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Copyright© 2023 Laurih Dias
 
Mansão Eros 03
UM CASAMENTO PARA O BILIONÁRIO
1ª Edição
 
Equipe Editorial:
 
Capa:
HB Designe Editorial
 
Diagramação:
Laurih Dias
 
Revisão Ortográfica:
Luhana Andreoli
 
°°°
 
 
Revisado de acordo com a Nova Ortografia da Língua Portuguesa.
 
Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas. Nomes,
personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora.
Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.
Todos os direitos reservados.

É proibido o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte dessa obra,


através de quaisquer meios — tangível ou intangível — sem o consentimento escrito da
autora. Criado no Brasil.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº. 9.610/98 e punido
pelo artigo 184 do Código Penal.
 
Índice
SINOPSE
Prólogo
- 01 -
- 02 -
- 03 -
- 04 -
- 05 -
- 06 -
- 07 -
- 08 -
- 09 -
- 10 -
- 11 -
- 12 -
- 13 -
- 14 -
- 15 -
- 16 -
- 17 -
- 18 -
- 19 -
- 20 -
- 21 -
- 22 -
- 23 -
- 24 -
- 25 -
- 26 -
- 27 -
- 28 -
- 29 -
- 30 -
- 31 -
- 32 -
- 33 -
- 34 -
- 35 -
- 36 -
Epílogo
Agradecimentos
Próximo Lançamento:
Desafiados – Um amor para o Mulherengo
Um Herdeiro para o Magnata
Um CEO Inesquecível
Série Felizes para Sempre
Desvenda-me
Um CEO em meu Destino
Redes Sociais da Autora
 
SINOPSE
 
Ele precisa casar...
Ela precisa de dinheiro...
Um acordo de casamento seria a saída para os dois?

Caio Conti, um mulherengo nato. Leva a vida de maneira leve


e divertida. Porém é muito responsável quando se trata sobre a
empresa de sua família. Ele se preparou a vida toda, para tomar
conta dos negócios, e sabe que é o melhor a assumir o cargo de
CEO.
Só não contava com a exigência do seu pai, que não está
nada satisfeito com a vida de que Caio leva. Assim, ele diz que Caio
só poderá assumir os negócios se for mais responsável e parar com
suas farras, e mulheres que não duram um dia em sua cama.

Caio, então, vai em busca de uma esposa de aluguel. Para


ele, nada melhor que um casamento de conveniência. Nada poderia
dar errado.

Assim tem a brilhante ideia de fazer uma proposta para a filha


de seu motorista, que está precisando de dinheiro para o tratamento
do seu pai.

Só que a atração que sente pela moça é explosiva.

Será que Caio vai seguir com o plano de ficar casado apenas
por dois anos?

E Lara? Vai resistir a beleza avassaladora e charme de Caio?


Descubra nessa comédia romântica, recheada de
sensualidade e algumas intrigas...
 

 
 
“O prazer pode apoiar-se sobre a ilusão, mas a felicidade
repousa sobre a realidade.”
Sébastien-Roch Chamfort
 

 
Prólogo
 

Caio

I
sto aqui é
o
paraíso...
 
 
Mansão Eros, onde você é livre para o prazer, sem culpa,
sem amarras...
Chego e já olho de um lado para o outro, ajeito minha
máscara e aguardo que a porta principal se abra para a mais
elitizada festa do país.
Ninguém faz ideia das pessoas que frequentam as festas do
meu amigo Alexander, o idealizador da Mansão. A Mansão Eros é
como Las Vegas: o que acontece aqui, permanece aqui.
Todos estamos mascarados, para garantir que a nossa
identidade fique segura. Mas, na realidade, muitos se reconhecem.
Porém, jamais se comenta nada fora daqui.
Finalmente a porta se abre. Eu logo sou servido de
champanhe, e, enquanto bebo, vislumbro as pessoas ao redor,
buscando uma mulher para me divertir.
— Encontrou a diversão da noite? — Ouço a voz de Heitor.
Viro-me e dou um sorriso cínico.
— Heitor... eu não curto homens, se pensa em me fazer uma
proposta — digo e bebo mais um gole de champanhe.
Meu amigo solta uma gargalhada, e eu também começo a rir.
— Cara, você perde o amigo, mas não perde a piada —
aponta, sem parar de rir.
Eu sacudo os ombros.
— Eu não perderia a oportunidade de te sacanear —
confesso e volto a olhar ao redor.
— Viu o Alexander? — pergunta.
Balanço a cabeça e aceno.
— Acabei de encontrá-lo. Está ali, conversando com o
William — falo, sorrindo, pois acabo de notar Alexander e William,
que conversam um pouco mais à frente. — Vamos até lá dizer um
oi.
Heitor acena, e eu percebo que ele, apesar de tentar
esconder, está aborrecido com algo. É como se ele não quisesse
estar aqui.
Nós nos aproximamos dos nossos outros dois amigos.
— A máscara é apenas para dar a ideia de algo secreto. —
Escuto Alexander falando com William.
— Só ideia mesmo, porque eu já reconheci mais de uma
dúzia de pessoas — digo, e os dois olham em nossa direção. —
Isso sem contar que eu reconheci dois deputados — comento
baixinho.
— E eu juro ter visto a sogra do meu primo — completa
Heitor, fazendo graça.
Nós quatro rimos, e Alexander estende sua taça.
— Aos mosqueteiros e ao sucesso de mais uma festa! —
brinda. Embora tenha o semblante fechado, parece animado.
— Que o Alexander possa sempre nos presentear com suas
putarias! — falo, dando risada.
Alexander me olha e entorta a cabeça.
— Meu caro, minhas festas não são putarias, são apenas
uma maneira de fugir da dura realidade. Na verdade, eu só faço
uma boa ação — diz, debochado.
— Um brinde ao bom samaritano! — William solta e levanta
sua taça.
Continuamos a rir. Alexander se vira para ele.
— Você disse que não vinha, o que o fez mudar de ideia?
William olha em volta.
— Eu não sei. Resolvi vir de última hora. Amanhã viajo para a
Índia para encontrar minha mãe. Eu queria estar com meus amigos
antes de ir — conta.
Heitor esbarra em seu ombro.
— Ver os amigos mesmo... ou participar de algumas orgias?
— pergunta, malicioso.
— Confesso que eu também não pretendia vir, mas depois do
meu dia hoje, apenas foder uma mulher, sem restrições, pode me
aliviar — digo, pois tive um dia duro na empresa, e meu tio me irritou
ao extremo.
Eu não sei como meu pai suporta trabalhar com aquele
homem, deve ser um pedido da minha mãe, afinal, tio Pablo, além
de intragável, adora aparecer.
— Então, meus amigos, o que seria de vocês se não fossem
as minhas festas? — pergunta Alexander.
Um dos seguranças se aproxima dele e cochicha em seu
ouvido. Logo meu amigo amarra a cara e respira fundo. O
segurança se afasta, e percebo Alexander chateado.
— Aconteceu alguma coisa? — Heitor pergunta.
Alexander balança a cabeça.
— Um dos convidados ultrapassou os limites. Vocês sabem
como a casa funciona: tudo é permitido, porém, com a autorização
do outro. Não é não! E eu levo isso muito a sério — declara com
raiva na voz. — Preciso resolver isso, então os deixarei. Espero que
curtam a noite. — Ele sai, e todos se afastam conforme ele passa.
— Deve ter sido algo sério — diz William.
— Até mesmo o mais poderoso dos homens tem seus
problemas — Heitor comenta e bebe champanhe.
Eu olho para William.
— É verdade que aquele seu amigo emburrado se casou? —
Pergunto sobre Noah. O cara é famoso e bastante poderoso. Um
viúvo recluso, e causou surpresa quando soubemos que iria se
casar novamente.
— Sim, já faz um tempo. Sua esposa, inclusive, terá um bebê
a qualquer momento — responde.
William, até onde eu sei, é seu único amigo. Noah é um cara
que não cultiva amizades.
Heitor estremece, e eu rio.
— Coitado... — resmunga.
Às vezes Heitor parece muito amargurado. Eu não sei o que
acontece, mas deve ser por causa do pai, que vive lhe dando
problemas, além de destratar sua mãe. Ele não aceita muito bem
isso, e vez ou outra aparece com essa expressão de raiva.
— Terminou o projeto do carro novo? — pergunto para
William, e vejo que ele olha para o lado.
Sigo seu olhar e noto que meu amigo olha em direção a duas
mulheres, que, com certeza, querem diversão. Eu sorrio, bebendo
meu champanhe.
— O carro? Falta projetar o motor — William responde,
distraído.
Eu o entendo, e já está mais do que na hora de encontrar a
minha própria diversão. Olho para o meu relógio com um sorriso
satisfeito.
— Amigo, vou dar uma volta para ver se encontro algo
interessante. De preferência, uma pequena orgia, com direito a
palmadas — declaro e saio pelo salão.
Noto que os convidados começam a se espalhar. Alguns vão
em direção às suítes de troca de casais. Esse tipo de jogo não é a
minha praia, não me agrada saber que outro homem pode estar me
cobiçando.
É claro, aqui não tem nenhum tipo de preconceito. Porém, o
meu negócio são as mulheres, e até quando eu fico com as
casadas, procuro estar com elas longe de seus maridos, pois me
sinto mais à vontade.
— Procurando alguém em particular? — uma voz feminina
sopra atrás de mim. Eu me viro.
Vejo uma mulher com uma máscara roxa. Seu cabelo é
escuro e muito curto. Seu decote expõe os seios volumosos, e com
minha experiência, sei que não são naturais. E quem liga para isso?
Eu sorrio e a como com os olhos, passando a língua pelos
lábios.
— Acabo de encontrar — digo, e ela dá um sorriso muito
safado. — Você me acompanha? Pois quero muito me divertir!
Ela quase cola seu corpo ao meu, e posso sentir o aroma de
seu perfume francês.
— Só se for agora...
— Então, vamos. Uma mulher linda como você não ficará
muito tempo sozinha.
Ela dá uma gargalhada.
Eu seguro sua mão e a conduzo para uma das suítes.
A noite foi perfeita!
Saio da Mansão quando já está quase amanhecendo. João,
meu motorista, já me aguarda e abre a porta para mim. Eu sorrio
para ele, que acena antes de voltar ao volante.
— Direto para casa, senhor Conti?
— Sim, João. Depois você pode tirar o dia de folga. Não vou
precisar dos seus serviços.
Noto seu sorriso pelo retrovisor.
— Okay, senhor.
Eu me recosto no banco e retiro a máscara. Dou um sorriso e
penso em como a minha vida é boa. E ficará ainda melhor, quando
eu assumir o cargo de CEO, daqui a um ano.

A minha vida é realmente perfeita, nada mais me falta.


- 01 -
 
Um ano depois.
 

Caio

A
minha vida era
perfeita, mas agora é
a porra de uma
bomba-relógio pronta para explodir e acabar com todos os meus
planos!

Eu sou o herdeiro de terceira geração da Conti Motores e


Aviações, cresci me preparando para o momento em que herdaria
tudo e finalmente seria o CEO do meu império. Mas meu pai
resolveu acabar com tudo e destruir os meus planos impondo essa
condição ridícula.
Salvatori não tinha esse direito!
— Entenda bem, Caio... — Meu pai se senta à cabeceira da
mesa enquanto jantamos. Minha mãe, ao seu lado. E o infeliz do
meu tio, à minha frente. Sorrindo, vitorioso. — Você sabe que seu
avô faleceu cedo e me deixou uma grande responsabilidade na
empresa. Eu estou exausto, filho!

— Mais um motivo para o senhor me passar suas ações, e


que eu possa assumir como acionista majoritário e o único CEO da
empresa! — Aperto o garfo, estou quase o enfiando no olho do meu
tio, essa cobra peçonhenta.

— Seu descontrole só mostra o quanto você é um garoto


mimado que não está pronto para o cargo! — expressa-se tio Pablo.

Eu bato a mão na mesa, farto de seus insultos.

— Não ouse pensar que pode me desacatar, Pablo!

— Já chega, vocês dois! — esbraveja mamãe, jogando o


guardanapo sobre a mesa. — Caio, você precisa entender o que
seu pai e seu tio estão dizendo. Agir dessa maneira só mostra que
você não é apto para o cargo!

— Eu sou o mais preparado para isso, e vocês só estão me


impedindo porque eu gosto de foder com qualquer rabo de saia, a
minha competência não tem nada a ver! — Levanto-me, a raiva
borbulhando dentro de mim.

— Exatamente! — Meu pai também joga o guardanapo sobre


a mesa. — Um homem incapaz de cuidar de sua família não será
um bom líder em uma empresa. Eu sucedi o meu pai, e seu tio
Pablo tem sido um ótimo acionista ao meu lado. Ele é casado, cuida
bem de sua família e é tão qualificado quanto você.
— Idiotice, todos sabem que ele vive traindo a tia Sandra! —
solto a verdade que esta família se recusa a ver. — Diga logo o que
o senhor quer para me passar suas ações.
— Não fale da minha esposa! — Pablo se levanta, e mamãe
puxa o irmão para se sentar novamente.

Essa cobra nunca me enganou, eu vejo como inveja meu pai


e anseia subir de cargo na empresa para roubar o que deveria ser
meu. Minha mãe é um anjo por não perceber quem é o irmão, e
meu pai é um tolo que se deixa enganar facilmente.

— Eu iria te passar a empresa, mas seu estilo de vida me


desagrada a cada dia — declara meu pai, servindo-se de um copo
de suco. — Case-se em dois meses e o cargo de CEO será seu.
Caso contrário, o Pablo assumirá o meu lugar e você perderá o
direito à sucessão.

Volto a me sentar e me apoio no encosto na cadeira para não


cair. De todos os golpes que meu pai poderia me dar, eu nunca
imaginei que ele fosse capaz de jogar tão sujo. Eu tenho 33 anos e
só tive relacionamentos de sexo, nenhuma mulher chamou minha
atenção o bastante para uma relação amorosa, muito menos foi
capaz de fazer com que eu me interessasse ou me apaixonasse.

O que meu pai pede é impossível, e eu me recuso a jogar no


lixo todos os meus anos de dedicação. Se é um casamento que ele
quer, eu vou dar isso a ele. E que não se iluda pensando que eu
darei também seus preciosos netos. Vou contratar uma esposa de
aluguel por tempo suficiente para a troca de presidente e me
apossar de suas ações para me tornar o acionista majoritário e
único CEO da empresa!
— Está bem, eu me casarei em dois meses! — rosno e volto
a me levantar.
Olho para os meus pais e para o tio Pablo, que exibe uma
expressão de vitória. Respiro fundo, arrasto a cadeira para trás e
marcho para fora da sala de jantar.

— Aonde você vai? Ainda não terminamos! — afirma meu


pai.
Aperto os punhos, controlando a raiva que me queima por
dentro. Sem olhar para trás, respondo:

— Estou indo buscar a minha noiva, eu não tenho muito


tempo.
Eu não escuto sua resposta. Hoje é sexta-feira e eu só queria
encher a cara, porém, sei que preciso controlar a minha ira. Amanhã
será o casamento do Heitor, e eu não posso faltar, já que eu não
pude ir ao casamento do William, entre outros eventos, porque
estava me dedicando à empresa.

Por que só o meu pai não enxerga isso? Ele só vê o meu lado
que adora mulheres e a diversão que elas me proporcionam. Isso
não me define. Eu nunca permiti que a minha vida de devassidão
prejudicasse o meu trabalho na empresa. E embora meu pai não
saiba, eu jamais deixei meus compromissos por causa das minhas
farras.
Com toda certeza o tio Pablo anda o envenenando!

Enquanto desço pelo elevador, envio uma mensagem para


João, meu motorista, pedindo que venha para a frente do prédio.
Espero não ter o atrapalhado em sua refeição, pois costumo
demorar mais quando venho jantar com meus pais.

Assim que atravesso o hall e desço as escadarias da frente


do edifício, noto a SUV preta parar no meio-fio. João desce do carro,
mas antes que possa abrir a porta para mim, eu entro na parte de
trás e jogo a cabeça no encosto, suspirando de olhos fechados.

Ouço a porta bater e continuo na mesma posição.


— Para casa, senhor Conti? — pergunta João, antes de ligar
o veículo.

Ergo a cabeça e aceno, dando um sorriso contrariado.


— Sim, João — respondo, e ele balança a cabeça enquanto
liga o carro. — Você conseguiu jantar?

— Sim. Fui ao restaurante que o senhor me indicou.


Olho para fora e vejo os prédios luxuosos ao redor.

— Pelo menos alguém fez uma refeição digna — murmuro,


zangado.
— Falou comigo, senhor? — João me olha pelo retrovisor,
logo voltando sua atenção para o tráfego.

— Não. Falei comigo mesmo, João.

O trajeto até o meu bairro é rápido. João estaciona em uma


das minhas vagas e desliga o motor, então desce do carro e abre a
porta traseira para que eu saia. Eu abro os primeiros botões da
camisa, sinto-me sufocar. Respiro fundo e solto um bufo.
— O senhor quer que eu o aguarde aqui? — questiona. Eu o
encaro.

João é um senhor de uns 50 anos. Trabalha como meu


motorista há dois anos, e eu o prezo muito. Não por ser um
excelente motorista e atender a todos os meus pedidos sem fazer
cara feia, mas por ser um homem íntegro, que cria a filha sozinho
desde que ficou viúvo, quando a menina tinha apenas seis anos de
idade.

Nós conversamos bastante, principalmente devido ao trânsito


intenso da cidade. Eu reparo que seus olhos brilham quando ele fala
da filha, a qual chama de “diamante”. E eu dou valor a pessoas
como ele, que trabalham duro e, mesmo assim, levam a vida de
modo leve, sem se ressentirem por nada.

O meu motorista é um homem orgulhoso, por isso, muitas


vezes, eu nem preciso dele para dirigir para mim, no entanto, para
lhe dar um extra, eu o recruto.

Aperto seu ombro e sorrio.


— Hoje você está liberado, João. Mas precisarei de você
amanhã, tenho um casamento às onze da manhã — informo, e ele
dá um sorriso.

— Sim, senhor. Estarei aqui logo cedo. Com qual dos carros
pretende ir?
Olho em volta e dou de ombros.

— Pode ser a SUV branca — respondo.

— Amanhã chego cedo para deixá-la preparada, senhor.


Eu balanço a cabeça.

— Vá para casa com o sedan, assim não precisará acordar


tão cedo. — Ele já abre a boca para protestar. — É uma ordem,
João. Além disso, está tarde, e não me agrada que nenhum dos
meus funcionários ande por aí desprotegido — declaro e caminho
até o elevador.

João não tem como argumentar, melhor assim.

Entro em meu apartamento e vou direto tomar uma dose de


whisky. A bebida desce pela minha garganta e sinto que aos poucos
retomo o equilíbrio. Porém, a angústia não cessa. Caminho até a
poltrona e me sento. Bebo mais um gole da bebida e olho para o
teto.

Penso em meu pai e em sua falta de confiança em mim. Eu o


admirei por uma vida inteira. Esse homem me incentivou desde
criança. Ele me levava até a empresa e, com orgulho, mostrava tudo
para mim, dizendo que um dia tudo aquilo seria meu.
Eu me esforcei para seguir seus passos e me tornar o melhor.
Meu pai viu meu esforço, no entanto, de repente, deixou de confiar
em mim. Desde que ficou sabendo que eu não perdia a
oportunidade de comer uma boceta.

Porra, um homem também precisa se divertir! E o fato de ser


casado e ter uma família não quer dizer que tenha aptidão para os
negócios. Entretanto, meu pai acredita que por eu ser mulherengo,
não posso dar conta da empresa, que conheço melhor do que ele
mesmo.
Bebo mais duas doses de whisky, então vou me preparar
para dormir. Elaboro um plano, afinal, eu não deixarei que tio Pablo
e seu filho, aquele parasita, destruam a Conti Motores e Aviações.

Eu vou arrumar uma mulher e me casar. Faremos um


contrato de casamento, e quando eu finalmente tiver a maior parte
das ações, faço questão de ser o CEO e me livrar daqueles dois.

Com esse pensamento, eu adormeço. Mais confiante e certo


de que meu plano é infalível.
- 02 -
 

Lara

E
u termino de
preparar um lanche
quando ouço o
barulho da porta. Dou um sorriso, pois sei que é meu pai.

— Oi, paizinho. Estou aqui na cozinha — falo em voz alta.

Escuto seus passos e olho para a porta. Ele está vestido com
seu uniforme e me olha com carinho.

— Ainda acordada, filha? — Meu pai se aproxima e beija


minha cabeça, então vai até a geladeira e pega a jarra de suco.

Sorrio e sento-me à mesa, e meu pai me serve um copo de


suco geladinho.

— Eu estava estudando, teremos prova na semana que vem


— informo e dou uma mordida no meu sanduíche. Volto a olhar para
ele, que se senta à minha frente. — O senhor ainda vai trabalhar?
— questiono.
O patrão do meu pai tem uma vida muito agitada, e sempre o
chama para ir buscá-lo nos diversos cantos da cidade,
especialmente nos fins de semana, no meio da madrugada.
Meu pai nega com um gesto.

— Por incrível que pareça, não. O Caio foi cedo para casa
hoje, tem um compromisso logo de manhã, então vou buscá-lo.

Eu me espanto, pois sei que seu patrão não é do tipo que


dorme cedo, principalmente numa sexta-feira à noite.

— Milagres acontecem — comento e volto a comer. Então,


olho para o meu pai, que me observa com um sorriso afetuoso. —
Ao menos o senhor poderá descansar mais cedo.
Ele se levanta e arruma a cadeira.

— Filha, eu sou privilegiado. O Caio, apesar de adorar uma


farra, é um homem trabalhador. E você sabe que eu tenho o dia livre
enquanto ele está no trabalho, sem contar que ele não é um desses
riquinhos metidos — defende.

Eu reviro os olhos, meu pai simplesmente adora o patrão. No


fundo, eu sou grata por seu trabalho. O senhor Conti é um homem
generoso, sempre que chama meu pai para o servir fora do horário,
faz questão de pagar muito bem e deixa um carro à sua disposição,
assim papai não precisa se locomover no meio da madrugada num
transporte público, correndo riscos.

— Eu sei, pai, mas fico preocupada quando sai de


madrugada para buscá-lo em suas noitadas.
Papai se aproxima e mais uma vez beija a minha cabeça,
acariciando meus cabelos.

— Filha, eu tenho o emprego dos sonhos. Estou trabalhando


para o Caio há pouco mais de dois anos, mas nunca tive um patrão
que valorizasse tanto os meus serviços. E eu não posso nem sonhar
em perder esse emprego — confessa, e meu coração dá um aperto.

Meu pai me criou sozinho, pois perdemos mamãe para o


câncer. Nunca me faltou nada, e eu sei como ele se preocupa com a
minha educação. Por isso, eu me esforço muito para terminar a
faculdade e conseguir um trabalho na minha área, assim poderei
ajudá-lo e retribuir tudo o que fez por mim.

Eu sorrio para ele.

— O senhor tem razão, pai, eu nunca o vi tão satisfeito por


trabalhar como motorista de gente rica — comento, e ele solta uma
risada enquanto se afasta.

Olho para a mesa e vejo que ele deixou o copo de suco ali.
Tento controlar a minha mania de organização. Por que será que é
tão difícil colocar o copo na pia? Mas consigo controlar a ânsia de
falar alguma coisa e deixo meu pai ir, ele precisa dormir.

Depois de deixar a cozinha organizada, vou para o meu


quarto, e como eu já estudei o suficiente, opto por ler um pouco,
pelo menos até pegar no sono. Estou quase dormindo quando meu
telefone apita. Pego o aparelho e vejo uma mensagem no grupo de
colegas da faculdade.

Eles estão marcando uma saída, e eu sorrio para a troca de


mensagens. O pessoal está animado. Balanço a cabeça e volto a
me deitar. Eu já saí com a galera em algumas ocasiões, para algum
bar da cidade, porém, o cheiro de fumaça de cigarro misturado ao
de bebida me deixa enjoada, sem contar que eu não entendo por
que as pessoas falam tão alto depois de ingerir álcool.

A verdade é que eu não tenho a menor paciência com


pessoas bêbadas. Eu curto um vinho, mas não bebo como se o
mundo fosse acabar. Não tem lógica beber tanto para, no dia
seguinte, estar mal. Mas quem sou eu para falar? Cada um com
seus hobbies. Eu prefiro ler um livro ou assistir a um bom filme, com
uma boa taça de vinho, a sair e me embebedar. Questão de
interesse.

No início da semana, acordo cedo e me arrumo para a


faculdade. Meu pai ainda não saiu, e eu deixo o café pronto para
ele, pois em alguns minutos ele seguirá para o trabalho.

Esse fim de semana foi bastante atípico, pois meu pai, ao


retornar do trabalho no fim da tarde de sábado, não foi mais
solicitado para buscar o patrão em uma de suas saídas.
Será que o pervertido estava cansado das farras? Acho
difícil...

Eu tenho curiosidade em ver o chefe do meu pai. Sei que ele


é jovem, solteiro e não gosta de relacionamentos sérios. Papai é
muito discreto quanto ao senhor Conti. Vez ou outra fala alguma
coisa sobre ele, mas já me contou que os dois conversam bastante.
Porém, não revelou detalhes dessas conversas, o que mostra quão
profissional meu pai é.

Olho para o relógio na parede, preciso correr para pegar o


metrô, ou chegarei atrasada à aula.

Bato à porta do banheiro.


— Paizinho?

Escuto o barulho da água do chuveiro cessar.

— Oi, querida? — responde.

— Vou para a faculdade agora, preciso correr para a estação.


— Não, eu te levo. O Caio só precisará de mim na parte da
tarde, e agora pela manhã levarei seu carro até a autorizada para
verificar um barulho no motor.

Eu fico animada.

— Não vai atrapalhar o senhor?


— Não, meu diamante. A autorizada é bem perto da sua
faculdade.

Assim, eu fico mais tranquila e volto para a cozinha. Eu não


vou dispensar uma carona, ainda mais naquele carro tão
confortável.
Alguns minutos depois, meu pai aparece na cozinha e toma o
seu café. Arrumado para o dia, conta que o senhor Conti pediu que
ele resolvesse o barulho do motor logo pela manhã.

Eu dou uma risada, e meu pai me olha, intrigado.


— Estou rindo porque o senhor ora chama seu patrão de
Caio, ora de senhor Conti, então dá a impressão de que são duas
pessoas diferentes — comento, e ele acena, soltando um risinho.

— Sim, ainda estou me acostumando a isso. O homem agora


cismou de que eu devo chamá-lo de Caio, pois não quer
formalidades comigo — revela, passando a mão pelos cabelos
úmidos, então me olha. — É difícil para mim. Eu trabalhei a vida
toda no meio dessa gente, e sempre os tratei seguindo o protocolo.

— É que seu patrão é diferente, o senhor mesmo vive


dizendo isso — falo e me levanto para arrumar a pia.

— Sim, ele é — murmura.

Eu me viro, ando até a cadeira e pego minha bolsa e meu


jaleco.
— Vamos, pai. Se demorarmos, pegaremos um trânsito
daqueles.

— Sim, claro! — Meu pai lava a sua xícara e seca as mãos,


então vamos juntos até a nossa garagem, que fica na lateral da
casa.

O senhor Conti deve ser um homem desapegado, pois


qualquer outra pessoa jamais deixaria uma SUV nas mãos do
motorista.

Assim que papai entra na rua principal, eu olho para o painel,


que mostra o melhor caminho a seguir.

— O senhor bem que podia me deixar dirigir este carro


qualquer hora dessas — peço, esperançosa.
Meu pai me olha rapidamente, sua expressão é de horror.

— Nem pensar! Por mais que você dirija bem, eu jamais


permitiria que dirigisse este carro sem a permissão do Caio.

Eu sorrio e olho para frente.


— É por isso que ele confia tanto no senhor, pai. Ele pode até
ser um bom patrão, mas com certeza sabe que não se encontra
motorista de confiança em qualquer esquina — comento, orgulhosa.

— E por isso mesmo eu não trairia a sua confiança. Se algo


acontecer e eu perder esse emprego... não gosto nem de pensar.
Na minha idade e com o desemprego por aí, será muito difícil
conseguir uma colocação.

Eu seguro sua mão e sorrio para ele, que nem percebe,


afinal, está concentrado no tráfego à sua frente.

— Eu sei, pai. Eu só queria ver a sua reação ao meu pedido


— confesso e olho para o lado. — Embora seria o máximo dirigir
esta máquina! — completo em voz baixa, e meu pai ri.
Papai me deixa na faculdade e segue para o seu
compromisso. A minha manhã passa rápido entre uma aula e outra,
e à tarde participo de um seminário. Já é quase noite quando eu
saio da faculdade e vou com uma colega de turma fazer um lanche.

— Você fez bem em não ir para o bar na sexta-feira — ela


comenta.

Eu coloco açúcar no meu suco e a encaro, curiosa.


— Aconteceu alguma coisa?
— O Victor simplesmente tomou um porre e deu em cima da
Manu, que estava acompanhada do namorado, mas que também
estava para lá de bêbado.

Arregalei os olhos, espantada.

— Ele não se enxerga mesmo! — aponto, referindo-me ao


nosso colega de classe, que em uma dessas saídas, tentou passar
a mão nos meus peitos.

Lembro-me de que fiquei tão possessa com a sua ousadia


que me levantei e descarreguei minha ira em cima dele. Ele nunca
mais ousou perder o respeito comigo.

— Eu só sei que houve uma confusão e fomos convidados a


nos retirar do bar — conta e começa a rir.

Gabi detalha o que aconteceu, e apesar do Victor ter


aprontado uma das suas, o que ocorreu a seguir foi até engraçado.
Ele conseguiu acabar com a noite de todo mundo, e no sábado ligou
para os colegas se desculpando.

O Victor precisa tomar cuidado, qualquer hora dessas vai


levar uma surra por sua falta de compostura quando bebe.

Gabi e eu ainda permanecemos na lanchonete por alguns


minutos, então, quando escurece, eu vou para casa. Assim que abro
a porta da sala, pego meu celular e vejo que recebi uma mensagem
do meu pai. Eu já até sei que ele vai chegar tarde.

“Olá, minha querida. O Caio tem um jantar e eu vou levá-lo.


Esperarei por ele, pois o restaurante é no Recreio e fica inviável ir
para casa. Cuide-se, meu diamante. ”
Eu não gosto muito quando ele chega tarde, fico com receio
da violência, mas o que me tranquiliza é que o senhor Conti, de uma
maneira ou de outra, não o deixa correr nenhum risco.

Sigo para o banho e penso em como deve ser a vida do


senhor Conti. Ele vive em reuniões, viaja várias vezes no mesmo
mês e ainda tem tempo para ser namorador.

Eu é que nunca iria me relacionar com um homem como ele.


Pelo pouco que meu pai fala, percebo que o senhor Conti é um
tanto prepotente, além de vulgar. Meu pai tenta apaziguar, mas é
notório que o homem gosta de trocar de mulher com uma frequência
assustadora.
E isso é o suficiente para que eu não perca o meu tempo.
- 03 -
 

Caio

A
lguma coisa de muito
errado vem
acontecendo. Meu
pai tem me tratado com frieza, e sinto que a confiança que
depositava em mim já não existe. Ele questiona tudo o que eu faço
na empresa, e em nossa última reunião, com os principais
acionistas, ele simplesmente me ignorou.

Meu pai exige muito mais de mim, e sua aproximação com o


meu tio não me passou despercebida. Eu já estou tão paranoico que
até acho que os funcionários do meu setor também estão
confabulando contra mim. Mas sei que isso é coisa da minha
cabeça.
Quanto ao tio Pablo, esse sim está planejando algo. Ele quer
assumir a empresa, tenho certeza, então vem se aproveitando do
cansaço do meu pai para dar o bote. E ele sabe que eu saquei qual
é a dele, por isso me quer fora do seu caminho; para isso, faz
qualquer coisa.
O pior de tudo é que meu pai não confia em minha palavra,
ele prefere acreditar no cunhado.

Vou até a sala de meu pai, que se encontra sozinho enquanto


lê alguns papéis. Quando percebe que alguém entrou, levanta a
cabeça, e ao constatar que sou eu, noto sua expressão de
desgosto.

— O que você quer? Pensei que já tivesse ido embora —


aponta e volta a analisar o documento.

Caminho até a cadeira e me sento.

— Eu não sei se o senhor já percebeu, mas eu costumo ser


um dos últimos a sair — friso, pois, meu pai parece ter se esquecido
de tudo o que eu fiz pela Conti Motores e Aviações.

Ele joga o documento em cima da mesa e volta a me encarar.

— Sim, eu sei disso. Mas eu esperava mais de você, Caio,


essa é a verdade. Como meu filho, você deveria dar o exemplo de
respeitabilidade. É triste saber que você não valoriza o que tem.

— Eu não valorizo? O senhor só pode estar de brincadeira...


— respondo e solto uma gargalhada fria. — Desde jovem, eu venho
estudando para me aprimorar. Toda a minha vida foi em função
desta empresa, pois eu sempre almejei representar bem o senhor,
pai — desabafo.

Ele balança a cabeça.


— Sim, você estudou, mas esbanja dinheiro nas suas farras,
e sempre com uma mulher a tiracolo. Até nas revistas de fofoca
você é famoso, o milionário que troca de mulher como troca de
roupa, e muitas dessas mulheres são putas que você paga.

Eu me levanto, indignado. Meu coração bate tão forte que eu


tenho a sensação de que vai explodir.

— Eu nunca, em toda a minha vida, paguei por sexo! —


rosno, com a raiva me dominando. — E não acredito que o senhor,
um homem tão inteligente, possa acreditar nas merdas escritas
nessas revistas!

Meu pai respira fundo.

— Não é questão de ser verdade ou mentira, eu não acredito


nessas porcarias, mas as esposas dos acionistas... bem, elas
acreditam. A nossa família, os nossos amigos e os funcionários.

— Eu não me importo com o que dizem, eu sei a verdade, e o


senhor deveria perceber que está sendo manipulado pelo tio Pablo
— aponto, eu já não sei o que argumentar com meu pai.

— Acontece, Caio, que as aparências importam para essas


pessoas. E pare de falar do seu tio, ele só tem me ajudado.

Passo a mão pelos cabelos e sacudo a cabeça.

— Ajudado... será que o senhor não percebe o jogo dele? —


questiono.

Meu pai se ergue de sua cadeira e bate com as duas mãos


em cima da mesa. A força é tanta que alguns papéis voam até o
chão.
— Não existe jogo, Caio! O que existe é um irresponsável
mulherengo que está levando o nome da empresa para a lama! Eu
não vou admitir que você acabe com esta empresa, então você tem
pouco tempo, meu filho. Ou se casa e constrói uma família, prove
que você mudou, ou continuará onde está. E isso enquanto eu agir
com generosidade, pois até o seu cargo eu posso tirar de você —
assevera.

Então é isso?

Eles querem tirar tudo de mim, mas eu não vou permitir. Eu


possuo algumas ações da empresa, no entanto, meu pai se
esqueceu disso. Ele pode, por meio de votos, tirar o meu cargo de
mim, mas ainda assim eu terei a minha parcela da empresa. E eu
mereço isso, pois trabalhei muito. Embora ninguém tenha notado, fui
eu, com minhas ideias inovadoras, que fiz esta companhia crescer.
Eu não posso permitir que o tio Pablo e o parasita do seu filho levem
a melhor.

Olho para o meu pai, que me encara com ressentimento. Eu é


quem deveria estar ressentido, afinal, sinto-me traído.

— Essa coisa de casamento... então, é verdade, o senhor


está certo disso?
— Mais do que certo.

— O senhor parou para pensar que um casamento não quer


dizer nada? Entre os nossos acionistas, por exemplo, há aqueles
que são casados, têm filhos, mas não respeitam a esposa. Traem! E
ainda há os que que não assumem a verdadeira sexualidade e
levam outra vida fora do casamento — esclareço com voz calma.
Meu pai dá de ombros.
— Eu nunca soube de nenhum que pusesse a nosso nome
no lixo — afirma.

Eu sorrio.

— Então, para o senhor, o que mais importa é a aparência?


Está dizendo que eu devo me casar, formar uma família, mas, se eu
quiser, desde que não seja publicamente, posso continuar saindo
com mulheres aleatórias?
Ele me olha com raiva.

— Não coloque palavras na minha boca, eu não disse isso!

— Pois eu entendi isso, pai. — Volto a me aproximar, coloco


as mãos sobre a mesa e o encaro com seriedade.

— Não fale besteiras, eu mesmo sou um homem fiel, nunca


tive outra mulher além da Marieta desde que ficamos juntos —
afirma.

Eu sei que ele diz a verdade quanto a isso, sei que é


apaixonado pela mamãe, porém, a discussão aqui não é essa.

— Eu nunca me casei, ou quis me casar, porque não sou um


mentiroso hipócrita. Eu não quero deixar a minha esposa em casa e
sair por aí à procura de diversão. Não seria justo, e eu abomino
essa atitude. Eu não preciso de uma aliança no dedo para provar
que sou capaz de algo, porque se isso fosse garantia de talento
para sustentar uma organização, muitas empresas não chegariam à
falência — acentuo, sem tirar os olhos dele.
— Eu até concordo, mas, em alguns casos, um escândalo
abala as estruturas de uma organização — destaca.
Eu aceno. De nada adianta falar com meu pai; qualquer coisa
que eu diga, ele argumenta. Eu poderia rasgar o verbo e contar
sobre alguns empresários do ramo empresarial que são um
exemplo, porém, frequentam a Mansão Eros, sem as esposas, e
gastam rios de dinheiro. Muitos até estão proibidos de voltar às
festas, pois não têm como pagar.
Mas eu não posso fazer isso, pois, por mais que a raiva me
consuma, eu não quero expor ninguém apenas para provar um
ponto, não seria justo. Além disso, existe o contrato de
confiabilidade, certamente Alexander cortaria o meu pau se
descobrisse que eu abri a boca sobre o que acontece nas festas da
Mansão Eros.

Dou um passo para trás e aceno.

— Okay, pai — digo e me viro para sair.

— Aonde vai? — pergunta ele, intrigado.


— Atender à sua exigência — respondo e saio.

Bato a porta e ligo para João, pedindo para preparar o carro.


No momento em que estou guardando o telefone no bolso, a
agenda dispara:
“Festa na Mansão Eros hoje à noite. ”

É disso que eu preciso!


Pego o elevador até a garagem, onde meu motorista me
aguarda com a porta do carro já aberta. Aceno para ele e entro.
Enquanto ele sai com o veículo, envio uma mensagem para
Alexander avisando que, hoje, a noite será pequena para mim.
Enquanto João trafega pela avenida, penso em meu pai, e
não há como não sentir raiva. No fundo, preciso elaborar um plano,
e com a cabeça quente, eu não serei capaz de pensar com clareza.
João chega ao meu edifício e estaciona em uma das minhas
vagas. Antes de descer do carro, eu oriento:

— Mais tarde, vou sair. Faremos aquele arranjo: você me


deixa na mansão do meu amigo, volta para casa, e retorna para me
buscar pela manhã, ou caso eu te ligue antes.

Ele balança a cabeça em concordância.

— Sim, senh... — João para de falar quando vê minha


expressão contrariada. — Pode deixar, Caio.

Eu sorrio e dou um leve aperto em seu ombro.

— Melhor assim — digo e olho para os veículos disponíveis.


— Prepare a SUV branca, pois ela já está cadastrada no sistema de
segurança da mansão do meu amigo, o que facilita a nossa entrada.

— Farei isso agora mesmo — responde ele, com um sorriso


simpático.

— Use o cartão para jantar, e nem pense em me enganar!


Notei que não o tem usado. Esse cartão é para cobrir as suas
necessidades enquanto estiver de serviço. É um direito seu, João!
— advirto, e ele me olha com um sorriso fraco.
— Às vezes, eu trago um lanche, sen... Caio — corrige-se a
tempo. — Os restaurantes daqui, mesmo os mais simples, são
muito caros.
— Não interessa, João. Se eu digo que pode comer nesses
restaurantes, é porque pode. Não discuta comigo. — Olho para o
relógio e me volto para ele. — Agora, vá fazer sua refeição.
Enquanto isso, eu vou me preparar para a noite.

João acena, então eu subo até o meu apartamento. Com meu


motorista, é preciso ser assim; outro, em seu lugar, estaria se
aproveitando das mordomias.

Como combinado, João me deixa na Mansão Eros. Embora


não diga nada, ele não aparenta estar bem. Quando pergunto, João
dá um sorriso e diz que não é nada, só comeu além da conta. Indico
que, caso ele não melhore, procure um médico, e que não se
preocupe comigo, para se cuidar.

João dá um leve aperto em meu braço e sorri mais uma vez.

— Eu estou bem, Caio. Não é a primeira vez que me sinto


assim, logo estarei melhor — diz, confiante.

Eu respiro fundo.

— Se é assim, então... tudo bem.


Coloco minha máscara e me despeço dele.
Olho para a Mansão, tão imponente à minha frente, e suspiro.
Eu ainda estou puto com o meu pai e suas exigências, preciso
comer pelo menos duas bocetas esta noite para tentar esquecer
meus problemas, pois tudo leva a crer que, para conseguir o que eu
quero, precisarei acatar às suas exigências.

Vejo Alexander conversando com uma roda de pessoas. Por


mais que eu me finja de desentendido, sei quem está aqui. Somente
a alta sociedade e os mais exclusivos possuem o direito de entrar
no nosso paraíso particular. Desde que Heitor e William se casaram,
pararam de vir às festas, e isso tem diminuído um pouco a diversão
que é encontrar meus amigos aqui.

No bar, pego uma taça de champanhe, embora precise


mesmo é de uma bebida mais forte. Eu observo ao redor,
procurando por minha presa.

— Você sumiu — diz Alexander, parando ao meu lado e


observando o salão.

— Muitos problemas para resolver.

— Pensei que também iria se afastar por causa de uma


mulher, como o Heitor e o William.

— Eles são dois frouxos que aceitam mulheres mandando


neles.

Alexander ri, e eu o acompanho. Eu adoro a Emilly, esposa


do William, e a Letícia, esposa do Heitor. Ambos passaram por
muita coisa para que pudessem ficar com suas mulheres. No fundo,
estou feliz por eles não estarem aqui, e sim aproveitando suas
famílias.
No entanto, isso não é para mim. Eu gosto de ser livre, e a
ideia de ter alguém mandando em mim ou comer somente uma
boceta pelo resto da minha vida me parece um verdadeiro inferno.

— Você sabe que em breve teremos um jantar com esses


frouxos e suas famílias — comenta e ri, sarcástico. — Quero ver
falar isso na cara deles...

— Falo até na cara da Emilly e da Letícia — resmungo.

— Você nunca teria coragem — diz com voz grossa.


Alexander sabe que não, tudo o que eu menos quero é que meus
amigos voltem a sofrer.

— O que eu sei é que preciso de uma boceta! — Viro a dose


e peço outra. Preciso ficar bêbado e me acabar de gozar.

— Aproveite a festa, mas não esqueça as regras — lembra e


vai embora, deixando-me sozinho.

Logo o Whisky é liberado, e bebo uma dose atrás da outra,


até sentir meus dedos leves e minha mente flutuando entre a
realidade e a fantasia.

Uma mulher de máscara branca e unhas vermelhas puxa


minha mão, levando-me para uma sala particular, onde encontro
mais duas esperando por diversão. E é isso o que eu faço, jogo-me
na orgia gostosa, comendo suas bocetas, uma depois da outra,
fodendo com tanta força que a cama não acompanha minhas
investidas.

Enquanto monto em uma, a outra fica de quatro ao nosso


lado, beijando a amiga e acariciando seus seios. É desta putaria
fodida que eu gosto e preciso. Foda-se quem vai ser minha esposa,
farei um contrato de casamento, com uma cláusula enorme sobre eu
poder transar o quanto quiser. E a mulher que faça o mesmo, que vá
aproveitar a vida.

Só não deixe rastros e tudo ficará bem.

Meu pai me fodeu, e em troca eu vou mostrar a ele que


ninguém pode me controlar. Darei o que ele quer, mas do meu jeito.
No futuro, ele vai desejar nunca ter tido essa ideia maluca. E o tio
Pablo que se cuide, a primeira coisa que farei quando assumir meu
cargo de direito é comprar suas ações e o demitir. Ele que vá para a
puta que o pariu e leve o filho junto.

Termino minha festinha, mas estou tão bêbado que mal


consigo andar. Um dos seguranças de Alexander me leva até a sua
sala, e minha boca saliva quando eu vejo a coisinha miúda sentada
no sofá.

— Minha noiva! — Aponto para a morena de cabelos escuros.

Se for para ter alguém, que seja essa belezinha.


- 04 -
 

Lara
 

E
scuto o barulho da
porta sendo aberta e
vejo meu pai entrar.

— Paizinho, pensei que viesse mais tarde — comento e olho


para o relógio na parede. São quase dez horas da noite.
Meu pai me encara, parece preocupado.

— Está estudando, filha? — indaga.

Eu olho rapidamente para os livros, papéis e o notebook que


estão em cima da pequena mesa que temos na sala.

— Sim. Tenho uma prova daqui a dois dias — conto e volto a


olhar para ele.

Deixo a caneta em cima da mesa e corro para amparar meu


pai, que não parece nada bem.

— O Caio foi para uma daquelas festas que acontecem na


mansão de seu amigo — diz, e noto sua voz arfante. Sua respiração
parece instável. — Eu não estou me sentindo bem, filha. — Meu pai
coloca a mão no coração e faz uma careta. Seu corpo desaba no
chão, e eu não tenho forças para segurá-lo.
— PAI! — grito, sacudindo-o para tentar acordá-lo.

Desesperada e sem saber o que fazer, eu corro para o lado


de fora gritando por socorro. Seu Alceu, nosso vizinho, vem me
ajudar. Com seu auxílio, coloco meu pai dentro do carro de seu
chefe. Eu nem penso em outra alternativa.

Eu não consigo simplesmente chamar uma ambulância e ficar


aguardando, o medo me consome e eu ajo no desespero. Assim,
dirijo para o hospital. Meu vizinho nos acompanha, e eu preciso
agradecê-lo. Se não fosse sua ajuda e a de outros vizinhos, eu não
poderia conduzir meu pai ao socorro.

O rosto dele começa a ficar vermelho, e eu não sei o que


fazer. Mas seu Alceu, com sua calma, tenta me tranquilizar. Subo a
rampa do hospital e paro em frente à porta de emergência.

— Ajudem, meu pai está morrendo! — berro, e os seguranças


correm até o carro.

Enfermeiros aparecem com uma maca e conseguem pegar


meu pai.
— Tire o carro daí, moça — ordena um segurança, que
impede a minha entrada. Eu o encaro com raiva. — Aqui é o acesso
das ambulâncias e carros com pacientes que precisam de
atendimento emergencial.

Ele olha para o carro e franze a testa. Deve estar


estranhando, afinal, é uma SUV de luxo.
— Sim, senhor — respondo de má vontade.

Estico o pescoço e vejo meu pai passando pelas portas do


pronto-socorro. Entro no veículo e não encontro o seu Alceu. Eu
nem vi para onde ele foi. Rodo atrás de estacionamento e encontro
um atrás do hospital. Volto correndo e paro na recepção. Faço a
ficha do meu pai enquanto ele recebe atendimento.

O filho do seu Alceu aparece no hospital, e quando percebo


que eles não poderão ajudar em nada, digo que podem ir e que os
manterei informados.

— Tudo bem, minha filha. Mas, por favor, ligue se precisar de


alguma coisa — fala seu Alceu, e sinto vontade chorar.

Seu filho se aproxima e sorri de maneira solidária.

— A Fernanda pediu para avisar que, se precisar, ela fica


aqui contigo — diz, referindo-se à sua esposa.

Sorrio sem vontade.

— Obrigada. Eu não sei o que faria sem vocês — declaro.

— Amigo é para essas coisas — responde seu Alceu.

Eles, por fim, vão embora, e eu fico sem saber nada sobre o
meu paizinho.

Após ficar sem notícias pelo que parece horas, meu nome é
chamado por uma enfermeira. Eu a acompanho até a ala da
enfermaria, onde encontro meu pai deitado numa cama, com soro e
aparelhos ligado ao seu corpo.

— O doutor já vai vir falar com você — informa e se retira.


Espero pelo médico ao lado de meu pai, ao menos sua cor
voltou ao normal. Por sorte, ele está em um quarto separado, mas
isso também indica que seu estado é delicado e ele não pode correr
o risco de pegar uma infecção.

Eu não sei se fico aliviada, por seu estado estável, ou


preocupada, por não saber o que causou tudo isso.

— Boa noite! — O médio, um homem de meia-idade, entra


segurando uma prancheta, com a enfermeira que falou comigo ao
seu lado. — Sou o doutor Diego Fernandes, cardiologista, e vou
acompanhar o caso do seu pai.

— O que aconteceu com ele, doutor? — Minha voz sai seca.

— Seu pai teve um princípio de infarto. Ainda não


identificamos a causa, mas provavelmente é resultado de alguma
artéria entupida.
Quem vai ter um infarto sou eu! Ainda bem que estou
sentada, ou teria caído no chão com essa notícia. Meu paizinho!
Isso não pode ser real. E eu pedi tanto que meu pai cuidasse de sua
saúde!

Controlo a vontade de chorar, João é a única pessoa que eu


tenho no mundo. Ele me criou com lágrimas, sangue e suor
enquanto trabalhava como motorista particular. Se eu o perder,
ficarei completamente sozinha, e uma parte minha estará morta.
— Quais são os procedimentos agora? — pergunto, limpando
os olhos.

— Antes de qualquer coisa, vamos esperar os resultados dos


exames. Quando os primeiros saírem, vamos fazer novos, para
saber se será preciso uma cirurgia ou se somente a implantação de
um marca-passo será necessária. Enquanto isso, ele não poderá
trabalhar, deve ficar de repouso absoluto pelos próximos dias.

Ficar sem fazer nada? Vai ser a pior coisa para o meu pai. O
homem não consegue parar um segundo! E com seu chefe ligando
para ele 24 horas por dia, será ainda mais difícil manter meu pai
quieto.

— Obrigada, doutor.
— Por enquanto, é só isso. Vamos ver como ele reage à
medicação. Tenha uma boa noite.

O médico e a enfermeira se retiram, e eu fico no quarto


encarando a noite através da janela, sem saber o que fazer para
ajudar meu pai nessa situação. Adormeço numa cadeira
desconfortável, mas desperto com o celular de meu pai tocando.
Vejo o nome de seu patrão na tela e atendo em um pulo.
— Boa noite!

— Venha buscar o senhor Conti! — diz uma voz de comando,


desligando antes que eu possa falar qualquer coisa.

Como eu vou saber onde esse homem está?

Eu não trabalho, estou no último período da faculdade de


fisioterapia, que é particular e paga pelo meu pai. São quase quatro
horas da madrugada, e se ninguém for buscar o senhor Conti, o
homem vai ficar louco.
Ele parece gostar do meu pai, mas tudo tem limites, com
certeza não vai gostar de ficar plantado esperando pelo motorista
sem saber o que está acontecendo.

Será que ele pode demitir o meu pai? Coisa que eu não
posso, nem em um milhão de anos, deixar acontecer. Respiro fundo
e dou uma boa olhada em meu pai. Meu coração se aperta por
deixá-lo sozinho. Encontro uma enfermeira no corredor e explico
que preciso sair, mas que volto o mais rápido possível.

Ela tem um sorriso doce e pede para que eu não me


preocupe, pois, meu pai não acordará tão cedo, e caso alguma
coisa mude, o hospital entrará em contato.

Com a chave do carro em mãos, caminho até o


estacionamento. Eu não faço ideia de onde o patrão do meu pai
está. Entro no carro e o tranco, saindo avoada. Na pista, começo
por procurar no GPS do carro a última localização. Ando apressada
pelas ruas; a esta hora, somente os mendigos estão rondando por
elas.

A localização me leva até uma casa na parte luxuosa da


cidade. Eu me arrependo no mesmo instante da minha escolha de
roupas mais cedo. Estou usando um conjunto de moletom, e meu
cabelo não poderia estar mais bagunçado, e o pior é que nem uma
maquiagem eu tenho para cobrir o rosto.

Engulo em seco e paro diante dos portões da mansão. Os


seguranças, ao notarem a aproximação do carro do senhor Conti,
dão passagem, sem qualquer pergunta. Estaciono perto de outros
veículos e fico na dúvida se devo sair ou esperar aqui dentro.

Mordo o lábio inferior enquanto decido o que fazer. O certo é


ficar no carro e esperar por ele, já que eu não o conheço e não sei
como se parece. Porém, estou muito ansiosa para ficara parada, e
ainda preciso saber se devo esperá-lo em outro lugar.

Droga!

Desço do veículo e observo ao redor. A propriedade é enorme


e ostenta um belo jardim.
Ninguém repara na minha presença. Uma música clássica
pode ser ouvida de dentro da casa. Eu me afasto, pego o celular do
meu pai e ligo para o senhor Conti. Enquanto aguardo, observo as
esculturas de plantas do jardim e as rosas iluminadas pela lua. É
tudo muito perfeito. Se eu morasse em uma casa assim, com
certeza tiraria uma hora do dia para observar as flores.

Estou distraída quando sou abordada por dois homens


enormes trajados de preto. Eles não me deixam falar nada, apenas
seguram meus braços, um de cada lado, e me levam para dentro da
mansão.

— Esperem, deixem-me explicar! — peço, desesperada. —


Eu vim buscar o senhor Conti!

— Um homem é o motorista do senhor Conti, e não fomos


avisados sobre uma mulher! — Um deles aperta meu braço, e eu
fico com medo do que pode acontecer. Esses homens parecem os
mafiosos dos livros que eu leio.

Eles me levam para um escritório, onde um homem me


espera. E, por céus, que homem lindo! Ele também está trajado de
preto, e uma máscara descansa em cima de sua mesa. Tem um
copo de Whisky na mão e o olhar sério.
Eu fico calada enquanto me sentam de frente para ele. A aura
desse cara é ameaçadora, eu quero correr daqui. Maldita hora em
que eu decidi me aventurar pelo jardim! Mas empino o nariz, eu não
vou deixar que ele me veja com medo.

— Estou aqui para buscar o senhor Conti — informo,


tentando mostrar segurança.

— Você não é o motorista dele. — Sua voz é fria, e eu fico


com medo.
Onde eu fui me meter?

— Sou a filha. Meu pai teve um princípio de infarto e está no


hospital — conto, e meu coração se comprime com a lembrança.

O homem me encara com um olhar estreito, sua expressão


não muda.

— Eu sei quem você é, Lara. Filha do João Sant’Ana,


motorista do Caio Conti — exprime, e eu abro a boca, perplexa.
— Como sabe quem sou eu? Como...?

— O como não interessa, moça. Eu sei de muita coisa, nada


me escapa. Agora, conte-me a verdade: por que invadiu a Mansão?
— pergunta novamente, e minhas mãos tremem.

Será que esse homem vai me matar? E por onde diabos está
o senhor Conti?

O estranho, tão imponente e poderoso, prende meu olhar.


Estou apavorada.
— Eu juro que falei a verdade! O meu pai teve um princípio
de infarto...

— Das desculpas usadas para invadirem minhas festas, essa


foi a mais mirabolante. — Sua voz, tão mansa, só me causa
arrepios.

— Eu posso provar! Digo o hospital em que ele se encontra e


o senhor averigua.
— Não tenha dúvidas disso, moça.

Ele faz um sinal aos seus homens.

Minutos se passam, e eu fico com medo de minha morte ser


aqui, mas mantenho a cabeça erguida. As portas do escritório se
abrem, e um homem tão lindo quanto bêbado passa por elas. Ao me
ver, ele fala a coisa mais estranha que eu já ouvi na vida:

— Minha noiva! — Então, aponta para mim.


Em resposta à sua fala sem sentido, o homem à minha frente
dá uma risada alta, que é tão sinistra quanto a sua voz.

— Hoje você bebeu mesmo, Caio, arrumou até uma noiva!

Então... esse homem maravilhoso é o senhor Conti? Por isso


deve ter tantas mulheres!
— Fa... zer o quê?! — Sua voz sai arrastada e embolada. —
Ve... nha, meu a... mor.

— Eu nem te conheço! — exclamo, sem entender nada.

Mas adoraria ser o amor desse homem. Que monumento


mais lindo estou vendo com meus olhos!
O cabelo em um coque samurai, a barba bem aparada, e os
ombros enormes de largos. Suas roupas estão abertas, e que
tanquinho esse homem tem, dá vontade de lambê-lo todinho. Minha
nossa! Eu nunca tive pensamentos tão impuros com um homem,
ainda mais com um desconhecido. Isso sem contar a máscara em
seu rosto, que lhe dá um ar de sedução.

Minhas bochechas queimam e eu desvio o olhar.

— Vim no lugar do meu pai. — Levanto-me e olho para ele,


tentando transparecer segurança. — Vamos?

— Vamos, meu amor...

Ele dá um passo à frente, e com a ajuda de dois homens,


passa o braço ao redor do meu ombro. Eu quase caio com o seu
peso, ainda bem que os seguranças o pegam.
— Tome cuidado, mocinha! — ordena o homem com ar de
mafioso. — Se algo acontecer ao Caio, será a sua cabeça a rolar.

Arregalo os olhos e aceno em positivo.

Com a ajuda dos seguranças, seguimos para o


estacionamento, e os dois colocam o senhor Conti dentro do
veículo.

Com pressa e um passageiro desacordado, deixo o lugar o


mais rápido que posso. Passei por tudo isso e estou viva.

Sigo para a casa dele morrendo de medo de acontecer um


acidente ou estar sendo perseguida pelo mafioso.

Preciso deixar esse homem inteiro em sua casa e voltar para


o meu pai.
Amanhã, com calma, quando o senhor Conti estiver sóbrio,
eu converso com ele e explico a situação do meu pai. Com certeza
ele entenderá, e espero que não fique bravo por eu ter pegado seu
carro sem a sua autorização.

Onde eu estava com a cabeça quando decidi sair pela


madrugada? E ainda dirigindo um carro que vale mais que a minha
casa?

O que aconteceu ao meu pai só pode ter me deixado muito


desorientada. Eu agi por impulso, e agora estou me tremendo toda e
cheia de medo pelo que poderá acontecer ao meu pai quando sair
do hospital.

Eu preciso ser bastante convincente com esse homem!


- 05 -
 

Lara
 

O
bebum mais lindo
que eu já vi na vida
começa a tirar a
roupa no banco de trás do carro. Um calor sem medida me sobe.
Esse homem não tem vergonha? Mas vergonha do quê? Seu corpo
é trincado e cheio de músculos, e a pele morena até brilha. As
pernas são super torneadas, e as coxas grossas são maiores que a
minha cabeça! Aliás, seus braços são maiores que a minha cabeça.
Quantas horas por dia esse monumento passa na academia?

Diminuo a temperatura do ar-condicionado na tentativa de


apagar o calor que me consome por dentro. É a primeira vez que
um homem me desperta dessa maneira. É verdade que meus
colegas de faculdade são lindos, alguns me deixam até babando.
Mas nada se compara a esse homem só de cueca branca, pernas
abertas e um volume gigantesco apontando para a minha direção
enquanto pende a cabeça para trás. E, minha santa mãezinha, ele
está se esticando todo!

O carro balança e eu acordo do meu torpor. Quase perco a


direção do volante por ter olhado para trás. Por sorte, não há carros
na pista a essa hora. Limpo o canto dos lábios, com medo de ter
babado, e mantenho os olhos fixos na pista.

Um som de toque de celular preenche o carro. Eu o observo


pelo retrovisor. O bonitão pega o aparelho no bolso da calça jogada
ao chão, fazendo uma careta, e eu me obrigo a olhar para frente
novamente. Quem liga para alguém a essa hora da madrugada?

— O que você quer? — pergunta em tom rude. — Estou com


a minha noiva, feliz? — grita, e eu me assusto. Ele vai continuar
com essa história de noiva? Quanto esse cara deve ter bebido? —
Eu não estou mentindo, seu velho chato! No fim de semana eu te
apresento para ela. — Desliga o celular.

— Você está noivo? — A curiosidade me vence e eu acabo


perguntando.
— Agora... eu estou! — No mesmo instante eu me arrependo
terrivelmente de ter me dirigido a ele. O gostosão chega para a
frente e segura o meu banco, o cheiro de álcool me deixa enjoada.
— E você, moranguinho, será a minha esposa!

— Nem pensar, eu nem te conheço! — Fico horrorizada. Não


é porque ele é o cara mais gostoso que eu já vi na vida que vou cair
na dele sem nem um beijinho antes. — E moranguinho? De onde
você tirou isso?
— Você cheira a morangos — diz no meu ouvido e inspira
com força em meu pescoço.

Eu sou pega de surpresa com seu ataque e perco o controle


da direção, fazendo o carro bambear para a direita. O susto me faz
gritar e eu paro o veículo, antes que eu bata em um poste de luz ou
em uma árvore e mate a nós dois.

O filho da mãe quase causa um acidente e fica rindo feito um


louco no banco de trás, enquanto eu luto para recuperar o controle
das minhas mãos, que não param de tremer, e acalmar meu
coração.

— Não faça isso, seu maluco! — Bato em sua perna. Que


pele macia e firme! Como isso pode ser possível?

— Você ficou nesse estado só com um cheiro? — Ele limpa


as lágrimas dos olhos e se senta novamente.

— Eu nem te conheço! Como ficaria normal com um ataque


desses? — Meu sangue ferve, eu odeio como ele ri de mim.

Eu não sou uma doce e inocente virgem, mas esse cara está
me tratando como uma, e eu odeio isso.
— Acabei de transar com três mulheres que nunca vi na vida,
não vejo motivo para esse desespero. — Ainda tem riso em seus
lábios, e eu fico com mais raiva ainda.

— Não me interessa a vida sexual de um depravado!

Tiro o carro do neutro e volto para a pista. Desta vez, estou


decidida a me manter focada e não olhar para o bonitão arrogante
no branco de trás, que não para de me encarar pelo retrovisor, com
seu riso bêbado. Até que finalmente joga a cabeça para trás e fecha
os olhos.
O GPS me leva até um condomínio de apartamentos de luxo
em Ipanema. A entrada é liberada assim que veem o carro do
senhor Conti. Procuro por sua vaga, mas não faço ideia de onde
estacionar. Paro ao lado de um segurança e peço por sua ajuda,
explico o que está acontecendo e até mostro meus documentos.

Ele diz conhecer o João, meu pai, e lamenta pelo ocorrido,


pois todos aqui o conhecem e gostam muito dele. Chego a ficar
emocionada, saber que as pessoas reconhecem que meu pai é uma
boa pessoa me deixa muito gratificada.

Depois de ver o estado do senhor Conti, o segurança acena,


então me indica onde ficam suas vagas e me diz o andar de seu
apartamento.

Como eu vou subir até a cobertura com esse homem enorme,


semi- pelado e desmaiado? Eu o cutuco para ver se acorda. Nada.
Mas que inferno! Será que, se eu o deixar aqui dentro, ele morre?
Tipo, é só deixar os vidros abertos e pronto.
Abro os vidros da frente e deixo a chave no colo do peladão.
Ele é muito lindo, mas nunca que, com os meus 1,70m de altura, eu
conseguiria tirar esse monte de músculos de dentro do carro.

Assim, vou embora sem arrependimentos. Pego meu celular


e busco por um carro no aplicativo, mas fico indignada com o valor.
Só porque estou em Ipanema, a corrida custa o dobro. Esses
safados estão achando que eu sou rica, por acaso?
Eu não tenho um tostão, e meu pai passa mal no hospital. O
bebum do seu patrão está desmaiado no banco de trás do carro, e
se ele acordar e se irritar por eu o ter deixado ali, é a cabeça do
meu pai que vai rolar.

— Meu Deus! — Coloco a mão na cabeça e volto correndo


para o carro. Por sorte, ele continua apagado e não percebe o que
eu fiz.

— Ei, segurança?! — chamo um que passa. — Conhece o


senhor Conti?

— Sim, senhora — diz e dá um sorriso. — E a senhora é a


filha do João, não é mesmo? — Eu aceno. — Meu colega acabou
de me contar o que aconteceu. Estimo a melhora dele.

— Obrigada — respondo e faço um grande esforço para não


desabar.
Ele sorri.

— Mas o que a senhora deseja?

Aponto para o carro do senhor Conti.

— Ele está desmaiado de bêbado, pode me ajudar a levá-lo


até a cobertura?
— É claro!

O bom homem consegue tirar o Conti do banco de trás e


vestir suas calças. Esse segurança merece um bônus por tamanha
generosidade comigo.

— Pode deixar, eu o levo. Volte para o seu pai — diz.


Eu agradeço e, sabendo que o senhor Conti está em boas
mãos, peço o carro do aplicativo, mesmo sendo um absurdo de
caro. A sorte é que eu ainda tenho limite no cartão, ou não saberia o
que fazer.

Com toda essa correria, eu não dormi nada. Preciso passar


em casa para pegar algumas coisas para o meu pai e voltar ao
hospital antes que o médio chegue com o resultado dos seus
exames. Peço a Deus que ajude o meu paizinho, que seu estado
não precise de nada muito caro ou que não seja grave. Que possa
ser resolvido com remédios ofertados pelo SUS, ou ainda que o
plano de saúde que o senhor Conti paga aos funcionários cubra
algum tratamento, caso haja necessidade.
Eu sou filha da classe trabalhadora, moro na Tijuca, só faço
faculdade particular porque o SISU custeia 60% da mensalidade, e
os outros 40% são pagos pelo meu pai. Fora transporte, almoço e
material de estudo. E absolutamente nada disso é barato.

Por sorte, meu pai ganha bem trabalhando para o senhor


Conti, e como somos só nós dois, conseguimos administrar as
finanças; sem gastos exorbitantes, mas tendo sempre o necessário.
Eu não sei o que será de nós se meu pai tiver muitos gastos
hospitalares e ficar impedido de trabalhar.
Chego em casa e tomo um banho rápido, então faço uma
pequena mala para mim e outra para o meu pai. Incluo meu material
de estudos, eu não posso me distrair e tirar nota baixa nessa prova,
é a única matéria que estou pegando enquanto faço meu TCC. Foi a
pior coisa que eu fiz, disseram-me que era uma matéria tranquila
para uma optativa, mas o professor é o cão.
Pego um táxi na esquina de casa. É difícil me manter
acordada no trajeto até o hospital, o sol clareia o dia e o cansaço da
noite me domina. No hospital, as enfermeiras me dizem que logo
mais o médico virá com o resultado dos exames, mas pego no sono
antes de ele chegar. Eu só desperto com o doutor me chamando.

— Bom dia — ele diz.

— Bom dia — respondo e limpo o canto dos lábios, com


medo de ter baba.

— O infarto do seu pai foi causado por uma válvula obstruída


no coração. Ela precisa ser substituída por uma válvula artificial, e
será necessária uma cirurgia de peito aberto para isso. Infelizmente,
a lista de espera no SUS está de seis meses, porém, ele poderá
fazer essa cirurgia pelo plano, temos apenas que verificar sua
carência — informa.
Eu aceno.

— Eu não sei ao certo, mas já faz mais de um ano que temos


o plano de saúde.

O médico olha para os papéis em suas mãos.

— Mesmo que seu pai faça essa cirurgia pelo plano, devo
dizer que ele deverá passar por um processo de recuperação, com
medicamentos que não são cobertos pelo plano. E é imprescindível
que ele tenha acompanhamento após a cirurgia.

— Entendo... — respondo, ainda tentando realmente


entender tudo o que está dizendo. — Eu darei um jeito.

O médico ainda fala sobre procedimentos e exames, mas


existe muita burocracia, onde deve ser pedido autorização do plano
para a maioria. E deixou claro que, por mais que seja urgente, nem
sempre o plano de saúde facilita, pois, essa cirurgia é uma das mais
caras.

Quando ele sai do quarto, eu desabo na cadeira,


desesperada. O senhor Conti paga pelo plano do meu pai, que se
estende a mim, mas nós nunca precisamos usá-lo. Eu tenho ciência
da dificuldade que essas empresas impõem, já até soube de casos
em que negaram um tratamento. O paciente precisou entrar na
justiça, e o processo demorou tanto que o coitado não teve tempo,
partiu antes que a causa fosse ganha.

Olho para o meu pai deitado na cama e choro. Enxugo


minhas lágrimas, pensando que eu não sei como farei isso, mas vou
fazer acontecer. De uma maneira ou de outra, ele fará essa cirurgia,
e eu cuidarei dele.

Por meu pai, eu faço qualquer coisa.


- 06 -
 

Caio
 

A
cordo com uma puta
dor de cabeça e o
celular vibrando em
cima da mesa, a claridade das janelas deixando-me cego por um
momento. Cubro os olhos com a palma da mão e me sento,
percebendo que estou no sofá do meu apartamento. Minha garganta
arranha e a sede é infernal, como se eu tivesse passado dias sem
ingerir uma gota de água sequer.

Eu bebi muito ontem à noite e não me lembro de quase nada


do que aconteceu, exceto por uma morena de olhos castanhos e
cheiro de morango.

Recordo com precisão a vontade que senti de morder aquele


pescoço tentador, o jeito como ela suava na minha presença. Seus
olhos me encaravam com luxúria e curiosidade pelo retrovisor do
carro.
O toque do meu celular continua me chamando. Eu o pego
em cima da mesinha. O nome de Alexander aparece na tela, e
atendo seu chamado bufando.
— O que foi? — Minha voz sai rouca e pesada.

Levanto-me e vou ao banheiro, estou quase explodindo de


vontade de mijar. Olho para o meu corpo e percebo que estou de
calças, embora eu tenha lembranças de ter tirado toda a minha
roupa na noite passada, o cheiro de sexo ainda impregnado em
minha pele. Eu não lembro quem foi a responsável por isso, com
certeza não foi a moranguinho.

— Chegou vivo em casa? — pergunta meu amigo, e eu não


deixo de notar a diversão em sua voz.

— Se eu atendi a sua ligação, é sinal de que cheguei. —


Puxo meu pau para fora e me alivio.

Porra, como é bom fazer isso!

— Espero que esse som não seja você mijando enquanto fala
comigo.

— Como se eu nunca tivesse feito isso na sua frente.

Coloco o aparelho no viva-voz e removo minhas calças. Olho


pelo espelho e vejo os arranhões em minha pele. Além de um
chupão no peito. Então, lembro-me vagamente das três mulheres
que comi. Realmente, elas me comeram com força, enquanto eu as
devorava. Gosto assim, sexo sujo e bruto, do tipo que deixa marcas,
e mesmo com o esquecimento do álcool no dia seguinte, eu sei que
me diverti bastante.
— Seu porco imundo, tenha respeito!

— Não sei o que é isso — respondo.

Ligo o chuveiro e começo a tomar banho. Aproveito a água e


lavo a boca, tirando um pouco da sensação de areia da garganta.
Alexander ri do outro lado da linha e fala com outra pessoa, mas eu
não entendo o que dizem.
— A mulher que foi te buscar ontem, você a conhece? —
indaga. — Meus homens seguiram seu carro de longe para garantir
que você não sofresse nada.

— Obrigado pelo cuidado, mas aquela coisinha preciosa não


conseguiria fazer nada comigo. — Começo a me ensaboar,
deixando o delicioso cheiro de sexo ir embora.

— Tenho minhas dúvidas... você estava seriamente bêbado,


como se deixou levar daquele jeito?  — Desta vez, Alexander fala
com seriedade.

— Eu estava precisando beber, e sabia que na Mansão


ninguém me faria mal, principalmente com você por perto.

— Sabe que as festas possuem regras, e você não é uma


exceção. Na próxima que quiser encher a cara, avise, que bebemos
em particular. Mas nunca mais passe dos limites, ou terá sua
entrada proibida! — adverte.

Alexander está certo, eu passei da conta ontem, e por mais


bêbado que estivesse, se alguém quisesse infringir a regra do
consentimento comigo, teria o feito sem muita resistência.
Por sorte, meu amigo com ar de mafioso é o dono daquele
lugar, e ninguém ousaria tocar em mim, em William ou Heitor. Além
do mais, a fama de Alexander o precede. Ninguém, em sã
consciência, ousaria desobedecer às regras da Mansão Eros.

— Voltando à moça, você se lembra de que a chamou de


noiva?  E, para completar, de amor? O que foi aquilo, afinal de
contas? — questiona com cinismo.

É engraçado como eu não consigo me lembrar de quase


nada da noite passada, porém, da moranguinho, eu sei de cada
instante que passamos juntos, desde que eu a vi no escritório de
Alexander.

— Minha mente bêbada misturada à raiva do meu pai, aquele


babaca estúpido.

— Precisa de ajuda com algo?


Resfrio a cabeça no chuveiro, a água gelada batendo em
minha pele para me ajudar a curar a ressaca maldita. Será que o
Alexander poderia me ajudar com aquilo? Uma ideia corta minha
mente, e eu não sei como fui burro de nunca ter pensado nela.
Claramente, resolverá metade da minha dificuldade.

— Preciso que descubra tudo sobre o meu tio Pablo, todos os


seus podres, principalmente o caso com a amante. Quando meu pai
perceber que o cunhado é uma cobra peçonhenta, vai me deixar em
paz.
Desligo o chuveiro, enrolo uma tolha na cintura e começo a
escovar os dentes. Alexander percebe que eu não posso falar agora
e fica calado. Quando termino, ouço sua voz:
— Você sabia que a mulher que te levou ontem, além de sua
noiva, é a filha do seu motorista? — Noto seu sarcasmo.

— Vou procurar saber sobre ela e o que aconteceu com o


João. O homem nunca me deixou na mão.

— Ele está no hospital, ela falou a verdade, eu já averiguei —


responde, seco.
— Você não assustou a moça, não é, Alexander?

Por um instante, eu me preocupo, pois sei como Alexander é


assustador. Assim como sei que é a cara dele investigar as pessoas
próximas a ele, ou até mesmo de seus amigos.
Alexander já era desconfiado, porém, depois que recebeu
uma ameaça, que se estendia aos seus três únicos amigos, ficou
paranoico.

Ele dá uma risada sinistra.

— Não assustei o suficiente. Ela devia estar tão perturbada


com o que aconteceu ao pai que não se deu conta do quanto eu
posso ser perigoso — acentua com voz macia.

Balanço a cabeça.
— Você é louco!

— Então, o que você pretende fazer?

— Vou ver meu motorista e tentar falar com a moranguinho.


— Moranguinho?! — Ele se engasga.

Eu rio.
— Sim. E como você já sabe onde ele está, me passe o
endereço. E não adianta negar, eu sei que você já sabe tudo sobre
o João.

Ouço o suspiro de Alexander.

— Eu deveria fazer você procurar, mas...  — Ele desliga,


dando a conversa por encerrada, bem ao seu estilo.
Eu não sei como posso ser amigo desse homem!

Abro a geladeira e bebo água direto da garrafa, matando a


sede que me consumia. Preparo meu café da manhã, e a morena
torna a invadir meus pensamentos. Eu preciso saber mais sobre
essa mulher, ela será minha noiva. Se eu vou fazer isso, que seja
com alguém interessante e que valha a pena. E aquela morena com
certeza vale.
A minha boca saliva só de pensar em sentir o gosto de sua
pele. Os peitos pequenos devem caber inteiros em minha boca. E
aquela boceta... será que é virgem? Espero que não, por mais que o
pensamento de romper sua inocência me deixe de pau duro. Eu
preciso tê-la em meus braços e matar minha fome com uma foda
dura e alucinante, sem cuidado ou delicadeza.

Tomo meu café e me arrumo para o dia. Ligo para o celular


de João, que somente no terceiro toque é atendido, por uma voz
feminina que não sai da minha cabeça.
— Bom dia, senhor Conti! — Seu tom é sonolento e rouco.

— Bom dia. Qual é o seu nome? — Pego minha pasta e a


chave do meu carro.
— Lara, senhor. — Ela funga, e eu fico preocupado.

— O que aconteceu com o seu pai? Conte tudo.

— Meu pai teve um infarto e precisará de uma válvula que só


pode ser colocada por meio de cirurgia, mas ainda precisamos
aguardar uma aprovação do plano de saúde... — Sua voz embarga,
e eu tenho a estranha vontade de consolá-la. — Eu não sei o que
fazer. — Soluça.

— Em qual hospital vocês estão? Vou até aí resolver essa


situação.

— Jura?

— É claro! Eu não posso deixar o pai da minha noiva morrer.

— C-omo assim?
— Você não se lembra de ontem? Eu disse que você era
minha noiva, e pretendo levar o nosso noivado adiante.

— Você é louco! O meu pai está morrendo e você falando


essas sandices! — grita, e eu afasto o telefone da orelha.

— Quando eu chegar, conversamos melhor. Até daqui a


pouco.

Eu não espero sua resposta, já encerro a ligação. Como


mágica, recebo uma mensagem de Alexander, é o endereço do
hospital. Eu sorrio.

Por essas e outras, eu tenho amizade com esse idiota!

Pego o elevador e desço até o estacionamento. Por sorte,


meu carro não tem nenhum arranhão, ao menos ela consegue ser
boa motorista.
Agora que o João não pode trabalhar, eu vou precisar de um
novo motorista, e imediatamente nasce uma ideia: a Lara pode
trabalhar para mim! Assim, eu poderei tê-la por perto, até convencê-
la a ser minha noiva.
Eu vou usar todos os truques possíveis para fazê-la minha,
no papel e na cama.
- 07 -
 

Caio
 

C
hegando ao hospital,
peço informações
sobre o João na
recepção. Por não ser da família, eu sou obrigado a ficar esperando
até que a Lara decida vir falar comigo e me diga como seu pai está.
A diaba com cheiro de morango só pode querer me torturar com a
sua demora, não tem outra desculpa para ela me deixar plantado
nesta cadeira há mais de meia hora.

Pego meu celular e ligo para o número do João, mas só dá


indisponível. Perdendo a paciência por completo, resolvo apelar
para a moça da recepção. Talvez eu precise usar meu charme, ou
dinheiro, pois me recuso a continuar esperando por notícias neste
lugar. Quando eu pegar aquela diaba, ela verá que não deve brincar
comigo.

— Com licença? — chamo a moça e aproximo meu rosto do


seu. A mulher cora violentamente. — Eu não consigo falar com a
Lara, filha do João. Ela é minha noiva, e eu preciso muito ver meu
sogro. — Aliso seu braço com um dedo. Os pelos de sua pele se
arrepiam e ela se afasta um pouco. Eu me inclino em cima do
balcão, encurtando a distância entre nós novamente. — Você pode
me ajudar a falar com a minha noiva?

— É claro... — diz baixinho. — Vem comigo.

Sem cerimônia, eu a sigo pelo corredor. A moça deve ter seus


30 anos, é malhada e gostosa. Só não se compara à diaba, que vai
ouvir minhas reclamações. Se vamos começar um noivado de
mentira, ela precisa saber quem manda. E se não quiser ser
castigada, terá de obedecer às minhas ordens.

A Lara realmente deve pensar que meu papo de noivado é


coisa de bêbado, mas eu já tenho um plano A para a convencer, e,
se falhar, uso o plano B e todo o maldito alfabeto.

— O senhor João está na enfermaria, neste quarto. — A


moça bate três vezes à porta, mas não temos resposta.
Impaciente, eu giro a maçaneta e entro no quarto, deparando-
me com meu moranguinho dormindo. Ela tem a cabeça apoiada na
cama do pai, a bunda na cadeira de plástico do hospital e uma linha
fina de baba escorrendo pelo canto dos lábios.

Seus cabelos escuros e longos descem como cascata por


suas costas. Anseio por enrolar minhas mãos em seus fios e puxá-
los enquanto eu como essa bunda deliciosa, fazendo-a babar de
prazer por não conseguir manter a boca fechada enquanto geme
gostoso para mim.

— Eu acho melhor voltarmos outra hora... — a moça diz, e eu


volto à realidade.
— Vou ficar. Peça ao médico que passe aqui, eu quero
providenciar a transferência do João para outro hospital.

— Eu soube que a cirurgia que ele precisa fazer é bem cara.


— Eu começo a ficar irritado com o som da voz dessa mulher. — O
pai é motorista, e ela está desempregada...

— Você cometeu um grande erro, querida! — Seguro a porta,


não aguentando mais ouvir as asneiras que saem de sua boca. — A
minha noiva não pagará por nada, eu farei isso, e dinheiro nunca foi
problema para mim.

Fecho a porta na cara da infeliz. Eu nasci bilionário e me


esforcei muito para conquistar o meu lugar de direito. Cresci ouvindo
as pessoas falarem que eu não merecia o dinheiro do meu pai, que
eu era um estorvo sem vergonha e que tinha de me esforçar muito
para merecer o lugar de CEO na empresa.

Meu tio Pablo e meu primo Jairo foram os que mais me


criticaram, mas sou grato a eles; por crescer sendo colocado para
baixo, eu ansiei ser merecedor do que é meu por direito de
nascimento.

Durante a adolescência, eu abdiquei de horas de divertimento


com meus amigos e de namoradas para estudar e conseguir entrar
no curso de engenharia mecânica do MIT.

Eu fui para a melhor universidade nos Estados Unidos e tirei


as melhores notas. Aguentei a xenofobia dos americanos por ser
brasileiro e ter um desemprenho melhor do que o deles. No primeiro
ano, eu só me permitia aproveitar momentos de diversão quando
estava de férias, então percebi que estava perdendo tempo e
comecei a fazer cursos de verão sobre gestão de empresas,
economia e análise de mercado.
Conheci os amigos que tenho hoje no MIT. Todos nós
cursávamos engenharia mecânica, mas em períodos diferentes. O
William entrou por último, pois, na verdade, formou-se na Europa e
estava ali para uma especialização. O Heitor estava um semestre à
minha frente, e o Alexander era o mais perto de se formar.

Durante um jogo do Brasil contra a Inglaterra, nós quatro


estávamos no campus. Cada um assistia à partida em seu celular.
Quando vibramos com o primeiro gol do Brasil, começamos a
conversar. Depois disso, nunca mais nos separamos. Meus amigos
foram a melhor coisa que o MIT me deu. Nós nos divertíamos
juntos, estudávamos e ajudávamos uns aos outros.

O Alexander sempre tinha um ar fechado e um segurança por


perto. Ele pensa que não percebíamos quando brigava com um
“garoto” parrudo e sério demais para ser um simples aluno do curso.

Eu nunca entendi muito bem com o que a família dele era


envolvida, e Alexander sempre manteve isso para si. William e
Heitor eram os mais festeiros, além de os culpados por eu ter me
perdido nessa deliciosa vida de comer uma boceta toda noite. Ou
mais de uma.

Os nossos anos de paz nos Estados Unidos acabaram e cada


um precisou voltar para assumir seu próprio negócio. Até que o
Alexander começou a dar as festas na Mansão Eros, então tivemos
o nosso pequeno paraíso para fuga da realidade novamente.
Quando retornei ao Brasil, eu não peguei um grande cargo na
empresa, pedi ao meu pai que me desse a liderança do pior setor.
Na época, era o de desenvolvimento de motores de grande porte.
Estávamos tendo baixas com os protótipos, que tinham um custo
muito alto de fabricação e venda, mas baixo desempenho e custo-
benefício.
Eu transformei aquela área. Troquei a fornecedora dos
produtos e renovei quase 100% da equipe, contratando profissionais
capacitados. Os que não eram, foram rebaixados para ajudantes,
assim poderiam aprender com os capacitados.

Em pouco mais de três anos, conseguimos lançar motores de


grande porte com baixo custo de combustível e alta rentabilidade
econômica de venda.

Eu transformei o nada em um dos melhores deste país.


Abdiquei de anos da minha vida para estudar e me especializar, e
assim mostrar a todos que duvidavam de mim que eu tinha potencial
para assumir como CEO; não por ser filho do meu pai, mas por ser
o melhor.

De uma carpa, eu me tornei o maior tubarão, e quando eu


finalmente me permiti relaxar e recuperar a diversão dos anos
perdidos, meu pai, mais uma vez influenciado pelo Pablo, começou
com suas exigências cruéis.

Como ele pode ignorar todo o meu esforço, de mais de 20


anos, e exigir de mim a única coisa para a qual eu nunca estive
pronto? Eu não me esforcei todos esses anos para terminar
sonhando com uma vida de casamento e paternidade. Eu quero
mais é aproveitar a recém-liberdade que adquiri.
E agora eu me vejo diante do meu mais novo desafio: fazer
essa mulher que dorme pesado em cima dos braços e em péssima
posição aceitar ser minha noiva por no mínimo dois anos, pois um
ano deve ser só o tempo que durará a transição burocrática do
cargo, principalmente com as taxas que teremos de pagar ao
governo.
Enquanto isso acontece, eu vou dar o casamento dos sonhos
ao meu pai, mas depois que ele não tiver mais nenhuma influência
sobre mim na empresa, eu termino tudo e volto à minha vida de
solteiro, e só pensarei em casamento novamente se me apaixonar,
coisa que nunca aconteceu e que eu duvido muito que aconteça nos
próximos anos.

Sei que preciso de um herdeiro, mas isso não quer dizer que
ele tem de vir agora. Eu sou homem, meus espermas não têm prazo
de validade, posso ter filhos até os 90 anos de idade, para que ter
pressa?
Batidas soam pelo ambiente e a cabeça de um homem
aparece na porta. Acompanhado de uma enfermeira, que segura
uma prancheta, o médico entra e segue para checar os sinais vitais
do João.

— Prazer! — Ele estende a mão para mim. — Sou o


cardiologista Diego Fernandes. Chegou até mim que deseja mudar
o paciente de hospital.

— Isso mesmo. Entre em contato com o Hospital Samaritano


e diga que Caio Conti quer um quarto para um paciente. E peço que
os informe sobre o estado do senhor João, pois quero a
transferência ainda hoje.
O homem quase fica branco quando eu termino de falar, ele
sabe que o tratamento do João no Samaritano não será barato.
Estou cuidando dele não somente porque quero que a Lara aceite
ser minha noiva, mas esse homem tem sido meu motorista nos
últimos anos, fiel e humilde, sempre disponível, sem nunca reclamar
ou demonstrar inconveniência. Eu gosto do João e não deixarei que
ele morra sem fazer nada. No que estiver ao meu alcance, a Lara
aceitando ou não, eu cuidarei do João.
— Eu preciso do consentimento da filha dele para isso —
informa o médico quando se recompõem.

— Lara...? — Balanço seu ombro sem muita delicadeza.


Como ela não acordou com todo esse movimento? — Acorda,
mulher!
— Oi! — Ela pula, limpando os cantos dos lábios, os olhos
vermelhos e cansados.

— Vou transferir o seu pai para o Hospital Samaritano. Assine


o termo de responsabilidade e de autorização da transferência —
ordeno, sem dar tempo para ela pensar.
A diaba fica parada por alguns instantes, limpando os olhos e
raciocinando, ainda dorme em seu torpor. Quando se dá conta de
quem está na sala, pula da cadeira e me olha com espanto.

— Conti?

— Caio. Não precisa ser formal com o seu noivo. — Pisco um


olho para ela, e o médico chama nossa atenção com um coçado de
garganta.

— Vai autorizar a transferência, Lara? — pergunta ele.


— Eu posso conversar com o Caio antes? — pede e se senta
novamente, colocando a mão na cabeça.

— Está sentindo dor? — pergunto, preocupado.

— Na cabeça. — Geme e volta a deitar a cabeça na cama do


pai. — Fale baixo, por favor.

— Traga um remédio para ela — ordeno ao médico, que me


encara com um semblante de descrença. — Sei que é cardiologista,
mas com certeza deve conhecer medicamento para dor de cabeça.

— Eu faço isso! — A enfermeira se adianta e sai da sala,


acompanhada pelo médico.

— Precisamos conversar. — Viro-me para Lara, que continua


com o rosto escondido.

— Fale de uma vez! O que você quer em troca do tratamento


do meu pai? — Tem dor em sua voz, e eu não gosto de ser a causa
do seu desconforto. Meu tempo é curto, e eu não posso me dar ao
luxo de gastá-lo procurando por outra pessoa. A situação dela é
delicada, e eu sou um otário por me aproveitar disso.
— Sinto muito por vocês estarem passando por isso... —
murmuro e me ajoelho à sua frente. Toco em seu ombro, fazendo-a
me olhar. — Eu vou cuidar do seu pai mesmo que você não me dê
nada em troca.

— Por quê? — Sua voz embarga e os olhos lacrimejam.


— Eu gosto do João, e ele é um bom funcionário, eu não o
deixaria desamparado. Espero que você tenha a mesma
consideração por mim... eu preciso da sua ajuda, Lara.
— E como eu poderia te ajudar?

— Case-se comigo em um mês. Eu vou cuidar de você e do


seu pai, e com o casamento, você retribuirá o favor e me ajudará.

— Isso é loucura!

— Apenas diga que sim. — Fico na altura de seus olhos,


aproximando nossos rostos e a prendendo na cadeira com meu
corpo. — Seja minha noiva, Lara, e os nossos problemas serão
resolvidos.

Espero ansioso por sua resposta. Seu cheiro de morango em


meio aos produtos do hospital invade meu sistema e eu esqueço
que deveria persuadi-la somente com palavras, para não a assustar.

Sua respiração batendo em meu rosto, os olhos assustados


encarando meu olhar e minha boca. Se eu chegar um pouco mais
perto, terei seus lábios colados aos meus.

Eu devo ou não fazer isso?, penso antes de tomar uma


atitude.
- 08 -
 

Lara
 
ocê será o meu maior problema — digo

— Vquando não aguento mais a distância entre as


nossas bocas.

Caio quer que eu o beije, fica me tentando com seus lábios a


milímetros dos meus, seu cheiro forte em meu nariz, uma mistura de
loção de barbear cítrica e o maldito odor de homem sedutor.
Ele é muito gostoso e ocupa a lista de homens mais lindos
que eu já vi na vida, sem contar que não saiu um segundo dos meus
pensamentos desde que eu o deixei em seu prédio, e agora eu
acordo com a sua presença dominante no quarto. Eu só precisava
de umas horas de sono, mas ganhei mais perturbação para a minha
sanidade.

Sua mão envolve a lateral de meu pescoço e o polegar


levanta meu queixo. A pegada forte me deixaria de pernas bambas
se eu estivesse de pé. Cedo ao desejo que desponta em meu
interior e fecho os olhos, esperando que seus lábios finalmente
ataquem os meus e acabem com a tortura que nos toma.

— Vai ser minha noiva? — pergunta. Embriagada pelo torpor


que ele me cousa, estou quase cedendo.

Então, a porta se abre e Caio se afasta, encarando com ódio


a enfermeira que entra.

— Eu trouxe a medicação para a sua dor de cabeça. —


Mostra a seringa em sua mão.

Eu gelo, morro de medo de agulhas.

— Não tem em gotas ou comprimido? — Minhas pernas


tremem só de pensar em levar uma espetada de agulha.

— Não, somente injeção. Vamos? O efeito é mais rápido,


minha querida — avalia com voz serena, como se isso fosse me
tranquilizar.

Ela coloca a bandeja em cima da mesinha e pega a seringa.

Minha pressão cai quando eu vejo o tamanho da agulha e


desvio o olhar para longe. Agarro o braço de Caio, buscando forças
para ficar em pé, mas não tenho nenhuma.

A minha cabeça lateja. Enquanto eu era envolvida pela


nuvem que Caio lançou em mim, eu quase esqueci que estava com
dor, mas agora ela torna a atacar, e eu não sei se conseguiria ficar
sem tomar a medicação.

— Levante-se e abaixe apenas um pouquinho a sua calça,


querida, para que eu aplique a medicação. — A voz da mulher é
doce ao proferir as palavras que me arrepiam.
— Você está com medo? — pergunta Caio, usando um tom
de voz suave ao se abaixar e ficar na altura do meu olhar. Eu
balanço a cabeça afirmativamente. — Eu te seguro, vem.
Sem deixar que eu responda, ele me pega no braço e me
coloca de pé. Eu apoio meu corpo contra o seu, que é forte e firme.
Eu nunca me senti tão segura nos braços de alguém como me sinto
agora. É como se a agulha fosse um problema quase inexistente e
eu conseguisse enfrentar qualquer obstáculo. Seu braço rodeia
minha cintura, prensando meu busto contra o seu, enquanto
esmaga meus seios contra seu abdômen sarado, e a imagem da
noite passada torna a invadir minha mente dolorida.

— O senhor abaixa só um pouquinho a calça dela? — A voz


da enfermeira retorna, e eu tenho o ímpeto de correr, mas o aperto
de Caio em minha cintura mina qualquer tentativa de fuga.
— É claro — responde ele, e seus dedos deslizam pelo
elástico da minha calça de moletom.

— Seu tarado — sussurro, e ele dá uma risada gostosa.

— Calma, moranguinho, vou abaixar só um pouquinho. —


Sua boca se aproxima de meu ouvido. — O resto... eu só tiro
quando estivermos a sós. — Ele mordisca a minha orelha, e eu me
encolho em seus braços. Um incômodo agradável entre as minhas
pernas começa a me torturar.

A minha calça é abaixada, e quando estou pronta para bater


nele, uma mordida em meu pescoço me rouba o ar e eu fico
estática, processando a reação explosiva que isso desencadeia em
meu corpo.
Caio me tem refém em seus braços, quase fundindo seu
quadril ao meu. A protuberância enorme que ele tem no meio das
pernas cutuca meu ventre, fazendo-me lacrimejar de vontade de o
ter.

Meu pescoço é meu ponto fraco, às vezes eu acho que sou


capaz de gozar somente com alguém o mordendo. Por isso, eu
evitava que os meninos com quem ficava tocassem nessa região,
eu tinha medo de me entregar ao ardor que isso causa em minha
vagina e acabar me arrependendo.

Agora Caio descobriu direitinho como me deixar mole e


vulnerável aos seus encantos, e isso é a pior coisa que poderia
acontecer. O maldito já deixou claro que quer me ter como sua
noiva, e com certeza em sua cama. Eu não posso dar munição para
ele me controlar, não posso esquecer que ele é um mulherengo.

— Prontinho! Nem foi tão ruim. — Volto à realidade com a voz


da enfermeira e uma coisa gelada pressionando minha bunda
quando minha calça é colocada no lugar.

— C-como? — Viro-me de lado e a encaro. Ela sorri para


mim. — Já?
— Seu noivo sabe como te distrair. Eu já apliquei a
medicação, logo a sua cabeça deve melhorar.

— Obrigada — digo. A enfermeira recolhe suas coisas e


deixa o quarto.
Caio me olha com um sorrisinho convencido, e eu tenho
vontade de estapeá-lo. Antes que minha mão o alcance, o sem
vergonha nos gira, prensando-me contra a parede, e minha bunda
reclama pelo movimento brusco.

Abro a boca para protestar e sou calada pelos seus lábios,


com sua língua tomando posse de mim. Caio pressiona uma perna
em meu centro. Eu não preciso de muito para me entregar ao seu
beijo exigente e molhado, o gosto de sua saliva me fazendo ansiar
por provar mais de seu sabor. Fecho os olhos e deixo que ele faça o
que quiser comigo.

Sua mão envolve meu pescoço e sua coxa pressiona minha


intimidade pulsante. Esfrego meu quadril em sua coxa e o ar
começa a me faltar. Agarro seus ombros e gemo contra a sua boca
até sentir que estou prestes a explodir. Caio me encara por alguns
segundos, e eu tento recuperar o fôlego, mas ele logo retoma o
controle de minha boca. Gemendo e impulsionando seu quadril
contra o meu, eu sou levada ao meu limite, o corpo em chamas e os
sentidos nublados e preenchidos por esse maldito que entrou em
minha vida sem permissão e me fez sua somente com a porra de
um beijo.
Caio me solta e cola a testa à minha. Seus lábios brilham,
molhados, enquanto ele me fita com os olhos castanho-escuros.

— Seja minha noiva, Lara. Nós podemos nos divertir juntos.


— Sua boca desliza lentamente do meu queixo até a orelha. — Eu
prometo que vou amparar o seu pai e te ajudar no que você
precisar. Seja minha! — implora e aperta minha cintura, puxando-me
para mais perto, minha intimidade pulsante contra a protuberância
de sua calça. — Eu sei que você me quer como eu te quero.
— Você está jogando sujo — sopro. Meu quadril traidor roça
contra o seu membro, buscando por alívio.

— Não, o que eu quero fazer com você é sexo sujo. Eu


sempre jogo limpo.

Torna a me olhar e assume uma seriedade que eu não


esperava dele.
— Caio, por favor... — Eu nem sei ao certo pelo que peço. —
Não me torture...

— É você quem me tortura, está me deixando louco! —


Devagarinho, ele vai me soltando, e eu quase não consigo firmar
meu peso.
— Meu pai precisa de cuidados médicos, e eu preciso cuidar
dele enquanto faço faculdade. Eu não sei como poderia ser sua
noiva no meio de tudo isso. — Prefiro ser sincera, pois eu nunca
conseguiria fazer o que ele me pede com tranquilidade.

— Eu vou contratar uma enfermeira para cuidar do seu pai no


pré e pós-cirúrgico. Se você aceitar ser minha noiva, eu assumo
todas as suas responsabilidades financeiras. — Esse homem... ele
não está brincando! Sua voz séria e o olhar decidido me dão essa
certeza, ele só vai parar quando eu disser sim.
— Eu sei que você é um conquistador, tem mulheres lindas...

— Você é linda, Lara — sussurra.


— Você pode estar brincando. Estou num momento sensível
e vulnerável, sem cabeça para pensar direito.
Caio me encara, ainda mais sério. Sinto sua respiração tocar
meu rosto.

— Eu posso ser muitas coisas, Lara, mas não sou canalha de


me aproveitar desse momento apenas para te foder, se é o que está
pensando — rosna, e sei que toquei em um ponto sensível.

— Isso é tão louco!


— Dê uma chance para mim?

Respiro fundo, fecho os olhos e volto a abri-los.


— Deixe-me pensar sobre isso. Entenda que sua proposta é
uma loucura, principalmente neste momento.

Repouso a palma da mão em seu peito e o afasto. Desta vez,


Caio dá um passo para trás, aceitando o meu espaço.
— Eu te darei uma semana! Enquanto isso, você pode dirigir
para mim, no lugar do seu pai. Usaremos esse tempo para nos
conhecermos melhor.

— Meus horários na faculdade e os cuidados com o meu pai


não me permitirão ser uma boa motorista. — Fecho os olhos,
percebendo o quanto estou sendo injusta com o homem que só me
ofereceu ajuda, e mesmo pedindo que eu aceite ser sua noiva, não
colocou isso como uma condição para custear o tratamento do meu
pai.
— Somente esta semana, Lara. Eu vou te mostrar que não
será ruim aceitar a minha proposta. Você me busca em casa e me
deixa na empresa, então vai para a faculdade. Uma enfermeira
cuidará do seu pai, e quando você for me buscar, à noite,
jantaremos juntos. Depois, você pode ir fazer o que quiser.

Mordo os lábios, eu não consigo encará-lo, seu olhar é


intenso e decidido. Eu fico tentada a aceitar, afinal, seriam só
conversas e nada mais, certo?

— Promete que não vai ficar me atacando, se eu aceitar? —


Pareço uma mocinha indefesa pedindo isso.

— Se é o que deseja, eu só o farei se você pedir. — Ele ajeita


a calça e mete a mão no bolso. — Anote o número do seu celular
aqui — pede e me entrega seu aparelho. Eu o pego e digito meu
número. — Espero por você às sete da manhã no meu apartamento,
então te dou o endereço da empresa.

— Eu não disse que aceitei — declaro.

— Pegue um Uber ou um táxi até o meu apartamento —


ordena, como se eu não tivesse falado nada.

Ele pega uma pasta que eu nem havia percebido que caiu no
chão.
— Eu ainda não... — Caio deixa a sala, não escutando o meu
protesto.

Olho para o meu pai na cama do hospital. Vejo meus livros


jogados em cima da mesinha e penso na prova que terei amanhã.
Eu não estou mais no prazo de trancamento do semestre, e, mesmo
o fazendo, terei de pagar uma taxa que não tenho de onde tirar o
dinheiro.
Amanhã eu conversarei com o Caio, verei o que fazer e me
certificarei se a sua proposta é real. Parece que eu estou presa num
pesadelo.

“Se você for minha noiva, eu assumo todas as ruas


responsabilidades financeiras”. Sua frase ronda meus pensamentos.
Se eu aceitar sua proposta, muitas das minhas preocupações
chegarão ao fim.

Eu não posso me esquecer de quem é esse homem. Meu pai


gosta dele, chama-o de namorador, mas sempre procura justificar
suas galinhagens. Meu coração bate com força, eu tenho medo do
futuro. E se o Caio estiver brincando comigo? Eu não quero
alimentar falsas esperanças.

E se ele estiver falando a verdade e realmente quer se casar,


eu preciso agir com frieza e colocar na cabeça que não posso me
envolver. Isso... se eu aceitar. Estou apenas supondo.

Enfim, eu preciso pensar com calma, casamento é algo sério


demais, principalmente com um homem como Caio Conti.
- 09 -
 
Lara
senhorita vai autorizar a transferência do seu
—A pai? — pergunta doutor Diego. Meu paizinho
ainda não recobrou a consciência, e seu
estado tem piorado rapidamente. Mordo as unhas enquanto penso.

Eu posso realmente confiar que o Caio não me obrigará a


retribuir o favor com a história de casamento se eu aceitar a
transferência do meu pai? Depois que ele estiver internado no
Samaritano, não terá mais volta, nunca o deixarão sair antes que se
recupere, e cada dia de internação naquele lugar custará uma dívida
hospitalar a ser paga pelos próximos dez anos. Ou mais.

— Lara? — chama novamente, e eu o encaro.


— Sim, eu autorizo — respondo, antes que me arrependa.

Deixo minhas mãos caírem ao lado do corpo. Não importa


qual será o desfecho, é a vida do meu pai que está em jogo, e ele
não terá outra oportunidade como essa.
Eu sou uma idiota que deveria ter aceitado qualquer proposta
do Caio, independente das consequências, então vou encarar isso
de cabeça erguida.

Menos de uma hora depois, recebo uma enxurrada de


informações.

— O senhor Conti já organizou com o Samaritano o


tratamento necessário para o seu pai, que será internado e cuidado
dentro do plano do Conti, e os demais gastos serão pagos com o
cartão de crédito que ele deixou — informa a mulher que veio
representando o hospital.

Ela deve ter uns 50 anos, veste um terno de saia na cor azul-
escuro. Tem os cabelos presos em um rabo de cavalo elegante no
topo da cabeça, a maquiagem bem-feita e as feições acolhedoras.
Eu não duvido que ela deva se sentir no céu agora por ser a
responsável por levar um paciente que necessita de um enorme
custo médico em seu tratamento.

— Vimos a possibilidade de transportá-lo de helicóptero...

— Helicóptero? — Fico abismada, cortando-a sem querer.

— Sim! Seu pai é um paciente VIP, tem o direito de transporte


na nossa UTI aérea. Porém, levamos tudo em consideração, e como
o Hospital Samaritano não possui heliponto, teríamos de pousar em
outro edifício e depois levá-lo de ambulância — explica com
paciência. — Entretanto, como Botafogo é um bairro próximo, nós o
levaremos na UTI móvel pelo tráfego menos intenso.
— Certo — respondo.

Assim, recolho minhas coisas e as do meu pai. Enfermeiros o


colocam em uma maca, então caminhamos até uma área externa do
hospital, onde uma ambulância nos aguarda.

Com cuidado, eles colocam meu pai em total segurança


dentro do veículo. Eu me sento ao lado da moça, enquanto os
paramédicos monitoram o estado do meu paizinho. A viagem é
tranquila e rápida, estou ansiosa e com o estômago revirando,
talvez pelo nervosismo.

A única dúvida que nubla meus pensamentos é: o que eu


terei de dar em troca disso tudo? Eu não posso ser egoísta e
ingrata, o que o Caio está fazendo pelo meu pai é algo enorme. Ele
conseguiu tratamento no melhor hospital, e não somente como um
paciente normal, mas como um paciente VIP.

Eu nunca terei como pagar o que será gasto, então darei a


ele uma chance. Jantarei com Caio todos os dias e tentarei
conhecê-lo melhor. Eu só espero não me arrepender dessa decisão.

Pego meu celular no bolso da calça e envio uma mensagem


para o seu número.

“ Obrigada por tudo o que fez pelo meu pai. Amanhã eu te


pego às 7h no seu apartamento . ”

A UTI móvel para na rampa de entrada. Eu guardo o celular,


enquanto meu pai é transportado para dentro do hospital.
— Seu pai será levado para fazer novos exames e repetir os
feitos no outro hospital. O cirurgião que cuidará dele é meticuloso e
gosta que tudo seja feito como ele quer. Eu vou te mostrar onde
será o quarto dele, e depois você decide se o espera ali mesmo. E
também te levarei ao Violeta Café, caso queira fazer um lanche. —
Ela toca meu ombro, e eu tenho vontade de chorar em seu colo,
estou exausta. — Sei que não é fácil, mas se precisar de qualquer
coisa, pode me chamar. O senhor Conti nos instruiu a cuidar de
você também.
— Obrigada — digo com voz embargada e desvio o olhar, eu
não quero que essa mulher me veja chorando.

Eu a sigo pelo luxuoso corredor de paredes brancas,


iluminação embutida e portas de mogno que gritam sofisticação. Por
um segundo, eu me pergunto se estou em um hospital ou na ala
presidencial de um hotel cinco estrelas.

É assim que os ricos vivem? Os pobres passam meses ou até


mesmo anos esperando por tratamento, enquanto os ricos
conseguem de imediato e ainda ficam em lugares luxuosos como
este. Sinto-me um grão de areia perdido neste lugar, eu não me
encaixo aqui. Se não fosse pelo Caio, eu nunca colocaria os pés
neste hospital.

Entramos no quarto que será do meu pai. Na porta, seu nome


está escrito em uma plaquinha; lá dentro, uma cama enorme, com
diversos aparelhos, espera por ele. Há também uma cama menor
para o acompanhante, um armário, televisão, uma mesa com quatro
cadeiras, e uma janela com vista para a rua.
Caio realmente não poupou esforços, e cada vez mais eu me
sinto em dívida. Se ele pensar só por um segundo que eu vou me
deixar encantar por todo este luxo e cair em suas garras, está
completamente enganado. Eu deixarei tudo às claras quando
conversarmos.
Ele terá uma semana para me convencer a me casar com ele,
e eu vou fazer questão de abaixar a crista daquele bonitão gostoso
que acha que pode me convencer com luxo e a aura sexy que
exala. É sua personalidade que tem de me convencer, nada além
disso. E eu preciso comprar uma blusa de gola alta, para ele ficar
bem longe do meu pescoço. Nem em mil anos eu posso deixá-lo
descobrir meu ponto fraco.

— Os exames do meu pai vão levar quanto tempo? —


pergunto à moça que esqueci o nome.

— Cerca de três horas.

— Eu vou em casa me trocar e arrumar algumas coisas, se


eu não voltar a tempo...
— Uma enfermeira ficará à disposição dos cuidados do seu
pai. Ele será assistido 24 horas por dia — ela me interrompe, e eu
aceno em agradecimento.

Deixo o hospital sabendo que meu pai está em mãos


capazes. Pego um táxi e volto para casa. Largo as coisas no chão e
caio na cama, apagando quase no mesmo instante.
Um zumbido irritante me acorda. Eu tateio minha calça,
buscando pelo celular. Atendo sem verificar quem é.

— Oi? — Minha voz sai rouca e pesada. Pela janela, vejo que
já é noite.
— Onde você está? Passei no hospital e não te encontrei. —
Olho para a tela do celular e vejo o nome do Caio.

— Em casa, acabei dormindo. — Sento-me segurando minha


cabeça, que voltou a doer.
— Vamos sair para jantar, estou indo te buscar.

Ele desliga antes que eu possa responder. Já são oito da


noite, eu perdi a noção do tempo enquanto dormia. Levanto-me e
vou ao banheiro tomar um banho, não porque o bonitão disse que
iríamos sair para jantar, e sim porque estou cansada e fedorenta,
precisando lavar a alma e mandar embora as dores no corpo. Eu já
aceitei que não farei a prova de amanhã, mas pedirei um atestado
no hospital para justificar a minha falta, assim poderei fazer a
reposição depois.
Coloco um vestido soltinho e um cinto. Vejo uma marquinha
roxa em meu pescoço, no lugar que aquele safado me mordeu. Toco
a região e fecho os olhos, lembrando-me da sensação de ter seus
dentes em minha pele, forte o suficiente para me fazer esquecer o
medo e não sentir a picada da injeção.

Faz anos que eu não saio com um homem, fiz isso


pouquíssimas vezes com meu namorado da época do colégio.
Tínhamos dezessete anos, mas começamos a namorar com
dezesseis. Depois de um ano de relacionamento, decidimos dar o
próximo passo. Foi totalmente sem graça e bastante dolorido. Eu
fiquei um pouco traumatizada, mesmo assim, tentamos outras
vezes. E foi tudo muito ruim, embora não tenha doído tanto.

Logo o namoro acabou, e como eu nunca fui uma pessoa


ligada a sexo, deixei isso de lado, e como sempre valorizei o esforço
do meu pai, decidi me dedicar a estudar. E eu nunca saí do foco...
até agora.
Eu nunca senti com meu antigo namorado o que Caio me faz
sentir. Esse fogo queimando meu ventre e as emoções fervilhando
em minha pele... A ânsia de saber que eu o verei para poder ter um
pouquinho do seu toque, mesmo ciente de que não devo ceder
assim e que ele só quer me usar para conseguir o maldito noivado,
e eu nem sei a razão dessa loucura.

Antes de eu aceitar qualquer coisa, ele irá me explicar o


motivo de ter me escolhido e do casamento. O Caio pode facilmente
ter qualquer mulher apaixonada aceitando de bom grato ser sua
noiva.

Ouço uma buzina, termino a maquiagem com um batom rosa


clarinho e calço meus sapatos. Passo perfume e pego minha bolsa.
Quando terminarmos de jantar, tenho de vir direto para casa e
arrumar as coisas para voltar ao hospital e ficar com meu pai.
Por enquanto, eu vou resolver esse problema chamado Caio
Conti.
- 10 -
 

Caio

E
u não consigo
esquecer o gosto da
Lara e como os
nossos corpos se encaixaram com perfeição quando eu a toquei. A
mulher quase virou uma vela branca quando viu a agulha da
injeção, eu tinha o dever de ajudá-la. Eu posso ter me aproveitado
dela? Com toda a certeza deste mundo!
Eu já estava ficando louco sem tirar uma casquinha daquela
mulher, e agora que eu sei que o João está recebendo cuidados em
um bom hospital e tem uma enfermeira ao seu lado, vou cercar a
Lara até que me dê o que eu quero: sua boceta e aceitar o meu
pedido de casamento.

Eu nunca pensei que fosse difícil fazer alguém cair em meus


encantos, mas a Lara não é uma mulher fácil, sei que vai me dar
trabalho. Pretendo convencê-la em nosso encontro de hoje à noite.
Meu tempo é curto, porém, devo ser sagaz e não a pressionar.
Paro em frente à sua casa e espero que ela saia. A porta se
abre e pernas morenas torneadas brilham contra a luz da varanda.
Um vestido vermelho cai na metade das coxas. Salto alto com tiras
nas panturrilhas... e tudo o que consigo pensar é nessas pernas
enroladas em minha cintura enquanto eu como sua boceta com
vigor.
Lara dá a volta no carro, entra e se acomoda no banco do
passageiro. Eu não consigo desviar meu olhar de suas pernas,
engulo em seco para que minha saliva não escorra. Eu quero
lamber cada centímetro dessa pele, morder e parar em seu centro,
provar o sabor de sua bocetinha.

— Meus olhos estão aqui! — Ela estala um tapa em minha


testa, e eu a encaro.
— Linda! — Aliso seu queixo, sentindo-me enfeitiçado. —
Espero que esteja com fome — completo, tentando sair do meu
estupor.

— Sim, eu não comi nada o dia todo. — Coloca a mão na


cabeça, e eu me preocupo com o seu estado.

— Sua cabeça ainda dói? — pergunto, ligando o motor do


carro.

— Muito. E o cansaço não dá trégua. — Lara encosta a


cabeça no banco e fecha os olhos.

Apesar de maquiada, seu rosto e seu corpo demonstram o


cansaço pelas emoções turbulentas das últimas horas. Respeitando
o seu estado, decido diminuir meus ânimos e a deixar em paz esta
noite. Vou levá-la para jantar e depois a trarei para casa. Eu posso
ser um galinha, mas ainda tenho princípios, sei que seria errado eu
me aproveitar dela enquanto está vulnerável.

— Obrigada por cuidar do meu pai. — Ouço sua voz


embargada. — Eu não sei como te agradecer por isso.

— Não precisa, eu já disse que estou fazendo isso pelo João.

— Mesmo assim, eu nem consigo imaginar quanto você vai


gastar com as despesas médicas.

— Lara, aprenda que dinheiro foi feito para ser usado; se o


deixar guardado, não rende nada e não serve para nada além de
status. E a vida do João vale muito mais que isso.

Ela fica calada, e com o canto dos olhos vejo que se esforça
para limpar as lágrimas em seu rosto. Estico minha mão e seguro a
sua, dando o conforto que ela precisa. Lara não fala nada, continua
em seu choro silencioso até estacionarmos em uma vaga do
restaurante. Quando eu desligo o carro, ela pega um pó na bolsa e
o passa embaixo dos olhos, então funga e sai.

— O que vamos comer? — pergunta, a voz um pouco rouca.

— Este é um dos melhores restaurantes do Rio. — Seguro


sua mão e a levo para dentro. É impressionante como sua palma se
encaixa na minha com perfeição, isso nunca aconteceu antes. —
Vamos deixar o chef nos surpreender? — Tento ser delicado ao falar
com ela, suas emoções devem estar uma bagunça, e eu quero que,
ao menos por ora, ela relaxe.

— Pode ser.
O maitrê nos leva a uma mesa perto da janela. O lugar é feito
em madeira rústica e tem iluminação baixa. Uma banda de jazz toca
no palco do salão. Eu puxo uma cadeira para Lara, que se senta e
me agradece. Sento-me à sua frente e indico que o vinho pode ser
trazido.

— Este lugar é deslumbrante. — Ela olha ao redor.

— O chef é um amigo querido. Tenho certeza que depois de


provar sua comida, você vai se apaixonar e nunca mais vai querer
outro restaurante que não seja este.
— Não é como se eu tivesse condição de pagar por uma
refeição aqui — comenta, então se encolhe, olhando para o prato.

Estendo minha mão sobre a mesa e puxo a sua. Sinto seus


dedos gelados.
— Quando nos casarmos, você poderá comer onde quiser,
sem se preocupar com dinheiro — aponto e pisco um olho para ela.

— Eu não disse que aceitaria ser sua noiva.

— Mas aceitou jantar comigo e ser minha motorista. —


Encaro a imensidão de seu olhar castanho.

— Eu queria conversar, somente isso. — Lara tenta puxar sua


mão, mas eu não deixo.
— Conversaremos. — O garçom chega, interrompendo o
nosso momento. Provo o vinho e indico que pode servir nossas
taças. — Esse vinho vai te ajudar a relaxar.

— Com a cabeça doendo, eu nem deveria beber. — Lara leva


a taça aos lábios, e eu observo como suas feições assumem uma
expressão de surpresa e seu rosto se ilumina com o prazer. — É
delicioso!

— Eu disse... — Arqueio uma sobrancelha e sorrio para ela,


bebendo da minha taça.

— Não vai pedir o nosso jantar?


— O chef sabe que eu gosto que me surpreenda, eu não
preciso pedir.

— Já deve ter vindo várias vezes aqui. — Noto um tom de


acusação em sua voz e me divirto com isso. Lara não é tão imune a
mim quanto gostaria.
— Diversas. — Ela puxa a mão, e eu a aperto firme,
impedindo sua fuga. A minha intenção era dar paz para a Lara e não
a perturbar, mas meus esforços de ser um bom moço são jogados
no lixo quando eu vejo a chama em seu olhar. Ela me deseja, e eu
vou usar isso a meu favor.

— Eu não perguntei, só afirmei. — Empina o nariz. Seu


pescoço fica exposto para o meu olhar, e eu resisto à tentação de
mordê-lo novamente ao notar a pequena mancha roxa que deixei
em sua pele.

— Mas eu nunca trouxe uma mulher, se é o que quer saber.


— Seus ombros relaxam e ela se desarma.

— Imaginei que fosse cheio de namoradas — declara.


— Eu não costumo me envolver em relacionamentos. —
Bebo mais um pouco, e ela me acompanha, a pele de seu pescoço
começando a assumir um tom rosado.
— Por qual motivo?

Tenho vontade de a torturar um pouquinho, embora isso


possa atrapalhar meu plano de fazê-la ceder ao meu charme. Com
Lara, eu preciso ser cuidadoso, ou ela escapa entre meus dedos
como água.

— Passei boa parte do meu tempo estudando, e ter uma


namorada significaria comprometimento e estar disposto a passar
bons momentos com ela. As garotas com quem eu me envolvia não
gostavam da distância emocional. Depois de um tempo, eu comecei
a não me importar o bastante com nenhuma delas para querer algo
a mais.

— Frio como um bloco de gelo! — Lara fecha quase por


completo as pálpebras. — Imaginei que pudesse ser algum trauma,
como um chifre ou um amor não correspondido.

Dou risada do seu jeito de falar e aperto seus dedos,


trazendo-os até minha boca e depositando um beijo no dorso de sua
mão.
— Eu não tenho conhecimento de já ter levado um chifre,
muito menos tive um amor não correspondido. — Dou de ombros,
sendo sincero. É bom conversar com ela. — Eu só nunca me
importei o suficiente.

— Você nunca se apaixonou, isso sim. — Bebe o resto de


seu vinho, e eu finalizo a minha taça. Logo o garçom enche as
nossas taças novamente.
— Pode ser. Você já?
— Quando tinha dezesseis anos, pelo meu namoradinho do
colégio.

— E como foi? — Aliso sua mão.

— Normal. Namoramos por uns dois anos e depois


terminamos. Sem drama, sem complicação. Só normal.
Lara não tem emoção em sua voz, nem raiva ou amor. Foi
alguém que ela superou e que agora não deve significar muita
coisa. Continuo alisando sua mão enquanto a encaro. É difícil estar
perto dela e não a puxar para mim, como tenho o ímpeto de fazer. O
garçom se aproxima com nossa entrada.

— São brusquetas de cogumelo Paris — diz com um sorriso.


— Espero que gostem.

Solto a mão de Lara para podermos comer. Adoro ver suas


feições de prazer quando a comida toca sua língua, é um banquete
para os meus olhos.

— Delicioso! — elogia. Estendo o braço sobre a mesa e limpo


o canto de seus lábios com o polegar, depois o trago até a minha
boca e provo seu gosto roubado.
— Concordo, uma delícia!

— Você é muito descarado. — Seu pescoço fica rosa e ela


desvia o olhar. Dou risada do seu jeito.
— Eu não consigo resistir a você! Que tal fazer o mesmo e se
entregar a mim? — pergunto com meu melhor tom provocativo.
— Qual o motivo de você querer noivar comigo? — indaga,
voltando a me olhar.
Eu sabia que essa pergunta chegaria, e estava cogitando
como daria uma resposta satisfatória que não a fizesse correr para
longe. Limpo minha boca após terminar de comer e tomo um gole
do vinho antes de responder.

— Você sabe o que é viver com um único propósito a vida


inteira e, quando está prestes a conseguir o que você mais almeja,
isso é retirado de suas mãos e posto em risco?

— Não muito, não é como se eu tivesse crescido com


grandes objetivos. — Lara dá de ombros e se apoia na mesa, os
seios ganhando mais volume com o movimento. Fixo meu olhar em
seu rosto, antes que perca o foco. — Eu só descobri que queria ser
fisioterapeuta quando foi o único curso em que passei.
— Uma escolha bem simplista... — Damos risada, deixando o
clima mais leve. — Eu cresci com a pressão de ser o próximo CEO
da empresa da minha família e tendo de provar a todo o instante
que eu era merecedor do cargo, e não o estava ganhando somente
por ser filho do atual CEO.

— Foi muito difícil? — Desta vez, é ela quem segura a minha


mão, e eu aceito o seu conforto.
— Sim, passei longos anos me especializando na área.
Estudei fora e nunca me apaixonei, por estar ocupado demais em
ser o melhor. Meu pai vai se aposentar este ano, e seu cargo seria
passado para mim, mas a cobra do meu tio envenenou meu pai com
a história de que eu não sou digno o suficiente para assumir como
CEO, por causa do meu estilo de vida.
— Você pode ser um galinha, mas uma coisa não deveria
interferir na outra.

Gosto de Lara me defendendo, ela mesma prova ser a melhor


escolha para ser minha noiva.

— Sim, e agora ele me deu o ultimato de que devo me casar


em dois meses, ou meu tio, o perfeito exemplo de marido infiel e
abusador, será o novo CEO da empresa. — Eu não consigo evitar
que a amargura escape com minhas palavras.

— E você não pode fazer nada para impedir isso?

— Não, além de cumprir a maldita exigência. — Aperto sua


mão. — Desde que te vi, senti atração por você, e isso não passa.
Acredito que podemos ser bons um para o outro, só me dê uma
chance de provar isso, Lara. Seja minha noiva!

— Atração não é suficiente para um casamento. — Ela


continua hesitando.

— Eu sei, mas já é um passo. Veja só, estamos conversando


como bons amigos, nada impede de continuarmos fazendo isso
quando casados.

— Eu ainda preciso pensar, Caio. — Ao menos não foi uma


recusa, então levarei isso como uma vitória.

— Lembre-se da nossa semana juntos, vamos jantar todas as


noites...

— Eu sei, não esqueci! — Lara me corta, revirando os olhos.

— Vou te convencer nesses sete dias. — Aperto sua mão e


vejo um pequeno sorriso no canto de seus lábios.
— Lara?! — Uma voz masculina exclama nas minhas costas,
e eu sinto nojo quando, ao me virar, vejo a cara do Jairo, meu primo
e filho do Pablo. — O que faz aqui?

Ele se aproxima de Lara, e está prestes a abraçá-la quando


eu me levanto, colocando uma mão em seu peito. Só então ele nota
a minha presença, seus olhos se enchendo de ódio.

— Não toque na minha noiva!


- 11 -
 

Lara

C
aio é mais decente do
que eu imaginava,
acho que essa é a
melhor definição do que aprendi sobre ele neste jantar. Ele é um
safado que entendeu a minha dor e tentou me proporcionar um
momento de paz para que eu pudesse respirar. Sou grata por sua
atitude e fico tentada a conhecê-lo melhor, conversar mais e me
aprofundar em quem realmente é Caio Conti, sem a fachada do
sem-vergonha galinha.
Ele não vai desistir de me ter como sua noiva, e cada vez
menos eu vejo razões para recusar. Sinto que gosto de conversar
com ele. Eu não tenho namorado ou qualquer interesse romântico
que me prenda, e ter alguém para cuidar de mim enquanto eu cuido
do meu pai seria muito bom.

Alguém para estar ao meu lado neste momento difícil.

Eu não sou muito sociável, tenho apenas um amigo com


quem, talvez, eu pudesse contar agora. Mas ele viajou para cuidar
de alguns negócios da empresa do pai e não tem estado disponível
para conversamos.

Eu queria muito ter com quem conversar sobre o meu pai e a


proposta de casamento do Caio, um amigo que me mostrasse a
melhor saída ou apontasse os erros que eu não consigo ver
sozinha.

Eu não posso ser ingênua e fingir que só existem coisas boas


no Caio, quero poder o conhecer melhor e traçar as linhas de como
seria o nosso envolvimento, para que, no final, eu não acabe com
um coração quebrado pelo homem com o sorriso mais lindo que eu
já vi.

— Vou te convencer nesses sete dias. — Ele aperta minha


mão e sorri.

Meu coração bate forte, pois minha vontade é aceitar sua


proposta de uma vez. Mas tenho muito medo do futuro...
Na realidade, a minha experiência em relacionamentos é
praticamente zero. E o Caio, posso perceber, sem sombra de
dúvidas é um homem sedutor, experiente e cheio de malícia. Se eu
me deixar levar, posso não sair inteira dessa possível relação.

— Lara?! O que faz aqui?


Atrás de Caio, vejo Jairo. Ele tem uma expressão incrédula e
está acompanhado de uma linda morena que, com certeza, odiou
ter seu jantar interrompido para que ele pudesse falar com outra
mulher.

Há dois dias Jairo me disse que estava em São Paulo e que


ficaria a semana toda por lá. Estou surpresa por vê-lo neste
restaurante, afinal, ele me garantiu que me ligaria assim que
retornasse de sua viagem, na próxima semana.

Jairo se aproxima de mim, e eu estou prestes a me levantar


para o cumprimentar e perguntar por que não me disse que estava
de volta, mas uma parede de músculos para à minha frente e
impede o avanço de Jairo.

— Não toque na minha noiva! — Caio vibra a ordem em um


tom de voz duro e pesado.

— O que faz aqui com ele? — Jairo se reporta a mim e dá um


tapa na mão de Caio, retirando-a de seu peito.

— Isso não te diz respeito! — responde Caio, quase


rosnando.

Engulo em seco e observo, sem entender, a disputa entre os


dois. Jairo perderia fácil contra Caio. Meu amigo não chega a 1,80m
de altura, bem mais baixo que Caio. Além disso, ele não é dotado
de tantos músculos, a única coisa que possui é essa expressão
marrenta.

Jairo não tem nada que assuste as pessoas, e isso é uma


das coisas que eu mais gosto nele; seu lado doce e gentil que
sempre me conforta quando eu preciso de um ombro amigo.

— Lara...? — Jairo me chama. — O que esse cara quis dizer


com noiva? — Ele tem chamas no olhar, e eu não sei dizer se é por
Caio o ter irritado ou por saber do meu noivado.

— Vocês precisam parar com essa disputa de macho! — digo


a eles. Eu nunca gostei de confusão, e começo a ficar
desconfortável com essa situação.
Caio me olha com as sobrancelhas franzidas, e eu arqueio as
minhas em uma conversa silenciosa. Com um gesto de cabeça,
indico que ele deve voltar a se sentar, se quiser manter a paz entre
nós. Para o meu alívio, Caio, muito contrariado, senta-se à minha
frente, e o garçom chega com a nossa refeição.

— Tudo bem por aqui, senhor Conti? — pergunta, e com o


canto dos olhos vejo dois seguranças se aproximando.

— Sim, Arthur. Pode dizer aos seguranças que não precisam


intervir, mas chame a equipe de limpeza para tirar esse rato daqui.
Vejo que o garçom prende os lábios para não rir e fico em
choque com sua resposta atrevida, minha boca em um perfeito “O”,
enquanto Jairo cerra os punhos e sua acompanhante tampa a boca,
escondendo o riso.

— Antes rato do que uma barata como você! — responde


Jairo, furioso.
— Vou chamar o gerente, com licença. — O garçom se retira.

— Pelo menos eu não preciso me rastejar atrás da sobra de


outras pessoas. — Caio arqueia as sobrancelhas e olha para a
mulher.

Entendo com seu gesto que ele transou com ela. Um


sentimento ruim se apossa do meu ser.

— Parem agora mesmo com isso! — peço.


— Você ainda não me explicou essa história de noivado... —
Sinto raiva pela exigência no tom de voz do Jairo.
— Caio e eu estávamos conversando sobre isso. — Eu não
quero dar falsas esperanças ao Caio, por isso, eu não posso
simplesmente confirmar essa loucura. É tudo muito novo para mim.
— Não é nada oficial, por enquanto.

— Como você fala isso com essa tranquilidade? — Jairo fica


exasperado, e Caio aperta os punhos. Eu não sei o que rola entre
os dois para deixar Caio desse jeito. Opto por não estragar a noite e
trazer mais dor de cabeça para mim, já basta o desagrado de saber
que Caio dormiu com essa mulher.

— É óbvio que ela está tranquila, seu asno! — Caio rosna, e


eu aperto sua mão, pedindo paciência. — Estamos apaixonados e
vamos nos casar, o que mais tem para saber disso?

Disfarço uma tosse. Caio foi longe demais com essa história
de paixão, mas eu não falo nada.

— Você só está iludindo a Lara! — Jairo aponta o dedo para a


cara de Caio, que se levanta e o encara de cima. — Esse cara não
te ama! — rosna e olha para mim.
A minha vontade é socar esses dois e deixá-los aqui se
matando.

Respiro fundo.
— Jairo, o Caio não está me iludindo — falo a verdade. —
Depois a gente conversa.

— Ele só vai se casar porque o pai o obrigou!


Caio não se controla e segura Jairo pelo paletó.
Levanto-me e seguro Caio pelo ombro. A força com que
agarra Jairo começa a me assustar. Se esses homens brigarem
aqui, eu nunca vou conseguir separá-los. E como diabos o Jairo
sabe disso?
— Parem já com isso! — Puxo Caio, que não cede. Penso
rápido e belisco seu pescoço, fazendo-o encolher-se e soltar Jairo.
— Vocês estão chamando atenção demais, isto aqui não é um
ringue!

— Você precisa saber... — Jairo começa.

— Como diabos você sabe sobre a intimação de


casamento? — eu o interrompo, e ele arregala os olhos, surpreso.

— Você... sabe? — Ele me encara com incredulidade, e Caio


dá risada atrás de mim.
— Você achou mesmo que eu mentiria para a mulher que
amo? — Sua mão pousa possessivamente em minha cintura.

Tenho vontade de revirar os olhos. Mulher que amo?! Ele


exagera demais. Eu não gosto da sua atitude briguenta, menos
ainda que fique provocando o Jairo.

Respiro fundo algumas vezes e viro-me para Caio.

— Por favor, sente-se e pare de arrumar briga. Eu já tive um


dia cheio o suficiente, não acha?
Seu olhar amolece. Meu coração dá um salto, pois vejo
sinceridade ali refletido. Caio encosta os lábios em minha testa, e
parte da minha frustração vai embora ao perceber que ele se
arrepende.
— Desculpe-me por isso. — Senta-se e continua me olhando.

— Conversamos depois, Jairo — digo ao meu amigo, que


continua incrédulo.

— Você não faz ideia de quem é esse cara! — Aponta para


Caio, que tem o ímpeto de se levantar, mas eu o freio segurando
seu ombro.
— E você o conhece de onde? — Arqueio uma sobrancelha.
Eu nunca soube de Jairo ter contato com alguma família rica como a
de Caio.

— Somos primos — cospe as palavras, e Caio ri com


escárnio.

Será que o Jairo é o filho do tio que o Caio mencionou mais


cedo? É a única explicação que eu consigo imaginar para esse ódio
mútuo dos dois... 

— Você nunca me disse que era um Conti, mas um Alencar.


Por que mentiu? — Eu sempre soube que sua família era rica,
contudo, nunca pensei que fosse no nível da de Caio.

— Meu pai é um Albuquerque, sua irmã mais nova é a mãe


do Caio. Eu uso o sobrenome Alencar, da minha mãe. — Ele desvia
o olhar, e eu percebo seu desconforto.

— Depois conversamos sobre isso. — Dou um passo para


voltar a me sentar, mas Jairo segura meu braço.

— Espere, você vai mesmo se casar com ele? — pergunta


com ódio e tristeza.
Jairo está agindo como um perfeito babaca. Ele nunca foi
assim ou demonstrou interesse romântico por mim. Eu não consigo
entender o que desencadeia essa cena toda. E ele ainda conseguiu
estragar a minha noite tranquila.

Fecho os olhos, e, antes que eu possa responder, Caio tira a


mão de Jairo do meu braço e me abraça.

— Vamos comer em outro lugar, você está cansada e já se


irritou demais.
Apoio a cabeça em seu peito, sentindo minhas forças indo
embora. Ele tem razão, eu preciso de um pouco de paz. Olho para o
meu prato, aparentemente é um cozido de pato, com um cheiro
perfeito que me dá água na boca. Seria um desperdício não provar
essa refeição.

— Eu quero comer aqui — digo olhando para Caio, que beija


minha testa novamente. Por um segundo, eu tenho vontade de
morar em seu abraço.

— Lara?! — Jairo me chama, irritado, mas estou sem forças


para brigar com ele.

— Agora não, Jairo! Estou exausta — respondo.

Saio do abraço de Caio e sinto todo o meu corpo trêmulo.


Volto a me sentar, eu não aguento mais uma única emoção.

— Vá embora, antes que eu chame os seguranças! — Caio


ameaça e se senta em sua cadeira.

— Ainda vamos conversar! — Jairo diz e puxa sua


acompanhante, que permaneceu calada do início ao fim.
Mulher estranha...

— Coma primeiro — Caio diz quando eu abro a boca. —


Depois conversamos sobre o que aconteceu.

Pensei que ele fosse me encher de perguntas sobre eu


conhecer o Jairo, no entanto, Caio mais uma vez me surpreende, e
sei que não quer me perturbar.

Nós não falamos sobre o ocorrido pelo resto da noite.


Jantamos em paz e conversamos sobre sua época de faculdade.
Depois da sobremesa, Caio me leva para casa, e quando penso que
poderei dormir tranquila, meu celular toca enquanto ele estaciona
em frente à minha calçada.

— Senhorita Lara, precisamos que venha ao hospital, seu pai


passou mal novamente.

Ah, não!
- 12 -
 

Lara

C
aio dirige rápido pelas
ruas do Rio de
Janeiro, enquanto
sinto minha pressão abaixando conforme o tempo passa. Meu pai
teve outro princípio de infarto enquanto eu jantava e estava longe, e
eu me sinto péssima por tê-lo deixado sozinho em um momento
delicado como esse.
Que se exploda a faculdade ou a ideia de trabalhar dirigindo
para o Caio, além de sua proposta louca. Eu vou ficar ao lado do
meu pai até que ele saia são e salvo daquele hospital.

— Eu não consigo mais fazer isso. — O choro irrompe e eu


escondo a cabeça entre as pernas.

Medo e frustração invadem o meu ser.

— Seu pai vai ficar bem, Lara. A moça disse que foi um
princípio de infarto, rapidamente controlado, e que agora ele está
estável. — Sua mão alisa minhas costas enquanto eu continuo no
meu choro.
Meu peito arde e aperta, eu não consigo controlar as lágrimas
e os soluços. O carro para, e estou prestes a sair, mas Caio tira meu
cinto de segurança e me puxa para o seu colo, embalando meu
corpo em seus braços grandes.

— Chore o quanto precisar — sussurra e alisa meus cabelos.


Seus lábios beijam minhas lágrimas, enxugando uma a uma,
enquanto eu despejo minha dor em seu peito. — O João é um
homem durão, e aposto tudo o que tenho que neste exato momento
ele está lutando com todas as forças para voltar para a diamante
dele.

Como ele sabe que meu pai me chama assim?

Encaro Caio, e ele sorri, apesar de também ter lágrimas nos


olhos. Sua mão desliza em minha coluna, seu gesto me conforta e
ajuda a aliviar minha dor. Fungo três vezes tentando recuperar a
voz.

— Como você... — murmuro baixinho e pigarreio, limpando a


garganta. — Como você sabe que ele me chama assim?
— Eu quero me casar com você, Lara, não somente porque
preciso disso e te acho uma das mulheres mais lindas que já
conheci. — Seu dedo alisa meu maxilar e bochecha, pousando em
meu pescoço. — Eu sei que será perfeita para esse papel pela
maneira como seu pai fala de você. Sempre que tem uma
oportunidade, ele diz o quanto se orgulha de seu diamante.

— O que ele fala? — Fungo.

— Não pense que são só elogios, ele também gosta de


desabafar quando vocês brigam. Lembro-me de uma briga que
vocês tiveram quando ele deixou a toalha molhada em cima da
cama, e por isso você precisou colocar o colchão sozinha para fora.
O João me contou que ficou com tanto medo de você depois daquilo
que nem roupa suja deixava mais no chão. Ele revelou que você
tem mania de organização.

Caio ri, e eu tenho vontade de o acompanhar.

— E você ainda quer se casar comigo? — brinco, mas com


um fundinho de verdade. Ainda é difícil acreditar que esse homem
me quer como sua noiva.

— Você é dedicada, obstinada e um pouco maluca. — Bato


em seu peito, fazendo-o rir. — Você tem um ar de inocência que me
deixa um pouco confuso.

Dou um sorriso.

— Confuso?

Caio acena e acaricia meu cabelo. Ele me olha com


admiração, e sinto meu coração bater alto e forte.

— Sim, pois você é uma mulher tão cheia de energia, no


entanto, passa certa tranquilidade. Além de me deixar
completamente maluco, pois eu sei que você, Lara, não é do tipo
que se arrisca ou sai por aí curtindo a vida só por ser jovem e linda.
E eu admiro isso em você.

Olho para baixo e aceno.

— Eu sou chata, essa é a verdade!


Caio segura meu rosto.
— Não, de modo algum. Você é verdadeira, Lara. Eu preciso
de alguém assim ao meu lado. Não uma mulher-troféu, e sim uma
de verdade, que erra e sabe pedir desculpas, e que repreende
alguém quando necessário. Nós nos conhecemos há menos de 48
horas, mas sinto que te conheço a vida toda, só por ouvir o João
falando de sua amada filha.
— Meu pai também fala de você. — Deito o rosto em seu
ombro. — Do quanto o senhor Conti é namorador... E um ótimo
empresário que precisa encontrar alguém para se aquietar e formar
uma família.

— Eu não acredito que o João fala isso de mim! — Acho


graça do seu tom indignado.

— Não percebeu que eu sempre soube que você era um


sem-vergonha?

— Isso explica muita coisa. — Ele me aperta em um abraço


reconfortante e beija minha testa. — Vamos, precisamos ver como o
João está e pedir para ele parar de nos assustar.
— Certo.

Retorno ao meu assento e pego um lenço na bolsa, limpando


meu rosto borrado pelo choro.

Saímos do carro e caminhamos lado a lado até a entrada do


hospital. O desespero diminuiu, dando lugar ao medo de perder meu
paizinho. Ter o conforto do Caio me ajuda a manter a cabeça no
lugar e não ceder às emoções negativas.

Meu pai vai sair dessa! Eu preciso acreditar e confiar em sua


força de vontade de viver, ele não vai me deixar sozinha.
Assim que atravessamos o hall, somos levados para o quarto
de meu pai. Ele descansa, com um tubo em sua boca para a
respiração. Eu olho para os aparelhos indicando que seus sinais
vitais estão estáveis e desabo no chão, com a cabeça em sua cama.

— Paizinho, por favor, aguente firme! — peço antes do choro


tornar difícil falar.

— Boa noite! — Uma voz feminina soa pelo ambiente, mas eu


não a procuro, não tenho forças para isso. — Sou a cirurgiã
cardiologista Luana Silva e vou cuidar do caso do seu pai.

— A Lara está muito abalada agora, pode tratar comigo —


Caio diz, e eu agradeço internamente por isso.

Eu não tenho condições de tomar qualquer decisão agora.


Caio passa os braços ao meu redor e me carrega até a cama de
acompanhante. Eu me deito nela e descanso a cabeça em seu colo,
afundando o rosto em sua barriga enquanto choro silenciosamente.
— O senhor Sant’Anna teve um princípio de infarto, devido a
uma artéria entupida. Eu realizei uma cirurgia de emergência, uma
angioplastia, dilatando a artéria entupida e colocando um stand,
uma malha metálica que vai garantir a passagem de sangue e
prevenir futuros entupimentos no mesmo lugar.

Cirurgia? Meu Deus, já até fizeram uma cirurgia. Mas como?


Foi tão rápido!
— Ele vai precisar de um transplante? — Caio pergunta,
enquanto eu só sei chorar e pensar na tal cirurgia que a médica
falou.
— Felizmente não. O coração do senhor Sant’Anna está
saudável, na medida do possível, e com os exames realizados mais
cedo, sendo um deles o cateterismo, nós identificamos a artéria
entupida. Infelizmente, antes de podermos decidir qual
procedimento realizar, ele teve o princípio de infarto e eu precisei
recorrer à angioplastia com urgência. Eu já verifiquei o estado das
artérias, e nenhuma apresenta sinais de entupimento ou está
danificada, além da que receberá a válvula. Marquei a cirurgia dele
para daqui a uma semana, às dez da manhã. É o tempo de ele se
recuperar para um processo mais invasivo.
A médica fala com calma e confiança. Aos poucos, eu vou me
tranquilizando e me viro de frente para ela, que me olha com pesar
e dá um sorriso, transmitindo que tudo ficará bem.

— Ele poderá ser operado depois de ter realizado o


procedimento de hoje? — Caio continua colhendo informações.
— Sim. A angioplastia não é um procedimento muito
complicado, não precisamos abrir o João. Por meio de um corte na
virilha, eu tive acesso à artéria femoral, onde inseri um discreto
cateter com um balão até o lugar obstruído e o expandi, firmando o
stand, para garantir que não torne a fechar — explica e olha de mim
para Caio. — Contudo, o estado de saúde dele é delicado, e antes
da cirurgia, precisamos ter certeza de que ele está bem, por isso
será monitorado até a próxima terça-feira e fará uso de medicação.
Se até lá nada incomum acontecer, realizaremos o procedimento, e
o João poderá ir para casa em breve.

Ela sorri e aperta a prancheta em suas mãos.


— Obrigado, doutora Luana — Caio agradece.
— Por nada. Se precisarem de algo, é só um de vocês
chamar uma enfermeira. Agora, verei outros pacientes — informa,
então me olha com seu rosto sereno. — Lara, pode ficar tranquila,
seu pai está em ótimas mãos.
— Obrigada — digo com voz rouca.

Quando ela se retira, eu permaneço onde estou, com Caio


fazendo carinho em meu cabelo. Eu me encolho cada vez mais em
seu abraço, até que estamos deitados na cama, de lado, um de
frente para o outro.
Seu cheiro cítrico em meu nariz me faz relaxar. Toco seu
queixo com a ponta dos dedos, e ele alisa minhas costas e beija
meu rosto ocasionalmente, embalando-me em seu carinho. Até que
o cansaço me vence e eu adormeço.
- 13 -
 

Lara
ara? — Uma voz baixa me chama, vencendo o
—L sono, que luta em me manter dormindo mais
um pouquinho.
— Hum?

— Seu pai acordou. — Desperto em um pulo, procurando


pelo meu pai, que está deitado em seu leito, olhando para mim e
para Caio, ainda deitados abraçados.
— Paizinho! — Pulo por cima de Caio e seguro o rosto de
meu pai, enchendo-o de beijos. Sua expressão suaviza. — Eu fiquei
com tanto medo. — Eu não sei se posso o abraçar, então me
contenho e só o inspeciono, para ver se está tudo bem com ele.

— Estou bem, meu diamante. — Sua mão treme ao subir até


meu rosto, e eu a cubro com a minha. — Não precisa chorar.

— Isso foi o que ela mais fez nos últimos dias. — Caio surge
ao meu lado e segura meu ombro. Sento-me na cama de meu pai,
sem forças nas pernas, de tamanha felicidade por ele ter recobrado
a consciência.

— Como isso aconteceu? — Meu pai aponta de mim para


Caio.

— Ele tem me ajudado a aguentar firme. — Aperto a mão de


Caio. E eu não minto quanto a isso; se não fosse por ele, eu estaria
perdida. — O Caio conseguiu a sua internação neste hospital e tem
me mantido alimentada.

— Obrigado por isso. — Meu pai estende a mão trêmula para


ele.

Caio a segura com delicadeza e sorri para o meu paizinho.


— O senhor sempre cuidou de mim, desde que passou a ser
meu motorista, eu nunca o deixaria desamparado. E ao seu
diamante.

Enxugo o canto dos olhos, tocada pela sinceridade de Caio.


Ele também estava preocupado, e fora a proposta de casamento, eu
já percebi que as coisas para ele andam difíceis, e mesmo assim ele
conseguiu tirar um tempo para cuidar de meu pai e de mim.

— Agrada-me saber que o senh... que você está cuidando da


minha filha. — Meu pai suspira, e eu fico preocupada. Ele levanta a
mão, indicando que não foi nada. — Estou bem, somente um pouco
tonto.

— Vou chamar a enfermeira. — Caio sai, sem esperar por


resposta.

— Que dia é hoje? — meu pai pergunta.


— Terça-feira.

— O que está fazendo aqui? Você tem uma prova. — Ele


tenta se sentar sozinho, mas começa a tossir. Empurro seus ombros
contra o colchão para que se apoie.

— Vou fazer reposição, não se preocupe. Eu não teria cabeça


para estudar com o senhor desse jeito, pai. — Seguro sua mão.
— Seus estudos devem ser prioridade, minha filha.

— Nada é mais importante que o senhor, e pare de ser


teimoso — declaro, fingindo estar zangada.

— Bom dia! — A enfermeira entra no quarto com um sorriso


radiante. Caio a acompanha, e só então eu percebo o seu estado.

A camisa amassada e os tênis mal amarrados nos pés, os


olhos avermelhados, o cabelo bagunçado, como se não visse um
pente há dias. E mesmo cansado, ele continua aqui. É muito difícil
não amolecer ao perceber o seu empenho e preocupação com meu
pai.

— Bom dia — cumprimento a enfermeira. — Ele acordou faz


pouco tempo, tem tossido e está cansado.

— É esperado que ele fique cansado, devido ao coração não


estar operando em sua capacidade total e enfraquecido. Isso afeta a
respiração e as reservas de energia do corpo. Após a cirurgia, vai
melhorar aos poucos. É claro que vai precisar de repouso total e
sessões de fisioterapia para se recuperar.

— Por quanto tempo ficarei sem trabalhar? — pergunta meu


pai, e eu percebo sua preocupação.
— O quanto for preciso — Caio responde severamente. —
Nem pense que eu o deixarei dirigir nesse estado.
— Tenho de trabalhar para garantir o sustento da minha
família, rapaz, e um hospital como este não se pagará sozinho. —
Franze as sobrancelhas, e eu tenho vontade de esfregar sua testa
até que ele fique tranquilo.

— O senhor não pode passar por estresse — acentua a


enfermeira. — Todo cuidado é pouco neste momento. Depois, e com
calma, poderá ver a questão trabalhista. — Ela verifica seus olhos e
pulsação, então sorri. — Vou pedir para trazerem seu café da
manhã, e logo a médica passará para informar como será a cirurgia
e a recuperação.

Quando a enfermeira se retira, Caio se aproxima da cama.


Fica ao meu lado e aperta meu ombro de leve, dando-me um sinal
para permanecer tranquila. No fundo, eu não sei o que se passa por
sua cabeça, só tenho certeza de que meu pai é prioridade, e
embora goste do Caio, eu noto seu olhar de preocupação com a
nossa proximidade.

— Eu já cuidei de tudo com a Lara, sou eu quem está


pagando pela sua internação, cirurgia e recuperação. — Meu pai
abre a boca para responder, mas Caio o interrompe com um gesto
de mão. — Por favor, não recuse ou se faça de durão, a situação do
senhor é delicada, precisa ser operado quanto antes. Já teve dois
infartos, e a Lara não vai aguentar passar por isso novamente. Ou
pela dor de uma perda... aceite a minha ajuda! Pela sua filha, se não
conseguir fazer por si mesmo.
Papai acena, parece derrotado.
— Obrigado, rapaz! — Ele abaixa a cabeça e dá um sorriso
triste.

Sei como deve ser difícil para o meu pai aceitar isso. Durante
toda a vida, João batalhou por tudo o que tem hoje, e aceitar algo de
alguém nunca foi uma tarefa fácil para ele.

— Quanto ao seu emprego, não esqueça que trabalha de


carteira assinada, e no momento será afastado por questões de
saúde. O senhor tem direito ao seguro-saúde, e, enquanto se
recupera, continuará recebendo seu salário. Eu nunca o privaria de
qualquer direito trabalhista. Vou cuidar pessoalmente para que
tenha todos os seus direitos.

— Eu posso trabalhar, vou passar o dia sentado dirigindo —


aponta papai, numa tentativa de convencer o patrão.

Meu pai é mesmo louco se pensa que pode trabalhar nessas


condições.
— Paizinho, deixe de ser teimoso! — Eu tenho vontade de
bater em sua cabeça, para colocar os parafusos no lugar. — O Caio
não está fazendo caridade ou algo fora do normal. O afastamento
médico é um direito seu, o senhor voltará a dirigir quando for
liberado pelos médicos.

— Lara, minha filha... — começa a protestar, e eu fecho a


cara, irritada.
— João, o senhor esteve inconsciente por alguns dias, e não
faz ideia do quanto a Lara sofreu. Por favor, não complique nada.

Meu pai suspira e fecha dos olhos antes de focar na mão de


Caio em meu ombro.
— Desde quando vocês são próximos? Eu vi que dormiram
juntos. E, rapaz, se estiver se aproveitando da minha filha, é você
quem vai precisar operar o coração quando eu me recuperar!

— Pai?! — Caio dá risada, mas eu tenho vontade de me


esconder de vergonha.

— A Lara é encantadora... E sim, temos passado um tempo


juntos. Eu precisava fazê-la comer, e, ontem, quando o senhor teve
o princípio de infarto, acabamos dormindo juntos enquanto eu a
confortava. — Ele me olha, e eu fico mexida com as emoções
brilhando em seu olhar. — É muito difícil não se encantar pela Lara,
e eu prometo que nunca a enganarei ou mentirei para ela.

Meu pai balança a cabeça.

— Não me leve a mal, Caio, mas a Lara é diferente...


Eu fico irritada, pois eles conversam como se eu não
estivesse aqui. Coloco as mãos na cintura e bato o pé.

— Pai, pode parar por aí. O Caio e eu apenas nos unimos no


intuito de cuidar do senhor. Pare de se preocupar à toa. E eu sei me
defender.

Caio acaricia meu braço, e sinto que minha pele se arrepia.

— A preocupação dele é normal, Lara — fala, e eu olho para


ele.
Sinto toda a minha pele aquecer com o calor de seu olhar.

— Eu sei que você é um bom homem, apesar de... tudo.


Assim como Caio, eu posso entender meu pai. Ele sabe de
verdade como o Caio é; as festas, as mulheres... enfim, ele, como
pai, tem medo de que Caio pense que sou como essas mulheres e
se aproveite de mim.
Caio então dá um passo à frente e aperta o ombro de meu
pai.

— Sei o que quer dizer, João. Mas não precisa se preocupar,


apenas se concentre em ficar bom, porque é isso o que mais
importa agora.
— Isso mesmo, pai. E eu sei me cuidar — garanto. — O Caio
é um bom homem e tem sido o meu apoio nesses últimos dias.

Estou numa grande encrenca, pois se eu aceitar a proposta


de Caio, meu pai jamais poderá saber a verdade por trás do
casamento. Ele não pode saber que se trata de um acordo, deve
acreditar que estamos apaixonados. Caio nunca escondeu seu
interesse por mim, e eu não sei dizer se o brilho em seus olhos é
encenação ou se ele realmente tem sentimentos por mim.

O que tenho certeza é que dormir com Caio me fazendo


carinho balançou minhas emoções. Eu percebi que só me mantive
firme devido à sua proposta louca, e por ele estar ao meu lado
desde que tudo aconteceu.

— Tudo bem, vou confiar em vocês. — Meu pai boceja, então


suspira.

Batidas soam na porta e uma moça entra com um carrinho


contendo bandejas do café da manhã. Ela coloca a do meu pai em
cima de uma mesinha suspensa sobre a cama para ele poder
comer, e mais duas sobre a mesa perto da janela.

— Você precisa ir trabalhar ou vai tomar café com a gente? —


pergunto ao Caio.

— Vamos comer antes.

Caio segura meu braço e me leva até a mesa, puxando uma


cadeira para eu me sentar. Ele fica à minha frente, então comemos
em um silêncio agradável.

A doutora Luana aparece alguns minutos depois e conversa


com meu pai. Explica seu quadro e tudo o que será preciso fazer,
além de dar a previsão de um mês se recuperando no hospital e
mais três em casa.

A enfermeira Suellen, que Caio contratou para os cuidados de


meu pai, chega. A mulher deve ter uns 40 anos. Ela quase me
expulsa do quarto e diz que está ali para que eu não precise me
preocupar e apareça somente nos horários de visita.

— Vá para casa, filha, você precisa descansar — pede meu


pai, e noto que está com sono. Ele também precisa descansar.

— Eu volto assim que resolver as coisas na faculdade. —


Beijo sua testa, deixando o quarto com o coração apertado.

— Vou deixá-la em casa e depois a trago, pode ficar tranquilo,


João. — Caio aperta a mão de meu pai. — Cuide-se!
— Não sei como agradecê-lo.

Eles se gostam, eu consigo perceber isso pelo carinho como


se olham e pela voz mansa de um para o outro, como velhos
conhecidos e confidentes, e não apenas patrão e empregado. Saber
que Caio trata meu pai como um amigo me faz ter mais apreço por
ele.

— Vamos, Lara. — Eu o sigo, mais conformada e ciente de


que meu pai está sendo muito bem cuidado.

Caio me segura pela cintura, guiando-me para o elevador. Ele


continua apertando minha carne, e eu começo a ficar com comichão
entre as pernas quando lembranças do nosso beijo rondam a minha
mente.
— De zero a dez, quanto você está cansada? — pergunta.

Outras pessoas estão no elevador, e discretamente Caio me


coloca à sua frente.

— Acho que sete. Eu não estou com sono, só exausta.

— Vou cuidar de você — sopra ao pé do meu ouvido e me


abraça. Eu relaxo contra o seu corpo, fecho os olhos e sinto seus
músculos me envolvendo.
— Eu queria uma massagem... — brinco, mas me arrependo
quando ele morde o lóbulo da minha orelha.

Por pouco não deixo escapar um gemido de espanto.


— Vou fazer uma massagem fora e dentro de você —
sussurra com voz rouca, e eu quase derreto ao entender o
significado de sua frase.

Saímos do elevador e vamos para o seu carro. Antes de abrir


a porta, Caio me prensa contra o veículo. Eu o encaro, seus olhos
castanhos explodem em chamas. Sua boca captura meus lábios, ele
me invade com sua língua, que não poupa esforços para dominar a
minha.

Suas mãos prendem meu rosto e seu quadril investe contra


meu ventre. Agarro seu ombro, fincando as unhas em seus
músculos. Eu o puxo e deixo o fogo me consumir.

Eu nunca me senti tão viva como esse homem é capaz de


fazer. Minhas células explodem em felicidade por eu ser tocada com
tamanho vigor, enquanto sua língua macia desliza na minha,
inundando-me com seu gosto e fazendo-me ansiar por mais. É
impressionante como Caio tem o poder de controlar as minhas
emoções.

— Deixe-me cuidar de você — pede, mordendo a carne fina


de meu lábio inferior, seguindo para meu pescoço e torturando a
pele sensível. Arqueio e fecho os olhos, o ardor entre as minhas
pernas se tornando insuportável.

Eu não sou forte o suficiente para negar. Meu corpo grita por
seu toque, minhas emoções estão à flor da pele. Sei que posso
estar fazendo uma grande besteira, mas ao menos uma vez na vida
eu vou me permitir ser ousada.
Suspiro, quase derretendo em seus braços.

— Então me faça me sentir melhor — sopro, quase sem


fôlego.
Ele me beija uma última vez antes de me colocar dentro do
carro e dirigir rápido pelas pistas do Rio de Janeiro.

Reconheço o caminho para Ipanema. Com meu ventre se


contraindo em ansiedade, olho para o homem ao meu lado, certa de
que quero isso.

Independente das consequências.

 
- 14 -
 

Lara

O
pensamento de que
estou ficando maluca
reverbera por minha
mente durante o trajeto para o apartamento de Caio. A minha vida
deu uma guinada de 180º quando meu pai teve o infarto. Eu fui de
preocupada com uma prova para desesperada com a situação,
temendo sua morte e não conseguir pagar as contas hospitalares.
Então, a apreensão para manter o emprego de meu pai, indo buscar
o Caio naquela festa estranha. Agora, após uma enxurrada de
emoções, estou prestes a ir para a cama com um homem que até
pouco tempo atrás era um completo desconhecido para mim.
Eu nunca fui assim, envolvimentos amorosos nunca
ocuparam uma parte importante da minha rotina. E como se isso,
por si só, não fosse o bastante para me enlouquecer, ainda tem a
proposta de casamento.

Olho para o Caio, que dirige com as duas mãos no volante, o


maxilar travado e os olhos atentos à pista. Uma música tranquila
toca baixinho, e me inquieta a angústia por saber que eu tenho o
poder de ajudar o homem responsável por meu pai receber o melhor
tratamento do país a conseguir o que sempre quis.
Eu não faço ideia se estou pronta para esse compromisso,
mas sei que o favor que ele me fez nem se compara ao que eu faria
por ele.

— Caio? — chamo baixinho.

— Oi? — Seus olhos castanhos me encontram afogueados, e


sinto um frenesi entre as pernas por ser alvo de seu desejo.

— O quanto você pode se prejudicar caso não se case em


dois meses? — indago, querendo ter uma visão mais clara de seu
problema.

— Eu não me prejudico, eu me fodo! — A tensão em seus


dedos aumenta quando ele aperta o volante. — Se meu tio assumir,
vai tirar a empresa da minha família e passar para o idiota do Jairo.
E eu serei completamente afastado e tudo pelo que lutei será jogado
no lixo.

— E não tem como você evitar isso... sem precisar se casar?


— Meu peito aperta ao ver sua expressão entristecida.
— Não, pois no testamento do meu avô, ele passou tudo para
o meu pai, e não colocou uma cláusula de direito à sucessão
hereditária, ou seja, meu pai poderia vender a empresa a um
estranho, se ele quisesse, e minhas ações não são o suficiente para
comprar tudo.

— Quanto você precisaria de ações para se tornar o dono?


— Não é dono... — Ele dá uma risadinha. — O termo correto
seria acionista majoritário, ou até mesmo presidente. Nós usamos a
nomenclatura CEO para quem tem a maior parte das ações do
conselho e da empresa, embora um CEO também possa ser
contratado e receber o maior salário da empresa — explica, e eu
tento acompanhar seu raciocínio. — Eu detenho apenas 17% das
ações. Meu tio tem 5%, minha mãe tem 7% e meu pai tem 32%. O
resto foi dividido entre os membros do conselho de acionistas,
majoritários e minoritários, aqueles que possuem menos de 1%.

— Isso é complicado demais para a minha cabeça. — Franzo


a testa, e Caio ri.

— Em resumo, mesmo se a minha mãe me desse seus 7% e


eu ficasse com 24% das ações, eu ainda teria menos que meu pai.
E se ele desse suas ações ao meu tio, o filho da puta acumularia
37%. Para eu chegar nesse tanto, precisaria comprar as ações de
outros acionistas, que, com certeza, não venderiam. E, caso
vendessem, eu precisaria de mais dinheiro do que tenho.
Atualmente, as ações da Conti Motores e Aviações valem dez
dólares, isso contando na porcentagem de 0,01%. Mesmo se
enfrentarmos uma crise e o preço das ações caírem, ainda seria
difícil eu assumir comprando tudo.
— Entendi... — Coloco a mão em sua coxa. — Eu não me
acostumei ainda com a ideia de um casamento, nunca me imaginei
casando, e queria fazer isso somente com quem eu amo —
confesso, o peito ainda apertado. — Se nesse tempo que
passarmos juntos eu começar a gostar um pouco de você, posso
até aceitar essa sua proposta maluca.
— Você já gosta de mim. — Caio sorri de um jeito safado e
pisca um olho.
Dou risada da sua prepotência e bato em sua coxa.

— Com esse ego enorme, será mais fácil eu te odiar.

— Obrigado por isso, Lara. — Ele aperta minha mão, levando


meus dedos à boca.

— É o mínimo que eu poderia fazer por você.

Agora sim eu consigo me sentir mais tranquila. É claro que eu


não entendi muito bem essa dinâmica da empresa, mas vou tentar
dar uma chance ao Caio. E se em uma semana eu perceber que ele
não vai brincar com os meus sentimentos, eu posso ajudá-lo. Ao
menos a atração por ele é correspondida, e isso por si só já é um
grande passo.

— E seremos exclusivos — digo ao chegarmos à garagem de


seu prédio.

— Nem fodendo! — ele reclama e sai do carro.

— É isso ou nada feito, Caio! Eu não quero ser apontada


como a esposa corna do bilionário cafajeste! — Bato a porta, e ele
se encolhe ao notar a minha irritação.
— Aí você me fode, Lara! — Abre os braços, exasperado. —
E não desconta no meu carro! — esbraveja.

— Para que outra? Afinal, teremos... hum... intimidades —


acentuo, um pouco constrangida com o rumo da conversa.

Coloco as mãos na cintura e me aproximo dele.


— E se eu não gostar do sexo? Vou fazer sexo ruim enquanto
o nosso acordo durar?

Eu tenho vontade de estapear a sua cara lavada. A minha


experiência sexual é quase zero, eu sei, mas é impossível que eu
seja tão ruim de cama. E sempre posso aprender uma coisa nova. O
Caio é muito experiente, já passou pela cama de mulheres ousadas,
lindas e experientes. Isso me incomoda, mas eu não vou deixar que
ele perceba a minha insegurança.

Empurro seu peito com o um dedo e falo de nariz arrebitado:

— Aí a culpa será sua, que não sabe como agradar uma


mulher e despertar o seu prazer!

— Eu fodo muito bem! — rosna em meu rosto.


— Estou começando a duvidar — eu o desafio.

— Veremos se você vai conseguir abrir essa boquinha


atrevida quando eu tiver socando meu pau na sua boceta!

Suas palavras sujas me deixam desorientada.

Ele prende meu rosto entre as mãos e devora minha boca,


roubando-me o ar com o poder de seu beijo. Ataco sua boca,
descontando a frustração da nossa conversa. Finco as unhas em
seus braços, e, com um movimento rápido, Caio me pega no colo,
com as pernas ao redor de sua cintura, prensando minhas costas
contra o carro.
Sua respiração ofega em meu rosto, sua boca me solta antes
de atacar novamente, mordendo meus lábios. Ele os suga, enviando
um frenesi infernal para a minha intimidade. Eu rebolo contra o seu
tanquinho durinho, buscando alívio para o meu desespero.

Suspiro em seus lábios, lambuzando-o com a língua. Quanto


mais eu provo seu gosto, mais quero esse homem cheiroso para
mim.

— Ainda acha que eu fodo mal? — Caio me aperta e sussurra


entre meus lábios.
— Com certeza, deve ser o pior do mundo... — Eu não sei de
onde vem tanta ousadia da minha parte, é como se Caio
despertasse em mim uma Lara adormecida.

Uma ardência se espalha pela minha bunda, acompanhada


de um estalo alto, quando ele me estapeia de surpresa. Solto um
gritinho e pulo em seu colo. Caio me oferece um sorriso ordinário.
— Muito papo e pouca ação! — continuo a provocá-lo.

Os olhos de Caio estão em chamas, e posso sentir sua


dureza empurrar contra mim.

— Eu não posso te comer no estacionamento. — Ele me põe


no chão, e a curiosidade faz com que eu olhe para baixo. Miro sua
virilha e percebo seu membro esmagando a calça jeans. — Vamos
logo! E pare de encarar meu pau! — Desfere outro tapa em minha
bunda enquanto me puxa em direção ao elevador.

Um casal com uma criança sobe conosco. Ficamos quietos,


para não traumatizar o pequenino com a nossa safadeza a essa
hora da manhã. E pensar que agora meus colegas estão fazendo
uma prova, enquanto eu estou aqui, cometendo a maior loucura da
minha vida. Parece até um sonho.
Subimos direto para a cobertura, e o elevador abre as portas
para um hall gritante de luxuoso. Eu mal tenho tempo de admirar o
espaço, pois sou puxada para os braços de Caio, que no mesmo
instante ataca minha boca.
Rodeio sua cintura com as pernas e encho as mãos com seus
tufos de cabelo macio. Eu me delicio com sua boca e seu cheiro de
homem, enquanto ele caminha comigo, imagino que para o seu
quarto.

Esfrego minha intimidade em seu corpo, desesperada para


acabar com o incômodo em meu sexo e louca para aumentar o
prazer que eu sei que esse homem pode me dar. Caio segura minha
cintura, solta nossas bocas e me joga. Eu grito pelo susto e bato
numa superfície macia e fofinha.
— Abra as pernas, Lara! — ordena, e eu obedeço,
completamente hipnotizada por seu olhar dominante. — Eu adoro
mulher com pelos, sabia? — Seu dedo desliza pela borda da minha
calcinha. — É um tesão! A partir de hoje, eu quero que a sua
depilação seja só o suficiente. — Seu nariz toca minha intimidade,
inspirando com força, e eu tenho o ímpeto de fechar as pernas, pois
nunca fui tocada assim. — Deixe sempre uma listrinha ou os pelos
ralos, entendeu?

— Vou pensar no seu caso... — murmuro e inclino o quadril


para frente, querendo mais de seu contato.

— Se não me obedecer, eu não a toco. — Desliza o tecido


pelas minhas pernas, deixando-me nua da cintura para baixo.
— Você adora mandar... — Rio e perco o fôlego quando o
vejo tirando a camisa, o peitoral brilhando com a luz do sol que entra
pelas janelas. — E eu odeio obedecer.

— Eu vou ter de te disciplinar. — Sua mão desce, estalando


um tapa na parte interna da minha coxa. Eu solto um gemido alto,
pela ardência, e berro quando Caio chupa o local com força. Fecho
as pernas, prendendo sua cabeça e enlouquecendo com a
sensação que isso causa em meu interior.

— Boa sorte com isso... — Eu nunca imaginei que gostasse


de brincar com a cara do perigo até ver o Caio com o olhar quente e
a expressão de dominação querendo me dobrar à sua vontade.

— Perfeita para mim — sopra, então me cheira novamente,


esfregando o nariz em meus pelos ralos. — Já sentiu o gosto da sua
bocetinha, Lara?

— Não... — Suspiro, não aguentando mais o tormento em


meu interior. Empurro de novo o quadril para ele, que morde o
montinho de carne da minha pelve, fazendo-me contorcer, apertar
os lençóis e fechar os olhos. — Não me torture... você disse que
cuidaria de mim — imploro, pois não vou aguentar a expectativa por
muito mais tempo.

— Verdade, brincamos outra hora — diz, então sinto sua


língua quente e molhada passear por minhas dobras.

Gemo, mordendo o travesseiro conforme Caio me lambe


inteira e suga meu clitóris, brincando com seus dentes em minha
sensibilidade.
Suas mãos sobem por meu quadril, levantando meu vestido,
e num último ato de consciência, eu removo a peça, deixando que
suas mãos tomem meus seios e brinquem com os biquinhos
enquanto eu me contorço em sua boca.

O calor em meu corpo se torna insuportável, a pressão no


ventre se acumula, implorando para ser libertada.

— Caio... Caaaaaio... — Gemo seu nome feito louca


enquanto sua boca me suga. Sua língua penetra meu interior, macia
e firme.
Rebolo a pélvis com insistência, mas Caio segura meu
quadril, mantendo-me parada no meu tormento. Inspiro fundo, e o
mundo paralisa quando eu me desfaço em sua boca. Sinto o prazer
se espalhar pelo meu corpo.

— Com uma boceta gostosa dessas, eu posso até considerar


a monogamia — o salafrário diz ao escalar meu corpo, com o rosto
molhado pelos meus fluidos.
— Vem para mim... — peço, dengosa. Eu quero senti-lo
dentro de mim.

— Olha como ela fica mansinha depois de gozar... —


Aproxima o rosto do meu. — Abra a boca, que eu quero um beijo
com o seu sabor. — Faço o que ele manda e deixo que sua língua
deslize pela minha, lambuzando meu interior com o gosto do meu
prazer misturado ao dele.
Agarro Caio pelo pescoço e devoro sua boca, é como se
acendesse um pavio dentro de mim. Ele empurra o pênis, ainda
coberto, contra a minha pélvis. No desespero, eu agarro e abro seu
cinto. Desabotoo a calça e puxo seu comprimento para fora. Solto
nossas bocas, curiosa para ver seu tamanho.

— Enorme... — Eu nunca me senti especialmente gulosa


quanto a homens, mas um como o Caio me faz repensar todos os
meus conceitos e ficar sedenta, querendo mais dele.

— Quer ver se cabe? — Ele desliza a cabeça rosada em


minha vagina pulsante.

Sinto meu coração bater ainda mais forte. Eu tive apenas um


namorado e ficamos intimamente poucas vezes, e não foi bom para
mim. Bate uma insegurança, e eu odeio me sentir assim.

Caio parece perceber a minha preocupação. Ele fica sério e


me olha com carinho.

— Eu... — tento falar.

Ele acaricia meu rosto, e seu olhar, tão amável, deixa-me sem
ar.
— Do que tem medo, Lara?

— Não estou com medo, apenas... — Solto um suspiro, fecho


e abro os olhos. — Eu não estou acostumada com esse tipo de
coisa, Caio. Sei que você é um cara vivido, e talvez tenha razão
quando diz sobre o sexo comigo ser ruim...
Caio tem um olhar de arrependimento.

— Eu posso ter me expressado mal no calor do momento,


Lara. Sabemos que você é diferente das mulheres com quem eu saí
antes, mas te garanto uma coisa: com nenhuma delas eu senti tanto
tesão como sinto por você. E olha que ainda nem fodemos.
Dou um sorriso.

— Eu não quero te decepcionar...

Ele beija meus lábios.


— Você nunca vai me decepcionar, Lara. Você é uma garota
especial.

Nós nos encaramos, e sinto a chama reacender. Eu quero


esse homem, eu o desejo, e tenho certeza de que ele também me
deseja.

Caio desliza os lábios por minha pele e morde meu pescoço.


A hora de conversar acabou. Então, com delicadeza, bem
devagarzinho ele empurra seu pênis em meu sexo. Eu abro mais as
pernas, permitindo sua entrada. A sensação de tê-lo é deliciosa.

Eu fico enlouquecida com o prazer que me queima de dentro


para fora. Fecho os olhos e fico paradinha até o sentir por inteiro
dentro de mim. Caio é enorme, e eu nunca imaginei que pudesse
ser alargada desse jeito e que seria tão prazeroso ser preenchida.

Aperto seus ombros e abro a boca, deixando os gemidos


escaparem quando ele começa a investir com velocidade e força.
Minhas pernas rodeiam sua cintura e nossos corpos deslizam um no
outro. Seu peitoral esmaga meus seios e envia choques elétricos
por toda a minha pele. Um prazer mais intenso começa a se formar
em meu interior.

— Porra de boceta quente, Lara! — rosna, então estala um


tapa em minha coxa, e depois outro. Grito em resposta e aperto seu
quadril com as pernas, deixando minha bunda livre para o seu
ataque. — Gosta de apanhar, safada?
— É boooom... — gemo, quase chorando de felicidade por
sentir seu corpo me dando prazer.

— Você é perfeita para mim! — Sua voz, rouca e baixa,


deixa-me incapaz de raciocinar.

Caio começa a gemer grosso em meu ouvido e suspirar


audivelmente, enlouquecendo-me ainda mais de tesão. Nem nas
minhas melhores fantasias eu poderia imaginar que sexo era tão
bom. Entrego-me sem reservas aos meus sentimentos, e quando
estou prestes a gozar, finco as unhas em suas costas, enquanto
Caio devora minha boca, consumindo meus gemidos para si.

Eu sinto o calor explodir em minha vagina, desmanchando-se


em prazer ao se misturar com o jato quente que Caio libera
enquanto geme rouco em meu ouvido.

O cansaço pelo esforço me derrota e eu abro os braços na


cama, totalmente relaxada.
Se eu tiver isso todos os dias, o Caio acaba de conseguir
muitos pontos para me fazer aceitar o seu pedido de casamento.
- 15 -
 

Caio

É
loucura o que estou sentindo
após transar com a Lara.

Meu pau já esteve em


mais bocetas do que sou capaz de lembrar, e em nenhuma delas eu
me senti tão conectado como me sinto com a Lara. Um prazer sem
medida preenchido por seu calor e maciez, enquanto um sentimento
pequeno começa a perturbar meu peito.

Observo seus cabelos escuros jogados no travesseiro e seu


rosto deitado em meu ombro. Eu não costumo dormir com mulheres
assim, e neste momento eu deveria estar trabalhando, contudo, não
tenho forças para deixar esta cama e me separar da Lara.

Ela me deu uma semana, e eu vou usar esse tempo para a


convencer a se casar comigo. E não somente porque ela é a
salvação para os meus problemas e a única que pode aceitar um
casamento por contrato.

Eu quero a Lara, e somente hoje ou esses setes dias não


serão suficientes para saciar a minha fome, e enquanto meu
monstro clamar por devorar sua boceta, eu vou manter essa mulher
comigo.

Aos poucos, o sono bate e eu adormeço.

Meu celular toca. Desperto procurando o aparelho, que vibra


embaixo de mim. Tateio minha bunda e o pego dentro do bolsa da
calça. O nome “pai” brilha na tela, e eu tenho vontade de desligar o
aparelho e voltar a dormir confortavelmente.

Lara não se mexe, e com calma eu a tiro de cima de mim e


vou para a sala atender à chamada.

— Onde você está, que não foi trabalhar? — Sua voz raivosa
não se justifica. Eu tenho plena ciência de que não perdi nenhuma
reunião importante, a minha agenda de hoje é mais de
planejamentos para o semestre, o que farei sozinho.

— Em casa. — Sento-me no sofá e vejo que ainda estou de


pau de fora. Coloco o celular no viva-voz e ajeito a calça.

— Com alguma puta, imagino. O Jairo me disse que te viu


ontem jantando com uma mulher. Se você tiver faltado ao trabalho
por causa de uma boceta, eu te deserdo! — grita, descontrolado, e
eu esfrego o rosto.
Maldito infeliz! Eu deveria ter quebrado a cara do Jairo
quando tive a chance.

— Primeiro: no domingo, meu motorista, o João, teve um


infarto, e estou cuidando da situação hospitalar dele com a Lara,
sua filha e mulher com quem o Jairo me viu ontem.

— Por que diabos você cuidaria disso?


Pressiono os olhos, meu pai deve ter sido novamente
envenenado contra mim.

— Segundo... — continuo, ignorando sua pergunta. — A Lara


não é uma vadia, nunca mais se refira a ela dessa maneira. Ela é
uma mulher incrível, de ótima índole, e por quem estou apaixonado.
E, terceiro, eu tenho a porra do direito de levar a minha namorada
para onde eu quiser e dar suporte emocional a ela em um momento
tão difícil.

— APAIXONADO? — Gargalha. — Eu nunca pensei que


você fosse um mentiroso...

Eu ignoro o seu deboche, mas a minha vontade é xingar.

— Ontem, o João teve outro infarto, e passamos a noite em


claro. Se dúvida, ligue para o Hospital Samaritano, garanto que até
filmagens eles terão confirmando o que digo. Estou cansado para
um cacete e resolvi tirar o dia de folga, e não estou perdendo
nenhum compromisso.

Luto contra a ira e para não deixar minha voz transparecer a


irritação que sinto. Ele não tem o direito de ofender a Lara desse
jeito.
— Há quanto tempo você conhece essa moça, para estar tão
apaixonado? Acha que sou idiota de não perceber que você quer
me enganar?
— Com todo o respeito, você é um idiota por acreditar no
Jairo, e não no próprio filho. O Pablo conseguiu te envenenar
direitinho contra mim — acuso, explodindo de raiva.

— Você fez a sua cama, agora não quer deitar? — debocha


com riso na voz. — Pois saiba que se você aparecer com um
casamento arranjado, é aí que eu te deserdo, e você nunca mais
poderá colocar os pés na Conti Motores e Aviações.

Ele não pode fazer isso, afinal, eu tenho parte das ações.
Porém, seu ultimato me magoa e destrói uma parte da confiança e
admiração que eu tinha por meu pai.

Com um incômodo no peito e um pouco de falta de ar, eu me


preparo para encerrar esta merda de chamada.
— A Lara é uma mulher incrível, engraçada, que me
entende... estamos nos unindo conforme eu a apoio
emocionalmente. Eu enxugo suas lágrimas e a ajudo a suportar a
dor que é o medo de perder o pai. É impossível conviver com ela e
não se apaixonar pelo seu sorriso, o brilho em seus olhos, e querer
ser a porra do homem a quem ela vai recorrer quando precisar de
ajuda.

Faço uma pausa, tentando controlar o que estou sentindo.


— Como se você se importasse...

— Você me deu dois meses para me casar e poder assumir a


Conti Motores e Aviações. Mas agora você que vá para o inferno
com essa chantagem! Se eu me casar, será porque amo a Lara e a
quero ao meu lado como minha esposa, e não para te agradar!

— Vamos ver se você continua com esse discurso quando o


prazo se encerrar. Se eu não estiver convencido de que você a ama
e pretende ter um relacionamento sério com essa mulher, a Conti
Motores e Aviações nunca será sua.

— Por que diabos isso importa tanto para você? É a minha


vida, inferno! — explodo.
— É a minha empresa! Acha mesmo que eu fico feliz de
passar tudo para o Pablo e seu filho? Meu pai deu o sangue para
fazer a Conti Motores e Aviações chegar ao que é hoje, e faleceu
deixando tudo para mim. Infelizmente, eu não consegui ter outros
herdeiros. — Sua voz sai seca e gelada. — Cabe a você ter os filhos
que herdarão a nossa empresa, mas se nem a uma mulher você
consegue se fixar, vai acabar engravidando uma vagabunda
qualquer. Porém, antes de te deixar levar a nossa empresa para a
lama, eu a tiro de você!

— O Pablo e o Jairo são dois irresponsáveis! Como pode


confiar mais neles do que em mim? — Sinto todo o meu corpo
tremer de raiva.

— Eles não são tão irresponsáveis quanto você! — esbraveja


de volta. — Eles nunca faltaram ao trabalho por estarem comendo
alguém, nunca chegaram fedendo a bebida, e ninguém fica de
fofoca falando sobre as mulheres com quem transaram. Ao contrário
de você, que é conhecido por todos os acionistas, fornecedores e
clientes como a porra de um devasso!
— Eu não entendo... será que você não enxerga? Eu nunca
faltei ao trabalho ou cheguei bêbado à empresa. — Ando de um
lado para o outro, os nervos à flor da pele.

— Não ouse mentir para mim quando são as pessoas do seu


setor que espalham essas conversas sobre seu chefe, você! Os
funcionários não têm um pingo de respeito por Caio Conti!

— Isso é mentira, porra! Todos me respeitam e sabem da


minha capacidade.

— Você era o meu maior orgulho, mas, nos últimos anos,


tornou-se uma decepção vergonhosa.

Ele desliga, e eu pressiono meus olhos, contendo as lágrimas


de ódio.
Meu pai nunca pretendeu me entregar a empresa, e agora eu
sei disso. As suas condições absurdas não são por ele se preocupar
com a minha vida amorosa, mas porque ele não acredita que eu sou
capaz. Meu próprio pai, que viu os meus esforços durante tantos
anos, não acredita em mim, e isso me destrói.

— Eu acredito em você! — Eu me assusto ao ouvir a voz de


Lara. — Vamos mostrar ao seu pai que ele está errado. — Eu nem
havia percebido a sua chegada. Ela aperta minhas costas e se
senta, fazendo-me acompanhá-la. Deito a cabeça em seu ombro. —
Eu vou me casar com você, e mostraremos a ele que você é o único
que pode ficar com a Conti Motores e Aviações.
— Ele não vai acreditar no nosso casamento — digo, com o
timbre embargado e o choro preso.
— Vamos fazer com que acredite. Leve-me para conhecer
seus pais, vamos jantar fora e mostrar a ele que estamos
apaixonados. — Seu olhar sereno e suas expressões leves ajudam
a desfazer o nó em minha garganta.
— Obrigado, Lara! — Encosto a testa na sua.

— Você me ajudou quando eu mais precisei, vou retribuir o


favor. — Ela beija meus lábios. — Além disso... eu não quero deixá-
lo, Caio — confessa, com as bochechas vermelhas e o olhar
inseguro.
Eu a encaro. Em meu peito, o coração bate descontrolado. Eu
me sinto preso em seu olhar.

— Serei completamente seu enquanto estivermos juntos! —


prometo.

E não se trata de uma promessa vazia. Alguma coisa em Lara


me faz querer ser melhor. Eu não sei o que é, mas é um sentimento
forte.

— E eu serei sua — sussurra.

Descanso a cabeça em seu colo, deixando que ela me


embale em seu carinho enquanto a tristeza por eu ter ouvido
aquelas palavras de meu pai espancam minha mente.

— Já considerou que alguém possa ser o responsável por


espalhar essas mentiras sobre você na empresa? — Lara alisa
meus cabelos.
— Pablo e Jairo. — Suspiro.
— Não para o seu pai. O que ele falou... deu a entender que
estão mentindo, e possivelmente com alguma prova. Sobre os
boatos, será que são os funcionários que estão falando essas
coisas horríveis, ou alguém pago para espalhar essas mentiras?

Eu encaro Lara, que me olha com preocupação.

— Eu não tinha pensado nisso... ter alguém, fora aqueles


dois, querendo me prejudicar.

— Sim. E sobre o Jairo, até onde sei, ele não é nada santo,
mas sempre demonstrou ser um cara legal — comenta e dá de
ombros.

Então me lembro de que são amigos.

— Como vocês se conheceram? — Viro-me, deitando com a


barriga para cima, ainda com a cabeça em seu colo.

— Quando eu estava fazendo estágio. A minha supervisora


de campo fazia fisioterapia no Jairo, depois que ele teve o acidente
de moto. Eu a acompanhava, então começamos a conversar e
viramos amigos.
— Vocês se encontram muito?  — Eu fico incomodado com
essa proximidade de Jairo com a Lara.

— Antes éramos mais próximos, agora ele viaja muito, por


causa do trabalho, e pouco temos nos falado.

— Mentiroso... — Reviro os olhos. — As viagens que ele faz


são todas para farra, o setor em que ele atua não exige locomoção.

— Quanto a isso, eu não sei. — Ela beija minha testa, e eu


aproveito seu carinho. — Vou te ajudar no que for preciso, conte
comigo.

Minha cabeça começa a elaborar um plano.

— Eu não quero um contrato de casamento, isso vai deixar


rastros. — Começo a pensar no que terei de fazer. — Vamos
combinar verbalmente os termos e dar a nossa palavra de honra. O
casamento tem de ser no civil e no religioso, para eles acreditarem.
Mas, antes, precisam nos ver juntos.
— Eu quero exclusividade e que você assuma as questões
financeiras do papai. — Arrebita o nariz. — Meu pai vai precisar de
tratamento quando sair do hospital, e não poderá trabalhar. Eu não
posso me preocupar com isso enquanto termino a faculdade.

— E não vai. Mesmo que você não aceitasse o meu acordo,


eu arcaria com os custos do João. Porém, como minha esposa, terá
seus direitos. Eu vou pedir ao meu banco um cartão sem limites
para você.

— Vou aproveitar muito! — brinca e sorri de maneira sapeca.

— Usufrua de toda a minha fortuna. — Aperto sua bochecha,


e Lara ri.

— E quanto à exclusividade?  — Noto que isso é importante


para ela.

Eu sorrio, pois, apesar do meu histórico, sinto em minha alma


que não conseguirei ter outra mulher enquanto Lara estiver ao meu
lado.
— Serei totalmente seu! — Eu me sento e seguro seu rosto.
— Vou honrar meus votos, e você, os seus, enquanto estivermos
casados.

— E quanto tempo isso vai durar? — Ela franze as


sobrancelhas, e eu beijo o vão em sua testa.

— Dois anos, é o que preciso — afirmo, e meu coração se


aperta com a possibilidade de não ter mais a Lara em minha vida.

— E depois? — Percebo a apreensão em sua voz.

— Nós nos separamos, amigavelmente, e deixamos o destino


decidir o que vem depois. — Essas palavras deixam um sabor
amargo em minha boca.

Porra, o que está acontecendo comigo?

— Eu posso lidar com isso. — Lara tem um sorriso doce.


— Então nos casamos em um mês — digo a ela.

— Acha mesmo que eles vão acreditar que estamos


loucamente apaixonados, a ponto de um casamento às pressas?

— Espero que sim, teremos de ser convincentes.

Ela entorta a boca e, com o dedo no queixo, olha para o lado,


pensativa. Eu tenho vontade de puxá-la e mais uma vez me perder
em seu corpo.

— Vamos começar nos conhecendo. Conte-me sobre a sua


infância.

Não era bem o que eu queria, mas ela está certa, devemos
saber mais um do outro.

Passamos o resto do dia em meu apartamento. Conversamos


sobre o passado e o dia a dia. À tarde, eu a levo para casa. Lara
troca de roupa, então vamos para o hospital.

Decidimos esperar um pouco para contar ao João sobre o


casamento, vamos deixar que ele veja o nosso envolvimento e se
recupere da cirurgia.
A Lara foi uma das maiores surpresas que eu já tive, e torço
para que tudo dê certo e que a Conti Motores e Aviações possa
finalmente ser minha.
- 16 -
 

Lara

T
ermino de pranchar
meu cabelo com o
estômago revirando
de ansiedade. A cirurgia do meu pai, que deveria ter acontecido há
três semanas, foi adiada para esta semana. Eu passei o dia com ele
no hospital, e sua animação me deixou bastante aliviada.

À princípio, fiquei bastante preocupada, porém, a médica


garantiu que estava tudo bem, e como meu pai estava respondendo
bem aos medicamentos, decidiu por adiar, apenas por precaução,
devido a algumas alterações em seu exame de sangue.

Eu passo um tempo com papai todos os dias, no entanto,


ainda não contei a ele sobre o meu relacionamento, de mentira, com
o Caio. Combinamos de fazer isso juntos, e como o Caio precisa
passar longas horas na empresa, decidimos que é melhor contar
quando papai estiver se recuperando da cirurgia.

Até o momento, a doutora Luana está satisfeita com a


resposta do organismo de papai aos medicamentos. Ela acredita
que sua operação e recuperação acontecerão de maneira
satisfatória, e antes do que esperamos, ele poderá ir para casa.

Outro fator que tem me deixado satisfeita é meu pai se sentir


muito à vontade com sua enfermeira. Ela é uma profissional
competente e o trata com muito carinho. Em uma conversa, eu
descobri que ela não tem família e se dedica totalmente a cuidar de
pessoas enfermas, quando contratada.

Assim, eu não me sinto tão mal quando preciso deixar o


hospital.
Tenho passado meu tempo livre com o Caio, e desde que
ouvi sua conversa com o pai, a minha preocupação com esse
homem tem estado nas alturas.

A dor causada pelas palavras do pai aparece em momentos


aleatórios; em seus olhos, quando estamos assistindo a um filme,
ou quando ele começa a cozinhar e se perde nos pensamentos,
chegando a queimar a comida.

Hoje, decidimos jantar fora, a fim de nos distrairmos um


pouco. Eu não tenho certeza se conseguirei comer com meu
estômago revirado como está. Desde que acordei, estou com um
enjoo forte, que não passou mesmo ao tomar um remédio.

Acredito que o estresse com a doença do meu pai tenha


afetado meu organismo e minha TPM veio com tudo, por isso estou
me sentindo tão mal, já que em dois dias ficarei menstruada.

Franzo as sobrancelhas, preciso aproveitar hoje e amanhã


com o Caio, afinal, ficarei de quatro a cinco dias sem que ele me dê
prazer. Minhas bochechas queimam com o pensamento, eu nunca
ajuizei que pudesse ser uma devassa. Mas, com Caio, eu me pego
uma descarada que fica ansiando pelos nossos momentos juntos.

Uma buzina soa lá fora. Eu tiro a prancha da tomada, desligo


o ventilador e apago as luzes. Pego minha bolsa e analiso uma
última vez meu macaquinho pantalona preto, com renda na cintura e
nos seios, onde um forro preto faz um lindo decote.

Abro a porta do carro e o cheiro cítrico de Caio me saúda.


Sento-me no banco do passageiro e me inclino para beijar seus
lábios macios e volumosos.

— Você está linda com essa roupa — diz, admirando-me com


o olhar.

Coloco uma mecha de cabelo atrás da orelha, sentindo meu


rosto pegar fogo. Meu estômago protesta ainda mais agora, que eu
fechei a porta e somente o cheiro de macho de Caio preenche o
ambiente.

— Abra os vidros, por favor — peço, tampando o nariz, não


aguentando mais seu aroma.

— Eu estou fedendo? — Ele cheira os braços, e sinto vontade


de rir, mas uma forte ânsia me ataca e eu saio do carro, precisando
de ar puro. — Lara?! — Caio vem atrás de mim e me olha com
preocupação. Coloco uma mão entre nós, impedindo-o de se
aproximar.

— Esse seu perfume está me deixando louca de enjoo. —


Abro a boca, quase vomitando no chão. — Vá para longe, pelo amor
de Deus!
— Quer ir ao hospital? — Caio tenta se aproximar
novamente, e eu caminho para a calçada, afastando-me dele.
— Não, eu quero que você tome um banho e tire esse maldito
perfume — digo e entro em casa, desesperada pelo banheiro.

Eu não aguento chegar ao vaso sanitário, vomito na pia do


banheiro o meu parco lanche da tarde. Caio para na porta, e ao me
ver vomitando, entra e segura meus cabelos no topo da cabeça.
Vejo pelo reflexo do espelho a sua expressão preocupada, mas sua
proximidade foi um erro, pois seu cheiro desencadeia outra rajada
de vômito, e com uma mão eu o afasto para longe.

— SAI! — grito antes de despejar o líquido.

— Deixe-me te ajudar... — Sua voz sai carregada de


nervosismo, e eu fico com pena por o afastar desse jeito, mas meu
estômago não quer conversa com o seu cheiro.
Somente quando Caio sai do banheiro eu consigo recuperar o
fôlego e paro de vomitar. Lavo a boca e o rosto, desfazendo toda a
minha maquiagem. Estou me sentindo péssima e doente. Encosto a
cabeça na parede oposta à pia e deslizo até o chão, respirando
profundamente.

— Está melhor? — Caio pergunta do lado de fora.

— Um pouco. — Continuo puxando o ar com força. — Por


favor, Caio, vá tomar um banho e tire esse perfume.

— Posso tomar banho aqui? Eu não quero você sozinha


nesse estado.
— Está bem, mas vai para longe. Vou pegar um ar na
varanda.

— Pode vir.

Deixo o banheiro e vejo que Caio foi para a cozinha. Fico com
pena da sua carinha preocupada. Eu queria poder dar um cheiro
nele e dizer que estou melhor, em vez disso, vou para a varanda e
me sento na cadeira de balanço, continuo respirando fundo
enquanto ele toma banho.
Um tempinho depois, Caio aparece enxugando o cabelo, com
uma toalha ao redor do pescoço e só de calça.

— Eu não sabia qual toalha e sabonete usar, então peguei o


que encontrei no banheiro. Por segurança, lavei o cabelo.
— Obrigada... — Estico os braços para ele, que vem me
segurar e me leva para o sofá. Escondo o nariz na curva de seu
pescoço e sinto o cheiro do meu sabonete em sua pele. — Muito
melhor!

— Esse enjoo não foi normal, vamos a um hospital — ele


pede, mas eu nego, cansada pelo esforço.

— Estou o dia todo assim, enjoando a ponto de vomitar. Eu


comi pouquíssimo, estou morta de fome, apesar do estômago
embrulhado.

— Quer uma sopa?


Franzo o nariz para a sua proposta, eu não gosto muito de
sopa.
— Quero frango frito — digo ao sentir o desejo na ponta da
língua.

— Acho que seu estômago não vai gostar disso, você precisa
de uma comida leve e saudável.

— Você é um chato. — Aliso sua barba com a ponta do dedo.


— Então, faça a sopa.
— Sopa... eu não sei fazer. — Ele ri, e eu o acompanho.

— Como isso é possível? É só colocar o macarrão na água e


encher de legumes.
— Quer fazer? — Ele me observa com um sorriso cínico.

Eu nego com a cabeça, e Caio se mexe, pegando o celular no


bolso da calça.

— Vamos pedir.

Caio faz o pedido e ficamos de mimo no sofá para passar o


tempo. Ele acaricia meus cabelos e eu mexo em sua barba. Recebo
beijinhos na boca e no rosto sempre que ele tem vontade de me
tocar.
Eu gosto de ficar assim com Caio, em paz e de chamego,
meu coração fica quentinho e minha mente fica em paz, como se
nada pudesse atrapalhar a nossa tranquilidade.

— Tem certeza de que não quer ir ao hospital? — pergunta


quando estou quase adormecendo.

— Sim. Faça um chá preto para mim, com erva-doce, vai


ajudar a acalmar meu estômago e curar o que tiver me feito mal.
— Onde estão os sachês?

— No pote com o nome “chás”, em cima do balcão. Cada


pacotinho tem o nome indicando o que é.

Caio ri.
— Você e essa organização irritante — comenta.

Ele me deixa no sofá e vai para a cozinha. Adoro observar


como suas calças ficam justas em sua bunda. Deito-me no sofá e
pressiono meu estômago, com o embrulho me matando de dentro
para fora. A campainha toca, e Caio vai atender. Em alguns
segundos, ele retorna com o nosso jantar.

Enquanto o chá esfria, nós nos sentamos para comer. O


cheiro da sopa me ataca e eu fico com uma fome enorme.

— Nossa, estou faminta agora! — Pego minha colher e provo,


gemo feliz quando o gosto do cheiro-verde usado como tempero
toca minha boca. — Escolha perfeita.

— Coma tudo! — Caio ordena com voz grave.

— Sim, senhor.

Jantamos um de frente para o outro, e sinto pena de Caio por


comer somente sopa. Pego um pacote de pão e ofereço a ele, que
aceita. No fim, Caio acaba comendo três pães, e eu dou risada.
Termino minha refeição e volto para o sofá para tomar o meu chá.
— Quer deitar? — Caio pergunta com voz suave, e aceno
que sim. Ele me leva até o meu quarto e me ajuda a tirar a roupa. —
Vou passar a noite aqui. Se precisar de algo, é só me chamar.
— Obrigada. — Deitamos lado a lado e ficamos olhando um
para o outro até o sono me pegar.

Os enjoos não dão trégua e eu acabo faltando dois dias à


faculdade. Na quinta-feira, enquanto esperamos a hora de meu pai
ser levado para a cirurgia, fico em seu quarto conversando com ele,
segurando a boca para conter o vômito.

— Você não está bem. — Papai franze a testa. — Diga o que


aconteceu, foi o Caio?

Dou risada, meu pai não é bobo, percebeu que Caio e eu


estamos mais próximos. Na maioria das vezes que venho visitá-lo,
Caio vem junto e deixa escapar um carinho ou outro na sua frente.
Não passou despercebido pelo meu pai os toques, nossos risos
discretos ou a maneira como nos falamos.

— O Caio é um ótimo amigo — eu o defendo, pois ele tem se


tornado meu porto seguro. — Não aconteceu nada entre nós —
minto.

— Conte para o seu pai antes dessa cirurgia, vocês estão se


encontrando ou tendo alguma coisa? — Noto uma preocupação em
seu olhar.

Meu coração bate forte e eu seguro sua mão.

— Pai, não se preocupe com bobagens...


— Filha, eu gosto do Caio, ele é um bom homem, mas sei
que ele não se prende a mulher nenhuma.

— Pai... — Respiro fundo, eu não sei o que falar. — O senhor


se preocupa à toa.

Ele sorri.
— Meu diamante, eu não quero que se machuque.

Seguro seu rosto e o encaro.

— Eu sei me cuidar, e o Caio nunca mentiu para mim. Eu


confio nele — digo olhando em seus olhos.

Meu pai dá um sorriso.


— Não adianta, o estrago está feito. Eu só espero que ele
cuide bem de você.

Engulo em seco e solto uma risada.

— Estamos mais próximos esses dias, e eu gosto dele —


confesso, com um nó na garganta. — Apenas isso, deixe o resto
com o tempo.

Admito pela primeira vez para alguém e para mim mesma que
tenho sentimentos pelo Caio, e temo que não seja somente um
gostar, e sim uma paixão que queima em meu peito. Eu tenho medo
do que será de mim quando estivermos casados.

Conviver com ele todos os dias só tornará mais difícil ter de


dizer adeus no final.

— Se eu não voltar dessa cirurgia... — Tenho o ímpeto de o


calar, mas, com um gesto, meu pai me manda ficar quieta. —
Somente um grande “se”. Caso aconteça, eu quero que você seja
feliz, e se a sua felicidade for o Caio, eu aprovo. Eu confio em você,
meu diamante.

Meus olhos se enchem de lágrimas. Com cuidado para não o


machucar, eu abraço meu pai.

— Fico feliz de ouvir isso. — A voz de Caio soa às minhas


costas. — Prometo que vou cuidar bem da Lara.

— Espero que sim, rapaz! — responde meu pai, e sinto um


tom de ameaça em sua voz.

A enfermeira entra no quarto e nos expulsa, para que meu pai


possa ser preparado. Abraço seu corpo e beijo seu rosto repetindo
diversas vezes que vai ficar tudo bem. Caio me leva para o corredor,
e só então noto que ele carrega uma sacola.
— O que tem aí? — pergunto, curiosa.

— Vamos conversar. — Ele puxa minha mão e entramos em


um quarto vazio. — Ontem eu estava pensando sobre os enjoos que
você tem sentido e lembrei que na nossa primeira vez não usamos
camisinha.

— Não usamos? — Franzo a testa, eu não me lembrava


disso.

— Não, somente nas outras vezes. — Caio me estende a


sacola. — Seus enjoos podem ser resultado de uma gravidez, então
eu trouxe alguns testes para você fazer e tirarmos a dúvida.

— Como é possível engravidar de uma única transa sem


camisinha? — Pego a sacola com raiva e vou ao banheiro. Eu não
posso ser tão azarada assim!

— Só precisa de uma vez para acontecer. — Caio me segue.

Olho para ele zangada. Caio balança a cabeça e se vira de


costas para eu poder urinar nos palitinhos. Quando termino, deixo
tudo em cima da pia.
Caio percebe que eu terminei e se vira de volta. Eu o encaro,
preocupada e com o coração a mil.

— Eu não consigo ver isso — confesso e escondo o rosto em


seu peito.

— Eu vejo para você.

Esperamos os minutos indicados, e quando o celular apita,


avisando que passou o tempo, Caio verifica o resultado, e seu
silêncio me deixa louca.

— Então? — pergunto, a voz abafada contra a sua camisa


enquanto eu o seguro com mais força.

— Eu vou ser pai. — Sua voz incrédula me faz o encarar.

Caio está paralisado encarando os testes, os olhos


petrificados no resultado.

— Merda!

É tudo o que consigo dizer enquanto o desespero me


consome.
- 17 -
 

Caio

P
ositivo.
Eu vou ser
pai.

Agora quem fica com um embrulho no estômago sou eu.

Lara se senta no chão e esconde o rosto entre as pernas,


puxando os cabelos pela raiz.

— Eu só tenho 23 anos, não estou pronta para ser mãe —


choraminga.
E a realidade me toca com força.

Eu vou ser pai do filho da Lara, a minha futura esposa de


mentira, e nossas vidas acabam de se entrelaçar ainda mais.
Deslizo meu corpo até o chão e fico de frente para ela. Seguro seus
pulsos e a trago para mim, beijando sua cabeça enquanto ela
murmura que não está pronta para ser mãe.

— Seu maldito! — Bate em meu peito com o punho leve


como uma pluma. — Você não tinha o direito de me engravidar.
— Eu não fiz o nosso filho sozinho. — Tento me defender de
seus socos. Seu rosto assume um tom de vermelho conforme seus
olhos se enchem de lágrimas.
— Você era o experiente! Quantas vezes transou sem
camisinha?!

— Nenhuma, aquela foi a primeira.

— Que belo momento para começar...

Ela bufa e tampa os olhos com as mãos.


— Também não está sendo fácil para mim admitir que serei
pai — desabafo. Quem sabe ajude a colocarmos a cabeça no lugar?
— Agora que isso aconteceu, teremos um vínculo para o resto da
vida.

— Como assim? — Sua expressão confusa me dá vontade


de enchê-la de beijos.

— O nosso acordo era de um casamento de fachada, mas


agora o nosso envolvimento está para muito além disso.

— Seja direto, Caio! — rosna. — O que você quer? Vai me


mandar embora? Seu covarde! — Bate em meu peito, e eu seguro
seus pulsos, contendo seu ataque.

— Eu nunca faria isso, Lara. Quero ver o desenvolvimento do


meu filho durante a gravidez e quando ele nascer. Eu quero ver
nosso filho crescer.

— Não me iluda... — Chora, soluçando, e eu a abraço forte.


— Não estou! Eu gosto de você, Lara, e da nossa amizade. O
sexo é incrível, e eu estava feliz com a ideia do nosso casamento de
contrato. Eu tinha certeza de que teríamos dois ou cinco anos de
paz, podendo nos conhecer cada vez mais e, quem sabe... nos
apaixonando.

— Você não me ama... — Lara embarga a voz, e eu fecho os


olhos, com medo de machucar seu coração.

— Eu gosto muito de você! — Beijo sua cabeça, ouvindo seus


soluços, que me entristecem.

— Eu também gosto de você — admite com manha, e eu a


aperto nos braços pela sua fofura.

— Bom, agora eu tenho uma nova proposta para você... —


Seguro seus ombros e a faço me olhar.

— Diga logo que você quer fugir, seu cachorro! — Lara faz
birra, desviando o olhar do meu, e eu dou risada.

Eu não conhecia seu lado mimado, estou adorando a sua fala


manhosa e o bico que ela faz ao dizer tais sandices.

— Eu nunca fugiria. Quero que nos casemos o mais rápido


possível e você seja a minha esposa e me deixe ficar perto do
nosso filho enquanto esse acordo conveniente for bom para ambos.

— Como assim? Não vai mais acabar depois que você


assumir a empresa? — Ela me encara, com a esperança brilhando
em seus lindos olhos castanho-escuros.

— Não. Só iremos nos separar caso a nossa convivência se


torne um inferno ou se não conseguirmos continuar juntos.
— Caio... você está sugerindo um casamento de verdade?

— Sim! Vamos nos casar e criar o nosso filho, juntos. Eu não


quero que ele cresça com os pais separados, afinal, nós nos damos
bem. — Dou de ombros, ainda me acostumando com a ideia.

Em menos de 30 minutos, eu descobri que serei pai e fiz a


proposta mais louca da minha vida.
— Você tem que prometer não me trair! Sem outras mulheres,
entendeu?

— Eu posso comer outra se você topar uma orgia... — Dou


um sorriso malicioso, e ela fecha a cara, irritada, antes de beliscar
meu peito. — Clemência!
— Enquanto estivermos juntos, nada de safadezas, Caio! Eu
perderia todo o respeito que tenho por você.

Fico tentado a provocá-la mais um pouquinho, um bichinho


diabólico falando em meu ouvido.

— Vamos a uma festa da Mansão Eros, você não precisa


ficar com ninguém, e poderá ver como é prazeroso estar com outros
casais. — Eu nunca a levaria à Mansão, mas não resisto brincar
com ela.

Lara me olha sério e franze a testa.


— Se é assim, os nossos direitos serão iguais. Aposto que
você vai adorar ver outro homem me tocar.

Eu trinco os dentes, possesso de ciúmes só de imaginar a


cena. Essa brincadeira acabou de ficar sem graça. Engatinho para
cima de Lara, até ela se deitar no chão, e rosno próximo ao seu
rosto:

— Você é somente minha, e eu nunca vou deixar outro tocar


no que é meu! — Acaricio seu pescoço, vendo-a abrir a boca e
começar a ficar vermelha de excitação. — Eu sou o único que pode
te dar prazer, entendeu?

— Eu posso comprar um vibrador... — desafia.


Como punição, eu mordo seu lábio até ela gemer.

— Só vai usar quando eu mandar, ou se eu o usar em você.


— Desço a mão para o seu ventre. — Meu filho! — Deslizo mais e
agarro sua boceta. — Minha mulher...
Seus olhos nublam de desejo e ela morde o lábio enquanto
se esfrega em minha mão. Tomo seus lábios, beijando-a com
cuidado. Eu sou viciado nesse gosto de morango de sua boca.
Exploro seu interior com um beijo lento e calmo, transmitindo a ela o
meu carinho e a certeza da minha decisão.

— Eu caso — sopra quando eu a libero.

— Vou fazer dar certo. E, se não der, continuaremos amigos.


Promete?

Sou consumido pelo incômodo de um dia a perder. Eu não sei


como ser pai ou um bom marido, nem mesmo sei como dividir a
atenção do trabalho com a família. Tivemos bons momentos juntos
quando eu não precisava trabalhar, e mesmo assim foram poucos.
Eu terei de arrumar muito mais tempo para ela e o nosso bebê.
— Prometo — sussurra, olhando-me com intensidade
enquanto alisa meus cabelos.

Sinto meu coração contrair no peito e voltar a bater com


força. Prendo o olhar de Lara no meu e minha alma se ilumina.

É estranho como eu nunca senti nada igual em toda a minha


vida.
— Lara... você é muito especial, acredite! — declaro e volto a
beijar seus lábios.

Eu paro de beijá-la e a encaro mais uma vez, então sorrimos


um para o outro. Ela suspira e acaricia minha barba.
— Agora podemos sair deste chão? — pergunta com riso na
voz.

— Sim. Vamos.

Levanto-me e a trago comigo. Deixamos o quarto e vamos


para o de João, que já deve ter entrado em cirurgia. Agora só nos
resta esperar pela notícia de que correu tudo bem.

— Você tem de começar o pré-natal — digo.


Puxo Lara para o meu colo quando me sento na cama de
acompanhante.

— Isso... e terminar a faculdade antes que o bebê nasça. Vou


precisar adiar a busca por um emprego — reflete.

Ela ainda não se deu conta de que se casará com um homem


de posses.
— Você vai conseguir atuar em qualquer clínica quando
chegar a hora. — Beijo seu ombro. — Não tenho dúvidas disso.

— Quando virem o sobrenome Conti na minha identidade,


tenho certeza de que as portas se abrirão. — Lara abre os braços, e
eu dou risada.

— Use e abuse da minha influência enquanto meu pai não


me deserda. — Apesar da dura verdade, saber que serei pai e que
Lara é minha por tempo indeterminado ajuda a acalmar minha
cabeça.
— Se ele te deserdar, você pode abrir outra empresa. — Ela
me encara, e tenho vontade de morar em seu olhar. — Você é
bilionário! Mesmo que boa parte da fortuna pertença à sua família,
ainda tem a sua parcela, e, com ela, você poderia abrir uma nova
empresa.

— Eu não tinha pensado nisso.

— Os amigos que estudaram com você no MIT... — Contei a


ela sobre as minhas aventuras na faculdade há duas noites,
enquanto falávamos de nossas vidas. — Eles podem participar
como sócios, não podem? Eu não sei ao certo como isso funciona,
mas tenho certeza de que eles te ajudariam.

— Cada um tem sua empresa, eu não acho que podem


perder tempo com isso agora. — Descanso a cabeça na parede.

— Não é perder tempo, é investimento. — Lara segura meu


rosto, fazendo-me olhar para ela. — O mafioso deve ter um bom
capital para investir.

— Mafioso? — Dou risada.


— Sim, o da Mansão, Alexandre.
— Alexander — eu a corrijo. — Talvez ele seja uma opção...

— Caminhos, você tem para seguir. Vamos permanecer com


o plano inicial, e se ele não der certo, partimos para o plano B, que é
você abrir a sua própria empresa.

— Obrigado, Lara! — Beijo seus cabelos e nos deito na


cama. — Quero fazer uma coisa.

Desço um pouco e levanto sua blusa, deixando seu ventre à


mostra.

— Oi, bebê! — falo com meu filhote, e minha garganta trava


de emoção. — Eu não me imaginava sendo pai tão cedo, e agora
você e a doida da sua mãe apareceram na minha vida. — Ela bate
na minha cabeça, e eu dou risada. — Vou passar os próximos
meses conversando com você todos os dias, e farei o meu melhor
para ser um bom pai e marido. — Beijo sua barriga. — Você nunca
me decepcionará, mesmo que não siga o que eu planejar para o seu
futuro ou tenha um estilo de vida diferente do meu. Você sempre
será o meu orgulho!

Enxugo uma lágrima que teima em escorrer pelo meu rosto e


beijo sua pele.

— Seremos bons pais — diz Lara, com os olhos marejados, e


eu aceno que sim.

Meu celular toca e eu o pego. Vejo o nome da minha


secretária na tela e atendo.
— Senhor Conti, temos um problema enorme. — Sua voz
aflita me deixa em alerta.

— O que aconteceu?

— Um áudio de uma conversa suspeita se espalhou pela


empresa. Dizem ser a voz do senhor.
— E o que tem nesse áudio?

— O senhor combinando de dar um golpe no seu pai.

Puta! Que! Pariu!

Eu estou ferrado!
- 18 -
 

Caio

E
ntro no escritório do
meu pai soltando
fogo pelo nariz. É
impensável que ele tenha acreditado em uma merda dessas. Será
que ele não me conhece o suficiente para saber que sou incapaz de
armar contra ele?

Quando eu desliguei o celular, fui direto para a empresa, para


escutar a porra do áudio espalhado pelo meu departamento. E é a
conversa mais estranha que eu já ouvi! Além do que, a voz em nada
se parece com a minha. Quando eu pegar o infeliz responsável por
esse áudio, vou apertar seu pescoço até os olhos saírem para fora!

— Não sabe bater? — indaga meu pai, cheio de raiva,


quando eu abro a porta de sua sala.

Em frente às janelas, ele encara a cidade aos seus pés como


se fosse um maldito rei. Eu o venerava, ele era o meu herói, a
pessoa que eu mais respeitava na vida. Agora, eu não consigo o
encarar sem sentir o ódio borbulhando dentro de mim, pelo modo
como tem me tratado nos últimos tempos e por ser tão imbecil que
confundiu a voz do próprio filho, que ele escuta há 33 anos.

— Diga que não acreditou nessa merda de áudio. — Aperto


os punhos, pisando duro em sua direção.

— Áudio? — Sua cara cínica me deixa possesso. — Você


diz... este? — Ele vai ao seu computador e aperta uma tecla. — Que
toda a diretoria recebeu por e-mail hoje de manhã?

Minha suposta voz reverbera pela sala com o maldito plano


que eu teria armado:

“Meu pai me impôs uma cláusula ridícula de que eu devo me


casar em dois meses para poder assumir a empresa, e eu não estou
disposto a cumprir. Dê um fim nele, sem deixar rastros.”

— Eu nunca faria isso! — Tento me defender, em vão.

— Não? E quem mais saberia que eu impus um casamento a


você em troca de assumir a empresa? — Ele bate na mesa. — É
minúscula a lista de pessoas que saberiam disso, e eu duvido muito
que uma delas tentaria me matar!

— DUVIDA? — grito, perdendo o resto de controle que me


restava. — A porra do Pablo poderia mandar te matar agora mesmo!
Mas, para você, é mais fácil acreditar que eu, seu filho, sangue do
seu sangue... — Bato em meu braço. — Que sempre te amou acima
de qualquer coisa, seria capaz de te matar por causa de uma
empresa!

— As pessoas fazem coisas inimagináveis por dinheiro — diz,


entristecido, e balança a cabeça.
Respiro fundo antes de marchar até ele e segurar a lapela de
seu paletó, deixando-nos nariz com nariz. Meu pai tem ódio em seus
olhos quando me encara, e eu tenho vontade de socá-lo até fazê-lo
acordar da maldita ilusão em que foi aprisionado.
— A culpa disso tudo é minha, não é? — Eu finalmente me
dou conta da verdade. Solto meu pai e continuo o encarando. — Eu
não fui o suficiente, e você sempre me culpou pela mamãe ter tido
uma gravidez de risco e não conseguido mais engravidar depois de
mim.

Solto o que entala minha garganta sempre que meu pai fala
sobre eu ser o único herdeiro e ele não poder ter outros filhos. Meu
pai nunca me culpou diretamente, mas também nunca deixou de
lamentar não ter tido uma família grande, como sempre sonhou.

— Não fale besteiras, eu nunca sequer cogitei te culpar por


isso. — Ele parece se acalmar. — Essas coisas não podem ser
controladas. A minha decepção é não ter te criado direito e feito de
você um homem de família. A culpa de você ser desse jeito é toda
minha. Eu acreditei que, se você se casasse, poderia se tornar um
homem de respeito, mas, em vez disso, eu só estou recebendo mais
decepções.

— E o que seria um homem de família para você? Alguém


que acredita que o filho que o ama é capaz de matá-lo por uma
empresa? — debocho, com a mágoa tomando conta do meu ser.

— Eu nunca disse que acreditava nesse áudio. — Desvia o


olhar do meu. — Estou furioso por essa situação ter chegado a esse
ponto, em que toda a diretoria tomou conhecimento da situação da
nossa família. E agora nenhum deles será capaz de acreditar que
você será um bom CEO.
— Quando me mostrou o áudio, você pareceu acreditar que
eu seria capaz de fazer aquilo. E quando falou que pessoas fazem
coisas inimagináveis por dinheiro, deixou bem claro que, entre você,
a mamãe, o Pablo, o Jairo e eu, eu seria o único capaz de te
machucar. Você pode ter falado de cabeça quente, mas a sua
intenção não me passou despercebida.

O ar começa a entrar com dificuldade em meus pulmões,


tento respirar fundo para recuperar o fôlego, que cada vez mais foge
de mim.

— O Jairo não sabe de nada, deixe de ser tolo. Aquilo foi um


acordo entre nós, seu tio Pablo nunca falaria nada.

— Você é o único tolo aqui. Enquanto eu jantava com a minha


noiva, o Jairo apareceu e fez questão de dizer à Lara que eu só a
estava usando. — Dou um passo para trás, confrontar meu pai só
está me magoando. — É você que não sabe quem são as pessoas
ao seu redor, pai.
— Aonde você vai? Não terminamos de conversar! —
Acomoda-se em sua cadeira como um maldito rei. — Sente-se,
agora!

— Como quiser! Hoje vou te deixar falar todas as suas


sandices. Mas, antes, eu quero que me diga... por que você confia
cegamento no Pablo?
Sento-me de frente para ele, não porque ele mandou, e sim
porque não estou mais conseguindo sustentar meu peso e o aperto
no peito aumenta conforme se torna mais difícil respirar. Puxo a gola
da camisa, buscando aliviar a pressão em meu pescoço.

— O Pablo cuidou da sua mãe quando seus avós faleceram.


Ele deu o sangue para que ela conseguisse estudar, passou fome
quando não podia colocar comida na mesa para os dois. Foi graças
ao Pablo que a sua mãe se formou e conseguiu um bom emprego,
enquanto ele abdicava da própria vida.

— Quanto aos cuidados que ele teve com a mamãe, eu


nunca vou esquecer as histórias que ela me contava. — Lembro-me
de que um dia eu também gostei do Pablo, até perceber a cobra que
ele é. — Você nunca percebeu como é ganancioso? Desde que o
vovô morreu, deixando a empresa para você e aquelas ações para
ele, o Pablo se transformou num ambicioso, capaz de manipular a
mamãe para conseguir a sua confiança e um cargo na empresa.

— Ele não fez nada disso, fui eu que quis dar um lugar ao seu
tio na empresa, como agradecimento por tudo o que fez para a
minha esposa quando jovem.

— E o que ele fez depois disso? Continuou querendo mais, e


ainda adora apontar os meus erros, que, vamos combinar, pai... não
são nada comparados às minhas conquistas para te fazer querer me
deserdar e deixar tudo para ele.

— Basta desta conversa! O Pablo é um homem bom e que


seria capaz de conduzir a empresa no meu lugar, ou no seu.
Portanto, desista dessa ideia de casamento arranjado, eu já disse
que você não vai me convencer. — Abana a mão, e eu reparo que
não me encara mais. — Você nunca mais vai me enganar.
— Eu vou me casar com a Lara porque a quero como minha
esposa, e teremos uma família juntos, não por sua causa.

— Chega de mentiras! — esbraveja ao bater na mesa. —


Onde você estava de manhã, quando esse áudio se espalhou?
Fodendo com uma boceta qualquer?

— Eu estava no Samaritano com o João, antes da cirurgia


dele.
Omito de meu pai a gravidez da Lara, eu não quero manchar
a minha felicidade pela nossa descoberta com uma briga ou
acusações de que o bebê foi um golpe.

Aperto os punhos, causando dor na palma da mão, em uma


tentativa de desviar a dor em meu peito, que se comprime cada vez
mais.
— Se não foi você que falou aquilo, quem teria sido?

— Que tal a pessoa que mandou o e-mail? — Balanço a


cabeça, cansado disso tudo. — Quer saber? Não vale mais a pena.

— O que disse?

— Eu disse que não vale a pena — murmuro a última palavra.


Meus olhos ardem, é um sinal de que devo ir embora, antes de
explodir na frente dele. — Eu dediquei a minha vida a você, a te
mostrar que eu era capaz de assumir a empresa da família e te
deixar orgulhoso.
— Enquanto me matava de vergonha por ser um promíscuo.

— E isso foi tudo o que você sempre enxergou. — Fecho os


olhos. — Eu desisto, não quero mais suceder a Conti Motores e
Aviações. Vou criar minha própria empresa e te mostrar que não sou
nenhum incompetente.

— Vai desistir do casamento, também? — debocha, não


acreditando em minhas palavras.

— Eu nunca desistirei da Lara, mas desisto de você. E se


quiser continuar fazendo parte da minha vida, mude sua atitude, ou
cortaremos laços.

— Vá e veja por si mesmo que administrar uma empresa não


é para qualquer um. Eu não dou um ano para você voltar se
rastejando, pedindo perdão e com um novo estilo de vida, de
homem de família.

— Eu te digo só mais uma coisa... — Levanto-me e pouso um


dedo em sua mesa. — Vou descobrir quem me envenenou para
você e fazê-lo engolir todos os seus insultos, provando a minha
inocência!

Meu pai respira fundo e comprime os lábios. Parece que vai


dizer algo, mas desiste. Provavelmente, outra ofensa.

— Ninguém precisou fazer isso, eu vi com meus próprios


olhos — sussurra com pesar.

Saio da sala sem responder.

Eu nunca pensei que chegaria a esse nível de desavença


com meu pai. Os funcionários me olham e cochicham. Mas deixo a
empresa de cabeça erguida, sabendo que nunca mais colocarei os
pés aqui, sem receber um pedido de desculpas do meu pai. Eu
cansei de ser seu saco de pancadas, sem ter direito à dúvida ou
provar minha inocência.
Entro no carro e bato no volante com força, tentando expurgar
a dor em meu peito. Eu não vou derramar uma única lágrima por
causa dele, recuso-me a fazer isso.

Após alguns minutos de descontrole, pego o celular e ligo


para Alexander; se eu quero descobrir quem me fodeu, vou precisar
da ajuda do meu amigo, ele conhece as pessoas certas para o
serviço.

— Preciso da sua ajuda — digo quando ele atende, nem


mesmo o deixando dizer “oi”.

— Do que precisa?

— Tem um filho da puta me fodendo por trás, e não no bom


sentido. Quero que você me ajude a descobrir quem é, e com
provas contra o culpado.

— O que fizeram? Achei que seu pai tinha sossegado depois


de te intimar com o casamento.

— Enquanto eu me preocupava com a Lara, alguém


aproveitou o meu afastamento para espalhar boatos na empresa
sobre mim, e um áudio em que eu supostamente mando matar meu
pai.

— A pessoa deve ter agido antes disso, você só não


percebeu — aponta com tranquilidade.

— Possivelmente, e agora eu preciso reparar o meu erro.


— De nós quatro, você sempre foi o que menos se importava
com o que falavam. Talvez nunca tenha parado para ouvir os
boatos, deixando seus inimigos se aproximarem, a ponto de te
destruírem. Seu descuido agora veio cobrar o preço.

— Sim, e preciso que use seus contatos, tenho de provar


minha inocência. Sei que você pode me ajudar a me livrar dos meus
inimigos — peço, tentando conter a raiva.

Eu sempre fui assim, nunca me importei muito com o que


falavam de mim, e fingia não ouvir os boatos que circulavam na
empresa sobre a minha vida sexual. Eu focava em meu trabalho e
em planejar novos projetos, além de aprimorar os antigos. Enquanto
isso, alguém se aproveitou do meu descuido. Agora, estou em uma
situação difícil de contornar somente com a minha palavra.
— Vou cuidar disso agora mesmo. Quando tiver informações,
eu te aviso.

— Obrigado, Alexander!
— Não precisa agradecer, somos os quatro mosqueteiros, e
ninguém mexe com meus amigos  — declara, e sua voz é fria e
afiada.

Eu coço a cabeça, então arranho a garganta.

— Por falar em mosqueteiros, eu quero conversar com vocês,


de preferência hoje à noite.

— Sobre o quê?
— Vou contar pessoalmente... e me preparar para o ataque
que virá — confesso, meio arredio. — E a outra coisa é que eu me
demiti, e preciso de um emprego.
— Eu posso te contratar como meu segurança, você é bem
grande e parrudo, daria um bom escudo.

Dou risada da sua provocação.

— Sou lindo demais para ser um segurança.


— Melhor ainda, as pessoas prestariam atenção em você e
não me viriam passar.

— Seu idiota... espero você na minha cobertura hoje à noite,


vou falar com o William e o Heitor, então confirmo o horário.

— Babaca — Alexander diz antes de desligar.

Depois da ligação, sigo para o meu apartamento. Tenho muita


coisa para preparar antes da chegada dos meus amigos, e uma
delas é levar a Lara de volta ao hospital, a cirurgia do seu pai deve
estar para acabar.
Agora, eu preciso cuidar da minha moranguinho.
- 19 -
 

Caio

C
hego em casa e
procuro pela Lara.
Ouço seus gemidos e
fico desconfiado, com medo de ela ter se machucado. Ou... coisa
pior. Corro em direção ao som, que vem do meu quarto. Com o
coração na mão, abro a porta, mas encontro o quarto vazio. A
origem do som vem do banheiro.
Respiro fundo, aliviado. Por um ínfero segundo, pensei que
ela pudesse estar com alguém aqui dentro. Vou até o banheiro e a
encontro agachada em frente ao vaso sanitário, vomitando.

Seguro seus cabelos e aliso suas costas, em uma tentativa


de a ajudar a se sentir melhor e diminuir os enjoos que ela sente
toda manhã e início da noite. Agora que sabemos a causa,
precisamos ir ao médico, para que ele nos diga o que fazer para
acalmar seu estômago e, assim, ela voltar a comer normalmente.

— Já marcou a ginecologista? — pergunto, enxugando sua


testa quando ela se deita em meu peito e respira com dificuldade.
— Apaguei de sono depois que você saiu, só acordei para
vomitar.

Beijo sua testa e a ajudo a se levantar para lavar a boca.

— De amanhã não passa. Marque uma consulta, ou farei isso


por você. — Saber que Lara espera um filho meu ativou um instinto
em mim que eu nunca esperei sentir. É estranha a sensação de
posse e proteção que ela me desperta.

— Certo, mamãe.

Dou risada da sua cara irritada e beijo novamente sua testa,


então a levo para a cama.

— Estou muito cansada. — Lara cobre os olhos com os


dedos ao deitar a cabeça no travesseiro. — O hospital me ligou
informando que ocorreu tudo bem na cirurgia e que meu pai
precisará ficar dois dias na UTI, para prevenir infeções. Enquanto
isso, eu não poderei vê-lo.

— Boas notícias, eu fico feliz. Aproveite para descansar. Verei


se a cozinheira preparou o jantar, pois eu havia dito que não
cozinhasse hoje, já que pensava em sair. Porém, os planos
mudaram...
Lara tira os dedos dos olhos e me olha, preocupada.

— O que aconteceu? Seu pai brigou com você de novo?

Sorrio e acaricio sua testa. Mesmo mal do estômago, Lara se


preocupa comigo. Eu nunca pensei que um dia teria a sorte de
conhecer alguém como ela.
— Depois eu te conto. Agora, tente dormir um pouco.
Ela sorri de maneira carinhosa.

— Obrigada, Caio. — Segura minha mão, e eu beijo seus


lábios.

Lara fecha os olhos, e eu saio do quarto devagar.

Fico preocupado com seu estado e considero adiar a reunião


com meus amigos, para poder cuidar dela. No entanto, logo
recrimino esse pensamento. Eu me meti nessa encrenca por adiar
situações que exigiam a minha atenção, e agora estou atolado até o
pescoço na merda. Vou cuidar da Lara e resolver esse problema da
empresa ainda esta noite.

Paro no meio do corredor, dando-me conta de como estou


flexível. Eu só era assim, e sem questionar, com o meu pai, e agora
me pego pensando em adiar uma reunião importante para cuidar da
Lara. Quando eu me tornei esse homem? De certo modo, não é tão
ruim me deixar ser comandado por essa mulher.

Exatamente isso!

A Lara só tem esse poder sobre mim porque eu deixei, mas a


última palavra sempre será minha, mesmo que seja para concordar
com ela.
Quem sabe, mais tarde, ela me deixe me enfiar entre as suas
pernas e me perder no paraíso de sua boceta. Só de lembrar o
sabor de seu mel, meu pau começa a dar sinal de vida. Tenho de
dar um jeito em seu enjoo para que possamos transar. Mais um
motivo para eu fazer o que ela manda; se ela ficar boa, mais tarde
serei recompensando.
Merda, pareço a porra de um cachorro querendo o osso da
dona.
Vou para a cozinha e começo a preparar um jantar leve para
Lara. Pesquiso na internet receitas que ajudem grávidas com o
enjoo e encontro uma vitamina de cenoura, laranja e gengibre.

Uma hora depois, preparo a tal vitamina. Provo, e o sabor até


que é bom. Levo um copo para Lara, que olha para a bebida
fazendo uma careta.
— Diz na internet que vai ajudar a eliminar o enjoo. Beba só
um pouco.

— Se isso fizer o enjoo piorar, eu juro que soco suas bolas! —


Sua agressividade é sexy.
— Quanta raiva, nem parece que gosta de chupar minhas
bolas. — Pego no meu saco e faço um gesto obsceno para Lara,
que revira os olhos e esconde o sorrisinho. Então, bebe a vitamina
até não restar nada no copo.

— Se o enjoo não passar, eu fico um mês sem encostar a


língua aí! — Aponta, e eu fico com medo. Que essa maldita receita
dê certo!

— Vai se sentir tão bem que ficará pulando pela casa!

— Está vendo, bebê — fala com nosso filho em seu ventre —,


ameace as bolas do papai e ele fica obediente.
— Não ensine essas coisas para a criança! — Puxo sua
perna, e ela grita, quase deixando o copo cair. Dou risada da sua
cara de brava.
— Uma semana sem sexo para você! — decreta, e eu me
arrependo.

— Eu só estava brincando. — Beijo sua perna. — Não seja


malvada comigo, mulher diabólica.

— E ainda fica me chamando assim... — Empurra meu peito


com o pé. — Dê o fora daqui!
— Que tal eu te jantar? — sussurro e beijo sua panturrilha,
deixando pequenas mordidas em sua pele. Ouço Lara suspirar
baixinho enquanto trilho acima sua perna gostosa.

— Tentador, mas ainda estou enjoada. — Apesar de suas


palavras, ela abre as pernas para mim, deixando sua bocetinha,
coberta por uma calcinha de renda vermelha fina, à mercê da minha
boca faminta.
— Não é isso que estou vendo... — Aliso sua umidade com a
ponta do dedo.

Lara coloca o copo em cima da mesinha de cabeceira e se


acomoda nos travesseiros.

— Você não está vendo nada... — Sua voz embarga com o


tesão.

— Tem razão, estou cheirando! — Afundo meu nariz em sua


carne, inspiro seu cheiro de mulher e esfrego o nariz em sua região.
O tecido da calcinha encharca. — Pingando de desejo por mim...
quer minha língua, Lara? — pergunto em tom de voz manso,
puxando a lateral de sua calcinha e liberando sua bocetinha
brilhante pela lubrificação.
— Não — responde enquanto prende meu pescoço com as
pernas, não me deixando escapatória além de ficar com a cara entre
suas coxas.

— E por que me prendeu? — Estico a língua e dou uma


lambida de leve em seu clitóris. Lara suspira, ansiando por mais.

— Não estou te prendendo — sopra num fio de voz e


empurra a pélvis.
— Porra, mulher!

Meu desejo bate forte, então largo mão do controle que eu


sempre tive no sexo. Era eu que fazia as mulheres implorarem e as
tratava como minhas cadelas na cama, fodendo suas bocetas como
eu queria.
Abocanho sua boceta, chupo forte seu clitóris e bebo seu
melzinho, desesperado para a ter como minha e fazer essa safada
gritar que me pertence.

Lara aperta as pernas ao redor do meu pescoço, puxando


minha cabeça para a sua boceta e quase me asfixiando. Seguro
suas coxas para liberar a pressão do aperto. Encontro seu olhar
com o meu e a faço entender que apertou demais. Sua cabeça
balança duas vezes, em sinal de entendimento, antes de pender
para trás quando ela começa a gemer.
A visão de seu corpo, o ventre arqueado, deixa-me em puro
deleite. Admiro seus seios cobertos pela camisa, sem sutiã, e com
os biquinhos eriçados. Os cabelos esparramados, o pescoço fora do
meu campo de visão, o queixo no alto, com a boca aberta,
buscando por ar em meio ao seu prazer. Subo minha mão,
levantando sua blusa, e agarro seu seio, apertando a carne macia.

Largo sua boceta por um segundo e a penetro com a língua,


enrijecendo o órgão para que ela me sinta a comendo enquanto
deliro de vontade de meter meu pau aqui dentro. Suas paredes
macias são deliciosas de lamber e chupar. Eu a devoro até ficar
enlouquecida. Lara jorra um líquido quente e gostoso em minha
boca.

Bebo tudo, sem deixar uma gotinha de fora, enquanto ela se


recupera do orgasmo.

Suas pernas pendem ao meu lado enquanto ela tenta


recuperar o fôlego. Beijo seu ventre, mordo sua barriga e deixo seus
peitos de fora. Desfiro dois tapas nos bicos, fazendo-a gritar, e
aproveito seu susto para segurar seu pescoço e devorar sua boca,
moendo meu pau contra a sua bocetinha sensível. Eu me esfrego
em sua carne feito um louco sedento, então roubo seu ar com um
beijo.

Aperto suas bochechas com meu indicador e polegar, abrindo


sua boca em um “O”, o que não a permite falar.

— Minha cadela atrevida, acha mesmo que pode mandar em


mim? — Mordo seu queixo e empurro o quadril contra o seu. Lara
revira os olhos em resposta e geme, seu olhar quente me
desafiando. — Quem é seu dono, Lara? — rosno e a encaro, duro,
meu lado dominante aflorando como um maldito animal.

— Eu sou minha dona... — Ela sorri. — E a sua.


— Porra, mulher, você é o caralho da minha dona! — admito
a verdade que queima em meu interior. Remexo meu pau contra a
sua bocetinha, fazendo-a se contorcer com o princípio de outro
orgasmo. — Agora me diz, Lara: quem é seu dono?

Estapeio seus seios, recebendo seus gritos e o comichão em


sua boceta se esfregando em minha calça como resposta positiva.
Ela adora quando eu a maltrato.

— Faça-me gozar e eu digo — pede, deitando o rosto em


minha mão. Volto a apertar suas bochechas, fazendo-a me encarar,
e diminuo meu movimento.
— Não, só vai gozar quando disser quem é o dono da sua
boceta!

Beijo seu queixo, indo em direção ao pescoço, e noto seus


sinais de excitação aumentando. O ponto fraco de Lara é seu
pescoço, e eu ainda não tinha a deixado saber que descobri sua
fraqueza. Hora de usar isso a meu favor!

— Diga o nome do seu dono! — rosno em seu ouvido,


aumentando a velocidade do meu quadril e mordendo a pele de seu
pescoço, mas recuando quando a vejo quase gozar.

— Caio! — geme em um sussurro sofrido.

— O quê? Diga cada letra, Lara!

— Você... — sopra com voz enrouquecida. — Você... é.…


o.… meu... dono. — Acabo com a sua tortura e a deixo finalmente
gozar, liberando-se contra a minha calça.
Essa mulher é minha.
E eu sou completamente dela.

Cacete, estou de quatro pela Lara, coisa que jurei que nunca
ficaria por mulher nenhuma.
- 20 -
 

Caio

L
evanto da cama me
deliciando com a visão
que é ter a Lara
largada no colchão com a respiração pesada, se recuperando de
orgasmos seguidos. Ajeito meu pau dentro da calça e saio da cama,
ela se senta rápido e me observa com o olhar. 

— Onde você vai? — Seus peitos, apertados pela blusa


embolada em cima deles, me chamam de volta para a cama, mas
agora preciso ter foco. 

— Vou me encontrar com meus amigos, o Alexander já está


avisado, porém, ainda tenho de ligar para o William e o Heitor. 

— Aconteceu alguma coisa? — Ela me olha com ardor.

Sento-me na beira da cama e aproveito para fazer carinho em


sua pele macia.

— Eu pedi demissão hoje — confesso.


Lara me olha preocupada e se levanta. Vejo lágrimas não
derramadas em seus olhos e isso me deixa desconcertado. Ela está
triste por mim.
Ela alisa minha barba e dá um sorriso triste.

— Eu sinto muito, por isso Caio — murmura.


Eu viro o rosto e beijo a palma da sua mão.

— Preciso te contar o desenrolar da conversa com meu pai.  


Assim, relato para a Lara tudo que aconteceu no escritório e a
minha conversa com o Alexander. 

— Não achei que fosse chegar a esse ponto.  


— Nem eu. — Suspiro e nos levo ao banheiro. — Vai ligando
o chuveiro enquanto mando mensagem para os rapazes virem para
cá. 

Lara me abraça forte e beija meu peito.


— Vamos mostrar a esse idiota que você será um ótimo
empresário e um pai melhor ainda.  
— Obrigado. — Beijo seu pescoço e rio quando ela se
encolhe.  

Lara vira de costas e não resisto a estapear sua bunda


redondinha, qualquer dia vou convencê-la a me deixar comer seu
rabo, deve ser o paraíso se enfiar no seu cuzinho virgem e gostoso
com as bandas de sua bunda amassando meu pau. Antes que meus
pensamentos me distraiam novamente, eu saio do banheiro e envio
uma mensagem para os meus amigos, chamando-os aqui, e aviso
que é urgente. 

William demora a responder, enquanto o Heitor confirma na


hora sua presença, porém virá com a Letícia e Geovanna, pois está
com a esposa no pré-natal.

Ao ler sua mensagem eu sorrio, daqui uns dias sou eu a estar


acompanhando Lara ao obstetra. E pensar que Heitor quase perdeu
tudo isso, por ter sido um idiota no passado.

Agora ele está feliz, casou com a mulher que ama e tem uma
filha linda e outra a caminho.

Penso em William, esse teve uma história bastante incomum,


ao engravidar Emilly, na época eram dois desconhecidos que se
encontraram em uma das festas da Mansão. Agora ele é pai de um
garotinho e vive feliz ao lado de sua família.

Dos quatro cavaleiros somente eu e o Alexander


permanecemos fieis a nossas vidas de solteiros e cafajestes. Até a
Lara aparecer e virar meu mundo de cabeça para baixo. Desde que
a vi, mesmo com a minha mente nublada pela embriagues e raiva,
eu soube que a queria. A proposta de casamento só veio a calhar. 

Eu sempre soube que se oferecesse o tratamento do seu pai


em troca dela aceitar a proposta de casamento, a Lara teria
concordado pelo amor que ela tem ao João.

Se ela se tornasse minha esposa nesses termos, ela nunca


seria realmente minha. Eu posso ter sido um galinha, e nunca ter
me apagado a ninguém, mas se tem uma coisa da qual me orgulho
é da minha honestidade, nunca prometi nada, não as enganei ou me
aproveitei. 
Se eu usasse da fragilidade emocional da Lara para a fazer
ser minha esposa, estaria provando ao meu pai que eu não presto,
e acima disso, estaria acabando comigo mesmo. Nunca conseguiria
me perdoar se a prendesse a mim contra sua vontade, e
conhecendo o gênio da Lara sei que viveríamos brigando. Foi um
golpe do destino termos nos envolvido primeiro como amigos e
depois a paixão tenha surgido, dessa forma hoje podemos estar em
paz com nossas escolhas e felizes por termos um ao outro. 

Ofereceremos um lar ao nosso filho, que não será montado


em cima de falsidade e mentiras regado pelo ódio. Eu ainda não
tenho certeza quanto aos meus sentimentos por Lara, mas sinto que
seria capaz de cometer loucuras por essa mulher e pelo meu filho.
Vou mostrar a ambos que fizeram a escolha certa em serem meus,
limparei o meu nome e farei meu pai me pedir desculpas por ter
duvidado de mim e ofendido minha mulher. 
Deixo o celular em cima da cama e vou encontrar minha
deusa no banheiro, que ensaboa suas pernas de costas para a
porta de vidro do box, me dando uma visão privilegiada da sua
bunda.

Tiro minha roupa sem fazer barulho e entro no box ficando


atrás dela. 

— Isso tudo é para mim? — Espalmo seu traseiro e Lara se


sacode para a frente. 
— Não posso mais nem me limpar — reclama e entrega a
esponja na minha mão. — Lave minhas pernas, agora que chegou. 

— Com prazer — sorrio sem vergonha, e Lara engole em


seco, os olhos brilhando de excitação. 

Fico de joelhos e apoio seu pé na minha coxa passando a


esponja em sua pele com delicadeza lavando cada centímetro.
Esfrego em suas coxas com movimentos circulares raspando meus
dedos em sua virilha. Lara apoia uma mão em meu ombro e morde
os lábios, termino com uma perna e faço o mesmo procedimento na
outra, demoro em sua virilha e arrasto meus dedos em suas
dobras. 

— Ficou melhor do enjoou? — pergunto com a voz rouca e


ela confirma que sim com a cabeça, de olhos fechados, enquanto
belisco seu clitóris com os dedos. — Acha que eu mereço uma
recompensa?  

— Sim, merece. — Alisa meus cabelos e os puxa para cima,


trinco os dentes pela dor, obedeço a seu comando ficando de pé a
olhando de cima. Seu olhar nublado pela luxúria. — Deixe eu te
ensaboar agora. 

— Lave tudo direitinho. 

— Sim senhor! — Morde meu queixo ficando na ponta dos


pés. Agarro sua bunda com minha mão, a trazendo para mim e beijo
seu lábio, possessivo, então devoro sua boquinha atrevida.  
A solto, e Lara cai de joelhos na minha frente, ela senta a
bunda nos calcanhares e me olha como um anjinho, pronto para
tentar o satanás a se converter.
Aliso seu rosto e belisco seu queixo, a safada morde os lábios
em resposta, e esfrega o busto em meu pau que está duro como
aço armado, quase tocando meu umbigo.  

Seus peitinhos brincam com meu membro e seguro a base,


passando a cabecinha em suas aureolas marrom clarinho, quase da
cor da pele, e os bicos duros como pequenas pedrinhas, tenho
ânsia de morder seus peitos, controlo minha vontade e continuo
passando meu pau neles, os fodendo como eu sonhava em fazer.  

Lara pressiona os peitos engolindo o que pode do meu


membro entre o vão de seus peitos em uma espanhola, que fica a
porra do paraíso quando ela abre a boca e começa a abocanhar a
cabeça rosada de meu membro, sempre que soco para cima. Meto
com força no vão de seus peitos até sentir minhas bolas apertando
para gozar, e a maldita campainha toca.  
— Acho que seus amigos chegaram. — Ela tira meu pau para
fora da boca, só para falar isso com um maldito sorriso nos lábios,
nem fodendo que a deixo parar agora. 

— Não se atreva Lara — ameaço e ela ri diabólica, antes de


soltar os peitos, estou prestes e agarrar sua cabeça quando ela me
surpreende segurando meu pau e caindo de boca no meu cacete. 

— Ah língua infernal! — gemo e agarro um punhado se seus


cabelos socando no céu de sua boca, quente e úmida. 

Lara me suga com vontade, faz sons e baba pelos cantos dos
lábios aumentando minha insanidade, começo a socar desenfreado
em sua garganta indo um pouco mais fundo em sua quentura
molhada.
Seus olhos se enchem de lágrimas pela ânsia de vômito e ela
segura tudo como a boa safada que é, então agarra minhas bolas
pesadas e arranha com as unhas.  
É demais para mim, uma fisgada forte em minhas bolas e o
jato quente do meu gozo explode na boca de Lara, que solta meu
pau num “ploc” e cospe minha porra no chão. Um dia ainda a faço
engolir tudo, por enquanto é melhor manter meu esperma longe do
meu filho, pois não pode virar nutriente para o bebê. 

— Você devia ter avisado. — Ela bate na minha coxa. —


Sabe que não gosto desse sabor. 

— Não sabe o que você perde por não engolir. — Agacho-me


e seguro seu queixo. — Eu sou louco no seu sabor. — Beijo seus
lábios e sinto o salgado da minha porra em sua boca. — Mas nada
de gozo para você, enquanto estiver com meu filhote na sua barriga.
— Adoro provocar a Lara.

— Você é um idiota, Caio — fala e se levanta, então liga o


chuveiro.  

— Estou brincando, amor! — Também me ergo e a abraço


por trás. — Estava tão gostoso que esqueci de te mandar parar,
desculpe-me — peço fazendo bico. 

— Às vezes tenho vontade de te estrangular. — Gira no meu


braço. 

— Eu sei, pode fazer que eu gosto. — Bato em sua bunda e a


campainha toca novamente junto do meu celular. 

— Vai atender seus amigos. 


— Deixe eu me limpar. 
Ela me dá lugar no chuveiro e limpo meu pau e barriga antes
de sair e vestir uma roupa para abrir a porta. A essa hora a
empregada já se foi, e me perdi na hora. Também, quem manda ter
uma mulher gostosa para caralho?

Heitor e Letícia me encaram emburrados, enquanto ele


segura Geovanna no colo. Ela é um docinho, e assim que me vê,
abre um sorriso. Pego a princesa no colo e beijo seu rostinho, a
fazendo rir pela minha barba roçando sua pele. 

— Para, tio Caio! — Espalma as mãos no meu rosto, me


afastando. 

— Você é muito fofa, não consigo resistir! — Faço uma voz


infantil que ela adora e beija minha bochecha. 

— Pensei que estivesse dormindo — diz Leticia com sua


barriga enorme, ela parece cansada.

Coloco a minha princesa no chão, e os deixo se acomodar.

— Em que você se meteu dessa vez? — Heitor pergunta


assim que se senta no sofá. 

— Vou contar, quando os outros chegarem. 

— Conta de uma vez, estou curioso. — Eu rio e olho para


Geovanna, que começa a fazer um desenho em seu bloco, apoiada
na mesinha de centro.
— É muito difícil ser pai? — Tento controlar a emoção em
minha voz, não quero dizer agora que serei pai, somente quando
todos estivermos juntos.
— Demais — murmura e olho para ele, que observa a barriga
de Letícia com carinho. — Eu acordo no meio da madrugada para
ver se está tudo bem com a minha menina, então penso que em
breve outra menininha estará entre nós e... — Heitor me olha com
emoção no olhar. — É muita responsabilidade — fala baixo, e fico
com medo. 

— Isso é um inferno — deixo escapar. 

— Pode ser comparado. — Ele ri despreocupado, não parece


nem um pouco que tem sofrido como contou. — É um inferno e um
paraíso ao mesmo tempo. Eu sempre vou me arrepender por não
ter acompanhado o desenvolvimento da Geovanna, mas agora
estou tendo uma nova chance, e confesso que estou apavorado.
Mas não trocaria isso por nada nesse mundo. 

— Isso foi profundo. 

— É o que se sente quando é pai, eles se tornam parte de


você, uma que você só quer proteger. 
— Acho que meu pai se esqueceu disso! — Balanço a
cabeça. 

— Então o problema é com o velho. 

— Grande parte, vamos esperar o Alexander e o William,


quero contar de uma vez. 

— Rasgar a ferida várias vezes só piora — comenta.

Eu aceno e olho para Letícia, ela está sentada, com os olhos


fechados.
— Podemos pedir algo para comermos, uma pizza? — sugiro,
olhando de um para o outro.

— HAMBURGUINHO — Geovanna pula no sofá, e dou risada


da sua empolgação. 

— Pede uma pizza para nós, e um hambúrguer artesanal sem


verduras para a Geovanna — Leticia diz. 
— Pede umas cervejas também, faz tempo que não bebo —
Heitor pede e franzo a sobrancelha para ele. — Eu disse que são
tempos difíceis. 

— Você está me traumatizando. 

— O Heitor é generoso em suas palavras — Leticia diz


fazendo uma cara de sofrida. — A verdade é muito mais dura, você
nunca queira ter essas belezuras. — Ela faz careta. 

Olho de um para o outro com medo por suas palavras e então


eles começam a rir como dois idiotas, nem falei que vou ser pai, e o
castigo da zoação já começou.

Peço que eles aguardem um pouco e vou ao quarto, pegar


meu celular para fazer o nosso pedido.  

— Seus amigos chegaram? — Lara pergunta deitada na


cama, ela usa um vestido preto de lã colado no corpo.  
— Só o Heitor, com sua esposa e filha — digo e a encaro. —
Depois de conversar com eles, eu a apresento. 

— Vai falar do nosso acordo? — Ela franze as sobrancelhas,


e percebo que não quer que eu revele. 
— Não, e além disso, não há mais acordo, Lara! — Eu beijo
sua mão. — Teremos um filho e iremos nos casar, essa é a
verdade. 

— Ah Caio! — Ela me puxa e eu beijo seus lábios. 

Lara é a minha verdade, e a minha certeza. Agora vou traçar


meus planos para construir meu império e recuperar a empresa da
família, para que o meu pequeno possa ficar com tudo que pertence
a ele. 

Agora eu tenho uma família sob a minha responsabilidade, e


farei de tudo por eles. Não apenas pelo meu filho, mas pela Lara, a
mulher, que mesmo sabendo sobre o meu passado com as
mulheres, escolheu confiar em mim.

E eu jamais irei decepcioná-la.


- 21 -
 

Caio

O
s três já estão aqui,
não tenho para onde
fugir.  
— Agora conte! — William já chega louco para ouvir as
“fofocas”, esse curioso. 

— Vamos para o escritório. 

Não espero pela resposta deles e sigo para o meu escritório


com os três atrás de mim, Alexander o único que já tem noção da
merda em que me envolvi, caminha assobiando como se cantasse a
marcha da minha desgraça. Heitor e William fazem aposta sobre o
que aconteceu. 

— Milzinho que ele engravidou alguém — Heitor diz. 


— Dez mil que o pai vai deserdá-lo por não aguentar as farras
do Caio. 
— Eu apostaria cem mil nas duas alternativas. — O safado do
Alexander diz. 
— Se vocês errarem eu ganho os cem mil só pela zoação —
acentuo e entro no escritório, sento em minha cadeira, enquanto
eles se sentam sofá, sendo Alexander na poltrona. 
— Você não pode dar palpite. — William coloca um dedo na
boca, me mandando ficar calado. 

— Vamos lá, apostas finais? — Alexander se inclina e fingi


anotar em um papel na sua mão. — Heitor continua com a aposta
da gravidez?  

— Sim e dobro o valor, aposto que a mulher quer obrigar ele


a casar para assumir a criança. — Joga a carteira em cima da
mesa. 

— Permaneço achando que é o pai irritado com o Caio, por


ser um cafajeste. — William joga a carteira na mesa. — Ou será que
o pai descobriu aquele plano de casamento por contrato?

Maldita hora que abri minha boca sobre isso, no dia do


casamento do Heitor. 

— Como eu já sei uma parte — admite Alexander. — Vou


apostar no que ainda não sei, Caio engravidou alguém,
provavelmente alguma mulher importante, ela quer casamento, e o
pai dele ficou sabendo e agora quer o deserdar por ser
inconsequente. — Joga a carteira na mesa. 

Faço careta sem acreditar que eles estão se divertindo com a


minha desgraça, não que a Lara e o meu bebê sejam algo ruim, eu
estou feliz por os ter na minha vida, e não mudaria nada do que
aconteceu no caminho até aqui para ter esses dois.
O lance com o meu pai que continua sendo uma puta
desgraça fodida. 

— E então, quem leva a grana? — Heitor pergunta. 

— Nenhum dos três idiotas. — Encosto na cadeira e fecho os


olhos. — Vou contar o que aconteceu por partes então prestem
atenção. 
— Desembucha Caio! — William joga uma bolinha de papel
em mim. — Tenho hora para voltar, não sou um desavergonhado
como você. 

— Você virou um cachorrinho para sua esposa — digo, logo


me arrependo, sabendo que a zoação voltará para mim em
instantes. 

— Ao menos eu tenho uma esposa que me ama, e eu adoro


ser o cachorrinho dela! — O sem-vergonha nem esconde o sorriso. 

— Por falar nisso, fale logo, a qualquer instante Letícia me


chama para ir embora. — Heitor fala e resolvo acabar com a
espera. 

— A verdade é que o meu pai realmente cansou do meu


estilo de vida. — Antes que eles comemorem, eu faço um sinal com
a mão pedindo calma. — Esperem, não é o que vocês pensam.
Armaram para mim, infelizmente eu não percebi e, enquanto
viajava, meu pai foi envenenado, e alguns funcionários me traíram,
espalharam boatos sobre atitudes que nunca tive no trabalho. 

— Seu pai já odiava o fato de você não ter relacionamento


sério — lembra Heitor. 
— Ele deve estar além de puto — complementa William. 

— Inclusive quanto a isso... — Alexander se levanta e me


entrega um pendrive. — Descobri algumas coisas; seu primo, o
Jairo, está saindo com uma secretária do seu setor, a Alexia, ele
passava a informação falsa sobre você, assim foi ela quem
espalhou os boatos. 

— Como soube que era ela? — pergunto, incrédulo. — Alexia


sempre me tratou com respeito e embora não trabalhasse
diretamente comigo, ela fazia um trabalho com o Flávio, um dos
meus engenheiros mecânicos.  

— Alexia gosta de dinheiro. — Alexander arqueia a


sobrancelha. — Foi fácil descobrir que era ela, só precisei pedir que
invadissem seu sistema de câmeras, e quando a vi envolvida em
conversas suspeitas com outras funcionárias, um dos meus
seguranças ofereceu dez mil, e ela abriu a boca rapidinho delatando
o Jairo. 

— Diz que você a gravou confessando. — Abro o pendrive e


encontro as filmagens que o Alexander mencionou, e um arquivo
com uma conversa gravada no carro. 
— Cada palavra, isso deve ser o suficiente para você poder
limpar sua reputação, todos os boatos foram implantados para te
prejudicar. Mas tem outra coisinha que seria bom você saber. 

— O que é? 
— Jairo tem estado de olho no hospital em que você pagou
para o seu motorista fazer o tratamento, talvez tenha a ver com a
filha do João, a Lara. 
— Como você descobriu isso em menos de um dia? — Fico
assustado com a rapidez do Alexander. 

— Eu venho mantendo um olho em vocês, desde aquela


ameaça, e embora as coisas estejam calmas, não abortei a
vigilância. Então quando me ligou mais cedo, eu já tinha em mãos
algumas informações — explica como se fosse a coisa mais comum
mandar vigiar os amigos. 

— Puta que pariu! — Soco a mesa. — Vou quebrar a cara


desse infeliz. 

— Quem é João? — pergunta Heitor, do nada.

— O João não interessa, quem é essa Lara, que o Alexander


falou?
Olho para o Alexander e reviro os olhos.

— Depois explico — resmungo.

Alexander solta uma risada.

— Então eles não sabem...


Eu respiro fundo e passo a mão pelo rosto, então volto a olhar
para o Alexander.

— Descobriu mais alguma informação que seja relevante?

Ele dá um sorriso, sinistro. 


— Seu tio, o Pablo, também está tramando. Ele tem enviado
e-mails e se encontrado com os membros da diretoria, sem o seu
pai saber, para poder falar sobre a direção da empresa e o quanto o
Salvatore tem deixado passar furos de gestão. — Ele aponta para o
meu computador. — Está tudo aí, consegui as informações com
alguns acionistas. 

— Porra... — Heitor se levanta e se aproxima da mesa, então


olha para a tela do computador. — Você me dá medo, Alexander.
Como conseguiu tudo isso?  

— Alexander e seus mistérios... — William assobia e olha


também os arquivos. — Nada disso me surpreende, acho que o
cara sabe todos os podres de cada figurão do país.

— E fora do país — confidencia Alexander e dá de ombros,


ele nunca negou sobre seus contatos, só nunca nos contou o
porquê de tanto poder. — Meus homens são bons em conseguir
informação em curto espaços de tempo, agora cabe ao Caio decidir
o que vai fazer. 

— Somente isso não será o suficiente, temos vinte acionistas


que fazem parte do conselho da diretoria, aqui só tem informações
sobre três, e meu pai não vai acreditar que a Alexia foi enviada para
fazer fofocas a mando do Jairo somente com isso. 
Aliso o queixo pensando no que farei. Se quero derrotar o
meu tio nesse jogo, eu tenho de ser mais inteligente do que ele e o
Jairo, enquanto protejo a Lara. Sua aproximação com ela me
incomoda, quando terminar aqui terei uma conversa com ela e
pedirei que o mantenha longe. 

— Preciso que você consiga informações sobre todos os vinte


acionistas e seus contatos com o Pablo, quero detalhes de todos os
encontros de quando começaram, com certeza tem outras pessoas
além da Alexia, descubra com quantas mulheres o Jairo se
envolveu, e quais delas podem ser um risco, e o ajudaram com os
boatos. 

— Você está me pedindo muita coisa, não conseguirei isso da


noite para o dia — acentua. 

— Não podemos deixar aquele desgraçado foder com o Caio


sem fazer nada. — Heitor aperta os punhos, ele também detesta o
meu primo. 

— Tem mais alguma coisa para nos contar? — William


pergunta abrindo uma garrafa de whisky e servindo doses para
todos. 

— Sim, como vocês já sabem, meu pai me deu um ultimato:


que eu deveria me casar em dois meses se quisesse ser o herdeiro
da Conti Aviação e Motores, eu estava disposto a arrumar um
casamento de fachada, mas desisti dessa merda. Hoje de manhã
ele me acusou de ter enviado um áudio para o conselho em que eu
dava a entender que encomendei a sua morte. 
— Está de sacanagem — assevera William, com raiva. —
Seu pai não pode ter sido idiota a esse ponto, você idolatrava esse
cara! 

— Não consigo acreditar que as coisas chegaram longe


desse jeito. — Heitor balança a cabeça em negativa. 

— Eu cortei relações com ele, e pedi demissão. 

A sala fica em silêncio com todos me encarando, acho que


nenhum deles chegou a acreditar que eu seria capaz de fazer isso.
Na verdade, até eu ainda tenho dificuldades em encarar que
realmente me rebelei contra o meu pai, não me arrependo do que
fiz, e espero não ter tomado a decisão errada. 

— O que vai fazer agora? — Heitor pergunta. 

— Vou abrir a minha própria empresa e quero a ajuda de


vocês com isso. 

— Como? — William questiona. 

— Eu gosto de trabalhar com motores de avião e queria


continuar no ramo, mas quero mostrar ao meu pai, que eu sou
capaz de construir algo do zero, sem a influência dele, e transformar
em um sucesso.  

— No que você pensou? — Alexander pergunta. 

— Em abrir uma automobilística, não entendo 100% do ramo,


e vou procurar me especializar nos próximos meses, enquanto isso
quero saber se posso contar com vocês como meus primeiros
sócios.  
— E o que você vai querer que façamos? — William
questiona. 

— Eu pensei que o William poderia desenvolver os designers


dos motores e me indicar bons nomes, que possam se tornar meus
funcionários. 
— Posso fazer isso, conheço uns talentos promissores na
área. — Ele concorda, e fico aliviado. 
— Do Heitor vou precisar do seu cérebro e sua segurança
tecnológica para os carros, dessa parte é a que menos entendo
então toda a ajuda será bem-vinda. 
— Posso fazer o sistema de segurança dos veículos e
realizar a inovação deles de acordo com os novos modelos, gosto
de trabalhar com isso, só vou precisar de uma equipe da sua
empresa para eu liderar, não gosto de envolver a minha em projetos
que sejam fora da minha empresa. 

— Consigo isso para você, se tiver algum nome ou alguém


com quem queira trabalhar só me avisar, que providencio. 

— E o que vai querer de mim? — Alexander bebe sua bebida


em um gole. 
— Você vai ser o meu cofre. — Sorrio para ele, que solta uma
gargalhada. 

— Isso não me surpreende. 

— Invista na minha empresa como um dos principais


acionistas e me consiga investidores que confiam no seu palpite. 

— Claro, como brinde vou te fornecer uma equipe de


segurança melhor que a do seu pai — aponta, com um sorriso
sínico. — Antes de te apresentar a alguns conhecidos, eu quero que
você me entregue seu plano de negócios para os próximos vinte
anos, incluindo todos os seus objetivos, metas e diretrizes... me
surpreenda — completa, então estala os dedos, e estreita o olhar. —
Você, deve estar por dentro dos últimos acontecimentos, e sabe que
algumas montadoras fecharam as portas.

Olho para Alexander, acenando.

— Sim, inclusive uma, muito famosa surpreendeu a todos


com o anúncio — complemento, e dou um sorriso.
— Eu tenho muitos contatos nessa área, afinal tenho
sociedade com uma montadora automobilística na Alemanha, assim
preciso estar por dentro de tudo.

— Novidade, você ter contatos nessa área... — comenta


William e abafa o riso.

Alexander olha para ele com expressão fechada, William


balança os ombros.

— Diz logo, onde quer chegar. — Heitor cruza os braços.

Alexander volta a me olhar.

— Podemos aproveitar esse espaço, e até mesmo o


maquinário, além de alguns colaboradores. Isso nos pouparia muito
tempo, pois com o dinheiro que temos, em alguns meses
poderíamos estar com a companhia aberta — declara.

Eu balanço a cabeça em afirmativa. A ideia é perfeita. Olho


para William e Heitor, e os dois parecem concordar.
— Ótimo, precisamos analisar o espaço e fechar negócio o
quanto antes — digo, já com a mente trabalhando.

— Eu sei com quem falar, mas não esqueça... elabore o plano


de negócios, se eu acreditar que vale a pena, eu serei teu sócio.

Sei que tem de ser um bom plano, pois mesmo sendo meu
amigo, Alexander não irá investir em algo que lhe traga prejuízo. Eu
o conheço bem, para saber que negócios para ele, nada tem a ver
com amizade.

— Em um mês eu te entrego — prometo. 


— Pode demorar dois, você tem experiência com aviões,
carros é uma novidade, e quero que se especialize primeiro. Quanto
tempo você aguenta sem trabalhar? 

— Uns quinze anos se eu continuar com os gastos que tenho


agora. Como vou abrir uma empresa do zero, e os dois primeiros
anos não se tem lucros, somente fixação no mercado, acredito que
tenho uns dez anos de reserva financeira. 

— Comprarei 20% das suas ações quando formar a empresa,


quero que dos outros 80% você dê ao William 5% e ao Heitor 5%,
dos 70% você destinar 30% a venda de ações da empresa para
acionistas comprarem e os outros 40% fica para você — atribui.
Alexander é uma águia nos negócios. Ele pensa em tudo.

— Vou analisar essa proposta e te dou uma resposta no meu


planejamento. 

— Mais alguma coisa para nos contar? — William pergunta,


sabendo que deixei algo de fora. 
— Tenho a parte que deixei de fora. 

— Fale logo — Heitor bate no braço do sofá impaciente. 

— Ainda temos de saber quem ganhou a aposta. —


Alexander lembra da maldita aposta. 

— Aposto que é mulher, seria a tal Lara, que Alexander citou


anteriormente? — William insiste. 

Suspiro me preparando mentalmente para o ataque que virá. 

— Alexander a conheceu, a Lara foi me buscar na Mansão —


conto.
Alexander dá um sorriso debochado.

— Sim, Caio estava bêbado e disse que a moça era a sua


noiva. 

— O que? — William grita. 


— Meu pai me irritou naquele dia, insistia em um o
casamento, e eu tinha aceitado, como disse antes. Na festa da
Mansão Eros, eu bebi muito e a Lara foi me buscar no lugar do pai
que sofreu um infarto e estava internado. — Cruzo as mãos
tomando cuidado com minhas palavras. — Quando a bebedeira
passou fui visitar o João e descobri a situação dele, acabei me
aproximando da Lara enquanto a ajudava a conseguir o tratamento
para o pai. 

— Estou sentindo que você está escondendo informação —


acusa William, desconfiado. 

— O que importa é que eu e ela nos envolvemos e agora


vamos ter um filho e resolvemos casar — solto de uma só vez. 

Os gritos explodem fazendo o meu ouvido doer. 

— Como assim, o maior mulherengo do Rio de Janeiro vai


casar?! — William gargalha alto. 

— Não é você que sempre dizia que nunca iria entrar nessa
furada, de se casar? — Heitor bate no meu ombro e o soco.

O desgraçado foge rindo de mim. 

— Não acredito que o maior frequentador da Mansão Eros vai


se aposentar. — Alexander me encara, é o mais sério dos três. Mas
vejo a diversão em seu olhar. 
— Preciso conhecer essa Lara! — William vem até mim. —
Ela colocou a coleira no cachorrão. — Faz sons, imitando alguém
chamando um cachorro. — Vem aqui, cachorrinho Caio. 

Parto para cima dele socando seu estomago e o prendendo


em uma chave de braço, o desgraçado continua rindo e fazendo
sons chamando um cachorro. Heitor pula nas minhas costas e
prende minha cabeça fazendo eu soltar o William. 

— Vamos lá princesinha, não foi você que caçoou de nós,


quando encontramos nossas esposas, agora é a nossa vez de zoar
com você.  

— Vão se foder. — Soco sua barriga, e ele se contorce me


levando junto. 

— Precisamos checar se o pau do Caio não caiu, depois de


aceitar que terá somente de uma mulher — debocha Alexander. 
— Meu pau continua no mesmo lugar, e maior que o seu,
babaca. 

— Oh! Ele tá putinho? — William aperta minhas bochechas


se aproveitando que não posso sair do aperto do Heitor. 

— Diz que a Lara está aqui, a mulher é foda, além de te fazer


casar com ela... — Heitor fala me balançando. — Ainda engravidou
de você. 

— Não era o Caio que dizia que até com 90 anos seria capaz
de gerar um filho e não precisava de pressa? — Alexander caçoa. 

— Aposto que a engravidou na primeira transa — aponta


William e olha para o Heitor. — Solta ele, Heitor! Ou vai ter um
ataque. 

Heitor me solta e bato em sua nuca, os desgraçados


continuam rindo e William nos serve whisky.  

— Ao mais novo papai! — Heitor levanta o copo e brindamos.


— O próximo será o Alexander. 
Alexander bebe de uma só vez a sua dose.

— Nem fodendo — rebate, e percebo o seu incomodo. 

— Podem caçoar o quanto quiserem, eu não me arrependo


de nada — digo orgulhoso. 

— Ele está amando... que fofinho! — William faz uma voz


melosa e estapeio sua nuca, ele devolve o golpe. 
— Não estou amando, eu gosto dela e decidimos que por nos
gostarmos, vamos nos casar para que nosso filho nasça em um lar
estável, e eu possa acompanhar o crescimento dele. Não é amor, só
carinho. 

— Iludido... — declara Heitor. 


Nego com a cabeça e bebo meu whisky, não acredito que
sobrevivi a esse dia. 

— Acho que todos ganhamos a aposta — Heitor diz. 

— Caio que pagará a cada um agora — William fala e quero o


socar. 
— Eu estou desempregado, seus riquinhos mimados. 

— Quem vê, pensa que você não é cheio da grana! —


Alexander aponta. 
Merda, agora terei de pagar a eles o preço de uma aposta em
que eu fui o alvo.
Odeio esses caras. 
 
- 22 -
 

Lara

O
s amigos do Caio
são intensos demais,
da suíte consigo
ouvir a zombaria que eles fazem no escritório com meu noivo. Eu
sorrio, pois parecem um bando de adolescentes!
A campainha toca, e me assusto, pois não tem mais ninguém
para chegar, então me lembro da pizza que Caio pediu, com certeza
ele avisou na portaria sobre o nosso pedido, e por isso o entregador
subiu direto.

Ainda incerta, quanto a sair deste quarto, eu decido atender a


porta, pois Caio ainda está trancado no escritório com os seus
amigos. Assim, caminho com cuidado, e me surpreendo quando
vejo uma morena muito linda, e grávida, abrir a porta e receber o
entregador. Ao seu lado uma garotinha pula animada pedindo pelo
hambúrguer. 

— Oi... — cumprimenta-me, surpresa. 


— Olá! — Aceno e dou um sorriso, sem graça. — Deixe eu te
ajudar com isso. — Pego as caixas de pizza, e levo para a cozinha,
as duas veem no meu encalço.
Coloco as caixas em cima da bancada e percebo que ela me
observa, para disfarçar olho para a garotinha, que é linda demais.

— Vejo que está com fome, sabe, eu também — confesso e


ela dá um sorriso lindo. Então olho para a moça grávida, e deduzo
que ela seja a esposa de um dos amigos do Caio.

Ela sorri e estende a mão.

— Prazer, eu sou a Letícia, esposa do Heitor, amigo do Caio,


e essa daqui... — Aponta para a menininha com um olhar amoroso.
— É Geovanna, nossa filha.

Eu aperto a sua mão, também sorrio.

— Eu sou a Lara, a... — Eu não sei se o Caio já falou de mim


para os amigos, então fico sem saber o que falar.

Letícia faz um gesto com a mão.

— Não precisa falar, caso não queira...

Eu mexo no meu cabelo e olho sua barriga, e pensar que


daqui alguns meses estarei assim. Sinto meus olhos se encherem
de lágrimas, e nem sei o real motivo.

— Vejo que tem outro bebê a caminho — comento e olho


para ela. Letícia me observa e parece notar a minha emoção.

Ela então segura a minha mão.


— Sim, é outra menina, apenas para enlouquecer o Heitor —
diz divertida.

Sua filha resmunga e ela decide atender a menina. Eu não


tenho que me esconder. Caio não falou nada em guardar segredo
sobre o nosso casamento, e por outro lado, eu gostei da Letícia.

— Eu sou noiva do Caio — solto de repente e ela me olha.


Sua expressão permanece serena. 

— Não fazia ideia de que o Caio tinha uma noiva — declara. 


— Imagino que já deve ter ouvido muito sobre meu noivo —
comento revirando os olhos.

Ela ri, então fica séria e me encara.


— Meu marido faz parte dos quatro mosqueteiros, e antes de
nos acertarmos, passei muita raiva com aquele safado. — Ela
aperta o punho e seus olhos assumem uma expressão de raiva. —
Esses quatro formavam o quarteto mais cafajeste no qual já ouvi
falar, mas posso garantir, pelo meu marido, e também por William,
que é casado com a Emilly, quando eles se apaixonam, é para valer.

Tento não transparecer minha tristeza momentânea, afinal o


Caio não se apaixonou por mim. Mas ninguém precisa saber a
verdade.

— Bom saber disso — falo.

— Olha, até as festas da Mansão, que era sagrada, já não


fazem sentido para o Heitor...
— Que festas? — pergunto curiosa, será que ela se refere a
festa onde encontrei o Caio bêbado? 
Ela faz sinal para que eu espere, chama a Geovanna e a leva
para sala com seu hambúrguer e seu suco. Então retorna e senta-se
de frente para mim, na bancada. Olha ao redor.

Eu me aproximo.
— O Alexander, o mais sério do grupo, que tem cara de mal...
— cochicha e eu aceno em positivo. — Ele é o dono de uma
mansão chamada Mansão Eros, e promove festas de sexo lá, a
esposa do William entrou de penetra em uma dessas festas, foi lá
que eles se conheceram. Eu trabalhei na Mansão Eros por alguns
meses, e assim reencontrei o Heitor. 

— Conheci o Caio lá também... — digo a ela, surpreendida.


— Que coincidência. 
Letícia ri e dá de ombros.

— Naquela festa é liberado fazer de tudo, desde que seja


consensual e ninguém seja forçado ou drogado — continua, ainda
falando baixo. — Tudo o que acontece naquele lugar, jamais pode
ser comentado. Existe até contrato para garantir o sigilo.

Aperto os punhos com a raiva me subindo, só de imaginar o


Caio em um lugar como esse. Agora faz sentido o estado que o
encontrei naquele dia. Encheu a cara e deve ter transando pelos
quatro cantos. Eu, juro que arranco o pau dele se continuar
participando dessas festas, não posso me esquecer de ter uma
conversinha sobre isso com ele mais tarde. 

— Então, o Heitor não quer ir mais às festas, não fala nada?  


Seu olhar suaviza e ela olha para a porta, por onde levou a
Geovanna, então alisa a sua barriga e volta a me encarar.

— Não. Ele é outro homem, claro que me fez muita raiva,


mas no fim conseguiu reconquistar meu coração, e hoje é um pai
excelente, e um marido perfeito. Ainda brigamos vez ou outra, mas
não trocaria isso por nada. — Ela sorri e sinto uma pontada no peito.

Um dia, quero que a minha relação com o Caio se torne


assim. 
— Espero que o Caio também pare de frequentar essas
festas, pois, do contrário, ficarei muito chateada — confesso,
amenizando as palavras, pois na verdade me sentiria desprezada e
derrotada. 

De repente ouço barulho de conversa se aproximando, e me


dá um frio na barriga. Assim, os quatro entram na cozinha, e perco o
fôlego com o que vejo.  
— O musculoso tatuado, é o William — diz baixinho. Ele é um
moreno enorme com os braços bombados e um olhar firme. — O
bonitão de azul é meu marido, Heitor. — Sua voz se suaviza ao falar
do marido, um loiro com uma barba bem aparada, os olhos azuis e
músculos mais discretos que os do William. — O Alexander você já
conhece, não é mesmo? 

— Sim. — Suspiro. Não consigo olhar muito para esse


homem, não esqueço suas palavras no dia que o conheci.  Ele exala
um ar de homem de negócios com uma aura sombria, não me
surpreenderia se ele realmente fosse metido com negócios ilegais. 
Esses homens juntos devem causar muito furor nas
mulheres, eles são lindos, cada um com suas peculiaridades.
Porém, nenhum deles se compara ao meu noivo. 

Caio é enorme nos músculos, com ombros largos, e o cabelo


grande que eu adoro puxar, sua barba grande me agrada e amo
como seu corpo é durinho e macio ao meu toque.

Ele é todo sarado, e as roupas ficam apertadas marcando


cada uma de suas nuances, as coxas grossas maiores que minha
cabeça, o ar de homem safado que precisa de uma correção, me
deixa louca querendo o domar. 

— Lara... — Ele vem até mim, e beija minha cabeça. —


Esses são os meus amigos, Heitor, William e o Alexander que você
já conhece. 

— Oi — digo baixinho, e devo estar vermelha, pois os três me


olham, com curiosidade. 
— A baba está escorrendo! — Heitor exclama, debochado.
Certamente quer me deixar mais sem graça do que estou.

Letícia dá um tapa em seu pescoço e ele assobia.

Eu empino o nariz e cruzo os braços, se eu deixar, esses


quatro vão me esmagar.

— O Caio é gostoso demais para não babar quando o vejo —


acentuo na cara de pau, e os quatro riem.
Letícia pisca um olho para mim, aprovando o que eu disse. 

— Tomem cuidado, que a Lara adora usar suas garras —


provoca Caio, dando um aperto em ombro. 
— Só assim para alguém conseguir te domar — incita o
William. 

— Falou aquele que não dá um passo sem a mulher —


rebate o Caio. 

— Quem trouxe a esposa grávida e a filha, foi o Heitor, não


eu! — William se defende e dou uma risada.
Leticia o encara com expressão zangada. 

— Mais respeito William, ou vou contar à Emilly, que você fica


comemorando quando ela não está com você. 

— Eu não disse isso! — William assegura. 

Dou risada da briguinha deles, e quando percebo, o


Alexander está mais afastado, e observa com olhar de águia a
diversão dos amigos, enquanto come uma fatia de pizza. 

O resto da noite passamos conversando na sala enquanto os


rapazes bebem e ficam implicando um com o outro. Com exceção
do Alexander, que vai embora mais cedo. Consigo notar que eles
pegam leve nas provocações, por minha causa e da Leticia.

Já é bem tarde, quando se despedem e vão embora deixando


somente eu e o Caio.  

Antes de dormir, Caio me ataca e toma meu corpo, cheio de


desejo e o olhar carregado de luxúria.
Eu não consigo resistir aos seus carinhos e falas safadas.
Então, como sempre acontece quando ele me toca, eu me entrego
de corpo e alma.
No dia seguinte vou cedo para o hospital, enquanto o Caio
fica trabalhando em casa. Ele contou sobre a conversa com seus
amigos e disse que precisava elaborar um projeto, além de estudar
e pesquisar muito sobre o seu novo ramo.

Eu o deixo em paz, e vou até o hospital visitar o meu pai. Pelo


vidro da UTI eu o vejo sozinho no leito, com os aparelhos ligados ao
seu corpo, a doutora Luana chega para falar comigo e vamos a sua
sala. 

— Como meu pai está? — pergunto, sentando-me de frente


para ela. 

— Muito bem, a cirurgia foi tranquila e o organismo do João


responde bem a medicação. Amanhã vamos transferi-lo para o
quarto e o acordar. O mantivemos em coma esses dois dias para
garantir uma melhor recuperação pós-cirúrgica, conforme ele for
respondendo, teremos mais ciência do seu caso, agora é seguir
com o tratamento da medicação, alimentação e exercícios físicos
para prevenir novas veias entupidas e melhorar a saúde dele. 

— Pode ter certeza, que depois desse susto, ele vai se cuidar
direitinho. 

— E você, como está? 


— Bem. — Dou um sorriso e aliso minha barriga. — Descobri
que estou grávida e ainda estou pensando em como contar ao meu
pai, sem ele surtar — confesso com preocupação.

A médica dá um sorriso acolhedor.

— Espere ao menos até ele se recuperar mais. Se possível,


vamos evitar fortes emoções — sugere com cautela, então volta a
sorrir. — Parabéns, espero que o bebê venha saudável, já marcou
uma consulta obstétrica?

Olho sem graça para ela. 

— Ainda não. Com a cirurgia e todos os acontecimentos,


adiei — confesso.

Ela me concede um olhar incisivo.

— Lara, isso não pode acontecer, sua saúde, e agora do seu


bebê, também é prioridade, e o pré-natal é fundamental — chama
minha atenção.

Eu aceno e tento sorri.

— Eu sei — sussurro.

Ela sorri e balança a cabeça.

— Você já tem um obstetra? — Eu nego num gesto de


cabeça. Então a doutora Luana abre sua gaveta e me entrega um
cartão. — Aqui, essa médica é muito boa. Ligue para ela ainda hoje,
e marque uma consulta. Fale que eu a indiquei e ela te atenderá
sem ter que esperar uma eternidade por um horário.

Eu pego o cartão e sorrio.


— Obrigada, doutora. Vou agendar assim que sair daqui.

 — Faz bem. — Ela estende a mão e aperto. — Mais alguma


dúvida? 

Ainda trocamos algumas palavras e saio do seu consultório,


mais aliviada.

Antes de sair do hospital, ligo para marcar minha consulta, e


quando digo que foi a doutora Luana quem me indicou, a atendente
logo marca para o início da próxima semana. Não vejo a hora de
falar com Caio, pois ele já estava me cobrando sobre a consulta.

Na saída do hospital, vejo Jairo encostado no carro do Caio


que eu estou usando para me locomover. Eu sorrio para ele, que
abre os braços para mim. Ainda não me esqueci da cena que ele fez
no restaurante, e que pode estar metido nas artimanhas do pai, para
derrubar o meu noivo. Prefiro acreditar que meu amigo está sendo
manipulado, e tentar o convencer a parar de atacar o Caio, somente
por isso caminho até ele. 

— Quanto tempo Lara! — Ele faz sinal de me abraçar e eu o


paro.

Eu não quero que ele interprete errado nosso encontro. 

— Eu estou noiva, e o Caio não gosta muito de você, vamos


evitar contato físico. 

— Não acredito que você vai continuar essa farsa com aquele
babaca! — Jairo se exalta, eu fecho a cara.  

— Não fale assim dele, gosto do Caio e estamos juntos.  


— Você não faz ideia de quem é o Caio. — Cruza os braços,
e eu reviro os olhos, sem paciência para esse blá blá blá. 

— Preciso ir para casa, me dê licença. — Ergo o braço e


seguro na maçaneta da porta. 

— Desculpe, eu só fico preocupado com você. — Jairo


segura minha mão e me faz o encarar. — Eu conheço o meu primo,
e sei que ele é um cafajeste, só vai partir seu coração. 
— O coração é meu, e eu decido quem o partirá, não aceito
que fale assim do meu noivo. 

— Certo, você o escolheu e vou respeitar sua decisão. —


Fico em dúvida sobre a sua sinceridade. — Só quero notícias sobre
o seu pai, fiquei magoado quando soube que ele enfartou e você
não me procurou, eu poderia ter pago o tratamento dele. — Seus
olhos demonstram tristeza. — Eu nunca te deixaria desamparada. 
— Obrigada, foi tanta coisa acontecendo que acabei
esquecendo de te falar, desculpe! — Amanso meu tom de voz. 

— Tudo bem eu entendo. — Ele alisa meu rosto e torno a me


afastar. — Vamos conversar com calma? Conte sobre o João e seu
noivado com meu primo. 

— Agora eu não posso, mas marcamos outro dia de


conversar, tem umas coisas que quero te perguntar. 

— Amanhã à tarde? — Levanta uma sobrancelha tentando


ser fofo. 
— Pode ser. 
Jairo se afasta e entro no carro, fico na dúvida se devo
realmente me encontrar com ele, mas durante tempo em que fomos
amigos o Jairo nunca pisou na bola comigo ou me chateou.

Eu sempre o achei um cara legal, não chega a ser meu


confidente, mas se mostrava um bom amigo, mas agora, com o
Caio, e com tudo que ele tem dito, fico receosa. Gostaria de tentar
trazer o Jairo para o lado do Caio, só preciso bolar um plano antes,
e não deixar o Caio descobrir isso, ou terá um ataque por eu me
envolver com o primo que ele odeia. 

Espero não estar tomando a decisão errada. 


- 23 -
 

Lara

J
airo sumiu o resto da
semana, não me
mandou mensagem e
nem entrou em contato. Decidi optar por não o procurar, mesmo
sentindo que eu poderia o convencer a deixar o Caio em paz. Tenho
receio de o Caio achar que estou me metendo demais na sua vida.
Apesar da nossa conexão, ainda estamos nos conhecendo e
percebendo os limites do quanto podemos nos meter na vida um do
outro. 

Eu e Caio estamos num momento de adaptação, e ele tem


mantido sua palavra comigo, com a sua ajuda financeira, consegui
trancar meu curso da faculdade e vou começar a procurar uma
empresa de eventos para organizar o nosso casamento.

Caio ainda não me deu uma aliança, e isso me deixa triste,


queria um símbolo da nossa união, afinal é meu primeiro casamento
e sem um anel de noivado fica parecendo um acordo, e não duas
pessoas que se gostam e querem ficar juntas. 
Não toco no assunto, quero deixar que ele se sinta à vontade
para fazer isso ou não. Nunca gostei de cobrar sentimentos das
pessoas e não vou começar agora.
Meu pai costuma dizer que desde a morte da minha mãe,
quando eu tinha dez anos — ela teve câncer de estômago, e lutou
por cinco anos antes da doença vencer e a levar desse mundo — eu
costumava ser mais afetuosa, mas que depois que minha mãe
morreu passei a me trancar, e apesar de ser alguém divertida que
se dá bem com qualquer pessoa, não gosto de expor minhas
emoções.  

E levando em conta o histórico de mulherengo do Caio, e que


ele também não fala de seus sentimentos abertamente, além de
dizer que gosta de mim e quer ver onde nossa relação vai dar. Eu
não quero arriscar em parecer carente ou que estou exigindo mais
do que ele pode dar. Só tem pouco mais de um mês que nos
conhecemos e isso não é tempo suficiente para um amor
avassalador, por isso prefiro ficar quieta, na minha, e esperar por
uma atitude dele enquanto nossa relação evolui.  

— Lara? — meu pai chama, e foco a atenção nele, não tinha


percebido que me perdi em pensamentos. 

— Sim? 

— Perguntei se você não vai para casa, daqui a pouco


anoitece e não te quero andando pelas ruas sozinha. — Aperto sua
mão, feliz pela sua recuperação. 

— Vou pedir para o motorista do Caio vir me buscar. — Faz


uns três dias que ele contratou outro motorista para o levar a seus
compromissos e ficar a minha disposição.  

— O relacionamento de vocês é sério? Não quero que meu


diamante tenha o coração partido. Sempre gostei do Caio e o servi
durante esses anos com apreço, mas sei da fama que meu patrão
tem e não quero isso para você. 

— Estamos felizes juntos, pai. — Sorrio para ele. — Ele foi


meu porto seguro durante esses tempos, confie em mim quando
digo que não terei meu coração partido, e o Caio não é mais um
mulherengo. 

— Em você eu confio, só preciso me acostumar ainda com


essa relação. — Papai aperta minha mão. — Vamos, cuide de ir
embora. 

— Desse jeito vou pensar que você não me quer aqui para
ficar mais tempo com a Suellen, sua enfermeira. 

— Adoro a companhia daquela mulher — declara e dá uma


risada. 

Sorrio para meu pai, em todos esses anos que sucederam a


morte da minha mãe, não o vi se envolvendo com nenhuma outra
mulher ou passando a noite fora. Se ele e a Suellen, realmente
tiverem algo, eu ficarei feliz e irei torcer para que dê certo. 

— Espero que não esteja brincando comigo! — exclamo e


beijo sua testa. 

— Vai embora menina e jante direito, estou te achando muito


magra. 
— Vou sair para jantar com o Caio. — Envio uma mensagem
para o motorista vir me buscar e ele diz que já espera por mim. —
Até amanhã pai. 
— Vá com Deus filha. 

Saio do quarto e meu celular apita com uma mensagem


confirmando minha consulta com a ginecologista no dia seguinte.
Aliso meu ventre que não mudou em nada até agora. Os enjoos
continuam me castigando e perdi peso nesse tempo, vou precisar
de uma nutricionista também. 
Vejo o carro do Caio no estacionamento e entro, peço que
Moacir, o novo motorista, me deixe em minha casa. Quero me
arrumar com calma para nosso jantar de mais tarde, e se eu fizer
isso no apartamento do Caio, ele não vai me deixar sair antes de
arrancar minhas roupas.

O homem parece uma máquina de sexo incansável, sorte


dele que minha libido tem estado nas alturas esses dias e tenho
dado conta de saciar seu fogo. 
Em casa, me arrumo com calma e visto um macaquinho curto
num tom azul turquesa que destaca a minha pele. Arrumo o cabelo
em um meio coque com a frente solta e passo uma leve camada de
maquiagem antes de calçar meu salto plataforma. Caio deve chegar
a qualquer instante. Faz pouco tempo que ele mandou mensagem
avisando que estava a caminho. 

A companhia toca, e eu estranho, pois dei a ele uma chave


de casa, quando ele me deu a de seu apartamento, faz uns quatro
dias. Não estou esperando ninguém e fico surpresa quando olho
pelo olho mágico no portão e vejo o Jairo segurando um buque de
flores, mas que diabos?  Eu abro o portão.

— Boa noite Lara — cumprimenta e beija minhas bochechas


antes que eu o empeça — você está linda. 

— Obrigada, o que faz aqui? — Olho para a rua e não avisto


o carro do Caio se aproximando. 
— Ficamos de nos encontrar, estive ocupado com umas
coisas no trabalho e só consegui tempo agora, vamos conversar?  

— Agora não posso, vou sair com o Caio. 

— Ele já chegou? — Estica o pescoço tentando ver dentro da


minha casa. 

— Deve chegar a qualquer instante. 


— Enquanto espera, vamos falar do seu pai, preciso saber o
que aconteceu com o João — diz e me entrega as flores. — Pode
levar para ele? Não tenho autorização para subir em seu quarto, no
hospital. 

Pego as flores, é estranho ele trazer rosas vermelhas para


entregar ao meu pai, embrulhadas com papel de coração. O Jairo
nunca foi muito atento com as coisas que fazia, é capaz dele não ter
percebido que comprou flores para uma namorada, e não alguém
internado no hospital. 
— Entrego sim, pode entrar. — Dou passagem e vou para a
sala, após fechar o portão. 

— O que aconteceu? Conte tudo. — Senta no sofá e fico de


frente para ele sentada na poltrona de olho no portão pela porta. 
Relato desde o momento em que levei meu pai até o hospital
e como o Caio nos ajudou quando soube do estado do seu
motorista. Escondo as partes da Mansão Eros, e da proposta de
casamento. Não quero o Jairo sabendo disso, e prometi ao Caio que
ninguém além de nós dois, saberia do nosso acordo e da minha
gravidez, só contaremos sobre o bebê depois que casarmos e
minha barriga crescer. 
Conforme vou falando o Jairo presta atenção e vai se
aproximando da beira do sofá chegando perto da poltrona. 

— Você podia ter pedido minha ajuda, eu teria feito tudo pelo
João. 

— Na hora eu não conseguia pensar direito e o Caio estava


ao meu lado, não precisava de mais nada naquele momento, além
dele e do meu pai recebendo o tratamento adequado. 

— Agora você me magoou! — Coloca a mão no peito fingindo


que o atingi, acho divertido seu jeitinho brincalhão. — Tirando a
brincadeira eu sou seu amigo Lara. — Ele segura na minha mão. —
Quando precisar de ajuda, não pense duas vezes, antes de me
chamar. 

— Obrigada, vou lembrar disso. — Aproveito a chance para


poder falar o que eu quero. — Quero pedir que esse sentimento, se
estenda ao Caio. 

— Não força. — Solta minha mão e olha para o lado


desconfortável. 
— Ele é meu namorado e vocês vivem se matando, pelo que
eu soube, por favor, não seja assim com ele, vocês se dariam bem
se tentassem. 

Jairo coça o cabelo e olha uma mensagem em seu celular,


ele levanta e vem na minha direção, encosto o tronco na poltrona
tentando impor espaço entre nós. Suas mãos se firmam na lateral
da poltrona me prendendo enquanto sua cabeça fica perigosamente
perto da minha. Espalmo a mão em seu peito e o empurro, ele nem
se mexe. 

— É covardia você pedir que eu me dê bem com aquele cara,


quando eu desejo você, Lara. 
Sem que eu pudesse prever, Jairo cola seus lábios nos meus,
e tenta enfiar sua língua em minha boca, eu o mordo, e empurro seu
peito com mais força. Estou prestes a gritar quando consigo me
liberar de seu aperto, e seu corpo voa para trás. Uma montanha de
músculos furiosas encara o Jairo antes de dar um soco em seu
rosto. 

Meu Deus! É o Caio.  


— Caio! — grito seu nome e seguro seu ombro, o fazendo me
olhar antes que parta para cima de Jairo. 

— Se você me pedir para não socar esse imbecil, depois de o


pegar te beijando a força eu juro que vou surtar. — Caio está com
muito ódio, os olhos injetados pela fúria e o rosto tenso. 

— Não ia pedir isso... — penso rápido e vejo o sorriso no


rosto do Jairo. 

— A força? — O desgraçado diz — Ela que me chamou para


vir aqui, e implorou pelo meu toque. Não aguenta ser corno,
priminho? 
Caio se vira com ódio para ele e sobe o cotovelo fechando o
punho com força, fazendo suas veias saltarem. 

— Espere! — peço, antes que ele mate o Jairo. 

— Que merda Lara?! — Caio me encara com raiva e sem


paciência. 

— Não é justo você bater nele quando eu que fui atacada,


esse soco deveria ser dado por mim. — Empino o queixo. — Eu que
fui lesada, logo eu que devo me vingar, e não preciso que você suje
suas mãos. 

Jairo, conseguiu me deixar com raiva. Mentir dessa maneira.


O que ele ganha com isso? Esse infeliz!

— Você é inacreditável — declara Caio, tentando não rir. Jairo


tem a mão no nariz, onde levou o soco de Caio. — Vai pode socar,
depois eu termino de quebrar a cara dele — acentua Caio, enquanto
se afasta.

Jairo dá um sorriso debochado.

— A Lara não teria coragem... 

Não o deixo terminar a frase antes de estapear seu rosto com


força fazendo a palma da minha mão doer. Agora que experimentei
a sensação de bater em alguém, não acho mais tão divertido. Vou
acabar me machucando, melhor deixar a muralha de músculos do
Caio cuidar disso enquanto eu assisto. Sacudo a mão tentando
aliviar a dor. 

— Isso dói... caramba! 


— Chuta as bolas dele, vai ser menos dolorido para você e
muito mais dor para o Jairo — Caio incentiva e gosto da ideia. 

— Lara, não faça isso. — Jairo arregala os olhos e eu sorrio


pelo medo que ele sente. 

Caio fica ao seu lado e o segura pelos braços. Eu aprumo a


perna, dou um pulinho para me aquecer, e treino simulando o
movimento de chutar sua virilha algumas vezes, enquanto o Jairo
encolhe as pernas sem saber quando irei deferir o golpe, Caio dá
risada do meu showzinho. Fico com medo de que o Jairo possa
acabar me chutando para se livrar de mim e com um movimento
rápido, meu pé acerta em cheio suas bolas e ele se encolhe urrando
de dor. 

— Goooooooooool! — Pulo batendo palminhas. — Isso é


para você aprender a nunca mais me beijar, seu imbecil. — Chuto
novamente, e dessa vez o Caio o deixa cair no chão. 

— Agora é minha vez. — Meu noivo diz antes de estralar os


dedos e segurar o Jairo pelo colarinho. — Eu quero quebrar sua
cara, desde que descobri que você é o responsável pelos boatos na
empresa. —

— Você tem uma ótima fama, não é difícil fazer as pessoas


acreditarem em qualquer coisa relacionada a você. — O miserável
sorri.

Caio o encara e noto seus músculos contraírem. 


— Ele merece apanhar... tire esse sorrisinho da cara dele,
Caio. 

Caio encosta Jairo na parede, e fico com receio.


— Você é pior do que um verme, não vale a pena sujar
minhas mãos. — Sua voz soa decepcionada.

Eu sinto por Caio, pois agora enxergo o verdadeiro Jairo. Meu


noivo o joga de lado e Jairo cai no chão, então se senta e se
encosta a parede. Ele olha para Caio com muito rancor, não é
apenas inveja do primo, é algo muito mais forte.

Eu me aproximo e Jairo me encara.

— Eu realmente o considerava um amigo, por que fez isso


comigo? — pergunto com um sentimento ruim no peito. 

Caio me segura pelos ombros. 

— Você é divertida Lara, e não passa disso, te manter por


perto era só um passa tempo. — Ele me olha de cima a baixo. —
Nunca te achei bonita o suficiente para querer te comer, mas se um
dia desse vontade... 

Tenho nojo de suas palavras, em resposta Caio volta a pegá-


lo pelo colarinho e soca sua cara, depois o arrasta pela camisa e o
joga do lado de fora. 

Ele volta para a sala e anda de um lado para o outro, ainda


muito nervoso. 

— Faz ideia do quanto odiei ver esse imbecil te beijando? —


Caio pergunta, com muita raiva.  

— Não mais do que eu odiei, com licença — peço e vou para


o banheiro, a fim de escovar os dentes. 

— Por que você o deixou entrar? — pergunta com raiva e o


encaro incrédula. 
— Como é que é? 

— Minha pergunta foi muito clara.

Eu fecho os olhos e respiro fundo, então volto a abri-los.


— Caio, até bem pouco tempo eu considerava o Jairo um
bom amigo, e ele nunca demonstrou ser um canalha.

Caio respira forte e me olha, ressentido. 

Acho bom ele tomar cuidado com as palavras, não vou


aceitar ser culpada pelo que aconteceu, e espero que o Caio não
seja estupido o suficiente para querer descontar em mim essa
situação, embora eu o entenda.
E agora, mais do que nunca, o Caio precisa entender que
estou ao seu lado, não apenas por causa do filho que espero dele,
mas principalmente porque eu gosto dele mais do que deveria.
- 24 -
 

Caio
ocê o deixou entrar e ainda recebeu essas
—V malditas rosas vermelhas. — Eu pego o buque
com raiva e o jogo no chão, pisando nas
rosas. — Se ele sentia intimidade o suficiente para te dar isso
sabendo que você é minha namorada, com certeza a relação de
vocês não era uma simples amizade — rosno, feito um cão raivoso. 

— Pare de falar merda! — Ela sai do banheiro passando por


mim, feito um furacão. — Quer brigar? Vamos brigar e depois me
leve para jantar. 

— Não vou mais para a merda de lugar algum — esbravejo,


irado. — Quando entrei aqui e vi aquele imbecil agarrando você... se
eu não tivesse visto seus olhos abertos e você o empurrando, eu
não teria motivos para suspeitar que ele te forçou. 

— E foi exatamente o que você viu, eu me defendendo, você


nunca iria presenciar outra coisa. 

— Com você deixando qualquer um entrar aqui, não é difícil


de imaginar que terei outras surpresas. 
— Deixe de ser asno! — Bate em meu ombro — Eu nunca
trairia você, e se o fizesse não seria com o Jairo. 

Aquilo que me deixa ainda mais puto.  

Eu planejei uma noite perfeita para nós dois, e a merda


começa quando chego para a buscar e me deparo com o Jairo
beijando a minha mulher. O ciúme me consumiu com força, somente
eu posso beijar esses lábios, e agora aquele maldito provou algo
que é meu. Tenho vontade de o pegar novamente e arrebentar sua
cara até que ele seja incapaz de lembrar o gosto dos lábios dela e
somente da dor que o causei. 

— Planeja me trair com outra pessoa Lara? Tem mais algum


amiguinho que eu não conheço?  

Lara me olha com mágoa, ela levanta a mão para me bater e


para na metade do caminho. Estou falando o que não deveria, cego
pela raiva e frustração.
Não sei lidar com essa merda de sentimento, além de
explodir.  

— Talvez eu devesse chutar suas bolas também já que


parece que seu cérebro saiu da cabeça, quem sabe assim ele
volte.  
Lara ainda me observa e sei que está magoada. Porra! Eu
estou mais do que puto. E ainda tendo que lidar com um ciúme que
me deixa louco. Eu não sinto ciúmes, mas o que está acontecendo
comigo?

— Aquele cara tem me fodido dia e noite para o meu pai!


Como você esperava que eu reagisse? Com sorrisos e flores
agradecendo por você não ter retribuído o beijo, mesmo que tenha o
acolhido na sua casa? 

— Se eu soubesse que ele iria fazer isso, o teria mandando


embora do portão, eu fui idiota de acreditar na desculpa dele. —
Seus olhos baixam e noto que quer chorar. 

Foda-se que eles são amigos ou o que infernos for, a Lara


ouviu todas as minhas reclamações quanto ao Pablo e ao Jairo e
ainda teve a coragem de o deixar entrar em sua casa.

Essa porra me irrita e me magoa na mesma proporção, esse


maldito tentou ficar entre nós. Se ela realmente entendesse a minha
angústia, o teria mandado embora. 

— Ele só queria saber o que aconteceu com o meu pai, eu


sabia que você já estava chegando, e pensei que podia usar minha
amizade com ele para fazer com que o Jairo parasse de te atacar.
— Tenta se justificar e meu desespero só aumenta ao perceber que
ela, se colocou em perigo por minha causa. 
— Mas que merda, Lara! — esbravejo, descontrolado por sua
ingenuidade. — Você tem noção de que esse desgraçado poderia
ter estuprado você? Nunca mais se coloque em perigo por minha
causa, ouviu bem? — Sacudo seus ombros e vejo seus olhos
nublarem.  

— Eu só queria ajudar... — Sua voz embarga. — Vejo o


quanto você tem se esforçado para limpar seu nome, e o Jairo
sempre foi bom comigo, nunca imaginei que ele pudesse me
machucar, me desculpe.  
A abraço forte com a raiva diminuindo, ela não tinha más
intenções, e ele poderia a ter machucado seriamente. Agora que o
Jairo viu o meu descontrole quanto a segurança da Lara, não posso
mais a deixar sozinha ou vulnerável para outro ataque. 

— Você me ajuda se mantendo em segurança e cuidando do


nosso bebê — sussurro em seu ouvido. 

Beijo sua testa e toco sua barriga procurando pelo meu filho e
encontrando a paz nele. 
— Ele disse que as flores eram para o meu pai, estranhei a
escolha de rosas vermelhas, e a embalagem, mas o Jairo sempre
foi desatento a detalhes, e eu não pensei que ele tivesse feito isso
de caso pensado. 

— O Jairo tentou se colocar entre mim e você, e causar uma


separação entre nós, esse é o tipo de pessoa que ele é. Nunca mais
o encontre sozinha, se ele aparecer, me ligue ou chame a polícia. 
— Prometo, me desculpe! — Lara beija meu peito e a embalo
nos meus braços. 

— Não vamos nos prender a isso, agora é tomar cuidado e


prevenir outra situação. — Beijo seus lábios a tomando para mim. —
Você é minha, Lara. — Seguro suas coxas e a faço envolver as
pernas em minha cintura e sento no sofá. 
Lara segura meu rosto e beija meus lábios com pequenos
selinhos, depois a beijo com vontade, sedento por sua boca. Não
consigo acreditar que protagonizei tal cena de ciúmes, nem mesmo
quando estava comendo uma mulher e quando terminava a via com
outro homem, sentia qualquer posse.
Lara despertou não só meu carinho por ela, mas um
sentimento de posse, que me faria cometer loucuras para a manter
somente minha. 

A cada dia que passa sinto que será mais difícil deixar essa
mulher escapar, ela me lançou um feitiço e de bom grato cai em
suas graças. Almejando ter cada vez mais dela para mim. Lara solta
meus lábios e me olha com brilho divertido no olhar. 

Eu a encaro com carinho.


— Você é louca, quem chuta as bolas de um cara, e
comemora como se fosse um gol? — Dou risada acompanhado pelo
seu riso. 

— Foi um chute perfeito, viu como ele ficou com medo


enquanto eu me aquecia? 
— Espero nunca ser alvo dos seus chutes, aposto que ele vai
passar um mês sentindo dor quando for mijar. 

— Espero que passe um ano. — Ela puxa meus cabelos. —


Se você me der motivo para chutar suas bolas, saiba que vai passar
dez anos sem as sentir. 

— Minhas bolas estão seguras. — Belisco seus lábios com


meus dentes. — Vamos jantar fora? 

— Pensei que não iriamos mais para lugar algum — declara e


franze a testa.
— Não vou deixar aquele infeliz estragar meus planos, te dou
meia hora para se ajeitar. 

— Só preciso de quinze minutos. 


Lara sai do meu colo, e vai para o quarto. Em dez minutos ela
retorna mais linda do que nunca. 

— A mulher mais bela do universo. — Seguro em sua mão e


a faço girar, a roupa apertada em sua bunda e as costas nuas com
pequenas tiras em um X me deixa com água na boca para a
despir.  

— Tenho de ficar à altura desse monumento de homem. —


Ela acaricia meu rosto e depois cheira o meu pescoço. — Vamos? 

— Antes que eu mude de ideia.  

Seguro sua cintura e a levo para o carro. Como um perfeito


cavalheiro, abro a porta para Lara e fecho. Minha mãe ficaria
orgulhosa de mim se me visse nesse momento. Dirijo até o
restaurante com calma aproveitando a companhia da Lara que fala
sobre a recuperação de seu pai.
Conta que se sente melhor, agora que trancou a faculdade,
depois que casarmos e seu pai receber alta, ela diz que retorna aos
estudos, para terminar antes do nascimento do nosso bebê. 

Escolho um restaurante à beira mar, o maitrê nos leva a


nossa mesa perto da janela com uma vista privilegiada para o mar,
iluminado pela luz da lua com algumas pessoas caminhando na
areia.  
— Adorei esse lugar. — Ela sorri. 

— Já deixei nosso pedido feito antes de chegarmos, espero


que não se incomode. 
— Gosto quando você escolhe, não entendo muito ainda
dessas comidas chiques. 

Rirmos do seu jeito de falar, logo o garçom vem com o nosso


prato. 

— Para a entrada uma sopa de lula — diz ao colocar nossas


tigelas com a sopa, e se retira. Resolvi não beber vinho hoje e
somente aproveitar a companhia da Lara. 

— Isso é delicioso. — Gosto de ver como ela saboreia a


comida. 

Jantamos em paz, conversando como se o incidente de mais


cedo não tivesse acontecido. Antes da sobremesa vir eu toco a
caixinha no bolso da calça e seguro a mão da Lara. 

— Hoje eu te trouxe aqui por um motivo especial. — Coço a


garganta tentando manter a calma, ensaiei diversas vezes meu
discurso em casa para que fosse perfeito. — Sei que nos
conhecemos de forma totalmente inusitada, e de certa forma, a
provoquei como um louco, querendo que você aceitasse minha
proposta. 

— Não tão louco assim. — Ela brinca e ri tentando me


acalmar, meu coração estranhamente começa a bater mais forte. 

— Aposto que você quis me bater algumas vezes, enquanto


te importunava. 

— Com certeza. — Ela arregala os olhos e dou risada de sua


cara. — Mas eu precisava te manter por perto para cuidar do meu
pai. — Lara Arqueia a sobrancelha. 
— Você acabou de admitir que me usou? — Tento parecer
ofendido apesar do riso. 

— Só agora que você percebeu? Consegui te enganar


direitinho — aponta e faz uma mini comemoração. 

— Direitinho, o suficiente ao ponto de me fazer querer isso. —


Solto sua mão e levanto ficando ao seu lado, então me ajoelho. —
Lara Ramos de Sant’Anna você aceita se casar comigo?  

Ela olha para mim, seus olhos castanhos brilham,


emocionados. Lara abre o sorriso mais lindo que já vi na vida.

— Aceito. — Sua voz embarga e me emociono também, sem


entender ao certo o motivo para isso. 

Não é como se não soubéssemos que esse era o nosso


destino desde que aceitamos ficar juntos. Eu só não esperava que
fosse sentir meu peito quente, e uma felicidade que nunca
experimentei me preenchendo.

Meus olhos embargam e coloco o anel com um diamante no


centro e outros menores ao redor, em seu dedo, beijo a joia e em
seguida seus lábios.  

— Eu prometo que seremos felizes — digo em seus lábios. 

— Eu confio em você — ela segura minha mão e pousa em


seu ventre — seremos uma família repleta de felicidade. 

Beijo seus lábios novamente. 


— O que é isso, Caio? — Uma voz fina fala, e me arrepio ao
reconhecer o tom da mulher a quem essa voz pertence. 
Separo meu rosto do da Lara e encaro a figura feminina
furiosa a minha frente, porra de azar. Eu só queria um momento feliz
com a mulher que escolhi para ficar ao meu lado, mais cedo me
deparo com o Jairo, e agora... isso.

Querem mesmo foder com a minha noite. 


- 25 -
 

Lara

A
mulher encara o
Caio ajoelhado com
horror nos olhos
como se aquela fosse uma cena que ela nunca pensou em
presenciar. A semelhança entre eles é notória, os cabelos castanhos
claros, os olhos marrons com um brilho de vida, os lábios meio
inchados e a pele branca bronzeada, se ela não for a mãe dele, com
certeza é sua parente.
Ela franze as sobrancelhas perfeitamente delineadas e olha
de mim para ele, esperando uma explicação. 

— Não vai falar? — pergunta. 

Caio pigarreia e se levanta. 

Essa senhora estragou o meu momento, quando ele


finalmente estava se abrindo para mim, mostrando seus
sentimentos fomos interrompidos. Eu já podia ver a cena: ele se
levantando e me puxando, beijaria os meus lábios e falaria olhando
nos meus olhos o quanto ele me ama e me quer na sua vida.  
Eu estou apaixonada pelo Caio, e agora não restam mais
dúvidas, anseio o ter comigo a todos os momentos do dia e ser
aquela a quem ele vai procurar quando precisar de ajuda, carinho e
sexo. Quero ser a sua mulher para além de um simples arranjo; e
depois de como ele me defendeu hoje, eu percebi o fogo do ciúme e
da paixão em sua íris.  
Não esperava que ele fosse me pedir em casamento com um
anel lindo como esse, ou em um lugar romântico como esse
restaurante, o Caio pensou em cada mínimo detalhe para a nossa
noite ser perfeita, não tem como isso significar outra coisa além de
que ele também se apaixonou por mim.  

E agora essa mulher estragou tudo, não me importo que seja


a mãe dele, estou possessa de raiva por ela ter interrompido o
nosso momento. Um homem de meia idade caminha a passos
rápidos na nossa direção e para ao seu lado olhando o Caio com
raiva, as feições duras e marcantes, apesar da idade ele é muito
lindo e aposto que deve ser o pai do Caio. Ambos andam da mesma
forma, confiantes e como se o mundo pertencesse a eles. 

— Mãe, pai... — Caio pega minha mão e me levanta ao seu


lado. — Por favor, não façam uma cena na frente da minha noiva. —
Percebo como ele tenta controlar o tom de voz, seu aperto em
minha cintura é firme, e um aviso de que devo ficar quieta. 

Pena que eu nunca gostei de quando me mandam ficar


calada. 

— Você estava ajoelhado — fala sua mãe com certa


dificuldade, como se não conseguisse acreditar no que presenciou.
— Vai mesmo casar? 
— Lara, essa é a minha mãe, Marieta, e o meu pai, Salvatori,
essa é a minha noiva. — Ele faz as apresentações e a senhora
amolece as feições ao ouvir a palavra “noiva” ao ponto que o senhor
endurece as dele até as suas narinas dilatarem.  
— Não se deixe enganar minha jovem. — A voz de Salvatori
sai seca, e ele não me olha. — Esse idiota do meu filho só te pediu
em casamento para poder cumprir a exigência que eu fiz a ele.  

— Salvatori! — Marieta grita e bate no peito do marido


chamando a atenção das pessoas no restaurante. 

— O Caio não me enganou senhor Salvatori, eu sempre


soube da exigência ridícula que você fez para que ele pudesse
assumir a empresa, e também tenho conhecimento sobre todas as
coisas horríveis que você acusou o meu noivo. — Arrebito o nariz
não vou deixar esse homem falar mal do Caio.  

Ele me olha.

— Se sabe porque aceitou essa palhaçada? — pergunta


ainda desconfiado. 

— Se o senhor chama o casamento de palhaçada... eu tenho


pena da sua esposa. 
— Lara... — Caio fala baixinho. — Vamos embora. 

— Por que? Esse é o nosso jantar de noivado e seus pais


que interromperam, eles quem deveriam ir embora. 

Percebo que o Caio não quer brigar, ele continua magoado


com o pai após a última briga que tiveram, e imagino que seja
doloroso para ele esse encontro, e ser alvo de mais acusações. Vou
proteger o meu homem de qualquer pessoa, principalmente da sua
família. 
— Não seja abusada garota! — Salvatori ri, e eu o encaro
seria. — Caio vai te usar para conseguir o que ele quer. 

— Basta Salvatori! — Marieta se exalta com o marido. —


Você tem acusado nosso filho dessas coisas horríveis todos os dias,
vamos ao menos ouvir o que os jovens têm a dizer, não
conhecemos essa moça e nem sabemos a quanto tempo estão
juntos. 
— Não caia no teatrinho do Caio. — Salvatori é rude com a
esposa. 

— Eu não consigo entender o que mais você quer. — Caio


parece se recuperar do baque que foi encontrar os pais. — Eu já te
disse que não quero mais herdar a empresa, vou me casar com a
Lara porque ela é a mulher que eu escolhi para ser minha esposa. 
— Mentira, se eu não tivesse... 

— Cale a boca e me escute um segundo! — Caio altera a voz


e aperto sua mão dando forças a ele. — Independente do seu
ultimato, eu teria conhecido a Lara, naquela maldita noite eu fui
beber e o pai dela passou mal, o João é o meu motorista e a Lara
veio me buscar no lugar dele. Nosso encontro não foi planejado e
desde que pus os olhos nessa mulher eu fiquei por perto dando
apoio a ela enquanto o pai passava por um momento delicado de
saúde.  
Ele toma cuidado com as palavras, é verdade que o Caio foi o
meu porto seguro enquanto me atormentava para ser sua noiva. E
foi essa distração que me permitiu aguentar firme e permanecer
forte pelo meu pai. 

— Nos aproximamos, gostamos um do outro e queremos ficar


juntos, então independentemente de você acreditar em mim ou não,
eu não permitirei que fale mal da Lara ou pense merda sobre a
nossa relação. Você já me desonra o suficiente acreditando em
fofocas sem provas alguma, mas jamais ouse falar algo da Lara ou
você me verá realmente furioso! 

— Espera mesmo que eu acredite nisso? 

— Não, eu quero que você vá embora e me deixe em paz


com a minha noiva, eu não estava brincando quando disse que
cortei relações com a empresa e que não assumirei mais a Conti
Motores e Aviação. Se você ainda quiser fazer parte da minha vida,
e conhecer minha noiva baixe seu tom e nunca mais a ofenda, ou vá
embora de uma vez! 

— Não dou um ano para essa farsa acabar. — Ele se vira e


para quando percebe que sua esposa ficou. — Vamos Marieta. 
— Você já afastou o nosso filho o suficiente. — Ela limpa os
olhos e só agora percebo que chora. — Não serei mais conveniente
com suas loucuras, quero conhecer minha nora e fazer parte da vida
deles. Se quiser ir, vá sem mim. 

A Marieta tem a voz mansa e calma mesmo com o tom rouco


pelo choro contido. Ela se mantem firme e pega uma cadeira na
mesa vizinha e coloca na nossa, senta-se e se recusa a encarar o
marido que bate o pé e vai embora feito uma criança birrenta. 
— Mãe! — Ela faz um sinal de mão pedindo um minuto. 
Olho para o meu noivo que tem as feições tristes encarando a
mãe, decido que antes uma relação ruim com somente um dos pais
do que os dois. Sento e Caio faz o mesmo segurando a mão da mãe
que sorri para ele, e para mim. 
— Por favor não me entendam mal, eu só estou abalada e
vou pedir isso porque não aguento essa angustia em meu peito. —
Ela olha diretamente para o filho. — Deixe eu ver seu celular? 

— Para quê? — Ele pega o aparelho no bolso e sua mãe


clica no botão lateral acendendo a tela. 

— Desbloqueia, meu anjo — pede, e ele desbloqueia. Uma


foto nossa aparece no papel de parede dele: estou deitada na cama
com a camisa levantada na barriga e o short baixo enquanto o Caio
deita a cabeça na parte alta de minha barriga e segura meu ventre,
ambos sorrimos, eu para a câmera e ele para nosso bebê. — Você
vai ser pai? — A voz dela embarga e suas mãos tremem ao
devolver o celular. 

— Sim. 
— É por isso que vão casar?  

— Não — respondo na mesma hora, sem hesitar. — Já


falamos de casamento antes da gravidez, quando descobrimos,
decidimos oficializar a união antes do nascimento do bebê,
queremos que ele cresça em um lar com os pais juntos. — Seguro a
mão dela. — Não pense mal de nenhum de nós, eu realmente gosto
do seu filho e quero ser feliz ao lado dele. 
Tomo cuidado com as palavras, não quero dizer “amo” para a
Marieta sem ter dito primeiro ao Caio, esse momento será somente
nosso, e ninguém poderá o roubar. Se ela não acreditar que
casaremos por sermos apaixonados um pelo outro, não farei nada
para a convencer, só levantaria suspeitas. 
— Pedi o celular para poder ver a foto do papel de parede,
sabia que se o Caio amasse você, ele teria uma foto sua aqui, foi
uma agradável surpresa descobrir que serei avó, mas você tem
certeza de que quer casar com o meu filho? Ele costumava ser.…
um tanto rebelde. 

Dou risada de sua fala e o Caio também. 


— Eu já corrigi esse lado dele e gosto da safadeza do Caio,
não precisa se preocupar. 

— Agora eu acredito que esse casamento é por amor e não


de contrato. — Ela olha para mim e para ele, então sorri. — Os
olhos de ambos brilham de emoções; amor, tristeza e raiva pelas
coisas que foram ditas, perdoem o meu marido, aquele idiota perdeu
o juízo nos últimos tempos. 
Eu gosto da Marieta e desejo que ela faça parte de nossa
família e seja uma boa avó para o meu filho.  

— O pai passou dos limites, se ele não se controlar e colocar


a cabeça no lugar acabaremos cortando nossos laços.  

— Tenha calma com o seu pai, alguma coisa de ruim tem


acontecido na empresa e perturbado o juízo dele. 

— O nome desse coisa ruim se chama Pablo e Jairo sei que


são sua família, mas esses dois não prestam. 

— Não fale assim deles, Caio. 


— Falo e digo mais, o imbecil do Jairo atacou a Lara mais
cedo, não venha defender aquele vagabundo para mim. 

— Meu Deus! — Ela segura minha mão conferindo se tenho


algum machucado. — Você se machucou? O que ele fez? 

— O Caio chegou a tempo, Jairo costumava ser meu amigo e


usou disso para se aproximar e me atacar, felizmente o Caio o
impediu antes que algo de pior acontecesse. 

— Vá a polícia denunciar esse ataque. 

— Não vai adiantar. — Eu nem tinha pensado nisso. — Ele


me beijou a força, a polícia vai tratar como um caso de assédio
sexual leve, e como o Caio bateu no Jairo, é possível que ele preste
uma queixa por agressão, como vingança. 

— Se ele já não tiver feito isso — Caio aponta. 

— Nunca pensei que meu sobrinho fosse capaz dessas


coisas. — O desgosto em seu rosto é evidente. 
— Fique longe dele mãe. — Caio a avisa. — E do Pablo
também, os dois estão tramando contra o meu pai e planejam
roubar a empresa. 

— Você não pode deixar isso acontecer Caio. — Ela implora


ao filho. — Seu avô deu muito duro para construir tudo e seu pai
sacrificou muita coisa para fazer a empresa alcançar patamares
mais altos. Você se esforçou tanto em seus estudos e no dia a dia
na empresa, não desista agora. 

— Eu não posso fazer nada mãe, lamento. 


Eu sei que é mentira, e que o Caio tem um plano para expor
as mentiras do Pablo e Jairo. Ele não quer envolver a Marieta e a
colocar em perigo ou possivelmente que ela entre em conflito com o
marido, mais do que já aconteceu hoje. Admiro a forma como ele
protege a mãe e não a usa para fazer a cabeça do Salvatori.  

Aliso meu ventre feliz pelo pai que o meu bebê tem, alguém
disposto a tudo para proteger quem ele ama. 

— Vamos deixar esse assunto de lado, me contem sobre o


casamento de vocês. — Ela enxuga o canto dos olhos e segura
minha mão. — Imagino que sua mãe vai te ajudar com o vestido de
noiva, e se você desejar, eu posso te auxiliar em cada detalhe do
casamento. 

— Minha mãe faleceu quando eu tinha dez anos. — Olho


para baixo e depois para ela.

É duro saber que não terei minha mãe nesse momento


importante, mas depois de tantos anos lidando com a dor da
saudade, eu aprendi a aceitar que a tive somente por dez anos e
que devo seguir em frente, sem me apegar ao que poderia ter sido.  
— Lamento por isso querida. 

— Obrigada, eu ficarei feliz em contar com a sua ajuda. 

— Perfeito, conheço uma estilista que faz vestidos


deslumbrantes de noiva e poderá lidar bem com suas medidas
mudando por causa da gravidez, já pensaram onde vai ser a lua de
mel?  

— Ainda não — Caio responde, dando um sorriso. — O pai


da Lara passou por uma cirurgia delicada do coração e queremos
ficar por perto pelo próximo ano, vamos passar em algum lugar aqui
do Rio. 

Não havíamos conversado sobre isso. 

São os pequenos detalhes que mostram o quanto o Caio é


atencioso que fazem meu coração bater mais forte, e a paixão
queimar em meu peito. Eu que cresci me fechando para o mundo,
estou noiva do homem que tem aberto as paredes da minha defesa
com ações pequenas que fazem uma enorme diferença. 
— Não posso acreditar que serei avó! — fala animada. —
Pensei que esse devasso me faria esperar até os 90 anos! Quero
saber tudo sobre o meu netinho. 

A noite terminou por ser perfeita. Marieta é uma mulher muito


atenciosa, e mesmo não querendo demonstrar, vejo que Caio tem
muito da sua mãe. Enquanto conversamos, Caio segura minha mão
por debaixo da mesa, ele acaricia meus dedos. Sinto-me feliz perto
dele, além de completa.

Eu espero, que um dia ele possa se sentir assim por mim,


perceba que me ama e fez a escolha certa ao me querer como sua
esposa.
- 26 -
 

Dois meses depois.

Lara

E
u nunca mais vou
casar! 
Ainda nem subi no
altar e já quero correr desesperada para longe. Marieta não estava
brincando quando disse que me ajudaria. Contratamos uma
empresa para organizar o casamento em tempo recorde, corremos
de um lado para o outro provando bolos, doces, salgados,
escolhendo decoração, enquanto fazia os exames da minha
gravidez.

No meio disso tudo, Caio tem trabalhado feito um louco para


poder abrir sua empresa automobilística. 

É tanta coisa para fazermos que mal temos tempo para nós
dois. Ando tão estressada que meu humor não é um dos melhores,
não faço ideia de como a Marieta tem me aturado, por mais que eu
tente agir com tranquilidade, fica difícil controlar meus hormônios. 
Eu quero é que tudo se exploda, eu e o Caio assinemos os
papeis e pronto... casados. Não tinha necessidade de complicar
tudo com tantos bolos para provar, quem diabos gostaria de um bolo
de amendoim com cobertura de abacaxi e recheio de banana!
Vomitei quando coloquei essa bomba toxica de sabores na boca e
deixei para a Marieta escolher o sabor do bolo, de tamanha raiva
que fiquei por me fazerem provar aquilo. 
Ao menos o meu vestido eu escolhi com paz e calma, a
estilista que ficou louca, com o crescimento do meu ventre toda
semana precisando refazer ajustes no vestido. Hoje mesmo ela teve
de folgar um pouco mais para a minha linda barriguinha de 10
semanas. Ainda não sabemos o sexo do bebê e queria descobrir
somente quando nascer. Já o Caio fica reclamando que temos de
saber o quanto antes para podermos decorar o quarto. 

Aquele homem que não sai do escritório e tem se encontrado


com acionistas e possíveis contratados, quer pintar um quarto de
bebê e decorar ele mesmo, não sei como ele arranjaria tempo para
isso, mas sei que sempre que conseguimos uma folguinha e
falamos do nosso futuro, eu fico mais feliz pela minha escolha. 

— Você é a noiva mais linda que eu já vi. 

Giro e encontro o meu pai usando um terno elegante e


sorrindo emocionado para mim. Passei o dia no SPA, já fiz meu
cabelo e agora terminei de colocar meu vestido em um quarto
reservado para mim, um carro me espera do lado de fora para me
levar à igreja.  
— O senhor não deveria estar aqui, vai se cansar. —
Caminho até ele e seguro em seu braço. 
— Bobagem, a doutora Luana já me liberou para pequenas
atividades. Vou levar minha filha ao altar e não poderia deixar de vir,
e constatar como ela é linda. — Ele alisa meu rosto com cuidado e
beija minha mão. — Sua mãe ficaria orgulhosa se pudesse te ver
agora — sussurra e pega uma caixinha em seu bolso. — Esse colar
foi usado por ela quando nos casamos, agora você tem algo azul,
emprestado e velho — ele abre a caixa e não consigo controlar as
emoções quando vejo o colar com cinco pedrinhas turquesa em
uma corrente de ouro. 

— Eu achei que você o tinha perdido — murmuro e toco a


peça, lembrado que só a vi nas fotos da minha mãe e em seu
pescoço quando ela era viva. 

É a lembrança mais antiga e preciosa que tenho dela. Tenho


na memória a imagem clara do dia em que eu cheguei da escola e
ela me recebeu de braços abertos com um lindo sorriso no rosto.
Mamãe se abaixou para me pegar no colo, seu colar ficou
pendurado e o segurei dizendo o quanto o achava lindo. Então
contou que foi um presente da minha avó quando ela se casou, e
que o daria a mim no dia do meu casamento.  

— Quando sua mãe morreu, o colar se rompeu e eu passei


muitos anos sem conseguir olhar para ele. — Seus olhos brilham e
eu soluço. — Entretanto, você me contou do casamento com o Caio
e da gravidez, assim eu soube que tinha de arrumar o colar e que
ele deveria ser seu, era o que sua mãe iria querer. 

Ele fica atrás de mim e coloca o colar em meu pescoço, toco


a peça tentando controlar os soluços. 

Meu pai se volta para a minha frente e me olha, emocionado.


— Esse aqui é meu. — Ele me entrega uma pulseira prateada
com pequenos pingentes vermelhos em formato de coração. — Algo
novo para a sua nova vida. 
— Obrigada pai! — Eu o abraço forte. 

Eu me sinto feliz, por tê-lo comigo nesse momento especial e


por ele, de alguma maneira, trazer minha mãe para o meu
casamento cumprindo o desejo que ela carregou por anos e que
não pode realizar. Eu casaria outras mil vezes se pudesse reviver
esse momento. 
— Minha nossa sua maquiagem! — A cerimonialista entra
espantada no quarto. — Senhor João, eu disse que ela não podia
chorar, vamos arrumar isso... MONIQUE... — grita o nome da
maquiadora. 

— A noiva sempre se atrasa, eu só dei o motivo — diz meu


pai e dou risada da cara de desgosto da cerimonialista.
Com certeza eu não fui a noiva mais fácil que ela já teve de
lidar em seus anos de trabalho. 

— O senhor vá esperar lá fora, e Lara vamos ajeitar isso. 

Sento na cadeira e deixo Monique ajeitar minha maquiagem,


e quando termina, me olho no espelho uma última vez antes de sair.
Meu vestido é rendado com um forro por dentro que vai à altura da
minha coxa, enquanto a calda se espalha no chão, um decote em V
e alças na grossura de três dedos com um nozinho no topo, minhas
costas ficam nuas até a base da coluna, o tecido é todo revestido
com pequenas pedrinhas que brilham em contato com a luz.  
Ele é leve, elegante e muito confortável, do jeito que eu
queria. Meu cabelo foi arrumado em um coque alto com a franja
solta caindo em caracol no meu rosto, e uma tiara com pedrinhas de
brilhante no alto do coque segurando o véu.

Sorrio para mim, e vou encontrar meu pai que me espera no


carro. A caminho da igreja, sou capaz de ouvir as batidas do meu
coração e a ansiedade me consumindo, não pensei que ficaria
desse jeito hoje. É o Caio que me espera, o homem que tem sido
meu tudo quando eu não tinha nada, que me faz rir com facilidade,
aguenta meus surtos e quando tenho desejos no meio da noite ele
vai buscar o que peço, sem reclamar.  

É o homem que fala com nosso bebê todos os dias quando


vai dormir e quando acorda, que me beija com carinho e me toma
para si com paixão ardente. Aquele que tem me mostrado todos os
dias que eu vou ter uma vida feliz ao seu lado, e que somos um
casal de verdade. Não existe motivos para eu ficar ansiosa com
medo do que virá pela frente, mas é exatamente assim que me
sinto, ansiosa e insegura do que pode acontecer depois que nos
casarmos. 
— Quando vocês contaram que iriam casar e que você
estava esperando o meu netinho eu quase tive outro infarto. — A
voz do meu pai me tira do turbilhão de pensamentos. — Confesso
que ainda acho apressado a união de vocês e que poderia esperar
mais um pouco. — Sua mão pousa delicada na minha. — Só que
depois de ver como aquele rapaz demonstra que quer ser um bom
marido e pai, eu fico tranquilo de entregar o meu diamante para
ele.  
— Acho que estou com medo — confesso, com meu coração
batendo forte. — E se as coisas mudarem depois que casarmos? 

— Oh! Minha querida. — Ele gargalha. — É claro que vão


mudar, você conhecerá um novo Caio e ele a uma nova Lara, as
pessoas estão em constante mudanças nessa vida, quem você era
um ano atrás, não é a mesma de hoje e o mesmo vale para o Caio,
aquele rapaz era o maior devasso e hoje... só pensa na família que
ele vai formar e em ser um bom pai e marido, não tema coisas ruins
Lara, elas não podem te alcançar. 

— Obrigada pai. 

Ele tem razão, não existem motivos para eu ter medo, se


mudarmos será para a melhor e se o pior acontecer podemos
sempre conversar um com o outro e nos acertar, afinal é isso que o
casamento é: duas pessoas aprendendo todos os dias a ficarem
juntas. 

Chegamos à igreja e respiro mais três vezes antes de


sairmos, as portas se abrem e a música que escolhemos para a
minha entrada começa a tocar, All of me, do John Legend.
Escolhemos essa música por ela representar o que eu significo para
o Caio e ele para mim.

Nos conhecemos em um momento difícil, ele foi tudo para


mim e eu fui aquela quem esteve ao seu lado enquanto ele lidava
com as pressões do pai, seu porto seguro e a razão dele não
enlouquecer ou fazer uma burrada, fui o seu tudo quando ele não
tinha nada. Um segurou a mão do outro e nunca mais soltou. 
Caminho encarando os seus olhos enquanto os convidados
nos saúdam, nossas famílias e amigos reunidos, o Heitor, Alexander
e William como os padrinhos acompanhados de suas esposas e o
Alexander de uma tia minha, já que é o único solteiro.
Caio tem o olhar marejado e um sorriso enorme em seu rosto,
enquanto me admira ir até ele. Quando chego ao altar ele segura
minha mão com as suas, tremulas e geladas, aperta a do meu pai e
subimos os degraus.  

Escuto a porta da igreja sendo aberta e olhamos para trás,


sem chamar atenção o pai dele entra e senta ao lado da mãe. Tenho
vontade de chorar ao ver o Salvatore aqui. Apesar de pai e filho não
terem feito as pazes, eu percebi que o Caio estava triste por saber
que o pai não viria, e agora meu futuro marido tem um sorriso no
rosto enquanto uma lágrima solitária escorre em sua bochecha. 

Um desavisado poderia achar que ele chora de emoção por


nosso casamento, mas eu sei a verdade: essa lágrima é por alívio
de saber que o pai veio e que isso significa que a relação deles não
foi perdida. Escoro a cabeça em seu ombro e aperto sua mão, ele
reproduz o meu gesto.

— Belíssima... — sussurra em meu ouvido. — Sou o homem


mais sortudo por ter você como minha. 

— E eu a mulher, meu noivo é um gato. 

Damos uma risada e o padre pigarreia, então inicia o


sermão. 

Continuo olhando meu noivo, ele veste um terno bege com


uma gravata um tom mais escuro, e colete; o cabelo preso em um
coque samurai e a barba muito bem penteada, aposto que passou
gel nela.

Mais lindo do que nunca e totalmente meu. 

— Caio Albuquerque Conti pode fazer seus votos — diz o


padre. 

Caio se nega segurar o microfone, estamos de joelhos, um de


frente para o outro, ele segura minha mão, seus olhos presos aos
meus.

— Lara, minha pequena furação doce como um morango... —


Dou risada pela sua fala e ele ri junto comigo. — Eu vivia dizendo
que na vida não precisamos de pressa para casar e ter filhos. Hoje
percebo que só pensava tais coisas por não saber o que era o
sentimento de querer alguém vinte e quatro horas, ansiando por
terminar de trabalhar e poder ficar em casa olhando a pessoa
amada. Eu não fazia ideia do quanto poderia ser bom dividir risadas,
angustias e carinho, que ser vulnerável envolvia confiança, e ser
acolhido sem ter de dar nada em troca.  
Ele pigarreia e olha para baixo recuperando o fôlego, antes
de me encarar novamente e me abraçar. Minha garganta trava
emocionada por suas palavras, louca para poder dizer a ele como
me sinto. 

— Eu falava coisas tolas por não saber como é amar você.


Hoje eu tenho pressa para estar em casa, para te ver, casar e
termos nossos filhos, esperamos nosso bebê, e tudo que eu consigo
pensar é em quantos mais filhos eu quero ter com você, e em todos
os momentos que vamos passar juntos. Eu quero continuar sendo o
seu porto seguro enquanto encontro forças no seu sorriso, cheiro,
voz e amor. Eu te amo, minha Lara e me perdoe se achar que sou
apressado, é que com você ao meu lado eu fico desesperado para
viver cada segundo. 

Engulo o choro, e enxugo o canto dos olhos enquanto


recupero meu fôlego. Caio enxuga minhas lágrimas com pequenos
beijos e sorrindo enquanto as dele caem livremente em suas
bochechas.  

 — Eu sempre tive dificuldades em me abrir com as pessoas


— falo com a voz entrecortada. — E tinha receio de deixá-las se
aproximarem o suficiente para depois eu sentir a falta delas, quando
fossem embora. — Encaro seus lindos olhos castanhos. — Quando
nos conhecemos você me deixava louca tanto quanto me fazia
querer ficar mais um minuto na sua presença. Com você eu me
senti segura e amparada, sabia que podia ser eu mesma, que você
não me mandaria embora, e com isso eu confiei que podia entregar
meu coração nas suas mãos, que você nunca o machucaria.  

Caio enxuga minhas lágrimas e se aproxima mais, permitindo


que eu fale em seu ouvido. 

— Eu te amo Caio! E esse sentimento queima tão forte que


eu tinha medo do nosso futuro, e como sofreria se um dia você me
deixasse. Hoje eu sei que não preciso temer, e que nossas vidas
estão entrelaçadas até o dia em que morrermos, com você não sinto
mais medo ou temores, somente um amor tão grande que me deixa
ansiosa para saber como será a próxima forma que perceberei que
meu amor aumentou cada vez mais, que posso ser quem eu sou,
porque assim como eu te amo, você me ama. 
Beijo seu pescoço e nos encaramos com as testas
encostadas uma na outra. A filha do Heitor entra segurando as
alianças. Repetindo as palavras do padre trocamos as alianças e
nos beijamos.

Finalmente casados, e tendo a plena certeza do que


significamos um para o outro. 
- 27 -
 

Caio

E
u a amo. 
Depois de três
meses convivendo
com a Lara, o sentimento cresceu em meu peito, até não conseguir
mais controlar a vontade que tenho de a ter em meus braços,
cheirar seus cabelos e sentir seu corpo conectado com o meu.

Meu maior medo de me envolver em relacionamentos era não


ter mais tempo para mim, não conseguir focar no trabalho ou
precisar ficar dando explicações do porque não respondo de
imediato a alguma mensagem, ou o que estou fazendo a cada
segundo do dia. 

Com a Lara nunca foi desse jeito, ela respeita meus limites e
espaço, não me faz cobranças e nem fica no meu pé. Isso me faz
ter vontade de enviar mensagem, dizer a ela o que estou fazendo,
perguntar sobre o seu dia e reservar duas horas do meu dia para
ficar com ela. Assistindo um filme agarradinhos, transando,
cozinhando e conversando. 
Eu amo essa mulher, ela será a mãe de todos os meus filhos,
e hoje, após dizer os meus votos tenho certeza de que nunca a
deixarei partir. Espero que Lara me ame tanto quanto a amo, caso
não, passarei todos os meus dias dizendo o quanto a amo e a
fazendo querer ficar ao meu lado.  

Nunca vou desistir dela, não importa o que aconteça. Agora


eu entendo o Heitor e o William, eles não se apaixonaram por que
queriam passar o resto da vida com uma única mulher. Foi uma
única mulher que fez com que se apaixonassem e quisessem ficar
todos os dias ao seu lado.

Por ela e somente ela.  

— Vamos? — pergunto em seu ouvido quando encerro nosso


beijo. 

— Seu olhar me diz que você quer pular para a noite de


núpcias. — Ela belisca meu braço e dou risada a pegando no colo. 
— Um carro nos leva a recepção da nossa festa de
casamento e o outro ao nosso hotel, qual você escolhe? 

Lara fica tentada em fugir comigo, percebo só pela forma


como ela aperta as pálpebras quase as fechando, morde o lábio
inferior e respira acelerado. São os primeiros sinais de excitação
que ela dá, aposto que esfregaria as coxas se pudesse para aliviar a
pressão em sua bocetinha.

Minha boca saliva só de pensar que vou passar a noite a


chupando em paz. Tiramos uma semana de férias para nossa lua de
mel, nada de trabalho, estudos ou cuidado com qualquer outra coisa
que não seja a nós dois.  
— Vamos ficar só até o buffet ser servido. — Gargalho com
sua proposta e caminho com minha noiva em meus braços para fora
da igreja sendo recebido por uma chuva de arroz e muitos gritos dos
meus amigos e familiares. 
Entro no carro com a Lara e subo a proteção que separa o
motorista do passageiro, seguro o rosto da minha esposa e observo
com cuidado seus traços delicados e alegres, o brilho na íris escura,
os lábios sorrindo abertamente mostrando seus dentes e a ponta da
língua de fora ansiosa para que eu a tome. 

— Finalmente minha — sussurro em seus lábios, antes de


beijar sua bochecha direita e a esquerda, a ponta de seu nariz
arrebitado e sua testa, deslizo o nariz em sua pele macia e contorno
seu queixo e cheiro o pescoço que eu tanto amo, percebendo os
pelos de seus braços se arrepiarem. 
Arranho os dentes em sua pele puxando devagarinho
apreciando ter sua carne em minha boca, solto e chupo a região
enquanto Lara se contorce no banco e tenta subir no meu colo,
prendo seu quadril no banco e continuo minha tortura, beijo atrás de
sua orelha e puxo o lóbulo, antes de lamber por completo sua
orelha, enquanto Lara delira animada por mais e gemendo gostoso
para mim.  

— Abra as pernas, moranguinho — peço com a voz sexy e


rouca, ela obedece ao meu comando. — Aposto que vou encontrar
sua calcinha melada de desejo — sopro em seu ouvido e deslizo
beijinhos em seu queixo enquanto enfio uma mão entre suas pernas
quentes, dedilhando sua virilha.
Lara se abre para mim, agarra meu ombro me puxando para
perto.
— Caio, você quer me deixar louca — declara com voz
arfante.

— Eu te dei a opção de irmos direto para o hotel. — Deslizo


meu dedo em sua calcinha úmida, evitando tocar diretamente sua
bocetinha. — E você preferiu primeiro a festa, esse é seu castigo. —
Arranho seu pescoço com os dentes e ela geme frustrada quando
me afasto e me ajeito no acento. 
— Não seja malvado. — Adoro sua voz manhosa, e como ela
aperta minha gravata em sua mão me puxando de volta para ela. —
Sua esposa tem necessidade e é sua obrigação me ajudar a acabar
com essa tortura. — Seus lábios pairam a centímetros do meu, ela
brinca primeiro comigo, fingindo que vai me beijar e se afasta, sua
língua sem-vergonha lambe meus lábios provando com cuidado da
minha pele, até me fazer abrir a boca e deixar que ela me beije. 

Lara tem gosto de morango desde que nos beijamos pela


primeira vez, e hoje seu sabor foi aflorado com tudo no meu paladar.
Quero agarrar seu cabelo, mas tenho medo de o bagunçar e ela se
enfezar comigo, por isso aperto sua cintura com força a trazendo
para o meu colo e aprofundando nosso beijo com vigor.  

— Melhor? — pergunto a soltando. 

— Não deu nem para começar. — Seus lábios brilham e seus


olhos nublam querendo mais. 
— É uma pena, acabamos de chegar no lugar da festa. —
Finjo decepção, adoro ver como a Lara fica frustrada fazendo bico,
tenho vontade de mordê-la. 

— Podemos ir embora ainda?  

Gargalho e bato na sua bunda antes de a sentar no banco


novamente e abrir a porta deixando claro que não tem mais volta
agora. 
— Vamos, os convidados nos esperam. 

— Eu devia ter sido mais esperta quando tive a chance. 

Pego a mão dela e a ajudo a sair do carro, na recepção o


fotografo nos impede de ir para nossa mesa e vamos para um lugar
reservado para a sessão de fotos. Lara sorri lindamente para cada
click, e por mais que seja cansativo para mim posar para fotos, eu
me esforço por ela. Beijo seu rosto, seguro seu ventre, sorrimos e
fazemos as poses que o fotógrafo solicita. 

— Ana Lucia! — Lara chama pela cerimonialista que vem de


imediato saber do que ela precisa. — Estou morrendo de fome,
podemos comer? 

— Vou providenciar um lanchinho para vocês, o jantar vai


demorar um pouco a ser servido. 

— Traga um bem generoso — peço muito animado. — No


nível que matará nossa fome. Lembre-se que Lara come por dois e
eu por três! 
— Eu a entendo comer por dois, mas você por três eu não
compreendo. 

Lara solta uma risada e senta na cadeira, enquanto eu me


preparo para explicar. 
— Eu sou um homem enorme, cada braço e perna minha
precisam de uma refeição, então é uma refeição para o lado direito,
esquerdo e uma para o centro. — A mulher encara com descrença,
enquanto examina meu corpo e depois encara a Lara que só faz rir. 
— Vou providenciar.  

Ela sai e estou prestes a aproveitar um pouquinho mais da


minha esposa quando uma zoada chama minha atenção e vejo os
safados dos meus amigos se aproximarem e fazerem a festa. Heitor
com os braços abertos não perde a chance de ser o primeiro. 

— O solteirão número um do Rio de Janeiro acaba de casar,


posso ouvir o choro das mulheres! — Heitor zomba de mim. 

— Eu precisei conter as lágrimas com os seus votos. —


William finge que enxuga lágrimas inexistentes. — Quanto amor o
nosso Caio pode sentir e dar. 
— Vocês não escutaram nada, falei somente para a Lara
ouvir. — Sacudo a cabeça. 

Alexander me dá uma chave de braço enquanto os outros


riem. 

— Ficamos do seu lado naquele altar é claro que


conseguimos ouvir uma coisinha e outra, nosso garotão
cresceu! Ele me solta e Lara nos observa, divertida.

— Chegaram a tempo para as fotos. — Lara chama o


fotografo — O quarteto infernal vai tirar uma foto, então garanta que
a câmera não exploda com a beleza deles — caçoa. 
— Sim senhora — responde o fotografo, enquanto tenta
segurar o riso. 

Fico ao lado dos meus amigos e tiramos algumas fotos, mais


fazendo poses engraçadas, com eles me segurando nos braços,
fingindo que vão me sequestrar e implorando para que eu não case.
Depois disso foi o momento das fotos em família e fiquei tenso
quando vi meu pai ao lado da minha mãe, para um momento nosso. 

— Seus salgados. — Ana Lúcia entrega duas tijelinhas de


salgados para a Lara e a mim. — Depois vocês continuam as fotos. 
Meu pai se aproxima e tento não deixar a tensão me
dominar. 

— Caio, fique tranquilo, logo passa o desconforto por ele ter


vindo. — Lara tenta me ajudar a manter o controle das emoções. 

Meu pai tem sido contra meu casamento, e não acredita no


nosso amor; e o ter aqui hoje com essa expressão séria, me deixa
apreensivo, não sei o que se passa em sua cabeça para ter vindo,
no primeiro momento me emocionei e acreditei que fosse um sinal
de que ele quer uma trégua entre nós. Se ele ao menos
demonstrasse um pouquinho de felicidade em vez da expressão
fechada. 

— Parabéns pelo casamento! — Minha mãe sorri e me


abraça, depois a Lara. — Foi uma linda cerimônia e uma
maravilhosa festa!  

— Obrigada mãe, fico feliz de a ter aqui. — Beijo seu rosto. 

Lara continua comendo seus salgados e empurrando um para


a minha boca quando meu pai fica na minha frente. Ele coça a
garganta e estende uma mão para mim, eu a aperto. 
— Não imaginei que você chegaria tão longe. — Abro a boca
para o refutar, e outro salgado é colocado dentro dela, encaro Lara
de olhos arregalados que me pede calma com o olhar. O casamento
também é dela e não deixarei a minha situação familiar estragar o
dia que marca a data que iniciarei a minha família.  

— Eu amo a Lara — digo de boca cheia e seguro a mão da


minha esposa, antes que ela me entupa de salgados. — É natural
nos casarmos. 

— Desculpe pelo atraso, acabei ficando ocupado com uma


reunião e precisei vir às pressas, estou feliz por ter chegado a
tempo.  

Sua expressão triste me comove mais do que suas palavras,


a fala mansa e os olhos brilhantes, talvez ainda exista esperança
para a minha reconciliação e a do meu pai.  
— Fico feliz de você ter vindo. 

— Desejo que seu casamento seja feliz e cheio de filhos. 


— Obrigado. 

— Prontos para a foto? — pergunta o fotografo, e acenamos


em positivo. 
Ficamos lado a lado e tiramos nossa foto em família, pela
primeira vez, em muito tempo, eu senti que estava ao lado do
homem que eu sempre admirei e amei. Esse que me cumprimentou
é o meu verdadeiro pai, pode demorar, mas o farei me reconhecer e
perceber o seu erro. Não deixarei nossa relação ser destruída pelo
Pablo e Jairo. 

— Tem como você passar na empresa segunda? — Meu pai


pede quando a sessão de fotos termina. 

— Não, vou estar em lua de mel com a Lara na próxima


semana, não irei pensar em trabalho. 

— Você não tira férias. — Ele me olha surpreso. — O que


mudou? Não acredito que ter ficado desempregado o tenha deixado
preguiçoso. 

Aperto o punho me forçando a ignorar sua farpa. 

— Agora eu tenho uma família e quero aproveitar cada


momento que eu puder, e não estou desempregado, tenho
trabalhado para abrir a minha empresa e agora tirarei férias para a
minha lua de mel. 

Bato em seu ombro de leve antes de ir embora, não sei o que


ele pretende com essa reunião, e não quero descobrir para ficar
pensando nisso quando deveria focar minha atenção na minha linda
esposa, que me espera para a nossa primeira dança como um
casal.  

— Já disse o quanto você é linda? — pergunto ao segurar


sua cintura com minhas mãos e colar nossas testas. 

— Pode repetir quantas vezes quiser — sussurra e beija


meus lábios em um selinho. — Meu marido é muito gostoso e gato,
sabia? 

— Devo ter ciúmes dele? Quero muito cobiçar a esposa dele. 


Ela gargalha e a música começa a tocar enquanto
balançamos nossos corpos pelo salão na próxima hora.

Quando meus pés doem pelo sapato e cansaço da noite, e


noto que Lara já divertiu bastante com sua família, e que degustou o
jantar mais de uma vez e se entupiu de doces, eu a puxo pelo
salão. 

— Vamos para nossa lua de mel? — questiono baixinho


beijando seus cabelos. 
— Achei que nunca fosse chamar. — Ela passa os braços ao
redor do meu pescoço. 

A levo para o carro e vamos para o Resort em que


passaremos nossa lua de mel, e onde a terei pela primeira vez
como minha mulher, desta vez de papel passado.
 
- 28 -
 

Lara

C
aio não me deixou
saber onde seria
nossa lua de mel, a
única informação que eu tenho é de que será no Rio de Janeiro, não
quero ficar longe do meu pai, e por mais que ele esteja bem
amparado pela enfermeira e o hospital, eu tenho medo de algo
acontecer sem eu estar por perto para o socorrer.  
Eu organizei o casamento, mas Caio cuidou da nossa lua de
mel, acabou sendo um bom acordo para ambos. Amei nossa
cerimonia e a festa, mas agora a única coisa da qual preciso é
aproveitar o meu marido sem ninguém por perto e poder acabar
com a agonia que me consome por dentro querendo tê-lo somente
para mim.

— Fecha os olhos — pede Caio, sentado ao meu lado no


banco traseiro de seu carro. 

— É surpresa? — Fecho os olhos e fico tentada a espiar. 

— Sim então nada de espiar. 


— Se eu olhar serei punida?  

— Com certeza e para que isso não aconteça... — Um tecido


toca a região dos meus olhos. — Vou te vendar, não quero castigar
minha noiva em nossa noite de núpcias. 

— Você planejou tudo. — Toco no tecido macio da venda. 


— Cada detalhe. — Sua voz se torna mais próxima do meu
rosto, gosto de como a venda aumenta minha sensibilidade ao
Caio. 

— Estou ansiosa para saber o que você elaborou. — Tento


tocar seu rosto e acerto seu ombro, tateio com calma até sentir os
pelos de sua barba em minha mão, e o trago para mim encontrando
nossos lábios em um beijo terno. 

— Você verá quando chegar a hora — sussurra, antes de


distribuir pequenos toques de seus lábios em meus ombros e
braços. 

Em seguida eu deito a cabeça em seu ombro, enquanto ele


acaricia meus braços e beija minha cabeça. Adormeço, enquanto o
motorista conduz o automóvel, na tranquilidade da noite.

Desperto e percebo que carro para, ouço quando a porta é


aberta, Caio se movimenta no acento puxando minha mão para que
eu o acompanhe, com calma deixo o veículo e vou para os braços
dele. Encolho-me quando a brisa do mar toca minha pele, ao longe
o som das ondas se quebrando na areia da praia.  

Caio caminha comigo em seus braços, em silêncio, eu deito a


cabeça no seu peito aproveitando a sensação gostosa de confiar em
alguém ao ponto de não me importar para onde estou sendo levada,
desde que esteja ao seu lado, tudo fica perfeito e sei que estou
segura. 

Uma porta é aberta e escuto alguém agradecer baixinho, para


depois voltar a fechar a porta quando passamos por ela. Minha
respiração aumenta ao notar que estamos dentro de um ambiente
fechado, e que a brisa do mar não pode mais ser sentida. Caio se
abaixa e me deita em uma superfície macia, percebo que se trata de
uma cama quando toco a colcha com as mãos. 

— Vou despir a minha noiva. — Levanta minha perna e retira


o sapato deixando um beijo em meu pé coberto pela meia.  

— Posso tirar a venda?  

— Ainda não. 

— Mas eu quero te ver. — Faço bico, sei que ele não resiste
a isso. 

— Não adianta me tentar com esse bico — sopra e morde


meus lábios.

Solto um grito, caindo na cama enquanto rio do seu ataque. 

— Você acabou de recusar a minha arma secreta. —


Gargalho. 

— Hoje, sou eu quem manda. — Um tapa estala na minha


bunda e o riso se perde, dando lugar a excitação. — Vai me
obedecer ou terei de te castigar? 

— Serei muito obediente. — Abaixo o tom de voz, para um


timbre sexy. — O que quer que eu faça? 
— Coloque os braços para cima enquanto a aprecio. 

— Sim senhor — gemo e o provoco, como recompensa ele


estapeia meu sexo, fazendo meu interior se contorcer em fogo. 

Caio tem me transformado em uma devassa pronta para


atender a seus comandos e eu amo isso, sempre que transamos
termino exausta e satisfeita, querendo mais do meu marido. Não
consigo acreditar que esse homem é completamente meu, e que
agora estamos oficialmente juntos.
Não faço ideia do que o destino reserva para nós, e farei o
possível para garantir que continuemos trilhando o mesmo caminho,
lado a lado como um só. 

Minha respiração fica pesada conforme o tempo passa, e


Caio não emite nenhum som ou me toca, é como se ele tivesse
desaparecido do quarto. Um som baixinho em uma batida sexy
começa a preencher o ambiente acompanhado do farfalhar de
roupas, fico tentada a puxar a venda dos meus olhos e poder ver o
Caio enquanto ele remove seu terno.  
Aperto o travesseiro tentando conter a minha vontade de
retirar a venda, o colchão pesa e sua respiração bate em minhas
feições, sua mão desliza pela minha lateral direita tocando a renda
do tecido até a minhas coxas, onde ele aperta minha carne e faz
com que eu abra as pernas, e possa se enfiar entre elas. O tecido
aperta minhas coxas e começa a ficar incômodo, me remexo
tentando achar uma posição que faça a peça folgar. 

— O que foi? — pergunta suavemente beijando meu busto. 


— O vestido ficou muito apertado desse jeito — sopro quase
esquecendo o desconforto quando seus lábios tocam minha
clavícula. 

— Não podemos machucar essa pele de porcelana. — Ele


suspira e se levanta. — Meu plano era te foder usando o vestido de
noiva. 

— Quanta delicadeza... — brinco e recebo em reposta uma


leve mordida na coxa. 
— Você deveria ter escolhido algo mais folgado, se eu só
subir a peça vai aperta nosso bebê.  

Sempre me abalo com ele, quando fala do nosso filho com


cuidado e carinho. 
— Abre o zíper atrás... 

— Não. — Estala a língua na boca e já posso ver as ideias


surgindo em sua mente pervertida. — Você comprou a peça, não
foi? 

— Sim, feita sobre encomenda. 

— Melhor assim. 
— Por que?  

Ele não me responde e o som de tecido rasgando é a sua


resposta. Não posso acreditar que o Caio está rasgando meu
vestido de noiva! Sento em um pulo e seguro a venda quase a
removendo, sua mão prende meu pulso e me impede de libertar
meus olhos. 
— Não acredito que você rasgou o vestido! 

— Nem comecei direito, tem muitas camadas de tecido. —


Ele me puxa com brusquidão contra seu peito e devora minha boca
em um beijo faminto que me faz esquecer por que diabos eu me
importo se ele rasgou ou não a roupa.  

— Hum... — gemo concordando com sabe-se lá o que. 


— Não se mexa enquanto rasgo o vestido o suficiente para
poder te comer com ele. 

Meu interior arde com suas palavras sem-vergonhas, ele me


joga na cama novamente e volta a rasgar a peça. Sinto o vestido
sendo aberto até o meu ventre e depois disso ele para, e sua boca
ataca minha virilha mordendo a região enquanto agarro seus
cabelos. Espalmo a mão em seu ombro notando que ele retirou a
camisa, Caio deve ter ficado pelado quando ouvi o farfalhar de
roupas. 
— Gostei dessa meia branca... ela pode ficar. — Desliza o
dedo na borda de minha calcinha. — Apesar de ser uma linda peça
está me atrapalhando — sussurra e o som de tecido rasgando é
ouvido mais uma vez, percebo que fico sem calcinha. 

— Já, já você me rasga — brinco e suspiro alto quando sua


boca morde meu pubes. 
— Vou fazer isso com o meu pau, veja como ele está ansioso
para comer a boceta com quem ele casou. — Sua mão agarra a
minha e a coloca ao redor de seu comprimento grosso e ereto. 

— Deixa eu provar ele? — peço, quase babando para o ter na


boca. 
— Vem cá — ele segura meu ombro e me puxa para cima
guiando minha boca até o seu membro. 

Caio é uma delícia de se ter na boca, gosto de como é macio


e grosso, uma tentação para chupar até a mandíbula ficar dolorida.
Agarro sua base com a mão e bombeio o que não cabe na minha
boca, ouvindo seus gemidos grossos e másculos, minha vagina
pulsa de ansiedade para ter todo esse tamanho, enquanto me jogo
no boquete mais gostoso que já fiz na vida. 

Sinto-me quente, gostosa e muito sexy por dominar um


homem desse tamanho, que não hesitou nem por um segundo
quando o pedi para o ter para mim. Fico sobre meus joelhos
aumentando meu ângulo e enfiando seu pau até a minha garganta,
meu corpo se arrepia e repito o movimento.  
— Sou o homem mais sortudo desse mundo, sabe o motivo
Lara? 

— Não, qual? — Solto seu pau só para responder e o


abocanho novamente. 

— Minha esposa faz o melhor boquete desse mundo — geme


do jeito que me enlouquece. 

Esfrego minhas coxas aumentando a velocidade dos meus


movimentos e soltando seu membro com um “ploc” antes de o
lamber como um pirulito. Merda de venda que não me deixa olhar a
cara de prazer do meu homem. Trago minha mão livre para o meio
das minhas pernas e toco o meu clitóris, para aliviar meu tormento.
Preparo-me para o golpe final quando escuto Caio urrar feito louco,
bombeando o quadril contra meu rosto.  
Agarro seu pênis com força e respiro fundo, sem poder ver,
pode ser um pouco perigoso o que quero fazer, e por isso mantenho
minha concentração no máximo, com os lábios beijo sua cabecinha
macia, abro a boca um pouquinho e arranho sua superfície com
meus dentes.  

— Inferno, mulher! — grita rouco e solto seu pau o cobrindo


enquanto seu gozo quente explode na minha mão. 

Já aprendi que quando faço isso com o Caio, ele goza no


mesmo instante, é seu ponto fraco. Ter meus dentes arranhando a
cabeça do seu pênis. Deito contra a cama e abro as pernas
sabendo o que me aguarda. 

— Meu marido gosta de retribuir quando o chupo gostoso,


não é? —provoco. 

— Com certeza, seu macho sabe agradar a mulher que ele


tem. — Caio segura minhas coxas e as empurra para cima contra
meu peito. — Boceta cheirosa da porra — rosna e desliza o nariz
em minha intimidade, inspirando fundo enquanto me contorço
debaixo dele. 

— Caio, não me torture — suplico agarrando seus cabelos. 

— Nunca, minha deusa. 

Ele beija minha intimidade pulsante e posso jurar que fui ao


céu e voltei com a sensação maravilhosa de ser devorada e
chupada pelo meu homem. Eu consigo sentir sua boca fechada ao
redor do meu clitóris sugando meu botão como se fosse o doce
mais gostoso que ele já provou. Seus dedos não contam cerimônia
e me invadem ao acariciar meu ponto sensível e me fazendo delirar
de prazer. 

— Mais... — peço, louca de desejo. — Mais, Caio! 

— Diga o que você quer Lara. — Sua voz é grave em um tom


de ordem que me faz delirar. 
Arqueio o quadril contra seu rosto enlouquecida com as
mordidas que ele deixa na minha região sensível, enquanto o
tormento em meu ventre cresce cada vez mais em que vou sendo
jogada num poço enorme de prazer que se chama a língua do Caio
me lambendo, ao passo que ele me suga e invade meu interior com
seus dedos. 

— Quero você — sopro, em desespero. — Eu amo sua língua


amor... — Respiro pesado quando ele me deixa. — Mas preciso de
você, dentro de mim. 
— É isso que você quer? — Perco o ar quando seu
cumprimento me preenche. 

— Sim, sim, sim — repito três vezes e muitas outras em


minha mente.  

— Mas eu quero isso. — Ele sai de dentro de mim e grito


frustrada e depois explodo quando ele morde meu clitóris. — Goza
na minha boca Lara, então depois... eu te fodo gostoso. 

Não é preciso que ele diga mais nada, convulsiono em sua


boca enquanto ele mordisca meu clitóris e lambe. Quando estou
chegando ao meu ápice, Caio se levanta e penetra seu pênis
novamente em mim. Ele começa a estocar forte enquanto coloca
minhas pernas ao redor do seu pescoço, onde tem um acesso maior
ao meu interior. 

— Melhor. Escolha. Da. Minha. Vida — fala pausadamente


enquanto geme e mete em meu interior. 

A cama balança, meu corpo vai para a frente e para trás com
as pernas presas entre meu peito e o seu, Caio ataca minha boca
devorando cada um dos meus gemidos para si, enquanto sopra
contra mim expondo o quanto ele gosta do sexo que fazemos.
Minha cabeça nubla, e a escuridão da venda se torna nada,
comparado a escuridão em que sou jogada quando meu orgasmo
chega e rompe tudo dentro de mim, enquanto o Caio jorra em meu
interior e geme em meu ouvido.  

Ele respira devagar enquanto deixa minhas pernas caírem na


cama e sai de dentro de mim. A venda deixa meus olhos e encontro
o seu rosto fofo me olhando e beijo seus lábios com amor. Enquanto
acalmamos nossas respirações e nos recuperamos da nossa
primeira vez como marido e mulher. 
— Banho? — peço, olho o estado do meu vestido em
frangalhos depois de remover a venda. 

— Vamos.  

Caio me pega no colo e vamos para a banheira, o quarto é


iluminado somente pela luz da lua me dando uma visão parcial de
seu esplendor. No banheiro uma jacuzzi com jatos nos espera, ele
me ajuda a tirar o resto do vestido e entramos na água onde
passamos os próximos minutos namorando e apreciando a
companhia um do outro.
Olho para nossas alianças banhadas pela luz do luar e sorrio
para o meu marido, verdadeiramente feliz pela vida que terei ao lado
do homem que amo.
- 29 -
 

Três meses depois.

Lara

E
U. VOU. MATAR. O.
CAIO. 
Respiro fundo várias
vezes enquanto seguro a toalha ensopada que o infeliz do meu
marido deixou jogada em cima da cama e a outra que ele fez o favor
de jogar no chão do banheiro. Esse homem me dá uma agonia
enorme com a sua desorganização, enquanto eu tento manter a
casa em ordem ao mesmo tempo em que trabalho no meu TCC
para poder apresentar daqui a três semanas.  

Eu mato esse desgraçado bagunceiro, faz furacão no


banheiro, no quarto e na sala. Ele não era assim quando nos
conhecemos e agora acredito que aquilo tudo não passou de um
teatro bem elaborado pelo ator, para fazer eu me apaixonar e
acreditar que nossa vida como casados seria tranquila.  
Coisa que definitivamente ela não é! Porque eu casei com um
porco ao invés de um homem! 
Pego as benditas toalhas e marcho para o escritório dele, o
safado acha que só porque passa o dia trancado aqui dentro não faz
bagunça e é um anjo de marido, quando na realidade ele tira meu
juízo com o tanto de vezes em que me chama pedindo as coisas e
deixando a bagunça pela casa. Foda-se que temos duas
empregadas, elas não são obrigadas a aturar uma bagunça
desnecessária como essa, do mesmo jeito que eu também não sou,
mas hoje esse sem-vergonha me paga! 

Abro a porta com sangue nos olhos e o gostoso do meu


marido bagunceiro me encara com os olhinhos brilhando de
felicidade por me ver, é sempre assim quando nos encontramos e
por diversas vezes deixei de reclamar com ele por me entregar ao
amor em seu rosto.

Sacudo a cabeça me livrando do feitiço que esse safado joga


em mim, de hoje a bronca não passa! 
— Oi moranguinho! — Levanta todo manso vindo na minha
direção com um sorriso no canto dos lábios. 

— Nada de moranguinho, seu porco! — falo ríspida, e jogo as


toalhas em sua cabeça. — Chega de bagunça Caio Albuquerque
Conti! 

— Calma moranguinho, o que foi? — Tenho vontade de socar


sua cara pela forma descontraída que ele fala. 

— Você e sua maldita mania de bagunça, eu já não aguento


mais recolher toalhas ensopadas da cama e do chão do banheiro.
— Abro os braços exasperada, e ele dá um passo para trás
conforme me aproximo. — Chega de deixar tudo jogado, de tirar do
lugar e não colocar de volta, a partir de hoje se eu ver um só objeto
fora do lugar, uma só cueca no box, uma toalha na cama ou um
copo fora do lugar, você vai ficar cinco dias sem sexo para cada
uma dessas coisas! 
— Não vamos exagerar... — Um sorriso amarelo surge em
suas faces e cutuco seu peito até que ele fique contra a parede. —
Não pode me castigar sem sexo, você também vai sofrer,
principalmente com os hormônios da gravidez a mil. 

— Eu arrumo um vibrador! — Cutuco seu peito, minhas


emoções à flor da pele. — Não aguento mais viver desse jeito, ou
você se ajeita ou tomarei medidas drásticas! 

— Prometo que vou ser menos bagunceiro. — Ergue as


mãos, pedindo calma. — Não me castigue com sexo. 

— Você foi avisado. — Levanto um dedo para ele e viro de


costas pronta para voltar para o quarto e poder dormir um pouco. 

— Não vai embora assim. — Caio me segura por trás e mete


a mão na minha intimidade. — Deixe eu acalmar um pouco do seu
estresse. 

— Você não vai trabalhar até tarde? — Encosto a cabeça em


seu peito. Já derretida por sua investida. — Daqui a duas semanas
será a inauguração do prédio da fábrica da sua empresa, não está
ocupado? 

— Para cacete — sussurra e desliza os dedos entre as


minhas dobras e suspira pesado no meu ouvido. — Mas não
consigo resistir a minha esposa gostosa quando ela entra no meu
escritório parecendo uma leoa usando essa camisola sexy, fico
louco para te comer. — Pressiona sua ereção na minha bunda,
deixando clara sua intenção. 
— Podemos dar uma rapidinha. — Descanso o corpo contra o
seu, e Caio me coloca em cima do sofá no seu escritório. 

— Lara, meu amor! — Ele fica de joelhos na minha frente e


abre minhas pernas, apoio os pés na borda do sofá. — Você ainda
não entendeu que com você eu nunca consigo ser rápido? — Tira
minha calcinha e cheira minha intimidade, fico louca quando ele faz
isso. — Minha esposa merece ser degustada com calma. 
Ele começa o meu inferno e paraíso particular, que é ter o
Caio chupando minha intimidade com vigor. Sua barba áspera
aranha o interior das minhas pernas, e reviro os olhos quando ele
esfrega o queixo em meu clitóris, o filho da puta aprendeu a me
arrepiar com seus pelos e agora não para mais. 

— Caio! — grito seu nome agarrando seu cabelo. 


Ele morde minhas dobras e lambe com vigor, enquanto rebolo
em seu rosto pressionando sua cabeça contra minha intimidade com
vontade, preciso ter esse homem para mim como necessito do ar
que preenche meus pulmões. O tormento em meu ventre aumenta,
o ar me falta e sou jogada num delicioso limbo quando explodo na
boca do meu amante.  

— Perfeita! — sopra, e lambe os lábios com a língua.  


— Vem aqui, meu amor — peço me abrindo mais para ele. 

Minha barriga de 22 semanas já está crescida, e em breve


terei de pegar leve nas posições que sou capaz de fazer com o
Caio, por enquanto não precisamos deixar de fazer nenhuma,
embora eu já sinta que me incomoda ficar de quatro com a barriga
pesando.

— Deita direito para não machucar nosso bebê — murmura e


beija minha barriga, então me coloca deitada no sofá antes de beijar
meus lábios misturando nossos gostos. 

Sempre tenho vontade de chorar quando ele manda eu me


ajeitar para não machucar nosso filho, por mais que as posições não
cheguem a me incomodar, o Caio não cede enquanto não tiver
certeza de que ficará tudo bem. Eu amo tanto esse homem, puxo
seu rosto aprofundando nosso beijo envolto por carinho e paixão.  

— Eu amo você — sussurro. 

— Eu amo vocês! — Toca a minha barriga e a beija outra


vez. 
Caio fica de joelhos entre minhas pernas e retira o membro
de sua bermuda. Grande, ereto e com a veia no centro destacado.
Arfo quando ele me preenche e apoia um braço no sofá e o outro
segura minha perna a mantendo aberta para que ele possa entrar
mais fácil.  

Caio bombeia o quadril contra o meu, enviando ondas de


prazer pelo meu corpo da cabeça a pontinha do pé, é uma delícia
não precisar controlar os gemidos que deixam meus lábios quando
sou jogada em outra dimensão, em que só existe a mim e ao meu
homem, envoltos em uma nuvem de prazer que nunca tem fim. 
Aperto o tecido do sofá quando sinto meu vente contraindo e
minha vagina apertando o pênis do Caio. Ele goza dentro de mim
enquanto leva meu orgasmo para si mesmo. Geme gostoso e
suspira forte antes de deixar meu interior, desço as pernas e fecho
os olhos recuperando a respiração, enquanto Caio deita ao meu
lado e abraça minha barriga beijando meu pescoço. 

— Eu amo tanto vocês, não sei o que seria de mim se vocês


não fossem meus — declara e beija minha orelha. 

— Amanhã será que vamos conseguir descobrir o sexo? —


Seguro sua mão na minha barriga. Nosso bebê tem se recusado a
abrir as pernas para podermos ver se é menino ou menina. 

— Pela teimosia, só pode ser uma menina igual a mãe —


brinca e bato em seu ombro. — Ou um menino destemido como o
pai. 

— Você só fala merda. — Rimos juntos.  


— Só um pouquinho.

— Vou tomar um banho para dormir, vai demorar muito aqui? 

— Estou quase acabando, preciso conferir os relatórios que o


Arthur mandou sobre a fábrica, as maquinas foram revisadas ontem,
e hoje o pessoal passou o dia montando-as nos lugares para
podermos iniciar a montagem do nosso primeiro modelo de carros, a
tempo de ser apresentado na inauguração da empresa. 

— Como tem sido a recepção do público?  


— Com o subsídio que consegui do governo para tornar o
carro um modelo popular, as pessoas estão curiosas para o que
virá, e o valor do veículo; nossa meta inicial é vender mil carros no
primeiro mês. Estou otimista que conseguiremos mais do que isso,
os carros CONTI serão a grande estreia de carros brasileiros no
mercado interno. 

— Estou orgulhosa de você! — Beijo seu queixo. 

— Eu também, espero que tudo seja um sucesso, e as


pessoas percebam que eu sou capaz de fazer grandes coisas para
além da Conti Motores e Aviação, não nego que o nome da
empresa do meu pai abriu algumas portas para mim, com os
acionistas e confiança de investimento do governo.  

— O crédito é somente seu Caio, seu pai não fez nada, até
mesmo quando estava na empresa da família, você era brilhante e
reconhecido. Cansei de ouvir histórias do meu pai sobre como você
era bem falado e brilhante. 

— Vou provar a todos do que sou capaz.  

— Vai sim — acentuo, beijo seus lábios e me levanto. — Vou


tomar um banho e depois irei para a cama, não demore muito. 

— Certo. 
Deixo seu escritório e vou tomar meu banho em paz. Deitada
na minha cama aliso minha barriga a achando um pouco grande em
comparação a barriga de outras mulheres com o mesmo tempo de
gestação, será que estou comendo demais?

Se for isso preciso voltar para a dieta, ou sofrerei na hora do


parto com um bebê supergrande passando pela minha vagina
minúscula. 
Pego no sono antes do Caio voltar para o quarto e acordo
com seu lado da cama arrumado e vazio, faço minha higiene matinal
e me visto para a consulta, não duvido que ele esteja fazendo nosso
café ansioso para irmos à minha obstetra.

O encontro na cozinha terminando de colocar a mesa, já que


ainda é muito cedo, e nenhuma das duas funcionárias chegaram. 

— Bom dia meu moranguinho, e meu bebê. — Beija minha


testa e depois a minha barriga. — Deixe o papai saber seu sexo
para poder escolher seu nome. 

— Sinto que hoje teremos sorte. 

Tomamos nosso café e vamos para a clínica, lá encontro


outras pacientes e fico observando suas barrigas, a minha está
realmente maior do que a delas, se for comparar o tamanho do meu
bebê a de um mamão papaia como a obstetra disse mês passado,
já sei que o meu é dos grandes.

Meu nome é chamado e entramos no consultório, deito na


maca e depois de responder a umas perguntas ela começa a
ultrassom. 

— É UM MENINO! — Caio grita e fica em pé comemorando.


— Olha a terceira perna! 

— Calma aí papai. — A doutora Zuleide pede, e olha


estranho para o monitor. — Isso não é o sexo do bebê. 

— O que? — Caio pergunta, confuso. Eu encaro o monitor


sem entender bem as imagens na tela. — Meu filho tem três
pernas? — Meu marido aprece perdido.

— Não. — Ela dá uma risada. — Agora consegui entender o


motivo de não termos visto o sexo do bebê antes. — Ela sorri para
mim. — Parabéns mamãe, você está grávida de gêmeos.  

— Ai meu Deus! — Meu marido cai no chão com um baque


pesado, e me assusto mais com isso do que com a novidade de ser
mãe de gêmeos.  

— Caio! 
— Eu estou bem. — Ele abre os olhos, e dou risada da sua
cara de fantasma. — Só processando que serei pai de gêmeos. 

— Como não descobrimos isso antes? — pergunto, ainda


tentando processar o sentimento em meu peito. 

Saber que serei mãe já tinha sido uma grande novidade e me


deixava em êxtase de felicidade, e agora descobrir que tenho dois
bebês dentro de mim é a coisa mais fantástica e abençoada que eu
poderia ter. Serei mãe de dois, duas coisinhas que foram feitas por
mim e pelo Caio, as lágrimas nublam meus olhos e meu marido
choroso me abraça enquanto repete o quanto está feliz em meu
ouvido. 

— Obrigada por me fazer tão feliz, Lara — sopra, beijando a


minha cabeça. — Vamos ter gêmeos. 

— Dois. — Digo ainda abismada. 

— Pode explicar como tem dois? Engravidei a Lara depois


dela estar gravida? 
A medica gargalha com a pergunta maluca do Caio e ele
senta novamente enquanto ela limpa minha barriga do gel. 

— É normal às vezes descobrir o outro bebê depois de


algumas semanas de gravidez, vamos fazer um ultrassom 3D na
próxima consulta para podermos ver melhor ambos os bebezinhos,
mas pelo que fui capaz de ver nas imagens — pega as fotos
impressas do ultrassom. — Esse bebê... — Aponta o da frente. — É
o que víamos antes, o maiorzinho que ficava escondendo o irmão. 

— Não sei se entendi bem — Caio diz. 

— Eles são gêmeos monozigóticos, ou seja, univitelinos,


foram fecundados pelo mesmo óvulo e espermatozoides, serão
gêmeos idênticos e provavelmente do mesmo sexo, já que é raro
nascer casal nessa situação, porém, não é impossível — completa
com um sorriso. — Aqui vocês podem ver a perninha do que se
esconde. — Aponta a perna que Caio achou que era um pênis. — E
um bracinho aqui embaixo. 

  Vejo um pequeno contorno embaixo do bebê da frente


enquanto o maiorzinho tem as mãos próxima ao rosto. Limpo as
lágrimas de felicidade por descobrir meu novo bebezinho. 

— Por isso a barriga da Lara é maior que a de outras


gravidas — comenta Caio. 
— Isso, eu achava que era a Lara ganhando peso, mas agora
vemos que temos dois nenéns um mais gordinho que o outro.
Vamos dar início ao pré-natal voltados para gravidez de gêmeos e
Lara precisará mudar sua dieta para nutrir bem os gêmeos. Com a
ultrassom 3D seremos capazes de ver melhor ambos os bebês e se
eles deixarem, o sexo. 

— Certo, vou agendar a nutricionista — respondo ainda


atônita pela emoção. 
— E vamos fazer novos exames — demanda e me entrega
uma folha. — Volte quando todos ficarem prontos. 

— Combinado, obrigada. — Caio me ajuda a descer da maca


e vamos embora felizes com nossa nova descoberta. 

— Vou matar os caras de raiva quando perceberem que sou o


mais potente de nós quatro, os outros dois só tiveram um filho por
vez, eu fui lá e já fiz dois. 
— Seu nojento. 

Bato no peito dele e damos risada, saímos da clínica


abraçados e mais felizes do que nunca.  
- 30 -
 

Lara

H
oje é a grande
inauguração da
Conti
Automobilística, muitos jornalistas estão especulando que a
empresa do Caio é uma ramificação de expansão da Conti Motores
e Aviação, com esses reportes meu marido tem tido dificuldade de
fazê-los entender que ele abriu uma empresa independente, e de
outro ramo de motores, para não competir com a empresa da família
que é gerida pelo seu pai. 

Muito se especulam quem será o sucessor do Salvatori,


agora que Caio iniciou a construção do seu próprio império, e se os
carros dele terão condição de competir com grandes empresas
automobilísticas estrangeiras, que fincaram suas garras no Brasil
com carros populares e de luxo que são inacessíveis para grande
parte população assalariada, que só consegue um carro seminovo
ou modelos mais velhos. 
Meu marido vai brilhar essa noite, mostrará o seu novo
modelo, feito por uma equipe de designer de carros liderada pelo
William, que construiu o modelo do motor, e o próprio Caio que
projetou o veículo. A segurança tecnológica implementada pelo
Heitor vai garantir mais segurança aos motoristas, com câmeras
instaladas, e sensores de batida que serão capazes de reduzir em
40% os acidentes de trânsito por desatenção dos motoristas. 
Foram mais de 30 testes de batidas monitoradas, realizados
para ter certeza da segurança do carro, a aprovação do governo
para o mesmo ir para as ruas foi feita com agilidade e rapidez tendo
em vista que não conseguiram encontrar falhas no sistema de
segurança e desempenho do motor, nos testes feitos pelo
Departamento Estadual de Trânsito.  

Essa noite tem tudo para ser um sucesso.  

Aliso minha barriga fazendo o vestido se encaixar na


protuberância que comporta seguramente meus bebês, que se
recusam a mostrar o sexo. Agora eu que tenho ficado ansiosa para
saber se serão gêmeos do mesmo sexo ou não. Não consigo resistir
à ideia de vesti-los iguais, mesmo se for um casal, irei escolher
roupinhas combinando até que eles decidam o que gostam de
vestir. 

— Pronta? — Meu marido pergunta. 

Observo seu terno sob medida na cor azul escuro, a camisa


branca e uma gravata azul claro destacando a peça entre as
demais. O cabelo preso em um coque samurai e a barba bem
penteada, a aliança brilhando em sua mão e um relógio imponente
no pulso.  
— Sim. — Aliso seu terno. — Não fique nervoso, será um
sucesso essa noite.  

— Certifique-se de ficar ao meu lado — pede e beija minha


testa, com afeto. — Quero a mulher mais linda do universo me
dando forças. 

Sorrio para ele e beijo seus lábios, estou usando um vestido


de brilhantes preto com caimento na altura do meu joelho e um
decote que deixou meus peitos enormes. Eles estão começando a
ficar maiores, segunda a médica é a preparação do corpo para
quando for amamentar os meus bebês.  

— Estarei com você a noite toda — garanto, seguro sua mão


e saímos. 

O motorista nos espera na garagem e dirige até o local do


evento, percebo como Caio está nervoso, ele aperta minha mão e
alisa minha barriga, enquanto bate o pé no chão freneticamente, e
olha para todos os lugares suspirando e coçando a garganta.  
Quando chegamos ao salão da inauguração ele desce e me
estende a mão, por um segundo fico cega pelo tanto de flash branco
na nossa direção, e depois posamos para fotos onde meu marido
responde algumas perguntas dos jornalistas ali presente. 

Nessa hora o carro trazendo sua família chega e percebo a


tensão do Caio ao ver o Jairo e o Pablo acompanhando a Marieta e
o Salvatori, que pela primeira vez sorri abertamente para o filho.
Apesar da relação deles não ter tido nenhuma melhora, ele ter vindo
aqui com uma expressão feliz pode significar que uma paz pode
acontecer essa noite. 
— Parabéns Caio! — Salvatori aperta a mão do filho e dois
posam para as fotos sorrindo. — Apesar da nossa desavença estou
orgulhoso de você — diz baixinho e só escuto por estar perto do
meu marido. 

— Obrigado, pai! — Caio responde e se limita a isso, suas


emoções mais bagunçadas que as minhas pelos hormônios da
gravidez.  

Caio ignora o Pablo e Jairo e faço o mesmo, não sei o que


esses desgraçados vieram fazer aqui, eles não foram convidados e
se não fosse pelos fotógrafos, mandava os seguranças levar ambos
embora. Noto uma mulher mais velha ao lado do Pablo, e percebo
que se trata de sua esposa Sandra, a mulher não ostenta um sorriso
no rosto, ela parece irritada com os lábios comprimidos e o olhar
feroz na direção do Caio. 

Minha atenção é levada ao trio que chega acompanho de


suas esposas, menos o Alexander que veio sozinho, William e
Heitor, posam juntos para as fotos e dão entrevistas, falando sobre o
projeto que desenvolveram juntos.  

Eu sei que Alexander também é sócio do meu marido, porém


por alguma razão, ele deixou claro que ficaria longe dos holofotes, e
exigiu que seu nome não fosse citado. Ele é arredio a qualquer tipo
de atenção.

Depois das entrevistas e fotos, os três se juntam a Alexander,


que se encontra no hall. Eles sempre foram grudados, pelas
histórias que ouvi e, terem construído uma empresa do zero tornou
esses quatro mosqueteiros mais unidos do que nunca.
A amizade deles é sólida como a mais forte rocha. Sou feliz
pelo meu marido poder contar com esses homens, a Letícia e Emily
se tornaram boas amigas para mim e compartilham experiências de
suas gravidezes. 

Entramos, e sento na mesa reservada para a família, meu pai


me espera com a Suellen, esses dois não se desgrudaram, desde
que ela começou a cuidar dele como sua enfermeira, e suspeito que
estão esperando o momento para me contarem que estão
namorando.  

Estou feliz pelo meu pai ter encontrado alguém para ficar com
ele, pois ficou anos em luto e sei que minha mãe não iria querer que
ele ficasse solteiro para sempre. Amar outra mulher não significa
que ele esqueceu dela ou a deixou de amar. Só mostra que ele a
amou o suficiente para ser feliz amando-a e a outra pessoa. 

— Boa noite pai — cumprimento com um beijo no seu rosto.


— Suellen, você está linda nesse vestido. 

— Obrigada, meu bem. — Ela beija minha bochecha. 


— O Caio fez um ótimo trabalho nesse evento — comenta
papai. 

Fico ao seu lado e o Caio ao meu, do lado dele sua mãe e


seu pai. Percebo que Jairo e Pablo, e a esposa, achavam que
sentariam conosco e com um gesto de cabeça do Caio, ambos são
levados para o fundo do salão em uma mesa perto da porta de
serviço. 
— Eles não deveriam ter vindo — digo em alto e bom som. —
Essa noite é do Caio, o que esses imprestáveis fazem aqui? 
— Eu os convidei! — Salvatori fala e quero jogar a bebida do
meu copo na sua cara. — Por anos o Pablo falou sobre o Caio não
ser capaz de gerir uma empresa, e eu me deixei envenenar por
boatos que agora percebo que são infundados. — Ele não encara o
filho e sou capaz de perceber a vergonha em seu rosto. — Quero
mostrar a eles que meu filho foi capaz, de sozinho, criar uma
empresa que será um sucesso e que eles e eu estávamos errados. 
— Pai... — Caio diz com a voz embargada. 

— Depois conversamos sobre isso. 

Fico surpresa do Salvatori admitir que foi envenenado, nos


últimos tempos o Alexander usou sua influência mafiosa — nada me
tira da mente que esse homem é um mafioso — para seguir o Pablo
e o Jairo com o intuito de revelar os podres desses dois ao
Salvatori, e fazer com que eles sejam afastados de uma vez da
empresa.  

— Vai expulsar eles? — pergunto. 


— Não, Pablo continua sendo um bom parceiro de negócios e
ainda preciso dele, estou preparando o Jairo para assumir mais
funções. — Sua voz sai grossa, como se não quisesse falar sobre
isso.

— Você é um idiota — murmuro e Caio me olha de cara feia.


— É a verdade, ele sabe que os dois fizeram merda para afastar
você do seu pai e mesmo assim continua com eles por perto. 
— Lara... — Salvatori me olha com pesar no rosto. — No
mundo dos negócios você tem de saber separar o pessoal do
trabalho. Eles podem ter tentado me prejudicar e isso só serviu para
fazer meu filho sair da empresa e olha só o que ele fez sozinho. —
Ele olha ao redor. — Caio nunca teria feito isso se continuasse
debaixo da minha asa. 
— Tem razão — responde meu marido. — Eu poderia ter feito
muito mais com a Conti Motores e Aviação, coisas que você, e
nenhum desses dois poderão sonhar em realizar. — Ele se levanta.
— Vou fazer meu discurso, observe bem pai, onde o filho que você
rejeitou pode chegar sozinho. 

Ele beija minha testa e some entre as cortinas. Salvatori não


fala mais nada, a mesa fica com um clima tenso e sofrido, viro para
o meu pai e início uma conversa mais amena sobre como ele tem
passado. Gosto de ver a Suellen sorrindo, boba quando ele elogia
os cuidados de sua enfermeira. 
Meu marido sobe no palco e para de frente ao totem com o
microfone, o salão fica em silêncio e somente os clicks das câmeras
podem ser ouvidos, enquanto esperamos pelas suas palavras.
Seguro meu ventre e foco minha atenção no meu amor. 

— Boa noite a todos presentes nesse momento — inicia seu


discurso, Caio ensaiou por dias suas palavras e o tablet com o
discurso escrito se faz desnecessário. — Hoje é o início de uma
nova jornada para mim e para o nosso país. — Uma apresentação
em Slide aparece atrás dele no grande telão. — Por anos as
indústrias automobilísticas no Brasil são estrangeiras com suas
sedes aqui produzindo modelos de carros populares e de luxo que
não são acessíveis à população.  

O slide muda e mostra imagens das grandes cidades lotadas


de carros em suas ruas. 
— Quase metade da população brasileira recebe somente um
salário mínimo e em sua maioria não possuem condições de
comprar um carro popular avaliado em 40 mil reais. Isso não é
viável para os cidadãos do nosso país, empresas estrangeiras,
possibilitam que sua população tenha carros de luxo a preços
acessíveis, enquanto exploram os nossos cidadãos. 

Dessa vez uma plataforma móvel traz o carro que será o


lançamento da marca Conti. 

— Nós, da Conti Automobilística, viemos revolucionar o


mercado de carros no Brasil e fazer que o nosso povo deixe de ser
refém das empresas estrangeiras, e possam contar com um
verdadeiro carro popular acessível, confortável e seguro. — Caio
segura a manta preta em cima do veículo. — Apresento a vocês, o
primeiro modelo CONTI, um carro popular que será vendido a um
preço acessível à todas as classes!  

Ele puxa o tecido e um lindo carro preto é mostrado para o


público, apesar de já conhecer o modelo, me encontro novamente
maravilhada com a beleza do carro. Um automóvel facilmente
confundindo com um carro de luxo, muito confortável e seguro. 

— A meta da CONTI para os nossos três primeiros anos será


transformar o trânsito brasileiro, possibilitar que mais famílias sejam
capazes de comprar seus carros zero quilômetros por preços que
vocês podem pagar, segurança, conforto e estilo, essas três
palavras serão a definição da CONTI automobilística. 

Os aplausos explodem tão alto quanto a surpresa das


pessoas pelo modelo.
Meu marido vai revolucionar a história automobilística
brasileira e com isso espero que seu reconhecimento venha
mostrando o homem capaz que ele é, não por ter conseguido algo
por mérito da sua família e sim por seu esforço. Como quem
acompanhou de perto sua jornada eu choro feliz e realizada por ter
escolhido esse homem como meu. 

Uma rodada de perguntas e resposta se inicia e aproveito


esse momento para poder ir no banheiro, um dos bebês descobriu
onde fica minha bexiga e deu um chute poderoso. Vou sozinha, e
faço minhas necessidades, retoco minha maquiagem com calma, e
arrumo meus cabelos, quando saio dou de cara com o Jairo. 

— Eu disse que o Caio não prestava — fala e fico com medo


de estarmos nesse corredor sozinho. Procuro por mais alguém e
não vejo ninguém, recuo um passo para o banheiro. — Não tenha
medo Lara, eu nunca te machucaria. 

— O que você quer? 

— Provar que seu marido não é o santo que você pensa. 

— Acha mesmo que vou acreditar em você? Depois de tudo


que fez comigo e com ele? — Aperto os punhos, querendo socar
sua cara. 

— Se você entrar agora no banheiro masculino vai ver que eu


tenho razão. 

— Do que você está falando? 

Fico tentada a ceder a sua provocação, mas se fizer isso


significa que toda a confiança que depositei no Caio não vale de
nada, e pode ser quebrada facilmente. 
— Nesse momento seu maridinho está te traindo com outra
no banheiro. 

Meu corpo gela e o baque de suas palavras me deixa ansiosa


e com tremedeira, sacudo a cabeça negando suas palavras e estou
pronta para ir embora, atrás do meu marido e dizer a ele essa
merda toda, mas Jairo me segura pelos braços e tampa minha
boca. 

— Você vai ver por bem... ou por mal. 


Tento me soltar de seu corpo batendo em seus braços e
chutando. Ele é mais forte, e consegue me levar para dentro do
banheiro onde meu coração é desfeito em pedaços ao ver o homem
que amo com cada fibra do meu ser beijando uma ruiva que tem as
pernas ao redor de seu quadril, e as mãos em seu rosto o puxando
para ela.  

— Caio? 
Minha voz sai em uma suplica silenciosa para que isso seja
mentira, e que o homem que tem minha alma não esteja realmente
me traindo. 

Não pode ser verdade. 


- 31 -
 

Caio

V
ejo quando a Lara
deixa o salão de
eventos e pouco
depois o filho da puta do Jairo a segue acompanhado de uma
mulher ruiva. Bebo minha água tentando controlar a fúria por esses
desgraçados terem vindo aqui hoje.

Foi importante receber o reconhecimento do meu pai, mas


saber que ele ainda não quer que eu assuma a empresa da família
fere meu orgulho. 

Passei a minha vida inteira em busca do reconhecimento


desse homem, e agora estou diante de importantes mídias
brasileiras com empresários sedentos para investirem na minha
empresa, e tudo que eu consigo pensar, enquanto respondo às
perguntas e vejo o mar de flashes é: ele realmente se orgulha de
mim? A ferida que meu pai abriu ainda sangra e sei que vai demorar
a cicatrizar, e quando isso acontecer vou me tornar um homem mais
forte do que sou hoje. 
Finalizo a primeira rodada de perguntas e desço do palco,
Lara ainda não voltou e vou até a minha mesa saber para onde ela
foi. 
— No banheiro — João diz. — Daqui a pouco ela volta. 

— Certo. — Toco em seu ombro e saio na direção dos


banheiros, me incomoda o fato do Jairo e da ruiva não terem
retornado ainda, se eles fizerem alguma coisa com a minha mulher
eu os mato. 

— Lara? — chamo por ela no corredor e não tenho resposta,


vejo o Jairo saindo do banheiro masculino com um sorriso triunfante
no rosto. 

— O homem de negócios. — Abre os braços, e sua ironia não


me passa despercebido. — Bom te ver, primo. — Ele retorna ao
banheiro e o sigo pronto para socar sua cara infeliz. 

— Você não tem medo de aparecer na minha frente de novo?


— Seguro seu colarinho e o pressiono contra a parede. — Eu devo
ter ficado mole, não arrebentei o suficiente da sua cara naquela
noite. — Aperto seu pescoço com a raiva inflando no meu sangue
ao lembrar dele beijando minha mulher. 

— Calma, priminho — fala com dificuldade enquanto aperta


minha mão. — Só vim essa noite porque o tio chamou, não quero
confusão. — Levanta as mãos em sinal de rendição e o solto, seu
corpo tomba contra a parede e ele inspira forte o ar. 

— Vá embora, seu porco.  

— Soube que seu amiguinho tem investigado a minha vida e


a do meu pai. — Arqueio a sobrancelha, ele percebeu que o
Alexander mandou um detetive atrás deles.  

— Não gasto meu tempo com lixo como você. — Ligo a


torneira e lavo as mãos. 

— Fique esperto Caio, ao contrário de como foi fácil te fazer


cair, se você me atacar eu vou te bater onde mais dói.  

Ensaboou as mãos com lentidão não dando importância a


sua ameaça, ele não faz ideia do que o espera. 

— Quem deveria ser cauteloso é você e o seu pai. — Enxugo


as mãos na toalha. — Nunca se sabe quando os federais vão bater
na sua porta. — Finjo tirar uma sujeira de seu ombro. — Quem
esconde corpos no armário não sou eu. 

Jairo infla o nariz e aperta os punhos estou sedento para que


ele ouse me bater, e me dar um bom motivo para quebrar a sua cara
miserável. O desgraçado me olha com um sorriso nos lábios e sai
do banheiro sem dizer nada, me volto para o espelho e ajeito meu
terno. 

Um vulto de cabelos ruivos aparece atrás de mim e


reconheço a mulher que vi mais cedo com o Jairo. 
— Banheiro errado — informo a ela. 

— Lugar certo — responde com voz sensual.

Eu percebo a intenção maligna em seu rosto. Viro para poder


ir embora e sem que eu esteja preparado, ela joga o corpo pulando
em cima de mim e engancha as pernas em minha cintura. Antes que
eu seja capaz de dizer algo suas unhas fincam em meu rosto e seus
lábios tomam minha boca. Pressiono meus lábios impedindo que ela
me beije com sua língua nojenta que serpenteia em meu rosto. 
— Caio? 

A voz quebrada da minha esposa chama minha atenção entre


o segundo que essa maluca pula em meus braços e me beija a
força, e o momento em que agarro seu quadril e a tiro de cima de
mim. Meu rosto arde com suas unhas arrancando a pele de minha
bochecha e pelos da barba. 
— Lara eu juro que não é o que você pensa. — Fico
desesperado ao ver as lágrimas em seus olhos. — Não sei que
merda foi essa, eu... 

Perco a fala quando ela toma uma atitude inesperada, minha


esposa vira de costas e capto o som do tapa antes de ver a quem
ela o desferiu. Jairo atrás de Lara com o rosto virado e uma marca
vermelha em sua bochecha enquanto ela o estapeia uma segunda
vez, as peças do quebra-cabeça se juntam na minha mente e parto
para cima do desgraçado socando seu rosto. 
— Você armou isso, seu puto! — esbravejo levantando o
punho para o socar novamente e sendo impedido pela minha
esposa. 

— Chega Caio! — grita, com os olhos vermelhos. 


Largo o Jairo que cai no chão limpando o sangue que escorre
do nariz e abraço minha esposa que chora no meu peito. 

— Eu juro que não beijei essa mulher, ela me atacou sem eu


perceber. — Tento me explicar, desesperado para não causar dor
nela ou a fazer se afastar de mim. 
— Não seja mentiroso. — A voz da víbora escorre veneno. —
Você me chamou para dar uma rapidinha no banheiro! Não se faça
de santo só porque sua esposa descobriu o nosso caso. 

— Você é louca! — grito com ela. 

Seguro os ombros da Lara e a faço me encarar, meu coração


aperta dentro do meu peito ao ver o choro incessante da mulher que
amo. 
— Eu nunca faria isso com você — aliso suas bochechas —
por favor... 

— Pare! — Ela coloca um dedo na minha boca e soluça. —


São os hormônios, eu só estou irritada demais. — Sacode a cabeça
e encara o Jairo que fica calado olhando tudo, com um sorriso no
rosto. — Você acha mesmo que eu iria acreditar nisso? Primeiro
você me beijou a força para o Caio ver, e agora me arrasta ao
banheiro sabendo que ele estaria aqui dentro com essa vagabunda. 
— Vagabunda não! — A ruiva faz intenção de se aproximar
da Lara e fico na sua frente.  

— Sua miserável... — grito em sua cara. — Sorte sua que


não bato em mulheres, ou iria descontar os malditos arranhões que
você deixou em meu rosto.  
Ela recua e vai se esconder atrás do Jairo que assume uma
postura defensiva sabendo que falhou em seu plano desprezível. 

— Eu só ia te destruir para você ser expulso da empresa —


digo a ele com voz baixa e explodindo ódio. — Mas agora você
mexeu novamente com a minha esposa, grávida dos meus filhos, eu
vou garantir que você e seu pai apodreçam na prisão. Se prepare
Jairo, dessa vez não terei piedade. 

— Não espere que vá deixar você agir livremente. — Sua


ameaça é implícita e me preparo para a guerra que irei travar. —
Você nunca mereceu nada do que tem, e antes, tudo não passava
de uma brincadeira para mim, você deveria ter continuado
rastejando e não aberto essa porcaria de empresa sempre
buscando provar para o pai que te rejeita que você vale a pena.  

— Invejoso! — Lara sai detrás de mim e cospe na cara do


Jairo, ele ameaça levantar a mão para bater nela, sou mais rápido
seguro seu punho e esmurro sua barriga. 

— Ouse tocar na minha esposa, e eu te mato — rosno em


seu ouvido escutando sua tentativa de recuperar o ar. — Não me
importa as merdas que você fale sobre a minha relação com o meu
pai, mas esteja avisado, se ofender ou machucar a Lara será o seu
fim. 

— Vamos embora Caio — pede Lara, com a voz mansa. —


Seus convidados o aguardam. 

— Não volte ao salão Jairo. 

Seguro a mão da minha esposa e saio com ela daquele


banheiro, a levo a uma sala reservada onde a abraço inspirando seu
cheiro e agradecendo aos céus por ela não ter se machucado.  
— Eu vou matar aquele infeliz — digo com o rosto em seu
pescoço. 

Lara alisa minhas costas e com cuidado segura meu rosto


analisando o arranhão que a vadia deixou.  
— Seu rosto está com três marcas de unhas, vai ser terrível
se aparecer assim nas fotos — comenta, indignada. — Se eu não
estivesse grávida teria quebrado a cara daquela puta. — Seus
lábios tremem.
— Não faça nada que coloque nossos bebês em risco. —
Seguro sua barriga. — Deixe isso comigo. 

Ela ri do meu jeito de falar, e escora a testa no meu peito,


ficamos uns minutos assim acalmando nossas respirações com o
cheiro um do outro. Nunca esperei que o Jairo fosse agir de forma
descarada como agora, e preciso ser cauteloso enquanto o pessoal
do Alexander não reúne as provas necessárias para o expulsar da
empresa e fazer ele pagar pelos crimes cometidos. 

— Aquele desgraçado e o pai estão roubando da empresa —


digo a Lara, dando um suspiro. — Não conseguimos ainda localizar
para onde o dinheiro tem ido e se um dos dois faz uso do valor,
quando conseguirmos vou fazer com que eles sejam presos e
paguem por seus crimes. Ele pode ter descoberto que estamos o
investigando e por isso ficou louco querendo me desestabilizar.  

— É um mal sinal Caio, pode ser que tenha mais coisas


envolvida do que só desvio de dinheiro.  
— Seja o que for, vamos descobrir. 

— Prometa que tomará cuidado — pede e meu peito aperta


pela dor em sua voz. — Não posso te perder, nossos filhos precisam
do pai deles vivo! 

— Não vou a lugar algum. 


Seguro seu rosto com a delicadeza de uma pluma, minha joia
mais preciosa, beijo sua bochecha direita e a esquerda do jeitinho
que eu sei que a acalma quando distribuo beijos por sua face até
encontrar seus doces lábios com sabor de morando.

Minha língua desliza calmamente de encontro a sua,


saboreando seu gosto e a acalmando com um beijo delicado. 

Nesse segundo eu percebo; Lara é a única que realmente


importa na minha vida e os meus filhos, posso ter passado a vida
inteira buscando pela aprovação do meu pai, e de nada isso se
compara com o desespero que senti de pensar por um segundo que
ela pudesse acreditar que eu estava beijando outra. 

Tudo aconteceu em uma fração de segundos, e somente


agora o peso daquele momento bateu no meu ser. Eu teria sido
desfeito se a Lara não acreditasse em mim, eu não preciso de mais
nada, desde que eu a tenha. 

— Eu te amo — finalizo nosso beijo com um selinho. 

— E eu amo você — sussurra e desliza o nariz pelo meu. —


Darei um jeito no seu rosto para que não vejam as marcas. 

— Como?  

— Maquiagem. — Lara abre a bolsa que ela carrega no


ombro. — A luz dessa sala é boa, senta naquela cadeira. — Aponta
para a poltrona e faço como pede. — Seu tom de pele é um pouco
mais claro que o meu, então vou usar só o pó em vez da base para
não destacar muito. 

— Contanto que você não me deixe parecendo um palhaço


— brinco e ela dá risada. 
— Fica quietinho. 

Com calma ela passa o pó no meu rosto e quando termina


me deixa ver o resultado, apesar da ardência na pele não consigo
ver onde fui machucado e ainda tenho fotos para tirar hoje, não
poderia deixar essa merda visível. 

Retornamos para o salão, e percebo que o puto teve a


audácia de voltar a sentar na mesa com os pais, chamo um
segurança e ordeno que ele seja retirado do local sem chamar a
atenção. 
— Aconteceu algo? — Alexander me pergunta quando o
trago para um canto afastado, mantendo meus olhos na Lara. 

— Jairo armou para mim. — Olho em torno e conto a ele a


situação no banheiro e a emaça que o infeliz deixou. — Preciso de
dois ou três seguranças protegendo a Lara, e que a investigação
avance rápido, não confio que ele ficará quieto. Jairo é mais
desequilibrado do que eu pensava, os olhos dele eram de um
psicopata. 

— Não podemos mais deixar a situação se arrastar se ela


chegou a esse ponto. — Ele pega o celular e manda uma
mensagem. — Amanhã de manhã vou enviar os seguranças da
Lara e pressionar meu pessoal para conseguirem resultados.  

— A atitude dele de hoje me deu uma certeza: se o Jairo foi


longe desse jeito para me desestabilizar é porque tem alguma
merda grande acontecendo debaixo do tapete e ele ficou
desesperado para esconder. 
— Estamos deixando algo passar, amanhã nos
encontraremos em seu escritório e vamos investigar isso a fundo. —
Alexander tem o semblante sombrio, e sei que ele vai fundo nessa
história.

— Certo, obrigado por isso. — Aperto sua mão, e ele me dá


uma tapinha nas costas. 
Meus quatro amigos, meus quatro irmãos, é indescritível
saber que posso contar com eles nesse nível.  
- 32 -
 

Lara
inalmente acabou! — Jogo minha bolsa no
—F sofá e deito nele com os pés para cima
gritando feliz da vida por ter apresentado meu
TCC, e passado com a nota 9,0. Para quem escreveu grávida de
gêmeos, organizando um casamento às pressas, e ainda se
preocupando com o pai que queria ser ativo, me saí muito bem. 

Quando paro para pensar em como minha vida mudou


nesses últimos meses tudo parece um sonho; eu estava sentada na
minha mesa de estudos altas horas da noite, e meu pai teve um
infarto. Entrei em desespero, fui a uma festa de orgia de gente rica,
e sai de lá com um gostoso pelado dizendo que eu seria a sua
noiva. 

Por anos me fechei na minha concha, eu não queria


namorados, tinha medo de quando o relacionamento terminasse eu
ficasse perdida. Por isso terminei meu único namoro antes que eu
me apegasse demais. Crescer sem uma mãe abriu um buraco
enorme no meu peito, e me fez perceber como a vida é efêmera, em
um segundo tudo muda. 

Em um momento eu era uma estudante de fisioterapia


solteira, e no outro estava fazendo um acordo com um bilionário, a
fim de salvar a vida do meu pai. O jeitinho descontraído do Caio, e
sua determinação em provar que ele era alguém digno de confiança,
e sua nobreza ao ajudar meu pai, fizeram eu me apaixonar aos
poucos por esse homem.  

O vazio que senti por não ter uma mãe ao meu lado foi
preenchido pela felicidade de saber que eu seria a mãe. É estranho
pensar que eu só tive uma mãe por 10 anos, e agora eu serei uma
mãe sem preparo algum, contando com ajuda de uma babá que
garanta que eu não mate meus filhos por acidente, e com o Caio
que tem sido presente durante toda a minha gravidez. 

Às vezes é difícil entender meus próprios pensamentos, mas


saber que agora eu vou ocupar o espaço que faltou na minha
criação na vida de duas pessoinhas preciosas, faz com que o vazio
no meu peito diminua. Vou tomar cuidado para nunca adoecer ou
ser ausente, ficarei com meus filhos, o máximo de tempo que puder.

Pois, em um segundo tudo muda. 

— Senhora Lara. — A segurança que Caio contratou para me


proteger entra na sala. — O senhor Caio avisou que vai demorar a
chegar hoje, ele pediu para a senhora olhar seu celular. 

— Esqueci totalmente onde deixei o aparelho. — Escondo o


rosto com as mãos, cansada e querendo dormir. — Diga ao Caio
que eu estou dormindo, por favor. — Viro de lado e apoio o rosto na
almofada fofinha, não demorando a adormecer. 

Eu disse que em um segundo tudo muda. 

Acordo com um puxão em meu braço e um baque surdo me


protegendo de cair no chão enquanto coisas se estilhaçam a minha
volta. Protejo minha barriga enquanto um braço atravessa por cima
da minha cabeça e o som de tiros me deixam com um zumbido
estridente cortando minha audição.  

Abro os olhos e vejo o couro do sofá, enquanto plumas do


estofado voam para todos os lados, uma dor em minha panturrilha
me faz querer puxar a perna e tocar onde dói, não consigo me
mexer quando o corpo que me protege segura minha cabeça a
puxando para me esconder contra seu peito, ao passo que os sons
estridentes aumentam. 

Com dificuldade abro os olhos contra o peito que me protege


e vejo o terno preto da minha segurança, seu braço sobe
novamente, e mais disparos são ouvidos, seu rosto feroz mirando
em nossos agressores. Não consigo entender o que aconteceu,
além do fato de que estamos sobre ataque inimigo. 

Quando Caio reforçou a segurança, eu nunca pensei que algo


dessa magnitude fosse realmente acontecer no nosso apartamento,
que é protegido vinte e quatro horas. 

— O que está acontecendo? — pergunto quando minha


audição volta ao normal. 

— Ataque inimigo, entraram disfarçados de entregadores


para o apartamento de baixo e conseguiram entrar no nosso andar
pelas escadas. — Sua voz é feroz, enquanto ela continua atirando.
— Eles são muitos Lara, e vou tirar você daqui a qualquer custo,
mas preciso que siga minhas ordens, a equipe de segurança está
desfalcada e sofremos perdas, pelo armamento pesado deles. 

— Eles querem me matar?  

— Possivelmente, não parecem que estão procurando por um


sequestro de reféns, você deveria ter falado com o Caio antes. 
Meu coração gela pelo medo de algo ter acontecido com o
meu marido, não sei onde coloquei meu celular e no meio desse
caos, nunca vou descobrir. 

— Ele foi atacado? — sussurro com medo da resposta. 


— Não sei dizer, o Jairo deveria ser preso hoje junto do
Pablo, os federais não o encontraram e agora sabemos que o
desgraçado se preparou.  

Uma bala passa raspando a cabeça dela e Luísa tomba para


trás com a testa sangrando manchando seus cabelos louros presos
em um rabo de cavalo que começa a soltar.  

— Precisamos sair daqui. — A mulher retorna a fica em cima


de mim. — Vai ser difícil você se arrastar por causa da barriga,
precisamos chegar às escadas de incêndio na sacada, você
consegue? 

— Vou ter de conseguir, meus filhos precisam que a mãe


deles seja forte. — Aperto minha barriga. 
— Muito bem, vá abaixada e se escondendo atrás dos
móveis, quando eu der o sinal, vou criar uma abertura para nós. 
Ela mal termina de falar e puxa uma arma enorme daquelas
que só vejo em filmes de debaixo da mesinha de centro, e atira na
direção da porta cessando o ataque inimigo contra nós. Com um
sinal de sua cabeça entendo que devo seguir em frente, rastejo com
cuidado no chão, me mantendo atrás dos sofás e objetos da casa
enquanto vou para a varanda. 
Minha panturrilha arde mais ainda, e não me atrevo a olhar
para trás e descobrir o motivo da dor. Tudo que importa agora é
seguir em frente e salvar a vida dos meus filhos, eles não estão
prontos para nascerem, e eu não os deixarei sem uma mãe. Minha
vista nubla e a garganta trava, com o medo pelo que pode acontecer
hoje, e o que será dos meus bebês e do Caio. 

Por favor meu Deus, nos proteja.  

Mãe se a senhora estiver me olhando aí do céu, por favor,


cuida da sua filha. 

Imploro por proteção divina enquanto luto contra o medo e a


dor que faz meus músculos fraquejarem e quase caio por cima da
minha barriga, apoio o peso com meu cotovelo e chego a porta da
varanda, empurro conseguindo passar e me permito olhar para trás
a tempo de ver a Luísa levando um tiro no braço. 

Tampo minha boca abafando o grito e fico de pé, corro para a


escada de incêndios, com os olhos turvados e as pernas bambas,
eu desço degrau por degrau segurando no corrimão enquanto oro
aos céus pedindo por ajuda. Um zumbido corta o ar perto do meu
ouvido e me encolho na escada enquanto ouço vozes acima da
minha cabeça. 
— FICA LONGE DELA! — A voz grave de Caio reverbera
como um trovão, olho para cima e vejo meu amor no parapeito do
nosso apartamento, apontando uma arma para um homem que está
dois lances de escadas acima de mim. 
Eu nunca vi as feições dele com tamanha ira como nesse
momento, seu braço estica com a arma na mão e os disparos contra
meu perseguidor são certeiros fazendo o alvo cair na escada e a
arma dele deslizar para o chão. Estou prestes a me levantar e ir até
o Caio quando ele se vira e atira novamente, meu peito sangra
quando vejo o movimento brusco de ombro para trás e o sangue
espichando. 

Caio cai de joelhos e não sou mais capaz de o ver, paralisada


com o coração na mão eu não consigo me mover enquanto minha
perna queima, e os degraus abaixo de mim ficam escorregadios, só
então olho para o meu corpo e vejo um pedaço de vidro em minha
panturrilha fazendo o sangue jorrar como água. 
— CAIO! — grito por seu nome em desespero, aperto meu
peito tentando fazer a dor passar enquanto busco forças para subir
os degraus, minhas mãos tremem, não me dando nenhum suporte
enquanto os tiros lá em cima continuam junto dos gritos. — Caio...
— imploro novamente por seu nome e que ele me responda.  

Grito desesperada enquanto minhas forças se esvaem e uma


dor excruciante corta meu ventre, me encolho segurando minha
barriga e com a cabeça nublada pela exaustão. 
— Lara! — A voz grossa do meu amado me chama e olho
para cima, o vendo caminhar em minha direção, o braço direito
largado ao lado do corpo enquanto o esquerdo segura uma arma,
finalmente o som dos tiros cessam. 

Encosto a cabeça no corrimão e choro pela dor e alívio de o


ver bem. Meu ventre aperta novamente e me contorço, gritando
quando o Caio senta ao meu lado e me puxa para os seus braços.
Suas mãos geladas e ensanguentadas tocam meu rosto enquanto
ele grita palavras que não consigo ouvir, tremores me tomam e a
consciência abandona meu corpo ao passo que a escuridão me
toma. 

— Fica comigo Lara! — Ele me sacode e fixa o olhar no meu,


mal consigo visualizar seu rosto em meio a escuridão que me cerca.
— Por favor amor, fica comigo. 

É a última coisa que escuto antes de desmaiar. 


- 33 -
 

Caio

A
inauguração da
Conti Automobilística
foi um sucesso,
vendemos nas primeiras duas semanas mais de três mil carros, em
todo o Brasil e o valor de nossas ações sobem como as mais
valorizadas da indústria, no momento.

É libertador não me preocupar com o que o meu pai pensa de


mim nesse momento, eu sei que sou um grande sucesso e alcancei
patamares nunca vistos antes. 

— Entrando. — Alexander me surpreende ao entrar em meu


escritório da sede da empresa. — Precisamos conversar com
urgência. — Larga uma pasta em cima da minha mesa. — Jairo e o
Pablo fizeram muito mais coisas do que imaginávamos e eles são
os reais culpados do seu afastamento da empresa. 
— A segunda parte eu já sabia. — Pego o envelope. 

— Caio você não me entendeu. — Ele segura meus braços, e


me encara de perto, nunca vi o Alexander preocupado como agora.
— O Salvatori não é o otário que achávamos, e ele não foi
envenenado para você ser afastado, ele foi obrigado. 

— Como? — pergunto sem acreditar. 

— Abra o arquivo, você vai entender quando ver tudo,


enquanto isso vou resumir tudo o que sei. — Ele senta na cadeira e
a porta abre com o William e o Heitor entrando. 

— A merda foi grande. — William diz e joga uma grande


pasta na minha mesa. — Os federais estão indo prender o Pablo e o
Jairo nesse momento. 

— Tem certeza que a Lara ficou em segurança? — Heitor


pergunta e uma veia salta na minha cabeça. 
Pego o celular e envio uma mensagem para ela que não me
responde, mando outra para a segurança, e ela me informa que a
Lara dormiu cansada após apresentar o TCC dela. Ela confirma que
minha esposa e filhos estão em segurança, então encaro aquela
pasta, e abro a caixa de pandora. 

— O plano deles... — Alexander começa a narrar o que


descobriu. — Se iniciou antes mesmo do seu pai assumir a
empresa, seu avô não morreu de infarto, ele foi envenenado,
quando descobriram que iria mudar o testamento e colocar você
como seu principal herdeiro — diz e abro a boca, surpreendido. —
Um médico legista foi pago com quinhentos mil dólares para forjar a
causa da morte. 

— Puta merda! — exclamo ao ver a certidão de óbito do meu


avô, e a real causa. — Foi o Pablo? 
— Sim, depois disso ele assumiu um cargo como diretor da
empresa ao lado do seu pai, e esteve por dentro de cada negócio, e
passou a realizar transações para empresas fantasmas desviando
altas quantias.  
Todos os documentos das transações estão em minhas
mãos, incluindo fotos do Pablo pagando ao legista pela adulteração
da certidão de óbito. 

— Como essas fotos existem? — William pergunta, olhando-


as curioso. 

— O legista gravou o dia do pagamento e ficou usando essas


imagens como chantagem, querendo mais dinheiro. Quando meu
pessoal descobriu a ligação entre eles, o legista já havia sido morto
há uns 3 anos, em um acidente de carro, o mesmo em que o Jairo
se envolveu e ficou com a perna quebrada naquela época. 

— Foi quando ele conheceu a Lara. 

— Provavelmente. — Alexander junta as mãos e toca o


queixo. — Não temos provas quanto a isso, mas é provável que o
Jairo tenha matado o legista no acidente de trânsito, e quando algo
deu errado, ele se machucou também, ou ele se machucar fazia
parte do plano para parecer um acidente e não premeditado. 

— Conta a ele sobre o Salvatori. — Heitor diz e engulo em


seco com medo da verdade. 

— Após a morte do legista o Pablo achou que tudo ficaria


bem e ele conseguiria influenciar o seu pai para controlar a empresa
e a tornar dele. No entanto, você se mostrou excepcional para os
negócios, foi quando a chantagem começou.  
Ele joga um pendrive e abro no computador tendo acesso a
fotos minhas, mais novo, em diversos lugares, até imagens
recentes, e da Lara. 
— Pablo revelou ao seu pai que foi o responsável pela morte
do seu avô e disse que se ele não te afastasse e fizesse dele o novo
CEO da empresa, seria você o próximo a ser morto. Mas seu pai
não podia simplesmente te mandar embora, então Jairo começou os
boatos e a criar as oportunidades, a intimação para casamento não
passou de uma besteira para que você se tornasse incapaz de
assumir a empresa. 

— Esse tempo todo... ele esteve me protegendo? — Aquilo


bate como um punhal no meu peito, enquanto eu o odiava, meu pai
zelava por minha segurança. 

Pressiono os olhos tentando controlar o ardor no peito e o


choque por ter meu mundo virado de ponta cabeça. Tenho ânsia de
chorar e a culpa por ter sido grosseiro com ele me domina, eu não
fazia ideia, e não conseguia entender suas ações, e como um cão
raivoso cortei nossas relações, enquanto ele mesmo distante estava
presente no meu casamento, na abertura da empresa e nas poucas
mensagens que mandava querendo saber como eu estava.  

— Você não sabia. — William aperta meu ombro. — E fez o


que o seu pai queria; se afastou ficando em segurança. 

— Como você descobriu isso? — pergunto ao Alexander. 

— Ontem, o Jairo foi a um apartamento afastado, e que


estava no nome de uma mulher desconhecida, quando ele saiu meu
pessoal invadiu o lugar e acharam todas as provas, como eu sabia
que os federais estavam na cola do Pablo por tráfico de drogas para
os Estados Unidos, eu mandei uma pista para eles sobre o
apartamento, em instantes vamos ouvir notícia da prisão desses
dois. 

— O Pablo queria a Conti para ele e o Jairo — diz Heitor,


pensativo. — E para isso matou seu avô e ameaçou a sua vida para
seu pai ceder o lugar de CEO, a pressão que o Salvatori sentiu deve
ter sido um inferno. 

— Preciso falar com meu pai. — Levanto rápido, e antes de


tocar na porta ela abre com meu pai aterrorizado me olhando. 

— O que você fez? — grita e segura meus ombros. — Você


não devia ter se metido. — O desespero na sua voz aterroriza cada
célula do meu corpo. 

— Pai... 
— O Pablo descobriu que você sabe de tudo, e mandou me
matarem enquanto eu vinha até a empresa, ele não tem mais nada
a perder, e quer vingança. — Meu pai me sacode, exasperado. —
Tem homens indo atrás de sua mulher, Caio. 

— O que? — Isso não pode ser verdade. 

— O filho da puta me ligou e disse que vai matar a todos nós,


menos a sua mãe por ser irmã dele. Ele mandou homens armados
para a sua casa e tentou causar um acidente de trânsito quando eu
vinha para cá, deve ter capangas dele esperando em todos os
cantos. 

— Vamos — digo ao Alexander, que já tem o celular no


ouvido gritando ordens para seus homens. 
Não tenho tempo para hesitação, pego meu celular e corro
com meus amigos, e pai atrás de mim na direção do
estacionamento, enquanto tento falar com a Lara que não atende as
minhas ligações. 
— Os federais foram para a casa do Pablo e Jairo —
Alexander diz — conseguiram prender o Pablo no apartamento que
tinha as informações dos seus crimes, o Jairo continua
desaparecido.  

— Eu vou estourar a cabeça desse puto — rosno ao entrar no


carro, meu novo segurança não espera minha ordem e dirige rápido
até a minha casa. 

— Pegue — Alexander me entrega uma arma, eu olho para a


minha mão, amedrontado, com o que pode acontecer. — Use-a para
se defender, você e os rapazes sabem atirar, basta lembrar de tudo
o que aprendeu nas aulas de tiro — orienta, porém, agora o alvo
será real.

Eu suspiro e aperto a arma, se tiver que usá-la para defender


minha família, usarei sem piedade.

Olho para trás e reparo em outro carro colado ao nosso.

— William e Heitor? Onde estão? — questiono.


— Estão atrás de nós, junto com Salvatori.

Eu jogo a cabeça para trás e só consigo pensar em Lara e


nos meus filhos. Se algo acontecer com eles, eu morro, mas antes
acabo com a raça do Jairo.
— Não entendo, como o Jairo adquiriu tanto poder? Será que
tem alguém o protegendo? Só pode... — comento, afinal ele estava
bem informado de tudo e agora percebo que tem as costas quentes.
Escuto Alexander soltar um xingamento, eu olho para ele, que
tem o olhar inflamado de ódio.

— Eu não queria dizer nada, mas acho que você tem o direito
de saber...

— O que está acontecendo?

Fico preocupado, e o encaro com o coração acelerado.

— O Jairo, conseguiu o apoio do desgraçado que está


querendo acabar comigo — conta e dá um soco no banco do
motorista. — O filho da puta voltou a me ligar, e riu da minha cara ao
dizer que seu novo fantoche estava sendo muito útil.

— Ele falava do Jairo...?


Alexander acena, e me olha.

— Eu juro que vou acabar com esse desgraçado Caio. Então


eu preciso do Jairo vivo, pois apenas ele, pode me levar ao meu
inimigo — murmura com a voz grave.

— Não posso prometer nada, pois não gosto nem de imaginar


o que ele pode ter feito para a Lara...

— A Lara é esperta, e Luísa irá protegê-la. Agora o Jairo é


problema meu, por isso, deixe-o comigo. Não faça nada. E eu
prometo que ele irá pagar por tudo, no momento certo. — A voz do
Alexander é cortante, e Jairo que se cuide, pois, meu amigo não tem
piedade.
Estamos quase chegando ao meu prédio e Alexander xeca
seu celular.

— Conseguiu descobrir se aconteceu algo? — pergunto, pois


não temos notícias de nada.

— Por enquanto nenhum sinal de ataque. 

Engatilho a arma e pego meu celular enviando mensagens


para a Lara e para a Luísa, sua segurança, a segunda me responde
que está tudo bem e informo a ela sobre a situação.  

Estamos quase chegando ao meu bairro quando um alerta


dispara no meu celular indicando que houve uma invasão no
apartamento. Pelas câmeras de segurança vejo quando homens
armados explodem a porta e começam a atirar contra a equipe de
segurança. Com o desespero me consumindo eu busco pela Lara
nas câmeras e a vejo sendo protegida pela Luísa, escondida pelo
sofá, enquanto a loura dá tudo de si para proteger minha mulher. 
— Manda todos os seus homens Alexander, e ambulância... e
o que for preciso, minha mulher e filhos não podem se machucar! —
imploro, desesperado e com a garganta se fechando. Tremo
segurando o celular enquanto acompanho aquele inferno de cena. 

Ver a minha Lara indefesa tentando proteger nossos filhos e


se arrastando para a varanda desperta uma besta assassina dentro
de mim, enfurecendo e injetando adrenalina em cada célula do meu
corpo. Eu vou matar o filho da puta do Jairo e do Pablo, e se algo
acontecer com a minha esposa eu vou colocar fogo naqueles
malditos, até que não sobre nem as suas cinzas. 
O carro mal para e estou correndo para fora e indo aos
elevadores, são mais de vinte andares até meu apartamento, nunca
conseguiria subir tudo correndo. Seguranças do Alexander entram
juntos comigo, e ainda tenho tempo de reparar que meu pai, Heitor
e William, são impedidos de entrar.

Não tenho tempo para mais nada, e com o coração na mão,


continuo acompanhando minha esposa pelas câmeras, a Luísa
recebe dois tiros e cai no chão enquanto a Lara corre pelas escadas
de incêndio. 

A porta de metal se abre e os seguranças do Alexander saem


na frente atirando em todos os inimigos no nosso caminho, tomando
cuidado para não serem atingidos. Eu posiciono a arma rente ao
rosto, miro e atiro naqueles que ficam no meu caminho, enquanto
outros seguranças me dão suporte, protegendo minhas costas.  

Corro até a sacada e vejo a Lara encolhida quatro andares


abaixo, e um homem a perseguindo dois lances de escada de
distância, não vou conseguir o pegar a tempo. Penduro-me no
parapeito da varanda e estico os braços mirando o infeliz. 

— FICA LONGE DELA — grito, enfurecido, chamando a


atenção do desgraçado que mira sua arma para mim, e aproveito a
visão aberta para atirar nele acertando dois tiros o derrubando nas
escadas. 

— Olha só quem veio salvar a esposinha! — A voz odiosa do


Jairo soa atrás de mim, viro e miro na sua direção, atiro sem pensar
duas vezes. Acerto seu ombro. — Se eu morrer te levo junto. 
Jairo atira contra mim, a bala queima meu braço me jogando
para trás pela força do impacto. Caio de joelhos pela dor provocada,
e antes que possa acertar novamente o infeliz, dois tiros soam e
vejo o corpo do Jairo caindo para a frente e o Alexander atrás dele.
O sangue jorra de sua camisa e miro na sua cabeça pronto para
mandar o infeliz para o inferno, quando Alexander me para
segurando minha arma. 

— Não manche sua alma por causa dele, sua esposa precisa
de você.  E lembre-se do que conversamos. — Alexander com seu
olhar frio e voz de comando, faz com que eu baixe o braço.

— CAIO... — ouço o grito da Lara. 

Suas palavras me despertam, e corro para as escadas com o


braço ardendo e impossibilitado de mexer.  

— Lara — chamo por ela. 

Desço os lances de escada, pulando os degraus até chegar


na Lara que sangra pela perna e grita de dor, amparo seu corpo
com o meu, sua pele pálida e suando muito, enquanto o sangue
jorra de sua panturrilha, ela pressiona o ventre e grita novamente.
Nunca imaginei sentir tanto medo quanto nesse segundo, o pavor
de perder a minha amada rasga minha alma em duas. 

— Fica comigo Lara. — Seus olhos perdem o foco enquanto


ela os abre e fecha repetidas vezes. — Por favor amor, fica comigo. 
Imploro a vendo desmaiar, grito de dor, e beijo sua cabeça
tentando fazer com que ela acorde, seguro seu ventre sentindo os
bebês se mexerem dentro dela. Dois homens a puxam de mim e
vejo os trajes brancos com a logo do hospital, são os paramédicos.  
Com agilidade eles a descem pela escada de incêndio e vou
junto, me amparando em um terceiro socorrista, quando chegamos
ao térreo, o caos é grande, com policiais e civis gritando, os
repórteres querendo saber o que aconteceu, enquanto minha
esposa é levada em uma maca para a ambulância, e eu sou
colocado em outra.

A tontura me ataca e desmaio antes de a ver partir. 

 
- 34 -
 

Lara

A
cordo e vejo um par
de olhos castanhos
claros me
encarando, com um sorriso no rosto. Seus lábios descem de
encontro aos meus em um beijo terno. Nos separamos e sou
banhada por seu sorriso. 

— Bem-vinda de volta, moranguinho! — Ele cheira meus


cabelos, cheio de amor. 

— Você. — Toco seu rosto procurando por ferimentos, uma


tipoia no braço direito é a única coisa que encontro. — Caio... —
Minha voz embarga quando o puxo novamente para mim e um
chute poderoso chama minha atenção abrindo as comportas do meu
choro. — Meus bebês! — soluço segurando minha barriga e
aproveitando a festa que os gêmeos fazem. 
— Tudo bem Lara. — Ele beija meu rosto e segura minha
mão acariciando nossos filhos no meu ventre. — Você conseguiu
proteger nossos bebês, eles estão bem, e saudáveis. — Sua voz é
mansa, derrama carinho, enquanto ele me embala em seu peito. 

— Eu fiquei com muito medo — confesso, tentando me


acalmar. 

— Eu sei, desculpe-me por ter demorado — pede e beija


meus cabelos. 

— A Luísa...? — Não tenho coragem de terminar a pergunta. 

— Ela levou um tiro no abdome e um no ombro, precisou de


cirurgia, e agora descansa no quarto, com a família cuidando dela. 

— Alguém morreu? 

— Alguns seguranças que foram pegos na explosão, quando


abriram a porta, no total foram três. 

— O que aconteceu?  — pergunto, com um nó na garganta.

Sinto o coração pesar pela morte daquelas pessoas que


deram suas vidas para me manter em segurança. Nunca serei
capaz de esquecer o sacrifício deles. 

Caio me conta sobre como o Pablo envenenou o avô dele e


ameaçou o Salvatori — que prestou depoimento para a polícia
contando sobre os esquemas ilegais que ele descobriu do Pablo, e
quando o confrontou o e ameaçou contar a polícia, o Pablo fez a
ameaça contra o Caio, e jurou nunca tocar na Marieta apenas por
ela ser sua irmã.  

Após confessar a polícia e entregar a eles provas dos


esquemas de corrupção, e ameaças feitas pelo Pablo, o Salvatori foi
ao encontro do Caio contar a verdade ao filho.  
— Nos choramos feito duas crianças. — Os olhos dele
brilham pelas lágrimas contidas. — Eu entendo o que o meu pai fez,
e o amo mais ainda agora. — Caio solta um riso. — Não me sinto
mais culpado por ter dito aquelas coisas, o Salvatori disse que a
intenção dele era fazer com que eu o odiasse, e ficasse longe dele
para a minha segurança, que apesar da vergonha, e do medo, ele
se sentiu orgulhoso por eu não ter ido por um mal caminho, mas ter
conseguido abrir minha empresa e casado com a mulher que amo. 

— Ah Caio, fico muito feliz em saber disso. — Aliso suas


bochechas. 

— No dia do meu casamento ele ficou com vergonha, e por


isso agiu daquela forma, o Pablo tentou impedir dele ir, mas meu pai
não conseguiu e precisava estar presente naquele momento. Na
abertura da empresa ele só levou aqueles dois por ameaça do
Pablo, que queria ver o que eu construí e se o Salvatori o levasse
sem escândalos ele não iria intervir nos meus negócios. 

— Agora as coisas fazem sentido, no fim o Salvatori só fez te


proteger. 

— Todo esse tempo. — Caio beija minha testa. — Fizemos as


pazes e daqui a pouco ele chega para te visitar. E por falar em pai...
o seu quase monta acampamento do lado de fora. — Dou risada
com meu marido. — Vai ficar tudo bem agora. 

— E o Jairo? Estava envolvido nas coisas do pai? 

— Mais do que pensávamos, o desgraçado começou a


traficar com a ajuda do pai, usavam os aviões de testes da Conti
para fazerem a rota de voo e poderem entregar as drogas. Foi ele
quem ordenou o ataque ao apartamento, quando cheguei para te
salvar, o filho da puta atirou em mim e o Alexander nele. 
— Ele morreu? — indago, com medo da resposta. 

— Não, vai ficar preso pagando pelos crimes, o Alexander


não deixou que eu o matasse e atirou em pontos não vitais, porém
ele ainda está no hospital, sob vigilância. 
— Alexander é um mafioso, e nada vai mudar o fato de que
acredito nisso. 

— Um mafioso do bem. — Rimos. 

— E os bebês? — Senti-los se mexerem dentro de mim, dá a


certeza de que nada de ruim aconteceu com meus pequenos. 

— Sua médica já te examinou e apesar da perda de sangue,


você não desenvolveu anemia, embora precise tomar cuidado na
alimentação para não ficar doente. Daqui a pouco ela disse que viria
examinar novamente nossos pequenos para saber se está tudo
bem, e com sorte veremos o sexo, e ouviremos as batidas dos
corações deles. 

— Vão dar esse presente a mamãe corajosa de vocês? —


pergunto fazendo voz infantil e ambos respondem me chutando. 

— Bom dia mamãe! — A doutora Zuleide entra sorrindo. —


Pronta para nosso exame? 
— Sim. — Sorrio de volta para ela. Todo o medo que senti no
ataque, se dissipou ao ver que meus bebês e marido estão
seguros. 
Uma enfermeira e outro funcionário entram, trazendo um
equipamento para o exame, eles preparam tudo e se retiram em
seguida.

A médica passa o gel na minha barriga, e batidas ritmadas de


coração preenchem o quarto quando a imagem dos meus pequenos
aparece no monitor. 

— Agora sim, estão vendo isso aqui? — Aponta para algo,


consigo perceber com mais precisão as formas deles. 
— Então? Dá para saber o sexo? — Caio levanta e faz
careta, tocando o meu ombro. 

A médica sorri.
— Aqui, temos um menino — diz, olhando a tela, com a mão
livre ela digita alguma coisa.  — Na verdade, o maiorzinho é um
menino e o menorzinho... uma menina — completa.

Meus olhos nublam, olhando para as minhas joias preciosas


e para o meu marido que sorri bobo para mim. 

— É um casal — digo chorosa. 

— Vai vestir eles iguais agora? — Caio pergunta me


caçoando. 
— Com toda a certeza. 

Beijo meu amor, rindo feliz e realizada pela nossa vitória.  


 
- 35 -
Três meses depois.

Caio

E
u estou uma
pilha de
nervos, essa
é a verdade. Meus pais, e o meu sogro, estão aqui comigo nesse
momento, enquanto a Lara é preparada numa outra sala para dar à
luz aos meus filhos. Mal posso acreditar que meus bebês vão estar
aqui a qualquer momento.
— Calma meu filho, daqui a pouco você vai passar mal —
diz meu pai, apertando meu ombro.

— Não sei como ficar calmo, pai. Preciso estar com a Lara,
eu preciso segurar sua mão — declaro e olho para a porta fechada
a minha frente.
— A enfermeira irá chamá-lo, assim que Lara estiver pronta
— acentua mamãe.

Eu respiro fundo, com o meu coração quase saindo pela


boca.
— Vocês não entendem, a Lara tem pavor de injeção, e se
ela surtar na hora da anestesia? Eu deveria estar com ela nesse
momento, e não apenas na hora da cirurgia — reclamo.
João respira fundo e olho para ele, que tem um sorriso
desenhado em seu rosto.

— Lara sempre foi muito medrosa em relação a agulhas, até


para tomar vacina fazia um escândalo — conta, então me olha. —
Mas tenho certeza que hoje, minha filha vai fazer de tudo para não
demonstrar seu medo, ela vai mostrar sua força.
Eu aceno e dou um suspiro.

— Você está certo, João...


A porta se abre, e os três olham no mesmo momento, então
a enfermeira me olha.

— Senhor Conti, me acompanhe, por favor.

João bate em minhas costas, e ouço meus pais me


desejando sorte. Então sigo a enfermeira, que me leva até uma
sala, e me orienta a colocar uma touca, e vestimenta especifica para
entrar no centro cirúrgico.

Alguns minutos depois a enfermeira me leva até a Lara que


está deitada numa maca. Assim que me vê, ela abre um sorriso e
vejo seus olhos se encherem de lágrimas. Já ao seu lado eu me
inclino e beijo e sua testa.
— Eu te amo tanto! — sopro em seu ouvido.

Ela sorri.
— Eu também te amo muito.

— Lara? Você está se sentindo bem? — Noto uma mulher


com jaleco verde parar ao seu lado.

Lara acena, e não tira seus olhos dos meus.

— Sim, agora estou me sentindo ótima.

Meu coração bate forte em meu peito, tudo o que já fiz em


minha vida, tudo o que tenho, não é nada se comparado com esse
sentimento tão avassalador. É como se apenas agora tudo fizesse
sentido.

Eu me ajoelho e encosto minha testa em Lara e suspiro


fechando os olhos, sinto as lágrimas fluírem e pouco me importo
com quem esteja me vendo assim.

— Eu te amo, Lara! — Respiro fundo e abro os olhos. Ela


me encara com emoção. — Eu peço perdão pelas besteiras que já
te falei, e até as que pensei um dia. Pois agora eu tenho ciência de
que não era feliz, eu vivia na ilusão e achava que tinha a vida
perfeita, no entanto, a perfeição eu encontro todos os dias... ao seu
lado — sussurro e ela chora.
— Caio... assim você acaba comigo — diz, fungando.

De repente ouvimos um choro, eu rio e choro ao mesmo


tempo, enquanto Lara também não segura as lágrimas.
— Temos nossa menininha aqui! — Ouço a voz da médica.
Eu dou um leve beijo nos lábios da minha esposa. Não dissemos
nada, pois a emoção que sentimos é o suficiente. — Oh! E agora
nosso meninão... — outro choro, mais forte do que o anterior.
Não sabia que eu era capaz de sentir algo tão profundo. Eu
sou capaz de sentir uma felicidade extrema, que transborda do meu
coração, e essa felicidade é tanta que se torna visível pelas lágrimas
que não param de cair dos meus olhos.

— Eu te amo... te amo Lara! Você é única em minha vida! E


meus filhos, o maior presente que já me deu — sussurro, enquanto
ela, como eu, deixa suas lágrimas jorrarem.

Alguns minutos se passam, e as crianças param de chorar.


Então me levanto. No mesmo instante duas enfermeiras se
aproximam, cada uma carregando um bebê e quando posso,
finalmente, olhar suas carinhas, mais uma vez sou tomado pela
emoção.

As duas mostram os bebês para a Lara, que beija a testa de


cada um deles, e essa cena mostra todo o amor que uma mãe
dispensa ao filho, e meu coração, já retumbando em meu peito, bate
com mais vigor, e o amor que sinto por esses três é o mais forte
sentimento, tão forte que atinge minha alma.

Lara dorme, ao seu lado Ravi, nosso filho esfomeado,


também dorme tranquilamente. Em meu colo está Maria, ela tem
seus olhinhos escuros abertos e parece atenta a tudo. É a coisa
mais linda que já vi na vida. Tão miúda e com um grande poder sob
mim.

Eu sorrio bobo para ela, a pediatra neonatal informou que os


recém-nascidos não enxergam, mas tenho a sensação de que
minha filha olha para mim, encantada.

— Você é tão linda! Papai te ama, Maria — murmuro, com a


voz rouca de emoção.
Alguém bate à porta e olho. Vejo William e Heitor. Ambos
com um sorriso desenhado.

— Quem diria... O Caio com um bebê no colo, e


emocionado! — William é o primeiro a se manifestar.
Eles entram no quarto e olham para minha filha.

— Ela parece a Lara, pois é muito linda para parecer com o


pai — caçoa Heitor.

Eu balanço a cabeça.

— Vocês são uns imbecis — resmungo.


Eles riem, baixo. Heitor aperta meu ombro e olha para a
cama, onde Lara e Ravi estão adormecidos.

— Parabéns cara! Seus filhos são lindos — fala e volta a


olhar para a Maria que mexe os olhos conforme escuta sua voz. —
Acho que ela gostou de mim.

— Deve estar te achando feio, isso sim — responde William.


Heitor dá um tapa em sua cabeça.
— Bebês não veem nada, seu burro! Nem parece que é pai!
— Heitor exclama, e eu rio. Então Maria choraminga.

— Viu? Ela me ama, não gostou de me ver sendo agredido


— aponta William, e eu reviro os olhos.

— Vocês parecem um bando de adolescentes! — A voz de


Lara ressoa, baixa e rouca.
Olhamos para ela, que tem um sorriso suave.

— Nós te acordamos, Lara — William pergunta.

— O que vocês acham? — digo, e vou para perto dela.

Maria mexe os bracinhos e enruga a testa ao ouvir a voz da


mãe.
Vou ao outro lado da cama e entrego nossa filha para ela,
então beijo seus lábios e cochicho em seu ouvido o quanto a amo.
Uma enfermeira entra, e saio com meus amigos para o corredor
para deixá-la à vontade, pois provavelmente irá dar uma olhada em
sua cirurgia.

— Como se sente? — questiona Heitor, quando estamos a


sós no corredor.
Olho para os meus amigos e abro um sorriso.

— Uma mistura de felicidade e medo ao mesmo tempo. Um


sentimento forte, tenho a sensação de que vou explodir.

Heitor e William riem.


— Nós sabemos como é — diz Heitor e noto emoção em
sua voz. — Eu, até hoje sofro por não ter visto Geovanna nascer, e
depois de ter acompanhado de perto o desenvolvimento da Maitê,
cheguei a pensar que essa culpa fosse amenizar, mas não
aconteceu, pois ainda falta algo em minha vida. Ver seu filho nascer
é tão... tão excepcional que sinto muito por não estar lá quando a
minha primeira filha nasceu.
Eu aceno e aperto seu ombro.

— Mas você não sabia, então não se culpe tanto. — Tento


animá-lo.

— E agora você está acompanhando suas duas filhas, faz


parte de suas vidas — completa William.

Heitor nos olha e sorri.

— Agora não é hora para isso. Temos que comemorar o


nascimento dos gêmeos.

Eu estufo o peito.
— Sou muito potente. Em uma só tacada fiz dois filhos,
enquanto vocês só fizeram um, de cada vez.

— Ser pai te tornou muito metido, olha que eles são jovens
e ainda podem ter muitos filhos.

Olhamos os três para trás, e Alexander nos observa, sério,


com sua expressão característica de tédio.

— Isso sem contar você, Alexander. Quem sabe a qualquer


hora aparece aí dizendo que vai ser pai de dois... — comenta Heitor.

Alexander balança a cabeça e se aproxima.


— Família... isso com certeza não é para mim. Mas desejo
sorte a vocês. — Ele dá um soco de brincadeira em meu braço. —
Parabéns papai, não pude vir antes, pois alguns negócios pediam
minha presença.

Olho meus amigos, feliz por eles fazerem parte da minha


vida.

— Obrigado vocês, por estarem aqui — digo.

Ficamos ali, o Alexander, como sempre o mais calado e


sisudo. Duas enfermeiras passam por nós e cochicham, dando
risinhos. Em outro tempo, iria atrás delas, mas hoje, isso não me
apetece. Sou homem de uma mulher só. E agora tenho meus filhos
para cuidar.

E me tornei aquele que ama a vida em família.


 
- 36 -
 

Caio
Termino de pintar a parede do quarto de brinquedos dos
meus filhos. Depois do ataque que sofremos, ficamos um tempo no
apartamento dos meus pais, e antes do nascimento dos gêmeos
compramos essa casa nova, e mais protegida.

Agora que assumi como o CEO da Conti Motores e Aviação,


fundi a Conti Automobilística, criando assim, a CONTI MAA. Tenho
tido menos tempo para ficar em casa, curtindo minha esposa e
meus filhos, agora com quatro meses, quero terminar todo o
processo de fusão e sucessão e poder estar mais tempo com eles.

— Acho que ficou bom. — Meu pai limpa o suor da testa e


olha a parede. 

Pintamos o quarto de amarelo com branco, e amanhã um


artista vai vir desenhar um céu com um lindo sol representando o
raio de luz que nossos filhos são em nossas vidas. 
— Sua mãe disse que você deveria levar a Lara e as
crianças lá para casa, já que vai sair com seus amigos. — Ele me
entrega uma garrafa de água. — Não sei onde sua esposa está com
a cabeça, em deixar você sair sozinho com aqueles três. 

— Lara sabe que não fazemos nada de mais, e hoje, vamos


apenas falar de negócios e beberemos umas cervejas.

Ele nega com a cabeça. 

— O maior devasso do Brasil saindo somente para falar de


negócios com seus sócios, isso parece até um conto de fadas. 

— Ou seus sonhos se tornando realidade. 

Meu pai segura meu ombro e sorri para mim. 

— Meu sonho se tornou realidade quando você nasceu


Caio, e agora com meus netos... é como se eu vivesse no paraíso,
eu sou um avô babão — declara e solta uma risada. 

— Mime muito eles — digo com um sorriso.

— Será minha missão até morrer, mimar muito meus


netinhos. 

Sorrimos um para o outro. Nossa relação, agora é mais forte


e sólida. Eu voltei a admirar meu pai, e ele por sua vez, demonstra,
sempre que pode, o orgulho que sente de mim.

Eu o entendo, em alguns aspectos, quando se preocupava


com a minha antiga vida, eu não era um homem fácil, porém, nunca
fui irresponsável com a empresa da família, ou quando o assunto
era trabalho. E meu pai sempre soube disso.
Entretanto, hoje sou um novo homem, e tudo por causa da
minha mulher, a Lara. Ela com seu jeito conseguiu penetrar em meu
coração, e hoje não vejo mais minha vida sem ela.
Lara é a luz da minha vida.

Algumas horas mais tarde, levo minha esposa até a casa


dos meus pais. Minha mãe logo nos recebe e segura Ravi no colo
enquanto meu pai, todo meloso, segura Maria.

Eu e Lara olhamos os dois, achando graça.

— Se meu pai estivesse aqui agora, já teríamos uma


discussão para ver quem segura os bebês primeiro — fala e me
olha.

— Situação complicada, pois esses três juntos vão estragar


nossos filhos — revelo e a abraço pela cintura.

— E nós estamos aqui para consertar a bagunça.

Maria e Ravi são o xodó dos avós, e mesmo com poucos


meses eles aproveitam a situação. Aqueles espertinhos.

Eu beijo os lábios de Lara.

— Eu te amo! Prometo que volto logo para te buscar, pois


quero muito te foder — sussurro, e sinto sua pele arrepiar.
— Você não perde a vergonha — aponta com os lábios
colados aos meus.
— Querida, com você eu sempre estou querendo safadezas
— confesso e a beijo com paixão.

Lara geme e se esfrega, então me empurra e noto suas


bochechas vermelhas.
— Vá logo. Estamos na casa dos seus pais, seu sem-
vergonha — cochicha.

Eu rio a puxo pela cintura e roubo outro beijo, então me


afasto.

— Mais tarde te mostro o quanto estou sem-vergonha —


digo e a deixo na porta com um sorriso em seu rosto.

Como eu posso amar tanto essa mulher?


Encontro meus amigos no bar de sempre. Como falaremos
de negócios, bebemos apenas algumas cervejas, a fim de relaxar.
Falamos da fusão e Alexander expõe suas ideias. Assim decidimos
por fazer uma reunião geral na próxima semana, para falarmos com
os principais acionistas.

Heitor nos serve de mais cerveja, enquanto William, conta


sobre o projeto de um carro elétrico que ele desenvolveu para sua
empresa. O celular do Alexander toca interrompendo a conversa,
ele pega o aparelho olhando o nome no visor e balança a cabeça
com certa irritação, e cansaço, antes de atender. 
— O que está acontecendo? — Sua voz sai grossa. Não
faço ideia do que responderam, mas não deve ter sido bom, dado a
sua reação de se levantar abruptamente, jogando a cadeira para
trás que cai num baque no chão. — Estou a caminho, não tirem os
olhos dela e se for preciso... sabem o que fazer. — Alexander
desliga, suas narinas inflam quando ele soca a mesa com raiva. —
Caralho! 
Nós três nos assustamos. 

— O que aconteceu, Alexander? — William é o corajoso a


perguntar. 
Ele olha para nós três. Seus olhos inflamados de tanto ódio
e sua respiração acelerada. 

— Alexander, nós sempre contamos com você para tudo,


então, meu amigo, sabe que pode contar conosco — aponto,
enquanto o encaro com preocupação querendo que se abra, e
assim possamos o ajudar como ele sempre fez por nós. 
Ele dá um passo para trás e passa a mão pelo cabelo. 

— Chega, essa merda acaba hoje. Ela vai aprender quem


manda — rosna, com raiva. 

Alexander sai apressado sem dar explicações. Ficamos os


três olhando em sua direção, até que ele some. 

— Alguém pode me dizer o que foi isso? — pergunto, e olho


de William para Heitor. 
Os dois estão tão assustados como eu. Então Heitor
balança a cabeça. 

— Há alguns meses, Alexander teve um ataque desses


depois de um telefonema. Ele quase destruiu o aparelho, e meus
amigos... — Heitor nos encara e dá um sorriso. — Aposto que tem a
ver com alguma mulher. 

William se encosta na cadeira com um sorriso. 

— Será que Alexander tem alguma mulher? E não nos


contou? — questiona. 
Eu olho na direção em que Alexander foi embora, pego meu
copo de cerveja e bebo. 

Dou um sorriso. 

— Será que finalmente o poderoso e intocável Alexander se


rendeu a uma boceta? 

— Querem fazer uma aposta? — Heitor bebe sua cerveja


com o desafio no olhar. 

— Casamento, gravidez ou qual outra coisa o fez se render?


— William diz. 

— Eu aposto que tem a ver com sua família — digo. 


— Ele deve ter engravidado alguém — Heitor diz com olhar
estreito. — Para ficar puto desse jeito e precisar mostrar quem
manda, a mulher, possivelmente, o está enlouquecendo. 

— Sempre achei que ele tivesse algo a ver com a Máfia —


William fala — então vou apostar em casamento arranjado para
poder assumir os negócios da família. 

— Ah Alexander... — digo girando a cerveja no meu copo.


— Não sabe o quanto vamos te fazer pagar por todas as
provocações sobre sermos rendidos por uma boceta. 
Nós três rimos, mas brincadeiras à parte ficamos
preocupado com ele, afinal, nunca em nenhum momento lembro de
ter visto o Alexander perder sua calma.
E isso é bastante incomum, em se tratando de Alexander
Ball. 
Epílogo
 
Dois anos depois.

Lara

O
lho para cima e
fecho os olhos, o
sol bate em meu
rosto e sinto alguém pular na piscina. Abro os olhos e vejo Caio
emergir da água e me abraçar.

— Você parece uma sereia, nesta água — sussurra, e morde


minha orelha.
Eu seguro seus ombros e olho ao redor.

— Onde estão as crianças?

— O João e a Suellen as levaram para tomar um banho, e


disseram que vão preparar uma refeição — conta e eu enrosco
minhas pernas em sua cintura. Jogo a cabeça para trás e deixo que
seus lábios deslizem por minha pele.

— Mas a babá deixou a refeição dos dois prontas — digo


sem ar, enquanto ele se esfrega em mim.
A sensação da água fria em minha pele, e o corpo quente de
Caio de encontro ao meu, está me deixando alucinada.

— Sabemos disso, mas eles não precisam saber, assim


temos um tempo — sopra e chega até minha boca. — Quero te
comer, dentro da água.

— Caio... alguém pode ver — gemo.

— Não vai. Daqui eu posso ver se vier alguém, e ninguém


pode saber o que estamos fazendo.

Caio desliza uma das suas mãos pela minha pele até a parte
de baixo do meu biquíni, então puxa o elástico de lado, sinto seu
pênis em meu sexo.
Eu aperto seu ombro.

— Caio... — arfo enquanto ele invade meu corpo.

— Fique quietinha, moranguinho. Deixa eu sentir essa


bocetinha gostosa apertando meu pau — sopra, então devora minha
boca.

Caio se move em um vai e vem, e não consigo resistir às


suas investidas. Eu o beijo, cheia de desejo. Então me desmancho
com a sensação deliciosa de tê-lo dentro de mim.

— Eu te amo, Caio! — declaro, explodindo de prazer.

Caio goza em meu interior e aperta minha bunda com uma


das mãos, enquanto a outra me segura pela nuca, à medida que me
beija.
— E você é tudo para mim, Lara. É tudo... e é única! — Ele
goza e ficamos ali na água um tempo.

Seria impossível acreditar, mas a cada dia, Caio se mostra


mais apaixonado e um marido e pai que é o sonho de qualquer
mulher. Eu sou uma sortuda e agradeço por cada momento com ele.

Caio

O
veículo estaciona
próximo ao
chafariz, eu olho
para Lara, que está lindíssima usando uma máscara prata que
combina perfeitamente com seu vestido.

Seguro sua mão e passo o dedo pelo bracelete vermelho, o


sinal de que ela é somente minha. Lara me olha e sorri, então toca
em meu pulso, que também sustenta um bracelete vermelho, aquele
que um dia eu disse nunca usar, no entanto agora, faço questão de
que todos vejam

— Quando vim aqui na primeira vez estava uma bagunça em


todos os sentidos. Nunca imaginei que pudesse voltar a esse lugar
com o mesmo homem que buscava naquele dia — revela com a voz
baixa.
— E eu nunca imaginei que viria aqui um dia, feliz por ter
casado com a mulher da minha vida e mãe dos meus filhos, e ainda
usando o bracelete vermelho.
Lara abre o sorriso.

— Para você ver: o mundo dar voltas!


Nós rimos, e eu beijo seus lábios.

Então a ajudo a sair do carro e subimos as escadas da


Mansão Eros. Atravessamos a porta principal, onde um segurança
nos dá passagem.

Chegamos ao salão principal. Luxuoso e com seus


convidados em roupas caras e joias de valor. Todos parecem
satisfeitos e já podemos ver alguns grupos se afastando. Eu seguro
Lara pela cintura.

— Eu já te contei tudo, como funciona — sopro em sua


orelha e ela segura minha mão. — O que você quer fazer?

Ela respira fundo e se vira de frente para mim. Posso ver o


brilho de seus olhos castanhos e sei que Lara está excitada.

— A única coisa que quero é você. Não importa onde, ou


quando. Você me basta, então vamos para uma daquelas suítes...
— Lara beija meu pescoço e sinto meu pau inchar. — Faça o que
bem entender comigo. Eu sou sua.
Não espero que fale mais nada.

Puxo Lara pela mão, passo por entre as pessoas e sigo para
um dos corredores, onde se encontram as suítes para os que
querem algo mais reservado.
As primeiras portas já estão trancadas, o que indica que
estão ocupadas. Então entro em uma das últimas suítes disponíveis.
Fecho a porta e ataco a boca de Lara, à medida que a levo até a
cama redonda.

— Lara, minha Lara... — sussurro e a deito no meio da cama.


Então arranco sua calcinha e caio de boca em sua boceta deliciosa.
Ela agarra meus cabelos e rebola em minha cara. — Você é
deliciosa, como pode ficar ainda mais gostosa?

— Caio... estou pronta para você — murmura.

Eu levanto e tiro minhas calças, viro Lara e a coloco de


quatro, então estapeio sua bunda e ela geme.

— Preciso te comer todinha... não ouse tirar essa máscara,


Moranguinho.
Ela rebola sua bundinha e dou outro tapa nela.

— Deixe de ser malvado...

Eu mordo sua pele e enfio um dedo em seu ânus.

— Hoje você será toda minha...


— Eu já sou sua... — diz com a voz arfante.

— E eu sou seu, Lara. Só você me tem, mulher — declaro e


fico de joelhos, entre suas pernas. Pego meu pau e passo a cabeça
em sua traseira. — Não vamos com muita sede ao pote hoje, sou
muito grande. Vou apenas brincar e preparar seu cuzinho, para que
um dia ele receba meu pau.
Lara geme alto e fico atiçando meu pau, mas quando não
aguento mais, eu o enfio em sua boceta, e puxo seus cabelos para
que se ajoelhe e eu possa beijar sua boca.

Eu empurro dentro dela, com vigor, à medida que devoro


seus lábios.

Chegamos juntos ao ápice e caímos na cama.


— Caramba... isso foi intenso — diz um tempo depois, então
ri. — Tem certeza que ninguém pode nos ver?

Olho para a suíte luxuosa com uma luz suave iluminando o


lugar.
— Não. Essa parte da Mansão Eros é para quem quer
privacidade. Apenas do outro lado da mansão é para os
desavergonhados.

Ela bate em meu braço.

— Pessoas como você.

Eu olho para ela, sério.


— Já fui assim, Lara. Mas hoje, eu quero que apenas você
me veja, e acima de tudo... — Deslizo a ponta do dedo pelo seu
braço e a encaro com intensidade. — Não aceito que ninguém
coloque os olhos em você, muito menos que a toque, pois é
somente minha. A minha mulher, e eu sou seu homem.

Lara sorri e passa a mão pela minha máscara.

— Sim, não precisa mais ninguém entre nós. Eu te amo por


isso também!
Eu sorrio e me aproximo dela.

— E eu te amo por isso e por todas as coisas que


transformou em mim.

Beijo a minha esposa com amor.


Não preciso de mais ninguém, apenas ela me basta. A
mulher que conquistou meu coração.

 
Agradecimentos
 
Agradeço a todas as pessoas que me incentivaram a
continuar escrevendo, em especial meu esposo, João Luiz, que
enquanto eu escrevia cuidava da nossa pequena sapeca Ana Lívia.
Aos meus leitores fiéis, em especial aos leitores do Wattpad,
que me estimulam a cada capítulo postado. Vocês são especiais
para mim.
A todos os autores parceiros e divulgadores. Em especial à
assessoria Jéssica Lindoso, que me cobra, incentiva, puxa a minha
orelha e surta junto comigo a cada lançamento. Enfim, às pessoas
que trabalham nos bastidores e sempre ajudam quando mais
preciso, a cada livro lançado.
Minha gratidão a todos vocês.
Próximo Lançamento:
 
Livro 4 da série Mansão Eros.
Alexander & Diana
 

 
 

Q
uem é Alexander Ball?
Um criminoso... um
herói? Afinal, seria
Alexander um homem íntegro e bom? Ou seria ele um homem mal,
impiedoso?
Alexander Ball, um homem cheio de mistérios e temido por
todos. Com fortuna incalculável, ele tem negócios em várias partes
do mundo. O proprietário da Mansão Eros, um dominador nato, com
passado nebuloso... nada o abala ou faz com que saia de sua frieza.
Até que a inocente Diana atravessa o seu caminho...
 
Outros Livros da Autora
Desafiados – Um amor para o Mulherengo
Miguel & Rachel
 

Um pai solo mulherengo...


Uma professora de ballet esquentadinha...
Uma menina fofa que quer uma mãe...
Miguel é um homem determinado, um atleta faixa preta do
Jiu-jítsu, que foi pai muito jovem e deixado sozinho para criar sua
filha Sara. Ele não se relaciona seriamente com nenhuma mulher,
pois acredita que não daria certo, já que prometeu que sua filha
seria prioridade sempre.
Ele é um pai dedicado, amoroso e responsável que faz tudo
por sua filha, que é uma menina meiga, inteligente e cheia de amor,
mesmo sendo criada com a ausência da mãe.
Rachel, uma professora de ballet cheia de vida,
independente e muito impulsiva, que se decepcionou com o amor,
então não quer saber de relacionamentos. Ela ama o seu trabalho, e
é nele que conhece Sara, que reconhece em Rachel a mulher que
pode ser para seu pai.
Assim, com uma menina de apenas seis anos conspirando e
fazendo papel de cupido e causando algumas confusões, Miguel e
Rachel se conhecem e começam uma pequena guerra entre eles.
O desejo é forte, mas pode dois corações feridos se
permitirem amar?
O Desafio está lançado.
Um Herdeiro para o Magnata
Livro 1 da série Mansão Eros.
William & Emilly
 

Um homem marcante e experiente...


Uma virgem com vontade de viver...
William Romanov é um magnata da engenharia automotiva.
Um milionário aventureiro que adora sexo. Mas as festas da Mansão
Eros já não despertam tanto o seu interesse, até que um dia, numa
dessas festas ele se depara com uma ruiva misteriosa e tem com
ela o melhor sexo da sua vida.
Porém, ele acorda sozinho, apenas com o aroma da dama
misteriosa entre os lençóis, uma calcinha rasgada e uma camisinha
furada.
Emilly é uma jovem mulher que cresceu superprotegida por
seus pais, que a tratam como uma garota frágil e doente. Ela já não
suporta mais viver em sua bolha de cristal, sendo submetida de
tempo em tempo a sujeitar-se a um médico que lhe causa
verdadeiro pavor.
Então quando tem a oportunidade de ser ousada, não perde
tempo e sai às escondidas. Com ajuda de uma amiga, consegue
entrar numa das festas mais exclusivas e secretas do país. Lá,
Emilly se vê atraída pelo mascarado tatuado de olhos verdes e tem
sua primeira noite nos braços desse homem inesquecível.
Ela só não esperava que uma única noite a deixaria ligada
por toda a sua vida a esse estranho.
Um CEO Inesquecível
Livro 2 da série Mansão Eros.
Heitor & Letícia
 

Um CEO amargurado...
Uma mulher magoada...
E uma menininha fofa que pode curar dois corações feridos...
Heitor Augusto Pigozzi é um CEO poderoso. Apesar de vir de
uma família rica, construiu sua própria fortuna. No passado, teve um
caso com Letícia Xavier, a única mulher que conseguiu mexer com
ele de maneira marcante. No entanto, ao descobrir que ela era, na
verdade, filha de um inimigo de sua família e que o estava usando,
Heitor não pensou duas vezes, expulsou-a de sua vida.
Letícia Xavier é uma mulher doce. Devido a uma ameaça e
um coração partido, decidiu ir embora do país, escondendo do
homem que amava que estava grávida. Agora, ela está de volta, e
precisa lutar para criar a filha sozinha. Desesperada, termina por
aceitar trabalhar na Mansão Eros, pois o dinheiro pago é muito bom,
e assim ela terá tempo de procurar um trabalho mais convencional.
Ela só não esperava reencontrar o pai de sua filha, um dos
frequentadores das festas secretas da Mansão, e muito menos
sentir seu mundo desmoronar apenas por imaginá-lo em tais festas.
Será que Letícia conseguirá resistir a um amor antigo e
esquecer todas as humilhações sofridas no passado?
E Heitor, o que fará, agora que descobriu que tem uma filha?
Uma menininha doce e sapeca poderá amolecer seu
coração?
Descubra em Um CEO inesquecível e embarque nessa
aventura...
 
Série Felizes para Sempre
 
Uma série que pode ser lida de forma independente e conta a
saga de quatro amigas, onde cada uma conhece o amor de suas
vidas, que são homens dominantes, generosos e apaixonantes...
 
 

 
 
Desvenda-me
 

Ele é movido pela razão.


Ela é toda emoção.
Benjamin, o CEO de uma das maiores empresas petrolífera
do Brasil, dedica-se totalmente ao seu trabalho, é um homem
sistemático e controlador. Carrega uma aura de austeridade e
mistério. Ele já tem sua vida toda planejada, até o dia que em um
acidente de trânsito se depara com Eva, uma garota totalmente
diferente dele. Cheia de vida, sonhos e bastante desastrada, Eva é
capaz de destruir a ordem perfeita de sua vida.
A atração entre os dois é inevitável e Benjamin sente que
deve evitá-la, mas não consegue controlar seus sentimentos, ainda
mais quando a moça começa a dar sinais de que também está
rendida.
Porém, nem todos ficam felizes com o casal, e alguém decide
se interferir na relação deles. O que pode tanto unir seus destinos
para sempre quanto afastá-los de uma vez por todas.
 
 
Um CEO em meu Destino
 

 
Noah Gerard é um CEO poderoso, mas também um homem
frio que carrega consigo grande amargura desde que ficou viúvo.
Ele não confia em ninguém, e tudo piora quando sua mãe se
intromete mais uma vez em sua vida. Um grande mistério ronda o
seu passado, e ele quer se vingar das pessoas que o lesaram.
Aurora é uma órfã criada pelos tios, que só ficaram com sua
guarda por causa de sua herança e nunca a amaram como merecia.
O caminho dos dois se cruza, e Noah pensa em usar tudo o
que estiver ao seu alcance para atingir seus objetivos, inclusive
Aurora.
Será que ao conviver com ela seus objetivos poderão mudar?
Conseguirá o amor curar a mágoa de um homem?
Descubra em Um CEO em meu destino.
 

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