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Copyright © Carrie London 2021

Capa e Diagramação: John Cash

Preparação de Texto: Ren Ams

Revisão: July Ams

Todos os direitos reservados.

Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas. Nomes,


personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da
imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e
acontecimentos reais é mera coincidência.

Todos os direitos reservados. São proibidos o armazenamento e/ou


a reprodução de qualquer parte dessa obra, através de quaisquer
meios — tangível ou intangível — sem o consentimento escrito da
autora.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei n°.


9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Temas do Casal: Perfect – Ed Sheridan
Keeping Me Alive – Jonathan Roy
Perfect – Ed Sheridan version violin por DSharp
Love Me Like You Do – Ellie Goulding – violin version
Eu dedico esse livro a todos que acreditam no amor.
Em especial para meu amor Lorão Body P. que sempre me incentivou a
publicar meus livros.
Aos meus gatos Becky’s, Miolomole, Mobem
Dedico a todos que nunca acreditaram que eu chegaria onde cheguei, o
que vocês têm de ruim me ajudou a aproximar-me de onde estou e acreditar
que um pensamento positivo tem mais força que a palavra amarga que sai
da boca.

NUNCA DESISTAM DOS SEUS SONHOS


NINGUÉM SABE O PREÇO DA SUA FELICIDADE
O AMOR VENCE TUDO
Este livro contém cenas de sexo, violência e aborda assuntos como
assédio.
Pode despertar gatilhos.
E é muito hot.
Capítulo 1

Meu dia começou uma loucura. Além de passar mais tempo com
Albert Jackson analisando os últimos investimentos da empresa, ainda tive
que incidir quatro horas em uma reunião desnecessária porque o futuro genro
dele, Richard Watson acreditou que falar sobre a aquisição da Maison &
Maison por quatro horas seria interessante para angariar mais pontos
positivos para sua corrida à presidência da empresa.
Ele não conseguiria.
Além de chato e arrogante, ele não era o melhor profissional. Apenas
teve a sorte da filha de Albert, Melina se interessar pelo seu papo
insuportável. Eu jamais poderia conceber como uma mulher com saúde
mental se interessaria por um cara tão escroto e nojento como Richard.
Porque além de se achar a última bolacha do pacote, era de conhecimento
geral que ele tinha uma peguete em cada andar da empresa. Além de um
grupo em um aplicativo de mensagens, somente para homens, onde ele
postava as fotos das meninas nuas ou os nudes que elas lhe enviavam. É um
grupo bem fechado e restrito, mas como sei disso? Meu estagiário William
Taylor estava doido para entrar para esse tal grupo e acabou me contando
tudo sem perceber a cagada que estava fazendo.
Mas o pior ainda estava por vir: o sogro de Richard e meu chefe,
Albert também fazia parte do grupo seleto de homens nojentos que ficavam
se aproveitando de garotas. Eu estava no meio do covil de homens lixo, mas
não havia outra maneira de chegar ao meu objetivo se não conviver com
alguma parte da escória da humanidade.
— Dorian Maison já deixou claro que não tem interesse em vender a
empresa – eu pontuei.
Richard me fitou daquele jeito de quem quer me matar. Estreitou
aqueles olhos azuis e deve ter me chamado de vadia umas quinhentas vezes,
antes de dizer com sua voz rouca e controlada.
— Tenho uma fonte que me garantiu que desde que descobriu o
câncer, Dorian tem cogitado em vender a empresa – ele assegurou erguendo a
sobrancelha de forma arrogante – se esperarmos mais um pouco, já que o
tratamento não parece evoluir e o homem vai definhar, conseguiremos até um
preço melhor.
Tudo bem. O mundo dos negócios é sujo. Muito sujo. Eu mesma já
fiz coisas que não faria de novo para conseguir fechar uma transação
rentável, mas aquilo era o cúmulo do absurdo. Richard venderia a própria
mãe para ter a presidência, e ele estava jogando baixo, o filho da puta não
merecia. O sujeito havia conseguido o cargo de Chefe de Marketing porque o
pai era amigo de Albert. E ele apenas subiu de função depois de iniciar seu
namoro com a Melina.
Eu não. Comecei como estagiária no primeiro ano da faculdade,
trabalhei em diversos setores, desde de distribuição de encomendas até o
mais alto nível que era o meu: vice-presidente. Era mais de uma década da
minha vida dedicada àquela empresa que comprava outras empresas e as
reerguia. A Jackson Corporation, com sede em Chicago, era uma das
empresas mais influentes do meio. Albert a havia fundado depois de trabalhar
por anos em um concorrente e ele se tornou um ícone do ramo. E eu estava
ali, trabalhando todos os dias sendo o braço direito com dedicação e muito
amor. Eu amava o que fazia, havia paixão em todos os meus atos e Albert
sabia disso, que podia contar comigo dia e noite, a qualquer dia do ano. Não
havia férias, feriados ou folgas que me separasse da empresa.
Eu passava mais tempo dentro daquele prédio, trabalhando em minha
sala do que na minha casa em Gold Coast, com suas ruas são arborizadas e
lindas que ficava diante do Lago Michigan, onde eu podia correr quando
estava em um nível de estresse muito grande. E pode apostar que estresse é
meu sobrenome já que para chegar onde cheguei abri mão de muita coisa,
principalmente de relaxar e curtir a vida.
Curtir a vida não te dá uma casa em um dos melhores bairros de
Chicago, um excelente carro, um cartão de crédito ilimitado e uma conta
bancária estável. E eu fiz a minha escolha, estou muito feliz e logo estarei
onde sempre quis estar: como CEO da empresa. Mas para isso, preciso provar
que sou melhor do que Richard.
Todos na empresa já sabiam que Albert estava para se aposentar e
seus olhos argutos estavam presos em nós dois, Richard e eu, para escolher
quem seria o seu sucessor. Nunca puxei o saco, mas o Richard sim. Não era a
noiva da filha de Albert, o Richard era. Eu não fazia parte do grupo escroto
de macho mal resolvido, mas era extremamente competente, reconhecida no
meu meio como a mata leão, agressiva e não perdia um negócio de forma
alguma.
Mas eu não jogava sujo como o meu adversário que me olhava com
vontade de me matar. As mulheres o achavam bonito por ser loiro, alto e
parecer o David Beckham, mas não adiantava ser tudo isso e não valer nada.
E por saber que aquela aparência de homem simpático e bem-sucedido
escondia um macho escroto, eu não o suportava. E não é mimimi de mulher
competitiva, eu me sentia ofendida de ter que concorrer a um cargo, que
exigia total responsabilidade, com um homem que precisava tirar foto de
mulher pelada e compartilhar com outros, inclusive com o pai da sua noiva
como se isso fosse normal e não um desrespeito total à integridade das
mulheres. Como um cara desse poderia ser CEO de qualquer coisa?
Albert pigarreou e voltamos a atenção para sua figura. Há muito
tempo, ele nunca falava durante as reuniões, portanto, quando o fazia todos se
calavam para ouvi-lo atentamente.
— Vejo que a aquisição da Maison & Maison é importante para nós.
Apesar de estar falindo, Dorian é o único que tem um contrato vitalício com a
maior empresa de software do mundo, a Thornsoft. Eles representam no
mercado, mesmo em estado de falência, mais de cinquenta por centro da
produção – ele olhou para mim por trás de seus óculos na ponta do nariz.
Albert sempre fora careca desde que eu o conheci, quando entrei na
empresa, a única diferença foi que o tempo lhe deu manchas pelo rosto e
cabeça. Era um homem alto e robusto e cuidava da saúde, por isso, decidira
se aposentar e viver bem com a esposa, Miriam. Eu os conhecia e era de
dentro da casa deles, tinha intimidade com a família. Eu tinha todos os
quesitos para ser a próxima CEO, se não fosse por aquele desgraçado ter
entrado na jogada e conquistado Melina, o dodói de Albert. Ele faria qualquer
coisa pela filha, e esse era meu maior medo.
— Quem convencer Dorian a vender a empresa, será o próximo CEO
– ele nos desafiou.
Eu arregalei os olhos, perplexa. O que Albert estava fazendo?
Brincando de esconde-esconde? Achando que um cargo tão importante podia
ser conquistado daquele nojento ridículo? Ele notou minha revolta e apenas
assentiu, como se não me desse outra alternativa. Era revoltante! Anos de
trabalho resumidos em uma disputa idiota? Estava furiosa!
Levantei da mesa e me retirei. Podia sentir o sorriso de satisfação de
Richard enquanto me via sair e bater a porta. O problema não era ter que
convencer Dorian a vender a empresa, eu tinha capacidade para isso. Mas era
ver esse jogo masculino e egos em volta de mim, me afogando como se eu
não valesse nada. Uma corrida presidencial? Fui até a máquina de café e
peguei um expresso para relaxar. Havia largado o cigarro há pouco tempo,
mas sentia falta dele naquele momento. Talvez devesse ligar para a minha
terapeuta, a Eliah. Respirei fundo tomando o café e me aproximando da
enorme parede de vidro para vislumbrar Chicago no fim da tarde. Loop era o
bairro financeiro e político da cidade mais populosa de Illinois, um
emaranhado de prédios cercados pelo Rio Chicago, pelo Lago Michigan e
pela Roosevelt Road, uma das principais ruas de Leste-Oeste da cidade.
Meus olhos recaem de dentro do prédio espelhado de vinte andares
para o rio e solto um longo suspiro.
— Cansada da briga? – A voz de Albert soa às minhas costas.
Olhei para o homem que sempre tive como referência de profissional
e até mesmo paterna, estava tão revoltada que mal conseguia falar. Terminei
meu café e joguei o copo no cesto de lixo, antes de voltar para ele e dizer:
— Vai mesmo me obrigar a lutar com um homem convalescente para
vender a sua empresa? – Eu o questionei.
— Quer ou não quer o cargo, Valery?
— É o que eu mais quero – abracei meu próprio corpo – mas lutei
muito, Albert. E perder para um garoto sem escrúpulos não está na minha
lista de prioridades.
Ele sorriu satisfeito.
— Então mostre a leoa que você é e traga essa conta para mim – ele
apenas disse, virou e saiu.
Fiquei olhando-o sem afastar, tentando entender o que estava fazendo.
Era insano. Eu e Richard tentando nos aproximar de Dorian quando ele
precisava de paz para se tratar. Eu faria muitas coisas para ter a Maison &
Maison. Até subornaria pessoas se fosse necessário, mas o homem estava
doente, por Deus! Ele ia morrer!
Meu olhar encontrou o de Richard do outro lado do corredor. Em seus
olhos haviam aquele deboche nojento de quem já venceu. Ele fez um gesto
obsceno para mim, pegou o dedo do meio e levou na própria boca para
chupar.
— Filho da mãe – murmurei e ele saiu rindo.
Tinha pena de Melina. Como alguém podia gostar de um cara tão
nojento? Fechei os olhos por alguns segundos e me controlei. Já havia
passado por coisas piores: chamada de mal-amada, malcomida, puta,
vagabunda. Para cada cargo que eu subia, havia uma desculpa: ela foi comida
pelo chefe ou deve ser bonita e burra e querem apenas uma modelo para
servir de enfeite no setor.
Havia o Carl Lewis, ele era um dos advogados da empresa e quando
cheguei à vice-presidência, ele perguntou se meu cu ainda tinha pregas
depois de tanto dar para Albert para estar onde estava. Eu sequer respondi
àquela ofensa, apenas eu sabia do que havia aberto mão para estar ali. Duvido
que se fosse um homem no meu lugar, ele teria feito aquela pergunta
machista.
Meu celular tocou e levei um susto. O dia que começara bem havia se
transformado em um pesadelo e eu não estava muito a fim de conversar. Ia
desligar a chamada, mas vi que era do estado de Utah. Ninguém me ligava de
Utah a não ser minha irmã gêmea, Victoria. Atendi esperando que não fosse
nada muito importante, eu não queria ouvi-la reclamar do marido bêbado de
quem ela não tinha coragem de largar pela milionésima vez por causa das
filhas gêmeas Amanda e Cassidy, de treze anos e o pequeno Oliver de sete
anos. Eu já havia até enviado o dinheiro para ela comprar as passagens dela e
dos meus sobrinhos e vir morar em Chicago comigo, mas ao invés disso, ela
deu o dinheiro para o tal do Arnold, para ele pagar as dívidas com traficantes.
Eu e a Victoria éramos as duas faces da mesma moeda. Eu era a
mulher bem-sucedida, ela a porra-louca que decidiu ser feliz e fazer uma
família, e foi ser dona de casa, submissa a um homem sem escrúpulos.
Talvez, ela estivesse apenas repetindo a história da nossa mãe, eu fugi disso,
desse destino que ameaçava nos tragar, fiz terapia, resolvi meu passado e
segui em frente. A Vick ficou presa em Utah, nas dores que a destruíram e ela
não conseguiu se reconstruir, mesmo quando ofereci ajuda.
Era complicado. Não gostava de julgar a minha irmã. Ela sabia o
preço da sua própria felicidade e tentava apoiá-la de alguma forma. Passei até
a pagar uma mesada para ajudá-la, mas eu sabia que aquele canalha sugava
tudo, até mesmo sua juventude. Minha irmã parecia dez anos mais velha e
super acabada. Ela estava cansada a última vez que fizemos vídeo chamada.
Não nos vemos desde o aniversário de cinco anos do Oliver, quando peguei
um voo para Salt Lake City e depois viajei horas de carro até a pequena
cidade Faust Valley onde morei boa parte da minha vida, antes de fugir de
casa.
Desde então, nossas conversas eram apenas por telefone. Minha vida
era muito ocupada e ela se recusava a deixar o tal Arnold para trás e não o
levar até Chicago. E eu me recusava a deixar que ela trouxesse o bêbado
viciado para a minha casa. Talvez eu tenha sido egoísta, mas minha cota de
homens complicados venceu quando nosso pai morreu.
— Senhorita Lincoln? – A voz séria soou do outro lado do telefone.
Ela não precisou dizer mais nada, eu apenas sabia.
O pior havia acontecido.
Arnold chegou em casa muito bêbado e drogado. Victoria trancou os
filhos no quarto e ligou para a polícia. Ela tentava distrair o marido que
cismou que queria levar os pequenos para um passeio. Ela sabia o que
significava, ele ia trocar as crianças por drogas. Eles discutiram, Arnold
avançou contra ela. Victoria lutou com todas as forças para proteger os
filhos, ela esbravejou e não deixou que ele se aproximasse, mesmo quando
seu corpo já não suportava mais as dores que ele lhe infringia. Nem mesmo
quando a faca atravessou seu corpo. Ela lutou e lutou até ouvir as sirenes da
polícia.
Arnold fugiu, mas foi pego em um terreno baldio, tentando se
esconder da polícia.
Victoria levara seis facadas.
As crianças estavam bem apesar de tudo.
Eu fiquei dilacerada e me sentindo culpada por não ter feito nada para
obrigar a minha irmã a sair daquela vida maldita.
Capítulo 2

— Infelizmente a esposa morreu, Ryder – Steve Parker, meu


advogado disse sério – seu irmão foi preso em flagrante e confessou o crime,
além disso as crianças são testemunhas, não há muito o que fazer a favor
dele. Talvez pegue prisão perpétua, mas nós sabemos que ele vai aguardar no
corredor da morte.
Eu me ergui e andei até a grande janela que dava para a paisagem
urbana de Salt Lake City. Tinha viajado por mais de dezesseis horas de avião
desde Moscou. Estava tratando de assuntos comerciais e tive que desmarcar
tudo para estar ali e ouvir que meu irmão caçula havia matado a esposa e
tentado pegar os filhos para trocar por drogas. Isso não era possível, Arnold
era um cara bem-sucedido, quando nos encontramos pela última vez há
alguns anos, ele me pediu dinheiro emprestado para investir em ações, estava
bem vestido, em um carro caro, usando um terno alinhado. Era tudo mentira.
Mais uma vez o filho rebelde deu um jeito de arrancar dinheiro da família, e
de mim. E caí feito um patinho acreditando que ele havia mudado e se
tornado um cara legal.
Como fui idiota ao acreditar nele e pensar que estava mudado e com
uma nova vida? Sequer poderia imaginar que ele estivesse de novo na vida
bandida, vivendo como queria, sem respeitar a própria família.
— Mais uma merda para coleção dele – digo mal-humorado —, nem
todo o dinheiro do mundo poderia salvá-lo.
— Não – Steve concorda —, podemos apelar até o último estágio e
lhe dar mais vinte ou trinta anos de vida – argumentou —, mas se ele for
condenado pelo júri, o que é bem provável, ele não vai ter muita escapatória.
Não queria sofrer diante disso. Mas sentia um aperto no peito ao
imaginar que meu irmão estava com problema sérios e não podia ajudá-lo.
Não mais. Como ele pode matar a própria esposa? E na frente dos filhos?
Tudo havia um limite e o meu chegara ao fim. Fiz tudo o que podia para
ajudar Arnold um dia, mas as próprias mentiras o levaram até aquele
momento. Minha prioridade era outra agora.
— E as crianças? – Eu perguntei.
Tive pouco contato com meus sobrinhos. Eu viva ocupado e meus
encontros com Arnold eram sempre rápidos, ele sempre dizia que a esposa
não me deixava aproximar das crianças como o resto da família. A maior
tristeza da minha mãe, a senhora Tereza Ryder era não conhecer os netos.
Havia um quebra-cabeça nessa história que não estava se encaixando.
— A senhorita Lincoln está com a guarda temporária deles – ele
respondeu.
— E quem é ela?
— A irmã gêmea de sua falecida cunhada – ele colocou os papéis do
outro lado da mesa onde eu estava sentado há poucos minutos.
Aproximei da mesa e abri a pasta.
Uma bela mulher de cabelos castanhos e porte de executiva surgiu
diante dos meus olhos em uma foto de capa de revista. Ela estava com os
braços cruzados, usava um terno escuro e tinha os cabelos presos e uns
óculos de aros vermelhos que a deixava sexy. Tinha aparência jovem e o
olhar sagaz. E eu entendia de mulheres executivas e estava diante de uma que
era a combinação de tudo isso: beleza e inteligência. E um caminhão de
arrogância, ela devia se achar a suprassumo da sua área.
— Ela é uma das acionistas da Jackson Corporation – ele me falou —,
e está concorrendo ao cargo de CEO da empresa.
— Concorrendo? – perguntei com deboche.
— Parece que Jackson lançou uma tarefa e quem conseguir realizar
vai ser o próximo CEO – ele me contou.
Balancei a cabeça, desolado.
— Que tipo de presidente de uma empresa dá uma tarefa para
escolher seu melhor funcionário? – indaguei analisando a ficha da moça.
— O tipo que está cansado de trabalhar e qualquer um que faça o
serviço para ele é lucro – Peter observou com sarcasmo.
— Não sei como Jackson ainda não quebrou – comentei me sentando
na cadeira outra vez.
— Dizem que a responsável é essa mulher aí... – apontou para a pasta
—, ela mantém a empresa com mãos de ferro e é odiada por isso – ele me
contou.
— Então porque ele não dá o cargo a ela de uma vez? – questionei
sem entender.
— Parece que o homem não é muito favor de mulheres no poder –
Peter piscou para mim.
Em pleno século vinte e um tal pensamento parecia sem sentido.
Mulheres eram iguais aos homens, e um homem que pensava dessa forma
apenas provava que não merecia a funcionária capacitada que possuía.
— Tenho certeza que ela não sabe disso – falei sério.
— Acredito que não. Ou ela não estaria na corrida pela presidência –
Steve ponderou.
— Sabe bastante sobre eles – comentei.
— Você mandou investigar e eu fiz o dever de casa – ele se justificou
—, a verdade é que ela tem uma vida ocupada e seus sobrinhos ficam aos
cuidados das babás desde que se mudaram para Chicago.
— Algum fator que a desabone? – Eu quis saber.
— Além de ser viciada em trabalho e gostar de filmes dos anos
oitenta? Não tem nada na ficha dela. – garantiu.
Fiquei irritado. Caso ela fosse uma drogada maluca seria mais fácil
tirar as crianças dela. Na verdade, seria fácil de qualquer forma, porém, eu
sabia que um embate nos tribunais seria traumatizante para três crianças que
acabaram de perder os pais de maneira trágica. A mãe morta e o pai
assassino. Meu irmão não poderia ter feito estrago maior na vida deles.
— Não é casada, não bebe, não usa drogas – falei para mim —, como
podemos tirar as crianças dela?
Estava determinado a criar meus sobrinhos sozinho e lhes dar uma
vida digna. Não sabia até quando a senhorita Lincoln poderia fazer isso, mas
não estava disposto a descobrir sem maiores consequências.
— Ofereça dinheiro – Peter aconselhou —, ações, por exemplo, seria
perfeito, ela é uma mulher ambiciosa.
Aquilo me deu uma ideia.
— O que Jackson está oferecendo em troca do cargo? O que ele
pediu? – Perguntei interessado.
— Caso ela ou o genro dele consigam que Dorian Maison venda a
empresa, um deles ficará com a presidência – Peter respondeu.
— Não pode estar falando sério! – duvidei da falta de escrúpulos de
Albert Jackson. – Maison está com câncer terminal, quem em sã consciência
iria negociar qualquer coisa com ele agora?
— Um homem tipo Jackson? – Peter supôs com ironia.
Nunca gostei de Albert Jackson. Ele jogava sujo para conseguir o que
queria e eu precisava aceitar que se a senhorita Lincoln trabalhava para ele e
chegara tão longe é porque dançava conforme a música. Provavelmente, ela
não era confiável para criar meus sobrinhos da mesma forma que a irmã dela
não era. A tal da Victoria também foi viciada e ajudava a sustentar o vício de
Arnold. E infelizmente, morrera por causa disso. Era difícil julgar sem
conhecer toda a história, mas era a única conclusão à qual eu poderia chegar.
Não poderia ter pesadelo pior. Ainda havia muito o que descobrir.
— Talvez eu ofereça a ela a chance de fechar o negócio – encolhi os
ombros pensativo —, eu e Dorian somos amigos, estudei com o filho dele.
Posso ver o que consigo e em troca se ela me entregar as crianças.
— O não você já tem – Peter ponderou.
Algo me dizia que ela não negaria a ajuda. Uma executiva solteira e
ocupada com três crianças problemáticas, ela deveria estar ficando louca e
procurando uma solução para os seus problemas.
— É uma excelente ideia – argumentei —, se Jackson não a quer na
presidência e fez essa aposta sabendo que ela não ganharia, posso ajudá-la a
conquistar o que almeja.
— Mas vá com calma! – Ele me aconselhou —, ela acabou de perder
a irmã! Apesar de ser uma mulher competente nos negócios, mulheres
costumam ser emotivas.
Eu não acreditava que ela ficaria preocupada com a irmã quando a
chance de se tornar CEO estava à porta da sua vida. A grande oportunidade
de conquistar seu sonho ou as crianças? O que uma mulher decidida e bem-
sucedida iria querer?
— Pessoas frias e indiferentes não se importam muito – comentei
sério —, estão apenas preocupados em vencer sempre. Alguma coisa ela
ganhou levando essas crianças para a casa dela.
— Nada que eu saiba, a irmã não tinha seguro – Peter cortou essa
suposição.
— Talvez compaixão – ponderei finalmente —, apesar que pessoas do
mundo dos negócios não costumam ter misericórdia por ninguém. Ainda
mais uma que aceitou depenar Dorian mesmo estando doente.
— Na verdade, eu seria intransigente se a julgasse – o advogado
avaliou —, dê a ela pelo menos o benefício da dúvida. Não sabemos até que
ponto ela joga com as cartas que tem para sobreviver nesse meio de pessoas
inescrupulosas.
— Mas é isso que não quero para os meus sobrinhos, que convivam
com uma pessoa sem sentimentos – respirei fundo —, minha mãe vai amá-los
como merecem.
— E você? Vai amá-los também?
Eu podia jurar que se Steve não fosse meu amigo, ele estaria me
confrontando da pior maneira possível. Não era hora para brincadeiras.
— Não sou uma pessoa sentimental, você sabe – admiti —, mas é
lógico que me preocupo com eles.
— O que não significa que a senhorita Lincoln também não se
preocupe. – Ele argumentou.
— Não quero você perto dela! – Eu avisei apontando o dedo em riste.
— Está apaixonado demais e sequer a conhece!
Ele riu.
— Sou advogado e estou olhando por todos os aspectos que
beneficiem vocês dois. – Ele argumentou.
— Você não tem que beneficiá-la – avisei me erguendo —, tem que
me favorecer – apontei para mim —, e é muito bem pago para isso.
— Não estou reclamando, é apenas meu lado amigo avisando para ir
com calma. Vocês não estão fechando um negócio, estão falando sobre
crianças, uma família que se desfez tragicamente.
Ele tinha razão, eu estava pensando como um CEO e não como o tio
deles. Precisava respirar fundo e relaxar. Minha cabeça estava a mil com
aquela tragédia e com certeza a senhorita Lincoln caiu de paraquedas nessa
história tanto quanto eu.
— Eu sei – eu concordei —, compreendo sobre o que está falando,
eles são minha família e vou cuidar deles como meu irmão nunca cuidaria,
pode apostar. Arnold é o tipo de pessoa que deveria ter sido castrado quando
nasceu – falei com uma frieza que surpreendeu até mesmo Steve. Mas diante
das circunstâncias, eu não estava errado. —Peço que fale com o detetive e
tente descobrir o que houve com meu irmão.
— Vai ficar na cidade?
— Não. Tenho uma reunião em Nova Iorque – respirei impaciente —,
e depois vou tentar marcar uma reunião com a senhorita Lincoln em Chicago,
mas farei do meu celular pessoal, não quero secretária envolvida num assunto
tão delicado. Quanto menos pessoas souberem do que meu irmão fez, melhor.
— Melhor para os negócios? – Ele ironizou.
— Melhor para todos – corrigi —, hoje você tirou o dia para me
irritar!
— Força do hábito – Steve riu —, mas deveria pensar de forma mais
humana nesse caso.
— Estou fazendo – garanti.
— Já vai para o aeroporto? – Steve quis saber.
— Quer uma carona?
— Não. Vou ficar mais uns dias – ele avisou —, tenho um cliente
importante para atender e depois vou para Nova Iorque.
— Assim que tiver uma resposta da senhorita Lincoln, eu lhe aviso –
informei.
— Vá com calma e não estrague tudo.
Nós nos despedimos e parti com a sensação de que Steve não
confiava mais no meu poder de fazer negócios. Na verdade, ele estava com
medo que eu estragasse tudo por ser muito incisivo quando queria algo. Eu
era conhecido no mundo dos negócios por persuadir as pessoas a fazerem o
que eu desejava. Era um dom e eu usaria contra a senhorita Lincoln. Todo
mundo tinha um preço na vida. E uma mulher que não havia se casado e não
tinha filhos, que mostrava ser ambiciosa e estava galgando o cargo de CEO
de uma empresa, com certeza, adoraria abrir mão de três crianças em troca do
seu maior sonho.
Eu poderia ir até a penitenciária Estadual ver meu irmão, mas não
estava com humor para falar com ele e ouvir suas desculpas idiotas sobre ter
matado a esposa. Mesmo que ela fosse um monstro, e provavelmente era o
que ele diria, nada justificava o acontecimento. A minha vontade era de
esganar o Arnold por ser tão irresponsável.
Enquanto meu carro se dirigia para o aeroporto recordei que ele
sempre fora assim. Não duvidava que toda aquela pompa que ele exibiu para
mim fosse mentira. Ele sempre foi um mentiroso compulsivo e meu falecido
pai nunca lhe deu trégua, por isso, ele se rebelou e saiu de casa cedo e nunca
mais voltou. Meu pai não era exigente, queria apenas que os filhos
estudassem e seguissem em frente, nos negócios da família. Mas Arnold
queria curtir a vida, usufruir do dinheiro da empresa sem preocupações de
forma louca e nenhum pouco ponderada. Parou de estudar ao ser expulso de
Harvard depois de bater em um professor.
Foi a gota d’água para o meu pai depois de tantos desentendimentos e
então eles discutiram e Arnold também o agrediu. Caso eu não tivesse
chegado a tempo, sinto que meu irmão teria ido mais além. É óbvio que
depois desse episódio, meu pai o expulsou. E nunca mais se falaram ou se
viram. Ele procurava nossa mãe, e de vez em quando a mim. E era um
mentiroso tão bom que na última vez acreditei que ele estava bem. Não quis
admitir para Steve, mas acreditava na versão de que ele queria vender os
filhos por drogas. Meu irmão venderia qualquer coisa por seu vício, havia
perdido a humanidade há muito tempo.
Quando me acomodei no meu avião particular o piloto veio me
cumprimentar e avisou que em cinco horas estaríamos em Nova Iorque.
Chicago ficava no meio do caminho, não havia motivo para eu ir até
Nova Iorque e depois voltar. Poderia parar uma noite em Chicago, conversar
com a senhorita Lincoln resolver esse problema e pronto. Simples assim.
— Consegue avisar a torre e pedir um voo para Chicago? – pedi.
— Sim, senhor. Vou ver o que pode ser feito.
Acenei com a cabeça e ele se retirou.
Quanto mais rápido eu resolvesse esse assunto, melhor. Não queria
criar expectativas, mas sentia que eu deixaria Chicago com a guarda de três
crianças lindas.
Capítulo 3

Eu estava exausta. Desde a chegada dos meus sobrinhos na minha


casa, eu não dormia mais. Eles queriam repousar todos na minha cama
porque sentiam a falta de Victoria. E querendo ou não, eles não podiam
compreender porque o pai fora tão violento, afinal, ele amava a mamãe. O
problema é que cada um amava como podia e confundia amor com posse.
Contratei duas babás e uma empregada para dar conta do recado e
mesmo assim, elas não estavam conseguindo se adequar a agitação deles.
Todas as mudanças e perdas estavam influenciando ativamente na atitude
deles e meus sobrinhos haviam se transformado em três monstros
destrutíveis.
Eles faziam de tudo para irritar, até que eu chegasse em casa e se
tornavam anjos de candura. Já havia trocado quatro vezes de babá, elas não
aguentavam o tranco. Tive que faltar várias vezes no trabalho e por fim
estava estressada e cansada. Não dormia direito, me alimentava mal, não
tinha mais tempo para meus exercícios ou até mesmo assistir TV, a gente não
podia mudar do canal que eles gostavam. E eles queriam ficar onde eu estava.
Na hora de dormir, eles iam para o quarto deles e eu ia para o meu
assistir minhas séries, cinco minutos depois, eles surgiam e eu era obrigada a
mudar de canal até eles dormirem. E se eu tentasse assistir algum filme
depois, o som da TV poderia acordá-los e isso não era uma opção. Até tentei
dormir na sala, mas eles foram atrás quando notaram que eu não estava lá.
Então parei de fugir, ainda mais depois que conversei com a psicóloga
e ela me explicou que eles agiam assim por causa do estresse pós trauma.
Eles tinham medo de ficarem sozinhos novamente e passarem toda aquela
tensão da morte de Victoria, a chegada da polícia e a casa de adoção pela qual
tiveram que ficar até eu os encontrar. Por que a família do Arnold sequer
apareceu, pareciam viver em um outro mundo. Ou realmente não ligavam.
Não me inteirei de quem eram, mas Victoria sempre dizia que era o
irmão do Arnold que no fim das contas bancava os problemas dele com as
drogas e o vício. Que quando não era a mãe dele que enviava dinheiro, era o
irmão mais velho. Por isso, o cara nunca virou homem de verdade, tinha
quem encobrisse seus problemas. E quando não teve, enlouqueceu e matou
minha irmã.
Era muito recente e ainda doía. Eu me sentia culpada por não a ter
tirado daquele inferno e gostaria de ter ajudado mais a ponto de ela preferir
ficar ao meu lado do que com aquele assassino desgraçado. Eu esperava que
ele pegasse pena de morte e pagasse pelo que fez. Por sorte, os vizinhos o
denunciaram ou ele teria entregado as crianças para o tráfico em troca de
drogas.
Apenas por pensar nisso, eu sentia um calafrio pelo corpo. Amanda,
Cassidy e Oliver eram terríveis, mas eram meus amores. Eles mereciam toda
a felicidade do mundo e eu faria o que estivesse ao meu alcance para
conseguir, embora permanecesse trabalhando de domingo a domingo e mal
tivesse tempo de qualidade com eles. Mas era por uma boa causa, quando eu
chegasse ao cargo de CEO, meu sonho dourado, teria tempo de sobra para
fazer o que eles desejassem.
Estava ao celular na minha sala quando minha secretária, Guinevere,
abriu a porta.
— Um minuto por favor – eu pedi ao celular e olhei para ela. — O
que foi?
— Ligação na linha três – ela me avisou.
— É tão urgente assim? – perguntei.
— É o senhor Ryder, irmão de Arnold Ryder – ela explicou.
O irmão do assassino resolveu finalmente aparecer. Não deveria falar
com ele fora dos tribunais se ele estivesse com a intenção de ficar com a
guarda das crianças. Respirei fundo, um misto de revolta e compreensão me
assolavam. Eu precisava entender que para ninguém aquela situação parecia
fácil. Victoria nunca falou muito sobre a família de Arnold, então o que eu
poderia fazer a não ser ouvir também o outro lado da história?
— Eu vou atender – avisei e voltei ao celular —, posso te ligar daqui
uns vinte minutos? Tudo bem, obrigada – e desliguei.
Meu coração bateu forte, assuntos de família sempre mexiam comigo.
Além disso, não fazia ideia do tipo de gente que estava lidando e temia que o
pior acontecesse. E se quisessem brigar na justiça pelas crianças? Não
deixaria que levassem meus sobrinhos para longe. Nunca. Meu coração se
espremeu. E se o irmão dele fosse algum tipo de criminoso? Alguém perigoso
que estivesse disposto a ameaçar meus sobrinhos? Que Deus me ajudasse e
um novo pesadelo não surgisse na vida deles.
Respirei fundo e atendi o telefone.
— Valery Lincoln falando – eu disse firme.
Para ele estar ligando na empresa é porque sabe quem eu sou. Onde
eu trabalho, isso parece atitude de psicopata.
— Senhorita Lincoln, aqui quem fala é Bradley Ryder – ele diz com
sua voz masculina grave.
Para mim é voz de ladrão ou assaltante. Não que eu tenha conhecido
algum. Graças aos céus nunca fui assaltada. Mas vindo de Arnold espero que
um monstro saia daquele telefone e me estrangule.
— Como vai, senhor Ryder? – pergunto sem demonstrar meus receios
—, em que posso ajudá-lo?
— Gostaria de conversar com a senhorita sobre nossos sobrinhos – ele
me informou —, tem horário disponível para um jantar essa noite?
Oh, meu Deus! E se for uma família de criminosos? E eles vão me
sequestrar? Ou tentar tirar as crianças de mim à força? Sinto um calafrio pelo
corpo.
— Estou hospedado no The Blackstone – ele informou —, posso
aguardá-la às dezenove horas?
Prático e rápido.
Encontrá-lo em um hotel não parecia perigoso. Além disso, teria
outras pessoas no restaurante e eu poderia gritar por socorro ou usar meu
spray de pimenta.
— Eu estarei lá – confirmei e desliguei.
Notei que minhas mãos estavam tremendo. A ansiedade tomou conta
do meu corpo e tive que levantar e andar pelo escritório para conseguir
respirar. Voltei para o celular e liguei para minha advogada Lance e contei
tudo a ela.
— Até agora a família de seu cunhado não demonstrou interesse em
ter a guarda das crianças – ela ponderou —, ele pode estar querendo apenas
uma aproximação.
— E o que acha que devo fazer?
— Vá ao jantar e caso ele faça qualquer proposta fora dos tribunais
não aceite – ela me aconselhou —, aparentemente, os Ryder não são uma
ameaça.
— Está bem – fico mais aliviada.
— Qualquer proposta que ele fizer, me ligue – ela pediu.
— Tudo bem.
Tudo que envolve meus sobrinhos me tira do eixo. Tentei focar no
trabalho, mas a todo o momento minha cabeça volta para o dia em que
cheguei em Faust Valley e meus sobrinhos estavam naquele abrigo para
menores e choravam sem parar, se recusando até mesmo a comer. Aquilo
cortou meu coração e prometi que os protegeria com todas as minhas forças.
Sentei diante do notebook e digitei Ryder de Utah. Apareceu vários,
mas nenhum me fazia lembra o escroto do Arnold. Como era o nome dele?
Brandley? Não. Bradley.
Digitei: Bradley Ryder. E o que apareceu foi o CEO de um dos
maiores conglomerados de Tecnologia do mundo, a Thornsoft. Que mundo
pequeno, na verdade, o mundo era um ovo. E ele e Arnold não se pareciam.
Além disso, o irmão de um homem tão poderoso não seria um viciado de
merda assassino! Ele estaria mamando na teta do irmão e não casado com
uma pobretona em Salt Lake City!
Respirei fundo controlando meu humor. Não adiantava ficar
bisbilhotando. O negócio era encontrar esse homem e descobrir o que ele
queria de mim.
Liguei para a babá Mercedes e pedi que ela ficasse até mais tarde. As
crianças estavam gritando ao fundo e a única coisa que entendi de seu
sotaque espanhol foi o si si si. Pelo menos, Mercedes já havia passado dos
sete dias, então era um bom sinal de que as coisas iam muito bem para mim e
eu pedia aos céus que continuassem assim.
As horas demoraram para passar até que chegou a hora do jantar tão
esperado. Até mesmo me esqueci da rixa com Richard, e que ele também
estava na estaca zero e não havia conseguido localizar Dorian Maison e por
enquanto a corrida empatada.
Cheguei ao hotel e me dirigi à recepção. Deixei minha pasta de
trabalho no carro, minha aparência já falava por si só que este homem não
estava tratando com uma mulher que não sabia o que queria da vida e não
facilitaria as coisas para ele.
— Eu tenho um jantar marcado com o senhor Bradley Ryder – disse à
recepcionista.
— Ele a aguarda no restaurante do hotel, senhorita Lincoln – a jovem
me informou.
— Obrigada – agradeci e me dirigi para lá.
Entrei no local ainda vazio e olhei ao redor. Havia um homem com
cara de chato sentado num canto, um casal, um outro senhor mais velho, e
uma adolescente mexendo no celular. E nenhum deles se parecia com o
Bradley Ryder que criei na minha imaginação ou com aquele homem que vi
na foto do site de empresários americanos. Arrependi de não ter procurado
mais. Algo no estilo bad boy, fumando um cigarro, fazendo sinal para que eu
me sentasse com ele. Bem excêntrico.
O garçom se aproximou de mim:
— A senhorita procura uma mesa?
— Não, estou sendo esperada pelo senhor Ryder – respondi.
— Por aqui, por favor.
Quem pensaria que o chato sentado no canto era Ryder? Nenhum
pouco parecido com um mafioso ou um traficante de drogas. Quando me
aproximei foi que notei que ele era a cara do CEO da tecnologia, afinal,
minha miopia era terrível. O típico homem bonito de cabelos castanhos e
olhos azuis. Nada demais. O cara é bonito, claro. Mas estou decepcionada!
Esperava encontrar um homem interesseiro a quem eu dispensaria no
primeiro minuto, mas estava diante de um homem decidido e determinado. E
ele não estava ali para conversar sobre a morte de Victoria e sim sobre meus
sobrinhos era óbvio. Provavelmente, ele queria a guarda das crianças.
Quer dizer que Arnold era irmão de um cara rico? Então, não era fruto
do meio? Ou era? Ou talvez fosse apenas a fruta podre da família. Não
consigo entender isso, o cara tem todas as oportunidades do mundo, nasceu
em berço de ouro, e prefere usar drogas e matar a esposa. Vai entender a
mente humana e sua maldade.
Ele se ergueu quando eu me aproximei. Alto, ombros largos, o peito
que empurrava a camisa branca para frente enquanto respirava com
tranquilidade. Notei a gravata vinho que contrastava com o terno azul
marinho.
— Senhorita Lincoln – ele estendeu a mão grande e o Rolex surgiu
sob a manga do paletó do terno também caro.
Eu não queria que um dos homens mais ricos do mundo usasse um
relógio da feira, não é? Pergunto-me com ironia.
— Senhor Ryder – apertei firme a mão dele.
— Sente-se, por favor – ele convidou.
O garçom puxou a cadeira e eu me sentei.
— Obrigada – agradeço colocando minha bolsa na cadeira lateral.
— Quer beber alguma coisa? – Ele ofereceu.
— Não obrigada, estou dirigindo – respondo prática e a sobrancelha
se ergue.
O que ele achou? Que eu fosse alcoólatra? Pelo modo como me olhou
ele esperava que eu bebesse? Homem estranho!
— Um uísque duplo – ele pediu para o garçom que se retirou em
seguida.
— O senhor queria falar comigo? – fui direta ao assunto.
— Sim – ele assentiu —, eu gostaria de conversar sobre nossos
sobrinhos.
Ele sequer me deu os pêsames pela morte de Victoria. Quase revirei
os olhos. O cara pode ser o mais rico e poderoso do mundo, caso não for
educado, não serve nem como pano de chão da minha casa.
— Claro – eu concordei —, vamos direto ao ponto – peço.
— Está com pressa? – Ele pergunta sério.
— Tenho três crianças me esperando em casa – forcei um sorriso —,
e não gosto de demorar, isso os deixa um pouco nervosos.
Eu não falaria agitados a ponto de as babás pedirem demissão. Não
daria arma para um desconhecido.
— É sempre prática? – Ele perguntou.
— O senhor não? – devolvi —, costuma enrolar ao invés de ir direto
ao ponto?
Apesar de não ter sido uma pergunta de conotação sexual, eu achei
que pareceu e ele também, porque franziu o cenho.
— Não quer pedir algo no cardápio? – Ele insistiu.
— Sei que o senhor me convidou para um jantar, mas também é do
meu conhecimento que o senhor está aqui por algum motivo escuso – falei
sem medo —, ou teria me procurado por vias judiciais ou até mesmo batido
na porta da minha casa.
Ele ficou surpreso. Eu sei, eu sou boa em distinguir o joio do trigo.
Sei quando as pessoas têm boas intenções ou não. Anos trabalhando com
homens arrogantes e prepotentes me fizeram ter uma visão muito apropriada
do quadro masculino e seu comportamento tão comum. Os homens se
repetem o tempo todo, apenas mudam de endereço.
— Está bem – ele concordou em jogar limpo.
Sem jantares ou meias palavras. Gostei disso.
— Quero meus sobrinhos morando comigo – ele confessa.
— Por que não estou surpresa? – devolvi —, a única coisa que não
compreendo é o motivo de me chamar para vir a um restaurante para me
convencer disso, do que por vias judiciais. – repeti intrigada. Será que aquele
homem tinha medo dos tribunais?
Ele recostou na cadeira. Isso significava que estava relaxado,
acreditava que já havia me vencido. Realmente, ele não me conhecia.
— Porque as crianças sofreriam muito e tenho uma proposta
irrecusável para fazer – ele diz.
— Proposta irrecusável? – perguntei incrédula cruzando os braços.
Isso significava que não estava aberta à proposta. E ele sabia.
Senti que essa conversa seria surpreendente.
Capítulo 4

Ela não cederia facilmente. Estava escrito na testa dela em letras de


neon. E talvez fogos de artificio caíssem sobre nossas cabeças, ela estava
certa de que já havia ganhado a discussão sem ao menos começarmos. Ela
sequer sabia sobre o que eu falaria e estava armada. Esperta. A senhorita
Lincoln tinha conhecimento de que por vias judiciais eu não estava
interessado em ingressar, e ela parecia disposta a me levar até os tribunais.
O garçom se aproximou para me trazer o uísque enquanto ela me
encarava sem hesitar. Tinha que admitir que pessoalmente ela era mais
bonita, e me enganei completamente subestimando-a, ela gostava daquelas
crianças e sinto que estava disposta a lutar com unhas e dentes por ela. Foi
uma forte impressão de que ela não cederia um milímetro. Talvez por vias
judiciais eu tivesse mais sorte do que naquele jantar.
Antes mesmo que o copo fosse colocado sobre a mesa, o celular dela
tocou. Ela desviou o olhar para o visor e arregalou os olhos.
— Um minuto, tenho que atender... – ela pediu e atendeu sem esperar
resposta.
Eu queria falar sobre os sobrinhos e ela tratando de negócios? Esse
desinteresse dela me deixou irritado. Ela franziu o cenho, pigarreou e depois
de ouvir por alguns minutos, disse:
— Está bem, eu estou indo – afirmou e desligou olhando para mim.
— Preciso ir.
— Mas, nós mal conversamos – argumentei.
— Certo – ela parecia nervosa e respirou fundo. — A verdade é que a
babá acabou de me ligar dizendo que está indo embora, então eu realmente
preciso ir.
Ela fez menção de se erguer e eu segurei seu braço. Ela olhou para a
mão que a tocava e a tirei imediatamente, não havia intimidade entre nós para
que eu a tocasse. Valery voltou a se sentar.
— Por favor, seja breve. Tenho medo que ela os deixe sozinhos – ela
argumentou.
A preocupação dela era uma demonstração certa de que realmente se
importava com as crianças.
— Importaria se eu fosse junto? – Eu perguntei. — Gostaria de
conhecer meus sobrinhos.
Eu fiz sinal para o garçom.
— Não sei se é uma boa ideia... – ela tentou justificar.
— E por que não seria? – entreguei uma nota de cem dólares ao
garçom e me levantei —, eu sou o tio que eles nunca conheceram.
— Por isso mesmo não acredito que seja uma boa ideia, eles sequer
sabiam da sua existência... – ela falou o óbvio com desdém.
— Porque eu fui proibido de me aproximar deles – ajeitei o paletó. —
Meu irmão disse que sua irmã não queria nada com a minha família!
Os olhos dela se arregalaram surpresos.
— Não pode ser verdade! – Ela relutou em aceitar.
— Depois do nascimento das gêmeas, eu sequer sabia que ele estava
com problemas ou casado ainda – confessei enquanto caminhávamos para
fora do restaurante.
— Isso não é possível!
Meu olhar foi gélido e com um sorriso cínico:
— As famílias não são perfeitas, senhorita. E eu e meu irmão não
éramos tão próximos assim – garanti. — Tanto quanto parece que não sabe
tudo sobre sua irmã.
Ela hesitou e não disse nada, apenas respirou fundo sendo obrigada a
concordar comigo que estávamos os dois no mesmo barco e nada sabíamos
ao certo do que ocorreu naquela casa entre Victoria e Arnold nos anos que
viveram juntos. Meu carro chegou primeiro e o manobrista me entregou as
chaves.
— Vou seguir seu carro – avisei.
— Como quiser...
O outro manobrista trouxe um importado esportivo que nada se
parecia com um carro de família. Eu a segui e notei que morava em uma casa
bem localizada e que poderia caber umas duas famílias. Ela mal estacionou o
carro diante da construção e uma mulher abriu a porta, descendo as escadas
xingando em espanhol. Estacionei logo atrás e saltei ouvindo a mulher dizer
algo como nunca mais voltarei. Seguido de meia dúzia de palavrões.
Valery apenas assentiu constrangida e olhou para mim quando parei
ao seu lado. Ela me fitou como se tomasse uma decisão e disse:
— Vou apresentá-lo às crianças! – concordou. — Mas por favor, não
fale mal de seu irmão ou de Victoria, eles ainda estão sensíveis.
— Jamais o faria – garanti olhando em direção a porta que bateu e
ouvi risadas infantis.
— Eles devem ter aprontado muito dessa vez! Eu e a psicóloga
estamos tendo cuidado, mas eles não querem estar aqui, querem voltar para
casa, mas é difícil que eles entendam que isso não é mais possível... – ela me
explicou.
Eu apenas assenti.
— Eu imagino que seja – concordei. — Vamos entrar, fazer as
apresentações e pedimos uma pizza para o jantar. Assim você pode conversar
com eles e descobrir o que aconteceu.
Ela me fitou como se eu fosse um fantasma:
— Pizza?
Encolhi os ombros:
— Tem ideia melhor do que agradar crianças para que digam o que
quer ouvir? – Eu a questionei.
— É assim que está pensando em tirá-los de mim para criá-los? – Ela
indagou cruzando os braços e estreitando os olhos claros. — Dando comida e
presentes?
— Eu não disse...
— Senhor Ryder...
— Podemos ser menos formais? – pedi.
— Claro, sen... Ryder – ela falou impaciente. — Não pensa mesmo
que achei que me convidou para jantar porque gosta de mim. Sei que quer a
guarda das crianças...
— Talvez eu a tenha subestimado – admiti.
— Mas não estou disposta a dar. Sair dessa casa, uma mudança
brusca com certeza os traumatizaria ainda mais – ela argumentou. — O
senhor, desculpe-me – ela se lembrou de não me chamar de senhor —, você
tem seus motivos, eu tenho os meus para querer ficar com eles. Estou
arrasada pela morte da minha irmã e você deve estar também pelo que vai
acontecer com seu irmão. A culpa não é nossa, mas vamos deixar todo o
orgulho e ressentimento de lado e pensar neles, por favor.
Argumento e um pedido educado mais do que justo.
Estendi a mão:
— Está bem, agirei sempre em benefício deles – prometi.
Ela olhou para a mão estendida e apertou rapidamente, soltando em
seguida.
— Vamos lá, então – ela subiu as escadas na minha frente.
Juro que tentei não olhar para o traseiro bonito na saia preta, mas foi
inevitável. A senhorita Lincoln é desejável e depois de demonstrar o mínimo
de bom senso, ficou mais atraente, tenho que admitir. Ela abriu a porta e
deixou a pasta e o casaco em cima do móvel antes de avançar no corredor,
certa de que eu a seguia.
A casa era aconchegante, grande e espaçosa. Na sala principal havia
um enorme aparelho de televisão e brinquedos espalhados por toda parte.
Três crianças estavam em frente à TV assistindo um filme da Disney como se
não tivessem feito nada de errado.
— Boa noite, crianças – Valery disse e eles se ergueram como se não
soubessem que ela estava chegando.
— Tia Val – eles disseram em uníssono e correram para abraçá-la.
Duas meninas tinham os cabelos escuros como os de Valery e a
lembravam muito. E um garoto que fez meu coração falhar uma vez: era o
próprio Arnold quando criança. Os mesmos cabelos castanhos mais claros, os
olhos muito verdes, aquele nariz fino petulante. Meu sobrinho era a cópia
perfeita do meu irmão. Depois que as meninas abraçaram Valery, ele se
aproximou e a abraçou com a cabeça encostada em sua barriga e então olhou
para mim.
— Quem é ele? – Oliver quis saber. — Ele é o seu namorado?
— Não! – Valery sorriu com carinho para ele e acariciou seu rosto. —
Oliver, Amanda e Cassidy quero apresentar a vocês o Tio Bradley Ryder,
irmão mais velho do seu pai.
— Você é o tio Brad? – Oliver se soltou de Valery e se aproximou de
mim.
Céus! Olhar para Oliver era o mesmo que olhar para o meu irmão
quando éramos crianças. Senti uma forte emoção e assenti.
— Sim, sou eu. E você é o Oliver – eu falei e sorri.
— Meu pai falou que quando as coisas ficassem ruins você apareceria
– ele falou com alegria.
Fiquei surpreso com a atitude de Arnold.
— Seu pai disse isso? – perguntei um tanto emocionado.
Eu o fodão, o negociador que aniquilava meus concorrentes, estava
sem voz.
— Ele disse que você sempre o salvava das merdas...
— Oliver! – Valery o reprovou. — Já disse: nada de palavrões!
Oliver deu um passo para mim e murmurou:
— Às vezes, ela é chata igual a mamãe – confessou para mim.
Eu enruguei a testa.
— Ela está certa, um bom homem não fala palavrões na frente das
garotas. – comentei.
— Foi mal – ele ficou sem graça.
— Por que demorou tanto para vir até aqui conhecer a gente? –
Amanda perguntou cruzando os braços e erguendo uma sobrancelha.
As gêmeas eram idênticas. A única diferença era que Amanda tinha o
cabelo Chanel e Cassidy os cabelos compridos que naquele momento
estavam trançados deixando-a mais infantil que a irmã que tentava parecer
uma adolescente sofisticada.
— Eu estava do outro lado do mundo e tive que viajar muito para
chegar aqui – expliquei.
— Por que a gente nunca o conheceu antes? – Ela insistiu
desconfiada.
— Porque eu morava do outro lado do mundo – preferi a mentira do
que falar mal dos pais dela. Precisava concordar com Valery: não era muito
sensato falar qualquer coisa que pudesse criar um mal-estar, a situação era
delicada o suficiente.
— O tio Brad veio para jantar com a gente – Valery disse ao notar a
tensão que Amanda estava criando. — Que tal pedirmos pizza?
Estreitei o olhar para ela ao notar que usara a ideia a seu favor.
— Mesmo? – A voz de Cassidy soou finalmente e ela ajeitou os
óculos que caíam na ponta do nariz. — Pensei que você fosse contra
alimentos gordurosos durante a semana!
— Eu sou – ela admitiu. — Mas o tio de vocês me convenceu que
uma pizza pode ajudar a gente a se conhecer melhor.
— Não sei se quero conhecer melhor qualquer pessoa – Amanda disse
em sua rebeldia.
Ela não era muito nova para afrontar desse jeito? Lembrei de meu
melhor amigo, Igor e sua filha, Nora. A garota também fazia questão de ser
do contra em tudo e não devia ser mais velha que Amanda. E meu amigo teve
que aprender a agir com psicologia para não pirar com ela.
— Bem, eu estava ansioso para conhecer vocês – disse e ela arregalou
os olhos —, mas eu não quero atrapalhar.
— Não vai atrapalhar, tio Brad – Oliver segurou minha mão. — Estou
cansado de ser o único homem da casa. É muita responsabilidade.
Ele disse e roubou um sorriso meu.
— Não liga para a Mandy, tio – Cassidy se aproximou de mim e
segurou do outro lado —, a gente não aguenta mais comer comida natural e
saudável.
Eles roubaram um sorriso meu e olhei para Valery que me fitava com
os braços cruzados e uma sobrancelha erguida. Era notável que Amanda
puxara a falta de humor da tia e precisava relaxar um pouco.
— Mas comer alimentos saudáveis faz a gente viver mais tempo – eu
voltei a atenção para Cassidy.
— Foi por isso que a mamãe morreu? – Oliver perguntou triste.
Assuntos proibidos na casa: não falar mal dos pais e sobre morte.
Anotei mentalmente. Ajoelhei diante dele e coloquei as mãos nos seus
ombros para dizer:
— Sua mãe era uma mulher incrível e ela se foi porque os anjos
precisavam dela – falei olhando nos olhos marejados de lágrimas.
Nenhuma criança deveria sofrer daquela forma. Os pais deveriam ser
eternos. Exceto os meus.
— Você gostava dela? – Ele perguntou sério segurando o choro.
— Muito e ela era uma pessoa especial e tenho certeza que ela
gostava de pizza de queijo – bati o dedo na ponta do nariz dele.
— Ela adorava!
Um blefe que deu certo, pensei satisfeito. Quem não gostava de
queijo? Aposto que a senhorita natureba que também estava emocionada e
desviou o olhar quando a fitei, odiava queijo.
— Então peguem meu celular e liguem na pizzaria – ela avisou.
Amanda foi a primeira a correr para o hall para pegar a bolsa da tia e
tirar o celular. Semanas naquela casa e eles já estavam bem à vontade e tinha
um vínculo afetivo forte com a tia. As crianças começaram a discutir qual
sabor de pizza iam pedir e começaram a fazer a algazarra.
— Ei, calma! – Eu pedi controlando a situação. — Ao invés de
brigarem porque não fazemos uma votação?
— Votação? – Oliver não entendeu.
— Cada um diz que sabor que quer e entramos em um acordo –
expliquei.
— Eu quero quatro queijos! – Cassidy gritou.
— Sem gritar, Cass – Valery a reprovou.
— Eu quero de frango – Amanda cruzou os braços igual a tia fazia.
— Qual sabor você quer, Oliver? – Valery perguntou passando as
mãos nos cabelos dele.
— Eu quero o que o tio Brad quiser – o menino falou e novamente
segurou minha mão.
E eu queria ficar com ele perto de mim para sempre. Aquele
pensamento me deixou surpreso, nunca me senti tão próximo a um ser
humano como me sentia ao lado dele. A conexão entre tio e sobrinho foi tão
forte que eu não tinha palavras para explicá-la.
— Vou comer o que você quiser – falei para ele.
— Então a gente vai votar pela pizza de queijo. – Ele sorriu para mim
e duas covinhas se formaram em suas bochechas.
— Ah! – Amanda reclamou.
— Então vamos pedir uma de cada – eu decidi.
As crianças ficaram felizes, mas quando para o lado, a senhora alface
estava com aquela cara de poucos amigos e os braços cruzados.
— Relaxa! – Eu pedi a ela. — Quantas vezes espera me ver dentro da
sua casa comendo pizza? – perguntei e me afastei para perto das crianças.
Não sei o que estava passando na cabeça dela, mas a única coisa que
eu conseguia pensar era ficar próximo dos meus sobrinhos e conhecer aquela
parte da vida de Arnold que eu desconhecia completamente.
Capítulo 5

Eu não sabia dizer se ter deixado aquele homem entrar na minha casa
fora uma boa ideia. Tinha que admitir que as crianças estavam sobre ele
como abelha sobre o mel. Para minha surpresa e se sentindo bem à vontade, o
CEO da tecnologia se sentou no sofá com eles em volta. Caso eu tirasse uma
foto e enviasse para a minha advogada, sequer ela acreditaria nisso.
Porque eu custava a entender o que estava acontecendo e tantas
mudanças bruscas em minha vida: a morte de Victoria, a prisão de Arnold e a
esperança de sua condenação, o encontro com os meus sobrinhos, a vinda
deles para Chicago e tudo o que mudou com isso, e agora a chegada de um
estranho que parecia sempre ter feito parte do cenário. Oliver estava
apaixonado em Ryder e naquele momento estava sentado em sua perna
esquerda contanto para eles sobre dinossauros.
Achei melhor dar um tempo para eles. Ryder era uma novidade, um
tio do qual ouviram falar, mas não conheciam. As palavras de Oliver não
saiam da minha cabeça, que o pai disse que o tio viria no momento certo e o
que Ryder falou sobre minha irmã não deixar que a família de Arnold se
aproximasse dos sobrinhos. Passei tanto tempo longe da minha família que eu
não poderia dizer com certeza se Victoria faria isso ou não. Quando eu fui
embora de casa tinha dezessete anos, Victoria ficou grávida meses depois de
Arnold, e desde então a gente mal se falava, e quando se encontrava havia
tanta coisa para dizer que a gente não sabia por onde começar e nem sempre
falávamos tudo.
Era complicado. Mas ao mesmo tempo não combinava com Victoria
bancar a dominadora, não fazia parte da personalidade. Esse temperamento
era mais meu do que dela. A obcecada por controle foi sempre eu. Mas as
pessoas mudam e surpreendem.
— Quer ajuda, tia? – A voz de Amanda me assustou.
Para falar a verdade eu não sabia sequer o que estava fazendo. Fiquei
parada em frente a pia olhando através da janela como uma boba. Abri a
torneira para disfarçar e lavei as mãos.
— Coloque os pratos na mesa, por favor – pedi.
Ela foi até o armário com sua bota de cano curto ressoando pelo chão.
Enquanto Amanda era toda estilosa, Cassy era mais casual. Eram tão
diferentes como eu e Victoria fomos. Mas eram mais parecidas comigo do
que com minha irmã em personalidade. Era engraçado eu enxergar muito das
minhas manias nelas.
— Como foi que ele te achou? – Ela perguntou enquanto eu tirava a
salada da geladeira.
Com certeza, eu seria a única a comer salada ao invés de pizza.
Encolhi os ombros enquanto destampava as alfaces e começava a
lavar.
— Ele tem seus meios, Mandy – comentei. — Além disso, não estou
escondida no Alaska.
Ela empilhou os pratos sobre o balcão e bufou antes de dizer:
— Não confio nele, porque não procurou a gente antes? – havia um
pouco de revolta em sua voz. — Antes da merda toda acontecer?
Olhei para ela e vi que estava tremendo. Sequer tive coragem de
reprová-la por falar palavrão em casa. Encontrar o tio mexeu com ela, não
apenas comigo ou os outros. Deixei tudo de lado e me aproximei. Ela deu um
passo para trás, Mandy não era sentimental e evitava afeto de qualquer forma.
Não sei se era efeito do que aconteceu ou um grito de desesperado por
carinho e ajuda.
— Eu não tenho a resposta certa, Mandy. Como eu, acredito que ele
também não sabia como as coisas andavam na sua casa – falei com carinho
me recostando no balcão. — Mas ele está aqui e agora e é isso que importa,
querida. Ele é seu tio e quer se aproximar de vocês.
— Essa atitude não vai trazer a minha mãe de volta! – Ela falou
revolta e enxugou a lágrima teimosa.
Dei um passo para ela, louca para consolá-la e ela deu outro para trás.
Então parei de tentar me aproximar com o corpo e decidi tentar com palavras.
— Meu pai era um desgraçado, Mandy. Ele batia na minha mãe todos
os dias. E nos filhos também. Isso destruiu minha família. Meu irmão mais
velho, Cam, sumiu no mundo quando tinha dezesseis anos e nunca mais ouvi
falar dele. Dois anos depois, eu parti sem olhar para trás e então meu pai
morreu num acidente de carro. Eu não fui no enterro. – contei e ela arregalou
os olhos enquanto eu cruzava os braços. — Minha mãe me culpava pela
morte dele, porque segundo ela, ele estava me procurando quando tudo
aconteceu. Mas eu sei que é mentira, ele deveria estar atrás de drogas e
mulheres. Nossas histórias são parecidas, mas a grande diferença querida é
que enfrentei tudo sozinha, e você tem a chance de ter a mim e agora ao seu
tio para te ajudar a não ter que passar por isso dentro de um orfanato.
— Ah, tia, eu não sabia...
— Tenho certeza que sua mãe nunca contou – falei séria. — Sei que
está sofrendo, eu também sofri como você..., mas não reclame quando tem
gente querendo te ajudar, querida. Eu daria tudo para ter alguém para me
abraçar quando tudo ficou difícil e tive que me virar sozinha.
Ela me abraçou e respirei aliviada por ter conseguido tocar seu
coração depois de tantas semanas. Não estava ali para transformar a vida de
ninguém um inferno, nem a minha vida ou a de Ryder. Muito menos dos
meus sobrinhos. Caso ele estivesse realmente ali para somar e ajudá-los, seria
bem-vindo. Era o mínimo que eu podia fazer e era o que gostaria que alguém
tivesse feito por mim. Não era utopia. Era amor e essas coisas a gente não
acha para vender em uma loja, apenas no coração. Ela se afastou de mim e
forçou um sorriso antes de dizer:
— Vou levar os pratos para a mesa – avisou e foi.
Capítulo 6

Não tenho o costume de ouvir conversas atrás da porta, mas foi


inevitável. Oliver queria um copo d’água e esperava que eu fosse buscar
junto com ele. Algo tão simples e ele foi segurando minha mão quando ouvi
Amanda dizer:
— Não confio nele, porque não procurou a gente antes? – havia um
pouco de revolta em sua voz. — Antes da merda toda acontecer?
Parei na porta e segurei firme a mão de Oliver e ele olhou para mim,
fiz sinal para que ele não fizesse barulho. Era o momento perfeito para Valery
falar mal de mim pelas costas e eu a pegar em flagrante, encontrando um
motivo para separá-la dos meus sobrinhos, mas o que ouvi me desarmou por
completo. Realmente não esperava que ela fosse tão humana e contasse a
própria história para dizer a sobrinha que tudo daria certo. Ao ouvir tais
palavras, eu compreendi muita coisa, até mesmo porque Victoria procurou
um cara problemático como Arnold. Era a figura do pai que ela conheceu
uma vida toda e buscou no um marido com as mesmas atitudes que a faziam
sentir confortável mesmo que sofresse. Aprendi na terapia que precisávamos
nos policiar para não repetir a história que nossos pais nos ensinaram e não
era nada fácil.
— A gente não vai entrar? – A voz de Oliver soou me denunciando.
Felizmente, elas já haviam parado de conversar e não tive escolha a
não ser aparecer. Amanda pegou os pratos em cima do balcão e passou por
mim com o olhar reprovador. Valery me olhava daquele jeito matador e os
braços cruzados.
— Um costume ouvir atrás da porta? – Ela perguntou e me deu as
costas voltando para perto da pia onde a salada estava esperando por ela.
A senhorita vegetal estava irritada comigo. Oliver foi pegar o copo
para beber água e resolvi me justificar.
— Não foi proposital, Oliver queria beber água e cheguei no meio da
conversa – expliquei parando ao lado dela.
Ela encolheu os ombros.
— Agora já sabe a história trágica da minha família – ela concluiu.
— Não estou aqui para julgar ninguém, Valery – eu disse seu nome e
ela me fitou um tanto surpresa. — Vim para decidir sobre o futuro dessas
crianças e não para brigar. Poderia ter feito isso pelas vias judiciais, mas seria
exaustivo para todos.
Ela terminou de lavar as alfaces e respirou fundo, antes de voltar para
mim.
— Compreendo sua necessidade de conhecê-los, afinal, você também
perdeu um irmão – ela falou muito séria e olha por cima do ombro para se
certificar que Oliver não está ouvindo, mas os olhos verdes estão sobre nós
bem argutos. — Não podemos conversar sobre isso agora, tem que ser longe
deles.
— Está bem – eu concordei.
Oliver se aproximou de nós, desconfiado:
— Por que estão cochichando? – Ele perguntou.
— Porque estou dizendo para a sua tia que é um absurdo ela comer
vegetais quando vamos comer pizza – desculpei rapidamente.
— E eu respondi a ele que é porque sou diabética – ela forçou um
sorriso e me fitou. — E se quero levar uma vida saudável não posso me dar a
esse tipo de luxo, infelizmente.
Fui pego de surpresa novamente. Diabética? Nem toda mulher é
lunática por uma boa forma, apenas era obrigada a isso. Definitivamente,
Valery Lincoln era uma caixa de surpresas e eu não esperava tanto em uma só
noite: uma boa tia, amorosa, humana, com uma história de vida digna de um
drama e ainda diabética e não fresca.
— Por isso cuido da saúde deles. A diabete é genética, Victoria
também era, mas ela não se cuidava e estava piorando muito – ela contou
arrumando sua vasilha de salada.
— Eles já fizeram testes? – perguntou encostando na pia e cruzando
os braços.
— Antes de vir para cá eu não sei, mas aqui fiz questão de levá-los ao
médico – ela descreveu indo para o lado da geladeira e pegando uma jarra de
suco e entregando a Oliver – leve para a mesa, por favor. E peça para Cassy
vir buscar os copos.
— E como estão? – Eu quis saber.
— Fisicamente saudáveis, mas começamos a terapia – ela voltou para
perto de mim. — Acho importante que tenham um acompanhamento
psicológico depois de tudo o que houve. Eles são apenas crianças e se eu
tenho dificuldade para lidar com o que aconteceu, imagine eles que não tem
maturidade alguma.
Mais um ponto a favor dela: bom senso.
— A pergunta que não quer calar, Ryder – ela parou diante de mim.
— Por que não os procurou antes de todo esse pesadelo acontecer?
— É uma longa história entre desavenças familiares e meu trabalho –
admiti. — Mas eu sequer sabia sobre o nascimento de Oliver, minha mãe que
me contou, me afastei muito de Arnold nos últimos anos e quando nos
encontramos ele não citou o filho. Perguntei das meninas e ele apenas disse
que sua irmã não queria aproximação.
Ela ficou pensativa e moveu os lindos lábios de um lado para o outro
fazendo uma careta engraçada.
— Não parece com a Victoria que conheci. Ela sempre disse que
vocês repudiavam ela e os meninos por causa das origens da minha família –
ela relatou para minha surpresa.
— Isso nunca aconteceu. Vi sua irmã apenas uma vez quando estive
na casa deles para conhecer as gêmeas, foi rápido, mas eu não teria nada
contra ela se a casa não estivesse um lixo. Lembro da minha mãe ficar
estarrecida com a bagunça e ela mesma limpar tudo.
— Eu perdi muito da vida de Victoria depois que parti de casa, sei
que ela passou por muitos problemas por causa do vício. Ela parou com tudo
depois que as meninas nasceram, era o que me dizia e eu acreditei – ela falou
triste.
O retorno de Oliver interrompeu a conversa. Muitas lacunas a serem
preenchidas naquela trágica história, mas eu já conseguia formar o quebra-
cabeça. Dois viciados que se conheceram e ao ter filhos Victoria seguiu
limpa, mas Arnold queria continuar com a vida bandida. Era o mais provável.
Na verdade, pensando friamente, nada do passado importava e sim o futuro
daqueles três que estavam parados na porta da cozinha olhando para mim e
para a sua tia querendo saber o que conversávamos. Acredito que qualquer
mudança na vida deles trazia algum tipo de insegurança, um medo de perder.
— Pelo que vejo todos estão gostando de morar em Chicago –
aproveitei para distraí-los.
— Eu adoro – Amanda falou indo para a geladeira para pegar um
refrigerante e colocar sobre o balcão. — Meu número de seguidores
aumentou depois das fotos que comecei a postar. Faust Valley não tem nada
de interessante para mostrar.
Jovens e suas inesperáveis redes sociais. Ainda bem que não sou
dessa geração, eu não teria paciência para ficar o dia todo esperando por um
like.
— Então você é uma influenciadora – eu disse.
— Sim, quero ser uma daquelas bem famosas que não precisam gastar
com roupas porque é patrocinada – ela disse decidida.
— Você é louca! – Cassy a criticou. — A vida delas é muito fútil!
— E você é uma invejosa! – Amanda respondeu apontado para a
irmã.
— Cala a boca! – Cassy retrucou.
— Meninas! – Valery as reprovou. — Cada um pode ser o que quiser,
já falei isso.
— Eu quero ser cientista – Cassy avisou levando as mãos à cintura e
olhando para a irmã com desdém.
Amanda sacou o celular do bolso e fez uma careta para a irmã antes
de mergulhar no mundo da internet e esquecer tudo ao redor.
— E você Oliver, o que quer ser? – Eu perguntei a ele.
Ele sorri para mim.
— Eu quero ser igual a você! – Ele falou entusiasmado e subiu no
banco para apoiar os cotovelos no balcão e olhar para mim. — Meu pai disse
que você era o CEO importante da tecnologia no mundo, quero ser a mesma
coisa.
Ouvi a risada de Valery ao meu lado.
— Acho que você tem um fã agora – ela sorriu de um jeito meigo e
foi pegar sua salada para levar para a sala de jantar.
Eu me aproximei de Oliver.
— Para ser um CEO tem que estudar muito, você gosta de estudar?
— Não muito – ele admitiu e fez uma careta. — Mas eu gosto de
computador e vídeo game.
Eu ri. Que garoto não gostava? Até eu gostava de um vídeo game. Era
meu entretenimento preferido quando tinha tempo para alguma coisa.
— Também gosto de games – disse e o sorriso do menino se ampliou.
— Mas tive que estudar também.
— A escola é chata! – Ele reclamou.
— Oliver não gostava da antiga escola, os meninos o xingavam e
diziam que ele era filho do viciado – Amanda contou sem piedade.
Meu sangue ferveu. Primeiro por meu irmão ser tão irresponsável e
causar esse tipo de dor no filho. E segundo por saber que as crianças podiam
ser tão cruéis a ponto de fazer a outra se sentir miserável com o maldito
bullying. Eu quis colocá-lo em meu colo e abraçá-lo dizendo que isso não
aconteceria mais. Contudo, eu sabia que poderia voltar a acontecer e eu
precisava ajudá-lo a enfrentar tais acontecimentos desagradáveis e sair mais
forte lá na frente.
— Sinto muito que tenham dito isso a você – eu disse a ele. — Mas
não importa o que digam, o que vale é o que sente pelo seu pai.
— Eu odeio o meu pai! – Ele disse com os olhos carregados de
lágrimas e saiu correndo da cozinha.
Ele trombou em Valery e despareceu. Ela olhou para mim, perplexa:
— O que houve?
— Eu contei ao tio Brad sobre o bullying – Amanda avisou.
Valery respirou com pesar.
— Precisava tocar nesse assunto agora? – Ela a reprovou.
— Ele falou que não gostava da escola, eu só contei o motivo – ela se
defendeu com arrogância.
— Você sabe ser desagradável, Amanda – Valery disse brava —,
poderia ter deixado esse assunto para depois.
— E mentir? – Ela enfrentou a tia. — Pensei que mentir fosse errado!
– disse com ironia.
— Você não precisava mentir, apenas não tocar no assunto – Valery
ponderou brava com a menina.
Amanda desceu do banco e se aproximou dela.
— Você é uma chata e não é a minha mãe! – Então trombou no
ombro de Valery e saiu da cozinha.
Valery foi atrás dela, indignada.
Cassy encolheu os ombros sem graça.
— Bem-vindo à família, tio Brad – ela disse forçando um sorriso.
O combo era completo. Três crianças rebeldes, uma tia exausta que
precisava focar no trabalho em que era viciada e ainda ter de lidar com todas
aquelas mudanças. Eu estava em meio ao caos. E para piorar, Valery estava
sem babá para o dia seguinte. Não havia tocado no assunto, mas vi quando
ela se afastou para fazer uma ligação enquanto a pizza não chegava. E pelo
visto a conversa com Amanda não existiu, a menina deve ter batido a porta na
cara dela e não quis conversar.
— Apenas amanhã! – Ela disse angustiada. — Tenho uma reunião e
não posso faltar.
— Vai ficar quanto tempo com a gente? – Cassy quis saber quando
voltamos para a sala.
Eu precisava partir naquela madrugada, havia adiado a reunião para a
manhã seguinte na expectativa de fazer uma proposta irrecusável para Valery
e ela aceitar. Mas nada saiu como planejei. Nem mesmo o jantar. Ou a
proposta. E talvez eu tenha que agradecer aos céus por não ter dito nada e
feito uma inimiga mortal. Pelo pouco que percebi, Valery não trocaria os
sobrinhos por seu cargo como CEO. Ela amava os sobrinhos, era nítido e se
não os quisesse sequer teria ido até Utah resgatá-los, essa era verdade. Mas
precisei ver com meus próprios olhos para me certificar que ela os queria
tanto quanto eu.
— Tenho uma reunião em Nova Iorque – contei e ela arregalou os
olhos e seu rostinho ficou decepcionado.
— Então vai embora? – Ela perguntou como se não se importasse.
— Não embora exatamente – eu expliquei. — Vou buscar a avó de
vocês e trazê-la para conhecê-los.
— Nós temos uma avó? – Ela perguntou surpresa.
— Você não sabia? – franzi o cenho preocupado com aquela
informação.
— Não. Não sei porque, mas o papai e a mamãe nunca falaram dela –
ela contou. — Vai ser legal ter uma avó. Eu sempre quis uma, daquelas que
fazem bolo de chocolate. Como ela se chama?
— Tereza – respondi.
Eu imaginava porque não haviam falado dela. Arnold tinha uma
relação tensa com minha mãe. Eu também. Mas apesar de tudo, ela era avó
daquelas crianças e parecia disposta a se aproximar para ajudar a dar uma
vida melhor a eles. Talvez minha mãe merecesse uma segunda chance e se
redimir a péssima mãe que foi para os filhos.
— Vovó Tereza – ela falou e um sorriso de felicidade surgiu em seu
rosto angelical. — Vai ser legal!
Eles estavam tão ávidos por atenção e carinho que tudo era novidade.
Minha mãe ficaria muito feliz em finalmente poder se aproximar deles,
mesmo sob aquelas circunstâncias e com tudo que Arnold fizera. Quem sabe
aquela tragédia houvesse atenuado a aspereza de seu coração.
A campainha tocou.
— Acho que é a pizza – Cassy avisou.
— Eu atendo – levantei e fui determinado para a porta.
Capítulo 7

Era a terceira babá para quem eu ligava e nada de conseguir alguém


para ficar com as crianças. A noite que era para ser mais tranquila, tornou-se
um pesadelo com as atitudes de Amanda e por ela ter batido a porta na minha
cara. Já não bastava eu estar com os nervos à flor da pele por causa de
Bradley Ryder, ainda tinha que aturar meus sobrinhos mostrarem o quanto
estava difícil a nossa convivência. Por mais que ele tenha dito que estava ali
em paz, eu não o conhecia, não confiava nele e morria de medo que usasse
tudo que estava vendo ali nos tribunais contra mim.
Ouvi a campainha da porta, mas antes que eu pudesse atender, Ryder
se ergueu. Ele tirou o paletó e jogou sobre o sofá de uma forma tão
determinada e sexy, como se estivesse dentro da própria casa e dobrou a
camisa expondo o braço definido, então abriu a porta, atendeu o entregador
com simpatia, pagou e deu uma generosa gorjeta antes de fechar a porta e vir
com as pizzas nas mãos.
Assisti tudo do corredor. Cassy se juntou a ele e foram para a sala de
jantar. Respirei fundo, esperando que ele não pensasse que eu não conseguia
resolver tudo dentro daquela casa, era difícil, mas eu estava dando um jeito.
Mesmo que cansada e me sentindo exaurida, tudo daria certo.
— Romana – eu chamei a mulher do outro lado da linha. — Por
favor, é somente amanhã até a agência enviar outra pessoa.
— Não posso, senhorita Lincoln, a última vez que fui aí seus
sobrinhos me prenderam no banheiro por horas! – Ela lamentou.
— Eu pago o dobro, eu...
O celular foi tirado da minha mão. Olhei para Ryder, chocada.
— O que pensa que está fazendo? – perguntei indignada. — Devolve
o meu celular!
Ele ergueu uma sobrancelha e disse ao telefone:
— Obrigada, senhorita, mas não precisaremos dos seus serviços – e
desligou.
— O que pensa que está fazendo, Ryder? – Eu tomei o celular da mão
dele quando desligou. — Eu preciso de uma babá para amanhã, você viu que
a outra foi embora!
— Não se preocupe – ele avisou. — Minha mãe virá amanhã cedo
para cá e a nossa governanta, Daisy virá com ela para ajudá-la.
— O que? – Eu perguntei sem acreditar.
— Simples assim! – Ele disse.
— Não pode resolver as coisas sem falar comigo! – falei indignada.
— Não se ofenda, eu fiz uma ligação enquanto Cassy colocava a
pizza sobre a mesa e foi chamar os irmãos – ele se explicou. — Além disso,
tenho certeza que serem cuidados pela avó que é louca para estar perto deles
é bem melhor do que uma estranha que não quer permanecer aqui.
Um argumento como aquele era mais do que suficiente para
convencer o papa. Mas eu sentia meu orgulho ferido, não queria que ele
pensasse que eu não era capaz de resolver tudo.
— Tem razão, mas...
— Mas nada – ele segurou meu braço e me empurrou em direção a
sala de jantar. — Use a seu favor, dê a notícia às crianças que a avó deles virá
para ficar com eles.
E piscou para mim. Nenhum homem poderia piscar daquela forma e
ser tão sedutor. Ele deveria ser preso por assédio a cada piscada! Balancei a
cabeça em negativa e me livrei da mão dele. De repente, me senti sufocada
com a sua aproximação. Ele era do tipo dominador, como a maioria dos
homens de negócios, acostumado a resolver tudo de maneira prática e do seu
jeito. E consultar os outros não era uma opção. E isso me irritava, eu estava
cansada de estar cercada por homens que queriam dominar o tempo todo. E
por mais que ele tenha me ajudado, meu mau humor foi intenso.
Amanda sentou-se longe de mim e com os fones de ouvido mexendo
no celular. Oliver sentou-se ao lado de Ryder que se sentou ao meu lado e
Cassy se sentou do outro. A vantagem de uma mesa redonda é todos poderem
se olhar enquanto conversam.
Eu ergui o corpo por cima da mesa e puxei os fones de ouvido de
Amanda e peguei o celular.
— Conhece a regra, nada de celulares durante as refeições – avisei e
sentei deixando o aparelho ao lado do meu prato.
— Que saco! – Ela reclamou.
— Mais uma falta de educação sua e vai ficar sem celular por uma
semana! – Avisei.
Ela revirou os olhos e resmungou. Ryder começou a servir a todos e
eu coloquei minha salada no prato. Os gemidos de satisfação soaram ao
mesmo tempo vindo por parte das crianças.
— Que delícia! – Cassy agradeceu.
— Isso é comida de verdade! – Amanda falou para me atacar e revirei
os olhos.
— Não quer nenhum pedacinho? – Ryder ofereceu.
Lógico que eu queria e estava até salivando de vontade. Mas eu sabia
o preço. O problema não era uma mordida, era que eu não me contentaria
com apenas um pedaço e depois passaria mal por horas. Era terrível.
— Não, obrigada – forcei um sorriso e voltei para a minha comida.
Ele encolheu os ombros e comeu com a mão mesmo, sem usar garfo e
faca. As crianças ficaram surpresas tanto quanto eu e também comeram da
mesma forma, imitando o tio.
— Sua tia tem uma boa notícia para dar – ele falou de repente.
Por alguns segundos me esqueci completamente da babá e da avó.
Eram coisas demais na cabeça de uma única mulher. Eu precisava de um dia
de folga para recuperar minha excelente memória, cansaço e o estresse
estavam acabando comigo.
— O que é? – Oliver perguntou empolgado.
— Vai vir morar com a gente? – Cassy indagou com os olhos
brilhando.
— Cassy! – Eu a reprovei. — Seu tio tem a casa dele, mas poderá vir
aqui quando quiser ver vocês...
— E se eu quiser morar com ele? – Amanda ergueu uma sobrancelha
e me desafiou.
— Não é tão simples assim, Mandy – eu avisei.
— Mas se eu quiser? – Ela continuou a me desafiar.
E minha paciência estava no limite com ela. Eu entendia que ela
estava sofrendo com toda aquela história, mas ela precisava aprender que
respeito e limites eram necessários para uma boa convivência. Sentia que ela
estava me testando, e eu estava a ponto de gritar como uma louca para que
entendesse que não era a única que estava sofrendo.
— Um dia conversaremos sobre isso – Ryder interviu. — Agora seja
boazinha e deixe sua tia contar a novidade.
A voz dele parecia simpática, mas na verdade era um aviso para que
ela se calasse e Amanda obedeceu, ficando até mesmo sem graça. Imaginei
que ele agisse assim em suas reuniões de negócios e todos se curvavam à sua
vontade.
— Amanhã, a avó de vocês...
— Vovó Tereza – Cassy disse orgulhosa por saber o nome da avó.
— Amanhã a vovó Tereza – eu corrigi —, vai vir passar o dia com
vocês!
— Eba! – Oliver gritou de felicidade.
— Sério? – Amanda falou com desprezo.
— Não quer conhecer sua avó, Amanda? – Ryder a questionou.
— Parece que depois de tudo, todo mundo quer finalmente conhecer a
gente! – Ela falou numa amargura muito dura para uma criança da sua idade.
— É que antes não tinha jeito – eu expliquei. — Agora tem – reforcei.
— Papo idiota! – A menina reclamou.
— Já para o seu quarto! – Eu explodi e me ergui. — Não vou admitir
que fale mais assim comigo ou quem quer que seja! Você perdeu a sua mãe e
eu perdi a minha irmã e ela não vai voltar por causa da sua grosseria! – disse
com o dedo em riste. — Vá para o seu quarto e se pergunte se ela gostaria
que você agisse dessa forma idiota!
O silêncio pesado caiu sobre nós e ela ergueu o queixo em desafio.
— Dá meu celular! – Ela se ergueu e estendeu a mão.
— Sem celular! – avisei controlando a minha voz depois de estar
envergonhada do show que dei.
Não gosto de perder o controle. Aliás, sempre fui conhecida por não
ser impulsiva e até fria demais. Contudo, nas últimas semanas tudo virou de
cabeça para baixo e eu sequer pude chorar pela morte da minha irmã, estava
pensando em meus sobrinhos o tempo todo e o que eu recebia em troca? Uma
pré-adolescente rebelde e de língua ferina mal-agradecida.
Ela saiu da sala de jantar batendo o pé e foi para o quarto. Mas dessa
vez não fui atrás dela e cai sentada na cadeira. As crianças voltaram a comer
e eu fiquei ali parada, tentando controlar o bolo na garganta, com medo que
Ryder tirasse as crianças de mim vendo o quanto eu podia ser histérica com
uma adolescente que merecia apenas atenção e carinho e não uma tia
desequilibrada.
Victoria estava morta, ela não voltaria mais. Não poderia mais ajudá-
la a sair do buraco em que se enfiou e lhe dizer que sentia muito pelas
escolhas que ela fez. Que eu apenas queria que ela fosse feliz. Eu estava
muito ocupada cuidando da minha vida e trabalhando para notar que minha
irmã precisava de ajuda de verdade, de sair de um relacionamento abusivo
com um homem que iria matá-la. Não poderia mais abraçar minha irmã e
dizer sinto muito...
Sem conseguir me controlar mais, eu levei a mão ao rosto e comecei a
chorar. Não era para me desfazer daquele modo na frente de um estranho,
mas eu simplesmente não aguentava mais. Precisava de ajuda, e não sabia a
quem recorrer. Não vi que Ryder fez sinal para as crianças se retirarem.
Cassy pegou uma pizza e Oliver os copos e foram para a sala comer na frente
da TV.
Chorei toda a angústia que sentia, desde os maus tratos do meu pai,
pelo irmão que nunca mais encontrei e sequer sabia se estava vivo. Pelo
enterro da minha mãe que nunca fui por mágoa. Chorei por ser tratada como
uma puta no meu trabalho quando a única coisa que eu queria era provar meu
valor. Minhas lágrimas doíam pelo cansaço, por não conseguir uma babá
decente, nem com alto salário porque meus sobrinhos não queriam ajudar e
aprontavam todas a ponto de nenhuma profissional querer ficar na minha
casa. Eu precisava trabalhar, mas eles não entendiam isso.
Queria voltar a correr todas as manhãs, mas não queria ficar sem eles.
E a ideia de que Ryder pudesse entrar na justiça e lutar pela guarda deles me
aterrorizava porque meus sobrinhos era o que restava do amor que eu sentia
por Victoria. E eu devia isso a ela. Tenho certeza que ela me diria para cuidar
deles na sua ausência e ser uma boa mãe. Mas eu simplesmente não estava
conseguindo, tanto que perdi a cabeça e gritei como uma louca com Amanda,
quando a única coisa que ela precisava era compreensão.
Senti a mão quente em minhas costas sobre a camisa branca. Tinha
me esquecido que ele ainda estava ali. Mais um problema para enfrentar. Ele
era tão dono de si, tão seguro que deveria pensar que eu não servia para
cuidar dos meus sobrinhos. Respirei fundo e tirei a mão do rosto e enxuguei
as lágrimas. Ele me ofereceu o guardanapo de papel e agradeci num
murmúrio.
— Sinto muito – foi tudo o que consegui dizer.
— Não sinta, em seu lugar eu já os teria colocado para correr da
minha casa – ele falou sério.
Olhei para ele, perplexa.
— Como você, não nasci para formar uma família e sim para viver
viciado em trabalho – ele disse compreensivo.
— Sério? Não está pensando que sou uma louca que não serve para
cuidar deles? – Eu o questionei.
— Bem, eu a procurei com a intenção de provar que era uma louca
que não servia para cuidar deles – ele admitiu apoiando o braço sobre a mesa
e me encarando. — Mas acho que me surpreendi com o que vi essa noite.
Meu queixo caiu.
— Mas deu tudo errado – lamentei. — Desde a babá e toda essa briga
entre mim e Amanda.
— Posso estar errado, o que geralmente não acontece – ele meneou a
cabeça. — Mas tenho certeza que se eles estão aqui é porque você os ama, do
contrário, eles ainda estariam no orfanato em Utah.
Senti um alívio tão grande quando escutei aquelas palavras que quase
o abracei.
— Por favor, não tente tirá-los de mim – eu pedi sincera e uma
lágrima escorreu pelo meu rosto. — Foi tudo o que sobrou de Victoria. Da
minha família.
Ele assentiu lentamente e ficou pensativo, me olhando como se
tomasse uma grande decisão.
— Não vou fazer isso, tem a minha palavra – ele afirmou.
— Obrigada – agradeci. — Posso não ser a melhor tia do mundo, mas
não posso mais viver longe deles.
— Foi o que notei – ele admitiu.
— Em poucas horas? – Eu duvidei.
— Não é necessária uma vida toda para discernir o certo e o errado,
Valery – assegurei. — Se eu não estivesse interessado na vida dos meus
sobrinhos e como convive com eles, você não teria recebido um convite para
jantar, mas uma intimação para comparecer ao tribunal.
Nós nos encaramos e eu acreditei em suas palavras.
— Eu preciso ir – ele disse se levantando. — Tenho uma reunião em
Nova Iorque, mas minha mãe chegará com Daisy antes que você saia para o
trabalho.
Ele se ergueu e fiz o mesmo.
— Eu sequer sei o que dizer, talvez, um obrigada – falei sem graça.
— Está me devendo uma – ele piscou outra vez e foi para a sala se
despedir das crianças.
Aquele homem deixou minha casa meia hora depois. Ele conseguiu
tirar Amanda do quarto para se despedir, mas ela voltou assim que ele
colocou os pés fora da casa.
— Acha que ele vai voltar? – Cassy perguntou ansiosa.
Ele não disse nada sobre voltar, mas algo no olhar dele me fez
acreditar que sim.
— Não sei, querida. Mas espero que sim. – disse com sinceridade.
A chegada de Bradley Ryder foi o oposto do que eu esperava, foi uma
lufada de ajuda que eu tanto precisava.
Capítulo 8

Há tanta coisa que quero dizer e fazer que fico um pouco perdida
quando meu filho me liga e avisa que eu embarcaria naquela madrugada para
Chicago para ajudar a cuidar dos meus netos. Eu vi as gêmeas uma única vez
quando estive na casa de meu filho Arnold e sua esposa Victoria há treze
anos. Depois disso, meu filho me pediu que não voltasse mais por que sua
esposa se sentiu invadida quando limpei a casa para ela enquanto ela se
recuperava da cesariana que teve que fazer de última hora por causa de
complicações do parto.
A casa estava um caos, suja, havia bebida e comida espalhados por
toda a parte. A única coisa que fiz foi jogar tudo fora, lavar a cozinha, colocar
as vasilhas na lavadora velha, ajeitar as coisas. Sai para comprar comida,
afinal, minha nora precisaria se alimentar bem para amamentar as meninas,
comprei fraldas e roupas para os bebês que não tinham quase nada. E Bradley
me ajudou. Ficamos apenas três dias, Arnold pediu que partíssemos pois
estávamos ofendendo a mulher dele com tanto zelo.
Fiquei estarrecida com o excesso de orgulho de minha nora, e não me
segurei para dizer umas verdades. Admito que eu e Victoria discutimos e
depois meu filho pediu que não voltássemos ali.
Eu me controlei para não tirar as crianças das mãos daqueles dois
viciados. Mas me segurei, crianças pequenas dão trabalho e eu não estava
mais na idade de ser mãe, e avó apenas curtem os netos, não criam.
Victoria sequer me recebeu no quarto para que eu pudesse me
despedir. Ela mandou o marido dizer adeus. Era uma tola, precisava de ajuda
e não queria aceitar. Pobre e orgulhosa era o pior tipo de gente. Meu filho
estava desempregado, e era um viciado. E havia se casado com uma viciada
presunçosa..
Contudo, depois do nascimento das meninas, Victoria ficou limpa,
como Arnold me contou. Depois de dois meses se recuperando da cirurgia,
ela colocou as meninas na creche e conseguiu um emprego. Mas Arnold?
Infelizmente, meu filho caçula perdeu-se nas drogas. E não apenas heroína,
ele gostava de beber até cair e foi o seu fim, mesmo depois de várias
internações.
Victoria não queria que eu ou Bradley nos metêssemos em sua vida,
mas foi o dinheiro da minha família que a salvou muitas vezes de passar
fome nos momentos em que ficou desempregada por que Arnold ia drogado
até o seu trabalho e dava escândalos ou tinha ataques de ciúme sem motivo
algum. Uma única vez, liguei para ela, ofereci dinheiro para ela deixar
Arnold, para que ela pudesse cuidar das meninas e do pequeno Oliver longe
da loucura de meu filho. Mas ela gritou comigo e se ofendeu e disse que
ficaria com ele até a morte e não seria o meu dinheiro que iria separá-los.
Victoria era tão doente quanto meu filho. E tudo terminou de forma
trágica.
Fiz o que pude e sei que ela se ofendeu muitas vezes, mas eu conhecia
meu filho e sabia que ele nunca mudaria. Arnold sempre foi irresponsável,
desde pequeno, nunca respeitou a mim ou ao pai dele, nos agredia não apenas
com palavras, mas também chegou a bater uma vez no pai dele antes sair de
casa. Durante muito tempo me senti culpada por ele ser do jeito que era, me
perguntava onde havia errado, mas compreendi que demos a mesma
educação que demos a Bradley, e Arnold tinha todas as chances de ser feliz
como o irmão era. Mas ele queria vida fácil e meu marido não deu, então ele
se rebelou.
E agora estava prestes a entrar para o corredor da morte.
Meu coração de mãe se dilacerava, chorei desde o primeiro momento
em que soube da notícia. Mas não estava surpresa. E me convenci que devia
me dedicar a me aproximar dos meus netos. Bradley me pediu paciência e
conseguiu convencer a senhorita Lincoln de que eu poderia ser útil. Ainda
não sabia como, mas meu filho deixou claro que vias judiciais não era uma
opção.
Mas esses não eram os meus planos. Fingi acatar o pedido dele,
apenas para me aproximar da senhorita Lincoln. Algo me dizia que Valery
era como a irmã. Ela até podia ser vice-presidente de uma empresa, mas
estava em seu sangue a falta de caráter e educação. Uma porra louca de uma
orgulhosa, apostava que era. Porquê dessa vez eu estava disposta a tudo para
assegurar a segurança dos meus netos.
Eu e Daisy descemos no aeroporto de Chicago e um carro nos
aguardava. Daisy ajudou a criar meus filhos e era mais uma amiga do que a
governanta. Há muito tempo, ela apenas me ajudava a auxiliar os empregados
e me acompanhava em todas as minha viagens e atividades. Ela merecia por
ter me ajudado tanto.
Até mesmo ela me causava ciúme, quando Bradley a procurava para
conversar e não a mim. Mas não podia culpá-lo, Daisy o viu crescer enquanto
eu me mantinha firme em minha carreira como modelo e depois dona de uma
das agências de modelos mais importantes do mundo.
— Como acha que ela deve ser? – perguntei ansiosa enquanto o carro
deslizava pelas ruas de Chicago.
— Brad disse que ela e Victoria são irmãs gêmeas – ela comentou.
— É verdade, ele disse. Apenas espero que ela não seja tão orgulhosa
quanto a irmã foi – lamentei.
— Não vá ficar na defensiva – ela me aconselhou. — Dê sempre a
moça o benefício da dúvida. Sei que está magoada com tudo o que houve
com Arnold, mas Valery Lincoln não é Victoria.
Eu olhei para a mulher de cabelos grisalhos e sorriso bondoso a figura
perfeita da avó enquanto eu permanecia com meu porte impecável e elegante,
a Vogue me elegeu ano passado como uma das mulheres mais bem-sucedidas
e elegantes do mundo. Chegamos a casa em lugar respeitável e já me senti
aliviada por ser em um lugar bem localizado. Eu e Daisy batemos à porta e
uma linda jovem com aparência de executiva nos atendeu.
Ela olhou para mim e para Daisy e sorriu.
— Você deve ser Valery Lincoln – estendi a mão. — Sou Tereza
Ryder e essa é Daisy Robertson.
— Como vai? – Ela apertou minha mão e depois a mão de Daisy. —
Vamos entrar...
A casa era requintada. As crianças estavam sentadas no sofá e se
ergueram quando entramos. Para minha surpresa, o pequeno Oliver saiu
correndo e abraçou Daisy pela cintura.
— Estou tão feliz em conhecer você, vovó – ele falou com carinho.
Notei que tanto Daisy quanto Valery ficaram constrangidas.
— Queridos, essas são a vovó Tereza – ela me mostrou —, e esta é a
tia Daisy.
Oliver franziu o cenho e olhou para Tereza, revoltado.
— Você não parece uma avó – ele assegurou.
Daisy riu e Valery também. Pelo visto a única a ficar com o orgulho
ferido era eu.
— Sou uma vovó da moda – tentei consertar. — E estou muito feliz
de ver vocês.
— Eu sou a Amanda – Mandy se aproximou de mim com um largo
sorriso. — E eu adoro moda.
Gostei de ouvir aquilo. Era um bom sinal no caso de eu querer que as
crianças morassem comigo.
— E eu sou a Cassidy – a outra garota se apresentou.
— A última vez que as vi, vocês eram bebês – eu comentei.
— E por que não foi visitar a gente antes? – Amanda me questionou.
— Mandy! – Valery a reprovou.
— Oh, imagine! Não tem problema – eu garanti e me voltei para a
garota que tinha um futuro promissor no mundo da moda. Ela era como eu,
podia notar no brilho dos seus olhos que era diferente da mãe dela e queria
mais que uma vida no interior de Utah, isso era um bom sinal. — Não fui
porque sua mãe não deixou...
— Minha mãe não deixou? – Amanda perguntou chocada.
— Não – Tereza fez que não. — Sua mãe sabia ser uma megera
quando queria...
— Senhora Ryder, nós poderíamos conversar um instante? – Valery
perguntou.
— Claro – concordei.
— Daisy vai ficar com vocês enquanto falo com a vovó na cozinha –
Valery avisou e depois me indicou o caminho.
— Sua casa é muito agradável – eu elogiei me voltando para ela. —
Noto que usou uma decoradora para a compra e disposição dos móveis.
— Sim, obrigada – ela agradeceu e ficou séria. — Eu tive um
problema com a babá e por isso seu filho ofereceu uma ajuda.
— Ele me falou – fiquei contente por estarmos tendo aquela conversa.
— Fico feliz que queiram se aproximar das crianças, senhora Ryder.
— Pode me chamar apenas de Tereza – avisei.
— Tereza – ela repetiu meu nome. — Como eu estava dizendo, estou
realmente satisfeita que estejam se aproximando deles, ainda mais nesse
momento difícil. Eles precisam de todo amor e apoio, mas vou lhe pedir que
não fale sobre os problemas que teve com minha irmã ou com o seu filho, por
favor.
Fui pega de surpresa por sua colocação.
— O que você quer dizer?
— Que para ficar próxima a eles, não quero que fale coisas negativas
sobre Arnold ou Victoria – ela pontuou. — Já basta o que estão sofrendo, eles
não precisam de mais argumentos complicados para ter que lidar que digam
respeito aos pais.
Ergui uma sobrancelha e cruzei os braços:
— Mentir para eles não vai torná-los seres humanos melhores –
afirmei categórica. — Ou apagar os erros do passado.
— Enchê-los com problemas de adultos não vai ajudá-los a enfrentar
os problemas – ela respondeu. — Ou é isso ou vou ter que pedir que se retire.
Fiquei chocada com sua falta de educação em me mandar embora.
Tive vontade de pegar minhas coisas e partir para resolver tudo na justiça.
Mas me lembrei que havia outra forma de destruir um inimigo muito além
das palavras.
— Está bem – eu concordei.
— Ótimo – ela forçou um sorriso. — Acredito que dessa forma,
vamos nos dar muito bem. Eu preciso ir, tenho uma reunião agora cedo.
Eu a segui pela casa. Ela pegou o casaco e a valise, deu um beijo em
cada uma das crianças.
— Comportem-se, por favor. – ela pediu.
— Claro que eles vão se comportar, estão comigo – eu avisei dando
minha cartada final.
Ela pareceu segurar um riso e tal atitude me irritou profundamente.
Quem ela pensava que era para duvidar da minha capacidade de controlar
meus próprios netos?
— Está bem – Valery concordou e se foi.
— Bem – eu me voltei para eles —, o que querem fazer enquanto
Daisy vai prepara um delicioso café da manhã para todos nós?
Eles começaram a falar todos juntos. Quando dei por mim, eles
caminhavam em minha direção e arregalei os olhos antes de cair sentada no
sofá. Eu tentava falar, mas eles não deixavam. Daisy não se compadeceu da
minha dor e foi para a cozinha, enquanto eles falavam daquela forma sem me
deixar abrir a boca.
— Chega! – Eu em alterei e eles pararam. — Por que não falam um
de cada vez? Assim podemos entrar em um consenso.
— Eu falo primeiro! – Amanda gritou.
— Eu falo! – Cassidy a empurrou.
— Eu que vou falar! – Oliver empurrou as duas e segundos depois,
eles estavam brigando de novo.
E quanto mais eu tentava acalmá-los, mais eles gritavam. Por fim, eu
desisti e os deixei brigarem enquanto fui mudar o canal da TV. Oliver tirou o
controle da minha mão.
— Nós vamos assistir desenho – ele correu para o sofá e mudou de
canal.
— Eu quero o canal de moda! – Amanda arrancou o controle da mão
dele.
— Eu que quero...
E mais uma vez começaram a brigar. Tentei pedir que se acalmassem,
mas parecia impossível. Daisy surgiu na sala um tempo depois, vendo minha
expressão severa de uma mulher de negócios que não conseguia controlar três
crianças que brigavam por causa de tudo. Absolutamente tudo. Eles não
conseguiam conversar entre si sem gritar um com o outro. Era terrível.
— O café da manhã está pronto... – ela avisou e eles saíram correram
na frente.
E também brigaram por causa de lugar para sentar e para meu
desespero escolheram o lugar que eu deveria me sentar. E também o de
Daisy. Foi o momento de paz naquela última hora desde que eu havia
chegado. Eles comeram em silêncio sem dar um pio.
— Com licença, eu vou fazer minha live – Amanda disse saindo da
mesa.
— Eu vou ler o livro – Cassy levantou correndo.
— Vou assistir meu desenho, vovó – Oliver disse meigo e saiu da
sala.
— Céus! Eles não têm educação! – reclamei para Daisy. — A mãe
não lhes deu educação e a tia parece também ser muito relapsa!
— Ela avisou que não seria fácil – Daisy me advertiu. — Esqueceu
que nenhuma babá parou aqui?
— Eles não têm que ser educados por babás e sim por mim! – bati a
mão contra o meu peito. — Vou ligar para Ryder imediatamente e dizer a ele
que quero a guarda dessas crianças!
Tudo o que vi foi a desculpa perfeita que eu precisava para colocar
meu plano em prática. Contudo, tentei me levantar da cadeira e não consegui.
Fiz força novamente e não me ergui. Olhei para mim e notei que eu estava
colada à cadeira. Daisy tentou se erguer, mas também estava colada.
— Eles nos colaram na cadeira! – Eu entrei em pânico desesperada
enquanto Daisy começou a rir.
Definitivamente, essas crianças não tinha um pingo de educação.
Colaram a própria avó na cadeira! Monstrinhos!
Capítulo 9

— Sua mãe na linha dois, senhor Ryder – Melany me avisou ao abrir


a porta da sala de reuniões.
Não era sequer a hora do almoço e ela já estava me ligando?
— Peça apara ela ligar depois...
— Ela disse que é urgente – minha secretária foi incisiva.
Quando isso acontecia era porque minha mãe estava histérica e
Melany não sabia mais o que fazer para se desculpar porque eu estava em
uma reunião importante com clientes chineses. Eu me desculpei em
mandarim e fui para a sala adjacente atender.
— O que foi, mãe?
Ela estava realmente histérica e gritou que as crianças eram selvagens
e a haviam colado à cadeira e Daisy também. Que elas tiveram que arrastar a
cadeira até a cozinha e encontrar uma tesoura para cortar as roupas já que as
crianças se recusavam a ajudá-las. Enquanto Daisy ria da situação, minha
mãe foi mais longe. Eu também estava rindo quando ela disse:
— Eles não têm educação, Brad! – Ela gritava. — Acabo de ligar para
o conselho tutelar de Chicago e eles estão vindo para cá verificar a situação
das crianças!
Meu riso desapareceu.
— Você não fez isso! É apenas arte de crianças, mãe! Não há
necessidade de chamar as autoridades! – explodi sabendo que tal atitude
acarretaria problemas para Valery.
— Claro que fiz! – Ela disse orgulhosa de seu feito. — E assim que
recolherem as crianças, meu advogado vai acionar a justiça e pedir a guarda
provisória.
Meu sangue ferveu. Naquele momento, eu me lembrei porque Arnold
não a quis mais em sua casa, porque meu pai se divorciou dela e eu não a
visitava mais. Minha mãe sempre acreditava ter razão e não se importava
com a opinião de ninguém. Pensei que a perda de Arnold quebraria seu
coração ao meio e a faria mais humana, mas me enganei. Aliás, ela me
enganou direitinho, porque acreditei em sua conversa de não querer
prejudicar as crianças.
— Não pode separá-los de Valery! – Eu esbravejei —, ela é o único
elo que eles têm com a mãe!
— Uma péssima mãe e um terrível elo que nada os ajuda! – Ela
justificou. — Eu não ia ligar para você, mas Daisy ameaçou ir embora se eu
não o fizesse.
— Pelo menos alguém tem bom senso nessa casa! – andei de um lado
para o outro e passei a mão pelos cabelos. — Cancele a ligação para o
conselho tutelar. Estou indo para Chicago e resolveremos isso da melhor
forma.
— Você tentou resolver e não deu certo! – Ela não quis saber de
conversa. — Vou fazer do meu jeito agora. Esperei quatro semanas para ser
tratada como uma louca por meus netos. Eles agem como animais e temo que
se tornarão irracionais se eu não fizer algo por eles!
— Merda, mãe! – esbravejei. — Prometi a Valery que não tiraria as
crianças dela!
— Prometeu porque é um idiota! – Ela falou brava. — Até mesmo a
pequena Amanda me contou que ela é uma péssima tia e a maltrata o tempo
todo, sequer a deixa mexer no celular, disse que vive de castigo e que raciona
comida!
Fechei os olhos por um instante e entendi porque Valery havia gritado
com Amanda na noite anterior. Eu teria feito o mesmo naquele momento. A
rebeldia dela a colocaria em maus lençóis. O pior era que Chicago ficava a
duas horas de voo e quando eu chegasse lá seria tarde demais, o circo estaria
montado e Valery estaria em pânico.
— Mãe, não faça nada até eu chegar! – pedi. — Estou indo para
Chicago!
— Não perca seu tempo. Assim que o conselho tirar as crianças da
casa, vou levá-las para Nova Iorque comigo, onde terão a educação certa!
— Mãe! – Eu a reprovei.
— Nos vemos em Nova Iorque, querido – ela disse com sua vingança
exacerbada e desligou.
— Merda! Merda!
Eu queria matar a minha mãe naquele momento por ser tão víbora.
Precisava pensar rápido e agir antes que tudo ficasse pior. Respirei fundo e
liguei para Steve.
— Ainda estou em Utah – ele me informou.
— Você tem algum conhecido de confiança que possa me ajudar? –
Eu perguntei.
— Tenho um escritório com quem mantenho contato, mas o que eles
poderão fazer, Ryder? – Ele perguntou tenso. — Um advogado não pode
parar o Conselho Tutelar se eles decidirem levar as crianças.
Mas havia algo que podia.
— Ligue para esse seu amigo diga para ir para o endereço como meu
representante e avaliar como as coisas vão ser feitas. Infelizmente, não
consigo chegar em Chicago em menos de duas horas. Se não mais.
— O que vai fazer?
— Minha mãe vai me odiar, Steve – eu avisei. — Mas é a única
maneira de pará-la!
— O que? – Ele perguntou curioso.
Três horas depois eu parava o carro diante da delegacia central de
Chicago. O advogado que Steve havia contatado estava me esperando e se
aproximou de mim ao me ver entrar.
— Senhor Ryder – ele apertou minha mão. — William Jones.
— Como vai, William?
— Bem. – Ele respondeu. — Mas quem não está muito satisfeita é a
sua mãe.
— Acredito que não. – assegurei.
— Eu acompanhei tudo desde que cheguei à casa da senhorita Lincoln
depois de pegá-la na empresa como o senhor me pediu – ele começou a
contar. — Quando chegamos à casa dela, a polícia estava levando sua mãe
presa. A senhorita Lincoln ainda tentou ajudá-la, mas sua mãe ameaçou tirar
as crianças dela. Daí expliquei para ela o que estava realmente acontecendo.
— Imagino que o conselho tutelar já estava presente – cogitei.
— Sim e sua sobrinha Amanda não ajudou muito. Ela disse que sofria
maus tratos e eles infelizmente levaram as crianças.
Era exatamente isso que eu não queria. Amanda estava tendo sua
lição e Valery deveria estar arrasada. Não foi para isso que permiti que minha
mãe a ajudasse. Que merda!
— E onde estão todos?
— As crianças foram levadas para o abrigo, a sua mãe continua presa
por causa da sua queixa de sequestro e a senhorita Lincoln também foi presa
– ele contou.
— O que? O que ela fez?
— Ela perdeu a cabeça e agrediu um dos agentes do conselho que
tentavam levar Oliver à força. O menino gritou o nome dela e ela foi para
cima do agente – ele explicou.
— Já conseguiu que ela fosse solta?
— Sim, o habeas corpus acabou de chegar.
Apesar de toda a confusão, saber que Valery sairia da cadeia era um
alívio.
— Então primeiro vamos falar com a minha mãe – eu ponderei. — E
então soltamos a senhorita Lincoln.
— Como quiser.
Jones me levou diante do delegado que permitiu que eu falasse com
minha mãe antes que eu retirasse a queixa e ela pudesse deixar a cidade. Ela
foi trazida para uma sala reservada e me fitou com lágrimas nos olhos antes
de tirarem suas algemas.
— Nunca fui tão humilhada em toda a minha vida! – Ela disse se
sentando com elegância.
— Tenho certeza que foi bastante humilhada quando fez aqueles
filmes pornôs no começo da sua carreira – eu a fiz lembrar.
— Como ousa falar assim com a sua mãe? – Ela perguntou ofendida.
— Minhas palavras foram menos traumáticas do que sofri quando
meus amigos de escola mostraram o seu vídeo para mim – parei diante dela e
a encarei. — Tem noção do que fez tirando as crianças de Valery?
— Fiz o que era melhor para eles!
— Eles estão em um abrigo novamente! – Eu explodi. — Sabe o que
eles viveram em um abrigo quando a mãe morreu?
— Mãe! – Ela disse com desprezo... — Aquela mulher era...
— Não misture os seus problemas com Victoria e as crianças! – Eu a
cortei. — Eles não têm que odiar a mãe porque você a desprezava! – disse
com o dedo em riste.
Ela se calou.
— Agora, eles vão passar a noite em um lugar sem amor! – Eu
esbravejei — e por qual motivo, senhora Ryder?
— É melhor uma noite em um abrigo do que dentro daquela casa com
aquela tia que com certeza é pior que a mãe deles!
— Não posso acreditar que estou ouvindo isso! – falei perplexo –,
isso não é uma guerra entre você e Victoria, não é uma disputa! Ela está
morta, mãe! Morta! Seu filho mimado e estúpido a matou e ele vai para o
corredor da morte pagar pelo que fez! Seus netos nunca mais vão falar com
ele! O que mais vai tirar deles, mãe?
Ela se manteve indiferente.
— Está muito errada dessa vez! E a minha vontade é de deixá-la aqui
por alguns dias para que pense com clareza e entenda que separá-los de
Valery apenas vai traumatizá-los mais.
— Não foi o que Amanda disse...
— Amanda é como você! – acusei —, fútil e mimada! E se alguém
não a orientar agora, ela vai ser outro Arnold em nossa família!
— Você está cego, não enxerga o que realmente está acontecendo
dentro daquela casa! Há quanto tempo conhece aquela mulher? Um dia? E
está do lado dela e contra a sua mãe?
— Não preciso conhecer Valery uma vida toda para saber que ela ama
os sobrinhos – defendi.
Minha mãe ergueu uma sobrancelha.
— Vocês transaram?
— O que?
— Só um sexo bem feito pode deixar um homem tão cego! – Ela
justificou —, deve ser uma vagabunda como a irmã era!
Não pensei que poderia piorar, mas minha mãe conseguiu. Não havia
diálogo quando a senhora Ryder colocava algo na cabeça.
— Pelo visto conversar com você não vai adiantar de nada – falei
irritado.
— Não mesmo! – Ela ergueu o corpo com desafio. — E se você não
retirar a queixa, meu advogado vai garantir que eu saia daqui até amanhã de
manhã!
Ela me levou ao limite.
— Que seja então! – falei e dei as costas.
— Você não vai deixar que eu passe a noite em uma cadeia, vai? –
Ela praticamente gritou ao se levantar.
— Converse com seu advogado, você tentou tirar crianças da casa
delas sem autorização do responsável e isso é sequestro! – disse o óbvio.
— Bradley Ryder! – Ela se aproximou com o dedo em riste.
Abri a porta e disse ao policial.
— Nós já terminamos aqui! – avisei e parti sem olhar para trás.
Ouvi alguns gritos da minha mãe. Ela me odiaria por algum tempo, o
que não mudaria em nada nossa relação. Agora eu precisava enfrentar outra
fera e poderia imaginar que Valery estivesse furiosa comigo. Mas minha
maior preocupação eram as crianças passando a noite longe dela e daquilo
que chamavam de lar. Pensei em Oliver e meu coração se despedaçou ao
imaginar a tristeza dele. Encontrei Jones na recepção da delegacia.
— Eles vão trazê-la – ele me avisou.
— Obrigado por segurar um pouco.
— Vai tirar a queixa contra sua mãe?
— Não hoje, deixe-a pensar um pouco sobre o que fez, além disso, ela
tem advogados para fazê-lo – falei friamente. — Preciso que tire meus
sobrinhos daquele abrigo ainda hoje. – exigi.
— Meu sócio, Antony está cuidado disso, senhor Ryder. Mas preciso
lhe dizer que será algo temporário, e se sua mãe entrar na justiça poderá
trazer problemas para a senhorita Lincoln. Infelizmente, ela não é casada,
passa o dia todo trabalhando e sua mãe vai usar isso a favor dela. E há um
pequeno detalhe.
— Qual detalhe?
— A senhorita Lincoln já foi presa por porte de entorpecentes quando
tinha dezessete anos em Faust Valley – ele me relatou. — Steve me deixou a
par disso, ele conseguiu descobrir esse processo arquivado esta manhã. E se
ele descobriu, os advogados de sua mãe também vão descobrir e ela vai
perder a guarda deles. E sua mãe tem o benefício de ser uma mulher influente
na sociedade. E agora a senhorita Lincoln responderá um processo por
agressão, ou seja, não está muito bom para ela.
Era muita informação para um único dia.
— Tire as crianças daquele abrigo, suborne se for necessário – disse
determinado. — O restante resolveremos com o tempo.
— Sim, senhor.
Apertamos a mão e ele se foi. Quando olhei para o lado, vi o policial
abrir a porta para Valery. Ela massageava os pulsos que até agora deveriam
estar presos por algemas. Não poderia sentir muito porque tenho certeza que
não era a pior experiência da vida dela, já que havia sido presa uma vez por
carregar drogas. Perguntei se realmente eu não estava comprando a briga do
lado errado e minha mãe estava certa.
Ela me viu e seu olhar se carregou de ódio e raiva. Valery ia passar
direto, quando e interceptei.
— Solte-me! – Ela mandou se livrando das minhas mãos.
Ela olhou ao redor ao notar que todos nos observavam e saiu da
delegacia. Tenho certeza que ela queria me dar um soco bem no meio do
olho, mas não teve coragem de fazer uma cena na frente de tantos policiais.
— Valery espere! – Eu pedi descendo as escadas atrás dela.
— Já não mentiu o suficiente? – Ela perguntou por cima do ombro.
— Ouça-me! – pedi.
Ela parou ao pé da escada e esperou por mim.
— Não precisa mentir mais, senhor Ryder! A máscara caiu! Não
necessita mais fazer o jogo de bom tio, sua mãe deixou claro como agem!
— Não agi com ela! – Eu a segurei pelos ombros num ato
desesperado. — Fui eu que o enviei o advogado que a acompanhou!
Ela se afastou de mim.
— Ele me disse, mas como vou acreditar que não é um jogo para tirar
as crianças de mim? – perguntou magoada. — Ontem, eu abri meu coração
de verdade e pensei que estivesse sendo sincero, mas não estava! Olhe tudo
ao seu redor – ela gesticulou —, virou de cabeça para baixo por suas mentiras
e o conselho os levou de mim! Por favor, fique longe, daqui por diante
resolveremos tudo na justiça!
E saiu correndo entrando no primeiro táxi que surgiu.
Capítulo 10

Aquilo tudo era um grande pesadelo. Primeiro sou arrancada da


empresa por William Jones durante uma importante reunião sob a desculpa
que meus sobrinhos estavam sendo sequestrados. Jamais ouvira falar dele e a
única coisa que me disse foi que Bradley Ryder o enviara.
E quando cheguei à porta da minha casa a confusão estava formada. O
carro do Conselho Tutelar de um lado, a polícia do outro, me senti dentro do
olho do furacão. Sequer gostava de lembrar como tudo aconteceu, e de como
agredi a mulher que levava Oliver à força. O olhar de vitória da senhora
Ryder e de Amanda quando me seguraram para me impedir de bater mais no
agente que levava meus sobrinhos. Mas quando minha sobrinha se deu conta
do que fizera, era tarde demais. Mesmo ela dizendo que tudo era uma
brincadeira, foi obrigada a entrar no carro do conselho tutelar e foi levada.
Eu chorei furiosa quando a policial me algemou e me levou presa. Por
sorte não no mesmo carro que Tereza Ryder ou eu teria matado aquela
mulher por ter traído a minha confiança daquele modo junto de seu filho vil e
sem escrúpulos. E pensar que acreditei em cada palavra que ele disse na noite
anterior sobre não tirar as crianças de mim. Não queria ver aquele homem
nem pintado de ouro na minha frente.
Duas horas trancada em uma cela sem celular e quando consegui sair,
o filho do demônio traidor estava do lado de fora esperando por mim, era
muito cara de pau dele. Tive que me segurar para não esbofetear aquele rosto
arrogante. Como pude ser tão idiota? Estava tão desesperada por ajuda que
abri a porta da minha casa para um porco traidor do pior tipo.
— Infelizmente, não posso fazer muito, as declarações de Amanda
pioraram a situação – Lance me disse com pesar. — Tentei de todas as
formas tirá-los do abrigo, mas o juiz os manterá lá até que a senhora Ryder
entre com o pedido de guarda, ou até mesmo o próprio senhor Ryder. Seu
processo de adoção foi suspenso até que sejam verificadas as alegações de
sua sobrinha.
Não podia acreditar que minha sobrinha fora tão longe. Ela disse
mentiras terríveis sobre eu esconder comida e mantê-los trancados dentro do
quarto de castigo sem água. Que eu os obrigava a conviver com babás que os
torturavam.
— Não posso acreditar que ela fez isso – digo me levantando e
andando de um lado para o outro no escritório.
— Ela está rebelde pelo que houve, tenho certeza que não fez por mal,
Valery! – Ela ponderou —, além disso, tenho certeza que está arrependida.
Eu os vi antes de deixar o abrigo e, Amanda estava com cara de quem
chorou.
— Aquela avó maldita! – parei diante da janela e cruzei os braços
balançando a cabeça em negativa. — Eles fizeram tudo de caso pensado,
Lance! – lamentei. — Não sei porque baixei a guarda e o levei para dentro da
minha casa, juro que pensei que ele tivesse boas intenções!
Eu, a leoa dos negócios, fui enganada. Infelizmente, Ryder foi
esperto, notou minha fraqueza, o quanto eu estava vulnerável e usou contra
mim.
— Nunca vou me perdoar por ter sido tão idiota! – falei com pesar. —
Eles foram espertos, notaram que Amanda era a parte mais fraca e a usaram
para tirá-los de mim!
— Essas pessoas são terríveis, Val – ela falou com sinceridade. — Sei
que fez de coração e pensando nas crianças, mas se esse homem tivesse
algum escrúpulo, ele teria usado de meios judiciais. Mas ele jogou baixo,
armou para que você se passasse pela tia louca e irresponsável. E temo que
ele use seu passado para condená-la ainda mais.
Fechei os olhos por um instante e me lembrei do pior dia da minha
vida.
Eu tinha dezessete anos, e meu irmão Cam já havia sumido há muito
tempo e restava apenas eu e Victoria sobre aquele teto maldito. Meu pai
estava mais viciado do que nunca e fazia tráfico para sustentar o próprio vício
e, minha mãe, apaixonada e cega como era, o ajudava em tudo. Então a
polícia bateu em nossa casa. Foi horrível aqueles homens entrando, revirando
tudo, mostrando o mandato de busca e apreensão. Meu coração batia
descompassado, e eu e Victoria ficamos dentro do nosso quarto, apenas
olhando eles destruírem tudo, rasgando colchões, mandando meus pais
calarem a boca e se deitarem no chão. Então um dos policiais abriu meu
guarda roupa e pegou minha mochila. E dentro dela havia um pacote cheio de
papelotes de droga.
— De quem é essa mochila? – Ele perguntou nervoso.
Eu tremia da cabeça aos pés e comecei a chorar.
— É dela – Victoria apontou para mim.
Não que eu fosse mentir que era de outra pessoa, mas ver minha irmã
apontando para mim quando nós duas sabíamos de quem era aquela droga
cortou meu coração. Ela me apontou como se eu fosse a dona daquela merda
e não o meu pai. Engoli em seco e lembro das minhas pernas fraquejarem
antes de cair no chão e levar a mão ao rosto chorando.
Os policiais fizeram uma ligação: havia uma menor em posse da
droga. Eles me perguntavam de quem era aquilo e eu não conseguia
responder, apenas chorava. Fui levada para uma instituição de menores. A
única coisa que eu fazia era chorar. Eles me ameaçavam, diziam para dizer o
nome do traficante a quem eu servia, mas não havia nada a dizer. Eles me
deixaram sem comida por dias porque acreditavam que se me debilitassem,
eu daria nomes, mas nunca disse nada, porque simplesmente eu não sabia.
Fiquei doente e fui parar na enfermaria desidratada. Foi quando recebi
a visita da minha mãe. Pensei que ela estivesse preocupada comigo, mas a
única coisa que ouvi foi:
— Seu pai disse que se abrir o bico, ele vai te dar uma surra até te
deixar aleijada – ela avisou.
Eu me senti tão sozinha. Queria apenas um abraço de mãe, que ela me
dissesse que ficaria tudo bem. Mas na minha família bem-estar não era uma
palavra que fazia parte do nosso vocabulário, muito menos amor e respeito.
Naquele dia, eu compreendi porque Cam fugiu e que eu teria que fazer a
mesma coisa se quisesse sobreviver. Então, eu contei para o agente o que
estava acontecendo, toda a verdade e pedi ajuda. Na verdade, eu implorei por
apoio e ele prometeu me tirar dessa. Eles fizeram um acordo comigo, se eu
depusesse contra o meu pai, eles tirariam a queixa contra mim.
Céus! Eu tinha apenas dezessete anos e tinha que lutar pela minha
vida. Caso eu não ficasse presa ao assumir tudo, meu pai me mataria quando
eu saísse. Então fiz o acordo e na minha cabeça eu somente tinha que fugir.
No dia que saí do reformatório, meu pai soube que eu o havia delatado. A
polícia foi atrás dele e ele fugiu e começou a me caçar. Mal sabia que eu
estava em um ônibus para Salt Lake City onde ficaria sob a proteção da
justiça até o julgamento.
Então, ele morreu no acidente de carro. Minha mãe nunca me
perdoou. O caso foi arquivado e eu parti para bem longe para ter minha
própria vida.
E durante mais de uma década toda essa história ficou escondida no
meu passado sob a capa da poderosa profissional que me tornei, a vice-
presidente da Jackson Corporation e futura CEO. E então veio a morte de
Victoria e meu passado veio me assombrar e os Ryder trariam toda essa
merda à tona apenas para provar que eu não era digna de criar meus
sobrinhos com amor.
Olhei para Lance.
— Vou falar com o detetive que cuidou do meu caso na época – voltei
para perto da mesa. — Ele pode depor ao meu favor e explicar que aquela
droga não era minha.
— Faça isso – ela concordou — Eles ainda não entraram com o
pedido de guarda, mas quando acontecer devemos estar preparadas para tudo.
— Não vou desistir dos meus sobrinhos! – falei determinada —, eles
podem ter usado da minha boa fé e me assustado, mas não vou deixar que os
tirem de mim, não ficarei quieta! Do mesmo modo que eles podem levantar
sombras do meu passado, também posso colocar um detetive sobre eles.
Talvez o argumento que eles nunca se interessaram pelas crianças e porque
iriam querer agora?
— É um bom caminho – Lance concordou.
— Talvez, Lance, possamos dizer que fazem isso com medo de ter
que dividir comigo a herança das crianças por parte de Arnold, e não por
amor, agem de má fé! – eu pensei me sentindo mais determinada.
— Não havia pensado nisso! – Lance cogitou interessada.
— Pense! Eles nunca se interessaram em se aproximar e agora que
Arnold vai ser condenado, querem as crianças? Eu, ao contrário, sempre
estive perto, tanto que eles me reconheceram quando cheguei no abrigo,
sabiam quem eu era. Isso deve valer alguma coisa – discursei voltando a me
sentar.
— Sim, vou procurar uma brecha na lei, podemos usar desse
argumento. – Ela concordou fazendo anotações.
— Vou contratar um detetive para descobrir sobre o passado de
Ryder, ele não é perfeito, deve ter algo que o desabone, tanto quanto aquela
mãe megera! – xinguei. —Notei que ela seria um problema, mas não pensei
que fossem tão ruins. Ele me prometeu que não tiraria as crianças de mim!
Até agora eu não compreendia porque havia acreditado nele. Talvez
somente estivesse cansada e desejosa de que alguém me ajudasse com as
crianças e podia jurar que Ryder foi sincero. Não conformava de ter-me
enganado tanto com ele. Como pode ser tão falso? Minha carência falou mais
alto e não enxerguei a verdade estampada na minha cara: ele somente queria
me tirar as crianças.
— Não conformo de eles passarem a noite naquele abrigo – comentei
angustiada — Não há nada que eu possa fazer?
— Infelizmente, nada, Valery. Como eu disse, eles vão investigar as
acusações de Amanda – ela repetiu.
Eu queria quebrar o pescoço da minha sobrinha. Esperava que ao ficar
sozinha naquele lugar frio, ela ao menos colocasse a mão na consciência e se
arrependesse. Talvez ao ver a avó rica e poderosa, ela imaginou que teria
tudo de bandeja e o que sempre desejou. Contudo, eu tinha certeza que
Tereza Ryder não poderia dar o amor que eu podia. Aquela mulher era uma
ameixa seca, insensível e má! Não era à toa que Arnold se tornara um
monstro egoísta e mal. Ele teve em quem se inspirar.
— Não consigo sequer voltar para a empresa hoje – disse com pesar.
E havia uma reunião importante com os clientes de Los Angeles.
Estávamos em meio a uma transação importante e por causa da minha saída
às pressas, Jackson mandou aquele idiota do Richard terminar as negociações
quando eu já havia feito tudo. Mais uma vez, o aproveitador levaria a melhor
sobre o meu trabalho.
— Vá para casa, tome um banho e tente descansar – Lance me
aconselhou. — Daqui para frente serão dias difíceis e tensos.
E eu não duvidava.
— Vou tentar. Amanhã é sábado e será um dia horrível para ficar em
casa sem a presença deles – eu disse com carinho.
Nós nos despedimos e eu voltei para a minha casa no táxi. Meu carro
ficara na empresa com toda aquela confusão, daria um jeito de buscar no dia
seguinte. Entrei na casa vazia e o silêncio era ensurdecedor. Nunca pensei
que sentiria falta deles daquela forma, de Oliver indo atrás de mim por toda
parte, de Amanda fazendo seus selfies e vídeos e Cassy lendo em frente à TV
e se eu mudasse de canal, ela reclamava porque estava lendo e prestando
atenção no programa ao mesmo tempo. Sentei no sofá e olhei ao redor, o caos
que havia se tornado minha perfeita casa e me senti mais sozinha do que
nunca. Apesar de toda a loucura que as crianças causaram na minha vida, elas
também trouxeram um novo sentido para a família que eu perdi e sempre quis
ter. Não queria chorar ou sofrer, mas era inevitável, estava inconformada com
o que os Ryder haviam feito.
Tomei um banho e vesti meu pijama. Não conseguia comer. Tentei
assistir TV enquanto lia alguns documentos do trabalho, mas não conseguia
me concentrar em nada. A todo o momento eu me recordava da cena de
Oliver gritando que não queria ir. Meu menino lindo e amoroso. Eu apenas
queria abraçá-lo e dizer que ficaria tudo bem.
Meu celular tocou, olhei no visor, era Lance. Meu coração bateu
apressado com medo de más notícias.
— Lance? – perguntei ansiosa.
— Oi, Valery – ela disse no momento em que minha campainha
tocou.
— Não tenho boas notícias – ela avisou.
Eu sabia. Meu coração se encolheu enquanto eu caminhava para a
porta. A campainha não parava de tocar. Quem seria aquela hora para
infernizar a minha vida? Talvez fosse melhor não atender e fingir que não
estava em casa.
— Ryder conseguiu a guarda provisória das crianças – ela deu a
facada.
— Como? – Eu quase deixei o celular cair e minhas mãos começaram
a tremer.
— Não faço ideia, mas o juiz de plantão liberou as crianças para ele...
A campainha seguiu tocando sem parar e fiquei nervosa.
— Um minuto, Lance – pedi irritada e abri a porta.
Meu coração falhou uma vez. Diante dos meus olhos estavam as
crianças e o maldito Bradley Ryder.
Capítulo 11

Quando Jones me ligou dizendo que conseguira a liberação das


crianças naquela noite, eu sabia que havia uma única coisa a fazer: levá-los
para casa onde se sentiriam seguros. Eu não teria descansado até conseguir o
que queria, e Jones teve que usar do meu nome e sua influência no meio
jurídico para conseguir que eles não passassem a noite ali. Uma troca de
favores com dinheiro rolando de uma conta para outra de forma inevitável.
Era isso ou eles passariam o fim de semana presos naquele lugar e minha mãe
teria tempo para sair da cadeia e entrar com o pedido da guarda.
Eu os peguei no abrigo. Oliver pulou no meu pescoço e Cassy
abraçou minha cintura, mas a rebelde Amanda ficou distante, mesmo que em
seu semblante houvesse um peso enorme de arrependimento e o choro fosse
evidente. Tenho certeza que minha mãe a influenciou a dizer tudo aquilo
contra Valery, mas não lhe contou quais seriam as consequências e que não
era simplesmente mudar de casa.
— O senhor pretende levá-los para Nova Iorque? – A assistente social
de plantão quis saber.
— Não, ficaremos em Chicago, estou hospedado na casa da senhorita
Lincoln. – expliquei.
— Senhor Ryder – ela começou a falar —, a senhorita Lincoln será
investigada sobre os maus tratos e não recomendamos que deixe as crianças
com ela.
Controlei para não mandar aquela mulher à merda.
— Tudo o que foi dito por minha sobrinha foi influenciado por minha
mãe que sempre agiu de má fé contra a família Lincoln. Tanto que se
verificar, Victoria Ryder nunca permitiu que ela se aproximasse dos netos –
eu falei muito sério. — Minha mãe fará qualquer coisa para desabonar a
senhorita Lincoln e eu não sou a favor disso.
A mulher ficou surpresa.
— Minha mãe está presa por sequestro, ela tentou levá-los à força
usando o conselho tutelar para isso – eu expliquei a meu favor. — E não
pretendo tirar a queixa, ela usou de má fé contra a senhorita Lincoln, que lhe
confiou a responsabilidade das crianças por algumas horas.
A conversa se estendeu por um longo tempo até que a mulher
compreendesse as más intenções de minha mãe. E prometeu fazer uma visita
no dia seguinte à casa da senhorita Lincoln onde supostamente eu estaria
hospedado. Depois, eles trouxeram as crianças para mim e em um primeiro
momento entramos no carro em silêncio. Oliver sentado ao meu lado na
frente e as gêmeas atrás.
— Espero que o que aconteceu tenha servido de lição – eu quebrei o
silêncio.
— A vovó não é legal – Oliver reclamou.
— Eu sinto muito por ela – disse sincero. — Pensei que ela ajudaria,
mas acabou atrapalhando.
— Eu achei ela legal – Amanda disse com os braços cruzados
olhando para fora da janela.
Eu a fitei pelo retrovisor.
— Nesse momento ela está presa, se quiser posso levá-la para passar a
noite com ela na cadeia – avisei ríspido.
— Ela gosta de mim! – Amanda a defendeu.
— Tanto que a colocou em maus lençóis e a induziu a mentir – eu a
confrontei. — Sua tia foi presa por causa disso, tem ideia do que fez?
Ela não respondeu, apenas estreitou o olhar e comprimiu os lábios.
— Se minha mãe fosse tão legal como pensa, sua mãe teria deixado
que ela os visitasse, mas nunca deixou – eu tive que usar de palavras duras.
— Por enquanto, eu tenho a guarda provisória e vão ficar comigo onde quer
que eu queira. E vamos voltar para a casa da tia Valery.
Amanda bufou.
— E você mocinha, vai ficar sem celular por um bom tempo até se
arrepender do que fez! – Eu avisei por cima do ombro. — E sequer precisa
dizer que não sou seu pai, porque é o que pretendo ser daqui para frente,
goste ou não.
Ela não respondeu. Sabia que estava encrencada.
— A sua sorte é que sou um homem impaciente, porque você merecia
uma cintada pelo que fez – eu disse.
Ela arregalou os olhos azuis e me encarou pelo retrovisor.
— Você não teria coragem de me bater.
Não, eu não teria, mas ela não precisava saber disso.
— Minta de novo para prejudicar alguém e vai conhecer a força do
meu cinto! – ameacei.
Ela bufou de novo e seus lábios tremeram de raiva. Amanda me fazia
lembrar muito a Arnold, rebelde, sempre contra a verdade, inventando um
próprio mundo com suas próprias regras que o agradassem e não o
frustrassem e isso era muito perigoso. Eu precisaria de ajuda de um psicólogo
para enfrentar tudo isso e ajudar minha sobrinha, porque eu não tinha a
mínima paciência.
— Sua avó vai oferecer tudo o que você quiser para prejudicar sua tia
– falei enquanto dirigia pelas ruas de Chicago. — E vai usar você porque ela
descobriu o quanto é boba.
— Eu não sou boba!
— Claro que é! – Eu insisti. — Ela te prometeu o que para você
mentir sobre a sua tia?
— Ela prometeu um Iphone novo – Cassy a delatou.
Arregalei os olhos, incrédulo.
— Mentiu em troca de um celular? Depois de tudo o que sua tia fez?
– Eu a questionei, indignado e bati a mão contra o volante.
— É um Iphone! – Ela justificou. — Sabe quando tia Valery me daria
um desses? Nunca! Ela não acredita que adolescentes tem que ter celular!
— A partir de agora concordo com ela completamente... O que
significava que vai ficar o dobro de tempo sem o seu celular!
— Não pode fazer isso! – Ela protestou.
— Como eu disse, vou adotá-los e serei o pai de vocês e, pode
apostar, não sou bonzinho igual sua tia é!
Ela resmungou antes de começar a chorar de raiva. O pior era saber
que no fundo ela não estava completamente arrependida do que fizera. Esse
comportamento de Amanda me assustava.
Parei o carro diante da casa e descemos num pesado silêncio. Oliver
me deu a mão de um lado e Cassy do outro. Amanda viu a cena e revirou os
olhos antes de seguir na frente e começar a apertar a campainha sem parar.
— Pensei que estivesse ansiosa para fugir da sua tia – eu disse para
provocá-la.
Ela parou de apertar a campainha e cruzou os braços olhando para a
frente. A porta foi aberta por uma Valery de pijamas de cetim e olhos
inchados. Ela deixou o celular cair no chão enquanto os olhos azuis se
arregalavam antes dela se ajoelhar e estender os braços para receber Oliver e
Cassy que correram para os seus braços. Amanda entrou passando direto sem
sequer olhar para a tia e sumiu no corredor, com certeza, foi para o refúgio do
seu quarto.
Fiquei parado à porta enquanto ela beijava e abraçava as crianças em
um alívio tão intenso que me atingiu. E o mais importante, meus sobrinhos
estavam felizes acima de tudo. Ela enxugou as lágrimas e se ergueu antes de
olhar para mim. Pegou o celular do chão e disse:
— Está tudo bem, Lance. São as crianças que chegaram aqui em casa,
depois falo com você... – ela desligou e se voltou para os outros dois. — Por
que não sobem para o quarto de vocês e tomam um banho? Estão com fome?
Eles assentiram depressa.
— Vou preparar algo para a gente comer – ela prometeu.
— Vai ficar aqui, tio Brad? – Oliver voltou-se para mim.
Não podia simplesmente deixá-los ali e partir. Agora, eu era detentor
da guarda deles e havia muito o que decidir e conversar com a senhorita
Lincoln. Da noite para o dia meus sobrinhos passaram a ser prioridade na
minha vida sem que eu pudesse evitar. Aliás, eu possuía uma necessidade em
vê-los bem que nunca achei que fosse possível em tão pouco tempo. O que?
Vinte quatro horas. Foi naquele momento que tive consciência que o sangue
falava mais alto e o amor não tinha medida e sequer tempo.
— Eu vou – respondi.
Valery não me olhou, ela apenas sorriu para as crianças que se
afastaram sorrindo inseguras. Eu tomei a liberdade de entrar e fechar a porta
enquanto eles sumiam no corredor. Valery cruzou os braços e me encarou
com cara de poucos amigos.
— O que está fazendo aqui? – Ela perguntou brava. — Minha
advogada acabou de ligar dizendo que pediu a guarda deles!
— É verdade! – admiti impassível.
Ela colocou o dedo em riste.
— Você prometeu ontem à noite que não os tiraria de mim! – Ela me
acusou e com razão.
No lugar dela, eu também estaria me sentindo enganada.
— A situação saiu do meu controle – tentei justificar. — Mas estou
tentando consertar as coisas e gostaria de conversar com você sobre isso...
— E por que eu o ouviria? – Ela me questionou. — Não acha que eu
seria tão idiota, não é?
— Você não tem escolha, estou com a guarda temporária – falei o
óbvio.
Os olhos dela brilharam de ódio. Nesse momento recordei de
Victoria, eu a vi uma única vez quando as meninas nasceram. Ela e meu
irmão eram jovens demais e estavam brincando de ser pais enquanto se
drogavam. E as irmãs se pareciam, Valery e Victoria eram realmente
idênticas, e um dia minha cunhada me olhou daquela forma com
ressentimento, odiando a mim e a minha família.
Nunca entendi direito o motivo da raiva dela, sempre pensei que fosse
porque éramos ricos e arrogantes e ela se sentia ofendida com a nossa
presença. Mas desde que Arnold fora capaz de esfaquear a própria esposa, eu
já tinha dúvidas sobre toda a história que vi e ouvi. Teria que desfazer todo
aquele quebra cabeça e recomeçar a montá-lo.
Nunca imaginei que meu irmão seria capaz de matar alguém, bem
como sempre vi minha cunhada como uma megera. E depois do que
aconteceu com Victoria e sua morte abrupta, esperava encontrar uma Valery
desmiolada e acreditei na boa intenção de minha mãe em se aproximar dos
netos devagar. E tudo virou do avesso. Valery era uma mulher amorosa e
carregada de bom senso. E minha mãe foi a porraloca da história.
— Vou preparar algo para eles comerem – ela falou séria. —
Podemos conversar enquanto isso.
Ela não queria conversar comigo, era nítido. Mas como eu disse, não
havia qualquer alternativa para ela. Fomos para a cozinha, me sentei no banco
e apoiei os cotovelos no balcão. Eu a vi abrir a geladeira e tirar a comida
congelada e colocar no micro-ondas e então parar diante de mim e dizer.
— O que tem para me falar? – Ela abraçou o próprio corpo.
Defensiva. Eu precisava fazê-la confiar em mim de alguma forma.
Não estava ali para prejudicar ninguém. Mas como reconquistar o que fora
quebrado? Na cabeça dela eu era o inimigo.
— Ontem à noite, quando fomos jantar, eu tinha intenção de tirar as
crianças de você – admiti —, e não escondi essa verdade!
— Seja direto – ela pediu, prática.
— Eu mudei de ideia porque não era nada do que eu esperava: você
ou a situação em que meus sobrinhos estavam. – falei sério.
— Mas não é o que parece... você trouxe sua mãe para essa casa e
veja o que ela fez!
— Não imaginei que minha mãe fosse agir assim – admiti. — Não
vou jurar, eu a conheço, sei que ela pode ser uma víbora quando quer. Mas
acreditei que ela estivesse disposta a se aproximar de você e das crianças de
uma maneira saudável.
Ela ergueu uma sobrancelha.
— Quer que eu acredite que tudo não passou de uma grande
coincidência? – Ela me questionou incrédula.
— Sejamos francos, Valery, porque eu teria mandado o advogado no
seu trabalho para buscá-la se tivesse agindo nas suas costas? Por que eu
chamaria a polícia e acusaria minha mãe de sequestro? Por que eu traria as
crianças para sua casa se a minha intenção fosse tirá-los de você nesse
momento?
Ela ficou tensa e moveu o peso do corpo de uma perna para a outra.
Somente então notei que o pijama era sexy pela forma como o decote se
moveu junto exibindo o vale dos seios. Não estava ali para achá-la atraente,
mas foi inevitável. As alças finas do tecido roçavam a pele que parecia ser
macia e ela passou os cabelos para trás da orelha. Mesmo com o rosto
inchado de tanto chorar, aquela mulher era um charme.
Afastei os pensamentos depravados e me foquei no que ela sentia.
— Eu não sei – ela respondeu sincera. — Apenas entendi que desde
que chegou virou minha vida de cabeça para baixo e não está sendo nada
agradável.
— Eu sei – concordei. — Mas não foi essa minha intenção depois do
que vi nessa casa. Você gosta deles de verdade e eles gostam de você. Teve
mais contato com eles todos esses anos do que eu e eles confiam em você!
Eles a amam! Quando vi isso tive certeza que não poderia tirá-los daqui.
— Mas, e a sua mãe?
— Ela está presa, sei que os advogados dela vão tirá-la e ela vai lutar
com unhas e dentes para conseguir a guarda das crianças...
— Santo Deus! – Ela fez que não com a cabeça. — Eu não entendo
que tipo de jogo estão fazendo...
— Não estou jogando – garanti. — Eu quero o bem das crianças e
quando tenho certeza de algo, nada me demove do que acredito.
Eu fiquei de pé e me aproximei dela. Valery parecia pequena e
vulnerável naquele momento.
— Vou lutar com unhas e dentes por eles. Seja contra você ou sua
mãe – ela me avisou. — Não vou abrir mão deles, Ryder! Pode apostar!
— Não vai precisar lutar contra mim, eu vou ficar do seu lado...
Ela abriu a boca para falar, mas a voz não saiu.
— Não entendo o que você quer... – Valery gaguejou.
— Eu quero ser o pai que eles nunca tiveram – eu a encarei sem
qualquer resquício de dúvida. — E quero que você seja a mãe que eles
precisam.
E antes que ela dissesse qualquer coisa, eu completei:
— Quero me casar com você, Valery e formar uma família.
Capítulo 12

Eu jamais ouvi um absurdo tão grande. Aquele homem deveria estar


delirando ou coisa parecida. Casamento? O que ele pensava? Que era algum
produto que se vendia em uma loja e comprava pronto?
— Você é louco? – perguntei e dei um passo para trás.
Aquele homem estava perto demais e dizendo coisas sem sentido. De
repente, eu estava me sentindo sufocada, a cozinha parecia pequena e eu
queria fugir.
— Você me ouviu bem. Somos pessoas práticas e fazemos parte do
mundo dos negócios. Você quer as crianças e eu também. Eles amam você e
gostam de mim – ele encolheu os ombros largos. — Vejo bastante sentido
nisso...
Eu me afastei e fui para o outro lado do balcão em um gesto de defesa
que mostrava para ele ficar bem longe de mim. Precisava respirar.
— Nunca ouvi tamanho absurdo! Jamais pensei que diria tamanha
bobagem! – fiquei indignada. — É um pensamento primitivo e sem qualquer
sentido!
— Eu vejo todo sentido – falou determinado. — Além disso, minha
mãe quer as crianças e vai jogar baixo para consegui-los! Ela é capaz de
coisas inimagináveis, pode apostar! Ela acabou com o meu pai durante o
divórcio e depois com o segundo marido. Ela não sabe perder...
— Notei esse traço na personalidade dela! – ironizei. — Você não
pode chegar na minha casa e virar minha vida do avesso e ainda me fazer
uma proposta dessa! – Eu disse indignada.
— E por que não? – Ele perguntou como se fosse a coisa mais óbvia
do mundo.
— Nunca almejei me casar! – justifiquei.
— Mais um motivo para aceitar – argumentou. — Não teremos
problemas em encarar o casamento como um negócio.
— Não! – Eu fiz que não com a cabeça e comecei a andar de um lado
para o outro.
— Sim – ele insistiu e me encarou apoiando as grandes mãos em cima
do balcão. — O quanto você quer ficar com eles?
— Mais do que qualquer outra coisa – admiti.
— Então porque não podemos unir o útil ao agradável?
— Porque eu não confio em você e não assinaria um pacto com o
diabo! – desabafei. — Não há confiança entre nós ou qualquer relação sadia.
Além disso, casamento é algo sério. Você tem sua vida, eu a minha –
gesticulei de um para o outro. — Pare para pensar, não há sentido!
— Está pensando envolvida com suas emoções e a frustração do que
houve hoje! – Ele seguiu com sua teoria maluca de casamento. — Seja
racional e pense friamente, se nos casarmos, formaremos uma família e aos
olhos da lei é o que nossos sobrinhos precisam! Ninguém vai tirá-los de nós!
Ele tinha razão quanto a isso, mas não fazia o menor sentindo para
mim me unir a um homem que eu mal conhecia e sequer confiava.
— Depois do que houve hoje, não acredito que tenhamos como dar
um passo tão sério...
— O que você tem em mente? – Ele me questionou —, que eu pegue
meus sobrinhos agora e vá para Nova Iorque? Com a vida que você tem, não
terá tempo para vê-los e essa briga judicial pode se arrastar por meses, quem
sabe anos...
E eu tinha que focar na conquista da conta para galgar meu cargo da
Jackson Corporation. Uma briga judicial daquela escala por meus sobrinhos,
sem poder vê-los todos os dias ou quem sabe quando depois das acusações de
Amanda, poderiam atrapalhar todo meu foco e objetivo. Mesmo assim, eu
não conseguia acolher aquela história como se fosse algo normal e aceitável.
— Não faz sentido... nós mal nos conhecemos! – continuei presa
aquele argumento.
— Quantas pessoas você conhece que se conheciam há anos, casaram
por amor e terminaram mal? Victoria e Arnold é um exemplo!
Eu me irritei com aquele detalhe. Minha irmã não era um exemplo de
relacionamento sadio e estava morta.
— Além de ser um exemplo baixo – eu disse com o dedo em riste —,
a história entre dois viciados nunca acabaria bem!
— Pensei que sua irmã estivesse limpa... – ele comentou.
— E estava! Mas o que a destruiu foi esse amor doentio! – falei triste.
— Ela possuía uma obsessão por Arnold que nunca consegui compreender!
Nós nos encaramos. Notei que ele não sabia de tudo. Da mesma
forma que para mim a relação doentia entre Victoria e Arnold foi vista por
intensos fragmentos de brigas e situações constrangedoras, para Ryder era da
mesma forma e talvez pior. Victoria nunca foi um bom exemplo de nada.
— Não podemos tomar uma decisão como essa sob pressão –
justifiquei.
— Então me diga o que devemos fazer? – Ele quis saber. — Dê-me
uma opção para sair disso sem que façamos uma guerra.
Não sabia o que responder e nenhuma ideia plausível surgia. A
senhorita eloquente estava sem fala.
— Eu o odeio por ter me colocado nessa situação! – confessei. —
Estava tudo certo até você chegar...
— Na verdade, estava tudo bem perdido quando cheguei – eu a fiz
lembrar. — Eles precisam de um lar, Valery e nós dois podemos dar.
Queremos isso.
— Jogo baixo jogar na minha cara a dificuldade de lidar com as
crianças! Além disso, por que eu me casaria com um estranho em quem
sequer confio? – retruquei.
— Pois bem, se o seu problema é confiança e você precisa de
certezas, façamos um contrato. – Ele propôs.
— Contrato? – Eu não poderia ficar mais perplexa do que já estava.
Fiquei curiosa para saber o que ele queria dizer com a palavra contrato.
— Confiança exige tempo e precisamos dele. Então eu proponho um
ano. Trezentos e sessenta e cinco dias para que possamos provar um ao outro
que somos de confiança e podemos ter um casamento sólido para criar bem
nossos sobrinhos...
Poderia ficar pior, pensei com pesar.
— E depois disso?
— Se em um ano não conseguirmos conviver bem e entra em um
consenso, brigaremos na justiça por eles. É o que os casais divorciados fazem
– ele meneou a cabeça. — Além disso, no ano seguinte, Cassy e Amanda
podem escolher com quem querem morar, será perfeito! Eles também terão
um ano para decidir com quem gostariam de viver, nada mais justo!
— O problema é esse, veja o que você e sua mãe fizeram! Quem me
garante que não está agindo de má fé de novo?
Ele perdeu a paciência
— Ou você é surda ou se faz de louca! Não ouviu nada do que eu
disse?
Havia escutado palavra por palavra, mas parecia tão inverossímil e
absurda que parecia difícil de acreditar.
— Eu ouvi muito bem, Ryder! O que você não consegue entender é
que não vou aceitar sua proposta queira ou não porque não gosto de você e
não confio de forma alguma depois do que aconteceu!
— Não está pensando com coerência! – Ele insistiu. — Vou lhe dar
algumas horas para pensar sobre o assunto.
— Horas? – perguntei perplexa.
— Eu disse à assistente social que ficaria em sua casa hospedado e ela
virá amanhã conversar conosco! – Ele me avisou e me deu as costas seguindo
para fora da cozinha atendendo ao celular.
Eu ia perguntar que novidade maluca era aquela, mas o micro-ondas
apitou e tive que me afastar para arrumar a refeição das crianças. Não
demorou e Oliver e Cassidy desceram para jantar, preparei tudo e eles
comeram ávidos. Provavelmente estavam sem comer desde aquela manhã.
Ryder havia desaparecido, mas eu podia ouvir sua grave voz vindo da sala,
ele estava no celular.
Era estranho ter aquele homem à vontade em minha casa, como se
fosse dono do mundo. Ele era importante, afinal, conseguiu a guarda das
crianças em horas, o que era para demorar em dias, então, ele tinha
influência. Eu me senti num beco sem saída. Apesar de bem-sucedida, um
excelente salário, uma vida correta e digna, nada disso era suficiente para
manter meus sobrinhos comigo tendo a poderosa e fluente família Ryder no
meu encalço. Estava sofrendo com tudo aquilo e depois de um dia exaustivo
era difícil pensar, mas me casar com aquele homem era a solução?
Nunca fui romântica e meus relacionamentos sempre foram
passageiros. Jamais namorei de verdade, além de Clyde Masterson antes de
eu fugir de Faust Valley. Minha vida sempre foi em torno do trabalho e
aventuras sexuais para aliviar a tensão quando meu corpo gritava para aliviar
o desejo e diversas vezes recorri a companhia de garotos de programa. Nunca
me senti culpada, para uma mulher comprometida com o trabalho, eles eram
sempre a melhor solução. Estava conformada que eu seria a tia solteirona e
rica que visitaria os sobrinhos no natal com seu carro importado para levar
presentes caros ou lhes daria uma viagem para Disney quando completassem
quinze anos.
Nunca fui maternal ou sonhava em ter filhos. Meu sonho era ser a
CEO da Jackson Corporation. Respirei fundo enquanto observava as crianças
e a única coisa que eu tinha certeza era que eu não queria que eles partissem.
Nunca mais.
— Terminem aí – eu disse a eles. — Vou falar com Amanda.
— Podemos assistir TV? – Oliver quis saber.
— Pode – eu deixei. — Mas logo vai dar a hora de dormir.
Eles assentiram obedientes. Passei pela sala e vi Ryder ainda no
celular. Ele havia tirado o paletó e usava um colete sobre a camisa branca.
Ele me fitou e nos encaramos por um breve instante e senti um arrepio pelo
corpo não apenas por tudo que ele dissera, mas pela determinação estampada
em seu rosto de que ele venceria de qualquer forma. E ele tinha a guarda das
crianças e não parecia disposto a abrir mão disso, e se fosse pensar friamente,
como ele pedira, eu havia perdido a guerra mesmo antes dela começar.
Eu me virei e fui para o quarto de Amanda. Bati na porta e a abri, ela
estava com o som alto sentada na cama lendo uma revista de moda. Ela me
olhou e voltou a atenção para a revista. Era difícil lidar com ela, sua rebeldia
era agressiva, ela queria me ferir como se eu tivesse culpa pela morte de
Victoria e por ela estar naquela situação. Aproximei do aparelho de som e o
desliguei. Ela e Cassidy ocupavam o mesmo quarto. Sentei na cama e respirei
fundo para dizer:
— Podemos conversar? – perguntei.
— Vai adiantar se eu disser não? – Ela continuou folheando a revista
com raiva agora.
— Eu gostaria de conversar e resolver tudo entre nós – respondi.
— Pode xingar, eu não ligo! – Ela encolheu os ombros sem deixar de
olhar para a revista.
Tirei a revista da mão dela. Ela me fitou irritada e cruzou os braços.
— Ás vezes tenho a impressão que você me odeia – eu disse a ela.
— É fácil odiar você! – Ela disse sincera. — Você quer ser minha
mãe e eu não vou aceitar!
Amanda não facilitava nada. Eu teria que ter paciência.
— Não quero ser sua mãe, Amanda, eu só quero cuidar de você e dos
seus irmãos agora que sua mãe se foi – eu expliquei. — Se eu não fizer, quem
vai fazer?
— Meu tio? Minha avó?
Eu sabia que ela diria isso.
— Sua avó – eu repeti. — Ela quer que morem com ela.
— E eu quero ir! – ela falou irritada. — Ela é muito rica, estilosa e
bonita! Ela tem uma agência de modelos e é o que eu quero para mim e não
viver aqui!
— Para quem até um mês atrás morava em Faust Valley e levava uma
vida medíocre, não acha que está exigindo demais?
— O ponto é esse e nem minha mãe ou você entendem! – Ela
esbravejou gesticulando — eu não quero mais ter uma vida simples, eu quero
mais e minha avó pode me dar tudo isso! Ela prometeu!
— Prometeu? – Eu franzi o cenho não compreendendo.
— Sim, ela disse que se eu for morar com ela em Nova Iorque, ela vai
me dar tudo o que eu quiser! – Ela disse como se fosse uma vitória.
E Tereza Ryder criaria um monstro. Outro como Arnold.
— Ter tudo não significa ser feliz, Mandy. Você é muito jovem para
entender ou saber o que quer!
— Eu tenho treze anos! – Ela apontou para si mesma. — E se eu
quero morar com a minha avó, e eu vou!
Implacável, teimosa e irredutível. Nunca pensei que teria que lidar
com uma pré-adolescente tão irritadiça.
— No que depender de mim, isso não vai acontecer!
— Então vou fazer da sua vida um inferno! – Ela me ameaçou.
— Que seja! – Eu me ergui. — Vim aqui para a gente se entender,
mas vejo que não tem como conversar. Você não quer perceber o quanto essa
situação é difícil para mim...
— O que pode ser difícil para você? Sou eu que tenho que aguentar
suas regras ridículas e tio Ryder me deixou de castigo sem o celular por causa
das coisas que disse! E tudo é sua culpa! – Ela começou a gritar. — Se você
não existisse, eu estaria morando com a minha avó! Era você que tinha que
ter morrido e não a minha mãe!
Eu me controlei para não lhe dar um safanão. Não enxergava aquilo
como uma ofensa verdadeira, mas um grito desesperado de uma adolescente
que não sabia lidar com a situação e estava cega pelo mundo deslumbrante
que Teresa Ryder lhe apontou. Infelizmente, Mandy não tinha maturidade
para lidar com tudo isso e eu a protegeria de si mesma.
— Concordo com o castigo que Ryder impôs – limitei a dizer. — E
vai dobrar o tempo a partir de agora! – avisei e dei as costas saindo do quarto
e fechando a porta.
Ouvi algo se chocar contra a porta. Amanda estava fora de si, era
difícil lidar com a situação tanto para mim quanto para ela. Mas eu não a
deixaria me vencer, era apenas uma criança e eu a adulta que precisava ser
madura. Eu já havia gritado e não resolveu. Respirei fundo e desci para
enfrentar a fera que me esperava lá embaixo com aquela proposta ridícula de
casamento.
Capítulo 13

Quando Oliver e Cassy vieram para a sala assistir TV, eu desliguei o


celular e me sentei junto com eles. Estavam exaustos depois do estresse que
viveram. Estava falando com Steve ao telefone, falando sobre a decisão
repentina que tomei de me casar com Valery e dar uma família de verdade
para meus sobrinhos. Tenho que admitir que até eu mesmo me surpreendia
com minha decisão, mas fazia todo o sentido: ela queria as crianças e eu
também. Ela tinha afeição por eles e eu também. Valery era uma pessoa
idônea e eu também e, então, por que não?
Pessoas que namoravam por anos não conseguiam sustentar um
relacionamento, então porque não tentar? Afinal, nosso interesse era
puramente longe de expectativas românticas, como um negócio a ser fechado.
Seriamos uma empresa e nós dois sabíamos administrar uma muito bem.
Tinha certeza que poderíamos levar aquela história adiante e impedir minha
mãe de conseguir a guarda das crianças.
Definitivamente, Tereza Ryder não foi uma boa mãe. Caso Daisy
fosse minha mãe, eu não hesitaria em permitir que ficasse com as crianças,
mas minha mãe era uma pessoa fria e distante, egoísta e egocêntrica, ela
destruiria as crianças e Amanda seria um verdadeiro monstro sem limites.
Valery surgiu na sala com os braços cruzados. O clima estava tenso
entre nós depois da proposta que fiz. A recusa dela em aceitar o pedido de
casamento apenas provou que ela não era uma interesseira, do contrário, ela
teria pulado ávida sobre mim. A ofensa dela foi um regozijo por saber que
sua dignidade não tinha preço e ela refutava qualquer atitude impensada e
impulsiva. Mas eu sentia que ela poderia pensar sobre o assunto. De alguma
forma.
— Eu acho que está na hora de vocês irem para a cama – Valery disse
se sentando no braço do outro sofá.
Olhei para ela friamente. Valery era uma mulher bonita, atraente e
bem-sucedida. Nós nos daríamos bem casados, afinal, éramos parecidos,
então por que não?
— Acabei de ligar a TV – Oliver reclamou.
— É que eu e o seu tio precisamos conversar – ela ponderou.
— Não podem conversar no seu quarto? – Ele perguntou inocente.
Um sorriso surgiu nos meus lábios de forma inevitável e sei que
Valery também teve vontade de rir, mas ela segurou.
— Eu e seu tio não nos conhecemos o suficiente para ele entrar no
meu quarto – ela explicou.
— Vocês não são amigos? – O menino inquiriu nos constrangendo
mais.
— Não, exatamente...- Valery ficou com o rosto vermelho.
— E o que vocês são? – Oliver prosseguiu curioso. — Namorados?
— Não! – Valery se apressou a responder. — Somos seus tios!
— Vocês podiam se casar, então! – Oliver aconselhou e Valery
arregalou os olhos, mais constrangida.
Olhei para ela e fiz uma cara de que tudo era bem óbvio e apenas ela
lutava contra a ideia.
— Assim, ninguém mais levaria a gente embora! – Cassy resolveu se
intrometer.
Valery se levantou:
— Ainda sou a favor de irem para a cama dormir – ela cortou a
conversa. — Deem boa noite para o seu tio e subam!
Eles reclamaram, mas obedeceram. Oliver se levantou e me abraçou
por um longo tempo antes de ir. Cassy fez a mesma coisa e subiu.
— Como está nossa garota rebelde? – Eu perguntei me referindo a
Amanda.
— Rebelde! Disse que quer morar com sua mãe e que ao lado dela
terá uma vida maravilhosa – sua voz soou indignada.
— Amanda está vendo a aparência maravilhosa da minha mãe –
argumentei. — Ela não tem maturidade para compreender a máquina
destruidora que Tereza Ryder pode ser.
— E mesmo assim, sabendo de tudo isso e sendo filho dela, você a
deixou se aproximar das crianças – ela me acusou e se sentou no sofá,
cansada.
— Ela me jurou que não tinha intenção de atrapalhar – eu me
justifiquei. — Ela teria feito quando Victoria morreu, mas a convenci de dar
um tempo a você e ela concordou. Pensei que não tivesse intenção de ficar
com as crianças.
— Juro que quero acreditar em você! – Ela passou as mãos pelos
cabelos num gesto de ansiedade. — Mas depois do que aconteceu hoje parece
impossível!
Eu apoiei os cotovelos nos meus joelhos e a encarei:
— Não a culpo, Valery, em seu lugar eu estaria muito bravo – admiti
—, mas me dê o benefício da dúvida.
— Por que eu acho que por trás de sua bondade toda há uma má
intenção?
— Porque está acostumada a lidar com homens ruins e que não
prestam. Pensa o mesmo de mim, que estou aqui para tirar vantagem e não
estou. Não preciso de você, Valery. Se eu quiser sair por aquela porta com as
crianças e me certificar que nunca mais vai vê-las, faria isso sem pestanejar...
— E por que não faz?
— Porque as crianças a amam e precisam da sua presença...
Minhas palavras a atingiram, vi a forma como moveu o rosto para o
lado e seus lábios se estremeceram. Apesar de tudo, ela sabia que minha
proposta não era tão maluca, havia algum sentindo nela. Era a melhor atitude
a se tomar.
— Não posso lhe dar uma resposta agora – foi tudo o que ela disse.
Quase gemi de satisfação.
— Isso significa que vai pensar sobre o assunto – conclui.
— Algumas coisas que falou fazem sentido – ela concordou. —
Amanda vai sustentar o que disse contra mim, ela quer morar com sua mãe. E
se estivermos casados e com você ao meu lado, ninguém poderá tirar as
crianças de perto de mim.
Era exatamente isso.
— Nunca tive os planos de me casar, mas também me unir a um
estranho não era um outro caminho a se tomar. – Ela argumentou.
— Como eu disse, podemos fazer o contrato de um ano,
estipularemos um prazo e assim se não der certo, nos separamos.
— Mas não acha que um divórcio seria traumático para as crianças? E
com quem eles ficariam depois? Tudo isso vai mexer com eles mais do que
imagina. – Valery me questionou.
— Também pensei sobre isso – eu voltei a recostar no sofá. — E
podemos ser amigos e ter uma relação boa, passo a maior parte do tempo
viajando, eles ficariam com você de qualquer forma. Mas preciso tentar fazer
parte da vida deles. Sinto que preciso.
Ela mordeu o lábio inferior e suspirou.
— Preciso pensar, conversar com a minha advogada...
— Faça isso agora, e como eu disse, a conselheira tutelar virá aqui
amanhã...
Ela cruzou os braços e as longas pernas envolvidas pela calça de
cetim do pijama.
— Você me deixou falando sozinha na cozinha e não me explicou
direito esse assunto.
— Tive que arranjar uma desculpa para trazer as crianças para cá,
então disse que estava hospedado aqui e tudo o que aconteceu não passou de
uma artimanha de minha mãe para sequestrá-los – ergui as mãos —, afinal,
ela segue presa.
— Não tirou a queixa? – Ela perguntou chocada.
— Não. Ela tem bons advogados, amanhã de manhã, eles conseguirão
um habeas corpus depois de pagar uma fiança milionária. E a queixa poderá
ser usada contra ela no futuro, até mesmo para ser impedida de visitar as
crianças.
Ela pareceu gostar da informação porque um meio sorriso se formou
no rosto bonito.
— Isso me agrada. – Ela afirmou. — Mas tenho uma pergunta a fazer.
— Está fazendo isso para proteger a herança de seu irmão?
— Herança? – Eu perguntei sem entender.
— Sim, afinal, seu irmão provavelmente será condenado à morte e as
crianças herdarão a parte dele na herança de sua família – ela comentou como
se fosse uma coisa óbvia.
Não gostei da menção do meu irmão no corredor da morte, contudo,
era uma verdade que eu precisaria enfrentar mais cedo ou mais tarde.
— Meu irmão foi deserdado, Valery – contei a ela. — Antes de
morrer, meu pai deixou um testamento, tudo ficou para mim. Arnold não
herdou um centavo, absolutamente nada.
O queixo dela caiu.
— Pelo visto, a minha família não é a única a ter problemas – ela
observou surpresa.
— Pode acreditar que não – garanti. — Minha mãe se divorciou do
meu pai e levou metade de tudo o que ele tinha e não foi pouco. E depois
depenou o segundo marido. Meu pai somente pensava em dinheiro e trabalho
e só gostava de mim porque eu continuei no ramo dos negócios que ele
queria...
— Mesmo? – Ela perguntou sem poder acreditar.
— Sim. Do contrário, eu também teria sido deserdado. Mas os
motivos dele com Arnold foram bem mais sérios. Antes de expulsá-lo de
casa, Arnold deu uma surra em meu pai e o velho nunca o perdoou por
tamanha afronta.
— Complicado – ela se limitou a dizer.
— Bastante. Então responde a sua pergunta: não tenho interesse
escuso em ter meus sobrinhos comigo.
— Não sei se fico feliz ou triste – ela comentou.
— Deveria ficar feliz...
— Mas fico triste porque saber que gosta deles de verdade e os quer
porque não tem interesse escuso, o que torna uma briga judicial incoerente –
ela encolheu os ombros. — Ambos estaríamos lutando pelo mesmo motivo:
para dar uma vida melhor a eles.
Esse lado humano dela era impressionante. Fiquei me perguntando
como ela fazia para escondê-lo em meio ao trabalho que fazia. Porque tenho
certeza que ela não podia baixar a guarda com tanta facilidade no meio em
que vivia. Mas senti que quando o assunto eram as crianças, ela não pensava
direito. Era um turbilhão de emoções que eram difíceis de lidar, afinal, era a
família dela e a minha também.
— Quero que pense com bastante frieza no pedido que lhe fiz – pedi.
— Deixe de lado as emoções e verá que um casamento por contrato na
perspectiva de nos conhecermos melhor e nos darmos bem no prazo de um
ano será ótimo.
— Isso significa que temos um ano para nos apaixonar?
A pergunta dela me pegou de surpresa. Eu não havia pensado em
paixão. Pensei em sexo, amizade, mas paixão pareceu algo que poderíamos
deixar do lado de fora. Mas vendo ela falar daquele jeito agradável, pareceu
tentador.
— Nós temos um ano para nos envolvermos – concordei.
— Não consigo imaginar nós dois como um casal – ela falou como se
sentisse aversão à ideia.
Fiquei ofendido. Geralmente as mulheres gostavam da minha
companhia, brigavam por atenção. Soou desconfortável que ela desfizesse da
minha capacidade de seduzi-la.
— E por que não? – perguntei curioso.
— Ora, somos incompatíveis – ela assegurou. — O oposto um do
outro.
— E como pode ter certeza disso?
— Eu jamais me interessei por homens de terno e gravata.
Agora foi meu queixo que caiu.
— Como assim? Pensei que trabalhasse com eles...
— Talvez seja por isso que nunca me interessei – ela meneou a
cabeça pensativa. — São arrogantes, chatos, dominadores, machistas. Prefiro
alguém de carne e osso, sem traumas do passado e que não queira me
diminuir como mulher, nem mesmo na cama.
Cruzei os braços interessado em suas palavras.
— Então, não sai com engravatados?
— Não – ela respondeu.
— Nenhuma vez? Uma escorregada? – gesticulei com as mãos.
— Nadinha – ela garantiu. — E juro que vou ficar surpresa se for
diferente do que penso que é.
Ela se ergueu.
— Preciso de um café, você quer?
— Sim – respondi e fui atrás dela.
Entramos na cozinha novamente e ela ligou a cafeteira e se voltou
para mim.
— Mas pode ficar tranquilo, vou baixar minha guarda e tentar gostar
de você... Caso eu aceite sua proposta.
— Isso quer dizer que está propensa a aceitar meu pedido – deduzi.
— Não sei ainda...
— Não sei é melhor do que um não – ponderei.
— Não quero dar um passo sem analisar todos os prós e contras. Você
mesmo disse que nossa união é como fechar um negócio e costumo analisar
bem os negócios que faço – ela pegou duas xícaras no armário e nos serviu.
Peguei a xícara e tomei do café antes de dizer.
— Eu tenho uma carta na manga – contei sabendo que era um risco.
Mas um homem como eu adora correr riscos.
— O que? – Ela perguntou se sentando no banco e apoiando no
balcão para me encarar.
— Conheço Dorian Maison e sei que está na corrida para o cargo de
CEO e precisa fechar um negócio com ele – falei e os olhos dela brilharam
diante das minhas palavras. — Aceite ser minha esposa por um ano e consigo
esse contrato para você.
Estava nítido que ela ficou tentada e muito. Mas o orgulho ainda a
impedia de aceitar com facilidade.
— Pelo visto fez o dever de casa completo – ela falou friamente
tomando do café.
— Pode me culpar?
— Não. – Ela ficou me olhando por alguns segundos. — Quero muito
ser a CEO da Jackson Corporation, mas posso fazer isso sozinha.
— Não pode quando Albert Jackson não tem intenção de colocá-la
como CEO – eu revelei.
Ela ergueu uma sobrancelha:
— Do que está falando?
— Acha mesmo que seu chefe machista colocaria uma mulher à
frente de sua empresa? – Eu a questionei. — Ele vai colocar Richard.
— Como sabe disso? – Ela estreitou o olhar. Senti que a levei ao
limite ao dizer a verdade.
— Sei que é duro ouvir tais palavras, mas você também sabe que
Albert está arranjando desculpas demais para não a colocar na presidência
quando já poderia ter feito.
— Você está blefando...
Eu deixei a xícara em cima do balcão e apoiei os cotovelos sobre ele
para aproximar meu rosto do dela. Não sei porque fiz isso, mas desde que ela
falara que seria impossível se apaixonar por mim, eu sentia uma vontade
súbita de provar o contrário.
— A prima de Richard, Lisa é casada com o filho de Maison – contei
dando a última cartada. — Albert jogou sujo. Ele deu tal tarefa porque sabe
que Richard vai cumpri-la fácil com a ajuda do primo.
Ela balançou a cabeça, decepcionada.
— Não poder ser!
— Quando recebi o dossiê sobre a sua vida, meu advogado entrou em
contato com algumas pessoas e foi fácil deduzir tudo. – expliquei.
— Puta merda! – Ela xingou e se levantou. — Filho da puta!
— Case-se comigo e juro que consigo essa conta para você – prometi
dando a volta no balcão e me aproximando dela devagar.
— E como posso ter certeza que vai cumprir com isso e não é um
blefe?
— Maison me deve milhões de dólares, talvez esteja na hora de
cobrar a dívida – eu disse friamente.
Naquele momento, eu tive certeza que despertei em Valery seu pior
lado e ela não se casaria comigo por causa das crianças e sim para se vingar
do que estavam fazendo nas costas dela. Uma leoa, eles disseram. E estavam
certos. Ela não deixaria barato tamanha traição.
E o olhar de ódio de Valery fez meu membro pulsar de desejo.
Essa era minha futura esposa!
Capítulo 14

Não consegui dormir. Foram tantas informações para um único dia,


eu me sentia como se tivesse sido atropelada. Depois de perder a guarda das
crianças e ser pedida em casamento por um estranho, eu descubro que estou
sendo passada para trás da pior forma possível dentro da empresa que
trabalho. Estou sentada em minha cama, recostada nos travesseiros e
passando de canais de TV. Cassy dormiu ao meu lado, ela veio para o meu
quarto no meio da noite. Estranhei porque Oliver não veio e fui atrás ver e o
encontrei dormindo na sala com Ryder.
O CEO estava dormindo no meu sofá. Não havia mais quartos de
hóspedes disponíveis e como ele disse para a Assistente Social que estava
hospedado em minha casa, ele teve que ficar. Não parecia o mais correto ao
meu ver, mas ele havia trazido as crianças de volta para mim e resolvi dar um
voto de confiança, mesmo sabendo que era arriscado confiar outra vez. Dei
um travesseiro e um cobertor e subi para o meu quarto. Quando entrei e olhei
para a minha cama, a primeira pergunta que me fiz foi: se nos casarmos,
vamos dividir a mesma cama?
Tal pensamento foi inevitável.
Balancei a cabeça desolada afastando aqueles pensamentos. Eu
precisava refletir, colocar tudo em ordem. Mas era muita loucura para um dia.
Acabei cochilando por algum tempo antes de levantar, tomar um banho e
descer para preparar o café da manhã. Mas me surpreendi ao ver aquele belo
homem de pé em frente ao fogão fazendo ovos mexidos enquanto Oliver
estava sentado ao balcão balançando as pernas e falando sobre os dinossauros
que ele tanto adorava.
— O Tiranossauro Rex é um terópodes celurossauros que viveu
durante o período cretáceo – Oliver explicava. — Tem mais de sessenta e seis
milhões de anos.
— Mesmo? – Ryder respondeu com devido interesse. Ele usava
apenas uma camiseta branca e uma calça jeans, os cabelos estavam molhados.
Imaginei que ele trouxe a mala para dentro e tomou banho no
banheiro do corredor. Meu sobrinho também estava de banho tomado e
penteou os cabelos para trás como o tio fazia. Era óbvio que os comentários
de Arnold sobre o irmão, deixaram Oliver fascinado e ele não desgrudaria do
tio um minuto, ainda mais depois que ele o tirou do abrigo e o trouxe para
casa de novo.
— Sim! – Oliver respondeu. — Quantos anos tem, tio Brad?
— Não tenho sessenta e seis milhões – ele riu ao responder. — Mas
cheguei aos trinta e dois muito bem.
— Não parece que tem tudo isso – o menino comentou.
— Não?
— Eu achei que tivesse dezoito – ele comentou inocente roubando
uma risada gostosa de Ryder que parecia se divertir com a conversa. Ele
ficava bonito quando ria distraído.
Ele se virou para Oliver segurando a frigideira e me viu ali parada
ouvindo tudo. Ficou um tanto surpreso e voltou a atenção para o sobrinho:
— Onde está seu prato, Rex?
Oliver pegou o prato e ergueu para o tio colocar os ovos mexidos.
— Eu gosto de ovos com bacon. – havia um tom de reclamação em
sua voz.
— Sua tia não gosta de bacon – ele falou voltando a frigideira para o
fogão e despejando mais ovos.
— Eu gosto de bacon – resolvi intervir já que eu fora pega ouvindo a
conversa. — Apenas evito comprar porque é um veneno para a saúde.
Ryder me olhou por cima do ombro com aquele sorriso
tentadoramente cínico.
— Bacon não faz mal para a sua diabete – ele comentou.
— Mas aumenta o colesterol desnecessariamente – fiquei ao lado de
Oliver e passei as mãos em seu cabelo antes de lhe dar um beijo no rosto. —
Bom dia, meu bem.
— Bom dia, tia – Oliver disse com carinho e começou a comer.
Eu fui até a geladeira e peguei o suco servindo para ele.
— Hum! Que cheiro bom, estou morta de fome! – Cassy disse
entrando na cozinha.
Também estava de banho tomado e vestia um short com moletom
escrito Deus Salve a América. Se eu não estivesse errada aquele moletom era
de Victoria. Eu a vi usando uma vez enquanto conversávamos por ligação de
vídeo. Cassy pegou um prato e se sentou ao lado de Oliver. Servi suco para
ela e beijei sua cabeça lhe dando bom dia, antes de Ryder colocar os ovos
mexidos no prato dela.
— Vai querer também? – Ele perguntou para mim.
— Lógico que ela quer – Cassy respondeu no meu lugar. — Tia
Valery troca qualquer coisa por ovos mexidos.
— Sério? – Ryder perguntou enquanto voltava a frigideira para o
fogão e jogava mais ovos.
— Eu gosto de ovos – admiti me aproximando do fogão. — Aliás, eu
adoro tudo que tem ovos.
— É a primeira pessoa que conheço que gosta mais de ovos do que de
carne. – Ele comentou.
— Gosto desde criança e depois a diabetes me ensinou a ter uma vida
mais saudável se eu quisesse viver mais tempo e sem problemas graves de
saúde. – expliquei e sorri ansiosa.
Toda aquela mudança, aquele homem dentro da minha casa, um
intruso era muito estranho. Olhei para Cassy e Oliver que pareciam muito à
vontade com a situação.
— Sabe a que horas a assistente social virá? – Eu perguntei curiosa.
Ele encolheu os grandes ombros.
— Ela não deu um horário certo. Tem algum compromisso?
— Tenho.
Podia jurar que por seus olhos azuis passaram uma curiosidade
interessante, afinal, ele não tinha nada a ver com a minha vida. Era estranho
imaginar que aquele homem queria casar comigo.
— Aos sábados ela sai com a Lauren para fofocar – Oliver contou.
— Lauren é uma amiga – expliquei.
— Imagino que esteja precisando de conversar com uma amiga – ele
supôs.
— Sim – respondi sem graça.
Eu teria ligado para Lauren na noite anterior, mas foi muita
informação para dizer por telefone e eu preferia contar tudo pessoalmente.
— Pode ir tranquila – ele avisou e me indicou a frigideira mostrando
que o ovo mexido estava pronto.
Peguei o prato e voltei para perto dele.
— Se a assistente social chegar, eu ligo para você – ele prometeu.
— Você já quebrou uma promessa antes – lembrei.
— Não fui eu, foi minha mãe – ele piscou para mim.
— Como posso ter certeza que quando eu voltar, ainda vão estar aqui?
– perguntei receosa.
— Eu já disse – ele quebrou mais ovos sobre a frigideira. — Se eu
quisesse, teria partido com eles para Nova Iorque ontem à noite e você estaria
sendo avisada por sua advogada agora pela manhã.
Era um fato que eu não podia negar.
— Está bem, vou dar um voto de confiança – falei.
Ele sorriu satisfeito.
— Obrigado – agradeceu me deixando surpresa.
Pensei que homens bem-sucedidos não pedissem desculpas ou
agradecessem, mas eu estava diante de um bem diferente dos demais. Aliás,
não sabia se estar surpresa ou chocada era tão contraditório ou o mais correto
para me sentir diante daquele homem: anjo ou demônio?
Eu fui me sentar no balcão quando Amanda entrou com o cabelo
bagunçado e arrastando os pés. Era bem típico dela fazer isso depois de uma
briga. O bom era que esse era o sinal que ela queria paz e deveria estar com
fome.
— O que tem para o café da manhã? – Ela perguntou se sentando ao
lado de Oliver.
— Ovos mexidos – Ryder respondeu entregando um prato para ela
—, bom dia para você também – ele falou sério.
Ela encolheu os ombros como se não se importasse:
— Bom dia! – E começou a comer.
Eu terminei primeiro e subi para o meu quarto para me trocar. Quando
desci vi Oliver e Cassy assistindo TV. Aproximei da cozinha e Ryder e
Amanda estavam lavando as vasilhas e conversando. Não ficaria ouvindo a
conversa.
— Estou indo – eu o avisei e ele se voltou para mim. — Qualquer
coisa ligue no meu celular.
— Está bem. Não vamos sair – ele disse o óbvio.
Forcei um sorriso e saí. Eu deveria estar louca por deixar meus
sobrinhos sozinhos com ele, e foi a primeira coisa que Lauren me disse
quando cheguei ao seu apartamento.
— Você deveria ter me ligado, eu teria ido para a sua casa! – Ela me
recriminou.
Lauren era a secretária de um importante executivo. Éramos amigas
desde o tempo da faculdade. Loira e elegante, ela estava sentada no seu sofá
de couro fumando. Tomei o cigarro da mão dela e traguei indo em direção à
varanda. Ela me seguiu.
— Pensei em tudo isso, mas precisava sair um pouco. E como ele
mesmo disse, se quisesse já teria ido embora com as crianças...
Ela acendeu outro cigarro e nos sentamos à mesa para olhar a
paisagem de prédio a nossa frente.
— Você não lê os jornais e não assiste programas de investigação? E
se ele for algum tipo de psicopata e machucar as crianças?
— Ele não vai fazer isso – afirmei.
— Como pode saber?
— Ele não é um psicopata! – garanti.
— Está confiando demais nele – ela me alertou batendo o cigarro no
cinzeiro no meio da mesa. — O irmão dele matou a sua irmã!
Eu sabia disso, mas uma coisa não tinha nada a ver com a outra.
Victoria foi viciada em drogas e eu nunca fui. Bradley não tinha que pagar
pelos erros de Arnold.
— E que escolha eu tenho? Se eu pensar friamente, ele é o único
caminho que tenho para ter as crianças comigo sem ter que arrastar por um
processo longo e cansativo e que pode levar anos! – comentei com pesar.
— Mas casamento? – Ela me questionou. — Por que? Ele te explicou
o motivo dessa proposta antiquada?
— O argumento dele é que queremos o bem-estar das crianças e
juntos podemos dar a família que eles merecem e nunca tiveram com Arnold
e Victoria – contei.
— E o que você acha? – Ela quis saber.
— Sinceramente?
— Sim.
— Eu concordo com ele. – disse a verdade. — Um lado meu reluta
em aceitar, parece maluco. Porém, se eu pensar como uma mulher de
negócios, seria ótimo. Eu estaria casada com um homem estável, bem-
sucedido e quer bem às crianças. O que mais eu poderia querer?
— A sua própria felicidade? – Ela retrucou.
— Nós duas sabemos que essa coisa de romance perfeito e final feliz
é somente em filmes – eu respondi.
Ela meneou a cabeça. Lauren pensava exatamente igual a mim e sua
lista de amantes era infinita, inclusive seu chefe. Ela não tinha parada e não
prendia seu coração a ninguém. Como eu, ela optou pela vida de solteira
solitária e feliz. E estava bem, como eu estava.
— Eu tenho casos esporádicos – comentei. — Casada com Ryder nós
seriamos amantes, não ficou bem definido ainda essa parte, mas foi o que ele
disse: que se eu não me apaixonar por ele em um ano, a gente se separa.
— Você acha possível se apaixonar por ele?
— Não custa tentar. É maluco, eu sei. Mas eu estaria me apaixonando
pelo pai das crianças, eles seriam nossos filhos...
— Vocês vão tentar brincar de faz de conta – ela me alertou.
— Não. – Eu descordei. — Nós vamos tentar formar uma família.
Quantos casais casam apaixonados e se separam sem conseguir ter uma vida
normal? A gente não vai ter sentimentos tolos e sabemos que não estamos
embarcando nisso cheios de expectativas pessoais. Estamos fazendo isso
pelas crianças.
— Pelo visto você já tem uma opinião formada sobre o assunto. – Ela
apagou o cigarro e soltou a fumaça antes de dizer: — O que você quer ouvir
de mim?
— Que eu não sou tão maluca por estar concordando com ele? –
perguntei.
— Você é doida! – Ela respondeu e riu. — Mas se ambos não têm
expectativas apaixonadas, ele é um homem idôneo e querem fazer isso pelas
crianças, eu não vejo problema.
— Foi o que pesou. Não quero ficar sem eles...
— Ele poderia te dar a guarda, não é?
— Poderia, se não tivesse a mãe dele na jogada e Amanda não tivesse
dito as mentiras que disse e não as sustentasse – justifiquei a atitude dele.
— Sua sobrinha merecia uma surra! – Ela falou brava. — O que ela
fez foi muito grave, Valery! Você foi presa e perdeu a guarda das crianças
por causa das mentiras que ela inventou!
— Bater não vai resolver – falei apagando o cigarro e respirando
fundo.
Sempre fui contra palmadas. Talvez porque sempre fui espancada
pelos meus pais. Meu pai batia por estar drogado e minha mãe por estar
frustrada. Eu sequer podia conceber em levantar a mão para os meus
sobrinhos.
— Ela está de castigo e vamos entrar num consenso. Ela vai morar
conosco de qualquer forma. É outro ponto forte por eu ter aceitado tudo isso,
Amanda não pode viver com a avó ou vai virar um monstro!
— Ela já é um monstro! – Lauren assegurou passando as mãos nos
cabelos loiros e fazendo um coque no alto da cabeça. — Eu teria dado uma
surra nela e a deixado a pão e água para ela aprender!
Eu ri.
— E como estão as coisas? – perguntei —, só falei de mim até agora.
— Estão bem – ela deu um sorriso malicioso —, saí com o meu
personal trainner.
— Eu pensei que ele fosse gay – observei diante do que ela me
contara anteriormente.
— Eu também, mas ele me deu um agarro ontem à tarde e
terminamos a noite toda na cama, foi demais – ela comentou e rimos.
— Estou precisando de uma boa trepada para relaxar – respirei fundo.
— Aproveita o tal do Ryder e faz test drive...
Não era uma má ideia.
— Não posso ir com tanta sede ao pote – argumentei.
— Mas você não decidiu dizer sim ao casamento? Vão transar de
qualquer forma, duvido que vai conseguir ficar na mesma casa que ele e nada
acontecer... sei que ele é gato... quem sabe né...
Era tenso pensar sobre isso. Sempre fui uma mulher livre
sexualmente, mas pensar em transar com Ryder me deixava inquieta. Não por
nojo ou por medo, mas por causa do quanto ele era dominador e isso era
assustador sabendo que depois que a gente transasse, ele estaria na minha
casa no dia seguinte e no dia seguinte. Depois de casados seríamos fieis? Eu
me perguntei. Se não fosse, seria estranho. Se fosse, seria mais estranho
ainda. Eu nunca fiquei muito tempo com alguém com quem transava.
Significaria uma grande novidade para mim.
Nós teríamos que definir muitas coisas para que aquele casamento
acontecesse. De repente caiu a ficha que não seria apenas pelas crianças.
Teria nossa vida pessoal envolvida e eu não sabia se estava preparada para
lidar com isso.
Capítulo 15

— Está mais calma agora? – Eu perguntei para Amanda.


Não precisei dizer que ela tinha que ficar para me ajudar a limpar
tudo. Os irmãos foram para a sala assistir TV. Imaginei se ela estava
querendo uma trégua e o celular de volta, ou era apenas o costume de quem
ficava por último ajudar na limpeza.
— Estou – ela limitou-se a dizer e foi até o armário colocar os pratos.
— Quando vai devolver meu celular?
— Quando achar que se arrependeu do que fez – avisei enxugando a
minha mão no pano de prato.
— Então vai ser nunca! – Ela falou rebelde.
— Então o problema é seu! – respondi simplesmente.
Eu lhe dei as costas e sai da cozinha, ela veio atrás.
— Não pode fazer isso comigo! Eu só fiz o que achava certo!
— Mentir? – Eu me voltei para ela no corredor. — Dizer absurdos
sobre a sua tia que tem cuidado de vocês quando ninguém mais fez?
— Minha avó me disse que você não deixou ela buscar a gente! – Ela
me acusou.
— Fala baixo porque você não está falando com qualquer pessoa, sou
seu tio e mereço respeito! – Eu exigi e ela murchou sem graça. — Sua avó
mentiu! Eu estava em Moscou quando tudo aconteceu e demorei três semanas
para finalizar os negócios e vir para os Estados Unidos. Nesse período, sua
avó não levantou um dedo para tirar vocês de lá ou vir para Chicago, ela só se
interessou depois que eu cheguei ao país!
Não foi bem assim, mas eu não facilitaria nada para a minha mãe.
— E por que ela faria isso? – Ela me desafiou.
— Por que não tenho filhos, vocês são meus herdeiros e se eu morrer,
vocês ficam com tudo, inclusive o patrimônio de sua tia, e sua avó vai lucrar
muito com isso, mocinha – disse com o dedo em riste. — Sua avó não gosta
de crianças, pergunte a ela.
Amanda arregalou os olhos surpresa e eu me afastei para a sala.
— Quem quer jogar uma partida de vídeo game? – perguntei e Cassy
e Oliver se animaram.
— Eu já sou muito grande para isso – Amanda disse cruzando os
braços e se sentando no sofá.
— Ainda está de castigo – eu lembrei. — Suba para o seu quarto!
Amanda ficou indignada, pensou em retrucar, mas ao notar meu olhar
de que não retrocederia na minha ordem, ela subiu batendo o pé como uma
criança mimada faria. Sentamos ali e as horas voaram, quando dei conta era a
hora do almoço e resolvemos pedir comida, eu não estava a fim de cozinhar e
Valery não tinha voltado ainda. Imaginei que a conversa com a tal amiga
seria longa, eu esperava ao menos que ela voltasse com uma resposta
positiva. Do contrário, se eu fosse obrigado a deixar aquela casa, levaria as
crianças comigo e temia que Oliver e Cassy nunca fossem me perdoar.
De repente, da noite para o dia, magoar meus sobrinhos não era uma
opção. Nunca pensei que me apegaria a eles dessa forma. Durante aqueles
anos sabendo que eles existiam sem me importar e agora eu não podia pensar
em ficar longe deles. Era estranho para um homem que nunca foi apegado a
nada se ver ligado àquelas crianças, mas era intenso e bom. Não me sentia
mal ou que estava preso, eu queria apenas ficar.
Não entendia muito de crianças, mas fazer o que eles gostavam era
fácil e por fim eu também gostava.
— A gente podia dar uma volta no shopping – Cassy propôs.
— Amanhã – eu respondi enquanto escolhíamos um filme para
assistir. — Hoje a assistente social vai nos fazer uma visita.
— A bruxa – Cassy encolheu os ombros e se jogou no sofá.
— Por que bruxa? – Eu estranhei.
— Foi ela que tirou a gente daqui quando dissemos que não
queríamos ir – ela explicou ressentida.
— Não quero ir embora daqui de novo! – Oliver reclamou franzindo o
cenho enquanto segurava seus dois grandes dinossauros nas mãos.
— Ninguém vai embora daqui! – Eu precisei garantir. — Não vou
deixar!
— Nem mesmo a vovó? – Cassy me questionou.
— Nem mesmo ela – assegurei. — Vocês vão ficar onde querem
ficar.
Oliver sorriu para mim.
— Quero ficar aqui com a tia Valery e com você – ele se aproximou
de mim e sentou-se ao meu lado no sofá. — Você vai ficar com a gente, não
vai?
— É o que eu quero...
Nesse momento, a porta foi aberta e Valery entrou. Ela deixou as
coisas dela no hall e escutei seus passos até chegar à sala. Ela forçou um
sorriso ao nos ver reunidos.
— O que estão fazendo? Já almoçaram? – perguntou preocupada.
— Sim – Oliver respondeu primeiro —, tio Brad pediu comida no
restaurante. A gente não saiu de casa, ele achou melhor esperar a assistente
social.
— Eles não deram um horário para a visita, não é? – Ela me
perguntou.
— Não – olhei para ela.
Havia algo diferente no jeito dela me olhar, como se quisesse
conversar. Depois de anos trabalhando com pessoas não era difícil entender.
— Crianças, por que não escolhem um filme? – Eu propus. — Eu e
sua tia precisamos conversar.
Dei o controle remoto na mão de Oliver. Eu e Valery seguimos para o
quintal onde poderíamos conversar com tranquilidade. Não era muito grande,
mas havia uma cobertura com churrasqueira e uma grande mesa de madeira e
bancos. Ela se sentou de um lado e esperou que eu fizesse o mesmo. Ali
poderíamos conversar sem sermos interrompidos ou ouvidos pelas crianças.
— Eu pensei sobre o que me falou – ela começou a discorrer.
Dava para sentir seu pico de ansiedade e a compreendi, porque eu
também era tomado por uma estranha sensação de ouvir o que ela tinha a me
dizer.
— Desabafou com todos que precisava? – perguntei com bom humor
para cortar a tensão que se formou entre nós.
— Sim, conversei até mesmo com a minha advogada e ela concorda
que se sua intenção é realmente ajudar a cuidar das crianças e se temos a
finalidade de ter um contrato de casamento, não há problema na nossa união.
– Ela discursou.
Fiquei satisfeito ao notar que ela estava propensa a aceitar minha
proposta.
— Mas precisamos discutir alguns detalhes – ela pontuou. — O fato é
que segundo Lance, minha advogada, temos que nos casar o mais depressa
possível e oficializar o pedido de adoção antes que sua mãe entre com o
pedido de guarda e seja analisada.
— Foi o que o meu advogado disse – concordei.
— Como eu lhe disse antes, casamento nunca foi um propósito na
minha vida, mas se vou fazê-lo, quero que seja tudo bem definido e seguro
para nós – ela começou a falar como a CEO de uma empresa faria.
— Com certeza – eu apoiei os braços na mesa e a encarei. — Diga o
que quer.
Ela hesitou. E fez uma careta engraçada antes de dizer.
— Fidelidade – ela proferiu para minha surpresa.
— O que? – seu pedido me pegou desprevenido.
— Sei que parece loucura, mas acredito que se queremos um
casamento estável, podemos tentar que a coisa funcione entre nós – ela
propôs.
Eu havia pensado e até dito sobre paixão na noite anterior, mas ela
ficou avessa à palavra e pensei que teria que brigar para convencê-la de que
seria bom tentar algo mais sério entre nós.
— É estranho, mas acredito que possa ser viável, eu não tenho
relacionamentos sérios, não acredito em sentimentos duradouros, seria uma
experiência diferente estar com alguém e acordar ao seu lado todos os dias...
— Talvez possa dar certo – eu supus. — Nunca fui casado, e como
não temos expectativas, somos práticos, podemos fazer funcionar.
— Sim – ela sorriu satisfeita. — Sem cobranças, romantismo ou
sentimentos bobos.
— Exatamente – concordei animado.
Era bom saber que pensávamos da mesma forma.
— Sou uma mulher ocupada e gosto do sexo sem compromisso – ela
declarou claramente e gostei dessa sinceridade. — Acredito que com você
não seja diferente.
— Vejo que temos a mesma visão da situação... – completei.
Ela estava aliviada e eu também. Não poderia estar mais satisfeito
com aquela nossa conversa.
— Acredito que podemos estar um com o outro publicamente, você
poderia me acompanhar nos eventos sociais e vice-versa – eu propus. —
Nossas secretárias poderiam cuidar disso mantendo contato constante.
Ela concordou movendo a cabeça de forma positiva.
— Ótimo. Estou focada em me tornar a presidente da Jackson
Corporation como você sabe e quero tranquilidade para fazer isso – ela
observou.
— Não lhe trarei problemas – assegurei movendo a cabeça de um
lado para o outro. — Costumo viajar. Agora nos primeiros meses vou evitar
ficar ausente, até mesmo por causa das visitas da Assistente Social até termos
a guarda definitiva. É necessário que façamos o papel de pais das crianças
para convencê-los de que estamos aptos a cuidar deles.
— Sim – ela concordou séria.
— Minha secretária já está cuidando do assunto com babás, ela vai
contratar a melhor do ramo. E quero saber se você concorda, mas acredito
que precisa de uma pessoa para ajudar na manutenção da casa, fazer comida,
e outras coisas necessárias – eu pontuei.
— Eu sempre tive uma diarista que vinha de quinze em quinze dias...
E como sempre comi fora, nunca me preocupei em ter alguém fixo – ela
explicou.
— Vai ser bom, pensei em Daisy, mas tenho certo receio que ela dê
acesso a minha mãe a esta casa – expliquei minha intenção. — Ela costuma
ter o coração maior que tudo.
— Infelizmente, vamos ter que repensar sobre sua mãe até sair a
adoção das crianças – ela ponderou. — Depois do que ela fez, eu não a quero
perto dos meus sobrinhos. Além disso, ela tem mania de falar mal da Victoria
e já bastam o que as crianças vão passar com o processo e a condenação do
pai, não é?
Era esse bom senso em Valery que tanto me encantava. Ela não
levava brigas pessoais entre adultos para o mundo das crianças. Sabia separar
as coisas.
— E outro detalhe – ela se lembrou batendo os dedos sobre o tampo
da mesa. — Segredos. Se queremos fazer dar certo, não podemos ter segredos
um com o outro, Ryder. Sei que o que estou pedindo pode parecer difícil, mas
nesse período de um ano em que vamos aprender a confiar um no outro,
precisamos nos manter abertos ou será um total fracasso.
Compreendi o que ela queria dizer. Não havia muito o que saber sobre
mim. Não havia traumas do passado, o básico: eu era um homem de uma
família rica e egoísta, que adorava seu trabalho e vivia para isso.
— Se isso vai servir para os dois lados, acredito que podemos fechar
negócio, senhorita Lincoln – afirmei e ela sorriu daquele jeito de mulher
poderosa que conseguiu fechar um grande negócio. — Vou mandar meu
advogado fazer o contrato e arrumar os papéis do casamento.
— O que vamos dizer sobre como tudo aconteceu entre nós? – Ela
quis saber. — Precisamos combinar algo para que a assistente social acredite.
— Podemos dizer que já nos conhecíamos de vista e que após a
tragédia, nos aproximamos e quando nos reencontramos há alguns dias
descobrimos estar apaixonados – eu inventei. — O que acha?
— Não acredito em paixão à primeira vista – ela disse e riu. — Mas
as pessoas gostam dessas histórias de amores intensos e incontroláveis.
— Exatamente. E então, nós resolvemos formar uma família e sermos
felizes para sempre – finalizei.
— Perfeito – ela concordou como se memorizasse tudo.
— Outro detalhe – eu me lembrei. — Se em algum momento, algum
de nós estiver insatisfeito com o nosso contrato, encontraremos uma forma de
desfazê-lo sem traumatizar as crianças. Nossos sobrinhos estão sempre em
primeiro lugar, sempre.
— Concordo – ela assentiu. — Caso no fim de trezentos e sessenta e
cinco dias não estivermos aptos a ficarmos juntos, não faremos disso uma
guerra, trataremos o assunto friamente para o bem deles.
— Sim – reafirmei. — Mas acredito que dará tudo certo, afinal sei
administrar uma empresa e a senhorita também.
— Também acredito que não há motivo para dar errado se cada um
sempre se lembrar qual é o seu lugar – ela estendeu a mão. — Negócio
fechado, senhor Ryder.
— Negócio fechado, senhora Ryder – respondi segurando sua mão e
apertando com firmeza.
Valery sorriu satisfeita e eu também. Enfim, seríamos marido e
mulher em poucos dias. E uma nova família se iniciaria. Eu não poderia estar
mais feliz.
Capítulo 16

Não foi surpresa quando Albert Jackson apareceu na porta da minha


sala na segunda feira cedo segurando um jornal nas mãos. O sorriso dele era
tão largo que pensei que fosse me puxar para um abraço quando entrou sem
bater.
— Bom dia, Albert.
— Bom dia, Valery – ele falou com um orgulho ímpar na voz.
— Aconteceu alguma coisa?
Ele mostrou o jornal.
— Por que nunca comentou sobre seu relacionamento com Bradley
Ryder? – Ele perguntou colocando o periódico na minha frente.
Bradley disse que colocaria uma nota no jornal sobre nosso
casamento, apenas não explicou que seria na primeira página: CEO da
Tecnologia e Vice-Presidente da Jackson Corporation se casarão em
cerimônia restrita em Chicago.
Não contive o sorriso e devolvi o jornal para ele.
— Somos muito discretos. Estou surpresa que a notícia tenha vazado
no jornal – menti.
— Sempre pensei que fosse casada com o trabalho – ele comentou
sem sair do lugar.
Casar-me com um homem importante como Ryder fazia os outros
homens me respeitarem a partir de agora? Era um absurdo, mas era o que
parecia. Segurei minha língua para não perguntar: e agora? Sirvo para ser
presidente da sua empresa, machista desgraçado?
— E sou – forcei um sorriso. — Mas Brad me fez ver o quanto
trabalho não é tudo e família e amor também são importantes. Tudo pode
andar lado a lado.
Eu tinha vontade de vomitar com aquele discurso mentiroso e
romântico, mas era o que as pessoas queriam ouvir e ficavam satisfeitas em
acreditar que eu não era uma mulher livre que podia transar com quem
quisesse. Ainda bem que ele não discursou sobre a importância da família na
vida de uma presidente de uma empresa como a dele. Não precisei jogar em
sua cara sobre o grupo de aplicativo com fotos nuas de funcionárias da
empresa.
— Espero que meu casamento não atrapalhe conseguir meu cargo
como CEO – comentei por acaso.
— Claro que não – ele garantiu. — Sou um homem justo, se ganhar
vai ser por seu mérito e não por estar casada ou qualquer outra coisa.
Mentiroso do caralho! Pensei.
— Obrigada, Albert.
— Depois que voltarem da lua-de-mel vamos fazer um jantar em
minha casa – ele prometeu.
— Lua-de-mel? – perguntei estranhando.
— Aqui no jornal diz que vão para a Disney – ele observou.
Algo que eu e Ryder não havíamos discutido, mas ele deve ter
colocado apenas como referência porque jornalistas gostavam de saber dessas
coisas.
— Claro, são tantos detalhes que acabei me esquecendo...
— Até mais ver...
Albert saiu e peguei meu celular para mandar mensagem para Ryder.
Que história é essa de lua-de-mel na Disney?
Menos de um minuto depois, ele visualizou e respondeu.
Bom dia para você também, meu amor.
Revirei os olhos e ri balançando a cabeça desolada. Digitei:
Fala sério!
Ele respondeu:
É apenas um fim de semana. E pensei em um lugar onde as
crianças possam ir conosco.
Eu não esperava por essa atitude.
Devia ter falado comigo antes.
Envio.
Estou falando agora. Se quiser podemos desmarcar tudo.
Ele respondeu me fazendo sentir a megera. Tenho de pensar que
realmente ele não está fazendo nada demais. Apenas agindo de forma que não
ponderem que estamos agindo por interesse e sim por amor.
Tudo bem. Fui pega de surpresa. Odeio surpresas.
Levou alguns segundos para responder:
Vou anotar isso. Nunca fazer surpresas.
Sorri sabendo que ele anotaria mesmo.
Estou em uma reunião. O que acha de almoçarmos?
Mordo os lábios pensando se seria uma boa ideia. Mas com a notícia
do casamento estampada na primeira página do jornal, ser discreta não
parecia uma opção.
Gostaria de ir em casa e ver como eles estão com a nova babá
Recebo a seguinte mensagem.
Almoçamos em casa, então.
Finalizamos a conversa e Guinevere entra na minha sala.
— A partir de agora, a secretária do senhor Bradley Ryder vai estar
sempre em contato com você para que nossas agendas se aliem por causa dos
compromissos – eu a avisei e entreguei o cartão com os contatos da secretária
de Ryder. — Arrume minha agenda novamente porque estarei fora de sexta
até segunda-feira.
— Não se fala em outra coisa pelos corredores que não seja o seu
casamento – ela comentou.
Olhei para ela, surpresa.
— Mesmo?
— Inclusive que casada, a senhorita tem mais chances de conseguir a
presidência do que Richard – ela me contou.
Recostei na cadeira e a encarei.
— É uma novidade para mim – disse sincera.
— Estão apostando para ver em quanto tempo ele leva a filha do
senhor Jackson para o altar – ela se sentou na cadeira do outro lado da mesa.
— Fico com pena dela – eu disse sincera. — Nenhuma mulher merece
se casar com um canalha como Richard.
— Soube da última dele? – Ela me perguntou fazendo a fofoca.
Eu sabia que não era de bom tom ficar ouvindo fofocas, mas era
inevitável saber.
— Diga.
— Bem, ele estava de olho na estagiária de Marketing, Pamela
Andrews, mas ela não quis sair com ele. Ela preferiu o Bob do jurídico e eles
trocaram nudes, e Bob vazou as fotos no grupo dos homens – ela me relatou.
— Sério? Que cara escroto...
— A história não acaba aí – Guinevere me adiantou. — Richard está
usando as fotos para chantageá-la. Disse que se ela não sair com ele, vai
vazar as fotos...
Meu queixo caiu.
— O quê? – perguntei incrédula.
— Também estou chocada – minha secretária falou sincera. — Quem
me contou foi a Judith que trabalha com a Pamela. Ela sequer veio trabalhar
hoje, está super abalada e não sabe o que fazer.
— Ela tem toda razão em estar assim, quem esse canalha pensa que é?
– perguntei revoltada. — Ele não pode assediar minhas funcionárias desse
jeito ou quem quer que seja!
Guinevere encolheu os ombros magros.
— Ele é genro do chefe, quem vai se opor a ele?
Ela perguntou e saiu da minha sala quando ouviu o telefone da
recepção tocar. A única pessoa que podia bater de frente com ele dentro
daquela empresa sem ser prejudicada era eu. Afinal, eu era a chefe dele.
Precisava fazer alguma coisa, não podia deixar que ele tratasse não apenas
Pamela, mas qualquer outra mulher dessa forma. Então, tomei uma súbita
decisão. Liguei no RH e peguei o endereço de Pamela.
— Vou almoçar em casa hoje e depois tenho uma reunião – avisei
Guinevere quando saí do escritório. — Devo chegar mais tarde.
Achei melhor não comentar que visitaria Pamela. Apesar de saber que
Guinevere era uma funcionária de confiança, era melhor certos assuntos
serem mantidos em segredo. Ainda mais a visita de uma vice-presidente a
uma estagiária fora do horário de trabalho.
Quando cheguei em casa, eu entrei no paraíso. Oliver correu para me
abraçar e Cassy estava sentada no chão da sala montando o quebra cabeça
sobre a mesa de centro. O mesmo quebra cabeça que eu havia dado a eles de
presente e sequer deram atenção.
— Bom dia – eu disse beijando a cabeça de Oliver. — Como está
tudo por aqui?
— Está tudo bem – Oliver respondeu com imenso carinho.
— Oi, tia – Cassy acenou para mim. — Vera está terminando de fazer
o almoço.
— Vera? – Eu estranhei o nome. — O nome da babá não é Alicia?
— Vera é a cozinheira, ela é faz tudo – Cassy me explicou.
Alicia veio do andar de cima com seu sorriso alegre. Não deveria ter
mais que uns vinte anos, era inglesa e fazia parte de um programa de
intercâmbio. Pelo que Ryder me dissera, ela estudava em Chicago e tivera
boas indicações. O bom era que ela moraria conosco e poderia cuidar das
crianças sempre.
— Bom dia, senhorita Lincoln – ela me cumprimentou com seu
sotaque forte. — Acabei de deixar a assistente social com a Amanda lá em
cima. – Ela me avisou.
Deveria ter imaginado que eles não viriam no fim de semana e sim
enquanto eu e Ryder estivéssemos trabalhando para poder falar com as
crianças. Esperava do fundo do meu coração que Amanda não piorasse a
situação, já estava delicada o suficiente.
— Vou aproveitar e falar com Vera – avisei forçando um sorriso.
Mas saber que a Assistente Social estava falando com Amanda me
deixou ansiosa. Esperava ao menos não sair presa dali.
Vera era uma mulher de meia idade, simpática e agradável e sua
comida cheirava bem. Ela me contou que era de Chicago e trabalhava na
agência como diarista há muitos anos e então surgiu a oportunidade de estar
fixa e ela gostou. A última família com a qual trabalhava se mudaram para
Los Angeles e fora indicada para a nossa casa.
Havia gostado dela, sua energia era boa e esperava que acertássemos
dessa vez. A secretária de Ryder era muito eficiente, e conseguiu
profissionais muito rápido e com referências.
— As crianças são tranquilas – ela comentou.
— Achou mesmo? – Eu estranhei.
Talvez a chegada de Ryder e tudo o que aconteceu os acalmou um
pouco. Além do mais, a peça que encabeçava todo aquele pesadelo estava
trancada em seu quarto de castigo. Infelizmente, Cassy e Oliver eram muito
influenciados por Amanda.
— Sim, eles são muito educados, a senhora deve se orgulhar muito
deles – ela comentou enquanto mexia nas panelas.
— Sim, eu me orgulho muito – admiti.
Afastei dela e mandei mensagem para Ryder.
Onde você está? A assistente social está aqui.
Ele respondeu.
Calma, baby. Estou saindo do carro.
Fui ao encontro dele. Estava ansiosa, mas Oliver foi mais rápido e ao
ouvir o barulho da porta correu para se encontrar com o tio. Bradley o
abraçou com enorme carinho. E então ergueu seu olhar para mim.
Senti um torpor pelo corpo quando aqueles olhos azuis me fitaram.
Foi diferente, como se ele tivesse esperado por aquele momento e eu fosse a
mulher mais atraente do mundo. Tudo isso em apenas um olhar. Engoli sem
seco sem compreender aquela mudança de comportamento e Oliver passou
correndo por mim, enquanto Ryder caminhou na minha direção sem tirar os
olhos de mim.
Meu coração acelerou, pigarreei e franzi o cenho levemente,
estranhando tanto o comportamento dele quanto a reação positiva do meu
corpo. Ele parou diante de mim e ergui o olhar para seu rosto bonito. Estava
próximo demais e quando pensei em dar um passo para trás, ele me segurou
pela cintura. Aquela mão grande nas minhas costas me puxou contra o seu
corpo e disse:
— Olá, querida...
E sem que eu pudesse evitar, Ryder me beijou. Ele me pegou
totalmente desprevenida e aqueles lábios quentes e firmes tomaram os meus.
Em um primeiro segundo, fiquei chocada, mas depois relaxei nos braços dele
e me segurei em seu antebraço forte. Beijos roubados são sempre os melhores
e embora não tenhamos definido exatamente quando abriríamos exceções
para nossa intimidade, aquele beijo significou bastante porque eu gostei da
forma como o beijo dele era gostoso, nada avassalador, mas tão íntimo que
fez minhas pernas tremerem. Correspondi sem hesitar e quando ele sentiu
minha rendição, ele se afastou um pouco para dizer.
— Vejo que sentiu saudades – sua voz soou embargada de desejo.
Estava tão chocada com o beijo e a forma positiva com a qual reagi
que fiquei sem palavras e apenas o fitei sem saber o que dizer. Enxerguei nos
olhos azuis o mesmo desejo que havia queimado no meu corpo, portanto, não
fui a única a me sentir tocada por aquele repentino beijo. Acredito que sequer
Ryder esperava sentir o desejo que o dominava.
Alguém pigarreou atrás de nós e me afastei dele depressa ao me
recordar que havia mais pessoas na casa e inclusive crianças que estariam nos
observando sem entender nada.
— Senhorita Morse – ele disse para a mulher que estava parada na
porta do vestíbulo.
— Senhor Ryder – ela olhava de um para o outro com curiosidade.
Ele passou por mim e foi apertar a mão da jovem.
— Acredito que ainda não conheça a senhorita Lincoln – ele nos
apresentou. — Querida, essa é a assistente social que vai cuidar do caso de
adoção das crianças.
Foi então que compreendi o motivo do beijo e senti o balde de água
fria cair sobre a minha cabeça. Não foi um surto repentino de desejo, foi
apenas uma encenação. Ele me beijou apenas para que a mulher acreditasse
que éramos um casal. Respirei controlando as batidas do meu tolo coração e
me aproximei dela.
— Como vai? – apertei sua mão.
— Tudo bem, é um prazer conhecê-la – a assistente me disse com
simpatia. — Sei que é o horário de almoço e o tempo dos senhores é escasso
e corrido, mas eu gostaria de conversar longe das crianças.
— Claro – concordei. — Podemos ir para o meu escritório.
E indiquei o caminho andando ao lado da assistente, mas
estranhamente sentindo o olhar de Ryder em cima de mim. Aquele beijo foi
definitivamente um divisor de água entre nós, uma promessa de que as coisas
não seriam difíceis e um arrepio percorreu meu corpo mais uma vez ao
pensar nisso.
Capítulo 17

Beijar Valery foi uma reação instantânea para convencer a assistente


social que minha relação com a tia das crianças era válida. Na verdade, eu
não precisava provar nada, depois de um juiz ter assinado a liberação da
guarda das crianças às nove da noite em uma sexta-feira, eu sabia que ficar
com eles e a adoção seria certa. Nem mesmo minha mãe conseguiria tirá-los
de mim, eu era amigo de muitas pessoas importantes, tanto do meio judiciário
quanto executivo, por isso, se não conseguisse pelas vias normais dos
tribunais, conseguiria através de troca de favores.
O mundo era um jogo e os mais sortudos sempre venciam, para o bem
ou para o mal. Contudo, dar um lar para os meus sobrinhos era minha
prioridade e naquele fim de semana convivendo com ela, vendo o carinho e a
paciência que prestava a eles, tive certeza que não errei quanto a concluir
sobre seu caráter e sua conduta. Mesmo que no passado, ela tenha cometido
alguns erros, não permaneceu neles, embora fosse difícil acreditar que uma
mulher tão metódica e politicamente correta um dia fumou maconha e foi
presa por porte de êxtase. Mas também me custava acreditar que meu irmão
foi capaz de matar a própria esposa e que minha mãe ainda justificou o que
ele fez.
Fui tolo ao acreditar que ela queria o melhor para as crianças, minha
mãe nunca dava ponto sem nó. Afastei aqueles pensamentos e fiquei olhando
para Valery enquanto a assistente social falava com ela. Tinha que admitir
que desde o dia em que vi a foto dela no dossiê aquela boca gostosa chamou
minha atenção. Aliás ela era toda gostosa e fiquei impressionado com o beijo
que trocamos, sexy e quente, apesar de curto e sem muita profundidade. Foi
íntimo e gostoso. Há muito tempo beijar uma mulher completamente estranha
era normal e apenas uma causa fisiológica. Eu as conhecia, beijava, muitas
vezes íamos para a cama e fim.
Mas beijar Valery fez minha fantasia surtar e eu queria mais. Muito
mais que um beijo no hall de entrada.
— Espero que compreendam a responsabilidade que terão a partir de
agora – a senhorita Morse dizia e eu passei a prestar atenção desviando o
olhar de Valery para ela.
Estávamos sentados no sofá. Eu ao lado de Valery e a senhorita
Morse sentada do outro lado em uma solitária poltrona.
— Sim – eu tomei a frente do diálogo. — Por isso, eu e Valery
decidimos nos casar esse fim de semana. Queremos dar uma família para as
crianças, e ajudá-los a superar o trauma que viveram.
— Vou indicar uma psicóloga para acompanhá-los, embora eu saiba
que a senhorita Lincoln já o fazia – ela avisou. — Temo que Amanda precise
de ajuda, ela demonstra uma forte necessidade de difamá-la – e olhou para
Valery.
Eu e Valery nos entreolhamos e a acusação surgiu em seu olhar.
Acreditei melhor sair em sua defesa e provar mais uma vez que não estava do
lado da minha mãe. Nós nos casaríamos e precisávamos ter a confiança um
do outro para viver bem.
— Foi como conversamos, senhorita Morse – eu a fiz recordar. —
Minha mãe colocou na cabeça de Amanda que viver com ela será bem
melhor do que ficar com a tia. E ofereceu presentes e vantagens.
— Hoje ela me disse que pode ter exagerado um pouco nas coisas que
disse – Morse observou séria. — Sinto que há certo arrependimento, mas ela
ainda sente raiva por estar de castigo e precisa punir alguém. A bem da
verdade é que ela precisa castigar alguém pelo que os pais fizeram, porque do
contrário culpará a si mesma.
Eu e Valery nos entreolhamos sem compreender.
— O que quer dizer com isso? – Valery perguntou se voltando para
ela.
— Amanda se culpa pela morte da mãe. Ela acredita que poderia ter
impedido o pai – Morse explicou.
— Não sabíamos disso – Valery com imenso pesar. — Eu sempre
acreditei que a agressividade dela fosse pela não aceitação da morte de
Victoria e pelo trauma de ter ouvido os gritos de socorro da mãe, ou algo
assim.
— Isso também, mas principalmente pela culpa. Ela se responsabiliza
pelo o que houve – Morse revelou nos deixando estupefatos.
Passei a mão pelo rosto sem poder acreditar que o buraco era bem
maior do que supus. Amanda precisava de mais ajuda que os outros dois.
— Cassidy e Oliver buscam sanar suas feridas com amor. Eles estão
carentes e demonstram com a necessidade de ter vocês por perto,
principalmente Valery – ela disse olhando para mim. — Nessa conversa que
tive com Oliver hoje, ele está adorando a presença do tio, mas o fato de
Valery tê-los tirado do abrigo em Utah reforçou a ligação que sempre
tiveram, então o senhor chegou e também reforçou essa segurança que ele
precisa.
Fiquei satisfeito por estar certo com as minhas decisões sobre meus
sobrinhos. Eles precisavam de uma família e pessoas próximas e queridas
para se sentirem seguros outra vez.
— Concordo que por enquanto aqui seja o melhor lugar para eles –
ela finalizou.
— Obrigada – Valery falou emocionada e pigarreou. — Acredito que
depois da morte de Victoria, eu precise mais deles do que eles de mim.
Essa admissão dela me deixou surpreso e admirei seu perfil. Será que
era assim que eu me sentia? Nunca fui próximo a Arnold depois que
crescemos. Éramos muito ligados na infância, mas sempre fui o irmão
responsável que tomou a frente dos negócios da família, enquanto ele se
afogava nas drogas e engravidava uma outra viciada aos dezessete anos.
Talvez essa repentina necessidade de formar uma família provinha de refazer
o tempo que perdi longe do meu irmão e me redimir da culpa de não ter feito
nada quando acreditava que poderia ter feito.
— Eu imagino que seja difícil para ambos – Morse olhou de um para
o outro. — E acho válido que não tenham mágoas pelo que houve entre seus
irmãos e convivam bem com isso.
Nós nos entreolhamos novamente. Na verdade, eu nunca culpei
Valery pelo que houve e acredito que ela não viu motivo para me culpar
também. Nós dois tínhamos muito nítido que nossos irmãos fizeram a escolha
deles. Ela não era Victoria e eu não era Arnold. Nunca falamos disso, mas foi
o que ela me passou desde o começo.
A assistente social se foi e então ficamos parados à porta olhando-a
entrar em seu carro popular de motor barulhento e partir. Olhei para Valery
que hesitou antes de me fitar. A lembrança do beijo deslizou entre nós e foi
inevitável olharmos para os lábios um do outro na expectativa de ter outro
beijo.
— O almoço está na mesa – Oliver avisou logo atrás de nós.
Palavras não ditas eram semelhantes a novos sentimentos intactos
ansiosos por serem vividos. Ela se virou e foi em direção ao menino enquanto
fechei a porta, frustrado. Nós comemos sob o som das vozes das crianças.
Até mesmo Amanda desceu para a refeição, e embora não tenha dito quase
nada, ficou observando tudo ao redor com atenção.
— Precisamos dizer algo para vocês – eu falei quando todos
terminaram de comer.
Olhei para Valery que compreendeu e assentiu.
— Eu e sua tia decidimos nos casar e formar uma família com vocês –
eu declarei.
Ouvindo aquelas palavras, parecia loucura. Caso fosse um amigo
meu, eu lhe perguntaria se ele estava ficando demente, mas depois de pensar
muito e um contrato redigido por meu advogado, além daquele beijo que me
fez ficar de pau duro, sim, eu havia tomado a melhor decisão da minha vida.
— Casar? – Amanda quase gritou.
— Mas vocês são namorados? – Cassy perguntou com um sorriso
meigo.
— Vocês vão ser os nossos pais? – A pergunta de Oliver fez todos se
calarem.
— Bem...
— A gente já tem pais – Amanda cortou Valery com rispidez.
— Tem, mas seu pai está impossibilitado de estar aqui e eu e seu tio
faremos esse papel – Valery respondeu firme.
— Eu não quero! – Amanda se levantou.
— Senta e abaixa o tom de voz! – Eu a fitei de forma severa, ela ficou
sem graça e se sentou.
— Eu gostei da ideia – Cassy disse com timidez.
Oliver saiu da sua cadeira e foi para a minha, e pediu um abraço. Ele
já era grande para um menino de sete anos, mas se precisava de carinho, eu
jamais negaria.
— Sei que é muito cedo para decisões tão importantes, mas não há o
que pensar – eu falei para eles. — Vocês são nossa família e eu e Valery
decidimos ser tudo o que precisarem.
Amanda resmungou e ignoramos.
— Nós nos casaremos na sexta-feira e então partiremos em lua de mel
– continuei a falar. — E adivinhem? Vamos para a Disney!
Cassy e Oliver gritaram de felicidade, e os olhos azuis de Amanda se
arregalaram surpresos.
— Escolhemos um lugar que saberíamos que vocês gostariam de estar
conosco – eu avisei.
— Eu vou adorar! – Cassy disse entusiasmada. — Sempre foi meu
sonho ir para a Disney.
— Yes! – Oliver saltou do meu colo e pulou no chão, feliz.
— Sério que vocês estão felizes por isso? – Amanda desdenhou.
— Se você não quiser ir, eu deixo passar uns dias com sua avó em
Nova Iorque – eu avisei.
Valery me olhou chocada.
— Ryder... – ela murmurou perplexa.
Amanda olhou para a tia e ergueu uma sobrancelha.
— Eu vou adorar passar uns dias com a minha avó – ela falou se
sentindo vitoriosa.
— Mas primeiro vai viajar com a gente e depois deixo você ir – eu
assegurei.
— Então eu vou, apenas para poder ficar com a minha avó depois –
ela falou olhando para Valery. — Obrigada, tio.
Disse e saiu da mesa feliz da vida balançando o rabo de cavalo do
cabelo curto.
— Pode me explicar que decisão foi essa sem me consultar? – Valery
perguntou perplexa.
— Por que vocês dois não vão assistir TV – eu falei para Cassy e
Oliver.
— Adultos querem conversar, Oliver. Vamos sair – Cassy puxou o
irmão pela mão. O garoto ainda estava festejando a viagem para a Disney.
Olhei para Valery.
— Quero que ela passe uns dias com a minha mãe – eu falei decidido.
— E tomou essa decisão sem falar comigo? – Ela perguntou se
erguendo.
De repente a única coisa que eu conseguia pensar era que ela ficava
linda brava e eu poderia jogá-la contra aquela mesa e faríamos o melhor sexo
selvagem de nossas vidas, não havia dúvida. De repente, relacionar Valery a
uma excelente trepada era fácil. Aliás, tudo com ela era simples, gostar dela,
me simpatizar com sua conduta, solidarizar com seus problemas, ajudá-la e
até mesmo pedi-la em casamento.
— E qual o problema? – perguntei sem entender porque ela estava
brava.
— Se vamos ser pais deles, as decisões têm que ser tomadas depois de
uma boa conversa e não concordo que Amanda vá para a casa da sua mãe!
— Minha mãe é uma mulher ocupadíssima, dou uma semana para
Amanda se arrepender – falei sério encarando-a. — Confie em mim, minha
mãe sabe como fazer qualquer um se sentir miserável.
— Mesmo assim não concordo! – Ela falou taxativa.
Vera entrou na sala para retirar os pratos e Valery pegou o celular que
estava em cima da mesa e consultou as horas.
— Vamos ter que conversar mais tarde, tenho compromissos – ela
falou me dando as costas.
Eu me ergui e a segui.
— Poderíamos jantar essa noite – eu propus. — Assim colocaríamos
em pratos limpos todas essas pendências sobre nós.
Ela parou no corredor e olhou para mim com a sobrancelha erguida e
os braços cruzados. Era óbvio que ela sentiu a malícia nas minhas palavras.
— Eu adoraria, mas tenho trabalho – ela avisou.
— Está mentindo, minha secretária falou com Guinevere e ela disse
que você não tinha nada agendado para essa noite – eu a desmascarei.
Não podia culpá-la por estar assustada com essa atração física forte
que surgiu. A verdade é que sempre esteve ali, a diferença é que antes éramos
inimigos e precisávamos manter distância, agora, somos compromissados e
estaremos casados em poucos dias. E pelo visto, os dois gostavam de sexo.
Tinha tudo para dar certo.
— Ryder... – ela começou a falar.
— Pode me chamar de Bradley – eu pedi com um sorriso charmoso.
— Bradley – ela tentava não sorrir. — Vamos com calma, está bem?
Você parece um polvo, me cercando com seus tentáculos por todos os lados.
Preciso respirar, desde que você surgiu na minha vida virou tudo de cabeça
para baixo.
— Gosto de deixar a minha marca – pisquei para ela e me aproximei,
ela não fugiu. — O que tem um jantar?
Ela encolheu os ombros.
— Eu escolho o lugar – ela avisou e me deu as costas caminhando
para longe.
Fiquei olhando aquela bunda gostosa presa na saia que delineava seu
corpo. Eu teria muito prazer em rasgar aquela saia e fazê-la minha. Pode
apostar que sim.
Capítulo 18

Falar com Pamela me deixou mal o resto do dia. Eu apareci em seu


apartamento de surpresa e conversamos por horas. Foi terrível vê-la
humilhada daquele jeito chorando ao me mostrar as mensagens ofensivas que
Richard lhe enviou ameaçando publicar suas fotos. Pedi a ela que não fosse
trabalhar por aqueles dias até que eu voltasse da viagem e pudesse resolver
aquela situação direto com Albert.
Não podia permitir que mais mulheres passassem por aquilo. Até
então, eu sempre ouvira falar, fiquei à margem, mas chegou uma hora quando
as provas estavam nas minhas mãos que eu não podia mais me calar. Ou seria
tão nojenta quanto aqueles homens que se aproveitavam da fragilidade das
mulheres, ainda mais por estarem em cargos inferiores aos deles e ainda
precisarem de seus empregos.
Quando cheguei em casa, Ryder ainda não havia chegado. Fiquei com
as crianças e quando Alicia desceu do banho fui para o quintal permanecer
um pouco sozinha enquanto ela foi acompanhá-los para tomarem sorvete.
Deixei Amanda sair do quarto um pouco e passear, quem sabe saindo daquele
casulo de auto piedade, ela pudesse melhorar o humor e seu tratamento
comigo. Peguei meu cigarro que ficava escondido atrás de um dos tijolos da
churrasqueira e sentei na mesa para fumar. Não era bom, eu sabia, mas era o
meu momento de relaxar.
Estava a meio cigarro quando ouvi passos atrás de mim. Olhei por
cima do ombro temendo ser uma das crianças, mas era meu futuro marido.
Ele sorriu com malícia enquanto dobrava a manga da camisa até os cotovelos,
notei que era uma mania dele depois de tirar o paletó e jogar sobre o sofá.
Fiquei esperando ele vir e me dar um sermão sobre o quanto o cigarro fazia
mal, mas ao invés disso, ele se sentou ao meu lado e pegou o cigarro da
minha mão para tragar também.
— O pior é que essa merda relaxa, não é? – Ele me devolveu soltando
a fumaça.
Estava tão surpresa por vê-lo fumar que não contive a risada.
— O que foi? Nunca viu um CEO fumar? – Ele perguntou com bom
humor. — Nós somos uma espécie bem peculiar.
— Estou notando – devolvi fumando em seguida.
— Muito estresse? – Ele quis saber mudando de assunto.
— Oh, sim! As pessoas acham que ser vice-presidente de uma
empresa é somente glamour, mas tem dias que me pergunto se é isso mesmo
que quero fazer o resto da minha vida – comentei.
— Sempre quis trabalhar com administração? – Ele perguntou por
perguntar.
— Não. Meu sonho mesmo era trabalhar com moda – eu falei e rimos
por causa da mãe dele e Amanda. — Mas a vida tomou rumos inesperados e
um dia me vi trabalhando dentro da Jackson e fui subindo de cargo, me
especializando e quando notei estava no topo.
— Contudo você quer mais...
— Sim, eu lutei muito para chegar onde cheguei e quero ser a CEO da
empresa – falei com convicção.
Ele tinha me dito que poderia me ajudar, mas eu não queria tocar no
assunto. Queria conquistar o cargo por mérito próprio e não porque Ryder
havia me empurrado para ele. Eu havia feito tudo sozinha até agora e queria
que continuasse dessa forma.
— Você lembra o que eu lhe disse...
— E agradeço a dica que me deu – eu o cortei. — Porém, mesmo que
eu não consiga, preciso fazer isso sozinha, Bradley – o encarei séria. — Não
posso chegar lá com a sua ajuda.
Ele me estudou por alguns segundos antes de dizer.
— Como quiser. Mas se precisar, sabe que posso ajudar – ele
garantiu.
— Obrigada – traguei e apaguei o cigarro na ponta da mesa e o joguei
na churrasqueira.
— Qual foi a última vez que acendeu essa churrasqueira?
— Para falar a verdade nunca fiz isso – confessei e nós rimos. —
Nunca tive tempo para a vida social, sempre foi o trabalho em primeiro lugar.
— Até as crianças chegarem – ele concluiu.
— Eles mudaram tudo – garanti. — E apesar de ter sido um choque
no começo e eu ter chorado muito, estou gostando agora.
— Vamos fazer dar certo. Estamos dispostos...
— Mas, e a sua vida? Nova Iorque? Vai deixar tudo para trás?
— Como eu lhe disse, posso administrar as coisas daqui e também
posso ficar uns dias lá outros aqui... – ele ponderou gesticulando. — Nada
com o qual eu já não esteja acostumado, a diferença é que agora tenho para
onde voltar, por quem voltar.
Era bom ouvi-lo falar dessa forma.
— Não se questiona se estamos fazendo a coisa certa? – Eu o
interroguei. — Não para e pensa que talvez estejamos sendo precipitados?
— Eu ponderei muito, Valery – ele falou olhando para a frente.
Pude admirar seu perfil. Bradley era realmente bonito. O tipo de
homem másculo e atraente que sabe a que veio. Sua determinação transpirava
por seus poros, ele não tinha medo e era seguro. Isso era um charme quase
irresistível em um homem. Ele olhou para mim. Seus olhos tomam os meus e
não consegui desviar.
— E eu quero essa família como jamais desejei outra coisa...
Engoli em seco. Essa família englobava o beijo que trocamos no
vestíbulo e a vontade de ir mais além?
— Fico feliz – eu limitei a dizer.
— Não sou um homem de questionar muito quando decido algo – ele
observou.
— Notei isso – falei e sorri. — Talvez seja disso que as crianças
precisam. Não acredito que Arnold ou Victoria tenha dado muitos limites a
eles...
— Tento imaginar como era a vida deles antes e não gosto para onde
meus pensamentos me levam – ele falou com o cenho franzido. — Sinto
como se tivesse negligenciado...
— Não é sua responsabilidade! – Eu o cortei para surpresa dele. —
Ou minha. Minha irmã e seu irmão sabiam o que faziam. Victoria está morta
e Arnold vai pagar por seu crime. Fim da história. Agora começa outra
narrativa conosco e as crianças, temos que nos apegar a isso, Bradley, ou juro
que vou enlouquecer toda vez que me recordo que eu enviava dinheiro para
Victoria vir para Chicago e ela o dava para Arnold pagar as dívidas com os
traficantes...
Ele respirou fundo e soltou o ar devagar pensando no que eu havia
dito.
— Você chegou a falar com ele? Depois do que houve? – perguntei
por curiosidade.
— Não. Eu estive em Utah, mas não consegui ir até a prisão. Não por
condenar meu irmão, mas porque simplesmente não conseguiria olhar na cara
dele e enxergar o assassino que ele se tornou.
— Sinto muito – falei de coração.
— Não sinta. Como você disse, não temos culpa de nada...
— Não – concordei.
O silêncio caiu pesado sobre nós. Ficamos sentados ali alguns
minutos em silêncio.
— Valery...
— Bradley...
Dissemos ao mesmo tempo.
— Pode falar – eu pedi.
— Diga você – ele insistiu com educação. — Não era nada
importante.
— Ainda vamos sair para jantar? – Eu quis saber.
— Por que? Está desanimada?
— É que hoje o dia foi um pouco tenso – respondi.
— Algo a preocupa?
— Sim – eu assenti. — Estou com um problema sério na empresa.
— Quer dividir?
Nunca precisei repartir nada com ninguém. Sempre resolvi tudo
sozinha e era estranho falar sobre algo tão sério com um homem que eu mal
conhecia. Ou talvez conhecesse o suficiente para confiar nele e me casar com
o intuito de criar meus sobrinhos e passar o próximo ano da minha vida ao
lado dele. Ou os outros também se tudo desse certo. Senti um arrepio pelo
corpo ao pensar nisso.
Uma vida toda era muito para eu compreender naquele momento a
imensidão da decisão que havia tomado.
— Bem, digamos que Albert Jackson e seu genro Richard tem um
grupo machista onde eles dividem... – eu gesticulei com as mãos —, suas
experiências sexuais.
— Um grupo?
— Sim, desses de aplicativo de mensagens – expliquei.
— E? – Ele não compreendeu.
— Richard usa para enviar fotos das mulheres com quem sai. Sem o
consentimento delas. Além disso, eu descobri que ele está chantageando uma
de minhas estagiárias.
— Com fotos? – Ryder perguntou surpreso.
— Pamela saiu com um dos caras da empresa e trocaram nudes. Um
dos nudes foi parar nesse grupo e agora Richard disse a ela que se não sair
com ele vai soltar as fotos nas redes sociais – contei.
— Isso é muito grave, Valery – Ryder disse sério. — Já falou com
Albert?
— Decidi fazer isso depois da viagem. – expliquei. — Não quero dar
tempo para Richard agir enquanto eu estiver fora.
— Está certa – ele concordou. — Mas não pode se calar diante disso.
Fiquei feliz por saber que ele pensava como eu.
— Richard sempre foi um nojento – falei séria. — Mas agora ele
passou dos limites e alguém tem que pará-lo.
— Sim e faça isso com o conhecimento do setor jurídico da empresa e
a ouvidoria. – Ele me aconselhou. — Assim, ele não poderá fazer nada contra
você sem prejudicar a si mesmo.
— Obrigada pelo conselho...
Sorri para ele e passei as mãos no pescoço e depois estiquei as costas.
Estava tensa com tudo aquilo. Meu sexto sentido me dizia que não seria tão
fácil como parecia, que Richard jogaria baixo e era isso que eu, lá no fundo,
temia ter que enfrentar, ainda mais se Albert o protegesse. Quando notei,
Bradley estava atrás de mim e suas grandes mãos nos meus ombros me
massageando.
— Não precisa – eu disse nervosa.
— Relaxe, não vai doer...
E eu relaxei. As mãos dele eram hábeis e em segundos desfazia os nós
dos meus ombros e nuca. Foi nesse segundo que a situação começou a ficar
diferente, não por Bradley, ele não estava fazendo nada demais, contudo, eu
estava excitada. Meu corpo foi relaxando com o toque mágico dele e o centro
das minhas pernas pulsaram de desejo. Não sei se essa era a intenção dele,
mas minha respiração ficou pesada a ponto de eu querer mais que uma
simples massagem.
Meu coração bateu acelerado quando segurei a mão dele. Bradley
parou no mesmo segundo e quando pensou que eu fosse afastá-lo, eu puxei
sua mão para a abertura da minha camisa sobre o meu seio. No primeiro
segundo ele ficou surpreso, mas em seguida sentou-se atrás de mim, suas
pernas em volta dos meus quadris.
Não sei porque permiti tanta intimidade, mas seria hipocrisia da
minha parte se eu dissesse que não queria. Os lábios dele desceram pela
curva do meu pescoço enquanto as mãos apalpavam meus seios por sobre a
camisa. Encostei minhas costas em seu peito largo e ele manteve a boca bem
na curva do meu pescoço.
Que delícia...
As mãos desceram pelo meu corpo e puxaram minha saia para cima.
Meu clitóris pulsou e senti seu pau ereto bem na curva da minha bunda. Era
tão excitante que eu não saberia nomear. Eu havia perdido a cabeça
completamente e era quente. Eu só queria gozar e relaxar um pouco, qual era
o problema?
Ele começou a se esfregar em mim enquanto suas mãos abriam
minhas pernas, e seus dedos hábeis afastavam minha calcinha. Levei as mãos
no banco e me apoiei enquanto me esfregava mais nele para cima e para
baixo. Ele segurou um dos meios seios com força e com a outra mão
encontrou meu clitóris e começou a acariciá-lo.
— Isso... – eu murmurei.
— Gostosa... – ele sussurrou em meu ouvido.
Era um movimento contínuo dos meus quadris contra o seu pau e dos
dedos dele em meu clitóris e no bico do meu seio, puxando-o, apertando-o
enquanto nos perdíamos naquelas carícias indecentes e aprazíveis.
— Mais, gostosa – ele disse aumentando o ritmo dos dedos e meus
quadris começaram a girar contra seu pau mais rápido.
Quando dei por mim meu corpo começou a tremer e o calor me tomou
de uma forma tão cega que acabei gozando forte. Arqueei o corpo ainda mais
enquanto ele intensificou o movimento e fui me entregando até não suportar
mais e perder a consciência por alguns segundos deliciosamente delirantes.
Eu o senti gozando atrás de mim, sua cabeça no meu ombro, as mãos
apertando meu corpo.
Era pecaminoso.
Segurei sua mão e a chupei sentindo meu próprio gosto. Nós nos
olhamos num misto de surpresa e satisfação. O pouco que vivemos já foi o
suficiente para dias de prazer cheios de promessas de luxúria.
Ouvimos uma porta se bater e nos arrumamos depressa, antes dele se
sentar ao meu lado. Esqueci completamente das crianças. Tive vontade de rir
da situação quando notei sua calça manchada e ele apenas encolheu os
ombros sem muita escolha, mas a chegada das crianças no quintal procurando
por nós me impediu de tecer qualquer comentário. Se carícias me levaram ao
paraíso, fiquei imaginando como seria uma foda completa.
E eu queria mais e senti em seu olhar que Bradley também.
Capítulo 19

Eu não conseguia dormir. Depois do que ocorrera no quintal, não


pensava em outra pessoa que não fosse Valery. Acabou que não tivemos um
jantar, fizemos a refeição com as crianças que estavam animadas com a
notícia da viagem. Amanda havia se entrosado com a babá, Alicia, e parecia
mais à vontade, contudo, não menos arisca com Valery. Oliver estava
dormindo ao meu lado. Eu pedi pizza contra a vontade de Valery, mas dei a
desculpa que era para comemorar sobre a notícia do casamento.
Ri quando soube que Alicia ocuparia o quarto ao lado das meninas, o
que Valery disse que não tinha na casa para eu dormir. Pensei que ela jogava
duro e não cederia sua confiança em mim apesar de tudo. Mas a confiança
entre nós viria com o tempo. Eu queria outra coisa no momento. Seu sexo, ela
inteira, o prazer de tomar seu corpo e penetrá-la com força. Pensei em subir
até o quarto dela, mas lembrei que Cassy sempre ia para lá no meio da noite,
eu teria que me segurar.
Com sede, acabei indo para a cozinha beber água. O que eu precisava
de verdade era de um banho gelado. Estava fechando a geladeira depois de
pegar a jarra com água glacial quando ouvi passos atrás de mim. Olhei por
cima do ombro e vi Valery com sua camiseta do Rolling Stones caída de um
lado dos ombros. Era sexy. Pela primeira vez eu a vi com os cabelos soltos,
eram longos e caíam como cascatas de cachos pelos peitos empinados.
Meu membro se ergueu com vontade. Até mesmo sem maquiagem a
mulher era linda, tentadora. Ela me viu e seus olhos se arregalaram surpresos,
mas depois um sorriso malicioso surgiu em seus lábios quando ela passou
pela porta e a fechou em seguida sem tirar os olhos de mim. Ela girou o
trinco, trancando-a.
O girar das chaves me deixou excitado. Ela não queria que fossemos
interrompidos.
— Uma bela surpresa – ela falou se aproximando de mim.
Deixei a jarra em cima do balcão e o copo também. Apenas a luz do
quintal penetrava pela janela iluminando o corpo bonito de Valery. Eu até
havia me esquecido de estar com sede, naquele momento eu sentia fome
daquela mulher.
— A melhor delas – eu dei um passo para ela e paramos diante um do
outro. — Estava pensando em você...
— E eu em você, Bradley – ela confessou.
Caralho, nenhum homem pode resistir a uma mulher que sabe o que
quer. Adoro isso. Não pela experiência, mas pela determinação. Levei a mão
no ombro nu e deslizei o polegar nele. Os olhos dela ficaram escuros, era
óbvio que um simples toque lhe despertava desejo, nós queríamos a mesma
coisa, experimentar do prazer que nossos corpos podiam nos dar.
Meus dedos deslizaram por seu ombro até chegar ao pescoço. Seus
olhos se fixaram nos meus e a língua passou pelos lábios bonitos num misto
de ansiedade e apreensão. Eu sentia uma fome crescente e dolorida, o desejo
dela era igual ao meu, só então percebi que seus olhos beiravam o mais
intenso tom de violeta como uma tempestade no início da noite.
Sem dúvida, ela era a mulher mais sensual que eu já havia conhecido.
Não contive e a segurei com força puxando-a para um beijo naquela boca
linda e gostosa. Em um mesmo dia eu a beijei, a fodi com meus dedos e
agora ia comer sua boceta. E que boca, nenhuma mulher que conheci possuía
uma boca tão gostosa e feita para ser beijada até que implorasse por mais.
Os dedos dela deslizaram pelos meus cabelos e o beijo se tornou tão
intenso que parecíamos um apenas. Nosso beijo foi selvagem e ela abriu a
boca para gemer, e invadi sua boca com a minha língua. Alcancei a barra
daquela camiseta e a ergui. Meu pau ficou mais duro quando notei que não
havia calcinha ou sutiã atrapalhando meu caminho. Meus dedos escorregaram
pela pele macia e a senti estremecer, um gemido rouco escapar de sua linda
garganta.
Eu me afastei para tirar a camiseta e ela ajudou a tirar a minha, depois
o short. Voltei a beijá-la e nossas peles se tocaram por completo, cada
centímetro, os seios macios contra o meu peito, meu pau contra o seu ventre.
Minhas mãos deslizaram pelas costas delgadas e por todo o corpo delicioso.
Era interessante pensar que eu estava prestes a foder com a mulher que seria
minha esposa pelo menos durante o próximo ano.
Não contive a necessidade de tocar seus seios, afagá-los sentindo-os
enrijecer sob os meus dedos. Ela afastou os lábios dos meus e os ofereceu
para mim como uma oferenda e os tomei com paixão. Eram lindos, redondos
e cabiam na minha mão na medida certa. Primeiro raspei os dentes, e as
pernas dela oscilaram. Peguei Valery no colo e a coloquei sobre o balcão.
Fiquei entre suas pernas e voltei a beijar os seios. Passei a língua bem
devagar, provocando e torturando.
— Quero te chupar inteira, Valery – eu disse contra sua pele e ela
gemeu.
Minha boca úmida roçou o outro seio antes de descer pelas costelas e
atingir a barriga. Afastei as pernas para beijar as coxas lindas, enquanto
minhas mãos afagavam os seios e desciam pelo mesmo caminho que a boca
havia percorrido. O corpo dela era lindo, senti o cheiro de seu sexo e me
perdi totalmente. Minha boca seguiu para cima na coxa, lambendo até chegar
a virilha. Os dedos entrelaçaram meus cabelos quando beijei a fenda
molhada. Ela estava excitada por minha causa e isso me deixou louco.
Lambi a fenda e Valery ofegou quando minha língua subiu até o
clitóris inchado. Fiquei me perguntando há quanto tempo ela estava excitada
pensando em mim.
— Seu gosto é delicioso – eu murmurei antes de avançar e lamber e
chupar o clitóris que me chamava.
Eu lambi e chupei diversas vezes enquanto Valery movia os quadris
falando o meu nome. Nunca pensei que gostaria tanto do meu nome como
naquele momento. Ela choramingou a certa altura e eu pressionei mais o
botão inchado e então Valery encontrou o primeiro orgasmo. E antes que
chegasse ao fim, ela me puxou pelos cabelos e eu me ergui para tomar sua
boca, para que ela sentisse o próprio gosto. O beijo foi erótico, excitante. Não
aguentava mais...
— Estou sem camisinha aqui – murmurei contra os lábios dela.
Ela me encarou com coragem e disse:
— Eu sou doadora de sangue e estou limpa – ela comentou.
— Eu também estou – confirmei sem hesitar. — Confia em mim?
— Parece que temos que confiar ou parar por aqui – ela falou segura
enquanto me encarava. — Lembra o que eu disse sobre fidelidade? –
perguntou e eu assenti. — É isso.
— Gosto de sexo e você também – ponderei —, acredito que
podemos começar uma relação bem interessante.
— Eu estou disposta. E como tomo anticoncepcional desde que sou
nova, não pretendo engravidar e ter filhos.
— Já temos três – comentei e sorrimos.
Mas o assunto era sério. Nós nos casaríamos em três dias, porque não
confiar?
— Eu juro lhe ser fiel nesses trezentos e sessenta e cinco dias,
Bradley – ela disse para minha surpresa. — Se eu quiser sexo será somente
com você.
As palavras dela quase me fizeram ejacular de forma prematura.
Valery era sincera e eu também poderia ser.
— Negócio fechado – concordei. — Serei apenas seu nesse ano de
casamento.
— Ótimo, eu...
Não a deixei terminar de falar. Eu a beijei e a puxei mais para a
beirada do balcão e meu pau roçou sua boceta molhada. E então eu a invadi.
Quente e apertada. Senti suas pernas envolverem meus quadris e suas unhas
se arrastaram pelos meus ombros e costas. O perfume dos cabelos dela
envolveu minhas narinas e fiquei embriagado.
Comecei a me mover, mergulhando mais fundo enquanto ela me
aceitava, seus gemidos se perdendo com os meus.
— Gostosa – foi a única coisa que consegui dizer antes de abraçá-la e
me mover mais depressa, sentindo o corpo dela acompanhar o meu ritmo.
Começamos a nos mover juntos como se tivéssemos feito sexo a vida
toda juntos. A pressão do desejo foi crescendo e chegamos juntos à beira do
precipício e nos jogamos. O gozo foi profundo e avassalador para ambos. Eu
ainda a beijei, mesmo estando ofegante e ela ficou com as pernas em volta de
mim, até que finalmente relaxamos e nos afastamos.
Antes que Valery pudesse pensar, eu toquei o centro de suas pernas e
ela ofegou.
— Pare! Assim eu não vou aguentar – ela lamentou.
— A ideia é essa...
E abaixei a cabeça até seu seio, chupando-o enquanto minha mão
ainda tocava seu clitóris.
— Por favor... – ela lutou para segurar minha mão, mas eu continuei
me movendo bem ali e ela voltou a gemer.
Estava sensível e meus dedos buscaram o restante de orgasmo que eu
sabia ainda existir.
— O que está fazendo? – Ela perguntou erguendo minha cabeça para
me encarar.
— Dando a você tudo o que merece, Valery – eu disse com a voz
embargada.
— Não po... – a voz dela se perdeu quando ela sentiu o corpo excitar
de novo e seu clitóris pulsar vezes seguidas e novamente encontrar o caminho
do paraíso.
Ela se segurou em meu braço e meus dedos se moveram devagar e em
círculos. Valery começou a gemer e então o gozo a tomou mais uma vez, o
corpo todo tremeu e ela quase caiu do balcão se apoiando em meu corpo.
Quando acabou, ela ergueu o olhar lânguido e perguntou ofegante.
— Isso é bom – ela sorriu.
Nós nos beijamos. Sinto que poderia tê-la tomado naquele chão outra
vez quando ouvimos batidas na porta.
— Tia Valery – era a voz de Oliver.
Rindo, nós nos vestimos e eu afastei do balcão para colocar a jarra
com água na geladeira enquanto ela foi abrir a porta da cozinha.
— Oi – o menino disse ao vê-la – Eu não achei o tio Brad.
— Ele veio beber água, meu bem...
— E por que trancou a porta? – Oliver entrou e perguntou.
— Mania – respondi depressa mostrando o copo cheio de água.
Valery foi até a janela e a abriu. A cozinha estava fedendo a sexo e
qualquer pessoa mais madura que entrasse notaria. Ela prendeu os cabelos
num coque e foi pegar água também.
— Eu também quero água – Oliver pediu se aproximando de mim.
Bebi do meu copo e Valery veio com um copo cheio para ele. Ela
forçou um sorriso para mim. Era óbvio que estava constrangida com a
chegada do sobrinho. Sequer lembramos das crianças enquanto trepávamos
daquela forma deliciosa. E poderia seguir assim, mas sua cama já estava
ocupada por Cassy. Seria do mesmo modo com tanta gente morando dentro
da mesma casa e eu teria que me acostumar, ainda mais habituado a viver
sozinho a maior parte do tempo.
Valery deu um boa noite e subiu sem olhar para trás. Logo, eu e
Oliver voltamos para o sofá, mesmo quando eu disse para ele subir para o
quarto, ele quis ficar na sala comigo. Ele apagou, mas eu não dormi, o gosto
de Valery ainda estava comigo, deliciosa, maravilhosa. Que mulher!
Eu tinha uma reunião em Nova Iorque logo cedo, por isso, saí de
madrugada, antes de todos acordarem. Meu dia foi intenso de trabalho, mas a
todo o momento eu me pegava pensando em Valery, no som de seus
gemidos, em sua boceta molhada, no clitóris que pulsava contra o meu dedo,
em seus quadris contra o meu pau. Pensei em mandar mensagem para ela,
mas optei por não mandar. Não queria que ela pensasse que eu estava
obcecado.
Embora minha cabeça prática me dissesse que não havia problema
algum em uma mensagem. Estava pensando nisso quando meu celular apitou.
Bom dia.
Uma mensagem surgiu no meu celular e quase caí da cadeira quando
vi a foto de Valery.
Nosso jantar ainda está de pé?
Não havia mais nada tentador para mim do que uma mulher que sabia
exatamente o que queria. Eu queria jantá-la de todas as formas.
Eu escolho o lugar.
Mandei e tenho certeza que roubei um lindo sorriso seu.
Fechado. Ela concordou.
Fiquei ansioso para a volta para casa. Contudo, uma tempestade
cancelou meu voo para Chicago. Fui obrigado a mandar uma mensagem para
Valery depois que sai do banho e liguei a TV do meu quarto.
Vou ter que ficar em Nova Iorque.
Ela respondeu rapidamente:
Eu vi o noticiário. O aeroporto foi fechado.
Respirei irritado olhando ao redor e me deitando na cama confortável.
Seu advogado mandou o contrato para a minha advogada.
Eu já sabia disso. Steve me avisou que passaria por Chicago para
deixar os papeis com a tal advogada de confiança de Valery.
E então? Já assinou?
Ela demorou um pouco para responder.
Não.
Apenas isso e fiquei surpreso.
Posso saber o motivo?
Ela não demorou para responder.
O contrato não deixa claro como vai ficar depois do divórcio.
Arregalei os olhos ao notar a resposta fria.
Você diz a respeito das crianças? Perguntei.
Sim. Ela respondeu.
Tomei coragem e respondi.
Não vamos nos divorciar, Valery. Eu prometo.
E mandei jogando o celular de lado. Eu sequer poderia acreditar que
dissera isso, mas disse e não voltaria atrás em minha decisão.
Capítulo 20

Meu queixo caiu quando li aquela mensagem. Como assim não


divorciaria? Não foi o que combinamos. Imediatamente, eu peguei meu
celular e liguei para ele. As crianças tinham acabado de jantar e Cassy e
Amanda conversavam no quarto sobre um cantor que eram fã e estava
namorando uma atriz que elas não gostavam. Oliver estava no vídeo game.
Logo após a viagem, eles começariam na escola nova e seria outra fase de
adaptação. Eu esperava que com a presença de Ryder e todo o equilíbrio que
buscávamos, tal situação fosse menos traumatizante para eles e para nós.
Enquanto o celular de Ryder tocava empurrei a porta o suficiente para
dizer para elas:
— Comecem a arrumar as malas, nós partimos para a Flórida sexta
antes do almoço – avisei.
— Está bem – Cassy concordou e se ergueu para ir até o armário.
Amanda apenas me ignorou. Pelo menos dessa vez, ela não me
xingou ou resmungou. Apenas desviou o olhar para a janela fingindo que eu
não tinha dito nada. Respirei fundo e ouvi a voz masculina deliciosa e rouca
que me fez arrepiar até o couro cabeludo. Depois da noite anterior era
inevitável ficar excitada perto dele, ou até mesmo por telefone.
— Não foi isso que combinamos – eu disse entrando no meu quarto e
fechando a porta.
A última situação que eu precisava era que as crianças ouvissem
aquela conversa.
Ouvi sua risada do outro lado. Arrepiada de novo. A merda de transar
com um cara gostoso era o efeito que isso tinha sobre o meu corpo por uns
dias. A boa notícia era que passava e como todos os outros homens que
conheci, deixaria de ser novidade. Segura dos meus pensamentos, eu me
joguei na cama e recostei nos travesseiros.
— Nós combinamos que dentro de um ano, se não nos dermos bem,
nós vamos nos divorciar – ele garantiu.
— Bradley, não ficou claro no contrato e muito menos como será a
partilha das crianças – eu pontuei.
— Porque tenho certeza que não haverá divórcio – ele disse seguro.
Passei a mão no rosto, impaciente.
— Isso precisa ficar claro...
— O que está muito claro para mim, Valery, é que depois da noite
anterior não pretendo me divorciar de você...
Fiquei sem voz por alguns segundos.
— O que aconteceu ontem não significa que daqui um ano estaremos
morrendo de amores um pelo outro, Bradley – joguei a real. — Foi apenas
sexo.
— O melhor sexo que já fiz – ele assegurou para felicidade do meu
ego —, e não sou um homem de me enganar fácil. Temos tudo para dar certo.
Respirei fundo.
— E se não der? Isso precisa estar claro no contrato. – insisti.
A última coisa que eu precisava era perder meus sobrinhos depois de
um ano lutando para dar certo.
— Da minha parte pode colocar o que quiser. Se depois de um ano
não estivermos felizes, podemos viver juntos por conveniência, o que acha? –
Ele perguntou como se estivéssemos no século dezessete.
— De jeito nenhum! – discordei. — Não vamos ter um casamento de
fachada e eu tendo casos fora e você também! Seria errado...
— Para quem? – Ele me questionou.
— Para mim. Eu me sentiria mal fingindo viver algo que não é
verdadeiro – justifiquei.
— Está sendo contraditória, Valery. Pode ser casar comigo por
conveniência agora, mas não pode manter isso depois?
Ele me colocou contra a parede.
— Talvez tenha sido um erro aceitar sua proposta – eu disse
simplesmente.
— Se para você não vale a pena, posso buscar as crianças amanhã
mesmo e trazê-las para Nova Iorque...
— Isso é chantagem! – Eu o acusei.
— Não. Estou sendo sincero. Desde o início, eu a procurei e deixei
claro minhas intenções, mas se não for isso que você quer, por direito e pela
lei, vou levá-los. Estou me sacrificando, Valery, também estou abrindo mão
da minha liberdade e da minha vida por eles. Cabe a você decidir se quer
isso.
Um silêncio pesado caiu sobre nós e eu me senti uma idiota. Bradley
nunca escondeu a verdade sobre suas intenções. Respirei fundo.
— Eu só não quero ficar sem as crianças – confessei alisando o
edredom da minha cama com a ponta dos dedos.
— Também não quero ficar sem eles. E se não nos unirmos, minha
mãe pode vencer nós dois. Não estou enganando você, Valery. Não preciso
de você para tê-los, eu apenas quero que eles tenham a família que nunca
tiveram.
Um soco de esquerda e fui à nocaute me sentindo uma imatura. Passei
a mão pelo rosto.
— Está bem, manteremos o contrato como está e ambos vamos nos
esforçar para vivermos bem e não termos um divórcio – falei séria.
— Assim é melhor – ele falou mais tranquilo. — E como estão as
crianças?
— Mandei as meninas arrumarem as malas para a viagem e Oliver
está jogando vídeo game no quarto dele – contei.
— Posso falar com ele? – Ele pediu para minha surpresa.
— Claro – concordei.
Levantei e fui até o quarto de Oliver.
— É o tio Brad – avisei.
O menino deixou o controle do vídeo game de lado e pegou o celular
e conversou com o tio super animado.
— Depois leve o celular para mim no quarto, está bem? – avisei
Oliver e ele assentiu pulando na cama para falar com o Bradley.
Fui para o meu quarto e fiquei refletindo sobre o que aquele homem
dissera. Mesmo assim, minha consciência se perguntava e se tudo desse
errado, e se em algum momento a gente se odiasse? E se ele se apaixonasse
por outra pessoa? Ou eu me apaixonasse por outro homem? Será que ele
pensaria friamente em não se divorciar e me afastar das crianças? Ao mesmo
tempo eu me sentia uma tola por pensar assim. Ele estava determinado em
formar uma família feliz para eles.
Talvez quando Oliver crescesse e não demoraria muito, talvez uns
onze anos, eu seguiria meu caminho e Bradley o dele. Deus! Onze anos ao
lado de uma pessoa, não conseguia me enxergar tanto tempo com alguém, eu
enjoava fácil das pessoas e sexo não era um fator que me segurava, mesmo
que fosse o melhor. Já havia dormido com garotos de programa bem
experientes e não quis passar a minha vida ao lado deles ou revê-los numa
noite seguinte. Eu temia que Bradley não estivesse pensando friamente
movido pela gana de não deixar a mãe ficar com as crianças.
Não demorou e Oliver me entrou no meu quarto e me entregou o
celular.
— Tio Brad quer falar com você – ele avisou.
— Está bem – sorri.
Oliver saiu e fechou a porta. Meu coração bateu apressado dessa vez e
não entendi o motivo.
— Oi! – Eu disse simplesmente.
— Amanhã à noite vai ter uma recepção para investidores aí em
Chicago, gostaria que fosse comigo – ele avisou.
— Creio que não há nada na minha agenda – cogitei.
— Confirme com a sua secretária e me avise – a voz dele soava fria e
indiferente.
Acredito que ele não gostou daquela conversa sobre divórcio. Mas ele
não queria que eu estivesse cem por cento segura em fatos que sequer havia
acontecido, em apenas suposições de como seria nossa vida dali um ano. Era
controladora e não estava acostumada a deixar a vida me levar, eu conduzia
tudo do meu jeito e era difícil deixar outra pessoa dirigir o barco sem tentar
por minha mão no leme.
— Eu avisarei – prometi.
— Espero que nossa conversa tenha ficado clara – ele retomou o
assunto.
— Ficou, amanhã assinarei os papeis e envio para o seu advogado –
avisei sem muita emoção na voz.
— Temos que confiar um no outro, Valery – ele me aconselhou. —
Caso contrário, não vai dar certo.
— Você confia cem por cento em mim? – Eu o questionei.
— Caso não confiasse não teria feito a proposta que fiz e não teria
chupado você na sua cozinha ontem à noite – ele falou como se estivesse
comentando de um negócio em uma sala de reuniões.
Comecei a relaxar ao notar que para Bradley sexo era sexo. Ponto. E
ele se baseava no fato de termos nos dados bem que isso se arrastaria pelo
tempo que ficaríamos juntos. Eu esperava que sim, mas não criava ilusões.
— Tudo bem, vou tentar enxergar tudo isso como um negócio, como
você disse e não vou ficar criando teorias da conspiração – prometi.
— Somos uma empresa agora e precisamos administrá-la bem. Só o
fato de você ter trazido para mim algo que a incomodava, mesmo que seja
tolo, mostra que estamos no caminho certo...
Não sei se ele era esperto em me elogiar esperando que eu baixasse a
guarda, ou fazia isso por sinceridade. Como eu prometi que não criaria
teorias do caos, acreditei em sua sinceridade.
— Temos que ter diálogo, sempre que algo incomodar temos que
estar abertos a falar, sem restrições. Isso serve para nós dois.
— Está bem – concordei. — Que assim seja, chefe!
Ele riu do outro lado.
— Poderia me chamar de chefe quando eu estivesse em cima de você
na cama – sua voz soou maliciosa.
Fiquei um pouco constrangida, mas acabei rindo.
— Gosta de ser chamado de chefe? – Eu ri da situação.
— Prefiro mestre – ele disse e riu. Não sabia se estava brincando ou
falando sério.
— Não sei se faço o tipo submissa... – ponderei.
— Não quero que seja submissa, gosto da sua iniciativa sempre – ele
garantiu.
Céus! Eu estava ficando excitada com aquela conversa porque me
fazia lembrar dos momentos da noite anterior.
— É uma pena que não esteja aqui – eu disse.
— Podemos ligar a câmera – ele propôs.
Meu coração acelerou.
— Nunca fiz sexo virtual – contei e ri nervosa.
— Uma virgem virtual! – Ele debochou. — Precisamos resolver isso
agora!
E meu telefone começou a tocar para chamada de vídeo. Bradley não
era um homem de meias palavras e sequer perdia tempo e isso era excitante.
Atendi e o vi do outro lado, ainda bem que estava vestido. Ele surgiu lindo
com aquele sorriso sedutor que poderia virar uma mulher do avesso.
— As crianças estão acordadas... – relutei em aceitar a ideia.
— É só fechar a porta – ele respondeu. — Além disso, temos que
aproveitar que estão ocupadas. Depois vão todos dormir com você...
Hesitei, mas acabei levantando da cama e trancando a porta. Eu me
sentia como uma adolescente de quinze anos fazendo algo errado escondido
dos pais. Vi que ele ajeitou o celular sob a cama de forma que eu pudesse ver
todo o seu corpo. Ele foi tirando a roupa e ficou nu. Aquele corpo bronzeado
esculpido pelos deuses me fez salivar. O corpo de Bradley não era aqueles
sarados exagerados da academia, era bonito, firme, os músculos se moviam
flexíveis de uma forma sedutora que convidava ao prazer.
Ele era todo bonito, admito. A franja que nas primeiras vezes estavam
com gel, agora pendiam sobre a testa dando um ar desleixado.
— Tira a roupa – ele mandou.
Respirei fundo e posicionei o celular como ele fez. Ainda cautelosa
tirei a roupa e fiquei de frente para ele.
— Você é gostosa pra caralho! – Ele falou tocando o membro que já
estava ereto. — Só de pensar em você, Valery, estou duro, olha.
Eu salivei e minha respiração ficou pesada. Vê-lo se masturbar era
sexy e nada ofensivo. Fiquei com vontade de estar lá e deixar meu corpo se
perder no dele. Toquei meus seios que ficaram pesados, puxei o bico.
— Assim, mestre? – provoquei com a voz sedutora e ele gemeu do
outro lado.
— Assim você acaba comigo, gostosa...
Minhas mãos desceram pelo meu corpo. Eu não era a mulher mais
sarada do mundo, mas minhas corridas pela manhã me ajudavam a manter a
forma e eu estava gostando de me ver no canto da tela, tocando meu próprio
corpo, era excitante e prazeroso ao mesmo tempo vê-lo e assistir a mim
também.
Passei a mão na minha entrada molhada e ofeguei antes de tirar os
dedos e mostrar a ele como eu estava pronta para ele.
— É isso que você faz comigo, Brad... – murmurei e me deitei de
forma que minha boceta ficou virada para a câmera. Assim ele podia assistir
tudo.
Ele gemeu quando fiz isso e fiquei apoiada em um cotovelo enquanto
usava a outra mão para me tocar. Começamos a nos mover em sincronia. Ele
no vai e vem daquele pênis grosso e grande e eu ali, no meu clitóris, enquanto
minha boceta pulsava de prazer.
— Juro que a próxima vez, vou te chupar muito, Brad – eu murmurei.
— Ah, Valery.... Promessa é dívida, sua safada...
E então ele aumentou o ritmo. Tenho certeza que minhas palavras o
levaram à loucura.
— Imagina que é meu dedo te tocando, gostosa – ele pediu. — Goza
para mim, goza.
Eu me perdi quando ele me pediu isso.
— Sim, mestre, eu gozo para você... – entrei naquele jogo de
perdição.
Fechei os olhos e ouvi seus gemidos intensos e então gozamos. Meu
corpo ardeu num prazer latente e eu daria tudo para ele estar ali e me foder
com força. Quando abri os olhos, ele estava terminando e me olhou com um
prazer tão genuíno que me fez sentir a mulher mais desejada do mundo.
Batidas na porta e levei um susto.
— A festa acabou, mestre – eu sorri com malícia antes de desligar e
correr para me vestir.
Era Oliver. Ele estava com fome e Alicia tinha saído para a faculdade.
Quem disse que a vida de uma recém mãe era fácil?
Capítulo 21

Notei que Valery instigava em mim meus instintos mais sacanas. Eu


queria ir para a cama com ela a todo o momento, o sabor de seu corpo ainda
estava na minha boca e era delicioso, significava que poderíamos ter uma
união sexual muito satisfatória e o que eu poderia querer mais?
Acabei saindo de Nova Iorque mais tarde que o esperado. Aproveitei
que fui obrigado a ficar e resolvi todas as pendências necessárias para que eu
pudesse viajar com tranquilidade. Não me recordava da última vez que fiquei
afastado da empresa, férias era um termo pouco usado por mim e folga era
algo raro. Eu respirava trabalho, e estava estranhando ter que parar por alguns
dias. Contudo, a ideia de que eu e Valery teríamos uma lua-de-mel e de
quebra as crianças se divertiriam era o suficiente para me convencer de que
eu estava fazendo a coisa certa.
Quando cheguei em casa, quase desisti de ir na festa. Oliver se
agarrou a mim, Cassy queria conversar e até mesmo Amanda saiu do quarto
para me dar um abraço de boas-vindas. Fiquei surpreso com a atitude dela.
— Onde está sua tia? – Eu perguntei a eles enquanto olhava em
direção as escadas esperando que ela aparecesse com aquele olhar carregado
de malícia. Mas nenhum sinal dela.
— Ela deixou esse cartão – Cassy foi até o móvel perto da TV e
pegou o pedaço de papel e voltou para perto de mim. — É o salão onde ela
foi se arrumar para a festa. Você tem que pegá-la nesse endereço.
Então minha futura esposa foi se arrumar para a festa? Com certeza,
ela se inteirou que era uma recepção que exigia certo padrão de roupa e foi se
arrumar. Estava ansioso para ver o resultado.
— Vou tomar um banho e me trocar – avisei as crianças e Alicia
surgiu no corredor. — Eu e Valery vamos passar a noite fora. Sabe meu
número caso precise.
— Pode ir tranquilo – ela me garantiu. — Vamos fazer pipoca e
assistir um filme.
Fui para o quarto de Valery tomar um banho e me trocar. Por sorte,
minha secretária já havia enviado o smoking. Oliver ficou o tempo todo no
quarto enquanto eu me trocava falando sem parar do último jogo que ele
jogou e dizendo que precisávamos fazer uma partida juntos.
— Prometo que depois da viagem nós jogamos – eu avisei. — Essa
semana está um pouco corrido para mim.
— Promessa é dívida – ele apontou o dedo para mim como Arnold
fazia.
Aquela frase era muito do meu irmão. Tudo o que era prometido a ele,
mais cedo ou mais tarde era cobrado. Lembrei do telefonema de Steve mais
cedo me dizendo que minha mãe fora solta e estava furiosa comigo
ameaçando me processar. E que Arnold fora transferido para a penitenciária
de segurança máxima. Sabia que precisava visitá-lo e dizer que os filhos
estavam bem e que eu cuidaria deles aqui fora. Mas eu ainda não conseguia
encará-lo sem julgá-lo pelo que fez. Pensei que seria fácil, mas era mais
complicado do que eu imaginava. Família sempre foi o meu ponto fraco,
embora eu fingisse que não me importava. Deve ser por isso que me apeguei
tanto às crianças.
— Combinado! Vou pagar minha dívida! – avisei terminando de
arrumar minha gravata —, como estou? – indaguei me voltando para ele.
— Uau! – Ele disse de um jeito engraçado que me fez rir. — A tia
Valery vai ficar apaixonada!
— Acha mesmo? – perguntei em um tom de brincadeira.
— É nojento, mas foi o que Cassy disse – ele me contou.
— E o que sua irmã disse? – fiquei curioso.
— Que vocês vão se casar por que se amam e vamos ser uma grande
família...
Sorri diante da inocência dele. Amor era algo tão primitivo para mim
e Valery. Não combinava conosco, mas nos esforçaríamos para ser essa
grande família. Aproximei de Oliver e atrapalhei seus cabelos antes de me
despedir e sair. Quando apareci na sala, minhas sobrinhas assoviaram
roubando uma risada minha.
— Está lindo, tio Brad – Cassy foi a primeira a falar.
— Obrigado, e se comportem – avisei com o dedo em riste e saí de
casa. Tive que voltar para pegar o cartão com o endereço do salão e segui
para lá.
Era um sofisticado prédio no centro de Chicago. Desci do veículo e
fui buscar minha futura esposa. Um misto de ansiedade me tomou. Era a
primeira vez que eu me sentia assim em muitos anos. Sequer me recordava
do meu sangue correr mais rápido apenas na expectativa de encontrar uma
mulher. O segurança abriu a porta e uma simpática recepcionista veio falar
comigo.
— Boa noite, senhor Ryder – ela já me aguardava.
— Boa noite, eu vim buscar a senhorita Lincoln – avisei.
— Vou chamá-la. – Ela advertiu e se retirou passando por portas de
vidros que se abriam com sensor.
Minutos depois, ela voltou. E não demorou para uma linda Valery
surgir diante dos meus olhos. Ela estava maravilhosa no sentindo literal da
palavra. O cabelo longo estava preso em uma trança lateral que pendia sobre
o decote tomara que caia do vestido vermelho e longo. O corpo estava
perfeitamente delineado e ela estava deslumbrante, sexy. A maquiagem era
perfeita, as joias que combinavam com a roupa. Os saltos altos que me
fizeram imaginá-la com aquelas pernas nuas pendendo em volta do meu
corpo enquanto eu a fodia gostoso.
Que mulher! Tenho que admitir que poucas me impressionaram tanto
ao longo da vida, mas Valery Lincoln me fazia querer ficar de joelhos para
chupá-la o tempo todo. Ela passou a mão pela barriga reta e girou antes de
sorrir daquela forma devastadora e dizer:
— Como estou?
Levei alguns segundos para responder me lembrando que havia
expectadores e câmeras por toda a parte.
— Você está perfeita, linda! – elogiei.
— Obrigada – um sorriso enorme surgiu nos lábios pintados de
batom.
Batom que eu queria ver manchar meu pau enquanto ela me chupasse.
Como um homem educado, eu lhe ofereci o braço e juntos deixamos o prédio
sob o olhar de admiração das pessoas. Vi nosso reflexo na porta espelhada e
tinha que admitir que fazíamos um belo casal. Abri a porta para que ela
entrasse no carro e depois dei a volta para me sentar na direção.
— Gostaria de ir para outro lugar – eu comecei a conversa direto. —,
mas infelizmente preciso estar nessa recepção.
Ela riu e o som me fez ficar de pau duro.
— Teremos muito tempo mais tarde, mestre – ela disse com deboche.
Parei no semáforo e a encarei.
— Me chame assim de novo e juro que te faço gozar em cinco
minutos...
Ela entreabriu os lábios e passou a língua por eles como se sua boca
tivesse secado diante da proposta. Valery puxou o ar e disse:
— É tentador – admitiu.
— Eu sei, estou me segurando para não pular em cima de você como
um macho no cio. Você está linda, Valery – eu repeti antes de pegar sua mão
e beijar demoradamente.
O sinal abriu e voltei a dirigir deixando aquele olhar carregado de
paixão. Juro que quando resolvi fazer a proposta de casamento, não imaginei
que uma paixão tão avassaladora nos tomaria. Pensei que ela se manteria
distante, ou usaria o sexo ao seu favor, mas ao contrário. Valery gostava de
sexo tanto quanto eu e enxergava tudo de maneira fisiológica e necessária
para a sobrevivência de uma pessoa e não um tabu ou uma forma de
manipulação.
Chegamos ao local, um hotel mais requintado. Celebridades e pessoas
importantes da política estariam presentes. Era um evento da prefeitura de
Chicago relativo as empresas que trabalhariam com eles naquele ano e a
minha estava no meio, claro. Talvez não estivesse há uma semana atrás, as
negociações estavam devagar, mas depois que me envolvi com Valery e as
crianças, eu mesmo tomei a frente e fechei a parceira naquela semana.
Prático, rápido e ágil como eu gostava que fosse.
Os flashes estouraram sobre nós enquanto entrávamos no hotel. Os
jornalistas queriam que eu dissesse qualquer coisa sobre o relacionamento,
mas me calei. Nunca falei sobre minha vida pessoal e não começaria agora.
Fomos levados ao salão de festas repleto de convidados. Por sorte, Valery
conhecia a maioria daquelas pessoas e não precisei ficar apresentando.
Mesmo assim, éramos novidade. A vice-presidente da Jackson Corporation e
o CEO das Telecomunicações de repente era o centro das atenções na festa.
Todos queriam falar conosco, se aproximar, saber mais como da noite para o
dia vamos nos casar.
— Tem momentos em que tudo isso me cansa – Valery comentou
quando peguei champanhe para nós dois e nos afastamos na multidão em
direção a varanda ampla que dava para o jardim do hotel.
— O que exatamente?
— Essas pessoas, esse excesso de puxa-saquismo – ela encolheu os
ombros e fingiu um calafrio —, é tudo muito falso.
— Sim, é – tive que concordar com ela. — E quanto maior o seu
patamar, mais falsa as pessoas são. Porém elas querem sugar o que acreditam
que você tem a oferecer.
— Ora... Ora... – nossa conversa foi interrompida pela chegada de
Albert Jackson. — O casal vinte resolveu aparecer em público.
Ele nos cumprimentou e apresentou sua esposa Sara.
— Estou muito feliz por vocês – ele parecia sincero. — Está roubando
a joia mais preciosa de Chicago, Ryder.
— Tenho certeza que sim – eu me limitei a concordar.
— Durante muito tempo eu quis que meu sobrinho Sandler tivesse
essa sorte, mas Valery nunca demonstrou interesse – ele comentou.
— Ela estava esperando por mim – garanti.
— É o que parece. Falei com Valery que estamos aguardando vocês
para um jantar na semana que vem em minha casa – ele convidou.
Valery não havia dito nada, mas dadas as circunstâncias em que ela
descobriu que Jackson não tinha pretensão de promovê-la, não estranhei que
ela se calasse. Com certeza, conviver com ele depois de descobrir aquela
sórdida verdade deveria ser sufocante. O que diria jantar em sua casa como se
nada estivesse acontecendo e ele não estivesse agindo pelas costas dela.
— Será um prazer – eu garanti. — Agora se me dá licença, vou
apresentar Valery a um velho amigo.
Nós nos despedimos e nos afastamos.
— Obrigada – ela agradeceu. — Já basta ter que falar com ele na
empresa.
— Já pensou como vai ficar sua situação na empresa agora?
Nós fomos para o outro lado do salão, caminhando entre as pessoas e
bem longe dos olhos de Jackson.
— Depois que Pamela e as outras garotas fizerem a denúncia contra
Richard, ele não poderá ser o CEO – ela parou de andar e se voltou para mim.
— Vou usar o pecado dele para tirá-lo da jogada.
Eu a admirei naquele momento, minha futura esposa era esperta.
— Vai ser um escândalo! – imaginei.
— Imagine o genro envolvido num tumulto de assédio sexual – ela
ponderou. — Sinto que até as ações devem cair um pouco.
— Ou despencar de vez – eu a fiz pensar sobre isso.
— Já tenho um plano de contingência caso isso venha a acontecer –
ela declarou. — Mas não vou deixar que Richard continue tratando minhas
funcionárias como lixo. Então unirei o útil ao agradável. Eu o tiro da empresa
e ele deixa de assediar as meninas...
— Espero que Albert a perdoe por isso – retorqui com certa
preocupação, afinal, ela derrubaria o pilar em que Albert estava apostando.
— Ele vai sobreviver, ainda mais quando corre o risco de a história do
grupo de mensagens vir à tona e o nome dele estar entrelaçado – ela
comentou e bebeu champanhe. — Ele não vai querer seu nome envolvido
nisso tudo.
— Você é muito perspicaz, Valery, e a admiro por tomar uma posição
diante de um assunto tão delicado – falei sério.
Ela me encarou e sorriu:
— Faço isso por todas as mulheres e para que ele tenha uma lição e
nunca mais volte a agir dessa forma ignóbil – ela garantiu.
— Estarei ao seu lado para o que precisar...
Peguei sua mão e a beijei novamente com ardor. Nós nos encaramos
daquele jeito que faz a festa ser um empecilho entre nós, entre o nosso
desejo. Valery respira com dificuldade, como se controlando para não me dar
um beijo ali mesmo. Dou um passo para frente e sinto o calor de seu corpo
contra o meu. Seus lábios estão entreabertos, esperando pelo beijo que vai
acabar com nossa agonia.
— Ryder – alguém me chama e somos obrigados a nos afastar.
Eu forço um sorriso e ela também. Estamos ansiosos para essa noite
chegar ao fim.
Capítulo 22

Eu me sinto como uma bomba de sexo prestes a explodir. Desde o


segundo em que coloquei os olhos em cima de Bradley, não consigo pensar
em outra coisa que não seja tirar minha roupa e a dele e terminarmos numa
noite de sexo maravilhosa. Estou ansiosa por isso como nunca estivesse por
mais nada na minha vida. Pode soar estranho, mas para mim é consequência
do fato de que vou casar com esse homem e tenho necessidade de confiar
nele. Não sei se faz sentido, mas foi a única desculpa que encontrei para o
meu comportamento um tanto afoito toda vez que ele surge.
Eu o observo enquanto ele conversa com as pessoas. Ryder é seguro,
determinado, sorri sempre que pode, mesmo que seja um sorriso falso para
satisfazer o ego das pessoas que o cercam. Ele sabe se portar perto daqueles
abutres, ele finge fazer parte de tudo aquilo quando na verdade não faz. Está
acima deles, porque eu sei que ele é capaz de sacrificar a vida pessoal para
dar uma condição melhor a três sobrinhos que até semana passada ele sequer
conhecia direito. Se ele não é altruísta, então não sei o que é.
Bonito, sexy e dono de um coração enorme, como não confiar nele
naturalmente? Estou parada há alguns metros observando-o enquanto tomo
meu champanhe e ele ergue o olhar para mim. Eu me sinto presa àqueles
olhos vorazes, e puxo a respiração com força devido ao prazer que meu corpo
sente. Ele está sério e não sorri para mim.
— Com licença – ele diz para as pessoas com quem está conversando
e se afasta em minha direção.
Caso eu fosse esperta o suficiente, eu teria corrido para longe dele o
mais depressa que podia. Nenhuma mulher deveria ser mirada daquela forma
sedutora e continuar com o mesmo pensamento de que não é possível gozar
com um simples olhar. Ele para diante de mim, sinto prazer e um calor tão
intenso que um gemido fraco escapa dos meus lábios. A mão masculina
segura a minha com firmeza.
— Vamos dançar...
Ele diz de repente. Acredito que nunca dancei na minha vida, mas
como há sempre uma primeira vez para tudo, inclusive para se sentir
arrebatada pelo olhar de um homem, eu deixo ele me guiar por entre as
pessoas e acabamos no centro do salão em meio aos casais que dançam.
Como em um passe de mágica a banda começa a tocar We Could Build a
House, Joseph O’Brein. Como eu sei? É uma das minhas músicas preferidas
que me permito ouvir quando preciso pensar. Contudo, a última coisa que
faço é pensar quando as mãos de Ryder escorregam por minha cintura e me
puxam para mais perto colando meu corpo ao dele. Olhamos nos olhos e meu
corpo estremece e ele sente. Da mesma forma que sinto sua ereção contra o
meu ventre. É tão excitante que meu coração bate como um carro a duzentos
quilômetros por hora.
Eu o enlaço pelo pescoço e começamos a dançar. Não tenho
dificuldade em segui-lo no para lá e para cá. É tão sedutora a forma como
nossos corpos se movem naquela dança, parece que estamos nos preparando
para algo maior que vem em seguida e eu sei que vem. Nós dois queremos
isso, é o que dizemos um ao outro em silêncio. Ele beija meus cabelos e sua
boca desce até minha orelha para dizer:
— Quero você, Valery – aquela voz rouca me embriaga de tanto
prazer que esqueço meu próprio nome.
Minhas mãos deslizam por seus ombros e o aperto com força quando
fecho os olhos e minha cabeça encosta em seu queixo. Consigo controlar um
pouco das intensas emoções que me tomam e afasto para encará-lo e
murmurar:
— Vamos sair daqui...
Ele assente e nos afastamos para ele segurar minha mão e andarmos
entre as pessoas em direção ao elevador. Infelizmente há mais pessoas
conosco no elevador e temos que nos controlar. Ryder está ansioso e eu
também. Uma expectativa diferente para mim, eu jamais desejei um homem
da forma como o quero. Estou me sentindo sufocada de tanto tesão.
A porta do elevador se abre na garagem e saímos seguidos pelo casal
logo atrás. Ele abre a porta do SUV para mim e entro. Ele dá a volta para
sentar-se no lugar do motorista e quando bate a porta, vamos para cima um
do outro, esfomeados. Um beijo avassalador nos conduz naquela loucura e
não consigo me controlar mais.
O beijo me toma de uma forma que me faz sentir fraca e poderosa ao
mesmo tempo. Sou dele, mas eu o quero também. Todo, apenas para mim.
Sua boca queimava a minha, a língua sedutora delineando meus lábios de
forma que meus gemidos ficaram mais agudos e intensos.
Encontrei o cinto de sua calça e comecei a desabotoá-lo até que abri a
calça e empurrei a cueca para baixo e minha mão encontrou o membro grosso
e duro e comecei a massagear de forma íntima e vagarosa. Bradley gemeu
contra os meus lábios. Eu os abandonei e inesperadamente desci os lábios
sobre o pau duro e o chupei com maestria. Ele segurou meu cabelo puxando
minha trança enquanto eu o chupava, roubando todas as suas forças,
deixando-o louco de tesão.
— Valery... – ele murmurou meu nome.
Nunca pensei que ouvir meu nome da boca de um homem me deixaria
tão molhada. Ergui os olhos para ele e vi os lábios entreabertos e excitados.
Bradley me puxou pelos cabelos e colocou sua boca a minha.
— Eu a desejo tanto – ele disse contra os lábios. — Quero que seja
minha...
A voz era exigente e sedutora.
— Sim – eu assenti.
— Senta aqui – ele bateu a mão na coxa grossa.
— O vestido – eu o lembrei.
— Podemos dar um jeito nisso...
Suas mãos experientes deslizaram pelas minhas costas e abriram o
zíper do vestido que ia até a altura dos quadris. Meu corpo era puro prazer
quando as mãos percorreram as costas nuas. Puxei o tecido para baixo e meus
seios nus ficaram expostos. Os olhos dele ficaram semicerrados carregados
de desejo enquanto ele me via tirar o vestido ficando apenas de calcinha
vermelha e as sandálias de salto agulha.
Ele me segurou pelo braço e me puxou para seu colo enquanto
acionava o banco para que fosse para trás dando mais espaço para nós.
Voltamos a nos beijar, as mãos dele passeando pelo meu corpo. Ele me fez
afastar para tomar meus seios entre os lábios enquanto eu o fazia se livrar do
paletó. Deixei que ele me chupasse, segurei seus cabelos sedosos, enquanto
os lábios lambiam e mordiam meus seios me deixando louca de prazer,
sentindo o volante atrás de mim.
Sua mão indecente invadiu o centro das minhas pernas e afastou
minha calcinha.
— Está molhada – ele murmurou. — Isso é para mim, gostosa?
— Sim – era a única coisa que eu conseguia dizer. Qualquer outra
palavra soaria incoerente.
Seu dedo deslizou no meu clitóris e eu levei a mão à boca para
morder e não gritar de prazer, meu corpo arqueado para trás, deixando que
ele me tocasse do jeito que quisesse. Eu era dele, sem dúvida.
— O que você quer de mim, Valery? – Ele perguntou quando sua
boca beijou o seio novamente e desceu pelas costelas. — Me diga, safada...
Era a primeira vez que um homem me chamada de safada e fiquei
mais excitada.
— Quero gozar no seu pau – eu respondi e joguei o corpo para frente
segurando seu rosto entre as minhas mãos. — Quero rebolar nesse seu pau
até gozar...
— Essa é a minha garota... – ele disse se desfazendo da camisa com a
minha ajuda.
Bradley segurou meu quadril e o ergueu e me invadiu de uma vez,
sem piedade. Ele me possuiu sem restrições ou pudor. Foi com força de uma
forma que não consegui resistir. Meu corpo pegava fogo e entrou em conexão
com o dele. Bradley se enterrava fundo, me levando naquela loucura. Ele
chupava meus seios com força roubando gemidos incoerentes, me deixando
perdida. Encontramos o ritmo perfeito.
— Preciso de você, Valery – a voz dele soou incoerente.
Eu me agarrei a ele, e então o senti aumentar mais o ritmo e juntos
nos jogamos naquele prazer louco e explodimos de prazer. Minha vagina se
contraiu em torno do seu pau quando o gozo me tomou e eu sentia que
poderia engoli-lo enquanto o apertava. Ele gemeu mais quando sentiu que eu
o apertava. Foi um prazer tão selvagem que eu não reconheci a mim mesma.
Quando o fogo passou e apenas o som das nossas respirações
ofegantes era audível, notei que havia marcado seus ombros arranhando-o.
Beijei o local com carinho antes de me afastar e encará-lo.
— Você é demais – ele disse com os dedos deslizando pela minha
barriga. — Quero foder com você a noite toda.
— Não está sozinho nessa necessidade louca, Bradley – respondi.
Ele me puxou pela nuca e voltou a me beijar. O celular dele começou
a tocar e rimos um contra o outro.
— Não vou atender – ele garantiu.
Estava no paletó jogado no banco ao lado. Sorri satisfeita e voltei a
beijá-lo. Ele me abraçou e um gemido escapou de seus lábios.
— Talvez devêssemos ir para um motel – ele propôs contra os meus
lábios.
— Ótima ideia – concordei.
Sorrimos um para o outro com malícia. Se dentro daquele carro
havíamos perdido totalmente a noção de tempo e espaço eu sequer queria
imaginar o que faríamos dentro do quarto de um motel. Eu gemi de
antecipação quando ele me beijou e mordeu meus lábios.
O celular dele voltou a tocar e ignoramos. Mas quando o meu tocou,
nós nos entreolhamos e respirei pesadamente. Provavelmente era da nossa
casa, ou uma das crianças ou Alicia. Preocupada, saí de cima dele e sentei no
banco ao lado para pegar minha bolsa no chão e tirar o celular.
— É de casa – falei tensa.
Atendi.
— Tia Valery? – era Oliver.
— Sim, meu querido? – perguntei tensa.
Bradley começou a vestir a camisa. Era óbvio que algo acontecera.
— É a Alicia... – ele falou.
— O que tem ela? – questionei começando a ficar nervosa.
— Ela está passando mal – ele contou. — Não para de vomitar e está
deitada no sofá agora dizendo que vai morrer.
— Certo, estamos chegando aí, vai ficar tudo bem – e desliguei.
— O que foi? – Brad perguntou ligando o carro.
— Parece que Alicia está passando muito mal e não consegue levantar
do sofá – contei.
— Talvez seja melhor ligar para emergência – ele propôs.
— Nossa casa fica há alguns quarteirões daqui – avisei. — Vamos
chegar primeiro que a emergência e vemos se é grave ou não.
Ele concordou e comecei a colocar meu vestido. Foi a coisa mais
difícil que já fiz, em um certo momento eu ri. Estava suada e o vestido
apertado demorou para se encaixar no meu corpo de novo. Quando Bradley
parou diante de casa, eu me virei para ele fechar o vestido. Ele beijou minha
nuca e eu sorri para ele por cima do ombro antes de sairmos do carro. Corri
para dentro de casa e encontrei as crianças em volta de Alicia como se
estivessem velando um corpo morto. Seria cômico se a situação não fosse
grave.
A primeira coisa fiz foi levar a mão na testa de Alicia e ela estava
ardendo de febre. Ela abriu os olhos quando sentiu que eu a toquei.
— Senhorita Lincoln – ela murmurou.
Estava pálida.
— Ela está com febre, Bradley – eu disse quando ele parou atrás de
mim.
No mesmo instante, ele pegou o celular e ligou para a emergência.
— O que está sentindo? – perguntei preocupada.
— Eu não queria atrapalhar a festa de vocês! – Ela disse chorosa.
— Não se preocupe com isso – garanti. — O importante é que fique
bem.
— Estou com medo – ela disse segurando minha mão.
Fiquei realmente preocupada quando ela disse isso.
— Aconteceu alguma coisa? – Eu a questionei. — Você sabe porque
está assim?
Ela assentiu e começou a chorar.
— Agora que eu e tio Brad chegamos, por que vocês não sobem para
se trocar e colocar os pijamas? – Eu ponderei.
É óbvio que eles reclamaram.
— Ouviram o que sua tia disse – Bradley disse sem direito a
contestações -, subam e se arrumem para dormir!
Eles reclamaram e subiram. Aproveitei para dar atenção a Alicia.
— O que aconteceu?
— Eu descobri que estava grávida – ela contou e começou a chorar.
— E meu namorado me trouxe um remédio dizendo que se eu tomasse tudo
ficaria bem e teria um aborto natural.
Ela não precisava explicar o restante. Olhei para Bradley que
balançou a cabeça desolado e foi abrir a porta para a emergência.
— Vai ficar tudo bem, Alicia – eu garanti. — Os médicos vão cuidar
de você e vai ficar tudo bem...
Ela tentou sorrir, mas acabou chorando.
— Estou com medo de morrer...
— Não vai, querida. – garanti sem saber ao certo, mas segurei sua
mão e apertei com força para confortá-la. — Tenho certeza que vai ficar bem.
Os médicos chegaram e contei a eles o que ela me disse. Ela foi
levada imediatamente.
— Vou com ela – avisei Brad. — Ligue para a agência de estudantes
para avisar o que aconteceu – pedi a ele.
Ele concordou. Mas antes de eu sair, ele me puxou e me deu um beijo
nos lábios. Quando me afastei ele colocou o paletó sobre os meus ombros
num gesto de zelo e isso me fez sentir querida.
— Qualquer coisa que precisar, me liga – ele avisou.
Eu assenti e saí de casa, com o coração leve e feliz. Bradley era uma
lufada de esperança para mim. E eu não conseguia evitar gostar de sua
presença.
Capítulo 23

Precisei tomar um banho. Depois daquele sexo delicioso no carro, eu


precisava estar limpo para ficar perto das crianças e pode apostar que eles
queriam atenção. Oliver ficou no quarto de Valery esperando que eu saísse.
Achei engraçado a maneira como Valery dispunha seus pertences na suíte.
Era tudo extremamente bem organizado, ela parecia que fora criada por
militares e não pais desajustados. Em seu closet tudo era separado por cor e
tamanho. Ela não tinha pertences demais, tudo muito equilibrado. Vesti meu
pijama e encontrei Oliver esperando por mim.
— Você não deveria estar na sua cama? – Eu o questionei.
— Deveria, mas eu queria conversar – ele falou e deu aquele sorriso
que o fazia tão parecido com Arnold.
Oliver me fazia sentir saudade da época em que eu era criança. Eu
simplesmente não conseguia dizer não para ele. O certo seria colocá-lo na
cama, mas eu estava curioso para saber o que ele queria conversar. Terminei
de secar meus cabelos e deixei a tolha sobre o encosto da cadeira em frente a
penteadeira colonial de Valery.
— Diga-me, o que está acontecendo? – perguntei me sentando ao lado
dele.
— É que depois da viagem, vamos começar na escola – ele começou
a falar.
— E isso o incomoda?
— Um pouco – ele encolheu os pequenos ombros.
— Está com medo que os outros garotos façam bullying com você? –
Eu o questionei e ele assentiu. — Sei como isso é difícil, eu também sofria
bullying na escola.
— Você? Mas você é grande e forte – Oliver argumentou.
— Mas nem sempre fui assim – contei e notei que ele prestava muita
atenção. — Eu era pequeno e franzino e os garotos se aproveitavam disso.
— Mesmo? E como você fazia para se livrar deles?
Talvez fosse a conversa mais difícil que eu já tive com ele até aquele
momento.
— Bem, vamos pensar que talvez você não tenha esse problema na
nova escola e os caras são legais – meneei a cabeça. — Mas se acontecer,
primeiro você deve ignorá-los, fingir que não é com você. Se continuarem, e
você se sentir ameaçado com medo que eles o agridam, procure um adulto.
Agora, se continuarem mesmo assim, aí eu irei a escola resolver isso.
Quando disse tais palavras, o rosto dele se iluminou de alegria.
— Vai mesmo?
— Sim, conversar com a diretora e seus professores e até com os pais
de quem agrediu você – falei sério. — Você não está sozinho, Oliver. Não
vou deixar que te machuquem e se eles fizerem isso, vão ter que responder
por seus atos!
O sorriso dele se iluminou e ele se ergueu e me abraçou, me pegando
de surpresa.
— Obrigado, tio Brad. Você é o melhor tio do mundo...
Ele me deu um beijo no rosto e se afastou.
— Boa noite, tio – e sorrindo deixou o quarto.
Fiquei feliz por ter ajudado. Ele mal saiu e Amanda surgiu a porta
com os braços cruzados e batendo o pé no chão.
— Quando vai devolver meu celular? – perguntou.
— Boa noite para você também, Amanda – eu digo com ironia.
— Boa noite, tio – ela fala anuviando sua defesa e abaixa os braços ao
redor do corpo. — Eu preciso do meu celular!
— Devia ter pensado nisso antes de mentir sobre sua tia – avisei me
erguendo.
— Mas não é justo! – Ela protestou como uma criança mimada e não
uma adolescente.
Parei diante dela e disse com o dedo em riste:
— Justo com certeza não foi sua tia ser presa por causa das suas
mentiras... – acusei.
— Ela foi presa porque agrediu a assistente social que tentava levar
Oliver! – Ela se defendeu.
Eu cruzei os braços e a encarei.
— Tudo bem, eu exagerei – ela admitiu gesticulando. — Mas não
posso ficar o resto da minha vida sem celular!
— Duas semanas não é o resto da sua vida – garanti. — E posso
adiantar que só vou devolver caso se comportar durante a viagem, do
contrário, nada feito. Se agir com ignorância ou tratar sua tia mal, estendo o
castigo para um mês!
— Você não pode fazer isso! – Ela protestou se alterando.
— Abaixe a voz, mocinha. Aqui é a minha casa e não sou seu pai
como você deixou claro. As coisas são do meu jeito e continuará sem o seu
celular – avisei e ela bufou jogando a franja para cima. — Agora vá para o
seu quarto, já passou da hora de dormir.
— Que saco! – Ela xingou antes de sair.
Pensei que poderia ligar para Valery e saber como estava tudo, mas
Cassy entrou em seguida.
— Tio Brad – ela entrou ansiosa.
Céus! Eu não teria um minuto de paz?
— O que foi? – controlei para não demonstrar minha impaciência.
— Acho que a privada do banheiro entupiu. – Ela encolheu os ombros
sem graça.
— Amanhã chamamos o desentupidor, querida – disse sincero.
— É melhor olhar agora, a água está saindo para o corredor.... – Ela
avisou e sumiu na porta.
Sai atrás dela e meus pés bateram contra a água gelada.
— Oh, meu Deus! – Eu corri para o banheiro. A válvula de dar
descarga estava disparada. Havia água para todo o lado e eu não conseguia
encontrar o registro para fechar.
Acabei encontrando debaixo da pia, dentro do armário, tive que jogar
tudo no chão para enfiar a mão lá dentro e fechar. A água ainda despejou um
pouco até parar. Que tipo de pessoa coloca o registro de água escondido
dentro de um armário.
Cassy estava parada na porta do banheiro e me olhou sem graça.
— Eu acho que joguei meu absorvente na privada e entupiu – ela
falou sem graça.
Eu estava com as pernas molhadas.
— Arranje panos e chame seus irmãos, vamos ter que limpar essa
bagunça antes da sua tia chegar. – mandei.
— Sim – ela saiu correndo.
Passamos os próximos quarenta minutos tirando a água do corredor e
das escadas. No dia seguinte, eu chamaria a empresa para desentupir o vaso.
Fiz um chocolate quente e depois de tomarmos, todos se recolheram. Cada
qual no seu quarto, estavam exaustos. Até mesmo eu fiquei cansado.
Geralmente, eu chegava em casa tranquilo tomava um banho, verificava os e-
mails, mensagens e se não tivesse nada para resolver me deitava
tranquilamente. Mas já havia notado que a vida com aquelas crianças não
seria nada normal.
Eu deveria estar na sala deitado no sofá, mas por instinto acabei na
cama. Liguei a TV e fiquei recostado nos travesseiros, até que Valery surgiu
segurando os sapatos. Ela estava visivelmente cansada, passou pela cama e
me deu um fraco sorriso antes de jogar as sandálias no chão do closet e
depois tirar o meu paletó. Adiantei me erguendo para abrir o zíper de seu
vestido. Foi mais uma ajuda do que um ato de sedução. Ela o tirou chutando-
o longe e foi para o banheiro. Foi desfazendo o penteado até abrir o chuveiro
e enfiar a cabeça lá embaixo.
Voltei para o quarto. Senti que era um momento dela e que precisava
dele. Um tempo depois, ela surgiu enrolada no roupão e penteando os
cabelos.
— Posso saber o que está fazendo aqui? – perguntou dando a volta até
chegar do outro lado e se sentar na ponta da cama.
— Pensei que depois de tudo...
— Não tem problema – ela me cortou. — Hoje ou daqui dois dias não
faz diferença, faz?
Senti que ela estava um pouco agressiva.
— Como foi no hospital?
— Horrível – ela pigarreou —, ela perdeu o bebê, fizeram curetagem
e vai ter que ficar internada por uns dias.
— Situação delicada – comentei.
— A gerente do programa de estudantes não gostou nada – ela
comentou tensa. — Tive que chamar a atenção dela. Alicia já estava péssima
e ela ainda queria lhe passar um sermão sobre certo ou errado. As pessoas
perderam realmente o senso do ridículo. Querem que uma pessoa ferida e
doente repense o que fez! Isso é desumano! Espere ao menos ela melhorar!
Não fiquei surpreso com aquela amostra de bom senso e a forma
maternal com a qual Valery defendeu Alicia.
— Amanhã vão mandar outra babá – ela finalizou e deixou o pente de
lado para se sentar na cama.
— Ótimo, pelo visto tudo se resolveu...
— E as crianças?
— Estão dormindo... – contei. — Tivemos um contratempo, mas tudo
foi resolvido.
— Contratempo? – Ela perguntou preocupada.
— Cassy jogou um absorvente na privada... – e contei a ela o
ocorrido.
No final, Valery estava rindo da situação.
— Eu queria ter visto seu desespero – ela parou de rir. — Acredito
que não vou precisar explicar a ela que não é para jogar mais, não é?
— Não precisa – garanti. — Ela está constrangida o suficiente.
— Pobre, Cassy. De qualquer forma eu agradeço por ter cuidado deles
enquanto estive fora.
— É um prazer – garanti e me virei para ela. — É o que um pai
deveria fazer, não é?
Os olhos azuis sorriram para mim e foi o suficiente para eu me sentir
o mais foda dos homens.
— Nunca tive um homem em minha cama – ela disse para minha
surpresa. O tom malicioso fez meu pau pulsar de vontade de continuarmos
nossa cena quente de sexo no carro.
— Então essa cama é praticamente virgem – eu ponderei passando a
mão pelo lençol macio.
— Exatamente – um sorriso furtivo surgiu nos lábios bonitos.
— Tenho que confessar que nunca me deitei em uma cama virgem
antes – murmurei projetando meu corpo para ela.
— Há sempre uma primeira vez – ela colocou a cabeça de lado. —
Talvez você queira experimentar, quer dizer... sem pressão... tirar a
virgindade de uma cama é algo único e inesquecível...
Ela conseguiu roubar um sorriso meu. Eu me afastei e me ergui, dei a
volta na cama e fui em direção à porta. Essa regra eu havia aprendido: sempre
trancar portas quando for transar para não ter expectadores.
Quando me voltei para ela, tirei a camisa do pijama e me aproximei.
Valery se afastou o suficiente para ficar no meio da cama. Os cabelos
molhados caindo ao redor do corpo e uma perna encolhida e a outra esticada,
enquanto ela apoiava as mãos para trás do corpo no colchão. A toalha caía
displicente entre as pernas, tampando seu sexo. Tirei meu short e acariciei
meu pau ereto subindo na cama e ficando de joelhos. Valery mordeu o lábio
inferior, seus olhos azuis ficando escuros enquanto observava minha mão
trabalhar.
— Gosta do que vê, gostosa?
— Sim – ela assente devagar.
Eu paro diante dela e Valery tenta tocá-lo, mas eu não deixo.
— Agora, é a minha vez de comandar – avisei.
Eu a empurro contra a cama e ela cai sobre os lençóis, os cabelos
esparramados de uma forma tão sexy que um gemido escapa dos meus lábios.
Seguro seu lindo pé e o beijo. Faço o mesmo com o outro e vou beijando suas
pernas, intercalando entre uma e outra com beijos, passando a língua devagar,
enquanto ela abre a toalha para me dar acesso ao seu corpo lindo. Feito para
ser tocado por mim.
Eu me deitei na cama e ela ficou surpresa.
— Vira essa boceta gostosa para mim, vira – mandei —, quero te
chupar enquanto você me chupa também.
Um sorriso de satisfação brotou de seus lábios.
— Uma boa maneira de tirar a virgindade da cama – ela comentou
virando aquela bunda gostosa para mim e montando em mim.
Eu apenas deitei e encaixei aquele clitóris delicioso na minha boca.
Abracei seus quadris enquanto a sentia descer os lábios no meu pau e
começar a chupá-los. Eu sequer me recordava da última vez que fiz um meia
nove. Mas era delicioso. O gosto dela e aquela boca me chupando com
vontade.
Eu lambi a Valery e a chupei com tanta vontade que não demorou
para ela gozar. Reparei que o sexo oral a fazia gozar fácil. Ela soltou o meu
pau e arqueou o corpo enquanto gozava. Ela estremeceu e quando pensou em
continuar a carícia em mim, eu a virei sobre a cama e ela caiu deitada, abri
suas pernas e de joelhos, eu a possui. Ela gemeu ainda sensível pelo gozo.
Comecei a me mover antes de me jogar sobre ela e unir seu corpo ao meu de
forma frenética. Senti quando ela apertou meu pau com força e o gozo a
tomou de novo e deixei meu corpo se entregar. Foi forte e gostoso. Chupei
seu pescoço enquanto meu corpo voltava ao normal.
Saí de cima dela, ofegante.
— Você é incrível – ela murmurou.
Olhei para ela:
— Obrigado, mas acredito que é pelo desejo que você desperta em
mim...
Virei de lado e apoiei a cabeça na mão antes de deslizar a mão por seu
corpo.
— Que seja assim sempre – ela pediu.
— Prometo me esforçar – eu disse antes de abaixar os lábios e tomar
sua boca.
A gente ainda tinha energia para mais uma trepada antes de apagar na
cama e acordar com batidas na porta.
Capítulo 24

Foi a primeira vez que dormi abraçada a alguém. Na verdade, depois


de fazermos sexo mais uma vez, eu me virei para o lado para dormir e
Bradley me abraçou aninhando seu corpo ao meu. Era a primeira vez da cama
e de dormir de conchinha também. E ainda acordar com um homem ao meu
lado. Quando decidi ser uma CEO, abdiquei de muitas coisas e uma delas foi
ter relacionamentos sérios. Não queria permitir que um homem me impedisse
de chegar onde cheguei. Sabia que se me apaixonasse, sentimentos intensos
poderia me atrapalhar, e ainda assim, mulheres tinham mania de se sacrificar
em prol de um bem maior no relacionamento.
Agora com Bradley o bom era que não estávamos nos iludindo com
relação a nada. Entramos nessa pelas crianças e apenas estávamos nos
esforçando para dar certo. Acordei com ele beijando o meu seio. Acredito que
era apenas um beijo de bom dia, mas quando ele fez menção de se afastar, eu
o segurei pelos cabelos e o fiz voltar e colocar a boca bem onde estava.
Então essa era uma das vantagens de acordar com um homem do
lado? Eu estava gostando. Ele levou a mão aos meus lábios e me fez chupar
seus dedos antes de descê-los sobre o meu clitóris.
— Não temos muito tempo, gostosa – ele murmurou contra a minha
boca, olhando nos meus olhos me fazendo mergulhar naquele oceano de
prazer. — Mas quero que seu dia comece ótimo!
Eu gozaria facilmente com o som daquele voz rouca
Abri mais as pernas enquanto ele circundava meu sexo e depois me
tocava bem no clitóris, sem parar, para cima e para baixo, no começo um
tanto leve, mas conforme meu corpo cedia ao prazer, ele foi aumentando o
ritmo. Beijei sua boca para abafar os gemidos e os movimentos e tornaram
mais rápidos até que gozei gostoso. Ele continuou com as oscilações no meu
clitóris e choraminguei antes de segurar sua mão.
Ele beijou minha boca e ouvimos batidas na porta.
— Vou tomar um banho – avisei. — Você atende a porta.
Levantei levando a toalha que ficara perdida aos pés da cama e tomei
uma ducha rápida. Estava no closet procurando que roupa vestir quando ele
surgiu.
— Parece que a agência não conseguiu uma babá de última hora para
substituir Alicia – ele falou.
— O que vamos fazer?
— Não se preocupe, eu fico em casa hoje. Posso resolver meus
assuntos daqui e é bom que defino tudo pertinente ao casamento para amanhã
– ele disse prático indo em direção ao banheiro.
— Tem certeza? – Eu perguntei enquanto vestia minha saia.
— Sim – ele começou a tirar a roupa.
A gente se olhou com desejo, eu ia falar qualquer coisa sobre ele ser
gostoso demais e um amantes ávido, ou coisa assim, mas a voz de Cassy me
chamando me interrompeu.
— Eu já vou – disse por cima do ombro. — Obrigada pela ajuda.
— Já disse que não precisa agradecer, é o que um pai faria – ele
ponderou e foi para a ducha.
Terminei de me arrumar e fui falar com Cassy enquanto Vera
colocava o desjejum sobre a mesa. Eu me sentei e fiquei surpresa quando
Amanda surgiu dando bom dia a todos. Oliver como sempre levantaria mais
tarde.
— Já arrumaram as malas para a viagem? – Eu quis saber.
— Sim – as duas responderam juntas.
— Perfeito. Verifiquem a mochila de Oliver e veja se o que ele está
levando é suficiente para três ou quatro dias, por favor – pedi.
— Eu faço isso – Amanda avisou.
Olhei para ela.
— Não precisa ficar assustada. Só estou sendo legal porque quero
meu celular de volta – ela disse de má vontade.
Eu não discutiria com ela.
— Como quiser – eu joguei uma uva na boca e me levantei. —
Preciso ir, qualquer coisa, falem com o tio Bradley, ele vai ficar o dia todo
com vocês.
— Alicia não vem? – Cassy perguntou preocupada. — Ela não
melhorou?
Notei que meus sobrinhos se apegavam às pessoas facilmente.
— Ela está bem, mas vai precisar ficar alguns dias de repouso.
— Gostaria que ela voltasse – Amanda falou para minha surpresa.
— Eu também, nós gostamos dela – Cassy assegurou
— Vou ver o que posso fazer – prometi. — Fiquem bem.
Não vi Bradley quando sai para o trabalho. Minha manhã foi tensa e
fizeram uma nova reunião sobre a compra da Maison & Maison. Fiquei
irritada por Richard dizer que estava quase lá.
— Acredito que Valery está ocupada demais com o seu casamento no
momento para se preocupar com a presidência – ele comentou com deboche.
Meu sangue subiu quando aquele idiota pronunciou as palavras de
forma tão determinada. Minha língua coçou para não jogar na cara dele que
eu sabia que estavam agindo nas minhas costas. Ele mal compreendia que eu
tinha uma carta na manga, uma não. Duas: Pamela e a amizade de Ryder com
Dorian Maison. Quando voltasse de viagem tudo estaria resolvido.
— Pode apostar, Richard, que estou muito à frente de você – falei
séria.
Albert riu. Aquele velho maldito e falso.
— Eu gosto disso, desse espírito de competição – ele falou e olhou de
um para o outro. — Apenas não comecem uma guerra. – E riu como se
achasse tudo divertido.
— Não vai haver uma guerra – eu declarei sem hesitação.
— Não mesmo! – Richard se ergueu. — Quando você voltar da lua-
de-mel, baby, eu serei o novo presidente!
Piscou daquele jeito idiota e deixou a sala. O restante saiu e ficou
apenas eu e Albert.
— Precisamos conversar sobre Richard – eu disse determinada.
Albert ergueu uma sobrancelha:
— É tão confidencial que não podia dizer na frente dele? – Ele me
censurou por eu ter esperado que ficássemos a sós.
Foi naquele segundo que notei que eu estava perdendo o jogo e Albert
estava a favor do genro realmente. Foi como um soco no estômago, mas eu
não retrocedi.
— É que acredito que discutirmos antes de falar com ele seja bem
melhor – falei sem dar direito a recusa.
Ele não queria ponderar. Notei quando ele estreitou o olhar como se
estivesse se controlando para não perder a paciência. Mas eu era implacável,
e não abaixaria a cabeça. Não seria a cara feia de Jackson que me intimidaria.
— Richard tem razão, você deve estar estressada por causa do
casamento. A Valery que conheço não agiria nas costas de alguém!
Ele se levantou e fez menção de sair.
— Seu genro está assediando minhas funcionárias – falei girando a
cadeira e ele parou onde estava.
— O que foi que disse? – Ele perguntou como se nada soubesse.
— Você me ouviu bem – eu me ergui. — Não foi uma reclamação ou
duas, foram dezenas e elas estão saturadas do comportamento dele.
Ele deu um passo para mim e colocou as mãos no bolso da calça.
— Desde quando uma vice-presidente participa de fofocas de
subordinados? – Ele indagou mordaz.
— Não foram fofocas, foram reclamações claras com provas
irrefutáveis – garanti me encostando na mesa e cruzando os braços. — Não
sou eu que estou falando, Albert. São elas e querem entrar com um processo
coletivo contra ele – blefei.
— Elas não vão fazer isso e se fizerem são apenas mulheres fúteis. Do
lado de quem que você acha que o juiz vai ficar? De um bando de garotas que
se oferecem para Richard dia e noite? Que fariam tudo por um cargo na
empresa? Mentira e chantagem?
Fiquei com nojo naquele momento. Senti que eu fazia parte de um
esquema perverso contra qualquer mulher que trabalhasse naquela empresa, e
toda a admiração que tive por aquele homem foi por água abaixo.
— Não estou implicando com Richard – eu menti. — Apenas lhe
alertando que se algo desse tipo vier à tona...
— Nós vamos usar a mesma desculpa de sempre – ele me cortou sem
rodeios. — Que elas o levaram a fazer isso, que ele não queria, mas foi uma
troca de favores. Vasculharemos a vida delas, seus passados e as faremos
passar por vilãs, por garotas aproveitadoras, a mídia gosta de massacrar
mulheres, dizer que elas não valem nada e estão levando um homem íntegro à
destruição – ele discursou gesticulando uma das mãos. — É assim desde os
tempos remotos, a mulher no fim é a culpada.
Tive vontade de chorar. Um nó se formou na minha garganta, não por
mim, mas pelas horríveis verdades que ele me disse. Dei graças a Deus de
não ter dito o nome de Pamela ou qualquer outra. Pela primeira vez, não se
tratava de negócios e sim da boa convivência entre as pessoas na empresa.
Ouvir aquelas palavras me deu um nojo enorme, e uma vontade grande de
vomitar na cara daquele idiota.
— Tudo bem – eu fingi não me importar com aquelas palavras. No
mundo dos negócios você tem que se fazer de forte se quer sobreviver, o
problema é que eu não sabia ao certo se queria continuar resistindo dentro de
uma empresa que promove o assédio sexual e ainda bate palmas para isso. —
Só estou avisando...
Eu me desencostei da mesa e fui em direção à porta.
— Valery... – Albert me chamou.
Parei à porta e olhei para ele.
— Sim?
— Não se culpe, você é mulher e não pode entender desses assuntos
de homem.
Ah, eu entendia muito bem. Eu compreendia perfeitamente sobre
homens filhos da puta. Mas não discutiria com um homem senil sobre tal
assunto. Era jogar pérolas aos porcos.
— Claro. Você tem toda razão – forcei um sorriso e saí.
Fui para a minha sala controlando para não chorar e dentro daquela
empresa eu jamais derrubei uma lágrima, mesmo quando me chamavam de
vadia ou puta do chefe por ser a vice-presidente.
— Você está pálida – Guinevere comentou ao entrar na minha sala.
— Está tudo bem?
Eu olhei para ela e respirei fundo.
— Ansiedade para o casamento – limitei a responder.
Contudo minha vontade foi dizer: saia daqui antes que você se torne
a próxima vítima desses homens doentes! Aquelas palavras estavam
engasgadas na minha garganta.
— Eu vou para casa – decidi sem pensar.
Nunca fui impulsiva, mas naquele momento o escritório me sufocava,
tudo o que aquele homem dissera me deixava fora do prumo. Pensei em
Pamela e em como eu falaria com ela quando voltasse de viagem e ela
retornasse ao trabalho. O que eu diria? Olha meu bem, eles são uns idiotas e
se você entrar com um processo contra eles vão te fazer sentir miserável por
isso. Mesmo eles estando errados, todos ficarão do lado deles porque são
considerados homens de bem?
Eu queria sair dali e gritar até perder a voz. Era simplesmente
frustrante ver aquela merda toda e me sentir de mãos atadas. Richard
continuaria com seus assédios e conseguiria a presidência, imagine o que ele
não faria quando chegasse ao topo? Obrigar as funcionárias a chupá-lo
debaixo da mesa? Era ridículo e odioso! Levantei, peguei minha pasta e meu
casaco para vestir.
— Descanse nesses dias que eu estiver fora – eu resolvi dizer a
Guinevere. — Não precisa vir trabalhar, eu vou te dar esses dias como um
prêmio.
Ela ficou surpresa e o sorriso se ampliou no rosto dela. As mulheres
deveriam se sentir seguras e queridas em seu ambiente de trabalho e não
ameaçadas e perdidas. Fiquei tão paranoica naquele momento, que temi que
fizessem algo contra a minha secretária apenas por me afrontar por eu ter dito
o que disse a Albert.
— Obrigada, senhorita Lincoln.
— Tenha um bom fim de semana, Guinevere – eu disse com carinho
antes de sair da sala.
E eu me arrependi imensamente por ter procurado Albert para
conversar. Tinha certeza que ele usaria aquilo contra mim e as garotas que
Richard havia assediado. Como eu fui tola. A CEO fodona de uma das
maiores empresas do país jogou merda no ventilador na ansiedade de
derrubar seu inimigo. Eu deveria ter sido mais cautelosa, ter esperado,
consultado Lance e saber o que podia ser feito.
Eu o faria quando voltasse de viagem. Fui para o meu carro e pensei
em minhas sobrinhas. E se fossem elas sofrendo esse tipo de assédio, o que
eu faria? Óbvio que eu as defenderia com unhas e dentes e faria o maldito
homem pagar por tamanha audácia. Talvez na justiça, ou na mídia. E era o
que eu deveria fazer por Pamela. Poderia colocar tudo a perder do que eu
havia construído dentro da Jackson Corporation, mas de repente, tudo o que
construí ali perdeu o sentido.
De que adiantava eu trabalhar em um lugar que meu talento não seria
reconhecido por ser mulher? Ou que um bando de homens assediava as
funcionárias bem debaixo dos meus olhos e eu apenas observava? Não! Eles
não me dariam a presidência mesmo. Precisava fazer por Pamela o que eu
gostaria que fizessem por mim, pensei enquanto saía da garagem da empresa.
A pobre Pamela seria massacrada, mas eu não. Estava à altura deles.
Poderia até perder meu emprego por causa disso, contudo ser conivente com
aquela merda não era mais uma opção.
Capítulo 25

Eu estava terminando de virar o bife na frigideira quando Oliver veio


correndo para dizer que Valery havia chegado e ela subiu para o quarto para
tomar um banho. Amanda olhou para mim também surpresa, mas não
tecemos nenhum comentário.
— Pode colocar mais um prato na mesa, Cassy? – Eu pedi para a
minha sobrinha que estava fazendo o suco.
— Sim – ela falou com os fones de ouvido presos no pescoço. O som
da música pop ecoava no ambiente de um jeito abafado, mas dava para ouvir.
Estava orgulhoso por estar coordenando a casa. Nós arrumamos a
casa, colocamos a roupa para lavar, cada um fez uma coisa com a ajuda de
Vera. Não sei se fizeram isso porque eu era novidade ou para me
impressionar. Vera estava terminando de olhar as batatas fritas na fritadeira
elétrica e se voltou para mim.
— Acho que está bom, senhor Ryder – falou com seu sotaque
espanhol forte.
— Traga aqui – eu pedi.
Ela retirou o compartimento e me mostrou.
— Está perfeito. – olhei para Amanda. — Tem queijo cheddar na
geladeira?
— Tá falando sério? Você está na casa da rainha do vegetal! – Ela
reclamou.
Eu havia me esquecido desse detalhe.
— Lembre de colocar cheddar na lista de compras do supermercado –
avisei colocando o bife sobre o prato.
— Ela não vai comprar, se quiser, você vai ter que fazer compras! –
Cassy avisou ao voltar para a cozinha.
Eu estava impressionado como eles nunca perdiam nada do que eu
dizia ou fazia. Estavam sempre atentos, indagando ou completando as frases.
Além de se intrometer nas conversas como se fosse normal crianças
discutindo assuntos de adultos. Com o tempo teríamos que colocar limites
para isso.
— Acho que nunca fiz compras em um supermercado – comentei.
Cassy se sentou no balcão e apoiou o cotovelo para deitar o rosto da
mão e dizer com seu jeito doce:
— Como alguém pode passar a vida sem ir a um supermercado?
— Eu não disse que nunca fui a um supermercado – corrigi. —
Apenas nunca fiz a compra do mês para abastecer a dispensa.
— Fala sério! – Amanda debochou enquanto eu colocava o último
bife na vasilha e desligava o fogo.
— A culpa não é minha. Quando morava com meus pais sempre tive
quem fizesse isso por mim e depois que fui morar sozinho sempre comi fora.
Comprava uma coisa ou outra, mas nada em grande volume – explicou.
— É divertido! – Cassy falou animada. — A gente podia fazer uma
grande compra quando voltasse de viagem!
— E se você devolver o meu celular, posso até fazer uma selfie para
os meus seguidores com a hashtag compras em família – Amada falou
esperançosa.
Elas roubaram um sorriso meu.
— Vou falar com a Valery e quando a gente voltar vamos às
compras...
— Quem vai às compras? – A voz de Valery surgiu com um vestido
florido e chinelos.
Parecia bem mais nova do que a sua idade e tinha cara de menina
levada. Minha imaginação foi longe. Não custava muito para virá-la de
quatro sobre aquele balcão e erguer aquele vestido para fodê-la bem gostoso.
Os cabelos ainda estavam presos num rabo de cavalo e ela usava os óculos,
séria e safada, eu sempre gostei desse estilo.
— As crianças querem me levar às compras no supermercado. –
contei.
— Mesmo? – Ela foi até a geladeira. — Onde está a minha salada?
— Já estou lavando, senhorita Lincoln – Vera avisou virada para a
pia.
— Obrigada – Valery sorriu para ela e se voltou para nós. — Aposto
que nunca fez uma compra do mês, Bradley.
Senti uma pontada de reprovação em sua voz.
— Não sabia que isso era crime...
— E não é! – Valery sorriu. — Mas vai ser divertido vendo você
comprar a lista do mês.
Ou seja, ela concordava em ir quando voltássemos. Começaríamos a
viver como uma família.
— Já escolheu seu vestido para o casamento amanhã? – Cassy
perguntou a ela.
— Ah, querida não vou usar vestido de noiva, vai ser no cartório algo
simples...
— Mas se casa a primeira vez uma única vez! – Amanda fez
trocadilho. — Tem que estar arrasando e você não tem vestido que combine!
Notei a satisfação de Valery por ver a sobrinha conversando com ela
normalmente.
— E como sabe disso?
— Eu e Amanda olhamos seu closet. A gente estava preocupada que
você não tivesse o vestido certo! – Cassy contou.
— Vocês mexeram nas minhas coisas? – Valery perguntou em tom de
reprovação.
— Digamos que a gente resolveu te dar uma chance para não fazer
feio – Amanda avisou e foi levar os bifes para a mesa.
Valery olhou para mim em busca de ajuda.
— Eu voto de a gente ir no shopping esta tarde e comprar roupas para
o casamento e para a viagem – eu propus.
— Não é necessário – Valery retorquiu.
— Não seja chata – eu pedi me aproximando dela.
E por um instante me esqueci que Cassy e Vera estavam ali e Amanda
voltava da sala.
— O que tem uma voltinha em família? – Minha voz soou mais
maliciosa do que eu esperava.
Quando nossos olhares se encontraram senti uma tempestade de
luxúria se formar dentro de mim. Eu queria chupar aquela mulher até que ela
desmaiasse de prazer. E ela compreendeu minhas intenções porque ficou
corada pela aproximação e pigarreou me fazendo recordar que havia mais
pessoas além de nós dois na cozinha.
— Eu vou adorar! – Amanda avisou.
— Eu também e tenho certeza que Oliver também e desde que
chegamos a Chicago você só levou a gente duas vezes no shopping – Cassy a
advertiu.
— Oh, meu Deus! Que pecado! – Valery debochou. — Está bem nós
iremos!
As meninas aplaudiram e Vera riu enquanto levava a salada para a
mesa.
— Vamos às compras – falei satisfeito e nos paqueramos mais uma
vez antes de almoçar.
No início da tarde estávamos no shopping. As meninas ficaram loucas
com tanta loja e a oportunidade de comprar roupas novas. Oliver queria saber
mais de um lugar para brincar.
— Não quer comprar roupas com a gente? – Valery perguntou a ele.
— Tanto faz – ele dizia encolhendo os ombros. — Eu não ligo para
essas coisas.
E enquanto Valery e as meninas se perderam em uma loja de
departamento, eu e ele ficamos do lado de fora olhando tudo ao redor.
Primeiro comprei um sorvete e sentamos num banco, tomando em silêncio
rindo das crianças que dirigiam aqueles carrinhos em forma de animais e sem
querer atropelavam os adultos. Depois a gente começou a ficar entediado.
— Você está calado – comentei. — Aconteceu alguma coisa?
— Não – ele sorriu daquele jeito gentil. — Mas é que vir ao shopping
me faz ter saudade do meu pai.
Um assunto delicado como a casca de um ovo.
— Eu também sinto saudade dele – comentei.
Aqueles grandes olhos verdes se voltaram para mim.
— Ele gostava de me levar ao shopping. Não podia comprar nada,
mas era divertido...
Nunca pensei que uma simples frase poderia cortar meu coração, mas
Oliver me fez enxergar que minha parte humana ainda existia e muito
intensa. Desde a primeira vez que o vi a conexão foi forte, além da
semelhança dele com Arnold, havia também aquele amor incondicional que
ele nutria por mim sem mesmo me conhecer. Sentia que se eu tivesse um
filho, ele seria como Oliver.
— E o que você tinha vontade de fazer? – perguntei interessado.
Ele hesitou, mas respondeu.
— Eu queria ir nos brinquedos, meu sonho sempre foi ir naqueles
brinquedos que todo mundo vai e os pais levam os filhos – ele respondeu.
O bom de ser criança era isso. As coisas que precisávamos para ser
felizes eram tão pequenas e se não fossem atendidas não era o fim do mundo,
a gente desviava a atenção para outra coisa. Mesmo Arnold sendo o canalha
que era, ainda assim foi um herói para Oliver. Eu desejei do fundo do meu
coração ser o herói para ele.
— O que acha de a gente ir? Não sou seu pai, mas eu gostaria de ir
nos brinquedos com você.
Os olhos se iluminaram surpresos.
— Você poderia? – Ele perguntou e franziu o cenho olhando para o
sorvete que estava no fim. — Comprou roupas para mim e as minhas irmãs.
Também comprou sorvete. Será que você vai ter dinheiro para tudo isso?
Que Deus me ajudasse! Cada vez mais esse menino estava roubando
meu coração. Ele não fazia ideia do quão rico eu era. Poderia comprar aquece
shopping e não faria cócegas no meu orçamento.
— Eu tenho alguma coisa na carteira – minha voz soou com carinho e
passei a mão em seus cabelos.
Minutos depois, assim que ele terminou o sorvete, nós fomos para a o
setor infantil onde ficavam os brinquedos. Passamos a hora seguinte nos
divertindo. Fazia anos que eu não ria tanto e me divertida de verdade.
Esqueci tudo ao redor e relaxei. Era bom ficar longe de problemas para
resolver ou ordens para dar. Meu celular tocou, mas sequer dei atenção,
aquele era o nosso momento.
Quando voltamos para a porta da loja, as garotas estavam saindo
repleta de sacolas. Eu usava um chapéu de dinossauro e Oliver também e
estávamos bebendo refrigerante no copo dos marcianos. Valery sorriu ao nos
ver e olhou de um para outro quando parou diante de nós.
— Pelo visto, vocês se divertiram – ela disse com um sorriso lindo.
— Nosso forte não são compras – eu garanti e pisquei para ela.
— Eu estou com fome – Cassy reclamou.
— Eu também – Amanda concordou. — Fazer compras cansa, sabia?
— Vamos levar as compras para o carro e voltamos para comer, o que
acham? – Valery propôs.
— Vai demorar – Cassy falou cansada.
— Como eu e Oliver já comemos, nós vamos levar as compras no
carro e encontramos vocês na praça de alimentação, o que acham? – Eu
propus.
— Perfeito! – Valery concordou.
E assim foi. Depois nos encontramos com elas e ficamos na mesa
conversando sobre planos para a viagem. Nunca havia feito planos para me
divertir em uma viagem e a novidade me deixou satisfeito. As crianças
estavam eufóricas em conhecer a Disney, não paravam de falar em tudo que
queriam fazer.
Por várias vezes, eu e Valery nos olhamos com cumplicidade, felizes
por vê-los satisfeitos e animados. A vida terrível que eles levaram com os
pais e toda aquela tragédia que aconteceu já não parecia tão importante. Eu
sabia que uma vida toda não seria suficiente para esquecerem o que
passaram, seria sempre a cicatriz que carregariam, mas enquanto eu estivesse
com eles e pudesse tornar a dor mais suportável e a vida mais tranquila, eu o
faria. Era uma promessa. E por sorte, encontrei uma companheira que estava
disposta a fazer a mesma coisa.
E se isso não era destino, não saberia nomear.
Meus pés se entrelaçaram com os de Valery debaixo da mesa num
gesto de intimidade e ficamos assim até que decidimos ir embora. O dia
seguinte seria longo entre o casamento bem cedo e a viagem que faríamos.
Voltamos para casa e Vera deixou um bilhete avisando que desejava boa
viagem e aguardava nosso retorno na semana seguinte.
— Ela parece ser uma boa pessoa – Valery comentou quando leu o
bilhete deixado na cozinha e o entregou para mim.
— E quanto a Alicia? – li o bilhete e o devolvi para ela.
— Pelo que entendi, ela não vai mais poder ficar no programa,
meninas com problemas com gravidez ou o que ela fez não são aceitas –
Valery explicou. — Mas pensei em contratá-la por fora. Ela quer ficar no
país, terminar os estudos antes de voltar para a Inglaterra. Gostei dela, as
crianças também... – ela ponderou.
— Podemos mandar uma mensagem e fazer o teste e se tudo ficar
como está seguimos com ela – eu propus.
— Vai ser ótimo! – Valery sorriu satisfeita.
Então, ela me olhou daquele jeito. Era engraçado como o tesão estava
ali discreto, mas quando surgia era avassalador. Dei um passo para ela e ela
deu outro para mim. Parecia que a cada vitória conquistada precisávamos
comemorar com um orgasmo. Queria beijar aquela boca linda, foder sua
boceta molhada e ouvi-la dizer meu nome quando estivesse gozando. Nada
pode fazer um homem mais satisfeito do que isso.
— O que acha de assistirmos um filme? – A voz de Cassy soou atrás
de nós.
Mas havia as crianças, pensei com ironia e me voltei para ela.
— Vai escolhendo, eu e sua tia estamos terminando uma conversa –
avisei.
— Pelo visto a coisa é séria! – Ela falou como se eu estivesse dando
uma bronca em Valery e fez uma careta de medo. — Vou segurar meus
irmãos na sala, podem conversar.
Eu queria dizer que não estava bravo com a tia dela, mas ela se foi.
Olhei para Valery que riu.
— Sempre vamos ser interrompidos, é melhor se acostumar – ela
falou tranquila.
— Talvez eu me acostume um dia – dei um passo para ela. — Do
mesmo jeito que vou me habituar a desejar você do jeito que venho
desejando.
— Isso é bom ou ruim? – Ela franziu o cenho sem entender.
— É bom, significa que nosso casamento vai durar um ano ou mais –
encolhi os ombros.
Ela soltou um longo suspiro.
— Uma semana não é parâmetro para um ano, Bradley! – proferiu
como um protesto.
— Eu sei, mas estamos nos dando bem, nos esforçando para isso – eu
contestei. — É só continuarmos no mesmo ritmo.
— Ainda vamos nos conhecer mais – ela cruzou os braços. — Até
agora estamos vivendo a parte boa, o primeiro momento, mas logo tudo cai
na rotina, os defeitos aparecem e aí eu quero ver se você vai vir com esse seu
discurso de um ano.
Ela passou por mim e foi em direção a sala.
Valery Lincoln era mais difícil de lidar do que eu poderia supor. Ela
era dura na queda, contudo, meu tesão apenas aumentava.
Capítulo 26

Às vezes, todo esse otimismo de Bradley me irritava. Não porque eu


quisesse que ele estivesse errado, longe de mim, o que eu mais queria era ver
meus sobrinhos felizes e vivendo comigo. Mas era por causa do meu orgulho
mesmo, em dar o braço a torcer que ele estava certo e poderíamos realmente
ser uma família, encontrar a felicidade e o equilíbrio para as crianças.
Assistimos um filme, depois ele pediu pizza. Observá-lo com as
crianças era delicioso, ele realmente estava empenhado no papel de pai.
Quando eu o vi com o chapéu de dinossauro e aquele copo infantil nas mãos
um pensamento intenso passou pela minha cabeça: se tivesse que ter um pai
para os meus filhos um dia, ele teria que ser exatamente como Bradley. Tal
imagem me assustou, embora tenha me confortado. É contraditório gostar e
ficar assustada. Tudo isso é novo para mim. Nunca tive muitos exemplos
masculinos para admirar e Bradley era uma novidade.
As meninas foram para o quarto e Brad foi ler uma história para
Oliver. Fui para o meu quarto trocar de roupa e vestir meu pijama e quando
abri a gaveta vi minhas camisolas curtas e sexys de cetim e meus pijamas de
algodão. Hesitei ao escolher: fico sexy para ele ou durmo como sempre
dormi? Se eu havia entrado de cabeça naquela relação e estava disposta a
fazer dar certo, agradar não era pecado e, no fim, eu também gostaria do
resultado.
Peguei a camisola sexy preta e vesti. Soltei os cabelos, passei perfume
e fui para a cama com uma revista. Liguei a TV para parecer distraída e
esperei ele chegar. Mas Bradley nunca vinha e comecei a ficar preocupada.
Vesti meu roupão e fui ver o que estava acontecendo. Ele não estava no
quarto de Oliver, então desci as escadas e ouvi a voz dele vindo do meu
escritório. Aproximei da porta entreaberta e o ouvi falar sobre negócios, algo
estava dando errado em Moscou. Ele falava em alemão e embora eu não
fosse expert no idioma, entendi alguma coisa por causa das aulas que tive.
Como uma boa workaholic compreendi que a noite estava perdida e
decidi voltar para o meu quarto.
— Valery? – A voz soou às minhas costas e fiquei tensa.
Parei onde estava, não tinha cabimento fingir que não tinha ouvido.
Eu me colocava em cada situação, agora ele acharia que eu era a
bisbilhoteira!
— Bradley – eu falei sem graça me voltando para ele.
Ele me olhou dos pés à cabeça. Ainda estava com a camisa polo
daquela tarde e a calça jeans. Ele ficava sexy informal, parecia mais jovem e
despreocupado. E além disso, ele estava de óculos, sempre achei homens de
óculos muito sexy. Bradley segurava o celular na mão e a forma como me
fitou fez meu corpo queimar de desejo, então cruzei os braços.
— Queria falar comigo?
— Não eu.... – parei de falar quando achei ridículo mentir.
Ia falar que estava indo beber água, mas a cozinha ficava no sentido
oposto. Era melhor dizer a verdade, eu não gostava de jogos emocionais.
— Você não veio para cama e fiquei preocupada – disse a verdade,
mesmo que meu rosto estivesse queimando de vergonha.
Ele sorriu. Algo simples, mas que em tão pouco tempo fazia meu
coração bater forte.
— Negócios – ele mostrou o celular.
— Não quero atrapalhar – eu disse. — Pode continuar, vou subir.
Eu fiz menção de me virar, mas ele me segurou pelo braço e me voltei
para ele. Minha pele queimou bem onde ele tocava e nos encaramos me
fazendo engolir em seco. Era verdade que eu nunca havia sentindo um desejo
tão profundo por um homem, Bradley era um veneno letal para minha
sanidade.
— Não está atrapalhando – ele garantiu com aquele charme
irresistível e sua mão escorregou para a minha e ele me puxou em direção ao
escritório e então fechou a porta —, estou com alguns problemas em Moscou.
Ele deu a volta na mesa e olhou o notebook aberto.
— Algo sério?
— Hackers tentaram invadir o sistema de um cliente – ele explicou.
— Conseguiram?
— Não, mas para invadir, são necessárias duas senhas chaves e eles
tiveram acesso a uma – continuou a me contar. — Significava que alguém da
minha equipe deu acesso a eles.
— Entendo – respirei fundo e me sentei na cadeira diante da mesa
olhando para ele do outro lado. — Acredito que filhos da puta existem em
todo lugar.
Ele estreitou o olhar.
— Problemas no paraíso? – Ele ironizou.
— Discuti com Albert sobre o excesso de assédio de Richard –
desabafei com ele. — E adivinha?
— Ele defendeu o babaca e ficou contra você...
— Exatamente! Disse que por eu ser mulher eu não entendo dessas
coisas de homens! – falei indignada. — Quando eu voltar de viagem vou
tomar algumas atitudes drásticas!
— Sabe que pode custar seu emprego – Bradley ponderou.
— Pela primeira vez na vida, eu me perguntei se vale a pena lutar por
algo nessas circunstâncias. Desde que entrei na Jackson eu sonhei em ser a
CEO, mas a que preço? Fingindo que não vejo que mulheres são relegadas ao
fracasso ou à humilhação? – Eu questionei de forma exacerbada.
— Talvez, para mudar algo, você precise ser a CEO primeiro. Dançar
conforme a música para quando chegar ao topo ditar suas próprias regras –
ele aconselhou.
Bradley deu a volta na mesa e se encostou nela ao meu lado para me
encarar.
— Talvez engolir um abacaxi possa te fazer chegar onde quer e ainda
ajudar essas meninas. Com você no topo, o que Richard pode fazer?
Não havia pensado por esse ponto de vista.
— Parece coerente o que está me dizendo. – cogitei.
— A escolha é sua, você também não é obrigada a trabalhar num
covil, existem milhares de empresas no mundo que dariam tudo para ter uma
profissional dedicada como você...
Fiquei surpresa com o elogio.
— É complicado – limitei a dizer. — Acho que esses dias longe da
empresa vão me fazer pensar melhor.
— Pense com calma no que eu disse, mas não se esqueça que você
pode mais que a Jackson Corporation – ele se afastou outra vez e foi atender
o celular.
Bradley falou menos de dois minutos, dessa vez em russo e então
desligou.
— Vai levar alguns dias até descobrirmos quem foi – ele falou tenso.
— Nenhum crime é perfeito – comentei.
— Exatamente...
Ele fechou o notebook e ergueu o olhar para mim.
— Minha proposta para falar com Maison ainda está de pé – ele
voltou a se aproximar. Tirou os óculos e os colocou sobre a mesa.
— Eu agradeço – garanti —, mas não faz bem para o meu ego –
admiti. — Prefiro tentar do meu jeito.
— Aceitar minha ajuda não vai te diminuir – ele ponderou.
Meu orgulho não me deixava pensar assim. Mas não precisei
responder, ele compreendeu.
— Tudo bem – ele ergueu as mãos se sentando na ponta da mesa. —
Faça como você quiser, mas lembre-se que tem essa carta na manga.
Ele falava como todo bom CEO estrategista e eu apenas podia
admirá-lo. De que outra forma seria? O cara era foda e ainda respeitava
minhas decisões. Estava me sentindo cada vez mais envolvida, do contrário,
não teria colocado aquela camisola para ele.
— Está bem – eu concordei e apoiei as mãos no braço da cadeira para
me erguer. — Você vai para o quarto ou vai ficar aqui?
Para minha surpresa, ele não respondeu. Apenas esticou a mão e
tocou o meu rosto.
— Comprou essa camisola para mim? – Ele quis saber.
Eu ri.
— Não seja presunçoso – empurrei a mão dele e me levantei. —
Ainda não chegamos nesse nível.
Virei as costas e senti Bradley me abraçar por trás. Meu corpo pegou
fogo de imediato como uma combustão. O corpo dele se moldou ao meu e
senti cada parte, inclusive o pau duro roçando na minha bunda.
— E em que nível estamos, gostosa? – Ele perguntou com a voz
embargada contra os meus cabelos.
Eu não conseguia falar. Apenas fechei os olhos e respirei fundo.
— Nunca senti tanto tesão por uma mulher, Valery, por isso, não
estrague tudo – ele pediu.
Fiquei em silêncio. A confissão dele me deixava vulnerável, eu não
queria acreditar, mas era tudo o que eu precisava ouvir para me entregar mais
uma vez. Caso aquele homem estivesse jogando comigo, o jogo estava
vencido. As mãos passearam pelo meu corpo enquanto a boca tocava o meu
ombro e se arrastava em direção ao pescoço lentamente, numa tortura
deliciosa.
Bradley desfez o laço do roupão que abriu sem qualquer pudor e
segurou a barra da minha camisola. Seus dedos se arrastaram em minha pele
com força, me marcando. Era incrível o que simples carícias feitas por ele
provocavam em meu corpo. Meu clitóris ardia, pulsava esperando por mais.
Ele foi subindo o tecido devagar, enquanto chupava meu pescoço e o mordia,
a sensação era perturbadora.
Ele apenas se afastou para tirar as peças e me deixar seminua, apenas
a calcinha minúscula. Ouvi seu gemido abrasador e quando pensei em me
virar, ele voltou a me abraçar para tomar novamente a curva do meu pescoço.
Eu me sentia fraca e queria gozar de qualquer jeito, precisava de mais. Como
se lesse meus pensamentos, ele tocou meus seios, os massageou e puxou os
bicos.
— Você gosta de dor, não é Valery?
Aquela voz me deixou molhada. Mordi os lábios na expectativa do
que ele faria. Tinha receio de falar e estragar o momento. Era tenso e
delicioso, nunca tinha vivido nada assim. Ele lambeu a minha orelha, desceu
novamente e virou meu rosto de lado para beijar a minha boca enquanto
seguia me acariciando até que uma das mãos desceu sobre o clitóris. Meu
gemido foi alto e de rendição.
— Isso, safada, você quer gozar, não é?
— Sim... – murmurei levando os braços atrás da cabeça dele.
Ele parou a carícia para se livrar da roupa. Eu me voltei para ele e o vi
apenas sem a camisa e então se aproximou para beijar minha boca, um beijo
erótico e gostoso. Meu peito arfava de ansiedade e ele foi me empurrando até
que chegamos diante do sofá e ele me virou de costas novamente, me
empurrando para que eu ajoelhasse. Apoiei meus braços no encosto e ouvi
quando ele desafivelou o cinto.
Bradley abriu as minhas pernas, acariciou a minha bunda. Olhei por
cima do ombro e o vi lamber a mão para molhar a minha entrada e então, sob
o olhar perverso, entrou de uma vez. Céus! Como era bom. Ele começou a
mover, e para minha surpresa, levou o dedo indicador ao meu cuzinho. Senti
um arrepio pelo corpo quando fez isso e a pressão colocada ali apenas
intensificou o meu prazer.
Nunca havia feito sexo anal e não fazia ideia como era, mas aquele
toque na entrada era perturbador e delicioso. E quando mais eu gemia
excitada, mais ele ia enfiando o dedo e mais tesão eu sentia. Não me sentia
agredida ou invadida, e sim deliciada com aquela nova sensação. De repente,
eu me vi empinando a bunda para ele enfiar mais. O prazer foi maravilhoso,
não houve dor, ele não forçou nada, era apenas uma carícia a mais a qual eu
fui me entregando.
— Vou gozar nos seus peitos, você deixa? – Ele perguntou com a voz
embargada.
Naquele momento, eu estava tão excitada que eu deixaria até ele
enfiar o pau no meu cu se pedisse.
— Sim – gemi.
Ele aumentou o ritmo e eu o segui. Ficou com o dedo apenas ali na
portinha do meu cu, acariciando, me incitando enquanto o orgasmo vinha.
— Goza, puta, goza – ele falou travando os dentes.
Aquela palavra vulgar me fez sentir tão gostosa que meu corpo se
rendeu.
Senti o calor tomar meu corpo e movi os quadris contra ele. Para o
meu desespero, ele tirou o pau e me fez virar. Caí sentada no sofá e ele
continuou a se masturbar. Projetei o corpo para frente me oferecendo e ele
gozou nos meus peitos. Foi uma cena que me fez sentir poderosa, ele
gozando daquele jeito gostoso contra o meu corpo, travando os dentes,
revirando os olhos. Logo em seguida, sem esperar um segundo, ele se
ajoelhou, abriu minhas pernas e me tomou com a boca.
Não esperava por isso. E não me importaria de ficar sem gozar. Ás
vezes, uma transa não precisava ser completa para dar prazer à alma. Mas eu
não poderia esperar de Bradley menos que aquilo. Senti sua língua no meu
clitóris, ele lambeu e começou a me chupar. Lambia e chupava.
Segurei seus cabelos enquanto o afogava dentro das minhas coxas,
podia sentir seus gemidos sufocados enquanto me chupava e isso me excitou.
Era como se ele permitisse que eu o comandasse como um prêmio por ter
gozado nos meus peitos. Eu apertei minha boceta contra a cara dele e
esfreguei para cima e para baixo, deixando o orgasmo vir outra vez. Os meus
gemidos se misturavam aos deles, era delicioso ouvi-lo sufocar, e eu arqueei
o corpo antes do orgasmo vir tão forte que fiquei cega de prazer e segundos
depois eu estava choramingando e obrigando-o a se afastar.
Nós nos encaramos ofegantes e então sorrimos com malícia um para o
outro. Estávamos jogando o mesmo jogo de prazer e pelo visto seria trezentos
e sessenta e cinco dias promissores.
Capítulo 27

A cerimônia de casamento foi simples. Apenas com a presença das


crianças, e nossos advogados. Eu estava com a calça social preta e a camisa
cinza, da mesma cor do vestido de Valery, foi ela que escolheu. Ela estava
deslumbrante, tanto que fez meu coração bater forte quando saiu do quarto já
arrumada e aquele perfume embriagador.
Ela era simplesmente tudo que um homem podia desejar: bonita,
inteligente, desejável e com um coração maior do que ela. Tínhamos coisas
em comum como ser viciados em trabalho, querermos a guarda dos nossos
sobrinhos e adorávamos fazer sexo. O que mais eu poderia cobiçar? Casais se
uniam por muito menos e nós dois tínhamos objetivo de vida, era só fazer dar
certo.
Ela ficou surpresa quando coloquei o solitário em seu dedo anelar.
Não havíamos falado sobre isso, mas sendo quem eu era, minha esposa não
poderia usar menos. Ela sorriu tímida e tivemos que tirar fotos com as
crianças. Lance tirou todas as fotos possíveis e então demos a cerimônia por
encerrada.
— Vamos para o aeroporto – eu disse para Steve —, o avião nos
aguarda.
— Façam uma boa viagem – ele apertou minha mão. — Quando você
voltar conversaremos.
Eu estranhei aquela frase. Conhecia Steve desde os tempos da
faculdade e sabia que algo estava acontecendo.
— O que foi?
Ele olhou para as crianças e para Valery que conversava com a
advogada.
— É sobre Arnold – ele murmurou.
Fiquei tenso e nos afastamos um pouco. Não por Valery, mas pelas
crianças.
— Pode dizer, não vou conseguir viajar se não me disser o que está
acontecendo.
— É sua mãe – ele lamentou. — Ela entrou com um recurso no
supremo tribunal de Utah pedindo que seu irmão responda em liberdade
porque existem fortes indícios que havia um homem na casa àquela noite.
Não podia acreditar nessa história.
— Como?
— Você conhece sua mãe, Brad – ele falou muito sério. — Ela
compraria um maldito viciado condenado para confessar uma mentira e
pagaria para que a família dele vivesse bem para poder salvar seu irmão.
A forma como ele falou me fez acreditar que minha mãe estava
armando para tirar meu irmão da cadeia.
— Ela não pode fazer isso, Steve – eu passei a mão no rosto.
— Ela já fez. Encontrei com Palmer no aeroporto, ele estava
chegando de Salt Like City. Ela saiu de Chicago disposta a tudo para tirar as
crianças de você e de Valery. Ela vai jogar baixo...
— O que você me diz juridicamente?
— Seu irmão é réu confesso e nunca falou sobre essa terceira pessoa.
Talvez Palmer faça isso para fazer Victoria Lincoln passar por uma viciada
adúltera – ele cogitou. — Se sua mãe comprar as pessoas certas, ele pode sair
em poucas semanas.
E tudo o que eu e Valery estávamos construindo ia por água abaixo e
meus sobrinhos voltariam a viver com o pai desequilibrado apenas para
minha mãe ficar com eles. Arnold não estava normal, ele havia matado a
esposa, estava fora de controle, não podia conviver em sociedade, ainda mais
com as crianças. E agora, eles estavam bem. Respirei fundo para não pegar o
celular e chamar minha própria mãe de vadia.
Ela estava transformando tudo em uma guerra pessoal.
— Entre em contato com o promotor do caso – eu fui direto —, diga a
ele o que minha mãe está fazendo, e que estou do lado dele para manter meu
irmão na cadeia. Ele não pode sair de lá desse jeito, vai continuar dando
trabalho e mantando quem mais?
— Pode deixar – Steve concordou comigo.
— Não diga nada a Valery ou para Lance, quero ter uma viagem
tranquila e as crianças precisam de diversão depois de tudo que passaram –
avisei.
— Claro, sabe que pode confiar em mim.
— Faça de tudo para evitar que minha mãe consiga o que quer. Não
estou tramando contra o meu irmão, mas ele não tem condições de reaver a
guarda dos filhos! – falei determinado.
Nem que eu tivesse que fugir com eles para a Rússia, pensei irritado,
eu não os deixaria a mercê de um homem que se tornara perigoso para eles.
Arnold precisava de ajuda psicológica, ele se era um perigo para si mesmo e
para a sociedade.
— Me mantenha informado – eu pedi e ele assentiu.
— Faça uma boa viagem! – Steve falou.
Valery parou ao nosso lado e sorriu para Steve que a parabenizou
antes de se afastar.
— Aconteceu alguma coisa? Você parecia nervoso – ela quis saber.
— Problemas na empresa – eu menti. — Não se preocupe.
Ela sorriu compreensiva e Cassy a chamou e ela se afastou de novo.
De repente, eu senti que não queria me separar deles, não queria perdê-los.
Não fazia apenas para salvá-los do pai desequilibrado, mas por mim. Eu
estava gostando daquela semana, a nova vida em família e não queria perder.
Aliás, eu não sabia perder. E embora meu irmão tivesse direitos como pai, ele
falhara em seus deveres e eu me vi usurpando o que era dele.
Sua família agora era minha, ele a perdeu quando agiu como um
animal e ninguém a tiraria de mim. Estava determinado a ser o melhor pai e
marido do mundo para que nada nos separasse. Eu moveria céus e terras por
aqueles quatro e o pensamento me surpreendeu.
Meu sangue fervia ao pensar que minha mãe estava jogando sujo.
Contudo, eu teria uma conversa com ela quando voltasse para Nova Iorque.
Foquei no momento e tentei curtir a viagem. As crianças estavam eufóricas e
a viagem para Orlando foi tranquila, quase três horas de voo sem
interferências e chegamos sob um calor forte.
Ficamos hospedados no Grandes Lakes Resort e fomos para a piscina,
já que os passeios estavam marcados para o dia seguinte. Nós nos divertimos
a tarde toda e quando fomos para os quartos, Oliver dormiu no meu colo. As
meninas estavam cansadas e queriam apenas jantar e assistir TV.
— Talvez a gente possa chamar o serviço de babá do hotel para
jantarmos fora, o que você acha? – Eu propus a Valery.
— Se as crianças não se importarem, eu adoraria – ela concordou.
Liguei na recepção do hotel e informaram que a babá viria às vinte
horas ficar com as crianças e poderia passar a noite se quiséssemos. Valery
estava pronta antes que a babá chegasse e quem demorou para se arrumar fui
eu. Prometi que não resolveria negócios durante nossa lua-de-mel, mas era de
Moscou e tive que atender. Todo cuidado era pouco, era o nome da minha
empresa que estava em jogo.
— Onde estamos indo? – Ela perguntou curiosa enquanto passávamos
pelas piscinas.
— Vamos comemorar nosso casamento – eu respondi.
— Bradley! – Ela me fitou desconfiada.
Eu já havia pedido para isolarem o píer que dava para o lago e montar
nossa mesa de jantar ali. O céu ainda estava avermelhado e a noite bem clara,
o vento era fresco e a paisagem paradisíaca. Próximo a nós havia um artista
tocava seu violino. Ela olhou para mim e começou a rir, balançando a cabeça
desolado.
— Tudo isso era necessário? – Ela perguntou quando nos
aproximamos da mesa e o garçom puxou a cadeira para que ela se sentasse.
— Sim, senhora Ryder – eu falei me sentando e olhando para seu
rosto perfeito.
Ela sorriu tímida. Acredito que até então ela não havia se dado conta
de que estávamos realmente casados e agora ela carregava o meu sobrenome.
O garçom serviu champanhe e se afastou.
— Vamos brindar a quê? – Ela quis saber.
— A viagem de férias – eu comecei a falar e fiquei sério encarando-a
com toda a paixão que sentia. — E a nossa família...
— Sim – ela concordou feliz —, um brinde a nossa família.
Batemos as taças e ela bebeu levemente. Nunca vou me esquecer
daquele momento, acho que foi naquele instante que eu descobri que gostava
de Valery e estava bastante envolvido com ela. Foi quando ela virou de uma
vez a taça e a bebida escorreu para fora de seus lábios, o som daquela risada,
o vento batendo contra os cabelos, a forma displicente que ela enxugou o
queixo. Ela era natural. Apesar de ser uma mulher bem-sucedida e ter poder,
ela era simples, a vida dela era comum, ela era toda coração e não mediu
esforços para ver os próprios sobrinhos bem. E enquanto o garçom servia a
salada, eu me perguntava: como não me apaixonar por essa mulher incrível?
— Que lugar maravilhoso, não é? – Ela disse olhando ao redor. —
Esqueci o quanto a vida pode ser divertida fora do trabalho.
— Mesmo? Acho que eu também – comentei.
— Talvez seja o mal de todo workaholic – ela ponderou.
— Qual foi a última vez que tirou férias? – perguntei curioso.
— Nunca, para dizer a verdade. Para chegar onde eu queria, tive que
me desdobrar, estudei muito até completar meu doutorado. Quando decidi
galgar altos cargos na Jackson, eu era a única mulher e tive que trabalhar
dobrado para provar que não era apenas um rosto bonito – ela me contou.
— Ainda mais em uma corporação machista – completei.
— A sua, não é?
Encolhi os ombros.
— Não que eu me lembre. Preciso de pessoas extremamente
competentes que entendam de tecnologia, softwares e afins – expliquei. —
Nunca me ative muito a isso, embora há anos não entro no RH. Mas acredito
que seguimos essa linha, afinal, tenho braços direitos homens e mulheres.
— Isso é louvável – ela falou séria. — Já ouvi histórias que você não
acreditaria...
— Posso imaginar – observei. — Quando cursei a faculdade, fiz
estágio em uma empresa em Londres, eu cursei Oxford – expliquei. — Então,
vi muita coisa. Colegas fazendo apostas de quem iria pegar a mulher primeiro
e essas coisas...
— Você nunca fez?
— Acha que sou o tipo de homem que precisa fazer aposta para se
sentir viril? – Minha pergunta a fez rir.
— Não, pelo menos é o que você aparenta ser...
— Não estou encenando, Valery – falei tomando vinho junto com o
peixe que foi servido. — Tudo que faço e digo é verdadeiro...
Ela ficou sem graça.
— Disse algo errado?
— Não – ela garantiu. — É que ... – ela pigarreou. — É que na noite
anterior você disse para mim que nunca sentiu tanto tesão por uma mulher.
— Eu disse a verdade – confirmei e seus olhos brilharam de
satisfação —, acredito que temos uma conexão e tem funcionado bem.
Queria dizer mais, gostaria de falar que se continuássemos assim
poderia existir mais entre nós. Mas era muito cedo. Toda essa mudança em
tão pouco tempo poderia assustar, eu preferia ir devagar.
— Espero que sim – ela tomou do vinho.
Eu me levantei. No violino tocava algo romântico e estendi a mão
para ela.
— Dance comigo, gostosa – eu a convidei.
Ela riu do convite e estendeu a mão.
Valery ficava linda naquele vestido branco curto, as sandálias de salto
fino que podem enlouquecer um homem. Eu a levei para longe da mesa, mais
próxima ao violino e a abracei, passei a mão por sua cintura e a puxei para
mim. Minha, tive vontade de falar, mas engoli as palavras, não por falta de
coragem, mas porque eu preferia dizer isso quando estávamos transando.
Meu pau estava duro apenas por tê-la contra mim. Ela me enlaçou
pelo pescoço e suspirou antes de me fitar. Era tão palpável a atração que
sentíamos que era difícil de segurar. Quando tive a ideia do casamento, nunca
pensei que desejaria minha esposa como se ela fosse a última mulher do
mundo.
Ficamos nos olhando, a respiração foi ficando pesada, nossos corpos
se colando cada vez mais, sentindo o calor um do outro. Tudo contribuía para
que a paixão acontecesse. Fui me aproximando devagar até capturar seus
lábios. O beijo começou devagar e aos poucos foi aumentando a pressão, a
necessidade e quando notei, minha mão estava enredada nos cabelos dela
aprofundando o beijo e a outra espalmada nas costas dela a apertava contra
mim. Ficar a sós com Valery e não pensar em sexo era difícil, quase
impossível. Eu queria mais dela, tudo. De repente senti necessidade de tocar
sua alma.
Mas eu me lembrei que estávamos ao ar livre com pessoas em volta e
me afastei relutante.
— Precisamos terminar esse jantar de casamento em outro lugar – a
voz dela soou áspera pelo desejo.
— Gosto de mulheres inteligentes – eu disse.
Ela sorriu e pegou minha mão.
— Temos que aproveitar noites como essa, não vai ser todo dia que
teremos para ficar um com o outro...
E saiu me puxando pelo píer.
Capítulo 28

Nunca mais vou ouvir Perfect, do Ed Sheridan sem sentir minhas


pernas amolecerem. O violinista a tocou como se fosse uma joia rara. Foi
uma noite perfeita, um jantar maravilhoso. E quando Bradley me tirou para
dançar, eu me senti como se tivesse quatorze anos novamente e estivesse
dando meu primeiro beijo numa festa na casa da Melissa Reynolds, a garota
popular da escola.
Minha boca secou, minhas pernas ficaram bambas e tive dificuldade
para respirar quando aqueles olhos azuis capturaram os meus e me fizeram
sentir a mulher mais desejada e linda da face da terra. Eu já me sentia antes
dele, mas agora era especial, era de verdade. Meu lado prático e racional me
mandava parar com esses pensamentos intensos e sem sentido, mas era
inevitável. Eu estava me apaixonando por ele cada vez mais.
Nós nos beijamos no píer e eu queria transar, estava louca para ficar
pelada com ele, mas havia as crianças no quarto que era todo conjugado. Eu
não aceitaria ficar longe deles e Bradley sequer cogitou tal situação. Ele fez
tudo sem me consultar, mas parecia me conhecer o suficiente para saber que
as crianças estariam com a gente onde quer que fossemos. Segurei a mão dele
e comecei a andar em direção ao hotel procurando um lugar onde
pudéssemos ter pelo menos dez minutos a sós.
Meus olhos brilharam quando vi a casa da piscina. O empregado saiu
batendo a porta e decidi ir para lá, eram apenas dez minutos e ganharíamos o
mundo com um bom orgasmo. Qual era o problema?
— Para onde estamos indo? – Ele perguntou se divertindo com a
minha atitude.
— Nossa noite de núpcias – eu debochei e empurrei a porta.
Puxei Bradley para dentro e empurrei a porta, fechando-a.
— O que pensa...
Fui para cima dele e o beijei empurrando-o contra a porta e seu corpo
bateu. Ele emitiu um gemido rouco antes de entrar no jogo. O barulho das
máquinas da piscina abafava nossos gemidos.
— Não podemos demorar – eu murmurei contra os lábios dele. — O
funcionário pode voltar a qualquer momento.
Com os olhos semicerrados pelo desejo, Bradley segurou meu rosto
entre as mãos e sussurrou.
— Eu adoro o perigo...
Gemi e ele voltou a me beijar. Num rádio não muito longe que
imaginei ser da piscina tocava Jonathan Roy, Keeping Me Alive. O lugar, o
perigo de alguém chegar a qualquer segundo e nos pegar, a música, o tesão
que eu sentia por aquele homem me fez agarrar a ele como se fosse minha
tábua de salvação. Bradley me segurou pelos quadris e eu o abracei com as
pernas antes dele bater meu corpo contra uma das máquinas e depois na
parede. Enfiei a mão entre nós para abrir seu cinto e abaixar sua calça
levando a cueca junto. Meu vestido foi parar na cintura e ele puxou minha
calcinha de uma vez arrancando um gemido.
Esse homem era um furacão e eu amava tudo isso.
Foi intenso o calor ali dentro era insuportável, porém não mais
intolerável do que o desejo que precisávamos saciar. Ele me possuiu e
começou a se mover dentro de mim com força e rápido. Segui o ritmo que ele
empunha e a música estava chegando ao fim quando meu corpo se esticou
num gozo tão gostoso que eu sequer conseguia pensar.
Ele estava ofegante e eu também quando ouvimos o clique da porta.
Olhamos para o lado esperando que ela fosse aberta e alguém nos encontrasse
ali como dois adolescentes, mas ao invés disso a porta permaneceu fechada.
Bradley franziu o cenho e me colocou no chão.
— É melhor a gente sair, não sei se alguém nos viu – ele comentou
ajeitando os cabelos.
— Tudo bem – concordei terminando de descer o vestido.
Ele colocou a mão na maçaneta e a apertou, mas ela não abriu. Ele
forçou a porta e nada.
— Alguém nos trancou aqui – ele constatou.
— Sério? – Eu não sabia se ria ou chorava.
— Está quente pra cacete aqui dentro!
Eu o empurrei e bati na porta, gritando por socorro.
— Valery ninguém vai nos ouvir... O barulho das máquinas é mais
alto!
— Não podemos ficar aqui!
— Você trouxe o celular? – ele quis saber.
— Não! Você trouxe?
— Claro que não! – Ele protestou. — Era o nosso jantar de
casamento!
Nessas horas, aquele homem que um dia eu achei tão frio e
indiferente era um fofo, mas eu não disse nada, claro. Ele já possuía o ego do
tamanho da sua conta bancária, não precisava da minha ajuda para se sentir
confiante.
— Fomos irresponsáveis! – Eu reprovei. — Pais nunca saem sem
celular!
— Mas os empregados do hotel sabiam onde estávamos, não imaginei
que a gente ficaria preso na casa de máquinas! – O sarcasmo na voz dele me
fez rir.
— Do que está rindo? Gosta de ficar presa em um lugar quente e
barulhento?
— Desculpa! – Eu continuei rindo e me controlei. — É que está sendo
mais divertido do que eu imaginava.
Ele se surpreendeu com a minha colocação.
— Está gostando?
— Sim – eu admiti me aproximando dele e tocando em sua camisa.
— Nunca pensei que me casar poderia ser divertido.
Olhei ao redor e tive uma ideia. Tirei os sapatos e fui em direção as
máquinas.
— O que está fazendo?
— Ajude-me a subir – pedi —, tem um basculante lá em cima,
podemos sair por ele.
Ele olhou por cima e ficou surpreso.
— Não havia notado...
— Espero que esteja aberto, ou passaremos a noite aqui até alguém
chegar amanhã – avisei.
— Podemos quebrar a janela – ele propôs.
— Não é uma má ideia – concordei. O importante era não ficar ali e
depois poderíamos pagar o prejuízo do hotel.
Ele me pegou pela cintura e me ergueu sem nenhuma dificuldade.
Subi em cima das máquinas que giravam sem parar e engatinhei até a janela
sujando meu lindo vestido branco e sexy que usei especialmente para aquela
noite. Mas era por uma boa causa.
Empurrei o vidro empoeirado que parecia emperrado. Eu não tinha
força para abrir.
— Bradley, pode vir aqui? – Eu perguntei por cima do ombro. — A
janela está emperrada, não consigo abrir.
Escutei ele fazer força para subir, mas acabou conseguindo deixando
os sapatos para trás. Soltei um gritinho quando ele me deu um tapa na bunda.
— Se não estivesse tão calor aqui dentro juro que te fodia gostoso
nessa posição – ele falou sério como se fosse um assunto importante.
— Claro – eu concordei. — Agora abra a janela. Aqui está mais
quente que lá embaixo.
Ele empurrou e não surtia efeito. Então virou e bateu com pé até que
na terceira vez abriu. O ar fresco da noite entrou e respirei aliviada.
— Desce primeiro e me segura – eu avisei olhando para baixo, não
era alto, mas se eu caísse poderia me machucar.
— Você é sempre tão mandona? – Ele perguntou com ironia.
— Estou acostumada a decidir tudo – encolhi os ombros.
— Vamos ter que acertar isso – ele avisou. — Também gosto de
mandar.
Eu ri.
— Anda logo.
Ele virou de bruços e desceu com as pernas primeiro e depois o resto
do corpo.
— Vem logo, Rapunzel – ele chamou.
Fiz como ele fez, meu vestido ficaria arruinado, mas não havia
escolha. Foi tão constrangedor porque meu vestido ficou preso na máquina e
quando desci de uma vez, ele ficou lá e meu corpo foi, inteiro. Eu fiquei
pelada. Soltei um grito de desespero com medo de cair e ainda pelada, não
haveria nada mais constrangedor.
Bradley tratou de tirar a camisa depressa e me dar para vestir. Ele
colocou a camisa nas minhas costas e vesti. Quando ele saiu da minha frente
vi um quiosque com uma família e várias crianças. Nunca fiquei tão
constrangida na minha vida. E acredito que Bradley também. Ele acenou para
eles e me segurou pelos ombros antes de me conduzir para perto da piscina.
— Acho que nunca fiz nada tão constrangedor – eu disse a ele.
— Espero que as fotos não cheguem no celular das crianças – ele
zombou.
— Acha que eles fotografaram? – perguntei chocada.
— Não sei, mas acredito que não houve tempo. A senhora tampou os
olhos do filho dela – ele comentou.
Rimos. Mas eu não podia entrar no hotel somente vestida com uma
camisa. Por sorte havia um empregado do hotel passando e Bradley lhe pediu
um roupão. Apesar de ser um resort e várias pessoas transitarem de roupas de
banho, a camisa era transparente o suficiente para verem a minha nudez e
havia crianças esperando por nós no quarto.
Quando o homem trouxe o roupão, eu vesti por cima da camisa. Uma
mulher que passava fitou meu marido de cima abaixo, ele não notou, mas eu
sim. E a encarei até que ela desviou o olhar sem graça. Que mulher mais
atrevida! Ele estava comigo, quem ela pensava que era para olhar assim para
o meu marido?
— O que foi? – Ele perguntou ao notar meu mau humor.
— Nada – jamais admitira ter ficado com ciúme, preferia perder a
língua. — E você me deve um vestido novo e sandálias...
E sai andando.
— A ideia foi de quem em entrar naquela sala de máquinas? – Ele me
fez recordar.
— Não me lembro de você ter uma arma na cabeça! – comentei. —
Além disso, você gozou gostoso e não pode reclamar disso!
Ele me abraçou por trás e beijou meus cabelos.
— Te ver de quatro e depois agora rebolando desse jeito enquanto
anda me deixa tarado – ele comentou.
Eu ri e continuamos a andar abraçados. Ele me beijou no rosto e ficou
do meu lado, passando a mão pelo meu ombro.
— Gosto de te deixar tarado – pisquei para ele.
— Espero que essa vontade nunca passe...
— Eu também...
Subimos para o quarto e todos estavam dormindo. Era cedo, mas o dia
foi cheio e eles se divertiram muito na piscina a tarde toda. Além disso,
mesmo que meu ego não deixasse admitir, desde a chegada de Bradley em
nossas vidas, eles pareciam mais calmos. É como se sentissem mais seguros.
Era um pouco frustrante pensar que não consegui fazê-los se sentirem
seguros, mas de qualquer forma, eu estava feliz por estar tudo bem agora.
Vestimos o pijama depois que a babá saiu e fomos para a cama.
Bradley me deu aquele olhar safado de quem ia me comer gostoso, e se virou
para mim pronto para me beijar.
— Tio Brad – a voz de Oliver soou da porta do quarto. — Posso me
deitar com vocês?
Eu o avisei sobre aproveitar os momentos. Esperava que ele
compreendesse tais palavras com o tempo.
— Claro, filho – ele falou com carinho e puxou o edredom.
Oliver pulou na cama ficando entre nós. Ele deitou e fechou os olhos.
Deitei de lado e olhei para Oliver e depois para o meu marido. Eu estava
casada com aquele homem lindo e gostoso e não fazia ideia de como seria
nosso futuro. Mas eu havia aprendido a viver um dia de cada vez e até agora
estava perfeito. Bradley também deitou de lado e esticou a mão por cima da
cabeça de Oliver e tocou meus cabelos.
Segurei sua mão e a beijei e agradeci movendo os lábios.
Ele sorriu satisfeito e seus olhos desceram para o sobrinho e o vi
suspirar.
Talvez eu não fosse a única que estivesse me encontrando naquela
família torta que estávamos criando. A verdade é que de repente, eu queria
que tudo aquilo durasse para sempre.
Capítulo 29

O dia na Disney não poderia ter sido mais divertido e perfeito. As


crianças se divertiram tanto que decidiram que queriam morar em Orlando.
— A gente poderia vir todo o fim de semana – Oliver propôs quando
voltávamos para o hotel no carro alugado.
— Não dá para vir todo o fim de semana, seu idiota! – Amanda falou
brava.
— Amanda! – Valery a reprovou.
— E por que não?
— Porque só a vovó tem dinheiro, tio Brad e a tia Valery estão
quebrados – ela contou ao irmão como se não estivéssemos ali.
— Quem falou isso? – Eu perguntei fitando-a pelo retrovisor.
— Minha avó, claro – ela falou erguendo aquela sobrancelha irritante.
A mesma que Valery costumava erguer quando não concordava comigo e
queria discutir.
— É mentira! – Eu disse.
— Ela falou para mim que vocês querem o dinheiro dela porque
somos os únicos herdeiros do meu pai! – Ela me enfrentou.
Nessas horas, eu queria ligar para a minha mãe e quebrar o pau. Dizer
umas verdades sobre a péssima mãe que ela foi e a horrível avó que estava
sendo e tudo por causa de dinheiro. Porque ela possuía o pavor de dividir o
dinheiro que ela tirou dos maridos.
Valery tocou meu braço e olhei para ela. Entendi que ela achou
melhor que conversássemos no hotel. Não demorou para chegarmos e
subirmos para o quarto para tomar banho e descansar.
— Vão tomar banho, Cassy e Oliver – Valery mandou. — Eu e
Bradley precisamos conversar com Amanda.
A menina bufou soprando a franja para cima como sempre fazia
quando estava irritada. Cruzou os braços e ficou parada esperando a próxima
ordem. Valery fez sinal para que ficássemos na saleta de entrada e nos
sentamos nas cadeiras dispostas ao redor da mesa de centro. Não fazia ideia
do que realmente falaríamos para ela, mas estava na hora de colocar um
ponto final naquela rebeldia exacerbada.
— O que vão tirar de mim agora? – Ela perguntou petulante. — A
minha vida?
— Não – Valery respondeu se sentando muito séria. — Quem mata as
pessoas por aqui é o seu pai, não sou eu.
Ela sabia o quão dura eram aquelas palavras, mas estava na hora de
Amanda ter um choque de realidade.
— Olha, Amanda, sei o quanto é difícil para você tudo isso...
— Sabe mesmo? – A menina debochou. — A única coisa que você
sabe é sobre seu maldito trabalho!
— Abaixe o tom de voz! – Valery exigiu sem perder a paciência.
— Não abaixo! – A menina gritou. — Você acha que porque é a cara
dela pode mandar em mim? – Os olhos dela estavam cobertos de lágrimas —
mas não vai mandar! E odeio você! Odeio porque se parece com ela! Odeio
sua vida perfeita e feliz quando a gente sempre viveu na miséria! Odeio você
estar ocupada demais para ficar com a gente! Você é horrível!
Amanda tremia da cabeça aos pés. Ela começou a chorar
compulsivamente e apenas naquele momento eu me dei conta que ela estava
desabafando, colocando toda sua dor para fora. Não deveria ser fácil para ela
olhar para Valery e lembrar-se da mãe.
— Fui eu que a encontrei – Amanda apontou para si mesma. —
Enquanto eu pressionava seus ferimentos que não paravam de sangrar, onde
você estava?
Valery não respondeu novamente. Ela deixou que a menina
extravasasse toda sua angústia.
— Eu sei onde você estava! Com sua vida rica e seus amigos
perfeitos! Você nunca se importou com a gente!
Amanda caiu sentada do sofá e levou as mãos ao rosto para chorar.
Valery também deixou algumas lágrimas escaparem e as enxugou depressa.
— Sempre enviei dinheiro para sua mãe, Amanda...
— Mentira! – A menina gritou tentando enxugar as lágrimas.
— Cheguei a mandar as passagens, mas ela vendeu e ficou com o
dinheiro – Valery contou. — Eu juro. Posso até te mostrar meu extrato
bancário e você verá as transferências.
Diante daquele argumento, Amanda cedeu um pouco.
— E o que ela fez com o dinheiro? Por que ela não foi embora?
— Eu não sei – Valery falou com pesar. — Mas ela nunca quis se
afastar do seu pai.
— Eu odeio ela, odeio você! – Amanda falou para Valery ressentida.
— Eu só quero esquecer que tudo isso aconteceu! Não quero viver perto de
vocês e me lembrar dela!
— E aí você acha que indo morar com a sua avó tudo vai melhorar? –
Eu a questionei.
Ela assentiu enquanto enxugava as lágrimas.
— Ela é legal, gosta de moda e me entende! – soluçou. — Ao invés
de ficar me dizendo o que fazer, ela prometeu que vou ser modelo na sua
agência!
Minha mãe era terrível, ela afirmaria para Deus que não conhecia o
diabo. O pior era que ela sabia exatamente o que dizer para convencer uma
criança vulnerável como Amanda.
— Então façamos o seguinte – comecei a falar. — Depois de voltar à
escola, deixo você passar um fim de semana com ela.
Amanda parou de chorar no mesmo instante e riu.
— Bradley! – Valery me reprovou.
Apenas toquei a mão dela em cima de sua perna e continuei a falar.
— Mas se eu ver que insultou sua tia, ou dizer qualquer coisa
desagradável a ela até que eu libere a visita, você não mais – avisei.
— Juro que vou ser boazinha! – Ela prometeu. — Vai ser o fim de
semana mais feliz da minha vida! Quem precisa de celular quando tem uma
avó como a minha?
A menina se ergueu e se retirou. Levantei e antes que Valery dissesse
qualquer coisa, eu pedi uma babá. Precisávamos ficar a sós e ela estava
prestes a explodir comigo por eu ter tomado uma decisão sem falar com ela.
Meu lado possessivo dominador sempre falando mais alto. Eu apenas quis ser
prático, solucionar um problema que elas ficariam discutindo e não sairiam
do lugar.
Valery olhou para mim atravessado, os braços cruzados e a
sobrancelha erguida.
— Não adianta me olhar assim, fiz o que era melhor...
— Sem me consultar? De novo? – Ela se afastou e eu a segurei pelo
braço. — Pedi uma babá, vamos sair e dar uma volta.
— Não estou a fim de transar...
— Eu quero conversar – falei sério e a puxei em direção a porta.
Nós estávamos saindo quando a babá chegou.
— Não vamos demorar – Valery disse a moça loira e jovem.
A porta bateu e fomos em direção ao elevador. Valery se soltou de
mim e andou do meu lado pisando duro. Foi quando vi a arrumadeira
entrando em um quarto. Peguei no cotovelo de Valery e me aproximei da
mulher.
— E o que vai fazer? – Valery perguntou preocupada.
Arranquei minha carteira e tirei três notas de cem dólares e estiquei
para a mulher.
— Arrume todos os quartos, deixe esse por último – avisei e ela
pegou o dinheiro, colocando-o no jaleco.
— Como quiser, senhor – ela me entregou o cartão.
Peguei a mão de Valery e a puxei para dentro do quarto, empurrando-
a já que ela insistia em bancar a durona e fingir que não queria entrar. Bati a
porta e segui atrás dela.
— Isso não vai funcionar comigo! – Ela disse furiosa caminhando
pela sala que igual à da nossa suíte era ampla e arejada. As janelas estavam
abertas e podíamos ver o lago, uma paisagem linda para ser vista a dois se
Valery naquele momento não quisesse me matar.
— O que não funciona? – Eu a segui.
— Agir como um ogro! Decidir as coisas sem falar comigo! – Ela se
voltou com o dedo em riste e parei de andar. — Suas amantes podem achar
lindo você agir de forma possessiva, mas eu acho um horror, me irrita e me
faz querer desistir desse casamento ridículo!
Ela estava bem brava. Segurei para não rir. Ela e Amanda ficavam
bravas do mesmo jeito. Devia ser por isso que brigavam tanto, elas se
pareciam.
— Casamento ridículo? – perguntei zombando.
— E, não é? Quem se casa por conveniência em pleno século vinte e
um? – Ela perguntou exasperada.
— Você se surpreenderia se eu te contasse...
Disse e dei as costas para ela, indo para o outro lado da sala e me
servindo de uma boa dose de uísque. Graças aos céus eu bebi com gelo e me
sentei confortavelmente no sofá. Valery andava de um lado para o outro
como uma fera enjaulada.
— Será que podemos ter uma conversa civilizada? – questionei
sorvendo a bebida.
— Civilizada? – Ela se aproximou de mim, tirou o copo da minha
mão e lançou contra a parede.
O copo espatifou fazendo um barulho seco no chão. Olhei para trás
para o copo e depois me voltei para ela. Linda fora de si, qualquer homem
morria de tesão por uma mulher furiosa, mas Valery era um poço de tesão e
eu me afundaria nele com certeza. Eu me ergui e ela veio para cima de mim
pronta para me bater, eu segurei suas mãos e a beijei. Simples assim. Sem
gritos ou força bruta. Um beijo forte e selvagem que converteu a raiva dela
em paixão.
Era disso que Valery precisava: foder. Não havia mais nada poderoso
para acalmar um ser humano do que uma trepada. E com a minha gostosa não
era diferente. Eu a puxei contra mim e caímos sobre o sofá, nos beijando, nos
acariciando por cima da roupa. Ela estava fora de si e queria me morder e me
arranhar.
Sem qualquer paciência, eu a virei deixando-a por baixo de mim, fui
tirando sua blusa, lambendo sua pele, mordendo. Arranquei o sutiã com
força, marcando sua pele. Ela queria e eu também. Tirei suas sandálias e
depois sua calça. Ela arrancou minha blusa de uma vez, depois me ajudou a
me livrar da bermuda. A roupa ficou no chão e me deitei em cima dela. Fiz
Valery ficar de bruços contra o sofá e fiquei de joelhos. Ergui o quadril da
gostosa e a penetrei. Segurei seu cabelo com força puxando sua cabeça para
trás. Ela não dizia uma palavra. Mergulhei dentro dela e saí, cuspi no meu
pau e espalhei a saliva com a mão antes de começar a cutucar o cuzinho que
piscava para mim.
Ela ficou tensa, eu sabia que ficaria, era a primeira vez que eu faria
sexo anal com ela. Então a virei de frente para mim e como fiz da outra vez,
levei a mão ao seu clitóris e comecei a estimulá-lo. Ela ofegou e relaxou,
ergui sua perna o suficiente para o cuzinho ficar virado para mim e então
cuspi mais uma vez para molhar bastante e ajudar e entrar. E enquanto
continuava a acariciar seu clitóris, eu coloquei a cabeça do meu pau na
entrada e conforme o prazer de Valery aumentava, ela relaxava para que meu
pau penetrasse.
Ela gemeu de dor quando entrei de vez. Não havia outro modo, mas
as carícias no clitóris seguiam rítmicas e eu comecei a me mover na mesma
cadência e ela foi se entregando. O incômodo passou e senti quando ela
relaxou e deixou que eu entrasse e saísse sem qualquer dificuldade.
E puta que pariu, não foi difícil gozar. Aliás, foi tão rápido que gozei
junto com ela.
— Isso, gostosa, rebola no meu pau vai.
— Eu vou gozar – ela gemeu acariciando os próprios seios, puxando
os bicos louca de prazer.
— Goza, sua puta, safada! – Eu disse por entre os dentes.
Segurando uma das suas pernas no ar, eu meti gostoso e gozei. Mordi
sua panturrilha e logo saí de dentro dela. Fui ao banheiro da suíte, me lavei na
pia e trouxe uma toalha para ajudá-la a se limpar. Quando voltei, ela ainda
estava deitada, a mão na cabeça. Eu mesmo a limpei e ela sorriu em
agradecimento.
— Gostou? – Eu quis saber.
— É diferente, é um tesão louco te ver gozar desse jeito – ela
comentou com um sorriso.
— Mas não acabou... ainda temos tempo até a arrumadeira voltar...
Fui para cima dela, mas ela me segurou e empurrou, ficando séria.
— Não gostei de mandar Amanda ficar com sua mãe, Bradley, vamos
perdê-la...
— Aí é que você se engana, Valery – eu segurei sua mão e comecei a
beijá-la. — Um final de semana e eu prometo a você que Amanda nunca mais
vai querer ouvir o nome da minha mãe.
— Como pode ter certeza? – Ela perguntou receosa.
— Sou filho dela, e eu não sinto saudade da minha infância, pode
apostar...
— Vou te dar um voto de confiança – ela avisou. Mas soou mais
como uma ameça.
— Fico feliz, querida... — fui para cima dela e Valery não me
impediu. — Agora, deixe-me te dar mais prazer...
— Como...
A voz dela sumiu quando meus lábios desceram por entre suas pernas.
— Sim, eu adoro quando faz isso...
Ela murmurou se abrindo para mim. E eu chupei Valery até que ela
gritou meu nome e implorou para que eu parasse.
Capítulo 30

Nosso último dia em Orlando foi fantástico. Eu não teria palavras


para nomear a sensação de estar em família e dividindo os melhores
momentos da minha vida com os meus sobrinhos. Depois de um belo passeio
pela cidade, nós aproveitamos o fim de tarde ao redor da piscina. As crianças
brincavam com Bradley enquanto eu permanecia debaixo do guarda sol com
meu chapéu e óculos, além do protetor solar mais forte que eu conhecia. Eu
ficava vermelha igual a um camarão, por isso, evitava sol a todo custo.
Bradley veio para o meu lado e me molhou balançando o cabelo em
cima de mim. Acabamos rindo e ele se sentou na minha espreguiçadeira e me
abraçou depois de tirar o meu chapéu e meus cabelos se soltarem.
— Nosso último dia no paraíso – ele comentou.
— Com certeza – eu o abracei —, quero pedir desculpas por minha
explosão ontem no quarto.
— Eu não a culpo. É muita coisa para lidar. A perda de sua irmã e a
rebeldia de Amanda dizendo tudo aquilo – ele ponderou.
Ergui o olhar e o fitei.
— Sempre é tão compreensivo, ou faz isso porque está gostando de
me comer? – Eu quis saber.
— É uma privilegiada, senhora Ryder – ele respondeu. — Não sou
muito tolerante, vai perceber. A não ser com as pessoas com quem me
importo.
Fiquei surpresa quando ele disse tais palavras.
— Então se importa comigo, senhor Ryder? – Eu disse em tom de
brincadeira para aliviar a tensão.
— Até mais do que eu poderia imaginar – ele falou.
Meu coração deu um salto mortal e caiu de pé de outro lado. Não
podia acreditar que ele dissera isso. Era tão sincero que me fez acreditar em
suas palavras.
— Espero que o sexo não diminuía quando voltarmos para casa – ele
comentou desviando aqueles lindos olhos azuis para frente e observando as
crianças.
— Acredita que sou o tipo de mulher que desiste fácil? – perguntei e
rimos.
Oliver saiu da piscina e correu para perto de nós.
— Tio Brad, eu queria tomar um sorvete, não quer ir comprar
comigo?
O menino podia ir sozinho, o bar ficava do outro lado, mas ele queria
a companhia de Bradley e talvez estivesse até enciumado por causa da nossa
aproximação e por nos ver tão juntos.
— Quer? – Oliver perguntou para mim.
— Só uma água, por favor – sorri para ele.
Brad pegou na mão dele e foram em direção ao bar. Nesse momento,
meu celular tocou. Era a minha secretária Guinevere. Ela sabia que não
deveria me ligar a não ser que fosse caso de extrema urgência, então atendi.
— Valery falando – eu disse.
— Valery, sou eu Guinevere.
— Algo aconteceu?
— Não. Quer dizer, não ainda.
— Diga-me – eu disse me sentando e olhando Amanda conversar com
um garoto que parecia ter a sua idade na piscina.
— Ontem à noite eu sai com um cara e ele trabalha no jornal Business
Chicago.
Eu não podia acreditar que ela estava me ligando para falar sobre um
novo namorado.
— Seja breve, Guinevere – eu pedi.
— Eu sei que está ocupada, mas vai gostar de ouvir isso, ou não. Não
sei dizer ao certo, mas achei que devia saber por mim...
— E o que é?
— Ontem de manhã, Albert Jackson mandou uma nota para o jornal
dizendo que segunda-feira Richard entra na Jackson como o mais novo CEO
– ela falou de uma vez.
Eu não podia acreditar. Aquele velho agiu nas minhas costas como
Bradley havia previsto. Respirei fundo para me controlar e não explodir
jogando meu celular no chão e gritando de raiva até ficar rouca.
— Valery? – Ela me chamou.
— Estou aqui. Foi o choque...
— Sinto muito, mas achei que você deveria saber que vão anunciá-lo
amanhã na primeira reunião. A que você não vai participar...
Eu chegaria depois do almoço conforme o combinado e os covardes
fariam o anúncio sem a minha presença. O sangue ferveu e respirei fundo
outra vez.
— Obrigada por me avisar, Guinevere. Amanhã eu estarei lá –
agradeci e desliguei.
Bradley parou ao meu lado e colocou a água diante de mim. Eu a
peguei e minha mão tremeu enquanto colocava o celular no assento da
cadeira.
— O que foi? – Ele sentou-se ao meu lado. — Está pálida.
Eu sentia vontade de chorar, mas era de raiva. Queria que um raio
caísse sobre a cabeça de Richard e Albert! Bebi água tentando me acalmar,
mas parecia impossível.
— Era minha secretária – eu contei a ele.
Pelo olhar dele, compreendeu a merda toda. O bom de Bradley era
porque fazíamos parte do mesmo mundo dos negócios e o óbvio era comum
para nós. Meu nervosismo poderia ter apenas um motivo.
— O que Jackson fez?
— Guinevere saiu por acaso com um jornalista do Business de
Chicago e ele lhe contou que Jackson vai anunciar Richard como o novo
CEO da empresa amanhã na reunião que não vou participar...
Nós nos encaramos e Bradley praguejou.
— O que quer fazer?
— Acabei de saber, eu preciso de alguns minutos para computar tudo
e tomar uma decisão. Não quero sentenciar nada com a cabeça quente. –
desabafei.
— O que decidir, estarei ao seu lado – ele falou determinado. — Até
mesmo se quiser matá-los, eu te ajudo a esconder o corpo.
Eu ri. Tenho certeza que ninguém mais me faria rir em um momento
tão estressante. Notei que Bradley sempre encontrava um caminho de bom
senso para resolver as coisas para mim e as crianças.
— Obrigada.
Ele segurou a minha mão e a beijou.
— Vou nadar com as crianças para deixar você pensar...
Eu assenti e ele se ergueu, dando um mergulho cinematográfico na
piscina e nadando até eles no outro lado. Minha cabeça estava a mil. Eu bebi
mais água e tentei pensar com clareza, mas minha cabeça parecia um carro
sem freios descendo um desfiladeiro. Eu me ergui e comecei a andar,
precisava pensar.
Andei pelas piscinas e depois saí no píer onde os barcos estavam
chegando e saindo com hóspedes para dar uma volta no lago. Doía perder o
cargo para aquele bosta, mas ainda mais doía saber que ele me demitiria. Ou
se eu ficasse, ele me trataria como um lixo apenas para provar que tinha mais
poder do que eu. O problema do orgulho é a bomba relógio que ele se torna
dentro do nosso coração.
E é horrível passar por qualquer tipo de humilhação. Ainda mais
sabendo que tenho mais capacidade que aquele verme e estão fazendo isso
porque sou mulher. Em pleno século vinte e um, e eu ainda tenho que provar
que sou boa em alguma coisa e mesmo assim não é suficiente para que eu
tenha o cargo que sempre sonhei, porque tem um homem babaca que joga
sujo competindo comigo.
Caso Richard fosse um bom profissional e sério, doeria da mesma
forma, mas eu aceitaria minha derrota e continuaria servindo a Jackson
Corporation com prazer. Contudo, eu me perguntava se teria sentido
permanecer naquele lugar com um CEO tão nojento. Eu não ficaria
trabalhando o resto da minha vida para que Richard ganhasse todos os
elogios. Se tudo que eu fiz não era suficiente para ser valorizada, talvez o
pedido de demissão fosse a única solução. E tal detalhe doía também, meu
orgulho e tudo o que fiz para chegar onde cheguei. O problema não era
começar da estaca zero, era lidar com a derrota.
Não sei quanto tempo fiquei ali parada, mas sabia que era tarde
quando senti que era abraçada pelas costas. O perfume de Bradley era
inconfundível o beijo que ele sempre dava contra os meus cabelos era único.
Eu não sei o que seria de mim depois de um ano ao lado dele. Esperava não
me decepcionar.
— Não me diga que deixou as crianças sozinhas na piscina? – eu
perguntei perplexa.
— No quarto com a babá, eles estão exaustos. Como se sente? – Ele
continuou abraçado.
— Um lixo e ainda estou com muita raiva – respondi.
— Quer voltar para casa hoje? – Ele inquiriu.
Eu me voltei para ele.
— Por que hoje?
— Para participar da reunião de seu novo CEO – ele ironizou.
Não havia pensado nisso, estava tão afogada no meu ódio que não
pensei em pegá-los com as calças na mão.
— Até que não é uma má ideia – dei um sorriso malicioso.
— Imagine você chegando enquanto eles já começaram a reunião.
Albert daria a notícia da mesma forma, mas teria que fazê-lo olhando para
você...
Gostei da ideia.
— As crianças vão ficar tristes – eu pontuei passando a mão pelo
peito largo de meu marido.
Meu marido. Nunca pensei que um dia teria um, ainda mais um tão
bonito e inteligente. E um amante espetacular.
— Podemos compensar com uma ida ao shopping, ou uma sessão
pipoca em casa – ele meneou a cabeça. — Crianças sempre encontram uma
forma de perdoar.
— Então aceito a ideia de ir embora hoje mesmo – concordei.
Ele sacou o celular do bolso da bermuda e ligou para a secretária.
Segundos olhou para mim.
— Ela vai ligar para avisar o horário que conseguiu a liberação do
voo – ele me avisou.
— Muito bem – eu fiquei na ponta dos pés e beijei seus lábios
rapidamente. — Precisamos pensar em um modo de nos despedir daqui.
— Despedir?
— Sim – eu estreitei o olhar. — Sabe aquela trepada inesquecível?
Ele deu uma gargalhada gostosa.
— Como sempre, você pensa em tudo, querida...
Era gostoso ouvi-lo me chamar de querida. Ele segurou minha mão e
começamos a andar pelo píer. Fim da tarde, o sol se pondo na Flórida. Havia
algo mais inevitavelmente romântico? Bradley me levou até a sauna, o que
era para ser comunitário com os outros hóspedes, de repente, se tornou algo
nosso e íntimo.
Ele se certificou que não havia ninguém e trancou a porta. Eu me
livrei da canga e usando apenas meu biquíni branco fui ao encontro dele. Nós
nos beijamos esfomeados. Ele tirou a camisa, a bermuda e vi seu pau duro
sob a sunga preta. Passei as mãos no peito até a sunga e a puxei para baixo,
enquanto me ajoelhava para tomar aquele pau grande e gostoso na boca.
Bradley segurou meus cabelos com força, enquanto eu sentia seu sabor único.
Eu senti um poder extraordinário ao notar que mesmo Bradley sendo tão forte
e invencível no seu mundo, seu corpo ondulava por causa do prazer que eu
lhe dava. Eu era uma mulher de negócios foda, mas também era uma amante
ávida que fazia meu homem se tornar um menino afoito pelo orgasmo que
apenas eu podia lhe proporcionar.
Parei com a carícia no meio do caminho e me ergui. Fui andando de
costas enquanto tirava a parte de cima do biquíni e depois a parte de baixo.
Eu me oferecia para ele, apresentando meu corpo e o meu sexo. Éramos a
tentação que sempre procuramos em nossos parceiros, não precisávamos de
mais nada.
Meu corpo se encostou nas escadas da sauna onde as pessoas se
deitavam para relaxar. Estiquei o braço para ele e fiz sinal para que se
aproximasse. Ele veio em minha direção, havia tanto desejo em seu corpo e
semblante que tremi antes mesmo que tocasse meu corpo. Cada músculo
daquele homem fora esculpido pelos deuses, ele era perfeito.
Sentei no degrau e fiquei ali esperando por ele, seu olhar me lambia,
me comia, me excitava.
— O que você quer de mim, Bradley? – perguntei quando ele parou a
alguns centímetros de mim.
Era notável sua respiração pesada. Sua excitação era um afrodisíaco.
— Quero vê-la gozar gritando o meu nome – ele respondeu com a voz
áspera carregada de luxúria.
Eu sorri.
— Então, me chupa – eu mandei.
Meu coração bateu muito acelerado. Eu nunca fui tão ousada e me
arrepiei inteira quando ele se ajoelhou no degrau debaixo e suas mãos
apoiaram cada uma de um lado do meu corpo. Senti o peito dele roçar minhas
pernas quando ele se aproximou para chupar meus seios. Não me movi,
apenas abri os lábios em busca de ar enquanto meu corpo ardia em febre de
prazer. Ele se posicionou entre os meus joelhos e abri as pernas para
acomodá-lo melhor.
A língua roçou a curva do meu seio antes de dar atenção ao outro e
chupá-lo com força me deixando extasiada entre a dor e o prazer. Ele desceu
a língua pelo meu corpo e comecei a tremer de antecipação do que viria.
Quando sua língua estacionou no meu clitóris, ofeguei sabendo que não era
mais dona do meu corpo, ele poderia fazer o que quisesse comigo que eu
aceitaria. Estava submissa ao seu desejo.
Fiquei observando a forma como ele descia e girava a língua no meu
clitóris provocando em mim a mais intensas sensações da paixão. Segurei os
cabelos para observá-lo e ter certeza que um homem nunca me tocou com
tamanha destreza. Ele não apenas me chupava, ele me engolia, fazia amor
com a boca, me domava. Arqueei o corpo para trás e abri mais as pernas, me
entregando deixando que ele me absorvesse.
O gozo veio rápido forte e sedento. Mas antes que eu chegasse ao fim,
ele se ergueu e me penetrou com força, dando continuidade aquele intenso
prazer. Espalmei as mãos no degrau e senti meu corpo ir para frente e para
trás, enquanto o vapor da sauna nos cobria, nossa pele se tornava
escorregadia e eu gritava de prazer, os urros dele se misturavam ao som do
motor da sauna.
Minha vagina se contraiu quando o orgasmo veio mais uma vez e
apertei seu pau deixando-o louco e sem opção a não ser entregar-se mais uma
vez e gozar comigo. Ele caiu sobre mim quando tudo terminou e eu o abracei
certa de que não poderia ter outro parceiro sexual mais delicioso e agradável
no mundo do que Bradley Ryder. As pessoas falavam do chá de boceta, mas
era porque não sabiam como era gostoso a surra de piroca que eu havia
experimentado todos aqueles dias. Podia fazer até mesmo as mais santas das
mulheres se libertar e apaixonar para sempre.
Capítulo 31

Como havíamos previsto, as crianças não gostaram da ideia de ir


embora mais cedo, mas foi melhor até. Quando chegamos em Chicago meu
celular não parava de tocar, eram os problemas referentes a quebra de
segurança da minha empresa.
— Seria bom se estivesse aqui, Ryder – Dimitri Orloff, meu braço
direito em Moscou me disse ao telefone.
— Estou com problemas pessoais, por enquanto não consigo deixar os
Estados Unidos...
Estava surpreso com minhas próprias palavras. Jamais deixei o
trabalho em segundo plano, era uma novidade para mim. Mas infelizmente
agora deixar Valery e as crianças não era uma opção. Minha mãe estava
prestes a dar o bote e minha esposa estava passando problemas no trabalho.
Apenas se eu fosse um cretino para deixá-la sozinha em um momento tão
importante de sua vida.
As crianças chegaram exaustas e subi com as malas e fui obrigando
um a um para entrar no chuveiro e tomar um banho. Enquanto isso Valery
estava no escritório fazendo algumas ligações. Oliver caiu na cama e apagou
depois de tomar banho. Cassy não demorou muito e foi fazer o mesmo,
Amanda ainda enrolou um pouco, mas quando sai do quarto e fui verificar
estava dormindo sentada.
Eu a ajeitei na cama e olhei a revista que estava lendo. Era sobre a
minha mãe. Suspirei pesadamente sabendo que a decepção seria grande, mas
Amanda teria que aprender com a lição que a vida lhe daria. Infelizmente
minha mãe era terrível. Até agora eu me perguntava porque acreditei que ela
mudaria quando permiti que se aproximasse dos netos daquela vez.
Quando me virei, Valery estava parada me olhando com aquele
sorriso lindo que me fazia sentir o cara mais gostoso do mundo. Sai do quarto
e roubei um beijo rápido antes de perguntar.
— Conseguiu resolver alguma coisa?
— Eu tomei uma grande decisão, Bradley – ela respondeu abraçando
o próprio corpo.
— Vamos descer e conversar, eu preciso de uma boa dose de uísque –
avisei.
— Não temos bebida aqui em casa. – Ela disse me acompanhando
enquanto descíamos as escadas.
— Eu sei, por isso trouxe o meu e guardei no escritório.
Ela me olhou surpresa e acabou rindo. O que era um homem de
negócios sem o seu inseparável uísque? Eu fui para o quintal onde ela estava
me esperando e não fiquei surpreso quando a vi fumando.
— O estresse é maior – ela garantiu tragando.
— Não me importo – garanti.
Cada um extravasava da maneira que podia.
— Então – eu me sentei de frente para ela do outro lado da mesa de
madeira —, qual foi a decisão que tomou?
— Eu... – ela respirou fundo e soltou o ar devagar. — Eu vou pedir
demissão.
— Mesmo? – perguntei surpreso.
— Sim. Eu não quero mais ficar na Jackson.
— Tem certeza?
— Porque eu ficaria em um lugar onde meu trabalho não é
valorizado? Por dinheiro? Eu posso trabalhar em qualquer outro lugar no
mundo se eu quiser... tenho nome, sou competente, muitas empresas vão
querer me contratar – ela disse segura.
Senti um orgulho imenso da minha esposa por ela pensar assim.
— Tenho uma boa reserva de dinheiro se outro emprego demorar para
aparecer – ela argumentou.
— Não precisa preocupar com isso, Valery – eu segurei sua mão por
cima da mesa. — Você não está sozinha, não mais.
Notei que ela engoliu seco e tentou sorrir, mas não conseguiu.
— Não quero que pense que estou fazendo isso porque está aqui,
Brad.
Ela me chamou pelo apelido. Nosso terceiro dia de casados e ela já
me chamava com intimidade. Isso era um marco em nossa relação.
Significava que ela confiava em mim, que estava cedendo e eu não a
decepcionaria.
— Jamais pensaria tal absurdo sobre você, sei o quanto batalhou para
chegar aqui...
— Sabe mesmo, não é? – Ela sorriu triste dessa vez. — Mas seu
relatório não lhe contou tudo.
Ela apagou o cigarro no cinzeiro e recostou-se na cadeira.
— Há algo que devo saber a essa altura? – perguntei com sarcasmo.
Para mim, não fazia a menor diferença se Valery fazia parte de um
grupo terrorista ou havia matado alguém na vida. Eu estava enfeitiçado por
aquela mulher, louco por ela e nada me separaria dela. Trezentos e sessenta e
cinco dias haviam se transformado em uma vida para mim e ela teria que
aprender a conviver com isso. Ela não fazia ideia de que eu ouvi a conversa
que ela teve com Amanda aquele dia na cozinha. Valery acreditava que eu
tinha ouvido parte, mas não tudo.
— Eu ouvi sua conversa com Amanda, Valery – a fiz lembrar. — Não
há nada que eu não saiba.
— Havia me esquecido desse detalhe – ela observou séria. — Talvez
seja tarde demais para lamentar, não é?
— Lamentar o que?
— Esse fim de semana, nossa relação – ela apontou de um para o
outro.
— E o que tem? Não é o que havíamos combinado?
— Não exatamente...
Ela se ergueu, foi jogar as cinzas do cinzeiro na churrasqueira e então
o guardou em seu lugar secreto, somente então se voltou para mim.
— E se as coisas saíssem de controle? – Ela parou diante de mim com
os braços cruzados.
— Controle? Acredita mesmo que estamos tendo algum desde que
nos conhecemos? Tudo entre nós é intenso e rápido. Há três semanas, eu
estava em Moscou e sequer poderia imaginar que antes do fim do mês estaria
casado com uma mulher atraente que me faz desejá-la mais do que qualquer
outra que já conheci...
— Bradley – ela me reprovou e tentou se afastar.
Eu a segurei pela mão e a obriguei a ficar.
— Olhe para mim e diga que não sente o mesmo – eu exigi.
Segurei sua mão com firmeza quando ela tentou se livrar de mim. Eu
me ergui e a encarei.
— Diga, senhora Ryder, que esse não foi o fim de semana mais
incrível da sua vida. Porque pode apostar, foi o meu...
Ela parou de tentar se soltar. Olhou para mim com certa angústia.
— O problema todo é esse, Brad.
— Qual, minha querida? Que tenhamos nos apaixonado? – Eu a puxei
para perto e a segurei pela cintura.
O vento fresco da noite bagunçou nossos cabelos. Valery ficava linda
descabelada. Aliás, ela ficava linda de roupa ou sem. Descabelada ou vestida
como uma rainha. Ela era incrível e estava difícil esconder meus sentimentos
e nunca fui um homem de fugir deles.
— Eu me apaixonei por você, Valery – confessei deixando-a
perplexa. — É disso que tem medo de gostar de mim também?
— O problema é esse, Brad. Eu também me apaixonei e sinto que não
vou parar, sequer em um ano...
Era tudo o que eu precisava ouvir. Eu a beijei, afoguei em sua boca.
Tomei sua alma naquele momento para mim e a retive com todas as minhas
forças.
— Tio Brad – a voz de Cassy nos assustou.
A menina riu sem graça e se aproximou de nós.
— Desculpa interromper, mas Oliver está vomitando lá em cima...
— Oh, meu Deus! – Valery disse aflita e correu para dentro de casa.
— Desculpa mesmo – Cassy disse quando eu me aproximei dela.
— Não se preocupe, querida, não fez nada demais...
— Não? – Ela estranhou. — Meu pai costumava bater na gente
quando ele queria namorar com a mamãe e a gente atrapalhava.
— Como assim? – Eu não podia acreditar.
— Pergunte a Amanda ou Oliver – ela continuou contando enquanto
entravamos na cozinha. — Ele nos batia se a gente interrompesse o sexo
deles... desculpa contar.
— Não tem problema – eu me aproximei dela compreensivo. — Pode
falar comigo o que quiser e como desejar. Vou sempre ouvir e tentar
entender.
— Mesmo? – Ela perguntou aliviada.
— Sim, eu vou – acariciei seu rosto angelical.
Valery apareceu pálida na cozinha.
— Vou ter que o levar ao hospital, ele está com febre – ela disse
preocupada.
— Quer que eu vá com você? – ofereci.
Mas eu já sabia a resposta.
— Pode ficar com as meninas? Ficaria mais tranquila.
— Claro – concordei.
— Obrigada...
Ela saiu tensa e minutos depois passou auxiliando Oliver e com a
bolsa no ombro. Eu e Cassy ficamos olhando-a partir.
— Não acha que deveria subir e tentar dormir? – Eu a aconselhei.
— Perdi o sono.
Eu também estava sem sono. Não conseguiria dormir até Valery
voltar com Oliver.
— O que acha de jogarmos Uno? – Eu propus.
— Sim, vou buscar.
E passamos a próxima hora jogando até que ela bocejou de sono e
avisou que ia subir e dormir.
Fiquei sentado na sala até que por volta das três da manhã Valery
retornou. Oliver dormia em seu colo e eu me apressei a pegá-lo e leva-lo para
a cama. Depois a encontrei no quarto.
— Foi apenas uma desidratação – ela falou cansada tirando os
sapatos. — Você sabe, muito sol, só comendo porcaria, bebendo pouca água.
Ela bufou e tirou a blusa que usava. Eu me ajoelhei na cama e fiquei
atrás dela fazendo massagem enquanto ela falava.
— Temos que ficar de olho em Oliver. Se continuar comendo
besteiras desse jeito, ele pode ser um forte candidato à diabetes – ela falou
preocupada. — O médico deu o remédio para controlar os vômitos e ele vai
dormir até amanhã cedo, portanto, quando acordar uma alimentação mais
balanceada...
— Vamos tomar cuidado... – prometi.
— Hum – ela gemeu diante da massagem. — Onde aprendeu a fazer
isso? Suas mãos são ótimas...
— Talvez você não acredite se eu contar – debochei.
Ela riu.
Acabei me sentando atrás dela com as pernas ao lado das suas.
Continuei com a mensagem e ela soltou um gemido delicioso que fez meu
pau ficar duro.
— Se continuarmos assim, vou acabar nessa cama com você – eu
disse contra a pele de seu pescoço e a vi arrepiar.
— Depois da conversa que tivemos antes de sair, duvido que algum
de nós dois se importe... – ela murmurou.
Minhas mãos desceram pelas costas e desabotoaram o sutiã.
— Realmente estou apaixonado por você, Valery e quero que dê certo
– minha boca se arrastou por seu ombro procurando a curva de seu pescoço.
— Não me deixe pensar muito, Brad ou eu fujo na primeira
oportunidade.
Virei seu rosto de lado e beijei sua boca enquanto tirava seu sutiã e o
jogava de lado. Minhas mãos os acariciaram lentamente, puxaram os bicos,
os apertaram e ela gemeu contra os meus lábios. Adorava quando ela fazia
isso, se entregava.
— Não se preocupe, eu sei do que precisamos...
Afastei seus cabelos e inspirei seu perfume antes de beijar aquela
nuca delicada. Valery era um milagre em minha vida. Desci as mãos pela
barriga lisa e abri sua calça invadindo-a como um ladrão, afastando a
calcinha para tocar a carne molhada já excitada por minha causa. Valery
adiantou-se e se desfez da calça, ela se ergueu e terminou de tirar a peça,
ficando nua para mim. Aproveitei para tirar o pijama e me masturbei com seu
olhar guloso sobre o meu pau.
Num gesto impetuoso, ela me empurrou contra o colchão e subiu em
cima de mim. Valery segurou meu pau com vontade e com aquele olhar de
puta gostosa, ela o acariciou e o lambeu, o chupou. Ela lambeu meu saco e
isso me levou ao paraíso, ela o chupou devagar e fez de novo com o meu pau
e o abocanhou com força, chupando com vontade.
— Safada... – eu murmurei.
Ela se ergueu e escorregou o corpo sobre mim até sentar-se sobre o
meu pau e me deixar invadi-la. Eu senti a boceta quente deslizava e então ela
começou a se mover, os seios empinados subindo e descendo, me tentando,
pedindo para ser chupados. Ela passava as mãos nos meus peitos, me
unhando enquanto se movia, enquanto trepava em mim como uma deusa do
amor. De repente, ela contraiu os músculos da vagina e eu me perdi, fechei os
olhos para sentir a intensidade de seus movimentos e então segurei seus
quadris para remeter mais depressa.
Ela me cavalgava com vontade e sua respiração ficou curta, ela
começou a gemer cada vez mais alto. Eu me ergui e tomei sua boca contra a
minha para abafar aqueles sons do prazer. Valery me abraçou e arranhou
minhas costas e então ouvi um choramingo abafado, ela perdera totalmente o
controle e levei a mão ao seu clitóris e a acariciei. Ela tentou segurar minha
mão e fugir de mim.
Enquanto um braço estava em torno da sua cintura e a mantinha presa
com estocadas fortes, a outra a acariciava no centro de suas pernas.
— Pare – ela implorou.
— Goze, Valery, goze até não aguentar...
Ela convulsionou contra mim quando o gozo veio e também tomou
meu corpo. Mas desta vez o de Valery foi mais intenso e diferente, ela
gozava tão forte que se encolheu toda contra mim e ficou sem fôlego.
Fui diminuindo o ritmo dos meus dedos enquanto saía de dentro dela.
Valery tentou escapar, mas eu a virei sobre a cama e usei minha boca entre
suas pernas.
— Não aguento mais – ela chorou.
Meu lado mal falou mais alto e no instante seguinte ela convulsionava
novamente. Um novo orgasmo tão forte que ela pareceu perder os sentidos
por alguns segundos antes de puxar o ar quando parei de tocá-la.
— Bradley – ela murmurou lânguida.
— Eu disse, meu amor, eu sei do que precisa...
E voltei a beijá-la com paixão.
Capítulo 32

Acordei me sentindo a mulher mais gostosa do mundo. Até mesmo


havia me esquecido dos problemas que me esperavam na empresa. Quando
desci para a cozinha, Vera já estava a todo vapor e Alicia estava com as
crianças. Ela havia saído do hospital e Bradley concordou em contratá-la de
forma particular, sem a agência do programa de estudantes e babás. Como ela
ainda estava legal no país e precisava continuar os estudos antes de voltar
para casa, o emprego foi ótimo para ela.
— Obrigada, senhora Ryder – ela agradeceu. — Se não fossem por
vocês, eu teria que voltar para casa e dar explicações aos meus pais.
— Não precisa agradecer – eu disse séria —, cuide dos meus
sobrinhos com todo carinho do mundo.
— Eu cuidarei, prometo – ela disse antes de ir ficar com eles na sala.
— Seu marido deixou esse bilhete para a senhora – Vera me entregou
um pedaço de papel dobrado.
Gostosa,
Estarei em Nova Iorque o dia todo. Problemas no paraíso. Volto à
noite.
Com amor, seu Brad.
Sorri diante do bilhete e o guardei na bolsa antes de sair. Precisava de
coragem para fazer o que havia decidido. Não seria fácil abrir mão do meu
orgulho e da dedicação de anos da minha vida. Eu havia perdido e sairia de
cabeça erguida. Fui para a empresa e cheguei antes de todos. Arranjei uma
caixa e com a ajuda do meu estagiário que não estava entendo nada.
— A senhorita vai embora? – William perguntou me ajudando a
colocar meus pertences na caixa.
— Sim – respondi —, mas é segredo até a reunião desta manhã
começar, não comente nada com ninguém.
— Sim, senhorita – ele assentiu se aproximando de mim. — Quer
dizer, sim, senhora.
Eu sorri para ele e coloquei a caixa em seus braços.
— Leve para o meu carro, por favor.
— Sim, senhora – ele pegou a caixa e a chave do meu carro e saiu da
minha sala.
Eu respirei fundo e caminhei até a parede de vidro para vislumbrar o
rio que cortava a cidade. Aquele lugar foi minha casa durante anos. Parecia
que a história se repetia. Um dia, eu me senti uma estranha no ninho e fugi
para Chicago. E agora eu deixava tudo para trás de novo para recomeçar.
Pelo menos, não estava fugindo dessa vez.
Não demorou para que Guinevere chegasse para o trabalho. Ela não
se surpreendeu quando me viu dentro da sala e entrou.
— A senhora veio – ela disse com um sorriso sem graça.
— Eu não perderia o espetáculo por nada nesse mundo – garanti com
um sorriso e peguei a pasta sobre a mesa para entregar a ela. — Caso não
queira ficar nesse antro de abutres, aqui tem uma carta de indicação, soube
que a Thornsoft está contratando.
Ela sorriu para mim.
— Obrigada, senhora Ryder – ela falou com carinho.
— Eu que agradeço por tudo, Guinevere. Espero que encontre seu
caminho.
— Vai mesmo nos deixar?
— Vê outra opção? – perguntei e pisquei para ela.
Nesse momento, William entrou na sala e pedi que fechasse a porta.
— A reunião vai começar em meia hora, então não temos muito
tempo para conversar – eu falei e apontei para as cadeiras do outro lado da
mesa. — Sentem-se.
Eles se sentaram e liguei para a minha advogado Lance por chamada
de vídeo e coloquei o celular apoiado no meu porta-canetas para que eles
vissem também. Ontem à noite, quando chegamos de Orlando, eu passei um
tempo com ela no telefone falando sobre minha decisão. Contudo, eu não
sairia da Jackson Corporation sem fazer um estrago.
— Bom dia, Lance – eu a cumprimentei quando ela atendeu.
— Bom dia, Valery – ela respondeu.
— Eu estou aqui com minha secretária Guinevere e meu estagiário
William – eu os apresentei e olhei para eles. — Essa é minha advogada
Lance.
Eles se cumprimentaram.
— Então, Lance sobre o que conversamos ontem à noite.
— Estou aqui com o investigador da Polícia, o agente Taylor Adams
– ela respondeu e mostrou o homem sentado ao seu lado.
Eu o cumprimentei e depois me voltei para os dois que estavam bem
assustados.
— Não é nada grave, fiquem tranquilos, eu apenas preciso que façam
um favor para mim. Cada um de vocês...
— Tudo o que a senhora precisar – William garantiu.
— Pode confiar em mim – Guinevere avisou.
— Acha que seu novo namorado gostaria de um furo de reportagem,
Guinevere? – Eu perguntei a ela.
Um sorriso surgiu no rosto angelical.
— Acredito que sim, é o sonho dele crescer como jornalista.
— Ótimo, você vai passar o contato do agente Adams para ele –
avisei e olhei para William. — E eu vou mandar uma foto sensual minha para
o seu celular e você vai enviar para Richard Watson apenas se ele deixar que
você entre para o grupo de rede social e mensagens onde falam o que vão
fazer com as jovens da empresa e tudo mais.
Ele se remexeu na cadeira.
— Fique tranquilo, o agente Adams vai acompanhar toda a
investigação. Aliás você vai fazer tudo isso, por esse celular – eu abri minha
bolsa e peguei um aparelho novo. — Mande a mensagem toda por ele,
quando o adicionarem no grupo, deverá entrega-lo ao agente Adams,
entendeu?
— Sim – ele concordou.
— Tudo será feito no mais perfeito sigilo e eles nunca saberão que
estão envolvidos nisso, eu garanto – prometi.
Os dois assentiram.
— Podemos começar, Lance? – Eu perguntei a ela.
— O Agente Adams concordou que devemos começar ontem...
Eu sorri e peguei uma foto minha de calcinha e sutiã e enviei para o
celular que estava com William, agora.
— Essa foto deve ser usada com cautela – eu avisei.
Ele assentiu sem graça e a abriu. Pegou o próprio celular e copiou o
telefone de Richard e enviou para ele.
— Está feito – ele avisou. — Enviei para o senhor Watson e perguntei
quando vão me colocar no grupo.
— Muito bem, agora vamos aguardar – eu disse a Lance.
— Estaremos aguardando sua ligação William – ela avisou. — E a do
seu namorado, Guinevere.
— Já mandei a mensagem para ele, assim que ele visualizar deve me
responder – ela sorriu satisfeita por ajudar.
Desliguei e fui para a sala de reuniões. Ninguém havia chegado. Olhei
ao redor já com saudade. Foi ali que recebi minhas promoções, que fiz
minhas melhores apresentações, que vi os últimos dez anos da minha vida
passarem. Senti certa nostalgia mesmo não tendo partido ainda.
Não demorou e os primeiros acionistas começaram a chegar, e
parabenizaram pelo casamento. Uma nota sobre tal acontecimento foi
veiculada nos principais meios de comunicação. Bradley fez questão que
todos soubessem de nossa união, não apenas para o bem das crianças, mas
para evitar fofocas a nosso respeito.
Estava ansiosa e meu pé batia no chão sem parar. Poucas vezes fiquei
nervosa quando o assunto eram negócios, mas meu coração palpitava como
se eu estivesse diante da minha primeira entrevista ou do primeiro dia de
emprego. Ou como se eu tivesse feito algo errado e teria que admitir meu erro
para não perder o emprego. As sensações eram múltiplas.
Eu me sentei em meio aos acionistas, não queria chamar muito a
atenção e então Albert e Richard entraram. Os dois sorriam e
cumprimentaram a todos, mas o sorriso de Albert desapareceu quando ele se
deparou comigo. Ajeitei meus óculos de aros vermelhos que sempre adorei e
sorri para ele cumprimentando-o e vi a máscara cair. Ele olhou para Richard
que notou minha presença e eles se entreolharam. Realmente não esperavam
que eu estivesse ali, eles estavam prontos para fazer um discurso contra mim
de certo e agora teriam que mudar o repertório para convencer os acionistas
que a melhor escolha era Richard.
Meu pé se movia elétrico debaixo da mesa, mas por fora eu estava
plena.
— Bom dia a todos – Albert falou de pé enquanto Richard se sentava
ao seu lado direito.
O lugar em que sempre sentei. O esquerdo ficou vago. Olhei para
aquilo como um aviso de que o circo começaria e eles colocariam fogo no
trapézio. Da forma como haviam combinado.
— Eu pedi essa reunião imediata para anunciar o próximo CEO da
empresa – ele disse sério sem conseguir olhar para mim.
Os acionistas falaram entre si e muitos olharam para mim com
expectativa. A atitude deles me deu certo vigor. Notei que alguns me queriam
na presidência e isso me fez desencostar da cadeira e olhar para o meu chefe.
O canalha machista que apoiava o genro em suas aventuras sexuais e
abusivas. Apoiei os cotovelos na mesa e comecei a bater a caneta levemente
esperando que ele continuasse.
— Quer dizer que um de seus concorrentes conseguiu fechar o
negócio com Maison? – Um deles perguntou.
Olhei do homem para Albert que ficou sem graça e ajeitou a gravata.
— É um ponto importante – ele sorriu sem graça. — Mudei de ideia.
Maison estava irredutível quanto a venda da empresa e nenhum dos meus
concorrentes parecia conseguir fechar negócios com ele.
Mentiroso filho da puta, pensei e fiquei encarando-o. Ele estava
completamente sem graça e olhou para mim sem saber o que fazer.
— E quais foram os critérios que usou para tomar sua decisão? –
outro quis saber.
Olhei para ele ansiosa para ouvir a resposta que ele daria. Ficou óbvio
que ele estava preparado para me desmoralizar, seu discurso estava na ponta
da língua. Contudo, como ele cometeria tal perjúrio comigo diante de seus
olhos, ouvindo cada palavra? Ele não poderia me difamar como esperava
fazer para exaltar as qualidades que Richard não possuía.
Ele tinha pouco tempo aqui, nunca fechou uma conta para a empresa,
sequer sabia lidar direito com os clientes e dois haviam desistido de trabalhar
conosco por causa de problemas com ele. Se ele conseguira fazer um estrago
desses sendo chefe de marketing apenas, imagina o que ele faria sendo CEO.
Tinha pena das mulheres que atravessariam seu caminho a partir de agora,
mas o que era dele estava guardado e eu queria ver sua queda sentada na
plateia com direito a pipoca. Eu até arriscaria tomar um refrigerante apenas
para vê-lo cair estatelado no chão e ele sequer saberia o que o derrubou.
— Bem, eu pensei muito durante esses dias. Coloquei na balança o
futuro dessa empresa e acredito que não há outro funcionário que possa me
representar mais que Richard Watson.
Alguns bateram palmas. Dois ou três. Os outros ficaram em silêncio,
discordavam claramente da decisão de Albert, mas tendo ele mais de
cinquenta por cento das ações, poderia tomar a decisão que desejasse. Meu
ego inflou quando notei o constrangimento. Não sei se não o felicitaram por
eu estar ali ou porque realmente não concordavam, mas eu sairia dessa por
cima.
Gregory Parker, um dos acionistas com maior influência na empresa
se ergueu indignado e disse:
— Espero que saiba o que está fazendo – ele falou e se retirou. Olhou
para mim, moveu a cabeça em uma despedida e saiu da sala.
Outros dois se ergueram e fizeram o mesmo. O silêncio caiu pesado
na sala de reuniões. Então eu me ergui, linda e poderosa como deveria ser.
— Quero parabenizar o senhor Richard Watson por sua promoção –
eu disse atraindo a atenção de todos, inclusive dos dois canalhas na ponta da
mesa. — Ficou claro que todos os meus anos de trabalho e dedicação não
pesaram em sua decisão, Albert. Por isso, eu entreguei minha carta de
demissão essa manhã ao RH.
— Não leve para o pessoal, Valery...
— Cala boca, idiota! – Eu disse para Richard, alguns riram e ele se
calou surpreso com a minha atitude. — E para você é senhora Ryder. Espero
que faça jus ao cargo que lhe foi concedido e mantenha a empresa no mesmo
patamar que eu mantive todos esses anos. Agradeço por tudo que me foi
concedido, mas minha história com a Jackson Corporation termina aqui. Com
licença.
E sai triunfante, abrindo a porta com violência e fechando-a com
estrondo. Caminhei pelos corredores sentindo minhas pernas tremerem. Ouvi
passos atrás de mim e a voz de Albert me chamando. Eu o ignorei até que ele
me alcançou e parou na minha frente.
— Seria tolice da minha parte perguntar como soube... – ele falou
sério.
Eu o fitei perplexa.
— Não sei como teve coragem de falar comigo depois dessa traição.
Não é o fato de escolher Richard, mas porque você sempre soube que jamais
me escolheria – eu falei e tentei passar por ele, mas ele me impediu.
— Não quero que saia daqui com rusgas, Valery. Tenho carinho e
admiração por você...
— Eu sei que tem, conheço meu trabalho e sei valorizá-lo e vou
oferecê-lo a uma empresa digna e não uma que apoia um funcionário que
assedia suas funcionárias e ainda lhe dá a presidência – falei sem piedade e
ele se surpreendeu. — É por isso que estou saindo, Albert. Eu poderia ficar se
o novo CEO honrasse as calças que ele veste, mas nem isso ele faz.
Fiz menção de passar, mas me lembrei.
— E sabe o que é pior? Está vendendo sua filha para esse hospedeiro
de doença venérea – eu disse mordaz e passei por ele deixando atônito.
Fui direto para o meu carro na garagem e quando entrei e fechei a
porta, eu chorei. Chorei de raiva e angústia por perder e por não saber como
seria meu futuro. Estava tremendo quando coloquei o carro em movimento.
Estava aflita, sim. Mas aliviada por ter tomado a melhor decisão da minha
vida.
Capítulo 33

Cheguei em casa tarde. Infelizmente não consegui pegar o voo antes e


acabei chegando no início da madrugada. Eu tive centenas de reuniões para
resolver tudo o que precisava e passar a semana em Chicago. Quando entrei
em casa estava tudo em silêncio e todos dormindo. Fiquei surpreso quando
Valery surgiu da cozinha usando um roupão felpudo, os cabelos soltos em
volta do corpo. Ela era a melhor visão do dia, depois de horas atribuladas de
trabalho. Ela sorriu daquele jeito que fazia meu coração derreter e se
aproximou para me dar um beijo rápido e me abraçar.
— Não consegui vir antes – ele falou com pesar.
— Não se preocupe, eu entendo perfeitamente – ela disse
compreensiva. — Sei como são essas coisas de trabalho. Achei que não viria
hoje.
— Eu teria avisado – acariciei seu braço.
Era tão bom sentir sua pele quente, seu perfume. Eu me sentia
verdadeiramente em casa. Um lar pela primeira vez em minha vida. Eu tinha
para quem voltar depois de um longo dia de trabalho e isso me causava um
bem-estar inexplicável.
— Quer comer alguma coisa? – Ela quis saber.
— Você... – respondi.
Ela riu.
— Essa é a sobremesa – ela segurou meu paletó. — Porque não toma
um banho, vou preparar algo para você comer...
— Eu tenho uma ideia melhor – avisei.
— E qual seria?
— Você sobe comigo, tomamos um banho juntos e depois a gente
desce e eu como alguma coisa enquanto me conta como foi na Jackson hoje...
– propus.
— Está bem...
Subimos as escadas e então Oliver surgiu. Era como se ele estivesse
me esperando e correu para me abraçar.
— Sabia que você voltaria – ele disse feliz.
— Eu sempre vou voltar, filho – disse com carinho e beijei seus
cabelos.
E meus planos de transar com Valery naquele momento foram por
água abaixo. Oliver grudou em mim. Ficou sentado na privada do banheiro
me falando de seu primeiro dia na escola enquanto eu tomava uma ducha. Ele
contou que não sofreu bullying e os caras eram legais.
— A professora falou que se tiver bullying tem que contar para os
pais e para ela – ele falou enquanto eu terminava de vestir o pijama.
— Ela fez muito bem – concordei e joguei a toalha molhada em cima
da cama.
Valery estava entrando e ergueu uma sobrancelha ao me ver fazer
isso. Respirei fundo me lembrando que eu não morava mais sozinho e tinha
um sargento como esposa. E toalha sobre a cama não era uma opção. Peguei
a toalha molhada e levei para o banheiro jogando sobre o vidro do box.
E enquanto isso Oliver me seguia. Ele desceu atrás de mim para a
cozinha e enquanto eu comia, ele não parava de falar um minuto. Eu estava
cansado e queria ficar a sós com Valery, mas sabia que meu sobrinho
precisava de atenção também e sempre que chegasse em casa tarde da noite
seria assim. Eu teria que me acostumar com isso também.
E quando pensei que ele estava cansado, Cassy surgiu com a desculpa
de beber água para contar como tinha sido na escola e quando notei Amanda
também estava ali, falando sobre seu dia. Eu desisti de pensar em ficar
irritado e relaxei. Às vezes, eles falavam ao mesmo tempo e não conseguia
entender ninguém e precisava colocar ordem em tudo. Eles riam e voltavam a
falar um de cada vez e de repente, estavam tumultuando tudo outra vez.
Com muito custo Valery os convenceu a deitar, porque todos
precisariam levantar cedo para fazer os deveres de casa e eu tinha que
trabalhar. Quando finalmente conseguimos entrar no quarto e deitar na cama,
eu estava realmente cansado. Não sei em que altura eu dormi, mas lembro de
Valery dizer algo sobre uma reunião, o resto não ouvi mais. Acordei
abraçado a ela, meu corpo totalmente enroscado ao dela.
Pensei que acharia estranho tê-la assim todo os dias ao meu lado, que
não conseguiria dormir, mas como eu disse antes, era a sensação de estar em
casa e se sentir bem em algum lugar, fazer parte realmente daquilo. Ela
dormia ainda quando beijei a curva do seu pescoço lindo. Se eu fosse um
vampiro morderia ali com certeza todos os dias.
— Bom dia – eu murmurei passando a língua bem devagar no lóbulo
da pequena orelha.
Meu pau ficou duro quando ela ronronou alguma coisa e esfregou
aquela bunda gostosa em mim. Eu a abracei mais forte pronto para extravasar
meu desejo. Contudo, a porta foi aberta de uma vez e Oliver entrou dando
bom dia e correndo para a cama.
— Não acha que deveria bater na porta, rapaz? – Eu perguntei sério.
Ele arregalou os olhos ao olhar para mim.
— Mas tia Val disse que não precisava – ele contou.
Ela riu ainda de olhos fechados. Com certeza com a chegada das
crianças naquela casa, ela deixou que eles entrassem livremente, mas
teríamos que rever as regras se queríamos um pouco de privacidade. O
problema não era eles estarem no quarto, mas entrarem de uma vez e nos
pegarem fazendo algo mais indecoroso.
— Está tudo bem, Oliver – Valery saiu em defesa dele. — Já escovou
os dentes?
— Não – ele fez beicinho.
— Vai escovar e tirar o pijama para tomar café da manhã – ela falou
se sentando na cama e passando as mãos pelos cabelos.
— Está bem – ele respondeu meio que num protesto e saiu do quarto
batendo a porta.
— Ao invés de repreendê-lo, use a psicologia.
— Você tem tendência a ser muito condescendente com os erros deles
– eu a critiquei.
Ela me olhou indignada e balançou a cabeça em negativa:
— Vou fingir que não ouvi isso e vou tomar um banho – ela falou
jogando o edredom de lado e descendo da cama.
— Estou errado? – perguntei em voz alta para ela ouvir.
— Vai para o inferno, Bradley! – Ela respondeu e segundos depois
ouvi o chuveiro ligar.
Outro ponto que teríamos que entrar em consenso: a educação e o
limite dos nossos sobrinhos. E nossa manhã foi agitada. Entrei para o
escritório para trabalhar e Valery foi cuidar dos assuntos da casa, ajudar as
crianças a fazer os exercícios da escola. O barulho constante de gente
passando no corredor, os gritos das crianças, o som da TV muito alto
começou a me irritar, eu não conseguia me concentrar no que estava fazendo.
E no meio da manhã peguei minhas coisas e fui para o meu escritório em
Chicago. Era uma pequena filial e todos ficaram surpresos quando apareci,
mas foi o único jeito que encontrei de não ficar louco em casa e me
concentrar no que precisava.
Quando cheguei para o almoço, Valery estava agitando tudo,
mandando um fazer uma coisa e falava com outro ao mesmo tempo em que
eles respondiam. Ela sequer me deu atenção naquela correria, apenas quando
todos se sentaram à mesa é que tivemos tempo para falar, mas como sempre,
as crianças roubavam o centro das atenções.
— E o meu celular? – Amanda quis saber.
— No fim de semana – eu avisei. — Vou ligar para a sua avó e
marcar a visita.
— Que maravilha! – A menina ficou empolgada enquanto os olhos de
Valery passaram por mim me recriminando.
Ela não conseguia acreditar que um fim de semana seria suficiente
para Amanda se arrepender de ter conhecido minha mãe e tinha medo de
perder a menina para sempre. Mas eu tinha certeza que seria o oposto.
Amanda voltaria sem querer ouvir falar da minha mãe.
— Que dia podemos visitar Maison? – Valery perguntou para minha
surpresa.
— Ainda quer falar com ele?
— Sim, eu quero e muito – ela avisou decidida.
— Vou pedir para a minha secretária entrar em contato e marcaremos
- respondi.
— Ótimo, porque eu tenho pressa – ela disse se saiu da mesa levando
o prato para a cozinha.
Minutos depois, ela voltou avisando que levaria as crianças para a
escola em dez minutos ou se atrasariam.
— Se importa que eu vá junto? – perguntei.
Ela me olhou surpresa.
— Não vejo problema – garantiu com aquele mau humor que eu
conhecia bem.
Sequer havíamos chegado a uma semana de casados e sentia que ela
queria me matar por algum motivo que eu desconhecia. Ou seria apenas
TPM? Era difícil para um homem desvendar esses mistérios femininos. Eu
não tinha feito nada que me desabonasse, mas ainda assim me sentia culpado.
Saímos no meu carro para a escola. Quando chegamos, as crianças
desceram correndo. Nada de beijos e abraços como nos filmes, nada. Eles se
despediram e se foram, se unindo com os amigos que também estavam
chegando e entrando no portão.
— Posso saber o motivo dessa cara feia para mim? – Eu perguntei
quando coloquei o carro em movimento.
— Nada... – ela respondeu.
Naquele momento aprendi que nada na linguagem feminina pode
significar mais que mil palavras. Elas apenas não querem falar sobre o
assunto. Mas como sou um homem determinado, eu insisti.
— Sei... E quando vai me dizer o que está deixando-a irritada?
Ela me olhou de soslaio e cruzou os braços olhando para fora da
janela.
— Você vai mesmo deixar Amanda passar o fim de semana com sua
mãe? – Ela perguntou magoada.
— Conversamos sobre isso e você prometeu confiar em mim. – Eu a
fiz lembrar.
— Eu sei que concordei – ela observou irritada. — Mas sua mãe não
presta, Brad. E se ela não quiser devolver Amanda?
— Ela já tem uma acusação de sequestro, não vai querer ter uma
segunda e parar na cadeia de novo sem direito à fiança – eu expliquei.
— Vocês são tão loucos – ela respondeu impaciente.
— Sim, somos – admiti olhando para o trânsito. — Toda família tem
seu lado obscuro.
Olhei para ela e Valery compreendeu o recado.
— Me desculpe, só estou preocupada com Amanda – ela falou
sincera.
Eu toquei seu braço quando paramos no semáforo.
— Também me preocupo, mas eu lhe garanto que ela vai voltar outra
depois desse fim de semana, não vou pedir que confie na minha decisão. Não
mais – garanti.
Odiava ser repetitivo e Valery tinha mania de insistir em assuntos que
estavam encerrados.
O sinal abriu e saí com o carro. Logo chegamos em casa. Vera estava
na cozinha terminando o trabalho e Alicia havia saído para a faculdade. A
casa era nossa e eu precisava de um momento a sós com Valery. Estava
tarado por ela, era inexplicável.
Valery subiu as escadas e eu a segui. Ela me fitou por cima do ombro
e não fez qualquer pergunta, apenas foi para o quarto. Eu a segui e entrei
atrás dela fechando a porta. Ela foi para o outro lado do quarto e começou a
tirar a roupa e fiz o mesmo onde estava, apenas observando a forma como ela
se despia e exibia aquele corpo de deusa graciosa para mim.
Nada melhor que uma trepada para acalmar os ânimos, ainda bem que
ela pensava igual a mim. Segurei meu pênis e o toquei, atraindo a atenção
dela. Valery foi para a cama, sentou-se no meio dela e abriu as pernas para
mim, exibindo aquela boceta rosada. Ela lambeu os próprios dedos e levou a
mão ao clitóris e começou a se masturbar também. E então olhou para mim
daquele jeito delicioso e perverso.
Parei aos pés da cama e continuei me masturbando e ela também. Era
um jogo? Não fazia ideia, mas estava adorando. Subi na cama de joelhos e
continuei me acariciando até que me aproximei o suficiente para descer os
lábios sobre aquela boceta molhada e lamber a fenda aberta para mim.
Ela gemeu meu nome e na posição que ela estava, eu me ergui,
segurei seus quadris e a possui de uma vez sem tirar meus olhos dos dela.
Deliciosa.
— Gostosa! – Eu disse me afundando.
Ela apoiou as mãos no colchão e segurei seus cabelos a puxando de
volta.
— Rebola, vai! – Eu mandei. — Goza no meu pau, safada...
Valery soltou minha mão dos seus cabelos e se deitou na cama, o
corpo esparramando sobre a colcha perdida de prazer. Era a visão tão
tentadora que não aguentei e comecei a gozar. Sabia que ela ainda não estava
pronta e toquei seu clitóris, empurrando-a para a borda como eu, deixando-a
perdida e extasiada.
Ela arqueou o corpo e o gozo veio e então aumentei o ritmo com força
socando enquanto encontrávamos o paraíso.
Antes que eu pudesse compreender, ela me virou sobre a cama e ficou
sobre mim, se esfregando. Estava se masturbando em mim, o resto do seu
gozo que ficara para trás. Ela subia e descia contra o meu corpo de forma
frenética, beijando minha boca, me mordendo.
De repente, ela cravou a cabeça no meu pescoço e me chupou
enquanto gozava de novo, rebolando contra o meu abdômen, se esfregando
até choramingar de prazer.
Quando ela chegou ao fim, nós nos beijamos, a última coisa que
precisávamos agora era de palavras.
Capítulo 34

Bradley tinha uma reunião naquela tarde. Mas ele não foi, ligou e
mandou sua secretária anotar tudo, ele resolveria mais tarde. E como dois
adolescentes, passamos a tarde transando. Nunca conheci um homem que
fizesse um sexo oral tão perfeito, Bradley me chupava com vontade, com
paixão.
Adorava a sensação de segurar os cabelos dele entre as mãos. Sua
boca subindo e descendo, a língua macia contra o meu clitóris. Eu poderia
passar a vida toda vivendo aquela paixão que não me cansaria. Era um
prêmio depois daquela demissão. Quando mais jovem, eu não tive tempo para
esses momentos, estava preocupada em estudar e ser alguém na vida, provar
que podia ser diferente do que os meu pais foram.
Deixei que ele me chupasse, que enfiasse seus dedos mágicos na
minha boceta e os movesse freneticamente até que eu gritasse de prazer. Eu o
chupei, lambi seu corpo escultural, me agarrei a ele enquanto rebolava em
cima do seu pau e por fim estávamos exaustos. Tomamos um banho e fomos
buscar as crianças na escola. No caminho, eu contei a ele como foi a
demissão e ele me falou do excesso de trabalho.
— Talvez eu precise ir a Moscou – ele falou sério. — Estou evitando
ao máximo, mas se eu for posso me ausentar por mais de um mês.
A ideia de ficar longe dele me incomodou e naquele momento, a
família toda não poderia acompanha-lo. Eu estava na fase de transição saindo
de um emprego e em busca de outro e as crianças estavam na escola. Além
disso era em média quinze horas de viagem dependendo do clima do país por
onde passasse. Era uma viagem longa e cansativa para se fazer toda semana,
um dia de viagem praticamente.
— Vamos sentir sua falta – foi tudo o que eu consegui dizer.
Eu entendi a necessidades do trabalho dele e não bancaria a
apaixonada tola ciumenta e insegura. Não tinha medo do que ele faria longe
de mim, não era isso. Eu sentia muito pela falta que ele faria. Bradley era
meu marido, um bom pai para as crianças, delicioso amante e companheiro.
Sem ele aquela casa ficaria vazia.
— Poderíamos fazer acontecer: eu, você e as crianças – ele propôs. —
Uma viagem de férias, vocês conheceriam a Rússia.
Ele estava apenas tentando ser gentil. Com as crianças na escola seria
impossível a gente viajar dessa forma, mas eu preferi não estragar o clima
gostoso que estava sendo aquela tarde entre a gente.
— Daremos um jeito. – E forcei um sorriso.
Mas a ideia de nos separarmos, de repente, não agradava a nenhum de
nós.
Pegamos as crianças na escola e fomos para casa. Bradley não tocou
mais no assunto sobre a Rússia e acreditei que por enquanto não havia
qualquer possibilidade de fazermos essa viagem.
E como o dia anterior à noite foi agitada e mesmo durante a
madrugada não tivemos paz. Sempre um deles vinha ao quarto porque sentia
medo ou queria conversar. Minha vida sexual se resumiu a deliciosas
trepadas depois de levarmos as crianças na escola. Às vezes, até na porta de
casa dentro do carro, porque Bradley tinha uma reunião importante para fazer
em videoconferência no escritório de Chicago.
Tirei a semana para cuidar de mim, visitar Lauren e colocar a fofoca
em dia. Fiz um jantar para ela conhecer Bradley e para minha felicidade, eles
se deram bem. Aproveitei o tempo livre e fui atrás de um investigador
particular para contratá-lo para achar meu irmão Cam. Não nos falávamos há
tanto tempo, eu não sabia se estava vivo ou morto e aquela necessidade de
saber como ele estava surgiu. Talvez pela perda prematura de Victoria, eu
estivesse mais emotiva.
A mudança de estação do verão para o outono chegou devagar, eu
apenas a reconheci em uma manhã quando sai para correr e senti o vento frio
contra o rosto enquanto ouvia música e procurava uma forma de gastar
energia. Embora a noite com Bradley tivesse sido quente. Eu acordei com a
mão dele no meu seio, não sei se foi intencional, mas foi o suficiente para
despertar minha libido e eu esfregar minha bunda naquele pau até que ficasse
duro como uma vara e então edredom voasse para um lado, pijamas para o
outro.
Eu sentia arrepios pelo corpo apenas por me lembrar do que aquela
boca e língua tão masculinos eram capazes de fazer no meu corpo. Sentir o
pau de Bradley invadindo a minha boceta molhada era delicioso e parecia que
a sensação não abandonava meu corpo mesmo depois de horas passadas
longe dele. Estava ficando insaciável por causa desse homem.
Quando voltei para casa, ele estava na cozinha com as crianças e
Alicia tomando café da manhã. Estava saindo do closet depois de um banho
rápido quando o encontrei entrando no quarto.
— Minha secretária ligou, Dorian pode nos ver agora – ele avisou se
aproximando de mim.
— Agora?
— Sim, ele vai nos receber...
Meu coração bateu mais rápido. Era a chance que eu estava esperando
de dar a volta por cima. Seria uma jogada arrojada, mas eu precisava tentar.
Sequer havia comentado com Bradley sobre o assunto, não queria criar
expectativas ou me frustrar antes de falar com o próprio Dorian. A única
coisa que eu sabia era que precisava tentar.
— Vou me vestir – sorri e voltei correndo para o closet.
Uma hora depois, Bradley parava o carro diante da mansão que
parecia um castelo medieval construída aos arredores de Chicago. Era linda,
com as paredes de pedra e o jardim tão bem cuidado que me vi dentro de um
dos livros da Jane Austen. Se a porta se abrisse e saísse um homem com
vestimentas do século dezenove, eu não estranharia.
Mas foi o filho de Dorian que nos atendeu, George Maison. Ele e
Bradley eram amigos como eu imaginava. George era alto e loiro, os olhos
verdes estavam curiosos para saber o que tanto eu queria falar com o pai dele
que estava convalescente.
— Eu tenho uma proposta para fazer para o seu pai sobre a empresa –
eu contei a ele.
— Espero que não seja para vender para Albert Jackson. Quando
Richard Watson esteve aqui já não tínhamos interesse.
— Não – eu o cortei. — Não trabalho mais para eles – respondi firme.
— Não vou tomar muito tempo do seu pai, prometo. É algo que pode
interessar muito a ele.
George assentiu.
— Não quero ser indelicado, Valery, mas a situação do meu pai é bem
frágil. Portanto, seja breve, por favor.
— Sim – eu concordei.
Não queria me aproveitar do estado de saúde delicado de Dorian. Eu
apenas tinha uma oferta a lhe fazer. Não era a oportunidade da minha vida,
tinha certeza disso, mas seria algo arrojado e que eu me sentia preparada para
fazer. George nos levou até o quarto no segundo andar. Havia aparelhos
ligados ao patriarca da família e ele usava um respirador. Estava bem
convalescente e frágil, e quando o vi fiquei receosa de seguir em frente. Mas
uma vez estando ali, não retrocederia.
O não eu já possuía. Talvez fosse a oportunidade de um promissor
sim.
Meu coração batia descompassado quando George se aproximou da
cama e avisou o pai que estávamos ali. Ele estava apenas recostado nos
travesseiros e parecia cochilar e abriu os olhos fixando em nós de forma
arguta. Eu o conhecia de vista, nunca havíamos nos falado, apenas sido
apresentados em uma festa quando me tornei vice-presidente da Jackson
Corporation. Depois, raramente nos encontramos e então ele ficou doente e se
afastou totalmente da vida social e então sua empresa declinou drasticamente.
George não trabalhava com o pai. Tinha sua própria empresa de
softwares e Dorian não tinha quem o auxiliasse da maneira correta. E quem o
fazia, aproveitou-se da situação para roubar a empresa ou simplesmente
descuidou-se de tudo. A primeira possibilidade era o mais provável.
Dorian fez sinal para que nos aproximássemos.
— E o velho ainda vive – Bradley brincou com ele.
— Veja como fala comigo, rapaz – ele apontou o dedo indicador —,
aposto que venço você em uma briga de braço.
Eles riram.
— Vejo que trouxe uma joia para mim – ele me fitou. — Como vai
senhorita Lincoln?
— Agora senhora Ryder – Bradley deu a notícia. — Eu e Valery nos
casamos há algumas semanas.
— Deveria ter imaginado que você não se instalaria em Chicago por
causa do clima – Dorian brincou e riu tossindo em seguida.
George se aproximou preocupado, mas Dorian fez sinal para ele que
estava tudo bem.
— George me disse que quer conversar comigo, senhora Ryder.
— Pode me chamar de Valery, por favor – eu pedi.
— Valery – ele concordou. — O que quer tratar? Espero que não seja
a favor daquele verme do Albert Jackson.
— Não – eu fiz que não —, eu não trabalho mais para eles. Estou aqui
para fazer uma proposta minha.
Ele se mostrou surpreso.
— Nós vamos deixar vocês dois conversando – George avisou —, o
que acha de tomarmos um uísque, Brad?
— Perfeito – meu marido concordou e piscou para mim antes de sair.
— Puxe a cadeira, minha jovem – Dorian mandou.
Eu peguei a cadeira em frente a escrivaninha, coloquei ao lado da
cama, e me sentei. Meu corpo inteiro tremeu em expectativa e ansiedade.
— Me diga – ele pediu —, o que uma jovem tão linda e inteligente
pode querer de um velho falido e doente como eu.
Respirei fundo e tomei coragem para dizer.
— Sei que suas empresas andam mal das pernas e o senhor pediu
concordata, mas eu gostaria de tentar reergue-la – propus.
Ele se mostrou muito surpreso.
— Mesmo? – franziu o cenho enrugado. — E por que gostaria de
fazê-lo? Garanto que na minha atual condição não tenho qualquer vontade de
recomeçar...
— Mas eu tenho. E acredito no potencial da sua empresa e no forte
nome que ela carrega. Estive analisando o declínio e acredito que ocorreu por
fraude e má administração. Eu teria que analisar os papeis de forma mais
profunda se me permitisse, mas eu tenho um dinheiro reserva que estava
guardando para algum caso especial e acredito que seja o momento. Quero
investir o capital que tenho em sua empresa, senhor Maison. Gostaria de
saber se a proposta lhe convém?
Meia hora depois eu descia as escadas para encontrar Bradley
conversando com George na varanda. Quando me viu, ele sorriu.
— E como foi? – Ele perguntou na frente de George.
Eu olhei de um para o outro e encolhi os ombros:
— Bem, ele vai pensar na minha proposta – sorri satisfeita e encarei
George —, vou enviar os documentos de análise que fiz sobre a empresa de
seu pai. Ele vai mandar para os advogados para analisarem.
— Fico contente que ele tenha pensado sobre assunto. Meu pai
precisa de algo para se distrair que não seja a doença...
Um comentário um tanto contraditório baseado nas primeiras palavras
do próprio George quando cheguei ali. E temia dizer que saberem que eu
havia me casado com Bradley influenciou a decisão deles em me ouvir. Era
um veneno para o meu ego, mas por outro lado, era uma maneira de chegar
onde eu queria e não reclamaria disso. Estar casada com Brad tinha dessas
vantagens nada lisonjeiras para uma mulher orgulhosa como eu e que sempre
conquistou tudo sozinha.
Mas eu sabia como funcionava o universo masculino e, infelizmente,
levaria anos para mudarem a concepção de que uma mulher precisava de um
homem ao seu lado para ser alguém.
Nós logo partimos e eu estava quieta e pensativa quando Brad parou o
carro no acostamento.
— O que foi? – Eu perguntei preocupada.
Ele desafivelou o cinto e o meu também.
— É que me deu um tesão vê-la tomando decisões – ele explicou me
puxando contra ele.
— Brad... – eu tive vontade de rir.
Tudo era desculpa para fazermos sexo.
— A estrada é deserta e podemos aproveitar esses minutos juntos.
Nós sabemos que quando chegarmos em casa, não vamos conseguir...
Ele conseguiu roubar uma risada minha.
— O que a incomoda? – Ele ficou sério de repente. — Desde que
saímos da casa de Dorian você está séria.
Achei melhor ser sincera.
— Sinto que Dorian aceitou a proposta porque você falou que
estamos casados e ele confia em você – contei decepcionada.
— Não deveria ficar chateada com isso – ele argumentou olhando nos
meus olhos. — Não é porque sou homem, mas porque sou amigo da família,
por isso, confiam em mim e darão uma chance para você.
Vendo sob aquele ponto de vista parecia mais fácil de aceitar a
decisão de Maison.
— Sei que conviveu com homens escrotos como Jackson e Watson,
mas nem todo mundo é como eles. Dorian não vai tomar a decisão baseado
em mim ou se você é mulher, mas na sua proposta, tenho certeza.
— Você faz o mundo parecer mais leve – admiti.
Ele sorriu.
— Que bom – ele acariciou meu rosto. — Estou aqui para o que der e
vier, Valery. Saiba disso, sempre.
Eu assenti e o beijei de repente. Aquele lado dele de sempre me
colocar para cima me dava um tesão danado e em poucos segundos, eu abri
suas calças e comecei a chupá-lo. Ele ficou surpreso com a minha atitude,
mas não parei até que ele gozou. Pensei que ele ligaria o carro e partiria em
seguida, mas ao invés disso, ele enfiou a mão dentro da minha calça e
começou a me masturbar.
Deixei. Precisava relaxar depois de horas tensa até encontrar Dorian.
Eu me recostei na porta do carro e abaixei a calça e a calcinha até os joelhos,
para que ele enfiasse os dedos na minha boceta. Segurei seus cabelos e
abaixei sua cabeça e então os dedos trabalhavam na boceta e a língua no meu
clitóris. Como eu adorava fazer, apertei sua cara contra mim, o escutei gemer
afogado na minha umidade e então gozei dizendo seu nome.
Bradley sempre tinha razão, nada que gozar gostoso para se sentir
viva. Eu adorava.
Capítulo 35

Foi difícil convencer Valery a deixar as crianças em Chicago e ir


apenas nós dois para Nova Iorque para a festa da empresa. Estávamos
lançando um novo sistema de softwares para o governo e como sempre, era
motivo de festa e reunir as pessoas mais ricas e arrogantes do país em um só
lugar.
— Eles vão ficar bem, querida – eu disse quando entramos no avião.
— Sua amiga Lauren está com eles e Alicia junto. Está tudo certo e voltamos
antes do amanhecer.
— É ruim ficar longe deles. – Ela argumentou.
— Nova Iorque é aqui do lado, vai dar tudo certo...
Ela concordou, mas não conseguia relaxar. Sequer deixou que eu
chegasse perto e pela primeira vez negou sexo. Tive vontade de rir dessa
tensão que se formava dentro dela toda vez que tinha medo de perder as
crianças. Eu a compreendia. Ainda não havia contado a ela que minha mãe
continuava com o processo para tentar libertar meu irmão e assim as crianças
voltarem para ele e para ela.
Nós não havíamos conversado desde o incidente em que mandei
prendê-la e achei melhor não a procurar até que Amanda estivesse preparada
para visitá-la. Outro impasse entre eu e Valery. Além dela pegar no meu pé
porque eu comia muita besteira e não tinha o pulso firme com as crianças
quanto a isso. Eu compreendia sua preocupação, mas excessos de vez em
quando não matavam ninguém e eles eram crianças.
Sentia que esse assunto seria um verdadeiro impasse entre nós.
Como a toalha molhada em cima da cama, ou minha mania de jogar
minhas roupas em cima da cadeira e nunca guardar ou jogar no cesto de
roupas sujas.
— Sou apenas um homem solteiro tentando me adaptar a vida de
casado – eu explicava inocente enquanto ela fazia cara feia para mim.
E realmente era uma adaptação a tantas mudanças. Mas eu estava
indo bem.
Fomos para o meu apartamento em Upper East Side. Era bem
diferente da casa dela. Tudo muito moderno, poucos móveis, a maioria
escuros. Não havia sujeira, tudo impecável e então não foi Valery que
estranhou o lugar, fui eu. Senti falta daquela desorganização das crianças e do
barulho todo da casa. Soube naquele momento, que minha súbita mudança
para Chicago me fizera bem, eu queria estar perto da minha família.
A verdade era que eu precisava deles mais do que eles de mim. A
presença de Valery e as crianças me fazia sentir vivo e feliz. Jamais imaginei
que mudaria de ideia tão rápido.
— Bonito seu apartamento – ela falou andando pelo ambiente e
olhando ao redor.
— Nosso apartamento – corrigi.
Ela me fitou por cima do ombro enquanto olhava pela parede de vidro
a paisagem lá embaixo. Adorava quando ela usava aquele vestido preto curto
que a deixava elegante e sexy. Aproximei dela e a abracei pelas costas
beijando sua nuca. Ela se aconchegou a mim e gemeu baixinho.
— Será que alguma vez vamos pensar em outra coisa que não seja
sexo? – Ela perguntou enquanto minhas mãos passeavam por seu corpo
buscando a barra do vestido para puxá-lo para cima.
— Espero que não... – murmurei com a voz carregada de desejo.
Eu a arrastei até o sofá e acabamos nus ali, eu metendo naquela
boceta molhada. Adorava chupar aqueles peitos, eram deliciosos, a maneira
como ela se inclinava para trás me dando acesso a eles, segurando meus
cabelos forçando minha boca a chupar mais e mais. Meus dedos se
aproveitavam de sua fragilidade e brincavam com o seu clitóris enquanto ela
tocava o meu pau. Era uma dança perfeita de prazer que eu estava viciado,
mais que qualquer outra coisa na minha vida, eu estava obcecado por Valery,
apaixonado no sentindo literal da palavra.
Eu segurei seu clitóris e abaixei minha língua bem em cima dele. O
botão inchou e ela começou a ficar desesperada de prazer. Sorri maldoso
quando notei sua angústia sexual porque era forte a sensação que o toque lhe
causava. Eu girava a língua e seu corpo estremecia inteiro involuntariamente.
Ela apoiou-se nos cotovelos para assistir a forma como eu a tocava. Era novo
para ela, e Valery estava perdendo o controle, tanto que seus gemidos ficaram
incoerentes.
— Pare... eu não vou...
Ela não conseguiu terminar de falar. Eu o chupei e ela jogou o corpo
sobre o sofá e levou a mão a boca. Não sei se ela chorava ou apenas gemia,
mas mantive um braço em cima de seus quadris enquanto a outra mão se
ocupava de segurar firmemente seu clitóris enquanto a língua trabalhava em
uma tortura infinita.
Valery tentou fugir, mas eu a mantive presa e ela puxou meu cabelo,
mas eu não parei e começou a gozar forte e chorar junto. Olhei para cima e vi
seu corpo tremendo, os olhos revirando sem parar. Os espasmos ficaram mais
intensos até que a senti se render e fui diminuindo as carícias.
— O que foi isso? – Ela perguntou extasiada.
— Gostou?
— É louco e desesperador... – admitiu lânguida —, meu corpo parece
estar anestesiado.
— Posso fazer de novo se quiser...
— Agora não – ela se encolheu toda ainda ofegante e se sentou
puxando as pernas contra o corpo. — Juro que jamais senti nada assim, é
muito forte.
Eu me senti o cara foda que conseguia fazer a minha mulher gozar de
uma forma única.
Tivemos que tomar um banho e nos preparar para a festa que seria em
um hotel luxuoso, felizmente Melany cuidara de tudo. Valery estava linda
com aquele vestido vermelho. Ela sempre ficava bonita de vestido, mas a cor
vermelha acentuava sua beleza. Foi quando a vi me esperando na sala do meu
apartamento, pronta para irmos que meu coração bateu forte e eu tive certeza
que estava mais do que apaixonado. Valery era tudo que eu sempre quis em
uma mulher: bonita, arrojada, esperta e amável. Além de uma amante ávida.
Havia uma sintonia tão perfeita entre nós...
Ela se aproximou para ajeitar a gravata do meu esmouquem e para
dizer:
— Você está lindo, querido.
Nunca pensei que uma simples frase roubaria meu sorriso e meu
coração.
Apresentá-la aos meus amigos e conhecidos como minha esposa foi
fantástico. A maioria sabia que eu havia me casado e estavam ansiosos para
conhecer a mulher que havia me convencido a subir ao altar. O que eles não
sabiam é que foi ao contrário, eu que tive que convencer essa linda mulher a
ser minha esposa.
Para minha total surpresa e de Valery, minha mãe surgiu na festa. Ela
estava elegante como sempre e levando um rapaz de vinte anos ao seu lado
de tiracolo. Não era uma crítica ao seu estilo de vida, eu não me importava.
Mas me irritava ela estar ali. Sabia que ela não fora convidada e estava ali
para causar.
Valery estava conversando com minha secretária Melany e não a viu.
Então me adiantei antes que minha mãe causasse um desastre.
— O que faz aqui? – perguntei direto.
— Olá, Bradley – ela disse com um sorriso cínico. — É assim que
fala com sua mãe depois de tanto tempo sem me ver?
— Pega esse seu bibelô de merda e sai daqui – eu disse sem rodeios.
— Você não foi convidada.
— Eu sei – ela forçou um sorriso sem graça —, pensei que no fim das
contas poderíamos conversar. Chegar a algum acordo antes que Arnold saia
da prisão. Você sabe o que estou fazendo, não é?
— Não podemos conversar – eu a encarei. — E sei o que está
fazendo, você está tirando um assassino da cadeia e não vou permitir que
destrua aquelas crianças como fez comigo e Arnold!
Ela ergueu uma sobrancelha e me encarou:
— Estou lutando pelo direito do meu filho!
— Filho? – Eu perguntei com sarcasmo e balancei a cabeça em
negativa. — Você nunca se importou de verdade com ele. Está fazendo tudo
isso de pirraça!
— Eles são meus netos!
— Você é perturbada – eu a impedi de prosseguir. — Vai soltar um
assassino perigoso nas ruas apenas para provar que pode mais do que eu. Não
acha que já passou da idade?
— Nunca é tarde demais para lutar pelos meus direitos – ela
respondeu daquele jeito insuportável.
Dei um passo para ela, ignorando o playboy ao seu lado.
— Quando propus que se aproximasse deles pensei de verdade que
havia mudado – confessei —, você me enganou direitinho. Mas não vai se
aproximar deles uma segunda vez. Vou permitir que Amanda passe um final
de semana com você para que ela saiba o monstro que você é.
Ela ficou sem fala.
— Agora saia da minha festa discretamente – eu pedi irredutível. —
Ou juro que peço para os meus seguranças colocarem vocês para fora!
E dei as costas voltando para perto dos meus convidados. Quando
olhei para trás, ela havia partido. A noite estava perdida para mim. Forcei
para aguentar até uma certa hora, mas quando os convidados começaram a se
dispersar, avisei Valery que também estávamos indo embora.
Não trocamos uma palavra até o meu apartamento. Entrei e tirei o
paletó e fui me servir de uma boa dose de uísque e tomei de uma vez.
— Você vai me dizer o que você e sua mãe conversaram? – Ela
perguntou tirando as lindas sandálias.
Deixei o copo de lado e fui para cima dela beijá-la, mas ela se
esquivou. Tentei mais uma vez e ela me empurrou.
— Não vamos trepar para você aliviar essa tensão que está sentindo!
– Ela disse com o dedo em riste. — Vai ter que conversar comigo e colocar
essa merda para fora...
Eu não queria falar. Estava com raiva ainda e frustrado. Minha
linguagem era o sexo, mas Valery não me deixava aproximar.
— Vamos lá, Bradley! – Ela cruzou os braços. — O que sua mãe e
você conversaram que o fez perder o brilho o resto da festa?
Eu não contaria para ela sobre Arnold. Valery entraria em pânico,
estava decidido, eu não falaria sobre isso com ela.
— O que quer saber?
— Tudo – ela pediu se aproximando de mim. — Você quer fazer esse
casamento dar certo ou não? – Valery me colocou contra a parede. — Porque
se quer, não pode existir segredo entre nós! – determinou.
Sabia que não. Mas falar sobre mim ou meu passado não era fácil.
— O que quer saber? – perguntei outra vez me afastando dela. Eu
estava irritado por ter que falar. — Que minha família era uma grande merda?
– Eu me voltei para ela furioso. — Que meu pai vivia para os negócios e suas
amantes? Dormindo com uma secretária a cada dia? E que minha mãe não
ficou atrás!
Ela não parecia surpresa com as minhas palavras.
— Que a família Ryder posava nas capas de revistas como a família
do ano, mas dentro das paredes da mansão era um caos? – Eu fui me
aproximando devagar —, eu e Arnold nos escondíamos debaixo da cama nos
dias que eles davam festas. Havia pessoas transando pelo corredor. Uma noite
uma mulher entrou no quarto de Arnold e o masturbou, ele tinha dez anos.
Aos olhos de muitos caras pode parecer a oportunidade da vida sexual, mas
para um garoto assustado foi horrível e depois disso ele nunca mais foi o
mesmo. Durante o funeral do meu pai, minha mãe estava transando com o
jardineiro no lavabo. Ela sempre sentiu desprezo pelos filhos, tinha prazer em
dizer que éramos um peso, que havíamos estragado seu corpo e sua vida. Que
ela se sentia presa, mas mesmo sendo divorciada do meu pai, vinha dormir
com ele aqui, vai entender! – fiz uma careta de desgosto. — Eu sempre me
defendi como podia, fui criado sozinho com os empregados. Pobre menino
rico, não é?
Precisava de mais uma dose de uísque. Estava me servindo quando
senti Valery me abraçar.
— Eu sei o que é se sentir sozinha, Brad – ela disse com o rosto
grudado nas minhas costas. — Sei exatamente como se sentia. Nossas
histórias são diferentes, mas nos remetem a mesma coisa, solidão. E você não
está mais sozinho, tem a mim, as crianças. Eu tenho você...
Fechei os olhos por um instante e não consegui encher a garrafa de
bebida. Coloquei o uísque no lugar e me virei para ela.
— Eu odeio meu passado, Valery, como você odeia o seu. Não quero
mais falar sobre isso! Vamos esquecer...
— Não tem jeito de esquecer, Brad. Mas podemos tentar viver
melhor, confiar um no outro para falar quando for preciso – ela argumentou.
— Temos que colocar essa dor para fora, ou morreremos sufocados nela.
Sabia que ela tinha razão. Mas era difícil falar e explicar o que
ocorrera, como eu me sentia com relação a esse casamento doentio que meus
pais mantiveram. Vomitei toda aquela merda sem notar e não havia gostado,
era ruim. Então fiz a única coisa que me restava e abracei Valery. Mas não
um abraço carregado de desejo, mas de necessidade, de carinho e amor.
— Preciso de você, Valery – eu confessei contra os seus cabelos. —
Não posso imaginar minha vida sem você...
Ela se afastou para falar qualquer coisa, mas eu não deixei. Apenas a
beijei. Naquela noite eu não queria reciprocidade. Desejava apenas me
entregar para aquela mulher e me afundar nela para que ela nunca mais saísse
do meu lado. E eu estava disposto a absolutamente tudo para fazê-la feliz e
provar que eu era o primeiro e único homem da sua vida.
Capítulo 36

Os dias foram corridos entre cuidar das crianças, as viagens de


Bradley para Nova Iorque. Por três dias ele dormiu em seu apartamento lá.
Estava ansiosa para conhecer essa parte da vida do meu marido. E houve a
oportunidade quando nós fomos a um jantar em Nova Iorque na semana
anterior, mas bate-e-volta e acabei conhecendo sua simpática secretária,
Melany. Era lindíssima, arrojada como a secretária de um CEO deveria ser.
Mas para o alívio do meu lado ciumento que até então eu
desconhecia, Melany era casada com outra mulher, Antonia. Uma designer de
interiores tão elegante quanto ele a e formavam um belo casal. Eu sempre fui
ciumenta, mas com Bradley notei que meu modo ciumenta demais estava
atacado e então qualquer contratempo me tirava do prumo. Eu fingia estar
tudo bem, mas por duas ou três vezes eu quase saí do salto, ou melhor, peguei
meu salto para colocar a mulher oferecida em seu lugar.
Contudo, meu marido era um cavalheiro e ele mesmo se adiantava em
mostrar a quem quer que fosse que a pessoa não tinha nenhuma chance com
ele. O que afagava meu ego e me fazia desejá-lo cada vez mais.
Mas eu não era a única ciumenta da nossa relação. Por várias vezes
peguei Brad olhando de cara feia para algum homem que me encarava por
mais tempo que o necessário. Embora eu não estivesse interessada, meu
marido deixava claro que ele era quem estava comigo. Nessa mesma festa em
Nova Iorque onde conheci Melany tive oportunidade de conhecer amigos de
Brad e conheci um de seus amigos do tempo da faculdade, Devon Sutherland,
um empresário do ramo de farmácia e Brad ficou com ciúme da aproximação
do amigo.
Estávamos conversando com Devon quando Brad chegou e ficou
entre nós até encontrar uma desculpa para nos afastarmos. Eu notei seu
ciúme, mas não o questionei, afinal, era nítido o interesse do cara por mim
enquanto eu estava apenas sendo educada. Mas foi interessante conhecer a
vida do meu marido fora de Chicago e fazer sexo com ele em todas as partes
do seu apartamento luxuoso de onde podíamos ver a baía de Manhattan. Era
uma delícia ser comida de quatro no sofá enquanto eu vislumbrava aquela
paisagem maravilhosa.
Foi apenas uma viagem rápida, saímos no fim da tarde e voltamos
para casa no início da madrugada, mas eu adorei cada momento. Mesmo
quando tivéssemos aquela conversa após a festa por causa do aparecimento
da mãe dele. Brad abriu-se comigo e foi importante para provar que
estávamos juntos nessa jornada e ele estava disposto a fazer dar certo.
Sabia que não era fácil confrontar o passado, mas para ele ser feliz,
precisava deixar toda aquela merda para trás. E sofrer sozinho não ajudaria
em nada.
E então, chegou o fim de semana em que Amanda passaria com a avó.
Era uma quinta-feira quando ela viajou com Bradley para Nova Iorque.
Tentei ser amigável, mas como sempre ela não aceitou. A arrogância de
Amanda era complicada de lidar e eu tinha muito o que aprender em
controlar uma adolescente sem enlouquecer.
— Viu o jornal essa manhã? – Brad perguntou no sábado quando
acordamos.
— Não...
Ele virou a tela do celular para mim.
CEO EM ESCÂNDALO SEXUAL.
E abaixo a foto de Richard Watson. Levei as mãos aos lábios e peguei
o celular dele para ler a matéria. Todo o plano dera certo. A polícia o
investigou, pediu quebra de sigilo e descobriram que ele vinha chantageando
várias funcionárias. As mensagens do grupo masculino estavam expostas em
trechos do jornal e até mesmo o nome de Albert Jackson foi citado.
— Bem feito para esse cretino, filho da puta! – disse entusiasmada e
devolvi o celular a Bradley.
— A casa caiu – ele sorriu também satisfeito.
— Ele merecia. E foi pouco perto do que ele fez com essas garotas.
Eu queria ser uma mosquinha para saber o que Albert deve estar fazendo
agora que foi desmascarado...
— Será que desconfiam que foi você?
— A matéria diz que foi denuncia de uma das vítimas – eu falei
aliviada e me sentindo vingada.
— Perfeito, do contrário teríamos que colocar guarda costas atrás de
você – Brad se sentou ao meu lado na cama.
— Não se preocupe, eles sequer desconfiam que estou envolvida
nisso – garanti.
— Eu teria que matar Richard se ele a ameaçasse... – ele piscou para
mim.
Mas apesar de ser um homem muito bom, eu não duvidava que
Bradley o matasse. Ele era muito bom para mim e as crianças, mas fora de
casa era um homem duro e frio. Vi pelo modo que tratou a própria mãe
dizendo que se ela fizesse qualquer coisa com Amanda, ele cuidaria para que
ela não saísse da cadeia por um bom tempo.
— E sua mãe? – perguntei com certa ansiedade. — Ela deu notícias?
— Falei com Daisy e Amanda está bem. Amanhã ela estará em casa,
não se preocupe...
Respirei fundo.
— Sinto falta dela, mesmo ela sendo uma chata – admiti com emoção
na voz.
— Eu também sinto falta dela andando pela casa fazendo suas lives –
ele falou com carinho e segurou minha mão. — Vai ficar tudo bem.
Brad beijou minha mão e eu sorri.
Consultei o relógio no meu pulso.
— Eu preciso ir, vou encontrar com Lauren, vamos ao salão e fazer
compras – contei ele riu.
— Prefiro três crianças gritando como loucas do que acompanhar
duas mulheres as compras. Nenhum homem merece esperar uma mulher no
provador – ele falou quando eu me levantei roubando uma risada de mim.
— Não pretendo demorar. – E o beijei nos lábios.
Ele me segurou e me fez sentar em seu colo.
— Juro que minha vontade era de foder esse seu corpo a manhã toda
– ele disse com os lábios contra os meus.
Meu corpo arrepiou inteiro.
— Ah, Bradley Ryder, você sabe como fazer uma mulher se sentir
desejada...
Nós nos beijamos com paixão, mas fomos interrompidos pelo
chamado de Oliver.
Brad se afastou e suspirou:
— Ele está jogando vídeo game lá embaixo e quer que eu jogue
também – ele respirou fundo. — Avise-o que já vou.
— Está bem – eu saí relutante de seu colo.
Peguei minha bolsa e sai. Cassy estava ao celular falando com as
amigas e Oliver jogava vídeo game na sala. Despedi de Alicia que estava
sentada no sofá lendo uma revista.
— Vou sair – eu a avisei —, qualquer coisa ligue no meu celular.
— Está bem – a menina sorriu e eu fui encontrar Lauren.
Passei na casa dela e fomos para o shopping. Apesar de ser sábado
cedo estava lotado de pessoas já. Duvidava que alguma vez os shoppings de
Chicago ficaram vazios. Em épocas de violência eram os lugares mais
seguros para as pessoas ficarem e se divertirem enquanto estavam distraídas.
— Vamos direto para o salão – Lauren falou me mostrando as mãos
com os esmaltes saindo.
— Eu também preciso de um dia de rainha. Não aguento mais ficar
dentro de casa cuidando de tudo, preciso voltar a trabalhar urgente ou vou
enlouquecer...
— Vida de dona de casa não é fácil, não é? – Ela comentou.
— Não é mesmo. O governo deveria pagar um salário para as
mulheres que se predispõe a ficar em casa e cuidar de tudo e da família – eu
argumentei —, por Deus, o serviço nunca acaba e olhe que tenho empregada
e babá. Mas Vera acaba de sair e quando olho ao redor está tudo um caos:
sapatos espalhados, coisas das crianças pela casa, vasilhas sujas na pia... é
uma montanha russa....
Ela riu com gosto enquanto caminhávamos pelos corredores do
shopping em direção ao salão.
— Nunca imaginei que veria Valery Lincoln reclamando dos serviços
de casa. Em um mês de casado e vejo olhos brilhando, pele sedosa.
Eu ri.
— Estou apaixonada por Bradley – admiti. — Foi inevitável!
— E ele está por você, é nítido – minha amiga garantiu me roubando
um sorriso.
Entramos no salão e logo fomos atendidas. Era bom ouvir que
Bradley também estivesse apaixonado por mim. Eu sabia que estava embora
ele não fosse de ficar falando sobre isso o tempo todo ou se declarar. Mas nas
atitudes, ele demonstrava o quanto gostava de estar ao meu lado e estávamos
fazendo de tudo para dar certo.
— Não vou dizer que é fácil – contei a ela enquanto fazíamos a unha.
— Ele tem a terrível mania de deixar a toalha em cima da cama, adora carne
e doce. Não controla a alimentação das crianças, às vezes toma decisões sem
falar comigo e esse é o principal motivo das nossas brigas...
— Ele me pareceu sensato – Lauren comentou. — Arrogante, mas
sensato.
Nós rimos.
— Ele está acostumado a comandar tudo, não é? – Eu observei. —
Noto como ele fica tenso em ter que dividir, é uma novidade para ele, mas
também se esforça para não ficar bravo com as crianças à toa.
— Acredita que vão conseguir passar de um ano? – Ela perguntou
com um sorriso malicioso nos lábios.
Um sorriso malicioso surgiu nos meus lábios. Um mês era pouco
tempo para falar de uma vida toda, mas...
— Eu sinto que ele veio para ficar – confessei.
— Fico muito feliz por você, minha amiga – ela disse sincera. —
Toda mulher deveria ter esse sorriso bobo no rosto e esse brilho no olhar
quando falasse do homem que roubou seu coração.
Bradley Ryder fez mais que roubar meu coração, ele me fez acreditar
que ter uma família vale a pena e lutar por ela ainda mais.
Ficamos conversando por horas. Arrumamos os cabelos e depois
fomos comprar roupas. Aproveitei e comprei moletom para as crianças e uma
gravata nova para Bradley. Ele era do tipo que tinha tudo. Mas lembro de um
dia que ele fez uma surpresa para mim. E fui deixar as crianças na escola
sozinha e quando voltei, ele estava nu no escritório, apenas de gravata e disse
a famosa frase do filme Uma Linda Mulher:
— Você demorou, querida...
Eu ri e passamos a tarde transando no escritório de todas as formas
possíveis até dar o horário de buscar as crianças na escola.
— E está pensando em voltar a trabalhar? – Lauren perguntou
enquanto voltávamos para o carro no estacionamento do shopping.
— Recebi algumas propostas – contei.
A verdade era que eu estava adorando essa vida de foda no meio da
tarde com Brad. Mas estava realmente analisando algumas propostas e não
havia me decidido.
Então tudo aconteceu muito rápido. Uma hora, eu estava falando com
Lauren, no outro, o carro esporte preto vinha em minha direção e se chocava
contra mim e tudo se apagou.
Capítulo 37

Eu tinha acabado de saber sobre um evento em Los Angeles no


próximo fim de semana. Pensei que poderíamos levar as crianças e Alicia
junto para que eu e Valery tivéssemos alguns momentos a sós. Fiquei me
perguntando como os casais que não tinha babá e trabalhavam o dia todo
continuamente faziam para transar tendo filhos em casa. Eu e Valery
estávamos curtindo pelo fato dela estar desempregada no momento, mas
quando voltasse à ativa, nossos horários juntos diminuiria drasticamente.
Lembrei da festa em Nova Iorque que estivemos na semana anterior.
E quanto mais a gente transava, mais eu queria aquela mulher a ponto
de ficar louco e cego. Tornei-me o homem possessivo que sempre debochei
dos meus amigos. Até mesmo quando o mulherengo Devon estava dando em
cima dela, eu tive que me controlar para não quebrar o nariz dele. Ele sempre
dava em cima de todas as mulheres, fosse quem fosse e eu sabia disso. Então,
antes que a nossa amizade terminasse ali para sempre, preferi tirar Valery de
perto dele.
Notei que ela ficou aliviada quando conheceu a esposa de Melany,
Antonia. Sempre havia um conceito de que o CEO transava com sua
secretária, mas no meu caso nunca aconteceu. E não era pela preferência
sexual de Melany. Antes dela, houve outras secretárias e nunca aconteceu
nada. Eu sempre separei o profissional da vida pessoal por uma questão de
bom senso. Vi amigos meus se enfiarem em escândalos terríveis por causa
disso, e eu preferia me ater ao trabalho. Eu poderia encontrar prazer em
outros lugares.
Eu tinha orgulho de ter Valery ao meu lado, apresentar para as
pessoas. Não por seu status social, mas porque ela era minha, e éramos feitos
da mesma essência, a necessidade de vencer sempre, e de repente,
descobrimos juntos que ter uma família e lutar por ela era uma consequência
adorável da vida.
Meu celular tocou e cortou minhas lembranças daquela noite rápida e
inesquecível. Nós transamos no meu apartamento e depois no meu avião
particular enquanto voltávamos para Chicago. E teríamos transado no
aeroporto se o celular de Valery não tivesse tocado. Era Lauren chorando
suas mágoas por causa do fim de um relacionamento com um dos caras que
ela saía.
Além dos filhos, ainda tinha a melhor amiga.
Eu teria que me acostumar com isso.
— Sim? – Eu atendi ao ver o número desconhecido.
Senti meu sangue gelar quando a policial me informou que Valery
sofrera um acidente. Ela estava no estacionamento do shopping quando foi
atropelada e se feriu gravemente. Sua amiga Lauren não sofrera nada e
chamou a ambulância. Minha esposa foi levada para o centro cirúrgico e
então eles me ligaram.
Não disse uma palavra em casa, apenas avisei Alicia para ficar com
eles porque havia acontecido um imprevisto. Ela notou minha tensão e fui
direto para o hospital. Não demorou para que o médico saísse para falar
comigo.
— Senhor Ryder – ele apertou minha mão. — Sou o doutor Jones,
acabei de sair da cirurgia de sua esposa, tivemos que a induzir ao coma.
Passei as mãos pelos cabelos, não conseguia manter a calma. Toda
aquela pose de homem de negócios frio e indiferente foi para o espaço
quando senti que poderia perder Valery. Fui tomado de um desespero
inexplicável.
— Por sorte, ela não lesionou a coluna, mas bateu a cabeça com muita
força e o ferimento no braço esquerdo a fez perder muito sangue por causa da
diabete o quadro se agravou e então tomamos a decisão de a induzir ao coma
até que ela se restabeleça...
— Obrigado – agradeci. — Posso vê-la? – Eu quis saber.
— Vou deixar que entre por alguns instantes – ele concordou.
Foi aí que tive a certeza que o estado de Valery era grave. Eles
geralmente não permitiam entrar na unidade de terapia intensiva. O que
significava que ela poderia ter uma morte súbita, por exemplo. Nunca senti os
corredores tão longos e tanta angústia na minha vida. Quando chegamos ao
quarto onde ela estava, tive vontade de arrancar aqueles tubos e aqueles
aparelhos que a mantinham viva e abraça-la. Ela estava com a cabeça
enfaixada, seu rosto tinha hematomas, o braço também enfaixado e uma
perna engessada.
O estrago foi feio. Quem a atropelou com certeza fez de forma
proposital. Eu me aproximei da cama e ouvi o médico dizer:
— Vou deixá-lo cinco minutos com ela, é tudo o que posso fazer...
— Obrigado – agradeci.
Ele saiu do quarto e me aproximei mais e toquei sua mão. Ela estava
quente e viva. Nunca fui um homem religioso, sequer uma vez lembro de ter
feito uma oração pedindo qualquer coisa para Deus, eu sempre tive mais a
agradecer do que pedir. Mas naquele instante, vendo minha esposa frágil e na
eminência de perdê-la, eu fiz uma oração e pedi aos céus que tivessem
misericórdia da pessoa boa que ela era e lhe dessem uma segunda chance.
Não era muito o meu pedido, mas era sincero e eu não estava
preparado para perdê-la agora que a havia encontrado. Eu me aproximei e
disse próximo ao seu rosto:
— Não desista, meu amor. Eu e as crianças precisamos de você...
O CEO fodão que era capaz de foder com o governo se quisesse pelas
informações que minha empresa possuía, que era dono do maior
conglomerado de tecnologia do mundo, deixou uma lágrima escorrer e a
enxugou depressa. Eu não perderia Valery. Ela era forte e tínhamos uma vida
pela frente.
— Lembre-se que você tem um contrato comigo – eu a avisei. — E
não pode ir antes de cumpri-lo.
Cinco minutos passaram muito rápido e então o médico retornou e eu
precisei sair.
— A senhorita Lauren O’Nell está no quarto se recuperando. Ela não
teve ferimentos, mas tivemos que medicá-la, ela ficou muito nervosa...
Ele me indicou o quarto e achei melhor falar com Lauren. Talvez ela
soubesse quem tinha feito aquilo.
Eu tentava pensar que fora apenas um acidente mesmo, alguém que
perdeu o controle do carro e atropelou Valery porque ela estava no lugar
errado, na hora errada. Do contrário, teria sido criminoso e eu não conseguia
deixar de pensar em duas pessoas que poderiam fazê-lo sem piedade: minha
mãe e Richard Watson. Ou até mesmo Albert Jackson.
Ela estava pálida deitada na maca na sala repleta de pacientes. Estava
tomando soro e de olhos fechados quando me aproximei. Lauren sentiu
minha presença e abriu os olhos.
— Ryder – ela falou com pesar. — Teve notícias dela?
— Ela passou por uma cirurgia, mas inspira cuidados – eu contei a ela
—, devido as complicações da diabetes, eles a induziram ao coma, e ela vai
ficar sob observação.
Lauren levou as mãos ao rosto e chorou.
— Foi horrível – ela afastou as mãos e olhou para mim. — Estávamos
indo para o carro e então o carro veio do nada e a pegou.
— Viu quem era?
— Não – ela fez que não. — Sinto muito, as janelas eram escuras e eu
sequer olhei a placa, apenas corri para Valery para socorrê-la.
— Tudo bem, não se preocupe. Tenho certeza que a polícia deve estar
investigando para descobrir quem foi – falei seguro.
— Sim.
— Precisa de alguma coisa? – Eu ofereci.
— Não, obrigada. Liguei para a minha irmã e ela vem me buscar.
Sinto muito, Ryder – ela disse sincera. — Valery estava tão feliz com o
casamento, tão apaixonada...
— Ela não morreu, Lauren – eu disse seco. — Ela vai voltar para nós.
— Sim – ela concordou ansiosa.
— Fique bem, se precisar de algo, não hesite em me ligar.
— Obrigada, Ryder. Valery é uma mulher de sorte por ter você – ela
falou e forçou um sorriso em meio as lágrimas.
Apenas assenti. Na recepção, eles me entregaram uma sacola com os
pertences de Valery. A bolsa, os documentos, a chave do carro que ficou no
estacionamento do shopping. Joguei tudo no porta-malas do meu carro e fui
para a delegacia de polícia. Precisava sanar minhas dúvidas sobre o acidente.
E não foi surpresa quando o delegado Miles me informou que o autor
do atropelamento estava preso. Eles o pegaram pelas câmeras de segurança e
não foi difícil alcança-lo em sua casa em um bairro nobre de Chicago.
Richard Watson. Meu sangue ferveu em ódio, eu queria que aquele homem
pagasse de alguma forma.
— E o que vai acontecer com ele?
— Eles têm bons advogados – Miles foi sincero. — Com certeza, ele
vai ter uma fiança grande para pagar e vai sair e responder em liberdade.
E eu sabia que o maldito conseguiria. Por mais que tivessem juízes
decentes, sempre havia um que era amigo ou corrupto o suficiente para ceder
a uma boa quantia de dinheiro.
— Quero dez minutos com ele – pedi.
— Não posso fazer isso – o delegado garantiu.
— Eu sei que não, delegado – falei sério. — Não quero suborna-lo,
mas se o senhor me prender por tentar suborna-lo e me deixar dez minutos
dentro daquela cela com Watson, posso garantir sua aposentadoria.
Ele me olhou e respirou fundo.
— Não gosto de filhos da puta como Watson – ele falou. — Eu li as
manchetes no jornal.
— Ele fez o que fez porque minha esposa o denunciou, sabe disso.
Deve ter falado com o investigador...
— Sim, eu falei – ele admitiu.
— Dez minutos e sua aposentadoria – eu negociei.
— Cinco minutos – o delegado cedeu —, e minha aposentadoria.
— Fechado – eu concordei e peguei o celular ligando para minha
secretária na frente dele e mandando transferir a quantia devida para a conta
do delegado Miles no nome dela, claro. Melany sabia o que fazer.
— Hunter – Miles chamou o policial de prontidão.
— Leve o senhor Ryder até a cela do senhor Watson e volte para
busca-lo em cinco minutos. Tranque-os lá, por favor.
— Sim, delegado.
Miles pegou o telefone e discou enquanto eu saia.
— Stevenson, preciso que desligue as câmeras por cinco minutos a
partir de agora...
Meu sangue corria rápido nas veias enquanto caminhei pelo corredor
até chegarmos as celas. Havia várias, mas Richard Watson estava sozinho em
uma e se surpreendeu quando o policial a abriu e me colocou lá dentro.
Aquele bosta de homem se ergueu surpreso.
— O que está acontecendo? O que está fazendo aqui, Ryder? – Ele
perguntou cheio de banca.
Não houve conversa. Eu tinha cinco minutos. Dei um murro no rosto
de Ryder que o fez cambalear para trás e não perdi tempo. Dei outro e depois
outro. Seu corpo bateu contra a parede e eu o segurei pela camisa, o nariz e a
boca sangrando.
— Você gosta de abusar das mulheres, não é? Tenta abusar de mim –
eu mandei.
E lhe dei dois socos seguidos no rosto e o soltei e ele caiu no chão. Eu
o chutei várias vezes com a certeza que estava quebrando suas costelas.
— Isso é pela minha esposa – chutei novamente e ele urrou cuspindo
sangue. Ajoelhei ao lado dele e o virei de costas, havia sangue para todo lado.
— É para você saber que da próxima vez que mexer com uma mulher ou vir
parar na cadeia, vou pagar para que façam pior com você!
E lhe dei outro soco quebrando seu nariz. Ele gritou e começou a
chorar. Os presos na outra cela gritavam para continuar batendo, alguns
pediam para matar. Era essa minha vontade, matar aquele covarde assediador
de mulheres.
— Vou mover céus e terras para que pague pelo que fez com minha
esposa, verme! – Eu me ergui —, você vai se arrepender de ter nascido,
Watson e não vai encontrar a morte, pode apostar. Seu inferno vai ser aqui!
E chutei seu rosto deixando-o desacordado.
Então notei que o policial que me trouxera, estava ali assistindo tudo,
surpreendido. Quando terminei, ele abriu a cela e disse:
— Foram três minutos e meio, chefe – ele deu espaço para eu sair e
fechou a cela de novo.
Eu não disse nada, apenas o segui para fora me sentindo vingado e
pronto para lutar por mim e por minha família. Ninguém mexia com as
pessoas que amo, ninguém!
Capítulo 38

Quando o meu tio me deixou na mansão onde a minha avó morava, eu


me senti no paraíso. Era o lugar mais bonito que eu já tinha visto na minha
vida, parecia aquelas casas dos filmes, lindas e maravilhosas, cheia de
empregados uniformizados, tudo muito limpo e clean. Daisy veio me receber
já que minha avó estava no trabalho e ela voltaria apenas mais tarde.
— O que você quer fazer, minha querida? – Ela me perguntou com a
devida atenção.
— Eu gostaria de ir até o trabalho da minha avó – falei empolgada
depois de fazer uma self e postar para os meus seguidores.
Eu havia perdido alguns por causa do castigo que Bradley me deu e a
culpa era da Valery. Caso ela não fosse tão mandona e insuportável e não
quisesse tomar o lugar da minha mãe, com certeza tudo estaria perfeito. Já
não bastava elas serem idênticas, Valery ainda queria ser igual a ela, me dizer
o que fazer e quando e eu não aceitaria por nada nessa vida.
— Não é uma boa ideia, Amanda – Daisy me disse com cuidado.
— Por que não?
— Sua avó não gostaria. Ela não gostava sequer que os filhos dela
fossem quanto mais você.
Como ela ousava falar comigo daquele jeito? Eu era a neta de Tereze
Ryder e ela havia me prometido que eu seria sua modelo, a melhor da sua
agência.
— Ela disse que eu poderia ir quando eu quisesse – cruzei os braços e
a encarei num gesto de desafio.
Daisy sorriu compreensiva.
— Eu sei – ela assentiu. — Mas sua avó está ocupada com o Fashion
Week e não poderá lhe dar a atenção que você merece...
— Mas eu quero ir – insisti.
Ela respirou tentando ser paciente.
— O que acha de eu te levar para conhecer Nova Iorque? – Ela
propôs.
— Eu vou em qualquer lugar com você, mas depois que me deixar
falar com a minha avó – eu fui incisiva. — Vim para Nova Iorque para falar
com ela e não para ficar passeando com a empregada!
Ela se surpreendeu com as palavras.
— Imagino que seu pai nunca conversou com você como era a vida
dele por aqui, não é? – Ela perguntou para minha surpresa.
— Ele estava ocupado demais se drogando – falei com desprezo. — E
tenho certeza que ele nunca deu valor no que tinha ou não teria ido embora
para Utah para ser pobre ao lado da minha mãe! – argumentei.
Daisy não respondeu, apenas assentiu.
— Vou falar com o motorista para nos levar. – Ela concordou com a
minha exigência.
Minutos depois a gente partia por Nova Iorque para encontrar a minha
avó. Eu estava tão feliz que não cabia em mim. Fiz self dentro do carro e em
todas, eu marcava Valery para que ela soubesse a vida maravilhosa que eu
teria ao lado da minha avó e que ela nunca poderia me dar. Chegamos ao
prédio onde ficava localizada a agência, bem no centro de Manhattan. Eu
olhava ao redor, encantada. Era tudo tão lindo e chique.
Daisy avisou a recepcionista que queríamos falar com a minha avó e a
moça pegou o telefone e interfonou para depois se voltar para nós:
— A senhora Ryder está ocupada – ela avisou. — Pediu que
voltassem mais tarde.
Eu olhei para a moça com raiva.
— Você disse que era a neta dela? – perguntei irritada com a falta de
profissionalismo daquela moça.
— Eu disse, mas ela está em reunião com os assessores – a moça me
explicou. — Disse para darem uma volta no shopping que ela vai vê-las mais
tarde.
Eu revirei os olhos e bufei. Não podia acreditar que minha avó estava
fazendo isso comigo.
— Podemos conhecer alguns lugares e a noite nos encontramos com
ela – Daisy propôs.
Cruzei os braços e encolhi os ombros. Odiava ser desprezada.
— Sua avó está trabalhando, Amanda – Daisy justificou a atitude
dela. — A noite durante o jantar vocês podem conversar.
— Tanto faz... – falei e saí andando pela agência em direção a saída.
Daisy fez de tudo para o meu dia ser agradável. Ela me levou a
lugares maravilhosos e passei o dia tirando fotos e postando. Sem querer
pensei que se meus irmãos estivessem ali, eles adorariam. Tudo era mais
atraente, cheio de novidades. As pessoas eram mais bonitas e bem mais
vestidas. Voltamos para casa no fim da tarde e eu fui tomar um banho.
Liguei para Cassy, mas ela não pode atendeu e achei muito estranho.
Sequer retornou e senti um pouquinho de solidão já que minha avó nunca
chegava. Liguei no celular de Bradley, mas ele também não atendeu. Pensei
em ligar para Valery, eu estava angustiada por ninguém me atender, será que
haviam esquecido de mim? Aquela ideia me incomodou mais do que eu
esperava.
Até cheguei a discar para o celular dela e caiu no caixa postal. Eles
deviam estar se divertindo muito para não me atenderem. Uma lágrima
teimosa escorreu pelo meu rosto e eu enxuguei.
— Tanto faz... – falei magoada.
Eu estava feliz e minha vida prestes a mudar. Não devia me importar
com eles, nunca mais. Daisy veio me chamar para o jantar e eu coloquei
minha melhor roupa para encontrar minha avó. Mas uma nova onda de
decepção veio quando não a encontrei.
— Onde está a minha avó, Daisy? – Eu perguntei olhando ao redor.
— Ela não pode vir, querida – explicou com aquele seu sorriso
simpático que estava começando a me irritar. — Tereza teve um jantar de
última hora e não pode vir. Mas mandou um presente lindo para você.
E apontou o pacote em cima da mesa.
Olhei para o embrulho vermelho com uma linda fita. Eu não queria
presente, queria que minha avó fosse como a minha mãe, que estivesse
sempre ao meu lado mesmo nos momentos mais difíceis e que me desse um
abraço ao menos e falasse: seja bem-vinda, meu amor. Valery fez isso
quando chegamos em Chicago.
Aliás, ela foi nos pegar em Faust Valley quando tudo parecia perdido
e nos abraçou quando eu e meus irmãos pensamos que ninguém viria por nós.
Minha avó não podia me levar no jantar? Ou dar uma passadinha
rápida para perguntar como eu estava? Abri o pacote e vi o celular de última
geração, lindo e perfeito. Tudo que sempre sonhei, mas minha avó não estava
ali para me dar de presente e isso era decepcionante.
— Seu tio me disse que seu prato preferido era bife com batatas fritas,
e eu pedi que a cozinheira fizesse para você – Daisy falou com carinho.
A empregada da casa tinha mais consideração por mim do que minha
avó. Era humilhante não ser querida. Talvez fosse um traço de família, meu
pai também era indiferente. Ele só demonstrava carinho por Oliver. Por mim
e Cassy sempre foi desprezo. Não conseguia me recordar de um momento de
carinho dele conosco. E sempre que ele bebia nos chamava de peso, de duas
merdas que não precisavam ter nascido.
Engoli em seco e apenas forcei um sorriso quando Daisy colocou o
prato recheado para mim. Senti um nó na boca do estomago, não conseguiria
comer.
— Acredito que perdi o apetite, me desculpe – avisei e me levantei
levando o celular comigo.
Quando entrei no quarto, deixei a caixa em cima do móvel do quarto
de hóspedes. Liguei para Cassy e não atendeu de novo. O que eles estariam
fazendo de tão divertido que me esqueceram? Em Orlando a gente se divertiu
tanto, e mesmo eu maltratando Valery, ela sempre esteve presente e sorria
para mim.
Talvez no dia seguinte as coisas melhorassem. Mas não aconteceu.
Passei o dia na companhia de Daysi novamente. O sábado todo sem ver a
minha avó. E me senti mais sozinha do que nunca naquela enorme casa.
Acordei no meio da noite com um barulho no corredor. Eram risadas
e vozes. Franzi o cenho e me levantei, curiosa. Abri a porta e vi um casal se
agarrando no corredor. Fiquei sem graça e antes que fechasse a porta, o
homem seminu me viu. Ele estava apenas com uma cueca e era jovem.
— Hora... Hora... – ele falou com a voz embargada. Deveria estar
bêbado. — O que temos aqui?
A mulher nos braços dele se voltou para mim. Ela estava apenas de
calcinha. Nas sombras, eu a reconheci. Era a minha avó. Fiquei em choque
quando ela forçou o olhar e disse a ele:
— Sou bem melhor que ela...
E segurou o rosto dele, puxando-o para um beijo. Eu fechei a porta e a
tranquei. Meu coração batia descompassado e então corri para a minha cama.
Estava morta de vergonha pela atitude da minha avó. Não que ela não
pudesse transar, mas eu estava na casa, ela não poderia fazer no quarto?
Valery e Bradley também transavam. Era óbvio, afinal, eles eram
casados, mas a gente nunca via ou escutava qualquer coisa. Eram bem
discretos. A única coisa que eles faziam era trocar olhares, o que era bem
romântico para dizer a verdade.
Demorei para dormir e quando acordei no dia seguinte, assustei com a
minha avó parada ao lado da minha cama usando um roupão velho. Sem
maquiagem, ela parecia bem mais velha do que era. Estava descabelada e
levava um cigarro em uma das mãos. Fiquei imaginando que ela conseguiu
entrar porque deveria ter uma cópia da chave.
Eu me sentei na cama e lhe dei um sorriso pronta para lhe dar bom
dia.
Mas não houve tempo, levei um safanão no rosto. O choque foi tão
grande que eu fiquei sem reação. Levei minha mão a minha pele que
queimava e contive as lágrimas sem compreender nada.
— Nunca mais fique bisbilhotando a minha vida! – Ela disse com o
dedo em riste. — E se disser uma palavra a alguém, eu juro que deixo um dos
meus rapazes invadir seu quarto e mostrar o que se faz com gente curiosa!
Não podia acreditar que ouvi aquilo. Ela estava me ameaçando?
— Vovó... eu...
— Para você é Tereza – ela me cortou. — Odeio ser chamada de
vovó, entendeu? – continuou com o dedo em riste.
Senti medo dela. Onde estava aquela avó adorável que me fez
milhares de promessas.
— Eu não quis atrapalhar, me desculpe – falei magoada.
— Essas suas lágrimas são ridículas e o tapa nem doeu – ela cuspiu as
palavras enquanto fumava. — Você é fraca como o seu pai! E se duvidar,
uma imbecil como sua mãe!
Ela me deu as costas e eu levantei furiosa.
— Não fale assim da minha mãe! – Eu falei com o dedo em riste.
Ela se voltou para mim e me fitou com desprezo.
— Ou o quê? Vai me matar como seu pai fez com sua mãe? – Ela deu
o golpe que me fez sentir miserável. — Não vejo a hora de virem morar
comigo. Vocês não têm classe ou educação.
Não podia acreditar que era tão cruel.
— Por que está fazendo isso? Você me prometeu que seriamos
amigas, que você me daria um emprego na sua agência... aquele dia você foi
tão legal...
— Eu seria legal com o demônio se fosse preciso para conseguir o
que quero – ela falou séria e indiferente a minha decepção. — Eu só disse
aquelas coisas para você ferrar com aquela vadia da sua tia. E mesmo assim,
você não fez o suficiente e ela levou a melhor, está trepando com meu outro
filho. Um bando de vadias essas Lincoln são!
Pela primeira vez na vida fiquei sem voz. Não sabia o que dizer.
Como eu pude me enganar tanto?
— Não se preocupe. Logo seu pai vai sair da cadeia e vou trazer todos
para morarem comigo – ela falou vitoriosa. — Seus dias em Chicago e esses
seus modos malcriados vão desaparecer, pode apostar que sim...
Ela fez menção de sair, mas acabou voltando.
— E não pense que esse celular foi de graça. Você me deve um
favor...
E sem mais, ela saiu batendo a porta com força.
Eu comecei a tremer e sentei na cama para chorar. Levei a mão ao
rosto e me senti a mais idiota de todo o mundo. Como eu pude pensar que
minha avó era uma pessoa legal? Ela era má. Não queria ficar com a gente
por amor e sim porque não gostava da minha mãe.
Tremendo, peguei o meu celular e liguei para o tio Brad.
— Atende, por favor – eu implorei entre lágrimas.
Ele atendeu na segunda chamada.
— Tio Brad?
— Amanda? O que aconteceu? – Ele perguntou preocupado. — Por
que está chorando?
— Não é nada, você pode vir me buscar?
— Estou em Chicago – ele avisou. — Devo demorar algumas horas
para chegar aí. Fale com Daisy e se arrume, logo estarei aí.
— Está bem – concordei.
Quando sai do quarto para tomar o café da manhã, minha avó já havia
saído para o meu grande alívio. Daisy não fez qualquer comentário e
respeitou meu silêncio. Tio Brad chegou por volta da hora do almoço e corri
para os braços dele e comecei a chorar. Vi que ele e Daisy se entreolharam e
ele respirou pesadamente. Eu somente queria ir embora, devolvi o celular
para Daisy e ela não me questionou. A última coisa que eu precisava era ficar
devendo um favor para aquela megera.
Apenas quando estávamos dentro do avião foi que ele me questionou:
— Foi a sua avó, não foi? – Ele inquiriu.
Eu assenti e comecei a chorar. Contei tudo a ele do que acontecera.
— Eu fui tão burra, tio Brad. Me desculpa – enxuguei as lágrimas. —
Será que a tia Valery vai me perdoar? Eu fui tão ruim para ela...
Ele me olhou com enorme carinho.
— Sua tia sofreu um acidente, minha querida.
— O que? Ela está bem? – perguntei preocupada.
— Não – ele foi sincero. — Ela está em coma e por causa da diabetes,
a situação dela é delicada.
Eu o abracei e ele acariciou meus cabelos.
— Vai ficar tudo bem...
— Eu fui tão idiota – lamentei abraçada a ele. — Se algo acontecer a
ela, nunca vou me perdoar, tio Brad. Eu fui burra – repeti.
— Ela vai voltar para nós, Amanda – ele se afastou para me encarar.
— E seremos a família que sempre fomos.
Era tão bom ouvir aquilo. Mas me lembrei das palavras da minha avó.
— Tereza disse que meu pai vai sair da cadeia e a gente vai morar
com ela – contei e ele não pareceu surpreso. — Não deixa isso acontecer, tio
Brad, por favor.
Ele segurou minha mão com firmeza.
— Nós somos uma família, Amanda. E eu não vou deixar que nada
nos separe. Eu prometo.
Eu confiava nele. O abracei de novo precisando do seu carinho depois
de tudo de ruim que minha avó me disse. Esperava do fundo do meu coração
que tia Valery ficasse boa, eu tinha um caminhão de desculpas para pedir a
ela. E esperava que ela me perdoasse um dia.
Capítulo 39

Não sabia ao certo o que estava acontecendo. Mas eu podia ouvir a


voz de Bradley me chamando de algum lugar. Queria acordar, mas meus
olhos pareciam pesados, e tive que fazer um esforço sobre-humano para
conseguir finalmente abri-los. A princípio a luz me incomodou. Escutei uma
voz desconhecida e dizer seja bem-vinda, mas a dor era maior e acabei
dormindo de novo. Quando acordei na vez seguinte, já consegui ficar mais
tempo com os olhos abertos e ouvi mais barulhos ao meu redor e sentir o
cheiro inconfundível de hospital.
— Olá, amor...
Jamais vou me esquecer da primeira frase que ouvi quando voltei do
coma. Eu simplesmente sabia que algo muito ruim havia acontecido.
Recordava-me do carro vindo em minha direção e agora estando em um
hospital, não era difícil concluir que o pior me ocorreu. Senti a mão quente de
Bradley sobre a minha e tudo fez sentindo. A lágrima escorreu quando
consegui focá-lo de pé ao lado da cama. Ele usava uma camisa azul da cor
dos seus olhos e sorria para mim.
Era tudo o que eu precisava para me sentir viva.
— Eu voltei, não foi? – consegui murmurar cansada.
— Sim e estávamos com saudade...
Eu sorri e dormi mais um pouco. Quando acordei a terceira vez,
Bradley não estava no quarto e sim uma enfermeira. Já me sentia mais forte e
ela contou tudo o que ocorrera: eu fui atropelada, fiz cirurgia, me induziram
ao coma e duas semanas depois eu acordei e comecei a respirar sem ajuda
dos aparelhos. E nos dias seguintes, eu acordava e dormia e assim seguiu até
aquele momento em que eu pedi para erguer a cama.
Era dia e quando a enfermeira o fez, eu pude olhar através da janela e
começar a ver os primeiros dias do outono em Chicago. Fechei os olhos para
respirar fundo, eu estava viva, e fiquei emocionada e agradecida por aquela
segunda chance. Não é todo dia que se sobrevive a um atropelamento.
Então Bradley chegou. Por estar usando a mesma camisa, tive a
sensação que ele sequer partiu desde a última vez em que o vi. Ele foi se
aproximando da cama devagar, olhando para mim com tanto carinho que
fiquei emocionada. Nunca pensei que ficaria tão feliz em vê-lo.
Estendi a mão e ele veio para mim, me abraçando com tanta força que
achei que fosse sufocar. Eu ri de felicidade entre lágrimas e então ele me
beijou e senti que também chorava. Meu marido, meu homem, meu tudo. Ele
chorava por mim, pelo medo de me perder e eu jamais poderia imaginar que
um homem tão forte e invencível poderia se converter em um apaixonado de
coração mole.
Afastei para recuperar o fôlego e ele enxugou as minhas lágrimas
acariciando meu rosto.
— Espero que tenha se comportado o tempo que fiquei fora – falei
com carinho.
— Foi um inferno sem você! As crianças dão muito trabalho – ele
falou e riu.
— E como eles estão? E Amanda, voltou da casa da sua mãe?
Ele assentiu lentamente enquanto se sentava na beirada da cama.
— Foi como eu lhe disse, fui buscá-la antes do prazo e ela correu para
me abraçar desesperada. E disse a seguinte frase: nunca mais quero ver a
minha avó – ele me contou se sentindo triunfante.
— E ela explicou o motivo?
Ele meneou a cabeça:
— Mais ou menos, para mim, ela não disse nada. Mas a ouvi
conversando com Cassy e contando que a avó começou a falar mal da mãe
delas, e sobre você e Amanda não gostou porque sabia que algumas coisas
eram mentiras.
— O que será que sua mãe falou? – perguntei curiosa.
— Algo sobre você e sua irmã serem interesseiras...
— Aquela vaca!
— Amanda a defendeu e disse que você não precisava do meu
dinheiro e então as duas discutiram. Quando Amanda perguntou quando
poderia começar na agência de modelos, minha mãe lhe disse que ela teria
que esperar mais alguns anos e emagrecer mais porque estava gorda – ele riu.
— A confusão começou aí, as duas discutiram e minha mãe soltou os
cachorros...
— E com certeza, Amanda não se calou.
— Não – ele ficou tenso de repente.
— O que foi?
— Não é nada – ele mentiu para mim.
Eu o fitei atentamente.
— Bradley Ryder está mentindo para mim. – Eu sorri preocupada. —
Sei que acabei de acordar de um coma, mas me esconder a verdade não vai
ajudar.
— Mais tarde conversamos – ele garantiu. — Prometo lhe contar tudo
no tempo certo, o médico me recomendou não jogar tudo sobre você assim
que acordasse.
— Esse médico não sabe de nada! – reclamei. — O que está
acontecendo?
— Muitas coisas, mas nada com que deva se preocupar...
— Se não fosse me preocupar, você estaria me contando – eu cruzei
os braços impaciente.
— Você acaba de se restabelecer e vamos ter nossa primeira briga? –
Ele perguntou sério.
Respirei fundo controlando meu humor. Sabia que não era culpa dele
e Bradley apenas estava preocupado comigo e agindo com bom senso,
contudo, eu queria saber tudo o que acontecera enquanto eu dormia. Mas
notei que não conseguiria tirar dele uma só palavra.
— Quando vou ter alta? – perguntei olhando de lado.
Ele desfez o laço dos meus braços e beijou minhas mãos.
— Logo – ele piscou para mim. — O importante é que está viva e
bem, Valery. Eu quase te perdi, tem ideia do que passei?
As palavras dele enterneceram meu coração.
— Eu imagino – murmurei. — Sabem quem me atropelou?
— Sim. Foi Richard Watson – ele respondeu e eu não estava surpresa.
Conhecia aquele carro esporte preto, sabia que era dele.
— Eu sabia – falei. — A hora que vi o carro vindo em minha direção
foi muito rápido, não tive como fugir...
— Ele esperou o momento certo para ataca-la...
— E o que aconteceu com ele?
— Foi preso e liberado em vinte e quatro horas depois de pagar
fiança. Mas parece que há alguns dias foi preso por porte de drogas. Foi
encontrado em seu porta-malas uma quantia suficiente para mantê-lo preso.
Eu fitei meu marido, desconfiada.
— Watson mexendo com drogas? – indaguei franzindo o cenho.
— Para você ver como não se pode confiar em ninguém – Bradley
limitou-se a dizer.
Fiquei encarando-o e ele não demonstrou nada, sequer pesar ou
felicidade. Meu marido sabia ser frio e indiferente quando queria e se tinha
algum envolvimento na segunda prisão de Richard Watson, eu jamais
saberia. Mas meu sexto sentido dizia que sim, que ele faria qualquer coisa
para fazer Watson pagar por ter me atropelado.
— Verdade – eu me limitei a concordar. — Quero ver as crianças –
disse.
— Eu os trarei mais tarde – ele prometeu. — Assim que o médico
liberar.
— Que médico chato! – reclamei outra vez. — Estou ótima, quero ir
para casa.
— Sabe que não é assim que funciona...
— Ah, é? – Eu articulei brava. — Quero ir para a minha casa, ver
meus filhos e abraça-los...
— Você ouviu o que disse? – Ele perguntou surpreso.
— O que eu disse?
— Você falou ver meus filhos...
— Disse? – encolhi os ombros. — Mas não é isso que eles são?
Nossos filhos?
— Sim – ele concordou se aproximando de mim e me beijando de
leve nos lábios.
Meu corpo se arrepiou inteiro com o jeito que ele me olhou ao se
afastar o suficiente para dizer:
— Não vejo a hora de te pegar de quatro e te foder gostoso, Val – ele
me beijou de novo.
— Também estou ansiosa por esse momento, meu querido – eu
respondi antes dele me beijar outra vez.
Então a enfermeira entrou e acabou com a nossa alegria. Era hora da
medicação e eu precisava de um banho urgente.
— Você realmente precisa sair desse hospital – ele disse e se afastou
roubando uma risada minha.
Mas minha alta demorou mais uns três dias e então fui para casa.
Achamos melhor as crianças me esperarem lá e fui recebida com festa, com
direito a bolo que eu não podia comer e eles saborearam felizes. Havia balões
e uma faixa escrito: Bem-vinda a nossa casa. Até mesmo Amanda me
abraçou e me encheu de beijos me roubando lágrimas de alegria. Pela
primeira vez, desde que os busquei em Utah, ela foi verdadeiramente
carinhosa comigo. Brad tinha razão quando disse que passar um fim de
semana com a avó mudaria a visão dela por completo sobre mim e tudo ao
seu redor.
Amanda não parava de me pedir desculpas e ficou comigo o tempo
todo, me agradando, trazendo água sem que eu pedisse. Ou me abraçando
com carinho e me beijando sem parar. Parecia até outra pessoa.
Um a zero para ele.
Chorei emocionada quando Lauren também me abraçou e Alicia me
deu um cachecol de presente como boas-vindas. Eu ainda estava um pouco
debilitada, por isso, Bradley me levou no colo para o quarto para eu
descansar. Minha perna ainda estava engessada, bem como o braço, então
minha locomoção ainda era um pouco devagar.
— Eu me sinto a princesa – brinquei com ele quando me colocou
sobre a cama.
Brad se sentou ao meu lado e acariciou meu braço.
— Você fez falta nessa casa – ele garantiu.
Toquei seu rosto com carinho.
— Agora que estou em casa pode me contar o que está deixando você
tão preocupado.
Ele sabia que não poderia fugir da verdade o resto da vida e teria que
me dizer tudo o que estava me escondendo.
— O médico disse que você tem que descansar – ele me fez recordar.
— Mas ele não está aqui, e não é meu marido – argumentei. — E não
vou descansar enquanto não me dizer o que está acontecendo.
Bradley se ajeitou na cama de modo a ficar de frente para mim para
me olhar nos olhos enquanto conversávamos. Sempre gostei dessa postura
dele de nunca desviar o olhar quando falava comigo.
— São três coisas que você precisa saber – ela começou a falar —, a
primeira é que Maison aceitou sua proposta e quer que trabalhe com ele.
— Mesmo? – Eu perguntei empolgada. — E quando posso começar?
— Quando você quiser...
Eu bati palmas de felicidade.
— Não posso acreditar! – Eu ri, mas senti que ainda não havíamos
terminado a conversa. — E o que mais?
— A notícia não muito boa é que preciso ir para Moscou – ele ficou
sério.
— Problemas?
— Não. É trabalho, e antes de nos casarmos, eu fechei um negócio
importante e estou ausente desde então, preciso voltar.
Senti meu coração apertar. Eu não queria ficar longe de Bradley, mas
minha vida era em Chicago e a das crianças também. Estávamos em uma
situação um tanto delicada.
— Quanto tempo?
— Dois ou três meses – ele respondeu para o meu desespero.
— É muito tempo para ficar longe – lamentei.
— Eu também concordo.
— Mas você não quer me pedir para ir, não é? – forcei um sorriso.
Eu o conhecia o suficiente para saber que ele jamais me forçaria a
nada. Nunca me pediria algo que não estava ao meu alcance fazer. Três
meses talvez passassem depressa, e a gente pudesse matar a saudade por
conversas online. Tudo passava pela minha cabeça tentando resolver aquela
situação quando ele disse.
— Ainda tem a parte pior – avisou.
— Pode ficar pior? – perguntei angustiada.
— Sim – ele fez que sim.
Respirei fundo e aquietei meu coração que estava disparado.
— O que é?
— Há algumas semanas minha mãe entrou com o pedido de revisão
do caso de Arnold.
— Como? Ele é réu confesso – eu não compreendia.
— Alegaram que ele foi coagido a assumir o crime – ele me revelou.
Eu queria levantar e andar pelo quarto, mas minha perna ainda estava
dolorida.
— E o que mais? – Eu sabia que havia mais coisa, Bradley não me
dissera tudo. Ele estava tenso, o maxilar travado.
— Bem, a defesa alegou que havia mais um homem na casa, e ele
poderia ser suspeito do crime – ele explicou.
— Não havia outro homem – eu disse triste. — As crianças nunca
falaram sobre ele e Victoria pode ser muitas coisas, mas não levaria um
estranho para perto dos filhos!
Não podia acreditar que Tereza Ryder fora tão baixa.
— Nós sabemos disso, mas também sabemos que minha mãe faria
qualquer coisa para tirar Arnold da cadeia! – Ele justificou. — Ela faria
qualquer coisa para ter a guarda das crianças e me vencer!
— Não! – foi nesse momento que a ficha caiu. — Ela fez isso para
que Arnold tirasse as crianças de nós?
— Sim – ele respondeu impassível.
— Não vou deixar acontecer – ela fez que não. — Prefiro morrer a
deixar que sua mãe leve meus filhos!
Eu levei a mão ao rosto de comecei a chorar. No instante seguinte
senti os braços de Bradley em volta de mim me confortando. Com a saída de
Arnold da cadeia, nós teríamos que devolver as crianças para aquele
assassino viciado.
Capítulo 40

Abracei Valery como meu bem mais precioso. Não perderíamos as


crianças, não deixaria acontecer. Meu irmão não tinha condições psicológicas
de criar os filhos e eles não o quereriam por perto depois do que ele fez.
— Não vou deixar que o pior aconteça, Valery – eu prometi beijando
seus cabelos.
— E o que vai fazer? – Ela perguntou me empurrando para me
encarar. — Vai matar seu irmão?
— Há uma forma de resolver tudo isso?
— Como? – Ela enxugou as lágrimas. — Uma luta na justiça não vai
impedir que seu irmão fique com eles. Se conseguirem provar esse absurdo...
— Já conseguiram – eu a cortei. — Arnold chegou a Nova Iorque
ontem a noite.
Valery ficou pálida.
— Temos que fazer alguma coisa, Brad! Não podemos deixar que
esse seu irmão maluco fique com as crianças! Ele matou Victoria! – Ela
desesperou-se.
— Eu pedi a ele que esperasse que você saísse do hospital para buscar
as crianças – contei.
— Vai entregá-los? – Ela perguntou desconfiada.
— Não – respondi para alívio dela. — Mas não temos tempo para
agir, Val. Precisamos ir embora daqui essa noite.
— Como? – Ela não compreendeu.
— Moscou – respondi. — Sei que parece absurdo e que não é o que
você deseja agora, mas ou vamos para Moscou essa noite com as crianças ou
teremos de entrega-los a Arnold.
— Brad... – ela ficou surpresa com a proposta.
— Sequer vejo outra alternativa. Mesmo que ficássemos aqui, e
entrássemos na justiça, elas seriam levadas – eu argumentei louco para
convencê-la a seguir aquela ideia maluca —, sei que pode parecer absurdo,
mas se chegarmos na Rússia, meus advogados entrarão com pedido de
adoção explicando os motivos de Arnold ter assassinato Victoria, é fraco,
mas ganharemos tempo e para trazer as crianças de volta, ele terá que entrar
na justiça na Rússia e garanto que lá podemos fazer as coisas demorarem
muito até mesmo por anos até que sentença do julgamento de Arnold saia.
Valery ficou calada, como se levasse um choque com todas aquelas
informações.
— Valery...
— Eu aceito – ela me interrompeu.
— O que?
— Você me ouviu – ela segurou em meus braços com força. — Faça
o que tem que ser feito, Brad. Eu vou embora com você e as crianças para
Moscou ou para onde você quiser. Podemos nos esconder em qualquer lugar
do mundo até as coisas se resolverem, mas eu jamais vou entregar meus
sobrinhos para aquele monstro!
Fiquei aliviado quando a ouvi dizer tudo aquilo. Era o que eu
precisava para colocar meu plano em prática.
— A única maneira de tornar legal a saída deles, é você usando o
passaporte de Victoria. Você o tem?
— Sim, tenho todos os documentos dela. – Ela fez que não. — Mas
com certeza no sistema ela está como morta.
— Consigo mudar por algumas horas – garanti. — Tenho hackers
amigos que podem fazer isso.
— Hackers amigos? – Ela perguntou e riu sem poder acreditar.
— Você não acha que sendo dono da maior empresa de softwares do
mundo, eu estou apenas do lado bom da situação. – confessei. — Tenho
amigos e inimigos dos dois lados.
— Um dia você vai me contar essa história direitinho – ela avisou. —
Mas confio em você e se acha que pode dar certo, nós o faremos.
Essa confiança dela era um tesão. Aproveitei para roubar um beijo
apaixonado. Sentir sua boca macia contra a minha, aquelas semanas em
abstinência me fizeram ficar morto de saudade e tesão e toda aquela situação
me fez ver que era Valery a mulher certa para mim. Nenhuma outra toparia
uma loucura como aquela para salvar as crianças de Arnold. Era crime, sim.
Mas não havia outro modo. Nós nos beijamos e eu estava prestes a me afastar
quando ela levou as mãos ao cós da minha calça.
— Não pense que vai se livrar de mim tão fácil – ela murmurou
contra a minha boca.
— Valery... – eu a reprovei. — Você esteve em coma por vários dias,
precisa descansar.
— O que eu preciso é sentir o gosto da sua porra na minha boca – ela
falou e voltou a me beijar com paixão.
Nenhum homem apaixonado é de ferro. Retribui o beijo passando
minha língua em sua boca enquanto a empurrava contra os travesseiros. Por
sorte, Valery estava de vestido e o puxei para cima, ansioso para fodê-la. Ela
gemia a cada toque meu, podia ver em seus olhos azuis o desejo crescente, a
necessidade de me sentir.
Coloquei meu pau para fora antes de afastar a calcinha dela e foder
seco mesmo. Esfolou meu pau e ardeu sua boceta, mas a gente riu e comecei
a me mover, entrando e saindo enquanto ela rebolava sem parar, precisando
de mim tanto quanto eu precisava dela. Estávamos prestes a fazer a maior
loucura de nossas vidas e poderíamos até ser presos por isso, e isso nos deu
um tesão louco e não demorou muito para que o gozo viesse e nos cegasse.
Saí de cima dela com cuidado e então rolei para o lado para ajeitar a minha
calça e depois ajudá-la a abaixar o vestido.
Beijei sua boca antes de dizer:
— Prometo que quando chegarmos a Moscou, serei mais carinhoso –
sussurrei contra os seus lábios.
— Precisamos falar com as crianças, Brad – ela falou angustiada. —
Embora sua ideia seja arriscada, mas nossa única solução, acredito que eles
devem saber a verdade e tomarem sua própria decisão.
Não esperava que ela fosse dizer tal coisa. Fiquei surpreso.
— Valery...
— A escolha deve ser deles em ficar conosco ou com Arnold. Nós
queremos o melhor para eles, claro. Mas se eles quiserem o pai, não podemos
impedir, meu querido...
Eu me levantei da cama e andei até a janela. A rua lá fora era
tranquila, mas por dentro, eu era uma tormenta.
— E se eles quiserem ficar com Arnold?
— Vamos sofrer muito, tenho certeza. Vamos brigar na justiça, claro.
Mas teremos um ao outro, Brad.
Eu a fitei surpreso novamente. Valery era uma caixinha de surpresas.
— Não preciso de trezentos e sessenta e cinco dias para saber que
você é tudo o que eu preciso para ser feliz, meu amor...
Eu ardi em desejo.
Voltei para perto da cama e estava prestes a abraçá-la quando a porta
foi aberta por Oliver e eu parei onde estava.
— Acredito que temos uma regra sobre bater na porta, não é? – Eu
perguntei.
Ele saiu do quarto, fechou a porta e bateu antes de entrar.
Valery olhou para mim e riu.
— Tem que esperar o adulto autorizar que entre, Oliver – eu
expliquei.
— Ah, entendi... – ele fez menção de repetir tudo novamente.
— Não precisa. – Eu pedi e ele parou onde estava. — Vá chamar suas
irmãs, nós precisamos conversar.
— Está bem – ele concordou e saiu correndo.
— Você sequer deixou que ele falasse porque veio aqui – Valery me
recriminou.
— Depois perguntamos a ele – falei determinado. — Precisamos
resolver essa situação o quanto antes.
Eu estava ansioso diante daquele pedido de Valery. Estava
acostumado a decidir as coisas por mim mesmo e de repente, aquilo que eu
havia decidido poderia mudar drasticamente. Não sei o que eu faria se uma
das crianças decidisse ficar com Arnold. Ficaria despedaçado essa era a
verdade. Fui para longe dela e aguardamos as crianças chegarem no quarto.
Valery pediu que se sentasse na cama porque eu tinha algo importante para
falar para elas.
— Vocês já estão casados, o que pode ser? – Cassy perguntou
curiosa. — Não me diga que tia Val descobriu que está grávida?
— Grávida? – Amanda perguntou surpresa.
— Vamos ter um irmãozinho?
— Ele não vai ser nosso irmão, idiota! Vai ser nosso primo! –
Amanda o corrigiu.
— Mas se o tio Brad e a tia Val nos adotarem oficialmente, eles vão
ser nossos pais, portanto, vai ser nosso irmão – Cassy explicou sabiamente.
— Não é isso – eu falei para a minha infelicidade.
Até mesmo a notícia de uma gravidez inesperada seria menos
aterrorizante do que pensar que as crianças optariam por voltar a viver com o
meu irmão.
— Então, o que pode ser? – Oliver indagou pensativo.
— Vamos mudar de cidade? – Amanda perguntou animada. — Eu
adoraria morar em Nova Iorque.
— Que tal Moscou? – Eu quis saber.
Eles se entreolharam e me fitaram.
— Na Rússia? – Oliver arregalou os olhos claros como pratos.
— Sei que é um pouco longe – admiti.
— Muito longe – Cassy me corrigiu. — Fica do outro lado do mundo.
— Sim – eu me aproximei deles. — Mas eu preciso passar um tempo
lá e queria saber se vocês gostariam de ir comigo.
Valery me fitou impaciente e estreitou o olhar.
— Tenho que trabalhar – eu continuei a falar. — E há mais um
motivo porque eu quero leva-los para lá.
— Quer que a gente aprenda russo? – Oliver quis saber.
— Não, filho – aproximei e baguncei seu cabelo e ele riu. — Seu pai
foi solto há uns dias e ele virá busca-los amanhã.
O silêncio caiu pesado. Eles me olharam chocados e não disseram
uma palavra.
— Eu e Valery estamos dispostos a ir para Moscou essa noite se
vocês quiserem viver com a gente longe do seu pai. – falei respirando fundo.
— A decisão é de vocês, ou vão conosco, ou ficam com ele.
Novamente todos em silêncio. Cassy e Amanda se entreolharam e
Oliver abaixou a cabeça.
— Infelizmente não temos muito tempo. Ele tem direito sobre vocês.
Sua avó Tereza conseguiu restituir a guarda para ele – expliquei. — E eu
Valery queremos muito ficar com vocês, mas só se vocês quiserem.
— E não podemos ficar nos Estados Unidos se quisermos ficarmos
juntos – Valery completou.
A gente se olhou inseguros. E se eles decidissem ficar com Arnold?
Por Deus, eu estava ficando ansioso como há muito tempo não ficava.
— Eu não quero ficar perto da minha avó – Amanda foi a primeira a
falar. — Ela é má e fala mal da minha mãe o tempo todo.
— Eu não gosto da vovó – Cassy franziu o cenho e cruzou os braços.
Oliver ergueu o rosto carregado de lágrimas.
— Não quero ficar com o papai – ele se ergueu e se aproximou de
mim. — Não deixa ele levar a gente, tio Brad. Vamos embora para Moscou,
eu nem gosto de Chicago.
Fiquei aliviado em saber disso e então olhei para as meninas.
— Eu vou adorar ir para Moscou, não vai rolar morar com o meu pai
– Cassy garantiu.
Faltava apenas Amanda.
— Não dá para ficar com ele depois do que ele fez, não é? – A voz
dela soou triste.
Valery começou a chorar e olhou para mim, aliviada.
Eu me sentei na cama e coloquei Oliver em meu colo.
— Nós ficamos muito felizes porque decidiram ficar com a gente.
Mas vamos ter que ficar um bom tempo na Rússia, porque vamos sair daqui
fugindo do seu pai e da minha mãe – expliquei a eles.
— Mas eles vão atrás da gente?
— Talvez eles tentem, mas vamos nos esconder bem. – prometi. —
Eu vou cuidar de todos nós e não vou deixar que nada nos aconteça de mal.
Então para minha surpresa, as crianças vieram para cima de mim e me
abraçaram. Olhei para Valery que estava completamente entregue a emoção.
Também fiquei emocionado, mas não me despedacei em lágrimas. Apenas
fiquei aliviado por eles terem optado por ficar conosco. Não sabia o que o
destino nos aguardava, mas nós éramos uma família e nada nos separaria.
Nada.
— Eu amo vocês! – Eu disse a eles e meus sobrinhos me abraçaram
mais.
— Também amo você, tio Brad – Oliver disse com enorme carinho
roubando parte do meu coração.
— Também amo você – Amanda falou e me deu um beijo no rosto e
Cassy fez o mesmo.
— Precisamos arrumar as malas? – Amanda quis saber.
— Levem apenas uma mochila e o que for realmente necessário.
Compraremos tudo novo. Se sairmos com malas podem desconfiar – avisei e
eles assentiram. — E há um detalhe, quando passarmos no aeroporto, vocês
têm que chamar a tia Valery de mamãe e se perguntarem o nome dela é
Victoria.
— Nós vamos mentir? – Oliver quis saber.
— Sim, se a gente disser a verdade, eles não me deixam sair com
vocês do país e amanhã vocês terão que ir para Nova Iorque viver com o pai
de vocês – expliquei.
E ficou claro que eles não queriam saber de Arnold. O trauma da
morte de Victoria foi suficiente para que eles não desejassem estar com ele.
E, mesmo parecendo egoísta, a atitude dos meus sobrinhos foi um grande
alívio.
Quando meu irmão descobrisse o que eu havia feito, estaria do outro
lado do mundo e até que tomasse medidas para ter as crianças de volta, seria
tarde demais. Nós estaríamos protegidos pelas leis russas.
Capítulo 41

Minha vida sempre foi como um trem descarrilhado. Sempre fui uma
pessoa agitada, desde criança. Não tinha parada, Daysi dizia. E nunca soube
lidar com a frustração. Agia como queria e não aceitava regras. Eu criei as
minhas próprias. Passei a vida acreditando que sempre faltava alguma coisa,
que eu era o injustiçado, o coitado, o mal compreendido. Sentia inveja do
meu irmão Bradley. Ele era o mais inteligente, o mais querido pelo meu pai,
o que sempre se dava bem em tudo.
E o que eu era?
Passei a vida toda acreditando que eu era o cara. Mesmo quando
mentia, roubava para sustentar meu vício, justificava minhas derrotas por
causa do meu pai. O velho me deserdou quando descobriu que eu o estava
roubando. Ele me tirou do testamento. Lembro que no dia da briga, nós
brigamos feio e eu bati nele. Tanto que o deixei desacordado. Eu estava fora
de mim e não estava drogado ou bêbado. Eu bati pelo simples desejo de
bater, de descontar minha frustração, de gritar com ele e de matá-lo.
E eu apenas não matei porque Brad apareceu, me impediu e me
colocou para fora. Odiei meu irmão, acreditei que ele estava do lado do meu
pai porque queria a herança somente para ele. Eu tinha dezessete anos,
merda. O que eu sabia sobre a vida a não ser que ela girava em torno do meu
umbigo? Jurei me vingar deles um dia.
Tentei falar com a minha mãe, mas ela me deu algum dinheiro e me
mandou sumir. Tereze Ryder não tinha tempo para o filho, ela tinha a própria
vida e estava se casando pela segunda vez depois de se divorciar do meu pai.
Um casamento nada convencional. Nunca entendi porque eles se casaram,
eles sequer se gostavam, ela possuía vários amantes e ele também. Enfim, era
tudo uma grande merda.
Viajei o país e fui parar em Faust Valley e conheci Victoria. Que
garota! Eu me apaixonei por ela perdidamente. Era tudo para mim. Propus
que viajássemos pelo mundo como dois hippies, fumando nossa maconha,
lendo livros, vivendo de bicos. O que mais a gente poderia querer?
E então, ela engravidou. E as gêmeas vieram. Naquele ano ela perdeu
o pai. A irmã e o irmão mais velho tinham dado no pé e a mãe era uma vadia.
Então fomos morar juntos. Pedi ajuda para a minha mãe e ela achou que
podia interferir e apareceu em Faust Valley com Bradley. Meu irmão nem
ligava, mas minha mãe tentou comprar Victoria.
Ofereceu dinheiro para que ela entregasse as meninas e ela me levaria
embora. Minha esposa a colocou para fora aos berros depois de uma
discussão feia. E Victoria nunca mais quis saber da minha família. Eu odiava
as meninas, elas faziam com que eu me sentisse frustrado e preso. Caso não
fossem elas, eu e Vick teríamos viajado pelo mundo.
Vick ficou careta com as drogas, mas nunca consegui parar. Uma vez
até tentei, mas quando voltei da clínica de reabilitação, caí nas drogas de
novo. Minha esposa teve algumas recaídas por minha causa, mas a maioria
das vezes, estava sóbria. Daí veio Oliver, meu garoto, minha vida e meu
amor. Acredito que foi o único ser que amei de verdade. Não sei dizer se era
amor ou posse...
Mas minha vida era uma merda e todo dinheiro que minha mãe
mandava, eu gastava com drogas. Não conseguia um emprego decente e tinha
certeza que Victoria me traia em todo emprego que arranjava.
Numa noite chuvosa, eu precisava de dinheiro para comprar heroína,
mas não tinha nada. Eu já tinha vendido o que dava. Na minha abstinência,
decidi trocar minhas filhas por drogas, daria uma quantia boa, talvez para um
mês. E Victoria não deixou. Ela me fez sentir frustrado. Foi seu erro.
E eu a matei.
Matei minha Vick.
Fui preso. Das outras vezes, minha mãe me ajudava a sair. Ela me
dizia que meu maior erro foi ter me casado com Vick.
— Essa garota destruiu sua vida – ela dizia.
Mas naqueles meses que passei preso, sabendo que seria condenado à
morte por ser réu confesso, tive tempo para pensar. Eu não me arrependi do
que fiz, mas poderia ter sido diferente. Caso eu não tivesse batido no meu pai.
Caso eu não tivesse ido a Utah. Caso eu não tivesse matado Victoria. Caso eu
não fosse um filho da puta desgraçado, meus filhos teriam uma família feliz.
Eu era herdeiro de uma família tradicional e destruí tudo. Poderia ter
dado o melhor para minha família, mas eu os fiz passar fome. Pensava em
Oliver e se ele me perdoaria um dia.
Então veio a notícia de que eu sairia da cadeia. Fiquei surpreso e o
advogado me explicou que eles resolveram inventar uma história: que havia
mais uma pessoa naquela noite na casa. E matei Victoria movido pela raiva
de descobrir que ela estava me traindo. A mentira colocou e fui liberto. Mas
aquilo me atormentava. Vick jamais me trairia. Ela me amava, muito. Eu era
seu tigrão.
Sentado na mansão onde cresci e passei a maior parte da minha vida,
ouvindo minha mãe me dar ordens e dizer o que faríamos dali para frente, eu
pensava que preferia ser um assassino frio e cruel do que um homem que não
foi amado. Não fui amado por meus pais. Mas Victoria me amou e Oliver
também.
O celular tocou.
— É Brad! – minha mãe olhou para o visor. — Você fala com ele ou
eu? – indagou fumando.
— Eu falo com ele – decidi.
Meu irmão não foi me ver na prisão. Bradley era muito correto para
compactuar com a maldade que fiz. Matar a mãe dos meus filhos foi
imperdoável, eu sei.
— Oi – atendi.
— Olá, Arnold – sua voz soou fria.
— O que quer? – perguntei direto.
— Recebi a intimação da justiça e sei que vem buscar as crianças esse
fim de semana. – Ele me informou sem qualquer emoção na voz.
— É isso mesmo.
— Valery vai sair do hospital no sábado – ele contou. — Não pode vir
buscar do domingo? Ela esteve entre a vida e a morte e vai sofrer com a
separação, seria pedir demais?
Fiquei em silêncio.
— Arnold? – Ele me chamou.
Não precisava ser bom para ninguém.
— Deixe-me falar com Oliver – eu pedi.
Bradley pareceu hesitar.
— Por favor – pedi com educação.
— Está bem...
Eu o ouvi chamar. Oliver demorou demais para pegar o telefone e
fiquei inseguro. Comecei a tremer diante da possibilidade do meu filho me
odiar. Você não, Oliver. Implorei em pensamento. Todos me abandonaram,
não faça isso comigo.
— Oi... – sua voz soou insegura.
Eu me ergui e comecei a andar pela casa.
— Oliver – falei emocionado. — É o papai.
— Eu sei...
Senti o medo em sua voz e meu mundo ruiu.
— Senti sua falta – falei com coragem. — Estou ansioso para te
encontrar.
Ele ficou quieto e não respondeu. Ali, eu soube que havia perdido
meu filho.
— Vamos nos encontrar e quero leva-lo para passear – eu tentei
mostrar empolgação e esconder o choro que me ameaçava tragar. — Vamos
recuperar o tempo perdido, eu prometo. Estou com saudade.
Ele fez uma longa pausa.
— Eu preciso ir – ele disse e sequer se despediu.
Foi o golpe final. Oliver jamais me perdoaria por ter matado Vick. Ele
não me admirava mais e foi um choque de realidade. Eu havia perdido tudo.
Sem Oliver não valia a pena continuar vivendo.
Bradley voltou ao telefone.
— Eu vou pegá-los na segunda...
E desliguei. Mas algo me disse que não seria assim. E quando fomos
para Chicago, descobri que eles tinham atravessado o mundo para fugir de
mim. Não havia sinal de Brad ou as crianças. Desapareceram.
Liguei no celular do meu irmão e ele atendeu.
— O que foi que fez? – Eu perguntei puto da vida. Frustrado outra
vez.
— Estou defendendo minha família – ele respondeu.
— Eles são meus filhos! – gritei.
— Nunca foram, Arnold. Eles são meus filhos agora e vou amá-los de
uma forma que você nunca poderá. Você não passa de um assassino de
merda. Não vou deixar que se aproxime deles nunca mais. Você não merece a
família que teve um dia...
E sem esperar resposta, ele desligou.
Voltei para o hotel irritado e contei para a minha mãe.
— A culpa é sua! – Ela me acusou. — Não deveria ter dado o fim de
semana para aquela vadia!
— Cala a boca! – Eu mandei.
Precisava trazer Oliver de volta. Ele era meu! Meu! Passei as mãos
pelos cabelos, nervoso.
— Não devia ter deixado você tomar decisões! – Ela esbravejou. —
Ele pode estar em qualquer lugar do mundo e nunca vamos encontra-lo.
Devia ter imaginado que você é um fraco como o seu pai!
— Eu mandei calar a boca, cadela! – gritei. — Não tem moral para
falar comigo!
— Sou sua mãe!
— Uma mãe não abusa sexualmente do próprio filho...
Ela ficou pálida quando joguei em sua cara as sombras do passado.
— Naquela noite, eu sabia que era você! – acusei. — Disse para Brad
que era uma de suas amigas da festa, mas eu sabia que foi você que me tocou
daquele jeito nojento, sua miserável!
Eu estava fora de mim. Toda a frustração por aquele trauma vivido
veio à tona.
— Pense o que seus amigos da alta sociedade diriam se soubesse que
a poderosa Tereza Ryder abusava do próprio filho. Pedófila do caralho!
Ela me deu um tapa no rosto e depois outro.
— Ninguém vai acreditar num maldito viciado que matou a própria
esposa!
— Eu vou embora – eu disse no limite.
— Você não vai! Eu quero meus netos aqui comigo e preciso de você
para isso! Vai ficar e fazer o que eu mandar...
— Não vou. Cansei. Vou sumir no mundo como sempre fiz. Enfia
seus planos no seu rabo!
Ela jogou um vaso contra mim.
— Vou mandar prendê-lo... – ela me ameaçou e eu parei onde estava.
—, se passar por essa porta, moleque, eu vou acabar com a sua vida! Pode
apostar!
Resposta errada. Minha frustração foi no pico. Fui tomado por um
ódio tão grande porque ninguém nunca me dizia o que fazer. Ainda mais
aquela vadia. Eu corri em sua direção sem pensar. Ela gritou e então tomei
impulso e a empurrei contra a porta de vidro da varanda. O impacto foi tão
forte que viramos sobre o parapeito de ferro e tudo se apagou.
Capítulo 42

Jamais vou me esquecer daquela viagem para Moscou. Passar pelo


aeroporto fingindo ser a minha irmã foi a maior loucura que fiz na minha
vida. Mas como Bradley havia prometido, ele cuidou da gente. Seus amigos
hackers invadiram o sistema de informações da alfândega e, até chegarmos
em Moscou, eu era Victoria Ryder. Depois, ela voltou a sair do sistema e ser
mais uma na lista de mortos.
Para nossa segurança, Brad alugou uma casa no nome de um de seus
funcionários, para termos privacidade caso a família dele acionasse a polícia
internacional. Não viriam até nós facilmente, mas todo cuidado era pouco.
Chegamos em um frio do início do outono. O funcionário de Brad, Dimitri
arranjou tudo que precisávamos a princípio, até mesmo roupas para suportar
o frio que era bem mais forte do que estávamos acostumados.
Eu sequer contei a Lauren quando nos despedimos na porta da minha
casa. Quanto menos pessoas soubessem da nossa fuga melhor. Eu não podia
acreditar que estava deixando o país como uma criminosa. Eu que sempre
critiquei meu pai por suas atitudes, agora fazia pior. E apenas quando
coloquei a cabeça no travesseiro e Bradley se deitou ao meu lado foi que eu
caí na real e conclui que era o maior absurdo da minha vida. Eu podia ser
presa e responder processo por sequestro de menores.
Para dizer a verdade, eu não conseguir dormir e quando fiz foi de pura
exaustão. As crianças dormiram conosco no quarto, acredito que ficaram com
medo de alguém aparecer e leva-las. Acordamos todos mal dormidos na cama
espaçosa.
A empregada, Ivana, falava inglês e trabalhava com Bradley há
muitos anos. Ela preparou ovos mexidos.
— Vou preparar o café da manhã igual os americanos gostam – ela
falou com pesado sotaque.
Eu falava um pouco russo e não passaria aperto, mas teríamos que
contratar um professor para ajudar as crianças. Mil pensamentos passavam
pela minha cabeça no decorrer do dia. Bradley saiu para resolver assuntos da
empresa e fiquei em casa com as crianças. A casa era ampla e arejada, toda
de madeira, era uma casa de campo com jardim enorme. Sentei na varanda
para tentar relaxar, Dimitri havia providenciado um par de muletas para mim.
Tomei uma analgésico que achei nas coisas de Bradley e me sentei na
varanda para ver as crianças brincarem em volta da piscina. Mesmo com
aquele frio, eles queriam se divertir. Eu nunca vi gostarem tanto de água.
Acredito que até cochilei sentada ali e quando abri os olhos Bradley
estava sentado ao meu lado. Ele me fitava com um enorme carinho e dei um
sorriso sem graça tocando sua mão.
— É feio ficar olhando os outros dormirem, senhor Ryder – eu
brinquei.
— Você deveria estar na cama descansando – ele se aproximou e
beijou minha testa. — Sem febre, ainda bem.
Eu sorri.
— Estou bem, apenas cansada da viagem, foi tudo corrido e ficamos
sob tensão o tempo todo.
— Sim – ele acariciou meu rosto.
— Onde estão as crianças? – Eu perguntei olhando ao redor.
— Ivana as levou para dentro, já tomaram banho, comeram, estão
assistindo TV e se divertindo com os canais locais. – Ele me avisou.
— Acredito que vou ficar nessa até me acostumar com essa ideia de
que cometi um crime – sorri amarga.
— Talvez você não precise se preocupar mais...
A expressão de Bradley era impassível, da mesma forma quando o
conheci naquele restaurante há quase dois meses atrás.
— O que aconteceu? – perguntei preocupada.
Ele respirou lentamente e olhou ao redor se certificando de que
estávamos a sós.
— Steve me ligou – ele falou sério.
— E? – perguntei ansiosa com todo aquele mistério.
— Houve um acidente – ele contou.
— Que tipo de acidente? – meu sangue gelou. — Por favor, Brad. O
que quer que tenha feito, eu preciso saber – falei —, não importa o quão
grave tenha sido, conte-me tudo, por favor.
— Não fiz nada, talvez... – ele hesitou —, tenha sido apenas o
destino.
— Destino?
Ele fez que sim.
— Parece que Arnold e minha mãe discutiram essa manhã quando
descobriram que nós havíamos fugido. Eles estavam no hotel em Chicago e
durante a discussão não se sabe como eles caíram da varanda no jardim do
hotel – ele contou tão sério que sequer parecia real. — Meu irmão caiu por
baixo e quebrou o pescoço, amortecendo a queda da minha mãe que está
estado grave no hospital.
Fiquei sem palavras. Nunca imaginei que algo tão grave poderia
acontecer.
— Testemunhas dizem que eles estavam discutindo e minha mãe foi
para cima dele e se desequilibraram e caíram. Outros dizem que meu irmão a
atacou e quando ela o empurrou, os dois caíram – ele apenas balançou a
cabeça levemente. — A polícia vai investigar tudo...
— Não acha que seria prudente voltarmos? Para que você cuide das
formalidades?
Ele olhou para mim com uma frieza que me fez arrepiar.
— Steve vai cuidar de tudo, desde o enterro de Arnold como também
todos os assuntos sobre a minha mãe. – Ele falou decidido. — Não vou expor
você e as crianças a uma viagem longa e exaustiva por causa deles.
— Eu compreenderei se quiser voltar, afinal, é a sua família.
Ele segurou a minha mão que repousava sobre a minha coxa.
— Minha família é você e as crianças – ele falou beijando a minha
mão. — É por vocês que eu atravessaria o mundo como fizemos na noite
anterior. Eu faria qualquer coisa, Valery. Infelizmente, há muito tempo eu,
minha mãe e Arnold apenas nos falávamos quando havia interesse financeiro
de algumas das partes, caso contrário, éramos desconhecidos.
Eu poderia julgá-lo, mas era direito dele se sentir daquela forma.
Havia a história dele e da família, algo muito delicado para se discutir ou
entender. Apenas quem vivia tinha o direito de fazer as escolhas que queria.
Quem era eu para dizer que ele fosse? Não fui no enterro do meu pai ou da
minha mãe. E fui no de Victoria por causa das crianças, porque sinto que se
não fosse pelos meus sobrinhos, eu sequer saberia sobre a morte dela da
forma como foi.
Eu o puxei para mim e ele recostou a cabeça no meu ombro. Era
apenas disso que meu marido precisa: apoio e não julgamento. Um dia
quando sua dor passasse a gente conversaria sobre o assunto, mas agora, ele
precisava de paz para tomar a decisão certa e eu o ajudaria nisso.
— Vamos contar para as crianças? – Eu quis saber.
— Não acredito que seja prudente agora – ele falou com a cabeça
ainda apoiada em meu ombro olhando para o jardim. — Quem sabe daqui
alguns dias? Ou quando voltarmos...
— É o pai deles – tentei argumentar.
— Arnold não os queria, Valery. – Ele me contou e ficou ereto
novamente para me encarar. — Conversamos por telefone esta manhã,
minutos antes do acidente com minha mãe.
Bradley fez uma pequena pausa.
— Desde que ele foi preso nós nos falamos duas vezes: quando ele
chegou em Nova Iorque e pedi para ficar com as crianças naquele fim-de-
semana porque você sairia do hospital e esta manhã...
— E hoje? – precisei perguntar.
— Bem. Ele me perguntou onde estavam os filhos dele e eu respondi:
seguros longe do monstro que você se transformou.
Eu imaginei que a conversa entre eles não seria fácil. Bradley era do
tipo frio e calculista quando o assunto mexia com ele, principalmente com
seus sentimentos. Acredito que falar com Arnold não deveria ser nenhum
pouco fácil.
— A conversa não foi agradável, pode apostar.
Então, a queda da janela fora proposital, concluí. Senti um aperto no
peito, não por Arnold, ou por Tereze e que Deus um dia me perdoasse por
isso, mas por Bradley. Por mais que ele se fizesse de forte, eu sabia que no
fundo não deveria ser fácil passar aquele tipo de situação. Por causa do que
Arnold fez a Victoria, eu não poderia dizer que a morte dele era um choque
para mim, talvez, um sinal de justiça. Era o que meu coração ferido pela
perda prematura da minha irmã me fazia sentir. E eu não podia negar tal
sentimento.
— Ele fez o que tinha que ser feito – Bradley limitou-se a dizer.
Eu fiz que sim.
— Então, acabou – eu disse simplesmente. — Pensei que viveríamos
um pesadelo, mas pelo visto, o destino agiu a nosso favor.
— Sim. Ficaremos aqui algum tempo e então voltamos para casa,
Valery.
Eu o encarei e ficamos nos olhando por algum tempo. A desgraça na
família de Bradley era meu motivo de alívio e felicidade: ninguém tiraria as
crianças de mim. O que eu poderia querer?
— Tanta coisa aconteceu desde que nos conhecemos, não é? – Eu
perguntei com carinho. — Parece que entramos juntos em uma tempestade e
acabamos de sair dela.
— Juntos novamente – ele apertou minha mão que ainda segurava. —
E espero que seja assim sempre, Valery. Eu não estou disposto a me divorciar
quando o contrato vencer.
Ele tirou um papel dobrado de dentro do paletó.
— O que é isso?
— Nosso contrato de casamento – ele me mostrou e abriu. — Eu
quero rasgá-lo, Valery.
— Rasgar?
— Sim. Não preciso mais dele. Todos os dias que passei ao seu lado
foram suficientes para que eu tivesse certeza que passaria os próximos
trezentos e sessenta e cinco dias ao seu lado, como também até o fim da
minha vida e nada vai nos separar.
Meu coração bateu mais apressado. Mas não havia o que duvidar, era
o que eu também queria. Peguei o papel da mão dele e respirei fundo. O fim
do contrato não era a separação, mas o início de uma vida que queríamos
partilhar juntos e não que éramos obrigados a fazê-lo. Rasguei o contrato em
pedaços e joguei para trás.
Bradley deu aquele seu sorriso charmoso que deixava a minha
calcinha molhada e me beijou na boca. Senti sua língua macia contra a
minha, sua mão em minha cintura se aproximando mais de mim. Gemi
quando ele me apertou mais e prensou meu braço engessado.
— Me perdoe – ele se afastou e falou contra os meus lábios. —
Vamos ter que deixar isso para mais tarde...
— Para que a pressa? Temos a vida toda pela frente...
— Precisamos encontrar novas formas de transar.
— Novas formas? – Eu perguntei curiosa.
— Oh, sim. E há lugares onde quero levá-la que vai fazer você...
— Tio Brad! – A voz de Oliver nos interrompeu.
Bradley se afastou e me olhou contrariado, mas sabíamos que seria
sempre assim. Ele sorriu para mim e Oliver começou a falar sobre o que
aprendera em tão poucas horas sobre a vida na Rússia. Ao invés de usar as
muletas, Brad me pegou no colo e me levou para dentro de casa. Sentamos na
sala com as crianças, estavam tão animadas que não consegui contar a elas
sobre a morte do pai, talvez dali um dia ou dois.
Eles ficaram em volta de nós, todos falando ao mesmo tempo,
animados com a viagem e com os passeios que queriam fazer.
Brad segurou minha mão em cima do sofá e me fitou com enorme
carinho.
Quem diria que há algum tempo, quando nos conhecemos e uma série
de acontecimentos desabou sobre nossas cabeças, que seríamos uma família?
Brad havia estipulado um ano para nos apaixonarmos. Mas aconteceu
antes. Algumas pessoas precisam de horas para se apaixonar, outras de uma
vida toda. Na verdade, aprendi que não é o tempo que importa, mas a
intensidade com a qual se faz.
Epílogo

Alguns anos depois...

A vida é muito irônica. Tereza Ryder construiu um asilo quando o


segundo marido teve um derrame, ela se divorciou dele, e o abandonou aos
cuidados das enfermeiras e sequer foi em seu enterro. Agora, ela utilizava os
mesmos serviços. Minha mãe estava internada, ficara presa a uma cadeira de
rodas, não falava, ou ouvia. Os médicos disseram que o traumatismo craniano
causou sequelas irreparáveis.
Eu não a visitava sempre, apenas no dia do seu aniversário. No
começo não queria fazer, mas Valery me fez ver que eu era tudo o que havia
sobrado para aquela mulher fria e indiferente. E que talvez minhas visitas a
ajudassem a melhorar. Mas eu duvidava. Ela nunca expressou qualquer
emoção quando eu chegava.
As enfermeiras a traziam ao jardim, e eu me sentava ao lado dela no
banco.
— Amanda está fazendo curso de moda – contei e seus olhos sequer
se moviam. — Oliver é um garoto muito inteligente. E Cassy quer fazer
medicina.
Silêncio. Respirei fundo e olhei as folhas das árvores que se moviam
sob o vento fresco do verão.
— Sabe o que é mais engraçado, mãe? Eu sempre achei que ter uma
família fosse impossível, que não estivesse ao meu alcance – eu falei de
repente sem entender o real motivo. — Pensava que não era digno de ser
amado, então, Valery entrou em minha vida e me fez ver que é mais que isso.
Família não é apenas aquela em que a gente nasce – eu balancei a cabeça em
negativo. — Família é quem nos acolhe com amor. É um sentimento que
você desconhece, mas faz bem ao coração. Faz a gente se sentir vivo de
verdade e ter um motivo para levantar da cama todos os dias.
Silêncio.
— Valery está grávida, o bebê nasce em outubro. Não vejo a hora de
pegá-lo entre os meus braços e sentir que é sangue do meu sangue, consegue
entender? Quero dar a ele a segurança que você nunca pode me dar...
Ser rancoroso não era uma das coisas que eu gostava de fazer, mas
naquele momento eu precisava falar como se estivesse expurgando todos
aqueles sentimentos ruins que por anos me caçaram.
— Sabe porque eu me apaixonei tão fácil por Valery? Porque ela era
o oposto de você. Ela sequer era mãe daquelas crianças e daria a vida por
eles... não adianta falar, você não me ouve e sequer pode responder. – Eu me
levantei. — Volto outra hora.
Podia jurar que ela piscou, mas quando olhei de novo, estava do
mesmo jeito inerte. Parti para casa. Há alguns anos havíamos comprado uma
casa maior aos arredores de Chicago, perto do campo.
Valery trabalhava para Dorian Maison e fizera da empresa dele uma
das maiores do país. Ela se dedicou bastante ao trabalho, ficando muitas
vezes até a madrugada perdida naquela imensidão de papeis e decisões a
tomar, mas ela cumpriu com o que prometera e apenas cresceu em seu ramo,
se tornando a CEO da Maison & Maison. Ainda bem que havia Daisy para
nos auxiliar. Eu acabei trazendo aquela mulher maravilhosa para ajudar a
criar meus filhos. Sim, meus sobrinhos eram meus filhos, sempre seriam.
E nesses anos junto com Valery, nosso amor cresceu. Mas muitas
vezes, eu quis jogá-la pela janela, ela costumava ser muito chata e mandona,
mas nas outras vezes, nos amamos profundamente. Conseguimos entre nossas
agendas, umas férias e fomos para a Europa com as crianças. Em todos esses
anos apenas uma vez viajamos sozinhos, mas foi apenas um fim de semana
para Aspen. Do contrário, as crianças estavam sempre conosco.
Eu estava estacionando meu carro quando ouvi um barulho de moto
que se aproximava e parou ao lado do meu carro. Desci e o piloto também,
com sua jaqueta de couro. Ele tirou o capacete de coco e pendurou no guidom
da moto, e então veio em minha direção.
— Bradley Ryder? – Ele perguntou tirando os óculos escuros.
Ele era alto, a barba estava por fazer e ele sorria de uma forma que eu
parecia conhecer.
— Eu mesmo...
— Sou...
— Cam!
A voz de Valery soou num grito agudo e olhei para a porta. A mulher
grávida de sete meses corria para perto de nós e pulava no pescoço daquele
homem. Aquele era Cam Lincoln, irmão dela?
— Não acredito! – Ela beijou o rosto dele várias vezes e começou a
chorar emocionada. — Como me encontrou? Eu busquei por você todos esses
anos...
— Eu sei, Val – ele sorriu para ela e estendeu a mão para mim. — É
um prazer conhecê-lo, Ryder.
— Posso dizer o mesmo – apertei sua mão com firmeza.
— Por que não entramos? – Valery propôs.
— Claro que sim – Cam concordou e abraçou a irmã, juntos entraram
na casa.
O dia de Valery tomou outro caminho e ela ficou super animada
ouvindo o irmão contar que era dono de uma grande franquia de motos na
costa oeste dos Estados Unidos. Eu acabei deixando-os a sós para
conversarem, eles tinham uma década para colocar em ordem. Fui para o
escritório e trabalhei até a hora do jantar quando as crianças vieram me
resgatar.
Com a presença do Tio Cam, eles estavam muito animados. Até
mesmo Lauren surgiu e ficou encantada com a chegada do irmão de Valery.
Escutei as duas conversando depois que ele partiu.
— Você nunca disse que seu irmão era tão gato... – Lauren comentou.
— Você nunca perguntou – Valery respondeu e elas riram.
Depois do acidente a amizade entre elas se fortaleceu. Lauren não saia
da nossa casa e agora com a chegada do bebê, ela se tornara a tia oficial.
Quando Valery deitou-se na cama no final daquela noite, ela apagou no
segundo seguinte. Eu apenas a cobri e beijei seus cabelos.
No outro dia, ela acordou eufórica. A visita do irmão lhe trouxe um
renovo que a fazia brilhar mais do que o normal. E eu ficava admirando como
o apaixonado que era.
— Ele prometeu vir no natal – ela disse animada.
— Fico feliz que tenham se encontrado...
— Eu estou muito feliz – ela disse se aproximando de mim e sentando
em meu colo. — As crianças foram para a escola, agora temos toda a casa à
disposição.
— Preciso sair... – eu falei sério.
— Sério?
— Mentira. – sorri maldoso e pisquei para ela. — Eu não perderia um
momento a sós com você nem por decreto-lei, meu amor.
Ela soltou um grito quando a carreguei para o andar de cima. Com a
gravidez, não podíamos abusar das posições, mas sexo era primordial. Despi
cada peça que Valery usava, beijei seu corpo, chupei seus peitos inchados e
deliciosos. Estavam enormes por causa da gravidez e eu me perdia neles, era
excitante. Recostada nos travesseiros, ela abriu as pernas para que eu a
chupasse. Valery era uma safada que adorava sexo oral e na gravidez
aumentou sua necessidade.
Caí de boca em sua boceta molhada, chupei, lambi, até que encontrei
o clitóris inchado, pedindo para ser tocado. Os gemidos dela se espalharam
no ar quando o segurei e o chupei com vontade, até que ela gozou na minha
boca... aproveitei para ficar de joelhos e puxar seu corpo para baixo no
colchão, os quadris para cima e me afundar dela.
Como era apertada e quente essa gostosa! Eu queria me segurar mais,
porém o som dos gemidos dela me fez gozar mais rápido. Deitei ao lado dela
e levei o dedo dentro dela.
— Te devo uma... – eu murmurei ofegante.
— Por favor... – ela pediu.
Comecei a mover dentro e fora dela. Valery movia os quadris de
forma frenética e então cai de boca de novo e chupei o clitóris enquanto meus
dedos se moviam e ela explodiu em um orgasmo intenso e delicioso.
— Que delícia – ela murmurou entregue.
Deitei ao lado dela e olhamos para o teto. O bebê mexeu e ela levou
minha mão à barriga.
— Nossa pequena Serena está se mexendo – ela disse com carinho.
— Serena – eu repeti.
Não me lembro quem escolheu o nome, acredito que foi Valery e eu
já amava minha filha antes mesmo de tê-la em meus braços.
Beijei a boca de Valery e ela me enlaçou pelo pescoço.
— Sabe de uma coisa, senhor Ryder?
— O que?
— O senhor não é bom com contratos....
— Não?
Ela fez que não.
— Se fosse esperto saberia que eu me apaixonei no primeiro instante
em que o vi e não precisaria de trezentos e sessenta e cinco dias.
— O problema é que você é orgulhosa, meu amor e demora a aceitar
o óbvio. O contrato foi a desculpa que eu precisava para ganhar tempo e
vencer sua teimosia. – expliquei.
— E o que é óbvio? – Ela perguntou com sarcasmo.
— Que não podemos ficar um sem o outro, um dia, dois dias, um ano
ou a vida toda – eu afirmei.
— Talvez exista razão em toda nossa loucura de amor – ela ponderou.
— Sim... – concordei e a beijei com paixão selando nosso amor para
sempre.
Eu disse que ela se apaixonaria por mim em menos de um ano, não
disse?

**fim**
Sempre amei escrever desde criança e minhas histórias são sempre
romances intensos sobre pessoas que acreditam no amor e tem a esperança de
que tudo pode dar certo. Não perder a fé é o segredo de existir.
Espero que seu coração tenha ficado quentinho com esse romance
entre Bradley e Valery, e seus sobrinhos Amanda, Cassy e Oliver. Uns
queridos que tive o prazer de dar a vida. Obrigada pela oportunidade de
conhecerem meu trabalho!
Até a próxima!
Carrie London 2021

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