. O homem colocou minha calcinha para o lado e passou a
massagear meu clitóris com os dedos.
Soltei um gemido ao sentir seu toque.
Eu já estava completamente molhada.
Liam tirou minha calcinha. Abriu minhas pernas novamente e
começou a me chupar.
Ele usava a língua em movimentos lentos, me deixando cada vez com
mais tesão.
Coloquei minhas mãos em seu cabelo e puxei forte. Ele percebeu que
eu queria mais velocidade, então o fez.
Liam usou um dedo para me penetrar.
Eu me contorcia na cama. Ele usava a língua e os dedos. Aumentando
cada vez mais a velocidade.
Levantei e o puxei para mim, beijando seus lábios, provando meu
próprio gosto em sua boca.
— Agora será minha vez — sussurrei.
O fiz deitar na cama.
Ele tirou a calça jeans rapidamente, ficando apenas de cueca.
Passei a mão em seu pênis. Estava extremamente duro.
Fiquei de quatro na cama, de frente para ele. Tirei sua cueca.
Comecei com movimentos suaves de vai e vem.
Olhei para Liam e ele estava gostando do que estava vendo.
Coloquei seu pênis na boca, bem devagar. Eu queria o ver explodindo
de tesão, assim como fez comigo.
Aumentei os movimentos gradativamente, mas ainda sem conseguir
colocar tudo na boca. Eu usava as mãos e a boca, em movimentos rápidos.
Liam movia o quadril, me fazendo quase engasgar com seu pau em
alguns momentos, mas eu estava gostando da sensação.
Enquanto eu ainda estava chupando, vi Liam se esticando na cama
para alcançar sua calça. Ele pegou sua carteira que estava no bolso, em
seguida pegando uma camisinha.
Deitei na cama de barriga para cima.
Depois de protegido, ele veio até mim e me penetrou lentamente.
Cravei minhas unhas na pele do seu braço e gemi.
Liam me beijava enquanto aumentava a velocidade.
Suas mãos apertavam um de meus seios, as vezes passando os dedos
pelo mamilo enrijecido.
Liam colocou força nas estocadas, me fazendo delirar. Eu sabia que
não demoraria para ter um orgasmo.
Fechei os olhos e senti meu corpo inteiro estremecer.
Depois de mais algumas estocadas, Liam soltou um gemido discreto,
caindo ofegante ao meu lado.
Ele olhou para mim com um sorriso nos lábios.
Ficamos em silêncio por um instante. Apenas recuperando nosso
fôlego.
Depois de um banho rápido. Liam me deixou em casa. Não falamos
sobre futuros encontros, nem trocamos telefone, apenas nos despedimos com
um beijo.
O observei até o carro sair completamente da minha visão. Apesar de
não saber nada sobre ele, nem mesmo onde morava, eu torcia para encontra-
lo novamente.
Capítulo 4

Acordei quase meio dia.


A primeira coisa que veio em minha mente foi: eu transei mesmo
com um cara desconhecido ou foi apenas um sonho?
Demorei alguns segundos para perceber que não havia sido um
sonho. Era real.
Apesar de ter sido algo muito imprudente, eu não me arrependia. Eu
estava mesmo precisando de uma noite de sexo. Queria me distrair, e Liam
havia feito muito bem esse papel.
Levantei e fui até a cozinha. Precisava de uma xícara bem cheia de
café.
Assim que entrei, encontrei minha mãe preparando o almoço.
— Acordou tarde — comentou, enquanto descascava algumas
batatas.
— Eu estava com sono atrasado.
— E a festa? Não vi você chegar ontem à noite.
— Foi ótima, muito divertida.
Peguei um pouco de café que estava pronto na cafeteria, ainda estava
morno, coloquei alguns segundos no micro-ondas para deixar bem quente, do
jeito que eu queria.
Ela não fez mais perguntas, e eu também não fiz questão de contar
detalhes. Nunca fomos muito íntimas, e agora depois de sete anos longe,
menos ainda.
Peguei um pacote de biscoitos e fui tomar meu café na sala.
Durante a tarde, aproveitei para relaxar. Passei o resto do dia
assistindo filmes. De vez em quando, Liam vinha em minha mente. Era
impossível esquecer um homem como aquele.

[...]
Acordei cedo na segunda-feira. Eu iria visitar um apartamento. Eu
estava esperando por esse momento desde o dia que voltei para casa.
Vesti uma roupa quente e fui para a rua pedir um Uber.
Cheguei no lugar marcado depois de alguns minutos de viagem.
O local ficava há cerca de vinte minutos da casa de minha mãe.
Assim que cheguei, fiquei apaixonada pela vizinhança. Eu já
conhecia o bairro. Pelas lembranças que tinha, era um lugar muito familiar. O
melhor era que ficava perto do centro da cidade.
O prédio não era muito alto. Tinha seis andares. O meu era no quinto.
Percebi que havia uma pequena praça perto dali. Seria um ótimo
lugar para levar meu filho, Peter. Tinha algumas árvores, balanço e
escorregador. Por um instante, nos imaginei brincando naquela praça. Eu não
conseguia evitar, sempre que via uma criança com a idade aproximada da
sua, eu pensava que poderia ser ele, mesmo sabendo que não era.
No momento em que coloquei os olhos no lugar, eu me apaixonei.
Era lindo, e muito bem decorado, claro que eu daria uns toques pessoais.
Colocaria algumas flores. Não era muito grande, mas era perfeito para uma
pessoa.
A decoração era clara. Tudo muito iluminado. Havia uma grande
janela na sala, fazendo com que entrasse muita luz natural.
A sala era o maior cômodo. Tinha um sofá retrátil cinza, um tapete
também cinza e uma mesinha de centro. Em frente ao sofá, um painel com
uma televisão grande, não era enorme, mas era maior do que a que tinha na
casa de minha mãe. A cozinha era pequena e simples, não tinha tantos
eletrodomésticos quanto eu queria, mas eu daria um jeito. Faria umas
compras o quanto antes.
— Então, o que achou? — perguntou o corretor de imóveis.
— Eu amei! É incrível.
— É muito bem localizado.
— Sim, pretendo trabalhar aqui no centro, irá facilitar bastante.
— Com certeza ele não ficará no mercado por muito tempo.
Fui até a grande janela e olhei a vista. Apesar de não ser tão alto, era
lindo. Eu tinha uma ótima visão de parte da cidade. Eu podia ficar
observando a rua por horas.
— Você tem razão. Vou ficar com ele.
— Excelente escolha — disse o homem, sorrindo.
— Tenho certeza que passarei bons momentos aqui.
O aluguel era no limite do meu orçamento. Deixei três meses pago, o
que era bom, não precisaria me preocupar por três meses, caso demorasse a
encontrar um novo emprego. O bom era que ainda havia sobrado um pouco,
mas eu precisaria economizar, deixaria para comprar o que ainda estava
faltando somente depois de estar empregada.
Voltei para casa animada. Eu mal podia esperar para estar no meu
apartamento. A mudança seria em poucos dias.
Quando entrei em casa, encontrei minha mãe sentada no sofá,
assistindo televisão.
— Aluguei um apartamento — falei, empolgada.
Ela pareceu um pouco surpresa. Talvez não esperasse que eu fosse
alugar assim tão cedo.
— Onde fica?
— Não muito longe, cerca de vinte minutos de carro. Ele é bem
pequeno, mas eu adorei — falei sorrindo.
— Se acha que é o certo a fazer, então tudo bem.
— Assim que eu me instalar, vou levar a senhora lá, e o pai também.
Aliás, preciso contar essa novidade para ele. Vou ligar para ele mais tarde.
— Bom, vou indo preparar o almoço.
— Tudo bem, deixe comigo. Hoje eu faço o almoço. Quero fazer
alguma coisa, estou muito animada para ficar parada. O quer comer?
— Tanto faz. O que você fizer está bom.
Ela voltou sua atenção para a televisão. Não mostrou tanta
empolgação, mas também não foi contra. Exatamente como imaginei que
seria.
Fui para a cozinha e chequei a geladeira. Não havia tantos
ingredientes como eu gostaria, na verdade, não tinha muitas opções.
Lembrei que tinha alguns bifes no congelador, então optei por fazer
Schnitzel. Iria fritar algumas batatas para acompanhar. Era uma combinação
sem erro.
Eu gostava de cozinhar. Tive que aprender na marra quando me
mudei sozinha para Berlim, no começo não gostava, muitas vezes optava por
pedir comida pronta, mas com o passar do tempo, fui pegando gosto pela
culinária. E hoje em dia, adorava experimentar receitas novas. Me arrependia
por não ter me apaixonada pela culinária antes.
Capítulo 5

Hoje seria o dia da mudança.


Eu não tinha móveis ou coisas grandes, apenas malas e caixas.
Meu pai viria me buscar e depois me levar até o novo apartamento.
Mayla comentou que também queria estar presente, mas ela disse que
talvez tivesse um encontro com o ex-namorado. Pelo o que ela contou, eles
estavam tentando se reconciliar. Eu não sabia nada sobre ele, não sabia o
motivo do término, achei melhor não perguntar, já que ela estava sofrendo,
mas caso eles votassem, eu iria querer saber de tudo.
Eu estava no meu quarto, terminando em encaixotar algumas coisas.
A caixa com os objetos do Peter já estava separada. Nada era mais importante
para mim do que aquela caixa.
— Anelise, seu pai está aqui — gritou minha mãe.
— Já estou indo.
Olhei mais uma vez para o quarto, me despedindo.
Eu estava feliz por me mudar. A partir de agora, iria começar uma
nova etapa da minha vida, e o que eu mais queria, era encontrar meu filho.
Segui até a sala.
— Pai!
Fui até ele e o abracei.
— Senti sua falta — comentou.
— Também senti a sua.
— Você parece ótima.
— Eu estou bem. Quero começar uma nova vida aqui.
— Isso é muito bom. Eu e sua mãe podemos visitá-la sempre.
— Sim, não pretendo mais ficar tão longe.
— Eu vou levando essas caixas para o carro — avisou meu pai.
— Tudo bem. Eu levo essas.
Peguei as últimas que estavam faltando.
Voltei para dentro para me despedir de minha mãe.
— Eu espero a senhora no domingo, para almoçarmos juntas.
— Estarei lá. Até domingo.
Nos abraçamos. Apesar de nunca termos sido tão apegadas como eu
gostaria, eu a amava e sentiria sua falta.
Entrei no carro do meu pai e acenei mais uma vez para minha mãe.
— E como é a vizinhança? — perguntou meu pai, dando partida no
carro.
—Muito boa pelo que eu vi, gostei bastante do lugar.
— Assim que possível, virei visitar você.
A relação com meu pai não era muito diferente da com minha mãe.
Não éramos tão apegados. Não costumávamos brigar, éramos apenas
distantes.
— A mãe virá almoçar comigo no domingo. Também pode vir se
puder, ou podemos marcar um outro dia.
— Eu aviso você.
Assim que chegamos, meu pai me ajudou a subir com as caixas.
Nos despedimos rapidamente.
Eu fiquei na janela e o observei até que sumisse completamente da
minha visão.
Voltei a atenção para a minha sala de estar. Estava bagunçada, com
caixas e algumas coisas espalhadas, eu teria algumas horas de trabalho pela
frente até colocar tudo em seu devido lugar.
Eu estava finalizando a organização quando senti uma brisa gelada.
Olhei para a janela que ainda estava aberta. A noite já havia caído. Tinha
tantas coisas para colocar no lugar, que não percebi o tempo passar. Eu já
estava ali há horas.
Meu estômago estava roncando. A última coisa que havia comido
tinha sido o almoço, ainda na casa da minha mãe.
Decidi sair para comer alguma coisa. Seria uma boa oportunidade
para conhecer um pouco o bairro e os vizinhos.
Coloquei apenas um casaco por cima da roupa que estava vestindo.
Peguei o dinheiro e saí à procura de algum restaurante ou lanchonete. Eu não
sabia exatamente o que queria comer, só sabia que estava com fome.
A noite estava mais fria do que pensei que estaria. Talvez por estar
me movimentado não percebi o quanto a temperatura estava baixa.
Caminhei pela vizinhança sem ter um rumo definido. Depois de duas
quadras, cheguei em uma pequena área comercial. Havia algumas
lanchonetes. Fui até uma delas e entrei.
O lugar era muito aconchegante. Tinha uma linda decoração retrô.
Pedi um hambúrguer simples e um refrigerante.
Enquanto sentava na mesa para esperar meu pedido, eu falei para
mim mesmo que iria parar de beber tanto refrigerante. Sabia que precisava de
hábitos mais saudáveis, mas eu não conseguia evitar, refrigerante para mim
era a melhor bebida, principalmente Coca cola.
O pedido chegou sem muita demora. Assim que comecei a comer,
percebi o quanto eu estava com fome.
Eu já estava terminando meu hambúrguer quando vi um casal entrar
pela porta. Uma criança estava com eles. Um garotinho loiro.
Engoli em seco. Cada vez que via um menino perto da idade do meu
filho eu ficava desnorteada. Será que era ele?
Eles sentaram em uma mesa próxima. Consegui ver com clareza o
rosto do menino. Não era ele.
Mesmo tendo convivido apenas três meses com meu filho, eu sabia
que o reconheceria. Não importava o tempo que passasse. Eu iria reconhece-
lo.
Depois de comer, voltei para casa em passos lentos. Era sempre
assim. Toda vez que via um garoto era como se eu me enchesse de
esperanças e depois me decepcionava. Mesmo depois de sete anos, eu ainda
não sabia lidar com isso. Talvez eu devesse voltar com a terapia que tentei
fazer logo depois do ocorrido.

[...]
Eu já estava no meu apartamento novo há alguns dias. Estava me
adaptando muito bem.
Fui chamada para algumas entrevistas de emprego. Estava esperando
uma ligação, e tinha certeza que não iria demorar. Estava confiante.
Eu estava fazendo pesquisas na internet. Fui em grupos de adoção. Vi
relatos de mães que tiveram seus filhos sequestrados. Estava procurando
qualquer pista que me ajudasse a ir até meu filho.
Eu estava chocada com as minhas pesquisas. Muito bebês eram
sequestrados, eu não era a única. Li uma matéria sobre venda de bebês. Eles
pegavam os bebês na maternidade ou até mesmo do colo das mães e vendiam
para pessoas que queria ter filhos e não podiam. Entrar na fila de adoção era
algo muito burocrático, então algumas famílias optavam por comprar.
Provavelmente meu filho estava por aí, sendo criado por uma família.
Eu precisava investigar mais sobre isso.
O meu celular tocou, me tirando de meus pensamentos.
Olhei o número, porém, não o reconheci. Atendi sem demora. Era
uma das empresas que eu havia feito entrevista. Era a ligação que eu estava
esperando.
Era uma vaga para analista de marketing. Eu começaria na próxima
segunda.
Assim que desliguei o telefone, respirei aliviada. Estava tudo dando
certo. Os meus planos estavam seguindo o seu caminho, eu estava muito
esperançosa.
Disquei o número da minha mãe, queria contar a novidade.
Precisei fazer uma ligação, pois ela não era muito adepta a mensagem
de texto.
— Mãe?
— Anelise! Está tudo bem? — perguntou do outro lado da linha.
— Sim, só estou ligando para avisar que consegui um emprego.
— Sério? Isso é ótimo. Era o que você queria?
— Sim, estou muito animada.
— Fico feliz em saber. Já estava na hora né.
Sempre com algum comentário desnecessário.
— Vou ligar para o pai para contar. Até mais.
Liguei para meu pai e contei a novidade. Talvez ele tenha parecido
um pouco mais empolgado que minha mãe, mas não grande coisa.
Aproveitei e enviei uma mensagem para Mayla.
Desde que me mudei não nos vimos mais.
"Acabei de receber uma resposta. Consegui um emprego!"
Ela não demorou mais do que alguns minutos para responder.
"Sério? Eu sabia que você iria conseguir. Parabéns!"
"Começo na segunda-feira."
"Fico muito feliz por você. Eu também tenho uma novidade."
"O que? Conta logo."
"Estou noiva!"
Franzi o cenho ao ler sua mensagem.
"Como assim?"
"Lembra do cara que eu estava namorando? Tivemos uma briga e
terminamos. Estávamos saindo de novo, agora decidimos ficar juntos."
"Nossa! Eu estou surpresa, mas fico feliz."
"Vamos fazer um jantar aqui em casa no sábado à noite, e você não
poderá faltar."
"Claro, estarei aí."
Mayla estava muito empolgada com esse noivado. Para mim, até
demais, mas eu não sabia nada sobre ele, só esperava que fosse um bom
homem e que fizesse Mayla feliz.
Capítulo 6

Finalmente o sábado havia chegado. O dia do jantar de Mayla.


Ela parecia bem empolgada com isso. E eu confesso que estava
curiosa para conhecer esse noivo.
Apesar de eu ainda considerar Mayla como minha melhor amiga,
nossa relação estava diferente. Não éramos mais tão íntimas, mas era de se
esperar. Ficamos tanto tempo sem contato.
Durante a manhã continuei minhas pesquisas na internet sobre bebês
vendidos e desaparecidos, na parte da tarde queria dar uma relaxada. Tentei
descansar um pouco, pois ainda teria o jantar na casa de Mayla. E na
segunda-feira queria estar cem por cento para meu primeiro dia de emprego.
O clima não estava tão frio quanto nos últimos dias. Não precisaria
de tantas camadas de roupas.
Escolhi uma blusa fina de manga longa na cor preta, e por cima
apenas um casaco, também preto. Para completar, uma calça jeans azul e uma
bota cano longo. Como meu look estava simples, decidi acrescentar alguns
acessórios. Um brinco longo e um colar. Deixei os cabelos soltos e naturais.
A maquiagem foi leve, caprichei apenas no batom vermelho, o meu
preferido. Estava pronta.
A noite estava iluminada. Olhei para cima e pude ver a lua cheia. Me
distraí por alguns instantes. Ela estava tão brilhante. Eu adorava observar a
lua e as estrelas. Na verdade, gostava de assuntos ligado a astronomia.
Lembro que uma vez quando tinha uns doze ou treze anos, meus pais
me pegaram matando aula. Eles foram chamados na escola, a professora fez
várias reclamações sobre mim. Quando chegamos em casa, brigamos. Depois
da briga, eu não queria entra em casa, fui para o quintal dos fundos e fiquei
até tarde deitada no gramado. Era uma noite quente, fiquei horas apenas
observando a lua e as estrelas. De certa forma, isso me acalmava.
Pedi um Uber e cheguei sem muita demora.
Bati na porta. Em poucos segundos a senhora Klein me atendeu.
— Anelise, entre — falou sorridente.
Entrei e a cumprimentei.
— E Mayla? — perguntei, dando uma olhada em volta.
— Está no quarto se arrumando. Pode entrar.
Segui para o quarto de Mayla. A casa era pequena e eu a conhecia
muito bem.
— Mayla?
— Anelise!
Ela veio até mim e me abraçou.
— Você está linda — comentei.
— Estou caprichando. Ele está quase chegando.
— Estou curiosa para conhecê-lo.
— Você vai adora-lo. Ele é lindo e muito simpático. O homem
perfeito. — Suspirou. — Estou muito apaixonada!
A cada palavra que Mayla falava, seus olhos brilhavam. Ela
realmente estava encantada por aquele homem.
— Eu só espero que ele a faça feliz.
— Eu já estou.
— Onde vocês se conheceram?
— Em um café. Eu costumava passar lá alguns dias da semana,
depois do trabalho. Por vários dias, ficamos apenas trocando olhares, até que
ele finalmente veio falar comigo. Depois disso não nos desgrudamos mais,
mas há algumas semanas tivemos aquela briga e terminamos, mas agora
decidimos. Vamos ficar juntos e formar uma família. Estou tão feliz.
— E por que vocês terminaram?
Ela ficou seria. O sorriso que estava em seu rosto se desfez.
— Talvez eu seja um pouco ciumenta. Ele disse que estava sufocado,
mas vou melhorar isso. Não vou mais ficar em cima dele o tempo inteiro.
Vou deixa-lo respirar.
Isso não me surpreendia nem um pouco. Durante a adolescência ela
sempre foi muito ciumenta.
Antes que eu pudesse falar mais alguma coisa, a senhora Klein nos
interrompeu.
— Ele chegou! Tem um carro aqui na frente.
— Minha maquiagem está boa? — perguntou Mayla.
— Está ótima. Você está linda.
Ela saiu do quarto. Foi em direção à sala e eu a segui.
Mayla abriu a porta e o homem entrou. Foi nesse instante que eu
gelei. Era ele.
Eles deram um selinho rápido. Em seguida vieram até mim.
— Essa é minha amiga, Anelise. Meu noivo, Liam — apresentou.
Eu não sabia o que fazer. Como eu iria imaginar que o noivo da
minha melhor amiga era um cara que eu havia transado em uma festa?
Minhas bochechas ficaram vermelhas. Eu estava sentindo queimar.
— Olá, prazer em conhecê-lo — falei sem jeito.
Ele parecia tão desconfortável quanto eu. Percebi que suas bochechas
também coraram.
O silêncio se instalou. Provavelmente ele pensou em falar que já nos
conhecíamos.
— O prazer é meu — falou por fim.
Tentei disfarçar ao máximo, mas não tenho certeza se consegui isso.
— Anelise. Está tudo bem? — perguntou Mayla.
— Sim, tive uma pequena tontura. Acho que estou há muitas horas
sem comer — menti.
— Então vamos. O jantar está pronto — anunciou senhora Klein.
Fomos até a cozinha e sentamos na mesa.
Eu estava totalmente desnorteada. Era coincidência demais. Respirei
fundo e tentei manter a calma. Mayla nunca saberia que eu havia transado
com o noivo dela, apesar de que quando tudo aconteceu eles não estavam
juntos. Eu não tinha culpa de nada. Nem sabia do relacionamento dos dois.
Eu era totalmente inocente.
— Espero que gostem da comida. Nós fizemos tudo com muito
carinho — disse Mayla.
A mesa estava cheia. Na verdade, era um exagero tudo aquilo de
comida para apenas quatro pessoas, mas eu sabia que Mayla queria
impressionar.
Enquanto comíamos, meu olhar cruzou com o de Liam algumas
vezes, eu tratei rapidamente de desviar. Sabia que ele estava tão surpreso
quanto eu.
Cogitei a possibilidade de conversar com Mayla mais tarde, quem
sabe contar tudo, porém, lembrei dela falando o quanto tinha ciúmes. Isso
poderia desencadear uma péssima reação. Decidi que não falaria nada. Ela
não precisava saber de nada, afinal, eu e Liam nunca mais teríamos nada, foi
apenas uma noite de sexo sem importância nenhuma. Eu não queria que ela
ficasse com ciúmes sem motivos.
— E como estão as coisas na empresa? — perguntou a senhora Klein.
— Estão ótimas. Estamos expandindo.
— O Liam e o pai têm uma empresa de roupas. O pai dele começou
há muitos anos, comprando algumas peças e revendendo, mas hoje já tem
fabricação própria — explicou Mayla.
— E crescendo cada dia mais — falou Liam, olhando para mim pela
primeira vez.
— Isso é ótimo — falei, com um leve sorriso.
Eu não tinha a mínima ideia do que falar, mas sabia que Mayla estava
explicando para mim sobre a empresa.
— E você? O que faz — perguntou Liam.
Fiquei surpresa com sua pergunta. Não esperava que puxasse assunto
comigo.
— Eu sou formada em marketing. Morei em Berlim por alguns anos.
Voltei há poucas semanas. Vou começar a trabalhar na segunda-feira como
analista — contei, entre uma garfada e outra.
Conforme o tempo foi passando, eu fui ficando mais à vontade com a
situação. Liam era muito agradável e o jantar seguiu normalmente. Mayla não
desconfiou de nada. A mentira que contei sobre não ter comido nada,
aparentemente deu certo.
— Fiz uma torta de maçã para a sobremesa. Está na geladeira —
anunciou senhora Klein.
No momento em que a mais velha iria se levantar para buscar. Eu
interrompi.
— Não se preocupe. Eu pego — falei, levantando da cadeira.
— Obrigada, querida — agradeceu com um sorriso.
Assim que entrei na cozinha, ouvir a voz de Liam, mas não consegui
escutar com clareza.
Em poucos segundos ele entrou na cozinha.
— Que mundo pequeno, não é mesmo — falou, em quase sussurro.
— Por favor, não fale nada para Mayla. Não quero que ela tenha
motivos para desconfiar de mim.
— Não se preocupe. Também acho melhor mantermos isso em
segredo.
— Ótimo. Vou levar a torta.
— Eu pego os pratos.
Voltamos para a mesa com um sorriso no rosto. Mayla e sua mãe
pareceram não ter percebida nada. Agradeci mentalmente por isso.
Eu não queria prolongar muito aquela visita. Assim que terminamos
de comer a sobremesa, pensei em uma desculpa.
— A torta estava maravilhosa, e a comida também — elogiei.
— Concordo. Fizeram um ótimo trabalho — comentou Liam.
— Eu estou um pouco cansada. Fiz alguns reparos no apartamento
durante a tarde. Já vou indo para casa — menti.
— Tão cedo — reclamou Mayla.
— Tudo bem. Voltei quando quiser — disse senhora Klein.
Eu queria evitar aquela situação, mas precisei me despedir de Liam.
Finalizei a noite com um até logo para todos.
Respirei aliviada no momento em que saí da casa.
Pedi um Uber. Eu queria ir para casa o mais rápido possível.
Como eu poderia imaginar que o cara que eu transei em uma festa era
o noivo da minha amiga? Era muita coincidência, mas ela nunca saberia
disso. Eu nunca iria falar sobre isso para ninguém. O que me restava agora
era esquecer
Capítulo 7

Acordei diversas vezes durante a noite. Eu estava nervosa com o meu


primeiro dia no emprego.
Era uma sensação esquisita para mim. Trabalhei todos esses anos na
mesma empresa. Era estranho ter que passar por tudo novamente, mas ao
mesmo tempo, eu estava feliz por recomeçar.
Levantei um pouco antes do relógio despertar.
A temperatura estava baixa. O frio estava intenso. Olhei pela janela e
vi as folhas secas caídas. Já era outono. Em cerca de dois meses seria Natal.
Eu sempre adorei o clima natalino. Era meu feriado preferido. Eu
contava os dias para o Natal, mas agora, o natal não era mais o mesmo. Não
tinha a mesma graça, pois estava faltando uma parte de mim.
Enquanto observava a neve lá fora, imaginei onde meu filho estaria.
Ele tinha uma família? Será que também contava os dias para o Natal assim
como eu fazia? Será que ele fazia ideia de que tinha uma mãe procurando por
ele? Eram muitas perguntas.
Seria triste passar mais um natal sem meu filho.
Os meus olhos encheram de água.
— Eu vou encontrar você, meu filho. Prometo — falei baixinho para
mim mesma.
Sequei uma lágrima que insistiu em cair. Respirei fundo e fui em
direção ao banheiro. Precisava de um banho quente.
Depois do banho, escolhi uma roupa social. Eu queria impressionar
no meu primeiro dia. Eu tinha muitas peças perfeitas para a ocasião, já que
usava no meu antigo emprego.
Fiz uma maquiagem bem leve a natural, e nos cabelos fiz uma
chapinha, deixando os meus fios loiros totalmente lisos.
Eu não tinha certeza sobre a distância. Parecia muito perto para pegar
um ônibus, mas também muito longe para ir caminhando, e eu não queria
gastar dinheiro com Uber todos os dias.
Olhei para o relógio. Eu estava adiantada. Iria caminhando.
Conforme fosse, eu pegaria um ônibus na volta para casa.
Enquanto caminhava até a empresa, muitas memórias voltaram à
minha mente. Eu via a Anelise de anos atrás, andando naquelas mesmas ruas,
feliz e sem preocupações.
Olhava para as lojas, bares e restaurantes, muitos continuavam
intactos, no mesmo lugar que sempre foram.
Depois de alguns minutos de caminhada, eu avistei o prédio. Era
enorme, bem no centro da cidade.
Entrei e fui sem demora para o décimo quarto andar.
Encontrei com algumas pessoas pelo caminho. Todas muito
simpáticas e bem vestidas.
Assim que cheguei no décimo quarto andar, fiquei impressionada
com o tamanho do lugar. A recepção era enorme e muito bem decorada.
Eu havia feito a entrevista em uma agência de empregos, então não
conhecia o lugar.
Fui até a moça da recepção.
— Bom dia. Meu nome é Anelise. Começo a trabalhar hoje como
analista de marketing.
— Ah sim. Estão esperando por você. Segunda sala à esquerda, por
favor.
— Obrigada. Tenha um bom dia.
Era agora. Eu estava tensa, minhas mãos estavam suadas. Tentei
manter a calma, pois sabia que tudo daria certo. Eu estava mais do que
preparada para esse cargo.
[...]
— E como foi o primeiro dia? — perguntou Mayla, via chamada de
vídeo.
— Foi maravilhoso. Deu tudo certo.
— Eu sabia que iria se sair bem.
— Estava um pouco nervosa, mas consegui controlar. As pessoas são
ótimas. E o trabalho é incrível. Comecei revisando a campanha de Natal.
Estou tão empolgada.
— Que bom.
Eu senti uma certa tristeza na voz de Mayla. Ela já havia comentado
que estava tudo bem com sua mãe e com Liam, o problema não era com eles.
Desde que voltei, reparei que quando falava sobre minhas metas e
planos ela ficava assim, podia ser impressão minha. Quando falei sobre estar
formada na faculdade, ou quando me mudei para o apartamento, ou quando
falei que iria comprar um carro. Ela parece ter ciúmes, e não tenta disfarça.
Se realmente fosse isso, de certa forma, eu entendia. Ela também tinha tantos
planos e sonhos, e pelo que eu soube, não realizou muitos deles.
— Agora preciso ir. Vou comer alguma coisa — falei.
— Tudo bem. Até mais.
Desligamos a chamada de vídeo. Eu ainda estava com pena de
Mayla, queria que ela fosse feliz e tivesse tudo que quisesse.
Eu havia chegado do serviço há cerca de uma hora. A noite já havia
caído. Eu gostava do outono, mas os dias curtos eram a pior parte. Anoitecia
tão cedo, quase não dava para aproveitar a luz do sol, isso quando ele
aparecia.
Pensei em sair para comer. Poderia ir no mesmo lugar que fui alguns
dias atrás. O hambúrguer de lá era maravilhoso. Eu falava para mim mesma
que iria me alimentar melhor, mas não conseguia evitar, adorava comer
lanches, e apesar de amar cozinhar, estava cansada para isso.
Saí de casa e fui em direção a lancheria. Fui com a roupa que estava,
ainda não havia me trocado.
No momento em que estava saindo, vi uma mulher, prestes a entrar
em seu apartamento, que ficava ao lado do meu.
Decidi que seria uma boa hora para fazer amizade com os vizinhos.
— Olá, tudo bem?
— Tudo bem, e você?
— Ótima. Meu nome é Anelise. Mudei há pouco tempo.
— Ah sim, vizinha nova. Eu sou a Raika.
— Prazer em conhece-la.
— O prazer é meu. Se precisar de alguma coisa, é só chamar.
Nos despedimos com um sorriso.
Ela tinha cabelos curtos e ruivos. Parecia ser um pouco mais jovem
do que eu.
Fiquei feliz por ter conhecido Raika. Seria bom ter uma conhecida no
prédio.
Terminei a noite do jeito que eu gostava. Hamburguer e refrigerante.
Capítulo 8

Eu já estava trabalhando há algumas semanas. Estava adorando o


trabalho e minha nova rotina.
Já era outubro. Estávamos todos trabalhando muitas horas por conta
da campanha de natal. Algumas vezes ficando até mais tarde.
Normalmente eu iria caminhando para o serviço, e na volta para casa
pegava um ônibus, por conta do cansaço do dia.
Era quase final do horário de trabalho quando senti um enjoo forte.
Foi totalmente repentino. Precisei levantar e ir para o banheiro, pois parecia
que eu iria vomitar a qualquer momento.
Quando cheguei no banheiro, olhei para meu reflexo no espelho, eu
estava pálida, totalmente sem cor.
Lavei o rosto, tentando manter a calma.
Aos poucos o enjoo foi passando.
Eu sabia que isso iria acontecer. Minha alimentação estava péssima
nas últimas semanas. Só comia lanches e bebia refrigerante.
Assim que o enjoo passou completamente, voltei para o trabalho. Já
estava quase na hora de ir embora. Depois do serviço eu iria passar no
mercado. Iria comprar alguns ingredientes e preparar o jantar, nada de comer
na rua.
Depois de finalizar o trabalho do dia, era hora de ir para casa.
Peguei minha bolsa e saí da sala.
— Até amanhã, Anelise — falou Marco, um de meus colegas de
trabalho.
— Até amanhã. Bom descanso.
— Você está bem? Está sem cor — perguntou um pouco preocupado.
— Tive um enjoo, mas já estou bem.
— Tem certeza? Quer que eu acompanhe você até em casa?
— Não precisa. Eu estou bem. Provavelmente foram os lanches que
ando comendo. Vou passar no mercado e preparar um jantar saudável.
Amanhã já estarei bem.
— Tudo bem. Tente descansar e melhoras.
Sorri e concordei.
Marco parecia ser muito cuidadoso e gentil, na verdade, todos os
meus colegas de trabalho eram. Eu estava fazendo muitas amizades, e estava
gostando disso.
Fui caminhando até um mercado que ficava próximo da empresa.
Comprei frutas, verduras, suco natural e carnes magras.
Como estava com sacolas, então decidi pedir um Uber para chegar
em casa mais rápido.
Assim que cheguei, deixei as sacolas em cima da mesa da cozinha e
fui direto para o banho.
Quando saí, o cansaço quase falou mais alto. Cheguei a pensar em
não cozinhar e pedir algo pronto, mas eu sabia que não deveria fazer isso.
Precisava cuidar de minha saúde.
Preparei batatas assada com couve, e para acompanhar, suco natural
de uva.
A comida ficou maravilhosa. Fiquei feliz por ter feito.
O que estava me incomodando era o sono. Não consegui lavar a
louca do jantar, deixei tudo na pia da cozinha. Ainda era cedo quando caí
completamente no sono. Eu só precisava de uma noite de descanso. Sabia que
estaria completamente renovada na manhã seguinte.
Quando acordei no dia seguinte, eu parecia estar com ainda mais
sono do que estava quando fui dormir.
Não era possível que ainda estive tão cansada. Eu havia dormido
bem.
Fui até a cozinha. Quem sabe uma xicara de café forte ajudaria.
No instante em que tentei dar o primeiro gole, o enjoo voltou com
tudo.
Larguei a xícara e respirei fundo.
Eu sempre adorei beber café. Será que eu estava doente? Será que
poderia ser algo grave?
Tentei tirar esse pensamento de minha mente. Deveria ser apenas
uma virose passageira.
Depois de me arrumar, fui para o trabalho.
O dia estava seguindo normalmente. Até cheguei a esquecer os
enjoos, mas isso mudou quando chegou o horário do almoço. Assim que
entrei no refeitório e senti o cheiro de comida, meu estômago embrulhou.
Precisei sair do refeitório.
Eu estava preocupada. Pensei que não seria nada, mas eu não podia
mais fingir que nada estava acontecendo.
Eu precisava comer. Não havia comido nada durante toda a manhã,
mas só de pensar em comida o enjoo voltava.
Saí do prédio e fui até uma padaria próxima.
Comprei um sanduíche de frango. Era algo leve, que provavelmente
não irritaria meu estômago.
Consegui comer sem muito enjoo.
Depois do horário de almoço acabar, eu tentei voltar para o trabalho,
mas os enjoos eram insistentes. Até que no meio da tarde, precisei sair
correndo para o banheiro. Coloquei tudo para fora, ou melhor, o sanduíche.
Eu estava trêmula. Tentei me acalmar. Lavei o rosto e respirei fundo.
Depois de alguns minutos, eu estava melhor.
Eu estava muito preocupada. Era muito raro eu vomitar, na verdade,
fazia anos que isso não acontecia.
Voltei para o trabalho apenas para falar que iria embora. Expliquei
que não estava me sentindo muito bem.
Saí na rua ainda um pouco eufórica. Eu precisava de um médico.
Ainda era meio da tarde, então não seria tão difícil. Iria tentar uma consulta
de emergência em uma clínica.
Fui para casa e fiz uma busca rápida na internet. Liguei para algumas
clínicas. Eu havia conseguido um encaixe. Seria em poucos minutos, eu
precisava me apressar. Por sorte agora eu morava bem centralizada.
Cheguei na clínica em tempo recorde. A recepção estava quase vazia.
Indicando que eu não demoraria muito para ser atendida.
Sentei e aguardei.
Eu estava nervosa. Não podia ficar doente agora. Estava começando
em um novo emprego, e não queria me afastar, e ainda tinha a busca pelo
meu filho. Ficar doente definitivamente não estava nos meus planos.
Ouvi uma voz masculina chamar meu nome.
Respirei fundo antes de levantar.
— Boa tarde, sou o doutor Fischer.
— Boa tarde, doutor.
Ele era um homem levemente grisalho. Tinha um sorriso muito
simpático.
— Então, como posso ajudar você?
Ele sentou em sua cadeira e indicou a cadeira em sua frente, fazendo
sinal para que eu sentasse também.
— Ontem no final da tarde eu tive um enjoo muito forte. Na hora
pensei que era por conta de alguma coisa que eu havia comigo, mas hoje de
manhã aconteceu de novo, nem conseguir tomar café da manhã, e no almoço
a mesma coisa, só de sentir o cheiro da comida o meu estômago embrulhou,
com esforço consegui comer um sanduíche de frango, mas agora a pouco eu
vomitei.
— Mais algum sintoma?
— Sim, estou com muito sono também.
Ele levantou e veio até mim.
Checou os meus sinais, olhou minha garganta, olhos e mediu minha
temperatura.
— Aparentemente você está bem. É bem provável que seja apenas
uma virose passageira.
Ele estava sério. Parecia estar pensando em alguma coisa.
— Será, doutor? Fiquei preocupada.
— Também pode ser sintoma de gravidez. Tem alguma chance de
isso acontecer?
Gelei no mesmo instante.
Lembrei da noite de sexo com Liam, mas não seria possível. Nós nos
prevenirmos.
— Eu não sei. Fiz sexo há algumas semanas, mas nós usamos
preservativo. Então seria impossível, eu acho.
— Na verdade, isso é muito mais comum do que você imagina. O
preservativo poderia estar vencido ou velho, poderia estar guardado na
carteira por um longo período de tempo e o calor pode ter o danificado,
poderia não ser compatível com o tamanho do pênis, a camisinha poderia ter
estourado. E isso são apenas alguns exemplos. Você não usa outro método
contraceptivo?
— Não — falei, ainda sem acreditar no que estava ouvindo.
— E mesmo usando corretamente o risco de falha é cerca de 18%.
Não estou dizendo que você está grávida. Ainda é muito cedo para saber, mas
sugiro fazer um teste. E caso não esteja, um ou dois dias de descanso devem
resolver.
— Tudo bem. Vou fazer um teste.
— Se não melhorar você deve voltar aqui e irei pedir alguns exames.
Ele me deu um atestado, dizendo que eu deveria ficar dois dias em
casa de repouso. Ele explicou que poderia ser por conta do estresse. O que eu
não concordava, apesar de estar com a rotina bem puxada, eu não estava
estressada. Estava adorando o meu emprego novo.
— Obrigada, doutor.
— Você pode passar na recepção para marcar o teste. Até mais.
Nos despedimos e fui em direção à recepção.
A moça da recepção explicou que teria horário para o dia seguinte na
parte da manhã, mas eu estava muito ansiosa para esperar até amanhã.
Quando saí da clínica, eu estava em choque. Isso poderia ser
verdade? Será que eu estava mesmo grávida?
Tentei manter a calma e processar a informação. Como o próprio
médico disse, poderia ser apenas algo passageiro.
O sol já estava se pondo. Dei alguns passos pela rua, sem ter um
rumo definido.
Avistei uma farmácia. Era a minha chance de comprar um teste. Fui
até lá rapidamente.
— Um teste de gravidez, por favor.
— Aqui está — falou a moça.
Paguei pelo teste e comecei meu caminho de volta para casa. Eu
queria fazer o quanto antes.
Assim que cheguei em casa, coloquei em cima do sofá. Não tive
coragem de abrir.
A ideia de estar grávida novamente era assustadora para mim.
Lembrei do exato momento em que descobri a gravidez de Peter. Eu não
sabia se estava preparada para passar por tudo novamente. E a pior parte:
Liam era o pai. Como eu iria explicar para a minha melhor amiga que eu
estava grávida do seu noivo?
Depois de longos minutos observando o teste em cima do sofá, eu o
peguei.
Eu precisava encarar. Não tinha como fugir.
Entrei no banheiro. Eu iria acabar com essa dúvida.
Agora era só esperar.
Minhas mãos estavam suadas e minhas pernas estavam trêmulas.
Eu não sabia o que pensar, só queria olhar e ver um negativo.
Respirei fundo. O ar entrava com certa dificuldade.
Olhei para o teste.
Positivo.
Não acreditei no que vi.
Fiquei alguns segundos imóvel. Apenas segurando e olhando para o
teste.
Meus olhos encheram de água e as lágrimas rolaram pelo meu rosto.
Eu não sabia exatamente o que estava sentindo. Era um misto de
sentimentos.
Eu sempre quis ter outro filho, mas não nessa situação, não com o
noivo da minha melhor amiga. Eu não estava preparada para isso.
Passei a noite em claro. Não avisei meus pais e nem ninguém. Não
queria conversar. Queria apenas ficar em silêncio e sozinha. Eu precisava
colocar os pensamentos em ordem.
Eu não sabia como seria daqui para a frente. Não tinha ideia do que
iria acontecer, não sabia como encarar essa situação. Tinha certeza apenas de
uma coisa: eu nunca deixaria um filho desamparado. Seja como fosse, eu já o
amava, e nunca iria abandona-lo.
Capítulo 9

Eu estava mais calma. Depois de dois dias, consegui digerir tudo o


que estava acontecendo.
Fiz um teste de laboratório, e o resultado foi o esperado: grávida.
Fiquei em casa de repouso nesses dois dias, como o médico havia
dito.
Eu não falei sobre a gravidez para ninguém. Não sabia como iria
fazer isso. Como eu falaria para meus pais que estava grávida, e que o pai era
o noivo de Mayla. Apesar de eu ser totalmente inocente nessa história, ainda
era algo muito complicado.
Os enjoos continuavam, mas agora que eu sabia o motivo, estava
conseguindo lidar melhor.
Decidi que a primeira pessoa que eu iria contar era Liam. Queria
saber se eu teria o apoio do pai. Depois contaríamos juntos para Mayla.
Afinal nenhum de nós teve culpa. Liam não traiu ninguém, já que não
estavam juntos. E eu não sabia que ele era o ex dela.
Sabia que seria difícil, mas que ela iria entender.
Já era quase final de tarde.
Eu estava na janela, observando o movimento lá fora. Estava
pensando em como iria contar para Liam.
Decidi que faria isso logo. Quanto mais adiasse, mais tensa eu ficaria.
Saí da janela, peguei meu celular e sentei no sofá.
Abri o Instagram e procurei por Mayla.
Havia uma foto com Liam, tinha sido postada há uma semana. Ele
estava marcado.
Cliquei em seu nome e fui até seu perfil. Enviei uma mensagem
privada.
"Olá, preciso falar com você. É urgente."
Larguei o celular e fui até a cozinha preparar um chá de gengibre. Vi
na internet que ele ajudava com enjoos, e por enquanto, parecia estar dando
certo.
Não demorei mais do que alguns minutos. Quando voltei, vi que
tinha mensagens não lidas.
Era ele.
"Aconteceu alguma coisa com a Mayla?"
Antes que eu pudesse responder, chegou outra mensagem.
"Vocês estão bem?"
Respondi rapidamente.
"Está tudo bem, Mayla está bem, mas preciso conversar com você.
Precisa ser pessoalmente."
"Estou saindo da empresa agora. Quer me encontrar em algum lugar?
"Estarei te esperando em uma lanchonete, fica aqui perto de casa.
Vou te passar o endereço."
"Tudo bem. Chego em quinze minutos."
Era agora. Eu iria encarar a situação.
Vesti um casaco quente e fui em direção a lanchonete.
Quando cheguei, estava bem mais calma do que quando saí de casa.
Eu adorava caminhar, estar ao ar livre me acalmava. Com certeza eu iria
fazer caminhadas em minha gestação.
Quando cheguei, ele ainda não estava lá.
— Olá, quer ver o cardápio? — perguntou uma moça sorridente.
— Não, obrigada. Vou querer apenas um suco de maçã.
Só de pensar em comer, meu estômago embrulhava, mesmo sendo o
hambúrguer que eu tanto gostava.
Esperei alguns minutos até que Liam chegasse.
Minhas mãos estavam trêmulas e suadas. Eu estava nervosa. Não
sabia como ele iria reagir.
— Olá, está tudo bem? Está um pouco pálida.
Ele sentou na cadeira em minha frente.
— Eu tenho uma coisa para contar para você. Eu nem sei por onde
começar.
— O que aconteceu? — perguntou curioso.
Bebi um gole do meu suco de maçã.
— Eu estou grávida, e você é o pai. Eu descobri há poucos dias.
Ele ficou sério. Por alguns segundos ficou em silêncio.
— O que? Você tem certeza?
— Sim. Fiz um teste de farmácia e ontem fiz um exame de
laboratório. Estou grávida, e você foi a única pessoa com quem eu fiz sexo
recentemente.
Ele franziu o cenho. Parecia não acreditar no que estava ouvindo.
— Não pode ser. Não é verdade. Nós usamos camisinha.
— A camisinha não é cem por cento, o médico explicou que não é
tão raro assim engravidar mesmo usando preservativo.
— Espere aí. Eu estou confuso — falou gaguejando.
— Também fiquei assim quando descobri.
— Eu vou ser pai! — sussurrou.
Ele estava com uma péssima aparência. Não parecia estar se sentindo
muito bem.
— Você quer beber alguma coisa? Está bem?
— Eu estou bem, só não consigo acreditar! Como vamos contar isso
para Mayla?
— Essa é minha preocupação. Acho que será difícil, mas no final, era
irá entender. Não tivemos culpa de nada, não nos conhecíamos.
— Você tem razão. Ela tem um bom coração. Irá entender — falou
em um tom baixo.
— Acho que devemos falar com ela juntos.
— Eu também acho, mas me dê um tempo. Eu preciso processar essa
informação.
— Tudo bem.
— Eu não acredito que vou ser pai! Quer dizer, eu sempre quis, mas
não imaginei que fosse ser assim.
— Pois é, eu também — respondi desviando o olhar para a porta,
lembrando de Peter.
— Mas não se preocupe. Vou assumir meu filho, mas só para deixar
tudo bem claro, acho que devemos fazer um teste de DNA.
— Sem problemas, podemos fazer.
— Agora só preciso pensar em como contar isso para Mayla, por
favor, não diga nada ainda. Quero pensar no assunto primeiro.
— Ok, acho que devemos contar juntos, mas se preferir falar sozinho,
por mim tudo bem, só me avise.
— Eu aviso você. Vou passar meu número, qualquer coisa você pode
me ligar ou enviar mensagens. Agora preciso ir, foi um dia longo, estou
exausto, e essa notícia me pegou totalmente de surpresa.
Ele estava agitado. Atropelava as palavras, parecia desnorteado.
— Sim, descanse. Você não parece muito bem— falei.
— Você quer que eu leve você — perguntou, ainda afobado.
— Não precisa. Estou bem, não moro longe daqui.
— Tudo bem. Até mais.
Ele levantou e foi em direção à rua. O observei sair.
Ele ficou tão chocado quanto eu quando descobri.
Não fiquei ofendida por ele pedir um teste, se eu fosse ele, também
iria pedir, afinal, não nos conhecemos.
Fiquei aliviada por ele falar que iria assumir. Pois sabia o quanto era
importante para uma criança ter uma presença paterna.
Terminei de beber meu suco e dei passos lentos de volta para casa.
A noite já havia caído. O vento soprava, deixando a sensação térmica
ainda mais baixa.
Eu estava me sentindo muito mais leve depois de ter contato tudo
para Liam. Até o enjoo havia passado. Acho que grande parte era por conta
da ansiedade.
Quando cheguei em casa, só queria ter uma noite relaxante.
Tomei um banho quente, em seguida fui para a cozinha. Precisava
preparar algo para comer.
Enquanto cozinhava, imaginei como estaria a minha vida em um ano.
Conseguia me ver com um bebê no colo, e quando imaginei a cena, foi
inevitável, lembrei de Peter.
Eu queria as duas crianças, eu precisava deles, eles eram parte de
mim.
Coloquei a mão em minha barriga, e pela primeira vez, eu o senti.
Não fisicamente, mas senti sua presença.
— Mamãe vai te proteger sempre — sussurrei.
Os meus olhos encheram de lágrimas, e uma delas, acabou caindo
pelo meu rosto.
Eu estava feliz em ser mãe novamente, apesar de toda essa situação
incomum, um filho era muito bem-vindo, porém minha felicidade não estava
completa, só estaria no momento em que reencontrasse Peter.
Eu não estava com muita fome, mas tentei comer, pelo menos um
pouco.
Comecei a pensar sobre a saúde do bebe. Eu precisava ver um
médico. Queria ter certeza de que estava tudo bem com ele. Eu havia gostado
muito do médico que havia me atendido, e ele acertou que eu estava grávida.
Quem sabe eu poderia marcar uma consulta com ele. Era um homem firme e
parecia ser inteligente. Ele poderia me encaminhar para os profissionais que
fariam o meu acompanhamento.
Depois de comer, fui para a cama. Eu precisava de uma boa noite de
sono.
Eu ainda estava acordada, olhando para as paredes e refletindo,
quando a luz do meu celular brilhou.
Era Liam. Estava perguntando se estava tudo bem. Respondi
rapidamente.
"Estou bem, e você? Está melhor?"
"Sim, estou bem melhor. Aliás, me desculpe se fui um pouco frio ou
insensível, mas a notícia realmente me pegou de surpresa."
"Está tudo bem. Imagino que tenha sido difícil."
"Eu pensei bastante. Vou contar tudo para Mayla amanhã, e queria
que você estivesse junto, se possível."
"Claro. Eu também acho melhor assim. Podemos ir até a casa dela
quando eu voltar do trabalho."
"Eu aviso você. Boa noite. E se precisar de algo, qualquer coisa, é só
chamar."
"Obrigada. Boa noite."
Um sorriso se formou em meus lábios. O meu filho teria os pais
presentes. Isso era muito gratificante para mim. Apesar de não sermos um
casal, eu tinha certeza de que seríamos ótimos pais.
Capítulo 10

O dia se arrastou lentamente. Talvez por conta da minha ansiedade.


Estava nervosa pela conversa que teríamos com Mayla mais tarde.
Pensei em avisar os meus pais, mas achei melhor falar com Mayla
primeiro. Só esperava que ela fosse compreensiva.
Tive alguns enjoos durante o dia, mas não cheguei a vomitar, o chá
de gengibre estava me ajudando bastante.
Tentei esconder ao máximo minha gravidez. Alguns colegas de
trabalho estavam perguntando se eu estava bem, mas ainda não me sentia
confortável para contar.
Saí do serviço e pedi um Uber. Normalmente eu ia caminhando ou de
ônibus, mas hoje queria chegar rápido. Iria esperar a mensagem de Liam.
Havia um pequeno café na esquina de minha casa. Ficava ainda mais
perto do que a lanchonete que eu gostava. Combinamos de nos encontrarmos
lá.
Pedi um Uber e cheguei em casa rapidamente.
Troquei de casaco. Vesti um mais grosso. A noite estava fria.
Sentei no sofá inquieta. Liam avisaria quando fosse sair da empresa.
Como era CEO junto com seu pai, ele explicou que poderia ficar até mais
tarde, não tinha um horário fixo.
Para mim pareceu uma eternidade, mas esperei apenas por quinze
minutos até Liam enviar a mensagem.
"Estou saindo agora. Vou levar uns quinze minutos."
Respondi dizendo que estaria no café, à sua espera.
Como o lugar era na esquina de casa, eu não demoraria mais do que
dois minutos para chegar.
Fui para a janela e observei o movimento lá fora enquanto esperava.
Depois de dez minutos, eu saí de casa.
Caminhei lentamente até o café da esquina.
Como imaginei, ele ainda não havia chegado.
Fiquei o esperando na frente do café, não cheguei a entrar.
Em poucos minutos parou um carro em frente ao café.
Eu tinha visto o carro dele apenas duas vezes, na festa, quando
cheguei a entrar nele para irmos até o motel, e na casa de Mayla.
Me aproximei do carro lentamente. Foi quando vi o vidro descer.
Era ele.
Entrei no carro sem demora.
— Me desculpe pelo atraso — falou, assim que entrei no carro.
— Tudo bem.
— E como você está? — perguntou dando partida no carro.
— Estou bem. Só um pouco tensa com essa situação.
— Fique calma. Tenho certeza de que tudo dará certo. Mayla será
compreensiva.
— Eu espero.
O caminho foi tenso. Quase não conversamos.
— Chegamos. Só tente manter a calma — falou.
— Vamos lá.
Respirei fundo antes de sair do carro.
Por um instante fiquei apenas observando a casa.
Liam ficou parado ao meu lado.
Depois de alguns segundos, olhei para ele e fiz um sinal positivo com
a cabeça.
Era agora.
Liam bateu na porta.
Mayla atendeu rapidamente.
Ele avisou que estava indo, só não avisou que estaria comigo.
— Anelise? — perguntou confusa.
— Mayla. Nós precisamos conversar com você — falei, ainda na
porta.
— Nós?
Ela deu espaço para que entrássemos.
Sua mãe estava sentada no sofá e também pareceu ficar confusa.
— Está tudo bem? — perguntou senhora Klein.
— Sim. Só peço que ouçam tudo com muita atenção — falou Liam.
— O que está acontecendo aqui?
Mayla estava perdendo a paciência.
— Lembra quando terminamos há algumas semanas? Em um final de
semana eu fui à uma festa, não muito longe daqui. — Liam olhava fixamente
para Mayla. Não desviava o olhar. — Nessa festa, eu conheci Anelise, nunca
tínhamos nos encontrados antes. E nessa festa, bom, nós fizemos sexo.
— O quê? — Perguntou Mayla franzindo o cenho.
— E agora ela está grávida de um filho meu.
— Eu não sabia que Liam era seu ex-namorado. Não tinha como
saber.
— Você está grávida do meu noivo? — questionou Mayla em um
tom de voz baixo.
— Sim. Eu levei um choque no dia do seu jantar, no dia em que vi
que Liam era seu noivo. Decidi que não contaria nada, pois não tinha
necessidade, já que nunca mais teríamos nenhum tipo de contato, mas então
eu descobri que estava grávida.
— Vocês me traíram! Minha melhor amiga de caso com o meu
noivo. Vocês dois rindo de mim pelas minhas costas — falou alterando seu
tom de voz.
— Mayla, fique calma — disse senhora Klein, se pronunciando pela
primeira vez.
— Como eu posso ficar calma? Eu fui traída! Minha melhor amiga
me traiu — gritou.
Mayla estava vermelha de raiva.
— Eu não traí ninguém — respondi, em um tom alto e firme.
Foi nesse momento que ela veio em minha direção. Foi tudo muito
rápido. Ela se aproximou e levantou um dos braços, na tentativa de me bater.
Foi quando Liam, que estava ao meu lado, a parou.
— Mayla! Está ficando louca! — exclamou Liam a segurando.
As lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto. A garota estava
totalmente transtornada.
— Minha filha, fique calma. Você está fora de si — falou a mais
velha.
A mãe secou suas lágrimas.
— Eu não duvido que vocês estejam tendo um caso pelas minhas
costas — acusou, aparentemente um pouco mais calma.
— O que? Você não escutou nada do que falamos? Nós não nos
conhecíamos. Eu não sabia que ele era o seu ex. Sinceramente, Mayla. Não
esperava essa reação sua. Pensei que seriamos todos maduros o suficiente
para conversar, e que você entenderia a situação, mas pelo visto, eu me
enganei — falei, perdendo a paciência. — Estou decepcionada com você.
— Ah sim. Você faz sexo com o meu noivo e eu que sou a decepção?
— Você está se fazendo de louca. Não quer entender — falei com a
voz alterada.
— Vamos manter a calma. Nós nunca tivemos um caso. Não nos
conhecíamos até aquela noite. Fizemos sexo uma única vez. Agora ela está
grávida e eu vou assumir o meu filho e dar o apoio necessário, é isso — falou
Liam.
— Seus traidores! — gritou. — Saía da minha casa — mandou,
apontando o dedo para mim.
Eu estava fervendo. Minha vontade era de a encarar. Não entendia
essa reação de garotinha mimada. Eu sabia que seria difícil, mas não imaginei
que fosse assim.
Pensei que uma briga não faria bem ao meu bebê. Também levei em
consideração que estava na casa da senhora Klein, não queria a desrespeitar.
Apenas virei as costas e fui em direção a porta.
Eu sentia minhas bochechas queimando. Eu raramente ficava com
raiva, não gostava desse sentimento, mas não consegui evitar.
Mayla foi extremamente infantil. Ela nem tentou entender a situação.
Saí pela rua ainda sem rumo. Pensei em ir para a casa da minha mãe,
eu precisava de apoio, mas depois da péssima reação de Mayla, fiquei com
medo de minha mãe também não ter uma boa reação, e se isso acontecesse eu
ficaria péssima, já tinha enfrentado decepções demais para um dia.
Meus olhos estavam cheios de lágrimas, mas eu não deixei que
caíssem. Eu me recusava a chorar. Não sabia exatamente o que estava
sentindo, só sabia que estava com muita raiva.
Optei por ir para casa. Só queria ficar sozinha.
Pedi um Uber. Queria chegar o mais rápido possível.
Assim que entrei em casa, fui direto tomar um remédio para dor.
Minha cabeça estava latejando.
Deitei no sofá, esperando a dor de cabeça passar. Eu ainda precisava
tomar banho e comer alguma coisa, mas estava exausta. A conversa com
Mayla havia me cansado mentalmente.
Depois de algum tempo, a dor começou a passar. Tomei banho e fiz
um jantar rápido, apesar de não estar com muita fome.
Deitei na cama ainda pensativa. Ainda sem acreditar em tudo que
tinha acontecido.
Quando peguei o celular, havia uma mensagem não lida. Ela já estava
lá há alguns minutos, provavelmente recebi enquanto estava no banho.
Era de Liam.
"Como você está?"
"Estou bem. Ainda chocada com a reação de Mayla."
"Depois de um tempo ela se acalmou um pouco, mas me mandou
embora de sua casa. Vamos conversar melhor amanhã, quando estivermos
mais calmos."
"Espero que ela entenda."
Ele demorou alguns instantes para enviar a próxima mensagem.
"Tenho certeza de que ela irá entender. Se precisar de algo, é só
chamar. Boa noite.
"Obrigada, mas está tudo bem por aqui. Boa noite."
Eu só precisava descansar. Boas horas de sono me fariam bem depois
de um dia tão agitado.
Capítulo 11

Eu olhava para o relógio de cinco em cinco minutos. Estava ansiosa


pelo fim do meu horário. Iria até a casa de minha mãe, contar sobre a
gravidez.
Eu ainda não conseguia entender a reação de Mayla. Ainda estava
muito desapontada. Cheguei a pensar em ir conversar com ela, agora que o
choque passou, mas optei por não ir. Ela é quem deveria vir até mim. Eu e
Liam somos totalmente inocentes nessa história.
Assim que terminei minhas tarefas, peguei minhas coisas e saí da
empresa.
Pedi um Uber e fui direto para a casa de minha mãe.
Enviei uma mensagem mais cedo, avisando que estava indo. Ela disse
que estaria me esperando com um bolo de chocolate. Comentou que estava há
dias para fazer esse bolo, mas fazia uma coisa e outra e no fim sempre
acabava deixando para depois.
Fiquei com uma certa pena quando ela disse isso. Talvez ela se
sentisse um pouco solitária. Desde que meu pai foi embora, ela nunca saiu
com mais ninguém, ou pelo menos nunca me contou. Ela havia se aposentado
há cerca de dois anos, e desde então fica apenas em casa, quase não saía. Era
uma rotina bem entediante.
Pensei que talvez eu pudesse ir visitá-la mais vezes, mas não tinha
certeza se isso daria certo. Ela tinha um temperamento muito difícil. Éramos
muito diferentes.
No momento em que o carro entrou no bairro de minha mãe, o meu
coração parou. Ele fez um certo caminho, e entrou na rua em que tudo havia
acontecido.
Desde o ocorrido eu evitava ao máximo aquela rua. Desviava o meu
percurso para não passar por ela. E as pouquíssimas vezes que passei, eu via
toda a cena novamente.
Eu a odiava! Era como se eu revivesse tudo novamente. Eu conseguia
sentir o calor de Peter saindo de meus braços. Eu conseguia sentir todo o
desespero mais uma vez.
A vontade de chorar era inevitável, mas tentei me conter.
Quando cheguei eu ainda estava um pouco atordoada. Tentei limpar
minha mente e entrei na casa.
Assim que abri a porta, o cheiro de café me invadiu.
— Mãe? — chamei.
Ela apareceu rapidamente.
— Estava finalizando a cobertura do bolo.
Fui até ela e a abracei forte. O que normalmente não fazia.
Ela estranhou.
— Anelise? Está tudo bem? O que aconteceu?
Me afastei e olhei para ela. Minha mãe parecia curiosa e preocupada.
— Eu estou grávida.
— O que? Como assim? — perguntou surpresa.
— Lembra da aquela festa que eu fui? Assim que voltei para a
cidade?
— Você perdeu o juízo? — gritou.
— Fique calma.
— Como eu posso focar calma? Você sai por aí transando com
desconhecidos!
Ela sentou no sofá. Estava agitada.
— Nós usamos camisinha, na verdade, eu não sei exatamente o que
aconteceu.
Minha voz estava falhada.
— E agora você está grávida de um cara qualquer?
Sentei ao lado dela no sofá.
— Antes fosse um cara qualquer mesmo. Dias depois eu descobri que
ele era o noivo de Mayla. Eles estavam namorando há meses, mas tiveram
uma briga e terminaram, nessa briga eu o conheci. Depois eles voltaram, e
agora estão noivos — expliquei passando a mão pelo rosto. Estava nervosa.
— Você está grávida do noivo da sua melhor amiga? — perguntou,
arqueando uma sobrancelha.
— Sim, mas eu não sabia. Não fazia ideia. E ele também não fez
nada de errado, já que haviam terminado. É uma situação muito delicada.
— Olha, eu nem sei o que dizer. Já contou para Mayla?
Ela estava um pouco mais calma.
— Sim, contei. A reação dela foi a pior possível, chegou a me
expulsar de sua casa.
— Imagino. Mayla sempre teve temperamento forte, desde criança. E
como vão resolver isso? O pai da criança vai assumir?
— Sim. Ele disse que irá me dar todo o apoio. Contamos para Mayla
juntos. Ele ficou ao meu lado, tentou explicar.
— Bom, pelo menos isso. Seria muito difícil criar um filho sem pai.
— Mas eu criaria. Mesmo que não tivesse o apoio do pai. Seria eu e
ele — falei, passando a mão por minha barriga.
— Se você vai ter ajuda do pai, então por mim tudo bem, só não
quero ter que cuidar de neto. Você foi muito inconsequente.
— Apesar de toda essa situação estranha. Eu estou feliz. Sempre quis
ter outro filho, mas ainda tenho esperanças de encontrar Peter. Sonho em ter
os dois ao meu lado. Só assim eu estaria completamente realizada.
— Esqueça essa história. Você já tentou de tudo e nunca consegui o
encontrar. Agora você terá outro filho, e trate de cuidar desse.
— E eu vou cria-lo da melhor forma possível.
— Precisamos contar para seu pai. Ela ficará feliz em saber que será
avô.
Ele não será avô, ele é avô. Peter está vivo. Eu sei que está em algum
lugar me esperando, mas não falei nada. Não queria causar um possível
desentendimento.
— Vou contar para ele depois. Agora eu só preciso de um pedaço
desse bolo. Esse cheiro está me deixando faminta.
— Isso. Vamos comer. O bolo e o café devem estar esfriando.
Apesar de minha mãe não ter ficado muito empolgada. Ela ficou ao
meu lado.
Passar o tempo com ela foi agradável. Nós nos dávamos bem assim,
sem precisar conviver, apenas com algumas visitas.
— Esse bolo está maravilhoso — comentei, entre uma mordida e
outra.
— Pode levar um pouco para casa, se quiser. É muito para mim. Com
certeza irá sobrar.
Minha teoria de que ela se sentia sozinha fez sentido. Talvez fosse o
seu jeito de reclamar sobre isso.
— Vou levar mesmo. Provavelmente terei vontade de comer ele mais
tarde de novo.
— E como estão os enjoos?
— Não estão incomodando tanto. Normalmente são mais fortes pela
manhã. Estou conseguindo lidar bem com eles. Muito melhor do que a
gravidez do Peter, eu enjoava o dia todo.
Minha mãe me deu algumas dicas para tentar controlar os enjoos pela
manhã.
Eu estava feliz por estar ali. A reação dela foi melhor do que imaginei
que seria. No começo foi difícil, mas acabou entendendo. Era exatamente
assim que eu esperava que Mayla tivesse reagido.
[...]
Eu havia marcado a minha primeira consulta. Seria na mesma clínica.
Não cheguei a ver o médico novamente. Apenas expliquei para a
recepcionista que estava grávida e que precisava começar o meu
acompanhamento.
Tentei marcar o horário mais tarde possível, não queria ficar faltando
ou saindo cedo do serviço.
Eu sairia apenas uns quarenta minutos mais cedo. Foi o mais tarde
que consegui marcar. A clínica fechava cedo.
Eu já havia contado sobre minha gravidez para os colegas mais
próximos. Todos ficaram felizes por mim.
Quando cheguei na clínica, eu estava nervosa.
O lugar já estava quase vazio. Não demorei para ser atendida.
O meu nervosismo passou quando vi a doutora. Era uma mulher com
longos cabelos escuros. Muito simpática e falante. Estar na sua presença me
deixou mais calma.
Ela comentou que eu poderia fazer o primeiro ultrassom com onze
semanas. Ela também me passou alguns exames, só para ter certeza de que
estava tudo bem.
Saí da clínica feliz e aliviada.
Enquanto ia para casa, eu lembrava da primeira consulta com Peter
na barriga. Era impossível não comparar. Cada etapa, cada enjoo, cada
mudança no meu corpo, eu sempre lembrava dele.
Em alguns momentos eu chegava a pensar que estava grávida de
Peter. Eu precisava parar e pensar, até me convencer de que não era ele. Eu
precisava colocar em minha cabeça que era outro bebê, não era Peter. Eu não
queria cria-lo sempre o comparando com outra pessoa.
Assim que cheguei em casa, enviei uma mensagem para Liam. Ele
pediu que eu avisasse quando chegasse da primeira consulta.
"Acabei de chegar. Foi tudo bem. Farei apenas alguns exames."
"Fico feliz em saber. Quando marcar o primeiro ultrassom me avise,
quero ir com você."
"Aviso sim."
Ele demorou alguns minutos para enviar a próxima mensagem.
Pensei que nosso assunto havia acabado ali.
"E como você está? Digo, em relação a tudo isso? Com a Mayla?"
"Estou bem, na medida do possível. Não falei mais com Mayla. É
melhor darmos um tempo. Acho que ela que deve vir me procurar para
conversamos. Vocês estão bem?"
"Estamos mais ou menos. Eu gosto da Mayla, mas ela é muito
ciumenta. Não tenho certeza se dará certo."
Enquanto lia a mensagem de Liam, fui até a cozinha para servir uma
xícara de café.
"De certa forma me sinto culpada por isso, apesar de saber que não é
verdade."
"Claro que não. Você e eu não temos culpa de nada. Se precisar de
alguma coisa, é só chamar."
"Tudo bem. Boa noite."
Ele enviou um último boa noite.
Sentei na pequena bancada para beber um meu café.
Eu sabia que Liam tinha razão. Nós não tínhamos culpa de nada. E
apesar de eu estar profundamente chateada e decepcionada com Mayla, de
certa forma eu sentia um pouco de culpa. Tinha pena dela. Ela sempre foi tão
insegura. Sabia que essa situação era difícil para ela, mas também era difícil
para todos nós.
Capítulo 12

Algumas semanas haviam passado. Já era novembro. O frio estava


cada vez mais intenso.
Finalmente eu havia completado minhas onze semanas de gestação.
Isso significava que eu poderia fazer o primeiro ultrassom.
Eu não havia mais visto Liam, desde o dia na casa da Mayla.
Falávamo-nos por mensagem, ele sempre perguntava como eu estava e se
precisava de algo. Estava sendo presente, na medida do possível. Não
falamos mais em Mayla, eu não sabia como estavam as coisas, mas imaginei
que ela estivesse um pouco mais calma e que a essa altura já tivesse aceitado
a situação.
Todos já sabiam sobre minha gravidez, inclusive meu pai. A reação
dele foi boa, no começo me julgou, assim como minha mãe, mas no final
ficou feliz por ser avô de novo.
Eu sairia um pouco mais cedo do trabalho para ir na consulta. Dessa
vez, Liam iria comigo. Ele disse que estava ansioso pelo ultrassom.
Finalizei o que estava fazendo e guardei minhas coisas. Estava quase
na hora da minha consulta. Liam viria me buscar, iríamos diretamente para a
clínica.
Por um instante, imaginei como Mayla havia encarado essa primeira
consulta. Confesso que cheguei a imaginar Liam chegando para me buscar, e
Mayla no banco do carona, mas sabia que isso seria um exagero, até mesmo
para Mayla.
Saí do prédio e esperei por Liam na calçada.
Em pouco segundos avistei o seu carro. Fui até ele e abri a porta.
— Entre — falou sorrindo.
Ele estava sozinho, sem a Mayla. Para meu alívio.
— Tudo bem? — perguntei entrando no carro.
— Sim, e com você?
— Ótima. Os enjoos estão diminuindo. Estou me sentindo muito bem
nesses últimos dias— respondi, colocando o sinto de segurança.
— Isso é bom. Falei com minha mãe sobre os seus enjoos, ela disse
que quando estava grávida de mim, tomava bastante chá de hortelã, disse que
ajudava bastante.
— Vou tentar quando ficar enjoada. Eu estou tomando chá de
gengibre e tem ajudado. E falando na sua mãe, ela aceitou bem a gravidez?
Eu não sabia nada sobre Liam. A única coisa que sabia era que ele e
seu pai tinham uma empresa de roupas.
— Sim. Ela está muito empolgada. Meu pai também gostou da ideia,
mas minha mãe fala no bebê o tempo inteiro. Vamos marcar um jantar para
vocês se conhecem.
— Claro. É só me avisar. Eu andei pesquisando na internet sobre o
teste de DNA. Pelo que eu vi, já podemos marcar. O resultado sai em cerca
de um mês.
— Vou me informar. Eu mesmo posso marcar e aviso você.
— Tudo bem.
Chegamos na clínica sem muita demora.
Como das outras vezes, não havia quase ninguém. Eu estava
gostando de vir nesse horário do final do dia. Não precisaria esperar muito
tempo.
Sentamos na sala de espera.
Eu não via a hora de poder ver o meu bebê no ultrassom. Estava
empolgada e um pouco tensa. Eu esperava há semanas por esse momento.
Eu não tinha o costume de roer unhas, mas não consegui evitar.
Estava com os dedos na boca.
— Você parece nervosa — comentou Liam.
— Eu diria ansiosa — respondi forçando um sorriso.
— Vou pegar uma água para você.
Ele levantou e foi até o filtro de água. Voltando com um copo.
— Obrigada — agradeci enquanto pegava a bebida.
Eu estava terminando de beber, quando a doutora chamou meu nome.
Era agora.
Levantei da cadeira e senti minhas pernas bambas. Meu corpo estava
mole. Tive quase a mesma sensação na outra consulta, e passou no instante
em que comecei a conversar com a doutora, e sabia que dessa vez passaria
assim que eu o visse no ultrassom.
— Boa tarde. Sou a doutora Müller. Você é o pai?
— Sim, sou o pai — respondeu sorridente.
Fiquei feliz com o que ouvi. Era a primeira vez que ouvia Liam falar
ser o pai do meu filho.
Primeiramente a doutora falou que eu estava ótima. Todos meus
exames estavam em dia. O bebê estava forte e saudável.
Respirei aliviada quando ouvi isso.
— Vamos dar uma olhada nesse bebê? — disse a doutora.
Tirei meu casaco grosso. Em seguida sentei na maca e levantei minha
blusa até a altura dos seios. Abaixei minha calça o máximo possível.
A doutora passou uma espécie de gel em minha barriga, antes de vir
com o aparelho.
Ela deslizava o aparelho por minha barriga.
Eu olhava para o monitor, mas não conseguia ver nada.
— Está aqui. Consegue ver?
A mulher foi para perto e indicou na tela.
— Não vejo nada — falei, assustada.
— Veja. Aqui está a cabeça, esse é o tronco — explicou apontando.
No momento em que ela mostrou, tudo ficou mais claro.
— Eu consigo ver — respondeu Liam, com um largo sorriso no rosto.
— Estou vendo! — exclamei.
Não consegui controlar, e uma lágrimas escorreu pelo meu rosto.
Era real. Ele realmente estava lá. Era como se a ficha só tivesse caído
ali, naquele momento.
— Ele já está muito forte — elogiou a doutora.
Olhei para Liam. Ele não tirava os olhos do monitor. Estava sorrindo.
— Já dá para saber se é menino ou menina? — questionou Liam.
— Ainda não. Normalmente é possível ver o sexo entre a décima
sexta e décima oitava semana. Aguentem só mais um pouquinho.
Liam fez mais algumas perguntas sobre a formação do bebê. Eu mal
conseguia prestar atenção. Estava anestesiada. Não conseguia controlar
minhas lágrimas. Era um misto de felicidade e tristeza. Não conseguia parar
de pensar em Peter. Era como se eu estivesse revivendo o momento. Eu
estava feliz por ter essa nova chance, mas meu coração ainda estava com
Peter.
Eu sentia um nó na garganta. Minha vontade era de chorar
desesperadamente, mas eu tentava controlar. Não queria fazer uma cena no
consultório.
No final da consulta, as lágrimas insistiam em cair.
A doutora não perguntou nada. Deve ser muito comum algumas mães
não controlarem a emoção durante o ultrassom.
Saímos da clínica em silêncio.
Coloquei a mão em minha barriga e acariciei.
Assim que chegamos do lado de fora da clínica, eu sequei as
lágrimas.
— Você está bem? — perguntou Liam.
— Mais ou menos. Parte de mim, está radiante pelo bebê estar bem,
mas outra parte não — respondi, desviando o olhar para os carros que
passavam na rua.
— Vamos tomar um café? Tem uma cafeteria ali na esquina.
Podemos até ir caminhando — sugeriu.
— Tudo bem — concordei.
Liam sabia que havia algo errado, mas não fez perguntas. Ao invés
disso tentou me distrair.
— Você acha que será menino ou menina? — perguntou.
— Menina.
E seria como eu sempre sonhei. Teria um menino e uma menina.
— Eu ficarei muito feliz com o que vier. Não tenho preferência —
falou.
Avistamos o café. Ficava há poucos passos da clínica. Eu já havia o
visto, mas nunca tinha parado ali.
Entramos no lugar e sentamos em uma mesa, ao lado de uma enorme
janela de vidro.
— O que vai querer?
— Acho que só um capuccino — respondi, em voz baixa.
— Vou pedir um também, e uns muffins, estou faminto. Não comi
nada desde o almoço — explicou.
— Eu estou sem fome, mas pelo menos não estou enjoada.
O meu choro havia cessado. Eu estava mais calma.
— Eu preciso enviar uma mensagem para minha mãe. Ela estava
muito ansiosa com esse primeiro ultrassom.
Ele pegou o celular e enviou uma mensagem.
Nossos cafés chegaram sem muita demora.
— Esses muffins estão com uma cara ótima — comentei assim que
chegaram.
E realmente estavam. Eu não estava com fome antes, mas isso mudou
quando eu vi os muffins.
— Coma. Você precisa se alimentar.
Peguei um e dei uma mordida. O sabor estava tão bom quanto a
aparência.
— E como é a sua relação com a sua mãe? Ela não o julgou por ter
um filho com uma estranha? — perguntei entre uma mordida e outra.
— Temos uma ótima relação. Sou filho único. Somos uma família
muito unida. No começo ela levou um susto, mas eu expliquei a situação e
logo ela já ficou empolgada em ter um neto.
— Sorte a sua. Eu e minha mãe nunca fomos muito chegadas.
— Vocês não se dão bem?
— Mais ou menos, somos muito diferentes, mas ela acabou aceitando
minha gravidez, na verdade, ela não tinha escolha.
— Eu sinto muito. Fico triste com isso. Eu e minha mãe temos uma
relação tão boa. Deveria ser assim com tudo mundo — falou, bebendo um
gole de seu café.
— Será assim entre mim e meu filho. Vou apoia-lo sempre.
— Eu também. Serei um ótimo pai.
Liam estava sorrindo. Ele estava mais do que cumprindo com suas
obrigações. Ele estava feliz em ser pai.
Eu estava no último gole do meu café. Estava me sentindo
confortável na presença de Liam.
— Sabe, não é a primeira vez que eu passo por isso — confessei.
— Como assim? — perguntou franzindo o cenho.
— Eu já tive um filho, ou melhor, tenho. O nome dele é Peter. Ele
tem sete anos — falei, com a voz falhada.
Liam ficou surpreso com o que ouviu.
— E onde ele está?
— Eu não sei. Quando ele tinha apenas três meses, eu estava andando
na rua com ele no colo. Não estava muito longe de casa. Um carro parou ao
nosso lado e um homem desceu. Ele veio até mim e pegou Peter de meus
braços. Eu lutei com todas as minhas forças, mas não consegui evitar. Eu
deixei que o levassem — contei enchendo os olhos de água novamente.
— E você nunca o encontrou? E a polícia?
— Eles tentaram, mas nunca o encontraram, na verdade, eu acho que
não deram muita bola para o caso. — Desviei o olhar para a janela que estava
ao meu lado. — Eu o procurei, mas nunca consegui achar nenhuma pista.
Depois disso, eu saí de casa. Fui morar em Berlim. Me formei em marketing
e comecei a trabalhar. Fiz uma nova vida lá, mas eu nunca o esqueci.
— Eu sinto muito. Nem sei o que dizer. Não posso imaginar tudo que
você passou.
Ele estava com um olhar triste.
— É uma dor que eu não desejo para ninguém. Eu voltei para a
cidade pois tenho esperanças de o encontrar, mas não sei por onde começar.
Não tenho nenhuma pista.
Uma lágrima acabou escorrendo pelo meu rosto.
Liam esticou o braço em cima da mesa e pegou em minha mão.
— O que eu puder fazer para ajudar eu farei. É inaceitável uma mãe
ter seu filho roubado de seus braços.
Segurei sua mão com força.
— Obrigada — foi tudo que consegui falar.
Ficamos em silêncio por um instante. O clima ficou pesado.
— Você quer mais alguma coisa? — perguntou ainda com um olhar
triste.
— Não, obrigada. Quero ir para casa.
— Tudo bem.
Enquanto saímos do lugar, me perguntei se eu deveria mesmo ter
contado de Peter para Liam. Ele estava tão feliz e empolgado com o bebê, e
de repente tudo isso mudou.
Entramos no carro e começamos nosso caminho de volta. Liam iria
me deixar em casa.
Ele tentou deixar o clima mais leve. Voltou a falar sobre o bebê.
— O que acha de irmos juntos comprar a primeira roupinha? —
sugeriu, sem tirar os olhos do trânsito.
— Ah eu não vejo a hora.
— Eu posso sair um pouco mais cedo do trabalho no sábado. Tem
uma loja de departamentos lá perto da empresa.
— Combinado.
Abri um sorriso largo ao pensar nas roupinhas e em todos os
acessórios de bebê. Parece que até consegui sentir o cheirinho de perfume de
bebê no ar.
Indiquei onde ficava meu apartamento.
Liam parou o carro bem em frente ao prédio.
— Se você precisar de algo, de qualquer coisa, pode me chamar —
falou.
— Obrigada, Liam, por tudo.
— Ou se quiser apenas conversar, pode chamar em qualquer horário.
— Até mais — falei, saindo do carro.
Fiquei em frente ao meu prédio. Observando seu carro enquanto
sumia da minha visão.
Eu gostei de passar um tempo com Liam, de certa forma, me sentia
mais leve.
Capítulo 13

Eu estava ansiosa pelo sábado. Além de não ir trabalhar, eu iria sair


com Liam para comprar a primeira roupinha do bebê.
Acordei quase meio dia. Os últimos dias estavam cansativos. As
campanhas de natal estavam puxadas, sem falar que eu estava com sono o
tempo inteiro. Não importava o quanto dormisse.
Passei a tarde olhando carros para vender na internet, agora que eu
estava esperando um bebê, eu precisava muito de um carro. Minha meta era
comprar no início de janeiro. Não precisava ser luxuoso, desde que fosse um
carro bom e não me desse problemas.
Depois de horas de pesquisa, tentei relaxar um pouco. Fui olhar um
programa sobre reforma de casas, eu adorava esse tipo de programa.
Decoração e reforma eram assuntos que me interessavam muito.
Principalmente decoração alegre e com flores.
Quando me dei conta, já estava quase na hora de Liam vir me buscar.
Eu falei que não precisava, que encontraria ele na loja, mas ele insistiu.
Fui para o banheiro. Tomei um banho quente e muito relaxante.
Fui para o quarto me vestir. Eu ainda estava nua, quando observei
meu corpo em frente ao espelho.
Coloquei a mão em minha barriga, em alguns meses, ela estaria
enorme.
Um sorriso se formou em meus lábios ao imaginar isso.
Eu não tinha certeza, mas tinha a impressão que minha barriga já
estava maior.
Fiquei de lado e observei. Sim, ela estava maior, pouca coisa, mas
estava.
Eu sabia que ainda não era o bebê em si, mas eram sinais da gravidez.
Fiquei mais alguns minutos acariciando minha barriga em frente ao
espelho, antes de finalmente ir me arrumar.
Vesti algo bem simples e confortável e fui esperar por Liam na sala.
Em pouco minutos ele enviou uma mensagem dizendo que estava a
caminho.
Apesar de ainda ser cedo, o sol já estava se pondo. A temperatura não
estava tão baixa quanto nos últimos dias. Era bom não precisar de tantas
camadas de roupas.
Eu estava na calçada, quando vi seu carro virar a esquina. Em poucos
segundos, ele estava em frente ao meu prédio.
— Olá — cumprimentei, entrando no carro.
— Olá, como você está? Como tem passado?
— Estou bem. Estou animada para a primeira roupinha.
— Eu também.
Ele sorriu.
— Tive a impressão de que minha barriga já está começando a
aparecer.
— Sério? Isso é ótimo.
— Não vejo a hora de estar com o barrigão.
— Eu também, na verdade, não vejo a hora do bebê nascer. Fico
imaginando o seu rostinho.
Eu sentia a emoção em sua voz. Liam queria muito aquele filho. Ele
já estava apegado.
— Eu quero que os meses passem logo, mas ao mesmo tempo quero
curtir a gravidez.
— Imagino como deve ser. É muita ansiedade.
— Muito mesmo — completei.
Paramos em um sinal fechado.
— E os enjoos? Experimentou o chá de hortelã?
— Estão bem melhores. Tenho sentido só um pouco na parte da
manhã. Estou tomando o chá de hortelã, não sei se foi ele ou se já estava na
hora de passar, mas estou bem melhor nesses últimos dias.
— Comentei com minha mãe, ela disse que a tendência é melhorar a
partir da décima terceira semana. Pelo menos, foi assim quando estava
grávida de mim.
— Isso é muito bom. Odeio ficar enjoada, não são só os enjoos, mas
sim todo um mal estar junto, fico bem indisposta.
Chegamos na loja mais rápido do que imaginei. Talvez por estar
conversando com Liam, nem percebi o tempo passar
— Chegamos — anunciou.
— Eu não conheço essa loja — comentei, enquanto descia do carro.
— É nova. Foi construída há uns dois anos.
— Parece enorme.
— E é. Tem de tudo.
Assim que entramos no lugar, fiquei impressionada. Parecia ainda
maior por dentro do que por fora.
Liam me guiou até a sessão de bebês.
— Acho que será difícil escolher — comentou.
— Aí meu Deus! Quanta coisa.
Havia uma grande variedade, de roupas a todos os tipos de
acessórios.
— Veja esse aqui! — exclamou Liam, pegando um macacão branco.
— É lindo. Já consigo imagina-lo usando isso. E esse, tão delicado —
apontei para um outro macacão verde.
— Ali tem sapatinhos — falou sorrindo.
— Que coisa mais fofa!
Estávamos parecendo duas crianças em uma loja de brinquedos.
Olhávamos para todo os lados.
— Precisamos de um cesto para colocar as coisas.
— Pensei que fossemos comprar apenas uma peça — falei.
— Quem sabe duas ou três. Eu já volto. Vou pegar um cesto
Enquanto ele foi, eu avistei um macacão. Era amarelo com estampa
de leão. O capuz era um tom de amarelo queimado ou marrom, imitando a
juba do leão.
Quando Liam voltou, eu estava com a peça na mão.
— O que achou desse? — questionei.
— É lindo.
Os olhos de Liam estavam brilhando, assim como os meus.
— Acho que essa pode ser a primeira roupinha oficial do nosso bebê
— falei sorrindo.
— Em alguns meses ele estará usando. — Ele pegou suavemente a
peça da minha mão e observou por um instante, em seguida o colocou no
cesto. — Já que estamos aqui, vamos escolher mais algumas coisinhas.
— Tudo bem — concordei sorrindo.
Passamos um bom tempo na loja. Tínhamos vontade de levar tudo.
Escolhemos mais algumas peças, junto com dois sapatinhos.
— Na próxima vamos comprar alguns acessórios, mamadeiras, bicos,
chocalhos, essas coisas — comentou Liam, enquanto íamos para o caixa.
— Essa loja me levará a falência — brinquei.
— Não se preocupe com isso. Eu pagarei tudo.
— De jeito nenhum. Eu peguei várias coisas, é justo que eu pague —
falei.
— Quando viermos comprar as mamadeiras você paga. Agora pode
deixar comigo.
— Tudo bem — disse, me dando por vencida.
Pagamos as compras e fizemos nosso caminho de volta para o carro.
A noite já havia caído completamente.
— Está com fome? Quer comer alguma coisa? — perguntou
enquanto colocávamos as sacolas no porta malas.
— Um pouco, mas está tudo bem. Eu farei alguma coisa quando
chegar. Você já se incomodou demais.
— Não é incomodo nenhum levar a mãe do meu filho para comer.
Está com vontade de comer o que?
— Já que você perguntou, estou com muita vontade de comer lasanha
de frango.
— E não se deve negar pedidos de grávida. Vamos.
Ele fechou o porta-malas.
Entramos no carro.
— Mas não quero incomodar, podemos passar no mercado e...
— Já disse, não é incomodo nenhum. Também estou com fome. Vim
direto do trabalho — falou, me interrompendo.
Eu queria sair para comer com Liam. Era bom estar fora de casa e
distrair a cabeça um pouco. Mas pensei em Mayla, se ela soubesse disso,
provavelmente ficaria furiosa. Eu estava pensando muito nela nesses últimos
dias. Talvez eu devesse procurá-la. Éramos amigas há tanto tempo, queria
resolver as coisas com ela. Não queria que a nossa amizade terminasse assim.
Fomos até um restaurante italiano. Não ficava muito longe.
— Nossa! Há quanto tempo eu não vinha nesse lugar — falei, assim
que paramos o carro.
— Eu adoro a comida daqui. É a melhor comida italiana.
— Eu costumava vir aqui na minha adolescência. Sempre pedia
macarrão com queijo. Acho que nunca experimentei a lasanha.
— Já comi algumas vezes. Realmente é muito boa.
Quando descemos do carro, eu observei a fachada. Estava diferente,
com certeza fizeram algumas modificações.
O lugar não estava tão lotado.
Escolhemos uma mesa e sentamos.
Liam pediu a lasanha.
— Esse cheiro está me deixando ainda com mais fome — comentei.
— Eu também, estou faminto. O que você quer beber?
— Suco de maçã.
— Vou acompanhar você.
Liam pediu e nossas bebidas chegaram rapidamente, antes mesmo da
lasanha.
— E como estão as coisas com Mayla? Ela já aceitou? — perguntei,
bebendo um gole do meu suco.
— Ela está bem mais calma. Penso que entendeu a situação.
— Eu fico muito feliz em saber disso. Eu estava pensando em
conversar com ela sobre isso, queria resolver a situação. Somos amigas desde
criança.
— Eu acho uma ótima ideia. Tenho certeza de que vocês irão se
entender.
Nossa lasanha chegou. Estava com uma ótima aparência.
— O cheiro está ótimo — falei, prestes a dar a primeira garfada.
— Espere até provar.
Assim que dei a primeira garfada entendi porque Liam falou que era
o melhor restaurante de comida italiana.
— É maravilhosa!
— Eu disse. Agora você só vai querer comer essa lasanha.
— Com certeza é a melhor lasanha que eu já comi na vida— afirmei.
— Falando em comida. Você sabe cozinhar? — perguntou.
— Sim. Tive que aprender quando saí de casa. Acabei gostando, hoje
adoro cozinhar e experimentar novas receitas. Apesar de confessar que ando
meia preguiçosa para isso. Também adoro um fast-food.
— Ah isso é normal. Eu também gosto muito. Adoro hambúrguer
com bastante queijo.
— Sim, concordo. Perto do meu apartamento tem um hambúrguer de
frango maravilhoso. Eu estava viciada nele, até descobrir a gravidez. Agora
estou tentando comer mais saudável.
— E você tem razão, tudo pela saúde do bebê. Mas pelo que a
doutora falou, você e ele estão ótimos. Um hambúrguer de vez em quando
não fará mal. Confesso que fiquei com vontade de experimentar.
— Podemos ir qualquer hora. Já faz um tempo que não como. E você,
sabe cozinhar?
— Sim. Aprendi bem cedo com minha mãe. Hoje tenho uma
alimentação muito variada. Aprendi a comer de tudo.
— De tudo? — perguntei franzindo o cenho.
— Sim, até mesmo comidas exóticas.
— Ah não! Aquelas comidas estranhas? Mas não me fale. Não quero
ficar enjoada agora. Em outra ocasião você me conta.
— Tudo bem — respondeu sorrindo.
— E seus pais, moram aqui perto?
— Sim, na verdade, moramos no mesmo bairro. Assim posso visita-
los sempre. Não fico muito tempo longe de minha mãe.
Por um momento, pensei em minha mãe. Queria que a nossa relação
fosse melhor, apesar de não ser das piores, ainda éramos distantes.
Terminamos de comer a lasanha. Eu estava completamente satisfeita.
— Eu amei. Com certeza virei comer aqui outras vezes.
— Quer sobremesa? — perguntou.
— Não. Estou cheia. Fica para a próxima.
Mais uma vez Liam insistiu em pagar tudo sozinho. Ele disse que o
convite era dele, então ele quem deveria pagar.
Seguimos nosso caminho de volta para casa.
As ruas já estavam um pouco mais calmas e silenciosas.
Liam me deixou em casa. E como sempre, falou que eu poderia ligar
ou enviar mensagens a qualquer momento.
Ele estava sendo muito mais presente do que imaginei, mas eu estava
gostando disso.
Terminei a noite admirando as roupinhas que havíamos comprado.
Imaginando o bebê usando todas aquelas peças.
Eu estava feliz por ser mãe novamente.
Capítulo 14

Eu estava há dias pensando em ir conversar com Mayla. Depois de


muito refleti, decidi que iria até sua casa. Segundo Liam, ela já estava mais
calma. Só queria que nos entendêssemos novamente.
Saí do serviço e fui direto para a casa de Mayla. Pedi um Uber para
chegar mais rápido.
Enquanto estava no carro. Tentei pensar no que dizer, mas não
consegui pensar em nada. Sabia que as palavras iriam surgir, sem precisar
ensaiar.
Assim que desci em frente à casa. Senti um certo frio no estômago.
Essa seria a minha última chance, se ela não quisesse entender, eu não iria
mais atrás, nossa amizade estaria acabada.
Dei passos lentos até a porta.
Bati de leve.
A porta se abriu rapidamente.
— Senhora Klein.
— Querida! Como vai?
— Estou bem. Eu vim conversar com Mayla.
— Ela ainda não chegou do serviço, mas deve estar chegando.
Vamos, entre.
Entrei na casa e senti o cheiro de café me invadir.
— Estou passando um café. Quer?
— Sim, por favor. Não resisto a um café.
— Quer alguns biscoitos também? — ofereceu.
— Não, obrigada. Só o café.
— Se eu bem me lembro, gosta com bastante açúcar, é isso?
— Sim, bem docinho.
— Sente, por favor. Eu vou buscar.
Ela foi até a cozinha e voltou poucos instantes depois.
— Obrigada — agradeci, pegando a xícara de café.
Ele sentou em uma poltrona preta, parecia ser de couro.
— E como você está? E o bebê?
— Estamos bem. Já fiz o primeiro ultrassom.
— Isso é ótimo. Fico muito feliz.
— Tenho tido muito sono. Não importa quanto eu durma, eu sempre
quero dormir mais. — Ri fraco.
— É assim mesmo. Eu ficava muita cansada na gravidez de Mayla,
mas vai passando aos poucos. Lembro que tinha enjoos terríveis na parte da
manhã, não conseguia tomar o café.
— Sim, os enjoos matinais são muito ruins. Estou comendo agora
apenas uns biscoitos de água e sal. Só consigo comer mesmo depois do meio
dia — falei, bebendo um gole do meu café.
— Mas no final, tudo vale a pena.
Antes que eu pudesse responder, ouvimos o barulho da porta abrindo.
Era Mayla.
— Anelise! O que faz aqui? — perguntou surpresa.
Ela não esperava minha visita.
— Nós precisamos conversar — respondi, largando a xícara de café
na mesinha de centro.
— Eu vou para o meu quarto, assim podem ficar mais à vontade —
disse a mais velha.
— O que você quer? — Mayla se aproximou e sentou na mesma
poltrona que sua mãe estava.
— Nós ficamos todos muito nervosos com a situação, eu entendo,
mas sua reação foi extremamente infantil.
— Eu sei. Eu fui pega de surpresa. Eu não fazia ideia de que vocês se
conheciam, imagina terem um filho juntos — falou, em um tom baixo.
— Eu acho que não faz sentido ficarmos brigadas, afinal, nenhum de
nós teve culpa de nada.
— Eu sei, Anelise. Me desculpe.
— Está tudo bem.
— Liam tem falado bastante no bebê, ele está muito empolgado —
falou.
— E eu também, estou muito feliz.
Ela levantou e veio até mim. Sabia que iria me dar um abraço.
Levantei e nos abraçamos.
— Estou feliz por você. Principalmente depois de tudo que você
passou. Sei que esse bebê é uma nova oportunidade para você — disse, no
momento em que nos afastamos.
— É sim. Ele não foi planejado, e eu não esperava por ele, mas agora
ele já faz parte de mim.
— Eu consigo imaginar. Liam comentou sobre o ultrassom. Como
foi?
Ela sentou na poltrona novamente, e eu no sofá.
— Foi emocionante. Chorei bastante, foi impossível não lembrar de
Peter.
— Sei que é um assunto muito delicado. E como vai o seu emprego?
Mayla não gostava de falar em Peter. Ela sempre mudava de assunto.
Falava que era um assunto muito pesado, que eu não deveria ficar revivendo
o passado.
— Eu estou amando. Meus colegas de trabalho são ótimos.
Ficamos algum tempo conversando.
Mayla também falou sobre o seu emprego. Ela não estava tão
empolgada, disse que pensava em sair e arrumar outra coisa, mas isso não era
tão fácil.
Depois de alguns minutos, a mãe de Mayla saiu do quarto e se juntou
a nós. Ela deve ter percebido que a conversa estava leve.
— Nos acompanhará no jantar? — perguntou Mayla.
— Não. Vou aproveitar que estou aqui e vou passar na casa da minha
mãe. Faz tempo que não a vejo. Aliás, já está ficando tarde.
— Tudo bem, volte quando quiser — falou senhora Klein.
Nós despedimos.
Fui caminhando em direção à casa da minha mãe.
Eu estava feliz por ter me entendido com Mayla. Não queria ficar
brigada com ela.
Estava tão feliz que nada seria capaz de mudar o meu humor, nem
mesmo minha mãe.
Dei duas leves batidas na porta.
Ela atendeu sem muita demora.
— Anelise! Quanto tempo você não aparece — falou, abrindo a
porta.
— Eu vim conversar com Mayla.
Entrei na casa.
Senti cheiro de comida. Percebi que estava fazendo o jantar.
— Estou fazendo a comida.
Fomos até a cozinha, onde ele estava descascando alguns legumes.
— E como foi a conversa?
— Nos entendemos. Só precisávamos conversar.
— Eu não a julgo. Imagino o choque que ela levou quando soube.
— Sim, mas ela acabou entendendo, como eu sempre falo, nós não
tivemos culpa.
— Vai ficar para jantar?
— Sim, está com o cheirinho ótimo.
Passamos a noite juntas. Jantamos e eu falei sobre o ultrassom, não
que ela estivesse muito interessada, mas eu precisava contar para alguém.
Estava cada dia mais feliz com a minha gravidez.

[...]
Os dias passavam lentamente, talvez por conta da minha ansiedade de
ver a barriga crescer.
O natal estava se aproximando, e com isso o serviço na empresa
estava intenso.
Eu andava cansada, mas feliz pelo meu desempenho no trabalho.
Todos me elogiavam, e modéstia parte, eu era uma ótima profissional.
Liam mandavam mensagem quase todos os dias. Sempre perguntava
se eu estava bem ou se precisava de algo.
Eu estava saindo do serviço quando meu celular vibrou.
Era uma mensagem de Liam.
"Comprei um sapatinho de tricô para o bebê. Uma moça aqui da
empresa faz para vender."
"Sério? Manda uma foto, quero ver."
Sorri só de pensar no sapatinho.
"Nada disso. Vou entregar pessoalmente. O que acha de irmos comer
aquele hambúrguer que fica perto do seu apartamento? Estou pensando nele
desde o dia que você falou."
"Claro. Eu estou saindo do serviço agora. Podemos nos encontrar lá."
"Estou indo para lá. Vou sair daqui agora."
Eu sabia que ele ainda iria demorar um pouco para chegar. Então
decidi ir caminhando.
Eu gostava de caminhar, me fazia muito bem.
Quando cheguei, Liam ainda não estava lá.
Escolhi uma mesa perto da janela e o esperei.
Demorou mais alguns instantes para ele aparecer. Estava com uma
pequena sacola de papel nas mãos.
Fiquei feliz no momento em que o vi.
— Desculpe a demora — falou, sentando em minha frente.
— Tudo bem.
— Já pediu?
— Ainda não. Estava esperando você.
— Eu vou querer o hambúrguer que você elogiou.
— Hambúrguer de frango. Vou pedir. O que você quer beber?
— Acho que um suco de uva — respondeu.
— Vou acompanhar você. Estou tentando parar com o refrigerante.
— Isso é ótimo. Eu nunca fui muito de refrigerante, prefiro um suco,
se for natural, melhor ainda.
Fiz nossos pedidos. Chegou sem muita demora, já que não havia
muita gente no lugar.
— Estou faminta — comentei, assim que os hambúrgueres foram
servidos.
— E está com uma ótima aparência — falou Liam.
— Você vai ver, esse é o melhor hambúrguer que você que você irá
experimentar.
Dei uma boa mordida, e Liam fez o mesmo.
— Você tem razão. Realmente é muito bom.
— Viu só, eu disse.
— E como você tem passado nos últimos dias? — perguntou.
— Estou muito bem, apesar do cansaço.
— Eu faço ideia. As coisas na empresa também estão muito corridas,
muito trabalho. Final do ano é sempre assim, o que é bom. Quanto mais
trabalho, mais dinheiro — Riu fraco.
O lanche estava maravilhoso, como sempre. O suco de uva deu o
toque especial.
Liam comentou sobre a nova coleção que estavam preparando. Fiz
algumas perguntas, pois roupas e moda era um assunto que me interessava
bastante.
Assim que terminamos de comer, estávamos satisfeitos.
— E o sapatinho? Estou ansiosa para ver.
Ele sorriu.
Liam pegou a sacola que havia deixado no canto da mesa e me
entregou.
— Abra.
Abri a sacola delicadamente. E lá estava ele. Um sapatinho em tricô,
na cor lilás.
— Aí meu Deus! É lindo.
— Parece que já estou vendo o bebê usando.
Fiquei mais um instante apenas admirando.
— Obrigada Liam, é lindo.
Ele falou que poderíamos sair novamente para fazer compras, e eu
estava muito ansiosa para isso.
— Eu estava refletindo, já temos que começar a pensar nos nomes.
Você tem algum em mente? — perguntou.
— Eu ainda não havia parado para pensar nisso.
— Mas temos que pensar. O tempo está passando rápido.
— Eu sempre tive tantas ideias de nomes, mas agora que estou
grávida, parece que todos saíram da minha mente.
— Podemos olhar online — falou.
Lembrei o quanto foi difícil escolher o nome de Peter. Eu era muito
indecisa em relação a isso.
Ficamos mais algum tempo falando sobre os possíveis nomes. Não
chegamos a nenhuma conclusão, mas ainda tínhamos alguns meses para
pensar nisso.
Continuamos ali mais tempo que eu esperava. Nos distraímos
falando no bebê. Não percebi o tempo passar.
— Eu levo você em casa — disse.
— Não precisa. Chego em casa em poucos minutos.
— Eu insisto.
Sorri e concordei.
Não me importaria de passar mais alguns instantes com Liam.
Entramos no seu carro. Não demorou nem um minuto para
chegarmos.
— Obrigada pela carona, e pelo sapatinho. Eu amei.
— Não foi nada.
Por um instante, ficamos apenas nos observando.
A noite estava escura, mas eu ainda conseguia ver seus lindos olhos
azuis. Estavam brilhantes, como de costume.
Olhando fixamente para aqueles olhos, por um breve momento,
muito breve, eu quase perdi o juízo.
Pensei em beija-lo. Lembrei da nossa noite juntos, era como se eu
precisasse sentir o seu beijo novamente.
Ele correspondeu o olhar. Será que também teve o mesmo
pensamento?
— Boa noite — falei, voltando para a realidade.
— Boa noite. Se precisar de algo, já sabe — respondeu sorrindo.
Saí do carro e entrei rapidamente. Não fiquei observando seu carro
sumir da minha visão.
Isso era real? Eu quis mesmo beijar o noivo da minha melhor amiga?
Eu precisava tirar esse pensamento da cabeça. Quase deixei me levar
pelo momento, mas eu não podia deixar isso acontecer.
Liam era um homem muito bonito, simpático e agradável. Eu estava
apenas confundindo as coisas. Ele era pai do meu filho e era isso, só isso. Eu
nunca poderia trair Mayla desse jeito, nunca.
Capítulo 15

O mês de dezembro estava passando rápido.


O serviço na empresa estava exaustivo, mas eu sabia que iria acalmar
depois das festas de final de ano. Por conta disso, eu e Liam não havíamos
mais nos visto. Conversávamos apenas por mensagem.
Eu estava saindo para trabalhar em uma manhã. Foi quando olhei
pela janela e vi a neve. Estava tudo branquinho, coberto por uma fina camada
de neve. Era a primeira neve forte desse inverno, e eu não pude deixar de
ficar emocionada. Sabia que seria mais um natal longe de Peter.

[...]
Era véspera de natal.
Eu adorava esse clima natalino. Há anos eu não comemorava mais o
natal, mas esse ano eu tinha um novo motivo.
Eu ficava encantada em ver a ruas e as lojas todas decoradas. Até a
empresa estava no clima.
Eu iria jantar na casa de minha mãe. Seria apenas nós duas.
Eu havia comprado um presente para minha mãe e um para o meu
pai. Pensei em comprar algo para Mayla, ou até mesmo para Liam, mas sabia
que não faria muito sentido, e talvez eu e Mayla nem fossemos nos ver.
Apesar de termos feito as pazes, nossa amizade não era mais a mesma.
Estávamos distantes. Ela estava tentando, mas eu sabia que essa situação era
difícil para ela.
Tinha comprado mais algumas coisinhas para o bebê. Eu e Liam
ainda estávamos combinando de sair para comprar juntos, mas ele andava
trabalhando muito nesses dias.
Apesar de ser só eu e minha mãe, eu iria caprichar na produção,
afinal de contas, era natal.
Depois de um banho, fui escolher a roupa que usaria.
Optei por alguma coisa mais elegante. Uma calça pantalona na cor
preta, eu não tinha certeza do tecido, mas era muito confortável. Uma blusa
de lã branca, e um blazer, também branco. Eu gostava da combinação de
preto e branco.
O clima estava frio, mas não pretendia sair da casa de minha mãe,
então o ar condicionado daria conta.
Enquanto me arrumava, meu pensamento estava em Peter. Onde será
que ele estava? Tinha uma boa família? Estava comemorando o natal?
Eu sentia, de certa forma, que ele estava bem. Era como se o meu
coração estivesse calmo.
Imaginei como seria o meu natal do ano seguinte. Eu já estaria com o
meu bebê nos braços, e quem sabe, com Peter junto. Era nisso que eu queria
acreditar.
Pensei que durante a noite, poderíamos tirar algumas fotos, eu queria
registar todas as etapas da minha gravidez.
Além do look, também caprichei na maquiagem. Usei tons de
marrom nos olhos, e para completar, batom vermelho, que combinava com
natal.
Peguei um Uber e fui para a casa de minha mãe. Eu queria chegar o
mais rápido possível, pois ainda queria fazer uma sobremesa de natal. A
minha especialidade: Lebkuchen.
Assim que cheguei, senti o cheirinho delicioso de comida. Eram
tantos aromas misturados, que não consegui definir, só sabia que eram bons.
— Anelise! Estou terminando a ceia — falou minha mãe, assim que
entrei.
— Eu trouxe alguns ingredientes para fazer o doce.
Fomos até a cozinha e tirei tudo da sacola.
— Como você está? E o bebê?
— Estamos bem, só estou muito ansiosa para a barriga crescer logo.
Passamos um bom tempo na cozinha preparando a ceia e a
sobremesa. Por milagre, ela não fez nenhum comentário desnecessário ou
sem noção, como costumava fazer, talvez estivesse mais sensível pelo fato de
ser natal.
— Tem falado com o seu pai?
— Sim, ele me liga de vez em quando, para saber como estou.
Comprei um presente para ele. Ele disse que viria fazer uma visita antes do
ano novo.
Depois de mais algumas finalizações, a ceia estava pronta.
— Depois pode levar um pouco para casa, deu muito trabalho fazer
isso tudo, não quero que vá nada fora.
— Eu levo um pouco, mas vamos levar alguns dias para comer isso
tudo.
Antes de comer, pedi para a minha mãe tirar algumas fotos minha, eu
queria ter registros do meu primeiro natal depois de anos.
Tiramos várias fotos e até fizemos alguns vídeos. Um dia no futuro
eu mostraria para meu filho, dizendo que nesse dia ele estava em minha
barriga, e por conta dele, o meu natal voltou a ser comemorado.
Depois das fotos, era hora da ceia, um dos meus momentos preferidos
do natal.
Agradeci por não estar enjoada, pois queria aproveitar.
A mesa estava linda. Minha mãe havia feito um ótimo trabalho.
— Eu nem sei por onde começar — brinquei.
— Espero que esteja bom.
Experimentei a salada.
— Está maravilhosa! — exclamei.
E realmente estava, não só a salada, mas toda a ceia.
Comemos e conversamos. Além de falar sobre o bebê, contei sobre o
meu emprego, e sobre meus planos de comprar um carro.
Depois de comer. Fomos até a sala assistir um pouco de televisão e
trocar presentes para encerrar a noite. Estava pensando se voltaria para o meu
apartamento ou se dormiria no meu antigo quarto.
— Comprei um para você e outro para o bebê — falou minha mãe,
entregando-me uma sacola com dois embrulhos.
Minha mãe sempre gostou de presentear os outros, não importava a
data, ela sempre tinha uma lembrança. Isso eu não tinha do que reclamar.
Abri os embrulhos.
O meu era um casaco de lã, na cor azul escuro. Parecia ser muito
confortável.
— Obrigada, eu amei.
— Abra o do bebê.
O pacote era todo decorado com brinquedos.
Era um pequeno kit de higiene. Sabonete, lenços umedecidos, talco e
um shampoo.
Eu amava aquele cheirinho de produtos de bebê. Me lembrava Peter,
já que eu nunca mais havia sentido aqueles cheiros.
— Obrigada. — Foi tudo que consegui falar.
Estava emocionada por pensar em Peter e também por saber que em
poucos meses eu teria um novo bebê.
Entreguei o meu presente.
Era uma bota cano curto.
Desde que eu voltei, ela estava reclamando que suas botas já estavam
gastas.
Ela sorriu e agradeceu, então pelo visto, ela gostou.
Estávamos sentadas do sofá, minha mãe já estava ficando com sono,
foi quando meu celular vibrou.
Vi o nome de Liam na tela.
Abri a mensagem rapidamente.
"Feliz natal."
Respondi no mesmo instante.
"Feliz natal para você também."
"Eu estou na casa de meus pais. Minha mãe quer muito conhecer
você. O que acha de dar uma passadinha aqui?"
Franzi o cenho ao ler a mensagem. Achei o convite um pouco
estranho.
"Eu adoraria conhecê-la, mas não sei, tem toda essa situação com a
Mayla."
"Não se preocupe com isso, Mayla está aqui, ela concordou. Eu
busco você e depois levo de volta, é só para conhecer meus pais."
Pensei por um momento se deveria ou não aceitar.
Eu ainda não queria terminar minha noite, estava me sentindo tão
bem e empolgada.
"Tudo bem, eu vou, mas não precisa vir me buscar, vou pegar um
Uber. Me passe o endereço."
— Onde você vai? — perguntou minha mãe.
— Vou na casa de Liam. A mãe dele quer me conhecer.
— Você vai ir para a casa dele depois de toda a briga com Mayla?
— A Mayla está lá e concordou. Será bem rápido, apenas para
conhecer. Depois vou direto para meu apartamento.
— Tudo bem — falou, ainda sem concordar totalmente.
— Amanhã eu passo aqui para levar um pouco de comida que
sobrou.
— Então vou aproveitar e dormir.
— Boa noite, mãe.
Saí da casa e pedi um Uber.
A temperatura estava ainda mais baixa do que quando cheguei. Por
sorte, o carro estava por perto.
A casa dos pais de Liam ficava em um dos melhores bairros da
cidade. Era uma área muito nobre.
Quando o carro parou, ele já estava a minha espera, e claro, Mayla
estava junto.
— Olá, como estão? — cumprimentei, descendo do carro.
— Ótima, e você? — respondeu Mayla.
— Tudo bem.
— Vamos, minha mãe quer muito conhecê-la.
— Também quero conhecê-la.
Sorri.
Os segui para dentro da casa. Era grande e muito espaçosa. A
decoração era um pouco rústica. As paredes eram brancas, os detalhes eram
marrons e alguns itens de decoração eram cinzas.
Fomos até a sala de estar, onde a família estava reunida.
— Essa é Anelise — apresentou.
— Muito prazer — falei.
Fiquei impressionada com a aparência de seus pais, eram mais jovens
do que imaginei, se bem que Liam tinha apenas vinte e nove anos.
— O prazer é meu — falou a mulher de cabelos escuros.
Ela se apresentou como Martha.
O pai também veio até mim e me cumprimentou, parecia ser um
homem bem sério.
Percebi alguns papéis de presentes espalhados pela sala, eles já
haviam trocados presentes.
— Você quer um doce? Fizemos algumas sobremesas deliciosas —
ofereceu Martha.
— Claro — respondi sorrindo.
— Sente e fique à vontade. Eu vou buscar.
A mulher saiu da sala e voltou rapidamente com uma taça de doce.
— Obrigada — agradeci.
Ela sorriu.
— E como está o bebê? Você tem passado bem?
— Sim. Estamos bem, só ando um pouco cansada, mas tirando isso,
estou ótima.
— Eu enjoava muito quando estava grávida do Liam. Só o chá de
hortelã me ajudava.
— O Liam comentou, comecei a tomar e ajudou bastante. Tenho
sempre alguns sachês na bolsa.
Martha contou que enjoou praticamente durante toda a gravidez. Me
deu algumas dicas para tentar controlar os enjoos.
— Liam comentou que você gosta de flores.
— Sim, eu adoro.
— Temos uma estufa lá fora. Gostaria de conhecê-la?
— Claro — respondi sorrindo.
— Vamos.
Martha levantou da poltrona.
— O doce estava maravilhoso. Obrigada — falei, enquanto levantava
do sofá.
— Que bom que gostou. — Ela fez uma pausa, olhando para os
lados. — Liam, nos acompanha?
Ele pareceu surpreso, e confesso que eu também.
— Sim, vamos — respondeu.
Ele estava sentado no sofá ao lado de Mayla.
Pensei que ele fosse a convidar, mas não. Apenas levantou e nos
acompanhou.
Olhei discretamente para o rosto de Mayla. Ela não gostou muito do
que estava acontecendo, mas não se opôs.
Caminhamos em passos lentos para fora da casa.
— Eu também gosto muito de flores. Elas alegram o meu dia —
comentou Martha.
— Exatamente. Sinto isso também.
A estufa não era muito grande, mas no momento em que entramos,
fiquei impressionada.
Eu olhava para todos os lados, o lugar era maravilhoso.
— Então? O que achou? — perguntou Martha.
— É linda! Estou sem palavras.
Eu observava cada detalhe com muita atenção.
— Essas são minhas preferidas: Centáurea — disse Martha,
apontando para as flores azuis.
— Realmente são lindas.
Ela mostrou quais as flores mais gostava e falou um pouco sobre elas.
Eu estava encantada.
Liam estava quieto. Apenas nos acompanhava.
De repente, ela tirou o celular do bolso.
— Minha irmã ligou. Preciso ligar de volta. Só um minuto.
Ela saiu da estufa. Deixando-me a sós com Liam.
— Ela gostou de você — comentou Liam.
— Eu também gostei muito dela. Sua mãe é muito simpática e
agradável.
— Só quando ela gosta de alguém.
Ele sorriu.
— Pode ser impressão minha, mas percebi que ela não simpatiza
muito com Mayla.
— Nem um pouco. Ela nunca a tratou mal, também nunca brigaram,
mas simplesmente não simpatiza com ela.
— Quem sabe com o tempo isso mude.
— Quem sabe, mas sabe o que eu penso?
Estávamos um na frente do outro.
Ele deu um passo em minha direção.
— O quê?
— Que ela não vai voltar. Aposto que fez isso de propósito, para nos
deixar a sós.
Ele deu um sorriso maldoso.
— Será? E o que ela pretende com isso? — perguntei sorrindo. Não
queria que o clima ficasse tenso.
Ele não respondeu. Ficou apenas me observando.
O espaço que já era curto entre nós, ficou ainda menor quando ele
deu mais um passo em minha direção.
Seus olhos azuis estavam brilhantes. Sua boca parecia muita
convidativa.
Por um instante, eu pensei em beija-lo.
Eu sabia que não deveria fazer isso, mas estava quase impossível
conseguir controlar.
Minhas pernas pareciam trêmulas. Eu conseguia sentir a minha
própria respiração. Definitivamente estar tão perto de Liam estava mexendo
comigo.
Sem pensar, eu colei nossos lábios. Foi em um impulso.
Liam retribuiu o beijo. Ele colocou suas mãos em minha cintura, me
puxando para ainda mais perto.
Apesar de termos ficado juntos apenas uma noite, era como se já
tivéssemos feito isso muitas vezes. Nossas línguas estavam em perfeita
sincronia. Nossos corpos pareciam encaixar perfeitamente um no outro.
Coloquei uma de minhas mãos em sua nuca. Enquanto Liam
deslizava seus dedos por minhas costas.
Descolei nossas bocas por um instante, mas assim que olhei para seu
rosto, eu tive a certeza de que não queria parar, na verdade, eu queria mais. E
sabia que ele também.
Ele levantou seu braço e acariciou de leve minha bochecha.
Fechei os olhos e aproveitei seu toque.
Estávamos em silêncio, mas não era preciso falar nada.
Liam voltou a me beijar, dessa vez com mais intensidade.
Suas mãos percorreram o meu corpo, até chegar em minha bunda.
Eu não estava pensando em nada, só queria aproveitar o momento
com Liam.
Foi quando de repente, uma voz nos interrompeu.
— Liam? — Mayla gritou.
Eu gelei no mesmo instante.
Nos separamos e nos encaramos por um breve momento.
Ela estava na porta da estufa.
— Mayla! — Foi tudo que Liam conseguiu dizer.
— Eu não acredito! Vocês dois juntos de novo, pelas minhas costas.
Seu rosto estava vermelho de raiva.
— Mayla, eu sinto muito. Eu nem sei o que dizer — falei, com a voz
falhada.
Ela deu alguns passos, entrando na estufa.
— É inacreditável! Vocês estão tendo um caso bem embaixo no meu
nariz. O meu noivo com a minha melhor amiga — esbravejou.
— Fique calma. Não é nada disso. Foi apenas esse beijo, sei que não
justifica, sei que agimos errado, mas não existe nada entre nós — explicou
Liam.
— E você acha que vou acreditar? Já perdoei uma vez e vocês me
traíram de novo.
Meu olhar estava baixo. Estava sem coragem de encara-la. Eu estava
errada e sabia disso.
— Vamos conversar em outro lugar — sugeriu Liam.
— Não! Você só vai mentir para mim. Sei que quando eu virar as
costas vocês vão transar de novo!
Ela gritava sem controle.
— Mayla, isso não é verdade — falei, ainda sem jeito.
A garota estava fora de si. De repente, ela deu alguns passos rápidos
em minha direção. Seu braço chegou a levantar. Foi tudo muito rápido, mas
Liam consegui a impedir.
— Controle-se! Você está fora de si. Vou levar você para casa —
falou Liam, ainda a segurando.
— Me solte — falou Mayla, se livrando de Liam.
— Eu também vou ir para casa — anunciei.
— Sabe, eu fiz um favor para o Peter. Sorte a dele ter crescido longe
da mãe vagabunda!
Eu fiquei paralisada. Olhei para Liam, ele estava com uma expressão
de espanto, assim como eu.
— O que você disse? — perguntei em um quase sussurro.
— Que você é uma vagabunda!
Eu estava choque. Mil coisas estavam passando em minha cabeça.
Por um instante eu fiquei sem reação.
Tudo parecia um sonho. As imagens ficavam embaçadas. Eu não
tinha certeza do que estava sentido, tinha a impressão de que iria desmaiar.
Consegui ouvir a voz de Liam. Ela parecia distante.
— Mayla! O que você fez? — gritou o homem.
— Eu não sei de nada, não disse nada — Mayla respondeu.
Eu continuava paralisada.
Consegui ver Liam ir para cima de Mayla. Ele a segurou pelos dois
braços. Estava muito nervoso. Eu nunca havia o visto daquele jeito.
— O que você fez? Onde ele está? — perguntava Liam, enquanto
apertava seus braços.
— Está me machucando. Seu louco! Socorro! — gritou a garota com
toda sua força.
Em poucos segundos, Martha apareceu.
— O que aconteceu? — perguntou a mais velha.
— Liam me agrediu. Estou machucada. Veja meus braços — Ela
esticou os braços e mostrou. Estavam vermelhos devido a força que Liam
usou para a segurar.
— Anelise! O que aconteceu? Você está bem? — Martha veio até
mim.
Foi quando eu consegui voltar para a realidade.
— Ela o roubou, ela o roubou! — Foi tudo que consegui dizer.
As lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto.
— Eles estavam se esfregando aqui na estufa. Estão me traindo há
meses, e agora Liam ainda tentou me agredir — falou Mayla.
— É mentira! Você roubou o meu bebê! — gritei entre lagrimas.
Fui para cima dela sem pensar duas vezes.
Ela não estava esperando por isso, consegui a pegar de surpresa.
Coloquei toda a força que pude em minha mão e estapeei seu rosto.
Mayla agiu rápido, mas Liam foi mais rápido ainda. Ele a segurou
novamente.
Ela tentava se soltar, mas ele era mais forte.
— Saia da minha casa agora — ordenou.
Ela olhou para todos nós. Eu nunca havia visto aquele olhar em
Mayla. Era um olhar de ódio, difícil de encarar.
Assim que ela virou as costas para ir embora, eu tentei mais uma vez.
— Mayla! O que você fez? Onde ele está? Onde ele está? Onde ele
está?
Eu não conseguia parar de repetir.
As lágrimas desciam sem controle pelo meu rosto. Estava com
dificuldade para respirar.
Martha foi para dentro. Ela estava assustada. Chegou a falar alguma
coisa, mas eu não prestei atenção.
Fiquei gritando por Mayla enquanto ela se afastava.
Ela não me respondeu, nem ao menos olhou para trás.
Liam veio até mim e me abraçou.
Eu só conseguia chorar.
— Fique calma. Está tudo bem. Nós vamos encontra-lo.
Eu soluçava de tanto chorar.
Continuava abraçada em Liam. Parecia que eu estando em seus
braços, eu estava segura.
Não tenho certeza de quanto tempo passou, mas assim que nos
afastamos eu já estava mais calma. Pelo menos, não soluçava mais.
— Foi ela. Todo esse tempo. Eu não consigo acreditar.
— Precisamos tirar isso a limpo.
— Sim. Eu vou até a polícia agora mesmo. Eu só quero o Peter de
volta — falei, secando as lágrimas.
— Vamos. Eu vou com você. Só tente se acalmar um pouco, isso não
fará bem ao bebê. Vamos entrar e beber um chá.
— Tudo bem — concordei.
Assim que tentei dar os primeiros passos, senti minhas pernas
bambas. Eu estava sem forças.
— Venha. Se apoie em mim. Você precisa descansar um pouco.
Eu me apoiei em seu corpo.
Minha cabeça estava girando. Eu ainda estava tentando digerir e
entender tudo o que havia acontecido.
Quando chegamos dentro da casa, encontramos os pais de Liam.
Estavam tensos, confusos e sem saber o que fazer.
Pelo visto, Liam já havia comentado com sua mãe sobre Peter, pois
ela estava por dentro da situação.
Liam disse para que sentasse no sofá.
— Eu vou fazer um chá para você.
Sinceramente, eu não queria chá nenhum, só queria ir até a polícia,
mas sabia que Liam tinha razão, eu precisava ficar calma, pelo bebê.
— Obrigada — agradeci, enquanto pegava o chá de sua mão.
Ele sentou ao meu lado no sofá.
— Como você está? Mais calma?
— Estou bem, só preciso ir até a polícia agora.
Terminei de beber o chá rapidamente. Depois, levantei bem devagar
do sofá. Eu já estava me sentindo melhor.
— Eu vou com você.
Ele levantou do sofá e fomos até a garagem.
Eu ainda não estava pensando muito bem, só queria chegar na
delegacia o mais rápido possível.
Entramos no carro. Eu não sabia exatamente para onde estávamos
indo.
— Espero que eles me ouçam dessa vez — resmunguei.
— Tente manter a calma. Tudo dará certo. — Ele olhava para todos
os lados. Parecia que não sabia o caminho a seguir. — Acho que tem uma
delegacia vinte e quatro horas no centro da cidade.
O caminho foi praticamente em silêncio. Nós dois estávamos muito
nervosos.
Assim que chegamos, eu vi uma luz de esperança.
Quando Peter foi sequestrado, eles não me deram muita atenção, mal
me ouviram, mas agora seria diferente, eu faria um escândalo se fosse
preciso.
Minhas mãos estavam trêmulas, na verdade, o meu corpo inteiro
estava. Era difícil conseguir controlar.
O lugar estava vazio. Pelo menos seríamos atendidos sem demora.
— Quero falar com o delegado responsável. É sobre um sequestro de
criança — expliquei assim que chegamos.
— Ele já irá atender. Por favor, aguardem.
Havia algumas cadeiras. Sentei em uma delas, Liam sentou ao meu
lado.
Ele pegou em minha mão e acariciou meus dedos.
— Eu estou com você — disse.
— Obrigada — agradeci.
Em poucos minutos um homem apareceu.
— Olá, como posso ajudá-los?
Ele nos convidou para ir até sua sala. Lá eu tentei explicar a situação.
Eu estava afoita, atropelava as palavras.
Depois de conta toda a história, o delegado disse que iria averiguar,
porém, apenas depois no natal, já que o caso não era uma emergência.
— Como assim depois do natal? Enquanto isso uma sequestradora de
bebês ficará livre? Andando por aí? E quanto ao meu filho? Ele pode estar em
perigo — esbravejei.
— Fique calma. Nós faremos tudo o que estiver ao nosso alcance.
Eu ainda tentei argumentar, mas foi inútil.
Eles fariam uma visita a Mayla e possivelmente a chamaria para
conversar, mas isso apenas depois do natal.
Fiquei decepcionada.
Voltei cabisbaixa para o carro.
Liam tentava me dar apoio, falava que tudo ficaria bem, mas naquele
momento, eu estava completamente decepcionada e sem esperanças.
Ele perguntou se tinha mais alguma coisa que pudesse fazer para
ajudar.
— Eu só quero ir para casa e tentar dormir — falei.
— Tem certeza? Não sei se é uma boa ideia você ficar sozinha.
— Eu vou ficar bem. Quero ficar sozinha.
— Tudo bem. Eu deixo você em casa.
Já era meio da madrugada. Durante a volta, vimos algumas pessoas
na rua, provavelmente voltando da casa de parentes, ou saindo de festas.
— Obrigada Liam, por tudo — agradeci, assim que paramos em
frente ao meu prédio.
— Não foi nada, eu estou ao seu lado. E não se preocupe, se a polícia
não fizer nada, vou ajudar a encontrar seu filho.
Desci o olhar para o chão e saí do carro. Não olhei para trás, eu só
queria entrar em casa.
Entrei e fui direto para a cama. Como era de se esperar, não consegui
pregar os olhos um só minuto.
Por que Mayla faria uma coisa dessas? Éramos melhores amigas há
tanto tempo. Eu sempre estive ao seu lado, sempre a apoiei.
Eu nunca iria perdoa-la. Queria que ela pagasse muito caro por tudo
que fez comigo e com meu filho.
Passei a noite virando de um lado para o outro, chorando e tentando
achar uma solução.
Eu estava tão feliz e esperançosa no início dessa noite, mas tudo
mudou em questão de horas.
Esse era definitivamente o pior natal de todos.
Capítulo 16

Ainda era bem cedo quando decidi levantar.


Minha cabeça estava latejando. Eu precisava de um café.
Liam me enviou algumas mensagens durante a noite, sempre
perguntando se eu estava bem. Ele estava sendo muito atencioso.
Passei a noite inteira refletindo. Eu estava um pouco mais calma, e
também, mais otimista.
Se realmente foi Mayla que sequestrou Peter, talvez ele estivesse por
perto.
Eu pensei em ir conversar com ela, mas achava melhor deixar a
polícia resolver, eu não sabia o que seria capaz de fazer se visse ela em minha
frente novamente. E pelo bem do bebê que estava em minha barriga, eu não
faria isso, pelo menos, não agora.
Depois do café, decidi ir até a casa de minha mãe, eu iria contar tudo
o que havia acontecido. Precisava desabafar com alguém.
Enviei uma mensagem dizendo que estava indo. Ela disse que
jantaria na casa de sua irmã mais tarde, chegou a me convidar, apenas por
educação, pois sabia que eu não iria aceitar. Não tinha muita intimidade com
meus tios. Preferiria ficar em casa, sozinha.
Enquanto ia até a casa de minha mãe era difícil controlar a vontade
de ir falar com Mayla, eu queria pressiona-la. Estava esperançosa de que iria
finalmente descobrir o paradeiro de meu filho.
Dei uma batida na porta e entrei. Estava aberta.
— Anelise! Estou aquecendo o resto de ontem, podemos almoçar —
falou minha mãe, assim que entrei na casa.
— Estou sem fome.
— O que aconteceu? Parece péssima. O bebê está bem?
Ela percebeu que algo estava errado.
— Eu ainda estou em choque. Nem sei por onde começar.
Sentei no sofá e ela sentou ao meu lado. Estava curiosa.
Resumi com detalhes a noite anterior, desde o beijo que eu e Liam
trocamos até a confissão de Mayla.
Ela não ficou tão chocada como eu imaginei que ficaria.
— Olha, eu acho que você não deve se iludir desse jeito. Mayla só
falou isso porque você estava beijando o noivo dela, que aliás, foi totalmente
errado. Provavelmente ela não tem nada a ver com isso, só tocou nesse
assunto porque sabia que te feriria.
— Mas é se realmente foi ela? E se ela sabe onde ele está? Eu preciso
saber.
— Peter está morto! Você precisa se confirmar. Agora pare com essa
história e trate de cuidar dessa criança que vai nascer.
Sua voz se alterou. Ela nunca acreditou que eu iria recuperar meu
filho.
— Ele está vivo, está esperando por mim, e sei que vou encontrá-lo!
— falei em um tom de voz alto.
— Se você quer viver nessa ilusão, tudo bem, só acho que deve parar
com isso pelo bem desse bebê.
Era inacreditável! Ela não conseguia me dar apoio. Sempre foi assim,
e isso nunca iria mudar.
— Não é uma ilusão. Eu vou encontrá-lo — falei, já perdendo a
paciência.
Ela percebeu que eu estava ficando irritada. Então decidiu mudar de
assunto.
— Se você diz. Agora vamos comer, sobrou muita coisa.
— Estou sem fome. Vou para casa.
Não esperei uma resposta. Apenas virei as costas e saí.
Onde eu estava com a cabeça quando pensei que poderia desabafar
com ela? Só porque as nossas últimas conversas não foram ruins, eu pensei
que poderíamos ser amigas ou pelo menos nos dar bem, mas eu estava errada.
Isso nunca iria acontecer. Ela nunca iria mudar. Seria sempre fria. Uma
pessoa que não era capaz de se colocar no lugar do outro. Eu não forçaria
mais a nossa relação.
Cheguei em casa ainda chateada com minha mãe. Mesmo já estando
acostumada com seu jeito, era muito difícil quando ela falava que Peter
estava morto.
Eu não tinha nada pronto para comer, não havia preparado nada.
Estava completamente sem fome, mas sabia que deveria comer algo pela
saúde do bebê.
Fui até a cozinha e preparei um sanduíche de peito de peru. Quem
sabe mais tarde, no jantar, eu podia fazer algo para comer, mas agora eu não
estava com fome, muito menos com ânimo para cozinhar.
Tentei assistir um pouco televisão e me distrair, mas eu não
conseguia, estava ansiosa demais. No dia seguinte, Mayla confessaria toda a
verdade para a polícia e eu finalmente saberia o que aconteceu.
Passei a tarde de natal deitada na cama. Apenas pensando em Peter.
Era final da tarde quando chegou uma mensagem em meu celular.
Era Liam. Não nos falamos desde de manhã. Quando eu avisei que
estava indo para a casa de minha mãe.
"Tudo bem por aí? Como passou a tarde?"
"Estou bem, na medida do possível. Quase tive uma discussão com
minha mãe."
Ele perguntou o que havia acontecido. Contei que ela nunca acreditou
que Peter estava vivo e que isso me incomodava muito.
"Então você passou o dia de natal sozinha em casa?"
"Sim, mas foi bom. Consegui colocar os pensamentos em ordem,
estou bem mais calma."
"Poderia ter vindo para a casa dos meus pais."
"Não iria incomodar, e depois, eu estou bem. Não tenho problema em
ficar sozinha."
Ele demorou alguns minutos para enviar a próxima mensagem.
"Com a confusão de ontem, acabei esquecendo, mas eu comprei um
presente para você."
Dei um sorriso leve ao ler sua mensagem. Não imaginava que tivesse
comprado algo para mim.
"Sério? Mas não precisava! Eu não comprei nada para você. "
"Não se preocupe com isso, e precisava sim. Tenho certeza de que
você irá gostar. "
"E o que é? Estou curiosa."
"Acha mesmo que vou estregar a surpresa? Se você quiser, eu posso
ir até aí levar."
Não pensei por muito tempo antes de responder. Eu queria a
companhia de Liam.
"Claro, pode vir."
Ele disse que chegaria logo.
Fui até o quarto e troquei de moletom. O que eu estava usando era
velho, acho que estava até descosturado, mas eu gostava dele, era muito
confortável, mas não para usar na presença de Liam.
Fui para a janela e esperei.
O sol já estava se pondo, mesmo ainda sendo cedo.
Vi quando seu carro parou em frente ao prédio.
Ele desceu do carro e olhou para mim. Não conseguia ver seu rosto
com clareza por conta da luz baixa e da distância, mas foi o suficiente para
me arrancar um sorriso.
Em poucos instantes ouvi a batida na porta.
— Entre. — Abri a porta sorrindo.
Ele olhou para mim e sorriu de volta.
Dei espaço para que ele entrasse.
— Como você está? — perguntou assim que entrou.
— Bem mais calma.
— Eu trouxe um presente para você.
Ele me entregou uma pequena sacola de papel.
— Estou curiosa.
Peguei a sacola e a abri com cuidado.
Estava embrulhado em um papel natalino.
Assim que abri, fiquei encarando por longos instantes.
— Então? Gostou? — perguntou Liam.
— Eu amei! É lindo.
Era um porta-retrato, com decoração infantil e alegre.
— É para você colocar a primeira foto do bebê.
— Obrigada, Liam. Eu amei, de verdade.
Passei delicadamente os dedos pelo porta-retrato. Imaginei que em
alguns meses teria uma foto do nosso bebê nele.
— Já vou deixá-lo aqui em cima. Será o lugar dele — falei,
colocando-o em cima da mesinha, ao lado do sofá.
— Não vejo a hora de ter uma foto aí — falou, sorrindo e olhando
para o presente.
Ficamos mais alguns segundos apenas observando o porta-retrato
vazio.
— Você quer comer alguma coisa? Quem sabe um suco ou café? —
ofereci.
— Não, obrigada, mas falando em comida, você está se alimentando
bem?
Fiquei em silêncio por um instante.
— Hoje eu não comi muita coisa, estou sem fome.
Ele franziu o cenho.
— O que você comeu hoje?
— Um sanduíche de peito de peru.
— E o que mais?
— Só isso.
— Você precisa comer — falou, em tom calmo e suave.
— Eu sei, mas toda essa história da Mayla me deixou sem apetite.
— O que acha de cozinharmos alguma coisa que você goste?
Podemos pedir os ingredientes em um aplicativo de comida, ou até mesmo
pedir alguma coisa pronta, o que acha?
— Tudo bem, podemos tentar. Já faz horas que comi o sanduíche.
— Então, o que você sugere?
— O que acha de Wurstsalat? Tem bastante salsicha em casa, não
precisamos pedir nada.
— Por mim, pode ser. Adoro salsicha e faz tempo que não como.
Fomos juntos até a cozinha.
Abri a geladeira e comecei a pegar os ingredientes.
— Eu corto os temperos e você as salsichas — falei.
— Tudo bem.
Deixei todos os ingredientes em cima da pequena bancada.
— E seus pais? Como ficaram depois de tudo que aconteceu? —
perguntei enquanto descascava as cebolas.
— Ficaram chocados, principalmente minha mãe. Ela disse que
nunca gostou de Mayla, que sabia que tinha algo estranho nela, mas não
imaginava que fosse algo tão grave.
— Tenho esperanças de que tudo se resolva amanhã.
— E eu vou ajudar você no que for preciso.
— Obrigada — agradeci com um sorriso discreto.
Liam terminou de cortar as salsichas, em seguida, o vi cortando o
queijo.
— Sabe, salsicha me lembra muito jogos de futebol. Apesar de eu
gostar, faz tempo que não as faço em casa, na verdade, o tempo anda tão
curto, quase não tenho feito comida.
— E o que você come?
— O almoço eu como no refeitório da empresa ou vou em algum
restaurante perto. No jantar eu já estou cansado, apenas faço um lanche ou
peço algo pronto, mas gosto muito de cozinhar.
— E porque salsicha lembra jogos?
— Porque sempre vendem nos estádios, acho que a última vez que
comi, foi em um jogo.
— Eu só fui uma vez em um jogo no estádio, faz muito tempo. Não
sou muito ligada a futebol, mas assisto algumas vezes pela televisão, só para
passar o tempo mesmo.
— Sério? Eu adoro futebol. Vou aos jogos sempre que posso. É
muito empolgante assistir ao jogo tão de perto.
— Você é Frankfurt?
— Claro! Desde pequeno.
Ele sorriu.
— Quem sabe uma hora podemos ir. Seria bom sair um pouco, fazer
algo diferente — sugeri.
— Ótima ideia. Tenho certeza que você trará sorte.
— E já aviso que vou querer algumas salsichas.
— Mas isso é certo. Parece que a comida de estádio tem um sabor
especial.
— Quando eu experimentar eu falo se realmente é tudo isso mesmo.
E camisetas, você tem?
— Sim, tenho uma coleção. Tento comprar de todas as temporadas. A
mais especial que eu tenho eu recebi da mão de um jogador!
— E como foi isso? — perguntei, levantando uma sobrancelha.
— Eu tinha doze anos, estava em um jogo com meu pai. Um jogador
chutou a bola muito forte e eu levei uma bolada. Estávamos muito perto do
campo. No final do jogo, ele veio até mim e me deu sua camiseta. Eu nunca
esqueci. Tenho aquela camiseta até hoje.
— Então levar a bolada valeu a pena — brinquei.
— Com certeza valeu — falou sorrindo.
Finalizamos a comida em pouco tempo, pelo menos para mim
pareceu pouco.
— Está com uma cara ótima — falei orgulhosa.
— Vamos experimentar.
Abri os armários e peguei os pratos e talheres.
Servimos nossos pratos, em seguida, dei a primeira garfada.
— Nossa! Está muito bom — falei.
Liam também deu sua primeira garfada.
— Você tem razão. Ficou muito boa mesmo.
— Formamos uma bela dupla, digo, na cozinha.
— Quem sabe mais do que só na cozinha — disse Liam, com um
sorriso malicioso.
Não respondi, apenas sorri.
Ele sabia o que queria dizer.
Eu o queria por perto, o desejava, e pelo visto, ele sentia o mesmo.
Passamos uma noite muito agradável. Comemos, conversamos e
rimos.
Capítulo 17

Era dia vinte e seis de dezembro. Era o dia que eu estava esperando
há muitos anos, o dia que eu finalmente saberia toda a verdade sobre o que
aconteceu com Peter.
Tentei me distrair durante o dia de trabalho. Não queria ficar
pensando nisso, pois assim iria demorar ainda mais para passar.
Foi um longo dia de serviço. Assim que deu o meu horário, saí
correndo para a delegacia, queria saber o que tinham descoberto.
Peguei um Uber para chegar mais rápido.
Assim que entrei, já fui me identificando e falando sobre o caso.
Responderam que eu deveria aguardar e que logo eu seria atendida.
Esperei alguns minutos até um homem aparecer, o mesmo que já
havia nos atendido.
Fomos até uma sala particular.
— Então? Descobriram alguma coisa? Onde ele está? — perguntei
afoita.
— Sente-se por favor, e fique calma.
Ele sentou em uma cadeira e fez sinal para que eu sentasse também.
Sentei em uma cadeira na sua frente.
— Mayla confessou?
— Nós fomos até a casa dela hoje pela manhã. Ela foi muito
atenciosa, contou tudo o que aconteceu, inclusive que você e o noivo dele
tem um caso, que estão esperando um filho — falou o homem em um tom
sério.
— Nós não temos um caso, mas o que isso tem a ver com o meu
filho?
— Ela disse que só falou sobre o seu filho porque ficou nervosa,
porque pegou os dois se beijando. Mayla disse que só queria tocar no assunto
pois era muito doloroso para você.
— E vocês acreditaram? Vão deixar uma sequestradora a solta?
— Fizemos uma busca na casa dela, não encontramos nada sobre o
seu filho. Conversamos com a mãe dela, a senhora também não sabe de nada
e ainda confirmou que a filha seria incapaz de tal ato. Sem falar que ela não
tem antecedentes criminal, ela é uma cidadã modelo.
Eu não conseguia acreditar no que eu estava ouvindo. A cada palavra
que aquele homem falava, era como se uma faca entrasse em meu peito.
— E meu filho?
— Eu sinto muito, mas não tem nada que possamos fazer. Não temos
nenhuma pista sobre o paradeiro do seu filho. Podemos ficar de olho em
Mayla por alguns dias, mas pela minha experiência, ela não tem nada a ver
com isso, e mesmo se tivesse, não temos nenhuma prova, não podemos
incrimina-la.
Um nó se formou em minha garganta.
— Foi ela, eu sei que foi.
— Se a senhora tiver alguma pista ou algo que nos ajude, pode nos
procurar, caso contrário, não podemos fazer nada.
Eu não o respondi. Estava totalmente desnorteada. Levantei da
cadeira e saí. Eu precisava de ar.
No momento em que cheguei do lado de fora, eu não consegui mais
segurar as lágrimas. Elas caiam pelo meu rosto sem controle.
Fiquei alguns segundos em frente à delegacia. Minha vontade era de
voltar lá e fazer um escândalo, exigir que achassem o meu filho, mas eu sabia
que isso só poderia piorar a situação ainda mais.
Dei passos lentos ainda sem rumo pela rua.
Eu estava totalmente decepcionada. Por um momento, cheguei a
perder as esperanças. Será que um dia eu realmente encontraria Peter?
Caminhei lentamente de volta para casa. A cada passo que eu dava,
eu ficava mais sem esperanças.
Eu tentava manter o controle, mas lágrimas ainda caiam pelo meu
rosto.
A neve começou a cair, era fraca e fina, mas ela estava lá. Apesar do
frio intenso, eu estava com calor. Estava com raiva de todos. Da polícia por
não fazer nada, da minha mãe por não acreditar em mim e não me apoiar, e
principalmente de Mayla. Minha vontade era de ir até sua casa e fazer uma
loucura. Por um breve momento pensei em ir, mas levei a mão em minha
barriga, eu não podia fazer isso. Esse bebê precisava de mim.
Quando cheguei em casa, eu não queria fazer nada. Não queria comer
ou tomar banho. Fiquei um bom tempo sentada no sofá, olhando para o nada.
Estava completamente desanimada.
Quando peguei meu celular, havia algumas mensagens de Liam. Ele
enviou a primeira ainda no final da tarde, perguntando se tinha alguma
informação, como não respondi, ele enviou mais algumas perguntando se eu
estava bem. A cada mensagem ele parecia mais preocupado. Decidi
responder.
"Eu estou bem. Estou em casa."
"Meu Deus, Anelise! Eu estava tão preocupado. Já estava pensando
em ir até a sua casa ou mandar a polícia. Falando nisso, como foi lá?"
"Péssimo! Eles interrogaram Mayla, mas ela alegou que nós temos
um caso e que a traímos todo esse tempo, por isso ela disse o que disse. "
"E eles não fizeram nada? Não averiguaram?"
"Revistaram a casa dela, mas não acharam nada, nenhuma prova.
Disseram que não podem fazer nada."
"Eu nem sei o que dizer. Estava confiante que tudo iria se resolver.
Não posso imaginar a sua dor."
"Está sendo horrível. Se não fosse por esse bebê eu já teria feito uma
loucura."
"Por favor, se controle. O que acha de saímos para jantar?"
"Agradeço o convite, mas hoje só quero ficar sozinha. Ainda estou
digerindo tudo o que aconteceu."
"Tudo bem, se precisar de algo, é só me avisar."
"Obrigada Liam. Boa noite."
Larguei o celular ao meu lado no sofá.
Fiquei ali por mais algum tempo, até criar coragem para levantar e ir
tomar banho. Depois tentei comer um pouco, não por mim, já que eu estava
totalmente sem fome, mas pelo bebê.
Eu só queria ir para a cama e terminar a noite.
Capítulo 18

Depois de alguns dias, eu estava mais calma. Estava fazendo de tudo


pelo bebê. Ele estava crescendo rápido e saudável, e eu estava feliz com isso.
Peter ainda era um pensamento constante, mas eu estava fazendo de
tudo para focar no bebê que iria nascer. Queria ter uma gravidez tranquila.
Eu e minha mãe não nos falávamos desde o dia que eu contei tudo a
ela e ela não acreditou. Eu não iria mais procurá-la, estava cansada de tentar
forçar uma relação que na verdade, nunca existiu.
Cada dia que passava, eu pensava mais em Liam. Eu estava um
pouco confusa sobre os meus sentimentos. Eram muitas emoções, muita coisa
acontecendo ao mesmo tempo, mas eu tinha certeza de uma coisa: estava
gostando de passar o tempo com ele.
Mayla não havia mais dado sinal de vida, nem mesmo foi tentar
conversar com Liam. Ele comentou comigo que não queria nenhum tipo de
aproximação com ela. O noivado deles acabou quando ela confessou que
havia sequestrado Peter.
Era o último dia do ano. Eu estava animada pelo novo ano que
começaria. Seria tudo diferente, iria mudar para melhor. O meu filho iria
nascer e eu sentia que seria o ano em que eu finalmente encontraria Peter. Eu
estava com as esperanças renovadas.
Liam havia me convidado para passarmos a virada de ano juntos. Ele
sugeriu uma festa. Apesar dos últimos acontecimentos, nós dois tínhamos um
bom motivo para comemorar. Como eu não tinha outros planos, decidi
aceitar.
Fomos liberados mais cedo do trabalho.
Cheguei em casa empolgada. Seria bom passar a virada com Liam.
Depois de tudo que passei esse ano, eu precisava me divertir.
Fui diretamente para o banho.
Eu tinha algumas horas até Liam me buscar, o que era bom, já que eu
pretendia caprichar na produção.
Quando fui para o quarto escolher a roupa, pensei no que estava por
vir. Não seria nada mal se a noite acabasse com sexo. Eu queria e sabia que
ele também.
Optei por uma lingerie de renda na cor vermelha. Era extremamente
sexy, se encaixava perfeitamente em meu corpo. Depois vesti uma calça jeans
e um cropped de manga longa, para completar, um sobretudo na cor preta.
Fiquei um bom tempo na maquiagem e também no cabelo, onde fiz
babyliss.
Depois de algumas horas, observei meu reflexo no espelho. Eu estava
maravilhosa.
Fui para a sala e aguardei Liam.
Ele enviou uma mensagem dizendo que estava a caminho.
Iríamos à uma festa no centro da cidade.
Desci do prédio e o esperei na calçada.
Assim que vi o seu carro virando a esquina, senti um frio no
estômago. Era como se eu voltasse a ser adolescente. Fazia um bom tempo
que não me sentia assim, e eu estava gostando disso.
— Olá — falei, entrando no carro.
— Nossa! Você está incrível — elogiou Liam.
— Obrigada. Você também está ótimo — respondi com um sorriso.
— Eu adoro esse batom vermelho. Lembro que no dia em que nos
conhecermos, você estava usando-o — falou, com um sorriso malicioso.
— É o meu preferido.
Coloquei o sinto de segurança.
Liam deu partida no carro.
— Então, pronta para se divertir essa noite?
— Pronta. Depois que tudo que aconteceu, estou precisando disso, na
verdade, estamos.
— Eu concordo com você. Foi um ano bem intenso na empresa, mas
eu não tenho que reclamar, apesar do cansaço, posso dizer que foi o melhor
ano da minha vida, até o momento.
Ele virou o rosto levante para mim. Tirou os olhos do trânsito por um
segundo.
— E tenho certeza que o próximo ano será o melhor de todos. Vamos
ver o rostinho do nosso bebê.
Levei a mão em minha barriga.
— Eu não vejo a hora disso acontecer.
As ruas estavam lotadas. Havia festas e comemorações em todos os
lugares. As pessoas pareciam muito empolgadas com a virada de ano.
Quando chegamos no lugar, ele parecia estar cheio.
— Já está cheio? E ainda falta três horas para a virada — comentei,
descendo do carro.
— A festa já está rolando desde as seis horas da tarde. Quando saí da
empresa, já estava movimentado, e pelo que eu soube, irá até amanhã de
manhã.
— O pessoal está animado — falei, enquanto entravamos no lugar.
Fomos direto para a pista de dança. A música estava alta.
Comecei a mover o corpo no ritmo da batida.
Liam estava bem em minha frente e fazia o mesmo.
Com poucos segundos de dança, ele se aproximou e me envolveu em
seus braços. Exatamente como na noite em que nos conhecemos. Na verdade,
para mim, era como se estivesse o conhecendo novamente.
Observei seus olhos azuis. Sua boca estava tão perto da minha, era
como se fosse eu convite. Eu não conseguia mais resistir, na verdade, não
queria mais resistir.
Coloquei minhas mãos em volta de seu pescoço e o beijei.
Eu havia esperado por esse beijo. Estava pensando nisso há semanas.
Era um beijo intenso e urgente.
Meu casaco estava aberto e Liam colocou as mãos em minha cintura.
Meu cropped era curto, então senti suas mãos diretamente em minha pele.
Nossos corpos estavam colados. Sentir o seu corpo tão perto do meu
era excitante.
Trocamos beijos e carícias até a música acabar.
Nos afastamos por um momento.
— Vou pegar uma bebida para nós. Já volto — anunciou.
Continuei na pista, dançando e me divertindo sozinha.
Liam demorou quase uma música inteira para voltar. Assim que o
avistei com duas bebidas na mão, fui até ele.
— O que é isso? — perguntei, enquanto pegava a taça de sua mão.
— Champanhe sem álcool.
Bebi um gole.
— É muito bom — comentei.
— Quase não se vê diferença da Champanhe normal, não é? Já
experimentei algumas vezes.
— Sim, nem notei a diferença.
Depois que terminamos nossas bebidas, voltamos a dançar.
Continuamos nossos beijos, que aliás, estavam cada vez mais
quentes.
Apesar da temperatura estar baixa, meu corpo estava fervendo.
Liam beijava meus lábios ferozmente. Ele deslizava sua boca até meu
pescoço, onde dava pequenos chupões.
Virei de costas para ele e empinei minha bunda, consegui sentir seu
pênis pela calça jeans. Ele parecia estar tão excitado quanto eu.
Enquanto eu ainda estava de costas, ele me abraçou por trás. Senti rua
respiração em meu pescoço.
— O que acha de terminamos o ano lá em casa? Só eu e você —
sugeriu, sussurrando em meu ouvido.
— Adorei a ideia. Vamos?
Ele nem precisou responder. Apenas esticou a mão.
Peguei em sua mão e saímos juntos da festa.
Senti um arrepio percorrer todo o meu corpo quando coloquei os pés
na rua. O vento estava congelante.
Respirei aliviada quando entramos no carro.
— Vou ligar o ar para você — falou.
— Lá dentro estava tão quentinho.
— Tenho certeza que quando chegarmos em casa, vamos fazer a
temperatura aumentar de novo.
Ele deu um sorriso largo. Aquele sorriso que deixava as minhas
pernas trêmulas.
— Não vejo a hora. Tenho uma surpresa para você, já que gosta de
vermelho — falei provocativa.
— Vou fazer esse percurso em tempo recorde — brincou.
As ruas estavam ainda mais lotadas do que estavam quando
chegamos. Era cerca de dez horas da noite e todos já estava se preparando
para a virada.
A casa de Liam ficava bem perto da casa de seus pais. O que não me
trazia boas recordações, mas tratei logo de tirar pensamentos negativos de
minha mente.
Ele estacionou o carro bem em frente à casa.
Parecia enorme. Reparei que tinha uma grande sacada no segundo
andar.
Ele foi na frente e abriu a casa.
Assim que entrei fiquei surpresa com a decoração. Era moderna e
casual. Tinha cores claras com detalhes em preto.
Também reparei várias coisas ligada a futebol, tudo em preto,
vermelho e branco, as cores do Frankfurt.
— Você quer beber alguma coisa?
— Não, obrigada.
Ele me encarou por uns segundos. Muitas vezes não precisávamos
falar nada. Conseguimos nos comunicar apenas com o olhar.
Subimos as escadas. Liam abriu a porta do quarto e nós entramos no
cômodo. Reparei em sua cama, era enorme e parecia ser muito confortável.
— Onde nós paramos mesmo? — perguntou com um sorriso leve,
vindo em minha direção.
— Acho que eu preciso me esquentar um pouco.
— Vamos resolver isso.
Ele colocou seus braços em volta da minha cintura e beijou meus
lábios ferozmente.
Passei uma de minhas mãos em seu pênis, por cima de sua calça
jeans. Não demorei mais do que alguns segundos para abrir o botão, em
seguida o zíper.
Coloquei a mão por dentro de sua camiseta, sentindo seu abdômen
definido. Segurei sua camiseta pela barra e a tirei.
Ele era forte, mão não exagerado, exatamente como eu gostava.
Ele voltou a me beijar.
Eu acariciava seu abdômen, toda a extensão de seu peito e sua
barriga. Passei as unhas de leve, foi quando senti sua respiração ficar ainda
mais acelerada.
Sem descolar nossas bocas, ele me guiou até a cama em passos
lentos.
Tirei meu casaco grosso antes de deitar na cama, o frio já não era
mais problema.
Senti o seu corpo em cima do meu.
Ele beijava meu pescoço enquanto uma de suas mãos acariciavam
meus seios.
Levantei alguns centímetros da cama, apenas o suficiente para
conseguir tirar minha blusa.
Vi um leve sorriso em seus lábios quando observou meu sutiã
vermelho.
Liam baixou levemente meu sutiã, ainda sem tirar a peça, deixando
meu mamilo de fora. Ele passava a língua em volta e deu leves lambidas.
Eu me contorcia de tesão. Puxava seus cabelos e tentava colocar
nossos corpos cada vez mais, mesmo que fosse impossível.
Ele baixou completamente meu sutiã e abocanhou um de meus seios,
colocando quase todo dentro de sua boca.
Aquela cena estava extremamente excitante para mim.
Ele deslizou sua boca por meu corpo, descendo até minha barriga,
mas não se prolongou muito, continuou descendo até chegar em minha calça
jeans.
Liam abriu o botão e desceu o zíper. Levantei meu quadril para que
ele conseguisse tirar a peça.
Liam beijava a parte de dentro de uma das minhas coxas, enquanto
apertava com força a outra.
Ele voltou e me beijou. Nossas respirações estavam ofegantes.
Liam beijava meu pescoço, dessa vez, com muito mais intensidade.
— Eu adorei essa lingerie vermelha, mas prefiro você sem ela —
sussurrou em meu ouvido.
Desci as alças do sutiã e levantei de leve para consegui tira-lo.
Ele beijou meus seios rapidamente, logo desceu até minha calcinha.
Liam tirou a peça e afastou delicadamente minhas penas.
Soltei um gemido baixo quando senti sua língua em contato com meu
clitóris.
Ele começou com movimento leves, porém, foi aumentando a
intensidade aos poucos.
Eu me contorcia de tesão.
Liam usou também as mãos. Enquanto chupava e lambia, seus dedos
me penetravam.
Ele se afastou por uns instantes e tirou sua calça que já estava aberta.
Liam foi até a gaveta ao lado da cama e pegou uma caminha.
Mesmo ainda de cueca, eu conseguia perceber o quanto ele estava
excitado. Eu não via a hora de ter aquele pau todo dentro de mim.
Ele tirou a cueca e colocou a caminha sem muita enrolação.
Voltou a deitar em cima de mim.
Ele posicionou seu pênis bem em minha entrada e me penetrou
devagar. Gemi alto quando o senti.
Liam fazia movimentos de vai e vem enquanto beijava meu pescoço.
Sentir a sua respiração tão acelerada em meu ouvido, me deixava
ainda com mais tesão.
Finquei minhas unhas em suas costas, ele soltou um gemido discreto
e aumentou a velocidade.
Suas estocadas estavam ficando cada vez mais fortes e rápidas.
Eu gemia alto. Estava prestes a ter um orgasmo.
Senti uma onda de prazer atingir todo o meu corpo. Fechei os olhos
enquanto arranhava forte as costas de Liam.
A cena foi o suficiente para Liam. Ele continuou com as estocadas
fortes por mais alguns segundos, antes de soltar um gemido discreto.
Ele deitou ofegante ao meu lado.
Liam me puxou para um beijo.
Deitei em seu peito. Ouvia as batidas fortes de seu coração.
Ficamos fazendo caricias um no outro até recuperar nosso fôlego.
Não tenho certeza de quanto tempo passou. O tempo sempre passava
rápido quando eu estava na companhia de Liam.
— Eu preciso de um banho — comentou.
— Eu também, mas pode ir primeiro — falei.
— Tudo bem. Eu não demoro.
— Não se apresse — respondi.
Ele levantou e entrou no banheiro.
Ouvi o barulho do chuveiro.
Eu estava totalmente anestesiada, mas ainda não queria acabar a
noite. Eu queria sentir o seu gosto. Queria sentir seu pau em minha boca.
Mesmo que ele não tivesse um orgasmo novamente, ainda seria bom nos
divertimos mais um pouquinho.
Levantei da cama. Peguei uma pequena borrachinha de cabelo que
estava eu meu pulso, eu sempre a levava para todo lado. Fiz um coque mal
feito, mas era o suficiente para não molhar o meu cabelo
Fui até o banheiro.
Ele ficou um pouco surpreso ao meu ver.
— Já estou saindo — comentou.
— Não precisa sair. Vim fazer companhia.
Entrei no box e senti a água quente percorrer o meu corpo.
Passei a mão por seu peito e desci até seu pênis, mas não o peguei.
Eu queira provoca-lo.
Beijei seus lábios enquanto continuava usando minhas mãos em seu
corpo.
Percebi que ele estava começando a ficar excitado novamente.
— Ainda não terminamos. Eu quero sentir o seu gosto — sussurrei
em seu ouvido.
Beijei seu peito e desci lentamente por sua barriga, até meus lábios
encostarem em seu pênis. Eu estava de joelhos, sentindo a água cair em
minhas costas.
Comecei apenas passando a língua na ponta.
Ele já estava animado com o que via.
Eu usava as mãos para masturba-lo enquanto passava a língua em
volta.
Liam segurou com força meus cabelos, levantando minha cabeça, me
fazendo olhar para ele.
— Agora eu quero que você engula todo esse pau — ordenou.
Fiz exatamente o que ele mandou.
Enfiei tudo o que podia na boca. Coloquei a língua para fora para ter
mais espaço e consegui ir quase até o fim. Pela sua reação, tinha certeza de
que era exatamente daquilo que ele gostava.
Eu chupava seu pau com vontade, alternando em fazê-lo encostar em
minha garganta e passar a língua pela ponta.
Ele voltou a segurar meu cabelo. Me fazendo chupar cada vez mais
rápido.
Eu sabia que ele teria um orgasmo novamente.
— Goza na minha boca — pedi.
— Vai ter que engolir tudo — falou, com a respiração ofegante.
Seu corpo estremeceu. Foi quando senti o líquido quente em minha
boca.
Engoli o máximo que pude.
Quando levantei, Liam sorriu e beijou meus lábios enquanto a água
ainda caía.
Terminamos o banho juntos.
Voltamos para o quarto exaustos.
Vesti minha roupa de volta, enquanto Liam vestia uma camiseta
confortável.
Sentei na cama. Ainda estava recuperando o fôlego. Foi quando
começamos a ouvir fogos de artifícios.
Peguei meu celular que estava em cima da cômoda ao lado da cama.
— Já é quase meia noite — comentei.
— Nossa! Como passou rápido. Venha.
Ele abriu a janela do quarto e pude ver uma enorme sacada, a mesma
que reparei quando entrei.
Fomos até o lado de fora.
— Que vista linda! — exclamei olhando os fogos.
— Sim. Tenho uma visão privilegiada daqui.
Os fogos aumentaram. Ouvimos alguns gritos e comemorações da
rua. O ano havia virado.
Liam me abraçou por trás.
— Feliz ano novo, Anelise — sussurrou.
— Feliz ano novo.
— Tenho certeza de que esse será o melhor ano de nossas vidas.
Passamos os primeiros instantes do ano abraçados, observando os
fogos no céu.
Era um início de ano quase perfeito, quase.
Capítulo 19

Eu e Liam estávamos nos vendo praticamente todos os dias desde que


passamos a virada de ano juntos.
Algumas vezes eu ia até a casa dele, outras ele vinha até a minha,
também saímos juntos para jantar em algumas noites.
Eu não sabia ao certo o que nós tínhamos, só sabia que não
queríamos mais ficar longe um do outro.
Era metade de janeiro. Eu finalmente iria comprar o meu carro.
Esperei muito por esse momento.
Eu iria aproveitar minha folga no sábado para ir até a concessionária.
Liam comentou que gostaria de me acompanhar, mas que tinha muito
trabalho na empresa.
Disse que tudo bem, que depois poderíamos sair para estrear o carro
novo.
Eu estava ansiosa e animada. Comprar meu próprio carro era um
passo muito importante para mim.
Peguei um Uber e fui até a concessionária. Esperava que a partir de
agora eu ficasse um tempo sem precisar pedir um Uber.
Assim que cheguei no lugar, fiquei impressionada. Eram muitos
carros para escolher. Eu olhava para todos os lados, não tinha ideia do que
escolher.
O vendedor veio até mim.
Eu expliquei que queria algo simples, porém bonito.
Ele me apresentou vários modelos, para todos os gostos e bolsos.
Eu estava ficando cada vez mais confusa. Amava um, logo em
seguida via outro e mudava de ideia.
Eu já estava há algum tempo olhando carros, quando reparei em um
meio escondido. Ele não estava tão exposto quanto os outros.
— E aquele ali? — perguntei apontando.
— É um Ford Focus seminovo — respondeu.
Fomos até ele.
O carro era na cor prata. Parecia novo, estava em ótimo estado.
— É lindo — elogiei.
O vendedor falou um pouco sobre ele. Quanto mais ele falava, mais
apaixonada eu ficava.
— Pode entrar e dar uma olhada por dentro.
Entrei no carro.
O banco era muito confortável. Sem falar que era muito espaçoso.
— Eu amei! É esse — falei sorrindo.
Saí do carro e fomos finalizar a compra.
Eu não via a hora de sair dirigindo o meu carro novo. Era perfeito
para mim.

[...]
Eu estava terminando de me arrumar. Iria sair para jantar com Liam.
Eu disse que buscaria ele em casa para estrear o carro novo.
Depois de pronta, saí de casa e fui em direção ao carro.
Eu já havia dirigido ele da concessionária até em casa, mas era a
primeira vez que iria sair com ele de verdade.
Dei partida e fui em direção à casa de Liam.
Ele já estava a minha espera do lado de fora.
Parei ao lado dele.
— Nossa! É lindo — comentou.
— É maravilhoso, né? Estou encantada com ele. — Meus olhos
quase brilhavam. — Quer dar uma volta? — brinquei.
— Claro.
Ele sorriu.
Liam entrou no carro.
Assim como eu na primeira vez, ele olhava com atenção para tudo.
— Você fez uma ótima escolha.
Ele se aproximou e beijou meus lábios com delicadeza.
— Com fome? — perguntei assim que nos afastamos.
— Faminto. Não como desde o almoço. Onde vamos?
— O que acha de pizza? Faz dias que estou com vontade de comer.
— Desejo de grávida? — perguntou sorrindo.
— Exatamente. E você sabe que não se deve contrariar uma mulher
grávida, não é?
— Claro que eu sei. Vamos de pizza então.
Liam contou que as coisas na empresa estavam um pouco mais
calmas. E que ele estava pensando em tirar umas mini férias.
Chegamos na pizzaria sem muita demora.
Já havíamos passado na frente dela outras vezes, e tínhamos
combinado de conhecer o lugar.
A pizzaria era enorme e muito acolhedora. Tinha uma linda
decoração rústica com detalhes em madeira.
Escolhemos uma mesa e sentamos.
Fizemos nossos pedidos que chegaram sem muita demora.
— O cheiro está ótimo — comentei assim que o garçom deixou a
pizza na mesa.
A pizza era enorme. Na verdade, acho que grande demais apenas para
nós dois, no caso nós três.
Os sabores eram de calabresa com salame e napolitana.
— Você primeiro — falou.
Cortei um pedaço pequeno de cada sabor e experimentei.
— Nossa! É maravilhosa.
Liam também se serviu.
— Eu concordo. Realmente muito boa. Uma das melhores que já
comi.
A massa era bem fininha, o que deixava muito mais recheio,
exatamente como eu gostava.
Para acompanhar pedimos suco de uva natural.
Eu estava conseguindo evitar o refrigerante. Aprendi a gostar de suco
natural. Pensando bem, o suco era muito mais saboroso. Tinha sabor da fruta,
não era apenas açúcar.
— Eu tenho um conhecido que é detetive particular. Eu falei para ele
sobre o seu caso, não falei detalhes, nem dei o seu nome. Mas ela acha que
pode ajudar — disse Liam, entre uma garfada e outra.
— Sério? Será que ele seria capaz de encontrar Peter? Eu já havia
pensando em contratar um detetive particular, mas como nunca tive muitas
provas, pensei que seria dinheiro jogado fora.
— Se quiser, nós podemos tentar. Marco uma reunião entre vocês.
— Seria ótimo. É tudo que eu mais quero.
Por um momento senti uma ponta de esperança.
— Quanto ao dinheiro, não se preocupe com isso. Eu quero ajudar.
Ele esticou uma de suas mãos em cima da mesa e acariciou meus
dedos.
— Obrigada, Liam.
Olhei para ele e sorri.
Ele fez o mesmo.
Continuamos comendo, o clima ficou um pouco pesado depois de ter
falado em Peter. Era sempre assim, eu não conseguia superar, por mais que o
tempo passasse. A ferida em meu peito ainda estava aberta, exatamente igual
como no dia em que tudo aconteceu.
— E o sexo do bebê? Você vai querer saber ou prefere surpresa?
Confesso que estou muito curioso — falou Liam, tentando quebrar o clima.
— Acho que eu prefiro saber. Podemos organizar um chá de
revelação, o que acha? — sugeri.
— Adorei a ideia. Posso falar com minha mãe, ela irá adorar ajudar.
— O que você acha que é? — questionei, bebendo um gole do meu
suco.
— Eu não sei, e, na verdade, não tenho preferência. Só quero ver
logo o seu rostinho.
Ele estava com um brilho nos olhos enquanto falava do bebê.
— Desde que tive Peter, eu sempre falava que teria uma menina, pois
sempre quis ter um de cada sexo, mas agora eu me vejo mãe de um menino.
Também não tenho preferência. Vou ficar muito feliz seja qual for o sexo.
— Eu vou falar com minha mãe e organizamos tudo.
— Não precisa ser algo tão grande. Posso convidar meu pai e alguns
colegas de trabalho.
— E sua mãe? Ainda não fizeram as pazes? — perguntou.
— Não. Ela foi muito cruel na última vez. Não acreditou em mim.
Nunca iremos nos dar realmente bem — lamentei.
— Eu sinto muito.
Liam parecia chateado. Eu sabia que ele ficava triste ao saber da
minha relação com minha mãe. Ele e seus pais se davam tão bem. Era uma
relação invejável.
— Está tudo bem. Já estou acostumada. Vou chamar o meu pai. Ela
ficará feliz com o convite.
Depois de falarmos sobre o chá de revelação, o clima ficou muito
mais leve.
Já havia terminado de comer. Estávamos levantando para ir embora.
— Na próxima semana terá jogo do Frankfurt. Podemos ir juntos, se
você quiser — sugeriu Liam enquanto saíamos da pizzaria.
— Claro! Você vai ver, eu vou dar sorte — sorri.
O clima estava frio.
Liam envolveu seus braços em volta do meu corpo.
— Então está marcado. Vou comprar nossas entradas antecipadas.
Entramos no carro.
Coloquei o cinto de segurança.
— Então, já quer terminar a noite? — perguntei, com um sorriso
malicioso.
— Não. Ainda está muito cedo. Quer ir lá para casa? Eu posso fazer
uma sobremesa para você — falou sorrindo.
— Que tipo de sobremesa? — perguntei franzido o cenho.
— A que você quiser. Pode escolher, mas tenho uma condição.
— Qual?
Ele se aproximou.
— Terá que ficar a noite inteira — sussurrou em meu ouvido.
Ele virou meu rosto e beijou meus lábios.
— Tudo bem. Estou mesmo com vontade de comer uma sobremesa,
mas que fique claro, estou indo só pelo doce — brinquei, dando um pequeno
sorriso.
Liguei o motor do carro e fiz o caminho de volta para a casa de Liam.
Como era sábado, eu sabia que passaríamos o domingo inteiro juntos.
E era exatamente isso que eu queria.
Capítulo 20

Eu estava empolgada para ir no estádio com Liam, não só para


assistir ao jogo, mas pela surpresa que eu iria fazer.
Passei horas pensando, queria que fosse algo grande e memorável.
Eu iria pedir Liam em namoro durante a partida de futebol. Eu já
conseguia ver o seu sorriso quando visse a surpresa. Sabia que ele iria ficar
emocionado.
Eu estava no computador, planejando o pedido de namoro, quando
ouvi o interfone. Era uma entrega para mim.
Achei estranho. Eu não estava esperando nada, não havia feito
nenhuma compra online. Mesmo assim eu desci rapidamente para receber.
— Anelise? — perguntou o motoboy.
— Sim.
Ele me entregou um pacote.
Era macio, parecia ser uma peça de roupa ou algo assim.
— Assine aqui por favor.
Assinei e voltei para dentro.
O pacote tinha o meu nome e meu endereço. O que poderia ser?
Abri o pacote sem muita enrolação.
Eu estava certa, era uma peça de roupa.
Junto havia um pequeno bilhete.
"Não tem como ir a um jogo do Frankfurt sem uma camiseta, não é
mesmo? Espero ter escolhido o tamanho certo. Liam"
Sorri ao terminar de ler.
A camiseta era no estilo baby look. Era vermelha com linhas pretas
verticais.
Tirei meu casaco e a blusa que estava usando e a vesti rapidamente.
O tamanho ficou perfeito. Pareceu ter sido feita para mim.
Peguei meu celular e tirei uma foto.
Enviei a foto junto com uma mensagem para Liam.
"Obrigada pela camiseta. Serviu direitinho. É linda"
"Eu sabia que ficaria ótima em você. Aliás, tudo fica. Você está
linda."
Respondi sem muita demora.
"Obrigada. Estou muito ansiosa por esse jogo."
E eu realmente estava.
Tirei a camiseta e voltei para o computador. Eu queria que tudo
saísse perfeito no dia do jogo de futebol.

[...]
O domingo chegou. O dia da partida. Frankfurt contra Borussia
Dortmund.
Os dois estavam no topo da tabela. Seria um jogo muito importante.
Liam já estava em meu apartamento. Havíamos dormido juntos na
noite passada.
Todos os domingos nós acordávamos juntos.
Hoje eu pediria Liam em namoro. Eu estava há alguns dias
planejando tudo nos seus mínimos detalhes.
Iríamos no carro de Liam. Como ele já estava acostumado a ir nos
jogos, sabia de cor o caminho.
Antes mesmo de chegar no estádio, as ruas já estavam lotadas.
Pessoas nas ruas, vendedores de comida e de lembrancinhas. Era um
clima muito divertido.
Estacionamos e carro e descemos.
— Que tal um lanchinho antes do jogo? — sugeriu Liam.
— Foi para isso que eu vim — respondi sorrindo.
Compramos um lanche. Sinceramente eu nem sabia o que era, só vi
que tinha salsicha. Eu estava muito ansiosa com a surpresa que havia
preparado. Não estava com a mínima fome, estava apenas fingindo, não
queria que ele desconfiasse de nada.
Depois de comer, entramos no estádio. Era enorme e muito espaçoso.
O lugar estava lotado. Muito mais do que imaginei que estaria.
Fomos para os nossos lugares e esperamos o início da partida.
— Está tudo bem? — perguntou Liam.
— Sim. Estou bem.
— Parece um pouco ansiosa.
— Eu estou. Fazia tanto tempo que eu não vinha em um jogo. Vamos
tirar uma foto?
Peguei meu celular e colamos nossos rostos.
Tiramos algumas selfies com o gramado ao fundo.
— Essa ficou ótima. Com certeza vou postar mais tarde— comentou.
— Ficou linda mesmo — concordei.
O juiz deu início ao jogo.
Era um jogo difícil. Os dois times estavam muito fechados. A bola
praticamente não passava do meio de campo.
Os quarenta e cinco minutos passaram lentamente. Para mim, pareceu
uma eternidade.
— O jogo está muito trancado. Precisamos atacar mais — falou
Liam, durante o intervalo.
— Sim, ninguém ataca. Acho que uma troca de atacante ajudaria.
Ele estava um pouco preocupado e decepcionado com o empate.
— Vamos beber alguma coisa? — perguntou, levantando.
— Na verdade, estou um pouco cansada. Prefiro ficar aqui quietinha
mais um pouco — menti.
Segurei seu braço de leve. Fazendo com que ele sentasse novamente.
— Você está bem? Se quiser, podemos ir para casa.
— Não quero ir embora. Eu estou bem. Só quero ficar aqui por mais
alguns instantes.
— Tudo bem.
Ele me deu um beijo rápido e passou a mão por minha barriga.
Estávamos em silêncio há alguns instantes. Foi quando ouvimos uma
voz no autofalante.
Era uma voz masculina. A mesma que fala as informações durante o
jogo.
— Peço atenção de todos. Tenho um recado da Anelise. Onde está a
Anelise?
Um foco de luz percorreu o estádio e parou em nós. Mesmo com a
claridade do dia, estávamos em foco, por uma forte luz branca.
Todos estavam com a atenção em nós.
Levantei e fiz sinal para que ele levantasse também.
Liam olhou para mim, confuso e sem entender nada.
Ele continuou:
— O recado da Anelise é para Liam Schneider, e diz o seguinte:
Liam, você aceita namorar comigo?
As pessoas que estavam a nossa volta começaram a gritar e bater
palmas.
Liam abriu um grande sorriso. Exatamente como imaginei que seria.
Eu estava tensa. Estavam todos olhando. Apesar de não ser uma
pessoa tímida, eu estava com um pouco de vergonha.
Liam me abraçou forte.
— É claro que eu aceito — sussurrou em meu ouvido.
Nos afastamos. Liam beijou meus lábios de forma delicada.
As pessoas em volta continuavam aplaudindo.
— Gostou da surpresa? — perguntei sorrindo, assim que nos
afastamos.
— Foi incrível. Eu não fazia ideia de que você tinha planejado tudo
isso.
— Eu estava pensando em algo desde o dia que você me convidou
para vir no jogo.
As pessoas começaram a dispersar, voltando a fazer o que estavam
fazendo antes.
— E você não poderia ter escolhido um lugar melhor. Eu amo estar
nesse estádio.
— Só no estádio? — perguntei levantando uma sobrancelha.
Ele se aproximou e colocou seus braços em volta de meu corpo.
— Eu amo o nosso filho, amo a família que estamos construindo, e
amo você, Anelise, amo como nunca amei ninguém antes.
— Eu também amo você.
Era a primeira vez que nos declarávamos um para o outro.
Ele voltou a me beijar.
— Vamos ser muito felizes juntos. Agora terei que me superar nesse
seu pedido. Vou ter que pedir você em casamento durante um salto de
paraquedas.
— Não, eu tenho medo de altura.
— Vou pensar em algo bem criativo, não se preocupe.
Trocamos mais alguns beijos. O intervalo já estava quase acabando.
— Será que dá tempo de comprar aquela bebida? — perguntei.
— Claro. O que você quer?
— Qualquer coisa. Minha boca está seca. Pode ser água ou suco.
Saímos de nossos lugares e não demoramos muito para encontrar um
vendedor.
Liam comprou um suco de laranja para mim.
O jogo já estava começando quando voltamos para nossos lugares.
O início do segundo tempo estava exatamente como o primeiro. Um
jogo feio e trancado.
Mas isso começou a mudar a partir da metade final.
O Frankfurt começou a atacar. Vários chutes perdidos, bolas da trave
e defesas do goleiro.
— Estou sentindo que vamos fazer um gol. Só nós atacamos.
— Também acho — concordei.
Liam estava certo. Não demorou mais de três minutos para o gol sair.
— Eu sabia! Comemorou Liam.
Gritamos e nos abraçamos em comemoração.
Foi lindo de ver toda a torcida feliz e comemorando.
Depois que o jogar acabou, tiramos mais algumas fotos, agora como
namorados, oficialmente.
O lugar já estava quase vazio quando decidimos sair e ir em direção
ao carro.
— Eu disse que daria sorte — comentei.
— Agora todos os jogos que eu vier, você terá que me acompanhar.
— Eu vou adorar.
Sorri.
Liam pegou minha mão e voltamos juntos lado a lado até o carro.
Eu estava radiante. Liam era um homem incrível. Eu tinha muita
sorte por tê-lo.
Capítulo 21

Estava quase impossível conseguir controlar a ansiedade. Hoje era o


dia do chá de revelação.
Há algumas noites eu havia sonhado que era um menino, mas agora,
eu me via mãe de uma menina. Eu não tinha mais palpite e nem preferência.
Toda hora eu mudava de opinião. Só queria descobrir logo.
Organizamos uma pequena festa. Seria na casa dos pais de Liam.
Eu havia convidado meu pai e alguns colegas de trabalho mais
íntimos. Não convidei minha mãe, ainda estava profundamente chateada com
ela.
Martha era a única pessoa que já sabia o sexo do bebê. Foi ela quem
planejou tudo. Nós apenas ajudamos na decoração.
— Está tudo lindo — comentei.
— Minha mãe fez um ótimo trabalho. Está tudo perfeito — disse
Liam.
Era um lindo dia de fevereiro. Apesar da baixa temperatura, o sol
brilhava forte.
O jardim estava todo decorado. O lugar era muito espaçoso, perfeito
para receber os convidados.
Martha levou algumas mesas para fora, elas estavam cheias de
aperitivos, também tínhamos um enorme bolo decorado na cor dourada. E
para sentar algumas cadeiras e bancos.
No meio do jardim, havia uma grande caixa fechada, ela estava cheia
de balões, quando a caixa fosse aberta, os balões — rosas ou azuis — sairiam
voando.
Eu estava usando um vestido azul e Liam estava com uma camisa
social rosa
Os convidados começaram a chegar. Meu pai foi um dos primeiros.
Estávamos todos no jardim, rindo, conversando, comendo, e nos
divertindo. Liam brincou que tínhamos que fazer um suspense antes da
grande revelação.
Depois de algum tempo, já estávamos prontos para finalmente
descobrir o sexo do bebê.
Liam, que antes estava calmo, agora parecia nervoso e agitado.
— Ansioso? — questionei.
— Muito — respondeu passando a mão carinhosamente por minha
barriga.
Beijei seus lábios rapidamente.
— Vamos, chegou a hora — falei sorrindo.
Nos reunimos todos em volta da caixa.
Liam ficou de um lado e eu de outro.
Colocamos nossas mãos na tampa da caixa.
Martha estava com o celular apontado para nós, preparada para
registar todos os momentos.
Fizemos uma contagem regressiva com os convidados.
No momento em que chegamos no um, abrimos a caixa e os balões
saíram voando.
— Aí meu Deus! — exclamei.
Os balões eram rosa.
Fui até Liam e nos abraçamos forte.
— Uma menina! Como você sempre quis — falou em meu ouvido.
Eu estava muito emocionada. Meus olhos encheram de água
enquanto ainda estava nos braços de Liam.
Assim que nos afastamos, vi nos olhos de Liam que ele estava tão
emocionado quanto eu.
Seus pais vieram e nos abraçaram. Em seguida meu pai e os outros
convidados.
Eu estava anestesiada. Minha menininha estava a caminho. Isso era
mesmo real?
Depois de recebermos os parabéns de todos, fui até Liam mais uma
vez.
— Acho que, no fundo, eu sabia que era uma menina. — Sorri.
— Tenho certeza que ela será parecida com a mãe.
Apesar de estar imensamente feliz, meu coração ainda doía por Peter,
mas eu estava muito esperançosa agora que havíamos contratado um detetive
particular. Dessa vez eu tinha certeza de que iríamos o encontrar.
Aproveitamos ao máximo o resto da festa. Passamos uma tarde muito
agradável. Com certeza um dia que eu nunca iria esquecer.
Depois de todos terem ido embora, era hora da limpeza.
— O que pensa que está fazendo? — perguntou Martha, em tom de
brincadeira no momento em que eu estava levando os copos para dentro.
— Ajudando a limpar.
— Nada disso. Você pode esperar lá na sala. Deixe isso com a gente.
— Eu já tinha falado isso, mas ela não me ouviu — disse Liam.
— Eu estou ótima. Posso ajudar.
— Acho melhor descansar um pouco, foi um dia de muitas emoções
— afirmou Martha.
— Tudo bem, vocês venceram. Vou sentar um pouco no sofá, só
porque realmente fiquei um pouco cansada.
— Vai lá. Vamos terminar rapidinho aqui e vamos para casa.
Ele se aproximou e me deu um beijo na testa.
Eu queria ajudar, mas estava mesmo querendo dar uma relaxada.
Liam e seus pais terminaram de arrumar tudo.
Enquanto descansava, peguei o meu celular. Olhei todas e fotos e
vídeos que fizemos durante a tarde.
Sorri ao rever a momento da revelação. Agora tudo que eu queria era
ver o seu rostinho. Estava contando as semanas para o dia do seu nascimento.

[...]
Saí do trabalho e avistei o carro de Liam em frente ao prédio.
Hoje seria uma noite um pouco diferente. Iríamos a um sex shop
juntos.
O meu desejo sexual estava mais alto do que nunca, cheguei a
comentar isso com minha doutora, ela disse que era super normal mudanças
de comportamento sexual durante a gravidez, poderia aumentar ou diminuir.
No meu caso aumentou, e muito.
Sugeri que fossemos a um sex shop, queria diferenciar um pouco.
Liam adorou a ideia, na verdade, pareceu muito empolgado.
— Desculpe, acabei me atrasando um pouquinho, mas eu precisava
terminar o que estava fazendo — falei, entrando no carro.
— Tudo bem, não faz muito tempo que cheguei.
Me aproximei e trocamos um beijo rápido.
— Vamos? — falei, com um sorriso sugestivo.
— Passei o dia inteiro esperando por isso.
Havia uma grande sex shop indo em direção a casa de Liam. Eu já
havia reparado nela outras vezes, era lá que iríamos.
Eu não tinha muita ideia do que iria comprar, mas estava aberta a
novas experiências.
Quando entramos no lugar, olhei para todos os lados.
Havia uma variedade enorme de produtos.
— O que acha de algemas? — perguntou Liam, olhando os produtos.
— Interessante. Nunca havia pensando em usar, mas gostei da ideia.
Depois de algum tempo na loja, fomos para o caixa.
Compramos gel para massagem, lubrificante, vibrador, preservativos
aromáticos e as algemas.
— Estou ansioso para usarmos tudo isso — comentou Liam, assim
que entramos no carro.
— Eu também, mas estou morrendo de fome.
— Tudo bem. Primeiro o jantar. O que está com vontade de comer?
Pode deixar a comida comigo hoje.
— Não tenho nada em mente. Pode ser algo rápido e simples. Não
quero perder muito tempo, temos coisas mais importantes para fazer essa
noite.
Passei a mão por sua perna.
— Não se preocupe. Vou fazer algo bem rápido.
Ele deu um sorriso malicioso.
Chegamos na casa de Liam rapidamente, já que a sex shop ficava
bem perto.
— Pode descansar um pouco. Vou fazer algo rápido e já comemos.
— Tudo bem. Vou aproveitar para tomar um banho. Foi um longo dia
de trabalho.
Eu havia deixado algumas peças de roupas na casa de Liam, era
perfeito para ocasiões como essa.
O banheiro de Liam era enorme. Quase do tamanho do meu
apartamento inteiro.
Tomei um banho bem quente e relaxante.
Quando saí do banheiro, senti o cheiro de comida me invadir.
— O Spätzle está pronto — disse Liam, assim que me viu.
— Deve estar uma delícia. Adoro macarrão.
A comida está maravilhosa. Liam se saía muito bem na cozinha.
Depois de comer, ele foi tomar um banho. Iríamos assistir alguma
coisa depois.
Fui até seu quarto e deitei na cama confortavelmente o esperando. Ele
voltou em pouco tempo.
Colocamos um filme repetido qualquer de comédia. Provavelmente
nem iríamos terminar de assistir.
Eu estava deitada no peito de Liam, assistindo a televisão, quando ele
colocou a mão em meu queixo e me fez olhar para ele.
O encarei por alguns segundos, ele se aproximou e beijou meus
lábios.
Coloquei a mão em sua nuca, enquanto Liam apertava de leve meus
seios.
Os beijos foram ficando cada vez mais urgente.
Nos afastamos por um instante. Minha boca percorreu o seu pescoço,
onde dei alguns chupões.
Liam estava ficando cada vez mais animado.
Enquanto eu ainda beijava seu pescoço, abri o botão e o zíper da sua
calça.
Peguei em seu pênis e comecei a masturba-lo de forma delicada.
Liam segurou meu rosto e me beijou ferozmente.
Interrompi o beijo e tirei minha blusa, deixando meus seios à mostra
já que estava sem sutiã.
Usei minhas duas mãos para tirar sua camiseta.
Passei a ponta dos meus dedos em seu abdômen e desci até a altura
de seu pênis, mas não o peguei, chegava lá e subia novamente. Fiz esse
movimento algumas vezes.
Levantei da cama e tirei minha calça, ficando apenas de calcinha.
Enquanto isso, o homem tirou sua calça e sua cueca e sentou
novamente na cama.
Me posicionei de quatro, na altura do pênis de Liam, olhando para
ele. Seu pau já estava extremamente duro.
Coloquei a língua para fora e o lambi, sem colocá-lo dentro da boca.
Usei uma das mãos para fazer movimentos de vai e vem.
Liam estava delirando de tesão.
— Chupa e olha para mim — pediu.
Foi exatamente o que eu fiz. Coloquei todo dentro da boca enquanto
o encarava.
Eu chupava, lambia e me deliciava com seu pau.
A sacola do sex shop estava em cima da cama. Havíamos deixado por
perto.
Estiquei o meu braço para alcança-la.
Abri um lubrificante com sabor de morango. Despejei um pouco do
líquido em seu pênis e massageie.
Ver Liam naquela situação estava me deixando completamente
molhada.
Usei a boca e pude sentir o sabor de morango.
Eu chupava seu pau com vontade, só parava quando o sentia em
minha garganta.
Liam segurava meu cabelo com força, controlando os movimentos
que eu fazia.
Ele me puxou em sua direção.
— Eu quero algemar você.
Ele levantou e me fez deitar na cama de barriga para cima. Senti o
seu corpo em cima do meu. Liam me beijava enquanto suas mãos deslizavam
pelo meu corpo.
O homem afastou minhas pernas e colocou a mão por dentro de
minha calcinha.
Senti seu toque em meu clitóris.
Ele fazia movimentos circulares e leves.
Cravei minhas unhas em suas costas.
Liam não se prolongou muito. Logo ele se posicionou entre minhas
pernas. Ele tirou minha calcinha, me deixando completamente nua.
Liam foi diretamente para meu clitóris.
Soltei um gemido alto.
Ele usou dois de seus dedos para me penetrar, enquanto ainda usava a
língua.
Eu estava me contorcendo de tesão.
Apertei minhas coxas, deixando-o quase sufocado entre minhas
pernas.
Liam aumentava a velocidade de seus movimentos, me fazendo
gemer cada vez mais alto.
Ele se afastou. Pegou as algemas, que ainda estavam na sacola e
ordenou que eu virasse de bruços.
Liam pegou minhas mãos a as algemou em minhas costas.
Ele colocou um travesseiro embaixo de mim, e me orientou a apoiar
o meu peso em meus joelhos, como se fosse ficar de quatro.
Fiz exatamente o que ele pediu.
Eu estava com a bunda empinada e algemada.
Senti um líquido sendo despejado em minha pele. Liam espalhou o
lubrificante. Também ouvi o que parecia ser um pacote de camisinha sendo
aberto. Eu não conseguia ver, estava totalmente dominada.
Ele me penetrou sem enrolação. Suas mãos seguravam firme meu
quadril.
Liam deu alguns tapas em minha bunda.
— Mais forte — pedi.
Ele estapeou minha bunda ainda mais forte. Sabia que provavelmente
já estava vermelha, mas eu não estava me importando com isso.
Liam aumentava a velocidade das estocadas. Eu conseguia sentir sua
respiração acelerada. Sabia que ele estava prestes a ter um orgasmo.
Ele apertou minha bunda com força e soltou um gemido discreto. Ele
havia chegado a seu ápice.
Liam abriu minhas algemas.
— Agora é sua vez.
Ele pegou o vibrador. Era um modelo ponto G duplo na cor rosa. A
função dele era penetrar e massagear o clitóris ao msmo tempo.
Ele fez sinal para que eu deitasse de barriga para cima novamente.
Liam me chupou em ritmo acelerado, mas não exagerado. Ele
introduziu o vibrador e ligou em velocidade média.
Ele continuava usando a língua e o vibrador, aumentando a
velocidade gradativamente.
Eu me contorcia na cama.
Senti que estava prestes a ter um orgasmo.
Meu corpo estremeceu quando cheguei ao meu ápice.
Liam desligou o vibrador e deitou ao meu lado.
Estávamos ofegantes.
Olhei para ele e me aproximei, deitando em seu peito. Ele me
envolveu em seus braços e me puxou para um beijo rápido. Ficamos deitados
lado a lado, até recuperar totalmente o fôlego.
Capítulo 22

O calor estava presente.


Eu estava prestes a completar quarenta semanas de gestação. Minha
barriga estava enorme. Fazia noites que não sabia o que era dormir direito.
Meu corpo inteiro doía, tinha dificuldade para fazer até às tarefas mais
simples, mesmo com todas essas dificuldades eu estava feliz. Em dias eu
finalmente veria o rostinho de minha filha.
Escolher o nome foi a parte mais difícil. Demoramos meses para nos
decidir. Optamos pelo nome Belle. Era um nome simples, porém muito
bonito.
Eu estava na casa de Liam há algumas semanas, ainda tinha o meu
apartamento, mas estava me mudando aos poucos. Queríamos morar juntos
definitivamente.
Enquanto estava trabalhando, ele me ligava várias vezes por dia,
sempre perguntando se eu estava precisando de algo.
Era final de tarde. Eu estava sozinha, foi quando comecei a sentir
dores. Eram dores familiares para mim, sabia que eram contrações.
Peguei o celular e liguei imediatamente para Liam.
— Anelise! Está tudo bem? — perguntou preocupado assim que
atendeu.
— Sim, mas estou com dores. Acho que chegou a hora.
— Fique calma. Respirei fundo. Eu estou indo para aí agora mesmo.
— Tudo bem, mas não corra. Eu estou bem.
Liam parecia afoito, muito mais do que eu. Eu sabia que essas dores
ainda levariam muitas horas.
Fui até o quarto de Belle, que já estava ponto, e peguei a bolsa
maternidade que havíamos preparado.
Eu estava no andar superior, fiquei com um certo receio de descer as
escadas sozinha. Podia me desequilibrar.
Fui até a sacada, a mesma sacada que observamos os fogos de ano
novo há alguns meses. Fiquei em pé, olhando para todos os lados, esperando
avistar o seu carro.
Apesar das dores estarem fortes, eu estava conseguindo manter a
calma. Tentava controlar a respiração e manter o pensamento positivo.
Liam chegou em tempo recorde.
Ele saiu do carro correndo e entrou na casa. Ouvi seus passos subindo
as escadas e vindo até mim.
— Como você está? — perguntou, entrando no quarto.
— Bem, na medida do possível, mas está doendo.
— Venha, se apoie em mim.
Liam me ajudou a descer as escadas lentamente. Em seguida
entramos no carro e começamos nosso caminho até o hospital.
A viagem durou poucos minutos, mas foi o suficiente para a dor ficar
ainda mais intensa.
Assim que chegamos, Liam me ajudou a descer do carro.
Entramos no hospital e logo alguns enfermeiros vieram até mim.
Fui levada para uma sala e preparada para o parto.
Liam iria assistir. Ele falava que seria um sonho realizado poder ver
sua filha nascer.
As coisas estavam um pouco confusas para mim, parecia que tudo
estava passando como um filme em minha cabeça, talvez por conta da dor.
Liam estava ao meu lado. O médico e enfermeiros estavam todos a
postos.
— Agora faça força — pediu o médico.
Foi o que eu fiz.
A dor estava quase insuportável.
Eu estava suando e exausta.
Não sei exatamente quanto tempo durou, mas com certeza já estava
muito mais demorado do que o parto de Peter.
Depois do que pareceram ser horas, o médico se pronunciou:
— O bebê não está na posição. Você passará por uma cesariana.
Eu não havia pensando em cesariana. Sempre preferi o parto normal,
mas faria o que fosse preciso para trazer minha filha ao mundo. Tudo que eu
queria era poder segura-la.
— Não se preocupe. Está tudo bem. Dará tudo certo — disse Liam.
Ele estava nervoso, mas eu sabia que estava tentando me passar
confiança.
Eu estava sem noção de tempo, não sabia quanto tinha passado.
O médico estava trabalhando, eu não sentia nada, mas a ideia de estar
toda aberta era assustadora.
Eu nunca fui uma pessoa religiosa, mas naquele momento, a única
coisa que eu conseguia fazer era pedir a Deus que tudo desse certo.
Eu não senti Belle sendo puxada de dentro de mim, apenas ouvi um
choro de bebê invadindo meus ouvidos.
Nesse momento, não consegui conter a emoção. As lágrimas caíram,
não só por Belle, mas por Peter também.
Olhei para Liam e ele também estava emocionado.
Ele passou a mão delicadamente pela minha bochecha.
— Você conseguiu — falou, enquanto as lágrimas desciam pelo seu
rosto.
— Eu quero vê-la — pedi.
— Eles já vão trazer.
Vi uma enfermeira se aproximando com Belle no colo. Ela a colocou
em meus braços por um instante.
— Aí meu Deus! Ela é perfeita — comentei entre lágrimas.
— Ela é linda — completou Liam.
Fiquei a admirando, até a enfermeira a pegar novamente e a levar
para longe.
Eu estava exausta, mas não queria dormir. Tudo que eu queria fazer
era passar o tempo com Belle.

[..]
Eu já estava no quarto de hospital, prestes a ganhar alta. A
recuperação estava muito dolorosa, mas estava saindo tudo conforme o
esperado.
A amamentação estava sendo algo desafiador, exatamente como
havia sido com Peter. Belle havia pego muito bem o peito. Queria mamar o
tempo inteiro. O problema era a dor que eu sentia toda vez que amamentava.
Liam estava comigo no quarto, me ajudando a guardar minhas coisas,
já que teria alta em algumas horas, foi quando recebi uma visita que eu não
estava esperando.
— Mãe? — questionei surpresa.
— Vim conhecer minha neta.
— Eu vou deixar vocês a sós — falou Liam, saindo do quarto.
— Eu não esperava sua visita.
— Acho que exageramos da última vez, não tem necessidade de
ficarmos brigadas.
Isso não era nenhuma novidade para mim. Era sempre assim.
Brigávamos depois voltávamos a nos falar, mas no fim, ela nunca mudava.
Nossa relação era assim.
— A enfermeira deve estar trazendo Belle. Poderá conhecê-la.
— E como foi o parto? Você está bem?
— Precisamos fazer uma cesariana, mas eu estou bem. Agora vamos
para casa.
— Que bom. — Foi tudo que disse.
— O pai esteve aqui. Ficou emocionado quando conheceu Belle.
— Seu pai sempre teve o coração mole.
Não demorou muito para a enfermeira aparecer o bebê nos braços.
— Quer segurar? — perguntei.
— Claro.
Ela pegou Belle com cuidado. Ela estava chorando e agitada.
— Deve estar com fome — comentei.
— Ela é linda! É a sua cara.
Sorri.
A visita de minha mãe foi rápida. Logo ela me devolveu Belle e foi
embora, mas estava tudo bem. Nossa relação havia voltado ao 'normal'.
Liam, que estava no corredor, voltou assim que viu minha mãe sair.
— Então, como foi?
— O de sempre. Está tudo bem.
— Pronta para ir para casa?
— Pronta.
A partir de agora minha vida iria mudar completamente. Eu estava
feliz e animada com isso.
Capítulo 23

Belle já havia comemorado seu primeiro mês de vida. Era um bebê


muito calmo e alegre. Não tinha o costume de chorar o tempo inteiro, apenas
quando estava com fome ou cólicas.
Eu já havia saído do meu apartamento. Estava morando com Liam,
definitivamente. Mesmo não estando casados, não vimos motivos para
ficarmos separados.
Todos nós estávamos completamente apaixonados por Belle, até
mesmo minha mãe. Liam diminuiu sua jornada de trabalho nesse primeiro
mês para passar mais tempo em casa.
Mesmo com toda a alegria que Belle trouxe para as nossas vidas, eu
não estava completamente realizada, ainda faltava uma parte de mim. Eu
ainda tinha esperança de encontra Peter, eu nunca desistiria dele, apesar de
saber que as chances eram mínimas. O detetive particular ainda estava no
caso, mas durante todo o tempo não tivemos nenhuma pista sólida. Ele se
recusava a desistir do caso, sempre falava que iria encontra-lo. Sempre que
meu celular tocava, eu tinha esperança de ser ele, mas nunca era.
Eu estava me arrumando para sair com Liam. Iríamos comprar
algumas peças de roupas para Belle. Ela estava crescendo muito rápido.
Seria a primeira vez que iria tão longe sem ela. Me dava um aperto
do peito só de pensar em deixa-la, mas tratei de tirar esses pensamentos na
cabeça. Por conta do que aconteceu com Peter, muitas vezes eu pensava que
nunca me afastaria dela, que em tudo havia perigo, mas eu não queria pensar
assim. Não queria a criar privada do mundo e trancada.
Martha havia se oferecido para cuidar dela enquanto íamos até a loja
de departamento.
— Se precisar de qualquer coisa pode nos ligar. Vamos ser rápidos
— falei, pela milésima vez.
— Está tudo bem. Vamos ficar bem. Podem tirar um tempinho para
vocês. Vão jantar, eu tomo conta dela — disse Martha.
— Viu. Podemos ir tranquilos — falou Liam.
— Tudo bem. Vamos.
Eu não queria ser uma mãe paranoica. Belle estava em ótimas mãos.
Fomos para rua e entramos no carro.
— Não precisamos jantar fora se não quiser. Podemos passar em
algum lugar, comprar e levar para comer em casa.
— Eu prefiro. Tenho que me acostumar aos poucos com a ideia de
sair de vez em quando.
Dei partida no carro. Liam tinha o seu carro e eu tinha o meu.
Quando saíamos juntos sempre revezávamos quem iria dirigir.
Fomos até a loja de departamento, a mesma em que compramos as
primeiras roupinhas, quando ainda nem estávamos juntos.
Eu estava me sentindo um pouco desconfortável por estar sem a
Belle. Em minha cabeça, eu estava a abandonando. Apesar de saber que não
era verdade.
— Tente relaxar um pouco. Garanto que está tudo bem — disse Liam
no momento em que descemos do carro.
Ele pegou em minha mão e entramos na loja.
Conforme o tempo foi passando, fui conseguindo relaxar um pouco.
Escolhemos algumas roupinhas leves.
Nos últimos dias estava fazendo um calor absurdo. As temperaturas
estavam próximas dos trintas graus, o que era bem incomum para Frankfurt,
mesmo no verão.
— Veja! Imagina ela usando esse vestidinho.
Apontei para um vestido na cor verde claro. Era cheio de babados.
Liam abriu um largo sorriso.
— Precisamos levar.
Ainda estávamos fazendo as compras, quando o celular de Liam
tocou.
Ele se afastou de mim para atender, o que achei um pouco estranho,
já que não tínhamos segredos um para o outro.
Fiquei de longe, apenas o observando.
Ele parecia preocupado. Gesticulava sem parar, mas eu não
conseguia ouvir o que ele estava falando.
A conversa demorou mais do que imaginei.
Ele veio até mim, estava pálido, mas ao mesmo tempo, vi um leve
sorriso em seu rosto.
— O que aconteceu? — perguntei preocupada.
— Fique calma, mas era o detetive particular.
Meu coração parou.
— O que ele disse? Ele encontrou Peter?
— Ainda não temos certeza. Ele achou o cara que sequestrou seu
filho. Ele já estava preso, pelo que eu entendi, ele fez um acordo com a
polícia, na tentativa de diminuir sua pena.
Eu não sabia o que pensar. Minha cabeça estava girando. Por um
momento minha visão ficou completamente escura, precisei me segurar em
Liam.
— Vamos até ele agora. Eu preciso saber onde está Peter — falei,
com a voz falhada.
Minha respiração estava acelerada, minhas pernas estavam trêmulas.
— Não podemos. O caso já está nas mãos da polícia, não podemos
vê-lo agora, mas...
Ele deixou a frase no ar.
— Mas o que? Liam! Fale logo.
— Acharam um menino. Ele está em um orfanato, em uma cidade
aqui perto, mas não temos certeza se realmente é ele. Eu não quero que se
decepcione. Talvez não seja.
Eu não podia acreditar no que estava ouvindo. Eu finalmente iria
reencontrar meu filho.
— É ele! Eu sei que é ele. Venha, vamos logo.
Larguei todas as peças de roupa que estava segurando e dei passos
rápidos até a porta de saída.
— Anelise! Você precisa se acalmar. Pode não ser ele — falou Liam,
vindo atrás de mim.
Eu estava em um modo automático. Não sei como consegui sair da
loja tão rápido. Eu não via nada em minha volta, só percebi quando cheguei
do lado de fora.
— Aí meu Deus! Eu não acredito que vou vê-lo — exclamei para
mim mesma.
Quando cheguei no carro, Liam ainda não havia me alcançado.
— Olha. Tenta ficar calma, tudo bem? Podemos ir até lá agora, mas
só não quero que se decepcione. Não temos como saber nesse momento se
realmente é ele ou não.
— Se for ele, eu vou saber, tenho certeza.
— Seja como for, eu vou estar com você.
Dei dois passos até Liam e o abracei forte. Foi nesse momento que as
lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto.
— Obrigada, Liam.
Depois de alguns instantes nos braços de Liam, eu estava mais calma.
— Deixa que eu dirijo. Você está muito nervosa.
Respirei fundo no momento em que entrei no carro.
Liam explicou que o detetive havia conseguido essa visita ao orfanato
junto com a polícia, e dependendo de como o caso iria se desenrolar,
poderíamos fazer um teste de DNA no futuro.
A viagem de carro demoraria uns quarenta minutos. Não era uma
viagem muito longa, mas para mim seria uma eternidade.
Enviei uma mensagem para Martha, dizendo que íamos demorar um
pouco, mas não disse onde iríamos, eu ainda não queria dar detalhes.
Eu estava tensa, ansiosa. Era um misto de emoções. Eu tentava seguir
o conselho de Liam, pois não queria me decepcionar, mas eu sentia que era
ele, meu coração dizia isso.
Paramos em frente ao orfanato.
Eu não sabia exatamente onde estávamos, não prestei atenção no
caminho. Só sabia que eu nunca havia estado ali
Desci do carro e observei o lugar. Era um prédio enorme e parecia
meio sombrio. Senti uma pontada no peito só de imaginar que meu filho
estaria naquele orfanato, não parecia um lugar feliz.
Entramos e Liam foi até a recepção, ele explicou a situação e falou
que a polícia já havia liberado nossa visita.
A moça que nos atendeu disse que o menino em questão estava ali há
cerca de dois anos e que se chamava Aaron.
Eu queria saber o que estava acontecendo, porque o meu filho estava
ali? Alguém havia o adotado? Porque trocaram seu nome?
Liam e eu fomos até uma sala, onde iríamos encontrar com o garoto.
Eu estava quase tendo uma crise de ansiedade. Meu corpo inteiro
tremia.
Liam pegou em minha mão, que estava gelada, mas ao mesmo tempo
suada. Ele não disse nada, apenas ficou segurando minha mão enquanto
aguardávamos.
Fomos informados para não dizer nada ao menino, essa seria apenas
uma visita de um casal, conhecendo um dos órfãos.
Meu coração parou quando vi a porta abrir.
Entrou na sala uma outra mulher, junto com um garoto loiro.
Eles vieram até nós e nos apresentou.
— Esse é Aaron — disse a mulher, sorridente.
O garotinho foi muito simpático. Ele abriu um largo sorriso.
— Prazer de em conhecê-los — falou.
No momento em que ele sorriu eu soube. Era ele. Era o meu Peter.
O sorriso dele era igual ao meu.
Eu não consegui responder. Estava paralisada.
— O meu nome é Liam, e essa é Anelise — falou Liam.
Aaron olhou fixamente para mim.
Um nó havia se formado em minha garganta. Sabia que se falasse
alguma coisa iria me afundar em lágrimas. Então só o cumprimentei.
— Olá. — Foi tudo que consegui dizer.
A mulher se afastou um pouco, mas continuou na mesma sala.
Falaram que teríamos alguns minutos com Aaron.
— Então Aaron, o que gosta de fazer? — perguntou Liam.
— Eu gosto de jogar futebol — respondeu.
— Eu também gosto muito de futebol — disse Liam.
O homem olhou para mim, era como se ele estivesse dizendo para eu
falar alguma coisa, mas não sabia se iria conseguir.
Dei um passo na direção de Aaron e me abaixei para ficar na sua
altura.
— Pode me dar um abraço? — perguntei.
Ele abriu os braços no mesmo instante. Pelo que pude perceber, era
um menino muito amoroso.
Ele me abraçou. A vontade de chorar era constante, mas eu consegui
segurar.
Nos afastamos e eu apenas sorri.
Não falei praticamente nada. Liam puxou assuntos aleatórios, sobre
futebol, comida e coisas que ele gostava de fazer.
Era um garoto muito inteligente, falava muito bem, não era tímido,
conversou conosco sem nenhum problema.
Depois de alguns minutos, a mulher disse que o levaria de volta.
Nos despedimos e eles saíram da sala.
Assim que eu e Liam ficamos a sós, eu desabei.
Ele me abraçou, e eu chorei. Chorei como há muito tempo não
chorava, chorei mais do que quando Mayla me confessou toda a verdade. Eu
sabia que era ele, tinha certeza, eu reconheci assim que o vi. Aaron era Peter.
Ficamos longos minutos abraçados, sem falar nada.
Quando finalmente nos afastamos, eu estava mais calma.
— É ele — falei, abrindo um sorriso pela primeira vez.
— Precisamos ter certeza. Vou falar com o detetive e contratar um
advogado. Precisamos de um teste de DNA.
— Tudo bem, mas eu tenho certeza. Meu coração de mãe não se
engana.
Ele sorriu e me deu um beijo carinhoso na testa.
— Agora vamos para casa.
Saímos do orfanato e seguimos nossa viagem de volta.
Eu ainda estava totalmente anestesiada com o encontro com Aaron.
Já conseguia me ver o levando para a casa, assim minha felicidade estaria
completa.
— Vamos até a casa de Mayla. Eu preciso falar com ela — disse
enquanto entravamos no carro.
— Tem certeza? Não sei se é uma boa ideia. Acho que podemos
deixar a polícia cuidar de tudo — disse Liam.
— Ela já confessou uma vez, quem sabe confessa novamente. Eu
posso deixar o celular gravando durante a conversa.
— E essa altura ela já deve ter recebido uma intimação.
Provavelmente não irá confessar nada.
— Mesmo assim, eu quero tentar. Não vou falar nenhuma informação
da polícia, não vou contar que encontramos Peter, vou dar a entender que eu
abri o novo processo.
— Tudo bem — disse Liam.
O caminho de volta pareceu ter sido mais rápido do que a ida.
Quando me dei conta, estávamos chegando na casa de Mayla.
— Vou tentar fazer com que o celular grave o áudio o tempo inteiro
— falei, assim que descemos do carro.
Respirei fundo e bati na porta.
A senhora Klein nos atendeu.
— Anelise, Liam! O que estão fazendo aqui? Depois de tudo que
fizeram com minha filha.
A mulher parecia chocada ao nos ver. Com certeza Mayla havia feito
a cabeça dela contra nós.
— Desculpe senhora Klein, mas eu preciso falar com Mayla. Vamos
entrar.
Eu não queria desrespeita-la mais em sua própria casa, mas eu tinha
que fazer o que fosse preciso para conseguir a confissão de Mayla.
Não esperei uma resposta. Simplesmente passei pela porta e entrei.
Liam estava com um certo receio, mas me acompanhou.
— Desculpe — falou Liam, passando por ela e entrando na casa.
— Saiam da minha casa agora mesmo! — gritou a mulher.
Mayla ouviu o que estava acontecendo e apareceu na sala.
— O que querem? — perguntou curiosa.
— Eu sei que foi você, Mayla. Confesse — falei em um tom alto e
firme.
— Essa história mais uma vez? Você sabe que não dará em nada —
respondeu a garota.
Ela parecia estranhamente calma.
— Então foram vocês que enviaram a intimação para a minha filha?
— questionou a mais velha.
— Sim, eu abri um novo processo, vou provar que a sua filha
sequestrou Peter.
— Ela seria incapaz de fazer isso que você está falando. Mayla
sempre foi uma boa menina.
— A senhora realmente não a conhece.
— Deixe-os, mãe, deixe que gastem tempo e dinheiro com um
processo que não dará em nada, afinal de contas, não existe nenhuma prova
— disse Mayla.
Dei alguma passos na direção dela.
— Então você confessa? Você assume que mandou tirarem Peter de
meus braços no meio da rua?
Ela sorriu de uma forma maléfica. Chegou bem perto de mim antes
de falar:
— Quero ver você conseguir provar. Todo caso, vou comparecer na
delegacia amanhã.
— Que decepção, Mayla. Éramos tão amigas. Por que você fez isso?
— Eu decepcionei você? Você que é a vagabunda e eu que a
decepcionei? Vejo que estão juntos e felizes. A traição que começou pelas
minhas costas rendeu frutos, não é mesmo? — falou com um sorriso irônico,
olhando para Liam.
— Nos vemos no seu julgamento — falei.
Saí da casa sem olhar para trás, Liam me seguiu.
Entramos no carro rapidamente.
— Será que isso serviu como uma confissão? — perguntou.
— Não sei. Podemos tentar. Você pode levar na polícia agora? Eu
prefiro ir para casa, já estou a muito tempo longe de Belle.
— Claro. Deixe comigo.
Liam me deixou em casa e seguiu sozinho para a delegacia com a
gravação.
Eu torcia para que desse tudo certo. Mayla precisava pagar por tudo
que havia feito.
Capítulo 24

Liam estava cuidando de toda a parte burocrática.


Depois que entregamos o áudio, Mayla foi detida, ela ficaria lá até o
julgamento.
Segundo o promotor, a nossa gravação foi praticamente uma
confissão, e era bem provável que ela fosse condenada.
Conseguimos autorização para fazer mais algumas visitas para
Aaron. Toda vez que o via, meu coração ficava partido ao ter que deixá-lo
naquele lugar. Estávamos conseguindo o pedido oficial para fazer o teste de
DNA, seria feito em alguns dias. Eu só poderia levar Aaron para casa se fosse
comprovado que ele realmente era meu filho. E caso não fosse, eu não
poderia nem tentar adota-lo, por conta de toda a situação.
O sequestrador confessou tudo. Segundo ele, Mayla era a mandante
do crime e havia pago um bom dinheiro para ele fazer o serviço, dinheiro
esse que ele dividiu com o outro cara, para ajudá-lo na fuga.
Assim que Peter foi sequestrado, ele foi vendido para uma senhora.
Pelo que eu soube, era uma mulher viúva, que já tinha certa idade. Ela
sempre quis ter um filho, mas nunca conseguiu. Depois que o marido morreu
ela estava se sentindo muito solitária, foi aí que o desespero bateu. Ela foi
para o lado obscuro da internet, e ofereceu uma boa quantia em dinheiro por
um bebê recém-nascido. Foi nesse site que ela encontrou Mayla, e elas
fizeram toda a negociação.
A única coisa que eu não entendia era o motivo de Mayla ter feito
tudo isso. Ela não ficou com nenhuma parte do dinheiro, tudo foi usado para
pagar os sequestradores. Eu não conseguia entender.
O que me confortava era saber que durante o tempo em Peter esteve
com essa senhora, ele foi muito bem tratado. Ela o criou como filho. Deu
tudo que podia dar, apesar de ele sempre saber que ela não era sua mãe
biológica.
Há dois anos ela acabou falecendo, e como não tinha marido, nem
filhos, Aaron foi parar em um orfanato.

[...]
— Tudo bem? — perguntou Liam.
— Sim. Estou bem, na verdade, estou muito empolgada.
Estávamos saindo da clínica. Eu estava com o resultado do exame de
DNA nas mãos.
Entramos no carro.
— Quer abrir agora?
— Prefiro abrir em casa, apesar de saber exatamente o que esse papel
irá dizer.
Liam estava sério. Ele não estava totalmente convencido de que
Aaron era realmente Peter. A única coisa que ele falava era que não queria
que eu tivesse uma decepção.
Apesar do meu nervosismo, eu estava muito confiante.
Liam estacionou o carro em frente à casa.
Ele desceu do carro, porém eu fiquei. Encarei o papel que estava em
minhas mãos.
Liam deu a volta e abriu minha porta.
— Está pronta? — questionou.
— Sim. Vamos.
Ele estendeu a mão.
Saí do carro e caminhamos abraçados até o lado de dentro da casa.
Belle estava na casa de seus pais, Liam achou melhor assim.
Assim que entramos, sentei no sofá. Liam sentou ao meu lado.
Minhas mãos estavam tremendo, na verdade, eu nunca havia as visto
daquele jeito. Minha respiração estava pesada e ofegante. Eu conseguia ouvir
as batidas de meu próprio coração.
Liam segurou em minhas mãos.
Abri o envelope.
Por um instante, não consegui ver nada, tive uma sensação de
desmaio, exatamente como tive na loja, quando o detetive ligou pela primeira
vez.
Foi então que eu li. Era a palavra que esperava há mais de sete anos.
Positivo.
— É meu filho! — sussurrei com a voz trêmula.
Liam instantaneamente abriu um largo sorriso.
Larguei o papel e o abracei.
— Você conseguiu! Você o encontrou.
— Meu Deus! Eu sempre soube que o encontraria.
Um nó se formou em minha garganta, mas dessa vez, eu não segurei
o choro. Deixei que as lágrimas caíssem. Em poucos segundos, eu as senti em
meu pescoço.
— Agora somos uma família completa — disse Liam.
O homem estava emocionado. Vi os seus olhos enchendo de
lágrimas.
— Eu não teria conseguido sem você. Obrigada.
Ele beijou meus lábios. Retribuiu como não fazia há dias. Nessas
últimas semanas só conseguia pensar em Peter, ou melhor, em Aaron.
— Vamos comemorar? Comprei champanhe sem álcool.
— Sério? Eu não vi nada disso — falei, franzindo o cenho.
— Eu pedi para minha mãe. Era uma surpresa.
Liam foi até a cozinha.
O meu choro havia parado e dado lugar ao meu sorriso.
Eu estava aliviada. Finalmente começaria minha vida extremamente
do jeito que sempre quis.
Ele serviu as duas taças.
Ergui a minha, dando início a um brinde.
— A nós e a nossa família — falei.
— Ao meu amor por você, que só aumenta a cada dia que passa.
Bebemos um gole.
Eu me aproximei e trocamos um beijo quente e cheio de desejo.
Eu estava em falta com Liam nesses últimos tempos, devida a toda
essa situação, porém, em nenhum momento ele reclamou, pelo contrário,
ficou ao meu lado o tempo inteiro. Ficou acordado comigo durante minhas
madrugadas de ansiedade, cuidou sozinho de Belle quando eu estava nervosa,
me trazia comida na cama quando eu falava que estava sem fome, mas agora,
teríamos o resto de nossas vidas para aproveitar a companhia um do outro.
Capítulo 25

Hoje era um dos dias mais esperados por mim. Finalmente iria trazer
Aaron para casa. Para ele seria uma adoção, Aaron não sabia que eu era sua
mãe biológica, mas eu iria contar assim que ele chegasse. Ele era um garoto
muito esperto para a idade dele, com certeza iria entender.
Iríamos fazer um almoço para espera-lo. Os pais de Liam estava
conosco. Pensei em convidar meus pais também, mas eles nunca me deram
apoio quando eu falava que procuraria por Peter, então decidi não os
convidar, em outra ocasião eu os apresentariam.
Liam foi buscar Aaron sozinho. Preferi ficar em casa com Belle,
também estava ajudando Martha a terminar o almoço. Eu não queria mais
voltar naquele orfanato, era um lugar triste. Fiquei muito mal nas minhas
visitas anteriores. Só de pensar em todas aquelas crianças lá, abandonadas,
sentia um aperto no peito.
— Está tudo perfeito — elogiei.
— Tenho certeza que ele irá gostar — respondeu Martha.
A mesa estava cheia. Nós já estávamos há um bom tempo preparando
tudo.
Quanto mais o tempo passava, mais ansiosa eu ficava. Olhava para o
relógio de três em três minutos.
— Estão demorando — falei.
— Fique calma, querida. Eles devem estar chegando.
— Talvez eu devesse ter ido junto.
— Você que está ansiosa, na verdade, Liam acabou de sair daqui.
— É que eu esperei tanto por isso.
— Eu sei, e estou ansiosa para conhecer Aaron.
Belle estava conosco na cozinha, dormindo em seu carrinho, porém,
ela acordou e começou a chorar.
Fui até ela e a peguei no colo. Ela estava com fome.
Caminhei até a sala e sentei no sofá para amamentar.
Fiquei com Belle nos braços. Ela acabou adormecendo depois de
mamar. Foi quando ouvi um barulho de carro.
Levantei com cuidado e coloquei Belle de volta no carrinho.
Espiei pela janela e vi o carro de Liam estacionado.
— É ele! — falei para mim mesma.
Abri a porta de entrada e esperei.
Liam sorriu quando me viu. Aaron estava ao seu lado.
Eles vieram até a porta.
— Olá — disse Aaron.
— Olá — respondi, abraçando-o.
Eu queria contar toda a verdade para ele, queria falar que era meu
filho biológico, eu estava muito ansiosa para isso. Decidi que não esperaria
mais. Mesmo a comida já estando toda pronta, podia esperar um pouco mais.
Disse que queria falar com ele a sós.
Subimos até o quarto que eu e Liam tínhamos arrumado para ele.
Eu estava com um certo receio, e se ele não me aceitasse como mãe?
Apesar de um menino muito inteligente, eu não conseguia afastar esse
pensamento de minha mente.
Sentei na cama e fiz sinal para que ele sentasse também.
— Eu tenho uma coisa para contar para você. — Fiz uma pausa,
respirando fundo. — Você sabe que não era filho da senhora que criou você,
não sabe?
— Sim, ela contou.
— Então, na verdade, eu sou sua mãe.
— Eu sei, e Liam vai ser meu pai.
— Não, você não entendeu. Você nasceu daqui — falei, apontando
para minha barriga.
— Sério? — Ele parecia um pouco confuso.
— Sim e quando você era bebê, uma pessoa muito má tirou você de
mim e entregou para aquela senhora que criou você, mas, na verdade, eu
sempre fui sua mãe.
Eu tive certeza que ele estava entendendo tudo com clareza, então ele
se aproximou e me abraçou.
— Eu queria mesmo que você fosse minha mãe.
Meus olhos encheram de lágrimas na hora. Era tudo que eu sempre
quis ouvir.
— Agora nós somos sua família. Você tem uma irmãzinha, ela ainda
é bebê, mas tenho certeza de que se darão muito bem.
— Você está chorando? — perguntou.
— Está tudo bem. É porque eu estou muito feliz que você está aqui.
Vamos comer?
Ele fez sinal positivo com a cabeça.
Sequei as lágrimas e descemos para o almoço.
Era o nosso primeiro almoço em família, e eu não poderia estar mais
feliz.

[...]
Aaron estava conosco há algumas semanas. Ele me chamava de mãe
e Liam de pai.
Liam tratava Belle e Aaron igualmente, para ele, os dois eram seus
filhos.
Iríamos fazer um programa especial: levar Aaron em um jogo de
futebol. Quando nos encontramos, a primeira coisa que ele contou, era que
gostava de futebol.
Martha ficaria com Belle, eu já estava muito mais confiante em sair e
deixar Belle, sabia que ela estava sendo muito bem cuidada.
Liam deu uma camiseta do Frankfurt para Aaron. Ele estava muito
ansioso por esse jogo, estava falando nisso há dias.
O dia estava lindo, era um final de semana de sol e calor, perfeito
para passar um tempo em família.
Quando estávamos próximos ao estádio, já era possível ver a
movimentação.
Lembrei da última vez que havia ido ao estádio, foi quando pedi
Liam em namoro, foi um dia inesquecível para nós, assim como seria o dia de
hoje.
Estacionamos e carro e fomos para a entrada do estádio.
Compramos lanches enquanto estávamos entrando.
Assim que colocamos os pés no estádio, os olhos de Aaron brilharam.
— Nossa, que grande! — falou o garoto, impressionado.
— Sim, é enorme, né? — respondeu Liam.
— Na televisão não parece assim.
Aaron olhava para todos os lados, ele estava encantado.
Sentamos em nossos lugares para aguardar o início do jogo, mas ele
estava muito agitado para sentar. Ficou em pé, olhando para o gramado.
— Vai demorar? — perguntou impaciente.
— Não, eles já devem estar chegando — falei.
Tirei algumas fotos e gravamos alguns vídeos. Eu queria registrar a
primeira vez de Aaron em um estádio.
Não demorou muito para os jogadores aparecerem.
Aaron olhava para o campo com muita atenção. Parecia não acreditar
no que estava acontecendo.
Aaron só ficou calmo no momento em que o jogo iniciou. Ele sentou
em seu lugar e observou a partida.
O jogo está bem diferente do último que assisti com Liam. Eram
chutes a gol, defesas dos dois goleiros, era uma partida que estava fluindo
muito mais.
Aos vinte minutos do primeiro tempo, o juiz marcou uma falta a
favor do Frankfurt. Tinha grandes chances de gol, era praticamente um
pênalti.
Aaron olhou para nós sorridente e levantou de seu lugar.
— Vai ser gol, vai ser gol! — falou empolgado.
E Aaron estava certo. O chute foi forte, como se não houvesse
barreira, bem no canto da goleira, sem defesa para o goleiro.
Aaron foi à loucura, assim como toda a torcida. Ele nos abraçou, riu e
comemorou. Estava feliz como eu nunca havia visto.
Com certeza esse era um dos dias mais marcantes da minha vida.
Capítulo 26

Aaron já estava se sentido parte da família.


Há algumas semanas, Liam teve uma conversa com ele. Explicou que
não era seu pai biológico, mas que isso não faria diferença para ele. Disse que
o amava exatamente como amava Belle. Aaron era um garoto muito maduro,
entendeu a situação e disse que o tinha como pai.
Minha mãe havia feito uma visita, conheceu Aaron. Tivemos uma
conversa e ela se desculpou por todo esse tempo que passou sem me dar
apoio. Eu a desculpei, mesmo sabendo que nossa relação nunca seria das
melhores, mesmo assim, estávamos bem.
Nós fazíamos muitos programas em família. Gostávamos de sair
todos juntos. Estávamos aproveitando as últimas semanas de verão.
Em algumas situações deixávamos as crianças com Martha e saímos
para jantar a sós, mas era raro, na maioria das vezes, estávamos todos juntos.
Era um domingo de sol. Temperatura agradável, nem muito frio, nem
muito calor. Perfeito para aproveitar ao ar livre.
O nosso programa de hoje seria fazer um piquenique em um parque
aberto. Estávamos muito empolgados.
Preparei uma grande cesta, com sanduíches, frutas, biscoitos e sucos.
— Mãe, quero um sanduíche —disse Aaron, enquanto eu terminava
de preparar a cesta.
— Calma. Vamos comer assim que chegarmos ao parque. Já estamos
indo.
Aaron pegou a toalha que usaríamos, eu peguei a cesta e fomos em
direção ao carro. Liam estava com lá com Belle.
O parque não ficava muito longe de casa, já havíamos ido outras
vezes, mas seria o nosso primeiro piquenique.
Quando chegamos, o lugar estava lotado, como imaginei, já que era
um lindo dia. Todos queriam aproveitar.
Ficamos perto de algumas árvores, assim teríamos um pouco de
sombra.
Liam estendeu a toalha no chão e eu tirei as coisas da cesta.
Sentamos na grama.
Belle estava na cadeirinha ao nosso lado, enquanto nós estávamos
sentados no chão.
Começamos a comer.
— Eu adoro peito de peru — comentou Aaron, assim que deu a
primeira mordida.
— Eu também — concordei.
Eu estava bebendo um gole de suco de laranja, quando ouvi um
barulho de avião. Achei estranho, pois ele parecia estar muito baixo.
— O que é isso? — perguntou Aaron.
— Um avião — respondeu Liam.
— Está baixo demais. Vai assustar Belle — falei preocupada.
Nós estávamos ouvindo, mas ainda não tínhamos visto o avião.
Liam não parecia estar preocupado. Na verdade, tive a impressão de
ver um leve sorriso em seu rosto.
Depois de alguns segundos, conseguimos ver o avião. Ele realmente
estava muito baixo.
Ele estava com uma espécie de faixa.
Todos estavam olhando curiosos. Não era nítido o que estava escrito.
— Será que é alguma apresentação? — perguntei curiosa.
— Vamos ver — respondeu Liam.
O avião se aproximava cada mais, conforme a aproximação, eu
consegui ler o que estava escrito.
— Aí meu Deus! — exclamei.
Olhei para Liam, ele estava sorrindo.
Era uma faixa com uma frase escrita. "Anelise, quer casar comigo?"
Meu coração estava acelerado. Eu não sabia o que pensar, nem como
agir, tinha apenas uma certeza: queria passar o resto de minha vida ao lado de
Liam.
— Aceita? — perguntou Liam.
Eu estava emocionada. Meus olhos encheram de lágrimas.
A essa altura, as pessoas já haviam reparado que o pedido era para
mim. Estavam todos olhando.
— É o que eu mais quero.
Fui até ele e o beijei.
As pessoas que estavam mais próximas de nós, comemoram.
— Eu amo você, Anelise. Desde o dia em que a vi naquela festa.
— Eu também amo você — falei, deixando uma lágrima escorrer.
Aaron estava sorrindo. Estendi a mão para ele e chamei para um
abraço triplo. Em seguida fui até Belle, a paguei no colo, e a beijei.
Alguns desconhecidos nos deram parabéns e nos desejaram
felicidades.
Eu estava radiante e muito emotiva. Não poderia estar mais feliz.
Esse com certeza era mais um dos momentos que ficariam para
sempre em minha mente. Um dos mais felizes que já vivi.

[...]
O dia no parque foi muito divertido e cansativo. A noite já havia
caído quando chegamos em casa. Eu continuava com um sorriso largo no
rosto.
Aaron estava exausto, assim que chegou, foi diretamente para o
banho.
Na hora do jantar, nenhum de nós estava com fome, pois havíamos
comido muito durante e tarde de piquenique.
Aaron logo foi para seu quarto, estava cansado.
Coloquei Belle no berço. Ela já dormia no próprio quarto, que ficava
ao lado do nosso. A observávamos durante a noite por uma babá eletrônica.
Depois de um banho demorado e relaxante, fui para o quarto.
Liam já estava deitado. Estava mexendo no celular, assistindo alguns
vídeos.
Deitei ao lado dele.
Liam desligou o celular.
— Dia agitado, não é mesmo?
— Um dos melhores que já tive. Não acredito que você alugou um
avião.
— Você merece. Fiquei semanas pensando em alguma coisa grande.
Estávamos deitados na cama, um de frente para o outro.
— Eu amei. Foi uma linda surpresa.
Ele colocou uma de suas mãos em meu rosto e acariciou minha
bochecha.
Retribuiu o carinho, me aproximei e o beijei.
Entrelacei nossos corpos. Coloquei uma de minhas pernas em cima
da sua.
Liam apertou minha coxa, deslizando sua mão quase até minha
bunda.
Eu o beijava de forma intensa. Ainda deitados, Liam afastou minhas
pernas e passou a mão na parte de dentro das minhas coxas.
Ele interrompeu nossos beijos e se posicionou entre minhas pernas.
Liam tirou minha calcinha rapidamente. Eu ainda estava de camisola.
Ele afastou minhas penas e começou a me chupar.
A princípio com movimentos leves, mas foi aumentando a velocidade
gradativamente.
Eu pressionava minhas pernas contra Liam. Estava me contorcendo
de tesão.
Quando eu menos esperava, ele me penetrou com dois dedos. Precisei
me controlar para não gemer alto.
Liam sabia que eu estava prestes a ter um orgasmo. E quando
percebeu, ele levantou e pegou uma camisinha que ficava na cômoda ao lado
da cama. A colocou rapidamente e deitou em cima de mim.
Ele passou de leve seu pênis por meu clitóris, me deixando ainda com
mais tesão.
O senti entrar lentamente.
Liam já estava latejando de tesão, então não demorou muito para
aumentar a velocidade.
As estocadas estavam fortes. O ver daquele jeito, com tanto desejo,
me deixava ainda mais perto de chegar ao meu orgasmo.
Nossa respiração estava ofegante.
Cravei as unhas em suas costas no momento em que cheguei ao meu
ápice.
Liam também teve o seu orgasmo logo depois de mim.
Deitamos lado a lado, e como sempre, Liam me puxou para perto.
Adorávamos ficar assim, abraçadinhos e em silêncio depois do sexo.
Eu deitava em seu peito e ficava ouvindo as batidas do seu coração.
— Eu te amo — falou, quase adormecendo.
— Eu também te amo — respondi sonolenta.
Normalmente dormimos assim, sempre nos braços um do outro.
Epílogo

Quase dois anos haviam se passado desde que Mayla confessou tudo.
Finalmente aconteceu o julgamento e ela foi condenada. Passaria boa
parte de sua vida na cadeia.
Eu estava feliz por finalmente ter justiça.
Eu, Liam e as crianças estávamos planejado uma viagem de férias.
Iríamos passar o natal e a virada de ano no Caribe. Estávamos todos muito
animados para conhecer as lindas praias da América Central. Queríamos fugir
um pouco do inverno congelante da Alemanha.
Apesar de eu estar feliz e realizada, uma coisa não saía da minha
cabeça: por que Mayla havia feito isso?
Ele nunca falou o motivo, e eu precisava saber.
Decidi que antes de saímos de férias, eu iria fazer uma visita para ela.
Iria perguntar tudo.
Liam disse que não era uma boa ideia, que eu deveria apenas deixar
para lá, mas eu insisti.
Ele ficou com as crianças. Aaron estava o ajudando a terminar de
arrumar as malas.
Mayla estava em um lugar horrível. Por um momento, pensei em sua
mãe e fiquei com pena da mais velha. Imagina saber que sua filha está em um
lugar como esse? Deve ser uma sensação horrível, mas de Mayla eu não tinha
pena. Ela me fez sofrer durante anos. Ela merecia estar ali.
Fui para uma sala e a esperei.
Quando a vi de longe, ela estava péssima. Não era mais a mesma
garota bonita e animada que costumava ser.
— Anelise! O que faz aqui?
Ela ficou surpresa ao me ver.
— Eu quero saber a verdade. Por que você fez isso Mayla? Você me
viu sofrer durante tanto tempo! Como pôde ser tão cruel?
O olhar dela era de ódio, na verdade, era um olhar que me dava
calafrios.
— Você mereceu o que aconteceu. Eu sequestrei Peter, e sequestraria
novamente se fosse preciso.
— Mas porquê?
— Ainda pergunta? Você roubou o Caleb de mim! — falou com
raiva.
— O que? Você e Caleb nunca tiveram nada.
— Nunca tivemos porque você se jogou para cima dele igual uma
vadia. Mas eu iria conquista-lo. Ele deveria ser meu.
Eu não acreditava no que estava ouvindo. Ela fez tudo isso por
Caleb? Um homem que mal conhecia.
— Nós nos apaixonamos. Você sabia, você acompanhou tudo de
perto.
— Se não fosse você. Ele teria me dado uma chance, eu sei disso.
— Eu não acredito que você fez isso — falei, com a voz trêmula.
— Eu não podia deixar vocês irem morar juntos e formar uma família
feliz. Caleb deveria ser meu marido e Peter o meu filho, mas você tirou isso
de mim.
— Eu não tirei nada! Você é uma louca!
Alterei meu tom de voz.
— E no final, consegui o que queria, vocês terminaram. Eu sei que
ele nunca a perdoou. A culpava pelo sequestro de Peter.
— Mas você também nunca o teve — falei, tentando provoca-la.
Ela ficou nervosa. Não gostou do que ouviu.
— O importante, é que você também não teve o seu amado bebê.
— Estamos juntos agora, todos nós. Formamos uma linda família,
uma que você nunca terá.
— Com Liam! E mais uma vez, você roubou o meu homem de mim.
— Liam nunca amou você.
Mayla ficou sem resposta, pois sabia que era verdade. Ela apenas
olhou para mim, com aquele olhar sombrio.
— Quero voltar para minha cela — gritou, olhando para os lados.
— Sabe Mayla, você merece estar aqui. Você merece passar o resto
de seus dias aqui trancada. Eu não tenho pena nenhuma de você. Agora
preciso ir, vamos fazer uma viagem de natal, todos nós.
Ela cerrou os dentes. Estava com raiva. Se pudesse ela me atacaria ali
mesmo.
Levantei e saí daquele lugar horrível. Eu não pretendia voltar ali,
nunca mais. Agora, só queriam me concentrar em nossa viagem de férias.

[...]
Estávamos em uma praia paradisíaca nas Bahamas. Eu estava
encantada com a beleza natural do lugar.
Belle estava sentada no chão, brincando com a areia ao meu lado.
Liam e Aaron estavam na água. Não muito longe de nós. Eu cuidava
de Belle enquanto os observava.
Por um momento, refleti sobre tudo que havia acontecido comigo
nesses últimos anos. A minha vida mudou completamente.
Eu era uma pessoa feliz e realizada, não havia nada mais que eu
pudesse pedir, passar o resto de minha vida ao lado deles, era mais do que o
suficiente.

FIM

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