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Copyright © 2021 Mário Lucas

NO SILÊNCIO DO CEO

SÉRIE: INTENSO DEMAIS – LIVRO 1

1ª Edição

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte dessa obra poderá ser reproduzida ou
transmitida por qualquer forma, meios eletrônicos ou mecânico sem consentimento e

autorização por escrito do autor/editor.

Capa: @designerttenorio

Revisão: Carol Pereira

Diagramação: April Kroes

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são

produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com fatos reais é mera


coincidência. Nenhuma parte desse livro pode ser utilizada ou reproduzida sob quaisquer

meios existentes – tangíveis ou intangíveis – sem prévia autorização da autora. A violação


dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº 9.610/98, punido pelo artigo 184 do

código penal.

TEXTO REVISADO SEGUNDO O ACORDO ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA PORTUGUESA.


Sumário

Agradecimentos

Dedicatória

Prólogo

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12
Capítulo 13

Capítulo 14

Capítulo 15

Capítulo 16

Capítulo 17

Capítulo 18

Capítulo 19

Capítulo 20

Capítulo 21

Capítulo 22

Capítulo 23

Capítulo 24

Capítulo 25

Capítulo 26

Capítulo 27

Capítulo 28

Capítulo 29

Capítulo 30

Capítulo 31
Capítulo 32

Capítulo 33

Capítulo 34

Epílogo

Sobre o autor

Redes socias

Outras obras
No Silêncio do CEO foi um lindo trabalho que teve a
contribuição de uma galera maravilhosa que me auxiliou bastante,

engrandecendo a obra. Quero deixar aqui meus sinceros


agradecimentos à Jéssica, Alessandra e Regiane, minhas betas
incríveis, parceiras diárias, guerreiras incansáveis na luta para me
ajudar a construir o nosso CEO e a nossa bailarina. Amo vocês!!

Quero agradecer também à minha amiga médica, que sempre

me guia quando coloco algum personagem em perigo de vida, Lili.


Obrigado, sem você eu teria ficado bem perdido!
Dedico este livro à todas as pessoas que de alguma forma
sofreram com este tempo horrível de pandemia que estamos
vivendo. Que a história de Alejandro e Mina possa, de alguma

forma, trazer conforto e esperança de dias melhores.

Peço para que me sigam no Instagram (@autormariolucas) e

acompanhem o meu trabalho! Abraços, divirtam-se!


“Você pode, você pode fazer qualquer coisa,

qualquer coisa”

Angel By The Wings – Sia


ALEJANDRO JAVIER

O jardim da mansão é realmente belo. Estou parado, na


varanda do meu quarto no segundo andar, entre o manear lento das
cortinas que se deixam levar pela leve brisa do vento frio,

observando as flores lá embaixo. Acho que foi a minha mãe que me


fez gostar tanto delas, de vez em quando os flashes afáveis de uma

infância sofrida também vêm à mente, trazendo-me leves momentos


de paz.

Imóvel... discreto... taciturno... permaneço quieto, com a mão

direita sob o queixo, o antebraço esquerdo passado abaixo do peito,


notando nuvens negras se fecharem no céu, como se previssem o

pior ou apenas compusessem minha aura meio sombria.

De repente, lá no pátio entre as pétalas de variadas cores, vejo

a mim e a minha irmã Luna ainda pequenos, eu entrando na


adolescência e ela uma criança, ambos descendo do carro do nosso

novo pai e sendo recebidos por nossa nova mãe e irmãos. Alguns

dizem que o destino foi bondoso conosco, principalmente comigo. É


fácil enxergar assim, quando se sabe apenas um lado da história.

Ouço as duas batidinhas na porta que me fazem sair das

recordações e olhar para trás, vejo a babá uniformizada entrar de


mãos dadas com a Alisa, minha filha de quatro anos que está

vestida como uma verdadeira princesa, o cabelo castanho feito em


Maria Chiquinha.

— Papai! — Ela corre até mim sorridente, como um anjo

iluminando a minha escuridão, abraçando-me. Pego-a no colo e a

beijo na testa, esticando um pequeno sorriso, quase imperceptível.

Olho para ela com curiosidade, ela já sabe o que quero. — Fiz as
tarefas. Agora posso brincar? — Fala com a doce voz ainda meio

enrolada devido a sua pouca idade.


Assinto com a cabeça, acariciando seu rosto fofo e perfeito. A
amo demais, mesmo que às vezes não pareça.

— Senhor Alejandro — chama a babá, um pouco tímida, as

bochechas ruborizadas e as mãos cruzadas em frente ao corpo. Ela

sempre fica assim na minha presença. É uma mulher esguia,

cabelos castanhos, acho que tem quase trinta anos, ela é bonitinha.

Dou atenção, lhe permitindo continuar —, o senhor Miguel requer a


sua presença lá embaixo.

Assinto, despeço-me de Alisa com o olhar e a ponho no chão.

A babá vai até ela após me fitar rapidamente com um certo

interesse. Saio do quarto caminhando devagar pelo corredor da

casa que mais parece um palácio. Uso traje social em tons escuros,
há um luxuoso relógio da nossa marca em meu pulso esquerdo.

Enquanto desço as escadas, vejo a minha família reunida na

sala de estar, para a minha surpresa, os meus irmãos Esteban e

Mateo dialogam e riem em um canto, assim como Luna em outro

canto conversa amigavelmente com Joaquin, assistente e amigo.

Meus pais estão lado a lado no sofá, mirando algo no celular. O


grupo forma um quadro de elegância e poder.
Há um tempo atrás, essa quantidade de pessoas ao meu redor

me deixaria nervoso, mas hoje já consigo filtrar e manter-me calmo.


Ainda assim, respiro fundo antes de passar pelo último degrau,

momento em que percebem a minha presença.

— Alejandro, filho, estávamos o esperando — diz papai, se

erguendo ao mesmo tempo que mamãe, recebendo meu olhar


controverso —, é uma reunião de última hora, só precisei chamar

Mateo e Joaquin, felizmente hoje todos estavam em casa —


responde.

Ele se refere a todos, exceto Mateo e Joaquin, que não moram


conosco.

— Olá, maninho, tudo bem? — Mateo me cumprimenta, é o

mais velho, apenas dois anos nos difere. Ele é tão alto quanto eu,
cabelo de um louro acastanhado, barba cerrada no mesmo tom e

olhos de um azul profundo. O correspondo no aperto de mão e no


assentir de cabeça, fazendo o mesmo com Joaquin, porém, ainda
sem entender o que está acontecendo aqui. — Vi a minha sobrinha,

ela está cada dia mais radiante, não é?

Concordo com ele em minhas expressões faciais.


— Vamos pai, diga logo o que tem para dizer, estou curioso —

afirma Esteban, com um drink na mão, como sempre. Ele também


tem o nosso porte, é mais louro que Mateo, em um tom mais vivo e

dourado, de olhos azuis marcantes, que como Mateo, herdou de


mamãe.

— Mentira, a verdade é que Esteban está com pressa pois tem


mais um encontro — conta Mateo.

— Oh, Deus, mais uma vítima. — Luna faz piada, todos riem,

menos eu.

— Que engraçadinha... — Esteban ironiza.

— Porém, confesso que também estou curioso, papai. Tive

que pedir a um amigo para dar aula em meu lugar — conta Mateo,
ele é professor do ensino superior.

— Por acaso é sobre a empresa? — Esteban lança no ar,

todos sabemos que nosso pai anda pensando em dar o cargo de


chefe a um de nós por complicações com a saúde nos últimos
meses, e isso muito lhe interessa. Ele é advogado e tem a minha

idade, é o diretor jurídico da Javier.

— Exatamente Esteban, é sobre a empresa — afirma o senhor


Miguel, atraindo a atenção de todos —, não é segredo para ninguém
que não ando me sentindo bem nos últimos meses, a minha
diabetes e outras complicações andam fazendo o meu cansaço da
Javier ser ainda maior, e a cada dia que passa, está mais difícil

cumprir com os compromissos.

“Até porque, já não sou mais nenhum menino, os sessenta


anos estão batendo à porta. Vocês já tinham sido avisados por mim
de que chegaria o dia em que eu precisaria escolher um de meus

filhos para gerir a empresa em meu lugar. Pois bem, este dia é
hoje”. — declara.

Todos olham para Esteban no instante em que o céu

relampeja, o piscar de luz entrando pelas janelas, sabemos que ele


será o escolhido. Mateo está fora, pois, é feliz e realizado em sua
profissão. Luna também não conta, não tem responsabilidade, só

pensa em frivolidades. Eu não posso, devido ao meu problema.

Mamãe troca sorrisos com Esteban, que já está radiante. Nós


estamos contentes por ele, sabemos o quanto esperou e quer isso.

— Já conversei com o quadro de diretores, no início alguns


ficaram um pouco receosos, mas a maioria concordou comigo que a

minha substituição será frutífera.


— Hmm, então houve uma reunião secreta sem a nossa
presença — brinca Esteban, pondo a mão esquerda no bolso da
calça.

Papai o ignora, dá uma pausa, suspira e prossegue:

— Mateo, desde cedo recusou qualquer laço com a Javier,

decidiu seguir os passos da mãe e ser professor.

— Porque a dona Alba me ensinou o quanto é apaixonante a


arte de ensinar — elogia Mateo, e nossa mãe se derrete.

— Oh, meu filho. — Ela enlaça o braço no dele.

— Luna também nunca se interessou pela empresa.

— E continuo não pretendendo me interessar — comenta ela,


fazendo-me revirar os olhos.

— Sobraram-me Esteban e Alejandro — conclui papai —, os

dois sempre foram empenhados nos negócios, quiseram aprender,


estavam ao meu lado, por isso sei que posso contar com ambos.

— É claro, meu pai — afirma Esteban, com um sorriso que


traduz toda a sua gratidão —, prometo que irei honrá-lo, nosso

nome continuará firme e forte.

— Sei disso filho, Alejandro estará ao seu lado. Você será o


vice, ele o presidente. — dispara, deixando todos chocados.
Um silêncio mortal ecoa no ambiente, até mamãe é pega de

surpresa e mira ao marido, a mim e a Esteban simultaneamente


atônita. Chego a pensar que não escutei direito.

— O... quê? — Esteban faz a pergunta que tanto quero fazer, a


minha alma grita por dentro por uma explicação. O sorriso do meu

irmão morre e o meu também, o clima acaba de mudar

radicalmente, está tudo tenso e nebuloso.

— Alejandro é o mais preparado para ser o CEO — afirma,

fitando-me. Balanço a cabeça negativamente, lentamente,

percebendo que todos agora olham para mim, o que faz meu velho
e conhecido nervosismo começar a aflorar.

— Miguel, querido... você tem certeza? — Mamãe dá um

passo em direção a ele, prevendo o caos se formar.

— Absoluta. Joaquin será o intérprete de Alejandro quando for

necessário, como já o faz. Hoje o mundo está muito moderno,


qualquer impasse pode ser facilmente resolvido. Além disso,

Esteban ali como vice, poderá solucionar outras questões...

— Isso só pode ser piada! — rebate Esteban, virando a taça,


engolindo todo o álcool de uma só vez e fulminando-me.
Repreendo meu pai no olhar. Não aceitarei, não quero! É

loucura!

— Não é piada, estou falando muito sério. Você e todos aqui


sabem muito bem o quanto seu irmão é altamente capacitado para

isso...

— E eu não?! — Ele está perplexo.

— Filho, entenda, Alejandro é visionário, tem mais experiência,

equilíbrio e maturidade nos negócios...

Enquanto eles falam, fico mais agoniado querendo interromper,

botar para fora a minha opinião, negar, dizer que é impossível, mas
as palavras não saem como sempre.

— Mas ele é um maldito mudo!! — exclama Esteban, perdendo

o controle como é de costume, as suas palavras são como facadas


em meu peito, me deixando mais aflito. — Quando é que o senhor

vai perceber isso?!

— Ora, cale-se! — rebate papai, furioso, ele odeia quando me

chamam disso. O desentendimento deles está me machucando

como há muito tempo não acontecia. — Você sabe muito bem que
ele não é isso que falou e não repita essa palavra!!

— Qual? Mudo? — provoca Esteban, fuzilando-me.


— Esteban, chega! — Intervém Mateo, aumentando a voz.

Todos têm voz, menos eu!

— Você não se meta, pois nunca se importou com o nosso

patrimônio! — Esteban replica feroz, apontando o dedo para ele, e


caminha determinado até mim. — Era tudo o que queria, não era,

Alejandro?

Nego veementemente em minhas expressões, tentando sair de


suas acusações.

— Esteban! — Papai exclama, mas não é ouvido.

— Desde que chegou aqui sempre quis tudo o que era meu!

Tudo o que me pertencia!

— Isso não é verdade, filho! — Mamãe me defende.

— É verdade sim e a senhora sabe! Todos aqui sabem!

— Não acredito que ainda discursa essa tolice! Que decepção!

— rosna papai. Sinto vontade de dar um basta, mas novamente me

encontro impotente!

— Decepção? Eu sou uma decepção? — Esteban não

consegue esconder o ódio que pulsa em suas veias, seus globos


me queimam, me destroem — Vai, prova agora para a gente que

você pode ser o CEO da Javier, vai! Fala alguma coisa ao menos
uma vez na vida, mudinho! — Me pressiona, malvado, furioso. E

para piorar me empurra no tórax, provocando-me. — FALA,

PORRA!

Me empurra outra vez, fazendo-me chegar ao extremo do meu

limite, a entrar numa cólera cega e silenciosa, no estopim de uma

crise forte que se abate sobre mim inesperadamente. Minha


resposta vem com um soco potente em seu rosto, que o faz cair

para trás, derrubando os objetos sobre o aparador e indo ao chão.

Todos ficam atônitos com a situação completamente fora de


controle. O medo, a ansiedade e o desespero me tomam com força

total.

— Alejandro... — A voz da minha irmã é compassiva, ela sabe

que preciso de ajuda agora, mas não a escuto. Viro as costas e

quase corro para fora de casa, entrando no meu Mercedes, o C 300

Coupé Sport, às pressas. praticamente me lançando dentro dele e


fechando a porta com força.

Tento me acalmar, mas parece impossível. Estou suando frio, o


ar parecendo me faltar e as mãos trêmulas. Abro o porta-luvas,

pego o ansiolítico e engulo dois comprimidos. Fecho os olhos,


respiro fundo, ainda ouvindo a voz de Esteban me chamando do

que mais me fere, algo que sempre aciona os meus gatilhos.

Sei do que preciso para me acalmar de verdade, para me

controlar. Só uma coisa consegue descarregar totalmente a minha

tensão quando fico neste estado. Ergo as pálpebras, ligo o


automóvel e saio em disparada, fugindo da propriedade.

Alguns minutos depois, estou sendo recebido por gêmeas


incrivelmente atraentes em um quarto de hotel de luxo, que sorriem

salientemente para mim. Elas são garotas de programa de alto

nível, que de vez em quando uso para desafogar as mágoas e as

pressões, em busca de uma paz e equilíbrio que nunca vêm por


inteiro.

Após horas de sexo desenfreado e orgasmos múltiplos,


encontro-me acordado entre dois lindos corpos dormindo. Estou

satisfeito, porém frustrado tentando adivinhar quando tudo isso terá

fim.

Descarto o preservativo lotado de espermas, ponho a roupa e

deixo as notas de duzentos euros sobre o criado-mudo, então

abandono o quarto sem olhar para trás. Dirijo na estrada molhada


pela chuva, na Gran Vía da movimentada Madri, entre trovoadas e
relâmpagos. Penso em tudo, na minha vida inteira, até este
momento, em especial nas coisas que aconteceram hoje.

Suspiro, tentando acreditar que agora está tudo bem, mas logo
descubro que estou enganado, quando tenho que frear

abruptamente para não atropelar alguém que invade a pista.

Entretanto, é tarde demais.

Desço do automóvel nervoso, encontrando uma jovem no chão

que imediatamente julgo ser uma bailarina devido ao traje. Ela

parece que acabou de fugir de um espetáculo ou da escola de balé.


Ajoelho-me ao seu lado, acolhendo-a em meu colo preocupado.

Minha boca chega a abrir, a vontade de perguntar como ela


está coça a garganta, ardendo na língua. Devo ser um amaldiçoado

por viver um dia tão trágico como este! Quando penso em me


erguer com ela, sua mão aperta meu braço. Fito com mais atenção

sua face delicada, é apenas uma menina... deve ter dezesseis ou


dezessete anos.

Seus olhos se abrem, encontrando com os meus, nos miramos

por alguns segundos, que parecem ser eternos, sob a chuva. Ela
toca-me no queixo, encantada e algo nela me chama a atenção, me
traz uma leve sensação de paz. É como se o mundo tivesse parado.
Contudo, o terror brilha em seus globos e levanta tão rápida
quanto caiu.

— Está tudo bem, não foi nada! Tenho que ir! — fala
desenfreadamente e corre antes que eu possa tomar qualquer

atitude. Ergo-me, chegando a estirar o braço em sua direção, num


falho e implícito pedido de paciência, minha vontade era de levá-la

ao médico.

Algumas pessoas se aproximam, tentando entender também o


que aconteceu, pedem-me explicações que não tenho como dar. Só
então caio em mim, e noto que estou no meio da avenida, debaixo

da chuva, com carros buzinando em exigência para que o tráfego


continue.

Olho para baixo e encontro uma sapatilha esquecida pela

bailarina. Sem entender o porquê, pego-a, e só então retorno para o


carro.
ALEJANDRO JAVIER

Eu não falo.

A partir de agora, tudo o que você irá ler são obras dos meus
pensamentos, da voz que grita dentro de mim gravemente, mas que
não é capaz de ser emitida. Não lembro totalmente dos motivos que

me impedem de falar, mas o que lembro é o suficiente para me fazer

querer esquecer e manter-me em silêncio.

Os médicos dizem que sofro de mutismo seletivo, gerado por

um grande trauma psicológico que dificulta a minha fala há muitos


anos. Na época em que tudo ocorreu, como eu não disse uma
palavra, se tornou difícil descobrir se havia algo a mais do que foi

noticiado nos jornais, que por si só já foi o suficiente para me causar


um abalo emocional.

Mutismo seletivo ou mutismo eletivo, é um transtorno


psicológico, também conhecido como transtorno de comunicação

social, no qual a pessoa tem grandes dificuldades em falar, se

expressar, dialogar por meio de palavras em determinados


ambientes ou com determinadas pessoas.

Eu não sou mudo, posso falar, e quero muito, mas não

consigo. Ter este transtorno é bastante raro e o meu caso é mais


raro ainda, pois o meu nível de mutismo é o grave, não falo com

absolutamente ninguém há bastante tempo, mas já falei em poucas


ocasiões.

Minha família tentou de tudo para me fazer “recuperar a voz”.

Aos poucos eles entenderam que um problema psicológico, é mais

poderoso que um problema físico. Como já diziam os textos

judaicos, “nenhum médico é capaz de curar a cegueira da mente”.

Gradativamente, mostrei a eles que apesar dos meus terrores

psicológicos, minha mente também poderia me levar ao topo, pois


como dizia Buda, “é a própria mente de um homem, e não seu
inimigo ou adversário, que o seduz para caminhos maléficos”.

Sim, senhoras e senhores, eu tinha tudo para seguir caminhos

tortuosos, tão horríveis quanto os meus pesadelos e flashes

malditos que hora ou outra perturbam os meus pensamentos. Ou

até mesmo aquela voz... aquela maldita voz, que soa em meus

ouvidos quando algo ou alguém me desperta algum gatilho, me


afundando de volta no poço:

“Shhh... Faça silêncio... fique quietinho. Se falar eu te mato”

Contudo, mesmo com a minha falta de comunicação verbal me

tornei um vencedor, enfrentando os meus traumas a cada dia com

coragem. Provei a mim mesmo e à minha família que sou capaz de


tudo, tanto quanto os outros, que posso voar como as demais

pessoas, mas sem fazer barulho, sempre calado.

Foi assim que conquistei a confiança do meu pai e tomei o

posto de CEO da Montres Javier S.A., que ao longo dos anos, sob a

minha direção duplicou o número de vendas, sendo hoje a marca de


relógios mais usada e cobiçada da Espanha. Uma companhia

multinacional ainda em ascensão, batendo de frente com grandes

nomes da relojoaria de grife em outros países.


Sinto falta de falar, porque querendo ou não, a voz é algo

necessário para muitas coisas, contudo superei boa parte delas. Às


vezes acho que horrivelmente me acostumei a ser incapaz de emitir

a própria voz, o meu silêncio se tornou o meu atributo, meu trunfo, a


minha forma de viver.

Odeio algazarra, barulho demais, isso me irrita. Acho que com


o passar dos anos, tornei-me o próprio silêncio literalmente, que vai

contra tudo que lhe é oposto, ou quase tudo. Meu inimigo principal é
o som, não todos, somente aqueles que me causam histeria.

Fora isso, sou sempre um homem calmo, sério, focado em


apenas duas coisas na vida: meu trabalho e minha filha.

Alisa, com os seus seis aninhos de idade, é a maior e única

alegria da minha vida. Conheci sua mãe em um dos eventos da


empresa, Maite Pavón, era uma linda e sedutora mulher, nos

apaixonamos, nos entregamos avassaladoramente, foi tudo rápido


demais, tanto que fomos irresponsáveis e ficamos grávidos sem
desejar.

Eu aceitei o nosso destino, mas ela não.

A mulher que tanto amei tinha outros planos, e uma filha

inesperada não estava neles. Assim que deu à luz, não aguentou
mais que um ano, foi embora, nos abandonando, deixou a família

que havia acabado de se formar.

Era a vida novamente me mostrando o quanto poderia ser


cruel, esmurrando-me sem dó e piedade, mas a Alisa com os seus

sorrisos estrelados, me fez revidar, me deu um motivo para


continuar seguindo em frente, e segui.

Porém, resolvi focar apenas nela e na profissão, evitei casos,


disse “não” a várias mulheres, perdi o interesse em algo além do

sexo, nunca mais me apaixonei. Mais uma vez algo dentro de mim
mudou, talvez a falta de crença no verdadeiro amor de uma mulher.

Tento sempre não generalizar ou levar para o lado pessoal, mas é


quase impossível.

Mulheres para mim são sempre muito fáceis, todas se deixam


levar pelos ternos italianos que me vestem, os sapatos de couro que

me calçam, os superesportivos que me transportam para onde


quero e os milhões que me fazem poderoso.

Não nego, também usufruo de tudo isso para possuir quem eu


quero a hora que desejo, mas nada além, nem espere, pois não vai

acontecer.
Também não sei se realmente quero que aconteça, os meus
pais me cobram uma esposa, mas por enquanto, a única mulher que
manda na minha vida é a Alisa. Só ela consegue me fazer sorrir de

verdade, que me arranca os sentimentos mais puros que um


homem pode ter sobre uma mulher, os de pai.

Como já estou há muitos anos sem falar, todos à minha volta


tiveram que se adequar a mim. A minha família já sabe de cor e

salteado as minhas expressões, caras e bocas, aprenderam a


linguagem de sinais junto comigo. Eles sempre estiveram ao meu

lado depois da tragédia que se abateu sobre nós.

Meus empregados domésticos, os funcionários da empresa, os


poucos amigos, todos sabem a língua de sinais, ou se não sabem,
correm para aprender, só assim podem permanecer trabalhando ou

convivendo comigo.

Uma vez ou outra, quando estou sem paciência, escrevo algo


num bloquinho de notas que sempre está no bolso do meu paletó,

ou escrevo onde der, não importa. Além disso, tenho Joaquin, meu
intérprete e assistente fiel que sempre me acompanha quando
necessário, traduzindo o que explico em gestos para aqueles que

não conhecem a minha linguagem.


A minha sorte, o que me faz ser respeitado e escapar de
preconceitos por quase todos à minha volta, é o meu status, conta
bancária e poder. No trabalho, sou apelidado de “Senhor Silêncio”,

algo sem o meu consentimento, mas que não pude impedir nem
evitar.

Sou um homem discreto, reservado, mantenho minha vida e

segredos trancados a sete chaves. Odeio exposição, sempre penso


na minha filha e na minha posição social.

As coisas fluíram naturalmente ao longo do tempo. Ainda

assim, sofro em determinados momentos, busco sempre provar a

mim mesmo que sou capaz de tudo, apesar do meu problema, uma

tarefa nada fácil.

Os demônios vêm quando menos se espera e atacam.

Hoje estou enfrentando mais um deles, mais uma prova de

fogo. Na sala de reuniões da empresa, sentado à mesa com alguns

homens engravatados que observam Joaquin explanar sobre o

nosso mais novo projeto, um relógio com uma tecnologia inovadora


e inigualável no mercado, sinto-me levemente tenso em não os

convencer de se tornarem nossos novos clientes.


— É por isso que o relógio se chama Bolt, pois entre os seus

vários significados, temos a ideia de rapidez, coragem e ousadia,


tudo o que o seu design e tecnologia oferecem ao cliente — explica

Joaquin, clicando no controle e passando os slides às suas costas

que mostram o protótipo com as suas especificações —, o nome é


uma jogada de marketing, algo universal, fácil de pronunciar em

várias línguas e que com certeza virará febre se tivermos o seu

investimento para a expansão das vendas nos Estados Unidos.

Estou com as mãos cruzadas sobre a mesa, sério, observando

simultaneamente Joaquin e o homem com quem tentamos fechar

negócio, um grande empresário americano, acompanhado por dois


assessores. Ele suspira, pontuando por longos segundos o que vai

falar.

— Eu gostei da ideia, da tecnologia e do nome — diz, mirando


Joaquin —, coincidentemente, coragem e ousadia são marcas

consolidadas do meu trabalho. Mas me diga senhor Joaquin, como

posso confiar que o Bolt entregará tudo o que promete, se o seu


chefe que é o nome à frente desta empresa não é capaz de emitir

uma só palavra?

O homem me fita desafiador, sei que é uma espécie de teste,

mais um como tantos outros nos quais já fui lançado, onde somente
a minha manifestação poderá salvar o negócio.

Joaquin se apressa em discursar em minha defesa, mas ergo

a mão o impedindo. Trocamos olhares, assinto com um leve


movimento de cabeça, o informando implicitamente que agora será

a minha vez.

Respiro fundo e puxo discretamente a manga da camisa de

algodão egípcio para ocultar as tatuagens do pulso, me preparei

muito para situações como esta e não é a primeira vez que passo
por isso. Assim, começo a falar através de sinais e Joaquin traduz

em voz para o empresário tudo o que digo:

— Senhor Ethan, eu não sou incapaz de falar, posso muito


bem conversar e dialogar com o senhor, mas apenas quando me

sentir confortável. Compreendo a sua preocupação, mas o meu

silêncio nunca impediu e com certeza, não impedirá que qualquer


projeto da Javier seja um sucesso, tendo em vista que o nosso

principal lema é a discrição e confiabilidade, sempre deixando que o

produto fale por si mesmo.

“ O senhor é o primeiro, e esperamos que seja o único a

chamarmos para demonstrar em primeira mão o Bolt, pois

acompanhamos seu trabalho há alguns anos e sabemos a confiança


e o respeito com o qual desempenham o serviço. Contudo, se a

ausência da minha voz for um fator chave para que a nossa


proposta não seja levada em consideração, tenho para mim que nos

enganamos com os seus ideais de mercado e procuraremos alguém

que compartilhe das mesmas ideias. É isso. Obrigado”.

Joaquin não consegue disfarçar o contentamento com a minha

resposta, o brilho em seus globos ao mirarem em mim denuncia

isso. Agora foco total e seriamente no homem que parece surpreso


e ao mesmo tempo contrariado com a cena que acabou de assistir.

Suas sobrancelhas se erguem, os seus lábios esticam em um

sorriso um tanto quanto impressionado.

— Devo dizer, que é um homem muito curioso, senhor

Alejandro, jamais visto por mim outro igual. Da mesma forma que

vem me observando, também venho fazendo o mesmo com o


senhor e, se a ausência da sua voz fosse um fator relevante ao

ponto de não fecharmos este negócio, pode ter certeza que eu não

estaria aqui. Gosto de saber que por trás de toda a evolução da


Montres Javier S.A. existe alguém como o senhor, que não se deixa

diminuir por leões como eu. Será um prazer ajudá-lo a expandir os

caminhos do Bolt.
Todos sorriem, eu apenas tento, mas acho que mesmo assim

consigo demonstrar que estou satisfeito com a decisão dele.

Apertamos as mãos, então sinto que o peso de toda essa pressão

sobre os meus ombros cede de uma vez por todas, a ansiedade vai
embora pouco a pouco. Venci outra vez.

— Você foi perfeito, se não fosse a sua perspicácia eu estaria


perdido — diz Joaquin, comentando sobre a reunião.

Nego com o rosto, sentado atrás da mesa executiva, enquanto

ele prepara uns drinks sobre o balcão negro que contorna a parede.

— Mas é claro que sim, eu não teria falado tão bem; quer o

seu com ou sem gelo hoje? — Se refere ao uísque de uma das


marcas que mais aprecio, o Royal Salute. Meu olhar o responde, ele

põe a pedra de gelo apenas em seu copo, depois se aproxima

entregando o meu e sentando-se no sofá de couro cinza-escuro.

Agora estamos só nós dois em minha sala presidencial que é

enorme, com banheiro e até closet, além de um design moderno,

onde algumas paredes dão a impressão que estão se


desconstruindo ou ruindo, com tijolos aparentes. A maioria dos

objetos são pretos, um ambiente austero, masculino e frio. Aqui é o

único lugar da Javier onde me sinto seguro e confortável.


Trabalhamos na sede mundial da companhia, o centro de

gestão, pesquisa e desenvolvimento, concepção, e dos serviços de


comunicação venda e pós‑venda. Sendo também o local onde são

reunidos os componentes produzidos nas outras três unidades para

a realização do controle de qualidade final dos relógios acabados.

A nossa infraestrutura chega a ser epopeica, um gigantesco

prédio de quinze andares, com a parte exterior toda com fachadas

de vidro refletindo o cinza, onde no topo há o nome da marca na cor


que a simboliza: o dourado. Aqui é o administrativo, onde escritórios

e ateliês de produção convivem lado a lado no mesmo espaço,

transformando o conjunto arquitetônico em um organismo completo,


complexo e autônomo.

Inclino o nariz na parte superior do glencairn de cristal, aspiro

levemente o cheiro indefinido, sem predominância clara de qualquer


aroma específico, mas inconfundível do Single Malt vinte e um anos.

Levo-o à boca e fecho os olhos, deixando a bebida pura molhar a

língua, se desenvolvendo saborosamente por dez segundos antes


de ser engolida.

Ergo as pálpebras, avistando o mesmo semblante de

satisfação no meu assistente que, assim como eu, sabe muito bem
apreciar um bom blend.
Joaquin Hayser, é um amigo de longa data. Estudamos juntos
durante o ensino superior, e nos formamos na faculdade de

administração. Enquanto os meus irmãos foram para Harvard,

preferi uma universidade privada aqui mesmo em Madri, sempre


buscando fugir das atenções, e da companhia de Esteban ao

mesmo tempo, tendo em vista que a nossa relação nunca deixou de

ser tóxica.

Assim, conheci Joaquin, um dos únicos que não me via como

um estranho por não falar, que me fez até trocar palavras com ele

algumas poucas vezes. Gradativamente, o homem negro que tem


quase dois metros de altura e que mais parece um armário de tão

musculoso, tomou a minha confiança.

Eu o trouxe para trabalhar ao meu lado na Javier, praticamente

crescemos juntos, tanto na sala de aula quanto nos andares da


empresa. Foram anos de aprendizado e companheirismo. Aos
poucos ele se tornou o meu intérprete e assistente, algo que

aconteceu de forma muito natural, mas que meu pai percebeu e


decidiu formalizar.

— Alejandro, já pensou se tudo aquilo na sala de reuniões

fosse dito por você mesmo? Através da sua voz? Por que não volta
à terapia?
Fecho o semblante, lá vem ele tocar neste assunto de novo.
Isso me incomoda. O respondo em gestos que a terapia não dá
resultado.

— Talvez só precise encontrar o profissional correto.

O respondo que estou cansado de procurar.

— Se quiser, posso fazer isso por você — sugere, mas nego.


Ele respira fundo, balança a perna, odeia a minha teimosia, tanto

quanto odeio a dele —, lembra quando há alguns anos me chamou


de intrometido?

Faço sinal de pare, não quero lembrar disso, mas Joaquin não

me escuta.

— Fiquei tão feliz, que falei para toda sua família enquanto
estávamos comemorando o ano novo, então eles,
inconscientemente te pressionaram, esperando por mais. Senti que

isso te travou e te fez voltar à estaca zero. Desde então, você nunca
mais participou de eventos familiares, a Luna me contou.

Suspiro irritado, revirando os olhos. O homem insiste:

— A pequena Alisa, também me contou que você fala com ela


de vez em quando depois que passaram a morar sozinhos.
Escrevo algo rapidamente no bloquinho de notas sobre a
mesa, mostrando a ele:

Aonde quer chegar com isso?

— Que estava certo, sou mesmo intrometido, e o dia em que


me chamou disso foi incrível para mim. Quero dizer, que você sabe
que pode e que consegue, mas se desistir, como voltará a falar?

Ergo-me impaciente e aponto para a porta, ordenando que ele


se retire da sala. Joaquin rola os olhos, mas obedece. Antes de sair,
me fita uma última vez e declara:

— Vou procurar um novo psicólogo, quer queira ou não,

Senhor Silêncio.

O repreendo no olhar e ele finalmente se vai, então a porta se


fecha. Sento-me de modo relaxado na cadeira majestosa e

confortável, estirando as pernas e afrouxando o nó da gravata de


seda, perturbado com tudo o que me disse. Sei que tem razão, mas
estou cansado de ser incompreendido por gente que acha estar me

compreendendo.

Olho o relógio de pulso, o último lançamento da Javier, a nova


versão de um dos nossos clássicos de sucesso, um dos primeiros

dentre as mais de duzentas patentes que temos feito ao longo dos


anos de nossa existência, o Magnus Inigualável. Ele é de ouro e
aço, caixa de quarenta milímetros, sobreposta por uma luneta

cravejada de diamantes, mostrador de fundo preto e pulseira


olimpiana.

Lembro que ainda tenho uma hora antes de ter que ir buscar a

Alisa no balé, prometi a ela que faria isso hoje e não posso faltar
outra vez.

Fico imerso no trabalho, resolvendo várias coisas, assinando

documentos que a secretária me traz, perdendo tempo suficiente


para me atrasar. Miro o celular, assustando-me ao notar o correr da
hora, há chamadas perdidas da escola, envio uma mensagem à

coordenação avisando que estou a caminho.

Chego ao grande prédio de três andares com o motorista e


perco alguns minutos tentando me comunicar com a recepcionista,

perguntando onde está a minha filha. A mulher finalmente percebe


que não posso falar e apenas me informa para onde devo ir.

Passo a mão no cabelo, um pouco frustrado comigo mesmo,

compreendendo mais uma vez a merda do pai que sou. Subo


algumas escadas e chego ao primeiro andar, passo entre as
grandes salas com paredes de vidro, parando em uma onde avisto
minha filha sentada no piso amadeirado, observando encantada

uma mulher dançar para ela.

A minha mão chega a tocar na maçaneta, mas não se move.


Presto bastante atenção na cena, percebendo o deslumbre à minha

frente, um conjunto de delicadeza e sensualidade natural que


emana da bela bailarina. Ela tem a pele marrom-chocolate, cabelos
cacheados negros como piche, nariz pequeno, boca pequena e

perfeitamente carnuda, e olhos cor de âmbar.

Tenho a impressão de que já a conheço. Entreabro a porta,


ouvindo Tchaikovsky tocar, é o Lago dos Cisnes, no ato dois.

Encanto-me ao assistir a performance pura da jovem que se deixa


guiar pelo som, chegando a fechar os olhos, como se sonhasse
enquanto seu corpo se move em perfeição.

Ela é linda e maravilhosamente bela, parece uma boneca, uma


princesa, por um instante chego a esquecer do que vim fazer aqui. É
como se tudo ocorresse em câmera lenta, a parte mais suave da

canção entoando este momento sublime. Seu corpo sente a música,


é a própria melodia. Ela vive e brilha ao dançar.

Suas curvas me contagiam, meu corpo vibra de uma forma

rara de acontecer e o pau lateja dentro da calça, tomando forma e


ardendo.

Sua interpretação é tão boa, que até a minha filha demora a


notar a minha presença. Estou hipnotizado e não sei o motivo.

Esses olhos... este rosto que mais parece uma obra de arte. Quem
é ela? De onde vem tanta intensidade e entrega?

— Papai! — Alisa se ergue e corre para me abraçar quando


finalmente me percebe. A bailarina se assusta, parando de dançar

imediatamente, desligando o som e olhando-me atônita —, que bom


que chegou! Achei que havia me esquecido outra vez e iria mandar

Diogo vir me buscar.

Balanço a cabeça em negativa para ela, como se dissesse


“jamais”. Suas palavras me ferem, é como um murro na cara.
Quando não é o trabalho em excesso, são as distrações que tiram o

meu foco da minha pequena. Acaricio o seu rosto em um pedido de


desculpas.

— Está tudo bem, eu desculpo — responde, me

compreendendo e esticando um lindo sorriso que afaga minha alma.


Ergo o rosto para a mulher que nos observa com curiosidade, tensa.

Sinto que a conheço, mas não sei de onde. Ela foca em meu

rosto como se também me conhecesse, analisando cada detalhe do


meu semblante, agora séria. É no mínimo intrigante.

— Papai, esta é a Mina, a minha professora — apresenta, a


Alisa.

— Na verdade sou apenas a assistente da professora dela, a


senhora Iolanda, que também já foi a minha professora, aqui mesmo
nesta sala, a propósito. Prazer, Mina Pacheco — fala rápida e

oferece a mão que aperto com certo carinho e ela percebe, pois
engole em seco se tornando tímida, uma graça.

Nosso toque só se desfaz quando afasta a palma delicada da

minha e desvia o olhar que não consegue se manter no meu, que


está focado exclusivamente nela. O calor na minha cueca se
intensifica, tento me conter, pois minha filha está perto e o monte já

toma forma na calça de tecido fino e justo.

— A professora Mina estava me contando a história do Lago


dos Cisnes. Ela sempre me conta histórias quando fico mais um

pouco esperando pelo senhor.

Fico surpreso, a Alisa nunca me falou dela, ou talvez tenha e


não prestei atenção.

— É uma técnica muito boa para distrair as crianças,

especialmente aquelas que esperam pelos pais que nunca chegam


— Mina faz uma cara de susto, notando que falou demais —, oh,
desculpe! Não quis dizer que o senhor nunca chega, apesar de hoje

estar sendo a primeira vez que o vejo por aqui — ela parece se
arrepender novamente do que comenta. Está nervosa —, ma...mas

isso não quer dizer que o senhor não tenha vindo antes, não é?
Desculpe é que... falo sem pensar.

Alisa gargalha, fitando-me.

— Ela é muito engraçada, papai! — declara, eu assinto, tenho

que concordar. Faço um sinal, chamando-a para partir —, nós temos


que ir, professora Mina. Muito obrigada por ficar comigo novamente.

— De nada pequena, sabe que sou capaz de tudo por você.

Agora me dê aqui aquele abraço de urso! — chama a minha filha


que, surpreendentemente corre até ela e lhe abraça com afinco.

As duas agem como melhores amigas. Fico chocado por uma

estranha tratar assim tão bem a minha Alisa, e ainda chamá-la do


mesmo apelido que a chamo em pensamento na maioria das vezes.

— Que gostoso. Que o anjo da guarda os proteja até em casa


— diz, lembrando uma boa mãe agora. Que figura!

Assim, vamos embora.


Mais tarde, à noite, após passar as últimas horas dando

atenção à minha garotinha, estou deitado em sua cama, ao seu lado


pondo-a para dormir.

— Papai, promete que vai comprar a história do Lago dos

Cines e ler para mim todas as noites? — pede, em sua mais doce
inocência, com os seus olhos azuis pidões me fitando.

Assinto com um movimento, ela ri e me abraça forte. Faço um

sinal de que agora é hora de dormir. Alisa boceja, denunciando o


sono.

— Sabe papai, hoje o senhor me fez a filha mais feliz do

mundo por me pegar no balé. Eu te amo — declara, fechando os


olhos.

Suas palavras me tocam na alma. Um amor maior que tudo me


arrebata imediatamente, levando o que há de ruim embora. Fecho

os olhos, beijo sua face fofa e deixo fluir em sussurros quase


inaudíveis um terno:

— Eu também amo você.

Após me certificar de que ela está em um sono profundo, sigo


para o meu quarto. Durante o banho, apenas consigo pensar na
bailarina tagarela. Fico naquilo de que já a vi, porém ainda não
consigo identificar quando ou onde. Ela dizendo que é capaz de
tudo por minha filha também está marcado em minha mente.

Só quando estou no closet procurando o que vestir, é que por

acaso encontro uma sapatilha de balé esquecida em um canto, é aí


que minha mente tem um estalo e recordo do acontecido há dois
anos, na noite chuvosa onde quase a atropelei.

Na época Mina era mais menina, agora é uma mulher, uma


linda e belíssima mulher, cujo corpo se formou um pouco mais,
cresceu, se tornou perigosamente atraente, apesar de ainda conter

traços que agora me fazem lembrar bem da primeira vez em que


nos vimos. Acho extraordinário tamanha coincidência.

Tomo a sapatilha nas mãos, contemplando cada detalhe fino e

feminino.

Mina Pacheco, é você.


MINA PACHECO

Eu falo demais.

— O que foi que disse, garota? — pergunta dona Lorena,


espezinhando-me pelo reflexo do espelho. Ela está sentada defronte

para sua penteadeira, com seu cabelereiro a as suas costas, que


acabou de fazer um penteado nela que me lembrou uma ave

depenada.

Engulo em seco pois, há alguns segundos pensei na figura da

pobre ave em voz alta, o pior é que fui ouvida.

— Que a senhora está linda — minto, com um sorriso amarelo.

— Mentira! Você comentou que estou parecendo uma... uma


ave depenada! Não foi isso, Pablo? — Ela está indignada. É uma
mulher pequena, acima do peso, de cabelos longos e louros, nariz

fino e pontudo.

— Sim senhora. — O homem afeminado confirma. Estou num

beco sem saída.

— O quê? Não, eu estava pensando em outra coisa! — tento

reverter a situação — A senhora? Uma ave depenada? Jamais!

Olhando assim devagar e com atenção, me lembra até... até... —


Não sei o que falar.

— Até o quê? Agora fale, é uma ordem!

— Um pavão — disparo, já arrependida.

A senhora troca olhares de choque com o homem, então me


fuzila.

— Um pavão? — Sua voz demonstra o nojo, seu rosto se vira

para mirar-me cara a cara.

— Não! É... uma pavoa! A fêmea do pavão é a pavoa! — Ela

ainda demonstra estar horrorizada, fico agoniada — Uma galinha...?

Uma bem bonitinha? — Cogito.

— Chega! Galinha é você! Como ousa me desmerecer tanto

depois de tudo que fiz por você e sua mãe?


— Ah, de-desculpe, senhora Lorena, não foi por mal! —
gaguejo, um pouco aflita — Esqueça isso, por favor! Sabe que falo

demais!

— Para rua! Está demitida! Não te quero mais como diarista e

farei por onde, para que mais ninguém aceite os seus serviços!

Todos que consegui para você depois da ruína da sua família!

Depois que você e sua mãe ficaram pobres, na sarjeta! Te ajudei em


nome da amizade que eu tinha com ela!

— Eu sei, por favor, reconsidere! Posso trabalhar dobrado! —

Insisto, preocupada.

— Não, não e não! Já não suportava mesmo a sua presença!

Depois que perdeu tudo se tornou ainda mais desprezível, por isso
que dizem que a pobreza pega! Cuidado, porque se não se

consertar vai acabar como seu pai, um viciado, ou sua mãe, uma

alcoólatra.

Minha aflição pelo desemprego iminente, é imediatamente

substituída pela fúria das palavras que a velha cuspiu.

— Lave a sua boca para falar da minha mãe e do meu pai! —

aponto o dedo para ela, a surpreendendo — Pensa que me

engana? Acha que nunca notei o seu prazer em me ver por todo
este tempo limpando a sua casa? Logo a garota filha dos seus

vizinhos que eram muito mais ricos que você? Invejosa! — disparo
enraivecida.

— Invejosa, eu? Ah, mas que audácia!

— Sempre invejou a minha mãe, viu a nossa situação como


uma maneira de mostrar que é superior, nos rebaixando de todas as

formas possíveis para se sentir melhor. Aceitei o emprego, porque


estava precisando e por muito tempo aguentei muita coisa calada,

mas escute bem, pode falar de mim o que quiser, mas da minha
família, não! — afirmo, o sangue quente correndo por todo o meu
corpo.

Lorena parece que vai explodir e exclama, alterada:

— Fora! Saia do meu apartamento agora!

— Com muito prazer! — afirmo, dando-lhe as costas, largando


a vassoura, caminhando desenfreada, ouvindo-a enlouquecer e

seguindo-me, dizendo impropérios.

Saio do seu quarto e em segundos chego à sala de estar.

— Para onde vai? Quero que saia pela porta de serviço, a dos
empregados, que é o seu lugar! — grita, me humilhando.
— Estou indo pegar as minhas coisas, sua imbecil! — xingo

nervosa, sem olhar para trás, irrompendo no quartinho minúsculo


onde sempre deixo minha mochila.

Para o meu desprazer, encontro jogado na cama me

esperando, o Santiago, filho da pavoa! Ele é alto e magro, nariz


desproporcionalmente grande ao tamanho do rosto, e cabelo caindo
quase à altura das orelhas.

— Por que está gritando, minha linda? — lança sua voz suave,

tentando me flertar pela enésima vez.

Reviro os olhos e respiro fundo.

— Minha mochila, me dê! — peço, estirando a mão em sua

direção

— Vem pegar — me provoca, escondendo o que me pertence


à as suas costas.

— Pare de ser idiota e me devolve isso agora! — exclamo,


partindo para cima dele, mas o homem me segura com força e nos

vira na cama de solteiro, rapidamente pairando sobre mim — Me


largue! — rosno, me contorcendo inteira, tentando livrar-me dele.

— Eu sempre te observo e aposto que você ainda é virgem,

não é? — indaga, sua voz anunciando seu desejo imundo — E essa


boca? Será que já beijou alguém, hein? Vem cá... — ele põe a
língua asquerosa para fora, tentando me tocar. Entro em pânico,
aproveito que as suas pernas estão abertas e lhe acerto com uma

joelhada bem no meio delas.

O desgraçado vai ao chão, grunhindo.

— Sua... vagabunda! — pragueja, sem ar e ficando vermelho.

Capturo a mochila e saio correndo desesperada do cômodo,

indo para cozinha e saindo pela porta de serviço. Entro no elevador


tremendo, abalada, e só então deixo que as lágrimas venham com

força total. Soluço enquanto o pranto rasga a minha garganta e


queima a face. Estou fragilizada, sentindo-me humilhada e
assediada.

Que dia terrível!

Mais tarde, enquanto pego o metrô de volta para casa, ponho

os fones de ouvido e ouço músicas clássicas para me acalmar, um


pouco de Beethoven é tudo o que preciso. Encosto a cabeça no
vidro da janela, exausta, enquanto as luzes da cidade passam lá

fora e algumas lágrimas ainda molham o meu rosto.

Fecho os olhos, lembrando novamente de três dias atrás,


quando reencontrei o desconhecido que quase me atropelou há dois
anos. Recordo do exato momento em que abri os olhos e vi os dele,
lindos... esverdeados... repletos de mistérios. Seu rosto perfeito e
viril, o porte físico imponente, poderoso, toda a sua imagem está

marcada a ferro e fogo em minha mente.

Agora finalmente sei quem ele é, ainda estou assustada com


tamanha coincidência. Alejandro Javier, o homem que permeia os

meus sonhos quase todas as noites, é o pai de uma das minhas


alunas.

Lembro de como fiquei tensa ao tê-lo tão próximo a mim

naquela sala, real, vivo. Ele é de verdade, não foi apenas uma

miragem como cheguei a pensar após tanta loucura ocorrida

naquela noite sombria, quando nos vimos à primeira vez.

Alejandro nem sequer consegue imaginar o quanto é

importante para mim. Durante todo este tempo, sempre que


passava por momentos difíceis, por alguma razão, lembrava dele.

Às vezes, acho que mentalmente o transformei em uma espécie de

herói, que sempre chega para me salvar dos problemas, da dura

realidade que me rodeia.

Por algum motivo desconhecido sonho com ele, com os seus

braços fortes outra vez me acolhendo em seu colo. É loucura, eu


sei, nem mesmo faço o tipo de mulher que precisa ser salva por um

cara para ser feliz, mas... a minha vida é tão difícil, que às vezes
imaginar um príncipe encantado faz bem.

Contudo, fiz merda como sempre faço, estraguei a situação,


falei o que não devia novamente e deixei o homem tão aborrecido

comigo, que me desprezou ao ponto de não abrir a boca. Ele sequer

disse o nome, descobri depois com as minhas amigas da recepção.

Senti sua frieza e uma certa indiferença, apesar de ter parecido me


tocar de maneira tendenciosa.

Seu toque, por mais breve que tenha sido, me esquentou,


ardeu, foi firme e ao mesmo tempo meigo. Sua presença, de certa

forma me intimidou e aguçou cada ponto do meu corpo. Ele tem

uma energia que debaixo daquela chuva, há dois anos, não

consegui captar.

Os seus olhos, em alguns rápidos instantes, pareciam me

consumir famintos. Não foi nada comparado a qualquer outro que já


tenha me fitado com interesse. Alejandro é sexy, nem mesmo

conversamos direito, mas tudo nele gritava isso.

Acordo com um solavanco do trem, despertando quase em


cima de onde irei descer, em uma estação de um bairro pobre de
Madri. Quando chego à frente da casa, após caminhar por uns

quinze minutos em plena oito horas da noite, é impossível não

lembrar da cobertura em que eu vivia antigamente.

Entro no imóvel pequeno, de dois quartos, sala que se divide

com a cozinha e banheiro social. Encontro minha mãe dormindo na

poltrona defronte para a tevê ligada. Há três garrafas de vinho aos


seus pés e um retrato do papai entre as suas mãos sobre seu

abdômen.

Vê-la assim, acabada e destruída, com os cabelos

desgrenhados, rosto abatido e cheirando a álcool, quebra o meu

coração. Tenho vontade de chorar muito mais do que já chorei hoje,

mas não posso fazer isso. Tenho que ser forte por ela, por nós duas.
Preciso continuar tentando lhe mostrar que a superação é o

caminho, mesmo sem saber se eu já superei.

— Mãe, vamos, é hora de tomar banho para dormir — a

chamo, puxando-a com delicadeza e levantando-a.

— Filha... é você? — Sua voz é um misto de bêbada e com


sono.

— Sim, vamos, por favor — minha voz sai quebrada, mas logo
a recupero.
— Vamos, mas não quero tomar banho — concorda, enquanto

ponho seu braço em volta do meu pescoço. Caminhamos juntas até


seu quarto.

— É preciso mãe, assim vai dormir melhor.

— Não...

Tiro sua roupa toda, depois sigo com ela para o banheiro,
ouvindo-a resmungar de olhos fechados. Quando a ponho embaixo

do chuveiro, chora, abraçando-me, acabo me molhando também. A

ensaboo, lavo seu cabelo com shampoo e finalmente a levo para a


cama após lhe vestir sua camisola.

Quando fecho a porta do cômodo pequeno, suspiro com os

joelhos quase que não conseguindo mais me manter de pé. Retiro


forças do além para poder tomar banho e deixar o banheiro limpo,

sem o odor forte do vinho. Deito, cobrindo-me dos pés à cabeça,

sem coragem para sofrer, caindo em sono profundo.

Acordo no dia seguinte ouvindo uma discussão que me deixa

em alerta máximo. Olho rapidamente no celular que já marca nove

horas. Corro para a sala, encontrando minha mãe ouvindo


impropérios do dono da casa, nós moramos de aluguel.
— Se não pagar terão que sair! — Ele grita, apontando o dedo

para ela de uma forma que me perturba.

— Por favor acalme-se, eu resolverei isso, pode acreditar! —


Minha mãe fala em tom compassivo, bem mais baixo que o dele.

— Tem até o final de semana, senão... rua!

— O que está acontecendo aqui? — indago confusa,

recebendo o olhar cobiçoso do senhor Rodrigues, que me faz

perceber que ainda estou em traje de dormir, bem curto por sinal.
Pego uma almofada do sofá, segurando à frente do corpo tentando

me cobrir.

Ele é um homem baixo e corpulento, de barba cheia,

desgrenhada de uma maneira que me causa repulsa.

— Filha? Volte para o quarto, sua mãe resolve isso — diz para
mim de uma forma que nem ela mesma acredita no que está

afirmando, então volta sua atenção para o homem —, senhor

Rodrigues, por favor, podemos conversar mais tarde, à sós...?

— Conversar o quê? Do que estão falando? — tento entender.

— Dos três meses de aluguel atrasado! — afirma Rodrigues,


voltando a ficar carrancudo, deixando-me perplexa.
— Três...? Não, mas... estamos pagando tudo certinho — digo,

tentando esclarecer o problema.

— Por acaso acha que isso é alguma piada, garota?! Aqui só

fica se pagar! Sua mãe anda me enrolando faz tempo, não vou mais

esperar! Se até domingo o dinheiro inteiro não estiver nas minhas


mãos, vocês terão que sair! — decreta, nos dando as costas.

Estou boquiaberta, minha mãe fecha a porta lentamente de


cabeça baixa e após longos segundos, olha-me envergonhada.

— Filha... eu... — a voz dela foge, as palavras não saem e os

olhos enchem de lágrimas.

— A senhora não estava pagando o aluguel, mãe? — indago

decepcionada. A mulher não sabe o que responder — O que fez


com o dinheiro que lhe dei?

— Me... me perdoe, eu... se... se seu pai estivesse aqui isso...

não aconteceria — murmura, chorando. Suspiro sem chão. Viro-me,


dando-lhe as costas, largando a almofada, enxugando uma lágrima

que desce pesada, rascante.

Ela está doente, uma viciada, praticamente uma incapaz.

Posso fazer esta situação se tornar ainda pior ou simplesmente,

tentar encontrar uma janela. Respiro fundo.


— Filha... não me deixe... por favor, não me deixe — implora.

Volto-me para ela com um sorriso que tento não parecer

forçado.

— Claro que não, mãe. A gente vai superar isso tá bom. A

senhora cometeu um erro e todos cometem erros — a abraço,


enquanto ela lembra uma criança desamparada, apertando-me com

um medo gigantesco de soltar —, lembra do que prometemos uma

para outra?

— Sou eu por você e você por mim — afirma, engolindo o

pranto, acariciando o meu rosto com amor.

— Isso, mas devemos lembrar que o papai já se foi e não vai

mais voltar.

— Não... ele não vai — repete para si mesma, tristonha.

— Nós duas precisamos seguir em frente.

— Em frente. Precisamos pagar o aluguel até domingo.

— Exatamente — enxugo o rosto mais uma vez com as costas

das mãos e uso os dedos para enxugar os olhos dela —, agora me


diga, o que fez com o dinheiro?

Mamãe respira fundo e responde:


— Gastei com bebida — É sincera, cheia de vergonha.

— Okay... sobrou alguma coisa?

— Acho que sim.

— Tem bebida aqui em casa, certo?

— Aham — confirma.

— Mostre-me, por favor.

Lágrimas banham seu rosto mais um pouco. A mulher abatida,


pele chocolate como a minha, ainda vestida em sua camisola, passa

então a me mostrar cada ponto do imóvel onde escondeu uma


garrafa de álcool, atrás da geladeira... dentro do pote de arroz, é daí
para pior. É um momento doloroso que tento atenuar de todas as

formas, porém é quase impossível.

Pego com ela o que sobrou do último aluguel, ponho as


garrafas caras de vinho dentro da mochila, despeço-me dela, indo

procurar na rua onde vender. Após andar em alguns barzinhos,


consigo menos da metade do que as garrafas realmente valem,
assim começo a minha batalha para conseguir o montante de três

alugueis de uma só vez.

Chego à escola de balé, Nina Speitzer, atrasada. Corro para o


banheiro, vestindo o traje adequado, collant, meia-calça reversível,
perneira, ponteira e as sapatilhas com fitas de cetim. O coque no
cabelo já está pronto desde que saí de casa. Um pouco de perfume
e então sigo para a sala de treino às pressas.

Assim que entro, a professora Iolanda já de cara me repreende


no olhar.

— Sei que estou atrasada, desculpe — sussurro, enquanto as

meninas todas entre cinco e sete anos, acenam para mim ao


mesmo tempo em que tentam fazer um fouette perfeito.

Tomo o meu lugar e passo a instruí-las simultaneamente com a

outra mulher. No fim da tarde, após encerrarmos a aula, cada aluna


me abraça carinhosamente se despedindo, elas me amam e eu as
amo muito. Estar aqui, ajudando a professora a ensiná-las não tem

preço, é a maneira que encontrei de ficar perto do que mais amo na


vida, o balé.

Quando ficamos sozinhas, a senhora Iolanda se aproxima com

uma cara nada boa.

— Mina, o que está acontecendo contigo? Já são três atrasos


desde a semana passada — Sua voz é delicada até quando me
chama a atenção.
— Eu sei, peço que me perdoe, prometo que não vai se repetir
— digo, levemente nervosa.

— Foi o que disse na última vez. O que está havendo? É a


Inês?

— Também... são várias coisas, mas vou resolver.

— Olha, sabe que te adoro, era a minha aluna mais

promissora e foi com base nisso que consegui este bico aqui para
você. A diretora anda notando os seus atrasos e já me chamou a
atenção. Sei que precisa do dinheiro, então... por favor, cuidado —

Os seus olhos me fitam com preocupação. Tenho que tirar forças da


alma para não desabar em sua frente.

— Tudo bem. Prometo que tomarei o máximo de cuidado

daqui por diante. Obrigada por tudo, professora — a abraço forte,


ela é muito especial para mim e me deu a mão no momento mais
difícil da minha vida.

— Tudo bem, agora tenho que ir. Você não vem? — acaricia
meu rosto e se afasta.

— Ficarei mais um pouco, preciso dançar.

— Certo, sabe que pode ficar o quanto quiser. Beijos —

despede-se, pegando sua bolsa.


— Professora! — faço ela parar antes de partir —, a pequena

Alisa não veio hoje?

— Não, você não lembra? Hoje ela não tem balé — informa,
mirando-me contrariada.

— Ah, é verdade — sorrio, sem graça.

— Acorda! — aponta o dedo para mim, dá as costas e some


de vista.

Ouço os risos distantes, todos indo embora como sempre, a

escola ficando quase totalmente vazia, algumas luzes das outras


salas se apagando. Pego o celular na mochila, coloco os fones de
ouvido, fecho os olhos, respiro fundo, fico na posição, preparando-

me, então começo a dançar assim que Clair de Lune, de Claude


Debussy, toca.

Deixo-me guiar pela melancolia e profundidade da canção, que

tanto parece traduzir o caos que venho vivendo desde que meu pai
faleceu em um acidente de carro há dois anos, exatamente no dia
em que quase fui atropelada por Alejandro, ao avançar na avenida

desesperada, correndo para chegar ao hospital após minha mãe


ligar e me dar a terrível notícia.
Fiquei cega, só queria encontrá-lo e provar para mim que tudo
era mentira, mas infelizmente era verdade. A única coisa que me
deixou mais calma naquela noite, sem razão alguma, foi ter olhado

no fundo dos olhos do lindo desconhecido que me acolheu em seu


colo sob a chuva. Alejandro foi como um golpe de paz numa guerra
que apenas começava.

Eu sempre tive tudo do bom e do melhor desde pequena,


estudei nas melhores escolas, viajei por quase todo o planeta,
aprendi mais de três línguas, dancei balé desde que me entendo por

gente, com o sonho de me tornar uma profissional, mas com a


morte do meu pai o meu mundo veio abaixo.

Mamãe achava que estávamos seguras financeiramente,

pobre engano. Papai que até então dizia ter deixado os jogos de
azar, um vício antigo, continuava secretamente apostando em
cassinos clandestinos. Depois que ele se foi, descobrimos que

estávamos afundadas em dívidas, devendo ao banco e para


pessoas perigosas, como agiotas e até mafiosos. Pelo pouco que
entendemos, meu pai fazia grandes apostas com gente poderosa.

O que havia sobrado da nossa herança, a rede de hotéis


Pacheco, gradativamente foi se perdendo em quitações de débitos
estrondosos, até que nos sobrou o valor de quase nada.
No início a senhora Inês, minha mãe, tomou a frente da
situação e resolveu a maior parte das dívidas, fazendo as

negociações, mas a ausência do marido a quem tanto amava e a


quantidade imensa de problemas que surgiram explosivamente aos
poucos a destruíram. Ela encontrou uma saída no álcool, um

caminho que até agora parece não ter volta.

De garota mimada, que sempre teve tudo aos seus pés, tive
que me tornar mais adulta do que a minha idade exigia e cuidar da

mulher que um dia foi a minha referência feminina, não só dela,


como da nossa nova e dificultosa vida que vinha pela frente. Foi
nessa hora que vimos que a quantidade de amigos que tínhamos da

alta sociedade na verdade, nunca foram mais que interesseiros.

Ninguém. Absolutamente ninguém, nos estendeu a mão, a não


ser a falsa da dona Lorena que teve o prazer de me transformar em

sua diarista e de suas colegas, e a maravilhosa professora Iolanda,


a mulher que estava me preparando para os grandes espetáculos,
que conversou com a diretora da escola de balé para conseguir um

serviço para mim.

Porém, agora prefiro esquecer de tudo, transformo-me na


dança, no som e na música. A beleza, a arte de cada nota
embevecendo-me, levando-me a um estado puro e repleto de
endorfina.

Os meus movimentos são suaves e precisos. Entrego-me de


corpo e alma, deixo todos os sentimentos fluírem, afastando os
ruins, buscando os bons. É forte, intenso, doloroso e prazeroso

também. Preciso superar tanto esses problemas, ter forças para


seguir em frente.

Rodopio, fecho os olhos, lanço-me ao ar, sinto a melodia em

mim, correndo por meu sangue, me tomando, possuindo-me,


transformando-se em algo bem maior.

Quando por fim o som termina, paraliso em minha posição

final, arfando, erguendo as pálpebras vagarosamente e assustando-


me quando vejo no reflexo do largo espelho a figura altiva de
Alejandro Javier as minhas costas, em seu luxuoso terno preto que

o deixa poderoso, combinando com seu semblante enigmático.

Viro-me em um quase sobressalto, o fitando sem entender


como entrou aqui sem que eu o notasse. Os seus olhos me

consomem de uma maneira inexplicável, sua beleza máscula me


ataca com força bruta. Ele tem cabelos negros e curtos penteados
para trás, cujas laterais são brevemente respingadas de cinza,

dando-lhe um charme a mais.

Sua barba é cerrada, escura, a boca rosada e atraente, os


olhos esverdeados claros, o nariz reto e perfeito, o queixo quadrado,

viril. Além de tudo, é alto, uns trinta centímetros a mais que eu.
Suspiro encantada, vendo nele um sinal de perigo e magnetismo
intenso. Espero-o dizer algo, mas não acontece.

— Senhor Alejandro... co...como entrou aqui? — Minha voz sai


um pouco fraquejada. Pisco três vezes seguidas, lembrando de
retirar os fones. Ele continua como uma estátua, sem se mover e

sem se expressar.

Olho pela parede de vidro, tentando enxergar alguém lá fora,


mas o silêncio é absoluto, denunciando que provavelmente estamos

apenas nós dois neste andar.

— A... Alisa não veio hoje, se estiver a procurando — engulo


em seco, estou ficando nervosa outra vez, Alejandro me intimida e

me atrai —, aconteceu alguma coisa com ela?

O homem lindo balança a cabeça em negativo lentamente,


finalmente reagindo, isso me alivia um pouco.
— Não? Que bom, não é? — sorrio amarelo. Ele assente,
ainda calado, é tão intimidador meu Deus. Fico pensando no que
dizer e fazer —, hum... quero aproveitar que está aqui, para me

desculpar pelo o outro dia, eu realmente não quis insinuar que o


senhor era um péssimo pai. Não, não, de jeito nenhum. Com
certeza deve ser um pai... exemplar, que... como qualquer outro,

chega atrasado... de vez em quando ou... quase todos os dias ou


não.

O semblante dele expressa uma leve harmonia, como quem

está se divertindo, porém, os seus lábios não se esticam em um


sorriso, permanecem fechados. Olho para ele... olho para o nada...
em volta... para ele outra vez. Sorrio, completamente sem jeito, sem

saber como agir.

— Entendo se não quiser falar comigo, superintendo mesmo,


de verdade. Sou uma pessoa que já fala por dois, então...; além

disso o ofendi de novo e... eu... estou me sentindo um pouco


perdida, nervosa, e quando fico assim falo pelos cotovelos. Por
favor releve tudo que está ouvindo aqui...

O homem caminha em minha direção, aproximando-se e


imediatamente fazendo-me perder a voz. Por algum motivo dou
passos para trás até me ver sem saída ao ficar contra o espelho e
ele que está tão próximo, que nossos corpos estão prestes a se
tocarem. Seu calor transpassa as roupas me pegando, seu perfume

me inebria, o olhar me devora e hipnotiza.

Sua mão se ergue, o indicador encosta em meus lábios com


delicadeza, pedindo silêncio e, sem saber a razão, o acato não

raciocinando direito. Sua palma aquecida resvala para a minha


bochecha após longos segundos acariciando-me de tal maneira que
fecho as pálpebras, o sentindo apenas. É bom.

Seu toque gostoso segue para minha garganta, o polegar

escorregando para meu lábio inferior, esfregando a carne. Meu


corpo inteiro estremece e pega fogo, não compreendo como posso

ter permitido que um desconhecido tenha chegado a tanto. Abro os


olhos, encontrando os dele que me contemplam e que me comem.

Volto a mim e afasto-me em alerta, fugindo do transe, da sua


forte sedução.

— O que você quer? — indago firme, disposta agora a mantê-


lo bem longe de mim.

O homem me fita por mais alguns segundos em silêncio, retira

o iphone doze do bolso e digita algo. Imediatamente recebo um


alerta de nova mensagem no meu, mas não a abro, fico perdendo
alguns segundos confusa, tentando afastar a hipótese que invade a

minha mente.

Ele enviou uma mensagem para mim? Como conseguiu o meu


número? Não, não pode ser possível. Miro-o mais uma vez, sua
expressão facial sugere que eu leia a mensagem, e assim faço.

Ergo as sobrancelhas, boquiaberta ao ver a frase que diz:

Eu quero você
ALEJANDRO JAVIER

A porta se abre lentamente na escuridão profunda, o rangido


baixo, medonho e soturno avisa que alguém está chegando. A luz

vinda de fora ilumina o quarto, fazendo-me abrir os olhos, não sei ao


certo se estou acordando ou se fingia dormir. Vejo meu irmão
desacordado na cama de solteiro ao lado, está tudo um pouco

confuso, não consigo enxergar seu rosto ou o do homem grande

que ocupa todo o espaço do vão da entrada.

As imagens se confundem entre fumaça e fogo. Sinto aflição,

dor, lágrimas molhando a minha face, enquanto gritos de horror e


sangue tomam conta de tudo.

“Shhh... Faça silêncio... fique quietinho. Se falar eu te mato”


Os murmúrios frios de uma voz grossa e atormentadora me

fazem acordar abominado, sentando na cama em um movimento


reflexo, ofegante, suando frio e tremendo. Logo percebo que outra

vez fui vítima de mais um pesadelo maldito!

Acendo o abajur, trazendo um pouco de luz ao breu no qual

me encontro. Abro a gaveta do criado-mudo com pressa,

procurando por meus ansiolíticos, mas me desespero ao encontrar o


frasco vazio. Levanto, seguindo depressa para o banheiro, abrindo o

armário na parede, buscando os remédios, porém percebo que

consumi todos.

Merda!

Miro minha mão tremendo, vejo meu semblante suado no


espelho, estou horrível. Penso rápido e lembro que há outra coisa

que me alivia, o banho. Tiro a bermuda preta e curta, a única peça

que uso para dormir, ficando completamente nu, introduzindo-me

debaixo do chuveiro.

Ajusto a temperatura, aciono os jatos fortes, potentes e frios

que me molham intensamente, trazendo-me um pouco de calmaria.

Encosto a testa no antebraço apoiado na parede, tentando controlar


a respiração, de olhos fechados, levando alguns longos minutos
para voltar ao normal.

Durante este tempo, por alguma razão ilógica, Mina vem à

minha mente, dançando... rodopiando naquela sala, em mais

perfeita sintonia com o Lago dos Cisnes. Seu corpo moreno

perfeitamente moldado naquele collant branco, exalando

sensualidade, me hipnotizando, chamando-me, fazendo-me pensar


nos pecados mais ferventes que poderíamos praticar juntos.

Ergo as pálpebras, balançando a cabeça, afugentando tais

pensamentos. Nunca me atraí por mulheres tão jovens e acho que

jamais fui para a cama com uma que aparentasse ter tão pouca

idade como ela. Sou um homem vivido, experiente sexualmente, já


tive muitas aventuras sexuais que ultrapassam o senso comum,

exceto com aquelas que têm idade para ser minhas filhas.

É claro que Mina não é mais aquela menina que quase

atropelei no trânsito, ela se desenvolveu fisicamente, mesmo tendo-

a visto apenas ontem após dois anos, ela está de maneira incógnita,

mexendo com a minha libido. A prova disso está aqui longa, grossa
e potentemente endurecida bem no meio das minhas pernas.
Isso não pode continuar, deve ser apenas tesão reprimido,

realmente já faz alguns dias que não busco por sexo, algo que
também alivia a dor que os pesadelos me causam.

Retorno para o quarto decidido e sabendo o que devo fazer.


Sigo para o closet espaçoso e requintado, em tons escuros, assim

como é o cômodo inteiro com a mesma austeridade do meu


escritório na Javier. Visto um terno italiano, preto, deixo o blazer

aberto, dando visão para a camisa branca de algodão egípcio sem


gravata. Passo um gel nos cabelos que os deixa fixos, uso um

perfume. Estou pronto.

Conduzo-me para o quarto da minha princesa, abro a porta

devagar, ela está dormindo feito um anjo. Assim, sabendo que ela
está bem, sinto-me mais confiante para sair, ciente de que se por

um acaso houver qualquer problema, Isabel, a governanta que mora


conosco irá me ligar. Além dela, tenho mais dois ajudantes: Diogo, o

motorista, e Rayka, a babá.

Sigo para a garagem onde as seis vagas para os carros estão

todas ocupadas, moro na cobertura de um prédio de trinta e oito


andares. Escolho qual dentre os meus superesportivos irei usar

agora, acabo optando pelo Porsche 718 Cayman preto. Quase


todos os meus pertences são pretos, essa é a minha cor predileta,
pois me representa bem, é intensa, forte, fria e ao mesmo tempo...

neutra.

Desço no elevador para carros, chegando ao estacionamento


no subsolo, de onde tenho acesso à rua. Levo alguns minutos até

chegar a um prédio de apenas dois andares e aparentemente vazio.


O imóvel é discreto, facilmente despercebido por quem dirige por
essa região de Madri a essa hora da madrugada.

Sigo por um túnel e entro em uma das várias garagens, no

instante em que o portão se ergue e fecha automaticamente depois


que estou dentro.

Saio do automóvel após retirar o blazer, tranco-o pelo


comando da chave, seguindo até uma caixa de vidro sobre um

suporte que guarda uma máscara de gala, sua cor é um misto de


ferro e cobre, com alguns detalhes da cultura egípcia discretamente

insculpidos, cobrindo meu semblante do nariz para cima no


momento em que a ponho no rosto ajustando o elástico preto atrás

da cabeça.

Gosto de tudo relacionado à mitologia egípcia, tanto que

coleciono artefatos e obras de arte da área, originais ou réplicas. É o


meu hobby e fascínio, algo construído ao longo do tempo, advindo
das histórias que li e filmes que assisti durante a adolescência.

Aproximo-me da parede, pressionando meu polegar no leitor,


que rapidamente reconhece a minha digital e me permite entrar num

corredor que me leva a um hall onde dois seguranças mascarados


guardam as portas de entrada. Eles as abrem, me dando acesso a
um enorme salão repleto de homens e mulheres mascarados, todos

envoltos da áurea sexual que permeia o ambiente.

Estou no El Baco, um clube privado para aqueles que querem


se divertir sem ter sua imagem exposta. Aqui tem de tudo, poucas

regras e muitas permissões, um ambiente para fazer sexo apenas,


sem conversas, sem perca de tempo, indo direto ao ponto com o
único intuito de satisfazer a carne e o prazer livre de qualquer pudor.

Diferentemente da maioria dos locais desse tipo, a arquitetura

é luxuosa, lembrando um pouco as construções romanas. Há


paredes, colunas e cortinas em tons claros, suavizando a tensão

sexual que corre entre aqueles que estão circulando de lá para cá


apenas em robes de seda abertos, seminus. Há alguns como eu,
vestidos, outros completamente nus ou com poucas peças de roupa.
A troca de olhares é intensa, várias mulheres me comem com
os globos, a única expressão viva além das faces ocultas. Passo por
algumas salas, assistindo a casais, trios ou até grupos fazendo

sexo. Paro um instante no corredor das cabines-aquário, onde de


um lado a outro podemos assistir homens e mulheres fodendo

através das paredes de vidro.

Às vezes gosto de ser voyeur, também é excitante. Ponho as


mãos nos bolsos da calça, assistindo uma gostosa cavalgar num

cara sobre a cama de maneira fantástica. Ela se entrega até gozar


poderosamente. Fico de pau extremamente duro só de assistir.

Passo o olhar pelos demais observadores, procurando uma

presa, até que encontro uma loira de cabelos ondulados e curtos,


usando salto alto e vestido paetê dourado que deixa as belíssimas

pernas de fora, a máscara na mesma cor, com detalhes

transparentes, denunciando que gosta de brincar com o perigo.

Nos encaramos por tempo suficiente para sabermos que

queremos jogar um com o outro. Ela me dá as costas após me

chamar com o rosto, então eu a sigo cheio de tesão. Todo esse


jogo... esse lugar, me enche da mais pura luxúria.
A mulher caminha depressa, entrando em outro setor, um

labirinto, onde há penumbra por toda parte e as paredes são de


mármore negro. Ela sorri, sensual, fugindo de mim, e eu como um

leão voraz a caço por entre os corredores, ouvindo uma música

excitante tocar pelo ambiente.

Encontro-a encostada em uma parede, onde mãos masculinas

saem por buracos laterais e lhe apalpam os seios por cima do

tecido. Ela me sorri outra vez, agora safada, eu me aproximo e a


beijo, puxando-a para longe, para um quarto privado, onde a jogo

contra o aparador, ergo seu vestido, espalmo sua bunda e abaixo

sua calcinha. Tudo em milésimos de segundos.

Ponho a mão na água dentro de um suporte ao lado e lavo a

boceta dela com cuidado, arrancando-lhe gemidos. Visto um

preservativo que retiro da carteira e penetro a mulher com força


total, segurando-a firmemente pelos quadris, enfiando-me fundo em

suas entranhas, iniciando um sexo gostoso e um tanto quanto

desenfreado.

É assim que acontece, rápido, prático e sem sentimentos a

não ser os de mais pura lascívia.


Durante as investidas quentes e molhadas, sem querer

recordo da bailarina novamente, sua pureza e sensualidade natural

ao dançar invadindo os meus pensamentos insistentemente, me


pegando de jeito. A princípio, tento focar na loira que estou

comendo, mas a imagem de Mina é mais forte e me domina ao

ponto de me levar a um orgasmo arrasador. A mascarada vem

comigo e chega a gritar de prazer.

Droga! Por quê? Preciso esquecê-la!

Dois dias se passam, e por mais que encha minha cabeça com

o trabalho, hora ou outra, volto a recordar da bailarina. De vez em


quando pego-me contemplando sua sapatilha, tentando entender o

que ela fez comigo para me perturbar dessa maneira.

De alguma forma, Mina Pacheco conseguiu despertar o meu


interesse, chamar a minha atenção. Talvez tenha sido seu corpo

perfeito ou sua petulância em disparar sua opinião a meu respeito

sem mal me conhecer. Talvez tenha sido o modo carinhoso como


tratou a minha filha, ou tudo isso junto.
Saio da Javier para buscar a Alisa no balé, porque ela me

pediu isso outra vez, mas a fim de evitar ver Mina, espero por minha
filha no carro, porém é inútil, pois avisto-a se despedindo da jovem

professora na porta da escola. As duas se abraçam como fizeram

na primeira ocasião, parecendo ser melhores amigas.

Oculto dentro do automóvel, consigo ver o sorriso da bailarina

ainda mais iluminado, descontraído e sem tensão alguma por estar

em minha presença. Pergunto-me se naquele dia ela lembrou quem


sou e por isso ficou nervosa.

Linda... Mina é linda e radiante, um anjo perfeito e


naturalmente sedutor. Volto para casa ouvindo a Alisa falar dela,

dizer o quanto é especial e engraçada, aumentando o conteúdo a

seu respeito que já tenho armazenado no cérebro.

À noite na cama, estudo a situação, chegando à conclusão de

que não passa de uma súbita atração, algo forte e que precisa ser

devidamente saciado para que pare e tenha um fim real.

Na manhã seguinte, digo para a babá deixar a Alisa na casa

dos meus pais após o colégio, pois ela visita os avós uma ou duas

vezes por semana. Assim, sigo para o trabalho planejando o que irei
fazer no fim do expediente, decidindo pelo caminho mais rápido e
fácil em relação à bailarina, algo que costumo fazer quando sinto

interesse em uma mulher comum.

No fim da tarde, peço para Diogo me levar para a escola de


balé, espero um pouco no carro, em frente ao prédio, notando várias

alunas e professores saírem, exceto Mina. Pergunto-me se ela não

veio trabalhar e ordeno Diogo descobrir. Ele retorna do prédio


afirmando que a bailarina ainda está lá dentro e de quebra, me

consegue o número de telefone dela.

Diogo não é apenas meu funcionário, como também um amigo


construído ao longo desses dois anos que trabalha comigo. Assim

que decidi sair da mansão dos Javier e procurar um lar só meu e de

Alisa, tive que selecionar pessoas competentes e confiáveis para


trabalharem comigo.

A cada dia percebo que fiz a escolha certa, tanto em Isabel, a

governanta, como em Diogo e Rayka, que formam um time de


ajudantes bem elaborado.

Diogo é discreto, humilde, inteligente e somente fala quando


deve, um homem apenas alguns anos mais velho que eu, nos

entendemos muito bem. Ele não contraria as minhas ordens e nem

procura saber os motivos. É claro, que em algum momento


compreende algo, mas age de modo estritamente profissional. No

fim, os meus empregados só sabem aquilo que permito que saibam.

Deixo-o no carro e entro na Nina Speitzer, subo pelas escadas

encontrando Mina dançando, dessa vez com mais entrega, mais

força e intensidade. Se eu tinha alguma dúvida do que estou prestes


a fazer, não tenho mais. Quero-a, e ela será minha.

Entro na sala sem ser percebido, aproximo-me da moça


silenciosamente, cada vez mais maravilhado e excitado com sua

performance. Sua dança... seu corpo em movimento me encanta e

me atrai simultaneamente. Ela está de olhos fechados, envolta na

canção que ouve através dos fones de ouvido, é como se estivesse


no palco.

Quando finalmente termina com os movimentos, Mina me vê


através do reflexo do espelho. Divirto-me com seu nervosismo,

acho-a uma graça, perco o controle por um instante partindo para

cima dela, notando o quanto é escorregadia, até que deixo bem


claro o que quero aqui: ela.

Agora estou no modo lobo, um macho alfa pronto para atacar.

De olhos fixos na imagem estonteante da jovem bailarina à minha


frente, de lábios entreabertos, atraentes e surpresos com a minha
extrema sinceridade.

Não sou homem de reter os meus desejos, quando eles


acendem é preciso saciá-los.

Será fácil, ela não me parece do tipo difícil, nem que tente,
conseguirá disfarçar que também está atraída, que também notou

essa energia que corre entre a gente. Estou disposto a ver onde

podemos chegar, a cama é o meu objetivo.

— Você... quer... a mim? — Ela indaga, de olhos

esbugalhados, apontando para si mesma. É engraçada.

Respondo positivamente com o semblante um pouco safado,

deixando-a pasma e por longos segundos sem palavras.

— Eu... não sei o que dizer; nossa, você é direto, né! — sorri
sem graça, procurando as palavras, um pouco agoniada enquanto a

observo, imóvel — Sem papas na língua... quer dizer, parece que há


papas na sua língua. Me diz uma coisa, o senhor não fala? — Suas
sobrancelhas se estreitam, finalmente parece ter chegado à uma

conclusão óbvia.

Suspiro, tomando o celular outra vez e enviando uma nova


mensagem a ela:
Não. Eu não falo

Novamente se surpreende e me fita por alguns segundos,


silenciosamente curiosa, analisando se faz a próxima pergunta. Mas
adianto-me e envio-lhe uma nova mensagem:

Não. Eu não sou mudo. Mas não quero conversar sobre


isso agora.

— Tudo bem... então você não fala, mas não é mudo, porém

não quer conversar sobre isso agora — repete todo o meu texto.
Assinto —, isso é... muito novo para mim e confesso que agora
estou muuuito curiosa para saber por que não fala. Mas tudo bem,

respeito a sua decisão — puxa o máximo possível de ar para os


pulmões e continua —, sobre o que disse antes... acho que não
entendi muito bem — há um certo medo em sua voz, engole em

seco.

A miro todo sugestivo, intencional, perigoso, é claro que ela


sabe o que quero. Envio-lhe um documento em PDF seguido da

seguinte mensagem:

Preciso que leia este documento com calma, é uma


proposta. Espero por sua resposta até sexta, nenhum dia a

mais.
Vejo os seus olhos esbugalharem novamente ao ler cada
palavra. Ela me dá as costas, caminhando lentamente, tentando
entender ou talvez pensando no que dizer em seguida. Contudo,

aproveito sua distração para sair tão silencioso quanto entrei, sem
ser notado, não lhe dando oportunidade para estendermos este

diálogo. O arquivo informa tudo o que precisa saber, então ela


precisa de tempo para pensar.

Retorno para o carro, ordenando que Diogo me leve à mansão


dos meus pais para buscar a Alisa. Estou confiante, acho que Mina

não irá recusar, nunca uma convidada recusou.

Vinte minutos depois, estamos passando pelos portões da


propriedade, levando quase mais um minuto até finalmente

estacionarmos na frente do imóvel de tijolos aparentes em tons de


cinza.

A casa, o jardim que a rodeia e a piscina, tudo está iluminado,

dando um charme a mais agora que o céu já está escuro. Assim que
desço do carro, miro outro automóvel mais à frente que é
desconhecido. Deve ser de algum amigo de papai, penso.

Entro no imóvel luxuoso, caminho um pouco estranhando a


calmaria. À primeira vista não vejo ninguém. Onde estão todos?
Observo a sala de estar onde tantas vezes estive, participei de
reuniões familiares e muitas outras coisas a mais. Por incrível que

pareça, não sinto saudades de morar aqui, o local onde obviamente


tive muitos momentos alegres, mas outros tristes também.

Os meus pais acolheram a mim e à Luna com todo carinho

possível, é como se tivessem nos tirado do fogo e nos erguido até o


céu. Em poucos dias, tivemos o que não tínhamos em anos: amor e
cuidado.

No princípio, Mateo e Esteban não nos viam como iguais,


apesar de possuirmos o mesmo sangue. Enquanto éramos
retraídos, sofridos, cabisbaixos e medrosos, eles eram espontâneos,

autênticos e radiantes. Se por um lado éramos deslocados e fodidos


mentalmente, eles eram confiantes e sem traumas.

Luna foi a primeira a ser aceita por eles, talvez por ser a única

menina, a menor e mais delicada, a que falava, já que eu era


hostilizado por ser “mudo”. Quando todos descobriram que eu sofria
de mutismo seletivo, Mateo gradativamente passou a me aceitar e

me entender, porém Esteban continuou distante.

Não crescemos como inimigos, entretanto também nunca


fomos grandes amigos, além disso, éramos opostos. Ele sempre foi
extrovertido, tagarela de humor ácido, galanteador e mulherengo,

enquanto eu era o estranho, sombrio e calado, demorei a me sentir


confiante o suficiente para abordar e me relacionar com o sexo
oposto.

Por outro lado, Mateo realmente fez jus ao papel de mais


velho, foi paciente, amigo e conselheiro, o apaziguador de todos os
conflitos que aconteciam dentro de casa. Teve várias namoradas,

sempre muito procurado, assim como Esteban, porém mais discreto.


Não sei muito da vida atual dele agora, nos falamos muito pouco. O
que sei é que é um professor exemplar com um currículo impecável.

Já Esteban, desde o nosso último desentendimento há dois


anos, sumiu no mundo. Ele não apenas não concordou em ser meu
vice-presidente na empresa, como também não quis ficar para me

ver ocupar o cargo de CEO. Nunca sabemos a sua localização ao


certo, é proposital, ele só liga para mamãe e Mateo apenas, para
avisar que está bem e vivo. Não diz se mora em outra cidade e nem

se vai voltar algum dia.

Nunca pensei que reagiria assim. Esta é uma ferida que jamais
terá cura. Foi por isso que decidi mudar de residência, eu e a Alisa

precisávamos de um ambiente que nos trouxesse paz, saúde mental


e menos pressão. Foi a melhor coisa que fiz.
Deixo as lembranças de lado, encontrando com Luna que
desce as escadas. Minha irmã é linda e lembra muito a nossa mãe,
algo que sempre afaga e ao mesmo tempo esmaga o meu coração.

Ela tem cabelos negros curtos, de pontas repicadas, olhos


profundamente verdes como os meus, e parece mais jovem do que
realmente é.

De todos os filhos, Luna foi a única que não conseguiu


construir algo sólido, nisso somos diferentes, pois apesar de
possuirmos traumas parecidos, eu consegui superar quase todos

eles, mas ela, mesmo que tente negar, ainda está estagnada no
tempo. Nunca se formou ou conseguiu um emprego, nem mesmo
quis tentar uma carreira na Javier.

Ela não é uma folgada ou vagabunda, apenas esconde dos


outros, mas não de mim o quanto é fodida psicologicamente, tendo
como consequência o vazio. Durante a maior parte da nossa vida,

conversei várias vezes com ela, apenas com ela nesta casa, quando
estávamos a sós, pois me sentia confortável.

Porém, nos afastamos conforme o tempo foi passando, eu com

os meus demônios, ela com os dela, pouco tempo para prestarmos


atenção na vida um do outro. Éramos amigos, algumas vezes
confidentes, mas em algum momento este elo se quebrou, talvez
dos dois lados.

Algo estranho ocorre, minha irmã instantaneamente fecha o

semblante ao me ver.

— Alejandro... o que está fazendo aqui? — indaga surpresa. A


miro contrariado, que pergunta mais esquisita. Digo em gestos que

vim buscar minha filha — A Alisa? Mas eu disse a você que não
precisava, que iria levá-la para casa.

Respondo que mudei de ideia e resolvi eu mesmo vir buscá-la,

até porque tenho que conversar com nosso pai. Pergunto por ela.

— Ela... está lá em cima. Vamos, vou acompanhá-lo —


conheço minha irmã, algo está acontecendo. Fico parado, tentando

decifrá-la —, ora, pare de bobagem, vamos!

Ao dar o primeiro passo, escuto risos vindos do escritório,


reconhecendo as vozes da Alisa e também do meu pai. Fito Luna
seriamente, indagando implicitamente qual é a dela. Dirijo-me para o

escritório, mas ela corre e se interpõe na minha frente.

— Alejandro... — ergo as sobrancelhas surpreso e ao mesmo


tempo preocupado. Mas o que está acontecendo? A ultrapasso,

seguindo em frente —, Alejandro, espere!


Abro a porta, descobrindo uma reunião secreta: os meus pais
com os pais de Maite, a mãe de Alisa, que por sinal está sentada no

colo do avô materno. Todos se calam ao me fitarem, logo um clima


desagradável se instala, pois nunca me dei bem com estes

forasteiros.
ALEJANDRO JAVIER

Fuzilo os meus pais e o senhor e a senhora Pavón, volto-me


para a Alisa, faço um gesto com a cabeça, ordenando que ela venha

até mim e sou atendido em milésimos de segundos. A garota fica ao


meu lado enquanto seguro sua mão.

— Filho... — mamãe começa a falar, notando minha raiva

espalhando-se por cada poro do meu corpo —, eles apenas vieram

ver a neta — Ela faz uma longa pausa, sabe que não me convenceu
—, eles têm direito.

Suspiro em deboche. É inacreditável, eles sabem tanto quanto

eu, que os pais de Maite não passam de interesseiros, que mal se


importaram com a Alisa por boa parte da vida e se agora estão aqui,

por um bom e terno motivo é que não deve ser.

Meu pai se remexe desconfortável na cadeira.

— Luna, filha, leve a Alisa daqui, por favor — pede.

— Vem com a tia, meu amor — Luna segura a mão livre dela,

mas a Alisa não se move.

— Posso ir, papai? — indaga, olhando-me tristonha, pois

entende tudo o que está acontecendo.

— Mas é claro que você pode vir comigo, meu amor. Não é,

Alejandro? — Luna ergue uma sobrancelha, encarando-me, sei que

também está participando do complô, mas não tenho outra


alternativa agora. Assim, deixo que a Alisa vá com ela, as duas

somem de vista.

Fecho a porta as minhas costas. Olhando para todos,

esperando uma explicação.

— Olá, Alejandro, tudo bem? — Eduardo Pavón se levanta,

estendendo-me a mão que ignoro, o deixando constrangido.

— Alejandro — Meu pai me repreende.

Pergunto em gestos para ele, há quanto tempo esses


encontros estão acontecendo. O senhor suspira e responde:
— Esta é a segunda vez, e antes que se irrite, saiba que eles
não são como Maite, eles se importam com a neta.

— Alejandro, por favor, já lhe dissemos que não podemos ser

culpados pelo que a nossa filha fez — fala dona Rúbia —, nós

amamos a Alisa.

Suspiro irritado, afirmando em sinais o que minha mãe passa a


traduzir depois, quando nota que o casal busca por compreensão:

— Ele disse que criou a Alisa sozinho, que ela lhe pertence e

que não entende o motivo de vocês se importarem com ela só

agora, depois de tanto tempo — Dona Alba cora de vergonha

enquanto me interpreta.

— Sempre nos importamos, e você sabe muito bem disso —

responde Eduardo, a voz um pouco mais severa, enfrentando-me.

Ele pensa que me convence com este teatro — Você, nos afastou o

máximo possível da Alisa depois que Maite foi embora, nos culpou

pela irresponsabilidade dela — acusa-me.

— Nunca os impedi de ver a menina e vocês jamais estiveram


próximos para que se afastassem. Nem mesmo queriam... — minha

mãe hesita —, que a Alisa nascesse!


— Como ousa nos acusar dessa maneira? — indaga dona

Rúbia, fingindo-se horrorizada. Até que eles são bons em


interpretação.

— Não levaremos em consideração essa acusação infame que


acabou de fazer, Alejandro! — afirma Eduardo, respirando fundo —,

não queremos discutir sobre isso, queremos apenas chegar a um


acordo amigável para que possamos ter um contato saudável com a

nossa neta, e você não pode nos impedir.

— Eduardo — Rúbia tenta suavizar a situação, com medo da


minha reação.

Um acordo? Já entendi tudo. Balanço a cabeça negativamente


para ambos. Jamais.

— Alejandro... — meu pai me chama, mas não dou ouvidos.

Viro-me, abrindo a porta —, Alejandro Javier, estou falando com


você! Sou seu pai, não me dê as costas! — exclama. Fecho os
olhos, controlando o nervosismo, a ansiedade. Volto-me para ele,

com ódio —, temos que resolver isso agora, filho... pelo amor de
Deus — implora.

Nego outra vez, eles ficam desapontados, mas não me

importo, só eu realmente sei o que passei e enfrentei para criar a


pequena sozinho depois de tanta tempestade.

— Quero pedir desculpas a você Miguel, e a você Alba, mas

não posso mais me calar. Por anos ficamos ausentes, porque não
queríamos conflitos, esperamos a poeira baixar, achávamos que

Alejandro só precisava de um tempo, mas pelo visto, todo tempo


para ele é pouco — fala Eduardo, encarando-me, firme e sério tanto
quanto eu —, mas quero dizer a você, que se não entrarmos em um

acordo, iremos à justiça em busca do nosso direito como avós.

As suas palavras são como uma nova e muito mais perigosa


injeção de ódio. Como ele ousa me dizer algo do tipo? Alisa é minha

e ninguém irá tomá-la! O destruo no olhar, a ele e à esposa, antes


de deixar o escritório batendo a porta com uma força abominável.

Caminho feroz, procurando por minha filha, a encontro


conversando com Luna na sala de estar a qual ignoro

completamente, também estou chateado com ela e a mesma já


sabe. Pego minha pequena pela mão e continuo andando para fora

da casa.

— Alejandro! Alejandro! — chama minha irmã nos seguindo.

Ela me puxa pelo ombro, obrigando-me a parar e fitá-la


terrivelmente, tão pequena diante de mim — Nós apenas estávamos
tentando evitar que eles procurassem a justiça! Sabemos que não
prestam! Será que não entende a gravidade da situação?!

Faço um sinal de basta! Não quero conversar com mais


ninguém!

— Seu cabeça-dura! Você é um idiota orgulhoso! — exclama,

enquanto saio do imóvel e entro no carro com minha filha.

Sigo para casa, lembrando que foi devido a esse tipo de

instabilidade na família que optei por um novo lar. Eles não deviam
fazer isso sem o meu consentimento! Como sempre tentam me

poupar, resolver as coisas por mim. Por mais que eu tenha provado
inúmeras vezes que a ausência da minha maldita voz não me
impediu de conquistar as coisas, ainda estão acostumados a falar

em meu nome sem o meu aval!

Foram esses tipos de comportamentos, intencionais ou não,


que por muitas vezes fizeram e ainda me fazem travar e ficar arredio

quanto a me comunicar com eles. É toda essa merda na minha


cabeça, que de alguma maneira acabou fazendo com que me
acostumasse com o silêncio e de certa forma, esconder-me das

outras pessoas atrás dele.


O silêncio é o meu escudo e ao mesmo tempo a minha
vulnerabilidade. É a minha arma e simultaneamente o que me ataca.
É o que amo e concomitantemente odeio.

Mais tarde, já em casa, estou deitado na cama com a Alisa, em

seu quarto de princesa, ela já está pronta para dormir.

— O senhor ficou chateado comigo? — pergunta receosa,


temendo que eu esteja. Com os seus olhinhos azuis tristonhos.

— Não — sussurro. Com ela me sinto totalmente à vontade

para falar. Além disso, agora estou bem mais calmo, porém ainda

agoniado por dentro, contudo, tento disfarçar em sua frente

enquanto acaricio seu rosto.

— Desculpa não ter dito nada, o vovô Miguel pediu segredo,

ele disse que lhe contaria no momento certo.

Fecho os olhos por um instante, sentindo o peso da decepção,

os meus pais não podiam ter feito isso comigo.

— Nunca mais esconda nada de mim, tá bom? Promete?

— Prometo — afirma, abraçando-me. Fecho os olhos ao sentir


os seus bracinhos em volta do meu pescoço, aperto ela em meu

colo —, papai, o senhor não quer mais que eu fale com o vovô

Eduardo e a vovó Rúbia?


Levo um bom tempo para respondê-la, sentindo-me o vilão da

história.

— Não é nada disso, eu sou seu pai e deveria ter sido

comunicado antes de qualquer coisa — suspiro abatido —, só tenho


medo de te perder, filha.

— O senhor nunca vai me perder, papai — declara bocejando.

Espero até que durma.

Ela é minha filha. Só minha.

Vou para o meu quarto, tomo um banho refrescante para

acalmar e ao sair me enxugando na toalha, ouço meu celular apitar

com uma mensagem de Mina. Mas já? Sabia que seria fácil, mas

não tão rápido. Abro o texto e me surpreendo desagradavelmente


quando leio:

Boa noite, senhor Alejandro. Não estou interessada em


sua proposta. Obrigada.

Estreito as sobrancelhas, desagradado. Não está interessada?

Como assim? Fico um pouco pasmo, pois isso jamais aconteceu


antes. Jamais. Após longos segundos processando sua resposta,

replico:

Tem certeza? Posso aumentar o valor.


Ela visualiza no mesmo instante e retruca:

A resposta é NÃO, agora me deixe em paz!

Nossa, ela negou em caixa alta. Fico chocado, realmente não

esperava por isso. Mas não nasci para perder:

A proposta continuará de pé até sexta. Boa noite.

Não recebo mais resposta, isso me deixa inseguro.

MINA PACHECO

Estou roendo as unhas, nervosa, observando minha amiga e

vizinha, Pepita ler o contrato que o senhor Alejandro me enviou no

celular ontem. Ela tem a minha idade, é magra, ruiva e cheia de


sardinhas no rosto. Está cursando Direito, por isso a chamei para

me ajudar nessa situação, dar algum conselho.

Estamos em meu quarto, de porta trancada, é de manhã e

minha mãe está na cozinha.

— E então? Ainda não acabou de ler? — estou à beira da


morte devido a sua demora.

A garota suspira, fitando-me, impressionada e responde:

— Sim, acabei.
— E o que achou?

— O que eu achei?

— Sim!

— Quer que eu seja sincera mesmo?

— Mas é claro!

Ela abre um sorriso de orelha a orelha, falando:

— Eu acho que esse tal de Alejandro quer o seu corpinho nu!


— declara, gargalhando em seguida.

— Ah, você acha isso engraçado?! — reclamo tomando o


aparelho de suas mãos, travando e pondo sobre o criado-mudo.

— Claro que não! Estou rindo de nervosa, é só isso! Você sabe


que dou risadas com tudo!

— Mas não é hora de rir, Pepita!

Minha amiga respira fundo, fechando os olhos por um instante.

— Tudo bem, vamos falar sério agora. Recapitulando... então

quer dizer que o homem que quase te atropelou há dois anos,


aquele com quem você sempre sonhou desde então e é

apaixonada, reapareceu agora, de repente, sendo ele


coincidentemente o pai de uma das suas alunas, eee... assim, do

nada te propõe uma noite com ele em troca de uma grana alta?

— Não sou apaixonada por ele! — Replico.

— Claro que é! O cara está em seus sonhos quase todas as

noites, a senhorita nunca o esqueceu! Isso se chama amor


platônico.

Reviro os olhos, a ignorando.

— Fora isso, o resto é tudo o que você disse mesmo — dou

uma pausa, pensando. Rio em deboche, desacreditada —, e eu

achando que o homem era um príncipe enquanto ele acha que sou
uma espécie de prostituta! — jogo-me sobre o travesseiro, ainda em

choque com essa situação.

— Então não vai aceitar a proposta dele? Não vai assinar o


contrato de favores sexuais com cláusula de silêncio e tudo, por

uma noite? — Pepita está curiosa.

— Enlouqueceu?! Claro que não! Desse jeito até me ofende!

Já até neguei, ontem mesmo, para aquele arrogante, prepotente!

Ele ainda insistiu, comentou sobre aumentar o valor e fez questão

de dar a última palavra, afirmando que continua esperando até sexta


— rio, incrédula só de lembrar —, quem ele pensa que é? E quem

acha que sou? Ridículo!

Minha amiga ri novamente.

— Nossa, esse Alejandro realmente se acha. Mas calma... só


perguntei porque sei que precisa muito do dinheiro agora mais do

que nunca.

Levanto, colocando a mão na testa, andando de um lado a

outro, um pouco aflita.

— Minha cabeça dói só de lembrar dos aluguéis atrasados —


digo —, o dinheiro que o senhor Alejandro está oferecendo acabaria

não só com essa dívida, mas com todas as outras. Só que eu não

sou uma mulher da vida, Pepita — sinto vontade de chorar —, não


foi assim que imaginei a minha primeira vez. Não foi assim que

imaginei que ele seria.

— Espere aí... como assim primeira... vez? — Ela me encara,


curiosa.

Fico balbuciando, sem falar algo lógico.

— Não... Mina, você ainda é virgem? — Ela está perplexa,

enquanto sinto-me corar de vergonha. Assinto com a cabeça —


Como nunca me contou isso, garota?! Sou sua melhor e única
amiga desde que veio morar neste bairro!

— Nunca contei porque não é da sua conta, horas! — cruzo os


braços, sentando-me longe dela.

— Mina... — sua voz é compassiva, ela me puxa e me abraça,


caímos sobre a cama, deitadas de frente uma para a outra —,

desculpa, eu não tinha nada que saber disso mesmo, e obrigada por

confiar em mim ao ponto de falar sobre o empresário pervertido.

— Não tenho mais ninguém com quem desabafar, só você —

tento segurar as lágrimas que vêm com força. Estou tão carente.

Pepita respira fundo, enxugando minha face.

— A vida não é nada como imaginamos. Ao contrário de você

eu já tive vários namorados, por isso ri desse contrato, nunca vi


nada tão formal quando se trata do assunto. Conheci algumas

meninas que fizeram esse tipo de coisa e... ocorreu tudo bem. Mas
você não é obrigada a fazer nada, seu corpo é seu, se esse cara
está pensando que é alguma puta, está muito enganado!

— Hoje é quarta-feira, ele me deu até sexta para responder e

seu Rodrigues até domingo para pagar a dívida — relembro.

— Quanto já conseguiu juntar?


— Nem metade. Já liguei para as minhas clientes, mas dona
Lorena infectou as mentes delas contra mim, todas negaram os
meus serviços de diarista. O pagamento do balé não sairá há tempo

e eles não fazem adiantamento, eu nem mesmo estou na posição


de pedir isso. De qualquer forma, o valor não completaria tudo o que
ainda falta.

— Dez mil Euros por uma noite. Nossa, esse homem deve ser
muito rico — ela pensa alto.

— Pepita... se estivesse em meu lugar você... aceitaria? —


pergunto, cheia de medos.

— Se eu estivesse na sua situação... sim — afirma, sincera,


então pensa um pouco, olhando-me nos olhos —, na verdade, não
vou ser hipócrita, eu aceitaria mesmo sem estar. Amiga, é muito

dinheiro e uma proposta dessas não acontece todos os dias. Além


disso, você não será uma garota de programa se aceitar, será só
uma vez e por uma necessidade real, por um bem maior que é a

sua moradia, somente para sair do sufoco.

Reflito um pouco. Pepita nota minha perturbação e prossegue:

— Mas nós somos pessoas diferentes. Se essa ideia não te

agrada, então não faça, porque se fizer sem vontade será muito
pior. É o seu corpo — ela pausa por um instante —, vamos tentar
juntar este dinheiro até domingo, eu vou te ajudar.

— Me ajudar? Como? — indago preocupada.

— Tenho alguma coisa na poupança que juntei com minha


mãe por anos para pagar a faculdade. Posso pegar o suficiente sem
ela perceber, será um empréstimo...

— Não, não posso aceitar. Não pode colocar os seus estudos


em risco. É o seu sonho!

— Só precisa me garantir que dará um jeito de me devolver


nos meses seguintes.

— Não tenho como te dar essa garantia, Pepita! — seguro em


suas mãos com força, mirando no fundo dos seus olhos — Vamos
esquecer este assunto, tenho fé que Deus me mostrará outro

caminho

Minha mãe bate na porta:

— Meninas, o almoço está pronto!

Trocamos olhares uma última vez antes de sairmos.


Acordo na quinta-feira feliz por conseguir uma diária. Corro

para faxinar a casa de uma família, depois vou para a escola de


balé. Na sexta passo o dia trabalhando, quase que de casa em
casa, procurando algum serviço, e encontro, mas nunca parece o

suficiente. Quando a tarde cai, consigo juntar o dinheiro de um


aluguel, preciso do resto até a data que foi imposta.

Ao me aproximar de casa ao pôr do sol, avisto uma

movimentação estranha, minha mãe discutindo com o senhor


Rodrigues na rua, para que todos vejam, ele está acompanhado de
dois homens. Entendo tudo e corro para tentar resolver o problema.

— O que houve? — tomo à frente da situação, interrompendo


ambos.

— Mudei de ideia, não posso aguardar até domingo, já tenho


uma família esperando para alugar a casa, quero que saiam hoje!

Estes homens irão ajudá-las na mudança por minha própria conta.

— Mudança? — fico agoniada — Mas senhor Rodrigues, nós


não temos para onde ir!!

— Isso não é problema meu! Não vou mais servir de otário


para vocês duas! Estão pensando o quê? Podem entrar! — ordena
para os caras que invadem o pequeno imóvel. É humilhante e

desesperador.

— Mas o senhor disse que tínhamos até domingo! —


argumento — Eu estou juntando o dinheiro!

— É, mas e depois? Não preciso ficar passando por isso.

Todos sabem que sua mãe é uma alcóolatra, continuará gastando o


meu aluguel em bebida desenfreadamente, não posso mais correr o

risco!

Respiro fundo, vendo os rapazes passarem com o sofá e


colocarem na calçada, ao relento! Rodrigues segue até eles para
lhes dar as instruções. Minha mãe começa a chorar se

desesperando.

— É tudo culpa minha! Tudo culpa minha! — Se lamenta


nervosa, parecendo uma criança.

— Mãe, calma, por favor! — peço com a voz embargada,


tentando não cair.

Olho ao redor, vendo que todos nos observam com pena

enquanto as nossas coisas são retiradas do imóvel. Estou sem luz,


sem caminho, sem saída. Tento procurar um ponto de equilíbrio em
meio ao caos, pensar sob pressão, fazendo surgir uma ideia do que
parece impossível.

— Mina, o que está acontecendo aqui?! — Pepita surge do

nada, com uma mochila nas costas, está chegando da faculdade. É


a minha salvação!

— É o senhor Rodrigues, ele enlouqueceu! Por favor, Pepita,


fique com a minha mãe, preciso conversar com ele.

— Tudo bem — ela passa a dar atenção à dona Inês enquanto


corro até o senhor Rodrigues, retirando o dinheiro que juntei da
minha bolsa de lado e mostrando a ele.

— O que é isso? — pergunta, de queixo erguido.

— O valor de um aluguel. Até domingo lhe dou o que falta e


mais dois de garantia dos meses seguintes — tento ser firme,

olhando-o nos olhos.

Ele ri, debochando.

— É mentira.

— Se até domingo eu não cumprir com esse acordo, o senhor

nunca mais ouvirá falar de mim e da minha mãe. Sumiremos da sua


vida e da sua casa e todos os seus problemas irão acabar.

Ele pensa, analisando-me, desconfiado.


— Por favor... por favor... — imploro, lágrimas descem
pesadas, doloridas.

O homem fecha os olhos, suspirando.

— Puta merda, eu sou mesmo um idiota! Deixe-me contar isso


aqui! — toma as notas das minhas mãos, bruto, contando cada uma
delas. Por fim me fita seriamente — Até domingo tudo o que me

prometeu, nada a menos.

— Tudo bem! — sorrio aliviada, enxugando o rosto.

— Rapazes, parem com isso, vamos embora! — chama os


homens, então eles se vão.

Suspiro, deixando as pálpebras se fecharem por um instante,


buscando algum conforto. Ouço o pranto da minha mãe, o que me
deixa em alerta novamente, a meta agora é acalmá-la, ela está

tendo uma crise com o acontecido. Seu corpo treme inteiro, sua
cabeça dói de preocupação e a culpa a domina totalmente.

Mais tarde, após lhe dar os seus remédios e ter a ajuda de

Pepita para pôr os móveis para dentro de casa novamente, a abraço


na porta antes que ela se vá.

— Tem certeza que não quer o empréstimo que te falei? —

indaga preocupada.
— De nós duas, basta eu com tantos problemas. Sua mãe iria
pirar se você mexesse nesse dinheiro. Eu jamais jogaria com o seu

futuro por conta do que estou vivendo. Vai dar tudo certo, não se
preocupe.

— Desculpa, tenho que ir — é visível a sua grande

preocupação comigo.

— Tudo bem. Muito obrigada — agradeço, vendo-a partir.

Respiro fundo, exausta, fechando a porta. Caminho até o

quarto da minha mãe, observando-a dormir calmamente. Entro no


meu quarto e sento na cama, reflexiva, sentindo a exaustão,
lembrando nada mais, nada menos de Alejandro Javier e sua

proposta indecente, mas que pode me salvar agora.

Pego o celular, um pouco nervosa, lendo várias vezes a


mensagem dele, o documento que me enviou. Meu coração bate

forte, digito e apago a resposta repetidamente, com medo, sem


vontade, mas cheia de necessidade. Fico só pesando as saídas que
tenho, qual o melhor caminho a seguir.

Ando pelo quarto pensando, mas infelizmente não há outro

jeito! Ele disse que eu só tinha até hoje para dar uma resposta e o
relógio já marca vinte horas. Pode até já ser tarde demais, o pai da
pequena Alisa não parece fazer o tipo paciente, assim como não

parece em nada o tipo de homem que imaginei que era. É um


escroto!

Engulo em seco, respiro fundo, tomando coragem, digito pela

enésima vez a mensagem e envio já um pouco arrependida:

Boa noite, senhor Alejandro. Eu aceito a sua proposta.


ALEJANDRO JAVIER

Estou em casa, no meu escritório, fazendo algumas pesquisas


no notebook quando meu celular recebe uma mensagem. Pego-o,

vendo o nome de Mina. Agora ela só pode ter aceitado, do contrário,


não me responderia mais. Abro o texto, ficando satisfeito por ter
aceitado minha proposta.

Todas aceitam, mas devo admitir que por um momento ela me

fez pensar que neste caso seria diferente, já que inicialmente


recusou, chegou a ser até um pouco petulante. O que a fez mudar

de opinião? Ou será que era só algum tipo de estratégia de


sedução? Seja o que for, me chamou a atenção. O prazo encerra

hoje e só agora a noite a bailarina está concordando. Incomum.


Atualmente prefiro apenas este tipo de relação, a carnal, pois a

única vez em que tentei estabelecer sentimento, fracassei


terrivelmente, acertando apenas em Alisa, a coisa que realmente

parece fazer sentido em toda minha vida.

Encarar a vida como ela é, de forma prática, sem me deixar

levar por frivolidades, apenas sanar as minhas necessidades

sexuais com mulheres que tenho certeza que não passarão de uma
noite, deixando desde o início bem claro quais são as minhas

intenções, evita qualquer tipo de sofrimento, qualquer risco de

chegar mais afundo, de machucar e ser machucado.

Não sou um homem romântico, evito o amor. A experiência

com Maite não foi nada agradável, por isso prefiro não repetir, não
passar novamente pela sensação de estar entregue a alguém que

não te corresponde, que não está disposta a trilhar o mesmo

caminho que você ou aceitar as responsabilidades.

Ao invés disso, aprendi que o dinheiro move o mundo, compra

tudo, me dá o poder de escolha sobre as pessoas que são


simplesmente iguais, que se rendem e se vendem, que não

conseguem cultivar sentimentos reais. Faço parte desse jogo, sigo o

ciclo sem me iludir. Nunca mais irei me iludir.


Além disso, só assim conseguirei matar esse desejo avulso
que tenho pela bailarina e poder então tirá-la da minha mente, fazer

com que deixe de invadir os meus pensamentos. Tenho certeza

absoluta de que quando a possuir por completo, então voltarei à

paz.

Ótimo. Amanhã às 23:00h. Mande seu endereço, meu

motorista irá pegá-la.

Envio para ela, recebendo a resposta logo depois:

O.K.

No outro dia, tenho horas agitadas de trabalho e até um pouco

estressantes, sendo atacado pela ansiedade em alguns momentos


como é de costume devido ao meu problema. É sempre assim, em

determinadas situações sinto-me pressionado de alguma maneira, a

ansiedade bate forte e a vontade de falar é grande, mas a voz

simplesmente não sai.

Às vezes, até penso que se eu insistisse muito, conseguiria

emitir a própria voz com todos e fazer cair por terra de uma só vez
os pequenos impasses do dia a dia, mas então desisto e volto a agir

como ajo há anos. Uma expressão... um pesadelo... uma situação


complicada que faça me sentir incapaz devido à falta de voz,

sempre me afunda no poço do silêncio.

Pela tarde, já estou bem mais calmo, analisando relatórios

sobre o Bolt quando Joaquin entra sem bater, com uma pasta nas
mãos.

— Boa tarde, Alejandro, trouxe uma surpresinha para você —

Ele diz, sorridente. O fito sarcasticamente, prevendo que não vou


gostar do que tem a dizer —, ah, não me olhe assim, é uma notícia

maravilhosa, encontrei um ótimo profissional para cuidar do seu


caso. Tudo o que precisa saber está bem aqui — ele pousa o
arquivo na minha frente, mas continuo não lhe dando atenção —, eu

disse que procuraria, não disse?

Faço sinal de pare, não quero que continue insistindo neste


assunto.

— Ah, por favor, prometa-me que vai dar uma olhada, sim?

Não lhe dou qualquer resposta, vendo o mau humor começar a


dominá-lo. Alguém bate na porta, a secretária entra com alguns

papéis.

— A papelada que pediu sobre a festa de aniversário da


empresa, chefe — diz ela. Indico para que deixe sobre a mesa,
então ela o faz —, mais alguma coisa? — Nego com a cabeça, e a

mulher se vai.

— Ah, quase esqueci que a Javier completará quarenta anos


de existência. Creio que será a melhor festa que já tivemos em

muito tempo, tendo em vista que estamos em nossa melhor fase


sob a sua administração — Joaquin senta-se à minha frente, parece
estar escolhendo as próximas palavras — Já sabe quem vai levar?

Miro ele contrariado. O que quer dizer?

— É claro que não aparecerá lá sozinho como nas outras

vezes, certo?

Mas que homem intrometido! Volto para a tela do notebook, o

ignorando. Joaquin me olha curioso, cogitando o que falar


novamente. Sinto vontade de lhe perguntar o que está acontecendo,

o motivo de seu comportamento estranho, mas a má lembrança da


última vez em que dirigi a palavra a ele vem com força, fazendo-me

continuar calado, bloqueado. A voz simplesmente não sai.

Em um dos eventos familiares de fim de ano que minha mãe

sempre gosta de realizar, em uma conversa informal entre mim e


meu assistente e amigo, o chamei de intrometido, coisa que ele

sempre foi e continua sendo. Como durante os anos em que nos


conhecemos, apenas falei com Joaquin pouquíssimas vezes, como
ele já estava um pouco alcoolizado, simplesmente gritou para todos
que eu havia falado, como se tivesse ganhado na loteria.

Daí por diante a minha noite acabou, pois me senti

completamente pressionado e encurralado com os olhares de toda a


família sobre mim, esperando que eu continuasse ou dialogasse
facilmente. Eles me fitavam como se tivesse ocorrido um milagre, e

tudo isso me afetou de tal forma que não participo mais de reuniões
familiares, a última foi de surpresa e também deu merda, dessa vez

com Esteban.

Joaquin entende o meu semblante e continua:

— Vou ser direto, aqui na empresa há comentários de que

depois da Maite, você virou gay ou... que ainda a ama e por isso
não se envolveu com mais ninguém

Sorrio, debochado. Ele só quer me fazer perder tempo, não é

possível.

— Nós sabemos que isso não é verdade. Você nunca

compartilhou comigo os seus casos, se é que os tem, mas sei muito


bem que gosta de mulher tanto quanto eu. Sei de várias que já

comeu — sorri saliente, fazendo-me rolar os olhos —, mas o


pessoal da Javier nunca mais o viu com uma mulher, você jamais se
envolveu com as funcionárias, jamais apareceu com namoradas ou
pretendentes em público, então...

Faço um gesto com a mão, pedindo que Joaquin se retire, eu

preciso trabalhar e não dou a mínima para o que os meus


funcionários pensam ou deixam de pensar sobre mim. Eles deviam

se importar com a próprias vidas, isso sim. Talvez só esteja


inventando isso para me incentivar a levar alguém para o evento.

Joaquin joga no time dos meus pais, também quer me ver em um


relacionamento sólido outra vez.

Ele acha que Maite não presta, mas não concorda comigo que

todas as mulheres sejam como ela ou que eu passarei pelo que


passei novamente. Joaquin é mais que um amigo, muitas vezes dá

um de psicólogo e até que acerta em alguns pontos, mas jamais

conseguirá chegar na minha complexidade.

O mais engraçado é que me aconselha a namorar quando ele

adora sua vida de solteiro, livre leve e solto. Aqui na empresa,

Joaquin Hayser é cobiçado entre as funcionárias e se ele sabe de


comentários a meu respeito, também sei bastante sobre ele, fora o

que me conta de vez em quando, já que sempre gostou de se abrir

comigo.
Contudo, isso mudou de uns tempos para cá. Ele não me diz

nada, mas acredito que esteja em algum relacionamento sério.

— Nossa, hoje você está com um humor péssimo, Senhor

Silêncio! Tchau! — vai embora, finalmente me deixando em paz.

Suspiro, ele está cada dia pior, intrometido, todavia mais

eficiente, proativo e muito responsável.

Antes de Joaquin, era Esteban o que mais dava trabalho entre

a mulherada dentro da Javier. Cafajeste nato, quebrou muitos

corações. Em inúmeras situações papai chamou sua atenção,


controlando-o. Até que eu me divertia com as suas aventuras em

alguns momentos.

Trabalho até tarde, Diogo me leva para casa e durante o

caminho finalmente consigo focar os meus pensamentos somente


em Mina Pacheco, no nosso encontro daqui a algumas horas. Um

pensamento leva a outro, recordo dela dançando, do seu corpo, da

sua sensualidade. Começo a sentir vontade dela, ansiedade por


nossa noite, em vê-la como veio ao mundo, em possuí-la e tê-la

todinha para mim até o amanhecer.

O tempo passa, janto com a Alisa e Rayka, Isabel nos serve.


Após minha filha dormir, sigo para o meu quarto, ponho um terno

italiano preto, camisa branca de algodão egípcio, gravata de seda

vermelho-sangue e sapatos de couro. Novamente uso um gel que


deixa os meus cabelos fixos.

Diogo, como já é de costume, me leva até o hotel de luxo onde


sempre acontece a jogada final, e depois vai buscar a minha

convidada que, segundo a mensagem, já está pronta. Pego o

elevador até uma das suítes nos últimos andares, entro no quarto

refinado, confortável, espaçoso e magistral, servindo-me com um


uísque.

Aproximo-me da vidraça ao lado dos sofás, ponho a mão


esquerda no bolso da calça social. Fico observando o movimento da

cidade lá embaixo, esperando a garota chegar. Já fiz isso tantas

vezes que até perdi as contas.

Alguns minutos se passam, me perco em milhares de

pensamentos, imagino como irei devorar a bailarina, as posições, a

maneira como farei que ela chegue ao clímax e consequentemente


eu também. Meu celular apita, é Diogo avisando que a moça já está

subindo.

Guardo o celular de volta no bolso e dou mais um gole na taça

de cristal enquanto deixo o The Macallan descer maravilhosamente


por minha garganta. Este é outro single malt que compõe a minha

lista de preferidos e que em muitos momentos ajuda a me acalmar

após um dia estressante.

Eu diria que sou um degustador de uísques, porém apenas

dos mais conceituados e de magnânima qualidade.

Finalmente noto a porta se abrir e a figura da jovem surgir de

modo lento e cauteloso. Fico surpreso ao ver que, diferente de todas

as outras mulheres, ela não se montou para mim. Na verdade, está

bem simples com tênis, calça jeans e uma blusa branca de manga
longa, além da bolsinha de lado. O cabelo cacheado está solto

emoldurando seu belíssimo rosto.

Geralmente as moças que recebem a minha proposta, que

aceitam passar uma noite comigo, fazem questão de ficarem lindas,

para chamarem a minha atenção ou agradarem, é essa a impressão

que passam, porém, Mina não parece estar incluída neste grupo.
Ela engole em seco, olhando-me com receio, medrosa. Está

imóvel, com a mão segurando a maçaneta, como se ainda estivesse

decidindo se entra ou vai embora. A chamo com os dedos, ela pisca

três vezes, olha uma última vez para fora e fecha a porta
lentamente, cruzando os braços em volta do corpo, se protegendo.

— Boa noite — murmura, a voz quase não sai, nem parece


aquela tagarela que conheci.

Assinto, lhe cumprimentando também, então a chamo outra

vez pedindo que se aproxime. Mina caminha devagar, olhando em


volta, curiosa e desconfortável, está nitidamente nervosa, porém sei

como lidar com isso.

Coloco minha taça sobre a mesinha de centro, preparo outra

para ela, lhe oferecendo.

— Não, obrigada, eu não bebo — nega, decido não insistir e


devolvo o objeto à mesa. A garota suspira, olha para os lados outra

vez, como se procurasse uma saída, isso nunca aconteceu antes.

Faço um gesto imitando passar folhas, ela raciocina um pouco

e entende.

— O contrato? — indaga, eu assinto — Está aqui na minha


bolsa, imprimi e assinei como instruiu — sua voz gagueja
levemente, ela se apressa em abrir a bolsa de lado e oferece o

papel a mim, que treme simultaneamente à sua mão pequenina.

Penso em algo, seguro sua palma com cautela, para não a

assustar, mesmo notando seu arquejar ao meu toque. Tomo-lhe o

documento e o ponho sobre o sofá. Fito-a sedutoramente e passo a


acariciá-la, tentando acalmá-la, os meus dedos massageando sua

pele delicadamente.

— É que... isso tudo é muito novo para mim — comenta,

enquanto lhe dou carinho. —, a gente... mal se conhece. Na

verdade... por que me escolheu? — Não me manifesto, ela suspira,

fechando os olhos por alguns instantes sentindo o meu toque —


Desculpa, vou ficar calada.

Escorrego a palma direita até sua nuca, onde seguro-a


delicadamente, puxando-a lentamente para um beijo que não

acontece. Antes que os nossos lábios consigam se tocar, a garota

se afasta, virando o rosto e dando um passo para trás.

— Não... assim não.

A observo contrariado. Como assim não? Ela entende o meu


semblante e se adianta, explicando:
— Desculpa, senhor! — As lágrimas descem por sua face
espontaneamente, surpreendendo-me — Não dá... eu não consigo!

Perdoe-me! — Ela caminha até a porta, me fazendo acreditar que

vai mesmo embora. Caminho depressa, segurando-a outra vez,


recebendo seu olhar medroso e atônito — Largue-me!

Ergo a mão livre, pedindo paciência, soltando-a para que não


se sinta ameaçada. Retiro o celular do bolso lentamente, digitando a

seguinte mensagem que mostro a ela:

Conte-me o que está acontecendo.

— Não é nada, é só que... não sou esse tipo de mulher que o

senhor acha que sou. Desculpe-me por tê-lo feito perder o seu
tempo.

Sinto curiosidade, preciso entender qual é a dela, também não


quero desistir tão fácil.

Podemos conversar um pouco? Não se preocupe, não


faremos nada que não queira. Eu garanto.

Mina fica em dúvida, aponto-lhe o sofá, repito o chamado com


as feições do rosto, calmo e compassivo, demonstrando

implicitamente que não há perigo. Ela demora um pouco pensativa,


mas por fim decide vir, acomodando-se na outra ponta, bem longe
de mim.

Por que está aqui?

Envio-lhe a mensagem, a garota lê o texto em seu celular e

respira fundo, pensando se conta ou não. Meu semblante é


compreensivo, incentivando ela à falar. Trocamos olhares por um
longo tempo, até que ela se sente confortável, notando que estou

realmente disposto a ouvi-la.

— Por que preciso muito do dinheiro, porém não sou uma


garota de programa. Sei que o senhor não me chamou disso... é

que estou desesperada, achei que poderia engolir essa situação,


mas agora percebi que não dá, não sou tão fria assim. Perdão, não
o estou chamando de frio, é que... — Mais lágrimas descem, fico a

observando, não parece estar mentindo.

Espero para que continue, a garota puxa o ar, enxuga os olhos


e diz:

— Moro de aluguel com a minha mãe, somos só nós duas. Ela


se tornou alcoólatra desde que meu pai morreu, há dois anos, de lá
para cá venho cuidando dela e de todo o resto — conta tristonha e

desolada. As suas palavras me tocam imediatamente, me fazem


lembrar da minha infância, tendo flashes do passado —, acontece
que minha mãe gastou o dinheiro dos últimos três meses de aluguel
com bebida e o dono agora quer nos despejar.

Ela está arrasada, frágil e vulnerável, me faz sentir pena e


perder todas as segundas intenções.

— Então o senhor surgiu com essa proposta... eu estava

decidida a não aceitar, decidida a tentar juntar o valor trabalhando,


mas o prazo é curto, não vai dar tempo. O dono até chegou a pôr as
nossas coisas para fora... foi muito humilhante. Consegui o dinheiro

de um mês, mas falta o resto. Juro que não tive outra saída, por isso
vim até aqui, mas... não posso.

Ela respira fundo, abrindo um sorriso amarelo.

— É isso, desculpe-me novamente — funga, com seu jeitinho

inocente misturado a uma maturidade feminina. Mina é bela


inteiramente, uma garota e ao mesmo tempo mulher, com um brilho

que não apaga, nem mesmo agora que está entristecida. Há algo
nela que me fascina.

Penso um pouco, compreendendo que a bailarina não é como


as outras que eu trouxe para este quarto. Ela não chegou aqui para

transar e receber seu pagamento, mas sim para tentar salvar o seu
lar. A sua história tocou meu coração, de alguma forma estou
afetado, mesmo não demonstrando, pois não costumo transparecer

sentimentos.

Por algum motivo, o sexo agora já não parece tão relevante.


Meu olhar vai longe, lembro do quanto já experimentei do miserável,

da sarjeta, sei como é se sentir sem saída, sem socorro.

— Acho que já o fiz perder tempo demais, tenho que ir — ela


faz menção em levantar, os meus instintos gritam na hora e peço

calma com a mão novamente, fazendo-a sentar sem entender.

Ergo-me devagar, sigo para o quarto onde minutos atrás


imaginava fodê-la, pego um envelope sobre o criado-mudo, o miro

por longos segundos pensando duas ou três vezes no que estou


prestes a fazer. A indecisão... o medo de estar sendo enganado
novamente em conflito com a vontade de ajudar.

Respiro fundo, sinto verdade nela, em todos estes anos de

empresa, aprendi um pouco sobre a linguagem corporal das


pessoas, não vi mentira ou fingimento em todo o seu

comportamento desde que passou por aquela porta.

Tomo uma decisão. Retorno para a sala, entregando o


envelope a Mina, que me olha confusa.
— O que é isso? — indaga sem entender. Indico para que abra

e descubra, assim o faz, encontrando dez mil Euros em espécie —


Para mim? — estreita as sobrancelhas, bestificada enquanto assinto
— Mas... nós não fizemos nada — relembra, não dou importância.

Se tudo o que me disse for mentira irei saber, apesar de ter quase
certeza que está falando a verdade —, não... não posso aceitar —
nega, ficando de pé, oferecendo-me o pacote de volta.

Dou um passo para trás, demonstrando que o dinheiro é dela.

— Por que está fazendo isso? Eu recusei sua proposta, não


recusei? Não pode me dar todo esse dinheiro de graça!

Isso não me fará falta e você está precisando. Confiarei na

sua palavra, não me decepcione.

Envio a mensagem a ela, que lê rapidamente em seu celular.

— Mas é muito dinheiro... — mira as notas outra vez surpresa,

guardando no envelope —, não vou aceitar, obrigada — põe o


pacote sobre a mesinha de centro, me dando as costas,
impressionando-me novamente. Isso tudo é orgulho?

Tem certeza que não? Não oferecerei duas vezes.

Mina estanca no meio do caminho assim que ouve o celular


apitar. Ainda de costas, respira fundo, pensando... está tentada, mas
por algum motivo acha errado receber a minha ajuda. Ela vira,
fitando-me tristonha, como se não tivesse saída.

— Tudo bem aceito, mas com uma condição — afirma, me

deixando curioso. Que condição é essa? —, que me deixe pagá-lo


de alguma forma.

Tenho vontade de sorrir, mas não o faço. Se eu tinha alguma


dúvida de que estava mentindo, já não tenho mais. Que garota mais

cabeça-dura! Sinto uma leve pontada de orgulho dela e ao mesmo


tempo a acho muito teimosa. A minha resposta é não. Ela bufa,

irritada.

— Veja bem, estou precisando muito, mas não posso aceitar


tanto dinheiro de graça, já que não quero pagar com sexo, quero
pagar com qualquer outra coisa. Apenas diga que sim.

Por que não pode simplesmente aceitar?

— Porque não! Nós mal nos conhecemos, não sou uma


aproveitadora!

Nos fitamos em silêncio, noto que Mina não se dará por

vencida. Assinto com a cabeça, vendo um sorriso enorme surgir em


seu rosto.
— Nossa... muito obrigada! — Ela corre e me abraça, acontece
de repente, muito rápido, me pegando de surpresa.

Fico estático, sem saber o que fazer, apenas sentindo os seus

braços delicados e esguios cercarem o meu corpo, ela tão menor


comparada a mim. Seu calor me invade, sua alegria me toca, seu
rosto feliz encontra o meu bem sério e então a garota se desgruda

dando um passo para trás.

— Ah... perdão, foi... a emoção do momento!

Finjo que está tudo bem, pego o envelope e devolvo a ela,

depois envio uma nova mensagem:

Meu motorista a levará de volta para casa.

— Certo. Muito obrigada de verdade, o senhor não sabe o


tamanho do bem que está fazendo para mim. Está me salvando e

por isso serei eternamente grata! Juro que não vou decepcioná-lo e
prometo que pagarei tudo certinho, de alguma maneira irei devolver!
— fala enquanto caminha até a porta — Tchau!

Se despede, enfim sumindo. A porta se bate, a jovem vai


eufórica, bem diferente da pessoa triste que surgiu pelo mesmo
caminho. Ela é uma figura!
Espero Diogo voltar, e enquanto ele me leva para casa,
pergunto por gestos como Mina estava quando a levou.

— Ah, ela estava esbanjando felicidade senhor Alejandro, bem


diferente de quando a busquei, conversando pelos cotovelos, até
me fez rir ao perguntar coisas sobre o senhor.

Olho curiosamente em sua direção, ele já sabe o que quero.

— A garota quis saber se o senhor nunca ri. Eu disse que não


estava autorizado a dar informações sobre sua vida, mas ela

conseguiu me fazer confessar que nunca o vi rir desde que trabalho


para o senhor.

Balanço a cabeça achando Mina ainda mais incomum do que


qualquer mulher que já conheci.

— Ela também perguntou se o senhor é casado, eu não


respondi.

Ela tem interesse em mim como sempre desconfiei, porém não

da forma como quero ou da maneira que posso oferecer. Isso de


certa forma agrada o meu ego, por outro lado, faz torná-la uma
opção inviável agora, visto que não sou o tipo de homem que

procura.
Alguns dias depois enquanto estou trabalhando, Joaquin entra
em minha sala com uma pasta nas mãos que põe sobre a minha

mesa.

— Aqui estão todas as informações que pediu sobre Mina


Pacheco, a bailarina. Foi fácil, ela é uma garota comum, nada

aconteceu de muito interessante na sua vida, a não ser o fato de


que era milionária, mas perdeu tudo com a morte do pai há dois
anos — conta, enquanto dou atenção aos papeis que me entregou,

folheando cada um deles vendo as fotos dela, da família, da notícia


no jornal do dia do acidente com seu pai —, ele morreu em um
acidente de carro, embebedou-se após descobrir que estava falido.

Era viciado em jogos de azar, assim afundou seu patrimônio no


ramo da hotelaria.

Vejo as fotos de um dos hotéis que pertencia à família da

bailarina, o Pacheco, o qual mudou de nome após ser comprado.

— Sobre sua vida atual, vive com a mãe em uma casa de


aluguel, em um bairro humilde de Madri, trabalha na escola de balé

da sua filha como assistente, serviço conseguido por sua


professora, uma maneira de ajudá-la depois que perdeu tudo. Além
disso, faz bico de diarista. Quanto ao dinheiro que você doou, Mina
realmente gastou com o necessário, pagou todas as contas e ao

que parece está procurando uma clínica de reabilitação para a mãe


alcoólatra. Ou seja, a garota foi sincera contigo, falou a verdade.

Eu sabia!

Assinto para o Joaquin, que vai embora deixando-me sozinho.


Analiso com mais atenção todo o arquivo, observando as fotos dela
há dois anos no dia em seu pai faleceu, notando que ela usava as

mesmas roupas da noite em que nos conhecemos, fazendo-me


deduzir que talvez estivesse correndo tão atordoada daquele jeito
em busca do pai que acabara de se acidentar no trânsito.

Alguém bate na porta, então a secretária entra.

— Doutor, a babá da Alisa está aqui e quer falar com urgência


— afirma, me fazendo franzir o cenho. Deixo ela entrar.

A mulher parece preocupada, caminha depressa até mim e diz:

— Senhor Alejandro, desculpe vir até aqui, mas achei que


devíamos ter essa conversa pessoalmente — afirma, espero ela
continuar —, a minha irmã... acabou de me ligar, nosso pai teve um

acidente e precisa de cuidados, porém ela trabalha o dia inteiro e


não tem como fazer isso. Nossa mãe também já é uma senhora de
idade, enfim. Eu sinto muito, sei que estou com a Alisa há muitos

anos, mas... infelizmente não posso continuar.

Pergunto em sinais por minha filha.

— A deixei no balé, onde nos despedimos. Ela ficou arrasada,


eu também, mas... não há outro jeito, o senhor entende, não

entende? — indaga aflita, sei que realmente está abalada.

Uma preocupação se abate sobre mim instantaneamente,


penso logo na minha pequena e o quanto deve estar triste. Pago

todos os direitos da babá, desfazendo o nosso contrato de trabalho.


Chamo Diogo, que me leva para a escola de balé. Sigo para a sala
dela, onde há várias alunas dançando, sendo instruídas por uma

professora que ainda não conheço.

— Sim, o que deseja senhor? — A mulher que parece estar na


casa dos quarenta, faz a pergunta, como sei que vai demorar até

que ela consiga compreender, olho em volta procurando pela Alisa,


avistando-a distante sentada numa cadeira, no colo de Mina.
Caminho até elas — Senhor, por favor, não pode entrar aqui assim

— a professora me segue.
— Papai! — Alisa corre e me abraça, está chorando como

imaginei, uma pequena bailarina entristecida. A mulher as minhas


costas, entende tudo e se cala, Mina levanta-se nos observando
com compaixão.

— A babá dela... — tenta falar, mas quando a fito, ela já

entende que sei o que está acontecendo.

— Então o senhor é o pai — diz a professora, viro-me para ela


concordando —, prazer, sou Iolanda, a professora da sua filha. Acho

melhor levá-la para casa, hoje não é um bom dia.

Aceito, acolhendo minha menininha melhor em meus braços, e


indo com ela para fora. Saio do prédio, enxugo as lágrimas dela

escorregando o polegar por suas maçãs molhadas. Diogo abre a


porta traseira do carro, mas antes que eu entre, ouço a voz de Mina
me chamar.

— Senhor Alejandro! Senhor Alejandro! A mochila dela — se


aproxima, mostrando a bolsa cor de rosa da minha filha. Aquiesço, a
Mina entrega para Diogo, porém não parece satisfeita, continua

sussurrando — Sei que este não é o melhor momento, mas se


pudesse me dar um instante... por favor — pede, parece ser
importante.
O que ela quer? Só a Alisa importa agora, acaricio o rosto

dela, que funga e novamente demonstra maturidade demais para a


idade:

— Tudo bem papai, eu espero — diz dengosa, a amo tanto.

Coloco-a no banco traseiro, fecho a porta e me afasto um pouco do


automóvel para ouvir a bailarina.

— Primeiramente, quero agradecer outra vez pelo que fez por

mim, e... é que não consigo dormir pensando no quanto foi bondoso
comigo e que não posso ficar sem retribuir de alguma forma. Bem,
você disse que me deixaria pagar e acho que agora tenho uma

ótima oportunidade de começar a fazer isso neste exato momento


— dispara, falando bem rápido.

A observo impaciente, sem saber aonde quer chegar e

querendo voltar para o carro.

— Bem, a Alisa está sem babá, certo? Eu adoro ela e sei


cuidar de crianças — afirma, sorrindo.

O quê? Nego, dando-lhe as costas, mas Mina se interpõe em

minha frente.

— Por favor, escute-me! O senhor prometeu que me deixaria


pagar esta dívida, então que seja assim. Eu posso ser a nova babá
da Alisa.
MINA PACHECO

Cravo o meu olhar nos lindos olhos indecisos de Alejandro


Javier, os mesmos que se compadeceram da minha história dias

atrás e, surpreendentemente, enxergaram além do meu corpo,


atingiram a minha alma. Ele fez o que jamais alguém fez por mim,
estendeu a mão durante a tormenta, abraçou-me no desespero sem

nem mesmo me tocar.

Com o dinheiro que ele deu, consegui quitar não só o aluguel,


como diversas outras contas que faziam minha cabeça doer todos

os dias, ainda sobrou um bom valor para procurar uma clínica onde
minha mãe possa começar um processo de recuperação para se

livrar do maldito vício do álcool. Um sonho por mim muito cobiçado.


Nunca pensei que naquela noite onde eu sentia ser um animal

indo direto para o abate, fosse me transformar numa ave que voou
livre da gaiola rumo à esperança. Alejandro presenteou-me com

essa liberdade, me fez alçar voo, ele me deu esperança quando já

não existia mais nenhuma.

Agora estou disposta a fazer tudo por ele, a pagar a dívida que

não é nada barata. O pai da pequena Alisa me salvou, então quero


aproveitar a oportunidade para me tornar a sua nova ajudante, a

babá da garota. Só assim conseguirei sentir que estamos quites.

— Veja bem, sua filha e eu nos damos muito bem, somos


amigas aqui na escola, tenho certeza que não será difícil para ela se

adaptar a mim — continuo argumentando, tentando convencê-lo.


Receber o seu sim agora é uma questão de honra, preciso provar o

meu valor mesmo que Alejandro não esteja pedindo.

Quero de alguma forma, não somente pagar a dívida da

melhor maneira possível, como mostrar o quanto estou agradecida

por tudo que fez por mim.

Observo ele por um instante, ainda não parece convencido.

Novamente me pego percebendo o quanto é lindo, meu Deus.


Lindo, difícil de lidar e vencer, mas o impossível ao meu ver sempre
foi apenas questão de opinião.

— Eu sei que para o senhor o que me deu não é nada, mas

para mim contou muito, e preciso pagá-lo. Além disso, quero ajudar.

É também pela pequena, fiquei com tanta dó dela, partiu meu

coração vê-la chorar.

O homem suspira pensando, mas não se manifesta, nem por

mensagem nem nada. Simplesmente pede licença com o rosto, lhe

dou espaço e ele entra no carro deixando um rastro de perfume

gostoso no ar.

— Por favor, pense com carinho! — exclamo enquanto fecha a

porta traseira e troca olhares comigo por uma última vez.

Respiro fundo, cabisbaixa por ter sido ignorada novamente e

ao mesmo tempo contente por tê-lo visto. É sempre bom ver este

homem, estar perto e saber que é de verdade. Após aquela noite no

hotel, a minha visão dele de príncipe voltou com tudo, mesmo

sabendo que não é exatamente igual na vida real. Sinto que


Alejandro é um bom sujeito, mesmo não parecendo.

Ao anoitecer, rolo na cama sonhando acordada com ele,

recordando do nosso momento tenso no hotel, que depois se tornou


suave e manso. Fecho os olhos, enxergando ele no mesmo traje, o

terno negro, em sua figura imponente e intimidadora, o rosto sedutor


e fatal, nada tinha interessado nos primeiros instantes, mas depois

me encantou quando agiu com caridade.

Sorrio abobada, volto a torcer para que deixe eu cuidar da

Alisa, mesmo sem saber o quanto isso influenciará no meu dia a dia
caso Alejandro aceite. Ouço batidas na porta, em seguida a voz de

minha mãe pedindo para entrar.

Ela senta ao meu lado parecendo tensa, logo me deixando


tensa também, contudo está banhada e penteada, isso já é muito
para mim, tendo em vista que na maior parte do tempo aparenta

abatimento e sofrimento. Está magra, frágil, não lembra em nada a


mulher forte e imponente que um dia já fora. O álcool foi lhe

tomando tudo gradativamente durante estes dois anos após morte


de papai.

— O que houve, mãe? O que aconteceu? — pergunto,


enquanto a mulher toma as minhas mãos e me olha no fundo dos

olhos.

— Filha... me diga, eu preciso saber. O que fez para conseguir


dinheiro e pagar todas as contas em tão pouco tempo? — Ela está
preocupada.

— Mãe... — não estou pretendendo contar a verdade.

— Fez alguma coisa... errada? Foi minha culpa, não foi? —

choraminga.

— Não, não fiz nada de errado, não se preocupe — tento

acalmá-la.

— Então como...

— Foi um empréstimo. O pai de uma das minhas alunas do


balé emprestou-me o suficiente para nos tirar do sufoco.

Dona Inês pensa um pouco a respeito e me fita desconfiada.

— E o que ele pediu em troca? — Ela sabe como o mundo


funciona, o quanto as pessoas podem ser cruéis. Engulo em seco.

— Que eu fosse a babá da menina, a Alisa. Ela e eu somos


muito apegadas na escola, a sua antiga babá pediu demissão. Eu

disse que poderia substituí-la, contei a ele o que estava passando


e... ele me ajudou. O senhor Alejandro é um homem de um coração

gigante, mãe.

A senhora não parece totalmente convencida.

— Tome cuidado filha, por favor — pede.


— Tomarei, não se preocupe, ele é um bom homem e eu
jamais deixaria acontecer alguma coisa.

— Certo, assim fico mais tranquila. Desculpe por tê-la feito


passar por todo este sufoco, preciso encontrar uma forma de

recompensá-la, de ajudá-la. Não posso mais continuar vivendo


assim. Não posso mais te fazer sofrer.

— Mãe... — acaricio seu rosto. Pego o celular e mostro


algumas fotos para ela —, olhe, estou pesquisando algumas clínicas

de reabilitação para pessoas que têm o mesmo problema que a


senhora.

— Alcoólatras? — Vai direto ao ponto. Fico calada, mirando-a


sem saber o que dizer — Não se preocupe, sei que sou uma.

Depois de tudo, já consigo aceitar — Ela pausa pensando, notando


a imagem no celular —, sobrou dinheiro para isso?

— Sim — sorrio —, acho que poderíamos escolher um lugar

que lhe agrade. Assim, não ficará tão sozinha quando eu sair para
trabalhar e me sentirei bem melhor ao saber que está sendo bem
cuidada.

Dona Inês sorri e acaricia os meus cabelos, levando alguns

cachos para trás da orelha.


— Assim você terá paz, né filha?

— Sim, mamãe.

Ela respira fundo e responde, decidida:

— Certo, farei isso por você.

— Não, mãe. Quero que faça isso por você. Só depois pense
em mim.

— Tudo bem, então. Vamos ver o que tem aí — volta a dar

atenção ao meu celular.

— Já visitei essa aqui...

Passamos um bom tempo olhando as melhores e mais


acessíveis clínicas, até que escolhemos a que eu já visitei para ela

conhecer pessoalmente. Na manhã seguinte, pegamos um táxi e

partimos com sua mala pronta para caso queira ficar, a clínica está

localizada em uma área verde, um pouco afastada da cidade.

Conversamos com a médica-chefe, responsável pelo

estabelecimento, que por sinal é bem agradável, espaçoso, com um


vasto jardim. Minha mãe fica um pouco acanhada no início, mas a

médica consegue deixá-la confortável. Após fazermos um tour

completo pela clínica, paramos na sua sala.


— Em primeiro lugar, quero dizer que estou muito feliz em

saber que a senhora dona Inês Pacheco, está voluntariamente


procurando a internação para tratar do vício. Saiba que reconhecer

que tem um problema e querer a recuperação é muito importante

para começarmos uma caminhada que pode não ser fácil, mas com
certeza valerá a pena. Já lhe mostramos toda a nossa infraestrutura,

se escolher ficar conosco, começaremos uma avaliação inicial com

uma equipe multidisciplinar.

Minha mãe está pensativa, sinto o mundo sobre os seus

ombros, a confusão de pensamentos. Seguro sua mão, lhe dando

apoio. Ela troca olhares comigo, tomando coragem.

— Eu aceito — afirma, tentando abrir um sorriso. Fico muito

feliz com sua decisão.

Assinamos a papelada necessária, conhecemos o seu novo e

agradável quarto, onde começamos a nos despedir. Isso não é nada

fácil.

— Vai dar tudo certo, a senhora vai conseguir — digo a ela,

acariciando seu rosto.

— Prometa que não me esquecerá aqui — pede.


— Jamais mamãe, como pode pensar isso? Jamais! Sempre

que der, venho vê-la. Também ligarei constantemente para saber

como está. Logo isso vai passar, você vai ver.

Nos abraçamos uma última vez choramingando, é doloroso.

Por fim, crio forças e vou embora, seguindo para o balé arrasada. É

estranho, por mais que seja algo bom, a sensação é que estamos
fazendo algo ruim.

Ao chegar na Nina Speitzer, não encontro a Alisa, o que me


preocupa, sei que tem algo a ver com a babá, já que era ela quem

sempre a trazia para as aulas.

À noite, após falar com minha mãe, sinto-me muito sozinha,


estou jantando quando recebo uma mensagem de Alejandro, quase

me fazendo engasgar com a comida tamanha surpresa.

Tudo bem, você será a nova babá da Alisa. Esteja amanhã

às 9h no endereço a seguir...

Sorrio contente, muito mesmo, de verdade. Chego a bater


palminhas de felicidade, mas de repente, me pergunto se estou

assim porque estarei mais próxima do homem que invade os meus

sonhos quase todas as noites há dois anos e da sua adorável filha,


ou se é porque estarei finalmente pagando o que lhe devo, ou será

pelos dois.

Respiro fundo, não importa a razão, o que importa é o fato de

que ambos significam coisas boas, que finalmente estou tendo


acontecimentos positivos na minha vida! Quem sabe ser a babá da

Alisa possa render um verdadeiro emprego após a quitação da

dívida? Isso seria maravilhoso, daria para manter uma renda

estável.

Não penso mais tão grande como antes, não após todas as

catástrofes que ocorreram em minha vida. Aos dezessete anos eu


focava na carreira de bailarina profissional, coisa que desde criança

estava me preparando, mas após tantas barreiras, desisti. O custo

era muito alto e o empenho devia ser total.

Sem pai e com uma mãe necessitando de mim, o sonho ficou

distante. A única coisa da qual não consegui de fato me afastar foi a

dança, o balé. Estar perto daquelas meninas todos os dias foi o que
me deu forças para seguir em frente, o que não me deixou cair junto

com tudo ao meu redor.

Acordo cedo no dia seguinte, visto uma meia-calça preta com


saia e blusa de mangas. A roupa está um pouco velha, mas é a
melhor que tenho agora, acho que também a mais adequada para o

trabalho e ao mesmo tempo para me sentir confortável.

Prendo o cabelo em um coque alto, ponho um pouco de


maquiagem para disfarçar as olheiras, tomo café e saio de casa

confiante, seguindo para praticamente o outro lado da cidade, na

zona rica onde um dia morei. Não posso negar que ainda sinto falta
de muita coisa, é difícil nascer em berço de ouro e depois ter que se

acostumar com uma realidade totalmente diferente da sua.

Olho o endereço que o Alejandro me enviou no celular uma


última vez antes de adentrar no grande edifício. Identifico-me na

recepção, meu nome já foi deixado em uma lista, pego o elevador e

parece uma eternidade dentro dele até chegar à cobertura, no


trigésimo oitavo andar.

De certa forma é como estar voltando para casa, todo esse

ambiente, esse clima de requinte e sofisticação é muito familiar, traz


lembranças boas de quando minha família era perfeita, de quando

eu não precisava me preocupar com uma conta de luz ou de água.

As portas do elevador se abrem, sou recebida no living por

uma mulher alta que aparenta estar na casa dos seus cinquenta

anos, o rosto com algumas rugas, mas amistoso. O cabelo escuro


feito em um coque clássico, o corpo envolto de um vestido azul-

marinho formal e os pés calçando sapatilhas.

— Bom dia, eu sou Mina Pacheco — cumprimento-a, e

apertamos as mãos.

— Bom dia, seja bem-vinda, eu sou Isabel. Está cinco minutos

atrasada e o senhor Javier detesta atrasos. Entre — fala

educadamente, esticando um sorriso amigável que não combina


com o puxão de orelha que acabou de me dar.

— Oh, desculpe é que o trem...

— Tudo bem, ele não está mais em casa, já foi trabalhar, só

estou avisando para que não se repita.

— Minaaaa! — Alisa surge correndo em minha direção de

braços abertos, inclino-me para poder correspondê-la, nos unindo

em um abraço caloroso — Não acredito que você será a minha nova

babá, estou tão feliz!

— Eu também estou muito feliz meu anjo, você não imagina o

quanto!

— Não queria mais ninguém além da Rayka. Na verdade,

ainda estou muito triste por ela ter ido embora, mas... quando papai
falou sobre você, também fiquei contente, mesmo ainda estando
triste — conta, parecendo dividida.

Ela é fofa e de uma beleza impecável, cabelos castanhos e


olhos azuis. Lembra o pai, mas tem outros traços, vindos da mãe

com certeza. Mãe essa sobre a qual nunca conversamos e que

realmente não sei se aparecerá por aqui em algum momento. Já


cogitei várias vezes que Alejandro pode ser casado, ou possa ser

que não, estou muito curiosa para descobrir, porém não sou

inconveniente. Há momento para tudo.

— Farei de tudo para que você goste da minha presença, eu

juro — digo.

— Mas eu sempre gostei da sua presença, agora passaremos

mais tempo juntas! — Ela volta a ficar animada só de pensar na


ideia.

— Alisa, deixe para dialogar com a sua nova babá depois,


agora preciso mostrar a casa para ela e dizer todas as suas
funções.

— Ah, vem! Vou te mostrar a nossa cobertura! — A garota me


puxa contente pela mão, sorrindo de orelha a orelha.
— Alisa! — Isabel a repreende, mas não é ouvida — Essa
garota! — Resmunga, arrancando gargalhadas da pequena que
parece gostar de vê-la irritada.

Logo estamos as três caminhando pelo espaço luxuoso, diria

até majestoso, o apartamento de um verdadeiro rei. Todas as


paredes possuem tons escuros ou neutros, um ambiente austero e

chique, arejado e bem iluminado pelas vidraças.

— A cobertura é duplex, com cinco suítes, rooftop, piscina,


SPA, academia, brinquedoteca, garagem com skydrive, varanda e
muito mais. A senhorita entendeu tudo o que eu disse? — Isabel

deve pensar que nunca pisei em um imóvel como este.

— Aham — a respondo, gentilmente.

— Ah, Isabel, pare de estragar as surpresas! — reclama a

Alisa — Mina, esta é a nossa sala de estar e ali a de jantar —


mostra o espaço amplo e conectado. Em seguida, me leva para
outro cômodo —, esta é a nossa cozinha, onde Isabel faz a melhor

comida do mundo!

A cozinha é com ilha americana, como era no meu antigo


apartamento.
— Este é o meu quarto! Não é legal? — indaga, cheia de
empolgação, ela está adorando mostrar cada canto do apê — Vou
te mostrar o meu closet! Tenho uma sapateira linda!

— Não vai dar tempo agora mocinha, preciso instruir a


senhorita Pacheco sobre as suas atividades — afirma Isabel.

— Ah, como você é chata! — cruza os braços, irritando-se.

— Não se preocupe, meu anjo. Teremos todo o tempo do


mundo — acaricio a sua cabeça, tentando acalmá-la.

— Tudo bem — concorda.

— Obrigada — afirma Isabel. Seguimos para a sala de estar

onde ela me entrega uma agenda —, hoje ela não foi à escola,
insistiu que queria esperar você chegar, então terão que fazer as
tarefas assim que a professora enviar no celular dela.

— Tudo bem — afirmo.

— Mas só depois da natação, hoje ela tem natação, balé três


vezes por semana, aula de música particular e as outras coisas

estão descritas na agenda, o resto do tempo podem gastar com


lazer. O doutor Javier quer que a filha tenha uma infância saudável,
apesar dos diversos compromissos. Os dias e horários estão todos
aí nesta agenda também, que por sinal, será a sua bíblia daqui por
diante até que tenha tudo decorado em sua mente.

— Certo — tento assimilar as palavras que são disparadas


rapidamente pela boca dela enquanto folheio as páginas repletas de
anotações, surpreendendo-me.

— O doutor Javier odeia baderna, então tenha cuidado com


isso, quando ele chegar tudo deve estar em mais perfeita ordem,
você será responsável pela bagunça da Alisa. Agora vá vesti-la,

Diogo já esperam vocês lá embaixo.

— Quem é Diogo? — Me sinto um pouco perdida.

— O motorista — responde a Alisa sorrindo, notando meu leve


desespero —, não se preocupe, você se acostuma. Agora vem,

preciso colocar meu maiô de natação.

Voltamos para o seu quarto, que afinal é o mais colorido e vivo


do imóvel inteiro. Ajudo ela a preparar sua mochila com tudo o que

irá precisar. Caminhamos de mãos dadas, sigo rumo ao elevador,


mas a Alisa me puxa em outra direção.

— Para onde você vai? É por aqui! — afirma me levando até a

garagem onde reconheço o homem de terno que nos espera dentro


do Mercedes, em outro elevador bem maior, para carros, o tal

skydrive comentado pela governanta.

— Vamos senhoritas?

— Olá Diogo, você já conhece a minha nova babá, Mina?

— Sim, senhorita. Olá Mina — me cumprimenta.

— Olá Diogo — o saúdo, enquanto sento no banco traseiro e


bato a porta do automóvel.

O elevador se move, nós descemos, e em alguns instantes


estamos na rua. Chegamos à escola de natação, um enorme

complexo esportivo com várias piscinas. Diogo fica nos esperando


do lado de fora, enquanto eu acompanho a Alisa em tudo,

surpreendendo-me ao perceber que ela já nada tão bem quanto um


peixe, usando toca e óculos de banho.

A criança facilita a minha vida, apresentando-me a todos os


seus coleguinhas e professores, em um momento, quando estou

conversando com uma mãe, joga água em mim da piscina,


molhando os meus pés, gargalhando e se divertindo. A repreendo

no olhar, fingindo-me de irritada.

Voltamos para casa conversando bastante, ela adora falar do


pai e do quanto ama, o quanto ele é especial, mas reclama da sua
ausência, queria que ele estivesse mais presente:

— Sabe Mina, seria muito legal se meu pai de vez em quando


me levasse para a escola, para a natação, ou para o balé —

comenta enquanto estamos em seu quarto, sentadas à


escrivaninha, fazendo as suas tarefas do dia, a professora instruiu
tudo através das mensagens.

— Mas ele foi lhe buscar naquele dia, eu achei isso bem legal

— afirmo enquanto vejo-a copiar o texto indicado.

— Foi legal, mas eu precisei insistir muito para que aquilo


acontecesse. Queria que ocorresse mais vezes.

— É porque seu pai deve ser muito ocupado.

— Sim, ele é muito mesmo — afirma cabisbaixa. Acaricio sua


testa.

— Não fique assim, meu anjo. Quem sabe ele não muda,

hein?

— Você poderia pedir isso a ele, a Rayka não tinha coragem,


mas você tem, não é? Foi você que pediu para a ser a minha babá.

Sinto-me encurralada ao ver os seus olhinhos esperançosos


me fitando. Penso no que dizer.
— Sim, eu tenho coragem, mas hoje é o meu primeiro dia, não
posso fazer exigências a seu pai — afirmo delicadamente.

— E amanhã?

— Amanhã também. Vamos combinar o seguinte: no momento


certo falo com ele.

— E quando será esse momento certo? — franze o cenho, não

convencida.

— Ainda não sei, mas irei saber.

— Sei.

— Estou falando a verdade, por que não acredita em mim?

— Tudo bem, acredito — sorri, recebendo meu beijo na

cabeça.

Pauso por um instante, pensando em como fazer a pergunta,


então faço:

— E a sua mãe? Você não desejaria que ela também te


acompanhasse nas suas atividades? Nunca a vejo falar dela.

— É que só falo dela com o meu pai, porém também não tenho

muito o que falar, nunca a conheci — diz tristonha, penso no pior.

— Oh, desculpe querida, meus sentimentos.


— Ela não está morta! — rebate deixando-me envergonhada.

— Ah...

— Ela só não quis ser a minha mãe — confessa, um pouco


afetada me deixando com mais dúvidas e com pena —, por isso
meu pai sempre foi a minha mãe também. Mas um dia quero

conhecê-la, talvez um dia ela queira me ver. Você acha que ela vai
querer me conhecer?

— Ah... Claro que sim Alisa, você é maravilhosa! Claro que ela

vai querer te conhecer — fico com vontade de perguntar por que


não iria, mas me calo, não quero encher a menina de indagações e
me intrometer em sua vida.

— Obrigado, Mina. Estou cansada dessas tarefas, podemos

parar?

— Mas ainda falta metade, não podemos parar agora, a


senhorita tem que levar tudo isso amanhã. Vamos continuar.

— Ah, Mina! — resmunga.

— Vamos, senhorita! — penso que se facilitar desde o início,


ela pode ficar mal-acostumada. Já notei que está querendo me

enrolar em algumas coisas por eu ser novata.


Fazemos as suas lições de casa e às catorze horas sentamos

para almoçar na sala de refeições, após sermos chamadas por


Isabel, que nos serve um banquete do qual há muito tempo eu não
comia. Estou diante de uma típica e colorida paella, porém

produzida de maneira fina, com ingredientes da mais alta qualidade.

Tenho que me controlar para não demonstrar o quanto isso


está me satisfazendo. Novamente lembro da adolescência, os

gostos do arroz misturado aos frutos do mar fazem regressar ao


passado, e sentir emoções antigas. Mas me controlo para não me
emocionar.

— Está tudo bem senhorita Pacheco? — pergunta Isabel, em


pé as minhas costas de mãos para trás.

— Tudo — a minha voz sai fraquejada —, a senhora cozinha

muito bem. Há muito tempo eu não comia uma paella de tamanho


requinte. É possível distinguir o gosto do mexilhão e camarão, o
polvo e a lula também estão no ponto certo.

A mulher ergue as sobrancelhas, parece surpresa.

— Obrigada. Pelo visto a jovem sabe muito bem sobre uma


boa refeição.
— Um pouco — sorrio, não querendo entrar mais em detalhes.
Não quero contar sobre a tragédia que houve na minha vida.

Mais tarde, após ajudar a Alisa a tomar banho e pôr um vestido

lindo, fico assistindo-a aprender a tocar piano com o professor que


hora ou outra olha para mim, porém finjo que não estou notando. O
grande instrumento está num canto da gigantesca sala de estar e,

curiosamente a Alisa não parece estar muito empolgada, apesar de


já saber dedilhar algumas notas no teclado.

Já passa das dezoito horas quando saímos da brinquedoteca


de mãos dadas, após ela se sentir cansada, contudo não mais que

eu, porque o dia dela é cheio de compromissos e cansativo, mas


parece já estar acostumada. Estamos caminhando por um corredor
quando paramos em frente a uma porta.

— Este é o seu quarto, pode usar enquanto passar o dia aqui


comigo. Isabel pediu para te mostrar — Alisa abre a porta, dando
visão para o cômodo lindo em tons claros e com banheiro.
— É melhor do que todos onde já trabalhei — comento,
trocando sorrisos com a garota.

— Já foi babá de outras garotas?

— Não, você é a primeira garotinha que estou cuidando, antes


eu era apenas diarista e bailarina.

— Nossa você é um bocado de coisa.

— Pois é. Agora vamos para o seu quarto.

Subimos a escada para chegar ao andar de cima.

— Notei que não gostou muito da aula de música, estou certa?


— indago enquanto passamos pelos degraus.

— É chata! — Alisa confessa, me fazendo torcer as


sobrancelhas.

— Achei que gostasse de música clássica já que faz balé.

— Gosto de música clássica para dançar, não para ouvir.

— Ah é? E o que gosta de ouvir?

— É segredo, mas você não pode contar para o meu pai, ele

vai ficar muito bravo se descobrir.

— Tudo bem, pode confiar em mim, eu jamais trairia a sua


confiança — sou sincera.
Minutos depois, estamos em seu quarto, a Alisa manda eu

fechar os olhos por um tempo, então obedeço.

— Posso abrir agora? — questiono realmente curiosa.

— Sim — sua voz doce me autoriza e ao levantar as


pálpebras, vejo-a sorridente com um tablet nas mãos, mostrando-

me um álbum no Spotify do Iron Maiden!

— Não vai me dizer que a senhorita gosta de rock? — fico


chocada.

— Sim, e do heavy metal! Eu ouço secretamente com a minha

tia, Luna! Quer ouvir um pouquinho?

— Hum... não sei se é uma boa ideia, Alisa — olho para a


porta fechada —, mas só se for baixinho.

Ela assente e clica na tela do tablet, o som da guitarra sai de


modo ensurdecedor pelas caixinhas nos cantos do teto, tanto que
ponho as mãos nos ouvidos enquanto a garotinha sorrir.

— Abaixa isso, Alisa! — exclamo, mas ela parece estar se


divertindo — Abaixa, está muito alto! — Nem consigo ouvir direito a
minha voz.

Tento tomar o tablet dela, mas a pestinha corre pelo quarto

enorme fugindo de mim, subindo na King Size e pulando. Chamo-a


várias vezes, mas não dá para discutir com os gritos roucos do

cantor e o rasgar da guitarra dominando tudo ao nosso redor.


Quando percebo, estou em cima da cama com ela, tento alcançá-la,

mas a Alisa me acerta com o travesseiro.

Tento mostrar estar irritada com a garota, porém não consigo,


pelo contrário, acabo me rendendo e de repente, estamos as duas
em uma guerra de travesseiros, saltitantes em cima do colchão. As

penas de ganso voam das fronhas pelos ares ao nosso redor,


enquanto gargalhamos e mal conseguimos ouvir a voz uma da outra

com toda essa loucura.

Volto a me sentir criança, a me sentir livre e feliz. É como fazia


nas antigas festas de pijama que tinha com as filhas das vizinhas
que na época julgava ser minhas amigas.

Mas a balburdia acaba quando a música para de repente e nos


deparamos com a imagem de Alejandro Javier chocado na porta,
nos mirando incrédulo, segurando um pequeno controle que creio

ser o do aparelho sonoro.


ALEJANDRO JAVIER

Deixo Mina Pacheco na rua e entro no carro, fazendo um sinal


para que Diogo dê partida nos levando embora, e assim é feito.

Abraço a Alisa, pois ainda está com os olhos chorosos, acolhendo-a


em meus braços.

— O que a professora Mina queria, papai? — pergunta com a

voz frágil do pranto, dengosa e curiosa.

Balanço a cabeça negativamente, como quem diz que não era

nada demais. Ao chegarmos na cobertura, após jantarmos, fico com


ela em sua cama tentando fazê-la dormir como em quase todas as

noites deitado ao seu lado, com sua cabecinha sobre meu peito.
— Eu não quero outra babá, pai — revela, demonstrando que

ainda pensa no assunto.

Suspiro, pois também estava pensando sobre isso.

— Mas alguém tem que cuidar de você enquanto o papai fica


fora — digo carinhoso.

— Não quero! Eu gostava muito da Rayka! Ela não tinha que


ir! — reclama, inconformada.

— Ela precisou filha. A família dela precisava de sua presença

— explico.

— Ela me abandonou!

— Não foi isso...

— Foi sim! Me abandou como a minha mãe! Por que ninguém

quer ficar comigo? — Ela move o rosto carente até encontrar o meu,

partindo o meu coração por ela e pelas lembranças ruins de quando


Maite partira.

— Eu quero ficar contigo, filha. Não repita isso nunca mais.

Todos te amam, a Rayka foi sem querer ir. Ninguém te abandonou,

a sua mãe só não estava preparada ainda para ser a sua mamãe, já

te disse isso muitas vezes, mas seu pai está aqui, serei tudo o que

você precisar.
Ela soluça, voltando ao pranto, eu a abraço sentindo uma dor
imensa, notando que minha pequena princesa, assim como eu,

também tem os seus traumas. Desde que as suas perguntas

começaram tentei ser o mais ameno possível, porém optei pela

verdade, odeio mentiras e não queria iludi-la, decidindo seguir pelo

doloroso caminho da verdade, da forma mais delicada que pude

encontrar.

Só que ela é muito esperta, sozinha encaixou certas peças na

mente, ouviu conversas familiares aqui e ali, então criou as suas

próprias impressões sobre o assunto. É difícil para mim, é difícil

para ela e fácil para Maite, que simplesmente deu as costas a tudo.

Nunca, nem por um momento pensei em procurá-la, sua atitude

mostrou-me quem ela era de verdade e do que era capaz, sendo


assim, a quero bem distante da Alisa.

Quando minha filha finalmente dorme, sigo para o meu quarto

onde após uma boa ducha, deito-me e sou invadido por lembranças

do dia em que ocorreu mais uma fatalidade inesperada em minha

vida.

Era final de semana, toda a família Javier estava fora de casa

por algum motivo, cada qual com os seus afazeres, Luna ajudou-me

nesta missão para que eu tivesse mais privacidade com Maite e


pudesse finalmente falar com ela pela primeira vez, expressar em

palavras os meus sentimentos.

Fiquei cerca de quarenta minutos fora da mansão, dentro do

carro mirando o retrovisor interno, fitando-me e tomando coragem,


treinando o texto que vinha repetindo há dias sozinho:

— Maite... eu sei que... — engoli em seco, suspirei fechando

as pálpebras por um momento, centrando-me — Maite... eu sei que


tudo entre nós aconteceu... aconteceu rápido demais, porém...

quero que saiba que estou... muito feliz pela linda filha que me deu
e... que estou... estou... estou disposto — as palavras saíram com
dificuldade, era como se eu tirasse uma pedra da garganta a cada

vez que uma delas escapava pelos meus lábios.

O medo de dizê-las, a ansiedade, mas eu sabia que poderia


ser mais forte que tudo isso.

Fitei o retrovisor com confiança e determinação, tentando outra


vez:

— Maite, eu sei que tudo entre nós aconteceu rápido demais,

porém quero que saiba que estou muito feliz pela linda filha que me
deu e que... estou disposto a fazer tudo por vocês. Eu te amo —

sorri, feliz por ter conseguido.


Deixei o automóvel carregando o ramalhete de flores na mão

direita. Subi as escadas, fiz minha mão parar de tremer antes de


abrir a porta do quarto, logo depois, respirei fundo e segui em frente,

certo de que estava evoluindo para uma grande e nova fase da


minha vida, a de construir uma família.

Encontrei a linda mulher mexendo em algo sobre a cama, de


costas para mim. Avistei a Alisa ainda bebê dormindo no berço.

Suspirei, tomando o último golpe de coragem, concentrei todas as


minhas forças na língua e emiti o primeiro som:

— Maite... — ela virou em sobressalto, assustando-se,

revelando olhos chorosos e surpresos. Meu sorriso se desfez ao


perceber que havia alguma coisa de errado.

— Alejandro? O que está fazendo aqui agora? Não devia estar


trabalhando? — Fungou, passando as mãos no rosto. Então se deu

conta do que aconteceu — Você... disse o meu nome? Você falou?

Tentei retomar de onde parei, não podia perder o passo:

— Maite, eu sei que... — prestei atenção na mala sobre a

cama que ela inutilmente tentou esconder. Foi neste instante que a
minha voz fugiu outra vez, sumiu com força. Mirei as roupas tiradas

do closet, tudo sendo preparado para partir.


— Não posso mais ficar aqui — ela soluçou derramando as
lágrimas —, não consigo continuar vivendo essa vida de... mãe e
esposa. Não foi isso que sonhei para mim Alejandro, e você sabe!

Devia ter me deixando abortar quando quis! Teria sido melhor para
nós dois.

Fiquei chocado, jamais pensei que chegaria a este ponto.


Estava confiante que conseguiria fazê-la encarar a nossa nova

realidade com bons olhos. Maite chorou fortemente, dando-me as


costas outra vez, voltando a organizar as suas coisas.

— Eu não queria me despedir, deixei uma carta sobre o criado-

mudo. Preciso ir embora, preciso procurar o meu lugar no mundo,


buscar realizar os meus sonhos. Não é sua culpa, também fui
irresponsável em não me proteger, mas não quero ficar com a Alisa,

não estou preparada para ser mãe agora e talvez nunca. Sei que
não vai me perdoar, mas não posso deixar de te pedir perdão —

choramingou arrasada enquanto sentei na poltrona lentamente,


ainda tentando assimilar os fatos.

Minha mão fraquejou, o buquê de rosas se espatifou no chão


como cristal quebrado. Pensei em falar, argumentar, até mesmo

discutir, mas outra vez me vi impotente, o cérebro já selecionava


Maite como mais alguém que me jogava de volta no poço do
silêncio para sempre. Ela era a partir de agora, meu mais novo
bloqueio.

Os próximos minutos foram apenas para assistir a mulher que


achei ser o meu futuro, partir para nunca mais voltar. Reuni forças

para me levantar da poltrona e pegar a Alisa que chorava no berço,


como se sentisse que um pedaço dela estivesse faltando. Abracei-a

no colo, deixando as minhas lágrimas rolarem como sangue quente


pela face, tentando entender porque a minha vida sempre estava

fadada à tristeza e sofrimento.

Finalmente adormeço, ainda sendo assolado por alguns

malditos pesadelos durante a madrugada, acordando no dia

seguinte com uma dor de cabeça. Envio mensagem para Luna,


explicando-lhe a situação e pedindo para que venha ficar o dia

inteiro com a Alisa, que gosta muito da tia. Ela precisa de alguém

que a ame por perto, e não quero que seja os meus pais, pois ainda
estou chateado com eles.

Estou tomando café quando a mulher surge, parecendo que

acabou de chegar de alguma festa. Seu cabelo curto, preto e


repicado é de alguém que o sacudiu muito a noite inteira, os olhos

marcados por maquiagem borrada, o corpo envolto de um sobretudo

preto fechado e calça jeans. Luna às vezes lembra uma gótica.


Ela põe sua bolsa pequena de couro escuro sobre a mesa, se

sentando de maneira despojada e desorganizada. Logo percebo


que outra vez viveu uma noite de aventuras e depois iria chegar em

casa para tentar fingir que é uma pessoa normal diante da família.

— Hmm, cheguei em uma hora maravilhosa, estou morrendo

de fome! — afirma sorrindo sem mostrar os dentes e pegando os

pães com tomate, servindo-se.

Faço sinal com a face para que Isabel saia e nos deixe a sós,

ela atende prontamente.

— Por que mandou a empregada embora? Já fiz alguma coisa

de errado?

Pergunto em gestos se está tudo bem.

— Por que não fala comigo com a língua? Já falou antes, não

pode falar de novo por quê? Odeio esses sinais malditos! —


resmunga, abocanhando o pão e dando um gole no copo de leite.

Espero ela me responder, e o faz após suspirar e rolar os olhos —

Claro que está tudo bem. Por que não estaria? E a minha sobrinha,

como está? Ainda não acordou?

Tenta mudar de assunto, mas não deixo. Pergunto se ela

passou a noite na rua como costuma fazer.


— O que é, Alejandro? Quer fingir que se importa comigo

agora? Essa fase já passou, querido maninho. Não sou mais uma

criança indefesa. Você me chamou aqui para cuidar da Alisa, estava


por perto e vim, sabe que viria. Agora, vamos parar de tentar bancar

o Sherlock e conta porque a Rayka foi embora.

Respondo que foi por conta de problemas familiares.

— Já tem uma nova babá em mente?

Por algum motivo, Mina vem em meus pensamentos, mas digo


que não.

— Pois pode ir trabalhar tranquilo, está bem? Sabe que a


minha sobrinha e eu nos damos perfeitamente bem e prometo que

não farei nenhuma loucura. Sei que só está me chamando porque

ainda está com raiva dos nossos pais. Sei que sou a última opção,
mas quando você voltar, a Alisa estará sã e salva como a deixou.

Me lança seu sorriso irônico, que encaro com a máxima

seriedade possível. Luna adora me atacar com seu humor sádico.


Vou trabalhar preocupado, confio não confiando em minha irmã. Ela

foi mudando para pior ao longo dos anos, sei que em parte tem a

ver com o seu psicológico fodido feito o meu, mas por outro lado,
não consigo não sentir raiva de algumas de suas atitudes que vi e

coisas que presenciei, as quais prefiro esquecer.

Como ela mesma disse, não adianta agora bancar o irmão

preocupado. Foi difícil dar a atenção que ela precisava enquanto


tive que encarar os meus próprios desafios. Antes de chegarmos à

mansão éramos só nós dois, depois tivemos outros a quem nos

refugiar, ou talvez mais gente de quem nos esconder, ocultar os

nossos lados obscuros.

É muito difícil fingir ser normal quando por dentro tudo é um

caos.

Passo o dia de intenso trabalho, ligo para Isabel duas vezes

para saber como andam as coisas em casa e ela me tranquiliza,

afirma que Luna está conseguindo distrair a Alisa muito bem. Ela
não quis ir para a escola, estão o dia inteiro em casa se divertindo.

Prefiro assim, não me agrada a ideia da Alisa ficar na rua com a tia.

Já pela tarde, a secretária bate à minha porta, entra e avisa:

— Doutor Alejandro, os avós da Alisa já estão aqui.

Respiro fundo, dizendo em gestos para que ela os deixe entrar

e chamar Joaquin. Tenho o desprazer de assistir os Pavón se


sentarem diante de mim. Joaquin entra logo em seguida com um

envelope em mãos e fecha a porta.

— Olá Alejandro, estamos muito contentes por ter chamado a


gente aqui, isso mostra que está levantando uma bandeira branca e

que a partir de agora aceitará a nossa aproximação da Alisa, não é

isso? — Eduardo pensa que me convence com seu papo furado.

Prefiro ir direto ao ponto, fazendo os sorrisos amarelos deles

se desfazerem quando ordeno que Joaquin lhes entregue o

envelope.

— O que é isso? — indaga Rúbia, curiosa. O marido abre o

pacote encontrando as várias notas de Euros. Ele finge espanto e


me fita como se não entendesse.

— Está tentando nos comprar? Não viemos aqui para isso.

Começo com os sinais que são traduzidos pela voz do meu

assistente:

— Investiguei as suas vidas, sei que estão falidos. Esse

envelope é uma gorda ajuda para que deixem a mim e a Alisa em

paz para sempre. O valor é imutável, é pegar ou largar.

Eles estão boquiabertos, se entreolham, se envergonham,

perdem as palavras, mirando a mim e a Joaquin ao mesmo tempo.


Eduardo tenta argumentar, mas a esposa coloca a mão sobre a sua,

indicando que não é uma boa ideia. O homem respira fundo,


deixando cair a máscara, revelando que foi atrás disso que eles

vieram desde o início e com facilidade estica um sorriso, dizendo:

— Certo.

— Tudo bem, Alejandro — afirma a mulher.

Joaquin lhes faz assinar um documento que me resguarda de

qualquer problema que possam querer ocasionar no futuro. Por fim,

faço um gesto para que saiam, os mandando ir embora como se

fossem cachorros. Eles levantam, dão os braços, chegam até a


porta, mas... antes de transpassá-la, olham-me com um brilho

malévolo nos globos e Eduardo é o portador da notícia:

— Acho que gostaria de saber que a nossa Maite deu notícias.

Saiba que... ela está pensando em voltar, e quer conhecer a filha.

E, assim se vão, me deixando destroçado por dentro. Isso não


pode ser possível!! Por alguns segundos chego a não ouvir nada ao

meu redor, sendo atacado outra vez pelas lembranças do passado.

Um som distante se faz presente quando a voz de Joaquin me


pergunta:

— Você está bem? Alejandro... tudo bem?


Ergo a mão para ele, pedindo para que saia e sou obedecido.
Levanto, caminhando de um lado a outro da enorme sala, bebo

água sentindo-me suar frio só de pensar no retorno dessa mulher,

no que ela pode tentar em relação à minha filha. Fico perturbado e


nervoso.

Saio do prédio, dispenso o Diogo, pegando eu mesmo o carro,


dirigindo direto para o El Baco, onde logo estou andando entre as

figuras vestidas em trajes íntimos, sob máscaras que escondem as

suas faces assim como eu escondo a minha. Procuro uma nova

presa para descarregar toda essa carga emocional ruim que está
sob os meus ombros.

Encontro uma morena voluptuosa que aceita ceder aos meus


desejos. Sigo com ela para um dos quartos, amarro-a de bruços

sobre a cama de couro negro, prendendo os seus pulsos e


tornozelos com as cordas nos cantos, deixando-a toda aberta com
um travesseiro abaixo do quadril, erguendo sua bunda que fica

empinadinha.

Pego uma palmatória de couro negro com spikes, passando


delicadamente por entre as suas coxas, deixando-a sentir o

material, tocando sua fenda vaginal, excitando-a. Acaricio sua


bunda, preparando-a para o que vem a seguir, então lhe dou a
primeira lapada. A mulher estremece com o impacto, toda deliciosa,
gemendo e gostando. Isso me excita, me deixa louco, com o pau
pressionando a calça.

A presenteio com mais uma, duas e até três lapadas, deixando

as suas nádegas marcadas. Ela se move como pode, ondulando o


bumbum, chamando-me, grunhindo maravilhosamente. Livro-me da

palmatória, pego a camisinha na carteira, abro a braguilha da calça


social, ponho o membro para fora e protejo-me.

Subo na cama, montando na mascarada, enfiando-me entre os


seus lábios vaginais, atolando sua bocetinha em um só movimento

que me faz abrir a boca em mais puro tesão. Fecho os olhos


movimentando o quadril, entro e saio dela com força e virilidade,

deixando o prazer tomar conta, vindo e dominando.

Em um movimento rápido e um tanto quanto eufórico,


desamarro as suas pernas, viro a mulher de frente, surpreendendo-
a, alojando-me entre suas coxas, penetrando-a outra vez com uma

força bruta, com pressão, socando e golpeando.

Quando estou no auge do prazer, novamente penso em Mina,


mesmo sem querer ela invade os meus pensamentos de maneira
arrebatadora, me desviando do foco, porém permitindo que eu tenha
um orgasmo arrasador. Por quê?

Volto para casa pensando apenas nesta pergunta, tentando

compreender o motivo dessa mulher ainda permanecer na minha


mente mesmo quando acho que já a superei. Desde o nosso
encontro no hotel que a enxergo com outros olhos. Na verdade,

sempre vi pureza e inocência nela, contudo achei que poderia


corrompê-la através do dinheiro como sempre faço, mas estava
redondamente enganado.

Mina não se deixou corromper, ela tinha um motivo honrado


para aceitar o meu dinheiro, foi sincera, e agora pediu para pagar a
dívida sendo a babá da minha filha. Só que vai muito além disso, eu

a desejo e tê-la sob o mesmo teto não é nem de longe uma boa
ideia.

Não me envolvo com aquelas que trabalham para mim, não

quero conviver com o perigo e com a tentação. Além disso, algo


mudou depois do hotel, a bailarina conseguiu ganhar o meu respeito
e até uma certa admiração, se encaixando naturalmente em alguém

com quem eu não me relacionaria sexualmente, pelo simples fato de


tê-la conhecido mais do que deveria, por saber da sua história e da
responsabilidade que seria tê-la em minha cama.
Não sou um covarde, muito menos cruel ao ponto de me
envolver com alguém sabendo que não posso oferecer o que ela

realmente merece. Por isso, sou frio e objetivo, não deixando que
haja sentimentos, assim consequentemente não haverá problemas.

Quando chego em minha cobertura, encontro a Alisa

assistindo um filme com a Isabel no sofá da sala e comendo pipoca.


Ela vem me abraçar, a pego no colo, adorando senti-la um pouco
mais leve emocionalmente.

— Onde está sua tia? — pergunto, só depois me dando conta


de que falei com ela na frente de Isabel, no entanto, ela não esboça
qualquer reação. Isso me deixa aliviado.

— Está dormindo em um dos quartos de hóspedes — informa.

— Ela brincou com a Alisa o dia inteiro, mas ao cair da noite


parecia bastante cansada e foi se deitar — afirma Isabel,
participando da conversa, ainda encarando o fato de eu ter falado

pela primeira vez em sua frente como algo normal. Curioso.

Assinto para ela, não dizendo mais nada. Deixo minha


pequena no chão, dando-lhe o olhar que ela já compreende,

sabendo que preciso tomar banho e trocar de roupa antes de


qualquer coisa. Ela volta a sentar-se com a Isabel enquanto subo as
escadas para o piso superior. Antes de entrar em meu quarto, deixo

a maleta de trabalho no chão e resolvo procurar por Luna.

Encontro-a em um dos cômodos, dormindo ainda de calça e


agora usando uma das minhas blusas de mangas longas, de cor

branca e de linho. Observo-a, vendo nela a criança que um dia já


foi, linda... delicada. Porém, noto algo na parte superior do seu pulso
esquerdo. Seguro-o devagar para não a acordar, puxando a manga

da camisa e dando-me visão para os cortes recentes que tomam


quase todo o seu antebraço, me deixando apavorando e
decepcionado outra vez.

Ela continua se automutilando.

A mulher levanta as pálpebras lentamente e, ao me ver se


assusta, afastando-se de mim como se eu fosse algum tipo de

doença contagiosa, puxando a manga da camisa, cobrindo-se.

— O que é isso?! O que pensa que está fazendo, seu idiota?!


Só porque o apartamento é seu não pode mais bater antes de
entrar!? — Me ataca, como sempre faz quando se sente acuada.

Permaneço quieto, a mirando em um rebu de sentimentos.


Sinto pena, sinto raiva, decepção, incompreensão e compreensão
ao mesmo tempo. Quero ajudá-la e ao mesmo tempo brigar por
continuar fazendo essa merda! Quero ser seu irmão mais velho e
protetor que um dia já fui, ao mesmo tempo em que me comparo a
ela e percebo que não tenho moral nenhuma para lhe dar

conselhos, tendo em vista que de certa forma, de outras maneiras,


me automutilo também, seja no silêncio, seja no sexo com
desconhecidas ou no coração fechado para o amor.

— Não adianta me olhar assim! Você não é ninguém para me


julgar, não é nada, veio da mesma merda que eu, é tão fodido
quanto eu e não adianta negar! A nossa única diferença é que

sempre fui mais descuidada, deixando-me expor algumas vezes.


Mas este é um problema meu e ninguém tem o direito de se meter,
sou assim e pronto, não estou nem aí para a sua opinião, Alejandro!

Agora me dá licença!

Saio do quarto lentamente, demorando um pouco para


processar o que acabei de presenciar e no fim escutar. Fico

realmente sem saber o que fazer, me sentindo incapaz de ajudá-la


por saber que não sou apto nem mesmo de me ajudar, deixando-a
com lágrimas nos olhos. Merda!

Mais tarde, enquanto estou colocando a Alisa para dormir,


depois que Luna foi embora sem se despedir, a garotinha me fita da
forma que já conheço e indaga:
— O senhor e a tia Luna brigaram?

— Não — minto —, por que acha isso?

— Porque sei quando ela ou o senhor estão chateados. Agora

estou triste, achei que ela poderia ser a minha nova babá. Gosto da
tia Luna tanto quanto gosto da Rayka.

— A tia Luna não pode ser sua nova babá, ela tem as suas

ocupações — que são bem desagradáveis por sinal.

— Não tem problema, eu fico apenas com a Isabel e com o


Diogo — encontra uma solução nada feliz.

— Não dá minha filha. Temos que encontrar alguém para

cuidar de você.

— Mas eu não quero mais ninguém, papai — se vira para o


lado oposto, encolhendo-se, chateada.

Lembro das palavras de Mina afirmando que não seria difícil


para a Alisa se adaptar com ela, já que elas têm uma certa
convivência na escola de balé, além de que, são amigas. Cogito

essa possibilidade, realmente tinha planos para que Luna ficasse


mais tempo até encontrar alguém já experiente no ramo para ser a
nova babá, porém a minha princesa, assim como toda criança se
apega muito às pessoas. Trocar de babá não é como trocar de
roupa, há um vínculo envolvido.

Sopeso rapidamente os prós e os contras, o desejo que ainda


sinto pela bailarina e a preocupação de ter a Alisa sem alguém o dia
inteiro. Ela não quer ninguém a não ser Rayka, havia se empolgado

com a tia por ser alguém próximo, fica óbvio que alguém conhecido
é mais fácil para ela aceitar e menos tempo perdido procurando
outra pessoa.

Penso que, posso sim me manter no controle, mesmo com


Mina tão próxima. Analisando a questão mais a fundo, nós mal
iremos nos ver, quando ela chegar, já estarei trabalhando, quando

eu voltar para casa, ela já estará partindo. O problema se torna fácil


de resolver quando ponho na balança e me pergunto o que é mais
importante, a resposta, como sempre, é a Alisa.

Mina provou ser de confiança, não mentiu sobre sua situação,


gastou o dinheiro com o prometido e ainda exige pagar a conta.

— E se a sua professora Mina fosse a sua nova babá? Ela me

pediu isso — conto delicadamente, observando a menina virar-se


para mim, com o sorriso já nascendo.

— Sério, papai? — Os seus olhos brilham, sei que dará certo.


Após conversar com a pequena e deixar tudo certo, envio uma

mensagem a Mina, que concorda com a minha decisão de começar


logo no dia seguinte. Converso com a Isabel antes de dormir e,
quando amanhece, ao pegar a estrada para a empresa, informo a

Diogo sobre a novidade. Percebo que ele fica surpreso ao saber que
a mulher, a qual dias atrás convidei para levar à cama, agora será a

nova cuidadora da Alisa, porém como sempre é bem discreto e não


diz absolutamente nada.

Passo o dia inteiro conseguindo pensar apenas na senhorita


Pacheco com a senhorita Alisa. Troco mensagens com Diogo e

Isabel algumas vezes, ambos me tranquilizam, afirmam que a


professora está se saindo muito bem e que a garota está aceitando

bem a transição de babá.

Quando por fim o expediente termina, mais cedo do que o


comum afinal, deixo a Javier e retorno para casa, sendo recebido
por uma governanta nervosa, que toma a minha mala, tentando

aparentar que está tudo bem, mas sei que não, nestes dois anos
que trabalhamos juntos já a conheço bem. Miro-a desconfiado.

— Boa noite, doutor Alejandro — cumprimenta ao invés de

falar o que está acontecendo. Porém nem precisa, escuto uma


música distante, algo incomum.
Sigo os meus sentidos, partindo rumo à escada, deixando a
Isabel para trás que nem tenta me parar, pois sabe que não
adiantaria. Chego ao corredor superior, o rock ficando mais audível

e mais potente. O que está acontecendo aqui?

Abro a porta do quarto da minha filha, chocando-me ao


encontrá-la como uma louca, pulando sobre a cama com Mina que

parece estar mais doida que ela, diria até... possuída, jogando o
cabelo de um lado a outro, divertindo-se como se fosse criança
também. O barulho está terrível, a bagunça pior ainda, penas de

ganso saindo dos travesseiros e voando por todo lado.

Encontro o controle do som e o desligo, indignado com


tamanha audácia da professorinha que em seu primeiro dia de

trabalho já está causando tamanho estrago. O meu rosto


naturalmente traduz a pergunta mais óbvia de todas: O que está
acontecendo aqui??

— Papai!! — Alisa se assusta, pondo as mãos na boca,


esbugalhando os olhos.

— Doutor Alejandro?! — Mina salta da cama em um piscar de


olhos, em um sinal de alerta, sem saber o que fazer — Eu, eu, eu...

e a Alisa estávamos...
— Fui eu quem fiz tudo isso, papai! Não briga com ela, por
favor! — Alisa a defende, mas isso só aumenta o meu

aborrecimento. Fito a bailarina com extrema seriedade, dando


passagem na porta para que ela passe, pedindo implicitamente para
que se vá.

Ela entende e obedece, caminhando depressa, fugindo com a


cabeça baixa e preocupada, sabendo que me causou uma péssima
impressão. Fecho a porta à suas costas, encarando a Alisa que

desce da cama descabelada, lembrando uma galinha fofinha, cheia


de penas.

— Explique-se — exijo.

Deixo ela falar e contar toda a sua versão da história,

percebendo que Luna tem culpa pela Alisa gostar de ouvir essas
músicas perturbadoras. Não entendo como ela pode me dizer que
gosta disso.

— Isso acaba hoje, mocinha. Que nunca mais se repita,


entendeu? — Minha voz é severa.

— Tudo bem, mas não mande Mina embora, por favor —

implora com os olhinhos repletos de água, ela sabe que me ganha


quando faz essa carinha.
— Não o farei, mas agora preciso conversar seriamente com

ela. Fique aqui — ordeno já saindo do cômodo e chegando ao outro


onde encontro a porta entreaberta. Bato, mas parece que não sou
ouvido.

Abro a boca querendo chamar por Mina, porém a voz não sai,

ela ainda é uma estranha. Nunca me dei bem com estranhos, com
eles a voz trava, já notei que preciso confiar bastante para me sentir

confortável e falar.

Entro devagar, mirando o interior do espaço, chegando a


pensar que ela não está aqui, mas me surpreendo ao vê-la saindo
do banheiro envolta em uma toalha curta, toda molhadinha, com o

cabelo cacheado solto e molhado, emoldurando sua linda face. Seu


corpo seminu me faz esquecer de tudo e o meu desejo parece ser

ascendido por um raio.


MINA PACHECO

— Oh, meu Deus! — exclamo ao ver Alejandro parado a


poucos metros, observando-me como se tivesse hipnotizado, aquele

olhar faminto que já recaiu sobre mim outras vezes.

Porém, não tenho tempo para contemplá-lo agora, sinto-me


corar envergonhada pela situação, já que somente uma toalha

branca e curta, cobre o meu corpo ainda úmido. O homem abaixa a

cabeça, parecendo voltar a si, erguendo a mão como se pedisse


desculpas e saindo do cômodo enquanto retorno para o banheiro

em uma tentativa de me esconder.

Assim que a porta se fecha, suspiro tentando entender o que

aconteceu. O que ele queria? Provavelmente me demitir pelo que


fiz. Por que não bateu? Por que não me chamou? Ah sim, o homem

não fala, mas bem que poderia ter batido! Ou será que bateu e não
ouvi por estar tomando banho?

Meu celular apita em cima do criado-mudo, pego-o vendo a


mensagem do meu agora chefe:

Desculpe, eu bati, mas você não ouviu. Espero-a no

escritório para conversarmos.

É como um soco gelado na barriga. Sim, serei demitida no

primeiro dia de trabalho. Merda! Foi tudo tão rápido, a Alisa estava
se divertindo e contagiou-me com a sua diversão, não quis parar,

logo eu, que nunca ouvi músicas daquele tipo, porém deixei me

levar pela brincadeira, a felicidade que há tanto tempo não sentia,


os sorrisos estrelados da garotinha.

Abro a mochila e começo a separar algo para vestir, uma calça

jeans e uma blusa de mangas, deixando o cabelo cacheado e

volumoso solto para contornar o meu rosto. Esborrifo o perfume,


lembrando da imagem de Alejandro no quarto. Por um instante tive

medo, devido à maneira como nos conhecemos.

Não quero que ele me veja como uma garota fácil, ou da qual

possa se aproveitar, pensei pouco nisso antes de me oferecer ao


cargo de babá, mas... acho que devido ao comportamento
inesperado dele naquela noite, o vi com outros olhos.

Lembro das palavras da minha mãe, e é exatamente por isso

que estou optando por usar roupas que me cobrem, já que também

gosto de vestidos e saias de vez em quando. Mas a questão é que,

Alejandro não me passa medo e também não parece um homem do

tipo abusador, se bem que este tipo não vem com aviso na testa,
coisa que me faz recordar de Santiago, filho da dona Lorena a

pavoa, que me atacou.

Sigo para o escritório um pouco tensa, não era essa a primeira

impressão que queria causar. Penso no que dizer, abro a porta no

instante em que Isabel está saindo com uma bandeja vazia, meu
olhar recai sobre o seu, de quem diz que me avisou, mas não dei

ouvidos. Ela fecha a porta, deixando-me sozinha com o senhor

Javier.

Ele está sentado atrás da escrivaninha, imponente trajando um

terno como sempre, poderoso e belo. Faz um gesto, convidando-me

a sentar, sento e, não podendo mais aguentar, disparo:

— Doutor Alejandro, por favor, me perdoe, eu... sei que não

deveria ter feito isso, a Isabel avisou que o senhor não suportava
baderna, mas é que a Alisa me chamou para escutar aquela música.

Bem, eu pensei, o que há de mal? Não imaginei que fosse um rock


tão pesado, e aí... a gente começou a se divertir...

Ele ergue o indicador direito, pedindo silêncio, me calo notando


que novamente falei demais. Quando fico nervosa é sempre assim.

O homem está sério, pega uma caneta sofisticada e um bloco de


notas, escreve algo me deixando curiosa, então me mostra:

Não quero mais que aquilo se repita, não é o tipo de

criação que quero dar à minha filha. Estamos entendidos?

Tipo de criação? Mas era só uma brincadeira. Porém, como

não estou em posição de contestá-lo, respondo:

— Sim, senhor.

Ele suspira, olhando para o lado pensando, então volta a


escrever:

Sabe por que aceitei a sua proposta de trabalhar para


mim?

— Por que eu pedi? — indago erguendo uma sobrancelha.

Também, mas principalmente por você ser alguém que a

Alisa já conhecia, alguém que a deixa confortável. Espero que


não estrague isso.
Ele escreve rápido, mas esperá-lo se comunicar dessa forma

me deixa levemente agoniada, contudo é claro que não demonstro.


Isso só me faz ficar ainda mais curiosa, nunca consigo esquecer de

quando me disse que não era mudo, porém não falava. O que será
que ele tem?

— Certo. Prometo que não estragarei. Tudo aquilo foi um


equívoco.

Aprenda a linguagem de sinais, não tenho paciência para

escrever ou digitar sempre que precisar me comunicar com


você.

— Certo... eu aprenderei.

Alejandro assente, demonstrando que já acabou. Levanto-me


pensativa e devagar, por algum motivo achei que ele seria bem pior

e mais severo como às vezes aparenta ser, apesar de ter agido com
um coração imenso comigo naquela noite no hotel. Estou me

coçando para fazer uma pergunta, tenho tanta vontade de entender,


entretanto pouca intimidade para isso.

Miro o homem que franze as sobrancelhas em indagação,


notando que não acabei, demonstrando o quanto é lindo de todas as

formas. Tomo coragem e decido facilitar a sua vida:


— É que... o senhor me acharia muito indiscreta se eu
perguntasse uma coisa... íntima? — Meu corpo parece estar
decidindo se arrepende ou não de ter começado. Alejandro aparenta

estar indeciso em sua resposta — Ah, desculpe, deixa pra lá.

Sua mão se ergue, permitindo que eu continue.

— Se o senhor puder, gostaria de saber o motivo de não falar


já que... uma vez me disse que não era mudo — falo
cuidadosamente, não sei o terreno no qual estou pisando.

O homem pensa um pouco, decidindo o que responder e

escreve:

Mutismo seletivo

O que é isso? Penso, mas por hoje já foi o suficiente, tenho a

impressão de que se atormentá-lo um pouco mais, serei demitida.


Saio do apartamento sem ver a Alisa e isso de certa forma corta o

meu coração. A reação dela tentando me proteger quando o pai nos


flagrou foi incrível, ela é ainda mais adorável do que demonstrava
ser no balé.

Ao deixar o prédio, encontro o Diogo na rua, de pé ao lado do

Mercedes.
— Boa noite senhorita Pacheco, eu estava a esperando, irei
levá-la para casa.

— Sério? Que legal! Estou tão cansada, odiaria pegar o metrô.

O homem abre a porta traseira, deixando-me entrar. Pegamos


a estrada, ele resolve puxar assunto:

— Então, como foi seu primeiro dia de trabalho?

— Foi ótimo até o patrão chegar — sorrio, deixando o chofer

curioso.

— Por quê?

— Ele me flagrou dançando rock em cima da cama com a

Alisa, acredita? — conto, vendo-o boquiaberto.

— É, realmente foi um péssimo início.

— Ah, obrigada pela sinceridade — brinco, fazendo-o rir.

— Desculpe, é que conheço o meu chefe, quer dizer... nosso

chefe, e sei que não deve ter gostado de ver isso.

— Ele parece ser um homem do tipo conservador, não é?

— É... acho que sim — sorri, já estudando as palavras.

— Ah Diogo, deixe de bobagem! Agora nós somos parceiros

de trabalho, o que falarmos entre nós, ficará entre nós.


— Por que está dizendo isso? O que quer saber, espertinha?

Gargalho, jogando a cabeça para trás, e continuo:

— O doutor Alejandro disse que não fala porque tem mutismo


seletivo, você já deve saber disso, não é? Sabe me explicar um

pouco melhor?

— Hum... é um tipo de transtorno de ansiedade, algo


psicológico que o impede de falar com algumas pessoas. É o que

sei. Nunca pesquisei a fundo.

— Com algumas pessoas? Então ele fala com alguém?

— A senhorita Alisa uma vez me disse que ele fala com ela,

mas nunca vi.

— Que curioso! — fico intrigada e pensativa — Mas isso tem

cura? Bem, se é um transtorno... pode ter uma solução, um


tratamento.

— Deve existir, mas de fato não sei lhe informar. Para lhe falar

a verdade, nunca antes havia conhecido alguém como o senhor


Javier. Tive que aprender linguagem de sinais para poder ser o seu

motorista.

— Também nunca vi alguém com isso e hoje foi a primeira vez

que ouvi falar em mutismo seletivo. Preciso aprender linguagem de


sinais, o silêncio dele às vezes incomoda, talvez seja pelo fato de

que falo demais.

— Isso vai facilitar muito as coisas, você vai ver. Com o tempo
também fica mais fácil de entender todas as caras e bocas dele, os

seus olhares e gestos. Às vezes nem é preciso recorrer aos sinais.

A gente se acostuma.

— Espero que sim. Gostaria muito de ouvir a voz dele — olho

pela janela, imaginando com um sorriso bobo nascendo —, deve ser


grossa ou rouca ou... forte como ele — suspiro lembrando daquele

homem, só então me recompondo, quando noto os olhos marotos

do motorista sobre mim pelo retrovisor.

Mais tarde, após jantar e tomar banho, sento-me em frente à

minha humilde escrivaninha no quarto, então passo a pesquisar

tudo acerca de mutismo seletivo no notebook, lembrando que fiz a


mesma coisa quando notei que minha mãe estava bebendo demais,

momento em que fui atrás de conhecer mais sobre o vício do

alcoolismo.

Descubro que Diogo estava certo, mutismo seletivo é mesmo

um transtorno psicológico, onde o indivíduo recusa falar em

determinadas situações ou com algumas pessoas, que começa


quando criança, mas que se não for devidamente tratado pode

chegar até a vida adulta, e geralmente envolve as pessoas tímidas


ou introvertidas e é mais comum em meninas.

As causas podem ser um elevado nível de ansiedade, que


pode ser por predisposição genética e associada com maior

atividade da amígdala cerebelosa. Pode indicar algum tipo de

transtorno de comunicação, ou de separação, ou estar associado a

outro transtorno de ansiedade, ou estar ligado a um trauma


psicológico, mas essa não é necessariamente uma das causas.

Quanto maior a demora em começar o tratamento, mais difícil


e demorado é a recuperação, pode durar apenas alguns meses ou

muitos anos. Quanto mais persistir, mais provável que se acumule

com outros transtornos ansiosos ou emocionais.

Após mais de uma hora lendo todo conteúdo que encontrei a

respeito, decido assistir vídeos no YouTube para tentar entender

melhor. Aprendo que o mutismo seletivo também pode ser chamado


de mutismo eletivo ou Transtorno da Comunicação Social, que o

indivíduo fala em casa com a família, mas quando chega em

determinados ambientes possui grandes dificuldades em se

comunicar, coisa que atrapalha seu desenvolvimento social e


emocional.
Vejo vídeos de crianças com o transtorno, e até outros

didáticos mostrando como a pessoa que tem isso se sente, que ela

quer muito falar às vezes, porém não consegue, é como se fosse

uma espécie de bloqueio na voz. Entender tudo isso me deixa


altamente sensibilizada em relação ao Alejandro, não consigo não

sentir certa pena dele, ao mesmo tempo em que não consigo

entender como um homem tão rico, ainda sofre deste problema. Ele
pode ter acesso aos melhores profissionais especializados na área

do mundo.

Por fim, digito o nome dele no Google, descobrindo também


que o pai gato da Alisa é o CEO da Montres Javier S.A. Quando

ouvi o seu sobrenome pela primeira vez, me pareceu bastante

familiar, porém não associei à uma das marcas mais renomadas no


mercado relojoeiro atualmente. É então que vem outra pergunta:

como ele pode ser o presidente de tamanha empresa se não fala?

Ou será que conversa com todos os funcionários ou com alguns?

Encho-me de dúvidas, até que caio no sono e só acordo no

outro dia. Após o café, ligo para a clínica de reabilitação e converso

com mamãe, perguntando a ela como está lidando com o


tratamento. Fico tranquila ao saber que está bem e até gostando da

mudança, menos dos remédios que tem que ingerir. Conto-lhe sobre
o meu novo trabalho, sobre a Alisa e o quanto estou gostando.

Converso também com a sua médica, que me informa seu


comportamento positivo nesses primeiros dias.

Assim, vou trabalhar em paz.

— Bom dia, Isabel! Tudo bem com você? Hoje eu não cheguei

atrasada! — sorrio, vendo-a conferir a hora no relógio de pulso e

sorrir de volta.

— Sim, está pontual, senhorita Pacheco.

— Onde está a Alisa?

— No quarto, acabei de acordá-la, ela precisa...

— Se aprontar para a escola, pode deixar comigo, li tudo na

agenda que me deu.

— Ótimo, espero que tenha aprendido a lição ontem — ergue


uma sobrancelha. Suspiro, sabendo que ela será mais uma a puxar

o meu pé.

— Sim, aprendi, não se preocupe.

— Ótimo, assim será uma dor de cabeça a menos se você não

for outra senhorita Luna — comenta, parecendo se esquecer por um


instante de que ainda estou aqui, na sua frente.
— A tia da Alisa? — indago.

— Sim, foi ela quem influenciou a menina para ouvir aquelas

músicas horrorosas. Se é que podemos chamar aquilo de música —


balança o rosto, parecendo com nojo

— Olha, eu também não sou nem um pouco fã de rock, mas se


a Alisa gosta, não acha que...

— Não acho nada! E a antiga babá também não, ela somente

obedecia, aconselho que você faça o mesmo ou não conseguirá


passar muito tempo por aqui, pois, como já lhe avisei, o doutor

Javier detesta baderna!

A mulher me dá as costas e segue rumo à cozinha. Nossa, que

povo chato! Os únicos mais legais até agora são a Alisa, o Diogo e a

Luna, que ainda não conheço, mas já tenho uma simpatia por fazer
a sobrinha feliz.

As próximas horas se resumem em deixar a pequena princesa


pronta, fazê-la tomar o café da manhã e levá-la para a escola com o
Diogo. Depois retorno para a cobertura e é aí que descubro o

verdadeiro significado de tédio, fico mexendo no celular, assistindo


televisão, resolvendo algumas coisas particulares na rua ou
observando a Isabel de lá para cá organizando esse apartamento
enorme sozinha.

Depois, Diogo chega para que possamos pegar a Alisa, ele


fica se revezando o dia inteiro entre nós e Alejandro. Almoçamos, e

vamos para o balé — onde aproveito para exercer meu outro


trabalho, dando assistência à professora Iolanda — ao retornarmos,

brincamos e peço a ela que me ensine a linguagem de sinais para


poder me comunicar com seu pai quando for preciso e, é
basicamente assim que as coisas acontecem todos os dias.

Fico estudando os sinais quando estou em casa, visito minha

mãe nos finais de semana, pela primeira vez em muito tempo me


sinto empolgada com o rumo que as coisas estão tomando. O mais

curioso é que só vi Alejandro no primeiro dia e nunca mais. Quando


chego, ele já não mais está, e quando saio, ele ainda não tem
chegado.

Tento me controlar, mas só penso nele a todo instante, mais do

que quando não o conhecia. Ao dormir, os sonhos com sua imagem


se intensificam. Antes me via dançando para ele, agora o vejo
chegar em meu quarto a noite, do nada e deitar sobre mim na cama,

entre as minhas coxas, com aquele olhar matador que me tira do


eixo. Acordo pegando fogo, molhada intimamente, então preciso
tomar um belo banho frio para me acalmar.

O intrigante é que, devido a tantas responsabilidades que tive

desde jovem, nunca houve tempo para namorar ou pensar na vida


sexual, mas ultimamente, sempre que penso em sexo,
automaticamente a figura do meu chefe vem à minha mente,

causando-me vibrações e sensações gostosas.

É incrível como o tempo passa rápido, começo a terceira


semana de trabalho com a esperança de ver Alejandro outra vez, ao
mesmo tempo em que me culpo por possuir tal desejo, já que o meu

objetivo aqui é ser babá da sua filha, apenas isso e nada mais.

O comportamento do meu chefe deixou ainda mais claro o seu


caráter, de que aqui temos apenas uma relação trabalhista, o que

houve — ou melhor, o que não houve — naquele hotel ficou


totalmente para trás. Tenho que entender essa questão para não
misturar as coisas, mas impressiono-me como ele parece conseguir
lidar com isso de forma tão natural, apesar do seu olhar faminto no
dia em que me viu apenas de toalha.

Alisa e eu estamos cada vez mais próximas, e o melhor de


tudo, amigas ainda mais íntimas do que já éramos quando apenas
nos víamos na Nina Speitzer. Nos encontramos agora na

brinquedoteca, sentadas a uma de suas escrivaninhas pequeninas


coloridas, fazendo seu dever de casa da aula de francês.

— La couleur de la pomme est rouge — tento fazê-la

pronunciar a frase corretamente que diz “a cor da maçã é vermelha”.


Alisa tenta falar, mas não consegue, repito a frase, porém ela perde
a paciência.

— Ah, não quero mais aprender francês! Não sei por que devo
saber outras línguas já que sou da Espanha! — cruza os braços e
faz bico.

— É para que você seja fluente em outras línguas, meu anjo —

explico, acariciando os seus cabelos —, isso é importante e facilitará


bastante a sua vida no futuro, além de ajudá-la no balé.

— Para você parece muito fácil! Como consegue?

— Ah, iniciei assim como você, quando ainda era


pequenininha, por isso hoje é mais fácil.
— Não quero mais! Vou falar para o meu pai que não quero

francês, não quero! — faz birra irritada. Suspiro, pensando no que


fazer.

— Vamos fazer o seguinte: a cada palavra que você está me

ensinando a falar em forma de sinais, eu te ajudo a pronunciar em


francês. Pode ser assim?

— Não sei — é manhosa.

— Vamos! Vai ser divertido, tenho certeza que vai gostar! Se

não aceitar não deixarei mais que me ensine os sinais.

— Ah Mina, mas gosto de ser sua professora!

— É pegar ou largar — ergo uma sobrancelha.

— Tudo bem... eu pego! — concorda sem querer, mas só

assim consigo vencer mais esta batalha.

— Agora vamos almoçar, depois continuamos — digo


levantando. Saímos de mãos dadas rumo à sala de refeições onde a

Isabel nos aguarda com a mesa posta como em todos os dias —


Hmmm, que cheirinho maravilhoso! Parece que a senhora caprichou
de novo, hein dona Isabel!

— Obrigada — afirma, fria como sempre. Durante todo este


tempo em que estou aqui, nós mal conversamos, apesar de eu ter
tentado algumas vezes.

Observo-a melhor enquanto a Alisa se senta, vendo a mulher


dar um passo para trás, virar e espirrar em um lencinho que segura

na mão. Só então noto seu abatimento, o nariz vermelho.

— Desculpem-me — pede.

— Está doente? — indago aproximando-me dela.

— É só uma gripezinha inesperada.

— Quer ajuda? Sei fazer um ótimo chá.

— Não, já me mediquei, só preciso esperar o efeito do remédio


chegar.

— A senhora está soando — afirmo tocando em seu antebraço

—, e com febre — fico preocupada —, é preciso descansar, onde


fica seu quarto?

Ela me fita, pensando no que dizer, talvez decidindo se nega o


meu auxílio outra vez, mas por fim, funga e responde:

— É... acho que estou um pouquinho cansada, e ainda preciso


fazer o jantar do doutor Alejandro.

— Não se preocupe, eu posso te ajudar com isso, em primeiro

lugar a sua saúde.


A senhora assente, poucos minutos depois, a Alisa e eu a
observamos tomar o chá de alho com limão que preparei, sentada

em sua cama em seu quarto.

— Obrigada, senhorita — murmura, com os olhos pesados,


após o último gole.

— Agora deite-se e durma um pouco, trouxe essa compressa

de gelo para deixar sobre sua testa. Acordará muito melhor, pode
apostar.

— Posso pôr a compressa em você, Isabel? — indaga a Alisa,

preocupada com a mulher, querendo ajudar de alguma forma.

— É claro, senhorita — concorda, deixando a pequena


posicionar o objeto frio acima dos seus olhos, coisa que a faz

suspirar aliviada.

Saímos do quarto, deixando a Isabel descansar, retornamos à


mesa para almoçar.

— Será que ela ficará boa logo, professora Mina? — pergunta

a Alisa, ainda pensando na governanta.

— Com certeza vai, não precisa se preocupar, Alisa — tento


suavizar os seus pensamentos.

— E quem fará o jantar do papai?


— Creio que a dona Isabel irá ficar boa há tempo.

— E se ela não ficar?

— Aí... eu não sei — realmente não sei o que dizer.

De repente, o rostinho fofo da menina se ilumina com alguma


ideia que julga ser incrível!

— E se nós fizéssemos o jantar no lugar dela?!

— Não invente, mocinha! Sei cozinhar, mas nem de longe


conheço os gostos culinários do seu pai.

— Hmmm, ele adora comida francesa — sorri sapeca, cheia


de ideias, mas nego. Aprendi a cozinhar para mim e para a minha

mãe, não daria conta de um paladar tão requintado quanto daquele


homem, apesar de saber um pouco sobre as receitas finas.

As horas passam, a Alisa faz aula de música com o professor

particular até o sol se pôr, enquanto fico mirando o relógio, indo de


vez em quando na porta do quarto da governanta que fica depois da
cozinha, a qual continua fechada. Ela deve ter caído em um sono

profundo.

— Até a semana que vem, Alisa — afirma Lorenzo, o


professor. É um homem alto e magro, com cara de bom moço e o
cabelo penteado para o lado —, até semana que vem Mina, você

está muito bonita hoje, como sempre.

— Obrigada, Lorenzo — sorrio, um pouco tímida, vendo-o


entrar no elevador com o seu violoncelo numa caixa. Ele ensina a

Alisa a tocar de tudo um pouco —, agora vamos voltar para o seu


dever de casa? — fito-a, vendo a sua careta.

— Ah Mina, eu estou tão cansada. Onde está a Isabel?

— Ainda descansando.

— Nossa, papai vai chegar e não encontrará o jantar, tudo por


sua culpa.

Mas olha!

— Minha culpa?!

— Ah professora, por favor, eu gostaria tanto de cozinhar para


o meu pai! Vamos, vamos, vamos, vamos!

Suspiro, pensando na ideia, pode não ser tão má assim, já que

estaria fazendo um favor a Isabel e realizando mais um desejo da


Alisa. Também não vou negar que gostaria de aproveitar essa
chance para ver Alejandro outra vez após duas semanas.

— Tudo bem, mas enquanto eu cozinho, a senhorita terá que


treinar o seu francês. Já que tudo remete à França hoje, uniremos o
útil ao agradável!

Ela saltita de alegria, batendo palmas. Nos dirigimos para a


cozinha, onde visto ela e a mim com os aventais, fazendo-a entrar

na magia gastronômica. Pesquiso na internet algo fácil e que eu já


conheça da culinária francesa para poder fazer, optando então pelo
famoso Ratatouille acompanhado de arroz e carne, algo simples e

fácil.

Começo a buscar pelos ingredientes, descobrindo que aqui


tem de tudo, a cozinha além de ser de alto nível, não falta

absolutamente nada! Separo todos os vegetais que vou utilizar e


ensino a menina como cortá-los com segurança, após fazê-la ficar
sobre uma cadeira para ter altura.

Como já era de se esperar, nos divertimos, gargalhamos, nos


sujamos, mas não permito que façamos lambança para não
aumentar ainda mais as chances de sermos repreendidas por seu

pai. Alisa acha tudo incrível, para ela cozinhar a primeira vez é como
um mundo encantado repleto de descobertas, coisa que me deixa
bastante feliz.

Levamos a panela com o Ratatouille ao forno à cento e oitenta

graus, então começamos a preparar os bifes para assar e por último


cozinhamos o arroz. Enquanto realizamos todo o processo, faço a
menina repetir frases e palavras em francês, de modo que ao

mesmo tempo em que cozinha, aprende a língua nova, que antes


parecia tão dificultosa, mas que agora flui quase que naturalmente.

Assim que terminamos tudo e retiro a panela do forno, a Alisa

sorri de orelha a orelha!

— Que lindo!! — exclama, admirando a paleta de cores que a


Ratatouille forma.

— Foi nós que fizemos! Estamos de parabéns! — elogio, para

que ela se sinta um máximo como realmente é.

— Oui m'dame!

— OOOH! — abraço ela sorrindo ao vento por vê-la


pronunciar tão bem um “sim senhora” em francês.

— Mas o que está acontecendo aqui? — pergunta Isabel,


surgindo de olhos esbugalhados.

— Estamos cozinhando para o papai! — afirma a Alisa, como

se fosse a coisa mais normal do mundo, e realmente é... em outros


lugares.

— Tivemos a ideia de fazer o jantar já que a senhora estava

impossibilitada. Só quisemos ajudar — sorrio, toda amarela.


— Nós viramos chefes de cozinhaaa! — grita a menina.

— Oh, Deus! — A senhora põe as mãos no rosto incrédula, se

aproximando devagar, observando a nossa “obra de arte”. Ela


analisa... sente o cheiro... estuda tudo à sua frente, abre as outras
panelas... verifica o arroz... a carne, enquanto troco olhares

inseguros com a pequenina que está adorando tudo — Vocês


fizeram isso? — Me fita, séria.

— Aham — agora estou com muito medo de ter feito uma

grande bobagem.

— É, até que não parece tão mal assim. Na verdade, não


parece nada mal.

Alisa dá um gritinho de felicidade.

— A senhora acha que o papai vai gostar, Isabel?

— Não sei, isso teremos que descobrir juntas. Mas o que ele
não vai gostar é de chegar e encontrá-la assim. Vá correndo tomar

um banho, mocinha!

— Vamos, Alisa — a chamo, retirando-a da cadeira com


cuidado, levando-a novamente ao chão e puxando o seu avental.

Ela sai em disparada, louca para estar pronta quando seu pai
chegar. Começo a segui-la quando ouço meu nome.
— Senhorita Mina! — estanco com a voz de Isabel, olho para

ela pronta para levar um sermão — Muito obrigada por hoje, serei
eternamente grata — a mulher sorri como nunca sorriu antes.

— Acho que acabei de fazer mais uma amiga aqui —

respondo.

— Pode apostar que sim.

— Está se sentindo melhor?

— Sim, bem melhor, graças à sua ajuda.

— Pode contar comigo — afirmo correndo para o quarto da


princesa, onde ajudo-a tomar banho. Após deixá-la pronta, sigo para
o meu quarto e tomo banho também, visto-me, pego a mochila e

preparo-me para ir embora torcendo para quando sair encontrar


Alejandro, apenas para vê-lo outra vez.

O meu desejo se realiza, pois, ao chegar na sala de estar vejo-

o com a Alisa no colo sentado no sofá, que parece ter lhe posto a
par de tudo o que aconteceu hoje.

— Bonne nuit, professeur Mina — sorrio quando recebo seu

boa noite.

— Bonne nuit princesse — cumprimento-a de volta, momento


em que as sobrancelhas do homem se erguem, os seus globos
esverdeados como esmeraldas me observando surpresos — Boa
noite, doutor Alejandro.

O homem assente com o rosto amigável, mas sem perder o

seu semblante quase introspectivo de sempre.

— Não Mina, assim não. Faça como te ensinei — pede.

— Ah, tudo bem, então.

Assim, dou boa noite ao chefe através de sinais, gesticulando


as mãos. Alisa bate palmas, feliz por eu ter conseguido.

— Agora vou embora, já está mais do que na hora — afirmo.

— Ah não professora, por favor, fique e jante conosco! Papai,


ela merece jantar conosco, nós dividimos a cozinha!

Oh, merda! Por essa eu não esperava!

— Não meu anjo, não precisa. Agora está na minha hora,


amanhã nos vemos. Venha cá me dar um abraço de despedida.

— Papai, por favor, peça para ela ficar! — A garota insiste, me


colocando em uma saia justa. Alejandro passeia os belos olhos
entre mim e ela, pensando no que fazer.

Então, assente novamente, fixando em mim. Alisa comemora


enquanto estremeço todinha por dentro.
ALEJANDRO JAVIER

— Oh, meu Deus! — Mina exclama, ao me ver, despertando-


me do transe intenso que lançou sobre mim pelo simples fato de ter

surgido do banheiro apenas de toalha.

Pisco, voltando à realidade onde ela agora é minha funcionária


e eu o seu patrão. Onde ela é a jovem a quem ajudei outro dia, que

agora trabalha comigo apenas para quitar sua dívida, uma mulher

que, exatamente por isso, pelo convívio que terá com a minha filha
de agora em diante, pela hierarquia trabalhista existente entre nós,

pelo respeito que tenho aos meus princípios e tudo mais, não posso
mais desejar.
Antes eu a via como mais uma a quem levaria para a cama,

usaria e pagaria pelos serviços prestados. Alguém que cobicei


abrupta, ardentemente e que só precisava apenas matar esse

desejo insano para poder seguir em frente sem tê-la na cabeça.

Apenas isso. Agora está muito mais profundo e complexo.

Abaixo a cabeça e ergo a mão em um pedido silencioso de

desculpas enquanto ela retorna para o banheiro desconcertada,


buscando abrigo, com vergonha de estar quase sem roupa na

minha presença. Saio do quarto bem rápido fechando a porta,

desejando pedir perdão, querendo dizer alguma coisa que possa me

retratar, mas não me resta outra opção a não ser esperar.

Esperar e sentir meu pau formigando, tomando vida dentro das


calças com calor e ardência sem que eu possa ter controle. Ver

Mina corando envergonhada, sua timidez e inocência neste simples

ato, por algum motivo... me excita, além de, é claro, tê-la quase nua

na minha frente, com apenas uma mera toalha entre meu olhar e

sua nudez completa.

Encosto-me na parede defronte, passando a mão sobre a

virilha, ajeitando o volume para que não fique tão marcado como

quer ficar. Decido que aqui não é o melhor local para conversarmos,

ainda mais depois do que houve. Envio uma mensagem para ela,
pedindo desculpas pelo acontecido e afirmando que a espero no
escritório.

Desço as escadas e me dirijo ao local, enviando uma

mensagem a Isabel que pouco tempo depois vai me servir uma

dose de scotch. Mina surge quando a mulher está indo embora com

a bandeja vazia nas mãos, fechando a porta assim que sai, nos

deixando a vontade.

Observo a bailarina em uma calça jeans e blusa de mangas

que se molda perfeitamente ao seu corpo delicado, além da mochila

nas costas que a faz lembrar uma estudante, momento em que me

pergunto o que vi nela para obter essa atração tão forte. É então

que noto outra vez seu rosto perfeito, o cabelo cacheado volumoso
e sedoso o emoldurando.

Estou sentado atrás da imponente escrivaninha, convido-a a

sentar-se também, ela o faz e, como se já não suportasse mais

segurar as palavras, começa a tagarelar efusivamente:

— Doutor Alejandro, por favor, me perdoe, eu... sei que não


deveria ter feito isso, a Isabel avisou que o senhor não suportava

baderna, mas é que a Alisa me chamou para escutar aquela música.


Bem, eu pensei, o que há de mal? Não imaginei que fosse um rock

tão pesado, e aí... a gente começou a se divertir...

Ergo o indicador direito pedindo silêncio, ela obedece, e tenho

que me controlar para não demonstrar que gosto quando fica assim,
comendo as palavras por cima de palavras. É engraçado, mas o que

vi foi inaceitável. Pego uma caneta com o símbolo da Javier e


escrevo num bloquinho de notas a minha insatisfação com o seu

comportamento. Ela entende e concorda que aquilo não irá se


repetir. Por fim, escrevo:

Aprenda a linguagem de sinais, não tenho paciência para


escrever ou digitar sempre que precisar me comunicar com

você.

— Certo... eu aprenderei.

Concordo, ela levanta, mas não sai de imediato, parece querer


algo. Franzo as sobrancelhas indagando o que é, ela entende e
responde:

— É que... o senhor me acharia muito indiscreta se eu

perguntasse uma coisa... íntima? — fico ainda mais intrigado — Ah,


desculpe, deixa pra lá.

Ergo a mão, permitindo que Mina continue.


— Se o senhor puder, gostaria de saber o motivo de não falar

já que... uma vez me disse que não era mudo — diz


cuidadosamente, educada, com um certo receio da minha reação.

Poucas pessoas me perguntaram isso tão diretamente, ainda

mais uma funcionária em seu primeiro dia de trabalho, mas


compreendo a curiosidade dela.

Mutismo seletivo

Respondo, pegando o copo e tomando o puro malte. Mina


finalmente se vai deixando-me em milhares de pensamentos, porém

antes que atravesse a porta, os meus olhos traidores focam na sua


bunda escondida na calça jeans justa, causando-me tremores no
centro das coxas ao mesmo tempo em que me faz perder um pouco

a paciência, engolindo todo o uísque de uma vez!

Caralho! Isso não pode continuar acontecendo, estou me


perdendo em um fascínio absurdo por uma mulher bem mais jovem

do que eu, coisa que nunca ocorreu antes. Sempre me atraí por
aquelas mais maduras, com pouca diferença de idade em relação a
mim, já peguei até mais velhas, porém nunca tão novas.

Começo a me arrepender de ter posto Mina aqui, mas não

havia outra opção mais favorável a não ser contratar uma babá
desconhecida com quem Alisa levaria mais tempo para se adaptar e
aceitar. Pergunto-me agora, no mais profundo íntimo do meu ser se
o meu desejo por essa garota — mesmo que de maneira

inconsciente — teve alguma coisa a ver com o fato de tê-la


escolhido, além é claro, dos demais motivos.

O pior é que, apesar do infortúnio que flagrei, minha filha está


adorando a nova babá. Hoje foi só o primeiro dia e a maneira como

ela defendeu Mina, implorando para que eu não a demitisse, deixou


claro o quanto concordou bem com a troca.

Vamos lá, Alejandro, você é um homem maduro, experiente,

sabe que essa atração louca pela bailarina é algo passível de


controle, basta querer. Não posso aumentar o time de fantasmas
que me assombram, seja de modo sombrio ou ardente. Sendo

assim, preciso filtrar esta nova situação, olhar a senhorita Pacheco


apenas como funcionária e nada mais. Só assim haverá chances

dessa porra funcionar.


Nos dias que se seguem, como eu já havia previsto, os meus
horários de saída e regresso para casa não batem naturalmente
com os de Mina, coisa que facilita a minha vida, tendo em vista que,

todas as vezes em que a olhei, a desejei fogosamente, coisa que a


partir de agora prefiro evitar. Não posso permitir que uma simples

garota tenha tamanho poder sobre a minha libido.

Só presenciei aquela cena dela e da Alisa pulando na cama


dias antes, porque por um acaso havia saído mais cedo da

empresa. Coisa que acontece raramente.

O ponto positivo disso é que, demonstro implicitamente a ela

que a nossa relação a partir de agora é extremamente profissional,

que em meu apartamento estará segura, que não ficarei a secando


e apenas cobiçando comê-la como antes. Preciso ter uma relação

saudável com ela para que tenha uma relação saudável com a

minha filha.

O trabalho intenso me distrai, enche a minha mente, me faz

esquecer um pouco das vontades carnais, e o ponto negativo como

sempre, é a diminuição do convívio com a Alisa. Meu tempo com ela


sempre foi pouco, apenas quando estou em casa, momento em que

sempre estou exausto e não tenho paciência ou até mesmo ânimo


para muita coisa. Me esforço como posso para dar o amor que ela

precisa.

É por isso que ter uma babá é essencial, visto que, de certa

forma é meu braço direito para fazer com que minha filha tenha uma
vida enquanto trabalho para proporcionar essa vida a ela.

Passo as próximas duas semanas imerso no trabalho. O

conselho da empresa tem a ideia de apresentar o Bolt ao mundo no


aniversário da Javier, coisa que não me agradou muito, não gostaria

de chamar tanta atenção a um só evento, um dos lemas da nossa

companhia é a discrição, mas no fim acabo cedendo.

Quando chego em casa, sempre pergunto como foi o dia da

minha princesa e ela me fala mil maravilhas da sua nova babá,

contando como Mina faz para lhe ensinar as coisas ou convencê-la


a responder os deveres de casa, o que me faz perceber que a

bailarina se utiliza de uma pedagogia bastante inteligente e didática,

algo que a Rayka não tinha, ela era mais formal e tradicional como
eu.

Hoje acontece o mesmo, assim que saio do elevador, a Alisa

está esperando-me em um de seus lindos vestidos, muito bem


penteada e perfumada, com o sorriso de sempre estampando o seu
rosto ao me ver. A abraço e a pego no colo enquanto deixo a maleta

no chão e me dirijo com ela até o sofá.

— Bonne nuit papa — diz, surpreendendo-me.

— Boa noite, filha. Está falando comigo em francês, é isso

mesmo? — sorrio discretamente, isso é uma vitória, pois ela tinha


dificuldades em aprender uma língua que aprecio tanto, apesar de

nunca a ter falado, a não ser sozinho, poucas vezes.

— Aham, foi a professora Mina que me ensinou enquanto


cozinhávamos — afirma, feliz da vida.

— Enquanto cozinhavam? — franzo o cenho, isso não me


soou bem.

— Aham! Hoje ela e eu fizemos o seu jantar, pois a dona

Isabel ficou doente. Adorei cozinhar para o senhor papai, fizemos


Ratatouille, comida francesa, espero muito que o senhor goste!

— Ah... — interrompo a fala quando avisto Mina se


aproximando, surpreendendo-me por ainda estar aqui. Contudo,

rapidamente associo sua presença com o que minha filha acabou de

me contar e compreendo quase tudo.

— Bonne nuit, professeur Mina — Alisa a cumprimenta,

impressionando-me outra vez. Sua voz fofa falando em francês é


apaixonante.

— Bonne nuit princesse — ergo as sobrancelhas ao escutar a

doce voz da senhorita Pacheco, seu sotaque... seu francês é

perfeito! — Boa noite, doutor Alejandro.

Assinto, ainda processando tanta novidade.

— Não, Mina, assim não. Faça como te ensinei — pede a


Alisa.

— Ah, tudo bem, então.

Novamente sou pego de surpresa ao ver a bailarina me dando

boa noite através de sinais. Ela seguiu a minha ordem e está

realmente aprendendo como minha filha já havia comentado,


afirmando inclusive que era sua professora. Alisa comemora,

batendo palmas.

Em seguida, Mina se despede tentando ir, porém a Alisa não

deixa, fica me pedindo para deixá-la jantar conosco. Mais essa

agora! No fundo não quero, por todos os motivos presentes. Isso

não é a primeira vez que acontece, já deixei Rayka jantar ao nosso


lado sempre que a Alisa me olhava com essa mesma carinha

impossível de se negar qualquer pedido.


— Papai, por favor, peça para ela ficar! — insiste, colocando-

me em uma puta saia justa. Não há o que fazer, penso que não será

nada demais também, então aceito.

A pequena salta do meu colo comemorando, indo até a babá,

puxando-a pela mão e levando-a rumo à sala de jantar. Levanto

após elas sumirem de vista, momento em que a Isabel surge.

— Boa noite, doutor Alejandro, me desculpe pela demora em

recebê-lo — afirma, pegando minha maleta do chão.

Digo através de gestos que ela sabe que não me importo com

isso.

— Mas eu sim, doutor. Estou aqui para isso e para o que

precisar.

Isabel ao longo desses dois anos que vem trabalhando comigo


se tornou uma amiga. Ela é viúva e mãe de três filhos, todos

formados e morando fora. Encantei-me por sua personalidade logo

na nossa primeira “conversa” em sua entrevista de emprego e,


como já disse antes, vem realizando um ótimo trabalho, com

competência e responsabilidade. Pergunto-lhe o que aconteceu

hoje.
— Desde ontem estou gripada, hoje fiquei com febre, cansada.

A senhorita Pacheco me ajudou a relaxar, tive que tirar uma soneca


e, quando acordei, a encontrei na cozinha com a senhorita Alisa.

Elas decidiram fazer o jantar para o senhor, perceberam que eu não

daria conta hoje. Desculpe se isso lhe aborrece, mas...

Faço um movimento com o rosto, calando-a. Afirmo que está

tudo bem, mas que não quero mais saber da minha filha na cozinha,

que acho perigoso para a idade dela.

— Sim, senhor — Isabel afirma, então vou para o meu quarto.

Tomo um banho que não me relaxa totalmente, não deixa o


estresse do dia se esvair por completo. Ponho uma calça jeans e

um suéter a fim de esconder as tatuagens que tomam os meus

braços e o peitoral, não gosto que ninguém as veja, é algo meu,


algo íntimo, que não precisa ser exibido, a não ser é claro, para

quem acabo levando para a cama, pois é inevitável.

Quando chego na sala de refeições, minha filha e a babá já


estão sentadas à mesa, à minha espera. Isabel como sempre, está

em pé no canto, esperando por qualquer coisa. Observo o jantar

enquanto me sento à cabeceira, o cheiro e a imagem me agradam,


percebo que todas estão ansiosas para saber o que irei achar,
principalmente a Alisa. Pego os talheres, levo o primeiro pedaço à
boca e... realmente está gostoso.

Pisco para minha princesa que, se enche de felicidade.

— Ah!! Ele gostou, Mina, ele gostou!! — Ela está radiante, a

Isabel parece aliviada e Mina também, o que é cômico, mas


compreensível. Hoje foi um dia atípico nesta casa, igualmente ao

primeiro dia de trabalho dela. Gosto de saber que está tudo indo

bem, mas a metodologia da bailarina, apesar de ser inteligente, não

me agrada em alguns sentidos, não gosto de pensar em Alisa se


aventurando na cozinha.

Assinto, ratificando que gostei de verdade, Mina passa a falar:

— Ah, que bom que gostou doutor Alejandro, confesso que

estávamos preocupadas com isso. Eu muito mais, pois tive a ideia


do cardápio. Particularmente gosto muito de Ratatouille e não é algo

difícil de se fazer, já comi muito e das mãos de vários chefes


renomados, depois tive que cozinhar eu mesma. Mesmo assim,
ainda consultei a internet hoje, que me salvou para não pecar tanto.

Afirmo em gestos que gostei de ter ensinado a Alisa falar


francês enquanto cozinhava, mas que não quero que isso se repita,
a cozinha pode ser perigosa para uma criança.
— Ah papai, mas eu gostei tanto! — reclama querendo fazer
bico, mas a olho daquela maneira que diz que não quero ser
contrariado, ela entende, mas Mina não.

— Oh, mas... pode ter certeza que tomei todos os cuidados

possíveis, não tirei os olhos dela e ocorreu tudo bem. Além disso, a
Alisa adorou mesmo cozinhar, foi uma atividade bem divertida e

empolgante, e acho que... — ela vai se calando quando nota pela


minha cara que não mudarei de opinião —, certo, entendi.

Percebo que deixei o clima um pouco chato agora, mas tento


disfarçar chamando a Isabel com a mão, pedindo para que me sirva

um pouco de vinho tinto. A mulher pega a garrafa sobre a mesa,


derrama o líquido em minha taça e depois se volta para Mina:

— Quer também, senhorita?

— Oh não, obrigada, eu não bebo — nega outra vez, assim


como negou no dia em que nos encontramos no hotel.

— É por que é uma bailarina, professora? — indaga a Alisa,

tentando tirar a mesma dúvida que a minha, apesar de eu já


imaginar o porquê.

— Ah... sim, princesse — sorri, olhando-me de soslaio


rapidamente. Aposto que está mentindo.
Pergunto onde aprendeu francês tão bem.

— Desde pequena tive ótimos professores e o balé também


sempre me exigiu isso. Meu pai adorava me ver falando outras

línguas, até porque ele gostava muito de cantores de outros países,


às vezes a gente cantava junto, porém eu sou um desastre
cantando. Minha mãe fazia piada dizendo que graças a Deus eu

havia escolhido a dança e não a música.

Isabel e Alisa riem da jovem, ela é realmente divertida e


faladeira. Pergunto-lhe quais outras línguas sabe.

— Além do francês, também sei inglês e italiano, porém levou


um tempão até eu parar de embaralhar tudo na minha cabeça.
Como também já faz um tempo que não falo estes idiomas, acho

que devo ter esquecido de uma coisinha ou outra aqui e ali. Mas
uma coisa é certa, nada melhor que ir ao país da língua que você
está aprendendo para pronunciá-la ainda melhor.

— A senhora já foi na França e Itália, professora? — Os


olhinhos da Alisa brilham.

— Aham, minha família e eu gostávamos muito de viajar. Foi


em um tempo em que... tudo era perfeito — a voz dela fraqueja nas

últimas palavras, deve ter lembrado da morte do pai.


— Como assim?

A bailarina pisca, saindo dos devaneios nos quais entrou.

— Nada, estou falando pelos cotovelos. Vamos comer antes

que esfrie, vamos! — muda de assunto, distraindo a Alisa, voltando


a comer.

Noto como ela é vivida apesar da pouca idade, é triglota,

viajada, fina, sabe como comer perfeitamente, segurando os


talheres com sutileza, ereta na cadeira, uma princesa em uma
situação de plebeia. Fico imaginando como é ter uma vida de alto

padrão e depois perder tudo isso, tendo que se arriscar em novos


desafios nunca antes imaginados. Essa garota é forte, ela é incrível.

Enquanto jantamos, tento não a mirar, não me perder em sua

boca, na curva delicada entre seu ombro e pescoço para não pensar
besteiras, para tentar manter o controle, mas é muito difícil. Quando
vai além da minha vontade e a fito, encontro os seus olhos em mim,

que se desviam com rápida timidez, demonstrando que seu


interesse ainda está lá... bem dentro dela.

Era justamente este contato que eu queria evitar, este tesão

que cresce por minhas veias mesmo estando na presença da minha


filha e governanta. Droga! Estou na presença delas! Tenho que
saber respeitar isso! Irrito-me por ficar nesse transe lascivo,

descuido-me ao pegar a taça outra vez, derrubando-a e despejando


o líquido em mim, manchando meu suéter e calça.

Bato na mesa com força, bravo, xingando mentalmente,

fazendo as louças todas tremerem com o impacto, e assustando as


mulheres.

— Oh, doutor, quer ajuda? Deixe-me... — interrompo a Isabel,

levantando e fazendo um sinal de pare. Olho para as três


seriamente e decido me retirar, retornando para o quarto de onde
não saio mais.

MINA PACHECO

Isabel limpa a pequena bagunça que se formou após o senhor


Alejandro derramar o vinho sobre si mesmo enquanto a Alisa e eu o

esperamos retornar. A governanta leva a taça e o pano que usou


para secar tudo para a cozinha, sumindo de vista, deixando o
silêncio reinar sobre a mesa.

Observo a pequena mirando as escadas, esperando o pai que


não vem. Ela fica como uma estátua, calada de uma maneira que
nunca vi, pensando e aguardando. Decido quebrar o gelo.
— Vamos princesa, coma que a refeição está esfriando — a
incentivo. Ela pisca, abandonando o transe e me fita.

— Acho que o papai odiou o nosso jantar — afirma tristonha,

cortando meu coração.

— É claro que não! Por que está falando isso? Por conta do
que aconteceu? Foi só um acidente! — sorrio de orelha a orelha,
tentando reanimá-la, a coitadinha esperou tanto por este momento.

Penso no que dizer — Quer ver como ele já vai descer?

— Não... não vai. Eu o conheço professora, sei quando está


irritado.

— Deve ter sido o estresse do trabalho, Alisa — argumento,


mas ela não me dá mais ouvidos, o clima realmente estragou.

Por um instante achei que o doutor Alejandro fosse ajudar na

boa condução do jantar, principalmente após experimentar o nosso


prato e afirmar que estava bom. Senti verdade em suas expressões,
mas... após o ocorrido, assim como a Alisa, fiquei em dúvida. Foi

muito estranho e incompreensível, ele estava conversando conosco


normalmente, me fazendo perguntas e só por causa do vinho
decidiu não jantar mais?
Será que não parou para pensar na filha? Na ansiedade dela
em passar este momento com ele, esperando tanto que gostasse da

sua comida, já que foi a primeira vez que cozinhou? O que acontece
com este homem? A cada dia que passo com a pequena, percebo o
quanto a ausência dele lhe machuca. Eu já notava isso quando era

apenas sua professora de balé, os olhos dela esperançosos de que


o pai descesse daquele carro no final da aula e não apenas o
motorista ou a babá.

Babá... é a primeira vez que encaro este papel e estou vendo o


quanto significa, a real profundidade do significado desta palavra,
logo para mim que tanto penso e me importo com o próximo.

Alguns dias depois, enquanto tomo café da manhã para poder

ir ao trabalho, recebo a ligação de Isabel.

— Alô, Isabel? O que houve? — estranho ela me ligar a essa


hora, sendo que nos veremos logo mais.

— Bom dia, senhorita, não se preocupe, está tudo bem. Creio


que ainda está em casa, sim?

— Sim, estou quase de saída para chegar aí.

— É que o doutor Alejandro teve que viajar a negócios, só

retornará na semana que vem, então você precisará dormir aqui.


Liguei mais cedo para avisar que Diogo está indo lhe buscar hoje e
para que arrumasse as suas coisas.

— Hum... por que ele não avisou antes? — indago, sendo


pega de surpresa.

— Ah, acostume-se, a maioria das vezes em que ele viaja é

sempre assim, inesperadamente e com urgência.

Suspiro, tentando lembrar quando foi a última vez que saí de


casa para dormir fora. Antes era para festas de pijama na casa das

minhas “amigas”, agora é para trabalhar. Contudo, penso pelo lado


positivo, ficarei mais tempo com a Alisa, estou me apegando a ela.

À noite, enquanto lá fora cai uma poderosa chuva, termino de


pentear e amarrar o cabelo da menina em Maria Chiquinha, do jeito

que pediu. Estamos ambas de pijama, nos preparando para dormir.

— Está bom assim? — sorrio, trocando olhares com ela pelo


reflexo do espelho, ela está sentada diante de sua penteadeira e eu

à suas costas.

— Aham — sorri radiante, adorando tudo —, este é o meu


penteado favorito, Mina — afirma.

— Bom saber, de agora em diante irei fazê-lo sempre e de


diferentes formas.
Ouvimos o céu se rasgar com uma trovoada assustadora, o

que faz a princesa saltar da cadeira com um gritinho de medo e me


abraçar com força.

— O que foi? — sorrio — Tem medo de trovão?

— Tenho! Por favor professora, durma comigo hoje! Por favor,


por favor!

— Tudo bem... eu já estava pensando nisso, só estava


esperando você me chamar. Agora que passaremos uma semana

só nós duas vamos aproveitar e fazer tudo o que você quiser —


afirmo, abaixando-me para ficar do seu tamanho.

— Tudo, tudo mesmo? — Ela volta ao sorriso gigante.

— Bem... quase tudo, mas será bem divertido do mesmo jeito,


prometo!

Mais uma trovoada arrasa entre as nuvens e a Alisa me abraça

imediatamente, fazendo-me ter uma ideia.

— Sabe o que eu fazia com o meu pai em noites de chuva? —


indago olhando-a nos olhos.

— O quê? — fica curiosa.

— Uma barraca!
— Barraca?

— É, você vai adorar, vamos!

A partir de então introduzo a menina em mais um mundo


mágico, escolhemos os maiores lençóis e, com a ajuda de cordas

que encontro na dispensa, erguemos uma tenda no meio do seu


cômodo que, por sinal é bem espaçoso, o suficiente para fazer até

outra barraca se quisermos.

Em seguida, cobrimos o chão com edredons e diversos


travesseiros, deixando tudo bem acolchoado e confortável,
momento em que apago as luzes, ligo uma lanterna para mim e

outra para ela, pego um bom livro de histórias infantis e começo a


ler de modo emocional, interpretando cada palavra, fazendo-a rir e

se encantar.

— E eles viveram felizes para sempre! — termino, fechando o


livro.

— Que lindo!! A fera se tornou um príncipe encantado,

professora Mina!! — afirma, parecendo ainda imaginar os


personagens na sua frente.

— Sim, e você sabia que o conto da Bela e a Fera é de origem

francesa? Se pronuncia La belle et la Bête — digo, e a garota tenta


me copiar, mas falha, então repito as palavras vagarosamente até
que ela acerte.

— La belle et la Bête — diz, esperando por minha reação.

— Isso, parabéns!! Muito bem!! — A abraço e lhe encho de


beijinhos, fazendo-lhe cócegas ao mesmo tempo. Alisa se contorce
toda, gargalhando alto, contente, até que caímos deitadas, lado a

lado, momento em que paro de lhe torturar e acaricio seus cabelos.

Ouvimos outra trovoada, mas dessa vez ela não se assusta.

— Olha só, o seu medo já passou!

A garotinha suspira e diz:

— Sabe professora, estou adorando tê-la aqui comigo, não era


tão divertido assim com a Rayka, apesar de eu gostar muito dela
também. Sabe... o papai nunca dormiu comigo até de manhã e

ninguém nunca fez uma barraca para mim — afirma, um pouquinho


cabisbaixa.

— Tudo tem a sua primeira vez meu amor, também estou

adorando estar contigo.

— Nós nos damos muito bem juntas, não é? — sorri.

— Sim, muito!!
— Queria que o papai estivesse aqui com gente — pensa nele.

— Quem sabe um dia ele não deixa de ser uma fera e vira um

príncipe, hein?

— Mas ele já é um príncipe! — Ela não gostou da piada.

— Ah, claro, com certeza! — disfarço enquanto ela me abraça

bocejando.

— Boa noite, professora Mina.

— Boa noite, meu anjo.

Na tarde do dia seguinte, enquanto estamos na sala de estar,

onde a Alisa tem mais uma aula entediante de piano com Lorenzo
— já que ela parece cada vez menos animada para tocar
instrumentos clássicos —, vejo Isabel saindo às pressas da cozinha,

caminhando rumo ao living bem séria.

— Ela está chegando aí! — afirma, desagradada ao passar por


mim.

— Quem? — ergo-me do sofá, observando-a se aproximar do

elevador que abre as portas, dando entrada para uma mulher toda
de preto, em um look despojado, meio gótico ou rock’n’roll, não sei.

Ela vem acompanhada do concierge do prédio que carrega

uma caixa grande.


— Pode deixar aqui — diz a ele, que põe a caixa num canto

—, valeu!

O homem se retira, mas antes olha de soslaio para a mulher


esguia e linda, de cabelos curtos repicados, trajada em uma calça

rasgada e justa.

— Dona Luna? A senhora não avisou que viria... — Isabel


parece um pouco incomodada.

— Será que é por que eu não preciso? — indaga, um pouco


arrogante erguendo os óculos escuros e rindo ironicamente,
deixando a governanta sem palavras — Ouvi dizer que meu irmão

viajou, isso é verdade?

— Sim é verdade, mas...

— Ótimo! Te proíbo de contar a ele que estou aqui, se contar


farei da sua vida um inferno — ameaça, deixando a mim e a Isabel

boquiabertas. Trocamos olhares, ela sem saber o que responder.

— Tia Lunaaa!! — Alisa corre para ela, a abraçando feliz.

— Oi, minha pequena superstar! Sentiu saudade? Vim te

visitar já que seu pai não te leva mais lá em casa — Luna a enche
de beijos e carícias.

Então esta é a famosa irmã do doutor Alejandro!


— Acho que ele ainda está chateado com o vovô e a vovó.

— É porque ele é um boboca, mas deixe isso para lá.

Isabel suspira indignada e vem em minha direção.

— Isso agora é problema seu! Não tenho estruturas para esta

mulher, resolva! — sussurra indo para a cozinha, me deixando sem

chão. Problema meu?

— Venha tia, quero lhe apresentar a professora Mina, ela


agora é a minha babá! — Alisa a puxa até mim.

— Peraí... agora buguei, ela é sua professora ou sua babá? —


Luna fica confusa.

— Os dois! Prazer, Mina Pacheco! — ofereço a mão a ela que


me cumprimenta.

— Luna Javier, a tia dessa princesa. Então você é a nova


babá... iremos conversar mais tarde. Porém, agora... olha o que a
titia trouxe para você!

— O que é? — Alisa fita a caixa curiosíssima.

— Vamos abrir!

As duas se ajoelham ao redor do grande objeto, enquanto fico


sem saber o que fazer, mirando elas e o Lorenzo que se aproxima,
outro que tenta entender o que está acontecendo.

— UMA GUITARRA!!! — Alisa fica em êxtase e de queixo


caído ao ver seu novo presente.

Algo me diz que Alejandro Javier não vai gostar nada disso.
MINA PACHECO

Além da guitarra, a tia de Alisa também lhe presentou com


uma mini caixa de som, onde a garota agora, aprende a conectar o

cabo que liga à guitarra para começar a tocar. Estou parada ao lado
de Lorenzo, ambos observamos com certa preocupação as duas
empolgadas com o novo instrumento musical.

— O doutor Alejandro aprovou a adição desse instrumento às

aulas de música? Bem, ele sabe que não sei tocar guitarra —
Lorenzo ainda está tentando entender o que se passa, as suas

sobrancelhas franzidas denunciam isso.

— Na verdade ele não aprovou, Lorenzo. Porém, para não

causar confusão, peço para que não diga nada disso a ele — fito-o,
ele percebe que estou meio que sem saber o que fazer.

— Tudo bem, Mina. Não se preocupe, afinal ela é a tia, não é?

— Pois é, só que...

Antes de poder continuar, escutamos o primeiro som das

cordas da guitarra rasgar o ar e a gargalhada da Alisa vir logo em

seguida, encantada com tudo isso. Luna está se divertindo com a


folia da sobrinha e isso de certa forma me toca. Como se

percebesse que estou a observando pelas costas, a mulher vira o

rosto rapidamente em minha direção, e vem até nós.

— Que carinhas são essas de vocês? Estão preocupados com

o quê? — indaga, nos analisando.

— É o que o doutor Alejandro...

— Já sei! Vai brigar muito com vocês se descobrir que a

filhinha perfeita dele está tocando um instrumento completamente

fora dos padrões de uma lady, não é isso? — Ela pronuncia “lady”
com deboche.

— Basicamente sim, senhorita...

— Nunca mais me chame de senhorita, ou senhora ou

qualquer outra coisa que vier à sua mente que seja formal! Quem

gosta de formalidades é o meu irmão e até exagera bastante nisso,


o exemplo está bem aqui na frente de vocês! — Ela aponta para a
sobrinha. — Ela é uma criança, só quer se divertir, foi isso que vim

dar a ela. Então... se não contarem nada ao todo poderoso doutor

Alejandro, eu também não contarei, certo?

Troco olhares mais relaxados com Lorenzo, então assentimos

com a cabeça.

— Ótimo!! — Luna fica satisfeita com a nossa decisão. Ela fita

Lorenzo — Você é o professor, certo? Sabe tocar guitarra?

— Não — responde.

— Mas que merda! Que tipo de professor é você?

— É que só toco instrumentos voltados à música clássica...

— Blá, blá, blá! Então agora olhem e aprendam, porque vou

mostrar aos dois como se ensina a tocar um instrumento clássico do

rock!

A partir de então, eu e Lorenzo iniciamos um ciclo de


gargalhadas ao observar a pequena Alisa amando aprender a tocar

guitarra. Sua tia realmente sabe como manipular o instrumento,

dedilhar as cordas e, aos poucos vai tentando criar um som,

entrando em uma música. Assim, a tarde se torna gostosa de viver,

com certeza uma das melhores que já tivemos aqui.


Quando a garota cansa e Lorenzo vai embora e Luna ajuda a

Alisa, a retirar o instrumento do colo.

— Tia, onde iremos guardar a minha guitarra? O papai não

pode descobrir que tenho uma! — fala com preocupação.

— Eu estava pensando em levá-la e trazê-la sempre que seu


pai não estivesse aqui, fofinha.

— Ah, não! Não quero ficar longe do meu novo presente!

— É melhor, Alisa! Se o seu pai encontrar isso aqui, é capaz

de nos matar.

— Não quero! Não quero! — faz birra, cruzando os braços e

fazendo bico.

Luna troca olhares comigo e compreende que realmente isso


não é uma boa ideia.

— Vamos fazer o seguinte! Que tal um filme com pipoca e


depois decidimos onde deixamos seu presente, certo?

— Qual filme, titia? — Luna consegue desviar seu foco, ela é

esperta!

— Nós teremos que escolher juntas! — afirma, encostando a


guitarra na parede, puxando a garota pela mão em direção à sala de
estar e piscando para mim, fazendo um sinal com a mão, afirmando

que vai pegar o instrumento depois, o que me alivia.

— Podem deixar comigo, que faço a pipoca! — afirmo


recebendo o sorriso de ambas. Sigo para a cozinha, onde encontro

uma governanta incomodada.

— Ela ainda está lá? — pergunta assim que me vê.

— Está, dona Isabel — sorrio, dirigindo-me aos armários

procurando pelo pacote de pipoca e ouvindo-a resmungar as minhas


costas —, o que tem contra ela? — quero entender.

— E você ainda pergunta? Não notou o quanto aquela mulher


é enxerida?

— Notei que ela só queria perturbá-la, e pelo visto conseguiu

— afirmo, encontrando a pipoca e dando início à caça da panela


adequada.

— Dessa vez a senhorita Luna ultrapassou todos os limites


comprando aquela coisa para a menina! — murmura, dividindo o

olhar entre mim e a porta de entrada, com receio de ser ouvida —


Ela sabe que o doutor Alejandro detesta barulho, que detesta o

estilo dela...
— Mas por quê? — indago, começando a preparar o lanche —
Por que ele parece se opor tanto à personalidade da irmã?

— Ora, mas que pergunta mais descabida, garota! A resposta


é óbvia, o nosso patrão é um homem de porte, de classe, que

contempla as artes e a música clássica, a finesse. Ou seja, tudo o


que a irmã dele não é! E é óbvio que ele não quer que a filha seja
parecida com ela. É melhor você não contribuir com isso.

— Eu só quero... só acho que... — perco a voz, pensando

duas vezes se falo ou não.

— O quê? — pergunta enquanto corta alguns legumes usando


o avental.

— Que a Alisa é uma criança com compromissos demais, com


deveres demais, até parece uma adulta! Há momentos que sinto

pena, ela se cansa tanto e... não vive como uma criança comum.

— Mas é para isso que você deve tirar um tempo, e levá-la à


brinquedoteca...

— Esse é o problema, tudo gira muito em torno desse


apartamento, ela tem que conhecer algo novo...

— Não estou gostando nada deste assunto! Assim como não

estou gostando de você mexendo nas minhas panelas! Eu cuido da


comida e da casa, a senhorita cuida da criança! — ergue as
sobrancelhas, depois joga todos os legumes na frigideira aquecida
no fogo.

— Só estou fazendo pipoca para Luna e Alisa assistirem um

filme...

— Ah! Ela agora vai ficar para o jantar? — Isso a aterroriza.

— Não sei.

Minutos depois, retorno para a sala de estar com uma tigela

enorme de vidro repleta de pipoca. Ponho-a sobre a mesinha de

centro enquanto Luna decide com a Alisa qual filme irão assistir.

— Está aqui. Agora irei deixá-las à vontade — digo.

— Ah, não Mina, fique conosco! Por favor, fique! — A menina

implora.

— Venha, pode ficar! — Luna me deixa confortável — Sente-


se aqui ao meu lado — me convida, e assim faço.

Logo estamos gargalhando com o filme de desenho animado


que a pequena escolheu para assistirmos, ao mesmo tempo em que

nos saboreamos com o lanche. De repente, a primeira impressão

que Luna passou quando surgiu aqui, a de uma mulher rebelde e

arrogante, vai caindo por terra e dando lugar a uma pessoa meiga e
divertida. Não que a primeira imagem se dissipe por completo, mas

apenas uma se mistura à outra, mostrando que ela é um composto


das duas.

Quando o longa termina, percebemos que a Alisa dorme no


sofá, com a cabeça repousada sobre as coxas da tia.

— Olha só, ela dormiu — sussurra para mim.

— Tadinha, estava cansada. Hoje seu dia foi intenso, como

sempre é. Deixe-me levá-la para o quarto — levanto e pego a

garotinha com todo o cuidado no colo.

— Você consegue subir aquelas escadas com ela? — Luna

parece duvidar.

— Consigo — sorrio, seguindo devagar até o cômodo no andar

de cima, sendo seguida pela mulher que me assiste pôr a menina

delicadamente sobre a cama e acaricia-la na testa.

— Mal te conheço, mas... já sei que é uma ótima babá e que

minha sobrinha gosta muito de você — comenta.

— Sim, e também gosto muito dela.

— Você era a professora de balé? Como se tornou a babá? —


Luna senta do outro lado da cama, ela usa um blusão que cobre os
braços e calça jeans rasgada. Possui uma maquiagem forte e

escura no rosto, além dos anéis e colares pretos.

— Na verdade, sou a assistente da professora dela. Quando


descobri que o doutor Alejandro estava precisando de uma babá

urgente, então me ofereci. Estava precisando do dinheiro e...

sempre me dei muito bem com essa princesa lá na escola.

— Entendo. Isso me deixa mais tranquila, saber que alguém

confiável está com a minha sobrinha. Alisa é tudo o que não pude
ser na sua idade, um sonho de garota, a minha válvula de escape.

— Válvula de escape? — A pergunta foge por meus lábios

sem aviso prévio, mas rapidamente me corrijo — Ah, me desculpe,


eu...

— Não, tudo bem, você não foi inconveniente — a mulher


suspira —, é que o Alejandro e eu... tivemos uma vida difícil quando

crianças, então... vê-la feliz é tudo para mim.

— Eu entendo — sorrio, de modo a passar-lhe conforto —, sei


bem o quanto uma vida difícil nos faz querer dar o melhor para

aqueles que amamos.

— Você? Tão jovem assim e já tem uma vida difícil? — Ela

parece não acreditar.


— Agora até que já deu uma melhorada.

Sorrimos em conjunto.

— Mudando de assunto... me diga, o que você tem com o


professor de música? — dispara.

— O que... eu tenho? — indago sem entender.

— Sim, pelo jeito que ele te olhava...

— Ah, não! — sorrio sem graça — Nós não temos nada, de


onde a senhora... — a mulher me repreende no olhar —, você tirou

isso?

— Se não há nada entre vocês, com certeza não é pela


vontade dele! — Luna gargalha.

— Mas não há nada entre a gente, nada mesmo e ele nunca


veio a mim com segundas intenções. Além disso, ele não...

— Ele é gay? — Ela fica surpresa só de imaginar.

— Ele não faz meu tipo.

— Ah... — Luna ri —, me desculpe por ser tão indiscreta, mas


é que notei os olhares dele e fiquei curiosa.

Sorrio tímida, sentindo-me corar.


— Bem, deixe-me ir, já está na minha hora! — Ela levanta, se

retirando — Tchau Mina, foi um prazer conhecê-la.

— O prazer foi meu! Volte mais vezes.

Vejo-a partir e então acomodo a Alisa melhor na cama,

retirando-lhe as sandálias para deixá-la mais confortável. Quando


enfim regresso para o andar de baixo, noto que Luna esqueceu a

guitarra aqui!

— Oh, não! — resmungo pegando o instrumento junto com a


caixinha de som, pensando onde escondê-los.

Miro as escadas e sinto preguiça de subir com o equipamento


até o meu quarto, então lembro da brinquedoteca, e é para lá que

vou escondendo tudo dentro de um dos armários pequenos e

coloridos, trancando com a chave que deixo numa caixinha sobre a

escrivaninha.

No sábado, pela manhã, enquanto estou respondendo as

tarefas escolares com a Alisa, satisfaço-me ao notar que ela faz


birra cada vez menos e responde rápido cada vez mais, porém noto

seu desânimo.

— Pronto, encerramos todas as tarefas, agora temos o resto


do final de semana inteiro para nos divertirmos — a garotinha está
com o queixo apoiado sobre a mão, mirando o nada, pensando

distante. Trago seu rosto para mim delicadamente, capturando sua


atenção —, o que houve?

— Estou com saudades do papai, ele já mandou mensagem?

— Ela fez essa pergunta a semana inteira.

— Não, ainda não, meu amor — digo sem jeito, vendo seu

olhar cair —, é porque ele é muito...

— Ocupado, eu sei — conclui cabisbaixa.

Penso em como distraí-la, para fazê-la esquecer do que lhe


entristece.

— Que tal tomarmos um banho de piscina? — sorrio tentando


empolgá-la — Desde que cheguei aqui, nunca nos divertimos lá na

área externa.

— Não, já estou cansada de piscina, das aulas de natação —


afirma, desanimada mexendo no lápis como quem quer apenas

passar o tempo.

— Então vamos para a brinquedoteca...

— Já cansei de lá também. Já cansei dessa casa sem o meu

pai — revela, surpreendendo-me e cortando meu coração.


Penso que a Alisa precisa de algo novo, experimentar coisas
novas para ser uma criança normal.

— Eu tive uma ideia irrecusável, acho que você vai adorar! —


afirmo, recebendo seu olhar curioso.

Uma hora mais tarde, estamos devidamente arrumadas e


prontas para o nosso passeio. Saio da cozinha de mãos dadas com

a menina, e carregando uma cesta cheia de lanches preparados por

nós. Seguimos para o elevador de carros, de onde dona Isabel vem

cheia de sacolas do supermercado, acabou de fazer compras.

— Aonde pensam que estão indo? — Sua sobrancelha se

ergue.

— Para um piquenique!! — exclama a Alisa com os olhos

brilhando, o sorriso desenhando seu rosto de uma forma que me


deixa nas nuvens.

— O quê? — A governanta estranha — Seu pai já foi


comunicado sobre isso? — Ela me fita seriamente.

— Enviei mensagens a ele — afirmo, continuando a caminhar


com a garota, passando pela mulher.

— E ele concordou?
— Ele ainda não viu as mensagens, mas não se preocupe, nós
vamos para um local seguro.

— Mina...

— Até mais, dona Isabel!! — Me despeço, sem olhar para trás.

— Até maaais! — Grita Alisa, gargalhando em seguida, ela


adora uma aventura!

Entramos no carro e peço para o Diogo nos deixar no parque


Quinta de Los Molinos, um dos melhores pontos turísticos de Madri,

com um estilo mediterrâneo, repleto de grandes extensões


arborizadas, havendo inúmeras espécies, como oliveiras, pinheiros

e eucaliptos. Mas, o meu foco mesmo, assim como o da maioria das


pessoas, são as amendoeiras que, como estamos na primavera,
florescem de uma maneira esplêndida.

O local está repleto de turistas, gente andando pelas trilhas de

bicicleta ou até mesmo a pé contemplando o lago, o palacete, o


jardim de rosas e os moinhos de ventos. Lugares estes pelos quais

passo com a Alisa, fazendo-a conhecer cada detalhe.

Por fim, chegamos ao espaço das amendoeiras, árvores com


flores pequenas e delicadas nos tons de rosa e branco, com certeza
uma das coisas mais espetaculares que alguém pode ver na vida!
— Uaaau!! Que lindo, professora Mina! — Alisa está
encantada, andamos de mãos dadas olhando para o alto, parece
até um mundo encantado.

— Sabia que ia gostar. Às vezes eu vinha aqui com os meus


pais quando tinha a sua idade, gostávamos de fazer piquenique.
Vamos escolher um local para estendermos a toalha?

— Vamos! Que tal ali?! — Ela aponta para uma área plana,
sob as belíssimas árvores.

Retiro a enorme toalha azul da cesta e jogo sobre o chão,

depois peço a ajuda da menina para pegarmos cada coisa de comer


que trouxemos e dispormos sobre o pano. Entre os alimentos temos
várias frutas, sucos e um bolo que compramos no caminho.

— Agora vou repartir o bolo...

— Não! Eu faço isso! Eu faço! — A pequena insiste — Por


favor, quero nos servir, já sou bem grandinha para isso!

— Tudo bem, mas tome cuidado com a faca. Primeiro irei

ensiná-la como se corta, venha cá — a chamo, entregando-lhe o


objeto cortante e ensinando-a como deve manipulá-lo.

Ela faz corretamente e se enche de orgulho por isso. Penso

que talvez o seu pai jamais aceitaria que fizesse isso, tendo em
vista o quanto formal ele é, coisa que chamo de chatice mesmo!
Mas decido não tocar no nome dele agora, não quero estragar o

clima ao fazer a filha lembrar da ausência do pai.

Alisa me serve, entregando-me o pedaço de bolo em um lenço


e depois serve a si mesma. Nós comemos, bebemos, degustamos

as frutas, sempre sorrindo ao olharmos uma para a outra. Os


turistas passam por nós, ela até cumprimenta alguns, é bastante
educada, uma princesinha.

Em um dado momento, chamo-a para corrermos e assim


fazemos, uma atrás da outra, brincando de pega-pega até nos
cansarmos e retornamos para a nossa toalha, onde deitamos

ofegantes, de cabeças coladas, olhando para o céu azul através dos


galhos e flores.

— Professora Mina...

— Oi.

— Eu te amo — ela se declara, me deixando automaticamente


emocionada. Não esperava ouvir isso dela assim, de repente.

Acho que a minha conexão com essa garota é tão forte,

exatamente por eu entender como ela se sente, tendo sido


abandonada pela mãe e possuindo um pai que até tenta se
aproximar, mas acaba ficando também distante. Vivi isso quando

meu pai se foi e minha mãe se perdeu no vício do álcool, sei o que é
ter uma família desestruturada e por isso tento fazer o melhor por
ela.

Suspiro, deixando uma lágrima discreta descer pelo canto dos


olhos.

— Também amo você — afirmo com a voz um pouco

fraquejada devido a emoção.

— A senhora está chorando? — pergunta, girando na toalha


para me observar de frente.

— Não, foi apenas um cisco que caiu no meu olho.

— Promete que nunca vai me deixar? — acaricia meu cabelo,


demonstrando o quanto é carente.

Inicialmente fico pasma, sem saber o que responder, a voz


travando. Mas a garotinha me fita tão esperançosa, ansiando por

ser correspondida, que não tenho como fugir e respondo:

— Prometo.

Assim, ela me abraça, momento em que aproveito para

confortá-la em meus braços. Ouço meu celular apitar, pego-o,


avistando o nome do patrão na tela.
— Olha, o seu pai mandou mensagem! — digo a boa notícia, é
incrível como isso faz a menina se encher de alegria.

— O que ele disse? O que ele disse? — está ansiosa.

— Calma, deixe-me ver — abro a mensagem, Alejandro só

agora me respondeu sobre a autorização para vir ao parque.

Você deveria ter esperado a minha resposta, não gosto


que minha filha vá a lugares que não frequento. Como ela está?

Enrugo a testa, perguntando-me como ele já sabe que estou


aqui e por que acha que a Alisa sabe os lugares que ele frequenta,
pois jamais o vi levando ela a lugar algum.

Desculpe, achei que seria bom para ela passear. Estamos

bem.

Respondo, enquanto a menina me observa.

— O que ele está dizendo? Está brigando? — Nossa, como é

esperta!

— Não! Óbvio que não! Ele... ele... está pedindo uma foto! — É
a primeira coisa que me vem à cabeça, mas logo me arrependo.

— Ah! Sim, sim, sim!! Vamos enviar uma foto a ele sim!

Vamos, professora! Vamos! Uma foto bem bonita, você e eu! — fica
empolgada.
— Não, só você — corrijo-a.

— Não, quero tirar a foto ao seu lado, por favor! Por favor!

— Alisa...

— Por favor, por favor, por favor... — insiste.

— Tudo bem! — concordo logo para que ela feche o bico.

A garotinha me abraça sorrindo, sorrio também fazendo a


selfie, que envio para o doutor, na esperança de que ao ver a

imagem perceba que está tudo bem.

— O que meu pai achou? — A garota está curiosa, até eu


estou também.

Contudo, olho para a tela do celular e nada, até que surge um

“Lindas”, que me faz sorrir.

— Ele disse que estamos lindas — afirmo, a garota bate


palmas e solta um gritinho de contentamento. Ela ama qualquer

resquício de atenção vinda do pai.

Agora voltem para casa

Reviro os olhos, percebendo que tudo que é bom dura pouco.

Assim, invento uma desculpa para a Alisa, recolhemos as nossas


coisas, encontramos com Diogo na saída e seguimos para a
cobertura outra vez. Até que deu para aproveitar bastante.

No domingo à noite, mesmo sem chuva, a Alisa me pede para


fazermos a barraca outra vez, assim como exige ouvir uma nova
história. Faço tudo como ela quer, apesar de ficar morta de cansada

quando finalmente dorme, momento em que ajeito-a sobre os


edredons e deito ao seu lado, bocejando exausta. Ter ficado com ela
a semana inteira, mesmo que seja agradável, foi bem cansativo.

Acordo em algum momento ouvindo a Alisa me chamar, com a


voz sonolenta. A princípio acho que ela está tendo um pesadelo,
mas logo entendo o que quer:

— Mina... Mina... estou com sede... quero água — pede, de


olhos fechados.

— Vou... buscar água para você — afirmo, bocejando e

levantando bem devagar, limpando os olhos deixando a barraca e o


quarto.

Caminho pela casa semiescura, descendo os degraus


vagarosamente, vestida em uma camisola estilo camiseta, simples

com listras. Chego à cozinha, mas não ascendo a luz, abro a


geladeira, pego a jarra d’água, ponho água no copo, devolvo o
objeto à geladeira, fechando logo em seguida e, enquanto caminho

rumo à saída bocejando e fechando os olhos por um segundo, bato


em algo duro em movimento, que me assusta de forma que me
desequilibro e vou ao chão com um grito.

A energia é ligada, encontro nada mais, nada menos, que


Alejandro Javier, apenas de calça moletom, com o torso
completamente despido a não ser pelas inúmeras e surpreendentes

tatuagens que brilham com o suor. É como se ele tivesse acabado


de sair de uma sauna.

Fico em choque, observando-o de uma forma tão íntima e

surpreendente. Seu corpo é tatuado dos pulsos até o peitoral, sem


quase deixar um rastro de pele limpa. Nunca vi um homem assim de
perto, nessas circunstâncias. Engulo em seco sem palavras, com

seu olhar duro e intimidador sobre mim.

— Dou... dou... doutor Alejandro? — gaguejo sem entender —


O senhor... aqui? Eu...

Perco o ar quando ele se agacha bem perto de mim, os seus


músculos inflados se contraindo quando se abaixa e passa a catar
os cacos de vidro do copo que eu segurava, e só agora percebo que

se espatifou no chão com a queda meio bruta. Tento voltar a


raciocinar, processando o acontecido e levantar, mas sinto meu pé
direito doer.

— Ai!! — gemo, chamando a atenção do homem que me

observa atento, analisando o que acontece comigo, largando os


cacos e resolvendo focar apenas em mim — Não se preocupe, eu...
ai! — sinto mais uma vez.

Alejandro diz em gestos que vai me pegar, que não posso ficar
perto dos cacos de vidro.

— Oh, não se preocupe, não foi nada demais... — não consigo


terminar, ele enlaça os seus braços fortes em volta do meu corpo,

suavemente me ergue do chão, ficando de pé comigo em seu colo


contra sua pele suada, porém cheirosa.

Seu toque... seu odor... sua fortaleza corporal, tudo isso me tira

do eixo, me deixa sensível, quente... excitada. Os meus olhos


encontram os dele novamente, a respiração sai quebrada, o coração
parece que vai atravessar o peito. Tê-lo tão perto assim é inebriante,

é... inexplicável.

Sou levada para a sala de estar e posta sentada com as


pernas estiradas sobre o confortável sofá. Contudo, todo o trajeto

parece ter sido feito em câmera lenta, Alejandro me segurou firme e


não me olhou mais a não ser agora, de forma preocupada,
sentando-se diante dos meus pés, capturando o direito

delicadamente e pondo sobre a sua coxa.

Seu braço flexionado se torna ainda maior e mais viril,


formoseando as tatuagens, os desenhos que não param de me

impressionar, absorvendo toda a minha atenção até que sinto o pé


doer outra vez ao seu toque leve. Arquejo, saindo do transe e
fazendo careta.

“Está doendo aqui? ”

Pergunta, as pontas dos seus dedos tocando-me com


delicadeza.

— Sim — respondo.

“Muito? ”

— Só um pouco. Devo ter machucado na queda, mas sei que


de manhã já estará bom, não se preocupe. Desculpe pelo copo, é
que estava escuro e...

Ele pede silêncio, levando o indicador aos lábios rosados, isso


é tão sexy que me faz engolir em seco outra vez. O homem se
ergue, pedindo para que eu espere e some rumo à cozinha outra

vez. Deixo o ar sair dos pulmões com toda força possível, como se
durante todo este tempo tivesse passado sem respirar, paralisada

com tanta novidade acontecendo.

Jamais imaginei que por baixo daqueles ternos de grife,


Alejandro Javier fosse desse jeito. Ainda estou assustada, mas ao
mesmo tempo... encantada. Para mim ele continua belo, mas agora

o enxergo com uma beleza singular, bruta.

Ele reaparece com uma compressa de gelo feita manualmente,


pondo-a sobre o meu machucado que já está um pouquinho

vermelho, puxo o ar ao sentir o frio tocando a minha pele.


Simplesmente não consigo parar de olhá-lo, o meu chefe é
incrivelmente perfeito, com o abdômen trincado, peitoral inflado,

onde do lado esquerdo há o rosto de um gorila feroz urrando, e do


direito a face de um leão amedrontador rugindo.

Ele nota que não consigo parar de observá-lo e faz menção

em se afastar, porém não consigo conter a língua e pergunto:

— O que significam? — O faço estancar e voltar-se para mim,


sem entender — As tatuagens no seu peito, o que esses animais

representam para o senhor?

O homem pensa um pouco, parece decidir se me responde ou


não. Faço menção em abrir a boca faladeira outra vez, na intenção
de me desculpar por ser tão curiosa, mas ele é mais rápido,

respondendo em sinais:

“Força. Coragem. Ódio”

— Mas ódio por... quê? — As palavras fogem, sussurro a

última quando no meio da fala percebo que estou sendo intrometida


demais. Como já era de se esperar, ele não responde. Está sério
como sempre.

Mexo o pé, sentindo incômodo com o frio excessivo, deixando


a compressa cair no chão sem querer. Alejandro se agacha, ficando
à minha altura, pegando o objeto molhado e gelado, segurando-o

sobre o machucado. Seu rosto está acima das minhas panturrilhas


e, como se não quisesse fazê-lo, os seus globos passeiam por
minhas pernas nuas de uma maneira que me arrepia todinha.

Seu olhar fervente encontra o meu, novamente seu rosto


faminto ressurge, como na vez em que foi me ver dançar sozinho,
como quando nos encontramos no hotel, da mesma maneira

quando me viu apenas de toalha. Sinto o centro das minhas coxas


pulsar, o corpo esquentar demasiadamente rápido.

Meu chefe percebe isso, parece saber que mexe com o meu

psicológico, afasta a compressa e escorrega a mão direita


vagarosamente sobre minha panturrilha.

— Aaah... — gemo baixinho, conhecendo o seu toque de


forma real, algo que transpassa os sonhos. Meu som o deixa ainda

mais perigoso, fazendo com que a sua palma apalpe a minha coxa,
apertando a carne morena entre os seus dedos brancos, e em
seguida penetre por baixo da barra da camisola, descendo...

alcançando a minha intimidade que pega fogo mesmo estando toda


molhada —, oooh!

Um relampejo de luxúria brilha em sua íris ao me ouvir outra


vez, os seus lábios se entreabrem sedentos. Fecho os olhos com
força quando seu dedo médio instiga minha carne sensível por
sobre o tecido ensopado. As minhas coxas vibram, sinto coisas que
jamais senti em toda a minha vida, ele tenta chegar ainda mais

longe, misturar pele com pele, beirando a virilha quando algo grita
dentro da minha consciência e seguro-o a tempo, o impedindo de
continuar.

— Não! — murmuro resfolegando.


ALEJANDRO JAVIER

Mais uma vez tenho que viajar a trabalho, algo rotineiro na


minha profissão, já que gosto de ver pessoalmente como as demais

empresas que contribuem para o crescimento em conjunto de toda a


companhia estão funcionando. A consequência, novamente, é o
distanciamento da Alisa, contudo ela realmente já deve ir se

acostumando de pequena, para quando crescer não haver

desentendimentos entre nós.

Já conversei com ela algumas vezes, mostrando como tudo o

que faço é importante para assegurar seu futuro, que cada dia de
luta minha, será um dia de glória dela lá na frente. É por ela que

faço isso, para jamais correr o perigo de passar por tudo que passei
na sua idade, ou pelo menos pelo que me lembro, que já é ruim o

suficiente.

Isabel, como sempre organiza a minha mala e leva até Diogo

que a guarda no carro. Antes de sair, digo a ela para avisar a Mina
que ficarei fora por uma semana, e a chame para dormir aqui para

ficar com a Alisa. Despeço-me da minha filha, beijando-a na testa

enquanto dorme e sigo até o aeroporto de Barajas, onde pego o


jatinho particular com Joaquin.

Viajamos para Paris, França é a nossa primeira parada. Nos

hospedamos no Prince de Galles, um de nossos hotéis preferidos


da cidade, contando com muito conforto e glamour. Mal chegamos e

já partimos para o primeiro dia de reuniões e avaliações sobre o


andamento da filial que temos aqui. Felizmente não há grandes

problemas com os diretores, retornamos para o hotel com relatórios

para ler.

Tomo um bom banho, ponho um traje esporte-fino e desço

para o restaurante francês no instante em que Joaquin bate à minha


porta. Ele fica sempre no quarto ao lado, não distante de mim, pois

não sabemos quando precisarei dele para me interpretar em alguma

ocasião além das previstas. Já estamos acostumados a viajar


juntos, já enfrentamos várias situações nas quais o meu problema
me dificultou de alguma forma, mas ele esteve lá e me ajudou.

Nos acomodamos à mesa reservada e dessa vez pedimos

como prato principal o Confit de Carnard, que é a coxa de pato

cozida lentamente na própria gordura, acompanhado de batatas

sauté, um prato tradicional da França. Enquanto degustamos um

belo vinho, Joaquin olha ao redor e comenta:

— O restaurante está muito bem frequentado hoje — ele me

faz observar o ambiente luxuoso, notando algumas mulheres lindas,

tanto sozinhas como acompanhadas, que nos miram de soslaio ou

até diretamente.

Está pensando em sair para se divertir como sempre?

Pergunto, por mensagem.

— Sim, mas dessa vez quero que venha comigo — responde,

mirando-me —, ou talvez nem precisemos, há muitas opções de

diversão por aqui — sorri cafajeste.

Pode ficar à vontade, preciso analisar com cuidado

aqueles relatórios.

— Ah Alejandro, para com isso! Você aprecia tanto Paris que

eu sei, o francês, porém quando estamos na cidade luz,


simplesmente age como se estivéssemos em qualquer lugar. Do

que adianta trabalhar tanto e se privar de colher os frutos?

Ele não está mentindo, não costumo aproveitar as grandes

metrópoles para onde vamos, sempre foco no que tenho que fazer e
retorno para a Espanha. De vez em quando até procuro um

ambiente do qual me agrado, porém sozinho. Com Joaquin apenas


ia a algumas boates comuns ou barzinhos.

— Apesar de continuarmos sempre juntos, nossa amizade

ultimamente tem sido extremamente profissional. Nunca mais


saímos para nos divertir.

Onde está sua namorada secreta?

O provoco. Ele revira os olhos suspirando.

— Certo, tudo bem, quer que eu finalmente admita? Então o


farei. Sim, estava me relacionando sério com uma mulher, foi por
isso que me afastei da velha vida de solteiro. Mas... acabou — fala,

baixando os olhos com um certo pesar, levando a taça à boca para


disfarçar.

Eu sabia, desconfiei desde que começou a mudar. Quem é

ela? Foi o primeiro caso seu do qual não me passou a ficha


completa
Ele sempre me falou tudo, enquanto nunca lhe disse nada.

Joaquin nem faz ideia dos meus gostos peculiares, da minha


intimidade, ou o que faço para fugir de relacionamentos e satisfazer

os meus desejos após Maite passar por minha vida.

— É porque ela não era simplesmente um caso, Alejandro. Foi


forte... diferente, e... no momento certo iria apresentá-la.

Faço uma cara de quem está impressionado.

Eu te avisei que se apaixonar não é nada legal

— Fala como se isso fosse uma opção.

Para mim agora é

— Você é tão inteligente e ao mesmo tempo tão tolo.

É melhor não nos aprofundarmos neste assunto, senão

irei demiti-lo.

— Ah é? E quem irá falar por você? — sorri vitorioso. Ele não

quis me atingir, longe disso, mas o fato de afirmar que eu preciso


dele para falar por mim, de certa maneira me atinge, mesmo sendo

uma verdade atual — A não ser que procure por aquele psicólogo
cujas informações deixei na sua mesa há séculos.

Sacudo a mão, ordenando que não entre neste mérito. Joaquin


bufa, mas se cala. Jantamos praticamente em silêncio e, no fim ele
levanta e diz:

— Como você é o CEO, o jantar ficará por sua conta.

Procurarei alguma boate para me divertir.

Digo em gestos para que volte sóbrio.

— Tchau, Alejandro — se despede, inconformado com a minha


negativa, mas antes que se afaste, ergo a mão pedindo para que
espere, vendo seu sorriso surgir —, é isso aí! Será como nos velhos

tempos, amigão!

Digo para que não se anime, que só irei acompanhá-lo, mas


isso para ele já é o suficiente. Pegamos um táxi e partimos para

uma boate da preferência dele. O lugar é espaçoso e cheio de gente


bonita e fina.

Ficamos em um camarote vip, pedimos alguns drinks e


Joaquin sai à caça, retornando com duas lindas moças. Ele é bom

nisso, tem papo e charme. Uma das mulheres se aproxima de mim,


deixando a amiga com mais privacidade ao lado do meu parceiro
quando ambos começam a se beijar.

— Bonne nuit Prince — é a primeira coisa que ela me diz,

cumprimentando-me salientemente no ouvido. Porém, a sua


saudação me faz lembrar automaticamente de Mina
cumprimentando a Alisa e a chamando de princesa no jantar que
prepararam para mim, e que fiz questão de interromper a alguns
dias. Como pude ser tão tolo?

Olho para a bela mulher de cabelos lisos e acastanhados e

apenas me levanto, saindo do camarote, deixando-a lá com Joaquin


e a outra, decidindo ir ao bar para tomar algumas doses de um bom

blend. Penso em minha casa, em como minha filha está na sua


primeira noite com a bela professora de balé, retiro o celular do

bolso com a intenção de me comunicar com elas quando avisto


alguém que me parece familiar.

Guardo o aparelho, parado em um canto fico prestando

atenção no homem louro, alto, beijando duas gostosas ao mesmo


tempo. Esteban? Não é possível... depois de quase dois anos sem

vê-lo e sem saber do seu paradeiro. Aproximo-me um pouco mais,

passando por pessoas dançando sob as luzes especiais que deixam


o estabelecimento semiescuro.

Vejo meu irmão saindo das bocas sensuais, trocando olhares

intensos e apertando simultaneamente a bunda das duas, até que,


como se alguém o avisasse da minha presença, os seus olhos

encontram com os meus, para o seu claro desprazer. Ele comenta

algo no ouvido das mulheres, acho que as dispensando e se afasta,


fugindo de mim. O sigo até fora da boate, tendo que me apressar e

segurá-lo pelo ombro antes que entre em um superesportivo.

Sua reação, como esperado é rústica e hostil. Ele se vira para

mim de forma ousada, desfazendo o meu toque.

— O que você quer?! — rosna. Miro-o indagador cheio de

perguntas que não tenho como fazer agora — Como me achou

aqui? Por acaso anda me seguindo?

Afirmo em gestos que não tenho tempo para isso. Pergunto

quando retornará para casa, ele debocha.

— Isso é sério? Está querendo dizer que foi uma coincidência?

Assinto com a cabeça, pergunto por onde andou este tempo


todo, digo que nossos pais estão preocupados.

— Não me venha com este papo de merda, mudinho. Acha


que acredito em você? Deve estar adorando comandar o império da

família sem eu para atrapalhar.

Indago o que ele está fazendo da sua vida.

— Vivendo, sem papai para me controlar ou subestimar, e sem

você para odiar. Esquecendo da Espanha, de Madri, de tudo aquilo


que prezei por tanto tempo e que no final não valeu de
absolutamente nada. Cansei de ser... preterido por minha família

que prefere enaltecer um sobrinho ao filho legítimo.

Afirmo que fomos criados como irmãos.

— Mas nunca o considerei como um, e nunca irei considerar,

Alejandro — afirma, com rancor, com sentimentos tão ruins que me


arrepiam.

“Nunca fui seu inimigo. Vamos deixar as nossas diferenças de

lado. Volte para casa”

— Minha casa agora é o mundo, acredite, é muito melhor.

Esqueçam-me.

Ele entra no carro e some de vista, deixando-me com um peso

enorme na consciência e também no coração. De certa forma, sinto-

me culpado por mais essa ferida na família, coisa que nos torna tão
instáveis, tão distantes... quebrados. Acho que o único sem

demônios em nosso meio é o Mateo. Só acho, não tenho certeza.

Ele sempre pareceu tão de bem com a vida.

Retorno para o hotel sem me despedir de Joaquin, ocultando-

lhe o motivo da minha partida.

Os dias passam, seguimos para Berlim, na Alemanha, onde

fazemos encontros de negócios, reuniões, alguns seminários e


recebimento de relatórios. Na primeira noite, Joaquin até chega a

me convidar novamente para sair, mas nego veementemente dessa


vez, tendo em vista o que ocorreu em Paris.

No sábado, durante uma das últimas reuniões em Berlim, vejo


meu celular notificar o recebimento de novas mensagens da Mina,

mas não consigo lê-las de imediato. Mais tarde, enquanto almoço

com os meus funcionários no restaurante do hotel no qual estou

hospedado, finalmente pego o aparelho, lendo o pedido dela para


que levasse a Alisa a um determinado parque do qual já ouvi muito

falar, mas nunca me interessei em visitar.

Essa ideia não me deixa confortável, não gosto de imaginar as

duas sozinhas se aventurando por Madri, pode ser perigoso para

uma mulher e uma criança. E se alguém lhes fizer mal? E se alguém

se aproveitar delas de alguma maneira? Rapidamente envio


mensagens para Diogo, descobrindo que a babá não esperou por

minha resposta e já saiu de casa.

Assim, respondo-a, deixando claro que sei de tudo:

Você deveria ter esperado a minha resposta, não gosto

que minha filha vá a lugares que não frequento. Como ela está?

Espero pela resposta, que logo vem:


Desculpe, achei que seria bom para ela passear. Estamos

bem.

Um dos diretores chama por mim do lado oposto da mesa,


sorrindo, comentando sobre futebol, falando em espanhol na

tentativa de que eu o compreenda melhor, porém seu forte sotaque

alemão dificulta ainda mais as coisas, chego a preferir sua língua


nativa que também compreendo perfeitamente bem.

O iphone vibra em minha mão novamente, abro a mensagem,

erguendo as sobrancelhas com a surpresa mais do que inesperada,


uma foto da minha pequena abraçada à bailarina, ambas sorrindo,

com os olhos brilhando de felicidade em mais perfeita sintonia.

Fico admirando a imagem por longos segundos, senão

minutos, achando perfeitamente incrível elas juntas, acalmando o

coração por um instante, sentindo saudade de casa, uma vontade

de estar lá, de vê-las de perto, assim tão radiantes. Elas até


parecem completar uma a outra.

Mina... por que você é assim tão diferente? A outra babá


jamais fez isso. Lembro do ditado que uma imagem vale mais que

mil palavras, e de fato vale. Chamo-as de lindas. Elas parecem bem

e seguras, mas ainda assim peço para irem para casa.


No dia seguinte, domingo, felizmente conseguimos adiantar

todos os compromissos e, consequentemente adiantamos nosso


retorno para Madri na madrugada, ganhando algumas horas, já que

retornaríamos apenas na segunda ao anoitecer. Chego na capital

espanhola cansado, na verdade exausto, mesmo tendo tirado uma

soneca durante o voo.

Entro na cobertura de luzes apagadas, seguindo pela escada

até o andar superior, afrouxando a gravata, parando na porta do


quarto da minha filha, olhando também para a porta do quarto da

Mina, imaginando que esteja lá, mas para a minha surpresa, a

encontro com a Alisa, não na cama, mas debaixo de uma espécie


de tenda erguida com cordas e lençóis.

As duas estão sobre edredons e travesseiros, dormindo

agarradinhas, lindas em mais sublime sono. As contemplo com


ternura, até que a bailarina se mexe, virando-se para o lado oposto

e suspirando, fazendo-me dar um passo para trás ao achar que irá

acordar, mas não, ela faz pior, as suas coxas nuas surgem diante
dos meus olhos, revelando que usa uma camisola curta, em forma

de camiseta.

Puta que pariu, como é gostosa. Mordo o lábio inferior,


sentindo o sangue esquentar pelas veias. Mas lembro onde estou,
vejo a minha menininha e, antes de deixar os pensamentos
afrodisíacos me dominarem, saio do cômodo, seguindo para o meu

quarto onde tomo um banho frio para conter qualquer sentimento

quente e perigoso.

Visto uma calça moletom preta, lembrando a todo instante da

bailarina quase nua na minha frente, sentindo meu pau pulsar entre
as pernas querendo tomar forma, crescer e engrossar, o que me faz

rolar na cama, perturbado, levando um bom tempo até dormir.

Acordo mais tarde, assustado após mais um pesadelo maldito.


Sempre as mesmas imagens, um estranho ameaçador entrando

pela porta... ele se agachando para ficar à altura da minha cama... o

borrado do seu rosto, não consigo conhecê-lo... fumaça, fogo, gritos,


sangue.

Sento-me, ofegante e ligando o abajur, notando que estou

muito suado apesar de o ar-condicionado estar em mais perfeito


funcionamento.

Levanto, decidindo ir à cozinha e beber alguma coisa para me

acalmar, olhando a hora no relógio de pulso antes, notando que


marca quatro horas em ponto. Desço as escadas no silêncio
absoluto da imensa cobertura, aproximando-me da cozinha a
passos calados, no quase breu, momento em que bato em alguma
coisa que se move, vejo um vulto indo ao chão com um grito.

Ligo as luzes com rapidez, encontrando Mina no chão


assustada, fitando-me de olhos esbugalhados, com um copo

quebrado bem perto dela. Caralho, eu a derrubei!

— Dou... dou... doutor Alejandro? — gagueja confusa — O


senhor... aqui? Eu...

Abaixo-me ao seu lado, a primeira coisa que penso em fazer é


afastar os cacos de vidro dela, mas no momento a moça tenta se
levantar, contudo geme de dor, chamando a minha atenção total. Ela

tenta suavizar o problema, mas sei que nosso impacto foi forte, sou
grande e ela pequena, quase a esmaguei.

Aviso em gestos que irei pegá-la, que não pode ficar perto dos

cacos de vidro. Mina outra vez desconversa, mas não a escuto e a


pego em meu colo, passando os antebraços por baixo do seu corpo,
levando-a rumo à sala de estar. Durante o percurso, sinto seu doce

perfume, sua respiração quase ofegante batendo contra meu


pescoço. Tê-la tão perto assim é tentador demais, muita tortura.

Deixo-a no sofá de pernas estiradas, sentando-me diante dela

tomando o seu pé com cuidado, preocupado com medo de tê-la feito


quebrar algum osso. Ela arqueja quando a toco no machucado, sua
pele está um pouco vermelha. Pergunto em símbolos:

“Está doendo aqui? ”

— Sim — responde.

Trocamos mais algumas informações, Mina demonstra que vai


começar a falar sem parar então lhe peço silêncio, retornando à

cozinha em seguida, de onde saio minutos depois com uma


compressa que preparei e que deixo sobre o pé dela.

Fico parado tentando não olhar nos olhos dela, resistindo,


sentindo os seus globos sobre mim de modo fervente, mas como se

fosse puxado por algum tipo de força magnética, a fito notando o


tesão faiscar entre a gente. Só então lembro que estou
descamisado e que parte do meu corpo, as tatuagens que tanto

tento ocultar, guardá-las só para mim, estão totalmente expostas a


ela aqui tão perto.

Penso em fugir, ir para o quarto e voltar com um blusão, mas

estanco ao ouvir a jovem que me pergunta o significado das


tatuagens. Ela é mesmo uma espanhola nata! Sem papas na língua,
falando antes mesmo de pensar. Cogito não a responder, cogito
simplesmente ignorá-la, mas sem entender por que, não o faço, e a
respondo:

“Força. Coragem. Ódio”

— Mas ódio por... quê? — As palavras outra vez fogem por


sua boquinha linda, mas dessa vez não me manifesto. Ela não

entenderia a profundidade desses desenhos em minha pele, a


complexidade deles.

Mina mexe o pé, parece sentir incômodo com o gelo, a


compressa vai ao chão, cometo o erro de pegar e segurá-la de volta

no lugar, agachando-me, é inevitável, ficando à altura da garota com


o rosto de frente e bem próximo das suas pernas descobertas, tão

sensuais, cheirosas e depiladas, com uma aparência de maciez


incrível, além dessa cor de chocolate atraente.

O estopim de tudo é quando a vejo arrepiar inteira com a


nossa proximidade. Encaro-a faminto, percebendo o seu movimento

discreto, apertando as coxas uma contra a outra, coisa que me


deixa com sede, com vontade, me fazendo queimar e querer atear

fogo nela também!

Não consigo mais resistir, esqueço da porra dos princípios, das


regras que tentei me impor em relação a ela, à sua condição de
babá e eu de seu chefe! Afasto a compressa e escorrego a mão

direita vagarosamente sobre sua panturrilha, sentindo sua pele


ardente esquentar a minha ainda fria.

Neste instante, o meu pau já está estourando dentro da calça,

cutucando o tecido a ponto de perfurá-lo.

— Aaah... — ela geme baixinho, enviando-me mais uma


injeção de luxúria e desejo!

Não paro, prossigo apertando sua coxa durinha, formosa,

macia, morena, escorregando os dedos rumo ao meu objetivo,


penetrando por baixo de sua camisola, sentindo a temperatura subir
a cada vez que eu chego mais perto de sua bocetinha e sou

agraciado com mais um gemido dela, ainda mais gostoso que o


primeiro, quando finalmente toco sua carne em chamas!

Fico louco ao sentir o quanto Mina está molhada, o quanto fica

libidinosa em minha presença, a dimensão da nossa química. Ela


fecha os olhos fortemente quando roço o dedo entre o clitóris e a
fenda, sua carne é protuberante, apertada, diria até comprimida

contra a calcinha que parece ser pequenina!

Preciso desesperadamente penetrá-la, ultrapassar o tecido,


molhar o dedo com os seus fluidos, me queimar entre os seus lábios
vaginais. Porém, antes que eu possa fazê-lo, a bailarina, que já
delira e ofega, segura meu antebraço em uma espécie de reflexo
nervoso, me impedindo.

— Não! — sussurra sem ar.

Paraliso, piscando, voltando a mim com a sua reação. O que


estou fazendo? O que estou fazendo? Já faz tanto tempo que ela
está aqui, ando resistindo tão bem e agora isso? Me deparo com a

mão quase dentro dela, debaixo de sua camisola entre as suas


coxas, o meu dedo a ponto de se enfiar dentro da calcinha.

Não posso fazer isso, Mina Pacheco não é descartável, não é

apenas para sexo, para brincar, ela me provou isso, e agora está
intimamente ligada à minha filha que por acaso dorme bem perto de
nós. Puxo o braço lentamente, olhando em seus olhos assustados e

ao mesmo tempo tomados pela lascívia. Sei que ela me quer, que
me deseja, mas também sabe que não é tão simples assim.

Talvez eu tenha ido com sede demais ao pote, mesmo que de

modo natural, me tornei nestes poucos segundos um ser irracional,


quebrei meu próprio juramento de não a desejar mais.

Mina é realmente diferente de todas que já tive em minha

cama, outras em seu lugar não me parariam, o que me faz imaginar


coisas ao notar sua inocência. Será que é virgem? Se for, pior
ainda.

Pisco outra vez, saindo dos meus devaneios, erguendo-me e

afastando-me, momento em que a bailarina fica perplexa com o


volume enorme formado em minha calça. Sigo seu olhar,
encontrando meu centro a ponto de explodir, incomodado com o

tecido que o prende. Entretanto, não tento me esconder, já é tarde


demais, não há o que fazer. Ela bem deve saber que isso é normal

após um acontecimento ardente como este.

Faço o correto e caminho normalmente, seguindo de volta para


o quarto, onde me tranco sem saber o motivo e passeio lentamente
pelo espaço com as lembranças frescas do que houve minutos

atrás. Foi uma loucura, um ato involuntário, um impulso


incontrolável!

Fito a mão direita, a que usei habilmente para tocar a

intimidade daquela mulher. Ergo-a devagar até o nariz, aspirando o


cheiro da boceta, fechando os olhos e vibrando por dentro. Ponho o
dedo médio na boca, saboreando os resquícios do gostinho dos

líquidos de Mina, chupando-o. O mastro está pulsando! Tiro-o para


fora, escorregando a palma livre por seu corpo robusto, ardente e

grosso, masturbando-me.
Pareço um tarado, um maníaco sexual, mas não consigo mais
controlar, tenho que botar para fora toda essa tensão sexual, preciso

me aliviar ou sei que não conseguirei dormir! E assim, chego a um


poderoso e abundante clímax, arquejando, queimando.

É o fim.

No dia seguinte, após uma noite sem conseguir dormir, por

mais que não queira bater de frente com Mina novamente e causar
constrangimentos, penso no certo a se fazer, que é conversar com
ela sobre o acontecido nesta madrugada.

Se não conversarmos ficará impossível convivermos dentro


deste apartamento, já me conheço e sei que não conseguirei parar
de pensar nisso até saber a opinião dela, que é o que vai definir as

minhas próximas decisões.

Logo cedo envio uma mensagem a Isabel, pedindo para não


se preocupar em pôr a mesa de imediato como sempre faz, que

hoje vou esperar por minha filha. Meu plano antes de tudo era
realmente este, tomar café com a Alisa após uma semana longe

dela.

Decido malhar duro, para o tempo passar. Já faz alguns dias


que não visito a minha academia, que fica na área externa no

terraço, de frente para a piscina e toda a área de lazer. Por cerca de


uma hora pego pesado, tentando extravasar enquanto meço os
meus próximos passos, o que irei fazer em relação ao

acontecimento na madrugada fervente.

Após o treino e um bom banho, saio do quarto pronto para ir


trabalhar, mas com uma leve dor de cabeça por não ter dormido.

— Bom dia, doutor Alejandro, como foi de viagem? Nem


mesmo vi o senhor chegar — Isabel me cumprimenta, sorridente e
competente como sempre. A mesa está perfeita, um café digno de

rei.

Cumprimento-a através dos sinais, digo que a viagem foi


cansativa, mas proveitosa. Não demora muito para eu ouvir a voz da

minha pequena tagarelando com Mina, os seus passos vão ficando


mais audíveis até que ela surge diante de mim, já pronta para ir à
escola.
— PAPAAAI!! — Alisa corre e salta em meus braços, nos
abraçamos fortemente, momento em que fito Mina rapidamente, que
está devidamente surpresa por me ver aqui, já que nunca estou aqui

à essa hora.

É incrível como as suas bochechas ruborizam, seu rosto


abaixa envergonhada, já com esse clima entre a gente, aquele de

quem fez algo errado e agora tem que conviver com isso. É
exatamente essa a questão que quero descobrir, se teremos que
continuar convivendo ou não, porque além daquela loucura da

madrugada, há essa princesa no meu colo que é mais importante.

— Ai, Papai, eu estava com tanta saudade do senhor! Que


bom que está aqui! Vai tomar café da manhã comigo?! — Seu

queixo parece que vai tocar o chão tamanha surpresa quando


assinto. Retiro um pacote colorido da minha maleta que está na
cadeira ao lado, entregando-lhe — Presente!!! Oba!!

Ela rasga o embrulho em um segundo, mas não gosta muito


do que vê: um vestido.

“Não gostou? ”

— Gostei, mas gostaria mais se fosse um brinquedo! — faz

bico, ela é exigente, porém a conheço bem e faço um sinal para


Isabel, que some por alguns segundos e retorna com uma caixa
enorme, que faz os olhos da garota brilharem — O que é isso?

Faço um sinal, indicando que ela abra, e assim o faz,

encontrando uma boneca do tamanho dela, a partir de então é só


felicidade, gritos e muitos sorrisos estrelados. Percebo que Mina

aproveita a distração para sair devagarinho rumo à cozinha, não


comendo conosco.

Assim, despeço-me da minha filha e, enquanto Diogo me leva


para a empresa, envio uma mensagem importante a Mina:

Precisamos conversar sobre o que aconteceu nesta


madrugada, mas não quero que seja em casa. Diogo a levará ao
meu escritório mais tarde após deixar a Alisa na escola.

Espero uma resposta. Espero... espero... e nada! Isso me


deixa impaciente. Só quando chego à minha sala é que sou
respondido:

Hoje eu não posso ir, marquei de visitar a minha mãe na


clínica.

Não é um pedido, é apenas uma comunicação. Fico relendo a


mensagem, constatando isso, entretanto penso que tomei uma

semana inteira dela, além disso é a mãe, então está tudo bem.
Mas... merda! Não quero esperar tanto com aquela sua cena

gemendo na minha cabeça enquanto os meus dedos brincavam


com a sua gruta molhada. Chego a cheirá-los outra vez, na busca
falha pelo doce e ardente perfume da boceta, mas não o encontro, o

que me deixa frustrado.

Então que seja amanhã, nenhum dia a mais.

Respondo, firme. Ela envia a última mensagem, dizendo que


tudo bem. Jogo o celular no sofá, sentando-me nele em seguida,

lembrando da senhorita Pacheco, só dela e de todas aquelas


sensações enquanto eu lhe tirava o juízo.

Isso não vai dar certo, o que eu mais temia aconteceu, fizemos

merda, ela não conseguirá lidar bem com isso daqui para frente, é
jovem, inexperiente e imatura, vai se apaixonar. Será um problema.

Talvez a única saída seja a mais desastrosa: demissão.

O dia de hoje passa lentamente, se arrasta na verdade, é por

vezes doloroso, muito estressante, sei que é por causa da minha


ansiedade para o amanhã. Quando regresso para casa, Mina já não

mais está aqui, quando saio na manhã seguinte, ela ainda não tem
chegado.
Resolvo me afundar no estudo de um arquivo que a secretária

me envia, mas a todo instante miro o relógio de pulso, sabendo que


a qualquer minuto Mina estará chegando. Não me reconheço, não

sei porque estou sentindo isso, fico em dúvida se tomarei a decisão


certa, mesmo sendo a mais difícil para a minha filha ou se haverá
outra saída.

Não, não há. É melhor cortar este mal pela raiz antes que as

faíscas se tornem uma fogueira incontrolável. O telefone toca,


atendo-o ouvindo a secretária anunciar a entrada da babá.

Segundos depois a porta se abre lentamente, a moça entra e nos


encaramos seriamente.
MINA PACHECO

Alejandro para de me tocar quando peço segurando-o.


Ficamos paralisados por longos segundos, nos encarando, até que

ele parece sair do transe e se afasta, erguendo-se, impressionando-


me com seu imenso volume bem no meio das pernas. É algo que
nunca vi antes, tão grande, sinto até mesmo curiosidade de vê-lo

sem roupa ao mesmo tempo que estou acuada, nervosa, assustada

com o que acabou de acontecer.

O homem vai embora, seguindo para o andar superior,

deixando-me sozinha, quente e fria ao mesmo tempo. Só quando já


não sinto mais a sua presença, o seu perfume, é que consigo

respirar melhor, o coração batendo desesperadamente. Que loucura


foi essa? Como o deixei chegar a tanto? Ou será que a pergunta é:

como me deixei ir a tanto?

Foi rápido e eterno, simplesmente aconteceu num piscar de

olhos. Foi inexplicável e se alguém me perguntasse agora, não


conseguiria explicitar. Demoro a me erguer, sentindo minha

intimidade molhada, um desejo profundo por mais, com a pergunta

latejando em minha mente: como será daqui por diante? Como


poderei continuar trabalhando para ele depois do que aconteceu?

Penso em ir para o quarto, mas lembro da bagunça na

cozinha, vou verificar e os estilhaços do copo ainda estão lá, no


chão. Limpo tudo devagar, devido ao machucado no pé, volto para o

andar superior temendo encontrar meu chefe pela frente outra vez.
Não é exatamente medo, é vergonha, receio, nervosismo,

constrangimento e... atração, desejo de mais, muito mais.

Penso em retornar para tenda, deitar com a Alisa, mas não

tenho estruturas para isso. Sigo para o meu quarto, onde tomo um

banho longo e gelado, pensando sob a água, com flashes daquela


mão máscula, de dedos longos e grossos me tocando, quase se

aprofundando em minhas entranhas.


Eu sou virgem no maior sentido da palavra. Passei toda a
minha vida focando na carreira de bailarina, quando isso não foi

mais possível, foquei em sustentar a mim e à minha mãe apenas.

Nunca beijei na boca, nunca vi um homem nu pessoalmente ou até

mesmo excitado daquela maneira, se quer fui tocada em

tamanha intimidade, agora essa experiência não sai mais da minha

cabeça.

Eu quis, deixei acontecer, mas desisti quando percebi todos os

limites sendo ultrapassados de uma só vez. Alejandro queria, era

visível o seu desejo também, coisa que agora me deixou claro, que

talvez a sua vontade de me possuir nunca se dissipou desde o

hotel, porém foi maduro e profissional demais para demonstrar.

Fico em dúvidas sobre os meus sentimentos, lembro da

princesinha, de que agora sou sua babá, de que prometi não a

deixar nunca, mesmo sabendo que essa promessa poderia ser

quebrada a qualquer momento.

Passo a noite sem pregar o olho e acordo exatamente no

instante em que devo começar a preparar a Alisa para ir à escola.


Tomo um banho rápido, ponho uma roupa e saio do quarto devagar,

com medo de, por algum acaso ver Alejandro, mas pelo silêncio e
ambiente de todas as manhãs na casa, relaxo, tomando a

consciência de que ele já deve ter ido ao trabalho.

Tento afugentar as recordações quentes da noite passada

enquanto estou com a pequena, para poder conseguir focar nela.


Enquanto a visto, ela começa com as suas perguntas:

— Por que não dormiu comigo, Mina?

— Eu dormi meu amor, saí agora de manhã, fui ao meu quarto

tomar banho por isso você não me viu — minto.

— Não gosto de acordar sem que a senhora esteja ao meu


lado — ela é tão fofa.

— Está ficando mal-acostumada, não está? — seguro-a pelo


queixo, trocamos sorrisos.

Tagarelamos alegremente até chegarmos à sala de refeições,

encontrando o pai dela à mesa, nos esperando para o café da


manhã. O quê?? Droga! Troco olhares com ele que dizem tudo,
ambos sabemos o que fizemos ontem à noite, mas não sei como se

comportará daqui para frente. Não sei se quero que finja que nada
ocorreu ou se... Ah!!

Alejandro enche a Alisa de presentes, aproveito o momento de


empolgação da garota com a presença do amado pai e fujo para a
cozinha, onde tomo café.

— Tudo bem, senhorita Mina? — pergunta Isabel, deixando

uma bandeja sobre a pia.

— Sim, tudo bem, por quê?! — respondo rapidamente,


nervosa pensando loucamente que ela pode estar sabendo de algo.

Dona Isabel ergue uma sobrancelha, sem me entender.

— Por nada, é que estranhei não comer com o patrão e a


pequena — diz, analisando-me.

— Ah... é... quis deixá-los à vontade. Faz uma semana que


não se veem, né — sorrio sem humor.

— Está tudo bem mesmo? — fica levemente preocupada.

— Sim, está.

— Parece que não dormiu bem.

— Sonho... quer dizer, pesadelos — sorrio outra vez, engolindo


em seco, temendo que ela, de repente adquira o poder de ler a

minha mente.

— Certo — afirma, regressando para a sala.

Quando o doutor vai embora e volto a ver a Alisa, recebo uma


mensagem dele que claramente ordena que eu vá vê-lo em sua
empresa para conversar. Conversar? Não, não quero conversar, só
quero sumir! Oh meu Deus. Demoro a respondê-lo, mas o faço da
melhor forma possível:

Hoje eu não posso ir, marquei de visitar a minha mãe na

clínica.

Isso não é verdade, mas agora terá que ser, porque tudo que
quero agora é o colo e os conselhos da minha mãe.

Então que seja amanhã, nenhum dia a mais.

Leio a resposta dele. Como é desaforado! Arrogante!


Respondo que tudo bem.

Assim, espero Diogo retornar para ir deixar a Alisa na escola,


em seguida peço para que ele me leve até a clínica e o dispenso,

pois não pode ficar à minha espera, precisa estar disponível e perto
caso surja um chamado do patrão.

Chego na recepção e peço para chamar a doutora Eugênia,


que após atender uma família me recebe. Ao entrar na sua sala, a

encontro de pé, como se fosse sair.

— Senhorita Mina, tudo bem? — Me cumprimenta.

— Olá doutora Eugênia, estou bem sim e a senhora?

— Muito bem também. Acredito que veio ver a sua mãe.


— Sim — sorrio.

— Pois vamos sair daqui, hoje ainda não levantei desta

cadeira, estou com o bumbum doendo, preciso caminhar.

Gargalhamos das suas palavras e passamos a passear pelos


espaços externos da clínica, passando por diversas alas recreativas,

como yoga, música, artes, tudo desfrutado pelos pacientes.

— A senhora Pacheco está progredindo bem com o


tratamento. Ela já reage melhor aos remédios, se abre mais no

grupo — conta, com as mãos nos bolsos do jaleco branco.

— Grupo? — indago.

— Sim, um grupo dos pacientes que vieram aqui através do

alcoolismo — explica.

— Ah sim, entendo. É que ela não me comentou sobre isso na

última vez em que vim aqui.

— Ela já está até construindo amizades, porém ainda sofre um

pouco com a abstinência.

— Mas ela está se adaptando bem pelo que estou

percebendo.

— Sim, está e se continuar dessa forma, passará pouco tempo


por aqui. O que é uma pena, pois os enfermeiros e psicólogos,
todos os profissionais estão se apaixonando por sua pessoa, por

seu conhecimento e classe.

Sorrio, feliz em saber disso.

— Ah, que maravilha! Preciso muito falar com ela, doutora.

— Ela está no jardim, me acompanhe.

Sigo-a até um local verdejante, cercado das mais variadas e

exuberantes flores, onde avisto minha mãe como há muito tempo

não via, de joelhos na terra, plantando Gazânias de cores vibrantes.


A doutora se afasta me deixando a vontade. Emociono-me, mas

contenho a vontade de chorar por já notar a mulher da minha vida

ainda mais radiante do que na última vez em que vim visitá-la.

Sempre que venho, ela está brilhando um pouco mais e isso é

incrível!

— Mamãe? — A chamo, fazendo seu rosto se voltar para mim

e sorrir lindamente.

— Minha filha! — Ela dá as últimas batidinhas no estrume,


limpa as mãos em um pano ao lado, dentro de uma cesta, e se

ergue para me abraçar — Senti sua falta semana passada, mas

entendo que estava dormindo com sua pupila — se refere a Alisa


—, senti tanta saudade.
— Eu também, mamãe — acaricio seu rosto, tão feliz de tê-la

comigo, me sinto muito mais segura agora —, como a senhora

está?

— Não está vendo? Suja e suada, mas contente. Vamos nos

sentar ali — ela nos encaminha até um banquinho próximo, de

madeira, defronte para os jardins sob a sombra de uma árvore.

— Sabe a primeira coisa que lembrei ao vê-la mexendo nas

flores?

— Da nossa casa de praia — acerta sorrindo.

— Sim!! — aperto as suas mãos com amor.

— Tínhamos um belo jardim lá, não tínhamos? — Sua

expressão se entristece levemente, os olhos baixam por um

instante, a mente relembrando. Fico calada, ela me fita, pisca e


muda de assunto, evitando lembranças boas que vêm com as ruins

— E você, como está?

— Estou bem... — não consigo mirá-la ao dizer isso, ela

percebe, me conhece bem. Ergo o rosto, encorajando-me para

encará-la, sabendo que está esperando pela verdade.

— Vamos lá, desabafe — incentiva-me.


Suspiro, deixando as pálpebras caírem um pouco até criar

coragem e pergunto:

— Mamãe... apesar de o papai ter nos deixado numa situação

terrível após partir... antes disso... a senhora era apaixonada por ele,
não era?

— Você sabe que ainda sou — revela, não me surpreendendo,

apesar de tudo ela nunca o esqueceu —, fiquei horrorizada ao


descobrir tantos segredos, os vícios dele em jogos, mas... nada

disso conseguiu destruir por completo o meu amor por ele — ela dá

uma longa pausa, me aguardando —, aonde quer chegar?

— Como... como soube que... estava apaixonada por ele e...

que ele estava apaixonado pela senhora?

— Mas já te contei esta história tantas vezes...

— Sim, contou é que...

— Por acaso acha que está apaixonada por alguém? — ergue

as sobrancelhas, acertando na mosca! Meu rosto diz tudo — E

ele...? Está apaixonado por você?

Sorrio, sem graça.

— Não... — respondo —, na verdade não sei o que é amor ou

paixão, mas...
A mulher aperta as minhas mãos, como se pedisse calma,

como se não precisasse ouvir mais nada para me entender. Então

observa ao redor, pensativa.

— Observe aquelas Gazânias — pede, então a obedeço,

vendo as brisas leves do vento sacudi-las lentamente —, pense que

nos envolver com outra pessoa é quase a mesma coisa de nos


envolvermos com elas. Existe uma diferença entre nos atrairmos,

nos apaixonarmos e amarmos. À primeira vista, a flor nos prende

pela atração, nos encantamos por sua beleza, desejamos possuí-la,

tê-la para nós e sentir o seu perfume.

“Com o tempo se assim quisermos, podemos conviver com

ela, levá-la para casa e conhecê-la melhor, querer ficar mais perto,
descobrir os seus detalhes, pensar nela todas as horas do dia.

Assim, nos apaixonamos. Mas, se além de tudo isso, cuidarmos

dela, regarmos, expormos ao sol, podarmos quando preciso for,

estarmos em todos os momentos que necessitar, aí sim estamos a


amando. Entendeu? ”

— Sim... entendi — não consigo segurar uma lágrima solitária


que desce por minha face, pois já descobri o que precisava

descobrir. Minha mãe a enxuga com o polegar ao mesmo tempo que

faz uma carícia, e continua após me abraçar.


— Nós mulheres somos como as Gazânias, coloridas,

iluminadas e belas, mas para continuarmos sempre assim,


precisamos de um jardineiro que cuide de nós, que nos regue, que

esteja disposto a estabelecer uma relação sólida e segura. Basta

você saber do que está atrás e do que ele pode lhe proporcionar. Se

quer amor, diga, se quer paixão, fale, mas se quer apenas as


aventuras de uma atração, esteja preparada para não se magoar.

Suspiro, me sentindo melhor e entendendo o que está


acontecendo entre mim e meu chefe. Ele, como desde o início, não

quer nada de além de sexo, ou não pode me proporcionar algo além

da cama. Eu, como desde que o vi naquele trânsito, sob a chuva,


quero paixão, talvez amor, mas com certeza não apenas sexo. Não

quero ser mais uma que passou por aquele hotel. Mereço um

jardineiro que me ame.

— Obrigado mamãe, muito obrigado. Estou bem melhor agora

— sorrio, beijando-a muito, enquanto ela ri.

Dessa forma, retorno para as minhas atividades de babá me

sentindo bem melhor e, quando regresso finalmente para casa à

noite, fico arquitetando tudo o que irei falar para o senhor Alejandro

no dia seguinte.
Quando chego no apartamento, ele não está como de
costume. Após deixar a Alisa na escola, Diogo me leva para a sede

da grandiosa e imponente Montres Javier S.A. Digo meu nome na

recepção e sou liberada para me dirigir até o elevador, que leva


longos segundos até chegar ao poderoso e requintado andar da

presidência. Tudo é belo e cheiroso, amplo, climatizado, executivo.

A secretária me recebe educadamente e anuncia a minha

entrada através do telefone. Sigo para o escritório do meu chefe,

abrindo a porta devagar, sentindo meu coração acelerar

rapidamente, perdendo um pouco do equilíbrio que tanto mentalizei


horas atrás ao trocar olhares com o belo homem atrás da

escrivaninha fina, debaixo de um terno de grife como sempre.

Engulo em seco, minha mão esquerda começa a tremer, mas a

disfarço atrás do corpo. Fecho a porta, Alejandro me convida a


sentar com um suave movimento da palma. Sento-me e espero por
ele, segurando o olhar no seu, sem desviar, o que é muito, muito

difícil. Não canso de dizer o quanto é lindo demais.


Automaticamente lembro do seu torso nu, das suas tatuagens e da
sua protuberância no centro...

Pisco, tentando desviar das imagens eróticas no mesmo


instante em que ele empunha uma caneta preta, luxuosa, com a
marca da empresa, escrevendo algo rapidamente num bloco de
notas e me mostrando.

Eu queria pedir desculpas. Aquilo não devia ter


acontecido.

Suas palavras me doem no âmago, mas... mantenho a


seriedade e respondo:

— Não, não devia — sou firme, me preparei para isso, vendo

as sobrancelhas dele se erguerem, parece surpreso. É o suficiente


para que minha língua comece a falar atabalhoadamente —, quero
dizer que aquilo foi um erro de ambas as partes, por isso quero me

desculpar também com o senhor. Não irei aqui me fazer de


hipócrita, também contribuí de certo modo, para que acontecesse...
quer dizer, não o parei a tempo, e... enfim! — sorrio, envergonhada.

Respiro fundo, buscando fôlego — Acho que podemos


simplesmente esquecer, fingir que não aconteceu e assim fica tudo
certo. Certo? Não se preocupe, continuo o respeitando e peço que

prossiga fazendo o mesmo. Somos adultos, vai ficar tudo bem.

Mordo o lábio inferior nervosa, sendo observada de modo


estranho pelo homem, que pensa no que dizer. Balanço as coxas

um pouco agoniadas, preciso que ele me responda, que se


manifeste logo!! Alejandro pisca, voltando a atenção para o
bloquinho onde escreve algo que me deixa em alerta máximo:

Talvez seja melhor desfazermos este vínculo aqui

— O quê? Está querendo me demitir? Não concordo, de jeito


nenhum. Não por mim, mas por sua filha. Nós estamos nos dando
muito bem, ela está muito apegada a mim, além disso... prometi que

não a deixaria, sei que pode parecer besteira, mas... para uma
criança é muito importante. Sei também que não deveria ter
prometido isso, mas é que na hora que ela perguntou... — engulo

em seco, cruzando as mãos sobre as coxas, apertando-as uma


contra a outra. Busco por fôlego para falar mais —, enfim,
desculpe... é que... acho que podemos resolver isso de modo que

não a afete, afinal, ela já foi deixada pela mãe, pela babá anterior e
se eu...

Percebo que falei demais, Alejandro se remexe, incomodado

quando falo sobre sua ex.

— Perdão — sorrio, sem graça —, o que estou tentando dizer


é que... eu a amo. Amo a Alisa, e ela me ama também e me afastar

agora não é nada bom — afirmo, engolindo em seco, com medo


dele me mandar mesmo ir embora. Sei o quanto será difícil para a
menina se isso acontecer, e talvez para mim também.

O homem novamente abaixa a cabeça, fitando o bloco, mas


dessa vez demora a reagir, pensando, não sei em quê. Sua mão
lentamente, como se indecisa, se arrasta até as folhas e escreve o

que me alivia intensamente, pelo menos em parte:

Você tem razão, pode continuar sendo a nossa babá,


vamos esquecer o que houve. Obrigado por ter vindo.

— Obrigada por ter me escutado — sorrio, de orelha a orelha,

levantando indo até a porta —, tchau — me despeço trocando um


olhar com ele pela última vez, o seu olhar enigmático sobre mim

como sempre. Preciso fugir antes de me derreter.

Saio da Javier com a alegria de continuar podendo ficar perto


da garota, mas incerta de conseguir resistir ao sentimento que agora
sem querer, nutro por seu pai.
Os dias se passam, aparentemente tudo retorna ao normal no

meu ambiente de trabalho. O patrão volta a ficar distante, não o vejo


há mais de uma semana, desde a nossa última conversa, só fico
sabendo dele através do que Alisa comenta, mesmo assim tento

não estender o assunto, porque estou fugindo até mesmo da


menção do nome dele, tentando lidar com o fato de estar tão perto e
ao mesmo tempo tão longe.

Certa tarde, estou na sala de estar com a princesa, de mãos


dadas, ela pronta para ir a aula de natação, mas nada do Diogo
chegar.

— Nossa, como o Digo está demorando hoje — reclama a


garota, farta de esperá-lo.

— Realmente — concordo, enviando uma mensagem ao

motorista, perguntando por ele. Recebo sua reposta bem rápida,


afirmando que teve um problema com o carro e está na oficina, que
vai demorar um pouco —, ah vamos ter que esperar — aviso.

— O que houve?

— Teve um problema com o carro.

— Bem que poderíamos aproveitar para ir a algum lugar novo


hoje. Não estou a fim de natação.
— Não me complique, mocinha — digo, no instante em que a
Isabel surge, vindo até nós com a cara amarrada, como sempre —,
o que aconteceu?

— Advinha? A senhorita Luna está vindo aí novamente e,


como eu já disse, ela é responsabilidade sua! — avisa retornando
para a cozinha.

— Oba!! — Alisa salta de alegria.

Logo estamos recebendo sua tia maluquinha no living, que


abraça não apenas a sobrinha, como também a mim, para a minha
surpresa.

— E então, como estão? — pergunta, parece feliz.

— Estamos bem — afirmo, rindo de volta.

— Melhor agora com a sua presença, titia — afirma a


pequena, arrancando beijos de Luna.

— Ah, como amo!!! — A mulher dá um gritinho, esbanjando


carinho com a menina.

— Que dia vai pedir ao papai para me levar para ver o vovô e

a vovó novamente? Estou com saudade deles, e também do titio


Mateo.
— Ah, querida, seu pai não perde por esperar pela conversa
que terei com ele — ela é irônica, mas a Alisa como é inocente, nem

percebe —, não se preocupe, que a sua tia vai resolver isso logo,
logo, mais rápido do que imagina!

Luna observa a garota um pouco.

— Que roupa é essa? Estavam de saída?

— Hoje é o dia da natação — afirma a Alisa.

— Natação? Sério? Achei que era o dia da aula de música!


Quer dizer que já vão?

— O motorista vai se atrasar, está com o carro na oficina —

informo.

— Ah, pois vamos aproveitar para aprender a tocar mais um


pouco de guitarra. Cadê seu instrumento?

— Eu não sei. Onde está, Mina?

— Na brinquedoteca, dentro de um dos seus armários, a chave


está dentro daquela caixinha sobre a escrivaninha.

— Vou lá pegar! — Ela sai em disparada, nos fazendo rir.

— Que pena, achei que veria o professor gatinho de novo —


ela me olha com saliência, nós rimos —, e aí, ele ainda não teve
coragem para te abordar? — pergunta, jogando-se no sofá.

— Não, e espero que não tenha — sou sincera.

— Nossa! Coitado, não tem chances.

— Ele é um bom rapaz, só que...

— Não faz seu tipo, eu sei — completa — Já me disse isso,


lembra? — Luna olha para o teto, suspirado, como se tivesse

lembrando de algo — Sabe, Mina... você está certa, mais vale evitar
um relacionamento do que se iludir ou... iludir outra pessoa. O amor
é... uma droga da qual não consigo me viciar, só que não sei se isso

é bom ou ruim — parece um desabafo aleatório. Mas muito me


interessa, devido ao que estou vivendo.

— Como assim? — pergunto de forma sensível e curiosa.

— Simplesmente não consigo amar, não consigo — revela,


olhando para mim com certa dor —, acho que foi isso que fez
acabar com o meu último relacionamento, talvez com todos os

demais, mas este último em específico... O cara era perfeito,


perfeito, enquanto eu, como sempre uma desordenada da vida.

— Não diga isso de si mesma.

— Mas é verdade — ri, sem humor —, sou um fracasso em

questão de sentimentos, acho que é de família.


— Está se referindo ao doutor Alejandro?

— Ele é fodido como eu, mas não sei te dizer quem é mais. A
questão é que este último cara, tinha paixão, tinha... tesão, mas
mesmo assim parecia que faltava algo, sabe? Sempre parece faltar

algo para mim. Ele também não conseguiu entender os meus


demônios, não o culpo, nem eu mesma consigo. Foi melhor
terminar, mas sabe aquela sensação de ter perdido a melhor pessoa

do mundo?

— Não, não sei — confesso, trocando olhares com ela.

— Nunca se apaixonou?

— Me apaixonar sim, mas amar, acho que não, porém não fui

correspondida.

— Eu fui, mais do que merecia, mas não soube valorizar. Às


vezes não queria ser eu — afirma, cabisbaixa mirando o nada.

— Não diga isso, a senhorita tem que se orgulhar de quem é.


Se faltou algo com este rapaz, precisa descobrir o que é para poder
encontrar o seu jardineiro.

— Jardineiro? — A mulher ergue uma sobrancelha, iniciando

um sorriso. Fico sem jeito.


— Ah, é só uma analogia, é que vejo nós mulher como flores,
entende?

— Aaaah ‘tá — compreende —, pois se eu fosse uma flor,

sabe qual seria?

— Não.

— Um cacto!! Cheia de espinhos! — gargalha alto, fazendo


piada de si mesma, a acompanho, sorrimos muito — Ah, Mina, você

é ótima!! Já te adoro muito! — Me abraça, ela gosta de contato —


Quantos anos tem?

— Dezenove.

— Meu Deus, é uma criança!! Sou velha, já tenho mais de


trinta.

— Mais de trinta?! Que mentira! — fico chocada, daria a ela


uns vinte e seis no máximo.

— Sei que não pareço mesmo! Mas é verdade! Oh, vida cruel!

— CHEGUEI!! — Alisa grita, aparecendo com a guitarra no


colo.

Nos próximos minutos fico vendo as duas se divertindo com o

instrumento, fazendo música, gargalhando e brincando, até que


Diogo finalmente envia uma mensagem afirmando que chegou.
Saímos as três às pressas da cobertura, nos despedimos lá
embaixo, na portaria. Luna vai embora em seu automóvel enquanto

a Alisa e eu entramos no nosso.

Somos deixadas no complexo esportivo onde a Alisa aprende


a nadar como uma pequena sereia. Ficamos lá durante cerca de

duas horas, até que ele retorna para nos pegar.

— Ah Mina, estou com vontade de tomar sorvete! Vamos parar


naquela sorveteria novamente? Vamos! Vamos!

— Tudo bem, vamos! Também estou com vontade! Diogo, por

favor — peço, ele me olha pelo retrovisor.

— Mas é claro, senhoritas!

Ele para com o carro na famosa Gran Vía, uma das principais
e mais luxuosas avenidas de Madri.

— Vou estacionar ali na frente, quando terminarem, é só me


avisar que venho pegá-las — afirma o homem, enquanto desço de
mãos dadas com a princesa.

— Tudo certo — digo.

— Muito obrigada, Diogo. Beijos e até mais — Alisa se


despede, enquanto nos afastamos e ele segue.
Entramos na sorveteria que adoramos, a de sempre, pedimos

os mesmos sabores, chocolate para mim e baunilha para ela. Faço


o pagamento, nos sentamos numa mesa pequena, porém
sofisticada, somos servidas e passamos a comer.

— Este dia está sendo muito legal, não é mesmo? — Alisa

puxa assunto.

— Sim, maravilhoso.

A garota para de saborear a sobremesa de repente, mirando a

rua.

— Vovô? É o meu avô!! — exclama, saltando da cadeira e


correndo para a rua, me assustando.

— Alisa!! Alisa, espera!! — Saio atrás dela, vendo-a abraçar

um senhor que conversa com outro que parece ter a sua mesma
idade.

— Vovô Eduardo, vovô Eduardo! Que saudade! — Ela afirma,

enquanto é correspondida com carinho por ele. Então este é o pai


de Luna e Alejandro?

— Oh, meu Deus! Que alegria a encontrar aqui! Mas o que

está fazendo? Quem está te acompanhando? — O homem me fita,


tentando me identificar.
— Eu! Prazer, Mina Pacheco, a babá! — Apresento-me.

— Ah, você é a babá da minha netinha linda? — Ele acaricia a


cabeça dela.

— Sim!! Ela é!! — Alisa sorri, contente.

— E onde está o seu pai, meu amor? — O homem olha ao

redor, um pouco sério.

— Está no trabalhando, estou vindo da natação com a Mina.

— Ah... então estão só vocês duas?

— E o motorista que nos espera ali na frente — informo.

— Eduardo, meu amigo, eu já vou indo, estou atrasado para


um compromisso — afirma o outro homem que até então só nos
assistia.

— Ah, sim, sim. Depois terminamos a nossa conversa — se


despede do companheiro, que se afasta. Eduardo abraça a neta
outra vez, inclina-se um pouco para ficar à altura dela e diz: — Que

tal aproveitarmos este encontro casual para eu lhe comprar um


presente, hein?

— Sim! Quero presente, vovô! — A garota fica super animada.

— Tudo bem, babá? — O senhor pede a minha permissão.


— Ah... — fico sem saber o que dizer — acho que sim.

— Isso! Isso! Vamos!

Ele vai de mãos dadas com a neta na frente, vou atrás os

observando, um pouco indecisa, sem saber se estou fazendo o


certo, e tentando entender por que o meu sexto sentido não está
confortável com esta situação.

Entramos numa loja de brinquedos de alto nível, a Alisa


escolhe uma boneca e, enquanto seu avô vai até o caixa pagar, a
puxo para um canto, agacho-me para ficar à sua altura,
perguntando:

— Alisa, este é o vovô pai da tia Luna e do seu pai?

— Não, ele é o pai da minha mãe, Maite.

Fico sem reação!! Algo me diz que isso não vai prestar.
Recebo uma mensagem de Diogo perguntando onde estamos, lhe
passo a localização, ele responde que está vindo. Espero Eduardo

retornar, entregando a sacola com a boneca à neta, que está muito


contente. Ao saímos da loja, procuro logo pelo motorista, querendo
imensamente ir para casa.

Sorrio ao avistar o carro estacionando quase à nossa frente.


Começo a me despedir do senhor quando avisto Alejandro Javier
descer do automóvel com uma expressão horrível, vindo em nossa
direção feito um trem desgovernado, puxando a filha com certa
brutalidade, para longe de Eduardo, indignado!
ALEJANDRO JAVIER

Pensei em tudo, menos que ficaria assim... estarrecido ao


acabar de ouvir Mina falando bastante como sempre, mas não o que

achei que falaria. Ela está mesmo concordando que aquele nosso
momento fogoso realmente não devia ter acontecido? Está de fato
afirmando que tudo foi um erro? Um erro? Desde quando sou um

erro ao passar por uma mulher?

Quem essa garota pensa que é? Além de se desculpar e


reconhecer que também quis nós juntos naquela sala, naquele sofá,

naquela madrugada, sugere para que simplesmente esqueçamos


tudo, fingirmos que nada aconteceu, lembrando por fim que somos

adultos o suficiente para fazermos isso. Sei que ela teoricamente,


pela idade sim, já é uma adulta, mas jamais imaginei ser tão madura

a este ponto.

Uma jovem de apenas dezenove anos não pode ser tão

horrivelmente madura a este ponto!! Tenho que respirar fundo e


buscar bastante autocontrole para não demonstrar que este seu

comportamento, por algum motivo desconhecido me incomoda e, ao

mesmo tempo, fingir para mim mesmo que não estou incomodado, o
que é a mais célebre das mentiras.

Pisco, saindo de meus devaneios, ainda um pouco

desnorteado psiquicamente e insisto em seguir o caminho que acho


mais prudente:

Talvez seja melhor desfazermos este vínculo aqui.

Mina volta a falar atabalhoadamente, mas no fim sua voz falha,

notando que pela milésima vez disse o que não devia. Então ela

sabe sobre Maite? O quanto sabe exatamente? Já chegou a este

nível de intimidade com a minha filha? Como não percebi isso? Não
que seja errado, mas... remexo-me na cadeira, um pouco

incomodado.

— Perdão — sorri, sem graça —, o que estou tentando dizer é

que... eu a amo. Amo a Alisa, e ela me ama também e que me


afastar agora não é nada bom — afirma, engolindo em seco, parece
com medo.

Novamente sou golpeado por suas palavras desenfreadas. Ela

não está pondo o que houve entre a gente acima do que há e do

que sente pela Alisa. Mina ama a minha filha, não pode ser mentira,

consigo sentir a verdade exalando de cada ponto da sua face um

tanto quanto desesperada, temendo a minha resposta.

Ela ama a minha filha... isso fica na minha mente. A bailarina

prefere esquecer aquela noite erótica do que se afastar da minha

princesa. Entende que ser babá é quase como uma mãe, e agora

está mais do que evidente o quanto o vínculo delas é forte,

poderoso, coisa que ainda não havia notado.

Madura, sensata, correta e amorosa, a senhorita Pacheco me

impressiona mais a cada dia que passa. Primeiro no hotel, quando

provou que não seria capaz de vender o corpo por dinheiro, me

causando uma certa admiração. Depois no jantar que preparou para

mim, demonstrando que é estudada, viajada, fina. E agora aqui,

revelando seu lado maduro que tanto vai contra a pouca idade de
vida.
Quem é ela? Por que, sem perceber, está se aprofundando

tanto em minha vida? Pela primeira vez em muitos anos, Mina está
me fazendo me sentir o polo vulnerável dessa “relação”, mas não

como fez Maite, me ferindo, me rasgando e iludindo, mas sim de um


modo terrivelmente positivo, dando-me uma espécie de lição de
moral e revelando o caminho certo que devemos seguir.

Você tem razão, pode continuar sendo a nossa babá,

vamos esquecer o que houve. Obrigado por ter vindo.

— Obrigada por ter me ouvido — sorri, de orelha a orelha,


esse sorriso lindo... tão lindo que me deixa em êxtase só de olhar.
Levanta e vai até a porta —, tchau — se despede meiga,

naturalmente charmosa, diria encantadora, uma fada que deve ter


me lançado algum tipo de feitiço!

Deixo o ar sair com força quando fico sozinho, ainda chocado

com tudo o que aconteceu aqui, diante de mim e dos meus olhos.
Não sei mais o que pensar, não sei o que fazer, fico assim o resto
do dia, tonto, bobo e incompreensível.

Quando a noite chega, estou sentado à mesa com a Alisa.

Aproveito que Isabel foi à cozinha, para puxar assunto:


— Filha, me diga uma coisa, você comentou com sua babá

sobre a sua mãe? — pergunto, suave sem demonstrar nenhum tipo


de preocupação, mas é inútil, pois a pequena me fita como quem

fez algo de errado.

— Por que, não podia, papai?

— Não é isso, é que não lembro de você falar sobre Maite com

a Rayka.

— Ah, papai, é porque com a Rayka era diferente — afirma,


relaxando enquanto volta a comer.

— Diferente como?

— Não sei... é que a professora Mina me faz muito feliz. Eu


gostava da Rayka, mas agora gosto mais da Mina. Ela inventa

muitas coisas legais, nós somos amigas de coração. Queria que ela
morasse conosco — me fita, sugestiva. O quê?

Engulo em seco, fingindo que não escutei isso.

— Ela disse que vai pedir ao senhor para deixar pintar as


minhas unhas. Nós duas pintaremos da mesma cor, amarelo, ficará

esplêndido! — sorri, imaginando. É um anjo mesmo, um anjo de luz


— Mas não diga a ela que lhe contei. É claro que o senhor irá

deixar, não é, papai?


— Prometo que irei pensar — minha resposta não a agrada
muito —, a senhorita ainda é muito pequena para essas coisas.

Alisa revira os olhos.

— Nunca mais faça isso em minha presença — a repreendo.

— Desculpe, papai.

— Tudo bem — acaricio sua mão, demonstrando que não

estou irritado, vendo seu sorriso nascer outra vez, o que me derrete
por dentro —, é verdade que disse a Mina que a amava? — estou

curioso.

— Sim, foi uma declaração de amor — a menina sorri,


recordando —, ela também me ama, ela disse.

Suspiro, tentando lidar com isso.

— E se a Rayka voltar? — sugiro.

— Voltar? — A voz dela não está confortável com a ideia, o


que já diz tudo — A Mina teria que ir embora?

— Só se você quisesse.

— Eu não quero, papai — nega logo.

— Tudo bem, então — assim encerro o assunto.


Os dias se passam e, por mais que não queira, continuo com
os pensamentos todos focados na senhorita Pacheco. Acho que vou

enlouquecer, isso está acontecendo desde que a vi dançar e não é


normal. Mas a diferença que percebi, é que agora penso nela com
mais profundidade e com personalidade, como pessoa e não mais

como apenas um corpo, um sexo gostoso, uma atração fatal.

Fico distraído no trabalho, sem prestar atenção direito ao que

acontece ao meu redor, recordando da última conversa que tivemos,

das suas palavras que parecem fincadas em minha mente.

Saio de meus devaneios quando alguém bate na porta da

minha sala e a secretária entra falando:

— Doutor Alejandro, seu irmão Mateo não atende o celular,

mas consegui localizá-lo, está na faculdade, neste exato momento

no intervalo. Quer que eu...

Ergo a mão calando-a e por gestos, afirmo que irei resolver. A

mulher sai, enquanto pego meu Iphone e envio mensagem a Diogo,

pedindo que me espere lá embaixo. Suspiro, erguendo-me, sabendo


que preciso sair daqui, desopilar, desanuviar os pensamentos, vou

aproveitar esta oportunidade.

Alguns minutos depois, Diogo está me levando à instituição de

ensino de nível superior onde meu irmão, um renomado professor,


ganhador de alguns prêmios da educação e autor de teses

científicas importantes, trabalha. Diogo me acompanha, andando

comigo pelo gigantesco e moderno prédio, ambos chamando a

atenção da juventude que passa ao nosso redor, deve ser pelo fato
de estarmos de terno.

Temos a sorte de encontrar a coordenadora da faculdade, que


não só nos informa sobre o professor Mateo Javier, como também

nos leva até a sala dele, no último andar de um dos edifícios que

compõem o enorme complexo de ensino.

— Aqui está, a sala do professor Mateo. Precisam de mais

alguma coisa? — A senhora sorri, é até simpática, porém educada

demais, chega a ser chatinha.

— Acho que não, agradecemos — afirma Diogo. A mulher se

afasta, nos deixando a sós. Faço um sinal para que meu motorista

se sente em uma das cadeiras da parede oposta e me aguarde, ao


mesmo tempo em que bato na porta.
Bato outra vez esperando, até que sou recebido pelo homem

louro de olhos azuis intensos, que se surpreende ao me ver. Nós

dois possuímos estaturas suficientes para preencher todo o vão da


porta.

— Alejandro?! — fica um tanto quanto chocado —, acabei de

ver as suas mensagens e as ligações da sua secretária, iria


respondê-lo, entre!

O acompanho, com uma de suas mãos sobre meu ombro,


encontrando uma morena descomunal envolta de um vestido preto

que passa dos joelhos, formoseando seu corpo esguio perfeito, os

óculos sensuais acentuando sua face linda. Que linda.

— Esta é a professora Madelina, minha amiga e grande

parceira idealizadora de projetos acadêmicos — me apresenta —,

este é o meu irmão, Alejandro Javier, presidente da empresa da


família.

— É um prazer conhecê-lo, senhor Alejandro — apertamos as

mãos, assinto com a cabeça, notando que a mulher espera por uma
resposta que não vem —, ah..., vou deixá-los à vontade, depois

continuamos com a nossa reunião, professor Mateo.


— Sim, com certeza, me mande mais informações sobre o

projeto por e-mail — ele a acompanha até a porta.

— Pode apostar que sim — afirma a gostosa, sumindo de

vista. Senti uma leve ironia erótica neste papinho deles.

Fito meu irmão sugestivamente, ele me lança seu conhecido

sorriso galanteador, esses de Don Juan que até faz lembrar um

pouco de Esteban. Ele senta atrás de sua escrivaninha imponente,


cercada de papeis, alguns livros e utensílios acadêmicos, além do

notebook. Sua sala é pequena, porém confortável com um sofá,

frigobar, janelas de vidro que dão visão para o campo verdejante


que cerca a instituição.

Sento-me também, observando Mateo abrir o blazer cinza

apenas com uma mão, dando visão para o colete da mesma cor, a
gravata por dentro e a camisa branca de algodão egípcio ao fundo.

Impecável.

— A que devo a honra, irmão? Estou perplexo com a sua

presença, realmente não esperava, mas me sinto feliz. Faz um bom

tempo que não nos vemos.

Afirmo em gestos que precisava conversar com ele e que

também precisava sair um pouco da empresa, então resolvi unir o


útil ao agradável.

— E fez muito bem — ele ri, esbanjando felicidade, conforto,

segurança. É muito bem-sucedido em sua profissão. Há uma


estante discreta ao fundo, mostrando os prêmios que conquistou ao

longo da carreira. Ele segue o meu olhar —, são os meus bebês.

“Pergunto” se a mulher que estava aqui quando cheguei é sua

bebê também, o provocando. Ele gargalha.

— Não... é só uma amiga, pare de bobagens. Como estão as


coisas? E a empresa? — muda de assunto suavemente.

Afirmo que está tudo bem, mas que não vim falar sobre isso.

— Não? Algum assunto específico?

“Esteban”.

Mateo suspira, se recostando na cadeira, afrouxando o nó da

gravata de seda.

“Eu o vi dias atrás em Paris, por acaso”.

— Aham, já estou sabendo, ele me ligou na mesma noite


querendo saber se você estava tentando encontrá-lo ou coisa do

tipo.

Continuo com a linguagem de sinais:


“Precisa falar com ele, pedir para que volte. Você sabe que os

nossos pais sofrem com a ausência dele. No fundo me sinto culpado


por isso. ”

— Mas não deve, sabe que não tem culpa de nada. Com o

tempo percebi que o problema do Esteban é mais grave do que


pensei. Não é exatamente você, não foi você Alejandro, sempre foi

o papai. Ele sim, tem culpa do nosso irmão ser desse jeito, de ter

passado a maior parte da vida tentando provar seu valor para


alguém que mal o olhava.

Lembro de fatos do passado, de quando percebi que Esteban

se sentia desprezado por papai ao mesmo tempo em que comigo


acontecia o inverso.

Recordo um pouco da infância e adolescência, do quanto o


meu problema fez com que papai se aproximasse mais de mim e,

consequentemente se afastasse um pouco dos filhos biológicos,

algo que sempre causou ciúmes em Esteban e deixou a nossa


relação tóxica.

Quando jovens, ele e Mateo foram estudar em Harvard,

enquanto preferi ficar em Madri, coisa que me deixou diariamente


próximo do senhor Miguel, da empresa, do aprendizado e
experiência com o mercado e do convívio diário com os
funcionários. Talvez isso tenha influenciado em sua decisão mais

tarde, para me eleger como presidente.

— Mas não se preocupe, Esteban está bem. Como sabe, ele

se comunica comigo e com mamãe. Está advogando em Paris,

trabalhando em um escritório de alto padrão, coisa que conquistou


sozinho. Aos poucos está percebendo que se orgulhar de si mesmo

vale muito mais do que esperar pelo orgulho de terceiros, o que é o

mais correto.

Respiro fundo, tentando me convencer de que não sou o

causador da infelicidade de ninguém.

— Agora me diga, por que precisava sair da empresa?

Franzo o cenho.

— Você afirmou isso quando chegou. O que foi? Não me diga

que quer largar tudo, porque não há um substituto, não venha me


delegar tal sofrimento, em nossa família não existe essa coisa de
filho mais velho, hein — gargalha, fazendo-me esticar um sorriso

com seu bom humor que contagia.

“Não é nada demais, só precisava arejar os pensamentos. ”


— Te entendo perfeitamente bem. Que tal um almoço? Vamos
aproveitar este encontro raro, já que o senhor não comparece aos
encontros da família.

Rolo os olhos, mas ele não abaixa a guarda. Alguns minutos

depois, sou levado até o refeitório da instituição, que por sinal está
lotado de alunos e docentes. É um espaço bonito, climatizado e

iluminado, com pessoas falando e rindo, lembra até meu tempo de


estudante.

Vamos comer aqui?

Envio a mensagem a ele, que pega o celular e lê,

respondendo:

— Por que não? O todo poderoso e excelentíssimo senhor


CEO, da Javier não pode se juntar a jovens acadêmicos e seu

magistério? — ergue uma sobrancelha, provocando-me, dirigindo-se


até a lanchonete, o sigo. Nos munimos do cardápio um tanto fora do
que estou acostumado a digerir diariamente e, fazemos os nossos

pedidos.

Percebo que Madelina, a morena que estava na sala com meu


irmão, se encontra em uma mesa extensa com pessoas que

aparentam ser os seus colegas de trabalho. Mateo me leva para


uma mesa onde ficamos só nós dois, esperamos um pouco até
sermos servidos com os nossos pratos. Experimento a comida,
gostando do sabor.

— Isso sim é respirar novos ares, não é? — Afirma o loiro,


curtindo estar comigo. Gosto disso, até porque demorou um pouco
para construirmos este relacionamento saudável.

Não me manifesto, apenas continuo comendo.

— E como está a minha linda sobrinha? — pergunta, e


respondo que está bem — Quando vai voltar a levá-la à casa de

nossos pais?

Suspiro, desconfortável. Eles já foram apelar para Mateo. Pego


o celular e digito:

Eles te contaram o que fizeram?

— Contaram é claro, mas e, aí? Seu castigo já está durando


demais, não acha? Você não os atende, os ignora. Se veio aqui
preocupado com o que a ausência do Esteban faz a eles, deveria se

preocupar também com a falta da única neta que eles têm.

A minha confiança foi quebrada. Eles não me deixam agir


do meu jeito, continuam me tratando como um impotente. Isso

tem que acabar.


Envio mais uma mensagem.

— Concordo, mas não com esta frieza e hostilidade. Vá

procurá-los, converse com eles e resolvam isso como adultos.

Fuzilo meu irmão, é mais um a me dar lição de moral.


Ultimamente as pessoas andam fazendo eu me sentir um garotinho

teimoso e tolo.

— Oi professor! — Duas lindas jovens passam por nós,


sorrindo, acenando e piscando para Mateo, claramente encantadas
por ele. Ergo uma sobrancelha, o provocando, ele nega com a

cabeça, sério.

Em seguida ouvimos um barulho alto simultâneo a um grito,


uma outra moça cai desengonçada com a bandeja de comida e tudo

aos nossos pés. As duas jovens que falaram com Mateo segundos
antes, estão paradas mais atrás, sorrindo com deboche da coitada
no chão. Que ridículo.

Penso em ajudar, mas Mateo é mais rápido.

— Tudo bem com você? — pergunta, se abaixando tocando


nos braços dela, a voz grossa fazendo o rosto da garota que parece

ter a idade de Mina, se erguer. Uma troca de olhares entre eles


acontece. Creio que seja uma de suas alunas.
— Aham... tu-tudo bem. Só tropecei... — afirma isso mirando

de soslaio as outras duas atrás.

— Deixe que te ajudo aqui — Mateo passa a catar os talheres


e os demais objetos, depositando-os de volta na bandeja, mas tal

sujeira precisará da mão de uma zeladora.

— Não precisa se preocupar — ela fica corada, tímida, meiga,


tentando fazer o serviço antes dele, as suas mãos se tocam sem

querer.

Mateo estica um sorriso, tentando acalmá-la, todos estão


observando.

— Está tudo bem, foi só um tombo — ajuda ela a voltar a ficar

de pé.

— Obrigada — agradece sorrindo, se afastando. Tudo volta ao


normal, as pessoas retornam a falar pelos cotovelos, Mateo se

senta.

Mexo as sobrancelhas, erguendo-as em um movimento rápido,


indicando a moça que saiu.

— Não a conheço, deve ser aluna nova — responde, dando

atenção ao seu almoço novamente.


Assim, terminamos de comer e finalmente nos despedimos.
Encontro com Diogo fora da instituição, ordenando que me leve de
volta para o trabalho. À noite, ao chegar em casa, antes de dormir

resolvo extravasar um pouco na academia, empunhando luvas e


treinando boxe, batendo com todas as forças no saco à minha
frente, até cansar e parar ofegante, caminhando um pouco para

respirar.

A bailarina vem à minha mente com força total, lembro da


nossa conversa, mas principalmente dela gemendo na minha frente

no sofá. Das suas expressões puras e eróticas, das suas coxas se


contorcendo ao meu toque grosso. Já faz mais de uma semana que
não a vejo.

A noite é longa, demoro a pegar no sono, durmo pouquíssimo


e chego no dia seguinte bastante estressado no trabalho, com
vontade de xingar todo mundo, mas a voz não sai, fica travada,

pulsando na garganta bloqueada. Inferno!

Além de tudo estou distraído, desfocado, desconcentrado, com


vontade de ver a babá, saber como está. Não é possível que ela

esteja conseguindo lidar tão bem com o que aconteceu entre a


gente! Realmente estamos sendo maduros, de fato devemos
priorizar o bem-estar da minha filha, mas por que toda essa merda
moral e ética não parece se encaixar em mim?

Está quase insuportável ter que fingir que não tenho uma

negra não só esbelta e gostosa, como também inteligente, sensata


e madura cuidando da Alisa em casa, o que é quase impossível,
pois quando chego sinto seu cheiro pairando no ar e ouço as suas

maravilhas através da menina.

Hoje estou em uma reunião com os diretores, com os


pensamentos distantes, quando escuto um deles me chamar após

ser tocado no ombro por Joaquin, que está sentado ao meu lado.

— Alejandro? Está aí? — O homem pergunta, me fazendo


piscar. Confirmo, voltando ao presente, ele refaz a pergunta, à qual

é respondida através de Joaquin, que como sempre, me interpreta.

Quando tudo acaba, saio com ele da sala de reuniões,


recebendo seu olhar intrigado.

— O que está acontecendo com você? — pergunta, enquanto

esperamos o elevador. Olho-o sem entender — Ultimamente anda


no mundo das nuvens, desfocado. O que está te perturbando?

Nego com a cabeça, mas não sou convincente, ele me

conhece. Outras pessoas se aproximam de nós.


— Que tal almoçarmos juntos hoje para conversarmos melhor?
— convida. Eu concordo, pois gosto da sua presença. Tenho ele não

só como funcionário, mas também como amigo e não gostaria de


perder isso.

Nos dirigimos a um restaurante requintado, com três estrelas

Michelin, em seu carro, já que Diogo no momento está à disposição


de Mina e Alisa, como sempre nessas horas. O estabelecimento fica
a poucas quadras da Javier. Pedimos uma comida leve e após nos

satisfazermos, degustamos a sobremesa, brazo de gitano, com


recheio de chocolate.

— Então, vai me contar o motivo de tamanha distração? —

Meu amigo volta a puxar assunto.

Nego com a cabeça, olhando-o nos olhos.

— Não vai contar ou não quer contar agora?

Digo em sinais que não é nada demais.

— Por acaso tem a ver com alguma mulher? — acerta na


mosca o filho da mãe. Não me manifesto — Oh, meu Deus, quem é
ela? — fica curioso, os olhos brilhando como se tivesse acontecido

um milagre.

Rolo os olhos, pego o celular e lhe envio o seguinte texto:


Não é porque deixou sua namorada secreta que deve

voltar a tentar ser o meu cupido.

— Ah, para com isso! Esqueça este assunto chato — O


homem fica completamente desconfortável —, não quero mais

lembrar daquela mulher, ela nunca vai mudar... nunca. Só parei de


insistir. Agora me conta sobre seu novo affair.

Nego com o semblante.

— Por favor, cara. Sou seu amigo.

Suspiro, pensando se conto algo ou não. Joaquin espera,


comendo a sobremesa sem tirar os globos de mim. Por fim, decido
“falar” que estou atraído por uma mulher que, por questões morais e

éticas, não posso ter.

— Por quê? Ela é casada? — Ele fica muito curioso franzindo


o cenho.

Faço menção em continuar quando olho para a vidraça do


restaurante que dá para a rua e vejo meu motorista, Diogo.

— Alejandro? Estou esperando — Joaquin tenta me puxar de


volta para o cerne do assunto.

Ergo a mão, pedindo para ele esperar e então saio do


restaurante, chegando até meu funcionário que está encostado no
Mercedes, se surpreendendo ao me ver.

— Patrão?

“O que está fazendo aqui? ”

— Esperando as senhoritas Mina e Alisa, que estão aqui perto,

tomando sorvete — informa —, acabamos de retornar da natação.


Elas gostam de uma sorveteria aqui da avenida, sempre param lá.

Penso um pouco e movido por um forte impulso de querer

estar com elas, peço para que Diogo me leve para um encontro,
farei uma surpresa. Envio uma mensagem a Joaquin apenas
quando já estou dentro do carro em movimento, inventando uma

desculpa para não terminar nosso almoço. Fico um pouco ansioso


pelo reencontro com a babá, saber como vai reagir, se continuará
sendo fria como eu.

Mas as minhas expectativas são jogadas por água abaixo


quando, pela janela do automóvel, avisto Mina, Alisa e Eduardo,
juntos, saindo de uma loja de brinquedos. O quê??!! Levo longos

segundos, enquanto o carro estaciona, para processar esta maldita


informação. O que este infame está fazendo com a minha filha??!

Tomado por uma cólera repentina, saio do Mercedes furioso,

me dirigindo até eles, enraivecido, parecendo rachar o chão a cada


passo dado com pressa. Desfaço o toque entre o avô e neta com
brutalidade. Minha filha solta um gritinho de susto, enquanto puxo o

homem pelo colarinho, violento encarando-o olho no olho, pegando-


o de surpresa.

Mas o que este maldito ainda está fazendo aqui??! Dei

dinheiro o suficiente para que ele sumisse de vez!! Ele entende a


minha exaltação e balbucia, sem saber o que dizer:

— Alejandro... Alejandro... eu só estava comprando um


presente para ela, nada demais!

É então que noto a Alisa segurando uma sacola com a mão


livre, que arranco dela e empurro contra o peito do homem com
força, o jogando para longe com raiva, quase o fazendo cair.

— Mas o que está acontecendo?! — Mina exclama, sem


entender nada, ao mesmo tempo em que Alisa começa a chorar,
compreendendo tudo.

Diogo se aproxima, faço um movimento com o rosto e ele


entende, puxando elas e levando para dentro do carro. Eduardo me
fita aterrorizado, enquanto aponto o dedo em sua cara o

ameaçando, prometendo vingança. O homem se afasta,


caminhando depressa, momento em que sigo até o carro, entrando

e sentando no banco da frente, batendo a porta com violência.

Alisa está chorando enquanto Mina a consola, no colo.

— Doutor Alejandro, eu... — Não a deixo continuar, peço


silêncio e ordeno para que Diogo nos leve para casa.

Quando chegamos na cobertura, após subir no elevador sem


trocar uma palavra, sem que eu nem olhe para elas, ordeno que a
Alisa vá para o seu quarto, que obedece correndo, arrasada.

Movimento a cabeça, chamando Mina para que me siga até o


escritório. No caminho, passamos pela sala de estar, onde avisto o
piano e... encostado na parede, uma guitarra. Uma guitarra??

Paraliso, fitando o objeto de maneira horrível, miro Mina que


está de olhos esbugalhados, demonstrando a culpa.

— Foi um presente da tia dela... Luna. Nós iríamos lhe contar,


juro! É que...

A situação é pior do que imaginei! O que mais essa garota


esconde de mim?! Continuo caminhando furioso, abrindo a porta do
escritório, esperando ela vir, ela vem tensa. Fecho encarando-a, até

que começa a tagarelar destrambelhada:


— Olha, eu não sabia que o senhor não gostava do avô dela.

Nós paramos para comprar um sorvete, aí ele apareceu do nada,


ela o abraçou, disse que era o avô, então... ele disse que queria dar

um presente, me passou confiança...

Tento fazê-la parar de falar, pedindo silêncio, mas ela não


para.

— Diogo tinha ido estacionar, pensei em lhe ligar, mas eles

pareciam tão íntimos, a Alisa só falou quando perguntei...

Soco a mesa com força, chamando sua atenção de vez, a


assustando e calando. Respiro fundo, fechando os olhos por um

instante, de cabeça quente. Então a fito seriamente e afirmo em


sinais que quero que pegue suas coisas e vá embora! Mina engole
em seco, chocada, boquiaberta.

— Embora? Mas por quê...? — Os seus olhos brilham, mas


nenhuma lágrima cai, coisa que não me amolece.

“Você quebrou a minha confiança seriamente e não serve para


ser a babá de Alisa. É assim que diz que a ama? Como pude ser tão

tolo, nem mesmo a conhece! ”

A garota fica evidentemente arrasada, pisca, tentando


assimilar a questão, como se não acreditasse no que acabou de
acontecer. Então, bem devagar, dá meia-volta, saindo do escritório.
Passo a mão nos cabelos, nervoso, emputecido, ainda tentando
entender como essa merda aconteceu, até que Mina retorna,

irrompendo pela porta com determinação.

— Eu não a conheço? Não a conheço?! Posso ir embora, mas


antes o senhor vai ter que me ouvir! — aponta o dedo na minha

cara, enraivecida. Mas quem ela pensa que é?! — Estou aqui há
mais de dois meses e pode apostar que já conheço a sua filha muito
melhor que você, que não tira tempo algum para ela, só vive
trabalhando, trabalhando e trabalhando! Isso é importante? É! Mas

não mais que a Alisa, que é sangue do seu sangue, uma garota
meiga, doce e gentil que só quer ser amada e compreendida!

“Talvez se o senhor descesse desse seu pedestal e desse

mais ouvidos a ela, entenderia que, além de música clássica, ela


também ama rock, porque isso a diverte, a faz pular, dançar e seria
o senhor e não a tia a lhe dar aquela guitarra! Se a conhecesse de
verdade, entenderia também que uma criança precisa viver, brincar,
não só dentro daquela brinquedoteca, mas sim em ambientes
novos, como numa cozinha ou em um parque!

Que ela precisa do pai uma vez na vida a buscando na escola,


ou senão, a levando para passear nos finais de semana! Se você
estivesse presente ou se apenas tivesse me contado, aquele senhor
não teria chegado tão perto seja lá o problema que tenha com ele!
Eu também não podia impedir que a tia lhe desse uma guitarra e,

quer saber, no fundo não quis, porque de carência da menina já


bastava a falta do pai!

O senhor ver perigo em tudo, fica... sem perceber, prendendo


a garota em um casulo como se ela fosse feita de cristal, só que ela

não é! Ela, é uma criança e precisa viver como tal! Precisa de


atenção, amor, carinho e não ser mimada com presentes após o pai
passar uma semana fora de casa sem sequer ligar para ela! Como
se presente fosse substituir a sua ausência!

E, para que fique sabendo, a cor preferida dela é amarela, o


soverte predileto é o de baunilha, o penteado é o de Maria
Chiquinha e a banda é Iron Maiden! Obrigada! ”

E assim vai embora, batendo a porta estrondosamente, me


deixando sozinho. CHO.CA.DO.
MINA PACHECO

Saio da sala de Alejandro completamente abismada, em


choque com tudo o que acabei de dizer a ele e com o que

aconteceu. Mas não me arrependo, sei que não me arrependerei de


uma só palavra proferida por minha língua. Estou odiosa,
desagradável e muito, muito estressada!

Como ele teve a coragem de me mandar embora? Como

tratou a mim e a Alisa daquele jeito? Será que não vê que ela é só
uma criança e que eu não tive culpa de nada?! Como podia

adivinhar que o avô materno não é bem-vindo, que existe alguma


merda grande entre eles?! Droga!!
Não derramo uma lágrima e não estou com vontade alguma de

fazê-lo, pelo contrário, meu sangue ferve, queima de raiva.


Encaminho-me para o andar de cima, entrando em meu quarto com

cautela, pegando as minhas coisas com rapidez, pondo dentro da

mochila, inconformada com a estupidez de Alejandro, com a minha


estupidez!

Onde estava com a cabeça quando decidi vir trabalhar aqui?


Desde aquele hotel que já era previsível que a nossa convivência,

por mais ínfima que fosse, não daria certo. Quis apenas ajudar,

retribuir o favor, acreditar que Alejandro é um bom homem e, ele até

pode ser, mas como pai e patrão ainda tem muito a aprender.

Suspiro cabisbaixa, antes de deixar o cômodo percebendo que


novamente deixei a fera que existe em mim sair, gritar, extravasar.

Na maior parte do tempo sou meiga, compreensiva, a bailarina doce

e agradável, mas quando pisam no meu calo, quando tentam me

fazer de boba, de idiota ou quando querem me humilhar, a Mina

doce sai de cena e entra a espanhola, quente, raivosa, disposta a

lutar pelo que acredita!

Penso que a Alisa não pode me ver, isso seria terrível, eu não

aguentaria. Saio devagar, caminhando cautelosa, tentando não


fazer barulho. Apresso o passo após passar pela porta dela e,
quando chego à escada, ouço a sua doce voz que me faz estancar:

— Mina? Aonde vai? — choraminga. Fecho os olhos com dor,

pensando no que fazer. Não posso olhar para trás agora, não dá. O

que iria dizer a ela? Como me despedir? Como quebrar a promessa

que fiz? Teria que ser sincera, e isso iria lhe destruir.

Continuo caminhando, descendo os degraus, o coração

acelerado, maltratando o peito, os olhos ardendo. Porém a menina

não desiste, me segue e grita por mim:

— Professora Mina!! Professora Mina! Não vá embora!! Por

favor, não vá embora! — consigo perceber que está chorando, isso

é o suficiente para me fazer chorar também.

Oh Deus, por quê?!

Passo pela sala de estar arrasada, quase correndo rumo ao

elevador, vendo dona Isabel, sem chão também, e em seguida

Alejandro, frio, sério, impassível! Viro o rosto para o lado oposto,

não quero que me veja enfraquecida assim, afetada, quebrada.

— Por favor não me deixe, professora Mina! Por favor, volte!

Não me deixe! — Os gritos da Alisa estão cada vez mais próximos,

magoados, feridos, fazendo-me me sentir a vilã da história.


Entro no elevador, finalmente olhando para trás em desespero,

as lágrimas rasgando a minha face, queimando, desolada. Alejandro


segura a filha pelo braço que chora e berra por mim, lutando contra

ele, até conseguir se soltar e correr em minha direção.

— Não! Por favor, não!! Não me abandone! — são as suas

últimas palavras antes das portas se fecharem e me levarem para


sempre da sua vida. Chego a erguer o braço para ela, mas agora já

é tarde demais.

Deixo que os soluços venham, o desespero, a agonia, o


sofrimento. Choro como a Alisa, feito uma criança, abundantemente,
desesperada querendo voltar, me arrependendo por não a ter

abraçado, dito algumas palavras de conforto, mas creio que seria


muito pior, que doeria bem mais, nunca soube lidar com despedidas.

Escorrego pela parede metálica, sentando no chão, sem

forças, a alma parecendo deixar o corpo, tudo desabando, virando


pó, ficando para trás. Alisa jamais me perdoará, eu jamais me
perdoarei. Não devia ter sido assim, não podia ser assim. As minhas

mãos estão tremendo, o ar parece me faltar, uso de todas as forças


para voltar a ficar de pé antes das portas se abrirem.
Chego em casa com as imagens da menina na mente, elas

são como facadas em meu coração, me fazem sangrar a noite


inteira e demorar a pegar no sono. Na manhã seguinte, chamo

minha amiga Pepita para me consolar. Deito no sofá com a cabeça


repousada sobre as suas coxas, contando a ela tudo o que

aconteceu.

— Meu Deus, Mina, que loucura! — diz, acariciando os meus

longos cachos, enquanto choramingo, enxugando as lágrimas.

— Estou mais preocupada com a Alisa, você tinha que ver


como ela ficou destruída quando me viu ir embora — fungo,

contendo um soluço.

— Olha, serei sincera agora, desde quando você me falou que

trabalharia de babá para ele como uma forma de pagar a grana alta
que ele te emprestou, que não vi isso com bons olhos, tive a

sensação que não ia dar certo e achei até que durou mais do que eu
esperava.

— Pior que concordo contigo, também achei, durou até demais


— digo, entristecida —, eu estava maravilhada com aquele homem,

nunca ninguém fez o que ele fez por mim, e ainda sem me
conhecer. Quis recompensá-lo, queria pagá-lo, pois o combinado foi
que não me daria o dinheiro de graça, porém... também tive medo
quando entrei naquela casa, quando me tornei a babá da menina.
Mas com o tempo ele se mostrou respeitoso, provou que sabia

separar as coisas, principalmente aquilo que desejava no hotel, até


que... — minha voz falha, não posso contar o que aconteceu.

— Até que o quê? — Pepita fica curiosa.

— Nada — sorrio, sem graça me sentando, usando o lencinho


que seguro para enxugar o nariz. Respiro fundo, olhando para a

janela —, às vezes me pergunto se a minha paixonite por ele não


influenciou na ideia de ocupar o cargo de babá.

— E a senhorita já se perguntou se a atração dele por você


também não influenciou na decisão de deixá-la ficar tão próxima? —

Minha amiga me faz olhar a situação por outro lado.

— Não sei, de qualquer forma a coisa mais importante naquela


cobertura pra mim se tornou a minha princesse.

Pepita acaricia a minha mão, consolando-me.

— E agora? Como será daqui para frente sem o seu salário?


— pergunta.

— Que salário? Não aceitei pagamento algum dele, eu que

estava pagando o que ele havia me emprestado com o trabalho.


— Ah sim, certo, mas... e os gastos com a casa, com a sua
mãe?

— A quantia que ele me emprestou foi gorda, ainda não


acabou, acho que vai dar para cobrir todo o tratamento da mamãe, e

já adiantei meses de aluguel. Tenho que planejar daqui para frente,


ainda tem as aulas de balé, vou procurar alguma outra coisa.

— Vai dar tudo certo, minha amiga você vai ver. Deus não vai

te deixar sozinha, nem eu — sou abraçada com muita ternura —, e


pode acreditar, aquele CEO vai se arrepender por ter te demitido.

Ele jamais vai encontrar um ser tão iluminado como você. E agora

tudo o que mais quero é que ele se foda!!

Sorrio, descontraindo um pouco, apertando a garota contra os

meus braços, retribuindo o carinho.

— Só você mesmo para me fazer sorrir em uma hora dessas

— comento.

— É para isso que amigas servem!

Assim, após todo este amor, me sinto um pouco mais forte

para prosseguir. Por mais que esteja em cacos por dentro, preciso
reunir energias para pôr a minha cabeça no lugar, em ordem, voltar

ao equilíbrio e só consigo isso através da dança.


À tarde, sigo para a Nina Speitzer, onde passo horas com a

professora Iolanda, me distraindo com as alunas, ensinando-as a


estender o cambré com perfeição, ou seja, dobrar o corpo a partir da

cintura, no caso para trás, a cabeça acompanhando o movimento.

— Mina, agora mostre a elas como se faz um jeté com

perfeição — pede a professora. Assinto, indo para o meio do salão

—, prestem atenção meninas, não quero ninguém errando.

Respiro fundo, fico na postura, preparo-me, e atiro-me ao ar

com as pernas esticadas. Porém, quando retorno ao solo e tento me

firmar, devido a minha mente ainda estar longe, focada em Alisa e


Alejandro, perco o equilíbrio e vou ao chão num tombo. A minha

queda comove a todas, as garotas vêm em minha direção com

força, preocupadas.

— Você está bem, professora Mina? — pergunta uma delas e,

por um milésimo de segundo, vejo a Alisa em seu lugar. Pisco,

saindo dos devaneios, voltando a mim, sentindo um pouco de dor na


coxa direita.

— Estou, estou bem — afirmo, meia zonza.

— Deixem-me passar, crianças. Deixem-me passar — pede

Iolanda, se aproximando, me pegando —, consegue ficar de pé?


— Sim.

— Tem certeza que está bem?

— Acho que não machuquei nada — ela me ajuda a ficar de

pé.

— Meninas, me aguardem aqui, levarei a professora Mina até

o fisioterapeuta.

— Não... — tento negar, mas ela não deixa.

Seguimos de braços dados até a ala de saúde do prédio, mas

antes de entrar no consultório, a mulher nos para e me pergunta


educadamente:

— Onde estava com a cabeça?

— O quê? — Não a entendo.

— Apenas o seu corpo estava naquele salão de dança hoje, a


sua mente estava longe, viajando por algum lugar. Foi por isso que

caiu. É a sua mãe de novo?

— Não, a minha mãe está ótima, se recuperando na clínica.


Não foi nada, professora.

— Espero que não tenha sido mesmo, o profissional vai te


avaliar — Ela suspira, os seus globos sobre mim parecem me
transpassar, ver a verdade — Mina, lembra do que te dizia quando

você era minha aluna?

— Sempre serei sua aluna, professora — sorrio.

— Você se lembra?

— Sim.

— Mais importando do que cair...

— É levantar — completo.

— Mais importante do que cair é levantar, meu amor. Por mais

que haja quedas em seu caminho, continue levantando, se

reerguendo que vai dar tudo certo no fim.

— Estou fazendo isso. Continuarei fazendo isso.

— Ótimo, acredito em você.

— Obrigada, professora — a abraço, depois nos despedimos.

Entro no consultório e sou avaliada pelo fisioterapeuta que

conheço há bastante tempo, que é de confiança. Ele me avalia, diz

que não tive nenhuma contusão, contudo passa um anti-


inflamatório. Retorno para o vestuário, para pegar a minha mochila

que sempre deixo no armário. Troco de roupa e retorno para casa

desanimada.
Horas mais tarde, já de noite, após sair do banho, surpreendo-

me ao ver ligações perdidas de dona Isabel. O que será que

aconteceu? Fico morrendo de curiosidade, mas prefiro não

descobrir. O celular toca em minha mão, recebendo mais uma


chamada dela, me assustando. Meu dedo coça querendo atender,

mas não posso. Pelo menos não agora. Preciso esquecê-los o mais

rápido possível, só assim conseguirei seguir em frente.

Ainda estou muito machucada, sem estruturas. Não posso

ouvir dona Isabel neste momento tão recente, saber que a Alisa está

sofrendo como imagino, vai me estraçalhar mais ainda, pois estou


sofrendo também. Já estou sentindo sua falta, não consigo parar de

pensar nela, mas também devo pensar em mim.

A forma como Alejandro me expulsou, como se tudo o que fiz

até agora não valesse nada, me descartando como uma coisa

qualquer, não dá para esquecer. Por mais que a minha vontade seja

continuar com a menina, não vejo mais como fazer isso com essa
tensão terrível entre eu e o pai dela, e com tudo que cuspi em cima

dele.

Ponho um pijama, vou para a cozinha e invento algum lanche

rápido para comer. Sinto falta da minha mãe, do abraço e consolo

dela, algo que é infungível. Me sinto um pouco cansada, solitária,


tentando me readequar a uma rotina quebrada há mais de dois

meses. É como se algo faltasse na minha vida. Preciso superar,


mas isso leva tempo.

Deito-me, olhando em volta, no silêncio, um silêncio tão

profundo quanto deve ser o de Alejandro. Balanço a cabeça,


decidida a afugentá-lo dos meus pensamentos. Com os minutos

passando, minhas pálpebras cedem, vão baixando até que caio no

sono.

Acordo em algum momento, achando ter ouvido algo. Enrugo a

testa quando ouço alguém bater na porta. Quem será? Olho a hora

no celular, já são quase meia-noite. Ponho um robe por sobre o


pijama e caminho até a sala. Antes de abrir a porta, afasto

lentamente a cortina da janela ao lado, espiando pelo vidro,

avistando dois homens de terno. O quê!

Toc, toc!

Eles batem outra vez, me alertando. Corro para a cozinha e


pego uma faca, a maior que temos. Retorno para a sala,

percebendo que ainda estão aqui. Meu coração dispara, estou

sozinha, sem defesa alguma a não ser esta lâmina em minha mão.
Quem são estes sujeitos e o que querem? Ao insistirem batendo
outra vez, decido perguntar:

— Quem é? — Minha voz sai um pouco trêmula.

— Queremos falar com a senhora Inês Pacheco — uma voz

grossa responde, me fazendo engolir em seco. Eles estão


procurando a minha mãe? Mas o que foi dessa vez?

— Ela... não está, voltem outra hora! — tento expulsá-los.

— Não vamos embora enquanto não falarmos com ela...

— Quem são vocês?!

— Sou advogado, vim em nome do meu cliente que tinha

negócios com o seu pai. Você é Mina Pacheco, não é mesmo?

Fico em choque.

— Como... como me conhece? — Estou nervosa,

amedrontada.

— Conhecemos toda sua família. Não fique assustada, apesar


do horário viemos em paz, queremos discrição e resolver o

problema.

— Que... problema?
— Por favor, abra a porta para conversarmos — sua voz é
mansa, educada, porém o espanhol é estranho, tem um sotaque
diferente, como se eu já tivesse ouvido antes, parece turco.

— Não mesmo, e se não sumirem agora, irei chamar a polícia!!

— tento assustá-los, mas sinto que não estou convencendo.

— Quanto mais protelar esta conversa, pior para você e para


sua mãe, garota. Seu pai deixou dívidas que precisam ser pagas de

um jeito... ou de outro.

O desespero vem com força, a impotência. Dívidas? Ah não!


Não!

— Por favor, vão embora, nós não temos dinheiro! — tento me


controlar, não parecer frágil como realmente me sinto agora, mas é
quase impossível.

Solto um grito assustado quando eles tentam arrombar a porta.

O som do impacto me faz pular para trás e ficar agoniada, sem


saber o que fazer. Corro para o quarto, pego o celular, mas estou

tremendo tanto que o aparelho se espatifa todo no chão, desligando.

— Oh, merda!! — xingo agoniada, ouvindo mais um impacto.

Retorno para a sala apressada, vendo a porta de madeira


rachando, penso em me trancar no quarto quando algo chama a
minha atenção:

— Quem é você? — escuto o advogado, se é que ele é


mesmo, indagando a alguém. — Quem é você? — Não ouço uma

segunda voz, será que está fingindo conversar com alguém? — O


que foi, o gato comeu a sua língua?

Doutor Alejandro? É a primeira coisa que penso. Corro para a

janela, deixando a faca cair, provando que estou certa! Alejandro


está lá fora com eles! Minha nossa!! Um dos homens avança nele e
ambos começam a brigar, para o meu desespero! Destranco a

porta, dando de cara com o outro sujeito que os observa e que me


fita com seriedade.

— Até que enfim fez a coisa certa...

Antes que ele termine, acerto uma joelhada bem no meio das

suas pernas, arrancando-lhe o ar, deixando-o vermelho com o golpe


certeiro. O empurro, fazendo-o ir ao chão. Seu amigo recebe um

soco de Alejandro que o faz recuar também. Os estranhos se


entreolham e parecem decidir a mesma coisa: ir embora.

— Isso ainda não acabou — o advogado aponta para mim, me


deixando tensa e assustada. Ele entra no carro de luxo com o outro

e assim vão embora.


Miro o senhor Javier que está com o canto do olho direito
sangrando. Corro até ele preocupada, aflita, mas sou surpreendida

com seu abraço protetor que me tira completamente do eixo. Fico


imóvel, sem saber o que fazer, estou em choque com tudo ainda e
até com isso, mas seu toque me acalma, me faz respirar com

segurança, me dá paz até para chorar silenciosamente.

Não sei o que está acontecendo, não entendo por que ele está
agindo assim, nem mesmo este abraço, só sei que parece ser o que

mais preciso agora. Meu peito até volta ao ritmo normal, relaxo com
seu perfume, com seu colo. Por que ele mexe tanto assim comigo?

As minhas mãos, lentamente e de forma insegura se erguem,

escorregando por suas costas de maneira delicada, indecisas em


correspondê-lo, mas por fim acabo o fazendo, e assim nosso toque
se funde, se completa aqui fora de casa, quase no meio da rua

deserta, sob um céu nebuloso. O homem suspira, tocando meu


rosto com as duas mãos, claramente preocupado, me analisando,
como quem procura algum machucado.

— Eu estou bem — sussurro, focando em seu pequeno


ferimento, vendo o sangue descer. —, vamos entrar — convido-o.
Me desgrudo do seu corpo quente com delicadeza, seguindo

devagar na frente, sendo acompanhada por ele. Entramos em casa,


percebo que Alejandro olha ao redor, não gostando do que vê, é
como se ele tivesse saído do palácio que é a sua cobertura e vindo

para um casebre humilde no subúrbio, o que não deixa de ser


verdade.

Tranco a porta tentando me sentir segura, com medo daqueles

caras voltarem. Troco olhares com o lindo homem novamente, que


usa um suéter cinza que contorna muito bem os seus músculos,
músculos estes que já vi bem de perto, por sinal. Seu machucado

novamente chama a minha atenção.

— Fique aqui, volto já — digo, indo até o quarto da minha mãe


e retornando com uma caixinha de primeiros socorros —, sente-se

por favor — peço, Alejandro assente, sentando no sofá. Fico ao lado


dele, notando o quanto é maior que eu.

Abro a caixa, pego um algodão e passo a limpar o ferimento

dele, tentando não olhar nestes globos sombrios esverdeados, mas


é impossível. Sua beleza é do tipo que não dá para ignorar, não dá
mesmo. Além disso, ele me fita como das demais vezes, misterioso,

indecifrável, encantado, me fazendo muito querer ler os seus


pensamentos.
Estar tão perto dele me desconcentra, faz palpitar, e tudo o
que aconteceu ontem já parece não mais existir. Quando por fim
termino de limpá-lo e ponho um curativo adesivo no corte, ele

pergunta em sinais sobre os homens com quem lutamos. Penso em


lhe contar, mas ele não deve saber nada da minha vida, não quero
correr o risco de que me ajude, preciso resolver os meus problemas,

sozinha, ainda mais depois do nosso desentendimento.

— Ninguém com quem precise se preocupar — afirmo, grossa


e educada simultaneamente, mas Alejandro não gosta da minha

resposta, é evidente. Para não estendermos este assunto, decido


mudar o foco da conversa. —, por que está aqui? — estou curiosa.

O homem pisca, parecendo voltar a si, seu rosto se tornando

pura preocupação outra vez.

“É a Alisa”

Fico com um mau pressentimento. Alguns minutos mais tarde,


estou indo com ele em seu carro de volta para a cobertura, onde

encontro a Alisa queimando em febre em sua cama, toda vermelha,


vermelha mesmo, suando. É mais um baque que tomo esta noite.
Desse jeito não vou aguentar!
— Oh, senhorita! Que bom está aqui! — Dona Isabel, que está
ao lado da garota, sorri ao me ver, como se louvasse a minha

presença.

— Meu Deus, o que aconteceu com ela? — pergunto,


sentando ao lado da menina, segurando sua mão bem quente que
me assusta — Está queimando! — olho para Alejandro, que está

imóvel nos observando, culpado.

— Começou pela manhã e foi piorando. Chamei o médico, ele


disse que era uma febre comum e que iria passar, receitou os

remédios que não fizeram efeito. O dia foi passando e resolvi por
bem avisar o doutor Alejandro, pois o quadro da pequena piorou, ela
delirava e chamava por você. Novamente o médico veio e nada,

disse que não era caso de internação, que poderia ser febre
emocional — conta a mulher.

— Emocional? — franzo o cenho, acho que poucas vezes ouvi

falar disso.

— Sim. Contei a ele que ela havia sofrido um grande...


estresse — ela fala com cuidado, mirando o patrão, que baixa o

olhar aflito —, se não melhorar até amanhã então teremos que levá-
la ao hospital, mas como chamava por você, o doutor Alejandro não
quis esperar.

— Entendi, mas... não sei bem o que fazer — me sinto


insegura, o caso parece muito sério.

— A senhorita cuidou de mim naquele dia, tenho certeza que

saberá o que fazer — ela deposita as suas esperanças em mim,


também está visivelmente preocupada com a situação.

— Professora Mina... Professora Mina... — Alisa geme suando,

delirando de olhos fechados e o rosto vermelho. Nossa!!

— Estou aqui, princesse... estou aqui — aperto sua mão,


acaricio os seus cabelos, dona Isabel põe uma toalha úmida em sua
testa, e que ajudo a ajustar tentando fazer alguma massagem,

aliviar a sua dor.

Alejandro toca em meu ombro, chamando a minha atenção,


“falando”:

“Chame por ela, tente fazer com que ela saiba que está aqui.
Por favor. ”

É como se estivesse implorando. Mesmo não o escutando, é

fácil perceber que está muito abalado com o estado da criança.


— Tudo bem — concordo, voltando a ficar perto da garota

acariciando sua palma. Estou aqui, Alisa, estou aqui com você, meu
amor. Não precisa mais sofrer, estou contigo.

— Professora... Professora Mina — geme. É de cortar o

coração.

— Eu voltei, estou aqui. Vai dar tudo certo, você ficará boa
logo, logo — beijo, lhe faço carinho, tento não demonstrar o quanto

estou desesperada por dentro, até que finalmente as pálpebras dela


abrirem, ela me ver para o alívio de todos.

— A senhora voltou? — Os seus olhinhos brilham, fico

despedaçada com sua fragilidade, nunca esteve assim!

— Sim, voltei, voltei para você! — digo, beijando-a, lhe dando


amor, cuidado. Tenho uma ideia, miro Isabel — Que tal um banho
para tentar baixar a febre?

— Já fiz isso.

— Vamos fazer de novo — insisto, ela não discute. Procuro por


Alejandro, mas ele não está mais entre nós. Passo a puxar a criança

com cuidado, ela está mole —, vamos tomar um banho, meu amor?
Vamos?

— Não... não quero.


— Estarei ao seu lado, venha — pego-a no colo, dona Isabel
vai ao banheiro na frente, me ajudando a preparar a banheira, onde
entro com ela com roupa e tudo, enquanto chora, aninhada a mim.

Durante esse processo, em um momento, o pai dela surge na


porta, nos observa por alguns segundos, com dor, sem chão, então
sai mais uma vez, como se a sua ausência fosse a melhor opção, e

na verdade é o contrário.

Fico dando carinho e amor a Alisa, a beijando a todo instante,


sofrendo com o seu sofrimento, tentando processar tudo o que

ocorreu hoje, parece ter sido coisa demais para um dia só. Quando
por fim retorno para o quarto, visto a menina com um novo pijama,
dispensando Isabel:

— Pode ir, ficarei com ela. Vá dormir, você parece exausta —


falo.

— A senhorita também — afirma, acariciando meu rosto.

— Hoje não está sendo nada fácil.

— Desculpe por não a ter defendido na hora certa...

— Por favor, dona Isabel, a senhora não tem culpa de nada —


seguro a sua mão, tentando confortá-la.

— O doutor te pediu para ficar? — Está esperançosa.


— Não... e nem quero — digo, sabendo que essa é a melhor
decisão.

— Não quer? — As suas esperanças caem por terra. Fico sem

saber o que falar, ela percebe e encerra o assunto —, tudo bem, há


momento para tudo. Eu já vou indo, qualquer coisa me chame.

— Certo, e obrigada pela ajuda — me despeço, e a mulher vai

embora.

Troco de roupa também, vestindo outra que trouxe na mochila.


Faço um coque no cabelo e deito-me ao lado da pequena, que

agora parece bem melhor, a vermelhidão do seu rosto


desaparecendo pouco a pouco. Fico agarradinha a ela, mas não
consigo dormir, primeiro por estar preocupada e atenta com ela,

segundo, por pensar naqueles homens tentando invadir a minha


casa. Isso não me cheira nada bem, prevejo tempestade a frente.

Sequer tive tempo suficiente para focar exclusivamente neles.

Estou com medo de voltar para casa, mas aqui também não é o
meu lar. Não sei o que fazer, não tenho para onde ir e nem quem
me proteja. Depois que papai se foi, sempre tive que me proteger

sozinha.
As horas passam, pego o termômetro e meço a temperatura

da garota, vendo que a febre abaixou, o que me faz sorrir aliviada.


Ela parece bem melhor, dorme como um anjinho que é. Percebo
que fiquei tempo demais, está perto de amanhecer. Penso em como

será quando a Alisa acordar, não conversei nada com o pai dela e
realmente não acho que estender a minha presença aqui seja a
melhor opção.

Estou preocupada com a menina, quero sim ficar, mas e


depois? Ela terá novamente que me ver partir? Mais uma vez
teremos que sofrer? A dor ainda não passou e não pretendo

prolongá-la. É muito difícil, mas além de tudo isso tem eu, tem toda
essa responsabilidade sobre as minhas costas e a personalidade
forte de seu pai. Como poderemos conviver depois de tudo o que

ele ouviu de mim?

Minha cabeça doe do cansaço, doe de tanto pensar e buscar


por uma solução que não vem. Por fim, beijo a menina, me

despedindo com o coração partido, chorando. Não vejo outra saída,


não posso simplesmente ficar, o pai dela não me disse nada, não é
uma decisão só minha, que depende de mim. Isso não vai dar certo,

talvez cortar os laços antes de se enraizar seja o caminho.

Quando estou sob pressão, tomo atitudes radicais.


Pego a mochila e saio do quarto, silenciosamente. Penso que

Alejandro está em seu quarto, mas descubro que estou


redondamente enganada ao encontrá-lo lá embaixo, imóvel,

mirando o nada, sentado no sofá onde tivemos o nosso momento


quente.

Ele se ergue preocupado ao me ver, seu rosto me indagando o


que eu temia. Fico completamente sem jeito.

— Ela já melhorou... creio que pela manhã acordará bem


melhor. Agora preciso ir — minha voz é insegura, fraca. Parte de
mim quer ficar, a outra parte não acha isso uma boa opção.

O homem nega com a cabeça, e em gestos diz:

“Por favor, não vá. Alisa precisa de você, e eu também”.

É como um soco no estômago. Ele precisa de mim? Não sei


como reagir. Faço menção em falar, mas Alejandro continua:

“Me perdoe, fiz tudo errado e estou muito arrependido. Você


tinha razão, não conheço a minha filha, preciso da sua ajuda para
mudar isso. Eu preciso mudar, não quero mais fazer mal a ela. ”

Apenas uma lágrima desce pesada por sua face, amarga,


sofrida, rascante, me chocando, demonstrando o quanto ele está
sofrendo, que apesar dessa parede invisível de gelo que parece
existir à sua volta a todo instante, há um ser humano, alguém com
sentimentos que se importa. Controlo-me, tentando me segurar,
pensando no que falar.

— É muita responsabilidade, doutor. Não sei se estou


preparada. Ninguém muda ninguém, é preciso querer para que dê
certo — sai como um desabafo.

Ele respira fundo, pensando.

“Mas eu quero. Necessito. Por favor, pago o quanto for. ”

Reviro os olhos, sentindo uma pontada de raiva.

— Não se trata de dinheiro! Não tem nada a ver com isso! —


fico chateada — Isso só prova que o senhor não me conhece
mesmo!

Tento ir embora, mas ele avança em mim com rapidez,


segurando-me pela mão, não me deixando partir, obrigando-me a
fitá-lo outra vez. O seu toque sempre me desestrutura. Ele pega o

celular do bolso e digita rapidamente, me mostrando:

Perdão! Perdão! Estou desesperado. No meu mundo as


coisas sempre funcionaram assim, à base da ambição, nunca

antes conheci alguém como você, que age com o coração.


Ele acaricia a minha palma, me fazendo suspirar e mirar o
nosso toque.

— O senhor acha mesmo que isso tem chances de funcionar?


— Não consigo mais conter as lágrimas.

Ele pensa um pouco, pega o celular de novo e digita:

Só quero conhecer a minha filha, ser o pai que ela precisa,


mas para isso preciso de você. Fique comigo. Fique conosco

Arquejo, sentindo as minhas pernas tremerem levemente,


como se quisessem cair, mas resisto. É muita informação de uma
vez só. E, assim como ele, apenas assinto, sem dizer uma palavra,
vendo sua face se aliviar, o peso enorme sair de suas costas. Mas

como se isso não fosse o suficiente, Alejandro ergue o nosso toque


e beija a minha mão docemente, como um cavalheiro agradecendo.

Em seguida, me puxa de volta para o andar superior. Por mais

que pareça mentira, caminhamos de mãos dadas lentamente pelo


espaço vazio, seu afeto unido ao meu traduzindo este momento
sublime, que nem mesmo consigo explicar. É como se nossos
corpos falassem por nós, enquanto estamos no silêncio.

Sem combinar nada, sem trocar qualquer informação,


entramos no quarto da Alisa. Ele pega a minha mochila e joga sobre
a poltrona, como para se certificar de que irei ficar mesmo e juntos,
deitamos na cama com a menina entre nós. Nossas mãos se unem
sobre ela, abraçando-a. Ele a beija, eu a beijo também, com a paz
finalmente reinando após tanto caos. Assim dormimos, entro num
sonho do qual jamais quero acordar.
ALEJANDRO JAVIER

Mina sai do escritório emputecida, me deixando perplexo com


tudo o que acabou de vomitar em cima de mim. Sim, ela nunca

antes havia falado tanto quanto agora, nada do que me disse algum
dia se compara ao que disse segundos atrás. Foi tão forte, que nem
mesmo consigo raciocinar direito, estou demorando a processar as

informações.

Por mais que ela sempre tenha demonstrado tagarelar pelos


cotovelos quando fica nervosa ou coisa do tipo, nunca imaginei que

dentro desse seu corpinho de curvas perfeitas, existia uma fera,


uma leoa indomada desse jeito. Sem contar que jamais alguém teve

tamanha audácia para comigo. Quem ela pensa que é para me

ofender desta maneira, para me açoitar tamanhos impropérios?!


Eu sou Alejandro Javier e ninguém pode falar assim comigo!!

Saio do escritório, caminhando feito um trator, a passos

destrutivos, fulminante, procurando pela bailarina, louco para gritar

com ela, rebater todas as porcarias que me disse, mostrar a ela com
quem está lidando, provar que não sou qualquer um! Jamais lhe dei

intimidade para opinar sobre a minha vida pessoal, sobre meu

relacionamento com a Alisa. Ela não pode me recriminar assim!! Me


afrontar!

— Doutor Alejandro, o que está acontecendo? Por que Mina

saiu assim?! — Isabel está atônita, com certeza deve ter escutado a
discussão.

“Onde ela está? ”

— Subiu, acho que...

Tento ultrapassar a mulher, porém ela não deixa.

— Por favor, não vá, o senhor está de cabeça quente. Vamos


conversar, veja, a Mina não tem culpa...

Antes que ela continue, derrubo tudo que está sobre um

aparador na parede ao lado, descontando a minha raiva, o meu

ódio, a assustando. Por fim chuto o aparador também, o objeto sai

tombando para longe devido a minha força.


— Doutor Alejandro, pelo amor de Deus!! — grita, levando as
mãos à boca enquanto caminho de um lado a outro, ofegante,

afrouxando o nó da gravata, com as palavras da senhorita Pacheco

esfaqueando a minha mente! — Acalme-se! Acalme-se!!

Estou furioso e aflito ao mesmo tempo, quero falar, abro a

boca diversas vezes, mas os meus demônios, os meus fantasmas, o

nervosismo, a pressão, ansiedade!! Nada me permite, nada deixa, o


bloqueio é forte demais, intenso demais!!

— Os seus ansiolíticos, onde estão?! — Ela pergunta, mas não

lhe dou ouvidos.

Juntos ouvimos passos e a voz da Alisa se aproximarem. Sigo

para a sala de estar, Isabel me segue preocupada e nervosa. Tento


me recompor e ser frio ao avistar a morena de cabelos cacheados

se aproximando, mas para acabar comigo vem a minha filha atrás,

gritando, implorando para que ela fique, para que não a deixe, então

usa um termo pior, “não me abandone”.

A bailarina passa por mim feito um furacão virando a cara, não


mais me encarando, contudo não consegue disfarçar o choro, o

abatimento, o quanto está arrasada. Seguro a Alisa pelo braço, não

permitindo que ela continue se humilhando, mas a pequena tira uma


força descomunal não sei de onde, luta e se desvincula de mim,

correndo atrás da babá que parte no elevador. É o fim.

A menina cai de joelhos, escondendo o rostinho entre as

mãos, em um pranto como nunca vi antes, nem mesmo quando


Rayka foi embora. Fico destroçado, tudo parece estar ruindo, se

espatifando no chão, virando fumaça. Minha filha não pode sofrer,


não quero vê-la sofrer!

Aproximo-me, agachando-me ao seu lado, tocando-a pelo

ombro, mas, para o meu terrível desespero, a Alisa reage de um


modo jamais visto antes!

— Não!! O senhor mandou a minha melhor amiga ir embora!!

Miro-a sem saber o que fazer, de lábios entreabertos,


buscando alguma palavra de consolo enquanto se afasta de mim,

como se eu fosse algum tipo de doença contagiosa. Tento tocá-la


outra vez, mas é inútil.

— Não gosto mais de você!! Não gosto, não gosto!! — grita e


sai correndo rumo ao seu quarto, partindo-me ao meio, um golpe

profundo, uma ferida sem cicatriz.

Troco olhares de desolação com a governanta, que decide ir


atrás da garota.
— Alisa! Alisa, por favor, espere! Alisa! — As duas somem

para o andar de cima.

Fico no chão de joelhos, observo as mãos trêmulas, o ar


parecendo me faltar, as palavras da minha filha e de Mina

espremendo o meu cérebro com força total. Que tipo de pai eu sou?
Que tipo de homem sou? Minha filha não pode deixar de me amar,
não pode!

Lágrimas silenciosas descem, me fazendo cair de vez sobre o

tapete, suar, queimar, um calor forte tomando conta de todo o meu


corpo. Estou tendo um ataque de pânico, sentimentos ruins unidos e

consumindo-me por completo. O ar novamente faltando, a


impotência, a ausência de controle sobre o meu próprio corpo.

Miro o teto como se pedisse socorro, mas nenhuma ajuda


vem, a voz também não. Apenas tento respirar com cuidado, não

morrer, não entrar de vez em colapso. O tempo demora a passar,


mas persisto em me acalmar, recuperar o controle e ser o dono da

minha vida. Meu corpo está todo molhado sob o terno, de uma
forma que chega a incomodar. Levo longos minutos até conseguir
me sentir forte novamente para me erguer.
Caminho devagar, passo a passo até o andar superior,
segurando no corrimão da escada temendo cair, mas consigo
chegar no corredor encontrando Isabel que sai do quarto da minha

filha. Meu semblante faz a pergunta que está entalada na garganta,


porém meu estado chama a atenção da mulher.

— Oh, cristo! O que aconteceu?! — Ela me toca no braço,


percebendo que não estou nada bem. Miro a porta da Alisa — Ela

está um pouco melhor... — sua voz falha e seu olhar baixa —, só dê


um pouco de tempo até que consiga entender esta nova situação.

Concordo entristecido, dizendo em gestos para que cuide dela,

seguindo para o meu quarto onde me tranco e tiro toda a roupa.


Ignoro o celular que chama, é a minha secretária, com certeza é
algo importante da empresa, mas não estou em condições de saber

de nada agora.

Fico debaixo do chuveiro, sentado no piso, em posição fetal,


deixando a água me molhar imoderadamente, pensando na

tempestade que aconteceu, as palavras da Mina ainda soando em


meus ouvidos, crescendo a ferida e machucando:

“... ela é uma criança e precisa viver como tal! Precisa de


atenção, amor, carinho e não ser mimada com presentes após o pai
passar uma semana fora de casa sem sequer ligar para ela! Como
se presente fosse substituir a sua ausência! ”

Fecho os olhos, respirando fundo, tentando esquecer. A partir


de então fico em casa, somente saio do quarto na hora do jantar.

Sento à mesa sozinho, comendo com dificuldade, os pedaços de


carne descendo de forma rascante pela garganta. Miro a cadeira da

minha filha e a cadeira da babá, estou sozinho.

Isabel surge com uma bandeja vazia nas mãos. Fito-a


esperançoso, e ela responde:

— Sim, ela comeu — afirma, me deixando aliviado —, mas não

quer descer, não quer ver o senhor.

“Preciso falar com ela”

— Precisa, mas no momento certo. Não se preocupe, as

coisas que ela disse foram da boca pra fora. Ficarei de olho nela até

que tudo se resolva. A partida da senhorita Mina foi muito doloro...

“Não quero mais ouvir o nome desta mulher aqui”

Isabel suspira, negativamente surpresa.

— Sim... senhor. Mas e a Alisa? — Ela está preocupada.

“Minha filha vai superar. Ela é forte. ”


A governanta se afasta, sumindo de vista e de cabeça baixa.

Pelo visto a partida da professora a afetou também. Mina, então


pouco tempo conseguiu deixar a sua marca aqui, porém, as suas

palavras foram como espinhos a perfuraram a minha pele. Não

quero vê-la nunca mais!

Mais tarde antes de dormir, invado o quarto da princesa, fico

observando-a em um sono profundo lindamente, então percebo que

está segurando um porta-retratos entre as mãozinhas, cuja a foto é


dela com a bailarina. Lembro da imagem, é a mesma que foi

enviada a mim enquanto estava na Alemanha. Ambas juntas,

sorrindo e felizes. Isso toca o meu coração, um órgão que na maior


parte do tempo parece não fazer parte do meu ser.

No dia seguinte, trabalhar parece ser uma tortura, estou

estressado e sem concentração. Para piorar, Joaquin surge feliz


como sempre, indagando:

— Ei! O que houve ontem? Por que me deixou sozinho no


restaurante daquele jeito?

Ergo a mão para ele, pedindo que pare e para que saia.

— O que foi? — fica confuso, repito o gesto — Calma, só

quero conversar...
Bato na mesa, impaciente, mirando-o com ódio.

— Certo, bom dia — afasta-se, compreendendo e sumindo de

vista. Suspiro, enfadado.

À tarde, após almoçar sozinho, envio mensagens à Isabel

perguntando sobre a Alisa:

Boa tarde, como está minha filha?

Não gosto da resposta:

Nada bem, doutor. Preciso que o senhor volte para casa.

Agora.

Sua mensagem me assusta, largo tudo o que estou fazendo,

chamo Diogo e corro para a cobertura, onde encontro a Alisa em um

estado péssimo, acamada, suando, tremendo e delirando em febre.


Fico pasmo e indignado com a governanta.

“Por que não me chamou antes? ”

— Porque achei que era uma febre comum, não queria

perturbá-lo. O médico veio aqui, disse que não era nada demais e

receitou os remédios, só que já se passaram horas e nada até agora


fez efeito —justifica-se.

“Qual médico você chamou? ”


— O dela! O doutor José!

“Pois chame-o outra vez! Agora! ”

Isabel corre para fazer o que ordenei.

— Professora Mina... professora Mina — geme a minha

pequena, deixando-me em choque. Ela está sentindo falta da babá!

Não demora muito e o médico chega, analisando a Alisa outra

vez. Fico em pé, andando de um lado a outro pelo cômodo, nervoso

e preocupado, esperando um diagnóstico enquanto ele utiliza seus


aparelhos para verificar a minha filha, que não para de chamar pela

senhorita Pacheco.

— Bom, aparentemente é só uma febre comum. Eu já receitei


o que tinha que receitar, já deveria estar fazendo efeito. A senhora

aplicou as doses corretamente?

— Sim doutor, do jeitinho que o senhor recomendou — afirma

Isabel, aflita. Troco olhares com ela —, será que não é melhor

levarmos ela para o hospital?

— Não antes de fazer quarenta e oito horas. Se esta febre

repentina não tiver abaixado até lá, então é caso de internação. Não

podemos ser precipitados.

“Mas a minha filha está sofrendo! ”


Falo em sinais, ele me entende. O médico observa a menina

outra vez.

— Professora Mina...

— Quem é esta Mina? — pergunta.

— Era a babá dela — responde a governanta —, ela foi

embora ontem e a Alisa ficou bastante afetada.

— E hoje de manhã apareceu assim. Hmm, isso me está


parecendo uma febre emocional. Pelo visto a Alisa gosta muito

dessa babá. Talvez se a trouxermos de volta, a febre abaixe.

“O senhor está dizendo que a febre da minha filha é

psicológica? ”

— É possível. Traga essa tal Mina de volta e veremos como a


Alisa se comportará. Se até amanhã de manhã ela não melhorar

avise-me, que a internaremos. A febre emocional ocorre geralmente

após um grande estresse e apresenta todos estes sintomas que


estamos notando. A menina pode estar intensamente abalada e

reagindo desta forma, já vi muitos casos como esse antes.

Assim, o homem vai embora me deixando sob uma lâmina de


dois gumes. Isabel retorna ao quarto após acompanhá-lo até a

saída.
— Posso ligar para Mina? — pergunta, miro-a e nego com a

cabeça, presenciando a sua decepção. Ela sabe que não deve me


desobedecer, fecha a porta de cabeça baixa, deixando-me sozinho

com a Alisa.

As horas passam dolorosas, toda vez tenho esperança que ela


vai melhorar, porém não melhora, pelo contrário, piora. Ordeno que

Isabel ligue para o médico, ele recomenda usarmos artifícios

caseiros para baixar a febre, como toalha úmida e banho, mas de


nada adianta.

Quando a noite chega, meu coração já está pequeno, sofrendo

o suficiente. Ponho em cheque o orgulho e a razão. Toda vez que a


Alisa chama pela babá, é como um tapa na minha cara, provando o

quanto Mina é importante na vida dela e o quanto eu fui ausente,

pois em nenhum momento meu nome foi proferido.

Talvez a bailarina tivesse razão, talvez não conheço a minha

filha como deveria e isso me dói, quanto mais se torna verdade na


minha mente, machuca, tortura. Fico confuso, arrependido, a culpa

tomando conta de mim, despedaçando, levando-me ao fundo do

poço. Quando percebo que a pequena está ficando muito vermelha,

não consigo mais resistir, tenho que tomar alguma atitude.


Saio do quarto e procuro Isabel pela casa, a encontrando na
cozinha com o telefone no ouvido. A mulher se assusta e tenta

esconder o aparelho, já entendo tudo.

“Ela virá? ”

— Ela não está atendendo — responde, toda sem jeito.

“Ligue outra vez, por favor”

— É claro, patrão! — A mulher sorri, esperançosa, mas a sua


demora no celular, denuncia que isso não vai dar certo — Não

atende... deve estar longe do aparelho.

Ou me odiando o suficiente para não querer saber mais daqui.


Penso. Retorno para o quarto da menina, indeciso, sem saber o que

fazer em relação à babá. Penso em mandar mensagem, mas

desisto, isso é algo que deve ser resolvido pessoalmente. Porém


espero, sou teimoso, fico processando esta ideia até que não dá

mais para segurar.

Aviso a governanta que vou atrás da senhorita Pacheco


pessoalmente e saio do apartamento com pressa, dirigindo pela
cidade veloz, pensando no que irei dizer a ela, querendo muito

resolver o problema mesmo sendo tarde.


Ao chegar em frente à sua humilde residência, num bairro
pobre e sem requinte algum, avisto pela janela dois homens
engravatados em sua porta. Desço do carro, me aproximo e noto

que eles tentam arrombar, que querem invadir. Eles notam a minha
presença e um deles vem para cima de mim, agredindo-me.
Iniciamos uma briga trocando socos.

De soslaio, vejo Mina surgir e lutar contra o outro cara, dando


conta do recado e o levando ao chão. Ela é incrível! É o meu
orgulho! Juntos, conseguimos afugentar os estranhos e, quando a

morena cacheada corre em minha direção, a abraço forte,


preocupado, pegando-a de surpresa. Não sei por que faço isso,
simplesmente faço.

Fiquei tenso quando pensei que ela poderia ter sofrido


horrores nas mãos destes homens mal-intencionados. Apesar de
tudo, não quero que Mina se machuque, que seja machucada. Não

quero que a toquem, que a façam mal. Ela é apenas uma pobre
garota indefesa e precisa de proteção. Fito seu lindo rosto, tão
delicado, os olhos brilhando das lágrimas, a pureza, a inocência e o

medo misturados numa coisa só.

Sou levado para dentro da sua casinha pequenina, apertada


na verdade, e humilde. Como alguém pode viver aqui? Apesar de
ser tudo muito bem arrumado, é bastante desconfortável, calorento.
Me faz lembrar até do meu passado, quando não tinha
absolutamente nada, quando vivia na miséria. Flashes que passam

na minha cabeça por breves segundos.

Mina cuida do meu ferimento, encantando-me com a sua


proximidade e ternura. Tento descobrir quem eram os homens que a

perturbavam, mas ela é grossa, deixando claro que não tenho nada
a ver com isso. Seu comportamento petulante e sua resposta
corrosiva me desagradam, quero apenas ajudá-la, porém decido

não criar outro desentendimento agora. Conto-lhe que vim por


causa da Alisa, então ela aceita ir para o apartamento comigo.

Lá ela fica completamente arrasada com o estado da minha

princesa e, sob os meus pedidos, passa a cuidar da pequena. Fico


sem chão, o coração ainda sangrando, me culpando por todo este
temporal, sabendo cada vez mais que o mal da minha filha sou eu,

eu que causei este sofrimento o qual parece eterno. Todo o meu


orgulho e raiva desabam, caem por terra, dando lugar a

compreensão e a razão.

Ao assistir a forma como Mina trata a Alisa, o carinho, o amor,


entendo o que a minha filha precisa, mas não sei se estou
preparado para lhe dar, nunca soube demonstrar sentimentos muito
bem. Na verdade, agora sei que nunca fui um pai de verdade, que
tentei pouco, que sabia que estava em falta e não lutei para sanar

isso. Estou perdendo os melhores momentos da vida da Alisa e a


culpa é inteiramente minha.

A senhorita Pacheco tinha razão em tudo o que me falou, não

exagerou em nenhuma palavra. Apontou os meus erros e defeitos,


disse tudo na minha cara, sem medo, sem se esconder. Esfregou a
realidade na minha face, era disso que eu precisava, um puxão de

orelha, um choque. Não posso mais perdê-la, sinto que ainda está
machucada e não posso permitir que se vá. Quero mudar pela a
Alisa, mas preciso de ajuda.

Além disso, não posso permitir que Mina retorne para aquela
casa frágil e sem proteção, que fique à mercê de bandidos ou seja
lá o que aqueles homens sejam. Ela não tem ninguém, está

sozinha, eu não suportaria saber que algo lhe aconteceu por falta de
atitude minha. Só que essa espanholinha é teimosa, sei que não
devo insistir para ela ficar por esta via, pois não vai dar certo.

Quando chega o momento, como esperava, Mina está


querendo ir embora. Porém, começo a argumentar, pedir, implorar
para que fique. Me torno, diante dela, vulnerável, algo que

raramente acontece. Uma lágrima chega a descer por minha face,


me arrepio, é como se tivesse desabafando, extravasando,

colocando para fora toda essa dor que causei, estes sentimentos!

Chego a me exceder, “falar” besteira em relação a dinheiro,


mas quando seguro a mão da morena é quando tudo se transforma.

Sinto-me mais seguro na forma de se expressar, mais forte na


certeza do que quero, e quero ela aqui comigo, com a gente.
Preciso de ajuda para saber como ser um bom pai para a Alisa,

preciso que ela me guie e que não se afaste de mim.

Para o meu alívio, Mina concorda. Assim, juntos, de palmas


unidas, caminhamos até o quarto da princesa. Sem trocarmos

qualquer informação, nos deitamos na cama com ela, unidos,


esquecendo todo o caos e dando lugar a um momento de paz. É a
melhor noite da minha vida.

Acordo me sentindo muito bem, sem pesadelos, com os

sorrisos e carícias da minha pequena, que sorri de orelha a orelha,


esbanjando felicidade. É a imagem dela a primeira coisa que vejo
quando ergo as pálpebras, os seus dedinhos acariciando a minha
barba.

— Bom dia — sussurro, contente por tê-la assim, tão pertinho

de mim, toda fofa.

— Bom dia, papai! O senhor dormiu comigo? — murmura sem


acreditar.

— Aham.

Seu queixo vai ao chão, é muita felicidade, uma coisa tão


pequena aos meus olhos e gigantesco para ela. Chamo-a para um
abraço, ela vem sem demora e nos apertamos com amor, não há

mais dor.

— Desculpe pelo que eu disse, é que...

— Shhh — não permito que continue —, está tudo bem. Eu te


amo, sempre estarei aqui.

— Também te amo, papai — Ela se senta, me dando visão


para Mina que dorme do outro lado da cama —, olha quem voltou!

Esbugalho os olhos por um instante. Esqueci-me da presença

da senhorita Pacheco, fico com um leve medo dela ter me ouvido


falar, do que pode achar. A insegurança só se dissipa quando a
observo bem e noto que está em um sono profundo, ontem foi muito
cansativo.

— O senhor deixou ela ficar? — Alisa está sonhando, é o que

ela mais queria.

Assinto com a cabeça, ganhando mais dos seus abraços e


beijos. A garota gargalha feliz, e é neste momento que descubro

que é disso que preciso, da sua felicidade, do seu amor. Não


consigo viver sem o amor da minha filha.

Mina se remexe no colchão, belíssima, com os seus cachos

emaranhados deixando-a ainda mais perfeita, natural. Os seus


olhos se abrem devagar e, quando finalmente consegue focar nos
dois rostos que a observam, se senta rapidamente, como em um

reflexo nervoso tentando entender o que aconteceu.

Como sempre, começa a balbuciar alguma coisa, mas a Alisa


a interrompe, pulando em seu colo com felicidade:

— Bom dia, professora Mina! Que bom que voltou! Que bom

que está aqui! Senti tanto a sua falta!! — fala como se tivesse ficado
um mês sem ver a babá.

— Oh meu amor, também senti a sua. Como está? Se sente

melhor? Vejo que não há mais febre! — Mina sorri, trocando olhares
comigo, tentando arrumar o cabelo, tímida por eu estar olhando-a
em um momento tão íntimo. Só que estou adorando tudo isso.

— Estou me sentindo brilhante! Não acredito que as duas


pessoas que mais amo no mundo dormiram comigo! Isso é tão
legal! Tão legal! Tia Luna e Isabel vão adorar saber!!

Ah, droga! Ergo o indicador para a pequena, negando. Mina


me ajuda, afirmando:

— Princesse, você não pode contar que dormimos com você a

ninguém, entendeu?

— Por que não?

A morena não sabe o que dizer, as palavras lhe fogem, ela me


olha em um pedido de socorro.

“Porque este é um segredo nosso. Se você contar, não será


mais segredo e não irá mais acontecer. Promete não falar a
ninguém? ”

— Se é para acontecer sempre, então não falarei a ninguém!

— Ela bate palminhas, mas de repente para pensando, me fitando


curiosa e séria — Papai, a Mina vai poder ficar?

Assinto com a cabeça, vendo o sorriso da bela morena surgir,

irradiante, me encantando ainda mais. Como é linda... linda! E eu a


quero para mim.

Alisa fica tão contente com a notícia que se ergue no colchão e


pula, pula várias vezes, cheia de energia, de vida.

— Está bem mocinha, agora vamos tomar banho para ir à

escola. Chega de ficar enfurnada neste quarto, você tem que voltar
à rotina.

— Ah não, não quero tomar banho! Quero ficar aqui com vocês
para sempre!

Até que não é uma má ideia, penso.

— Vamos, meu amor, precisamos ir.

— Não! Papai, vamos prender a Mina aqui conosco! — Alisa


se joga em cima de mim, fazendo birra.

— Se eu fosse você, não iria querer perder o banho hoje, pois


seu pai vai me ajudar a banhá-la — afirma Mina, fazendo-me franzir
o cenho ao mesmo tempo em que Alisa se empolga com a ideia que

lhe parecer ser surreal.

— Sério, papai?! — Ela está em choque. Nunca lhe dei banho,


sempre tive quem fizesse isso.

Fito Mina, que sorri esperta, não me dando outra opção. Então
lembro que pedi a ela para me ensinar a ser um pai melhor, e pelo
visto quer começar desde agora! Assinto, fazendo a minha pequena
feliz, em poucos minutos estamos os três no banheiro.

Alisa está tendo a manhã mais realizada de sua vida, dentro

da banheira, enquanto Mina e eu, do lado de fora a ensaboamos e


enchemos de shampoo ao mesmo tempo.

Aos poucos, a babá vai me ensinando como fazer, não sei até

os simples detalhes, mas acabo me divertindo, me molhando todo,


pois a Alisa faz questão de jogar água na gente, brincando,
gargalhando, vibrando de emoção. A felicidade reina ao nosso

redor, fazemos deste momento um dos mais sublimes da minha


vida. Tudo até parece acontecer em câmera lenta, como se o prazer
fosse eterno.

Mais tarde, nos encontramos na mesa de refeições, onde dona


Isabel preparou um banquete digno de rei para nós. Ela logo
percebe que todos estamos em perfeita sintonia, que não há mais

discórdia entre Mina e eu, e fica bastante animada com isso.

— Dona Isabel, hoje o papai vai me deixar na escola com a


Mina, acredita?! — Tudo é novo para a minha filha.

— Nossa! Eu não acredito, Alisa! — A governanta entra na

magia dela.
— Pois é! Ele até me deu banho hoje! Acredita?!

Mina gargalha, contente trocando olhares comigo.

— Meu Deus, o que será que aconteceu com o seu pai, Alisa?

— Isabel Indaga, olhando-me.

— Não sei. Só sei que estou gostando muito deste meu novo
paizão!

Elas gargalham, se divertindo com a pequena, que come


bastante, denunciando que estava com muita fome.

Não demora muito e estamos no carro com Diogo, seguimos


viagem até a escola com Mina ensinando várias palavras em

francês para a Alisa, o que me deixa admirado e encantado. Não


canso de ver a morena soando tão bem numa língua que admiro
tanto. A todo instante troco olhares com ela, a atração faiscando

entre nós, uma vontade de estar mais perto do que já estamos.

Consigo sentir isso com tanta força agora, muito mais do que
antes. É diferente, tem algo a mais, algo especial que ainda não sei

intitular.

Quando finalmente chegamos no portão do luxuoso colégio da


Alisa, ela abraça a babá e depois a mim.
— Tchau! Amo vocês! — E vai saltitando de mãos dadas com

a sua professora.

— Nossa, ela nunca foi para a aula tão feliz assim. O senhor
não imagina o bem que está fazendo a sua filha — confessa Mina,
sorrindo para mim.

“E você não imagina o bem que está fazendo para nós. ”

Pego-a de surpresa, ela não esperava por isso.

— Por favor... não fala assim — cora, baixando os olhos.


Engulo em seco, ficando doido por dentro, doido por ela —, não

estou fazendo nada demais. A verdadeira mudança quem está


começando é o senhor.

Pego o celular e envio uma mensagem a ela, mas não a vejo

procurar o celular. Indago-a com o semblante, Mina entende e


responde:

— Ah, o meu celular? Ele caiu ontem quando aqueles caras...

enfim — muda de assunto —, preciso levá-lo para o conserto.

Mostro meu celular a ela, onde há a mensagem:

Se importa de ir me deixar na empresa com Diogo? Depois


ele te leva para o apartamento.

— Não, por mim tudo bem.


Assim, retornamos para o Mercedes, Diogo entra na pista e

seguimos uma viagem extremamente tentadora até a Javier.


Enquanto os minutos passam, não consigo evitar consumir a

morena com os olhos. Ela tenta disfarçar, tenta olhar pela janela,
mas também é derrotada pelo desejo, fitando-me como se eu fosse
o fruto mais saboroso do mundo.

Estamos distantes, cada qual em uma ponta do banco traseiro,

com Diogo na frente entre a gente, nos impedindo de qualquer


coisa, o único ponto de equilíbrio dentro deste espaço. Quando o

automóvel para e chega o momento em que vou descer, as minhas


pernas não se movem, meu corpo não quer sair do lugar. A única
coisa que sinto é meu pau pulsando duro entre as pernas, o volume

que tento disfarçar com a maleta.

Mina parece estar queimando por dentro, o tesão açoitando a


gente. Ela me olha outra vez, como se não quisesse, porém, não

conseguindo evitar. Troco olhares com Diogo pelo retrovisor, faço


um sinal com o rosto e ele sai do carro imediatamente.

— Aonde ele vai? — Ela pergunta, mas não quero e nem


consigo mais resistir. Não posso perder mais tempo. Aproximo-me

dela, jogando a maleta de lado, investindo e escorregando as mãos


pelos seus ombros até chegar à sua nuca, puxando-a para mim —
Doutor Alejan...

Sua voz some dentro da minha boca no instante em que os

nossos lábios se unem. Fecho os olhos, sua carne é tão macia, tão
singela, tão gostosa. O toque começa lento... intenso... profundo!
Gradativamente vai se aperfeiçoando, se tornando algo maior, se

transformando em algo além do imaginável. Estou ficando louco, o


sabor dela é inigualável, vicia, me prende, chama e me faz queimar!
Arder de emoção e tesão!

Há luxúria, há libido, mas também há sentimento, uma vontade


reprimida há tanto tempo, dando vazão agora, explodindo, atirando-
se para fora, vibrando entre nós dois! Com uma das palmas aperto
um punhado dos seus cachos macios, arrancando-lhe um

gemidinho que faz o meu membro pulsar, com a outra aperta sua
coxa sobre a calça jeans, maldito jeans!

Eu a quero, quero demais, não sei como pude aguentar perder


isso por tanto tempo! Mina se afasta um pouco, desfazendo o nosso

toque, ofegando, porém não paro, nada me fará parar, arrasto a


língua saliente por seu pescoço, subindo, alcançando o lóbulo da
orelha ao mesmo tempo que ela roça as unhas em meu cabelo,
tomada pela lascívia, querendo e me deixando feliz por me
corresponder!

Temos privacidade, os vidros são protegidos por insulfilm,


ninguém consegue nos ver do lado de fora. Volto para a sua
boquinha carnuda, os lábios grossos, vermelhos e perfeitos
enchendo a minha língua, me satisfazendo e me deixando como um
animal faminto por mais, muito mais. Escorrego a mão para a sua

bunda, erguendo a sua coxa e apalpando, tentando puxá-la para


sentar em meu colo, mas Mina não deixa, me faz parar com a mão
em meu peito.

Fico de lábios entreabertos, sem acreditar que ela está me


impedindo agora. As nossas respirações saem quebradas, o calor
parece dominar todo o ambiente mesmo com o ar ligado. Mina não
diz nada, mas eu entendo tudo, consigo ler a sua linguagem
corporal. Ela quer, mas não rápido assim. Não é como as outras, e

isso me deixa maluco!

Tentamos nos recompor, ajeitando as nossas roupas, ela nota


o volume imenso no meio da minha calça e cora outra vez. Sem
pudor algum, enfio a mão por dentro da calça, ajeitando a situação,

pondo a massa grossa e parruda para o lado, para que fique mais
disfarçado. A bailarina fica ainda mais vermelha, chega a fechar os
olhos, demonstrando sua pureza que me encanta demais.

Por fim, acaricio o seu rosto com a outra mão, e saio do carro,

impressionado por ela dessa vez não ter se posto a tagarelar sem
freios. Se bem que, quando brincamos no sofá, também não
dissemos nada um ao outro na hora, só depois. Pelo visto não
queremos palavras nestes momentos quentes, apenas o silêncio e
os seus gemidos. Que gemidos!

Evito pensar em qualquer coisa que possa me trazer culpa


agora. Acho que já passamos dessa fase, pelo menos eu passei e
espero que ela também. Senão ainda, irei ajudá-la, pois não me vejo
sem seu cheiro e beijos, sem seu contato daqui por diante. Não

quero saber onde vai dar, não quero pensar no futuro, só o presente
é suficiente no momento.

Ao chegar na sala da presidência, antes de entrar, escrevo um

bilhete na mesa da secretária, em sua frente. Ordeno que ela


compre um Iphone, o melhor de todos, o último lançamento e envie
em uma caixinha de presente para o meu endereço, para Mina,
junto com o meu texto.
MINA PACHECO

Alejandro me absorve, me consome com a sua boca quente e


saliente que devora a minha. Mal sabe ele que está sendo o meu

primeiro beijo, o primeiro toque dos meus lábios nos de um homem.


Nunca treinei para isso, mas está acontecendo de modo tão
fervoroso e natural. É como se sua língua ensinasse a minha, e as

duas juntas se conjugam para o inesperado.

Ainda não sei como isso está acontecendo, não consigo


pensar, só sentir. Sou a mais pura sensação agora, o sinto em mim,

sugando a minha carne que se envolve e mistura com a sua, as


suas mãos enormes e rijas me apalpam, me pegam com firmeza,

que me deixam ainda mais molhada do que eu já estava quando


Diogo estava no carro, quando apenas nos olhávamos de uma

forma que nunca olhei para outra pessoa.

Estou quente, minha pele arde, meu centro pisca, é um calor

que não tem explanação. Quero-o mais, a vontade chega a ser


insaciável, mas quando ele ergue a minha coxa, tentando me puxar

para as suas pernas, um alerta soa em minha mente. Está rápido

demais, forte demais, fico com medo.

Paro-o, ofegante, sufocada pelo desejo, recebendo outra vez

seu olhar matador, complementado agora por traços animalescos,

um ar vigoroso e erótico ao extremo. Ele entende que travei e, na


minha frente penetra a mão dentro da calça, ajeitando a longa

extensão que há entre as suas coxas.

Não consigo ver, mas a marca no tecido é bem evidente, me

faz arfar, faiscar e temê-lo. É aparentemente grandioso e forte. Me

faltam palavras, não sou capaz de processar nada e, quando ele se

vai após me acariciar no rosto, jogo-me contra as costas do banco,

num estado de êxtase, assimilando mais esta experiência surreal.

Anteontem brigamos, eu lhe disse barbaridades, ontem nós

simplesmente fizemos as pazes, ouvi da sua boca que ele precisava

de mim e isso me desestruturou, me deixou apaixonada outra vez.


Acordar ao seu lado foi um golpe mais forte, banhar a Alisa em sua
companhia foi um sonho impossível, depois disso parece que não

conseguimos mais parar de se olhar, é como se algo tivesse

mudado para melhor, e agora isso!!

Não sei mais quem sou, não sei que caminho foi esse que

acabei de entrar, só sei que é bom, delicioso, tentador e perigoso.

Recomponho-me assustada quando Diogo retorna para o


automóvel, apossando-se do seu lugar. Fico completamente sem

jeito, tentando ajeitar o cabelo e disfarçar, sorrir, mostrar algum tipo

de normalidade.

— Tudo bem, senhorita? — pergunta, os seus olhos encaram-

me pelo reflexo do retrovisor.

— Sim, sim, sim... sim — respiro e engulo em seco —, sim,

claro que sim. Sim — estou nervosa. Ele me fita confuso, erguendo

uma sobrancelha —, aham, está sim. Sim.

— Já entendi — sorri, me tirando o chão e dando partida.

— Sim — meu Deus, tenho que calar a boca!!

Chego à cobertura e encontro uma governanta polvorosa.

— Ah, Mina, estou tão feliz que depois de toda essa confusão

você vai ficar! — afirma, segurando-me pelas mãos.


— Também estou feliz que consegui colocar um pouco de

consciência na cabeça do patrão! — sorrio, o coração batendo


alegre.

— Ainda quero entender o que a senhorita fez? Nunca o vi


assim, nunca mesmo!

— Assim...? Assim como? — fico curiosa.

— Não sei... os olhos dele, pela primeira vez, brilhavam — em

sua voz há uma leve, mas bem leve ironia, como se desconfiasse de
algo.

— Deve ser por causa da Alisa, ela curou afinal — tento mudar
o foco dessa conversa.

— É, deve ser — diz como se no fundo não acreditasse, mas a

possível mentira me conforta —, fato é que, o que quer que tenha


dito a ele naquele escritório, o fez ficar muito irritado, mas o estado
da filha fez sua culpa e consciência bater mais forte. No início ele

não queria te chamar, mas percebeu que isso seria o melhor


caminho.

— Fiquei bastante preocupada com a minha princesa, mas não

ficaria se não fosse a nossa conversa. Enfim... acho que está tudo
bem agora.
— E espero que fique assim. A sua chegada nesta casa está

fazendo mudanças no patrão, aos pouquinhos, mas está e isso é o


que me deixa mais feliz. Ele parece ter sofrido muito na vida, se

fechou para o resto dela. Aqui, o servindo, o acompanhando,


sempre torci para que isso mudasse.

— Quero que ele mude, mas por si mesmo e, principalmente


pela filha, que merece um pai mais atencioso. Não era a minha

intenção interferir nisso, mas já que está acontecendo, que seja —


digo, contente.

— E saiba que tem meu total apoio. O bem sempre deve ser

apoiado — dona Isabel sorri e ganha o meu abraço.

— Muito obrigada — falo com emoção —, agora preciso tomar

um banho.

— Outro? Não tomou quando saiu?

— Ah... é... que estou me sentindo um pouquinho... suada —


sorrio, sem graça.

— Ah sim — a mulher estranha.

Corro para o andar de cima e tranco-me em meu quarto,


jogando-me na cama, lembrando dele, só dele. Retiro a calça e por

último a calcinha, olhando o estrago, toda babada. Olho a minha


intimidade, me descobrindo, estudando as minhas reações corporais
e querendo Alejandro aqui comigo.

Debaixo do chuveiro, pergunto-me mentalmente como será


daqui para frente. Realmente não sei o que esperar e depois do

episódio da febre emocional da Alisa, não posso simplesmente


sumir outra vez, ela não aguentará um golpe atrás do outro. Por
outro lado, tem a minha casa que quase foi invadida por estranhos.

Quem eram eles? Preciso descobrir, mas preciso de ajuda e


segurança também.

Estou com medo de voltar lá, pelo menos sozinha. Mas não

posso abandonar a minha casa e simplesmente me mudar para esta


cobertura. Apesar de estar praticamente morando aqui todo este
tempo, Alejandro ainda é uma incógnita em muitos sentidos, não o

conheço e confesso que tenho um pouco de receio em conhecer. O


homem é misterioso, profundo, poderoso, intimidador e ao mesmo

tempo sentimental, quebrado, alguém que precisa de ajuda.

Pela primeira vez ele quebrou a sua barreira fria, forte e gélida
que o separava das outras pessoas, se tornando vulnerável diante
de mim, se abrindo, pondo pra fora um pouco de si, um pouco do

que é, emocionando-me, chamando-me para mais perto dele. Agora


ele me atrai muito mais do que antes e não sei explicar. Foi tão lindo
vê-lo realmente dando os primeiros passos para a mudança,
banhando a pequena, deixando-a na escola.

Tenho medo de Alejandro Javier se tornar o homem perfeito


que sempre sonhei e me deixar completamente obcecada.

Após esfriar um pouco a mente e principalmente o corpo,

retorno para o andar de baixo, onde dona Isabel me avisa:

— Está subindo um entregador aí, está vindo deixar algo para


você — avisa, se afastando em seguida.

— Para mim? Mas... dona Isabel! — Ela some de vista, me

deixando no vácuo. Sigo até o elevador que se abre e aparece um


rapaz uniformizado, procurando por Mina Pacheco — Sim, sou eu

— digo, pegando a caixinha linda, preta, com um laço de cetim

vermelho. Assino o recibo e o homem vai embora.

Ponho o objeto sobre as pernas após sentar-me no sofá,

desfaço o laço e abro, encontrando um celular belíssimo e bem caro

na minha frente, com um bilhete do lado que diz:

Não fique chateada, é para nos comunicarmos. Espero que

goste.

Atte. Alejandro Javier.


Não consigo evitar um sorriso surgir entre os meus lábios.

Esse “não fique chateada” já mostra que ele está começando a me


conhecer, mas não o suficiente para saber que isso não foi uma boa

ideia, apesar de ser muito... muito encantador!! Não quero que ele

pense que sou do tipo aproveitadora, apesar de saber que já dei


provas suficientes do contrário disso. No mais, estou o devendo, vim

aqui justamente para pagar esta conta e não criar outras.

Olá, está aí?

A tela do aparelho acende com uma mensagem dele, seu

contato já está salvo, o que me deixa impressionada. Fico em


dúvida se o respondo ou não, respondê-lo já deixará claro que o

presente foi bem-vindo. Caminho de um lado a outro, mirando o

celular.

Por favor, responda.

Suspiro, observando a sua educação. Quem diria que ele


falaria “por favor” algum dia.

Oi, doutor. Estou aqui.

Respondo, sentindo o peito acelerar.

Gostou do presente?
Já sabe a resposta.

Não se chateie, não podemos ficar sem contato. Tem a

Alisa e também tem o meu problema.

Penso um pouco no que responder e então o faço:

Compreendo, mas avisei ao senhor que iria levar o meu

para o conserto. Não iria demorar muito.

Passa-se alguns minutos até ele replicar:

Não quero que saia de casa desacompanhada. Na verdade,

não quero que saia hoje, a não ser com Diogo para buscar a

Alisa. Estou preocupado com aqueles homens na sua porta,

coisa que ainda precisamos conversar.

Fico palpitando quando noto que está se importando comigo.

Não precisa se preocupar com aquilo. Darei um jeito de

resolver.

Não sei se é o certo deixá-lo se envolver. Não sei o que é mais


certo e errado agora depois daqueles beijos. Estou confusa sobre

nós dois. Alejandro demora a responder, tanto que fico ansiosa.


Já estou resolvendo, contatei a polícia. Eles chegarão aí

mais tarde para tomar seu depoimento e formalizar a denúncia.

O QUÊ?? Ah, Deus! Fico receosa em envolver a polícia, meu

pai se envolvia com gente pesada, não sei quem possa ser, mas sei
que é o certo a se fazer. Respiro fundo e digito:

Isso era responsabilidade minha, doutor. Eu poderia

resolver. Não quero que perca o seu tempo comigo.

Só perco o meu tempo com o que vale a pena. Só quero

ajudar, deixe-me fazer isso.

Fico chocada. Eu valho a pena? Sorrio outra vez, suspirando,


porém não consigo mais responder. Apesar das últimas amostras da

parte dele de que é possível mudar, tudo ainda é muito recente e

está acontecendo bastante rápido. Tento lembrar do início, de


quando Alejandro me fez aquela proposta indecente, mas minha

mente só se liga ao presente.

Algum tempo depois, antes da hora de buscar a Alisa, dois


policiais chegam, preocupando a governanta, que me olha

assustada e indaga aos sussurros:

— O que eles querem aqui?


— Conversarem comigo, depois lhe conto tudo — digo, ela

entende e se retira — Boa tarde, podem entrar — os cumprimentos,

caminhamos pelo hall até a sala de estar.

Sento defronte para os investigadores e, numa conversa

breve, conto-lhes o que houve.

— Certo. Só isso, nada mais a declarar? — indaga um deles,

fazendo anotações em um bloquinho.

— Só isso, é o que me lembro.

— A senhorita disse que eles tinham um sotaque...

— Turco — completo.

— Desconfia de quem possa ser em específico?

— Em específico não. Como eu disse, meu pai faliu por dever

a muita gente.

— Vamos à sua casa investigar, qualquer coisa entraremos em

contato — se ergue com o outro.

— Tudo bem — os acompanho até o elevador.

Respiro fundo, fechando os olhos. Ao me virar, dona Isabel

está a poucos metros, curiosa. Seguimos para a cozinha, onde,


sentadas à mesa e acompanhadas de um suco, conto-lhe tudo:
— Oh, Cristo! Mas que coisa! E seu Alejandro? Brigando? Isso

explica o machucado perto do olho — afirma, raciocinando e


preocupada.

— Agradeço-o pelo que fez e está fazendo, mas... não quero

que tome as minhas responsabilidades — confesso.

— Você já está lutando sozinha há muito tempo, senhorita. Às

vezes dividir a carga um pouquinho faz bem, te deixa mais leve.


Além disso, tenho certeza que o patrão está com as melhores das

intenções. Ele, apesar de frio, tem um bom coração.

— Eu sei... — abaixo o rosto, sorrindo —, ele já me provou


isso algumas vezes — lembro dele, querendo estar perto, mas

acordo dos devaneios ao perceber a governanta me observando

com um sorriso —, ah... está na hora de buscar a pequena! Deixe-


me ir!

E fujo da cozinha o quanto antes! Dona Isabel é uma senhora

muito respeitadora e compreensiva, ela sabe que ganhei um celular,


mas não perguntou de quem. Sabe que algo a mais aconteceu para

fazer Alejandro mudar, mas não insistiu em descobrir como. Sinto

que capta as coisas no ar, mas se mantêm discreta, assim como


Diogo, me deixando plenamente confortável, porém não menos
constrangida por imaginar o que podem pensar de mim.

Busco a Alisa na escola, que ainda está com a mesma magia


da manhã, me contando como hoje foi seu dia mais feliz por seu pai

tê-la levado. Ela pede para tomarmos sorvete, mas não permito,

seguimos direto para casa como o chefe pediu, não quero contrariá-
lo agora e ele tem razão, posso estar em perigo.

A cada hora do dia que passa, fico mais ansiosa por sua

chegada à noite. Fico me perguntando como será, se ele me


chamará para conversar como da vez em que pecamos no sofá.

Lembro que agi de forma totalmente contrária ao que disse a ele

naquele dia, quando pedi que esquecesse, que fingíssemos que


nada aconteceu em prol da princesa e da nossa convivência aqui

neste apartamento.

Por que o ser humano tem que ser assim? Sempre


prometendo coisas que não vai cumprir.

Porém, agora é diferente, nós dois estamos agindo diferente, é

como se uma força nos puxasse para mais perto um do outro. Foi
assim que aconteceu dentro do carro. Estou pensando no que dizer,
no que falar, mas nada vem à mente. Fico o dia inteiro com tudo
isso na cabeça, com o sabor do beijo de Alejandro na boca. Foi um
sonho, foi intenso e matador.

Faço todas as atividades com a Alisa, e quando a noite chega,


pego-me cacheando as minhas mechas em frente ao espelho —

algo que dá muito trabalho, ainda mais pela quantidade de cabelo


que tenho, ele é volumoso — preocupando-me com a aparência,

com o perfume, com o que visto. A roupa é simples, como todas as


outras, mas é a que tenho, um vestido de mangas longas que vai
até os joelhos, justo, que contorna bem as minhas curvas. Sempre

optei por roupas que me cobrem mais ao vir para cá.

Entro na sala de estar no instante em que Alisa corre para


abraçar o pai que aparece lindo pelo elevador. Seu olhar bate com o

meu me estremecendo por dentro.

— Papai, o senhor e a Mina vão dormir comigo hoje de novo?


— É a primeira coisa que ela pergunta, me deixando sem chão. A
sorte é que mais ninguém está por perto.

Alejandro esbugalha os olhos, sendo pego de surpresa, com a


mesma preocupação que a minha, e apenas lhe pede silêncio. A
pequena lembra que ninguém deve saber e põe as duas mãos na

boca, como se tivesse acabado de cometer um terrível pecado.


Ambos vêm juntos, de mãos dadas e param diante de mim. A mão
dele se ergue para cumprimentar a minha, o correspondo.

— Boa noite, doutor — digo, sentindo uma energia em nosso

toque. Ele assente e se vai para o quarto.

Mais tarde retorna para jantar conosco, como sempre, usando


um suéter preto que contorna bem os seus braços enormes, os

quais parecem pesados, e sei que são totalmente tatuados até o


peitoral inflado, largo e definido. Enquanto jantamos, após nos
olharmos diversas vezes enquanto a pequena tagarela alegremente,

recebo uma mensagem sua:

Quero que ponha a Alisa para dormir e depois venha


conversar comigo.

Fico com um frio na barriga, não gosto quando me dizem que

querem conversar comigo, sempre sinto que é algo ruim. Mas


agora, além disso, sinto que pode acontecer o que aconteceu mais

cedo, algo que me enche de certas expectativas.

Tudo bem.

Respondo e respiro fundo, tentando disfarçar diante da criança


e da governanta. Mais tarde, após finalmente fazer a Alisa dormir,
desligo a tevê, onde assistimos desenho animado. Aviso a seu pai
que ela dormiu, e ele responde:

Estou no terraço, te esperando.

Sigo para lá com o coração batendo forte, devagar, tomando


uma escadinha mais estreita no fim do corredor, passando por

portas duplas transparentes e encontrando um amplo rooftop, estilo


lounge, cercado por beirais de vidro, o piso todo em madeira, os
móveis em tons de cinza e branco, a piscina de luzes acesas, com

SPA, refletindo o azul entre as águas, defronte para a academia que


é composta por paredes de vidro e outras de tijolos aparentes.

Há grandes vasos com plantas em pontos estratégicos, há

também sofás, mesinhas, poltronas, pufes, um pequeno e


requintado bar. É um espaço completo que daria para fazer ótimas
festas, porém não acho que Alejandro seja este tipo de anfitrião. Ele

está do outro lado, com um copo na mão, de costas para mim,


encostado no guarda-corpo, mirando a grande Madri sob os seus
pés que brilha e que reluz abaixo do céu estrelado.

Aproximo-me devagar, em um misto de ansiedade, receio e


vontade, muita vontade. Ele sente a minha presença antes que eu o
alcance e se vira para me encarar charmoso, atrativo, perigoso,
enigmático, poderoso. Suspiro, um pouco nervosa, parando em sua

frente, perdendo todas as palavras.

— Aqui é lindo... ainda não conhecia — digo, minha voz quase


em sussurro.

Alejandro dá um gole no uísque, que deixa seu lábio inferior

molhado, cintilando levemente. O copo é posto sobre o beiral sem


que os seus globos deixem de me consumir, um passo em minha

direção é dado, as suas mãos resvalam outra vez pelos meus


ombros, unindo-se na nuca, por baixo do cabelo, e me puxando
para mais um beijo.

Sua carne tem o sabor do álcool, algumas notas complexas de

frutas secas que me ascendem, que me embevecem. O toque


começa lento, abissal, como se tivéssemos esperado por este

momento o dia inteiro, e agora sei que é verdade. Imaginei este


instante durante todas as horas até agora, e, como na primeira vez,
está sendo melhor do que pensei.

Uma de suas palmas escorrega por minhas costas, puxando o

meu corpo, que cola ao seu que é quente, ardente. Tenho que me
erguer um pouco na ponta dos pés para poder ficar proporcional ao

seu grande tamanho, sua estrutura corporal abarcando-me, os seus


músculos dominando os meus, os braços robustos me protegendo e
monopolizando.

Sua língua se enrosca na minha de modo fervente e molhado,

os nossos lábios se fundem conjugando e criando algo a mais,


maior e evoluindo. Quando perco o ar ao mesmo tempo que cravo
as minhas unhas em seus ombros largos, afasto um pouco o rosto,

abrindo os olhos, encontrando as suas pupilas famintas. Os seus


dentes aproveitam para morder meu lábio inferior, arrancando-me
um gemidinho que vem do fundo.

Isso o deixa ainda mais fatal, sinto o seu pênis crescendo,


tomando forma entre nós. Ele move o quadril para frente,
pressionando-o contra meu abdômen, fazendo-me arquejar

enquanto a ponta da sua língua lambe o meu queixo.


Instantaneamente jogo a cabeça para trás, permitindo que ele chupe
o meu pescoço com carinho, com desejo e deixando um rastro

fogoso, libidinoso.

As suas mãos juntas descem mais e apertam as minhas


nádegas em uníssono, o que me faz vibrar e soar o alarme

novamente em minha consciência, momento em que respiro mais


fundo, descompassadamente e nervosa, o impedindo, puxando as
suas palmas para cima, não permitindo que continue.
Seu semblante denuncia o desconforto com a minha atitude,
aquela coisa de querer mais e não poder, várias indagações

implícitas. Acaricio seu rosto.

— Não podemos fazer isso — murmuro, vendo-o fechar os


olhos e beijar a minha palma sensualmente, como se dissesse que
podemos sim —, somos de mundos diferentes. Não saberei

corresponder às suas expectativas e acho que o senhor não saberá


corresponder às minhas — sou sincera, as minhas palavras

chamam a sua atenção, há novas interrogações em suas


sobrancelhas franzidas.

O homem respira fundo, desgrudando os nossos corpos, e


quando nos afastamos sinto um vazio. Penso por segundos que ele

me deixará para trás, mas não, ele pega novamente seu copo e
captura minha mão, guiando-me até o sofá mais próximo, onde

sentamos lado a lado. Ele bebe o que sobrou do single malt, pega o
celular sob a mesinha de centro onde há uma espécie de lanterna
de luz amarela, um abajur lindo, iluminando o ambiente que, por

sinal, está um pouco escuro, perfeito para namorar.

O que quis dizer com não podermos corresponder às


nossas expectativas?
Suspiro, desviando o olhar dele.

— Tenho vergonha de falar — admito, mas Alejandro espera,

me fitando. Por fim tomo coragem e lhe envio uma mensagem:

O senhor quer apenas sexo, mas eu não.

Ele ergue as sobrancelhas, surpreso, mirando-me.

A imagem de mim naquele hotel não saiu da sua cabeça. A

primeira impressão é a que fica.

— Não é isso... quer dizer, tem isso também, mas... — paro de


falar quando o vejo digitar um novo texto.

Não tem vontade de transar comigo?

Fico sem palavras, abaixo a cabeça, morta de vergonha. Sinto


os seus dedos tocarem meu queixo, fazendo minha face encontrar
com a sua.

— Sim... — respondo, encorajada —, mas tenho medo do que


vem depois — confesso.

Ele pensa um pouco e responde dessa vez por sinais:

“O medo faz parte de tudo. Também tenho medo, mas quero

você”

Sorrio, me sentindo um pouco mais confortável e curiosa.


— Do que o senhor tem medo? — pergunto, ele responde:

“De não conseguir mais ficar sem você”

Isso é o suficiente para o meu coração palpitar. Ele vai me


enlouquecer. Os seus dedos delicadamente transpassam os meus

cachos, seu rosto se aproxima do meu, os narizes se tocando,


fazendo um beijinho de esquimó até que as nossas bocas se unem
novamente, de forma quente, viciante, me fazendo perder o ar. É

como se as nossas línguas fizessem sexo.

Alejandro se afasta um pouco, e bate a mão sobre a coxa


direita duas vezes, me chamando. Fico excitada, minha intimidade

pisca, mordo o lábio inferior seduzida e, lentamente monto nele,


encaixando os nossos corpos. Os nossos rostos se aproximam, as
nossas bocas buscam uma a outra com mais avidez, sinto seu

membro duro embaixo do meu centro pegando fogo e o volume sob


o jeans. É tão bom.

As suas mãos outra vez resvalam para a minha bunda e,

lentamente puxam o meu vestido para cima, desnudando a minha


pele. Automaticamente paro de beijá-lo, abrindo os olhos,
esperando pelo que vai fazer, meio tensa quando os seus dedos

longos passeiam por minha carne arredondada, aquecida,


apalpando com cuidado, sem pressa, com certo carinho, me
fazendo gemer baixinho enquanto meu queixo é mordiscado.

— Ooh — arfo, ele aperta mais forte pegando-me firme.

Quando ultrapassa as alças da calcinha, não consigo evitar e o

paro outra vez, vendo-o jogar a cabeça para trás e fechar os olhos,
como quem acertou o gol na trave, sem poder prosseguir.

— Doutor... — ele põe o indicador em meus lábios, negando

com a cabeça, consigo compreendê-lo —, Alejandro... tem mais


uma coisa que preciso contar.

O homem espera, fica curioso.

— Eu sou virgem — revelo, vendo a surpresa em sua face —,


então terá que ter paciência.

Por longos segundos, os seus globos me analisam, me


contemplam, tentam entender alguma coisa. Sou retirada do seu

colo, voltando a ficar do seu lado. Ele pega o celular e envia uma
mensagem:

Você nunca fez nada? Nada mesmo?

Não... o senhor foi até o meu primeiro beijo.


A minha resposta o deixa perplexo, é visível. Ele envia um
novo texto:

Fui o seu primeiro beijo?

Parece não acreditar.

— Aham — respondo em voz dessa vez.

Eu notei que você era pura, mas não imaginei que fosse

tanto.

— Isso é ruim? — bate um medo.

Alejandro acaricia meu rosto, negando com a cabeça, então


diz em gestos:

“Pelo contrário, é fantástico. Você só me surpreende cada dia


mais. Estou lisonjeado”

Sorrio, aliviada e encantada com as suas palavras. Apesar


dele não falar, é como se sua voz soasse em minha mente a cada

vez que se manifesta. Recebo uma nova mensagem:

Como uma jovem tão linda de 19 anos pode ser virgem no


mundo de hoje?

— Como sabe a minha idade? Não lembro de ter lhe contado


— digo, achando interessante.
Sei tudo sobre você. Acha que te contrataria como babá

da minha filha se não pesquisasse antes?

— Sério? — fico chocada — O que sabe sobre mim?

Só o que foi possível saber. Mas quero ouvir da sua boca,


quero te conhecer. Por que não me conta como chegou até

aqui?

— É uma história triste, o senhor não gostaria de saber —


abaixo os olhos, meu passado me afeta.

Quando estivermos sozinhos, quero que me trate como

um homem comum. Agora me conte, quero te ouvir

Respiro fundo, lembrando de anos atrás e então começo:

— Eu era uma garota rica da alta sociedade, tive uma vida

inteira de luxo, viajei muito, estudei, estava focando em ser bailarina


profissional. Minha família parecia sólida, os meus pais se amavam,
tudo era perfeito. Só que... por trás de toda aquela felicidade havia

algo ruim acontecendo. Meu pai, secretamente se afundava em


dívidas, viciado em jogos de azar frequentando cassinos
clandestinos de gente perigosa e poderosa.

“Ele tinha uma rede de hotéis, e foi perdendo um a um com o


tempo, usando as economias para pagar dívidas, desfazendo
sociedades, pagando multas gigantescas por quebras de contrato...

enfim — suspiro, tentando não me abater como tantas vezes fiz—,


minha mãe e eu só descobrimos o fundo do poço quando ele um dia

bateu o carro e... morreu. Eu estava num espetáculo em um teatro


que poderia me dar grandes chances, mas... quando minha mãe
ligou, saí desesperada, correndo para o hospital deixando tudo para

trás. Foi quando te conheci — revelo”

“Eu lembro”

Alejandro afirma em gestos, sério, compadecido com a minha


história. Sinto os olhos arderem, mas seguro as lágrimas.

— Desde então... tudo ficou ainda pior. Perdemos nosso


apartamento, carro e todos os demais bens, até uma casa de praia
que minha mãe amava. Não sobrou um hotel, nada. O que sabemos

é que meu pai estava desesperado no trânsito, ele chegou ao limite,


ficou louco ao notar o que tinha feito. Desde então, tive que
aprender a lidar com o pouco, a valorizar o mínimo e... garanto que

não foi nada fácil no começo. Tudo ficou ainda pior porque a partida
do meu pai arrasou com o psicológico da minha mãe, fazendo-a
encontrar saída no álcool.
Não consigo mais aguentar, o pranto vem silencioso, doloroso
e pesado. A mente recordando tantos momentos difíceis. Suspiro e
continuo

— Tive que aprender a ser a mãe da minha mãe, tive que abrir
mão dos meus sonhos, aprender a trabalhar duro como diarista,
como assistente da minha antiga professora de balé... mas

consegui. Foi duro, foi complicado... o estopim aconteceu quando


minha mãe gastou o aluguel com bebida e... foi quando te
reencontrei. O senhor me salvou... quando cheguei naquele quarto
já tinha sido muito humilhada, me sentia miserável... — perco a voz

e Alejandro me abraça forte.

Seu toque me acolhe, me dá forças. Me sinto protegida,


amparada. Respiro fundo, sentindo seu perfume, fechando os olhos,

sonhando, tentando esquecer. Me afasto um pouco, encarando-o.

— Desculpe-me... não queria que me visse assim —


choramingo, a voz um pouco quebrada.

“Você está me ensinando bastante, me mostrando o quanto fui


tolo, e que temos coisas em comum. Você tocou o meu coração”

Ele aponta o indicador para o peito esquerdo na última palavra.


Isso é o suficiente para me fazer avançar na sua boca e beijá-lo até
perder os sentidos.
ALEJANDRO JAVIER

É muito difícil dormir após as horas que passei com Mina


Pacheco no terraço. Apesar de já ter desconfiado dos seus modos

puros e inocentes, ainda assim, ela conseguiu me chocar ao revelar


que fui o primeiro a beijá-la, que estou sendo o seu primeiro em
praticamente tudo.

Hoje meio que de maneira implícita, deixamos claro algumas

coisas, principalmente a de que queremos um ao outro, que nos


desejamos e nos buscamos carnalmente. Estou encantado, essa

cacheada parece uma caixa repleta de mistérios e de coisas boas,


que chamam a minha atenção e me atraem.
Rolo na cama, lembrando do seu perfume, da sua boca colada

na minha, da sensação de ter a sua bunda desnuda em cima de


mim. Uma pena não ter conseguido visualizá-la por completo. Mas

consegui tocar, a minha mão ainda anseia por mais disso, estar

perto dela me faz bem, e cada vez tenho mais vontade de me


afundar em seu corpo.

Com ela é diferente. Preciso ter calma, não posso agir como
um garoto ansioso e faminto, por mais que essa seja a minha

vontade. Com Mina preciso conter um pouco da selvageria a qual

estou acostumado na cama e pegar leve, ser delicado, pois ela é

virgem e isso traz uma responsabilidade enorme.

Virgem... inocente... guerreira... inteligente. Que mulher é


essa? Como posso lidar com ela? A sensação de ter sido o primeiro

a tocá-la me embevece, me deixa num looping mental, afaga o meu

ego, sim, isso é inevitável, pois está claro que fui escolhido por ela,

e agora a quero mais do que nunca. Não exatamente por ser

intocada, mas por todo o composto, por tudo o que é e que me

ensina sem perceber.

Na manhã seguinte, é difícil deixar a cobertura, tenho uma

reunião importante logo cedo e não consigo ficar para o café da

manhã como fiz ontem. Continuo na intenção de mudar como pai.


Após o último acontecimento com a Alisa, revi bastante os meus
atos até aqui, as coisas que fiz, as palavras que ouvi da morena.

Preciso saber equilibrar e dividir o meu tempo para poder ter mais

momentos com a minha princesa, e agora, também com a babá.

Sim, há uma vontade estranha me dominando, chamando para

ficar com ela, beijá-la, senti-la. Os nossos momentos juntos, seu

corpo esfregando no meu, as suas coxas me cercando, a sua


boceta quente pressionada contra o meu pau duro com apenas as

roupas nos separando, não saem da minha mente.

Na empresa, uso de muito esforço para focar no momento

presente, ouvindo o conselho falar sobre a festa de lançamento do

Bolt que será neste final de semana. O relógio está pronto para ser
mostrado ao mundo, a equipe de marketing já vem agitando a

sociedade para chamar todas as atenções. Nós decidimos tudo,

como serão as etapas do evento e os demais procedimentos além

dele.

Por fim, retorno com Joaquin para a minha sala, encontrando

vários documentos para assinar sobre a mesa. Enquanto os assino,


Joaquin se serve com um drink no meu balcão.
— Então o grande aniversário da Javier será este fim de

semana, onde faremos o lançamento do Bolt. Uuuh, estou ansioso!


Já decidiu quem vai levar? — Ele se senta diante de mim, cruzando

as pernas com classe, o glencairn na mão.

O fito erguendo uma sobrancelha, já vai começar.

— Quem será a donzela que estará ao lado de Alejandro no

baile anual da empresa? Será aquela por quem ele diz estar
atraído? Ou será que vai sozinho como faz há seis anos?

Reviro os globos, entediado com seu bom humor. Joaquin


Hayser dá um gole e continua a tagarelar, lembrando até Mina:

— Bem, sei apenas de mim, que estarei acompanhado —

afirma, chamando a minha atenção —, sim, conheci uma moça


recentemente. Ela é interessante e não quero ir sozinho.

Escrevo rapidamente em meu bloquinho, mostrando a ele:

Não esqueça que estará lá a trabalho, como sempre.

— Não se preocupe, meu caro, sei me dividir muito bem entre


o trabalho e o prazer — sorri sarcástico —, então, quer continuar

aquele assunto sobre a moça por quem está atraído, mas...

Nego rapidamente, o ignorando e voltando a trabalhar. Joaquin


vai embora, então os meus pensamentos retornam para Mina com
toda a maior força possível. Pego o celular e lhe envio uma

mensagem:

Que tal almoçarmos juntos hoje? Você, a Alisa e eu?

Alguns minutos depois vem a resposta:

Acho uma ótima ideia. Ela vai adorar.

Envio um novo texto:

Só ela?

Espero até a nova mensagem chegar:

Eu também.

Fico contente com a resposta. Digo que Diogo vai levá-las ao


restaurante escolhido por mim e fica tudo certo. Na hora do almoço,

o motorista me deixa lá e depois vai busca-las. Não demora muito


até que as duas entrem pelas portas do estabelecimento, a Alisa
ainda com a roupa da escola corre para me abraçar, já adorando a

novidade.

— Que legal papai, nós só almoçávamos juntos no fim de


semana!

Digo em gestos que agora vamos mudar isso.


— Boa tarde, doutor — Mina sorri, estendendo a mão que
aperto com carinho, assentindo com a cabeça, lhe correspondendo
e gostando de estar em sua presença outra vez.

As duas se sentam, cada uma de um lado, me deixando entre

elas. Estamos em um dos restaurantes de alto padrão que adoro


frequentar. As moças têm postura à mesa, percebo que minha
pequena observa a babá, imitando-a na forma de se portar como se

tivessem treinado. Nos entreolhamos, fico satisfeito com a educação


que a Alisa está recebendo.

“Como foi a aula hoje? ”

Pergunto em sinais.

— Ah, foi bem chato, há algumas meninas me irritando! —


Confessa a Alisa, fazendo bico. Fito Mina, que já parece saber o

que está acontecendo.

— Explique direito ao seu pai o que está acontecendo, meu


amor — pede a morena.

— É que teremos que falar dos nossos pais, das suas


profissões, mas para isso teremos que levá-los à escola e, elas

estão dizendo que o senhor não vai, porque nunca o viram por lá
nas reuniões de pais e mestres! Mas eu disse a elas que o senhor
foi me levar ontem a escola, só que não acreditaram!

Reflito sobre a questão, realmente é verdade, nunca fui a


reuniões escolares da minha filha, sempre mandei outros em meu

lugar até porque, me sinto desconfortável quando estou com muitas


pessoas ao meu redor, quando fico exposto. Tudo isso me deixa

ansioso.

— O senhor vai, não vai, papai? — É um pedido. Não sei o


que responder. Olho para Mina que entende a minha situação e

intervém.

— Alisa, vamos falar sobre isso depois, agora é hora de comer.


Além disso, essa apresentação só irá acontecer no próximo mês e

seu pai terá tempo para pensar e se organizar.

— Tudo bem — ela não fica muito satisfeita, mas não posso

garantir nada agora, vai além do que simplesmente achar tempo.

Fico mais aliviado, agradeço através da minha feição facial à


morena e acaricio os cabelos da pequena. Aviso por mensagem que

já pedi o que quero comer e digo para elas escolherem os seus

pratos. Em seguida pergunto à Alisa quais são os planos das duas


para hoje.
— Hoje haverá aula de música com o professor Lorenzo, que é

apaixonado pela professora Mina — dispara, sorrindo travessa, me


deixando em alerta. Fito a cacheada indagador.

— Ah, que bobagem, Alisa, isso não é verdade! — Mina fica


totalmente sem jeito.

— É sim, ele até já a convidou para sair que eu escutei!

As minhas sobrancelhas arqueiam, fico impressionado. Como

assim??

— Ele nos convidou para sair, mocinha — corrige —, na

verdade, para ir a um passeio no sábado à noite, talvez um cinema.

Nada demais — afirma me olhando, mas não fico convencido. Que

professorzinho mais descarado!

— Ah, eu adoro o cinema!! Tia Luna sempre me levava!!

Podemos ir, papai? Podemos?! — fica empolgada com a ideia, mas


eu não. Nego na hora, sem pensar duas vezes — Ah, papai, por

quê?

— Será um passeio de amigos, doutor. O professor Lorenzo é


muito simpático — Mina está tentando mesmo me convencer disso?

Ela o chamou de simpático? Que patético!


A olho seriamente, já até conversamos sobre não ficar dando

sopa na rua depois que aqueles homens tentaram invadir a sua

casa, mas parece que está esquecendo disso. Permaneço sem me


manifestar, e elas entendem que a resposta continua sendo

negativa. Mina, porém, não deixa o clima chato reinar na mesa e

puxa assunto:

— Alisa, por que não mostra ao seu pai as novas palavras

francesas que aprendeu?

Isso faz o ar ficar mais leve, a pequena volta a se distrair,

esquecendo das negativas que lhe dei uma seguida da outra e se

enche de alegria quando a aplaudo a cada vez que a sua boquinha

de anjo profere as palavras em francês me encantando. Assim, nos


divertimos até sermos servidos. Fico impressionado em como a

morena sempre tem uma carta na manga para lidar com minha filha

e saber mudar seu humor da água pro vinho.

Em um momento, ao receber seu lindo sorriso, descanso a

mão sobre o seu joelho debaixo da mesa, sem maldade. Surpresa,

ela discretamente me corresponde, pousando sua palma sobre a


minha e apertando com afago. Temos vontade de nos tocar,

queremos nos pegar aqui e agora, mas não podemos.


Após um almoço maravilhoso, com sutileza e alegria, nos

preparamos para irmos embora. O garçom me traz a conta e a


máquina do cartão. Enquanto pago, uma senhora um tanto quanto

perua, exagerada em seu estilo caro e cheio de acessórios, para

diante de Mina, mirando-a:

— Você... aqui? — Em sua voz há desdém, o que me chama a

atenção.

— Dona Lorena — a babá está visivelmente desagradada com

a presença da mulher.

— O que está fazendo, Mina? Achei que nunca mais a veria

em restaurantes desse nível — sinto o seu sarcasmo.

— Ela está comigo, é a minha babá — afirma a Alisa, inocente


e sorrindo orgulhosa.

— O quê? — A mulher gargalha, jogando a cabeça para trás


— De bailarina a diarista, e de diarista a babá? É... de alguma forma

tem que sobreviver, garota. Viver na sarjeta não deve ser fácil.

Mas que mulher petulante! Abro a boca com vontade de


defender a Mina, mas a voz não sai, porém a dela sim:

— Jamais vivi na sarjeta, porque sempre tive coragem para


trabalhar, diferente da senhora que vive às custas do marido e acha
que é importante — rebate, a língua afiada. Alisa fica perplexa, mas

eu gosto.

— Ora, sua desaforada! Se arrependimento matasse eu já


estaria morta! Nunca deveria tê-la contratado! — Ela se volta para

mim, amarga — O senhor é o patrão dela? Cuidado viu, muito

cuidado. Essa fedelha não vale nada! Nem ela e nem a mãe!

— Eu exijo respeito! — Mina se ergue, alteando a voz. Levanto

também, notando a situação sair do controle, todos nos olhando —

Quem não vale nada é... — Ela mira a Alisa e a mim, se calando —,
não vou falar o que você merece ouvir em respeito ao meu chefe e à

menina. Mas nunca mais se dirija a mim dessa forma, porque da

próxima vez não serei tão compassiva.

A senhora fica de olhos esbugalhado e se afasta. Mina fica

totalmente constrangida, desestruturada. Olha-me com vergonha e

murmura:

— Desculpe..., já podemos ir? — pede, eu assinto.

Saímos do restaurante, mas não sem antes eu deixar um

bilhete ao gerente, afirmando o quanto me chocou o desrespeito

que minha convidada sofreu aqui. De volta ao carro, fico com

vontade de conversar com a morena, descobrir quem era aquela


mulher, mas agora não dá. Diogo me deixa na empresa e depois as

leva para casa.

Passo o resto do dia trabalhando, resolvendo tudo que tenho

para resolver, mas ainda ficam coisas para encerrar depois. Encho a

minha secretária de funções antes de ir embora e, finalmente


consigo chegar em casa, cansado e com vontade de tomar um

longo banho. Durante o jantar, noto que Mina ainda está afetada

com o que aconteceu mais cedo, ela já não irradia tanto quanto
costuma irradiar, está mais contida.

Marco com ela de nos encontrarmos outra vez no terraço,

esperar até a Alisa dormir é agoniante, fico ansioso, quero a morena


logo, mas consigo aguardar. Quando finalmente ficamos sozinhos, a

abraço acolhedor, sentindo seu perfume, adorando sua vaidade e

beleza, notando que está se cuidando quando vem me ver, assim


como me cuido também, pois quero ficar o mais apresentável

possível para ela.

Sentamos no sofá com ela abraçada a mim, a cabeça

repousando sobre meu ombro, coisa que até me faz pensar por um

instante em como estamos pegando intimidade rapidamente.

Pergunto-lhe quem era aquela senhora no restaurante, então Mina


me explica tudo:
— Ela se chama Lorena e dizia ser amiga da minha mãe
quando ainda tínhamos uma vida de luxo. Era a nossa vizinha, e

sempre tentava ficar próxima, sair para os mesmos lugares que

saíamos. Após a tragédia, quando precisei de emprego, de todas as


coisas que ela podia me oferecer, apenas me encaixou como sua

diarista e também de suas amigas. Com o tempo, fui percebendo

que ela gostava de me maltratar, de me ver limpando seu


apartamento, coisa que só provou que sempre teve inveja da minha

mãe, da minha família. Mas isso tudo acabou quando não suportei

mais e falei o que não devia, nós brigamos, ela não só me demitiu,

como extinguiu qualquer possibilidade para eu trabalhar para outra


dona da alta sociedade.

“Mas de certa forma foi bom, me fez abrir os olhos, sua


verdadeira face e tal experiência me deixou mais esperta em

relação ao caráter das pessoas. Há sempre gente querendo fazer o


mal gratuito por aí, não consigo entender isso. ”

Ela tem razão, sei muito bem o que é estar sob a maldade de
outras pessoas. Beijo sua cabeça, acariciando seu rosto
simultaneamente. Mina ergue a face rumo à minha e começa a me

beijar deliciosamente. É sublime, perfeito e gostoso demais. A coisa


vai esquentando, o ar se tornando fervente ao nosso redor.
Novamente não consigo controlar a minha mão boba que apalpa
seu seio direito com gosto, com vontade, fazendo-a gemer e me
segurar, abrindo os olhos.

Paro, respirando fundo, sentindo o seu perfume. Pego o celular

e digito em sua frente:

Como foi a aula com o professorzinho?

A jovem ri, se divertindo.

— Foi ótima — diz — Alisa gosta muito do Lorenzo. Aliás, ele

reiterou o convite de sábado. Por que você negou? Se foi por


preocupação comigo, pode ficar tranquilo, Diogo pode nos

acompanhar, ou...

Mordo o seu lábio inferior, calando-a. Será que ela não


percebe que esse Lorenzo está querendo um motivo para lhe dar o
bote? Só que não vou permitir. Digito uma nova mensagem em sua

frente:

Não deixei porque sábado você já tem compromisso.

— É mesmo? Qual que ainda não estou sabendo? — fica

curiosa.

Você será a minha acompanhante no baile de aniversário


da Javier.
— O quê? Está falando sério? — fica perplexa. Assinto com a
cabeça — O senhor quer nos expor? O que todos irão pensar?

Não irei expor nada, apenas quero que me acompanhe.

— Mas é claro que irão pensar besteira — ela até se desgruda


de mim, atenta. —, e se sair alguma foto da gente? Não, não posso
aceitar.

Entorto as sobrancelhas, nunca recebi tanto não de uma


mesma mulher. Mina já bateu o recorde.

Dessa vez não aceitarei um não como resposta.

— Você não sabe o que está falando — afirma, cabisbaixa

mirando o nada. Ela nem nota que ora se refere a mim como você e
outrora como senhor —, acho que há certos limites que não
devemos ultrapassar.

Digito um novo texto para que leia:

E se eu não quiser limites?

— Então vai ficar muito difícil resistir — ela volta a me dar


atenção, acariciando o meu rosto. Adoro isso.

Tem tanto medo assim que eu quebre o seu coração?


— É que você não faz muito o estilo jardineiro — sorri, me
deixando confuso. Como assim jardineiro? — É uma longa história,

não se importe com isso.

Puxo-a para mim e lhe dou um longo beijo, saboreando seu


gosto, misturando as nossas carnes e me satisfazendo. Depois

digito uma nova mensagem:

No sábado, durante o dia levarei a Alisa para dormir com


os meus pais. Eles estão me cobrando a presença dela há

muito tempo e não posso mais negar. Enquanto isso, Diogo


estará à sua disposição para levá-la aos locais que indicarei,
onde será preparada para o baile a noite.

— Como assim? Não quero que tenha gastos comigo! —


rebate o mesmo texto de sempre.

Reviro os olhos, suspirando, Mina insiste:

— É sério, não é frescura. É porque realmente não me sinto

bem com isso — argumenta. Então tenho uma ideia.

Vamos fazer o seguinte, todo gasto que eu fizer você ter


daqui por diante, será descontado do que está me devendo.

Pode ser?
— Hmmm, mas vai dar na mesma, o senhor estará gastando

de toda forma.

Mas eu quero gastar com você, e irei, ponto final.

— Não é bem assim, seu arrogante...

Não permito que ela continue, volto a beijá-la calando-a,

apertando-a entre os meus braços, sentindo seu corpo formoso e


quente contra o meu. Isso é maravilhoso! Tê-la comigo é fascinante.

Assim é a nossa semana, durante o dia afastados e durante a

noite entre bons amassos, que envolvem apenas beijos e as minhas


mãos bobas por todo o seu corpo. Toda vez que tento ultrapassar os
limites, Mina me para, mas isso não me aborrece, pelo menos não

por enquanto, só me dá mais gás para subjugá-la e possuí-la por


completo.

Sempre que temos oportunidades, estamos grudados um no

outro, tentando disfarçar nosso caso secreto das demais pessoas ao


nosso redor, porém sinto que a governanta, o motorista ou até
mesmo a Alisa pegam alguma coisa ali e aqui.

É engraçado, me traz uma sensação de aventura, de algo que


não vivi na adolescência, ou talvez durante toda a minha vida, uma
coisa de namoro escondido e até proibido, o que é bastante
excitante e estimulante.

A bailarina está me enlouquecendo, me faz pensar nela o dia

todo, imaginar sacanagens irrefreáveis e infinitas. Ela está se


tornando o meu objetivo, meu foco total, e tê-la todinha para mim
está, pouco a pouco se tornando uma obsessão.

No sábado, perto da hora do almoço, antes de sair com a Alisa

rumo à casa dos meus pais, decido correr perigo e visitar o quarto
da babá. Ela mal abre a porta e eu entro como um trovão,

agarrando-a, fechando a porta e pressionando-a contra a parede,


erguendo-a do chão, resvalando a mão para a sua bunda enquanto
minha boca toma a sua com necessidade, como se não fizéssemos

isso há tempos, quando na verdade fizemos na noite passada.

Mina ergue uma das coxas, enlaçando meu quadril, levanto a


outra, sustentando-a no meu colo, rebolando os quadris contra os
seus, esfregando os nossos centros, pressionando meu pau

pungente contra a sua bocetinha. Ela está outra vez de vestido, que
se ergue com a posição em que está desnudando as suas coxas

morenas, fogosas e deliciosas.


— Aaah... Alejandro... aqui não... alguém pode chegar —
geme, arfando ao mesmo tempo em que chupo o seu pescoço,

descendo, arrastando os dentes em seu ombro desnudo, feroz e


faminto.

Olho-a nos olhos, sabendo que está certa, desço ela, pondo-a
de volta no chão, louco para fodê-la fortemente! Não sei mais por

quanto tempo vou conseguir aguentar. Tento me recompor, mas


percebo que a cacheada não tira os olhos do volume formado entre

as minhas pernas. Ela admira, curiosa, vidrada.

Pego sua mão devagar e levo até o monte, fazendo-a me tocar


e apertar. É tão gostoso ter os seus dedos delicados contornando o
corpo da minha massa grossa e roliça que até chego a fechar os

olhos, arfando. Deixo-me levar pelo tesão, abro a braguilha, vendo


as bochechas da gostosa enrubescerem, um misto de medo e

vontade.

Ponho o mastro para fora e levo a sua mão para ele outra vez,
contornando-a em volta do corpo que pega fogo, a ponta babada do
pré-gozo. Miro Mina nos olhos, ela está bastante excitada, mas

também medrosa, beijo-a devagarinho, gostoso, fazendo-a se


mover para me masturbar. Ela segue o ensinado, sem tirar os olhos

de mim, me observando delirar pouco a pouco.


Nunca fui tocado com tanta maciez e inocência, com esse
rosto puro rodeado de luxúria me fitando, sem saber muito bem

como fazer, mas fazendo, conhecendo, descobrindo. Mordisco o


lábio inferior quando ela aperta mais forte, seguro seu pulso por um

instante, fazendo-a escorregar por meu pau com mais atitude, com
ainda mais força.

— Ooh... — Mina geme, me deixando louco, fazendo-me


chupar sua língua, sugando para dentro da minha boca. Deixo-a

agir, ela me masturba com mais intensidade, esticando até a base, o


grande saco se movendo.

Vibro ao sentir o gozo chegando. Mas como assim? Tão

rápido? Não pode ser, eu costumo demorar bastante. Só que está


surreal, apesar de já ter vivido isso antes, é diferente. Com ela está
sendo bem diferente, gostoso além do comum.

Toc, toc, toc!

— Mina?! — Ouvimos a voz da governanta do outro lado da


porta, que nos assusta imensamente, principalmente a babá que me

joga para bem longe como se eu fosse um leproso.

— OI! — Ela grita nervosa, sem saber o que fazer, tentando se


recompor, parecendo que vai ter um ataque. Peço-lhe calma com as
mãos, tentando apaziguá-la, com o pênis balançando fora da calça.

Olho ao redor e sigo para o banheiro, onde me escondo,


dando sinal para que ela abra a porta.

— Mina? — Isabel está desconfiada.

— Oi, dona Isabel!! A senhora por aqui?! — Ela é uma

péssima atriz.

— Por que está gritando?

— Eu, estou gritando?! — fala alto mais uma vez. Louca.

— Está sim — confirma Isabel. Meu Deus.

— Ah... não sei, desculpe — abaixa o volume, sorrindo


amarelo.

— Sabe onde está o doutor Alejandro? Alisa está o esperando

lá embaixo e...

— Ele não está aqui! — dispara, nervosa, fazendo-me fechar


os olhos. Vai entregar tudo.

— Hmm... certo — estranha —, mas sabe se ele saiu? Bati a

sua porta e não atendeu.

— Não, não sei nada dele, nada! Nem o vi hoje!

— Tudo bem, calma, garota...


— Estou calma, calmíssima. A senhora não acha?

Dessa vez não aguento, tenho que sorrir, me segurando para


não gargalhar enquanto guardo meu amigo de volta na cueca e

fecho a calça. As minhas bolas estão doendo com o gozo


interrompido.

— Vou descer, acho que você não está bem — se despede,

partindo.

Mina fecha a porta e deixa o ar sair de seus pulmões com


força, se aliviando. Saio do banheiro sorrindo de orelha a orelha
para ela, vendo-a se jogar na cama com as mãos na cabeça,

chocada. Ela me fita sem acreditar e dispara:

— E o senhor ainda ri?! — indaga indignada, mas... a sua


expressão muda da água pro vinho de repente — O senhor está

rindo... — diz como se não pudesse acreditar. Volto a ficar sério, seu
comentário me deixa tímido —, o senhor pode sorrir... o seu sorriso
é lindo — levanta e se aproxima, impressionada como se houvesse

acontecido um milagre.

Engulo em seco, desconfortável. Pego o celular, digito e lhe


mostro a mensagem:
Vou deixar a pequena na casa dos meus pais. Diogo a
acompanhará aos locais combinados. Nos encontramos à

noite, na festa.

— Alejandro, espere... — antes que ela diga mais alguma


coisa, vou embora.

Encontro com minha filha me esperando na sala de estar, com

uma bolsa contendo todas as suas coisas. Seguimos para um dos


meus superesportivos, descemos pelo elevador e nos dirigimos até
a mansão dos Javier. Os meus pais de cara já demonstram o quanto

sentiram falta da neta, pois saem na porta da frente antes mesmo


que possamos descer do carro.

Alisa desce do automóvel e corre até eles gritando de

felicidade, os encontrando em um abraço duplo.

— Vovô! Vovó! Vovô! Vovó! Que saudade de vocês! — declara,


os apertando entre os bracinhos.

— Nós também estávamos morrendo de saudades, meu amor


— diz dona Alba, em seguida vem até mim e me abraça também,
cochichando em meu ouvido —, nunca mais faça isso! Nunca mais

se distancie de nós! Já te falei tantas vezes, porém nunca me


obedece.
Não me manifesto, não quero mais brigar com eles. Não vim

para isso.

— A senhorita irá dormir conosco, não vai? — Indaga o senhor


Miguel, olhando para ela e em seguida para mim.

— Sim!! O papai deixou, vovô! — exclama, enquanto meu pai

a pega no colo, enchendo-a de beijos. Logo minha mãe a toma e as


duas juntas entram em casa.

Aproximo-me do meu pai e lhe ofereço a mão para

cumprimentá-lo. Ele me olha por alguns instantes, puxa-me e me


abraça, demonstrando o quanto estava com saudades.

— Seu turrão frio, filho da mãe! — reclama, enquanto o

correspondo no toque — Precisava de todo este castigo só por


causa daquilo? Nós erramos sim, mas não somos crianças para
você nos castigar.

O miro um pouco contrariado, mas decido continuar inerte.

— Vamos entrar. Quero que me conte como anda a empresa e


fale sobre o lançamento de hoje.

Minutos mais tarde estamos todos em volta da mesa,

almoçando. “Pergunto” por Luna, e mamãe responde:


— Ela chegou tarde ontem, ainda está dormindo — afirma,

desagradada. Isso me desagrada também.

— Ela continua difícil, mas ainda tenho fé que encontrará seu


rumo na vida — fala papai.

— E você querido, levará alguém para o baile este ano? —


Dona Alba me alfineta, ela sonha com isso.

Suspiro, fazendo careta. Seu Miguel rir.

— Não adianta se chatear, filho. Sua mãe nunca vai desistir de

vê-lo apaixonado outra vez.

— Eu queria que o papai se apaixonasse pela Mina — dispara


a Alisa, me deixando automaticamente tenso. Droga. Mas o quê???

— Mina? Quem é? — Mamãe sorri, esperançosa. Ah não!

— É a minha nova babá, vovó. A senhora vai adorar conhecê-


la!

— Aaah, acho que Luna já comentou por aqui o quanto a

achou graciosa.

— Ela é incrível! É também a minha professora de balé.

— Ela faz balé?

— Aham, e é perfeita, papai a viu dançando!


— Sério, filho? Uau... me conte mais sobre ela.

Fuzilo as duas, pedindo implicitamente para que se calem e


mudem de assunto.

— Querida, não está vendo que se continuar com isso,


Alejandro vai explodir? Sabe que ele não gosta de falar sobre estas
coisas, ainda mais na frente da menina.

— Por quê? — Indaga Alisa, confusa.

— Por nada, meu amor. Depois teremos um diálogo só nós

duas — afirma dona Alba, cheia de segundas intenções.

As horas passam e fico com eles mais do que o esperado, o


que é motivo de alegria para ambos, pois adoram a minha
companhia e também adoro a deles. Aproveito para saber como

estão de saúde e como levam o dia-a-dia. Converso com papai em


seu escritório, sobre negócios, pondo-o a par de tudo, quando
finalmente chega a hora de ir, capturo a Alisa para um canto isolado
e lhe digo:

— Não esqueça do que combinamos. Nada de falar a vovó ou


a qualquer um aqui o que não pode falar, entendeu? — murmuro,
ela assente.
— Tudo bem, papai, não quebrei a nossa promessa — sorri e
me abraça, se despedindo.

Retorno para o carro, envio uma mensagem para Mina:

Como está o seu dia? Dando tudo certo?

Só vejo sua resposta quando chego na empresa, onde adianto


o serviço que ficou do dia anterior:

Está tudo perfeito. Obrigada por isso.

Fico satisfeito por saber que ela está contente. Mando um

novo texto:

Nos encontramos a noite. Beijos.

Leio a mensagem antes de enviar, apagando o “beijos” e


envio. Trabalho até o escurecer e enfim sigo de volta para a
cobertura, onde começo a me arrumar para o evento. Visto um
smoking preto com gravata borboleta, camisa branca por dentro,

sapatos italianos, o Bolt no pulso, uma pomada fixadora nos cabelos


penteados para trás, perfume e pronto.

Dirijo para o teatro onde está acontecendo o quadragésimo


aniversário da Javier. Sou tomado por holofotes, paparazzi, muitos

flashes que faltam me cegar. Odeio isso, mas não estou imune.
Caminho pelo tapete vermelho, ultrapassando a euforia dos
repórteres da imprensa. Identifico-me aos seguranças e entro no
longo corredor desenhado pelo tapete vermelho.

A ornamentação está sublime, como sempre, de alto padrão e

magnânimo requinte, esbanjando luxo e riqueza por toda parte.


Surpreendo-me ao ver Joaquin ao lado de uma loira maravilhosa
com corpo de modelo, conversando com dois diretores da empresa,
ambos também acompanhados. Aproximo-me deles, sendo
cumprimentado com sorrisos e recebendo os olhares das moças.

— Chegou o dono da festa! — brinca Joaquin — Esta é


Concepcion, minha nova amiga — apresenta.

— Muito prazer — estende a mão, que aperto assentindo com


a cabeça. As mulheres dos outros dois eu já conheço.

— E novamente nenhuma mulher foi capaz de encantar o

chefe o suficiente para acompanhá-lo neste evento — comenta um


dos rapazes com bom humor, recebendo meu olhar irônico.

— Não pode ser... Um homem como você não iria passar esta

noite sozinho — comenta Concepcion, Joaquin lhe dá um olhar sério


imediato, catando algo no ar —, onde está a sua acompanhante?

Sinto vontade de me afastar deles, mas algo chama a minha

atenção. Ultrapassando as portas no início do corredor e vindo em


nossa direção, uma deusa estonteante em um vestido vermelho
luxuoso, de ombros lindamente descobertos, o cabelo alisado, longo

e perfeito, se aproxima. Mina Pacheco desfila tímida, capturando


todas as atenções. Ela está diferente, mais do que imaginei que
pudesse estar.

A maquiagem... a montagem... o requinte, tudo a deixou ainda


mais linda do que já é. Ela se tornou completamente uma mulher,
uma Afrodite entre as meras mortais. Os seus braços finos e
delicados da cor de canela, descobertos, compõem o movimento
celestial que faz ao desfilar pelo tapete, até parar e me buscar no
olhar, encontrando-me absolutamente enternecido, deslumbrado,

quase jogado aos seus pés.


MINA PACHECO

O almoço estava ótimo até a chegada da dona pavoa! Essa


mulher realmente gosta de humilhar as pessoas, mas comigo ela

não consegue fazer, não permito! Felizmente, consigo me controlar


a tempo e não caio no seu joguinho sujo, não me rebaixo ou faço
feio diante de Alejandro e Alisa.

Ainda assim fico bastante abalada com a situação, porém, à

noite, Alejandro marca um encontro comigo no terraço outra vez,


onde escuta e me consola com os seus beijos e carícias quentes. A

gente conversa, aos poucos sinto nossa intimidade aumentar. Noto


um leve incômodo dele a respeito de Lorenzo, então sou

surpreendida quando ele faz o convite para acompanhá-lo ao baile

da Javier, no sábado.
Tento negar, tento evitar que Alejandro faça mais gastos

comigo, mas não consigo, ele consegue me convencer mesmo


sendo arrogante e prepotente em alguns momentos, conseguindo

impor a sua vontade de maneira leve e firme, me fascinando!

Assim, os dias passam, e os momentos mais esperados por

mim são as noites, ondem sempre ficamos grudados um no outro.

Sem perceber, fico viciada neste homem, permitindo o seu toque


salientemente cada vez mais, coisa que atiça, que tira o meu

equilíbrio, mas os meus alertas sempre conseguem despertar antes

que ultrapassemos todos os limites.

Percebo que estou gostando dessa nossa adrenalina de

namorar escondido. Alejandro é intenso, sedutor e muito sensual.


Quando ele se aproxima, fico toda arrepiada, as suas caras e bocas

me excitam, me fazem querê-lo colado a mim, ele deixa a minha

parte íntima melada e ardente!

No sábado, perto do almoço, ele invade o meu quarto pela

primeira vez. Mal consigo falar quando sou jogada contra a parede e
as suas mãos me pegam com força. Nossos lábios se misturam com

avidez, necessidade e fome. Sou erguida em seu colo e sinto a

pressão que o seu pênis petrificado faz contra o meu centro.


Alejandro rebola os quadris, roçando e me fazendo gemer baixinho
dentro de sua boca.

— Aaah... Alejandro... aqui não... alguém pode chegar — arfo

ao mesmo tempo em que o meu pescoço é chupado e o ombro

mordido.

O homem para ofegante, me olhando nos olhos como um


animal feroz que precisa me ter, me possuir, e isso me deixa louca,

está cada dia mais difícil de resistir. Sou posta no chão, contudo, os

meus olhos não conseguem parar de fitar o monte formado na calça

dele. É sempre bem expressivo, dando a impressão de que rasgará

o tecido a qualquer instante.

Sinto curiosidade, tesão, receio e muita vontade. Quando


menos espero, Alejandro, como se lesse os meus pensamentos,

puxa a minha mão delicadamente até seu membro. Nos primeiros

instantes, fico bastante envergonhada, sem saber o que fazer,

vendo os meus dedos contornarem o desenho da coisa grossa,

longa e dura, muito dura.

Sou pega de surpresa ao perceber que estou gostando das

reações de Alejandro, que visivelmente delira ao meu toque,

fechando os olhos suspirando, mordendo o lábio inferior, excitado.


Ele decide ir mais longe e, simplesmente põe o pênis para fora da

calça. Fico chocada ao ver o quanto é realmente enorme e


intimidador, roliço e com as veias bem aparentes desenhando toda a

sua extensão até a cabeça rosada, redonda, pontuda e babada.

Não consigo me definir agora, é a primeira vez que estou

diante de um homem em tamanha intimidade. Por algum motivo, o


meu sexo pega fogo, a calcinha está ensopada. Sinto os meus seios

durinhos, os bicos entumecidos. Minha boca seca, pareço estar com


sede, com vontade de tocá-lo, de senti-lo e é o que acontece.

Alejandro me faz segurá-lo outra vez e agora a coisa muda


completamente de grau.

Seu membro está ardendo, queimando a minha mão e fica


ainda mais grosso e maior enquanto o masturbo. O homem me

ensina a tocá-lo, escorregar a palma pelo corpo robusto, vivo,


poderoso. É pesado e as suas bolas são proporcionais, também

imponentes e chamativas. Elas balançam a cada vez que vou e


volto sentindo o sangue correr pelas veias protuberantes.

O clima está fervoroso, surreal, sou beijada de forma gostosa,


observando meu chefe perder o controle, dando o poder para tirá-lo

do equilíbrio. Essa experiência é fantástica, jamais imaginada e aos


poucos crio independência, sigo firme, empolgada e querendo mais!
Gemo quando o meu lábio inferior é mordido, aperto-o com

mais atitude, fazendo-o vibrar, arfar, chego a pensar que vai emitir
algum som, quando ouvimos a dona Isabel bater na porta, fico

aterrorizada! Penso que vou cair dura no chão, o nervosismo me


tomando de jeito. Atendo a mulher já imaginando um milhão de

coisas negativas, temendo que descubra tudo e, como sempre,


acabo falando demasiadamente!

Mas por fim, ela vai embora e, para a minha mais sublime
surpresa, consigo arrancar um largo e belo sorriso do CEO. Fico

embevecida, o sorriso dele é simplesmente divino, reluzindo sua


beleza três vezes mais, muito melhor do que imaginei.

— O senhor está rindo... — nem mesmo posso acreditar. Ele,


se dá conta do que digo e volta a ficar sério, tímido —, o senhor

pode sorrir... o seu sorriso é lindo — me aproximo impressionada.

Mas Alejandro fica desconfortável, chega a engolir em seco,


me enviando uma mensagem:

Vou deixar a pequena na casa dos meus pais. Diogo a


acompanhará aos locais combinados. Nos encontramos à

noite, na festa.
— Alejandro, espere... — tento me desculpar ou entender o
que fiz para que fuja assim, mas não dá tempo, ele some de vista
em milésimos de segundos.

Sento-me na cama, suspirando, pensando nesta confusão de

sentimentos que acabei de viver, um atrás do outro mudando


desenfreadamente. Por fim, tomo um banho, observando o estrago
que Alejandro fez entre as minhas coxas, limpando tudo, trocando

de calcinha e encontrando com Diogo mais tarde no elevador para


carros.

— Boa tarde, Diogo. Como está? Tudo bem? — pergunto,

sentando-me no banco traseiro.

— Tudo bem, Mina, e com você? — Ele sorri de volta,

enquanto descemos.

— Estou muito bem, obrigada.

— Estou percebendo, a senhorita quando fica feliz chega a


brilhar — elogia.

— Sério? Obrigada — gargalho.

— Parece que hoje daremos um passeio, não é?

— Sim, ainda não sei para onde, mas você sabe.


— Ah, o doutor não lhe contou? Hoje a senhorita passará o dia
em um SPA.

— Sério? Que fantástico! Nossa, faz bastante tempo que não


visito um SPA, até parece que foi em outra vida — reflito, lembrando

de quando fazia isso com a minha mãe.

— A senhorita merece, está se doando de corpo e alma à


pequena Alisa — comenta, me deixando contente por perceber que

reconhece o meu esforço e quer o meu bem.

— Pare de me chamar de senhorita, Diogo! — repreendo —

Pode me chamar pelo nome, somos amigos.

— Ah, tudo bem, então.

— Mas concordo contigo, estas últimas semanas foram


exaustivas, o meu único descanso é na hora de dormir.

— Então aproveite, pois ainda haverá um baile para

comparecer esta noite.

— Ah, nem me lembre que fico com um frio imenso na barriga!

O Alejandro é... digo, o doutor Alejandro... ah, esqueça — fico um


pouco desconcertada por inicialmente ter me referido ao chefe de

modo mais íntimo da frente do motorista.


Troco olhares com ele pelo retrovisor por um instante, o

homem me analisa, pensando e então diz:

— Mina... está tudo bem. Como você mesma disse, somos

amigos. Sei que é uma boa menina, jamais irei te julgar — fala,
compassivo e cuidadoso, me deixando imensamente aliviada.

Suspiro, sorrindo:

— Nossa, Diogo, não sabe o quanto foi importante ouvir isso.

Muito obrigada mesmo. De coração — acaricio seu ombro, e assim

prosseguimos viagem.

Minutos mais tarde, chegamos a um prédio bem localizado em

Madri, onde sou recebida por profissionais que já sabem o meu

nome. O local é luxuoso, climatizado e bastante verde, com flores e


plantas por todos os lados, trazendo a sensação de paz. Há um

quarto enorme reservado para mim, onde tiro a roupa e ponho um

roupão, sendo guiada para a ala de gestão de stress.

Lá, fico em uma das salas, onde recebo tratamentos,

massagens e caminhos para aliviar a fadiga e cansaço mental. É

maravilhoso ficar deitada de bruços sobre uma cama enquanto a


massagista me leva a um relaxamento profundo, restaurando o
equilíbrio do meu corpo. Há uma música leve tocando, que me

permite ficar ainda mais em um estado de embevecimento.

Depois é hora de cuidar do rosto, iniciando os tratamentos


faciais com produtos de beleza excelentes. Mais tarde tem sauna e

por fim sigo para o salão de beleza, onde faço depilação corporal,

mãos, pés e cabelos. São três profissionais cuidando de mim ao


mesmo tempo. O cabeleireiro dá a ideia de alisar os cachos para

hoje à noite, para eu ficar com uma nova cara e surpreender:

— Você é linda e os seus cachos são os mais bonitos e

volumosos que eu já vi! Mas que tal darmos uma mudada para

hoje? Acho que se alisarmos, a senhorita ficará com uma cara nova

e irá surpreender — diz, as minhas costas, enquanto estou sentada


diante do espelho.

— Ah, não sei... gosto tanto dos meus cachos como são — fico
em dúvida.

— Não se preocupe, o procedimento não será definitivo, assim

que você molhar, volta tudo ao normal, mas se não quiser, tudo
bem.

Penso um pouco, imagino o que Alejandro poderá achar se me


ver tão diferente e me empolgo com a ideia.
— Tudo bem, vamos experimentar — sorrio, fazendo o homem

feliz. Ele tem um jeito afeminado que me encanta e me faz se sentir


em casa.

Quando, após horas chegamos ao fim, as minhas madeixas


antes onduladas se tornam verdadeiras mechas lisas e extensas. É

muito cabelo. Fico impressionada comigo mesma e gosto bastante

do resultado, nunca antes me vi assim, realmente pareço outra

pessoa.

Em seguida, sou encaminhada para a loja de vestidos, onde

com a ajuda da personal stylist, escolho um vestido vermelho longo


deslumbrante para vestir, que deixa meus ombros nus e possui uma

calda meio rodada simplesmente fascinante! A cor combina

perfeitamente com o meu tom moreno de pele, nele me sinto

poderosa, uma verdadeira mulher.

Alejandro manda mensagens, conversamos rapidamente e

então a profissional me guia para a maquiagem perfeita, acessórios


e saltos. Fico pronta depois do horário marcado. Assusto-me ao sair

do SPA e ver que já anoiteceu, o tempo passou voando lá dentro,

mas de uma maneira gostosa e positiva. Diogo vem solícito para

abrir a porta do automóvel, demonstrando estar impressionado ao


me ver.
— Minha nossa, Mina! Você está magnífica! — elogia

enquanto sorrio encantada.

— Muito obrigada!

— O doutor Alejandro com certeza não espera por tanta beleza

— comenta.

— Acha que irei surpreendê-lo? — pergunto contente.

— Oh, com certeza sim, ainda mais que a mim, pode acreditar.

Fico imaginando este momento, sentindo o coração bater mais

forte enquanto seguimos para o local do evento, um grande teatro


no centro da cidade. Antes mesmo de descer do carro, vejo a

quantidade de pessoas, a grandiosidade da festa que é cercada

pela imprensa.

— Minha nossa... quanta gente e quantas... câmeras — digo,

sentindo a mão tremer. —, não sei se conseguirei entrar — penso

alto.

— Vai sim. É só seguir em frente — afirma Diogo,

estacionando bem na entrada, saindo do carro e abrindo a porta

para mim.

Desço com cuidado, temendo por algum motivo, tropeçar e

cair. Recebo uma chuva de flahes descontrolados por todos os


lados, mas continuo caminhando, tentando me centralizar, com

vontade de encontrar Alejandro logo. Passo pelos seguranças após


ter meu nome confirmado na lista e sigo insegura pelo tapete

vermelho, caminhando entre convidados e sendo olhada por todos.

Estou me sentindo um peixinho fora d’água, até que, levanto o


olhar e encontro Alejandro Javier me fitando intensamente. Ele está

lindo, sob um smoking preto com gravata borboleta, ao lado de

algumas pessoas. Nos miramos por segundos que parecem ser


eternos, sorrio, feliz por encontrá-lo, vibrando por dentro, tendo mais

confiança ao notar que ele está gostando do que vê.

ALEJANDRO JAVIER

— Uau... quem é aquela? — pergunta Joaquin, encantado com

a beleza da minha donzela. Fito-o irônico e ele que já me conhece,

entende algo, principalmente quando, como estivesse sendo levado

por uma força magnética, sigo até Mina.

Paro em sua frente, contemplando-a mais de perto, fascinado

com tanta graça e especiosidade. Não paramos de nos mirar


diretamente, olhos nos olhos, como se fôssemos predestinados um

para o outro nesta noite. Ergo o antebraço, oferecendo-lhe a minha


companhia, a morena aceita enlaçando-se a mim. E seu toque, por
mais formal que seja, me esquenta inteiro por dentro.

Sinto seu perfume, um aroma que me tira do eixo e que agora


exige muito controle da minha parte para disfarçar e não demonstrar

o quanto quero beijá-la e arrastar a língua por sua garganta.

Assim, após a nossa linguagem corporal se comunicar e

afirmar que estamos prontos, damos os primeiros passos, seguindo

rumo às escadas, que nos levarão a um dos camarotes, passando

por Joaquin que imediatamente nos segue, chocado, mas não


conseguindo disfarçar a alegria por presenciar o feito histórico de

me ver outra vez com uma mulher, uma acompanhante.

A surpresa é tremenda, todos os funcionários, os diretores e

diretoras, as pessoas do meu dia-a-dia, não conseguem disfarçar o


choque. Reflito que isso, algum tempo atrás, faria com que eu fosse

embora imediatamente, me deixaria nervoso, ansioso, entretanto...


com Mina ao meu lado não sinto nada disso, pelo contrário, estou

confiante, absoluto, dando cada passo com certeza, sabendo o que


quero e onde devo chegar.

Subimos as escadas, Mina desfila perfeitamente bem ao meu


lado, mostrando intimidade com os saltos, com a postura de uma
dama, a finesse. Olho-a mais de uma vez enquanto andamos, e
pensando as mais intensas sacanagens, querendo agarrá-la a
qualquer momento, beijá-la e mergulhar no seu sabor.

Porém, controlo-me, aperto a mão dos sócios e conhecidos,

gente importante, até grandes políticos fazem parte da festa.


Joaquin fica atento, sempre ao meu lado, pronto para me interpretar,

mas evito conversas, evito me sentir impotente como sempre, ainda


mais em meio a tantas pessoas. Meu foco é chegar ao camarote e
não desgrudar da linda mulher que está do meu lado.

Mas nem tudo é como quero, infelizmente um grande amigo de

meu pai, um velho empresário conceituado na sociedade madrilena,


me para quando chegamos ao piso superior:

— Oh, Alejandro, que bom te ver! Quanto tempo! —

cumprimenta, apertamos as mãos. Ele se chama Delmar, está com


a sua esposa, a qual não lembro o nome. Tento continuar
caminhando, mas não é possível — Obrigado mais uma vez por nos

convidar para mais um lançamento da Javier, sabe que eu não


perderia por nada.

Assinto, sem me manifestar.


— Onde está seu pai? Não vai me dizer que o Miguel faltará
ao aniversário da empresa este ano.

Respondo em sinais e rapidamente Joaquin me traduz, falando

e chamando a atenção de Mina que até então não o tinha


percebido:

— Ele, como o senhor sabe, não está bem de saúde, por isso

ficou em casa, com mamãe e minha filha.

— Ah sim, a sua filha, lembro dela, aquela menininha radiante


— o senhor então enche os globos sobre Mina —, e quem é esta

beldade com você?

— Mina Pacheco, prazer — ela se apresenta, apertando a mão


dele, chamando a atenção de Joaquin que me olha, chocado, pois
sabe que se trata da bailarina que certo dia mandei pesquisar. Ele

nem mesmo desconfiou dela, em nenhum momento. Concepcion,


que está ao seu lado, também fica atenta a tudo e sinto o seu

interesse por mim. Coitada... por dois motivos, não estar valorizando
o grande homem que a acompanha, e porque não estou nem aí
para ela.

Delmar apresenta a esposa, que cumprimenta a mim e a Mina,

e vai mais longe:


— Nós nos conhecemos, querida? O que você faz?

— Ah, eu... eu... — ela fica sem palavras e me olha, pedindo

ajuda, sabemos que não é bom dizer que é a babá da Alisa. Tomo a
frente da situação e digo em símbolos que ela é bailarina, o que não
é uma mentira.

— Ela é bailarina — interpreta Joaquin.

— Aaaah, que maravilha! Adoro balé! A que companhia


pertence? — Já notei que é fofoqueira, mas não permito que
prossiga, ergo a mão, despedindo-me e puxo Mina delicadamente

para longe deles.

Suspiro, trocando olhares rápidos com a donzela, que também


parece aliviada por termos saído do que parecia se tornar uma

sinuca de bico. Sou discreto e a senhorita Pacheco notavelmente já


sabe disso. Não dou asas à cobra, e é assim que quero permanecer
esta noite.

Finalmente tomamos um corredor, passando por mais


seguranças, e chegamos ao nosso camarote. Joaquin, notando a
minha má educação já tão conhecida por ele, não consegue mais

esperar e se adianta:
— Prazer senhorita, me chamo Joaquin, sou o intérprete deste

lindo homem mal-educado que está ao seu lado.

— Ah... — ela sorri, se divertindo com a piada —, prazer, Mina


Pacheco.

— E eu sou Concepcion, prazer — se apresenta a mulher,

sinto falsidade nela ao apertar a mão de Mina.

— Prazer.

Um garçom surge nos oferecendo champanhe. Nego, Mina

também.

— Ah, mas o que é isso? Sério que não irão molhar a


garganta? — indaga Concepcion.

— Eu não bebo.

— Que pena, garota, não sabe o que está perdendo —


gargalha.

— Traga um Macallan para ele — ordena Joaquin ao garçom,

já sabendo dos meus gostos, enquanto toma a sua taça de


champanhe.

Mostro os nossos lugares para Mina, que ainda segurando a


minha mão, senta-se em sua poltrona, de frente para o guarda-

corpo. Sento-me ao seu lado, Joaquin e Concepcion também


ocupam os seus lugares. Lá em baixo, há várias pessoas, todos
preenchendo a arquibancada, enquanto no palco as luzes se
movimentam para o espetáculo.

Sinto a mão delicada da morena pousando sobre a minha,


momento em que viro o rosto para ela, embevecendo-me outra vez
com a sua imagem. Conversamos silenciosamente, no olhar. Lhe

acaricio de volta, entrelaçando os nossos dedos e querendo mais,


com vontade de beijá-la, de agarrá-la, mas devo me comportar, há
muitos olhares aqui e tudo que menos preciso é de um paparazzi

flagrando algum ato obsceno.

O garçom retorna, trazendo minha bebida, deixando sobre um


suporte ao lado onde também há um binóculo pequeno, que Mina

pega curiosa, observando tudo com mais atenção enquanto sou


servido, já bebendo do uísque. Quando ela termina, peço-lhe o
objeto e também dou uma olhada pelo grandioso espaço, avistando

Mateo acompanhado de Madelina, sua “amiga” de trabalho da


faculdade, ambos sentando no camarote do outro lado do salão.

— Olha, acho que vai começar — diz Mina, empolgada,

apertando minha palma, parece estar adorando tudo isso. Deixo o


binóculo e o copo de lado, focando no palco onde os técnicos
escolhidos do laboratório pelo conselho entram. Dois telões se
ascendem às suas costas e a apresentação do Bolt começa sob
uma longa salva de palmas.

Fico ansioso, estou cheio de expectativas a respeito da reação

do público. Todo o evento está sendo filmado, mostrado ao vivo pela


internet nas nossas redes sociais.

— Vai dar tudo certo — Mina cochicha em meu ouvido,

provando que notou meu leve nervosismo. Ela sempre me


surpreende. Não consigo resistir e acaricio seu rosto. Linda.

Os minutos passam e tudo ocorre muito bem. Todas as

funcionalidades e especificidades do mais novo relógio Javier são


mostradas com a maior riqueza de detalhes, desde a fabricação,
montagem e até o acabamento. A peça é uma verdadeira joia,

cravejada de diamantes e muito mais, com um modelo masculino e


outro feminino. Slides passam, mostrando cada ponto, cada quesito
e a aceitação do público é imediata, para o meu alívio.

Por fim, os técnicos encerram a apresentação nos convidando


para o baile de comemoração do aniversário da empresa que
começará no salão ao lado, e é para lá que todos nos guiamos,

pouco a pouco. O espaço é enorme, com banda ao vivo e várias


mesas. Nos encaminhamos para a nossa mesa reservada que, para
a surpresa de Concepcion, possui uma localização bem discreta em
relação às demais.

— Nossa, como é longe. Por que não ficamos lá na frente?


Afinal, estamos com o presidente da empresa!

— Porque Alejandro não gosta de ser o destaque, ele prefere a

discrição — responde Joaquin, enquanto nos sentamos.

— Ah tá, entendi... tem a ver com o que você me disse? —


indaga para ele, que a encara seriamente e muda de assunto:

— O Bolt, como esperávamos está sendo um sucesso!

— Achei fascinante a inteligência que vocês implantaram no


dispositivo. Aparentemente ele não parece apresentar nenhuma
novidade em relação ao que já temos no mercado, mas isso é um

grande engano. De qualquer forma o design imponente e luxuoso


também nos prepara para grandes coisas, só ainda não sabemos o
quê — comenta Mina, me fazendo erguer as sobrancelhas e adorar

escutá-la.

— Uau, até o momento não tinha ouvido análise tão perfeita


sobre o relógio. Está de parabéns — elogia Joaquin —, assim vai

conquistar fácil, fácil esse meu amigo — alfineta. Nossa, como o


odeio!
Mina gargalha sem graça, e tenta mudar de assunto:

— Você é muito engraçado! Trabalham juntos há muito tempo?


— pergunta, apontando para mim e ele.

— Sim, há bastante tempo, fizemos faculdade juntos.

— Que legal.

— Pode-se dizer que sou da família. Sou como um irmão para


Alejandro, apesar dele nunca admitir isso — reviro os olhos ao ouvi-
lo. Ele se aproveita porque sabe que não irei replicá-lo.

Mina se diverte, e os dois conversam bastante. Fico a


observando, notando seu sorriso, a sua felicidade e descontração, o
que me agrada muito. Percebo que gosto de vê-la feliz. Somos

servidos com mais bebidas e alguns petiscos. Mina prefere apenas


água mineral.

Mateo e Madelina se aproximam, formando um casal de

chamar atenção. Levanto-me para cumprimentá-lo.

— Nossa, como demorei para encontrá-lo, irmão — comenta,


já fitando Mina que ainda está sentada, mas presta atenção na
gente.

— Boa noite, tudo bem? — Madelina me cumprimenta, eu


assinto.
Puxo minha donzela pela mão, fazendo-a levantar e
cumprimenta-los:

— Mina Pacheco, prazer.

— Prazer, Mateo Javier, irmão do seu acompanhante.

— Ah, que maravilha! — Ela fica surpresa. Madelina também


se apresenta— Vão se juntar a nós? — Novamente Mina me
surpreende, ela fez o convite que pensei em fazer. É educada e

receptiva.

— Não, obrigado. Nós já estamos de partida, temos outro


compromisso, viemos apenas prestigiar o lançamento do Bolt, que

afinal foi esplêndido! Não esqueça de enviar o meu como sempre


faz, irmão — pisca charmoso —, boa noite a todos e curtam a festa
— afasta-se, de braços dados com a belíssima mulher.

Antes que possamos voltar a nos sentar, o vocalista da banda


convida a todos para a clássica valsa que ocorre todos os anos,
uma marca do aniversário.

— Ai, quero dançar, Joaquin! — afirma Concepcion, já


estendendo a mão para ele, que a corresponde e ambos se erguem,
caminhando rumo ao centro do salão como outros casais.
Uma canção romântica e tipicamente espanhola começa a
tocar, embalando os românticos de plantão. Fito Mina, que me olha

de forma estranha, esperando por alguma coisa. Franzo as


sobrancelhas, tentando descobrir o que é. Ela entende e dispara:

— Não vai me convidar para dançar?

O quê?? Nunca dancei nessas festas. Nego com a cabeça,

educadamente.

— Ah, vamos! Não estamos fazendo nada mesmo — insiste,


sorrindo lindamente. Mas nego outra vez —, quer dizer então que

vai negar o meu convite? Assim? Na lata? — assinto, deixando ela


perplexa — Por favor, vamos! — Não desiste, segurando minha mão
e sorrindo de forma ainda mais cintilante — Vem — me puxa

vagarosamente, convencendo-me, levando-me para o centro.

Só quando estamos entre os demais casais é que me pergunto


que loucura é esta que estou fazendo. Mas a bailarina não me

permite chegar ao arrependimento, ela cruza as nossas mãos,


puxando a outra para sua lombar, fazendo-me entrelaçar ao seu
corpo, como se estivesse me ensinando a posição correta que

devemos ficar para dançar. Contudo, acho-a um pouco prepotente


com isso e mostro do que sou capaz, puxando-a, grudando os

nossos corpos, fazendo-a suspirar e me engolir pelas pupilas.

Assim, timidamente, damos o primeiro passo, entrando no


ritmo da música, nos envolvendo nas notas da canção. Os nossos
globos não param de se consumir, nossa proximidade cria uma

energia crepitante entre a gente, nos levando a um momento


sublime jamais esperado por mim. Vamos de um lado a outro,

rodando, nos encantando um com o outro, deixando tudo fluir.

É estranho, não consigo entender, não estou envergonhado


diante das pessoas, sequer lembro que elas existem. Neste
momento, só parece existir Mina e eu na Terra. Os rostos quase se

tocando, a magia da dança nos dando a sensação de liberdade,


como se flutuássemos sobre as nuvens, girando... indo para lá e

para cá, criando uma química perfeita.

Ela não mais sorri, está séria, focada exclusivamente em mim,


provando que é uma bailarina perfeita, me guiando, enquanto faço o
mesmo com ela. Nunca me senti assim, tão absorto na imagem de

uma mulher, nos comunicamos apenas pelas expressões faciais,


parecemos viajar juntos por um universo só nosso, que está repleto

de emoções e sensações desconhecidas para mim.


Sua boca me chama urgentemente, quase a beijo quando algo

chama a nossa atenção, nos fazendo parar de dançar. Vejo Luna


derramando propositalmente champanhe no vestido de Concepcion

e jogando o resto na cara de Joaquin. De onde ela surgiu? Que


absurdo!!

Troco olhares preocupados com Mina e caminhamos até lá,


notando que o que aconteceu já chama as atenções, mas graças a

Deus a banda não parou de tocar e os demais casais ainda dançam.

— Você está maluca?! — rosna, Concepcion odiosa.

— Foi um acidente, querida — Luna debocha. Toco-a no

ombro, indagador, assustando-a ao me ver. Ela fita a mim e a Mina


confusa e fica sem saber o que fazer.

— A sua irmã é louca, Alejandro — reclama Joaquin,

enraivecido.

— Louca? Antes você não achava isso, achava? — dispara


Luna. É o suficiente para as peças se encaixarem na minha cabeça:
ela era a tal namorada secreta dele!! Puta que pariu!

— Com licença, vou me retirar. Vamos, Concepcion — Joaquin


puxa a mulher que fuzila minha irmã.

— Isso vai ter volta! — Ameaça.


— Ah, vai? Estou morrendo de medo, sua otária! Vai embora,
vai! Ridículos! — Luna está incontrolável! Seguro-a pelo pulso, mas
ela se desvencilha imediatamente — Me larga, Alejandro! —

caminha para longe saindo do salão, mas não a deixo, sigo-a


furioso.

— Alejandro, espere! — Mina me segue, tentando me parar —

Por favor, deixe-a ir, vocês dois estão de cabeça quente!

Não lhe dou ouvidos, continuo apressando o passo até

alcançar minha irmã em um corredor onde não há ninguém,


segurando-a pelo braço de novo, dessa vez mais firme, parando-a.

— O que é?! — exclama, as lágrimas manchando seu rosto,

borrando a maquiagem. Caralho... ela gosta dele! — Você não tem


nada a ver com isso!! Me deixa em paz!

A repreendo mentalmente, demonstrando o quando estou

decepcionado.

— Não adianta me olhar assim! Mais uma vez nos igualamos!


— atira, me deixando confuso. Do que está falando? Mina nos

alcança, recebendo o seu olhar — Pelo amor de Deus, o que você


está fazendo, Alejandro? Ela é só uma criança... a babá da Alisa!
— Eu não sou uma criança, senhorita Luna — a bailarina se
defende, mas Luna ri desacreditada, desvencilhando-se de mim
outra vez.

— Você está fazendo merda, Alejandro! Nós só sabemos fazer


merda! — aponta em meu rosto, ríspida, amarga, e vai embora
correndo, cheia de demônios.

Contudo, as suas palavras me ferem, acionam um gatilho, a


consciência batendo pesada, a noção caindo, a magia e tudo que
vivi com a bailarina até aqui indo embora, se dispersando, dando
lugar à triste realidade do meu mundo vazio e frio onde não há mais

espaço para sentimentos assim.

— Alejandro... — toca meu ombro, mas retiro sua mão, de


costas para ela —, o que foi? — ponho as mãos no rosto,

balançando a cabeça negativamente, percebendo que isso não


pode continuar, que tem que acabar aqui — Sua irmã não sabe o
que diz! — replica, percebendo o que me afetou — Ela não pode
ditar o que acha que o senhor é e fazê-lo acreditar nisso como faz
consigo mesma!

Viro-me para ela, que captura minha total atenção.


— As pessoas mudam, as coisas mudam e nada que é ruim
precisa permanecer para sempre. Ela me chamou de criança, mas
idade não representa maturidade. O senhor mesmo sabe que a
mais cautelosa entre nós aqui sou eu, mas... mesmo assim... — sua
voz falha, nós trocamos um olhar intenso, espero por ela, preciso

muito ouvi-la —, eu o quero... — confessa, me abalando —, já decidi


e não há mais o que pensar, simplesmente o quero — repete,
fazendo-me fechar os olhos ao sentir a força e o impacto de suas
palavras sinceras.

Não sei o que fazer, agora percebo que posso estar levando-a
rumo a um poço profundo, sujo e cheio de trevas. Nego outra vez,
tentando lhe dar as cosas, mas Mina segura meu braço, me
puxando.

— O senhor não está me ouvindo?! É a minha vontade! —


Lágrimas descem por sua face — Essa escolha só pertence a mim,
a nós e a mais ninguém! Eu me responsabilizo!

Sua certeza me dá certeza, sua impetuosidade me enche de


impetuosidade também e simplesmente a agarro com força e
avidez, puxando-a para um beijo inundado de necessidade.
Também não quero mais esperar, não quero me afundar de volta no
poço, preciso entender o que tanto vejo nela para me fazer perder o
controle dessa maneira!

As nossas línguas se enroscam com euforia, com fogo e


paixão, apalpo a suas costas, sua bunda, tudo! Encosto-a contra
parede, imprenso meu centro no seu, com vontade de despi-la aqui

mesmo e fodê-la sem medidas, porém lembro onde estamos e


afasto-me de sua boca, resfolegando. Olho-a perigoso, pensando
em tudo o que podemos fazer sobre uma cama.

Puxo-a e saímos o mais rápido possível do teatro, entrando em


meu Ferrari e seguindo direto para casa, onde, discretamente
caminhamos de mãos dadas até o meu quarto. É hora de descobrir
onde podemos chegar.
ALEJANDRO JAVIER

O mundo parece estar em câmera lenta quando adentro meu


quarto de mãos dadas com Mina. Ela olha ao redor, admirando a

imensidão do meu universo particular, obscuro... austero..., porém


pronto para nós. Fico o máximo possível perto dela, me perdendo
em seus olhos castanhos cor de mel, curiosos e tomados de um

leve receio.

Envolvo seu rosto delicado com as minhas mãos grandes e


guio sua boca até a minha, momento em que mais uma vez nos

beijamos, misturamos os nossos lábios que se confundem, se


conjugam e se transformam em uma carne só. É molhado,

saboroso, gostoso e incrível.


Realmente não há dúvidas. Eu preciso possuí-la, quero ela

para mim.

Distribuo selinhos por sua bochecha até a orelha, chupando o

lóbulo, arrastando a língua pelo pescoço e descendo até o ombro


desnudo. Decido que esta noite quero experimentá-la por inteira,

quero chupá-la em cada canto do corpo e devorá-la como se não

houvesse mais o amanhã.

Mina fecha os olhos, gemendo, arranhando as unhas em meus

braços, por sobre o tecido, se entregando, se envolvendo. No fundo,

ainda estou com receio de na hora agá ela desistir, mas a fome e a
sede que sinto me impulsionam a seguir em frente, sem

arrependimentos ou culpas, sem consciência pesada. Aqui estão


apenas um homem e uma mulher dando vazão aos mais profundos

desejos.

Puxo sua roupa devagar, preciso controlar o tesão eufórico que

habita dentro de mim e ter paciência para não a assustar, para fazer

de sua primeira vez um momento especial do qual jamais possa


esquecer. Mal sabe Mina que está sendo a primeira a compartilhar

do meu quarto, lugar onde nunca transei com ninguém.


Há uma explicação lógica para isso: depois do hotel, onde a
tratei como uma qualquer, como apenas um pedaço de carne, a

bailarina vem me provando que além de toda a beleza, é um lindo

ser humano, forte, inteligente e determinada, capaz de me ensinar

as coisas da vida mesmo com tão pouca idade.

Arrasto o vestido até os seus calcanhares, vendo seu corpo

moreno surgir gradativamente, a visão mais linda que já tive em


toda a minha vida. Ela é um fruto de beleza natural, há uma graça

singela em cada curva perfeitamente desenhada, nos pelos

visivelmente eriçados ao meu toque. Olho-a de baixo,

contemplando-a seminua, maravilhosa e sensual, apenas de

calcinha e sutiã, ambos também vermelhos.

Contorno as mãos por suas panturrilhas, apalpando cada

centímetro de pele, notando a maciez, a tenuidade. Ela é uma

beldade, uma deusa que desceu do céu e veio para mim, só para

mim. Escorrego o toque para cima, apertando as suas coxas

torneadas, durinhas, frutos de anos de balé. Ergo-me já de pau

extremamente duro, sentindo seu bumbum redondo e empinado,

que me enche de luxúria.

Esmago cada nádega entre os dedos com certa força, ao

mesmo tempo em que tomo sua boquinha outra vez, enroscando a


língua na sua, sugando, chupando, mordiscando seu lábio inferior,

capturando os seus gemidos ao sentir minha massagem na sua


carne sensível, quente, instigante. Perdemos o ar, tenho que

desgrudar os nossos lábios para poder respirar melhor, o calor


faiscando ao nosso redor.

Abro seu sutiã e o jogo para longe, contemplando pela primeira


vez os seios da morena, que são o verdadeiro significado de arte,

uma obra prima, nem tão pequenos e nem tão grandes,


fascinantemente medianos, cheios, redondos, equilibrados,

proporcionais. É um sonho, com os bicos entumecidos da libido, da


energia sexual corrente entre nós.

Toco-os em abrangência, delicado e firme, pegando com


vontade e sutileza, sentindo arder, estufar.

— Oooh... — ela geme, jogando a cabeça para trás por um

instante, gostando do que estou fazendo. Miro-a perigosamente,


saliente, lascivo, inclinando o rosto ao seu busto e rastejando a
ponta da língua na mama direita —, aaii... — as suas unhas tomam

meu couro cabeludo, incentivando-me a prosseguir.

Pincelo sobre o biquinho marrom, ora chicoteando, brincando,


sugando, arrastando os dentes em volta, pondo quase tudo para
dentro da boca, encantando-me com o sabor que é inigualável. Pulo

para o outro seio, chupando-o com vontade, me soltando, deixando-


me guiar pela lubricidade, voraz, escorregando de volta para um

novo beijo, agarrando a morena, apertando sua bunda, elevando-a


para o meu colo, as suas coxas em volta do meu quadril.

Mina entrelaça os braços sobre os meus ombros, em volta do


pescoço, me surpreendendo quando devora a minha boca ao

mesmo tempo em que se move espontaneamente, rebolando os


quadris contra meu pau que está a ponto de estourar de tão

enrijecido dentro da calça. A esmago contra mim, passando os


dedos pelo cós da sua calcinha, a excitando, me excitando também,

delirando, os dois tomados por este poder sexual que é maior que
tudo.

Caminho até a cama, deitando-a no centro do enorme colchão,


sobre a colcha escura, interpondo-me entre as suas pernas

ferventes que me enlaçam, não querem me soltar, que me puxam


para si, provando o quanto está disposta a ir até o fim esta noite,
algo que me anima, que me chama. Ser correspondido assim é a

melhor coisa do mundo.

Deito sobre a donzela, não conseguindo desgrudar a boca da


sua, fundindo as nossas carnes e simultaneamente tateando os
seus mamilos que parecem tomar volume cada vez mais, se
tornando maiores, mais atraentes e fantásticos. Resfolegamos,
trocando olhares de prazer, mordisco seu queixo, descendo...

molhando o vão do seu busto e beijando seu abdômen que treme ao


meu toque.

Mina é um misto de curiosidade e desejo, ela não consegue


parar de me olhar, faço isso também antes de abrir as suas coxas

de repente, segurando-as pela parte interna, arrancando-lhe um


gemido com o movimento rápido e inesperado. Consequentemente,

sua calcinha de seda fica comprimida e menor, apertada contra sua


intimidade protuberante, que me chama atenção, me dá ansiedade,

curiosidade.

Mordo o lábio inferior, excitado, avisando a bailarina através de

um olhar matador que vou levá-la ao extremo, mas sinto que serei
levado ao extremo também. Fico de joelhos, deixando-a

arreganhada à minha frente, estou incomodado com o smoking, jogo


o blazer para longe, a gravata, e por fim, a camisa de algodão

egípcio. Livro-me dos sapatos também, me tornando mais


confortável, vestido apenas da cintura para baixo.

Volto a me posicionar, inclinando-me, pairando o rosto sobre o


centro da morena, ouvindo sua respiração ofegante, a vontade e o
medo unidos em algo só. Acaricio seu monte de Vênus por sobre o
tecido, massageando o polegar em seu clitóris, ouvindo-a gemer e
se contorcer devagarinho. Assim, finalmente puxo a calcinha para o

lado, desnudando e dando visão para sua boceta chocolate.

Engulo em seco com tamanha perfeição, Mina é uma negra


mestiça, nem tão clara, nem tão escura, simplesmente chocolate e

não café, mas igualmente maravilhosa. Sua intimidade pequena é a


mais linda que já contemplei, o monte protuberante, porém não

exagerado, os lábios grossos e ainda contidos, intocados, uma


fenda carnuda e já babada de excitação. O clitóris é como o

morango do bolo, a fruta proibida, que me chama e que me

enfeitiça.

Acaricio todo o conjunto, ao mesmo tempo em que dou

pequenas lambidas ao redor, fazendo-a vibrar e arquejar. Então,

fecho os olhos e beijo sua vulva ardente, criando um toque lento,


intenso e focado, escorregando os meus lábios em volta, como se

tivesse beijando sua boca, como se fizesse sexo, pincelando toda a

sua carne depilada, cheirosa. Nossa... como está perfumada, um

aroma doce e mil vezes mais forte do que aquele que ficou em
minha mão quando a toquei pela primeira vez.
Afasto o rosto por um momento e aspiro todo este odor, me

deliciando, viciando, rosnando como um selvagem, voltando a


chupá-la, dessa vez com mais gosto e vontade, chicoteando a

língua no seu clitóris, melando, instigando, cutucando, satisfazendo-

me e satisfazendo-a.

— Aaah... aaai... Alejandro! — Quando chama meu nome, fico

louco, me dá mais um impulso de safadeza. Pressiono os seus

seios entre os dedos, brincando com os seus bicos, controlando


embaixo e em cima, dominando esta menina, experimentando seu

sabor que nos leva a loucura.

Ela é pura, mas eroticamente especial, seu corpo me dá gás

para o mais intenso tesão, é um caminho de luxúria e perdição por

onde quero seguir sem lembrar de voltar.

Arrasto os dentes por sua carne, mudando os movimentos,

fazendo de lado a lado, de cima a baixo, utilizando-me agora

também do indicador esquerdo para passear entre sua fenda


ensopada, penetrando em sua gruta comprimida, afundando pouco,

até o limite da sua virgindade.

— Aah!! — grita, arqueando o corpo, lançando a cabeça para


trás, envolta em prazer, libidinagem. Quero lhe dar tudo esta noite,
quero que seja especial e quente como o inferno. Quero me queimar

ao seu lado e criar uma fogueira inapagável.

Movimento-me dentro de sua bocetinha, fazendo investidas


curtas, contraindo a ponta do dedo, tocando seu ponto gê enquanto

me lambuzo em seu clitóris, dando lambidas bem servidas, beijando

mesmo, sem frescura, com atitude, com impetuosidade, criando


movimentos circulares, misturando as carnes, seguindo além do

limite.

A morena entra em combustão, seu corpo todo treme,

avisando que está perto de gozar. Sinto uma força incomum

reverberando por sua pele, a arrepiando, vindo potente. Mina contrai

os quadris, notando a pressão sobre sua vagina e então explode


quando retiro o dedo de dentro dela, esguichando. Afasto a face um

pouquinho, para assistir, impressionado com o show e logo em

seguida bebendo tudo, me jogando neste momento.

Fico tão excitado com o acontecimento que, sem me dar conta,

gemo junto com ela:

— Hmmm... oooh!! — rosno alto, pensando em como ela é

gostosa, gostosa pra caralho!!


O momento é incrível, absurdo, fora do comum e admirável,

deslumbrante! O modo como Mina reage, seu embevecimento, as


suas expressões, seu sexo vibrando diante de mim. Decido levá-la

mais longe, voltando a penetrá-la com cuidado e chupá-la

novamente, vendo-a agarrar os lençóis com força, se entregando,


jorrando outra vez, as gotas de seus fluidos descendo por sua

virilha, deixando um rastro cintilante por onde passa, molhando seu

bumbum e toda a minha boca e queixo.

Saio do seu corpo e uso a mão direita para instigar seu clitóris

com rapidez, esfregando os dedos nele freneticamente, para os

lados, imitando o movimento de dar tchau, só que mais potente e


veloz. A bailarina se contorce inteira e explode. Levo a boca

rapidamente para o seu centro, abrindo as suas coxas outra vez,

sugando tudo, beijando, mamando em sua grutinha encharcada,

sensual, imoral e fatal!

Quando enfim me dou por satisfeito, saio da cama incomodado

com a calça, que retiro rapidamente, expondo o mastro que aponta


para cima, melado, flamejante, petrificado, ultrapassando a altura do

umbigo.

Mina respira com dificuldade, quase desfalecida na cama, o


prazer lhe tomando por completo, todas as sensações virtuosas da
luxúria lhe dominando, deixando-a em um estado mais sublime,

sonhando, alçando voos.

Pego uma camisinha e retorno para o colchão, porém, antes


de rasgá-la com a boca e vesti-la, retiro a calcinha dela

cuidadosamente e melo a mão direita na sua intimidade molhada,

usando seu gozo para lubrificar meu pau. Repito o ato após estar
protegido, sei que precisarei estar o mais liso possível para

escorregar para dentro dela.

Deito sobre seu corpo de formas atraentes, apertando os seus


seios, beijando sua boca, fechando os olhos e viajando nesta magia

doce, contagiante, enquanto me posiciono, rebolando o quadril

habilidosamente para encaixar a ponta massuda do pênis na


entrada da sua gruta, sabendo que chegou a hora.

Mina acaricia meu rosto, surpreendo-me ao ver lágrimas

singelas brilhando em sua face. Fico um segundo preocupado, mas


logo entendo que é emoção, que é tudo isso que nos cerca agora.

Faço a primeira investida, forçando para dentro dela.

— Aaah... — geme maravilhosamente contra meus lábios, me

deixando louco!!
Empurro mais, penetrando-lhe com muita dificuldade, as suas

unhas se cravam em meu cabelo, momento em que paro e espero


que fique mais confortável, ainda nem introduzi a glande toda, só

metade. Sinto as suas coxas tensas ao meu redor, beijo suas

bochechas, por sobre suas pálpebras, tentando acalmá-la e, quando

me sinto seguro outra vez, afundo mais, passando alguns


centímetros da minha extensão.

A sensação é de estar forçando espaço entre suas carnes


molhadas, rompendo um limite e aprofundando. Mina arranha as

minhas costas, delirando entre o prazer e a dor. Fico imóvel

novamente, lhe dando tempo para respirar e sentir. Roubo-lhe mais


um beijo, longo, vagaroso, sentimental, e assim penetro-lhe mais um

pouco, preenchendo meu pau em sua bocetinha.

— Hmmmm — gemo, a pressão em volta do meu pênis é


demais. Sou arrebatado por contrações intensas, sinto um líquido

quente chegar, presumo que seja sangue. Está tudo muito especial

e gostoso. Nunca deflorei uma virgem antes e é incrível. Sou o seu


primeiro homem, seu primeiro beijo, seu primeiro tudo e isso me

excita! Não quero que nenhum outro a toque!

Gradativamente, movimento os quadris, usando apenas


metade de mim para fodê-la. Resvalo por seus lábios vaginais, eles
me tomam, me consomem, sugando, se esfregando contra meu
corpo. É perfeito e único. Prossigo, sendo incentivado por ela, que

me beija, que ofega comigo, roçando as coxas em volta do meu

corpo, mostrando fome, reciprocidade, apesar da dor.

A cada golpe, me aprofundo um pouco mais. Sou grande,

enquanto Mina é pequena, visivelmente pareço não caber dentro


dela, por isso sou paciente, tentando ter controle sobre o desejo,

sobre a vontade. Vou chegando, devagarinho, a espaços nunca

antes habitados, esticando-a em seu interior, fechando os olhos

fortemente quando finalmente penetro tudo e bato as bolas contra


sua entrada, tocando seu cuzinho.

— Aaah... — gememos juntos, ela me fita maravilhada,


arrastando as unhas por meus ombros, esguichando entre as

frestas da nossa união, molhando-me.

É um rebu de emoções, a voluptuosidade aflorando,


queimando na mistura dos nossos corpos, das nossas cores. Tomo

seu seio esquerdo outra vez, chupando-o com afinco enquanto


bombeio o pau na sua gruta, transando, fazendo um sexo delicioso,
sentindo a pressão, o aperto, as contrações que me levam à beira

da insanidade!
Quero fazer mais, ir além. Desgrudo os nossos corpos, ficando
de joelhos, passando os antebraços abaixo das coxas dela,
espalmando as suas nádegas e golpeando-a com mais liberdade e

rapidez. Mina bagunça os cabelos, me contemplando, se


entregando enquanto me entrego também, fodendo-a, socando
tudo, fazendo barulho, criando impacto.

Me torno um tarado, cheio de adrenalina, ilimitado, pegando-a


firme, afundando os dedos em suas nádegas, dando-lhe tudo de
mim! Tem euforia, energia, entrega e insanidade. Nos

transformamos em uma coisa só, maior e invejável, abençoada


divinamente.

Mordo o lábio inferior, arfando, ouvindo-a gemer

imoderadamente. Assisto meu pênis grosso e parrudo ser engolido


por sua bocetinha melada, cintilante, que me comprime, que me
chama. A cada enterrada, as minhas bolas crescem, socando sua

fenda, chegando ao limite, quase entrando em seu corpo também.

Nós parecemos ter sido feitos um para o outro, nossa química


é explosiva, vai além da carne. Movimento forte os quadris,
erguendo o rosto para o alto, fechando os olhos e entreabrindo os

lábios ao sentir o poder sexual me dominando, uma força


avassaladora se aproximando e acendendo tudo por onde passa.
Chego a grunhir, é intenso demais!

Nos últimos segundos, largo a morena, retiro a camisinha

urgentemente e jorro sobre ela, esguichando sobre seu corpo


perfeito, melando os seus seios e abdômen ao mesmo tempo em
que ela goza também e tem espasmos, as pernas trêmulas,

molhando a cama. Meu coração está retumbante, o ar parece que


vai faltar, um tremor interno que me pega de surpresa, as sensações
mais maravilhosas, o embevecimento, o relaxamento eterno.

Jogo-me sobre ela, tomando cuidado para não me sujar com


meu próprio sêmen, a beijando, tomado, saciado, encantado. Que
sexo foi esse? Estamos exaustos, absolutos em lubricidade, mas

ainda resvalo por sua pele até sua gruta outra vez, imparável,
mamando do seu último gozo enquanto me masturbo, percebendo
que posso explodir novamente.

Afasto-me, viro Mina de bruços e dou-lhe uma lapada em cada


nádega, jorrando sobre sua bunda empinada, sensacional. E só
assim, após deixá-la completamente encharcada do meu prazer, é

que me deito ao seu lado, tentando me recuperar de todo esse


terremoto.
MINA PACHECO

Por alguns longos segundos, só o que ouvimos é a respiração

um do outro. Estou de uma maneira que jamais estive antes ou


sequer imaginei, toda suja, bagunçada, com a intimidade dolorida e

ardente, porém... enternecida, encantada e muito apaixonada por


este homem que está ao meu lado.

Alejandro nu se torna ainda maior do que já é, seu corpo


parece ter sido esculpido por Deus, os músculos todos

proporcionais, inflados, atraentes. O suor cintilando nas tatuagens,


cheiroso, másculo, seu peitoral que sobe e desce enquanto tenta

voltar ao normal. Hoje ele fez me sentir uma mulher, me possuiu e


gora sinto que pertenço a ele, apesar de saber que, teoricamente,
só estamos ficando sem compromisso algum.

Viro-me para ele, encontrando seu olhar. Observo-o de cima a

baixo, ainda me impressionando com seu membro semiereto entre


as coxas grossas e longas, todo melado, molhado, assim como eu.

Ele me excita, tudo nele me tira do equilíbrio e a minha primeira vez


foi maravilhosa.
Olho para meu corpo, os espermas colando na pele. Alejandro

acompanha meu olhar e entende que começo a ficar incomodada,


apesar de que a cena em que ele ejaculou sobre mim está fincada
em minha mente, não sai de modo algum. Tudo foi luxúria e paixão,

fogo, ainda tento processar cada acontecimento.

O homem acaricia meu rosto, mirando-me belamente


enigmático como sempre é e se ergue, caminhando para longe,

entrando por uma porta. Vejo sua bunda máscula quando me dá as


costas e fico boquiaberta, é linda, dura, redonda e lisa. Observo um
pouco o quarto, a pouca luz do ambiente me deixou mais relaxada

durante o sexo.

Alguns minutos mais e Alejandro retorna, me puxando


delicadamente, pegando-me no colo e levando ao seu enorme

banheiro, onde me coloca dentro de uma banheira com água morna,


perfumada e cheia de espuma. Ele ergue o indicador, pedindo para
que eu espere e retorna para o cômodo. Aproveito o instante

sozinha para relaxar, sentindo as dores na vagina diminuírem.

Estou bastante cansada, como se todas as minhas energias


tivesse sido se esvaído na cama, e realmente foi o que aconteceu.

Acho que tive orgasmos múltiplos, nem consigo descrever tantas


novas sensações que me ocorreram, os arrebatamentos, a
sensação de que o prazer dominava o meu corpo sem pedir licença.
Foi incrível.

Alejandro volta, e sempre que o vejo, não consigo evitar focar

em seu pênis intimidador que, por algum milagre, coube dentro de


mim. No início foi dor, mas a luxúria também tomou de conta, me
elevou ao paraíso. Ele entra na banheira, sentando-se atrás de mim,

acomodando-me entre as suas pernas, seu membro pulsando


contra minha lombar, uma sensação tão boa.

Parte do meu cabelo já está molhado, Alejandro junta tudo e

põe sobre meu ombro direito, se apossando de uma esponja em


seguida e usando-a para limpar a sujeira que deixou em mim. Fecho
os olhos, repousando sobre seu peitoral, permitindo o seu cuidado,

que seja carinhoso e atencioso como está sendo. É um verdadeiro


sonho.

A esponja resvala pelo vão dos meus seios, excitando-me,


deixando os mamilos durinhos outra vez. Sua mão desce rumo ao

meu abdômen, esfregando com delicadeza, indo além e roçando em


meu clitóris, devagarinho, me provocando. Gemo, e ele me beija,

atiçando minha língua na sua enquanto me masturba de forma


sensível. Quando tenta me penetrar, o paro, olhando-o nos olhos:
— Está doendo um pouquinho — sussurro, então ele volta
apenas a me banhar sem erotismo, apesar de toda a tensão sexual

entre a gente. Sou beijada na testa, com afago, enquanto relaxo,


lembrando de todos os nossos momentos minutos atrás. Recordo
do que mais me impressionou enquanto dividia a cama com ele —,

o senhor gemeu — comento, com a voz ainda fraca.

Alejandro não se manifesta, não se move. Procuro por seu


rosto, o encarando.

— Na cama... você gemeu. Isso sempre acontece? — estou

curiosa. O homem pensa um pouco e nega, sem dar brecha para


continuar o assunto, mas continuo — Foi maravilhoso poder...
escutar algum som vindo de dentro de você. Isso me deu muito

prazer, tudo o que fez me deu prazer.

Ele discretamente vira o rosto para o outro lado, ainda


acariciando os meus cabelos. Ficamos um pouco em silêncio, penso

no que dizer. Pode ser arriscado, mas acabo desabafando:

— Adoraria ouvir sua voz. Sei que pode falar, estudei sobre o
seu problema — chamo sua atenção, parece surpreso, sério,

indecifrável. Engulo em seco, achando melhor parar —, tudo bem,


não está mais aqui quem falou — suspiro —, foi só um desabafo...
sei que é um assunto delicado, não quero ser intrometida.

Tento voltar a relaxar em seu colo, mas noto que estraguei o


clima, seu membro até parou de pulsar as minhas costas. Penso em
como mudar o jogo e aproveito para tirar mais uma dúvida:

— Só mais uma pergunta: o senhor gostou... de nós... na


cama? — coro ao indagar, mas Alejandro gosta do assunto e me
beija, acariciando meu rosto, com certeza é um sim. Ele é muito

carinhoso e adoro isso, esse contato. Assim, acabo dormindo,


protegida entre seus braços fortes e tatuados.

Acordo em algum momento, no breu, há apenas uma das


lâmpadas ligadas, me salvando da total escuridão. Algo se move as

minhas costas, viro-me, encontrando Alejandro tendo pesadelos.


Estamos os dois de volta à sua cama, eu vestida em uma camiseta
enorme que presumo ser dele.

O homem está suando, mesmo com o ar em mais perfeito


funcionamento. Está atordoado, movendo o rosto, fazendo careta,
apertando a colcha fortemente entre os dedos, me assustando. É

como se sofresse um grande mal.

— Alejandro! Alejandro! — O toco no ombro, balançando-o —


Alejandro, acorde!

Seus olhos se abrem em desespero, tendo dificuldade para


respirar, resfolegando. Seguro seu rosto com as duas mãos,
obrigando-o a olhar para mim.

— Acalme-se, acalme-se! Estou aqui... sou eu, a Mina, e estou

aqui! — digo, morrendo de medo, mas tento controlar para poder lhe
passar segurança. O homem leva longos segundos para voltar a si,

percebendo que está tudo bem — Foi só um pesadelo, não se


preocupe. Já passou... já passou.

Continuo lhe dando afago, roçando as unhas delicadamente


em sua barba cerrada, até que ele se acalma, me observando

profundamente, como se enxergasse a minha alma.

— Está tudo bem — sussurro, lhe afastando de todo o mal.


Grudo os nossos corpos e o beijo devagarinho, lhe dando amor. Aos

poucos, sou correspondida, o homem vai se permitindo, se soltando,


e logo está com a mão na minha bunda, apertando as minhas
nádegas nuas — Oorh! — murmuro, me excitando, sentindo seu
pênis endurecer entre minhas coxas.

Nos pegamos, se esfregando um no outro, as nossas peles

roçando, o calor surgindo em meio a tanto frio. Alejandro toma


partido e vem para cima de mim, virando-me, deixando-me de
bruços, erguendo a camiseta e distribuindo beijos por minha espinha

dorsal até a bunda.

Minhas nádegas são abertas ao meio, com força, me expondo


toda. Gemo, suspirando, submissa, doida por ele. Meu som sai

muito forte quando a ponta da sua língua toca o meu orifício anal,
me arrepiando inteira.

— Aaai — ele chicoteia e suga, criando uma fricção,

chupando, mordendo, me devorando. Seus lábios escorregam mais


para baixo e ganho um beijo vaginal, sua saliva se misturando aos
meus fluidos, melando tudo, fazendo-me quase rasgar os

travesseiros de tanto apertar.

Meu quadril é puxado para o alto, fico de quatro, o rosto contra


o colchão, recebo um tapinha no bumbum que arde e me faz liberar
um gritinho carregado de tesão. Em seguida sinto o pau dele

mergulhar fundo em minhas entranhas, viril, longo, robusto, bruto,


de uma só vez, preenchendo meu vazio além do limite, as minhas
carnes latejando freneticamente.

Dessa vez o CEO não é tão cuidadoso, pelo contrário, é

potente, me pegando forte, me dando mais tapinhas e puxando o


meu cabelo sem machucar enquanto golpeia com ímpeto atrás de

mim, possuindo-me, fazendo-me dele outra vez, sua mulher, sua


menina, sua amante!

O homem é voraz, já estou ofegante, ainda com um pouco de


dor, sentindo tocar meu útero, mas querendo todo o prazer que ele

puder me dar, descobrindo sensações e novas emoções que me


queimam por completo. Seu corpo me queima, se torna parte de

mim. Minha carne amassa com o impacto da sua, sinto seus


testículos batendo até o fim, firme. Gemo alto, ele também:

— Ooooh... aaah — ruge, elétrico, afundando os dedos na


minha pele, intensificando as investidas, a situação saindo do

controle, uma total turbulência! Então sai do meu corpo


desesperado e ejacula para fora da cama, vibrando, os músculos

das coxas se contraindo, as nádegas retesadas, perfeitas.

Fico o observando encantada, esfregando as coxas,


explodindo também, virando-me e esguichando. Alejandro, mesmo
aparentemente fraco, não perde tempo e enfia a face no meu sexo,

sugando todo o suco que derramo dentro de sua boca.

Acordo no dia seguinte me sentindo maravilhosamente bem,


agarrada ao homem que me possuiu quase a madrugada inteira.
Foram horas de sexo e muitos orgasmos de um jeito que acho que

não conseguirei mais andar. Estamos agora de conchinha, algo que


mal posso acreditar. Tenho vontade de ficar aqui para sempre,
porém lembro de uma peça chave deste apartamento: dona Isabel!

Saio da cama com bastante dificuldade e tomando todo o

cuidado possível para que Alejandro não acorde. Deixo-o lá,


perfeito, um deus grego. Cato minha roupa pelo chão, visto a

calcinha e corro para o meu quarto ainda em sua camiseta. Aqui


tomo banho, passo quase uma hora reestruturando os meus
amados cachos e desço para a sala de estar como se nada tivesse

acontecido.

Procuro pela governanta por todos os lugares, mas não a


encontro, descobrindo um bilhete que deixou sobre a mesa de
jantar, onde avisava que iria passar o domingo na casa de parentes

e só retornará na segunda pela manhã. Admito que fico feliz com


isso, tendo a casa inteira apenas para mim e Alejandro.

Tenho a ideia de fazer o café da manhã para nós, corro para a

cozinha pondo o avental e começando a preparar um banquete na


medida do possível. Cozinho com empolgação, cantando sem
perceber, sem conseguir afastar um só momento as imagens da

noite passada. Ao mesmo tempo, fico com medo de como Alejandro


irá reagir hoje, agora que já teve o que queria.

Não quero pensar assim, tratá-lo como um cafajeste, mas é

inevitável. Já vi tantas coisas neste mundo que vão contra tudo o


que acredito sobre um relacionamento, que só me faz ter medo.
Primeiro, que nem um relacionamento temos, e se por um acaso

nos desentendermos, há o agravante de que somos obrigados a


conviver, pelo menos por enquanto.

Mas se por um acaso eu não me sentir bem, ou perceber que

ele está desconfortável com a minha presença, saio na hora sem


pensar duas vezes, não faço o tipo inconveniente e desde já tento
projetar a minha mente para não criar expectativas, mas é quase

impossível depois da noite que tivemos. Não posso negar, já quero


tudo de novo.
Termino de preparar a mesa na sala de refeições no momento
em que o homem aparece, usando calça moletom e camisa de
manga longa, cobrindo-se inteiramente como é de costume. Ele

observa sério o que estou fazendo e lhe correspondo com um


sorriso de orelha a orelha.

— Bom dia! — O saúdo.


ALEJANDRO JAVIER

Ergo as pálpebras devagar, acordando, relaxado, zen. Suspiro,


lembrando da noite intensa que tive com a bailarina e procuro por

ela, percebendo que não está mais aqui. Para onde foi? Sento-me,
procurando-a ao redor, tentando ouvi-la em algum canto do quarto,
mas nada.

Me deixou sozinho? Foi embora? Achei que seria

completamente o contrário. Pensei que não fosse querer sair do


meu lado hoje ou que talvez fosse..., de alguma forma, grudar. Fico

meio confuso até cair em mim e lembrar que Mina nunca faz as
coisas como a maioria das outras. Nunca dormi com ninguém aqui,

mas ainda teimo em pensar pela teoria do senso comum. Fora ela, a

única que já acordou comigo foi Maite, mas não foi neste quarto. O
engraçado é que, o fato dela não fazer exatamente o esperado é o

que me faz ficar mais interessado nela.

Recordo do momento em que me acalmou nesta madrugada,

quando despertei dos pesadelos terríveis. Ela conseguiu uma


façanha incrível, me conter, fazer a ansiedade e o medo se

esvaírem, nem precisei procurar pelos ansiolíticos ou qualquer outra

coisa, apenas pelo corpo dela, por nossa conjunção carnal que
durou horas.

Foi muito melhor do que o esperado, diferente, tocante. A

senhorita Pacheco é uma mulher singular, sua boceta tem um gosto


especial e que não sai mais da minha boca, o cheiro dela está

espalhado nos lençóis e logo descubro que também pelo resto do


quarto.

O que mais me impressionou foi a quantidade de vezes que

ela me fez gemer. Creio que como estou há muito tempo no silêncio,

até gemer na cama para mim era algo raro, sempre fiz a minha

parceira grunhir e não o contrário. Pelo menos não tanto assim.


Fiquei irreconhecível, mas ela estava tão apertadinha e molhada.

Ao ir para debaixo do chuveiro, miro a banheira do outro lado

do espaço e lembro de nós dois ali, tomando banho ontem após nos
sujarmos com o sexo primoroso que tivemos. Sua revelação de que
sente vontade de ouvir a minha voz e de que já estudou sobre o

meu problema me afetou, me encheu de curiosidade e ao mesmo

tempo pode ter contribuído para os pesadelos mais tarde, ou talvez

não, já que sempre os tenho.

A questão é, não foi apenas eu que pesquisei a seu respeito

antes dela vir parar aqui, ela também pesquisou sobre mim, sabe
coisas e preciso descobrir o quanto. A internet é para sempre, e

alguns fatos da minha vida, por mais que eu e minha família

tenhamos lutado para ocultar, pode ter ficado por lá. Talvez, algum

resquício de notícia, alguma pista. Isso faz doer a minha cabeça só

de imaginar. Odiaria que alguém descobrisse aquela tragédia,

enxergasse meu lado frágil ou pior, sentisse pena.

Meu celular apita, recebo uma mensagem de Joaquin que não

cai bem, mas que já era esperado, uma foto de revista de fofoca

onde apareço de braços dados na festa com Mina:

Agora jamais poderão dizer que o CEO da Javier não tem

acompanhante. Adorei conhecê-la, espero que tenham se


divertido.
Não o respondo, ainda estou com a ideia de ele ter se

envolvido com a minha irmã na cabeça. Ainda precisamos conversar


sobre isso. É uma intuição muito forte e tenho quase absoluta

certeza de que estou certo. Não que isso seja algo condenável, só
que, por consideração a mim que sou seu amigo e irmão de Luna,
deveria ter me contado.

Saio do quarto em uma roupa confortável, batendo na porta de

Mina antes de descer, querendo descobrir onde está, mas não sou
respondido. Também não forço, não tento entrar. Tudo é silêncio,

algo incomum por aqui, talvez pela ausência da minha filha. Desço
as escadas, sentindo falta da governanta também. Ouço sons da
sala de refeições, seguindo para lá e encontrando a morena,

novamente e lindamente cacheada, preparando a mesa com um


belo café da manhã.

Fito-a sério, como sempre sou, e recebo em resposta seu

sorriso gigante acompanhado de um bom dia vívido:

— Bom dia!

Assinto com a cabeça.

— Fiz café da manhã para nós.

Pergunto em sinais por Isabel.


— Ah, ela deixou este bilhete — aponta para o papel pequeno

que leio. Então quer dizer que estamos sozinhos? Isso é bom, evita
um dia inteiro com restrições por ter outras pessoas conosco.

Assinto outra vez e sinto o cheiro da comida que faz meu

estômago roncar. Dou atenção ao pequeno banquete, com churros


atraentes, dourados, chocolate quente bem espesso, café com leite,
além de torradas com azeite e tomate. É de impressionar!

— Espero que goste. Eu prefiro com chocolate, mas como não

sabia se gostava, fiz café com leite também, e torradas, caso... para
que tivesse mais opções.

“Obrigado, prefiro o café”

— Ah, que bom então. Vamos começar? Não sei você, mas
estou morrendo de fome — ela senta e passa a se servir. Sei porque

ambos estamos tão famintos, foi devido à noite longa e com grande
gasto de energia que tivemos, mas prefiro não informar isso a ela.

Pego o lenço de papel e levo o primeiro churro coberto de


açúcar à boca, mordendo um pedaço, fechando os olhos ao sentir o

quanto está gostoso. Mina me olha curiosa, querendo saber a minha


opinião, coisa de quem cozinha. Faço um sinal de delícia, a

deixando contente.
— Ah, que bom que gostou. Minha mãe sempre disse que isso
é uma bomba calórica, mas fazer o quê se somos espanhóis? Adoro
mesmo!

“Você sempre cozinhou? ”

— Não... só depois que tive que assumir sozinha as rédeas da

minha vida. Admito que não foi nada fácil, pois eu era acostumada a
ser servida como você é, sabe? Mas com a ajuda de muitos vídeos
na internet, não passei fome — gargalha, encarando tudo pelo lado

positivo.

“Que bom, pois saiba que é algo nada agradável”

Falo novamente em gestos, e mordo mais um pedaço do


delicioso churro, seguindo para um gole na caneca de café puro.

— O senhor fala como se já tivesse passado por isso, mas não


pode ser possível — diz, analisando-me, até que a lógica lhe recai

de forma assustadora —, já passou fome?

Respiro fundo e assinto, mirando-a nos olhos.

— Nossa, que triste. Se fosse outra pessoa contando, eu

jamais acreditaria.

Espero ela perguntar mais, mas não o faz. Aproveito para tocar
em outro assunto:
“Ontem você disse que estudou sobre o meu problema. Por
quê? ”

— Porque... queria lhe conhecer melhor. Mas isso já faz um


tempo, foi logo quando cheguei aqui — responde.

“E o que descobriu a meu respeito? “

— Fora isso? Que é o presidente da Montres Javier e mais

nada. Por quê? Tem algo mais a descobrir?

Nego com a cabeça, ela dá de ombros, não se importando

com isso, melando seu churro no chocolate quente e comendo,

contente, bela. Fico curioso sobre as suas opiniões e pergunto:

“Qual a sua opinião sobre o meu problema? ”

— Bem... no início fiquei um pouco confusa, mas depois de ler

e reler sobre, e também convivendo um pouco mais com você...

acho que já entendi mais ou menos como este transtorno funciona.

É um transtorno, não é?

Assinto, ela prossegue se soltando:

— Então, é um assunto muito interessante, mas nunca havia

ouvido falar até conhecê-lo. Vi que pode advir de várias causas e

fiquei curiosa para saber o que o fez ficar assim — pausa, me

fitando —, mas pode ficar tranquilo, já percebi que não gosta de


falar a respeito e não vou ficar lhe indagando sobre isso, só tenho

algumas curiosidades, como... ah, deixa para lá! Falo demais.

Faço um movimento de mão, lhe permitindo continuar:

— É verdade que... fala com a Alisa? — pergunta cuidadosa.

Assinto, sério.

— Só com ela e mais ninguém? — assinto outra vez, a

deixando interessada, curiosa — Mas se fala com ela então pode

falar com as demais pessoas, não pode? Sei que... não é simples
assim, que é como se a sua voz bloqueasse contra a sua vontade,

mas... vi que tem tratamento para isso. Não se interessa?

Nego, deixando-a confusa.

— Mas por quê?

“Na juventude, fui a muitos profissionais que só me fizeram

perder tempo. Eles não me compreendiam e não sabiam lidar

comigo, me frustravam e machucavam sem querer. Acho que

cansei”

— Mas deve haver alguém que saiba tratá-lo. Não é torturante

não ser ouvido? Não usar uma voz que está aí dentro de você? Não
chega a ser sufocante todo este silêncio? — dispara, são várias
interrogações que me levam ao desconforto. Toda vez que tocam

neste assunto comigo, fico desconfortável.

“É melhor não falarmos mais sobre isso”

A corto, voltando a me alimentar. Mina fica pensativa, ainda me

fitando e diz:

— Tudo bem, o respeito — gosto da sua resposta. Essa

questão de fazer ou não tratamento é uma decisão minha, só eu sei

o que passei e ninguém pode me julgar. Mina não fez isso, mas já
deixou claro o que pensa.

Ela afunda o churro na xícara de chocolate quente, come e me


fita:

— Quer? — oferece — Com chocolate é bem melhor, eu

garanto — assim muda o clima e o foco, em milésimos de segundos


—, experimenta, tenho certeza que não vai se arrepender — oferece

—, pode acreditar em mim — sorri de forma contagiante como

sempre, me conquistando.

Não vejo mal nisso, então abro os lábios, permitindo que ela

dê a comida na minha boca, que mordo e engulo com prazer,


adorando o sabor do chocolate, aprovando.
— Viu como estava certa? Sempre estou, aliás — brinca, se

achando, encantando-me. Então olha ao redor —, nossa, como


essa casa fica imensa sem a Alisa e dona Isabel, não é? Mais

imensa do que já é. Quando a pequena volta?

“Irei buscá-la mais tarde. Ela está aproveitando os avós”

— Ah, ela sempre falou muito deles desde que cheguei aqui.

Foi por isso que acabei confundindo naquele dia e... — sua voz
falha, lembrando do episódio do Eduardo —, enfim, você sabe —

não entra no mérito da questão. Acho melhor assim.

Os minutos passam e o clima está bem agradável entre a

gente. Fico ainda levado pelo senso comum, esperando que Mina

busque por mim, me abrace ou que demonstre de alguma maneira a

necessidade de contato, mas isso não acontece. Não sei se é


intencional, se faz parte do seu jogo de sedução para me deixar

doido, ou se realmente é da sua personalidade.

— Agora vou lavar os pratos — declara, reunindo as louças —,

se a dona Isabel chega amanhã aqui e vê essa bagunça, não vai

gostar nada, nada.

“Eu te ajudo”
— Oh, não precisa, posso cuidar disso sozinha — me

dispensa, mas não a escuto e levo as louças em seu lugar para a

cozinha. Mina me segue, sorrindo.

Coloco tudo sobre a pia e lhe dou espaço, dando um passo

para trás. Ela assume seu posto e me entrega um pano de enxugar

pratos.

— Já que está aqui e com tão boa vontade, não vou mais

recusar. Eu irei lavar e você enxuga, certo? — propõe, eu concordo,

me divertindo com sua petulância.

Assim fazemos, a cada copo e prato lavado, vou enxugando e

ouvindo-a cantarolar lindamente, até isso ela faz bem. Meu Deus. E
não sente a menor vergonha por estar na minha frente, sorri a todo

instante, se sentindo totalmente à vontade. Admiro-a... ouço-a...

querendo registrar este momento na mente de uma maneira que

não seja esquecido.

Sua graça e magia me tocam, fazem mirá-la como um leão

faminto dos pés à cabeça, vendo a curva dos seus quadris, da sua
bunda, dos seios, tudo bem contornado na roupa. Após todo este

tempo sem nos tocar, canso de resistir, largo o pano e me aproximo


dela por trás, a agarrando forte, espremendo os seus seios com as

mãos.

Mina para de cantar imediatamente e me corresponde

gemendo, se entregando. Pego-a no colo, a beijando com

necessidade e tento levá-la para o quarto, mas no meio do caminho


sinto preguiça da distância que ainda teremos que percorrer e a

deito sobre o sofá da sala, onde transamos loucamente e agora nos

encontramos completamente pelados e suados. Ela está deitada


sobre meu peitoral, com uma das coxas sobre a minha, acariciando

meu braço enquanto acaricio os seus cabelos.

— Isso é tão maravilhoso. Eu ouvia falar que fazer amor era


bom, mas... é muito melhor — declara. Fazer amor? Nós não

fizemos amor, nós fodemos, penso. Mas não me manifesto, se é

assim que ela se expressa acerca de sexo, tudo bem. Acho uma
graça, notando que apesar da mulher forte que é, ainda há a menina

jovem e inocente dentro dela —, quero lhe perguntar uma coisa:

ainda está com aquela ideia de ser um pai melhor para a Alisa?

Balanço a cabeça positivamente.

— Pois bem, eu estava pensando em darmos um jeito do


senhor passar mais tempo com ela, dentro do possível, é claro.
Concordo, balançando a cabeça, fazendo-a feliz.

— Pensei em fazermos algumas atividades juntos, como ir ao

cinema. Ela está com bastante vontade de assistir um filme que está
estreando, e como o senhor estragou o encontro com o Lorenzo...

— olha-me nos olhos, perdendo a voz. Já tinha até me esquecido do

tal professorzinho de música. Penso que isso deve ser bem


organizado e agendado em um dia que fique melhor para todos —,

por favor, vai ser legal — insiste, então assinto outra vez, Mina me

beija —, ah! Obrigada, será maravilhoso! Ela irá adorar, e eu

também!

Me beija outra vez, nunca canso do seu gosto, do sabor dos

seus lábios nos meus.

— Ah, que loucura, não podíamos ter ficado aqui, vai que dona
Isabel surge e nos pega no flagra — diz, levantando. Tento puxá-la

de volta, mas ela é mais rápida e se ergue, dando-me as costas, se


espreguiçando, de costas, demonstrando toda sua beleza

afrodisíaca. Que sonho. Que perfeição. Até suspiro, impressionado


com tamanho paraíso.

Fico vidrado como um adolescente que vê uma mulher nua


pela primeira vez, memorizando cada parte do seu corpo, as pernas
charmosamente femininas, o bumbum... minha nossa... que bunda é
essa? A cascata cacheada termina de concluir a escultura.

As horas passam, conversamos sobre muitas coisas. Na


verdade, ela fala sobre tudo, tagarela sem parar um instante e ora

ou outra dou alguma opinião, até porque se ela for esperar a minha
manifestação sobre cada coisa que diz, não evoluiremos nunca.

Ainda assim, adoro vê-la feliz, sorrindo e falando pelos cotovelos. Já


estou até me acostumando.

Quando o sol está se pondo, me apronto para buscar minha


filha, notando que passei o dia inteiro com a bailarina e não me senti

desconfortável em nenhum instante. Pelo contrário, foi tudo


agradável, surpreendente, e muito, muito prazeroso. A minha fome

pela boceta dela parece não ter limites, e transamos até meu pau
doer e não ter mais sêmen para derramar.

Fiquei bastante satisfeito, e me surpreendi com o quanto Mina


aguentou para as primeiras vezes. Ontem na madrugada fui bruto

com ela, mas hoje tomei mais cuidado, temendo machucá-la, porém
não aconteceu. Cada vez que experimento do seu corpo, tenho
vontade de comê-la muito mais. Além disso, gosto de vê-la reagindo

às coisas novas que descobre. Gosto também, de certa forma,


ensiná-la sobre o prazer ao qual pode chegar. É excitante.
Chego à mansão Javier e sou recebido com um abraço
caloroso da Alisa que está toda suja de terra. Ela nota meu
semblante indagador e responde:

— Estava brincando lá fora, no jardim, fazendo castelo de


areia para o vovô! — afirma, e logo muda de assunto — Papai é
verdade que o senhor está namorando com a Mina?! É verdade? É

verdade mesmo, papai?

Fico assustado com sua indagação carregada de felicidade. A


menina está eufórica, de olhos brilhando, vibrando eu diria.

— Quem te contou isso, meu amor? — pergunto.

— Eu vi no celular da minha avó! Estava na internet! Vi a foto


de vocês dois juntos! Papai, vocês estavam tão lindos! Quero que
namorem! Quero mesmo!

— Por favor, controle-se, querida. Mina e eu não estamos


namorando, apenas a levei para sair comigo. Foi só isso. Agora vá
tomar um banho para que possamos voltar para casa.

— Tudo bem — fica desanimada, e me dá as costas, seguindo


rumo às escadas que levam para o piso superior, de onde minha
mãe vem descendo, encontrando-a.

— Que carinha triste é essa, meu bem?


— O papai disse que não está namorando com a Mina! — Está
chateada, de braços cruzados, então sobe, sumindo de vista.

Mamãe sorri para mim enquanto estou desagradado.

Ela vem e consegue me capturar, andamos de braços dados


pela área externa da casa, através do imenso jardim, como sempre

fazíamos quando tinha algo a dialogar comigo.

— Quero que a traga aqui em algum final de semana para


jantar — dispara, delicadamente.

Suspiro, isso está fora de cogitação.

— Não adianta me olhar assim, quero conhecê-la! — exige.


Pego o celular do bolso e digito com uma só mão:

Ainda não é nada sério. Estamos apenas nos conhecendo.

Não posso trazê-la aqui.

— É claro que pode, e mesmo que não seja nada sério, não
faz mal conhecê-la. Juro que será sem compromisso algum, não

iremos pressioná-los. Sei que essa garota... Mina, é especial para


você — olho-a nos olhos. Como sabe disso? Minha mãe entende as
minhas caras e bocas direitinho, e como se tivesse lido os meus

pensamentos, responde —, você não vai acompanhado ao baile de


aniversário da Javier há seis anos, desde que Maite foi embora. É
claro que para ter levado essa jovem, houve alguma coisa, algo que

despertou a sua atenção.

Dona Alba está certa. Apesar de não ser a minha mãe de


sangue, sempre pareceu ser, na maioria das vezes conseguiu me

ler de forma correta, mais que qualquer psicólogo ao qual eu já


tenha ido. Foi ela que me ajudou a dar um basta na ida desenfreada
a profissionais que não entendiam nada sobre mutismo seletivo e

me consumiam com tratamentos inapropriados.

Nós paramos de caminhar quando a noite toma por vez a


imensidão do céu. O jardim é todo iluminado, bem planejado, feito e

desenhado por um renomado paisagista espanhol. Minha mãe


suspira e toca o meu rosto, olhando-me profundamente, dizendo:

— Alejandro, você já sofreu demais. Tanto antes quanto depois

de chegar aqui. Ninguém depende de ninguém para ser feliz, mas


está há muito tempo sozinho e sinto que isso não lhe faz bem.
Algumas das nossas atitudes o afastaram mais da família, a nossa

relação nunca foi totalmente sólida, mas também nunca se


encontrou tão quebrada. Quero que se permita amar outra vez,
quero que se liberte para viver e saia de suas prisões mentais. Eu te

amo tanto, filho — se declara, abraçando-me, tocando-me.


A correspondo, fechando os olhos, sentindo seu doce perfume.
Depois respira fundo, enxugando os olhos, segurando em minhas
mãos.

— Traga-a aqui. Venham como apenas amigos ou... amigos


coloridos, como chamam nos dias de hoje, não importa — É uma
graça. Oh, mamãe! — Juro que não os tratarei como namorados.

Reflito um pouco e respondo em sinais:

“Vou pensar”

— Ah, Deus! Como é difícil!

Retornamos para a porta de casa, onde Luna surge de mãos


dadas com a Alisa, que se despede dela e depois de papai.

Aproveito para enviar uma mensagem à minha irmã, já que ela está
com o celular na mão:

Você e Joaquin, é verdade mesmo?

Ela me fita desagradada e começa a digitar em seu aparelho,


logo recebo a resposta:

Não sei do que está falando, já disse que foi um acidente.

Não se meta na minha vida.

Suspiro, irritado, chegando à conclusão de que já fui


compreensível com ela até demais, e envio:
Pois bem, então não se meta mais na minha. Como já me
disse uma vez, não somos aptos a julgar um ao outro. O que

me falou ontem sobre Mina foi patético, não sou um monstro e


nem você. Não ficarei me autodepreciando como você. Vê se
cresce.

Ela me fuzila enraivecida e dá as costas a todos, entrando em

casa.

— Filha, fale com seu irmão... — papai fica confuso com a


reação dela, assim como o resto.

Me despeço dele e de mamãe e volto com a Alisa para casa,


que durante a viagem me conta mil maravilhas do seu final de
semana com os avós, afirmando que já quer retornar no sábado

seguinte. Sinto-me culpado por tê-la privado por tanto tempo da


companhia deles, pois isso a faz feliz demais.

— MINAAAAA!! — Ela corre para os braços da babá que a

recebe amorosamente.

— Oi, princesse, que saudadeeee!! — A morena roda com ela


nos braços, espalhando beijinhos por todo o seu rosto.

— Eu tenho várias novidades para te contar, professora Mina!

— exclama vibrante.
— É mesmo?! Então vamos levar as suas coisas para o
quarto, pois quero saber de tudo! Tudo!

Mina troca olhares comigo e sai correndo com a pequena.


Mais tarde pedimos comida por delivery, não deixo mais a bailarina
cozinhar, já que também aprontou o nosso almoço, que por sinal foi

muito gostoso. Comemos os três juntos na sala de refeições,


descontraidamente, com as duas falando pelos cotovelos, rindo, me
divertindo. Há um clima gostoso entre a gente, a casa está viva,

leve.

Decido não dormir junto com elas, para não criar expectativas
em Alisa, porque por mais que ela seja inteligente e já tenha sacado

tudo, Mina e eu combinamos de ainda não afirmar nada. Ambos


sabemos como é a vida, cheia de altos e baixos, precisamos ter
cuidado para não a machucar novamente como fizemos quando

brigamos aquela vez.

Mina concordou com a minha ideia de agir assim, achou super


válido e novamente provou a sua maturidade, que adquiriu com as

porradas da vida. Ela é demais e não me passa a sensação que


terei dor de cabeça, algo que sempre pensei quando a trouxe aqui
para casa, quando pensava em me envolver, em tê-la. Parece que o

que fiz foi perder muito tempo à toa.


Nem tudo o que parece é, e nem todas as pessoas são iguais.

As pessoas também mudam, foi o que a morena me disse no baile,


foi o que definiu a minha decisão de levá-la para a cama, e até
agora não me arrependo nada disso. Tudo também está cedo

demais, é preciso deixar o tempo agir e ver o que acontece.

No dia seguinte, vou para a Javier após espiar as minhas


donzelas dormindo juntas, enroscadas, no quarto da Alisa. Assim

que chego na empresa, ordeno que a secretária chame Joaquin,


não demora muito e ele aparece, bastante diferente do que costuma
ser: sério. Já sabe o que quero.

— Bom dia — senta diante de mim. O fito mais sério ainda,


sem correspondê-lo, e passo a escrever no bloco de notas —, não
se dê ao trabalho, amigo. Sei o que quer saber. É sobre Luna e eu,

não é?

Afirmo. Então é verdade. Joaquin respira fundo e conta,


olhando-me nos olhos:

— Sei que está me odiando por não ter contado nada, mas ela
implorou para não falar. Eu também fiquei com medo de você... por
algum motivo, se afastar de mim.

Debocho. Até parece que ele acha que sou criança.


— A gente começou a se envolver já faz uns três anos. Foi de
repente, nos encontramos por acaso em uma balada, bebemos
juntos e aconteceu naturalmente. Eu não esperava, realmente não

foi planejado. Passamos um bom tempo só no sexo, mas aí... me


apaixonei — ele abaixa o olhar, fica tenso, triste —, na verdade... —
sorri, sem graça — comecei a amar sua irmã, Alejandro — declara,

sentimental, afetado, me comovendo.

Mexo-me desconfortável na cadeira, ouvindo-o.

— Mas a Luna... ela não sabe amar. Ela... me machucou por

muito tempo com as loucuras dela, com os fantasmas que mexem


com seu psicológico e aquilo foi me cansando, foi me
enfraquecendo. Toda vez que tentava ajudá-la, ela me empurrava

para trás, se fechava, se tornava inacessível e me agredia... com


palavras, com atitudes como aquela que você testemunhou
anteontem. O pior é que, por muitas vezes eu percebia que ela não

fazia por querer, simplesmente surtava.

Ele está cabisbaixo, preocupado. E continua:

— Ela precisa de ajuda, Alejandro... e assim como você, negou


quando tantas vezes ofereci, então desisti. Terminei o que nunca

tivemos e... ela tentou voltar depois que me abri para você, disse
que estava arrependida, sempre diz a mesma coisa, só que dessa
vez, neguei. Não quero mais aquilo para mim, a sensação de estar

vendo uma pessoa que gosta de se auto boicotar e não poder fazer
nada.

Fico chocado e abalado, notando o quanto minha irmã é

parecida comigo e o quanto o que Joaquin disse sobre ela serve


também para mim. Merda. Assinto e o dispenso com a mão, Joaquin
sai sem dizer nada e fico refletindo as suas palavras durante o dia

inteiro, me desconcentrando totalmente para o trabalho.

De volta para casa, tento disfarçar e não passar a minha


energia ruim para minha filha e a babá, mas acho que não consigo

muito bem. Após jantar com elas, vou para o quarto e me isolo,
tomando remédio para a dor de cabeça que se abate sobre mim.
Durmo cedo e acordo mais cedo ainda. Vou para a Javier sem vê-

las e passo o dia visitando as demais empresas que compõem a


sede.

De vez em quando lembro de Mina, notando que ela não me

mandou mensagem alguma, mesmo eu sabendo que notou a minha


hostilidade. Chego em casa mais tarde que nunca, após passar
duas horas num helicóptero, retornando para Madri. As garotas já
estão dormindo, e as minhas forças só me permitem comer o que

Isabel guardou para mim e dormir.

Na noite seguinte, finalmente ás encontro, com a sensação de


que já faz uma eternidade que não as vejo. Noto Mina já diferente
comigo, estudando antes tudo o que vai fazer. Ela deve estar

achando alguma merda sobre meu comportamento e com razão.


Envio mensagem a ela, para que venha ao meu quarto após a Alisa

dormir, para conversarmos.

Tem certeza?

Pergunta, me deixando contrariado. Entorto as sobrancelhas e


respondo:

Mas é claro!

Como combinado, ela surge, tímida, meio distante, mas logo a


recebo com um abraço e um beijo longo, desfazendo qualquer má
impressão que eu tenha causado. Explico-lhe o que aconteceu e lhe

peço paciência comigo, que não foi proposital e que às vezes


preciso ficar sozinho.

— Eu entendo, foi por isso que não mandei mensagem.

Esperei que se comunicasse. Não quero em nenhum momento me


sentir... a chata — fala, a voz um pouco frágil, provando que este
meu momento mexeu com ela —, na verdade... não espero nada da

gente, e pensar assim evita qualquer constrangimento. Não se


preocupe.

Ouvi-la tão dura assim, me deixa perplexo. Nossa... quem é o

coração de gelo aqui? Mina pode ser inocente, mas não tem nada
de boba. Isso me instiga, faz dela um desafio, e adoro ser
desafiado. Estou cansado para discutir, então prefiro ir pelo caminho

do prazer. A beijo docemente, a desarmando, seduzindo, trazendo-a


para mim e fodendo-a gostoso na cama. No fim, combinamos de ir

ao cinema na sexta-feira da próxima semana, que é quando terei


tempo, coisa que a deixa feliz.

Ficamos em paz por todos estes dias, mas ela não me


procura, só vem ao meu quarto se for chamada, coisa que captura

bastante a minha atenção. Ela está tomando todos os cuidados


possíveis para não se machucar ou para que eu não tenha a

impressão de que é um pé no saco, mas está longe disso. Bem


longe.

Na sexta, não consigo chegar em casa mais cedo para irmos


juntos ao cinema, como combinamos, então digo a Mina para ir na

frente com a Alisa e me encontrar no cinema. Tomo banho e troco


de roupa no closet que tenho em meu escritório, pego o carro e vou
para o shopping, trocando mensagens com ela, que diz estar me
esperando na frente da bilheteria.

Enquanto ando pelo grande prédio, observando o movimento

da enorme quantidade de pessoas, me sinto estranho, pois com


toda certeza este não é um lugar que estou acostumado a vir e não
curto ambientes tão barulhentos e dinâmicos dessa forma. Me deixa

ansioso, nervoso, às vezes me faz até suar, porém me controlo.


Está tudo bem. Vai dar tudo certo.

Descubro que estou enganado, ao chegar na bilheteria e me


deparar com Mina e Alisa gargalhando, conversando alegremente
com nada mais nada menos que Lorenzo, o professorzinho de
música.
MINA PACHECO

Este com certeza foi o melhor domingo que já tive em bastante


tempo. Passei o dia conversando e fazendo amor com Alejandro

Javier. A cada vez que ele me possuía, descobria algo novo, uma
forma de prazer específica, pontos sensíveis do meu corpo. Pela
primeira vez na vida, sinto que estou realmente me conhecendo de

verdade, de maneira profunda.

Olho-me no espelho do meu quarto, totalmente nua e ainda um


pouco descabelada após nosso último sexo. Ele acabou de sair para

buscar a Alisa, me deixando devastada sobre os lençóis, depois de


ter me levado ao ápice pela milésima vez. É incrível a disposição

dele e a capacidade de tirar o melhor que há dentro de mim.


Ficamos tão grudados hoje, que cheguei a pensar que não

mais o suportaria invadindo as minhas entranhas. Mas o homem é


inteligente e bastante experiente, sempre conseguindo me tomar de

maneiras que me excitam e me fazem reagir.

Resvalo a mão sobre a minha intimidade, e vejo pelo reflexo o

quanto ainda estou melada, vermelha e inflada. Os meus lábios

vaginais estão mais grossos, estufados e sinto um pouco de dor, só


que é algo gostoso ao mesmo tempo, não sei explicar.

Escorrego as mãos pelos cabelos, sorrindo, me sentindo bem

completa, me sentindo mulher. Adorando essa nova fase repleta de


descobertas. Sigo para o banheiro e tomo um banho relaxante,

desejando invadir o quarto do chefe e tomar sua banheira


maravilhosa, mas me controlo. Penso que tenho que me controlar,

conter os sentimentos em relação a este homem. Ele não é o

jardineiro, desde o início percebi isso e ainda assim quis arriscar,

experimentar, me deixar levar por seu doce perigo.

Algumas horas depois, Alejandro retorna com a Alisa, que me


abraça com saudade, fazendo-me perceber o quanto senti sua falta

também neste pouco tempo em ficamos afastadas. Sigo com ela

para o seu quarto, onde conversamos bastante sobre como foi na


casa dos seus avós, momento em que fico surpresa quando
dispara:

— Professora Mina, você e papai estão namorando? Diz que

sim, por favor! Vi a foto dos dois no baile e não adianta negar! — O

que mais me impressiona é o brilho em seus olhinhos na esperança

de que sua teoria esteja certa.

— Alisa, eu... — fico sem palavras.

— Por favor, diga que é verdade. Vocês foram ao baile assim

como no conto da La belle et la Bête. A senhorita vai fazer meu pai

sair da fera e se transformar em um príncipe através do amor!! —

bate palminhas empolgada, fazendo-me gargalhar.

— Já mudou de opinião? Agora acha que seu pai é uma fera?

— brinco.

— Não diga nada a ele — sussurra, como se Alejandro

pudesse nos escutar agora. —, mas desde que você veio para cá

que ele está mudando. Papai está se tornando um príncipe

devagarinho, graças à senhora.

— Não é graças a mim, meu amor. É por você, ele quer ser um

pai melhor para você. E não, não estamos namorando, apenas o

acompanhei no evento.
— Ah, que droga! — reclama bastante irritada, mudando da

água para o vinho.

— Olha a língua...

— Desculpe, professora Mina. Mas é que queria tanto isso,


assim você poderia ser a minha mamãe — fica contente de novo só
de imaginar —, eu queria muito que minha mãe fosse como a

senhora — se declara, emocionando-me.

— Oh, meu Deus — a abraço, apertando bastante entre os


meus braços, tentando nem por um segundo cogitar sua
imaginação.

O resto do dia é bem favorável, comemos os três juntos,

conversando e rindo bastante. Eu e Alejandro conseguimos fazer


com que a Alisa esqueça um pouco dessa história de namorarmos,

apesar de sabermos que ela é muito esperta e já catou tudo no ar.


Ele combinou comigo de não afirmarmos nada, até porque,
realmente não temos nada a afirmar, não assumimos compromisso

algum, estamos apenas fazendo amor. Espero saber lidar com isso,
sou bastante paranoica e qualquer coisa pode me fazer entrar no

modo defensivo.
Como se estivesse prevendo o futuro, no dia seguinte, como

de costume ao acordar, não encontro o CEO em casa, já foi


trabalhar. Ele não me envia nenhuma mensagem o dia inteiro e

decido também não enviar, apesar de ter muita vontade e mirar seu
contato no celular de vez em quando.

Quando chega à noite, no jantar, sinto-o distante, hostil, sem


pique para interagir e isso já me afeta, principalmente quando vai

para o quarto e de lá não sai mais e nem me chama. Mal consigo


dormir com isso, fico pensando se ele já chegou ao ponto de se

cansar de mim depois de conseguir tudo o que queria, afinal, não


fez promessa alguma e não quero ser hipócrita para dizer que me

iludi.

No dia seguinte, não o vejo nem mesmo na hora do jantar, e

quando acordo de manhã, descubro através de dona Isabel que já


foi trabalhar. Alejandro está me evitando. É isso. Não há outra

explicação. Fico magoada, pensante, e agora evito olhar o contato


dele para não correr o risco de fazer merda. Mas a sensação é de
descarte.

Não crie expectativas, Mina. Na verdade, estava com esta

ideia na cabeça desde o início, então não as criei, mesmo assim é


impossível evitar a dor que estou sentindo, o vazio. Porém, continuo
a trabalhar, enchendo a minha cabeça exclusivamente com as
coisas da Alisa, não quero pensar em mais nada. Se ele não quer,
também não vou querer. Ponto.

Nós não temos nada, foi só sexo, apenas. É muito difícil para

uma pessoa tão sentimental como eu lidar com isso, mas fiz
sabendo que poderia acontecer, já que Alejandro não é o jardineiro.
Ele não vai cuidar de mim como uma flor que sou, não vai me amar,

apenas me dará prazer, no grau máximo da palavra.

A vida infelizmente é assim, feita de relacionamentos vazios e


resumidos a sexo. Algo que tanto evitei e agora estou vivendo. Mas

talvez esteja exagerando, não posso dramatizar demais, não posso


me colocar neste lugar de vítima e me afundar em melancolia. Não
quero, não sou assim. A vida já me ensinou que a cada golpe, devo

agir mais forte.

Por outro lado, Alejandro deve estar apenas muito ocupado


como sempre foi. Isso não é novidade, então não preciso ficar tão

perturbada desse jeito.

Ao anoitecer, finalmente o encontro na mesa, jantamos juntos.

Ele parece bem, mas estou fria de modo inevitável. Fico o


estudando de modo discreto, tentando captar alguma coisa que
denuncie seu comportamento nos últimos dias, dançando conforme
a música. Isso não é proposital, sou realmente assim, odeio ser
inconveniente e chata como já vi muitas mulheres serem, enquanto

os homens as pisavam e controlavam.

Sou do tipo de pessoa que aprende com os erros alheios. Vi


minha mãe sofrer bastante com a imagem que durante toda a vida

ela criou do meu pai, e que foi destruída com a sua morte e as
descobertas que vieram desde então. Seu erro foi, se apegar a um

homem perfeito que não existia, se iludir e depois sofrer bastante.

Amo o meu pai, como pai ele era excelente, mas como marido

deixou muito a desejar, com tantos segredos e mentiras, mesmo

que minha mãe não veja por este lado. Ela esqueceu o que ele fez
de ruim e só lembrou do amor, mas não consigo ser assim.

Depois que vi Alejandro pela primeira vez, há dois anos,


sempre o tive na cabeça como um príncipe encantado e misterioso,

sempre lembrava da sua imagem como uma forma de fugir da triste

realidade que vivia. Mas depois de sua proposta indecente, veio a

decepção e a quebra do sonho. Com a sua ajuda, veio a admiração


e a vontade de tê-lo como príncipe outra vez, mas... com a nossa

convivência, notei que não existe um príncipe, que ele não é

perfeito, assim como também não sou.


O fato é que, estar ao seu lado e conversar com a minha mãe

sobre a vida, sobre a paixão e o amor, me fizeram acordar de vez


para o mundo real, reativaram os meus sensores de autodefesa. Ele

é um homem lindo e milionário, pode ter qualquer uma a hora que

quiser, por isso não devo me iludir, por isso tenho que me
resguardar dos sentimentos, os quais já sei que sinto em seu favor.

Em dado momento, quis resistir, quis lutar contra os meus

desejos, mas os nossos beijos escondidos, seu toque em meu


corpo, as suas palavras e, principalmente após o baile, foram o

suficiente para me entregar.

Ainda quero me entregar, quero continuar tendo-o dentro de

mim, fazendo-me enlouquecer, parece até que estou viciada nisso,

mas... nunca devo me entregar por completo, sempre devo ficar

preparada para o fim a qualquer instante. Sei disso.

Após levar a Alisa para o quarto, para dormir, recebo uma

mensagem de Alejandro me convidando para ir ao seu quarto mais


tarde. Pergunto-lhe se tem certeza disso e ele confirma que sim.

Depois que a menina cai em sono profundo, sigo para seu cômodo

após me arrumar em frente ao espelho.


Surjo toda sem jeito, mas ele surpreendentemente, me recebe

com um longo beijo molhado e um abraço quente, acolhedor, que

me desarma, que faz espantar as dúvidas, os receios e medos


sobre nós dois. Em seguida, já notando que estou um pouco

estranha, Alejandro trata de explicar o motivo do seu afastamento,

que, segundo ele não foi proposital, justificando que às vezes

precisa ficar sozinho.

— Eu entendo, foi por isso que não mandei mensagem.

Esperei que se comunicasse. Não quero em nenhum momento me


sentir... a chata — revelo, educadamente —, na verdade... não

espero nada da gente, e pensar assim evita qualquer

constrangimento. Não se preocupe — sou direta, o impressionando,

vendo as suas sobrancelhas se erguerem.

Alejandro não replica, simplesmente me leva para a cama,

onde fazemos amor outra vez e combinamos de ir ao cinema na


sexta-feira da semana seguinte. Assim, voltamos a ficar em paz,

mas continuo me comportando como antes, sem ficar interferindo na

sua vida, me mantendo distante quando acho prudente.

Na sexta, a Alisa e eu ficamos bem animadas para o cinema.

Já faz um tempo que não vou, que não assisto um filme, não tenho

este tipo de lazer e estou feliz com a ideia. Recebo uma mensagem
de Alejandro afirmando para irmos na frente com Diogo, pois ele nos

encontrará lá, já que não conseguiu deixar a empresa mais cedo.

Ao chegar no hall, flagro a Alisa falando no telefone fixo, o que

acho estranho.

— Com quem está falando, Alisa?

— Com o professor Lorenzo, estou o avisando que já estamos


indo para o cinema. Ele vai nos encontrar lá.

Esbugalho os olhos por um instante. Como assim?

— Você o chamou? — pergunto, enquanto ela ainda está com

o telefone na orelha.

— Sim! — responde, empolgada e sorridente.

Ouço a voz do homem chamando por ela, e então atendo.

— Oi, Lorenzo? — indago sem graça, sabendo que talvez

Alejandro não goste de sua presença.

— Oi, Mina. Obrigado pelo convite, encontro vocês lá. Até mais

— e desliga, não me dando chances de desmarcar. Mas está tudo

bem, vai dar tudo certo, Lorenzo é só um amigo, professor da


menina e Alejandro não criará caso por isso.
Saímos com Diogo da cobertura e minutos mais tarde estamos

na bilheteria do cinema, coisa que aviso a Alejandro. Logo Lorenzo

surge, bem pontual afinal. Ele nos abraça, nos cumprimentando.

— Olá, moças — diz, sorridente e cheiroso.

— Olá, Lorenzo, boa noite — o saúdo de volta.

— Boa noite, professor — Alisa fica bem empolgada com a

presença dele.

— Boa noite, minha aluna preferida da vida.

A menina gargalha, recebendo uma carícia na bochecha.

— Então, já compraram os ingressos? — indaga.

— Ainda não, estamos esperando meu pai chegar.

— Ah, o doutor Alejandro estará presente? — Ele fica

surpreso, acho que qualquer pessoa ficaria.

— Sim — respondo.

— Assistirá ao filme conosco? — Não está acreditando.

— Sim — Alisa não se contém de felicidade.

— Minha nossa... acho que aconteceu um milagre! — brinca,


nós três caímos na gargalhada.
Continuamos a conversar descontraidamente. Fico observando

Lorenzo e percebo que ele tem supercara de jardineiro, jeito de


quem sabe cuidar bem de uma flor, sem exalar perigo como

Alejandro, mas não entendo o porquê de não conseguir sentir um

pingo de atração por ele. Ao pensar na palavra atração, o primeiro

que vem à minha mente, é o senhor Javier, a minha perdição.

O pensamento é tão forte, que o homem aparece em pessoa,

se materializando à nossa frente, sério, rígido, fitando Lorenzo com


desagrado. Mas o que foi?

— Oh, doutor Alejandro, boa noite — Lorenzo fica um pouco

desconcertado e estende a mão para cumprimentar o chefe, que o


corresponde, mas parece até que é sem querer, é por obrigação.

— Papai! — Alisa o abraça e é pega no colo. Alejandro é mais


alto que Lorenzo, mais forte, e a Alisa não pesa nada em seus

braços musculosos contornados pela camisa social preta.

— Doutor Alejandro — o cumprimento, ele assente,


aparentando incômodo. Será que é por causa de Lorenzo — Alisa

convidou Lorenzo para assistir ao filme conosco — resolvo explicar.

— Liguei para ele escondida — conta a menina.


— Foi escondida? Achei que você sabia, Mina — comenta
Lorenzo, surpreso.

— Mas de que isso importa? Não foi você que deu a ideia? Por
isso ela o chamou e estamos todos felizes que está aqui — miro

Alejandro, que pode estar tudo, menos feliz. Será que está com

ciúmes? Não pode ser, só posso estar ficando louca, mas esta ideia
me dá vontade de rir, porém, me seguro. Ficamos todos calados,

trocando olhares, um clima estranho, Lorenzo notando alguma

coisa, coitado. Puxo ar e resolvo quebrar o gelo —, então, vamos

gente! A sessão vai já iniciar!

— Precisamos comprar os ingressos, linda — é assim que

Lorenzo costuma me chamar quando dá aula para a Alisa. Alejandro


ergue uma sobrancelha para ele, como quem não está acreditando.

— Ah..., sim, os ingressos. Vamos — não há o que fazer, não

quero que o rapaz se sinta mal ou que está incomodando —,


esperem aqui, já voltamos — digo ao chefe e sua filha, tentando

disfarçar, já que ele é um péssimo ator. Se ele falasse, seria mais


fácil saber o que está sentindo, entretanto, estou imaginando mil
coisas.
Lorenzo puxa vários assuntos enquanto compramos os
ingressos, tento lhe dar atenção e sempre que posso miro o Sr.
Javier que não tira os olhos da gente também. Compramos pipoca,

refrigerante e seguimos para uma das salas do cinema. Não sei


direito como acontece, Lorenzo é mais rápido e fica ao meu lado,
consequentemente a Alisa fica entre mim e Alejandro, nos

separando.

Ajeito a Alisa direitinho, deixando-a confortável na poltrona


para comer e assistir bem. Alejandro me fita irritado, pelo seu olhar

ameaçador, confirmo que a sua insatisfação é mesmo para com


Lorenzo. Balanço a cabeça negativamente, discretamente, lhe
dizendo que não tem nada a ver.

As luzes se apagam, os trailers dos filmes começam.

— Uuuh, agora é a hora que fica tudo mais escurinho, não é?


Momento em que temos mais privacidade — sinto uma certa ironia
na voz de Lorenzo.

— Pois é... — rio sem graça, imediatamente focando em


Alejandro que pega o celular e digita algo depressa. Na mesma hora
a mensagem chega em meu celular:

Linda, é?
Não consigo segurar, e rio assim que leio.

— É, esse filme é muito engraçado — diz Lorenzo, achando


que estou rindo do que passa no telão. Disfarço e envio um texto:

Nós somos apenas amigos, nada mais.

Alejandro lê e responde:

Não é o que ele acha, na primeira oportunidade vai passar


o braço por seu pescoço.

Fito o CEO disfarçadamente, usando os cachos para tapar


meu rosto para Lorenzo, e nego com a cabeça, segurando o riso. É
claro que isso não vai acontecer. Ele guarda o celular e eu também.

Não demora muito e o filme tem início, é infantil, de comédia, o


que Alisa escolheu, é muito bom por sinal. Adoro filmes infantis, me
julguem. Estamos indo bem, todos no escuro, até que de soslaio

percebo uma movimentação suspeita de Lorenzo. Seu braço está


lentamente, encaminhando-se em minha direção, se arrastando pelo
topo da poltrona, na tentativa de passar por meu pescoço.

OH NÃO!

Fico paralisada, sem saber o que fazer, Alejandro estava certo.


Sinto o peso dos braços de Lorenzo sobre os meus ombros e miro
meu chefe sem saber o que fazer. Os seus olhos de gato já estão
sobre mim e seu semblante traduz um consciente: “Não te falei? ”.
Ele está visivelmente incomodado, e agora eu também. Até então, o

professor de música nunca teve uma atitude dessas, e olha que já


nos conhecemos há três meses.

Penso rapidamente no que fazer e digo:

— Oh, meu Deus, um mosquito! — dou tapinhas em meu


ombro, espantando Lorenzo que desfaz o toque.

— O que foi? — Ele pergunta, sem entender.

— Um mosquito me picou! — minto, sacudindo os ombros,

fingindo descaradamente.

— Aonde, aqui? Quer que assopre? — Se oferece, todo


educado.

— Não, não, não precisa, já passou!

— Shhhh — fazem algumas pessoas, incomodas com nosso


barulho.

A ideia parece dar certo, pois Lorenzo não faz mais menção de

tocar em mim. Olho para Alejandro disfarçadamente e ele está com


um sorriso esticado no rosto, belíssimo, lindo demais. Como é lindo
sorrindo, meu Deus. Preciso fazer isso acontecer mais vezes. Ainda

por cima, se mostra bestificado com o que acabei de aprontar. Ele


pega o celular outra vez e envia emojis de rostinhos gargalhando,

com o texto:

Você não existe.

O respondo com as mesmas carinhas de riso.

Assim, terminamos a sessão e saímos da sala, nos separamos

de Lorenzo, que vai embora triste, como quem não cumpriu com a
missão da noite. Ao chegarmos em casa, a Alisa está saltitando de
alegria e afirma:

— Ah, papai, eu adorei essa noite, adorei que foi ao cinema


comigo pela primeira vez. Te amo tanto! — Ele a abraça, pondo-a no
colo e a beijando, contente com a declaração da garota.

— E agora, o papai vai te botar para dormir, Alisa — digo,


chamando a atenção do homem que não esperava por isso, não foi
combinado. É uma ideia que tive agora, e também preciso de um

descanso.

— Sério? — Ela fica muito contente.

— Aham, papai precisa ter estes momentos com a filha.

— Faz um tempo que o senhor não me põe para dormir, papai.

Ele assente e segue com ela para o piso superior. Caminho

atrás deles, penso em ir para o meu quarto, mas tenho uma ideia
melhor e subo para o terraço, onde encontro a piscina de luzes
acesas e aquecida, o vapor subindo, deixando-a linda sob o céu
escuro. Fico passeando ao redor dela, sorrindo, sentando na beira e

molhando os pés, sentindo a água morninha, gostosa.

Fico alguns minutos assim, curtindo, até receber uma


mensagem de Alejandro:

Onde você está?

Respondo:

No terraço, o esperando.

Sorrio maliciosa, não me reconhecendo. Decido ceder ao


desejo que há tempos corre na minha mente e retiro o vestido leve,

jogando-o para longe, mergulhando vagarosamente na piscina,


sorrindo ao submergir, amando, cobrindo os seios com as mãos,

com vergonha de não sei quem, talvez pelo fato de estar ao ar livre.

Emerjo feliz, lembrando da piscina que tinha na minha


cobertura, tento focar só nas coisas boas agora, sem tristeza. Nado
por dentro da água, usando apenas calcinha, deixando-me levar,

fluindo, relaxando, curtindo o momento. É tão incrível! Eu precisava


muito disso.
Vejo Alejandro se aproximando, ele deixa algo sobre o sofá e
caminha até a beira da piscina impressionado comigo. Sorrio para

ele, sapeca, cobrindo as mamas.

— Quer tomar banho? — O convido, sem saber ao certo o que


estou fazendo. Ele me observa como quem não está acreditando —
Estou falando sério! Vem! A água está quentinha — chamo,

convencendo-o.

É então que começo a testemunhar algo divino: Alejandro


passa a tirar, peça por peça, toda a roupa, sério, sedutor, sempre

focado em mim. Engulo em seco quando fica só de cueca, olha ao


redor e a desce, mostrando o mastro grosso, pesado, gigante, bem
destacado entre as suas pernas. Minha intimidade pisca sob a água

enquanto ele caminha pela beira até a escada, a bunda dura,


máscula, branca, rebolando.

Minha respiração passa a ficar mais forte, o observo entrar nas

águas, lentamente, enigmático, sensual, poderoso, como o deus


Netuno dominando tudo. O homem vem em minha direção,
musculoso, tatuado, predador, como um caçador rumo à sua presa,

parecendo adorar tudo isso. Quando para à minha frente, já estou


quase derretida, hipnotizada em sua imagem. É lindo demais.
Ele segura as minhas mãos e, descobre os meus mamilos,
consumindo-os com os globos, seu objeto de desejo, como se

tivesse faminto. Isso me excita, me faz até fechar os olhos por um


instante em mais pleno tesão. Uma mão escorrega para a minha

cintura, me puxando, colando os nossos corpos, a outra me pega


pela nuca e, as nossas bocas se grudam de maneira tentadora,
abissal.

Sinto seu pênis pungente pressionando meu abdômen,

pegando fogo mesmo molhado. A língua dele se enrosca na minha,


suga, chupa. São movimentos lascivos, sexuais, irresistíveis. Ele

apalpa as minhas nádegas, pegando forte, abrindo-as, arrancando-


me gemidinhos, então me puxa para o seu colo, fazendo-me montar
em seus quadris, seu membro escorregando para debaixo da minha

bunda, roçando.

Não paramos de nos beijar, arranho-o na cabeça, nos ombros,


movendo o bumbum como posso, sentindo a massa grossa entre as

nádegas, sem me penetrar, torturando-me. Alejandro caminha,


pondo-me contra a lateral da piscina, deixando-me presa entre seu
corpo rijo e os azulejos. Sou pequena, ele enorme, a sensação que

dá, é a de que estou montada em um touro.


As suas mãos resvalam por toda a minha pele, os dentes

mordem meu lábio inferior, a barba esfrega contra meu pescoço. Ele
me tira a sanidade, gradativamente vai me deixando louca. Um
punhado do meu cabelo é puxado para trás, fazendo minha cabeça

se erguer ao mesmo tempo em que os meus seios são atacados


pela língua ferina, que chicoteia os bicos, criando movimentos

instigantes, provocantes, chupando e devorando.

Desço a mão para seu membro com um certo desespero, na


tentativa de fazê-lo entrar em mim, mas Alejandro me impede,
erguendo-me pela cintura como se eu não pesasse nada e

sentando-me na beira da piscina, com as pernas abertas diante do


seu rosto malvado. Minha calcinha é retirada com pressa.

Ele não pensa duas vezes e enfia o rosto no meu sexo,

açoitando meu clitóris sem dó nem piedade. Perco a razão,


gemendo alto, quase gritando, assistindo-o fazer o oral gostoso.
Seguro seu cabelo entre as unhas e, tomada por uma força que me

domina, rebolo os quadris, delirando, esfregando minha intimidade


entre os seus lábios pecaminosos.

Alejandro me cede o controle da situação, permitindo que eu

crie os movimentos eróticos, que faça acontecer! Assim, me


entrego, ensandeço em luxúria, rebolo ao mesmo tempo em que a
língua dele penetra meu corpo, girando e voltando para o monte de
Vênus, cutucando o clitóris, chupando e comprimindo entre os lábios
numa espécie de massagem.

Sinto a pressão na vagina, o tremor por todo corpo, uma


energia se concentrando em meu âmago e então explodo, jogando-
me para trás, perdendo as forças. O homem me puxa pelas coxas,

prendendo-me entre seu rosto, bebendo dos meus fluidos, me


tirando tudo, tudo! Deito-me na madeira, vibrando, arquejando,
achando por um momento que vou morrer de prazer, de lubricidade.

Quando ele se satisfaz, mergulha por alguns segundos,


afundando, e então sai da piscina, elevando-se ao meu lado, como
um deus, o pênis enrijecido balançando. Olho-o de baixo, deitada no

chão, ainda meio enfraquecida. Ele se agacha e me pega nos


braços como um cavalheiro erótico, me beija e me leva para o
grande sofá, onde sou deitada.

Depois senta no canto, contra um dos braços do móvel,


abrindo as pernas longas e grossas entre meu corpo. Alejandro me
fita safado, sensual, fazendo um sinal molhando a ponta do

indicador na língua e guiando-o até a glande do seu mastro,


deixando bem claro o que quer que eu faça.
A princípio fico assustada, o coração batendo forte, nem sei
como começar isso!

— Eu não sei... nunca fiz — afirmo, preocupada. Novamente o

gostoso faz o sinal de silêncio que tanto o representa, sua pele


inteira cintilando da água, belíssimo. Então me puxa delicadamente

pelo queixo, usando a ponta dos dedos, acomodo-me sobre ele,


para poder beijá-lo docemente, calmamente, até ficar mais calma.

Os seus olhos não desafixam dos meus, as mãos enormes


juntam os meus cachos, limpando o meu rosto que é direcionado

até a sua longa extensão, de veias que pulsam, aparentes, grossas,


bem desenhadas, correndo o sangue. Ainda me impressiono com

sua grandeza, o porte, a espessura.

Minha boca é guiada até a glande massuda, pontuda, rosada,


quase vermelha de tanto tesão. Alejandro põe a língua para fora,
ensinando-me e simultaneamente ansiando para que eu faça o que

quer. Decido me jogar em mais esta experiência e, delicadamente,


lambo sua fenda, que se contrai bem na minha frente, abrindo e

fechando em rapidez.

— Oooh — seu gemido sai quebrado, o abdômen trincado


estremecendo, me excitando. Parece que fiz bem. Repito o
movimento, arrastando a língua por sua carne dura, petrificada,

sentindo um gostinho meio salgado — Hmmf... — ele morde o lábio


inferior, adorando, e ainda segurando minhas madeixas, me faz
afundar sua glande entre os lábios, penetrando a minha boca —

Aaah... — joga a cabeça para trás lentamente, delirando.

É uma loucura, estamos a céu aberto, ao ar livre, alguém pode


nos ver de algum jeito. Olho ao redor, um pouco receosa com isso,

mas o corpo de Alejandro e seu prazer me chamam mais a atenção.


Estou gostando de fazê-lo gemer e delirar como faz comigo. Isso me
dá prazer intenso e já me torna quente outra vez.

Dessa forma gradativamente, passo a chupá-lo, aprendendo,

um pouco insegura, sem saber se estou fazendo corretamente, mas


as suas reações positivas me impulsionam, me fazem seguir em

frente e tomar mais liberdade. Abro mais a boca, recebendo seu


corpo peniano, vasto, largo, que estica os meus lábios, a cabeça
arrastando no topo, roçando nos dentes. Tusso, botando tudo para

fora, melando, babada.

Alejandro ergue os quadris lentamente, criando movimentos de


vai e vem penetrando-me, fazendo seu mastro ir e vir, o oral

acontecendo. Movo a língua, lembrando dos movimentos que ele


faz comigo, tentando imitar, chupando. Sinto a necessidade de
segurá-lo, recordo quando me fez masturbá-lo e repito a mesma

coisa.

O homem geme mais, mostrando os dentes como um animal


selvagem, feroz, se tornando louco de prazer, apertando os meus

cachos entre os dedos, comandando e me deixando comandar,


dominando e também me permitindo dominar. Tusso outra vez
quando ele vai mais fundo, atingindo a minha garganta, e então me

puxa para um beijo, sem nojo, com vontade, espalmando a minha


bunda.

Ele pega um preservativo, foi o que deixou sobre o sofá

quando chegou. Veste-o na minha frente e me chama com a mão,


sexy, perigoso. Acomodo-me entre seu corpo, montando-o,
deixando-o afundar robustamente em minhas entranhas, abrindo as

minhas carnes, seguindo, entrando, me preenchendo à medida que


libero um grunhido longo, lascivo, fechando os olhos.

Suas mãos seguram firme a minha cintura, me instigam a

movimentar os quadris, subir e descer, fazendo amor. Começamos


devagar, olhos nos olhos, as investidas ficando cada vez mais lisas,
úmidas. Nessa posição o mastro do meu chefe vai longe, profundo,

batendo no meu útero, no limite do prazer e um pequeno


desconforto. Mesmo assim vou me entregando, querendo-o mais,
sempre mais, recebo um tapa forte nas nádegas e é isso que me faz
reagir de modo ainda mais perigoso.

Movimento-me mais rápido, esticando as mãos sobre seu

peitoral inflado, perfeito. Sento com mais vontade, encaixando os


nossos centros, fazendo barulho, um som sexual que me deixa
louca, que me instiga a seguir. As minhas nádegas amassam

quando acontece o atrito contra sua pélvis, com força.

As palmas dele deslizam por todo o meu corpo, dois dedos

penetram na minha boca. Os mordo, saindo do controle, gemendo


junto com ele, admirando os seus lábios entreabertos. Novamente
segura firme em minha cintura e me ajuda a pular com mais rapidez,
sua longa extensão inteira dentro de mim, cada investida batendo
em seus testículos, chegando além do limite.

Fico independente, rebolo, erguendo a cabeça, gritando,


sentindo-o esmagar os meus seios, me atiçar, mexer com minha
libido, roubando o meu juízo. Sou totalmente dele, estou entregue,
cavalgando, quicando, girando os quadris, preenchida, sem espaço

para mais nada, os lábios vaginais resvalando contra o corpo da


massa larga, quente. As nossas cores se misturando, preto no
branco.
Estou queimando de dentro para fora, é animalesco, ardente.
Alejandro aperta a minha garganta, bate mais na minha bunda,
miro-o um pouco sem ar, quase berrando, ensandecida, ambos

extrapolando todas as barreiras do prazer! Sinto tudo sacodir por


dentro, um terremoto incontrolável. Ele também parece que vai
explodir destrutivamente e juntos chegamos a um orgasmo
arrasador.

O homem senta rapidamente, deixando as costas mais eretas


e me abraça, completando tudo, fundindo os nossos corpos mais
ainda, tornando um. Desdobro as pernas e as estico, deslizando
ainda mais o sexo pelo seu, recebendo cada centímetro grosso e
quilométrico. É profundo, abrasador.

Seus braços musculosos rodeiam meu corpo magro com força,


esmagando-me, os meus seios pressionados contra seu peitoral, o
rosto dele afundado em meu pescoço, a respiração quente batendo

e queimando a minha pele. Meu coração retumba contra o dele,


descompassado, fora do ritmo.

Quando a magia vai se esvaindo, o formigamento, o


embevecimento, a sensação de estar nas nuvens, ele me tira do seu

colo delicadamente, deixando-me deitada de pernas abertas à sua


frente. Alejandro se ergue no chão, se livra do preservativo, põe os
joelhos na beira do sofá e inclina-se sobre mim, o pênis intimidador
e todo babado sobre o meu rosto.

Ele põe a língua para fora, ordenando indiretamente que eu

faça o mesmo enquanto se masturba sensual, lento, gostoso. Vejo o


sêmen saindo por sua fenda e gotejando em minha boca. É salgado,
viscoso. Não quero engolir e então deixo escorrer para fora,
descendo pelos cantos, melando meu queixo.

— Aaaah... hmmm — ele geme rouco, assistindo o que está


fazendo, se excitando com isso. Já percebi que gosta da sujeira,
dessa coisa mais pornográfica, e o pior é que estou aprendendo e
gostando mais ainda. Fecho os olhos e apenas sinto.
ALEJANDRO JAVIER

Mina Pacheco está extrapolando todos os meus limites em


diversos sentidos. Vê-la toda amiguinha do professorzinho de

música e notar seu interesse nela me tirou realmente do sério. Mas,


como um cavalheiro que sou, me comportei e tentei ao máximo não
demonstrar a minha insatisfação.

Não é ciúmes, claro que não. A questão é que era para ser ela,

a Alisa e eu, um programa entre nós três, este tolo não tinha que
aparecer. A audácia dele me surpreendeu, nem a minha presença o

intimidou, visto que tentou abraçar a morena como já havia previsto.


Ela, contudo, fez uma cena hilária para se livrar de seu toque e me

encheu de orgulho.
Mas tudo isso, de certa forma, abriu os meus olhos. Mina é

uma mulher muito bonita, jovem, inteligente, radiante. Antes de


Lorenzo, já notei outros homens mirando-a com interesse, quando

almoçamos fora, por exemplo. O que quero concluir é que, é óbvio

que ela será abordada sempre que eu não estive por perto, pois é
muito atraente, tanto física quanto psiquicamente, e fiquei longe por

alguns dias, foram poucos, mas o suficiente para dar espaço para

aquele abutre.

Quando chegamos no apartamento, Mina ainda me põe para

colocar minha filha para dormir. Realmente estou dedicando estas

últimas horas do dia a ela, então concordo, levando a pequena para


a cama. Este momento, por mais que a princípio pareça cansativo, é
muito especial e importante para o nosso contato, e já faz um tempo

que não o prático.

Quando ela dorme, procuro pela babá, mas não a encontro.

Envio-lhe uma mensagem e me surpreendo com a resposta, de que

está me esperando no terraço. Tenho pensamentos sacanas, pego

um pacote de preservativos em meu quarto e sigo para o rooftop,


onde fico de queixo caído ao encontrar a cacheada nadando nua na

piscina.
Mas que danadinha... quem diria.... Sou convidado a entrar na
água e, tomado pelo desejo, vou ao seu encontro. Não demora para

que comecemos a nos esfregar e transar de forma animalesca.

Decido realizar novos fetiches, pondo a jovem para mamar em meu

pau e, assisti-la tão inocente, delicada, com a boquinha recebendo a

minha carne grossa, me faz pirar mais do que o esperado. Os seus

lábios carnudos engolindo-me é coisa de outro mundo, nunca vivi


nada igual. As sensações e emoções são diferentes.

O que mais me surpreende, é que Mina não se nega a nada,

não põe dificuldade, não tem frescura. Ela simplesmente se abre

para a experiência, aprende, vive comigo, se doa.

Depois a deixo no controle, cavalgando em mim, se libertando,


dando vazão à sua deusa interior, a amazona forte e sexy. É uma

loucura, me descontrola, transforma-me em algo incomum, absoluto

em prazer. Sou arrebatado outra vez, impressionando-me com a

forma como a morena toma atitude, me dominando, mostrando que

é capaz, que quer, que pode também.

Quando menos espero, estamos numa dança lasciva, unidos,


nos jogando no fogo, queimando, criando labaredas ao mesmo

tempo, sincronizados, recheados de química, em combustão!


Terminamos com um orgasmo fenomenal, unidos, juntos. Mas,

ainda querendo viver mais uma experiência ao seu lado, termino de


gozar dentro da sua boca carnuda, despejando porra devagarinho

em sua língua, vendo-a se lambuzar inteira com a minha semente.

Essa cena é divina, a putaria abrasando, batendo forte entre a

gente. Gosto disso, eleva o meu ego, me embevece na mais forte


luxúria. Mina novamente não recua, pelo contrário, experimenta as

sensações comigo, está claramente aberta à novas experiências e


isso me fascina.

Hoje vi um lado dela que não conhecia, lhe dei o impulso


necessário para que mostrasse a força da sua libido, quicando

sobre mim como uma gata selvagem, me devastando, fodendo,


sugando meu pau entre as suas carnes íntimas, apertando-o

profundamente, levando-me à loucura.

Ficamos deitados sobre o sofá, nus, agarrados, tentando


recuperar as forças que gastamos e, quando finalmente consigo
levantar e vestir a calça jeans, tomo Mina nos braços, que ainda

está meio desfalecida, exausta. Levo-a perfeitamente nua até o


andar de baixo, seguindo rumo ao seu quarto, mas... miro-a, de

olhos fechados, maravilhosa, e não sinto vontade de me despedir


agora.
Assim, mudo o trajeto, adentrando no meu cômodo, deitando-a

sobre a cama King, admirando-a de forma sublime, encantando-me


com tamanha divindade. Retorno para o terraço, catando todas os

vestígios do crime para que quando a governanta venha limpar por


aqui amanhã, não descubra o que andamos fazendo.

Desço, entro no quarto, tranco a porta e tomo banho, seguindo


para a cama pelado após me enxugar e deitando de conchinha com

a morena. Fico excitado com o nosso contato, querendo endurecer


outra vez, tenho vontade de comê-la até de manhã, mas por notar

que está totalmente sem forças, decido lhe dar esse descanso e
apenas descanso junto, pois também estou exausto, preciso desse

conforto.

Aspiro o cheiro dela, com o rosto quase enfiado entre os seus

cachos volumosos, negros, bagunçados, perfumados, nossos


corpos colados. Ponho um braço cuidadosamente sob seu pescoço

e o outro sobre seu corpo, abraçando-a, entrelaçando-a a mim,


fechando os olhos e caindo em sono profundo.

Acordo no dia seguinte recebendo carícias da morena, que


agora está de frente para mim e roça afavelmente as unhas em

minha barba enquanto sorri, me observando com cara de sono. Isso


é tão estranho, toda esta intimidade, mas foi eu quem escolhi assim,
já que poderia tê-la deixado em seu quarto. O mais surpreendente é
que gosto, me deixa relaxado e ainda noto que sequer tive
pesadelos esta noite.

Ficamos assim... nos mirando, nos contemplando em silêncio,

eu recebendo seu carinho, calmo, enternecido. O que está


acontecendo? Por que ela tem esse poder de me dar paz? Suspiro,
encantado, resvalando a mão para sua bunda quente, que

massageio, mostrando posse.

— Bom dia, senhor Javier — sussurra —, eu amei a nossa


noite, e estou muito feliz por acordar aqui... ao seu lado.

Puxo-a pelas nádegas, grudando os nossos corpos, sua coxa


se flexionando sobre a minha. Busco um beijo, mas ela vira o rosto,

franzo as sobrancelhas.

— Ainda não escovei os dentes — sorri, tentando fugir, mas


não consegue, a beijo mesmo assim, sem misturar as línguas e

gosto da mesma maneira. Já me excitando, pronto para o ataque,


mas paro ao ouvir batidas na porta e a voz da Alisa:

— Papai! Papai?!

Isso é o suficiente para fazer a morena se sentar em


sobressalto, cobrindo o corpo com um lençol, assustada.
— Meu Deus! A Alisa! Ela não pode me ver aqui, não pode nos
ver juntos, combinamos de não contar nada a ela ainda — murmura
em pânico.

— Papaaai! — chama a pequena, batendo mais, coisa que faz

Mina saltar da cama, enrolada nos panos, procurando uma saída.

Me divirto com seu desespero e me ergo como a pessoa mais


calma do mundo, acho uma cueca debaixo do travesseiro, visto e

me cubro com um roupão.

— Para onde vou? — Ela está de olhos esbugalhados, com a

sua juba de leão emoldurando seu rosto, perfeita, e muito nervosa.

Aponto-lhe o caminho do closet, Mina tenta correr, mas pisa no

próprio lençol e tomba no chão, caindo desengonçadamente. Não

consigo resistir e caio na gargalhada. O som sai potente do meu


peito, subindo por minha garganta e sendo emitido por minha boca,

a língua viva. Ela rola no chão, tentando se reerguer, se recompor,

deixando a cena ainda mais hilária.

— Papai? É o senhor que está dando risada? — A voz da Alisa

me faz estancar, percebendo o que acabou de acontecer. Mina

levanta, surpresa com o fato, mas não diz nada, apenas corre,
sumindo de vista.
Destranco a porta, encontrando minha pequena.

— Bom dia, papai — inclino-me para abraçá-la, lhe

correspondendo através do toque, então seguro sua mão e levo-a

até a cama, onde nos sentamos —, era o senhor que estava


gargalhando? — parece não acreditar, até para mim está sendo

inacreditável. Há bastante tempo não me sinto feliz o suficiente para

sucumbir ao humor assim, ainda mais na frente de alguém que

conheci há pouco tempo.

Assinto com a cabeça, caindo em cima dela e lhe fazendo

cócegas na barriga. Alisa grita, sorridente, gargalhando bastante, se


contorcendo.

— Aaaah, não, papai, não! — Se diverte, rindo, até que para

com a tortura — Nossa, papai, o senhor está tão brincalhão! —


afirma contente, gostando. A beijo na testa, depois no pescoço,

muito bem-humorado — Vim lhe perguntar se sabe onde está a

professora Mina. Não a encontrei.

Nego com a cabeça, mentindo.

— Que estranho, ela sempre me acorda.

Miro a hora no relógio sobre o criado-mudo, notando que está

tarde, dormi bastante com a morena, sem ver o tempo passar.


Decido seguir com a pequena até o seu quarto, para distraí-la

enquanto Mina foge de volta para o seu cômodo. Troco olhares com

ela antes de partir. A situação é icônica, digna de um episódio de


comédia.

Mais tarde, após estar tudo resolvido, somos os três servidos

por Isabel com um belo café da manhã. Em seguida, a babá prepara


a mochila da Alisa com tudo o que precisa para passar outro final de

semana com os avós. Antes de partir, envio-lhe uma mensagem:

Prepare-se, quando eu voltar, vamos sair.

Enquanto estou dentro do automóvel, descendo pelo elevador

com a minha filha, ela responde:

Só nós dois?

Sei que deve estar estranhando.

Só nós dois.

Confirmo, guardando o aparelho no bolso e seguindo para a

mansão Javier. Alisa, durante a viagem, cantarola, feliz. Quando

chegamos, na primeira oportunidade, minha mãe dispara:

— Quando vai trazer Mina para jantar? Não pense que me

esqueci! Que tal neste domingo?


Faço careta, nem lembrava mais disso, mas é claro que ela

tinha que lembrar.

— A Mina vai jantar aqui, vovó? — Alisa fica empolgada.

— Sim, amanhã.

Nego com a cabeça. Não vai não, isso não tem cabimento,

ainda é muito cedo e não tenho pretensões de assumir um


relacionamento diante da família. Por mais que mamãe diga que

será um jantar sem pressão ou que irá nos encarar apenas como

amigos coloridos, sei que na prática não será assim.

— Vai sim, não me faça essa desfeita outra vez ou irei jantar lá

com vocês — insiste, me impressionando. Mas o que ela quer tanto

com a Mina, droga?!

Suspiro, contrariado, decidindo não entrar no mérito dessa

questão para não me irritar. Despeço-me de todos e retorno para o


apartamento. Porém não entro, espero Mina do lado de fora do

prédio, dentro do carro, chamando-a por mensagem, só agora lendo

a que me enviou quase uma hora atrás, quando saí:

Para onde vamos?

Respondo:

Desça, já estou aqui.


Vejo a sinalização de que está digitando:

Por favor, desça, já estou aqui.

Me corrige. Nossa, como é ousada! Não a respondo mais.

Enquanto ela não vem, lembro de algo muito importante. Procuro o

contato do professorzinho e digito o seguinte texto:

Fiquei impressionado com a sua falta de respeito no

cinema ontem. Nem a minha presença ou da minha filha foi o

suficiente para impedi-lo de tentar agarrar a babá que


claramente se mostrou incomodada. Não aceito este tipo de

comportamento e não o quero mais como professor da Alisa.

Está demitido.

Suspiro, satisfeito ao ler o que escrevi e envio, travando o

celular após isso. Espero alguns minutos, vejo a morena saindo pela

portaria do edifício, com uma bolsinha de lado, de blusa e calça


jeans, roupas simples, um pouco antigas, que não ressaltam tanto a

sua beleza. Desde de que passamos a conviver que noto os seus

trajes, que me incomodo um pouco com eles, principalmente agora


que estamos mais juntos.

Ela entra no automóvel toda sorridente, empolgada, me

contagiando com sua felicidade e feminilidade.


— Oi, que mistério é esse? Para onde estamos indo? — está

morrendo de curiosidade. Afirmo em sinais, o seguinte:

“Vamos para um lugar que gosto bastante, a uma hora daqui,

onde ficaremos à vontade até amanhã. Mas primeiro compraremos

roupas para você”

— Até amanhã? — Se surpreende, erguendo as sobrancelhas.

Assinto com a cabeça, notando que ela não está totalmente

satisfeita. Miro-a indagador, esperando uma explicação.

— Não, é que... amanhã marquei de visitar a minha mãe,


passaria o dia inteiro com ela, já que estou tendo tempo apenas no

fim de semana. Se você tivesse me avisado, eu teria planejado

melhor.

Isso não me agrada, apesar de saber que é importante para

ela e o certo a se fazer. Porém disfarço meu descontentamento, pois

criei altas expectativas com esta ideia.

“Decidi hoje cedo, queria fazer uma surpresa. É um lugar onde

ficaremos a sós e com total liberdade, sem medo de alguém nos ver.
Além disso, também estou livre apenas final de semana”

— Eu entendo... — Mina pensa um pouco, mordendo o lábio

inferior, sensual naturalmente, sem forçar —, tudo bem, posso


remarcar com ela para segunda. Não teremos o dia inteiro, mas ela
não ficará chateada.

“Tem certeza? “

— Sim, tenho — não acredito nela. Leio sua linguagem

corporal, está dividida. Quer estar comigo, mas também com a mãe.

Fico quieto, procurando uma ideia, e então digo em símbolos:

“Segunda te dou folga”

Mina sorri, radiante, mostrando sua verdadeira face de

contentamento. Agora sim!

— Mas, e a Alisa?

Faço um sinal com as mãos de que não tem problema,


perguntando por fim se agora está tudo bem.

— Só não está tudo bem porque não vejo necessidade de

comprar roupa para mim.

“Para o lugar aonde vamos, você irá precisar”

Uso isso como desculpa, mas a verdade é quero vesti-la com

mais requinte, como, na minha visão, merece estar. Só que ela não
precisa saber disso, senão vai bater de frente. Já conheço a
personalidade dessa garota tinhosa, ela tem tanto medo que eu
pense que é uma aproveitadora, que acaba por não se permitir
viver.

Mina Pacheco já me deu provas suficientes de que não está


interessada no meu dinheiro, estou longe de achar que quer de

alguma maneira se aproveitar de mim, até porque, não sou nenhum


garoto, saberia disso se fosse verdade desde o princípio. Contudo,

como tenho pretensão de que me acompanhe a lugares, ela precisa


estar vestida à altura, e sei que no momento não tem condições
para isso.

— Hmmm — geme desconfiada, não convencida, fazendo um

biquinho tentador —, o que estou precisando é de alguém que me


acompanhe até em casa para poder pegar mais roupas, saí de lá

apressada quando vim com o senhor para ver a Alisa, e desde


então não retornei. Minha amiga Pepita é que foi lá algumas vezes
para me dizer como tudo está, e por sinal parece está tudo bem,

aqueles homens não mais apareceram. Além disso...

Calo-a com um beijo, a melhor maneira de fazê-la fechar a


matraca tagarela e ficar em silêncio. Gosto da sua voz, acho
engraçado quando fala pelos cotovelos, mas tem horas que o único

som que quero que emita, são os gemidos de prazer em meus


ouvidos, além de chamar por meu nome, que em sua voz tomada
pela luxúria fica muito, muito sexy.

Assim, levo-a para o primoroso bairro de Salamanca, um dos

melhores bairros de Madrid, onde há várias ruas que podemos


percorrer para fazer compras, viver, comer ou até beber. Há lojas de
todos os tipos, desde pequenas marcas a internacionais, desde a

Zara à Chanel.

Paramos especificamente na rua José Ortega y Gasset, que


poderia ser apenas mais uma rua do bairro, se não fosse o fato de

encontrarmos nela algumas das marcas mais poderosas e luxuosas


do mercado, como Dior, Louis Vuitton, Valentino, Cartier, Chanel e
Roberto Cavalli.

Mina já conhece o bairro e também a rua, afirma que quando


era rica, costumava comprar por aqui, então não é novidade.
Mesmo não tão agradada, entramos em alguns estabelecimentos de

requinte, onde ela, muito bem à vontade, mostra que realmente


sabe o que está fazendo, sendo conhecedora o suficiente para pedir
o que quer, ela sabe o que quer.

Sento-me em um sofá próximo aos provadores, cruzo as


pernas, pego uma revista e procuro algo interessante para ler, mas
é difícil me concentrar ao perceber o comportamento da morena,
falando com as vendedoras sobre as peças com intimidade,

demonstrando que conhece as marcas, chegando a surpreendê-las.


Acho que a forma simples como ela entrou aqui, as outras não
esperavam tamanha finesse.

Para a minha surpresa, a cacheada abre a cortina do provador


e passa a desfilar em minha frente, mostrando cada look que está
escolhendo, provando que tem muito bom gosto, sorrindo, feliz.

Isso... é assim que quero vê-la, feliz, mostrando os lindos dentes em


mais perfeito sorriso. Isso me agrada a alma, faz meu coração bater
mais forte, me satisfaz. Vê-la contente me deixa contente também.

Noto que, gradativamente, Mina vai gostando deste momento,


curtindo tanto quanto eu. Por mais que não quisesse, que não
achasse correto devido aos seus inúmeros princípios, ela, como

toda mulher, gosta de ser presenteada, e está se soltando. Além


disso, no seu caso, está relembrando tempos de ouro, vamos assim
dizer, e isso deve ser muito bom.

Saímos de uma loja e, por minha insistência, entramos em


outra, de sapatos de luxo. Neste momento, troco mensagens com
minha secretária, que quer tirar dúvidas sobre reuniões que deve

marcar para a próxima semana. Surpreendo-me ao receber


mensagens de Lorenzo também, que pede mil desculpas pelo que

fez e insiste em uma segunda chance, que não pode perder este
emprego, que depende dele e tudo mais, mas não lhe dou atenção.

— Pronto, já está bom, Alejandro, já podemos ir — diz Mina,

chamando a minha atenção, usando outro traje com o qual saiu


vestida na última loja, que a deixa muito mais bonita, ressaltando
sua formosura e graça — Você disse que eu ia precisar de roupas

para onde iremos, não de um closet inteiro.

Levanto-me, beijo-a rapidamente, puxo-a pela mão até o caixa


e depois a levo para outro estabelecimento, agora de acessório de

moda. Estou carregando umas cinco sacolas, ela reclama, fica de


braços cruzados, me olha fazendo careta. Nossa, que espanholinha
mais difícil, meu Deus! Se fosse outra, seria o contrário, eu que

estaria sendo arrastado para pagar tudo.

— Já tenho tudo o que preciso, você está exagerando. Vamos!

Guardo tudo dentro do banco traseiro do carro, onde entramos,


e insisto com ela para pararmos só mais uma vez. Estaciono em

outra rua, descemos e a guio de mãos dadas até uma discreta, mas
refinada loja de sex shop, coisa que Mina só percebe quando

entramos.
— Isso é... o que estou pensando? — pergunta boquiaberta,
observando assustada os objetos eróticos por toda parte como se
eles fossem extraterrestres. Assinto com a cabeça, saliente,

observando as suas expressões que me dão vontade de rir, porém


me controlo — Minha nossa! — põe a mão na boca corando,
quando vê um pênis de quase trinta centímetros à sua frente

— Bom dia, sejam bem-vindos. Precisam de ajuda? —


pergunta a vendedora, se aproximando, solícita. Nego com um
movimento de cabeça — Tudo bem, qualquer coisa, estou ali — ela

retorna para a bancada, no fundo do estabelecimento, nos deixando


à vontade.

— Por que me trouxe aqui? — sussurra a morena, enlaçando

meu braço, como se buscasse proteção. Ela é hilária. Miro-a


eroticamente, dando-lhe a entender todas as minhas inúmeras
segundas intenções.

Caminhamos um pouco pelo corredor, vagarosamente,

observo o design em tons escuros mesclados com vermelho, cores


que lembram o sexo, a paixão. Mina parece uma criança

descobrindo um mundo novo, admirada, de olhos esbugalhados.


Aponto-lhe uma chibata de couro, para testá-la e provocá-la, curioso
com sua reação, e é a melhor possível, ela nega imediatamente,
com o rosto.

Suspiro, observamos mais um pouco, então pego um pênis

vibrador metálico, de tamanho comum, menor que o meu pau, que


não parece tão assustador, na intenção de convencê-la. Mostro-lhe
o objeto sexual, vendo-a analisar e me fitar sem dizer nada, curiosa

e receosa ao mesmo tempo. Como cala, entendo como se


consentisse, e carrego o objeto comigo, andando mais um pouco.

Paramos novamente, mostro-lhe algemas sadomasoquistas,

mas logo Mina nega outra vez, imaginando coisas horrorosas,


acredito. Sua ignorância me diverte, mas estou ciente de que vou
ensiná-la tudo e mais um pouco. Ela tem talento para ser uma ótima

aluna da sacanagem.

Continuamos observando, mostro-lhe alguns plugs anais, ela


nega, mas dessa vez faço valer a minha vontade e pego, tendo em

vista que já estou doido para comer o seu cuzinho. Mina finalmente
se sente mais confortável quando chega na sessão de lingeries, e
se afasta com a vendedora para experimentar alguns no provador.

Deixo-a a vontade e passeio um pouco mais, catando alguns


lubrificantes, paralisando ao encontrar um tesouro!
Já usei vibradores remotos antes, mas este aqui
especialmente é bem interessante, com três funções em um. Cato-o

também, imaginando mil coisas safadas na cabeça, pegando outras


coisinhas interessantes, fazendo quase uma “feira”, e assim me dou

por satisfeito.

Mina sai do provador já com as suas compras na sacola,


deixando claro que não quer que eu veja, já instigando o meu juízo
e assim voltamos para o carro.

— Você quer me matar de vergonha! É isso?! Seu pervertido!


— dá tapinhas em meu ombro, respirando mais aliviada, sorrindo. A
beijo, adorando levá-la a mais uma fase do meu mundo sexual. Ah

Mina, você nem imagina o quanto ainda tenho para lhe oferecer.

Sou um leão e ela a minha companheira.

Pegamos a estrada e viajamos para fora de Madri, para o vale

de Fuenfría, na Serra de Guadarrama, numa propriedade particular


bem próxima à cidade de Cercedilla, Comunidade de Madri. Durante
o percurso, Mina fez questão de brigar comigo pelo controle do som,

pondo músicas joviais para tocar em uma altura inaceitável, e


cantando para os quatro ventos, feliz, curtindo o passeio. Bem, pelo
menos tem uma linda voz.
Chegamos à uma casa rústica e simultaneamente moderna, já

que é uma construção de pedras grosseiras escuras aparentes,


madeira negra e vidro. O imóvel é erguido sobre a garagem,
depósito, dispensa e adega, sendo o primeiro andar composto por

dois quartos de hóspedes, cozinha, sala de estar com lareira e


dividida com a sala de refeições. Há mais um andar cuja escadinha

leva diretamente para o quarto principal.

A casa fica escondida ao redor de muito verde, sendo o lindo


bosque composto por colinas, pinheiros, freixos e até carvalhos,
todos distribuídos pela região. Mina desce do carro encantada,

observando ao redor, chegando a rodar ao contemplar toda a beleza


natural que está à nossa volta.

— Uau... que maravilhoso! Onde estamos? Essa casa é sua?

— começa as perguntas. Assinto com o rosto, capturando as suas


sacolas do banco traseiro e fechando o superesportivo pelo controle
da chave — Esse cheirinho de natureza... aqui está fazendo um

pouco mais de frio! — abraça o próprio corpo. Acabamos de entrar


no verão, mesmo assim, este local é realmente mais frio, o que é

gostoso.

Chamo-a com a face, lhe fazendo um sinal, ela vem,


enlaçando o braço ao meu, beijando o meu pescoço, contente.
Caminhamos pela grama muito bem aparada, fofa, até chegarmos a
área cimentada, onde há postes de ferro, aqueles candeeiros
antigos de iluminação pública, que fazem parte da decoração do

ambiente, nos dando um ar vintage. Há uma pequena piscina perto,


não tão luxuosa quanto a da minha cobertura, mas agradável.

Encontramos um casal de meia idade saindo pela porta da

frente, descendo as escadas às pressas para nos receber.

— Doutor Alejandro, deixe isso comigo — o homem pede as


sacolas, que lhe dou, momento em que passo o braço pela cintura

da morena, mantendo-a perto de mim. Ele se chama Pancho, tem


os cabelos grisalhos, nariz longo, alto e magro.

— Que bom que chegaram, sejam bem-vindos! —

cumprimenta a mulher, sorridente. Ela é loura, magrinha e usa


óculos. Se chama Antonita.

Entramos todos no imóvel, Mina fica deslumbrada com a


arquitetura de madeira e vidro. A sala de estar e jantar é toda muito

bem iluminada, ampla, e os vidros por quase todo o contorno dão a


sensação de mais amplitude ainda, liberdade. Ela observa cada
detalhe, os móveis antigos, refinados, o charme e o conforto.
— O almoço já está pronto, como o senhor pediu, e o quarto
preparado para recebê-los — afirma Antonita. Assinto para ela e

puxo a cacheada pela mão, subindo rumo ao nosso quarto, de onde


Pancho vem, agora sem as sacolas.

— O senhor quer que eu prepare o cavalo? — indaga, mas

nego, e ele segue andando.

— Cavalo? — Os olhos da Mina brilham, o sorriso singelo,


imaginando tudo o que podemos fazer.

Adentramos no quarto, um espaço não tão grande quanto o

meu na cobertura, mas suficientemente espaçoso, aconchegante. O


chão com carpete, a cama com dossel, a cômoda e guarda-roupas
lembrando outra época, assim como os demais móveis. Todos bem

conservados, uma relíquia.

— Que sonho... olha essa decoração! Parece até que estamos


em outro século! — Mina analisa cada detalhe, as nossas sacolas

estão sobre a poltrona. Ela suspira, e vira-se para mim outra vez —
É perfeito! Quando me disse que queria me levar a um lugar
especial, nem de longe imaginei isso aqui! — gargalha abraçando-

me. Aproveito para pressioná-la contra meu corpo e lhe dar um beijo
longo, sôfrego, com uma vontade enorme de possuí-la aqui.
Os seus lábios se desgrudam dos meus quando perdem o ar.

A morena está ofegante, mirando-me com desejo, como se eu fosse


o fruto mais saboroso do mundo. Mas me controlo, pegando-a pela
mão e descendo de volta para a sala de refeições, onde um belo

almoço nos espera sobre uma mesa de madeira negra. Sento em


uma ponta e Mina na outra.

Percebo que ela está cheia de dúvidas, então faço-lhe um sinal

com a mão, afirmando para que dirija as suas perguntas ao casal


que está a nossa disposição.

— Então, me contem quem são vocês e a história desta linda


casa — pede enquanto come. Só observo.

— Eu me chamo Antonita e este é o meu marido Pancho. Nós


éramos os antigos proprietários deste lugar, mas há dois anos,
devido às dívidas, perdemos a casa que acabou sendo leiloada, e

que foi adquirida pelo bondoso doutor Alejandro. Quando ele veio
aqui a primeira vez, lhe contamos a nossa história e o quanto esta
propriedade tinha um grande valor sentimental para nós, pois é

herança de família, passada de geração a geração. Ele permitiu que


continuássemos morando aqui, com a promessa de que jamais

venderia a casa, nos transformando em caseiros, e por isso somos


muito agradecidos.
Todos sorriem para mim, mas o sorriso da bailarina me chama

mais atenção, por todos os motivos possíveis, principalmente, por


ser um apaixonado, cheio de orgulho do meu feito.

— Ah, consigo imaginar exatamente o desespero pelo qual

passaram, pois vivi algo muito parecido. Não querem se juntar a nós
para comer? — Ela me fita neste momento, avaliando se não
proibirei seu pedido, mas não reajo, apenas continuo almoçando —

É que tenho tantas perguntas a fazer... como por exemplo, estamos


próximos de qual cidade? Vocês nasceram por aqui?

— Cercedilla, mas... não, os deixaremos à vontade. Estamos

num chalé aqui perto, qualquer coisa, só nos ligar, o senhor


Alejandro tem o nosso número — Antonita faz menção em ir embora
com o marido.

— Por favor, fiquem. E aquela mesa de xadrez? Pertencia a


vocês também? — Nossa, Mina está empolgada, não tem outro
jeito, é melhor matar logo essa sua ansiedade por saber, para

depois termos os nossos momentos a sós.

Faço um sinal para os caseiros, permitindo que fiquem. Eles


negam, porém, insisto, sob o orgulho do olhar da morena, então

finalmente, mas de forma cuidadosa e discreta, com um medo


imenso de estar incomodando, o casal senta-se conosco e divide da
comida que prepararam, que por sinal está excelente!

Assim, o resto da tarde se estende, com muitas gargalhadas e

inúmeras histórias da família de Antonita e Pancho, que não têm


filhos, que viveram para esta terra e quase a perderam, senão fosse
por mim. Nós construímos uma amizade que, como todas as outras,

não é profunda, já que não sei aprofundar nenhum sentimento com


ninguém, mas é notável que eles estão adorando conhecer Mina.

A morena contagia, espalha energia positiva, encantando,


sendo admirada. Quando finalmente se cansa, sobe para o quarto,
mas eu ainda permaneço por aqui, aproveitando para ter um
particular com os caseiros e ficar por dentro das últimas
informações. Combino com eles algo especial para o jantar, que

fazem de muito bom gosto, tendo em vista que é uma surpresa para
a minha acompanhante, da qual já gostam bastante.

Quando finalmente subo para o quarto, encontro-a dormindo,


de baby-doll novo, linda, mostrando que estava cansada. Tomo

banho e deito-me ao seu lado, dormindo também, aproveitando para


repor as energias e me preparar para os jogos de mais tarde.
ALEJANDRO JAVIER

Quando Mina acorda, eu já estou de pé, usando uma camisa


social cinza-escuro, com calça jeans. A noite já invade o céu,

dormimos por poucas horas, abotoo as mangas quando sua voz


doce me chama a atenção:

— Nossa... que horas são? — Pergunta, ainda um pouco

sonolenta.

“Hora do jantar. Mandei preparar algo especial para nós lá

fora. Já estou indo, te espero”

Vou até ela, inclinando-me sobre seu corpo cheiroso e a

beijando rapidamente.
— Ficarei louca com todo esse mistério — sorri, lindamente —,

ainda vou demorar um pouco, fique sabendo.

Assinto, como se falasse um “tudo bem”, e saio do cômodo,

descendo para a sala de estar, encontrando o casal de ajudantes.

— Está tudo pronto como o senhor pediu, patrão. Vamos nos

uniformizar para poder servi-los — afirma Pancho, mas nego com o

indicador, os surpreendendo.

“Podem ir descansar, já fizeram o suficiente por hoje. A partir

de agora nós nos viramos, não se preocupem”

Afirmo em sinais. Eles ainda fazem menção em discutir, mas

com um movimento de mão, peço para que se vão, e assim é feito.

Pela vidraça da sala de estar, vejo-os caminharem abraçados com


uma lanterna até sumirem de vista na escuridão, pois dormirão em

um chalé aqui perto, que mandei construir para eles para quando eu

viesse.

Miro a mesa que prepararam na área externa, perto da piscina,


e de longe já noto o quanto está deslumbrante. Saio da casa,

descendo as escadas, me aproximando, sentindo o delicioso cheiro

do banquete, um jantar à luz de velas a céu aberto, com uma

fogueira próxima para nos aquecer. Temos tudo o que há de mais


chique na gastronomia mediterrânea, um cardápio composto por
frutos do mar e vinho de alta qualidade.

Sento-me à cabeceira, mirando por um instante o céu

estrelado enquanto o fogo crepita. Realmente é uma combinação

perfeita e um tanto quanto romântica demais para um homem como

eu, que sempre gostou das coisas objetivas, práticas. Mas a

senhorita Pacheco, por algum motivo desconhecido, me instiga a


criar e procurar por mais para agradá-la. Realmente não sei aonde

vai dar tudo isso, e nem quero saber. Apenas prefiro viver e

aproveitar.

Desde que a levei para a cama, sou movido por uma vontade

maior, algo inexplicável. A cada dia que passa, fica mais evidente
que não era algo de momento, não era simplesmente uma sede que

poderia ser facilmente saciada, pelo contrário, é uma fome que

parece não ter fim, se não for alimentada é capaz de me

enlouquecer.

É claro que tenho medo, fui sincero quando disse que temia

não conseguir mais ficar sem ela, e isso é verdade, tendo em vista
que ando me comportando muito diferente. Mina é a primeira mulher

conhecida que me envolvo em anos, talvez esse detalhe tenha

contribuído para bagunçar a minha mente.


Na verdade, ela vem sendo a primeira em muitas coisas,

parecendo um carro desgovernado, cujo freio não funciona, para


atropelar a minha vida. Por mais que às vezes penso em pontuar,

em pausar as minhas atitudes e impulsos ali e aqui, acabo cedendo,


teimando contra as minhas próprias barreiras e prosseguindo,
mesmo sem saber onde irei chegar ou se estou fazendo o certo.

Fico divagando, mexendo no celular e bebendo uísque com

gelo, que mandei Pancho buscar da adega e deixar na mesa


separado para mim. Até olhei para o vinho, mas sempre acabo

cedendo ao puro malte. Estou na expectativa de fazer Mina beber


um pouco e quebrar uma de suas regras, assim como já me fez
quebrar tantas minhas. Não a quero bêbada, claro que não, apenas

gostaria de vê-la sentindo os sabores que a vida oferece, além do


meu, é claro.

Quando finalmente seco o copo e me encontro um pouco

entediado, vejo a porta da casa se abrindo e a morena descendo


pelos degraus, maravilhosa, em um vestido de seda, justo, salmão
em um tom mais escuro, que combina com seu tom de pele, que vai

até os joelhos, contornando bem e realçando sua silhueta perfeita.


Ela calça scarpins nude, uma devoção.
Ergo-me imediatamente, enfeitiçado com a sua imagem,

caminhando até ela deslumbrado, sentindo as minhas pupilas


faiscando de desejo. Estendo-lhe a mão, ela segura e sorri

lindamente, como quando nos encontramos na noite do baile, só


que agora parece a primeira vez.

As suas madeixas cacheadas e volumosas contornam seu


rosto de modo simples e sofisticado. Seu decote suave, mas

sensual, chama a minha atenção, está sem sutiã, o vestido tem


bojo, as alças desenham os ombros nus, me fazendo engolir em

seco. Sua maquiagem é singela, sem exageros, acentuando a sua


bela cor. Concluo que ela não precisa de absolutamente nada para

deixá-la ainda mais bonita, já que é um verdadeiro monumento.

Busco todo o meu autocontrole para não partir para cima dela

agora, quero fingir que não sou um tarado e me comportar como um


cavalheiro, provando que consigo jantar primeiro a comida e não

ela.

— Estou bonita? — pergunta, erguendo uma sobrancelha,


provocando-me. Puxo-a devagar, grudando os nossos corpos,
beijando-a voraz, lapeando a sua bunda, engolindo seu gemidinho

dentro da boca com o impacto — Bom... acho que isso é um sim —


diz, arquejante, sorrindo, excitada, após descolarmos os lábios.
Aperto meu pau sobre a calça, na sua frente, sem pudor
algum, ajeitando-me, e então caminho com ela até a mesa. Puxo
sua cadeira, ela senta, com um sorrisinho irônico, fitando-me

estranha. Meu semblante a indaga e ela responde:

— O senhor todo poderoso Javier, tão romântico. O que


houve? O que aconteceu? Achei que não fazia o seu estilo —
comenta, com a clara e maléfica intenção de me perturbar. Essa

garota é ousada.

Mas decido entrar na brincadeira. Caminho até a outra ponta


da mesa, sentando-me defronte para ela, capturando o celular e lhe

enviando uma mensagem:

Não sei explicar, talvez a sua boceta viciante tenha algo a

ver com isso.

Mina lê minha resposta em seu aparelho e sorri, tímida,


olhando-me entre a saliência e a inocência. É fascinante, difícil de

explicar, mas contrai meu pau, ele pulsa, vívido.

Não gosta que eu fale assim?

Envio um novo texto. Ela suspira e responde:

— Gosto... gosto bastante, só estou ainda... tentando me

adaptar. Ainda sinto vergonha em alguns momentos.


Não quero que sinta vergonha de mim. Nunca. Sempre que
tiver vontade de fazer alguma coisa, peça-me, e eu farei. Entre
nós não existirá pudor.

Ela pensa um pouco, como se procurasse o vocabulário

correto e diz:

— Gostaria de ouvir você falando essas palavras sujas em


meu ouvido — revela, engolindo seco em sequência, como se

excitasse só de imaginar —, gostaria de ouvi-lo chamando o meu


nome.

Trocamos um olhar intenso, por longos segundos, sua ideia se

infiltrando em minha mente. Mas então pisco, voltando à realidade,


lembrando das minhas impossibilidades. Digito uma nova

mensagem:

Tudo menos isso.

— Por que, não? Você gargalhou hoje de manhã! — Nossa,

achei que ela não iria lembrar mais disso. Merda — Conseguiu se
escutar naquela hora? Até a Alisa escutou! Foi lindo, o som rouco...

grosso... me deixou ainda mais... — sua voz falha, e a palavra que

vinha em sequência já sei qual é — empolgada — completa, me


fazendo ter dúvidas se não iria falar outra coisa.
Não é uma escolha minha. Por favor, não estrague a nossa

noite. Não gosto de tocar neste assunto.

— Fala como se doesse conversar sobre isso — comenta,

após travar o visor do seu aparelho, encerrando o assunto e me


fitando entristecida.

Digo em símbolos:

“Mas dói”

Ela permanece calada, abaixando o rosto por um momento,


nosso clima que estava quente, acaba esfriando pouco a pouco.

Suspiro, tentando não me chatear, não me irritar com a minha

impotência ou com o fato dela ter comentado sobre isso. Não era

para ser assim.

— Hmmm, esse menu está com uma cara ótima. Foi a

Antonita que fez? — Mina, como sempre, muda de assunto, saindo


de uma situação tensa e nos levando para outra leve e

descontraída. Este é o seu jeito, a sua personalidade incrível.

Assinto, respondendo-a — Nossa, estou faminta e já sei que vou

adorar. A propósito, adorei saber o que fez por ela e pelo marido.
Você tem um coração gigante Alejandro, te admiro muito por isso.
Fico contente com as suas palavras. Não faço essas coisas de

modo proposital, é da minha personalidade, quando vi, já fiz. Assim,

começamos a jantar, o tempo vai passando e Mina continua falando:

— Estou adorando tudo isso. Está tão lindo. Há muito tempo

não vivo algo tão... sublime assim, e... — sua voz falha, os olhos

brilham, querendo chorar, mas ela se segura — não sei porque me


escolheu para isso.

Pego o celular e lhe envio um novo texto:

Talvez você tenha me escolhido. Não sei explicar, me faz

feliz te ver feliz.

Ela sorri maravilhosamente, de orelha a orelha. Levanto-me,

pegando a garrafa de vinho e dirigindo-me até ela, enchendo a taça

que está a sua frente.

— Sabe que não bebo — afirma, observando-me. Pego a taça

e levo até sua boca, insistindo — Alejandro... — ela resiste, mas

meu semblante pidão vence a batalhe e os seus lábios carnudos se


entreabrem delicadamente para deixar o álcool transpassar.

Mina fecha os olhos sensualmente após o primeiro gole,


sentindo o gosto. Esse jantar precisa ser acompanhado de uma boa

bebida, é claro que não vou lhe dar uísque, é muito forte, então que
seja o vinho. Ela suspira, me excitando, com a boca molhada,

cintilando.

— É delicioso — afirma, enquanto devolvo a taça para a mesa,

satisfeito por lhe proporcionar este prazer —, por que não bebe
também? Você não larga o uísque.

Nego com a cabeça, gostando desse clima.

— E se eu quiser sentir o gosto do vinho na sua boca? —

propõe ousada, sensual, me impressionando. Miro-a, sentindo as

suas segundas intenções, o calor subindo por seu corpo,


contagiando o meu. Pego a taça e bebo, vagarosamente,

sensualmente, devolvendo o objeto à mesa no instante em que a

mulher levanta e avança nos meus lábios.

Aperto-a contra meu corpo, já a pegando pela bunda e nuca,

afundando minha mão entre as suas nádegas no vestido apertado

enquanto devoro sua carne com avidez e necessidade. Ela está me


deixando louco com essa sua nova faceta safada que se revela

agora, ainda que levemente. As suas unhas roçam por minha nuca

e ombros, mostrando o quanto me quer também, os seus gemidos

já soando por toda parte.


— Alejandro... — ofega, erguendo o rosto, me oferecendo o

pescoço que mordisco e lambo —, preciso de você agora. Agora! —

rosna, ativando todos os meus instintos animais.

Puxo-a pela mão e corremos para dentro de casa,

abandonando tudo aqui fora. Subimos as escadas com euforia até o

quarto, entramos, bato a porta e a jogo contra ela, pressionando as


palmas contra os seus seios, ao mesmo tempo em que volto a

devorar a sua boca, mordendo seu lábio com força suficiente para

fazê-la grunhir, mas sem machucar.

Arrasto os lábios por sua garganta, descendo... puxando as

alças do seu vestido com violência, o decote, desnudando os seus

mamilos que saltam para fora, lindos, deliciosos, escuros. Abocanho


um e depois o outro, mamando enquanto observo a morena

enlouquecer, puxando os meus cabelos, comprimindo entre os

dedos, feroz.

Atiço os bicos, movimentando a ponta da língua em idas e

voltas, em círculos, em sugadas, arrastando os dentes pela pele,

mordendo devagarinho, me satisfazendo, afundando-me nesse seu


mar de lascívia que me tira o equilíbrio.
Continuo descendo, rastejando o tecido por sua pele chocolate

até a calcinha nova, pink, de renda surgir. Rasgo-a como um louco,


momento em que Mina libera gritinhos, pressionando as coxas uma

contra a outra, afundando as unhas em meus ombros, doida para

me sentir, me ter brincando com sua bocetinha protuberante como

sempre.

Mas ao invés de atacá-la como já é esperado, apenas lhe dou

um selinho, bem sobre o monte de Vênus, a estremecendo toda e


sua respiração sai quebrada. Mina é mais libidinosa e ergue a coxa

esquerda, jogando-a sobre meu ombro e empurrando a minha face

contra o seu meio. Lhe dou a primeira lambida servida, do mais


profundo que consigo chegar até o clitóris, ela rebola na minha cara,

entregue, louca, como se tivesse esperado por isso o dia inteiro.

Ergo a mão direita e esmago seu seio entre os dedos


enquanto sugo os lábios vaginais menores para dentro da boca,

chicoteando-os com a língua e em sequência incitando seu ponto

chis outra vez. Enfio um dedo no seu buraquinho e ela grita


novamente, abrindo mais a coxa, roçando o calcanhar nas minhas

costas, querendo tudo. Não consigo tocar nela sem antes chupá-la,

se tornou uma prioridade!


Percebo que está prestes a gozar, mas a interrompo, subindo,
voltando a ficar de pé. A bailarina tenta me empurrar de volta, com

raiva por eu ter parado.

— Não! — reclama mordendo o lábio, insatisfeita, recusando

os meus beijos enquanto a ergo no colo contra sua vontade,

encaixando-a contra o meu quadril a força. Acontece o inesperado e


de repente entramos em uma espécie de conflito, digladiando para

ver quem é mais forte, quem domina quem. Uma selvageria!

Ela salta dos meus braços como uma leoa, voltando ao chão,
apenas de saltos, gostosa! Empurro-a com tudo na cama, fazendo-a

cair de bruços com um gemido forte, excitada, o corpo exalando

luxúria, queimando. Tenho uma ideia malévola e retiro a cinta da


calça, lançando-a no ar e acertando uma lapada na bunda dela, o

som do estalo ecoando entre a gente.

— OOH! — Mina grita, virando-se, olhando-me no liame da dor


e do prazer, a mancha vermelha surgindo em sua pele.

É neste instante que o mundo parece parar por alguns

segundos, como se tudo rodasse em câmera lenta, a nossa troca de


olhar após esse ato meio violento e excitante ao mesmo tempo,
como se isso despertasse um novo grau de intimidade entre a
gente, abrindo portas para o desconhecido, que promete ser intenso
demais.

Salto no colchão como um animal que dá o bote, interpondo os


joelhos entre seu corpo cheio de curvas, rápido, ágil, pegando os

seus pulsos com força e enlaçando na cinta que amarro sobre sua
cabeça, à cabeceira da cama. Pareço um touro sobre uma

formiguinha.

— Alejandro... — a voz dela sai quebrada, um certo temor a


tomando. Escorrego o indicador até os seus lábios, pedindo silêncio
e ao mesmo tempo tentando acalmá-la. Resvalo o dedo entre os

seus lábios, tocando sua língua, fazendo-a me chupar


devagarinho... gostosinho.

Mina fecha os olhos e passa a esfregar as pernas uma na

outra, deixando o medo de lado e dando mais espaço para a luxúria


que volta a açoitar em seu corpo, se envolvendo, se libertando,
sendo minha. Massageio seu seio com a mão livre, excitando-a

mais, incitando sua carne que arde, ferve, mexendo com os seus
pontos erógenos, relaxando-a enquanto estou montado nela.

Então levanto, saindo da cama, tendo cada passo meu

observado. Pego a sacola das compras que fiz no sex shop sobre
uma das poltronas e puxo a caixa com o vibrador remoto ponto gê
beijing dibe. Retiro-o da embalagem, levo-o até o banheiro, lavo-o
na pia e retorno para a cama.

— O que é isso? — pergunta Mina, ansiosa e receosa. Meu


olhar já lhe diz tudo: silêncio. Ela obedece.

Miro o objeto erótico, roxo, já li sobre ele mais cedo, vendo as

especificações e como usar. É para ser encaixado como uma


calcinha, uma parte irá penetrar sua vagina, para estimular o ponto
gê, e a outra será plugada à sua vulva para estimular o clitóris.

Assim, abro as coxas da morena lentamente, acariciando-as, sem


pressa, relaxando-a, mostrando indiretamente que está tudo bem e
que iremos curtir.

Assim, introduzo o objeto em seu corpo, devagar, acoplando-o


perfeitamente em sua boceta.

— Aaah... — murmura, baixinho, sentindo o encaixe.

Volto a ficar de pé, tirando a roupa calmamente, na sua frente,

lembrando até um stripteaser, mas não é. Desabotoo cada botão da


camisa apenas com a mão direita, sempre com o foco total na linda
mulher, mirando-a faminto, possessivo, percebendo que sente o

dispositivo em suas entranhas, que aparenta um tapa-sexo.


Fico totalmente nu, com o pau avantajado já babado do tesão,
balançando entre as coxas grossas. Puxo uma das poltronas para a

frente da cama, diante das pernas abertas e sinuosas da morena.


Sento-me, como um rei, segurando o controle do vibrador na mão
esquerda. Troco olhares de fogo com a bailarina, avisando-a no

olhar que começaremos a brincar de um jeito que ela nunca


imaginou.

Clico no botão, e automaticamente o objeto erótico cria vida na

bocetinha dela, fazendo-a gemer alto, jogando a cabeça para trás,


abrindo as coxas e arqueando as costas. É o paraíso! Seus seios
ficam estufados enquanto as vibrações acontecem, pulsando em

seu canal vaginal e clitóris ao mesmo tempo, distribuindo energia,


arrebatando a sua alma.

— AAAH! — grita, recebendo os diferentes movimentos que

faço à distância.

Sou fã de voyeurismo, começo a me masturbar lentamente


enquanto observo Mina ser atiçada de todas as formas. A cada vez

que ela recebe uma rajada de prazer, escorrego a mão por minha
longa e parruda extensão, adorando assisti-la, ser a única
testemunha de toda sua luxúria fora do comum.
Ativo outra modalidade do brinquedo, esquentando a

temperatura, subindo os graus célsius, vendo a intimidade da


morena pegar fogo por dentro e por fora. Mordo o lábio,
superexcitado, tocando-me, contemplando-a, adorando essa tortura

do prazer. As coxas da Mina tremem, os seus pulsos lutam contra a


amarra, seu corpo se contorce em libidinagem, sentindo...
pulsando... arrepiando... vivendo.

Aumento a temperatura e mudo a vibração, são sete tipos. O


mais instigante é controlar tudo à distância, ser o dono das suas
sensações e emoções, levá-la ao céu sem precisar tocá-la.

A coisa fica ainda mais intensa, me masturbo mais forte,


assistindo os quadris dela subirem e descerem, batendo forte contra
o colchão, tendo espasmos. Os seus gemidos evoluem, as suas

coxas se fecham, se enroscam uma na outra. Mina arqueia o corpo


outra vez, gritando, os olhos fechados potentemente, a boceta
agitando, chegando ao limite!

Desligo o aparelho e corro para a cama, puxando o vibrador e


sendo surpreendido por seus esguichos! Os jatos saem potentes
entre os seus lábios vaginais e param diretamente na minha boca!

Fecho os olhos, enfiando o rosto no seu centro, rosnando,


chupando, sorvendo absolutamente tudo que ela pode me dar. Beijo
seu monte de Vênus, provocando o clitóris, misturando as carnes,
roçando a barba, brincando, entregando-me e querendo mais,
sempre mais!

Abro mais as suas coxas diante do meu rosto, tomado pelo


fetiche de tê-la inteiramente nua, apenas de sapatos. Desço para o
seu cuzinho já molhado dos seus fluidos, cutucando neste ponto,

enfiando-me, girando lá dentro, sem frescura, adorando,


bagunçando, dominando tudo! Em seguida introduzo o dedo do
meio até a metade, grosso, longo.

— Oooh... — o gemido da Mina sai quebrado, dou um tapinha


em seu sexo que vibra diante de mim, ainda jorrando, derramando
líquido, melando toda sua carne morena, fascinante. Por fora é

chocolate e por dentro, entre os lábios é tudo rosinha, a massa viva,


macia, aveludada — Alejandro... — implora, mirando meu pau que
pulsa, apontando para cima, enrijecido poderosamente, ardente.

Mas preciso ter paciência, quero levá-la ao limite antes de

qualquer penetração. Abandono-a, descendo da cama outra vez,


pegando o plug anal e lavando-o na pia do banheiro. Cato o

lubrificante também e sento-me na beira do colchão, puxando a


menina, deitando-a de bruços sobre as minhas coxas. Lambuzo as
suas nádegas com devoção, vendo a pele brilhar com o líquido
erótico. Lubrifico o plug também, ele é de aço inoxidável.

Assim, penetro-o vagarosamente no ânus virgem da minha

donzela, observando maravilhado a ponta resvalar entre as suas


carnes apertadas, afundando até que apenas a outra ponta em
forma de esmeralda fique para fora. Pronto. Espalmo as suas

nádegas, cada uma delas, duas vezes, deixando manchas, ouvindo-


a miar.

Tiro-a de cima de mim, ficando em pé fora da cama, Mina fica

de quatro. Ajeito os seus cachos com delicadeza, juntando tudo nas


mãos enormes e colocando o pau na sua boquinha. Ela me olha de
baixo, excitada, chupando-me enquanto movo o quadril devagar,

indo e vindo, fodendo seus lábios, entrando e saindo, adorando sua


saliva escorrendo por minha carne larga e cheia de veias.

Tê-la nesta posição assim, de bunda empinada, fazendo um

oral, me deixa louco!! Queimo em tesão, lubricidade. Chego a fechar


os olhos algumas vezes, erguer o rosto, entreabrindo a boca, não
conseguindo controlar o som que reverbera por meu peito, subindo

até extravasar para fora em um gemido gutural:


— Hmmm... — puta que pariu, sem condições! A química é
muito forte!

Seguro o membro com a mão livre e esfrego na face delicada


dela, de menina-mulher, a massa latejando e abrasando contra sua
pele. A indecência... devassidão e paixão tomando conta de nós.

Introduzo-me novamente em sua boquinha, segurando-a firme pelo


cabelo, penetrando até sentir sua garganta, as bolas balançando.
Mina foge, ofegante, tossindo, toda babada. Puxo-a para um beijo

louco, sôfrego!

Não podendo mais esperar, e desejando loucamente senti-la


como veio ao mundo, sem barreira alguma para impedir o contato

pele com pele, pego-a no colo sem esforço algum, escorregando os


antebraços por debaixo de suas coxas, espalmando as suas
nádegas, deixando-a encaixada e montada em mim. Mina enlaça

meu pescoço, ardendo, febril. Rebolo o quadril e afundo o pau


dentro dela, até o fim, batendo os testículos contra o plug frio.

Roço os dentes contra seu pescoço, sentindo-me profundo em

suas entranhas molhadas e apertadas, que lutam contra a minha


invasão, contraindo, me pressionando adoravelmente. Isso instiga,
tornando tudo ainda mais animalesco, fora do comum. Faço a

primeira investida, guiando o corpo dela e o meu, os lábios


aveludados da sua boceta escorregando pelo meu corpo roliço até a

ponta que pulsa e em sequência descendo de uma vez por


completo!

O impacto é viril, sexual, pornográfico. Nós gememos juntos,

se entregando ao enlevo, ao deleite. Começo a fodê-la, enterrando


tudo dentro da sua grutinha, batendo forte, macho, másculo,
fazendo dela a minha fêmea, a minha mulher! Rebolo com

habilidade, golpeando, sentindo as suas unhas roçarem as minhas


costas, ferirem os meus ombros largos.

Mas continuo, nada me fará parar! Devoro a bailarina como se

fosse a última coisa que eu pudesse fazer na vida. Nosso barulho é


sonoro, potente, carnal, molhado. Acelero as estocadas,
saboreando cada sensação, entregando-me ao rebu de emoções.

Mina fica ensandecida, grunhindo e miando como nunca antes, ela


me surpreende quando busca a minha boca e sorve a minha língua.

Jogo-a contra a parede mais próxima, tomando um apoio,

encarando-a, olho no olho, trepando com fogo, com paixão,


libidinagem e desespero. Nossos corpos parecem ter sido feitos um
para o outro, eles se batem a cada impacto, necessitados. Pareço

um garanhão, esmagando a jovem contra os meus braços


desenfreadamente, unindo as nossas carnes, transformando em
algo único, mágico, visceral!

Chegamos ao estopim, as chamas do sexo faiscando entre a

gente, fodo-a como um desvairado, afundando o pau na sua


bocetinha até não resistir mais e explodir arrasadoramente. Mina
explode também, gritando contra a minha boca, rebolando o quadril,

se rasgando em embevecimento. Arquejo, sentindo as pernas


tremerem, me tirando o foco, a noção. O terremoto é tamanho, que
os sapatos dela caem, desnudando seus pequenos pés.

Caminho quase sem forças até a cama onde me jogo com ela,
ainda sobre seu corpo, tentando respirar, os corações retumbando
um contra o outro, eu ainda preenchendo as suas carnes íntimas,

espalhando minha semente como larva quente que borbulha, pega


fogo, chegando a escorrer pelas frestas da nossa união apertada.

Levamos um bom tempo para nos recompor, ficamos trocando

carícias sobres os lençóis, fazendo beijinho de esquimó, aliviando a


respiração, afagando a alma, vivendo todos os sentidos, as
sensações, os espasmos do orgasmo divino.

Quando finalmente tenho forças para sair de cima dela, a viro

com cuidado, admirando o plug ainda no seu orifício. Retiro-o de


vagar, sua bunda treme rapidamente, marcada pela minha mão,
arrepiada de prazer. Masturbo-me um pouco, ainda semiereto,

sabendo que posso continuar.

Arrasto-me para cima da musa, montando nela, abrindo as


suas nádegas, movendo o quadril e encaixando minha glande no

seu esfíncter. Faço pressão, é como se eu estivesse tentando


perfurar uma parede. Mina joga uma das mãos para trás, segurando
meu pulso, sentindo a dor. Fico parado, levando longos segundos

até pressionar outra vez e escorregar apenas a cabeça do pau para


dentro dela.

— Aaah... Alejandro... está doendo... doendo muito — geme,

choramingando. Ela é muito sensível e eu sou bem grande. É


preciso de mais tempo, mais paciência.

Dessa forma, saio de seu corpo, massageio seu bumbum,


tentando aliviar a tensão, beijo-a por aqui, docemente, saliente, e

deito-me ao seu lado, puxando-a para cima de mim. Estamos


suados apesar do ar estar ligado. Mina se acomoda sobre meu

peito, pondo uma das coxas sobre a minha, enquanto pouso a mão
sobre sua bunda, possessivo. É minha, toda minha. Só minha.
Inteiramente minha.
Cuido dela, lhe dou carinho, afago, até cairmos em sono

profundo.

No dia seguinte, como na última vez, acordo com seu sorriso e


as suas carícias.

— Bom dia — sussurra, a voz ainda rouca do sono, as

madeixas bagunçadas, tornando-a uma deusa —, nós transamos


sem camisinha... você foi louco, mas eu adorei — sorri, feliz —, eu
tinha curiosidade para saber como era a sensação, e... foi

maravilhoso! Porém, agora estou com medo, não quero ficar


grávida. Você vai achar que quero dar o golpe do baú!

Agora é a minha vez de sorrir novamente. Ela é hilária. Mina

fica calada, contemplando-me até que fico tímido e volto a ficar


sério.

— Não, por favor, não. Sorri para mim — pede, mas não me

manifesto —, disse tudo menos aquilo, então sorrir pode — ela é


ardilosa, convincente. Seduzido por seu charme, sorrio outra vez, à
vontade, esticando os lábios, mostrando os dentes.

Mina fica encantada, admirando-me como se eu fosse uma


espécie de deus ou anjo. Admiro-a da mesma forma, os seus seios
aparecendo sobre o lençol, inocentes, puros, outro motivo para me
fazer sorrir. Mas... como se algo ruim se abatesse sobre ela, seu

encanto é quebrado, a tristeza lhe pega rápida e a garota se vira me


dando as costas, fico sem entender.

Abraço-a por trás, grudando os nossos corpos quentes,

deitando o rosto sobre o seu, querendo perguntar o que aconteceu,


porque mudou de humor assim de repente. Entretanto, como a voz
não sai, apenas ficamos no silêncio, o meu refúgio, que agora é o

dela também. No silêncio nos comunicamos, nos sentimos, nos


entregamos. Mina busca a minha boca e transamos outra vez.

Quando por fim deixamos a cama, nos vestimos com calça e

casaco, e em seguida descemos para a sala de refeições de mãos


dadas, onde um delicioso café da manhã nos espera.

Mina bate um bom papo com os caseiros. Eu, como sempre,

apenas os observo e como bastante para repor as energias. Ao meu


pedido, Pancho deixa o cavalo que temos pronto, Mina fica
encantada quando ver o animal magnânimo fora da casa.

— Oh, meu Deus! — põe as mãos na boca, contemplando o


grandioso corcel cinzento, com chapiscos de preto e o rosto branco
— É um puro-sangue?! — fico chocado que ela sabe a respeito.
Será que sabe de tudo mesmo? Nossa! Assinto — Um puro-sangue
árabe? Meu Deus! Mas é o mais caro do mercado, Alejandro!

Ela sorri, tocando na pelugem singular do garanhão.

— Também fiquei louco quando vi o chefe trazendo este


animal para cá. Acho que é o único por perto, é uma honra cuidar
dele — diz Pancho.

— Meu pai tinha um amigo que participava de corridas, e


sempre íamos a fazenda dele. Praticamente cresci vendo de perto
raças poderosas como esta — afirma a morena, então acaricia o
rosto do animal, meiga —, oi, lindo. Tudo bem? Você é lindo demais,
sabia?

— A senhorita sabe cavalgar? — indaga Antonita.

— Aí é que ‘tá, sempre tive um pouco de medo — gargalha.

Aproximo-me por trás dela, eficaz, pegando-a de surpresa pela


cintura e a jogando sobre as costas do corcel que já está com a

cela. No movimento, Mina solta um gritinho que faz os caseiros


sorrirem, achando engraçado. Monto atrás dela, com atitude, nos
encaixando, segurando as rédeas entre seu corpo, prendendo-a a
mim.
— Não! Alejandro, o que está fazendo...? — Antes que consiga
dizer mais alguma coisa, atiço o cavalo e saímos galopando pela
imensidão do vale.
MINA PACHECO

Sério... intenso... sofisticado... complexo... misterioso... sexy...


enigmático. Alejandro Javier pode ser enquadrado em todos estes

adjetivos, ganhando mais um agora, o de romântico. Ele preparou


um fim de semana inteiro para nós, as minhas compras de roupas,
sapatos e acessórios, a casa na floresta, o jantar a céu aberto, os

brinquedos eróticos, em especial o vibrador à distância.

O que foi aquilo? Toda aquela emoção à flor da pele. Nem eu


mesma consegui me reconhecer, fui tomada por uma selvageria

incomum, que com certeza veio dele e transferiu a mim cada vez
que dormimos juntos. Deixei o desejo e a luxúria me tomarem em

grau máximo, dominarem de uma maneira irreversível, tanto que

não via nada além do corpo dele, do membro pungente entre as


suas pernas robustas que tanto queria desesperadamente dentro de

mim.

Ter Alejandro entre as minhas coxas se tornou uma

necessidade, uma espécie de vício fatal. Toda vez que ele me toca,
já penso em imoralidades, das nossas carnes em contato extremo.

Com certeza a noite passada foi o sexo mais feroz que tivemos,

uma mistura de sensualidade e intensidade, algo jamais imaginado


por mim, mas que me levou a orgasmos incontáveis, ao limite de

tudo aquilo que pode ser definido como prazer.

Quando começamos a nos relacionar, eu imaginava e


esperava por coisas boas quando estivéssemos na cama, porque

desde o princípio este homem exalava isso... tesão, lascívia, apesar


de só ter descoberto o real significado dessas palavras quando ele

me possuiu.

Mas o que eu não esperava, era a parte romântica, como o

convite para o baile, me levar para fazer compras mesmo contra a

minha vontade, viajar comigo para um cantinho do paraíso, para


ficarmos à vontade durante um final de semana inteiro com direito a

jantar à luz de velas, de fogueira e estrelas.


O que não era esperado de verdade, era sentir agora, após vê-
lo cedendo seu maravilhoso sorriso ao meu pedido, que realmente

estou apaixonada. Antes de tudo, quando nos vimos à primeira vez,

quando por dois anos o tive na mente, achei que nutrisse por

Alejandro um amor platônico. Depois, quando passei a trabalhar

para ele, imaginei que estava apaixonada, mas agora... é bem mais

forte! É um sentimento inexplicável, como se a minha vida


dependesse da sua.

Viro-me na cama, dando-lhe as costas, absolutamente afetada,

um vazio terrível me corroendo por dentro. Sei que estou me

perdendo, descumprindo no subconsciente promessas que fiz a mim

mesma de não misturar as coisas, de não me apegar ou iludir. Mas

é que, o senhor Javier é intenso demais. Como já disse, ele não


veio apenas com sexo, trouxe muito mais, uma montanha russa de

sentimentos que agora noto me bagunçarem toda por dentro.

Sofro calada, segurando as lágrimas enquanto o sinto grudar-

se a mim, abraçando-me com afeição, seu pênis longo e pulsante

pressionando meu bumbum, nosso calor emanando incontrolável.

Somos como fogo e gasolina, ele me queima apenas ao me tocar.

Fica mais difícil raciocinar agora, estou com muito medo por

saber bem lá no fundo do peito que jamais poderei ser


correspondida, apesar das atitudes românticas de Alejandro

afirmarem o contrário. Aos poucos, a única imagem fria que eu tinha


dele vai se descontruindo e dando abertura para um amante

irresistível, um cavaleiro protetor dos tempos modernos, um príncipe


que acolhe e me faz arder de paixão, o sonho do amor que sempre
quis para mim, o jardineiro da minha vida!

Não, não, ele não é e não posso me enganar! Grita a minha

mente. Alejandro se move gostosamente em mim, e acabo mais


uma vez não resistindo e buscando por sua boca magnética. Ele me

devora com disposição, como sempre, mas dessa vez com carinho
e cuidado, como um belo presente de bom dia. Toda vez que me
toca, descubro e aprendo algo novo sobre a minha própria

sexualidade, sinto e tenho mais e mais curiosidades.

Ainda não consigo acreditar que lhe revelei a vontade que


tenho de ouvi-lo chamar por mim, ouvi-lo falar coisas sujas enquanto

fazemos amor ardentemente. Essas vontades... esses desejos...


todos estão aflorando por meu corpo e mente desde que perdi a
virgindade, de um modo imparável. Tenho medo do que pode

acontecer, onde posso chegar, se saberei frear quando chegar a


hora.
Sem saber, Alejandro está me desarmando, destruindo o

escudo invisível que tentei construir ao meu redor para não me


machucar, para não sofrer como minha mãe sofreu. Chego a pensar

que posso estar errada também, que tudo pode ser colorido, que no
mar profundo dele pode haver flores, mas a minha intuição sempre

grita mais alto e diz que não!

Apesar de todo o calor, cuidado e proteção que o CEO está me

oferecendo, ele não se abre, não se revela totalmente, acho que


nem pela metade. Já lhe disse absolutamente tudo a meu respeito,

minha história, as minhas dores, mas ele não. O que sei sobre sua
família não veio de sua boca, seu passado é uma incógnita, agora

sei que seu problema lhe causa dor, mas não foi me informado o
motivo.

Evito ser a chata, a intrometida, mas por dentro me consumo


em curiosidade. Tenho vontade de ajudá-lo, mas Alejandro

demonstra, mesmo sem falar, que não precisa ou não quer ser
ajudado, que está bem como está. Demonstra força, imparcialidade
e até severidade quando o assunto é ele. E o fato de não saber com

quem estou me envolvendo, a quem estou me entregando, é o que


causa mais insegurança.
Fazemos amor novamente sem proteção e a sensação de ter
minha vagina preenchida com seu sêmen abundante é inigualável.
É uma magia indescritível, uma curiosidade saciada e que superou

totalmente as minhas expectativas. Apesar de saber do perigo que


estou correndo, quando os nossos corpos se fundem em um só,

quando Alejandro me devora sem limite, sua carne diretamente


conectada à minha sem barreira alguma, é o céu, milhões de vezes
melhor.

É essa uma de suas características que me enlouquece, a

sensação de perigo, de adrenalina e arrebatamento!

Como ele não se mostra preocupado, creio que deve ter algo
em mente, talvez compre algum contraceptivo mais tarde. Como
não fala, há certas coisas que só me resta deduzir. Por um

momento, pensamentos de doenças sexualmente transmissíveis


também passeiam por minha mente, mas... ele me passa tanta

confiança que não consigo ter medo disso. Estamos transando há


semanas, sempre foi cuidadoso, e só agora ousou fazer sem

preservativo, então... estou tranquila, quer dizer, mais ou menos.

Saímos do quarto de mãos dadas, tomamos café em alegria,

eu tagarelando infinitamente com Antonita e Pancho e também


comendo feito um dinossauro, pois estou morrendo de fome, fraca
após gastar tanta energia com o safado insaciável. Realmente
aguentar o pique deste homem é uma força-tarefa, contudo, gosto
muito, aliás, tenho a sensação de que estou me tornando voraz

tanto quanto ele.

Depois, todos seguimos para fora da casa, onde Pancho surge


com um belíssimo corcel de uma cor incrível. Após analisar

rapidamente o formato peculiar do crânio e da cauda, aposto ser um


puro-sangue árabe.

— Oh, meu Deus! — ponho as mãos na boca, chocada — É

um puro-sangue?! — Alejandro ergue as sobrancelhas,

impressionado com algo e assente — Um puro-sangue árabe? Meu

Deus! Mas é o mais caro do mercado, Alejandro!

Sorrio, tocando na pelugem singular do garanhão.

— Também fiquei louco quando vi o chefe trazendo este

animal para cá. Acho que é o único por perto, é uma honra cuidar

dele — afirma Pancho.

— Meu pai tinha um amigo que participava de corridas, sempre

íamos a fazenda dele. Praticamente cresci observando de perto

raças poderosas como esta — conto, acariciando o rosto do animal,


me contagiando em felicidade —, oi, lindo. Tudo bem? Você é lindo

demais, sabia?

— A senhorita sabe cavalgar? — Antonita está curiosa.

— Aí é que tá, sempre tive um pouco de medo — gargalho.

De repente, sinto mãos firmes me erguendo com rapidez e

sentando-me sobre as costas do cavalo. Grito durante o movimento,


assustada, ficando longe do chão. Todos acham engraçado

enquanto Alejandro monta atrás de mim, prendendo-me contra seu

corpo rijo, musculoso.

— Não! Alejandro, o que está fazendo...? — Antes que eu

consiga dizer mais alguma coisa, ele atiça as rédeas, o animal corre

disparado, nos levando bosque a dentro.

É uma aventura mágica, a velocidade do garanhão nos faz

cavalgar com rapidez e firmeza. Sorrio para Alejandro, sentindo o


vento no rosto, a sensação de liberdade, paz e adrenalina ao

mesmo tempo.

— Isso é incrível! — exclamo, observando seu semblante forte,


determinado a ir cada vez mais veloz, gostando a seu modo do que

estamos fazendo.
A floresta é linda, densa, às vezes parecendo ter saltado de

algum conto, daqueles que leio para a Alisa. Nós corremos mais

além, vivendo, sentindo, até que avisto um lago enorme surgindo,


me engano, trata-se de um rio, cintilando à luz do sol. Alejandro

puxa as rédeas, fazendo o puro-sangue parar de trotar perto de

algumas árvores.

Ele desmonta, amarra o animal, só então estende as mãos

para me ajudar a descer também, parando à sua frente. Procuro um

beijo, ganhando-o imediatamente, gostoso e molhado como sempre.


Ele gruda sua palma à minha, juntos caminhamos até o píer que há

na beira do rio. Paramos na ponta e contemplamos as águas à

nossa frente.

— Que lugar perfeito — comento deslumbrada, não

conseguindo parar de sorrir. Abraço o homem ao meu lado,

reconfortando-me em seu corpo, em seu perfume —, isso tudo até


parece um sonho... mas sei que não é — minha voz amarga um

pouco nas últimas palavras, tento disfarçar, mas Alejandro percebe.

Seus dedos puxam-me pelo queixo, obrigando-me a encará-lo.


Seu semblante indagador que já bem conheço, perguntando o

motivo de ter falado isso, mas continuo disfarçando:


— Está tudo bem, só estou sendo realista. Não há nada de mal

nisso — estico um sorriso, lutando para que saia natural e não emita
a tristeza a qual quer se abater sobre o meu peito. Penso em algo e

resolvo mudar logo de foco antes de começar a falar pelos cotovelos

o que não devo —, este lugar, o que significa para você?

O homem suspira e afirma em gestos:

“Este é um dos poucos lugares onde me sinto em paz”

— Que legal... já trouxe outras mulheres aqui? — Que

maldição, não consigo segurar essa língua!! Alejandro, sério, nega


com o rosto. Mordo o lábio inferior, a língua coçando para saber

mais dele, tudo o que quero saber — Você... anda se deitando com

outras mulheres além de mim? Não que isso seja da minha conta,

mas... é só uma curiosidade, sabe. É muito difícil estar ao seu lado e


não ter vontade de perguntar tudo o que tenho vontade de descobrir

e...

Calo-me quando as mãos másculas, com dedos longos,

amparam meu rosto fazendo-me focar exclusivamente no seu. Não,

a resposta é não outra vez. Isso me alivia imensamente por dentro.

— Se nunca trouxe outras aqui... então sou a primeira? —

murmuro, perdendo o tino por tê-lo tão próximo a mim. É sempre


assim. Seu rosto balança devagar e a resposta é sim — Por que

eu? — Outro não, ou talvez um não sei. Esse vazio, essa forma rasa

de se comunicar ainda me deixa agoniada em alguns momentos

como este, já era para estar acostumada — Você sabe o que o fez
ficar assim... sem falar?

Alejandro abaixa o olhar incomodado, largando o meu rosto, se


retesando inteiro, decidindo se responde ou não e, sem me olhar

nos olhos agora, confirma que sim. Puxo seu rosto para mim com

delicadeza.

— Pode me contar? — A resposta já era esperada: não!

Suspiro, afastando-me dele, lhe dando as costas por um instante,

observando o rio fluindo, seguindo seu rumo, seu destino, de uma


forma que nós dois nunca poderemos seguir juntos.

Ele jamais vai se abrir, não tenho intimidade o suficiente para

perguntar, mesmo já o tendo feito, agora não sei mais se quero


saber, me arrependi de ter tentado. Seguro a incômoda vontade de

chorar, estou me autodepreciando por dentro desde que acordei,

desde que o vi sorrir intencionalmente. Droga! Suspiro, lembrando


de um assunto que quero tocar, então aproveito o momento:
— Alejandro... acha que... já paguei a minha dívida? — tomo

coragem para me virar e encará-lo. Ele aparenta estar ainda mais


desconfortável, os seus globos me estudando em cada detalhe,

querendo descobrir as minhas pretensões. Tenho que esperar

longos segundos até que responda que sim.

Deixo o ar sair dos pulmões outra vez, medindo as próximas

palavras, ele é mais impaciente e me indaga em sinais:

“Por quê? ”

— Porque... quero discutir a possibilidade de formalizar o meu

trabalho como babá, para que você passe a me pagar um salário.


Não precisa ser muito, não me entenda mau, é que... pretendo

mudar de casa já que aquela está visada por aqueles homens e

também... quero voltar a ter o meu canto, sabe? Não que eu esteja
incomodada em ficar na cobertura, não é isso, é só que... estou

sentindo falta do meu espaço, de algo meu, entende?

Ele não se manifesta, engulo em seco, fechando as mãos,


tentando controlar o nervosismo, e prossigo:

— Além disso... amanhã vou me informar, mas acredito que o


tratamento da minha mãe não vai durar mais tanto tempo, ela está

se recuperando rápido e... quero ter um lugar para recebê-la quando


chegar a hora —, miro-o, esperando alguma resposta, mas não
vem. O homem fica imóvel, me observando como se soubesse que

há mais razões por trás disso, e realmente há.

Aqui confirmei a minha teoria de que preciso manter certa

distância dele, para me proteger. É isso e todo o resto que afirmei

também. Nada deixa de ser verdade.

— O que me diz? — pergunto esperando. Ele pensa mais um

pouco, sério como sempre, de um modo que chega a incomodar e

assente, mas afirma com as mãos:

“De quanto está precisando? Posso te dar seja qual for a

quantia”

— Não, assim não. Prefiro que me pague um salário pelo meu

trabalho, chega de empréstimos, você já fez muito por mim —


argumento.

Ele suspira, estudando e replica:

“Posso encontrar uma boa casa para você e sua mãe ou um


apartamento”

— Não, eu cuido disso! — retruco, minha voz saindo mais alta

do que o esperado. Fecho os olhos, passando as mãos pelos


cabelos, frustrada — Desculpa é que... acho melhor não
misturarmos as coisas tanto assim. Você não precisa se preocupar,
sei me virar e...

Sua mão se ergue, fria, impassível, dando um basta no meu


falatório. Seu rosto assente outra vez e ele me dá as costas,

caminhando de volta para o cavalo com as mãos no bolso. É como


se dissesse que não quer ouvir mais nada ou que não preciso falar

mais, que já entendeu. As minhas pernas tremem por um instante,


sinto que quebrei alguma parte do vínculo entre a gente.

Retornamos para a casa em mais terrível silêncio. Os nossos


corpos continuam grudados sobre os galopes do animal, mas é

como se não estivessem. Quero que ele entenda que apenas estou
tentando ser realista, tentando me proteger, que realmente preciso

do meu espaço, de algo que sinta ser meu, da minha própria casa,
mas prefiro não comentar mais nada para não brigarmos ou
tornamos o clima ainda mais instável do que já está.

O sonho acaba quando arrumamos as nossas coisas, nos

despedimos de Antonita e Pancho e pegamos o caminho de volta


para Madri. Dentro do carro, no espaço pequeno, Alejandro sequer
me olha nos olhos. Ele já não faz isso desde a conversa no rio e

sinto a dor me castigando por dentro.


No meio da estrada, paramos em um posto de gasolina e só
então o homem volta a se comunicar comigo, quando compra uma
pílula do dia seguinte e pede para mim tomar, entregando-me o

comprimido com uma garrafinha de água mineral. Tomo o remédio,


agradecendo, logo chegamos à cobertura como se nada tivesse

acontecido.

Não lembramos de dona Isabel, que nos vê saindo do elevador


de carros juntos. Alejandro a ignora e sobe para o quarto. Fico sem
ter onde enfiar a cara, com as sacolas de compras nas mãos, tudo

ficando tão aparente na frente dela.

— Oi, querida. Está tudo bem? — pergunta, sinto verdade na


sua voz.

— Está — murmuro cabisbaixa —, eu estava... fazendo


compras e o doutor Alejandro... — tento mentir.

— Por que está me falando isso? Não precisa justificar nada

para mim e nem para ninguém. A senhorita é adulta, responsável e


dona da sua vida, assim como o doutor Alejandro é da dele. Ambos
são livres e o que quer que façam juntos não cabe a ninguém saber

ou interferir — discursa educadamente, fazendo as minhas emoções


extravasarem de vez.
Lágrimas descem por minha face, largo as sacolas e a abraço
forte, parecendo ter uma pedra na garganta.

— Obrigada, dona Isabel. A senhora é maravilhosa —


choramingo buscando controle, procurando não sair demais do
equilíbrio.

— Oh..., minha menina — fala, com carinho enquanto acaricia


minha cabeça —, o que aconteceu? Quer desabafar? Ele te
magoou? — sussurra preocupada.

Desfaço o nosso abraço, segurando as suas mãos.

— Não... jamais! Sou eu que estou tentando não me


machucar, entende? — desabafo, preciso desabafar e não tenho
outro alguém para isso agora.

— Acho que sim... venha comigo — ela me leva até a cozinha,


onde prepara um chá. Sentamos à mesa redonda e começamos a
tomá-lo, cada qual com sua xícara, uma defronte para a outra —, se

não quiser falar nada, não fale. Nunca gostei de saber nada da vida
alheia, mesmo daqueles que gosto. Mas se precisar de conselho,
estou aqui — pousa a palma sobre a minha.

Suspiro, bebendo um pouco do chá de eucalipto quentinho,


pensando nas próximas palavras, então pergunto:
— O doutor Alejandro... ele sempre... foi tão fechado assim?

Tão... misterioso, tão... impenetrável?

— Desde que o conheço — responde a mulher, pensando —,


isso está te incomodando?

— Um pouco, porque me sinto pisando em ovos em alguns

momentos, sem saber quem ele é de verdade.

— Mas não é melhor deixar que ele se abra quando se sentir


confortável para isso? Não é melhor esperar?

— Sim... estou tentando, mas enquanto isso preciso me


resguardar de alguma forma, entende?

— Entendo, e concordo.

Bebo mais um pouco e deixo a xícara sobre a mesa, mirando o

nada, refletindo.

— A senhora não tem ideia do que o fez adquirir o mutismo


seletivo? — indago, fitando-a outra vez.

— De maneira alguma, mas a pouco tempo constatei que ele


realmente pode falar — revela, capturando toda a minha atenção.

— Sério? — ergo as sobrancelhas.


— Sim, uma vez ele falou com a Alisa na minha frente sem
perceber. Foi a primeira vez que isso aconteceu em dois anos que
estou trabalhando aqui. Foi recente, acho até que você já havia

substituído a Rayka, não tenho certeza.

— Meu Deus, e o que a senhora fez? — fico surpresa.

— Nada. Fiquei quietinha e fingi que aquele acontecimento era


a coisa mais normal do mundo, e o que te aconselho é exatamente

isso: se um dia ele falar contigo como acho que vai, contenha-se e
não aja como se fosse um milagre, porque pelo tempo que estou

nesta casa, já notei que o psicológico do patrão é bastante sensível


quando se trata do seu problema.

Fico perplexa, e inquiro:

— Por que acha que ele um dia falará comigo? — ergo uma

sobrancelha, sem entender nada.

— Porque seu coração é o mais puro que já conheci em muito


tempo, e algo me diz que a senhorita terá poder o suficiente para

curar o patrão.

Suspiro, vendo o quanto é bom sonhar.

— Tudo depende dele, dona Isabel. Não posso fazer nada.


— É melhor não entrarmos neste mérito agora. Fico com a
minha opinião e você fica com a sua.

— Certo — bebo mais um pouco do chá.

— Você está no caminho certo, tente não fazer cobranças.

— Estou me controlando para isso, mas é muito difícil porque


sou muito intensa. Já vi minha mãe sofrer bastante por ter se iludido

por anos com o meu pai, por isso preciso me resguardar para não
cometer o mesmo erro. Está tudo lindo agora, mas e depois? No
fim, dona Isabel, ele é o meu chefe e eu, apenas mais uma de suas

empregadas, um passatempo.

— Minha querida... — ela aperta minha mão, complacente —


não se subestime tanto.

— Acha que estou exagerando?

— Não. Acho apenas que deve deixar as coisas acontecerem,


se quiser é claro.

Reflito em suas palavras, suavizando o coração.


No dia seguinte, descubro através de Dona Isabel que Alisa
passará a minha folga ainda na casa dos avós, que sua avó a levará

para as atividades do dia. Fico mais tranquila por saber que ela terá
alguém com ela e vou visitar a minha mãe. Antes de vê-la, converso

um pouco com a doutora Eugênia, que me informa sobre o seu


progresso e afirma que mais um pouco de tempo ela receberá alta.

Quando digo isso à dona Inês, ela sorri de orelha a orelha.

— A médica disse isso? — indaga, enquanto andamos juntas

pela área externa da clínica, de braços dados.

— Sim, disse que no máximo três meses, talvez dois, então a


senhora poderá sair daqui. Ficará livre outra vez para poder

recomeçar, mamãe — sorrio.

— É tudo o que mais quero, filha. Estou com várias ideias,


quero trabalhar, mexer com as plantas aqui fez voltar a me sentir

viva. Quem sabe abrir uma estufa ou uma floricultura seja uma boa
ideia, hã?

— Acho maravilhoso, mãe! — fico radiante com as suas ideias


— Vai dar tudo certo, tenho fé em Deus que vai! E a partir desta

semana, começarei a procurar um novo lar para nós. Acho que


poderemos voltar a morar em apartamento, mesmo que alugado. É

mais seguro.

— O que houve? O senhor Rodrigues anda fazendo ameaças


outra vez? — É incrível como ela sente que tem alguma coisa fora

do lugar. Não lhe disse sobre os homens que tentaram invadir a


nossa casa e jamais vou dizer. Não posso preocupá-la.

— Não, sou eu que estou querendo esquecer aquele lugar

onde sofremos tanto e partir para um novo ambiente. Não acha a


ideia legal? — controlo o tom de voz, para não lhe dar brechas para
desconfianças.

— Acho ótimo. É, tem razão, filha — me beija na testa.


Paramos de caminhar.

— E como anda o trabalho?

— Está tudo bem — minto.

— Tudo bem mesmo?

— Aham.

— Não tem nada que queira me contar? — Nossa, parece até


que consegue ler os meus pensamentos.

— Claro que não, mamãe, se tivesse eu contaria — disfarço,


ela sorri, e assim continuamos caminhando.
Passo o dia inteiro com ela, almoçamos juntas, conheço os
seus amigos da clínica e alguns profissionais que ainda não
conhecia também. Quando o sol está se pondo, volto para casa,

encontrando a Alisa, que me abraça com muita alegria.

Nós matamos a saudade, descubro que sua avó veio deixá-la


e que ainda não viu o pai. Também não o vi mais, desde que

chegamos de viagem e não o vemos na hora do jantar. Apenas ouço


os seus passos no corredor depois que coloquei a pequena para
dormir e fui para o meu quarto. Não consegui pregar o olho sem

antes saber a que horas ele chegaria, e foi bem tarde.

Ao amanhecer, vou a cozinha dar bom dia para a governanta,


é quando ela me entrega um envelope.

— O que é isso? — pergunto apalpando.

— Seu salário, foi o doutor Alejandro que me pediu para lhe


entregar. Ele disse que é para você entrar em contato com a
secretária dele, pelo número que anotou aí, que nos meses

seguintes o dinheiro cairá na sua conta.

— Tudo bem... achei que ele me pagaria pessoalmente —


comento, triste por não ter sido assim, por notar seu afastamento.

— Ele saiu bem cedo, novamente em viagem a trabalho.


É como um soco em minha barriga.

— Viagem a trabalho? Disse quando vai voltar? — fico


preocupada.

— Não, querida — dona Isabel responde com pesar, ela sabe


que essas informações são importantes para mim.

Assinto e caminho até a sala de estar, abrindo o pacote e

vendo que a grana é alta, mais do que uma babá poderia receber.
Suspiro, balançando a cabeça negativamente, notando que ele não
muda mesmo, mas no fundo sorrio, ainda mais apaixonada por sua

bondade e reconhecimento. Retiro o celular do bolso e envio uma


mensagem para ele:

Bom dia. Obrigada pelo pagamento, espero não o ter

chateado. Boa viagem.

Mais tarde, após deixar a Alisa na escola, recebo sua resposta:

De nada, só estou pagando o salário que merece. Não se


preocupe, não estou chateado, pelo contrário, entendi muito

bem os seus posicionamentos e de agora em diante pretendo


ser mais realista como você.

Fico gelada. O que foi que fiz? Será que ele entendeu tudo

errado, ou entendeu certo e está querendo agir da mesma forma? O


que ele quis dizer com ser mais realista? Está terminando? Está

pondo um fim? Digito várias vezes e apago a mensagem, sem saber


o que responder. Entro numa tristeza terrível, raciocinando que
Alejandro estava sendo tudo o que sempre quis, mas com o meu

pessimismo, posso ter estragado o que havíamos acabado de


começar.

Por favor, não fale assim. Posso ter me expressado mal.

Quando irá voltar? Precisamos conversar.

Ele lê a mensagem assim que envio e responde:

Dessa vez vou demorar mais um pouco. Cuide da Alisa e


me mantenha informado sobre qualquer coisa.

A frieza dele dói, lembra até o início, quando me tratava


apenas como uma funcionária. Respondo:

Tudo bem.

Os dias passam e fico me culpando pelo comportamento hostil

de Alejandro. Era algo que temia acontecer após começar a me


relacionar com ele e agora acho que foi eu mesma quem causou
isso. Sempre lembro de suas palavras, sobre ser mais realista como

eu, só consigo pensar o pior.


Aproveito a semana para procurar um novo lar. Peço ajuda de

Pepita e, juntas aproveitamos o horário em que a Alisa está na


escola para procurar uma casa que fique mais perto do meu

trabalho. Ela me diverte e me distrai, desanuviando um pouco a


minha mente.

Após andar em alguns imóveis, encontramos um perfeito para


mim e mamãe, onde com certeza estaremos mais seguras de

qualquer coisa ruim ligada ao passado de papai. Os próximos


passos se resumem em organizar a mudança, para isso rescindo o

contrato com o senhor Rodrigues, pago um caminhão para carregar


os móveis e homens para pôr tudo no espaço novo.

Toda essa movimentação e mudança na minha vida me


deixam muito feliz, dando-me esperança de dias melhores. Começo

a semana seguinte arrumando a casa, pondo todos os móveis no


lugar, Pepita sempre vem me ajudar, todos os dias. Nos divertimos e

rimos bastante enquanto trabalhamos, fazendo mais bagunça do


que organização.

Sempre que anoitece, vivo os piores momentos com saudade


de Alejandro, a ausência dele mexe comigo de uma maneira muito

mais potente do que o esperado. Ele não enviou mais uma


mensagem sequer e não tive coragem para fazê-lo.
— Então quer dizer que você não vai mais morar conosco? —
pergunta a Alisa, arrasada após eu lhe contar a notícia.

— Continuarei passando o dia com você meu amor, como fazia

no início, mas dormirei na minha casa nova. Não mudará nada —


tento suavizar a situação.

— É claro que mudará. O papai já sabe disso? — Sua voz é


carregada de tristeza, me tocando.

— Sim, mas conversarei com ele novamente quando chegar.

— Vou pedir para ele não deixar! Quero que more com a
gente! — cruza os braços, fazendo bico.

— Não faça assim, Alisa. Entenda, preciso de uma casa para


receber a minha mamãe, ela também precisa dos meus cuidados.

Não vou te deixar, apenas dormirei em casa. Venha cá, me dê um


abraço — puxo-a contra sua vontade, até vencer a sua resistência e
abraçá-la bem forte. Encho ela de beijos e faço cócegas para tirar
sua cara ruim, e funciona.

Quando ela dorme, recebo uma mensagem de Alejandro, que


me deixa empolgada, leio na velocidade da luz:

Boa noite. Como está minha filha?

Respondo imediatamente:
Está bem, dormindo agora no meu colo. E o senhor, como
está?

Ele visualiza, mas demora alguns segundos para responder:

Bem, e você?

Não penso duas vezes antes de falar a verdade:

Estou com saudades. Quando volta?

Novamente visualiza a mensagem na hora, porém demora a


responder. Vejo a sinalização de que está digitando, mas pausa,

depois volta a digitar:

Saudades? Tem certeza?

Novamente sou sincera:

Sim, bastante. Acha que estou mentindo?

Ele leva mais alguns segundos para finalmente replicar:

Chegarei depois de amanhã, mas irei diretamente para a


empresa. Que tal almoçarmos juntos? Você, a Alisa e eu?

Sorrio radiante, adorando! Envio o texto:

Tudo bem.

Noto que em nenhum momento ele disse que também sentiu

saudades de mim, mas prefiro relevar isso agora.


Na sexta, que é o dia combinado para o almoço, me arrumo
toda, ficando mais bonita possível, porém sem exageros. Pego a
Alisa na escola e sigo diretamente para o restaurante marcado, que
não é o mesmo da primeira vez. Após procurar o estabelecimento
que nem mesmo Diogo sabe qual é, desço do carro para me

informar com a vendedora de uma loja.

Ela informa que fica ao lado, sigo para lá, vendo pela vidraça o
lindo CEO em uma mesa, mas meu mundo desaba quando noto as
suas acompanhantes, são duas mulheres muito semelhantes

fisicamente, que estão cheias de intimidade com ele, uma intimidade


que não me agrada nem um pouco.

Ambas sorriem maliciosamente, uma alisando seu ombro, a

outra sua mão, cochichando coisas no ouvido dele, que não


demonstra reação. Isso me deixa tão emputecida, a minha única
reação é retornar para o carro e pedir para Diogo nos deixar na
cobertura.
ALEJANDRO JAVIER

Está tudo bem, tudo ótimo, contemplamos o rio enquanto a


brisa do vento nos toma delicadamente. Suspiro, em paz no lugar

que mais gosto, justamente pelo silêncio, a quietude e a mansidão


que me traz, até que Mina começa a ficar na defensiva outra vez do
nada, sem motivos.

Ela dá a entender que nada disso é um sonho. Sou muito

sensitivo, é óbvio que noto de que forma quer se expressar, e me


incomodo com isso. Tanto que tento entendê-la ainda melhor, saber

onde quer chegar, então ouço que está sendo apenas realista. A
bailarina tenta mudar de assunto, faz mais perguntas e, ao

respondê-la, acabo me dando conta de algo que já deveria ter

captado: ela é a primeira mulher que trago aqui.


Não que isso seja um fenômeno, até porque estou com esta

propriedade há pouco tempo, mas para um homem como eu, que há


seis anos se relaciona apenas sexualmente e na grande maioria das

vezes com mulheres desconhecidas, é algo a ser bem observado.

A morena insiste com as suas dúvidas compreensivas, e

novamente percebo que tenho transado somente com ela há

semanas. Na verdade, já faz mais de um mês se contar desde que


nos beijamos a primeira vez, e muito mais desde que... brincamos

no sofá no dia em que nos esbarramos na madrugada. Nossa! Isso

chega até a ser assustador, porém disfarço bem para não

demonstrar o meu espanto interno. A respondo de uma forma que


deixa claro o quanto ela está cravada na minha mente sem controle.

Por que ela? É sua próxima pergunta. Realmente não faço

ideia, foi tudo acontecendo rápido demais, seu sabor penetrando em

meu corpo e se tornando essencial a cada dia que passava.

Saio das minhas reflexões quando Mina, novamente, resolve

tocar no assunto que mais me deixa desconfortável, a minha mudez.


Sim, acho, só acho que sei o que me fez adquirir o mutismo seletivo,

mas não tenho certeza, não gosto de lembrar, não quero, e odeio

falar sobre isso. E é claro que não posso contar a ela, não há razões

para isso!
Não que ela não me passe confiança, muito pelo contrário,
mas é algo que não precisa ser dialogado, comentado ou posto à

tona. Vou me ferir, vai doer e esmagar a minha alma como sempre

acontece quando lembro, então não preciso reacender o fogo que

me queimará!

Além disso, tudo são flashes, não sei muito sobre o meu

próprio passado, só o que foi noticiado e contado, pois era muito


pequeno. A minha negativa a decepciona, mas a sua persistência

nesta curiosidade infundada me decepciona também. Desde que

fodemos à primeira vez, que Mina demonstra interesse em saber de

toda a minha vida, dos meus traumas. Tentei relevar, fui educado,

compreensivo, mas agora já está me enchendo a paciência.

Ela, ainda por cima, aproveita o momento para deixar claro

que está inconformada com a forma como as coisas estão

acontecendo entre a gente. Tenta até disfarçar, focar no fato de que

precisa de uma casa para receber sua mãe quando a mesma sair

da clínica, não tem nada de errado nisso, óbvio, entretanto, a

questão principal é: querer manter distância de mim, é inegável!

Isso não é de agora, Mina é muito verdadeira, não sabe mentir,

desde quando começamos a nos relacionar que noto as barreiras e

os escudos que põe em volta de si, para se resguardar, tentar evitar


um possível sofrimento que eu venha lhe causar, como se eu fosse

algum tipo de monstro prestes a destruir seu coração.

Até que não a julgo por isso, é bem inteligível, também crio as

minhas proteções invisíveis, me abrindo só o suficiente, evitando me


envolver além do limite, mas o que irrita é comprovar agora que ela

quer sair da cobertura por causa disso, e ainda por cima, sem deixar
ajudá-la com dinheiro, com a escolha da casa, com absolutamente

nada!

Quando passei a ter dinheiro, poder, e principalmente depois


de me desiludir com o amor após conhecer Maitê, sempre tive
controle sobre tudo e todos ao meu redor, pelo menos na maior

parte do tempo e, de forma integral quando se tratava de mulheres.


Não sou acostumado a receber não, ver as coisas acontecendo sem

o meu domínio. Sou um dominador em praticamente tudo na vida e


ter alguém esfregando na minha cara o que posso e o que não

posso fazer, é simplesmente detestável!

— Não, eu cuido disso! — retruca Mina, quase gritando,

perdendo a paciência comigo, frustrada, ousada, petulante! —


Desculpa é que... acho melhor não misturarmos as coisas tanto

assim. Você não precisa se preocupar, sei me virar e...


Ergo a mão, puto, frio, insensível, não me permitindo mais

passar por esta situação outra vez. Não preciso disso, dessa
sensação de estar sendo descartado, posto de lado, empurrado

para longe como se inimigo fosse exatamente como a minha ex fez.

Depois dela, nunca uma mulher me tratou assim, jamais


permiti, por isso me envolvi com cartas fora do baralho, impossíveis
de se tornarem algo a mais, descumprindo fatalmente essa regra

com a babá. Agora dou conta disso, realmente foi e está sendo um
erro. Deixei-me levar pela forte atração, o tesão, a insanidade

luxuriosa.

Pelo visto eu estava me entregando até mais que ela, e esta


situação não poderá mais acontecer! Se Mina Pacheco quer
distância, então distância terá! Se quer se resguardar, se proteger,

deixarei que assim faça, pois, a partir de agora farei o mesmo, como
nunca deveria ter deixado de fazer.

Sou mestre nesta arte, não irei mais fraquejar.

Assim, trato logo de arrumarmos as nossas coisas e voltarmos


para casa. Não trouxe mala, até porque não precisava, tenho roupas

e tudo o que preciso no quarto da casa para quando vier aqui, só


Mina que leva as sacolas das compras. No meio do caminho, paro o
carro para comprar um contraceptivo, que ela toma, e depois de
alguns longos minutos estamos de volta na cobertura.

Descemos do automóvel e invadimos o hall sem sequer


lembrar da presença de Isabel que nos flagra chegando juntos.

Porém, não estou com humor para lidar com isso agora, não devo
nenhuma satisfação a ela ou a qualquer outra pessoa, então
continuo andando e me tranco no quarto.

Durmo, de certa forma, inconformado com o que aconteceu.

Nós estávamos num clima tão agradável, legal, Mina não precisava
ter estragado isso indagando sobre o meu passado. Repito: entendo

o lado dela, acho interessante sim que tenha o seu espaço e tudo
mais, o problema foi ter percebido que ela quer manter distância e
ainda definir como isso deve acontecer, enquanto a mim restou

apenas, aceitar.

Os dias passam, mais uma vez preciso viajar a trabalho, mas


antes, faço questão de deixar o salário que Mina pediu, para que

faça com ele o que bem entender. Tenho que compreender que é
uma garota independente e que, igualmente a mim, só quer se
envolver até certo ponto. Mal sabe ela que não precisará se

preocupar mais com isso, para mim já acabou.


Joaquin Hayser, como sempre, me acompanha na ida a Paris.
Durante o voo, ele notou o meu costumeiro mau humor, mesmo
assim, como é altamente inconveniente, não parou de falar e me

inquirir sobre coisas aleatórias. Ele tem esse maldito costume, de


combater a minha antipatia com empatia, muitas vezes dá certo, e

devo admitir, é por isso que gosto dele.

Novamente nos hospedamos no Prince de Galles, e ainda pela


manhã recebo uma mensagem da morena:

Bom dia. Obrigada pelo pagamento, espero não o ter

chateado. Boa viagem.

Ela está me desejando boa viagem? Pelo menos aceitou o


valor que deixei. Resolvo ser maduro e frio. Respondo:

De nada, só estou pagando o salário que merece. Não se


preocupe, não estou chateado, pelo contrário, entendi muito

bem os seus posicionamentos e de agora em diante pretendo

ser mais realista como você.

Ela leva alguns poucos segundos até me surpreender com a

réplica:

Por favor, não fale assim. Posso ter me expressado mal.

Quando irá voltar? Precisamos conversar.


Não Mina, não precisamos mais conversar nada. Você já

deixou claro o seu posicionamento e agora deixarei o meu:

Dessa vez vou demorar mais um pouco. Cuide da Alisa e

me mantenha informado sobre qualquer coisa.

Ela visualiza e responde:

Tudo bem.

Trabalho durante o dia inteiro, visitando a sede da Javier na

cidade, participando de reuniões, assinando documentos, conferindo


as vendas altíssimas do Bolt, concedendo entrevistas. Quer dizer,

Joaquin que é entrevistado em meu lugar, é meu porta-voz, eu

jamais apareci ou aparecerei em frente a uma câmera, só se for

pego de surpresa.

À noite, após jantarmos, fico me sentindo enclausurado dentro

da suíte. Suspiro várias vezes, como se não houvesse ar suficiente


para respirar com dignidade. Não consigo me concentrar na frente

do maldito notebook porque a bailarina não sai dos meus

pensamentos.

Chego à conclusão de que estou precisando voltar a praticar

sexo com outras moças para afastar estes sentimentos estranhos

que ultimamente vêm me dominando, ou pelo menos tentar. O que


não posso fazer é me estagnar com uma simples menina, quando

posso ter todas as mulheres do mundo. Sou um homem feito e

posso facilmente controlar as minhas escolhas e emoções.

Sem mais, envio uma mensagem a Joaquin, o convidando

para sair, pedindo que me leve a um lugar quente e sofisticado,

como nos velhos tempos. Assim ele faz, nos encaminhamos para
uma casa noturna com o carro que alugamos, onde há várias

francesinhas frescas no ponto para nos receber.

— Ainda não estou acreditando que você me chamou mesmo

para reviver os velhos tempos! — ri o homem negro, sob um terno

elegante, assim como eu. A casa em que estamos é de alto padrão,

só para pessoas que possuem bastante dinheiro — Estou muito


empolgado, aqui pelo visto tem uma maravilha mais linda que a

outra — comenta, espichando os olhos para uma bunda seminua

que passa rebolando por nossa mesa.

De repente, no palco, entra uma deusa e começa a se

contorcer sensualmente no pole dance. Começamos a assistir o seu

show enquanto bebemos uísque. Tento de verdade focar nela, mas


os flashes da bailarina dançando em seu lugar vêm com tudo.

Insisto em esquecê-la, virando alguns copos da bebida.


— Ei, vai com calma, irmão — alerta meu amigo, mas não lhe

dou ouvidos. Estou em um conflito com a minha própria mente. Isso


começou a acontecer depois que a babá entrou em minha vida, mas

agora vai ter que parar. Maldição!

Duas moças se aproximam de nós, uma deslizando as mãos

por meus ombros, a outras pelos ombros de Joaquin, ambas cheias

de intimidade. Puxo a que me aborda para a minha frente,

analisando-a dos pés à cabeça, agradando-me com o que vejo. Ela


é belíssima, um prato cheio.

Alguns minutos depois, sou levado para um dos quartos.


Assim que entramos, ela tenta me atacar, consumindo-me com os

olhos, mas sou mais rápido e a encosto contra parede, segurando

os seus pulsos no alto com uma só mão e encarando-a seriamente.

— Viens mon doux amour... je suis prêt pour toi — geme

excitada, chamando-me de gostoso e dizendo que está pronta para

mim.

A beijo, misturando as nossas carnes, buscando aquela

química, aquela emoção ou a perca da razão, porém não encontro.

Afasto o rosto, olho-a nos olhos e insisto com uma nova investida,
dessa vez Mina não invade os meus pensamentos, é simplesmente

a falta de entusiasmo e de tesão mesmo.

Afasto-me de vez, cortando os desejos da profissional,


pegando a carteira e retirando seu pagamento. Ela fica perplexa,

indagando se a achei feia. Nego todas as perguntas, sem falar uma

palavra, claro, piorando a situação, fazendo-a achar que estou a


desprezando. O fim é trágico, a moça sai me xingando e eu,

decepcionado.

Ao retornar para o salão principal, Joaquin ainda está


paquerando com a outra mulher, faço-lhe um gesto, o chamando

para ir. Ele não contesta, já nota por meu semblante que aconteceu

alguma coisa, paga a conta e me encontra lá fora.

Quando retornamos para o hotel, ele insiste em conversar

comigo, não reluto, estou precisando desabafar um pouco, mas não

gosto de ficar me comunicando como me comunico na frente dos


outros, então vamos para o meu quarto. Como já ultrapassamos a

fase de esconder segredos, e Joaquin confessou para mim todo o

seu envolvimento com Luna, me sinto confortável para me abrir


acerca de Mina, então lhe digo tudo.
— Uau... estou perplexo — arqueja, de sobrancelhas erguidas,

refletindo sobre tudo o que acabei de lhe afirmar em gestos.


Estamos defronte um para o outro, nas poltronas. —, no baile

cheguei a sentir uma atração forte entre vocês, mas devido ao

acontecido com Luna e todo o resto, esqueci e até resolvi não lhe

indagar muito sobre o assunto.

“Em primeiro lugar, quero dizer que Mina Pacheco merecia um

globo de ouro por ter conseguido penetrar um pouco nesta sua


casca grossa — me provoca, faço-lhe uma careta terrível, ele para

de rir e volta à seriedade —, brincadeiras à parte, pelo que acabou

de me dizer e pelo pouco que conheci dela, parece ser uma jovem
empolgante, uma graça. Você está chateado porque ela não é como

as demais com as quais estava acostumado, mas sabe muito bem

que é exatamente isso que mais lhe atrai na garota.

Não vejo nada de mal em ela querer se proteger, não

aceitando as suas regalias e tanta proximidade, isso pode ser até

bom para você, já que disse que também não pretende ter nada
sério. Continuem transando simplesmente, pronto, mas não seja um

covarde. Se sentir que está indo longe demais, então é melhor

cortar logo o mal pela raiz. Mas torço muito para que isso não

aconteça e o Senhor Silêncio se entregue outra vez”.


Explico-lhe que é exatamente o que está acontecendo, que a
atitude dela alertou para também procurar me afastar e me proteger.

— Mas é isso que não entendo, Alejandro, foi por isso que não
deu mais certo entre Luna e eu. Não há nada de mal em se mostrar,

em se abrir, se confia nela. Sei como a Mina está se sentindo,

porque era exatamente como eu me sentia com a sua irmã. Talvez a


insegurança dela venha exatamente do fato de não saber quem

você é e onde está entrando.

“Ela é muito madura para a idade, lembro do seu histórico, já


sofreu demais e vai continuar se armando se você não baixar um

pouco a guarda. Mas só você sabe dos seus demônios, sabe pelo

que passou e porque se sente melhor se afastando, então... sabe o


seu limite. Também não irei julgá-lo, como nunca julguei”.

Fico agraciado com as suas palavras, e trocamos um afetuoso

aperto de mão, é através desse toque que demonstro toda a minha


gratidão pelas sábias palavras. Já estou me sentindo um pouco

melhor e refletirei nos próximos dias sobre o assunto.


A semana passa devagar e solitária, à noite fico me
comunicando com Alisa através de Isabel, prefiro continuar afastado
de Mina por enquanto, para pôr os pensamentos em ordem e não

tomar nenhuma atitude precipitada. Custo a acreditar que estou com


saudade dela, é bem difícil confessar isso a mim mesmo, ouvir meu
subconsciente me jogando a verdade na cara.

A todo instante penso nela, no seu sorriso, me excito com a


sua imagem nua na mente, com a lembrança de todos os nossos
momentos quentes. Faz tão pouco tempo que começamos a nos

relacionar que parece mentira já estar tão enfeitiçado assim. Tem


algo nela que mexe com a minha razão, além da parte sexual, é
claro. Sua personalidade irrita e me chama ao mesmo tempo, está

cravada na minha cabeça.

Quando a nova semana se inicia, estou agora em Berlim,


momento em que, após alguns bons copos de The Macallan, perco

para o meu orgulho e, imbuído das palavras que Joaquin me deu


dias atrás, envio uma mensagem para a morena, indignado por ser
eu a estar fazendo isso e não ela, que durante todos estes dias não

mandou mais nem um oi.

Ela é fria, mais do que pensei, tanto quanto eu, e agora estou
com sérias dúvidas se realmente nutria ou nutre algo por mim. Não
que isso seja relevante.

Boa noite. Como está minha filha?

Ela logo visualiza e responde de imediato:

Está bem, dormindo agora no meu colo. E o senhor, como

está?

Surpreendo-me por perguntar como estou, realmente não


esperava por isso.

Bem, e você?

Retribuo o gesto, afinal, também quero saber como ela está,


de verdade.

Estou com saudades. Quando volta?

Paraliso com a sua resposta. Saudades? Sério? Recosto-me


na poltrona, relendo a mensagem, sentindo um doce sabor se
infiltrar em meu ser, adorando essa informação. Ela sentiu minha

falta. Será que é verdade? Decido descobrir:

Saudades? Tem certeza?

Mina replica:

Sim, bastante. Acha que estou mentindo?


Não, sei que não, ela não é de mentira, mas de pura verdade.
Quer saber? Foda-se o meu orgulho e essa baboseira toda. Preciso

voltar a ficar de bem com ela. Sendo assim, proponho:

Chegarei depois de amanhã, mas irei diretamente para a


empresa. Que tal almoçarmos juntos? Você, a Alisa e eu?

Fico ansioso por sua resposta, que logo vem:

Tudo bem.

Nossa! Agi como um completo garoto agora! Um adolescente


bobo e apaixonado! Onde está você, Alejandro Javier? Onde está?

Perdido! Essa é a resposta! Não é possível!

Quando finalmente chega o dia de retornar para Madri, ao


deixar o avião, corro com Joaquin para a Javier, onde uma reunião

muito importante com o conselho nos aguarda. Tento ser o mais


breve possível para não perder a hora do almoço e envio para Mina
o endereço do restaurante onde iremos nos encontrar. Chego lá

primeiro, ocupo a mesa reservada, peço uma água e fico mexendo


no celular, esperando as minhas meninas chegarem.

Ouço meu nome ser chamado, ergo o rosto e surpreendo-me

ao encontrar as gêmeas com quem até um tempo atrás, me


relacionava furtivamente.
— Alejandro, não acredito! — diz uma delas, sorrindo e já

sentando ao meu lado direito, a outra ocupa o esquerdo. Elas


sempre foram assim, não posso negar que temos intimidade.

— Nossa, quando tempo, gatão! — afirma a outra. Elas estão

lindas como sempre, são bem gostosas, o corpo em uma


abundância de atributos que agora não me chamam mais tanta
atenção.

Olho ao redor, receoso de nos verem assim.

— Ah, não se preocupe, para todos os efeitos, somos apenas


bons amigos.... amigos coloridos — pisca.

— Já esqueceu o quanto somos discretas? Sempre fizemos as

coisas com você sem que ninguém visse — sobe a mão por minha
coxa, por baixo da mesa, quase chegando ao meu centro quando a
seguro pelo pulso e nego seriamente.

— Tudo bem, nos desculpe — ambas deixam de me tocar e se


comportam. Elas notam o meu desconforto, e a mesma que tentou
me apalpar, continua —, está esperando alguém? — concordo.

— Então vamos para a nossa mesa, irmã. Foi um prazer revê-


lo, Alejandro. Estamos disponíveis quando precisar. Contigo sempre
foi de verdade — cochicha em meu ouvido, safada. Elas sempre
disseram isso, que comigo gozavam de verdade, ao contrário dos
demais clientes. Mas não me iludo.

As duas vão para três mesas as minhas costas, onde dois

senhores de idade as esperam. É a vida. Miro o Bolt em meu pulso,


notando o atraso das minhas garotas e até acho melhor assim, fico
desconfortável em almoçar com elas aqui, na presença das outras

com quem já me envolvi e que verão meu lado familiar que não
quero que vejam.

Não que isso seja um crime, mas sou metódico, odeio misturar

as coisas, fora que, se já estou me sentindo constrangido agora,


imagina com a presença da minha filha e da babá. Resolvo inventar
uma desculpa para desmarcar com elas:

Desculpe, houve um imprevisto e não conseguirei almoçar

com vocês. À noite jantamos juntos em casa. Tudo bem?

Peço a conta e retorno para a empresa, pedindo a comida por


delivery. Almoço em meu escritório, pois não gosto de comer no

refeitório, devido à grande aglomeração de pessoas. Já disse aqui


que odeio lugares movimentados demais, não disse? Além da
ansiedade que já é nata, desconfio que também posso sofrer de

agorafobia. É uma merda mesmo atrás da outra.


Conforme o tempo vai passando, começo a me incomodar com
o fato de Mina ter visualizado a minha mensagem, mas não ter

respondido. Porém, devido ao trabalho, não dou atenção a isso.


Quando chego em casa, sou recebido por Alisa, que encho de
abraços e beijos, já olhando em volta, buscando pela morena, que

não vejo.

— Que saudade, papai! Que bom que chegou!

— Também estava morrendo de saudades de você, meu anjo


— a abraço mais uma vez e a beijo.

— Boa noite, doutor Alejandro, seja bem-vindo de volta —


Isabel, como sempre me recebe com muita educação, sorrindo.
Assinto para ela e, após gastar alguns bons minutos com a Alisa no

colo, subo para o quarto para tomar um banho.

Ao retornar, bato na porta de Mina, e por não ser atendido,


abro, o encontrando vazio. Entro no quarto da Alisa também, mas

ela não está. Penso que pode estar me esperando no terraço como
outras vezes, porém prefiro perguntar a Alisa que, enquanto
jantamos, responde:

— Ela foi dormir na casa nova dela papai, disse que segunda
estará aqui, porque agora as coisas serão como quando não
morava conosco — revela, me deixando muito surpreso. Por que
não fui avisado? Viro o rosto para Isabel, que nota o meu incômodo

na hora!

— Ela não avisou o senhor? — indaga a governanta, sorrindo


sem graça. Nego.

— Ela encontrou uma casa nesta semana que o senhor estava


viajando, só estava o esperando chegar para poder dormir lá pela
primeira vez — continua a pequena, enquanto come.

— Exatamente — confirma Isabel.

“Onde é o endereço? ”

Pergunto em sinais.

— Não sabemos, doutor. Ela não nos informou e também não

perguntamos — responde a mulher. Isso não é nada bom.

Tenho que fingir pelo resto do jantar que está tudo bem para
não estragar o momento com a minha filha. A levo para o quarto,
deitamos em sua cama, fazendo-lhe carícias para dormir.

— Filha, a Mina não lhe contou que pedi a ela para que vocês
duas me esperassem para jantar? — indago, após ver que a
bailarina novamente visualizou e não respondeu a outra mensagem

que lhe enviei há pouco, perguntando onde está.


— Não. Ela ficou muito irritada depois que voltamos do

restaurante, e...

— Vocês foram ao restaurante? — A interrompo.

— Fomos, mas a professora só foi até a porta e voltou, disse

que não teria mais almoço. Fiquei muito triste, porque queria comer
com o senhor — conta, toda inocente.

Fico pensando... pensando... sentindo que tem algo de errado,


e imagino uma coisa terrível: que Mina pode ter me visto com as

gêmeas. Para ter certeza, após a Alisa dormir, sigo para o meu
quarto e lhe envio uma nova mensagem:

Não vai responder? Ficou muda feito eu?

Ela está online, visualiza tudo, mas não responde. Nossa, isso
está me matando! Quem ela pensa que é?!

Pare de me ignorar e envie agora o seu endereço!

Espero, mas Mina continua pirraçando com a minha cara. Fico

impaciente, não conseguindo desgrudar do celular. Decido partir


para medidas mais drásticas:

Mina Pacheco, ou me diz o seu novo endereço agora, ou

eu a demito!
Respiro fundo, querendo xingar os quatro cantos do mundo por
ainda estar sendo ignorado descaradamente. Então penso um
pouco, decido mudar de tática e provocá-la:

Muito legal da sua parte não estar aqui para jantar comigo.
Fiquei a semana inteira com saudade de você e agora me
ignora. Está de parabéns.

Isso é o suficiente para vê-la digitar, mas o texto que me envia


me deixa mais puto ainda:

Pega essa sua saudade e vá para a MERDA!!! Por que


também não jantou com suas amiguinhas?! RIDÍCULO!!!

Caralho... caralho! Nunca, jamais alguém falou assim comigo!!


Ela pensa o quê?! Essa baixinha... vai ter que aprender a me
respeitar! Pelo menos agora confirmei a minha teoria! Replico:

Cuidado com as palavras, sou seu chefe!

Ela retruca:

Quero que se ferre!!! E me esqueça!!!

Largo o celular por um instante e coço a cabeça com as duas

mãos, pedindo a Deus paciência. Respondo:

Sei o que está pensando, e está tudo errado! Não almocei


com elas.
A mensagem não chega para ela, somente é enviada. Ela
desligou o celular? Fico irado, me erguendo e caminhando de um

lado a outro do quarto. Vou enlouquecer se não a ver neste exato


momento. Tenho uma ideia, envio mensagem para Diogo,
perguntando se sabe o endereço dela, mas a resposta também é

não.

Ando de um lado a outro, até que decido voltar ao quarto dela.


Remexo tudo, procurando por alguma pista, encontrando um

pedaço de papal com um endereço. Decido arriscar, pego o carro e


saio no meio da noite até a casa que não fica longe do meu prédio.

Estaciono e miro o imóvel de tamanho comum por alguns

instantes, que tem um portão gradeado com mureta, janelas de


vidro com cortina e garagem aberta. Acho totalmente desprotegida
para uma pessoa que foi abordada por dois brutamontes

desconhecidos até outro dia. Essa bailarina ainda vai me matar!

Vejo uma silhueta feminina pela janela, mexendo nas longas


madeixas, na hora sei que é Mina! Desço do automóvel e caminho

até lá. Pulo o muro com facilidade e bato na porta, bato outra vez,
então vejo pelo reflexo das janelas as luzes se apagarem. Ela vai
pensar que são os bandidos, na certa!
Retiro o celular do bolso, vendo que ela está online e acabou

de visualizar a minha mensagem. Envio outra:

Abra, sou eu!

Mina lê, mas não responde.

Sou eu na sua porta, abra por favor.

As luzes se ascendem outra vez. Penso que ela vai abrir, mas

só que não:

Está louco? Como me encontrou aqui?

Bato novamente, impaciente, quase derrubando. Ela

finalmente abre, com uma frigideira enorme na mão que miro com
desdém. Iria se proteger com isso? Sério? Meu Deus. Mina
semicerra os olhos para cima de mim com um ódio parecido com

aquele quando me falou vários impropérios.

Fica nítido que não sou bem-vindo, mas adentro em sua casa
sem me importar com isso, ora! Não estou nem aí! Quero ver quem

vai me impedir!

— O quer aqui? — rosna, feito uma leoa a ponto de dar o bote!


Só então viro-me para fitá-la por inteiro, assim que fecha a porta, se
mostrando, deixando-me doido ao surgir em uma camisola curta,

branca e saliente.
“Precisamos conversar”

— Não precisamos conversar coisa nenhuma! Vá embora! —


exclama, me expulsando e abrindo a porta outra vez. Dá até
vontade de rir de novo — Está achando engraçado?! Eu acerto essa

frigideira na sua cabeça! — ameaça, erguendo o objeto pesado.

Ah é? Vamos ver então, ofereço-lhe a cabeça para ver se tem


coragem de fazer o que diz, me curvando em sua frente, com os

braços para trás. Não leva mais que dois segundos, sinto a pancada
bem no topo do crânio, o som agudo zumbindo em meus ouvidos.
Saio cambaleando para trás feito um bêbado, caindo sentado sobre

o sofá mais próximo, tonto.

— AI, MEU DEUS!! — Mina grita, largando a frigideira no chão


e correndo até mim, segurando meu rosto — Ai, desculpa!

Desculpa! Para que foi abaixar a cabeça, seu imbecil?! Ai, Cristo...
não sei se te bato mais ou cuido de vocêêê!! — rosna enlouquecida,
não sabendo o que fazer.

Então some da minha vista embaçada por alguns instantes,


depois volta com uma compressa fria, pondo sobre o calo que já
sinto latejando. Faço uma careta para ela, já conseguindo focá-la

melhor, de joelhos ao meu lado. Consigo sentir seu doce perfume,


gosto de estar perto, apesar de estar odiando o que acabou de fazer
comigo. Louca! Desvairada!

— Mas isso é muito bem feito! É para aprender a não brincar

com os sentimentos dos outros! Acha que é o dono do mundo e por


isso faz o que quer, mas comigo, não! — reclama, apontando o
dedo na minha cara. É muita humilhação! — O que veio fazer aqui?!

Por que não foi na casa das suas colegas! Queria o quê?! Que a
Alisa e eu almoçássemos com elas?! Você não nos respeita,
Alejandro! Não sou seu brinquedo! Não sou otária...

Antes que ela continue berrando, puxo-a com as duas mãos,


jogando-a contra o assento do sofá numa rapidez de maestria,
interpondo-me sobre ela, pairando sobre seu corpo delicioso e
quente. As alças da sua camisola chegam a escorregar,

desnudando ainda mais os seus belos ombros.

— Solte-me!! Largue-me!! — exige, se contorcendo, parece até


que estou tentando dominar um touro enfurecido. Para o seu
pequeno tamanho, até que tem muita força, mas sou mais forte e

consigo dominá-la, inclusive evitando uma tentativa dela de dar uma


joelhada nas minhas bolas. Hmmmm, perigosa! Gosto assim!
Contudo já estou puto!
Sacudo-a por um instante, querendo gritar um “ME ESCUTE”!
Mas a voz não sai, sai apenas as minhas expressões inconformadas
e indignadas com essa loucura dela! Não vendo outra saída para

calá-la, a beijo contra sua vontade.

Ela se obriga a não abrir a boca, a não se entregar, mas


continuo forçando, instigando, misturando os nossos lábios, as
carnes, buscando passagem com a língua, até que finalmente

consigo! Mina cede, então nos beijamos fervorosamente.


Gradativamente a morena se entrega. Solto-a, segurando seu rosto,
encaixando uma das pernas entre as suas. Ela arrasta as unhas por
meus cabelos e puxa para si, com ódio, raiva e tesão.

Neste toque cheio de fúria, nasce a paixão, os sentimentos


aflorando, explodindo, a saudade que tanto nos maltratou todos
estes dias longe um do outro desfalecendo, se destruindo e dando
espaço para o melhor que podemos oferecer um ao outro: o prazer!
MINA PACHECO

Estou furiosa com ele, minutos atrás o acertei com um


frigideira, não quero permitir o seu toque, que me possua, que me

tome como sempre faz quando se aproxima de mim, mas não


consigo! Por mais que a raiva em saber que ele almoçou com
aquelas duas vibre em meu âmago com força, além da mentira e da

cara de pau de ter afirmado que passou a semana com saudades

de mim, não tenho forças suficientes para resistir a Alejandro Javier!

Ele esfrega os lábios contra os meus, impõe sua força, a sua

libido que me acende, que abrasa, e assim faz o desejo e a ânsia de


matar esta maldita saudade baterem bem mais potente! Não dá

para negar que o quero! O quero muito, por inteiro, totalmente

dentro de mim!
Então acabo cedendo, expurgando a raiva, afastando a razão,

dando espaço desenfreado ao tesão, que me açoita com a língua


saliente dele, invadindo a minha boca, mordendo os lábios,

chupando a minha carne.

Alejandro também não consegue esconder o quanto me quer,

o quanto me deseja, se comportando de modo totalmente contrário

a todos estes dias em que passamos distantes. Transformando toda


sua frieza em mais puro calor e chamas!

Somos labaredas, sarças de fogo em profusão, que se

conjugam, se deterioram e se reconstroem das cinzas, faiscando,


explodindo como bolhas de lava quente! Minha camisola é puxada,

as alças escorregando por meus braços, meu busto aparecendo, os


bicos intumescidos, sensíveis, ardentes, desesperados pelo toque

dele!

E o toque vem! É forte, grandioso, carregado de luxúria!

Alejandro une os meus seios, estufando-os, tornando-os maiores do

que são e passa a chupá-los com voracidade, sofreguidão, ávido!


Enlouqueço quando faz isso, minha intimidade pisca, gotejante por

senti-lo e assisti-lo mamando em mim com tanta vontade, ímpeto!


— Ai, Alejandro... Alejandro... — chamo por ele, gemendo,
arrastando as unhas por suas costas largas, musculosas, puxando

seu couro cabeludo. Ele parece um gigante sobre mim, cobrindo-me

por inteira.

Ao ouvir os meus gemidos, o homem fica ainda mais

ensandecido, massageando os meus seios, provocando, instigando,

chicoteando as pontas entre os lábios que se movem com exatidão,


pressa, saliência, criando um som sexual ao extremo, um frisson

inigualável!

Então se afasta, ficando de pé, ferino, animal, arfando. Ele

arranca a minha camisola e a joga para longe, deixando-me apenas

de calcinha, me puxando pelo quadril como se fosse uma boneca,


uma marionete, seu objeto de prazer, mas sem machucar, pegando

com força, firme, me pondo de quatro contra o encosto do sofá.

Naturalmente, empino a bunda, o esperando, o coração

batendo forte, acelerado. Ele vem por cima, beijando meu ombro,

descendo por minha espinha dorsal, sensual, provocante, mordendo

a minha calcinha e arrastando-a pelas coxas, descendo, arrepiando


a minha pele. As suas mãos enormes me abrem ao meio, afastando

as nádegas, expondo a natureza melada, então me abocanha como

um leão valente!
— OOOH! — grito alucinada, sentindo-o me bagunçando,

sacolejando-se em volta do meu orifício depilado, chupando,


sugando, penetrando em meu esfíncter, girando lá dentro —

ALEJANDRO! — pressiono a bunda contra a face dele... matando à


vontade, a saudade!

Recebo uma palmada potente, que me arranca mais


grunhidos. Ele fica louco, geme, se satisfazendo, resvalando para a

minha intimidade e explorando os lábios vaginais, grossos,


sensíveis. Ganho lambidas servidas, intensas, que queimam,

abrasam, me levam a gotejar ainda mais e a rebolar na sua cara.


Receber sexo oral nesta posição causa sensações diferentes, me
enlouquecem!

Novamente o infeliz não me deixa gozar e se afasta, abrindo o

cinto, a braguilha, pondo o mastro para fora, enrijecido, atrativo,


poderoso, magnânimo. Alejandro é lindo demais e fica muito sexy

quando expõe a intimidade vestido com uma camisa social e calça


jeans como está agora, ou até mesmo de terno. É uma mistura de
elegância e safadeza sem explicação.

É óbvio que o prefiro nu, as tatuagens, mas dessa maneira

também me encanta, me chama! Ele deixa sua saliva cair


devassamente sobre a glande rosada, larga, massuda, se
lubrificando, másculo, fogoso. Retira um preservativo da carteira,

rasga-o com a boca e se protege. Em seguida, sem pré-aviso ou


preparação, se afunda com um golpe único e certeiro dentro de

mim, nos fundindo!

— HMMM — ruge, mordendo o lábio inferior e mostrando os


dentes, selvagem, penetrado por absoluto em minhas entranhas. A
dor aguda que senti com sua invasão e profundidade, aos poucos

vai se dissipando e se abrindo para o mais puro deleite.

As suas bolas estão pressionadas contra a minha entrada,


tapando enquanto o vazio que antes existia, o qual me atormentou

durante o nosso afastamento, agora é destruído. Tê-lo completo,


parrudo, pulsante, longo e extensivamente afogado em meu corpo é
surreal, uma sensação indescritível. É como uma parte que faltava

em mim.

Não consigo abrir os olhos ou fechar a boca, apenas vivo esse


momento como se fosse o último da minha vida, miando sem parar,

molhada, pingando pelas frestas da nossa união, sentindo o útero


alcançado, as paredes vaginais esticadas, em confusão, se
contraindo sem parar.
Ficamos assim durante longos segundos que parecem
eternos, transpassando energia afrodisíaca um para o outro, se
reconectando, destroçando a fome que nossos corpos sentiam!

Alejandro enfim retesa o corpo, se erigindo, enrolando uma palma


em minhas madeixas com atitude e molhando o polegar da outra em

minha boca, levando-o em seguida até o meu ânus, penetrando-o.

— Oooh! — deixo escapar um gemidinho, sua carne grossa

escorregando forçada contra a minha. Agora tenho-o em ambas as


entradas!

Assim, o homem começa com as investidas a todo vapor! Meu

cabelo é puxado, erguendo meu rosto, arqueando as minhas costas,


ao mesmo tempo em que seu pênis me devora, se enterrando em
minhas entranhas, socando sem parar, chocando minha carne

contra a dele em um ritmo frenético, alucinante.

Alejandro entra tão forte que, a cada investida, meu corpo vai
para a frente juntamente com os seios que vão e vêm e balançam

conforme o ritmo louco a que sou submetida.

Gemo cada vez mais alto sem controle algum, sem equilíbrio,

uma infinidade de sensações! Seu polegar se move em meu orifício,


causando uma experiência nova, é diferente tê-lo me penetrando
duplamente assim, brincando comigo, com o meu ser, com a minha
libido. Alejandro domina tudo, me faz totalmente dele, me rasga por
completo em prazer.

Sou puxada pelo pescoço, ficando ereta, apoiada apenas nos

joelhos e batendo as costas contra o corpo rijo dele! Seu membro


me toma inteira outra vez, os meus lábios vaginais o sugando,

apertando, contraindo a massa roliça. Ergo o rosto e busco


desesperadamente por sua boca que vem e se mistura à minha

ligeiramente, fatal!

Sua mão livre escorrega por minhas curvas, esmagando os

seios, atiçando os bicos, resvalando para o clitóris enquanto a outra

continua me segurando forte pela garganta, sufocando-me o


suficiente para controlar a minha respiração. Gemo forte, o som

sendo abafado por sua língua que se enrosca na minha.

Seu dedo se esfrega freneticamente contra meu clitóris,

criando movimentos repetidos, circulares, laterais e outros. Desliza

por entre as carnes íntimas, roçando entre os lábios ensopados,

ajudando a melar tudo, subindo outra vez, instigando, provocando


ao extremo, obrigando-me a gemer sem controle.
Não consigo me conter, fico fora de mim e rebolo os quadris

poderosamente, moendo seu membro em minhas entranhas,


ordenhando-o simultaneamente à masturbação que seus dedos

certeiros fazem em meu monte de Vênus. Giro várias vezes a bunda

quente que pega fogo, molhada, se arrastando contra seu púbis,


forçando a mistura das carnes, das cores.

Essa insanidade infinita é o suficiente para nos fazer gemer

forte, em uníssono. O orgasmo está vindo arrebatador, desenfreado.


Parece que toda a energia do meu corpo corre pelas veias para se

unirem no âmago, destruindo tudo que há pela frente de uma

maneira tão potente que as minhas coxas entram numa tremedeira


absurda enquanto os esguichos acontecem!

Alejandro também entra em combustão, esmagando-me contra

seu corpo com toda a força possível que há em seus braços, me


prendendo, golpeando o meu sexo explosivamente, fora de si,

gozando de uma forma que o faz se soldar a mim arrasadoramente.

Ele me empala uma última vez, abissal, parando, nos deixando


exalar toda essa lubricidade. Por um instante acho que vou morrer

tamanha queimação.

É infinito... colossal... inexplicável!


Minha pele inteira formiga, a boca arqueja, a respiração

quebrada, tremida, assim como a dele. O calor é absoluto,

medonho. Quando finalmente sou libertada, caio sobre o encosto do


sofá, apoiando-me aqui outra vez, com o homem ainda dentro de

mim, monstruoso, latejante.

Estou sem forças, destruída, mas ainda consigo gemer quando


seu mastro escorrega para fora de mim, permitindo que os meus

fluidos saiam com tudo, escorrendo por minhas coxas, me melando

ainda mais. Penso que já chegamos ao fim, mas Alejandro me


surpreende, voltando a penetrar meu ânus, agora com o anelar,

aprofundando-o até o fim, instigando as carnes.

— Ai... ai... oooh — mio, ao mesmo tempo que ele soca, indo e
vindo, devagar, resvalando libidinosamente. As minhas coxas

começam a tremer outra vez, espasmando, a força descomunal se

abatendo sobre meu corpo, levando-me a mais um orgasmo.


Explodo, ejaculando, os jatos molhando o sofá e a calça dele —

Alejandrooo...

Ele sai do meu orifício, acerta um tapa na minha bunda e


agora tenta me penetrar com o pênis. Estou com a cabeça

repousada sobre o encosto, sem forças. Gemo forte quando as

minhas paredes anais são forçadas a se abrirem para recebê-lo, sua


glande redonda e pontuda me invadindo, carne com carne, nem vi

quando se livrou da camisinha.

— Não... está doendo... doendo demais — ele é grande e eu,

muito apertada. Novamente não consigo contê-lo.

Alejandro entende como da outra vez, se afasta

delicadamente, beija as minhas nádegas, carinhoso como se se

utilizasse disso para curar a minha dor, cuidando de mim,


arrepiando-me, então me pega no colo e me leva para o quarto,

descobrindo sozinho o caminho. Sou deitada na cama e não tenho

energias para observar mais nada, caio em um sono pesado!

Acordo maravilhosamente bem, bocejando, demorando longos


segundos até sentir falta de Alejandro Javier e procurá-lo. Ele não

está ao meu lado, o encontro sentado em uma cadeira defronte para

a cama, me observando, completamente nu, só músculos, as


tatuagens à amostra, as pernas abertas, dando ampla visão para o

seu membro que, mesmo adormecido, causa-me desejo e ao

mesmo tempo intimida.


Seu olhar é intenso como sempre, enigmático, indecifrável,

misterioso. Quando me fita assim, sempre tenho vontade de entrar

em sua cabeça e descobrir os seus pensamentos. Toda a sua

imagem pode ser definida como perfeição, é um colosso, um deus


grego. Engulo em seco, o mirando da cabeça aos pés, concluindo

que, pelo seu jeito, já deve estar assim há um tempo. Respiro fundo,

saindo do feitiço e digo:

— Ainda estou com raiva de você. Nada mudou — nem eu

mesma consigo acreditar nisso.

“Não fiz o que está pensando, pare de bobagem”

Afirma, em sinais.

— Então quem eram elas? — Já chutei o balde há muito

tempo sobre não me envolver demais, estou completamente

envolvida!

“Amigas antigas, não são importantes”

Rio, desagradada e triste.

— É difícil saber o que é importante para você, Alejandro.

“Você é importante para mim”

Fecho os olhos, suspirando. Sua mensagem, mesmo em


gestos, tocou meu coração. Ele falando isso, me deixa ainda mais
desestruturada, mesmo sabendo que não gosta de mim tanto

quanto gosto dele. Miro o teto, buscando alguma saída, passando


as mãos no rosto.

— Acho que vou enlouquecer — comento, olhando-o

novamente —, quero tanto te entender — sai quase em sussurro.

“Farei com que me entenda”

Afirma, e me chama com a mão direita. Penso que estou

completamente apaixonada e não posso me declarar, senão irei

sofrer. Decido não focar nisso agora e apenas não resisto ao seu

chamado, levantando devagar e caminhando nua até ele, sentando


sobre sua coxa máscula e grossa, cheia de pelos, quente.

Não posso negar que sua atitude me excita, é como um alfa


requerendo a sua fêmea. Um rei que requisita a sua rainha.

Alejandro sempre transpassa essa imagem de poder, de uma figura

imponente. Amo sentar nas suas pernas, é o melhor lugar do

mundo, me sinto protegida, agraciada, em chamas.

Alejandro me contempla, enternecido, como se eu fosse algum

anjo, algum milagre. Ele fita cada pedacinho do meu corpo,


deslizando os dedos por meus seios, por minhas curvas, como se

quisesse comprovar que sou mesmo real, então me puxa para si,
fazendo-me montar em seu quadril onde já me espera duro e
fervoroso.

Nós fazemos amor outra vez, da forma mais delicada e singela


possível, como nunca fizemos antes. Somos apenas dois corpos se

entregando à paixão.

Quando terminamos mais uma longa sessão de prazer,

Alejandro reclama da casa que escolhi, diz que é pequena e

desprotegida. Afirmo que ainda vou chamar o rapaz para instalar o

alarme, mas evito uma discussão quando ele impõe que vai cuidar
disso.

O senhor Javier é altamente controlador e possessivo, já


percebi isso há muito tempo, mas não de um modo tóxico como

muitos por aí. Sei que sente a necessidade desenfreada de me


proteger, de ter a segurança de saber onde e como estou, o

problema é que sou uma menina solta, independente, e querendo


ou não, ele vai ter que me engolir.

Porém, não sou exagerada, percebo agora que tenho que

aprender a ponderar as coisas, estou há muito tempo administrando


a minha vida sozinha, mas com ele em meu caminho, não poderá
mais ser assim. É quase impossível, é como um conflito de domínio.
Acho que, quando é a dois, não dá para ser igual quando é a um.
Só precisamos descobrir os nossos limites mesmo que não
tenhamos assumido nenhum compromisso sério.

Além disso, esse moreno gostoso também é arrogante e acha

que pode tudo. Isso é engraçado, porque ao mesmo tempo que me


faz odiá-lo, também me deixa ainda mais obcecada por ele. Sim,

acho que estou ficando obcecada por este homem, e isso não é
nada bom.

Faço um simples café da manhã após o banho que tomamos


juntos, apertados no banheiro pequeno. Estou pronta para sair, e

cantarolo enquanto ponho a mesa, feliz sem saber o motivo, bem


diferente de ontem, onde eu mais parecia uma fera que havia

acabado de ser libertada de sua jaula.

Alejandro sai do quarto agora vestido, para o bem da minha


saúde mental, já que tê-lo nu próximo a mim é perigoso demais. Ele
chega por trás e me beija docemente, parece que não consegue fica

longe da minha boca, nem eu da sua. Nos sentamos e começamos


a comer, momento em que passamos a botar as coisas nos eixos e
lavar a roupa suja.
Surpreendo-me quando ele reclama que não lhe mandei
mensagem a semana inteira e que foi este um dos motivos por
também não o ter o feito, dando a entender que chegou a pensar

que eu realmente não queria mais nada com ele. Digo-lhe que o
avisei que quando chegasse, conversaríamos pessoalmente, que

passei a semana ocupada com a mudança, mas que não deixei de


pensar em nós um só instante.

Também não deixei de pensar em você.

Afirma por mensagem de texto, pousando sua palma sobre a

minha em seguida, apalpando com afinco, me fazendo sorrir


largamente. Ele vem dizendo tantas coisas bonitas, que não consigo
pensar mais nas ruins, até porque foi assim que começou o nosso

desentendimento.

— Alejandro... quero pedir desculpas por ficar indagando sobre


a sua vida, sobre os seus problemas. Foi isso que causou o nosso

desentendimento e não quero que aconteça outra vez, porque foi


muito ruim ficar longe de você — confesso sem medos, deixando os
sentimentos fluírem. Não dá para ficar presa todo tempo. A emoção

é mais forte que a razão agora.


Você tem razões para tanta curiosidade, só que sou uma
pessoa difícil de se abrir, mas quero mudar isso.

Leio as suas palavras e sinto meu coração palpitar com esta


possibilidade, contudo, a minha resposta é diversa:

— Mas não precisa fazer isso agora se não estiver preparado.

Sou muito ansiosa, intensa e paranoica. Todos estes meus defeitos


e inseguranças me fizeram ficar com medo e reagir, mas quero que
entenda que o aceito como é, sem mais. É claro que adoraria ouvi-

lo, gostaria de poder te entender ou... ajudá-lo, mas não por achar
que falta algo, pois não falta nada. Você é perfeito em suas
imperfeições, e para mim o fato de não falar, não é uma fraqueza,

mas sim a sua maior força.

“Juro que vou controlar as minhas emoções e esperá-lo se


abrir, caso esta seja a sua vontade. Eu me abri de corpo e alma,

mas cada um tem o seu tempo, cada coisa acontece no momento


certo, foi isso que a minha mãe me ensinou. Não se sinta
pressionado a nada e me desculpe mais uma vez ”.

Ele suspira, encantado, me olhando de uma maneira mais


profunda do que de costume, enxergando além da minha alma,
pensando não imagino o quê, e apertando um pouco mais a minha
mão, transpassando mais conforto, calmaria. Acho que agora sim

quebrei definitivamente qualquer tensão entre a gente.

Recebo uma nova mensagem:

Obrigado.

Depois da tempestade, vem a bonança. As semanas passam


agridoces, se transformam em meses, e ficamos ainda mais unidos

um ao outro. Alejandro convida a mim e a Alisa para almoçarmos


diariamente e, quando não vamos a um restaurante, ele vai para a
cobertura apenas para comer em nossa presença. Estes são

momentos únicos, em que nos divertimos e compartilhamos dos


sentimentos mais singelos.

Descubro que Lorenzo foi demitido, tento intervir, dizer para

Alejandro chamá-lo de volta, que converso com ele para ficarmos


apenas na amizade e respeito, tudo em nome da pequena que o
adora, mas seu pai não permite, afirma que vai procurar um novo

professor de música, provavelmente será uma mulher. Por um lado,


confesso que fico contente, pois sinto os ciúmes dele, mais um sinal
de que gosta de mim.

Aproveito que estamos passando o horário do almoço e até um

pouco mais juntos, para lhe fazer se aproximar ainda mais da Alisa,
fico empolgada quando ele aceita ver a menina tocando guitarra. Ela
é a mais feliz com isso, que se arma com o instrumento dado pela

tia e passa a mostrar o pouco que sabe, já revelando um certo


talento.

Alisa faz o seu show para nós dois e também para dona Isabel,

é engraçado ver a cara dela e de Alejandro, tentando fingir que


estão curtindo o momento. É realmente hilário, pois eles não gostam
nem um pouco de metálica. Mas isso não intimida ou abala a

princesa, que nem nota e continua dedilhando os dedos pelas


cordas da guitarra, fazendo o som ecoar pela caixa, toda contente.

Quando por fim acaba, nós batemos palmas comemorando,


aplaudindo o espetáculo.

Outra coisa que consigo do CEO, é levá-lo à nossa soverteria


preferida, onde nos esbaldamos pelo menos umas duas vezes na
semana. Alisa não podia estar mais contente em ter o pai tão perto

assim e até mais íntimo, coisa que faz o elo entre eles se tornar
mais forte. Consequentemente, me sinto ainda mais atraída e
apaixonada por Alejandro, porque percebo que realmente quer

mudar e está lutando por isso ao seu modo.

É lindo ver seu empenho como pai, o carinho e fascinação pela


filha, o amor. Fico viajando na mente, imaginando se algum dia ele
também poderá sentir amor por mim. Seu comportamento doce e

protetor me deixa de pernas bambas muitas vezes e suspirando


pelos cantos, encantada.

Como prometido, Alejandro se responsabiliza pela segurança

da minha nova casa, chamando uma empresa especializada em


segurança para instalar câmeras, alarme, portas e janelas mais
fortes e até portão na garagem. Ele quase inventa de reformar o

imóvel também, tornar mais confortável, porém consigo impedi-lo a


tempo. É exagerado, quer fazer tudo do seu jeito e de uma só vez.

A nossa vida sexual também não para um só instante, ainda

mais agora que sempre almoçamos juntos. Alejandro sempre


consegue dar um jeito de distrair a Alisa e me sequestrar para um
dos quartos, fazendo-me gozar todo santo dia. Isabel já virou a

nossa cúmplice, e quando percebe que queremos ficar sozinhos, dá


o seu jeito de chamar a atenção da menina.
Em uma noite, em que ele praticamente exige para que eu
durma na cobertura, assistimos um filme juntos com a pequena,

lado a lado com ela na cama do jeito que adora, tendo em vista que
não fazíamos isso há um bom tempo. Acabo adormecendo, mas

acordo no meio da madrugada percebendo que Alejandro não está


mais conosco. Ergo-me, esfregando os olhos sonolenta e saio do
quarto.

Surpreendo-me ao ouvir o som do piano, vindo da sala de

estar. Desde que comecei a trabalhar aqui, nunca o vi sendo tocado


por ninguém e sempre me perguntei quem o faria. Desço as

escadas, caminho curiosa até a sala de estar, silenciosamente,


parando ao avistar Alejandro concentrado, sentado no banco do
instrumento, manejando os dedos pelas teclas, com um copo de

uísque sobre o tampo.

A música é triste, melancólica e profunda. Fico o observando


na penumbra, envolto parcialmente da escuridão que cobre a sala

neste momento raro, entregue a algo, ao toque, ao som, à melodia.


Aproximo-me, sendo notada, e automaticamente ele para de tocar,
tímido.

— Continue... — peço, querendo mais, degustando este

instante sublime. Ele estica os lábios em um sorriso, sem mostrar os


dentes. Sorrir agora parece-lhe tão natural, toda vez me fascina.

Estende a mão e me chama, seguro-a sendo puxada e sentando em


seu colo quente, de lado.

Nos beijamos docemente, com sentimento. Afasto-me,

aprofundando-me em seus olhos verdes e então fito o piano outra


vez.

— Continue — peço.

Alejandro toma o copo de uísque, dá um gole, devolve-o ao

mesmo local, faz-me sentar ao seu lado e volta a dedilhar as teclas


com perfeição, a mesma canção sendo entoada novamente. Ouço-o

por longos segundos, até que chega ao fim.

— É tão triste — comento —, mas é bela. Que música é? Não


a conheço — ele pega o celular e me mostra no itunes — Far From
Home, de Sam Tinnesz. Não sabia que também curtia artistas

americanos? Eu adoro a Sia, já ouviu falar? — Ele assente — Gosto


de todas as canções dela, mas a preferida, é essa aqui — tomo o

aparelho dele e ponho Angel By The Wings para soar.

Alejandro escuta a letra atentamente, é óbvio que conhece


outras línguas, só não sei se sabe falá-las. Por fim, afirma em
gestos:
“É a sua cara”

— Também acho — concordo sorrindo. Ele me beija outra vez,


longamente, gostoso, então levanta, me guiando até sua suíte

máster. Penso que iremos fazer amor, chego até a começar, o


beijando, mas o homem me para, pede-me um instante e some
rumo ao closet. Sento-me na cama, notando que tem algo diferente

nele desde que o vi tocar piano.

Alejandro retorna com uma caixa de madeira em mãos,


sentando-se na cama e pondo-a entre nós. Ele suspira, mira o

objeto e depois a mim, sério.

— O que é isso? — murmuro, sabendo que deve ser muito


importante. As suas mãos que parecem receosas, tomam coragem

e abrem a caixa, revelando papeis dentro de saquinhos plásticos


transparentes que, quando são abertos constato serem jornais
antigos, devido a cor e a textura — Jornal de quase trinta anos

atrás? — indago, verificando a data. Alejandro consente — Quer


que eu leia? — A resposta é sim de novo.

Desdobro o material delicadamente, pois é bem frágil, passo


as folhas amareladas, repleta de notícias esquecidas no tempo.

Procuro por algo que não sei o que é, até que ele aponta a notícia
em meio às outras, onde há o título: “FAMÍLIA MORRE EM
INCÊNDIO. CASAL DE IRMÃOS SOBREVIVE”.

Meu peito aperta dolorosamente quando vejo a foto de um

garotinho de olhos intensamente esverdeados, que aparenta ter dez


ou onze anos, segurando a mão de uma menininha menor, ambos

visivelmente abalados emocionalmente, sujos, com os olhos


banhados em lágrimas, à frente de um carro policial à noite.

— Você... — minha voz sai quebrada — e Luna? — indago, o


fitando horrorizado, como se algo o espetasse e o machucasse por

dentro. Ainda assim, se força a assentir com o rosto petrificado —


Meu Deus... mas... não estou entendendo... — as suas expressões

faciais sugerem que eu continue lendo. Me calo e assim faço.

Tudo aconteceu numa cidade fora da Comunidade de Madri,


em outra região da Espanha. A família era muito humilde e a casa
não tinha energia elétrica, à noite usavam velas para não ficar no

escuro. A mãe se chamava Carmen Javier, era casada com Pablo


Mendez, o casal tinha três filhos: Juan, Alejandro e Luna, nesta

ordem. Juan morreu no incêndio com os pais, Alejandro e Luna


conseguiram sair do imóvel a tempo. Não se sabe o que causou a
catástrofe.
Quando termino de ler, fico devastada. Ponho a mão na boca,

sem chão, as lágrimas descendo sucessivamente, tanto que tenho


que afastar o rosto do jornal para não o manchar. Fito o homem à
minha frente que não sabe o que esperar de mim, lembrando agora

o garotinho assustado da foto, indefeso, que perdeu os pais. A dor


dele deve ser maior que tudo.

— Alejandro... — o abraço forte, deixando escapar um soluço

— oh Deus, você sofreu tanto... tanto! — Ele me aperta forte em


seus braços, como se me usasse para se proteger.

Depois se afasta um pouco e enxuga as minhas lágrimas com


os polegares, me consolando quando deveria estar acontecendo o

inverso. Ele não chora, mas consigo sentir o quanto está abalado,
as suas mãos até tremem.

— Então... você foi criado pelo tio? — pergunto, após

conseguir me acalmar um pouco. Recebo um sim. — Mas, como...


como...? — tenho tantas dúvidas, achei que a família dele sempre
fosse rica, quando pesquisei sobre a Javier, vi que o negócio

relojoeiro começou cedo.

Antes que eu consiga falar mais, seu indicador pousa sobre os


meus lábios, pedindo silêncio. Não quer mais falar sobre isso. Deve
machucá-lo muito por dentro. Deve ter sido tão difícil. Ele respira

fundo e afirma em sinais, agora com os olhos brilhando, segurando


as lágrimas, não quer desabar:

“Eu vim da lama”

Meu coração se espreme ainda mais.

— Todo diamante vem da lama... meu amor — afirmo,


acariciando sua linda face, o surpreendendo —, me abraça... estou

aqui — quero desesperadamente confortá-lo.

Nos unimos em um toque profundo outra vez, e dormimos


abraçados, faço-lhe carícias até que pegue no sono, e depois vou
junto, buscando aconchego nos sonhos. Entretanto, sou pega de

surpresa quando acordo com o homem tendo pesadelos outra vez.


Ele se move como se vivesse algo pavoroso, fazendo gestos,

reflexos com as mãos de quem quer expulsar algum mal de perto de


si.

— Alejandro! Alejandro! — O sacudo, tentando acordá-lo. Ele


soa e arqueja, de boca entreaberta, desesperado — Pelo amor de

Deus, Alejandro — fico desesperada, o sacudindo mais forte, até


que ele se senta em sobressalto, ofegante, abrindo os olhos em
terror. O abraço imediatamente, chorando —, estou aqui! Estou
aqui! Já passou... já passou! Sou eu, a Mina, estou contigo!

Repito as mesmas palavras sucessivamente, por vários

minutos, sentindo a sua dor, a sua aflição, tentando a todo custo


expulsar esse mal, os traumas que não sei quantos são. Lhe dou
amor, afeto, carinho, e por fim busco um copo d’água para confortá-

lo de vez. Agora já está mais calmo, sentado à beira da cama,


refletindo.

Sento-me ao seu lado, segurando sua mão enquanto ele põe o


copo agora vazio sobre o criado-mudo.

— É com isso que você sempre tem pesadelos, não é? Com o

incêndio? — inquiro. Alejandro pensa um pouco e ergue a mão livre,


afirmando que mais ou menos. Raciocino antes de continuar —
Como assim? Tem algo mais?

Ele assente, pálido, seríssimo.

— E o que é? — Por algum motivo meu corpo fica gelado,


sinto medo devido ao jeito como está.

“Não sei”
ALEJANDRO JAVIER

A porta se abre lentamente na escuridão profunda, o rangido


baixo, medonho e soturno avisa que alguém está chegando. A luz

vinda de fora ilumina o quarto, fazendo-me abrir os olhos, não sei ao


certo se estou acordando ou se fingia dormir. Vejo meu irmão na
cama de solteiro ao lado, desacordado, está tudo um pouco

confuso, não consigo enxergar seu rosto ou o do homem grande

que ocupa todo o espaço do vão da entrada.

As imagens se confundem entre fumaça e fogo. Sinto aflição,

dor, lágrimas molhando a minha face enquanto gritos de horror e


sangue tomam conta de tudo.

“Shhh... Faça silêncio... fique quietinho. Se falar eu te mato”


Os murmúrios frios de uma voz grossa e atormentadora me

torturam, mas outra voz doce se confunde nos pensamentos.


Acordo em sobressalto, descobrindo que estou com Mina, que ela

me chama, me abraça e me acolhe novamente, acalmando-me. Ela

repete sucessivas vezes que está aqui... comigo... que não vai me
deixar sozinho. Isso é muito importante e faz meu coração se

acalmar.

Mina Pacheco vem quebrando todas as minhas barreiras

pouco a pouco, sem forçar. Por mais que nosso desentendimento

tenha surgido, principalmente devido a sua curiosidade, as suas

palavras depois me reconfortaram. Senti segurança quando disse


que não queria me pressionar, que cada um se abre no seu tempo.

Me achei especial quando falou que todo diamante vem da

lama, isso me desarmou, me fez derreter. Falei de forma pejorativa,

demonstrando o quanto era fodido, mas ela transformou a minha

frase em algo valioso, provando que por mais que eu seja fodido,

posso ser único e forte. Posso superar o que me faz mal.

Foi ainda mais relevante quando me chamou sem perceber e

de modo tão natural de... “meu amor”. Sem notar, a morena me

elevou a um grau importantíssimo em seus sentimentos e, ao invés

de me sentir acuado ou querer fugir, foi totalmente o contrário, quis


que repetisse aquilo ou até que se declarasse mais, porém não
exigi, porque ainda não estou preparado para fazer o mesmo.

Todas as dúvidas e inseguranças que adquiri sobre ela durante

os dias em que estive viajando, se dizimaram quando consegui

achar seu endereço, praticamente invadi a sua casa e fui recebido

com um escândalo da parte dela gerado por ciúmes. Confesso que

não foi nada agradável receber uma frigideirada na cabeça, mas...


por outro lado, tê-la furiosa e ciumenta, foi a coisa mais divertida e

apaixonante da minha vida.

Apaixonante? Sim... ando evitando tanto usar ou pensar em

palavras que façam constatar que está rolando algo além de sexo

com ela, mas a cada dia fica mais impossível. Principalmente depois
de tudo o que vivemos após o conflito, as várias semanas juntos...

os almoços... até sorvete teve. É incrível como a Alisa e eu

conseguimos ter uma química fortíssima com Mina, e nós três nos

encaixamos perfeitamente bem juntos.

Naturalmente, me pego pensando em família, que parecemos

pai, mãe e filha quando sorrimos e nos divertimos. Até ver minha
filha tocando guitarra sem reclamar Mina conseguiu com que eu

fizesse. É uma loucura boa e uma reviravolta jamais imaginada por

mim.
Esse tempo doce e feliz fez-me sentir finalmente seguro o

suficiente para me abrir com a bailarina e, de repente, pegá-la de


surpresa com a verdade sobre a minha vida e o meu problema.

Mostrei-lhe os jornais, a notícia da catástrofe sobre a minha família,


revelei que na verdade o homem e a mulher a quem chamo de pai e
mãe, são os meus tios, pois os biológicos faleceram em um

incêndio, junto com meu irmão Juan.

Fiquei surpreso até comigo por ter tido coragem e confiança,


mas ao observar o quanto Mina é especial, o quanto me faz feliz,

tanto a mim quanto à minha filha, não tive mais dúvidas. O


interessante, é que algo gritava dentro de mim, afirmando que eu
deveria me abrir com ela, e assim o fiz.

Agora estamos aqui, na cama, deitados outra vez após os

meus pesadelos irem embora, após conversarmos e eu lhe


confessar que sei que houve algo em meu passado além da

tragédia com a minha família, mas que não tenho certeza do quê.
Mina não consegue esconder a sua preocupação, enquanto eu já
estou acostumado com essa aflição e prefiro não descobrir, pois

sinto que pode me afetar mais do que o pouco que já lembro.

Na quinta-feira à noite, após transarmos deliciosamente, ainda


enrolados na cama, completamente nus, mostro a Mina as
mensagens mais recentes enviadas por dona Alba. A cacheada

pega meu iphone e lê uma por uma, sorrindo surpresa.

— Ela quer que você me leve para jantar amanhã? — indaga


contente e receosa. Assinto — Mas... na casa dela... dos seus pais?

Onde Luna também mora? — Agora essa ideia parece perturbá-la,


confirmo outra vez — Ai Alejandro... você não está concordando
com isso está? — Minha resposta é sim outra vez — Tem certeza?

É que a gente... ainda... — sua voz falha.

Entendo a sua insegurança, tomo o celular da sua mão e


digito:

É sem compromisso, não se preocupe. Vamos como


amigos coloridos.

— Ah tá — afirma desanimada, após ler a mensagem. Acaricio

seu rosto e lhe mostro uma nova mensagem:

Mina, faz muitos anos que não levo uma garota para a
minha família conhecer. Quero fazer isso contigo.

Sou sincero.

— Quer mesmo? Ou está fazendo por alguma obrigação? —


ergue uma sobrancelha em dúvida.
Eu quero, não sou homem de fazer nada contra a minha
vontade. Você está me dando prazer de fazer coisas que nunca
fiz ou que deixei de fazer há muito tempo.

Ela sorri e me abraça, deitando-se sobre mim.

— E nisso se inclui... buscar um tratamento para o seu

problema?

Fico sério, fitando-a sem graça. Nego duramente, ela sabe que

este não é o meu objetivo.

— Tudo bem... teimoso. Não está mais aqui quem falou. E sim,
aceito conhecer a sua família.

Me beija, devagar, uma... duas... três vezes até me desarmar,


fazendo o meu desconforto ir embora. Mina é danada, já sabe como

me manipular, não se importando com o fato de saber que tocou em


um ponto frágil, simplesmente fugindo disso para não criar um mal-

estar estre a gente, e eu vou junto, pois não quero me indispor com
ela, odeio quando brigamos e tenho medo de apanhar.

Pego o celular e digito apenas com uma das mãos, mostrando-


lhe:

Que tal tentarmos fazer sexo anal hoje? Estou louco para

desvirginar esse cuzinho.


Ela sorri, vermelha, me dando tapinhas fracos no rosto.

— Safado! A minha resposta é nããão! Você terá que ter mais

paciência, porque dói muito. Aliás, terá que conquistar este prêmio,
se é o que quer! — afirma, se achando uma rainha. Mas ela é

mesmo, a minha rainha.

Reviro os olhos e ganho mais beijos de língua, deliciosos por


sinal. Escorrego a mão para a sua bunda, mas ela retira, me

provocando, mostrando que manda. Vou respeitar seu momento, irei


deixá-la tão doida para me dar esse bumbum que, quando

finalmente quiser, irei recusar só de pirraça. Se eu resistir, é claro.

No dia seguinte, algumas horas antes do jantar, estou eu em


mais uma empreitada na qual Mina Pacheco me colocou. Dessa

vez, estamos os três no quarto da Alisa, ela sentada em minha

frente, na cama, enquanto ajudo-a, pela primeira vez na vida, a


arrumar o cabelo para sair, fazendo uma longa trança única com as

suas mechas castanhas e lisas.

— Mina, o papai está acertando? — pergunta a pequena, em


dúvida se estou fazendo o certo. Chega a ser engraçado, pois sinto

um leve temor em sua voz.


— Não se preocupe, princesse, ele está — a morena troca

olhares comigo, sorrindo.

Mas estou sério, tomando todo o cuidado do mundo enquanto

enrolo uma mexa na outra, bem devagar para não errar, até o fim,
onde prendo o conjunto com uma presilha de borboleta. Dou um

tapinha no ombrinho dela, avisando que conclui.

— Terminou? — olha para mim. Assinto. Ela levanta e caminha


até o espelho, mirando seu reflexo com vaidade. Minha filha é muito

linda, não é à toa que a chamamos de princesa. — Está lindo,

papai! Ficou exatamente como eu queria! — bate palminhas,


contente, me presenteando com um abraço.

— Está vendo! Quando seu pai quer... ele consegue! — afirma

Mina, mas a fito curioso, pois sinto uma ironia quase imperceptível
em suas palavras. Essa baixinha...

— Agora vamos, a minha avó já deve estar esperando! —


Alisa está empolgada — Onde está a minha mochila, Mina? —

procura ao redor, e a babá a ajuda a encontrar. Ela está indo para

ficar, já que vai passar o final de semana inteiro com os avós, como

vem fazendo em praticamente todas as semanas desde que fiz as


pazes com os meus pais.
Saímos do cômodo de mãos dadas com a pequena, que saltita

e comenta feliz sobre como acha que será o jantar, como Mina se

dará bem com dona Alba. Chegamos no hall onde dona Isabel nos
encontra, com as mãos cruzadas à frente do corpo, sempre em sua

postura formal, graciosa.

— Olha só como estão lindos! — Nos elogia, fazendo a Alisa


se sentir ainda mais contente — Alisa, que trança linda!

— Foi Mina quem deu a ideia e papai quem fez, acredita? —


indaga, como se fosse um milagre.

— Nossa! Como seu pai está maravilhoso, não é? — A

governanta puxa assunto, piscando para mim e Mina, que curtimos


o diálogo delas.

— É... ele virou um paizão agora! — Me olha radiante. Pisco


para ela, esticando um sorriso — Agora nós temos que ir. Beijos

dona Isabel — se despede, nos puxando em direção à garagem.

— Beijos! Tchau! Divirtam-se!

MINA PACHECO

Meu coração bate mais forte quando estacionamos à frente da

mansão Javier. A casa é simplesmente esplendorosa, de dois


andares, gigantesca. Um pouco maior e poderia se transformar em

um hotel. Minha nossa... fico até pasma, mas disfarço. Fora o


grande imóvel, há todo o conjunto, o imenso e belo jardim, a vasta

piscina que avisto distante de nós.

— Uau... — deixo escapar impressionada, olhando ao redor,

quando desço do carro. Alejandro abre a porta para a Alisa descer,

segura-a pela mão e me toca nas costas, nos conduzindo até os

degraus que levam à porta de entrada, onde uma moça


uniformizada abre a porta e nos recepciona no hall.

Aqui é completamente diferente da cobertura de Alejandro, as


cores são claras, vivas, amenizadoras e não obscuras ou austeras.

A decoração é chiquérrima e de muito bom gosto, com alguns

quadros caros espalhados pelas paredes.

— Oooh, chegaram! — Uma senhora loura e de olhos

profundamente azuis chama a nossa atenção, usando um

sofisticado, porém simples vestido bege. Um look o qual mostra que,


apesar de estar em casa, tem muita finesse.

— Vovó! — Alisa larga o pai e corre para abraçar a senhora,

que é muito bela por sinal, mas não lembra Alejandro, momento em
que recordo que é a tia, não a mãe biológica.
— Olá, meu amor. Tudo bem? Preparada para passar mais um

domingo conosco?

— Sim, já trouxe a minha mochila. Vou deixá-la no meu quarto!


— afirma, correndo rumo às escadas.

— Aproveite e chame a sua tia, diga que os nossos


convidados já chegaram!

— Tudo bem, vovó! — Alisa some de vista, indo para o andar

superior. Dona Alba, troca olhares comigo.

— Olá, você só pode ser a famosa Mina Pacheco, não é? —

Nós nos cumprimentamos.

— E a senhora deve ser a famosa avó Alba... ah, desculpe,

não sei se gosta de ser chamada de avó. É que algumas senhoras

não gostam de algo que faça lembrar que... ah, esqueça, eu falo
demais quando estou nervosa! O Alejandro sabe... — fico toda

desconcertada.

A senhora ri, trocando olhares com o filho que também parece

se divertir com o meu nervosismo.

— Alisa já havia comentado que você ficava engraçada


quando falava demais. Bem... parece que é verdade.

— Ela disse isso? — ergo as sobrancelhas.


— Relaxe, está tudo bem. E respondendo à sua pergunta:

adoro quando minha neta me chama de vovó.

— Ah! Que maravilha! — fico mais relaxada por não ter

cometido uma gafe — Permita-me dizer, mas a senhora está

deslumbrante.

— Muito obrigada, você também está maravilhosa. Não

mentiram quando me falaram que era realmente linda.

— Obrigada.

— Já estão com fome? Mandei preparar alguns petiscos antes


do jantar — informa, ao mesmo tempo em que nos chama com a

mão e caminha, fazendo-nos segui-la até a ampla sala de estar,

onde um belo senhor de cabelos grisalhos, de olhos esverdeados e


que lembra Alejandro, está sentado a uma mesa de xadrez com

Mateo, sendo servido por um mordomo —, gosta de pan tumaca

com jamón? Alejandro adora!

— Ah, eu também amo — sorrio, recordando que já faz um

tempo que não degusto esta maravilha. O mordomo vem ao nosso

encontro, serve a nós duas, Alejandro recusa. Ele ainda não retirou
a mão da minha lombar, sempre com o toque sutil — Hmm está
delicioso, mas gosto com um pouquinho mais de sal — afirmo
educada, pondo para fora a intrometida que há em mim.

— Eu também! — Ela sorri, surpresa — Mas nesta casa


estamos evitando muito sal ou açúcar devido a dieta do meu marido.

— Mesmo assim está muito bom...

— Alejandro! Filho! — O anfitrião levanta da cadeira junto com

o homem alto, de olhos azuis e cabelo de um louro acastanhado.

Lembro dele no baile, é muito bonito.

Nos aproximamos deles. Alejandro aponta para mim,

apresentando-me em silêncio e eles entendem.

— Ah! Prazer, sou Miguel Javier. Seja bem-vinda à nossa casa

— Nos cumprimentamos, estou me sentindo muito bem

recepcionada.

— Mina Pacheco, é um prazer.

— Nós já nos conhecemos, não? A moça do baile — a voz

rouca de Mateo soa quando apertamos as mãos. Ele é tão alto


quanto Alejandro, forte, a cara da mãe.

— Sim... no lançamento do Bolt! — comento.

— Que bom revê-la ao lado desse bonitão. Vocês formam um

belo par — nos elogia —, bem, estou só de passagem, vim dar uma
olhada nestes meus velhinhos amados, mas agora tenho que me
retirar outra vez.

— De modo algum, já falei que também ficará para o jantar —


repreende Alba.

— Mamãe, não quero atrapalhar este momento...

— Deixe de tolice, Mateo — fala Miguel. Alejandro dá dois


tapinhas no ombro do irmão, concordando com os pais e querendo

que ele fique.

— Sendo assim, então eu fico. Um jantar com a família é


sempre bem-vindo — afirma, sorrindo. Todos ficam contentes.

— Mas antes, quero jogar uma partida com Alejandro, como

nos velhos tempos. Mateo já perdeu outra vez, agora está na hora
de humilhar você, Senhor Silêncio — afirma o anfitrião.

— Senhor Silêncio? — indago achando curioso.

— Sim, ele não te falou? É o apelido que deram a ele na


empresa, nunca esqueceremos! Falar, jamais, mas trabalhar... ah,
isso sempre foi com ele mesmo! Venha filho!

Alejandro se despede de mim no olhar, avisando que vai me

deixar sozinha por um tempo, e se aproxima da mesa de xadrez


com o pai, sentando onde antes estava o irmão, momento em que
Alisa irrompe pela sala, gritando o nome de Mateo e o abraçando.
Ele a pega no colo e a rodopia por alguns segundos.

— Oi, coisa mais linda da minha vida! Que saudade que eu

estava de você!

— Quando vai me levar para passear, tio? O senhor só


promete e nunca cumpre! — A pequena reclama.

— Ah, é verdade! Como pude esquecer outra vez?! É que seu


tio anda sempre muito ocupado com a faculdade — ele faz cócegas
no pescoço dela com a barba, arrancando-lhe gargalhadas.

— Devia estar ocupado me fazendo um neto! Já está ficando

velho e nada de filhos! — surpreendo-me com o puxão de orelha


que Alba lhe dá, no sentido figurado, é claro.

— Lá vem ela! Lá vem ela! O sonho de mamãe é ver todos os

filhos casados e com netos! Ela não se conforma apenas com essa
coisinha fofa do titio! — faz mais cócegas na garota, que se
contorce feliz nos braços musculosos dele.

— Mas é claro que me conformo. Porém não custa nada ter


mais e transformar essa casa num playground.

Sorrio, achando hilário o papo deles.


— Venha Mina, me acompanhe, vamos dar um passeio e
deixar os rapazes aí — ela enrosca o antebraço no meu,

concedendo-me intimidade. Gosto disso.

Seguimos de volta para o hall, parando em uma das grandes


janelas que dão visão para o jardim.

— Sua casa é realmente bela e o jardim mais ainda. Vi que


tem várias Gazânias — comento, puxando assunto.

— Ah, você gosta?

— Sim, minha mãe e eu, amamos! Ela inclusive está pensando

em abrir uma floricultura quando... — minha voz falha.

— Quando o quê? — Dona Alba fica curiosa. Como não sei


mentir, continuo:

— Quando sair da clínica de reabilitação. Desculpe, é um

assunto delicado e...

— Minha querida, não se preocupe, toda família tem os seus


assuntos delicados. Foi até bom você ter comentado sobre isso

agora que estamos só nós duas, assim evitamos qualquer


constrangimento na frente de todos. Não tente ser o que acha que
quero que seja, seja apenas você, quero muito conhecê-la. Quero

conhecer a mulher que está virando a cabeça do meu filho.


— Virando a cabeça? Não sei dizer ao certo... Alejandro ainda

é uma incógnita, mas gosto muito dele... muito — afirmo cabisbaixa,


sentindo-me corar.

— Está apaixonada por ele? — sua voz é tão doce ao indagar

isso, que nem me sinto constrangida — Porque ele está por você.

— Acha isso? — Fico surpresa.

— Ah, com certeza está, mas ainda não se declarou, não é? —


ergue uma sobrancelha. Esperta.

— Nós estamos nos conhecendo. No começo não foi fácil,


ambos muito inseguros, mas agora até que... as coisas suavizaram
um pouco — conto sincera.

— Imagino... Alejandro não é nada fácil, mas ele tem razões


para ser assim.

— Sim, agora o entendo melhor, mas...

— Mas?

— Queria que ele fizesse mais por ele mesmo, sabe?

— Se refere ao problema dele — conclui.

— Sim, desculpe se... estou sendo indelicada.


— Não, se quer dizer que acha que ele deveria buscar
tratamento, concordo plenamente.

— Ah, que bom! — fico aliviada.

— Mas este é um terreno perigoso, deve-se ter cuidado.

— Eu sei... ele me contou — afirmo.

— Contou? — Ela fica surpresa, então caminhamos mais um


pouco.

— Sim... me mostrou os jornais, na verdade. Não entendi tudo,

mas entendi o essencial.

— O que não entendeu? — Ela está interessada.

— Não entendi por que a mãe biológica dele vivia numa

situação precária, se... o irmão, o senhor Miguel, estava tão bem.

Nós paramos de novo, dona Alba se desgruda de mim e me


olha frente a frente.

— Se você me prometer que vai tentar convencer o meu filho a

voltar a buscar tratamento, sano todas as suas dúvidas agora. Sinto


que é uma menina boa, ouvi maravilhas de você não só através da
Alisa, como também de Luna, mas... nada supera o olhar de

Alejandro quando entrou aqui ao seu lado.


— O olhar?

— Sim, um olhar de apaixonado que ele só teve uma vez na


vida, e que não foi valorizado. Mas esta é uma outra história. É o

mesmo olhar que você tem quando o fita, os seus olhos brilham.

— Dona Alba... — seguro uma de suas mãos, capturando toda


sua atenção —, eu quero sim entender como tudo aconteceu, até

para poder entender o seu filho melhor, posso me comprometer de


que irei tentar, mas jamais de que irei conseguir convencê-lo a fazer
o que ele menos quer. Porque tudo depende dele, não de mim. E

sim, pode confiar em mim, jamais faria qualquer coisa para


machucá-lo.

— Sei disso, até porque, Alejandro é muito perspicaz, e se

você fosse alguém de má índole, pode ter certeza que já não estaria
mais perto dele — diz com convicção, mostrando que conhece o
filho profundamente bem —, então, o que aconteceu é que a

Carmen, mãe de Alejandro, se apaixonou perdidamente por Pablo,


um sujeito que nunca quis nada com a vida e por isso jamais foi
aceito por Miguel e pelo senhor Javier, meu sogro. O velho Javier

disse à filha que se ela não largasse Pablo, iria deserdá-la, e assim
acabou fazendo quando Carmen fugiu com Pablo para outra cidade.
“Desde então ela se afundou no poço ao lado daquele homem
cada vez mais. Nos primeiros anos depois do nascimento de Juan, o

primeiro filho do casal, ela ainda matinha contato com Miguel que
lhe enviava dinheiro e a ajudava às escondidas do pai. Anos mais

tarde, ela chegou a se separar de Pablo por não aguentar mais,


tinha que dar conta de tudo em casa e ainda cuidar dos três filhos.
Miguel a acolheu contra a vontade do velho Javier, mas jurou que a

esqueceria se ela ainda voltasse para Pablo.

“Infelizmente ela voltou, e dessa vez rompeu o laço de


amizade e respeito que tinha com o irmão, ela saiu fugida na

madrugada, deixando uma carta vergonhosa de que não podia viver


sem o marido. Era obcecada pelo homem que a levou à ruína.
Miguel cumpriu com o prometido e a esqueceu, mesmo já amando

os sobrinhos, principalmente Alejandro, por quem sempre teve


maior afeto, acho que porque todos diziam que o garoto parecia
muito com ele.

“O fato é que, anos se passaram até que descobríssemos a


tragédia, o incêndio que levou Carmen e Juan de nós. Miguel
encontrou Luna e Alejandro jogados em um orfanato qualquer, foi

terrível. Eles chegaram aqui traumatizados... como são até hoje,


você já deve ter percebido”.
— Meu Deus... que tristeza. E quando Alejandro chegou aqui

já não falava mais?

— Não... acho que o mutismo seletivo dele veio de um


conjunto de fatores. O incêndio... o tempo que ficou naquele

orfanato com desconhecidos... esquecido. Porque soubemos


tardiamente da notícia.

— Nossa, não sabia que eles ainda passaram por um orfanato

— comento abalada.

— Pois foi, minha querida. Estou te contando tudo isso, porque


quero que entenda a gravida da situação e que... por mais que meu

filho seja forte por fora, seu psicológico é muito frágil, então é
preciso ter cuidado.

— Sim, sim — compreendo.

— Juro que tentamos de tudo para fazê-lo voltar a falar. Mas

apesar de todo o amor que Miguel e eu demos a ele, também houve


conflitos, erros nossos por não sabermos lidar com o seu problema,
excesso de profissionais que não sabiam como agir com ele, enfim.

Mas Joaquin, amigo da família, comentou que achou um psicólogo


que entende bastante sobre mutismo seletivo e que pode ajudá-lo.
Creio que ainda não seja tarde demais.
— Não, não é! Eu nunca ouvi, mas sei que ele fala com a
Alisa.

— Sim, ele consegue destravar com pessoas que se sente

confortável e plenamente confiante. Ele falava com Luna quando


chegou aqui, mas depois eles se afastaram — ela fala tristemente,
suspirando com pesar —, ah, seria tão bom ouvi-lo ao menos uma

vez na vida. É o sonho de Miguel. Nós estamos envelhecendo


rápido demais e... — respira fundo.

— Não, não diga isso! — fico emocionada quando vejo os

olhos dela brilharem. Oh Deus, o problema de Alejandro afeta toda a


família.

— Mas nós perdemos a sua confiança, em algum momento

duvidamos de sua capacidade e tomamos atitudes por ele, quando


devíamos ter feito o inverso. Ele não é doente, é capaz e nos provou
isso, mas não temos mais a confiança que precisamos para poder

incentivá-lo a buscar o tratamento. Alejandro também tem medo de


falar, acha que com isso vai trazer à tona os seus fantasmas, tudo
aquilo que não sabemos o que viveu enquanto ficou distante de nós.

Agora entendo tudo, dona Alba Javier vê em mim uma

esperança que não sei realmente se é válida. Aceitar isso é uma


responsabilidade muito grande.

— Dona Alba, sinto muito por tudo, agora sei e entendo o seu
sofrimento e o de sua família, mas... não posso me comprometer

assim...

— Você disse que iria tentar...

— Sim! Tentar eu vou, pode ter certeza. Mas ele precisa

querer!

— Faça a sua parte, minha querida... — ela aperta as minhas


mãos, com esperança — Deus fará a dele.

Sinto vontade de abraçá-la e a abraço, bem forte por sinal. Ao

nos desgrudarmos, enxugamos as lágrimas que querem descer,


ambas se comunicando pela emoção.

— Mamãe? Está tudo bem? — A voz desconfiada de Luna

corta o ar. Ela também está maravilhosa, com um vestido fino assim
como no dia do baile, que foi a primeira vez em que a vi sem as
suas costumeiras roupas pretas e rasgadas. Agora lembra uma

mulher da alta sociedade, elegante, belíssima, os olhos verdes


faiscantes.

— Filha... sim, sim, está tudo bem! Eu estava apenas

conversando com Mina, a conhecendo. Ela é realmente


maravilhosa! — Dona Alba disfarça sorrindo, mas Luna não parece

convencida.

— Olá Luna, tudo bem — a cumprimento, ela me corresponde.

— Oi Mina, quanto tempo. Nossa... como está linda... diferente


— elogia, observando-me de cima a baixo.

— Você também. Muito bonita e... muito diferente.

— Pois é, nesses jantares tenho que fingir que sou fina — ela
faz um movimento de deboche com a mão.

— Ah, pare! Está muito melhor assim, minha única

bonequinha! — Alba acaricia braço dela.

— Ah mamãe, me poupe.

Nós sorrimos.

— Vamos voltar para aonde os rapazes estão, o jantar já deve

estar servido.

— Ah, vá na frente, quero conversar um pouquinho com a


Mina. Já faz tempo que não nos vemos — sinto um calafrio na

espinha quando recebo o olhar de segundas intenções da morena


de cabelo repicado.
— Tudo bem, mas não demorem — A senhora se afasta, nos

deixando a sós.

Luna espera o suficiente até se sentir segura para me


espezinhar com os globos e disparar:

— Diga-me Mina, será que me enganei com aquela sua


imagem de moça angelical, virginal, inocente e humilde? Será que
na verdade tenho aqui em minha frente mais uma aproveitadora na

vida do meu irmão?

Fico chocada! Ela nunca me tratou tão ríspida assim, parece


até que é minha inimiga. Respiro fundo para não lhe dar uma

resposta como merece, pois, agora sei o motivo de ser tão


autodepreciativa. Ela sofreu tanto quanto o irmão, também possui os
seus demônios.

— Não, Luna, você não se enganou pode ter certeza. Posso


ser tudo, menos uma aproveitadora. Não estou interessada no
dinheiro do Alejandro, se é isso que quer dizer – rebato, de

sobrancelha erguida, altiva.

— Será que não? De babá da Alisa à namorada dele, você


subiu de cargo bem rápido, não é?

Arquejo, incrédula.
— Nossa... pelo visto quem mudou de imagem aqui foi você. A
Luna que eu conheci não era tão venenosa e destrutiva. Não vou
me abalar com o que está insinuando, se estou com o seu irmão é

por que gosto dele... de verdade, e não preciso provar isso para
ninguém — falo educadamente, vendo seu semblante e sua postura

de guerra se desarmar inteira diante das minhas palavras.

Faço menção em me afastar, mas ela me segura pelo pulso.

— Mina... me desculpe — pede de cabeça baixa,

desconcertada —, é que... nem adianta te explicar, você não


entenderia.

— É claro que sim. Entenderia ainda mais do que imagina. Sei

que tanto você quanto Alejandro sofreram muito com pessoas em


quem não puderam confiar, mas eu não sou má, não sou sua
inimiga ou de sua família...

— Sei disso...

— Mas preciso explicar, porque de verdade... acho que


devíamos abrir espaço para nos conhecermos melhor ao invés de

nos julgarmos. Também sofri muito na vida, só que reajo a tudo de


forma diferente.
— Uau... quando me disse no baile que não era uma criança,
juro que não acreditei, mas agora... tudo bem, vou te dar essa
chance, quer dizer, vou nos dar essa chance, e espero

sinceramente não me arrepender. Parece até idiotice o que vou te


falar agora, tendo em vista a diferença de idade entre vocês, mas...
não machuque o meu irmão, ele já sofreu demais. Vou torcer para
que ele não machuque você também.

Sorrio, menos tensa agora.

— Da minha parte... juro que farei o possível, se bem que


recentemente o acertei com uma frigideira — faço piada.

— O quê? — Ela fica em choque, finalmente sorrindo de


verdade.

— Aham.

— Então... amigas? — indaga, demoro alguns segundos para

responder.

— Amigas — confirmo, estendendo-lhe a mão.

Voltamos para onde os demais, sorrindo e fofocando.


ALEJANDRO JAVIER

Vejo Mina surgindo com Luna, de braços dados, sorrindo e


cochichando, como duas ótimas colegas. Isso me agrada, mas

também me causa curiosidade, tendo em vista o que minha irmã


nos disse no dia do baile.

— Olá maninho, boa noite — Luna me cumprimenta, leve, sem

a sua amargura de quase sempre. Assinto, lhe correspondendo —,

então papai, já deu uma surra nele? — indaga, quanto ao xadrez.

— Agora mesmo... xeque mate! — diz o senhor Miguel


vitorioso, dando o lance que põe fim à partida.

Rolo os olhos, sabendo que meu pai está se achando por ter

ganhado de mim outra vez. Todos batem palmas, brincando e


comemorando a alegria dele. Levanto-me, aproximando-me de

Mina, tocando em sua lombar e trazendo-a para o meu lado.

— Quem será o próximo? — Papai está empolgado.

— Ah, ele não se cansa! — reclama Luna.

— Posso? — indaga Mina, me surpreendendo. Olho-a como

quem diz: “não sabia que gostava de xadrez”. É um jogo que meu
pai me ensinou a apreciar e é muito valorizado em nosso meio

familiar, todos os filhos sabem.

— Mas é claro, vamos ver do que é capaz!

— Nãaao — nega mamãe, se aproximando com Mateo que

segura a Alisa no colo —, já chega, agora temos que jantar.

— Oh querida, por favor, espere um pouco — Miguel é viciado,

não tem jeito. Todos acham graça do seu semblante de desespero

por não poder continuar jogando.

— De jeito nenhum, querido. Vamos, vamos, vamos, todos

para a sala de jantar, agora! — Ela faz o marido levantar e, aos

poucos dirige o grupo até à majestosa mesa com um banquete de

tirar o fôlego.

Papai ainda resmunga por não poder ter jogado mais uma

partida, e Mina lhe responde:


— Não se preocupe, doutor Javier, ainda terei a oportunidade
de fazê-lo perder — o provoca, ficamos impressionados com sua

audácia.

Papai ri, debochado, mas adorando a competitividade

iminente:

— Veja só... uma iludida!

A família inteira se diverte com a competitividade deles,

enquanto nos acomodamos à mesa. Percebo que ainda sentamos

todos nos mesmos lugares de quando morávamos aqui, papai e

mamãe às cabeceiras, Mateo do lado direito, eu e Luna do

esquerdo. A cadeira vazia de Esteban ao lado de Mateo chama a

atenção, me deixa triste, porém disfarço.

Apesar de nunca termos nos dado bem, sinto a sua falta. Não

sei explicar. Lembro de uma vez que me defendeu na escola, pois

ele gostava de me provocar, porém não permitia que pessoas

alheias à família fizessem isso. É como se o incomodasse ver

terceiros me chateando, como se apenas ele tivesse o direito de me


irritar por seu meu irmão.

O tempo passa e as lembranças tristes me abandonam. O

jantar sai melhor do que o esperado, pois a minha família inteira se


dá muito bem com Mina, que claramente se torna a estrela da noite,

causando um clima agradável como há bastante tempo não


tínhamos aqui.

Todos riem bastante com ela, se divertem com sua forma


abundante de falar, e se impressionam com sua sabedoria sobre

diversos assuntos relevantes, como artes e política, demonstrando o


quanto é inteligente e culta.

Como prometido por minha mãe, não nos fazem perguntas

indiscretas, ou sobre o nosso “relacionamento”, todos são bem


maduros e apenas nos tratam como o casal que estamos
demonstrando ser aqui. Já esperava que mamãe e papai fossem

ficar felizes ao me veem com uma garota após tanto tempo, mas
não tanto.

Eles realmente ficam interessados em Mina, e ela se abre,

relaxando, demonstrando quem é de verdade e deixando o


nervosismo inicial ser completamente destruído. Ela encanta
mamãe com comentários que faz acerca do balé, citando grandes

nomes que sempre lhe inspiraram, desde ídolos antigos, como Anna
Pavlova, até as mais atuais como Misty Copeland e outros.
Quando por fim concluímos a sobremesa, papai não perde a

oportunidade e, muito interessado em ver Mina jogando, a chama de


volta para a sala de estar, sentando com ela à mesa de xadrez.

Todos aproveitamos para assisti-los, enquanto bebemos um pouco


de vinho, digerindo a comilança de minutos atrás.

O tempo corre e, a confiança e a soberba do velho Javier no


início do jogo, aos poucos vai decaindo, se transformando em mais

pura atenção, em medo de perder, já que a cacheada,


surpreendentemente, não facilita as coisas para ele. A coisa fica tão

interessante, que a família inteira volta toda sua atenção para a


partida, atentos à cada peça que se move no tabuleiro.

Mina se mostra muito perspicaz, habilidosa, conseguindo dar o


lance final:

— Xeque mate! — anuncia feliz, deixando papai no chão.

— Não é possível... — ele comenta, chocado, vidrado no

tabuleiro, procurando saber onde errou.

Batemos palmas para a morena que sorri radiante, contente

por ter vencido a guerra, e vem ao meu encontro, levanto-me para


abraçá-la.

— Papai, quem diria, hein... — Mateo o provoca.


— Ora, cale-se, Mateo! Eu exijo uma revanche, senhorita! —
Miguel está chateado, bufando, fitando Mina com determinação.

— Aaah, o vovô não aceita perder! — Alisa aponta para ele,


gargalhando.

— Chega de xadrez por hoje! Tudo tem a sua primeira vez,

querido. Aceite a derrota — comenta mamãe, indo abraçar e


consolar o marido.

— Que momento histórico! Estou perplexa! — Luna brinca,


deixando nosso pai ainda mais resmungão — Nem acredito que vivi

para ver papai perder. Foi ótimo, Mina! Obrigada por isso! — Ela faz
um high-five com a amiga.

— Mas haverá uma revanche, em algum momento terá que


haver — afirma o velho Javier, com a voz firme.

— Mas é claro, não se preocupe, doutor — Mina pisca para

ele, nos fazendo rir outra vez.

— Agora sou eu que tenho um pedido para fazer a você

querida, e não aceito um não como resposta — afirma dona Alba.

— Aí, agora fiquei com medo — afirma a morena.

— Não fique. É que conversamos tanto sobre balé que agora...


fiquei imensamente curiosa para vê-la dançando.
— Ah, também quero ver! — afirma Luna, se empolgando.

— Aqui? Agora? — Mina fica desconcertada. Eu não acho uma

boa ideia.

— Sim... temos um piano! Algum dos meninos pode tocar para


você — mamãe me fita com segundas intenções. Nego

imediatamente —, ah, filho! Por favor, faça este agrado para a sua
mãe, faz tanto tempo que não o vejo tocar.

— Realmente... acho que a última vez ainda estávamos na

universidade — comenta Mateo.

— Eu adorei esta ideia! — Papai também gosta. Ah, não.

Mina segura minha mão mais forte, chamando-me com o olhar.

Contudo, nego outra vez.

— Desistam, esse aí é cabeça dura, não vai — afirma Luna, se

afastando.

— Ah, papai, por favor, por favor — Alisa insiste, curiosa pela

cena que mamãe fez todos imaginar.

— Deixe querida, seu pai não quer — Alba a puxa, então me

afasto com Mina, saindo da sala de estar, seguindo para o hall.

— Por que não aceita? Você sabe tocar muito bem e eu


adoraria dançar para a sua família, apesar de estar um pouco tímida
— afirma minha donzela, mas nego novamente e puxo seu rosto

para um beijo longo, molhado. Eu precisava disso, minha vontade


só crescia enquanto a via brilhar mais e mais entre a minha família,

encantando-me! — Sei que não gosta de se expor, mas...

Calo-a com um novo beijo, grudando os nossos corpos ao

puxá-la pela bunda, que aperto fogosamente. Mina ergue a minha

mão até a lombar, cortando meu prazer, mirando em volta, com

receio de sermos flagrados. Acaricia meu rosto e sussurra em meu


ouvido:

— Se você tocar, dou-lhe o que tanto quer — então me fita


saliente, baixando minha palma de volta para o seu bumbum,

fazendo meu pau latejar.

Fico chocado com esse “monstrinho” que estou criando. Olha


só... quem diria! Me comprando com sexo! Nossa, que situação

precária a qual cheguei. O mundo realmente dá voltas. Penso em

negar e quebrar o seu jogo de sedução, mas o fascínio de me ter


todo dentro do seu cuzinho virgem grita bem mais alto.

Assim, avisamos à família que aceitei a proposta e seguimos

para a sala do piano, onde me sento no banco do instrumento que é


todo branco, tendo que engolir a minha timidez diante da família.
Mina retira os scarpins, indo para o centro do salão, diante de todos

que estão ansiosos pelo show, nos assistindo dos sofás.

— Alejandro, toque... — ela faz menção em citar uma canção,


mas ergo a mão, impedindo-a, e digo em gestos que já sei o que

vou tocar, surpreendendo-a e desafiando-a ao mesmo tempo, já que

terá que dançar o que ouvir —, tudo bem, então.

Assim, respiro fundo, mirando os meus parentes atentos,

focados em nós. Calma, Alejandro... está tudo bem, você vai


conseguir, digo a mim mesmo em pensamento. Assim, passo a

dedilhar as teclas, entoando Angel By The Wings, da Sia, sua

música predileta.

Mina ergue as sobrancelhas, boquiaberta e encantada com a

minha escolha, então suspira se concentrando e tomando postura

de bailarina que realmente é e, como se flutuasse sobre as nuvens,


começa a dançar. Não sei se ela já tinha essa coreografia na mente,

ou simplesmente está se deixando guiar pela canção que tanto a

representa.

Escutei a melodia algumas vezes desde que ela mostrou e é

uma verdadeira fonte de motivação. A letra incentiva a pessoa a

levantar a cabeça, ser forte mesmo diante da solidão e dificuldades.


O refrão é o ponto auge, afirmando que você pode fazer qualquer

coisa!

A morena se entrega, se joga, movendo o corpo magicamente

para lá e para cá, rodopiando, fechando os olhos, vivendo a música,


deixando ela fazer parte de si, fluir, ser algo maior e mais

arrebatador. Mina pode ser definida como as verdadeiras notas

musicais, o som que faltava em minha vida.

Sua intensidade me faz ser intenso também, toco como jamais

toquei antes, forte, inspirador, querendo dar asas para fazê-la voar,

ser novamente o anjo que tanto ilumina os meus dias. Ela é perfeita,
esplêndida, é puro amor e emoção, o ritmo de tudo que há de bom

no mundo, sua dança contagiando todos à sua volta!

Há paixão a cada passo realizado, sincronia, exatidão. Mesmo


descalça, Mina Pacheco surpreende, desliza e se dobra como as

próprias brisas do vento. Seu vestido esvoaça um pouco conforme

os seus movimentos únicos, transformando-a numa verdadeira


princesa no ápice do espetáculo. Fico enternecido com a sua

imagem, com as suas formas e curvas. Quando ela dança, meu

mundo se torna pequeno, onde só há apenas nós dois, paz e mais

nada.
Nossa conexão chega ao fim, paro de tocar e a bailarina de

dançar, paralisando em sua postura, pura, belíssima. Minha família

inteira se ergue e bate palmas, mamãe chorando, a Alisa correndo e

abraçando a babá, Luna embevecida assim como papai e Mateo,


uma verdadeira comoção.

— Bravo! Bravo! Perfeito! — exclama dona Alba, realmente


emocionada.

— Ah, foi tão lindo, Alejandro! — Luna vem em minha direção

e, para a minha surpresa, me abraça. Já não fazemos isso há não


sei quantos anos, tanto que nos entreolhamos após ela desgrudar

de mim, um pouco incerta do que fez. Mas retribuo e lhe abraço em

resposta, quebrando de vez qualquer impasse entre a gente.

Há sorrisos e felicidade por toda parte, até que as portas da

sala se abrem e um homem louro, alto, de olhos azuis gelados,

usando muletas para melhor se locomover — já que a perna


esquerda está imobilizada com uma bota ortopédica — surge,

encarando a todos nós seriamente, nos fazendo paralisar e fixar na

sua imagem.

— Esteban! — Mamãe põe a mão na boca, foi pega de

surpresa, assim como todos nós.


— Oi, mamãe. Boa noite a todos. Eu voltei — anuncia

cabisbaixo, parecendo frágil apesar de fazer esforço para que não


pareça. Não lembrando mais o irmão feroz e altivo que sempre tive.

Preocupo-me com sua situação, não consigo parar de focar na sua

perna.

— Titio Esteban? — A voz doce da Alisa ameniza a tensão.

— Alisa? — Ele indaga, e ela corre ao seu encontro, mas para


rapidamente para não o atropelar e lhe abraça. Fico com medo de

acontecer algum constrangimento, porém minha filha é

correspondida — Como você cresceu, garota.

— Seja bem-vindo de volta!

— Meu filho... que bom que voltou — papai se aproxima dele,


todos nos aproximamos.

— Oi pai — eles trocam apenas um aperto de mão, frio e

simples, após mamãe abraçá-lo.

— Mas o que aconteceu com a sua perna? — Dona Alba está

tensa.

— Um acidente..., mas agora estou melhor do que antes.

— Meu Deus, Esteban — Luna o abraça, eles sempre tiveram


uma boa relação.
— Irmão — Mateo também o cumprimenta e por fim sobra
apenas eu, Mina já está ao meu lado. Troco olhares com Esteban,

dessa vez não sinto sarcasmo nem nada de ruim, é estranho não o

ver sempre na defensiva, pronto para atacar.

— Alejandro — me cumprimenta apenas na voz. Assinto,

vendo-o fitar Mina por um instante, observando os nossos braços


entrelaçados.

— Venha, você precisa se sentar e me contar esta história

direito — afirma mamãe, nervosa — Luna, querida, peça para


prepararem o quarto dele.

— Sim — minha irmã sai imediatamente.

Troco olhares com a cacheada, chamando-a, momento em

que nos afastamos de todos. Digo a ela em sinais para avisar à


minha mãe que já estamos indo, para chamar Alisa para voltar

conosco e cancelar o fim de semana com os avós, já que Esteban


receberá todas as atenções, mas a menina é teimosa e se recusa a
nos seguir. Por fim, voltamos sozinhos.

— Tudo bem? Senti você tenso com a chegada de Esteban?


Não sabia que tinha mais um irmão — comenta Mina, pondo a mão
sobre a minha coxa. Assinto para ela, fingindo estar tudo bem,
quando por dentro, vários sentimentos surgiram com a chegada do
meu irmão. Porém não quero focar nisso agora —, nós ainda vamos
amanhã para Cercedilla?

Assinto outra vez, era para termos ido hoje ao pôr do sol, mas

dei preferência ao jantar cobrado por minha mãe há bastante tempo


e não me arrependo. Foi maravilhoso. Mina foi incrível e encantou a

todos, tenho certeza absoluta que causou uma boa impressão.

— Que bom, e na terça vou buscar a minha mãe na clínica. Ela


finalmente terá alta! — esfrega as mãos ansiosa, falou disso durante
toda esta semana — Você vai querer mesmo que eu faça um

almoço para que a conheça? — Já me perguntou isso tantas vezes


que perdi as contas.

Minha resposta é sim de novo e Mina me imita, balançando a

cabeça sorrindo, me beijando, feliz com a minha decisão de querer


conhecer sua única parente viva. Vai ser um momento muito
importante para ela e quero estar ao seu lado.

— Ai, vai ser tão legal! Já falei de você para ela, só o básico,
disse que estamos nos conhecendo, mas não disse que você é o
meu chefe — ela põe a mão na boca, como se fosse algo terrível e
gargalha —, enfim, tudo ao seu tempo. Em algum momento terei
coragem de contar toda a verdade!

Quando chegamos na cobertura, os meus pensamentos ainda

ficam muito voltados para Esteban, querendo entender melhor o que


aconteceu com ele, se realmente está bem, já que não parece.
Contudo, prefiro manter distância por enquanto e estudá-lo assim,

de longe, saber até que limite posso chegar para não ser atacado
outra vez. Acho até bom que vou para Cercedilla com Mina, assim
mudamos de ambiente e arejamos os pensamentos.

Dormimos agarrados como sempre, apenas descansamos da


longa e deliciosa noite de jantar, que foi muito mais do que esperei,
e acredito que a minha família compartilhou do mesmo sentimento.

Estou me viciando em dormir com bailarina, isso está acontecendo


com frequência nos últimos meses.

Quando amanhece, partimos para o lindo vale de Fuenfría,

encontrando Pancho e Antonita saudosos ao nos receber quando


entramos na casa.

— Nossa, quanto tempo! — diz Mina, abraçando Antonita, já

parecem melhores amigas. Ela é assim, faz amizade e conquista


todos à sua volta.
— Não imaginei que você fosse demorar tanto para voltar,
Mina. Percebi que gostou tanto daqui — comenta a mulher,

enquanto Pancho nos cumprimenta e leva as nossas coisas para o


quarto.

— Ah, esses dois meses passaram rápido, e aconteceram

tantas coisas — Mina me abraça enquanto fala. Nós já estamos tão


íntimos, que não pensamos mais duas vezes antes de
demonstrarmos qualquer sentimento diante das pessoas.

— Imagino, nós ficamos aqui, com saudade de vocês.

— Senti saudade de tudo! Estou louca para cavalgar pela


floresta novamente! — Me fita com os seus olhos cor de âmbar

lindos, que brilham e me encantam. Adoro fazê-la feliz, ela nem


imagina a surpresa que lhe preparei.

Quando Pancho reaparece, trocamos sinais pelos semblantes,


ele me confirma que o que pedi está no ponto. Mina percebe que há

algo no ar.

— O que foi? O que estão aprontando? — indaga, sorrindo


desconfiada. A chamo com o rosto, seguimos de mãos dadas para o

gramado fora da casa, onde Pancho surge com uma belíssima égua
puro-sangue, de cor amarela e crista branca — Oh meu Deus! É
para mim? — indaga chocada, maravilhada. Assinto, deixando-a

imensamente feliz, saltitando de alegria — Alejandro!! Que lindo!!

Mina fica encantada com o animal, que realmente é de tirar o


fôlego tamanha magnitude. Agora o meu cavalo terá uma

companheira. Mando Pancho trazê-lo, peço que ele sele os dois,


pois quero dar uma volta com minha donzela.

— Ai, não sei se tenho coragem de andar sozinha — a morena

comenta, rindo.

— Coragem, mulher! — Antonita a incentiva, enquanto ensino-


a e ajudo-a a montar.

Perdemos alguns longos segundos até Mina pegar o jeito e

conseguir se sentar sobre as costas da égua. Subo no meu corcel,


segurando as rédeas dele com a mão esquerda e as rédeas do
outro cavalo com a mão direita, controlando os dois ao mesmo

tempo. Assim, faço os animais trotarem, devagar, iniciando o


passeio.

— Que sonho! — Mina comemora, se divertindo, enquanto o

vento sopra em suas madeixas, tornando-a ainda mais bela. Ela


irradia e brilha enquanto corremos pela imensidão do bosque,
mesmo ainda um pouco insegura. Com mais alguma prática, já
estará montando perfeitamente bem.

Durante a cavalgada ela pede o domínio das cordas, que lhe

concedo, mas sempre atento, tentando controlar a sua velocidade


temendo qualquer tipo de acidente. Contudo, ocorre tudo bem,
transformamos isso em uma experiência única. A liberdade de

podermos fazer tudo o que quisermos e transformar pequenos


momentos como este em algo mágico, nos envolve e fascina.

A cada sorriso dela, me apaixono ainda mais, me vicio muito

mais, o meu peito arde de uma maneira boa... inexplicável. É como


se formigasse, causando uma sensação de que não posso mais
viver sem ela.

Ao retornamos para a casa, Mina logo entra no imóvel

enquanto Pancho mostra algumas contas que tenho que pagar. Lhe
dou o dinheiro e ele sai em sua caminhonete rumo à cidade.
Procuro por minha morena, então Antonita me informa que ela subiu

para o quarto. Sigo para lá, abrindo a porta e sendo presenteado


com a visão do paraíso.

A jovem está no chão, simplesmente de quatro sobre o tapete

felpudo escuro. Sua bunda para o alto, redonda e durinha,


chocolate, cintilando com algum tipo de óleo ou lubrificante, me
impressiona com o plug enfiado em seu orifício.

Fico tão surpreso que paraliso, levando alguns segundos para

processar a informação de que ela está, deliciosa e safada


oferecendo seu cuzinho virgem para mim. Chegou o grande
momento! Engulo em seco, com vibrações perigosas do meu pau

reverberando por todo o meu corpo.

A garota me fita saliente, toda aberta com o polegar na boca


me esperando. Está de uma forma como nunca vi, deixando toda

sua aura pura de lado e dando lugar para uma deusa da luxúria e
tentação que existe dentro do seu ser. Meu coração bate forte, já
estou completamente excitado!

Fecho a porta, tirando a roupa com rapidez, louco para entrar


fundo em suas entranhas. Mina sorri e ao mesmo tempo demonstra
um pouco de receio quando percebe que estou me aproximando, o

mastro flamejante entre as minhas pernas, longo, grosso, viril, as


veias latejando!

— Assim... quero você assim, suado e com cheiro de mato! —

geme, mirando meu abdômen trincado e cintilando do suor da


cavalgada. Ela, porém, está de cabelos molhados e bem limpinha, a
pele seca, macia, revelando que tomou banho após ter chegado.

Essa menina vai me deixar louco!! Ela não apenas está


realizando o meu fetiche de comê-la por trás, como também parece
fazer acontecer alguma fantasia sua... sexo no chão, com um

homem “sujo” e voraz. Sim! Estou faminto por sua imagem, por todo
esse tesão que exala do seu corpo.

Noto o frasco de lubrificante sobre o criado-mudo, ainda custo

acreditar que ela sozinha, introduziu o plug anal em si mesma.


Lubrifico meu pau abundantemente com o líquido que esquenta à
medida que resvalo por ele, deixando-o ensopado. Volto para Mina,

mordendo o lábio inferior, expondo os dentes como um animal. Abro


as suas nádegas, dando ampla visão para o objeto em seu meio e
estapeio sua carne com certa força, o som estalando no ar.

— Oooh!! — Ela geme forte, estremecendo.

Agacho-me atrás dela, arrastando a língua e os dentes por sua


pele, arrepiando-a inteira quando retiro o plug vagarosamente,

vendo seu buraquinho piscar apertado. Penetro o anelar nele, até o


fim, averiguando se está tudo limpo por dentro e realmente está.
Além de limpo, também está muito cheiroso, o que prova que Mina

se preparou para isso, coisa que me deixa ainda mais empolgado!

Saio de seu corpo e a abocanho como um leão ávido,


explorando cada ponto com minha língua ferina, chupando-a com

vontade, com desejo, sorvendo o sabor do lubrificante misturado à


sua carne marrom que tanto me alucina! Cutuco seu orifício,
introduzindo-me entre as suas paredes anais, girando, mexendo.

Estou tão ansioso, que não consigo perder muito tempo no


oral. Levanto-me, ávido, rosnando, acertando-lhe com mais uma
lapada. Empurro delicadamente sua cabeça para o tapete,

consequentemente obrigando seu bumbum a ficar ainda mais


empinado, uma visão perigosa demais para um homem feito eu!

Inclino-me sobre os seus quadris, flexionando um pouco as

pernas longas e curvando o corpo, parecendo um gigante montando


sua presa pequena e indefesa. Estou tão enrijecido, que quando
forço meu membro para baixo — para encaixar a cabeça massuda

no esfíncter dela — chego a estalar devido à tamanha pressão.

Abro as suas nádegas novamente, arreganhando-a ao meio,


esticando tudo, firme, forçando gostoso e penetrando-a.
— Aaai... — o grunhido de Mina é como música para os meus
ouvidos. Fico entorpecido, forçando um pouco mais, escorregando
em seu interior que se contrai poderosamente contra meu pau,

criando sensações indescritíveis.

É como se eu estivesse tentando entrar dentro de algo que


literalmente não me cabe. Estou pacientemente abrindo espaço,

tomando posse, dominando a traseira da bailarina que aumenta a


minha libido a cada vez que vejo a nossa união. O lubrificante está
ajudando, trazendo calor, ardendo, queimando. Mina geme mais

forte, então estanco, esperando.

Quando sinto seu orifício mais confortável, as contrações


perecendo, movimento habilmente o quadril, aprofundando-me

dentro dela um pouco mais até que, com bastante sutileza e


cuidado, chego a penetrar metade de tudo que tenho.

Assim, me sinto seguro para começar com o vai e vem

largando as nádegas da bailarina e segurando firme em seus


quadris. Os movimentos iniciam devagar, atenciosos, tenho medo
de machucá-la, então vou somente até onde dá, golpeando

vagarosamente, com tesão, com luxúria, sendo engolido por seu cu


apertado.
— Hmmm... — gemo, delirando, excitando-me quando a vejo
arrastar as unhas no tapete, sua expressão de dor, me suportando

comê-la por trás. Mina me aperta, suga, expulsa, contrai.

Algumas vezes escorrego para fora dela, sob pressão, mas


retorno, sabendo que tenho que continuar. Fodo-a com carinho,

acelerando as estocadas gradativamente, mas pausando quando


seu desconforto grita. Fico variando, acostumando-a com a minha
invasão, com o meu tamanho. Esse processo realmente deve ser

lento e cuidadoso, mas tenho toda a paciência do mundo!

Meu suor desce por meu abdômen, estamos fodendo de um


jeito diferente, sempre é diferente, a cada vez que nos entregamos

uma surpresa, uma novidade!

Pouco a pouco, introduzo-me mais alguns centímetros,


alucinando ao me assistir preencher a morena. Prendo os seus
pulsos atrás das suas costas, segurando-os com uma mão,

enquanto uso a outra para agarrar um punhado do seu cabelo, bem


na raiz, sem machucar, mas dominando-a por completo.

Soco em um ritmo mediano, rosnando, as bolas balançando.

Mina inclina o corpo para a frente, mordendo os lábios com força, de


olhos fechados, fazendo careta, escorregando os seios pelo tapete.
Sigo-a, não permitindo que fuja. Nós vamos nos deitando ao mesmo

tempo, naturalmente, libero seus pulsos e vou pesando sobre ela


até que o pau entra completamente, nos fundindo até o fim, sem
saída!

— AAAH! — Ela grita ao mesmo tempo em que me comprime

com seu esfíncter, prendendo, uma pressão absurda! Seus


músculos parecem brigar comigo, as contrações intensas.

Fico parado, pairando sobre suas costas, as nossas carnes

unidas, meu quadril esmagando a sua bunda! Despejo beijinhos por


seus ombros, tentando acalmá-la, dissipando a dor. Chupo o lóbulo
da sua orelha com afeto, com jeitinho, demorando nesta posição

para que ela possa se acostumar e ficar um pouco mais confortável.

Decido deitar ao seu lado, de conchinha, ainda todo duro e


extenso dentro de seu ânus. Um braço vai para baixo da sua

cabeça, o outro sobre sua barriga, escorregando a mão para a sua


bocetinha, os dedos tocando e começando a brincar com o seu
clitóris, fazendo a sua dor se unir com o prazer, tocando fogo em

seu corpo ao masturbá-la.

Mina reage, se soltando... gostando, erguendo a coxa, abrindo


espaço para que eu deslize entre seus lábios vaginais molhados,
indo e vindo, roçando, retornando para o seu monte de Vênus e

incitando-a ainda mais! Deixo-a dominar, quero ver até onde pode
chegar.

Seus quadris se movem, rebolando, sua bunda se esfregando

contra meu púbis e fazendo meu membro se aprofundar ainda mais


seu cuzinho. É tão gostoso que não consigo não gemer. Mordo seu
ombro e volto a me mexer, entrando e saindo dela, golpeando...

enterrando, sem parar um instante de tocá-la. A coisa vai ficando


cada vez mais intensa, agora estamos compartilhando da mesma

química, da mesma energia.

Tenho uma ideia malévola e novamente troca de posição,


virando-me e puxando Mina para cima de mim, sem sair de seu
corpo. Ela fica deitada de costas sobre o meu torso, com a cabeça

pousada no meu ombro. Habilmente, ponho sua mão sobre sua


vulva e movimento em círculos, incentivando-a a se masturbar,

assim ela faz.

Depois, puxo suas coxas para trás, pela parte interna, abrindo-
a ao meio. Flexiono as pernas e apoio-me nos calcanhares para ter
impulso suficiente para fodê-la. Dessa vez, pego um pouco mais

pesado, golpeando-a com mais força simultaneamente ao toque


frenético que ela faz no próprio clitóris.
É uma loucura! Estamos imorais, lascivos, se entregando ao
prazer sem nenhuma barreira. Entramos no mesmo ritmo, Mina
geme incontrolavelmente, arrebatada. As minhas bolas pesam,

enchendo... enchendo. Dou as últimas estocadas quando ela


explode e sigo logo atrás, devasso, embevecido, enchendo-a com

minha semente de forma abundante.

Nossos fluidos nos molham por inteiro, escorrem para fora.


Meu coração retumba, Mina fica desfalecida sobre meu corpo e a
beijo deliciosamente, soltando suas coxas e apalpando seus seios
carinhosamente, delicadamente. É abissal!

Resfolegamos, sem forças, levamos alguns minutos até nos


desgrudarmos totalmente e ela deitar ao meu lado. Ficamos nos
entreolhando, calados, no silêncio, apaixonados. A menina respira

fundo e se declara:

— Eu te amo.

Fico sem reação, por essa eu não esperava. Estamos há tanto


tempo juntos e agora isso. Fico tão pasmo, que apenas a beijo com
muito sentimento, fechando os olhos, sabendo que ela é a mulher
da minha vida.
Acordo no outro dia como jamais antes, em paz e amado. Sim,
sou amado por Mina Pacheco, e isso é tudo para mim. Ontem, após

nosso sexo incrível no tapete, passamos o dia conversando com o


casal de caseiros, jogando xadrez e comendo. Dormimos sem sexo,
pois ela estava com dores, e agora estamos aqui. Quer dizer... só eu
estou aqui, procuro pela cacheada, mas não a encontro.

Levanto, pelado, buscando-a pelo o quarto, mas também não a


acho. Tomo um banho, faço minha higiene pessoal, ponho uma
roupa e desço. Antonita está arrumando o café da manhã na mesa.
Pergunto-lhe em gestos por Mina.

— Ela está lá fora, vendo os cavalos com Pancho, doutor.

Assinto e vou procurá-la, encontrando apenas o homem


penteando o meu corcel. Quando me vê, ele já sabe o que quero:

— Ela acabou de sair em sua égua, disse que queria cavalgar


um pouco antes do café da manhã — informa sorrindo, mas por

algum motivo, tenho uma intuição muito ruim e saber disso não me
agrada nem um pouco. Ele não devia ter permitido, Mina não sabe
cavalgar direito, ainda está aprendendo!
O miro destrutivamente e tomo o cavalo de suas mãos,
montando-o com rapidez.

— Patrão! Eu fiz alguma coisa de errado? — indaga, mas não

lhe dou ouvidos, cavalgo rapidamente rumo à floresta, adentrando o


bosque como um louco atrás da bailarina, indo pelo caminho que
sempre percorremos.

De repente, avisto a égua se aproximando, sozinha, correndo


com terror, passando direto e veloz por mim, me deixando atônito e
confuso! Corro com desespero, encontrando Mina alguns metros à
frente, no chão, desmaiada! Ela caiu do cavalo!
ALEJANDRO JAVIER

Desmonto, indo até ela aterrorizado, seu rosto está contra o


chão. Viro-a para mim delicadamente, encontrando sua face roxa e

exageradamente inchada, a pancada foi forte. Imediatamente


começo a tremer, a ansiedade e o nervosismo tomando conta, se
apossando de cada pedaço do meu corpo. Minha boca chega a

abrir, tenho vontade de chamar por ela, mas a voz não sai.

Procuro por meu celular, apalpando os bolsos com pressa,


esbugalhando os olhos ao perceber que o esqueci na casa. Merda!

Ergo-me desesperado, pensando no que fazer, o ideal seria chamar


a emergência para que os profissionais a retirassem daqui

corretamente, sei que não é certo mexer na pessoa após um

acidente, porque seu quadro pode piorar muito.


Miro ao redor, não há ninguém por perto, estou a cavalo e não

posso levar Mina aos galopes, não sei se quebrou alguma coisa.
Ponho as mãos na cabeça, desalentado, abrindo os lábios,

desejando gritar por socorro. Fico enlouquecido! Não posso perdê-

la, não quero deixá-la aqui sozinha para voltar e pedir socorro.

Vibro de medo, de raiva, sem saída, sem conseguir pensar

direito no que fazer. Entro em colapso quando literalmente grito em


silêncio, abrindo a boca até o limite, sem emitir nenhum som, a

língua tremendo, o rosto a ponto de se rasgar ao meio, impotente...

frágil... sem esperanças... clamando por uma ajuda que não vem!

Talvez se eu conseguisse fazer barulho, alguém por perto poderia


me ouvir.

Não há outra solução! Me acalmo um pouco e pego Mina nos

braços bem devagar, arfando e suando, tremendo, sentindo que as

minhas pernas podem desfalecer a qualquer momento e derrubá-la.

A minha mente vive um terror psicológico, os fantasmas, as

inseguranças, tudo que há de ruim em mim me bombardeando ao

mesmo tempo!

Deixo o cavalo para trás e ando depressa, parando um pouco

quando acho que não vou suportar, tentando me concentrar, por


ela... por nós! Tenho que salvá-la! Não suporto vê-la desacordada!
NÃO! NÃO!

DOR.

DESESPERO.

AFLIÇÃO.

Como se Deus ouvisse o meu silêncio, vejo Pancho se

aproximando em sua caminhonete, o que me traz um alívio

gigantesco. Ele para ao nosso lado e desce imediatamente,

assustado.

— Meu Deus, o que aconteceu?! Vi a égua sozinha, agitada e


pensei o pior! — Ele abre a porta traseira, onde entro devagar,

cauteloso, sem parar de olhar para a minha amada que não

expressa nada, nenhum sinal de vida. Isso está me corroendo, me

matando!

Pancho dirige rapidamente até o hospital de Cercedilla, que é

o mais próximo. Quando chegamos, uma equipe de enfermeiras nos


atende com uma maca e equipamentos necessários para

encaminhar Mina para o atendimento de urgência, tendo em vista

que ela teve um trauma na cabeça.


O médico vem falar conosco, perguntar como foi o acidente, e

Pancho explica que ela caiu do cavalo, enquanto eu fico sem saber
o que fazer, atormentado por não poder acompanhar a cacheada

para a sala que a levam. O doutor informa que irão fazer a triagem
inicial, estabilizá-la, realizar exames e então voltará para falar
conosco.

— Calma, senhor Alejandro... confie em Deus, vai dar tudo

certo, a menina vai conseguir sair dessa. Calma! — Pancho me


segura pelas mãos, percebendo que estou muito mal — O senhor

precisa se acalmar, ela precisa de você!

Ele está certo, preciso estar concentrado. Passo a respirar

fundo, acalmando as batidas do coração, tentando conter o suor,


fugindo de mais um ataque de pânico. Não posso explodir, não

posso cair, Mina precisa de mim... precisa de mim.

Peço ao homem para ir buscar o meu carro, as minhas coisas


e as de Mina, principalmente meu celular, para poder me comunicar.
Ele assente e se vai. Fico num corredor, sentado em uma das

cadeiras, sendo observado por outras pessoas, provavelmente


familiares de outros pacientes. Busco por controle, por minha

consciência e positividade, mesmo que rasa.


Pancho retorna com Antonita, que preparou uma mochila com

tudo o que irei precisar, me entregando uma garrafinha d’água, os


ansiolíticos e meu celular. Só consigo pensar no hospital particular

em Madri onde sempre a minha família é atendida quando


necessário, lugar em que conheço todos os profissionais e onde

Mina com certeza seria muito bem atendida.

Não que aqui ela não esteja sendo, mas a estrutura e o

desconhecimento sobre os médicos e enfermeiros me deixam


inseguros. Preciso de controle, certezas e informações, porém aqui

estou sendo tratado como qualquer outra pessoa, não que eu ache
que deva ter atendimento diferenciado, mas é muito ruim passar por

isso quando se é acostumado a ter tudo em primeira mão e de


máxima qualidade.

As horas passam dolorosamente, Pancho retorna para a casa,


para fazer algumas coisas, enquanto Antonita fica comigo. Peço a

ela várias vezes para ir buscar informação, mas sempre volta com
nada, não dizem nada, só o básico.

— Acalme-se, doutor Alejandro, coma alguma coisa, o senhor


sequer fez o desjejum hoje — ela insiste, passando a mão em meu

ombro —, veja, eu trouxe estes sanduíches, o senhor tem que


comer — ela me mostra o depósito onde estão os alimentos, mas
não sinto fome. Peço em gestos para que vá buscar informação de
novo —, mas não faz nem vinte minutos que já fui, eles vão dizer a
mesma coisa, estão a tratando, só nos resta esperar.

Esperar... é o que está me destruindo. O pior de tudo é que

estou fora da minha zona de conforto, de um ambiente onde


domino, onde a minha voz não me incapacita por completo, não é
um problema. Aqui me sinto acuado, sem proteção.

As horas continuam passando e Antonita troca de lugar com

Pancho, ela vai para casa e ele fica comigo, como se estivessem
revezando para cuidar de mim.

— Doutor, já anoiteceu, vá para casa tomar um banho, trocar


de roupa, eu fico aqui com a menina e lhe comunico de qualquer

coisa — diz o homem, mas não lhe dou ouvidos.

Caminho de um lado a outro, passando as mãos na cabeça,


perturbado sem notícias de Mina. Vejo o médico se aproximando e

parto para cima dele com ansiedade, engolindo em seco, querendo


uma resposta.

— O senhor é o marido dela? — pergunta ele, nego temendo


que isso atrapalhe em alguma coisa — É o irmão, algum parente?

— Nego outra vez, e Pancho intervém:


— Ele não pode falar doutor, mas é o namorado dela. O único
com ela neste momento.

O médico respira fundo e diz:

— Bem, acabamos de fazer todas as medidas de intervenção


rápidas, ela já está estabilizada, nós lhe demos os remédios

necessários para evitar um coagulo sanguíneo e as tomografias


indicam que a senhorita Mina está com um hematoma epidural. Ela

precisa de um neurologista e por isso deve ser transferida


imediatamente para o hospital de Madri, aqui não tratamos desse

tipo de trauma.

Olho atônito para Pancho, que entende a minha expressão e


pergunta:

— Doutor... é grave?

— O hematoma é pequeno, mas pode haver sequelas. Porém,

o neurologista poderá dar informações mais concretas para vocês.

O que pudemos fazer por ela, já fizemos.

Digito no celular rapidamente e mostro a ele:

Como ela será transferida e para qual hospital?

— Bem, de ambulância porque é perto, e temos um hospital

para onde sempre mandamos pacientes com estes casos.


Digo por mensagem que tenho um hospital de toda minha

confiança, com médicos nacionalmente conhecidos e que posso


conseguir um helicóptero para que a transferência de Mina seja

mais rápida e segura.

— Eu conheço este médico — diz o homem, impressionado já

notando que tenho poder —, bem, neste caso, preciso conversar

com ele primeiro e saber exatamente para qual hospital a paciente

será levada. Também precisamos preparar o helicóptero para a


transferência.

Assinto e entro em contato por mensagem com Joaquin, lhe


dando uma breve explicação do acontecido e de tudo o que preciso.

O doutor, após conversar bastante com o meu médico particular,

assina a transferência e tudo passa a acontecer muito rápido. O

helicóptero pousa na área externa do hospital e passa a ser


preparado pelos paramédicos.

Pego a mochila que Antonita preparou para mim e ordeno a


Pancho que leve o meu carro com o resto das coisas para Madri,

pois vou na aeronave com a minha amada. Acompanho-a durante

todo tempo, aflito por vê-la ainda desacordada. Dessa vez eles me
deixam ficar perto, seguro sua mão durante todo o voo até Madri,

me dói tê-la neste estado, no soro e outros equipamentos.


Lembro do seu sorriso neste final de semana, da sua alegria

no jantar com a minha família, tudo. Concentro-me para não

desabar outra vez, para não pirar, pois preciso ser o suporte dela.

Pousamos no heliporto do centro hospitalar onde ela passará a

ser atendida e uma equipe médica nos espera. O doutor que já é um

velho conhecido meu, apresenta-me o neurologista que cuidará do


caso da cacheada e me garante que farão de tudo para que ela

fique bem.

Acompanho-a durante todo o percurso até entrarmos no prédio

e me impedirem de seguir ao seu lado. Joaquin surge, preocupado.

— Alejandro! — ouço sua voz e simplesmente o abraço,


desolado — Oh, meu amigo! Mas como isso foi acontecer? Acalme-

se... acalme-se.

Conversamos um pouco, e lhe conto em sinais toda a situação.

Ele percebe que não estou nada bem e consegue um apartamento

para mim no hospital, amplo, iluminado, equipado, com vidraças que

dão visão para a cidade.

Aqui consigo tomar banho e trocar de roupa, já que neguei

qualquer possibilidade de deixar Mina sozinha. Com a insistência do


meu amigo, também consigo comer, a refeição é entregue no

cômodo e só então descubro que estou fraco de fome.

— A mãe dela já sabe? — indaga Joaquin, me fazendo ter

mais uma preocupação ao lembrar que depois de amanhã a dona


Inês deixará a clínica de reabilitação. Nego e lhe passo esta

informação — Nossa... coitada, vai sair da clínica e descobrir que

aconteceu esse acidente com a filha. Não será nada fácil, mas

tenho fé que Mina irá se recuperar rapidamente. Vamos esperar o


médico voltar para entender direito qual o problema dela. Já liguei

para Isabel e contei o que aconteceu, disse para ela comunicar sua

mãe e deixar a Alisa lá, mas sem dizer nada à pequena

Assinto, menos preocupado. Alisa não pode saber ainda sobre

sua babá, senão vai ficar apavorada, pois a ama muito.

A partir de então, Joaquin fica comigo durante todo tempo. Nós

entramos na madrugada, onde finalmente consigo tirar um leve

cochilo, acordando quando ouço alguém bater na porta, o


neurocirurgião entra. Ficamos de pé para ouvi-lo.

— O acidente da moça lhe gerou um hematoma intracraniano

do tipo epidural, que se forma entre o crânio e a camada externa do


tecido que cobre o cérebro — explica —, como ela teve um rápido e
eficiente atendimento médico, e recebeu os remédios necessários

para evitar um possível coágulo, felizmente, não será necessária

uma intervenção cirúrgica como é comum acontecer em alguns

casos. Contudo, como a pancada atingiu uma região responsável


pelo sistema nervoso central, Mina Pacheco está em coma

profundo...

Fecho os olhos quando ouço isso, é como uma facada no

peito. A voz do homem passa a ser mais cuidadosa, compassiva,

como se me preparasse para o pior, prosseguindo:

— Neste caso, antes que perguntem, ela pode demorar um

pouco para acordar, pela atividade cerebral dela creio que será

dentro de alguns dias ou um mês no máximo. Mais que isso,


acredito que não, porém, o que iremos fazer a partir de agora é

observá-la, lhe medicar da forma correta e esperar por sua evolução

na dissolução do hematoma. É só o que podemos fazer.

— Ela pode ter alguma sequela, doutor? — indaga Joaquin,

preocupado.

— É impossível predizer qual área do sistema nervoso será

afetada pela localização do hematoma cerebral... a depender do

caso, ela pode ter como sequela a amnésia, disartria, que é a


dificuldade na fala, algum tipo de paralisia no corpo ou... nada disso.

Tudo vai depender da sua condição, mas lhe garanto que iremos
realizar o melhor tratamento possível para que a moça acorde

perfeitamente bem. Daremos o nosso melhor, somos especialistas

em casos como este e acreditamos que dará tudo certo. É isso.

Pergunto em gestos se posso vê-la. Joaquin me traduz:

— Ele está perguntando se pode vê-la.

— É melhor amanhã. Ela ainda está na UTI, precisamos ter

certeza de que o quadro dela não irá piorar.

— Certo, doutor, obrigado.

O homem de jaleco finalmente se vai, porém só fico ainda mais


aflito.

Após vinte e quatro horas de UTI, eles finalmente transferem

Mina para o apartamento onde estou, pondo-a sobre um leito

confortável, no soro e com uma sonda nasogástrica. Seu rosto está


um pouquinho mais desinchado, porém ainda feio, roxeado, e isso
me dói muito.

Quando ficamos sozinhos, finalmente consigo ter privacidade


com ela. Aproximo-me devagar, com um bolo na garganta,

segurando sua palma com carinho, arrasado por tê-la neste estado.

Queria tanto que estivesse sorrindo... abraçando-me, falando pelos


cotovelos, brincando e esbanjando felicidade. Lembro de vários

momentos nossos juntos e as lágrimas vêm pesadas, rasgando por

minha face.

E se ela não despertar no tempo previsto? E se quando

acordar não lembrar mais de mim? Não vou conseguir suportar.

Continuo acariciando sua mão, cruzando os nossos dedos,


enxugando as lágrimas, controlando os soluços, em silêncio,

sofrendo por dentro e por fora. Escorrego por seus cachos negros
como a noite sem luar, tão linda..., mas agora tão frágil e sem luz.

O tempo passa, a terça-feira chega, começo a me organizar

para ficar o máximo de tempo possível com Mina, não quero deixá-
la por nada, e começo a exigir que a secretária cancele todas as
reuniões da semana, delego diversas funções para alguns diretores

de confiança, peço para Joaquin organizar tudo de mais imediato,


principalmente buscar dona Inês na clínica e lhe atualizar sobre o
que está acontecendo com sua filha, inclusive sobre quem sou eu.

Agora, espero-os aflito no quarto enquanto a enfermeira


termina de dar as medicações que Mina precisa.

— Pronto, está tudo bem, eu volto daqui a duas horas,


qualquer coisa me chame — diz a mulher, saindo.

Mais alguns minutos passam e alguém bate na porta, abro-a,

encontrando Joaquin com uma mulher muito semelhante à Mina, os


cabelos cacheados presos em um coque, a pele negra e o rosto já
inflado de chorar.

— Onde está minha filha? — pergunta, com a voz quebrada.


Ela a vê as minhas costas e corre até o leito, transpassando-me —
Filha! Mina... minha filha! — Os soluços são altos e dolorosos,

aflitos, comoventes. É uma mãe sofrendo por sua única filha — É


tudo culpa minha... eu não estava aqui para protegê-la, meu Deus!
Não... não!

— Dona Inês, lembre-se do que eu lhe disse, ela pode lhe


escutar, não chore assim, pode deixá-la nervosa — avisa Joaquin,
enquanto fecho a porta, sentindo a dor dela.
— Ah sim... sim — engole o pranto, se controlando, enxugando
as lágrimas, fungando. Respirando fundo, tensa, sem parar de
massagear a mão da menina —, sou eu Mina... a mamãe está aqui,

‘tá bom? Vai ficar tudo bem... você vai sair dessa e vai me dar um
abraço... — sua voz falha, mais lágrimas descem, queimando,

torturando. É terrível.

— Veja... este é o Alejandro... o namorado dela.

A senhora finalmente me nota, completamente desestruturada,


este é o pior momento em que poderíamos nos conhecer.

— Olá... — ela me estende a mão trêmula, choramingando. A


puxo para um abraço, tentando lhe consolar através do toque, já
que não posso através da voz. Isso é o suficiente para a mulher

desabar e deixar o choro vir com força, talvez só precisasse disso,


de um carinho, de alguém que lhe acolhesse.

Ficamos assim por um tempo até que ela consegue se

desgrudar de mim, enxugar a face com uma toalhinha que está


usando e agradecer:

— Obrigada... por isso e... por tudo. Eu queria agradecer mais,


porém... não consigo agora — afirma, debilitada emocionalmente.
Assinto, compreendendo-a —, vocês podem me deixar um pouco
sozinha com ela agora?

Concordamos e saímos do AP, apesar de me causar um vazio


quando me afasto da morena. É como se ela estivesse desprotegida
sem a minha presença. Tenho medo que mais algum mal lhe

aconteça se eu não estiver por perto.

— Acalme-se homem, é a mãe dela, é claro que Mina ficará


bem — afirma Joaquin, como se acabasse de ler os meus

pensamentos. Assinto para ele, coçando a testa e caminhando um


pouco, sem saber no que pensar, exausto mentalmente —, você
precisa voltar para casa...

Nego imediatamente, balançando o rosto.

— A Inês me disse que quer ficar com a filha, ela não vai
desgrudar da menina e está certa. Deixe-a ficar no quarto, fique em
contato com ela, venha visitar, mas não pode impedi-la de ficar. É a

mãe. Entende, isso?

Ele tem razão. Assinto, mesmo doendo.

— Você sabe que Mina será monitorada vinte quatro horas,

qualquer coisa eles vão lhe ligar, mas é preciso que esteja
mentalmente bem para poder lhe dar assistência. Aqui você não
come nem bebe direito, em casa pelo menos tem Isabel para

auxiliá-lo...

Ergo a mão, não querendo mais ouvi-lo, sabendo que dona


Inês deve ficar com a filha, que é o correto, mas odiando esta

situação. Chego a cogitar pedir outro quarto, mas acho um pouco


exagerado demais. Joaquin tem razão, posso vir a hora que quiser,
e Mina estará com uma pessoa confiável.

Ando para um lado e outro até que ouço a voz da minha irmã
chamar por mim. Luna corre e me abraça forte.

— Alejandro... nossa que loucura! Vim ver como estava,


mamãe está muito preocupada, todos estão. Você não respondia às

mensagens direito, nós ainda não contamos nada à Alisa. Como


Mina está?

Fito Joaquin, que a responde:

— Em coma... oi, Luna — a cumprimenta, tristemente.

— Oi, Joaquin... minha nossa, tadinha! — Luna fica em choque


— Me expliquem como tudo aconteceu, o que ela tem? — pede,

então Joaquin lhe repete a história que já falei a ele.

Minha irmã vai ver Mina, conversa um pouco com dona Inês,
tenta tranquilizá-la, lhe dá algumas informações sobre como foi o
acidente, como Mina estava aqui fora enquanto ela estava na
clínica. Enfim, faz a mulher ficar mais calma, uma conversa entre
mulheres.

Joaquin vai embora, tendo que resolver coisas da empresa


para mim, e Luna fica o resto da tarde inteira até a noite comigo, ao
meu lado me dando apoio. Estou dentro do apartamento de novo,

segurando a mão de Mina, mirando-a cabisbaixo, desejando tanto


que acorde.

— Alejandro... está ficando tarde, temos que ir. Já dei o celular

da Mina para a dona Inês como você pediu, e ela ficará em contato,
não é, dona Inês? — Luna tenta me convencer.

— Sim, não se preocupe Alejandro. Sei e entendo que quer


muito ficar, mas sou eu quem deve fazer isso, já passei muito tempo

longe da minha filha e estou há muito mais tempo sem cumprir com
o meu papel de mãe. Preciso fazer isso por ela, retribuir, mesmo
que um pouquinho, tudo o que fez por mim.

Assinto, ainda de costas para ela, sem tirar os olhos da minha


amada. Fito-a com tanta esperança, um apelo silencioso que grita
para que acorde, para que levante, que abra os olhos! Mas não

acontece. Permaneço imóvel por longos segundos, sem soltá-la.


— Alejandro... — murmura Luna me chamando, puxando-me
pelo braço delicadamente —, vamos, por favor. Mina vai ficar bem.

Você tem que ir para casa.

Aos poucos vou me afastando, meu braço esticando para


ainda tentar segurá-la, até que a distância se torna maior e nosso
toque se desfaz. Não!

Luna me leva para a casa, subo no elevador sozinho,


desolado. A governanta me recebe no hall, arrasada, as marcas em
seu rosto denunciam o choro.

— Doutor Alejandro... — sua voz falha ao ver minha expressão


de derrotado. Apenas balanço a cabeça negativamente e continuo
seguindo para o quarto, trancando-me.

Ando sem rumo, me odiando por todo o acontecido, o


acidente! Encho-me de ódio e rancor, até o ponto de explodir,
derrubando tudo que está sobre a mesa, os objetos se espatifando

no chão, fazendo barulho. Fico revoltado em meu silêncio, de


coração apertado, comprimido, como se não houvesse mais espaço
para bater.

Demoro muito a dormir após trocar algumas mensagens com


dona Inês, que me tranquiliza e afirma que Mina está bem, que o
médico foi examiná-la e não constatou nenhuma anormalidade.

No dia seguinte, ainda não estou com cabeça para ir trabalhar,

troco mensagens com várias pessoas, digo para secretária resolver


tudo, adiar ou cancelar compromissos, mesmo os mais importantes.
Toco foda-se ao mundo, só quero saber da minha mulher que está

acamada.

Vou para a mansão dos Javier pela manhã, após conseguir


tomar café, encontrando minha mãe que também está muito

abalada com o que aconteceu a Mina. Converso com ela e com


papai, tento tranquiliza-los, mas sem sucesso, tendo em vista que
eu também não consigo transparecer nenhuma tranquilidade.

Combinamos de Alisa ficar estes dias com eles, porque estou


sem condições emocionais e físicas, pois não há ninguém para
acompanhá-la nas atividades. Aqui pelo menos há Luna, há mamãe,

dá para dividir a responsabilidade. Dona Alba concorda com tudo,


então sigo para o andar superior, para o meu antigo quarto,
encontrando minha pequena terminando de ser arrumada por Luna

para ir à escola.

— Papai! — Ela corre e me abraça, agacho-me para ficar à


sua altura. Percebo sua agonia e logo entendo que já devem ter lhe
contado tudo — Como Mina está? O senhor precisa me levar para

vê-la, papai! Vovó me contou que ela caiu do cavalo e agora está
dormindo. Quando ela vai acordar? Ela vai acordar algum dia?

Essa pergunta é como uma facada no peito. O médico só me

deu estimativas, não há certeza de nada.

— Vou deixá-los a sós — Luna sai do cômodo, fechando a


porta.

— Fala, papai, a Mina vai acordar? — Alisa está a ponto de

chorar.

— Vai, minha filha. É claro que vai — digo incerto, sentindo a


dor outra vez me arrebatar por dentro.

— Mas quando? Eu estou com medo, quero vê-la — insiste


choramingando.

— Não chore, meu amor. Irei levá-la assim que der. Quero que

fique alguns dias aqui, com a tia Luna, com o vovô e a vovó, e se
comporte, tá bom?

— Tudo bem, mas não demore para vir me buscar para ver a
professora Mina, papai. Por favor, não demore!

— Não irei demorar.

— O senhor promete que ela vai acordar?


Minha voz estanca, por um instante penso que vou perder a
fala com ela também, é uma sensação estranha, temível, mas por
fim consigo mentir:

— Prometo — tento ser firme, mas sai frágil. A abraço


novamente, bem forte —, agora vá com a sua tia, você precisa ir
para a escola.

— Tchau — se despede.

— Tchau — vejo-a sair, me deixando sozinho, então desabo.

Os soluços do pranto vêm fortes demais, intensos demais.


Levanto, caminhando até a janela, meio desorientado, procurando

um apoio, pondo a mão sobre o parapeito, a outra tapando os olhos,


de onde escorrem sucessivas lágrimas. Pensar que Mina pode não
acordar me mata, me destrói. Fico em sofrimento, na solidão, dando

vazão aos meus sentimentos, até que ouço batidas no chão, alguém
se aproximando.

Olho para trás, avistando Esteban na porta, de muletas me

observando. Imediatamente engulo o choro, fico de costas para ele,


tentando disfarçar, engolindo qualquer som do pranto que eu tenha
emitido. Controlo inclusive a respiração, não quero que me veja

assim, fraco, jamais!


Ouço-o se aproximar, mas não me movo, fico quieto sem saber
o que fazer, sem entender o que ele quer. Penso que vai vir com

mais uma de suas piadas, que vai rir de mim, debochar, provocar.
Mas o homem, vagarosamente no seu ritmo, para ao meu lado,
olhando para a frente além da janela, sem dizer uma palavra.

Ficamos assim por alguns segundos, lado a lado, como dois


estranhos. Até que... de repente, vejo uma movimentação suspeita,
seu braço se erguendo lentamente, com dificuldade, a mão

tremendo, tomando coragem, até pousar sobre a minha no


parapeito, tocando-me. Ele está me consolando? Me dando apoio?

Fico incrédulo, observando seu toque, seu gesto sublime, um

carinho que jamais recebi durante todos estes anos de convivência.


Ele aperta a minha palma, transpassando calor, consolo, energia
positiva. Arfo, abalado, finalmente sentindo a ferida que tanto tempo

sangrou entre a gente, agora cicatrizando.

O correspondo, deixando as lágrimas continuarem descendo,


pesadas. Aperto-o também, tornando a nossa união mais forte e

sólida como jamais esteve. Neste simples ato, ele me diz muita
coisa, mesmo sem falar. Diz que somos irmãos, e que agora ele
está do meu lado. Que me perdoa por qualquer mal que eu tenha

feito ou que me pede perdão por tudo que fez a mim.


Seu lábio inferior chega a tremer enquanto seu pranto

silencioso também é revelado. É muito difícil para ele estar fazendo


isso, mas está. E é muito importante para mim. Isso só mostra que
Esteban, assim como eu, é um poço de mistério. Agora mais do que

nunca sinto que algo grave deve ter acontecido entre ele e o nosso
pai, talvez antes da minha chegada nesta casa, que tenha sido a
causa da nossa inimizade e da frieza com a qual sempre foi tratado

pelo velho Javier.

Nunca foi apenas inveja, tudo tem um motivo, as paredes


desta mansão guardam muito segredos.

Os dias se vão, e com eles um pedaço de mim a cada vez que

chego no hospital e ainda encontro Mina desacordada. No princípio,


fico com ela quase o dia inteiro, não conseguindo me afastar,
revezando com sua mãe que às vezes sai para comprar alguma

coisa ou para arejar os pensamentos.

Depois, sou obrigado a voltar a trabalhar, porém saio bem mais


cedo, passando a tarde com a minha donzela, levando-lhe flores
diariamente, enchendo o quarto de Gazânias, as suas preferidas.

Consequentemente, uma amizade nasce entre dona Inês e eu, que


aos poucos me conhece e entende sobre o meu problema.

Mamãe visita Mina, Alisa, Isabel, Diogo, Pepita, que é uma

amiga do antigo bairro onde ela morava, e até papai, todos trazem
algum presente. Pancho e Antonita sempre enviam mensagens para
saberem como Mina está, preocupados, o homem por vezes se

sentindo culpado por ter deixado a menina montar sozinha, mas


trato de tirar este peso da sua consciência. Não quero que se sinta

assim.

O neurologista continua analisando a morena, sempre dizendo


que ela está bem, que deve estar perto de acordar, mas nunca
acontece. O rosto dela já voltou ao normal, sua beleza floresceu

diante dos machucados e novamente está perfeita, porém não abre


os olhos.

Essa preocupação faz doer a minha alma a cada dia que

passa, pensamentos destrutivos e negativos vêm com força, sempre


os piores possíveis, apesar de o médico afirmar que até o momento
está tudo bem, que ela precisa acordar para averiguar se há alguma

sequela.
Um mês inteiro se passa, já estamos no outono, e a minha
esperança vai diminuindo... diminuindo. Faço Mina ouvir as suas
músicas prediletas, continuo lhe trazendo lindos ramalhetes de

flores, balões, deixando seu quarto todo colorido. Ajoelho-me todas


as noites, rogo a Deus por sua salvação, por seu despertar, mas

continuo sem resposta, no maldito e perverso silêncio.

Certa manhã, no AP do hospital, estou ao lado da cama da


morena, a observando. Dona Inês parece cansar de nos mirar da
poltrona e se levanta, aproximando-se.

— Você a ama, não é? — pergunta, como se já soubesse a


resposta. Assinto — Eu sei disso, e é um amor maior do mundo.
Mas já disse isso a ela alguma vez?

Nego, não entendendo a pergunta. Afinal ela já não sabe que


eu não falo?

— Então diga, Alejandro... diga! Diga antes que seja tarde


demais... ela pode escutá-lo!!

Miro-a como se fosse impossível.

— Você consegue... o amor cura tudo — assente,


encorajando-me, e então deixa o quarto.
Fico reflexivo, nunca pensei nisso. Fito a minha amada,
agoniado com essa ideia, já sentindo meu coração bater mais forte.
Será que eu consigo? Será mesmo que posso fazer isso sozinho?

Cubro sua mão com as minhas, segurando-a fortemente,


intensamente. Algo grita dentro de mim, dizendo que sou capaz, que
ainda não é tarde demais.

Fecho os olhos, tomando coragem, buscando força e fôlego.

Tento limpar a minha mente, viajar para um ponto seguro, até que
sou invadido por nossos momentos felizes, de quando fizemos amor
à primeira vez, de quando ela disse que me amava, de quando
tomamos sorvete, assistimos filme, de quando dançou para mim,
sorriu, vibrou.

Seu amor me invade, toma posse, incentiva, me dá coragem.


Os meus lábios se abrem lentamente, a língua arde, luta para se
movimentar:

— M-Mina... — gaguejo, as lágrimas caindo — Min... Mina,


Mina! Mina! — sorrio quando seu nome sai da minha boca — Mina...
s-sou eu... sou eu... o Alejandro. V-você... — fecho os olhos, respiro
fundo, alteando a voz — Você consegue me ouvir, meu amor? Sou

eu... v-volta para mim... — os soluços explodem por minha


garganta, ofego, sentindo doer, doer muito.
É como se eu estivesse vencendo a mim mesmo, uma guerra
mental.

— Volta para mim... meu amor! Eu te... — tremo muito, suo, o

coração ribombando no peito —, eu te... eu te amo! Eu te amo


muito... N-não... não me deixa sozinho, por favor... — o pranto sai
alto, estou desabando... destruído —, eu preciso... preciso de você
aqui... comigo! Fica... comigo, Mina! Por favor... Deus! Deus... por
favor! — olho para o teto, inconsolável —, só dessa vez... por favor,
Deus! — clamo —, não posso viver... sem ela. Não posso viver...

sem você... eu te amo! — Me derreto em lágrimas que não cessam.

Fungo, desolado, exausto, como se houvesse acabado de


descarregar um longo peso das costas. Inclino-me sobre a

cacheada e, delicadamente, a beijo, um beijo de amor verdadeiro.


Os nossos lábios se encostam docemente, singelos... puros, então
me afasto, voltando a ficar ereto.

A observo profundamente, por longos segundos, até que um


risco de esperança me transpassa com força, quando noto as suas
pálpebras se moverem vagarosamente, erguendo-se com
dificuldade, como se lutassem para abrir. Fico sem respirar quando
as suas pupilas brilhantes surgem diante de mim.
Ela despertou.
ALEJANDRO JAVIER

Estou imóvel, de olhos esbugalhados, boquiaberto, apenas


observando a minha mulher tentando enxergar o mundo após um

mês. Percebo que a luz do ambiente a está incomodando. Engulo


em seco, com medo de fazer alguma coisa que faça-a retroceder e
apagar outra vez, mas a bailarina é forte e finalmente foca em mim.

É emocionante.

— Mina... — murmuro, mais uma lágrima molhando o meu


rosto.

As suas sobrancelhas se erguem ao me ouvir e de repente sua

face se transforma em pânico. Ela traga o ar, como se não pudesse

respirar direito, notando em seguida a sonda em seu nariz e com


certeza a sentindo pelo interior de sua garganta, tentando tirá-la

imediatamente.

Ajo rapidamente, segurando as suas mãos, balançando a

cabeça negativamente, tentando acalmá-la enquanto geme


desorientada, aflita, tentando se libertar. É doloroso e desesperador.

Aperto o botão de auxílio urgente ao lado da cama, várias vezes, até

que uma enfermeira surge rapidamente, sendo acompanhada por


dona Inês que leva um choque positivo ao ver a sua filha acordada.

A mulher se emociona automaticamente, tapando a boca com

as mãos, sem conseguir dizer uma palavra enquanto a profissional


toma o meu lugar, falando compassivamente:

— Calma... calma... está tudo bem, está tudo bem. Acalme-se,


por favor acalme-se... fique calminha, está tudo bem, nada de mal

está acontecendo... fique bem... issooo... calminha... está tudo bem

— Mina, aos poucos volta ao normal, focando na mulher à sua

frente, ouvindo-a —, você está agora em um quarto de hospital, mas

já está tudo bem... tudo bem. Eu sou a enfermeira Aguilara, não


tente falar porque a senhorita está com uma sonda...

Assim, gradativamente e de forma bem devagar, Mina é

atualizada sobre a sua situação. Quando ela fica mais calma ainda e
começa a entender as coisas, o médico é chamado. Ele também
conversa com sua paciente de modo leve, cauteloso, contando a ela

como ela veio parar aqui, sorrindo para mim e dona Inês, nos

transpassando confiança de que está tudo bem.

A senhora e eu, observamos tudo receosos, inseguros,

medrosos de que nossa menina tenha alguma sequela grave, mas

por enquanto parece que não. O doutor explica tudo o que vai fazer,
pede a enfermeira para retirar a sonda — o que é um processo

chato e aparentemente incômodo — dá um pouco de água para a

bailarina, que está com a garganta e os lábios secos.

Tudo isso é realizado devagar, com tempo, até que o homem

começa com os exames neurológicos para ver se a morena está


orientada em tempo, forma e espaço.

— Você consegue falar agora? — Ele pergunta.

— Ss... ss... sim — Mina tem um pouco de dificuldade para

falar, o que me aflige, mas a sua língua permanece nesse estado

arrastado por mais ou menos duas horas. O médico espera ela ter
mais força, lhe dá um pouco mais de água e, aos poucos vai a

situando — Você lembra do seu nome? Sabe qual é?

— Mina Pacheco — responde, para a nossa calmaria.


Ela responde a várias perguntas simples, mas muito

importantes. Ele faz mais exames, até que finalmente indaga o que
quero saber:

— Sabe quem são essas pessoas? — aponta para nós.

— Mamãe... — sorri, dona Inês não resiste e se aproxima,


segurando-a pela mão, em pranto.

— Estou aqui, minha querida, mamãe está aqui. Mamãe está

aqui — a mãe beija a mão da filha inúmeras vezes, mais leve,


amorosa.

— E ele, você sabe quem é? — pergunta o médico, fazendo


Mina direcionar os olhos para mim.

Os globos dela me fitam, e quando noto que tentam me

identificar, fico gelado por dentro. Sou analisado, isso chega a me


deixar desesperado, não sai uma resposta, até que a ouço dizer:

— Alejandro... — sorri, sorrio também, após deixar extravasar


o ar contido até então em meus pulmões. Tudo o que me define

agora é alívio.

Aproximo-me, segurando sua mão livre, sorrindo, inúmeros


sentimentos exalando em mim que nem consigo defini-los, mas há
amor, paixão, felicidade, esperança. Muitas coisas boas que me
ascendem outra vez. Transpasso meu calor para ela, que está fria,

porém renascendo das cinzas, seu sorriso me tirando do fundo do


poço, salvando-me como fez desde a primeira vez em que nos

vimos.

Eu amo tanto essa mulher, Deus.

— Ótimo... muito bem... está tudo maravilhoso — constata o

médico, me passando confiança —, se continuar assim, prevejo que


dentro de alguns dias já poderá receber alta, e fará sua reabilitação

em casa.

— Que maravilha, doutor! Logo, logo estará em casa, filha!


Isso não é bom?! — Dona Inês explode de contentamento e
emoção.

— Lembra-se do acidente? — indaga o médico.

Mina para, refletindo até responder:

— Lembro que estava no cavalo... só isso. Quanto tempo se


passou?

Trocamos olhares nervosos, não sei como ela vai receber essa

informação.

— Se passou um pouquinho mais de um mês, mas está tudo


bem agora...
— Um mês? — Mina não gosta nada disso, fica confusa —
Não é possível... mãe...? Alejandro...?

— Calma, filha a gente vai te contar o que aconteceu durante


este tempo, o mais importante é que agora tudo se resolveu e você

acordou e está bem.

— Isso, exatamente, e está respondendo muito bem a todos os


exames que acabamos de fazer. Mais alguns dias e estará
excelente. As coisas já estão dando certo, precisamos pensar

positivo. Certo?

— Certo... — responde minha donzela, tento lhe dar afeto


através do toque.

MINA PACHECO

É surreal tudo o que estou vivendo desde que acordei. A


sensação principal, é de que houve uma espécie de corte na minha
linha do tempo. De repente eu estava cavalgando na linda égua que

ganhei de presente e pronto, tudo apagou, não lembro mais de


absolutamente nada até acordar aqui, neste quarto de hospital.

Foi bem atordoante descobrir que fiquei um pouco mais de um

mês inteiro dormindo, isso já é bastante tempo, é como se eu


tivesse morrido e ressuscitado somente agora, ou se tivesse sido
congelada e despertada para o novo mundo, em um novo tempo.
Talvez seja exagero, até o momento acho que não mudou muita

coisa, mas ainda sim me sinto meio perdida.

São muitas informações, sensações, desconfortos, dores


internas, adaptações. Mas só sinto uma melhora mais significativa

quando consigo tomar um belo e relaxante banho com a ajuda da


minha mãe e de uma enfermeira que me auxilia a todo instante. As

minhas pernas ainda estão fracas, se reajustando para suportar o


meu peso.

Descubro que durante o tempo em que estive apagada,

fisioterapeutas me mudavam de posição, mas para a reabilitação


terei que continuar fazendo exercícios, uma terapia. Felizmente meu

peso continua o mesmo, não tive grandes alterações, e após tomar

banho e arrumar o cabelo, perco a aparência de abatida e fico mais


renovada.

Felizmente minha mãe trouxe tudo o que preciso. A

enfermeira, após notar que estou bem, nos dá privacidade para


ficarmos sozinhas, Alejandro saiu do quarto, está lá fora. Dona Inês

me ajuda a pôr um vestido leve, confortável, e a pentear as longas


madeixas. É bom sentir as suas mãos protetoras em mim, perceber

que está bem, saudável, limpa do álcool, livre do vício.

Aspiro o perfume das Gazânias coloridas ao nosso redor por

toda parte. Acho que renasci, como um bebê sentindo todas as


coisas pela primeira vez, gradativamente descobrindo a visão,

audição, paladar, olfato e tato nestas primeiras horas pós coma.

Acordei pela manhã, e já anoiteceu.

— E essas flores? — pergunto sorrindo.

— Foi o seu namorado que trouxe — responde mamãe, em pé


ao meu lado. Estou sentada na cama.

— Todas elas? — indago, pois o quarto parece um jardim.

— Todas elas. Alejandro trouxe um ramalhete a cada dia que

veio aqui, e ele veio todos os dias durante o mês inteiro. Ele trocava

as que ressecavam, às vezes trazia mais de um buquê.

— Nossa — fico apaixonada.

— Percebi que tudo o que eu dizia que você gostava, ele logo
tratava de trazer ou fazer para tentar te acordar. Chegou a pôr

música clássica para você ouvir algumas vezes, mas acho que o

que te fez mesmo despertar foi ele ter falado contigo pela primeira
vez — revela, me deixando perplexa.
— Falar comigo? — pergunto.

— Sim, hoje de manhã implorei para que ele falasse na

esperança de que o ouvisse, filha. Saí do quarto, deixei-os a sós, e


quando voltei, a minha bailarina já tinha acordado! — Ela sorri

largamente, orgulhosa.

— Então a senhora não o viu falar?

— Não, mas deduzi que tenha o feito, pergunte a ele. Nós dois

estávamos muito preocupados, realmente o seu despertar foi dentro


do tempo previsto pelo doutor, mas isso não aliviou a nossa agonia.

A cada dia que passávamos sem que os seus olhos abrissem, era

como uma facada no peito.

— Alejandro estava sofrendo, mamãe? — fico curiosa.

— Muito. Olha... — ela respira fundo — estou realmente


chocada. Este homem te ama filha, te ama muito, foi todo esse amor

dele por você que me fez não ter nenhum tipo de resistência, logo

nos tornamos amigos, mesmo com seu problema de não falar.

— Também o amo, mamãe. O amo como nunca amei outra

pessoa, estou muito feliz que vocês têm se dado bem, não
suportaria acordar e notar algum tipo de conflito. Também a amo

bastante, mamãe — me declaro, ela me abraça.


— Alejandro é um pouco mandão, este é o único defeito que

encontrei nele. Certo, até que o excesso de proteção que ele tem
em relação a você às vezes é demais, porém é para o bem, já notei.

Ele exigiu que ao sairmos daqui, fôssemos para o seu apartamento,

achei melhor aceitar, pelo menos durante a sua reabilitação. Ele me


parece um homem honrado e de confiança.

— Que bom que acha isso, mamãe. Fico tão feliz. Fico feliz

também por vê-la tão bem de saúde. Lembro que estava me


preparando para ir buscá-la na clínica depois que voltasse de

Cercedilla, mas então...

— Shhh, não pense mais nisso. Esqueça o que aconteceu de

ruim, começaremos uma nova história daqui para frente. Estou em

remissão com o vício minha filha, já que a cura não existe. As

minhas vitórias são conquistadas dia a dia e a minha missão daqui


por diante é retribuir tudo o que fez por mim durante estes dois anos

em que te dei tanto trabalho...

— Mamãe... — tento dizer que não precisa nada disso, mas

ela insiste.

— Quero recuperar o tempo perdido, Mina! — sorri, segurando


as minhas mãos. — Quero voltar a ser quem eu era antes de todo o
caos! Preciso fazer isso por você e principalmente por mim! Na

clínica... conheci pessoas maravilhosas que também foram viciados

como eu. Aprendi muitas lições de vida, amadureci, saí da

depressão e me sinto pronta para bater asas e voar.

“Não posso e nem quero mais ser um estorvo na sua vida. Sou

sua mãe e devo agir como tal. Estou aqui para o que der e vier e
agora você tem uma parceira, uma amiga, um apoio, como nunca

deveria ter lhe faltado. Te amo muito, filha”

— Também te amo, mamãe — declaro-me outra vez. Nos


abraçamos fortemente.

— Agora vou deixá-la um pouco a sós com o seu namorado,


pelo pouco que conheço dele, deve estar louco esperando para

entrar.

Sorrio, feliz e emocionada.

— Mas antes ajude-me com a maquiagem um pouco, quero

estar bonita quando ele entrar.

— Minha querida... você é linda, sei que sou suspeita para

falar, mas é a flor mais linda que já vi em Madri. Não há outra igual.

Mesmo assim, vamos jogar um pouco de pó nesta face, trouxe


todas as suas maquiagens.
Ela cuida de mim, maquia e depois vai embora. Ergo-me,

caminhando devagar até um dos jarros de flores, apoiando-me na


mesa para não perder o equilíbrio. Ouço a porta abrir, olho para trás,

encontrando o meu homem, o meu amor, que sorri lindamente, com

os seus olhos esverdeados cintilando, e vem atém mim, grande...

imponente... belo... charmoso... cheiroso... poderoso.

Alejandro sempre exala poder, mesmo sem intenção.

Os seus braços musculosos e longos me cercam

cuidadosamente, afavelmente, seu rosto aproxima-se do meu, os

nossos olhos se fecham e os lábios se conjugam em um só. O beijo

é doce, suave, singelo, sonhador e me tira o ar, sempre perco o ar.

— Eu te amo tanto — sussurro, acariciando sua face,

aprofundando-me em suas pupilas que parecem penetrar a minha


alma.

Alejandro respira fundo, como se tivesse tomando coragem, os

seus dedos coçam minha lombar, nervosos. Seu corpo enrijece, sua
expressão fica séria, os seus lábios entreabrem, a língua querendo

se mover. Meu Deus! Ele está tentando falar!

O aguardo, esperançosa, vendo sua testa enrugar, ouvindo

sua respiração cada vez mais forte. Escorrego a palma para seu
peito esquerdo, seu coração retumbando a todo vapor. As suas
pálpebras se fecham, seu semblante exprime um pouco de dor, algo

que me deixa preocupada. Ele não vai conseguir!

— Está tudo bem... tudo bem, meu amor — o abraço forte,

querendo sanar toda sua dor, fechando os olhos e apenas o

sentindo o máximo que posso, com todos os meus sentimentos.

Ficamos no silêncio profundo, até que o ouço dizer:

— Eu também... amo você.

Ergo as pálpebras lentamente, não conseguindo acreditar no

que acabei de escutar. Foi ele mesmo quem disse isso? Desgrudo
os nossos corpos, incrédula, segurando seu rosto entre as mãos

com delicadeza.

— Também te amo... Mina — sua voz grossa, rouca, máscula,


sofrida, me arrebata por inteiro. Não consigo conter as lágrimas que

descem abundantemente, ele chora também — Você é tudo pra


mim. Nunca mais... me deixe só... por favor — pede, emocionando-
me ao extremo —, pois pior que a dor do silêncio... é a dor de não

ter você... comigo.

Soluço muito, quase engasgada em um pranto abissal, sem


estruturas, foi muito além do que imaginei que pudesse ser. Ele
enxuga o meu rosto com os polegares, enquanto tento me conter.

— Não chore... meu amor, não chore — pede, sorrindo em


meio às lágrimas.

— Nunca mais te deixarei sozinho. Você não vai mais

conseguir se livrar de mim!

Assim, nos beijamos outra vez, nos entregamos à paixão,


deixamos o amor nos invadir absolutamente, dominar, reinar em

nossos corações. Gargalhamos, nos divertimos, matamos a


saudade com carícias.

Dias depois, após estar mais forte e passar por mais alguns
exames, o médico finalmente me dá alta, para a minha felicidade.

Alejandro vem pessoalmente me pegar, nem Diogo trouxe, está


dirigindo. Sento-me ao seu lado e mamãe senta atrás. Ela e eu,
conversamos muito até a cobertura, já ele apenas nos ouve, pois

conseguiu perder o bloqueio da fala comigo, ainda não com os


outros.
Quando o elevador se abre, sou surpreendida no hall com uma
galera me esperando. É uma linda festa surpresa de boas-vindas,
com direito a bolo, cartazes com mensagens de carinho e balões.

Encontro a Alisa, dona Alba, o senhor Miguel, Luna, Joaquin, Isabel,


Pepita, Diogo, Antonita, Pancho e até a minha professora de balé,

dona Iolanda, todos juntos festejando o meu retorno.

Sinto-me agraciada, amada. A primeira que vem me abraçar, é


a Alisa. Ajoelho-me para poder ficar do seu tamanho enquanto os
seus bracinhos se envolvem em mim com afinco. A menina chora

abundantemente, comovendo a todos.

— Eu estava com tanta saudade, professora Mina! — Se


declara, me arrebatando. — Fiquei com tanto medo que não

acordasse. Por favor, não se acidente mais, por favor — pede


fungando, fofa.

— Não irei me acidentar meu amor, ficarei aqui, contigo. Não

se preocupe, eu voltei! — entro em pranto também, beijando-a


várias e várias vezes.

Em seguida, falo e abraço um por um dos convidados,

adorando por tê-los aqui comigo neste momento tão importante.


— Olha quem voltooou!! — Luna está explodindo de felicidade,
nunca a vi tão emocionada, e isso me conforta.

— Que bom que acordou, garota. Você é luz e jamais deve


perder seu brilho — afirma dona Alba.

— Nunca esperei tanto para jogar xadrez com uma pessoa.

Agora a senhorita não me escapa! — afirma seu Miguel, fazendo


todos gargalharem.

— Minha amiga! Te amo tanto! — Pepita não aguenta e chora


bastante também, até treme. Nossa amizade é muito poderosa.

— Seja bem-vinda de volta, senhorita. Essa casa nunca mais


foi a mesma sem a sua presença — declara Isabel, me encantando,
abraço-a.

— Madame — Diogo me cumprimenta, mas quebro as


formalidades o abraçando.

Antonita está tão emocionada que apenas me acolhe

fortemente em seus braços.

— Eu sabia que iria conseguir, você é forte! Forte! — declara.

— Perdão, senhorita, perdão!! Não deveria tê-la deixado


montar sozinha na égua. Por favor, preciso do seu perdão —

implora Pancho.
— Não foi culpa sua, Pancho. Está tudo bem. Não se culpe, as

coisas acontecem quando têm que acontecer. Obrigada por ter


vindo e tire isso da sua cabeça, não tenho nada que perdoá-lo, está
tudo bem.

— Obrigado — ele finalmente sorri, a tensão deixando seu


corpo.

— Minaaaa! — A professora me toma com carinho — Nós da

escola oramos todos os dias por você, minha querida. Não imagina
o quanto estamos felizes!

— Estou com tanta saudade das minhas meninas! — revelo,


deixando as lágrimas fluírem. É muita emoção! Nem quando tive

uma vida estável, vivi momento tão sublime e especial como este.

— Bem-vinda de volta Mina — o homem negro, alto e muito


bonito me cumprimenta. Sua voz grossa e mansa ao mesmo tempo

é marcante.

— Você é o...

— Joaquin.

— Ah, o intérprete de Alejandro! — lembro, as coisas ainda

estão um pouco confusas na minha mente.

— Isso — ele confirma.


— Agora nós temos que comemorar, porque para quem não
sabe, é um fato histórico ter uma festa neste apartamento, hein! É a
primeira vez! — exclama Luna, Alejandro rola os olhos, o beijo sem

pensar em nada, lembrando que estamos em volta de várias


pessoas quando ouço suspiros e palmas, o que me deixa em alerta.

— AAAH! Eu sabia que estavam namorando! SABIA! — grita a

Alisa, apontando para nós, feliz da vida, saltitando!! O pessoal ri,


miro Alejandro buscando alguma reação séria ou incômoda, mas...
pelo contrário, ele sorri diante da galera e pega a filha no colo, nós a

beijamos ao mesmo tempo no instante em que Luna bate uma foto.

— Mais! Mais! Quero fotografar essa família linda! — exclama.


Alejandro, sem nenhum pudor, me envolve pela cintura, grudando

os nossos corpos, e fotografa nós três mais algumas vezes.


Recebemos aplausos.

— Vem mãe! — A chamo, até então ela estava quietinha num


canto, observando. — Gente, para quem não sabe, essa é a minha

mã...

— Todos já a conhecemos, agora pose para foto! — Luna me


corta, então me dou conta que mamãe realmente teve tempo para

conhecer todos.
— Venham pessoal! Venham! — chamo, e a grande e imensa
família se une a nós, para tirar mais e mais fotos. Depois Luna troca

de lugar com Pancho, que nos fotografa mais vezes. Há sorrisos


estrelados por todos os lados.

Em seguida, vamos para o bolo, que é imenso, com quatro


camadas e todo branco, com uma bonequinha de bailarina no topo,

da minha cor me representando. Ela faz um movimento sobre um


tablado onde está escrito “Seja Bem-Vinda, Mina”. Há também

vários brigadeiros e outras gostosuras, sucos e refrigerantes. Corto


o primeiro pedaço, dando à Alisa, que saltita mais vezes se
vangloriando.

Isabel e minha mãe, que já se conhecem, tomam à frente da

mesa a partir de então, servindo os convidados. A governanta até


tenta desincumbir dona Inês deste encargo, mas a mulher não

permite, está disposta a ajudar. As duas passam a ter um longo


papo com a senhora Javier, as três já até lembrando melhores
amigas.

Antonita, Pancho, Diogo e professora Iolanda, formam outro

grupo, dialogando bastante. Alejandro vai “conversar” com o pai,


Luna se afasta com Joaquin, batendo um papo sincero à distância,

enquanto fico com a Alisa e Pepita no sofá, ambas me atualizando


sobre vários acontecimentos de Madri, do mundo, de famosos e
muito mais.

Observo o casal longe de todos, ambos não felizes, mas


finalmente parecendo chegar em um consenso. Por fim, trocam
beijinhos no rosto como bons amigos e Luna se afasta. Peço a

Pepita para ficar com a pequena e sigo até a morena de cabelo


repicado, que hoje, assim como no dia do jantar na mansão, está
fora das roupas rasgadas e escuras, parecendo mais leve.

— Tudo bem? — pergunto, vendo-a fungar e segurar as


lágrimas com os globos brilhando.

— Ah... mais ou menos — ela fita Joaquin por um instante —,

agora acabou de vez. Foi melhor assim.

— Você ama ele? — indago curiosa. Luna respira fundo.

— Não... amar não. Não sei o que é isso, lembra? — diz


cabisbaixa. Ergo seu queixo, fazendo-a me olhar.

— Você ainda não sabe o que é isso, mas irá saber algum dia.

— Ah, Mina, para com isso! Esqueça-me e foque no seu amor,


no amor que exala entre você e o meu irmão. Quero agradecê-la,

toda a família já notou o bem enorme que está fazendo a ele. Nem
quero pensar em como Alejandro ficaria caso... — sua voz falha —

ah, esqueça! Está tudo bem agora! Deus é maravilho.

— É, Deus é maravilhoso mesmo — reflito, sorrindo.

— O que foi? — Luna percebe algo.

— Ele falou comigo — revelo.

— O Alejandro? — fica boquiaberta.

— Aham. Disse que me ama pela primeira vez.

— Nossa! Que bom!! — Nos abraçamos — Mina, quem sabe


agora ele aceite fazer o tratamento! Mamãe disse que o Joaquin

encontrou um ótimo psicólogo.

— Ah, é verdade! Vou aproveitar que ele está aqui e falar


sobre isso, nós nos vemos tão pouco. Vem comigo? — chamo-a.

— Não... vá sozinha, já falei tudo que tinha para falar com ele.

— Certo, entendo.

— Mas estou MUITO feliz, não imagina o quanto.

— É claro que imagino, acha que estou como? Ainda parece


inacreditável!

— Só mais uma coisa... desculpe-me novamente pelas coisas

que te falei no dia do jantar. É que meu irmão sofreu muito na mão
da vaca da ex dele, e... o medo, a insegurança se confundiram na
minha mente, o sangue falou mais alto, pensei que você pudesse
ser como a Maite, apenas queria proteger o meu irmão, mas não

podia estar mais enganada.

— Esqueça isso! Está tudo bem — despeço-me dela e


aproximo-me de Joaquin, que está com um copo de uísque na mão,

defronte para a vidraça da varanda — Joaquin? — Chamo por ele.

— Olá, Mina — vira-se para me fitar —, pois não?

— Então, é que... a dona Alba uma vez comentou que você


encontrou um ótimo psicólogo que pode cuidar do problema do

Alejandro e...

— Sim, encontrei, já faz bastante tempo, até. Por quê? — fica


curioso.

— É que estou querendo tentar convencer o Alejandro a ter


uma sessão com esse profissional.

— Sim... — os seus olhos brilham com a ideia — faça isso!

Acho que é capaz de conseguir. Irei procurar o arquivo com as


informações do psicólogo novamente, se quiser posso até te passar.

— Eu gostaria muito que fizesse isso!


— Claro! — Ele sorri, contente com a ideia. Trocamos números
de telefone e combinamos de manter contato.

Após isso, volto para a festa que, aos poucos vai acabando.

Os convidados vão indo embora, até que resta apenas os de casa.


Alejandro leva a Alisa no colo para seu quarto, ela pegou no sono

em algum momento, enquanto sigo com a minha mãe até o cômodo


de hóspedes onde eu dormia.

— Aqui é lindo, você dormia aqui? — pergunta ela, sua mala já


está aqui, Diogo que trouxe.

— Aham.

— Filha... a gente não teve tempo para falar sobre o Alejandro,


você não me disse que ele era seu chefe, fui pega de surpresa.

Como aconteceu? — está curiosa.

— Ah, mãe... aconteceu naturalmente. Na verdade, o conheci


há dois anos, no dia em que papai faleceu — conto, deixando-a

perplexa.

— Como assim? — esbugalha os olhos. Nós passamos vários


minutos falando sobre isso. No fim, percebo que estava ainda com
certos receios, pois foram muitas informações para ela também, sair
da clínica e ver a filha tão íntima de um desconhecido e de seus

familiares, não deve ser fácil.

É claro que lhe ocultei a parte que Alejandro queria me ter por
uma noite através de contrato, isso ela não precisava saber, de jeito
nenhum. Falei apenas o essencial.

Por fim, a deixo e sigo para o quarto de Alejandro, avistando-o


na poltrona, mexendo no celular. Ele deixa o aparelho de lado
quando me nota. Trocamos sorrisos, então me chama com a mão,

que aponta para as suas pernas, como fez outras vezes.

— Só vou se me chamar pela voz — o desafio, provocante. O


homem ergue uma sobrancelha, percebendo que estou jogando

sujo, porém não foge.

— Senta no meu colo... por favor, meu amor — o som que


emana dele é tão atrativo e potente, me arrepia inteira. É como uma

força magnética que me faz praticamente flutuar em sua direção e


sentar sobre a sua coxa direita. Seu braço envolve minha cintura e a
mão livre puxa-me delicadamente pela nuca para um beijo delicioso.

— Sua voz é muito mais linda do que imaginei, Alejandro —


confesso, acariciando sua face.

— Gostou?
— Sim, amei. Está se sentindo bem falando comigo? — fico

curiosa.

— Se soubesse que me sentiria tão bem assim, já teria feito


esforço para isso ter acontecido há mais tempo.

— Não seria demais se falasse com toda a sua família? —


digo.

— Seria — ele leva uma de minhas mechas para trás da minha

orelha —, não se preocupe mais com isso, já decidi que irei procurar
ajuda.

Sorrio largamente, beijando-o outra vez.

— Sério? — Ainda não estou acreditando.

— Muito sério. Não quero mais correr o risco de passar pelo


que passei quando te vi jogada no meio daquele bosque. A
ausência da minha voz... o estado impotente em que fiquei... e se

acontecer de novo?

— Não vai acontecer...

— Mas e se acontecer? E se for com a Alisa? Com minha mãe


ou irmãos? Eu poderia ter gritado naquela floresta por socorro, mas

não consegui. O maldito bloqueio torturando na garganta.

— Para, não lembre mais disso, não quero lembrar.


— Eu sei, meu amor — sinto um misto de emoções quando me
chama assim —, mas agora prefiro prevenir do que remediar. Além
disso, tenho outro motivo... — sua voz falha. Ele me põe sentada ao

seu lado, levanta e pega um caixa de sapato sobre a cama que


passou despercebida.

Em seguida, ajoelha-se diante de mim e abre a caixa,

revelando uma única sapatilha de bailarina, que retira e me mostra.

— Lembra dela? — pergunta, esticando um sorriso.

— Se eu lembro...? — Miro o calçado um pouco velho por


longos segundos, até que minha mente retorna para o dia em que o
conheci — Não acredito... — tapo a boca com as mãos, em choque

— Você guardou?

— Guardei a sapatilha de uma bailarina louca que invadiu a


avenida, bem na frente do meu carro, quase me fazendo atropelá-la.

— Alejandro...

— Na época não entendi por que fiz isso. Os anos se


passaram e entendia menos ainda, mas agora já sei — afirma,
retirando a sandália que estou usando e calçando a sapatilha no
meu pé, porém não faz o laço com as fitas de cetim —, está
confortável?
— Está — digo, maravilhada.

— Tem certeza? — ergue uma sobrancelha, fico intrigada.


Mexo o pé até sentir algo, um pequeno objeto apertado contra
minha pele.

— Parece que tem algo aí dentro — comento contrariada.

— Bem... como eu dizia, tenho outro motivo para querer voltar


a falar normalmente — afirma, enquanto descalça a sapatilha,

retirando de dentro dela um anel —, preciso de voz para poder dizer


sim no dia do nosso casamento.

Meu queixo vai ao chão, fico completamente sem ração. Não


esperava por isso. De verdade, não esperava.

— Mina Pacheco... quer se casar comigo?


ALEJANDRO JAVIER

Antes e depois de Mina acordar pensei em muitas coisas,


estudei os meus sentimentos, senti-os principalmente, os vivi na

mais alta intensidade possível, até concluir e afirmar a mim mesmo


que ela é o bastante para mim.

Por tantos anos fugi do amor, por tanto tempo me escondi de

compartilhar qualquer sentimento além da carne com uma mulher,

então veio essa morena de pele chocolate, com longas e lindas


madeixas cacheadas, de rosto inocente, sorriso estonteante, língua

ferina e jeitinho petulante, que ferrou com o meu juízo e capturou


meu coração.
Já disse isso aqui uma vez e repito: não sou homem de reter

os meus desejos, quando eles acendem é preciso saciá-los. E o que


mais desejo agora, sem sombra de dúvidas, é ter a bailarina para

sempre em minha vida!

Antes da Alisa nascer, sempre quis ter uma família, mas

infelizmente as coisas não saíram como planejado. Hoje, depois de

tanto tempo, de certa forma amargurado, após a chegada da


tagarela em minha vida, entendo que não era o momento, não era

para ser. Deus preparou algo melhor para mim, fez esperar pelo

verdadeiro e único amor da minha vida: Mina Pacheco.

Por isso, comprei os nossos anéis de noivado e agora estou

pedindo ela em casamento. Para muitos pode até soar como


precipitado, relutei um pouco pensando por este lado, receoso

quanto ao futuro a dois e quanto ao compromisso. Mas por que fugir

de algo que não quero? Tenho medo de perdê-la, sei que

casamento não é forma de segurar ninguém, mas tenho a

necessidade de ter essa menina ainda mais unida a mim.

Estou ajoelhado diante de seus pés pequenos, observando-a

entrar numa explosão de emoções e sentimentos que afloram em

abundância, por cada poro de toda a sua pele. As suas pupilas

lacrimejam e a voz lhe parece faltar, fazendo até lembrar de mim.


— Não vai dizer nada? — pergunto divertido, a voz ainda um
pouco baixa. A cada vez que falo com ela, me sinto mais seguro

para continuar falando. Após tantos meses de convivência, perdi o

bloqueio com Mina, assim como aconteceu com a Alisa. Não há

mais aquele nó na garganta, a ansiedade, o nervosismo, o

estômago preso.

Com ela me sinto seguro e confortável. A vejo agora como


alguém de confiança, a quem amo exageradamente. Minha mente

não é invadida de pensamentos discursivos ou negativos e o som

consegue sair de dentro da minha alma com fluidez, sendo emitido

entre os lábios com liberdade.

Sim, Mina deu liberdade total para falar com ela, me trouxe
segurança, confiança, quebrou as barreiras dos meus traumas,

derrubou os demônios, superou os fantasmas e se sobressaiu

radiante de tudo aquilo que me afundava no poço do silêncio,

dominando-me com a magia do seu barulho!

Ela engole em seco, piscando com a minha pergunta.

— Eu não esperava... — choraminga, fitando o anel em ouro

com diamantes —, tem certeza?

— Hã? — fico contrariado.


— Porque se depois que colocar esse anel no meu dedo você

se arrepender, eu te mato, hein! — ameaça, entre sorrisos e


lágrimas.

— Isso finalmente é um sim?

— Sim... — funga, agraciada — Sim... SIM! Eu aceito!! —


exclama vibrando. Ponho o anel em seu anelar, ergo-me puxando-a,

agarrando e a beijando profundamente, contente por ter aceitado —


Ai, eu vou casar!! Nossa, nós vamos nos casar!! — exclama

radiante, fazendo-me sorrir muito mais.

— Sim, vamos nos casar, porque... não consigo mais pensar

em um futuro sem você ao meu lado, Mina. Porém... primeiro quero


iniciar o tratamento, você também precisa continuar com a

reabilitação, e no momento certo nos casaremos. Até lá, peço que


sejamos discretos — digo.

— Certo... tudo bem. É melhor mesmo, mas tenho que falar


para a minha mãe, só para ela! — gargalha jogando a cabeça para

trás, momento em que para de rir e faz uma careta — Ai... — geme
de dor.

— Não pode fazer movimentos bruscos — chamo a sua

atenção —, o doutor disse que terá enxaquecas, cuidado — fico


preocupado, guiando-a delicadamente até a cama.

— Nenhuma dor vai superar toda a felicidade que estou

sentindo, Alejandro.

— Mas para o nosso casamento devemos estar sãos — digo,


deitando-a e sentando-me ao seu lado, acariciando sua testa.

— Sim... tem razão — suspira —, está tudo tão perfeito, que


tenho medo de dar alguma coisa errada.

Fico sério, não gostando de suas palavras, mas concordando

ao mesmo tempo.

— Também tenho... por isso quero assegurar logo de que a

terei para sempre.

— Não quero que case comigo por medo de me perder — ela


roça suavemente as suas unhas em meu queixo.

— Não é só por isso. É porque te amo também — beijo os


seus lábios delicadamente.

— Diz de novo — pede murmurando.

— Eu te amo — sussurro em seu ouvido, com a voz rouca e

lenta — Amo... amo... amo... amo... amo demais. Posso falar a noite
toda se quiser.
— Então eu quero! — sorri, abraçando-me.

— Isabel indicou uma fisioterapeuta para você, a partir de

amanhã ela virá — informo.

— Tudo bem.

Nos beijamos mais vezes, até cairmos em sono profundo,


estamos exaustos.

Dois dias depois, é impressionante como a alegria toma conta


do meu apartamento. A casa está cheia, sou o único homem

rodeado por mulheres faladeiras que conversam sem parar na


mesa, enquanto as observo e escuto calado, sorrindo quando

sorriem. Até respiro aliviado ao notar que com a volta de Mina, veio
também a sensação de harmonia entre estas paredes.

Enquanto esteve dormindo, tudo aqui ficou frio, vazio e


solitário. A bailarina tornou-se uma necessidade em minha vida,

coisa que só me dei conta depois que a perdi. Já estava tão


acostumado com a nossa convivência, que a sua ausência me
atingiu drasticamente, em peso!

Mas agora já passou. Agora precisamos seguir em frente,

preciso fazer o que prometi a ela e a mim mesmo: o tratamento.


Trabalho durante toda a manhã com um frio devastador na barriga,
sem parar de pensar um instante que na parte da tarde, irei para a
primeira sessão com o psicólogo indicado por Joaquin. Seu nome é
Ramon García, a minha secretária enviou a ele anteontem todo o

meu histórico de tratamentos anteriores com outros profissionais,


que tive ao longo da minha juventude.

Quando chega a hora do almoço, resolvo comer em casa, sinto

vontade de ficar perto da minha filha e de Mina um pouco antes de


encontrar com o Dr. Ramon, quero que elas passem um pouco da

segurança da qual estou sentindo falta neste momento.

Enquanto almoçamos, Mina conta como foi seu primeiro dia

com a fisioterapeuta, que a adorou e conversou bastante. Dona Inês

não está conosco, foi para a casa que a filha alugou, ver as suas
coisas e fazer alguns serviços por lá. Tento disfarçar para a minha

amada que estou bem, mas quando saio do banheiro do quarto,

encontro-a me esperando, arrumada.

— Aonde vai? — indago, estranhando que esteja pronta para

sair, não acho prudente que saia antes de estar totalmente

recuperada.

— Irei acompanhá-lo no psicólogo — afirma, pondo sua bolsa

de lado e olhando-se por uma última vez no espelho.


— Não precisa, Mina.

— Precisa sim, sei que está nervoso e não irei deixá-lo ir

sozinho.

Sorrio, indo em sua direção e a abraçando por trás, nos

mirando pelo reflexo.

— Vai dar tudo certo. Não tenha medo — ela diz, incentivando-
me.

— Com você nunca tenho medo — declaro-me, então nos


beijamos.

Por mais que eu não queria que ela saia do AP por medo de

que se machuque de alguma maneira, em meu íntimo, sinto-me


mais à vontade com a ideia de tê-la acompanhando-me neste

momento tão importante e que me dá tanto medo.

Diogo nos leva no carro. Durante a viagem, à medida que nos

aproximamos do nosso destino, sinto que as minhas mãos suam, a

ansiedade latejando, mas Mina está aqui, ao meu lado, com os

dedos cruzados aos meus, transpassando força, apoio, afastando


os demônios, emanando positividade e bem-estar, é tudo o que

preciso.
Paramos em um prédio chique no centro da cidade, seguimos

para o décimo andar, somos recepcionados pela secretária, que nos

leva para a grande e despojada sala de Ramon, em tons de


madeira, com vários livros e alguns jarros de plantinhas espalhados

pelos cantos, que passa a sensação de calmaria.

O homem pequeno, de óculos e cabelos que batem na nuca,


grisalhos, está num ponto do espaço, com as mãos para trás,

imóvel, observando uma planta em específico, um lindo e belo

bonsai. Quando menos esperamos, a secretária fecha a porta, sem


nem mesmo nos anunciar.

Troco olhares com Mina, que também está achando um pouco

estranho, fitamos em silêncio o senhor que parece se encontrar na


casa dos sessenta anos e que, simplesmente, ainda nem olhou para

nós, continua mirando profundamente a planta cuja arte teve origem

no império chinês.

A bailarina se mexe, incomodada com o comportamento do

homem. Ela se prepara para começar a disparar palavras feito uma

metralhadora quando ouvimos a voz do psicólogo:

— Os bonsais são incríveis, não é? Não me canso de

contemplá-los, principalmente este em específico, que adquiri


quando fui ao Japão. Eles possuem diversos significados

interessantes por trás de toda sua história e cultura, como o respeito


e a previsão de prosperidade. Também simboliza a paz, a harmonia,

o equilíbrio, a paciência, a felicidade e a honra.

Finalmente Ramon volta sua atenção total para nós, e

prossegue:

— Já imaginou se todos estes atributos fossem encontrados


em um único ser humano? Ah, então já seria o retorno do Messias,

não? — ri da própria piada. Caminha até nós e nos cumprimenta,

trocamos apertos de mãos — Sejam bem-vindos, eu sou Ramon


García, você com certeza deve ser meu mais novo paciente,

Alejandro — assinto, ele fita minha mulher — E você, é...

— Mina Pacheco, noiva dele — sorri, adorando o título.

— Ah, sejam bem-vindos, sentem-se, sentem-se!! — Nos

aponta para o sofá marrom, onde nos sentamos, ele se acomoda


numa poltrona defronte — Voltando a falar dos bonsais e fazendo

agora uma analogia, a primeira coisa que quero deixar bem claro é,

que assim como o significado dessa arte milenar, saiba que aqui

senhor Javier, você será respeitado e que a minha meta, será a sua
prosperidade.
Troco olhares com minha noiva outra vez, tanto ela como eu já

estamos com um fio de esperança ao ouvi-lo.

— Seu caso é tão interessante, mas tão interessante que,


desde que seu histórico chegou em minhas mãos, desmarquei todos

os meus compromissos por não conseguir parar de querer saber

mais e mais sobre você — afirma, levantando apressadamente e


pegando uma pasta grossa, pesada e repleta de coisas sobre mim.

Reconheço os arquivos enviados por minha secretária, mas

agora há muito mais coisas junto. O senhor traz tudo isso e mais
alguns livros grossos, jogando por sobre a mesinha de centro que

mal tem espaço para abarcar tudo.

Ele, surpreendentemente, ajoelha-se atrás da papelada, no

chão, seu comportamento é absolutamente diferente de qualquer

profissional por qual eu já tenha passado e isso chama bastante a

minha atenção.

— Li tudo!! Todos os seus diagnósticos, relatórios dos

psicólogos; mutismo seletivo, não é? Mas não concordei com quase


nada do que foi falado e registrado nestes documentos! — afirma,

ajeitando os óculos e passando a jogar algumas pastas para trás,

por sobre os ombros, que voam longe, como se não valessem de


nada — Tolice! Tolice! Isso aqui também não serve para nós... blá,

blá, blá! Sobra isto! — aponta para metade do material — Podemos


trabalhar em cima destas observações, daqui com certeza sairá

frutos!

Levanta, sorrindo, deixando-me chocado enquanto senta de


volta na poltrona e cruza as pernas.

— Mutismo Seletivo, é definido como um transtorno de


ansiedade que impede a fala em certos lugares ou com

determinadas pessoas, pode acometer crianças de todas as idades,

podendo chegar à outras etapas da vida caso não seja tratado de

maneira correta, como adolescência e até à fase adulta, como é o


seu caso, Alejandro. Tenho para mim, que a ausência da sua voz

até hoje se dá à ignorância, estigma e preconceitos sociais que

sofreu durante toda sua vida.

“Mas disso o senhor já sabe. Talvez o que ainda não sabe, é

que os profissionais que passaram por você antes, não souberam


tratar corretamente o seu distúrbio. Percebi que houve uma grande

insistência no método terapêutico tradicional, qual seja, encontrar os

conflitos inconscientes que levaram ao problema, com a intenção de

que, se identificado o conflito, o problema então fosse finalmente


resolvido, fazendo com que a sua voz retornasse.
Mas... a questão é que.... não há na literatura do MS uma
prova concreta da possível causa que gere este transtorno, sendo

bastante precipitado concluir que ele nasceu em consequência de

um trauma, porque na grande maioria dos casos, veio apenas e


simplesmente de uma predisposição genética. O MS é um

transtorno de ansiedade e não um sintoma, quem é acometido por

ele, possui uma ansiedade maior e mais forte do que as pessoas


comuns, entende?

É algo tão poderoso que o impede de falar, e não pode ser

confundido com timidez ou autismo, pois são coisas completamente


diferentes, apesar que também são semelhantes. Enfim... — ele

respira fundo, lembrando até Mina por falar tanto, contudo, tudo o

que disse está me deixando absolutamente fascinado —, sabemos


como se originou o seu problema? Não. Pode ter sido de um trauma

ou não.

Sei que o senhor teve uma infância conturbada, vi nos seus

arquivos, mas diferentemente dos seus tratamentos anteriores,


quero lhe propor aqui um método diferente, caso realmente aceite
ser meu paciente. Não quero iniciar gastando tempo em desvendar

o seu passado, mas sim em ir diretamente ao ponto principal e fazê-


lo se sentir seguro o suficiente para falar com as pessoas.
E para isso, aplicarei testes que já apliquei com outros
pacientes que também tinham MS, afinal foram um sucesso, onde
buscaremos através de técnicas cientificamente comprovadas,

encontrar meios para diminuir sua ansiedade e consequentemente


tratar o mutismo seletivo”.

Estou boquiaberto, em poucos minutos ele deu uma verdadeira

aula, revelando-me várias coisas e abrindo a minha mente para


outras que eu não sabia sobre mim mesmo e o meu distúrbio.

— Então? O que me diz? Vamos fechar negócio?

Troco olhares com a morena, confiante, e assinto

imediatamente.

— Ótimo! Saiba que estou muito empolgado, nunca tive


alguém como o senhor, com este problema nesta idade, até então

só havia lidado com crianças — sorri —, preciso informá-lo que


nossa missão não será nada fácil, pelo contrário, será um trabalho
árduo, tendo em vista que já é adulto e está há muitos anos sem

falar. O tratamento levará tempo, então quanto mais dias tivermos


de consultas, mais rápido conseguiremos evoluir, também não se
resumirá apenas à nós dois, precisaremos da participação dos seus
familiares, pelo menos com aqueles com quem não fala, ou amigos,
enfim.

— Quais são os métodos que o senhor pretende aplicar com

ele, doutor? — pergunta Mina, curiosa.

— São técnicas de desvanecimento de estímulo, Stimulus


Fading, mais conhecidas como Sliding In, que significa deslizando

ou movendo para dentro bem devagar, e também temos a técnica


da modelagem. Irei explicar isso bem detalhadamente com o tempo,
primeiro preciso conhecer melhor Alejandro, além do que foi dito em

todos estes papeis. Tenho a impressão de que seremos bons


amigos.

“Não se preocupe, a minha missão não é fazê-lo falar comigo

ou voltar a falar, até porque o senhor já fala. Como eu já disse,


vamos apenas tentar diminuir a sua ansiedade, para que assim,
possamos tratar o MS e fazê-lo se sentir confortável em falar com

outras pessoas. Aqui você não será obrigado a nada, me adequarei


às suas formas de comunicação, mas também podemos criar
outras, por que não? Podemos jogar algum jogo? ”

Levo longos segundos pensando na sua pergunta, analisando


se sua proposta é segura ou não. Fico confortável em saber que
não me obrigará a falar de alguma forma, como faziam os outros
psicólogos pelos quais passei. Por fim, respondo que sim, com um

movimente discreto de cabeça, receoso e ao mesmo tempo curioso


com o que este senhor tem a me oferecer.

Assim, de modo bem retraído, passamos a jogar xadrez, algo

que de certa forma, relaxa e me faz perder um pouco da tensão


inicial com a qual cheguei aqui. O Dr. Ramon também me entrega
duas plaquinhas, uma onde está escrito SIM e a outra onde está

escrito NÃO, para que eu possa responder às suas perguntas.

Ele não indaga nada incisivo demais, não me olha diretamente


nos olhos, isso é muito interessante. É sempre respeitoso e

compreensível, calmo, divertido. Esquecemos do MS pelos


próximos minutos, ouço-o falar da sua vida, dos filhos, fazendo
conhecê-lo um pouco mais. Mina, que nem gosta de falar, tagarela

pelos cotovelos, adorando o homem e logo parecem bons amigos.

A sessão fica tão interessante que, atraso-me para retornar ao


trabalho. Saio da clínica muito mais leve do que quando cheguei,

separando-me da minha amada em seguida, indo para a empresa


enquanto ela vai para casa. À noite nos encontramos no AP e após
jantarmos, começamos a dialogar no quarto:
— Gostou do psicólogo? — Mina me abraça por trás enquanto

estou sentado na beira da cama, apenas de toalha, enxugando-me


com outra. Acabei de sair do banheiro, a pele ainda úmida.

— Surpreendentemente... sim — revelo, em tom baixo. Ainda

estou me acostumando a falar com ela.

— Também gostei muito dele, me passou confiança e


esperança.

— A mim também, ele simplesmente parece ter acompanhado

a minha vida inteira, conseguiu me entender logo de primeira,


realmente estou surpreso. Os outros profissionais agiram
exatamente como descreveu e nunca tentaram outros métodos.

— Vai dar tudo certo... — sussurra em meu ouvido, fazendo-


me fechar os olhos — e logo, logo você estará falando tanto quanto
eu — chupa o lóbulo da minha orelha.

— Tanto quanto você? Acho meio impossível — sorrio,


curtindo a sua provocação.

— Aham... — geme mordiscando-me, os seus braços em volta

dos meus ombros.

— O que está fazendo? — murmuro, sentindo vibrações


perigosas vindo do meu centro.
— Sabe o que estou fazendo... — responde ousada,
provocando, descendo a mão por meu abdômen e apalpando a
massa enrijecida sobre a toalha —, estou com tanta saudade...

— Amor... é melhor não, você ainda está se recuperando —


digo com tesão, mas ainda preocupado com sua saúde.

— Só estarei totalmente recuperada quando for sua outra


vez... não sentiu minha falta? Não me quer?

Abro os olhos como um felino, habilidosamente e puxo ela


para a minha frente, sentando-a em meu colo, de pernas abertas,
encaixando-se em mim. Ergo sua camisola de seda, curtinha, e

enfio os dedos longos em suas nádegas quentes, duras, redondas,


apertando com força, esmagando mesmo e lhe presenteando com
um tapa.

— Oooh — geme, contraindo os quadris, se esfregando no


meu monte enrijecido.

— Isso responde à sua pergunta? — sussurro em seu ouvido,

agindo da mesma maneira como agiu comigo. Mordisco seu lóbulo,


chupando gostoso, apalpando a sua bunda, penetrando a calcinha
pequenina, resvalando para seu cuzinho, que cutuco.
— Aaii... Alejandro... quero você — roça as unhas em meu
cabelo molhados e costas.

— O que quer? Diga... — murmuro, sexy, como sempre sonhei

em fazer com ela.

— Você...

— Quer dar a bocetinha para mim, quer? — penetro a ponta

do indicador em seu orifício.

— HMMM... — grunhe, mordendo os lábios e de olhos


fechados, adorando ouvir minhas safadezas. Isso nos causa uma
luxúria gigantesca.

Ergo ainda mais sua camisola, ela me ajuda a tirá-la,


deixando-a apenas de calcinha vermelha, que contrasta
maravilhosamente bem com seu tom de pele. Seguro-a pela cintura

perfeita, de curvas únicas, incríveis. Mina toma meu rosto entre as


mãos e nos beijamos longamente, sensualmente, delicado, gostoso.

Resvalo as palmas para cima, subindo, pressionando os

polegares contra os bicos morenos dos seus seios, que estão


quentes e entumecidos.

— Linda... — rosno, fascinado por sua especiosidade. Lambo

uma de suas mamas, rastejando a língua em sua pele, fazendo


arrepiar. Mina geme, rebolando os quadris, aumentando a pressão
entre as nossas intimidades.

Chupo cada um dos seus seios, devagar, curtindo, sonhando,


enchendo a boca, sugando, beijando, enroscando a língua nas
pontas, fazendo outros movimentos, arrastando os dentes,

mordiscando devagarinho, sem muita força, só para instigar,


deleitando-me... aproveitando.

Deito-a na cama, caindo sobre ela, entre as suas pernas. A

garota é danada, consegue puxar a minha toalha, deixando-me nu.


Pressiono o pau petrificado contra seu monte de Vênus enquanto
misturamos os nossos lábios, conjugamos as carnes, os sabores, os

anseios. Lambo sua bochecha, seu queixo e garganta, desço para o


vão das mamas e brinco aqui um pouco mais.

Sou enorme e musculoso sobre um corpo feminino desenhado

por Deus, porém frágil diante do meu, delicado, atraente,


perfumado. Esmago os seus seios entre os dedos, estufando a sua
carne, retornando para sua boca, sugando sua língua, mordendo os

seus lábios, sentindo-a me apertar entre as coxas, louca para ser


penetrada, nossos sexos se esfregando.
— Vou te foder tanto... até não sobrar mais leite dentro de mim

— aviso, sexual, libidinoso.

— Oooh... Alejandro! — arranha as minhas costas, alucinada.

— Mina... você é minha! — sentencio, beijando-a outra vez,

escorregando por seu corpo, roçando as nossas peles, rastejando a


língua por seu abdômen até depositar um selinho sobre seu monte
de Vênus, fazendo-a estremecer — essa boceta é toda minha!

A morena joga a cabeça para trás, arqueando as costas no

instante em que abocanho seu centro, envolvendo a língua em seu


clitóris com afinco após fazer um carinho com a barba cerrada em

sua pele, que abre os poros, arrepiando. Fecho os olhos ao sentir o


gosto, essa coisa doce que só Mina tem, que me enlouquece,
elevando-me a um nível absurdo de lascívia.

Ergo as pálpebras, contemplando as suas expressões de

prazer enquanto mamo na sua grutinha, sugando os lábios vaginais


para dentro da boca, conjugando-me com eles, meu rosto sendo

pressionado entre as suas coxas ferventes.

Introduzo dois dedos em suas entranhas, arrancando-lhe


gemidos, pressiono por dentro, para cima, tocando seu ponto gê,
usando os dedos da outra mão para pressionar por fora, no mesmo
ponto, ocasionando um encontro, tateando ao mesmo tempo seu
interior e exterior simultaneamente às chicotadas que dou em seu
clitóris, não deixando chance alguma de escapar do meu poder.

A cacheada fica louca, espumando, deixando escorrer fluidos,


o pré-gozo delicioso. Paro antes de levá-la ao orgasmo, meu
propósito é fazê-la ansiar por isso o máximo possível, me dando por

satisfeito, erguendo-me, andando nu e duro pelo cômodo, poderoso,


retornando com alguns brinquedinhos.

Fico de joelhos entre suas coxas, a menina se move

devagarinho, as suas pernas voluptuosas roçando em minhas


coxas, louca para me ter dentro de si. Espalho um óleo afrodisíaco
do seu abdômen até as suas mamas, sua pele cintilando ao meu

toque. Massageio, excitando-a habilmente, sabendo muito bem o


que estou fazendo.

Lubrifico sua boceta também, escorregando o polegar nas

suas carnes, pressionando o clitóris. Pego um vibrador metálico e o


introduzo inteiro e de uma só vez em seu canal, fazendo-a se
contorcer e gemer alto, preenchida. Abro os lábios vaginais cor de

chocolate com os polegares, dando visão para sua carne rosada,


apetitosa. Brinco com a língua aqui dentro, Mina crava as unhas nos
lençóis fora de si.
Em seguida, monto sobre sua barriga, apoiando-me nos
joelhos, sem afundá-la com meu peso, masturbando minha longa e

grossa extensão, sexual... perigoso... fitando-a com sacanagem,


imoral. Ela me contempla em uma mistura de reverência e
adoração, como se eu fosse um Deus, excitando-me, os lábios

carnudos entreabertos, sedentos por meu pau.

Ponho um travesseiro abaixo de sua cabeça, assim seu rosto


fica mais erguido. Uno seus mamilos, encostando os montes e

atravessando-os ao meio com o mastro latejante, flamejante, até a


cabeça massuda penetrar em sua boquinha molhada.

— Hmmm... — gemo, fechando as pálpebras por um instante,

erguendo a cabeça.

Continuo com a “espanhola”, indo e vindo, aprofundando-me


cerca de cinco centímetros em sua garganta, tocando o céu da sua
boca, arranhando a carne em seus dentes, aprofundando até os

cantos, não deixando mais espaço para nada.

Fodo os seus seios ao mesmo tempo que faço a bailarina


mamar em mim, a indecência nos rodeando, a paixão, o fogo. Ela

pressiona as coxas, sentindo o metal comprimido em suas


entranhas, delirando com tanta libidinagem. Bato o pau em sua face,
esfregando pela testa, babando tudo, sujando-a. Ela põe a língua

para fora, lambendo.

— Cadela... — rosno, Mina geme mais forte, gostando do


xingamento. Ela não queria ouvir as minhas palavras sujas? Agora
vai ter seu desejo realizado!

Desmonto-a, retiro o vibrador, melo seu cuzinho com o


lubrificante e introduzo o objeto agora em seu orifício, com cuidado.
Em seguida, querendo sentir pele com pele, afundo meu pau em

sua gruta, entrando com dificuldade, sentindo o metal do outro lado,


preenchendo assim as suas duas entradas, uma dupla penetração.

— Alejandro...

Deito-me sobre ela, roçando os nossos corpos, socando até o


fim, até minhas bolas baterem em seu limite. Puxo sua coxa,
abrindo-a mais e iniciando as estocadas. Faço um golpe atrás do

outro, gostoso... apertado... fogoso. A morena me beija, abre as


pernas no maior limite possível, bem flexível, um talento por ser
bailarina.

Ponho o antebraço direito abaixo de seu pescoço, para ter


apoio, fazendo assim com que os quadris trabalhem mais rápido,
subindo e descendo, indo e vindo, a nossa união molhada, pegando

fogo, queimando e fazendo barulho.

— Que saudade... — murmuro, com tesão, adorando-a. Volto a


ficar de joelhos, erguendo as suas pernas, prendendo em meus

ombros, tendo liberdade para criar um impacto mais potente, fora do


comum. Acelero, ensandecido, fazendo careta, expondo os dentes
feito um animal feroz, desenfreado, fodendo-a absurdamente.

Mina treme, vibrando, bagunçando os cabelos, gozando,


esguichando jatos de fluidos do prazer. Solto-a, afundando o rosto
rapidamente entre as suas coxas, bebendo do seu néctar,

instigando-a a gozar ainda mais. A menina me puxa pelos cabelos,


alucinada, comprimindo minha face contra seu centro que espasma,
rebolando ao explodir outra vez. Ela é uma leoa, uma deusa da

lubricidade!

Enxugo a boca com as costas da mão, virando-a de bruços,


acertando uma lapada em suas nádegas, dou outra e por fim mais

uma, sua pele fica vermelha, uma delícia. Retiro o vibrador do seu
cu, lentamente, o esfíncter pisca, abrindo e fechando, me
chamando. Pego o frasquinho e despejo óleo sobre meu mastro,

lubrificando-o, ardente.
Ponho um travesseiro abaixo dos quadris dela, sua bunda se
ergue, ficando empinada da maneira como quero. Direciono-me até
o seu buraquinho apertado e o penetro pouco a pouco, devagar,

com cuidado para não a machucar, nós gememos com a pressão.

Enrosco a mão em um punhado das suas madeixas,


segurando firme, puxando, momento em que seu rosto se ergue

com um gemido. Lhe dou mais uma palmada e começo com as


investidas, deslizando por suas carnes anais que me comprimem e
lutam para me expulsar ao mesmo tempo que me sugam e
contraem maravilhosamente.

À medida que vou socando, aprofundo-me um pouco mais,


indo longe, abrindo-a ao meio, o macho devorando a sua fêmea de
todas as maneiras, sem pudores, sem barreiras ou limites. Rebolo

penetrando, indo e vindo, fazendo barulho. Em dado momento,


deito-me sobre ela, metendo tudo até o fim, até não sobrar mais
espaço.

— AAAH! — grita, suportando-me por absoluto.

— Esse cuzinho também é meu, Mina... você é toda minha! —


rosno em sua orelha, deixando-a ainda mais louca.
— Quero você nos dois lados... ao mesmo tempo! — geme, a
voz tremendo, surpreendendo-me. Nunca uma mulher me pediu
isso.

— Tem certeza?

— Aham — confirma, ofegante.

Volto a ficar de joelhos, abrindo suas nádegas ao meio com


minhas mãos gigantes, saindo do seu corpo bem devagar. Seu ânus

está limpo e cheiroso, nunca conversamos sobre isso, mas é


perceptível que a morena se prepara para mim, e isso afaga o meu
ego, me deixa doido!

Sem pensar duas vezes, seguro em sua cintura, apoiando-me,

montado nela. Estou tão excitado com esta ideia que começo já
gemendo, penetrando seu cu, saindo e afundando em sua boceta,
saindo e socando em cima, repetindo em baixo, um após o outro,
com agilidade, até o fim, abrasador!

Fico alternando, fechando os globos com força, adorando, me


entregando, arrebatando-me. É sujo... impuro... fatal, mas
extremamente viciante! Às vezes perco mais tempo na frente ou
atrás, acelerando, estocando, ensandecido. Sinto o poder do

orgasmo me dominando, vindo com uma força monstruosa,


latejando em meus testículos e subindo pelo corpo da massa roliça
até explodir dentro dela.

Gememos em uníssono, entorpecidos, embevecidos, uma

confusão de sentimentos e emoções que nos tomam por muito


tempo, até que voltamos a jogar e passamos a noite inteira matando
a saudade.
MINA PACHECO

Aos poucos as coisas estão se ajeitando. Os meses estão


voando rápido e após Alejandro me pedir em casamento, passamos

para uma nova fase do nosso relacionamento: o noivado, que no


caso, está englobando muitas coisas, principalmente o fato de
morarmos sob o mesmo teto.

Inicialmente, fazemos como ele pede, pois não quer mais que

eu saia da cobertura, além disso, tem a minha reabilitação. A


fisioterapeuta vem ao meu encontro todo santo dia, realizando

exercícios e outras coisas que fazem parte da terapia. É bem


relaxante e ótimo.
Quanto a mamãe... ela está com uma sede intensa de se

provar e mostrar que é capaz de tomar as rédeas da própria vida,


passando a dormir algumas noites na casa que aluguei para nós e

outras conosco no apartamento. Ela planeja fazer um empréstimo

para poder investir na sua floricultura e já procura um lugar legal


onde possa funcionar o negócio.

Dona Inês conversou com Alejandro após firmar compromisso


comigo e, gradativamente algumas inseguranças que ainda tinha

quanto a ele foram desabando, pois percebeu que meu noivo é um

bom homem, e que está tentando mudar para melhor.

As sessões com o psicólogo estão a todo vapor, fui a

responsável por unir toda a família e amigos próximos a Alejandro


para se reunir e conversar com o doutor Ramon García sobre como

seria o tratamento e o quão era importante que cada um se

comportasse de modo correto e dentro das regras que as técnicas

aplicadas exigiam.

Foi explicado que Alejandro não escolheu não falar, mas sim
que tenta falar, porém não obtém sucesso, pois a sua garganta

fecha, ele sente uma pressão no estômago, a ansiedade explode e

tudo isso o impede de emitir a própria voz.


Começamos com o método do Sliding In, que consiste
basicamente em criar situações com alguns graus de dificuldade

que Alejandro consiga suportar e superar aos poucos, para assim

diminuir e vencer a ansiedade. Para isso estudamos com ele o que

fazer para encorajar a sua comunicação e o que podia atrapalhar,

fazendo persistir o mutismo seletivo.

A ideia era colocá-lo para falar com alguém confiável, no caso


eu, em um lugar confortável, que passou a ser a própria clínica,

então após relaxá-lo mudar a situação, provocando algo que lhe

causasse um mínimo de ansiedade, o suficiente para conseguir

tolerar, que no caso seria a adição de mais alguém no ambiente,

uma pessoa com quem não falasse e que iria se juntar

gradualmente à nós.

A primeira missão foi conseguir com que Alejandro falasse

com o Dr. Ramon, o qual seria chamado de “facilitador” por ser com

quem ele deveria falar. Assim, fiquei com Alejandro trancada na

sala, primeiro o fiz relaxar como a mim foi ensinado, depois

começamos a jogar xadrez, momento em que o instiguei a

conversar comigo, falar sobre o jogo, sobre as peças, avisando que


o psicólogo estava fora da sala, atrás da porta.
Após isso acontecer algumas vezes — lembrando sempre de

praticar novas atividades, novos jogos e dinâmicas que


despertassem seu interesse — passamos a fazer a mesma coisa,

mas com a porta entreaberta, sempre perguntando se Alejandro


estava se sentindo à vontade e se permitia aquela situação. Depois
fizemos tudo outra vez com a porta aberta e, por fim, com o

facilitador dentro da sala.

Cada estágio aconteceu bem devagar. No início, o senhor


entrava e fingia ler algum livro enquanto Alejandro sussurrava

comigo, depois ele passou a falar em tom normal, porém quando


notava que o homem estava atento a nós, se retraía. Mas, como
fazíamos cinco sessões por semana, incrivelmente Alejandro falou

com o doutor em um tempo muito mais rápido se comparado ao que


levou para dirigir a palavra a mim pela primeira vez.

Isso nos deixou muito contentes, principalmente quando

Alejandro desvaneceu de vez e finalmente se sentiu confortável que


Ramon se juntasse a nós na mesa, me liberando para sair da sala e
deixá-los sozinhos. Dessa forma, o psicólogo passou a ser a pessoa

confiável e chamamos as pessoas mais próximas ao CEO para


ocupar o cargo de facilitador.
Primeiro, a dona Isabel, depois Diogo, Joaquin e Luna, os

últimos dois sabíamos que ele já havia falado em determinado ponto


da vida, por isso não foi tão complicado quebrar o bloqueio. Mais

complicado mesmo foi com os demais parentes, a dona Alba, Mateo


e principalmente, o senhor Miguel e com Esteban.

Com os derradeiros estava realmente quase impossível,


primeiro por causa da dificuldade de locomoção de ambos

diariamente à clínica, segundo, pelo grau de ansiedade que atacava


Alejandro mais fortemente quando sabia que estavam presentes,

mesmo que atrás da porta.

Devido a isso, o Dr. Ramon teve que aplicar um novo método,


Desensitisation ou Dessensibilização, colocando Alejandro para
fazer coisas que antes não conseguia, porém de modo menos

estressante, como permitir que Miguel e Esteban ouvissem a sua


voz por gravação ou por conversa no celular, antes de chegar ao

estágio de falar cara a cara.

Agora estamos aqui, eu e meu noivo, deitados e abraçados na


cama, após seu pai e o irmão conseguirem ouvi-lo pela primeira vez
por ligação. Foi emocionante, o seu Miguel chorou e Esteban

também ficou emocionado. Houve comemoração dos dois lados.


— Por que acha que teve uma resistência maior para falar com
o seu Miguel e Esteban? — pergunto, acariciando seu peitoral
tatuado e nu, estou com a cabeça pousada sobre seu ombro largo e

forte.

Alejandro respira fundo e responde:

— Com papai acho que é porque... desde que passei a morar


com ele, o mesmo voltou toda a sua atenção para cuidar de mim,
principalmente por causa do meu problema. Além disso, ele sempre

falava que éramos muito parecidos, tanto fisicamente, quanto em


questão de personalidade, contudo... os seus cuidados se tornaram

exagerados demais, e como eu não falava, muitas vezes o velho


Miguel tomava atitudes por mim, decisões em meu nome sem ao
menos me consultar.

— O doutor Ramon falou que isso é terrível para quem tem

MS, que pode retraí-lo ainda mais — comento.

— E ele está certo. No início não quiseram aceitar que eu tinha


um problema, diziam para todos que era só timidez, depois vieram
as sucessões de formas desenfreadas para me fazer voltar a falar,

isso pouco a pouco estragou ainda mais. Me sentia impotente...


incapaz... dependente... incompreendido. Certo que não faziam por
mal, muitas vezes era com ótimas intenções, mas me machucava.
Apesar disso, os meus tios foram ótimos pais e acreditaram em
mim, mesmo que depois de muita insistência da minha parte.

— E os seus pais biológicos? Como era com eles ou... não se

lembra? — estou curiosa, sempre estive desde que descobri sobre o


seu passado.

— A minha vida antes do velho Miguel tirar Luna e eu do

orfanato é muito confusa na minha mente. Lembranças distorcidas...


recordações embaçadas. Vejo apenas flashes, sabe? Da minha

mãe, por exemplo... cuidando de mim, mas não recordo do rosto

dela, nem do meu pai ou do meu irmão, Juan. Se não fossem as

fotos antigas, acho que jamais saberia como eram as suas


fisionomias.

— E a Luna? Ela lembra de algo?

— Também não, era menor que eu na época do incêndio, acho

que aquela tragédia contribuiu para fazer com que o nosso cérebro

de certa forma, apagasse várias memórias.

— Também acho. Mas você não sente curiosidade de

descobrir o motivo dos seus pesadelos?


— Sinto..., porém nunca tive coragem, preferi viver

atormentado. Nem sei se há uma maneira de fazer isso, se é


possível — reflete, olhando para o nada.

— É claro que deve ter, sempre há uma solução para tudo. Se


quiser, podemos falar sobre isso com o doutor Ramon — proponho.

— Vou pensar.

— Tudo bem — prefiro não insistir, porém não consigo

controlar minha boca grande —, talvez isso te traga liberdade de

alguma forma.

Alejandro suspira sério, não diz mais nada, apenas se vira me

dando as costas. O abraço por trás, não me importando com a sua

atitude, acho-o ainda mais lindo quando está emburrado, porém


estes seus pesadelos me preocupam bastante.

— Esqueceu de falar sobre o Esteban — afirmo sussurrando.

— A minha relação com o Esteban sempre foi muito

conturbada. Hoje, após algumas coisas que Mateo me revelou,

compreendo muitas das suas atitudes, agora tudo faz um pouco


mais de sentido, apesar de nós dois nunca termos parado para falar

sobre isso — revela.

— O que quer dizer?


— Esteban sempre me renegou como irmão, nunca aceitou a

minha presença na mansão Javier e fazia chacota do meu problema

com a fala. Apesar de às vezes ele se comportar como meu familiar,


sempre voltava a me pôr no patamar de seu inimigo.

— Que horror..., mas por quê?

— Porque papai passou meio que... a desprezá-lo depois da

minha chegada. Hoje entendo que foi realmente isso. O velho

Miguel nunca foi bom com as palavras ou de esconder sentimentos,


imagine um filho ter tudo, ser o centro das atenções e depois ter o

seu mundo virado de cabeça para baixo com a chegada de um

intruso?

— Consigo imaginar — reflito.

— Ele foi preterido por papai, assim como Mateo, mas Mateo
não se importava, soube lidar muito bem com isso, mas Esteban

não. Entretanto... sinto que tem mais coisa, algo que não foi

revelado. Esteban não é tão infantil, há uma ferida séria ali que deve

ter aberto antes mesmo da minha chegada na família. Ou talvez eu


esteja enganado. Enfim... ele me machucou muito, por isso o

bloqueio da voz ser mais forte quando é com ele.


— Mas vai dar tudo certo, hoje não consigo enxergar seu

irmão como este cara que descreveu, você ainda vai conseguir falar
com ele.

— Ele mudou depois que chegou com aquele pé machucado.


Parece que está apaixonado por sua fisioterapeuta, segundo os

comentários de mamãe, que por sinal, está muito feliz com isso.

— Que legal! Fico feliz em saber disso — voltamos ao silêncio


por longos segundos, até que lembro de algo — Alejandro, faz um

tempo que quero te perguntar algo, porém sempre esqueço: a

polícia não deu mais notícias sobre aqueles homens que tentaram
arrombar a minha casa?

— Sim, deram, enquanto você estava em coma, mas esqueci

de comentar contigo — revela, capturando a minha atenção.

— E, então? O que descobriram?

— Que podem ser agentes de uma máfia turca. Eles

investigaram o passado do seu pai e descobriram que ele tinha

dívidas com gente de lá, mas não conseguiram identificar

exatamente a que grupo os caras pertencem, até porque


simplesmente desapareceram sem deixar rastros, na sua rua não

havia câmeras, nós não decoramos a placa do carro, então...


— Meu Deus, bem que desconfiei. Já conversei com mamãe a

respeito disso, mas ela sabe tanto quanto eu. Papai era um poço de

segredos, escondia a sete chaves a sua vida dupla de nós. Por isso

não gosto quando minha mãe inventa de dormir naquela casa


sozinha.

— Deixei um de meus seguranças de olho nela, não se


preocupe — revela, surpreendendo-me.

— Ela sabe?

— Ainda não contei, pelo que já percebi dela, é muito parecida

com você e talvez quisesse recusar.

— Mas ela precisa saber, sei que a sua intenção foi boa, mas

não pode decidir isso sozinho, sem me consultar...

— Blá, blá, blá... — me interrompe, brincando com a minha


cara —, vai começar a tagarela! Vai começar! — ri, e assim

“discutimos” até cairmos no sono.


Acordo na madrugada sem saber o motivo, assustando-me

quando vejo Alejandro sentado na beira da cama, todo suado,


ofegante, já sei o que aconteceu.

— Meu amor... pesadelo de novo? — pergunto o abraçando,

sentindo as batidas do seu coração o estremecerem de dentro para


fora — Está tudo bem?

— Estou melhorando — arqueja, esse seu estado me dói


muito.

— Por que não me acordou?

— Não queria importuná-la.

— Alejandro...

— Já tomei uma decisão... vamos falar com o doutor García.

Vamos ver se ele consegue me fazer lembrar dessas merdas e

assim me livrar desses malditos pesadelos.

— Por que mudou de ideia?

— Porque estou cansado... de fugir — confessa entristecido,

tocando o meu coração. Coitadinho.

— Sim meu amor... não há mais porque fugir. Apoio a sua


decisão. Era tudo o que eu queria — puxo seu rosto e o beijo —,

estarei ao seu lado. Vai dar tudo certo.


— Obrigado, Mina... sem a sua presença... acho que não
conseguiria. Você é o meu motivo para lutar... a Alisa também. Te

amo.

— Te amo muito mais — declaro, nos beijamos novamente e

varamos a madrugada fazendo amor.

No outro dia à tarde, seguimos para a clínica e relatamos ao

psicólogo, que já é nosso bom amigo, sobre os pesadelos do

Alejandro.

— Então doutor, acha que tem alguma forma de me fazer

lembrar? — pergunta meu noivo, curioso e tenso.

— Sim, tem. Já ouviu falar em hipnose regressiva?

— Nunca — responde.

— É uma técnica muito utilizada para conseguir ter acesso a

situações do passado que estão enraizadas em seu inconsciente.


Dessa forma, podemos entender por que você sofre sempre com o

mesmo pesadelo. O grande objetivo é fazer com que o paciente


percorra memórias bem antigas.

— O senhor sabe fazer isso, doutor? — indago curiosa e sem

saber o motivo, apreensiva.


— Com excelente desempenho, eu diria — afirma, ajeitando os
óculos.

— Podemos começar agora? — Alejandro está mesmo


determinado, isso me enche de orgulho e ao mesmo tempo dá

medo.

— Imediatamente. Isso será interessante para eu tirar mais


algumas conclusões sobre o seu mutismo seletivo e o entenda

melhor.

— O que o senhor ainda não entende sobre mim?

— Acredito que o MS não é o único transtorno que o afeta. É

bem comum um paciente ter mais de uma fobia ou um distúrbio


acumulado em seu ser. Por tudo o que conversamos ao longo
desses meses de terapia, creio que a tragédia sobre a sua família

pode ter gerado também um estresse pós-traumático, ou... de


alguma forma rara, desencadeado o MS em você, mesmo que isso
não seja comum, como já lhe expliquei.

“A questão é, vocês nunca antes haviam comentado sobre


estes sonhos ou... pesadelos, então um novo tratamento para
acessar as suas lembranças antigas se torna agora ainda mais

importante. ”
Assim, após alguns minutos em que Ramon prepara o
ambiente para iniciarmos a sessão, Alejandro é instruído por ele a
tirar os sapatos, o blazer, afrouxar a gravata e deitar-se sobre o divã

confortável. O psicólogo senta-se ao seu lado na poltrona, enquanto


fico mais distante, os observando do sofá, de pernas e mãos

cruzadas, séria.

— Respire fundo, Alejandro — a voz do doutor é mansa,


profunda, calma, meu noivo o obedece —, inspire... e expire... bem
devagar. Puxa... e solta... assim. Foque em um ponto fixo, relaxe,

fique completamente calmo. Você está em um lugar seguro, com


pessoas de confiança, pode relaxar agora. Aqui não há estresse ou

pressão, só você... calmo... e relaxado.

“Você é o senhor dos seus pensamentos e recordações... o


controle da sua mente está em suas mãos... apenas você é capaz
de viajar para dentro de si mesmo... e é isso que irá fazer agora.

Contarei até dez, bem devagar, os seus olhos irão pesar até se
fecharem... então você retornará às suas lembranças. Dez... nove...

oito... sete... seis... cinco...”

À medida que o senhor vai contando, as pálpebras de


Alejandro vão se fechando vagarosamente, como se não pudessem
resistir e então, cair em um sono profundo. Seu rosto desaba
quando a contagem se encerra. Meu coração palpita, estou
preocupada, apreensiva.

— O que está vendo? — pergunta o homem.

— Estou com a minha mãe... e os meus irmãos... na rua — a


voz de Alejandro é baixa, rouca, meio sonolenta. Em seus lábios há

um sorriso pequenino, como se a memória que está vendo fosse


agradável.

— Pode me dizer quais dos seus irmãos estão contigo?

— Luna... e Juan — revela, me fazendo despertar e entender

que ele se refere à sua infância quando ainda não morava com os
tios.

— O que estão fazendo?

— Compras... posso sentir o cheiro dos tomates.

— Está se sentindo bem?

— Sim...

— Está feliz?

— Sim... Juan segura a minha mão... Luna está no colo da

nossa mãe.

— Gosta do Juan?
— Sim... eu o amo.

— Alguém está falando com você?

— Uma mulher... está perguntando meu nome... — o sorriso


dele morre, agora parece ficar um pouco desconfortável.

— Consegue respondê-la? — Ramon troca olhares comigo

rapidamente.

— Não... não consigo... a minha voz... a minha voz... não


consigo — geme, com dor.

— Tudo bem, tudo bem... está tudo bem. Respire fundo,

percorra um pouco mais por suas memórias, calmamente... deixe


fluir... abra as portas do seu passado bem devagar. O que acontece

agora?

— Minha mãe nos coloca para dormir... a mim e a Juan...

— Certo... continue.

— Ela vai embora... ficamos sozinhos — a respiração de

Alejandro começa a ficar acelerada —, alguém está chegando...


alguém... — ele mexe o rosto, ficando agoniado. Levanto
preocupada —, ele abriu a porta...

— Quem abriu a porta? Quem é?


— Não sei... — uma lágrima desce por sua face, sua
respiração passa a ficar ofegante.

— Por que está tão aflito?

— O meu irmão... está chorando... o homem está se

aproximando dele... — Alejandro aperta as bordas do divã, parece


estar sendo torturado. Tento me aproximar, mas Ramon ergue a
mão, ordenando que eu pare.

— O que o homem está fazendo com o seu irmão?

Alejandro soluça, em um pranto horrível. Isso me abala e


aterroriza por completo.

— Shhh... Faça silêncio... fique quietinho. Se falar eu te mato

— Alejandro treme desesperado, estou chorando também,


engolindo em seco sem saber o que fazer.

— Quem está dizendo isso? Quem, Alejandro?

— É... o nosso pai... não, pai! Deixa ele... deixe-o em paz! —


revela, fico abominada.

— O que ele está fazendo com o seu irmão?

Alejandro grunhe, inconsolável, apavorado! MEU DEUS!


— Está o machucando... para! Para, pai! Não... está o
machucando!

— Ele está abusando do Juan?

— Sim... por favor... não! Não! — Se contorce, não


conseguindo mais suportar, como se fosse explodir tamanha dor, as
veias da sua garganta bem aparentes — Juan... não! Não consigo!

Não consigo mais — se senta, destroçado, acordando.

— Fique calmo, nós estamos aqui, está tudo bem... tudo bem!

— Alejandro! — Não tenho como continuar me segurando e


corro até ele, o abraçando, tentando acalmá-lo. Seu coração

ribomba desenfreadamente, fico despedaçada por ele — Já


passou... já passou... está tudo bem!

Leva um bom tempo até que ele se reestruture, para que fique

reestabelecido. Sentamos lado a lado no sofá, diante de Ramon.


Alejandro agora bebe água, está bem mais calmo, porém com o
olhar distante, ainda perdido nas lembranças.

— Como eu desconfiava, tudo indica que o seu mutismo


seletivo é genético, você já o tinha antes de acontecer este fato
traumático, porém, acredito que essa experiência terrível,

infelizmente contribuiu para agravar ainda mais o seu estado e


despertar outras fobias ou transtornos que o afligiram ao longo da
vida. Fora isso, ainda temos a questão do incêndio, que se quiser,

podemos fazer mais uma regressão e tentar descobrir como


aconteceu...

— Não precisa... agora consigo lembrar de tudo — revela

Alejandro, surpreendendo-me. Mais uma lágrima escorre pesada


por sua bochecha —, na nossa casa não havia energia elétrica,
usávamos velas. Minha mãe flagrou... aquele monstro abusando do

meu irmão... na minha frente... e entrou em uma briga corporal com


ele... iniciando o incêndio por acidente. Juan tirou a mim e Luna da

casa e voltou para buscá-la, mas não conseguiu mais sair.

— Sinto muito — diz o psicólogo.

— Eu também sinto muito, Alejandro — choramingo


acariciando seu rosto, enquanto seu olhar continua longe, viajando

na imensidão do seu terrível passado.

— Existem várias formas de abuso, e quando seu pai fazia mal


ao seu irmão, consequentemente fazia a você também, pois você

era uma criança e assistir ao sofrimento de um ente querido com tão


pouca idade, ainda mais nessas circunstâncias, o afetou
gravemente.
Alejandro respira fundo, abalado.

— Lembro que... a minha vontade era de gritar... pedir socorro


para ajudá-lo, mas a minha voz... não saía — soluça ferido, me
cortando a alma. Dói muito testemunhá-lo assim —, eu sentia o

medo dele... a dor...

— É compreensível meu amigo. Mas agora já passou, e


podemos trabalhar com a terapia do EMDR, onde aplicamos formas

de fazê-lo superar o trauma.

— Não sei do que o senhor está falando, mas... se for para o


meu bem, quero muito.

— Faremos uma espécie de reciclagem das suas imagens,

emoções e sensações corporais. Mas não hoje, por hoje já basta.

— Obrigada por tudo, doutor. O senhor está fazendo uma


grande diferença na vida do meu noivo, não imagina o quanto —

agradeço-o.

— É verdade, a cada vez que venho aqui saio com um peso a


menos nas costas. Muito obrigado — revela Alejandro.

— Estou aqui para ajudar, e já os considero como grandes

amigos.

— Nós também o consideramos assim — sorrio, mais aliviada.


Algumas semanas se passam, eu e Alejandro chegamos à

conclusão que já esperamos demais para oficializar de vez a nossa


união e toda a família está empolgada com os preparativos para o
casamento.

Estou em uma loja de vestidos de noiva, usando um dos


vestidos mais belos que poderia usar em um momento tão especial
como este, especialmente desenhado para mim, por um estilista

renomado que, ao afinal, está dando os últimos retoques no tecido.

— Pronto... esplêndida! Esplêndida! — diz o homem, dando


alguns passos para trás e me observando, estou sobre um pequeno

altar circular, imóvel a vários minutos enquanto ele trabalhava —


Agora pode se olhar — me permite, então viro-me devagar,
observando a minha imagem refletida em um grande espelho.

— Aaah... nossa! Que sonho... — murmuro encantada,


percebendo o quanto a cor branca contrasta e embeleza ainda mais
o meu tom de pele. O vestido é lindo, a calda enorme, de mangas
longas transparentes com bordados em formato de flores, o decote
recatado, o brilho, a sofisticação.

Ouço o barulho de cortinas se abrindo, viro-me outra vez,

avistando mamãe, dona Alba e Luna boquiabertas em um sofá,


paralisadas com a minha imagem. As duas senhoras enchem os

olhos de lágrimas, já Luna é mais firme, levantando-se maravilhada.

— Meu Deus... até eu que nunca quis casar estou com uma
inveja... boa. Mina você está maravilhosa!

— Adorável... — comenta dona Alba, também se levantando.

— Filha... está impecável!

Emociono-me, ao mesmo tempo em que as três vêm até mim


depressa, encantadas, soltando gritinhos de empolgação, me
tocando, analisando cada detalha da obra de arte que está em meu

corpo.

Quando por fim nos damos por satisfeitas, saímos da loja


todas juntas, estamos no shopping.

— Agora sua mãe e eu, seguiremos para acertar outras


questões do casamento, e vocês? — Indaga dona Alba.

— Mina me acompanhará na escolha do meu vestido para este

evento do século! — afirma Luna, todas sorrimos.


— Nada de evento do século, aliás, eu e Alejandro já

comentamos que não queremos nada extravagante, só a família,


algo discreto — relembro.

— Vai repetir isso até quando, mocinha? — indaga dona Inês


— Nós já entendemos, não estamos divulgando e nem iremos expor

seu futuro marido a uma situação que o constranja, temos ciência


de tudo.

— Exatamente! — confirma minha sogra.

— Tudo bem, não está mais aqui quem falou, desculpa —


peço.

Nós trocamos beijinhos e elas se vão. Caminho com Luna de

braços dados, conversando bastante, ficamos íntimas ao longo


desse tempo. Ela enfim escolhe uma loja de vestidos de luxo para
eventos e entramos. Inicialmente, buscamos looks apenas para ela,

porém acabo me encantando por uma peça e vou ao provador.

Ao retornar, decido não levar o vestido, devolvendo-o para a


vendedora. Procuro por minha cunhada, a avistando a alguns

metros, conversando com um homem que mais parece um deus.


Não preciso me aproximar para notar o quanto é bonito, lembra até
o Super-Man.
Pela troca de olhares deles... o comportamento... parece até

que estão paquerando. Sorrio, adorando isso, pois depois de


Joaquin, Luna parece ter se afastado de vez de qualquer

possibilidade que a levasse ao amor. Resolvo me afastar,


caminhando para trás, mas acabo batendo em alguém, viro-me,
dando de cara com dois homens engravatados.

— Oh, desculpe, eu... — minha voz falha ao fitar bem o rosto

deles e reconhecê-los. São os mesmos que tentaram invadir a


minha casa há muitos meses atrás. O pior é que eles também

parecem me reconhecer.

Penso rápido e simplesmente abaixo a cabeça, tentando me


desviar dos brutamontes, porém um deles segura o meu braço.

— Espere aí — a voz grossa me faz ficar gelada.

— Largue-me! — desvencilho-me, dando um passo para trás


assustada, engolindo em seco. Eles fazem menção em avançar,
meu coração palpita...

— Tudo bem aqui? — indaga Luna, sua voz é como um grito

de esperança.

— Luna... — agarro seu braço — vamos embora!


— Dessa vez você não nos escapa, senhorita Pacheco.
Estamos te procurando há muito tempo e não iremos mais tolerar
que nos faça de idiotas, ainda mais quando o destino nos presenteia

com uma sorte tão grande assim. Não sabe com quem está
lidando...

— Quem é você para falar assim com ela? O que querem? —

Luna toma a frente da situação, defendendo-me.

— Nosso assunto não é com você, é com ela, não se meta —

diz o outro, em tom de ameaça, o sotaque turco ao fundo,


atrapalhando o espanhol.

— Mina, quem são eles? — Luna se volta para mim,

preocupada.

— Eu não sei... eles tentaram invadir a minha casa no ano


passado — fico aflita.

— Somos homens com quem o pai dela trabalhava. Fazemos


parte de uma família poderosa e o senhor Pacheco deixou uma
dívida conosco antes de falecer.

— Que tipo de família? — indago, já desconfiada.

— Não importa. O que importa é que temos documentos que


comprovam a dívida que seu pai nos deve. E essa dívida será
paga... de uma forma ou de outra — ameaça.

Luna ri, incrédula.

— É assim que resolvem os seus negócios? Que péssimo


comportamento! Deixem-me ver esses documentos! — ordena

firme, impressionando-me.

— Luna, o que está...? — Ela ergue a mão para mim,


impedindo-me de continuar.

Um dos homens retira o celular do bolso, mexe por um instante


e mostra a ela o que pediu. Minha cunhada lê os arquivos digitais,
prestando bem atenção.

— Se esta dívida for paga, vocês a deixam em paz? — Por


fim, pergunta.

— Para sempre — responde o mal-encarado.

— Tudo bem... eu assumo a dívida dela, posso pagar ainda

hoje por transferência, mas não sem a presença do meu advogado.

— Luna, está maluca?! — resmungo apreensiva — Não irei


permitir uma coisa dessas!!

— Sei o que estou fazendo, depois resolvemos isso entre nós


duas — cochicha em meu ouvido.
— Podemos esperar por seu advogado. Eu também sou
advogado, respondo por meu chefe.

— E onde está o seu chefe? — indaga Luna. O homem não

responde, apenas ri, irônico.

Alguns minutos se passam, estamos os quatro sentados em


um restaurante perto de onde nos encontramos por acaso. O

advogado de Luna chega, conversamos com ele primeiro em


particular e depois resolvemos tudo com os tais integrantes da tal
família. Luna assina um contrato, o outro advogado também e por
fim fica tudo certo, para o meu alívio.

Saímos de lá às pressas, e quando estamos no carro dela,


reclamo:

— Você é louca!

— Queria que eu fizesse o quê? Senti o cheiro do perigo


naqueles caras, se já tentaram invadir sua casa antes, agora é que
não iriam lhe deixar mais em paz. Não dá para fugir de gente como

eles.

— Sabem quem são? — fico curiosa.

— Mafiosos, com certeza.


— Sim... e turcos. Meu pai tinha negócio com eles,
infelizmente — digo, cabisbaixa.

— Já passou, Mina. Agora está tudo certo.

— Não está nada, agora estou lhe devendo esse dinheiro e...

— Teremos tempo para acertar isso. Só o que me deixou


intrigada foi, como eles te encontraram ali?

— Também pensei nisso, acho que não estavam me seguindo,


tenho para mim que foi um terrível... acaso — concluo abismada.

— Será? — Luna não consegue acreditar.

— Ele citou sobre destino e... sorte. Talvez por eu ter saído da

casa em que morava, acabaram perdendo o meu rastro.

— Mas não se preocupe, o contrato foi lido por meu advogado


e estamos muito bem respaldadas. Porém é bom ficarmos atentas.

Agora me diga, aonde vai descer? — Ela muda de assunto.

— Deixe-me na Javier, preciso falar com Alejandro — peço,


ainda desconfortável.

— Já vai contar tudo para ele? — fica irritada.

— Claro que não — minto, a verdade é que quero falar —, já


estava planejando passar lá mesmo e acertar algumas coisas do
casamento.

— Ah sim, tudo bem. Não vejo a hora desse casamento


acontecer logo, porque preciso sumir.

— Ainda não tirou da cabeça essa ideia louca de viajar?

— E nem vou, já estou de saco cheio de Madri, preciso


respirar novos ares.

Ela para o carro na grande empresa de sua família, onde nos


despedimos. Pego o elevador, subindo para o último andar, que é o
andar da presidência. Estranho quando não vejo a secretária em
sua mesa, como sempre. É melhor, assim não sou anunciada e
pego meu noivo de surpresa, se ele estiver lá dentro, óbvio, já que

esqueci de enviar mensagem avisando que viria.

Bato na porta rapidinho, abrindo-a, encontrando uma situação


estranha: Alejandro abraçado a uma mulher em lágrimas! Eles se

desgrudam quando percebem a minha presença, enquanto meu


ciúme sobe rápido e num nível desenfreado.

— O que está acontecendo aqui? — indago, adentrando e

encarando a belíssima mulher de longos cabelos castanhos lisos, os


olhos azuis, lembrando até... — Quem é você? — pergunto,
analisando-a da cabeça aos pés, sem amizade.
Ela observa o meu retrato abraçado à pequena sobre a mesa
do CEO, então finalmente me dá a devida atenção, respondendo:

— Sou Maite Pavón, mãe da Alisa.


ALEJANDRO JAVIER

O doutor Ramon está sendo um grande divisor de águas em


minha vida, cada centavo que lhe pago, é com imensa gratidão, pois

jamais imaginei que hoje eu conseguiria chegar aonde cheguei, falar


o quanto falei, o quanto estou falando.

É claro que o grupo a quem dirijo a minha voz ainda é muito

restrito, bem dentro do grupo familiar, dos íntimos. Tudo conquistado

há muito custo, com sessões cinco vezes por semana, persistência


e bastante paciência. Enfrentei monstros, fantasmas, bloqueios.

Pensei em desistir, chorei escondido de todos, até de Mina, mas no


fim respirei fundo e consegui seguir em frente.
A bailarina também foi essencial em tudo o que já conquistei

até aqui, ela sempre me acompanhando, estendendo-me a mão nos


momentos mais difíceis, apoiando-me. É incrível como depois dela,

não penso em outras, até deixar de visitar clubes privados deixei,

meu passado libertino simplesmente ficou para trás sem fazer falta
alguma.

A cada dia que passa, percebo que a amo mais, sinto-me mais
seguro para falar tudo a meu respeito, sem vontade alguma de

querer esconder nada, porque aprendi que quando me abro, retiro

um peso enorme das costas, e me abrir para a pessoa certa, que

não me julgou, não me estranhou e simplesmente aceitou-me.

Os meses de tratamento foram duros e cansativos, mas Mina


estava lá, incentivando-me dia a dia! As técnicas utilizadas pelo

psicólogo foram inovadoras e surpreendentes para mim, fazendo

com que eu me sentisse confortável para dirigir as palavras aos

meus familiares e amigos próximos.

Mas o mais chocante mesmo, foi a regressão! Voltar para o


meu passado, aprofundar-me e viajar dentro da minha própria

mente, me fez reviver dores terríveis dos anos de infância, sentir na

pele cada fio de terror. Porém, também foi esclarecedor, um alívio,


como se o monstro que havia pesando sobre as minhas costas,
fosse destruído de vez.

De repente não me sinto mais culpado ou com aquela

sensação de vazio, de dor, de sofrimento pelo desconhecido que

sempre me acompanhava. Foi libertador. Foi exatamente como Mina

disse que seria. Sua energia positiva transpassa para mim e me

move a fazer coisas que antes achava ser impossíveis.

Não me arrependo e tenho certeza de que não me

arrependerei de ter pedido a cacheada em casamento, fiz a escolha

certa, e por não precisar de mais tempo ou mais espera, decidi junto

com ela que chegou a hora de finalmente nos unirmos diante de

Deus.

Hoje estou me sentindo muito bem, desde a última sessão não

tenho mais pesadelos, o que me faz dormir melhor e

consequentemente melhora o meu humor. Assino alguns

documentos em minha sala, quando alguém bate e Joaquin entra.

— Bom dia — cumprimenta sério, diferentemente do homem


que sempre costuma entrar aqui sorridente. Apenas assinto,

fazendo que as suas sobrancelhas se ergam — Não... o que foi que

o doutor Ramon disse?


Respiro fundo e respondo, ainda me acostumando à esta nova

fase da minha vida:

— Bom dia, Joaquin... tudo bem? — Minha voz ainda sai um

pouco baixa.

— Agora sim, melhorou — ele senta diante de mim, está com


uma pasta nas mãos. O homem pensa um pouco, parece procurar

as palavras. Ele não costuma ser assim, sinto que tem alguma coisa
errada.

— Está tudo bem mesmo? — repito a pergunta, abandonando


de vez os documentos.

— Bem, Alejandro... vou ser direto e sem rodeios: terei que me

afastar da Javier — dispara. Franzo o cenho, realmente é um golpe,


não me imagino sem ele aqui. Apesar de seu cargo ser substituível,

criamos um laço, somos amigos há bastante tempo.

Fico mudo por alguns instantes, esperando que continue, mas

devido ao seu silêncio, inquiro?

— Em definitivo?

— Não... quer dizer, ainda não sei — nem ele mesmo parece
estar gostando da ideia.

— Está me preocupando, Joaquin.


— Não se preocupe, são problemas familiares que requerem a

minha presença.

— Nossa, é até estranho você falar de família, nunca


conversou muito comigo sobre isso. Às vezes até esqueço que tem

ascendentes.

— Eu também — afirma desagradado, coçando a barba

cerrada. Nossa, nunca parei para pensar nesta possibilidade. Será


que Joaquin não se dá bem com os seus parentes da mesma forma

que acontecia comigo pouco tempo atrás?

— Quer me contar alguma coisa a mais? Quer se abrir, amigo?


— proponho, notando seu desconforto em tocar no assunto.

— Não, agora não. Talvez um dia eu lhe conte tudo —


finalmente estica um sorriso.

— Tudo? — fico curioso — Que tanto mistério é esse?

— Nada demais, apenas problemas familiares, não me dou


bem com a minha família. Sempre te dei conselhos sobre a sua

relação com os seus parentes enquanto eu mesmo nunca segui isso


à risca. Enfim.

— Mas ficará para o meu casamento — lhe cobro.

— Tentarei vir a tempo.


— Está indo hoje? — ergo-me chocado. Ele sorri e se ergue
também, estendendo-me a mão.

— Isso é uma despedida, meu amigo. Realmente o que tenho


para resolver é urgente. Perdoe-me... também fui pego se surpresa.

Não o cumprimento, apenas atravesso a mesa, parando em

sua frente.

— Joaquin... preciso de você — confesso, quase murmurando

—, a minha voz ainda...

— A sua voz já voltou, meu amigo. Aliás, ela sempre esteve aí.
É questão de tempo até conseguir falar com todos desta empresa e

com o mundo à sua volta. Tenho certeza que a cada dia ficará ainda
melhor até vencer completamente seu mutismo seletivo — afirma,
com a mão sobre o meu ombro.

Fico sem palavras, tentando processar tanta informação.

Joaquin sorri largamente e me abraça, um abraço de despedida,


doído, ruim.

— Vai ficar tudo bem. Você é o grande Alejandro Javier, o


poderoso CEO, e nada irá impedi-lo de vencer, nem mesmo o

silêncio — afirma, incentivando-me como sempre, meu peito fica


apertado. Ele é o irmão que não tive. O homem caminha até a porta,
abrindo-a.

— Joaquin! — chamo uma última vez, ele me olha — Me liga


— peço, sorrindo.

— Mensagens nunca mais!

A porta se fecha, e me sinto completamente estranho, um

vazio. Nossa! Joaquin foi a minha voz durante muitos anos e agora,
simplesmente se foi. Dou um passo, pisando em algo diferente, olho

para baixo, avistando um envelope roxo. Pego-o, lendo na parte em

que indica o destinatário:

— Ao Príncipe Joaquin Hayser... Vergara? — Não compreendo

este último nome e muito menos o título do início. Caminho

depressa para fora do escritório, encontrando o homem se


despedindo de minha secretária, que chora enxugando os olhos

com um lencinho.

Acho que ele sempre foi a paixão não correspondida dela.


Mostro-lhe o envelope, coisa que o faz esbugalhar os olhos, se

aproximando rapidamente.

— Ah... deixei cair? — toma o papel de mim, sorrindo sem

graça, como se quisesse me ocultar esta informação.


— Que história é essa de príncipe? — estou curioso e

contrariado.

— Nada... uma brincadeira boba da minha família, um apelido

— afirma, mas ainda fico com um pé atrás.

— Mentindo para mim — observo perspicaz.

— Deixe de bobagens, Alejandro. Obrigado, tchau! — afasta-


se, sumindo dentro do elevador.

Miro a secretária, que suspira apaixonada, sem tirar os olhos


do caminho que o negro alto e musculoso seguiu. Joaquin deixa

suspiros por onde passa, é um homem de coração gigante. Sentirei

muita saudade.

A mulher me fita, engolindo em seco, enxugando os olhos

vermelhos. Faço um movimento com a mão, que traduz a minha

concessão em liberá-la para se recompor.

— Obrigada, chefe — agradece, pegando sua bolsa de lado,

afastando-se.

Suspiro e retorno para a minha sala, infeliz com a partida do

meu melhor amigo, tão repentina, tão rápida e misteriosa. Fico na

vidraça, observando o ambiente lá fora, com as mãos nos bolsos da


calça, até que ouço a porta se abrindo, saltos batendo. Penso ser a
secretária de volta, mas a voz que escuto arrepia-me

completamente por dentro:

— Alejandro?

Demoro para processar a informação que o meu cérebro me

passa. Não é possível...

— Sou eu — afirma Maite, momento em que finalmente me

viro para encará-la, bem lentamente, de olhos esbugalhados. É

como um fantasma que voltou para me assombrar —, calma por


favor, não fica nervoso. Não vim aqui para brigar.

Fico imóvel sem saber o que fazer, minha respiração


acelerando, as mãos fechando, já querendo suar. Ela fecha a porta

e dá um passo em minha direção, sinto seu movimento como uma

ameaça. Tento rapidamente lembrar dos treinos mentais que o


doutor Ramon fez comigo para que conseguisse manter a calma em

momentos de tensão.

Não posso fraquejar diante dela, de novo não! De certa forma


você sabia que este dia chegaria, Alejandro!

Fecho os olhos por um instante, respirando fundo.

— Por favor, não fique nervoso — sua voz é mansa, mas isso

me deixa ainda mais desconfiado. Parece que não mudou nada,


continua com a mesma beleza de antes —, não vim tentar nada de

mal contra você ou... contra a nossa filha — ergo a mão com ódio
de suas últimas palavras, a minha voz não sai —, tudo bem... a sua

filha. Foi você quem a criou mesmo, não é? — sorri sem humor.

Ainda bem que sabe.

Maite respira fundo e anda devagar até a poltrona, apoiando-

se nela, como se também precisasse de equilíbrio para se manter

de pé. Apoio uma mão discretamente na mesa, após dar alguns


passos cautelosos, com receio das minhas pernas fraquejarem.

Quero perguntar o motivo dela estar aqui e não conseguir isso, após

falar com as outras pessoas me traz de volta a sensação de


impotência.

— Deve estar se perguntando por que estou aqui após tanto

tempo. Não vim atrás de dinheiro como os meus pais fizeram, sem a
minha aprovação por sinal. Estou muito bem financeiramente, só

para que fique sabendo, mas... a situação é bem mais grave. Não

faz muito tempo que... descobri um câncer, já em estágio avançado.

Isso me choca, fico paralisado.

— Exatamente Alejandro, meu tempo de vida está acabando.


Recusei o tratamento, não quero me desgastar em quimioterapia.
Tive uma amiga que passou por isso e... foi terrível — confessa —,

eu vim aqui porque... sabendo que não viverei por muito tempo, de

repente a minha consciência bateu e... nasceu uma vontade enorme

de conhecer a Alisa.

Continuo não sabendo como reagir, fico petrificado.

— Sei que não tenho este direito, não serei hipócrita.

Realmente escolhi não ser mãe, escolhi não querer a vida que... o

destino... me proporcionou. Não que seja uma justificativa, mas

acho que naquela época tive... depressão pós-parto. De repente vi


tudo o que imaginei para mim desabando — engole em seco, os

olhos brilhando, lutando para conter as lágrimas. Ainda assim não

consigo me sentir tocado —, os planos para o futuro, longe dos pais


tóxicos. Consequentemente, perdi o amor que sentia por você e... —

desaba, deixando que as lágrimas fluam —, não consegui amar a

nossa filha. Devo ser algum tipo de monstro.

Ela enxuga os olhos rapidamente, engolindo em seco se

recompondo. Tudo isso parece um pesadelo. Então foca no porta-

retratos sobre a minha escrivaninha, onde há a linda foto de Mina


agarrada à pequena.
— É ela? É a Alisa? — caminha em direção à imagem, mas

invisto rapidamente, segurando seu pulso, impedindo-a de tocar —


Alejandro... por favor... — abraça-me, pegando-me desprevenido —,

não deveria te pedir perdão, porque sei que nunca vai me perdoar

— tento afastar meu rosto do seu, tento me desgrudar de seu corpo,

mas novamente sou atacado pela ansiedade —, mas me perdoe,


por favor... e me deixe ver a menina, mesmo que...

Sua voz falha quando ouvimos alguém bater na porta, e para o


meu desespero, Mina entra, nos flagrando nesta situação tão...

suspeita. Só assim consigo reagir e me afastar da mulher que me

causou tanto mal, ela também dá um passo para trás.

— O que está acontecendo aqui? — indaga a morena,

fuzilando Maite. Isso não vai prestar — Quem é você? — está

exalando ciúmes.

Minha ex novamente observa o retrato sobre a mesa,

percebendo que a moça que está com a Alisa no colo é a mesma


que agora está entre nós com intimidade suficiente para lhe fazer a

pergunta que fez. Logo, a mulher percebe que Mina é importante,

saca que está comigo.


— Sou Maite Pavón, mãe da Alisa — responde, analisando a
cacheada da cabeça aos pés —, e você, quem é?

— Mina Pacheco, noiva do Alejandro — me fita com raiva.


Conheço esse seu sentimento, não é nada legal.

— Noiva? — Maite fica chocada.

— Aham — confirma, de nariz em pé, ela é menor que Maite,

que tem corpo de modelo.

Maite suspira, se recompondo, enxugando as lágrimas

discretamente.

— Desculpe por...

— Estar abraçando o meu noivo? Não desculpo! — dispara, na

defensiva. Nossa! Tento tocar a bailarina, mas ela não permite me


fuzilando também, mas logo voltando a focar na mulher.

— Não é o que está pensando... — Maite se defende, tenho


vontade de falar, mas não consigo. Outra vez não consigo! Puta que

pariu!

— É bom que não seja mesmo, porque já aviso logo que não
tenho psicológico para isso! Se ponha no meu lugar que vai

perceber que não é nada legal sair da loja onde estava testando seu
vestido de noiva e chegar na sala do seu namorado, encontrando a
ex dele agarrada em seu pescoço! — aumenta voz já ficando louca.

Ponho a mão na testa, acho que vou passar mal.

— Quando você estiver mais calma, talvez tente se pôr no meu

lugar também...

— Ah, vai ser muito difícil, porque eu jamais chegaria


abraçando seu companheiro! Jamais!

Maite respira fundo, tentando não perder a compostura. Ela

com certeza não esperava encontrar uma leoa como essa que tenho
aqui.

— Depois entro em contato, Alejandro. Já vou indo — se

despede, saindo da sala.

Respiro aliviado quando Maite finalmente desaparece, mas por


pouco tempo, pois logo recebo um tapa no rosto de uma Mina

emputecida.

— Descarado!! — exclama — Quê que essa mulher estava


fazendo aqui, hein?!! — Os seus olhos já querem chorar de fúria.

Fico chocado por ela ter me batido. Quem pensa que é?? Fico

puto também, respirando fundo, falando sem perceber:

— Ficou maluca? — Minha voz sai em tom de indignação.


— Meu Deus, não mereço um dia como este!! Não mereço,
não mereço!! — chora, enfiando as mãos na cabeleira.

— Nunca mais me bata, está entendendo? Nunca... — recebo

outro tabefe antes mesmo de conseguir terminar.

— Como deixou aquela mulher te abraçar?! É você quem quer


me enlouquecer, Alejandro! Não sabe o susto que tomei hoje e

agora isso?!

— Acha que foi fácil para mim também?! Será que dá para
pensar um pouco, sua louca?! — aumento o tom gradativamente,

parece até libertador poder gritar com alguém.

— Não quero pensar! Não quero você agarrado com ela... —


sua voz falha, os seus olhos pesam, ela fica tonta, me preocupando.

— Mina! — A seguro antes que vá ao chão, querendo

desmaiar — MINA!! — exclamo aterrorizado. Não, meu Deus! De


novo, não! De novo, não!

— Foi só uma tontura... estou bem — diz com a voz mole, pelo

menos está de olhos abertos.

— Não está nada bem! Está cansada de saber que não pode
se estressar! — fico louco — Vamos ao médico agora!! — pego ela

no colo, saindo depressa do escritório.


Horas mais tarde, estou preocupado, andando de um lado para
outro em um dos apartamentos do hospital, enquanto Mina me

observa da cama. Ela tenta se sentar, mas tento impedi-la.

— Deite-se...

— Já estou bem, Alejandro, foi só uma tontura — reclama, não

me obedecendo, me irritando. Ah! Como é teimosa!

— Quem deve dizer isso é o médico, assim que ele chegar


com os seus exames. E se for alguma coisa relacionada ao trauma
que teve na cabeça? Se fosse menos esquentada e me perguntasse

as coisas antes de sair me agredindo, talvez não estivéssemos aqui.

— Queria ver se fosse você me vendo agarrada com meu ex


— ela simplesmente não esquece disso.

— Não sou ciumento — defendo-me.

— Ah, não! Nenhum pouco, imagina...

— A Maite veio me dizer que está prestes a morrer, e que


antes disso quer conhecer a Alisa — disparo sério, para ver se ela

entende de vez.

Mina esbugalha os olhos, paralisando.

— Sério? — concordo — Meu Deus? Mas o que ela tem?


— Segundo ela, câncer em estágio avançado. Ela se

emocionou e me abraçou, não queria que me tocasse, porém não


consegui impedir.

Mina finalmente deixa o nariz empinado de lado, se

esmorecendo e percebendo que fez feio.

— Alejandro... — sua voz frágil é interrompida quando o


médico bate e entra.

O encaro com ansiedade, engolindo em seco, não estou

preparado para passar por tudo aquilo de novo.

— E então, doutor? — indaga Mina ansiosa, se preocupando


um pouco mais agora.

— Vocês terão um filho — dispara o homem, nos


surpreendendo.

— O... quê? — Mina fica travada sem acreditar, também estou


incrédulo.

— Estão grávidos. O que a senhorita teve foi apenas uma


típica tontura de gravidez. Já está com dois meses e meio.

— Nossa... tudo isso? Como não desconfiei? — Mina abraça o

próprio ventre, se dando conta da sua condição.


Aproximo-me dela, tocando seu ombro, também assimilando a
notícia. Nós trocamos olhares, sorrio gostando de saber que serei
pai outra vez, mesmo que inesperadamente.

— Vou dar um tempo a vocês — o homem de jaleco sai do


quarto, nos deixando sozinhos.

Mina respira fundo.

— Eu vou ser mãe... — afirma, como se falasse para si mesma

ouvir.

— Sim... me dará um filho... ou uma filha, não sabemos —


sorrio, acariciando a sua barriga, ficando mais contente a cada

segundo que passa.

— Você está feliz? — questiona apreensiva, pensando besteira


como sempre.

— É claro que sim... fomos pegos de surpresa, isso é certo,

mas... nossa, você vai me dar um filho, meu amor — puxo-a pelo
rosto, ela levanta e nos beijamos docemente, calmamente.

Mina chora, deixando as lágrimas fluírem. A abraço forte,

sentindo o seu cheiro, seu perfume. Percebo que ela está sem
palavras, então lembro de conversas que tivemos e meu coração
fica gelado. Seguro sua face entre as mãos e digo:
— Sei que não queríamos isso agora, sei que você tinha
planos para o balé, mas aconteceu. Por favor... vamos aceitar, por

favor não recuse essa bênção — tenho medo dela agir como Maite,
realmente tenho.

— Claro que não, seu bobo! — choraminga — Jamais seria


capaz disso, estou assimilando... é tudo novo para mim, mas eu te

amo e vou amar essa criança muito mais.

Sorrio emocionado.

— Isso não fazia parte dos meus planos agora, pretendo

conquistar a minha independência financeira, já dialogamos muito


sobre isso, você sabe...

— Eu sei, e te apoio totalmente, sempre apoiei, mas agora...

temos uma prioridade. Tenho a consciência tranquila que não foi por
mal...

— Claro que não! Devo ter esquecido de tomar os


comprimidos do anticoncepcional corretamente outra vez — já faz

meses que nos prevenimos, porém, Mina não se atentava bem em


se proteger certinho. Algumas vezes esquecia.

— Não importa, o que importa é que estou muito feliz! — A

agarro, tirando-a do chão.


— Tem certeza? Você nunca disse que queria ser pai outra vez
— faz bico, tristonha, cheia de receios, encantando-me.

— Porque era algo que não cogitava, meu amor. Realmente


não cogitava, a minha primeira experiência com a paternidade, no
início não foi nada legal, você sabe.

— É por isso que temo que...

— Não... contigo é diferente, você é totalmente diferente, Mina.


É tudo que sonhei para mim, já te falei. É tudo o que quero... é o

amor da minha vida. É a minha tagarela ciumenta e agora mamãe...


minha mamãe linda! — A beijo várias vezes, até perdermos o ar.

Ao anoitecer, quando estamos na cama agarradinhos, após um


dia cheio de reviravoltas e descobertas, afirmo:

— Agora vamos ter que acelerar o casamento, precisaremos


focar na sua gestação daqui para frente.

A cacheada respira fundo:

— Como sua família irá reagir quando descobrirem? — fica

curiosa.

— Os meus pais vão adorar, sempre exigiram dos filhos mais


netos. Não se preocupe com isso, meu amor. Não se preocupe com
o que os outros vão pensar, o importante somos nós... a Alisa... e

essa criança que está por vir.

— Eu estava pensando aqui... — sorri —, que tal deixarmos


para descobrir o sexo do bebê apenas depois do nascimento?

— Por quê? — pergunto sorrindo.

— Ah, não sei. Uma vez assisti uma série em que o casal fez
isso e achei muito legal.

— Por mim, tudo bem. Se conseguirmos segurar a curiosidade

— a puxo para mim e a beijo —, a nossa família ficará maior. É


incrível como você está me dando tudo muito além do que mereço.

— Você merece tudo o que está acontecendo, Alejandro.

Tudo. E fico feliz por ver a mim e a essa criança como bênçãos —
acaricia meu rosto, beijando-me. Então fica séria. —, e a Maite?

Suspiro, com um incômodo por dentro só de lembrar.

— Quero mantê-la o máximo possível longe da minha filha —

declaro.

— Mas e se for verdade tudo o que ela disse? — Mina está


curiosa.

— Mesmo que seja — afirmo frio.


— Não... não pode ser assim. Talvez seja a última chance de
ela conhecer a menina.

— Ela teve muitas chances, Mina. Durante estes sete anos,

ela...

— Eu sei, por favor, não quero discutir sobre isso. É só que...

— Vamos focar no nosso futuro. Não conte nada disso a Alisa.

— Claro que não, quem deve fazer isso é você.

— Então tudo bem — a beijo, tentando encerrar o assunto.

Ouvimos a porta do quarto abrir e o rostinho lindo da minha


pequena aparecer.

— Posso dormir com vocês hoje? Tive um pesadelo — sua voz

fofa e temerosa me faz querê-la agarrada a mim.

— Vem cá, pequena — a chamo, Mina lhe estende os braços,


pegando-a primeiro no colo até que a ajeitamos entre nós. Alisa

sorri, parece até ter adivinhado que estávamos conversando a


respeito dela, ou da mãe dela —, temos uma novidade para lhe
contar.

— O quê? — fica curiosa. Troco olhares com Mina.

— Será a primeira a saber — afirma a bailarina.


— O que é?

— Você vai ganhar um irmãozinho — declaro.

— Ou uma irmãzinha — completa a morena.

— Como assim? — Alisa ainda não entendeu — Mina está


grávida? — fica surpresa.

— Aham — confirma, nós todos sorrimos.

— Que legal! Vou ganhar uma irmãzinha!! Que legal!! É

verdade mesmo? — Ainda não acredita, realmente é inacreditável.

— Sim, é claro que é verdade! — confirmo, vendo a princesa


levantar e começar a pular no colchão, comemorando.

— Que legal! Que legal! Vou contar histórias para ela! Pentear
o cabelo dela! Isso! Isso! — saltita, animada demais.

A alegria não vai embora, nem quando dormimos.

Alguns dias depois, após contarmos sobre a gravidez para


toda a família, adiantamos a data do casamento, fazendo com que

minha mãe e dona Inês corram contra o tempo, mas nem tanto,
tendo em vista que o meu pedido de discrição foi muito bem

atendido, estando na cerimônia apenas a família e amigos íntimos.


No total não ultrapassa nem trinta pessoas.

Estou no altar, mais nervoso do que imaginei que estaria,


mesmo com poucas pessoas me encarando. Porém, troco olhares

com o doutor Ramon, que me transpassa calma. Ele está sentado


em um dos bancos da imensa igreja, ao lado dos demais

convidados.

O espaço está muito bem ornamentado, com muitas Gazânias


e outras flores por todos os lados, coisa da dona Alba e minha
sogra. Quando as portas da igreja se abrem, todos se levantam, a

marcha nupcial começa a tocar e meu olhar fixa apenas e


exclusivamente na minha linda mulher que se aproxima, de braços

dados com a mãe, sorrindo.

Sorrio para ela também, a energia do amor percorre o ar entre


a gente, mesmo que os nossos corpos ainda estejam bem distantes
um do outro. Alisa vem na frente, espalhando pétalas de rosas pelo

chão, como uma princesa, com um sorriso largo no rosto, contente


por este momento tão especial.
As duas mulheres da minha vida como sempre fazendo o meu

coração bater mais forte. Elas vêm, um passo de cada vez, a minha
sogra tão emocionada quanto elas.

Passa um filme por minha cabeça, desde quando nos

encontramos naquela noite chuvosa, quando quase a atropelei até


vê-la dançando na escola de balé. Recordo dos desentendimentos,
da sua teimosia e euforia, da nossa primeira vez na cama, de toda a

felicidade que Minha Pacheco trouxe para mim sem pedir nada em
troca.

Ela está simplesmente radiante, muito mais do que um dia já

esteve, belíssima em seu vestido de noiva. A única palavra que


pode definir este momento é paz. Mina causa em mim o efeito de
sempre, expulsando o nervosismo, fazendo o mal ir embora e ficar

apenas a calmaria, sem tempestades.

Quem diria que a bailarina tagarela venceria o silêncio do


CEO. Ela venceu tudo, mas de forma positiva. Foi madura ao ponto

de me fazer pôr os pés no chão e enxergar que, apesar de mais


velho, ainda precisava amadurecer também.

Beijo a Alisa na testa após abraçá-la, me toca o coração ver

que está chorando. Com tanta pouca idade, já sentindo e


entendendo tudo.

— Obrigada por isso papai, sempre quis ter uma mãe, e a


Mina é a melhor mãe do mundo — cochicha em meu ouvido,

fazendo-me ter ainda mais certeza que fiz a escolha certa.

A beijo outra vez, então ela segue para onde a avó está,
ficando ao seu lado. Dona Alba chora, Luna, Pepita, Antonita, Dona
Isabel, praticamente todas as mulheres se derramam em lágrimas.
Os homens me fitam com orgulho, principalmente meu pai, Mateo e

Esteban. Todos sabem tudo o que passei e vivi para finalmente


estar neste lugar de homem feliz e apaixonado. Sinto muita falta de
Joaquin, ele ligou avisando que realmente não poderia vir.

Dona Inês finalmente me entrega Mina.

— Não preciso dizer mais nada, sei que cuidará muito bem
dela — afirma, enxugando as lágrimas com um lenço, afastando-se.

Minha mão segura a da minha amada. É tanto sentimento


envolvido enquanto miramos um ao outro, tanta coisa boa e
pacífica, que mal sei descrever. Beijo sua testa, em sinal de

respeito, com um embevecimento que não cabe no peito.

— Eu te amo — ela sussurra em meu ouvido, sorrio. É o meu


melhor dia.
Todos se sentam, o padre começa a cerimônia, fazendo um
discurso lindo:

— Eu sempre procuro conhecer as histórias dos casais antes


de celebrar as uniões, e posso dizer, que hoje é um casamento
muito especial, de um homem e uma mulher com jornadas fortes,
cheias de dores, mas também de amor, superação, persistência e
principalmente... resiliência.

“Mina... Alejandro, hoje, diante de Deus, vocês se tornarão um


só, deixarão para trás de vez todo o sofrimento pelo qual passaram
e caminharão juntos rumo não apenas à felicidade, mas também à

novas barreiras, acertos e desacertos... desafios, porque é assim a


vida, instável. Quando não há qualquer coisa que possa nos
balançar, um obstáculo..., é porque já não estamos mais aqui, mas
sim com o grande e poderoso Deus.

A história de vocês é fascinante e deve perdurar ainda por


muuuito tempo. As lágrimas se transformaram em rios de amores, a
dor... em cura, o sofrimento... em superação. O silêncio finalmente
sucumbiu ao som e à voz de uma bailarina tagarela.

A partir de agora, Mina será a voz de Alejandro como


Alejandro será a voz de Mina. As dificuldades e conquistas serão
compartilhadas pelos dois e superadas mais uma vez. Sempre há
um novo amanhã para aqueles que não desistem. Se tivessem
desistido, não estariam aqui, se o sentimento fosse frágil, também
não estariam aqui. O amor é capaz de mudar o mundo, meus caros,
e mudar pessoas. Hoje celebramos o amor, nada é maior que ele. ”

O homem respira fundo, todos foram tocados por suas lindas


palavras.

— Mina Pacheco, aceita Alejandro Javier como o seu legítimo


esposo, para amá-lo e respeitá-lo, na saúde e na doença, na
riqueza e na pobreza, até que a morte os separe?

— Aceito — Ela sorri após responder, pegando a aliança que


Alisa traz dentro de uma cestinha com almofadas e pondo em meu
dedo.

— Alejandro Javier, aceita Mina Pacheco como a sua legítima


esposa, para amá-la e respeitá-la, na saúde e na doença, na
riqueza e na pobreza, até que a morte os separe?

Respiro fundo, encarando o microfone que o padre põe


próximo à minha boca. Miro todos me observando, esperando pelo
grande momento de me verem falando em “público” pela primeira
vez, me preparei tanto para isso. É uma simples palavra, Alejandro,
só uma.

Meu coração acelera, a ansiedade faiscando em meu âmago.


Os segundos passam, parecem uma eternidade, chego a engolir em
seco, encarando os olhos brilhantes da morena que me esperam e

me incentivam.


ALEJANDRO JAVIER

— Aceito — finalmente respondo, para a felicidade geral.


Todos batem palmas no mesmo instante, Mina me fita com um

orgulho inabalável, meu coração se reconforta, a calmaria vem, o


nervosismo indo embora. Consegui!

— Então... pode beijar a noiva. E sejam felizes para todo o

sempre — afirma o padre.

Troco sorrisos com o amor da minha vida, seguro seu rosto

entre as mãos e a puxo para um beijo comportado, onde nossos


lábios se misturam com delicadeza. Minha palma afaga seu ventre,

onde está o nosso bebê. Os convidados se derretem quando me


agacho e beijo a sua barriga, pegando todos de surpresa, inclusive

Mina.

Os flashes nos cercam, é um momento único nas nossas

vidas. A beijo na boca por uma última vez, seguro a sua mão e
cochicho em seu ouvido:

— Agora você é minha por toda a eternidade.

— Digo o mesmo, Senhor Silêncio. Ou agora seria... Senhor

Falante? — sussurra de volta, piscando.

— Vai ver o que vou falar quando estivermos dentro do quarto


— prometo, com um olhar indecente, ela me fita do mesmo jeito.

O pessoal se organiza e, ao saímos da igreja, somos


banhados por chuva de arroz. O tempo parece correr em câmera

lenta agora, os gritos e desejos de felicidade... todos os sorrisos... o

amor... afeto... carinho e mais um misto de emoções explodindo

como fogos de artifício ao nosso redor.

Entramos no carro onde Diogo já nos espera, e nos encaminha

diretamente para a cobertura, para tomarmos banho, trocarmos de

roupa e seguirmos até o aeroporto. Optamos por não fazer festa,

evitando aglomerações de pessoas ao meu redor, pois ainda não


gosto, ainda me deixa ansioso, também porque não fazemos
questão. Os nossos momentos são nossos e de mais ninguém.

Próxima parada: Paris... outra vez. Mina e eu, chegamos em

um consenso, a cidade luz realmente chama a nossa atenção. Ela

estava com saudades e eu nunca fui lá acompanhado. Viajamos no

meu jatinho particular, durante o percurso dormimos um pouco para

descansar, mas pousamos ao pôr do sol.

Dessa vez deixei o Prince de Galles de lado e resolvi optar por

reservas no Shangri-La, um hotel palácio inscrito na lista dos

monumentos históricos da França, que se encontra localizado em

frente ao rio Sena, voltado para a Torre Eiffel. A nossa suíte tem

visão exclusiva e deslumbrante para ela, defronte para toda a sua


imponência e magnitude, que fica no centro da beleza iluminada da

cidade.

Quando entramos no quarto, nos deparamos com uma

decoração em tom de linho, no estilo imperial europeu, um primor!

Temos uma sala de estar separada com mesa de trabalho e um

banheiro revestido em mármore com piso aquecido, banheira


separada, chuveiro com efeito de chuva e produtos de banho da

Guerlain. Os móveis são feitos sob medida com acabamento de

cristal, tem até um cofre com capacidade para um laptop.


Mina suspira com tanta riqueza, cruzando as mãos, andando

pelo cômodo encantada, observando tudo com atenção, chegando a


girar tamanho deslumbramento enquanto fecho a porta. As nossas

malas já estão aqui.

A cacheada sorri para mim, adorando, então segue para a

varanda, ultrapassando as portas duplas e sendo arrebatada pela


visão de Paris à noite, principalmente da Torre, que brilha

intensamente, bem perto de nós, chamando a nossa atenção. Há


uma mesa pequena e redonda recheada de frutas e vinho, nos

esperando.

Mina põe as mãos sobre o guarda-corpo e suspira outra vez,

maravilhada. Venho por trás, a abraço forte, grudando os nossos


corpos.

— Como eu estava com saudades daqui — confessa

emocionada, sua voz sai quebrada.

— Ça vous a plu, mon amour? — Pergunto em francês se ela

gostou.

A morena vira, ficando de frente para mim, presa em meus


braços.
— Est-Ce que tu parles français! — Ela se dá conta de que sei

falar em francês, coisa que visivelmente a enche de orgulho.

— Acho que sei falar outras línguas também, a vida toda


convivi com muitas pessoas... de vários lugares diferentes...

também falava sozinho de vez em quando. Como sabe, sempre


apreciei o francês.

O vento sopra levemente sobre nós, deixando o momento


ainda mais romântico, enquanto os globos da bailarina brilham,

aprofundando-se na minha imagem por alguns segundos de


silêncio. Os fios cacheados maneando por seu rosto, a tornando

uma beldade.

— No que está pensando? — murmuro, escorregando os

dedos por sua face angelical.

— Em como você me faz feliz, Alejandro — diz, deixando uma


lágrima descer, contente.

Respiro fundo, e digo apaixonado:

— Só descobri a felicidade... quando passei a amar você —


declaro rouco, sincero. Ela sorri, com os antebraços em volta do

meu pescoço.
— Sabe quando passei a te amar? — Sua pergunta me
surpreende.

— Hmmm, quando me viu à primeira vez? — A provoco.

— Não, seu convencido — sorrimos — foi quando me ajudou


no hotel... — sua voz falha, mais lágrimas descem só de lembrar.

— Sabe quando passei a amar você? — faço carícias em suas


bochechas, enxugando as suas lágrimas.

— Quando me viu dançar?

— Não... foi quando me falou todos aqueles impropérios em

sua defesa e na defesa da Alisa. Quando me fez perceber o


péssimo pai que eu era e o quanto precisava melhorar.

— Para, você não era um péssimo pai.

— Mas também não era o melhor.

— Hoje é tudo de bom, o melhor de todos. O meu herói... meu


jardineiro.

Franzo a testa.

— Jardineiro? — Fico confuso. Mina gargalha, jogando a


cabeça para trás, adoro quando faz isso, agora não me preocupo

mais, as suas enxaquecas foram embora faz tempo.


— É uma longa história, deixemos isso para lá — diz, me
beijando. Os nossos lábios se misturam por um longo tempo, até
perdermos o fôlego —, e agora... o que iremos fazer? — Me fita

saliente.

— Podemos beber ou... foder. Ou os dois ao mesmo tempo —


respondo devasso, sentindo o pau latejar com fervor.

— É...? Como seria isso? Me mostra — pede, com a voz

manhosa de menina safada, que me deixa louco!

Subo a mão por suas costas, enfiando-a por suas madeixas e

segurando firme um punhado junto à sua nuca, puxando, fazendo-a

erguer o rosto com um gemido, ao mesmo tempo que aperto sua


bunda. Miro sua garganta de modo perigoso, rastejando a língua da

base até sua orelha, onde rosno, imoral:

— Vou te foder tanto...

Mina arqueja excitada, de olhos fechados arranhando as

minhas costas, respondendo:

— Então me foda, Alejandro... foda! Eu sou toda sua... minha

boceta é só sua...

Espalmo sua nádega ao ouvi-la, ela geme mais alto.


— Cadela... — mordisco seu lóbulo, depois seu ombro,

puxando as alças do seu vestido preto, deixando-o ir ao chão, leve,


rápido. Mina olha em volta, temendo que sejamos vistos, mas é

exatamente isso que me excita... o perigo.

Lambo sua bochecha, capturando a sua atenção, as palmas

grudadas nas bandas do seu bumbum, segurando-as com firmeza e

poder, mostrando posse, obsessão. Abro-as, escorregando o

indicador por dentro da peça minúscula enfiada em seu meio. Toco


seu cuzinho, está muito quente, piscando, pegando fogo.

A morena vai se libertando, roçando as unhas em minha


cabeça, me beijando, os nossos lábios se aprofundando uns nos

outros. Ela me morde, me provoca, erguendo uma perna, então a

pego no colo, dando-lhe mais um tapa na bunda, fazendo sua pele

vibrar, marcar, arder.

Mina rebola os quadris contra o volume em meu centro,

sentindo minha ereção poderosa, inflamada! Sustento-a apenas em


um braço, usando o outro para criar espaço na mesa, tirando os

objetos de perto, os empilhando no canto, até que a sento na beira.

Miro ao redor, a cidade continua em movimento. Apago as luzes da


varanda, para termos um pouco mais de privacidade, porém

continuando com o doce sabor da adrenalina nos cercando.


Fico entre as coxas da bailarina, nos beijamos novamente

enquanto retiro seu sutiã e o jogo para longe. Em seguida, apalpo

as suas coxas, retirando a sua calcinha, tendo-a completamente nua


e excitada diante de mim, com a Torre Eiffel ao fundo, tornando a

minha visão numa verdadeira paisagem, uma obra rara.

Pego a garrafa de vinho que já está aberta e derramo um


pouco no vão dos seus seios, lambendo sua pele, o líquido desce

até molhar a sua vulva, fazendo-a estremecer de tesão. Lambo sua

pele por onde molhou, sensual... libidinoso... abaixando-me,


escorregando os lábios por seu ventre até dar uma lambida servida

em seu clitóris com o doce sabor da bebida.

— Aaar... — mia enfeitiçada!

Subo, voltando a ficar de pé, chupando os seus lábios em um

beijo, segurando sua mão e chupando os seus dedos. Puxo uma


cadeira, sentando-me à sua frente.

— Masturbe-se para mim — ordeno, retirando o cinto da calça,

abrindo a braguilha e pondo o pau para fora, duro... pungente...


queimando, com a ponta lubrificada do pré-gozo.

Mina leva os dedos molhados até seu clitóris, fechando os


olhos, se tocando.
— Abra mais as pernas — mando e ela obedece, se

arreganhando toda em cima da mesa, se tornando meu prato


principal, acelerando os movimentos que faz em si mesma.

A acompanho, tomando mais um gole do vinho, levando a


garrafa à boca. Ponho-a no chão, ao meu lado, e cuspo sobre a

cabeça massuda do meu mastro, lambuzando-o inteiro,

escorregando a palma por seu corpo robusto e repleto de veias bem

aparentes. Ficamos nos assistindo, nos satisfazendo com a imagem


um do outro se dando prazer, ao ar livre, como já fizemos tantas

vezes, mas que sempre parece a primeira vez.

Mordo o lábio inferior, carregado de luxúria, fascinado por essa

mulher, sua imagem me tira o equilíbrio, me entorpece. Ela queima,

rebolando devagarinho enquanto brinca com sua intimidade,

safada... libidinosa, gemendo ao me ver se masturbando, ela adora


isso.

Não podendo aguentar mais, pede arrego e desce da mesa,


vindo em minha direção com atitude, faminta. Mina ajoelha-se entre

as minhas coxas e enfia meu pau em sua boquinha carnuda, ávida,

o engolindo até a metade de uma só vez, arrancando-me gemidos

guturais. Ao longo do tempo em que estamos juntos, ela aprendeu


bastante comigo, se tornando uma experiente parceira de cama.
Deliro quando a vejo resvalar os lábios pelo corpo do meu

mastro até a ponta, onde provoca com a língua na minha fenda,

causando-me uma cócega boa, torturante!

— HMMM... — rujo enlouquecido. Ela pega a garrafa e

derrama um pouco de vinho sobre mim, voltando a mamar com

força.

Seguro a sua cabeça com as duas mãos e movimento os

quadris, os nossos movimentos em sincronia, fazendo o oral

acontecer magicamente, loucamente. Mina me fita enquanto me


chupa, isso é o paraíso! Ela se desafia, engolindo-me além do limite,

sinto-me afundando em sua garganta.

A morena para por um instante, respirando apenas pelo nariz,

sua saliva molhando toda a minha extensão. Sua boca me suga um

pouco mais, entro até os últimos centímetros, até os seus lábios

tocarem a base, o meu púbis. É fenomenal, me faz quase gritar!

Então a puxo pelo cabelo, com rapidez, com fogo. A morena

se articula habilmente e senta no meu colo, fazendo-me ir fundo em


suas entranhas, meu pau todo dentro da sua bocetinha, abrindo-a

inteira. A beijo com furor, com as mãos em sua bunda redonda,

durinha, fervente. A mulher me morde e passa a rebolar, fodendo!


Entramos em um sexo selvagem, ardente, infernal! Nos

conectamos de forma divina, é absurdo, abissal, devastador. A


bailarina quica, sentando com força, um golpe atrás do outro,

fazendo barulho, os nossos centros se fundindo, os nossos corpos

se tornando uma coisa só, evoluindo.

Ela ergue o rosto, gemendo cada vez mais alto, sentindo o

orgasmo vindo com força. Chupo os seus mamilos, abocanhando-

os, arrastando os dentes em sua pele arrepiada, dando-lhe mais


tapas nas nádegas e contribuindo para bagunçá-la inteira por

dentro. Mina me agarra forte, afogando meu rosto contra seu busto,

grunhindo, gozando, repleta de lubricidade.

Deixo-a esvair, extravasar em embevecimento, ofegante, ainda

estou potentemente duro em seu interior, sendo molhado por seus

fluidos. Ergo-me com ela no colo, beijando-a, entrando no quarto, os


antebraços abaixo de suas coxas, sustentando seu peso leve e

servindo para fazer os movimentos que começo a todo gás,

comendo-a assim, socando fundo, poderoso, feito um garanhão!

Mina fica alucinada e goza outra vez, expulsando o meu

caralho para fora de sua boceta, minha boca ofega contra a sua, os

nossos olhares se encontram. A jogo na cama, retirando a roupa,


ainda faminto, querendo transar a noite toda. Ela já sabe como me
agradar e logo fica de quatro, arrebitando o bumbum.

Quando consigo ficar inteiramente nu, sigo até ela feito um


leão, feroz, ansioso, pronto para dar o bote em minha presa. Uma

mão afundando seu rosto na cama, a outra segurando sua cintura,

escorrego para dentro da sua grutinha ensopada e faço o impacto


acontecer entre os nossos corpos com fogo e paixão, golpeando

fundo, uma investida atrás da outra, sucessivamente sem parar!

— Oooh... Aaai... Alejandro! Alejandro!

Dou-lhe o que precisa sem dó e piedade, trepando com força,

cheio de energia, sem me cansar, nunca irei me cansar! Preciso


dessa mulher, de todas as formas, de todos os jeitos, para sempre.

Mina se tornou o meu vício eterno, algo necessário para me fazer


viver.

Quando sinto que estou prestes a gozar, saio do seu corpo e a


viro com brutalidade, pairando sobre ela, beijando-a com lascívia ao
mesmo tempo que penetro dois dedos em suas entranhas,

provocando-a. Chupo os seus seios, brincando com as pontas,


chicoteando com a língua, descendo... abocanhando sua vulva,
misturando-me entre os seus lábios internos e externos, uma
devassidão sem fim.

Antes que minha esposa exploda outra vez, novamente


encaixo os nossos sexos, penetrando-a profundamente, deitando

sobre ela, entre as suas coxas, que rapidamente cercam o meu


quadril. Afundo meu rosto em seu pescoço e boto o pau para

trabalhar, golpeando potentemente, fazendo barulho, sentindo tudo


queimar e me apertar, as contrações... as vibrações.

Acelero, desenfreado, desesperado, fechando os olhos,


socando muito, deslizando em suas carnes íntimas e aveludadas.

Estamos enroscados de um jeito que parece não ter mais fim.


Esmago-a, sacolejando a cama, estremecendo tudo, perdendo o

controle, possuindo-a com amor e imoralidade até explodir em um


orgasmo arrebatador que me tira todas as forças, toca na alma,
elevando-me!

Não tem explicação.

MINA PACHECO

Quatro meses depois... minha barriga está enorme, porém,


como combinamos, ainda não sabemos o sexo da criança. É manhã
de sábado, estou na inauguração da floricultura da minha mãe,
momento de grande felicidade! Dona Inês conseguiu finalmente,
após muita persistência e de forma totalmente independente, abrir

seu próprio negócio, que por sinal, já está chamando a atenção de


muita gente.

Há vários primeiros clientes por todos os lados, entre os

diversos tipos de flores e plantas que colorem o ambiente arejado e


iluminado. Tive a ideia de pôr Alejandro para tocar piano e assim
fazer algo diferente para capturar aqueles que passam na rua. Ele

negou no início, é claro, mas agora o vejo tocar com a Alisa ao seu
lado, ambos sorrindo e se divertindo.

Alejandro pisca para mim enquanto recebo as pessoas que

chegam, encaminhando-as para os produtos que procuram. Mamãe


está em um diálogo infindável com o doutor Ramon, eles se
tornaram bons amigos após tantos encontros familiares para os

quais o psicólogo era convidado. Desconfio que tem algo a mais


rolando entre eles, a troca de olhar diz tudo. Fico muito contente por

isso.

Paro de sorrir os observando, quando volto minha a atenção


para a entrada da loja e avisto na rua, o senhor Eduardo, avô
materno da pequena, sinalizando para mim. Imediatamente fito
Alejandro, temendo que veja este homem que tanto odeia e, saio
discretamente do estabelecimento.

— O que o senhor está fazendo aqui? — indago sem entender


— Se veio atrás de confusão, é melhor sair...

— Por favor, não é isso. É a Maite, a minha filha, ela teve uma

crise forte e está internada à beira da morte — dispara, fico chocada


—, por favor, ela precisa conhecer a filha antes de morrer —
choraminga, parece muito abatido —, é só isso que ela pediu para o

Alejandro e...

— Ele negou, mas com razão — defendo meu marido.

— Eu sei, mas agora é diferente. O estado da minha filha é


grave... sei que a senhorita pode convencer aquele coração de gelo.

Pense na menina! Ela jamais irá perdoá-los quando descobrir que


lhe foi tomado este direito! — Ele pega pesado, entretanto sinto que
tem razão.

Olho para trás, indecisa, o senhor começa a chorar.

— Por favor... por favor — implora —, sei que não temos


direito... por tudo o que fizemos, mas querendo ou não... ela é a

mãe. Ponha-se em seu lugar...


— Impossível me pôr no lugar dela, senhor Pavón, mas vou

tentar convencer Alejandro... pela a Alisa, que tem o direito de


conhecer a mãe, mesmo que nessas circunstâncias terríveis.

— Obrigado — agradece sorrindo.

— Em qual hospital ela está?

Ele me diz o endereço, e assim retorno para a floricultura.


Alejandro não está mais no piano, me encontra assim que chego,
quase flagrando-me com o homem.

— Para onde foi, meu amor? — indaga, sua voz sai em tom
normal, mesmo em um ambiente novo e entre pessoas novas. Está
cada vez mais falante, a ansiedade já não é mais uma inimiga tão

forte. São raríssimos os momentos em que ele trava, as sessões


com o psicólogo não são mais diárias, porém ainda acontecem.

— Ah, estava conversando com um cliente — minto, o

beijando bem rápido, sentindo as suas carícias em minha barrigona.

— A inauguração está sendo um sucesso! — diz mamãe, se


aproximando ao lado de Ramon.

— Está mesmo, dona Inês, parabéns.

— Obrigada, Alejandro — Minha mãe está radiante, uma nova


mulher realmente. Nunca teve qualquer recaída em relação ao vício.
Um orgulho!

— As flores são tão lindas quanto ela! — Elogia o doutor,


direto! Mamãe ri, tímida. Troco olhares com o meu marido, ambos

surpresos positivamente.

— Ah... obrigada, Ramon!

— Só para o senhor saber, doutor... tem a minha permissão,


viu! — brinco, mamãe fica mais envergonhada ainda. Todos

gargalhamos.

Mais tarde, à noite na cobertura, começo a conversar com


Alejandro sobre Maite no quarto. Ele, como vem fazendo desde que

ela voltou, continua a responder:

— Fora de cogitação, Mina — decreta, impassível. Estamos


sentados na cama.

— Mas meu amor...

— Não vamos falar mais disso...

— Mas precisamos, Alejandro! — alteio a voz, chamando a


sua atenção negativamente — Não é pela Maite, é pela Alisa. Nós

sabemos muito bem que ela não apenas tem o direito, como a
vontade de conhecer a mãe.

— Isso não é verdade...


— Está dizendo que estou mentindo? — O inquiro, ele se cala
emburrado — Pergunte a ela então, se tem dúvidas, mas sabe

muito bem que não é necessário.

Ele vira o rosto, sabe que está errado, mas é teimoso. Beijo
seu ombro, o acariciando.

— Amor... você tem raiva da Maite e com motivos, mas ela

está morrendo, é a última chance da Alisa de conhecê-la. Não


precisa perdoá-la se não consegue, mas não busque criar uma
ferida entre você e a pequena, porque quando ela descobrir que foi

impedida disso no futuro, pode jamais perdoar você.

— Dei tudo a ela, não tem por que ficar com raiva de mim por
isso — rebate.

— Mas ficará. Sabemos que ficará.

Alejandro levanta, anda de um lado a outro do quarto,


esfregando as mãos no rosto, pensando bastante, até que respira
fundo e responde:

— Tudo bem..., mas você irá acompanhar a Alisa... eu não


consigo.

Assinto, sem dizer mais nada, apenas levantando e o

abraçando por tomar a decisão certa.


Dois dias depois, após atualizar e preparar a Alisa sobre a
situação da mãe, sigo com ela para o hospital, Diogo nos

acompanha. Lembro de Luna, ela poderia estar conosco, mas já


viajou. Se bem que, pelo pouco que me disse, não gostaria de ver

Maite nem um pouco.

Graças a Deus, a pequena já não é mais tão pequena assim e


entende melhor as coisas. Entramos no quarto de Maite com o
ambiente pesado. A mulher está conectada a aparelhos, magérrima,

abatida, definhada, nem parece a mesma que vi abraçando o meu


marido meses atrás e agora me arrependo por ter me comportado

com ela daquele jeito.

Ela sorri ao ver a filha e ergue a mão com dificuldade, está


bem enfraquecida.

— Alisa... — murmura, fico chocada com seu estado crítico, o

cabelo bem mais pouco do que antes.

— Oi, mãe — responde a princesa, cabisbaixa, entristecida.


Fico com o coração na mão.

— Me perdoa... me perdoa, filha — implora chorando.

— Eu perdoo, não precisa se preocupar — Alisa sorri, tem o


coração bom, a alma linda.
Maite sorri, engolindo em seco, com os seus lábios

ressequidos.

— Tão linda... eu jamais deveria ter ido embora — sinto


verdade em seu arrependimento —, me conta... me conta um pouco

sobre você.

Deixo as duas conversando, saio do quarto e encontro dona


Rúbia, avó da Alisa, que está em cacos, arrasada, e me conta o

estado da filha, afirmando que o que os médicos disseram, que ela


não tem mais salvação. Como não buscou por tratamento, excluiu
as poucas chances que já tinha.

O resultado realmente vem dias depois com a notícia da sua


morte. Alejandro aceita acompanhar a Alisa no enterro, chegamos
depois que todos vão embora. É muito triste ver a menina deixando

flores sobre o túmulo da mãe com a qual quase não teve contato,
mas a ajudamos a superar este momento tão doloroso.

O tempo passa, e a alegria retorna no dia em que sinto as

contrações fortes e sou levada às pressas para o hospital. Alejandro


estava fora da cidade, mas consegue chegar a tempo de me
encontrar já na sala do parto, vestido nas roupas hospitalares, de

máscara.
— Estou aqui, meu amor! Cheguei! — afirma, segurando a
minha mão com força, me dando segurança.

— Eu estava com medo de você não conseguir — afirmo,

segurando-me para não chorar, gemendo forte com mais uma


contração terrível. A dor é excruciante.

— Doutor, como ela está? E o bebê? — pergunta aflito.

— Está tudo bem, a mãe já está pronta para dar à luz, vamos

começar — afirma o médico, há enfermeiros ao redor,


equipamentos, muita coisa.

Optei por parto normal, mas quase me arrependo. Sinto muita

dor ao longo das horas. Chega um momento que acho seriamente


que irei morrer, mas Alejandro está ao meu lado, me apoiando,
dando-me amor e carinho, até que escutamos o chorinho da nossa

criança rasgando o ar.

— É um menino! — Alejandro soluça ao olhar para o nosso


filho, caindo em pranto. — É o nosso filho, amor! Você me deu um

rapazinho... meu filho!

A emoção vai às alturas, nunca vivi algo assim. O alívio vem e


junto com ele muito, mas muito amor. Alejandro é guiado a cortar o
cordão umbilical, nosso neném é limpo e entregue para mim. Choro
bastante, sentindo-o pequenino em meus braços.

— É tão lindo... tão lindo! — choramingo embevecida — Eu te

amo tanto filho! Tanto!

— Você vai se chamar Juan... como o meu irmão — afirma


Alejandro, beijando a cabecinha dele.

— Bem-vindo Juan... amor da nossa vida!

— Bem-vindo, filho! Nossa razão de tudo!

Juan para de chorar, confortável em meu colo, ele é moreninho


como eu, e quando abre os olhos, descobrimos o verde intenso de

seu pai. Ele representa toda a jornada do nosso amor, da nossa


relação e superações dos obstáculos. É o mais forte raio de luz que
veio para nos iluminar ainda mais. É o nosso vínculo inquebrável, o

elo que nos liga para todo o sempre.

Sou sua mãe... Alejandro o seu pai.... Alisa a sua irmã... e


juntos nos tornamos agora uma família que sinto que jamais poderá

ser desfeita. Nós vencemos!

Obrigada Deus.


ALISA JAVIER

— Pai! O Juan se sujou de novo! Dessa vez de chocolate! —


grito fuzilando-o, enquanto o garotinho de cinco anos está deitado

na cama com uma lata de doce nas mãos. — Onde encontrou isso?!

— Na geladeira, oras! — responde, sempre com uma resposta


na ponta da língua, provocativo.

Papai entra no quarto atordoado, com meu outro irmão no


colo, de quatro anos, Romeo, que está segurando a sua tão

sonhada mamadeira pela qual fez um escândalo minutos antes.

— Ah, não, Juan! De novo, não! Não acredito! Sua irmã

acabou de lhe arrumar! — exclama o senhor Alejandro, verificando a

hora no relógio de pulso, que por sinal é o mais novo e promissor


lançamento da empresa — Desse jeito vamos chegar atrasados

para o show e sua mãe vai nos matar!

— Eu estava com fome! — Juan mente, gargalhando em

seguida.

— Não é para rir! Para o banheiro! Agora! — ordena, fazendo

o moleque todo sujo saltar da cama e correr medroso para o

banheiro. Meu pai me fita pedindo socorro.

— Nem vem, agora é a vez do senhor! Não irei mais arrumá-lo!

— Não está vendo que estou dando mamadeira para o seu


irmão? — inquire.

— Não tem problema, pai! Eu faço isso! — estendo as mãos


para o lindo homem alto, para que me dê o menino.

— Alisa... — rosna irritado.

Romeo retira a mamadeira da boca, sorrindo para mim, mas


de repente faz uma careta e golfa na camisa do senhor Javier.

— Ah, não Romeo! Olha o que você fez, Romeo! — fica

indignado, mirando o garoto com cara de mal.

— Desculpa, papai — pede cabisbaixo, fofo demais, parece

uma bola de algodão.


— Não desculpo!

— Alisa, preciso de ajuda aqui — exclama Juan, da porta do

banheiro, tirando a camiseta.

— Alisa, vai lá ajudar ele! — aponta na direção do chocólatra.

— Mas... — tento contestar, estou farta de fazer isso.

— Mas nada! Faça isso enquanto vou trocar de camisa, senão

perderemos o espetáculo! — Ele está estressado, seu celular

começa a tocar, Romeo está com a boca toda melada, Juan grita do

banheiro enquanto cruzo os braços, bufando! Queria já estar na

fundação e não aqui limpando os meus irmãos! — Olha, deve ser

ela ligando, nem vou atender. Temos que nos apressar! Onde eu
estava com a cabeça quando dispensei a babá hoje?

Reclama, saindo do cômodo rapidamente.

— Fica fazendo um menino atrás do outro! Pensa que é

brincadeira! — replico inconformada.

— EU OUVI ISSO, HEIN MOCINHA! — ouço a voz grossa dele

de longe.

Juan ri para mim, levado, adorando a situação.

— Se você se sujar outra vez, te acerto com a minha guitarra!

— O ameaço, indo em sua direção.


Minutos depois, estamos todos dentro do carro, no skydrive.

Fico na frente, no banco do carona, enquanto papai termina de


prender os pestinhas com os cintos de segurança em suas

cadeirinhas na parte de trás.

— Pronto! Todos aqui? Alisa?

— Eu! — digo desgostosa, não curtindo mais essa “chamada

da família”, costume nosso todas as vezes que vamos sair. Já sou


quase uma adolescente, não sei porque continuam me tratando

como uma bebê.

— Juan?

— Aqui!

— Romeo?

— Presente, pai. Quero a minha mãe! — exige.

— Estamos indo para onde ela está, filho. Alisa, ponha os


desenhos deles, por favor — pede.

— Tudo bem — ligo as televisões na parte de trás dos nossos

bancos para que enfim os meninos se aquietem e nos deixem viajar


com um pouco de paz.

Assim, logo estamos andando pelas ruas de Madri, até


pararmos a frente de um lindo prédio azul, a fundação que a minha
mãe criou para crianças surdas, cegas, mudas e com outros

problemas relacionados à fala. Aqui ela é a diretora executiva e


professora de balé, utilizando a dança como meio para divertir e

tratar, porém, há várias outras atividades.

A fundação é um verdadeiro complexo muito bem equipado,


com três andares, várias áreas recreativas, espaços de saúde, lazer,
teatro, piscina, auditório e muito mais. Minha mãe Mina teve a ideia,

apresentou para o meu pai, que investiu e a deixou à frente de todo


o projeto.

Tudo aconteceu muito rápido, ela estava com sede de

trabalhar em algo que valesse a pena e começou assim que teve


Romeo, finalmente terminou de se formar no balé — já que seu
curso foi interrompido quando seu pai morreu — se dividindo desde

então entre mãe, empresária, bailarina e filantropa. Hoje tem a sua


própria renda e é um exemplo de mulher em Madri.

Papai pega Romeo no colo e segura Juan pela mão, assim

seguimos para dentro do prédio, passando por várias crianças e


profissionais. Falamos com alguns que já são amigos conhecidos e
nos indicam a direção para encontrarmos mamãe, que está atrás do

palco, com várias meninas entre cinco e sete anos, todas de


bailarina, fazendo o ensaio final.
— MÃE! MAMÃE! MAMÃE! — Os garotos gritam quando
veem a mulher que está pronta para dançar com as suas
aprendizes, vestida de fada, com asas e tudo. Algumas das alunas

estão acompanhadas de parentes, porque não enxergam ou não


escutam direito, e precisam de apoio.

— Olá, amores da minha vida! — Ela beija cada um deles, a


mim, e por último, papai — Que cara é essa, Alejandro? — indaga

desconfiada.

— Nada, meu amor, está tudo bem — mente sorrindo amarelo.

— Não conseguiu dar conta dos seus filhos de novo?

— Mas é claro que consegui! Eles estão aqui sãos e salvos,


não estão?

— Ele não conseguiu, mãe! — denuncia Romeo.

— Conseguiu, sim! — defende Juan.

Ela mira os meninos e depois a mim, perguntando-me


implicitamente se pode acreditar nesta tese.

— Está tudo bem, mãe. Até que dessa vez papai não pirou —
sou sincera. Eles fizeram um acordo para dividir os filhos,

principalmente em casos como este, já que não querem deixar tudo


nas mãos da babá, querem estar perto, ter convívio com os
meninos.

— Ah, que ótimo! Assim fico mais tranquila!

— Então acredita na Alisa, mas não acredita em mim —


reclama brincando.

— Não é isso, meu amor, sei que é um paizão — eles se

beijam, reviro os olhos.

— Eca... — afirmo.

— Ecaaa — os meus irmãos repetem em coro, coisa que faz


toda a família gargalhar.

— Agora vão, vão para as poltronas, que já vamos nos


apresentar. Corram! — Dona Mina beija a todos nós outra vez, se

despedindo.

Romeo, como sempre faz birra para ficar.

— Não, Romeo — nego, e para não começar uma briga, tiro

um pirulito do bolso, que o faz sorrir e calar.

— Pirulitoo!! — comemora sorrindo de felicidade.

— Também quero, Alisa! — pede Juan, dou outro a ele,


acariciando ambos. Amo-os, apesar de que às vezes me estressam.
Nos acomodamos nos bancos da frente, que foram reservados

para nós.

— Filha, vá comprar água mineral para os seus irmãos, porque

acabou — pede papai.

— Tudo bem — confirmo, levantando e me afastando da

multidão, entrando em um corredor e me aproximando da máquina

de bebidas mais próxima, colocando algumas moedas para liberar a


garrafinha que cai em seguida.

Pego-a, porém, antes de me afastar, avisto um garoto sentado


ao pé da parede, no fim do corredor, sozinho, em posição fetal. Por

algum motivo, ele chama a minha atenção, me aproximo.

— Oi... tudo bem? — pergunto, vendo seu rosto emburrado se


erguer, mirando-me com cara de poucos amigos. Ele parece ter a

minha idade, mas não diz nada, apenas deixa bem claro com as

suas expressões que não quer assunto — Por que está aqui
sozinho?

Silêncio.

— Todo mundo está se preparando para ver o balé, você não

vem?

Silêncio.
— Pelo menos diz que sim ou que não.

Silêncio outra vez.

— Se não falar nada, não vou deixá-lo em paz — declaro

encarando-o em desafio, erguendo uma sobrancelha.

O garoto bufa, e responde em sinais:

“Eu não falo. Vá embora! ”

— O que foi? Alguém te tratou mal aqui? A minha mãe é a

diretora, ela pode resolver — garanto, ainda mais interessada em

sua história.

“Não gosto daqui. Os meus pais dizem que aqui perderei meu

medo de falar, mas não acredito nisso”

— Você também tem mutismo seletivo?

“Não é da sua conta”

— Nossa, que grosso... só queria dizer que meu pai também

tem o mesmo problema, caso este seja o seu, e ele venceu vários

obstáculos e vem se superando a cada dia, falando com mais e


mais pessoas.

O menino me fita com interesse agora, deixando a raiva se


esvair um pouco.
— Olha, eu venho aqui quase todos os dias para tocar rock,

estou formando uma banda com a galera da minha turma. Se quiser,


podemos ser amigos — ofereço minha mão a ele, que a mira com

desconfiança.

“Por que iria querer ser minha amiga? ”

— E por que não? Ah, deixa de marra e vamos assistir ao

espetáculo! Já, já vai começar. Vem, te apresento o meu pai, ele é


muito legal e a minha mãe também. Tenho certeza que irá gostar

deles.

Ele parece tentado.

— Vamos! — Insisto, e finalmente consigo vencer sua

teimosia, sua mão toca a minha, ajudo-o a ficar de pé, e juntos


caminhamos de volta para as poltronas.

Entrego a água para o meu pai, o garoto senta ao meu lado.

— Qual o seu nome? — indago em seu ouvido, ao mesmo

tempo em que tambores começam a rufar, anunciando que o show

vai começar.

“Tiago”

— Depois que tudo acabar, te apresento ao meu pai — olho

para o homem, que está distraído, dando água para os meus


irmãos.

Sorrio para Tiago, que finalmente demonstra algum

sentimento, rindo de volta, bem discretamente. As cortinas se


abrem, minha mãe surge em um bosque encantado, dançando,

fazendo movimentos suaves, apaixonando o público. As pequenas

bailarinas vêm logo atrás, de mãos dadas, continuando a


coreografia, arrancando suspiros da plateia.

É tudo lindo, maravilhoso. Enquanto as meninas dançam...

contam uma história, com efeitos especiais e outros detalhes que


deixam todos embevecidos. De repente, eu e Tiago estamos

trocando sorrisos, ele se solta um pouco mais, ficando mais leve. É,

realmente podemos ser amigos. Nos divertimos assistindo o corpo


de balé.

Minha mãe é brilhante, está irradiando beleza e magia como

fada, tocando as bailarinas com a sua vara de condão, fazendo-as


dançar e, pelo que entendi, se libertar de algum mal, dando lugar ao

amor e à felicidade.

Lembro que ela quis que eu participasse deste espetáculo,

mas é claro que neguei. Tenho pretensões de ser uma superstar,

faço aulas de canto e toco guitarra muito bem, não curto mais balé,
que bom que papai finalmente entendeu isso e agora me deixa ser

quem sou de verdade, uma cantora de rock!

Quando a apresentação se encerra, todos se erguem e batem

palmas, as mães e os pais das crianças que dançaram estão

eufóricos, cheios de orgulho, alguns até choram. Dona Mina toma o


microfone no centro, com todas as garotinhas em fila ao seu lado e

diz:

— Este é mais um grande dia nesta linda instituição. Quero

agradecer primeiramente a Deus, que me fez chegar aonde

cheguei. A vocês, papais e mamães, que confiaram em mim para

ajudá-los com os seus filhos, aqui sempre estaremos de braços


abertos para receber todos aqueles que precisam. Quero agradecer

também à minha equipe, que tão competentemente trabalha dia

após dia para que possamos oferecer os melhores serviços.

“Mas, o maior agradecimento vai principalmente para o meu

marido, Alejandro Javier, que acreditou neste meu sonho e foi o meu
suporte para que tudo acontecesse devidamente como imaginei, o

homem com quem construí uma família linda... — sua voz falha, as

lágrimas vêm, todos se compadecem —, os meus filhos... Alisa,

Juan e Romeo. Amo todos vocês, muito, muito! Amo essas minhas
alunas lindas! Muito obrigadaaaa”.
Mais aplausos acontecem, ela merece! Minha mãe merece
cada palma que está recebendo, é o meu exemplo, o anjo que veio

para iluminar a nossa vida, como sempre diz papai.

Quando todos se dispersam e ela vem até nós, Romeo fica

louco e salta em seu colo. Não consigo entender como ela o

aguenta, tendo em vista que é um big garoto, assim como Juan,


ambos parecem mais velhos do que realmente são.

— Mamãe, queria lhe apresentar Tiago, ele... tem problemas

com a fala também, e está se sentindo um pouco perdido — o


apresento, o menino está de cabeça baixa, todo introvertido.

— Oi, Tiago, tudo bem? Você é novo aqui, não é? — Ela sorri,
já transpassando sua energia positiva.

O menino assente, mas não a olha nos olhos.

— Onde estão os seus pais? — Ele aponta para os mesmos,

que estão com uma das garotinhas que se apresentou.

— Ah, então você é o irmão da Mariana? Lembra daquele


garotinho que te contei, amor? — Se volta para papai, que parece
lembrar do assunto.

— Ah, sim... olá, Tiago, sou Alejandro, é um prazer conhecer


você. Sinta-se em casa, não precisa ter medo. Estamos prontos
para acolhê-lo. Você não é obrigado a frequentar a fundação, mas
se vier, prometo que irá se divertir muito, e ninguém aqui irá obrigá-
lo a falar, falará se e quando quiser — isso chama a atenção do

menino, que fita meu pai com interesse.

— Quer nos apresentar o seu pai que ainda não conhecemos?


— propõe minha mãe, Tiago assente, ainda sem dizer uma palavra,

e leva ela e o meu pai até a sua família.

Por algum motivo, não os acompanho, fico parada, observando


os meus parentes se darem bem com os familiares do menino que
provavelmente também tem mutismo seletivo. Noto a sinceridade e

transparência da dona Mina, a educação e bondade do senhor


Alejandro, sinto orgulho deles.

Após deixarmos a fundação, vamos comer fora. Romeo e Juan

fazem questão de fazer bagunça na mesa como quase sempre,


mamãe se irrita com a sujeira, papai agora está mais calmo, já que
tem com quem dividir o fardo, mas me chateia quando toma os

meus fones de ouvido, obrigando-me a ouvi-los e a estar totalmente


presente na mesa com eles.

Fico emburrada, de braços cruzados, pois na maior parte do

tempo gosto apenas de me enfiar em meu próprio mundo de rock


ensurdecedor, porém, conforme os segundos passam, divirto-me
com os sorrisos dos pequenos, com o doce sabor da sobremesa em
minha boca, com mamãe contando sobre o seu dia e o quanto foi

agitado, com papai trocando beijos com ela — tudo bem, nem toda
vez parece nojento, também é uma demonstração de carinho.

Na viagem de volta para casa, dentro do carro, cantamos uma

música que foi batizada como a canção da família. Até tento não
participar, mas mamãe me obriga, e acabo me divertindo com todos,
gargalhando com os meus irmãos e sendo feliz, tendo ainda mais

certeza de que os amo.

Ao chegar em casa, sinto-me exausta, já está na hora de


dormir. Passo no quarto dos pestinhas que já caíram no sono, beijo-

os bem levemente, para não os acordar, e depois sigo para o


cômodo dos meus pais, encontrando-os conversando na cama.
Ambos me abraçam e me beijam como em todas as noites, e só

assim regresso para a minha cama.

Fecho os olhos com uma sensação maravilhosa, sabendo que


no dia seguinte viverei tudo outra vez.
Mário Lucas é piauiense, advogado, aventureiro e sonhador.

Começou a escrever aos quinze anos e agora não quer mais parar.
“No Silêncio do CEO” é o seu sexto e-book publicado, e já possui
mais romances à vista.

Siga-o no Instagram para ficar por dentro do seu trabalho:

@autormariolucas
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G W A

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TEST DRIVE: SEU AMOR EM 30

DIAS

À procura do amor, Gerard e Allie se conhecem através do aplicativo

“Test Drive”, onde deverão passar trinta dias morando juntos para

descobrirem se podem formar um casal, e compartilhar uma vida a

dois.
Ele é do campo, um fazendeiro de mãos calejadas, em certos

momentos bruto, eternamente solitário. Um cowboy que se fechou


para o amor após a perda da única mulher por quem se apaixonou

um dia, dedicando-se apenas ao trabalho e às suas terras, um vasto

paraíso na costa da Califórnia. Mas um acontecimento inesperado


pode fazê-lo perceber que amar de novo talvez seja a melhor opção.

Ela é da cidade, CEO de uma marca conceituada de moda feminina,


acostumada com tecnologia, a estar no controle de tudo ao seu

redor. Mas o que poucos sabem, é que por trás de todo o sucesso

profissional, Allie Jackson se sente devastada na vida pessoal.

Frustrada com vários casos infrutíferos e quase perdendo a

esperança de formar uma família, decide tentar um último teste, indo


para a fazenda de um louro cabeludo, turrão e completamente

irresistível.

Será que trinta dias serão suficientes para conhecer a sua alma

gêmea? Nada melhor que um teste, mas há regras a serem

seguidas.

Uma comédia-romântica não recomendada para menores de 18.


ALPHAS: DONOS DO SEU PRAZER

Kelly e Suzy cometeram um erro fatal que as puseram nas garras de


um poderoso bilionário, Hector Foxhill. Após quase ser roubado por
elas, ele quer se vingar selando um acordo: Kelly terá que se casar

com seu filho, a fim de libertar a amiga que ficou prisioneira do

magnata. Mas o destino é imprevisível e, em meio a tudo isso, ela


acaba encontrando a sua salvação em um grande amor do passado,

que pensava estar morto.

Erick Lobo, um empresário de sucesso, é um cafajeste nato

que resolve expandir seus negócios para fora do Brasil. Tudo


parece correr bem até ele reencontrar o grande amor de sua vida,

Kelly, a única mulher que conseguiu marcar seu coração e que já


não vê há muitos anos.

Em meio a todas estas reviravoltas, Apolo Lobo, irmão de


Erick, também está próximo de ter seu mundo virado de cabeça pra

baixo.

Um homem dominador, um poderoso CEO de renome, Apolo é


conhecido por sua eficiência e exigência no trabalho, onde é

apelidado de “coração de gelo”, por ser frio e impenetrável. Ele não

pensa em se envolver com ninguém, tendo em vista os traumas


amorosos do passado.

Contudo, a sua nova secretária, Bianca Vasconcelos, com sua


inocência e petulância, chama a sua atenção de todas as formas,

dentre elas as mais sujas e eróticas. O perigo a atrai, e ela decide

enfrentar esse furacão de homem, descobrindo que seu chefe

possui gostos peculiares. Ambos acabarão caindo na teia de um

romance quente e sedutor, mas os traumas de Apolo podem


atrapalhar este romance improvável.

Amor, redenção, polêmica, encontros e desencontros te

aguardam nesta história que mescla três casais apaixonantes. Livro


não recomendado para menores de 18. Contém cenas de sexo
explícito.
VICTOR: SÉRIE ALCATEIA - LIVRO 1

Livro recomendado para maiores de 18 anos.

Victor é um simples mecânico, lindo, intenso e sedutor que, viciado


em adrenalina sexual, se envolve com mulheres casadas para obter

o prazer quente do perigo.

Mas a sua vida muda radicalmente quando ele descobre ser

herdeiro de uma grande fortuna deixada por um pai desconhecido.


O jovem é levado a uma casa luxuosa e passa a morar com Laura,

a viúva, uma mulher cheia de segredos e tentadoramente linda.


Agora, sob o mesmo teto, a atração entre eles é inevitável e se

intensifica a cada dia, mesmo os dois pertencendo a mundos tão


diferentes. Ela é chique, ele bruto, mas ambos ilimitados.

Victor se vê diante de uma realidade totalmente nova, cercado de


riqueza e poder. Seu desejo pela madrasta se torna obsessivo,

afinal, Laura é o seu maior desafio. Possuí-la é imoral, proibido e

fatal, pois ela pode ser a sua perdição ao se transformar na principal


suspeita da estranha morte de seu pai.

Neste primeiro livro da série Alcateia, é contada a história

abrasadora de Victor, um romance original que foge dos padrões,


narrado na visão masculina, hot, instigante e misterioso.

OBS: Esta história não se trata sobre lobos, não é uma fantasia!
“Lobo” é visto aqui no sentido figurado.
APOLO: SÉRIE ALCATEIA - LIVRO
2

Contém cenas de sexo explícito. Livro recomendado para maiores

de 18 anos.

Apolo Lobo, é um lindo jovem que apesar do rosto de anjo, possui a

mente pervertida e os sentimentos à flor da pele. Ele é obrigado a


voltar a morar com o pai, Victor, o qual culpa pela dissolução da

família. E em meio a conflitos familiares e traumas que ressurgem,

uma nova vizinha, Érica, chega ao condomínio atraindo o garoto de


forma ardente.
Movido pelo desejo e curiosidade, Apolo acaba descobrindo um

segredo de Érica, dando início a um jogo quente e perigoso onde a


vingança é a cartada final. Ele é desafiado, treinado, e fará de tudo

para sentir o maravilhoso sabor de ter uma mulher sob seu corpo,

provando que não é de falar, mas sim de fazer, mas talvez o preço a
ser pago seja alto demais.

Victor Lobo, viveu anos se sentindo o homem mais feliz e realizado


de todos, entretanto, a vida lhe mostrou que pode ser cruel

arrancando-lhe a mulher amada e o respeito do filho por uma

mentira perversa. Agora, solteiro, tem a sua carreira em ascensão e

as mulheres que quer para satisfazê-lo apenas carnalmente, pois


não consegue esquecer o amor do passado.

Contudo, o que importa nesse momento é reestabelecer seu laço

paterno com Apolo, e quem sabe o destino lhe traga uma nova

paixão.

Neste segundo volume da série Alcateia, pai e filho terão que

redescobrir o amor familiar e verão que possuem muita coisa em


comum, principalmente no quesito mulheres. Amor, sexo, traição e

vingança se unem a cadCapítulo tentadoramente.


OBS1: Este é o segundo livro da série, antes é preciso ler o
primeiro, Victor.

OBS2: Esta história não se trata sobre lobos, não é uma fantasia!

“Lobo” é visto aqui no sentido figurado.


ERICK: SÉRIE ALCATEIA - LIVRO 3

AVISO: Apesar do nome da série, este livro não se trata de fantasia


ou sobrenatural. É um romance hot contemporâneo, com amor,
humor, mistério, muitas cenas quentes, e pode ser lido de forma

independente dos demais.

Contém cenas de sexo explícito. Livro recomendado para maiores

de 18 anos.

Erick, é um jovem conhecido por sua beleza e cafajestagem.

Apelidado de "negão" pelos amigos, ele possui a fama de sedutor e


vive a vida intensamente como se todos os dias fossem os últimos.

Aventureiro, rebelde, fogoso e inconsequente, adora desafios


perigosos e adrenalina pura, principalmente quando o assunto é

mulher.

Mas tudo muda quando Kelly, uma jovem astuciosa e linda, surge

em sua vida com más intenções, ela é uma aspirante a ladra, mas

na falha tentativa de roubá-lo, acaba se apaixonando por ele,


sentimento este que deverá ser provado com uma missão: Kelly

agora terá que ajudar Erick contra um inimigo que ameaça tomar o

império da mãe dele, um resort hotel à beira-mar.

Num jogo de mentiras e vingança, nasce um amor puro, romântico e

abrasador, mas será que o casal resistirá às consequências das


suas atitudes? Por outro lado, Erick nem sonha que a mãe a quem

tanto quer ajudar, esconde um grande segredo sobre a sua vida.

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