Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Nos reunimos na mesa para jantar assim que Tereza e Matilde liberam
os pratos principais. Isis fica ao meu lado o tempo todo, Lorenzo e Bruna
sentam logo à minha esquerda, enquanto Domenico e Júlia a nossa frente, e
Nicolo com Sofia ao lado deles.
A comida parece animar nossos ânimos, logo esqueço da conversa que
quase botou em pauta a época difícil que foi Melissa enfrentando o câncer, e
conforme vamos comendo e conversando, Isis vai ficando mais à vontade,
para o meu grande alívio. Ou talvez seja o vinho branco que tomamos para
combinar com os frutos do mar e queijos macios ali disponíveis.
— É sério! — ela exaspera quando Lorenzo não acredita que dou
banho em Oli. — Juro que essas mãos são muito delicadas na hora de dar
banho em Oli.
“É, elas podem ser boas para muitas coisas, Isis.”
— O que mais ele faz? — Júlia se inclina curiosa, todos eles estavam.
— Tudo. Oliver é um pai presente em todos os afazeres, e não digo
isso só porque ele está aqui do meu lado.
As meninas riem disso.
Isis tem se mostrado divertida e eu adoro isso.
— Na verdade, ainda é difícil acreditar que Oliver seja pai —
Lorenzo comenta. — Foi o que ele sempre quis, mas estamos bem mais
acostumados ao homem implacável que comanda todo um império do
agronegócio, sendo evasivo e um chato.
— Agora ele está aí, trocando fraldas e sendo sujo por você sabe o
quê — Dom ressalta este segundo ponto na minha direção; ele está por
dentro dos últimos problemas de refluxo que Oli teve.
— Eu posso ser um cara normal, seus idiotas — me defendo.
— Ah, não. Eu sou uma garota normal, Oliver. — Isis enfatiza.
— O que você fazia mesmo em Blumenau, Isis? — Bruna pergunta.
— Na verdade, eu ainda trabalho como professora de jardim de
infância, só estou afastada por causa da licença maternidade.
Sofia se engasga com o vinho.
— Você é professora de jardim de infância? — pergunta abismada e
rindo desdenhosa logo em seguida.
— Algum problema? — Isis a desafia.
A namorada de Nicolo dá de ombros.
— Não, problema nenhum. Mas achei que os padrões de Oliver
fossem bem altos — debocha.
Me preparei para dar uma resposta, mas é Isis quem toma frente,
apertando a minha coxa inesperadamente por debaixo da mesa. Um toque
para me conter, mas que me deixa louco. Ela fica tão determinada a revidar,
que mal percebe o quão aquilo foi tentador e quente.
— É uma pena que eu tenha 1,60 metros então — Isis rebate de um
jeito divertido, além de mostrar que não se abalou pelo comentário de Sofia.
Ao seu lado, eu deixo uma gargalhada sair do fundo da minha garganta.
Essa mulher é demais!
Meus amigos e as meninas também riem da resposta de Isis, eles a
adoram.
— Desculpa, querida, mas se você é tão baixinha assim, então você
está sim nos padrões de Oliver Giordano — Nicolo comenta.
Isis estreita os olhos em sua direção e balança a cabeça negativamente.
— Por que estamos falando disso, mesmo? — pergunta.
— É, eu também quero saber — revelo curioso, mas confesso estar
gostando, faz parecer que Isis e eu já tivéssemos algo, e que já tenho meio
caminho andado para cumprir com o que Melissa me pediu.
Passo um braço por cima do encosto de Isis, mas queria mesmo era
estar com o braço envolta dela, acariciando seu ombro, fazendo sua pele se
arrepiar numa promessa caliente do que eu queria fazer, enlouquecê-la.
— Vocês são os pais de Oli, então me digam o que está faltando —
Bruna diz como se aquilo fosse uma charada.
A verdade é que eu já sei o que significa, Melissa me deu a resposta
antes que todos pensassem a respeito.
— Por falar em Oli — Domenico comenta e ao fundo, a babá
eletrônica não revela um choro, mais sim, barulhinhos despertos.
Isis levanta no exato segundo, mas Dom a impede.
— Tudo bem, eu vou lá. Fiquem e divirtam-se, vocês merecem.
Não o contrariamos, até porque Domenico quase não tem tempo com o
sobrinho. Mas ele sobe, e uma expectativa fica pairando sobre nós. Eu, mais
especificamente, fico ansioso por este momento.
Sempre sonhei com o dia em que eu apresentaria todo orgulhoso um
filho meu aos meus amigos, que alegraria nossos encontros. Por um tempo,
achei que isso não aconteceria mais, até Isis surgir com Oli.
E quando Dom começa a descer a escada, suspiros preenchem o
cômodo, além de sorrisos bobos. O meu eterno cunhado vem mostrando Oli
como se ele estivesse no alto de um pedestal. Isis e eu sorrimos orgulhosos.
“Melissa está sempre certa”, penso.
E ela acertou que seria possível eu ser feliz mais uma vez, partindo do
ponto onde eu descobrisse que tenho um filho.
Isis e eu decidimos deixar aquele momento todo para Oli, onde é
paparicado por pessoas que eu sei que terão amor e afeto o suficiente para
ele.
— Que coisa mais preciosa — Júlia diz fascinada.
Daria tudo para ver o que se passa na mente dela agora. Como uma
grande amiga de Melissa, talvez Júlia estivesse pensando em como Oli seria
amado profundamente pela minha falecida esposa.
— Meu Deus, ele é a cara do Oliver. Faltou só a barba — Lorenzo
comenta.
— Não acho — Sofia contraria. — Sei lá, para mim bebês são todos
iguais.
— Olha esse nariz! — Bruna protesta. — Como você não pode achá-
lo parecido com Oliver?
— Bem, ele tem a boca de Isis — digo, o tanto que já observei aqueles
lábios, tenho propriedade para falar isso.
Percebo que em um movimento involuntário que ela morde seu lábio
inferior, e como todos estão distraídos com Oli, aproveito para deixar que o
meu polegar contorne a curva do seu ombro e desça sutilmente pela sua
lombar.
Ela estremece, e me olha surpresa demais, porém, não assustada a
ponto de me fazer recuar.
Sorrio e ela retribui.
Estou animado para saber onde isso vai terminar. E por isso, desejo
que este jantar termine o mais rápido possível.
Todos já conheceram Oli, mesmo.
Mas parece que a situação não está a meu favor. Com Oli desperto e
no meio de pessoas novas que só sabem paparicá-lo, a noite parece que não
vai terminar nunca.
Depois do jantar, voltamos para os sofás de novo, e as meninas ficam
sobre o tapete confortável com Oli, brincando e brincando. Risadas
preenchem a minha casa, que há anos parecia tão vazia desde que Melissa se
foi. E pela primeira vez, parece que tudo voltou a ganhar cor.
— É muito bom te ver feliz de novo, cara — Domenico diz quando o
chamei para ir até a adega comigo e pegar mais vinho para as meninas.
Nós, homens, estávamos bebendo uísque.
— Fazia um tempão que eu não via você gargalhando ou sendo
tão... Você.
Dou a ele um sorriso afetado enquanto abro a porta de vidro da adega
que fica ao lado do bar.
— Melissa estava certa sobre o bebê. Ele está fazendo toda diferença.
— E a Isis? Vocês parecem estar se dando bem.
Finjo estar procurando o vinho, que já encontrei, mas fico ali
enrolando para ganhar tempo com a conversa.
— Gosto dela. É como se o espírito de Melissa estivesse aqui, mas de
um jeito diferente.
— Que bom que pensa desse jeito. É importante que vocês criem um
laço, justamente para dar a família que Oli merece. Ou a família que você
sonhou em ter um dia.
— Oli está em boas mãos, Dom. Ele aqui é tudo o que eu precisava.
Você sabe, ser pai é algo que eu sempre quis depois de ter encontrado a
mulher e o emprego dos meus sonhos.
Ele assente e então pego o vinho, achando que tínhamos acabado ali.
No entanto, Dom muda o peso dos pés e cruza os braços, sua expressão
agora é um tanto reflexiva.
— Lembro que quando Melissa estava acertando tudo ainda e
precisando da minha ajuda, ela falava muito sobre a possibilidade de você e
Isis terminarem juntos.
Aperto o gargalo da garrafa com força para que ela não deslize da
minha mão.
— Ela dizia que seria a melhor coisa a acontecer — ressalta, mas
então me observa com cautela e solta um suspiro exausto. — E
sinceramente? Até três meses atrás eu duvidava muito que isso fosse
possível, você vivia para o trabalho, sempre tão astuto e sério em tudo o que
faz. Mas nesta noite, eu me surpreendi muito, Oliver.
Franzo o cenho profundamente para ele.
— Eu não sabia que estava sendo estudado — exclamo surpreso.
Dom dá de ombros e caminhamos de volta para a sala, sem muita
pressa.
— A gente percebe a diferença. Você está mais relaxado, mais
sorridente e tem esse brilho nos seus olhos toda vez que a Isis diz alguma
coisa.
Acho graça, essa é nova.
— Brilho nos olhos, é? — repito, mas logo fico sério quando reflito
melhor sobre o que isso significa, e penso alto: — Ela é demais! Não sei se
é porque eu tive pouco contato com outras mães, mas tudo o que Isis faz pelo
Oli me fascina. E ela é tão inteligente e gentil, mas que adora me enfrentar
mesmo quando estou sendo um insuportável.
— E se Melissa estiver certa? Talvez vocês devessem ficar juntos.
Olho para ele incrédulo.
Não é a primeira vez que um dos meus amigos toca neste assunto. Mas
Domenico alarga um sorriso e dou palmadinhas em meu ombro.
— Relaxa, cara. Sei que deve ser difícil para você precisar abrir este
coração solitário de novo.
Quando chegamos à sala, meus olhos batem automaticamente em Isis.
Ela já tirou os sapatos, tudo para ficar mais confortável enquanto brinca com
Oli sobre o tapete. Embora eu tenha concordado, meus sentimentos sempre
estiveram dispostos a tentar, mas o tempo nunca foi meu aliado.
Eu sabia que deveria tentar por mim, por Melissa. Deixá-la "ir", seria
algo que ela aprovaria, mas o luto é um processo de adaptação lento para
aqueles que amaram com toda sua vida.
Quando Melissa se foi, levou muito de mim.
Mas dois anos, foi o tempo que ela cogitou ser o suficiente; embora eu
não soubesse quando eu deveria começar a tentar. Melissa deixou claro que
a partir de agora, seria um bom momento.
Eu não esperava que toda essa experiência fosse ficar tão intensa, a
partir do momento que precisei dividir a cama com Oliver.
Quando ele confessou se sentir atraído por mim, foi tão surreal que por
um momento achei que, se eu dissesse a verdade, talvez eu caísse na real e
finalmente percebesse as coisas que estavam acontecendo bem debaixo do
meu nariz.
É claro que um tempo depois, já a noite quando ele dormiu ao meu
lado, só então me dei conta da proporção que nossas palavras tiveram.
No silêncio da noite, aquela declaração era a única coisa gritante entre
nós dois, nos esmagando como uma massa densa de puro prazer.
Era possível sentir, sim.
Sou jovem, mas não tola.
Sinto que Oliver está se segurando ao extremo, percebo as suas
escapadas para o banheiro onde toma um banho demorado, homens são
homens, e eles se tocam.
Eu não tenho tido muita chance.
Na verdade, nunca tive muito sucesso com isso, e me preocupo. Me
preocupo porque talvez não atenda todas as expectativas de Oliver. Ele tinha
razão quando disse certa vez, que eu sou apenas uma menina e com falta de
experiência
Mas posso culpar o meu antigo relacionamento desastroso.
Eu nem sabia o que estava fazendo da minha vida naquela época, eu só
queria estar com alguém. E para completar, quando fomos visitar meu pai em
Blumenau, Muriel veio com a história de que estou apaixonada.
“Calma, aí!”
É bem provável que eu acabe apaixonada mesmo, mas não nesse
pouco tempo, não quando Oliver e eu temos muitos assuntos técnicos a
resolver, como a mudança dele para o nosso quarto, por exemplo.
Sério, é difícil pensar nas coisas que sinto quando aquele homem está
deitado ao meu lado e tudo o que eu quero é colocar a cabeça no seu peito e
no mínimo, passar a noite toda sentindo seu cheiro incrível.
Pelo menos Oliver veste o conjunto de pijama agora que dorme junto
comigo, até ele sabe que é muita tentação para resistir.
A minha sanidade agradece.
E felizmente, há mais motivos para comemorar do que reclamar. Nem
sei por onde começar, mas Oliver tem mesmo se esforçado em fazer cada dia
perfeito, começando por aí.
Ele me dá a liberdade de me dirigir como a mãe de Oli, além de podê-
lo chamar de filho.
Confesso que quando ninguém estava vendo, eu desabava em choro. Só
Deus sabe o quanto fiquei deprimida por pensar que eu nunca poderia
chamar Oli de filho, ou dizer que eu sou a mãe dele. Mas Oliver deu carta
branca e eu não poderia ir contra isso.
Outra coisa que aconteceu que era bom demais para ser verdade, foi a
nossa visita ao meu pai, onde revelamos toda a verdade por trás da minha
gestação e do fato de Oliver nunca ter dado as caras.
Meu pai é das antigas, foi um pouco difícil para ele entender, mas não
impossível; logo Oliver e ele já estavam superamigos, conversando sobre
tudo.
Agora iremos recebê-lo neste final de semana.
Querem mesmo me matar do coração, porque mal consigo conter a
ansiedade e entusiasmo para esse dia. Pelo menos aquela segunda havia sido
tão agitada, que a segunda noite com Oliver e eu dividindo a cama não foi
tão tensa assim; talvez porque ele tenha demorado para vir para a cama...
Não sei, mas ele parecia tenso demais.
Alguma coisa havia acontecido e o chateou.
Coincidentemente, ou não, em plena terça-feira não encontro nenhuma
das funcionárias de Oliver perambulando pela casa. O que não faz diferença
nenhuma para mim, pois elas nunca me trataram com respeito e educação,
sempre reviraram os olhos para mim e faziam uma cara de nojo. Elas nunca
cogitaram esconder o quanto me odeiam e por alguma razão, elas não estão
aqui nesta manhã.
Quando chego para tomar café da manhã, não resisto em perguntar a
Oliver, que dá uma mordida em seu sanduíche natural, o finalizando.
— Oi, bom dia. Onde estão as suas funcionárias? — Sento de frente
para ele, do outro lado da mesa.
— Bom dia. Elas foram dispensadas — revela com naturalidade, mas
não consigo evitar a surpresa.
— O que houve?
Oliver solta um suspiro, parece muito estressado para um dia que
acabou de começar.
— Eu explico mais tarde, quando sairmos para jantar.
— Sair para jantar?
“Meu Deus, é um encontro”, penso.
— Acho que precisamos disso, não é? Só nós dois — pergunta ao se
levantar, tentando ao máximo não transparecer demais alguma coisa que eu
não deveria notar.
— É, acho que sim.
Ele contorna a mesa e deposita um beijo no topo da minha cabeça.
— Estou realmente ocupado hoje, Isis. Mas qualquer coisa não hesite
em me ligar, você e Oli são prioridades para mim — discursa enquanto veste
seu paletó.
— Tudo bem.
Ah, como meu coração fica quentinho com essas declarações dele.
Preciso fazer muito esforço para não sorrir feito uma boba ou ruborizar. Mas
Oliver está tão atarefado mesmo, que ele mal tem tempo de olhar para trás
quando recebe uma ligação e sai às pressas.
Não sei por que, mas acho isso tão sexy.
Nunca fui ou gostei de pessoas acomodadas, é por isso que me irrito
quando sou impedida de fazer coisas simples.
Odeio ser relaxada, ainda mais sabendo que terei o dia todo livre.
Pelo menos antes, quando Oliver estava de home office, eu conseguia
me manter ocupada o dia todo. Oliver sempre encontrava alguma coisa para
fazermos com Oli, mas desde que voltou a ir para o escritório, tem sido
solitário, e acho até mesmo que o nosso filho tem notado isso.
“Nosso filho.”
É tão estranho, mas fico muito feliz em ter ganhado a liberdade de
falar estas palavras, “Oli é o meu filho e eu sou a mãe dele.”
Matilde me chama para conversar assim que volto do passeio, que foi
mais rápido do que eu esperava.
Falta poucas horas até que Oliver chegue, então está só nós quatro na
mansão, Matilde, Jorge, Oli e eu. É estranho que a mansão fique sem as
outras funcionárias, pois ela fica, de fato, vazia.
— Acho que você já percebeu que as funcionárias foram dispensadas
— diz evitando “o senhorita”, que costuma usar apenas na presença de
Oliver para causar uma boa impressão. — O senhor Oliver não pensou duas
vezes quando ele as flagrou sendo desleais a ele, ao não cumprirem o
combinado, onde todos deveriam oferecer um bom tratamento a você.
Pisco diversas vezes, pois mal sei o que falar.
Matilde continua ao perceber que estou visivelmente chocada com
tudo aquilo.
— Embora tenham agido com maledicência, aquelas mulheres são
mães de família, e os serviços que ofereciam a Oliver sempre ajudaram a
darem uma vida melhor para as suas crianças. Eu poderia ter freado todos
esses comentários antes que se tornassem uma bola de neve e acontecesse o
que aconteceu, mas...
A interrompo.
— Mas a senhora me considerava uma intrusa, usurpando o lugar de
Melissa, não é mesmo? Sei que nutria um enorme carinho por ela, assim
como eu. A Melissa se mostrou minha amiga de um jeito que mais ninguém
fez antes, eu jamais tentaria substituí-la, mas eu mereço respeito como
qualquer pessoa e é só o que eu peço. Sei que não posso pedir que gostem de
mim, mas viver em um ambiente em que se é detestada não é fácil. Apenas
respeito é o que eu peço.
A governanta parece surpresa com as minhas palavras, pois como eu
disse, ninguém está pronto quando o rostinho bonito e meigo, se torna um
furacão. E para defender a minha dignidade, sei exatamente onde enfiar as
minhas garras.
— Por que me procurou, Matilde? — pergunto quando ela continua em
silêncio. — Vir atrás de mim nunca foi uma opção para você.
Ela tenta disfarçar o incômodo mantendo a postura rígida, mas logo me
responde:
— Preciso que você converse com o senhor Oliver e o convença a
mudar de ideia.
— Então você precisa da minha ajuda? — recapitulo o que ela quis
dizer, porque seu orgulho não a deixava confessar isso.
— Isso, mas apenas se puder. Sei que ser alvo de fofocas e reprovação
podem impedi-la de querer fazer isso. Ninguém poderá censurá-la e...
Não quero ouvir essas desculpas agora, como se ela de fato se
importasse com o que eu sinto.
— Eu conversarei com ele no jantar hoje à noite. Vou fazer o melhor
que eu posso, mas não sei se meu pedido poderá reverter a situação, dona
Matilde. Acho que pode estar superestimando o quanto minha opinião é
importante para o senhor Oliver.
Ela concorda.
— Agradeço, senhorita Isis, mas acredite em mim, não estou
superestimando seu poder de persuasão. Talvez só você não tenha percebido
isso ainda. Eu conheço o senhor Oliver há quinze anos e nunca o vi defender
ninguém como vi na noite passada.
Fico séria, pois preciso manter a postura de inabalável quando ela
consegue tocar num ponto que me tira o fôlego.
“Oliver jamais defendeu alguém como ele me defende.”
Por que estou vibrando e gritando com isso internamente, mesmo?
Só sei que preciso sair do campo de visão dela para refletir sobre isso
melhor, pois já me bastava Muriel no meu pé dizendo o quão apaixonada por
Oliver eu estou.
E sinceramente?
Se continuar desse jeito, talvez nem demore.
Mas são sentimentos mistos.
Não sou nenhuma irreverente e impassível, e o que Matilde diz me
toca profundamente, por isso sei que eu deveria tentar alguma coisa, que ao
menos Oliver não as desamparem, ou que desse uma segunda chance. Mas
também não sei se eu aguentaria conviver sob o mesmo teto com pessoas que
eu sei que não me suportam.
Essa situação precisa ser resolvida, ou ao menos ser pensada com
mais calma. Sinto que devo isso, mesmo que tenham perdido o emprego
indiretamente por minha causa. Pelo menos Matilde me deu a segurança de
que Oliver confia em mim, e o quanto pode fazer as minhas vontades.
Sendo isso ou não, terei que tentar.
Oliver me deixa um vestido novo sobre a cama, está até com a etiqueta
da loja ainda. Ele quer que eu saiba que foi um presente e que acabou de
comprar.
A peça é tão bonita, com ótimo gosto, que me pergunto se foi ele
mesmo que escolheu, ou se contratou alguém para isso.
Mas devo lembrar de suas palavras, seria uma honra para ele escolher
a dedo presentes para mim. Oliver ama presentear alguém importante,
pessoas que gosta. Isso pode significar tanta coisa, mas ele quer que eu
esteja excepcionalmente bela esta noite.
O vestido é na cor vinho, de cetim e plissado. Tão elegante, sensual e
romântico, o que só fertiliza a minha imaginação sobre aquilo ser um
encontro. Preciso me arrumar cedo, antes mesmo da babá chegar. Já deixei
tudo pronto para Oli, e devo lembrá-la de todas as coisas que não pode
hesitar em fazer, mas perco o sentido de tudo quando estou descendo para o
vestíbulo da mansão.
No meio do caminho, no pé da escada, a minha espera está Oliver, tão
lindo e exuberante.
Acho que não posso com sua magnitude masculina, mas é exatamente
ela que me atrai até ele.
Desço degrau por degrau, até estar de frente para ele, com os olhos
vidrados nos dele, porque se eu vacilar por um segundo e olhar para baixo,
perco tudo.
Ele naquela roupa social, com o chamativo relógio de ouro brilhando
em seu pulso, o cheiro instigante da sua loção pós-barba e do cabelo negro
escovado.
Aí, nem sei o que pensar!
Estou tão sem palavras quanto ele, mas Oliver tem mais autocontrole,
e por isso, sorri.
— Eu nunca vi olhos tão expressivos quanto os seus, Isis Mancini —
declara com a voz aveludada, que desliza por dentro de mim.
— Não sei o que eles podem estar expressando, senhor Oliver. —
Tento devolver no mesmo tom, mas soou apenas como uma garota submissa,
o esperando me dar algo.
Ele pega a minha mão direita e deposita um beijo ali.
— Eles estão querendo a mesma coisa que eu.
Arfo.
Não parece ser nenhuma surpresa, mas é surreal que este homem esteja
de fato, jogando charme para mim.
— Então me diga o que você quer — ordeno e ele sorri de lado.
Atrás de Oliver, Matilde abre a porta e uma mulher quase da idade
dela chega, maravilhada demais com a mansão.
É a babá.
— Espero não ter que contá-la, mas sim, mostrá-la.
Aquilo soa como a promessa de algo irresistível.
Nos encaminhamos em direção a porta da garagem, mas não sem
falarmos com a babá primeiro.
Passo todas as informações a ela, Oli ficou dormindo e em algumas
horas acordará com fome e querendo brincar.
Oliver pede para ela e ninguém ali hesitar em ligar, caso alguma coisa
aconteça.
É o nosso primeiro vale night desde que Oli nasceu.
É a primeira vez que saímos e não o levamos. A sua ausência é notória
e quase como uma lacuna nos primeiros minutos, mas Oliver foi esperto. Ele
escolhe o seu Porsche cinza, onde nunca andou comigo ou com Oli; o carro é
elegante e luxuoso, mas com apenas dois lugares, e se mostra uma
verdadeira máquina potente quando desliza rápido pelas ruas de
Florianópolis. É tão intimidador, mas tudo aquilo me deixa excitada, não vou
negar.
Começo a querer o peso da mão de Oli sobre a minha coxa, deslizando
para baixo cada vez mais até encontrar minha intimidade, que queima por
ele.
Ah, Deus!
Tento me concentrar com a música que toca na rádio, mas até isso
parece fazer parte de um plano maquiavélico para me deixar tão lasciva.
Fico muito envergonhada quando Oliver percebe algo de errado
comigo, e deixa para perguntar quando paramos no segundo sinal vermelho.
— Você está bem? Parece inquieta.
Pisco e balbucio enquanto penso numa resposta decente.
— Não estou acostumada a carros tão velozes. — É uma meia
verdade.
— Mas está curtindo? — Seu polegar acaricia sutilmente a ponta do
meu queixo, e olho profundamente para ele. — Você parece tensa — comenta
baixando agora os seus dedos em direção ao meu ombro, o massageando.
— Faz tempo que não saio assim com alguém, principalmente alguém
como você.
— Como eu? — repete se inclinando para mais perto, embora o
interior do carro fosse tão estreito, que estivéssemos perto um do outro o
suficiente. — O que tem um cara como eu, Isis?
Respiro fundo.
Meu nome em sua boca soa tão sensual, que meu corpo não aguenta.
— Ah, você sabe... Rico, alguns anos mais velho...
Eu não ia dizer o resto, porém, Oliver me deixa sem chão ao
completar:
— Porque eu sou GG? Gato e gostoso... Impossível de resistir? —
sibila aquelas palavras tão familiares para mim, e que ao ver pelo seu rosto,
ele sabia que eu sabia de onde elas haviam saído.
Meu pai do céu!
— Você... Você estava ouvindo a minha conversa com Muriel! —
exaspero e ele acha graça.
— Talvez algumas partes, como essa — confessa sem medo e fico com
vontade de enterrar a minha cara em algum lugar. Ele percebe isso, pois tenta
me confortar: — Não se preocupa, eu gostei.
Sorrio desdenhosa.
— É claro que gostou. Quem não gostaria de ser um GG?
Céus!
Eu mataria as minhas amigas do ensino médio por ter me ensinado essa
sigla safada!
— Você é uma GG? — pergunta e fico em silêncio, tempo suficiente
para o sinal voltar a ficar verde.
Oliver volta a dirigir, sem ainda ter a minha resposta.
Fico acanhada, acho que nunca fui de fato explorada como mulher.
Meu antigo namorado era um banana, nem sexo oral em mim ele gostava de
fazer.
Meu Deus, como Oliver riria de mim ao saber disso!
Ou talvez, ele sentisse tanta pena que resolvesse me dar as melhores
experiências.
Será que ele faria mesmo isso?
Às vezes o acho tão longe da minha realidade, que todas as coisas que
me diz parece um monte de ilusão.
Quando chegamos ao restaurante francês que ele me leva na área nobre
da cidade e me ajuda a sair do carro, Oliver diz baixinho:
— Eu acho que você é uma gata. Mas seria muito imprudente chamá-la
de gostosa, se nunca a provei antes.
Em meio a noite fria, arfo e minha espinha se enrijece.
Um tempo atrás, eu não entenderia o motivo de suas palavras, mas
logo depois que confessamos sentir atração um pelo outro, foi a abertura
suficiente para este tipo de conversa e não estou incomodada. Na verdade,
até gosto.
— Achei que não precisava ser no sentido literal da palavra.
— Eu gosto de tirar prova de tudo que qualifico, Isis.
Aceno.
Droga, o que eu poderia falar?
— Ah, parece justo. — É horrível o que digo, mas é o melhor que
consigo.
Talvez as palavras de Oliver reflitam muito no lugar em que ele me
leva, pois o restaurante é cinco estrelas, e ele já havia reservado uma mesa
para nós dois, no melhor lugar possível.
O ambiente é chique, muito refinado e toda a decoração faz parecer
que estamos com um pezinho na França. Para dar mais credibilidade,
o sommelier tem sotaque francês, e parece conhecer Oliver, que pede o
melhor vinho do restaurante.
Tento fingir costume, mas é difícil.
Nunca estive em um lugar tão chique quanto este. Todo mundo ali
parece ter uma vida perfeita, e nem se importa em gastar tanto num prato só.
Oliver tenta me relaxar quanto a isto e pede para eu curtir. É o que
faço, até porque ele tenta me distrair de todas as formas até que eu me sinta à
vontade, e eu sempre admirei os seus esforços. Mas depois da segunda taça
e da entrada com bolinhos de carne e pães assados com ervas, já até esqueço
do lugar.
A presença de Oliver faz tudo parecer único e perfeito, e é nisso que
eu me agarro.
Conversamos sobre tudo.
Descubro que ele e os amigos estudaram juntos em um internato
italiano, e que Oliver assumiu a Giordano S.A quando tinha apenas 29 anos.
Foi um desafio em tanto para ele.
Seu primeiro emprego foi na mecânica de um tio distante, só para
saber como era a área administrativa. Foi aí que ele percebeu que era
melhor liderar do que ser subordinado.
Melissa foi a sua melhor amiga, antes de ser a sua namorada e futura
mulher.
Por alguma razão, é mais interessante ouvir sua história de vida do que
falar da minha. Acho algo excepcionalmente dramático para ter que abordar
num jantar como esse.
Claro que ter perdido os pais e a mulher não é nada convencional, mas
não quero ter que mudar o ritmo da conversa para as coisas chatas que
aconteceram na minha vida. Por isso, mudo o rumo para algo curioso e que
interessa a nós dois.
— Fiquei sabendo o que aconteceu com as funcionárias, Matilde me
contou.
— Ela foi bem rápida, não esperava que fosse atrás de você —
argumenta após um longo gole em seu vinho.
— Eu também não. Mas que bom que foi — alego e ele me olha de um
jeito especulativo. — Aquelas mulheres precisam do trabalho, Oliver. Elas
têm família para criar e estão há tanto tempo trabalhando para você...
Ele me interrompe logo em seguida.
— Deveriam ter pensado nisso antes de se comportarem daquela
maneira. Imagino que seja Matilde a implantar essas ideias na sua cabeça,
não é?
— Não preciso de pessoas me influenciando para tomar as minhas
próprias decisões — me mantenho firme e ele me escuta. — Se eu resolvi
tocar neste assunto com você, é porque concordo com ela. Você deveria
reconsiderar e chamá-las de volta.
Oliver me avalia cautelosamente.
Sei o que ele está pensando.
Ele se encosta na cadeira e torna a sua expressão impassível diante da
minha firmeza.
— Está certa desta decisão, mesmo sabendo que elas foram demitidas
porque foram flagradas falando coisas horríveis de você? — Ele parece
impaciente, mas a sua pergunta tinha um propósito além da resposta óbvia.
— Não sou eu quem tomo decisões aqui, eu não sou a chefe. Mas tenho
princípios, Oliver, e são os mesmos que levo para a sala de aula. Eu não sou
melhor que ninguém, e ninguém é melhor que eu, mas eu sempre estenderei a
mão aos que necessitam — friso com determinação aguçada.
O CEO implacável não fala nada pelos próximos segundos, parece
pensar com afinco em minhas palavras e me pergunto se Matilde tinha razão,
afinal.
Quanto poder de persuasão eu tenho sobre Oliver?
Será que estou num nível de prioridade tão grande, que ele prefere
considerar a minha palavra, do que a dele?
Sou puxada desses pensamentos quando ele chega a uma conclusão.
Oliver volta a se inclinar para mais perto da mesa, diminuindo a
distância entre nós.
— Eu não esperava por isso, Isis. Ao mesmo tempo que não entendo,
acho uma bela atitude sua, e que me faz admirá-la mais ainda. Pode ter
certeza que irei pensar melhor no assunto — declara e me sinto aliviada,
dando até mesmo um sorriso triunfante.
— Obrigada, isso significa muito para mim — ressalto.
E significa mesmo.
Elas poderiam estar falando de mim e foram demitidas por isso. Entrei
ali subitamente, embora eu não entendesse os xingamentos, entendia a
confusão e incompreensão que lhes rondavam. Por isso, acredito que elas
merecem uma segunda chance.
Mas Oliver não facilita as coisas.
— Porém... — ressalta mais sério e acho que podia ser algo grave. —
Quero dormir abraçado a você hoje à noite.
— O que? — pergunto de imediato, expressando o meu espanto.
— Você está linda demais, tem uma personalidade incrível e vai ser
horrível para mim ter que me deitar na mesma cama que você esta noite e
não poder dormir, nem sequer, sentindo o seu cheiro — declara com ternura.
O meu sangue congela.
Por essa eu não esperava!
Eu podia esperar qualquer reação de Oliver, menos essa, onde ele se
mostra mais atraído por mim, mal podendo retrair suas vontades, as
transformando em barganhas que não poderia negar pelo simples fato de ser
tão tentadora.
— O que você me diz?
Eu queria dizer que para isso, não precisava ter acordo nenhum.
Eu dormiria abraçada a ele, sem me propor nada em troca.
Mas, putz!
Como isso poderia exatamente terminar?
As coisas ficaram bem quentes a caminho do restaurante, nada seria
diferente de volta para a mansão. Talvez a tensão fosse o dobro, agora, pois
fico imaginando seus braços envolta de mim.
— Ok, Oliver Giordano. Você pode dormir agarradinho comigo hoje.
Não recuo e isso o deixa feliz.
Mas confesso que também fico.
Como prometido, Oliver sobe para nos encontrar logo depois que
Lorenzo vai embora. Ele me avisa que precisará viajar para o Paraná logo,
por conta de negócios, mas também não fala mais do que isso, nem por
quanto tempo irá ficar.
Como ele já está estressado demais, acho que é justo deixá-lo curtir o
filho, que está alegre com a presença do pai. Eles brincam com o xilofone
que Nicolo deu, fazendo toda a sua intenção maléfica ir pelo ralo. Oliver já
está até pensando em comprar uma mini bateria também.
No jantar, conversamos mais sobre como foi o nosso dia. Eu como
sempre, só dedico meu tempo a Oli, e isso faz com que Oliver tenha uma
ideia, mas que ele não me conta até que estejamos de fato, disponíveis para
isso. Também nem nos apressamos, é tão bom ver Oli em sua cadeirinha de
balanço brincando com o móbile que faz barulho conforme ele aperta. Nós
dois conseguimos achar a coisa mais engraçada do mundo, principalmente
porque Oli fica frustrado muito rápido.
Não consigo entender como Lorenzo disse que bebês podem ser um
atraso, de um jeito ruim.
Bem, no início filhos podem ser uma coisa complicada, mas é fofo e
uma companhia que vale à pena. Digo isso baseado nas coisas incríveis que
tenho vivido com Oli, aprendo tanta coisa com ele.
Uma delas, é que quando ele dorme, o momento de ócio é a coisa mais
deliciosa que pode existir. Principalmente quando se é convidada para
assistir um filme com o homem que você tanto deseja.
— Você tem uma sala de cinema em casa? — pergunto quando Oliver
me conduz para uma área da casa onde nunca estive antes.
— Bem, você vai descobrir que não é uma sala de cinema de verdade,
mas pedi para deixarem o mais próximo de uma.
— Eu não duvido de que conseguiram — comento.
E realmente, Oliver tem uma sala de cinema na sua casa.
O cômodo é imenso, com três fileiras de sofás grandes que dão
facilmente para ser usados como camas. Todo o ambiente é revestido com
paredes acústicas, meia-luz e um telão enorme na parede que vai do chão ao
teto.
Oliver liga o ar-condicionado e me convida para sentar ao seu lado no
sofá da segunda fileira.
— Eu não sabia da existência dessa sala — revelo ao me sentar, ainda
maravilhada.
— Não tem graça alguma usá-la quando se é um homem sozinho.
— Mas você tem amigos para fazer companhia a você numa sessão —
desdenho.
Oliver revira os olhos e me puxa junto com ele para mais perto do
encosto, nos deixando quase deitados. Ele passa o braço por mim quando
liga o telão.
— Acontece que não é legal assistir um filme com um bando de
marmanjo. Eles trariam, no mínimo, suas mulheres, e eu acabaria sozinho.
Então eu prefiro a sua companhia do que a deles — dispara de uma forma
engraçada que me fez rir.
— E como você sabe que sou uma boa companhia para assistir um
filme? — pergunto baixinho, como se estivesse lhe contando um segredo.
Oliver me olha desacreditado.
— E se eu for a pessoa que dorme durante o filme?
Ele desaba.
— Ah, não, Isis.
Gargalho, pois a cara que Oliver faz é impagável.
— Estou só fazendo uma suposição.
Ele fica me avaliando, como se quisesse encontrar algum vestígio de
mentira na minha fala, mas ele toma outra atitude.
— Quer saber? Você escolhe o filme. — Deixa o controle na minha
mão. — Assim, você irá escolher algo que seja tão legal para você e não irá
dormir.
Olho para o controle e então para ele. Parece uma decisão inteligente,
mas agora as posições mudam.
— E se você dormir porque acabei escolhendo um filme chato? —
pergunto.
— Eu confio no seu gosto.
— Mesmo que eu escolha um filme romântico dos anos 2000? Tipo,
Um Amor Para Recordar?
Oliver me olha como se eu tivesse falado uma baboseira.
— Não apela, Isis.
— Você deixou o poder em minhas mãos. — Balanço o controle e uso
a chantagem. — É isso ou então acabo dormindo.
Seus olhos piscam lentamente, pensando no assunto. Mordo os lábios
em diversão, porque isso está sendo bem divertido. Percebo que Oliver deu
uma encarada nos meus dentes que apertam a minha boca e ele fica
hipnotizado.
— Ok. Então coloque alguma coisa romântica, com uma pitada de
safadeza pra deixar as coisas mais interessantes — ronrona, tirando
sutilmente de cima do meu ombro uma mecha do meu cabelo e quase fico
sem ar.
Quase não resisto ao seu pedido, mas penso duas vezes antes de
aceitar a sua ideia. Não quero acabar me vendo constrangida ao lado de
Oliver por causa de alguma cena muito erótica. Sei que nós dois
acabaríamos sem jeito, ou desejando muito fazer no mínimo algo parecido.
Não quero me entregar tanto, a ponto de não saber o que Oliver sente por
mim.
Às vezes temo que Muriel tenha razão, a última coisa que preciso é ser
magoada, e principalmente, por Oliver.
Então, coloco um filme romântico, estilo água com açúcar, mas Oliver
gosta, principalmente quando me mostro uma comentarista empolgante até a
metade do filme, quando pego no sono.
Oliver vai me comer viva, eu sei que vai!
Ou no mínimo desistirá de assistir filmes comigo porque dormi na
metade do primeiro filme que eu tanto aleguei ser muuuito legal. Mas não
resisti.
Eu só não lembro da parte que vim para a cama, o que me faz chegar à
conclusão de que ele me trouxe para cá em seus braços, igual a uma donzela
adormecida.
“Nossa!”
Nem consigo imaginar isso.
E depois, o que houve?
Ah, nada demais.
Ainda estou de roupa e completamente enroscada nele, o que me
assusta, embora seja algo quase comum, desde que ele pediu para dormir
abraçado comigo. Mas me pego com a cabeça em seu peito, que sobe e
desce tranquilamente. O seu coração bate cheio de paz, e isso me transmite
uma sensação muito boa, que preciso fechar os olhos e apreciar; sentir o
cheiro do seu perfume amadeirado e ouvir a sua calma respiração, bem
próxima a minha.
Noto, logo depois, que ele tem uma das mãos coladas à minha cintura,
com os dedos enterrados ali sobre o pano, querendo alcançar a minha pele.
Eu gostaria muito que fosse o caso.
Quando começo a juntar todos os detalhes, fico encarando por tempo
demais a sua boca perfeita, o calor entre minhas pernas pulsa de uma forma
totalmente diferente, e meu coração acelera.
Oliver é lindo, um homem dos sonhos, e mesmo aqui bem pertinho de
mim, é horrível não poder passar meus dedos em seu cabelo, acariciar sua
barba, fungar a curva do seu pescoço ou então beijar a boca sensual.
A sensação do seu corpo colado ao meu é tão instigante, que me pego
arqueando um pouco mais a minha perna direita que está sobre a dele. Vou
subindo, desejando passá-la para o outro lado e montar nele para sentir sua
ereção matinal. Mas me contenho.
Paro antes mesmo que eu comece a esfregar nele aquele fogo e o
acorde, com a imagem de uma tarada roçando nele enquanto dorme
serenamente.
Mas não sou de pedra.
Toda tentação contida, vem com um deslize, e como já estou perto o
bastante, apenas forço meus lábios para a frente, encontrando os seus que
são macios e quentes.
“Por Deus, que maluca que eu sou!
Isso é tão errado!”
Ele bem que poderia ter cedido, enterraria a minha língua ali e só
Deus sabe onde terminaríamos.
Putz, com Oli dormindo no berço ao lado é meio complicado.
Me levanto pedindo aos deuses para que ele não lembre nada e apenas
desejo um bom banho gelado para apagar todo fogo que me consome.
Até que ponto serei incendiada?
OLIVER
Levo minha família para o Paraná, quero que Isis conheça a nossa
fazenda e tenha mais conhecimento da minha vida profissional, e Oli conheça
de perto os animais que ele tanto tem em miniaturas na sua coleção de
brinquedos. Recentemente, ele tem se mostrado muito interessado em
pintinhos, então fico muito empolgado para mostrar ao meu filho os que
temos lá na granja.
Nos encontramos com Domenico e Nicolo no aeroporto, Júlia e Sofia
vão junto, e carregam com elas malas da Louis Vuitton, o que acho um
exagero.
Nós só vamos passar o final de semana numa fazenda, porra, e não na
semana de moda em Paris. De qualquer forma, detenho este pensamento, pois
minha única preocupação é proporcionar a Isis e Oli uma ótima viagem.
— Não é a minha primeira vez viajando, mas é a primeira vez de
jatinho — comenta quando Jorge estaciona o SUV ao lado do meu jatinho
particular, que Lorenzo e eu tanto usamos para essas viagens curtas.
— Eu quero que você tenha muitas primeiras vezes comigo, querida.
— Pego a sua mão e beijo os dedos.
Isis sorri, e há entre nós dois aquela promessa deixada na noite
passada.
Eu não esqueci...
Na verdade, jamais esquecerei, pois foi a partir daquele ponto que
demos partidas em muita coisa.
Ainda deitados, não me contive e a beijei mais e mais, no silêncio da
noite, no escuro do quarto e debaixo das cobertas. Eu enfiei a minha mão
debaixo da blusa dela, fiquei tocando seu seio e brincando com o seu
mamilo duro. Quase a fiz implorar para eu chupá-los, mas dei a Isis o
benefício da dúvida, ela aprenderia a ser paciente.
Mas cada suspiro, cada olhar que me dá e conforme fixa em meus
lábios, sei que ela está me desejando, querendo acabar aquilo que
começamos na noite passada.
Bem, eu também quero muito. Mas já decidi que não quero trepar com
ela enquanto minha consciência sabe que Oli está ali perto ou que
simplesmente não estamos sozinhos.
O tempo que passamos dentro do jatinho é regado a champanhe e
conversas sobre como foi a semana de todos ali. Mas prefiro não beber nada
e acompanhar Isis, que também prefere ficar sem colocar uma gota de álcool
na boca.
Seu senso de responsabilidade é incrível, Isis nunca bebe quando Oli
está com a gente, ele precisa estar dormindo e bem alimentado, então é
quando ela arrisca uma ou três taças de vinho quando possível.
Além do mais, ela fica tão encantada com as paisagens lá embaixo,
que prefiro ficar admirando tudo junto com ela. Oli também parece fascinado
com as cores vivas dos campos, e o céu azulzinho que se estende no
horizonte.
Desde que Isis disse somos uma família, o mundo ganhou cores vivas e
bonitas para mim. Ter contado a ela na noite passada um pouco da minha
história não me deixou mal pelas próximas horas, porque eu tinha uma
felicidade a agarrar, e uma meta a bater.
Gosto de como fico tranquilo ao lado deles dois, em como eles me
transmitem tanta paz.
Mas paz é a última coisa que tenho quando estamos acompanhados de
Sofia e Júlia. Aquelas mulheres são duas najas, que adoram causar boa
impressão, mas pelas costas sei que devem ser tão horríveis quanto já flagrei
as funcionárias lá de casa. Tenho provas o suficiente pela forma como olham
para Isis, a esnobando.
Houve uma época em que gostei delas, que eram minhas amigas, mas
depois que Melissa faleceu eu fiquei chato e recluso, vi algumas coisas que
não gostei, e desde então, temos nos estranhado.
A gente nunca sabe quem é nosso amigo de verdade, e Isis está feliz
por achar que as meninas a aceitaram, mas duvido muito disso.
Principalmente quando Júlia faz comentários desnecessários sobre coisas do
passado.
— Melissa amava champanhe. Esta hora ela estaria animando a todos
nós! Lembra quando ela dormia no seu colo, Oliver? Ou então como
ficava hoooras te beijando até parecer muito meloso?! Era a coisa mais fofa!
Engulo em seco, nitidamente desconfortável.
O que ela ganha remexendo nas coisas do passado?
Certamente, nada além de prazer em perceber Isis incomodada.
Não tenho nada contra essas lembranças, até gosto. Mas estou tentando
algo com Isis, estou a introduzindo na minha vida no seu tempo e até ontem à
noite nos beijamos loucamente com uma promessa de sexo para a próxima
vez em que ficarmos. A última coisa que nós dois precisamos, é de alguém
lembrando da Melissa e a nossa vida íntima.
Mas não deixo isso me abalar, mantenho a rigidez e não mudo a
expressão impassível.
— Lembro, sim. Lembro de tanta coisa, que não preciso que outras
pessoas fiquem lembrando — digo seco.
Nicolo assobia, detectando as farpas e diz:
— Você poderia ter vivido sem essa.
Júlia revira os olhos e balança o champanhe dentro da taça.
— Que chato! Eu só gosto de relembrar momentos da Melissa com a
gente! — justifica.
Quando estou pronto para dizer que na verdade ela é uma insensível e
que só está tentando prejudicar a porra da minha relação com Isis, Dom, seu
noivo, se intromete:
— Acontece, meu amor, que Melissa se foi. E ela deu a Oliver uma
chance de seguir a vida dele sem achar que ela o culparia por isso. E você
falando deste jeito não está ajudando em nada — explica solenemente, dando
espaço a um silêncio tenso, que deixou vermelha as bochechas sardentas da
Júlia.
Ela estreita aqueles olhos azuis como o fundo do mar e estuda Isis e
eu.
— Vocês dois... Estão tendo um... Caso? — a última palavra soa quase
como escárnio.
Sofia quase se engasga com o champanhe e fica olhando horrorizada,
esperando por uma resposta.
Ao meu lado, Isis fica estática, mas não dá o braço a torcer. Ela, que
foi negligenciada pela mãe adotiva quando mais nova, não ligaria para
aquelas duas sem noção.
— Temos um filho juntos — exalto o óbvio.
— Achei que o filho fosse seu e de Melissa — Sofia indaga
desafiadora.
Nicolo solta um forte suspiro sentado ao lado da namorada, do outro
lado do jatinho.
— A minha irmã não está mais entre nós. Seria do agrado dela que Oli
tivesse uma mãe para cuidar dele — Dom responde por mim.
— Então quer dizer que, além de barriga de aluguel, você será mãe ou
esposa de aluguel? — Júlia pergunta a Isis em tom de deboche e foi a gota.
Bato o punho com força sobre o braço do banco e todos me olham com
surpresa exacerbada.
— VOCÊS VIRARAM FISCAIS DA MINHA VIDA AGORA,
PORRA?! — grito indignado. — Será que vocês não têm coisas mais
interessantes a fazer?!
As mulheres piscam, e Nicolo se remexe em seu banco, totalmente
alheio aquela discussão.
— Estamos dentro de um jatinho a 20 mil pés, e nem perto de chegar,
então sugiro que façam mesmo outra coisa além de discutir, senão vou ter
que me jogar desse avião — Nicolo diz em tom entediado, colocando os
óculos de sol, dando um longo gole da sua bebida.
Ao menos foi o suficiente para chamar à atenção de Sofia, que não
gostou nadinha da ideia dele. Irei lembrar de agradecer a ele quando
chegarmos à fazenda.
Meus amigos e eu temos um senso muito protetor um com o outro, e,
mesmo se tratando de nossas mulheres, se percebemos algo de errado e que
esteja acontecendo de forma injusta e desnecessária, não largamos a
irmandade.
Tanto Sofia, quanto Júlia e Bruna, mal compreendem isso.
Aperto a mão de Isis e olho para ela a fim de encontrar algum vestígio
de incômodo com aquela situação, mas ela sorri. Fico feliz que ela banalize
aquela conversa, mesmo com toda a sua força, ela não é de pedra e temo que
em algum momento, ela resolva se revoltar contra tudo isso.
— Você não está querendo fazer o mesmo que Nicolo, não é? —
pergunto a ela fazendo graça da situação.
Se os outros a irritam, a minha missão é fazê-la ficar relaxada
Isis ri.
— Se tiver paraquedas, eu pulo.
— Não posso julgá-la. Desculpa por você ter que passar por isso —
digo de fato mal.
— Tudo bem, Oliver. Não é você quem me deve desculpas, e apesar
de eu não ser quem elas queriam que eu fosse, confio em mim mesma —
sussurra.
Seguro a sua mão e beijo o dorso, com os olhos sempre colados nos
dela.
— Essa é a minha garota — murmuro sorrindo.
“Minha querida...
Minha garota.”
Eu não ousaria falar essas palavras se ela não tivesse dito que sou a
família dela agora. Sinto propriedade para declarar tal coisa, para tocá-la,
para demonstrar minha afeição por ela e as coisas que sinto.
Finalmente estou progredindo, me reerguendo da forma como todos
queriam, mas só não esperavam que fosse com uma professora de 22 anos,
que veio de Blumenau.
Confesso que isso me excita.
Isis está fora da caixinha de padrões, mas de repente, ela se tornou
o meu padrão. Algo só meu, que só encantaria a mim e a ninguém mais. Com
ela, sinto que estou numa zona de conforto, e para quem passou muito tempo
na tormenta, finalmente mereço essa paz.
Quando chegamos ao Paraná, aterrissamos em Guarapuava e tivemos
que viajar mais um pouco de carro até chegar na fazenda.
Somente Isis e eu viemos em um carro diferente dos outros casais, por
causa de Oli, que vinha no bebê conforto no banco de trás. Nenhum dos
outros casais quis vir exprimidos ali, mas foi melhor assim, poupei Isis mais
um pouco daquelas duas, e ganhamos mais privacidade.
Quando pegamos a estrada rumo a fazenda, aproveito para atiçar
aquela chama entre nós dois. O rádio está ligado e tocando uma música
legal, então aproveito a oportunidade perfeita, ainda mais com as suas lindas
pernas expostas devido seu vestido; e a forma como elas estão inquietas, me
faz pensar que ela também quer aquilo.
A minha mão direita repousa sobre a sua perna macia e acaricio à
área, com calma e com um pouco mais de rigidez, fazendo com que ela afaste
um pouco mais as pernas em puro impulso. Aperto e a excito, desço até o
joelho, e juro que quase a ouço choramingar por eu ter ido para tão longe do
que realmente "incomoda".
Olho de esguelha para Isis, que me olha com uma cara de pidona e
sorrio de um jeito perverso.
— Qual o problema, minha querida? — pergunto me fazendo de idiota.
— Você sabe — protesta, também se fazendo de difícil. — Mas aposto
que nenhum de nós dois irá terminar feliz deste jeito.
Verdade.
A minha vontade mesmo é encostar numa área baldia dessas, deitar
Isis no banco de trás, mergulhar entre suas pernas e provar até a sua última
gota. Se estivéssemos só nós dois, certeza que faria isso, mas o único
momento que temos é o agora, e se eu não fizer nada, posso me arrepender
depois, pois agora ela quer.
Nenhum de nós dois tem força suficiente para esconder isso.
Ela segura minha mão, me detendo.
— É melhor parar, se não vamos terminar — pede.
— Nem uma gracinha? — pergunto subindo meus dedos e ela não
interfere, a deixando com a respiração já pesada.
Meus dedos sobem e sobem delicadamente com minhas falanges como
brasas sobre a sua pele fria que se eriça em prazer. Subo a barra do seu
delicado vestido conforme vou passando do limite, passeando pela parte
interna da sua coxa, sentindo o seu calor cada vez mais próximo.
Isis pressiona seu tronco para baixo e prende um gemido.
— Mal vejo a hora de você se libertar desses gemidos que tanto
prende nessa boca gostosa — trovejo excitado, com o meu pau pressionando
sob o jeans.
— Oliver... — choraminga e sinto-a quente.
Puta merda!
A ponta do meu dedo circula pelo tecido que cobre sua bocetinha e
Isis estremece. Faço o contorno da sua fenda, da protuberância que sinto ali,
por debaixo da sua calcinha.
Ondulo meus dedos e ela fica inquieta, sentindo o prazer ondular
dentro dela com mais agressividade.
Mordo o lábio, pois preciso me concentrar na porra da estrada.
Merda, eu só queria estar beijando a boca deliciosa dela!
Mas Isis tem razão, agora que comecei, é pior para terminar.
Quando vejo os limites da fazenda surgindo, recuo e ela protesta.
— O que houve?
Aponto com o queixo em direção às cercas branquinhas que começam
a delimitar um campo verde e bem cuidado.
— Chegamos. — Olho para ela e para a beira do seu vestido que
ocasionalmente levantei. — Cuido disso mais tarde.
Suas mãos são ágeis na hora de ajeitar a beira do vestido, ela
aproveita para arrumar outras coisas que mal toquei, mas que
consequentemente trazem uma aparência ardente de si, como as bochechas
extremamente ruborizadas, por exemplo, e o prazer estampando em seus
olhos vítreos.
Sei como é isso, também preciso conter a minha ereção e a calça jeans
não ajuda em nada.
Graças aos céus, terei muita distração quando descer na fazenda, mas
estarei o tempo todo pensando naquela saliência macia debaixo da calcinha
de Isis, e em como seria gostoso mordê-la e chupá-la.
Isis fica encantada com a fazenda que é tão grande, que mal podemos
ouvir a presença dos animais daqui. Mas quero poder mostrar para ela a
casa primeiro e Margarida, uma das mulheres que mais amo e admiro nessa
vida.
Pego Oli no colo porque estou muito empolgado para mostrar meu
filho, enquanto isso, Dom e Nicolo estão enrolados com Sofia e Júlia.
Conduzo Isis pela varanda enorme que contorna toda a casa, nos
levando à área da churrasqueira, onde tem uma mesa de café da manhã, e é
ali que Margarida está sentada, mais baixinha do que da última vez em que a
vi. Também, não é para menos, ela tem 70 anos, e se curvou mais com o
passar dos anos, mas sempre levou uma vida saudável na fazenda, e se
duvidar, a sua saúde é igual a de um cavalo.
Quando ela me vê abre um sorriso enorme, com todos os dentes ainda,
mas amarelados, ainda assim, um dos mais belos e radiantes que já vi.
Margarida faz questão de levantar e vir me abraçar.
Seu colo para mim também é lar, mas dificilmente o sinto, então tento
aproveitar ao máximo.
— Oliver! Meu querido, Oliver, como é bom vê-lo de novo!
Sua voz rasgada pelo tempo soa como nostalgia para mim e toca no
fundo do meu coração.
Oli tenta alcançar o cabelo branquinho dela, mas o detenho antes que
um dos cachos dela engate no dedinho enxerido do meu filho.
— Achei que ia brigar por eu ter sumido. — Lembro sabendo que
estava mais que sumido.
Ela fez um movimento com a mão, banalizando aquela conversa.
— Ah, deixa isso pra lá. Não quero ser uma velha chata agora,
deixarei para puxar a sua orelha em outro momento!
— Eu sei que vai.
Ela só disse isso porque não estava resistindo a curiosidade, eu
percebia seus olhinhos na direção de Oli.
— De quem é esse lindo bebê?
Viro Oli para que ela o veja melhor. Seu sorriso para ele é doce, mas
os olhos são curiosos iguais aos de Oli.
— Este é Oliver Matteo Giordano Filho.
O nome faz seus olhos ficarem espantados.
— Meu filho, dona Margarida.
A surpresa exacerbada dela arranca risadas das pessoas ao redor.
— Mas eu não sabia que você tinha se tornado pai, e muito menos que
estava casado! Cadê a sua mulher?
Nicolo surge e é mais ágil, dando um passo e puxando Isis que está no
canto, a trazendo pelo pulso, completamente tímida.
— Esta é Isis, a mulher de Oliver, dona Margarida — diz meu amigo,
empolgado em mostrar a novidade a senhora que fica mais surpresa ainda.
Minha mulher...
Isis fica surpresa também em ser apresentada daquela forma, mas não
protesta. Ao invés disso, se apresenta da forma mais verdadeira possível, do
mesmo jeitinho que costumava se direcionar aos seus alunos, com doçura.
— Olá, dona Margarida. É um prazer conhecê-la. Sou Isis, a mãe de
Oli.
— E a mulher do Oliver. — Não havia sido uma pergunta
Isis sorri para mim e dá de ombros.
Já explicamos algumas vezes a nossa situação para terceiros, mas dona
Margarida já está velha demais, ela não entenderia. Então, Isis, aceita
aquilo.
Ela nos olha alegremente.
— Fico muito feliz que o senhor Teimoso voltou a ter este sorriso
grande no rosto mais uma vez — comenta, me fazendo perceber o riso bobo
que eu tinha no rosto naquele momento, fazendo Nicolo e Dom rirem de mim.
— Humm, senhor Teimoso — Nicolo repete em provocação.
Sibilo silenciosamente para ele:
— Vá se foder!
Os dois idiotas riram mais ainda.
— E vocês dois? Já deixaram aquelas garotas? — pergunta para eles,
que ocasionalmente ficaram sérios e sem jeito.
O clima criado enquanto estávamos no jatinho ainda pairava sobre
nós.
— Por que, dona Margarida? Quer se candidatar? — Nicolo pergunta
com um ar sedutor.
Ela enruga o rosto mais ainda.
Margarida, por já ser idosa, não liga para outras opiniões. Se ela não
gosta de alguém, diz na lata. E meus amigos das vezes em que trouxeram suas
mulheres, só a deixou mais ranzinza ainda a respeito delas.
Me pergunto se ela irá gostar de Isis.
— Eu não tenho mais idade para essas coisas, menino. Tenho que
comandar as coisas por aqui, igual uma rainha!
Sorrio encantado com o seu jeito que, diferente do corpo, nunca se
curvou para o tempo. Margarida sempre foi tão amável e confiável, que
meus pais confiaram a casa da fazenda a ela e eu deixei como estava.
Me abaixo para beijar a sua bochecha enrugada e frágil.
— Sim, você é uma rainha — enfatizo.
Logo as meninas aparecem e Margarida pragueja, voltando a se sentar,
se recusando a cumprimentá-las.
— O que aconteceu com o estábulo que tinha aqui em cima? — Júlia
pergunta com Sofia em seu encalço.
— O senhor Oliver fez muitas mudanças na primavera passada — um
dos caseiros que está ali com dona Margarida responde. — Levamos tudo lá
pra baixo.
— Quer dizer que não vamos mais sentir o cheiro de estrume daqui?
— A pergunta de Sofia quase soou como um agradecimento.
— Se sentir falta, mando deixar um bocado ao lado da sua porta,
menina — dona Margarida diz aos risos e o caseiro acompanha.
A loira faz cara de nojo.
— Está faltando um, não está? — Margarida pergunta, ainda muito boa
de memória, claro.
— Lorenzo. — Domenico lembra. — Ele está vindo da colheita,
chegará em breve, mas a Bruna teve que ficar em Santa Catarina.
Margarida solta uma prece baixinha e Isis me olhou curiosa. Deste
jeito, talvez ela pense que só falta sobrar para ela. Então decido tirá-la dali
antes que Margarida comece a fazer um monte de perguntas constrangedoras
na frente do pessoal. Ela sempre me tratou como filho, então, tem um certo
poder sobre se envolver na minha vida.
— Irei mostrar a casa para Isis — aviso, já deixando a varanda e
passando pela porta dupla, com Oli animado em meu colo, tão curioso com o
novo lugar.
A casa da nossa fazenda é toda de paredes brancas, para contrastar
perfeitamente com as vigas de madeira escura que sustentam os telhados. O
chão também é de carvalho, fazendo uma junção perfeita ali com os móveis,
de uma decoração rústica. Há tapetes e muitos objetos de decoração
colorido, seguindo um contraste muito grande com a minha mansão de
Florianópolis.
Subimos a escada para o segundo andar, levo Isis para um dos
corredores e mostro a ela onde iremos dormir.
O quarto fica na parte sul da enorme casa, com enormes janelas
cobertas por cortinas claras, que dão uma vista bela para o lago onde os
patos ficam. O chão é de carvalho e as paredes, branquinhas. A cama é
grande e de dossel, há duas poltronas de frente para uma lareira que
acedemos quando estamos por aqui na friagem, um belo lustre ilumina todo o
cômodo, mas certamente, Isis deve estar com a atenção presa em um móvel
específico.
— Este berço já tinha aqui?
Deixo uma risada sagaz escapar.
— Achou que Oli ficaria entre nós dois durante a noite? — Me abaixo
para sussurrar em seu ouvido: — Eu não poderia dispensar o único momento
do dia em que posso estar totalmente agarrado a você.
Ela me dá aquele olhar desconfiado, toda vez que ajo feito um
convencido.
— Você sempre pensa em tudo, não é?
Me acho por causa disso.
— É uma das minhas qualidades — digo e ela revira os olhos,
entrando mais ainda no quarto.
— É lindo, eu moraria facilmente aqui. Gosto de fazenda — comenta
com os olhos atentos ao lago, onde mostra os primeiros resquícios dos
animais da fazenda.
— Já esteve em uma? — pergunto curioso, mudando Oli de braço,
pois aquele já estava ficando dormente.
— O pai de Muriel tem uma, lembra muito a minha infância. Ele tinha
um cavalo, algumas galinhas e um porquinho que chamávamos de Pink. Eu
amava o contato com os animais, mas ele precisou vendê-los para um outro
amigo que também tinha uma fazenda.
— Então você vai gostar muito de ver o que temos aqui. — Entrelaço
minha mão a de Isis e a arrasto para fora do quarto, como nunca me senti
animado antes.
Me empolgo para mostrar a ela os animais que temos aqui, desde o
pavão até o pônei. Oli também vai gostar muito.
É uma tradição chegarmos e irmos ver os animais antes de tudo,
porque é um bom horário e a maioria deles estão acordados. No entanto,
Nicolo e Domenico foram os únicos a aceitarem o convite, também tanto faz
que Sofia ou Júlia deixem de ir, é um favor que elas fazem.
Quando estamos descendo a fazenda, Nicolo pega Oli e o coloca sobre
seu cangote, pulando e correndo com ele pelo campo livre. Gargalhadas
gostosas vindo de Oli enchem o lugar de mais vida ainda, e de repente
aquilo vira uma competição, porque Dom pega o sobrinho e fica o jogando
para o ar.
Tanto Isis quanto eu ficamos preocupados, mesmo que a coisa toda
esteja sendo muito divertida para Oli.
— Cuidado com meu filho, seus idiotas — resmungo.
— Papai, senhor Teimoso, é um chato, não é, garotão? — Nicolo
zomba mais uma vez em conversa com Oli, o tomando dos braços de
Domenico.
— Sabe que ele vai te encher o saco agora com isso, não é? — Dom
pergunta.
— Ele que teste a minha paciência — alarmo.
Pelo menos depois disso os imbecis ficaram menos radicais quando
alcançamos os animais.
Mostro a Isis os cavalos, os pôneis. Ela quer alimentá-los e o caseiro
deixa, o que é um momento lindo, a ponto dela se emocionar.
Oli é apoiado sobre um dos pôneis e Dom imitou uma cena cômica de
filmes de faroeste.
Depois disso encontramos esporadicamente um pavão passeando com
todo o seu glamour e mais uma vez, Isis fica encantada.
Mostro a Oli os pintinhos, como vinha planejando, e ele balbucia o
que parece ser um “piu”, foi alguma coisa inaudível, que somente bebês
entendem, mas é uma alegria.
Faz tempo que não vinha para a fazenda e me sentia tão feliz. A última
vez que isso aconteceu, Melissa ainda estava viva.
Mas agora, é outra história.
Uma história escrita por ela e que está dando muito certo.
Passamos quase uma hora e meia ali, até um dos caseiros descer e nos
avisar que Margarida estava nos chamando para o almoço. Deixo Isis
ansiosa quando faço propaganda da comida da senhora, que com certeza, tem
mãos de fadas para toda coisa.
Aproveito ao máximo o tempo livre com a minha família, pois logo
depois, terei de descer novamente e encontrar Lorenzo, para visitar a
colheita.
O Sol e calor da tarde na fazenda me exauriu. Mal tive tempo para
jantar e eu só queria subir e descansar, para depois então, curtir um pouco
mais a nossa estadia ali na fazenda.
Isis nem hesitou em subir junto comigo.
Soube que ela e Margarida conversaram tanto pela parte da tarde, que
ela não aguentava mais forçar a mandíbula, embora isso tenha me dado
ideias interessantes.
Quando saio do banho e me jogo na cama, só de toalha e cabelo ainda
úmido, Isis me conta que Lorenzo apareceu para pegar Oli emprestado,
porque estava se sentindo de escanteio e não queria que Dom e Nicolo
fossem tão presentes quanto ele, e que qualquer coisa, pediria ajuda a
Margarida.
Ficamos sozinhos e isso me deu mais ideias ainda, tanto que conforme
vou pensando em algo, meu sorriso se alarga. Eu não queria provocar Isis,
mas ela também não parecia pensar em outra coisa.
Estico os braços atrás da cabeça, tonificando meus bíceps que ela fica
admirando encostada no dossel, com um sorriso divertido.
— Você não vai se cansar de tentar, não é?
— Não sei do que você está falando — minto, e mesmo sabendo disso,
Isis faz questão de falar.
— Você fica aí, se exibindo só porque sabe que é terrivelmente
atraente — me acusa em um tom predatório que indica que estamos
enfrentando um jogo de sedução que havíamos começado ainda em
Florianópolis.
— Acho que existe outra palavra para isso — murmuro pensando em
um adjetivo que já estava na ponta da língua. — Gostoso.
— Arrogante — rebate poderosamente, sem medo algum de mim.
Foda-se os modos e o ego inflado.
Conheço o homem que sou, e sou capaz de dar tanto prazer a Isis que
ela vai reconhecer minhas palavras quando estiver sobre ela. Quando isso
ferve dentro de mim, sento na beira da cama e a agarro pelo quadril,
puxando-a para mim que fica entre minhas pernas.
Isis solta um gritinho e se apoia em meus ombros.
Fico olhando para ela ali debaixo, como se eu fosse seu submisso, eu
daria tudo para me ajoelhar perante a ela e fazê-la rugir como a verdadeira
leoa que é enquanto provo seu gosto.
Sinto que por detrás desse rosto angelical, existe uma garota selvagem
louca para se libertar.
— O que você está fazendo? — pergunta quando entrelaço minhas
pernas ali, impedindo a sua escapatória.
— A única pessoa aqui e agora que vai dizer o quão eu sou gostoso,
será você.
— De que forma? — indaga retoricamente.
Mas já que ela quer me ouvir falar...
Minhas mãos descem para a curva do seu bumbum, sentindo a carne
macia por debaixo do shortinho de seda azul bebê que compõe o seu
conjuntinho de dormir. O toque faz com que ela fique estática.
— Vai dizer que sou gostoso quando você estiver montando em mim,
sentindo cada centímetro do meu pau dentro de você. — Levanto a barra da
sua blusa e esfrego a minha barba logo acima do seu umbigo, fazendo o seu
fôlego recuar. — Ou então, quando você estiver me chupando e engolindo
cada gota da minha porra, que vai te fazer descobrir que existe algo mais
doce que o mel.
Beijo o centro da sua barriga e ela recua a respiração, então passo a
língua e ela estremece, percorrendo para cima e mais cima, até sentir a curva
do seu seio e morder aquela área macia, finalmente, ouvindo Isis gemer
baixinho.
Meu pau lateja com aquilo, crescendo e crescendo.
Beijo, lambo e passo a minha barba em sua barriga, a provocando,
sentindo toda a sua pele eriçar com o meu toque.
As unhas dela cravadas em meus ombros demonstram que está
gostando. Quando olho para cima, encontro Isis de olhos fechados e boca
aberta, respirando ofegante e saboreando toda aquela sensação.
Porra, preciso sentir o gosto dela agora!
Giro o meu corpo e com ela enlaçada nas minhas pernas, acaba
deitada sobre a cama, perto demais da beirada, exatamente onde eu a quero.
Beijo a sua boca com urgência, respirando com dificuldade por causa
do prazer intenso.
— Abra as pernas, minha querida — ordeno e Isis me olha
profundamente, afastando as pernas lentamente, onde me encaixo melhor ali.
— Isso.
Volto a beijá-la, agora de um modo mais sensual e depravado,
chupando a sua língua e explorando cada canto da sua boca deliciosa. O
beijo toma uma proporção tão urgente, que de repente nossos dentes estão se
batendo e estou tocando seus seios com tanto desejo que ela solta um gemido
doloroso.
Mordo seu lábio e passo a minha barba pela linha da sua mandíbula.
Meu pau está pulsando como um segundo coração debaixo daquela
maldita toalha, principalmente quando suas mãos espalmam em minhas
costas e agarram na pele, mas me seguro e não a arranco facilmente.
— Me deixa fazer tudo com você — imploro entre seus lábios. — Me
deixa provar você.
Com apenas um aceno de cabeça, porque imagino que Isis mal consiga
falar, eu desço. Vou beijando o seu pescoço longo e lindo, a sua clavícula e
os seus seios quando abaixo sua blusa fininha.
Eles são tão lindos e cabem perfeitamente nas minhas mãos.
Passo a ponta da língua em seu mamilo esquerdo e ela geme em
aprovação, levantando o quadril cheia de prazer. Brinco naquela área,
enquanto meu dedo sintoniza o outro.
Depois, abocanho de uma vez só, igual a um animal faminto.
— Oliver, por favor — choraminga.
— Por favor o que? — Mal tiro a boca de seu seio para falar, quando
passo a chupar o outro lado.
Percebo que Isis fica retraída para dizer as palavras, então paro
abruptamente de brincar com aquele seio para olhá-la em cobrança.
— Por favor, o que, Isis? — insisto e a respiração dela dá uma
vacilada. Rodeio o bico do seio, estimulando o seu prazer. — Diga.
— Eu... por favor. — Aperta os olhos.
— Diga! — sibilo rispidamente e desço meu pau duro em sua
intimidade.
Roço meu pau para que ela sinta que eu estou louco de tesão, e que
tudo o que eu faria com ela, necessitaria do seu lado mais safado.
— Diga.
Isis solta um resmungo em protesto, e então fala as doces palavras que
eu mais queria ouvir:
— Chupa a porra da minha boceta! — diz tão ferozmente, que acho
que eu teria a minha cabeça decepada se eu não atendesse seu pedido.
Sorrio satisfeito, delirando de tesão.
— É a primeira vez que ouço você falar palavrão. Espero que essa sua
boquinha seja muito suja quando eu estiver te fodendo.
Então, começo a traçar um caminho com meus beijos pela barriga dela
e não poupo tempo não hora de tirar seu short de seda, com calcinha e tudo.
Já brinquei ali mais cedo, agora a quero todinha para mim,
completamente exposta.
Quando me posiciono de frente para as pernas de Isis, tenho a mais
bela visão do paraíso. A minha boca saliva e passo a língua nos lábios com
água na boca só de ver a sua fenda encharcada, mas não a tomo de imediato.
As minhas mãos acariciam a parte interna da sua coxa, e meus
polegares que estão apontados na direção da sua boceta massageiam à área,
a estimulando mais ainda. Brinco com seus lábios grandes e o barulho da sua
boceta molhada conforme vou mexendo mais ali, me excita pra caralho.
Não consigo aguentar mais um segundo e avanço.
No instante em que a minha língua quente toca aquela área, Isis arfa,
seu corpo todo fica tenso e ela geme. Geme de um jeito delicioso que faz
meu pau pulsar como nunca. Isso me estimula mais ainda a fazê-la sentir o
melhor, encosto minha língua fazendo um movimento lento de baixo para
cima. Faço isso outras vezes, a provocando, e ela segura meu cabelo com
força, querendo que eu faça mais rápido.
Solto uma risada gutural e seguro as suas coxas com firmeza.
— Calma, minha querida. Eu não vou esquecer de nenhum movimento
— asseguro.
Começo a lamber Isis com mais força e então, fodo a sua bocetinha
viscosa com a minha língua que começa a levá-la à loucura. Ela se espreme
toda sobre a cama, respira ofegante e geme, apertando o lençol da cama com
força. Quando chego no seu grelinho, mordisco a ponto de fazê-la estremecer
e apertar seus dedos em meu cabelo mais ainda.
A penetro lentamente com um dedo, sentindo seu interior macio e
quentinho. Quando coloco o segundo dedo, Isis exclama:
— Que gostoso, Oliver.
Sorrio vitorioso, sabendo que ela confessaria isso no exato momento
em que eu estivesse lhe chupando toda. Aumento as estocadas dos meus
dedos que deslizam facilmente em sua boceta encharcada e chupo com mais
vontade o seu grelo, roçando a minha barba ali vez ou outra.
— Goze pra mim, querida — peço com o meu pau já dolorido.
Só vou penetrá-la quando gozar na minha boca. Imploro mais uma vez,
literalmente de joelhos diante dela enquanto a chupo e fodo com os meus
dedos.
— Goze, goze, goze.
Sinto o seu interior macio se contrair de um jeito lancinante. E quando
eu mexo meus dedos freneticamente e sugo seu grelinho, os gemidos de Isis
vão se intensificando, ganhando mais vida, mas de um jeito sofrido. Ela
arqueia o tronco conforme goza em meus dedos que ainda se movimentam
dentro dela repetidas vezes.
— Ah, isso... — digo satisfeito, provando seu gozo que mela meus
dedos e encharca a minha barba. — Deliciosa, como já imaginava.
Fico olhando para ela que ainda está rendida àquela sensação
explosiva.
— Adoro chupar a sua bocetinha. Um dia ainda irei estimular você por
horas, sem penetração alguma. Só lambendo, mordendo e chupando, desde
seu grelo aceso à sua bocetinha apertada.
Levanto e ocasionalmente, deixo a toalha cair, revelando o meu pau
longo, apontando para cima pulsante.
Quando Isis o vê, ela fica fascinada, sentando em um único impulso.
— De quatro — ordeno.
— Você é muito mandão — protesta com os olhos cheios de luxúria.
— É por isso que sou um CEO implacável, minha querida. — Estico
minha mão para tocar carinhosamente em seu cabelo. — Agora, de quatro.
Ela não hesita e me obedece, pois também está ansiando muito por
aquilo. Quando fica de quatro, ela engatinha lindamente até mim, mordendo o
lábio inferior com força enquanto mantém seus olhos felinos fixos nos meus.
O mundo e tudo o que parecia fazer sentido, é reduzido aquele único
momento quando Isis pega no meu pau, mal conseguindo fechar seus dedos
ao redor dele. Ela fica fazendo movimentos de vai e vem, e quando um
líquido viscoso sai da ponta, ela coloca a língua para fora e o lambe.
Solto um gemido entredentes e ela dá um sorrisinho.
— De fato, você é muito gostoso — comenta e sorrimos.
Fico tão hipnotizado por ela, que nem me preparo quando Isis começa
a lamber o meu pau todinho, de cima para baixo, me provocando.
Preciso que ela me engula agora!
Ela percebe minha necessidade e é boazinha ao me colocar na sua
boca cuidadosamente. Parece que não vai caber e por um momento, parece
que vou rasgar a sua boquinha, mas ela é persistente, e o fato do meu pau ser
largo demais para a sua boca, parece deixá-la mais excitada.
Isis ajuda a deixá-lo mais molhado, e tenta mais uma vez, deslizando
com mais facilidade pelo meu pau, que contém seus gemidos na garganta.
Com uma mão me toca, procurando apoio para ajudá-la. Ela tira o meu
pau da boca e quando o abocanha de novo, desliza até o falo, me
surpreendendo.
Solto um gemido alto, jogando a cabeça para trás ao senti-la ir fundo.
— Caralho!
Ela volta e então repete o movimento mais uma vez.
Estou ficando louco!
Seguro a cabeça dela e movimento meu quadril, fodendo a sua boca
profunda que me engoliu todinho.
Quando olho melhor para ela, vejo que está lacrimejando porque estou
indo à fundo.
Quase gozo, mas me seguro, me afastando da sua boca.
— Em outro momento, irei gozar na sua boca gulosa, mas agora eu só
quero me despejar dentro de você — confesso e ela parece entender. —
Deite-se.
Queria poder fodê-la assim, de quatro, mas primeiro, preciso fazê-la
se acostumar a mim.
Isis me obedece e se deita na cama larga, com os lençóis bagunçados.
Avanço para cima dela, rastejando pela mulher que foi capaz de tirar todo o
meu atraso, me que fez ir a loucura nos últimos meses.
Faz tanto tempo que não desejo alguém como tenho a desejado agora, e
juro que irei fazer cada momento valer à pena.
— Como você vai fazer isso? — pergunta preocupada, já que o meu
pau entrou com muita dificuldade em sua boca.
Dou um beijo suave e passo meu polegar em seu lábio, observando o
quão lindo ele é.
— Irei ser cuidadoso, prometo — asseguro, embora eu quisesse muito
ir com força agora, mas não sou um brutamonte. — Não quero machucá-la.
— Tudo bem, eu confio em você — revela suavemente.
Algo lá no fundo do meu coração se rasga.
Ela é tão linda e boa, e está completamente disposta para mim. Fico
estático quando percebo que, além dos desejos carnais, algo também
prevalece maior que todo aquele desejo humano de fazê-la minha.
Quando dou por mim, já estou esfregando a ponta em sua entrada, e
Isis arfa com o toque modesto. Ela recua quando avanço pouca coisa e então,
paro.
Fico olhando preocupado, mas ela assente dando sinal verde para eu
continuar. Afundo mais um pouco a cabeça do meu pau na sua entrada, e
então volto, afundo de novo e volto.
Afundo e volto.
Fico repetindo esse movimento até que ela esteja se alargando para
mim. E conforme vou penetrando, vou sentindo a boceta de Isis se adaptando
ao meu tamanho. Quando entro até a metade, ela faz uma cara sôfrega e paro.
— Machuquei você?
Ela sorri.
— Não, tudo bem. É uma dor gostosa — admite.
Ok.
Eu já sabia que ela não tinha tanta experiência. Só teve um namorado,
e pelo jeito, ele era um pastelão, pois sinto que estou tirando a virgindade
dela. Mesmo depois de ter um filho, Isis continua apertada e cheia de libido.
Seu comentário parece ser a carta branca que eu precisava para
avançar com mais vontade, pois quando saio, entro e vou até o fim, fazendo
ela arquejar e soltar um grito que se transforma em gemidos cheios de
prazer. Me mantenho ali enquanto a beijo de língua, desesperadamente, com
luxúria e amor, desejo e paixão.
Tudo de uma vez só.
Me abaixo mais um pouco só para ter que chupar e lamber seu seio
mais uma vez, a deixando encharcada envolta de mim.
Quando ela faz um movimento com o quadril, entendo que está na hora
de entrar em ação. Começo a fodê-la com mais força, saio e entro
aumentando a velocidade, mas ainda sendo cuidadoso.
Ela é tão apertada, quentinha e macia, que quero ir fundo num ritmo
desesperador. Mas tenho controle.
Deste jeito está uma delícia.
Ela abraça meu pescoço e deito minha cabeça em seu peito, afundando
nela. Beijo seu pescoço, chupo e aproveito para inalar mais ainda o seu
cheiro maravilhoso.
Em um movimento preciso, giro o corpo de Isis, fazendo com que ela
fique de costas para mim, mostrando aquele seu bumbum lindo em formato
de coração. Fico apalpando, imaginando como seria uma loucura
inesquecível fodê-la por trás.
Isso faz o meu pau latejar mais ainda.
Um dia, espero que ela me dê isso como presente, mas agora, só quero
ir mais à fundo ainda em sua bocetinha.
Pego as duas mãos de Isis e a prendo em suas costas. Ela fica surpresa
por ter sido contida daquele jeito e me inclino até o seu ouvido.
— Segure firme.
— O que você...
Não a deixo terminar, pois a frase termina em um gemido gutural
quando a penetro profundamente nesta posição. Sinto seu interior se
contraindo, me apertando todo. Ela empina seu rabo lindo mais ainda pra
mim, sabendo que assim, eu iria fodê-la melhor.
Entro e saio freneticamente, sentindo sua boceta se render todinha pra
mim, me aceitando. Solto sua mão, seguro sua cintura para pegar um apoio
melhor, e estocar nela com mais vontade, porque eu não consigo me conter.
Deste jeito, eu gostaria de poder nos tornar um só, de tanto que quero
me afundar nela.
O ritmo fica tão forte, que sinto minhas bolas baterem em seu grelo, e
consequentemente, levá-la à loucura.
— Gostosa do caralho! — resmungo, mal reconhecendo a minha voz.
Aperto sua cintura mais ainda e os gemidos dela ficam mais nítidos.
— Aí, Oliver! Aí!
Ela vai gozar.
Sinto Isis se contrair todinha, enquanto goza no meu pau. Eu também
não me demoro, sinto aquela sensação explosiva dentro de mim, totalmente
inexplicável se estender até o meu pau ficar inchado, e se contrair em alívio
quando jorra tudo dentro dela.
Estou rugindo, despejando nela até a minha última gota.
Seu corpo se exauri e ela deita na cama, completamente exausta e
dopada de prazer.
Me deito ao seu lado e beijo a sua testa, o que a faz rir.
— Ainda é carinhoso depois de uma trepada louca dessa — comenta
sem fôlego.
— Eu tenho o melhor dos dois mundos.
— Bom para mim.
Sorrimos e a puxo para se aninhar a mim. Ela coloca sua cabeça sobre
o meu peito e envolve a sua perna sobre as minhas. Seus gemidos e o meu
nome soando com tanto prazer em sua boca ainda soam como músicas em
meus ouvidos.
Fico acariciando seu ombro, pois sou mesmo carinhoso quando não
estou fodendo loucamente.
— Você gostou? — pergunto ainda pensando em como o meu pau
quase atrapalhou aquilo tudo.
— Eu amei, já quero de novo — diz entre risinhos, fazendo círculos
com o seu dedo em minha barriga.
— Que bom, pois eu já estou pronto.
Mostro para Isis o meu pau que já está ereto de novo. Ela fica
deslumbrada, e dou de ombros.
O que posso fazer, se passei tanto tempo apelando à punheta?
Mas agora que a tenho, sei que nunca mais passarei por isso sozinho
de novo. Que bom que tenho Isis, para todos os efeitos.
Quando ela começa a descer em direção ao meu pau, fico certo de uma
coisa.
— Eu vou mesmo me casar com você.
Ela acha graça, mas não é uma piada.
Pela primeira vez, sei que pedir Isis em casamento é uma certeza, pois
vou querer isso para sempre.
Quando ela me chupa, não tenho nenhuma dúvida disso.
ISIS
— Mamã.
Esta é a primeira palavra reconhecível que Oli sibila na mesa
enquanto tomamos o nosso café da manhã, já na mansão em Florianópolis.
Oliver e eu nos entreolhamos, e ficamos sem reação por tamanha
surpresa inesperada logo cedinho, mas choro porque a sua primeira
palavrinha foi para mim.
Depois começamos a sorrir feito dois bobos, brincando com ele,
fazendo caretas e dizendo coisas fofas ou sibilando outras palavras que
talvez ele pudesse repetir também, mesmo que de um jeito engraçado.
Não vai demorar muito até que ele faça um aninho, então o
desenvolvimento de Oli tem decolado nas últimas semanas.
Amo acompanhar tudo de pertinho, desde seus longos passos pela
casa, a forma como ele brinca com seus instrumentos musicais. O xilofone de
Nicolo tem sido muito utilizado nos últimos dias, e Oliver nem tem se
estressado; na verdade, ele ama.
São poucas coisas que Oli faz e irrita o pai, como não o deixar colocar
a fralda, por exemplo, porque fica balançando as perninhas exageradamente
e isso o deixa louco.
Confesso que é engraçado ver um bebê deixando um adulto como
Oliver, completamente irritado. Mas a maternidade e paternidade tem dessas
coisas, e às vezes, bem mais intenso.
O meu filho é um menino calmo, e por isso, a maternidade tem sido
uma experiência boa, recebo todo tipo de auxílio e isso me torna uma mãe
privilegiada, mas há momentos de pura tensão, onde preciso respirar fundo e
contar até três.
Amo o meu filho, mas às vezes ele me faz encontrar a paciência que eu
nem sabia que existia.
De qualquer forma, qualquer novidade que Oli faça, já é motivo o
suficiente para Oliver querer reunir todo mundo na mansão.
Ele não me conta, mas sei que meu pai o ajudou com a ideia, pois ele
foi a primeira pessoa para quem Oliver entrou em contato anunciando a festa
na piscina no final de semana, depois, os amigos.
Nicolo andou meio distante após o rompimento com Sofia, mas não
que ele esteja com raiva ou algo do tipo, Oliver me explicou que o advogado
está de certa forma, envergonhado por não ter notado tão cedo quão mau-
caráter a ex era. Ele sempre pede desculpas pela forma como Sofia me tratou
da última vez, mas eu já esqueci, no entanto, as feridas nele parecem
recentes ainda.
Felizmente, ele comparece no dia da festa na piscina. Traz até um
livrinho que toca os sons das vogais, já que espalhamos que Oli já fala
"mamã".
Eles ficam realmente empolgados com a ideia do bebê estar
crescendo.
Dom e Lorenzo já prometeram que assim que estiver andando com
excelência, o levará para as partidas de futebol com os amigos. É claro que
a ideia não me agrada nenhum pouco, pois Oli ainda é pequeno demais para
essas coisas.
Mas é Muriel que me detém na festa a maior parte do tempo.
Desta vez, ela trouxe o biquíni dela.
— Que coisa é essa de você e o CEO estarem trocando beijos e
olhares intensos na frente de todo mundo? — pergunta assim que sentamos na
beira da piscina.
Mordo o lábio e olho para ela de um jeito serelepe.
— Nós estamos juntos. Tipo, oficialmente.
Os olhos azuis acinzentados dela ficam arregalados.
— Mentira! E quando você pretendia me contar, sua cruel?! —
esbraveja descontando no meu ombro.
— Eu avisei. Na verdade, tentei avisar! — Reviro os olhos lembrando
de como foi contar a novidade para Muriel.
— Eu achei que estivesse tirando uma com a minha cara. Pelo tom da
conversa, achei mesmo que estivesse apenas tirando onda. — Sorri nervosa.
Droga, é verdade!
Estava tão empolgada e ansiosa, que tive uma crise de riso e Muriel
achou que estava bêbada e inventando coisas.
— Então vocês já...
— Se transamos?
Ela parece espantada.
— O fato de você falar essa palavra com naturalidade mostra que ele
corrompeu seu lado santo e agora você é uma safada. Uma professora
safada.
Gargalho e Muriel diz que os outros olham curiosos, mas nem ligo. Sei
que Oliver gosta da minha risada, ele diz que tanto eu quanto Oli,
preenchemos a sua casa de alegria. E deve ser verdade, porque ele está
sempre de bom humor.
— Eu só não tinha o estímulo que precisava. Mas com Oliver...
— Faz o tapado daquele seu ex-namorado parar no chinelo?
— Nem precisa de comparação, Muriel! — desdenho.
— Você está gostando? — pergunta com os olhos brilhando e um
sorriso malicioso.
Encontro Oliver jogando uma partida de dominó com os amigos e meu
pai. Eles não desgrudam dali, e a Júlia com a Bruna passam a maior parte do
tempo de lado, mexendo no celular. Oli está brincando no seu chiqueirinho,
do lado da mesa onde está rolando o jogo.
Solto um suspiro porque tudo parece perfeito demais, a forma como as
coisas fluem igual a um riacho calmo, o jeito que meu coração parece
tranquilo e a minha cabeça em paz...
Até o clima está perfeito!
Meu pai está aqui, a minha melhor amiga também. Tudo que eu mais
prezo está aqui comigo, então por mais que Muriel tenha perguntado sobre a
minha relação com Oliver, penso no geral.
— Sim, estou amando. Tem sido tão perfeito que tenho medo de
acordar e ser tudo um sonho.
Ela sorri para mim.
— Você merece, sabe. Todo mundo merece ser feliz, mas existem
algumas pessoas que... Caramba! Existem pessoas que passam por tanta
coisa que elas deveriam ter prioridade na fila da felicidade e estou quase
furando a fila.
Meu coração dá um solavanco.
Droga, a vida de Muriel também é complicada e ela precisa lidar com
algumas coisas bem desagradáveis ainda.
Eu costumo me sentir culpada por não estar perto dela todo dia e dar
apoio a ela. Mas dou um jeitinho, mesmo que seja por ligações
intermináveis.
— A sua vez está chegando, amiga. E espero que não demore muito.
Seja paciente como sempre foi, e independente de tudo, estarei aqui do seu
lado, lutando juntas para sermos cada dia mais felizes.
Ela acena e faz uma carinha triste, mas tenta disfarçar com aquela sua
cabeleira volumosa.
Escondo uma mecha atrás da orelha, olhando para ela com cuidado e
preocupada.
— Me prometa que vai me contar tudo! Que nem com a distância, você
não vai esquecer de mim.
— Não “crisa”, Isis.
Muriel usa uma das suas gírias e se recompõe com felicidade; isso é
uma habilidade que a gente adquire bem com o tempo, assim evita mais
perguntas chatas e não sei se devo ou não ficar chateada por me evitar.
— Vai ficar tudo bem, estou bem. Amo você e quero te ver feliz,
porque se você está, eu também estou.
— Eu também amo você, prima. — Abraço Muriel, que logo retribui
com outro apertado.
Essa é uma das incontáveis declarações que fazemos uma para a outra.
A nossa amizade nunca foi abalada. Depois da minha relação com o
meu pai, vinha essa nossa conexão de mulheres, primas e amigas. Sempre
contei com ela pra tudo, e mesmo agora que a minha vida parece uma
loucura, não é nada diferente, pois aqui está Muriel, vivenciando, senão, a
coisa mais incrível que já me aconteceu.
A gente toma banho na piscina e ela tira foto com a câmera do seu
celular. Ficamos de bobeira ali, curtindo o Sol e a música. Mas logo depois
lembro que está na hora de Oli vestir uma fralda, pois já passou tempo
demais apenas de sunga.
Saio da piscina e Muriel vem logo atrás de mim, mas procura fazer
outra coisa, enquanto eu pego Oli do chiqueirinho e o levo até o trocador que
Oliver colocou na varanda mais cedo.
Oli não gosta muito de fraldas, e por isso ele sempre aproveita da
situação para ficar inquieto. Seus gritinhos se sobressaem, chamando atenção
dos meninos.
Ouço a voz de Dom quando ele faz um comentário e corre na minha
direção assim que ele parece perder a partida do jogo.
Sou surpreendida por um beijo dele na minha bochecha, tão forte que
chega a estalar.
Não acho nada demais.
O conheço há bastante tempo, cuidou de mim quando eu estava
gestante e fez o parto, agora além de ser tio de Oli, virou um grande amigo
para mim.
— E aí, qual o problema? — pergunta observando a situação.
— Oli odeia fraldas. Ele realmente não deixa colocar.
— Você precisa distraí-lo. Tornar esse momento o mais divertido
possível também, mesmo que envolva cocô, às vezes, o que já é horrível —
explica.
Sorrio concordando com as palavras dele.
Mas, vai entender crianças?
Oli é igual ao pai, uma caixinha de surpresas.
— Assim? — pergunto e começo a fazer várias caretas para Oli, que
acha graça e estica as perninhas, quando acho o momento perfeito para vestir
a fralda nele.
— É, você é boa nisso — zomba e empurro seu ombro de leve.
Dom sorri, e se distancia indo para o banheiro.
Volto a me distrair com Oli, mas de canto observo uma movimentação
diferente e me viro. Vejo uma Júlia furiosa andando na minha direção, ela
esperou o noivo sair para entrar em cena. Acho que nunca vi seus olhos tão
azuis, e a forma como ela me olha e anda, revela que alguma coisa a irritou
muito.
Mas me preparo para seja-lá-qual-for a sua tacada. Já dei um tapa em
uma que me humilhou, não faria diferente outra vez.
— Primeiro o da Melissa, depois o Nicolo, vai querer tirar o Dom de
mim também?! — pergunta de forma rude, mas baixinho para que os outros
não pudessem ouvir.
— Do que você está falando? — Pego Oli no colo, só ele para evitar
que algo de pior aconteça neste momento.
Meu coração está batendo forte e o meu corpo começa a tremer todo;
odeio essa sensação.
“Por que essas garotas não me deixam em paz?!”
— Não se faça de sonsa! Você fica agindo feito uma tola, mas sei bem
que tipo de raça você é! — Seu tom é ameaçador e mostra os dentes como se
fosse me morder a qualquer instante.
Olho séria para ela e fico paralisada.
Não posso reagir, não posso fazer outro escândalo igual ao do
shopping porque não sei do que Domenico também seria capaz. Sem contar
que tem meu pai, Muriel e Oli, eu odiaria que eles presenciassem uma coisa
do tipo.
— Vamos! Cadê sua bravura? Bate em mim, do mesmo jeito que você
meteu a mão na cara da Sofia, sua sonsa falsa!
— E por que você está sussurrando? Está com medo? — pergunto no
mesmo tom, mas ela não se acanha.
— A diferença entre nós duas é que não preciso me segurar a macho
algum para ser bancada. Não sou uma fodida igual a você! — conclui com
um sorriso cruel nos lábios.
Eu podia jurar que nessa hora, eu ia gritar com ela. Mas meu sangue
parece subir para minha cabeça e o choro guardado chega a arder minhas
narinas, forçando as lágrimas a surgirem. Antes que eu cogite fazer qualquer
coisa, tenho tempo só de ver Júlia sendo puxada para dentro da mansão por
Matilde.
Não sei como, mas ninguém percebe o que está acontecendo bem ali
perto.
Quando Matilde arrasta Júlia pelo braço para dentro da sala de jantar,
eu as acompanho com Oli no braço.
A cena toda me deixa chocada.
No mesmo instante, Muriel vem descendo a escada e olha toda cena
assustada.
— Escuta, garotinha, é melhor você respeitar a dona da casa! —
Matilde diz com firmeza, mas Júlia acha graça.
— Não é como se você a amasse também. Você a odeia tanto quanto eu
— debocha, mas logo fica séria. — Ou você está tentando agradar “a dona
da casa” só pra garantir o seu maldito emprego? Já que as outras
funcionárias quase ficaram desempregadas por dizerem a verdade sobre essa
aí?
Olho para Muriel quando Júlia se refere a mim com desprezo. Ela
quase tropeça no degrau, mas desce fuzilando a noiva de Dom com os olhos.
— Você não merece saber de nada! — a governanta profere
rispidamente enquanto me defende.
— Me solta! — Júlia ordena quando Matilde dá outro sacode nela,
mas não a solta.
Ela toma uma decisão muito arriscada ao enfrentar a noiva de Dom
deste jeito, mas Matilde prefere me defender, mesmo que eu não precise de
alguém para isso porque eu sempre precisei me virar sozinha pra tudo. E eu
sei que a governanta nunca me amou, mas todas receberam uma segunda
chance, e cá está ela, colocando em prática o respeito que deveria ter sido
oferecido a mim desde o começo.
Matilde puxa Júlia mais um pouco para sibilar:
— Trate mais uma vez a senhorita Isis mal, que o senhor Domenico irá
descobrir quem de fato você é quando não tem ninguém olhando — ameaça e
então a solta.
Desta vez, Júlia não mostra as garras, foi um aviso sério, e ela tem
medo que possa ser real. Mas seu olhar para nós duas é fulminante, e ela sai
rosnando e batendo os pés, passando por mim igual um furacão.
Balanço Oli em meu colo, e fico olhando para Matilde atrás de uma
explicação. Mas ela sorri para mim e piscando atônita, devolvo o sorriso.
Acho que estamos bem, afinal.
— Obrigada, Matilde — digo suavemente.
— A senhorita não será mais tratada de forma injusta nesta casa —
explica, e o meu coração se aquece com aquela promessa.
Mas é Muriel que termina de descer a escada e vem na nossa direção
em disparada, sem tirar os olhos de mim, mas quando olha para Matilde, seu
semblante expressa desconfiança.
— Hora de você me explicar o que está acontecendo aqui! — diz para
mim.
Respiro fundo.
— É uma longa história.
— Tudo bem! Eu sou paciente. Vou sentar o meu rabo aqui e ouvir
tudo, Isis, porque você vai me contar tudo! — exaspera puxando uma
cadeira e sentando de braços cruzados igual uma criança emburrada.
Isso sim é ameaçador.
Esconder algo da sua melhor amiga é o mesmo que dizer que você não
confia nela. Mas se estive privando Muriel dessas informações até agora,
porque somente ela não havia aceitado a minha nova realidade, e confiava e
aceitava as novas pessoas que me cercam. Mas agora tenho minhas dúvidas.
— Me dê ele aqui, senhorita Isis. Farei o bebê dormir, não se
preocupe — Matilde diz pegando Oli dos meus braços e eu não hesito.
— Obrigada.
Dou um beijo suave na cabeça do meu filho e acompanho com os olhos
Matilde subir para o segundo andar, onde fará Oliver dormir agora no quarto
que é só dele.
Desde que voltamos do Paraná, Oliver implorou que eu fosse dormir
no seu quarto; eu não hesitei, mas também não era como se conseguíssemos
ficar por muito tempo longe de Oli, que continuava acordando de madrugada.
Olho para Muriel e ela faz cara de impaciente. Então, conto tudo a ela.
Conto de quando cheguei e as funcionárias de Oliver foram as
primeiras a me destratarem, sobre o jantar onde as mulheres dos amigos de
Oliver tentaram me humilhar de todo jeito, menciono que os próprios amigos
dele não acreditavam em mim, com exceção de Domenico. Sobre as
funcionárias que foram flagradas falando mal de mim, mas que com muito
choro fui convencida a fazer Oliver mudar de ideia. Revelo que me estranhei
com a namorada de Nicolo dentro de uma loja no Paraná, que dei um tapa na
cara dela e ele terminou com a loiraça.
Muriel ri, acha incrível, e então, explico a ela o recente
desentendimento entre Júlia e eu.
— Eu vou lá fora agora dar na cara dessa vadia! — Levanta, mas a
intercepto.
— Não vale a pena. Seria demais para o Dom também, deixa todos se
divertirem.
— Bom, você está se divertindo?
— Estou feliz que estejam aqui, curtindo com a gente. Nada mais além
disso importa — respaldo e Muriel revira os olhos.
— Isso é até a namorada do outro enfrentar você também? Espero que
ela venha agora enquanto estou aqui.
Olho surpresa para ela, desde o ensino médio que não vejo Muriel tão
brava assim. Ela percebe que acho até mesmo graça da sua postura, e se
explica:
— Odeio gente rica que se acha melhor do que os outros. Eu disse que
tinha algo aqui que não me cheirava bem.
— Você nunca disse isso — refuto.
— Bem, estou dizendo agora!
Não acho justo ela falar deste jeito, até porque os amigos de Oliver
são incríveis, e não merecem ser julgados pelo dedo podre para escolher
suas mulheres. Com isso, lembro de Lorenzo como exemplo.
— Talvez você devesse passar mais tempo conversando com Lorenzo,
ele é muito legal.
— E fazer com que a namorada dele também se mostre psicótica? Não,
obrigada.
— Não se a gente for pra lá e nos entrosar. — Enrosco meu braço ao
dela. — Vamos, eu fico perto de vocês, assim não parece que vocês estão
flertando.
Muriel avalia a minha proposta e então olha para fora através da porta
aberta. Lorenzo sai da mesa quando Dom e o meu pai começam a jogar
dominó.
— Ele bem que é gatinho — comenta e sorrio.
Puxo Muriel pelo braço, a fim de mostrar as pessoas certas a quem
deve confiar.
Vim para meu escritório hoje. Tive duas reuniões estressantes só pela
manhã e mais uma longa ligação estrangeira que fiz durante à tarde.
É sexta-feira, e como tivemos uma semana daquelas na empresa, meus
amigos estão loucos para aliviar a tensão demandada no trabalho e os
entendo.
Também quero muito relaxar, embora apenas a presença de Isis e Oli
seja o necessário para eu me sentir em paz.
Mas é coisa de homem.
A gente se encontra entre amigos num bar, toma umas e então fica
desabafando sobre os dias anteriores e as coisas bizarras que presenciamos.
No máximo, chegamos a mudar de assunto e falar sobre futebol ou os novos
filmes de uma franquia que gostamos que está prestes a lançar.
É isso o que a gente faz quando se reúne.
E honestamente, faz bastante tempo já que não faço mais isso. Não
tenho dúvida de que Isis entenderia. E quando Dom, Nicolo e Lorenzo se
reúnem em meu escritório para me esperar e sairmos todos juntos, embora
em carros diferentes, sinto que preciso ligar para a minha noiva e avisá-la
sobre meus planos.
Deixo os três conversando sobre a reunião de hoje que foi exaustiva
por conta de alguns acionistas exigentes. Vou para perto da janela que me dá
uma bela vista da ponte e logo para ela.
O celular de Isis chama até a ligação cair. Acho estranho, mas tento de
novo, e nada.
Já está anoitecendo, a caminhada dela durante o entardecer já deve ter
acabado. Ela deve estar em casa com nosso filho, ocupada demais para
atender o celular. Então ligo para o telefone de casa e Matilde atende no
terceiro toque.
— Oi, Matilde. Passe a ligação para o cômodo em que Isis estiver,
preciso falar com ela — peço coçando a testa com o polegar, algo me
incomoda, mas não dou a devida atenção.
Silêncio...
Ela parece perder a voz.
— M-mas a senhorita Isis ainda não voltou da caminhada — revela e
meu estômago dá um nó de preocupação.
— Como não voltou? — repito só para ter certeza.
— Achei até que ela estivesse com o senhor.
— Mas não está — digo rispidamente. — Ela não atende o celular.
Percebo que meus amigos se inquietam diante da minha reação.
— Posso procurar pela casa, talvez ela tenha chegado e ninguém
percebeu — sugere, e lá no fundo, sinto uma ponta de alívio.
Vai ver, foi isso mesmo.
— Ok, Matilde. Obrigado.
Desligo a ligação, mas fico olhando para a tela do celular um pouco
desorientado. Estou com uma sensação horrível que parece deixar em meu
peito um buraco.
Por que sinto que existe algo de errado?
Por que quero acreditar que Isis não voltou para casa com Oli?
Sinto uma mão apertar o meu ombro e me espanto. Não sei o quão eu
estava envolvido em pensamento e por quanto tempo fiquei em silêncio, mas
é Dom que toma a dianteira e vem saber o que tá acontecendo.
— Tem alguma coisa errada? — pergunta com os olhos azuis atentos.
— Isis e Oli não voltaram para casa — comento e parece que a minha
boca está dormente ou cheia de areia, tanto que mal sinto a pronúncia das
palavras.
— Será que ela não está na casa de alguma amiga? — Nicolo
pergunta.
— Isis ainda não tem amigas na cidade — digo em tom acusatório.
Júlia, Sofia e Bruna deveriam ser amigas de Isis, mas sei o que rola.
Mesmo que ela não me conte nada, sinto o quanto aquelas três as odeiam.
Tanto que Sofia foi afastada de vez do nosso círculo de amizade; se ela não
gostava e não respeitava a mãe do meu filho e minha mulher, ela não
respeitaria mais nenhum de nós.
Nunca pedi a Nicolo que pensasse com mais cuidado, ele fez algo que
deveria ter feito muito antes.
— Talvez ela tenha resolvido vir até a empresa e fazer uma surpresa a
você — Dom sugere.
— O celular dela está chamando. Não acho que apareceria aqui suada
e com roupa de exercícios, ainda mais que ela caminha empurrando Oli no
carrinho.
— Já escureceu. — Lorenzo lembra, fazendo a minha mente virar uma
confusão e meu coração galopar.
— E se ela foi para Blumenau ao invés de caminhar? — Dom supõe
mais uma vez, otimista de que nada grave havia acontecido.
Eu gostaria muito de estar sentindo isso, mas parece até que nada do
que eles digam será suficiente para tirar este peso mórbido do meu peito.
— Nada disso faz sentido — comento soltando um suspiro. — Preciso
voltar para casa e procurá-la.
— Tenta ligar mais uma vez — Lorenzo diz.
Sigo o seu conselho.
Vou caminhando em direção à porta enquanto busco pelas chamadas
recentes. Meus amigos se prontificaram logo atrás enquanto me seguem.
Quando estou a caminho de ligar de novo para Isis, um número desconhecido
pisca na tela do meu celular.
Paraliso olhando a tela e fico pensando se isso deveria ou não
significar alguma coisa.
Pouquíssimas pessoas têm o meu contato pessoal, e eu nunca recebi
uma ligação de um desconhecido antes. Mas meu polegar está tremendo e
pesando na direção da tela, porque não importa a merda da minha posição
social e exclusiva, se eu não atender agora e descobrir depois que se tratava
de Isis, não me perdoarei pelo deslize.
Então atendo, mas não digo uma palavra. Espero e existe apenas do
outro lado da linha uma respiração pesada e cansada. Por alguma razão
assustadora, fico arrepiado e amedrontado.
— Olá, senhor Oliver. Estava esperando pela hora em que trocaria
uma ideia com você — diz a voz masculina robotizada, sádica demais para o
meu desespero.
— Quem está falando? — pergunto com firmeza.
“Se for um trote, eu juro que…”
— Se eu disser, perde a graça.
Interrompe meus pensamentos e diz com uma voz cheia de animação
cruel:
— Mas tenho nomes a te dar e são dois... Isis e Oli. Você conhece, não
conhece?
Meu coração paralisa e meu corpo se estilhaça. Sinto que estou sendo
mutilado quando os nomes são proferidos de forma maliciosa.
Fico calado porque estou envolvido na merda de um pânico
devastador.
— Bem, pelo seu silêncio, vou considerar que sim. Mas o senhor já
deve ter notado que a sua mulher ainda não voltou para casa com o bebê. Eu
vi você ligando para ela, Oliver. Quase acordou o seu filho, precisei colocar
no silencioso e…
— DE QUE PORRA VOCÊ ESTÁ FALANDO, SEU MALUCO?! —
grito me afastando da porta com urgência, deixando meus amigos assustados.
— Eu queria começar de um jeito agradável, mas já vi que você gosta
das coisas difíceis — diz alterando a voz para algo mais frio e seco. — Mas
saiba que a porra do anel de noivado que a sua mulher tem em seu belo
dedo, não é o suficiente, mas vamos cuidar bem dele. Na verdade, estamos
cuidando muito bem dos dois, se é que você me entende.
Estava e não estava entendendo. A situação parecia ser feia de
qualquer modo, mas ainda não consegui decifrar o que aquilo poderia
significar ou talvez eu já soubesse, só não queria ter mais certeza ainda.
“Eu não queria que fosse real.”
— Droga! — pragueja do outro lado da linha, irritado com meu
choque. — Ouça bem, merda. Estamos com a droga da sua noiva e do seu
filho. E você tem a porra de duas escolhas, ou faz o resgate com as nossas
exigências, ou então pode dizer adeus para o seu grande final feliz!
A ligação é desligada e deixo meu celular cair no chão. Desabo na
poltrona mais próxima e levo as mãos à cabeça.
“Isso só pode ser a porra de um pesadelo!”
A minha boca está seca, me vejo num beco sem saída, e as paredes
desse beco vão se fechando cada vez mais, me impossibilitando de
conseguir respirar.
Vejo movimentos, mas não ouço nada além de um eco profundo
daquela voz mórbida e sádica tomando minha felicidade e paz para si.
Ele está com Isis e Oli.
“Eles estão.”
O tempo todo deixou claro não estar agindo sozinho.
A minha noiva e meu filho foram sequestrados.
Quando noticiei isso aos meus amigos, Lorenzo cambaleia.
— Puta merda!
— Co-como isso aconteceu? — Nicolo pergunta pálido e tão
congelado quanto eu.
Mal consigo respondê-lo.
O único que tem reação de imediato é Domenico.
— Temos que acionar a polícia. Ele falou alguma quantia? — pergunta
para mim, mas não consigo dizer nada, então me dá um sacolejo. — Reaja,
Oliver! Fala alguma coisa, porra!
Não consigo.
Sinto que estou sem voz, mas a minha cabeça está barulhenta, e só
consigo pensar, “Deus, não quero perder a minha família.”
Conto a Isis o que aconteceu e ela não poderia estar mais triste por
Nicolo, e muito espantada por Sofia.
É uma droga que o seu primeiro dia de trabalho, a sua volta para a
vida comum, tenha sido de certa forma toda essa bagunça descontrolada.
Mas nada é mais gratificante do que no final do dia, sairmos juntos do
trabalho e voltarmos para casa colados, e então, encontrando o nosso filho
dando uma soneca em paz, no seu lar, um lugar cheio de amor para lhe dar.
No jantar, conto aos outros integrantes da casa que os sequestradores
foram identificados e que Sofia e Tobias estavam sendo caçados. Muriel e
Daniel ficaram chocados com a notícia, mas depois ela desdenhou,
afirmando que sabia que havia alguma coisa de errado com um de nós. Olho
para ela incrédulo, mas Isis pediu para eu relevar os surtos de Muriel, que
sempre anda desconfiada das pessoas.
Agora sei que não posso julgar esse seu lado, Muriel está certa. Irei
adotar este lado também, e sei que não serei o único.
Não posso imaginar o quão Nicolo se tornará exigente agora com seus
relacionamentos.
Mais tarde, quando Oli já está dormindo, Isis e eu vamos para cama e
continuamos conversando sobre as revelações de mais cedo. Estou deitado
só de cueca enquanto ela está deitada com os braços apoiados na minha
barriga, onde descansa a cabeça. Confesso que eu não gostaria estar de
papo, pois ela está vestindo um lindo baby doll branco e rendado.
Uma delicinha.
Só consigo pensar na minha língua deslizando pela pele morena dela,
tão macia e gostosa, traçando um caminho pecaminoso até o seu ventre,
descendo e descendo até chegar na sua…
— Ei! — Estala os dedos na minha frente. — Dá para manter o foco?
Dou um suspiro angustiante.
Porra, preciso muito foder!
— O que foi? — pergunto fazendo uma cara de frustrado por não estar
fazendo o que eu tanto quero agora.
— Estou falando sobre os seguranças. Falei para eles para não
entrarem na minha sala amanhã, mas acho que eles esperam por uma
autorização sua.
Balanço a cabeça.
Sei que me importo com a segurança da minha família, mas agora eu
não gostaria de estar falando sobre isso. Então apenas ressalto:
— Você é a minha noiva, eles também devem receber ordens suas.
Isis recua surpresa, com um semblante debochado, eu diria.
— Que bicho te mordeu, senhor Oliver?
— Na verdade, estou louco para ser mordido — sibilo roçando minha
barba pelo antebraço dela. — E para ser apertado. Querendo sentir aquele
negócio que você faz com a buceta. Assim... — Meus dedos engatam no
pulso dela e aperta e então solta, fazendo aquela compressão, mas não chega
nem perto do que eu realmente sinto quando Isis contrai a bucetinha dela com
o meu pau lá dentro.
Isis faz uma cara de espanto quando eu revelo isso.
— Descobri o seu segredo?
— Sim, que droga! Foi exatamente esse elemento que usei para te
enfeitiçar! — brinca. — Nem parece que foi hoje de manhã que eu te chupei
no closet.
— Eu adoraria retribuir o prazer, querida.
— Você quer tentar? Podemos ir para o chuveiro — sugere com os
olhos vítreos.
Eu sabia que Isis estava com tanto tesão nesses últimos dias.
— Pode ser, temos a banheira também. — Dou outra ideia.
Puxo Isis para cima, fazendo com que monte logo em seguida em cima
de mim. Ela senta propositalmente sobre o meu pau e arregala os olhos,
surpresa com a minha ereção tinindo na sua virilha.
Seu sorriso é de pura satisfação.
— Vem cá.
Minha mão engata na sua nuca e a puxo para mim, para poder alcançar
a sua boca onde enfio a minha língua. Ela geme logo em seguida, com prazer,
enquanto me aprofundo mais e mais naquele beijo, puxando-a para mim a fim
de torná-la uma parte minha.
Deixo que meus dedos desçam para seus seios e sintonize seus
mamilos rígidos e duros. Isso a leva à loucura. Ela fica ereta e começa a se
esfregar no meu pau, desejando sentar com tudo nele ali mesmo enquanto
estímulo seus seios e me inclino na direção deles, afastando o pedaço de
pano do decote, deixando-os para fora onde eu possa passar a língua e
chupá-los.
Sinto toda a sua pele arrepiar e ficar quente. Os gemidos dela são
como músicas para meus ouvidos, e seus dedos que afundam no meu couro
cabeludo e puxam para mais perto do seu seio faz com que o meu pau lateja
ardentemente.
Depois de um dia tenso, tudo o que eu mais quero é me afundar nela.
— Meu amor, não importa a situação, se eu puder fodê-la, eu irei —
sussurro em meio aos seus seios. Paro para olhá-la por um segundo. — Você
é a minha cura. E hoje eu preciso de você. Eu sempre vou precisar de você,
Isis.
— Ah, Oliver — sibila enquanto geme.
Agarro sua nunca a tensionando mais ainda em direção a minha ereção.
— Eu sou toda sua, você sabe que eu sou. E estarei pronta para você
em qualquer situação.
É uma carta branca.
Sem medo e nenhuma outra sensação além de prazer e amor
exacerbado, enfio minha mão por debaixo do vestidinho de Isis e meus
dedos ágeis trabalham afastando a calcinha fina dela para o lado. Quando
passo o dedo, a sua umidade me tira o fôlego, mas pode ter um outro
significado, por isso puxo o meu dedo de volta e olhamos ansiosos
Abro um sorriso quando vejo apenas um líquido viscoso e
transparente, que mela todo o meu dedo.
— Humm. Isso parece um bom sinal — comento.
Isis morde o lábio inferior dela, com uma cara serelepe para mim.
— Você está louca pra sentar no meu pau, né, meu amor?
— Estive esperando muito por esse momento — revela o que eu já
sabia.
Estamos com tanta pressa, que ela nem perde tempo tirando o baby-
doll e apenas coloca a calcinha de ladinho. Isis também se mostra cheia de
habilidade quando ela ergue o quadril e puxa a minha cueca para baixo,
fazendo o meu pau pular para fora, batendo em sua entrada.
Arfamos juntos com aquela provocação.
Sem escrúpulos, segura o meu pau e o roça na sua entrada melando
toda a cabeça com o seu líquido delicioso. Eu me estiro nos travesseiros e
fico me deliciando enquanto ela brinca, dando mais prazer ainda a nós dois.
Então, de olhos fechados, só sinto quando Isis senta em mim com vontade, de
um jeito nada cuidadoso. Ela sobe de novo, e desce, sobe e desce, fica
repetindo esse movimento até meu pau estar encharcado dela.
Quando sente que dá para deslizar melhor, Isis começa a cavalgar em
mim. Abro os olhos e tenho a visão do paraíso, a minha bela noiva de pele
morena e cabelo castanho e ondulado, corpo perfeito, simplesmente
cavalgando em mim com seus seios para fora, pulando enquanto ela me fode.
Seguro a sua cintura e aperto para dá-la mais estabilidade. O som que
preenche o quarto é de quando a buceta encharcada dela bate na minha
virilha, seguido do seu gemido de quando ela me afunda dentro de si.
— Aí, Oliver! Tá tã–tão gostoso! — choraminga.
— Eu sei, meu amor. Rebola para mim, querida. Rebola.
E ela obedece, senta e então remexe o seu quadril, finalizando com
aquela prensada que falei anteriormente.
Vou à loucura, seguro seu quadril com mais firmeza e a pressiono
contra mim.
— Seu grelinho tá gostando, tá? — pergunto, sabendo que meus pelos
ali embaixo acariciam aquela parte sua de um jeito bem especial.
Em resposta, Isis goza como um ser descontrolado. Seu gemido
bonitinho se torna um grito de pura agonia quando o seu orgasmo explode de
vez, e eu sinto tudo, me excitando e me levando a gozar logo em seguida.
Arqueio meu quadril só para ter que fazê-la sentir toda porra jorrando
bem fundo, e Isis arfa quando sente o calor lhe inundando. Depois disso, ela
despenca em meus peitos e ficamos caladinhos, recuperando o fôlego.
Passo os dedos em seu cabelo e então beijo a sua cabeça, me dando
conta de que essa é a primeira vez que fazemos amor desde o dia em que ela
foi sequestrada. Pensando nisso, e sentindo o meu coração dar um tranco, a
seguro em meus braços com força.
— Eu amo você. Obrigada por estar aqui — declaro, parecendo só
mais uma das minhas infinitas declarações.
Mas Isis sabe...
Ela sabe que isso significa que estou feliz por não ter terminado de um
jeito pior.
— Eu também amo você, meu amor.
Se a vida for mesmo feita de ciclos, não quero que este acabe nunca.
OLIVER
É meu aniversário.
Não lembro de ter comentado isso com alguém, pois depois do
sequestro e como todos ainda estavam abalados com as consequências
daquilo, não sei se ficar em clima de festa seria algo educado da minha
parte.
Lorenzo está se recuperando do tiro ainda e Nicolo está mais
deprimido do que o normal, embora ele tente disfarçar de todas as formas, já
percebemos o quanto ele está sofrendo.
Oliver e eu já tivemos infinitas conversas sobre o que faríamos para
aliviar a situação dele, mas ao que tudo indica, somente o tempo será capaz
de curar a mágoa no peito do nosso amigo. E confesso que estou tão cansada
que mal consigo pensar na organização de uma festa.
Não consigo negar como voltar a trabalhar tem sido mais cansativo do
que eu esperava. Fico meio período na creche, mas quando chego em casa,
preciso me dedicar a vida de mãe. Não quero ficar ausente na vida de Oli,
acho importante a conexão que estamos criando agora que ele está
aprendendo tudo.
Muriel me convidou para passearmos no shopping. Não dispenso os
seguranças, mas peço para que eles nos deem privacidade para aquele
momento, pois desfrutamos de dias radiantes depois que os sequestradores
foram presos.
Como a captura aconteceu mais rápido do que esperava, Oliver
acabou afrouxando as rédeas em relação aos seguranças. Eles já não andam
me seguindo para cima e para baixo igual uma sombra, agora, eles fazem o
trabalho deles de forma mais sucinta, o que melhorou muito meu desempenho
no trabalho, já isso não me estressa mais e consigo manter o foco.
Muriel e eu paramos em um café para conversarmos e tomarmos um
frappuccino e comer um sanduíche, coisa simples. Mas para variar, como
uma boa amiga irritante que é, ela começa a zombar:
— Desculpa estar trazendo você a uma cafeteria do shopping no dia do
seu aniversário. Uma madame como você merece coisa requintada, mas eu
sou apenas uma professora de inglês, é o que posso pagar.
Balanço a cabeça a reprovando.
— Você é uma boba, sabia?
— É sério! Como competir com os quilos de joias que Oliver irá dar a
você hoje? Ou, sei lá, talvez uma Ferrari.
— Não acho que nenhuma das duas coisas combine comigo. Oliver me
conhece, sabe como me surpreender — respaldo.
— Bem, já é surpresa suficiente que ele não tenha organizado uma
baita festa para você ou não fui convidada?
Reviro os olhos e tomo um pouco da minha bebida, que revigora tudo
dentro de mim.
— Você sabe que não faço muita questão de fazer festas, Oliver sabe
disso também. Acho que não estamos em clima de comemoração, ainda.
— Como não? — exaspera arregalando os olhos. — Olha o que vocês
passaram! Deveria ser uma forma de celebrar a vida e as novas chances.
— É, você tem razão. Mas isso pode ficar para o casamento, já acho
perfeito estar aqui com você tomando uma bebida quente e gostosa. — Ergo
a caneca de vidro e ela faz o mesmo, então brindamos.
— Ao seu aniversário!
— Ao meu aniversário!
Damos um gole e Muriel comenta logo em seguida:
— Isso bem que poderia ser uma cerveja bem gelada.
— Talvez a gente tome alguns drinks hoje à noite. — Não resisto e ela
faz uma comemoração sútil. — Papai me ensinou a fazer caipirinha. Não que
ele seja fã, mas ele disse que o tempo livre o obrigou a aprender muitas
coisas novas.
— O tio Daniel está entediado, ele sente falta da casa dele. Quer dizer,
ele ama estar com o neto e tudo mais, mas a vida dele está em Blumenau.
— Eu sei. — Meus lábios se curvam, achei que ele se adaptaria por
estarmos todos juntos, mas não foi o caso. — Ele não me contou nada ainda,
mas percebo que está se sentindo incomodado já.
— Bem, você é um bom exemplo para isso. Foi se adaptando com o
tempo, quem sabe ele não se adapte daqui um mês.
— Papai ama aquela casa, Muriel, sente falta do irmão, das manhãs na
feira, das tardes de dominó e das noites na esquina do mercadinho do seu Zé
enquanto conversa com os amigos. E aqui… — Dou de ombros. — Bem,
você sabe. Quanto mais velho vai ficando, menos em casa ele quer ficar.
Ela solta um suspiro em compreensão.
Sabíamos que em algum momento meu pai começaria a sentir a
mudança lhe afligindo e não havia muita coisa que eu pudesse fazer. Mesmo
com tudo aparentemente seguro agora, Oliver não se sentiria bem em deixá-
lo passear no parque sem os seguranças, papai já deixou claro que não quer
ser seguido por dois homens enormes que parecem os Homens de Preto.
Como eu havia dito, ele gosta de ser um homem livre, ainda mais na idade
em que está.
— Você permitiria que ele voltasse para casa, se tocasse no assunto?
Me remexo na cadeira e penso um pouco a respeito.
— Ele já está em casa, Muriel. Oliver já explicou que aquele lar
também é de vocês…
Ela solta uma risada me interrompendo.
— Aí, Isis. Conta outra! Agradeço a gentileza pela hospitalidade de
cinco estrelas de vocês, mas putz! Não queremos atrapalhar.
— Vocês não estão atrapalhando — digo séria e ela me olha com uma
cara maliciosa.
— Eu sei disso. Na verdade, nós sabemos disso porque você é bem
escandalosa nas noites quentes com o seu noivo — revela me deixando
chocada.
Arregalo os olhos e tapo a boca com as mãos, me sentindo
completamente envergonhada. Meu rosto esquenta e não sei onde enfiar
minha cara.
— Por que você nunca me contou?! — quase grito.
— Porque você nunca perguntou! Além do mais, não estou aqui para
pontuar isso quando estou na casa de vocês. É o seu direito gemer igual uma
vaca louca.
Fecho os olhos e os aperto com força tentando não imaginar a situação,
mas pergunto:
— Quando você diz que “nós sabemos”.
— Se quero dizer que seu pai também ouve alguma coisa? — pergunta
em disparada. — Não é difícil, mas relaxa. Você já é uma adulta e tem um
filho, como acha que os bebês são feitos?
— Eu engravidei com a ajuda de fertilização in vitro, Muriel —
destaco.
— Droga, é verdade! — Dá um tapinha na testa pelo descuido. — Mas
vocês estão noivos, e não acho que guardou sua virgindade para depois do
casamento. Bem, tenho certeza que não — diz por fim, dando uma risada
especulativa.
Dou outro gole da minha bebida.
Caramba, talvez eu beba realmente uns drinks depois dessa.
— Vamos ter que ser mais discretos, até porque Oli vai crescer, e ele
não precisa ouvir essas coisas — ressalto esse ponto preocupada.
— Acho que isso é o drama universal de casal que tem filhos, não é?
Vocês vão se acostumar em algum momento. Menos eu. Fico me sentindo
muito mal todas as noites por ser solteira, e ouvir você e Oliver trepando
não ajuda em nada.
Cruzo os braços sobre a mesa redonda e olho para ela atentamente.
— Olha só quem fala. Antes de eu me envolver com alguém, você
tinha a vida sexual bem mais resolvida que a minha.
— Isso era em Blumenau! Aqui eu não conheço nenhum boy gostoso
além dos amigos do Oliver e que são todos comprometidos.
Arqueio uma sobrancelha.
— Um deles está solteiro — pontuo.
— E vai precisar de terapia — comenta e eu comprimo os lábios para
não cair nesse humor ácido. Ela ressalta: — E eu não gosto de me envolver
com homens problemáticos.
— A ex-namorada dele que era problemática — rebato sentindo uma
repulsa ao ter que lembrar dela.
— Você não vai me convencer a ficar com o Nicolo, Isis — alerta com
firmeza. — Talvez Lorenzo, ele é um bebezinho.
Olho para ela consternada.
Muriel e sua atração sexual por homens bem-comportados, que ela
conseguiria manter na coleira e ser a dominante da relação. Dizem que
ruivas são puro fogo, e bem, Muriel deixa isso bem claro quando está com
alguém. Fico imaginando como Lorenzo se comportaria nas mãos dela, igual
a um submisso; mas lembro de algo mais real:
— Ele tem namorada.
— Não precisa tacar a verdade bem na minha cara. Eu já sofro o
suficiente por não ter aquele bebê comigo — confessa choramingando.
— Muriel!
Começamos a rir naquele momento de pura descontração. Só então me
dou conta de que fazia um tempo em que não nos juntamos para conversar e
dar boas risadas, mesmo morando sob o mesmo teto e dentro daquela enorme
mansão, onde nos encontramos todos os dias.
Ela dá um longo gole do seu frappuccino, como se a bebida quente
fosse ajudá-la a colocar lá no fundo aquele assunto.
— Vai, me conta como foi a primeira semana de volta ao trabalho? —
pergunta curiosa e conto tudo a ela bastante empolgada.
— Não tem sido uma grande diferença da antiga instituição que eu
dava aula, mas confesso que a creche da empresa do Oliver segue um plano
pedagógico o qual não estou acostumada. Às vezes acho que as lições são
muito avançadas para as crianças, mas eu que sou ingênua, pois elas
acompanham tudo que repassado nas salas de aulas. A gestora Sabrina me
explicou que todo ano as crianças passam por uma semana de avaliação,
onde os professores ficam estudando atentamente o desempenho dos alunos e
então, na sala das professoras, é discutido o desenvolvimento cognitivo das
crianças e depois decidido o plano anual.
Em breve eu passarei por essa experiência, e confesso que estou
entusiasmada. No meu antigo trabalho tudo era muito bem-feito, mas como
tratava-se de um jardim de infância, alguns pais confundem facilmente com
berçário.
Conto a Muriel sobre o drama que passei com os seguranças e foi um
deleite para ela, que sempre soube que estava certa a respeito de eu não
aguentar toda aquela proteção exagerada. Conto também de como foi receber
a notícia de que Sofia estava envolvida no sequestro, como as pessoas na
empresa me olham por saber que fui sequestrada dias atrás e como isso deve
ter deixado Oliver louco. Já ouvi alguns comentários, algumas pessoas
realmente não se esforçam em serem discretas.
Fora isso, as coisas vão indo muito bem.
Então ficamos mais um tempinho na cafeteria. Depois passeamos mais
um pouco pelo shopping e eu ainda achei que seria legal pegar um
cineminha, mas Muriel deu para trás.
De repente ela acha melhor irmos para casa, pois não estava se
sentindo bem. Não hesitei, seria horrível se ela começasse a passar mal no
meio do shopping e eu conheço a minha prima muito bem, ela nunca fica
doente, e quando se sente mal, é para valer.
Jorge está dirigindo para Oliver hoje, então é um dos seguranças que
está no comando da SUV. Fico preocupada com Muriel durante todo o
percurso. Ela está bastante inquieta, parece nervosa, não está falando muito,
mas sempre olha no celular. Talvez contando os minutos para quando
chegarmos.
Por sorte, o trânsito está fluindo bem, então chegamos a tempo dela ter
qualquer piripaque.
O carro é estacionado dentro da garagem e descemos dele com pressa.
— Parece que você vai vomitar. Poderíamos ter parado em um
hospital no caminho para ver logo o que é isso — digo enquanto estamos a
caminho da porta da garagem que dá acesso para a mansão.
— Tudo bem, Isis. É só um mal-estar. — Abre a porta e entra no
corredor que dá acesso para a cozinha e a escada.
Ando bem perto dela, pois se desmaiar, irei segurá-la.
— Será que foi o frappuccino?
Muriel não responde. Até que um coro explode em comemoração
assim que passamos da escada:
— Surpresa!
Olho assustada, segurando o coração dentro do peito enquanto
assimilo tudo, mas sorrio assim que percebo a simples e elegante decoração
feita, tem até um bolo na mesa, com bastante calda.
Percebo que acabei de cair em uma encenação muito boa para
descobrir que recebi uma linda surpresa da minha família.
Quero matar Muriel, pois não desconfiei de nada desde o início.
Acreditei mesmo que ela estivesse passando mal, mas confesso que
decorrente dos acontecimentos anteriores, às vezes acho que a sorte não está
muito do nosso lado. Mas foi só um susto, uma encenação muito boa para
revelar algo completamente maravilhoso.
— Eu não acredito que vocês… — digo ainda consternada, mal
conseguindo terminar a frase. — Nossa! Eu caí direitinho!
Os amigos de Oliver estavam ali, inclusive Bruna e Júlia.
— Como você não fica esperando por festas surpresas no dia do seu
aniversário? — Muriel pergunta, ainda ao meu lado, como se isso fosse um
absurdo.
— Eu não sei… Eu só… É difícil de explicar.
Todo ano ao chegar no trabalho, sempre recebia uma comemoração,
mesmo sendo surpresa, eu já sabia que iria receber. Meus aniversários eram
sempre comemorados no sossego de casa, com Muriel, meu tio (pai dela),
meu pai e poucos amigos.
Eles sabiam que essa data sempre me deixava deprimida; lembrava da
minha falecida mãe, e da ex-mulher do meu pai também, que resolveu deixá-
lo a ter que ajudar a me criar junto com ele.
Mas agora é diferente.
O primeiro abraço acalorado que recebo é do meu pai, como todos os
anos. Ele é pragmático, mas já havia sido um pai babão mais cedo durante o
café da manhã, e por isso me solta bem rápido, a tempo de não deixar os
outros esperando por muito tempo.
Abraço Dom e a sua noiva. É a primeira vez que a vejo depois de tudo
o que aconteceu. Sofia era a sua amiga, e por isso fico me perguntando se ela
estaria decepcionada e assustada assim como Nicolo, ou se sabia de tudo e
só não contou nada por que amigos guardam segredos, mas isso a tornaria
uma cúmplice direta.
Júlia inclusive já demonstrou sua aversão por fim.
No entanto, quando a abraço, me surpreendo com o seu toque gentil.
Quase a sinto tremer, mas ela se contém para que este detalhe não a deixe tão
impotente, principalmente quando sussurra:
— Me desculpa por ter sido uma cretina com você. Jamais imaginei
que Sofia faria uma coisa dessas, fiquei com medo dela, e do que você
poderia achar de mim depois de tudo isso.
Me afasto do seu abraço um tanto surpresa, é inegável a forma
espantosa como devo estar a encarando, seus olhos são de um azul tão vivo,
que eu seria capaz de ver meu reflexo neles, mas também não é para pouco.
Não sei se devo confiar nessa mulher, que já ousou me dizer coisas
horríveis. A sua laia não é tão diferente da Sofia, mas talvez ela não seja
uma bandida, e esse é seu medo, que eu desconfie da sua integridade a ponto
de entregar, principalmente para Domenico, a falta de caráter dela.
Mas não sou esse tipo de mulher.
Além de que alguma coisa no rosto dela realmente diz que está
arrependida, com medo.
Preciso engolir o vestígio de orgulho, aquela vontade de fazê-la pagar
pela sua maldade com meu desprezo, mostrar como a lei do retorno funciona.
Mas nunca fui do tipo vingativa, e acho que todos já estamos quebrados,
procurando alguma forma de nos ajustar na vida.
Dou um sorriso muxoxo para ela, mas que é melhor do que um olhar de
indiferença.
— Seja gentil, Júlia. A gente não conhece a guerra que cada pessoa
enfrenta, muito menos as armas que elas usam. E você tem sorte de que eu
levantei bandeira branca há muito tempo — ressalto a tranquilizando,
embora que ainda com um tom ameaçador.
Júlia precisa saber que não sou nenhuma tola.
Quando ela pensar em me atacar de novo, mostrarei a ela as minhas
armas, que agora são tão poderosas quanto às delas, que nunca passaram de
palavras cruéis e puramente afiadas.
Mas agora estamos cientes.
Sei que terei uma a menos pegando no meu pé, e ela sabe que não serei
uma cretina a ponto de dedurar o que ela fez ao noivo. Vou confiar na sua
mudança.
Abraço Lorenzo, que ainda está usando a tipoia, mas que já parece
bem recuperado do trauma que foi levar um tiro. A namorada dele, Bruna,
não a vejo muito, ela está sempre de plantão no hospital em que trabalha,
então é raro a gente se encontrar, mas a mulher é um amor de pessoa e
quando nos encontramos, sei que ela é bem diferente de Sofia e Júlia.
Eu seria facilmente amiga dela se o tempo permitisse, mas Muriel
odiaria.
Matilde e as funcionárias vem me parabenizar também. Sou grata pela
evolução que tivemos e nos damos muito bem agora.
E tem Nicolo, que se aproxima de mim com as mãos enfiadas nos
bolsos da calça jeans, aparentemente ressentido por milhares de coisas, e a
culpa é uma delas:
— Acho que ainda não tive a oportunidade de conversar com você
sobre tudo que aconteceu — começa falando de um jeito lúgubre.
— Você não é obrigado a falar nada, Nico. Mas eu te entendo, de
verdade, e não o culpo por nada do que aconteceu — respaldo antes que ele
venha definhar na minha frente.
Percebo que ele faz um esforço para falar alguma coisa, e que seu
olhar é constantemente colado ao chão.
— Não, Isis. Eu preciso dizer algo, senão esse sentimento vai me
afundar na lama cada vez mais. E é seu aniversário, ao mesmo tempo que
não é o momento perfeito para isso, parece que é também. Quero que saiba
que estou pedindo perdão pela situação em que você foi metida graças a
Sofia, que eu deveria ter sido mais rígido com ela quando tive a
oportunidade, e que eu continuaria escolhendo você de novo e de novo ao
invés dela. Porque nós sempre protegemos a família.
Meneio a cabeça com o coração na mão, mais pela sua dor do que
pelas palavras, no geral.
Nicolo foi um dos amigos de Oliver que não acreditou em mim de
imediato e saber que ele escolheria meu lado por questões justas e de laços,
acaba por me deixar emocionada.
Preciso abraçá-lo para disfarçar a emoção arrebatadora e ele
corresponde na mesma intensidade.
— Obrigada, Nico. Você é como um irmão para mim.
Ele sorri com o que eu digo.
— Feliz aniversário, Isis. — Seu tom de voz muda, parecendo estar
em paz com si mesmo.
Me afasto dele e lanço uma piscada.
Tudo vai ficar bem, ele só precisa confiar, assim como eu também
confio.
Mas parece que o melhor abraço acaba ficando para o final.
Oliver e Oli me esperam quietinhos, perto da mesa onde tem doces e
salgados, tudo seguindo uma decoração rústica e feminina pelos tons roxos.
Abraço os dois e dou um beijo no meu noivo.
— Eu deveria ter suspeitado de algo quando percebi que você estava
tão inquieto ontem à noite sem conseguir dormir. Você não sofre de insônia
faz tempo!
Somente agora as peças se encaixavam quando digo isso.
— Mas você achou mesmo que eu não faria nada para você? Que nós
não faríamos?! — indaga exagerado e aproxima seu rosto mais do meu. —
Minha querida, é a primeira vez que comemoramos o seu aniversário, é um
momento importante para mim também, e as surpresas não acabaram.
— Não? — Recuo um passo e ele me olha de um jeito travesso.
Mas antes que ele faça qualquer outra revelação, Muriel me arrasta
para trás da mesa e Oliver não reclama por eu ter sido roubada daquele
nosso momento. Percebo que ela está segurando um isqueiro, o que significa
que iremos cantar os parabéns agora.
A vela é acesa, e faço questão de pegar Oli no colo, afinal tudo isso só
foi possível por causa dele. Um ser humano tão pequeno nos uniu daquela
forma, nos tornou uma família unificada, que zela mais pelos laços do que
pelo sangue propriamente dito.
Melissa deve estar feliz e o sorriso de Oliver é exatamente o reflexo
de todos os cuidados que ela tomou antes de partir.
Percebo que este é meu segundo aniversário sem me lamuriar pelo
passado dramático que tive. No meu último aniversário eu já tinha Oli em
minha vida, para me confortar e encontrar um sentido na minha existência,
lembro que eu agradeci por ele e agora faço o mesmo.
Quando a música acaba, minha família vibra e todos ficam na
expectativa de que devo apagar a velinha, mas faço primeiro um pedido e só
então apago a vela dos meus 23 anos.
Dou um beijo apertado na bochecha do meu filho, que está se achando
o centro do universo, e que toda aquela animação é para ele. Mas de fato,
cantamos parabéns fascinados com o brilho em seus olhos, o sorriso
inocente na sua boca e as mãozinhas agitadas batendo uma na outra de forma
desproporcional ao ritmo da música.
Nem percebo quando Oliver se aproxima com um embrulho amarelo,
minha cor favorita.
Sorrio instantaneamente com o que vejo.
— Nosso presente para você, não é, filho? — diz trocando Oli pelo
presente.
Pego o embrulho e ele apruma nosso filho em seu colo.
— Oli e eu fizemos especialmente para você.
— Os dois? — pergunto surpresa e muito curiosa.
Oliver balança a cabeça, e me vejo desesperada abrindo o embrulho,
mas tomando todo cuidado. Noto que é leve, que se trata de algo quadrado e
de porte médio.
Consigo tirar o embrulho e vejo a coisa mais fofa, genuína e bela que
poderia existir. Me derreto diante da arte que os dois fizeram para mim e
sinto que meu peito vai explodir de tanto amor com as impressões que Oli
fez de suas mãozinhas e dos pezinhos sobre uma tela branca. Há rabiscos
aleatórios que foram feitos para preencher ao redor daqueles quatro
elementos que se encontram bem no meio, marcado também por uma
tentativa de um coração feito com a pontinha de um dedo bem no topo.
Fico imaginando como foi uma diversão para os dois fazerem isso. E
como foi verdadeira a intenção de Oliver em me agradar.
Lembro quando ele mencionou certa vez que não costuma comprar
presentes, e que por mim ele faria isso, mas agora, ele mesmo produziu um
com o nosso filho.
— É muito lindo, meu amor. Estou muito encantada — digo com um
sorriso de orelha a orelha.
— Lembra que você deixou o material na minha mesa? — pergunta e
ele se delicia com a surpresa que me atinge. — Você achou que eu tinha
desistido do seu desafio, não é? Mas aí está, tive uma ajudinha do Oli, mas a
pintura foi feita.
— Ok. Você definitivamente ganhou! — declaro avançando em seus
lábios e depositando beijos castos em sua boca que não se desfazia do
sorriso. — Obrigada pelo presente. Amo você. Amo vocês! — digo com
uma certa ferocidade e beijo as bochechas de Oli também.
Uma luz forte dispara na nossa direção, um flash, olho na direção de
onde veio e encontro Muriel com a câmera do celular apontada na nossa
direção.
— Meu Deus, vocês são tão lindos quanto uma família do comercial
de manteiga — comenta fazendo a gente sorrir. — Vamos lá, Isis. Também
temos presentes para você, quero muitas fotos e comer bolo.
— Tudo bem, prima. — Solto os dois Oliver’s, mas não consigo largar
a pintura que ganhei.
Este é o melhor aniversário da minha vida!
Finalmente tenho a família que sempre quis, e estou cercada por amor.
Tanto que chega a transbordar e isso não é um problema para mim.
OLIVER
— Tem certeza de que quer fazer isso? — Isis pergunta pela terceira
vez, desde que dei aquela ideia.
Ela está preocupada com o que aquilo pode desencadear em mim, mas
estou decidido e não quero voltar atrás. Até porque já estacionei o carro na
vaga em frente ao cemitério.
Saí da minha casa, dirigi até aqui, fiz Isis e Oli virem junto comigo
porque eu sentia que estava pronto para isso, além de que seria necessário.
Respiro fundo e olho para a minha noiva.
Acho que ela está mais ansiosa do que eu, então apanho a sua mão
direita e dou um beijo no dorso dela, exibindo logo em seguida um sorriso
tranquilo.
— Sim, eu tenho. Estou com vocês, nada poderá me abalar —
asseguro tanto a ela quanto a mim mesmo.
Dito isso, Isis sorri para mim.
Ela acredita na minha palavra e que juntos conseguimos encarar
qualquer situação.
— Tudo bem, então vamos. — Me estimula.
Saímos do carro e ajudo Oli com a cadeirinha, que agora é uma maior
devido seu crescimento nos últimos tempos. Bebê conforto nunca mais, aos
poucos, nosso menino vai crescendo e vamos desapegando de muitas coisas
que um dia o classificaram como um bebezinho. O que estamos prestes a
fazer agora me faz lembrar que eu poderia ter feito isso bem antes, me sinto
um pouco culpado, até, por ter prolongado mais do que deveria, mas talvez
agora seja o momento perfeito.
Porque agora parece que a situação de paz clama por essa “visita”.
Levo Oli no meu colo, embora ele já saiba andar tão bem quanto nós,
se duvidar. Esse detalhe o dá a segurança necessária para correr e explorar
vários lugares que visitamos, no entanto, cemitérios não é um dos lugares
mais adequados para deixar uma criança correr.
Há uma barraquinha de floricultura, então com a ajuda de Isis
compramos alguns ramos de flores. Rosas vermelhas e brancas, margaridas e
lírios. Oli pede incansavelmente uma delas, e Isis entrega a ele uma
margarida para que ele possa a admirar demoradamente.
Logo na entrada cumprimento o vigia que não disfarça a surpresa em
me ver ali. Não sou o cara carismático que conhece todo mundo em qualquer
lugar que vá, mas às vezes posso me tornar um rosto familiar, e deve ser
exatamente isso o que este senhor deve pensar ao me ver. Ele não diz nada,
mas sua expressão, sim; os olhos marcados pelo tempo, que já deve ter visto
de tudo, lembra do meu rosto de quando eu vinha mais vezes aqui do que eu
podia contar.
Sempre foi ele, nunca mudaram de vigia, e eu nunca tive a chance de
dizer pelo menos um oi.
Isis passa na minha frente, mas desacelero os passos a poucos metros
de distância do homem que me olha de um jeito especulativo, com o chapéu
surrado lhe fazendo sombra na face enrugada.
Seu dedo enrugado balança na minha direção.
— Eu lembro de você, rapaz — diz com a voz rouca.
Dou um sorriso solene, certo das minhas teorias.
— Eu também lembro do senhor — revelo e ele inesperadamente dá
um sorriso sutil.
— Você costumava vir muito por aqui. E de repente, não veio mais —
ressalta um fato que apenas nós dois parecíamos saber.
Balanço a cabeça em confirmação.
Dou uma olhada para Isis que havia parado no meio do caminho à
minha espera, mas também para observar a conversa.
— Eu tive muitos problemas a resolver. — Em partes, é verdade.
No entanto, lembro bem que deixei de vir ao cemitério simplesmente
quando me dei conta de que eu ficaria sozinho, e então, me afundei no
trabalho com a intenção de apagar ou amenizar toda dor que eu sentia
naquele tempo. E funcionou, mas também carreguei comigo um vazio que
parecia infinito.
Os olhos do vigia caem em Oli, curiosos, mas astutos.
— Trouxe companhia dessa vez.
— Sim, minha família. — Estendo o braço para Isis, que se aproxima
com um sorriso bastante hospitaleiro.
Definitivamente ela sabe lidar com as pessoas melhor do que eu.
— Olá! — Acena e o senhor sorri de um jeito mais cortês.
— Olá, minha jovem. — Retribui o cumprimento. — Sua família é
muito linda, rapaz.
— Obrigado — digo, começando a me apressar, tínhamos que
continuar: — Vamos fazer algumas visitas.
Quando estou pronto para continuar seguindo o caminho, o vigia me
para e então, olho para ele mais uma vez à espera do que irá dizer. Ele
franze o cenho, um pouco confuso, mas diz logo em seguida uma coisa
curiosa e que me pega desprevenido:
— Você sempre trouxe tempo ruim quando vinha ao cemitério. Todas
as vezes que você passava pelo portão, o tempo ameaçava chuva. Nunca uma
tempestade, mas uma garoa com neblinas. Quando isso acontecia, eu sabia
que você não estava bem — ressalta, fazendo o meu coração bater forte e um
frio assoprar na minha espinha, mas ele sorri. — Era visivelmente fácil de
saber, mas parece que você trazia junto com a sua tristeza profunda, o choro
dos céus.
Fico estático, assustado, para falar a verdade.
Muito assustado.
Porque nada do que ele diz é mentira, eu sempre trazia comigo um
casaco verde, e escondia a minha cabeça debaixo do capuz porque toda vez
que eu vinha ao cemitério estava caindo aquela chuva com gotas geladas que
ao atingir a pele, mais pareciam como pontas de dedos frios me tocando a
face.
Eu poderia dizer que era somente o clima doido, mas Florianópolis
sempre teve suas estações bem definidas, e eu costumava vir até mesmo nos
dias mais quentes dos verões.
O vigia sorri e então, inclina o rosto em direção ao céu.
— E veja só. Hoje o dia está perfeitamente lindo, a brisa está muito
boa, quase posso ouvir o vento falar comigo e sentir o Sol me beijar.
Droga, estou literalmente arrepiado da cabeça aos pés!
Olho até mesmo para Isis, à procura de qualquer reação semelhante à
minha e bem, ela me parece muito emocionada. Posso estar sendo cético
demais, mas há uma coisa que estou sendo muito lento para entender:
— O que o senhor quer dizer com isso? — pergunto a ele.
O vigia volta seu olhar para mim, como a inocência de uma criança.
— Não sei o que aconteceu na sua vida nesses últimos tempos, mas
com certeza você já não é mais o mesmo. Você não está vindo até o
cemitério para se lamuriar. Seja quem veio visitar hoje, você veio para
agradecer e expressar seu amor. Você está feliz agora, não está?
Ele pergunta olhando de mim para Oli, e então para Isis, como se eles
fossem a resposta para isso, mas que verbalizar ainda é algo necessário,
então correspondo:
— Sim. Estou muito feliz hoje em dia.
— Ótimo. Espero que faça uma boa visita — completa, sem nenhum
outro desejo além deste.
— Obrigado… — Olho para seu crachá no uniforme de vigia e lhe dou
um sorriso. — Senhor Montenegro.
Ele acena de volta para mim com um toque no seu chapéu e então volto
para o meu caminho com Isis ao meu lado, mas aquela sensação arrepiante
me persegue até que estejamos longe o suficiente.
Solto um suspiro pesado que pode significar muitas coisas. De
imediato, nenhum de nós dois falamos sobre aquilo, mas Isis é a primeira a
romper o silêncio.
— Não é engraçado como tudo tem um significado? Como no fim das
contas, nada é tão fugaz? — questiona brincando com as pétalas das
margaridas.
— Só sei que ainda estou arrepiado — comento e ela sorri.
— Eu também fiquei, mas não de medo. É uma coisa boa, sabe? Foi
um arrepio por saber que mesmo depois da morte, aqueles que a gente ama
continuam do outro lado, nos protegendo. Demorou um tempo até que eu
acreditasse que a minha mãe, no fim, deveria estar em algum lugar me
acompanhando.
— Acho que eu nunca tive essa sensação — revelo de um jeito frio.
— Mas ainda assim, aqui estava você quase sempre, pelo que o vigia
disse.
Dou de ombros e seguro Oli com mais firmeza.
— Eu achava que vir e conversar com eles faria com que eles
voltassem, sentissem pena de mim e acordassem do que eu acreditava ser
apenas um sono profundo. Quando a ficha caiu que eles realmente estavam
mortos, foi quando eu deixei de vir e me afundei no trabalho.
— Um dos estágios do luto é a negação — Isis diz. — Você sabe o que
é a morte, sabe que eles não irão se levantar como um milagre, mas quer com
todas as forças que isso aconteça, porque não acredita que a morte os levou
de você.
Balanço a cabeça concordando, engolindo em seco aquela angústia que
ameaçava subir quando há muito tempo eu já havia esquecido da sua
existência.
— Estive negando a mim mesmo os fatos por muito tempo — revelo
encarando meus pés, e então o caminho de ladrilhos e concreto.
Mesmo que eu não venha mais aqui com tanta frequência, ainda
conheço este lugar tão bem quanto eu gostaria.
Olho para o caminho que precisaremos serpentear até chegar às
lápides dos meus pais.
— Quando deixei de vir, ainda não aceitava o fim. Mas acho que hoje
posso deixá-los ficar livres de mim. Todo remorso que mantive por muito
tempo aqui comigo, estou pronto para deixar ir embora.
A mão de Isis me conforta e o seu sorriso se acende para mim. Não
tenho mais medo de encarar as lápides dos meus pais, por isso, traço o
caminho até eles.
O Sol esquenta a minha cabeça, mas está um clima agradável.
Conforme vou avançando, lembranças de um passado sombrio
enquanto sofria com tudo, vem à mente. Algumas vezes, aparecia bêbado, ou
então com algumas noites sem dormir. Eu deixava de ir ao trabalho, mas não
podia deixar de vir até o cemitério e visitar as lápides da minha família.
Levei uma vida boêmia e lúgubre por algum tempo. Não lembro exatamente
o período em que fiz do meu trabalho um poço de onde joguei toda angústia,
mas quando dei por mim, eu já estava envolvendo a empresa em tantos
projetos que normalmente não obteriam sucesso.
Mas aconteceu.
Todo o patrimônio só aumentou, bem como a minha fama de CEO
inabalável, seguido de um passado triste e que muitos me julgaram como
intimidador devido aos traumas.
E aqui estou eu, com minha família, agora parados em frente onde
meus pais foram enterrados e que foi por muito tempo, a minha primeira
decadência.
Suspiro forte, sentindo meu coração bater a mil por hora. Os nomes
familiares gravados ali na pedra de mármore sempre me deixaram abalado.
Mas agora…
— Quer que eu segure Oli para você? — Isis pergunta.
Olho para ela piscando, voltando à realidade.
— Estou bem. Por muito tempo fiz isso sozinho, acho que tudo bem ter
agora comigo uma companhia — explico e ela entende.
Pego um lírio e uma margarida com Isis.
Deposito o lírio na lápide do meu pai e a margarida na lápide da
minha mãe. Não sei do simbolismo de cada flor, mas faço com que cada um
tenha a sua. Fecho os olhos, e sem me incomodar com a presença de Isis, me
surpreendo em como ainda levo jeito para conversar com pessoas que não
estão mais fisicamente entre nós.
— Oi pai, oi mãe... Faz um tempo que não apareço por aqui, mas,
estive fazendo o que vocês sempre me disseram para fazer: Eu vivi a minha
vida de uma forma justa e com paixão, por um tempo achei que tinha perdido
de novo a chance de ser feliz, mas olha só… A vida é tão inesperada que me
deu a oportunidade de recomeçar tantas vezes que nem sei como retribuir o
favor.
Oli balbucia alguma coisa, os pezinhos dele dentro do sapato
sapateiam o chão inquietamente, louco para querer escapar dos meus braços
e correr pelo terreno.
— Estou de casamento marcado e tenho um filho. Este é Oli, neto de
vocês também. Ele é a grande razão de tudo fazer sentido de novo. — Sorrio
de um jeito deslumbrado, é incansável o papel de pai e por isso deixo isso
registrado. — Acho que eu nasci pra essa coisa de ser pai, mesmo. Vocês
sempre diziam que eu seria um pai bobo, e bem, vocês estavam certos. —
Pisco rapidamente e sinto que a brisa que bate é a resposta que eu tanto
gostaria de ouvir.
Puxo o ar, respirando mais coragem para finalmente me sentir liberto.
— Eu agi como um filho revoltado por muito tempo depois que vocês
foram tirados de mim. Mas agora sei lidar melhor com a situação. O vazio
foi preenchido pela forma como eu sempre desejei.
“Uma família...
“Agora, tenho a minha própria família e como vocês amariam
conhecê-los!
“Mas eu sei que, onde estiverem, estão acompanhando tudo. Espero
que sim.”
Me inclino para frente e toco sutilmente a pedra fria das lápides
escuras. Fecho os olhos e faço uma breve prece para os dois.
— Vocês continuam vivos para mim, sempre estarão bem no meu
coração — complemento com a voz embargada, mas não choro. — Eu amo
vocês. Sempre amarei. — Agarro Oli no meu colo, mas porque precisava
sentir algo puro e real que eu sabia que estava ali por mim também.
Isis me abraça quando eu me levanto, a sua respiração está
estabilizada e ela me transmite a calma que eu preciso, principalmente
quando seus polegares afagam gentilmente meu braço.
— Eu queria muito ter conhecido os dois um dia. Mesmo assim, minha
admiração e respeito por eles é real. Criaram espetacularmente bem o filho
deles — diz depositando um beijo no me braço e deita a cabeça ali,
concluindo: — Com certeza seus pais estão orgulhosos, meu amor. Você é o
melhor.
O sorriso é inevitável.
— Você é muito suspeita para falar disso, minha querida — admito.
— Mas eu sempre falo a verdade — ressalto dando de ombros. —
Estou orgulhosa de você também por estar conseguindo.
— Sim. — Aceno com a cabeça. — Estou conseguindo.
— Vamos continuar? — perguntou me fazendo voltar ao estado normal.
Ainda faltava mais um.
— Vamos.
Antes de deixarmos as lápides dos meus pais para trás, Isis deixa uma
rosa branca sobre cada uma das pedras e então me segue por um outro
caminho familiar que faço por ali.
Agora fico mais ansioso, não sei se é pelo fato de ser a minha perda
mais recente, mas todos eles me doem de forma igualável. Nenhum dói mais
do que o outro; no entanto, perdi meus pais primeiro.
De alguma forma, ter me apaixonado por Melissa naquela época e
encontrado uma forma de ser feliz ao seu lado, abafou todos os sentimentos
deprimentes que eu sentia em relação à perda dos meus pais.
Assim como Isis e Oli me fizeram superar a morte de Melissa, a minha
falecida esposa também teve um papel muito especial enquanto eu me
recuperava do luto. Melissa havia colorido o meu mundo de volta, dado
significado as coisas que eu já não me importava mais. Com ela, construí
sonhos, que agora foram realizados com Isis, porque ela fez tudo acontecer.
Melissa, ainda em vida, encontrou uma forma de estar presente mesmo
depois de ter partido. Ela se preparou...
Teve tempo, mas não muito, para fazer com que a sua passagem neste
mundo não tivesse sido uma coisa momentânea.
Meus pais não tiveram essa mesma oportunidade, a forma abrupta que
eles me foram tirados, nem sequer me deu tempo de me despedir e agradecer
por terem feito tanto por mim.
Eu fico ansioso para “reencontrar” Melissa, porque sinto como se
fosse revê-la depois de tanto tempo, e na minha cabeça, só a imagino
sorrindo daquele jeito serelepe. E não sei como começar aquela “conversa”,
porque sinto que Melissa está viva; embora ela realmente esteja de alguma
forma.
Quando Melissa faleceu, Domenico e a mãe fizeram questão de
enterrá-la ao lado do pai. É claro que eu compreendi, mas eu sempre
passava primeiro nela e então ia até a lápide dos meus pais. Eu odiava fazer
aquele percurso, mas também não conseguia resistir à vontade de visitar
cada um deles.
Assim que alcançamos a lápide de Melissa, o silêncio é quase
incômodo. Há um lírio ali, alguém deve ter passado mais cedo, talvez Dom e
a sua mãe, pois hoje faz quatro anos desde que Melissa se foi. Esse
pensamento faz tremer aquela linha tênue entre razões e emoções, mas fico
encarando o nome dela, é como se eu estivesse focalizando aqueles orbes
verdes que tanto me encantaram na época.
Meus joelhos cedem lentamente, e Oli senta no meu colo, como se ele
estivesse sentindo alguma coisa diferente, uma coisa especial ali. Fecho os
olhos e a mentalizo, me deixando levar pelas coisas que nunca disse a ela
além de “Volta pra mim”, em todas as vezes em que estive aqui.
— Hoje é um dia que eu gostaria que nunca tivesse acontecido. Dizem
que uns ciclos se fecham para iniciar outros, mas não gostaria que as coisas
tivessem terminado desse jeito. Por muito tempo eu achei que o mundo era
melhor com você, mas, acho que você era muito boa para este mundo e eu
confesso que ainda não entendo.
“Melissa, não entendo mesmo por que teve que terminar assim...
“Mas você tomou conta de tudo, não foi?
“Sabia que havia outra chance para mim, mas que tampouco eu teria
forças para tentar. Mas você tentou por mim e agora tudo o que eu tenho é
graças a você.”
Espalmo minha mão direita sobre a pedra lisa e fria.
— Se eu a visse agora, sabendo que teria a resposta, eu perguntaria o
porquê. Perguntaria como você bolou toda essa ideia, mas agora,
sinceramente, acho que prefiro não saber.
“Não quero uma explicação para isso, além da óbvia: de que você
sempre esteve certa sobre a vida e como ela pode ficar bela quando a gente
escolhe recomeçar, de dentro para fora.
“Foi assim que você me fez superar a minha primeira perda. E então,
me fez superar a sua partida, através de um recomeço.”
Olho para Oli, que parece estar entendendo cada palavra minha, mas
na verdade só está muito curioso e o balanço em meu colo, o fazendo sorrir.
— E que recomeço, não é? Olhe só para ele, o filho que você sempre
quis. O filho que você planejou tanto antes de partir. E ele é nosso. Meu, seu
e de Isis. Somos todos uma família, como você sempre desejou que
fôssemos. — Esboço um sorriso ao lembrar da sua carta informal,
implorando para que eu compreendesse toda a situação. — E caso seja de
seu agrado, Isis e eu estamos noivos. Você também conseguiu isso, mas, na
verdade, já estava até premeditado na sua cabecinha brilhante, não é? Você
sabia que eu me encantaria por ela, e tentou então unir o útil ao agradável.
Dom nunca soube lidar com essa sua genialidade — brinco.
Era assim que éramos, um casal extrovertido, que adorava irritar
Domenico porque ela sempre foi a filha exemplar. Mas éramos felizes.
Foi uma época boa da minha vida, e que sou grato por ter existido.
Isso deixa meu coração molenga, ao mesmo tempo que algo pesa no meu
peito e me vejo ser atingido por lembranças boas demais.
Estou chorando, mas evitando soluçar.
— Mas a verdade é que você era incrível demais, e eu senti muito a
sua falta. Ainda sinto, mas agora consigo suportar melhor porque eu
recomecei. Você mais uma vez me ajudou a superar meus fantasmas, e agora,
devo dizer obrigada e que sempre a amarei. Eu sempre… — Fungo o choro
e não consigo terminar de falar.
Isis me abraça e seguro sua mão para me reconfortar.
— Pa-pai — Oli diz claramente, meu choro se transforma em sorriso e
Isis fica embasbacada.
— Oliver! — ela exclama empolgada.
Oli fica entusiasmado quando percebe que aprovamos a nova palavra
que ele proferiu nitidamente, então, repete com mais tenacidade:
— Papai! — Sua voz aguda preenche o ambiente mórbido.
O abraço com mais força.
— É o papai, meu amor. — Isis o parabeniza enquanto tento me
recompor.
Recebo dela até mesmo um beijo na testa que depois diz para mim:
— Amamos você. Isso foi lindo. Melissa com certeza também está em
paz com tudo.
A minha noiva me tranquiliza e percebo que ela está emocionada
também.
Isis a conheceu, então ela deve estar sentindo alguma coisa também. E
inesperadamente, revela:
— Eu estava no enterro. — Olho para ela um tanto surpreso e Isis se
explica: — Estava e não estava. Fiquei num cantinho bem longe, escondida,
ninguém podia me ver. Mas Dom achou que não faria mal. Quer dizer,
Melissa e eu éramos amigas, então por que não? Eu já estava começando as
consultas psicológicas para lidar melhor com a barriga solidária.
Franzo o cenho ao puxar pela memória.
— Lembro que em um momento Lorenzo me alertou da imprensa no
local. Vimos um carro branco…
Isis sorri.
— Era o carro da advogada Anete. Foi ela que me trouxe, só para
garantir que eu não iria correr até você e contar tudo. Mas ser dedo duro
nunca foi a minha especialidade — argumenta por fim, tirando um riso meu.
Esfrego as mãos no meu rosto.
— Santo Deus! — Fecho os olhos, surpreso. — E você estava lá
aquele tempo todinho. Mas também nunca passou pela minha cabeça que
algo do tipo aconteceria comigo.
Limpo o rosto molhado pelas lágrimas, um pouco desconfortável por
deixar minhas emoções transparecem muito. Mas àquela altura, Isis já estava
acostumada a me ver chorar.
— Tem coisas que a gente só passa a notar quando elas começam a
fazer algum sentido — Isis refuta pensativa. — Não é comum aceitar ser
barriga de aluguel, mas, eu sempre senti que não terminaria ali. Eu sabia que
não era nada ético com os termos que assinei, mas…
— Você sabia que no fim, não seria algo tão frívolo a ponto de você
me deixar só com uma criança? — pergunto a olhando profundamente e Isis
me encara.
— Eu sabia que Melissa não deixaria o bebê sem uma mãe. Eu sabia
que ela iria fazer questão que eu estivesse presente, mas jamais pensei na
possibilidade dela querer nos unir. Na verdade, tive medo que isso
acontecesse, porque eu não queria que desse a impressão que o roubei dela.
Olho para a lápide de Melissa, e então suspiro.
— Com certeza não. Mas Melissa já tinha dado um jeito e foi mais
genuíno do que esperava.
Isis sorri.
Felizmente ela não acredita mais que meus sentimentos por ela foram
provenientes do último pedido de Melissa, que se consistia em nutrir
sentimentos por ela e pedi-la em casamento.
Agora, Isis sabe que sou capaz de fazer tudo por ela e Oli.
Ela concorda comigo e juntos observamos Oli deixar a margarida que
ele tanto se agarrava, sobre a lápide da sua outra mãe. Na verdade, ele havia
começado a brincar com a flor sobre a pedra, e então a deixou ali. Mas de
qualquer forma, foi algo natural e que devido às circunstâncias, pareceu uma
espécie de carinho deixado para Melissa.
Isis e eu aproveitamos para acomodar também as outras flores que
restava. Organizamos tudo, e percebo que as flores deixam a sua lápide mais
colorida.
— Eu sinto falta dela. Não gostaria que as coisas tivessem terminado
assim, mas também… — Faz uma pausa, porém a compreendo.
— Eu sei o que você quer dizer. Mas está tudo bem, querida. — Puxo
Isis para um abraço. — Não estamos fazendo nada de errado.
— Eu sei que não.
Solto um suspiro e então beijo o topo da sua cabeça.
— Obrigado por ter vindo comigo.
Isis caça as minhas mãos e entrelaça as delas às minhas.
— Eu sempre estarei com você em todas as situações, meu amor —
afirma olhando dentro dos meus olhos. — Não soltarei a sua mão, serei a sua
âncora.
É como ter o meu peito abraçado, porque ele relaxa e volta ao seu
estado normal.
Isis é incrível demais para ser verdade e não consigo mensurar o quão
sortudo eu sou por ter tido a chance de ter o amor de mulheres maravilhosas.
Recomeçar não é fácil, mas quando tem as pessoas certas para ajudar
no processo, é melhor ainda. Eu tenho Isis, porque bastou ela para que a
palavra “recomeçar” tivesse sentido outra vez.
OLIVER
ISIS
OLIVER