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Mistaken
Betrayed
Ruined
Contos da Trilogia
The Turning
The Revelry
Copyright © 2022 K.A. PEIXOTO
Capa: Larissa Chagas.
Ilustração: Giro Ink.
Revisão: Evelyn Fernandes.
Psicóloga: Natália Ticilo - CRP: 06/ 145810
ISBN: 978-65-00-45311-9
Oi, meus amores, olha a gente aqui de novo! Eu estava tão ansiosa
para esse momento, que os últimos dias antes do lançamento foram uma
loucura.
Escrever Ruined foi um desafio enorme para mim. Eu sei que vocês
têm expectativas altíssimas para a história do Jacob e da Emma, então eu
dei tudo de mim para que fosse tão bom quanto vocês esperam.
Já vou avisar que vocês vão conhecer um outro lado do Jacob, que
sem dúvidas é o mais bonito, e que tenham paciência com esse ranzinza que
passou por muitas coisas. O coração dele é o mais quebrado e isso o torna o
mais difícil dentre os três principais da trilogia. Mas eu juro que valerá a
pena ler o desenvolvimento dele com a Emma, e também como ele é um
amor e ficou com a guarda totalmente baixa perto da ruivinha.
Ruined é um livro de romance new adult, indicado para maiores de
18 anos e aborda os tais temas: sexo, consumo de bebidas alcoólicas,
abandono parental, vício em remédios e drogas, e luto. E deixo claro que
não compactuo com nenhuma atitude errada de nenhum dos personagens e
tudo foi necessário para a história, além de ter abordado tais temas com
responsabilidade.
Deixando os recados importantes, agora, desejo a vocês que tenham
uma boa leitura e que recebam desse livro o que esperam! E, não se
desesperem que ainda não é o fim da trilogia, teremos mais 2 livros e 1
conto, e aí sim será um até logo para o nosso grupo amado.
Pulo da esteira, colocando cada um dos meus pés nas laterais dela e
aperto o stop. Fico olhando enquanto a velocidade vai diminuindo, e ignoro
os batimentos em meu peito ainda acelerados, me lembrando que eu tenho
um coração que só serve mesmo para me manter vivo.
— Vocês não deveriam me julgar, eu que os alimento! — falo com
Snape e Dumbledore, que continuam me olhando com seus olhos julgadores
e deitados um do lado do outro, apenas esperando que eu termine meus
exercícios diários e abra a porta para irem brincar com Arya e Mayke, meus
outros dois cachorros que dormem lá fora e só entram em casa quando eu
estou. Nunca dá certo deixar dois pitbulls presos em um lugar fechado, e
ainda mais com essas duas criaturinhas que perdem toda a postura quando
se juntam a eles.
Pego a toalha e seco meu rosto e cabelo, depois coloco-a em meu
ombro, coloco meus fones em seus devidos lugares e vou até a porta dos
fundos, destravando todas as portas e janelas pelo painel de segurança, e já
aproveito para abrir todas as janelas e deixar o ar circular pela casa.
— Hey, babys! — Me abaixo para fazer carinho nas cabeças enormes
dos meus pitbulls, que não esquentam para o meu suor e lambem meus
braços e rosto. — Dormiram bem? — Eles abanam ainda mais seus rabos e
eu entendo como sim.
Eu sou uma pessoa que gosta de seguir uma rotina, pelo menos em
casa. Basicamente, eu acordo, treino, cuido dos cachorros, tomo café e
depois vejo o que cada dia me reserva. Como hoje é sábado, eu costumo dar
banho neles, e se não tiver nada programado com os meninos, fico em casa
na parte da tarde e a noite vou para onde o aplicativo me mandar.
E como já fiz a primeira coisa, começo a cuidar deles, que já estão
perto da piscina brincando com as bolinhas e o pneu que tem ali para eles.
Perco um bom tempo lavando o quintal, colocando comida, trocando água e
depois dando banho neles, que mais parece que foi um banho em mim.
— Vocês vão ficar aí fora agora! — Aponto para os quatro, que
sentam e me escutam atentamente. — Só quando eu chamá-los, vocês
entrarão! — Dispenso-os com as mãos e eles já saem correndo novamente.
O bom deles serem adestrados é que não tenho muita dor de cabeça
com as possíveis merdas que eles poderiam fazer. Às vezes eles se
empolgam e destroem uma coisa ou outra, mas eu não consigo brigar com
nenhum deles, ainda mais com as caras que eles fazem quando são pegos.
Meu telefone toca e eu coloco no viva-voz quando vejo a cara feia
do Barbie, deixo o celular apoiado na bancada para poder preparar meu café
da manhã.
— Bom dia, bebê! — Reviro os olhos quando escuto. — Não revire
os olhos para mim, Jacob! — Prendo uma risada quando ele fala o que
acabei de fazer. — Os pais da Olívia estão na cidade, convidei eles para um
almoço hoje. Desmarque suas putarias e venha para cá, tchau!
Fico olhando para o celular, enquanto seguro um pote de vidro com
queijo e uvas. O faccia di culo sempre me chama para as coisas assim, sem
dar chance para que eu diga não.
Coloco algumas coisas em um prato, enfio o celular na bermuda e
subo até o meu quarto, como sempre evitando olhar para o final do
corredor. Mas de nada adianta evitar aquele quarto, assim que entro no meu,
já me deparo com uma foto minha com Sophie.
Estávamos sentados na beira do lago que tinha ao redor da casa dos
Vacchianos, e ela sorri para mim enquanto eu beijo seu sorriso. Sempre dói
ver como eu era feliz, como eu era um homem diferente do que sou hoje, e
como eu sinto falta de ser assim, de tê-la ao meu lado.
Respiro fundo, enfio um pedaço de queijo na boca e mastigo com
dificuldade.
Todos esses anos ainda não foram suficientes para deixar de amá-la. E
desconfio que tal coisa nunca acontecerá.
Conecto o bluetooth do celular na caixa de som embutida do quarto e
banheiro, coloco uma música mais tranquila enquanto termino de comer,
olhando meus cachorros brincando pela janela, e dou uma olhada na rua.
O condomínio onde moro é bem tranquilo, e as pessoas já se
acostumaram com meu jeito fechado e há anos desistiram de tentar se
aproximar de mim. Antes do Noah se mudar, eu ia bastante lá e às vezes
caminhávamos juntos, nós ainda frequentamos a casa um do outro, e eu até
costumo malhar lá. Só que a presença constante da Emma tem feito com
que eu evite ir tanto.
A minha casa tem todo o meu estilo. Ela é toda preta e os móveis
brancos, para contrastar. Ela destoa totalmente das outras casas que por
mais que tenha alguns detalhes escuros, a maior parte é clara. Uma vez até
ouvi de uma criança que quem morava aqui com certeza era o Gru de Meu
malvado favorito.
Eu tive que pesquisar, e no final concordei com a menina. Realmente
parece.
Depois de ficar mais algum tempo ali perdido com os meus
pensamentos, decido tomar um banho bem gelado, para dispersar toda essa
nostalgia que me acompanha todos os dias, e quando saio, enrolado em uma
toalha, desligo a música e coloco no canal de notícias da Itália.
É sempre bom ficar por dentro das coisas que acontecem por lá, e
muitas vezes o nome do meu pai aparece nos jornais. Nunca de forma
negativa, é claro, mas assim, eu fico atualizado.
E pensar nele, me lembra que ele ainda está aqui em NY, e que
continua me infernizando para vê-lo.
Terá que me levar à força!
Pego uma calça jeans preta, toda rasgada na coxa e uma camisa da
mesma cor. O dia hoje está bonito, e vou aproveitar para ir de moto até a
casa de Barbie mais tarde, então tiro uma das minhas jaquetas de couro e
jogo em cima da cama, me sentando logo depois e puxando o livro que
estava na cabeceira para continuar lendo até a hora de ir.
Vamos descobrir o que Sarah J Maas aprontou em Crescent City 2.
A conversa que eu tive ontem com a Emma não sai da minha cabeça
de jeito nenhum, e também não era para menos. A ruivinha mostrou um
lado um tanto quanto direto e decidido, e foi uma delícia receber aquelas
mensagens.
Já recebi mensagens muito mais picantes do que aquelas, que nem
tinham o intuito de ser assim, mas nada se compara às sensações que
rodearam o meu corpo, enquanto eu conversava com ela e me segurava para
não me tocar ali mesmo.
Se um dia eu pensei em deixar no fundo da minha mente a vontade
que eu tenho de tê-la, isso foi por água abaixo. Depois que decidi ser
sincero com ela, parece que ela decidiu a mesma coisa e deu no que deu.
Agora eu estou aqui, a poucos metros dela e tentando ignorar isso para
curtir uma noite de jogos com os meninos, mas é claro que não está dando
certo e ter contado a eles parece que só piorou a situação.
— Então você assumiu que é um velho tarado que gosta de
novinhas… — Barbie comenta, concentrado antes de dar uma tacada
certeira na bola branca e ganhar mais uma partida contra Bryan, que é ruim
demais na sinuca. — Parece que está virando moda! — Ele encara B, que
engole em seco, mas claro que o idiota do Barbie ri e dá um tapinha nas
costas do amigo. — Então agora o que impede?
— Quer a lista por ordem dos fatos ou alfabética? — pergunto e jogo
mais um dardo no alvo, acertando bem no meio. — Além dos pais dela, ela
ser bem mais nova, eu não me envolver com ninguém sem ser pelo
aplicativo, ela ser virgem e eu não ser mais alguém que queira e saiba lidar
com os possíveis sentimentos de alguém para comigo, o que mais você quer
saber?
Noah tira os dardos espetados no alvo e coloca na vasilha ao meu
lado, logo depois me entrega uma nova garrafa de cerveja e eu bebo.
— Sabe o que eu acho mais louco nisso tudo? — Noah pergunta e eu
dou de ombros. — De todos nós, você é o que eu jamais pensei que teria
dúvida ou medo de fazer alguma coisa que quer. Porque é óbvio que você
quer, senão ninguém aqui estaria vendo a sua cara de cu. Mas, você sabe
que nada que iremos falar irá te agradar, e parece que quer que nós lhe
convençamos a fazer algo, Jacob. E não vamos… — Ele pega um dardo e
joga, acertando no mesmo ponto que acertei ainda há pouco. — Talvez o
Barbie até tente, porque ele gosta de ver o circo pegando fogo, mas você
tem quase 30 anos. E como sempre falou: sabe o que é melhor para você.
Então meu amigo, só você pode se ajudar nessa. Mas estarei do seu lado
quando a ruiva partir seu coração impenetrável.
Reviro os olhos.
— Isso não vai acontecer. — Pontuo e decido dar um fim nessa
conversa que já foi longe demais e me sento no sofá.
Eu sei que quando vê-la, minha cabeça deixaria de pensar nos contras
de beijá-la onde for, mas, as minhas preocupações não são por mim, são por
ela. Emma é uma mulher doce, dessas que merece ser amada como o bem
mais precioso do homem, recebendo carinho, atenção e amor.
Ficarmos algumas vezes, como ela falou em nossa conversa, pode
realmente ser algo que não mude as nossas vidas, mas, eu não quero ser o
homem que depois que terminar de beijá-la, corre para fuder outra mulher e
saciar todo o desejo.
Eu sei que sou um babaca em muitas coisas, quase em tudo, mas se eu
gasto o que gasto naquele aplicativo, é exatamente para não ser um babaca
com uma mulher que não merece. Ninguém tem culpa dos meus problemas,
do meu trauma e da minha perda, por isso, eu uso o aplicativo, para evitar
mesmo que sem intenção magoar alguém.
Esfrego o rosto e fico olhando em silêncio para os meus amigos, que
estão fingindo não se importar com a minha cara de cu, como Noah falou.
— Laura não veio, né? — Barbie pergunta para B e ele ergue as duas
mãos próximo aos ombros, mostrando que não tem uma resposta para isso.
— Pensei que vocês fossem amiguinhos que se pegavam, não era isso?
— Somos amigos, e sim, ficamos às vezes. Ou ficávamos, sei lá! As
coisas mudaram depois de Maldivas, mas ainda nos vemos com frequência.
Só que ela disse que está muito ocupada com os trabalhos novos, enfim, eu
sei quando alguém está sendo delicada mas quer que eu me afaste, então fiz
isso.
— Não será mais meu cunhado então? — Barbie faz um biquinho. —
Pensei que conseguiria usar isso para pedir desconto na obra!
— Em falar nisso, como está o planejamento? — pergunto e B me
agradece com o olhar, por ter desviado o foco dele.
— O arquiteto já fez todo o projeto, agora é com o B e a empresa
dele!
Barbie comprou um terreno enorme, que era um estacionamento
abandonado aqui em NYC, e o infeliz só contou para nós há pouco tempo.
Ele vai fazer uma clínica de reabilitação com foco em crianças, e pelo o que
entendi 80% dos pacientes terão todas as contas custeadas, e os demais, que
serão a porcentagem adulta de pacientes, pagará.
Foi lindo quando ele nos levou lá e contou a ideia. Laura chorou tanto,
que foi impossível o resto de nós não se emocionar. Barbie é um ser
humano muito evoluído e todo mundo sabe que Laura é seu bem mais
precioso, e a Reabilitação Nós, é uma homenagem linda a tudo que eles
passaram, mas de uma forma que ajude quem precisa.
E é esse um dos motivos de eu amar meu amigo e aguentar as suas
implicâncias e chatices diárias.
— O arquiteto é genial, o projeto é de outro mundo! E vai custar uma
fortuna, mas o gatinho vai tá bancando, então teremos tudo do melhor para
daqui a alguns meses inaugurá-la. O mais chato é a parte burocrática, e isso
estou terminando de resolver, para poder começar o trabalho sujo.
B é um engenheiro excelente, e esse é um dos motivos da sua empresa
ser tão requisitada e crescer cada dia mais. Nós vimos o quanto ele estudou,
viajou e se esforçou para chegar onde está. Muitos edifícios comerciais que
vemos por aí, esses que ficamos babando por serem luxuosos, foi a empresa
dele quem fez.
Eu tenho muito orgulho de todos eles, e como eles são pessoas
grandiosas em tudo na vida. Até mesmo quando é no quesito fazer merda.
As horas vão passando e vários assuntos vão surgindo em nossas
conversas, mas meus amigos já estão um pouco mais animados pelo álcool,
já que decidiram misturar a cerveja com um licor que Noah ganhou da
sogra, e eu aproveito esse momento para sair e pegar um ar.
A noite está bem bonita, e se tem uma coisa que eu gosto de ver, são
as estrelas. Eu sinto que poderia estar em qualquer lugar quando foco nelas
e esqueço das coisas ao meu redor.
Eu vou andando para longe de onde estava e me aproximando mais do
ponto em que consigo ver melhor tanto o céu quanto a cidade, e só paro de
andar quando escuto um barulho perto da árvore enorme, e reconheço os
longos cabelos ruivos de Emma, que está sentada na cadeira de balanço, de
costas para mim.
Travo alguns segundos, pensando se devo ir até lá ou fingir que não a
vi, mas meus pés decidem por mim e quando vejo já estou perto demais
dela e ela vira um pouco para ver quem se aproxima.
— Hmm… Oi, Jacob! — Seu rosto mais corado, provavelmente pela
bebida, se ilumina com a luz da lua e como se fosse possível, ela fica ainda
mais bonita, como se tivesse sua própria constelação com suas sardas. —
As meninas dormiram, vim pegar um ar.
— Já os caras estão tão agitados que estavam me dando nos nervos.
— Ela sorri de lado e volta a olhar para a frente e eu continuo olhando para
ela. Nesse momento estou me sentindo como esses meninos de filme que
ficam nervosos quando estão perto de uma mulher.
Eu ando um pouco mais para a frente, na intenção de me sentar no
chão, mas a ruiva dá uma risadinha e eu me viro para olhá-la.
— Senta aqui, Jacob! — Eu olho para o balanço, e ele não é daqueles
grandes que cabem mais de uma pessoa, e isso me faz erguer uma
sobrancelha. — Não me diga que nunca dividiu um balanço com ninguém?
— Ela volta a rir. — Para uma pessoa que se diz tão velha e experiente, te
faltam experiências em coisas mais simples. É só você sentar virado para
trás e eu para a frente, e a gente gira um pouco o corpo para poder nos
vermos, vem!
Isso que ela falou foi um belo tapa sem mão, e não posso desmentir.
E, como não tenho opção melhor, eu me sento do jeito que ela falou,
apoiando minhas costas na corda bem grossa que sustenta o balanço e
ficando de frente para ela.
— Satisfeita? — pergunto e ela faz que sim, concordando com a
cabeça. — E acho que você está certa. Faltou alguém para me ensinar
coisas simples, coisas que nenhum dinheiro compra.
— A sua sorte é que ainda pode aprender, Jacob — sua voz suave faz
com que eu acredite que poderia. — E, eu posso ajudar. Uma coisa que
meus pais me ensinaram todos os dias era dar valor às pequenas coisas,
pequenos momentos… esses normalmente podem passar despercebidos por
não serem grandiosos, mas vários deles se tornam algo lindo.
Fico admirado com as coisas que ela fala, e acabo ficando sem reação
e ela sorri, sem graça pela minha atenção.
— Seus pais são incríveis, Emma. Você sem dúvida puxou isso deles!
Sempre foi uma garotinha muito inteligente, e eu me lembro de como você
ficava hipnotizada ouvindo tudo que seus pais falavam. Era uma graça!
— Na maioria das vezes eu estava fixando os olhos neles para não ter
que te olhar e morrer de vergonha. — Ri dela mesma, e eu passo uma perna
para o outro lado, dando mais espaço para ela sentar, mas isso faz com que
ela fique entre elas e eu me mantenho o mais longe que consigo nessa
balanço.
— Você ainda faz isso… você ainda fica envergonhada perto de mim
— falo baixo, sem a intenção de constrangê-la e ela ri, confirmando com a
cabeça e o movimento faz com que seu cabelo solte do costumeiro coque.
— Eu só não entendo o porquê. Sei que não sou o mais receptivo entre
nossos amigos e que parecia querer te matar quando não conseguia lembrar
de onde te conheci, mas eu…
— Você é meu crush de infância, Jacob. Acho que a Emma de 6 anos
às vezes tenta dar as caras — ela termina de falar e morde o canto da boca,
e eu fico com inveja dos seus dentes.
— Eu prefiro quando você fica à vontade, igual na conversa de ontem
— minha voz sai mais rouca do que já é e eu não fiz isso para seduzi-la,
mas porra, não conseguiria ficar assim tão perto sem mencionar a conversa.
— Suas bochechas coradas te deixam ainda mais bonita, Emma, mas gosto
da sua língua afiada.
Consigo ver perfeitamente quando a respiração dela muda e fica mais
pesada. Seu braço perto da minha perna mostra o final de um arrepio e eu
passo a ponta de um dos meus dedos do seu punho até o cotovelo e ela me
encara, com as pupilas levemente dilatadas.
Desejo.
Eu reconheço isso com facilidade nas pessoas. E saber que estamos
em sintonia nisso, faz com que meu corpo também se arrepie.
— Acho que eu tenho mais coragem pelo celular, pelo visto — diz
baixinho, colocando o cabelo atrás da orelha. — Eu queria ter coragem
igual as mulheres de filmes, que são decididas e tomam a iniciativa… Mas
me falta coragem.
Eu vou infartar, e a culpa será dela.
— A sua sorte, amore. — Eu arrasto meu corpo só um pouco para a
frente, e subo minha mão do seu cotovelo até seu rosto. — É que eu tenho
coragem por nós dois. — E sem pensar na merda que isso pode se tornar
futuramente, eu olho em seus olhos por alguns segundos e depois a beijo,
segurando seu rosto com as duas mãos.
Emma leva poucos segundos até entender e logo abre espaço para que
a minha língua invada a sua boca, que por sinal tem um gosto forte de
vinho, que muito me agrada e a beijo com calma, aproveitando cada
segundo.
Viro nossas cabeças para lados opostos, e assim encaixo melhor
nossas bocas que parecem ter sido feitas sob medida.
Eu chupo sua língua, e mordisco o seu lábio inferior e volto a beijá-la,
tentando manter todo o meu controle para manter o ritmo atual.
Meu pau lateja forte dentro da minha calça quando ela apoia a mão
em minha coxa, e seus dedos ficam perto da minha virilha.
Como eu queria que fosse proposital e que depois esses dedos
rodeassem meu pau pelo resto da noite.
Afasto nossas bocas, para tomarmos ar e quando abro os olhos me
deparo com os dela brilhando, e um sorrisinho bobo no rosto. Eu não resisto
e dou um selinho no sorriso que fica ainda maior.
— Eu gostei disso! — ela comenta baixinho.
— Eu também gostei, é sempre bom. — Sorrio para ela, e dou um
beijo em seu ombro nu. — E ser tão bom é um perigo. Na verdade, ainda
acho que você vai perder seu tempo comigo.
Ela volta a olhar para a frente e suspira, se mantendo em silêncio por
algum tempo.
— Provavelmente! — Me surpreendo com sua resposta, mas admiro a
sua sinceridade. — E digo o mesmo para você, Jacob. O que eu tenho para
oferecer é bem menos do que você costuma ter, acredito eu!
— Acho que nós dois sabemos onde estamos pisando, Emma. — Isso
sou eu decidindo as coisas com a cabeça do pau, decidindo o que será a
minha morte lenta. — Agora vem aqui, amore!
Ela vira, sorrindo e eu volto a beijá-la. Tentando gravar como é a
maciez da sua boca, para quando me torturar mais tarde lembrar com
perfeição.
Emma chega com o corpo bem para a frente e me abraça com força
quando acelero um pouco, mas não me oponho a essa aproximação e acabo
fazendo o caminho mais longo até o apartamento dela.
— Chegamos, Emma! — digo depois que desligo a moto, e vejo que
ela continua com o rosto escondido nas minhas costas.
— Amém, sobrevivi. — Ela pula da moto, meio zonza e eu sorrio
enquanto assisto ela tentar tirar o capacete, bufar frustrada por não
conseguir e vir na minha direção. — Precisa de algum curso para saber usar
um capacete?
Eu rio, e ela me acompanha.
— Não, amore. — Eu a puxo para ficar um pouco mais perto, encaixo
os dois dedos nas travas e solto na mesma hora. Tiro o capacete dela e
afasto os cabelos que ficaram grudados em sua testa. — Você só precisa
apertar aqui. — Mostro e ela olha com atenção. — Da próxima vez você
conseguirá colocar e tirar rapidinho.
Próxima vez.
Por que diabos eu falei isso?
Mas Emma é minha amiga também, então é claro que em algum outro
momento eu darei carona a ela novamente. É normal amigos darem carona
uns aos outros e não tem nada a ver com o fato de termos nos beijado. E eu
quero beijá-la novamente, agora.
— Da próxima vez eu preferia que fosse em um carro! Muito mais
confortável e espaçoso.
— Você correria muito mais riscos dentro de um carro comigo, do que
em cima de uma moto, Emma. — Ela franze o cenho, e eu ergo uma
sobrancelha. — Espaço demais, amore. Minha mente é muito maldosa.
Ela dá um sorrisinho tímido, mas morde o lábio inferior.
— E isso é ruim?
— Dio mio, donne! — Esfrego o rosto com força, tentando pensar em
alguma coisa triste para não ficar de pau duro bem aqui. — Eu estou
tentando ser o mais controlado possível com você, não me provoque,
amore.
— E eu estou tentando me soltar. Estamos em um impasse! — Ela
coloca o cabelo para trás da orelha, e depois semicerra os olhos em minha
direção. — Eu não preciso que você seja alguém diferente comigo, Jacob.
Não vou quebrar só porque sou virgem. Não precisa ter medo de encostar
em mim.
Engulo em seco, imaginando as milhões de formas que eu poderia
tocar nesse corpo que acaba comigo. Imaginando muitas maneiras que eu
poderia fazê-la gritar meu nome, sem nem penetrá-la.
— Você com certeza está conseguindo se soltar, Emma. — Giro a
chave na moto, ligando o motor para ir embora antes que eu faça uma
loucura aqui no meio da rua. — E isso está me deixando louco, de um jeito
bom, mas acredite em mim quando eu digo que tenho que me controlar,
amore.
Ela volta a ficar vermelha, e eu pisco para ela antes de ir embora.
No caminho eu só consigo pensar em quanto eu a desejo, e como já
tem tempo que esse desejo me consome. Já fazia mais de 10 anos que eu
não beijava outra mulher, e nem sentia falta de ter esse contato, porque
oportunidade não me faltou, mas desde que ficamos a primeira vez no Rio
de Janeiro, parece que desencadeou algo.
Eu tentei beijar algumas das mulheres do aplicativo depois do
carnaval, mas quando eu chegava perto de fazer isso, via que não tinha essa
vontade com nenhuma delas. Igualmente ao meu corpo que parece não ter
vontade de fuder com nenhuma das quais tentei.
Emma é um pedaço do meu passado no meu futuro, e eu tenho medo
de misturar as coisas de alguma maneira, mesmo que involuntariamente.
Mas, agora que eu provei dela, eu quero mais.
E porra, eu faria ela sentir tantas coisas que ela nem imagina que o
corpo pode sentir sem ter penetração.
Entro no meu condomínio meio desnorteado, e estaciono minha moto
dentro da minha garagem, já sendo recebido por esses dois monstrinhos que
ficam aqui fora.
— Oi crianças, venham cá! — Assovio e bato em minhas coxas e em
questão de segundos eles pulam em mim, tentando lamber minhas mãos e
braços. Faço carinho em ambos, vou até o quintal ver se está tudo em
ordem e limpo a sujeira deles enquanto eles brincam com o osso novo, que
deve durar até no máximo uns 15 minutos. — Como foi o dia de vocês?
Eles me olham, como se quisessem realmente falar algo e eu volto a
fazer carinho nas cabeças enormes dos meus rottweilers, que de
assustadores só tem mesmo o tamanho, são uns amores.
— Vão para casa, está tarde. Amanhã vamos correr cedo! — Eles
lambem minha mão e vão correndo para a casa deles, que acreditem se
quiser, é um canil enorme em formato de casa, e lá dentro tem as camas
deles, os brinquedos e também as cobertas.
Dentro de casa, Dumbledore e Snape nem levantam para vir falar
comigo, já sabendo que irei até eles, e assim eu faço.
Quando não estou em casa, eu deixo que eles fiquem pela área comum
da casa, menos os quartos, para não correr o risco de acabarem se
empolgando em alguma brincadeira e quebrando algo ou sujando. Mas é só
eu chegar, e ir para o meu quarto que eles vem na mesma hora.
— Amanhã é dia de gravar conteúdo para o Instagram de vocês, então
por favor, colaborem. — Dumbledore levanta a cabeça, mas depois fecha os
olhos e volta a dormir, como se não desse importância para o que eu falo.
Abusado.
Faço um lanche rápido, e como em pé, perto da pia, enquanto passo
olho pelo Instagram, vendo nada de interessante até que aparece uma foto
da ruivinha, que ela postou há 2 minutos. Emma está de frente para o
espelho, com a mesma roupa de mais cedo, escondendo o rosto com o
celular e mostrando seu look. Ela recebeu várias curtidas e tem alguns
comentários já, inclusive dos nossos amigos, uns jogadores idiotas que
devem tê-la seguido por causa da Kath, um homem chamado Luke e mais
alguns que nem olho.
Emma é linda, e os outros homens enxergam isso perfeitamente. E
muitos deles já devem ter notado que ela não dá muita ideia para flerte,
então estão sendo bem diretos.
Stronzos.
Termino de comer, mas não sem antes curtir a foto e colocar dois
emojis com uma moto e um capacete.
Vou para o meu quarto sendo seguido pelos cachorros e tomo um
banho rápido, vestindo só uma calça de moletom. Nos dias que deixo eles
dois dormirem aqui, nunca consigo ficar sem roupa. Acho muito estranho!
Na minha cama está o notebook e o caderno com todas as anotações
que eu tenho feito para o restaurante no Brasil. Sendo muito sincero, não
queria me envolver em negócios desse tipo, mas esse foi o único jeito de
conseguir realizar o sonho de Owen e Helena, então vai valer a pena esse
sacrifício.
E de um jeito ou de outro, farei com que a minha parte do dinheiro vá
para eles. Ou para Emma, mas isso é um problema para pensar futuramente,
quando os lucros estiverem entrando.
Helena cozinha absurdamente bem, e também sei que tem uma
pequena equipe com pessoas que os ajudavam no restaurante que tinham
por lá, mas agora queremos fazer uma coisa grandiosa, então terão que
contratar alguns funcionários a mais. Como eu sou administrador, me
ofereci para ajudá-los na parte administrativa e contábil do restaurante até
chegar em um ponto que dê para custear pessoas para fazerem isso.
Os dois pensam grande, e são muito inteligentes. Só dou uma ideia ou
outra, do que pode melhorar em questão a funcionalidade e o resto ficará
por conta deles. Decoração, cardápio… essas coisas não me envolvo, até
porque tem que ficar do jeito deles, só quero que tudo seja perfeito.
Eles irão na próxima semana visitar dois lugares que eu vi, que
parecem ser bons pontos para um restaurante e se um deles for o escolhido,
começará a obra e em breve tudo estará de pé.
Meu telefone vibra e eu penso em ignorar, mas acabo pegando e vejo
que é uma mensagem da assistente do pappa, confirmando o nosso café
amanhã, e minha vontade é tão pouca de ir, que respondo apenas com um
ok.
Isso é o suficiente para me deixar irritado e vou dormir assim,
pensando que amanhã terei um dia de merda tendo que ver o homem que
mais desprezo. Mas só vou fazer isso pela mamma. Por ela, e apenas por
ela, vale a pena ter que encontrar com ele.
Sento na mesa mais escondida da cafeteria mais distante da minha
casa e do trabalho que consegui achar na internet, e como faltam alguns
minutos, eu já sabia que ele não estaria aqui. Pappa nunca chega antes, para
não se mostrar ansioso para as outras pessoas.
Já peço um café bem forte, bem estilo americano, para ver se assim eu
consigo sair daqui com alguma energia, já que sempre que tenho que vê-lo
parece que ele me rouba toda a vitalidade. É um sanguessuga de energias
alheias.
Pelo canto do olho, eu vejo uma movimentação que infelizmente eu
conheço muito bem. Meu pappa e seus dois seguranças, os que fazem tudo
por ele, ou melhor, pela fortuna que ele paga aos dois pelos trabalhos e pelo
silêncio.
— Figlio mio, que prazer conseguir vê-lo depois de tantos anos! —
Me esforço para conseguir levantar meu rosto e encará-lo. Vejo sua mão
estendida, mas a única coisa que eu faço é levar a xícara de café até a boca
e tomar mais um gole. — Pensei que toda a educação que eu te dei, tivesse
servido de algo.
Seus seguranças sentam na mesa atrás de nós e assisto em silêncio
enquanto Enrico Vacchiano senta à minha frente, sempre muito fino e
mantendo a etiqueta.
— Enrico, se você veio no intuito de fazer com que eu perca meu
tempo, para me ofender, ou qualquer coisa que não me interesse, eu
simplesmente irei levantar e sair.
O homem à minha frente, com a aparência impecável e ridiculamente
bem para a idade dele, mostra o sorriso que sempre odiei. O sorriso que
esconde a raiva para os demais, mas não de mim. Qualquer pessoa que veja
de fora, vai pensar que ele é um homem realmente feliz em falar com o
filho, mas eu o conheço além das aparências.
— Tutto a posto! Se você quer ir direto ao assunto, então iremos. —
Ele faz uma pausa e pede um café, esperamos até que o entregue e ele faz
uma cara feia ao beber, mas não larga a xícara. — Seu fratello está aqui,
parece que ele achou inteligente seguir os seus passos e abandonar todo o
império que eu criei.
— Inteligente! Nunca duvidei que um dia ele veria quem realmente
você é.
— Você é um garoto ingrato, Jacob. Eu lhe dei tudo que um homem
precisa para se tornar o melhor em tudo, o melhor entre todos. E o que você
fez? Deu as costas a sua famiglia. Sabe o quanto ainda é difícil ter que
explicar a quem pergunta sobre meu figlio mais velho?
Reviro os olhos com tanta força que chega a dar uma dorzinha na
minha cabeça, e apoio os dois braços na mesa antes de voltar a encará-lo.
— Oh, quanto mi dispiace, pappa! — meu tom de deboche, deixa-o
vermelho de raiva e vejo seu maxilar trincar, o que me faz sorrir de lado. —
Eu não me importo, caso ainda não tenha reparado. A única coisa dentro
daquelas terras que eu faço questão é a mamma. Por que você não a liberta
dessa vida? Você tem todas as mulheres que quer, você tem dinheiro para
pagar a acompanhante mais cara do mundo para ser seu novo troféu, por
que simplesmente não deixa a mamma?
Ele se mostra preocupado por questão de segundos, mas logo volta a
sua postura de sempre. Mas esses segundos foram o suficiente para me
deixar ainda mais preocupado.
— Sua mamma não mora mais lá. Há exatas duas semanas que ela
saiu da nossa casa, e foi para a Sicília. — Olha ao redor, como se estivesse
procurando alguém que não pudesse ouvir o que ele irá falar. — Nós nos
divorciamos há 5 anos, Jacob. E eu tenho um novo relacionamento, mas sua
mãe vivia tão dopada que nem lembrava disso, e continuava lá em casa. Na
verdade, eu não entro lá há muito tempo, apenas continuo mantendo aquela
mansão que perdeu a vida.
Eu tento procurar nele qualquer sinal que demonstre que se
arrepende de algo que já fez para a nossa família, mas a única coisa que
consigo ver é um homem que ama apenas a si mesmo. É tão egocêntrico,
que às vezes fico na dúvida se o coração dele funciona para algo mais do
que mantê-lo vivo.
— Ainda não sei o porquê de querer falar comigo, Enrico. — Olho
meu relógio e constato que a conversa está sendo mais longa do que eu
planejava e isso me deixa ainda mais irritado.
— Francesco não foi tão inteligente como você e demorou a decidir
que também não seria meu sucessor. E agora está nessa cidade horrível,
cheia de prédios e poluição, vivendo da última mesada que eu dei.
— Como assim?
— Francesco veio para NY sem dinheiro, para estudar e viver a
própria vida. O que para mim é indiferente, mas ele viu coisas demais
enquanto parecia ser o figlio que eu sonhei que um de vocês fosse. — Ele
chama a garçonete e dá alguns dólares para ela, mostrando seus dentes
impecáveis. — Aquele stronzo vai aprontar alguma coisa, porque eu
conheço vocês bem demais, conheço a ponto de saber que você fará o que
for preciso para proteger seu irmão.
Meu peito pesa quando eu entendo que ele está claramente ameaçando
meu irmão para mim, e aperto forte a beira da mesa para não acabar
fazendo algo que eu possa me arrepender depois.
— Vai al diavolo! Farabutto! — falo entre os dentes, sentindo meu
corpo tremer de raiva. E ignoro totalmente os seguranças dele que se
levantam e vem até nós. — Você é um monte de merda, e se acha mesmo
que meu fratello é o único que sabe das suas coisas sujas, você está mesmo
enganado.
Me levanto, mas os dois seguranças, que me conhecem desde criança,
não me deixam passar e me encaram como se eu fosse um lixo qualquer.
— Deixe-o ir, ele já entendeu tudo o que eu tinha para dizer. — Eles
me dão espaço e passo entre eles, esbarrando em seus ombros e com
vontade de socar tudo o que tem pela minha frente.
Saio meio desnorteado e peço desculpas às várias pessoas que eu vou
esbarrando pelo caminho enquanto ando sem nem saber para onde vou,
ainda sem acreditar, que até mesmo uma pessoa como ele, teve coragem de
ameaçar o filho.
O que deu errado com esse homem? O que será que fizemos de tão
errado para sermos odiados desse jeito? Meu irmão está prestes a fazer 20
anos, e agora está nesse lugar que provavelmente não conhece direito, tendo
que mudar totalmente sua realidade e isso tudo para poder ficar longe do
pappa.
Quando eu paro de andar, depois de muito tempo, vejo que parei no
lugar que sempre venho quando preciso ter um pouco de paz. O cemitério
onde eu enterrei Sophie e meu filho, e é até a lápide deles que eu vou.
Depois que passo dos portões a caminhada é lenta e difícil, sempre
fico com a sensação que isso é muito errado e que nada deveria ter chegado
a esse ponto. Não é justo uma criança que seria muito amada, ter perdido a
vida antes mesmo de conhecer o rosto dos pais.
Tiro meu paletó e sento de frente para a lápide, sentindo meus olhos
arderem ao ver o nome de ambos gravados eternamente nessa pedra, e
involuntariamente seguro as alianças presas em meu cordão.
Eu nunca falo nada, nunca consegui falar nada. Então apenas fico
aqui, mais uma vez imaginando como a minha vida estaria agora e como
provavelmente eu seria um homem diferente.
10
— Por que a gente simplesmente não vai logo para o bar? — pergunto
a Francesco, que caminha ao meu lado, segurando a minha bolsa e com um
braço em cima do meu ombro.
— Onde eu estou morando é cinco minutos daqui, Em. Deixa de ser
preguiçosa! — Ele apressa nossos passos e me esforço para caminhar, já
que é algo que eu tenho muita preguiça de fazer.
Francesco já tinha me intimado a sair com ele esse final de semana, e
como amanhã é a festa dos Gorillas, decidimos hoje ir a um bar. Queria
muito levá-lo a Lótus, mas ainda não é o momento para isso.
A caminhada realmente é bem rápida, e em poucos minutos chegamos
em um prédio antigo, mas com a fachada impecável. Assim que subimos as
escadas para poder entrar, vejo que tem uma placa informando que o prédio
é apenas para alunos da Columbia, e que todos os quartos estão esgotados.
Isso me deixa confusa e curiosa. A família Vacchiano é uma das mais
ricas da Itália, então se ele está morando aqui, é sinal que está sem dinheiro.
Não que aqui seja um lugar ruim, pelo pouco que estou vendo enquanto
subo ao segundo andar, mas, sem dúvidas não é algo que se espera de
alguém tão rico como ele.
— Esse é o apartamento em que eu fico! — diz quando abre a porta, e
já me deparo com uma sala espaçosa, e uma cozinha bem equipada. E dois
homens enormes sentados no sofá, comendo pipoca. — E aí, gente! Vocês
já conhecem a Emma, né?
O moreno, que está sem camisa, sorri de lado para mim.
— Claro que eu conheço, é impossível não conhecer pelo menos de
vista a sua amiga gata! — Caramba, bem sutil, né?
Francesco bufa e ao passar pelo amigo, dá um tapa na cabeça dele,
que apenas ri e passa a mão onde levou o tapa.
— Emma, esse babaca é o Bruce!
— Eu sou o Batman! — Bruce fala com a voz mais grossa,
interrompendo Francesco e eu preciso colocar a mão na boca para não
escapar uma risada muito alta quando entendo a referência. — Viu? Elas
sempre gostam disso!
— Desculpe por ele, Emma. Mas parece que faltam alguns parafusos
nele. — O outro amigo se levanta, esse eu já vi várias vezes com o
Francesco pela faculdade. — Acho que nunca me apresentei, mas eu sou o
Joshua! — Aceito a sua mão quando a estende para mim, e sorrio. Joshua é
muito bonito, mas já percebi que ele é bem diferente dos outros, parece
mais tímido e meio introvertido.
Francesco avisa que deixará a minha bolsa no seu quarto e eu me
sento no puff, enquanto Joshua arruma as coisas que ficaram bagunçadas e
o suposto Batman veste uma camisa bem apertada.
Eu imagino que eles devam ter a minha idade ou um pouco mais, só
que sem dúvidas nenhum deles, contando com Francesco, parecem ser
novos assim. E isso com certeza tem a ver com as barbas cheias e os corpos
enormes. Devem comprar uma tonelada de comida por mês, no mínimo.
Me levanto quando Francesco volta, saímos os quatro do prédio, e eu
fico apenas ouvindo o que eles pretendem com essa noite.
— O que deu errado para você que vive com os ricos, estar andando
só com os pobres agora? — Bruce me pergunta sem maldade, e com um
tom de brincadeira assim que paramos na fila do bar que eles escolheram.
Quando eu olho para o Francesco, ele faz uma cara estranha e eu deduzo
que é para eu ter cuidado com o que vou falar.
— Vamos começar pelo fato que eu não sou rica, e já conheço o
Francesco há muito tempo. Isso é muito mais a minha realidade do que
quando estou com os meus outros amigos. — Francesco sorri, satisfeito
com a minha resposta.
— Vocês são amigos da Itália, então? — dessa vez é o Joshua quem
pergunta, e é claro que não teria como o Francesco não contar que é da
Itália, o sotaque é fortíssimo, mesmo que ele fale perfeitamente o inglês.
— Somos! Mas Emma foi embora muito antes de mim e perdemos o
contato, mas parece que o destino queria que voltássemos a ser amigos e
aqui estamos, juntos depois de anos.
Os dois se dão por satisfeitos com as perguntas e começam a falar de
coisas aleatórias. E assim, eu descubro que Bruce joga basquete pela
faculdade, e cursa engenharia mecânica junto com Joshua e Francesco. E eu
acho engraçado como eles são bem diferentes, mas fazem a mesma coisa.
Nós entramos no bar, e a primeira coisa que eu noto são muitos rostos
familiares. Pelo visto o bar é bem popular entre os alunos da faculdade,
incluindo os do meu curso também.
— E aí! — Um rapaz loiro, que estava sentado em uma mesa sozinho,
se levanta e chama a gente para onde ele está. — Demoraram para caramba
hein, já tô no meu segundo chopp!
— Emma, esse educado é o William. O quarto e último integrante do
apartamento! — Joshua explica e eu o cumprimento, ganhando um beijo
gelado no rosto, logo depois me sento, ficando no meio deles no sofá que
forma um U, e que tem uma mesa no meio.
Uma garçonete muito sorridente chega com uma bandeja cheia de
canecas de chopp, e depois dá um selinho disfarçadamente no William, que
sorri de canto a canto. Não sei se eles namoram, mas com certeza ele gosta
dela e não se incomoda em demonstrar. É fofo!
— Você namora, Emma? — Volto a olhar para o Bruce e faço que não
antes de tomar um gole da minha cerveja muito gelada. — Queria dizer que
é uma pena, mas estou muito feliz em saber disso.
Não é difícil identificar que o Bruce é o mulherengo e descarado desse
quarteto, mas eu não me incomodo e só rio, sem dar muita ideia. Esse tipo
de homem não me atrai, por mais que ele seja muito bonito.
— A faculdade toma muito o meu tempo, não conseguiria dar atenção
para um namorado.
— Eu concordo — Francesco comenta. — Mas eu consigo arrumar
tempo para pelo menos dar uma escapadinha por aí, se é que me entendem.
— Você transa todo dia, Francesco. E em qualquer lugar! Deve ser
alguma doença — Joshua comenta e empurra seu óculos para cima, fazendo
uma careta para o amigo, que ri do que escuta.
Eu olho para Francesco, e depois olho ao redor. Não é difícil perceber
que a mesa onde estou é a que mais chama a atenção das demais pessoas, e
cada um dos meninos têm uma grande atenção de todos, até mesmo o
Joshua, que é o que não parece se importar com tal coisa. Já Francesco
encara de volta cada uma das mulheres que o encara, e sorri para todas.
É quase inacreditável ver que aquele menino de anos atrás, se tornou
esse cara ao meu lado.
— Certo, talvez eu transe bastante. Mas nenhum de vocês pode negar
que é muito bom, nem mesmo você, Josh. Todo mundo sabe que você e a
Emilly se dão muito bem no grupo de estudos.
Eu paro de prestar atenção no assunto antes que chegue a mim e eu
sou péssima em disfarçar. Como eu ando com pessoas mais velhas, eles não
têm o costume de ficar conversando sobre isso abertamente, apenas as
meninas quando ficamos sozinhas, mas elas já sabem a minha situação.
Alguns meninos que fazem aula comigo, passam por nós e me dão
tchau. Eu respondo com um sorriso mas acho estranho, já que nunca
falaram comigo.
— Emma, você não pode andar com a gente — Bruce fala, e eu fico
sem graça e sem entender o porquê de ter falado isso. — Você chama mais
atenção do que todos nós juntos. E olha que o mais baixo é o Francesco
com 1.87! — Fico aliviada ao entender que é uma brincadeira.
— Você pode ficar despreocupado, Bruce. Ninguém consegue chamar
mais atenção do que o próprio Batman. — Ele dá uma risada alta, e levanta
a mão para que eu bata nela.
— Porra, gostei de você! E por conta disso, acho que deveríamos ser
um casal. — Ergue as sobrancelhas ao mesmo tempo, repetidas vezes e
novamente eu rio. Me sentindo à vontade com eles, e feliz por ter o
Francesco de volta em minha vida.
A noite vai passando mais rápido do que eu queria, e me mantenho só
na cerveja para conseguir ir embora tranquila e sem que ninguém precise
me levar.
Eu aproveito quando os meninos se distraem, pego o meu celular, tiro
uma foto da mesa cheia de copos, aparecendo a mão de todos eles, e depois
tiro uma selfie minha.
— A regra é clara, Emma: selfie só se for com todos juntos! —
William fala, se oferecendo para tirar a foto do ângulo que está e eu dou
meu celular a ele. Arrumo rápido meu cabelo e todos nós ficamos
espremidos para a foto ficar boa, quando ele me devolve, vejo que ficou
incrível, todos sorridentes e eu no meio.
Eu arrumo as fotos para postar no feed, todas as três, mas aí lembro de
uma coisa muito importante.
— Fran…
— Pode postar, Emma. Jacob já sabe que eu estou aqui, e nos falamos
hoje por telefone. Mas, não falei nada sobre ter te reencontrado, então fica
por sua escolha se deseja postar ou não antes de falar com ele.
Eu decido postar a minha selfie e a mesa nos stories, coloco a
localização e marco todos os meninos, mas escondo as marcações. Não
quero que o Jacob se chateie ao descobrir assim, então amanhã eu conto
para ele.
No meu celular mostra que já são quase 3 horas da manhã, e essa é a
minha deixa para ir embora. Bruce já está numa roda de meninas, Joshua foi
embora, William está no balcão com a garçonete e Francesco comigo.
— Francesco, eu já vou. Na segunda, eu pego a minha bolsa com
você, pode ser?
Ele levanta, e eu faço o mesmo. Como de costume, ele passa o braço
em meu ombro e vai comigo até a parte de fora do bar para me fazer
companhia, enquanto espero o carro do aplicativo que eu pedi, chegar.
— Tem certeza que não quer dormir lá no apartamento? Eu fico na
sala, sem problema nenhum.
— Não precisa, eu moro bem pertinho daqui.
— Tudo bem. Já que é assim, vou convidar aquela loirinha muito gata
e da bunda grande que está me dando mole para ir dormir comigo.
— Ai meu Deus, Francesco. Você é um safado!
Ele ri e eu ganho um beijo na testa, o abraço forte antes de entrar no
carro que acabou de chegar, e ele fica olhando até que eu entre.
Francesco foi o único amigo que eu tive de verdade na infância, e eu
nem consigo explicar o quanto estou feliz em estar próxima dele
novamente. Para tudo isso melhorar, só preciso que ele e o irmão voltem a
se dar bem. O amor que existia entre os dois era lindo, e o Jacob sempre foi
muito amoroso com ele, tentando suprir tudo que o Enrico não fazia.
E falando em Jacob… ele respondeu meu storie mais cedo, mas eu
acabei me distraindo e não respondendo. Mas eu lembro que ele falou para
eu ter cuidado na rua até tarde, conferir se ninguém colocou nada em minha
bebida e que avisasse quando chegasse, a hora que fosse. E é exatamente
isso que eu faço depois que entro em casa e vou direto para o meu quarto.
Tiro uma selfie fazendo aquela famosa pose paz e amor com os dedos,
e mandando um beijo. Depois largo o celular na cama, tomo um banho
quente com cuidado para não molhar o cabelo, e visto uma camisola que
Kath me deu. Ela é toda transparente, e com renda nos lugares estratégicos
para não aparecer nada.
Claro que teria muito mais utilidade para ela usar com o marido, mas
minha amiga cisma que eu preciso ter essas peças e que futuramente eu irei
agradecê-la. Eu uso todas, porque são lindas e confortáveis.
Meu telefone vibra na cama e eu vejo que tem três notificações
mostrando que Jacob me respondeu, na hora eu pulo no colchão para pegar
o celular e ler o que ele mandou.
Jacob: Que bom que chegou bem!
Jacob: Como foi o passeio com seus amigos?
Jacob: Dormiu? Boa noite!
Eu: Não dormi não, fui tomar um banho. Estou exausta! A faculdade
suga minha energia, mas eu amo.
Jacob digita, digita e não vem nenhuma resposta. Mas daí aparece a
solicitação para atender a chamada de vídeo, eu tento me sentar e arrumar o
cabelo em segundos e o atendo.
— Bem melhor assim! — ele fala e dá um sorrisinho de lado,
colocando um dos seus braços por trás da sua nuca. — Gostei da camisola!
— Seu olhar desce até meu busto e depois volta a olhar em meus olhos.
Engulo em seco, mas tento não demonstrar que fiquei atingida ou sem
graça. Eu gosto dos elogios dele, e preciso parar de ficar envergonhada toda
vez que ouvir algum, mesmo que seja direcionado a algo que estou usando.
— Cadê Dumbledore e Snape? — pergunto, tentando fugir de falar
algo a respeito do elogio anterior.
— Hmmm, hoje eles não estão no quarto comigo. — Eu percebo que
ele tenta segurar uma risada e fico curiosa do porquê, já que não falamos
nada engraçado.
— Pensei que eles dormiam com você!
— Sim, normalmente. Mas, eu prefiro deixá-los pela sala quando
durmo sem roupa.
Eu fecho os olhos e pressiono os lábios quando escuto ele falar, me
esqueço que estamos em uma ligação por vídeo e dessa vez ele solta uma
risadinha, mas com um tom malicioso e eu me arrepio.
— Faz sentido! Deve ser estranho eles dormirem perto de você,
enquanto você está como veio ao mundo. — Ele concorda, ainda com o
sorriso no rosto. — Mas eu acho que preferia não saber disso, porque agora
vou ficar pensando que você está pelado enquanto fala comigo.
Ele gargalha ao me ouvir, e eu rio junto.
— Acho que não faz muita diferença, você não está vendo!
— Mas estou imaginando — disparo em resposta.
— Então me imagine excitado, porque acabei de ficar assim! — Ele
tira o braço de trás da nuca e alisa o rosto com força. — Mas posso colocar
uma cueca se não se sentir à vontade.
— Não! — digo rápido demais e ele ergue uma sobrancelha. — Quero
que fique à vontade, igual você faz comigo.
Eu puxo a minha coberta até cobrir o meu busto, na intenção que ele
não consiga ver que eu fiquei excitada, mas eu tenho certeza que meu rosto
deve estar me entregando. Mas Jacob é bom em me deixar tranquila e não
fala nada sobre isso.
— E como foi no bar? Aquele bar funciona desde a época que eu
fazia faculdade, bateu até uma nostalgia quando vi a foto com os meninos.
— Como você sabe que eu estava acompanhada de homens?
— Aquelas mãos não pareciam nada com mãos femininas… mas
posso estar enganado.
— Não está! Inclusive… você vai amanhã na festa, né? — Ele faz que
sim com a cabeça, e eu suspiro antes de falar. — Ótimo, aí conversamos
algumas coisas pessoalmente.
Ele me olha estranho, como se soubesse exatamente o que eu tenho
para falar, mas não fala nada por um tempo, diz que já volta e pede para eu
esperar por alguns segundos.
Quando aparece de novo, está segurando uma foto dele e do irmão
quando eram mais novos. Meu coração já para de bater nesse instante, mas
eu espero que ele fale algo.
— No dia dessa foto, Francesco inventou de subir numa árvore pela
primeira vez, e não deu certo. Ele caiu por cima de um galho e fez uma
cicatriz no canto da mão esquerda e a gente tinha o hábito de desenhar
teias em volta dela. — Ele coloca a foto do lado dele e volta a me olhar. —
Eu reconheceria a mão do meu irmão em qualquer lugar, Emma.
Eu quero chorar, sério.
— Então, era sobre isso que eu queria falar com você…
— Eu já sei que meu irmão está morando perto da faculdade, sei que
ele divide um apartamento com três amigos e também sei que vocês
voltaram a se falar.
— Minha intenção não foi te esconder isso — começo a falar,
nervosa. — Mas Francesco me pediu para dar um tempo para ele mesmo
falar com você, e por isso eu não contei, mas não quis…
— Emma, calma. — Ele solta uma risadinha. — Não estou chateado
com isso, jamais ficaria. Francesco é meu irmão e eu sei que vocês eram
muito próximos, até fiquei aliviado em saber que ele tem uma boa pessoa
perto dele, mas — vejo o maxilar dele trincar rapidamente nesse meio-
tempo que ele respira — não sei qual é a de vocês, muitos anos se
passaram e agora vocês são adultos, então só me avisa se a amizade de
vocês for para outro caminho. Não quero viver um triângulo amoroso com
meu irmão e você!
Eu tento muito não rir e até pressiono um lábio no outro com muita
força, mas a gargalhada escapa dos meus pulmões e sinto até umas lágrimas
escorrerem.
— Jacob, seu irmão é como um irmão para mim, de verdade. E acho
que é muito recíproco isso! E mesmo que não se importe, eu quero pedir
desculpas por não ter falado, mas não queria piorar a situação de vocês. —
Me acalmo, conseguindo conter a risada. — E por mais que ele esteja lindo,
prefiro você! — pontuo no final, para aliviar o clima.
— Não precisa se desculpar, amore. Eu entendo a sua intenção, e
achei certo da sua parte. Mas gostei de saber que você prefere a mim. —
Ele aproxima um pouco o celular, e eu só consigo olhar para a boca gostosa
que esse homem tem. — Se eu estivesse aí agora, e ouvisse isso
pessoalmente, eu te beijaria só para você entender o quanto eu gosto
quando você é sincera sobre essas coisas!
Eu consigo imaginar perfeitamente enquanto ele fala, e caramba, eu
queria muito.
— Eu não me importaria de passar o resto da madrugada te beijando.
Ele emite um som, tipo um gemido bem baixinho e eu contraio a
minha boceta involuntariamente.
— Cazzo, Emma! — Ele aperta a mão na frente do rosto. — Você não
tem ideia de como essas coisas que você fala mexem comigo! E eu não
consigo parar de me imaginar te beijando com você vestindo apenas essa
camisola.
JESUS!
Eu acho que entraria em choque se o beijasse apenas de camisola
enquanto ele estivesse nu. Sinceramente, não sei como ninguém nunca
morreu de desejo por outra pessoa. Preciso pesquisar se isso é possível,
porque acho que se ele tivesse na minha frente agora, aconteceria
exatamente isso comigo.
— Eu lembro como foi ficar em seu colo no Brasil, com roupas…
acho que com as nossas vestimentas atuais, eu morreria.
— Amore, se eu pudesse, te mataria de tanto gozar e depois te traria de
volta para poder repetir tudo inúmeras vezes! — Dessa vez sou eu quem
deixa um gemido escapar, e ele morde o lábio. — Posso fazer uma pergunta
íntima?
— Pode fazer a pergunta que quiser, já nem consigo mais raciocinar.
— Não precisa responder se não quiser, mas eu já percebi que você
fica mais à vontade quando não estamos juntos pessoalmente. — Eu
concordo, porque de fato eu fico menos envergonhada quando ficamos por
chamada de vídeo, e olha que essa é apenas a segunda vez. — Você se
masturba?
Minha cabeça cai para trás na mesma hora e eu fecho os olhos com
muita força, sem acreditar que ele está querendo mesmo conversar sobre
isso. Eu vou morrer, é sério.
— Não precisa responder, amore… desculpa!
— Não!
— Não para as desculpas?
Volto a aparecer na chamada, e ele sorri quando me vê muito
vermelha.
— Não para a sua pergunta, eu não me masturbo.
11
Fazia tempos que eu não corria tanto como corri hoje mais cedo. Mas
eu precisava disso, e na verdade os 10km pareceram poucos, porque meu
corpo ainda continua agitado, e acho que só uma coisa, ou melhor, uma
pessoa poderá me aliviar… ou piorar a minha situação.
Eu não vou abrir a foto de Emma mais uma vez, estou começando a
ficar assustado comigo mesmo. Perdi as contas de quantas vezes olhei, e
olha que não tem tantas horas assim que recebi a bendita foto.
— Boa tarde, vizinho! — Escuto a voz assim que saio com o carro da
minha garagem, e olho para Bella. — Como estão os cachorros?
Bella é uma vizinha que já tentou fazer amizade comigo incontáveis
vezes, mas com esse meu jeito jamais conseguimos dialogar muito. Mas ela
é simpática e muito atraente também.
— Boa tarde, Bella! Eles estão bem, e os seus? — Ela tem dois
yorkshires que são bem fofos, e muitas vezes eu deixo para ela várias coisas
que recebo repetidas para os meus filhos.
— Ótimos, acho que teremos filhotes! — diz sorridente. — Te aviso
quando nascerem, caso queira dar uma olhada.
— Claro! Parabéns pelos netos. — Ela sorri e eu buzino ao me afastar
com o carro. Bella é uma cirurgiã pediatra muito requisitada, que veio para
NY depois de ser disputada por muitos hospitais. Eu só sei disso porque o
Barbie é um fofoqueiro de primeira e quando viu a minha vizinha nova foi
procurar saber dela. Ela é jovem, educada e muito talentosa, faz sentido não
ter dado muita ideia para o Barbie quando ele tentou se aproximar.
Mas, como dizem por aí, gosto não se discute. Por mais que eu
nunca tenha conversado muito com ela, simpatizei de cara. Com certeza o
fato dela ter cachorros ajudou.
Eu presto atenção na rua enquanto estou dirigindo, mas o painel do
carro mostra que recebi uma mensagem e vejo que é da minha mamma.
Consegui falar com ela no mesmo dia em que falei com o pappa. E
isso foi um alívio, porque eu estava muito preocupado. Conversamos por
horas, e entramos em um acordo.
Ela disse que quer se livrar do vício, mas precisa tentar isso sozinha,
pelo menos uma vez. E eu concordei, desde que ela contratasse alguém para
ficar na nova casa dela, e que essa pessoa me passasse informações sempre
que eu pedisse. Ela topou, o que me fez ficar animado e esperançoso.
E falando em passado, também conversei com meu fratello. Essa
conversa foi um pouco mais difícil, porque eu não sabia como ele reagiria
ao falar comigo, mas ele se mostrou aberto a uma conversa franca
pessoalmente.
O aniversário de Francesco é na quinta da próxima semana, e para a
minha surpresa, ele me chamou para ir a um bar com ele e seus amigos. Eu
acabei os convencendo a irem à Lótus, e eles toparam.
Lá, vou me sentir mais confortável, sem tanta gente da faculdade ao
meu redor, com vibes totalmente diferentes da minha.
Não sei se iremos conseguir conversar direito, mas o combinado foi
chegarmos antes, e ficarmos a sós.
Depois da minha conversa com o pappa, eu fiquei muito
preocupado. Por mais que eu e meu fratello não estejamos em nosso melhor
momento, eu o amo e morreria por ele.
Então engoli todo o meu orgulho, e fui atrás dele. E agora parece
que ele está mais próximo do que eu poderia imaginar, já que a amizade
dele com a Emma está a todo vapor.
Se alguém me contasse no início do ano passado que eu estaria
ficando com alguém que sempre considerei como irmã, e que meu irmão de
sangue estaria morando na mesma cidade que eu, eu riria dessa pessoa.
Mas, o que nós sabemos sobre o nosso futuro, né? Uma coisa que eu
aprendi na dor, é que nem tudo dá para se planejar, os planejamentos
mudam o tempo todo e nós temos que nos redobrar para que tudo não fuja
entre nossos dedos.
O caminho até a mansão onde será a festa do Gorillas leva quase 1
hora, por ser em uma parte mais reservada e muito concorrida. O que deixa
ainda mais caro tudo ao redor.
Meu nome já estava na lista para entrar no condomínio, e não é
difícil achar a casa já que ela é a única que emite um som muito alto e tem
várias pessoas no gramado.
Estaciono meu carro no primeiro lugar que encontro e sigo em
direção ao barulho, me questionando porque diabos eu vim para isso.
Mas eu vejo um motivo muito bom assim que encontro meus
amigos na entrada da casa, falando com Christopher. E esse motivo está
com uma saia justa, um cropped sem alça e um casaquinho fino por cima,
além de uma bota infernal que vai até os seus joelhos, deixando o conjunto
muito sexy.
— Opa! Chegou na hora certa! — Todos viram em minha direção
quando Christopher fala e me cumprimenta, eu aproveito para falar com
todos os meus amigos e Emma, que sorri de um jeito fofo e me dá um beijo
na bochecha, mais perto da boca do que o normal. — Não sabia que vocês
estavam juntos! — o quarterback fala e Emma ri.
— Não estamos! — ela fala com tanta convicção, que eu me sinto
um pouco incomodado, mas ignoro isso e também a risadinha baixa de
Barbie, que está ao meu lado.
Ele nos indica cada parte da casa, que teve a maioria dos móveis
retirados na parte de baixo para comportar a decoração da festa, mas avisa
que no andar de cima tem vários quartos disponíveis, caso alguém queira
usá-los.
— Me sinto um adolescente novamente! — Barbie diz e morde o
ombro da namorada, como se quisesse falar algo para ela. — Se nós
sairmos, não nos procure. — Olívia só ri e o beija rapidamente, pelo visto já
se acostumou com o jeito insuportável do loiro.
Nós decidimos ficar na parte de trás da casa, onde tem a piscina e o
som está bem alto. Tem um lugar esperando por nós, mas acaba que Noah e
Kath vão dar uma volta, porque ela precisa do momento de falar com os fãs
e outros famosos.
— Dormiu bem? — pergunto baixinho a Emma, assim que ela senta
na cadeira, debaixo da sombra.
— Sim! Na verdade, eu apaguei depois que encerramos a ligação.
— Eu apaguei também! Depois de ficar horas olhando para aquela
foto. — Ela cora, mas continua me olhando. — Inclusive, tem problema se
eu não apagar?
— Ela é sua e eu confio em você, pode guardar.
Sorrio ao ouvir a resposta, porque eu não queria ter que apagar, mas
apagaria na frente dela se fosse o que ela desejasse.
— Todos animados para San Diego? — Barbie pergunta e eu tenho
vontade de chorar, porque já tinha esquecido disso. — Já fiz reserva, já
resolvi absolutamente tudo, inclusive as fantasias que vocês falaram. Vai ser
demais!
Eu até queria me empolgar com a empolgação dele, mas é
impossível. Por mais que muita coisa lá na convenção me agrade, eu
preferiria ir de Jacob mesmo, sem fantasia.
— Você vai como, Emma? — Olívia pergunta, curiosa.
— Vou de Feiticeira Escarlate!
— Ai meu Deus! Você vai ficar perfeita, e espero que consiga a
roupa original. — As meninas começam a conversar e eu olho para Barbie
com o máximo de demonstração de ódio.
O boneco com vida achou legal mesmo sugerir que Emma fosse
com uma roupa totalmente colada no corpo, evidenciando cada uma de suas
curvas. E ele sabe que estou querendo matá-lo e ainda me manda um beijo.
Idiota.
E faz todo sentido ele querer que eu fosse de Visão, mas não queria
ter que me pintar então topei ser o Dr. Estranho! Era isso ou coisa pior,
então uma capa e uma roupa estranha não será tão difícil de usar.
Laura e Bryan chegam juntos, o que é uma surpresa. Não deles
estarem juntos, mas dela vir. As coisas entre ela e o amigo do Christopher
não ficaram muito boas, mas Laura realmente é igual ao irmão e não se
incomoda com essas coisas.
A chegada dela anima as meninas, que vão até o bar e levam Kath
com ela quando se esbarram no meio do caminho
— Você e Emma ainda estão de rolo? — B me pergunta e eu fico
sem saber o que responder. — Só pra avisar que tem um tanto de gente
interessada na ruiva.
— Ela falou bem alto quando chegamos que eles não estão juntos —
Barbie fala e cai na risada. — Foi mal irmão, mas a sua cara foi impagável.
— Nós não estamos juntos! — reafirmo o que ela falou ainda há
pouco. — Somos amigos, vocês que veem coisas demais!
B me olha com um sorriso de lado, como se soubesse exatamente o
que estou falando.
— Que bom, cara! Porque daí você não precisa se preocupar com
aquele cara que conseguiu a atenção dela ali no bar.
É claro que eu como um idiota olho na hora, e realmente a vejo
sorrindo para um homem que não parece ter mais de 25 anos. Eu até tento
desviar o olhar deles, mas quanto mais eu tento, mais fixo o olhar.
— O cara é bonitão! — Barbie diz e sei que quer me irritar, mesmo
que o cara realmente seja bonito, sei que meu amigo fala para encher a
minha paciência, e ele vai conseguir. — Ficaram bonitos juntos! O que você
acha, Jacob?
— Eu acho que você deveria tomar no cu. — Os outros meninos
quase uivam de tanto rir quando escutam a minha resposta, e o safado do
Barbie também ri alto, chamando atenção de muitas pessoas para nós,
inclusive de Emma, que me flagra encarando-a. — Você é um saco , Barbie.
— Sobrevivi para ver Jacob com ciúmes — Noah comenta e eu não
acredito que até ele está com essas ideias agora.
São um bando de idiotas, só porque estão apaixonados querem ver
coisas onde não tem. Que saco!
Eu continuo olhando para ela, e me sinto mais tranquilo quando o
cara coloca a mão em cima dela e ela com gentileza afasta a sua, deixando
claro naquele momento que nada aconteceria. O cara parece ficar de boa
com isso, e continuam conversando por um tempo até que as meninas
voltam para onde estamos.
– Amor, perdeu uma cena incrível aqui.
Eu olho para Barbie deixando claro que se ele falar algo, irei afogá-
lo na piscina sem nem pensar duas vezes.
— O que, amor?
— Acabamos de ver a Jô beijando o namorado dela, foi fofo. —
Olívia faz um som tipo “own” e Kath sorri, feliz pela mãe. — Eles são um
casal lindo!
Sério, Barbie é um cretino! E deve ter algum fetiche relacionado a
me perturbar.
Sinto uma mão em minha coxa e olho rápido, vendo a mão delicada
de Emma em cima da minha perna e a encaro.
— Tudo bem? Parece estar mais irritado do que o normal.
Essa mão deve ser capaz de fazer tanta coisa gostosa! É uma pena
não ter como descobrir isso.
— Tudo! — digo e ela me olha daquele jeitinho que mexe com todo
o meu corpo, e tá difícil ficar do lado dela sem poder fazer nada, por isso
me levanto e digo que vou pegar algo para comer, mas na verdade, eu subo
e procuro algum quarto sozinho para conseguir respirar um pouco.
O quarto que eu entro é enorme, tem uma cama que cabe umas
quatro pessoas e varandinha. Eu fico de pé olhando para o jardim, até que
escuto a porta abrir e me viro já sabendo que é Emma.
12
Ir para casa e dormir depois da tarde que eu passei com Emma foi
uma missão quase impossível. Eu fiquei com seu cheiro em meu corpo, e
talvez tenha enrolado para tomar um banho porque o cheiro é bom demais,
mas um banho foi preciso para conseguir aquietar o meu corpo.
Deu certo? Claro que não! Ficar igual um adolescente no auge da
puberdade está sendo um inferno, mas se antes eu não conseguia me
envolver com outra pessoa, agora eu não quero. É meio doentio, já que eu
sei que as coisas com Emma não chegarão a esse ponto.
Não podem chegar a esse ponto. Eu não me perdoaria se me
envolvesse com Emma desse jeito, eu nem mesmo deveria estar ficando
com ela.
Eu não tenho nada de bom em mim para oferecer a ruivinha tão cheia
de vida e felicidade. É injusto com ela, é errado em mil formas diferentes
mas ainda assim, mesmo com isso tudo, eu a quero.
— Jacob? — Owen me tira da minha bolha, e eu volto a olhar para a
tela do notebook, onde ele sorri, sempre muito simpático.
— Oi, desculpe. Me distrai com umas coisas aqui!
— Hmm, mulheres, né?
— Pior … uma mulher só! — Eu vou para o inferno sem sombra de
dúvida. — Mas não é nada demais.
— Vou acreditar nisso, mesmo sabendo que é mentira. — Ri, e eu me
sinto um saco de lixo ambulante. — Então podemos fechar com esse
estabelecimento mesmo? Você tem certeza que não é demais, filho?
Helena e Owen se apaixonaram por um dos lugares que eu tinha
indicado a eles, e eu fiquei feliz quando recebi a mensagem deles que falava
isso. O lugar é lindo, e ainda é de frente para a praia. Mais brasileiro que
isso, impossível. Mas é algo totalmente diferente do que eles faziam, então
eu entendo a preocupação deles.
— Owen, vocês são os melhores no que fazem. Já tem anos desde que
vocês trabalhavam para os meus pais e eu ainda consigo lembrar
perfeitamente de como era gostosa a comida que sua esposa fazia, e se você
aprendeu com ela, certeza que deve ser muito bom também.
Ele passa a mão nos cabelos grisalhos, com um sorriso enorme no
rosto. E isso só confirma que estou fazendo a coisa certa.
— Tudo bem! Podemos então deixar que você tome conta da parte
burocrática?
Eu pego os documentos que imprimi mais cedo, e mostro rapidamente
para ele.
— O proprietário de lá estava um tanto quanto ansioso para alugar o
lugar, então ontem mesmo entrou em contato comigo e tudo já está certo.
Na segunda te mando por e-mail todas as informações, também já abri a
conta para o restaurante e lá tem o dinheiro para a reforma. — Ele me olha
chocado, e nem se preocupa em esconder a lágrima que escorre do canto de
um dos seus olhos. — E por favor, Owen, o que precisar, a qualquer hora e
qualquer dia, fale comigo. Tá bom?
— Filho, nós seremos eternamente gratos a você por tudo. Eu sabia,
há anos atrás quando te conheci, que você era uma pessoa decente. E
independente de tudo, sempre o amamos como um filho.
— Não me faça chorar! — brinco e ele ri depois de fungar o nariz. —
Vocês merecem muito mais, e no que depender de mim, o restaurante será
um sucesso. Irei fazer pessoas daqui viajarem para o Rio de Janeiro só para
conhecê-los.
A conversa se estende por mais alguns minutos, e infelizmente não
consegui falar com a Helena porque ela está na casa da irmã.
Falar com eles é sempre incrível, e eu consigo me sentir confortável,
como eu me sinto com pouquíssimas pessoas. Mesmo que eu esteja sendo
um cretino, me envolvendo com a filha deles.
Desligo o notebook e levanto da cadeira, dando uma olhada no meu
escritório que também é a minha biblioteca.
Eu sou apaixonado por livros desde que era criança, e era a única
coisa que eu tinha liberdade de fazer sem a intromissão do meu pai, porque
para ele nunca era demais eu ler, mesmo que não soubesse quais livros
eram.
E desde então, eu tenho esse vício. Quando me mudei para essa casa,
eu praticamente coloquei a baixo e mandei fazer outra, do jeito que eu
gosto. A biblioteca é enorme e tem uma parede só de vidro, que pega a vista
do quintal.
As prateleiras vão do chão ao teto, e devo ter mais de mil livros.
Nunca me importei em gastar com isso, e gosto de comprar todas as edições
que lançam. Só de Harry Potter eu tenho umas cinco edições diferentes, e se
eu ver outras por aí, irei comprar.
O último livro que eu terminei foi Crescent City 2, e agora estou lendo
uma indicação da Emma. A ruiva adora ler livros com cenas quentíssimas, e
as autoras brasileiras tem uma excelência nessa questão, é impossível não
ler as cenas e não ficar excitado. E o pior é que eu fico imaginando a
Emma.
Esfrego meu rosto e passo pela prateleira dos livros novos, vendo se
tem algum ali que me interesse o suficiente para passar o dia comigo até dar
a hora dos meninos chegarem para jogar videogame, mas quando eu acho
um, o meu telefone toca.
— Oi, irmão, tudo bem? — respondo depois de atender a ligação do
Noah.
— A Milla está passando mal, voltamos do hospital ainda há pouco.
Podemos remarcar para outro dia?
— Quer que eu vá aí?
— Porra, quero! Esperava que você se oferecesse, e a Milla agora
que descobriu que você é italiano, adora ouvir suas histórias. — Ele
respira fundo e acho que se afasta de alguém para continuar. — Kath está
tentando se manter bem na frente dela, mas acho que precisa de um tempo.
A Milla passou mal com ela, e agora Kath está se culpando.
A Milla tem asma, e vive tendo falta de ar. Normalmente é fácil de
resolver só com a bombinha ou acalmando-a, mas em outros momentos é
horrível. Eu já presenciei uma vez, e foi de apertar o coração.
— Estou indo! Quer que eu leve algo?
— Se não for abusar muito, pode buscar a Emma? Meus pais ficaram
com a gente no hospital, você sabe que desde aquela vez da operação, todo
mundo fica muito assustado, mas eu os liberei. E eu avisei no grupo,
enfim… Emma é boa em trazer alegria, e sei que Kath vai precisar depois
de chorar escondido.
Noah é o famoso homão dos sonhos, e eu sei, só de ouvir sua voz, que
ele está arrasado, mas o seu foco é em manter sua esposa e filha bem, e só
depois irá pensar nele.
— Faço o que você precisar, relaxa. Daqui a pouco estou aí!
Saio da biblioteca e só passo no meu quarto para pegar uma camisa, e
o casaco de moletom que faz par com a minha calça. Não saio de casa
assim, mas hoje eu realmente não me importo com isso.
Mayke e Arya vêm em minha direção quando eu saio de casa, e faço
um carinho bem rápido antes de pegar a chave da minha Harley e sair em
direção à casa de Emma.
O caminho é bem rápido e quando eu chego lá, ela já está esperando
por mim e vejo que engole em seco quando percebe que terá de subir na
minha moto mais uma vez.
— O que eu não faço por Kath e Milla! — fala sozinha e eu seguro o
riso, abaixo o apoio da moto para dar a ela o seu capacete e espero para ver
se vai conseguir colocar. — Está certo? — pergunta.
— Quase! — Eu prendo um pouco mais, para ficar bem firme e pisco.
— Pronto, vamos?
Ela faz que sim e sobe, já me abraçando apertado e eu deixo escapar
uma risadinha antes de seguirmos até a casa de Noah.
Infelizmente dessa vez, eu não pude ir tão devagar para aproveitar, já
que nossos amigos precisam de nós. E isso fez com que Emma me apertasse
com tanta força, que jurei que ficaria sem ar.
O porteiro já tem a nossa identificação e nos libera, eu estaciono a
moto na frente da garagem da casa de Noah, e Emma já sai em um pulo.
— Ufa, sobrevivi mais uma vez. — Eu desligo e saio também,
pegando os dois capacetes e indo com ela até Noah, que abre a porta na
hora que nos aproximamos. — Oi, Noah, você está bem? — Emma coloca a
mão no braço dele e meu amigo faz que sim com um sorriso forçado.
— Kath está no nosso quarto, pode ir para lá. — A ruiva nem pensa
duas vezes e sobe correndo, e nós dois entramos também.
Meu amigo se mantém calado por um tempo, e eu não falo nada
enquanto coloco os capacetes e a minha chave perto da porta.
— Milla está ansiosa para te ver, vamos? — Eu faço que sim, e nós
subimos, mas antes de entrar, ele vira para mim. — Valeu, Jacob! Eu sei
que teremos que nos acostumar com isso, porque asma não tem cura, mas é
assustador vê-la tendo a crise, e ainda me sinto como se não fosse o
suficiente para ajudá-la, sabe?
— Noah, vocês vão aprender a lidar melhor a cada vez que acontecer.
Infelizmente, só vivendo essas crises para descobrir a melhor maneira de
lidar com ela. — Ele suspira, com os ombros arriados, claramente abatido.
— E tem muita gente para ajudá-los nisso, inclusive uma futura médica.
Nós entramos no quarto da Milla depois que ele respira fundo
algumas vezes, e eu consigo entender o desespero dele. Milla é uma
menininha sorridente, e muito alegre. O que vejo na cama é bem diferente,
além dos olhos inchados de chorar, ela está encolhida na cama com o urso
enorme que Barbie deu a ela.
— Oi, princesa! — Sento na beira da cama, enquanto Noah fica
encostado no batente da porta. — Fiquei sabendo que você está precisando
de uma dose grandona das minhas histórias, isso é verdade?
— Oi, titio! — Ela dá um sorrisinho, e larga o urso para me abraçar e
eu a aperto em meus braços. — Eu preciso de muitas histórias, e que nelas
tenha o lugar que cresce as uvas.
Depois que eu mostrei para ela as fotos do vinhedo, e expliquei o que
acontece lá, ela se apaixonou e disse que queria ganhar um de presente.
— Certo, eu tenho uma história que você vai amar.
Ela, nesse momento, se ajeita na cama, pedindo para que eu a cubra e
assim faço. Eu escuto quando Noah encosta a porta do quarto e sai, e ali eu
começo a mágica de contar para ela, de uma forma um pouco mais infantil,
uma das histórias que eu sonhei viver lá, mas nunca consegui.
Eu saio do quarto da Milla, quase uma hora depois, com muito
cuidado e deixei apenas um abajur ligado e também a babá eletrônica que
eles sempre usam quando ela adoece.
A porta do quarto de Kath e Noah está meio aberta e eu vejo que eles
acabaram dormindo e fico aliviado em saber que eles irão poder descansar.
Eu fiz a última nebulização na Milla, então eles terão algumas boas horas
de sono.
— Ela está bem? — Emma me pergunta, assim que desço as escadas.
Acho que ela estava cochilando no sofá, porque levanta arrumando o cabelo
e puxando a blusa para tampar a barriga.
Termino de descer e me sento ao lado dela.
— Acho que sim, né. Dentro do que deve ser normal depois de ter
uma crise forte. — Ela esfrega um dos seus olhos com o dedo, e é uma cena
fofinha. — Quer que eu te leve para casa?
— Não, eu vou ficar por aqui. Acho que posso ser útil, mas espero
não precisar ser. — Concordo e me encosto no sofá, tombando a cabeça no
apoio. — Quer ver um filme? Eu sei que não vou conseguir dormir.
— Vamos! — Desencosto do sofá, apenas para tirar o meu casaco, e o
coloco ao meu lado. Emma pega o controle e liga a TV, se ajeitando ao meu
lado, ficando quase deitada.
Nós ficamos olhando a lista de filmes novos em um streaming, e
dentre vários, dentre milhões, ela decide que vamos assistir 365 dias: Hoje.
Eu sei exatamente o contexto do filme porque assisti o primeiro quando
estava em alta e não tinha noção de qual era a história.
— Não diga que tem um crush no Michele!
— Meu amor, crush eu tenho em você! — diz bem sincera, me
olhando. — Por ele, eu tenho um amor platônico, e eu largaria tudo e todos
para termos um caso.
Cruzo os braços e a encaro, tentando entender se ela falou sério ou se
é uma piada, mas ela olha tão vidrada para o filme quando começa, que
com certeza o que falou é sério.
— O enredo é uma merda! Aliás, que enredo, né? — ela fala, me
deixando ainda mais animado. — Eu assisto só pela… interação do casal.
— Suas bochechas ficam coradas, e nesse exato momento, o mafioso
começa a transar com a mulher em cima de uma mesa.
— Pela interação, né? — Rio e ela faz uma caretinha, e aperta uma
perna na outra. — Você está excitada, Emma? Pelo meu antigo vizinho?
Ela pausa o filme e na mesma hora senta de frente para mim, com os
olhos arregalados.
— Me conta essa história direito! — exige.
Por que diabos fui falar isso?
— Bem, eu ganhei de presente da minha mãe um apartando na Sicília
quando fiz 16 anos, e lá era o meu lugar favorito do mundo, ainda é, eu
acho. — Ela tomba a cabeça um pouco para o lado, curiosa. — Ele morava
no mesmo bairro que eu tinha esse apê. Era bem comum vê-lo pela praia ou
até mesmo pelos comércios ou na rua.
Emma fica me olhando chocada, sem acreditar no que eu estou
falando. Olha para a televisão, depois para mim. Abre a boca, mas desiste
de falar algo e fecha.
— Por que italianos tem que ser tão… assim?
— Não sei o que quer dizer com isso. E também não sei se é um
elogio à comparação! Ainda mais que descobri que ele é um forte
concorrente — brinco, e ela dá um sorrisinho de lado, muito charmoso.
— Olha, infelizmente, você vai ter que saber que corre grande risco
mesmo! — Ela coloca os pés para cima e abraça as pernas, e
automaticamente, eu coloco a mão por cima de uma de suas coxas. — Você
já viu o que esse homem faz nos filmes? Não é pra qualquer um!
Eu dou uma risadinha, porque é impossível não achar graça do que ela
fala. O Michele realmente virou um símbolo sexual, e eu vejo direto várias
notícias dele e sei que as mulheres enlouquecem. Mas, achei bem curioso
ela se sentir atraída por um personagem que curte algumas coisas um tanto
quanto não comuns.
14
Mais uma vez estamos a caminho de uma viagem todos juntos, até
quem achávamos que não poderia vir, o Bryan e o Jackson, também estão
aqui no jatinho rindo e conversando sobre coisas bobas.
Depois que saímos do salão com o corpo relaxado, unhas e cabelos
feitos, paramos para almoçar em um restaurante simples perto da faculdade,
mas que tem uma comida muito gostosa, e viemos encontrar os demais.
Já tem umas 2 horas que decolamos, e a viagem dura em torno de 7
horas, pelo que eu entendi. Nas primeiras horas sempre estamos muito
empolgados, queremos rir, brincar e tentar adivinhar como será a viagem,
mas agora eu já vim para o meu canto, com o meu celular para poder ler,
mas me pego toda hora olhando para Jacob, que sempre está olhando para
mim.
Eu já nem sei mais porque eu quis me afastar desse homem. Agora,
perto dele, eu percebo o quanto isso será extremamente difícil, ainda mais
recebendo esses olhares dele.
Talvez eu só deva deixar tudo rolar, e o que tiver de ser, será. Eu sou
médica, devo conseguir curar o meu coração caso ele se envolva mais que o
necessário.
Me esforço para ler o livro, e consigo de vez engatar na leitura de
mais um livro de uma autora brasileira. Não tem nenhum livro de lá que não
me encante, e eu sempre dou cinco estrelas, porque essas autoras
independentes mereciam muito mais reconhecimento. Já vi muito livro
hypado, de autoras agenciadas por editoras que não são um terço da
excelência dos que já li das independentes.
Estou chegando nos últimos capítulos de Fixed, que é uma série da
autora Gabriela Bortolotto. Inclusive até comecei a segui-la esses dias e
ela parece ser uma fofa e atenciosa com os seus leitores.
O surto que eu tenho a cada página, é como se eu mesma tivesse
vivendo a história da Rebecca e do Zach! E eu estou muito apaixonada por
esse casal, sério, eles são perfeitos juntos.
Quando estou quase terminando, ouço o aviso do piloto que iremos
pousar e que todos devem estar sentados e de cinto. Eu coloco o celular em
meu colo, e já puxo a fivela do cinto, tendo certeza que está bem apertado e
Jacob se senta ao meu lado para fazer o mesmo.
— Como foi a leitura? De onde eu estava parecia que você estava
muito entretida! — a voz gostosa desse italiano reverbera por meus
ouvidos, e é como uma canção de hipnose.
— Incrível, quase consegui acabar — digo, e observo quando ele fica
passando os dedos pelas alianças em seu colar, já tinha notado que isso é
um costume bem comum, e parece meio que uma forma dele nunca
esquecer, o que é estranho, mas quem sou eu para julgar as escolhas dos
outros. — Você não tira nunca?
A pergunta sai antes que eu consiga deduzir que não é legal ficar
perguntando sobre isso. Jacob deixa claro sempre que pode que é um
assunto que ele não gosta de tocar, e eu me sinto mal quando ele franze a
testa, constatando o que estava fazendo sem nem perceber.
— Eu tiro… só quando transo! — Ok, por que esse homem precisa ser
tão sincero assim? — Você tem algo contra? A eu usá-la quando estamos
juntos? — Acho que a pergunta é mais por curiosidade, não para tirá-la ou
algo do tipo.
— Não me importo com elas! É uma coisa sua e eu respeito, mas acho
que deve ser meio estranho tê-las na hora de transar… como se alguém
estivesse vigiando e pronto para julgar o que está sendo feito.
Ele prende uma risada e eu aperto a minha coxa quando o avião
balança antes de finalmente estar em terra firme.
— É exatamente o que eu penso! — Ele me ajuda com meu cinto e
tira o dele antes de levantar e estender a mão para que eu também levante.
Aceito a sua ajuda e arrumo o vestido antes de seguir os demais e sair do
avião de pequeno porte. — Já veio à Califórnia?
— Através dos livros, apenas! — brinco e ele me olha de cima a
baixo, disfarçadamente, e na mesma hora o meu corpo já sente a
necessidade de senti-lo, mas eu me contenho e vou até os demais.
O clima está bem gostoso, e sem dúvidas os parques devem estar
lindíssimos. A primavera sempre capricha na natureza e tudo fica ainda
mais lindo e florido do que o normal. Para a minha sorte o evento é só
amanhã, e domingo eu pretendo passear e conhecer um pouco a cidade.
Jacob havia me mostrado o hotel que foi escolhido, e ele é perto de
tudo, então não vou me preocupar em precisar de companhia para ir a
alguns lugares passear e tirar fotos.
Nós pegamos nossas malas e nos dividimos em alguns táxis para ir ao
hotel, que não era nem 10 minutos de distância de carro e é claro que eu
fiquei encantada pelo prédio incrível e moderno, que deve ter uma vista
surreal do restaurante estilo rooftop.
Como sempre o Jacob toma a frente, vai até a recepção adiantar todas
as partes chatas e burocráticas da nossa estadia pelo final de semana e eu
espero até que ele me dê a chave do quarto, ele literalmente parece um pai
explicando detalhadamente a todos nós que ficaremos no mesmo corredor, e
que dois quartos são interligados por uma sala, mas ele não tem a mínima
noção de qual é, e iremos descobrir na hora.
Eu fico no elevador rezando para o meu e o dele não serem juntos,
mas quem disse que o universo colabora com algo? Descubro assim que ele
abre a porta do quarto dele, e coloca a cabeça para fora avisando que quem
estiver à esquerda dele será a pessoa a dividir o bendito quarto.
Entro pelo meu, mas fico um pouco mais tranquila quando entendo
que é uma porta a mais, ao lado da porta do banheiro, que leva até essa sala
e que estamos mais distantes do que se não houvesse esse quarto.
— Melhor manter essa porta fechada, amore — ele diz quando
aparece ali, com um sorriso safado. — Eu posso me sentir carente e querer
procurar abrigo por aqui, e seu quarto é mais bonito que o meu.
Eu coloco a mala em cima do banco que tem na beira da cama, e o
encaro.
— Assim você só vai fazer com que eu deixe-a escancarada, Jacob!
— falo seu nome na mesma entonação que ele falou amore, e escuto um
resmungo em italiano e depois a sua língua estalar antes dele sair, avisando
que precisa de um banho.
— Ah! Se quiser me assistir novamente, a minha porta estará sempre
aberta esperando que você entre.
O meu queixo cai ao ouvi-lo e sua risada gostosa toma conta do
ambiente quando ele vê a minha reação, e eu sinto vontade de chorar… mas
não falei por onde! E isso me lembra que ter trazido o vibrador foi uma
ideia muito inteligente.
23
Fico repetindo algumas coisas que leio na minha mente, até conseguir
entender o que a explicação quer dizer e quando ligo todos os pontos, me
sinto vitoriosa por finalmente finalizar essa matéria que estava me deixando
doida.
— Senhorita Ford? — Um garoto que parece ser um pouco mais novo
do que eu, sussurra na minha frente, e eu faço que sim com a cabeça. —
Entrega! — Ele coloca duas sacolas de papel pardo na minha frente, sorri e
sai. Eu nem consigo ter tempo de falar que deve ser um engano, mas puxo
as sacolas e vejo que tem um recado.
“Não esqueça de se alimentar, amore! Lembro que sua mãe me dizia:
saco vazio não para em pé. Só fui entender depois dela ter me explicado,
mas serve para você também. Espero que goste, tem almoço e lanche!”
Fico olhando para o papel com o bilhete e pisco algumas vezes para
ter certeza que não estou alucinando, e se não estivesse dentro da biblioteca
teria dado um gritinho de emoção.
Eu pego todas as minhas coisas e vou para a parte daqui em que
podemos comer sem ter que sair da biblioteca, sento no sofá que está vazio,
apoiando as coisas na mesinha da frente. O cheiro muito bom da comida faz
meu estômago ficar em êxtase e fazer barulhos vergonhosos, mas nem me
importo. Tiro o recipiente e sou agraciada com costelinhas com muito
molho, batata, salada e também alguns legumes.
Claro que não perco a chance de tirar uma foto e postar, mas apenas
escrevo que tirei uma pausa para me deliciar com toda essa comida. E envio
a mesma foto para o Jacob, agradecendo-o.
Eu: Você é o melhor de todos, Jacob! Nada mais incrível do que ser
mimada com comida.
Jacob: Bom saber, da próxima vez faço eu mesmo e levo para você.
Eu: Seria incrível, e você arrasa fazendo massas.
Jacob: Boa refeição, bella! Vou tomar um banho que acabei de voltar
de uma corrida intensa.
Eu dou uma garfada na comida, mas sem tirar os olhos do celular e
mastigo com gosto, já pegando mais um pouco e empurrando dentro da
minha boca.
Eu: Pediria uma selfie de você debaixo do chuveiro, mas isso com
certeza me distrairia.
Ele não está mais online, por isso largo o meu telefone e foco em
comer cada coisinha que veio, deixando apenas o sanduíche para mais
tarde. Jogo fora o saco, e ali mesmo no sofá da biblioteca eu volto a estudar,
colocando meus fones e esquecendo tudo ao meu redor, até que ao passar
horas escuto a senhora que fica na recepção falando que irá fechar em
alguns minutos.
Quantas horas passei aqui, Deus?
Guardo tudo dentro da bolsa, tiro os fones e pego a sacola com o
lanche que eu nem cheguei a comer de tão distraída que fiquei no meio dos
meus estudos. Estou ansiosa para fazer logo essas provas e aproveitar as
férias que se aproximam. Caso eu vá bem em todas elas, né!
Saio da biblioteca, tirando o celular da bolsa e pensando se pego um
carro no aplicativo ou vou andando. O dinheiro que recebo ajudando Liz e
Jô me ajuda muito, e as minhas economias foram cruciais para chegar até
aqui, mas eu vou entrar no vermelho.
Tenho dinheiro para pagar um mês da faculdade, e com o que recebo
eu junto um pouco e ajudo ridiculamente menos do que deveria lá no
apartamento. Infelizmente a minha faculdade é cara, e sempre tem coisas
por fora para comprar.
O que talvez me ajude é que entrando de férias irei arrumar mais um
emprego, além do que já tenho. E acho que assim vou conseguir um
dinheiro por mais um tempo e depois vou vendo o que faço.
Um passo de cada vez, e sei que vai dar tudo certo.
— Um dólar por seus pensamentos. — Paro de andar e me viro
quando escuto a voz do Luke, e sorrio para ele, que se aproxima e me
abraça. — Ainda pela faculdade?
— Meus pensamentos valem tão pouco assim? — brinco e ele ri com
o seu jeito charmoso. — É, reta final, né. Eu não posso dar mole, então
pego as duas semanas anteriores às provas e meto a cara nos livros.
— Bem, eu pagaria o que você cobrasse por eles! — Sei que minhas
bochechas ficaram coradas, mas eu finjo que não entendi seu flerte. — E eu
ainda tenho esperanças de um dia tê-la como funcionária da minha clínica!
— Eu nunca digo nunca!
— Isso já me deixa esperançoso. — Ele passa a mão no seu cabelo
extremamente loiro, e depois coloca as duas em seus bolsos da calça. —
Ah, acho que não te falei enquanto estávamos conversando esses dias, mas
irei ficar aqui por mais três meses para resolver umas pendências.
— Ah, bacana! — O que ele quer que eu fale? Porque com certeza ele
espera alguma resposta depois de ter falado isso.
Ele dá uma risadinha e balança a cabeça, mas depois volta a me olhar.
— Que tal uma cerveja qualquer dia? Como amigos, não quero que
pense que irei ser esses caras chatos que importunam as mulheres, mesmo
sabendo que não tem nenhuma chance.
— Eu topo! Assim que eu entrar de férias a gente marca, tá bom? —
Me aproximo e dou um abraço nele, que retribui me apertando e depois
dando um beijo no meu rosto. Nos afastamos, e vou andando até perto da
pista, mas eu forço a minha vista para ver se quem eu estou vendo é
realmente ele.
O que Jacob está fazendo aqui a essa hora?
Jacob está de braços cruzados, encostado na parte de fora do seu carro
e olhando para algo além de mim. Eu me viro e vejo que o Luke continuou
onde estava, olhando para cá e provavelmente deve ter achado estranho um
homem aqui, tarde da noite. Mas eu dou um tchau, ele meneia a cabeça e
vai embora.
— Oi? — pergunto ao parar na frente dele, que finalmente me olha.
— Era o cara da Lótus?
Sério que ele está perguntando isso?
— Sim, meu antigo professor, o Luke. — A sobrancelha perfeita dele
se ergue, e eu reviro meus olhos, sem entender o porquê da pergunta e dele
estar aqui. — O que está fazendo aqui, parado igual a um maluco pronto
para sequestrar a jovem indefesa?
— Francesco passou pela biblioteca agora a noite, e comentou que te
viu lá, mas não foi falar com você porque parecia concentrada, então pensei
em te dar uma carona para não ter que pegar nenhum carro de aplicativo
tarde da noite. — Ele continua de braços cruzados e sério, mas eu sorrio
com a preocupação dele e por ter saído da sua casa até aqui para me deixar
na minha em segurança. — Mas esperei você falar com o seu professor, não
queria atrapalhar.
— Eu queria entender essa sua cabecinha, Jacob. — Ele entorta os
lábios e eu tenho vontade de beijá-lo. — Não deveríamos ter ciúmes de
amigos, não acha?
Equilibro meu peso na outra perna, cansada de estar em pé e acho que
ele percebe, pois pega a minha bolsa, abre a porta de trás e coloca lá dentro,
depois abre a do passageiro, me olha, esperando que eu vá e eu vou, rindo,
mas vou.
— Realmente, não é normal ter ciúmes de amigos — ele diz quando
entra, colocando a mão em cima da minha coxa depois de ligar o carro. —
O que me conforta é que o que eu faço com você, não faço com meus
amigos ou amigas. Isso deve significar algo, que ainda não sei, mas eu sinto
ciúmes mesmo!
Sinceridade deveria ser o segundo nome do Jacob.
— Você não deveria falar essas coisas! — Ele dirige, prestando
atenção na rua, mas me olha rapidinho quando falo isso. — Não quero me
confundir, Jacob.
Ele concorda, fazendo carinho em minha coxa e ficamos em silêncio
alguns minutos.
— Eu já estou bem confuso, para ser sincero. E fico puto quando vejo
esses homens que te desejam perto demais de você, mia costellazione! —
Esse homem quer enlouquecer a minha cabeça. Como fala isso e ainda me
chama de minha constelação?
— Para o carro na próxima rua. — Ele me olha apavorado. — É sério,
Jacob!
Ele vai até a rua que eu falo, para o carro em uma das vagas
disponíveis. Eu não espero nem ele desligá-lo, já tiro meu cinto, me
debruço por cima dele sem sair do meu banco, e o beijo.
Ele segura a minha nuca, e eu o beijo com vontade, devorando essa
maldita boca gostosa, e antes de me afastar mordo de leve seu lábio inferior.
Mas ele segura meu rosto com suas duas mãos, olha fundo em meus olhos e
me dá alguns selinhos antes que eu volte a me sentar.
— Você me assustou, amore. — Respira fundo depois de falar e eu
rio. — Mas eu gostei disso! Gosto de quando você toma atitude, é sexy.
— Eu gostei do apelido novo! — comento quando ele volta a dirigir, e
dessa vez eu quem coloco a mão em sua coxa, fazendo um carinho com a
ponta das minhas unhas. — E você não precisa ter ciúmes, mesmo que seja
algo involuntário, porque eu só quero você e mais ninguém.
Ele sorri para mim de um jeito doce, e a cada sorriso diferente que ele
vai me mostrando, eu vou me apaixonando por todos. Na verdade, sou
apaixonada em cada coisa que esse homem faz.
Ah merda!
Eu estou apaixonada pelo Jacob!
Fico em choque por algum tempo, e só percebo que chegamos na
frente do meu prédio quando ele fala e eu olho pela janela. Jacob pergunta
se está tudo bem e eu falo que me distrai com alguns pensamentos. Não
existe nenhuma chance de eu falar sobre isso com ele.
— Está tudo bem na faculdade? — Se preocupa por me ver em
choque, e fecho os olhos quando ele alisa meu rosto e depois coloca uma
mecha do meu cabelo para trás da minha orelha.
— Sim, só planejando as minhas férias. Preciso arrumar um emprego
de meio período para ajudar nas contas futuras. — Não fui totalmente
mentirosa, já que realmente esses pensamentos não saem da minha cabeça.
— Mas vai dar tudo certo.
Jacob não fala nada além de que vai dar tudo certo mesmo, e eu
agradeço. Não costumamos conversar sobre dinheiro, porque eu sempre
acho que se eu falar sobre isso com um deles, eles irão querer pagar todas
as minhas contas.
— Está entregue, amore! Eu subiria se a Jô não estivesse em casa. —
Eu faço biquinho e ele dá uma mordida nos meus lábios. — E se eu fosse
convidado, claro. — Pisca e eu dou mais um beijo nele ante de sair.
— Eu te convidaria todos os dias, se pudesse! Mas, nossos ambientes
para ficarmos à vontade são limitados. — Saio e antes de bater a porta
comento: — Que bom que seu carro é espaçoso. — Sopro um beijo e entro.
E só depois de repetir a nossa conversa em minha cabeça, que eu reparo que
pareceu uma alfinetada o que falei sobre não conseguirmos ficar à vontade.
— Merda! — Entro no apartamento falando sozinha, e Jô aparece
secando as mãos em seu avental. — Boa noite, Jô! — Beijo seu rosto ao
passar por ela e já me sento no sofá para colocarmos o papo em dia.
O namoro dela está indo muito bem, e eu fico muito feliz por ela. Jô é
uma mulher sensacional e merece tudo de bom e mais um pouco.
— Agora você vai me contar porque está com esses olhos lindos, tão
preocupados?
Eu a ajudo a colocar a janta na mesa, e depois que nos sentamos eu
suspiro e sinto a minha garganta fechar com vontade de chorar.
— Eu fiz a pior burrada do mundo, Jô. — Ela coloca a mão por cima
da minha, me confortando sem nem saber o que irei falar. — Eu me
apaixonei por um coração que já tem dona.
Sinto uma lágrima escorrer pelo canto dos meus olhos, e parece que
algo em mim sabe que a minha data de validade com o Jacob diminuiu bons
dias depois disso.
27
Hoje, as vozes estão mais altas, parecem estar tão próximas de mim,
mas tudo continua escuro. Sempre escuro, todos esses dias eu só vejo a
escuridão e sinto a dor que vem da alma.
— Você tem que acordar, cara! — dessa vez é o Barbie quem fala, e
eu tento responder, mas não consigo. — Por mim, pela nossa família… E
pela Emma, estamos muito preocupados com ela.
Emma? O que será que houve com ela?
Eu tento muito me mexer, falar, mas não consigo. Tem um bolo em
minha garganta que machuca quando eu tento minimamente falar qualquer
coisa, e meus olhos pesam tanto.
Aqui tudo é escuro, mas é tranquilo. E tem momentos que eu sonho, e
todos esses sonhos são com a Emma. Cheguei a pensar que tinha morrido e
ido para um paraíso, mas depois, de tanto ouvir a ruivinha falar comigo, eu
entendi que estou mal. Eu lembrei, lembrei que sofri um acidente e também
o motivo de ter me acidentado.
E é por isso que a minha alma dói. Dói cada pedacinho dela, dói
quando a imagem se repete em minha mente.
Mas os sonhos com a Emma, e ouvi-la falar comigo todos os dias é
que vem aliviando, e acho que só por isso ainda não desisti.
— Irmão, acorde nem que seja para me xingar. Acorda para poder
surtar de ciúmes da ruiva, ou para contar suas histórias para a Milla, ela
sente tanto a sua falta. Deixou o ursinho preferido dela aqui, para te
proteger.
Sinto meu coração bater forte, eu quero abrir os olhos. Eu preciso
acordar, eu preciso vê-los. Eu preciso ver la mia costellazione.
— Puta merda! Jacob? — Barbie continua falando. Por que ele não
fica quieto só um pouco?
A claridade vai aparecendo aos poucos, e eu preciso piscar porque a
minha vista dói. Tento levantar a minha mão para tapar um pouco os meus
olhos e me ajudar, mas pesa tanto que eu desisto.
Começo a ver sombras de várias pessoas, e o falatório começa, mas é
rapidamente interrompido por alguém que diz para fazer silêncio e deixar
com que eu consiga me situar.
Bom conselho.
Depois de algum esforço, eu finalmente abro os olhos e enxergo onde
estou. Barbie está segurando a minha mão, mas levanta, enxugando o rosto
e eu tento falar, mas a minha garganta está tão seca que dói.
Uma moça, que pelo visto é a enfermeira, já traz um copo com canudo
e encaixa na minha boca, pedindo que eu beba só o suficiente para molhar a
garganta e assim eu faço, porque é difícil engolir.
Eu olho para o quarto onde estou, ele é bem grande e branco. Não sou
fã de branco, mas é fácil achar algumas cores em cima do sofá, que é onde
acho que a Emma ficou.
Emma.
Cadê ela?
Eu olho para todos, um por um. Todos estão aqui, mas eu não a vejo
com eles e por isso tento procurá-la no restante do quarto, mas uma
movimentação chama a minha atenção, e quando olho novamente para os
meus amigos, ela está lá, na frente da Kath.
E meu coração quase explode por vê-la ali, mesmo com seu rosto
demonstrando um cansaço físico e mental que nem a faculdade a
proporcionou, ela continua linda.
Meu olho arde, arde muito e sinto quando a lágrima escorre e no
mesmo momento a minha ruivinha começa a chorar feito criança, tampando
o rosto e fazendo barulhos muito altos.
Eu quero que ela venha até mim.
— Só tenha cuidado, Emma — o médico barbudo fala. Acho que eu
falei a frase de cima sem perceber. A ruiva senta na cadeira do lado da
minha cama e segura a minha mão, sorrindo para mim enquanto as lágrimas
continuam escorrendo e eu faço um carinho em seu rosto, mesmo que
minha mão ainda esteja pesada.
O médico faz vários testes para ver como está a minha coordenação
motora e depois começa a me explicar tudo o que aconteceu comigo depois
do acidente, e quando ele conta da minha perna, eu fico preocupado e vejo
que ela está suspensa, sem os imobilizadores porque não é mais necessário,
mas descubro que terei que fazer fisioterapia.
— E você tem duas opções, Jacob. — Volto a olhar para o médico. —
Ou você continua aqui conosco por um tempo, para a recuperação total da
sua perna…
— De jeito nenhum. — É a primeira coisa que eu tenho consciência
que falei e o médico ri.
— Ou você terá que ter alguém na sua casa para ajudar. Mas, terá que
ser alguém que consiga te ajudar com os curativos, os remédios e sua
alimentação. Essas três primeiras semanas serão cruciais para a recuperação
da sua perna. E já fiquei sabendo que você é muito ativo, então
recomendamos a esse tipo de pessoa essas duas opções.
— Eu retiro o que falei antes, vou ficar no hospital.
O médico me olha de um jeito estranho, e deduzo que não deva ser
comum que os seus pacientes optem por essa opção.
— Vocês poderiam nos dar licença? — Barbie pede para todo mundo,
e Emma é a primeira que se afasta, mas só depois de afagar a minha mão.
As outras pessoas também saem, e é Noah quem fecha a porta, ficando só
nós três aqui. — Jacob, você vai ficar no hospital? Sério?
— E-eu… — Noah me dá mais um pouco de água quando percebe a
minha dificuldade. — Não vou botar um estranho para ficar dentro da
minha casa, me vendo quase nu para me ajudar nos curativos e no resto
todo aí.
Barbie ergue as sobrancelhas, começando a ficar irritado e Noah cruza
os braços.
— Sabe que não estamos pensando em alguém estranho, né? — Noah
diz.
— Eu não vou aceitar que voc... ah! Vocês estão cogitando a Emma?
— Os dois concordam. E eu até os entendo, faz sentido. Emma com certeza
deve ter aprendido na primeira semana de aula a fazer tudo o que o médico
disse que eu precisaria. Só que existe um problema. — Vocês estão com
algum tipo de apagão na mente?
Noah coça o pescoço, e olha para Barbie que está ficando vermelho.
— Jacob, por favor, tá? Eu te amo, e entendo todas as merdas aí por
causa da Sophie que morreu.
— A Sophie n…
— Deixa eu terminar — ele me interrompe e eu fico quieto, trincando
o maxilar. — Só que a questão agora é a sua saúde, e sabemos que você não
vai ficar no hospital e sairá daqui quando formos embora. E depois vai ser
um inferno para te ajudar, então supera essa merda toda, e deixa que a
Emma fique na sua casa te ajudando! Ela é a única que tem paciência com
você mesmo. — Uau, Barbie está brigando comigo. — Você já fica com a
menina, sabe-se lá que coisas vocês já fizeram e eu não quero saber, só para
esclarecer. Não acha que é meio ridículo ela não ir na sua casa?
— A Sophie não morreu — eu falo de uma vez, antes que eu desista
de contar. — E meu pappa está com ela… e o meu figlio!
Eu juro que a mandíbula do Barbie despencou depois que ele abriu a
boca com força e Noah puxa uma cadeira para sentar, sem acreditar no que
eu disse.
— Explica isso para a gente!
— Sophie estava em Aspen, com o Enrico e uma criança que parece
comigo quando eu tinha uns 11 anos. — Suspiro e não consigo evitar que a
imagem deles venham na minha mente. — E eu o vi beijando a Sophie.
— Irmão… tem certeza que isso aconteceu antes do acidente?
Concordo.
— Isso é muito surreal — Barbie fala e senta na beira da cama. — E
foi por causa disso que você bateu, né? — Concordo mais uma vez. — Os
médicos informaram que não tinha ido ninguém lá e que foi a ambulância
quem te levou. O filho da puta nem se preocupou em saber se você estava
vivo ou não.
— Jacob, seu pai é um monstro. Eu estou tentando entender como
tudo pode ter acontecido, mas nada faz sentido.
— Ele tem dinheiro e poder. Quem tem essas coisas, tem tudo! A
promessa de nunca mais voltar à Itália faz sentido, nada me fará tirar da
cabeça que foi ele quem forjou a morte dela, e se eu continuasse lá, acabaria
descobrindo em algum momento.
Barbie esfrega o rosto e depois a cabeça, tão indignado quanto eu
fiquei. Mas agora, eu não consigo sentir nada, esses dias em coma, eu só
conseguia ficar com a imagem deles juntos, como uma família feliz e que se
ama. Eu me sinto anestesiado nessa questão, e o problema será quando esse
efeito passar.
— Eu preciso ir à Itália.
— Nem fudendo! — Barbie levanta e começa a andar de um lado para
o outro. — Você tem que se recuperar, Jacob. Eu sei que tudo deve estar
uma loucura na sua cabeça, mas você não vai se prejudicar ainda mais por
causa desse homem. E nem que eu acampe na sua casa, mas você só vai sair
de lá quando estiver bem.
— Desculpe irmão, mas eu preciso concordar com o Barbie — Noah
fala, com um olhar que demonstra sua preocupação. — Depois nós vamos
juntos com você, e a gente segura o seu pai para você bater nele.
Eu olho para o meu corpo na cama, não conseguiria contar os
hematomas e machucados espalhados por ele se tentasse. Sinto minha
cabeça doer, e meu rosto também. Provavelmente devo ter machucados por
todo o meu corpo, e também sei que não vou conseguir me virar sozinho.
E imaginar Emma pela minha casa não parece ser algo tão ruim assim,
e agora não faz mais sentido não deixar que ela entre. Eu posso ter
esquecido por um segundo sobre o que eu vi quando falei com eles, mas
nada faz sentido.
O meu luto por anos, a dor que eu senti cada dia da minha vida. Tudo
foi falso, tudo foi a porra de uma farsa que acabou comigo e me
transformou em uma versão infeliz de mim mesmo.
Mais de uma década de sofrimento para nada…
— Eu aceito que Emma fique na minha casa para me ajudar!
33
Francesco pula de dentro do carro que nos trouxe, e eu saio logo após,
vendo mais uma vez como a casa do Jacob combina com a vibe dele. Mas
ainda estou achando estranho o fato de que realmente vou conhecer a casa
dele.
— Sabe que quem morde é o dono da casa e não a casa, né? — o
idiota diz e abre o portão, me chamando para entrar logo e eu faço isso. —
Ei, crianças!
Ele se abaixa e fala com Arya e Mayke, que quase o derruba e depois
os dois vêm até mim, cheirando os meus pés, pernas e depois as minhas
mãos. Eu fico um pouco nervosa porque eles são enormes, mas sei que são
mansos.
A primeira que pula em mim é a Arya, que balança o rabo e me dá
algumas lambidas, logo depois o Mayke sai correndo e já volta com uma
das suas bolinhas. E quem disse que eu resistiria a eles? Impossível.
Eu e o Fran ficamos quase uns 20 minutos só lá fora, ainda mais que
ele abriu a porta lateral e vieram os dois pequenos que ficam lá dentro.
Liz deixou os dois aqui mais cedo, e se certificou de deixá-los tosados
e de banho tomado para receber o papai que chega em dois dias. Eu me
responsabilizei de cuidar deles esses dias, é uma maneira de começar a
treinar porque terei que fazer isso nas próximas semanas também.
O rapaz que cuida da casa também veio aqui mais cedo e deu uma
geral, e eu percebo assim que entro e sinto um cheiro gostoso de casa
recém-limpa, mas eu me perco em curtir o cheiro e ficar encantada com a
casa.
Como já era de imaginar, ela tem tons escuros, móveis claros e alguns
quadros. É minimalista e de muito bom gosto, bem adulto. Eu nunca
imaginei que acharia uma casa assim bonita, mas essa é linda.
Francesco faz uma tour comigo por cada cantinho da casa, e eu vou
fazendo várias notas mentais de onde ficam as coisas, e também já
planejando montar um quarto temporário para ele aqui embaixo. Não será
muito bom ficar subindo e descendo as escadas.
Quando ele me mostra a biblioteca, que também é o escritório, eu
descubro o meu lugar favorito daqui. É o sonho de qualquer Bookstan uma
biblioteca desse tamanho e com tantos livros, inclusive livros repetidos mas
com edições diferentes.
É definitivamente meu sonho de consumo. Para melhorar, ainda tem
uma janela enorme com um sofá bem coladinho nela com vista para o
quintal da casa dele.
— Sabia que você ia amar essa parte! — Fran fala do meu lado,
depois coloca as mãos em meu ombro e vai me empurrando para fora.
Só assim mesmo para me tirar de lá de dentro.
Nós subimos e eu vejo o quarto de hóspedes, que é lindo, mas
imagino que no máximo os meninos tenham usado, aí tem um banheiro no
corredor e o quarto do Jacob.
O perfume dele está espalhado por lá e eu sei disso antes de entrar.
Fran vai na frente, e começa a tirar várias coisas e eu noto que é tudo
referente a Sophie.
Ué?
— Acho que o seu irmão não vai gostar de saber que você está tirando
as lembranças dela.
— Ele quem pediu! — Continua tirando tudo e equilibrando em seus
braços. Eu o ajudo e seguro tudo, mas sem entender o porquê. — Eu vou
deixar que ele te conte, ok? — Me olha rapidinho, e eu faço que sim com a
cabeça.
Mas um monte de teorias começam a ser formadas na minha mente, e
sem dúvidas uma é mais doida que a outra.
Eu coloco tudo na cama dele porque assim que a equipe que
Francesco contratou para levar todos os móveis até o orfanato e trazer as
caixas para jogar fora as outras coisas chegar, eu já vou ter deixado tudo
que está aqui em uma caixa separada.
Fran continua procurando em algumas gavetas, e eu vou até o closet
dele, e caralho! Como pode um homem só ter tantos ternos? Sabe o Barney
de How I Meet Your Mother? É quase a mesma energia em relação aos
ternos.
— Eu fiquei assim também! — Francesco passa por mim e tira o que
tem ali dentro também. É um pouco doentio o tanto de coisas que o Jacob
ainda tem da Sophie. — Vamos para o último quarto?
Faço que sim com a cabeça, mas antes de sairmos eu percebo que tem
uma porta no final do closet, dessas que não tem maçaneta. E a minha
imaginação muito fértil e fanfiqueira, já imagina milhões de coisas.
A casa do Jacob é bem tecnológica e todas as portas abrem com
digital ou senha. Igual a dos outros meninos, mas eles só usam isso nas
portas principais, aqui é para todos os cômodos menos os banheiros.
Só que todos os cômodos ficam abertos, mas esse não. Francesco
precisa digitar a senha para entrarmos nesse quarto.
— Saber que o Jacob pediu para que você entrasse aqui, e tirasse tudo,
me confunde. E, espero que você não se assuste com o tamanho do luto
dele.
Depois de já ter me assustado com suas palavras ele abre a porta, e
preciso de meio segundo para entender tudo ali.
— Caralho!
34
Eu surtei.
Quando Emma saiu e eu tive certeza que estava sozinho e que ela
demoraria a voltar, eu surtei. Não tive como me distrair com outra coisa,
não tinha ela para dominar a minha mente enquanto a olhava, então eu
surtei.
As imagens parecem ainda mais vivas em minha mente, e ficam em
um replay infinito. A Sophie, minha Sophie viva. Viva, bem e parecia feliz.
Meu pappa a beijou. Por que ele a beijou? E por que a criança parecia estar
confortável perto dele? Ele não gosta de crianças.
Onze anos atrás, eu acreditei que havia perdido minha futura noiva e
meu figlio, mas eles estão vivos! Muito vivos, eu sei perfeitamente o que eu
vi. E eu os reconheceria, mesmo que ela tenha agora uma aparência mais
madura, o seu sorriso é o mesmo. E ela sorriu para ele como sorria para
mim, apaixonada.
E isso está me matando. Os poucos segundos que eu vi da interação
deles está me matando.
Sophie está viva. E com o meu pappa! Que porra é essa? Quem tem
coragem de forjar a morte da nora? Por que para mim essa é a única opção
do que pode ter acontecido. E por que ele me odeia tanto?
Eu nunca quis nada dele! Nem o dinheiro, nem o luxo, muito menos o
sobrenome de merda. Cazzo!
E de tanto pensar nessas coisas e sentir meu peito doer, eu arranquei
meu cordão e mesmo sentado consegui derrubar uma mesa que fica bem
próxima da cama, que é onde a enfermeira separa os medicamentos antes de
me dar.
O barulho que a mesinha faz ao cair é alto, mas não o suficiente para
abafar o meu grito de dor, raiva e desespero. E isso chama atenção de duas
enfermeiras, que vem correndo e arregalam os olhos ao ver a bagunça e o
meu estado.
Eu choro! Choro alto, choro por todos os outros dias que chorei de
saudade e tristeza. Mas o choro que mais me sufoca, é quando eu penso em
tudo que eu deixei de viver, tudo que abri mão para não apagar a memória
de Sophie e para que ela, onde estivesse, reconhecesse meu amor.
O médico chega um pouco depois, e eu agradeço quando ele injeta no
soro um remédio que com certeza é para me acalmar. Minha pressão subiu e
isso não é bom para quem teve o crânio aberto há tão pouco tempo.
Cazzo! Eu quase morri em uma mesa de cirurgia por causa da Sophie.
O que mais essa mulher vai tirar de mim?
O remédio me apagou, como eu imaginei quando fui medicado. Agora
que acordei novamente, vejo Emma terminando de fechar uma mala, de
costas para mim. E eu posso estar debilitado, mas tem uma parte do meu
corpo que continua funcionando muito bem, e a bunda dessa ruivinha é o
meu ponto fraco.
— Finalmente! — O médico que eu nem vi que estava no quarto fala
quando me vê acordado. — Dormiu mais de 6 horas, rapaz! — Emma vira
rápido, e vem até a cama toda sorridente. — Querida, provavelmente por
essa primeira semana ele dormirá bastante, então é sempre bom estar em
um lugar confortável.
— Sim, pode deixar — ela fala com ele, mas sem desviar os olhos dos
meus. — Podemos ir?
Ele olha algumas coisas no seu iPad, faz alguns comentários, lembra
mais uma vez que eu preciso de muito repouso e finalmente diz que posso
ir. Ambos me ajudam a levantar, e movimentar a perna é um incômodo, mas
desde que acordei tenho ido ao banheiro e tomado banho, então a dor não é
uma surpresa.
Eles me ajudam a ir para o banheiro, e a ruivinha entra comigo para
me ajudar com a roupa. Eu sei que para ela isso se tornará algo bem comum
por causa da sua futura profissão, mas ela não consegue disfarçar o quanto
está corada e eu solto uma risada.
— Nada que você já não tenha visto, amore.
Ela ri também, e como eu já estava de cueca, ela só me ajuda a passar
a bermuda de moletom pela perna ruim, eu termino o serviço e visto uma
blusa.
Não sou o tipo de pessoa que gosta de ter alguém ajudando até em
coisas básicas, como se vestir. Pensei que me sentiria humilhado ou algo do
tipo por ser a Emma, mas na verdade, estou bem à vontade.
Pego as malditas muletas que ela me entrega, e saio do banheiro para
poder finalmente ir embora.
Meu fratello e Jackson já estão na porta para me ajudar. Eu teimo em
ir “andando”, mas acabam me colocando em uma cadeira de roda, e eu
ainda estou tão cansado que apenas aceito que me empurrem até o carro do
meu amigo.
Fran e Emma carregam as minhas coisas, e vejo quando colocam na
mala. Eu entro no banco traseiro, e mantenho a expressão neutra quando
sinto a dor se espalhando por vários pontos do meu corpo quando faço a
movimentação para sentar.
Emma fica ao meu lado, e Fran vai na frente com Jackson, que
aproveita para fazer várias perguntas e eu respondo todas. Eu já havia
pedido para que os meninos contassem aos demais o que realmente
aconteceu em Aspen, mas pedi que deixassem Emma de fora, porque eu
mesmo quero contar.
— Tudo bem? — a ruiva me pergunta baixinho, com seus olhos, que
eu sou apaixonado, mostrando a preocupação. — Já estamos chegando!
Eu preciso baixar o vidro para que o segurança libere a entrada no
condomínio, e quando finalmente paramos na frente da minha casa, eu me
sinto nostálgico e triste.
Jackson vai entrando para levar as minhas coisas, e Francesco fica ao
meu lado com medo dos cachorros pularem em mim. Mal sabe que eles
entendem muito mais as coisas do que muito humano.
E a prova disso é que eles correm, mas param alguns passos de mim
quando veem que estou todo remendado, e Mayke se aproxima devagar,
cheirando a minha perna cheia de curativos e depois se junta com Arya,
esperando que eu fale algo.
— Ei, babies. Que saudades! — Eu estalo os dedos, e eles se
aproximam, choramingando, e eu afago ambas as cabeças. Eles se
satisfazem com isso e voltam correndo para perto da casa deles, deitando lá
dentro e ficando de olho em mim. — É uma merda não poder falar com eles
direito.
Francesco me ajuda a subir as escadas até a entrada, e eu nunca odiei
tanto ter escadas em casa.
— Nós vamos deixar vocês! — Jackson passa o braço pelo ombro do
meu fratello. — Já está tudo adaptado aí, e Emma é muito exigente. Então
tenho certeza que tudo está certo para essas semanas!
— Mas nós iremos vir sempre — Francesco diz — e estaremos a uma
ligação de distância.
Depois de ouvir mais algumas coisas, como a maneira que devo me
comportar, eles vão embora e eu olho a minha casa.
A primeira coisa que eu percebo é que ganhou uma extensão em uma
das pontas para quando eu ficar ali, minha perna se manter esticada e
confortável. Gostei, vai ser bem útil. E também noto que não tem mais nada
da Sophie por aqui.
— Qualquer coisa que você quiser que eu traga para cá, me diz que eu
trago! Tá bom? — Emma aparece ao meu lado, já com algumas almofadas
e também cobertas e deixa no outro sofá.
Eu ando, ou melhor, eu pulo até o sofá e me sento no lugar que eu já
sei que será meu por muitos dias e é impossível não achar graça quando
Emma me mostra que do lado externo do sofá, ela colocou um suporte para
as muletas ficarem em pé.
— Eu duvido que qualquer outra pessoa pensaria em tudo que você
pensou, amore. — Ela sorri, e eu ganho um beijo no rosto. Poderia ser na
boca, mas ainda não conversamos.
Nossa, como eu estou com saudades de beijá-la.
— Eu também duvido! — Pisca, e vai rebolando a bunda gostosa até
a cozinha. — Por Deus, Barbie deixou marmitas para um ano na geladeira!
— Ela ri sozinha, e eu fico de longe olhando. — Você prefere frango ou
carne vermelha?
Ela não é uma das opções? Que saco!
— Frango — digo sem animo nenhum, e ela já coloca dentro do
microondas, e fica lá, evitando me olhar. Eu sei que ela está curiosa com o
pedido que fiz para o quarto, mas é notável que tem algo a mais
incomodando a minha ruiva, que está tentando fugir de conversar comigo.
— Amore… infelizmente, não posso ir até você, mas precisamos conversar.
Emma bufa igual criança que precisa fazer algo que não quer, mas
vem andando devagar e se senta do meu lado, de frente para mim e com as
pernas para cima do sofá.
— Vamos por partes… ok? — digo, e ela concorda. Mexendo nas
unhas em ansiedade — Não tem uma maneira fácil de falar, mas a Sophie
está viva!
A ruiva arregala tanto os olhos, que eu tenho a sensação que eles vão
cair. Depois a sua testa enruga, e ela fica com cara de quem não acredita no
que acabou de ouvir.
— A sua Sophie?
Pela primeira vez em anos, ouvir “minha Sophie” faz meu estômago
embrulhar, só que de um jeito muito ruim.
35
Passo mais uma página do livro, mas preciso voltar, porque não estou
conseguindo prestar atenção em nada do que leio. Parece que estou apenas
passando os olhos pelas diversas palavras.
Não tem como me concentrar enquanto fico sentado aqui fora, perto
da piscina, para pegar um sol e Emma com a parte de cima de um biquíni e
um shortinho curto, tentando dar banho em Arya e Mayke.
Tem quase uma semana que ela está aqui em casa, e os meus
cachorros já a amam, eles só me procuram quando ela está muito ocupada e
não consegue dar atenção para eles.
E até eles tem conseguido mais carinhos dela do que eu. E estou
ficando maluco! Nós já conversamos e nos entendemos, estamos bem e o
que fiz já passou, ela aceitou esse acordo de me ajudar e ficarmos quites,
mas não falamos mais nada sobre o que tínhamos.
Não tem só um mísero dia que eu não lembre que ela falou dos seus
sentimentos, e entendo o porquê dela não querer ficar mais comigo. Mas já
tem alguns dias que estamos nos provocando em um nível bem elevado, e a
ruivinha é boa nesse jogo.
Só que eu não aguento mais, eu preciso senti-la novamente.
— Não estava em nosso contrato ser humilhada por seus cachorros —
ela grita enquanto eles correm já enxaguados. E em meio segundo ela tira o
short, e mergulha na piscina.
Mais uma coisa que ela foi a primeira a fazer: entrar na piscina. Ela
está sendo a primeira de muitas coisas para mim. E por mais que pareça
meio bobo, isso mexe comigo de alguma forma.
— Eu entraria aí se pudesse — digo, e é verdade. Mas ela não sairia
daquela piscina sem saber o quanto o meu corpo sente saudade do dela.
Emma coloca os dois braços na borda e apoia o rosto ali, fechando os
olhos e curtindo um pouquinho o sol. Eu aproveito para tirar uma foto dela,
que ficou ótima e guardo o celular antes que ela veja.
— Poderá em breve! — Sai da piscina pela borda mesmo, e senta na
cadeira ao lado da minha. — O fisioterapeuta chegará daqui a alguns
minutos, e os meninos virão à noite para ver você. Acho que o Barbie vai
trazer um jogo novo aí, não entendi muito bem porque aqueles dois falando
juntos me deixam louca.
Eu ouvi o que ela falou, mas as gotas de água escorrendo por seu
corpo chamam mais a minha atenção que qualquer outra coisa. E nem faço
questão de esconder que encaro cada pedaço da sua pele, inclusive os seus
seios que estão marcando no sutiã.
— Você não deveria ser tão atraente assim, mia costellazione.
— Esse é o que eu mais gosto. — A questiono com um movimento de
mão. — O apelido, minha constelação, é o que eu mais gosto.
Ela levanta para pegar uma toalha, mas eu a puxo pela mão para
chegar perto de mim, porque não aguento mais ficar apenas desejando-a.
Seguro em sua cintura e a coloco sentada em meu colo, de frente para mim.
— Jacob, sua perna…
— Ela está bem, esticada e fora de perigo. — Ela relaxa um pouco, e
sua mão macia alisa o meu rosto. — Não aguento mais amore, então se
você não quiser mais nada comigo apenas diga, e eu prometo que nunca
mais tentarei nada.
Ela abre a boca e por segundos, eu fico com receio dela falar que não
quer, mas o beijo que eu acabo de receber mostra o contrário.
A boca de Emma tem um gosto doce do suco que estava tomando
ainda há pouco, e eu passo a minha língua por toda a sua boca. A intenção
era ser um beijo calmo, mas a minha mão vai até a sua bunda, ela começa a
roçar em mim com uma força que mostra o quanto ela sentiu falta do nosso
contato.
A calcinha de Emma, que está bem molhada da piscina, embola um
pouco, e eu sei que parte da sua boceta ficou de fora.
Não consigo me manter calmo sabendo disso, então eu coloco uma
das minhas mãos por cima da sua boceta, e nem preciso de esforço pra jogar
o tecido para o lado.
Ela geme entre nosso beijo, e eu desfaço o contato para poder encará-
la enquanto toco em seu clitóris. Vê-la mordendo o lábio inferior e jogar o
corpo um pouco para trás é delicioso, e eu aumento a velocidade dos
movimentos circulares.
Emma força seu corpo contra meus dedos, e eu queria poder jogá-la
para trás, até que ela ficasse com o corpo deitado e lamberia cada pedacinho
do seu corpo.
Puxo o tecido do seu biquíni para o lado e sou agraciado com a visão
do seu seio. E quando penso em deixá-la ainda mais excitada, o interfone
toca e ela sai do meu colo em um pulo.
Tenho vontade de chorar, e pela forma que ela arruma a roupa, com
raiva, acho que ela também.
Assisto minha ruiva vestir seu short e jogo a minha camisa para que
ela vista, já que a sua ficou lá dentro e ela agradece, indo atender o bendito
fisioterapeuta.
Eu me levanto e vou indo até a sala de exercícios com a ajuda das
duas muletas, eu demoro tanto que quando chego lá, os dois já estão lá
dentro. Ele sempre sorrindo demais para Emma, mas eu não posso
exterminar todo mundo que acha a ragazza bonita.
Mas eu queria…
Ronald deve ter por volta dos 35, no máximo. E é um cara boa pinta,
mas a aliança no dedo é enorme e com certeza ele já notou o clima entre
mim e Emma, mas não perde a chance de jogar um charme para ela.
— Animado para hoje? — ele pergunta, enquanto monta as suas
coisas no meio dos aparelhos de academia.
— Não. — Emma ri com a resposta de sempre. É a terceira vez que
ele vem, e sempre pergunta isso. Estamos focando na fisioterapia para a
recuperação ser ainda mais rápida.
— Vou trazer um suco para vocês! — ela fala, e sorri ao passar por
mim. Eu dou dois pulinhos para o lado, ficando na sua frente e roubo um
selinho dela.
Sim, eu quis mostrar a ele que ela está comigo. Mostraria a todos, se
pudesse. Ridículo, eu sei. Mas o que posso fazer se a ruivinha faz com que
eu perca toda a minha sanidade?
— Homem de sorte! – comenta quando eu vou até as barras e começo
a fazer os exercícios que ele pede, sentindo um pouco de dor, mas
aguentando firme.
— Você também deve ser. — Ele me olha sem entender, e aponto para
a sua aliança com o queixo. Ronald fica um pouco sem graça e foca em me
ajudar com o que veio fazer.
Continuamos todos os malditos exercícios, Emma nos serve o suco, e
paramos rapidinho para beber. Depois continuamos e eu vejo pelo espelho
que ela fica o tempo todo na porta, vendo cada coisa que ele faz.
— Acho que o fato de você sempre ter feito muitos exercícios e
corrida vai colaborar com a sua melhora! Estamos indo muito bem —
comenta depois de finalizarmos essa chatice.
Esses exercícios são essenciais e eu sei, mas se dependesse de mim,
eu já estaria correndo pelo condomínio com os meus cachorros.
Emma traz a minha carteira para que eu pague pela sessão de hoje, e
depois ela o leva até o portão. Eu vou até a cozinha, no meu tempo, e
decido que não quero comer mais uma comida do Barbie.
Meu amigo cozinha muito bem, mas não aguento mais ficar todo esse
tempo sem comer uma massa. É um crime!
— O que está aprontando? — Emma pergunta, quando vê que tirei
algumas coisas da geladeira. — Você parece uma criança que não sabe fazer
o que pedem. — Tira tudo da minha mão e pede para que eu me sente, eu
sento no mármore da pia e ela olha de cara feia, mas já sentei.
Eu explico a Emma mais ou menos como fazer o macarrão, é bem
simples, mas eu vejo que ela se empenha para fazer exatamente do jeito que
eu peço e enquanto isso conversamos sobre o que ela planeja para o resto
do ano.
Fiquei surpreso em saber que ela pretende ir esse ano ainda ao Brasil,
e percebi que ela não sabe quando será a inauguração do restaurante dos
seus pais. Eles me contaram essa semana que já tem data, e que agora está
fluindo muito bem.
Talvez seja uma boa época para irmos.
— Amanhã é o aniversário do Jackson! Vai ser na casa dele mesmo,
acho que só chamou a gente e mais algumas poucas pessoas — ela diz,
enquanto mexe o molho na panela, com um dos seus pés apoiado no joelho
da outra perna — Acha que está bem para ir mesmo?
— Sim, amore! Os machucados da barriga já estão secando, e agora
só tem um na perna que ainda fica tapado com a gaze, só colocar uma
bermuda e tudo certo.
Ela sorri, animada. E isso me faz pensar que Emma não saiu daqui de
casa nesses seis dias nem uma vez!
— Você sabe que posso me virar algumas horas sozinho, né? — Ela
concorda. — Deveria ir ver suas amigas, ou chamá-las até aqui. Tem uma
piscina enorme, churrasqueira… enfim, o que quiser.
— Enjoando de mim, já? — pergunta e apaga o fogo da panela do
molho e do macarrão. Escorre o espaguete com cuidado e depois monta
tudo em uma travessa. — Tudo bem se eu chamá-las para vir aqui? —
pergunta para ter certeza.
A ruivinha monta um prato para mim e para ela, e se senta ao meu
lado no balcão para comer. Tem uma mesa enorme aqui dentro, mas eu
gostei da naturalidade de fazer isso aqui.
— Amore, você pode tudo! E não quero que se sinta presa, vá sair
também. — Ela suga um macarrão até o fim, e claro que eu penso besteira.
— Só prometa que vai se cuidar, não poder te buscar me deixará louco, mas
quem está impossibilitado sou eu. E você está fazendo só um favor.
Eu como o macarrão, e porra, está uma delícia. Mais uma coisa que
essa ruiva faz bem e mais um jeito de me conquistar.
Depois Emma guarda tudo, e eu vou para o meu quarto improvisado, e
mais uma vez olho para as escadas ao passar por ela. Por mais que meus
dias tenham sido leves com Emma por perto, não tem como não pensar em
tudo que aconteceu. Eu escondo dela, porque sei que fica triste ao me ver
mal, mas eu estou um caco.
Ainda não consigo aceitar… e é por isso que entrei em contato com
uma pessoa que me passará as informações sobre o Enrico e a Sophie. Irei
para a Itália assim que me livrar das muletas, e chegarei até eles pronto para
tirar umas verdades deles dois.
Eu tomo uma ducha porque está na hora da troca dos curativos, e
como sempre, fico na cama só de cueca para que ela me ajude.
Os pontos da perna abriram no terceiro dia, e tivemos que voltar até o
hospital para refazê-los, então ainda está sensível. E ficará uma bela
cicatriz!
Me distraio dos meus pensamentos quando depois de um tempo ela
aparece, de banho tomado, e um desses vestidos que ela ama usar. Alças
finas, decote singelo e um corte que marca bem seu corpo, mas sem ser
desses que ficam tão grudados que parece a própria pele.
— Você quer me matar! — Ela ri, e morde o lábio inferior. Eu amo
essa Emma que é segura, mas ela está se transformando em uma máquina
de me fazer ficar excitado em qualquer lugar.
— Se eu quisesse te matar, falaria que estou sem calcinha porque não
sei onde as coloquei depois que lavei as roupas. — Cazzo!
Eu sei onde estão, mas não vou falar... não ainda!
— Por que você não senta aqui no meu colo e a gente termina o que
começou mais cedo?
37
Dois dias incríveis com a minha ruiva que passaram voando, e tanta
coisa maravilhosa aconteceu, que eu nem acredito que agora terei que lidar
com todos os meus problemas de frente. Literalmente de frente!
Aluguei um carro em Sicília para poder virmos até a mansão, e agora
que estou aqui na frente, prestes a pedir que liberem a minha entrada, eu
perdi um pouco da minha coragem.
Eu ainda tenho a sensação que tudo foi um mal-entendido muito
louco, e quando eu chegar lá, não será Sophie quem estará com meu pappa,
e nem muito menos a criança que eu vi será figlio dele.
— Vai dar tudo certo, Jacob… De um jeito estranho, eu acho, mas no
final tudo se acertará da melhor forma. — Ela faz um carinho na minha
perna, e eu respiro fundo enquanto levo o carro até a cabine e me identifico.
Estranhamente o meu acesso ainda é liberado, e quando os portões
gigantescos se abrem, eu dirijo devagar até a entrada da casa que não
mudou absolutamente nada do lado de fora.
Minhas mãos estão geladas, e eu vejo que tem alguns carros
estacionados. Não sei o que isso significa, mas acredito que todos estejam
em casa. Emma é a primeira a sair do carro e eu ainda fico ali dentro algum
tempo, tendo certeza se é isso mesmo que quero fazer.
Tendo a certeza se irei conseguir reagir ao ver Sophie na minha frente.
Assim que eu saio, e piso nas terras dos Vacchianos, um filme passa
na minha cabeça, e eu lembro de muitas coisas que eu tinha bloqueado da
memória. A voz do meu pappa toma conta da minha cabeça, e eu quase
sinto que voltei no tempo e sou novamente aquele menino pequeno, que
estremecia quando o pappa chegava perto demais.
Emma segura a minha mão e isso me tira do choque.
Eu olho para as escadas, e começo a subi-las, como se cada uma delas
fosse um obstáculo tentando me avisar para que eu desista, para que eu
volte e esqueça dessa loucura.
Como sempre as portas estão abertas, eu ando até elas, mas não é
preciso procurar por dentro da casa para achar alguém.
Sophie acaba de me ver, e deixa o copo que estava em sua mão cair e
estilhaçar todo no chão. Eu fico parado, sentindo apenas a minha respiração
pesar enquanto vejo na minha frente, bem viva, a mulher que eu amei por
tantos anos.
— J-Jacob, cosa ci fai qui? — a voz dela chega em meus ouvidos e eu
ainda continuo em choque, querendo muito que isso seja um pesadelo.
Querendo muito que ela realmente esteja morta. Ela desvia os olhos de mim
para a Emma, e os estreita, como se reconhecesse ela, mas ignora a figura
ao meu lado e volta a atenção para mim. — Você não deveria estar aqui,
não é bem-vin…
— Não sou bem-vindo? — digo mais alto do que planejei e ela se
assusta. — Eu não sou bem-vindo na porra da casa do meu pappa? Quem
não deveria estar aqui é você, Sophie! Eu te enterrei há 11 anos em NY.
Ela fecha os olhos por alguns segundos, como se o que eu falei a
machucasse, e eu pouco me importo com isso.
— Jacob, eu não queria que tivesse sido assim! — Ela tenta se
aproximar, mas eu me afasto, como se fosse uma doença personificada em
pessoa. — Deixa eu te explicar, antes que você fale tudo o que quiser.
Eu rio sem acreditar no que eu acabo de escutar.
— Ouvir o quê, hein? Que você forjou a sua morte? Que foi covarde,
que preferiu inventar uma história absurda do que chegar para mim e falar
que não queria mais? Ou você vai inventar algo e falar que só começou a
dormir com meu pai depois que estava supostamente morta?
— Como que voc… — Ela olha novamente para Emma, e agora ela
tem certeza de que a conhece. — Claro, aquela pentelha que ficava com o
seu irmão, filha dos criados que era muito enxerida, pelo visto ainda
continua onde não deveria estar!
Largo a mão de Emma e esfrego meu rosto com as duas mãos, sem
acreditar em nada disso.
— Você acha que é quem para falar dela assim, Sophie? — Avanço
alguns passos, ficando bem perto dela. — Eu quero ouvir de você o porquê
dessa história toda! Foi por dinheiro, poder… meu pappa, Sophie! Meu
pappa! Você sabia tudo que ele fazia comigo, você ficou várias noites me
ajudando com os machucados e mesmo assim ainda ia para a cama com
ele? E como funcionava… primeiro ia para a minha e depois para a dele?
Ela vira o rosto para o lado, e a lágrima que escorre não me comove
nem um pouco.
— Eu não previ isso, Jacob. Nunca quis me apaixonar pelo seu pai,
mas ele era diferente comigo, quando ninguém estava perto, ele cuidava de
mim, era bondoso e gentil.
Eu passo as mãos em meus cabelos e os puxo para trás, sentindo uma
raiva sem igual tomar conta do meu corpo.
— Ah! E eu não fiz isso por você? — Ela continua sem me olhar. —
Cazzo, Sophie! Qual a porra do seu problema?
— Eu não te amava, tá bom? — ela grita, sendo sincera. — Nós
fomos moldados a acreditar que nos amávamos desde criança, Jacob.
Nossas famílias queriam que ficássemos juntos e por isso ficamos, mas eu
não tinha amor por você, nunca tive. Mas eu não podia ser sincera, não
enquanto o Enrico pedia para que eu continuasse com você, só que quando
eu engravidei, tivemos que mudar todos os planos.
Eu não te amava… essa frase se repete em minha cabeça em um
looping, e se ela fala algo nesse momento não consigo ouvir nada além
dessa frase.
— Então… desde o início foi tudo uma mentira? — Eu nem me
importo em manter o meu orgulho, e deixo as lágrimas que querem sair
rolarem pelo meu rosto. — Tudo que vivemos por tantos anos foi mentira?
Foi a porra de um teatro seu e do Enrico?
— Você melhor do que ninguém deveria saber o que as pessoas são
capazes por amor. E eu não queria que tivesse chegado ao ponto que
chegou, nem o nosso relacionamento e nem a minha morte de mentira, mas
o Enrico disse que assim seria a única forma de você realmente me deixar.
Eu olho ao redor, olho para Emma que se afastou e tem os olhos
úmidos e não quero acreditar que tudo isso está acontecendo, tem que ser a
porra de um pesadelo.
— E a criança que vi com voc…
— Matteo è tuo fratello! Eu engravidei do Enrico enquanto ainda
estávamos juntos, e foi por isso que fizemos tudo aquilo.
— Eu vivi o luto de vocês dois por todos esses anos, Sophie. Cada dia
da minha vida, depois que eu acreditei que tinha perdido você e meu
suposto figlio foi um eterno martírio. Eu me fechei para o mundo, para as
pessoas ao meu redor. Deixei de viver verdadeiramente feliz porque não
achava justo eu estar cheio de vida enquanto vocês dois estavam mortos. —
A mulher na minha frente, que eu nem reconheço mais, abaixa a cabeça. —
Toda semana eu vou no cemitério e fico conversando com a lápide de vocês
dois, todo ano no aniversário da sua morte eu sumo e peço a Deus para que
me leve no lugar de vocês. Eu quase morri quando vi vocês três em
Aspen… eu quase morri tantas vezes!
Ela levanta o rosto e me olha com os olhos cheios de lágrimas.
— Eu sint…
— Olha quem finalmente reapareceu onde prometeu que jamais
voltaria! — Enrico sai de uma sala, com um garoto sentado em seus
ombros. É o menino de Aspen, é o meu fratello. Enrico o tira dos seus
ombros, ele corre até a Sophie que o abraça. Antes do meu pappa beijá-la,
pede para que ela leve o figlio dele para outro cômodo. — Não tem
vergonha de vir na minha casa, e falar essas coisas para a minha esposa?
Esposa… Sophie e meu pai realmente casaram, e ela parece uma
mulher realizada, e isso é surreal.
— O que eu fiz para me odiar tanto? — minha voz mal sai, e ele dá
uma risada antes de colocar as mãos nos bolsos da sua calça.
— Já me perguntei isso muitas vezes, Jacob. Mas acho que começou
desde que sua mamma o teve e passou a amá-lo mais do que me amava, foi
ali, quando eu vi que teria que dividir o amor dela, que eu soube que nunca
te amaria.
— Você é a porra de um doente! — grito e ele dá de ombros. — Por
que a Sophie? No meio de tantas mulheres, por que logo a Sophie?
Ele enxerga Emma no canto, e perde um pouco do foco em mim. E
quando responde, não tira os olhos dela.
— Eu queria que você entendesse como é ter que dividir o amor da
pessoa que amamos! Mas nesse meio, eu me apaixonei por ela, e entendi o
porquê você amava tanto aquela, ragazza! — Ele me encara novamente,
como se eu fosse o errado nessa história toda. — E antes que pergunte,
porque sei que irá se humilhar a esse ponto, eu amo o Matteo. Não foi a
minha intenção, mas eu sabia que ou eu o amaria ou perderia a Sophie! E
sendo um bom pappa para ele, a conquistei ainda mais.
Eu olho para o homem que deveria ter sido meu amigo, me dado amor
e conselhos como ser um bom homem. Mas agora tudo faz sentido, e eu
entendo que a culpa nunca foi minha por ele ser assim.
— Vocês dois se merecem! E eu desejo muito que essa criança não se
envenene com a maldade e sanidade de vocês. — Ele ri, nada abalado
comigo e com tudo que está acontecendo.
— Ainda tem muito o que aprender, garoto! — Volta a olhar para
Emma, só que dessa vez com maldade. — E você está muito bem servido,
pelo visto. Pena que Emma ainda era apenas uma criança, e foi a Sophie ao
invés dela.
E nesse momento, eu perco o meu controle, e avanço em cima dele,
que cai ao sentir o impacto do meu corpo.
Eu fico cego enquanto desfiro alguns socos em seu rosto, ele tenta se
mexer embaixo de mim, mas eu não deixo que saia enquanto toda a minha
raiva não se esvair.
— Esse é pela mamma! — Dou um soco. — Esse pelo Francesco. —
Mais um. — Esse pelos pais da Emma. — Mais um. — E isso por mim. —
Cuspo em seu rosto que está sangrando em alguns pontos e me levanto
antes dos seguranças chegarem e Emma para de gritar. — Você terá o que
merece, Enrico Vacchiano! E essa é a última vez que dirijo a palavra a você.
Emma me abraça pela cintura, e nós vamos até o carro, mas ela pede
para que eu me sente no passageiro porque minha mão está muito
machucada.
Eu faço tudo no automático, e ela sai dali com o carro depois que
coloco o cinto, e eu olho para a casa e o Enrico no topo da escada pelo
retrovisor, e consigo ver o sorriso dele enquanto Sophie passa um pano em
seu rosto.
Hoje eu deixo o meu passado para trás, mas o meu coração, que eu
achei que não teria como se quebrar mais, agora parece que virou pó.
43
O meu pau entra todo de uma vez dentro da boceta gostosa e apertada
de Emma, e eu aperto a lateral do colchão ao sentir meu corpo ferver só
com esse primeiro contato delicioso.
Hoje, eu não tenho intenção nenhuma de ser delicado, e vou torcer
para que ninguém passe pelo corredor enquanto estivermos aqui dentro.
Entro e saio de Emma várias vezes, e cada vez é mais gostosa que a
anterior. Meu pau entra todinho, e é abraçado pelos seus músculos que me
apertam e eu deliro. O corpo de Emma é oficialmente o meu lugar
preferido, bem fundo dentro dela.
— Porra! — ela xinga quando eu ergo a sua cintura, entrando mais
fundo e estocando com força e vendo que a safada gosta de me sentir por
inteiro dentro dela. — Isso, amor.
Eu perco o controle da minha respiração quando ela me chama assim,
e saio dela para virá-la de costas e estalo um tapa alto em sua bunda, que na
mesma hora já deixa a marca por ela ser muito branquinha.
— Como eu estava sonhando em te fottere di picorina, Emma. — Ela
pode não saber o significado disso, mas entende perfeitamente o que é
quando eu ergo seu corpo para ficar de quatro, e fico em pé fora da cama.
A imagem da bunda dela nessa posição é o meu fim, meu pau já lateja
como louco dentro da camisinha. Emma vira o rosto para trás depois de se
posicionar melhor, ficando com a bunda mais empinada para mim, eu não
resisto e passo meu pau pelo seu cu, mas desço e na hora que eu entro, puxo
a sua cintura contra o meu corpo, e ela grita.
Essa é uma das posições que eu mais gosto, porque a intensidade é
grande e me enlouquece.
Eu estoco como um louco, com força e bem fundo. Ela fica forçando
o corpo para trás, dando mais impacto a cada movimento, eu seguro no seu
rabo de cavalo, puxando sua cabeça um pouco para trás e me curvo sobre
ela, para apertar seu seio e sussurrar perto do seu ouvido.
— Sua boceta é uma delícia! — Ela geme ao ouvir, e eu não paro,
deixando o suor escorrer pelo meu corpo e cair no dela. — E cada vez que
você me aperta, eu sinto vontade de te dar um tapa.
— É só isso que preciso fazer para receber outro tapa? — Me desafia,
e ainda dá um sorrisinho de lado como se achasse que não sou capaz. E por
Dio, essa mulher é meu sonho de consumo.
Eu seguro os seus dois braços, e o corpo dela se levanta um pouco e
vem mais para trás. Junto às suas mãos, seguro ambos os punhos com uma
das minhas, para ter a outra livre, e a fodo com a ajuda da gravidade,
estalando alguns tapas na sua bunda gostosa, enquanto ela geme e pede
mais.
Minha vista fica escura de tesão várias vezes, mas eu me controlo o
máximo que consigo, ela pede para que eu sente, porque quer vir por cima.
E porra, eu saio dela na mesma hora, e me deito, porque assim consigo me
movimentar.
A ruiva vem por cima de mim sem pena, sentando de uma vez só e
nós dois gememos ao mesmo tempo, e para me mostrar que ela está na
mesma sintonia que eu, ela apoia as mãos na parede atrás de mim e começa
a cavalgar como alguém que já faz isso há anos, e eu puxo seu sutiã para
baixo porque preciso ver seus seios.
— Cazzo! Continua, amore... — Seguro na sua cintura e ajudo a
manter os movimentos, ela me encara enquanto fica com a boca meio
aberta, com a respiração descontrolada e toda vermelha pelo esforço.
Ela para de cavalgar para rebolar, mantendo meu pau dentro dela e
roçando a bunda em minhas bolas, enquanto se movimenta. Eu quero gozar,
e meu pau está desesperado por isso, mas eu não quero parar.
Emma parece também não querer, mas seus gemidos anunciam que
está próxima de gozar, eu começo a me movimentar de baixo para cima,
estocando meu pau no seu ponto sensível dentro da boceta, ela joga o corpo
um pouco para trás e alisa o seio, querendo chegar no auge do tesão, e eu
gozo junto com ela quando anuncia que está gozando.
Seu corpo cai sobre o meu depois, e eu passo meus braços por ele,
querendo que ela não saia daqui nunca mais.
Nossa respiração vai se controlando aos poucos, como se uma
estivesse sincronizada na outra, e Emma sai de mim e senta ao meu lado, só
que de costas para mim, segurando a beira da cama com as duas mãos,
enquanto fica em silêncio.
Me apoio pelos cotovelos, e assisto quando ela vai até o banheiro com
a sua roupa na mão, e quando ela volta, depois de alguns minutos, as únicas
coisas que poderiam denunciá-la sobre o que acabou de acontecer é a sua
bunda marcada, e suas bochechas muito vermelhas.
— Já vai? — pergunto quando me levanto, vestindo a minha cueca.
Ela suspira e vem até onde estou, apoiando uma mão em meu peito e
me olhando daquele jeito doce que só ela sabe olhar.
— Eu não posso ter o momento pós-sexo com você, Jake. — É a
primeira vez que ela me chama assim, e eu gostei tanto que até trocaria na
minha certidão se ela pedisse. — Eu não posso ter um momento fofo, em
que você parece um homem apaixonado, disposto a tudo. Como se eu fosse
o seu bem mais precioso! Essa parte vai me quebrar, e eu não posso deixar
que meu coração fique como o seu, Jacob. Não me entenda mal, só não
quero me machucar.
Eu seguro seu rosto com minhas duas mãos, olhando em seus olhos
lindos e a beijo. Realmente, espero que esse não seja nosso último beijo,
mas não posso permitir que mia costellazione se torne algo parecido com o
que sou.
— Eu entendo, amore. Desculpe por não ser quem você merece. —
Ela sorri de um jeito triste e sai do quarto.
Sento na cama, olhando a bagunça que fizemos e a bagunça que eu
sou. Não aguento mais viver desse jeito, mas parece que eu me afundei
tanto nisso, que não sei como sair.
O vazio que eu sinto quando Emma não está, é bem óbvio, e por mais
que eu não queira admitir, eu me apaixonei pela ruivinha que é totalmente
oposta a mim, em todos os sentidos, mas é por gostar tanto dela que não
quero feri-la.
Mas também não posso não tê-la, e não sei como sair do fundo do
poço para ser quem ela merece que eu seja.
Tomo um banho, arrumo o quarto e volto para a festa. Barbie é o
primeiro que me olha como se soubesse exatamente o que eu fiz, mas antes
de chegar até os meus amigos, Kath faz um sinal para que eu a siga, e eu
vou. A mulher me olhou de um jeito tão feio, que eu não teria coragem de
não ir.
— Qual o problema de vocês dois? — Fecha a porta assim que eu
entro na academia junto com ela. — Isso não é saudável, Jacob. E não estou
reclamando por vocês terem transado no quarto de hóspedes, nem por ela
ter precisado colocar uma saia sem transparência porque você encheu
aquela bunda bonita de tapas. O problema é vocês continuarem a fazer isso.
— Isso o quê, Kath? Transar?
— Não, isso é ótimo! — Dá uma risadinha, mas volta ao foco. — É
óbvio que vocês dois se gostam mais do que querem admitir, ou melhor, do
que você quer admitir porque pelo menos ela já foi sincera sobre os
sentimentos. Mas vocês não percebem que isso pode fuder com tudo? Isso
vai desgastar vocês, Jacob. Em um nível que não terá como voltar atrás.
— Você acha que eu não sei? — pergunto. — Não tem noção de como
eu queria ser outro homem, ter outro passado e um coração inteiro.
Kath me olha, prestando atenção em cada coisa que eu falo, depois se
aproxima e pega na minha mão.
— Jacob, todo mundo tem um passado. Uns são piores que os outros,
e quase todos eles deixam marcas que nunca serão esquecidas! Mas você
tem uma vida inteira pela frente, e depende só de você para reescrever a sua
história de um jeito bonito. Deixe o passado para trás, ele está vivo em seu
presente ainda e é por isso que você está perdendo alguém preciosa demais.
— Ela dá uma apertadinha em minha mão e eu olho em seus olhos. —
Mesmo que você não fique com Emma, a sua história não pode ser essa que
escreveram e moldaram para você.
Ouvir isso me dá vontade de sentar e chorar, porque ela está coberta
de razão. Kath é uma pessoa especial, e traz sua luz para tudo e todos. Não
sou muito de dar ouvidos a conselhos de terceiros, mas ela está certa.
— Eu não vou conseguir fazer isso sozinho — assumo.
— A sua sorte é que está rodeado de muitas pessoas que te amam, e
fariam de tudo para te ver bem. — Ela sorri, ficando com os olhos pequenos
e me puxa para um abraço, que mais parece um consolo, que eu estava
precisando, e fico algum tempo abraçando-a. — Terça-feira você é meu
depois do almoço, não marque nada importante que vou te levar a um lugar,
e depois de lá nós iremos começar a reescrever uma história linda para
você! E talvez… Emma entre no livro da sua vida.
Não tenho a mínima noção para onde ela deseja me levar, mas eu me
sinto ansioso porque pela primeira vez, acredito que de verdade, eu posso
ter uma chance de me livrar dos fantasmas que me assombram e viver uma
vida sem o peso de tudo que já me aconteceu.
É a chance de um novo começo, e como dizem por aí, nunca é tarde
para recomeçar.
E isso me lembra que eu tenho que fazer uma coisa, e mando
mensagem para o meu tatuador agora, na esperança que ele me responda.
Para a minha sorte, ele diz que está livre, que eu posso passar lá agora.
Irei tirar da pele um amor que eu pensei que era o amor da minha
vida, mas todos esses dias me fizeram refletir que nada daquilo foi amor,
não tem como amarmos uma pessoa que nunca existiu. E a Sophie que eu
amei, foi apenas uma encenação, ela nunca existiu.
47
Aceitei o convite para sair com Luke, mesmo que eu não tenha muita
certeza de que isso seja o que eu realmente quero, preciso de alguma
maneira entender que Jacob não é para mim. E talvez conhecer melhor
alguém que eu já me dê bem, e possa abrir os meus olhos para novos
horizontes.
Eu nunca liguei para ter um relacionamento sério, e ainda não ligo.
Não estou saindo com ele em busca disso, e também em nenhum momento
cobrei tal coisa do Jacob, mas por mais que hoje eu não queira, vou querer
alguma hora, ainda mais sabendo que ele seria incrível como namorado.
E mais uma vez estou pensando nele, enquanto termino de me arrumar
para sair com outro cara.
Isso é muito errado.
Mas fui sincera com o Luke sobre a minha atual relação, e ele disse
que é um encontro totalmente despretensioso, e se conseguir ter a minha
atenção já será suficiente. Não espera nada além disso, o que me conforta.
Ele manda uma mensagem falando que já está aqui na frente, e depois
de calçar a minha bota de cano curto, me despeço de Jô que está na sala
trabalhando em seu iPad, dando um beijo nela. Desço para encontrá-lo, e
assim que apareço na calçada já me deparo com ele do lado de fora,
sorridente e muito bonito.
— Uau, Emma! — Ele assobia e eu dou uma voltinha, rindo. — Acho
que precisaremos passar na minha casa para que eu troque de roupa, não
estou tão bem vestido assim para ser digno da sua companhia.
Esse homem deve conquistar as mulheres só com a lábia, e a beleza
é um belo de um bônus.
— Você está lindo, Luke. Como sempre! — Ele faz uma careta
engraçada, após ouvir o elogio e beija minhas duas bochechas antes de abrir
a porta para que eu entre. Inclusive, o seu carro é lindo, com o couro claro e
a parte externa toda preta. — Onde iremos?
— Acha muito brega eu te levar em um piquenique e quando
anoitecer irmos a um barzinho?
— Acho a ideia incrível.
Nós chegamos rapidinho, mas demoramos muito para que ele
conseguisse estacionar e teria sido melhor se viéssemos andando para
poupar esse transtorno.
Luke fica sem graça por conta disso, mas eu não me importo. Vamos
até uma parte do parque que estava mais tranquila, e ele estende a toalha
para sentarmos.
— Eu trouxe muita comida! Espero que não tenha almoçado ainda. —
Sorrio e faço que não, mas é mentira.
Ele vai colocando tudo para fora e eu vejo que realmente é comida
demais, mas acabo pegando um sanduíche de pasta de amendoim e uma
garrafinha de suco.
Luke começa a contar um pouco da sua vida, e sua história. Seus pais
também são médicos, e ele tem duas irmãs. Uma delas se tornou pintora
apenas para irritar os pais, mas acabou se descobrindo uma artista brilhante
e a mais velha também é médica.
— Muitos médicos em uma família só! — comento e ele concorda. —
Na minha família, eu sou a única até agora.
Ele se interessa por saber, e eu vou falando de cada um dos meus
parentes. E a saudade dos meus pais só aumenta, mas não vou ficar triste no
encontro que ele está se esforçando para ser agradável.
E é uma surpresa o Luke ser um cara tão tranquilo e humilde. A sua
aparência já faz com que pensemos que ele é desses que se acha o tal, ou
que esnoba as pessoas por conta de quem é. Descobrir que ele é um homem
decente me anima um pouco mais.
— Sabe uma coisa que eu não sei? — pergunto e ele discorda com a
cabeça. — A sua idade! — Ele arregala os olhos, e tenta lembrar se em
algum momento já falou, mas ri ao notar que nunca falamos nossa idade um
para o outro.
— Bem, eu sei a sua. — Ah, ele era meu professor, deve ter tido
acesso a essa informação, eu acho. — Mas, eu tenho 34 anos.
Eu sou péssima em disfarçar as minhas reações e quase cuspo o pouco
de suco que tinha acabado de beber. Ele me dá uns tapinhas nas costas
quando me engasgo e fico totalmente sem graça por ter reagido assim.
— Sou tão velho? — pergunta, sem jeito.
— Não, desculpa! Faz total sentido a sua idade para que você já seja
um médico desse patamar. É que eu acho que não tinha parado para pensar
na nossa diferença.
— Você já fez aniversário esse ano?
— Faço 20 no próximo mês.
— Começou a faculdade cedo, né? — Percebo que ele quer trocar de
assunto, e me sinto péssima por ter agido da forma que agi. Sem dúvidas,
ele ficou constrangido e não foi a minha intenção.
O clima ficou meio estranho depois disso, mas quando vai
anoitecendo nos animamos para ir a um bar. Acredito que a bebida vá
recuperar o clima legal de antes, e ele diz que o bar onde pretende me levar
é bem movimentado e relativamente novo.
Vamos andando porque é apenas a duas quadras de onde estamos, e eu
vejo a movimentação antes mesmo de entrarmos.
O bar é lindíssimo! Tem bastante luz neon, cadeiras altas, música boa
e muita gente espalhada por todo o ambiente. Nós optamos por ficar um
pouco mais distante das caixas de som para podermos conversar, e eu vou
até o banheiro enquanto ele pede algo para bebermos.
Me tranco dentro de uma das cabines, e pego meu celular para
responder às meninas que estão curiosas para saber se está tudo indo bem.
Eu: Sendo sincera? Acho que não está sendo um encontro muito legal.
Ele é impecável, acho que eu que estou sendo uma péssima companhia.
Guardo o celular na bolsinha novamente, saio da cabine e me olho no
espelho. Arrumo um pouco o cabelo e retoco o batom clarinho que eu tinha
colocado antes, e volto para a nossa mesa.
— Pedi um drink com gin, você gosta? — Se aproxima um pouco
para poder falar e sinto o cheiro do chiclete que ele não estava mascando
até ainda há pouco.
— Gosto sim!
Nossas bebidas chegam, e o clima fica descontraído de novo quando
brincamos um com o outro e conversamos sobre coisas aleatórias. Pedimos
mais uns dois drinks e nem vamos percebendo enquanto a hora vai
passando.
Uma música que eu adoro começa a tocar, e eu o chamo para dançar,
ele aceita, mas já vai avisando que é um péssimo dançarino.
Eu me acabo de rir quando ele dança, porque realmente é péssimo,
mas acaba sendo meio fofo porque ele é esforçado, e com certeza esse
momento é o melhor do encontro até agora.
Ensino alguns movimentos para ele que diz que devo ter alguma
costela a menos para conseguir dançar tão bem, e nesse momento, eu já
estou suada de tanto rir e dançar.
— Acho que esse encontro foi salvo pelo meu fracasso na dança —
fala perto do meu ouvido, e depois volta a me olhar, ainda sorrindo.
— A culpa é minha, eu estraguei o clima mais cedo. Desculpa, é que
não sou muito boa nisso de encontro, para ser sincera, não devo ter tido
mais de cinco em toda a minha vida.
— CINCO? — Faz uma cara de quem não acredita. — Qual o
problema desses homens que não te levam a um encontro?
Eu só rio porque é muito mais fácil do que eu explicar que a culpa não
era deles, e nem minha, na verdade. Mas agora, eu entendo que não rolava
por causa da minha sexualidade, só que explicar isso no meio da pista de
dança improvisada de um barzinho, não é a melhor das opções.
— Espero que eu não tenha sido o seu pior encontro.
Ele chega um pouco mais perto, e eu não recuo.
— Você teria que se esforçar muito para que a sua presença não fosse
incrível, Emma. — Eu acabo olhando para os seus lábios enquanto ele fala,
e fico pensando se eu iria gostar de ser beijada por ele. — E eu quero te
beijar desde a hora que te vi, mas não sei se é algo possível de acontecer.
Acho que ele leu os meus pensamentos ou eu não devo estar sendo
muito discreta. Mas faço que sim com a cabeça, para que ele avance e sinto
seus lábios tocarem os meus, assim que fecho os meus olhos.
Sua boca é macia, e sinto que seu peitoral é bem duro quando ele me
abraça para ficarmos juntinhos. Eu não sei muito bem o que fazer com as
mãos, então as deixo apoiadas em seus ombros.
O beijo é calmo, e sei que ele está sendo cauteloso e tentando entender
o meu ritmo. Eu mantenho o beijo assim, mas viro minha cabeça para o
outro lado, tentando encaixar melhor as nossas bocas, e percebo que não
vou achar o encaixe que eu quero porque isso eu só tenho com Jacob.
Inferno, eu estou pensando em um enquanto beijo outro.
Empurro as lembranças do italiano para o fundo da mente, e aproveito
o beijo com Luke que está sendo bom.
Ele se afasta de mim depois do beijo, com um sorrisinho bobo no
rosto e nós voltamos para a mesa, eu peço uma água com muito gelo e por
hoje chega de álcool. Luke pede mais um drink para ele, mas diz que será o
último e depois vai beber apenas água.
Talvez esse seja um bom motivo para eu ir de táxi para casa. Eu gostei
do beijo, foi gostoso, mas… faltou algo. Não quero pensar nisso, mas
também não sei se quero beijá-lo novamente, e provavelmente, se ele me
levar em casa tentará me beijar no carro.
Luke graças a Deus não pergunta se eu gostei e nem tenta me beijar
novamente, então o resto da noite é tranquila e divertida, e quando vai
ficando mais tarde decidimos ir embora.
Ele pega na minha mão e vai andando na frente para poder abrir
caminho entre as pessoas para que a gente passe, e é um alívio quando
saímos.
— A saída é sempr…
— Emma! — Por um momento, eu penso que estou alucinando, mas
Luke também para quando escuta e vira, olhando para alguém atrás de mim.
E eu sei quem é esse alguém, não teria como não sentir a vibração do seu
corpo ou seu cheiro gostoso.
Me viro e dou de cara com um Jacob com uma feição muito abalada, e
ele olha fixamente para a minha mão que está entrelaçada com a do Luke,
depois me olha. Meu coração parece que parou e a minha mente pifou
totalmente, parece que está tocando musiquinha de elevador dentro do meu
crânio.
— Emma — dessa vez é Luke quem me chama e eu o encaro. Ele
vem para perto, e faz um carinho em meu rosto antes de falar. — Vai lá, não
tem problema! Eu sei que você quer falar com ele, e eu gosto muito da
nossa amizade para estragá-la tentando algo que pelo que eu vejo não vai
rolar.
— Desculpe — sussurro e ele sorri, pedindo para que eu não peça
desculpas. Depois olha para Jacob, como se dissesse para ele não pisar na
bola comigo, e quando eles terminam de se encarar como dois cachorros de
casas vizinhas, que não se gostam, Luke beija meu rosto e diz que estará a
uma ligação de distância.
Eu espero que ele suma, e me viro para Jacob mais uma vez.
— O que você quer, Jacob? — Cruzo os braços quando sinto um
vento gelado, e pouco tempo depois uma gota cai bem em meu nariz. Claro
que vai começar a chover exatamente agora!
— Não está claro? — me diz, chegando perto. — Eu quero você,
Emma!
48
Não faz sentido nenhum as pessoas desse país gostarem desta estação
do ano. Como alguém é feliz vivendo no Rio de Janeiro com um verão que
marca 45 graus? Para mim, isso não tem nenhum sentido.
Quando eu contei para Emma que viríamos para o Brasil para a
inauguração do restaurante dos seus pais, ela ficou superanimada, e me
avisou que já estaríamos no auge do verão.
Por sorte o restaurante é muito bem climatizado, e em falar nele, uau.
A empresa responsável pela decoração foi impecável e deixou do jeitinho
que Owen e Helena queriam, e pessoalmente está ainda mais bonito do que
pelas fotos.
Hoje a inauguração é apenas para convidados, um coquetel. E amanhã
as portas estarão abertas para todos os públicos. Eu paguei uma agência de
marketing e publicidade para divulgar muito bem, cuidar das redes socais
do restaurante, e eles até mesmo colocaram anúncios em rádio, que ainda é
muito utilizado no Brasil, e também foram convidados vários blogueiros
hoje para divulgar.
Kath e Noah vieram, e trouxeram a Milla que estava doida para
conhecer de onde a tia Emma tanto fala. E sem dúvidas, Kath está
empenhada em mostrar o restaurante para seus seguidores de NY, ela é
muito boa no que faz, então eu não duvido que quando os seus seguidores
vierem até o Rio de Janeiro com certeza virão aqui.
O restaurante, que ainda não tinha nome até o aniversário de Emma,
se chamará Costellazione. Os pais dela me ouviram chamando-a assim, e
disseram que não teria nome mais perfeito para ser o lugar que eles
trabalharão todos os dias.
— Está tão lindo, mãe! — Emma diz, toda emocionada em ver o
sonho dos seus pais ser realizado. — Vocês terão muito sucesso, eu tenho
certeza disso.
Deixo as duas para que tenham seu momento, e dou uma olhada pela
parte externa do restaurante que ainda não tinha visto, e encontro o
Eduardo, primo da Emma.
— E aí, irmão — fala em inglês, mas cheio de sotaque brasileiro, e eu
o cumprimento. — Tudo certo para mais tarde, né?
— Opa, claro! Vamos esperar quando as demais pessoas forem
embora e ficar só a família e amigos mesmo.
Ele concorda, e nós começamos a conversar. O parabenizo por ter
conseguido se tornar delegado depois de tanto tempo estudando e se
esforçando para conseguir, ele é um homem bom e parece que realmente
tem a intenção de melhorar as coisas por aqui, neste lugar tão lindo, mas
que tem muito perigo.
As horas vão se passando, e o nervosismo que eu não estava antes
bateu com tudo, mas eu tento me manter minimamente calmo e abraço a
minha namorada por trás enquanto ela toma um drink e conversa com
algumas meninas que não conheço, mas me apresento.
O momento de discurso dos seus pais começa, e todo mundo fica
ansioso para ouvi-los, mas Helena começa a chorar e não consegue dar
início, por isso Owen toma a sua vez.
— Como podem ver, estamos muito emocionados com tudo. —
Aponta para a esposa e todos riem, mas de um jeito carinhoso e não
caçoando dela. — Eu tenho que começar agradecendo a cada um de vocês
por estarem aqui, e agora que só ficaram a família e amigos, nos sentimos à
vontade para dizer que cada um de vocês, de alguma forma contribuiu para
que isso acontecesse. — Vejo Emma traduzir baixinho para Kath e Noah
que chegam ao nosso lado, mas sem tirar os olhos dos pais. — O nome
Costellazione é uma homenagem a nossa filha, que mesmo longe sempre
estará presente em nossos corações e pensamentos. — Emma joga um beijo
para os pais, toda chorosa. — O restaurante é um sonho que vínhamos
nutrindo desde que eu e Helena nos conhecemos, e trabalhávamos em uma
casa na Itália, ela como cozinheira e eu como motorista. Lá conhecemos um
garotinho muito especial, e vimos crescer até certa idade, anos depois ele
voltou para as nossas vidas de uma maneira muito inesperada, e é a você,
Jacob, que devemos o nosso maior obrigado e gratidão eterna.
Cazzo! Eles não podem me fazer chorar.
— Além de ser a parte crucial para que o nosso sonho se realizasse,
você agora também é da família, e cuida da nossa filha com todo seu
coração que sempre foi bondoso. — Owen respira fundo, porque sabe o que
acontecerá assim que me passar o microfone. — Nós te amamos desde que
era uma criança, e saber que é você quem realizará também os sonhos da
minha filha, é algo que dinheiro nenhum paga. Venha aqui filho, por favor.
Eu vou, mas levo Emma comigo, e ela vai toda boba. Abraço Owen,
que me deseja sorte baixinho, e depois beijo a testa da Helena.
— Poucas pessoas aqui me conhecem, mas sei que cada uma de vocês
tem um carinho especial pela Emma e foi por isso que eu aproveitei essa
oportunidade única de estarem todos juntos para… — Emma me olha, sem
ter noção do que irei fazer. Eu tiro de dentro do paletó uma caixinha, e a
abro antes de me ajoelhar, minha ruiva coloca as duas mãos na boca e
arregala os olhos.
— Jacob… — sussurra.
— Amore, eu aprendi com um casal de amigos. — Olho para Kath e
Noah, que estão de mãos dadas com a Milla no meio deles. — Que essa
coisa de um mínimo de tempo para casar, ou namorar é algo que não vale
de nada quando já sabemos em nosso coração que amamos a pessoa mais
que tudo, e eu sabia que você seria a mulher da minha vida desde o
momento em que acordei para a vida e entendi que já te amava muito antes
de ter te dado o nosso primeiro beijo aqui, meses atrás. — A ruiva chora,
mas o seu sorriso lindo não sai do rosto. — Eu viveria tudo novamente se
no meio do caminho te encontrasse, eu não mudaria nada em minha vida se
soubesse que essa tal mudança tiraria você do meu destino. Te amo tanto
que às vezes me sufoco sozinho imaginando: e se eu não for suficiente para
ela? E se eu ainda não conseguir ser quem ela merece ter? Mas eu não
posso deixar de te perguntar se você aceita se casar comigo, e continuar
nessa jornada juntos, lado a lado, passando por tudo que tivermos que
passar, e podendo contar com o outro para tudo?
— Eu não poderia falar nada diferente de sim, amor. — Eu me levanto
para abraçá-la e todo mundo bate palma. Coloco a sua aliança nova em seu
dedo, e ela coloca a minha no meu. — Juntos nós somos invencíveis, Jacob.
E tudo que você fez e faz por mim é muito mais do que eu poderia sonhar.
— Eu te amo, mi amore. — Encho-a de beijos e todo mundo continua
gritando. — Você tem o poder de curar todas as minhas cicatrizes, e aliviar
as dores que ainda trago comigo. É o meu sonho realizado!
8 anos depois.
Hoje é a festa para comemorarmos que a minha esposa é
oficialmente uma neurocirurgiã. Depois de muitos anos, de muito estudo,
várias noites mal dormidas, e a residência que a deixou louca, Emma
conseguiu finalizar a sua especialização e trabalhar no melhor e mais
renomado hospital de NYC.
Mi amore teve que pausar os estudos por um ano, porque
engravidou e era uma gravidez de risco. Tudo deu certo, mas passamos
muitas noites acordados com medo de que algo acontecesse enquanto
dormíamos, e por isso ela achou melhor se afastar para garantir a saúde do
bebê.
Eu iria apoiá-la na decisão que tomasse, e nesse um ano também
fiquei trabalhando de casa e ia apenas uma vez na empresa para resolver
algumas coisas que realmente só poderiam ser resolvidas por lá.
Mas tudo deu certo, e agora o Brandon é um garotinho muito alegre,
que adora brincar com nossos cachorros e comer macarrão cheio de molho.
Às vezes, eu converso com ele e nem acredito que essa criança ainda fará 4
anos, pois é inteligente demais para a minha sanidade.
E ele já foi promovido a irmão mais velho! Emma está grávida
novamente, na verdade, já está com nove meses e resolvemos fazer essa
comemoração aqui em casa, exatamente por conta que a barriga de gêmeos
cansa demais a minha esposa para ir a qualquer lugar. Eu nem sei como ela
ainda trabalhou até duas semanas atrás.
— Por que mesmo é a mulher que tem que carregar as crianças? Não
poderia ser igual aos cavalos-marinhos? — resmunga com a mão na
lombar, se arrastando até a parte de fora da nossa nova casa.
Depois do Brandon, decidimos nos mudar e por sorte a casa do outro
lado da de Noah e Kath foi colocada à venda, e nós compramos. A obra
durou cinco meses, depois foram mais dois meses com a Liz e Jô
decorando, mas valeu a pena cada centavo e tempo investido. Além de ser
vizinho dos meus dois melhores amigos, o condomínio é incrível e tem
várias opções de recreação para as crianças. E foi em um dia desses que a
Milla buscou o Brandon para uma festinha de outra criança aqui do
condomínio que eu e Emma fizemos as meninas.
A minha mamma passa por nós, depois de ter levado a comida lá para
fora e faz um carinho na barriga da Emma. A reabilitação Nós fez muito
bem para ela, e agora minha mamma é uma outra mulher. Trabalha, mora
em um bom apartamento e já tem anos que não tem mais problemas com
seu vício. Foi tudo difícil, mas valeu muito a pena e ela continua sendo
acompanhada por psicólogos até hoje.
— Mamãe, por que você não colocou a semente na barriga do papai
então? — Essa criança que é a minha cara, faz umas perguntas que não
temos noção de onde ele tira. — Papai é mais forte!
O pego rápido, colocando-o em meus ombros e ele ri.
— Você é tão corajoso em falar isso para uma mulher, ainda mais uma
grávida. Mas vai entender quando for adulto que não se deve falar isso.
Emma olha para ele em cima dos meus ombros e respira fundo.
— Sua sorte é que eu te amo, garotinho! — Ele ri, sem entender nada
do que estamos falando. — Mas explicando a sua pergunta, só a barriga das
mamães que podem receber essa sementinha.
Nossos amigos chegam todos juntos nesse exato momento, e vem
entrando para os fundos, onde estamos e todos vão até a Emma para
parabenizá-la, e Brandon fica nervoso para sair de cima de mim e ir brincar
com as crianças que chegaram. Nós sem dúvidas somos uma família que
gosta de crescer, e eu vivo confundindo o nome dessa criançada, seria mais
fácil colocar um crachá em cada uma delas.
— Como está se sentindo, amiga? — Olívia pergunta para Emma, mas
vem até mim me dar um beijo na bochecha e volta a sua atenção para a
amiga. — Por Deus, como elas mexem. — A mulher de Barbie nem precisa
encostar na barriga da minha esposa para ver como as meninas mexem
muito.
— Torcendo para que elas queiram se mexer aqui fora! — resmunga e
senta na cadeira, fazendo uma cara feia e colocando a mão na parte baixa da
barriga. Olho para ela, preocupado, mas ela me tranquiliza falando que está
tudo bem.
— Aproveite enquanto é só um para cuidar, Em. — Kath senta ao lado
dela. — Adam e Milla tem dias que parecem que se juntam em um complô
contra mim, cada um do seu jeito. E para piorar, se o tio deles estiver lá. —
Aponta com o queixo para Barbie. — Eles colocam a culpa nele, e ele
sempre defende aqueles dois. Sério, ainda irei afogar esse loiro na piscina.
De todos os tios, até os mais novos, Barbie é o pior.
— Eu sou o melhor tio para eles! — Barbie afirma. — Não tenho
culpa se algumas coisas fogem da minha jurisdição e sobre para você.
Ela ri e revira os olhos para ele.
— Mas saiba que o Barbie vai estar aqui sempre que precisar — diz
baixinho, para ele não ouvir, e se achar ainda mais. — Só eu sei quantas
vezes ele ficou olhando as crianças para que eu pudesse dormir algumas
horas.
É claro que eu e Emma sabemos que com três crianças tudo será uma
loucura, e novamente irei me afastar da empresa para poder cuidar
integralmente delas. Emma não deve demorar a voltar para o hospital, e eu
consigo resolver as coisas de casa. Eu quero muito que ela atinja o patamar
desejado como cirurgiã, e há anos eu disse que estaria com ela para tudo. E
sendo bem sincero, é meio ridículo isso de sempre a mãe ter que abrir mão
das coisas para cuidar dos filhos, como se seus empregos fossem menos
importantes do que dos seus maridos.
E quero que ela seja feliz! E ser mãe e cirurgiã é o que a deixa
completamente feliz e realizada, então eu farei de tudo para que as coisas
deem certo.
As crianças foram todas para o quarto de brinquedos do Brandon, e
nós ficamos ouvindo só a gritaria delas e a Milla pedindo para que elas não
façam muita bagunça. Ela já é uma adolescente, mas ama os nossos filhos
como se fossem seus irmãos, e vive brincando com eles e ajudando a
manter o controle.
Nós aproveitamos para conversar sem nos preocupar em nenhuma
criança escutar o que não deve, e relembramos os velhos tempos. Os dois
anos que mudaram a vida de todos nós, quando os casais foram se
formando.
— Jake, ainda lembro que antes de ficarmos você tinha a mania de me
levar para o canto e implorar para que eu parasse de implicar — Emma fala
e ri, bem nostálgica. — E pior que eu nem fazia de propósito… pelo menos
não naquela época.
— Ah, eu lembro disso! Morria de curiosidade para saber porque ele
fazia isso toda hora — Barbie diz e eu rio.
Eu lembro daquela época como se fosse hoje e quase consigo sentir
em meus lábios o nosso beijo na chuva quando eu finalmente assumi que a
amava.
— Na verdade, eu te levava para o canto querendo que você me
beijasse do nada! Aí eu poderia colocar a culpa em você, mas nunca fez tal
coisa e eu ficava ainda mais louco.
Todo mundo ri alto disso, e ela me olha cheia de amor, e eu vou até
ela para dar um selinho, mas ela reclama de dor na hora em que eu me
afasto e todo mundo já olha assustado.
— Amore…
— Ai! — reclama novamente, e sua respiração começa a ficar
descontrolada. — Jake, acho que as meninas vão nascer.
Eu estive me preparando há meses, mas na hora é sempre um
nervosismo sem igual. Minha sorte é que meus amigos conseguem pensar
rápido, e nos dividimos entre ficar com as crianças e ir para o hospital em
um carro só.
Noah, Kath e Olívia ficaram. Barbie, minha mamma e Francesco
vieram com a gente, e é meu fratello quem dirige o carro.
Nós entramos e a bolsa dela já estourou. Como ela quer ter uma
recuperação rápida, o parto das duas também será normal, igual ao do
Brandon, e a enfermeira já leva ela para a sala e eu fico na de espera com os
meninos que me tranquilizam o tempo todo.
Eu sabia que não deveria ter pesquisado por complicações em parto
normal de gêmeos, agora a minha cabeça só foca nessas merdas, e com todo
o café que estou tomando da máquina, a ansiedade só vai aumentando.
Sempre que passa alguém no corredor, eu acho que é o médico para
anunciar que algo aconteceu. Eu sempre acho que algo irá acontecer, mas
depois de mais de duas horas, ele aparece sorrindo e pede para que eu
coloque a roupa esterilizada para conhecer as minhas filhas.
Fran e Barbie me abraçam e comemoram por mim, falando que irão
esperar até a hora de poder vê-las também. Minha mamma aperta forte a
minha mão e diz para que eu vá, antes que ela acabe indo na frente para
conhecer as suas netinhas.
Entro na sala onde ela está, já estou com a roupa que o enfermeiro me
ajudou a colocar, e a minha ruiva está com as duas crianças em seu colo, e
os olhos vermelhos de tanto chorar.
Eu choro só de vê-las, e quando minha esposa sorri para mim, como
se dissesse que conseguimos, eu choro mais e beijo o alto da sua cabeça.
Nossas filhas são lindas, mesmo sujas. As duas são cabeludas, seus cabelos
são ruivos como o da mãe, e já conseguimos notar que a personalidade de
cada uma será diferente da outra.
— Essa é Giulia — Emma fala para a que está dormindo, com um
sorrisinho no rosto. — E essa é a Geovanna. — Que já está chorando e
fazendo uma careta, como se não quisesse ter saído de dentro da barriga da
mãe.
— Oi, minhas vidas! O pappa aqui ama vocês, e saibam que terão a
melhor mamma desse mundo inteirinho. — Geo para de chorar, e dá um
sorrisinho ao ouvir a minha voz. Emma chora mais uma vez e eu beijo seus
lábios. — Eu te amo, mi amore. Obrigado por nunca ter desistido de mim e
ter me presenteado com a famiglia dos meus sonhos.
FIM
Finalizamos mais uma história juntos! E eu espero que a experiência
tenha sido ao menos divertida. Já vou pedir que não esqueçam de avaliar na
Amazon e no Skoob, isso me ajuda muito e faz com que os meus livros
cheguem em mais pessoas e talvez assim a trilogia Opostos ganhe o coração
de mais leitores.