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Nota da autora
Com carinho,
Adri luna
Sumário
Prólogo
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Herdeiros Milani
Agradecimentos
Copyright © 2023 Adri Luna
CONTATO:
E-mail: adrianalunagaldino@gmail.com
Instagram: @autoraadriluna
Para a querida Jaqueline Chieza. Leonardo Milani é todo seu,
aproveite sem moderação.
E para todas as minhas maravilhosas leitoras, que fizeram esse casal ganhar
vida e cederam um espaço especial em seus corações para essa história.
Prólogo
A frieza do Lobo
Samanta Antonelli
Leonardo Milani
***
Era fim de noite quando saí do escritório e resolvi pegar uma nova
rota para chegar à boate que costumo ir com frequência, nada melhor que
sexo, sem burocracia, chego, como, pago e vou embora. Mas, neste dia, o
meu motorista freou bruscamente por conta de um animal que atravessou o
nosso caminho e foi nesse exato momento que os nossos caminhos se
cruzaram. Uma garota de uns dezenove anos, cabelos castanhos, pele
branca, um corpo esculpido pela luxúria, uma boca carnuda e seios
pequenos que caberiam facilmente na minha boca, no entanto, apesar do
corpo sensual, ela tinha um ar doce e inocente.
Sinto o ar mais denso e um arrepio subiu pela minha pele, era algo
diferente que ia além de desejo, mas, até então, desconhecia esse tipo de
sentimento.
— Siga aquela garota — falo para o motorista que prontamente
obedece.
Ela entra em um café, que já está fechado, não demora muito e sai.
Continuo a segui-la, ela pega um ônibus, que nos leva até o subúrbio, e
entra em uma casa até arrumada para o local, uma casa média com primeiro
andar.
— Já vi o suficiente — falo ao motorista. — Dê a volta, estou indo
para casa. — ele me olha pelo retrovisor como se não entendesse, já que
diariamente eu ia a clubes e ‘boates’.
Chego em casa e só penso nela, preciso tê-la. Ligo para o advogado
da empresa e peço que me dê detalhes sobre a garota, passando as
informações que eu já tenho para ele.
— Quero amanhã na minha mesa — digo ríspido.
***
No dia seguinte, chego à empresa bem cedo, como todos os dias, e
entro no elevador particular que leva à minha sala. Eram nove horas da
manhã quando o meu advogado entra e me entrega as informações que pedi.
Eu sabia que ele conseguiria rápido, o banco de dados de um banco tem
muitas informações e qualquer detetive faria o resto.
Samanta Antonelli, 19 anos, estudante de contabilidade, trabalha em
um café do meio-dia às oito da noite. Tem um irmão de 6 anos, a mãe não
trabalha, o pai é funcionário em um dos meus bancos, ele tem a casa
hipotecada na mesma agência em que trabalha.
E o que me deixou ainda mais satisfeito, foi saber que ela nunca teve
namorado. Provavelmente ainda é virgem, por isso, tem todo aquele ar doce
e inocente…
O meu corpo esquenta só de pensar nela, aquela boca e o seu corpo
não saem da minha mente, eu precisava tê-la e já sabia, por onde iria atacar,
conseguir o que quero da forma convencional é cansativo e chato.
Volto a minha atenção para o meu advogado que está sentado à minha
frente.
— Como conseguiu essas informações tão pessoais da menina? —
pergunto, pois esperava saber apenas o que consta no sistema do banco.
— O pai dela é funcionário, como pode ver, então foi fácil saber de
algumas coisas com outros funcionários, dizem que o pai se orgulha muito
da garota e sempre fala sobre ela.
— Veja como está a dívida da hipoteca e as datas de vencimento,
pode sair agora — falo, voltando a minha atenção para os documentos que
tenho na mesa.
Saí da empresa mais cedo do que de costume e fui dirigindo
pessoalmente até o café. Ao chegar lá, me sento em uma mesa que me dá
uma visão total do local e lá está ela, puta que pariu, ela é muito gostosa.
Mesmo na farda que ela usava conseguia ser linda, percebo que não sou o
único a observá-la, outros a secam com fome, mas ela será minha, se quero,
eu tenho!
***
Samanta Antonelli
— Na noite passada tive a sensação de estar sendo seguida — digo
para Gabi, a minha amiga que trabalha comigo no café.
— Sério? Você precisa tomar cuidado, melhor não ir de ônibus para
casa hoje — diz ela preocupada.
— Não posso pegar um táxi, o dinheiro está contado, o meu pai está
juntando tudo que ganha para pagar a hipoteca da casa.
— Amiga, ainda não resolveram essa questão? — ela questiona
suspirando.
— Não, e o pior é que, se não resolver, vou precisar trancar a
faculdade, para ajudá-lo mais.
— Vocês vão encontrar uma saída, se eu tivesse esse dinheiro eu te
daria — ela tenta me encorajar, fazendo um bico.
— Eu sei, amiga, darei um jeito — digo, sem acreditar nas minhas
palavras.
— Aqui é um ‘Clube’ de encontro? Vamos trabalhar, vamos! — Jean,
o nosso gerente sacode as mãos no ar. — Mesa quatro, seis e sete, vamos
pegar os pedidos, vamos, vamos — fala, nos empurrando lentamente.
Sigo até a mesa quatro onde tinha um homem lindo, porém, de
semblante sério, ele deve ter 1,80 de altura, corpo atlético, cabelos loiros,
olhos cor de mel. Tinha uma pele branca como alguém que nunca desfruta
do sol, boca bem desenhada e rosto bem definido, a sua pele era de dar
inveja a qualquer um.
— Boa noite, senhor, o que vai pedir? — Abro um sorriso, mas ele
não esboça expressão alguma.
Está vestindo preto da cabeça aos pés, é de dar arrepios.
— Um expresso, por favor — fala, com uma voz forte e autoritária.
— Trago em um minuto — digo, me virando.
— Você viu que homem estranho? — pergunto, mostrando a Gabi,
assim que me aproximo dela.
— Ele é ‘sexy’ isso, sim, e rico — ela fala, mordendo a ponta do dedo
indicador.
— Você não tem jeito. — Balanço a cabeça negativamente sorrindo
para ela.
— Deixa que levo o café para ele — ela diz, sorrindo também.
— Faça como quiser. — Entrego a bandeja aliviada, a forma que ele
me olha me causa arrepios.
Fico de longe espiando Gabi levar o café.
— Aqui está o café, senhor, gostaria de algo mais? — ela passa as
suas mãos na dele e ele a olha com desdém.
— Apenas isso, pode se retirar — diz ele, num tom frio.
Os olhos dele encontram os meus e eu me escondo rapidamente atrás
do balcão. Ele tomou o café rapidamente, pagou e saiu.
— Que gato, deve ser muito rico, se um homem desse se interessasse
por mim… adeus pobreza, adeus café! — Gabi sempre está sonhando
acordada, ela suspira várias vezes vendo-o cruzar a porta.
— Para de sonhar, vamos limpar tudo logo, preciso ir para casa —
falo, trazendo-a para realidade.
Quando estamos fechando, Davi, nosso amigo, chega, como faz quase
todos os dias. Davi é filho de uma família rica e faz faculdade comigo, nos
aproximamos e hoje somos bons amigos.
Ele arregaçou as mangas da camisa, mostrando os seus braços com
músculos definidos, abrindo um lindo sorriso, exibindo os seus dentes
brancos e alinhados, alisa os cabelos negros que fazem um belo contrate
com a sua pele branca.
— Eu ajudo vocês — fala gentilmente, juntando as cadeiras e
passando pano molhado nas mesas.
— Nossa, obrigada, juro que se não fosse por você eu estaria mais
cansada — digo, me jogando na cadeira após horas em pé.
— Vou deixar você em casa. — Sinto um alívio, eu ainda estou
assustada pela noite anterior.
— Ótimo, amiga, o Davi vai te deixar em casa, então, vou mais
tranquila sabendo que está em boa companhia. — Gabi mora a uma quadra
do café, então, ela sempre volta a pé.
— Vamos, Samanta — ele fala, abrindo a porta do carro, vou sentada
ao lado dele.
Paramos em uma barraca de rua, compramos algumas guloseimas e
voltamos para carro, Davi me deixa em casa e segue o seu destino.
Entro em casa e os meus pais falam baixinho, algo sobre a hipoteca.
Aproximo-me e ouço a minha mãe falar, espantada:
— Dez parcelas? Como você deixou chegar a esse ponto? E agora,
como teremos dinheiro para pagar? É muito dinheiro! — o seu tom é
desesperador, sinto o meu coração apertar.
Entro no quarto, eles nem perceberam a minha chegada, fico
pensando no que fazer para conseguir mais dinheiro. Não podemos ficar
sem casa, ainda mais sendo esta casa a herança dos meus avós. Era
impossível ter uma noite tranquila de sono, porém, após secar toda água do
meu corpo de tanto chorar, adormeço.
02
A proposta
Leonardo Milani
Após passar pelo café onde a Samanta trabalha vim para casa, nada
mais me dava prazer e isso era frustrante.
Mas que porra é essa, sinto vontade de vê-la o tempo todo. Preciso
resolver isso logo, estou ficando louco!
Ligo para o advogado da empresa sem me importar com a hora,
queria me informar sobre a situação da hipoteca. Fico satisfeito quando ele
me diz serem muitas parcelas atrasadas e uma dívida impagável para um
simples assalariado.
— Mande a administradora do banco enviar uma carta de
cobrança, com ordem de despejo para daqui a dois dias — ordeno.
— Por que está sendo tão cruel com essa família? — ele pergunta,
visivelmente apiedado.
— Não que eu precise te responder, mas a resposta é muito simples…
cruzar o meu caminho é de fato muito perigoso, exceto se for feito sem que
eu os note. E, nesse caso, eu não só notei, estou muito incomodado.
Satisfeito? — falo ríspido.
— Certo, senhor, entendo e farei o que mandou agora mesmo —
responde, insatisfeito.
Encerro a ligação e sigo para meu quarto. A minha casa está sempre
vazia, não tenho empregados dormindo na propriedade, eles vem e
cumprem os seus horários, logo após seguem cada um para seus respectivos
lares. Não quero ter o desprazer de presenças na minha casa me perturbando
com algum ruído, o silêncio e a escuridão são coisas que eu preso, então, eu
sempre saio antes deles chegarem e volto depois que vão embora.
***
Samanta Antonelli
Acordo cedo para ir à faculdade, desço e encontro os meus pais
chorando.
— O que aconteceu? — pergunto preocupada, me aproximando.
— Recebemos uma ordem de despejo, filha, se não pagarmos a
hipoteca até amanhã, não teremos mais casa! — papai fala, aflito, passando
uma mão na outra enquanto anda de um lado para o outro.
Sentei-me sem reação.
— Darei um jeito, eu tentarei conseguir o dinheiro. Não sei, pedirei
emprestado ao Davi, quem sabe ele tenha — falo rápido, sem respirar.
Pronunciei as palavras para mim mesmo, tentando afastar a vergonha,
mas isso foi a única coisa que consegui pensar.
— Filha, você incomodará os seus amigos? Nem teremos como pagar
uma quantia tão alta — mamãe diz, se sentando ao meu lado e alisando os
meus cabelos, parecia querer me consolar, mesmo estando devastada.
O meu pai nada fala, ele está no limite e eu podia ver nitidamente.
— Tchau! Preciso ir para não me atrasar para a aula — digo, saindo
apressada.
Vou à faculdade sem tomar café da manhã, aliás, comida tem sido
luxo na minha casa, eu sempre como no café que trabalho, só assim o meu
irmão terá mais para comer em casa.
***
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Leonardo Milani
Samanta Antonelli
***
***
***
***
Leonardo Milani
Samanta Antonelli
Chego em casa na ponta dos pés para não acordar ninguém, entro no
meu quarto e me jogo na minha cama.
Que dia louco!
Me pego lembrando do beijo e sorrio, ele beija bem e é muito gato
também.
— Samanta, que pensamentos são esses? Xô, xô! — Sacudi a cabeça
querendo afastar aqueles pensamentos.
Levanto-me e tomo um banho, logo depois visto a minha roupa de
dormir e me deito, fechando os olhos e esperando que o sono venha.
***
***
Após a faculdade vou até o café, preciso informar que não voltaria
mais e assim que entro encontro a Gabi trocando de roupa no vestiário.
— Gabi, estou mudando de emprego — as minhas palavras a pegam
de surpresa e ela me olha espantada.
— Para onde você vai, assim de repente? — O seu tom era um misto
de tristeza e surpresa.
— Vou trabalhar na casa daquele cliente que vem aqui no café! — Os
seus olhos se arregalam, a boca dela era um O perfeito.
— O quê? Aquele gato? Que sorte amiga! — O espaço fica pequeno
para tantos pulinhos que ela dá.
— Pois é, ele vai me pagar muito bem.
— Aliás, como foi aquilo dele te dar uma carona ontem à noite? —
ela pergunta curiosa.
— Eu estava muito bêbada, não encontrei vocês, ele me encontrou e
viu que eu não estava em condições de ir sozinha, então me ofereceu uma
carona.
— Sei, foi só isso mesmo? — Sorri com malícia enquanto me cutuca
com o dedo indicado.
— Claro, você acredita que um homem como ele olharia para mim,
Gabi? — Giro de braços abertos.
— Você é linda, amiga, até o presidente dos Estados Unidos olharia
para você.
Nós duas sorrimos e vejo o gerente chegar, abraço a minha amiga e
vou conversar com ele, alguns minutos depois já estou com tudo resolvido e
vou me despedir de Gabi.
— Tchau, amiga. Eu te ligo assim que resolver tudo por lá! — Nos
abraçamos forte antes que eu cruzasse a porta da saída.
***
Chego em casa e comunico aos meus pais, eles não gostam muito da
ideia de ir morar na casa de um homem, mas os tranquilizo informando que
tem outros empregados trabalhando lá e falo que com o salário poderá
ajudar mais os dois, que sempre virei vê-los nas minhas folgas.
Eles concordam desconfiados, porém, eu já sou bem crescida e posso
tomar as minhas decisões. Apanho o cartão que ele me entregou e ligo.
— Alô, senhor, pode me passar a localização? Pegarei um táxi e em 1
hora chego na sua casa.
— O meu motorista vai buscá-la, em trinta minutos ele chegará aí.
— Tudo bem, até mais então.
07
Fúnebre e sem vida
Leonardo Milani
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Samanta Antonelli
***
Samanta Antonelli
***
Leonardo Milani
Acordo dando de cara com o seu rosto colado ao meu, então essa
seria a visão do céu? Ela é perfeita até dormindo, o meu coração bate tão
forte que fecho a boca, ainda entreaberta, com medo de que ele saia por ela.
Uma vontade queima cada parte do meu corpo, a vontade de tê-la só para
mim.
— Linda — digo baixo e me sento ao seu lado, contornando o seu
rosto com um sorriso bobo nos lábios.
Sigo a minha rotina diária, levantando cedo e me arrumo para ir ao
trabalho antes que os funcionários cheguem, olho mais uma vez para ela e
antes de sair do quarto. Cruzo a porta do quarto, sentindo como se cada
partícula dela me puxasse de volta, eu poderia facilmente passar todos os
dias apenas a admirando.
— Deixe de pensamentos bobos, Leonardo. — Sacudi a cabeça, a fim
de afastá-los da minha mente.
***
Samanta Antonelli
Samanta Antonelli
***
Leonardo Milani
***
Samanta Antonelli
Já faz uns dias que eu estava aqui nessa casa, até então tudo está indo
bem, Leonardo mantinha a sua palavra e vínhamos nos dando bem.
— Pedi que a Maria colocasse as suas coisas no meu quarto. —
Leonardo cruza a porta do meu quarto, sentando na ponta da cama.
— E por que fez isso? — Franzi o cenho, virando o rosto para encará-
lo.
— Está mais que na hora de você dormir comigo — um sorriso sexy
estampa o seu rosto.
— Você diz que não me obrigaria a nada! — retruco, com o coração
acelerado.
— E o que tem de tão ruim em dormir comigo? Só dividiremos a
mesma cama.
— Gosto da que durmo — sorri, me fazendo de desentendida.
— Se o problema é esse, posso pedir que coloquem essa lá no meu
quarto — ele responde no mesmo tom com que eu havia lhe respondo,
entrando no jogo.
— Você entendeu muito bem o que falo. — Me viro para o espelho,
voltando a me arrumar para a faculdade.
Ele me abraça por trás carinhosamente, apoiando o queixo no topo da
minha cabeça.
— Você é linda… — fala enquanto observa o nosso reflexo no
espelho.
Vira-me de frente e sela os meus lábios com um beijo suave e sem
exigência, a sua mão desenha o meu corpo e sinto a minha pele queimar. Eu
não sei o que sinto por ele, mas sei que nada disso é real, que estou aqui
pelo dinheiro e o desconforto que isso me causa faz com que eu me afaste
dos seus braços.
— O que foi? Fiz algo errado? — Me olha curioso, inclinando a
cabeça para o lado, me estudando.
— Estou indo à faculdade, não quero me atrasar. — Apanho a
mochila que está sobre a cama e ando apressada em direção à porta.
— Eu te deixo lá! — Ele me puxa gentilmente pelo braço, me
prendendo nos seus braços novamente, o seu dedo indicador trilha as linhas
do meu rosto, chegando até os meus lábios, onde ele faz um breve passeio,
me encarando com luxúria.
Sinto as minhas bochechas esquentarem, abaixo a minha cabeça
envergonhada, viro as costas para ele e descendo as escadas com pressa. Os
empregados já estão na casa, o que não era comum, o ar parecia ter ficado
denso e eles não nos encaram, apenas olham de soslaio. Leonardo nem
sequer os cumprimenta, indo direto para a garagem e me esperando lá,
assim que chego, ele abre a porta e entro, então ele faz o mesmo.
— Por que não foi a empresa hoje? — indago com curiosidade, ele
sempre ia à empresa cedo, todos os dias.
— Eu ainda vou — responde naturalmente, encarando o caminho à
sua frente.
— Pensei que sempre saísse cedo.
— Isso era antes, agora tenho você! Gosto de aproveitar o máximo de
tempo que eu puder ao seu lado. — Ele tira uma das mãos do volante e
acaricia os meus cabelos rapidamente. — Por que me olha assim? — Franze
o cenho, tirando os olhos da estrada por alguns segundos para me encarar.
O meu olhar para ele era confuso, de fato eu ainda tento entendê-lo e
a tudo o que está acontecendo comigo em relação a ele, além de tentar
conhecê-lo melhor.
— Eu não entendo você, só isso — a minha voz sai baixa e eu viro o
rosto para o lado oposto.
— Posso te explicar, o que quer saber? — a naturalidade da sua voz
me faz sentir como se fosse a estranha.
— O que você sente por mim? — Eu vinha me fazendo essa pergunta
a dias e ela vinha me consumindo por dentro.
Ele levanta uma das sobrancelhas, um semblante pensativo estampa o
seu rosto.
— Sei que você é a minha droga, eu quero tê-la perto de mim sempre,
o tempo todo, necessito disso — ele fala com uma expressão de dor, era
nítido o quanto a necessidade de ter alguém lhe causa desconforto.
— Sou apenas mais uma pessoa a quem você comprou para satisfazer
as suas vontades — a minha voz sai em um sussurro, eu não tenho coragem
de encará-lo.
— Não, você não é mais uma! É a primeira que faço isso. Nunca tive
interesse em estar tão próximo de alguém, sempre foi apenas sexo… —
Percebo a agonia na sua voz.
— E por que eu? — O encaro dessa vez, eu quero estudar cada linha
da sua expressão.
— Não sei, só sei que te quero cada dia mais e se você me aceitar, te
darei tudo, é só pedir e você terá — fala, oferecendo a única coisa que ele
sabe dar.
— Você pensa que só preciso do seu dinheiro? — Forço um sorriso.
— Julga que tudo se resume a isso? — Sacudi a cabeça negativamente,
mantendo o sorriso sem humor.
— E não é por isso que está aqui agora? — fala dando de ombros.
— Você nunca amou ninguém? — A minha pergunta o fez sorrir com
sarcasmo.
Ele estaciona o carro em frente a faculdade e me encara.
— Por que as pessoas falam tanto em amor se nunca conseguem amar
nada além de si próprios? — Ele havia inclinado o corpo para perto de mim
e eu abaixo a minha cabeça, ele levanta o meu queixo, me fazendo olhá-lo.
— É isso que você acha? Então não acredita no amor? — A minha
voz soa incrédula.
— Nunca senti tal sentimento, mas fica tranquila que o que sinto por
você pode não ser amor, mas é o suficiente para que você não precise de
mais ninguém, eu posso ser tudo que você precisa — ele inclina o rosto
para selar os meus lábios, usando o dedo polegar para acariciar o meu rosto.
Eu não sei o que estou sentindo neste momento, como uma pessoa
pode chegar a este ponto? Que coisas ele viveu para ser a pessoa que é
hoje? Fria e escura?
— Obrigada por me trazer! — Antes que eu consiga abrir a porta do
carro, ele me puxa para outro beijo, dessa vez mais exigente, e fecho os
olhos, me deixando levar pelo seu beijo entorpecedor.
Quando os abro, os seus olhos olham satisfeitos para fora do carro e
sigo o seu olhar, Davi está parado na entrada da faculdade nos observando.
— Passo te pegar mais tarde? — pronúncia com um lindo sorriso de
satisfação.
— Não precisa, o Davi sempre me leva depois da aula.
Eu não pretendo afrontá-lo com as minhas ações, mas foi assim que
ele se sentiu, os seus olhos pareciam facas me cortando ao meio, ele aperta
forte o meu braço.
— Não quero você andando por aí com outros homens, entendeu? —
esbraveja rudemente.
Eu não respondo, apenas liberto o meu braço do seu aperto, sentindo
ele doer e desço do carro. Davi ainda me espera na entrada, a sua expressão
confusa me alcança e ele me questiona em um tom de quem julga um
assassino.
— O que foi isso? Você está namorando esse cara? — Ele sibila
irritado.
— Sim, estamos juntos — tento ser o mais natural possível, ele não
precisa saber dos detalhes.
A sua expressão muda, o vejo engolir seco e os seus olhos ficam
úmidos.
— Por que, Sam? Ele não é homem para você! Vai te machucar, esse
cara não sabe o que é amar alguém — eu não tenho certeza de tudo isso,
mas sei que em algo Davi está certo, aquele homem nunca amou e nem foi
amado.
— Por que fala assim do seu irmão? — pergunto curiosa, ele me disse
serem irmãos, eu queria entender melhor essa relação.
— Esse bastardo não é meu irmão! — diz entredentes. — Os meus
pais o adotaram antes do meu nascimento, depois ele mostrou o monstro
que é, ele tem uma natureza ruim. Depois que fugiu de casa, ele voltou
muito rico, nem sabemos o que ele fez para ter tanto dinheiro, perseguiu os
meus pais, tentou nos destruir. Ele não presta, Samanta, só pensa nele e vai
te machucar.
— Vamos para aula, Davi — trato de mudar de assunto e ando
apressada.
— Sam, pare com o que está fazendo, eu sei que não tem sentimentos
por ele — insiste no assunto.
Paro, me virando para ele com as mãos na cintura e pergunto, o
desafiando:
— Como pode ter tanta certeza?
— Porque eu te conheço e sei que não está apaixonada — tive que
encolher o ombro e dar um suspiro de derrota, ele de fato me conhece.
As palavras de Davi não saiam da minha mente, eu não quero
acreditar que ele era tão ruim assim, ele tem me ajudado, não tem me
forçado a nada conforme prometeu. Talvez ele seja um pouco bipolar,
estranho… hum… Mas perigoso, não! Sacudi a minha cabeça a fim de me
livrar daqueles pensamentos.
***
O sinal toca e corro para fora da sala, Leonardo ainda não havia
chegado e me atrasei alguns minutos procurando as chaves do meu armário,
um táxi seria uma boa opção, ele não disse nada sobre isso. Quando desço
do táxi, avisto o jardineiro atrevido de longe, ele acena com as mãos, vindo
na minha direção, trato de mudar a minha cara, mostrando uma expressão
mais acessível, ele não é ruim, o episódio com o Leonardo de fato tinha
sido engraçado.
— Boa tarde, senhorita! — Ele tem um sorriso bobo na cara.
— Oi, Mateus, como está? — Tento ser simpática.
— Muito bem, obrigado por perguntar. Está na hora do almoço, vou
até à cozinha comer! — Ele deixa os objetos que usava num canto escorado
em uma árvore e eu sigo os seus paços.
— Hum… estou com muita fome, acredito que vou com você.
— Vai comer na cozinha? — pergunta surpreso.
— Sim, não posso? — Dou de ombros, o encarando.
— A senhorita pode comer onde quiser — ele mantém o sorriso fácil
que tinha, mas passa as mãos no cabelo, parecendo nervoso.
— Então vamos logo, porque dá para sentir o cheiro delicioso da
comida da Maria daqui de fora! — Ele sorri com as minhas palavras.
Entro pela cozinha, surpreendendo os outros funcionários que já estão
à mesa comendo.
— Senhorita, por que entrou pela cozinha? — Maria me olha confusa
e vem na minha direção.
— Estou com muita fome, Maria! — Passo por ela indo até as
panelas, checando-as.
— Deixa que coloco a comida para vocês, dois esfomeados! — Torce
os lábios com um ar divertido.
— Vá para sala, menina, que levo comida para você.
— Vou comer aqui mesmo, Maria, pode me servir — me sento à
mesa.
— Então, como conheceu o patrão? — Mateus me pergunta com
curiosidade.
— Ele era cliente no café que eu trabalhava, a nossa ele me dava
medo! — Faço uma careta e sorrio em seguida.
— Ele me dá medo até hoje — diz divertido.
As gargalhadas tomam conta do ambiente, mas o ar fica denso numa
fração de segundos, Maria tem um olhar esbugalhado para a porta e eu os
sigo. Leonardo nos observa e a sua expressão é sombria.
“Droga, ele deve ter escutado o que estávamos falando. ”
— Levante-se e me acompanhe — a ordem foi de um patrão para uma
empregada e eu sobressalto, me levantando apressada.
Leonardo segue na frente em direção ao quarto e eu o sigo, mesmo
que todo o meu corpo esteja dormente pelo medo que a sua expressão me
causou.
— Entre e feche a porta — ele fala e eu obedeço, fechando a porta
atrás de mim. — Por que não me esperou? Eu disse que iria te buscar — os
seus olhos me queimam viva.
— Eu disse que não precisava — tento passar firmeza na voz, mas
estou acuada, ainda encostada na porta.
— Já disse que não quero você com outros homens por aí — grita
novamente, me assustando ainda mais.
— Peguei um táxi, não vi problema nisso, não quero que se sinta
incomodado, tendo que ir me levar e trazer.
Ele zera lentamente o espaço que existe entre nós, me deixando sem
saída encostada na porta, segura firme o meu rosto com força e, com o rosto
bem próximo ao meu, fala:
— O que fazia comendo na cozinha com o jardineiro? E o que era tão
engraçado? — Ele aperta o meu maxilar com a mesma força com que trinca
os dentes para falar.
— Você está me machucando — falo com dificuldade e sinto as
lágrimas queimarem nos meus olhos, mas elas não caem, eu as seguro até
mesmo quando sinto o meu rosto doer assim que ele o solta.
— Estou esperando a resposta — brada com toda a força que ele pode
ter nos seus pulmões.
— Estávamos apenas conversando, não vi problemas nisso — a
minha voz sai como um sussurro, sequer levanto o rosto para olhá-lo.
Ele esmurra a parede rente ao meu rosto, grito fino com o susto, não
tenho mais forças para me manter de pé, mas me seguro, deixando livre
apenas as lágrimas quentes a descer pelas minhas bochechas. Eu já o havia
visto assim descontrolado, mas hoje parece ainda pior, o ciúme faz o seu
corpo tremer, a veia do seu pescoço fica visível e eu estou ali acuada na
porta com medo de me mover, impotente, indefesa e com muito medo.
— Existe problema sim! Você é minha, entendeu? Não quero outros
homens te olhando com desejo — vociferou, com a respiração acelerada.
Ele me envolve nos seus braços e me beijava com violência,
exigência e dependência. Sinto nojo, raiva, me sentindo um nada e deixo
que os soluços saiam junto ao choro.
— Qual o problema? — Ele me olha se afastando, as minhas ações
estão descontroladas.
— Me deixe ir agora, por favor — imploro, os meus joelhos teriam
alcançado o chão em súplica, mas ele busca o ar com pressa e dependência,
se afastando ainda mais de mim, eu o vejo passar as mãos pelos cabelos
várias vezes enquanto anda tentando respirar.
— Você pode sair — a voz rouca de quem puxa o ar foi quase
inaudível, mas ansiei tanto por estas palavras que teria lido os seus lábios se
fosse necessário.
Procuro forças e saio rapidamente para meu quarto.
12
Mudando de atitude
Samanta Antonelli
***
***
Leonardo Milani
Samanta Antonelli
***
— Não vem deitar? — pergunto para ele, que está sentado à mesa
olhando algo no notebook.
— Preciso responder um e-mail, minha menina, mas já me deito com
você.
Deito-me de pernas para cima e fico o encarando, ele me olha às
vezes e sorri para mim. Eu já estava sonolenta quando ele deita ao meu lado
e me beija deliciosamente.
— Você é deliciosa, eu te quero cada vez mais, estou cada dia mais
viciado. — Ele segura o meu rosto entre as suas mãos e volta a me beijar.
Ele para de repente, enfia a cabeça no travesseiro e encara o teto.
— Qual foi o problema? — Levanto o corpo para encará-lo.
— Me prometa que não vai embora quando já tiver tudo o que deseja
de mim… — o seu olhar era vazio enquanto encara o teto.
O meu coração se aperta de uma forma que sinto a dor me rasgar,
quão solitário ele é? O quão triste é saber que todos se vão quando já tem
tudo que precisam.
Encosto o meu queixo no seu peito, o que faz ele olhar nos meus
olhos.
— É simples, me dê algo que ninguém mais poderia me dar, me deixe
viciada nisso e faça com que eu só encontre isso em você.
— O que seria isso? — Vi a confusão atravessar os seus olhos. —
Quero muito poder te dar.
— O que te faz me querer tanto? O que tenho que as outras não têm?
— É uma dúvida que tenho e que poder ser a chave para as respostas que
ele procura.
— Não sei… — o seu semblante era pensativo, ele caça as respostas
na sua mente, mas, no final, parecia decepcionado.
— Assim que descobrir, faça com que você também tenha esse algo
que não posso encontrar em outros homens e eu nunca irei para longe de
você — garanto.
— Vou me certificar de achar para que você nunca se vá — diz,
acariciando os meus cabelos.
E essa foi a primeira vez que dormimos juntos, com os nossos corpos
abraçados.
14
Não acredito no amor
Leonardo Milani
É a primeira vez que acordo com a luz do sol entrando pela pequena
brecha na cortina mal fechada, os braços de Samanta estão sobre mim, me
viro lentamente e a encaro, os nossos rostos estão praticamente colados, o
cheiro dos seus cabelos invade as minhas narinas e os meus olhos se
perdem na sua beleza. Ela é apenas uma garotinha, mas que me leva a
loucura como nenhuma outra mulher experiente um dia sonhou em levar.
Abraço-a, esperando que esse momento nunca acabe e, pela primeira vez,
sinto medo de ficar sozinho.
Olho para o meu quarto escuro e me sinto incomodado, não pertenço
mais à escuridão e sei que tudo isso acontece porque quero estar perto da
luz que ela reflete em mim. Pergunto-me se isso é o que chamam de amor e
dou um sorriso, zombando dos meus próprios pensamentos.
Como você é idiota, Leonardo, desde quando acredita no amor?,
indago para mim em pensamento ainda sorrindo
Eu nunca estive tão próximo a alguém, em nenhum momento me
perguntei sobre os meus sentimentos a respeito de outra pessoa, nenhuma
vez senti necessidade de cuidar, proteger e querer só para mim, jamais senti
um mínimo de vontade de entregar tudo que tenho por um mísero sorriso.
Não, Leonardo, o amor não seria tão egoísta…
Torno a rir dos meus pensamentos, o amor não poderia ser isso, um
desejo louco de possuir, uma vontade avassaladora de matar quem quer que
ouse se aproximar.
O sol chega ao rosto de Samanta, que espreme os olhos, tentando
fugir da luz que a incomoda, sorri da sua expressão fofa e ela abre os olhos
lentamente, se espreguiçando.
— Bom dia, Leo — diz, com um sorriso, essa é a melhor visão para
se iniciar o dia.
Onde está todo inferno que eu sempre vivi? Eu me sinto no céu, com
todo o meu corpo flutuando.
— Bom dia, minha menina! Tem planos para hoje?
— Achei que iria trabalhar, já que nunca para em casa. — Ela se
senta, cruzando as pernas uma na outra.
— Hoje ficarei com você, o que acha de um passeio de barco? — Ela
levanta os olhos bem arregalados para mim.
— Barco? — parecia surpresa.
— O quê? Não gosta?
— Nunca andei em um — diz, com um certo deslumbre que me
agrada.
— Então se arruma, vai andar em um hoje — sorri com satisfação.
Ela salta da cama apressada e torna a se sentar com a mesma pressa.
— O que foi?
— Me senti tonta, levantei rápido demais — sorri tímida.
— Não precisa de tanta euforia, o sol acabou de nascer! — Me
levanto, indo em direção às grandes janelas, abrindo as cortinas que nos
privava da luz solar.
— Você tem razão, é que nunca fiz nada de tão divertido aos
domingos a não ser ver filmes com o Da… — calou-se.
Eu sabia o que ela queria dizer ao hesitar em pronunciar e sinto o meu
corpo queimar em raiva, quando ela começa a falar o nome daquele
pirralho.
— Desculpe, eu não falo por mal.
Eu não consigo conter a minha expressão furiosa, aquele sentimento
de posse é novo para mim e eu não sei como contê-lo. Ela se aproxima de
mim, sentando no meu colo e envolve os seus braços em volta do meu
pescoço, traça o caminho com as mãos segurando o meu rosto entre elas.
— Sou sua, eu e o Davi somos só amigos! Eu não faço sexo com os
meus amigos.
Ela pega as minhas mãos e começa a conduzi-las pelo seu corpo, o
meu sangue esquenta e logo já sou um lobo atacando a minha presa.
— Samanta, quando ficou tão ousada? — sussurro em um tom
satisfeito.
— É você quem me deixa assim — sorrio orgulhoso com a resposta.
Fizemos amor loucamente, nunca vi a minha menina assim tão
entregue, tão incrível, se eu não soubesse das circunstâncias que a
trouxeram até aqui poderia jurar que realmente somos um casal apaixonado.
Deitamos suados um ao lado do outro, a Samanta desenha o meu
rosto com o seu dedo e me dá leves beijos, estampando um sorriso fofo de
menina.
— Você não quer ir para o barco? Podemos ficar aqui o dia todo, por
mim tudo bem! — Dou de ombros.
Ela dá um pulo da cama, correndo em direção ao banheiro e eu sorrio,
nunca havia medido a minha felicidade no sorriso de alguém.
***
Samanta Antonelli
***
Chegamos rápido à praia, já que a mansão não fica longe, mas era
uma área da praia que eu não conhecia e olho tudo atentamente.
— Aqui é onde fica a marina — Leonardo responde e eu penso se eu
havia falado em voz alta.
— Qual é o seu? — digo, indo em direção à um barco que imaginei
ser o dele.
— Por que você acha que é esse? — indaga com um ar divertido,
quando parei em um luxuoso iate preto.
— É o único preto que tem aqui — respondo como se fosse óbvio.
— Se não lhe agrada o preto, podemos ir em outro, é só escolher! —
Abre os dois braços apresentando as opções.
— Como assim? — Olho confusa.
— São todos os meus — responde naturalmente.
Não tive como conter o meu olhar admirado, tem muitos iates
ancorados aqui.
— Por que tantos? — A pergunta sai em um tom assombrado.
— Não faço ideia de como gastar o meu dinheiro, então gosto e
compro. — Dá de ombros, como se ele acabasse de me apresentar uma
coleção de sapatos.
Ele me ajuda a subir, o iate é incrivelmente luxuoso, eu nunca vi nada
igual, aliás nunca havia visto um iate de perto.
— Gostou? — Ele me abraça pelas costas, afastando os meus cabelos
para beijar a minha nuca.
— Sim, é lindo.
— Pretendo fazer amor com você em cada canto desse barco, em cada
centímetro.
— Cada centímetro? — Arregalo os olhos para o tamanho, ele sorri
da minha reação, me vira de frente e me dá um beijo exigente.
Uma hora depois já estamos em alto mar e eu me sinto cada vez mais
enjoada.
— Se sente mal? — A sua expressão é de preocupação, me vendo
com as mãos na boca tentando conter o enjoo. — É normal que se sinta
enjoada, você não está acostumada, logo vai passar.
Os enjoos vêm acompanhados de uma dor abdominal e isso está me
deixando preocupada.
15
Grávida
Leonardo Milani
***
***
Samanta Antonelli
***
***
***
Leonardo Milani
***
Estaciono o carro e atravesso a porta da mansão sem esperá-la.
Coloco uma dose de whisky e me sento na poltrona do quarto esperando
que ela entre.
— Você parece cansada ultimamente. — falo brincando com o gelo
no copo.
— À faculdade suga as minhas energias.
— Sério? E como foi a aula hoje? — Franzi o cenho a estudando.
— A aula? — Dá de ombros. — Bom… foi tudo bem com a aula, por
que está me fazendo essas perguntas?
— Há algum problema se eu perguntar?
— Claro que não, tive o dia puxado na faculdade, eu quase nem
consegui sair no horário, mas corri para fazer tudo no horário e não queria
te deixar esperando.
— Por que diabos está mentindo? Por que está mentindo para mim,
Samanta? — Disparo o copo de whisky contra a parede a fim de aliviar a
minha raiva, mas foi inútil.
— Mentindo? O que é mentira no que te falo? — Ela me encara com
os olhos arregalados.
— Cínica — esbravejo a acusando. — Cheguei mais cedo à sua
faculdade hoje e vi você saindo do carro do Davi perto da aula acabar, onde
vocês têm ido pelas minhas costas?
— A lugar nenhum, Leonardo — sussurra com a voz trêmula.
— É assim que me agradece por tudo que tenho feito por você? É
assim, porra? — grito, zerando a distância entre nós, o seu cheiro desperta a
pior parte de mim, o lobo, o alfa. A agarro pelo braço, usando bastante
força.
— Para, Leonardo — os seus gritos se intensificam quando a jogo na
cama, arrancando as suas roupas que se rasgaram como papel.
O ódio me cega e ouvir os seus gritos parece cada vez mais
impossível.
— Para! Para! Eu não quero! — Ela usa toda a sua força tentando se
soltar das minhas mãos, que acariciam o seu corpo com violência.
— Você não acha suficiente o que tem aqui? Tem que fazer sexo com
o Davi e sei lá com quantos mais.
— Por favor, Leonardo, você está me machucando, você vai me
estuprar? — Cambaleio para trás, as suas palavras entram como facas
amoladas, mas logo me recomponho firmando os meus pés no chão.
— Você é minha, entendeu? A minha, Samanta, eu pago para você me
satisfazer e não para sair com aquele pirralho pelas minhas costas. Eu o
mato se você continuar a me desafiar, eu mato qualquer um que tentar se
aproximar de você!
Ela solta um grito vindo da alma, sinto a revolta que sai do seu peito,
aquilo doí em mim, me olho no espelho e vejo um monstro, está difícil
respirar. Apanho a garrafa de whisky e bebo diretamente dela. Olho
novamente para Samanta que está agarrada nas próprias pernas sobre a
cama, eu não queria machucá-la dessa forma, saio do quarto e vou para o
meu escritório.
— Mas que droga! — Exclamo irado. — Eu não sou um monstro,
porra, eu nunca forcei uma mulher a nada!
A vontade de tê-la só para mim está fugindo do meu controle, a ideia
dela com outros homens está me deixando louco, ela é só minha!
16
A imagem do diabo
Samanta Antonelli
***
***
Leonardo Milani
***
Samanta Antonelli
Leonardo Milani
Sai logo após o meu assistente sair, vou para casa esperar Samanta.
Muitas coisas passam pela minha cabeça, eu nunca imaginei que eu estaria
nessa situação por alguém, eu sempre vivi sozinho, que porra!
Está impossível respirar, retiro a gravata com uma das mãos enquanto
a outra permanece no volante, eu dirijo rápido e entro igual a uma bala para
o quarto e aguardo pela volta da Samanta em pé em frente à janela, para ver
o exato momento em que ela surgiria.
Recebo o áudio do meu assistente e me seguro, sentindo faltar forças
nas pernas ouvindo o seu conteúdo.
— Mas que porra, Samanta, o que você quer? Ela quer me deixar? Ela
quer fugir de mim? — As perguntas não respondidas me deixam louco de
ódio e de ciúmes. — No final, você é igual a todos que fingem ter
sentimentos por mim, mas, no fundo, só querem o meu dinheiro.
Não demora muito e ela chega, os meus olhos estão vidrados nela
acompanho o seu olhar que caminha para o meu carro estacionado na porta,
sinto a sua hesitação antes de continuar andando em direção à casa. Vejo
quando o jardineiro a chama e ela para, falando com ele.
— Essa amizade já está passando dos limites — esbravejo, levando a
garrafa de whisky à boca.
Sinto a raiva tomar conta de mim e os meus olhos queimam de ódio,
quando ele toca o seu braço, ela se afasta rapidamente e se despede
voltando a caminhar em direção à casa. Estou ansioso pela sua chegada ao
quarto, mas acredito que ela esteja vacilando bastante durante o caminho,
pois ela levou mais que o dobro do tempo normal até atravessar a porta.
— Bom dia! Não o esperava em casa tão cedo — ela diz com uma
voz firme.
Eu queria ter controle naquele momento, mas me viro lentamente e
pelos seus olhos arregalados, a minha expressão era péssima.
— Onde estava? — vocifero, sentindo os músculos da minha face
tremer.
Ela tenta se manter de pé, se apoiando na mesa ao lado da porta.
— Não é da sua conta, não sou a sua prisioneira — responde
entredentes.
— O que disse? — indago, sem acreditar nas palavras que ela acabou
de pronunciar.
— Não quero falar onde estive, você não precisa saber cada passo que
dou — diz, me desafiando.
Aperto com muita força a garrafa nas minhas mãos e atiro contra a
parede, acertando no seu lado, um grito fino escapa da sua boca e ela se
abaixa, usando os braços para se proteger dos milhares de pedaços de vidros
que voaram para todos os lados. Eles cortam a sua pele em várias partes do
corpo, estou cego de raiva e ciúmes, estou a ponto de enlouquecer.
Caminho na sua direção e a levanto do chão pelos braços e a jogo na
cama.
— Você acha que é livre? É isso que você acha? — berro.
Embora o seu corpo trema de medo, o seu olhar permanece firme, ela
não chora como das outras vezes.
— Você pode fazer o que for, mas não vai me impedir de ir embora
daqui na hora que eu quiser.
— Saia agora! Não vou te impedir de ir! — Aponto para a porta.
Ela me encara confusa e eu continuo falando:
— Mas fique ciente que quando atravessar aquela porta, deixo de
pagar pelo tratamento do seu irmão, acha que é barato? Tenho investido
muito nisso tudo, Samanta.
Os seus olhos antes seguros agora mostram ódio, ela cerra os punhos
me encarando, eu já estou acostumado a esse olhar, eu costumo provocar o
sentimento de ódio nas pessoas, esse sou eu de natureza ruim, nunca serei
merecedor do céu.
— Talvez eu não vá embora hoje, ou amanhã, mas também não
ficarei aqui para sempre — diz com um tom afrontoso.
Sinto o chão se abrir, eu nunca a deixarei ir e sempre estará presa a
mim, as pessoas nunca deixam de precisar de dinheiro.
— Você é minha, Samanta, e você não tem autorização para me
deixar, eu digo quando você pode ir, entendeu?
— Entendi, senhor, algo mais? — Não respondo ao seu deboche, saio
de cima dela me virando e vou para o escritório onde me tranco.
Jogo-me no sofá em busca de controle, se quero que ela fique preciso
saber o que ela quer, o que ela tem de tão importante para falar a pessoa que
ela odeia por comprar a sua virgindade? E ainda mais querer pedir por
ajuda, ela parecia satisfeita com o que eu estava oferecendo, ela parecia
entregue e fui diferente com ela… Samanta tem tudo de mim.
***
Samanta Antonelli
***
Leonardo Milani
Acordo com o despertador que toca baixinho ao meu lado, o sol ainda
se prepara para nascer e, como eu vinha fazendo a uns dias, as cortinas
estão abertas, deixando a luz entrar nos presenteando com os primeiros
brilhos do sol. Viro-me para o outro lado e Samanta dorme completamente
nua, fico a admirando e estou feliz, afinal, ela está aqui, a minha mulher!
Tivemos uma noite deliciosa, nunca achei que as reconciliações
pudessem ser tão prazerosas. Fico mais um tempo observando ela dormir
calma e tranquila, e é essa visão que quero ter para o resto dos meus dias,
nunca vou deixá-la ir, eu lhe darei motivos para ficar.
— Bom dia, minha menina. — Ela se vira lentamente se
espreguiçando.
— Bom dia, ainda está na cama? Não vai trabalhar hoje?
— Sou o dono, querida, vou quando quero — digo divertido.
— Então você sempre quer, não lembro um dia sequer em que você
não estivesse trabalhando, até em casa você trabalha.
— Hoje será diferente, ficarei com você o dia todo. O que acha de
darmos um passeio?
Eu não havia me esquecido de tudo que aconteceu nos últimos dias,
mas se eu a quero, preciso saber o que ela deseja, preciso dar o que ela quer.
— Aonde vai me levar? — Ela deita com os pés para cima, os
cruzando no ar, e apoia o queixo sobre a palma das mãos.
— A praia, pensei em passarmos dois dias por lá, em uma casa à
beira-mar.
— Acho ótimo — sorri para mim. — Vou tomar um banho! — ela
salta da cama com pressa, entrando rápido no banheiro.
Eu ainda consigo ver que alguma coisa a incomoda, algo que ela não
quer compartilhar comigo. Eu me sinto a cada segundo mais inseguro e
assustado, não consigo controlar os meus sentimentos, tudo está intenso, eu
a quero e é só nisso que consigo pensar, nunca senti tanto medo de voltar a
ser sozinho.
O telefone de Samanta vibra sobre a mesa e me tira dos meus
pensamentos, respiro fundo algumas vezes, tentando manter a calma
quando vejo que a ligação é do Davi.
— Alô — atendo em um tom irritado.
— Liguei para Sam, não para você! — ironiza.
— a minha mulher está no banho, o que você quer?
— Então ligo outra hora.
— Não a procure, você não é necessário — ordeno em um tom firme
e sussurrado, temendo ser ouvido por Samanta.
— Você destrói tudo que toca, e destruir vidas é a sua especialidade
— sibila com escárnio.
— Do que está falando? Quem acabou com a vida dela? — o meu
tom agora era confuso, afinal, ele está me acusando de algo que não tenho
conhecimento da razão.
— Fique ciente que sei de tudo, eu levei Samanta ao médico e
comprei os remédios receitados que preciso entregar a ela, mas como ela
não tem aparecido na faculdade, então não tive como entregar.
Ela está doente? Que diabos está acontecendo com a Samanta? Por
que ela foi ao médico com o Davi e não comigo?
Eram muitas perguntas e nenhuma resposta, e isso não era bom para a
minha insegurança.
A porta do banheiro se abre, Samanta enxuga os cabelos compridos e
está vestida com um roupão, eu tenho certeza de que ela se assustaria com a
minha expressão, eu estou tomado pelo ciúme e quero respostas, desligo a
chamada colocando o seu celular no lugar sem que ela perceba.
***
Samanta Antonelli
***
Leonardo Milani
***
Dedilho a maca impaciente, o curativo em um pequeno corte na
minha perna parecia interminável.
— Já está suficiente — digo ansioso, me colocando de pé.
— Aguarde, colocarei só mais um esparadrapo, o corte foi pequeno,
mas está fundo. Então os cuidados foram necessários — a enfermeira que
me atende fala irritada.
— Tudo bem, agradeço, agora me diga onde ela está? Para onde a
levaram?
— Se acalme, senhor, a sua esposa está na sala de urgência com o
médico, logo vai poder vê-la.
Sento-me no corredor na urgência e os meus pés se movem sem parar,
abaixo a cabeça com as mãos na nuca, os passos ecoam no corredor
silencioso me fazendo sobressaltar.
— Como ela está? Posso vê-la? — Indago com pressa ao médico que
caminha na minha direção.
— Ela está bem, poderá vê-la agora, me acompanhe — o sigo
andando ao seu lado. — O seu estado de saúde é estável, está sedada e logo
irá acordar. Quanto ao bebê, ela bateu forte na barriga e perdeu bastante
sangue, solicitei alguns exames e assim que ela acordar iremos fazê-los.
— Bebê? — Olho confuso entrando no quarto onde a Samanta está.
— Não sabia que a sua esposa está grávida? Suponho que com pouco
mais de dois meses.
Sinto o chão se abrir debaixo dos meus pés.
— Um filho? — Um sorriso bobo se forma no meu rosto, eu choro e
sorrio, me sento no chão quando sinto as minhas pernas fraquejarem.
— Sente-se bem? — O médico estica os braços para me ajudar a
levantar.
— Estou bem, estou bem! — Recuso a sua ajuda, ficando ali por mais
uns minutos.
— É sempre um momento muito emocionante a chegada de um filho,
parabéns, senhor Milani, vou deixá-lo sozinho com a sua esposa e se
precisar de algo nos chame — diz a caminho da saída.
— Muito obrigado — agradeço e ele sai do quarto.
Levanto-me e me sento na poltrona ao lado da cama, eu não paro de
sorrir, eu nem tinha planos de ter filhos, mas parece ótimo agora, o meu
coração está em êxtase.
— Um filho? — Repeti e repeti, sem deixar de sorrir. — Por que não
me disse, Samanta? Por que ela estava escondendo isso de mim? — Me
pergunto várias vezes.
Fico ali por horas alisando os seus cabelos.
— Que porra, Leonardo! — Quero entender o que estou sentindo, eu
nunca quis tanto alguém.
— Leo? — Samanta diz, sem força.
— Estou aqui! — Estico as minhas mãos pegando as dela, a trazendo
até os meus lábios. — Como está se sentindo?
— Não tenho certeza — responde tão baixo quando um sussurro.
— Minha linda, eu vou chamar o médico, espere só um minuto.
Ela segura a minha mão antes que eu consiga me afastar, vira o meu
corpo de volta para ela.
Ela passa a mão pelo seu ventre.
— O meu… o meu bebê? — A sua voz sai com soluços, as lágrimas
caem rápido.
Seguro o choro, sentindo a minha garganta doer.
— Vai ficar tudo bem, Samanta — a minha voz saiu com dificuldade.
— Não nos machuque — aperto os olhos, as suas palavras me deixam
confuso.
— Por que eu machucaria o meu filho? — Viro a cabeça de lado a
analisando.
— Ele não é seu filho — os soluços aumentam e o choro se
intensifica.
Sorrio nervoso, mordo o lábio e balanço a cabeça negativamente.
— Como assim não é o meu filho, Samanta? — Não consigo conter o
riso nervoso. — E quem é o pai da criança?
— Eu não sei o nome dele — admite com pesar.
— Samanta, você bateu a cabeça e não sabe o que está falando.
— Quase três meses — sussurra. — Três meses, Leonardo. Esse
filho não é seu e sim daquele com quem dormi no hotel.
É por isso que ela o procurou para falar sobre a gravidez? Sinto-me
aliviado, se esse era o motivo, ela nunca teve a intenção de me deixar.
— Minha Menina, você é minha e eu sou seu, esse bebê será nosso, se
acalme, tudo ficará bem, eu nunca voltarei a machucá-la e nem farei isso ao
nosso filho.
O seu rosto se ilumina e vejo um lindo sorriso nascer.
— Você irá aceitar o filho de outro homem? — O seu tom era cético.
— Samanta, no meu mundo só existe eu, você e agora o nosso filho.
Quero contar a verdade e gritar para ela, dizer que tinha sido eu, mas
o medo de perder tudo que tenho, agora foi maior.
19
Nunca vou te deixar sozinho
Samanta Antonelli
***
***
Estou a caminho da faculdade, quando recebo um e-mail da Milani
me convocando para a seleção.
— Que carinha é essa? Notícia boa? — Leonardo questiona vendo o
meu sorriso encarando o celular.
— Vou para uma seleção hoje lá na Milani, eu não sabia que me
chamariam tão rápido.
— É final de mês, sempre temos estagiários espalhados pelas
agências e eles sempre iniciam no primeiro dia do mês. Te desejo sorte,
embora eu já saiba que você será escolhida.
— Sabe? — Olho para ele desconfiada.
— Você é a melhor, eu já disse isso — sorri divertido.
***
No final da aula vou direto para a Milani, era a segunda vez que
estava na empresa e ainda me impressiono com o tamanho do prédio. Entro
procurando pela recepcionista da outra vez, ela seria o fim da tentativa de
camuflagem, mas, para minha surpresa, uma loira artificial com cachos
largos estava no seu lugar, as suas sobrancelhas eram bem escuras.
Samanta Antonelli
Samanta Antonelli
***
Leonardo Milani
Você já chegou?
Para Samanta
***
Samanta Antonelli
No dia seguinte, na Milani não se fala de outra coisa a não ser a festa
onde os novos projetos são apresentados, os funcionários recebem
premiações generosas, o que não é de se admirar vindo de Leonardo.
— Você recebeu o convite? — Lucas exibe o enorme envelope preto
com letras douradas.
— Sim! — Agito o meu envelope no ar.
— Vamos juntos! — Sugere animado. — Ah…. Esqueci, você deve
levar o seu namorado — o sorriso desaparece do seu rosto.
— Ainda não sei se ele vai — encolho os ombros.
— Então você me diz se ele não for que passo para te pegar — pisca
o olho sugestivamente.
— Acho melhor nos encontramos lá — forço um sorriso.
— Tudo bem, nos encontramos lá então. — Torce nariz antes de
voltar a sua atenção para o trabalho na sua mesa.
Mas o seu mau-humor durou pouco, logo ele virou a cadeira com os
olhos brilhando pronto para fazer o que mais gosta, “fuxicar”.
— Já está sabendo da novidade? — Pelo tom da voz, a fofoca da vez
é das grandes.
— Qual? — pergunto curiosa.
— A diretora responsável pela filial da Inglaterra está aqui — suspira,
se encostando na cadeira.
— O que tem de mais nisso? — Faço pouco caso do comentário,
afinal não era nada demais.
— O que tem de mais? Você não ouviu tudo ainda, a fofoca vem
agora, ouvir falar que ela já teve um romance com o presidente.
— Um romance? — Sinto os meus lábios tremerem.
— Sim e com certeza ainda deve rolar, ele deve pegar quando tem
oportunidade.
— De onde você tira todas essas coisas, Lucas? — Finjo desinteresse
— Todos estão comentando só você que não sabia ainda.
Viro a cadeira, ficando de costas para ele, e torço para que ele para de
falar, eu estou a ponto de ter uma síncope.
Samanta não se preocupe com isso, ele é seu… E só seu! Se concentre
no trabalho…. Aí…. Não consigo…. Preciso vê-la pessoalmente.
Levanto da cadeira em um salto, indo apressada em direção à saída da
sala.
Só existem duas salas no andar da presidência, uma vazia e a outra é a
do Leo, eu queria subir e teria que ter uma boa desculpa para isso, mas
enquanto ninguém me impedia, apenas caminho até lá sem a menor ideia do
que falar quando chegar.
Ando apressada pelos corredores, eu não levanto o rosto, não queria
ser parada no caminho ou olhar alguém nos olhos.
— Ai! — exclamo e caio de bunda no chão.
— Você está bem? — antes de levantar os olhos para checar quem
está na minha frente, o meu corpo treme ouvindo a voz de Leonardo, mas
logo me recompus levantando os meus olhos para então vê-lo em pé ao lado
de uma loira alta e refinada, os seus cabelos brilham e a sua pele parece um
veludo.
Ela me olha por cima dos ombros torcendo o nariz com um ar de
desprezo.
— Acho que estou — toco no meu ventre, eu sabia que era golpe
baixo e que estou fazendo um drama exagerado.
— Ela está bem, Leonardo, vamos agora ou chegaremos atrasados no
jantar! — Ela deu alguns passos para então perceber que ele não lhe
acompanha.
Jantar? Mas quem ela pensa que é?
Não contive o meu olhar irritado para ele.
— Ai… ai… — Levanto fingindo dificuldade.
— Está sentindo alguma coisa? — A sua voz preocupada fez a loira o
olhar irritada, voltando a me encarar.
— Garota, não faça tanto drama por uma queda tão insignificante —
zomba
Percebo os olhos de Leonardo para o seu segurança que sabe bem
quem sou, ele não demora em se aproximar.
— A senhorita, está bem? Vou levá-la até a enfermaria.
Eu não havia notado a quantidade de pessoas que observavam a cena,
as pessoas não se aproximam muito do Leonardo, então isso para elas são
um espetáculo.
— Estou bem, não se preocupe, podem ir para o jantar, não se atrasem
por minha causa.
— Está vendo, Leo, a garota está bem, vamos! — Mesmo que
Leonardo tivesse sido rápido, tirando as mãos dela do seu braço, eu não
consigo conter o meu olhar furioso tomado pelo ciúme.
Leo é um caramba, senhor Milani para você!
Resmungo em pensamento.
Ando apressada retornando para a sala.
— O que aconteceu? Por que está com essa cara? — indaga Lucas,
notando a minha mudança de humor.
— Nada!
— Foi aquela garota que esbarrou no presidente? A nossa, que
vergonha — duas funcionárias riem enquanto apontam o dedo para mim.
— Do que elas estão falando? — Lucas me olha curioso.
— Lucas, você é um ótimo repórter investigativo, faça o seu trabalho
e colha as informações, o meu expediente acabou estou indo embora! —
Saio batendo os pés apressada após recolher as minhas coisas da mesa.
— O que falei que te deixou tão irritada, Samanta? — Indaga ele
confuso
— Aí, Leo, ela está bem, vamos embora — digo, imitando a sua voz
insuportável aos meus ouvidos, com um tom debochado.
***
Leonardo Milani
Samanta Antonelli
***
Chego mais cedo à empresa, pois tive uma aula a menos na faculdade,
eu sempre chego com fome, mas hoje eu teria tempo de comer com calma
no refeitório da empresa.
— Samanta — os gritos animados de Jessica vieram acompanhados
de vários acenos, ela está em uma mesa com Lucas, que também acena.
— Chegou cedo hoje — diz Lucas, assim que me aproximo da mesa.
— Tive uma aula a menos na faculdade — justifico.
— Que bom, como somos de setores diferentes, raramente nos vemos
— Um bico fofo se forma nos lábios de Jessica. — Vem senta aqui do meu
lado — ela afasta a cadeira e puxa para mais perto dela. — Fico muito feliz
em poder comer com vocês hoje, sempre faço isso sozinha.
— Samanta, já comprou o seu vestido para a festa da Milani?
— Ainda não, eu nem havia pensado nisso ainda.
— O que acha de irmos juntas? — Me pergunta animada, sugando o
refrigerante pelo canudo.
— Acho uma ótima ideia, quando você quer ir?
— Vamos hoje depois do expediente, o que me diz?
— Perfeito, vamos hoje então.
— Posso ir com vocês? Só para dar a minha opinião masculina, sabe?
— Lucas encolhe os ombros e é claro que eu diria sim, nunca tiraria esse
prazer da Jessica, que responde que sim com um sorriso largo e eu me
pergunto se Lucas já havia notado que ela está caidinha por ele.
— Uau! O que é isso no seu dedo?
Pelo espanto dela, imagino tudo, menos que ela estivesse falando da
aliança, então respondo assustada:
— O quê? Onde? — Sacudi a mão procurando algo anormal.
— Estou falando dessa belezinha aqui! — Ela toca com o dedo
indicado.
— Ah… é só uma aliança de compromisso, ainda vamos marcar o
noivado e anunciar oficialmente.
— Uau! Uau! Posso ver? — Ela diz eufórica.
— Claro! — Estico os dedos e ela olha encantada.
— Samanta, você mentiu! — A sua boca tinha um formato de O.
— Por que diz isso? — Recolho a minha mão sem entender.
— Você nos diz que o seu namorado era um homem comum, mas isso
aí no seu dedo está avaliado em cinco milhões de Euros.
Agora foi a minha boca que se abre em um O, eu olho espantada para
a minha mão.
— Você deve estar enganada, olhe direito, nem é verdadeira! — Sinto
os meus lábios tremerem, como alguém coloca cinco milhões na mão de
alguém que anda de ônibus por São Paulo?
— Você não sabe que a minha família é do ramo de joias? Somos os
maiores designers de joias do país e isso aí no seu dedo não é falso, me
deixa eu te mostrar uma coisa! — Estica a mão, pedido a aliança, tiro do
dedo e depósito na sua mão esticada.
— Olha que coisa linda! — Ela puxa as extremidades da aliança,
revelando um encaixe.
Os meus olhos brilharam quando ela mostra uma pedra em formato de
coração, metade preto e metade azul-celeste.
— É um diamante raro — diz, olhando fixamente para a joia, a sua
reação era a de alguém encontrando o seu ídolo pela primeira vez. — Ele é
muito lindo! — suspira — Sempre quis vê-lo de perto, muito obrigada
amiga. — Me abraça.
— Nossa! Não sabia que queria tanto ver — digo envergonhada, me
sentindo um pouco mal por não saber o que carregava no dedo.
— “O céu e o inferno provêm do mesmo coração. ” — ela diz
encarando a joia.
— O quê? — pergunto curiosa quando ela pronúncia a frase.
— É uma frase xintoísta, é o significado da joia.
— Xinto o quê? — pergunto, sem entender e ela sorri — Nossa, não
sabia que eu usava algo tão valioso no dedo.
— Pois é.… deveria nos contar quem é o bilionário! — Arqueia as
sobrancelhas.
Lucas não pronunciou uma palavra, ele parecia me estudar, enquanto
ele comia alguns petiscos que estavam na mesa.
— Bilionário? — sorri sem humor. — Vamos deixar essa conversa
para outra hora, ainda preciso comprar algo para comer! — Levanto
apressada saindo do refeitório, eu encaro a minha mão novamente. — O
que faço com você? Uso ou guardo em um cofre?
24
Não me deixe falando sozinho!
Samanta Antonelli
***
Leonardo Milani
***
Samanta Antonelli
***
Samanta Antonelli
Ouço vozes vindas da sala quando saio do banho, não é algo normal,
aqui sempre é muito silencioso, barulho só quando faço. Coloco um vestido
soltinho e deixo os cabelos soltos, percorro as escadas ainda tentando
identificar o que está acontecendo, no meio do caminho vejo Leonardo
sentado à mesa com a “Chatielle” e outro homem que eu já vi algumas
vezes com ela na empresa.
Pensei em voltar para o quarto devagar sem ser notada e nos meus
primeiros passos ouço Leonardo me chamar.
— Samanta, aonde está indo? — Olho por cima do ombro, me
virando em seguida.
— Por que não me disse que você teria visitas?
— São as suas visitas também, vem, vamos para sala. — Estica o
braço na minha direção, pegando a minha mão em seguida.
— Essa é minha noiva, que vocês queriam tanto conhecer — diz
orgulhoso.
Os olhos de Gabrielle se arregalam e percorrem para as nossas mãos,
ainda grudadas, ela retorna os olhos, me encarando, e espero o fogo dos
olhos dela me queimarem viva.
— Oi! — Aceno timidamente.
— Bom, Gabrielle você já a conhece, quanto a ele, o seu nome é
Sebastian, ele é irmão da Gabrielle.
— É um prazer, senhorita! — Ele me olha com malícia, me deixando
desconfortável.
— Sente-se, você deve estar com fome, vou até a cozinha pegar mais
suco para você — Ambos observam atentamente o cuidado de Leonardo
comigo, parecem não acreditar.
Movo a cabeça confirmando.
— Me deem licença, vou até o lavabo! — Chatielle vai atrás do
Leonardo, levanto meus olhos para vê-la sumir e suspiro em seguida.
— Pensando em ir atrás deles? — Sebastian fala quando estou prestes
a levantar.
— Por que eu faria isso? — indago, me acomodando na cadeira.
— Você deve saber que eles ficam — sorri malicioso.
— Que eles ficavam, sim, eu sei — o corrigi. — Mas não planejo
fazer uma lista de todas as mulheres que ele já levou para cama! — Dou de
ombros.
— Claro, eu, sendo você, também não estaria preocupado com isso,
quanto ele te paga para você dormir com ele? — Levanto os meus olhos
arregalados para encará-lo.
— Por quê? A sua irmã costuma cobrar por esse tipo de serviço? —
Umas das minhas sobrancelhas se arqueiam.
— Ela tem muitos benefícios, não é só sobre receber o malote depois
de uma transa, você sabe do que estou falando — sorri debochado.
— As coisas não funcionam assim entre a gente — tento mostrar
indiferença.
— Claro que não — zomba. — Posso ser muito melhor de cama do
que ele, você é jovem e muito gostosa, não se sente entediada?
Ele passa a mão pela minha perna por baixo da mesa, sobressalto
assustada.
— O que está fazendo? — grito.
— Eu também tenho dinheiro, quando acabar as coisas por aqui
podemos nos encontrar — alisa o meu braço.
— O que está acontecendo aqui? — Ele está muito próximo a mim
quando Leonardo retorna.
— Nada! — Sebastian sorri com deboche, levantando as mãos em
rendição.
— Samanta? — Inclina a cabeça, me analisando, e uma lágrima caiu
dos meus olhos. — Seu filho da puta! — O barulho da jarra de suco se
mistura ao som do nariz de Sebastian sendo quebrado, Leonardo está
descontrolado e não para de bater, mesmo com idiota caído no chão, com os
braços em frente ao rosto tentando se proteger.
— Leonardo, chega! Você vai matá-lo! — Gabrielle grita, pulando
nas costas de Leonardo.
— Ajudem! — grito para os seguranças, que entraram apressados, foi
preciso três homens para tirar Leonardo de cima de Sebastian, que grita de
dor com as mãos no nariz.
Os seguranças levantam o homem do chão, Leonardo está sentado,
ofegante no chão, as mãos molhadas de sangue, ele levanta os olhos irados
e me encara.
— Que droga aconteceu aqui, Samanta? — esbraveja se levantando
zerando a distância entre nós.
— O que você acha que aconteceu? — grito tão alto quanto ele.
— Estou te perguntando o que aconteceu aqui! — Ele bate com a mão
aberta sobre a mesa.
— Você está me ofendendo, Leonardo! — Viro as costas indo para o
quarto com ele no meu encalço.
— Não pense que vai me fazer de idiota, Samanta! — Ele segura o
meu braço com força.
— Você está nervoso, comece a raciocinar direito — digo
entredentes, puxando o meu braço de volta e volto a andar para o quarto.
— Pare de andar, estou falando com você, não me deixe falando
sozinho.
— O que você quer? Quer que eu diga o que aconteceu? Ele achou
que eu era uma puta e me ofereceu dinheiro para ir para cama com ele!
Satisfeito? — Subo as escadas e bato a porta do quarto com força antes de
me afundar nos travesseiros.
***
Leonardo Milani
***
Acordo horas depois com o despertador, eu sou o anfitrião do evento,
não posso me dar ao luxo de atrasar. Apanho o telefone e encaro a foto de
Samanta nos contatos por alguns segundos e resolvo mandar uma
mensagem temendo que ele desista de ir ao evento.
Sim, senhor.
De Samanta
Samanta Antonelli
***
Samanta Antonelli
***
Leonardo Milani
— Mais que droga é essa que estão falando? — Bato na mesa com o
punho cerrado
Ligo para o meu advogado mandando que ele tire os boatos de
circulação.
— Quero que processe esses infelizes — esbravejo.
— Certo senhor, será feito! — Encerro a ligação.
— Droga, a Samanta já deve ter lido! — Ligo para o telefone dela e
rapidamente ela me atende.
— Samanta, onde você está? — pergunto ansioso.
— Senhor, é a Jessica — Me sento esperando pelo pior.
— Jessica? Onde está a Samanta? — a minha voz sai embargada.
— Estamos na enfermaria da empresa, ela desmaiou… — Não espero
ela terminar, encerro a ligação e corro para enfermaria.
— Minha linda, está tudo bem? — Corro para o seu lado,
encontrando-a acordada.
— Vou deixá-los sozinhos. — Jessica diz, saindo da sala, e confirmo
com a cabeça.
Samanta me abraça com desespero, as lágrimas correm pelo seu rosto,
ela soluça tentando falar.
— Já pedi que as notícias fossem retiradas, minha linda, não se
preocupe com isso, estamos juntos, vamos superar isso juntos! Eu não
queria te expor dessa forma, merda! — exclamo irado
Ela se afasta de mim, encostando a cabeça no travesseiro e olha para
o teto, ela inclina a cabeça para olhar o telefone que toca sobre a mesa de
apoio, mas deixa chamar até parar e já tem mais de trinta ligações dos pais.
— Não se preocupe, eu vou resolver isso — torno a falar.
— Se você não tivesse agido sem pensar, se tivesse feito o que eu te
pedi…
— Samanta, eu não me importo com nada que essas pessoas estão
falando. Estou preocupado com você.
— Sabe o que me dói, Leo, é que tudo que eles estão dizendo é
verdade, eu me sinto a pior pessoa do mundo.
— Samanta, o único miserável, aqui sou eu, e não é verdade, você
não é uma qualquer. Você é uma mulher respeitável, digna, eu sou o único
que vivia uma vida lamentável antes de você. Vamos marcar a data do
casamento, vou comunicar a imprensa e em seguida vamos até os seus pais.
Ela me beija, me dá um abraço longo e todo o meu medo e
insegurança vão embora. O medo de que ela me deixasse, de ser rejeitado
mais uma vez… eu não suportaria.
— Vou marcar o médico, quero saber como o meu filho está e você
precisa se acalmar, Samanta, por ele, certo?
— Obrigada por nos proteger.
— Como não o faria? Vocês são tudo que eu tenho. Vamos, vou te
levar para casa, consegue andar?
— Posso, sim, Leo — ela sorri com a minha pergunta.
Saímos de mãos dadas pelos corredores da Milani, quem eles pensam
que são? Todos têm que aprender a respeitá-la, agora ninguém se atrevia a
olhar na nossa direção.
— Meu amor, não abaixe a cabeça, isso tudo é seu, eles são seus
funcionários e se eles te irritam, nós podemos trocar todos! — ela ergue a
cabeça apertando o meu braço.
— Leo, e a sua reunião? Você pode chamar um táxi para mim, posso
ir sozinha — ela diz assim que chegamos no carro.
— E por que eu deixaria a minha mulher que carrega o meu primeiro
filho ir sozinha para casa? Nada é mais importe que vocês! — O telefone
dela toca novamente, ela encara o aparelho com o semblante caído.
— Vamos até lá — garanti.
— Onde?
— Até os seus pais, vou pedir que eles preparem o jatinho e vamos lá.
— Quando?
— Agora mesmo se quiser.
— Obrigada — ela diz com um sorriso.
— Sou eu que agradeço por você não desistir de mim.
28
Foi você quem pagou pela hipoteca
Samanta Antonelli
***
***
Leonardo Milani
A Samanta sai para dar uma volta com a mãe e me deixa sozinho com
o seu pai, ele me encara com raiva e evito falar, não quero piorar as coisas
entre Samanta e o pai.
— Como convenceu Samanta a ficar com você em troca da hipoteca?
— Levanto os olhos para encará-lo.
Baixo a cabeça e fecho os olhos, eu deveria apenas me manter em
silêncio, quanto menos eu falasse seria melhor.
— Minha filha devia estar muito desesperada para aceitar isso… —
Vejo a raiva nos seus olhos se transformarem em remorso.
O que ele sabia sobre isso?
— Não sei do que está falando, senhor, as coisas parecem distorcidas
na sua mente.
— Acha que não sei, que é dono do banco onde eu tinha a hipoteca?
Demorei para associar, como um mero faxineiro não fui capaz de te
reconhecer.
— Nunca obriguei a Samanta a nada, se é disso que está me
acusando.
— Sou idiota, fiquei sabendo agora pouco depois do anúncio do
noivado, as pessoas parecem bem interessadas em falar tudo que sabem
sobre o novo casal. Eles nem sabiam que ela era a minha filha, mas falam
sobre os seus relacionamentos. — ele se refere aos funcionários da filial que
ele está trabalhando. — Você deu ordem para que fizessem a cobrança da
dívida com a ordem de despejo e induziu a minha filha a dormir com você.
O meu corpo treme, eu não iria admitir, mas ele parecia ter certeza e
essa informação deve ter vazado depois do anúncio do noivado.
— Senhor, me perdoe pelo que fiz, não conte a Samanta, ela não sabe
que era eu naquele quarto — imploro.
— Seu bastardo infeliz, ainda tem coragem de me pedir isso? Você
está enganado a minha filha? Ela nem sabe o tipo de pessoa com quem vai
casar! Enganar os outros por motivos egoístas está na natureza humana,
mas nunca imaginei que seria tão baixo com uma garota.
— Eu sei que o que fiz foi errado, eu praticamente a obriguei diante
das circunstâncias, eu não me sinto bem por isso, mas eu realmente gosto da
sua filha.
— Gosta? — ele me encara com desprezo.
A minha boca treme, o meu coração aperta, não gosto dela, sou louco
por ela e apaixonado, ou talvez seja tudo junto.
Eu a amo, grito na minha mente, percebendo que todas essas palavras
se resumem em uma única frase.
— Eu gosto muito! — digo, omitindo o que sinto como um covarde.
— Me perdoe, me permita casar com a sua filha, vou fazê-la feliz, eu
prometo.
— Acha que ela nunca vai descobrir? Nada fica escondido por muito
tempo, arrume uma forma de contar para ela! Se realmente a ama, faça isso
logo.
— Obrigado — digo com um suspiro.
A porta da sala se abre, Samanta volta mais rápido do que eu
esperava, me recompus voltando a sentar no sofá.
— Aconteceu alguma coisa? — ela me olha preocupada, sentando-se
ao meu lado. — O meu pai… Ele falou algo ou fez alguma coisa? Vocês
brigaram?
— Não, minha menina, está tudo bem, nós apenas conversamos. —
Aliso o seu rosto.
— Por que está com essa cara e suando desse jeito? Nunca te vi tão
tenso.
— O seu pai me dá medo, minha linda — forço um sorriso.
— Bobo, desde quando tem medo de alguma coisa? — Bate no meu
peito com um sorriso divertido.
— Desde do momento em que te conheci, tenho medo de ficar
sozinho novamente — fui sincero, me declarando.
— Eu nunca vou te deixar, prometo — levanta a palma da mão
enquanto faz a promessa.
Ela é todo o meu mundo e não permitirei que a tirem de mim.
29
Eu a amo!
Samanta Antonelli
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Leonardo Milani
***
Samanta Antonelli
***
— Olhando para sua mão, vejo que foi verdade — ela diz, pegando o
celular de volta.
— Sim, é verdade — sorri.
— Onde está o Lucas?
— Ele está doente, não vem hoje, vou passar na casa dele, quando
acabar o expediente e te deixo informada.
— Tudo bem, obrigada, agora preciso subir.
— Tchau, amiga, nos vemos no horário de almoço! — Acena com a
mão.
Na minha sala, as coisas mudaram, as pessoas já não me encaravam,
embora os olhares pelas minhas costas me queimassem, eu queria muito
evitar isso, mas agora que todos já sabem, me sinto até aliviada de não
precisar esconder nada.
— Samanta. — Gabrielle acena da porta me chamando.
— Oi, achei que já tinha ido embora — digo me aproximando.
— Estou indo hoje, podemos conversar um pouco?
— Claro! — Nos sentamos em umas poltronas que fica no corredor.
— Parabéns pelo casamento, você deve estar bem feliz! — Tudo nela
soava falso.
— Obrigada, faça uma ótima viagem de volta — respondo, com a
mesma falsidade.
— Agradeço, mas antes me conta uma coisa, como conheceu o
Leonardo?
— Parece que essa pergunta virou obsessão das pessoas! — Reviro os
olhos e ela sorri igual a uma cobra venenosa.
— O Leonardo não é do tipo que se envolve com alguém por acaso e
claro que isso iria gerar curiosidade.
— Mas para tudo a uma exceção, não nos conhecemos em um
programa se é isso que quer saber.
— Conheço o Leo há muito tempo, Samanta. Eu te analisei por um
tempo e você realmente quer me convencer de que se cruzaram por mero
acaso?
— Mas foi exatamente dessa forma — a minha voz já está alterada.
— Pense, Samanta, não aconteceu nada de anormal com você antes?
Problemas familiares, financeiro… pense bem — ela insiste.
— Por que está me perturbando com isso, Gabrielle? — Me levanto
irritada.
— Você parece ser uma boa garota e que não sabe quem é o
Leonardo. Primeiro ele investiga a vida de quem ele quer, segundo ele acha
um ponto franco, terceiro ele a deixa sem saída e por último você cede. É
desta forma que funciona o jogo dele, Samanta.
— Por que está me dizendo isso?
— Só para não ser enganada por tanto tempo, que se resolver ficar
seja porque quis e não por que não sabia a verdade, agora preciso ir para
não perder o voo. Não fique desapontada, eu já fui uma peça nesse jogo, só
não sou uma garota boba igual a você, eu também sei jogar — diz, se
levanta e sai.
Fico olhando ela sumir no imenso corredor… E se ela tiver razão?
Não, Samanta, isso é loucura, vocês se conhecem do café e uma coisa não
tem nada a ver com a outra ou tem?
***
Leonardo Milani
***
Samanta Antonelli
***
Leonardo Milani
Samanta Antonelli
É cada vez mais difícil de ver o que está na minha frente, eu não
tenho o hábito de dirigir e não estava contando com essa chuva, dirigir a
noite já é um grande problema.
— Samanta, é melhor parar — digo para mim mesma, vendo que a
chuva não daria trégua. — Mas o que é isso? — Um frio atravessa a minha
espinha, o carro não me obedece, os freios não pegam e o carro acelera,
indo contra as minhas tentativas de frear.
O pânico me deixa incapaz de raciocinar, eu não vejo alternativa a
não ser tentar o freio de mãos.
O carro capota várias vezes e se arrasta pela pista pelo capô. O
barulho dos vidros blindados trincando me dão a sensação de vários
estilhaços me acertando, o cinto se desprende, me jogando de uma vez no
teto do carro. Penso na morte em várias perspectivas, os meus pensamentos
são tão rápidos quanto o carro, que desliza até ancorar em duas árvores,
sendo as únicas coisas que o impede de continuar descendo o barranco.
Penso no Leonardo e no quanto fui precipitada. Na hora da tragédia,
eu já estou arrependida por estar ali presa em um carro prestes a descer um
barranco íngreme, que parece não ter fim devido à escuridão.
— Aqui, eu achei — ouço a voz vindo de longe, uma luz de lanterna
alcança os meus olhos.
— Senhor, é perigoso, o carro vai deslizar — alguém o alerta em tom
de repreensão.
— É uma mulher! — Suspiro aliviada e finalmente tenho esperanças
de sair dali viva. — Droga, o carro é blindado, desça e traga alguma coisa
que me ajude abrir a porta — ele diz, num tom de ordem e eu só quero
fechar os meus olhos que estão pesados.
— Me ajude! — sussurro.
— Fique acordada, ok? — ele força a porta, eu sinto o carro balançar,
mas ele não desliza e fico grata por isso. — Consegui! Venha, me dê a sua
mão. — Estico a minha mão com dificuldade, mas ele está empenhado em
me ajudar a ponto de arriscar a própria vida — Peguei! — vibra me
puxando.
***
***
Leonardo Milani
***
Samanta Antonelli
***
Leonardo Milani
***
— Está tudo bem? — Ele se vira às pressas assim que atravessamos a
porta do consultório e a encara, checando cada parte do seu corpo.
— Sim está! Quero agradecer por tudo que fez por mim.
— Está indo embora? — indaga, apertando o lábio desapontado.
— Sim, eu vou voltar.
— Fico feliz que tudo tenha se acertado, mas sentirei a sua falta. —
Eu me queimo de ciúmes vendo os seus olhos apaixonados para a minha
mulher, mas me contenho sendo grato por ela estar viva.
— Eu lhe devo desculpas, muito obrigado por salvar a minha esposa,
sou Leonardo, muito prazer. — Estico as mãos para cumprimentá-lo dessa
vez.
— Eu sou médico, salvar pessoas é o meu trabalho. — Aperta a
minha mão gentilmente.
— De qualquer forma sou muito grato, a Samanta é minha vida! — A
puxo pelo ombro trazendo o seu corpo para perto do meu.
— Sei bem como se sente… — a sua boca se transforma em uma
linha dura e a tristeza atravessa os meus olhos.
Viro o rosto para não ver o abraço que Samanta dá nele, me virando
apenas para apertar a sua mão e agradecer mais uma vez.
***
Samanta Antonelli
Acordo e não sinto o Leonardo ao meu lado, passo a mão pela cama
sem me virar.
— Está me procurando, minha menina? — Abro os olhos me virando
e vejo aquele homem lindo, em pé, próximo à imensa janela, o sol reflete na
sua pele, o que o deixa ainda mais radiante.
Ele segura uma xícara de café com um sorriso largo no rosto, os seus
olhos possuem um brilho surpreendente, sem falar que ele usa apenas uma
calça de moletom, o peito está totalmente nu e o abdômen incrivelmente
definido é maravilhoso de se ver, os meus olhos se perderam dentro daquela
imagem.
— O que foi, meu amor? Daria um doce pelos seus pensamentos,
porque pela forma que me olha, são impuros — ele sorri e contorna os
próprios lábios com o dedo indicador, seus olhos, é pura luxúria.
— Você se acha a última estrela do universo? — falo desdenhando.
Ele vem andando na minha direção e a minha mente passa a funcionar
em câmera lenta.
Samanta acorda, Samanta, isso só pode ser carência.
Esfrego bem os olhos e o encarei.
— É real o que está vendo, meu amor. — Ele pega a minha mão e
passa pelo seu abdômen incrivelmente firme, uma quentura atravessa o meu
corpo e desce, se concentrando bem no meio das minhas pernas.
— É tudo o seu para ser usado quando você quiser — ele fala
docemente, como uma raposa querendo me ludibriar.
— Prefiro tomar um banho, tenho que ir à faculdade, faz tempo que
não vou às aulas. Meu Deus! Perdi muitas aulas — começo a falar rápido,
sem respirar, e me levanto, tentando correr para o banheiro.
Ele me agarra pela cintura, me trazendo para perto, colando o seu
corpo ao meu e sinto a sua ereção no meu abdômen. Ele me beija com
vontade, sugando a minha boca com desejo, as nossas línguas se
entrelaçam, ele aperta um dos meus seios e eu solto um gemido na sua
boca.
— Eu não aguento mais, Samanta, eu estou faminto de você! — Ele
se agarra aos meus cabelos, vira-me de costas e inclina o meu corpo no
aparador do quarto, levanta e afasta as minhas pernas, já trêmulas de desejo,
então afasta a minha calcinha.
— Gostosa — sussurra no meu ouvido, cada parte do meu corpo se
eriça.
Penetra-me com um dos dedos, e estimula a minha intimidade.
— Puta que pariu, Samanta, toda encharcada! — Ele delira a cada
toque.
Então me vira de frente e me senta na mesa com as pernas abertas, se
encaixando entre elas.
— Nunca mais deixe o seu homem faminto desse jeito, entendeu,
Samanta? — Ele bate forte na minha intimidade, as minhas pernas tremem
de desejo.
— Entendi, Leo — falo entre gemidos enquanto ele estimula a minha
intimidade, me deixando louca.
— Você agora vai pagar por ter me deixado assim… — Ele dava
leves mordidas pelo meu corpo, passando a língua em seguida.
Eu me contraio de prazer, louca para tê-lo dentro de mim, gemendo
feito uma louca desesperada.
— Implora, Samanta, implora para que eu te possua — exige,
puxando os meus cabelos, levando a minha cabeça para trás e percorrendo o
meu pescoço com a língua.
— Me possua, Leo, eu quero você dentro de mim — imploro entre
gemidos.
— Implora mais — diz, passando o seu pau na minha entrada.
As minhas pernas tremem, eu teria um orgasmo antes que ele entrasse
em mim.
— Entra, Leo — digo sem forças, baixando a mão para me tocar.
— De jeito nenhum, não vai me tirar esse prazer! — Me agarra pelo
bumbum e me joga na cama, abrindo as minhas penas com agilidade,
segurando os meus braços em cima da minha cabeça e entrando com tudo
em mim. Grito enlouquecida, ele me beija com paixão. — Goza para o seu
homem — o meu corpo obedece à ordem de imediato. — Isso meu amor,
isso, adoro sentir o seu corpo tremer, senti a sua intimidade vibrar dentro de
mim — ele urra dentro de mim, se jogando ofegante ao meu lado em
seguida.
— Nossa! — exclamo ofegante.
— Vamos ficar nesse quarto o dia todo, preciso recuperar o tempo
perdido — sorri com malícia.
— De jeito nenhum, preciso ver a minha situação na faculdade,
preciso ir trabalhar — paro e encaro. — Ainda tenho emprego? — gargalha
com humor.
— Estou te falando que você deixou o seu homem com muita fome e
você vem me falar de emprego e faculdade? Que se dane tudo isso, eu
quero é ter você o dia todo! — Volta a me beijar com desejo, em poucos
segundos a sua ereção já está me pressionando novamente.
— Epa… epa… — falo, colocando as duas mãos no seu peito. —
Nem pense nisso, tenho muito o que resolver, o nosso mundo não pode se
resumir a sexo.
— Quem disse que não? Já trabalhei o suficiente, tenho muitos
funcionários para trabalhar para mim. Você pode simplesmente trancar a
faculdade e voltar no próximo semestre e, quanto ao trabalho, ele continua
lá, porém você como a minha esposa assumindo um cargo de estagiário me
deixa desconfortável.
— E o que sugere? — Franzo o cenho, o estudando.
— Você tem duas opções, a primeira é assumir a sua condição de
milionária e passar a fazer compras o dia todo — diz sério, mas soou como
uma piada e dou uma risada alta.
— Sério que isso é uma opção a se considerar?
— Claro, muitas mulheres vivem assim e pode acreditar, elas se
sentem sortudas e estão bem satisfeitas. — Pisca um olho me encarando
com orgulho.
— Certo e qual é a segunda opção? — O meu tom é divertido.
— Ok, se a primeira não te deixa feliz, posso te dar um cargo na
diretoria.
— Nem me formei ainda, sou muito nova para assumir um cargo com
essa responsabilidade.
— E daí? A empresa é sua e você faz o que quiser nela, contanto que
não seja nada que me deixe desconfortável e pareça que sou mesquinho
para minha mulher — sorri com diversão. — E aí, o que prefere? A
primeira opção parece ótima para mim! — Dá de ombros.
— Eu acho que… — ele coloca o dedo indicador nos meus lábios, me
interrompendo de continuar.
— Vamos fazer o seguinte, você já sabe como é a rotina de trabalho
na empresa Certo? — Sorri com malícia. — Então vamos experimentar a
primeira opção e você me diz o que prefere depois.
— Experimentar como? — indago confusa.
— Se apresse, tome um banho, se arrume, que te espero lá embaixo.
— M-mas... — tento falar sendo empurrada para o banheiro.
— Sem desculpas, vai tomar banho sozinha ou está precisando da
minha ajuda? — Morde o lábio me encarando.
— Posso fazer isso sozinha! — Torço o nariz.
Quando eu desço, ele está me esperando na sala, não sei como
consegue ser tão lindo! Ele usa uma roupa mais despojada, uma polo azul-
marinho que marca bem o músculo do braço, uma bermuda branca, que é
algo inédito para mim, um sapato social esportivo e um óculos escuros que
repousa na sua mão. Vou me aproximando e o seu perfume me embriaga,
tudo nele é perfeito, ele se inclina e me beija os lábios delicadamente.
— Tome o seu café da manhã e não demore.
— Você já comeu?
— Claro, você parecia uma noiva para descer.
— Bobo! — sorri. — Cadê todo mundo? — digo procurando os
funcionários.
— Dei folga a todos hoje, queria ficar sozinho com você.
— Por que mudou de ideia?
— Não mudei, vamos voltar cedo — fala, me entregando um prato
repleto de frutas e enche um copo com suco em seguida.
Já no carro pergunto para onde ele está me levando.
— Meu amor, hoje você vai experimentar viver a sua nova vida.
— Como assim? — pergunto com as sobrancelhas juntas.
— SPA, salão de beleza, compras, parada para comer em um
restaurante, voltar para as compras e no fim do dia ter gastado o equivalente
à renda anual de um funcionário com um cargo mais elevado — os meus
olhos se arregalam quando ele termina de falar.
— E por que eu faria isso? Isso é uma rotina? Você quer que eu
trabalhe gastando o que você trabalha para ganhar? — o meu tom é
divertido.
Ele dá uma gargalhada da minha pergunta e me olha como se eu fosse
uma boba por tal questionamento.
— O quê? Você gasta isso diariamente? — questiono dando de
ombros.
— Não todos os dias, pois não tenho tempo suficiente para isso, é por
isso que estou contratando você para o serviço, se esforce muito e gaste o
quanto puder.
— Foi isso que fez quando ganhou o seu primeiro milhão, gastou tudo
comprando?
— Sim, até o último centavo — pisca o olho com um sorriso
divertido.
— E o que comprou? — O olho curiosa.
— Ações, em pouco tempo eu já tinha sete vezes mais — diz
orgulhoso.
— Nossa, você é muito bom em ganhar dinheiro — digo de queixo
caído.
— Eu espero que você seja boa em gastar — solta uma gargalhada.
— Vou precisar pegar prática — afirmo com determinação.
— Você aprende rápido.
— O que acontece quando eu já tiver comprado tudo que eu preciso?
— Você doa e compra tudo de novo. — Dá de ombros encarando a
estrada.
— Estão simplesmente posso dar o dinheiro para caridade — falo
como alguém que tem uma grande ideia.
— Pode, faça qualquer coisa contanto que esteja feliz e ocupe o seu
tempo.
— Agora, falando sério, Leo, pode apenas me dar um emprego na
Milani?
— Você ainda nem experimentou o novo cargo, vamos aproveitar o
dia e resolvemos o resto depois — diz enquanto estaciona no shopping.
36
Surpresa!
Samanta Antonelli
Samanta Antonelli
***
Depois que disseram: pode beijar a noiva, penso que nada mais vai
me surpreender, quando Leonardo pega o microfone.
— Samanta, vou ler para você os meus votos de casamento.
— Votos de casamento? — indago com um sorriso largo no rosto.
Como ele consegue ser tão romântico?
Então ele pega um papel do bolso e começa a ler:
— Em um dia como todos os outros dias, por acaso encontrei alguém
que me fez perder os sentidos, o meu coração parou de bater por alguns
segundos no momento em que a vi, mas naquele momento eu não entendi.
Quis te ver novamente e ser notado, mas fingi ser o acaso. Os nossos olhos
se cruzaram e vi o brilho intenso que a minha vida escura tanto procurava.
Beijamo-nos e os seus lábios eram viciantes, os seus beijos foram intensos e
a sua pele sensível ao meu toque, o começo da minha obsessão te querendo
a cada segundo, se tornando o meu primeiro e último pensamento, um
desejo sufocante, o qual não consegui conter. Te trouxe para mais perto e
cada vez mais perto até nos tornamos um e eu, que sempre vivi no inferno,
passei a agradecer a Deus, aquele a quem eu duvidava da existência. Eu
falo, olhando para o céu, obrigado pelo presente, pois mesmo sem merecer
Ele havia me dado você, e eu, que só conhecia o ódio, passei a conhecer e
sentir o amor.
Os seus braços me envolvem, ele sela os meus lábios suavemente e as
pessoas aplaudiam. A festa segue e havia pessoas que nunca vi, mas
Leonardo diz serem pessoas influentes e que ele precisava convidar.
Cumprimentamos os convidados, mato um pouco da saudade da minha mãe
e do meu irmão, que parece ótimo, Davi vem nos cumprimentar e é a
primeira vez que vejo o Leonardo sorrindo para ele.
— Nossa, que novidade! Quando foi que a simpatia entre os dois
surgiu?
— Estou muito feliz para me preocupar com qualquer outra coisa! —
Ele leva a minha mão até a sua boca e deposita um beijo.
— Como conseguiu fazer tudo isso da noite para o dia? — A festa era
luxuosa e não é nada que desse para organizar em vinte quatro horas.
— Não foi da noite para o dia, comecei assim que nos casamos e
mesmo com você sumida continuei, aliás, o que achou da casa?
— Ela é linda! E essas paredes de vidro, nossa! A casa deve ser bem
iluminada e que jardim! Ela é magnífica… — ele sorri do meu deslumbre.
— Quer conhecer o resto da casa? — fala apontando para as escadas.
— Claro — subimos de mãos dadas, por horas eu encostava a minha
cabeça no seu braço e mantinha o meu braço envolvido ao dele.
A casa esbanja luxo, os tons claros dos cômodos trazem paz e
aconchego, existem muitos quartos, tantos que nem pude contar e sem
deixar de mencionar a imensa academia, sauna e a piscina parecia olímpica.
— Uau! — digo abismada entrando em uma sala que parece um
cinema.
— Você gostou?
— Nossa! Você acredita que eu sempre sonhei com uma dessa, na
minha casa.
— Jura! — sorri divertido.
— Deve morar uma família enorme aqui.
— Atualmente são cinco empregados, três jardineiros, vinte
seguranças e um homem recém-casado com a sua linda esposa, que espera
ansioso para encher a casa de crianças — sussurra no meu ouvido.
— Essa casa é sua? — O encaro de olhos arregalados.
— Não, ela é nossa! — Ele me puxa pelo braço, subindo mais uma
escada.
— E por último, mas não menos importante, o quarto do casal —
sussurra no meu ouvido, ele tinha os braços em volta da minha cintura.
Os meus olhos passeiam por cada minúsculo espaço, as cores suaves
e elegantes, a cama nem parecia ser apenas para dois, as paredes de vidro
davam para a parte de trás do imenso jardim.
— O que achou? — A sua voz grossa e sexy me tira de um transe
momentâneo.
— Magnífica! — O meu tom era deslumbrado.
— Vem ainda tem mais, não será possível viajar hoje, imaginei que
iria querer curtir os seus pais e o seu irmão.
— Onde está me levando? — pergunto descendo a escada dos fundos
da casa.
— Não tenha pressa, meu amor. — chegamos à beira de um lago
afastado da mansão.
— O que é aquilo? — indago, apontando para um caminho iluminado
com pequenas lâmpadas de led.
Ele caminha sem responder seguindo as luzes, no final do caminho vi
casa entre as árvores para ser mais específica, ela ficava em cima de uma
árvore.
— O que achou? — me pergunta quando paramos em frente à casa.
— a nossa noite de núpcias? — Sorri enquanto aponto para o alto.
— Sabia que ia gostar! — Ele me puxa pela cintura tomando os meus
lábios com paixão. — Acho que já poderíamos pular para parte de
enchemos a casa de filhos. — Leo fala desenhando os próprios lábios com
uma expressão maliciosa assim que entramos na casa da árvore.
As suas mãos são rápidas e já começam a abrir o vestido beijando a
minha nuca.
— Ainda não disse os meus votos a você — sussurro me virando e
passando os braços pelo seu pescoço.
— Eu quero muito ouvir. — Ele se senta na cama me encarando com
um lindo sorriso.
— Então, vamos lá, eu não escrevi nada, então, foque em mim —
digo divertida.
— Nunca desviei os meus olhos dos seus — diz de forma sexy e
envolvente.
— Hoje, mais do que nunca, nos tornamos um do outro, eu te
entreguei tudo, te dei uma morada no meu coração e não tenho dúvidas que
é em você o meu lugar. Olho para o nosso passado que nem é tão distante e
vislumbro o nosso futuro, mas sem deixar de viver o agora, sem que haja
preocupação com o que está por vir, ou mágoas do que já se foi. Hoje
somos só um com os nossos futuros fundidos, sem os medos que um dia me
assombrou e sem incertezas do que me espera, o nosso amor foi posto à
prova e superamos os obstáculos, agora não há mais dúvidas de que
estaremos mais fortes e juntos na eternidade.
— Você pensou em tudo isso agora? — indaga me puxando para o
seu colo.
— Talvez. — Dou de ombros o encarando com um sorriso maroto.
Ele me joga na cama, os seus olhos me estudam e uma expressão
pensativa surge no seu rosto, ele continua me analisando com o dedo
indicador na boca.
— Assim não vai dar certo, onde arrumaram tanto pano? — diz
desapontado. — Deveriam fazer um vestido mais prático que ajudasse os
noivos na noite de núpcias — foi impossível segurar a gargalhada.
— Vem aqui… — ele me ergueu pelo braço, me agarrando pela
cintura e me virando de costas, voltando a desabotoar os botões.
— É sério isso? — ele indaga com frustração. — São muitos… —
completa com um longo suspiro.
Eu sorrio, me divertindo, mas não demora muito até que o meu corpo
fique livre de todo aquele vestido e o calor do seu toque é a única coisa que
a minha pele sente. O vestido vai completamente ao chão e Leonardo me
olha como quem vê algo inédito, analisando cada parte do meu corpo. Ele
tira o meu sutiã e a minha calcinha enquanto beija as minhas costas e dá
uma leve mordida no meu bumbum. O ajudo a tirar as suas roupas, a minha
mão explora cada músculo do seu corpo, a sua mão começa a explorar cada
centímetro da minha pele, ele passa a mão pela minha nuca e me deita
lentamente na cama, ficando por cima de mim, me beijando docemente e
dando uma leve mordida nos meus lábios. Os seus beijos descem pelo meu
pescoço e chegam até os meus seios, as chamas tomam conta do meu corpo,
as suas mãos vão até a minha intimidade e solto um gemido alto, me
contorcendo de prazer a cada toque.
— Eu te amo! — sussurra na minha boca enquanto entra com ainda
mais intensidade. — Diz que eu sou o seu homem.
— Você é o meu homem — digo entre gemidos, ele urra dentro de
mim, a sua boca encontra os meus seios, ele chupa e dá leves mordidas.
— Goza para mim. — Não foi um pedido, foi uma ordem, o meu
corpo estremece dentro do orgasmo que vem em simultâneo com o dele.
Ele se joga ao meu lado, um sorriso estampa o seu rosto enquanto
morde o lábio, se recompondo.
— Ainda vamos precisar voltar a festa? — Me viro o abraçando.
— Só se for da sua vontade. — Beija docemente os meus lábios.
— Acho que para encher a casa de filhos temos que treinar mais! —
Os meus dedos traçaram o caminho pelo seu corpo.
— Acho a ideia ótima — os seus lábios voltam a tomar os meus com
desejo.
38
Matando a saudade
Leonardo Milani
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Leonardo Milani
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Samanta Antonelli
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— Que delícia! — acordo com vários beijos pelo meu corpo, abro os
olhos lentamente e me viro para ele. — Que sorriso lindo esse agora de
manhã.
— Como não sorrir tendo você comigo — me encaixo nos seus
braços, sentindo o seu calor, o seu cheiro…
— Vamos descer, tomar café, vamos buscar o seu pai hoje — o
lembro.
— Sim, eu queria passar o dia todo com você assim agarradinho, mas
você tem razão, ele deve receber alta cedo. — Levantamos e entramos
juntos no banheiro.
— Mas acho que dá tempo de namorar um pouquinho no chuveiro —
a sua voz rouca de quem ainda está acordando, sussurrada no meu ouvido,
me deixa sem fôlego, e as suas mãos grandes envolvem os meus seios, não
tenho como resistir a esse homem.
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Leonardo Milani
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Samanta Antonelli
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Leonardo Milani
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Leonardo Milani
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Samanta Antonelli
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Esperei Leonardo na sala, mas desisti, já era tarde e ele ainda não
havia voltado, vou para o nosso quarto e me sento na cama, pegando um
livro para ler, mesmo eu não conseguindo me concentrar em nenhuma linha
sequer.
Depois de alguns minutos, Leonardo entra no quarto, eu posso sentir
o cheiro de álcool.
— Me desculpe, meu amor, tive um dia cheio. — Ele se joga no sofá
e encosta a cabeça, um logo suspiro escapa dos seus lábios.
— E o que fez hoje o dia todo? Você bebeu? — Ele senta apoiando os
cotovelos nas pernas e me encara.
— Precisamos conversar, Samanta… — o seu tom de voz fez o meu
sangue gelar.
— Está me deixando por outra? — indago com a voz embargada.
— De onde você tirou isso? — Se levanta apressado vindo na minha
direção e me abraça com força.
— Eu o vi hoje de manhã no hospital com uma mulher — digo sem
delongas.
— Eu nunca te trocaria por nada nesse mundo, eu nunca vou amar
outra mulher mais do que amo você!
— Então o que é? Quem é aquela mulher? — A minha voz sai em
meio aos soluços do choro que não consigo conter.
— Eu descobri que tenho um filho, Samanta, e ele está doente
naquele hospital, a mulher que você viu é a mãe dele — ele fala de cabeça
baixa sem coragem de me encarar, sinto o mundo se abrindo e me
engolindo.
— Filho? — pronuncio em choque.
— O resultado do exame saiu hoje confirmando a paternidade — ele
tira o papel do bolso e me entrega.
Estou em choque, as minhas lágrimas encharcaram o papel nas
minhas mãos, Leonardo queria muito um filho, mas eu não consigo ficar
feliz, como eu ficaria feliz?
— Isso não muda nada entre nós, Samanta. — Leo, usa o dedo
polegar para enxugar as minhas lágrimas, que correm feito um rio pelo meu
rosto.
Não é isso que o meu coração está sentindo, para mim as coisas já
estão diferentes.
— Ele tem seis anos, está com leucemia — sinto a dor nas suas
palavras e lógico que sinto muito pelo menino.
— Sinto muito! Quanto a mãe, o que sente por ela? — Ele segura o
meu rosto com os olhos cravados nos meus e me beija docemente.
— Eu te amo, não pense em bobagens. — A sua testa está colada à
minha enquanto fala.
— Não sei o que pensar, Leonardo.
— Me acompanhe ao hospital, quero te apresentar ao Miguel, aliás eu
também não o conheci ainda, estará ao meu lado? — Apenas assinto com a
cabeça.
— Vocês foram namorados? — pergunto ainda insegura.
— Não, foi um programa e não sei como isso aconteceu, eu sempre
me cuidei, a não ser com você — dá de ombros.
— E por que só agora? Digo, por que ela só apareceu agora?
— Vem aqui, não pense muito nisso! Você é a minha esposa, ainda
teremos muitos filhos nossos e eu nem me lembro dessa mulher, então, não
pense nisso. — Ele me abraça forte acariciando os meus cabelos. Sei que
muitas coisas viriam a partir disso, mas eu o amo e não desistirei de fazer o
nosso casamento dar certo.
44
Conhecendo Miguel
Samanta Antonelli
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Leonardo Milani
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Samanta Antonelli
Leonardo Milani
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Samanta Antonelli
Samanta Antonelli
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Leonardo Milani
Samanta Antonelli
Leonardo Milani
Leonardo Milani
Vou direto para casa, eu não tenho cabeça para mais nada, as coisas
não deveriam estar assim, não nessa proporção.
Vanessa está com a minha mãe no jardim e considero passar direto.
— Filho, venha aqui! — Minha mãe acena com um sorriso largo e
caminho até elas.
— Vanessa, o que está fazendo aqui, esqueceu do filho no hospital?
— digo antes de qualquer coisa.
— Claro que não, estamos esperando o motorista para nos levar até o
hospital — ela fala, envolvendo os braços em volta da minha mãe.
— Depois que voltar, faça as suas malas e vá para o apartamento que
comprei para você e se não quiser, vá para um hotel e mande a conta para o
meu assistente, só saia da minha casa.
— Por que está agindo assim? — Minha mãe me olha confusa.
— Ela não tinha onde morar e eu comprei um apartamento, não tem
necessidade de ela estar aqui, me incomodando e incomodando a minha
esposa.
— Não vamos resolver as coisas dessa maneira, filho, ela já disse que
vai assim que o apartamento estiver pronto e logo o Miguel sai do hospital,
eu gostaria de tê-lo aqui.
— Você o terá aqui, mãe, ele é o meu filho e virá sempre. — Viro as
costas para entrar em casa, mas me viro novamente. — Vanessa, não quero
dizer novamente, arrume as suas coisas e vá embora! — Saio entrando na
mansão.
— Espere bem aí — a minha mãe me segue irritada e eu paro para
ouvi-la. — A Samanta está agindo como uma garota mimada e insegura!
— Garota mimada? Desde quando acha isso dela? — A encaro.
— É puro capricho da Samanta querer que a Vanessa vá embora às
pressas, ela tem que entender que o Miguel é seu filho, ele é sua família, é
seu sangue e inevitavelmente a Vanessa virá aqui.
— Não quero discutir com senhora, Vanessa vai embora — falo
firme. — A Samanta é minha esposa, é a dona dessa casa e o garoto poderá
vir quando quiser ou pode ficar aqui comigo, não importa como será, ele é
meu filho e será amparado, mas da forma correta. Quanto a Vanessa, o lugar
dela não é aqui, atrapalhando o meu casamento — digo pausadamente para
que ela entenda que o assunto não é negociável.
— Quando voltar do hospital converso com você — ela vira as costas,
puxando Vanessa com ela.
Suspiro derrotado, me sento na mesa do jardim e peço para Maria
trazer uma garrafa de whisky para mim. Bebo sozinho no jardim por horas,
o dia já está se findando quando vejo o carro que levou a minha mãe e a
Vanessa voltar do hospital, o relógio marca sete da noite, ligo para Samanta,
mas ela não atende.
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Samanta Antonelli
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Samanta Antonelli
Leonardo Milani
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Leonardo Milani
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Samanta Antonelli
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Leonardo Milani
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Samanta Antonelli
Samanta Antonelli
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Leonardo Milani
Samanta Antonelli
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Leonardo Milani
Samanta Antonelli
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Leonardo Milani
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Samanta Antonelli
Leonardo Milani
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Samanta Antonelli
Samanta Antonelli
Acordo com o sol entrando pela janela, estico o braço procurando por
Leo e no seu lado da cama tinha uma rosa de cor vermelha com um cartão.
***
Samanta Antonelli
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Leonardo Milani
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Leonardo Milani
Samanta não demora para dormir e desço para comer alguma coisa.
— Boa noite, não esperava mais vê-lo hoje — Vanessa fala assim que
passo pela sala e por ela sem dizer nada. — Vai me ignorar? — indaga me
seguindo.
— Não estou a fim de conversar, Vanessa.
— Deve estar bem feliz com a novidade, de fato é uma boa notícia, a
sua bebezinha vai te dar um filho — zomba.
— Sim, estou muito feliz que a mulher da minha vida vai me dar um
filho.
— O Miguel ficou com ciúmes — pronúncia igual uma cobra
venenosa.
— Pare de usar a criança, deveria ter vergonha disso.
— Bom… vou me deitar, felicidades a Samanta! — Vira as costas
bocejando em seguida.
Nada retira da minha cabeça que ela vai aprontar, volto para o quarto
e me deito ao lado da Samanta, ela dorme tranquila e eu fico um tempo
admirando-a até que durmo.
***
Samanta Antonelli
***
***
Já era fim de tarde, me apresso para dirigir com o céu ainda claro, eu
não costumo ouvir música enquanto dirijo, mas ouço uma música bem
animada e vou cantando acompanhando a cantora, eu tenho motivos para
cantar.
Um carro atravessa o meu carro me obrigando a frear bruscamente.
— Desce do carro, Samanta. — Vanessa desce do carro com uma
arma nas mãos.
— Você ficou louca?
— Para de falar bobagens, Samanta, e desce antes que eu atire em
você — ordena aos gritos.
O caminho para a minha casa passa por uma estrada próximo a uma
mata, de dia as pessoas fazem trilhas, mas a essa hora não tem um fluxo
grande de carros. Desço com as mãos para cima, ela enrola os dedos nos
meus cabelos e me joga no banco traseiro do carro. Há dois homens com ela
e um assume a direção ao meu carro.
— O que está fazendo, Vanessa?
— Vou fazer você sumir, você só atrapalha os meus planos, garotinha
mimada, não sei o que Leonardo vê em você — pronúncia irritada.
— Para com isso, Vanessa, você está louca?
— Vi o DNA nas suas coisas, você já mostrou para o Leonardo, ele já
sabe que não é o pai do Miguel? — pergunta transtornada, parece uma
louca. — Por que se meteu onde não foi chamada, Samanta? A culpa é sua,
você me obrigou a isso!
— Você falsificou o primeiro DNA?
— Eu realmente dormi com ele e logo depois engravidei do Miguel,
mas descobri que o filho não era dele, mas poderia ser e eu queria muito
que fosse. Me aproximar dele não era fácil, quando o Miguel ficou doente e
vi a oportunidade perfeita para amolecer o coração do Leonardo, falsificar o
documento foi fácil e a questão da medula foi sorte! — diz, entregando o
jogo.
— Não tem vergonha de usar uma criança?
— Pior é viver na pobreza! Depois que sumir com você, aquela velha
idiota vai me ajudar a conquistá-lo — ela dá uma gargalhada diabólica.
Olho para os lados e penso em uma forma de me livrar dela,
considero pular do carro em movimento, mas temo pelo meu filho.
— O que vai fazer? — pergunto aflita
— Te matar, mas antes você vai cavar a própria cova.
***
Leonardo Milani
Samanta Antonelli
***
Leonardo Milani
Já liguei para polícia que está vindo para o local, cada passo que eu
dou eu me desespero mais.
— Senhor, veja isso — um dos meus homens me mostra um pedaço
de roupa que parece ser de Samanta.
— Eles passaram por aqui — falo, me enchendo de esperança. —
Vamos, estamos perto.
Não estamos gritando o nome de Samanta, eu temo que ao assustar a
pessoa que a pegou o faço reagir contra ela, então andamos
silenciosamente. Nós já havíamos andado muito e as minhas esperanças
começam a dar lugar a mais desespero.
— Samanta… — grito com toda força enquanto caio chorando no
chão.
— Senhor, não faça barulho, vamos continuar — ouço um dos
homens que está comigo dizer.
— Cada segundo é precioso — outro fala.
— Vocês têm razão, vamos rápido! — Me ergo, enchendo o peito de
esperanças novamente.
— Estão ouvindo isso? — pergunto.
— Sim, são mulheres falando — um deles responde.
— Vamos devagar, fiquem prontos — falo, andando na frente os
guiando.
Cerro os punhos quando vejo Samanta apanhando de Vanessa, teria
agido precipitadamente se um dos meus homens não tivesse me contido.
— Desgraçada!
— Cuidado, senhor, ela está armada! Vamos deixá-los cercados —
um dos meus homens fala.
— O que eles estão fazendo? — Aperto os olhos e mesmo que a
resposta fosse óbvia, temo a confirmação.
— Cavando uma cova, senhor — a confirmação me fez estremecer.
— Vamos agora, eu vou primeiro! — Ando apressado em direção a
elas. — Vanessa, vocês estão cercados, é melhor se entregar — falo.
Ela pega Samanta a fazendo de escudo antes que eu consiga puxá-la
para o meu lado. Vanessa começa a se afastar com a arma apontada para
cabeça da Samanta e os cúmplices dela correm, mas são perseguidos por
alguns dos meus homens.
— Vanessa, larga a Samanta, vamos resolver isso! — As minhas
mãos estão para cima mostrando rendição.
— Leo, quando ela não existir mais, seremos felizes, nós três! — Ela
parece ter perdido o juízo.
— Você tem razão, Vanessa, podemos viver felizes nos três — falo,
alimentando o seu delírio e ganhando tempo.
— Você está mentindo! — grita.
Ela anda para trás agarrada a Samanta, que está apavorada.
— Anda para frente, Vanessa — grito quando a vejo indo em direção
ao penhasco.
— Chegou a sua hora, Samanta — ela gargalha como uma louca.
Vejo Samanta puxar todo o ar para os pulmões, se enchendo de
coragem e sinto medo do que virá depois dali. Ela se agarra ao braço de
Vanessa o mordendo com força, quando a arma atinge o chão, Samanta
chuta para baixo do penhasco, mas as duas se desequilibram caindo. Corro
desesperado e consigo segurar Samanta pelo braço, enquanto Vanessa se
segura nas mãos de Samanta.
— Samanta, não me solta! — ela implora.
— Não vou soltar, nós vamos subir.
Eu queria desencorajá-la a segurar Vanessa, ela está usando toda a
força que tem, mas não consigo puxá-las para cima e ela está sendo uma
âncora para Samanta. Não consigo puxá-la porque ela faz força para se
manter presa a Vanessa.
— Me ajudem! — grito desesperado.
— Não aguento mais! — Vanessa grita antes de soltar o braço de
Samanta.
Fecho os olhos para não ver a queda, mas continuo segurando firme
os braços de Samanta, a subindo com facilidade desta vez.
Os seus olhos estão fixos ao nada, ela fica imóvel, em choque.
— Vai ficar tudo bem meu amor, acabou! — Eu a abraço forte e ela
não tem nenhuma reação, os meus olhos percorrem o seu corpo ferido e
arranhado.
Eu não havia notado, mas a polícia já está no local e seguram um dos
cúmplices de Vanessa.
— Vai ficar tudo bem, meu amor — ela apenas chora com um olhar
fixo ao nada.
***
Leonardo Milani
Samanta ainda passa poucas horas acordada por conta dos calmantes,
eu havia combinado com Arthur para ele vir ao hospital ficar com a
Samanta. Preciso resolver as questões na polícia e a burocracia do enterro
da Vanessa enquanto me preparo para a pior parte, conversar com Miguel.
Não faço ideia de como agir com ele, eu realmente preciso da Samanta
comigo para isso.
— Ainda não acredito no que aconteceu, como a ambição deixa as
pessoas descontroladas — ele fala com pesar.
— Ela sempre queria mais, eu já tinha feito tudo para deixar ela e o
Miguel confortáveis.
— Não se sinta culpado, nem você e nem a Samanta tem culpa.
— O que faço com Miguel? Estou perdido.
— Acho que deveriam levar ele a um profissional, não acho que será
fácil explicar isso. O que você planeja fazer em relação à paternidade, agora
que garoto ficou órfão?
— O meu nome foi incluído na certidão de nascimento dele, eu já
havia feito o pedido de reconhecimento, considero deixar as coisas como
estão.
— Você já parou para pensar que o verdadeiro pai pode aparecer?
— Não quero pensar nisso! — respondo, sentindo um frio atravessar
a minha espinha, eu estou muito apegado ao garoto.
— Aonde você vai agora? — pergunta, sentando-se na poltrona,
abrindo o notebook na mesinha na sua frente.
— Darei o meu depoimento à polícia, um cúmplice da Vanessa já
assumiu, o outro ainda está desaparecido, mas o que foi preso falou tudo
que aconteceu e agora vou lá dar o meu, depois acredito que eles vão pegar
o depoimento da Samanta.
— Claro, vai lá, eu fico por aqui, não se preocupe. — Dou um beijo
na testa da Samanta antes de sair.
Após horas na delegacia, recebo autorização judicial para cremar o
corpo da Vanessa, eu penso muito a respeito e resolvo não levar o Miguel,
nem fazer uma cerimônia de cremação. Com quase tudo resolvido, volto
para o hospital e encontro a minha sogra no quarto.
— Oi, filho, não precisa voltar, eu iria cuidar da Samanta, você parece
cansado! — fala carinhosamente.
— Obrigado, mas quero estar aqui quando a Samanta acordar! — Me
sento ao lado da minha mulher. — Mas fique à vontade se quiser ficar
também, vou adorar a sua companhia.
— Vou ficar sim! — diz, se sentando no sofá no canto da sala com
algumas caixas de linha, as preparando na agulha de crochê.
— Estou feliz que serei vovó, mas estou muito mais feliz porque a
Samanta foi abençoada com um filho, ela estava sofrendo, a culpa a estava
correndo por dentro.
— Eu nunca a culpei pela morte do nosso bebê, a culpa foi mais a
minha do que dela. Ela estava magoada, ferida e eu não era um homem
bom! — Me entristeço lembrando de tudo que eu a fiz passar.
— Preciso discordar das suas palavras, você sempre foi o homem que
é hoje. Esse homem sempre existiu, ele estava escondido por trás de
traumas e amarguras.
— A senhora tem razão, eu precisava ser curado — suspiro escorando
a cabeça na poltrona.
— Tenho certeza, a Samanta faria tudo igual no passado se esse fosse
o preço para ter você no presente, a minha filha é feliz com você e eu te
agradeço por ser essa pessoa para ela.
Tento não chorar na frente dela, os meus olhos ardem pela força que
faço, mas o choro está preso a dias dentro de mim e eu apenas permito que
as lágrimas caíam livremente. Ela se levanta e me puxa para um abraço, a
minha sogra é uma mulher sábia, eu sempre a vi como uma mãe.
— Atrapalho o momento fofo? — Ouvimos a voz de Samanta.
— Meu amor, como se sente? — pergunto ansioso, enxugando as
lágrimas.
— Me sinto como se estivesse sido atropelada por um caminhão. —
Força um sorriso.
— Sente dor em algum lugar? — pergunto preocupado.
— Os machucados ainda doem um pouco, mas eu não consigo tirar os
gritos da Vanessa da cabeça e isso está acabando comigo, Leo! — Ela volta
a chorar como fez das outras tantas vezes desde que chegou ao hospital.
— Queria ter vivido tudo aquilo no seu lugar, você não tinha que
passar por isso.
— Você foi meu herói, eu tenho o super-homem do meu lado — sorri
e logo o seu semblante cai novamente — E como está Miguel?
— Ainda não falei com ele, preciso da sua ajuda para isso. Se cuide
para ficar bem logo, o nosso filho sente a sua tristeza — ela alisa o ventre.
— Assim que você sair daqui, vamos contar juntos para o Miguel o
que aconteceu. — O seu olhar fica distante e as lágrimas voltam a cair dos
seus olhos. — Calma, meu amor. — Beijo as suas mãos, lhe pedindo calma,
mas entendo e sinto a sua dor.
— Filha, vai ficar tudo bem! — A minha sogra fala dessa vez.
— Eu não consegui segurá-la, mãe, ela me implorou para não soltar,
eu vi o medo nos seus olhos, a vi caindo, os gritos ainda ecoam na minha
mente — ela diz em meio aos soluços.
— Tenho certeza de que você deu o seu melhor, que você tentou.
— O Miguel vai me odiar, eu fui fraca, não salvei a mãe dele! — O
seu choro se torna mais intenso a cada palavra que ela pronuncia.
— Pare de se culpar, você podia ter caído com ela, faz ideia da força
que fiz para ficar te segurando? Você foi corajosa, lutou até o fim — digo
abraçando-a.
— Me leva para casa, Leo.
— Claro, meu amor, vamos falar com o médico e ver se já pode
ganhar alta.
***
Samanta Antonelli
Samanta Antonelli
Samanta Antonelli
Acordo cedo e vou para varanda, é a hora em que Miguel está saindo
para fazer as atividades no Jardim, fico o observando, tão pequeno e já
passou por tantas coisas.
Ouço o barulho do chuveiro ser desligado e Leonardo sai do banheiro
— Por que, acordou tão cedo? — Leonardo pergunta, me dando um
abraço pelas costas.
— Você está todo molhado! — Me viro para abraçá-lo.
Ele balança os cabelos, fazendo com que os pingos caiam em mim, e
nós dois sorrimos.
— Vou tomar um banho e descer, precisamos conversar com Miguel.
E a guarda dele, como ficou? — pergunto, voltando para o quarto.
— Para todos os efeitos sou o pai, o documento de paternidade já
havia sido emitido, deixarei as coisas como estão.
— Você acha seguro? — pergunto, preocupada, eu não quero que o
Miguel fosse tirado de nós.
— Se alguém, por alguma hipótese, questionar, fingimos que não
sabíamos e resolvemos a questão, você sabe que dinheiro ajuda a resolver
muitas coisas e isso temos sobrado — afirma, com segurança.
— Vou procurar uma escola, ele já deveria estar estudando.
— Acho ótimo, você já é uma ótima mãe — fala e me beija
rapidamente nos lábios. — Não esqueça que temos o pré-natal marcado.
— Não vou esquecer, vou tomar um banho e já te encontro lá
embaixo.
***
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Leonardo Milani
Samanta Antonelli
Meses depois…
O sol começa e entra pelas janelas, sinto um pequeno peso sobre meu
braço na cama.
— Tia Samanta…. É hoje que veremos meu irmão? — Ouço a
vozinha do Miguel na cama e viro meu rosto para ele.
— Você deveria estar dormindo, mocinho, ainda é cedo! — falo, o
envolvendo em meus braços, Leonardo acorda se virando para nós dois.
— Hum… o que temos aqui, um intruso! — O seu tom é divertido.
— Meu irmão dorme aqui todos os dias — protesta.
— O seu irmão nem nasceu e você já está com ciúmes? — Leonardo
fala fazendo cócegas em Miguel, que ria se divertindo na cama.
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Leonardo Milani
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Samanta Antonelli
Leonardo Milani
Estamos no jardim, Miguel, que antes jogava bola comigo, faz uns
chutes sozinho, me sento ao lado da Samanta e dos nossos filhos, deitados
em cadeiras de descanso, então contemplamos o pôr do sol.
A calma virou rotina e a paz parece ter feito as pazes conosco.
— Meu amor, me envolva todo em seus braços e será perfeito,
completo. Seja sempre minha esposa, amante e companheira — peço,
olhando eu seus olhos.
— Eu não conheço outra forma de viver — ela sorri, alisando o meu
rosto.
Se algum dia vivi no inferno, eu literalmente não me recordo. Às
vezes em que me senti só, foi porque eu havia fechado as portas para os
outros. Nem de longe eu poderia me imaginar casado e pai, comprovei que
tudo que falam sobre amor é verdade! Ele por horas é cego, por horas é
possessivo, por horas é calmaria, é desejo, é fogo…. Tudo que sofremos foi
aprendizado, toda lágrima foi para limpar nossa alma e quando achei que
tinha perdido tudo, foi quando começou a nossa melhor fase.
Hoje sou completo, filhos são presentes raros com os quais fui
agraciado. Quero ser o melhor pai, o melhor marido, quero viver esses
momentos para sempre!
Junto a minha mão a dela, a beijo docemente, um beijo calmo, porém
com muito desejo. Nos encaramos, ela sorri e eu gravo esse momento para
nunca esquecer que é nesse sorriso que sou feliz.
FIM?
Capítulo 01
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Continua...
Agradecimentos