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Trilogia Opostos

Mistaken
Betrayed
Ruined

Contos da Trilogia
The Turning
The Revelry
Copyright © 2022 K.A. PEIXOTO
Capa: Larissa Chagas.
Ilustração: Giro Ink.
Revisão: Evelyn Fernandes.
Psicóloga: Natália Ticilo - CRP: 06/ 145810

Os personagens e eventos retratados neste livro são fictícios. Qualquer


semelhança com pessoas reais, vivas ou mortas, é mera coincidência e não
foi pretendida pelo autor.
Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou armazenada em um
sistema de recuperação ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer
meio, eletrônico, mecânico, fotocópia, gravação ou outro, sem a permissão
expressa por escrito do editor.

ISBN: 978-65-00-45311-9
Oi, meus amores, olha a gente aqui de novo! Eu estava tão ansiosa
para esse momento, que os últimos dias antes do lançamento foram uma
loucura.
Escrever Ruined foi um desafio enorme para mim. Eu sei que vocês
têm expectativas altíssimas para a história do Jacob e da Emma, então eu
dei tudo de mim para que fosse tão bom quanto vocês esperam.
Já vou avisar que vocês vão conhecer um outro lado do Jacob, que
sem dúvidas é o mais bonito, e que tenham paciência com esse ranzinza que
passou por muitas coisas. O coração dele é o mais quebrado e isso o torna o
mais difícil dentre os três principais da trilogia. Mas eu juro que valerá a
pena ler o desenvolvimento dele com a Emma, e também como ele é um
amor e ficou com a guarda totalmente baixa perto da ruivinha.
Ruined é um livro de romance new adult, indicado para maiores de
18 anos e aborda os tais temas: sexo, consumo de bebidas alcoólicas,
abandono parental, vício em remédios e drogas, e luto. E deixo claro que
não compactuo com nenhuma atitude errada de nenhum dos personagens e
tudo foi necessário para a história, além de ter abordado tais temas com
responsabilidade.
Deixando os recados importantes, agora, desejo a vocês que tenham
uma boa leitura e que recebam desse livro o que esperam! E, não se
desesperem que ainda não é o fim da trilogia, teremos mais 2 livros e 1
conto, e aí sim será um até logo para o nosso grupo amado.

Com muito amor, K.A PEIXOTO!


Para todos que sofreram por um amor que nunca o mereceu.
Buon giorno: Bom dia.
Raggazo(a): Menino(a).
Pappa: Pai.
Nonno(a): Avô(a).
Famiglia: Família.
Farabutto: Filha da puta.
Per favore, Dio: Por favor, Deus.
Amore: Amor.
Fottere: Foder.
Donne: Mulher.
Bugiardo: Mentiroso.
Faccia di culo: Cara de bunda.
Piccolo: Pequena.
Saco di merda: Monte de merda.
Buonasera: Boa noite.
Stronzo: Babaca.
Tutto a posto: Tudo bem.
Mi dispiace: Que pena!
Vai al diavolo: Vai pro inferno.
Ti parlo, amore. Quanto vuoi sentire: Eu falo amor, quando você quiser.
Molto: Muito.
La mia costellazione: A minha constelação.
Fare la sega: Bater uma punheta.
Mi machi: Que saudade!
Parla come mangi: Vá direto ao ponto.
Buon compleanno: Feliz aniversário!
11 anos atrás.
Finalmente, chegou o dia que estava sendo planejado há muitos
meses. Já perdi as contas de quantas vezes tive azia só para conseguir
manter tudo em segredo e ainda assim resolver tudo para que ficasse
perfeito.
Tem que ser perfeito!
— Buon giorno, ragazzo! — a voz da nova cozinheira é a primeira
coisa que escuto, assim que chego à cozinha, eu sorrio e devolvo o
cumprimento. Isso me faz lembrar que na próxima semana não posso deixar
de procurar os Gallagher, preciso ter certeza que o que meu pappa falou é
verdade, ainda estou achando estranho eles terem ido embora de forma tão
repentina e sem se despedir. Foram eles que me ajudaram desde o início
com essa ideia, e sendo bem sincero, não teria acontecido sem a ajuda do
Owen e da Heloísa. — Tudo o que o senhor pediu já está sendo arrumado lá
fora, próximo ao lago. A equipe contratada chegou bem cedo, e tudo está
magnífico.
Meu sorriso se estende ainda mais, e a ansiedade toma meu corpo
com tudo. Mas é uma boa ansiedade.
Pego uma maçã e saio da cozinha em direção a parte externa da casa
onde moro.
A mansão da famiglia Vacchiano, é sem dúvidas uma das maiores
aqui da Itália. E isso porque a minha família é a mais rica e poderosa do
país, e nossa casa, no estilo toscana, se destaca por ficar em uma parte alta e
descer até as margens do lago de Garda, aqui em Trento.
A paisagem é incrível, tudo é muito bem cuidado, com os serviços
de muitos funcionários, o único problema é que aqui pode ser tudo, menos
um lar.
Pelo menos não para mim.
Eu mordo um pedaço generoso de maçã, passo por alguns dos
jardineiros, falo com eles até que chego no jardim lateral, e sento em um
dos bancos, que têm a melhor vista para o lago.
Até os meus 6 anos, esse era o meu lugar preferido de toda a casa.
Eu tinha certeza que nunca, de maneira nenhuma, eu sairia dessa mansão ou
da Itália. Mas, bastou que eu começasse a entender as poucas coisas da
vida, para que eu decidisse que qualquer lugar longe daqui, seria o melhor.
E o único culpado disso tudo é o meu pappa.
O poderoso Enrico Vacchiano, dono do maior vinhedo e vinícola do
mundo.
Para muitos, um homem generoso, filantropo, dedicado e um
exemplo como pai e marido. E sem dúvida, essas duas últimas definições
são as mais mentirosas.
Mesmo com apenas 18 anos, sei muito mais coisas do que qualquer
outra pessoa da minha idade deveria saber. Já nem me lembro quantos
idiomas falo e nem quantos esportes já pratiquei para poder participar de
confraternizações de elite, com filhos de outros homens igual ao meu
pappa.
Posso estar parecendo um ingrato, até porque, quem não gostaria de
ter o melhor ensino a sua disposição, né? O problema foi o custo disso.
Aos 10 anos eu já falava 6 idiomas, acordava às 05 da manhã, e
dormia às 10 da noite, exausto, sem nem ao menos ter tirado uma mísera
hora para ler, ou simplesmente para descansar. Minha rotina era totalmente
controlada por meu pai, e eu tinha horário para tudo.
Ainda me lembro como foram dolorosas as cintadas que levei por
ter ficado 5 minutos a mais no banho, tentando tirar a sujeira do sangue dos
meus dedos depois de ter sido obrigado a caminhar mais de 2 horas com um
sapato nada adequado.
— Farabutto! — xingo-o, como sempre faço ao lembrar da
existência dele.
— Xingando seu pappa novamente, mio figlio? — Solto uma risada
breve, deixando claro que sou culpado, e me levanto para dar um beijo em
cada bochecha da minha mamma. — Peço a Deus que ele nunca ouça. —
Ela alisa meu rosto e segura a minha mão, me puxando para caminhar ao
seu lado. — Como está esse coração apaixonado? Ansioso?
Minha mãe é um ar puro nessa vida infernal que eu levo aqui.
Mesmo que há muito tempo ela não seja mais a mesma, em momentos
como esse, sem os vários remédios em seu organismo, é como se eu a
tivesse de volta.
— Batendo ainda mais acelerado, mamma! — Ela sorri e faz um
carinho em minha mão. Eu tento ignorar os seus dedos trêmulos, e apenas
aperto entre os meus. — Mamma, tem certeza que não quer ir comigo?
Você e o Enrico nem vivem mais como casados, isso tudo é para a imag…
— Eu não saberia viver outra vida que não fosse essa, figlio! Mas eu
ficarei todos os dias torcendo pelo seu sucesso, por sua nova vida com a
Sophie.
Já tem alguns anos que eu planejo me afastar totalmente dos
Vacchianos. Nada aqui me faz, nem nunca me fez feliz. É como se eu
estivesse preso dentro de mim, assistindo outra pessoa me comandar. Não
tenho voz, não tenho forças e nada do que eu falo serve de algo.
Sou a marionete do meu pai, que desde que nasci, ele me prepara
para ser o seu sucessor, como ele foi do meu nonno. Eu até poderia, por
muito tempo eu pensei que suportaria tudo o que ele fazia comigo e com a
minha família, para no final, poder tomar conta da vinícola, e ser um patrão
totalmente diferente de todos os outros, que valoriza os funcionários, que
passam horas perdidas no vinhedo, debaixo do sol colhendo as uvas
perfeitas, e todos os outros diversos funcionários espalhados entre nossas
casas, a empresa na fazenda que tem o vinhedo, e a vinícola.
Mas eu falhei nesse propósito, falhei em conseguir fingir que os
xingamentos, os olhares e as palavras não me machucavam. Não consigo
mais fingir que minha mãe não está definhando por um amor que não existe
mais, talvez nem tenha existido.
E o que mais me dói é saber que terei que deixar a mamma e o
Francesco aqui. Mas não posso tirá-lo desse mundo, não ainda, não
enquanto ele é uma criança e ama a vida que tem aqui, sem nem saber o
que, infelizmente, o espera. E a única coisa que eu posso fazer é torcer para
que o pappa não faça com ele o mesmo que fez comigo.
— Eu sentirei falta desses nossos momentos, mamma. — Meu peito
se aperta, sabendo que amanhã a esse horário, eu já estarei longe. — Eu
amo essa vista, amo o lago, passear no vinhedo, o apartamento em Sicília,
mas nada disso é o suficiente. Você entende, né?
Já não sei quantas outras vezes perguntei à minha mãe como ela se
sente com a minha partida, sem saber como meu pai ficará. Porque é claro
que ele não reagirá bem, por mais que eu já tenha avisado há alguns meses,
ele está achando que não terei coragem de abdicar de tudo, e com isso ele se
refere ao dinheiro.
Os Vacchianos são bilionários, e meu pai já nasceu em berço de
ouro. E por mais que seja um péssimo marido e pai, ele é ótimo com o que
faz pela empresa.
Eu sei que ele tem “negócios” por fora, e também sei que muitas
dessas coisas são ilegais, mas é algo que não vou me envolver. A
necessidade que ele tem em manter seu poder e status me assusta, eu não
duvidaria do que ele seria capaz para continuar no posto em que está
perante a sociedade.
— Os filhos são feitos para o mundo, Jacob. É duro, mas é a
realidade. — Ela solta sua mão da minha, e sorri mais uma vez. Eu já sei o
que acontece depois daqui. — Tentarei estar presente na festa, tá bom? Só
vou deitar por mais uns 30 minutos.
Ela sai rápido, antes que eu peça para que fique, mas de nada iria
adiantar. Já tem anos que minha mãe toma alguns remédios para mantê-la
feito um zumbi, o que é perfeito para o meu pai, que agora nem esconde
mais as amantes e as traz para nossa casa.
Se as pessoas soubessem tudo que acontece dentro dos muros desta
mansão, com certeza, olhariam para o Enrico de outra maneira.
Mas já basta desses pensamentos ruins, o pappa não irá me deixar
para baixo hoje.
Aproveito que ainda falta uma hora, volto para o meu quarto e tomo
um banho bem quente na banheira enorme, olhando para o lago pela janela
enorme que tem ali. Fico tentando imaginar como será minha vida depois
daqui, junto com a Sophie em NY.
Um lugar novo, onde ninguém me reconhecerá como um Vacchiano.
Agora sou apenas o Jacob Ramsey.
Por mais que o sobrenome da minha mãe não esteja na minha
certidão, porque meu pai preferiu fingir que não se casou com uma mulher
que não era totalmente italiana, eu sempre achei lindo e agora me chamarei
assim. Anularei da minha vida o sobrenome dele, da mesma maneira que
ele fez com a minha mãe.
Me enrolo em uma toalha e vou procurar alguma das roupas que
ainda não estão nas malas e opto por uma bermuda clara, e uma camisa de
linho em um tom bege. Confiro no espelho e sorrio, animado.
Antes de sair do meu quarto, eu pego a caixinha com as duas
alianças que eu escolhi a dedo, e coloco em meu bolso, sentindo o peso bem
maior do que realmente elas pesam.
Volto para fora da casa, e inicio a caminhada de quase 10 minutos
até onde tudo está sendo arrumado para que eu finalmente peça a minha
namorada em noivado.
Eu e Sophie nos conhecemos desde criança, ela também era de uma
família importante, não tanto quanto a minha, mas nossos pais foram
grandes amigos e quando os dela faleceram de um jeito muito misterioso, o
pappa mexeu os pauzinhos para conseguir cuidar dela.
Nós dois já éramos prometidos um para o outro, não que isso
realmente fosse acontecer, porque coisas desse tipo não são mais comuns
por aqui, mas nós sabíamos que era da vontade deles, e parece que deu
certo.
Foi natural amá-la. Sempre estivemos juntos, Sophie é linda e por
mais que tivéssemos passado por uma fase em que não nos suportávamos,
tudo isso mudou há um tempo, e estamos juntos desde nossos 16 anos, que
foi quando permitiram que namorássemos. Fomos vigiados rigorosamente
no primeiro ano de namoro, até porque ela também mora aqui, mas
ninguém foi capaz de controlar nossas fugidas pela madrugada.
Sophie sempre soube como é a minha relação com o meu pai, e me
apoiou na ideia de ir embora. Foi um grande alívio quando ela disse que
também iria comigo, e daí que decidi pedi-la em noivado.
Eu a amo tanto, que cada milímetro do meu corpo se agita quando
ela se aproxima.
— Tudo está belíssimo! — eu quase grito quando vejo tudo
arrumado. Saio distribuindo beijos em todos os funcionários, que riem da
minha animação e continuam seus afazeres. — Impossível que a minha
ragazza resista a uma declaração feita aqui.
Vejo Francesco brincando perto do lago, e quando me vê balança os
braços, com seu sorriso idêntico ao meu e eu mando vários beijos para o
pequeno.
— Sr. Vacchiano! — um garçom me chama, me servindo uma taça
de um de nossos diversos vinhos e eu aceito de prontidão, mesmo sem nem
ter almoçado e sofrendo pelo perfume incrível das comidas que estão sendo
postas à mesa.
Me sento e pego o celular.
Tem mais de uma hora que não tenho notícias da Sophie, o que é
estranho. Ela sabia que supostamente faria um piquenique aqui, para nos
despedirmos do lugar que passamos horas e horas admirando, deitados
debaixo de uma das árvores.
Mas ontem a noite, ela falou que tinha uma coisa para resolver na
cidade, novamente. Sophie nunca foi de ter segredos, mas já tem um tempo
que ela sempre diz que tem algo para resolver, uma única vez, eu perguntei
o que era ou se podia ajudar. Ela desconversou, e eu sei que tem algo nisso
aí, mas nós vamos embora. O que aconteceu aqui, ficará aqui e é nisso que
estou focando.
Ignoro meu coração que berra todos os dias que tem algo de muito
errado, ignoro também toda a sagacidade, malícia e maldade que aprendi
vivendo com meu pai. Apenas quero ir embora com a mulher que eu amo.
Mando mais uma mensagem, e quando passa mais de 30 minutos, eu
tento ligar. Ela não atende.
Ligo de novo, e de novo e de novo. Fico assim por tanto tempo, que
só percebo que já está entardecendo quando retiram as comidas, e voltam a
recolher as decorações.
Nossos amigos já foram embora, minha mãe já veio aqui algumas
vezes e voltou para o seu quarto. Os funcionários já me olham com pena, e
eu acho que vou fazer um buraco no chão de tanto que ando de um lado
para o outro.
Já fiz ligações para algumas pessoas, que poderiam estar com ela e
ninguém sabe me dizer onde Sophie está.
Meu coração está disparado, o suor desce da minha nuca até o meio
das minhas costas e quando decido que vou pegar o carro e sair atrás dela,
vejo meu pai se aproximando, com uma expressão que nunca vi em seu
rosto.
Alguma coisa aconteceu.
— Jacob… figlio, eu sinto muito! — Sinto suas mãos em meus
ombros e o encaro sem entender o porquê de falar isso. — Recebi uma
ligação agora há pouco, de um amigo da polícia e ele me informou que teve
um acidente aqui perto. O carro perdeu o controle dos freios e bateu com
tudo em uma das rochas da beira do lago, e era o carro da Sophie!
Meus olhos tremem, e um som estranho toma conta dos meus
ouvidos. Eu vejo que meu pai continua falando, mas não escuto nada além
desse som. Parece que tudo ao meu redor perdeu o som e a velocidade.
Pisco mais vezes do que o necessário e me afasto dele, olhando ao
redor, querendo buscar alguma outra informação que não seja essa que
acabei de ouvir.
— Não pode ser, não pode! — falo, enquanto passo os dedos entre
meu cabelo. — Eu quero ir lá, deve ter sido um engano. Talvez ela tenha
emprestado o carro, talvez…
— Jacob, fizeram o reconhecimento do corpo dela.
— PARA! Bugiardo! — grito com toda a força que eu tenho e ele dá
alguns passos para trás e abaixa a cabeça. Eu nunca vi esse homem desse
jeito, abatido. E isso está me deixando ainda mais desesperado.
Sem pensar muito, corro com toda a força que tenho, ignorando a
queimação no peito e nas pernas. Corro até nossa garagem, e quando chego
lá, pego a chave da minha moto, que quase nunca sai daqui e monto nela
sem nem pensar em capacete, acelerando assim que a ligo.
Existe um único caminho onde tem essas rochas que beiram o lago,
e é para lá que eu vou o mais rápido que consigo, desviando das pessoas e
dos seus xingamentos. Repetindo em minha cabeça que isso não é verdade,
que é mais uma das artimanhas do meu pai para me prender aqui.
Minha mão dói enquanto eu tento forçar ainda mais o acelerador,
mas sou obrigado a frear depois de uma curva. O caminho está bloqueado,
tem vários carros da polícia e fitas proibindo a passagem.
Desço da moto e deixo que ela caia de qualquer jeito.
O policial me reconhece na hora, é o amigo do meu pai que vive
rondando a nossa casa e o vinhedo, sempre na sombra do meu pai. Sem
dúvida, deve fazer para ele coisas que outros não fazem.
— É melhor você não ir até lá, Jacob. — Eu passo a fita, mas ele
coloca a mão em meu peito, seu olhar mostra que ele realmente não quer
que eu vá. — A coisa foi muito feia, e infelizmente a motorista, que era a
única pessoa no carro, faleceu na hora do impacto.
Eu empurro o braço dele e me aproximo, sentindo meu peito arder e
minha respiração pesar toneladas.
O carro realmente está destruído, a porrada foi tão forte que ele parece
ter metade do tamanho que realmente tem, mas eu me agarro na ideia de ter
sido um engano, mesmo tendo visto a placa.
Eu começo a pedir a Deus para que ela ao menos esteja viva, que ela
ao menos tenha uma chance de se recuperar. Se for preciso, eu mudo os
meus planos, eu continuo na Itália até que seja necessário.
Per favore, Dio!
Repito, incansavelmente, esse pedido enquanto vou até o outro lado,
onde uma ambulância tampa o que está acontecendo. E a primeira coisa que
eu vejo já dilacera o meu coração.
A bolsa dela está jogada para longe.
Muito longe.
E o que meus olhos veem dessa vez, é o que faltava para fazer o meu
coração parar de bater de uma vez por todas.
Um saco preto cobre um corpo pequeno, que tem ao redor uma poça
gigantesca de sangue, que já está quase seca. E eu não preciso levantar para
saber que é ela, seus pés ficaram para fora e de onde estou vejo a pequena
tatuagem que ela tem no tornozelo com um J.
Perco toda a força do corpo e caio no chão, colocando a cabeça em
cima das minhas mãos e gritando toda a dor de saber que perdi o meu amor.
De saber que daqui para a frente, eu não terei mais em meus braços a
mulher que eu amo, a mulher que me faz feliz, cada segundo dos meus dias.
Meu coração chora junto comigo, eu consigo sentir na mesma hora
que algo dentro de mim quebra para sempre, que eu nunca mais serei o
mesmo e que ninguém poderá ocupar o lugar que sempre será dela.
Sophie se foi, o meu grande amor se foi. E junto com ela, além de
levar a minha vida, a minha luz, ela também leva a vida do meu filho que
estava em seu ventre.
01

A música do 3 Doors Down toca alto em meus fones, falando em


cada estrofe exatamente o que eu sinto todos os dias da minha vida. E eu
corro com mais vontade, aumento a velocidade da esteira e corro o mais
forte que consigo, sentindo minhas pernas queimando a cada passada que
eu dou.

I'm here without you, baby


But you're still on my lonely mind
I think about you, baby
And I dream about you all the time
I'm here without you, baby
But you're still with me in my dreams
And tonight, it's only you and me.

Pulo da esteira, colocando cada um dos meus pés nas laterais dela e
aperto o stop. Fico olhando enquanto a velocidade vai diminuindo, e ignoro
os batimentos em meu peito ainda acelerados, me lembrando que eu tenho
um coração que só serve mesmo para me manter vivo.
— Vocês não deveriam me julgar, eu que os alimento! — falo com
Snape e Dumbledore, que continuam me olhando com seus olhos julgadores
e deitados um do lado do outro, apenas esperando que eu termine meus
exercícios diários e abra a porta para irem brincar com Arya e Mayke, meus
outros dois cachorros que dormem lá fora e só entram em casa quando eu
estou. Nunca dá certo deixar dois pitbulls presos em um lugar fechado, e
ainda mais com essas duas criaturinhas que perdem toda a postura quando
se juntam a eles.
Pego a toalha e seco meu rosto e cabelo, depois coloco-a em meu
ombro, coloco meus fones em seus devidos lugares e vou até a porta dos
fundos, destravando todas as portas e janelas pelo painel de segurança, e já
aproveito para abrir todas as janelas e deixar o ar circular pela casa.
— Hey, babys! — Me abaixo para fazer carinho nas cabeças enormes
dos meus pitbulls, que não esquentam para o meu suor e lambem meus
braços e rosto. — Dormiram bem? — Eles abanam ainda mais seus rabos e
eu entendo como sim.
Eu sou uma pessoa que gosta de seguir uma rotina, pelo menos em
casa. Basicamente, eu acordo, treino, cuido dos cachorros, tomo café e
depois vejo o que cada dia me reserva. Como hoje é sábado, eu costumo dar
banho neles, e se não tiver nada programado com os meninos, fico em casa
na parte da tarde e a noite vou para onde o aplicativo me mandar.
E como já fiz a primeira coisa, começo a cuidar deles, que já estão
perto da piscina brincando com as bolinhas e o pneu que tem ali para eles.
Perco um bom tempo lavando o quintal, colocando comida, trocando água e
depois dando banho neles, que mais parece que foi um banho em mim.
— Vocês vão ficar aí fora agora! — Aponto para os quatro, que
sentam e me escutam atentamente. — Só quando eu chamá-los, vocês
entrarão! — Dispenso-os com as mãos e eles já saem correndo novamente.
O bom deles serem adestrados é que não tenho muita dor de cabeça
com as possíveis merdas que eles poderiam fazer. Às vezes eles se
empolgam e destroem uma coisa ou outra, mas eu não consigo brigar com
nenhum deles, ainda mais com as caras que eles fazem quando são pegos.
Meu telefone toca e eu coloco no viva-voz quando vejo a cara feia
do Barbie, deixo o celular apoiado na bancada para poder preparar meu café
da manhã.
— Bom dia, bebê! — Reviro os olhos quando escuto. — Não revire
os olhos para mim, Jacob! — Prendo uma risada quando ele fala o que
acabei de fazer. — Os pais da Olívia estão na cidade, convidei eles para um
almoço hoje. Desmarque suas putarias e venha para cá, tchau!
Fico olhando para o celular, enquanto seguro um pote de vidro com
queijo e uvas. O faccia di culo sempre me chama para as coisas assim, sem
dar chance para que eu diga não.
Coloco algumas coisas em um prato, enfio o celular na bermuda e
subo até o meu quarto, como sempre evitando olhar para o final do
corredor. Mas de nada adianta evitar aquele quarto, assim que entro no meu,
já me deparo com uma foto minha com Sophie.
Estávamos sentados na beira do lago que tinha ao redor da casa dos
Vacchianos, e ela sorri para mim enquanto eu beijo seu sorriso. Sempre dói
ver como eu era feliz, como eu era um homem diferente do que sou hoje, e
como eu sinto falta de ser assim, de tê-la ao meu lado.
Respiro fundo, enfio um pedaço de queijo na boca e mastigo com
dificuldade.
Todos esses anos ainda não foram suficientes para deixar de amá-la. E
desconfio que tal coisa nunca acontecerá.
Conecto o bluetooth do celular na caixa de som embutida do quarto e
banheiro, coloco uma música mais tranquila enquanto termino de comer,
olhando meus cachorros brincando pela janela, e dou uma olhada na rua.
O condomínio onde moro é bem tranquilo, e as pessoas já se
acostumaram com meu jeito fechado e há anos desistiram de tentar se
aproximar de mim. Antes do Noah se mudar, eu ia bastante lá e às vezes
caminhávamos juntos, nós ainda frequentamos a casa um do outro, e eu até
costumo malhar lá. Só que a presença constante da Emma tem feito com
que eu evite ir tanto.
A minha casa tem todo o meu estilo. Ela é toda preta e os móveis
brancos, para contrastar. Ela destoa totalmente das outras casas que por
mais que tenha alguns detalhes escuros, a maior parte é clara. Uma vez até
ouvi de uma criança que quem morava aqui com certeza era o Gru de Meu
malvado favorito.
Eu tive que pesquisar, e no final concordei com a menina. Realmente
parece.
Depois de ficar mais algum tempo ali perdido com os meus
pensamentos, decido tomar um banho bem gelado, para dispersar toda essa
nostalgia que me acompanha todos os dias, e quando saio, enrolado em uma
toalha, desligo a música e coloco no canal de notícias da Itália.
É sempre bom ficar por dentro das coisas que acontecem por lá, e
muitas vezes o nome do meu pai aparece nos jornais. Nunca de forma
negativa, é claro, mas assim, eu fico atualizado.
E pensar nele, me lembra que ele ainda está aqui em NY, e que
continua me infernizando para vê-lo.
Terá que me levar à força!
Pego uma calça jeans preta, toda rasgada na coxa e uma camisa da
mesma cor. O dia hoje está bonito, e vou aproveitar para ir de moto até a
casa de Barbie mais tarde, então tiro uma das minhas jaquetas de couro e
jogo em cima da cama, me sentando logo depois e puxando o livro que
estava na cabeceira para continuar lendo até a hora de ir.
Vamos descobrir o que Sarah J Maas aprontou em Crescent City 2.

Desligo a moto assim que estaciono na frente do luxuoso prédio em


que meu amigo mora, e após tirar meu capacete, eu balanço a cabeça,
depois passo os dedos entre os fios de cabelo, arrumando-os.
— Isso foi interessante! — Respiro fundo quando escuto a voz de
Emma. — Eu sempre vejo em filmes que os caras quando saem da moto
fazem isso, mas achava tão forçado. — Eu saio de cima da moto, e coloco o
capacete em meu antebraço. Quando me viro, logo me deparo com a ruiva
em seu costumeiro estilo: vestido soltinho e colorido, com alças finas e um
decote suave, mostrando bastante de suas sardas.
— Não sei os outros caras que pilotam, mas eu não gosto de ficar
com meu cabelo bagunçado. — Na verdade, não gosto de nada bagunçado,
muito menos a minha aparência. — E boa tarde para você também, piccolo.
Ela ruboriza depois que me escuta chamá-la assim, mas mantém seu
sorriso doce no rosto e nós entramos. Como eu venho sempre aqui, tenho
acesso a senha que libera a entrada no prédio e também que nos leva direto
para a cobertura.
— Eu nunca vou me acostumar em como vocês são ricos, é tudo
luxuoso, reservado, único! Um sonho — comenta, enquanto se encosta no
espelho do elevador e cruza os braços. Esse comentário faz com que eu me
sinta um pouco mal, porque ela nem imagina o quanto de dinheiro que tem.
Eu preciso tomar coragem e contar logo isso para ela.
— Em breve você se tornará uma neurocirurgiã de sucesso, não faltará
dinheiro em sua conta. — Ela concorda. — Mas, sabe que até lá, você tem
uma ótima rede de amigos que não se importaria nem um pouco em te
ajudar, né?
— A questão é essa. — Ela alisa a nuca, e depois coloca o cabelo para
trás da orelha. — Estou cansada de precisar da ajuda de vocês! Já não basta
todos os lugares que vamos e as viagens que vocês pagam. Eu moro em um
apartamento maravilhoso, e pago tão pouco para estar lá, parece que sempre
estou na sombra de vocês.
Não é a primeira vez que eu vejo que Emma se sente desconfortável
com a diferença financeira de todos nós para a dela, e esse é um dos
maiores motivos de eu estar enrolando para contar que há anos guardo um
dinheiro em uma conta para ela. Capaz dela me fazer engolir cada dólar que
tem lá, e são muitos.
Eu admiro muito isso nela. Emma simplesmente poderia se aproveitar
que todos nós não esquentamos em pagar as coisas para ela e usufruir sem
fim, mas não, ela é honesta e esforçada. Passa horas e horas estudando, vira
várias noites e tem dias que vai muito cedo para a faculdade e fica lá até
não poder mais.
— Você terá bastante tempo para nos retribuir tudo isso! E sem
dúvidas, Barbie ainda vai quebrar alguma parte do corpo de tanto malhar,
será bom ter uma médica por perto. — Pisco e ela morde o canto do lábio
inferior. É impossível não olhar o movimento, e eu quase consigo lembrar
como sua boca é macia e boa de beijar.
Cazzo! Não vá por esse caminho.
Graças a Dio santo o elevador abre, e ouvimos uma música alta, que
eu acho que nunca ouvi antes. Eu faço sinal com a mão para que Emma saia
primeiro, e vou logo atrás dela. Barbie aparece com uma cara emburrada, e
já puxa o capacete da minha mão para guardá-lo, acredito eu.
— Eu vou enlouquecer de tanto ouvir BTS, escrevam o que eu estou
falando! — Ah, são os meninos da banda que Olívia gosta. — Sério, eu
nem entendo a maioria das coisas que eles falam, isso é uma loucura.
Emma olha para mim, segurando o riso e eu faço o mesmo.
Barbie e Olívia se entenderam há pouco tempo, e vivem em um grude
nojento de se ver. Depois daquele show que ele fez, e enfiou todos nós, ela
o desculpou e agora vivem como o casal do ano. O loirinho é romântico, e
virou comum ver entregadores de flores no escritório ou os dois trocando
olhares fofos.
Nojento.
— Oi, gente! — Olívia, diferente do meu amigo, aparece sorridente e
animada. Recebo um abraço rápido e um beijo na bochecha. A loira puxa
Emma e as duas somem na direção da cozinha.
Eu vou para a piscina, onde eu imagino que todos estejam, e paro na
porta ao ver Noah e Kath dançando juntos, com Milla entre eles. É
impossível não sorrir ao ver essa cena, meu amigo merece toda a felicidade
do mundo e sei que ele conquistou isso no momento em que formou a sua
família com a Kath.
Mas, eu não consigo deixar de pensar que a essa altura eu teria um
filho com uns 10 anos já. Não tem um único dia que eu não imagine se seria
uma ragazza ou um ragazzo. É a merda do meu inferno particular, e quanto
mais eu penso, mais eu me afundo nessa amargura.
Noah me vê e acena para mim, eu aceno de volta e sorrio para a
garotinha que conquistou todos os nossos corações.
— Tio, mamãe falou que você tem muitos cachorros! — Ela chega
perto de mim, e eu me abaixo para ficar na altura dela. — Eu quero um,
qual deles é o mais legal?
Essa menina é impossível, e eu rio da sua pergunta.
— Olha, eu não posso ficar sem os meus, eles são meus figlios! Mas,
se os seus pais liberarem, eu conheço um lugar em que você pode arrumar
quantos quiser.
Ela coloca as duas mãos na boca, animada com o que eu falei. Se vira
para os pais, e eles me olham como se quisessem me jogar daqui de cima, e
eu só dou de ombros e me afasto, mas não sem antes ouvir um comentário
da Milla.
— Mamãe, o tio não sabe falar direito! Ele fica inventando um monte
de palavras, será que ele esqueceu de estudar? — Ela dá uma risadinha bem
infantil, e eu deixo para que os pais expliquem o porquê de eu ter falado
diferente, e sendo bem sincero, nem percebo quando misturo os dois
idiomas.
02

Os pais da Olívia são uns amores, e disso eu já sabia desde que os


conheci no Canadá, mas é lindo ver como eles são unidos e amigos, e amam
a filha acima de tudo. A preocupação e o interesse em conhecer melhor as
pessoas que ela convive é uma forma clara de mostrar que mesmo de longe,
eles estão ali por ela.
Já está anoitecendo e eles foram para o hotel, e claro que Barbie fez
questão de levá-los, se mostrando ainda mais solícito do que sempre foi. É
uma nova versão, ainda melhorada do homem que era incrível.
E Olívia aqui do meu lado, tecendo elogios a ele, só confirma o que eu
acabei de falar.
— Duas coisas que eu tenho para falar. — Laura chama nossa atenção
e todos olhamos para ela. — Primeiro que eu nunca vi meu irmão tão
apaixonado, e com uma coleira tão apertada e enorme, deixando claro para
quem queira saber que ele tem alguém. E a segunda é que por dinheiro
nenhum eu pensei que Jacob toparia a doideira que Barbie fez para
reconquistar seu amor.
Isso sem dúvida ainda é pauta em nossas conversas.
Nada me fará apagar da memória as cenas do Jacob tentando aprender
a patinar, e depois no rink de patinação quando tudo estava acontecendo.
Esse homem é lindo fazendo tudo. Mesmo sem saber, e com certeza
com medo de cair, ele se mostrou seguro e fez tudo certo, sem demonstrar
um pingo de incertezas no que fazia.
— Eu sou eternamente grato a menina que ficou com o meu celular e
gravou tudo, com riqueza de detalhes. — Todo mundo ri quando escuta
Barbie falando assim que volta, aparecendo de surpresa na sala. — E eu já
perdi as contas de quantas figurinhas eu tenho de todos nós, inclusive do
bonitão aí.
Jacob olha para todos, mas simplesmente não fala nada e continua
bebendo a sua cerveja.
Demorou um pouco para eu me acostumar com ele desse jeito. Eu
sempre tive lembranças dele alegre, brincalhão e sorridente, mesmo tendo
problemas com o pai e tentando manter a mãe minimamente sóbria, sem os
remédios. Mas, sendo bem sincera, acho que esse jeito combina com ele.
É sexy todo esse ar misterioso, os olhares sombrios… me arrepio só
de lembrar quando tudo isso foi direcionado a mim da maneira mais quente
possível, e já perdi as contas de quantas vezes me arrependi de ter contado
para ele que sou virgem.
Maldito hímen.
— Eu ainda não superei tudo aquilo! — Olívia comenta, olhando
cheia de amor para o seu namorado. — Sem dúvidas foi a coisa mais linda e
mais brega que você poderia ter feito, e eu amei.
— Quem diria que vocês seriam tão fofos! Pensei que continuariam se
matando, mesmo juntos — comento.
— Você deveria passar algumas horas na empresa, Emma. — Noah
fala, e o casal ri. — Por lá parece que tudo continuou o mesmo, aí do nada
eles ficam fofos e aí voltam a se xingar através dos olhares. Ninguém tem
coragem de se meter.
A conversa se estende nesse assunto, e eu me acabo de rir, lembrando
de alguns momentos daquele final de semana no Canadá. Nós ficamos dois
dias por lá, escondidos da Olívia, nos dividindo entre acertar tudo para que
ficasse perfeito, e horas em cima dos patins para conseguirmos pelo menos
ficar em pé e ir para um lado e para o outro.
— Bem, eu tenho que ir embora! — Me levanto, e eles perguntam o
porquê. — Preciso estudar, as provas estão se aproximando e o laboratório
requer muito de mim, acabo ficando sem tempo para estudar na faculdade.
— Quer carona? — Kath pergunta, também se ajeitando para ir
embora.
— Não, tá cedo, eu vou caminhando.
— É perigoso, Emma — Jacob fala e eu ergo uma sobrancelha para
ele. — Deveria aceitar a carona.
Eu não respondo ao substituto do meu pai, porque tem hora que é
difícil não querer socar aquela cara linda.
Pego as minhas coisas, que se remete apenas a uma bolsa pequena e
me despeço de todo mundo. E eu sempre fico sem saber como me despedir
dele, então opto por dar um tchau básico e entro no elevador.
Aproveito para já pedir um carro no aplicativo. Está de noite e
realmente é perigoso, mesmo que o apartamento de Barbie fique a
pouquíssimos quarteirões de onde moro, mas não daria o braço a torcer para
o Jacob.
Fico na frente do prédio, esperando os 2 minutos que o aplicativo
informa que é o tempo para que o carro chegue e sento nos degraus da
pequena escada, esperando.
A noite está linda, e as estrelas brilham como se estivessem em festa.
Eu daria tudo para ter uma noite calma, deitada em um lugar com essa
vista. Dormiria a luz das estrelas e da lua, e torceria para sonhar com elas.
— Eu também gosto de olhar o céu à noite. — Jacob senta ao meu
lado, mas mantendo uma distância segura. — Mas prefiro fazer isso em um
lugar seguro! Onde ninguém pode me assaltar, ou me sequestrar…
— Ninguém vai me sequestrar, Jacob.
— Se eu tentasse agora, tenho certeza que conseguiria sem nenhuma
dificuldade.
— E depois faria o quê? — pergunto. — Me colocaria de castigo e
daria alguns tapas em minha bunda? Por favor, né! Você mal fala comigo,
Jacob. Não entendo porque fica com essa neura de me proteger.
Pela visão periférica, eu consigo ver seu maxilar tensionar, e agradeço
quando o carro chega e eu não preciso mais manter essa conversa estranha
com ele.
Se eu soubesse que ele ficaria tão negativamente afetado por ter
ficado comigo, eu mesma não teria deixado que acontecesse. É um saco o
clima que ele criou entre nós dois e eu já estou meio cansada de tentar fingir
que está tudo bem.
Levanto e sem dar chance para que ele fale mais nada, entro no carro
e não olho mais em sua direção. A corrida não dura nem cinco minutos, e
não me surpreendo nem um pouco ao ver Jacob em cima da moto, no outro
lado da rua quando chego em meu prédio.
Esse italiano tem algum problema sério.
Eu escuto o motor ligando e a moto dando partida depois de estar
dentro do prédio. É até legal o fato dele estar preocupado, e sei que não é
especificamente comigo. O que me irrita é um homem de 29 anos não saber
lidar com um beijo.
Tudo bem que foi quase mais que isso, e que beijo maravilhoso, mas
eu tenho certeza que para ele não foi nem um terço do que foi para mim. É
gritante o quanto ele é experiente, e eu já ouvi os meninos falando que ele
tem uma vida sexual muito ativa.
Isso só me faz entender ainda menos o porquê da reação dele.
Tiro a chave da bolsa assim que paro na frente da porta, e destranco.
Está tudo escuro e em silêncio, sinal que a Jô não está. O que tem
acontecido bastante, agora que ela deu uma chance para o Symon, o
treinador do time que o Christopher joga.
Ele parece ser legal, e ela merece ter a chance de finalmente conhecer
alguém que a valorize.
Me arrasto até meu quarto, e a primeira coisa que eu faço quando
chego nele é tirar o vestido e já me enfiar dentro de um short confortável, e
uma blusinha tão surrada que a qualquer momento vai rasgar, e isso vai ser
triste. Eu tenho vários baby-dolls e pijamas, mas nada é mais confortável
que essa blusinha surrada.
Olho ao redor, e vou até as janelas para abrir as cortinas e deixar a
brisa gostosa entrar.
Ainda acho surreal a mudança que a minha vida teve em tão pouco
tempo, e nem que passe mil anos, eu serei capaz de agradecer a Kath. Ela é
uma amiga sem igual, seu coração é tão puro e bondoso, que eu nem
consigo acreditar que teve gente que fez mal a ela.
Ela jamais me olhou diferente, nem tão pouco me tratou como
inferior, mesmo quando eu a servia no meu antigo trabalho. Muito pelo
contrário, ela me estendeu a mão quando eu pensei que todos os meus
planos iriam ruir, e se hoje eu moro em um bom lugar, me alimento bem e
vou tranquila para a faculdade, é por causa do apoio dela, que não é só
financeiro.
Kath é quase uma mãe em forma de amiga, e eu a amaria mesmo se o
apoio também não fosse financeiro, e isso tudo só me faz ter mais gás para
estudar e no futuro poder contribuir de alguma forma.
Olho para todos os meus livros na mesa que improvisei como
escrivaninha e esfrego uma mão na outra, me preparando para emergir nos
estudos e perder a hora fazendo uma das coisas que eu mais gosto.
Antes de começar, eu mando uma mensagem no grupo das meninas
avisando que cheguei bem, depois desligo o celular e vejo por onde
começar entre as milhares de matérias que eu tenho nesse período.

Minha vista se irrita com a claridade, e assim que abro os olhos


percebo que dormi por cima dos meus livros e que talvez eu tenha babado
um pouco.
As minhas costas são a primeira coisa a reclamar quando eu me
levanto e faço alguns alongamentos, bem rapidinho, exercícios não são
muito a minha praia, mas ouvi tantos estalos em uma pequena alongada,
que acho que uma corridinha não faria mal.
Quem sabe na segunda eu começo.
— Bom dia, querida! — Jô está passando pelo corredor quando eu
saio para tomar um café, e seu bom humor matinal sempre me deixa mais
alegre que o comum. — Mais uma noite dormindo em cima dos livros, né?
— Culpada! — Eu dou um beijo em seu rosto, e pego um pouco de
café quentinho. — Você deveria ganhar o Oscar como a melhor em fazer
café. — Ela ri e pega seu iPad que estava no sofá. — Viu as últimas visitas
que eu inclui na agenda?
Liz e Jô me contrataram para ajudar a marcar as visitas, achar novos
clientes potenciais e também alguns fornecedores dos materiais que elas
usam. É um trabalho que ocupa pouquíssimo do meu tempo, e o retorno é
mais do que eu mereço, mas não estou podendo recusar.
— Sim, querida! Ainda nem acredito que vamos na casa do Bryan
MckNigth, preciso me preparar para não desmaiar.
Eu rio alto ao ouvi-la.
— Já reparou que o Symon parece muito com ele? — Eu não tinha
pensado nisso até agora, mas caramba, eles são muito parecidos. E ambos
belíssimos coroas.
— E por que você acha que eu dei o braço a torcer e estou com ele?
— Esperta! — Rimos, e ela se retira falando que tem alguns projetos
para fechar ainda hoje e que mais tarde irá jantar com ele. Isso me faz
pensar que deve ser legal ter alguém para passar um tempo junto, assistir
um filme, ou simplesmente deitar em um sofá e ficar passando os canais até
cansar.
Mas como vou chegar a esse ponto com alguém, se as poucas pessoas
que eu tentei me envolver mal senti vontade de beijá-las? E também não é
como se tivesse um mar de homens atrás de mim, o que dificulta.
E o Jacob, que até hoje foi o único homem que me tirou o ar, tem o
defeito de ser ele. Ô homenzinho ranzinza, só Cristo!
Pego a almofada e afundo a minha cara nela, totalmente frustrada
pelos meus 19 anos, sem graça, sem sexo, com o total de dois beijos, que
protagonizei há pouco tempo com Jacob, além de alguns outros beijos que
já havia dado antes e provavelmente esse saldo não mudará.
Eu nunca tive a fantasia de esperar o príncipe em cima do cavalo,
sempre me senti preparada para ir fundo quando a vontade aparecesse e eu
tivesse um mínimo de intimidade com a pessoa, mas ela nunca apareceu.
Normalmente, eu perco a vontade de qualquer coisa, ainda na etapa da
conversa em um encontro.
— Parece que seremos eu e você, juntos até o final — falo como se
o meu hímen pudesse me entender.
Estou ficando louca mesmo.
Pego meu telefone, na esperança de ter alguma mensagem dos meus
pais e assim me distrair um pouco, mas nada além do grupo das meninas,
então vou para o famigerado Instagram e fico olhando vídeos, curtindo e
comentando algumas coisas, até que me aparece um perfil com dois
cachorros lindos, e eu abro.
A minha surpresa foi tão grande quando eu fui vendo as fotos, que
eu quase deixei o meu celular cair.
Jacob tem um Instagram para os seus cachorros, que não são apenas
dois e sim quatro, e tem muitos seguidores, tipo, muitos mesmo, e eu só
reconheci, porque mesmo que não tenha foto do rosto dele, eu reconheceria
aquelas tatuagens e a sua voz de longe.
Eu passo a seguir na mesma hora e perco boa parte da minha manhã
ali no sofá, rindo e me apaixonando pelos cachorros dele.
Depois de ficar perdida em meus pensamentos enquanto via os
cachorros brincando, decido tomar um banho longo, deixando a água gelada
bater em meu corpo enquanto apoio a cabeça na parede, me preparando
para mais um dia vazio.
03

Meus dois computadores estão ligados à minha frente e eu digito


coisas diferentes em cada um deles, tentando organizar e adiantar algumas
coisas para ficar um passo a frente desses advogados que gostam de me tirar
de idiota, só porque não sou formado em direito.
Não tenho nada contra, até porque os meus melhores amigos são,
mas alguns dos funcionários são impossíveis e parecem um saco di merda!
E claro que basta eu pensar neles, que o mais chato de todos aparece.
Me levanto assim que vejo o Dr. Ernandez bater em minha porta, e
faço sinal para que entre, já me acomodando no sofá para ouvir o que
provavelmente deve ser alguma reclamação sem pé nem cabeça.
— Boa tarde, Dr. Ernandez.
— Jacob! — me cumprimenta como se fossemos amigos e dá um
tapinha em meu braço quando passa por mim para se sentar à minha frente.
Como de costume, olha para a minha sala, e faz uma cara como se
aprovasse. — Italianos sempre têm bom gosto, eu tenho um amig…
— Eu acredito que o senhor veio para tratar de algo profissional. — O
corto e ele abre os botões do paletó e se encosta, ficando totalmente sem
postura e gastando a minha pouca paciência.
— Você é um homem jovem, bem mais jovem do que eu, mas é um
bom profissional. — Eu acho meio improvável que o que ele falará agora
me agradará. — E imagino que entenda que o mundo dos negócios é para
os homens, e com isso quero dizer que talvez as coisas estejam ficando
confusas com a nova contadora, ainda mais que agora ela namora um dos
donos.
Não é a primeira vez que ele deixa claro que não gosta da Olívia,
mas eu nunca dei importância para as queixas ridículas, mas tudo tem um
limite.
— A Srta. Pierson é uma das melhores funcionárias que nós temos,
faz tudo com uma maestria sem igual. — Me levanto, na esperança que ele
entenda que esse assunto não se estenderá. — O seu machismo está
cegando o seu bom julgamento nela, e também no Dr. Barbieri, que foi o
único entre nós três que quis que o senhor trabalhasse aqui. Mas, vejo que o
julgamento dele está tão cego quanto o seu…
Ele também se levanta, mas o seu semblante já deixa claro que não
está gostando do rumo que nossa conversa está tomando.
— Aquela menina acha que pode me dizer como lidar com as contas
dos meus clientes, eu nunca precisei de ninguém colocando o nariz onde
não foi chamado.
— Se você acha que uma contadora está fazendo algo absurdo
querendo se envolver nas contas da empresa, realmente não tem um bom
discernimento das coisas. — Cazzo! Que homem irritante. — Além do
mais, todas as funções dela, além das óbvias, foram delegadas por mim e
nada fará com que eu mude tais encargos.
— Então eu quero a minha demissão! — Eu sei que ele fala isso da
boca para fora, achando que assim conseguirá o que quer, mas na verdade,
eu quem consegue.
Eu vou até a minha mesa novamente e pego uma pasta que estava na
primeira gaveta, nela, eu tiro o contrato dele, que já havia sido solicitado
para a área competente pelas contratações, e estendo para que ele pegue.
— Nós fazemos vista grossa para muitas coisas, Dr. Ernandez, mas
não iremos compactuar com as suas atitudes para com a nossa funcionária,
sendo ela a namorada de um dos donos ou não, até porque, isso não muda o
posicionamento dela aqui dentro, em nada profissional. O seu argumento é
baixo e bem ruim, o que é decepcionante para um advogado.
Ele olha o papel e depois me olha, chocado.
Eu e os meninos já tínhamos conversado sobre ele, que além de ser
desrespeitoso até conosco, por não aceitar que somos mais novos que ele,
também desrespeita outros funcionários. Por um tempo, ele trazia ótimos
resultados, e até mesmo clientes para outros advogados, por isso nenhum
deu queixa formal até pouco tempo. Ele só adiantou algo que nós já iríamos
fazer e nos poupou alguns milhares de dólares.
O homem à minha frente assina o papel, e me encara novamente,
sem esconder a raiva, mas o seu orgulho é maior do que sua humildade para
se desculpar e pedir mais uma chance. Sei que ele quer fazer alguma
ameaça, é nítido em seu olhar, mas ele apenas sorri de lado e sai da minha
sala.
Finalmente!
Menos um problema na minha vida. Ótimo!
Volto a me sentar no sofá, pego o celular que estava em meu bolso e
que senti vibrar há pouco tempo, e como eu imaginei, é o aplicativo.
Pleasure é um aplicativo para encontros. Mas, diferente do Tinder e
outros bem famosos, ele é muito mais seletivo, até porque, existe uma taxa
mensal um tanto quanto cara para cada plano.
Não sei ao certo como os outros planos funcionam, mas o Magic,
que é o que eu uso, basicamente deixa eu ditar todas as minhas regras, sem
que haja nenhum crime entre os meus desejos.
E as minhas regras são: sem conversa, sem repetir a mesma pessoa,
sem beijos, nada de nomes verdadeiros. Essas são as coisas que eu nunca
mudo, e tem as outras que gosto de trocar dependendo do meu humor e
vontade.
Tem dias que quero apenas mulheres de cabelo escuro, outros que
prefiro as loiras. BDSM em uma semana, já na outra sexo a três, ou ficar de
voyeur. Tudo como eu quiser, do jeito que eu quiser e sou eu quem escolho
entre as mulheres que visualizaram o meu perfil e se encaixam nos meus
requisitos.
O aplicativo é bem claro em não permitir comentários maldosos, e
também não existe opção de escolher o tipo de corpo que deseja, o que eu
acho bem justo e eu não daria o meu dinheiro para algo que discriminasse
mesmo que indiretamente alguma pessoa pelo seu corpo, tom de pele ou
etnia.
Nós sabemos o quanto os homens são babacas, ainda mais os ricos,
que acham que podem tudo e qualquer coisa. Eu sei que para muitos que
sabem da existência desse aplicativo, pode imaginar que quem use seja
babaca, mas para mim, ele é prático e direto. Só preciso que a mulher ou as
mulheres estejam dispostas, da mesma forma que elas só acham o meu
perfil porque eu também me encaixo no que elas querem.
Barbie e Noah acham um pouco doentio, e para o azar deles, eu não
me importo com o que eles acham sobre a minha vida sexual.
Depois de Sophie, eu me tornei incapaz de amar outra mulher. Nem
ao menos tenho coragem de levar alguém na minha casa, ou beijar, parece
que estou traindo-a de alguma maneira, e quando tudo é só carnal, longe de
onde moro, que é onde guardo as lembranças da minha vida com ela, não
me sinto culpado.
Eu sou jovem, e eu gosto muito de transar, além de ser bom demais
nisso. Depois dela, fiquei muito tempo sem encostar em outra mulher
porque precisava ir a encontros e não conseguia, tinha a sensação de estar
sendo vigiado e julgado. Sei que é coisa da minha cabeça, mas há anos vivo
assim e não sei mais e nem quero ser diferente.
No início da minha solteirice precoce era uma tortura, porque eu
sentia desejo como qualquer pessoa e por causa disso comecei a contratar
garotas de programa, mas era tão desconcertante ter que ficar explicando o
que eu queria, e muitas delas achavam que eu precisava conversar e aí tudo
desandava.
O aplicativo, que eu descobri lá pelo segundo ano da faculdade, me
salvou de inúmeros encontros arranjados pelos meus amigos e também de
ser considerado um babaca pelas meninas que perdiam seu tempo tentando
me conhecer.
Com o Pleasure posso transar quantas vezes eu quiser, onde e com
quem. Nunca tive problemas com as mulheres que apareciam para eu
escolher, normalmente era até difícil saber qual delas me encontrar, mas
depois do carnaval… alguma coisa deu ruim.
Eu não consigo mais levar nenhum sexo até o fim! Ou eu perco o
interesse antes mesmo de começar, ou no meio da coisa toda, meu corpo
desanima.
É irritante, frustrante e o médico disse que isso é algo da minha
cabeça, porque está tudo bem fisicamente.
Rolo a tela do celular, vendo os perfis que se encaixam nas minhas
novas necessidades: ruivas, novas, dispostas a conhecer coisas novas e com
pouca experiência sexual.
Estou sendo patético? Claro que sim, o maior de todos. Mas, desde
que fiquei com Emma, a vontade de ter mais do que tive só aumenta. O que
vai contra tudo que eu prezo hoje em dia.
A ruiva é linda, parece um anjo! Nunca vi um corpo mais atraente
como o dela, todo natural e do jeito que deveria ser. Parece que tudo nela,
até mesmo a língua afiada, que descobri que ela tem há pouco tempo, ou
como se solta quando bebe um pouco, me atrai.
Estou começando a achar que é algum tipo de brincadeira de mau
gosto que o universo está fazendo comigo.
Tê-la por perto é um martírio, e quando estou longe sua imagem
sempre vem a minha mente, ainda mais se eu estiver no banho, ou quando
me deito e leio um livro com cenas hots.
Cazzo! Cazzo! Cazzo!
Eu preciso aprender a lidar com esse desejo! Emma é um território
totalmente proibido, e mesmo que não fosse, eu sei que ela não é uma
mulher disposta a aceitar o meu jeito. Como diabos uma virgem seria uma
mulher para mim? Ou melhor, como eu seria bom e delicado o suficiente
para me dispor a tirar a virgindade de alguém?
Paro na tela quando vejo uma mulher, com quase nenhuma
maquiagem e o cabelo ruivo um pouco mais curto do que eu imaginei. Não
é a Emma, e claro que não acharei ninguém igual a ela, mas eu preciso de
algum jeito dar um fim nesse desejo pela ruivinha.
— Ocupado? — Olívia coloca a cabeça para dentro da sala e eu faço
que não. A contadora entra e encosta a lateral do corpo no sofá à minha
frente. — Acabamos de saber sobre o Ernandez e eu vim agradecer. Sei que
não foi por mim, ou pelo menos não 100%, mas é importante saber que aqui
é uma empresa em que as mulheres são respeitadas e que não aceitam que
sejamos diminuídas. Coisas como o que ele fala, é muito mais comum do
que se imagina, mesmo estando em 2022, parece que alguns homens não
sabem lidar com mulheres também tendo voz.
— Ele é um babaca! — digo e ela ri, concordando. — E saiba que
estarei a todo ouvidos se algum outro funcionário for assim.
— Acho que não teremos mais problemas desse tipo. Só vim falar isso
mesmo, e mais uma vez agradecer pela confiança em meu trabalho. — Ela
desencosta, sorri e dá um tchau antes de sair.
Eu gosto da Olívia. Do meu jeito, mas eu gosto. Além dela ter
conseguido colocar uma coleira extremamente apertada em Barbie, nunca
vi alguém trabalhar com tamanha perfeição como ela.
Meu celular apita e isso me lembra que eu bloqueei a tela antes de
confirmar o encontro para que a Olívia não visse. Provavelmente, ela já
sabe, mas eu não tenho necessidade de gritar aos quatro ventos quando
estou usando, ainda mais depois que o enxerido do Barbie viu o tipo de
mulher que eu estava procurando.
Eu olho para a foto dela, confirmo se ela está ciente de tudo e ainda
assim fico na dúvida se é o que eu quero. E decido cancelar antes mesmo de
confirmar, já tive coisas demais para apenas um dia, terminar a noite com
um sexo que não vai dar o que eu procuro, só vai me deixar ainda mais
irritado.
Uma notificação aparece no celular e vejo que é Barbie pedindo para
que vá até a sala dele urgente.
Levanto rápido e desço pela escada, poupando o tempo que ficaria
esperando o elevador e antes de entrar na sala vejo que Noah já está lá,
olhando entediadamente para o nosso amigo.
— Qual merda você fez dessa vez? — Sento na cadeira ao lado de
Noah, que já revira os olhos.
— Recebi um e-mail agora e estou preocupado! — diz, enquanto anda
de um lado para o outro atrás da sua mesa. — A Comic-Con desse ano será
adiantada, para esse mês. Eu não tinha visto isso antes de comprar.
Ele só pode estar de sacanagem.
— E o que eu tenho a ver com isso, Barbie? — Aliso as minhas
sobrancelhas com os dedos, me controlando para não mandar esse babaca
para o inferno.
— Não é óbvio? Precisamos nos preparar, é em San Diego!
— Eu ainda não tô entendendo onde eu entro nisso.
— Ele quer que a gente vá, Jacob — Noah responde e o loiro
concorda.
— Não! — Me levanto e ajeito o paletó. — Era só isso?
Barbie vem até onde estamos e senta na cadeira em que eu estava,
com aquela cara de quem vai falar algo que não vai me agradar, e eu respiro
fundo algumas vezes antes dele falar.
— Eu comprei o ingresso de todo mundo! — O sorriso que ele dá
depois de falar, é igual aquele que as crianças dão depois de ter feito alguma
merda. — Na verdade, eu tinha comprado só dois, mas daí eu fiquei
nostálgico lembrando da nossa viagem para o Brasil e fiz mais uma
compra!
Eu olho para Noah, que dá de ombros e depois volto a olhar o loiro na
minha frente.
— Vende o meu! Resolvi o problema, posso ir agora?
Já me viro, na intenção de voltar para a minha sala e voltar a me
estressar com outra coisa que não seja ele.
— Tudo bem, vou ver se Emma tem algum amigo da faculdade para
chamar então!
Tática bem infantil essa, mas funciona muito bem porque eu volto
sem falar nada e me sento na cadeira dele, que gargalha descaradamente da
minha cara.
— Sabe que eu preciso cuidar dela! Os pais dela são…
— Os pais dela são os pais que eu nunca tive, me sinto em dívida com
eles. — Os dois falam em uníssono e eu levanto o dedo do meio das minhas
mãos, direcionando um para cada um deles.
— Odeio vocês! — Essa é a maior mentira de todas, e eu preciso
controlar o meu rosto para não esboçar um sorriso. Eles são dois babacas,
sendo o Barbie o maior deles, mas são a minha família. — Mas eu não vou
me fantasiar.
— Veremos! — Barbie diz. — Você patinou no gelo, se podemos
chamar aquilo que fizemos de patinação, para me ajudar a reconquistar a
Frozen, acha mesmo que não vou conseguir te convencer a usar uma
fantasia?
Eu ainda nem acredito que eu realmente saí daqui para ir ao Canadá
fazer todo aquele circo para ajudá-lo, e isso me faz refletir que ele
realmente consegue me convencer a fazer essas coisas, como há anos me
convenceu a fazer a nossa festa juntos, e virou tradição.
— Te odeio! — repito e ele ri, já pegando o iPad e me mostrando
alguns lugares que ele já viu para nos hospedarmos.
Mais uma viagem com todos nós juntos. Mais um final de semana
dormindo perto demais da Emma, e algo me diz que dessa vez não
conseguirei ficar longe dela, como consegui no Canadá.
04

Termino as minhas últimas anotações, já sozinha no laboratório e


desinfeto o meu material antes de guardar, jogando fora as luvas e a
máscara.
Já estou no terceiro ano de medicina, e começamos a fase em que
estudamos sobre doenças, e começamos a ter uma noção de como serão as
coisas quando formos para o hospital, mas eu estou adorando as aulas nos
laboratórios. É fascinante ver como a natureza funciona, como nossos
corpos reagem a coisas diferentes. E é tudo tão difícil também, não tem
como gravar as coisas, porque são muitas. Ou você aprende, ou você se
ferra!
— Por que eu sabia que te encontraria aqui? — Me viro e vejo o Dr.
Luke, que é um cardiologista que está nos dando algumas aulas sobre
doenças do coração e também é palestrante aqui na faculdade. — Já tinha
percebido que você é um pouco mais atenta do que a maioria.
Sorrio sem graça pelo o que pareceu ser um elogio.
— Acho que eu preciso me esforçar um pouco mais do que eles —
digo, com sinceridade. Parece que muitos dos outros alunos tem uma
facilidade surreal para aprender, e comigo é bem diferente. Se eu não me
matar de estudar cada matéria, nada entra em minha cabeça. — Mas, eu
também gosto de ficar por aqui, parece que sinto que cada vez se torna mais
real, e que cada vez estou mais próxima do meu objetivo.
Ele cruza os braços e sorri, ficando com os olhos estreitos e
mostrando as covinhas.
O Dr. Luke é um sucesso por onde passa, e já percebi isso porque são
poucas as mulheres que disfarçam que ele as afetam. E eu também não sou
cega, ele é um gato e muito simpático.
Deve estar na casa dos 30 anos, tem um corpo bem atlético, que faz
com que todos os jalecos pareçam pequenos demais para ele, e o sorriso
com certeza é o toque final, junto com essas covinhas fofas.
— Pela sua média impecável, eu acho meio difícil isso ser verdade.
Mas se for, você está ainda mais de parabéns!
Eu coloco a minha mochila em apenas um dos ombros, e confiro se
peguei tudo. Antes de sair, ele abre a porta e eu passo, agradecendo, e para a
minha surpresa, ele vai caminhando comigo.
— Eu não sei se você sabe, mas eu tenho uma clínica muito
conceituada em Boston e em breve eu pretendo deixar de dar aulas e
palestras, e finalmente ficar só lá.
Fico surpresa com a notícia e acho que ele percebe.
— Um dos motivos de eu ainda estar aqui é para conseguir, talvez,
futuramente ter algum de vocês trabalhando comigo lá, e sem dúvidas você
tem um ótimo futuro, Emma. — Por que ele me elogia tanto? Devo estar
mais vermelha do que o sangue que estava vendo ainda há pouco. — Eu vi
que você pretende se especializar em neurocirurgia, o que é incrível. Lá
perto, em Boston, tem um hospital-escola com um dos mais renomados
neurocirurgiões. Seria um grande prazer te indicar para lá, e talvez, depois,
tê-la em minha equipe.
Eu paro assim que saímos da faculdade, e me apoio no corrimão do
degrau.
— Isso é incrível, Dr. Luke!
— Só Luke, por favor.
— Certo. Isso é realmente incrível, mas me parece cedo demais para
tomar uma decisão tão grandiosa! Ainda faltam 3 anos antes de pensar em
me especializar, e muitas coisas podem acontecer ou mudar, isso se eu
conseguir passar em tudo. — Eu respiro fundo e ele sorri novamente,
provavelmente me entendendo. — Eu não estou recusando, apenas não
tenho como te dar uma certeza agora e no futuro dar para trás, mas, quem
sabe não conversamos sobre isso futuramente?
— Eu gostei da ideia! — Descemos a escada e vejo quando ele tira a
chave do carro de dentro do bolso. — Você mora aqui perto? Posso te dar
uma carona… — Uma carona seria ótimo para meu corpo cansado, mas não
quero que as pessoas que vejam eu entrando no carro dele pensem em outra
coisa. — Se quiser, claro!
— Eu vou caminhando, preciso passar em uma loja no meio do
caminho. — Isso é só uma meia-mentira. — Mas, obrigada! Você é muito
gentil.
Ele se despede apenas balançando a cabeça e eu acabo optando por ir
para a biblioteca da faculdade, me preparar para as aulas dos próximos dias.
O caminho até lá toma uns 10 minutos do meu tempo, e eu aproveito
para olhar ao redor.
A faculdade é dominada pelos que têm dinheiro! E eles se destacam
fácil entre pessoas como eu, que não tem nem o terço do que eles tem, e
talvez por isso, eu não me encaixe em nenhum grupo de amizades
espalhadas pelo campus.
Mas, já notei que alguns deles me olham… diferente! Nunca
consigo entender os olhares que recebo desse tipo de gente, e fico com a
sensação que eles esperam que eu faça algo errado apenas para rir de mim.
Para o azar deles, isso ainda não aconteceu e espero que não
aconteça.
Entro na biblioteca gigante, bem parecida com as que vemos em
filmes.
Além de infinitas prateleiras altíssimas, também temos sofás, mesas
e a parte em que ficam os computadores, que é para onde eu vou.
Me sento ali e as minhas próximas 4 horas passam enquanto eu
estudo tudo o que eu consigo, fazendo ainda mais anotações além das que já
tenho e só percebo que muito tempo passou quando meu estômago faz um
barulho muito alto.
Na pressa de levantar, acabo batendo com a cadeira em alguém
quando a arrasto para levantar e já me viro para pedir desculpas.
— Ai, desculpa! Nem pensei em olh…
— Emma?
Só quando escuto meu nome que eu olho para a pessoa, e não
demoro nem um segundo para reconhecer o homem à minha frente.
— Francesco! — Puxo-o para um abraço e ele ri baixinho e me
abraça na mesma intensidade, fazendo um carinho em minhas costas. — O
que você está fazendo aqui? — Me afasto, muito empolgada. — Eu estava
indo na lanchonete, quer ir comigo?
Uma senhora passa por nós e aponta para a placa enorme escrito
silêncio e peço desculpas baixinho.
Nós saímos da biblioteca e eu paro na frente dele, sem acreditar que
estou vendo o meu melhor e único amigo de infância bem na minha frente e
o abraço novamente!
— Eu ainda não estou acreditando!
— Acredite! Sou eu em carne e osso.
— Muita carne! — Ele ri e voltamos a caminhar. — Anabolizantes
fazem mal, você sabe, né? Não deveria ficar usando essas coisas só para ter
tantos músculos e caramba, como você está bonito!
— Certas coisas nunca mudam, pelo visto. — Ele se refere ao fato
de eu estar falando muito. — Como eu nunca soube que você veio para cá?
Aliás, o que aconteceu anos atrás?
Eu espero até entrarmos na lanchonete e depois de nos
acomodarmos em uma mesa perto da janela, eu não consigo conter o sorriso
em tê-lo na minha frente.
— Nós éramos crianças quando eu fui embora, imagino que o Sr.
Enrico não tenha se importado em falar sobre isso, ou qualquer outra
coisa…
— Por favor, não vamos falar dele. Pelo menos não hoje! — Eu
concordo. — Onde você está morando? Eu vim para cá há pouco tempo, foi
uma loucura conseguir uma transferência para essa faculdade, mas eu
consegui e não deve ter nem um mês que cheguei.
Eu fico escutando o que ele fala, enquanto vou reparando em como
ele mudou de um menino franzino, que sempre ficava envergonhado, para
um homem muito bonito, alto e forte, que parece ter deixado toda a timidez
para trás.
Seus olhos e sorriso são os mesmos, e acho que foi isso que me fez
reconhecê-lo tão rápido.
— Eu moro aqui perto, estou na casa de uma amiga! — E em falar
nisso, me lembra o fato de que eu deveria falar sobre o Jacob, mas, não sei
como chegar a isso. — Estou no terceiro ano da faculdade e meus pais
voltaram para o Brasil.
— Eu lembro que sua mãe era brasileira, né? — Nós ficamos horas
conversando, enquanto lanchamos e matamos a saudade das partes boas do
nosso passado. E eu espero até o último momento para soltar a bomba.
— Francesco, tem uma coisa que eu acho que você vai querer saber.
— Ele me olha assustado, sem nem conseguir imaginar o que eu poderia
querer falar tão seriamente. — A história é longa, mas não tem esses
amigos que eu falei que eu fiz? — Ele faz que sim com a cabeça. — Um
deles é o Jacob!
— Jacob? — a voz dele quase nem sai quando repete o nome.
— Sim! Seu irmão é um dos meus amigos atuais, se assim posso
dizer. E por mais estranho que pareça, foi uma bela coincidência que até
hoje, eu não consigo acreditar.
Francesco perde a pouca cor que tem, esfrega a testa e depois os
olhos. Eu fico quieta, não sei o que falar porque Jacob é a pessoa mais
fechada do mundo e não sei como anda a relação dele com o irmão.
— Poderia não contar a ele, por hora, que estou aqui? Eu preciso
criar coragem para ir até meu irmão e conversar com ele depois de tudo que
eu falei há alguns anos.
Ah, não! Eu sou péssima em guardar segredos, desde criança. E esse
foi um dos principais motivos do Sr. Enrico ter mandado eu e meus pais
embora depois do que eu vi no quarto dele.
— Por favor, Emma. Eu não quero arrumar problema para vocês
dois, que são amigos agora. Mas eu realmente não vou saber lidar se ele do
nada aparecer, porque eu sei que ele me olhará de um jeito que vai me
magoar, e eu mereço, mas eu acredito que no tempo certo conseguirei
conversar com ele e resolver as coisas.
— Eu prometo que vou tentar, mas se prepare logo. Depois de
algumas tequilas, eu meio que perco todo o meu senso crítico, e falo e faço
coisas que sóbria eu não faria de jeito nenhum!
Ele olha para mim e ri, sacudindo a cabeça, totalmente incrédulo
disso tudo que está acontecendo. E eu o entendo perfeitamente.
Não consigo imaginar quais as próximas coincidências que o
universo vai aprontar para mim. Só espero que não sejam coisas ruins.
— Eu lembrei de uma coisa aqui — ele diz depois de comer uma
batatinha. — Você era apaixonadinha pelo meu irmão, isso passou ou
continua suspirando por ele atrás das paredes? Como você falava mesmo?
Ah… eu ainda irei me casar com seu irmão e nós seremos cunhados para
sempre.
Ele faz uma imitação patética da minha voz e eu rio. Mas logo paro,
porque uma parte de mim fica triste ao ver como o Francesco tem muito do
irmão, que hoje em dia não existe mais no próprio Jacob. O jeito alegre,
brincalhão, e despojado. Parece que tudo foi uma invenção da minha
cabeça.
— Isso é passado! — minto na cara de pau, mas ele parece acreditar.
— Seu irmão é um homem muito sério, depois da Sophie, ele perdeu toda a
alegria. E eu não sou uma pessoa namorável, de qualquer maneira.
Francesco claramente fica incomodado quando eu toco no nome da
ex-cunhada e vejo seu maxilar tensionar com força. Nós dois sabíamos de
coisas demais, e eu entendo a reação dele. Mas, tudo já é passado.
— Precisamos marcar um dia com tequila para você me explicar o
que seria uma pessoa não namorável.
— Eu topo!
— Eu fiquei sabendo pela mamma, que ele não é mais sorridente
como antes. Ela diz que agora ele é só noite, não tem mais dia em sua vida
— fala do nada, depois de ter ficado um tempo em silêncio e provavelmente
pensando no irmão.
— É uma boa definição — pontuo. — Mas você terá a chance de
ver com seus próprios olhos! E, caso não queira esbarrar com ele por aí,
vou te dar o endereço da empresa dele e assim você fica longe de lá.
— Empresa dele? — Ergue uma sobrancelha, mas o sorrisinho de lado
deixa claro que não esperava menos do irmão, apenas está curioso. — Ele
deve ser difícil de lidar, acho que sempre foi assim, muito focado em seus
projetos e deixava o pappa louco.
— Você não imagina o quanto! — Acho que é o momento em que
mais sou sincera na nossa conversa até agora. Se tem uma coisa que aquele
italiano é, com certeza é isso. — O Noah e o Barbie vivem se queixando
dele, só para irritá-lo e falta sair fumaça daquela cabeça, sempre de cara
fechada, igual esses velhos ranzinzas.
Nós conversamos por mais um tempo, trocamos nossos números e
também endereços. Ele está morando aqui perto, o que é curioso, já que não
lembro de ter nenhum condomínio de luxo e nem prédios assim. É na rua
onde ficam as casas que os alunos costumam se juntar e alugar para morar,
mas, não vou perguntar sobre isso.
Cada um segue para um lado e eu vou em direção ao apartamento da
Jô. Ansiando por um bom banho quente, minha cama e um livro.
Comprei na semana passada, em uma livraria aqui perto, um livro da
Collen Hoover e estou ansiosa para ler. Como de costume, vi que estava
dividindo muitas opiniões das leitoras dela, e isso me fez ficar ainda mais
curiosa para conhecer a história e ter minha própria opinião.
Hoje será uma noite longa, mas de um jeito confortável. Como não
tenho aula amanhã, poderei passar a madrugada lendo mais um capítulo e
falando que será o último.
05

Eu sabia que ir ao encontro não daria certo, mas acabei voltando


atrás e topei ir. Foi igual aos que os últimos têm sido: o mesmo hotel, uma
pessoa que eu nunca vi mas do jeito que eu queria, ou pelo menos o que eu
pensei que queria, e quando começamos, simplesmente, eu perco a vontade.
Além de ser frustrante para mim, sem dúvidas para ela também foi.
Que conseguiu ficar ainda mais constrangida do que eu, e para melhorar
tudo, acabei de receber uma mensagem do aplicativo, pelo visto tiveram
alguns comentários sobre mim para o suporte e agora um especialista está
me perguntando se eu preciso de ajuda profissional.
Isso tá indo de mal a pior.
Termino mais esse copo de Whisky e o garçom já vem rápido
perguntar se eu já quero outro.
— Eu ficarei grisalho bem antes do que pensei — Noah comenta do
meu lado e eu volto a prestar atenção nos meus amigos e também nas
pessoas andando de um lado para o outro aqui na Lótus. — Milla é um
amor, uma criança incrível, mas ela é inteligente demais para a idade dela.
E agora na escola nova, parece que ela tem amigos que também sabem
demais. Acreditam que ela veio me perguntar o que era relacionamento
aberto?
Barbie quase cospe a sua cerveja e fica vermelho igual a um tomate.
Eu sinto meu coração parar por alguns segundos e imagino que Noah deve
ter sentido tudo isso e muito mais quando aquela garotinha chegou em casa
perguntando isso.
— Pois é, meus amigos. Eu pensei que estava infartando quando todo
meu corpo ficou dormente. — Ele bebe mais da sua cerveja e respira fundo,
balançando a cabeça em negação ao acontecido. — Pelo visto alguma das
crianças ouviu uma conversa entre os pais e ficou falando pela sala que os
pais tinham um relacionamento aberto e por isso estavam tão felizes.
— Espero que vocês não falem coisas assim perto dela — digo,
enquanto mexo no relógio em meu pulso. — Barbie não é uma boa
influência e ela adora ficar com ele!
— Ciumento! — Barbie diz e me mostra a língua. Pelo visto ele
também está se influenciando pelo tempo que passa com a criança. — Eu
sou ótimo com ela, e nem mesmo xingo quando o furacãozinho está por
perto.
Noah continua contando sobre as novidades na vida de pai e como
está sendo difícil, mas uma experiência que ele não trocaria por nada. E
Milla facilita as coisas, até eu me sinto uma pessoa mais alegre quando
estou perto dela. Ela ganhou o coração de todo mundo e isso não é segredo
para ninguém.
A Lótus está muito cheia, como sempre fica nas sextas-feiras e
daqui consigo ver as pessoas rindo, dançando, flertando e beijando. Todas
essas interações são mais que comuns, e até mesmo saudáveis, mas eu não
consigo mais me imaginar desse jeito. Não consigo me imaginar dançando
com uma mulher, ou até mesmo demonstrando qualquer tipo de carinho em
público.
O casal que está perto de onde estamos, claramente terá uma noite
bem melhor que a minha. A dança deles é daquele tipo que precede o sexo,
e como qualquer pessoa embreagada pelo tesão, eles nem devem imaginar
que é bem óbvio tudo isso.
Se eu tivesse que contar há quantos anos não danço com alguém, ou
sorrio como apaixonado quando vejo a pessoa, me faltariam dedos nas
mãos para contar.
Pelo canto dos olhos vejo uma movimentação na área vip, que é
onde estamos e não preciso me esforçar para saber que as meninas
chegaram. E Emma está junto delas, o que era óbvio mas uma parte de mim
desejou que a ruiva não viesse e eu tivesse uma noite minimamente
tranquila, sem me torturar em segredo.
— Chegou a mulher mais linda do mundo! — Eu quase vomito
quando escuto o brega do Barbie falando com a Olívia. Mas, claro que ela
gostou. O sorriso que iluminou toda a boate é a prova concreta.
Com Noah e Kath não é diferente, mas ele preferiu falar algo para que
apenas ela ouvisse, mas o sorriso é o mesmo da Olívia. E eu apenas ignoro
a existência deles perto de mim quando estão nesses momentos, e para
minha sorte nenhum dos dois casais vivem se lambendo quando estamos
juntos, mas eles tem seus momentos, o que é normal.
— Eu quase consigo ler seus pensamentos! — Emma comenta, e eu
noto que ela está perto demais, ainda em pé e sorrindo para mim. Meus
malditos olhos, que são dois traidores, percorrem o corpo dela e eu sinto
meu pau latejar. — Posso sentar?
Eu faço que sim e o sorriso dela se expande.
Só que o sofá é grande, e ela acha inteligente sentar próximo,
deixando sua coxa nua encostar de leve em minha perna. E minha mão coça
para alisá-la, ainda mais sabendo o quanto ela tem a pele sedosa, dessas que
dá gosto de alisar e fazer carinho.
O garçom aparece e as meninas pedem cerveja, e fico tão aliviado
quando escuto Emma falar que ficará só na cerveja hoje. Já é uma vitória,
porque depois que a tequila desce pelo corpo dessa menina, uma versão
dela bem sincera e corajosa sai. E é aí que fica ainda mais difícil para mim.
— Eu acho eles fofos! — Seu sorriso para eles demonstra que o que
ela diz é a mais pura verdade. E talvez eles sejam algo do tipo, eu só não
consigo mais achar legal tudo isso. Mas, eu sou amargurado e minha
opinião pouco importa.
Eu observo a ruiva, me mantendo calado. Ela se movimenta um
pouco, no ritmo da música e bebe a cerveja. Emma está com uma blusa
fina, dessas que você tem que usar algo por baixo para não aparecer os
seios, e no caso dela um top preto protege seus seios que eu daria tudo para
vê-los agora. E uma saia justa complementa o look que me deixou aguando
por tocá-la.
Um movimento com seu braço me chama atenção para um curativo
perto da sua mão, e involuntariamente eu seguro seu braço com cuidado,
vendo que tem uma pequena mancha de sangue no meio do curativo.
— Está doendo? Parece que ainda está muito recente. — Eu tenho um
sério problema em ver alguém doente ou machucado, parece que uma parte
de mim que tenta ignorar o passado desperta e eu já acho que pode
acontecer uma tragédia.
— Na verdade não mais! Não prestei muita atenção na hora que
estava trocando a cortina do quarto, me embolei no tecido enquanto estava
na escada e me cortei quando cai e arrastei o braço em um preguinho.
Passo meu polegar ao redor do curativo com cuidado e sinto que está
um pouquinho quente, mas acabo não falando que me distraio ao vê-la se
arrepiar com meu toque.
— Dio mio, Emma! Da próxima vez você pode me chamar para fazer
essas coisas. — Certo. Isso pareceu estranho por eu ter falado com tanta
naturalidade, mas é normal um amigo ajudar com essas coisas. — Foi
fundo?
Eu olho para ela quando a sua mão cobre a minha, e seu sorriso meigo
é direcionado a mim.
— Não precisa se preocupar, Jacob. Eu meio que sei cuidar de um
machucado. — Claro que sabe, ela é uma futura médica. E eu estou
exagerando, com certeza. — Mas eu agradeço a preocupação! Gosto
quando você deixa de ser um robô e mostra emoções humanas.
A mão dela continua em cima da minha e eu não reclamo e aproveito
o contato mínimo enquanto ela não se afasta.
— Aproveite! Minha versão humana não dura muito tempo. — Sorrio
de lado, e ela morde o lábio inferior antes de rir e jogar o cabelo para trás.
— Como estão as coisas na faculdade?
Já que o clima está descontraído entre nós dois e tem tempo que não
ficamos à vontade assim, ou melhor, que eu não deixo que fiquemos à
vontade, vou aproveitar esse momento.
Emma fala das últimas coisas que tem vivido em sua faculdade e eu
realmente presto atenção em cada palavra que sai de sua boca.
É sempre bom conversar com ela. Quase consigo me sentir leve como
antes ou algo próximo disso. O jeito que ela leva a vida, sempre com bom
humor e alegria, é contagiante. Até mesmo para comigo.
— Fico feliz em saber que terei entre meus amigos uma pessoa que
possa cuidar da minha cabeça, sem dúvida precisarei. — Mais uma vez a
sua risada alta toma conta da nossa bolha de conversa e eu bebo mais do
Whisky, sentindo a garganta mais seca do que o normal.
— Seria um prazer colocar as mãos em sua cabeça!
Eu tenho certeza que ela não falou com maldade, mas isso não muda o
fato que meu pau adorou ouvir isso e preciso puxar um pouco a minha blusa
para tampar a semi-ereção.
Emma costuma falar muitas coisas sem maldade, e isso não tem nada
a ver com o fato de ser virgem, mas sim por ser realmente inocente. Ela é
uma mulher que não usa de malícia para chamar atenção de ninguém, e é
exatamente isso que tem me atraído nela.
Que ironia, né? A falta de malícia deixa as coisas maliciosas na minha
mente suja que não transa direito há muito tempo.
Kath chama Emma para dançar, e percebo que ela não quer se afastar,
mas com certeza a companhia das amigas deve ser mais interessante do que
conversar comigo e eu desvio o olhar, para que ela se sinta à vontade em ir.
Vejo quando se afastam e Kath é abordada por algumas pessoas,
pedindo foto. Eu quase sempre esqueço que ela é famosa, mas quando
saímos isso sempre vem à tona.
— E aí, conseguiu resolver seu problema com o seu pau ? — Eu
gostaria de um dia entrar na cabeça do Barbie e ver o que se passa lá. Esse
tipo de coisa não é normal, não mesmo.
Noah olha estranho, quando escuta a pergunta, mas é claro que decide
ignorar e continuar olhando sua mulher de longe.
— Não que seja da sua conta, mas, tá tudo na mesma. Essa porra fica
duro igual pedra em momentos inoportunos, mas no meio do sexo decide se
recolher. — Ok, às vezes eu acabo dando detalhes demais, e sempre me
arrependo porque o Barbie é um linguarudo.
— Já pensou em ficar com alguém fora do aplicativo? Eu sei que
funciona há anos para você, mas você não acha tudo mecânico demais? —
Ele senta ao meu lado, e eu apoio uma perna em cima do joelho, e fico
balançando meu pé. — É prático, não vai te dar dor de cabeça por tudo ser
bem combinadinho, mas talvez o que falte para você é que as coisas sejam
naturais.
— Barbie, você sabe que eu não beijo ninguém há anos, né?
Ele sorri de lado, debochado. E eu já sei que lá vem merda.
— Olha, parece que você realmente tá ficando gagá! — dispara e
depois aponta com o queixo na direção da pista, onde estão as meninas e eu
me toco do que falei. — Jurava que você e Emma tinham ficado duas vezes.
Cazzo! Como eu não me dei conta, que depois que Sophie morreu,
Emma foi a primeira mulher que beijei em anos?
E foi bom, bom demais para a minha sanidade e meu corpo que
lembrou como é gostoso beijar alguém.
O insuportável ao meu lado ri, quando percebe que estou pensando
sobre isso e eu acho que é melhor eu ir embora. Sei que vou ficar com isso
na cabeça e a melhor coisa que eu faço é bater uma punheta e dormir.
Me despeço deles, com a desculpa de que amanhã é dia de veterinário,
e realmente é. E peço para eles mandarem um beijo para as meninas.
Saio pela área vip, para não ter que esbarrar em um monte de gente e
ando um pouco mais para poder chegar até o meu carro, mas uma voz bem
longe me faz virar.
— Me dá uma carona? — Emma pergunta, claramente sem graça. Ela
não é de pedir favor, e mal costuma aceitar as caronas oferecidas, o que me
deixa curioso.
— Claro, ragazza! — Ela fica com as bochechas levemente vermelhas
e eu abro a porta para que entre, e depois também entro. — Está tudo bem?
Ela se ajeita, coloca o cinto e já prende o cabelo em um coque frouxo,
que deixa um ar ainda mais jovial nela.
Também coloco o cinto e dou partida, sem conseguir conter um
sorriso ao ouvir o som lindo que o motor do meu Bentley Bacalar faz.
— Sim, só um pouco cansada da semana corrida. — Concordo com
um movimento de cabeça e vejo quando ela liga o rádio. — Ah, eu vi o
Instagram dos seus cachorros.
— Viu, é? — Sorrio. Os meus cachorros são os amores da minha vida,
e eu amo mimá-los. A ideia inicial do Instagram era apenas para ter onde
salvar as melhores fotos que eu tiro, mas uma delas viralizou há uns dois
anos e agora eles são celebridades Pet! Sempre recebo várias coisas
direcionadas à eles, e eu amo vê-los sendo mimados. — Amanhã é dia de
veterinário, os maiores já estão loucos pressentindo.
— Ainda tô esperando o dia que irá me apresentar a eles. Eu amo
cachorros, nunca tive, mas ainda terei alguns!
Paro o carro na frente do prédio e viro na direção dela, para me
despedir. Nesse meio-tempo, ela vem na minha direção, provavelmente para
beijar minha bochecha e acaba me dando um selinho.
— Desculpa, e-eu fui beijar seu rosto e daí você virou, e eu já estava
no meio do caminho e aí já …
— Calma! — Rio, achando graça dela tentando se explicar. — Eu sei
que foi sem querer, Emma. E não é como se já não tivéssemos nos beijado
além do selinho.
Ela abre a porta do carro e sai. Eu acho estranho ela sair sem dar
tchau, mas vejo que vem até a minha janela e eu abro o vidro.
— Pensei que você nunca falaria disso! — Apoia os braços na janela,
me olhando perto demais e é inevitável que eu não olhe pra sua boca. —
Quer subir?
Eu desvio meu olhar de seus lábios para seus olhos, e esse é um
momento que eu queria muito que ela tivesse falando com maldade.
— Emma, eu não estou no melhor momento para conseguir te fazer
companhia como amigo! — Ela vira a cabeça um pouco de lado e leva
alguns segundos para entender. Dessa vez são os olhos dela que encaram os
meus lábios e eu aperto o volante, me concentrando para não puxá-la pela
janela e beijá-la aqui mesmo. — Emma…
— Boa noite, Jacob! — Ela se afasta, tão abalada quanto eu, e entra
no prédio sem olhar para trás. E eu sigo para o meu condomínio, o mais
rápido que consigo.
Eu me sinto a pior pessoa do mundo quando sei o que está por vir. E
depois que entro em casa, sem nem falar com meus cachorros direito e indo
direto para o banheiro, mais uma vez, eu imagino a boca pequena e macia
de Emma ao redor do meu pau, enquanto toco uma desesperadamente.
Ainda de roupa, dentro do box, apenas com a calça aberta, despejo
todo o tesão que tenho acumulado e não consigo aliviar com ninguém.
Eu ligo o chuveiro e saio antes que molhe a roupa, tiro fora do box,
me encarando no espelho enorme e me sentindo um merda com tudo isso.
06

Não é normal sempre ficar com a calcinha encharcada depois que


encontro com o Jacob. É fato que isso deve acontecer com outras mulheres
que tem a atenção dele, mas o problema é que ele é o único homem que me
deixa assim.
O selinho dentro do carro foi sem querer, de verdade. Mas a vontade
que eu tive de segurar seu rosto e devorar a sua boca, foi ainda mais
verdadeira. Estava tão perto, que acho que em algum momento devo ter
ficado hipnotizada.
Eu só queria ter atitude para isso! Porque sei que ele não fugiria, até
pensei que me beijaria se eu permanecesse ali. Mas, Jacob é complicado e
por isso resolvi entrar.
Hoje conseguimos conversar direito, sem ele me ignorar e eu fiquei
feliz porque gosto dele, no sentido de amizade. E diferente do que ele
acredita, não esquentaria de trocar alguns beijos e manter a relação do jeito
que é, ninguém sairia perdendo nada. Ele continuaria com a sua vida sexual
super secreta e eu do meu jeito.
Mas o italiano deve pensar que sou nova demais e que irei confundir
as coisas. Mal sabe que mesmo que houvesse uma chance de ter um
relacionamento com o Harry Styles, que é meu crush mor, eu não teria.
Meu foco é a faculdade e nada pode tirar a minha atenção dela, e um
relacionamento, um primeiro relacionamento com certeza tomaria mais
tempo do que eu estou disposta a dar.
Me jogo na cama, já de pijama depois de um banho bem gelado para
aliviar o desejo que ficou em meu corpo e pego o celular para entrar no
aplicativo do Kindle. Mas me distraio quando vejo que tem algumas
notificações no Instagram.
Algumas pessoas começaram a me seguir depois do vídeo que Kath
postou de nós duas e Olívia dançando na Lótus, mas entre os perfis novos
eu vejo que o Jacob acabou de me seguir de volta no ig dos seus cachorros.
E claro que não vou perder a oportunidade de curtir as duas últimas
fotos, que eu ainda não tinha curtido. Se é uma coisa boba ou não, não sei,
mas quase que na mesma hora aparece que ele curtiu de volta minhas duas
últimas fotos também.
Eu dou um gritinho e me viro, ficando de barriga para baixo e
balançando as pernas no ar. Bato minhas unhas longas na tela, sem saber o
que faço agora e rio de mim por estar parecendo uma adolescente de 15
anos.
— O que eu faço? O que eu faço?
Abro o perfil novamente e vou olhando as fotos, tentando achar algo
que eu possa aproveitar para puxar um assunto e sem querer arrasto a tela
para cima e ela carrega novamente, mostrando que tem storie novo. Eu
clico na mesma hora e vejo que os dois cachorros menores estão na cama
dele, e seguro a tela para poder ver um pouco do quarto, mas nada ali é
muito revelador, mas consigo ver que ele está deitado e de moletom.
Moletom, Jacob? Isso é uma novidade. Parece até gente como a gente.
E o próximo vídeo é de um dos cachorros indo para o seu colo,
pedindo carinho e ele dando o que o cachorro quer. É fofo, e dá para ver o
carinho que existe entre eles, e é desse momento que vou me aproveitar.
— Atitude, Emma! — digo para mim.
@emmaford_: Seus cachorros são tão fofos!
@emmaford_: Nem parece que são seus.
Mordo o cantinho do meu polegar, nervosa. E quando vejo que ele
visualizou, saio da conversa, e fico olhando a minha DM esperando que
outra mensagem dele chegue.
@ranseys.dogs: Eles são mesmo! Aprenderam com o papai a serem
assim, por incrível que pareça.
@emmaford_: Bem difícil de acreditar, mas vou dar um crédito a
você.
@ranseys.dogs: Me sinto privilegiado por isso, Emma.
@ranseys.dogs: Pensei que já estaria dormindo.
Acho que Jacob quer que as coisas voltem ao normal entre nós dois, e
por isso está puxando assunto. Isso é ótimo e já estava passando da hora
dele superar que ficamos e nossa vida continuará a mesma.
@emmaford_: Na verdade estou sem sono, eu ia começar a ler um
livro que está no kindle há um tempo.
@ranseys.dogs: Qual o livro dessa vez? Eu terminei um nessa
semana, da Sylvia Day, conhece?
Sério, eu ainda fico chocada que Jacob gosta de ler livros de romance,
e pelo visto os que tem hot parecem ser a sua preferência. E acho ainda
mais legal ele não ter problema em falar disso, porque é bem comum
homens focarem em fantasias, ou suspense.
@emmaford_: Estou lendo outro livro de uma autora brasileira, dessa
vez é a Brenda Paiva. O livro é maravilhoso, o casal é bem cão e gato.
@ranseys.dogs: Acha legal casal assim?
Eu começo a digitar uma resposta, mas aparece um convite para
aceitar a chamada por vídeo que Jacob acaba de fazer. Será que foi sem
querer?
Aceito, na dúvida ainda se ele esbarrou ou me ligou. Mas quando vejo
o rosto dele bem enquadrado, deduzo que não foi sem querer.
— Não tenho muito saco para escrever por mensagem, tem problema
conversarmos por vídeo?
— Não, eu prefiro assim também — digo e me levanto para poder
sentar com as costas encostadas na cabeceira da cama e sorrio para ele, que
também se ajeitou mas agora seu peito aparece e eu me esforço para
ignorar. — Continuando, em livros, eu acho engraçado as interações de cão
e gato e como depois o mocinho sempre fica super-rendido, mas acho que
não serviria para mim um relacionamento que começasse assim.
Escuto ele estalar os dedos e um dos seus cachorros vai para o seu
peito, se aninhando ali.
— Entendi, e como seria para você um começo ideal de
relacionamento?
— Sei lá, Jacob. O normal? Conhecer alguém, ir a encontros, se
apaixonar… Mas, nunca se sabe, né? Vai que meu destino é sofrer na mão
de algum médico que vai implicar muito comigo e depois se declarar. —
Rio.
Ele ergue uma sobrancelha do outro lado da tela e dá um sorrisinho de
lado.
— Faz sentido! Uma médica é sempre ocupada, se relacionar com
alguém do ramo deve ser o melhor para ambos. — Dá de ombros, e
continua fazendo carinho no cachorro. — Sem dúvidas já deve ter alguns
médicos, ou futuros médicos interessados em você.
Eu sei que fiquei vermelha porque sinto meu rosto queimar.
— Na verdade, você está enganado. Nada de pretendentes por lá! Não
me encaixo entre eles, Jacob.
— Eu posso apostar quanto você quiser que deve ter sim vários caras
interessados em você, e é você quem não nota. — Ele tira o cachorro do
colo e faz com que o celular tombe para o lado, e eu vejo que na mesinha de
cabeceira tem um porta-retrato, com uma foto dele e da Sophie. Ele ajeita o
celular, e eu tento disfarçar que vi. — Eu mesmo vejo vários homens
babando em você quando saímos, e nunca percebo você notar.
— Você daria um ótimo segurança particular, Jacob. Sempre repara
em tudo à nossa volta.
— Acho que é você quem pouco nota! — repete o que já havia falado
— Você não percebe que é uma mulher linda, Emma. E chama muito a
atenção, em todas as suas facetas. Quando está do seu jeito mais natural,
quando decide colocar um vestido mais sexy. Você está sempre chamando
atenção por onde passa.
Eu fico em silêncio, muito envergonhada por ouvir essas coisas, mas
não desvio o meu olhar do dele.
— Obrigada, Jacob. Você foi muito gentil agora.
Ele ri sem humor e esfrega os olhos algumas vezes.
— Eu fui gentil, mas não era isso que eu queria ter sido, Emma —
suspira. — Eu estou tentando restaurar a amizade que estávamos
formando, porque você é especial para mim. Mas é difícil conseguir me
manter nessa linha de raciocínio sabendo o quanto você beija bem. —
Dessa vez, ele passa os dedos pelo cabelo, e é claro que falar isso não é algo
fácil, e eu estou um pouco em choque. — E em anos, eu não estou sabendo
como lidar com uma mulher perto de mim.
Um calor incomum toma conta do meu corpo, e eu dobro os meus
dedos dos pés em agonia. Eu preciso responder alguma coisa, mas não sei o
que falar.
— Não é a coisa mais fácil para mim também, Jacob — decido ser
sincera. — Naquele dia, desejei muito não ter te contado que era virgem,
não sabe o quanto me arrependi — minha voz quase nem sai enquanto eu
falo, me sentindo envergonhada.
— Amore, você acha que eu não saberia? — ele fala do mesmo jeito
que falou no dia em que ficamos, com a voz arrastada e maldosa. — Tenho
experiência o suficiente para saber disso, eu até poderia descobrir quando
fosse difícil demais de parar, mas eu saberia.
Ai
Meu
Deus!
Esse homem acabou de me chamar de amor, em italiano. E eu estou
tentando me manter plena e madura para seguir com a nossa conversa, que
de maneira nenhuma, eu pensei que fosse chegar nesse ponto.
— Gostaria de estar conversando sobre isso pessoalmente! — eu falo
e ele se remexe na cama e fico olhando, quieta, enquanto mexe no controle
do ar condicionado. — Mas eu gosto que estejamos sendo sinceros um com
o outro, Jacob. Eu sou tímida, e todo mundo sabe, mas de algum jeito eu
consigo me abrir um pouco mais com você, mesmo que muito
envergonhada. E, eu não me importaria em ter seguido adiante com você
aquele dia.
— Emma…
— Deixa eu terminar! — Ele faz que sim com a cabeça. — Não estou
falando isso porque tenho algum sentimento por você, estou falando porque
sempre tive em mente que quando me desse vontade, e a pessoa fosse
minimamente legal, eu faria. Mas, foi um banho de água fria ter que sair do
seu quarto naquele estado… eu só queria mais!
— Essa conversa não daria certo pessoalmente, amore. Eu não me
controlaria ouvindo você falar essas coisas estando na minha frente. —
Novamente ele se remexe na sua cama, e eu sinto meu coração acelerar
cada vez mais. — Eu não sei ser dócil, não sei ser cavalheiro, se quer saber
eu não beijava alguém há anos. Como poderia te dar prazer sem saber o
que fazer?
Jesus.
Minha boceta tá pulsando tanto, que acho que é um aviso que ela vai
explodir.
— Eu não estou pedindo que tire minha virgindade, Jacob. Eu só
queria que deixasse as coisas rolarem, eu posso ser virgem e nunca ter dado
nenhum amasso decente, mas eu não sou idiota e sei que existem uma
infinidade de coisas para se fazer.
— Cazzo, Emma. — Ele pega o controle do ar de novo, mas joga na
cama assim que pega. — O quarto está pegando fogo, por Dio. Você não
pode falar essas coisas, tudo ficará na minha mente o tempo todo, e eu vou
te imaginar de tantas maneiras que ainda não imaginei e não vou
conseguir ficar por perto. — Apoio o celular nas minhas pernas que acabei
de erguer, e ele morde os lábios e abaixa a cabeça. — Per favore, não tenho
saúde para ver seus seios excitados através dessa blusa fina, Emma.
Eu olho para baixo e agora eu sei que fiquei muito vermelha. Levanto
o celular rápido, e escuto o gemido baixinho que ele solta do outro lado e
aperto uma perna na outra, involuntariamente.
— Você não precisa conseguir ficar perto de mim, sem me ter. — Eu
concentrei em mim, para poder falar isso, todas as Blair Waldorf que
existem no mundo para me dar coragem. — Eu te dou total liberdade,
Jacob. Mas, não vou ficar implorando por nada, eu te quero e você já sabe.
A única coisa que nos impede, é você.
— Essa ligação tomou um rumo que eu não esperava. — Ele se
levanta e vai andando com o celular, e vejo que entrou no banheiro. — Eu
vou desligar, preciso resolver a ereção que você criou em mim. — Eu
prendo um lábio no outro, mas escapa uma risadinha. — Eu gostei dessa
versão que ainda não conhecia, Emma. Você é uma mulher muito sexy,
mesmo que não seja proposital, e não deveria ter vergonha disso.
Ele desliga, e eu deixo o telefone cair na minha barriga, olhando para
o teto. Sem acreditar que tudo isso acabou de acontecer e até belisco o meu
braço, e dói. Então realmente aconteceu.
Eu pego o celular novamente e fico de pé, andando de um lado para o
outro enquanto mando uma mensagem para Kath, perguntando se ela já está
em casa e se posso ligar.
Para minha sorte, ela disse que acabou de chegar e está esperando o
Noah sair do banho. Eu ligo no exato momento, e ela pergunta se está tudo
bem, preocupada. E na mesma hora eu cuspo várias frases, tentando
explicar tudo o que aconteceu.
— Emma, pausa. Eu estou ficando louca, ou você acabou de me
contar que conversou sobre sexo com Jacob? Sobre a possibilidade de vocês
terem alguma coisa carnal?
— Sim, sim e sim!
— AI MEU DEUS! Amanhã a senhorita virá aqui para casa, e iremos
ter longas e longas conversas.
— Eu te amo, obrigada! — Desligo, um pouco mais calma em saber
que poderia conversar com alguém amanhã. E quem melhor do que Kath
para isso, né? Ela é inteligente, decidida e muito segura sobre ser uma
mulher que faz o que quer, então sei que vai me ouvir e falar exatamente o
que eu preciso escutar.
Agora eu só preciso saber como vou conseguir dormir depois desse
final de noite?

— Eu não estou conseguindo acreditar nisso tudo, Emma! — Kath me


olha em choque, e depois começa a rir. — É notável que vocês se sentem
atraídos um pelo outro, mas eu jurava que já não ia dar em nada.
Eu como mais um pedaço de queijo e bebo o resto de vinho na minha
taça. Kath ficou tão empolgada em saber, que pediu para eu vir passar a
noite de sábado com ela. Milla foi ficar com os pais do Noah, porque tinha
uma festa no orfanato e o Noah está nesse momento lá fora, na sala de jogos
com os meninos.
E eu estou tentando não surtar porque Jacob está tão perto. Mas, o
combinado foi não irmos lá e nem eles aqui.
— Ai gente, sério! Eu estou agitada com isso, sabe? Porque a gente
falou tudo, mas não sei o que vai ser. — Olívia coloca mais vinho para nós,
e vira a taça dela para colocar mais. — Eu espero que ele venha falar
comigo? Eu falo com ele? Finjo que nada aconteceu?
— Eu fingiria que nada aconteceu! O Jacob é de lua, Emma. Mas, eu
ficaria com grandes expectativas para ele falar comigo… falar com a boca e
o corpo, se é que me entendem.
Nós três explodimos em uma gargalhada, mas eu acho que é isso que
irei fazer mesmo. Como eu falei para ele, não vou ficar me humilhando e
ele sabe que eu o quero. Ter falado tudo que falei ontem já foi o máximo de
atitude que consigo ter por ora, então ou ele faz algo ou essa conversa em
algum momento irá morrer no esquecimento.
— Eu queria ter o poder do Edward agora, e ouvir os pensamentos
daquele italiano! — Kath fala e levanta do sofá, indo até um cantinho da
janela para tentar ver a sala de jogos. Mas as cortinas estão todas fechadas,
iguais às daqui. — Saco! Será que se eu subornar Noah com sexo anal, ele
me conta o que Jacob falou?
— KATH! — Me engasgo quando escuto ela falar e preciso dar uns
tapinhas em meu peito.
— Com o Barbie sempre dá certo! — Olívia comenta, com uma
carinha de safada que provavelmente deve atiçar o loiro em dois segundos.
— Esses homens fazem qualquer coisa por isso! E eu me faço de difícil,
mesmo gostando, que daí ele se esforça para ter.
— EU NÃO VOU DAR MEU CU! — quase grito. — Vocês estão
loucas? Deve doer muito! Nada disso, impossível, nenhuma chance!
NUNCA!
As duas se encaram e riem, enquanto eu fico ali balançando a cabeça
em movimentos negativos.
— Talvez você nunca dê mesmo! — Kath dá de ombros e volta a se
sentar.
— Ou talvez você experimente e adore, como eu e Kath! — A loira
pisca e senta do meu lado, me dando um empurrãozinho com o cotovelo. —
Mas desencana, Emma. Nenhum homem minimamente decente vai propor
isso para você pelo menos até um tempinho depois de tirar sua virgindade.
Eu olho para as duas ainda sem acreditar. É óbvio que muita gente
gosta e eu sei disso, mas, ouvindo assim de pessoas próximas parece meio
absurdo falarem de maneira tão positiva. A impressão que eu tenho é que
deve doer muito, ou então os companheiros delas devem ser muito bons.
— Relaxa, amiga! Se um dia você mudar de ideia, futuramente, nós
estaremos aqui para ajudar você a se preparar.
— Eu quero morrer por ser amiga de vocês! — Jogo a cabeça para
trás, apoiando nas costas do sofá e fico olhando para o lustre bonito em
cima da gente. — Mas eu amo vocês, e estou muito disposta a me preparar
para outras coisas! — Volto a olhá-las. — Eu preciso me tornar uma mulher
mais segura, e não falo pelo Jacob apenas, mas, eu gostei de ter tomado a
atitude de falar o que falei, mas precisei me concentrar demais para
conseguir. Quero que seja natural.
— Nós ajudamos! — Kath levanta e me puxa, segurando uma garrafa
de vinho debaixo do braço. — Vamos no meu quarto, tenho algumas coisas
que talvez possa começar a te ajudar.
Olívia nos acompanha, levando as coisas que sobraram da mesa.
Por alguns segundos, eu agradeço por tê-las em minha vida, por serem
as amigas que todas as mulheres deveriam ter e não se importarem com as
nossas diferenças de idade e financeiras. Mas, tendo elas e todos os demais,
com certeza eu sou rica da coisa mais importante.
Amor!
07

A conversa que eu tive ontem com a Emma não sai da minha cabeça
de jeito nenhum, e também não era para menos. A ruivinha mostrou um
lado um tanto quanto direto e decidido, e foi uma delícia receber aquelas
mensagens.
Já recebi mensagens muito mais picantes do que aquelas, que nem
tinham o intuito de ser assim, mas nada se compara às sensações que
rodearam o meu corpo, enquanto eu conversava com ela e me segurava para
não me tocar ali mesmo.
Se um dia eu pensei em deixar no fundo da minha mente a vontade
que eu tenho de tê-la, isso foi por água abaixo. Depois que decidi ser
sincero com ela, parece que ela decidiu a mesma coisa e deu no que deu.
Agora eu estou aqui, a poucos metros dela e tentando ignorar isso para
curtir uma noite de jogos com os meninos, mas é claro que não está dando
certo e ter contado a eles parece que só piorou a situação.
— Então você assumiu que é um velho tarado que gosta de
novinhas… — Barbie comenta, concentrado antes de dar uma tacada
certeira na bola branca e ganhar mais uma partida contra Bryan, que é ruim
demais na sinuca. — Parece que está virando moda! — Ele encara B, que
engole em seco, mas claro que o idiota do Barbie ri e dá um tapinha nas
costas do amigo. — Então agora o que impede?
— Quer a lista por ordem dos fatos ou alfabética? — pergunto e jogo
mais um dardo no alvo, acertando bem no meio. — Além dos pais dela, ela
ser bem mais nova, eu não me envolver com ninguém sem ser pelo
aplicativo, ela ser virgem e eu não ser mais alguém que queira e saiba lidar
com os possíveis sentimentos de alguém para comigo, o que mais você quer
saber?
Noah tira os dardos espetados no alvo e coloca na vasilha ao meu
lado, logo depois me entrega uma nova garrafa de cerveja e eu bebo.
— Sabe o que eu acho mais louco nisso tudo? — Noah pergunta e eu
dou de ombros. — De todos nós, você é o que eu jamais pensei que teria
dúvida ou medo de fazer alguma coisa que quer. Porque é óbvio que você
quer, senão ninguém aqui estaria vendo a sua cara de cu. Mas, você sabe
que nada que iremos falar irá te agradar, e parece que quer que nós lhe
convençamos a fazer algo, Jacob. E não vamos… — Ele pega um dardo e
joga, acertando no mesmo ponto que acertei ainda há pouco. — Talvez o
Barbie até tente, porque ele gosta de ver o circo pegando fogo, mas você
tem quase 30 anos. E como sempre falou: sabe o que é melhor para você.
Então meu amigo, só você pode se ajudar nessa. Mas estarei do seu lado
quando a ruiva partir seu coração impenetrável.
Reviro os olhos.
— Isso não vai acontecer. — Pontuo e decido dar um fim nessa
conversa que já foi longe demais e me sento no sofá.
Eu sei que quando vê-la, minha cabeça deixaria de pensar nos contras
de beijá-la onde for, mas, as minhas preocupações não são por mim, são por
ela. Emma é uma mulher doce, dessas que merece ser amada como o bem
mais precioso do homem, recebendo carinho, atenção e amor.
Ficarmos algumas vezes, como ela falou em nossa conversa, pode
realmente ser algo que não mude as nossas vidas, mas, eu não quero ser o
homem que depois que terminar de beijá-la, corre para fuder outra mulher e
saciar todo o desejo.
Eu sei que sou um babaca em muitas coisas, quase em tudo, mas se eu
gasto o que gasto naquele aplicativo, é exatamente para não ser um babaca
com uma mulher que não merece. Ninguém tem culpa dos meus problemas,
do meu trauma e da minha perda, por isso, eu uso o aplicativo, para evitar
mesmo que sem intenção magoar alguém.
Esfrego o rosto e fico olhando em silêncio para os meus amigos, que
estão fingindo não se importar com a minha cara de cu, como Noah falou.
— Laura não veio, né? — Barbie pergunta para B e ele ergue as duas
mãos próximo aos ombros, mostrando que não tem uma resposta para isso.
— Pensei que vocês fossem amiguinhos que se pegavam, não era isso?
— Somos amigos, e sim, ficamos às vezes. Ou ficávamos, sei lá! As
coisas mudaram depois de Maldivas, mas ainda nos vemos com frequência.
Só que ela disse que está muito ocupada com os trabalhos novos, enfim, eu
sei quando alguém está sendo delicada mas quer que eu me afaste, então fiz
isso.
— Não será mais meu cunhado então? — Barbie faz um biquinho. —
Pensei que conseguiria usar isso para pedir desconto na obra!
— Em falar nisso, como está o planejamento? — pergunto e B me
agradece com o olhar, por ter desviado o foco dele.
— O arquiteto já fez todo o projeto, agora é com o B e a empresa
dele!
Barbie comprou um terreno enorme, que era um estacionamento
abandonado aqui em NYC, e o infeliz só contou para nós há pouco tempo.
Ele vai fazer uma clínica de reabilitação com foco em crianças, e pelo o que
entendi 80% dos pacientes terão todas as contas custeadas, e os demais, que
serão a porcentagem adulta de pacientes, pagará.
Foi lindo quando ele nos levou lá e contou a ideia. Laura chorou tanto,
que foi impossível o resto de nós não se emocionar. Barbie é um ser
humano muito evoluído e todo mundo sabe que Laura é seu bem mais
precioso, e a Reabilitação Nós, é uma homenagem linda a tudo que eles
passaram, mas de uma forma que ajude quem precisa.
E é esse um dos motivos de eu amar meu amigo e aguentar as suas
implicâncias e chatices diárias.
— O arquiteto é genial, o projeto é de outro mundo! E vai custar uma
fortuna, mas o gatinho vai tá bancando, então teremos tudo do melhor para
daqui a alguns meses inaugurá-la. O mais chato é a parte burocrática, e isso
estou terminando de resolver, para poder começar o trabalho sujo.
B é um engenheiro excelente, e esse é um dos motivos da sua empresa
ser tão requisitada e crescer cada dia mais. Nós vimos o quanto ele estudou,
viajou e se esforçou para chegar onde está. Muitos edifícios comerciais que
vemos por aí, esses que ficamos babando por serem luxuosos, foi a empresa
dele quem fez.
Eu tenho muito orgulho de todos eles, e como eles são pessoas
grandiosas em tudo na vida. Até mesmo quando é no quesito fazer merda.
As horas vão passando e vários assuntos vão surgindo em nossas
conversas, mas meus amigos já estão um pouco mais animados pelo álcool,
já que decidiram misturar a cerveja com um licor que Noah ganhou da
sogra, e eu aproveito esse momento para sair e pegar um ar.
A noite está bem bonita, e se tem uma coisa que eu gosto de ver, são
as estrelas. Eu sinto que poderia estar em qualquer lugar quando foco nelas
e esqueço das coisas ao meu redor.
Eu vou andando para longe de onde estava e me aproximando mais do
ponto em que consigo ver melhor tanto o céu quanto a cidade, e só paro de
andar quando escuto um barulho perto da árvore enorme, e reconheço os
longos cabelos ruivos de Emma, que está sentada na cadeira de balanço, de
costas para mim.
Travo alguns segundos, pensando se devo ir até lá ou fingir que não a
vi, mas meus pés decidem por mim e quando vejo já estou perto demais
dela e ela vira um pouco para ver quem se aproxima.
— Hmm… Oi, Jacob! — Seu rosto mais corado, provavelmente pela
bebida, se ilumina com a luz da lua e como se fosse possível, ela fica ainda
mais bonita, como se tivesse sua própria constelação com suas sardas. —
As meninas dormiram, vim pegar um ar.
— Já os caras estão tão agitados que estavam me dando nos nervos.
— Ela sorri de lado e volta a olhar para a frente e eu continuo olhando para
ela. Nesse momento estou me sentindo como esses meninos de filme que
ficam nervosos quando estão perto de uma mulher.
Eu ando um pouco mais para a frente, na intenção de me sentar no
chão, mas a ruiva dá uma risadinha e eu me viro para olhá-la.
— Senta aqui, Jacob! — Eu olho para o balanço, e ele não é daqueles
grandes que cabem mais de uma pessoa, e isso me faz erguer uma
sobrancelha. — Não me diga que nunca dividiu um balanço com ninguém?
— Ela volta a rir. — Para uma pessoa que se diz tão velha e experiente, te
faltam experiências em coisas mais simples. É só você sentar virado para
trás e eu para a frente, e a gente gira um pouco o corpo para poder nos
vermos, vem!
Isso que ela falou foi um belo tapa sem mão, e não posso desmentir.
E, como não tenho opção melhor, eu me sento do jeito que ela falou,
apoiando minhas costas na corda bem grossa que sustenta o balanço e
ficando de frente para ela.
— Satisfeita? — pergunto e ela faz que sim, concordando com a
cabeça. — E acho que você está certa. Faltou alguém para me ensinar
coisas simples, coisas que nenhum dinheiro compra.
— A sua sorte é que ainda pode aprender, Jacob — sua voz suave faz
com que eu acredite que poderia. — E, eu posso ajudar. Uma coisa que
meus pais me ensinaram todos os dias era dar valor às pequenas coisas,
pequenos momentos… esses normalmente podem passar despercebidos por
não serem grandiosos, mas vários deles se tornam algo lindo.
Fico admirado com as coisas que ela fala, e acabo ficando sem reação
e ela sorri, sem graça pela minha atenção.
— Seus pais são incríveis, Emma. Você sem dúvida puxou isso deles!
Sempre foi uma garotinha muito inteligente, e eu me lembro de como você
ficava hipnotizada ouvindo tudo que seus pais falavam. Era uma graça!
— Na maioria das vezes eu estava fixando os olhos neles para não ter
que te olhar e morrer de vergonha. — Ri dela mesma, e eu passo uma perna
para o outro lado, dando mais espaço para ela sentar, mas isso faz com que
ela fique entre elas e eu me mantenho o mais longe que consigo nessa
balanço.
— Você ainda faz isso… você ainda fica envergonhada perto de mim
— falo baixo, sem a intenção de constrangê-la e ela ri, confirmando com a
cabeça e o movimento faz com que seu cabelo solte do costumeiro coque.
— Eu só não entendo o porquê. Sei que não sou o mais receptivo entre
nossos amigos e que parecia querer te matar quando não conseguia lembrar
de onde te conheci, mas eu…
— Você é meu crush de infância, Jacob. Acho que a Emma de 6 anos
às vezes tenta dar as caras — ela termina de falar e morde o canto da boca,
e eu fico com inveja dos seus dentes.
— Eu prefiro quando você fica à vontade, igual na conversa de ontem
— minha voz sai mais rouca do que já é e eu não fiz isso para seduzi-la,
mas porra, não conseguiria ficar assim tão perto sem mencionar a conversa.
— Suas bochechas coradas te deixam ainda mais bonita, Emma, mas gosto
da sua língua afiada.
Consigo ver perfeitamente quando a respiração dela muda e fica mais
pesada. Seu braço perto da minha perna mostra o final de um arrepio e eu
passo a ponta de um dos meus dedos do seu punho até o cotovelo e ela me
encara, com as pupilas levemente dilatadas.
Desejo.
Eu reconheço isso com facilidade nas pessoas. E saber que estamos
em sintonia nisso, faz com que meu corpo também se arrepie.
— Acho que eu tenho mais coragem pelo celular, pelo visto — diz
baixinho, colocando o cabelo atrás da orelha. — Eu queria ter coragem
igual as mulheres de filmes, que são decididas e tomam a iniciativa… Mas
me falta coragem.
Eu vou infartar, e a culpa será dela.
— A sua sorte, amore. — Eu arrasto meu corpo só um pouco para a
frente, e subo minha mão do seu cotovelo até seu rosto. — É que eu tenho
coragem por nós dois. — E sem pensar na merda que isso pode se tornar
futuramente, eu olho em seus olhos por alguns segundos e depois a beijo,
segurando seu rosto com as duas mãos.
Emma leva poucos segundos até entender e logo abre espaço para que
a minha língua invada a sua boca, que por sinal tem um gosto forte de
vinho, que muito me agrada e a beijo com calma, aproveitando cada
segundo.
Viro nossas cabeças para lados opostos, e assim encaixo melhor
nossas bocas que parecem ter sido feitas sob medida.
Eu chupo sua língua, e mordisco o seu lábio inferior e volto a beijá-la,
tentando manter todo o meu controle para manter o ritmo atual.
Meu pau lateja forte dentro da minha calça quando ela apoia a mão
em minha coxa, e seus dedos ficam perto da minha virilha.
Como eu queria que fosse proposital e que depois esses dedos
rodeassem meu pau pelo resto da noite.
Afasto nossas bocas, para tomarmos ar e quando abro os olhos me
deparo com os dela brilhando, e um sorrisinho bobo no rosto. Eu não resisto
e dou um selinho no sorriso que fica ainda maior.
— Eu gostei disso! — ela comenta baixinho.
— Eu também gostei, é sempre bom. — Sorrio para ela, e dou um
beijo em seu ombro nu. — E ser tão bom é um perigo. Na verdade, ainda
acho que você vai perder seu tempo comigo.
Ela volta a olhar para a frente e suspira, se mantendo em silêncio por
algum tempo.
— Provavelmente! — Me surpreendo com sua resposta, mas admiro a
sua sinceridade. — E digo o mesmo para você, Jacob. O que eu tenho para
oferecer é bem menos do que você costuma ter, acredito eu!
— Acho que nós dois sabemos onde estamos pisando, Emma. — Isso
sou eu decidindo as coisas com a cabeça do pau, decidindo o que será a
minha morte lenta. — Agora vem aqui, amore!
Ela vira, sorrindo e eu volto a beijá-la. Tentando gravar como é a
maciez da sua boca, para quando me torturar mais tarde lembrar com
perfeição.

Fico olhando para o meu celular, com as últimas mensagens que


mandei para a minha mamma sem nenhuma resposta.
Já faz 5 dias que ela não me responde, ela sempre responde, demora
no máximo um dia e imagino que deva ser quando toma doses ainda
maiores dos seus remédios.
Meu coração sofre todos os dias com a vida de merda que ela
escolheu ter, e eu não consigo entender o motivo disso.
Não existe amor em seu casamento, o pappa não a respeita há anos e
não duvido que ele ainda leve outras mulheres para dentro de casa, mesmo
sabendo que ela está apagada no quarto ao lado.
Minha mamma nem é mais vista com ele nos eventos, não é mais a
esposa troféu e parece que as pessoas se esqueceram dela por lá, o que é
ainda mais preocupante. Antes, ela ainda ficava sóbria por alguns dias
quando tinha eventos com ele, agora não gosto nem de imaginar qual deve
ser seu estado.
Isso me faz lembrar que aquele homem ainda se encontra por NY, e
que todos os dias tenta entrar em contato comigo. A minha preocupação
está se tornando desesperadora, e se a mamma não responder até amanhã,
irei aceitar falar com a pessoa que mais odeio no mundo.
— Ei! — Noah aparece na porta e eu o chamo com a mão para entrar.
— Tudo bem?
— Sim, só preocupado com a mamma! O de sempre, sabe? — falo
dessa maneira para não preocupá-lo. — A que devo a honra da sua vinda
até a minha sala?
Ele tira de dentro do paletó um ingresso para algum jogo e eu pego
assim que ele estende para mim.
— Amanhã à noite o time do Christopher vai jogar aqui, e ele nos
chamou. Parece que é um jogo muito importante e Kath quer ir. Vamos nós
dois, Emma, meu irmão, Barbie e Olívia, os outros não podem ir — me
explica e fico olhando o convite, pensando se quero alterar a minha terça
para ir em um jogo que eu nem tenho o hábito de assistir. — Vamos, vai ser
legal.
Meu amigo me olha realmente animado, e isso é o suficiente para me
fazer concordar e digo sim. Ele comemora com um movimento de um dos
seus braços e eu dou uma risada da cena.
— Caso queira, Chris deixou várias camisas lá na minha casa.
— Não força a barra!
Ele sai da minha sala rindo, provavelmente já sabendo que eu me
negaria e não demoro nem um minuto para voltar a ficar de mau humor e
preocupado com a minha mãe. Se eu ainda falasse com o Francesco,
poderia perguntar a ele.
Isso me faz pensar em algo…
Pego meu celular e vou até o Instagram. Jogo o nome do meu irmão
na parte de busca e ele é um dos primeiros a aparecer, e para a minha sorte,
seu perfil não é bloqueado. Vou olhando foto por foto, tentando ver
qualquer coisa que me ajude a saber da mamma, mas, nenhuma das suas
últimas fotos parece ser na casa da nossa família.
Estranho.
Seu perfil teve uma mudança brusca de muitas fotos mostrando a
propriedade na Itália, para fotos em bares que não tem a cara dos bares de
lá.
Saio do perfil, frustrado por não achar nada e tentando não pensar no
que pode ter acontecido. Francesco foi muito claro há alguns anos quando
disse que a melhor coisa que eu poderia fazer era continuar distante, e assim
eu fiz.
Sinto saudade do meu fratello todos os dias, ele sempre foi o meu
melhor amigo mesmo sendo mais jovem do que eu, e me doeu muito saber
que quando ele podia vir ficar comigo, como tínhamos combinado, ele
decidiu que não me queria mais em sua vida. Mas, eu entendi e aceitei o seu
pedido. Eu fui para longe, e mesmo que nos falássemos sempre, ele ficou
sem ninguém lá para protegê-lo.
Mas eu não poderia continuar lá, não depois de tudo. Isso me mataria
aos poucos, e eu tive que pensar em mim, tive que me tornar alguém na
vida e ter uma vida minimamente estável para poder recebê-lo quando ele
tivesse idade de sair de casa, mas para variar, foi mais uma coisa na minha
vida que deu errado.
É um inferno perder as pessoas que amamos, e esse é um dos motivos
de não me abrir para ninguém há tantos anos. E nada irá me fazer mudar
isso.
Bem, pelo menos foi o que eu acreditei arduamente até perceber que
meu coração ainda não tinha conhecido o verdadeiro amor.
08

Assisto a aula do Dr. Luke muito animada. O homem é um gênio, e


mesmo tão novo é um médico muito reconhecido e eu fico feliz de ter a
sorte de tê-lo como professor dessa matéria. Ele é sempre animado, e
dificilmente não está com um sorriso no rosto.
A aula se estende por alguns minutos a mais, o que é normal quando é
ele, e dificilmente tem algum aluno sussurrando que quer ir embora, e eu
me mantenho atenta a cada detalhe.
— Dando por fim a aula, preciso dar uma notícia que pensei que
demoraria mais tempo para dar. — Paro de arrumar minha bolsa e volto a
olhá-lo quando ele fala, e seu olhar se direciona ao meu. — Hoje foi o meu
último dia aqui. Como a maioria já sabe, eu estava aqui temporariamente e
vou precisar voltar para onde moro e focar nos meus planos com a minha
clínica.
Os alunos começam a falar juntos, todos reclamando a perda de um
professor tão bom e atencioso. E eu me sinto do mesmo jeito, porque
acreditei que ainda teria aulas com ele por mais algum tempo.
Mas não vou ficar questionando nada, porque isso é chato e não irá
mudar o fato que hoje foi seu último dia como professor, então fico atrás
dos alunos que se despedem dele e espero uma brecha para fazer o mesmo.
— Confesso que estou feliz por você, mas triste por mim — digo
sorrindo assim que consigo me aproximar, e ele sorri de volta, sempre
muito charmoso. Seus músculos que eu não tinha notado antes ficam em
evidência quando ele cruza os braços e eu dou uma olhadinha singela.
— Eu sem dúvidas estou triste por não dar mais aulas… em especial
para a sua turma! — Ajusto minha bolsa em meu ombro e concordo,
esperando que ele termine e me surpreendo ao ouvir uma risadinha dele. —
Acho que você não é a melhor pessoa em perceber quando alguém está a
fim de você, né?
Franzo o cenho sem entender, mas depois arregalo os olhos e fico com
o rosto quente de vergonha.
— Você é meu professor, Dr. Luke. Eu não cogitaria tal coisa.
— Eu era seu professor, Emma. E por isso que antes nunca falei nada,
mesmo que já me sentisse atraído por você, mas agora não irei perder a
oportunidade.
Eu vou desmaiar de tanta vergonha.
— Não sei o que quer que eu fale — sou sincera e ele sorri
novamente. Assisto enquanto ele volta para trás da sua mesa e guarda as
suas coisas, depois faz um gesto com a mão para sairmos da sala e assim
faço.
— Vamos fazer assim. — Ele para de andar e eu viro de frente para
ele, já perto da saída do campus. — Você já sabe do meu interesse por você,
e agora não tem nada que impeça de nos conhecermos melhor, se for da sua
vontade também. Eu poderia passar meu número, e trocamos umas
mensagens despretensiosas, e se em até um mês, que é quando eu vou
embora, você quiser sair comigo, será um prazer te levar onde quiser.
Entorto os meus lábios, cogitando o que ele falou e tento pontuar
rapidamente as coisas que englobam isso tudo. Eu sou solteira, ele é muito
gato e sempre foi muito gentil, eu nunca senti atração por ele, mas também
nunca pensei nele como uma pessoa acessível.
E tem o Jacob.
E minha virgindade. Um homem como o Luke deve estar
acostumado a levar todas as mulheres para a cama, e isso não aconteceria
conosco.
E tem o Jacob.
— Emma, não precisa explodir pensando em uma resposta. — Ele ri,
e coloca a mão em meu ombro. — Não tem nenhuma pressão, tudo bem?
Eu só não quero perder essa chance de pelo menos te conhecer, mesmo que
nos tornemos apenas amigos, que já será algo incrível.
Certo. Ele continua sendo um cara legal e gentil, e eu não posso me
privar de conhecer as pessoas porque troquei alguns beijos com Jacob e se
tudo der certo trocarei mais alguns.
Já perdi o foco, meu Deus.
— Podemos trocar nossos números então — digo por fim e o sorriso
dele se expande e eu vejo duas covinhas lindas e sorrio. Ele pega o celular e
eu anoto o meu número. Na mesma hora ele manda uma mensagem e eu
mostro que chegou. — Nos falamos depois! — Eu estendo a mão, mas
dessa vez recebo um beijo em cada bochecha e o perfume dele invade meu
espaço.
É um perfume bom, eu gostei.
Ele se afasta e eu fico alguns segundos parada ainda, chocada com
tudo isso. Nunca imaginaria que ele tivesse esse tipo de interesse em mim,
ainda mais com tantas outras meninas bonitas na minha sala.
Meu telefone começa a vibrar e eu tiro do bolso, vendo uma foto
minha com Kath aparecer na tela.
— Já saiu da aula? Estamos quase chegando! — Hoje a minha aula
foi à noite, mas normalmente é de dia. Falta uma hora para o jogo começar,
e eu tinha marcado de ir com o pessoal. Até vim mais arrumada do que o
normal, com uma calça branca de cintura alta e um cropped lilás, de alças
finas. Passei um batom nude e máscara de cílios, só para dar uma vida ao
meu rosto.
— Já estou saindo — digo e acelero o ritmo dos meus passos, e vejo
quando o carro do Noah para na direção que estou indo. Dou tchau para eles
e desligo o telefone, mas sinto um braço passar por meus ombros e
reconheço o perfume forte que Francesco usa.
— Está com pressa? Ia te chamar para assistir um jogo que vai ter
hoje, no bar de um amigo meu.
Eu paro de andar antes de chegar no carro, e olho para o meu amigo.
— Na verdade, eu estou indo assistir agora com meus amigos. —
Aponto para o carro, e ele olha e depois desvia o olhar para mim. — Queria
poder te chamar, Francesco. Mas são os amigos do Jacob, e é muito
provável que ele vá também.
— Tudo bem, bella! Vai lá com eles, mas você não me escapa esse
final de semana. — Sorrio, tranquila por ele não ter ficado chateado, e
ganho um beijo na testa antes de vê-lo correr na direção de dois outros
homens, que me dão tchau e eu retribuo.
Eu entro no carro, e já fico sentada no banco do meio.
— Parece que alguém está fazendo novos amigos — Noah comenta e
pisca para mim pelo retrovisor. — De longe eu jurei que era uma versão
mais nova do Jacob, parece que eu voltei há uns 10 anos atrás, e vi a versão
do meu amigo na época da faculdade.
Kath olha para mim, com um sorriso bem tenso e eu coço a nuca,
meio nervosa. Ela é a única que sabe que ele é o irmão do Jacob, e eu
pretendia que assim ficasse, mas não quero parecer uma mentirosa quando
essa merda estourar no futuro.
Espero Noah começar a dirigir, e quando não existe mais nenhuma
chance de esbarrarmos com Francesco novamente pela rua, eu respiro fundo
e falo.
— Mas isso é porque aquele lá fora é o Franceso, irmãodoJacob —
falo as últimas palavras tão rápidas que parecem ter formado uma só e Noah
freia o carro, e vira a cabeça para trás, me encarando.
— O que você acabou de falar?
— É o irmão do Jacob, o Francesco — falo baixinho, me sentindo
uma criança que acabou de fazer merda.
— E por que ele está aqui? Por que falou com você? Por que…
— Noah, calma! — Kath segura o rosto dele, e dá um beijinho. Eu
aproveito para respirar fundo mais uma vez.
— Não sei ainda muito bem o porquê dele estar aqui, o que eu sei é
que algo aconteceu entre ele e o pai, o dinheiro da família não veio com ele
para NY e ele me implorou para não contar para o Jacob, por enquanto.
— Caralho, Emma. — Noah esfrega as têmporas, claramente
desconfortável. — Faz todo sentido o pai do Jacob estar aqui também e
atrás dele. Caralho, isso vai dar merda! Eu não posso esconder do Jacob.
— Amor, vamos pensar nisso outra hora! — Kath fala, enquanto faz
um carinho no rosto dele. — Eu sei que ele é seu melhor amigo, e é o certo
a se fazer. Mas, por que não damos a chance do próprio Francesco contar
que está aqui?
Os dois ficam em silêncio e eu jogo a minha cabeça para trás,
totalmente frustrada e me sentindo culpada com o que pode acontecer.
— Tudo bem! Mas eu não vou carregar esse segredo por muito tempo,
e se Jacob me perguntar qualquer coisa sobre isso, eu não irei mentir. —
Sinto uma mão em meu joelho e olho para o Noah. — Você fez bem em não
se meter, a vida do Jacob é muito mais complicada do que ele deixa
transparecer. Mas não deixe isso virar uma bola de neve indo em sua
direção.
Eu confirmo e agradeço por ele não ligar para o Jacob agora e contar.
O caminho até o estádio é silencioso e vejo que os dois me olham
algumas vezes, provavelmente preocupados por eu estar no meio dos dois
irmãos e eu tenho vontade de sumir.
— Ei, fica tranquila, tá bom? — Kath fala assim que saímos do carro
e me dá um abraço rápido. — Você não deve nada a ninguém, e prometeu a
Francesco que daria um tempo a ele, mas se ficar muito difícil, tire esse
peso das suas costas. E vamos nos divertir, que se tudo der certo, o final de
semana será de comemoração pelo título que os meninos irão ganhar.
— E hoje ainda é terça-feira! — digo e ela dá uma risadinha e logo
depois me entrega uma blusa, que eu vejo que é do time do Christopher. Eu
visto por cima da minha e ela ficou tão justa que eu tenho certeza que a
Kath mandou apertar, mas eu gostei. — Vai Gorillas! — Eu e Kath falamos
ao mesmo tempo e caímos na risada.
Entramos no estádio por um caminho privado, e eu fico encantada
assim que chegamos na área destinada à família e convidados dos
jogadores. É um espaço enorme e exclusivo em uma parte mais alta entre as
arquibancadas.
Passo o olho rápido entre as pessoas e reconheço alguns famosos e
vejo quando esses vem para perto, falar com a Kath, que mostra seu melhor
sorriso e cumprimenta todos com muita educação, com Noah ao seu lado
sendo igualmente educado.
Ainda é surreal que a minha melhor amiga seja uma pessoa tão
famosa, e uma celebridade da qual era fã.
Me afasto um pouco, e fico feliz quando vejo Barbie e Olívia
chegando.
— Ei, gatinha! — Barbie fala comigo, do seu jeito único e depois eu
falo com Olívia, que a cada dia que passa mostra que consegue ser bonita
em qualquer roupa que vista. E nesse momento, ela fez de uma camisa do
time que deveria estar bem grande, em um vestido e ficou sensacional. —
Vou falar com os meninos!
— Os meninos? — pergunto, porque só Noah está aqui, mas assim
que me viro vejo Jacob vindo pelo mesmo lugar que eu vim, e meu coração
para por alguns segundos vendo como esse homem exala poder, como se
fosse dono do mundo e de todas as calcinhas daqui.
— Vai babar, amiga! — Eu viro rápido, com um sorriso quadrado e
Olívia ri. — Acho que só eu vi, relaxa. — Nós caminhamos até onde fica os
bancos acolchoados, e nos sentamos.
A vista daqui é bem privilegiada e nada seria capaz de atrapalhar que
enxerguemos com perfeição tudo que acontecerá daqui a pouco no campo.
As pessoas já estão lotando todo o estádio, com suas bandeiras, luvas
e seus rostos pintados. E percebo que o Christopher é o nome que mais
aparece nas costas das camisas das pessoas, mas acho que faz sentido, já
que ele é o quarterback. E falando nele, ele aparece, saindo de onde deve
ser o vestiário, e os demais vem logo atrás.
Todo mundo vai à loucura, incluindo as pessoas ao meu redor.
— Vou pegar algo para beber, quer? — pergunto a Olívia e ela
concorda. Aproveito para sair dali, que é a primeira fileira dos bancos e que
encheu de pessoas gritando e batendo palmas para os jogadores.
O bar é enorme, e também tem alguns garçons andando por aí com
bandejas cheias de petiscos finos. Desses que precisa comer uns vinte para
poder matar a fome.
— Oi, boa noite! — Sorrio para o rapaz que mostra quase todos os
dentes para mim. — Eu gostaria de duas taças de champanhe. — Eu vi
algumas mulheres pedindo, e Kath já tinha falado que nada aqui é cobrado,
então não custa aproveitar.
— Claro! O que você quiser. Será uma honra servir.
Ham?
— E para mim um whisky puro, sem gelo e sem segundas intenções.
— Olho por cima do ombro e me deparo com Jacob encarando bem feio o
barman, e isso me faz querer rir, mas me mantenho séria. — Buonasera,
Emma. Tudo certo por aqui?
Jacob ainda nem olhou para mim, e eu espero que olhe para respondê-
lo. Mas o olhar desse homem me afeta e eu preciso me concentrar para falar
algo.
— Está tudo ótimo, Jacob. Inclusive estava agora mesmo pedindo um
champanhe para o garçom.
— Eu vi. — Ele olha para o barman novamente e depois olha para
mim e fala baixinho. — Você sabe que ele estava flertando, né? Na cara de
pau?
O rapaz entrega as nossas bebidas e saímos dali, mas quando tento
encontrar Olívia onde estávamos, vejo que outra pessoa está em seu lugar.
— Eu sei que não sou a melhor pessoa para notar essas coisas, mas ele
não foi muito sutil. — Dou um gole na minha bebida, sinto o gosto amargo
que desce pela minha garganta e faço uma careta. — Que troço ruim, credo!
Eu vou até uma mesa e deixo ali, disfarçadamente e volto até onde
Jacob está.
— Também não sou fã de champanhe! — ele comenta, e eu procuro
por um chiclete em algum dos meus bolsos, para tirar o gosto da boca e
bufo quando não acho nenhum. — Você pode pedir ao barman outra coisa
mais suave, ele deve estar ansioso para falar com você novamente.
— Acredito que não mais, você espantou o homem.
— Posso desfazer o mal-entendido, não quis atrapalhar.
— Você é sempre dramático assim? Isso é uma grande novidade para
mim. — Ele fecha ainda mais a cara e eu rio baixinho, sem entender o
porquê dele estar assim, mas também não dou muita importância, nunca
vou entender o que se passa por essa cabeça. — Você tem um chiclete?
Ele faz que sim e coloca a mão dentro do bolso da frente da sua calça
e me dá um Trident fechado, de canela. E agora eu entendo o gosto bom de
canela, junto de alguma bebida, das vezes que nos beijamos.
E lembrar disso é uma merda, pois fico com vontade de beijá-lo. Mas
apenas entrego o resto dos chicletes e ignoro o choque que eu sinto quando
nossos dedos se tocam.
Todos os nossos amigos parecem ter sumido, e eu quero socá-los por
me deixar sozinha com o Jacob. Não que seja um problema, mas também
não é a melhor das soluções ficar perto desse homem, sem poder fazer algo
a mais.
— Vamos sentar ali? — Ele aponta para os assentos mais para o canto,
onde tem menos pessoas e eu apenas vou, olhando a tela enorme que avisa
que o jogo começará em menos de 10 minutos. — Você está linda, Emma
— fala assim que nos sentamos e se eu não tivesse sentada acho que cairia.
— Eu fui até você no bar para falar isso, mas acabei me distraindo.
Jacob não pode decidir ser legal comigo porque ficamos. Isso vai
tornar as coisas difíceis.
— Acho que não preciso falar, mas você também — digo, por fim. E
em troca ganho um sorriso charmoso, de lado. E percebo quando seus olhos
encaram meus lábios e depois ele respira fundo.
Eu te entendo, Jacob. Também queria te beijar!
Nossos amigos aparecem e sentam perto da gente, e eu apenas foco no
jogo e ignoro o calor do corpo do Jacob que passa para o meu.
Eu quase não entendo nada de futebol americano, mas o placar
enorme na minha frente mostra que o Gorillas está ganhando com bons
pontos a frente do outro time, e toda hora as pessoas vão a loucura, e por
empolgação eu vou também.
— Você tem aula amanhã cedo? — Jacob me pergunta depois que eu
me sento.
— Não! Só na parte da tarde mesmo, por quê? — Acho estranho a
curiosidade dele.
— Fiquei preocupado pela hora — diz e dá de ombros. Eu sorrio,
porque acho fofo essas preocupações que ele tem comigo e com seus
amigos, e depois age de um jeito como se não se preocupasse. — Eu não
vou ficar aqui para esperar os jogadores chegarem, tenho um compromisso
amanhã cedo. Ia te oferecer uma caron…
— Eu aceito! — apenas cuspo a resposta, sem pensar em nada mais.
— Podemos ir logo, inclusive. Não estou entendendo nada, e sei que eles
não irão perder com o placar desse jeito.
Jacob levanta, mostrando que já estava louco para ir embora e eu me
despeço dos nossos amigos, que nos olham como se falassem que sabem
que irá acontecer algo. E para ser bem sincera é o que eu espero.
Saímos com facilidade de onde estamos, e caminhamos em silêncio
pelo corredor que leva até o estacionamento, e eu me distraio olhando os
diversos quadros mostrando os diversos times que jogaram ali, os prêmios
que ganharam, até que bato em um peitoral forte que apareceu na minha
frente do nada.
— Eu estava doido para ficar sozinho com você, Emma. — Jacob
coloca as mãos em minha cintura, e sinto as minhas costas encostarem na
parede que estava ao meu lado, e me concentro em minha respiração para
não acabar tendo um treco. — E porra, você está muito linda.
Não consigo nem pensar em uma resposta e já sinto sua boca se
chocando na minha, que eu aceito de bom grado e envolvo meus braços em
seu pescoço, ficando na ponta do pé para beijá-lo melhor.
Jacob beija inexplicavelmente bem, e eu sei que ele se controla para
não beijar como me beijou no Brasil, mas eu queria um beijo daquele, que
me deixaria com as pernas bambas e pensando nisso, eu tomo coragem e
mordo o seu lábio inferior, puxando um pouco e depois soltando apenas
para voltar a beijá-lo com mais vontade.
Suas mãos apertam a minha cintura, e eu gosto, puxando o corpo dele
para perto do meu e ele vem, encostando sua ereção ridiculamente grande
em minha barriga.
É uma sensação boa, e eu sinto todo o meu corpo quente, como se
precisasse de algo a mais do que esse beijo, mas eu não tenho noção do que
o meu corpo quer, então apenas continuo beijando e chupando a língua que
acabou de passar por meus lábios.
— Desculpa! — ele diz quando afasta a boca da minha, mas não abre
os olhos e se mantém perto. Só que eu não tenho noção do porquê ele pediu
desculpas. — Mas não consigo controlar essa parte do meu corpo. — Ah!
Ele está falando da ereção.
— Não precisa se desculpar por isso, Jacob. Acho que seria estranho
se você não ficasse assim, é normal. — Ele abre os olhos, e me encara de
um jeito que me esquenta ainda mais e eu mordo o lábio inferior.
— Você vai me matar, amore. De um jeito ou de outro. — Ele me
beija novamente, depois se afasta, arruma a minha blusa que subiu um
pouco e depois me dá um selinho, e voltamos a seguir nosso caminho para o
estacionamento.
Eu sei que o Jacob tem muito dinheiro e pelo visto ele tem outro
carro, porque não encontro o dele por aqui.
— Qual deles é o seu?
— Aquela ali! — Ele anda até uma moto muito bonita, e eu arregalo
os olhos. — Vim de moto hoje. E pela sua cara, acho que eu esqueci de
avisar quando ofereci a carona, né?
Eu fico olhando para a moto e pensando se vou conseguir chegar viva
se for nela, mas perco o foco quando ele monta na maldita e me dá um
sorrisinho cafajeste quando bate a mão na garupa, me chamando.
E adivinhem? Eu vou.
Subo nela assim que ele me explica onde tenho que pisar, coloco o
capacete com a ajuda dele, que ajusta a trava encarando a minha boca e
depois dá uma risadinha novamente.
A única conclusão que eu tiro dessa noite, totalmente conturbada, é
que o Jacob com certeza será muito mais letal para mim do que qualquer
moto poderia ser.
09

Emma chega com o corpo bem para a frente e me abraça com força
quando acelero um pouco, mas não me oponho a essa aproximação e acabo
fazendo o caminho mais longo até o apartamento dela.
— Chegamos, Emma! — digo depois que desligo a moto, e vejo que
ela continua com o rosto escondido nas minhas costas.
— Amém, sobrevivi. — Ela pula da moto, meio zonza e eu sorrio
enquanto assisto ela tentar tirar o capacete, bufar frustrada por não
conseguir e vir na minha direção. — Precisa de algum curso para saber usar
um capacete?
Eu rio, e ela me acompanha.
— Não, amore. — Eu a puxo para ficar um pouco mais perto, encaixo
os dois dedos nas travas e solto na mesma hora. Tiro o capacete dela e
afasto os cabelos que ficaram grudados em sua testa. — Você só precisa
apertar aqui. — Mostro e ela olha com atenção. — Da próxima vez você
conseguirá colocar e tirar rapidinho.
Próxima vez.
Por que diabos eu falei isso?
Mas Emma é minha amiga também, então é claro que em algum outro
momento eu darei carona a ela novamente. É normal amigos darem carona
uns aos outros e não tem nada a ver com o fato de termos nos beijado. E eu
quero beijá-la novamente, agora.
— Da próxima vez eu preferia que fosse em um carro! Muito mais
confortável e espaçoso.
— Você correria muito mais riscos dentro de um carro comigo, do que
em cima de uma moto, Emma. — Ela franze o cenho, e eu ergo uma
sobrancelha. — Espaço demais, amore. Minha mente é muito maldosa.
Ela dá um sorrisinho tímido, mas morde o lábio inferior.
— E isso é ruim?
— Dio mio, donne! — Esfrego o rosto com força, tentando pensar em
alguma coisa triste para não ficar de pau duro bem aqui. — Eu estou
tentando ser o mais controlado possível com você, não me provoque,
amore.
— E eu estou tentando me soltar. Estamos em um impasse! — Ela
coloca o cabelo para trás da orelha, e depois semicerra os olhos em minha
direção. — Eu não preciso que você seja alguém diferente comigo, Jacob.
Não vou quebrar só porque sou virgem. Não precisa ter medo de encostar
em mim.
Engulo em seco, imaginando as milhões de formas que eu poderia
tocar nesse corpo que acaba comigo. Imaginando muitas maneiras que eu
poderia fazê-la gritar meu nome, sem nem penetrá-la.
— Você com certeza está conseguindo se soltar, Emma. — Giro a
chave na moto, ligando o motor para ir embora antes que eu faça uma
loucura aqui no meio da rua. — E isso está me deixando louco, de um jeito
bom, mas acredite em mim quando eu digo que tenho que me controlar,
amore.
Ela volta a ficar vermelha, e eu pisco para ela antes de ir embora.
No caminho eu só consigo pensar em quanto eu a desejo, e como já
tem tempo que esse desejo me consome. Já fazia mais de 10 anos que eu
não beijava outra mulher, e nem sentia falta de ter esse contato, porque
oportunidade não me faltou, mas desde que ficamos a primeira vez no Rio
de Janeiro, parece que desencadeou algo.
Eu tentei beijar algumas das mulheres do aplicativo depois do
carnaval, mas quando eu chegava perto de fazer isso, via que não tinha essa
vontade com nenhuma delas. Igualmente ao meu corpo que parece não ter
vontade de fuder com nenhuma das quais tentei.
Emma é um pedaço do meu passado no meu futuro, e eu tenho medo
de misturar as coisas de alguma maneira, mesmo que involuntariamente.
Mas, agora que eu provei dela, eu quero mais.
E porra, eu faria ela sentir tantas coisas que ela nem imagina que o
corpo pode sentir sem ter penetração.
Entro no meu condomínio meio desnorteado, e estaciono minha moto
dentro da minha garagem, já sendo recebido por esses dois monstrinhos que
ficam aqui fora.
— Oi crianças, venham cá! — Assovio e bato em minhas coxas e em
questão de segundos eles pulam em mim, tentando lamber minhas mãos e
braços. Faço carinho em ambos, vou até o quintal ver se está tudo em
ordem e limpo a sujeira deles enquanto eles brincam com o osso novo, que
deve durar até no máximo uns 15 minutos. — Como foi o dia de vocês?
Eles me olham, como se quisessem realmente falar algo e eu volto a
fazer carinho nas cabeças enormes dos meus rottweilers, que de
assustadores só tem mesmo o tamanho, são uns amores.
— Vão para casa, está tarde. Amanhã vamos correr cedo! — Eles
lambem minha mão e vão correndo para a casa deles, que acreditem se
quiser, é um canil enorme em formato de casa, e lá dentro tem as camas
deles, os brinquedos e também as cobertas.
Dentro de casa, Dumbledore e Snape nem levantam para vir falar
comigo, já sabendo que irei até eles, e assim eu faço.
Quando não estou em casa, eu deixo que eles fiquem pela área comum
da casa, menos os quartos, para não correr o risco de acabarem se
empolgando em alguma brincadeira e quebrando algo ou sujando. Mas é só
eu chegar, e ir para o meu quarto que eles vem na mesma hora.
— Amanhã é dia de gravar conteúdo para o Instagram de vocês, então
por favor, colaborem. — Dumbledore levanta a cabeça, mas depois fecha os
olhos e volta a dormir, como se não desse importância para o que eu falo.
Abusado.
Faço um lanche rápido, e como em pé, perto da pia, enquanto passo
olho pelo Instagram, vendo nada de interessante até que aparece uma foto
da ruivinha, que ela postou há 2 minutos. Emma está de frente para o
espelho, com a mesma roupa de mais cedo, escondendo o rosto com o
celular e mostrando seu look. Ela recebeu várias curtidas e tem alguns
comentários já, inclusive dos nossos amigos, uns jogadores idiotas que
devem tê-la seguido por causa da Kath, um homem chamado Luke e mais
alguns que nem olho.
Emma é linda, e os outros homens enxergam isso perfeitamente. E
muitos deles já devem ter notado que ela não dá muita ideia para flerte,
então estão sendo bem diretos.
Stronzos.
Termino de comer, mas não sem antes curtir a foto e colocar dois
emojis com uma moto e um capacete.
Vou para o meu quarto sendo seguido pelos cachorros e tomo um
banho rápido, vestindo só uma calça de moletom. Nos dias que deixo eles
dois dormirem aqui, nunca consigo ficar sem roupa. Acho muito estranho!
Na minha cama está o notebook e o caderno com todas as anotações
que eu tenho feito para o restaurante no Brasil. Sendo muito sincero, não
queria me envolver em negócios desse tipo, mas esse foi o único jeito de
conseguir realizar o sonho de Owen e Helena, então vai valer a pena esse
sacrifício.
E de um jeito ou de outro, farei com que a minha parte do dinheiro vá
para eles. Ou para Emma, mas isso é um problema para pensar futuramente,
quando os lucros estiverem entrando.
Helena cozinha absurdamente bem, e também sei que tem uma
pequena equipe com pessoas que os ajudavam no restaurante que tinham
por lá, mas agora queremos fazer uma coisa grandiosa, então terão que
contratar alguns funcionários a mais. Como eu sou administrador, me
ofereci para ajudá-los na parte administrativa e contábil do restaurante até
chegar em um ponto que dê para custear pessoas para fazerem isso.
Os dois pensam grande, e são muito inteligentes. Só dou uma ideia ou
outra, do que pode melhorar em questão a funcionalidade e o resto ficará
por conta deles. Decoração, cardápio… essas coisas não me envolvo, até
porque tem que ficar do jeito deles, só quero que tudo seja perfeito.
Eles irão na próxima semana visitar dois lugares que eu vi, que
parecem ser bons pontos para um restaurante e se um deles for o escolhido,
começará a obra e em breve tudo estará de pé.
Meu telefone vibra e eu penso em ignorar, mas acabo pegando e vejo
que é uma mensagem da assistente do pappa, confirmando o nosso café
amanhã, e minha vontade é tão pouca de ir, que respondo apenas com um
ok.
Isso é o suficiente para me deixar irritado e vou dormir assim,
pensando que amanhã terei um dia de merda tendo que ver o homem que
mais desprezo. Mas só vou fazer isso pela mamma. Por ela, e apenas por
ela, vale a pena ter que encontrar com ele.
Sento na mesa mais escondida da cafeteria mais distante da minha
casa e do trabalho que consegui achar na internet, e como faltam alguns
minutos, eu já sabia que ele não estaria aqui. Pappa nunca chega antes, para
não se mostrar ansioso para as outras pessoas.
Já peço um café bem forte, bem estilo americano, para ver se assim eu
consigo sair daqui com alguma energia, já que sempre que tenho que vê-lo
parece que ele me rouba toda a vitalidade. É um sanguessuga de energias
alheias.
Pelo canto do olho, eu vejo uma movimentação que infelizmente eu
conheço muito bem. Meu pappa e seus dois seguranças, os que fazem tudo
por ele, ou melhor, pela fortuna que ele paga aos dois pelos trabalhos e pelo
silêncio.
— Figlio mio, que prazer conseguir vê-lo depois de tantos anos! —
Me esforço para conseguir levantar meu rosto e encará-lo. Vejo sua mão
estendida, mas a única coisa que eu faço é levar a xícara de café até a boca
e tomar mais um gole. — Pensei que toda a educação que eu te dei, tivesse
servido de algo.
Seus seguranças sentam na mesa atrás de nós e assisto em silêncio
enquanto Enrico Vacchiano senta à minha frente, sempre muito fino e
mantendo a etiqueta.
— Enrico, se você veio no intuito de fazer com que eu perca meu
tempo, para me ofender, ou qualquer coisa que não me interesse, eu
simplesmente irei levantar e sair.
O homem à minha frente, com a aparência impecável e ridiculamente
bem para a idade dele, mostra o sorriso que sempre odiei. O sorriso que
esconde a raiva para os demais, mas não de mim. Qualquer pessoa que veja
de fora, vai pensar que ele é um homem realmente feliz em falar com o
filho, mas eu o conheço além das aparências.
— Tutto a posto! Se você quer ir direto ao assunto, então iremos. —
Ele faz uma pausa e pede um café, esperamos até que o entregue e ele faz
uma cara feia ao beber, mas não larga a xícara. — Seu fratello está aqui,
parece que ele achou inteligente seguir os seus passos e abandonar todo o
império que eu criei.
— Inteligente! Nunca duvidei que um dia ele veria quem realmente
você é.
— Você é um garoto ingrato, Jacob. Eu lhe dei tudo que um homem
precisa para se tornar o melhor em tudo, o melhor entre todos. E o que você
fez? Deu as costas a sua famiglia. Sabe o quanto ainda é difícil ter que
explicar a quem pergunta sobre meu figlio mais velho?
Reviro os olhos com tanta força que chega a dar uma dorzinha na
minha cabeça, e apoio os dois braços na mesa antes de voltar a encará-lo.
— Oh, quanto mi dispiace, pappa! — meu tom de deboche, deixa-o
vermelho de raiva e vejo seu maxilar trincar, o que me faz sorrir de lado. —
Eu não me importo, caso ainda não tenha reparado. A única coisa dentro
daquelas terras que eu faço questão é a mamma. Por que você não a liberta
dessa vida? Você tem todas as mulheres que quer, você tem dinheiro para
pagar a acompanhante mais cara do mundo para ser seu novo troféu, por
que simplesmente não deixa a mamma?
Ele se mostra preocupado por questão de segundos, mas logo volta a
sua postura de sempre. Mas esses segundos foram o suficiente para me
deixar ainda mais preocupado.
— Sua mamma não mora mais lá. Há exatas duas semanas que ela
saiu da nossa casa, e foi para a Sicília. — Olha ao redor, como se estivesse
procurando alguém que não pudesse ouvir o que ele irá falar. — Nós nos
divorciamos há 5 anos, Jacob. E eu tenho um novo relacionamento, mas sua
mãe vivia tão dopada que nem lembrava disso, e continuava lá em casa. Na
verdade, eu não entro lá há muito tempo, apenas continuo mantendo aquela
mansão que perdeu a vida.
Eu tento procurar nele qualquer sinal que demonstre que se
arrepende de algo que já fez para a nossa família, mas a única coisa que
consigo ver é um homem que ama apenas a si mesmo. É tão egocêntrico,
que às vezes fico na dúvida se o coração dele funciona para algo mais do
que mantê-lo vivo.
— Ainda não sei o porquê de querer falar comigo, Enrico. — Olho
meu relógio e constato que a conversa está sendo mais longa do que eu
planejava e isso me deixa ainda mais irritado.
— Francesco não foi tão inteligente como você e demorou a decidir
que também não seria meu sucessor. E agora está nessa cidade horrível,
cheia de prédios e poluição, vivendo da última mesada que eu dei.
— Como assim?
— Francesco veio para NY sem dinheiro, para estudar e viver a
própria vida. O que para mim é indiferente, mas ele viu coisas demais
enquanto parecia ser o figlio que eu sonhei que um de vocês fosse. — Ele
chama a garçonete e dá alguns dólares para ela, mostrando seus dentes
impecáveis. — Aquele stronzo vai aprontar alguma coisa, porque eu
conheço vocês bem demais, conheço a ponto de saber que você fará o que
for preciso para proteger seu irmão.
Meu peito pesa quando eu entendo que ele está claramente ameaçando
meu irmão para mim, e aperto forte a beira da mesa para não acabar
fazendo algo que eu possa me arrepender depois.
— Vai al diavolo! Farabutto! — falo entre os dentes, sentindo meu
corpo tremer de raiva. E ignoro totalmente os seguranças dele que se
levantam e vem até nós. — Você é um monte de merda, e se acha mesmo
que meu fratello é o único que sabe das suas coisas sujas, você está mesmo
enganado.
Me levanto, mas os dois seguranças, que me conhecem desde criança,
não me deixam passar e me encaram como se eu fosse um lixo qualquer.
— Deixe-o ir, ele já entendeu tudo o que eu tinha para dizer. — Eles
me dão espaço e passo entre eles, esbarrando em seus ombros e com
vontade de socar tudo o que tem pela minha frente.
Saio meio desnorteado e peço desculpas às várias pessoas que eu vou
esbarrando pelo caminho enquanto ando sem nem saber para onde vou,
ainda sem acreditar, que até mesmo uma pessoa como ele, teve coragem de
ameaçar o filho.
O que deu errado com esse homem? O que será que fizemos de tão
errado para sermos odiados desse jeito? Meu irmão está prestes a fazer 20
anos, e agora está nesse lugar que provavelmente não conhece direito, tendo
que mudar totalmente sua realidade e isso tudo para poder ficar longe do
pappa.
Quando eu paro de andar, depois de muito tempo, vejo que parei no
lugar que sempre venho quando preciso ter um pouco de paz. O cemitério
onde eu enterrei Sophie e meu filho, e é até a lápide deles que eu vou.
Depois que passo dos portões a caminhada é lenta e difícil, sempre
fico com a sensação que isso é muito errado e que nada deveria ter chegado
a esse ponto. Não é justo uma criança que seria muito amada, ter perdido a
vida antes mesmo de conhecer o rosto dos pais.
Tiro meu paletó e sento de frente para a lápide, sentindo meus olhos
arderem ao ver o nome de ambos gravados eternamente nessa pedra, e
involuntariamente seguro as alianças presas em meu cordão.
Eu nunca falo nada, nunca consegui falar nada. Então apenas fico
aqui, mais uma vez imaginando como a minha vida estaria agora e como
provavelmente eu seria um homem diferente.
10

— Por que a gente simplesmente não vai logo para o bar? — pergunto
a Francesco, que caminha ao meu lado, segurando a minha bolsa e com um
braço em cima do meu ombro.
— Onde eu estou morando é cinco minutos daqui, Em. Deixa de ser
preguiçosa! — Ele apressa nossos passos e me esforço para caminhar, já
que é algo que eu tenho muita preguiça de fazer.
Francesco já tinha me intimado a sair com ele esse final de semana, e
como amanhã é a festa dos Gorillas, decidimos hoje ir a um bar. Queria
muito levá-lo a Lótus, mas ainda não é o momento para isso.
A caminhada realmente é bem rápida, e em poucos minutos chegamos
em um prédio antigo, mas com a fachada impecável. Assim que subimos as
escadas para poder entrar, vejo que tem uma placa informando que o prédio
é apenas para alunos da Columbia, e que todos os quartos estão esgotados.
Isso me deixa confusa e curiosa. A família Vacchiano é uma das mais
ricas da Itália, então se ele está morando aqui, é sinal que está sem dinheiro.
Não que aqui seja um lugar ruim, pelo pouco que estou vendo enquanto
subo ao segundo andar, mas, sem dúvidas não é algo que se espera de
alguém tão rico como ele.
— Esse é o apartamento em que eu fico! — diz quando abre a porta, e
já me deparo com uma sala espaçosa, e uma cozinha bem equipada. E dois
homens enormes sentados no sofá, comendo pipoca. — E aí, gente! Vocês
já conhecem a Emma, né?
O moreno, que está sem camisa, sorri de lado para mim.
— Claro que eu conheço, é impossível não conhecer pelo menos de
vista a sua amiga gata! — Caramba, bem sutil, né?
Francesco bufa e ao passar pelo amigo, dá um tapa na cabeça dele,
que apenas ri e passa a mão onde levou o tapa.
— Emma, esse babaca é o Bruce!
— Eu sou o Batman! — Bruce fala com a voz mais grossa,
interrompendo Francesco e eu preciso colocar a mão na boca para não
escapar uma risada muito alta quando entendo a referência. — Viu? Elas
sempre gostam disso!
— Desculpe por ele, Emma. Mas parece que faltam alguns parafusos
nele. — O outro amigo se levanta, esse eu já vi várias vezes com o
Francesco pela faculdade. — Acho que nunca me apresentei, mas eu sou o
Joshua! — Aceito a sua mão quando a estende para mim, e sorrio. Joshua é
muito bonito, mas já percebi que ele é bem diferente dos outros, parece
mais tímido e meio introvertido.
Francesco avisa que deixará a minha bolsa no seu quarto e eu me
sento no puff, enquanto Joshua arruma as coisas que ficaram bagunçadas e
o suposto Batman veste uma camisa bem apertada.
Eu imagino que eles devam ter a minha idade ou um pouco mais, só
que sem dúvidas nenhum deles, contando com Francesco, parecem ser
novos assim. E isso com certeza tem a ver com as barbas cheias e os corpos
enormes. Devem comprar uma tonelada de comida por mês, no mínimo.
Me levanto quando Francesco volta, saímos os quatro do prédio, e eu
fico apenas ouvindo o que eles pretendem com essa noite.
— O que deu errado para você que vive com os ricos, estar andando
só com os pobres agora? — Bruce me pergunta sem maldade, e com um
tom de brincadeira assim que paramos na fila do bar que eles escolheram.
Quando eu olho para o Francesco, ele faz uma cara estranha e eu deduzo
que é para eu ter cuidado com o que vou falar.
— Vamos começar pelo fato que eu não sou rica, e já conheço o
Francesco há muito tempo. Isso é muito mais a minha realidade do que
quando estou com os meus outros amigos. — Francesco sorri, satisfeito
com a minha resposta.
— Vocês são amigos da Itália, então? — dessa vez é o Joshua quem
pergunta, e é claro que não teria como o Francesco não contar que é da
Itália, o sotaque é fortíssimo, mesmo que ele fale perfeitamente o inglês.
— Somos! Mas Emma foi embora muito antes de mim e perdemos o
contato, mas parece que o destino queria que voltássemos a ser amigos e
aqui estamos, juntos depois de anos.
Os dois se dão por satisfeitos com as perguntas e começam a falar de
coisas aleatórias. E assim, eu descubro que Bruce joga basquete pela
faculdade, e cursa engenharia mecânica junto com Joshua e Francesco. E eu
acho engraçado como eles são bem diferentes, mas fazem a mesma coisa.
Nós entramos no bar, e a primeira coisa que eu noto são muitos rostos
familiares. Pelo visto o bar é bem popular entre os alunos da faculdade,
incluindo os do meu curso também.
— E aí! — Um rapaz loiro, que estava sentado em uma mesa sozinho,
se levanta e chama a gente para onde ele está. — Demoraram para caramba
hein, já tô no meu segundo chopp!
— Emma, esse educado é o William. O quarto e último integrante do
apartamento! — Joshua explica e eu o cumprimento, ganhando um beijo
gelado no rosto, logo depois me sento, ficando no meio deles no sofá que
forma um U, e que tem uma mesa no meio.
Uma garçonete muito sorridente chega com uma bandeja cheia de
canecas de chopp, e depois dá um selinho disfarçadamente no William, que
sorri de canto a canto. Não sei se eles namoram, mas com certeza ele gosta
dela e não se incomoda em demonstrar. É fofo!
— Você namora, Emma? — Volto a olhar para o Bruce e faço que não
antes de tomar um gole da minha cerveja muito gelada. — Queria dizer que
é uma pena, mas estou muito feliz em saber disso.
Não é difícil identificar que o Bruce é o mulherengo e descarado desse
quarteto, mas eu não me incomodo e só rio, sem dar muita ideia. Esse tipo
de homem não me atrai, por mais que ele seja muito bonito.
— A faculdade toma muito o meu tempo, não conseguiria dar atenção
para um namorado.
— Eu concordo — Francesco comenta. — Mas eu consigo arrumar
tempo para pelo menos dar uma escapadinha por aí, se é que me entendem.
— Você transa todo dia, Francesco. E em qualquer lugar! Deve ser
alguma doença — Joshua comenta e empurra seu óculos para cima, fazendo
uma careta para o amigo, que ri do que escuta.
Eu olho para Francesco, e depois olho ao redor. Não é difícil perceber
que a mesa onde estou é a que mais chama a atenção das demais pessoas, e
cada um dos meninos têm uma grande atenção de todos, até mesmo o
Joshua, que é o que não parece se importar com tal coisa. Já Francesco
encara de volta cada uma das mulheres que o encara, e sorri para todas.
É quase inacreditável ver que aquele menino de anos atrás, se tornou
esse cara ao meu lado.
— Certo, talvez eu transe bastante. Mas nenhum de vocês pode negar
que é muito bom, nem mesmo você, Josh. Todo mundo sabe que você e a
Emilly se dão muito bem no grupo de estudos.
Eu paro de prestar atenção no assunto antes que chegue a mim e eu
sou péssima em disfarçar. Como eu ando com pessoas mais velhas, eles não
têm o costume de ficar conversando sobre isso abertamente, apenas as
meninas quando ficamos sozinhas, mas elas já sabem a minha situação.
Alguns meninos que fazem aula comigo, passam por nós e me dão
tchau. Eu respondo com um sorriso mas acho estranho, já que nunca
falaram comigo.
— Emma, você não pode andar com a gente — Bruce fala, e eu fico
sem graça e sem entender o porquê de ter falado isso. — Você chama mais
atenção do que todos nós juntos. E olha que o mais baixo é o Francesco
com 1.87! — Fico aliviada ao entender que é uma brincadeira.
— Você pode ficar despreocupado, Bruce. Ninguém consegue chamar
mais atenção do que o próprio Batman. — Ele dá uma risada alta, e levanta
a mão para que eu bata nela.
— Porra, gostei de você! E por conta disso, acho que deveríamos ser
um casal. — Ergue as sobrancelhas ao mesmo tempo, repetidas vezes e
novamente eu rio. Me sentindo à vontade com eles, e feliz por ter o
Francesco de volta em minha vida.
A noite vai passando mais rápido do que eu queria, e me mantenho só
na cerveja para conseguir ir embora tranquila e sem que ninguém precise
me levar.
Eu aproveito quando os meninos se distraem, pego o meu celular, tiro
uma foto da mesa cheia de copos, aparecendo a mão de todos eles, e depois
tiro uma selfie minha.
— A regra é clara, Emma: selfie só se for com todos juntos! —
William fala, se oferecendo para tirar a foto do ângulo que está e eu dou
meu celular a ele. Arrumo rápido meu cabelo e todos nós ficamos
espremidos para a foto ficar boa, quando ele me devolve, vejo que ficou
incrível, todos sorridentes e eu no meio.
Eu arrumo as fotos para postar no feed, todas as três, mas aí lembro de
uma coisa muito importante.
— Fran…
— Pode postar, Emma. Jacob já sabe que eu estou aqui, e nos falamos
hoje por telefone. Mas, não falei nada sobre ter te reencontrado, então fica
por sua escolha se deseja postar ou não antes de falar com ele.
Eu decido postar a minha selfie e a mesa nos stories, coloco a
localização e marco todos os meninos, mas escondo as marcações. Não
quero que o Jacob se chateie ao descobrir assim, então amanhã eu conto
para ele.
No meu celular mostra que já são quase 3 horas da manhã, e essa é a
minha deixa para ir embora. Bruce já está numa roda de meninas, Joshua foi
embora, William está no balcão com a garçonete e Francesco comigo.
— Francesco, eu já vou. Na segunda, eu pego a minha bolsa com
você, pode ser?
Ele levanta, e eu faço o mesmo. Como de costume, ele passa o braço
em meu ombro e vai comigo até a parte de fora do bar para me fazer
companhia, enquanto espero o carro do aplicativo que eu pedi, chegar.
— Tem certeza que não quer dormir lá no apartamento? Eu fico na
sala, sem problema nenhum.
— Não precisa, eu moro bem pertinho daqui.
— Tudo bem. Já que é assim, vou convidar aquela loirinha muito gata
e da bunda grande que está me dando mole para ir dormir comigo.
— Ai meu Deus, Francesco. Você é um safado!
Ele ri e eu ganho um beijo na testa, o abraço forte antes de entrar no
carro que acabou de chegar, e ele fica olhando até que eu entre.
Francesco foi o único amigo que eu tive de verdade na infância, e eu
nem consigo explicar o quanto estou feliz em estar próxima dele
novamente. Para tudo isso melhorar, só preciso que ele e o irmão voltem a
se dar bem. O amor que existia entre os dois era lindo, e o Jacob sempre foi
muito amoroso com ele, tentando suprir tudo que o Enrico não fazia.
E falando em Jacob… ele respondeu meu storie mais cedo, mas eu
acabei me distraindo e não respondendo. Mas eu lembro que ele falou para
eu ter cuidado na rua até tarde, conferir se ninguém colocou nada em minha
bebida e que avisasse quando chegasse, a hora que fosse. E é exatamente
isso que eu faço depois que entro em casa e vou direto para o meu quarto.
Tiro uma selfie fazendo aquela famosa pose paz e amor com os dedos,
e mandando um beijo. Depois largo o celular na cama, tomo um banho
quente com cuidado para não molhar o cabelo, e visto uma camisola que
Kath me deu. Ela é toda transparente, e com renda nos lugares estratégicos
para não aparecer nada.
Claro que teria muito mais utilidade para ela usar com o marido, mas
minha amiga cisma que eu preciso ter essas peças e que futuramente eu irei
agradecê-la. Eu uso todas, porque são lindas e confortáveis.
Meu telefone vibra na cama e eu vejo que tem três notificações
mostrando que Jacob me respondeu, na hora eu pulo no colchão para pegar
o celular e ler o que ele mandou.
Jacob: Que bom que chegou bem!
Jacob: Como foi o passeio com seus amigos?
Jacob: Dormiu? Boa noite!
Eu: Não dormi não, fui tomar um banho. Estou exausta! A faculdade
suga minha energia, mas eu amo.
Jacob digita, digita e não vem nenhuma resposta. Mas daí aparece a
solicitação para atender a chamada de vídeo, eu tento me sentar e arrumar o
cabelo em segundos e o atendo.
— Bem melhor assim! — ele fala e dá um sorrisinho de lado,
colocando um dos seus braços por trás da sua nuca. — Gostei da camisola!
— Seu olhar desce até meu busto e depois volta a olhar em meus olhos.
Engulo em seco, mas tento não demonstrar que fiquei atingida ou sem
graça. Eu gosto dos elogios dele, e preciso parar de ficar envergonhada toda
vez que ouvir algum, mesmo que seja direcionado a algo que estou usando.
— Cadê Dumbledore e Snape? — pergunto, tentando fugir de falar
algo a respeito do elogio anterior.
— Hmmm, hoje eles não estão no quarto comigo. — Eu percebo que
ele tenta segurar uma risada e fico curiosa do porquê, já que não falamos
nada engraçado.
— Pensei que eles dormiam com você!
— Sim, normalmente. Mas, eu prefiro deixá-los pela sala quando
durmo sem roupa.
Eu fecho os olhos e pressiono os lábios quando escuto ele falar, me
esqueço que estamos em uma ligação por vídeo e dessa vez ele solta uma
risadinha, mas com um tom malicioso e eu me arrepio.
— Faz sentido! Deve ser estranho eles dormirem perto de você,
enquanto você está como veio ao mundo. — Ele concorda, ainda com o
sorriso no rosto. — Mas eu acho que preferia não saber disso, porque agora
vou ficar pensando que você está pelado enquanto fala comigo.
Ele gargalha ao me ouvir, e eu rio junto.
— Acho que não faz muita diferença, você não está vendo!
— Mas estou imaginando — disparo em resposta.
— Então me imagine excitado, porque acabei de ficar assim! — Ele
tira o braço de trás da nuca e alisa o rosto com força. — Mas posso colocar
uma cueca se não se sentir à vontade.
— Não! — digo rápido demais e ele ergue uma sobrancelha. — Quero
que fique à vontade, igual você faz comigo.
Eu puxo a minha coberta até cobrir o meu busto, na intenção que ele
não consiga ver que eu fiquei excitada, mas eu tenho certeza que meu rosto
deve estar me entregando. Mas Jacob é bom em me deixar tranquila e não
fala nada sobre isso.
— E como foi no bar? Aquele bar funciona desde a época que eu
fazia faculdade, bateu até uma nostalgia quando vi a foto com os meninos.
— Como você sabe que eu estava acompanhada de homens?
— Aquelas mãos não pareciam nada com mãos femininas… mas
posso estar enganado.
— Não está! Inclusive… você vai amanhã na festa, né? — Ele faz que
sim com a cabeça, e eu suspiro antes de falar. — Ótimo, aí conversamos
algumas coisas pessoalmente.
Ele me olha estranho, como se soubesse exatamente o que eu tenho
para falar, mas não fala nada por um tempo, diz que já volta e pede para eu
esperar por alguns segundos.
Quando aparece de novo, está segurando uma foto dele e do irmão
quando eram mais novos. Meu coração já para de bater nesse instante, mas
eu espero que ele fale algo.
— No dia dessa foto, Francesco inventou de subir numa árvore pela
primeira vez, e não deu certo. Ele caiu por cima de um galho e fez uma
cicatriz no canto da mão esquerda e a gente tinha o hábito de desenhar
teias em volta dela. — Ele coloca a foto do lado dele e volta a me olhar. —
Eu reconheceria a mão do meu irmão em qualquer lugar, Emma.
Eu quero chorar, sério.
— Então, era sobre isso que eu queria falar com você…
— Eu já sei que meu irmão está morando perto da faculdade, sei que
ele divide um apartamento com três amigos e também sei que vocês
voltaram a se falar.
— Minha intenção não foi te esconder isso — começo a falar,
nervosa. — Mas Francesco me pediu para dar um tempo para ele mesmo
falar com você, e por isso eu não contei, mas não quis…
— Emma, calma. — Ele solta uma risadinha. — Não estou chateado
com isso, jamais ficaria. Francesco é meu irmão e eu sei que vocês eram
muito próximos, até fiquei aliviado em saber que ele tem uma boa pessoa
perto dele, mas — vejo o maxilar dele trincar rapidamente nesse meio-
tempo que ele respira — não sei qual é a de vocês, muitos anos se
passaram e agora vocês são adultos, então só me avisa se a amizade de
vocês for para outro caminho. Não quero viver um triângulo amoroso com
meu irmão e você!
Eu tento muito não rir e até pressiono um lábio no outro com muita
força, mas a gargalhada escapa dos meus pulmões e sinto até umas lágrimas
escorrerem.
— Jacob, seu irmão é como um irmão para mim, de verdade. E acho
que é muito recíproco isso! E mesmo que não se importe, eu quero pedir
desculpas por não ter falado, mas não queria piorar a situação de vocês. —
Me acalmo, conseguindo conter a risada. — E por mais que ele esteja lindo,
prefiro você! — pontuo no final, para aliviar o clima.
— Não precisa se desculpar, amore. Eu entendo a sua intenção, e
achei certo da sua parte. Mas gostei de saber que você prefere a mim. —
Ele aproxima um pouco o celular, e eu só consigo olhar para a boca gostosa
que esse homem tem. — Se eu estivesse aí agora, e ouvisse isso
pessoalmente, eu te beijaria só para você entender o quanto eu gosto
quando você é sincera sobre essas coisas!
Eu consigo imaginar perfeitamente enquanto ele fala, e caramba, eu
queria muito.
— Eu não me importaria de passar o resto da madrugada te beijando.
Ele emite um som, tipo um gemido bem baixinho e eu contraio a
minha boceta involuntariamente.
— Cazzo, Emma! — Ele aperta a mão na frente do rosto. — Você não
tem ideia de como essas coisas que você fala mexem comigo! E eu não
consigo parar de me imaginar te beijando com você vestindo apenas essa
camisola.
JESUS!
Eu acho que entraria em choque se o beijasse apenas de camisola
enquanto ele estivesse nu. Sinceramente, não sei como ninguém nunca
morreu de desejo por outra pessoa. Preciso pesquisar se isso é possível,
porque acho que se ele tivesse na minha frente agora, aconteceria
exatamente isso comigo.
— Eu lembro como foi ficar em seu colo no Brasil, com roupas…
acho que com as nossas vestimentas atuais, eu morreria.
— Amore, se eu pudesse, te mataria de tanto gozar e depois te traria de
volta para poder repetir tudo inúmeras vezes! — Dessa vez sou eu quem
deixa um gemido escapar, e ele morde o lábio. — Posso fazer uma pergunta
íntima?
— Pode fazer a pergunta que quiser, já nem consigo mais raciocinar.
— Não precisa responder se não quiser, mas eu já percebi que você
fica mais à vontade quando não estamos juntos pessoalmente. — Eu
concordo, porque de fato eu fico menos envergonhada quando ficamos por
chamada de vídeo, e olha que essa é apenas a segunda vez. — Você se
masturba?
Minha cabeça cai para trás na mesma hora e eu fecho os olhos com
muita força, sem acreditar que ele está querendo mesmo conversar sobre
isso. Eu vou morrer, é sério.
— Não precisa responder, amore… desculpa!
— Não!
— Não para as desculpas?
Volto a aparecer na chamada, e ele sorri quando me vê muito
vermelha.
— Não para a sua pergunta, eu não me masturbo.
11

Eu não esperava que a resposta que eu receberia seria essa. Eu sei


que Emma é virgem e nem nunca chegou perto de perder a virgindade, mas
as pessoas costumam ter curiosidade de conhecer o corpo, e ficar excitado é
algo comum.
Eu olho para a ruiva pela tela do celular, vendo que mesmo com
vergonha ela não desvia seu olhar do meu, esperando a minha reação diante
da última coisa que falou.
— Nunca quis fazer? Ou já fez e não curtiu? — Eu não quero ser
invasivo, mas estou curioso de verdade. Ela está deixando de ter uma das
melhores sensações que nosso corpo pode nos dar.
— Hmm, na verdade, eu já tentei mas não senti nada. — Ela faz meio
que um biquinho, e eu queria mordê-lo. — Eu estudo medicina e sei
perfeitamente como a teoria ensina, e já tentei assistir filmes, seguir passo
a passo de profissionais, pensar em algum famoso que eu ache atraente,
mas simplesmente ficava entediada.
Isso é realmente algo novo para mim. As mulheres com quem me
relaciono já são experientes, e a única virgem que eu fiquei, aprendeu bem
rapidinho como se dar prazer. Então eu tento pensar no que falar agora, e
me vem uma ideia na cabeça.
— Já pensou em alguém real? Alguém que você já se relacionou e
sentiu algo? — Ela fica corada mais uma vez e caramba, essa mulher é um
inferno de tão linda. — Ou melhor, você tem vontade de conhecer melhor
seu corpo e os prazeres que pode dar a si mesma? Porque tem gente que
simplesmente não quer ou não gosta.
Ela coloca o celular no colo, e fico vendo-a como se estivesse com a
cabeça deitada em suas coxas e espero que prenda o cabelo em um coque,
como sempre faz quando está à vontade.
— É claro que eu quero ter todas essas sensações, mas — ela pega o
celular novamente, e me olha com muita vergonha — a única pessoa que eu
senti qualquer coisa diferente, foi você. Das vezes que ficamos, senti meu
corpo excitado e vontade de ter mais, mas como as vezes que tentei me
tocar foram péssimas, não pensei em fazer isso pensando em você.
Meu pau já está tão duro que consigo sentir encostar em minha
barriga, e a vontade de me masturbar agora enquanto converso com ela é
inexplicável, mas jamais faria isso sem o consentimento dela, e não é o
momento para isso.
Não ainda.
Então seguro na beirada da cama com força, enquanto tento focar nela
e em como ajudá-la.
— Não que você precise da minha permissão para isso, mas saiba que
ficarei muito privilegiado em saber que tentou conhecer seu corpo melhor,
pensando em mim. — Ela sorri de lado e quase fica fofa, mas a mordida no
lábio muda todo o contexto. — Nós vamos nos ver na festa, né?
— Vamos!
— Eu tive uma ideia, de algo que pode te ajudar. E acredite, Emma…
conhecer seu corpo é uma dádiva, e nenhuma outra pessoa saberá te dar o
prazer por completo, se você mesma não souber o que gosta ou não. E
existe uma infinidade de coisas para se fazer antes de perder a virgindade.
— Eu não acredito que estamos falando sobre isso. — Ela dá uma
risadinha. — Você vai ser tipo o meu guru?
Eu rio da imaginação sensacional que ela tem, mas discordo.
— Não, amore. Mas se depender de mim, eu farei com que você se
torne uma mulher que não aceitará o mínimo entre quatro paredes. —
Minha cabeça, a de cima, já está quase explodindo por causa dessa
conversa. A de baixo já nem sabe mais o que está acontecendo — Você é
linda, inteligente, e porra, muito gostosa. Não deve perder seu tempo com
esses homens que não sabem valorizar uma mulher na cama e fora dela.
— Você vai me preparar para outros homens, então?
Touché.
— Pensando por esse lado, acho que desisto desse plano. — Ela ri
alto, e eu não consigo conter meu sorriso. — Eu só quero que você conheça
a sua melhor versão, independente desse plano dar certo ou não. Você
precisa se apaixonar por você mesma, Emma.
— Você é demais, Jacob! E eu gostei dessa ideia, vamos ver onde isso
vai dar.
— Vai dar na minha morte prematura, com certeza. — A safada ri e
me olha com malícia. — Não me olha assim, amore. Tudo que você faz se
repete em minha mente, várias e várias vezes.
Ela levanta da cama em um pulo e vejo que entra no banheiro.
— Eu vou morrer de vergonha disso amanhã, mas vou aproveitar a
coragem de agora e retribuir toda a sua boa vontade comigo. — Vejo
quando ela solta o cabelo e depois sorri. — Vou precisar desligar, mas
espero ainda receber outras ligações suas quando estiver à toa… beijos!
Ela sopra um beijo e a imagem some.
Sério? A nossa conversa acabou assim?
Levanto da cama, me arrastando até o banheiro com o celular na mão,
encarando a nossa conversa aberta e como da primeira vez que fizemos
videochamada, fico sem acreditar a que ponto nossas conversas estão
evoluindo.
Só que antes de começar a me sentir mal por estar vivendo isso com
ela, eu sinto meu corpo todo gelar e depois esquentar e repetir isso várias
vezes quando vejo que ela me mandou uma foto.
Emma foi ao banheiro para tirar uma foto de corpo inteiro, com a
maldita camisola que eu elogiei sem saber como era toda. E agora eu sei:
muito transparente, curta e com umas rendinhas tampando quase nada dos
pontos que eu mais queria ver. E eu juro que isso é o suficiente para
escorrer o líquido pré-ejaculatório do meu pau.
Eu abro a foto e dou zoom em todas as partes possíveis, e não penso
duas vezes antes de entrar no Box e começar a me masturbar como um
adolescente tarado vendo a sua primeira revista pornô.
Gemo como se estivesse fudendo uma mulher com força e sem
dúvidas é a primeira vez em toda a minha vida que eu gozei tão rápido. Mas
caralho, essa foto ao mesmo tempo que é uma coisa incrível, é uma
covardia.
Como eu conseguirei manter minhas mãos longe dela amanhã? E
pior… como eu vou conseguir transar com qualquer outra mulher, sendo
que a que eu quero, não está ao meu alcance?
Eu volto para a cama e fico olhando a foto, sem coragem nenhuma de
apagar e de fato não apago. Amanhã irei perguntá-la se tem algum
problema eu guardar essa foto, ou imprimir e colocar bem no teto aqui em
cima de mim, para dormir e acordar gozando por ela.
— Que inferno!

Fazia tempos que eu não corria tanto como corri hoje mais cedo. Mas
eu precisava disso, e na verdade os 10km pareceram poucos, porque meu
corpo ainda continua agitado, e acho que só uma coisa, ou melhor, uma
pessoa poderá me aliviar… ou piorar a minha situação.
Eu não vou abrir a foto de Emma mais uma vez, estou começando a
ficar assustado comigo mesmo. Perdi as contas de quantas vezes olhei, e
olha que não tem tantas horas assim que recebi a bendita foto.
— Boa tarde, vizinho! — Escuto a voz assim que saio com o carro da
minha garagem, e olho para Bella. — Como estão os cachorros?
Bella é uma vizinha que já tentou fazer amizade comigo incontáveis
vezes, mas com esse meu jeito jamais conseguimos dialogar muito. Mas ela
é simpática e muito atraente também.
— Boa tarde, Bella! Eles estão bem, e os seus? — Ela tem dois
yorkshires que são bem fofos, e muitas vezes eu deixo para ela várias coisas
que recebo repetidas para os meus filhos.
— Ótimos, acho que teremos filhotes! — diz sorridente. — Te aviso
quando nascerem, caso queira dar uma olhada.
— Claro! Parabéns pelos netos. — Ela sorri e eu buzino ao me afastar
com o carro. Bella é uma cirurgiã pediatra muito requisitada, que veio para
NY depois de ser disputada por muitos hospitais. Eu só sei disso porque o
Barbie é um fofoqueiro de primeira e quando viu a minha vizinha nova foi
procurar saber dela. Ela é jovem, educada e muito talentosa, faz sentido não
ter dado muita ideia para o Barbie quando ele tentou se aproximar.
Mas, como dizem por aí, gosto não se discute. Por mais que eu
nunca tenha conversado muito com ela, simpatizei de cara. Com certeza o
fato dela ter cachorros ajudou.
Eu presto atenção na rua enquanto estou dirigindo, mas o painel do
carro mostra que recebi uma mensagem e vejo que é da minha mamma.
Consegui falar com ela no mesmo dia em que falei com o pappa. E
isso foi um alívio, porque eu estava muito preocupado. Conversamos por
horas, e entramos em um acordo.
Ela disse que quer se livrar do vício, mas precisa tentar isso sozinha,
pelo menos uma vez. E eu concordei, desde que ela contratasse alguém para
ficar na nova casa dela, e que essa pessoa me passasse informações sempre
que eu pedisse. Ela topou, o que me fez ficar animado e esperançoso.
E falando em passado, também conversei com meu fratello. Essa
conversa foi um pouco mais difícil, porque eu não sabia como ele reagiria
ao falar comigo, mas ele se mostrou aberto a uma conversa franca
pessoalmente.
O aniversário de Francesco é na quinta da próxima semana, e para a
minha surpresa, ele me chamou para ir a um bar com ele e seus amigos. Eu
acabei os convencendo a irem à Lótus, e eles toparam.
Lá, vou me sentir mais confortável, sem tanta gente da faculdade ao
meu redor, com vibes totalmente diferentes da minha.
Não sei se iremos conseguir conversar direito, mas o combinado foi
chegarmos antes, e ficarmos a sós.
Depois da minha conversa com o pappa, eu fiquei muito
preocupado. Por mais que eu e meu fratello não estejamos em nosso melhor
momento, eu o amo e morreria por ele.
Então engoli todo o meu orgulho, e fui atrás dele. E agora parece
que ele está mais próximo do que eu poderia imaginar, já que a amizade
dele com a Emma está a todo vapor.
Se alguém me contasse no início do ano passado que eu estaria
ficando com alguém que sempre considerei como irmã, e que meu irmão de
sangue estaria morando na mesma cidade que eu, eu riria dessa pessoa.
Mas, o que nós sabemos sobre o nosso futuro, né? Uma coisa que eu
aprendi na dor, é que nem tudo dá para se planejar, os planejamentos
mudam o tempo todo e nós temos que nos redobrar para que tudo não fuja
entre nossos dedos.
O caminho até a mansão onde será a festa do Gorillas leva quase 1
hora, por ser em uma parte mais reservada e muito concorrida. O que deixa
ainda mais caro tudo ao redor.
Meu nome já estava na lista para entrar no condomínio, e não é
difícil achar a casa já que ela é a única que emite um som muito alto e tem
várias pessoas no gramado.
Estaciono meu carro no primeiro lugar que encontro e sigo em
direção ao barulho, me questionando porque diabos eu vim para isso.
Mas eu vejo um motivo muito bom assim que encontro meus
amigos na entrada da casa, falando com Christopher. E esse motivo está
com uma saia justa, um cropped sem alça e um casaquinho fino por cima,
além de uma bota infernal que vai até os seus joelhos, deixando o conjunto
muito sexy.
— Opa! Chegou na hora certa! — Todos viram em minha direção
quando Christopher fala e me cumprimenta, eu aproveito para falar com
todos os meus amigos e Emma, que sorri de um jeito fofo e me dá um beijo
na bochecha, mais perto da boca do que o normal. — Não sabia que vocês
estavam juntos! — o quarterback fala e Emma ri.
— Não estamos! — ela fala com tanta convicção, que eu me sinto
um pouco incomodado, mas ignoro isso e também a risadinha baixa de
Barbie, que está ao meu lado.
Ele nos indica cada parte da casa, que teve a maioria dos móveis
retirados na parte de baixo para comportar a decoração da festa, mas avisa
que no andar de cima tem vários quartos disponíveis, caso alguém queira
usá-los.
— Me sinto um adolescente novamente! — Barbie diz e morde o
ombro da namorada, como se quisesse falar algo para ela. — Se nós
sairmos, não nos procure. — Olívia só ri e o beija rapidamente, pelo visto já
se acostumou com o jeito insuportável do loiro.
Nós decidimos ficar na parte de trás da casa, onde tem a piscina e o
som está bem alto. Tem um lugar esperando por nós, mas acaba que Noah e
Kath vão dar uma volta, porque ela precisa do momento de falar com os fãs
e outros famosos.
— Dormiu bem? — pergunto baixinho a Emma, assim que ela senta
na cadeira, debaixo da sombra.
— Sim! Na verdade, eu apaguei depois que encerramos a ligação.
— Eu apaguei também! Depois de ficar horas olhando para aquela
foto. — Ela cora, mas continua me olhando. — Inclusive, tem problema se
eu não apagar?
— Ela é sua e eu confio em você, pode guardar.
Sorrio ao ouvir a resposta, porque eu não queria ter que apagar, mas
apagaria na frente dela se fosse o que ela desejasse.
— Todos animados para San Diego? — Barbie pergunta e eu tenho
vontade de chorar, porque já tinha esquecido disso. — Já fiz reserva, já
resolvi absolutamente tudo, inclusive as fantasias que vocês falaram. Vai ser
demais!
Eu até queria me empolgar com a empolgação dele, mas é
impossível. Por mais que muita coisa lá na convenção me agrade, eu
preferiria ir de Jacob mesmo, sem fantasia.
— Você vai como, Emma? — Olívia pergunta, curiosa.
— Vou de Feiticeira Escarlate!
— Ai meu Deus! Você vai ficar perfeita, e espero que consiga a
roupa original. — As meninas começam a conversar e eu olho para Barbie
com o máximo de demonstração de ódio.
O boneco com vida achou legal mesmo sugerir que Emma fosse
com uma roupa totalmente colada no corpo, evidenciando cada uma de suas
curvas. E ele sabe que estou querendo matá-lo e ainda me manda um beijo.
Idiota.
E faz todo sentido ele querer que eu fosse de Visão, mas não queria
ter que me pintar então topei ser o Dr. Estranho! Era isso ou coisa pior,
então uma capa e uma roupa estranha não será tão difícil de usar.
Laura e Bryan chegam juntos, o que é uma surpresa. Não deles
estarem juntos, mas dela vir. As coisas entre ela e o amigo do Christopher
não ficaram muito boas, mas Laura realmente é igual ao irmão e não se
incomoda com essas coisas.
A chegada dela anima as meninas, que vão até o bar e levam Kath
com ela quando se esbarram no meio do caminho
— Você e Emma ainda estão de rolo? — B me pergunta e eu fico
sem saber o que responder. — Só pra avisar que tem um tanto de gente
interessada na ruiva.
— Ela falou bem alto quando chegamos que eles não estão juntos —
Barbie fala e cai na risada. — Foi mal irmão, mas a sua cara foi impagável.
— Nós não estamos juntos! — reafirmo o que ela falou ainda há
pouco. — Somos amigos, vocês que veem coisas demais!
B me olha com um sorriso de lado, como se soubesse exatamente o
que estou falando.
— Que bom, cara! Porque daí você não precisa se preocupar com
aquele cara que conseguiu a atenção dela ali no bar.
É claro que eu como um idiota olho na hora, e realmente a vejo
sorrindo para um homem que não parece ter mais de 25 anos. Eu até tento
desviar o olhar deles, mas quanto mais eu tento, mais fixo o olhar.
— O cara é bonitão! — Barbie diz e sei que quer me irritar, mesmo
que o cara realmente seja bonito, sei que meu amigo fala para encher a
minha paciência, e ele vai conseguir. — Ficaram bonitos juntos! O que você
acha, Jacob?
— Eu acho que você deveria tomar no cu. — Os outros meninos
quase uivam de tanto rir quando escutam a minha resposta, e o safado do
Barbie também ri alto, chamando atenção de muitas pessoas para nós,
inclusive de Emma, que me flagra encarando-a. — Você é um saco , Barbie.
— Sobrevivi para ver Jacob com ciúmes — Noah comenta e eu não
acredito que até ele está com essas ideias agora.
São um bando de idiotas, só porque estão apaixonados querem ver
coisas onde não tem. Que saco!
Eu continuo olhando para ela, e me sinto mais tranquilo quando o
cara coloca a mão em cima dela e ela com gentileza afasta a sua, deixando
claro naquele momento que nada aconteceria. O cara parece ficar de boa
com isso, e continuam conversando por um tempo até que as meninas
voltam para onde estamos.
– Amor, perdeu uma cena incrível aqui.
Eu olho para Barbie deixando claro que se ele falar algo, irei afogá-
lo na piscina sem nem pensar duas vezes.
— O que, amor?
— Acabamos de ver a Jô beijando o namorado dela, foi fofo. —
Olívia faz um som tipo “own” e Kath sorri, feliz pela mãe. — Eles são um
casal lindo!
Sério, Barbie é um cretino! E deve ter algum fetiche relacionado a
me perturbar.
Sinto uma mão em minha coxa e olho rápido, vendo a mão delicada
de Emma em cima da minha perna e a encaro.
— Tudo bem? Parece estar mais irritado do que o normal.
Essa mão deve ser capaz de fazer tanta coisa gostosa! É uma pena
não ter como descobrir isso.
— Tudo! — digo e ela me olha daquele jeitinho que mexe com todo
o meu corpo, e tá difícil ficar do lado dela sem poder fazer nada, por isso
me levanto e digo que vou pegar algo para comer, mas na verdade, eu subo
e procuro algum quarto sozinho para conseguir respirar um pouco.
O quarto que eu entro é enorme, tem uma cama que cabe umas
quatro pessoas e varandinha. Eu fico de pé olhando para o jardim, até que
escuto a porta abrir e me viro já sabendo que é Emma.
12

— O que houve com o Jacob? — pergunto assim que ele se afasta,


porque sei que não foi pegar comida.
— Ele se irritou com algo que o Barbie falou, mas não se preocupe
porque isso é normal.
Realmente o Barbie tem o dom de tirar o Jacob do sério, mas eles
vivem nesse relacionamento de cão e gato desde que se conheceram.
Mas, não custa eu ir ver se realmente é só isso, né?
Então me levanto e digo que vou ao banheiro, mas ninguém
acredita. Não que eu tenha me esforçado para esconder que estou indo até
ele, mas quem se importa? Todos já sabem que ficamos algumas vezes
mesmo.
E eu poderia tentar me enganar e falar que estou indo lá apenas para
saber se está tudo bem. A verdade é que quero ficar sozinha com ele,
pessoalmente.
Vejo que ele subiu e entrou na última porta do corredor repleto de
portas, e o sigo até dentro do cômodo, que descubro ser um quarto lindo,
que daria para acomodar uma família grande.
— Quer companhia? — pergunto com medo de ouvir um não, mas
ele me olha de cima a baixo, bem devagar e faz que sim com a cabeça. —
Barbie te irritou, né?
Ele senta em uma poltrona reclinável perto da cama, e eu acabo
sentado na beira do colchão, perto dele.
— Sim, mas isso já é normal. Eu só precisava respirar um pouco! E
também não queria te deixar desconfortável.
— Como assim?
— Com o cara que você estava conversando… não queria que
ficasse desconfortável de conversar com outro homem porque eu estou por
perto.
Cruzo as pernas e puxo a saia um pouco para baixo quando ela
embola e sobe para o meio das minhas coxas.
— Ah, entendi. Mas, por qual motivo eu ficaria com outra pessoa,
se quem eu quero é você, Jacob?
Daqui eu consigo ver suas pupilas dilatarem e em um movimento
rápido ele me puxa para o seu colo, me sentando de lado.
Uma de suas mãos repousa no final da minha coluna, ficando bem
perto da minha bunda, enquanto a outra alisa uma das minhas coxas.
— Bom saber disso, amore. Você me deixou louco ontem, e temos
um plano para pôr em prática. — Ele deposita alguns beijos suaves em meu
ombro, braço e pescoço, me fazendo arrepiar e fechar os olhos. — Você se
importa de passar a festa aqui comigo?
Eu resmungo um não, e escuto a sua respiração pesar antes dos seus
beijos subirem do pescoço até minha orelha, e sua respiração ali me fazer
arrepiar ainda mais.
— O q-que você pretende fazer, Jacob? — Fecho os olhos quando
ele joga o meu cabelo todo para o outro lado e sobe a mão pelas minhas
costas, em um toque bem suave.
— Além de te beijar? — pergunta, enquanto me vira um pouco mais
de frente para ele, e nesse momento me arrependo de ter vindo com essa
saia que me dá pouquíssima mobilidade. — Vou te dar o que pensar mais
tarde quando estiver sozinha no seu quarto e lembrar como ficou excitada,
enquanto ficamos em um quarto aleatório. — A mão que repousa em minha
coxa parece esquentar enquanto ele fala, mas aí eu percebo que na verdade
todo o meu corpo aumenta de temperatura.
A voz desse homem é um pecado, e acho que só de ouvi-la seria
capaz de me fazer descobrir muitas coisas.
— E você vai me ligar mais tarde? — pergunto baixinho, com
receio de uma resposta negativa.
Jacob dessa vez coloca a mão por dentro do casaco que estou
usando, e me puxa até que eu cole a lateral do meu corpo em seu peito.
— Você quer que eu te ligue? — Eu faço que sim e mordo meu
lábio inferior. Seu polegar passa bem onde mordi, e parece que nenhum de
nós dois se preocupa com o batom. — Amore, você quer me ouvir enquanto
se masturba ou eu entendi errado?
Por que é tão mais fácil respondê-lo quando não está em carne e
osso na minha frente? Ou melhor, embaixo de mim.
Acho que ele nota que fiquei muito sem jeito, e sorri antes de tomar
a minha boca com vontade. Nossos lábios se chocam e sua língua me
invade, como se estivesse tentando conhecer cada pedacinho da minha boca
e eu deixo, até que decido que é a minha vez de fazer o mesmo e ele aperta
a minha cintura, me incentivando a continuar.
O meu corpo acende fácil perto do corpo do Jacob, e isso já
acontecia antes mesmo de ficarmos. Agora parece que só piora, ainda mais
com a nossa evolução de intimidade.
— Você está tão gostosa nessa roupa! — ele fala quando afastamos
nossos lábios e encara todo o meu corpo antes de voltar a me olhar. — Mas
essa saia vai nos atrapalhar um pouco.
Seus dedos roçam a barra da saia, que já embolou um pouco e subiu,
deixando mais da minha perna exposta.
Eu queria que esses dedos subissem mais, não sei até que ponto,
mas com certeza, ali não é onde eu queria que eles estivessem.
— Acho que escolhi mal! — digo antes dele voltar a me beijar, e
quando menos percebo, já estamos em pé. Seu peito está colado no meu,
enquanto as minhas costas se mantêm na parede.
— Para tudo tem um jeito! — Pisca e sorri de forma maliciosa, e
agora que estou em pé, consigo pressionar uma perna na outra quando a
minha boceta se contrai involuntariamente. — Hmm, isso é um bom sinal.
Dessa vez ele coloca a mão acima do meu joelho, onde a minha bota
termina e vem subindo bem devagar, como uma tortura. Mas, diferente do
que eu acho que ele faria, Jacob continua a subir a mão e isso faz com que a
minha saia suba junto e meu coração acelera muito.
Muito mesmo.
Ele olha fundo em meus olhos, como se quisesse saber até onde ir
comigo e eu não desvio o meu olhar do dele, até mesmo quando solto um
gemido baixo ao sentir a sua mão bem perto da minha virilha, mas parece
que ali é o ponto máximo onde ele vai chegar.
— Nervosa? — pergunta, me dá um selinho, e depois beija meu
maxilar, indo até a orelha e mordiscando a pontinha dela. Pra piorar tudo,
ele sussurra com a boca colada em meu ouvido. — Eu consigo sentir o
quanto você está quente dentro da calcinha, mesmo sem encostar. — A mão
perto da minha virilha aperta a minha coxa, e eu me remexo, querendo que
sem querer esbarre na calcinha, mas ele mantém a mão firme. — Ainda
não, amore. Ninguém deveria tocar em você, antes mesmo de você saber
como quer ser tocada.
— Eu tenho certeza que você saberia o que fazer. — Ele dá uma
risada safada e aperta novamente a minha coxa.
— Ah, não tenha dúvidas disso! — Seus olhos denunciam o quanto
ele me deseja nesse momento, e é delicioso vê-lo assim. — E também não
duvide do quanto eu quero te tocar, Emma. De todos os jeitos possíveis! —
Seu dedo mínimo encosta bem na curvinha da minha virilha e por Deus,
como um toque simples assim, nesse lugar, faz as minhas pernas tremerem?
— Tem certeza que isso é para me ajudar? — pergunto. — Parece
mais uma tortura!
Ele dá uma risadinha e depois recebo mais um beijo, só que dessa
vez mais calmo. Jacob se afasta e sem nenhum pudor aponta para a sua
bermuda, que marca uma ereção grandiosa.
E é estranho eu querer ver? Pois eu quero! Mas quais as chances
dele do nada abaixar a bermuda e me mostrar?
— Se eu não te conhecesse, ia falar que está pensando no meu pau
nesse exato momento. — A ironia no seu tom de voz não me envergonha,
mas eu acabo rindo. — Que safada, amore! Mas eu não estou preparado
para isso, acredite.
Me sento na cama, porque já perdi todas as forças nas pernas.
— Você não está preparado? — Rio. — Por favor, Jacob. Já ouvi
seus amigos falando várias vezes que você é algo parecido com um
ninfomaníaco. Impossível não estar preparado para transar a hora que for.
Ele cruza os braços e me olha como quem quer rir, mas se mantém
sério.
— E aqui está o ponto! Eu estou sempre pronto pra fottere, trepar,
fazer um sexo selvagem e bruto. — Eu estaria no chão nesse momento, caso
ainda estivesse de pé. — E não é disso que você precisa. Não ainda, não
agora e não comigo.
Eu adoro que o Jacob é muito direto e sincero, mas não consigo
entendê-lo muito bem. Não é como se eu estivesse pedindo para ele fazer
algo, mas também não esquentaria de fazer vários “algos” com ele.
Sei que ele se preocupa comigo, e como toda a nossa relação pode
vir a atrapalhar toda a dinâmica ao nosso redor, mas, não sei se me sinto
mal por saber que provavelmente nunca passaremos de uns amassos ou se
agradeço por ele reconhecer seus próprios limites e saber que eu não
suportaria.
— Você fica muito sexy falando em italiano. — Decido aproveitar o
momento em que estamos à vontade e não entrar no papo chato sobre
nossas diferenças, e ele parece gostar do que ouve, já que senta na cama e
me puxa para ficar no meio das pernas dele. — Deveria falar mais.
— Ti parlo, amore! Quanto vuoi sentire — sussurra bem perto do
meu ouvido, e sério, é uma delícia. Não consigo explicar. — Você ainda
entende tudo?
— Consigo! Ma non parlo molto. — Ganho um selinho assim que
termino de falar, e só consigo focar na ideia de o quanto Jacob é carinhoso,
mas se esforça para não ser. Eu entendo que provavelmente ser carinhoso
com as pessoas que ele se envolve pode confundir a cabeça delas, mas o
pouco que ele é comigo, é incrível.
Gostaria de ter mais. E acho que é exatamente por causa disso que
ele não é assim.
— Quer voltar lá para baixo?
— Não podemos ficar aqui?
Ele sorri.
— Era a resposta que eu queria ouvir. E nesse momento, nossos
amigos devem estar imaginando que eu estou acabando com toda a sua
inocência. — Eu rio, porque sei que com certeza estão pensando isso
mesmo.
Jacob fica fazendo carinho em vários pontos do meu corpo enquanto
conversamos, e ele se empolga contando algumas histórias que viveu com
os meninos na faculdade, e isso me faz lembrar do Francesco.
— Você realmente não está chateado comigo? — Ele ergue uma
sobrancelha. — Por causa do Francesco?
— Não! Na verdade, quando eu vi a foto e reconheci a mão dele,
pensei que ficaria. Mas quando conversamos, não senti nada além de alívio
por saber que você estava com ele, e não com um bando de desconhecidos.
E também por ele ter alguém por perto em que pode confiar.
Olho para ele enquanto o escuto, mas Jacob fica olhando para a sua
mão que está em minha coxa.
— Sinto muito pelas coisas entre vocês terem desandado. — Ele me
olha quando falo. — E também por seu pai ser quem é! Vocês dois foram
muito corajosos em se desvincular. E por mais que o Francesco não tenha se
preparado financeiramente para ir embora, ele parece estar se virando bem.
Jacob concorda e suspira.
— Espero conseguir me resolver com ele, e ajudá-lo no que precisar.
— Você é uma pessoa incrível, Jacob. Mesmo com esse muro
gigante que você criou ao seu redor, seu coração ainda é bondoso, mesmo
estando cheio de buraquinhos.
— Meu coração está arruinado, amore. A única coisa que o mantém
batendo, é ter vocês comigo, que são a minha família.
Isso conseguiu ser triste e lindo na mesma proporção. E eu consigo
ver o quanto Jacob realmente é um homem que vive diariamente o luto e os
traumas do passado.
Eu daria metade do meu coração a ele se isso o fizesse sofrer menos.
13

Ir para casa e dormir depois da tarde que eu passei com Emma foi
uma missão quase impossível. Eu fiquei com seu cheiro em meu corpo, e
talvez tenha enrolado para tomar um banho porque o cheiro é bom demais,
mas um banho foi preciso para conseguir aquietar o meu corpo.
Deu certo? Claro que não! Ficar igual um adolescente no auge da
puberdade está sendo um inferno, mas se antes eu não conseguia me
envolver com outra pessoa, agora eu não quero. É meio doentio, já que eu
sei que as coisas com Emma não chegarão a esse ponto.
Não podem chegar a esse ponto. Eu não me perdoaria se me
envolvesse com Emma desse jeito, eu nem mesmo deveria estar ficando
com ela.
Eu não tenho nada de bom em mim para oferecer a ruivinha tão cheia
de vida e felicidade. É injusto com ela, é errado em mil formas diferentes
mas ainda assim, mesmo com isso tudo, eu a quero.
— Jacob? — Owen me tira da minha bolha, e eu volto a olhar para a
tela do notebook, onde ele sorri, sempre muito simpático.
— Oi, desculpe. Me distrai com umas coisas aqui!
— Hmm, mulheres, né?
— Pior … uma mulher só! — Eu vou para o inferno sem sombra de
dúvida. — Mas não é nada demais.
— Vou acreditar nisso, mesmo sabendo que é mentira. — Ri, e eu me
sinto um saco de lixo ambulante. — Então podemos fechar com esse
estabelecimento mesmo? Você tem certeza que não é demais, filho?
Helena e Owen se apaixonaram por um dos lugares que eu tinha
indicado a eles, e eu fiquei feliz quando recebi a mensagem deles que falava
isso. O lugar é lindo, e ainda é de frente para a praia. Mais brasileiro que
isso, impossível. Mas é algo totalmente diferente do que eles faziam, então
eu entendo a preocupação deles.
— Owen, vocês são os melhores no que fazem. Já tem anos desde que
vocês trabalhavam para os meus pais e eu ainda consigo lembrar
perfeitamente de como era gostosa a comida que sua esposa fazia, e se você
aprendeu com ela, certeza que deve ser muito bom também.
Ele passa a mão nos cabelos grisalhos, com um sorriso enorme no
rosto. E isso só confirma que estou fazendo a coisa certa.
— Tudo bem! Podemos então deixar que você tome conta da parte
burocrática?
Eu pego os documentos que imprimi mais cedo, e mostro rapidamente
para ele.
— O proprietário de lá estava um tanto quanto ansioso para alugar o
lugar, então ontem mesmo entrou em contato comigo e tudo já está certo.
Na segunda te mando por e-mail todas as informações, também já abri a
conta para o restaurante e lá tem o dinheiro para a reforma. — Ele me olha
chocado, e nem se preocupa em esconder a lágrima que escorre do canto de
um dos seus olhos. — E por favor, Owen, o que precisar, a qualquer hora e
qualquer dia, fale comigo. Tá bom?
— Filho, nós seremos eternamente gratos a você por tudo. Eu sabia,
há anos atrás quando te conheci, que você era uma pessoa decente. E
independente de tudo, sempre o amamos como um filho.
— Não me faça chorar! — brinco e ele ri depois de fungar o nariz. —
Vocês merecem muito mais, e no que depender de mim, o restaurante será
um sucesso. Irei fazer pessoas daqui viajarem para o Rio de Janeiro só para
conhecê-los.
A conversa se estende por mais alguns minutos, e infelizmente não
consegui falar com a Helena porque ela está na casa da irmã.
Falar com eles é sempre incrível, e eu consigo me sentir confortável,
como eu me sinto com pouquíssimas pessoas. Mesmo que eu esteja sendo
um cretino, me envolvendo com a filha deles.
Desligo o notebook e levanto da cadeira, dando uma olhada no meu
escritório que também é a minha biblioteca.
Eu sou apaixonado por livros desde que era criança, e era a única
coisa que eu tinha liberdade de fazer sem a intromissão do meu pai, porque
para ele nunca era demais eu ler, mesmo que não soubesse quais livros
eram.
E desde então, eu tenho esse vício. Quando me mudei para essa casa,
eu praticamente coloquei a baixo e mandei fazer outra, do jeito que eu
gosto. A biblioteca é enorme e tem uma parede só de vidro, que pega a vista
do quintal.
As prateleiras vão do chão ao teto, e devo ter mais de mil livros.
Nunca me importei em gastar com isso, e gosto de comprar todas as edições
que lançam. Só de Harry Potter eu tenho umas cinco edições diferentes, e se
eu ver outras por aí, irei comprar.
O último livro que eu terminei foi Crescent City 2, e agora estou lendo
uma indicação da Emma. A ruiva adora ler livros com cenas quentíssimas, e
as autoras brasileiras tem uma excelência nessa questão, é impossível não
ler as cenas e não ficar excitado. E o pior é que eu fico imaginando a
Emma.
Esfrego meu rosto e passo pela prateleira dos livros novos, vendo se
tem algum ali que me interesse o suficiente para passar o dia comigo até dar
a hora dos meninos chegarem para jogar videogame, mas quando eu acho
um, o meu telefone toca.
— Oi, irmão, tudo bem? — respondo depois de atender a ligação do
Noah.
— A Milla está passando mal, voltamos do hospital ainda há pouco.
Podemos remarcar para outro dia?
— Quer que eu vá aí?
— Porra, quero! Esperava que você se oferecesse, e a Milla agora
que descobriu que você é italiano, adora ouvir suas histórias. — Ele
respira fundo e acho que se afasta de alguém para continuar. — Kath está
tentando se manter bem na frente dela, mas acho que precisa de um tempo.
A Milla passou mal com ela, e agora Kath está se culpando.
A Milla tem asma, e vive tendo falta de ar. Normalmente é fácil de
resolver só com a bombinha ou acalmando-a, mas em outros momentos é
horrível. Eu já presenciei uma vez, e foi de apertar o coração.
— Estou indo! Quer que eu leve algo?
— Se não for abusar muito, pode buscar a Emma? Meus pais ficaram
com a gente no hospital, você sabe que desde aquela vez da operação, todo
mundo fica muito assustado, mas eu os liberei. E eu avisei no grupo,
enfim… Emma é boa em trazer alegria, e sei que Kath vai precisar depois
de chorar escondido.
Noah é o famoso homão dos sonhos, e eu sei, só de ouvir sua voz, que
ele está arrasado, mas o seu foco é em manter sua esposa e filha bem, e só
depois irá pensar nele.
— Faço o que você precisar, relaxa. Daqui a pouco estou aí!
Saio da biblioteca e só passo no meu quarto para pegar uma camisa, e
o casaco de moletom que faz par com a minha calça. Não saio de casa
assim, mas hoje eu realmente não me importo com isso.
Mayke e Arya vêm em minha direção quando eu saio de casa, e faço
um carinho bem rápido antes de pegar a chave da minha Harley e sair em
direção à casa de Emma.
O caminho é bem rápido e quando eu chego lá, ela já está esperando
por mim e vejo que engole em seco quando percebe que terá de subir na
minha moto mais uma vez.
— O que eu não faço por Kath e Milla! — fala sozinha e eu seguro o
riso, abaixo o apoio da moto para dar a ela o seu capacete e espero para ver
se vai conseguir colocar. — Está certo? — pergunta.
— Quase! — Eu prendo um pouco mais, para ficar bem firme e pisco.
— Pronto, vamos?
Ela faz que sim e sobe, já me abraçando apertado e eu deixo escapar
uma risadinha antes de seguirmos até a casa de Noah.
Infelizmente dessa vez, eu não pude ir tão devagar para aproveitar, já
que nossos amigos precisam de nós. E isso fez com que Emma me apertasse
com tanta força, que jurei que ficaria sem ar.
O porteiro já tem a nossa identificação e nos libera, eu estaciono a
moto na frente da garagem da casa de Noah, e Emma já sai em um pulo.
— Ufa, sobrevivi mais uma vez. — Eu desligo e saio também,
pegando os dois capacetes e indo com ela até Noah, que abre a porta na
hora que nos aproximamos. — Oi, Noah, você está bem? — Emma coloca a
mão no braço dele e meu amigo faz que sim com um sorriso forçado.
— Kath está no nosso quarto, pode ir para lá. — A ruiva nem pensa
duas vezes e sobe correndo, e nós dois entramos também.
Meu amigo se mantém calado por um tempo, e eu não falo nada
enquanto coloco os capacetes e a minha chave perto da porta.
— Milla está ansiosa para te ver, vamos? — Eu faço que sim, e nós
subimos, mas antes de entrar, ele vira para mim. — Valeu, Jacob! Eu sei
que teremos que nos acostumar com isso, porque asma não tem cura, mas é
assustador vê-la tendo a crise, e ainda me sinto como se não fosse o
suficiente para ajudá-la, sabe?
— Noah, vocês vão aprender a lidar melhor a cada vez que acontecer.
Infelizmente, só vivendo essas crises para descobrir a melhor maneira de
lidar com ela. — Ele suspira, com os ombros arriados, claramente abatido.
— E tem muita gente para ajudá-los nisso, inclusive uma futura médica.
Nós entramos no quarto da Milla depois que ele respira fundo
algumas vezes, e eu consigo entender o desespero dele. Milla é uma
menininha sorridente, e muito alegre. O que vejo na cama é bem diferente,
além dos olhos inchados de chorar, ela está encolhida na cama com o urso
enorme que Barbie deu a ela.
— Oi, princesa! — Sento na beira da cama, enquanto Noah fica
encostado no batente da porta. — Fiquei sabendo que você está precisando
de uma dose grandona das minhas histórias, isso é verdade?
— Oi, titio! — Ela dá um sorrisinho, e larga o urso para me abraçar e
eu a aperto em meus braços. — Eu preciso de muitas histórias, e que nelas
tenha o lugar que cresce as uvas.
Depois que eu mostrei para ela as fotos do vinhedo, e expliquei o que
acontece lá, ela se apaixonou e disse que queria ganhar um de presente.
— Certo, eu tenho uma história que você vai amar.
Ela, nesse momento, se ajeita na cama, pedindo para que eu a cubra e
assim faço. Eu escuto quando Noah encosta a porta do quarto e sai, e ali eu
começo a mágica de contar para ela, de uma forma um pouco mais infantil,
uma das histórias que eu sonhei viver lá, mas nunca consegui.
Eu saio do quarto da Milla, quase uma hora depois, com muito
cuidado e deixei apenas um abajur ligado e também a babá eletrônica que
eles sempre usam quando ela adoece.
A porta do quarto de Kath e Noah está meio aberta e eu vejo que eles
acabaram dormindo e fico aliviado em saber que eles irão poder descansar.
Eu fiz a última nebulização na Milla, então eles terão algumas boas horas
de sono.
— Ela está bem? — Emma me pergunta, assim que desço as escadas.
Acho que ela estava cochilando no sofá, porque levanta arrumando o cabelo
e puxando a blusa para tampar a barriga.
Termino de descer e me sento ao lado dela.
— Acho que sim, né. Dentro do que deve ser normal depois de ter
uma crise forte. — Ela esfrega um dos seus olhos com o dedo, e é uma cena
fofinha. — Quer que eu te leve para casa?
— Não, eu vou ficar por aqui. Acho que posso ser útil, mas espero
não precisar ser. — Concordo e me encosto no sofá, tombando a cabeça no
apoio. — Quer ver um filme? Eu sei que não vou conseguir dormir.
— Vamos! — Desencosto do sofá, apenas para tirar o meu casaco, e o
coloco ao meu lado. Emma pega o controle e liga a TV, se ajeitando ao meu
lado, ficando quase deitada.
Nós ficamos olhando a lista de filmes novos em um streaming, e
dentre vários, dentre milhões, ela decide que vamos assistir 365 dias: Hoje.
Eu sei exatamente o contexto do filme porque assisti o primeiro quando
estava em alta e não tinha noção de qual era a história.
— Não diga que tem um crush no Michele!
— Meu amor, crush eu tenho em você! — diz bem sincera, me
olhando. — Por ele, eu tenho um amor platônico, e eu largaria tudo e todos
para termos um caso.
Cruzo os braços e a encaro, tentando entender se ela falou sério ou se
é uma piada, mas ela olha tão vidrada para o filme quando começa, que
com certeza o que falou é sério.
— O enredo é uma merda! Aliás, que enredo, né? — ela fala, me
deixando ainda mais animado. — Eu assisto só pela… interação do casal.
— Suas bochechas ficam coradas, e nesse exato momento, o mafioso
começa a transar com a mulher em cima de uma mesa.
— Pela interação, né? — Rio e ela faz uma caretinha, e aperta uma
perna na outra. — Você está excitada, Emma? Pelo meu antigo vizinho?
Ela pausa o filme e na mesma hora senta de frente para mim, com os
olhos arregalados.
— Me conta essa história direito! — exige.
Por que diabos fui falar isso?
— Bem, eu ganhei de presente da minha mãe um apartando na Sicília
quando fiz 16 anos, e lá era o meu lugar favorito do mundo, ainda é, eu
acho. — Ela tomba a cabeça um pouco para o lado, curiosa. — Ele morava
no mesmo bairro que eu tinha esse apê. Era bem comum vê-lo pela praia ou
até mesmo pelos comércios ou na rua.
Emma fica me olhando chocada, sem acreditar no que eu estou
falando. Olha para a televisão, depois para mim. Abre a boca, mas desiste
de falar algo e fecha.
— Por que italianos tem que ser tão… assim?
— Não sei o que quer dizer com isso. E também não sei se é um
elogio à comparação! Ainda mais que descobri que ele é um forte
concorrente — brinco, e ela dá um sorrisinho de lado, muito charmoso.
— Olha, infelizmente, você vai ter que saber que corre grande risco
mesmo! — Ela coloca os pés para cima e abraça as pernas, e
automaticamente, eu coloco a mão por cima de uma de suas coxas. — Você
já viu o que esse homem faz nos filmes? Não é pra qualquer um!
Eu dou uma risadinha, porque é impossível não achar graça do que ela
fala. O Michele realmente virou um símbolo sexual, e eu vejo direto várias
notícias dele e sei que as mulheres enlouquecem. Mas, achei bem curioso
ela se sentir atraída por um personagem que curte algumas coisas um tanto
quanto não comuns.
14

— Então a minha concorrência é por que ele atua bem? — pergunta,


tentando se manter sério. — Realmente o cara deve ser bom, mas, eu me
garanto muito no que eu faço, amore. — Ele aperta minha coxa, fazendo
algo parecido com uma massagem, e eu engulo em seco. — Estou bem
tranquilo, então.
Eu fico olhando para ele, sem acreditar no que estou ouvindo e o
safado pisca para mim, sem parar com as carícias. Mas a única coisa que eu
consigo pensar, é nas cenas do filme, e o Jacob no lugar do Michele
Morrone.
Dou play, e tento prestar atenção no resto do filme.
— Você curte essas coisas? — pergunto depois de desistir de focar em
qualquer outra coisa, tentando fingir que quero puxar assunto.
— Que coisas? BDSM?
Faço que sim e vejo que o olhar dele muda exatamente na hora,
ficando escuro e ele estala a língua antes de ignorar totalmente a televisão e
virar para mim.
— Curto — diz, me olhando fundo nos olhos. — Curto muito, mas,
tenho minhas limitações dentro do universo gigante que é o BDSM. Tudo
que aparece na maioria dos filmes, não costuma ser nada demais. Na
verdade, é bem básico.
— Básico?
— Sim, amore! Já pesquisou? — digo que não e na mesma hora ele
pega o celular, pesquisa algo e entrega na minha mão. — Esse site é bem
claro sobre tudo, desde as coisas mais básicas às mais pesadas,
dominadores, submissos.
— Posso ler? — Ele faz que sim, e me puxa para recostar no peito
dele e entendo que ele quer ler junto comigo.
Eu vou lendo cada informação que tem ali, e até me surpreendo
quando entendo de primeira para o quê algumas coisas funcionam. Nunca
pensei em pesquisar, e nem tinha curiosidade de saber das coisas até agora,
e quanto mais eu leio, mais fico chocada com as informações.
Tudo parece ser bem esclarecido entre as pessoas envolvidas, o que é
bom, mas é meio louco acreditar que essas coisas dão prazer a elas. Como
alguém gosta de ter os mamilos presos por grampos? Ou colocar tantas
coisas dentro do corpo… ao mesmo tempo?
— Jacob… isso parece ser demais! — Sinto a respiração dele perto da
minha orelha e depois recebo alguns beijinhos no ombro. Isso é tão bom!
— E é… para muitas pessoas isso é demais, e tudo bem. E para
outras, isso é o mínimo, o básico. — Ele continua a dar uns beijos pelo meu
ombro e desce um pouquinho até um dos braços. — Tem pessoas que
tentam descobrir se gostam ou não, e outras já se conhecem o suficiente ou
nem se interessam.
— Entendi! — Devolvo o celular a ele, e ele joga para o lado. — Você
é um dominador ou algo do tipo? — Engulo a minha vergonha porque a
curiosidade está me consumindo, e o Jacob não parece ser o tipo de pessoa
que se importa em responder qualquer coisa.
— Sim e não, amore — responde, e eu me viro um pouco, para poder
vê-lo melhor. — Não sou esses tipos de dominadores que vivem assim, nem
sempre que eu transo é como dominador ou de fato estou no modo BDSM,
se assim posso dizer. Eu não vou dar um contrato para alguém, como o
Christian Grey e muito menos estipular como a pessoa deve viver para que
seja o ideal para mim, mas há quem faça isso e também os demais, como
eu, que só aproveita na hora do sexo e depois continua a vida normalmente.
Eu fico sem saber o que falar, e ele dá um sorrisinho fofo, como se
não estivesse falando de altas putarias. Jacob é uma caixinha de surpresa, e
por mais que ele tenha a cara de um homem que de fato curta essas coisas,
ouvi-lo falar com tanta naturalidade é diferente do que eu imaginei.
— É muita informação para um domingo que acabou de anoitecer.
— Estou à disposição para quando quiser tirar qualquer dúvida…
inclusive sobre sexo!
— Ai meu Deus! Você não deveria falar essas coisas para mim. —
Me levanto rápido, e ele cruza os braços, vendo o que irei fazer e vou até a
cozinha, sabendo que todos os meus passos estão sendo vigiados. Eu pego
um copo, encho de água muito gelada e bebo tudo de uma vez só. — Qu…
— Me viro para perguntar se ele quer, mas quase deixo o copo cair quando
encontro o corpo dele perto demais do meu. — Você quer me matar!
Sua mão que pelo visto gosta de estar próxima, empurra o meu cabelo
para trás da minha orelha e depois o seu polegar esfrega o meu lábio
inferior, mas com delicadeza. Eu mal consigo piscar, e deixo que tire o copo
da minha mão e me encoste na bancada, para logo em seguida colocar seus
dois braços ao meu redor, me prendendo e abaixando para ficar com o rosto
próximo do meu.
— Eu sempre digo para mim, que não vou mais me deixar ser atraído
por você — sussurra, com os lábios extremamente próximos. — Mas é tão
natural te querer, que qualquer dia eu vou enlouquecer. — Ele morde meu
lábio inferior e puxa um pouquinho. — Acho que já estou enlouquecendo!
— Talvez não seja ruim um pouco de loucura de vez em quando! —
Ele aperta a minha cintura e encosta seu corpo no meu, o que me faz
suspirar e sem pensar muito para não acabar perdendo a coragem, eu o
beijo.
Jacob deixa que eu dite o ritmo do beijo, e eu gosto da forma que ele
sempre me deixa muito à vontade, da mesma forma que queria que ele me
pegasse como fez no Brasil, antes de saber que sou virgem.
Talvez eu precise incentivá-lo.
Coloco a minha mão por dentro da sua camisa, e passo a ponta das
minhas unhas por suas costas, e é imediato senti-lo arrepiado.
— Emma… — fala entre o beijo, como um aviso. E eu novamente
desço os dedos pelas suas costas, até chegar próximo da sua bunda. — Não
me atiça, amore. — Eu dou uma risadinha, me sentindo segura do que estou
fazendo e por isso volto a beijá-lo, jogando meu corpo um pouco para a
frente, na intenção de senti-lo. — Cazzo, Emma!
Suas mãos seguram firme em minha cintura e me colocam na beira do
mármore da pia, e sem nem me dar tempo de reagir, ele já se encaixa entre
as minhas pernas, e eu as cruzo ao redor da sua cintura.
A boca de Jacob parece ter se multiplicado, eu a sinto em vários
lugares e jogo a cabeça um pouco para trás, deixando meu pescoço e decote
livre para ele, que desce seus beijos do maxilar até próximo a um dos meus
seios mas não vai além disso, diferente da sua mão que nesse exato
momento aperta a lateral da minha bunda, me forçando contra a sua ereção.
— Jacob… — acabo gemendo baixinho, mas um barulho de porta
batendo no andar de cima nos tira totalmente dessa bolha de tesão e ele dá
um pulo para trás, me deixando totalmente desnorteada ali no balcão.
Mas ninguém desce, e nós ficamos nos encarando, com as respirações
oscilando por algum tempo. O olhar de Jacob sobre mim, sobre meu corpo,
parece me queimar.
— Se nós vamos dormir aqui, acho melhor pegar logo as coisas para
eu deitar no sofá e o quarto fica para você!
Jacob é inacreditável. Há pouquíssimo tempo parecia que iríamos
entrar um no outro, mas ele dormir no mesmo quarto, que além de uma
cama tem um sofá que também vira cama, não é algo que ele veja como
possível.
— Vou dormir no quarto da Milla, pode ficar no outro — digo e desço
do balcão, arrumando a minha roupa e indo até a sala para desligar a TV,
antes de subir em silêncio, sem saber o que falar depois disso.
— Você ficou chateada? — Ele segura meu braço com as pontas dos
dedos, só para conseguir me parar e eu viro, encontrando seus olhos
preocupados enquanto me encaram. — Eu não quis ser grosseiro, só acho
q…
— Não estou chateada com você! Só queria… mais! É tão errado
assim?
Ele olha para o meu corpo e foca seu olhar em meus seios, depois
desce até a barriga e aperta os olhos com força antes de olhar mais para
baixo.
— Eu posso te dar mais, amore. — Ele olha ao redor, para ver se tem
alguém bisbilhotando e depois segura meu queixo e me dá um selinho
gostoso. — Essa semana, eu tenho uma ideia… estou te devendo uma
chamada por vídeo! Podemos resolver algumas coisas por lá.
O torturador de virgens, que tem uma bateria tocando no meio das
pernas, me dá mais um selinho e depois sussurra um boa noite. Eu fico
olhando ele entrar no quarto, e depois fechar a porta.
Boa noite? Impossível! Primeiro que está ridiculamente cedo para
dormir, e segundo que ele está muito perto, e ainda assim parece longe
demais.
O que eu estou fazendo da minha vida?
15

Minha cabeça parece que vai explodir a qualquer momento, e eu só


queria ir para casa e dormir. Só que a prova que acabei de fazer foi a
primeira de duas e devo ficar na faculdade para estudar mais um pouco.
Ontem a Milla acordou passando um pouco mal, e isso me fez ficar
boa parte da noite acordada. E teve o Jacob, que estava no quarto em frente
ao da Milla, e eu conseguia sentir toda a vibração dele.
Jacob é uma mistura de tudo que eu, e acho que qualquer outra
mulher se interessaria. Ele é lindo, inexplicavelmente lindo, tem esse jeito
fechado mas basta conhecer um pouco para saber que ele é uma pessoa
maravilhosa, e o seu coração, mesmo que muito machucado, é um dos mais
lindos que eu conheço. Não duvidaria nada se alguém me contasse que ele
já tirou a roupa do corpo para dar a alguém que precisasse mais do que ele.
E o cuidado que ele tem comigo é incrível. Eu queria mais, queria
muito mais mesmo, mas confio nele e ele se conhece melhor do que
ninguém, pelo menos na questão sexual.
Mas como eu faço para me conter com o pouco que ele me dá? Está
sendo a merda de um desafio, e só vai piorando a cada vez que ficamos e
isso está se tornando algo rotineiro.
— Carinha de quem está pensando no crush! — Francesco sussurra
em meu ouvido, e se eu já não estivesse sentada no chão, embaixo de uma
árvore, provavelmente eu teria derrubado as minhas coisas. — Oi, linda! —
Recebo um beijo na bochecha e depois ele senta ao meu lado.
Francesco é muito cheiroso, e está sempre muito bem arrumado e com
a barba cheia sempre perfeita. É realmente uma versão 10 anos mais jovem
do Jacob. Os pais deles sabem fazer filhos bonitos.
— Oi, Fran! — Sorrio para ele, que bisbilhota o meu livro mas depois
perde o interesse quando não acha nada que o agrade. — Ansioso para
quinta? 20 aninhos, com carinho de 30.
— Isso para mim não é ofensa! Não posso fazer nada se esses caras da
nossa idade parecem uns bebês recém-nascidos. — Eu rio, e ele ergue as
duas sobrancelhas ao mesmo tempo. — E sim, estou nervoso. Não pela
comemoração, porque sei que não será nada diferente de ir a um bar
qualquer outro dia, mas a verdade é que não estou pronto para conversar
com o Jacob.
Eu o entendo. Jacob tem cara de quem pode te matar a qualquer
momento, sabe? E acho que por ser italiano ele tem uma vibe meio máfia,
igual essas de livros que a gente se apaixona pelo mafioso e ignora que ele
mata várias pessoas.
— Vai dar tudo certo, tenha fé. — Ele suspira, e tira uma folha que eu
nem sabia que estava em meu cabelo. — E depois eu estarei lá, seus amigos
também, e não tenho dúvidas que irá amar todos os amigos do Jacob. Eles
estão ansiosos demais para te conhecer.
— Jacob falou de mim para eles? — A surpresa dança em seu olhar, e
eu faço que sim. — Eles devem pensar então que eu sou um babaca por tê-
lo tratado daquele jeito.
Francesco começa a me explicar tudo que aconteceu entre os dois, e
como o pai deles se intrometeu e atrapalhou tudo, para variar. Eu fico
chocada em ouvir. Mesmo sabendo que o Enrico é um saco de merda
ambulante, ainda é inacreditável o que ele fez com os filhos.
Mas, depois do que eu vi, anos atrás, não sei como me surpreendo.
— Jacob é uma pessoa muito boa, Fran. Ele te ama, e ama a sua mãe,
não tenho dúvidas que faria tudo por vocês dois. — Eu não consigo
esconder um sorrisinho ao falar dele, e é claro que o italiano na minha
frente percebe.
— Emma, o que eu não estou sabendo? — pergunta, enquanto se
ajeita para ficar de frente para mim, tentando ler algo nas entrelinhas. —
Você e meu… — Ele levanta em êxtase, colocando a mão na boca e me
olhando com cara de quem quer rir. — Não acredito nisso! Você e o Jacob
estão juntos? — o escandaloso quase grita e eu preciso levantar para tapar
sua boca enorme.
— Como você tirou essa conclusão? Eu não falei nada. — Ele coloca
uma mão na cintura, e eu rio da cena. Parece uma mãe querendo que o filho
conte a verdade. — Ok, bem… mas não é o que você está pensando, não
desse jeito. Eu e o seu irmão ficamos às vezes, e é só isso.
Pego a minha mochila do chão, o livro que estava lendo e seguro
ambos.
— Vocês são tipo amigos coloridos? — Ele pega meu celular, que eu
não tinha reparado que ficou no gramado, e o fofoqueiro olha quando vibra.
— Hmm, cheia de pretendentes, hein? Essa carinha de tímida, toda meiga…
— Cala a boca, garoto! — O empurro e ele ri. Eu pego o celular da
mão dele, e vejo que o Luke me mandou mensagem, perguntando se está
tudo bem, pois eu não respondi as mensagens de ontem. — Luke é o meu
professor, aliás, meu antigo professor. Ele vai embora, acho que daqui a
uma semana, inclusive.
Abro as mensagens, e mostro ao fofoqueiro. Aproveito e respondo,
falando que fiquei ocupada por causa das provas, e na mesma hora ele me
deseja boa sorte e diz que ainda está querendo saber se irei sair com ele no
sábado ou não.
— Ok, então você e o Jacob não é sério?
— Jacob tendo algo sério? — Rio. — Você realmente não conhece
mais o seu irmão. O único relacionamento sério que ele tem é com o
trabalho! Ah, com os cachorros também.
Nós andamos até o prédio de medicina, e paramos na escadaria que dá
para a entrada.
— Se você está ficando com meu irmão e mais outra pessoa, melhor
não me falar. Eu não posso tentar me entender com ele sabendo que a garota
dele está ficando com outro. — Ele tenta se manter sério, mas eu sei que é
brincadeira. — Certo, só se cuida, usa camisinha e não confunda os nomes.
— Meu Deus! Não quero mais ser sua amiga — brinco e ele olha para
trás quando escuta seus amigos o chamando, e eu dou tchau para eles. —
Vai lá, nos vemos quinta?
— Se tudo der certo e eu ainda estiver vivo depois da conversa, nos
vemos quinta! — Ele sopra um beijo e sai correndo até os amigos, e eu
sorrio. Estou tão ansiosa quanto eles para esse encontro, e quero muito que
tudo dê certo.
Já é a vigésima roupa que eu coloco, depois tiro e não fico satisfeita.
Nunca foi tão difícil escolher uma roupa para ir em um bar, para ir na Lótus.
Deito na cama, me sentindo uma adolescente de filme que sofre por
não ter a roupa certa para sair.
— Levanta! — Escuto Olívia e me apoio no cotovelo apenas para
erguer um pouco do meu corpo. — A Jô pediu socorro por você, ela disse
que está há mais de uma hora vestindo e tirando roupa. Eu trouxe pra você
um vestido que eu acho que vai amar, e provavelmente, matar do coração
metade dos homens que estarão lá hoje.
Levanto animada, e ela tira de uma sacola grande um vestido preto
com umas pedras vermelhas. Ele tem um decote generoso e a gola parece
uma gargantilha! É lindíssimo e muito, muito sexy.
— Isso não é demais? — pergunto.
— Nunca é demais ficar linda, e sexy. — Ela encosta a porta, e faz
sinal para que eu tire a minha roupa para me ajudar. — E hoje será um dia
de comemoração ou todos iremos para a delegacia, depois de um homicídio.
Precisamos de um look que se encaixe para ambos.
Se antes eu achava que ninguém poderia entender melhor de moda do
que Kath é porque eu não conhecia a Olívia ainda. A loira está sempre
sensacional, até mesmo em casa, de pijama.
Barbie é mesmo um sortudo.
Eu tiro a roupa que estava, ficando apenas de calcinha. E isso é uma
novidade, porque eu morria de vergonha de ficar com pouca roupa na frente
delas, mas depois de tanto vê-las até mesmo nuas, como se não fosse nada,
agora não ligo mais.
— Adorei a calcinha! — Olívia diz, e já me dá o vestido, me ajudando
a subir e depois fechando o zíper que fica nas costas e o botão que deixa a
gola estilo gargantilha bem apertadinho. — Agora puxe esses peitos, passe
um batom vermelho e vamos mostrar ao mundo como somos maravilhosas,
e únicas.
Eu gargalho, e vou pegar a maleta de maquiagem para dar uma
caprichada a mais.
Olívia diz que vai ter que passar em casa, e por isso não vai me
esperar. Eu aproveito esses momentos, antes de sair, para conferir mais uma
vez se tudo está bem, e para ser bem sincera, eu estou me sentindo ótima.
Pego meu celular e tiro uma selfie, já postando nos stories, mas
aproveito para tirar uma foto de corpo inteiro no banheiro, mostrando até os
sapatos e deixo guardada para postar depois.
Meu celular vibra e vejo que o Instagram dos cachorros do Jacob
acabou de reagir ao meu storie com foguinho, e é claro que eu vou lá e
mando alguns emoticons dando beijinhos.
Não sei se Jacob estar no celular é um bom motivo, mas pelo menos,
ele não está preso, o que significa que não cometeu nenhum crime.
Antes de sair, passo um pouco mais de perfume e coloco o batom em
minha bolsa, caso precise retocar. O motorista me avisa que já está me
esperando lá fora, e eu desço o mais rápido que consigo e entro no carro.
Hoje é um dia que a Lótus fica cheia, mesmo sem ser final de semana,
e a área vip está toda reservada para o aniversário do Francesco, que parece
ter feito bastante amizade nesse meio-tempo aqui. Mas, eu só consigo
imaginar se tudo deu certo entre os dois, porque senão, não terá nenhum
clima de nenhuma das partes.
Saio do carro, que me deixa na entrada, que dá acesso direto para a
área vip, e assim que entro na Lótus, já enxergo quase todos os meus
amigos mais distantes, bebendo e rindo. Tento procurar o Jacob ou o
Francesco, mas é difícil de onde estou e continuo andando.
Quando chego perto da pequena escada, avisto os dois, que na mesma
hora olham para mim, mas é o olhar de Jacob que me deixa sem ar e eu me
seguro no corrimão, dando um sorrisinho antes de finalmente ir até eles.
— Parabéns, Fran. — Abraço apertado o meu amigo, que me tira do
chão enquanto me envolve com força e eu rio. — Eu não sabia muito bem
o que te dar, então espero que goste. — Entrego para ele uma caixinha
pequena, que tem uma pulseira masculina com um pingente com a bandeira
da Itália, um avião e a bandeira dos Estados Unidos.
Ele abre, fica olhando por alguns segundos e depois me abraça com
força novamente.
— Obrigado, Em. Isso significa muito para mim! — Recebo um beijo
no rosto e faço um carinho em seu braço antes de ajudá-lo a colocar a
pulseira, que logo em seguida sai animado para mostrar aos seus amigos.
Eu penso em falar com todo mundo antes do Jacob, mas é impossível
com ele bem perto, me encarando como se não tivesse mais ninguém aqui.
— Boa noite, Jacob! — Me aproximo, segurando a minha bolsinha de
mão na frente do corpo, e eu sinto meu coração bater muito errado quando
ele abre um sorriso enorme, depois de me olhar de baixo para cima mais
uma vez.
16

Eu já estou há quase 30 minutos no estacionamento da Lótus,


esperando dar a hora que marquei com o Francesco. Não quero chegar antes
para não parecer ansioso, mas é exatamente assim que me sinto, tanto que
cheguei super cedo e agora estou aqui.
Desisto de ficar igual a um maníaco dentro do carro e saio com a
bolsa da loja que comprei um presente para ele. Não sabia o que comprar, já
que não tenho a mínima noção do que ele gosta, mas não queria chegar lá
de mãos vazias.
A Lótus já está funcionando há algumas horas, e já tem bastante gente
sentada, conversando e bebendo. A maioria das pessoas parecem felizes por
estarem ali, e eu queria estar pelo menos ciente do que me espera, mas tudo
é uma incógnita.
Não é difícil achar meu irmão na área vip. Francesco é alto como eu, e
pelo que posso ver deve ter alguns quilos a mais de músculos, o que é
surpreendente, já que quando novo odiava fazer qualquer esporte, até
mesmo para brincar e agora é notável que deve viver dentro de uma
academia.
— Fratello — digo quando chego na frente dele, que não tinha notado
a minha presença, mas levanta na hora quando me vê, e fica por alguns
segundos me encarando, sem saber o que fazer. — Buon cumpleanno!
Vou um pouco para a frente, sem saber como agir, e também me
mantenho em silêncio, sentindo meus ossos ficarem ainda mais rígidos pela
tensão. Mas eu sou surpreendido quando seu corpo se choca no meu em um
abraço desengonçado e apertado, que diz muito mais que muitas palavras
poderiam falar.
Eu retribuo, apertando-o ainda mais e preciso me controlar para não
chorar, e a gente fica algum tempo assim, tentando nesse abraço, matar a
saudade de anos de distância.
— Desculpa, por tudo, Jacob — é a primeira coisa que ele fala,
assim que nos afastamos. — Eu fui um idiota, e um péssimo fratello em não
ter acreditado em você. O Enrico conseguiu fazer a minha cabeça por tempo
demais, e eu… — Ele baixa o olhar, envergonhado, e eu coloco a mão em
seu ombro, chamando a sua atenção
— Você é o meu fratello mais novo, eu quem errei com você. Era eu
quem tinha que ter te salvado daquele homem infeliz, eu quem estou no
erro. Você era uma criança, Francesco. Não tinha como saber o que te
esperava. — Suspiro, olhando meu fratello enquanto sinto meu coração
pesar de tanta culpa. — Eu sabia, e mesmo assim eu vim embora…
perdonami!
Ele me abraça novamente, e depois nos sentamos de frente um para
outro na mesa alta que tem perto dos sofás.
— Essa conversa com certeza se iniciou de um jeito que eu não
imaginava que começaria — ele diz, e dá um sorriso sincero, que enche
meu peito de amor e eu correspondo. — Você está muito diferente do que
me lembro, Jacob.
Chamo o garçom assim que ele passa por perto e já peço dois
chopps, que foi o que Francesco disse que beberia.
— A minha mudança foi além da aparência, sabe? Depois de tudo,
depois da Sophie, eu nunca mais consegui ser o de antes, como se
literalmente algo dentro de mim tivesse quebrado. — Ele apoia o cotovelo
na mesa e presta atenção em cada coisa que eu falo. — Ter ido embora foi
crucial para mim, eu não iria sobreviver ao pappa depois de tudo, e a ideia
era que você viesse para cá, mas depois de tudo que falou, eu acreditei que
o melhor para você era realmente ficar, eu jurei que tinha de fato se tornado
algo que o pappa nunca teve de mim.
Nós pegamos o chopp assim que o garçom coloca em nossa mesa, e
eu bebo quase metade da caneca, sentindo refrescar meu corpo que estava
quente de tanto nervosismo.
— As coisas ficaram feias por lá, Jacob. Enrico não lidou bem com a
sua ida, e ele achava que você não aguentaria o mundo e iria voltar, e isso
fez com que ele se tornasse ainda mais severo, ainda mais amargo. — Ele
alisa a barba em um lugar específico e eu consigo ver uma pequena cicatriz
perto da sua orelha, que a barba provavelmente tapa o resto. — A culpa não
foi sua, e eu entendo hoje. Mas a cada coisa que acontecia, a cada surra que
eu levava daquele infeliz, ele falava de você e isso acabou me fazendo
questionar as coisas.
— Eu sinto muito, fratello! — Meu coração se aperta em imaginá-lo
dessa forma nas garras daquele infeliz. — Eu não tinha como trazê-lo mais
cedo, eu quis, quis muito, mas o pappa jamais deixaria que isso
acontecesse.
Ele bebe mais um pouco e já pede para que o garçom traga mais
cervejas.
— Eu sei que sente, porque eu sei que você passou pelas mesmas
coisas. Mas você era muito bom em esconder seu sofrimento, por isso foi
um baque de uma hora para outra vê-lo cobrar tantas coisas de mim. Por
que nunca me mostrou?
Sinto meu corpo tremer de raiva e eu aperto forte a minha mão,
tentando concentrar toda a raiva e frustração da minha vida naquele homem
que a única coisa boa que fez, foi ter colocado meu irmão no mundo para
aliviar o inferno que eu vivia.
— Francesco, você e a Sophie eram o ar de sopro fresco na minha
vida e…
— Não me compare com ela, fratello, por favor. — Eu o olho
questionando o porquê disso. — Você era um homem muito apaixonado, na
verdade, acho que ainda é, e não serei eu quem vai acabar com a imagem
que você tem dela, não com ela morta. — Isso é no mínimo muito estranho,
mas a real é que não importa e eu duvido que qualquer coisa que ele falar
irá mudar a imagem que tenho dela.
— Certo. Mas continuando, eu jamais passaria para você o inferno
que eu passei, ainda mais sendo tão novo. Você era feliz, e ele não te
forçava a estudar um absurdo de coisas e você teve a sua infância, vivia
brincando com a Emma pelos cantos da casa. — Olho ao redor, tentando
focar em qualquer coisa para não lembrar das cenas. — Eu faria tudo por
você, Fran. E isso incluía não mostrar quem o pappa era, eu fiz um
combinado com ele, mas o que eu esperava, né? Claro que ele não cumpriu
com a parte dele.
Ele me olha e engole em seco antes de virar o copo.
— Eu sei do combinado, eu sei que você prometeu jamais contar as
coisas erradas que viu. Ele tentou o mesmo comigo, mas eu já não tinha
nada a perder e mandei ele enfiar o contrato no cu.
Solto uma risada ao imaginar a cena e ele acaba rindo também.
— Não demos sorte com os pais que temos. — Ele concorda, ainda
sorrindo. — Mas nós ainda temos um ao outro, Fran. Nada do que ele faça,
vai ser capaz de mudar o que eu sinto por você, e agora talvez seja o
momento de viver o que tínhamos planejado, longe dele e de tudo de ruim
que ele traz junto.
Ele levanta, passando a mão na nuca e olhando para o outro lado,
antes de voltar a me olhar.
— Eu estou muito envergonhado por tudo e nem sei se mereço o seu
perdão, mas, eu irei aceitar. A vida ficou bem pior depois que deixei de ter
meu melhor amigo me ligando todos os dias.
Sério, ele vai me fazer chorar.
— E agora para nos vermos nem precisa ser pelo celular, já que
moramos perto. — Me levanto também e ele semicerra os olhos para mim.
— Talvez eu tenha pesquisado sobre sua vida, seu paradeiro e todo o resto.
Precisava saber se estava realmente bem.
Francesco encosta na mesa, e eu continuo olhando para as pessoas lá
embaixo, que estão começando a se soltar mais e irem para a pista de dança.
Um movimento atrás de mim chama a minha atenção, e vejo os amigos do
meu fratello entrarem onde estamos, mas só o cumprimentam com a cabeça
e vão para o outro lado.
— Eu estou me virando, sabe? Está sendo mais fácil do que eu pensei,
o luxo não é algo que eu sinto falta. O que tenho aqui, é tudo o que eu
preciso e consegui bons amigos, agora terei você em minha vida
novamente, tem a Emma também — ele fala sorrindo, realmente feliz com
a vida que tem levado. — E falar em Emma, qual é a de vocês?
Será que Emma contou algo para ele? Acho que não… O que ela
contaria?
— Você sabe que eu amo os pais dela, e foi tudo uma confusão e uma
coincidência bem estranha, mas ela voltou para a minha vida só que de um
jeito diferente! — Francesco prende uma risada e eu reviro os olhos. —
Não é nada demais. Emma é minha amiga, e às vezes a gente fica. Ponto.
— Ainda te conheço, fratello! Mas certas coisas a gente tem que
enxergar sozinho mesmo.
— Caramba, que homem maduro e experiente é esse na minha frente
— brinco e nós dois caímos na risada. — Eu estou feliz por termos
resolvido as coisas, ainda temos muito o que conversar, muito mesmo, mas
estou feliz em saber que agora caminharemos lado a lado, como sempre
deveria ter sido.
— Lado a lado agora! — ele repete e nos abraçamos mais uma vez. —
Agora, por favor, não me faça chorar e venha conhecer os meus amigos,
que devem estar se roendo de curiosidade.
Nós vamos até eles, que se apresentam e se mostram bem simpáticos e
curiosos. Nós conversamos por um tempo e eu vou conhecendo um pouco
de cada um e também ouço algumas histórias do Francesco, que parece ser
bem ativo tanto nos estudos quanto no sexo.
Talvez seja algo que esteja no sangue, se bem que eu nem lembro qual
foi a última vez que eu transei sem ser com a minha mão.
Os garotos se distraem entre si, conversando sobre algo que aconteceu
em uma das aulas deles e eu me afasto, deixando-os lá e me deparando com
os meus amigos já do outro lado, conversando animadamente com o meu
irmão.
— Sabia que tinha um mais bonito que você! — Barbie diz, assim que
me aproximo e eu ignoro. — Tudo bem? — pergunta baixo quando o
cumprimento com um aperto de mão e eu faço que sim. Ele me analisa por
um tempo e depois sorri.
Vou falando com os meus amigos e ouvindo alguma brincadeirinha de
cada um deles, até mesmo das meninas e acho que nada que falem ou façam
seria capaz de me deixar irritado. Nem lembro qual foi a última vez que me
senti tão feliz.
— Porra, isso é para mim? — Francesco abre a sacola com o presente
que eu dei. É um relógio, como não sabia o que dar, imaginei que ele
deveria gostar de relógio, todo mundo gosta. — Valeu, Jacob! — agradece e
já o coloca, tirando o outro que estava usando e guardando na bolsa.
— Isso foi fofo! — Kath chega do meu lado, passando o braço por um
dos meus. — Eu estou feliz por você, Jacob. Você chega a estar com outra
cara, acho que hoje será uma noite memorável. Falta só Emma chegar.
Beijo o alto da cabeça da minha amiga, e ela faz um carinho rápido
em meu braço antes de me soltar.
— A noite está quase perfeita, então! — falo só para ela ouvir e a
risada dela chega rápido em meus ouvidos. — E estou com a sensação de
que sua amiga me deixará louco hoje.
— Não tenha dúvidas disso! Eu recebi a foto com o look dela, e uau!
Ela joga essa informação e sai, voltando para onde estava e ficamos
novamente só eu e meu irmão, que me olha com uma cara engraçada.
— Viu quem chegou? — Nos viramos em direção às escadas, e eu
fico meio que em choque ao ver a ruiva que vem para cá. — Olha, você é
guerreiro mesmo! A mulher veio pra acabar com a vida de alguém.
Eu acabo sorrindo, mas é um sorriso de desespero, porque é
exatamente a mesma coisa que eu penso. Só que no caso, esse alguém sou
eu.
Emma olha em nossa direção, e eu só consigo olhar para a mulher
incrivelmente sexy que está vindo até nós e é difícil acreditar como alguém
consegue ser tão sexy sem forçar, naturalmente.
Fico olhando ela falando com todo mundo, e é difícil não perceber
que um dos amigos do meu irmão ficou bem animado, e eu sinto vontade de
jogá-lo lá embaixo, patético.
A ruiva vem até mim, parando na minha frente com seu jeito meigo,
que destoa de toda a selvageria que ela está e isso já é a primeira tortura da
noite.
— Boa noite, Jacob! — Eu dou dois passos para a frente, e abaixo a
cabeça para dar um beijo em sua bochecha e sentir o cheiro bom que ela
sempre tem.
— Boa noite, amore. Você está deslumbrante e incrivelmente sexy —
sussurro e ela dá uma risadinha e vira um pouco o rosto para poder me
olhar. — Eu devo me comportar?
Quando eu digo que tudo que eu planejo vai por água abaixo quando
estou com Emma, é exatamente isso. A ruiva acabou de chegar e eu já estou
ficando louco.
— Eu espero que não se comporte! Pretendo tomar muitas tequilas. —
Ela sorri e me dá um beijo no rosto, antes de ir até as meninas.
Barbie me olha com aquela maldita cara de quem está de olho em
mim, e eu disfarçadamente coço a minha testa com o dedo do meio, para
que ele veja e o loiro ri.
A noite está surpreendentemente boa. Consegui me acertar com meu
irmão, mesmo que ainda tenhamos muitas coisas a resolver, o que importa é
que entendemos que somos além desses problemas.
Meus amigos também se deram bem com ele, e eu gostei dos amigos
dele, exceto o que encosta demais na Emma, e que nesse momento está
falando algo no ouvido dela, que ri em resposta.
O que ele deve estar falando de tão engraçado assim?
Eu me mantenho distante, como sempre, mas não consigo parar de
prestar atenção em cada coisa que Emma faz, inclusive já foram 6 shots, e a
ruiva está animadíssima. Já dançou, já gargalhou, brincou com todo mundo,
tentou me chamar pra dançar mas não fui, e agora está vindo para o meu
lado junto com a Olívia.
— Acho que é o Luke ali embaixo! — Emma diz para Olívia, depois
de focar em algum ponto específico.
Esse nome me é familiar, onde já ouvi? Ah! Claro, é o homem que
comenta todas as fotos dela. TODAS!
— Por que não vai lá falar com ele? — Não resisto e acabo encarando
Olívia, que olha para mim e dá de ombros. — É uma boa oportunidade para
vocês se conhecerem fora da faculdade.
Que porra está acontecendo?
— Boa ideia! — A ruiva pergunta à amiga se está com a maquiagem
direita, e depois sai em direção ao tal do Luke. Eu não resisto e vou mais
para a frente, me escorando no parapeito da área vip e esperando para ver a
interação dos dois.
O homem é pego de surpresa ao vê-la, mas abre um sorriso enorme e
exagerado, e a abraça. Os dois começam a conversar animadamente, e ele
nem disfarça o interesse, tocando em alguns pontos do seu corpo.
Mas foi a maldita mão em sua cintura que me fez pedir um shot e
virar, e logo depois virar mais outro.
— Sei como é isso! Já estive em seu lugar, amigo. — Barbie como o
fofoqueiro que é, aparece do meu lado, se metendo no que acha que sabe.
— Sabe o que é o quê, Barbie?
— Ciúmes! E eu estava exatamente aqui, só que no sofá, vendo Olívia
ter um encontro com o amigo dela! — A risada debochada dele consegue
me deixar ainda mais irritado, e eu que jurei que nada me abalaria hoje.
— Não estou com ciúmes! — Ele ri ainda mais rápido. — Por que
você não vai encher o saco de outra pessoa? Tem um monte aqui!
O tal Luke olha em nossa direção, e Emma dá tchau. Barbie retribui,
mas eu me recuso! E continuo assistindo a palhaçada desse homem
tentando marcar território.
Para o azar dele, nada do que ele possa fazer irá mudar os meus
planos para o final dessa noite.
— Sério, se você tivesse como manipular a mente de alguém, igual a
Feiticeira Escarlate, você com certeza faria com que aquele cara batesse a
própria cabeça na parede, até explodir.
— Vai se foder, Barbie! — Que cara irritante. — Mas, você está certo!
17

— Nossa, se tivéssemos marcado não teria dado tão certo! — falo um


pouco alto para que Luke consiga escutar e ele concorda.
O homem é lindo demais, mas como sempre o via como professor,
acho que não enxergava como era bonito. Só que aqui, com essa camisa um
pouco aberta, bebendo e totalmente descontraído, não dá para negar que ele
é maravilhoso.
— E acho que você não aceitaria, se eu te chamasse! — joga no ar,
esperando por uma resposta, mas eu bebo o shot que pedi agora, e decido
que esse é o último. Já estou muito animada, e isso é um perigo. — Vai com
calma, linda.
— Eu vou sempre com calma, eu sempre sou a que se comporta, que
tem boas notas, que não atrapalha ninguém e coloca sempre as
responsabilidades em primeiro lugar. Mas, às vezes, só às vezes, me dou o
luxo de não me importar com nada.
Ele bate palma, brincando após ouvir o meu discurso. E com certeza
só aconteceu por causa das bebidas, mas é a pura verdade.
Eu estou me sentindo como raramente me sinto: bonita, gostosa e livre
para fazer qualquer coisa. Os olhares que estou recebendo essa noite, com
certeza estão me deixando confiante, e junto com a tequila, estou bem
corajosa também.
— Você é maravilhosa, Emma, e fico feliz que esteja começando a se
dar conta disso. — Ele pisca, e me dá um beijo no rosto, um pouco perto da
minha boca. — Sortudo é o homem que terá a sua atenção! E é uma pena
que não seja eu.
— Você é lindo, Luke. E eu queria muito não estar tão interessada em
outro homem, porque eu sei que você seria incrível.
Ele sorri, um sorriso muito lindo e compreensivo, e eu uso isso como
deixa para me despedir e ir para onde meus amigos estão.
Aproveito para dar uma espiadinha no Jacob de longe, e cada dia que
o vejo, acho ele ainda mais bonito, e eu jurei que tal coisa seria impossível,
o homem já foi esculpido pelos deuses da beleza, mas parece que ainda tem
como melhorar.
— Eu jurei que meu irmão teria uma síncope de tanto ciúmes! —
Francesco me puxa para perto dele, e eu rio ao ouvir. — Aquele era o cara
das mensagens, né? — Confirmo. — Bonitão! Mas meu frattelo é mais, até
eu sou mais.
Rio alto. Mas não é mentira, só não vou dar o braço a torcer.
— Gostei da informação que seu irmão estava com ciúmes! Se eu
soubesse, teria ficado um pouco mais lá embaixo — confesso.
— Acho que ele iria bancar o homem das cavernas e te tacar no
ombro.
— Não seria a primeira vez que ele me carregou no ombro. —
Lembro do Ano Novo e rio sozinha. — Vou lá falar com ele antes que a
tequila saia do meu corpo e leve com ela a minha coragem.
Escuto a risada do meu amigo enquanto me afasto, e para variar o
Jacob está sozinho, sentado no sofá que só cabe duas pessoas, o que é
perfeito. Eu vou até ele e me sento ao seu lado, ficando mais perto do que o
necessário.
— Se divertindo? — pergunta antes de levar a caneca de cerveja até a
boca e eu fico hipnotizada assistindo.
— Uhum! Muito, na verdade. — Quando ele coloca a caneca na mesa,
eu pego e tomo um gole, encarando-o. — Precisava de um golinho, tem
problema?
Ele ri e apoia o braço no encosto ao seu lado.
— Acha mesmo que eu recusaria alguma coisa para você? — Eu me
arrepio toda quando a sua mão pousa em cima do meu joelho e dá uma
apertadinha de leve. — Pensei que beberia do copo do seu amigo ali
embaixo.
Eu definitivamente vou morrer com Jacob tendo ciúmes de mim.
— Até cogitei mesmo. — Ele ergue uma sobrancelha e sobe um
pouco a mão, de propósito. — Mas eu sabia que aqui era mais interessante,
e por isso vim pra cá. — Apoio as duas mãos no sofá, ao lado do meu corpo
e esse movimento chama a atenção do Jacob até os meus seios. Não fiz
intencionalmente, mas o resultado me agrada. — Gostou da minha roupa?
— Nem sei explicar o quanto gostei! Mas nada é mais interessante do
que tem por baixo.
— Você nunca viu.
— Já te vi de biquíni, e você gosta de usar o brasileiro, que é ainda
mais incrível. — Meu corpo esquenta ao ouvi-lo e eu olho para o lado, mas
nenhum dos nossos amigos parecem prestar atenção na gente, e tenho quase
certeza que é proposital. — Preocupada que alguém veja minha mão
subindo por sua perna?
— Mas você está com a mão parad… — eu paro de falar e engulo em
seco quando ele sobe a mão até o limite do vestido. Ele parece tão natural
fazendo isso, enquanto eu quero pular em seu colo. — Um toque simples
não deveria ser tão bom.
— Mas é bom quando desejamos a pessoa que nos toca. — Ele se
aproxima para falar um pouco mais baixo, com a voz rouca. — Qualquer
contato vindo de você, me deixa louco.
Olho para o corpo dele enquanto fala, e me atrevo a passar as pontas
das minhas unhas por cima das tatuagens do seu antebraço e vejo quando se
arrepia, mas não paro. Jacob respira fundo, e fica olhando o que estou
fazendo.
Subo a minha mão, passando por seu braço e paro quando chego em
sua barba, que está mais cheia do que na semana passada e acho que é por
isso que está ainda mais bonito. Eu faço um carinho em seu rosto, e ele vira
um pouco para conseguir dar um beijo em minha mão.
— Eu queria te beijar agora! — diz, e eu mordo o lábio inferior. —
Mas não sei me comportar para beijar na frente dos outros… não com você,
ainda mais hoje.
Olho para o relógio no punho dele e vejo que está bem tarde, e sei que
a maioria das pessoas que estão aqui irão trabalhar amanhã cedo, e isso é
uma ótima justificativa para irmos embora.
— Eu aceitaria uma carona sua! — Eu pisco, e me levanto, dando as
costas para ele e simplesmente saio de onde estamos, indo em direção ao
estacionamento, me sentindo confiante o suficiente para achar que ele irá
me seguir.
Preciso tomar tequila mais vezes quando estiver perto dele, é
praticamente um encorajador. Me sinto confiante e poderosa, a ponto de
agir dessa maneira que não é nada natural da minha parte.
Eu sinto uma mão grande segurar o meu braço e me virar. Perco a
respiração ao ver os olhos de um Jacob afobado, com as pupilas dilatadas e
respirando perto da minha boca.
— Você está demais hoje… me provocando, gostando de me ver com
ciúmes. — Eu tô respirando? Nem sei mais. — E porra, eu estou adorando.
E isso me lembra que estou te devendo uma ajudinha, se podemos falar
assim. — Jacob me dá um selinho tão rápido, que eu nem consigo segurá-lo
para iniciar um beijo.
O italiano sai em direção ao carro e quando chega, olha para trás.
— Não vem, amore?
Eu ridiculamente dou uma corridinha, que faz meu vestido subir um
pouco e ele nem disfarça ao olhar, e ainda tomba a cabeça para trás, para
ver melhor quando passo por ele.
— Vai me deixar em casa? — pergunto quando entro, e coloco o
cinto. Ele trava o carro, e alisa a barba com o dedo indicador, como se
estivesse pensando antes de me responder.
— Vou!
Ele dirige um pouco mais rápido do que eu acharia seguro, e
chegamos no meu prédio em poucos minutos.
— Tem o código da garagem? — Faço que sim. — Posso entrar com
você por alguns segundos? Só na garagem, claro! — Eu novamente faço
que sim e digito o número ao parar do lado do visor e tento fingir que não
estou nervosa. — Relaxa, amore. Não vou fazer nada demais.
Ele liga o ar do carro, e fecha as janelas. E para mim isso é o contrário
do que ele falou, mas eu o sigo e também tiro meu cinto, me virando um
pouco para ele sem me importar com o vestido subindo novamente.
— Por que a gente não sobe? — Mordo o cantinho da boca após falar,
e ele segura meu rosto com uma das mãos e passa o polegar onde mordi,
olhando diretamente para ali. — A Jô não está, ela viajou ontem e só volta
no domingo.
— Hmm, essas informações são boas demais! — Ele puxa meu rosto
até o dele, passa a língua por meus lábios, desce a mão do meu rosto para o
meu braço, e continua a descer até a minha mão que está apoiada em minha
coxa. — Mas, eu não saberia me controlar, hoje não.
— É uma pena, eu adoraria ter alguém para me fazer companhia. Não
acha perigoso uma menina indefesa, sozinha por todos esses dias? — Passo
meu dedo por sua coxa, indo bem no alto enquanto falo, mas não me atrevo
a ir além disso.
Eu solto uma risada quando em um movimento rápido Jacob empurra
seu banco para trás e me puxa para o seu colo, me deixando bem perto de
sentar em seu pau, mas ele não ousa fazer isso, mas alisa a lateral do meu
corpo e eu arrepio quando um dos seus dedos esbarra bem de leve na curva
do meu seio.
Jacob me beija com desespero, segurando a minha cabeça pela nuca,
com os dedos entrelaçados nela. Eu adoro quando ele fica assim, menos
carinhoso e mais o que ele de fato é, por conta disso, e das tequilas, eu
arrasto o meu corpo para a frente, e solto um gemido quando sinto o quanto
ele está excitado.
— Amore, acho que seu vestido subiu demais — sussurra quando para
de me beijar, e mantém os olhos fixos aos meus, se controlando para não
olhar para baixo e eu olho e vejo que meu vestido subiu até a cintura,
deixando minha calcinha à mostra. — Eu quero muito olhar, porra, eu vou
infartar.
Eu tiro a mão dele que está em minha cintura e coloco bem em cima
da minha bunda. Ele arregala os olhos, e eu sorrio de lado em silêncio,
esperando que ele faça alguma coisa.
E é o que ele faz, que acaba comigo pelo resto da noite.
A mão grande de Jacob aperta a minha bunda, com força, e eu gemo,
jogando a cabeça um pouco para trás e sinto seus lábios beijando meu
pescoço, e descendo até o meu decote, o que me faz remexer em seu colo,
para ter algum atrito.
— Eu amo as suas sardas — fala, enquanto começa a beijar a parte
dos meus seios, que ficam expostos pelo decote, onde tem algumas sardas.
— É la mia costellazione particular.
Ele não deveria falar uma coisa dessas agora, e nem em momento
nenhum.
Minha boca é tomada pela sua novamente, e ele se encosta no banco e
eu preciso jogar meu corpo um pouco para cima dele, ficando com os seios
esmagados em seu peito. Mas eu não sei se presto atenção na sua mão que
não sai da minha bunda, do seu pau pulsando bem na minha boceta, ou no
beijo que está me tirando o ar.
É involuntário me esfregar nele, e ele me incentiva a continuar com a
mão que está na minha bunda e que me ajuda nos movimentos confusos
enquanto nos beijamos, e a minha boceta não para de esquentar e querer
mais contato.
Eu quero mais contato, se só isso é tão gostoso, o que pode ter ainda?
— Essa sua calcinha nunca mais sairá da minha imaginação. — Ele se
afasta antes de morrermos sem ar, mas os seus dedos brincam com a alça da
calcinha que é pequena e rendada. — Eu ainda terei ela para mim! — A voz
desse homem quando está excitado é quase um crime.
— Você pode tê-la, se vier um desses dias que estou sozinha para…
assistir um filme!
— Que safada, amore. O velho golpe de assistir um filme? — Ele ri,
ficando com o olho pequeno e eu sorrio, achando a coisa mais linda do
mundo. — Eu venho, o dia que quiser, só me dizer quando. Mas você terá
que ficar com a calcinha a noite toda, e me entregar só antes de dormir.
Tem como um homem ser mais sexy do que o Jacob? Será que existe?
Porque se existir, parabéns, parece ser algo impossível.
— Combinado! Te espero no sábado então. — Dou mais um beijo
nele, que parece não querer se afastar do meu corpo, e para ser bem sincera
eu também não queria, mas saio do colo dele, arrumo a minha roupa sendo
assistida por ele, que murmura baixinho algo sobre sofrer sozinho mais
tarde, e depois eu saio do carro, indo até a janela dele, lhe dando mais um
beijinho. — Isso foi muito… bom!
— Foi sensacional, amore. O que me faz pensar que “o além disso”
deve ser algo que ainda nem inventaram um nome para expressar o quão
bom é. — Ele coloca a mão em cima do pau e aperta. Preciso torcer os
dedos dos pés para controlar a vontade de pular lá dentro de novo, mas eu
saio de perto antes de criar coragem demais. — Buonasera, Emma.
18

Eu entro no apartamento, e sinto que foi uma vitória conseguir


chegar aqui em cima sem desmaiar pelo caminho.
O que foi tudo isso que aconteceu agora? E por Cristo, foi
incrivelmente bom e eu queria mais, muito mais. Jacob abala as minhas
estruturas de um jeito que eu nunca pensei que um homem abalaria, jamais
pensei que me sentiria tão interessada carnalmente em uma pessoa como
sou nele.
Tranco toda a casa, e vou correndo para o meu quarto e abro o
closet, vendo a bendita caixinha que eu ganhei da Kath há algum tempo, e a
pego, levando comigo até a cama.
Coloco ela ali e fico olhando um tempo fechada, pensando se
realmente devo tentar isso de novo, mas eu ainda me sinto tão excitada,
talvez hoje seja o dia de me resolver com os vibradores que a minha melhor
amiga me deu.
Sério, tem de tudo, mas ela disse que o que mais a excitava é um
estimulador de clitóris. Eu já vi na internet e sei que ele é o queridinho de
todas que usam, eu o pego e ligo, mexendo em todas as potências.
E se…?
Eu pego o meu celular, e abro a minha conversa com o Jacob,
tentando ver se alguma das selfies que ele já me mandou poderia me ajudar,
mas acaba que ele fica online e me manda uma mensagem.
Jacob: Cheguei! Não é elegante o que vou falar, mas eu irei passar
um bom tempo no banheiro pensando no que aconteceu no carro.
Ok, isso é um tanto interessante para me ajudar.
Eu: Que coincidência, peguei uma coisa aqui… vou te mandar uma
foto.
Eu pensei em tirar uma selfie segurando, mas acabo mostrando na
minha mão mesmo, e depois fico muito arrependida de ter enviado. Qual o
meu problema?
Levanto da cama, e já faço o esquema de me contorcer toda para
abrir o vestido e o tiro pela cabeça, me sentindo aliviada porque o vestido
era bem justo. E exatamente na hora que decido ir tomar um banho, aparece
que o Jacob está me ligando.
O que eu faço? O que eu faço?
Eu meio que deito na cama, e puxo o lençol para não aparecer os
meus seios e o atendo.
— Isso não se faz, Emma — ele diz, parecendo meio desesperado e
vejo que está em um banheiro. — Per favore, só me diz se você pretende
usar pensando em mim, amore. Eu estou nesse exato momento nu, muito
excitado e me segurando para não fazer nada na ligação, mas eu preciso de
uma resposta.
Como eu queria que ele desse um mole e abaixasse um pouco o
celular.
— E por que você não está fazendo nada? — pergunto. — E, eu ainda
tô curiosa para saber como pretendia me ajudar com isso. Lembra?
— Você quer que eu fare la sega, enquanto falo com você por vídeo?
Porque era exatamente isso que eu ia fazer, mas sem ser assistido. E a
minha ajuda tem tudo a ver com isso, amore. Mas pensei em mandar uns
áudios ao invés de fazer ao vivo.
Eu ligo o vibrador assim que escuto o que ele fala, e olho para o
aparelhinho rosa, querendo muito que dê certo dessa vez.
— Nós podemos só manter nossos rostos na chamada, e fazer o que…
tivermos que fazer.
Jacob pede um segundo para arrumar a câmera, e agora eu consigo ver
até um pouco abaixo do seu peito, e ele respira fundo e me encara. Mas eu
só consigo olhar para o corpo dele, que é lindo.
— Isso vai ser interessante, amore — diz e eu concordo. — Agora eu
preciso que você me diga o quanto você está molhada.
— Muito, com certeza muito. — Tento segurar o celular com firmeza
na mão e mordo o lábio ao ver o braço dele se movimentando, deixando
claro que ele começou a se masturbar.
— Agora eu quero que você passe o vibrador em um dos seus
mamilos, bem de leve, e depois vá descendo pelo meio da sua barriga,
devagar, e pare antes de chegar na sua boceta.
Eu faço exatamente o que ele fala, e o primeiro contato em meu seio é
tão bom que eu já me remexo na cama e fecho os olhos, descendo o
aparelho, passando por meu umbigo e parando como ele falou.
— Cazzo! Como eu estou com inveja desse vibrador. — Me recuso a
abrir os olhos, mas escuto o barulho que faz do outro lado do celular. —
Agora você vai passar com o vibrador pelos seus lábios, primeiro por fora, e
depois por dentro. Tudo bem devagar, mi amore. Aproveite cada sensação e
tente não pensar em mais nada.
A vibração do aparelho parece enviar mil mensagens ao mesmo tempo
para todo o meu corpo, e eu solto um gemido. Passo várias e várias vezes,
querendo subir até o clitóris, mas tento fazer da forma que ele manda.
— Agora… — sua voz quase não sai, e eu abro os olhos, encontrando
um Jacob suado, que continua com os movimentos e respirando com
dificuldade. — Agora você vai passar pela sua entrada, bem
superficialmente e depois vai subir até seu clitóris, que a esse momento
deve estar sedento para ser sugado pelo seu brinquedinho.
— Jacob… — gemo seu nome, porque é como se ele mesmo estivesse
fazendo tudo isso em mim, e ergo um pouco o tronco quando finalmente a
ponta do vibrador encontra meu clitóris e começa a sugar devagar, me
deixando fraca, mas eu mexo nas velocidades e dou um gemido ainda mais
alto quando suga forte, fazendo as minhas pernas tremerem.
— Isso, amore. Descubra como é a forma que você gosta, alise seu
corpo e ache quais são os seus pontos sensíveis, onde você quer e não quer
ser tocada. — Ele para de falar por um tempo e escuto o seu gemido. — Me
imagine no meio das suas pernas, com a minha boca engolindo a sua
boceta, chupando e sugando o seu clitóris até fazer você gozar tudo em
minha língua.
Eu me mexo tanto que sinto quando o lençol descobre o meu seio e
fica à mostra no vídeo, mas nesse momento eu não me importo com nada e
começo a sentir uma pressão na parte inferior da barriga, forço o vibrador
querendo mais, e eu gemo, aperto as pernas uma na outra e sinto uma
sensação incrivelmente boa, como se estivesse aliviando um peso do meu
ventre e sei que gozei porque sinto escorrer um pouco para fora da minha
boceta.
— Emma… — Abro os olhos novamente, e vejo o exato momento
que Jacob pega uma toalha para se limpar e depois joga em algum lugar. —
Primeiro: seus seios estão aparecendo, e eu estou apaixonado por eles.
Segundo: se eu já te queria antes, depois de hoje, eu não respondo mais por
mim.
Eu puxo o lençol e me sento, me sentindo leve e zonza, mas de um
jeito bem gostoso.
— Eu gozei! — falo baixinho, com vergonha.
— Eu vi, amore. E nunca vou esquecer! — Rio, e passo a mão em
meu cabelo, jogando para trás. — Tome um banho e vá dormir, as
sensações boas ainda ficarão em seu corpo e você vai dormir muito bene.
Nos vemos sábado, e se eu tiver sorte, talvez conheça seu brinquedinho. —
Ele pisca, manda um beijinho e desliga.
Eu fico ali, na mesma posição, olhando tudo ao redor e ainda sentindo
várias coisas, como ele realmente disse. Mas, eu só consigo pensar no nível
de intimidade que eu e o Jacob criamos, e que isso, além de qualquer outra
coisa, vai me levar para o fundo do poço do jeito mais gostoso possível,
mas é quase como se eu soubesse perfeitamente que tudo que está por vir,
me atingirá de uma maneira irreparável.

— Kath, você não está entendendo! — digo, andando de um lado para


o outro na sala do apartamento da Olívia, com as duas me olhando. — Eu
gozei, eu me toquei e gostei. EU GOZEI!
As duas riem, não me caçoando, mas como se estivessem felizes e
animadas por mim.
— E isso é extremamente normal, Emma. E agora que você já sabe, e
gostou, tenho certeza que vai fazer muito proveito dos meus brinquedos. —
Kath fala, depois levanta e para na minha frente. — Eu acho que isso vai
desbloquear em você uma segurança que você não tinha antes, na verdade,
você já está diferente.
— Está mesmo! Com um ar mais poderoso, mais maduro, e eu tô
amando. — Eu rio dessas duas loucas. — É sério, Emma. Se conhecer e
saber se satisfazer muda a vida da pessoa. Transar é delicioso, mas gozar
sem precisar de ninguém é sensacional.
Eu bebo o vinho e já encho a taça novamente.
— Vocês podem estar certas, mas, eu fico com receio de ligar esse
meu prazer a Jacob, ou de alguma maneira achar que só consigo por causa
dele. É estranho, porque sempre que ficamos eu me sinto pronta para tudo e
quero tudo, mas quando eu penso em outro homem, qualquer um que seja,
parece que não faz nem cosquinha, em todos os sentidos. E isso me assusta,
todas sabemos como o Jacob é, não quero me prender a ele em nada.
Eu sento e as duas sentam cada uma de um lado meu, mas eu viro para
Kath quando ela segura a minha mão.
— Amiga, eu não quero ser invasiva e por favor, me diga se eu estiver
sendo. — Concordo e fico balançando a taça de vinho. — Você já se sentiu
atraída por mulheres? — Faço que não com a cabeça. — Ok, esses dias eu
fui em uma palestra para mulheres, onde lá tinha alguns médicos e eles
ensinavam a importância de se conhecer fisicamente e mentalmente, e nisso
entrou o assunto de sexualidade. Você sabe o que é demissexualidade?
— Na verdade, é a primeira vez que eu escuto essa palavra — digo.
— Eu também — Olívia afirma.
Kath levanta novamente para pegar o seu celular, pesquisa algo e
entrega o celular para a gente em uma página de uma sexóloga muito
famosa, e no post ela está exatamente falando sobre isso que Kath
comentou.
— Basicamente, demisssexualidade é quando a pessoa só consegue se
sentir atraída por alguém, independente da orientação dessa pessoa e o sexo,
quando tem alguma ligação, alguma conexão.
Uau, isso é bem complexo e interessante. Nunca ouvi falar,
nunquinha, mas com o pouco que eu leio e Kath fala, é como se outra
pessoa estivesse falando sobre como eu me sinto.
— Quando eu escutei, pensei em você mas não sabia como abordar
esse assunto. Você sempre falou que mal se interessava em beijar alguém,
que não via ninguém com outros olhos porque nunca te atraía o suficiente
para isso, e isso também se encaixa no fato de não notar a maldade em
outras pessoas quando são mais discretas, porque você não tem interesse. —
Ela pausa, bebe um pouco e depois continua. — Mas com o Jacob parece
que existe e muito tudo o que você não sentia por nenhuma outra pessoa. A
química de vocês parece algo de outro mundo, e desde que vocês voltaram
a ter contato, você já se sentia atraída, mesmo sem saber se rolaria algo ou
não.
— E de um jeito ou de outro, vocês já tinham uma ligação. Mas agora
ambos são adultos, e os sentimentos são outros. Parece fazer muito sentido,
mas isso é o que vemos de fora, sabe? No final, é só você que pode saber
disso — Olívia fala assim que tira os olhos do celular. — Nossa, eu queria a
Kim agora para dar o parecer dela.
Eu concordo, toda essa informação é uma novidade, mas assim que
Kath me falou, parece que eu me encaixei perfeitamente no que ela disse, e
de um jeito diferente, me sinto feliz e aliviada, como se uma peça que
faltava em mim, acabasse de se encaixar.
Bem, acho que eu sou demissexual.
Nós continuamos conversando sobre isso, e quanto mais eu leio, mais
me sinto representada, e animada em saber mais. Kim nos atendeu, e deu
uma pequena aula um pouco mais explicativa, e diz que ficaria feliz em me
receber em seu consultório para uma conversa mais profunda, e eu aceito.
Minhas amigas ficam tão interessadas quanto eu, e isso é mais uma
prova que eu sou muito sortuda em ter pessoas como elas comigo, pessoas
que se preocupam com tudo, até mesmo em escutar algo, ver que se encaixa
comigo e tomar todo um cuidado e esperar o momento certo para falar.
Eu olho para as duas, que agora falam da viagem para San Diego na
próxima semana e meu coração se enche de amor e gratidão por tê-las em
minha vida.
19

— Jacob, a sua casa é surreal. Parece essas que sempre aparecem no


Pinterest e a gente fica almejando como meta de vida. — Francesco está
fascinado, e eu fico rindo de como ele parece uma criança em um parque.
Ontem eu mandei mensagem para ele e o convidei para almoçar aqui
em casa hoje. Assim ele poderia conhecer onde eu moro, e conversaríamos
melhor sobre algumas coisas que ficaram faltando e não dava para ser
conversadas em um bar.
Meus cachorros amaram-no, e eu fiz questão de gravar um vídeo deles
cinco brincando e postar, falando que finalmente eles conheceram o tio.
— É bem diferente da nossa casa da Itália, né?
— Ah, com certeza! A mamma morreria se a casa fosse tão escura e
moderna como é a sua. Mas não tem como ser mais a sua cara do que isso.
— Ele me ajuda a levar a comida até a mesa, e depois nos sentamos. —
Falei com ela hoje mais cedo, acho que realmente está tentando se curar.
— Eu tenho as minhas dúvidas, mas vou dar esse voto de confiança.
— Me sirvo do ravioli que fiz, e coloco um pouco de vinho em nossas
taças. — Tem alguém que está de olho nela para mim. — Dou uma primeira
garfada e ele ergue uma sobrancelha para mim.
Francesco se serve em silêncio, e faz sentido ele ser forte. O tanto de
comida que colocou não é normal. Que bom que eu fiz bastante quantidade.
— Não vou te julgar, por mais que eu não goste de usar dos meios que
o pappa nos ensinou para ficar sempre sabendo das coisas. É por um bom
motivo, e a mamma não tem ninguém lá, todos estão sempre na mão dele.
Mastigo mais um pouco, tentando não pensar naquele homem.
— Eu tenho planos, Fran. Não sei se irão te agradar, mas, eu cansei
do Enrico achar que é rei do mundo. Há alguns dias, eu tive que encontrar
com ele, e acredita que ele fez ameaças? Os dois seguranças, que me viram
pequeno, ficaram lá mostrando que poderiam acabar comigo em um estalar
de dedos dele.
— Eles fazem tudo para ele, eu mesmo vi coisas demais. — Ele
bebe um pouco e eu termino de comer. — Ficou sabendo que o Enrico tem
uma nova famiglia? Eu não procurei saber, mas ouvi dizer que é bem sério.
— Ele falou e eu realmente não me importo! Só me preocupo com a
mulher que fará parte disso, mas, não vou me meter.
Nós ainda falamos um pouco sobre Enrico e também da Itália. Depois
lavamos a louça, ele me ajuda com alguns vídeos com os cachorros e nós
subimos para eu mostrar o resto da casa. E eu pensei muito que ele não
repararia no quarto que não entramos, mas não rolou.
— E esse aqui? — Aponta ao parar na frente. — É algum tipo de
quarto secreto ou daqueles igual de filmes de putaria?
Eu rio alto, porque é engraçado ele pensar sobre isso e ainda mais
engraçado eu ter um espaço assim, mas não é esse quarto e aí meu riso
morre, porque eu não vou esconder nada dele.
— Acho que talvez você se decepcione, mas, isso sou eu. — Eu
destravo o quarto com a minha digital e empurro a porta, sendo arrebatado
por todos os sentimentos que tento guardar no fundo da minha alma. — É o
quarto do meu figlio! Acho que ninguém sabia, mas a Sophie estava grávida
quando faleceu. E como eu não sei se era menino ou menina, fiz um quarto
neutro.
Francesco entra, e vai andando devagar pelo cômodo grande, que tem
brinquedos, fotos minha com a Sophie, berço, cama, tudo... Eu fiz um
quarto com tudo que um neném precisaria para estar o mais confortável
possível.
— Jacob… — Ele para na frente do berço, e vejo quando tranca o
maxilar e depois me olha. — Você tem esse quarto desde que se mudou? —
Concordo, ele cruza os braços e apoia a mão no queixo. — Cazzo! Isso não
é saudável, você sabe, né?
Eu olho o quarto, que não entrava há meses. A única pessoa além de
mim que tem a digital desse cômodo registrado é o Andrew, o rapaz que me
ajuda a manter essa casa. Eu não gosto de colocar pessoas diferentes aqui
em casa, além de não trazer nenhuma mulher, mas o Andrew é uma boa
pessoa, e trabalha para várias pessoas do condomínio.
O berço é o que mais me dói olhar, ser pai foi um sonho desde novo.
Eu sempre tive em mente que seria totalmente diferente do que o meu foi
para mim, e perder meu filho naquele acidente, junto com a Sophie, é uma
dor que jamais será apagada de mim.
— Eu sei disso melhor que ninguém, Fran. Eu não sou uma pessoa
saudável, eu me faço mal, eu me afundo… mas não sei mais ser diferente
disso! Reclamar de tudo, não gostar de nada, já é natural.
— Então tudo está bem pior do que a Emma me falou — divaga e
pede para sairmos do quarto, e eu olho uma última vez antes de bater a
porta e ir até a varanda que tem aqui em cima. — Eu não consigo imaginar
a dor que você sente, e espero nunca ter que senti-la, mas você não vê como
tem tudo para ser feliz?
— Mas eu não quero ser! — Sento no sofá. — Não é justo eu ser feliz,
ter um relacionamento, uma famiglia enquanto a Sophie está morta,
Francesco. Não faz sentido eu viver isso se não for com ela.
Ele senta na minha frente, balançando a cabeça em negativa, sem
demonstrar o choque que está sentindo.
— Você já procurou ajuda? Ajuda profissional para tratar desse
trauma?
— Não. Se eu deixar de sentir o luto, de viver o luto, o que restará de
mim?
Ele joga o corpo para trás e coloca as duas mãos no rosto, e depois
apoia ambas atrás da sua cabeça, tentando entender tudo que estou falando.
E eu sei que para quem é de fora, para quem não sabe como me sinto, é
loucura. Mas depois de perdê-la, tudo girou em torno de viver pelo luto.
Meus momentos bons são com meus amigos, e agora com a Emma quando
estamos juntos, só que depois que fico sozinho, volta tudo ao normal, ao
meu normal.
— Eu te amo, Jacob. Você é e sempre foi o exemplo de pappa para
mim, foi em você que me inspirei toda a vida, e me inspiro até agora. E é
por isso que eu vou fazer o que estiver ao meu alcance para te ajudar, nem
que seja para aliviar essa dor quando estivermos juntos.
Eu engulo em seco, sentindo meu peito queimar e agradeço com o
olhar, porque se eu falar qualquer coisa, eu choro.
— Valeu pela carona, fratello! Curta a noite com a Emma e juízo
vocês dois!
— Como sabe que vou encontrar com ela?
— Eu tinha minhas dúvidas e agora você confirmou. — Inteligente
demais para o meu gosto. — Só, por favor, não a magoe, ela não é uma
mulher do aplicativo que você pode ditar exatamente como as coisas devem
acontecer, e a Emma é incrível. — Eu contei para ele do aplicativo, e ele
ficou sem acreditar em todas as funções e como funcionava. — Você é um
cara que não mente, e isso me tranquiliza, mas enfim, Emma é a minha
melhor amiga e não quero ter que ficar puto com você. — Dá uma risada
desgostosa, como se no fundo achasse que a qualquer momento isso pode
acontecer e recebo um tapinha no meu ombro antes de sair do carro.
Francesco está se tornando um adulto incrível, e eu estou muito
orgulhoso disso. Eu o convidei para morar comigo, mas ele disse “nem
fudendo”, exatamente com essas palavras e depois ainda completou que não
quer esbarrar com o espírito de Sophie pelos cômodos.
Sou tão azarado, que nem o espírito dela veio me ver. Sei que muitas
pessoas sentem às vezes a presença de alguém querido que faleceu, mas
acho que não sou tão evoluído espiritualmente para isso.
Mando uma mensagem para Emma avisando que chegaria em breve, e
antes de ir para a casa dela passo em um mercado e compro algumas coisas
para a noite.
Eu estou ridiculamente animado para essa suposta noite de filmes,
com a mulher que eu sou totalmente atraído e que há dois dias estava
fazendo sexting comigo no telefone.
Não deveria estar tão animado, mas além da parte de ficarmos, eu
adoro a companhia dela. É um pontinho de cor na minha vida preta e
branca. E eu gosto!
Emma me passou o código da garagem, e também do seu apartamento
porque disse que iria tomar um banho e não queria que eu ficasse trancado
do lado de fora. No momento, estou na frente da porta e toquei a
campainha, como ela não atende, eu digito o código, chamo por ela e como
não obtenho resposta, eu entro.
Jô não está, então estou totalmente em risco aqui, já que a presença de
uma terceira pessoa poderia nos fazer ficar mais tranquilos… ou não!
— Pensei ter te ouvido mesmo! — a ruiva fala e eu me viro para
poder vê-la, e que inferno, eu não me acostumo nunca com a beleza dessa
mulher, sempre me impacta. — O que você trouxe? — Ela vem para onde
estou, e ao passar por mim, eu não resisto e olho para a sua bunda, que está
com a curvinha à mostra no short curtinho.
Eu não posso ficar excitado agora! Dio mio!
— Eu trouxe muita coisa, eu acho! — Termino de tirar as coisas da
sacola e ela ri. — Me empolguei e não sabia ao certo do que você gosta!
Ela passa os olhos por tudo e já abre o pote que tem chips de batata e
a tábua de frios pronta.
— Gosto de tudo aqui! Mas acho que podemos começar por isso. —
Come uma batata e passa o dedo em um patê, depois lambe o maldito dedo.
— Tem comida para um final de semana inteiro aqui.
— Então estou um dia atrasado! — brinco e ela ri, me dando uma
olhadinha discreta, mas que não me passa despercebido. — Inclusive, Oi,
amore!
Eu a puxo pela cintura que está nua, já que sua blusa é bem curtinha, e
abaixo um pouco a cabeça para lhe dar um beijo calmo.
— Eu vou ficar mal-acostumada, Jacob. — Ela sorri, ainda de olhos
fechados e eu dou mais um selinho nessa boca gostosa. — Você gosta de
beijar, né? Não sei como conseguiu ficar todos esses anos privando as
mulheres disso.
Emma abre a geladeira para guardar os vinhos que eu trouxe, e tira de
lá um gelado. Pego as demais coisas e vamos até a sala, onde ela arrumou o
sofá de um jeito que fique parecendo uma cama enorme, cheia de
almofadas, e também uma coberta.
— Eu gosto de beijar você! — enfatizo. — Mas se você acha que eu
devo beijar outras pessoas, posso tentar fazer esse esforço por você —
implico, só para saber como ela irá reagir.
Emma me olha da cabeça aos pés, e ergue uma sobrancelha antes de
tirar seus chinelos e engatinhar pelo sofá até chegar onde quer e sentar.
— Não sou sua dona e você faz o que quiser. — Essa veio de canhão
direto no meu peito. — Mas prefiro não saber se você for sair beijando
outras bocas, ou fizer qualquer outra coisa e, por favor, prefiro não ficar
com você em um mesmo dia que já tenha ficado com outra. — Dá um
sorrisinho fofo no final do recado.
Como explicar a Emma? Ela é madura demais, inteligente demais,
mas não deixou de lado o ar da juventude que tem, e isso é um combo que
por incrível que pareça, vem me agradando muito.
Arrumo as coisas no meio de nós dois, e ela me dá o suporte para as
taças e o vinho.
— Acho razoável o seu pedido. Mas, se ficar com outra, valer para a
minha mão também, então preciso retirar o beijo que te dei na cozinha.
Emma fica muito vermelha, e depois solta uma gargalhada gostosa,
dessas que é impossível não rir também.
— Não, tudo bem! Isso para mim é aceitável… até porque seria
hipocrisia da minha parte! — fala sem me olhar nos olhos e come uma
azeitona. — Talvez eu tenha gostado bastante das sensações que tive com
você no telefone e fui descobrir se sentiria sozinha também e para o meu
alívio, literalmente, senti e muito.
Eu pego a almofada ao meu lado e coloco no meu colo, porque já era
para o meu amigo, ele ficará dolorido essa noite e eu mal cheguei.
— Isso é muito bom, amore! Fico realmente contente que esteja se
conhecendo, e espero não ser jogado fora agora. — Ela revira os olhos e eu
rio. — E só para que saiba, só estou ficando com você.
Só estou ficando com você. Essa frase seria irreal de ser dita por mim
até poucos meses, e olha agora como estou.
— Então nós estamos ficando? — pergunta e me oferece um pedaço
de queijo, que eu aceito comendo direto da sua mão.
— Acho que sim! É o que estamos fazendo, né? Eu não fico com
ninguém além de você há muito tempo, e gosto de ficar com você. — Ela
me olha nos olhos enquanto eu falo, e isso me faz lembrar do que meu
irmão falou. — Mas sendo sincero, acho que é uma perda de tempo da sua
parte, e você sabe o porquê, não quero ser repetitivo nem dar a entender que
você irá se apaixonar por mim.
Ela desce os olhos do meu e liga a TV com o controle que estava ao
seu lado.
— Isso é algo que eu não pretendo, Jacob. Não tenho nenhuma
intenção de me apaixonar por um homem que já é apaixonado por outra.
Mesmo que essa outra já não esteja entre nós. — Coloco a mão no meu
cordão, e confiro se não está para fora da camisa. — Eu respeito toda a sua
história, as suas decisões e o seu luto, e é por isso que quero aproveitar o
que der até o dia que não for mais viável para mim ou para você. Mas para
mim, o mais importante é preservar a nossa amizade, todo o resto é ótimo,
mas o melhor é ser sua amiga.
— Obrigado, por isso! — Decido não dar continuidade no assunto
para não acabar com o clima e ela se distrai vendo o catálogo dos filmes, e
eu fico olhando para ela. — Eu também gosto de tê-la como amiga. —
Pisco e ela sorri, se ajeitando novamente para ficar mais confortável.
Optamos por ver o primeiro filme de Animais Fantásticos, que eu
descobri que ela ainda não tinha assistido. O terceiro acabou de sair no
cinema, e claro que eu já assisti.
Poderia tê-la chamado. Mas acho que não saberia me concentrar com
ela ao meu lado.
— O Jacob do filme é tão fofinho! — brinca quando aparece o
personagem todo apaixonado. — Tãaaaaao diferente de você! — Ri
sozinha, e tira a tábua quase vazia do nosso meio, colocando na mesinha na
frente e enche uma segunda taça de vinho.
— Eu sei ser fofo! — me defendo e tomo mais um gole. — Que
estranho um cara de quase 30 anos querer defender tal falto.
Ela gargalha e nós voltamos a ver o filme, só que em algum momento,
eu preciso ir ao banheiro e quando volto ela está debaixo das cobertas,
abraçando uma almofada e totalmente concentrada na cena.
Me sento onde estava a comida, ficando bem do ladinho dela e
começo a fazer um cafuné em sua cabeça, mas sou eu quem acaba
cochilando e só volto a acordar quando ela se mexe para colocar o segundo
filme.
— Desculpa! — sussurra como se eu ainda estivesse cochilando. —
Coloquei o segundo, e estou chocada como não assisti antes. O Scamander
é sensacional.
— Ele é foda! — Estalo meu pescoço e pisco algumas vezes para
espantar a preguiça. — Fui uma péssima companhia para o primeiro filme,
mas prometo que irei assistir o segundo com você.
— Não me importo, aproveitei para tirar uma casquinha e deitei a
cabeça no seu colo.
Ela me dá uma ideia, que eu sei que será a minha sentença de morte,
mas eu arrasto o corpo para onde ela estava e abro um pouco as pernas,
chamando-a para vir deitar ali. Emma, com seu jeito fofo, quase dá um
pulinho e vem na mesma hora, se ajeitando da melhor forma e se
esfregando em mim enquanto se ajeita.
— Você está tão quentinho! — diz, depois de encostar a cabeça no
meu peito e eu passo o meu braço ao redor dela, repousando as minhas
mãos em sua barriga, o que causa um arrepio e eu me sinto vitorioso em
saber que ela também se sente desse jeito ao sentir meu toque.
Eu volto a fazer carinho na cabeça de Emma, jogando o seu cabelo
todo para um lado e deixando sua nuca e ombro descobertos. O filme já não
é mais algo que tem a minha atenção, e quando Emma vira um pouco de
lado, ficando com a bunda empinada, eu sei que nada mais será capaz de ter
a minha atenção.
Minha mão desce da sua nuca para o seu ombro, e eu começo uma
massagem com apenas uma das minhas mãos. Ela joga a cabeça mais para o
lado, me dando espaço para continuar a massagem e assim eu faço.
— Tem alguma coisa que você não seja bom? — pergunta, depois de
soltar uns gemidinhos pela massagem.
— Hmm… Quer uma resposta sincera ou humilde? — Ela ri baixinho,
e eu massageio um pouco abaixo do ombro, mas sem chegar em seus seios.
— Eu tento ser bom em tudo que faço, mi amore. E costumo conseguir.
Ela dá uma pausa no filme, mas continua onde está. Não sei o que isso
significa, mas imagino que ela não esteja conseguindo se concentrar. E isso
eu entendo bem, porque cada vez que ela se mexe minimamente, meu pau
fica um pouco mais duro. É involuntário, com certeza ela está sentindo em
sua costela mas não parece se importar.
O que caralhos fiz a Dio para em tão pouco tempo ter mudado tanto os
segmentos da minha vida? Em que momento se tornou mais interessante
ficar de pau duro com a Emma, ao invés de ir para um encontro pelo
aplicativo?
— Acho que… — ela começa a falar, mas para um pouco. — Eu me
tornei muito sensível depois de quinta!
— E isso quer dizer quê?
— Que eu tenho ficado ainda mais excitada do que antes — diz sem
sequer virar o rosto para me olhar e eu deixo, sei que é mais fácil ser sincera
desse jeito ou por vídeo. — Seus toques sempre me atingiram em cheio,
mas agora está em outro nível.
Eu vou sentar firme no colo do diabo quando morrer. Sentar com
gosto mesmo, porque se para ela algo mudou, imagina para mim.
Puxo o corpo de Emma para cima e faço com que ela monte em meu
colo, de frente para mim e a primeira coisa que eu faço é sorrir quando vejo
seu rosto levemente rosado pela mistura de vergonha e o vinho.
— Você melhor do que eu, deve entender como funciona o corpo. —
Concorda, prendendo o cabelo em um coque que a deixa tão sexy que por
mim ela viveria com esse penteado. — Agora que você sabe o que é bom, e
onde o tesão pode te levar, vai ter mesmo mais sensibilidade aos toques —
digo, enquanto passo minhas mãos por sua cintura, subindo e descendo. —
E eu quero tanto te tocar, de tantas formas.
Emma geme ao me ouvir.
ELA GEME.
GEME!
— E eu quero que me toque! — Nesse momento é o tesão falando por
ela. E eu decido que deixarei o meu falar um pouco por mim, já não
aguento mais me torturar tanto, e acredito que ambos concordamos que
passamos de um certo limite. — Deixe o seu controle um pouco de lado,
amor.
Amor.
Vou ignorar totalmente a batida errada do meu coração ao ouvir isso.
Na verdade, nem sei mais do que estou falando, houve algo? Acho que não.
Não aconteceu nada. Não tem como acontecer algo, não isso!
— Você quem pediu — digo e a beijo, sem nenhuma calma e
chocando nossas bocas com força, mas sem machucar. Emma corresponde
na mesma intensidade, e automaticamente vem mais para cima do meu colo
e sinto meu pau ser esmagado por sua boceta, só que infelizmente é por
cima de muita roupa.
O short de Emma é um pouco largo na parte inferior, e por conta disso
consigo colocar a minha mão por dentro e apertar a sua bunda gostosa,
grande e lisinha.
A ruiva que nesse momento rebola em meu colo e me leva a loucura,
afasta nossas bocas e me encara, com as pupilas dilatadas de desejo e sorri,
mordendo o lábio inferior. Minha mão livre vai até o seu rosto e eu faço um
carinho, passando o dedo por seus lábios logo depois.
— Acho que preciso trocar de calcinha! — fala sem desviar os olhos
do meu, claramente me provocando e eu gemo, só que em desespero ao
imaginar. — Quer sentir?
20

Depois dos últimos acontecimentos, de ter conversado com a Kim e


ter me descoberto uma pessoa demissexual, parece que uma chave virou
dentro de mim e algo realmente mudou. Claro que sou a mesma pessoa, isso
é óbvio. Mas saber quem é de fato essa pessoa, me deixou mais segura e
pronta para o que vier.
Jacob é um homem que eu me sinto atraída em muitos níveis, e não
só carnal. Nossa relação vem de anos, desde quando ele era apenas um
adolescente que eu tinha uma paixão boba e infantil, para agora como dois
adultos que assumidamente se querem e se desejam.
E como eu o desejo! E é nisso que estou focando para deixar a
minha timidez de lado, e aproveitar o que ele tiver para me oferecer.
— Você quer que eu coloque a minha mão dentro da sua calcinha,
Emma? — É uma pergunta que não se espera resposta, mas ouvi-lo
perguntar isso me deixa ainda mais excitada e eu solto um gritinho quando
ele me joga contra o sofá e deita por cima de mim. — Você está brincando
com fogo, amore.
— E ciente do quanto posso me queimar. — Ele ri de lado, seu sorriso
safado que acaba comigo e volta a me beijar, colando os nossos corpos e
afastando as minhas pernas para se encaixar no meio delas. E como ele
encaixa! Seu pau que já está duro há algum tempo roça com força em meu
short, fazendo a renda da calcinha criar atrito com a minha boceta e meu
clitóris, é gostoso.
Não demora muito e Jacob se afasta para poder colocar a mão onde
estava roçando e eu fico nervosa, mas um nervoso bom. Na expectativa de
saber se ele irá fazer algo além disso.
— Seu short é grosso demais, amore. — Tem algo mais grosso que o
short aqui na jogada, mas acho que não convém falar sobre isso. — Ele está
me atrapalhando — sussurra entre o beijo e eu nem percebo quando meus
próprios dedos abrem o botão e abaixam o zíper dessa maldita peça de
roupa. — Hmm, que safada!
Eu já nem consigo mais prestar atenção no beijo e por isso afasto
nossas bocas. Como ele não quer parar de me beijar, seus beijos vão para o
volume dos meus seios, que ficam para fora da blusa, e porra, nunca odiei
tanto estar usando roupa.
Jacob sobe a sua mão, indo para a parte em que meu short está aberto
e enfia sua mão ali, por cima da minha calcinha e isso faz meu short descer
um pouco, mas não tô nem aí. Por um tempo ele fica apenas com a mão
toda parada, e eu tenho certeza que já sentiu e muito o quanto estou
molhada.
— Eu poderia gozar apenas assim! — diz e me encara de onde está.
Seus dentes seguram a minha blusa, e ele puxa um pouquinho para baixo,
só um pouco, e uma parte pequena do meu mamilo aparece e ele com muita
delicadeza passa a língua só ali.
Puta que pariu!
— Jacob…
— O que foi? — pergunta com a voz mais sexy do mundo, mas
mesmo se eu quisesse responder não iria conseguir. Um dos seus dedos, que
eu não tenho noção de qual seja, vai direto para o meu clitóris por cima da
renda e começa uma massagem leve, com movimentos circulares e
novamente eu gemo. — Será uma delícia sentir seu gozo em meus dedos.
Cristo!
Por que isso é tão bom?
Eu começo a me remexer, querendo mais contato dos seus dedos e ele
parece entender perfeitamente o que eu quero, e empurra a minha calcinha
para o lado e volta a fazer os mesmos movimentos em meu clitóris só que
sem o tecido atrapalhando o contato direto. Ele para rapidamente para
passar os dedos entre meus lábios, geme ao me sentir encharcada e volta a
dar atenção para o meu clitóris.
— Mais! — sussurro, e ele urra baixinho, antes de abaixar mais a
minha blusa e expor totalmente um dos meus seios, eu abro os olhos para
poder saber a sua reação, que me deixa ainda mais quente ao descobrir que
ele ficou vidrado. — É todo seu!
Ele me encara por segundos e cai de boca em meu seio, lambendo
toda a aréola antes de finalmente começar a sugar e apertá-lo em uma
massagem gostosa.
Como que eu me concentro nas duas coisas ao mesmo tempo? São
sensações boas demais, tudo junto e fazendo meu corpo tremer e meu
ventre começar a pesar, o que eu já sei ser um sinal claro de que irei gozar.
— Só relaxa, amore.
E assim, eu faço! Eu relaxo e deixo o meu corpo ter tudo o que ele
quer, e sinto tudo ao mesmo tempo, como um turbilhão sensacional e muito
gostoso.
Os dois dedos de Jacob que trabalham duro em meu clitóris parecem
mágicos, a velocidade que ele coloca ou tira é exata para cada momento e
junto com a sua boca e língua que agora estão em meu outro seio são o
combo perfeito para um orgasmo que me deixa nervosa, mexendo as pernas
e depois às sentindo fracas.
Jacob sobe seus beijos até a minha boca, e morde o meu lábio inferior
antes de puxá-lo e me dar um selinho.
— Você é uma perfeição, gostosa pra caralho! Cazzo!
Ele tira a mão de dentro da calcinha, arruma a mesma e depois fecha o
meu short. Olha mais um pouco para os meus seios, como se quisesse
memorizá-los e também arruma a minha blusa, me deixando como antes.
Pelo menos no sentido de estar vestida, porque depois desse orgasmo, que
ainda está reverberando pelo meu corpo, não tenho a mínima noção de
como farei para não querer sempre disso quando estivermos juntos.
— Preciso ir ao banheiro! — Levanto sem saber se posso confiar nas
minhas pernas e o Jacob faz o mesmo, me informando que vai a um
banheiro também. Como ele já conhece a casa, eu apenas entro em meu
quarto porque sei que ele encontrará um.
Me encaro no banheiro, vendo meu rosto bem rosado e meu cabelo
bagunçado. Jogo uma água no rosto, e acabo passando também em meu
peito, mas não adianta porque o calor não passa. E o mais incrível de tudo é
que não estou me sentindo envergonhada pelo que aconteceu, muito pelo
contrário, me sinto ainda mais segura e à vontade com o Jacob.
Troco de calcinha, porque aquela não tem mais condições de ser
usada, e visto o short novamente.
Eu saio do quarto, mas um gemido do Jacob me chama a atenção. E o
que eu faço? Claro que vou até próximo ao banheiro, que está com a porta
um pouco aberta e o que eu vejo quase faz meu queixo cair no chão.
Jacob está se apoiando com uma mão na parede, na frente do vaso,
enquanto bate uma punheta violenta. Mas, até aí tudo bem, era claro que ele
iria ao banheiro para fazer isso, a questão em si é o que está na mão dele.
O pau do Jacob é enorme, e grosso.
Vejo no exato momento que o gozo espirra forte para fora do seu pau,
mas ele ainda continua alisando até que sai mais um pouco, escorrendo pelo
pau e sua mão. Isso me faz soltar um suspiro e tampo a minha boca, mas
acho que ele não escutou porque continua exatamente como está.
Eu decido voltar para a sala, e sei que isso foi errado, mas foi
impossível não dar uma espiada. E uau, eu tô incrivelmente chocada em
como o italiano tem um belo de um pau guardado no meio das pernas.
Jacob aparece, e eu sorrio, como se nada tivesse acontecido, ele se
senta ao meu lado, beija a minha bochecha e depois minha boca.
— Ainda vamos terminar de assistir o filme? — pergunta e eu procuro
o controle. — Ou prefere continuar me assistindo enquanto bato uma
punheta com a mão ainda cheia do seu gozo?
Eu congelo segurando no alto uma almofada, que estava em cima do
controle, pressiono um lábio no outro e o encaro, sem jeito.
— Desculpa! Não foi a minha intenção mas…
Ele solta uma risadinha, e me puxa para aconchegar meu corpo ao
dele, que sempre encaixa perfeitamente.
— Tudo bem, amore. Eu gosto de ser assistido! — fala com uma
naturalidade sem igual. — Mas da próxima, prefiro que veja desde o início,
bem na sua frente. — Sua mão fica em meu seio, sem fazer nada, mas fica
ali, como se quisesse apenas senti-lo e eu só sei que esse homem vai acabar
comigo antes que eu consiga pular fora.
No dia seguinte da noite de filmes, e muita pegação com o Jacob, eu
acordei e ele não estava mais lá. Em algum momento o sono me pegou com
jeito e quando acordei o sol estava batendo em meu rosto.
Ele deixou uma mensagem de áudio pelo aplicativo de conversa, e
também tinha um café da manhã esperando ao meu lado. Achei a coisa mais
fofa do mundo, e não resisti em postar uma foto no stories. Não coloquei
nada sugestivo, mas a foto com a bandeja no meio das minhas pernas com o
café incrível foi vista por ele, que ficou feliz em saber que eu gostei.
Hoje já é quarta-feira e não nos vimos mais, pelo menos não
pessoalmente. Há algumas semanas que eu fico muito enrolada na
faculdade e minha vida social fica em segundo plano. Mas o italiano é
muito atencioso, e me manda mensagem todos os dias perguntando se meu
dia foi bom, se preciso de algo e se me alimentei.
Eu amo o quanto ele é preocupado e cuidadoso com todos ao seu
redor, e fico sempre repetindo para não confiar nessas coisas e nem pensar
que sou especial por ser tratada assim.
— Querida? — minha mãe me pergunta do outro lado da tela do
computador e eu sorrio. — Ouviu algo do que eu disse nesse último
minuto?
— Desculpa, mãe! Essa semana está uma loucura total, e eu estou
com a cabeça pensando em mil coisas — Jacob — ao mesmo tempo! —
Ela sorri, arrumando o óculos no rosto e olha ao redor, e depois sai
segurando o computador até a varanda.
— E não tem nenhum homem no meio desses pensamentos? — Por
que mãe sempre sabe das coisas? — Sabe que entre nós não precisa ter
segredos, meu amor. E eu sou sua fã, desejo mais do que qualquer um que
curta a sua vida. Com segurança, claro. Vou morrer se tiver um neto e não
puder viajar quando quiser para vê-lo.
— Mãe, muita calma! Muita calma mesmo. — Ela ri do seu jeito fofo,
que parece muito com a forma que eu rio. — Eu ainda sou virgem! Mas,
acho que isso não continuará assim por muito tempo. — É o que eu espero,
pelo menos. — E não, não estou namorando. Mas estou ficando com
alguém que me interessa em níveis inexplicáveis.
Ela ri alto e bate palma do outro lado, como se estivesse muito feliz
em saber que sua filha pretende perder o hímen em breve. Minha mãe é
sensacional, uma mulher feliz, que nunca deixou que nada de ruim
acontecesse e segurou muito as pontas com o meu pai para que eu sempre
tivesse o necessário.
— Eu conheço, por acaso? É algum daqueles meninos que vieram
aqui? — Ela tenta lembrar sozinha do nome de cada um deles e eu me
divirto com isso. — Ah, não diga que é o Francesco? Sei que vocês estão
muito próximos, e ele me manda mensagem às vezes.
— Eca, mãe! O Francesco é quase um irmão, que nojo! — Ela dá de
ombros, e ri de novo. — Mas sim, é alguém que você conhece, mas não sei
o quanto isso pode ser complicado de explicar ou de você entender.
Ela me olha confusa, e coloca o indicador na frente dos lábios,
pensando e eu fico com cara de paisagem, pensando se é uma boa ideia
contar, já que não é nada demais.
— Para você falar assim, só pode ser o Jacob, né? — Eu fecho um
olho e faço uma careta, me denunciando culpada e ela respira fundo antes
de dar um sorriso de lado. — Querida, vocês são adultos e se quer saber,
seu pai sempre falou que achava que tinha algo a mais na relação de vocês.
— Eu abro a boca para falar, mas ela pede que eu espere. — Não precisa se
justificar para mim, nós amamos o Jacob como se ele fosse um filho, mas
ele não é. Estou surpresa em saber que gosta de homens mais velhos, mas
isso até que faz sentido.
— Mamãe, é só algo casual. Nosso foco é em nossa amizade, mas
acabou rolando de ficarmos e parece que nenhum dos dois quer parar. — Eu
com certeza quero algo muito diferente de parar. — Mas, nada além disso…
você sabe como o Jacob é com tudo o que rolou.
— O que eu acho é que não se manda no coração, e já vi muitos
corações quebrados serem colados, caquinho por caquinho. Novos amores
são capazes de curar dores que um dia pensamos ser incuráveis, mas isso é
apenas uma romântica falando. — Escuto meu pai chamando-a de longe,
ela já se levanta. — Bom querida, não deixe de me mandar mensagem. E,
apenas curta a vida da melhor forma, lembre-se que você é incrível e
merece alguém que seja 100% seu.
Eu desligo, sentindo meu coração cheio de amor por falar com a
minha mãe e por ter contado a ela, que com certeza contará ao meu pai.
Mas, é impossível guardar um segredo dela, porque ela sempre sabe as
coisas certas para me falar.
Coloco o notebook na mesinha do meu quarto onde tem muitos livros,
me lembrando que tenho que estudar e agora estou em um grupo com o
pessoal que faz quase todas as matérias juntas, e isso tem me ajudado um
pouco. Eles sempre indicam bons sites que os professores nunca passam.
Mas nesse momento nada mais chama a minha atenção do que a
caixinha que está em cima da mesa de cabeceira! A bendita caixinha com os
brinquedos que Kath me deu, e que eu já usei absolutamente todos, até
mesmo um consolo que eu imaginei ser sem graça, já que não pretendo
perder a virgindade assim, mas foi útil para outras coisas.
Se sem ter dado, eu estou nesse fogo, não quero nem ver como será
depois de finalmente me resolver por completo.
Infelizmente, eu sou responsável, então me arrasto até a mesa e vou
estudar, tentando não pensar que poderia estar me deliciando com uns
áudios do Jacob e meus brinquedos.
Eu amo o curso que eu escolhi, e sei que serei realizada
profissionalmente quando me formar e me tornar de fato uma médica! E é
isso que me dá um gás quando estou como hoje, desanimada e esgotada.
Passo as próximas horas estudando sobre doenças, bactérias e como as
pessoas são imprudentes com a saúde. E eu sou uma dessas, já que adoro
comer uma besteira e beber.
Depois de me esgotar quase que por total e minha vista pedir socorro,
eu me levanto e pego meu celular na cama, vendo que já passou das 02 da
manhã, e que tenho muitas mensagens não respondidas.
Como irei viajar esse final de semana, Francesco me chamou para ir
no barzinho perto da faculdade amanhã, eu respondo quando vejo que está
online, dizendo que pode contar comigo. Ele manda uma figurinha
engraçada e eu mando beijos.
A outra mensagem que eu faço questão de ler é a do Jacob, que me
desejou boa noite e disse estar ansioso para me ver de Feiticeira Escarlate
no sábado, e que daria tudo para receber uma visita da ruiva em seu quarto.
Eu rio animada, e agradeço por Kath ter me chamado, para na sexta de
manhã, ir ao Spa para fazermos depilação, unha e cabelo. Agora eu tenho
que estar sempre pronta, nunca se sabe, né!?
Olho para a minha mala que está aberta e com quase tudo que eu
preciso para esse final de semana, mas eu corro até o closet e pego um
conjuntinho bem sexy que Kath tinha me dado da época que fez o comercial
para a marca de lingerie, e coloco ali na mala.
Não quero criar muitas expectativas para esse final de semana, porque
eu sei como o Jacob quer ir devagar, mas as coisas entre nós só tem
evoluído, então por que não evoluir um cadinho mais?
21

Digito algumas coisas já no automático, e depois vou lendo tudo que


escrevi para alguns dos clientes da empresa que querem que nossos
advogados sejam contratados fixos.
Já são 08 da noite, e como provavelmente não virei para a empresa na
segunda, e amanhã só vamos ficar na parte da manhã, achei melhor deixar
algumas coisas adiantadas, e sendo bem sincero eu adoro ficar aqui.
Meu telefone vibra mais uma vez, mas estou ignorando há algumas
horas para conseguir trabalhar sem distrações, mas como já estou
finalizando, pego o aparelho e vejo que tem cerca de 100 notificações do
aplicativo, o que é bem estranho.
Muitos perfis tiveram acesso ao meu, o que não deveria ter
acontecido, já que eu deixei o meu perfil temporariamente fechado.
Eu passo o olho rápido e me assusto com o tanto de ruiva que mandou
mensagem, algumas falando que gostam de serem submissas e outras
dizendo que são capazes de fazer coisas que eu nunca cogitei fazer. E isso
me faz rir, elas não me conhecem e nos poucos perfis que eu vi, notei que
são pouco experientes em muitas coisas, o que só prova que estão forçando
uma barra.
Eu vejo que tem uma mensagem do aplicativo, e agora eu entendo
tudo. Pleasure foi hackeado, e isso fez com que perfis de níveis diferentes
se misturassem, mas pelo visto, nenhum de nossos dados foram expostos,
porque não conseguiram chegar a esse nível.
Realmente não me importo com isso, e recuso o mês que oferecem de
graça pelo mal-entendido, até porque nem tenho mais usado, mas ainda
olho perfis às vezes, na intenção de que alguém ali seja uma cópia perfeita
da Emma, pelo menos na aparência.
Dou um pulinho no Instagram, porque é sempre o que faço quando
lembro da minha ruivinha. E olho os seus stories que mostram que ficou o
dia todo na faculdade, almoçou com meu fratello na casa dele e agora, há
pouquíssimos segundos, fez um boomerang virando uma dose de tequila ao
lado do amigo do meu fratello, acho que se chama Bruce, e na porra do
final do boomerang ele dá um beijo em sua bochecha e ela ri.
Que porra é essa? O cara nem disfarça ao olhá-la como um pedaço de
bife gostoso, no aniversário do Francesco, eu vi que ele jogou umas piadas
para ela e agora está nessa proximidade toda?
Isso é sério?
— Cazzo! — bufo, afrouxando a minha gravata e desligando os
computadores com ódio! Como se os aparelhos tivessem culpa de eu estar
com o rosto queimando.
— Ih, falando sozinho? — Bryan aparece na porta da minha sala, com
seu jeito descontraído e alegre. — Ia te chamar para beber, mas acho que
não é um bom momento, né?
Beber! Eu preciso beber, urgente!
— Melhor momento, impossível! — Tiro o paletó e jogo por cima do
meu antebraço, pego minha maleta com as coisas que levo para casa e nós
saímos.
Bryan tem estado tão ocupado com o projeto do Barbie, que quase não
temos nos visto. Vai ser bom trocar uma ideia com ele, colocar o assunto
em dia.
Vamos em um bar perto da empresa mesmo, está tendo um evento
grande na Lótus e com certeza deve estar um inferno por lá.
— Muito difícil sair para beber com todos juntos. Meu irmão agora é
um paizão de dar orgulho, e tenta não sair muito dia de semana, enquanto
Barbie deve viver igual a um coelho. — Rio do que ele fala e nos sentamos
em uma mesa alta, bem próxima de onde fica o barman.
— Acho que faz parte, né? — digo. — Normalmente, nessa idade, as
pessoas estão formando suas famílias ou já formaram e agora estão focadas
nisso.
Pedimos uma dose de whisky para cada um e também um petisco de
batata com costela suína desfiada e muito molho. Eu nem consigo entender
como esse cara é tão em forma se está sempre comendo essas porcarias.
— Talvez algo tenha dado errado com nós dois — brinca e eu
concordo. — Se bem que, você tá de rolo com a Emma, né?
Foi só falar no nome dela que eu já estou sentindo meu rosto queimar
novamente.
— Algo assim! Mas não é nada muito além do que você e a Laurinha
tem! Acho que temos mais em comum do que notamos, dois velhos cheios
de bagagem com duas novinhas cheias de vida. — Ele gargalha, mas
quando termina, bufa e coça a testa.
— Nunca pensei que uma mulher 12 anos mais nova do que eu, me
deixaria assim. Mas nós não estamos ficando mais! A Laura está…
diferente, mas deve ser algo em especial comigo, porque o Barbie não falou
nada, e sabe como ele é com a irmã, né.
— Sei bem! — O garçom traz nossas bebidas e também o petisco. —
E vocês estão lidando bem? Voltando a ser só amigos?
Espero o engenheiro devorar uma boa porção da batata, enquanto eu
bebo e belisco uma e outra.
— Laura tem o coração no pé! Não cultivou nenhum sentimento
amoroso por mim, então por ela está tudo bem. Eu que me fodo, porque
sinto falta, mas a verdade é que é melhor ser amigo dela. Aquela mulher ia
fazer comigo o que quisesse se tivéssemos avançado para algo mais sério.
Admiro muito o B por ser um homem bem resolvido e não ter
vergonha de assumir tais coisas. E ainda fala com uma naturalidade de dar
inveja.
Nós dois viramos para o barulho de umas mulheres que gritam
animadas, e escuto o assovio do B ao vê-las. Parece que é uma despedida de
solteiro, e a que supostamente é noiva parece estar bem animada, mesmo
ainda sendo cedo.
— Enfim. — Ignoro-as e volto a falar com ele. — Fico pensando
como será quando a Emma falar que não dá mais ou pior ainda, quando ela
falar que não dá para ficar no que temos e quiser algo a mais.
— E qual o problema? — Cruza os braços e fica balançando o copo
em uma das mãos. — Ah, claro! Esqueci das suas questões com a sua ex.
— Apenas balanço a cabeça concordando, mas vejo que ele entorta a boca,
o que é sinal que falará algo. — Então eu tenho pena dela, Jacob. Deve ser
uma merda ficar com alguém que carrega a aliança da falecida no pescoço.
Quando vocês transam o que acontece? As alianças ficam batendo na cara
dela enquanto você está por cima?
Eu quase cuspo o whisky para dentro do copo, e ao invés de ficar
puto, eu rio de lacrimejar.
— Eu sempre tiro, se é essa a sua curiosidade. — Ele ergue as
sobrancelhas ao mesmo tempo, fazendo aquela carinha maldosa e eu
percebo o que acabei de falar. — Não, porra! Não me entenda mal, eu quis
dizer que sempre tiro antes de transar com alguém, não que eu transe com
ela. Oh, você está me confundindo e não vou ficar falando da intimidade de
terceiros.
— Que fofo! Tão cavalheiro! — Mostro o dedo do meio para ele, mas
depois eu rio.
B diz que vai ao banheiro rapidinho, e eu aproveito para olhar o
celular enquanto isso. E meu fratello me mandou uma mensagem, que na
verdade é um vídeo e eu abro. Ele e seus amigos estão jogando sinuca,
bebendo e rindo. Emma aparece na filmagem, praticamente de quatro ao
ficar de bruços na mesa para jogar e o infeliz do Bruce está com a mão em
sua cintura.
O infeliz do meu irmão da zoom bem na mão dele e depois mostra
Emma pulando animada, deve ter encaçapado uma bola, e abraça o
playboyzinho que tira ela do chão ao retribuir o abraço.
A cara do meu irmão aparece logo depois e ele quase grita a seguinte
frase: Cara, os homens aqui estão encantados pela sua garota! Se ela fosse a
minha garota, eu seria obrigado a fazer igual cachorro e marcar território.
Eu não sei se fico mais irritado com meu fratello por ter enviado de
propósito esse vídeo, ou com a porra do universo por ter feito com que eu
me interessasse em alguém, depois de anos, a ponto de ficar assim,
querendo esganar qualquer farabutto que chega perto dela.
— Quem morreu? — B aparece na minha frente sem que eu nem
tenha percebido, e vejo que tem uma menina atrás dele, segurando em sua
mão. — Eu ia falar para irmos até onde as meninas estão, mas…
— Eu vou ter que sair, B. Mas acho que você estará muito bem
acompanhado. — Pisco para a menina, que dá uma risadinha e morde o
lábio inferior. — Acerto com você depois? — Já me levanto sem esperar a
resposta dele e volto até o prédio da C&B, apenas para pegar meu carro e ir
até onde Emma está.
É comum me verem dirigindo rápido, eu gosto da adrenalina, ainda
mais se for com a moto, mas agora em especial meu desespero é total
voltado em algum babaca se aproveitar do jeito carismático da Emma, que é
sempre legal com todo mundo. E porra, ela está tomando tequila. Eu sei
perfeitamente como ela fica!
A rua não é das mais movimentadas à noite, tirando o bar que está
sempre muito cheio desde a minha época, mas consigo estacionar
relativamente perto e aproveito para me acalmar, e inventar uma boa
desculpa para aparecer do nada onde não fui chamado.
Mas quando desisto e penso que é melhor ir embora, já estou lá dentro
e meu fratello quase grita anunciando que cheguei e vem em minha direção
me abraçar.
— Você é um homem inteligente! — ele sussurra, enquanto me dá uns
tapinhas nas costas, e nos cumprimentamos com um aperto de mão.
O bar não mudou praticamente nada nesses últimos anos, a não ser
pelos funcionários que sempre mudam, porque normalmente são estudantes
querendo arrumar um emprego para ajudar nos custos da faculdade. Mas,
como eu imaginei, o dono continua por aqui, trabalhando no caixa e quando
me aproximo do balcão ele me reconhece na mesma hora.
— Não acredito no que os meus olhos estão me mostrando! — Ele faz
questão de vir até onde eu estou, saindo de trás do balcão e me dá um
abraço saudoso. — Rapaz, como você mudou! Você cheira a gente
poderosa.
Eu rio, lembrando que ele sempre falava que italianos tem uma
pegada de mafioso. Não que eu concorde, mas conheço alguns que fazem
jus a tais comentários.
— Já você continua do mesmo jeito. — Sorrio, e peço para o outro
rapaz que estava atrás do balcão uma cerveja bem gelada. — Como andam
as coisas aqui? Parece que tudo está indo bem.
— Ah filho, graças a Deus! — Levanta as mãos, como se agradecesse
de fato a Deus. — E isso me lembra que preciso trabalhar, mas espero que
fique a vontade e hoje é por conta da casa e dos velhos tempos. — Ele
aperta meu ombro e sai, e finalmente corro o lugar com os olhos para
procurar Emma.
Não é difícil encontrar os longos cabelos ruivos e o corpo perfeito
dançando junto de duas meninas, e claro, do cara que está em cima igual
um urubu quando acha carniça. Que cara inconveniente.
A minha vontade é tirá-la de lá e ir para qualquer outro lugar que não
seja aqui, mas irei me controlar até onde for possível. Preciso me lembrar
que eu e Emma não temos nada sério, e não posso cobrar nada. Mas nem
fudendo que eu vou ficar tranquilo sabendo que tem esse urubu.
Emma dança animada, jogando os braços para o alto e requebrando o
quadril que é tão solto que me faz imaginar o quão isso pode ser incrível em
outros momentos. Mas, enquanto eu penso em coisas safadíssimas com a
ruiva, ela vira em minha direção e me vê, parando de dançar e fixando os
olhos para ver se sou eu mesmo.
Levanto a cerveja, cumprimentando-a de longe e ela abre um sorriso
enorme e vem em minha direção, passando por um pequeno mar de gente
para conseguir chegar a mim.
— Pensei que tinha alucinado depois de tantas tequilas — ela fala na
minha frente, e sou surpreendido quando recebo um selinho gostoso. Emma
se afasta e arregala os olhos. — Jacob, desculpa! Foi muito involuntário, e
pareceu natural. Você todo lindo aí, me olhando desse jeito e…
— Ei, respira! — Sorrio e passo a mão por sua cintura levemente
suada, e colo seu corpo no meu. — Me senti a porra do homem mais
sortudo daqui, ao ser recebido dessa forma pela mulher mais linda que eu já
conheci. — Ela me olha com seus olhinhos brilhando e dessa vez sou eu
quem dou um beijo leve em seus lábios. — Pronto, estamos quites!
Ela me abraça pela cintura, depois me solta apenas para segurar a
minha mão e me chamar para ir onde estão seus novos amigos e o
Francesco. E eu vou, mesmo a contragosto.
Depois de falar com todos, inclusive o Bruce, eu me sento e fico
tentando entender que merda eu estou fazendo aqui, no meio dessa gente
muito mais nova do que eu. Mas, ao olhar a Emma sorridente, que senta em
meu colo de lado, eu entendo porque me desloquei para cá.
Isso está dando merda muito antes do que eu pensei que daria.
— Não sabia que vocês namoravam! — Bruce comenta, e não sinto
maldade no seu tom de voz, acho que só está curioso mesmo. — Foi mal,
cara. Não foi minha intenção investir na sua garota.
Eu não ia responder nada, apenas balanço a cabeça em concordância e
fico quieto, mas a ruivinha ri e eu sei que algo sairá dessa boca gostosa.
— Não namoramos, somos amigos! — Quase todo mundo ergue a
sobrancelha, porque com certeza, eu ter vindo aqui claramente por ela e
estarmos desse jeito, não condiz muito com o que ela fala. — Mas a gente
fica, só isso.
Só isso.
Que porrada não dada!
Finjo que não me importo e termino a minha cerveja, querendo muito
ir embora e deixar essa ruivinha na segurança do seu apartamento, mas eu
cruzo os braços quando ela sai para dançar novamente, e fico ali bebendo
algumas cervejas, enquanto espero que ela queira ir.
— Que fase, fratello! — meu irmão me zoa, sentando ao meu lado. —
Eu preocupado com Emma, mas é você que está de quatro por ela.
— Não exagera!
— Claro, até porque sair de onde você estava para vir aqui, mostrar a
todos que vocês estão juntos, e ficar mesmo estando claro que não queria
estar aqui é bem normal, né?
— Eu não vim marcar território, Emma não é um pedaço de terra ou
algo do tipo. E foi ela quem me beijou na frente de todos, eu só queria
garantir que ela iria bem para a própria casa, e não para a de outra pessoa ou
qualquer outra merda, Francesco. — Ele fica me olhando com uma cara de
quem não acredita em nada do que disse. — E eu também não gostei de ver
outro cara tão próximo dela, satisfeito?
Ele ri alto, se divertindo às minhas custas e eu tenho vontade de
quebrar um taco de sinuca na cabeça dele, mas não acho que seja algo
muito legal de se fazer.
— Que fofo, você apaixonadinho! — Ele se afasta, sabendo que
estou ficando irritado e eu mando ele procurar uma boca para beijar e me
deixar em paz. E é exatamente o que ele faz com a garota que estava com
ele quando cheguei.
Jogo o corpo um pouco para a frente, apoio meus cotovelos em
minhas pernas e esfrego meu rosto, me sentindo estranho com toda essa
situação.
— Vamos? — Escuto a voz de Emma e levanto em um pulo, vendo a
ruiva que é bons centímetros mais baixa do que eu não estar nas melhores
condições. — Acho que estou bêbada!
— Você está! — Eu abro a carteira e deixo algumas notas, para pagar
o que ela consumiu e eu tive certeza que ela está bêbada porque nem
reclamou disso. Seguro Emma pelos ombros, e saímos dali, comigo
andando atrás dela para garantir que não irá cair e nem tropeçar em nada.
Coloco Emma no carro, que não ajuda em nada e fica balançando as
pernas e rindo disso. Passo o cinto por seu corpo e travo bem, mas sou
interceptado antes de conseguir sair da frente dela, e ganho um selinho por
ser legal.
Palavras dela.
— Eu queria usar o vibrador hoje, mas acho que não vou conseguir
usar.
— Provavelmente, não — digo e dirijo com calma para não balançar a
minha passageira que parece que vai vomitar a qualquer momento. — E
nem recomendo, melhor não correr o risco de se machucar.
Em questão de segundos Emma dorme, e nem deve ter ouvido a
última frase que falei, mas acho que não valeria de nada. Já viram alguma
pessoa alcoolizada dar ouvidos a terceiros? Pois é.
Mais uma vez preciso levá-la em meus ombros até o seu apartamento,
que para a minha sorte agora sei os acessos, e tento não machucá-la quando
a coloco em sua cama, mas ela acorda bem no momento que puxei a coberta
e seus olhos meio perdidos encontram os meus.
— Fica aqui? Acho que vou precisar de ajuda! — Como eu diria não?
Quando se é jovem e amigo de outros homens que gostam de curtir
muito, você aprende a lidar com os momentos mais chatos que o álcool faz
com uma pessoa. E nem lembro quantas vezes fiquei como a Emma ou até
mesmo pior que ela.
Ela está mesmo na idade de curtir a vida, o famoso “não sei se
estarei vivo amanhã, então vou aproveitar hoje como meu último dia.” Que
jogue uma pedra quem nunca falou isso.
Consegui achar um balde e deixei perto da sua cama caso precise, e
preparo um copo de água bem gelada com açúcar. É ótimo para amenizar a
ressaca que chegará amanhã com tudo.
Emma bebe tudo depois de reclamar que está muito doce, e começa a
tentar tirar a blusa, mas não consegue de jeito nenhum, ficando com um dos
braços presos por cima da cabeça e me concentro para não rir.
— Me ajuda! — resmunga. — Não quero dormir suja, preciso de um
banho!
Inacreditável como eu me fodo enquanto tento ajudar as pessoas.
— Por que não troca apenas de roupa? Amanhã você toma um banho!
Sabe que não conseguirá fazer isso sozinha.
— Que bom qu… — ela soluça e ri de si mesma, balança o braço para
que eu ajude, e claro que vou ajudá-la, mesmo que eu não quisesse, não tem
como resistir a esse biquinho e esses olhos pidões — que você está aqui! —
termina a frase.
Eu me sento na beira da cama, puxo a blusa de Emma para cima até
tirá-la toda, e claro que ela está sem sutiã, mas eu mantenho meus olhos
fixos em seu rosto, e vou até o closet para pegar uma roupa de dormir,
conseguindo achar um conjunto de short e blusa com estampa de doces.
Deixo que ela se apoie em mim para tirar o resto da sua roupa, fico
com o rosto virado para o outro lado até que ela termine de se vestir e só
preciso ajudar com o laço do short, que ela insiste que precisa ser perfeito
se não terá pesadelos.
É cada uma…
Emma deita, e eu vou para o outro lado da cama. Tiro o sapato, e a
camisa social, ficando apenas com a calça do terno que estava usando hoje
para trabalho, e a ruiva se enrosca em meu peito assim que eu deito do seu
lado.
Em nenhuma hipótese eu iria embora e a deixaria nesse estado,
podendo passar mal a qualquer momento.
22

Eu nunca mais vou beber.


É a primeira coisa que eu penso quando acordo com a claridade do
meu quarto e sinto uma dificuldade absurda em conseguir abrir os meus
olhos. Mas assim que consigo dou de cara com um peito forte e bronzeado,
e de primeira me assusto e tento me afastar devagar, mas o alívio é grande
quando vejo Jacob dormindo todo sem jeito.
Toda a noite anterior veio com tudo na minha cabeça, e eu lembro de
cada coisa que rolou e que eu o beijei do nada, na frente de todos. Jesus, a
bebida humilha o ser humano em um grau inexplicável.
— Está viva, amore! — Jacob se espreguiça, mas eu ainda estou um
pouco vidrada em seu peitoral, que não é desses gigantescos, quase feitos
de pedra, mas é definido e muito bonito — Como está se sentindo?
— Humilhada? Envergonhada? — murmuro e ele ri baixinho, me
olhando com carinho.
— É normal, Emma. E eu cuidei de você, não precisa se preocupar.
Me levanto igual um zumbi, peço alguns minutos para tentar me
recompor, e já entro direto no box, recebendo um jato gelado no meu corpo,
na tentativa de despertar um pouco e aproveito para lavar o meu cabelo que
está uma mistura de cheiro de cigarro, cerveja e suor.
Definitivamente, me empolguei demais na noite de ontem.
O espelho me mostra assim que saio do banho, que eu não tenho
nadinha de maquiagem em meu rosto e eu tinha passado, bastante aliás. A
curiosidade faz com que eu saia enrolada na toalha, terminando de pentear o
cabelo para poder falar com Jacob.
— Você tirou minha maquiagem?
Seus olhos percorrem meu corpo, e eu quase me sinto nua. Mas não
me incomodo, na verdade eu até gosto de ver o quanto afeto o homem lindo
que está deitado na minha cama. É surreal acreditar que essa cena acontece
diante dos meus olhos, mas só porque ele me acudiu numa noite de
bebedeira.
— Sim! Imaginei que não seria bom dormir com maquiagem, e que
provavelmente se sentiria envergonhada ao acordar toda borrada, mesmo
que seja algo normal. — Nossa, com certeza. Imagina acordar igual a um
panda do lado dele, que acordou perfeitamente lindo? Até seu cabelo um
pouco bagunçado é charmoso.
— Você não existe! — Sorrio para ele, que me retribui o sorriso. —
Que horas tem… caralho! São 10 horas da manhã, nós iremos viajar que
horas mesmo? Eu fiz você perder a hora do trabalho, né?
Ele se levanta e ri, dando um beijo em minha testa ao passar por mim
e veste a camisa que tinha deixado pendurada na cadeira. Até se vestindo o
homem consegue ser sexy, eu sou totalmente desengonçada.
— Eu optei por não ir. Mas, preciso ir em casa tomar um banho,
deixar os cachorros com a Liz e pegar a minha mala antes de irmos. —
Abotoa até o penúltimo botão da sua camisa, calça seus sapatos e para na
minha frente novamente. — Quer que eu te busque para irmos até o hangar?
Faço um carinho em seu rosto bonito e aproveito o clima de
intimidade para dar um selinho nele, antes de falar.
— Eu vou encontrar com a Kath e devemos ir juntas! — Ele
concorda, e pega a maleta que estava no chão ao seu lado. — Obrigada por
cuidar de mim, Jacob. E desculpa por, provavelmente, ter tornado a sua
noite desconfortável.
— Pra mim foi um prazer cuidar de você, e de nenhuma forma me
sinto desconfortável quando estou com você. — O sorriso dele me atinge
com tudo. — Tirando a parte que não tenho a mesma vibe dos seus amigos,
e pareço um tio vigiando os sobrinhos, o resto foi ótimo.
Eu vou com ele até a porta, abro e me escoro nela quando ele sai.
— Te vejo daqui a pouco.
— Até mais, bella. — Um arrepio se estende da minha coluna até a
minha nuca ao ouvi-lo me chamar assim, e quando fecho a porta preciso
respirar fundo para não colapsar.
Mais uma vez, Jacob me surpreende. A cada dia que passa, eu
conheço mais o seu lado meigo, que contrasta totalmente com a sua cara
emburrada, que eu quase não vejo mais e eu só fico imaginando como que
ele seria se não tivesse o peso do luto em suas costas.
O relógio enorme perto da mesa de jantar me mostra que eu tenho que
correr para encontrar com Kath, e vou para o meu quarto arrumá-lo
rapidamente e também coloco o que faltava em minha mala, e só quando
vou pegar uma roupa que noto que, simplesmente, levei-o até a porta
enrolada em uma toalha.
Kath manda mensagem avisando que já está vindo me buscar, e eu
coloco o vestido preto de alças grossas com decote coração, e uma sandália
rasteira. Dou mais uma penteada no cabelo, sem me preocupar muito
porque iremos fazer o cabelo lá e desço com a minha mala e outra bolsa
pequena depois de ter trancado a casa toda.
— Você é sempre um colírio para os olhos! — É assim que sou
recebida por Kath quando entro em seu carro, e dou um beijo na bochecha
da minha amiga. — E aí, de ressaca?
— Ressaca? Como você sabe que eu beb… — Ela me dá seu celular,
que está aberto na nossa mensagem, e eu começo a ouvir os áudios que
mandei. Na maioria, eu estou cantando, falando do Bruce que é muito legal,
mas não me atrai, e os últimos já são mais vergonhosos. Nesses, eu falo de
Jacob, que ele é gostoso e que se eu pudesse me jogaria em seu colo,
reivindicaria ele só para mim e colocaria uma coleira apertada em seu
pescoço. — Certeza que isso era uma hospedeira em meu corpo, não era eu.
— Devolvo o celular da minha amiga, que começa a rir, e dirige em direção
ao Spa.
— Quem nunca, amiga? Eu sou mãe, vou fazer 26 anos e ainda faço
isso às vezes! A última, que foi lá em casa mesmo, eu e a Liz nos trancamos
juntas no banheiro, uma mais bêbada que a outra e ficamos fazendo
videochamada com o Noah, pedindo socorro e falando que tínhamos sido
sequestradas.
Eu rio alto, de sentir a barriga doer e ela também.
— É tanta coisa nova na minha vida, tanta responsabilidade, que às
vezes esqueço que esses momentos são normais.
— E no final, ainda teve o príncipe emburrado para te acudir e fazer
carinho em você enquanto dormia. — É difícil não sorrir ao ouvir o quanto
o Jacob é um príncipe mesmo, só que de um jeito um pouco diferente dos
convencionais. — Como estão as coisas entre vocês dois?
Ela estaciona dentro do Spa, que já estava esperando por ela, e fez
todo um esquema para que não fosse vista entrando, quando descemos do
carro já somos levadas até a parte exclusiva para clientes VIPs e espero até
ficarmos sozinhas para falar.
— Tudo ótimo, na verdade. Jacob é incrível, paciente e me trata muito
bem. Na verdade, parece até outra pessoa, já me acostumei a vê-lo de
maneira mais relaxada, carinhosa, que acho que vou estranhar quando isso
tudo acabar.
Ela me olha com um jeito preocupado, mas eu finjo que não percebo e
faço o que a funcionária diz: vou até o banheiro, fico só de calcinha e visto
o roupão muito felpudo e macio. Quando volto vejo outras funcionárias já
trazendo duas macas e montando-as para que eu e Kath deitemos.
Kath é sempre muito simpática com todos, e noto que as meninas
ficam meio eufóricas, mas têm que se conter, mas ela promete que tirará
uma foto com elas quando estiver vestida novamente.
Nos deitamos, e eu viro o meu rosto para a direção da minha amiga,
que me dá um tchauzinho, depois fecha os olhos quando a sua massagista
começa. Não demora muito e eu sinto os dedos dos anjos tocando as minhas
costas depois de ter me lambuzado com um óleo.
— Eu acho que — ela pausa o que iria começar a falar para soltar um
suspiro quando a massagista acha um ponto em suas costas que a faz relaxar
bastante — é bem legal a relação de vocês, e Jacob ganhou muitos pontos
comigo por ser tão preocupado nas suas questões, em fazer com que você se
conheça e tudo mais. Infelizmente, isso não é algo comum entre os homens
e eles só se preocupam com o prazer deles.
Eu dou uma olhada para as meninas, mas elas parecem estar bem
alheias, ou pelo menos fingindo que estão, a nossa conversa. Imagino que já
devam estar acostumadas em ouvir as conversas das clientes e ficarem na
delas.
— É, isso é legal sim.
— Mas? — minha amiga pergunta, abrindo só um olho para me ver.
— Ah! Você está se apegando, né?
Será que essa massagista aceita casar comigo? Meu Deus, que
massagem deliciosa. Até me desconcentro um pouco da conversa.
— Sendo bem sincera? Sim! Acho que nesses últimos tempos temos
ficado muito próximos, conversando todos os dias e meio que estou me
viciando na presença dele, o que seria ótimo se ele não fosse… ele! — Kath
dá uma risadinha sem humor. — Talvez seja melhor eu me afastar um
pouco depois desse final de semana.
Fico encarando-a, esperando que me diga se isso é uma boa ideia ou
não, mas ela fica um tempo quieta e tenho certeza que está pensando no que
me responder.
— Amiga, sabe que no geral vai ser um pouco difícil, né?
Normalmente, estamos sempre juntos! Por mais que eu não veja o Jacob
tanto quanto você tem visto, pelo menos uma vez na semana estamos todos
juntos, isso quando não chego em casa e Barbie está na piscina com Milla,
ou o Jacob dentro da casa de boneca com ela, contando alguma história. E
você também sempre está, nós iremos viajar daqui a algumas horas e passar
esses dias juntos.
Ela para e toma um pouco do suco verde nojento que pediu para ela, e
eu fico ansiando pelo resto do que irá falar.
— O que eu quero dizer é que se você quer se afastar para proteger o
seu coração, eu irei te apoiar em todo o tempo! Mas, tenha em mente que
tê-lo na sua vida será algo rotineiro, porque de um jeito estranho, somos
uma família enorme.
— Eu penso nisso sempre que não estou com ele. Que talvez tenha
sido um erro enorme esse envolvimento, mesmo que seja muito recente e
que não signifique nada para ele. Eu não o amo, ou nada desse nível, mas
não sei se saberei tratá-lo como antes, sabe? Como se nada tivesse
acontecido. E ele com certeza irá tirar isso de letra.
As massagistas pedem para que deitemos de costas, e colocam uma
toalha em cima dos nossos seios assim que nos viramos.
— Eu não te julgo por pensar nessas coisas! Quando eu fui notando
meu interesse além do normal no Noah, comecei a cogitar todas as merdas
que poderia dar também, mas no final, tudo deu certo. — Sorte a dela. —
Por que você não curte esse final de semana, e depois vê direitinho o que irá
fazer?
— É o que irei fazer.
Na próxima semana ficarei ainda mais enfiada na faculdade, e com a
cara dentro dos livros. Isso pode me ajudar a dar importância às coisas
certas e manter minha mente concentrada em meus propósitos, ciente
também de que o que eu tenho com Jacob é apenas isso.

Mais uma vez estamos a caminho de uma viagem todos juntos, até
quem achávamos que não poderia vir, o Bryan e o Jackson, também estão
aqui no jatinho rindo e conversando sobre coisas bobas.
Depois que saímos do salão com o corpo relaxado, unhas e cabelos
feitos, paramos para almoçar em um restaurante simples perto da faculdade,
mas que tem uma comida muito gostosa, e viemos encontrar os demais.
Já tem umas 2 horas que decolamos, e a viagem dura em torno de 7
horas, pelo que eu entendi. Nas primeiras horas sempre estamos muito
empolgados, queremos rir, brincar e tentar adivinhar como será a viagem,
mas agora eu já vim para o meu canto, com o meu celular para poder ler,
mas me pego toda hora olhando para Jacob, que sempre está olhando para
mim.
Eu já nem sei mais porque eu quis me afastar desse homem. Agora,
perto dele, eu percebo o quanto isso será extremamente difícil, ainda mais
recebendo esses olhares dele.
Talvez eu só deva deixar tudo rolar, e o que tiver de ser, será. Eu sou
médica, devo conseguir curar o meu coração caso ele se envolva mais que o
necessário.
Me esforço para ler o livro, e consigo de vez engatar na leitura de
mais um livro de uma autora brasileira. Não tem nenhum livro de lá que não
me encante, e eu sempre dou cinco estrelas, porque essas autoras
independentes mereciam muito mais reconhecimento. Já vi muito livro
hypado, de autoras agenciadas por editoras que não são um terço da
excelência dos que já li das independentes.
Estou chegando nos últimos capítulos de Fixed, que é uma série da
autora Gabriela Bortolotto. Inclusive até comecei a segui-la esses dias e
ela parece ser uma fofa e atenciosa com os seus leitores.
O surto que eu tenho a cada página, é como se eu mesma tivesse
vivendo a história da Rebecca e do Zach! E eu estou muito apaixonada por
esse casal, sério, eles são perfeitos juntos.
Quando estou quase terminando, ouço o aviso do piloto que iremos
pousar e que todos devem estar sentados e de cinto. Eu coloco o celular em
meu colo, e já puxo a fivela do cinto, tendo certeza que está bem apertado e
Jacob se senta ao meu lado para fazer o mesmo.
— Como foi a leitura? De onde eu estava parecia que você estava
muito entretida! — a voz gostosa desse italiano reverbera por meus
ouvidos, e é como uma canção de hipnose.
— Incrível, quase consegui acabar — digo, e observo quando ele fica
passando os dedos pelas alianças em seu colar, já tinha notado que isso é
um costume bem comum, e parece meio que uma forma dele nunca
esquecer, o que é estranho, mas quem sou eu para julgar as escolhas dos
outros. — Você não tira nunca?
A pergunta sai antes que eu consiga deduzir que não é legal ficar
perguntando sobre isso. Jacob deixa claro sempre que pode que é um
assunto que ele não gosta de tocar, e eu me sinto mal quando ele franze a
testa, constatando o que estava fazendo sem nem perceber.
— Eu tiro… só quando transo! — Ok, por que esse homem precisa ser
tão sincero assim? — Você tem algo contra? A eu usá-la quando estamos
juntos? — Acho que a pergunta é mais por curiosidade, não para tirá-la ou
algo do tipo.
— Não me importo com elas! É uma coisa sua e eu respeito, mas acho
que deve ser meio estranho tê-las na hora de transar… como se alguém
estivesse vigiando e pronto para julgar o que está sendo feito.
Ele prende uma risada e eu aperto a minha coxa quando o avião
balança antes de finalmente estar em terra firme.
— É exatamente o que eu penso! — Ele me ajuda com meu cinto e
tira o dele antes de levantar e estender a mão para que eu também levante.
Aceito a sua ajuda e arrumo o vestido antes de seguir os demais e sair do
avião de pequeno porte. — Já veio à Califórnia?
— Através dos livros, apenas! — brinco e ele me olha de cima a
baixo, disfarçadamente, e na mesma hora o meu corpo já sente a
necessidade de senti-lo, mas eu me contenho e vou até os demais.
O clima está bem gostoso, e sem dúvidas os parques devem estar
lindíssimos. A primavera sempre capricha na natureza e tudo fica ainda
mais lindo e florido do que o normal. Para a minha sorte o evento é só
amanhã, e domingo eu pretendo passear e conhecer um pouco a cidade.
Jacob havia me mostrado o hotel que foi escolhido, e ele é perto de
tudo, então não vou me preocupar em precisar de companhia para ir a
alguns lugares passear e tirar fotos.
Nós pegamos nossas malas e nos dividimos em alguns táxis para ir ao
hotel, que não era nem 10 minutos de distância de carro e é claro que eu
fiquei encantada pelo prédio incrível e moderno, que deve ter uma vista
surreal do restaurante estilo rooftop.
Como sempre o Jacob toma a frente, vai até a recepção adiantar todas
as partes chatas e burocráticas da nossa estadia pelo final de semana e eu
espero até que ele me dê a chave do quarto, ele literalmente parece um pai
explicando detalhadamente a todos nós que ficaremos no mesmo corredor, e
que dois quartos são interligados por uma sala, mas ele não tem a mínima
noção de qual é, e iremos descobrir na hora.
Eu fico no elevador rezando para o meu e o dele não serem juntos,
mas quem disse que o universo colabora com algo? Descubro assim que ele
abre a porta do quarto dele, e coloca a cabeça para fora avisando que quem
estiver à esquerda dele será a pessoa a dividir o bendito quarto.
Entro pelo meu, mas fico um pouco mais tranquila quando entendo
que é uma porta a mais, ao lado da porta do banheiro, que leva até essa sala
e que estamos mais distantes do que se não houvesse esse quarto.
— Melhor manter essa porta fechada, amore — ele diz quando
aparece ali, com um sorriso safado. — Eu posso me sentir carente e querer
procurar abrigo por aqui, e seu quarto é mais bonito que o meu.
Eu coloco a mala em cima do banco que tem na beira da cama, e o
encaro.
— Assim você só vai fazer com que eu deixe-a escancarada, Jacob!
— falo seu nome na mesma entonação que ele falou amore, e escuto um
resmungo em italiano e depois a sua língua estalar antes dele sair, avisando
que precisa de um banho.
— Ah! Se quiser me assistir novamente, a minha porta estará sempre
aberta esperando que você entre.
O meu queixo cai ao ouvi-lo e sua risada gostosa toma conta do
ambiente quando ele vê a minha reação, e eu sinto vontade de chorar… mas
não falei por onde! E isso me lembra que ter trazido o vibrador foi uma
ideia muito inteligente.
23

— Nada nesse mundo será capaz de me explicar o porquê de eu topar


essas merdas que você inventa, Barbieri — resmungo, enquanto o infeliz
continua passando uma tinta estranha nas laterais da minha cabeça, porque
ele disse que já que não vou cortar a minha barba igual a do personagem, o
mínimo é deixar o cabelo igual.
O loiro continua rindo e se divertindo enquanto olha cuidadosamente
para ambos os lados, vendo se fez certinho e nem consigo contestar quando
Laurinha vem passar um lápis de olho em mim, porque a porra do
personagem também achou legal usar isso.
— Está reclamando demais! Se tivesse topado o Visão, para fazer par
com a Emma, teria que se pintar todinho de roxo.
— Nem que me pagassem, Barbie — resmungo e Laura reclama que
estou me mexendo muito, mas eu dou graças a Dio quando ela se afasta,
falando que agora falta só a roupa.
Barbie já tinha resolvido sobre as nossas fantasias, porque sabia que
nenhum de nós estava empolgado com essa ideia então encheu o nosso
saco pedindo nossas medidas certinhas, porque tudo tinha que ficar perfeito
e hoje bem cedo entregaram tudo aqui no quarto dele, os demais já pegaram
as suas, mas eu fui obrigado a ficar aqui, porque ele não confiou em mim
para me arrumar decentemente.
A minha roupa consiste em muito pano, umas faixas e um manto. Fui
falar que era capa e Barbie ficou extremamente ofendido, ele é chato
demais com esse amor pela Marvel.
Laura sai do quarto, indo para onde as meninas estão para terminar de
se arrumar lá e eu aproveito para vestir todo aquele pano, e ainda sou
obrigado a colocar o anel. Até o anel ele fez questão!
Esse cara não existe mesmo.
Assim que terminamos nós saímos do quarto. Ele de Homem-aranha
que malhou demais, e eu de Dr. Estranho de algum outro universo que
deixou a barba crescer muito.
Antes mesmo de batermos na porta, as meninas abrem e somos
recebidos por Kath, que está de Valquíria, lindíssima como sempre, e atrás
dela uma Tempestade impecável aparece toda sorridente e orgulhosa da
maquiagem. Combinou muito com a Jennifer.
— Noah, B e Jackson já estão lá embaixo — Laura fala quando passa
por nós, vestida de Vampira com direito a peruca preta e a mecha branca na
frente. — Eles acabaram de mandar no grupo uma selfie deles! — A loira
começa a rir do nada. — Ô Jenni, você combinou com o Jack?
— Combinou o quê?
Laura mostra a foto, e eu vejo de onde estou que ele está de Pantera
Negra, e sinceramente, ele poderia facilmente substituir o papel do Michael
B. Jordan, que participou desse filme, mas como inimigo do personagem.
Parecem até a mesma pessoa, é bizarro.
— Ele está de Pantera Negra! — A tempestade faz uma cara de quem
não entendeu e o Barbie resmunga ao meu lado, mas Jenni explica que não
é muito ligada nesse tipo de filme, então não tem noção do que estão
falando. — A Tempestade e o Pantera são um casal nos quadrinhos!
Se ela realmente tivesse os poderes da Tempestade, alguns raios
escapariam dela nesse momento. Mas no final, ela ri, aceitando que não tem
muito o que fazer. Eu sinceramente, não sei em que pé os dois estão, então
não consigo interpretar nada das suas reações.
Emma é a última a sair do quarto, e assim que eu bato meus olhos
nela, eu perco totalmente o meu ar e fico com a sensação de que vou cair
duro, mortinho.
Ela está fantasiada de Feiticeira Escarlate, e até aí tudo bem. Mas a
sua fantasia é a original, sabe aquela dos quadrinhos? Que consiste em algo
parecido com um maiô, muito decotado e uma capa.
APENAS ESSAS DUAS PEÇAS!
Eu olho para Barbie, mas o safado nem tem coragem de me encarar e
depois volto a olhar para Emma, que fecha o quarto e para na minha frente,
sorrindo. Ela está linda, perfeita. O adereço do rosto, a maquiagem e o
cabelo bem modelado estão impecáveis, e porra, o resto também. Mas, se
ela desfilar o dia inteiro assim vai ser o meu fim.
— Você está incrível, amore. — Sorrio para ela, que morde o cantinho
do lábio e eu escuto quando nossos amigos se afastam e passo a mão em seu
rosto, fazendo um carinho leve. — E tão gostosa, que se não fosse por todo
esse pano que estou usando, qualquer um conseguiria ver a minha excitação
de longe.
Ela ri e meus olhos vão direto para os seus seios que ficaram bem
fartos nessa fantasia apertada, que nem alça tem. Como sustenta? Dio mio!
— Gostou? Eu estava morrendo de vergonha, mas até que a capa
tampa bastante coisa e ninguém vai ver minha bunda de fora, porque o
tecido embolou um pouco e ficou dentro da minha bunda. — Estão ouvindo
aquele barulho de quando a pessoa morre e está ligada a aparelhos? Sou eu,
morri! — Sorte que as meninas falaram para eu não colocar calcinha, ia ser
muito tecido embolado junto.
— Cazzo, Emma! Tenha dó de mim. — Pressiono com força o osso
que fica entre meus olhos e respiro fundo algumas vezes. — Por mim, eu só
te arrastava para o quarto e tirava essa pouca roupa, ou melhor, te assistiria
tirar tudinho, bem devagar.
A respiração dela fica pesada, e vejo quando engole em seco.
— Não fala essas coisas, estou sem calcinha! — Eu rio, porque o
nosso desespero é igual, e não resisto a dar um beijo com cuidado para não
borrar o batom que está usando.
— Espero muito que a porta do seu quarto não esteja trancada quando
voltarmos — sussurro com a boca colada em seu ouvido, e ela implora que
eu pare de falar essas coisas agora. E enfatiza o agora!
Na minha lápide vai estar escrito: aqui jaz o italiano que morreu de
tanto tesão pela ruivinha dos seus sonhos.
Talvez eu já até encomende para não dar trabalho aos meus amigos,
porque eu não vou sair vivo dessa viagem.
Nós nos juntamos aos demais, e vamos andando até o evento porque é
praticamente ao lado do hotel que estamos, eu deixo que todo mundo vá na
frente e puxo o Homem-aranha fajuto para falar com ele.
— Qual o caralho do seu problema, Scott? — Ele tira a máscara para
me encarar, e fica com uma interrogação na cara, mas eu o conheço bem
demais para saber que ele está se fazendo de desentendido. — É sério que
você achou que aquela roupa, a porra de um maiô, seria a melhor para
Emma usar?
Ele pressiona um lábio contra o outro para não rir e a minha vontade é
de tacá-lo na fonte que tem perto de onde estamos.
— Ué, eu só quis que fosse bem autêntico! E se quer saber, eu tentei
mudar a fantasia dela depois de ter assistido o último filme, a Feit…
— Barbie, foco! Que merda, cara. Fique ciente que hoje eu ficarei
mais emburrado do que qualquer outro dia da minha vida, e a culpa é sua
porque não pensou em algo com mais tecido para a Emma usar.
Nós voltamos a andar porque toda hora os nossos amigos olham para
trás, e devem estar querendo saber o porquê da minha cara de ódio. Isso se
já não sabem, inclusive as meninas também querem me ver infartando, com
essa história da Emma não usar calcinha para não marcar.
— Não estou entendendo porque tanto ciúmes, Jacob. Vocês não só
ficam e não tem nada demais? Nada além disso?
— Você já foi tomar no cu hoje? — Ele gargalha e coloca a máscara
novamente. — E por um acaso, você achava legal ver a Olívia sendo o
centro das atenções mesmo antes de ficarem juntos?
— Mas a questão é que eu já gostava dela muito antes de perceber,
por isso eu tinha ciúmes. — Ele passa um braço pelo meu ombro, para falar
baixinho perto do meu ouvido. — O que será que significa o seu ciúmes,
italianinho?
Ele se afasta rápido, e vai até a namorada. Eu continuo andando atrás
deles, e para concretizar a minha morte lenta, o vento levanta demais a capa
de Emma e eu vejo a bunda mais perfeita, redonda e empinada bem na
minha frente.
Hoje será o dia mais tortuoso da minha vida.
Nós entramos no evento depois de algum tempo na fila e claro que eu
fico perto de Emma o tempo todo. A ruiva que está usando uma fantasia
popular, se destaca de todas as outras Feiticeiras que já vi por aqui, e o
nosso grupo não colabora porque todos nós juntos chamamos a atenção
pelos casais improváveis que se formaram, fugindo dos originais dos filmes
e quadrinhos.
Onde você veria um Nick Fury, que no caso é o Noah, beijando uma
Valquíria? Ou um Soldado Invernal, mais conhecido por nós como B, de
papinho mole com a Vampira? Isso está um caos, e o Homem-aranha
abraçando toda hora a Capitã Marvel só piora a situação.
Ou seja, estamos chamando muito a atenção! E pra piorar, tem eu
igual a um maluco do lado da Emma, é realmente o Multiverso da Loucura.
Como a gente já imaginava está muito lotado, mas aos poucos
conseguimos visitar os stands, assistimos uma entrevista ou outra,
compramos várias e várias coisas de muitos temas diferentes, e rodamos
toda a convenção gigantesca ao decorrer do dia.
— Barbie, você deveria parar de reclamar que está andando com a
Feiticeira. — Presto atenção na conversa que começa entre eles. — Não
esqueça que eu ando sempre com o Darkhold comigo. — Ela levanta a mão
e mostra a beira dos dedos pretos, fazendo referência a todo o caos que
aconteceu no último filme do Dr. Estranho, e o Barbie só bufa e aceita.
E isso foi muito sexy para mim, mas acho que já estou enlouquecendo
de tanto tesão contido durante esse dia. Mas já deu a hora de irmos, e eu
quase agradeço de joelhos por isso.
A volta é bem mais fácil, já que a saída está bem mais tranquila e o
combinado de jantarmos juntos vai por água abaixo quando chegamos no
hotel e todo mundo diz que está cansado e vai pedir comida no quarto.
Eu e Emma vamos até o final do corredor, onde ficam os nossos
quartos e nos encaramos antes de entrar, como se pelo olhar prometessemos
muitas coisas um para o outro nessa noite.
Já tiro toda a minha roupa e coloco no saco em que veio e vou tomar
um banho bem quente, lavando bem meu cabelo e o rosto, para tirar
qualquer maquiagem e produto de cabelo que Barbie inventou de passar.
Enrolo uma toalha em minha cintura, saio do banheiro para pegar uma
roupa e pensar no que irei faz…
— Você prometeu me ajudar com a roupa! — É o que Emma fala,
enquanto me encara, na porta do meu quarto que eu deixei aberta, sonhando
com uma visita que está de fato acontecendo, e eu estou tendo dificuldade
em acreditar. Pisco algumas vezes, e sem pensar muito vou até ela, puxo-a
para dentro do quarto, trancando a porta atrás dela. — Acho que isso é um
sim para a ajuda, né?
— Amore, você não sabe o tamanho da minha boa vontade para te
ajudar. — Eu roço meu pau que está começando a ficar duro em sua barriga
e ela suspira. — Mas não antes de poder afirmar que eu peguei a Feiticeira
Escarlate mais gostosa.
Passo um braço por suas costas e puxo seu corpo para que entrelace
suas pernas em minha cintura e ela faz, entendendo perfeitamente a minha
intenção. Eu a beijo como se fosse o último beijo da minha vida,
desesperado.
Eu fico em pé com ela enquanto nos beijamos, e me delicio com as
suas unhas que passam pelos meus braços e depois minha nuca. Emma
esfrega o corpo contra o meu, e é difícil saber qual de nós dois quer mais
contato físico que o outro.
Caminho com ela no meu colo até a cama e me sento, sentindo seu
peso que esmaga o meu pau e choramingo entre nossos lábios. A safada ri,
afastando nossas bocas e me olhando com tesão, querendo deixar claro o
seu desejo.
Minhas duas mãos apertam a sua bunda gostosa, aperto com força
para saciar um pouco da vontade que tive de fazer isso durante todo o dia.
Todo o torturante dia.
— Eu bateria na sua bunda se eu pudesse. — Beijo seu decote, sem
fazer cerimônia e ela joga o corpo um pouco para trás, deixando o acesso ao
seus seios mais fácil. — Eu faria muitas coisas com você se eu pudesse.
— Você pode fazer muitas coisas, Jacob! — A voz dela está tão rouca,
que só isso é o suficiente para me deixar ainda mais excitado. — Eu quero
que faça muitas coisas.
O que acontece agora é muito rápido. Eu tiro a maldita capa e o
adereço que ainda estava em seu rosto. Ela me olha com curiosidade,
ansiando para saber o que farei.
Em um movimento rápido, eu a deito na cama, e fico em pé. Olhando
a personificação do meu sonho, ou quase, que é ela em minha cama.
— Sabe que eu não tenho nada além da toalha, né? — A minha mão já
está em cima do meu pau enquanto falo, e ela encara como se pudesse me
ver nu.
— Eu também não tenho nada além disso! — Aponta para a sua roupa
e eu rio em desespero, ficando incrédulo em como Emma se solta quando
não pensa muito na vergonha, e apenas deixa as coisas rolarem. — O quarto
é seu, fique à vontade!
Mas, uma coisa é certa: não posso transar com Emma, não ainda! Só
que existem muitas coisas a serem feitas além da penetração, e a minha
imaginação voa com as possibilidades.
— Bem, você quem pediu, amore! — A ruiva ergue um pouco o
corpo, e nesse exato momento, eu tiro a toalha e deixo que caia no chão.
24

Se no dia que eu o flagrei no banheiro do apartamento eu já fiquei


chocada com o que vi, agora estou ainda mais em choque.
O pau do Jacob é grande, grosso e está duro a ponto de encostar na
sua barriga, com as veias ressaltadas.
— Jacob… — eu começo a falar, mas não sei o que dizer de fato,
porque nada me preparou para isso. Nada me preparou para vê-lo assim, na
minha frente, pronto para o que der e vier.
— Amore, você não tem noção em como eu penso todos os dias no
que vai acontecer. — Ele fica de joelhos na cama, tão perto de mim, mas
ainda não perto o suficiente. — Ainda não será o que essa sua cabecinha
está pensando, mas prometo que vai ser incrível.
Jacob me puxa e eu fico de joelhos na cama também. Suas mãos
tateiam as minhas costas e ele acha o zíper do body, mas antes de continuar,
ele olha em meus olhos, pedindo um aval e eu passo a mão no seu peito,
depois beijo o seu maxilar devagar até chegar na sua orelha.
— Eu te aviso se for demais! — Sinto o zíper descendo bem devagar,
até chegar no fim, perto da minha bunda que novamente volta a ser apertada
por ele e eu gosto.
Como o body não tinha alças e dependia do zíper estar todo fechado
para ficar colado em meu corpo e tapar meus seios, a parte da frente cai,
deixando meus seios e barriga totalmente nus, e os olhos dele parecem
incendiar, mas Jacob não faz nada além de pedir que eu me deite.
Suas mãos agarram as laterais da minha roupa e eu ergo um pouco o
meu quadril para que ele consiga tirar, e quando eu fico totalmente nua,
igual a ele, a vergonha que eu pensei que sentiria não me atinge. Na
verdade, me sinto incrível e linda recebendo toda essa atenção e admiração
do único homem que eu já desejei.
— Dio mio, Emma. — Ele abaixa a cabeça e fecha os olhos,
respirando fundo e se concentrando antes de voltar a me olhar. — Você é
inacreditavelmente perfeita, amore.
Uma de suas mãos segura o meu tornozelo e ele apoia a minha perna
em seu ombro. Sua boca começa a fazer um caminho de beijos dali até a
parte inferior da minha coxa, e eu perco a respiração a cada beijo que
recebo. Ele para a uma boa distância de onde eu estou muito quente, e me
olha.
— Só relaxa e aproveita! — Ele desvia o olhar de mim para o meio
das minhas pernas, e eu contraio involuntariamente pela forma que ele
admira, como se fosse a coisa mais interessante do mundo.
Os seus beijos voltam de onde pararam, mas ele sobe do meio das
minhas coxas para a minha frente, e faz uma trilha até os meus seios. A sua
língua passa lentamente pela parte inferior do meu seio direito, e sei que ele
quer me deixar o mais sensível possível, e vai conseguir. Sei disso quando a
maldita língua lambe meu seio e eu quase reviro os olhos com essa
sensação boa.
Jacob não perde tempo depois que ouve o meu gemido baixinho, e sua
boca devora meu mamilo, enquanto o outro ganha a atenção da sua mão
livre, recebendo uma massagem gostosa, que se divide em apertar e
estimular meu mamilo.
— Eu poderia facilmente gozar só com isso, Jacob — sussurro, me
remexendo embaixo dele, que se afasta para me dar um selinho. O sorriso
safado que estampa seu rosto é a visão do paraíso.
— Hoje você vai gozar na minha boca, amore — ele fala bem
pertinho do meu rosto, e eu solto um gemido alto ao ser pega de surpresa
por sua mão que cobre quase toda a minha boceta. — Tão gostosa! — Ele
tira a mão e lambe um dos dedos que ficaram encharcados e depois me dá
mais um selinho, mordendo o lábio inferior. Seu pau encosta em minha
barriga e nós dois suspiramos. — Hoje vai ser a tortura mais gostosa que eu
sofrerei.
Ele levanta, puxando meu quadril para a beira da cama e depois se
ajoelha, colocando minhas pernas em seus ombros e ficando com o rosto
muito perto da minha boceta. Eu consigo sentir a sua respiração, e nem sei
se é certo isso ser excitante.
Puxo um travesseiro para colocar debaixo da minha cabeça, mas paro
no meio do caminho quando sinto sua língua quente me lamber devagar do
início dela até muito embaixo, perigosamente embaixo, mas é tão gostoso,
eu perco a força nos braços e só sei gemer.
A língua dele entende bem o que faz. Ela passa pelo meio dos meus
lábios, na minha entrada, e vai me deixando ansiosa para recebê-la em meu
clitóris. Eu gemo a cada movimento que ele faz, eu rebolo em seu rosto e
quando finalmente sua língua vem em contato com meu clitóris, é uma
explosão de sensações e sentimentos.
Jacob começa de um jeito lento, e aos poucos vai aumentando a
velocidade e força entre as lambidas e sugadas. E o infeliz sabe
perfeitamente como fazer isso, se ele se preocupou todo esse tempo em que
eu precisaria falar para ele onde chegar, ele se enganou à toa.
Inclusive, vibrador nenhum me preparou para o que eu estou sentindo
agora.
Tudo é um combo de tesão, até a sua barba se esfregando em mim é
uma delícia.
— Jacob, eu vou go…
— Eu sei, amore! — Ele me interrompe para falar, e eu já nem sei
mais quem sou. O italiano volta a me sugar, e o ponto final para me fazer
gozar em sua boca é o seu dedo que esfrega o meu seio.
Minhas pernas tremem, meus seios estão pesados, eu ergo o quadril
pra cima, querendo mais dele e sua língua brinca na entrada da minha
boceta, eu sinto quando minha excitação escorre e ele lambe cada gotinha
dela, sem tirar os olhos de mim.
Eu não tenho forças.
Eu também não tenho vergonha do Jacob.
E eu quero mais… mais disso, mais dele! Eu o quero por inteiro.
Ele se levanta, alisando o pau que continua duro como ferro e eu tento
me sentar, para poder enxergá-lo melhor, ele vem para a frente, só para ficar
bem perto e eu não consigo desviar os olhos da sua mão que trabalha
arduamente no seu pau.
Eu queria lambê-lo todo. Cada parte do seu corpo, incluindo seu pau
enorme bem na minha frente, e ele dá uma risadinha como se pudesse ouvir
meus pensamentos.
— Não vou pedir para fazer isso, amore — sua voz sai rouca. — Só
de poder vê-la assim, só de ter seu gosto bom na minha boca e te ver me
encarar com desejo, é o suficiente para me fazer gozar.
— Mas eu queria… — Anda Emma, não é o momento para ficar sem
fala. — Eu queria tentar. — Olho para ele, que parece pensar um pouco
antes de pegar a minha mão e colocar no pau dele, e uau, como está quente.
— Eu não sei como fazer na prática, mas eu posso ter lido uma coisa ou
outra.
— Segue seus instintos, o resto eu te ajudo.
Ok. Meus instintos.
Imito os movimentos que ele fazia, só que um pouco mais devagar.
Levando a minha mão até o final do seu pau e voltando até a sua cabeça que
está toda melada. Sem pensar muito, eu passo a língua ali devagar e ele
geme alto, o que me dá coragem para tentar engoli-lo, vou descendo a
minha boca por seu pau até onde eu consigo, tomando cuidado com meus
dentes e me assustando com o tanto que ainda ficou de fora.
— Cazzo! Isso, amore. — Começo um vai e vem meio fora de ritmo,
mas a sua mão que se encaixa entre meus cabelos me ajuda a manter o
ritmo certo, e ele não coloca força, apenas me guia. — Caralho, que boca
gostosa.
Acelero um pouco os movimentos, com a ajuda da minha mão que se
movimenta onde a minha boca não alcança e ele continua gemendo, e
xingando em italiano.
Jacob se afasta rápido, sua mão substituindo a minha boca por alguns
segundos, em movimentos rápidos e precisos, e ele goza, sujando um pouco
a sua barriga pelo jato forte, e o resto escorre em sua mão.
Eu fico pensando qual gosto deve ter, mas eu vou descobrir em um
outro dia.
Ele precisa de um tempo para controlar a respiração, e pega a toalha
que estava usando antes para se limpar. Eu olho para o quarto, com a minha
fantasia jogada no chão e por alguns segundos penso que é um sonho,
dentre vários que já tive assim, mas nenhum foi tão bom e por isso sei que é
real.
Minhas pernas ainda estão meio moles, e ele percebe quando levanto,
mas desisto e sento novamente.
— Quer que eu pegue uma roupa para você? — Ergo uma
sobrancelha, porque não faz sentido, só preciso de algum tempo para
retomar as energias e voltar para o meu quarto.
— Só um minuto e eu vou para o meu quarto. — Passo a mão por
meus cabelos, puxando tudo para cima e fazendo um coque bem
bagunçado.
— Ou você pode dormir comigo! — Oi? Eu ouvi certo? — Eu já
quebrei tantas regras pessoais com você, amore. E eu gostaria que ficasse
por aqui, mas só se quiser. Sem pressão!
É muito errado, nessas condições, pedir ajuda a Deus para não me
apaixonar por esse homem?
Eu digo então que aceito, e sem me dar tempo para mudar de ideia, ele
sai do quarto e vai até o meu, dizendo que irá pegar algo confortável para
mim. E ele sai nu, totalmente tranquilo, como se já tivesse ficado assim
comigo várias vezes.
Vou até o banheiro, e acho que ele não se importará se eu tomar um
banho rápido e é isso que eu faço, tomando cuidado para não molhar o meu
cabelo e passando bastante do sabonete dele em meu corpo.
Tem uma toalha em cima da pia que não tinha antes, o que significa
que ele entrou aqui, mas eu estava tão perdida em meus pensamentos, que
eu nem percebi. Mas me seco e enrolo ela na altura dos meus seios,
voltando para o quarto e o encontrando sentado na cama, já de cueca.
— Então, eu trouxe duas opções. Esse conjunto aqui. — Mostra um
conjuntinho cheio de instrumentos cirúrgicos estampados. E esse aqui, que
vai me deixar maluco se for a sua opção, mas que também vai me servir
para muitas noites que eu não puder te ver. — Ele mostra a camisola que
coloquei na mala, que Kath me deu, e claro que vou escolher essa, depois
dele ter falado isso e a puxo de sua mão. — Claro, você quer fottere com o
meu juízo.
Volto para o banheiro e a visto. E é bem ridículo ter vindo ao banheiro
vestir uma camisola que não esconde nada. Ela até tem uma calcinha, mas
acho que ele não deve ter achado.
— Só quero deixar claro que eu irei dormir de pau duro! E que
também vou tirar algumas casquinhas! — Eu rio da espontaneidade dele, e
sento na cama sem saber muito bem o que fazer. — Vem cá! — Bate nas
coxas, para que eu sente em seu colo e assim eu faço, ficando de frente para
ele. — Você está tranquila com o que aconteceu?
Suas mãos entram na minha camisola e ele fica alisando a minha
cintura, fazendo um carinho sem maldade, mas eu ainda estou tão sensível e
acesa, que fico preocupada em molhar a sua perna.
— Sim, o que é uma surpresa. Eu pensei que me sentiria
envergonhada, e que depois fosse correndo para o quarto, mas você faz com
que eu me sinta à vontade, e desde que criamos essa ligação mais íntima,
me sinto segura e confortável com o que fazemos e conversamos.
— Isso é muito bom! Você não deve sentir vergonha em nada, nem de
você e muito menos de qualquer coisa que venha descobrir que goste. —
Ele ter falado isso me lembra das coisas que já falou que gosta, eu sempre
penso nisso e já assisti alguns vídeos. — O que essa cabecinha está
pensando?
— Lembra que você falou que tem pessoas que nem procuram fazer
algumas coisas para saber se gostam ou não? — Ele concorda. — Depois
daquele dia, que você me mostrou o site, eu pesquisei mais sobre muitas
coisas e com certeza depois de tantos comentários positivos, eu vou querer
me arriscar para ver o que gosto ou não. Não quero acabar deixando de
fazer algo gostoso, por medo de experimentar.
Eu vejo no exato momento em que ele engole em seco e tranca o
maxilar.
— Acho uma atitude inteligente, amore. Eu mesmo não me
importaria de te apresentar muitas coisas. Na minha casa eu ten… — Ele
fecha os olhos e para de falar.
— Eu sei que você não leva nenhuma mulher para a sua casa, mas, eu
meio que estou lá quando fazemos videochamada, então você pode me
mostrar assim, e depois, quem sabe, poderemos usar alguns desses.
Ganho um beijo gostoso depois do que ele escuta, e passo a mão em
seu cabelo, arrumando e esperando que ele responda algo.
— E eu que pensei que teria que me controlar com você, mas tô vendo
que aí dentro existe uma mulher muito safada, doida para descobrir todos os
prazeres que esse corpo gostoso pode ter. — O carinho sem maldade se
transformou em meu seio sendo estimulado novamente, e em minha boceta
roçando no seu pau pela cueca. — Não sei até quando terei juízo em não
passar dos limites.
Eu nem consigo responder, porque a gente volta a se beijar, e quando
menos percebo, minha camisola e a sua cueca já estão jogadas pelo chão.
25

Terça-feira, 05 horas da tarde, 3 dias depois do dia em que eu e Emma


elevamos ainda mais a nossa intimidade, e eu não consigo parar de pensar
nela, em seu gosto e em como eu estou me envolvendo demais com ela.
O envolvimento não é ruim, muito pelo contrário. O problema é que
quanto mais eu tenho dela, mais eu quero, quanto mais ela se solta, mais eu
quero que isso tudo evolua para mais.
Se dependesse de Emma, nós teríamos transado, e só eu e meu amigo
aqui embaixo sabemos o quanto foi difícil não ceder ao que ela e eu
queríamos. Mas é como se algo dentro da minha cabeça me alertasse que
depois que passarmos desse ponto, tudo vai mudar.
E não estou falando dela.
Esfrego o rosto, e volto a prestar atenção na reunião que está se
finalizando aqui na empresa, com todos os advogados e a Olívia. A procura
por nossos funcionários está crescendo muito, e eu e os meninos estamos
planejando aumentar o escritório e contratar mais advogados. Essa reunião
é para informar a todos disso, que a partir de agora nosso sistema de estágio
ficará maior, e que a equipe efetiva também aumentará.
Nenhum deles se incomoda, nem se importa com a concorrência,
porque todos são excelentes e sabem que não irão perder seus clientes fixos
e aqui dividimos muito bem os clientes rotativos.
Espero Olívia pontuar algumas coisas que a envolve nisso tudo, e
quando ninguém tem mais nada a acrescentar ou dúvidas para tirar, eu me
levanto e encerro a reunião.
— Cara, o aniversário da Olívia está chegando! — Barbie espera que
todos saiam, ficando apenas nós dois e Noah. — Queria fazer uma festa
surpresa para ela! O que acham de me ajudar nisso, lembrando o quanto
amo vocês?
Noah ri da cara de pau do nosso amigo, e eu nem perco meu tempo
falando não, porque no final sabemos que iremos ajudá-lo.
— O que tem em mente? — pergunto, enquanto guardo os papéis que
alguns dos funcionários sem educação deixaram por aqui.
— Então… nada! — ele diz e já sorri mostrando todos os dentes, e eu
reviro os olhos. — Eu quero fazer tanta coisa junta, que no final não sei o
que fazer.
— As meninas podem saber? — Noah pergunta e se encosta na mesa.
— Provavelmente, iremos precisar de ajuda, né? Olívia não parece ser o
tipo de pessoa que cai em festa surpresa.
Barbie começa a contar várias ideias que teve e eu tento filtrar, para
tirar algo de interessante disso tudo e acabo tendo uma ideia bacana.
— Ela é bem resolvida com a questão da patinação? — Ele diz que
sim, e ainda confirma o que eu pensava: ela ama o esporte, por mais que
não possa mais fazê-lo sempre. — Então já temos o tema, e também o lugar.
Os dois olham sem entender, e eu fico chocado em como os dois são
bem lentos para algumas coisas.
— O ginásio de patinação de NYC! Ele pode ser alugado para eventos
fechados e tem um salão com janelas enormes para a pista, e também saída
para lá. — Os dois acham incrível, e começamos a bolar algumas coisas. —
Então é isso! As meninas vão ficar encarregadas de levá-la de um jeito que
ela só perceba quando estiver lá dentro, a mãe e sogra do Noah fazem a
decoração, eu dei a ideia e não preciso fazer mais nada além de ir.
Deixo os dois lá resolvendo as demais coisas, e tiro o celular do bolso
para ver as notificações que recebi enquanto estava na reunião.
Emma: Oi, desculpa não ter respondido antes! Está tudo uma loucura
aqui na faculdade. Época de provas sempre é assim!
Emma: Hoje e amanhã eu devo ficar aqui até tarde, mas podemos nos
ver na quinta ou sexta! O que for melhor pra você.
Não vou negar que por mim eu teria visto Emma todos esses dias, mas
eu jamais irei atrapalhá-la em seus estudos. Me orgulho muito do seu
esforço e dedicação, mas eu estou com saudades. E é assustador.
Eu: Tudo bem, ia te chamar para comermos algo! Mas podemos
deixar para quinta-feira. Me avisa quando chegar em casa?!
Eu fico me perguntando se ela pensa que sou algum maluco por
sempre pedir que me avise que chegou bem em casa, ou se precisa de
carona para qualquer lugar que seja.
Depois da Sophie, eu não consigo mais ficar tranquilo, ainda mais
nesses momentos de locomoção. Sempre acreditei que eu me dedicarei mais
em ter cuidado por serem pessoas que eu amo, do que esses motoristas.
Emma: Te mando uma foto pra saber que cheguei.
A frase é finalizada com alguns emoticons safados, e isso só me faz
voltar na noite de sábado! Eu nem sei se fiquei feliz por meu pau ter ficado
duro o tempo todo, e minha excitação bombando como há tempos não
bombava. Foi desesperador e incrível, na mesma proporção.
Cada dia Emma me mostra que eu ainda poderia ser um cara legal
para ela, que eu saberia tratá-la como ela merece. Eu nem me importo mais
com os meus desejos e costumes.
Desde os 18 anos, eu não deixava alguém se aproximar assim. Há
quase 12 anos que eu não faço questão de estar com a mesma pessoa mais
de uma vez, e muito menos alguém do meu ciclo de amizades, que ainda
por cima é virgem.
Vou para casa com minha cabeça pensando nisso tudo, em como
chegou a esse ponto e em como parece que quando estou com ela tudo ao
redor some.
Eu não penso na nossa diferença de idade, nem em como seus pais
ficarão putos comigo e também não penso na Sophie.
Estaciono o carro dentro da garagem, mas continuo ali dentro,
chocado com o que acabei de reparar.
Eu não lembro da Sophie quando estou com Emma, a não ser que ela
pergunte algo que tenha ligação com a minha ex.
Coloco a mão por cima das alianças, e a culpa me atinge nesse exato
momento. Fico imaginando se onde ela estiver, se sente esquecida, de
escanteio por eu ter arrumado alguém que me distraia do meu luto.
Meus cachorros sempre sentem quando eu não estou muito bem, por
isso Arya e Mayke vem até mim devagar, e esfregam as suas cabeças em
minha mão e pernas.
Eu entro em casa e os chamo para entrarem também, fazendo um
carinho em Snape e Dumbledore, depois dou alguns biscoitos caninos para
cada um deles e os deixo brincando na sala.
Subo as escadas e encaro a última porta, a maldita porta que tem meu
coração lá dentro! E mais uma vez, em tão pouco tempo, eu entro e sento na
beira da cama, me sentindo a pior pessoa do mundo por me permitir ser
feliz em alguns momentos, enquanto a Sophie e o nosso bebê não estão
mais aqui.
Deixo que meus ombros caiam e sinto as lágrimas molhando meu
rosto. E fico ali, o tempo que preciso para chorar, me culpar e pedir para
que tudo não tenha passado de um pesadelo. Mas, esse é o pesadelo da
minha vida.

Acordo com os cachorros me lambendo, e noto que acabei dormindo


aqui nesse quarto. Me levanto tentando não olhar para nada ao redor e
espero que as crianças saiam.
A primeira coisa que eu faço depois de trancar o maldito quarto é
enviar uma mensagem para os meninos avisando que hoje trabalharei de
casa e que também não irei para casa do Noah para malharmos juntos.
Na mesma hora, eles entendem que hoje é um dia ruim. Um dia que
eu não consigo lidar com tudo, fico ainda mais sério e prefiro me afastar.
Jamais me perdoaria por tratar alguém mal por um problema que não diz
respeito a eles, ninguém tem culpa dessa merda toda.
Tomo uma ducha rápida, coloco comida para os cachorros e sento
perto da piscina, olhando para a minha casa e pensando o quanto é ridículo
ter uma casa desse tamanho, com tantas coisas, se só eu moro aqui. Acho
que quando comprei, existia alguma parte de mim que ainda acreditava que
tudo isso ia passar, e que eu formaria uma família aqui.
Eu, uma esposa, e uns três filhos! Sempre achei três um número ideal,
e torceria que apenas uma fosse menina, aí os outros dois me ajudariam a
cuidar dela como a princesa que seria. Com sorte, todos puxariam os olhos
castanhos e expressivos da mãe. E talvez seu cabelo rui… Porra, não! Por
que estou pensando na Emma?
Esses eram pensamentos de um outro Jacob, não quem sou agora.
Mas, talvez se as coisas tivessem sido diferentes, se eu e Sophie tivéssemos
apenas terminado ao invés dela ter falecido, talvez assim, eu poderia me
abrir para a Emma.
Ela tem tudo que qualquer homem poderia sonhar para ser a sua
companheira, e eu estou sendo um farabutto egoísta em mantê-la próxima
demais, mesmo sabendo que em algum momento isso irá machucar a nós
dois quando acabar.
Pensar nela me faz olhar o celular, e vou até o seu perfil para saber o
que está fazendo, e como já sabia, ela está na biblioteca gigantesca da
faculdade estudando para as provas e depois tem uma selfie dela fazendo
bico, falando que não aguenta mais estudar e que comeria um caminhão de
comida de tanta fome que está.
Saio do Instagram, vou até o Google pesquisar restaurantes ali perto, e
acho um que parece ter umas coisas gostosas, ligo para fazer um pedido do
prato que mais sai, peço para capricharem e incluir um dos sanduíches
deles. A moça me informa que entregará lá na biblioteca em 30 minutos, e
eu espero que consiga achar Emma por lá.
Largo meu celular, e presto atenção na brincadeira dos cachorros e é
engraçado ver como os menores são mais brigões do que os outros. Snape é
um Lulu da pomerânia, e Dumbledore é um cachorro sem raça definida,
mas parece que misturaram um Shih Tzu com Maltês, e ele tem duas cores,
por mais que o pelo branco prevaleça.
Arya traz a sua bolinha para mim, e eu jogo para longe vendo os
quatro disputarem para pegá-la, mas ninguém ganha Mayke na corrida, e eu
aproveito para gravar um vídeo dos quatro brincando. Aproveito meu
celular em minha mão, e ligo para a minha mamma.
— Figlio, mi machi! — a sua voz parece boa, de quem está
relativamente bem e isso já melhora um pouco os meus dias. — Como está?
— Bene, mama! Mas com muitas saudades, quais as chances de eu e
meu irmão recebermos uma visita sua esse ano? — Ela suspira do outro
lado da linha. — Sabe que se dependesse de mim eu iria toda semana aí,
mamma.
— Eu sei, amore. Vou tentar, tudo bem? Mas não prometerei nada! —
Isso já é algo para ter esperança. — Sabe quem achei no Instagram? Os
pais da Emma! Passei a noite conversando com a Helena, me esforcei para
lembrar porque eles foram embora, você lembra?
— Adivinha?
— O Enrico, claro! Mas não focamos nisso, falamos do restaurante de
vocês e precisei saber por ela, que você e a Emma estão bem próximos! —
Ela dá uma risadinha, como se fosse uma adolescente fofocando. — Por
que não me contou, figlio? Ela parece ser uma moça incrível e você pre…
— Mamma, não sei o que ela falou, mas as coisas são complicadas!
— Tento pensar rápido, porque ainda lembro como a minha mamma era
animada demais com esses assuntos de relacionamento. — Se você viesse
para NY, eu te contaria tudo o que quisesse saber.
Ela ri alto, e eu sinto ainda mais saudades dela. De como era antes do
remédio e de todo o estrago que o pappa fez nela.
— Isso é jogo sujo! Mas eu gostei da ideia.
Passamos um bom tempo conversando, ela me conta sobre a sua
mudança, como o apartamento está do jeitinho que ela gostaria que a
mansão realmente fosse, e claro, fala sobre o pappa e a nova namorada. Ela
não entra em muitos detalhes, e eu agradeço, não me interesso em saber da
vida dele, e mais uma vez digo que talvez realmente seja bom ela vir passar
um tempo aqui.
Eu desligo e fico com o dedo coçando para pesquisar sobre o Enrico,
mas eu não vou me afundar em mais estresse e desgosto, e acabo desistindo.
Agora é torcer para que a mamma realmente venha, porque se vier, acho
que consigo convencê-la a ficar e recomeçar a sua vida longe de tudo que a
afundou.
Seria um sonho realizado ter minha mamma por perto. O que mais me
faltaria? Meus amigos, a mamma, o Francesco e a Emma. Ela é minha
amiga também, sei que já estava inclusa quando falei, mas, parece errado
deixá-la apenas nesta categoria.
Levanto, e decido que vou correr um pouco para tentar colocar esses
pensamentos confusos em seus devidos lugares.
26

Fico repetindo algumas coisas que leio na minha mente, até conseguir
entender o que a explicação quer dizer e quando ligo todos os pontos, me
sinto vitoriosa por finalmente finalizar essa matéria que estava me deixando
doida.
— Senhorita Ford? — Um garoto que parece ser um pouco mais novo
do que eu, sussurra na minha frente, e eu faço que sim com a cabeça. —
Entrega! — Ele coloca duas sacolas de papel pardo na minha frente, sorri e
sai. Eu nem consigo ter tempo de falar que deve ser um engano, mas puxo
as sacolas e vejo que tem um recado.
“Não esqueça de se alimentar, amore! Lembro que sua mãe me dizia:
saco vazio não para em pé. Só fui entender depois dela ter me explicado,
mas serve para você também. Espero que goste, tem almoço e lanche!”
Fico olhando para o papel com o bilhete e pisco algumas vezes para
ter certeza que não estou alucinando, e se não estivesse dentro da biblioteca
teria dado um gritinho de emoção.
Eu pego todas as minhas coisas e vou para a parte daqui em que
podemos comer sem ter que sair da biblioteca, sento no sofá que está vazio,
apoiando as coisas na mesinha da frente. O cheiro muito bom da comida faz
meu estômago ficar em êxtase e fazer barulhos vergonhosos, mas nem me
importo. Tiro o recipiente e sou agraciada com costelinhas com muito
molho, batata, salada e também alguns legumes.
Claro que não perco a chance de tirar uma foto e postar, mas apenas
escrevo que tirei uma pausa para me deliciar com toda essa comida. E envio
a mesma foto para o Jacob, agradecendo-o.
Eu: Você é o melhor de todos, Jacob! Nada mais incrível do que ser
mimada com comida.
Jacob: Bom saber, da próxima vez faço eu mesmo e levo para você.
Eu: Seria incrível, e você arrasa fazendo massas.
Jacob: Boa refeição, bella! Vou tomar um banho que acabei de voltar
de uma corrida intensa.
Eu dou uma garfada na comida, mas sem tirar os olhos do celular e
mastigo com gosto, já pegando mais um pouco e empurrando dentro da
minha boca.
Eu: Pediria uma selfie de você debaixo do chuveiro, mas isso com
certeza me distrairia.
Ele não está mais online, por isso largo o meu telefone e foco em
comer cada coisinha que veio, deixando apenas o sanduíche para mais
tarde. Jogo fora o saco, e ali mesmo no sofá da biblioteca eu volto a estudar,
colocando meus fones e esquecendo tudo ao meu redor, até que ao passar
horas escuto a senhora que fica na recepção falando que irá fechar em
alguns minutos.
Quantas horas passei aqui, Deus?
Guardo tudo dentro da bolsa, tiro os fones e pego a sacola com o
lanche que eu nem cheguei a comer de tão distraída que fiquei no meio dos
meus estudos. Estou ansiosa para fazer logo essas provas e aproveitar as
férias que se aproximam. Caso eu vá bem em todas elas, né!
Saio da biblioteca, tirando o celular da bolsa e pensando se pego um
carro no aplicativo ou vou andando. O dinheiro que recebo ajudando Liz e
Jô me ajuda muito, e as minhas economias foram cruciais para chegar até
aqui, mas eu vou entrar no vermelho.
Tenho dinheiro para pagar um mês da faculdade, e com o que recebo
eu junto um pouco e ajudo ridiculamente menos do que deveria lá no
apartamento. Infelizmente a minha faculdade é cara, e sempre tem coisas
por fora para comprar.
O que talvez me ajude é que entrando de férias irei arrumar mais um
emprego, além do que já tenho. E acho que assim vou conseguir um
dinheiro por mais um tempo e depois vou vendo o que faço.
Um passo de cada vez, e sei que vai dar tudo certo.
— Um dólar por seus pensamentos. — Paro de andar e me viro
quando escuto a voz do Luke, e sorrio para ele, que se aproxima e me
abraça. — Ainda pela faculdade?
— Meus pensamentos valem tão pouco assim? — brinco e ele ri com
o seu jeito charmoso. — É, reta final, né. Eu não posso dar mole, então
pego as duas semanas anteriores às provas e meto a cara nos livros.
— Bem, eu pagaria o que você cobrasse por eles! — Sei que minhas
bochechas ficaram coradas, mas eu finjo que não entendi seu flerte. — E eu
ainda tenho esperanças de um dia tê-la como funcionária da minha clínica!
— Eu nunca digo nunca!
— Isso já me deixa esperançoso. — Ele passa a mão no seu cabelo
extremamente loiro, e depois coloca as duas em seus bolsos da calça. —
Ah, acho que não te falei enquanto estávamos conversando esses dias, mas
irei ficar aqui por mais três meses para resolver umas pendências.
— Ah, bacana! — O que ele quer que eu fale? Porque com certeza ele
espera alguma resposta depois de ter falado isso.
Ele dá uma risadinha e balança a cabeça, mas depois volta a me olhar.
— Que tal uma cerveja qualquer dia? Como amigos, não quero que
pense que irei ser esses caras chatos que importunam as mulheres, mesmo
sabendo que não tem nenhuma chance.
— Eu topo! Assim que eu entrar de férias a gente marca, tá bom? —
Me aproximo e dou um abraço nele, que retribui me apertando e depois
dando um beijo no meu rosto. Nos afastamos, e vou andando até perto da
pista, mas eu forço a minha vista para ver se quem eu estou vendo é
realmente ele.
O que Jacob está fazendo aqui a essa hora?
Jacob está de braços cruzados, encostado na parte de fora do seu carro
e olhando para algo além de mim. Eu me viro e vejo que o Luke continuou
onde estava, olhando para cá e provavelmente deve ter achado estranho um
homem aqui, tarde da noite. Mas eu dou um tchau, ele meneia a cabeça e
vai embora.
— Oi? — pergunto ao parar na frente dele, que finalmente me olha.
— Era o cara da Lótus?
Sério que ele está perguntando isso?
— Sim, meu antigo professor, o Luke. — A sobrancelha perfeita dele
se ergue, e eu reviro meus olhos, sem entender o porquê da pergunta e dele
estar aqui. — O que está fazendo aqui, parado igual a um maluco pronto
para sequestrar a jovem indefesa?
— Francesco passou pela biblioteca agora a noite, e comentou que te
viu lá, mas não foi falar com você porque parecia concentrada, então pensei
em te dar uma carona para não ter que pegar nenhum carro de aplicativo
tarde da noite. — Ele continua de braços cruzados e sério, mas eu sorrio
com a preocupação dele e por ter saído da sua casa até aqui para me deixar
na minha em segurança. — Mas esperei você falar com o seu professor, não
queria atrapalhar.
— Eu queria entender essa sua cabecinha, Jacob. — Ele entorta os
lábios e eu tenho vontade de beijá-lo. — Não deveríamos ter ciúmes de
amigos, não acha?
Equilibro meu peso na outra perna, cansada de estar em pé e acho que
ele percebe, pois pega a minha bolsa, abre a porta de trás e coloca lá dentro,
depois abre a do passageiro, me olha, esperando que eu vá e eu vou, rindo,
mas vou.
— Realmente, não é normal ter ciúmes de amigos — ele diz quando
entra, colocando a mão em cima da minha coxa depois de ligar o carro. —
O que me conforta é que o que eu faço com você, não faço com meus
amigos ou amigas. Isso deve significar algo, que ainda não sei, mas eu sinto
ciúmes mesmo!
Sinceridade deveria ser o segundo nome do Jacob.
— Você não deveria falar essas coisas! — Ele dirige, prestando
atenção na rua, mas me olha rapidinho quando falo isso. — Não quero me
confundir, Jacob.
Ele concorda, fazendo carinho em minha coxa e ficamos em silêncio
alguns minutos.
— Eu já estou bem confuso, para ser sincero. E fico puto quando vejo
esses homens que te desejam perto demais de você, mia costellazione! —
Esse homem quer enlouquecer a minha cabeça. Como fala isso e ainda me
chama de minha constelação?
— Para o carro na próxima rua. — Ele me olha apavorado. — É sério,
Jacob!
Ele vai até a rua que eu falo, para o carro em uma das vagas
disponíveis. Eu não espero nem ele desligá-lo, já tiro meu cinto, me
debruço por cima dele sem sair do meu banco, e o beijo.
Ele segura a minha nuca, e eu o beijo com vontade, devorando essa
maldita boca gostosa, e antes de me afastar mordo de leve seu lábio inferior.
Mas ele segura meu rosto com suas duas mãos, olha fundo em meus olhos e
me dá alguns selinhos antes que eu volte a me sentar.
— Você me assustou, amore. — Respira fundo depois de falar e eu
rio. — Mas eu gostei disso! Gosto de quando você toma atitude, é sexy.
— Eu gostei do apelido novo! — comento quando ele volta a dirigir, e
dessa vez eu quem coloco a mão em sua coxa, fazendo um carinho com a
ponta das minhas unhas. — E você não precisa ter ciúmes, mesmo que seja
algo involuntário, porque eu só quero você e mais ninguém.
Ele sorri para mim de um jeito doce, e a cada sorriso diferente que ele
vai me mostrando, eu vou me apaixonando por todos. Na verdade, sou
apaixonada em cada coisa que esse homem faz.
Ah merda!
Eu estou apaixonada pelo Jacob!
Fico em choque por algum tempo, e só percebo que chegamos na
frente do meu prédio quando ele fala e eu olho pela janela. Jacob pergunta
se está tudo bem e eu falo que me distrai com alguns pensamentos. Não
existe nenhuma chance de eu falar sobre isso com ele.
— Está tudo bem na faculdade? — Se preocupa por me ver em
choque, e fecho os olhos quando ele alisa meu rosto e depois coloca uma
mecha do meu cabelo para trás da minha orelha.
— Sim, só planejando as minhas férias. Preciso arrumar um emprego
de meio período para ajudar nas contas futuras. — Não fui totalmente
mentirosa, já que realmente esses pensamentos não saem da minha cabeça.
— Mas vai dar tudo certo.
Jacob não fala nada além de que vai dar tudo certo mesmo, e eu
agradeço. Não costumamos conversar sobre dinheiro, porque eu sempre
acho que se eu falar sobre isso com um deles, eles irão querer pagar todas
as minhas contas.
— Está entregue, amore! Eu subiria se a Jô não estivesse em casa. —
Eu faço biquinho e ele dá uma mordida nos meus lábios. — E se eu fosse
convidado, claro. — Pisca e eu dou mais um beijo nele ante de sair.
— Eu te convidaria todos os dias, se pudesse! Mas, nossos ambientes
para ficarmos à vontade são limitados. — Saio e antes de bater a porta
comento: — Que bom que seu carro é espaçoso. — Sopro um beijo e entro.
E só depois de repetir a nossa conversa em minha cabeça, que eu reparo que
pareceu uma alfinetada o que falei sobre não conseguirmos ficar à vontade.
— Merda! — Entro no apartamento falando sozinha, e Jô aparece
secando as mãos em seu avental. — Boa noite, Jô! — Beijo seu rosto ao
passar por ela e já me sento no sofá para colocarmos o papo em dia.
O namoro dela está indo muito bem, e eu fico muito feliz por ela. Jô é
uma mulher sensacional e merece tudo de bom e mais um pouco.
— Agora você vai me contar porque está com esses olhos lindos, tão
preocupados?
Eu a ajudo a colocar a janta na mesa, e depois que nos sentamos eu
suspiro e sinto a minha garganta fechar com vontade de chorar.
— Eu fiz a pior burrada do mundo, Jô. — Ela coloca a mão por cima
da minha, me confortando sem nem saber o que irei falar. — Eu me
apaixonei por um coração que já tem dona.
Sinto uma lágrima escorrer pelo canto dos meus olhos, e parece que
algo em mim sabe que a minha data de validade com o Jacob diminuiu bons
dias depois disso.
27

Alguma coisa de errado aconteceu, e eu não tinha a mínima noção


do que era. Até pensei que a minha cena patética de ciúmes tinha sido o
motivo, mas não faz sentido porque ela lidou muito bem com isso.
Mas alguma coisa mudou depois daquele dia que eu a busquei. Emma
tem me evitado, e por mais que ela diga sempre que está estudando muito,
procurando um emprego de meio período e ajudando mais a Liz e a Jô, eu
sei perfeitamente quando alguém está me evitando e procurando desculpas.
Claro que eu não sou criança, e não vou ficar insistindo. Mas isso tem
me deixado irritado, porque eu tenho certeza que não fiz nada de errado, e
acreditei que nós éramos sinceros um com o outro.
Eu gosto da Emma, muito. E me preocupo com ela em todos os
sentidos, e seria uma merda não ficar mais com ela, mas eu jamais ficaria
bravo com ela, ou qualquer coisa do tipo. Nós dois sabemos que em algum
momento seria demais para um de nós, mas eu jurei que seria para mim.
Escuto quando a mulher responsável pelo financeiro da faculdade
chama meu nome e vou até a sala dela.
Como já havia passado o nome dos alunos, e por ter estudado aqui e
me formado com honras, foi fácil conseguir fazer o que planejo sem ter que
falar direto com o meu irmão e a Emma.
Se eles ficarão putos comigo? Provavelmente! Eu ficaria, sem
dúvidas. Mas não vou assistir duas pessoas importantes para mim sofrerem
para pagar uma faculdade que eu sei muito bem ser cara. E nenhum dos
dois têm bolsa total, então eu me resolvo com eles depois.
— Sr. Ramsey, esse é o valor total de ambos os alunos — ela diz
sorridente, e eu só me preocupo em somar ambos os valores, e passo o meu
cartão para quitar o valor final. — O seu irmão e sua namorada ficarão
felizes com a surpresa, não tenho dúvidas.
Namorada…
— Não tenho tanta fé, mas espero que esteja certa. — Me despeço e
vou até o meu carro para buscar meu fratello e irmos para a festa surpresa
da Olívia, que pelo que Kath falou, deve chegar lá daqui a uns 40 minutos.
Buzino na frente do prédio dele, que é pertinho da faculdade, e ele
aparece pouco tempo depois, entrando no carro, animado. Ele está com uma
calça marrom e uma camisa preta lisa. Bem simples, como sempre foi, mas
a sua aparência destoa totalmente das suas peças simples e lisas.
Meu fratello é bonito para caralho, e sabe muito bem disso.
— Está tão na seca assim para ficar me olhando desse jeito? — Eu
rio, mas é mais de desespero do que qualquer outra coisa.
— Nem queira saber da minha seca, Fran. Nem quando a Sophie
morreu eu fiquei tanto tempo sem transar. — Ligo o carro e dirijo até o
ginásio onde os meninos já estão lá nos esperando, com tudo arrumado e os
demais convidados. — E sendo ignorado por Emma, só piora.
Ele ri, mas vira o rosto para o outro lado. Com certeza ele sabe algo
que eu não sei, mas não o colocarei nessa saia-justa de ter que me contar
por ser meu fratello. Mas não seria nada mal se ele quisesse falar por conta
própria.
O ginásio não é muito longe, então chegamos rápido e entramos pela
lateral que dá direto para a área onde todos estão.
Meu fratello fica tagarelando sobre uma menina que está a fim de
ficar, que é da faculdade e até me mostra uma foto. Ela é bem bonita, mas
pelo visto não é de se misturar, e nunca nem o notou.
— Espero que você não seja desses que são stronzos com as
mulheres! — Ele revira os olhos e me encara como se o tivesse ofendido,
mas falar da faculdade me lembra que é melhor já avisar o que eu fiz. —
Ah! Eu fiz uma coisa, e não sei se você vai gostar.
Ele para na minha frente, antes de entrarmos onde meus amigos estão
e cruza os braços.
— Parla come mangi! — diz.
— Eu paguei a sua faculdade! — Ele pisca algumas vezes, faz uma
cara meio estranha que eu não sei identificar se é boa ou ruim. — Sei que
você quer se virar sozinho, mas são os seus estudos e ninguém deveria ter
que se virar em mil coisas para conseguir estudar. E foi com a melhor das
intenções que fiz isso, e caso queira, pode me pagar no futuro.
— Nem fudendo!
— Ham?
— Você acha mesmo que eu vou te pagar? — Ri, e sua risada tira
meio peso das minhas costas, me deixando preocupado agora só com a
reação de Emma. — Aceito de bom grado, fratello! Vou começar a
trabalhar em breve, mas saber que não tenho que me preocupar com isso é
um alívio.
Ele dá um tapinha em meu braço e nós entramos, sendo recebidos por
meus amigos que falam animadamente com Francesco que já está
superenturmado com todos eles.
Eu olho o que Jô e Liz fizeram, e ficou incrível, como sempre. Tem
algumas bandeiras do Canadá, além de copos em formato de patins,
comidas típicas, balões, e uma mesa grande bem decorada. Também foi
feito um corredor de bolas que leva até a arena de patinação, mas algo me
diz que quase ninguém se atreverá a ir lá.
Pego um chopp escuro, que está bem gelado, e me sento perto de onde
foi montado um bar. E quando eu menos espero as luzes se apagam e Noah
avisa que elas estão entrando.
Vejo que todos ficam animados com o momento da surpresa, e eu me
abaixo também, para não estragar o clima. Todos sabemos quando ela chega
porque Barbie que estava bem ao lado da entrada acende as luzes, e joga
confete nela.
— SURPRESA! — Não, eu não gritei.
Todos foram até ela, e eu fico um pouco afastado até que o fluxo ali
diminua, mas o meu foco não é a aniversariante, é a sua amiga ao lado dela,
sorridente e animada, pegando todos os presentes e colocando em uma
cadeira.
Meu peito fica agitado, e parece que estou assistindo em câmera lenta
tudo o que ela faz. Eu já falei milhões de vezes em como ela é linda, mas
sempre que a vejo, a acho ainda mais bonita. É uma coisa de outro mundo!
A calça que ela está usando marca perfeitamente a curva da sua bunda
que eu sei que é ótima de apertar, e provavelmente de bater. E sua blusa de
gola alta, sem mangas, está ali só para tapar seus seios, já que termina bem
abaixo deles. Seria tão fácil apalpá-los…
— Ei, parabéns, Frozen! — Ela revira os olhos, mas ri, vindo para me
abraçar e eu retribuo, dando um beijo na sua testa e tiro do meu bolso a
caixinha que tem a pulseira que Barbie falou que ela estava de olho.
— Obrigada, Jacob! — Ela dá uma olhada para Emma, que continua
colocando as coisas na cadeira, e quando me vê, fica um pouco sem jeito,
mas sorri. Olívia se afasta, indo para qualquer outro canto e eu fico ali de
frente para a ruivinha.
Ela me olha de baixo para cima, e eu espero que termine de me
avaliar.
— Oi, Jacob! — Seu cabelo hoje está sem as ondas de sempre, bem
liso e ela passa a mão nele, jogando-o para um lado, eu observo cada
movimento. — Não me olhe assim.
— Assim como?
— Como quem me levaria para o banheiro e arrancaria a minha roupa
— sussurra, olhando para os lados e se certificando de que ninguém mais
ouviu.
— Ah, acho que não saberia te olhar diferente disso, amore. — Suas
bochechas ficam levemente rosadas, e ela não consegue esconder o sorriso.
— Aconteceu algo, Emma? — Ok, eu não tinha a intenção de ficar
conversando sobre isso com ela aqui, mas como não tenho tido outras
chances. — E não me faça de bobo, eu sei quando estão me evitando.
Ela pega em minha mão, sem se importar em chamar atenção dos
demais ao fazer isso e nós vamos até o corredor do banheiro. Emma para na
minha frente, de costas, e eu não entendo nada até que ela se vire, com os
olhos mais úmidos do que o normal, com a respiração descontrolada, e
quando seus olhos desviam dos meus para o chão, eu entendo na hora o que
aconteceu.
Emma se envolveu.
Nós não queríamos isso, mesmo que soubéssemos que aconteceria,
não queríamos.
— Quão ruim está a situação? — pergunto e coço a minha nuca, meio
nervoso.
— Acho que bastante, Jacob. Mas eu não estava querendo acreditar
que fui burra a esse ponto. — Volta a me encarar, e eu fico pedindo a todos
os deuses para que ela não chore. — Só que algumas coisas estão fora do
nosso controle, e agora eu não sei o que fazer. Nós somos parte de uma
família, e não posso te evitar, e nem quero. Senti sua falta esses dias…
Vou um pouco para a frente, sentindo meu coração bater muito forte.
Eu seguro seu rosto com as minhas duas mãos e passo meu polegar na
lágrima antes mesmo que ela consiga escorrer na sua bochecha.
— Eu também senti, mais do que deveria. — Ela fecha os olhos, e eu
queria tanto beijá-la. — Mas acho que nós dois quebramos promessas
diferentes. — Seus olhos se abrem, curiosos. — Você se envolveu, e eu
jamais conseguirei ser só seu amigo depois de ter te conhecido tão
intimamente.
A boca dela abre um pouco, e consigo sentir seu hálito fresco. Meus
olhos não conseguem olhar para outra coisa que não seja os seus lábios, e
ela me beija. No início é só um selinho, mas eu transformo em um beijo que
nos tira o fôlego ali no meio do caminho, onde qualquer um possa nos ver.
Emma alisa meus braços com força, querendo me sentir e eu passo a
minha língua por toda a sua boca, virando nossos rostos para lados opostos
e a encostando na parede.
— Vamos para o banheiro! — ela sussurra, e eu me afasto para entrar
primeiro e ver se tem alguém. Assim que confirmo que a sorte está a nosso
favor e que não há ninguém, puxo-a para dentro comigo e tranco a porta. —
Isso é errado! — ela fala, enquanto a coloco sentada no mármore da pia e
me encaixo entre as suas pernas.
— Muito! — confirmo, e volto a beijá-la. Matando a saudade de todos
esses dias que não tive muito contato com ela. Emma também não perde
muito tempo e enrosca as pernas em minha cintura, roçando no início da
minha ereção que logo se transforma em um pau muito duro. — Mas não
fazer é ainda mais errado.
Desço meus beijos, e sem muita cerimônia levanto a sua blusa, me
deparando com seus seios lindos, e já intumescidos esperando por mim. É
difícil me decidir entre os dois, por isso vou me dividindo, sugando e
lambendo enquanto escuto seu gemido baixinho.
A mão de Emma aperta meu pau por cima da minha roupa e eu
preciso me concentrar para não urrar igual um animal no cio e deixo que ela
faça, aproveitando da sua atitude para lhe dar mais liberdade com meu
corpo.
— Ainda tenho tanta coisa para fazer com você, amore. — Ergo meu
corpo novamente, deixando que ela continue os movimentos difíceis por
conta da minha calça apertada.
Emma me puxa para beijá-la mais uma vez, e eu quase subo no
mármore junto com ela, e coloco a minha mão nas suas costas para que ela
não desça mais e se machuque. Minha cintura não para de se movimentar,
roçando no meio das suas pernas.
— Jacob… eu não quero começar nada parecido com aquela noite se
não for para finalizarmos. — É o que ela fala quando afasta nossas bocas, e
eu me afasto um pouco para que ela fique de pé e se arrume, me deixando
totalmente transtornado. — Mas eu não sei se consigo ir até o fim sem me
apaixonar ainda mais por você.
Se apaixonar ainda mais. Mais? Dio mio!
— Emma, eu não sei o que te falar.
— Você não fez nada de errado, Jacob. — Me encara pelo espelho
enquanto arruma a maquiagem. — E isso não é uma despedida, somos
amigos e de alguma forma vamos aprender a lidar com isso. Não quero que
saia da minha vida, e nem quero deixar de ficar com você, mas no momento
preciso realmente focar nos meus estudos, e parar de pensar em você em
cada maldito segundo. Esse sentimento não pode tomar mais importância
do que já tem.
Ela fica na ponta dos pés para me dar um selinho e sai do banheiro,
me deixando quase que literalmente de boca aberta depois do que falou. Eu
vou fazer 30 anos ainda esse ano, e não saberia ter essa maturidade.
Porra, Emma acaba de falar que está apaixonada por mim e na mesma
hora fala que não dará importância a isso. E ela está certa, não sou eu a
pessoa certa para ela.
Mas o problema é que não sei se quero que ela não dê importância.
28

Não acredito que finalmente terminei a minha última prova, e pela


nota que eu tirei, estou oficialmente de férias da faculdade. E esses meses
de descanso da mente serão incríveis.
Liz e Jô ficaram sabendo que eu estava procurando um outro
emprego para as férias, e me ofereceram mais algumas funções em troca de
que eu fique um período inteiro lá e o resto dos meus dias ficam livres,
podendo em um dia ou outro precisar ajudá-las com algumas coisinhas a
mais e eu fiquei muito feliz.
Eu amo trabalhar para elas, por mais que seja algo totalmente
diferente da minha área, é sempre divertido e as duas são uns amores. Na
próxima segunda, já irei começar, e vou junto com a Jô para dar sorte, como
ela mesmo disse.
— E aí, férias? — Kath pergunta do outro lado da linha, assim que
atendo o telefone.
— SIM! — quase grito e preciso pedir desculpas para as pessoas ao
meu redor que estavam concentradas em outras coisas. Vou andando até a
secretaria para resolver algumas coisas, enquanto falo com a minha amiga.
— Nem acredito, tive tanto medo em algumas matérias.
— Emma, você é uma das pessoas mais esforçadas que eu conheço!
Eu tinha certeza que conseguiria passar, mesmo que com dificuldades no
meio do caminho — ela fala e eu consigo sentir o amor que tem por mim
em suas palavras. — Estou doida para que se forme, eu vou postar em tudo
que é lugar que a minha melhor amiga é médica.
— Eu também não vejo a hora. — Entro na secretaria e aproveito que
não tem ninguém e vou até a funcionária. — Amiga, um segundo, desliga
não.
Peço para a senhora que me atende para que me passe o cronograma
do próximo semestre, para que eu me prepare psicologicamente para ele. E
antes de ir embora ela pede para que eu leve os recibos que o meu
namorado esqueceu de levar quando esteve lá.
Meu namorado?
Eu pego os recibos já imaginando que é um engano, mas o meu nome
aparece bem grande, e embaixo dele tem discriminado tudo o que foi pago.
Todo o restante da minha faculdade.
QUÊ?
No outro papel é a mesma coisa, só que com as informações de
Francesco e a minha ficha cai nesse exato momento. Eu agradeço a senhora,
que me deseja boas férias e saio da sala pisando duro.
— Kath? — Coloco o telefone no ouvido e escuto quando ela me
responde. — Os meninos estão aí, né?
— Sim! Os três chegaram ainda há pouco do trabalho. Houve alguma
coisa?
— Houve sim, mas aí eu te explico.
Saio da faculdade me sentindo muito irritada, chateada e enganada.
Como que o Jacob faz isso sem me falar? Sem me consultar antes?
Acabo pegando um táxi, mesmo sabendo que sairá mais caro do que
um carro pelo aplicativo e fico no meio do caminho tentando entender o
porquê dele ter feito isso e também me concentrando para não dar de cara
com ele, e perder a coragem de enfrentá-lo.
O caminho é um pouco longo porque Kath e Noah moram em um
condomínio muito reservado e isso faz com que seja mais distante do centro
de NY. Então em uns 20 minutos eu chego, pago o taxista que me deixou na
frente da casa deles porque tenho a entrada liberada, e vou direto para os
fundos, que é onde normalmente eles ficam.
Não é difícil encontrar quatro homens enormes, o pai de Noah
também está lá e vou até eles, sentindo minhas mãos tremerem de tanto
nervoso.
— Oi, Emma, como está, querida? — Justin é o primeiro que me vê,
mas quando sorrio para ele sem muita sinceridade, ele percebe que tem algo
de muito errado.
Jacob vira no exato momento em que Justin fala o meu nome, e seu
olhar esquenta o meu corpo e a saudade vem à tona novamente, mas eu foco
no que é importante.
— Você pagou a minha faculdade? — pergunto, e na mesma hora vejo
que ele fica tenso. — Jacob, é uma pergunta muito fácil de ser respondida.
Você pagou a minha faculdade? — pergunto novamente, e vejo pelo canto
dos olhos que os demais saem dali e nos deixam a sós.
— Emma, calma! Eu queria conversar com você sobre isso, mas você
se afastou de mim e eu não sabia como falar com você. — Ele está
totalmente despido da sua postura, e é notável a preocupação em seu olhar.
Eu aliso o rosto e olho para cima, tentando entender o porquê de estar
me sentindo tão frustrada quanto a isso.
— Jacob, você não tinha esse direito — sinto a minha voz falhar pela
vontade de chorar, mas seguro a merda do choro. — É um saco ser a única
entre vocês que nem teria o que comer direito se não fosse pela amizade de
Kath e tudo o que ela faz por mim. Eu viajo com vocês só porque vocês
pagam. Moro em um apartamento incrível porque minha melhor amiga me
abrigou lá. E agora você paga a minha faculdade?
— Emma, mas foi para ajudar! Eu sei que não foi certo fazer isso sem
te consultar, mas eu sei que você não aceitaria.
— CLARO QUE NÃO, JACOB! — As traidoras das lágrimas
escorrem pelo meu rosto. — É humilhante, você consegue entender? Eu
daria o meu jeito para pagar, de alguma forma eu ia pagar. — Me afasto um
pouco e tento respirar fundo algumas vezes. — Eu sei que você fez com
boas intenções, tá? Mas eu não sou criança! E se eu chegasse a um ponto
em que não conseguisse me virar, eu pediria, Jacob. Meu orgulho acaba no
momento em que eu sei que sozinha não conseguirei me virar.
— Tem mais uma coisa.
Fecho os olhos, respirando fundo mais vezes do que consigo contar,
mas peço para que ele fale logo tudo o que eu preciso saber.
— Quando você ainda era criança, eu prometi aos seus pais que o meu
presente a eles, por tudo que fizeram por mim, seria arcar com todos os seus
estudos, saúde… — Cruzo os braços, sem entender onde ele quer chegar. —
Mas como eles foram embora de uma hora para outra, por causa do Enrico,
eu senti que quebrei uma promessa e comecei a juntar um dinheiro em uma
conta separada da minha, e prometi a mim mesmo que se te reencontrasse
daria a você o dinheiro que guardei ali.
Eu rio em desespero, e enfio os dedos em meu cabelo.
— Quanto dinheiro você juntou nessa ideia maluca?
— Um pouco mais de 6 milhões.
— Puta merda! — quase grito novamente. — Seis milhões? Jacob,
você é maluco? — Abano meu rosto, achando que vou desmaiar a qualquer
momento e coloco dois dedos em cima do meu punho, tentando sentir meus
batimentos e é claro que a minha pressão deve estar quase explodindo. —
Qual é o seu problema? Isso é alguma coisa comum de gente rica fazer? Por
que nunca me falou? Por que… — Nem sei mais o que perguntar.
Ele se aproxima, e eu deixo que coloque as mãos em meus ombros e
me olhe profundamente.
— Eu comecei a juntar o dinheiro para me sentir menos culpado por
não ter cumprido a promessa que fiz a eles, de dar a você as melhores
chances para tudo. — Não chora, não chora. — Mas depois que te conheci
como adulta, eu sabia que essa conversa seria muito difícil, e eu já estava
envolvido a um ponto que dificultaria ainda mais.
Olho para ele com cuidado, tentando entender cada um dos seus
olhares e gestos, mas eu só consigo me sentir mal com tudo isso. É muita
coisa para raciocinar.
— Dê esse dinheiro aos meus pais, Jacob.
— Eles sabem dele, e não querem.
Ótimo, parece que a única desinformada nessa história toda sou eu.
— Emma, é seu. Eu guardo há anos, já faz parte da minha vida fazer
isso. Sempre tive alguma esperança em reencontrá-los e sabia que os
ajudaria. Seus pais me salvaram mais vezes do que eu posso imaginar, e
nem estou falando só metaforicamente. E é por isso que me sinto um merda
cada vez que toco em você sem que eles saibam. Tente me entender, per
favore.
— Jacob, eu pensei que agora nas minhas férias, nós poderíamos
sentar e tentar dar um jeito para seguirmos como estávamos, mas isso é
demais.
— Não fale isso, Emma.
Me afasto do seu toque, e olho por cima do ombro a tempo de ver o
Barbie se escondendo atrás da cortina.
— Eu não vou aceitar esse dinheiro! Dê aos meus pais, doe, faça o
que quiser. Mas eu não posso aceitar, ele sempre ficará entre a gente,
sempre ficará entre a nossa amizade e isso vai me destruir.
Pego a minha bolsa, que eu tinha deixado cair no chão, e jogo por
cima do meu ombro novamente, mas ele segura a minha mão, me parando.
— Fica aqui, eu vou embora!
Eu poderia falar que não, mas a verdade é que eu quero tanto chorar
que ficar junto das meninas seria bom. Ele entende o que quero, e vai
embora. Eu só espero que ele suma, e me sento na primeira cadeira que
vejo, abraçando o meu corpo e fechando meus olhos.
Sinto vários braços me envolvendo e isso é o suficiente para me fazer
chorar.

Eu passei o resto do final da tarde e um pedaço da noite com a Milla,


brincando em seu quarto e ignorando os demais que ficavam vindo de
tempo em tempo ver se eu estava bem.
O choque foi grande, eu já chorei e agora estou apenas tentando
entender tudo que aconteceu nessa tarde. Eu não quero parecer ingrata, mas
também não quero que ninguém pense que a minha amizade ou o meu
interesse por Jacob tem algo a ver com dinheiro.
Um pouco mais de 6 milhões.
Isso é insano em um grau que eu nem sei explicar. E esse dinheiro
poderia ter mudado a vida de muitas pessoas, até mesmo a minha e da
minha família. Mas eu não tenho como aceitar, não para mim, não depois de
tudo que já rolou entre nós dois e dos meus sentimentos.
Eu não quero ter que me sentir em eterna dívida com o homem que
me apaixonei. Isso não seria nada saudável para nenhum de nós dois.
Eu saio do quarto depois que Milla dorme e deixo a porta entreaberta,
desço para a sala que agora só tem Noah, Kath e os pais dele. Todos me
olham com carinho, e eu sento entre minha amiga e seu marido, que me
aconchegam como fazem com a Milla.
— Querida, você foi muito sábia na sua decisão — Liz fala. — Não é
qualquer pessoa que recusaria mudar de vida de uma hora para outra, e nós
sentimos muito orgulho de você por isso.
— O Jacob tem um jeito um tanto quanto estranho de demonstrar a
importância que as pessoas têm na vida dele — Justin comenta, e a sua
esposa concorda. — Acho que passar uns dias em Aspen será bom para
vocês dois, e quando ele voltar, vocês conversam com a cabeça fria.
Aspen? Como assim?
— Ele foi para Aspen? — Todo mundo concorda. — Sozinho?
— Sim, amiga! — Kath fala ao meu lado. — Pelo que os meninos já
tinham me falado, o Jacob costuma ir para lá quando precisa ficar
totalmente sozinho. E acho que tudo isso o abalou, mas, não se preocupe!
Tarde demais, já estou preocupada com aquele italiano ranzinza e
maluco! O que mais ele vai aprontar?
29

Fico olhando para as chamas do fogo que parecem dançar enquanto


queimam e mostram sua cor vibrante. O termostato mantém a casa bem
quente, mas a lareira de gás está sendo a minha distração durante essa
madrugada.
Não consegui dormir quando cheguei aqui, o dia já amanheceu e eu
continuo sem conseguir dormir.
A imagem de Emma triste não sai da minha cabeça. Eu não imaginei,
nem nas piores reações que eu pensei que ela teria, que seria como foi
ontem.
Não estou tirando a minha culpa nisso tudo! Eu sei que é a vida dela e
ela tem total direito de se sentir assim. Com certeza eu me sentiria, mas, eu
não tinha noção do que significava de fato para ela.
Mas, se eu pudesse escolher e fazer de novo, eu faria. Não porque a
quero comigo como mulher, mas pelo mesmo fato que paguei para o meu
fratello: eles merecem a chance de ter bons estudos sem ter que se matar de
trabalhar. Na verdade, essa deveria ser uma realidade para todos, e é por
isso que eu faço depósitos generosos todos os meses para uma ONG que
ajuda crianças e adolescentes que não têm como manter seus estudos.
A única coisa boa de tudo que vivi com o pappa, foi tudo que aprendi.
Ele não fez nada de maneira certa porque uma criança precisa descansar,
brincar e ser feliz. Mas, de qualquer maneira, eu frequentei as melhores
escolas, fiz os melhores cursos e aprendi a praticar muitos esportes.
Jamais sobrecarregaria um fligio como ele fez. Mas eu daria as
melhores opções e condições para o que fizesse.
E só por isso, eu paguei a faculdade dos dois! Não é nem comum
fazer esse tipo de coisa aqui nos Estados Unidos, mas sempre tem um
jeitinho para tudo.
Só que tudo saiu errado. A ideia era contar para Emma depois do
aniversário da Olívia, quando eu a levasse para casa. Mas a ruiva tinha
coisas mais sérias para falar, e como eu contaria o que fiz depois de tê-la
ouvido falar que se apaixonou?! Imaginem: — Ah, Emma, legal você ter se
apaixonado por mim, que não tenho um coração para amá-la. E antes que eu
esqueça, paguei sua faculdade.
Eu no mínimo sairia sem pau de lá, já que a gatinha ficou um bom
tempo com a mão nele. E lembrar disso me dá vontade de gritar, porque é
surreal acreditar que estávamos indo bem na nossa relação, e agora tudo vai
ficar uma merda entre nós.
— Sr. Ramsey? — Ruth bate na porta do quarto e me chama do lado
de fora. — Fiz café! O senhor quer que eu traga aqui?
Me levanto e visto o casaco de moletom que faz par com a calça e vou
até a porta.
— Vou tomar café com vocês! — digo e ela sorri, mas sem tirar seus
olhos preocupados de cima de mim. Ela sabe que sempre que venho
sozinho é porque estou com algum problema. — Vamos!
Nós descemos e vamos até a cozinha quando eu digo que não
precisam ter o trabalho de montar a mesa. Carlos está terminando de cortar
umas frutas, e sorri ao me cumprimentar. Me sento na bancada onde já tem
algumas coisas, e coloco um pouco de café para mim.
— Precisará de mim esse final de semana, Sr. Ramsey?
— Só Jacob! — Ele sorri e concorda. — Não, eu devo ir na rua daqui
a pouco, mas vou com o carro que aluguei no aeroporto.
Nós tomamos café, e eu escuto as novidades que rolaram aqui em
Aspen desde a última vez que eu vim. Os dois são casados há muitos anos,
mas é notável que o amor entre eles é algo que não se perdeu pelo caminho.
É uma dádiva.
Eu os deixo quando termino e vou para a sala, me sentando de frente
para as janelas enormes, que tem uma das vistas mais bonitas que eu já vi.
Acho que só perde para a vista do meu apartamento em Sicília.
Que saudade de ir à Sicília…
Tiro meu telefone do bolso depois de tê-lo ignorado várias horas e vou
lendo todas as mensagens que recebi nesse meio-tempo. Nenhuma delas é
da Emma, nenhuma.
Eu: Estou bem, família. Só precisei fugir para a minha toca e pensar
em tudo que está rolando.
Mando no grupo da família. Eles já sabiam que eu cheguei bem,
porque não deixei de avisar. Mas eles ainda assim estão preocupados. E os
entendo, mas a minha intenção de vir para cá, é conseguir afastar minha
mente de tudo e entender por que estou me sentindo tão mal pela reação da
Emma.
O certo seria eu me afastar dela, para ela ter seu tempo, mas continuar
seguindo minha vida lá. Mas a ideia de ter que encontrá-la esses dias,
sabendo que estará muito magoada, tem me arrasado.
Liz: Se cuide, querido! Estamos aqui para o que precisar e Justin já
pegou esses seus filhos de quatro patas e trouxe para cá. Espero que Milla
não arranque nenhuma orelha deles.
Liz é um anjo, e a única pessoa que confio totalmente para cuidar
deles, que são tudo para mim. E isso me faz entrar no Instagram para ver as
últimas coisas que eu tinha postado. Ainda acho engraçado como eles são
tão queridos na internet e ganham tantas coisas toda semana.
Não lembro qual foi a última vez que paguei pelo pet shop deles, ou
por brinquedos.
Minha mente que adora me ferrar, me faz ir até a minha conversa com
a Emma e abro o seu perfil, que tem stories novos. Ela está com meu
fratello em algo que parece uma pool party, e na foto eles estão juntos,
bochecha colada com bochecha e ambos sorrindo enquanto bebem um drink
enorme.
Nos próximos stories são vídeos, reconheço alguns dos amigos do
Francesco e os demais eu nunca vi. O ciúmes me corrói mais uma vez
quando alguém grava Emma mergulhando, colocando aquela bunda bonita
em evidência quando cai na água.
— Cazzo, Emma!
Me sentiria um babaca por estar aqui todo preocupado com tudo que
aconteceu, enquanto ela se diverte, mas Emma tem olhos expressivos
demais, e eu sei que ela também está chateada, e não duvido nada que foi
meu fratello quem a convenceu de ir.
Eu vou até a minha conversa com ele e peço para que fique de olho
nela, e que não a deixe ir embora sozinha e nem com um desconhecido. Ele
me responde na mesma hora, falando que não é tão idiota assim para deixá-
la só, e aproveita para me perguntar como estou e me alfinetar, falando que
ela é a sensação do lugar.
Desisto de ficar dentro de casa, e vou até a cidade de carro, que fica a
poucos quilômetros da minha casa. Estaciono na frente de uma loja, que
vende lembranças daqui, e entro sem ter muito o que fazer, procurando me
distrair.
A loja é bem grande e tem tantas coisas que eu fico confuso quando
penso em levar algo para o meu fratello, que até onde eu sei nunca veio
aqui. E também faço uma nota mental para trazê-lo.
Depois de rodar toda a loja, eu compro um suéter para ele com uma
frase engraçada, um quadro bem bonito com a montanha mais alta daqui e a
vista para a cidade, levo também algumas coisinhas para a Milla, e quando
estava indo para o balcão vejo um globo de neve e o pego na esperança de
dá-lo para Emma, acho que ela iria gostar.
A funcionária me dá um sorriso simpático demais, desses que a gente
sabe que a pessoa quer puxar um assunto, mas eu me mantenho sério e a
pago. Voltando para o meu carro, e dessa vez indo até um restaurante para
levar almoço para mim, Ruth e Carlos.
No caminho até lá tem uma placa informando que a estrada está
interditada e que é preciso fazer um desvio por uma rua que eu acho que
nunca entrei. Ando devagar, para aproveitar e observar as casas bonitas que
tem ali.
Volto a acelerar ao chegar quase no fim da rua, mas uma
movimentação na última casa me chama atenção e eu perco todo o ar do
meu pulmão, minhas mãos congelam no volante e eu tenho a sensação de
estar alucinando.
Mas eu não estou.
Reconheceria aquele rosto em qualquer lugar do mundo, na verdade,
reconheceria os dois rostos mesmo de olhos fechados. O rosto de quem
mais odeio, e outro de quem mais amei. E um terceiro que…
Só escuto a buzina, que me faz virar para a frente, mas como sempre
acontece é tarde demais para qualquer coisa, e na tentativa de desviar do
carro, que buzina em desespero, eu bato com tudo nas rochas que eu nem
mesmo tinha visto até colidir com elas.
E eu apago ao sentir meu rosto bater com força no volante, mas a
imagem do meu pappa, com a Sophie, e uma criança que é muito parecida
comigo, provavelmente meu filho, é a última lembrança que eu tenho antes
de tudo ficar sem cor.
E sem vida.
30

Fingir que estou bem é um saco. E é um saco ainda maior me sentir


mal pelo Jacob ter feito algo para me ajudar, com boas intenções. Mas eu
não consigo ser diferente disso, e é por isso que decidi que quando ele
voltar iremos conversar e eu o pagarei pela faculdade, como teria que pagar
de qualquer forma.
Já parei de fingir que estou bebendo o drink, depois que toda a água
da piscina seca do meu corpo e biquíni, eu coloco o short que deixei na
cadeira, e fico sem a parte de cima por estar calor.
Francesco está se agarrando com uma menina, e deveria ser algum
tipo de crime fazer tudo aquilo na frente de tanta gente. Não é muito legal
ver seu irmão de consideração engolindo a boca e outras coisas de alguém.
— Ei! — Bruce aparece na minha frente, com seu sorriso enorme e
seu corpo coberto apenas por uma bermuda bem molhada. — Alguém já te
disse que você se expressa muito com o olhar?
Rio sem vontade, lembrando de todas as vezes que o Jacob já me
falou isso.
— Sim, já ouvi isso algumas vezes.
— Não é difícil saber que você não está à vontade aqui. — Ele senta
em uma cadeira e me sento na que está ao seu lado. — Problemas no
paraíso?
Olho as pessoas se divertindo, bebendo, se pegando e dando boas-
vindas às suas férias. Se não me engano, quase todos que estão aqui são da
faculdade, e eu provavelmente sou a única de medicina. Não reconheço
ninguém que já tenha visto no meu campus.
— Podemos dizer que sim!
— Sinto muito, Emma. Mas as coisas vão se acertar, duvido que
qualquer cara não daria a volta no mundo para poder resolver qualquer
merda que tenha feito e ficar bem com você.
Isso foi fofo, o que é bem surpreendente vindo do Bruce, e eu faço um
carinho em cima da mão dele, agradecendo-o.
— Não me diga que além de ser galanteador, você também é gentil e
carinhoso? — Ele coloca a mão em cima da boca, pedindo para que eu não
fale.
— Não estrague o meu personagem mulherengo, Emma. Tenho uma
imagem a zelar como o garanhão do esporte! — Ele pisca, e eu rio.
Bruce sempre me dá uma cantada quando tem oportunidade, mas eu
não ligo muito para isso. Sei que agora, que ele sabe que não tenho
interesse mesmo, é mais brincadeira do que maldade. Não que ele não
aproveitasse caso eu desse chance, mas ele é legal.
Na verdade todos os amigos do Fran são, até o Joshua, que é um
pouco mais na dele, mas me trata muito bem, e é uma ótima pessoa para
conversar de séries e filmes.
O homem já viu tudo, é uma máquina de assistir qualquer coisa.
— Eu tenho um encontro daqui a pouco, podemos dividir um táxi —
comenta e eu dou quase graças a Deus por isso. Não queria ter que ser eu, a
pessoa quem puxaria o bonde para ir embora.
— Ótimo! Vamos só avisar ao Fran.
Ele levanta e sem ter nenhuma noção das coisas, cutuca o ombro do
amigo que ainda estava engolindo a loira em um canto mais distante.
Francesco vira para ele com uma cara de quem não gostou nem um
pouco, e depois olha em minha direção. Bruce deve ter falado que vou com
ele, e o Fran vem até onde eu estou.
— Vamos lá pra casa? — me pergunta, sentando na cadeira do meu
lado e arrastando-a até ficar bem pertinho de mim, e jogar seu charme para
que eu aceite o convite. — Podemos assistir alguma dessas comédias
românticas que você gosta, acho que até o Josh toparia. Aquele ali assiste
qualquer coisa, até filme ruim.
— Não fale assim das minhas comédias românticas. — Dou um tapa
fraquinho em seu braço e ele faz um puta charme, como se tivesse perdido o
membro. — Meu Deus, Fran. Que exagero! Mas, eu vou aceitar o seu
convite. É bom que assim me distraio e paro de pensar no seu fratello —
falo em italiano a última palavra e ele coloca a mão em cima do coração,
como se tivesse encantado por me ouvir falar assim.
— Ótimo, cunhadinha! — Reviro os olhos e me levanto para pegar a
minha bolsa a tempo de ver meu celular acender, mas decido que deixarei
para ver depois, porque sei que vou acabar mandando mensagem para o
Jacob.
Nós saímos da festa, e dentro do táxi sou obrigada a ficar ouvindo as
intenções para o encontro de Bruce. Ele disse que a menina é uma obra-
prima personificada em ser humano, exagerado, eu sei, e que por isso vai
tentar fingir que tem modos. Eu acho meio difícil, nesse exato momento ele
acabou de arrotar com o rosto para fora do carro.
Homens.
Assim que chegamos, já fomos direto ao mercadinho ao lado e
compramos algumas besteiras para a noite de filmes, e depois subimos.
Bruce avisa que vai se arrumar para poder buscar a obra-prima, e eu e Fran
vamos para a cozinha.
— Quer tomar um banho? Tem toalha limpa no armário do banheiro e
enquanto isso eu posso adiantar as coisas por aqui!
Eu topo na mesma hora, e vou até o cômodo que já conheço. O
apartamento todo é bem arrumado, exceto pelo quarto de Bruce, que sempre
que está com a porta aberta mostra a sua zona para quem quer que passe,
mas o quarto do Fran tem algo a mais, mas acho que é porque me remete a
nossa infância. Tem fotos nossas, dele com o irmão, com a mãe, quase
nenhuma foto durante a sua adolescência, e várias outras de hoje em dia.
Me tranco no banheiro e tomo um banho rápido, sinto uma falta de ar
por alguns segundos quando meu peito dói, me remetendo a uma sensação
muito ruim, eu saio do banho respirando com dificuldade, e querendo
acreditar que não foi nada além de uma pontada no peito.
Visto o macaquinho que eu tinha levado na bolsa caso precisasse para
alguma emergência e saio do banheiro deixando tudo no lugar e alisando o
meu peito. Vou até a bolsa novamente para pegar meu celular, mas
descarregou.
— Fran, vou usar o seu carregador. — Conecto no cabo que sempre
está perto da TV da sala, e me sento, esperando que ele vá tomar seu banho,
procuro algum filme no catálogo. High School Musical aparece e eu não
consigo evitar, já coloco no primeiro filme, e espero por ele para dar o play.
Algum tempo depois ele volta, pega a vasilha de pipoca, os doces e
refrigerantes, tudo equilibrado de um jeito muito perigoso e eu o ajudo.
— O Joshua vem?
— Opa, cheguei na hora certa. — Ele aparece no corredor, vindo até o
sofá, me dá um beijo no rosto e senta do meu lado. — HSM? Hm, não é
ruim de tudo.
— Já viu? — ele diz que sim, e eu fico animada imaginando que
talvez ele saiba as músicas e me acompanhe. — Viu, Fran. Você será o
único desatualizado.
Ele senta do meu outro lado, me deixando no meio dos dois e coloco a
pipoca em meu colo para ambos terem fácil acesso.
— Estou muito triste por nunca ter assistido esse musical — debocha,
enquanto enche a mão de pipoca e escuto a risada baixinha do Joshua.
Eu dou play, e já me animo só com a abertura e aquele início gostoso
mostrando a Gabriella e o Troy se conhecendo no karaokê, e cantando
juntinhos. E claro que eu solto a voz junto com o filme, enquanto eles
cantam Start of something new.
Josh canta bem baixinho, e eu empurro o ombro dele com o meu e
Fran bate com a almofada no rosto várias vezes.
— Vocês estão sem celular? — William que eu nem sabia que estava
em casa aparece no corredor de braços cruzados. — Tem um amigo de
vocês lá embaixo gritando o nome dos dois. — Aponta para mim e depois
para o Francesco.
Tinha esquecido do celular, levanto rápido, empurrando a pipoca para
Joshua e vejo que nesse meio-tempo recebi mais de 12 ligações. A falta de
ar que tive ainda há pouco volta a tomar conta do meu corpo, e eu sei que
alguma coisa ruim aconteceu.
A minha vista fica turva, e William me ajuda a sentar quando percebe
que não estou bem. Os dois me perguntam o que aconteceu, e eu espero que
Francesco suba com quem quer que esteja lá embaixo para saber o ocorrido,
e rezo em silêncio para que seja coisa da minha cabeça.
B aparece ao lado do meu amigo, que pede para que ele fale o que
aconteceu e o porquê de estar ali. Eu não conheço o B tão bem, mas uma
coisa que eu sei é que ele é o mais sensível de todos os outros meninos, e
seu olhar avermelhado é só mais uma prova de que alguma coisa séria
aconteceu.
— Eu não sou a melhor pessoa em dar esse tipo de notícia, mas — ele
toma um tempo antes de falar, que me deixa ainda mais nervosa — o Jacob
sofreu um acidente de carro em Aspen, e a única coisa que sabemos é que
ele foi desacordado para o hospital, e entraria em cirurgia.
— C-como assim? — a voz de Francesco quase nem sai e eu fico
sentada, em choque. Neste momento não enxergo mais nada e nem
ninguém, minha vista fica totalmente branca, e a culpa toma meu corpo por
inteiro.
As vozes deles me chamando ficam bem baixas, e eu não consigo nem
me movimentar. Sei que estou em choque, mas não consigo controlar a
minha respiração e nem respondê-los.
Jacob sofreu um acidente de carro em Aspen. E se ele não tivesse ido,
isso não aconteceria. Ele só foi porque eu não reagi bem ao que ele fez,
então a culpa é minha.
Jacob vai para uma cirurgia, com sabe-se lá qual médico, para operar
uma parte do corpo que ninguém ainda sabe qual é. E a culpa é minha. A
vida dele pode estar em risco, dependendo da gravidade e da capacidade
dos médicos.
E a culpa é minha.
— Emma? Por favor, não tenha um treco! — Francesco consegue me
tirar do transe, e aos poucos consigo respirar devagar e fundo, mas ainda
sentindo o bolo na minha garganta e um desespero que toma conta da minha
mente. — Nós precisamos ir até a casa da Kath, você consegue levantar?
Eu faço que sim, mesmo sem conseguir prestar muita atenção nas
coisas e fazendo tudo no automático, nós chegamos na casa da minha
amiga, que quando me vê, tenta esconder que estava chorando e vem me
abraçar e me puxar para sentar novamente.
Todo mundo está aqui. Menos Barbie e Noah, e ouvi Jô falando que
conseguiu colocar Milla para dormir.
— Onde estão os meninos?
— Eles foram para Aspen — ela me diz e me entrega um copo com
água que eu bebo mesmo sem vontade. — Ligaram para cá por volta das 3
horas da tarde, Jacob já tinha dado entrada no hospital, e seria levado para
cirurgia. Os meninos foram na mesma hora, mas ainda deve faltar algumas
horas para chegarem lá.
Algumas horas. Isso é muito! Como vamos ficar sem informação até
lá?
— Como conseguiram entrar em contato com vocês? — Francesco
pergunta, e é uma boa pergunta.
— Noah, Barbie e Justin são os contatos de emergência dele.
Conseguiram falar com Noah na primeira tentativa. — Ela suspira e estala o
pescoço, claramente exausta com toda a carga desse acontecimento. —
Tentamos ligar para vocês dois, mas como não conseguimos, o B foi até lá e
daí vocês já sabem.
Estar cursando medicina e saber coisas além do que os meus amigos
sabem, está me deixando louca. Mas tento me manter calma, e pensar
positivo. Na faculdade aprendemos que tudo é possível, tanto para o mal
quanto para o bem, mas estudamos tanto as coisas que dão errado para não
repetirmos os mesmos erros que acontecem, que tudo isso fica martelando
em minha cabeça.
As horas vão se passando, algumas pessoas vão dormir, outras vão
embora e eu continuo aqui, no mesmo lugar que sentei desde que cheguei,
com os olhos ardendo querendo chorar, mas só vou chorar quando vê-lo
novamente, bem e com aquela cara fechada.
Como eu queria que tudo isso estivesse sendo um pesadelo.
— Não quer dormir? — Kath senta a meu lado, já com seu pijama que
faz conjunto com o pijama do Noah e da Milla. Eles são fofos demais! —
Eles já chegaram lá, mas a cirurgia não tem hora para acabar, Emma.
Alguém deve aparecer em algum momento para falar com os dois.
É, eu tenho noção disso tudo.
— Eu não conseguiria dormir. Minha mente nunca ficou tão agitada
como está agora! — comento, sem ânimo nenhum para falar.
Kath me dá um beijo no rosto, deixa cobertas e travesseiros ao meu
lado para mim e Francesco, que está sentado sozinho perto da piscina e diz
que precisa dormir porque quando Milla acordar, ela precisará ter energia.
E é ali, parada do mesmo jeito, que eu vejo o sol nascer e a
movimentação de todos quando o telefone toca bem cedo, reunindo todos
ao redor de Kath, que coloca no viva-voz para recebermos a notícia.
31

Termino de digitar algumas coisas no notebook, finalizando mais um


contrato para Liz e Jô. As duas têm trabalhado bastante nesses últimos
tempos e para mim é ótimo que ocupa a minha mente e consigo me distrair
de alguma maneira.
Tiro meus olhos da tela e olho mais uma vez para Jacob. Acho que só
hoje, já devo ter olhado mais de mil vezes, com certeza, mais de mil vezes.
Vê-lo deitado nessa cama, há duas semanas, sem se comunicar com
ninguém e nem lançar seus olhares irritados para Barbie é agoniante. E o
desespero de ver os dias passarem e nada dele acordar, vem tomando conta
de mim a cada minuto.
— Bom dia, Srta. Ford! — O médico do Jacob já se acostumou em me
ver aqui, e ele é um dos melhores cirurgiões de NY, o que me tranquiliza
bastante. — Chegou cedo hoje! — Ele vai até a cama, onde Jacob está, e
faz as conferências diárias e como sempre, no final, solta um suspiro. —
Nada ainda, né?
— Nada, Doutor. — Me levanto do sofá, que virou meu escritório e
também meu quarto desde que Jacob foi trazido para NY dois dias depois
do seu acidente, para ser melhor acompanhado no hospital mais completo
que provavelmente existe no mundo.
Jacob sofreu um acidente muito grave, e com o impacto da pancada
teve danos na cabeça, fratura exposta em uma das pernas, além do pulmão
perfurado. Já foram feitas duas operações, e até agora não há necessidade
de mais nenhuma, mas depois da craniotomia foi preciso induzi-lo ao coma,
para uma recuperação mais segura. É comum fazer isso, é uma opção
relativamente segura, levando em conta que um coma nunca é fácil, mesmo
que induzido. E não fazer isso pode forçar o cérebro cedo demais.
Mas já era para ele ter acordado, todos os sedativos já foram retirados
há dias, e agora depende apenas dele para acordar, e os médicos
descobrirem se algo foi afetado pela craniotomia.
— Vai acordar, querida! Seu namorado é um homem forte, só vamos
dar mais um pouco de tempo para ele. — Eu já nem ligo mais para o que
dizem que sou ou não dele, até porque realmente estou parecendo essas
namoradas que ficam grudadas, esperando qualquer sinal de que tudo vai
ficar bem.
Eu preciso de algum sinal, Jacob. Você não pode fazer isso comigo e
nem com seus amigos.
O médico sai e entram as enfermeiras para fazerem as demais coisas e
eu volto a me sentar, fixando meu olhar apenas em seu rosto totalmente
imóvel. E mais um dia, eu seguro o choro, mais um dia, eu me agarro na
esperança que vou poder chorar quando ele abrir esses malditos olhos
bonitos e falar: — Está tudo bem, amore.
E também precisamos saber como tudo aconteceu. O que sabemos é
que ele perdeu o controle e bateu em algumas rochas. Mas isso não faz
sentido, Jacob dirige bem demais e presta atenção em tudo ao seu redor,
como ele não veria as rochas? O que o faria perder o controle da direção?
Deve ter alguma explicação por trás disso tudo, mas nada importa, na
verdade. Só precisamos que ele acorde, mesmo que não queira mais falar
comigo e me culpar, eu entendo.
Eu me culpo.
A cada 24 horas de todos esses dias eu tenho me culpado, e queria
nunca ter brigado com ele por causa da porcaria da atitude idiota dele.
As enfermeiras, que já viraram minhas companheiras de refeições,
saem do quarto e avisam que qualquer coisa eu posso chamá-las, e eu sorrio
em agradecimento e quando elas fecham a porta, vou até a cama dele e me
sento ao seu lado.
— Será que você tem me ouvido todos esses dias? — pergunto,
mesmo sabendo que não terei resposta. — Eu estou com saudades, e não
precisava fazer isso tudo para que eu te desculpasse! Eu te desculparia de
qualquer maneira, não sei mais ficar sem você por perto, independente de
como estejamos. Mas a situação de agora é horrível, e eu preciso que você
acorde.
Fico olhando para ele, segurando sua mão e esperando que aconteça
igual nos filmes, que quando a pessoa em coma escuta a voz de quem ama,
acaba acordando, dando um sorriso com dificuldade, mas cheio de amor.
Só que faz sentido ele não acordar ao me ouvir. Não sou eu a sua
amada, e talvez ele esteja sonhando com ela todos esses dias, e lá, seja lá
onde for, seja um lugar melhor e mais feliz do que aqui.
— Não sei até quando vou conseguir segurar o choro! — digo,
largando a sua mão e na hora que me levanto, escuto a voz dos nossos
amigos no corredor, e tento me recompor para passar alguma esperança a
eles.
— Se o Jacob não te pedir em namoro depois desse acampamento que
você montou aqui, eu vou ter que pedir — Olívia comenta, depois de me
dar um beijo no rosto.
— Eu sou total a favor — Barbie diz, e todo mundo ri. Eles são
sempre o alívio dos nossos dias durante os encontros diários. — Oi, Em. —
Ele me dá um beijo na testa e vai falar com o Jacob. — Que italiano do
caralho você é. Vai fazer a gente sofrer mais quanto tempo, infeliz?
Já conheço Barbie o suficiente para reconhecer sua voz que
antecede seu choro, mas eu fico de costas para não chorar.
— Amiga, você não pode continuar morando nesse hospital. Qual foi
a última vez que saiu? — Kath alisa meu rosto, e eu preciso morder o lábio
inferior e engolir com muita força o choro. Ela suspira, e sorri, um sorriso
muito triste. — Trouxe mais roupas para você.
— Obrigada! — É a única coisa que eu consigo falar. Pego a bolsa
grande e coloco dentro do armário que tem no quarto.
E em falar em quarto, esse aqui quase nem parece com um quarto de
hospital. Tirando os aparelhos ligados ao Jacob, o resto poderia muito bem
ser de uma casa de alguém que gosta de móveis e paredes claras.
Eu saio, e deixo todos lá dentro. É o único momento que me atrevo a
andar pelos corredores, e já quase me sinto familiarizada com os
funcionários. Já até mesmo conheci alguns médicos famosos, que gostaram
de saber que faço medicina e me chamaram para assistir alguma cirurgia
deles a qualquer dia.
— Oi, Emma! — Bella sai da sala de um dos seus pacientes, tirando
as luvas e jogando na lixeira de descartáveis hospitalares. — Como está o
meu vizinho?
Descobri na primeira semana em que estava aqui que Bella, uma
vizinha de Jacob, é pediatra. E foi uma surpresa, porque ela parece muito
nova, mas pelo visto a boa alimentação e os exercícios ajudaram a manter
uma aparência mais jovial.
— Nada ainda! — Suspiro.
— Tenho certeza que se ele conseguir sentir o pouquinho de amor que
tem naquele quarto todos os dias, acordará no momento certo. — Ela sorri,
muito gentil. Ela arruma o ursinho que tem em seu bolso, e aquilo é bem
fofo. Não tenho dúvidas de que ela é excelente no que faz. — Espero que
não esqueça do convite que te fiz.
Bella é relativamente nova aqui, veio a trabalho e decidiu ficar de vez.
Então, nas nossas conversas quase diárias, ela pediu para que eu a levasse
em algum lugar legal porque ela precisa fazer novas amizades e também
acabar com a seca que a persegue por tempo demais.
— Não esqueci não! E se tudo der certo o convite será para
comemorar a recuperação do italiano difícil.
Ela dá uma risadinha e vai até o balcão para ver qual é o próximo
paciente que precisa ir visitar, e acabo indo com ela.
— Eu acho muito bonito como você se preocupa com ele. E ainda é
uma surpresa saber que ele tinha alguém! — Eu já expliquei a ela que não
somos namorados, mas acabei contando bastante sobre a nossa relação. —
Mas o amor tem facetas diferentes para cada pessoa, e mesmo de longe, eu
conseguia ver que o Jacob estava diferente. Não conheço muito a respeito
dele, mas os outros vizinhos falaram que ele é sempre sério, e eu estava
vendo-o sorrindo demais para alguém sempre sério.
Decido não retrucar com ela porque provavelmente suas palavras são
para me animar, e eu vou aceitá-las. Preciso de qualquer coisa que me
anime, qualquer coisa que me ajude a ficar minimamente sã.
Assisto pela janela quando ela entra, toda animada para falar com a
criança novinha mas que já luta pela vida. Metade da sua cabeça está
raspada após a cirurgia para retirar um tumor. Mas a criança ri, feliz por vê-
la.
É esperança o que brilha no olhar dessa criança, e é isso que eu
preciso continuar tendo.
Eu volto para o andar onde Jacob está e quando chego perto vejo que
Noah entrou correndo no quarto. E eu travo! Travo porque não sei se era
uma corrida de “acordou” ou de “fudeu”.
Ninguém mais entra e ninguém mais sai. Eu já estou aqui há alguns
minutos e ninguém sai. Eu me forço a andar até a porta, muito devagar e
quando escuto uma risada parece que flutuo de tão leve que eu fico.
Mas tem gente demais na minha frente, não consigo ver nada. Kath
vira para trás, e sorri com os olhos molhados de lágrimas e estende sua
mão, me puxando para ficar na frente dela.
E eu o vejo.
Acordado.
Jacob está acordado, bem confuso e olhando para todos os cantos,
todos os rostos, reconhecendo o lugar onde está. Mas continua olhando para
cada um de nós, um pouco agitado, até que seus olhos encontram os meus, a
lágrima que escorre pelo cantinho, me faz tapar o rosto com as duas mãos e
eu desabo.
Desabo de saudades, de alívio, de culpa.
32

Hoje, as vozes estão mais altas, parecem estar tão próximas de mim,
mas tudo continua escuro. Sempre escuro, todos esses dias eu só vejo a
escuridão e sinto a dor que vem da alma.
— Você tem que acordar, cara! — dessa vez é o Barbie quem fala, e
eu tento responder, mas não consigo. — Por mim, pela nossa família… E
pela Emma, estamos muito preocupados com ela.
Emma? O que será que houve com ela?
Eu tento muito me mexer, falar, mas não consigo. Tem um bolo em
minha garganta que machuca quando eu tento minimamente falar qualquer
coisa, e meus olhos pesam tanto.
Aqui tudo é escuro, mas é tranquilo. E tem momentos que eu sonho, e
todos esses sonhos são com a Emma. Cheguei a pensar que tinha morrido e
ido para um paraíso, mas depois, de tanto ouvir a ruivinha falar comigo, eu
entendi que estou mal. Eu lembrei, lembrei que sofri um acidente e também
o motivo de ter me acidentado.
E é por isso que a minha alma dói. Dói cada pedacinho dela, dói
quando a imagem se repete em minha mente.
Mas os sonhos com a Emma, e ouvi-la falar comigo todos os dias é
que vem aliviando, e acho que só por isso ainda não desisti.
— Irmão, acorde nem que seja para me xingar. Acorda para poder
surtar de ciúmes da ruiva, ou para contar suas histórias para a Milla, ela
sente tanto a sua falta. Deixou o ursinho preferido dela aqui, para te
proteger.
Sinto meu coração bater forte, eu quero abrir os olhos. Eu preciso
acordar, eu preciso vê-los. Eu preciso ver la mia costellazione.
— Puta merda! Jacob? — Barbie continua falando. Por que ele não
fica quieto só um pouco?
A claridade vai aparecendo aos poucos, e eu preciso piscar porque a
minha vista dói. Tento levantar a minha mão para tapar um pouco os meus
olhos e me ajudar, mas pesa tanto que eu desisto.
Começo a ver sombras de várias pessoas, e o falatório começa, mas é
rapidamente interrompido por alguém que diz para fazer silêncio e deixar
com que eu consiga me situar.
Bom conselho.
Depois de algum esforço, eu finalmente abro os olhos e enxergo onde
estou. Barbie está segurando a minha mão, mas levanta, enxugando o rosto
e eu tento falar, mas a minha garganta está tão seca que dói.
Uma moça, que pelo visto é a enfermeira, já traz um copo com canudo
e encaixa na minha boca, pedindo que eu beba só o suficiente para molhar a
garganta e assim eu faço, porque é difícil engolir.
Eu olho para o quarto onde estou, ele é bem grande e branco. Não sou
fã de branco, mas é fácil achar algumas cores em cima do sofá, que é onde
acho que a Emma ficou.
Emma.
Cadê ela?
Eu olho para todos, um por um. Todos estão aqui, mas eu não a vejo
com eles e por isso tento procurá-la no restante do quarto, mas uma
movimentação chama a minha atenção, e quando olho novamente para os
meus amigos, ela está lá, na frente da Kath.
E meu coração quase explode por vê-la ali, mesmo com seu rosto
demonstrando um cansaço físico e mental que nem a faculdade a
proporcionou, ela continua linda.
Meu olho arde, arde muito e sinto quando a lágrima escorre e no
mesmo momento a minha ruivinha começa a chorar feito criança, tampando
o rosto e fazendo barulhos muito altos.
Eu quero que ela venha até mim.
— Só tenha cuidado, Emma — o médico barbudo fala. Acho que eu
falei a frase de cima sem perceber. A ruiva senta na cadeira do lado da
minha cama e segura a minha mão, sorrindo para mim enquanto as lágrimas
continuam escorrendo e eu faço um carinho em seu rosto, mesmo que
minha mão ainda esteja pesada.
O médico faz vários testes para ver como está a minha coordenação
motora e depois começa a me explicar tudo o que aconteceu comigo depois
do acidente, e quando ele conta da minha perna, eu fico preocupado e vejo
que ela está suspensa, sem os imobilizadores porque não é mais necessário,
mas descubro que terei que fazer fisioterapia.
— E você tem duas opções, Jacob. — Volto a olhar para o médico. —
Ou você continua aqui conosco por um tempo, para a recuperação total da
sua perna…
— De jeito nenhum. — É a primeira coisa que eu tenho consciência
que falei e o médico ri.
— Ou você terá que ter alguém na sua casa para ajudar. Mas, terá que
ser alguém que consiga te ajudar com os curativos, os remédios e sua
alimentação. Essas três primeiras semanas serão cruciais para a recuperação
da sua perna. E já fiquei sabendo que você é muito ativo, então
recomendamos a esse tipo de pessoa essas duas opções.
— Eu retiro o que falei antes, vou ficar no hospital.
O médico me olha de um jeito estranho, e deduzo que não deva ser
comum que os seus pacientes optem por essa opção.
— Vocês poderiam nos dar licença? — Barbie pede para todo mundo,
e Emma é a primeira que se afasta, mas só depois de afagar a minha mão.
As outras pessoas também saem, e é Noah quem fecha a porta, ficando só
nós três aqui. — Jacob, você vai ficar no hospital? Sério?
— E-eu… — Noah me dá mais um pouco de água quando percebe a
minha dificuldade. — Não vou botar um estranho para ficar dentro da
minha casa, me vendo quase nu para me ajudar nos curativos e no resto
todo aí.
Barbie ergue as sobrancelhas, começando a ficar irritado e Noah cruza
os braços.
— Sabe que não estamos pensando em alguém estranho, né? — Noah
diz.
— Eu não vou aceitar que voc... ah! Vocês estão cogitando a Emma?
— Os dois concordam. E eu até os entendo, faz sentido. Emma com certeza
deve ter aprendido na primeira semana de aula a fazer tudo o que o médico
disse que eu precisaria. Só que existe um problema. — Vocês estão com
algum tipo de apagão na mente?
Noah coça o pescoço, e olha para Barbie que está ficando vermelho.
— Jacob, por favor, tá? Eu te amo, e entendo todas as merdas aí por
causa da Sophie que morreu.
— A Sophie n…
— Deixa eu terminar — ele me interrompe e eu fico quieto, trincando
o maxilar. — Só que a questão agora é a sua saúde, e sabemos que você não
vai ficar no hospital e sairá daqui quando formos embora. E depois vai ser
um inferno para te ajudar, então supera essa merda toda, e deixa que a
Emma fique na sua casa te ajudando! Ela é a única que tem paciência com
você mesmo. — Uau, Barbie está brigando comigo. — Você já fica com a
menina, sabe-se lá que coisas vocês já fizeram e eu não quero saber, só para
esclarecer. Não acha que é meio ridículo ela não ir na sua casa?
— A Sophie não morreu — eu falo de uma vez, antes que eu desista
de contar. — E meu pappa está com ela… e o meu figlio!
Eu juro que a mandíbula do Barbie despencou depois que ele abriu a
boca com força e Noah puxa uma cadeira para sentar, sem acreditar no que
eu disse.
— Explica isso para a gente!
— Sophie estava em Aspen, com o Enrico e uma criança que parece
comigo quando eu tinha uns 11 anos. — Suspiro e não consigo evitar que a
imagem deles venham na minha mente. — E eu o vi beijando a Sophie.
— Irmão… tem certeza que isso aconteceu antes do acidente?
Concordo.
— Isso é muito surreal — Barbie fala e senta na beira da cama. — E
foi por causa disso que você bateu, né? — Concordo mais uma vez. — Os
médicos informaram que não tinha ido ninguém lá e que foi a ambulância
quem te levou. O filho da puta nem se preocupou em saber se você estava
vivo ou não.
— Jacob, seu pai é um monstro. Eu estou tentando entender como
tudo pode ter acontecido, mas nada faz sentido.
— Ele tem dinheiro e poder. Quem tem essas coisas, tem tudo! A
promessa de nunca mais voltar à Itália faz sentido, nada me fará tirar da
cabeça que foi ele quem forjou a morte dela, e se eu continuasse lá, acabaria
descobrindo em algum momento.
Barbie esfrega o rosto e depois a cabeça, tão indignado quanto eu
fiquei. Mas agora, eu não consigo sentir nada, esses dias em coma, eu só
conseguia ficar com a imagem deles juntos, como uma família feliz e que se
ama. Eu me sinto anestesiado nessa questão, e o problema será quando esse
efeito passar.
— Eu preciso ir à Itália.
— Nem fudendo! — Barbie levanta e começa a andar de um lado para
o outro. — Você tem que se recuperar, Jacob. Eu sei que tudo deve estar
uma loucura na sua cabeça, mas você não vai se prejudicar ainda mais por
causa desse homem. E nem que eu acampe na sua casa, mas você só vai sair
de lá quando estiver bem.
— Desculpe irmão, mas eu preciso concordar com o Barbie — Noah
fala, com um olhar que demonstra sua preocupação. — Depois nós vamos
juntos com você, e a gente segura o seu pai para você bater nele.
Eu olho para o meu corpo na cama, não conseguiria contar os
hematomas e machucados espalhados por ele se tentasse. Sinto minha
cabeça doer, e meu rosto também. Provavelmente devo ter machucados por
todo o meu corpo, e também sei que não vou conseguir me virar sozinho.
E imaginar Emma pela minha casa não parece ser algo tão ruim assim,
e agora não faz mais sentido não deixar que ela entre. Eu posso ter
esquecido por um segundo sobre o que eu vi quando falei com eles, mas
nada faz sentido.
O meu luto por anos, a dor que eu senti cada dia da minha vida. Tudo
foi falso, tudo foi a porra de uma farsa que acabou comigo e me
transformou em uma versão infeliz de mim mesmo.
Mais de uma década de sofrimento para nada…
— Eu aceito que Emma fique na minha casa para me ajudar!
33

Depois que os meninos conversaram, todo mundo queria falar com o


Jacob e eu fiquei sentada do lado de fora, esperando que cada um fosse lá
para ter seu tempo com ele.
Mais uma vez tentaram fazer com que eu fosse para casa. Mas se com
ele apagado eu estava aqui, agora que ele está acordado vou continuar.
Ainda estou com medo de acordar e ser um sonho, como quase todos os
outros dias e me decepcionar.
Eu sinto meus olhos inchados de tanto que já chorei, mas ainda
choraria muito mais.
— Ele está esperando você! — Liz fala, assim que sai com o Justin, e
faz um carinho em meu rosto. — Você é um anjinho em nossas vidas, em
especial na vida desse filho rabugento que eu ganhei. — Ela sorri, e depois
vai embora com o marido.
Todos já foram depois que eu disse que não iria embora, e eu levanto,
mas sinto minhas pernas iguais à gelatina. Mas eu entro, vendo o médico
falar algumas coisas para ele que me olha assim que adentro o quarto, e ele
para de prestar atenção no doutor.
Jacob já foi erguido, levantaram a sua cama e agora ele está sentado,
só que um pouco mais inclinado do que o comum, e eu vou até lá, ficando
do lado oposto que o médico está.
— Eu te informei porque é meu paciente e precisa saber, mas essa
mocinha sabe absolutamente tudo e algo me diz que você prestará mais
atenção no que ela falar. — Eu sorrio, um pouco sem graça e me assusto
quando sinto a mão de Jacob em cima da minha. — Vou deixá-los a sós,
mas podem me chamar a qualquer hora.
Ele sai e fecha a porta, e eu fico nervosa.
— Emma, acho que eu te devo um pedido de desculpas, — sua voz
ainda está rouca por tanto tempo sem falar, mas continua tão linda — pela
faculdade!
Eu o olho como se fosse a primeira vez que o vejo, me certificando
que ele está bem, na medida do possível.
— Vamos esquecer isso! — Sento no espaço que tem em sua cama, e
ele faz um carinho gostoso em minha coxa. Que saudades que eu estava do
seu toque. — Darei um jeito de te pagar, e estaremos resolvidos.
Ele dá um sorrisinho de lado, e é tão sexy. Sua barba está maior do
que o normal e o seu cabelo também, mas todas as versões desse homem
são perfeitas. Os pequenos machucados em seu rosto são temporários, e
duvido que uma cicatriz ou outra inibiria a sua beleza.
— Tem uma maneira de me pagar. — Ergo uma das minhas
sobrancelhas e ele sorri da minha desconfiança. — Eu vou precisar de uma
enfermeira particular por pelo menos três semanas, em tempo integral. Pelo
visto, não sou capaz de fazer quase nada sozinho, então depois de um
sermão do Barbie e olhares do Noah, decidimos que você seria a melhor
opção.
— Eu não entendi… como isso daria certo, Jacob? — pergunto, por
que como diabos eu iria cuidar desse homem se nem posso entrar na sua
casa?
— Quero saber se você topa ficar essas três semanas comigo, me
ajudando! E assim ficaríamos quites com a merda que eu fiz, amore.
Que saudade de ouvi-lo me chamar desse jeito!
— Na sua casa? — é uma pergunta óbvia, mas ainda não estou
entendendo muito bem.
— Claro! — Ele dá uma risadinha, e acaba tossindo um pouco. Espero
que beba a água, enquanto processo esse convite muito inesperado. — Se
você quiser e puder! Sei que está trabalhando bastante para a Liz e a Jô, te
escutei todos esses dias. Mas o que não falta é espaço para você, e eu tenho
um escritório que será todo seu.
— Escutou tudinho? — pergunto, já morrendo de vergonha e ele
concorda. — Então finja que não falei metade das coisas. — Ele volta a
sorrir, e a sua mão em minha coxa esquenta. — Se você realmente quiser a
minha ajuda, eu vou com gosto. Mas eu preciso ter certeza que estará tudo
bem, Jacob. Não quero ultrapassar nenhum limite co…
— Podemos conversar sobre Sophie, a viagem, e todo o resto quando
estivermos em casa? E também sobre algumas coisas que você falou
enquanto eu estava em coma… — pergunta e fecha os olhos — Eu só
queria te pedir mais um favor, além de já pedir para que durma aqui
comigo, do meu lado.
Eu tiro rápido os meus tênis, ficando só de meia e me ajeito da melhor
forma ao lado dele, colocando uma mão em seu peito e deixando que me
abrace com um dos seus braços.
— Qual o favor?
— Tem um quarto lá em casa que eu preciso que tirem tudo de lá! E-
eu não posso mais morar no mesmo lugar que tem aquelas coisas — sua
voz muda quando ele fala isso, e a mágoa é quase palpável. — Chame o
Francesco, ele saberá te falar qual é o quarto. E prometo que te explico tudo
depois. — Ele beija a minha testa com tanto carinho, que me dá vontade de
morar no seu abraço e em seus beijos. — E aí você pode aproveitar e levar
as suas coisas, se ambientar com a casa e os cachorros…
Nós ficamos deitados ali, e pouco depois de falar mais algumas coisas
o Jacob dorme. Mas eu continuo acordada, tentando compreender como
tantas coisas mudaram tão rápido na nossa relação.
Ainda não falamos nada referente a eu e ele de fato, mas eu estou indo
morar na casa do cara por quem sou apaixonada para ajudá-lo na
recuperação de um acidente que ainda nem faço ideia de como aconteceu
realmente.
Isso pode dar muito certo, ou pode ser o fim até da nossa amizade.

Francesco pula de dentro do carro que nos trouxe, e eu saio logo após,
vendo mais uma vez como a casa do Jacob combina com a vibe dele. Mas
ainda estou achando estranho o fato de que realmente vou conhecer a casa
dele.
— Sabe que quem morde é o dono da casa e não a casa, né? — o
idiota diz e abre o portão, me chamando para entrar logo e eu faço isso. —
Ei, crianças!
Ele se abaixa e fala com Arya e Mayke, que quase o derruba e depois
os dois vêm até mim, cheirando os meus pés, pernas e depois as minhas
mãos. Eu fico um pouco nervosa porque eles são enormes, mas sei que são
mansos.
A primeira que pula em mim é a Arya, que balança o rabo e me dá
algumas lambidas, logo depois o Mayke sai correndo e já volta com uma
das suas bolinhas. E quem disse que eu resistiria a eles? Impossível.
Eu e o Fran ficamos quase uns 20 minutos só lá fora, ainda mais que
ele abriu a porta lateral e vieram os dois pequenos que ficam lá dentro.
Liz deixou os dois aqui mais cedo, e se certificou de deixá-los tosados
e de banho tomado para receber o papai que chega em dois dias. Eu me
responsabilizei de cuidar deles esses dias, é uma maneira de começar a
treinar porque terei que fazer isso nas próximas semanas também.
O rapaz que cuida da casa também veio aqui mais cedo e deu uma
geral, e eu percebo assim que entro e sinto um cheiro gostoso de casa
recém-limpa, mas eu me perco em curtir o cheiro e ficar encantada com a
casa.
Como já era de imaginar, ela tem tons escuros, móveis claros e alguns
quadros. É minimalista e de muito bom gosto, bem adulto. Eu nunca
imaginei que acharia uma casa assim bonita, mas essa é linda.
Francesco faz uma tour comigo por cada cantinho da casa, e eu vou
fazendo várias notas mentais de onde ficam as coisas, e também já
planejando montar um quarto temporário para ele aqui embaixo. Não será
muito bom ficar subindo e descendo as escadas.
Quando ele me mostra a biblioteca, que também é o escritório, eu
descubro o meu lugar favorito daqui. É o sonho de qualquer Bookstan uma
biblioteca desse tamanho e com tantos livros, inclusive livros repetidos mas
com edições diferentes.
É definitivamente meu sonho de consumo. Para melhorar, ainda tem
uma janela enorme com um sofá bem coladinho nela com vista para o
quintal da casa dele.
— Sabia que você ia amar essa parte! — Fran fala do meu lado,
depois coloca as mãos em meu ombro e vai me empurrando para fora.
Só assim mesmo para me tirar de lá de dentro.
Nós subimos e eu vejo o quarto de hóspedes, que é lindo, mas
imagino que no máximo os meninos tenham usado, aí tem um banheiro no
corredor e o quarto do Jacob.
O perfume dele está espalhado por lá e eu sei disso antes de entrar.
Fran vai na frente, e começa a tirar várias coisas e eu noto que é tudo
referente a Sophie.
Ué?
— Acho que o seu irmão não vai gostar de saber que você está tirando
as lembranças dela.
— Ele quem pediu! — Continua tirando tudo e equilibrando em seus
braços. Eu o ajudo e seguro tudo, mas sem entender o porquê. — Eu vou
deixar que ele te conte, ok? — Me olha rapidinho, e eu faço que sim com a
cabeça.
Mas um monte de teorias começam a ser formadas na minha mente, e
sem dúvidas uma é mais doida que a outra.
Eu coloco tudo na cama dele porque assim que a equipe que
Francesco contratou para levar todos os móveis até o orfanato e trazer as
caixas para jogar fora as outras coisas chegar, eu já vou ter deixado tudo
que está aqui em uma caixa separada.
Fran continua procurando em algumas gavetas, e eu vou até o closet
dele, e caralho! Como pode um homem só ter tantos ternos? Sabe o Barney
de How I Meet Your Mother? É quase a mesma energia em relação aos
ternos.
— Eu fiquei assim também! — Francesco passa por mim e tira o que
tem ali dentro também. É um pouco doentio o tanto de coisas que o Jacob
ainda tem da Sophie. — Vamos para o último quarto?
Faço que sim com a cabeça, mas antes de sairmos eu percebo que tem
uma porta no final do closet, dessas que não tem maçaneta. E a minha
imaginação muito fértil e fanfiqueira, já imagina milhões de coisas.
A casa do Jacob é bem tecnológica e todas as portas abrem com
digital ou senha. Igual a dos outros meninos, mas eles só usam isso nas
portas principais, aqui é para todos os cômodos menos os banheiros.
Só que todos os cômodos ficam abertos, mas esse não. Francesco
precisa digitar a senha para entrarmos nesse quarto.
— Saber que o Jacob pediu para que você entrasse aqui, e tirasse tudo,
me confunde. E, espero que você não se assuste com o tamanho do luto
dele.
Depois de já ter me assustado com suas palavras ele abre a porta, e
preciso de meio segundo para entender tudo ali.
— Caralho!
34

Eu surtei.
Quando Emma saiu e eu tive certeza que estava sozinho e que ela
demoraria a voltar, eu surtei. Não tive como me distrair com outra coisa,
não tinha ela para dominar a minha mente enquanto a olhava, então eu
surtei.
As imagens parecem ainda mais vivas em minha mente, e ficam em
um replay infinito. A Sophie, minha Sophie viva. Viva, bem e parecia feliz.
Meu pappa a beijou. Por que ele a beijou? E por que a criança parecia estar
confortável perto dele? Ele não gosta de crianças.
Onze anos atrás, eu acreditei que havia perdido minha futura noiva e
meu figlio, mas eles estão vivos! Muito vivos, eu sei perfeitamente o que eu
vi. E eu os reconheceria, mesmo que ela tenha agora uma aparência mais
madura, o seu sorriso é o mesmo. E ela sorriu para ele como sorria para
mim, apaixonada.
E isso está me matando. Os poucos segundos que eu vi da interação
deles está me matando.
Sophie está viva. E com o meu pappa! Que porra é essa? Quem tem
coragem de forjar a morte da nora? Por que para mim essa é a única opção
do que pode ter acontecido. E por que ele me odeia tanto?
Eu nunca quis nada dele! Nem o dinheiro, nem o luxo, muito menos o
sobrenome de merda. Cazzo!
E de tanto pensar nessas coisas e sentir meu peito doer, eu arranquei
meu cordão e mesmo sentado consegui derrubar uma mesa que fica bem
próxima da cama, que é onde a enfermeira separa os medicamentos antes de
me dar.
O barulho que a mesinha faz ao cair é alto, mas não o suficiente para
abafar o meu grito de dor, raiva e desespero. E isso chama atenção de duas
enfermeiras, que vem correndo e arregalam os olhos ao ver a bagunça e o
meu estado.
Eu choro! Choro alto, choro por todos os outros dias que chorei de
saudade e tristeza. Mas o choro que mais me sufoca, é quando eu penso em
tudo que eu deixei de viver, tudo que abri mão para não apagar a memória
de Sophie e para que ela, onde estivesse, reconhecesse meu amor.
O médico chega um pouco depois, e eu agradeço quando ele injeta no
soro um remédio que com certeza é para me acalmar. Minha pressão subiu e
isso não é bom para quem teve o crânio aberto há tão pouco tempo.
Cazzo! Eu quase morri em uma mesa de cirurgia por causa da Sophie.
O que mais essa mulher vai tirar de mim?
O remédio me apagou, como eu imaginei quando fui medicado. Agora
que acordei novamente, vejo Emma terminando de fechar uma mala, de
costas para mim. E eu posso estar debilitado, mas tem uma parte do meu
corpo que continua funcionando muito bem, e a bunda dessa ruivinha é o
meu ponto fraco.
— Finalmente! — O médico que eu nem vi que estava no quarto fala
quando me vê acordado. — Dormiu mais de 6 horas, rapaz! — Emma vira
rápido, e vem até a cama toda sorridente. — Querida, provavelmente por
essa primeira semana ele dormirá bastante, então é sempre bom estar em
um lugar confortável.
— Sim, pode deixar — ela fala com ele, mas sem desviar os olhos dos
meus. — Podemos ir?
Ele olha algumas coisas no seu iPad, faz alguns comentários, lembra
mais uma vez que eu preciso de muito repouso e finalmente diz que posso
ir. Ambos me ajudam a levantar, e movimentar a perna é um incômodo, mas
desde que acordei tenho ido ao banheiro e tomado banho, então a dor não é
uma surpresa.
Eles me ajudam a ir para o banheiro, e a ruivinha entra comigo para
me ajudar com a roupa. Eu sei que para ela isso se tornará algo bem comum
por causa da sua futura profissão, mas ela não consegue disfarçar o quanto
está corada e eu solto uma risada.
— Nada que você já não tenha visto, amore.
Ela ri também, e como eu já estava de cueca, ela só me ajuda a passar
a bermuda de moletom pela perna ruim, eu termino o serviço e visto uma
blusa.
Não sou o tipo de pessoa que gosta de ter alguém ajudando até em
coisas básicas, como se vestir. Pensei que me sentiria humilhado ou algo do
tipo por ser a Emma, mas na verdade, estou bem à vontade.
Pego as malditas muletas que ela me entrega, e saio do banheiro para
poder finalmente ir embora.
Meu fratello e Jackson já estão na porta para me ajudar. Eu teimo em
ir “andando”, mas acabam me colocando em uma cadeira de roda, e eu
ainda estou tão cansado que apenas aceito que me empurrem até o carro do
meu amigo.
Fran e Emma carregam as minhas coisas, e vejo quando colocam na
mala. Eu entro no banco traseiro, e mantenho a expressão neutra quando
sinto a dor se espalhando por vários pontos do meu corpo quando faço a
movimentação para sentar.
Emma fica ao meu lado, e Fran vai na frente com Jackson, que
aproveita para fazer várias perguntas e eu respondo todas. Eu já havia
pedido para que os meninos contassem aos demais o que realmente
aconteceu em Aspen, mas pedi que deixassem Emma de fora, porque eu
mesmo quero contar.
— Tudo bem? — a ruiva me pergunta baixinho, com seus olhos, que
eu sou apaixonado, mostrando a preocupação. — Já estamos chegando!
Eu preciso baixar o vidro para que o segurança libere a entrada no
condomínio, e quando finalmente paramos na frente da minha casa, eu me
sinto nostálgico e triste.
Jackson vai entrando para levar as minhas coisas, e Francesco fica ao
meu lado com medo dos cachorros pularem em mim. Mal sabe que eles
entendem muito mais as coisas do que muito humano.
E a prova disso é que eles correm, mas param alguns passos de mim
quando veem que estou todo remendado, e Mayke se aproxima devagar,
cheirando a minha perna cheia de curativos e depois se junta com Arya,
esperando que eu fale algo.
— Ei, babies. Que saudades! — Eu estalo os dedos, e eles se
aproximam, choramingando, e eu afago ambas as cabeças. Eles se
satisfazem com isso e voltam correndo para perto da casa deles, deitando lá
dentro e ficando de olho em mim. — É uma merda não poder falar com eles
direito.
Francesco me ajuda a subir as escadas até a entrada, e eu nunca odiei
tanto ter escadas em casa.
— Nós vamos deixar vocês! — Jackson passa o braço pelo ombro do
meu fratello. — Já está tudo adaptado aí, e Emma é muito exigente. Então
tenho certeza que tudo está certo para essas semanas!
— Mas nós iremos vir sempre — Francesco diz — e estaremos a uma
ligação de distância.
Depois de ouvir mais algumas coisas, como a maneira que devo me
comportar, eles vão embora e eu olho a minha casa.
A primeira coisa que eu percebo é que ganhou uma extensão em uma
das pontas para quando eu ficar ali, minha perna se manter esticada e
confortável. Gostei, vai ser bem útil. E também noto que não tem mais nada
da Sophie por aqui.
— Qualquer coisa que você quiser que eu traga para cá, me diz que eu
trago! Tá bom? — Emma aparece ao meu lado, já com algumas almofadas
e também cobertas e deixa no outro sofá.
Eu ando, ou melhor, eu pulo até o sofá e me sento no lugar que eu já
sei que será meu por muitos dias e é impossível não achar graça quando
Emma me mostra que do lado externo do sofá, ela colocou um suporte para
as muletas ficarem em pé.
— Eu duvido que qualquer outra pessoa pensaria em tudo que você
pensou, amore. — Ela sorri, e eu ganho um beijo no rosto. Poderia ser na
boca, mas ainda não conversamos.
Nossa, como eu estou com saudades de beijá-la.
— Eu também duvido! — Pisca, e vai rebolando a bunda gostosa até
a cozinha. — Por Deus, Barbie deixou marmitas para um ano na geladeira!
— Ela ri sozinha, e eu fico de longe olhando. — Você prefere frango ou
carne vermelha?
Ela não é uma das opções? Que saco!
— Frango — digo sem animo nenhum, e ela já coloca dentro do
microondas, e fica lá, evitando me olhar. Eu sei que ela está curiosa com o
pedido que fiz para o quarto, mas é notável que tem algo a mais
incomodando a minha ruiva, que está tentando fugir de conversar comigo.
— Amore… infelizmente, não posso ir até você, mas precisamos conversar.
Emma bufa igual criança que precisa fazer algo que não quer, mas
vem andando devagar e se senta do meu lado, de frente para mim e com as
pernas para cima do sofá.
— Vamos por partes… ok? — digo, e ela concorda. Mexendo nas
unhas em ansiedade — Não tem uma maneira fácil de falar, mas a Sophie
está viva!
A ruiva arregala tanto os olhos, que eu tenho a sensação que eles vão
cair. Depois a sua testa enruga, e ela fica com cara de quem não acredita no
que acabou de ouvir.
— A sua Sophie?
Pela primeira vez em anos, ouvir “minha Sophie” faz meu estômago
embrulhar, só que de um jeito muito ruim.
35

Quando a gente acha que já ouviu de tudo, é aí que nos


surpreendemos. Jacob está há uns 30 minutos me contando sobre tudo o que
aconteceu detalhadamente, eu já trouxe o almoço dele, ele já almoçou e
continua falando.
— Então sua ex está viva. — Ele concorda. — Seu filho também, e
ambos estão com seu pai. — Concorda mais uma vez, e dá para ver em seus
olhos que isso tudo ainda não foi bem processado por ele. — Eu queria
saber o que falar, mas…
— Não tem o que falar, amore. Eu sei! — Ele mexe na barba bem
cheia, e fica olhando para a televisão que está desligada. — O Enrico é
ainda pior do que eu pensei que ele poderia ser, e se antes de vê-lo com ela
eu achava que ele era capaz de muita coisa, agora eu acho que ele é capaz
de absolutamente tudo.
Sério, isso é tão desumano. Até mesmo para o Enrico, eu sei que ele
se envolvia com a Sophie e… ah, merda! Eu preciso falar isso para ele.
— Jacob, eu acho que não é o melhor momento para isso, mas talvez
depois eu possa acabar perdendo a coragem. E não deve existir o momento
certo para contar… — Ele vira o rosto para mim, me olhando como se nada
pudesse mais surpreendê-lo. — Eu e meus pais tivemos que sair da Itália às
pressas, porque em um dia qualquer, andando pelos corredores da mansão,
eu vi o seu pai e a Sophie se beijando e me assustei. Ele ouviu e foi atrás de
mim, me levou até meus pais e disse que tínhamos poucas horas para irmos
embora, e o resto você já sabe.
Seus olhos ficam mais úmidos, e eu acho que ele tinha alguma
esperança em ser um mal-entendido a parte em que seu pai beijou a Sophie,
e eu me sinto uma merda por contar, mas acho que é melhor que ele já saiba
de tudo logo, para que doa tudo de uma vez só.
Jacob passa a mão no pescoço, e percebo que o cordão com as
alianças não está mais ali e seguro em uma das suas mãos, fazendo carinho.
Parte meu coração que ele tenha que passar por tudo isso e ainda descobrir
que viveu tantos anos em um luto que não era para ter existido.
— Eu não estou conseguindo acreditar que ele teve tanta coragem —
fala, olhando para as nossas mãos juntas. — E pensar que ela também teve
é pior ainda, e isso está acabando comigo. — Comigo também, penso. —
Não era mais fácil ter terminado? Eu ia sofrer pra caralho, mas uma hora
iria superar e viver minha vida como uma pessoa normal, não isso que eu
me transformei. E nada jamais vai me fazer perdoá-la sobre o meu filho…
se ele realmente for meu.
Ele passa a mão no rosto com raiva, limpando a lágrima que escorreu.
E eu também não confiaria nessa ideia de que o filho realmente seja dele.
Vai lá saber até onde os dois chegaram pelas costas dele.
— Nenhum dos dois nunca te mereceram, Jacob. — Ele me olha, com
seus olhos tão tristes que sou eu quem sinto vontade de chorar. — E…você
vai fazer algo sobre isso?
— Primeiro, vou me recuperar. — Ele aponta para o corpo todo
machucado. — E depois, vou tirar essa mulher do meu coração, e aí
finalmente irei fazer uma visita à Itália. Eu preciso ver isso direito, eu
preciso falar com ele. — Respira fundo. — Eu preciso confrontá-la.
Eu imaginei que ele fosse fazer algo assim, é a cara dele. E muito
corajoso também, acho que eu fugiria de tudo isso e tentaria fingir que nada
aconteceu. Mas Jacob não é assim, ele confronta seus problemas até o final.
— Tenho certeza que você saberá o que é melhor para dar um fim a
isso tudo.
Ele concorda e aperta um pouco a minha mão, levando-a até a sua
boca e beijando de leve. Eu sorrio, aprovando o carinho. Queria abraçá-lo, e
ficar assim durante o resto do dia, mas acredito que ele queira um tempo
sozinho, então me levanto e levo as coisas para a cozinha.
De onde eu estou, vejo que ele chora em silêncio, como se não
conseguisse controlar as suas lágrimas. E eu também preciso secar o meu
rosto, porque o sofrimento dele está acabando comigo de um jeito
inexplicável.
Durante o resto da tarde, eu o evito e ele parece aceitar de bom grado.
Nesse meio-tempo eu brinco com os cachorros lá de fora, e faço alguns
vídeos com eles, postando em meu Instagram. Depois cuido dos de dentro,
que são bem manhosos e adoram um carinho, e antes de ir até o Jacob para
trocar seus curativos, vou até a biblioteca, que foi onde montamos um
quarto improvisado. Seria aqui ou na sala da musculação, então acho que
aqui ficou mais confortável.
Os meninos conseguiram descer uma cama que tinha no quarto de
hóspedes, ela é bem grande e muito confortável. O resto eu mesma trouxe, e
também desci várias roupas para não ter que ficar indo em seu quarto toda
hora.
O barulho das muletas me chama a atenção, e quando viro vejo ele se
apoiando nelas, com uma perna um pouco erguida para não encostar no
chão e seus olhos vão direto para a cama, e ele sorri de um jeito bem fofo.
— E eu achando que nada superaria o que você fez na sala. — Ele
vem até a cama e eu o ajudo a sentar. — Ficou genial, depois que tudo
passar talvez eu deixe a cama aqui.
— Aqui será seu quarto por esses dias, e da sala eu vou conseguir te
escutar com facilidade quando me chamar. — Eu viro as costas para separar
outra roupa para que ele vá tomar banho agora, e aproveito para prender
meu cabelo em um rabo de cavalo. — Esse banheiro daqui será muito útil,
eu já coloquei uma barra de segurança e um banco de ferro. Aí acredito que
não terá problemas com o banho.
Ele faz uma cara engraçada, como se estivesse impressionado e eu
dou língua, o que o faz rir.
— Você é perfeita, piccolo. — Por que maldições esse homem tem
que me dar apelidos em italiano? É sexy demais para que eu consiga
disfarçar o quanto me afeta, e ele claro que percebe. — Eu preciso saber se
estamos bem… tê-la na minha casa todos esses dias será um desafio, quero
ter a certeza que estamos bem e que não será desconfortável para você.
Maldição de homem maravilhoso!
Eu o ajudo a ir até o banheiro, e deixo as suas muletas do lado de fora
para não acabar escorregando com elas se por um acaso molhar o banheiro.
Ele senta e tira a bermuda, e é uma tentação não olhar para a cueca, mas eu
sou profissional.
Ok, com ele não tanto. O que só me faz pensar que médicos realmente
não devem se envolver com seus pacientes, pelo menos enquanto são
pacientes.
— Está tudo bem, de verdade. — Dobro a sua bermuda, e coloco em
cima da pia. Depois que ele tira a camisa, eu faço a mesma coisa. — Sua
intenção foi boa, e eu reconheci isso desde o início, mas prefiro que das
próximas vezes que você fizer algo que envolva dinheiro, fale antes
comigo.
— Então é melhor eu cancelar a BMW que comprei pra você? — Eu
viro tão rápido para ele que acho que todo o meu corpo estala. Ele cai numa
risada alta, e eu entendo que foi uma piada. — Brincadeira, amore. Eu
entendi depois como você se sente, e prometo não fazer nada assim… pelo
menos sem antes falar com você.
Reviro os meus olhos, e antes que eu consiga sair, o italiano tira a
cueca, levanta enquanto se apoia nas barras e vai para o box. Depois que
fecha os vidros, olha para mim e sorri.
Eu fico pensando que talvez careca ele fique feio, porque não consigo
achar nada no corpo dele que não seja incrivelmente atraente. Até a bunda
que faria inveja a muitas mulheres.
Saio do banheiro com meu coração batendo mais forte que o normal, e
minha mente me leva até o dia da Comic-Con, e como eu queria ter
aproveitado mais o que curtimos aquela noite.
Enquanto ele toma banho, eu pego todas as coisas para refazer seus
curativos e apoio em uma cadeira ao lado da cama, também pego roupas
novas e uma calça de moletom. O italiano não vai entrar dentro de um terno
tão cedo, uma parte dele deve estar morrendo por conta disso.
Ele aparece na porta só de cueca, meio molhado ainda e pega as
muletas para vir até a cama. E eu espero, porque o caminho não é muito
longo e ele consegue vir sozinho.
— Deu tudo certo? — pergunto quando ele senta, e me sento perto
dele enquanto coloco as minhas luvas.
— Uhum — murmura, me olhando bem pertinho e eu tento ignorar.
— Mas eu não me incomodaria em ter uma ajuda extra.
Umedeço meus lábios ao passar a língua entre eles e o encaro.
— Não me desconcentra agora, vou mexer em seus machucados.
Ele fica com aquele sorriso safado no rosto, mas se mantém quieto. Eu
tiro todas as gazes que estavam encharcadas, seco e passo o remédio em
cada machucado da sua barriga, e depois cubro todos. Sento mais na beira
da cama e repito todo o processo com a sua perna, mas leva mais tempo
porque o machucado é enorme, além dos pequenos que precisam apenas de
remédio.
— Você leva muito jeito com isso. — Segura a minha mão antes que
eu levante, e eu me viro, ficando com nossos rostos próximos novamente.
— Você falou sobre dormir na sala, mas eu lembro que uma vez, lá no RJ,
disse algo sobre uma cama muito grande, caber tranquilamente duas
pessoas.
Golpe baixo usar as minhas palavras contra mim.
— Vou ficar com medo de te machucar sem querer, Jacob.
— Impossível ficar mais machucado que isso, amore. — Amore é
praticamente a palavra chave para conseguir meu sim fácil. — Traga essa
bunda gostosa para cá e durma comigo! Além do mais, eu tenho certeza que
você deve ter gostado da biblioteca.
Levanto para jogar tudo fora, mas antes eu respondo.
— Meu lugar favorito da casa, e só por isso eu vou aceitar esse
convite.
Jacob decide não sair mais do quarto, e nas próximas horas ele fica lá
lendo Harry Potter, mais uma vez. Nós jantamos juntos, e eu descubro que
tem uma TV lá que fica escondida no chão, acho sensacional. Assistimos a
alguns episódios de Heartstopper, uma série baseada em um livro que eu
amo demais. Na verdade são quatro livros, mas até agora só li o primeiro.
Inclusive contei para ele sobre os livros, e ele se interessou em ler.
Tenho quase certeza que o vi comprar no site em seu celular, mas não sei ao
certo.
Depois desse episódio, eu vou dar boa noite lá fora aos cachorros, e
trancar toda a casa como ele me ensinou. Por causa dos seus machucados,
precisamos deixar Snape e Dumbledore fora da biblioteca, eles são muito
carentes e ficamos com medo de que subissem na cama e o machucasse sem
querer.
Eu vou ficando nervosa a cada cômodo que vou apagando a luz e
verificando tudo, porque sei que o último será a biblioteca e ele estará lá
pronto para que eu durma ao seu lado.
E eu devo curtir tortura mesmo. Só assim para topar ficar três semanas
dormindo debaixo do teto do homem que eu sou apaixonada, e inclusive ele
é bem ciente disso.
36

Passo mais uma página do livro, mas preciso voltar, porque não estou
conseguindo prestar atenção em nada do que leio. Parece que estou apenas
passando os olhos pelas diversas palavras.
Não tem como me concentrar enquanto fico sentado aqui fora, perto
da piscina, para pegar um sol e Emma com a parte de cima de um biquíni e
um shortinho curto, tentando dar banho em Arya e Mayke.
Tem quase uma semana que ela está aqui em casa, e os meus
cachorros já a amam, eles só me procuram quando ela está muito ocupada e
não consegue dar atenção para eles.
E até eles tem conseguido mais carinhos dela do que eu. E estou
ficando maluco! Nós já conversamos e nos entendemos, estamos bem e o
que fiz já passou, ela aceitou esse acordo de me ajudar e ficarmos quites,
mas não falamos mais nada sobre o que tínhamos.
Não tem só um mísero dia que eu não lembre que ela falou dos seus
sentimentos, e entendo o porquê dela não querer ficar mais comigo. Mas já
tem alguns dias que estamos nos provocando em um nível bem elevado, e a
ruivinha é boa nesse jogo.
Só que eu não aguento mais, eu preciso senti-la novamente.
— Não estava em nosso contrato ser humilhada por seus cachorros —
ela grita enquanto eles correm já enxaguados. E em meio segundo ela tira o
short, e mergulha na piscina.
Mais uma coisa que ela foi a primeira a fazer: entrar na piscina. Ela
está sendo a primeira de muitas coisas para mim. E por mais que pareça
meio bobo, isso mexe comigo de alguma forma.
— Eu entraria aí se pudesse — digo, e é verdade. Mas ela não sairia
daquela piscina sem saber o quanto o meu corpo sente saudade do dela.
Emma coloca os dois braços na borda e apoia o rosto ali, fechando os
olhos e curtindo um pouquinho o sol. Eu aproveito para tirar uma foto dela,
que ficou ótima e guardo o celular antes que ela veja.
— Poderá em breve! — Sai da piscina pela borda mesmo, e senta na
cadeira ao lado da minha. — O fisioterapeuta chegará daqui a alguns
minutos, e os meninos virão à noite para ver você. Acho que o Barbie vai
trazer um jogo novo aí, não entendi muito bem porque aqueles dois falando
juntos me deixam louca.
Eu ouvi o que ela falou, mas as gotas de água escorrendo por seu
corpo chamam mais a minha atenção que qualquer outra coisa. E nem faço
questão de esconder que encaro cada pedaço da sua pele, inclusive os seus
seios que estão marcando no sutiã.
— Você não deveria ser tão atraente assim, mia costellazione.
— Esse é o que eu mais gosto. — A questiono com um movimento de
mão. — O apelido, minha constelação, é o que eu mais gosto.
Ela levanta para pegar uma toalha, mas eu a puxo pela mão para
chegar perto de mim, porque não aguento mais ficar apenas desejando-a.
Seguro em sua cintura e a coloco sentada em meu colo, de frente para mim.
— Jacob, sua perna…
— Ela está bem, esticada e fora de perigo. — Ela relaxa um pouco, e
sua mão macia alisa o meu rosto. — Não aguento mais amore, então se
você não quiser mais nada comigo apenas diga, e eu prometo que nunca
mais tentarei nada.
Ela abre a boca e por segundos, eu fico com receio dela falar que não
quer, mas o beijo que eu acabo de receber mostra o contrário.
A boca de Emma tem um gosto doce do suco que estava tomando
ainda há pouco, e eu passo a minha língua por toda a sua boca. A intenção
era ser um beijo calmo, mas a minha mão vai até a sua bunda, ela começa a
roçar em mim com uma força que mostra o quanto ela sentiu falta do nosso
contato.
A calcinha de Emma, que está bem molhada da piscina, embola um
pouco, e eu sei que parte da sua boceta ficou de fora.
Não consigo me manter calmo sabendo disso, então eu coloco uma
das minhas mãos por cima da sua boceta, e nem preciso de esforço pra jogar
o tecido para o lado.
Ela geme entre nosso beijo, e eu desfaço o contato para poder encará-
la enquanto toco em seu clitóris. Vê-la mordendo o lábio inferior e jogar o
corpo um pouco para trás é delicioso, e eu aumento a velocidade dos
movimentos circulares.
Emma força seu corpo contra meus dedos, e eu queria poder jogá-la
para trás, até que ela ficasse com o corpo deitado e lamberia cada pedacinho
do seu corpo.
Puxo o tecido do seu biquíni para o lado e sou agraciado com a visão
do seu seio. E quando penso em deixá-la ainda mais excitada, o interfone
toca e ela sai do meu colo em um pulo.
Tenho vontade de chorar, e pela forma que ela arruma a roupa, com
raiva, acho que ela também.
Assisto minha ruiva vestir seu short e jogo a minha camisa para que
ela vista, já que a sua ficou lá dentro e ela agradece, indo atender o bendito
fisioterapeuta.
Eu me levanto e vou indo até a sala de exercícios com a ajuda das
duas muletas, eu demoro tanto que quando chego lá, os dois já estão lá
dentro. Ele sempre sorrindo demais para Emma, mas eu não posso
exterminar todo mundo que acha a ragazza bonita.
Mas eu queria…
Ronald deve ter por volta dos 35, no máximo. E é um cara boa pinta,
mas a aliança no dedo é enorme e com certeza ele já notou o clima entre
mim e Emma, mas não perde a chance de jogar um charme para ela.
— Animado para hoje? — ele pergunta, enquanto monta as suas
coisas no meio dos aparelhos de academia.
— Não. — Emma ri com a resposta de sempre. É a terceira vez que
ele vem, e sempre pergunta isso. Estamos focando na fisioterapia para a
recuperação ser ainda mais rápida.
— Vou trazer um suco para vocês! — ela fala, e sorri ao passar por
mim. Eu dou dois pulinhos para o lado, ficando na sua frente e roubo um
selinho dela.
Sim, eu quis mostrar a ele que ela está comigo. Mostraria a todos, se
pudesse. Ridículo, eu sei. Mas o que posso fazer se a ruivinha faz com que
eu perca toda a minha sanidade?
— Homem de sorte! – comenta quando eu vou até as barras e começo
a fazer os exercícios que ele pede, sentindo um pouco de dor, mas
aguentando firme.
— Você também deve ser. — Ele me olha sem entender, e aponto para
a sua aliança com o queixo. Ronald fica um pouco sem graça e foca em me
ajudar com o que veio fazer.
Continuamos todos os malditos exercícios, Emma nos serve o suco, e
paramos rapidinho para beber. Depois continuamos e eu vejo pelo espelho
que ela fica o tempo todo na porta, vendo cada coisa que ele faz.
— Acho que o fato de você sempre ter feito muitos exercícios e
corrida vai colaborar com a sua melhora! Estamos indo muito bem —
comenta depois de finalizarmos essa chatice.
Esses exercícios são essenciais e eu sei, mas se dependesse de mim,
eu já estaria correndo pelo condomínio com os meus cachorros.
Emma traz a minha carteira para que eu pague pela sessão de hoje, e
depois ela o leva até o portão. Eu vou até a cozinha, no meu tempo, e
decido que não quero comer mais uma comida do Barbie.
Meu amigo cozinha muito bem, mas não aguento mais ficar todo esse
tempo sem comer uma massa. É um crime!
— O que está aprontando? — Emma pergunta, quando vê que tirei
algumas coisas da geladeira. — Você parece uma criança que não sabe fazer
o que pedem. — Tira tudo da minha mão e pede para que eu me sente, eu
sento no mármore da pia e ela olha de cara feia, mas já sentei.
Eu explico a Emma mais ou menos como fazer o macarrão, é bem
simples, mas eu vejo que ela se empenha para fazer exatamente do jeito que
eu peço e enquanto isso conversamos sobre o que ela planeja para o resto
do ano.
Fiquei surpreso em saber que ela pretende ir esse ano ainda ao Brasil,
e percebi que ela não sabe quando será a inauguração do restaurante dos
seus pais. Eles me contaram essa semana que já tem data, e que agora está
fluindo muito bem.
Talvez seja uma boa época para irmos.
— Amanhã é o aniversário do Jackson! Vai ser na casa dele mesmo,
acho que só chamou a gente e mais algumas poucas pessoas — ela diz,
enquanto mexe o molho na panela, com um dos seus pés apoiado no joelho
da outra perna — Acha que está bem para ir mesmo?
— Sim, amore! Os machucados da barriga já estão secando, e agora
só tem um na perna que ainda fica tapado com a gaze, só colocar uma
bermuda e tudo certo.
Ela sorri, animada. E isso me faz pensar que Emma não saiu daqui de
casa nesses seis dias nem uma vez!
— Você sabe que posso me virar algumas horas sozinho, né? — Ela
concorda. — Deveria ir ver suas amigas, ou chamá-las até aqui. Tem uma
piscina enorme, churrasqueira… enfim, o que quiser.
— Enjoando de mim, já? — pergunta e apaga o fogo da panela do
molho e do macarrão. Escorre o espaguete com cuidado e depois monta
tudo em uma travessa. — Tudo bem se eu chamá-las para vir aqui? —
pergunta para ter certeza.
A ruivinha monta um prato para mim e para ela, e se senta ao meu
lado no balcão para comer. Tem uma mesa enorme aqui dentro, mas eu
gostei da naturalidade de fazer isso aqui.
— Amore, você pode tudo! E não quero que se sinta presa, vá sair
também. — Ela suga um macarrão até o fim, e claro que eu penso besteira.
— Só prometa que vai se cuidar, não poder te buscar me deixará louco, mas
quem está impossibilitado sou eu. E você está fazendo só um favor.
Eu como o macarrão, e porra, está uma delícia. Mais uma coisa que
essa ruiva faz bem e mais um jeito de me conquistar.
Depois Emma guarda tudo, e eu vou para o meu quarto improvisado, e
mais uma vez olho para as escadas ao passar por ela. Por mais que meus
dias tenham sido leves com Emma por perto, não tem como não pensar em
tudo que aconteceu. Eu escondo dela, porque sei que fica triste ao me ver
mal, mas eu estou um caco.
Ainda não consigo aceitar… e é por isso que entrei em contato com
uma pessoa que me passará as informações sobre o Enrico e a Sophie. Irei
para a Itália assim que me livrar das muletas, e chegarei até eles pronto para
tirar umas verdades deles dois.
Eu tomo uma ducha porque está na hora da troca dos curativos, e
como sempre, fico na cama só de cueca para que ela me ajude.
Os pontos da perna abriram no terceiro dia, e tivemos que voltar até o
hospital para refazê-los, então ainda está sensível. E ficará uma bela
cicatriz!
Me distraio dos meus pensamentos quando depois de um tempo ela
aparece, de banho tomado, e um desses vestidos que ela ama usar. Alças
finas, decote singelo e um corte que marca bem seu corpo, mas sem ser
desses que ficam tão grudados que parece a própria pele.
— Você quer me matar! — Ela ri, e morde o lábio inferior. Eu amo
essa Emma que é segura, mas ela está se transformando em uma máquina
de me fazer ficar excitado em qualquer lugar.
— Se eu quisesse te matar, falaria que estou sem calcinha porque não
sei onde as coloquei depois que lavei as roupas. — Cazzo!
Eu sei onde estão, mas não vou falar... não ainda!
— Por que você não senta aqui no meu colo e a gente termina o que
começou mais cedo?
37

Eu ignoro totalmente o fato de que tenho que trocar os curativos dele


e simplesmente sento em seu colo. E o movimento de passar uma perna
para o outro lado, sobe o meu vestido, e ele geme ao me ver sem calcinha.
Quando sento, já sinto seu pau duro embaixo de mim, e minha cintura
parece que ganha vida própria e eu começo a rebolar nele, que me segura
apenas para me ajudar a forçar mais o corpo para baixo.
— Acho meio injusto eu sem calcinha e você de cueca. — O que eu
estou falando? Cristo! Estou me tornando uma safada.
Jacob abaixa as alças do meu vestido e puxa o decote para baixo. Os
meus mamilos estão tão duros, e sua mão tapa todo o meu seio quando ele
aperta do jeitinho certo, forte e gostoso, mas sem machucar.
Ele tem um jeito bruto, é notável. Mas sempre se controla comigo, e
eu acho muito fofo da parte dele, só que quando ele perde um pouco o
controle, é sensacional.
E eu fico imaginando como ele faria se me comesse, e nenhuma das
formas que imaginei parecem ser ruins.
— Isso não daria certo, amore! — fala antes de abocanhar meu seio e
todo meu corpo esquenta, em especial a minha boceta.
Eu afasto só um pouco o meu corpo para poder alisar o seu pau por
cima da cueca, e isso me lembra o dia que eu o engoli. Não posso falar que
foi a melhor coisa do mundo, mas vê-lo excitado naquele ponto foi
impagável.
Jacob joga a cabeça para trás, xingando em italiano e pedindo para eu
continuar. Eu continuo, claro. Me sinto poderosa em saber que o que estou
fazendo o excita, que ele gosta e ainda quer mais.
Sua boca se choca na minha e sua mão segura firme em minha nuca
em um beijo desesperado e cheio de tesão. E enquanto deixo que tome a
minha boca como quiser, coloco a mão dentro da sua cueca com cuidado
para não machucá-lo com a minha unha.
É difícil saber no que focar, mas eu tento manter o mesmo ritmo
enquanto desço e subo a mão em seu pau. Ele movimenta um pouco a
cintura, quase como se fodesse a minha mão.
— Amore, eu tô muito sensível — murmura entre o beijo. — Muito
mesmo! — Eu fico confusa, e tiro a mão, mas como não quero deixar de
beijá-lo, seguro seu rosto e ele abraça minha cintura, e meu corpo vai para a
frente.
Eu estou sentindo o pau dele na minha boceta nesse exato momento, e
acho que vou enlouquecer. Como pode um contato tão mínimo me fazer
ficar com as pernas bambas?
Sem pensar muito, eu me esfrego em seu pau que se encaixa entre os
lábios da minha boceta e ele segura os meus braços e abaixa a cabeça,
respirando fundo.
— Emma…
— Isso é bom! — sussurro. — Muito bom! — Continuo me
esfregando, sentindo seu pau quente forçando meu clítoris. E eu sei que é
errado, perigoso e que não devemos fazer isso, mas… é muito bom.
Jacob aperta a minha bunda, aperta a minha cintura e me dá uma
mordida de leve no ombro. Ele está tentando se controlar, e eu sendo uma
filha da puta.
— Eu vou gozar, Jacob! — Rebolo ainda mais em seu colo, e ele
geme, mas se mantém parado, deixando que eu faça o que eu quero. E
pouco depois, eu gozo nele, sentindo o alívio de tantos dias sem ter esse
contato com ele.
Na verdade, hoje foi um contato muito além do que todos. E sentir seu
pau tão perto de onde ele deveria entrar, foi bom na mesma proporção que
foi desesperador não finalizar.
Jacob me empurra um pouco para trás, bate uma punheta rápida e
goza na própria barriga. E eu consigo entender o quanto ele estava sensível!
— Você me surpreende a cada dia, amore! — Eu levanto, dou para ele
uma toalha e abaixo o meu vestido. — Mas é muita covardia fazer isso
comigo assim! — Aponta para a sua perna, e eu me preparo para poder
cuidar dos seus machucados.
— Eu deixaria que você fosse além!
Já viram aqueles vídeos quando a onça encontra algum animal para se
alimentar e seus olhos brilham de ansiedade? É exatamente assim que o
italiano me olha.
— Essa conversa seria muito diferente, mi amore. Muito!
Termino de cuidar da sua perna, e jogo tudo fora. Deixo ele no quarto
um pouco, enquanto vou na sala e como ele não consegue me ver, eu me
sento e respiro fundo. Esse homem abala todas as minhas estruturas, e eu
definitivamente quero perder minha virgindade com ele.
De qualquer jeito, eu sairei magoada, transando ou não. Então é
melhor que eu faça tudo que eu puder, e o resto deixarei para a Emma do
futuro se preocupar.

Todo mundo já chegou, e parece uma festa de ensino médio. Os


meninos estão na biblioteca jogando videogame e as meninas estão aqui na
sala, tomando um drink que o Noah fez para a gente.
— Amiga, vocês dois são guerreiros! — Olívia fala e bebe mais um
pouco. — Se eu faço isso que vocês fizeram, eu duvido que alguém iria me
tirar de cima do Barbie.
A gente ri alto, e sei que o álcool está começando a fazer efeito em
nós três! Laura também veio, mas recebeu uma ligação e foi embora, achei
estranho, mas ninguém comentou sobre nada e eu deixei quieto.
— Por muito menos eu avanço no Noah! — Kath fala e depois olha
para trás para saber se ninguém está ouvindo ou vindo para cá. — Esses
dias estávamos tão desesperados que transamos no corredor enquanto Milla
dormia. Foi o sexo mais silencioso que eu fiz nada vida.
— Silêncio? Meu Deus! Só de ficar me esfregando no Jacob, eu já
quero gritar.
— Você tem cara mesmo de quem gosta de fazer um barulho. — A
minha vergonha com essas duas não existe mais, então eu só rio do que elas
falam. — Então você acha que vai rolar enquanto estiver aqui?
Boa pergunta.
— Não sei! Por mim rolaria hoje, mas não consigo imaginar que o
Jacob iria topar sem poder ter toda a sua mobilidade.
— Não sei... na verdade é bem provável que a primeira vez não seja
igual aos filmes, amiga. Capaz de não demorar muito, se o Jacob for tudo
isso que você falou. — Kath faz movimento com as duas mãos, uma
separada da outra, mostrando que eu falei ser grande. — Vai demorar
algumas vezes para que seu corpo se acostume e aí passe a ser muito bom.
— Mas não significa que será ruim — Olívia pontua e Kath comenta.
— E se for assim, com você por cima, o controle será todinho seu.
Eu olho para o corredor, como se pudesse vê-lo através das paredes e
só de imaginar mais dele, mais da intensidade, e mais de tudo, meu corpo
vibra.
— Talvez eu tente! Vamos ver…
Elas vibram com a notícia, batendo palmas e gritando. Realmente é
um evento de Ensino Médio, e eu adoro a energia quando estou com elas, é
sempre incrível.
Nós aproveitamos para conversar sobre o aniversário do Jackson
amanhã, Kath disse que virá nos buscar e eu vou aproveitar para passar no
apartamento e pegar algumas coisas, inclusive meu vibrador.
Aquele aparelho virou meu melhor amigo, e esses dias sem ele está
me deixando tensa.
Os meninos saem do quarto, depois de horas lá dentro, e se juntam a
nós. Jacob senta na parte adaptada para ele, bem do meu lado e sua mão
quente pesa em minha coxa.
Todos os olhos vão para a mão dele, e ninguém sabe disfarçar o
quanto isso é chocante. Não a mão ali, mas ele fazer questão de deixar que
todos vejam, e Barbie, como sempre, precisa fazer uma piada.
— Essa casa está com um ar diferente… sabe casa de adolescente
quando começa a namorar? Fica com um cheiro de… tesão no ar!
Uma almofada voa na cara dele, mas ele é rápido em desviar. Olívia
reclama que ele é sem noção, mas o próprio Jacob ri da situação e isso faz
os demais rirem.
Eu me viro para ele, e seu sorriso é tão lindo. Ele me olha de volta, e
me dá um selinho. É fofo, eu me sinto realizada e deixo a minha
consciência muito chata bem no fundo da minha cabeça.
Depois do choque, todo mundo se acostuma com os contatos de Jacob
comigo, que já estou acostumada. Ele é muito carinhoso e gosta de ficar
junto, mas isso nunca aconteceu na frente dos seus amigos. Todos sabem
que ficamos, mas nunca houve nenhuma demonstração de afeto em público.
E eu gostei, quero mais.
38

Eu espero Emma ir tomar banho, e subo as escadas bem devagar e


tentando forçar o menos possível a minha perna ferrada e acho que dá certo.
Preciso ver com meus próprios olhos que não existe mais nada da
Sophie dentro dessa casa, que ela não me assombrará mais e sairá dos meus
pensamentos. Preciso me livrar dessa dor da perda, mesmo que de qualquer
maneira eu tenha perdido, eu fui o único quem saiu prejudicado nessa
história.
Recebi hoje cedo os documentos com todas as informações que eu
preciso saber deles, mas ainda não tive coragem de abrir. Talvez eu nem
abra, e deixe para descobrir tudo cara a cara.
Coloco a minha digital na porta e escuto quando destrava, mas preciso
de um tempo para ter coragem de abrir.
Quando eu abro… nada! Não tem mais nada aqui, como eu pedi. Não
tem mais cama, nem berços. As paredes foram pintadas, as cortinas estão
iguais às outras e até o banheiro está diferente.
É como se nada tivesse existido aqui, parece um novo cômodo,
esperando para ter uma história a ser contada do zero, e é isso que eu quero.
Na verdade, é isso que eu preciso, mas não conseguirei antes de dar
um ponto final definitivo no meu passado. E acontecerá em breve! Já me
planejei, e se tudo der certo, Emma aceitará ir comigo e antes de enfrentar
meu passado de frente, irei aproveitar um final de semana com ela.
Saio desse cômodo que não significa mais nada, e vou para o meu
quarto, direto no closet para pegar uma roupa para a festa do Jackson.
— Por que não pediu para que eu viesse aqui, homem teimoso? — Ela
aparece, penteando os cabelos e já com a sua roupa. É uma pena, eu não me
importaria em atrasar um pouco e sentá-la em meu colo, como ontem.
— Eu precisava vir aqui. — Emma entende o que eu quero dizer e
concorda. Ela começa a andar pelo closet, olhando tudo que tenho nele.
Eu me troco na frente dela, coloco uma bermuda jeans, uma camisa
polo e passo um dos perfumes que eu tenho. Ela escolhe o relógio que eu
vou usar, e eu coloco em meu punho.
— O que tem atrás dessa porta? — Estava demorando para ela
perguntar. — Tem certeza que você não é um mafioso que trafica gente, né?
Seria um saco ter que descobrir isso nessa altura do jogo.
Ela e essa história de mafioso...
— Veja você mesma! — Aperto o botão que abre a porta, e ela vira
rápido, ansiosa para saber o que tem.
O sensor liga a luz assim que a porta termina de abrir, e ela para no
meio do caminho, olhando cada coisa que tem lá. Eu passo por ela, vou até
o final do quarto e me encosto em uma parede, para poder ver com
perfeição a reação dela.
— Você falou que não era igual ao Grey.
Eu rio alto. É óbvio que ela faria essa comparação.
— O quarto não é vermelho igual ao dele. O meu é preto. — Pisco e
ela se arrepia.
Emma começa a ir em cada um dos instrumentos de BDSM que eu
tenho, e que nunca foram usados. Como eu já disse, acreditei que um dia
teria uma namorada quando construí a casa, e por isso fiz esse cantinho, na
esperança que pudesse usar com ela. Mas na verdade, só vinha aqui para
assistir alguns filmes pornôs, bater punheta e ir embora.
Patético! Poderia ser um filme desses de comédia com Adam
Sandler, que o cara é um virgem mesmo velho.
Emma realmente olha um por um, tenta se posicionar em alguns dos
suportes e ri sozinha quando percebe que não tem noção de como utiliza.
Quando ela chega até os chicotes e algemas, ela tira um dos chicotes e
bate na própria coxa de leve. A sua cara é de surpresa, acho que gostou.
— Tudo parece muito… interessante! — Ela vem até mim e para na
minha frente, com a carinha de safada que eu sou apaixonado. — Preciso de
algum curso para que você me apresente a essas coisas?
Engulo em seco, e a desgraça do meu pau, já está duro só de imaginá-
la pelada, nesse quarto e toda pronta para mim.
— Vamos com calma, mia costellazione. — Ela faz um bico e eu dou
um selinho. — Primeiro, eu vou conhecer bem o seu corpo, conhecer a
fundo e descobrir se você vai gostar de um sexo mais… bruto. — Ela aperta
uma perna na outra, e eu aliso o seu rosto, depois passo a mão no seu
pescoço. — Depois disso, nós podemos vir aqui.
— Eu vou te cobrar. — A minha vontade é de abaixá-la e fazer com
que me chupe agora mesmo, só que eu preciso me controlar. E por isso digo
para descermos, e ela vai rebolando de propósito na minha frente. Acelero
meus passos e dou um tapa em sua bunda. — Não resisti! — Beijo seu
ombro, depois de sussurrar em seu ouvido e roçar na sua bunda.
Ela joga os cabelos para trás e me encara por cima do ombro.
— Gosto quando não resiste!
Ela fala e desce, e eu tenho certeza que não estarei preparado para o
que essa mulher vai se transformar, depois que perder a virgindade. Tenho
quase certeza que só o instinto dela fará com que eu fique desnorteado.
Eu desço logo depois e vamos até o portão, onde Kath e Noah já nos
esperam. Os dois nos contam as últimas da Milla, que está se tornando uma
menina ainda mais esperta e com umas tiradas que só ela tem.
— Eu tinha comprado uma lembrança para ela, mas estava no carro
do acidente…
— Relaxa, irmão. O melhor presente que ela e todos nós poderíamos
ter, nós já temos. Que é você vivo e inteiro conosco.
Mas eu faço uma nota mental de quando voltar para Aspen, trazer
outra lembrança para ela e também para a Emma, que eu tenho certeza que
adoraria o globo de neve.
Nós chegamos no prédio, e eu e Emma esperamos o próximo elevador
porque Olívia e Barbie chegaram juntos.
Uma mulher para ao nosso lado e nos dá boa noite. Eu tenho quase
certeza que a conheço de algum lugar, e pela forma que ela me olha, acho
que também me conhece.
Subimos e descobrimos que ela também é convidada da festa do
Jackson. Todos já estavam lá, e acho que alguns percebem os olhares que
ela me lança, enquanto vai para o outro lado da festa.
— Você conhece? — Fran me pergunta, olhando para ela. Eu faço que
não, porque é mais fácil do que explicar que talvez sim, mas não lembro. —
Acho que ela quer te conhecer então.
Emma já está perto das meninas, na varanda. Mas flagro na hora que
ela me olha e depois olha para a garota que não para de me olhar.
— Ei, Jackson! Parabéns. — Dou um abraço nele e entrego a bolsa
com o presente. — Quem é a morena do vestido rosa?
— Cameron? É uma amiga da época de Hollywood. Ela mora aqui em
NY tem uns dois anos, mas perdemos o contato e esses dias ela apareceu na
Lótus e eu a convidei. — Tento lembrar do nome dela, mas não tá rolando.
— Conhece?
Eu digo que não sei, mas acho que sim. Ele diz que depois perguntará,
e eu deixo isso para lá, mesmo sabendo que ela não tira os olhos de mim.
Acabo me distraindo com os meninos, e agradeço a Barbie por ter
trazido algumas cervejas sem álcool para mim.
Francesco me conta como está seu trabalho de férias. Ele está
ajudando uma empresa nova na parte de tecnologia, por mais que não seja a
sua área, eu achei legal. B já ofereceu um estágio para ele, caso se forme
com boas notas, e tenho certeza que ele não irá decepcionar.
Eu peço licença para ir ao banheiro, e quando saio de lá, sou
interceptado pela mulher que não parava de me encarar.
— Pleasure? — É a única coisa que ela pergunta, e é o suficiente para
eu saber da onde nos conhecemos. — O italiano que gosta muito de anal e
não beija na boca… impossível esquecer de você e tudo que fez comigo.
Ela não se atira em mim e nem faz nada demais, mas a Emma está
bem atrás dela quando fala essas coisas, e é o suficiente para que ela dê
meia-volta e saia dali.
— Cameron, né? — Ela concorda e sorri. — Eu usava o aplicativo
exatamente para evitar qualquer constrangimento depois, o que não deu
certo. A mulher que eu gosto acabou de ouvir o que você falou e isso com
certeza me dará dor de cabeça, então, por favor, me dê licença.
Ela diz que sente muito e que não sabia que eu estava acompanhado,
eu saio sem dar muito mais assunto e já recebo alguns olhares das meninas.
Mulheres quando se juntam, e se defendem, é muito perigoso, e agora
estou na mira delas.
— Você ainda usa o aplicativo? — Kath me pergunta quando vou até
elas.
— Não, Kath. Há muito tempo, se quer saber. Mas eu conheci aquela
mulher lá, e na hora que ela comentou sobre o nosso… encontro, Emma
ouviu.
— Vish, que azarado! — Olívia fala, e volta a beber o seu drink, me
olhando como se quisesse descobrir se estou mentindo. — Emma foi lá em
cima, vai lá resolver esse mal-entendido porque eu não quero ter que
quebrar a sua perna boa por chateá-la.
Claro que tudo estava calmo demais para ser a minha vida, e é óbvio
que a Emma ficou chateada com o que ouviu. Se eu escuto um cara falando
aquelas coisas para ela, eu dou um soco primeiro e pergunto qual era o
contexto depois.
Saio da festa tentando chamar o mínimo de atenção, o que é difícil
usando duas muletas que precisam de um pouco de espaço para serem
manuseadas, mas eu vou até o andar do apartamento da mãe da Kath, e não
me surpreendo com a porta meio aberta, e entro, trancando-a.
Sei onde é o quarto da Emma e vou até lá.
A ruivinha está pegando umas roupas, mas não é difícil saber que ela
está chateada, como sempre, seus olhos a entregam.
— Ei… — digo antes de entrar, ela me olha e continua fazendo suas
coisas sem me responder. — Sobre aquilo que você ouviu, preciso que saiba
q…
— Que você tem uma vida sexual muito intensa, que já deve ter
transado com meio mundo e faz coisas que provavelmente eu nunca farei.
— Ela dobra um vestido com tanta má vontade que parece que acabou de
sair do cesto de roupa suja. — Não precisa se justificar, Jacob. Tudo certo!
Eu me sento na beira da cama, e dobro as roupas que ela está tacando
na bolsa de qualquer jeito. Ela coloca algumas peças de calcinha e sutiã, e
essas eu prefiro não pegar para não ter uma síncope aqui.
— Eu conheci aquela mulher no aplicativo, e acho que isso aconteceu
ano passado. — Ela me olha como se eu falasse grego, e eu decido explicar
para ela como funcionava o Pleasure, e como eram os meus encontros.
No final da conversa, ela está sentada no puff, me encarando sem
saber como reagir e fica quieta por algum tempo.
— Realmente quando você falava que era intenso demais para mim,
eu não tinha noção do quanto. — Concordo, porque ela está certa em pensar
assim. — Eu não estou chateada com você, eu acho que fiquei com inveja
dela, tirando a parte do anal, que eu não consigo imaginar como as pessoas
gostam e… fiquei com ciúmes por ter uma mulher que já fez tantas coisas
perto demais de você.
Eu não quero sorrir, mas eu me sinto um pouquinho vitorioso por
saber que não sou o único ciumento daqui.
— E por que você não vem aqui me dar um beijo, e lembrar que você
é a única que domina os meus pensamentos? — Ela vem, e senta de lado no
meu colo, com seu sorrisinho doce. — E também do meu corpo! Mas isso é
história para quando estivermos há uns 30 anos juntos, e eu ter confiança
para contar uma sequência de derrotas.
Seu rosto cora, e ela desvia o olhar por alguns segundos. Eu repasso o
que acabei de falar, e encontro o erro na minha frase.
Aliás, depois de tudo, já nem sei se ter falado isso foi um erro ou
apenas uma realidade que desejo e estou tentando ignorar.
39

Estou recuperado, e para ser bem sincero, isso é um saco.


Claro que ainda terei que fazer fisioterapia e cuidar da perna por
algum tempo, mas não vejo isso como um problema. Poder andar sem as
muletas, me exercitar sem exageros e caminhar, é sensacional.
O ruim disso é que não tem mais o porquê de Emma ficar, e para ser o
mais sincero possível, eu gosto mais da minha casa quando ela está aqui.
Agora que ela não está, por exemplo, tudo fica bem chato.
Eu gosto do jeito de Emma em ser feliz, ver sempre as coisas boas nas
situações e nas pessoas. É como se ela fosse aquela parte de positividade e
coisas boas que faltam em mim
E além disso tudo, temos os nossos momentos que estão cada vez
mais quentes. Cada dia que eu não fiz o que ela tanto quer, que é tirar a sua
virgindade, foi um ato heróico. Primeiro que eu quero estar bem de verdade,
e segundo que o meu lado cafona baixou em mim, e eu planejei uma noite
para nós dois.
Não será uma noite especial só para ela.
Mas para isso ela precisa aceitar ir à Itália comigo daqui a dois dias.
Já separei tudo, reservei um restaurante que eu amo e o jatinho estará
esperando para nos deixar na Sicília. A parte ruim dessa viagem acontecerá
apenas no domingo, e se tudo der certo, eu e Emma estaremos o mais
íntimos possíveis.
Pedi para que fossem até meu apartamento, limpassem tudo e que
tirassem as fotografias que não fossem minha com o Francesco ou minha
mamma. E em falar nela, essa parte também será uma surpresa. E espero
muito encontrá-la bem.
— Querido, cheguei! — Emma grita ao entrar, e eu me levanto da
cadeira da biblioteca, vou até a cozinha onde a encontro com algumas
sacolas e a ajudo a colocar as coisas na cozinha. — Trouxe mais macarrão
para fazermos hoje a noite, que tal?
Eu agarro a minha ruiva pela cintura e dou um beijo nela, que me
retribui e sorri quando dou alguns outros beijos pelo seu rosto cheiroso.
— Eu faço a janta se você topar uma coisa.
Ela termina de guardar as coisas enquanto me lança um olhar
desconfiado, mas pede para que eu diga qual é a proposta.
— Um final de semana comigo na Itália, mas antes de falar não, a
parte ruim será só no domingo, e nós voltaríamos na segunda bem cedinho.
— Ela entorta os lábios, guarda as sacolas e cruza os braços ao ficar de
frente para mim novamente.
— Você realmente quer que eu esteja lá?
— Além de ter planejado todo um final de semana para nós dois, eu
não sei se irei conseguir aguentar tudo sem você lá depois, para me deixar
chorar como a criança chorona que ainda existe dentro de mim.
Emma envolve seus braços em meu pescoço, e os dedos de uma das
suas mãos fazem carinho na minha nuca e cabeça.
— Eu vou, claro! — Eu espero, porque sei que tem um “mas”. —
Mas… — Não disse! — Precisa me prometer que irá curtir de verdade, e no
domingo eu não esquentarei quando você se fechar novamente.
— Fechado, mia costellazione. — Dou um tapa em sua bunda quando
ela se afasta, e isso meio que virou um vício que a safada gosta, porque
sempre dá uma risadinha ou implica falando que foi fraco demais.
Já tem alguns dias que tento ignorar esse aperto no meu peito, e por
algum tempo, eu pensei que fosse por causa de tudo que acontecerá lá, mas
a verdade é que não sei o que farei da minha vida depois que realmente o
passado ficar onde deve ficar.
São tantos anos vivendo desse jeito, tanto tempo acreditando que
ficarei sozinho, que eu já aceitei esse fato. A questão agora não é mais a
Sophie, e sim o que me tornei por causa da suposta morte dela. E se antes,
eu me agarraria nessa desculpa quando visse os olhos da Emma
decepcionados quando eu acabasse com tudo, agora sei que será ainda pior.
Eu gosto da Emma, gosto muito, de verdade. Mas descobrir que a
Sophie está viva, não fará o meu coração se curar de uma hora para a outra,
e eu jamais prenderia alguém a mim enquanto essa cura acontece.
Se realmente acontecer.
Afasto novamente os pensamentos e começo a preparar a nossa janta,
torcendo para que não seja uma das últimas. Ela vem para a cozinha depois
de tomar um banho rápido e me ajuda enquanto conversa e implica comigo.

O carro acaba de nos deixar na frente do meu apartamento, e Emma é


a primeira a sair, muito animada e admirada com a rua que tem uma vista
perfeita para a praia. Ela segura o seu chapéu e vai até perto do limite que
dá para ver a praia lá embaixo, e depois corre até mim animada.
— Jacob, esse lugar é muito lindo!
Depois ela anda mais um pouco, olhando ao redor, prestando atenção
nas casas e nas pessoas que passam por ela, até os carros ela olha com
atenção demais, e eu lembro de um pequeno detalhe.
— Hmm, está mesmo procurando pelo Michele na minha frente,
amore? — Pago o taxista e pego as nossas malas assim que ele me entrega,
e sabe o que a safada faz? Ri com aquela carinha de culpa, de quem foi
pega no flagra. — Agora já sei porque aceitou vir até a Sicília comigo.
Ela ri, fica na ponta dos pés e me dá um beijo no rosto.
— Não custava nada ele passar, só iria pedir uma fotinho.
— Emma, Emma… não brinca com fogo, ragazza!
O apartamento é de um estilo muito diferente dos que vemos em
NYC, e aqui não tem porteiros, nem entradas fabulosas, mas é muito bonito
com as suas cores fortes e janelas com suporte para flores.
Nós entramos, e subimos de elevador. O prédio só tem cinco andares e
o meu apartamento é exatamente no último. Eu dou a chave para Emma, e
ela abre assim que chegamos no andar, e o cheirinho bom daqui é
nostálgico.
Por dentro, ele destoa totalmente do que é por fora, porque eu sempre
gostei de decoração moderna, mas aqui não tem tanta cor escura como a
minha casa e acho que Emma fica chocada com isso, me apontando cada
coisa com cor que tem aqui.
Coloco as malas no único quarto que tem aqui. Eram dois, mas preferi
fazer um bem grande com um bom banheiro, e quando entro, deixo as
malas no chão e vejo que o rapaz que eu contratei realmente se livrou
daquela cama e trouxe outra.
Me recuso a deitar em um mesmo lugar que já deitei antes com a
Sophie.
— Eu estou apaixonada por esse lugar, Jacob. Eu já nem lembrava
mais como a Itália é um dos lugares mais lindos do mundo!
— Vai gostar ainda mais quando formos na rua! — Ela dá uns
pulinhos, verdadeiramente animada.
Ela pede alguns minutos para tomar um banho, e trocar de roupa e
enquanto isso, eu decido que irei até a minha mamma e peço para que ela
desça até o terceiro andar depois. Opto por descer de escada, mas quando
chego na porta dela, respiro fundo antes de tocar a campainha.
Demora um pouco para eu ouvir qualquer barulho lá dentro, mas meu
coração dispara quando ela abre a porta, arregala os olhos ao me ver e se
joga em meus braços em um abraço apertado, já começando a chorar.
— Mio figlio, não acredito! — Ela toda hora tira o rosto do meu peito
para me encarar e depois o coloca ali novamente para chorar, e eu a abraço
com força, querendo que esse momento não acabe. — Cosa stai facendo
qui? Entre, venha!
Ela me puxa para dentro da sua casa e me surpreendo quando vejo
como está bagunçada e suja, muito suja. Mas não demonstro essa surpresa e
me sento na parte do sofá que ela limpa para mim.
— Mamma, eu vim porque preciso dar um ponto final no meu
passado. — Ela não entende nada, e eu aproveito para contar a história que
já contei mais vezes do que queria, só que ela não fica surpresa, e eu acho
isso estranho. — A senhora já sabia, né?
Ela senta no braço do sofá e segura minhas mãos. Eu acabo notando
as suas unhas, todas roídas e machucadas.
— Ninguém acreditou em mim quando eu falei há alguns anos que
tinha visto a Sophie lá em casa, e eu acabei acreditando que alucinei por
conta dos remédios, mas depois as notícias começaram a rolar pela Itália,
uma notícia ou outra em alguns jornais, e há um mês seu pai oficializou o
relacionamento em público.
Um mês atrás foi quando meu acidente aconteceu. Que infeliz!
Decido não contar a ela essa parte, é notável que minha mãe não está
bem e contar isso, não irá ajudar em nada. E eu darei um jeito, nesses dias
que estarei aqui, de levar minha mãe embora comigo. Não tem chances dela
ficar sozinha, ela não sobreviverá muito tempo vivendo nesse estado.
— Sinto muito por tudo, mamma! Eu deveria ter dado um jeito
quando vi o que estava acontecendo com você…
— Figlio, eu que errei como mamma e isso me dói todos os dias. Fui
cega de amor pelo seu pappa e isso me transformou em uma péssima mãe,
eu negligenciei tanto vocês e esse é o maior arrependimento que tenho. —
Ela se embola um pouco em algumas palavras em inglês, mas eu consigo
entender o que quer dizer, e a abraço novamente.
Eu sei que ela não escolheu isso e nem muito menos ter o vício que
tem, mas isso já passou de todos os limites, e agora que estou aqui, tudo
mudará.
Ela olha na direção da porta, e se levanta para ir até Emma que tenta
entrar, mas é difícil pelo salto que colocou, conseguir desviar dos lixos do
chão.
— Emma, nossa! Como você está linda, ragazza!
Eu deixo que as duas conversem um pouco, e desvio do olhar de
Emma quando me olha com preocupação. Se eu estou apavorado, imagina
ela, que é médica e já deve ter deduzido quantas doenças minha mãe já deve
ter adquirido.
Vou andando pelo apartamento que tem a arquitetura parecida com o
meu, mas aqui são dois quartos. E o dela, que é o primeiro, tem uma cama
repleta de caixas de remédios, e eu preciso respirar fundo para não pegá-la
pelo braço e levá-la para algum lugar que possa realmente ajudar.
São inúmeras caixas, além daqueles potinhos abertos cheios de
comprimidos caídos pelos móveis, chão e no meio de algumas bagunças, eu
acho um bolo de receitas. Reconheço na hora o nome do médico, é o
médico que cuidava da nossa família.
E é claro que Enrico o pagou para conseguir manter a minha mamma
envenenada. Eu pego o meu celular, gravo tudo e tiro várias fotos enquanto
elas estão distraídas. O banheiro que eu deixei para ver por último é pior
que todo o resto da casa.
Faz total sentido minha mamma praticamente marcar hora para que eu
ligasse por vídeo. Ela precisa de um tempo para montar todo o cenário e me
enganar, e é claro que eu acabei caindo na sua.
Eu faço uma ligação rápida, para uma pessoa que me ajuda com a
documentação dela e também para arrumar uma equipe que venha aqui
amanhã o mais cedo possível e limpe tudo isso, mas de uma forma bem
discreta.
Nós convidamos minha mamma para jantar conosco, mas ela disse
que vai dormir um pouco porque acordou muito cedo para passear na praia.
A mentira é tão mal-elaborada que eu vejo quando Emma segura o choro e
sai antes de mim para que minha mamma não veja.
— Conversamos amanhã, tá bom? — Ela faz que sim e vai para o seu
quarto, sem nem se preocupar em fechar a porta da sala e eu bato quando
saio, garantindo que ficou bem fechada.
Emma me espera na calçada, pegando um ar e andando de um lado
para o outro.
— Sua mãe não pode continuar lá, Jacob. Aquela casa é uma doença,
no sentido mais literal possível. — Ela segura minha mão e eu entrelaço os
nossos dedos e a puxo para dar um beijo.
— Obrigado por se preocupar, amore. Eu darei um jeito nisso!
Ela aceita a resposta e sorri. O restaurante é bem perto daqui, e Emma
não se incomodou em ir andando mesmo com o salto que está usando e eu
espero que a nossa noite não tenha sido arruinada por causa do que acabou
de acontecer.
O restaurante fica em um penhasco, então a vista é total para o mar e
uma lateral pega a vista também da outra parte do penhasco, que tem várias
casas que começam a acender as luzes, deixando o visual ainda mais bonito.
— Sr. Vacchiano, quanto tempo! — Eu estremeço ao ouvir esse
sobrenome, mas entendo que o garçom que me atendeu durante anos, e
ainda está aqui, não tenha culpa de não saber.
— Só Ramsey, per favore. — Sorrio, mesmo que sem vontade, para
não ser desagradável com ele, que se desculpa e corrige seu erro. Ele
também fala com Emma, e deixa os cardápios para nós, mas nos recomenda
um prato novo do chef, que tem saído muito e nós dois escolhemos esse.
Emma olha o restaurante e fica encantada com a vista. Pede para que
eu tire uma foto dela, e depois arrasto minha cadeira até o seu lado para
tirarmos uma selfie, e ela está tão linda, com seu sorriso meigo e lábios
carnudos que ficam muito bem com o batom vermelho.
— E aí, o que teremos a mais hoje? — ela pergunta sem maldade e
toma um gole do vinho quando enchem nossas taças e sua cara é impagável
quando prova. — Meu Deus, que vinho sensacional. Não conheço nada de
vinho, mas esse é muito bom, qual será qu… ah! Deixa para lá.
— É o vinho Vacchianos, mas eu não me importo, é realmente um dos
melhores que já bebi. E olha que já bebi muitos. — Ela sorri e dá mais um
gole. — E sobre o resto da noite, acho que quero que você descubra o que
acontecerá quando estivermos no apartamento.
40

Depois do jantar incrível e bem descontraído, nós fomos até a cidade


que estava bem movimentada, e ficamos por lá um tempo assistindo uns
músicos que estavam em uma praça.
Eu dancei, bebi e sempre que podia arrancava uma casquinha do
Jacob, que não resistiu ao meu pedido e dançou comigo uma vez. Foi
incrível, e parece que nenhum dos nossos problemas seriam capazes de nos
alcançar enquanto estivéssemos aqui, juntos.
Agora nós estamos subindo para o apartamento dele novamente, e eu
ainda cantarolo a última música que tocou lá, uma bem romântica que é
muito famosa. Imbranato, de Tiziano Ferro. E acabei descobrindo que é
uma das músicas que o Jacob mais gosta, e quando mais novo chegou a ir
em alguns shows dele.
O clima entre nós está sensacional, diferente de qualquer outro dia que
já tenhamos ficado juntos, e eu pareço uma criança quando descobre que
vai para a Disney.
— Meus pés estão me matando — digo quando entro, já sentando no
sofá e tirando os saltos. Jacob senta ao meu lado e tira o segundo que eu
ainda não tinha tirado.
— Por que não tomamos um banho, e depois eu faço uma massagem
em você? Pode usar o banheiro do nosso quarto, eu uso o daqui. — Ele
levanta e depois me puxa para que eu me levante também.
Eu entro no quarto, e quando abro a minha mala para pegar um
pijama, vejo a sacola de tecido em que trouxe as lingeries. O dia está sendo
incrível, Jacob já está relativamente bem da perna, acho que se eu usar algo
que deixe tudo mais quente, pode ser que role hoje.
Pego um conjunto vermelho que é todo transparente e tem apenas
algumas flores costuradas, mas sem tirar a transparência. Pego também um
robe preto, porque não sei se vou conseguir sair do banheiro só de calcinha
e sutiã.
Levo algumas coisas comigo, e tranco a porta depois que entro. Eu
tomo um banho demorado, e sem molhar meu cabelo. Depois que saio,
passo hidratante por todo o meu corpo, tiro o resto de batom que ainda tinha
em meus lábios e visto o conjuntinho.
Meus seios ficaram lindos, o suporte do sutiã dá a impressão que são
ainda maiores. E a calcinha, com laço na lateral, marcou os lugares certos e
a parte de trás se perdeu entre a minha bunda.
Ótimo, tudo como eu queria.
Visto o robe de seda, mas amarro de um jeito que dê para ver o que
uso por baixo, e me encaro no espelho, satisfeita com o que eu vejo e
repetindo mentalmente para que eu não tenha vergonha e que é apenas o
Jacob.
Eu saio do banheiro e ele já está sentado na cama, encostado na
cabeceira. A claridade do banheiro chama a atenção dele, e seu olhar desce
bem devagar do meu rosto até o meu corpo, focando em especial na parte
do robe que ficou aberta.
— Você não está para brincadeira, né? — Ele coloca o celular que
estava mexendo na mesinha ao seu lado, e vejo o seu maxilar trincar com
força quando eu chego perto da cama. — Só que vai ter que tirar o robe
para eu poder fazer a massagem, amore. — Ele nem tenta disfarçar a voz
rouca de quem está pensando muita besteira.
— Tudo bem! — eu falo firme, me mantendo segura e certa do que
irei fazer.
Desamarro o laço que dei, e deixo que o tecido caia dos meus ombros,
passe pelos meus braços e finalmente caia no chão, me deixando apenas
com o conjunto de lingerie.
Ele estala a língua, e meus olhos focam em sua mão que aperta o seu
pau por cima da cueca. Sim, ele está apenas de cueca e acho que isso
significa que não sou só eu que estou planejando muitas coisas para essa
noite.
— Deita com a barriga para baixo! — Ele se levanta e eu deito no
meio da cama, arrumando o travesseiro debaixo do meu rosto para ficar
confortável. Eu vejo que ele pega um óleo na gaveta do lado da cama, e
depois fica de joelhos nela. — Se você não gostar, me fala que eu paro —
sussurra quando abaixa a cabeça na minha frente e me dá um selinho.
A primeira coisa que eu sinto é o meu sutiã sendo aberto, e aproveito
para tirar meus braços de dentro das alças, logo depois vem o óleo que
surpreendentemente está quentinho. Sinto o seu peso em cima da minha
bunda, onde ele senta e suas mãos grandes, que são bem cuidadas, espalham
todo o óleo pelas minhas costas, ele começa a massagem pelos meus
ombros, e eu fecho os olhos para curtir.
Jacob aperta os pontos certos, e a cada movimento que faz com as
mãos, eu me sinto mais relaxada, e se ele não estivesse em cima de mim,
acho que acabaria flutuando em algum momento.
Suas mãos descem por toda as minhas costas, parando no final da
minha coluna, bem acima da minha bunda e ele força os seus polegares ali,
em movimentos circulares e eu suspiro, é muito bom. Depois ele volta a
subir, mas dessa vez seus dedos encostam na parte da frente do meu corpo,
e quanto mais ele vai subindo devagar, mais perto dos meus seios fica. Ele
alisa a lateral de ambos, me fazendo arrepiar.
Os joelhos de Jacob estão cada um de um lado do meu corpo, e ele
agora se apoia neles para deixar a minha bunda livre, e começa a massageá-
la. No início é algo leve, apenas duas mãos quentes e grandes alisando e
apertando, mas seus polegares vão descendo, nos mesmos movimentos que
faziam antes, e eu os sinto perto da minha boceta, muito perto.
A vontade de que ele continue me esquenta, e eu abro um pouco as
pernas, para que ele entenda que eu quero mais.
E ele entende, entende muito bem.
Um dos seus polegares afastam o tecido pequeno da calcinha para o
lado, e o outro continua a massagem pela minha boceta, e o óleo esquenta
mais a cada vez que ele vai movimentando o dedo.
Jacob pega um travesseiro que estava ao meu lado, ergue meu quadril
e coloca de baixo da minha barriga, deixando a minha bunda mais para o
alto e abre mais as minhas pernas, me deixando exposta.
Sinto minha calcinha ser tirada, e eu o ajudo na hora que passam pelos
meus pés, e ainda aproveito para tirar o sutiã que estava solto em meus
seios e jogo para o lado.
— Emma… você já está tão molhada, amore — ele fala, enquanto seu
dedo passeia por entre meus lábios, me provoca bem na minha entrada e
depois sobe para o meu clitóris. Eu gemo, e ele dá um tapa em minha
bunda.
Quando eu penso que não pode ficar mais gostoso, a sua língua desce
pelo meio da minha bunda até a minha boceta, bem devagar para que eu a
sinta em todos os lugares.
Eu aperto o travesseiro, e quando ele coloca um pouco da língua
dentro de mim, eu gemo alto, e acabo esfregando a minha boceta em seu
rosto. Eu quero mais de tudo que ele possa me dar.
Jacob parece ter perdido um pouco do controle, o que é bom. Ele me
vira de frente com uma facilidade sem igual, tira a almofada que estava
debaixo de mim e levanta apenas para tirar a sua cueca e puxar algumas
camisinhas para cima da cama.
— Eu te quero tanto, Emma. — Ele volta para o meio das minhas
pernas, e me encara. — Mas primeiro quero que você goze para mim,
ruivinha.
Mal sabe ele que do jeito que eu estou, se ele continuar só falando,
acho que eu gozo.
Sua boca deliciosa volta a me chupar, sugar e lamber em cada
cantinho da minha buceta, e ele faz isso até o meu períneo. Sinto tanto tesão
nesse momento que se ele descesse mais, eu nem me importaria.
Uma das suas mãos encontra o meu seio e estimula o meu mamilo
rígido, e a pressão antes de gozar que sentimos na parte inferior da nossa
barriga chega com tudo, e involuntariamente me mexo um pouco e algumas
partes do meu corpo tremem.
Ele sabe que eu vou gozar, e por isso afunda mais o rosto no meio das
minhas pernas e bota uma pressão sem igual na língua em cima do meu
clitóris e só para quando eu gozo, gemendo e murmurando seu nome.
Eu assisto enquanto ele pega uma camisinha, e veste no seu pau que
está duro, só esperando para entrar em ação.
— Antes que você pergunte — digo quando ele me olha daquele
jeitinho preocupado e ele acaba sorrindo por saber o que eu ia falar. — Eu
quero isso, Jacob! Eu quero muito e há tempos já.
— Não vale desse jeito, amore. Não posso passar vergonha na nossa
primeira noite. — Eu sorrio, porque seria impossível isso acontecer, e ele
deita sobre mim, com cuidado para não jogar todo o peso dele em meu
corpo. — E eu prometo que as próximas vezes serão melhores do que a de
hoje.
Ele me beija, de um jeito calmo e doce. Seu pau encosta em minha
boceta quando ele se ajeita, ficando em uma boa posição, e sou eu quem
começa a movimentar o quadril para senti-lo.
— Que ansiosa! — Ele sorri entre nosso beijo, e se afasta para poder
olhar em meus olhos. — Per favore, não minta se doer muito, ok?
Jacob segura seu pau, e o lambusa com a minha umidade, e isso me
excita. Eu sei que tudo que ele fez antes, foi para me deixar o mais relaxada
possível, e eu estou, mesmo que ansiosa.
Começo a sentir a pressão do seu pau na minha entrada, e aos poucos
ele vai entrando mas para quando fica um pouco difícil. Jacob começa a
entrar e sair só com a cabeça, e ele geme em ansiedade junto comigo.
— Amore, isso vai doer — ele avisa, mas não dá tempo para que eu
pense ou fique nervosa, e enfia todo o seu pau, sem ser muito rápido e nem
devagar demais para não doer.
Mas dói, arde! E ele fica parado depois que coloca tudo, esperando
que minha boceta se acostume um pouco, pelo menos.
Meu Deus, como tudo isso entrou em mim? Ou melhor, como que ele
vai sair e depois entrar novamente?
— Relaxa, ruivinha! Se ficar pensando muito será pior, porque vai
ficar tensa. — Ele beija meu rosto, desce os beijos pelo meu pescoço até
chegar em meu seio, e não sei se é proposital, mas isso com certeza me faz
relaxar um pouco mais.
Jacob começa a se mover dentro de mim, ainda dói, mas já não arde,
mas a sensação de ser preenchida por ele é boa. E eu foco meus
pensamentos nisso para relaxar mais.
41

Nesse momento, eu estou todo dentro da Emma, que me aperta em um


nível quase doloroso, mas é a porra de uma delícia. E eu me controlo mais
do que eu imaginei que conseguiria controlar, e só quando sinto os seus
músculos relaxarem um pouco, eu começo os movimentos de vai e vem.
Eu não quero urrar igual a um urso para não assustá-la, mas é
inevitável não gemer enquanto meu corpo fica se arrepiando a cada vez que
entro todo novamente.
Levo minha mão até o meio de nós dois, e massageio o clitóris dela.
Eu tenho total noção que ela não gozará de novo porque a dor deve estar a
dominando, mas eu irei gozar como não gozo em tempos.
— Jacob... — ela murmura o meu nome, e acho que sem perceber
abre mais as pernas. Seguro em sua cintura com a mão livre, e afasto um
pouco o meu peito do dela para poder encará-la.
Emma retribui o olhar, e eu os mantenho preso em mim enquanto saio
quase todo, e me enfio novamente nela. Ela geme, e eu reconheço as
expressões de quem está gostando, então repito e ela geme ainda mais alto,
e eu preciso respirar fundo.
— Dio santo, bella. — Ela sorri maliciosamente quando vê que estou
desesperado, e eu fecho os olhos, porque encará-la desse jeito, debaixo de
mim, gemendo enquanto eu como a sua boceta, é demais para mim.
A safada que tem dentro dela decide se soltar um pouco, e eu me
arrepio a ponto de perder um pouco o controle dos movimentos quando ela
passa a unha em minha barriga bem devagar.
Eu coloco só um pouco mais de força, ela quase grita meu nome e
levanta um pouco o tronco. O sangue todo do meu corpo já está no pau, mas
eu me seguro, e continuo aproveitando cada segundo dentro dela, que me
aperta várias vezes, involuntariamente.
Quando não consigo mais aguentar, gozo tudo dentro da camisinha, e
ela murmura de um jeito manhoso, eu a beijo tentando controlar todas as
sensações que sinto no meu corpo, e também meus pensamentos que não
param de gritar que eu não vou conseguir mais ficar sem isso… ficar sem
ela.
Saio de dentro dela, e dou um nó na camisinha para ter certeza que
tudo correu certo. Vou até o banheiro e jogo lá, aproveito também para
pegar uma toalha e quando volto encontro Emma olhando para a cama, e
para o meio das pernas. É engraçado.
— Tudo bem? — Ela me olha, e dá um sorriso sapeca, e eu não
consigo não rir. — Ela ainda está no lugar, ou saiu correndo?
— Está bem aqui! Mas quis ter certeza que não precisaria de pontos
para costurá-la novamente.
Sento ao lado dela, e entrego a toalha que molhei um pouco.
— Isso com certeza é algo muito sexy de se falar depois de transar,
amore. — Ela dá de ombros, e eu rio de novo. Eu adoro esse jeito
espontâneo dela, e como ela fica à vontade comigo.
Me deito, e espero que ela termine a conferência e vá até o banheiro.
Quando ela volta, já puxo para que fique colada em mim, e coloco uma das
suas pernas por cima das minhas. Não sou o tipo de cara que pergunta se foi
bom, porque acho isso extremamente perigoso, já que deve ser horrível se
ouvirmos um não. Mesmo que eu me garanta, e muito, nunca se sabe, né.
Mas é a Emma, e é a sua primeira vez…
— Como está se sentindo? — Faço um carinho pelas suas costas, e
fico olhando para o seu cabelo ruivo espalhado em meu peito.
— Estou bem, por incrível que pareça. E feliz! — Ela vira a cabeça e
apoia o queixo em meu peito. — Doeu muito no início, e agora parece que
meu coração está batendo lá dentro da minha boceta — Sério, eu não sei
lidar com ela. — Mas foi bem melhor do que eu pensei que seria, e tenho
certeza que só foi porque você se preocupou comigo desde o início. — Ela
me dá um selinho e depois sorri. — Obrigada por isso!
Esse momento agora, mexe comigo. Mais uma vez estou fazendo algo
que jamais pensei que faria depois de tantos anos. Quebrei todas as
promessas que fiz para mim mesmo, e agora estou envolvido com alguém
que eu deixei me conhecer sem as barreiras que eu criei.
E eu gosto dessa pessoa que eu sou quando estou com Emma, e isso
está me desestabilizando, e como sempre, não vou focar nessas coisas e
curtir o momento com a minha ruiva.
— Não me peça obrigado amor. — Encosto a boca em seu ouvido
para continuar falando. — Se for para pedir algo, que seja por mais disso.
— Seguro em sua mão e coloco em cima do meu pau, e a ruiva aperta com
gosto.
— Eu pedirei, com certeza.
Eu esfrego o meu rosto e a gente decide dormir antes que nos
empolguemos e ela acabe ficando realmente machucada, e nenhum de nós
dois quer isso para o resto do final de semana.

Em algum momento, eu disse que Emma se tornaria alguém muito


bem resolvida com sexo, e que acabaria comigo. Hoje cedo foi a prova que
isso acontecerá mais cedo do que eu imaginava.
A ruivinha achou interessante colar aquela bunda gostosa no meu
pau com ereção matinal, e roçar nele. E eu todo preocupado com ela para
que não ficasse dolorida, ou machucada, e a futura médica disse que trouxe
uma pomada para ajudar nisso, e que eu não deveria me preocupar.
Vou morrer muito mais cedo do que eu imaginei que morreria.
Agora eu estou esperando que ela termine de se arrumar para
darmos um passeio, aqui na garagem, só espero que ela não reclame por ser
uma moto.
Assim que a minha mamma me deu esse apartamento, eu trouxe
para cá a primeira moto que eu comprei, porque o Enrico odiava e vivia
falando que qualquer dia tacaria fogo nela. E aqui, ela permaneceu, me
esperando todos esses anos para dar mais uma volta comigo, a última volta.
Depois desse final de semana, eu deixarei o apartamento e a moto
para o meu fratello, na verdade, eu já fiz isso, e ele faz depois o que quiser.
Eu realmente quero me livrar de tudo daqui.
Tiro a capa que protege ela, vendo que o rapaz que eu pagava para
cuidar dela, fez um ótimo trabalho. Monto nela, e ligo, ouvindo o barulho
lindo do seu motor, Emma aparece nessa mesma hora, mas dá um sorrisinho
de lado.
— Claro que seria em uma moto, né? — Ela vem até mim, e eu
coloco o seu capacete, depois o meu e espero que suba na garupa para
irmos.
Eu faço o caminho mais longo, que passa pela praia e tem a vista
lindíssima daqui. E vou até o meu lugar secreto, que era onde eu me
deixava ser fraco e chorava pela vida infeliz que eu tinha enquanto morava
aqui. Nunca levei ninguém lá, nem mesmo a Sophie.
Emma agarra com força em minha cintura quando preciso passar por
um caminho de terra e cheio de pedras, acho que poucas pessoas sabem que
depois desse caminho feio tem um lugar muito lindo, e espero que ainda
esteja assim.
— Jacob… que lugar é esse? — ela pergunta, enquanto olha
encantada, sai da moto tirando o capacete de qualquer jeito e anda mais
para a frente, eu me mantenho no mesmo lugar, só arrasto meu corpo para
trás e abaixo o descanso da moto para poder ficar sentado sem me
preocupar com ela tombar.
— Aqui foi o meu refúgio por muitos e muitos anos. Como é um
pouco longe da mansão, eu vinha para cá os finais de semana praticamente
de madrugada, para que o Enrico não me visse saindo, porque se ele visse,
arrumaria alguma coisa para que eu ficasse. — Ela continua de costas,
olhando como esse pedaço do penhasco é repleto por uma grama baixinha,
muitas flores e pedras. Fora que a árvore que eu estou embaixo é enorme, e
acaba tampando essa parte.
— Aqui é lindo! — Ela volta para perto de mim. — Não sentiu falta
de vir para cá?
— Todos os dias, amore. Só que eu só descobri esse lugar porque
coisas ruins aconteciam comigo, e eu precisava ter onde sofrer sem ser
julgado. — Ela faz um carinho em meu rosto e eu fecho os olhos. — Mas é
um lugar que eu preciso dizer adeus também, mas queria que antes, mais
alguma pessoa visse como é lindo. E ninguém melhor que você.
Eu abro os olhos e vejo a Emma morder o lábio inferior para não
chorar, e meu coração bate tão forte ao vê-la nesse lugar comigo. Pensei que
deixaria o meu refúgio mais bonito, só que todos os lugares só ficam no
auge da sua beleza para mim, quando minha ruiva está lá.
— Não quero que fique triste… hoje ainda não! — Ela sobe na moto,
de frente para mim e senta em meu colo. — Que a sua última lembrança
aqui seja diferente das outras então.
Emma me beija, e abraço a sua cintura para sentir seu corpo bem
colado ao meu. E eu só consigo pensar nela, nada mais toma conta dos
meus pensamentos enquanto sua boca devora a minha e suas unhas
arranham os meus braços.
É inevitável não colocar a mão por dentro do seu vestido, e apertar a
sua bunda gostosa. E a descoberta de uma calcinha muito pequena mexe
com todos os meus sentidos e eu mordo de leve a pontinha da sua língua.
— Amore, você não pode acabar comigo tão cedo. — Ela afasta um
pouco o rosto e ri. — Você é muito mais do que eu pensei que seria, e muito
mais do que o meu próprio coração aguenta.
— Levando em conta que eu faço 20 anos no próximo mês, e até você
reaparecer, eu não tinha vontade de fazer nada do que agora eu faço, acho
que a descoberta do meu recém-fogo é para tirar o atraso de alguns anos
que eu já poderia estar transando.
Aliso a sua cintura, depois aperto um dos seus seios por cima do
vestido, e ela umedece os próprios lábios com a sua língua, e eu fico
querendo que fosse meu pau ali.
— E como estudante de medicina, eu sei que sexo faz bem para a
saúde. — Ela abre o zíper da minha calça devagar e sai da moto, pedindo
para que eu fique em pé, e eu fico, na verdade, o que ela me pedisse eu
faria. — Mas no momento, vai ser só um oral.
Só? Sério que ela acha que colocar meu pau para fora, como está
fazendo agora, depois de se ajoelhar numa parte fofa da grama e engoli-lo
até onde consegue de uma vez é só?
Cazzo!
Eu me seguro em um dos galhos da árvore, evitando de piscar para
não perder nenhuma cena da minha ruiva se esforçando para engolir um
pouco mais do meu pau, eu começo a sentir minha cabeça na entrada da sua
garganta, e aproveito que estamos longe de outras pessoas e deixo um
gemido alto escapar.
Ela se empolga quando vê que eu gosto do que está fazendo, e sua
mão alisa a minha barriga por baixo da camisa, depois desce até as minhas
bolas, meio tímida, mas eu deixo e minha pressão quase despenca quando
sinto sua mão me massageando e sua boca me engolindo, em um vai e vem
delicioso, que vai aumentando de velocidade aos poucos.
Seguro o cabelo de Emma, mas deixo que ela continue no controle.
Mas a safada tira o meu pau da boca, bate com ele em seu rosto e volta a
engoli-lo. E eu queria ter gravado a cena, Dio mio, como eu queria que isso
tivesse gravado.
— Eu vou gozar, Em… — Ela força a boca contra o meu pau quando
eu tento sair, e é isso. Não sei mais o que esperar dela, que me encara
enquanto eu gozo em sua garganta. Emma se afasta quando eu termino, e
ainda passa a língua pela cabeça, limpando o que fica ali. — Eu
sinceramente nem sei mais o que falar para você, amore.
Ela passa o dedo no canto do lábio, e o lambe.
Minha ruiva parece um Tsunami. Se alastrou por tudo em minha vida,
e nada será o mesmo depois dela. Mas eu só terei noção disso, quando for
muito tarde.
42

Dois dias incríveis com a minha ruiva que passaram voando, e tanta
coisa maravilhosa aconteceu, que eu nem acredito que agora terei que lidar
com todos os meus problemas de frente. Literalmente de frente!
Aluguei um carro em Sicília para poder virmos até a mansão, e agora
que estou aqui na frente, prestes a pedir que liberem a minha entrada, eu
perdi um pouco da minha coragem.
Eu ainda tenho a sensação que tudo foi um mal-entendido muito
louco, e quando eu chegar lá, não será Sophie quem estará com meu pappa,
e nem muito menos a criança que eu vi será figlio dele.
— Vai dar tudo certo, Jacob… De um jeito estranho, eu acho, mas no
final tudo se acertará da melhor forma. — Ela faz um carinho na minha
perna, e eu respiro fundo enquanto levo o carro até a cabine e me identifico.
Estranhamente o meu acesso ainda é liberado, e quando os portões
gigantescos se abrem, eu dirijo devagar até a entrada da casa que não
mudou absolutamente nada do lado de fora.
Minhas mãos estão geladas, e eu vejo que tem alguns carros
estacionados. Não sei o que isso significa, mas acredito que todos estejam
em casa. Emma é a primeira a sair do carro e eu ainda fico ali dentro algum
tempo, tendo certeza se é isso mesmo que quero fazer.
Tendo a certeza se irei conseguir reagir ao ver Sophie na minha frente.
Assim que eu saio, e piso nas terras dos Vacchianos, um filme passa
na minha cabeça, e eu lembro de muitas coisas que eu tinha bloqueado da
memória. A voz do meu pappa toma conta da minha cabeça, e eu quase
sinto que voltei no tempo e sou novamente aquele menino pequeno, que
estremecia quando o pappa chegava perto demais.
Emma segura a minha mão e isso me tira do choque.
Eu olho para as escadas, e começo a subi-las, como se cada uma delas
fosse um obstáculo tentando me avisar para que eu desista, para que eu
volte e esqueça dessa loucura.
Como sempre as portas estão abertas, eu ando até elas, mas não é
preciso procurar por dentro da casa para achar alguém.
Sophie acaba de me ver, e deixa o copo que estava em sua mão cair e
estilhaçar todo no chão. Eu fico parado, sentindo apenas a minha respiração
pesar enquanto vejo na minha frente, bem viva, a mulher que eu amei por
tantos anos.
— J-Jacob, cosa ci fai qui? — a voz dela chega em meus ouvidos e eu
ainda continuo em choque, querendo muito que isso seja um pesadelo.
Querendo muito que ela realmente esteja morta. Ela desvia os olhos de mim
para a Emma, e os estreita, como se reconhecesse ela, mas ignora a figura
ao meu lado e volta a atenção para mim. — Você não deveria estar aqui,
não é bem-vin…
— Não sou bem-vindo? — digo mais alto do que planejei e ela se
assusta. — Eu não sou bem-vindo na porra da casa do meu pappa? Quem
não deveria estar aqui é você, Sophie! Eu te enterrei há 11 anos em NY.
Ela fecha os olhos por alguns segundos, como se o que eu falei a
machucasse, e eu pouco me importo com isso.
— Jacob, eu não queria que tivesse sido assim! — Ela tenta se
aproximar, mas eu me afasto, como se fosse uma doença personificada em
pessoa. — Deixa eu te explicar, antes que você fale tudo o que quiser.
Eu rio sem acreditar no que eu acabo de escutar.
— Ouvir o quê, hein? Que você forjou a sua morte? Que foi covarde,
que preferiu inventar uma história absurda do que chegar para mim e falar
que não queria mais? Ou você vai inventar algo e falar que só começou a
dormir com meu pai depois que estava supostamente morta?
— Como que voc… — Ela olha novamente para Emma, e agora ela
tem certeza de que a conhece. — Claro, aquela pentelha que ficava com o
seu irmão, filha dos criados que era muito enxerida, pelo visto ainda
continua onde não deveria estar!
Largo a mão de Emma e esfrego meu rosto com as duas mãos, sem
acreditar em nada disso.
— Você acha que é quem para falar dela assim, Sophie? — Avanço
alguns passos, ficando bem perto dela. — Eu quero ouvir de você o porquê
dessa história toda! Foi por dinheiro, poder… meu pappa, Sophie! Meu
pappa! Você sabia tudo que ele fazia comigo, você ficou várias noites me
ajudando com os machucados e mesmo assim ainda ia para a cama com
ele? E como funcionava… primeiro ia para a minha e depois para a dele?
Ela vira o rosto para o lado, e a lágrima que escorre não me comove
nem um pouco.
— Eu não previ isso, Jacob. Nunca quis me apaixonar pelo seu pai,
mas ele era diferente comigo, quando ninguém estava perto, ele cuidava de
mim, era bondoso e gentil.
Eu passo as mãos em meus cabelos e os puxo para trás, sentindo uma
raiva sem igual tomar conta do meu corpo.
— Ah! E eu não fiz isso por você? — Ela continua sem me olhar. —
Cazzo, Sophie! Qual a porra do seu problema?
— Eu não te amava, tá bom? — ela grita, sendo sincera. — Nós
fomos moldados a acreditar que nos amávamos desde criança, Jacob.
Nossas famílias queriam que ficássemos juntos e por isso ficamos, mas eu
não tinha amor por você, nunca tive. Mas eu não podia ser sincera, não
enquanto o Enrico pedia para que eu continuasse com você, só que quando
eu engravidei, tivemos que mudar todos os planos.
Eu não te amava… essa frase se repete em minha cabeça em um
looping, e se ela fala algo nesse momento não consigo ouvir nada além
dessa frase.
— Então… desde o início foi tudo uma mentira? — Eu nem me
importo em manter o meu orgulho, e deixo as lágrimas que querem sair
rolarem pelo meu rosto. — Tudo que vivemos por tantos anos foi mentira?
Foi a porra de um teatro seu e do Enrico?
— Você melhor do que ninguém deveria saber o que as pessoas são
capazes por amor. E eu não queria que tivesse chegado ao ponto que
chegou, nem o nosso relacionamento e nem a minha morte de mentira, mas
o Enrico disse que assim seria a única forma de você realmente me deixar.
Eu olho ao redor, olho para Emma que se afastou e tem os olhos
úmidos e não quero acreditar que tudo isso está acontecendo, tem que ser a
porra de um pesadelo.
— E a criança que vi com voc…
— Matteo è tuo fratello! Eu engravidei do Enrico enquanto ainda
estávamos juntos, e foi por isso que fizemos tudo aquilo.
— Eu vivi o luto de vocês dois por todos esses anos, Sophie. Cada dia
da minha vida, depois que eu acreditei que tinha perdido você e meu
suposto figlio foi um eterno martírio. Eu me fechei para o mundo, para as
pessoas ao meu redor. Deixei de viver verdadeiramente feliz porque não
achava justo eu estar cheio de vida enquanto vocês dois estavam mortos. —
A mulher na minha frente, que eu nem reconheço mais, abaixa a cabeça. —
Toda semana eu vou no cemitério e fico conversando com a lápide de vocês
dois, todo ano no aniversário da sua morte eu sumo e peço a Deus para que
me leve no lugar de vocês. Eu quase morri quando vi vocês três em
Aspen… eu quase morri tantas vezes!
Ela levanta o rosto e me olha com os olhos cheios de lágrimas.
— Eu sint…
— Olha quem finalmente reapareceu onde prometeu que jamais
voltaria! — Enrico sai de uma sala, com um garoto sentado em seus
ombros. É o menino de Aspen, é o meu fratello. Enrico o tira dos seus
ombros, ele corre até a Sophie que o abraça. Antes do meu pappa beijá-la,
pede para que ela leve o figlio dele para outro cômodo. — Não tem
vergonha de vir na minha casa, e falar essas coisas para a minha esposa?
Esposa… Sophie e meu pai realmente casaram, e ela parece uma
mulher realizada, e isso é surreal.
— O que eu fiz para me odiar tanto? — minha voz mal sai, e ele dá
uma risada antes de colocar as mãos nos bolsos da sua calça.
— Já me perguntei isso muitas vezes, Jacob. Mas acho que começou
desde que sua mamma o teve e passou a amá-lo mais do que me amava, foi
ali, quando eu vi que teria que dividir o amor dela, que eu soube que nunca
te amaria.
— Você é a porra de um doente! — grito e ele dá de ombros. — Por
que a Sophie? No meio de tantas mulheres, por que logo a Sophie?
Ele enxerga Emma no canto, e perde um pouco do foco em mim. E
quando responde, não tira os olhos dela.
— Eu queria que você entendesse como é ter que dividir o amor da
pessoa que amamos! Mas nesse meio, eu me apaixonei por ela, e entendi o
porquê você amava tanto aquela, ragazza! — Ele me encara novamente,
como se eu fosse o errado nessa história toda. — E antes que pergunte,
porque sei que irá se humilhar a esse ponto, eu amo o Matteo. Não foi a
minha intenção, mas eu sabia que ou eu o amaria ou perderia a Sophie! E
sendo um bom pappa para ele, a conquistei ainda mais.
Eu olho para o homem que deveria ter sido meu amigo, me dado amor
e conselhos como ser um bom homem. Mas agora tudo faz sentido, e eu
entendo que a culpa nunca foi minha por ele ser assim.
— Vocês dois se merecem! E eu desejo muito que essa criança não se
envenene com a maldade e sanidade de vocês. — Ele ri, nada abalado
comigo e com tudo que está acontecendo.
— Ainda tem muito o que aprender, garoto! — Volta a olhar para
Emma, só que dessa vez com maldade. — E você está muito bem servido,
pelo visto. Pena que Emma ainda era apenas uma criança, e foi a Sophie ao
invés dela.
E nesse momento, eu perco o meu controle, e avanço em cima dele,
que cai ao sentir o impacto do meu corpo.
Eu fico cego enquanto desfiro alguns socos em seu rosto, ele tenta se
mexer embaixo de mim, mas eu não deixo que saia enquanto toda a minha
raiva não se esvair.
— Esse é pela mamma! — Dou um soco. — Esse pelo Francesco. —
Mais um. — Esse pelos pais da Emma. — Mais um. — E isso por mim. —
Cuspo em seu rosto que está sangrando em alguns pontos e me levanto
antes dos seguranças chegarem e Emma para de gritar. — Você terá o que
merece, Enrico Vacchiano! E essa é a última vez que dirijo a palavra a você.
Emma me abraça pela cintura, e nós vamos até o carro, mas ela pede
para que eu me sente no passageiro porque minha mão está muito
machucada.
Eu faço tudo no automático, e ela sai dali com o carro depois que
coloco o cinto, e eu olho para a casa e o Enrico no topo da escada pelo
retrovisor, e consigo ver o sorriso dele enquanto Sophie passa um pano em
seu rosto.
Hoje eu deixo o meu passado para trás, mas o meu coração, que eu
achei que não teria como se quebrar mais, agora parece que virou pó.
43

Jacob está totalmente em silêncio desde que entrou no carro e eu não


sei muito bem o que fazer, então também fico quieta.
Tudo que aconteceu ainda há pouco foi doloroso até para mim, que
não tenho nada a ver com a história, e era notável como o Jacob sofreu a
cada palavra que foi desferida a ele.
Eu não consigo decidir qual dos dois foi mais filho da puta com ele, é
páreo duro entre os dois, e eu quase pude ouvir o sofrimento dele, como se
gritasse em meio a um silêncio ensurdecedor.
Ele agora está tomando banho, mas antes passamos em um mercado e
ele comprou seis garrafas de vinho, e não o julguei. No lugar dele, nem sei
se teria forças para debater com eles, então encher a cara para lidar com
esse dia é o mínimo, e eu decido fazer algo para comermos.
Jacob sai do banheiro só com uma toalha enrolada na cintura, e eu me
controlo para não reparar no seu corpo porque sei que não é o momento,
mesmo que o meu corpo não entenda isso, e já esteja todo aceso.
Presto atenção no fogo para não me queimar e me assusto quando ele
tira a rolha de um vinho e o bebe no gargalo, virando boa parte do líquido
vermelho.
Certeza que isso não vai dar muito certo.
Ele entra no quarto novamente e vai com a garrafa.
Termino de fazer a comida, e fico na frente da porta pensando se o
chamo ou não para jantar, mas crio coragem e abro devagar, encontrando o
italiano sentado no chão, com as costas encostadas na cama, e a garrafa de
vinho já vazia enquanto ele olha para o nada.
É uma merda vê-lo dessa maneira e saber que nada que eu fizer será
capaz de ajudá-lo a melhorar.
— Jacob! — o chamo e ele olha para mim, piscando devagar, como se
estivesse muito alheio às coisas ao seu redor. — Quer jantar? — Ele faz que
sim e levanta, passa por mim, mas dá um beijinho na minha testa antes de ir
até a cozinha, encher um prato de comida e se sentar na sala, abrindo mais
uma garrafa de vinho.
Eu perco meu apetite, mas me sento no sofá perto dele, que dessa vez
coloca o vinho em duas taças e empurra uma para mim.
— Deveria beber, hoje eu serei a pior companhia que qualquer pessoa
poderia ter. — Ele praticamente engole a comida sem nem mastigar e
empurra goela a baixo com o vinho.
Eu aceito a taça que me oferece, talvez assim doa menos assisti-lo
dessa forma. E eu peço ao universo que as horas passem rápido, que chegue
logo amanhã, mas parece que uma noite nunca demorou tanto para acabar.
As horas vão passando e eu vejo o Jacob ficando bêbado, e todas as
suas versões de acordo com o nível do álcool. Ele já fez piada desse dia de
merda, já cantou alto várias músicas em italiano, me chamou para dançar,
me elogiou várias vezes, entrou na bad novamente, e agora ele está no
modo sincero.
— De quem será o corpo que eu enterrei? — pergunta para mim, mas
como eu teria uma resposta para isso? — Será que meu pai matou alguém e
depois fez uma tatuagem no defunto? Ou a tatuagem foi antes de matar a
pessoa?
E só vai piorando…
— Eu devo ser a pessoa mais desinteressante da terra, ou melhor, do
sistema solar todinho para que alguém finja que me ama por tanto tempo.
— Ele levanta, e fica em cima da mesinha de centro, empurrando tudo que
tem nela no chão e andando ali. — Ela engravidou do Enrico, meu pappa
— fala a última palavra com deboche e depois ri de desgosto. — A gente
dividia a mesma mulher.
— Jacob, você não tem culpa de nada disso — digo, mas eu sei que é
em vão.
— Eu não devo ser bom o suficiente para ninguém! — decreta. — E
eu acho que mesmo que sem querer, escolhi a coisa certa ao não querer que
ninguém se aproximasse de mim.
Por favor, não fale essas coisas.
— É isso, eu continuarei vivendo da maneira que optei há 11 anos.
Não tem como eu amar alguém, Sophie. — Eu fecho os olhos e me encolho
quando ele erra o meu nome, e tento entender que está bêbado, e abalado
com o dia de hoje e que nada disso é sério, ou para me atingir. Ele não faria
isso comigo, eu sei! — Nunca mais me deixarei ser enganado por outra
pessoa, agora eu aprendi que sou uma pessoa incapaz de dar amor suficiente
para alguém querer que eu seja o único em sua vida.
Eu me levanto quando ele se distrai com seus pensamentos confusos,
e aproveito para ir para o quarto deitar, me cubro até a cabeça na esperança
que o álcool o engane e ele não me encontre aqui, caso me procure.
Sei que o álcool às vezes faz com que sejamos sinceros em um nível
que nunca seríamos sóbrios. A tequila em grandes doses faz isso comigo, e
talvez tudo isso seja demais para o Jacob, e eu não terei como continuar
fingindo que não sinto as coisas que sinto por ele.
Vou me retirar disso tudo antes que eu saia ainda mais machucada.

O domingo foi um dia terrível, e a segunda de manhã também não foi


das melhores, a ressaca do Jacob, tanto física quanto moral, o manteve
distante e por incrível que pareça, eu gostei disso.
A viagem de volta para NY só foi um pouco mais agradável porque a
sua mãe estava conosco, ele conseguiu convencê-la a vir com a ajuda do
Francesco, e ela realmente parece querer ajuda quando está sóbria, o
problema é quando os remédios entram em ação e ela perde todo a noção de
praticamente tudo ao seu redor.
Ela me perguntou o que aconteceu com Jacob para ele ter ficado a
viagem toda daquele jeito, quase se fundindo com o próprio moletom, e eu
expliquei bem por alto, e claro que ela já sabia de algumas coisas sobre o
Enrico e seu novo relacionamento.
Agora, me vejo sentada na biblioteca que por três semanas foi o nosso
quarto, e não ter a cama perto da janela já me deixa nostálgica, mas eu
termino de guardar as minhas coisas em uma das malas que eu trouxe, e se
tudo der certo, voltarei para o apartamento sem precisar falar com ele.
Jacob já sabia que a qualquer momento, depois da viagem, eu iria
embora, ele não precisa mais de mim. Isso serve em muitos outros sentidos
além do médico, e eu já entendi. Tudo bem!
Deixo a mala perto da porta, e vou até o quarto de hóspedes, que
temporariamente será da Antonella, mãe do Jacob, com a intenção de me
despedir, mas ela acaba me pedindo ajuda para colocar algumas coisas no
armário e isso faz com que eu demore muito mais do que planejo.
— Por que sua mala está na porta? — Jacob pergunta, enquanto tira o
paletó, exatamente na hora que eu desço as escadas. O homem é tão bonito
que eu preciso de um tempo para poder me acostumar com toda a sua
presença. — Você ia embora sem se despedir?
Ele para antes do primeiro degrau da escada, e por estar uns degraus
acima fico da sua altura, mas um pouco longe.
— Er… sim! — sou sincera, mesmo sabendo que a sinceridade é uma
merda. — Não queria me despedir, como se tivesse acabado as férias de
verão e eu só fosse viver isso novamente daqui a um ano. — No caso, isso
não se repetirá. — E vamos nos ver no próximo final de semana,
provavelmente nos falaremos por mensagem… — tento arrumar alguns
argumentos para não ter que falar o real motivo de ter tentado ir embora
sem falar com ele.
— Vamos, eu te levo! — É claro que ele ofereceria uma carona para
mim. Jacob é educado demais para não fazer tal coisa.
Nós vamos até a garagem, e ele coloca a minha mala no banco de trás,
antes de entrar no carro que ainda está com o motor quente porque ele mal
chegou do trabalho. Ele sai, e damos de cara com a Bella, a vizinha que
também é pediatra e eu lembro que marquei de sair com ela, mas nunca
aconteceu, aproveito para dar um tchau e na mesma hora pego o celular
para mandar uma mensagem.
— Acho que precisamos conversar, né? — ele diz, e eu me viro um
pouco para ele. — Tudo está muito recente, e eu estou tentando digerir cada
acontecimento. Não queria que a nossa viagem terminasse daquele jeito, a
sexta e o sábado foram incríveis, eu curti cada momento com você, amore.
Mas nada me preparou para os poucos minutos que fiquei dentro da mansão
no domingo.
— Eu entendo, Jacob. Só de assistir foi difícil, imagina para você! —
Ele concorda, e eu fico pensando se falo mais alguma coisa ou não. — Mas,
eu acho que é demais para mim. — Ele continua dirigindo, mas vejo que
seus dedos apertam o volante. — Ficar com você é um sonho se realizando,
mas saber que nunca terei mais do que isso é um pesadelo, e sei que nunca
me prometeu nada, e que sempre deixou claro sobre o seu luto mas…
— Mas o luto não existe mais — termina a frase por mim, e eu faço
que sim com a cabeça.
— Eu não teria entrado na sua casa até hoje se você não soubesse que
a Sophie está viva, nós continuaríamos tendo que nos encontrar na rua, no
seu carro ou em qualquer outro lugar que fosse. — Respiro fundo para
continuar. — Jacob, nem sei se nós teríamos transado se a viagem não
tivesse acontecido… nosso relacionamento, se assim posso chamar, só
caminhou um pouco porque você entendeu que não tinha o porquê
continuar se importando com alguém que acreditou estar morta.
— Nunca te enganei, Emma. E nunca fiz nada pensando em te chatear
ou te magoar, mas foram anos da minha vida vivendo do mesmo jeito. —
Ele para no sinal e me encara. — Eu com certeza não seria um bom
namorado. O luto foi em vão, mas nada disso me deixa menos arruinado do
que eu sou.
— Você não repara, né? Jacob, não conheço alguém mais atencioso e
preocupado do que você. Se preocupa com a minha roupa, se estou
comendo, se estou dormindo direito e até mesmo se tenho como voltar para
casa dos lugares que vou. — Ele engole em seco. — São essas pequenas
coisas que mostram que você poderia ser o que quisesse para quem valesse
realmente a pena. Você já decidiu, mesmo depois de saber toda a verdade,
que quer continuar desse jeito. Eu sei que é recente, mas você já saiu de lá
certo de que o melhor para você é continuar do jeito que vive.
Ele para na frente do apartamento, mas continua segurando o volante
e sem me encarar.
— Eu gosto de você, Emma. E estar contigo sem dúvida são os
melhores momentos dos meus dias… mas, eu não tenho mais o que
oferecer. Eu nunca seria o suficiente, nunca seria o bastante... — Seus olhos
que agora me encaram mostram o quanto dói nele falar essas coisas, e dói
ainda mais em mim ouvir.
— Tudo bem você não querer nada além, e nem estou te pedindo isso.
Mas continuar com alguém sabendo que nunca terei um futuro é nadar no
vazio. E eu mereço mais. — Tiro o meu cinto, e ele coloca a mão na minha
coxa. — É melhor nós pararmos por aqui, antes que tudo fique pior e afete
os nossos amigos!
Abro a porta do carro, mas antes de sair, eu viro mais uma vez para
falar.
— Você é um homem incrível, Jacob. E os erros dos outros não
deveriam moldar quem você é. E espero muito conseguir acalmar meu
coração, e me manter próxima e ficar feliz por você quando entender o erro
que está comentando para si.
Eu saio antes que eu acabe jogando tudo para o alto e o beije ali
mesmo. Pego a minha mala no banco de trás e escuto meu coração se
despedaçando em mil pedacinhos por entrar sem virar uma única vez para
ver se ele ainda está lá.
Entro em casa e ao mesmo tempo que me sinto triste pela conversa,
também me sinto aliviada por ter sido sincera, e ter saído fora antes que
tudo virasse uma bola de neve. Jacob sempre estará em minha vida, não
como eu desejo, mas se for para sermos amigos, é assim que tentarei lidar a
partir de agora.
Minha cama me encara, e quando me deito sinto falta do corpo grande
e perfeito do Jacob me abraçando, e nesse momento a tristeza me bate e eu
me permito chorar só por essa noite.
44

A minha casa nunca ficou tão silenciosa e irritantemente chata como


está agora sem a presença da minha ruiva. Tudo que aconteceu foi de zero a
cem muito rápido e os meus pensamentos ainda estão confusos com tudo
isso.
Eu jamais a julgaria por perder seu tempo comigo, até porque isso
seria a única coisa que ela tiraria da nossa relação, mas quando ela me falou
tudo aquilo, uma parte de mim queria dizer que eu só precisava de um
tempo e que tudo mudaria, e eu deixaria que ela entrasse em meu coração,
mesmo que ele não seja o mais bonito de todos.
Mas não dá, eu simplesmente não consigo imaginar que daria certo.
O copo na minha mão já está vazio, e eu preciso de mais um pouco de
Whisky para conseguir acalmar os meus pensamentos que lutam entre si
para decidir qual assunto eu devo focar.
— Então agora vocês são o quê? Amigos que ficavam e não ficam
mais? — Barbie me pergunta e eu agradeço ao garçom que enche meu copo
novamente. Eu faço que sim para o meu amigo, que ainda está sem
acreditar em tudo que aconteceu em apenas três dias. — Emma é realmente
muito madura, eu no lugar dela pelo menos teria batido a porta do seu carro
com muita força.
Eu admiro o esforço do meu amigo em tentar aliviar um pouco esse
assunto de merda, mas não dá. Hoje já é quinta e meu humor só vai
piorando a ponto de a qualquer momento meus amigos fazerem uma
intervenção para mim.
Desde segunda, eu e Emma nos falamos apenas um dia, quando eu fui
na casa do Francesco e ela passou lá para pegar alguma coisa que tinha
esquecido quando dormiu lá da última vez.
Eu fiquei igual um cachorro que foi abandonado pelo dono e depois
de muito tempo o reencontra, mas me controlei e apenas a cumprimentei,
que retribuiu com um sorriso e perguntou se eu estava bem.
Ela é realmente muito madura, talvez até mais do que eu. Depois que
ela foi embora, eu fiquei irritadíssimo e queria muito saber para onde ela
estava indo toda arrumada, mas eu não poderia perguntar nada porque não é
da minha conta. Então tive que ouvir meu irmão me chamar de idiota, e
falar que só não me daria um soco porque a amiga está triste, mas não como
ele pensou que ela ficaria.
— Boa sorte, mano! — Noah fala do meu lado. — É óbvio que você
gosta dela, e quando ela cansar de ficar triste e for viver a vida, vai ser uma
merda para você que continuará apenas existindo desse jeito que optou.
Às vezes uma porrada doeria menos do que algumas coisas que o
Noah fala, e para piorar ele fala com seu jeito calmo e o tom de quem
pergunta como está o tempo.
— Claro que eu gosto! — digo. — Impossível não gostar dela, mas
isso não seria o suficiente para pedir que ela ficasse, nem muito menos que
aceitasse meu jeito e abraçasse o pouco que eu posso oferecer.
— Aí, você está parecendo comigo há um tempo atrás — Barbie
reclama. — Você só vai se ligar que está apaixonado pela ruiva quando vê-
la se atracando com um cara mais boa pinta que você.
Eu quase tenho uma síncope só de imaginar aquela boca beijando
outra que não seja a minha, pior ainda é se outro homem tocar em seu corpo
que eu conheço bem, e queria conhecer ainda mais.
As lembranças dela em minha cama, ajoelhada na minha frente, nua
no banheiro enquanto tomávamos banho juntos me persegue a cada
segundo do dia, e toda hora me vejo excitado lembrando de como ela é
sensacional, e imaginar que ainda se descobrirá muito além do que já é, é
um inferno.
Ninguém deveria tê-la além de mim.
— Não é querendo colocar pilha porque você sabe que eu não gosto
disso. — Olho para Noah, enquanto ele fala. — Mas eu ouvi as três
conversando antes de sair de casa, e cara, se ela for na onda de Kath e
Olívia, você vai enlouquecer.
Eu nem o respondo e pego o meu celular para olhar o Instagram dela,
e claro que tem vários stories. Alguns deles com as meninas, outros dela
sozinha em uma piscina que eu não reconheço, e as demais com coisas
aleatórias. Só que a última é um vídeo rápido dela brincando com Arya e
Mayke.
Meus cachorros sentem tanto a falta dela quanto eu sinto, e eles estão
sem falar comigo direito porque sabem que eu fiz merda e por isso a
ruivinha não está mais lá para brincar com eles todos os dias.
Queria muito que tudo pudesse ter sido diferente entre nós dois.
— E a Laurinha? — pergunto para Barbie. — Já tem tempo que eu
não a vejo.
— Ela tem andando muito ocupada, e nós brigamos na semana
passada. — Ele deixa o corpo escorregar um pouco na cadeira em que está
sentado. — Ela se afastou um pouco e isso me preocupou muito, vocês
sabem o porquê. Mas ela ficou puta e pensou que eu estava desconfiando da
sobriedade dela.
Eu e Noah nos entreolhamos rapidamente, porque nunca sabemos
como lidar muito bem com isso. Nós vimos como ela ficou quando teve a
recaída, sempre ficamos preocupados e achando que pode ser outra, mas é
uma linha tênue entre o achar por estar preocupado e desconfiar da pessoa.
— Em falar nisso… estou procurando ajuda para a mamma! — Eles já
sabem que ela está aqui e também sabem sobre seus vícios com remédios.
— Não queria ter que interná-la em uma clínica em que eu não saiba de fato
a procedência, vemos tantas notícias bizarras por aí, então preciso que seja
um lugar de confiança. Mas tem poucos dias que ela está lá em casa e já a
peguei duas vezes tentando mexer no meu quarto para achar onde guardo os
meus remédios.
— Acho que eu posso te ajudar.
Barbie conta a ideia que teve, que envolve a sua clínica que ainda não
está pronta, mas eu com certeza confio muito mais em alguém que o meu
amigo irá colocar lá para cuidar da minha mamma desde agora, do que ficar
pesquisando de um em um e me estressar com todos.
Depois de mais algumas doses nós decidimos ir embora, porque
amanhã teremos reunião cedo, e Noah me deixa na frente da minha casa,
porque fui de moto e quando bebo não costumo pilotar depois.
— Boa noite, Jacob. Como está a recuperação?
A minha vizinha Bella me pergunta quando aparece na calçada
próximo de mim, arrumada para provavelmente uma balada.
— Oi, Bella. Está bem, só algumas dores às vezes, mas está indo
muito bem!
— Que bom! — Ela sorri e olha para a tela do seu celular. — Vou lá
antes que Emma desista de sair comigo, beijos.
Emma? Sério?
Eu sei que ela está de férias da faculdade, e que tem mesmo que sair e
se divertir, mas essa é a minha parte racional falando, a parte que é idiota,
ciumenta e quer ir atrás da minha vizinha para saber onde elas vão, só
pensam merda.
Mas no final foi indiretamente uma escolha minha. Eu quis me manter
fechado, eu quero continuar nessa merda de vida desse jeito, então agora é
aprender a lidar com tudo isso e voltar para o aplicativo.
Entro em casa, e nem o barulho que a minha mamma faz em seu
quarto é o suficiente para fazer com que essa casa pareça ter vida, e em vez
de ir para o meu quarto, eu vou para a biblioteca, e largo minhas coisas na
poltrona.
Tem uma caixa em cima da minha mesa, e dentro tem o Kindle que eu
tinha comprado para Emma, e já nem lembrava mais. Vou colocar em
minha mala e entregar para Noah amanhã, ele sem dúvidas não se importará
em dar para a min… para a ruivinha.
Não quero parecer esses ex-namorados, que depois que terminam
ficam dando coisas para tentar reconquistar a amada, que deu um pé na
bunda.
Sento na cadeira de frente para o computador, e confiro umas coisas
pessoais, e acabo entrando na conta em que guardo o maldito dinheiro para
Emma por todos esses anos, e fico tentando pensar no que fazer com ele.
Um e-mail chega para mim nesse momento, e é o cara que eu
contratei para fazer um trabalhinho para mim lá na Itália, e o que ele me
manda em tão poucos dias me deixa em choque para o que ainda
provavelmente ele encontrará nos próximos dias.
Enrico pode ter me destruído por dentro, e me transformado nisso que
eu sou, mas, uma das coisas que eu aprendi com ele, é que com dinheiro
conseguimos descobrir qualquer coisa de qualquer pessoa, e nem ele com
todo o seu poder está fora disso.
O resto da minha noite se resume em ficar lendo cada arquivo,
pesquisando algumas coisas e me torturando vendo o Instagram da Emma,
mas ela não posta nadinha, e acho que isso é ainda pior do que assistir que
ela está seguindo sua vida, como deve fazer.
45

O escritório da Liz e Jô é lindíssimo, e não teria como esperar menos


do ambiente de trabalho de uma decoradora de interiores e uma paisagista
que a cada dia vem ganhando ainda mais espaço no meio de tantos outros
profissionais incríveis.
Hoje, além de ter ido ao escritório, eu fui com elas para uma das
casas que elas começaram um projeto, ajudei com algumas coisas que com
certeza elas fazem sozinhas e com facilidade, mas eu entendi que elas estão
preocupadas comigo e isso é fofo.
Eu sinto muita falta da minha mãe, então ter duas mães maravilhosas
sempre cuidando de mim e se preocupando, me conforta um pouco o fato
da minha estar muito longe.
A casa que fomos era em Hamptons, então imaginem como a
propriedade era gigantesca, e cheia de tudo que uma mansão na beira da
praia tem direito e muito mais. O projeto é enorme, custará uma fortuna que
o proprietário que não tirava os olhos de mim não se importou em pagar
desde que ficasse do jeito que ele quer.
Foi bom ter ficado a manhã me distraindo, e mantendo a cabeça longe
do Jacob. Hoje nos veremos depois de todos esses dias sem contato, aliás,
nos falamos apenas um desses dias aí, mas como é o churrasco do orfanato,
terei que ficar olhando aquela cara bonita o dia todo.
E é bom que eu vá me acostumando em vê-lo e não poder tocá-lo. O
início vai ser um saco, talvez até o último dia da minha vida, porque ele não
é um tipo de homem fácil de ser superado, mas eu me acostumo. Sou boa
em fingir que não quero algo que quero muito, fazia isso quando as coisas
estavam apertadas e eu não queria que meus pais se sentissem mal por não
me darem algo.
Vim direto para casa da Kath depois que saímos de Hamptons, e agora
estou aqui me sentindo uma boneca pronta para ser vestida por sua dona.
Mas eu gosto, e Kath tem um bom gosto sem igual.
— Eu tenho todos esses biquínis novos, mas acho que esse ficará
lindo. — Ela me entrega um conjunto preto, em que o sutiã tem só uma alça
cruzando de um lado para o outro, a calcinha tem duas tiras. E junto com
esse conjunto preto, ela me dá uma saia, que é uma saída de praia, longa e
toda transparente. — Vai lá, coloca esse.
Eu vou ao banheiro e visto. Realmente ficou ótimo em meu corpo, e a
saia que tem tipo um cintinho na cintura é perfeita.
Nós terminamos de nos arrumar, e pela janela eu vejo que as crianças
já chegaram e muitos adultos também.
— Espero que esse não tenha nenhum climão igual ao churrasco do
ano passado. — Ri ao lembrar da situação com a menina que Noah ficou e
que o B acabou trazendo para o evento sem querer.
— Prometo tentar não deixar as coisas ficarem estranhas entre mim e
o Jacob.
Ela me entrega um par de argolas enormes, e eu faço um rabo de
cavalo alto, deixando o caimento do cabelo bem modelado, para terminar
passo um gloss e máscara de cílios e fico pronta depois de colocar a
sandália.
Olívia aparece na cozinha assim que terminamos de descer as escadas
e nos abraça forte, um abraço em trio.
— Vocês estão sensacionais! E você, Emma, vai matar o italiano mais
velho que acabou de chegar com seu… fratello, né? — Ri e passa por nós,
dizendo que tem que ir ao banheiro e eu respiro fundo antes de sair.
Jacob está de costas, com uma camisa de linho branca, e uma bermuda
curtinha preta. Adoro esse estilo verão que ele adere de vez em quando, mas
o que não ficaria bom nesse homem, né?
Primeiro eu vou até as crianças, e é fofo ver como Milla ainda é
próxima das demais, e eu flagrei ela conversando com uma outra criança
que estava triste, e disse que não deveria se preocupar porque ela também
seria adotada por dois anjinhos iguais ao Noah e a Kath.
O dia mal começou e eu já fiquei segurando o choro ao ouvir a Milla,
que é uma criança de ouro, e com certeza nos deixará de cabelos brancos
muito cedo, mas ela que é um anjinho em nossa vida.
— Está me evitando também ou só o insuportável e mal-humorado do
meu fratello? — Francesco aparece na minha frente, depois de eu ter
cansado de contar histórias para as crianças.
— Só ele mesmo! — Sorrio e dou um beijo em sua bochecha. — Uma
hora você se acostuma com o jeitinho dele de ser.
— Você não está entendendo. — Me entrega uma cerveja já sem a
tampa e eu dou um gole. — Essa semana em especial, ele parece que está
pior do que todos os outros dias que eu o vi desde que voltamos a nos falar.
E tenho quase certeza que é por causa de você!
Eu viro um pouco para vê-lo, e ele estava olhando para mim, mas
depois de sustentar o seu olhar no meu por algum tempo ele desvia, e
continua a conversar com as pessoas na rodinha em que está.
— Não tenho culpa do seu fratello ter decidido ser um cabeça dura —
pontuo. — Depois eu falo com ele, se eu chegar lá sei que vai ficar um
climão e Barbieri não tem maturidade nenhuma.
Francesco ri e concorda.
— Realmente. Ele já ficou lá fazendo piada dizendo que não dá nem
mais uma semana para que Jacob venha se rastejando atrás de você,
pedindo para que volte para ele.
Confesso que essa ideia é um sonho, mas conhecendo o Jacob como
eu conheço, vai ficar só em sonho mesmo.
Chamo o Fran para tirar uma foto minha lá no balanço, que fica na
árvore que é distante de onde está rolando a festa, ele é desses amigos
esforçados para tirar boas fotos, sabe? Uma fica melhor que a outra, e no
final tiro uma com ele também, e é essa que eu decido postar, colocando
uma legenda que deixe claro que ele é meu melhor amigo, antes que
comecem a pensar várias coisas. E o infeliz vai lá na mesma hora e comenta
“cunhadinha”.
Luke curte a foto assim que eu posto, e me chama no aplicativo de
mensagens.
Luke: E aí, melhor?
Eu acabei conversando bastante com ele essa semana e ele percebeu
que eu estava triste, acabei contando que não fico mais com o Jacob. Ele foi
bem legal e disse para dar tempo ao tempo, que tudo se acertaria. E a
famosa frase clichê que o que é nosso sempre volta para a gente.
Eu: Relativamente sim! Não dá para sofrer muito tempo por causa de
amor, a vida voa.
Luke: Está certíssima! Curta seu final de semana, e qualquer coisa
estou aqui, tá bom?
Ele é um cara muito legal, muito mesmo. E Olívia e Kath falaram que
eu deveria pelo menos tentar sair com ele, que talvez poderia rolar um
clima já que eu e ele já temos um contato e não somos estranhos.
Talvez eu faça isso, mas vou deixar para pensar nessa ideia na
próxima semana.
Vou até dentro da casa para ir ao banheiro, mas os dois de baixo tem
gente, e como eu sei que Kath não se incomodaria, subo para ir no banheiro
do andar de cima, que por sorte não tem ninguém.
A porta do quarto de hóspedes aberta me chama atenção e vou até lá
para encostá-la, mas acabo vendo que Jacob está lá dentro tomando uma
cerveja sozinho, vendo a festa pela janela.
Não entra, não entra… entrei.
— A festa está melhor aqui de cima? — brinco para chamar a sua
atenção e ele se vira, dando um gole em sua cerveja e me encarando dos pés
à cabeça. Meu corpo esquenta automaticamente.
— Na verdade, nenhum lugar está muito interessante. — Ele continua
onde está, mas eu vou até ele e fico ao seu lado, mas de frente para a janela.
— Pensei que não iria querer falar comigo.
Viro apenas meu rosto para encará-lo, e eu não deveria ter vindo para
tão perto dele. O seu perfume é o meu cheiro preferido, e agora invadiu
com tudo as minhas narinas.
— Não tenho a intenção de parar de falar com você, Jacob. Seria
impossível conseguir por muitos motivos, mas o principal é que você é
importante demais. Me descobri com você, nem falo só no sentido sexual...
— Ele bebe novamente e eu sinto inveja do gargalo da garrafa.
Jacob desvia os olhos do meu e volta a olhar qualquer ponto aleatório
no quarto.
— Eu não sei mais como ficar perto de você sem poder tocá-la,
amore. E desde o momento que saiu aqui de dentro, linda de um jeito que
só você sabe ser, eu estou louco — sua voz sai muito rouca, e eu fecho os
olhos quando sinto meus seios pesarem de desejo, e peço ajuda ao universo
para não me jogar em cima desse homem.
— Nós precisamos aprender a controlar esse desejo mútuo. — Ele
vira e fica na minha frente, bem perto, mas sem encostar em nenhuma parte
do meu corpo.
Por que ele não encosta? Eu quero que encoste. Quero que tome
uma atitude por mim, e depois posso culpá-lo por uma recaída. Eu quero
uma recaída, quero tanto que meu peito chega a bater forte, enquanto ele me
encara desse jeito.
— Mas eu não quero ter que me controlar, esse é o problema! — Sua
mão finalmente encosta em meu rosto, desce pelo meu maxilar até meu
pescoço e o arrepio se mantém enquanto seus dedos me tocam. — E eu vejo
que seu corpo também quer muito, mas não quero ultrapassar nen…
Foda-se! Eu o beijo e pulo em seu colo. Jacob é rápido e me segura
pela bunda para que eu não caia, e nem pensa duas vezes ao ir até a cama, e
me jogar nela, caindo por cima de mim sem perder o contato com a minha
boca.
Abro as pernas para ele se encaixar, e eu já fico molhada só de sentir
seu pau duro roçar na calcinha do meu biquíni.
— Tranca a porta! — digo entre o beijo e ele vai rápido, quando volta
já tira a sua camisa, arranca a bermuda e a cueca juntos. Mordo o meu lábio
inferior ao vê-lo nu, é lindo demais.
Jacob se abaixa para pegar a camisinha que estava dentro da sua
carteira, eu tiro a minha calcinha nesse meio-tempo, e ele veste o seu pau
me encarando, como se quisesse que eu entendesse o que me espera, e eu
espero muito, inclusive que ele deixe de ter cuidado, e mostre quem
realmente é na cama.
— Essa música alta vai ser nossa aliada hoje, mi amore. — Abre mais
as minhas pernas quando deita e pincela o seu pau na minha boceta. — Não
tenho a intenção de ser muito cavalheiro.
— Não quero que seja! — digo e vejo a sua feição mudar, como se
uma chavinha tivesse virado, e a primeira estocada que dá dentro de mim
faz tudo ao nosso redor deixar de ter graça e eu entendo o quanto ele
realmente estava sendo cavalheiro.
46

O meu pau entra todo de uma vez dentro da boceta gostosa e apertada
de Emma, e eu aperto a lateral do colchão ao sentir meu corpo ferver só
com esse primeiro contato delicioso.
Hoje, eu não tenho intenção nenhuma de ser delicado, e vou torcer
para que ninguém passe pelo corredor enquanto estivermos aqui dentro.
Entro e saio de Emma várias vezes, e cada vez é mais gostosa que a
anterior. Meu pau entra todinho, e é abraçado pelos seus músculos que me
apertam e eu deliro. O corpo de Emma é oficialmente o meu lugar
preferido, bem fundo dentro dela.
— Porra! — ela xinga quando eu ergo a sua cintura, entrando mais
fundo e estocando com força e vendo que a safada gosta de me sentir por
inteiro dentro dela. — Isso, amor.
Eu perco o controle da minha respiração quando ela me chama assim,
e saio dela para virá-la de costas e estalo um tapa alto em sua bunda, que na
mesma hora já deixa a marca por ela ser muito branquinha.
— Como eu estava sonhando em te fottere di picorina, Emma. — Ela
pode não saber o significado disso, mas entende perfeitamente o que é
quando eu ergo seu corpo para ficar de quatro, e fico em pé fora da cama.
A imagem da bunda dela nessa posição é o meu fim, meu pau já lateja
como louco dentro da camisinha. Emma vira o rosto para trás depois de se
posicionar melhor, ficando com a bunda mais empinada para mim, eu não
resisto e passo meu pau pelo seu cu, mas desço e na hora que eu entro, puxo
a sua cintura contra o meu corpo, e ela grita.
Essa é uma das posições que eu mais gosto, porque a intensidade é
grande e me enlouquece.
Eu estoco como um louco, com força e bem fundo. Ela fica forçando
o corpo para trás, dando mais impacto a cada movimento, eu seguro no seu
rabo de cavalo, puxando sua cabeça um pouco para trás e me curvo sobre
ela, para apertar seu seio e sussurrar perto do seu ouvido.
— Sua boceta é uma delícia! — Ela geme ao ouvir, e eu não paro,
deixando o suor escorrer pelo meu corpo e cair no dela. — E cada vez que
você me aperta, eu sinto vontade de te dar um tapa.
— É só isso que preciso fazer para receber outro tapa? — Me desafia,
e ainda dá um sorrisinho de lado como se achasse que não sou capaz. E por
Dio, essa mulher é meu sonho de consumo.
Eu seguro os seus dois braços, e o corpo dela se levanta um pouco e
vem mais para trás. Junto às suas mãos, seguro ambos os punhos com uma
das minhas, para ter a outra livre, e a fodo com a ajuda da gravidade,
estalando alguns tapas na sua bunda gostosa, enquanto ela geme e pede
mais.
Minha vista fica escura de tesão várias vezes, mas eu me controlo o
máximo que consigo, ela pede para que eu sente, porque quer vir por cima.
E porra, eu saio dela na mesma hora, e me deito, porque assim consigo me
movimentar.
A ruiva vem por cima de mim sem pena, sentando de uma vez só e
nós dois gememos ao mesmo tempo, e para me mostrar que ela está na
mesma sintonia que eu, ela apoia as mãos na parede atrás de mim e começa
a cavalgar como alguém que já faz isso há anos, e eu puxo seu sutiã para
baixo porque preciso ver seus seios.
— Cazzo! Continua, amore... — Seguro na sua cintura e ajudo a
manter os movimentos, ela me encara enquanto fica com a boca meio
aberta, com a respiração descontrolada e toda vermelha pelo esforço.
Ela para de cavalgar para rebolar, mantendo meu pau dentro dela e
roçando a bunda em minhas bolas, enquanto se movimenta. Eu quero gozar,
e meu pau está desesperado por isso, mas eu não quero parar.
Emma parece também não querer, mas seus gemidos anunciam que
está próxima de gozar, eu começo a me movimentar de baixo para cima,
estocando meu pau no seu ponto sensível dentro da boceta, ela joga o corpo
um pouco para trás e alisa o seio, querendo chegar no auge do tesão, e eu
gozo junto com ela quando anuncia que está gozando.
Seu corpo cai sobre o meu depois, e eu passo meus braços por ele,
querendo que ela não saia daqui nunca mais.
Nossa respiração vai se controlando aos poucos, como se uma
estivesse sincronizada na outra, e Emma sai de mim e senta ao meu lado, só
que de costas para mim, segurando a beira da cama com as duas mãos,
enquanto fica em silêncio.
Me apoio pelos cotovelos, e assisto quando ela vai até o banheiro com
a sua roupa na mão, e quando ela volta, depois de alguns minutos, as únicas
coisas que poderiam denunciá-la sobre o que acabou de acontecer é a sua
bunda marcada, e suas bochechas muito vermelhas.
— Já vai? — pergunto quando me levanto, vestindo a minha cueca.
Ela suspira e vem até onde estou, apoiando uma mão em meu peito e
me olhando daquele jeito doce que só ela sabe olhar.
— Eu não posso ter o momento pós-sexo com você, Jake. — É a
primeira vez que ela me chama assim, e eu gostei tanto que até trocaria na
minha certidão se ela pedisse. — Eu não posso ter um momento fofo, em
que você parece um homem apaixonado, disposto a tudo. Como se eu fosse
o seu bem mais precioso! Essa parte vai me quebrar, e eu não posso deixar
que meu coração fique como o seu, Jacob. Não me entenda mal, só não
quero me machucar.
Eu seguro seu rosto com minhas duas mãos, olhando em seus olhos
lindos e a beijo. Realmente, espero que esse não seja nosso último beijo,
mas não posso permitir que mia costellazione se torne algo parecido com o
que sou.
— Eu entendo, amore. Desculpe por não ser quem você merece. —
Ela sorri de um jeito triste e sai do quarto.
Sento na cama, olhando a bagunça que fizemos e a bagunça que eu
sou. Não aguento mais viver desse jeito, mas parece que eu me afundei
tanto nisso, que não sei como sair.
O vazio que eu sinto quando Emma não está, é bem óbvio, e por mais
que eu não queira admitir, eu me apaixonei pela ruivinha que é totalmente
oposta a mim, em todos os sentidos, mas é por gostar tanto dela que não
quero feri-la.
Mas também não posso não tê-la, e não sei como sair do fundo do
poço para ser quem ela merece que eu seja.
Tomo um banho, arrumo o quarto e volto para a festa. Barbie é o
primeiro que me olha como se soubesse exatamente o que eu fiz, mas antes
de chegar até os meus amigos, Kath faz um sinal para que eu a siga, e eu
vou. A mulher me olhou de um jeito tão feio, que eu não teria coragem de
não ir.
— Qual o problema de vocês dois? — Fecha a porta assim que eu
entro na academia junto com ela. — Isso não é saudável, Jacob. E não estou
reclamando por vocês terem transado no quarto de hóspedes, nem por ela
ter precisado colocar uma saia sem transparência porque você encheu
aquela bunda bonita de tapas. O problema é vocês continuarem a fazer isso.
— Isso o quê, Kath? Transar?
— Não, isso é ótimo! — Dá uma risadinha, mas volta ao foco. — É
óbvio que vocês dois se gostam mais do que querem admitir, ou melhor, do
que você quer admitir porque pelo menos ela já foi sincera sobre os
sentimentos. Mas vocês não percebem que isso pode fuder com tudo? Isso
vai desgastar vocês, Jacob. Em um nível que não terá como voltar atrás.
— Você acha que eu não sei? — pergunto. — Não tem noção de como
eu queria ser outro homem, ter outro passado e um coração inteiro.
Kath me olha, prestando atenção em cada coisa que eu falo, depois se
aproxima e pega na minha mão.
— Jacob, todo mundo tem um passado. Uns são piores que os outros,
e quase todos eles deixam marcas que nunca serão esquecidas! Mas você
tem uma vida inteira pela frente, e depende só de você para reescrever a sua
história de um jeito bonito. Deixe o passado para trás, ele está vivo em seu
presente ainda e é por isso que você está perdendo alguém preciosa demais.
— Ela dá uma apertadinha em minha mão e eu olho em seus olhos. —
Mesmo que você não fique com Emma, a sua história não pode ser essa que
escreveram e moldaram para você.
Ouvir isso me dá vontade de sentar e chorar, porque ela está coberta
de razão. Kath é uma pessoa especial, e traz sua luz para tudo e todos. Não
sou muito de dar ouvidos a conselhos de terceiros, mas ela está certa.
— Eu não vou conseguir fazer isso sozinho — assumo.
— A sua sorte é que está rodeado de muitas pessoas que te amam, e
fariam de tudo para te ver bem. — Ela sorri, ficando com os olhos pequenos
e me puxa para um abraço, que mais parece um consolo, que eu estava
precisando, e fico algum tempo abraçando-a. — Terça-feira você é meu
depois do almoço, não marque nada importante que vou te levar a um lugar,
e depois de lá nós iremos começar a reescrever uma história linda para
você! E talvez… Emma entre no livro da sua vida.
Não tenho a mínima noção para onde ela deseja me levar, mas eu me
sinto ansioso porque pela primeira vez, acredito que de verdade, eu posso
ter uma chance de me livrar dos fantasmas que me assombram e viver uma
vida sem o peso de tudo que já me aconteceu.
É a chance de um novo começo, e como dizem por aí, nunca é tarde
para recomeçar.
E isso me lembra que eu tenho que fazer uma coisa, e mando
mensagem para o meu tatuador agora, na esperança que ele me responda.
Para a minha sorte, ele diz que está livre, que eu posso passar lá agora.
Irei tirar da pele um amor que eu pensei que era o amor da minha
vida, mas todos esses dias me fizeram refletir que nada daquilo foi amor,
não tem como amarmos uma pessoa que nunca existiu. E a Sophie que eu
amei, foi apenas uma encenação, ela nunca existiu.
47

Aceitei o convite para sair com Luke, mesmo que eu não tenha muita
certeza de que isso seja o que eu realmente quero, preciso de alguma
maneira entender que Jacob não é para mim. E talvez conhecer melhor
alguém que eu já me dê bem, e possa abrir os meus olhos para novos
horizontes.
Eu nunca liguei para ter um relacionamento sério, e ainda não ligo.
Não estou saindo com ele em busca disso, e também em nenhum momento
cobrei tal coisa do Jacob, mas por mais que hoje eu não queira, vou querer
alguma hora, ainda mais sabendo que ele seria incrível como namorado.
E mais uma vez estou pensando nele, enquanto termino de me arrumar
para sair com outro cara.
Isso é muito errado.
Mas fui sincera com o Luke sobre a minha atual relação, e ele disse
que é um encontro totalmente despretensioso, e se conseguir ter a minha
atenção já será suficiente. Não espera nada além disso, o que me conforta.
Ele manda uma mensagem falando que já está aqui na frente, e depois
de calçar a minha bota de cano curto, me despeço de Jô que está na sala
trabalhando em seu iPad, dando um beijo nela. Desço para encontrá-lo, e
assim que apareço na calçada já me deparo com ele do lado de fora,
sorridente e muito bonito.
— Uau, Emma! — Ele assobia e eu dou uma voltinha, rindo. — Acho
que precisaremos passar na minha casa para que eu troque de roupa, não
estou tão bem vestido assim para ser digno da sua companhia.
Esse homem deve conquistar as mulheres só com a lábia, e a beleza
é um belo de um bônus.
— Você está lindo, Luke. Como sempre! — Ele faz uma careta
engraçada, após ouvir o elogio e beija minhas duas bochechas antes de abrir
a porta para que eu entre. Inclusive, o seu carro é lindo, com o couro claro e
a parte externa toda preta. — Onde iremos?
— Acha muito brega eu te levar em um piquenique e quando
anoitecer irmos a um barzinho?
— Acho a ideia incrível.
Nós chegamos rapidinho, mas demoramos muito para que ele
conseguisse estacionar e teria sido melhor se viéssemos andando para
poupar esse transtorno.
Luke fica sem graça por conta disso, mas eu não me importo. Vamos
até uma parte do parque que estava mais tranquila, e ele estende a toalha
para sentarmos.
— Eu trouxe muita comida! Espero que não tenha almoçado ainda. —
Sorrio e faço que não, mas é mentira.
Ele vai colocando tudo para fora e eu vejo que realmente é comida
demais, mas acabo pegando um sanduíche de pasta de amendoim e uma
garrafinha de suco.
Luke começa a contar um pouco da sua vida, e sua história. Seus pais
também são médicos, e ele tem duas irmãs. Uma delas se tornou pintora
apenas para irritar os pais, mas acabou se descobrindo uma artista brilhante
e a mais velha também é médica.
— Muitos médicos em uma família só! — comento e ele concorda. —
Na minha família, eu sou a única até agora.
Ele se interessa por saber, e eu vou falando de cada um dos meus
parentes. E a saudade dos meus pais só aumenta, mas não vou ficar triste no
encontro que ele está se esforçando para ser agradável.
E é uma surpresa o Luke ser um cara tão tranquilo e humilde. A sua
aparência já faz com que pensemos que ele é desses que se acha o tal, ou
que esnoba as pessoas por conta de quem é. Descobrir que ele é um homem
decente me anima um pouco mais.
— Sabe uma coisa que eu não sei? — pergunto e ele discorda com a
cabeça. — A sua idade! — Ele arregala os olhos, e tenta lembrar se em
algum momento já falou, mas ri ao notar que nunca falamos nossa idade um
para o outro.
— Bem, eu sei a sua. — Ah, ele era meu professor, deve ter tido
acesso a essa informação, eu acho. — Mas, eu tenho 34 anos.
Eu sou péssima em disfarçar as minhas reações e quase cuspo o pouco
de suco que tinha acabado de beber. Ele me dá uns tapinhas nas costas
quando me engasgo e fico totalmente sem graça por ter reagido assim.
— Sou tão velho? — pergunta, sem jeito.
— Não, desculpa! Faz total sentido a sua idade para que você já seja
um médico desse patamar. É que eu acho que não tinha parado para pensar
na nossa diferença.
— Você já fez aniversário esse ano?
— Faço 20 no próximo mês.
— Começou a faculdade cedo, né? — Percebo que ele quer trocar de
assunto, e me sinto péssima por ter agido da forma que agi. Sem dúvidas,
ele ficou constrangido e não foi a minha intenção.
O clima ficou meio estranho depois disso, mas quando vai
anoitecendo nos animamos para ir a um bar. Acredito que a bebida vá
recuperar o clima legal de antes, e ele diz que o bar onde pretende me levar
é bem movimentado e relativamente novo.
Vamos andando porque é apenas a duas quadras de onde estamos, e eu
vejo a movimentação antes mesmo de entrarmos.
O bar é lindíssimo! Tem bastante luz neon, cadeiras altas, música boa
e muita gente espalhada por todo o ambiente. Nós optamos por ficar um
pouco mais distante das caixas de som para podermos conversar, e eu vou
até o banheiro enquanto ele pede algo para bebermos.
Me tranco dentro de uma das cabines, e pego meu celular para
responder às meninas que estão curiosas para saber se está tudo indo bem.
Eu: Sendo sincera? Acho que não está sendo um encontro muito legal.
Ele é impecável, acho que eu que estou sendo uma péssima companhia.
Guardo o celular na bolsinha novamente, saio da cabine e me olho no
espelho. Arrumo um pouco o cabelo e retoco o batom clarinho que eu tinha
colocado antes, e volto para a nossa mesa.
— Pedi um drink com gin, você gosta? — Se aproxima um pouco
para poder falar e sinto o cheiro do chiclete que ele não estava mascando
até ainda há pouco.
— Gosto sim!
Nossas bebidas chegam, e o clima fica descontraído de novo quando
brincamos um com o outro e conversamos sobre coisas aleatórias. Pedimos
mais uns dois drinks e nem vamos percebendo enquanto a hora vai
passando.
Uma música que eu adoro começa a tocar, e eu o chamo para dançar,
ele aceita, mas já vai avisando que é um péssimo dançarino.
Eu me acabo de rir quando ele dança, porque realmente é péssimo,
mas acaba sendo meio fofo porque ele é esforçado, e com certeza esse
momento é o melhor do encontro até agora.
Ensino alguns movimentos para ele que diz que devo ter alguma
costela a menos para conseguir dançar tão bem, e nesse momento, eu já
estou suada de tanto rir e dançar.
— Acho que esse encontro foi salvo pelo meu fracasso na dança —
fala perto do meu ouvido, e depois volta a me olhar, ainda sorrindo.
— A culpa é minha, eu estraguei o clima mais cedo. Desculpa, é que
não sou muito boa nisso de encontro, para ser sincera, não devo ter tido
mais de cinco em toda a minha vida.
— CINCO? — Faz uma cara de quem não acredita. — Qual o
problema desses homens que não te levam a um encontro?
Eu só rio porque é muito mais fácil do que eu explicar que a culpa não
era deles, e nem minha, na verdade. Mas agora, eu entendo que não rolava
por causa da minha sexualidade, só que explicar isso no meio da pista de
dança improvisada de um barzinho, não é a melhor das opções.
— Espero que eu não tenha sido o seu pior encontro.
Ele chega um pouco mais perto, e eu não recuo.
— Você teria que se esforçar muito para que a sua presença não fosse
incrível, Emma. — Eu acabo olhando para os seus lábios enquanto ele fala,
e fico pensando se eu iria gostar de ser beijada por ele. — E eu quero te
beijar desde a hora que te vi, mas não sei se é algo possível de acontecer.
Acho que ele leu os meus pensamentos ou eu não devo estar sendo
muito discreta. Mas faço que sim com a cabeça, para que ele avance e sinto
seus lábios tocarem os meus, assim que fecho os meus olhos.
Sua boca é macia, e sinto que seu peitoral é bem duro quando ele me
abraça para ficarmos juntinhos. Eu não sei muito bem o que fazer com as
mãos, então as deixo apoiadas em seus ombros.
O beijo é calmo, e sei que ele está sendo cauteloso e tentando entender
o meu ritmo. Eu mantenho o beijo assim, mas viro minha cabeça para o
outro lado, tentando encaixar melhor as nossas bocas, e percebo que não
vou achar o encaixe que eu quero porque isso eu só tenho com Jacob.
Inferno, eu estou pensando em um enquanto beijo outro.
Empurro as lembranças do italiano para o fundo da mente, e aproveito
o beijo com Luke que está sendo bom.
Ele se afasta de mim depois do beijo, com um sorrisinho bobo no
rosto e nós voltamos para a mesa, eu peço uma água com muito gelo e por
hoje chega de álcool. Luke pede mais um drink para ele, mas diz que será o
último e depois vai beber apenas água.
Talvez esse seja um bom motivo para eu ir de táxi para casa. Eu gostei
do beijo, foi gostoso, mas… faltou algo. Não quero pensar nisso, mas
também não sei se quero beijá-lo novamente, e provavelmente, se ele me
levar em casa tentará me beijar no carro.
Luke graças a Deus não pergunta se eu gostei e nem tenta me beijar
novamente, então o resto da noite é tranquila e divertida, e quando vai
ficando mais tarde decidimos ir embora.
Ele pega na minha mão e vai andando na frente para poder abrir
caminho entre as pessoas para que a gente passe, e é um alívio quando
saímos.
— A saída é sempr…
— Emma! — Por um momento, eu penso que estou alucinando, mas
Luke também para quando escuta e vira, olhando para alguém atrás de mim.
E eu sei quem é esse alguém, não teria como não sentir a vibração do seu
corpo ou seu cheiro gostoso.
Me viro e dou de cara com um Jacob com uma feição muito abalada, e
ele olha fixamente para a minha mão que está entrelaçada com a do Luke,
depois me olha. Meu coração parece que parou e a minha mente pifou
totalmente, parece que está tocando musiquinha de elevador dentro do meu
crânio.
— Emma — dessa vez é Luke quem me chama e eu o encaro. Ele
vem para perto, e faz um carinho em meu rosto antes de falar. — Vai lá, não
tem problema! Eu sei que você quer falar com ele, e eu gosto muito da
nossa amizade para estragá-la tentando algo que pelo que eu vejo não vai
rolar.
— Desculpe — sussurro e ele sorri, pedindo para que eu não peça
desculpas. Depois olha para Jacob, como se dissesse para ele não pisar na
bola comigo, e quando eles terminam de se encarar como dois cachorros de
casas vizinhas, que não se gostam, Luke beija meu rosto e diz que estará a
uma ligação de distância.
Eu espero que ele suma, e me viro para Jacob mais uma vez.
— O que você quer, Jacob? — Cruzo os braços quando sinto um
vento gelado, e pouco tempo depois uma gota cai bem em meu nariz. Claro
que vai começar a chover exatamente agora!
— Não está claro? — me diz, chegando perto. — Eu quero você,
Emma!
48

Kath realmente cumpriu com a sua promessa, e na terça ela apareceu


na C&B para me levar a algum lugar. Não conseguimos sair cedo como
planejamos, porque tivemos um contratempo na empresa, mas deu tudo
certo.
Mas imaginem a minha surpresa quando no meio do caminho a minha
amiga me contou que ela estava me levando até um consultório de uma
psicóloga.
Eu não sou criança, e sei que preciso de ajuda profissional, na
verdade, eu sempre soube. Mas eu precisava que alguém fizesse o que Kath
fez, porque no final, eu achava que não merecia deixar de viver o luto, mas
agora eu entendo o quanto isso me fez mal.
Isso, e mais um monte de merda.
E é por ter tantas merdas para conversar, e tentar superá-las, que a
psicóloga me indicou que eu venha uma vez por semana.
— Jacob, nós temos muito o que conversar e resolver. Eu imagino que
terá vários assuntos que serão difíceis e muito dolorosos, por isso, aos
poucos eu irei vendo como abordá-los de maneira que não doa tanto.
A psicóloga Blanca foi indicação da Kim, amiga da Olívia. Como já
nos conhecemos e às vezes estamos juntos, ela achou que não seria ideal
que ela me atendesse, e indicou uma pessoa de sua confiança.
— Eu… nem sei como te contar tudo, o que falei foi um resumo do
resumo de como a minha vida é fodida.
Ela sorri e se levanta, com o iPad na mão e se senta na cadeira perto
de mim. Acho que é uma técnica para que eu me sinta mais à vontade ou ela
apenas é bem simpática.
— Não vamos nos preocupar com isso, ok? E cada dia aqui será
diferente do outro! Terão dias que eu mal falarei e ficarei apenas te ouvindo,
deixando que desabafe. E outros terei que fazer muitas perguntas para que
fale algo, vai depender de muitas coisas, apenas venha com a cabeça aberta
de que juntos, iremos fazer um bom trabalho e você aos poucos vai
conseguir superar essas coisas, já que esquecer ainda não é algo que nós
saibamos fazer. — Sorri novamente. — E, além dessas consultas semanais,
se precisar vir aqui em algum outro momento, também pode vir. Tento estar
sempre disponível para os meus pacientes.
Eu com certeza vou me dar bem com ela, porque em menos de uma
hora já me sinto à vontade, e se ela tivesse um mês disponível, eu acampava
aqui e já contava tudo de uma vez.
A Blanca disse que nada será da noite para o dia, mas que a cada dia
será menos pior que o outro.
Aproveitei também para falar que tudo isso me fechou muito, mas que
eu conheci alguém que me fez querer mudar e voltar a ser uma pessoa que
se envolve de corpo e alma. E mais uma vez, ela disse que isso fará parte de
um processo longo, mas que se eu tivesse a chance de conversar com a
pessoa, se fosse alguém tão importante assim e que eu não queira perder,
que eu tente, pelo menos, mantê-la próxima para que veja a minha mudança
que virá em passos de tartaruga, mas virá.
Pode parecer meio bobo, mas quando eu saio do consultório dela é
como se uma luz tivesse aparecido no final do meu túnel. Uma luz de
esperança, que eu posso ter uma vida digna, e se eu quiser realmente ficar
sozinho, foi porque de fato escolhi, e não porque os meus traumas falaram
alto.
Saio do prédio em que fica o consultório, e já está de noite. Como
Kath teve que trocar meu horário com ela por causa do imprevisto, ela me
colocou como último em sua agenda, e acabamos ficando mais do que uma
hora lá.
Uma movimentação em um bar na frente de onde estou me chama
atenção, e decido que entrarei para tomar uma cerveja sozinho, e pensar um
pouco sobre tudo que conversei com ela.
O bar é bem maneiro, não é o meu tipo de lugar preferido, mas eu sem
dúvidas traria a Emma aqui. E acho que a orelha da minha ruiva deve ter
queimado, porque eu falei muito dela para a Blanca, que perguntou quanto
tempo estávamos juntos e se surpreendeu quando eu disse que começamos a
nos envolver há poucos meses atrás.
Eu peço uma tequila e uma garrafa de cerveja. Quando chega, eu já
viro a tequila, sem a parte do sal e limão, depois fico na minha cerveja
vendo as pessoas curtindo seus momentos.
Onde estou fica contrário à maior parte do bar, por isso, me contenho
em ficar observando só uma parte do ambiente que tem luzes que trocam de
cor o tempo todo, e eu vejo uma mulher ruiva passar, e claro que penso que
é a minha ruiva, mas quando ela se vira, vejo que estou virando um
maníaco, que acredita que esbarrarei com ela em qualquer lugar.
Acabo trabalhando um pouco pelo celular, e quando canso de beber e
ouvir várias músicas que parecem a mesma, peço a conta e pago o garçom.
Quando eu me levanto, acabo virando para a parte que fiquei de costas, e
meus olhos focam em um casal na pista de dança.
Uma ruiva com a bunda mais bonita que já vi, e um loiro que
infelizmente também já tive o desprazer de ver perto de Emma, mas não tão
perto quanto agora.
— Traz para mim o whisky mais forte que tiver, por favor. — O
garçom não deve ter entendido nada, mas duvido que algo irá me tirar
daqui, enquanto Emma estiver no mesmo lugar.
Fico assistindo a interação dos dois, e a cada risada sincera da
Emma, eu sinto meu estômago revirar, meu corpo esquentar de raiva,
depois esfriar de nervoso. Vou ter um choque térmico de tanta raiva que
estou passando.
O infeliz do seu ex-professor fala algo perto demais, e o que eu
temia acontece. Eles se beijam.
Emma está nesse momento beijando outro homem, beijando uma
boca que não é a minha. E isso está me corroendo por dentro, mas eu nem
pisco, vendo cada movimento que eles fazem.
Por mim, eu sairia correndo e tiraria ele de lá aos socos, mas ainda
não estou maluco a esse ponto. Só que essa queimação dentro de mim não
passa, meu rosto arde, eu sinto vontade de chorar e meu coração dói.

Eu ainda não acredito no que eu vi, e agora os dois foram para a


mesa, mas não se beijaram mais, e eu nem sei se isso é bom ou não, mas até
a hora que eles decidem ir embora, eu tomo mais três doses de whisky, e
peço a conta mais uma vez.
Eles passam pelas pessoas de mãos dadas para ir embora e eu quero
ir atrás. O que eu farei? Não sei, mas eu preciso fazer algo. Emma não pode
ir embora sem me ouvir, mesmo que eu nem saiba o que vou falar.
— Emma! — a chamo quando consigo sair, e ela já estava indo,
provavelmente, para o carro dele.
De mãos dadas.
Ela demora a virar, ele fala algo para que só ela escute, depois me
encara. Eu sustento o meu olhar, e vejo que ele some e Emma vira para
mim, me olhando com seus olhos lindos.
Porra, que inferno de mulher linda.
— O que você quer, Jacob? — Cruza os braços e vejo quando a
primeira gota de chuva cai bem em cima do seu nariz.
— Não está claro? — Chego um pouco mais perto, vendo outras gotas
começarem a cair na parte nua do seu corpo. — Eu quero você, Emma!
Ela suspira, desvia os olhos para baixo, respira fundo e pisca algumas
vezes, antes de voltar a me olhar.
— Jacob, nós já conversamos sobre isso! Eu te quero também, mas
não quero o que você tem a oferecer futuramente.
A chuva vai aumentando a cada segundo, mas nenhum de nós dois
parece se importar com isso, e eu me aproximo mais, colocando minhas
duas mãos em seu rosto, e olhando da forma mais sincera para ela.
— Eu te quero, amore. Te quero mais do que quero qualquer outra
coisa, mais do que quero comer minha massa toda semana ou correr todos
os dias…
— Não fale essas coisas, Jacob. Não seja egoísta a ponto de falar o
que sabe que quero ouvir, e no futuro me machucar. Você prometeu que me
protegeria, isso é injusto.
Colo a minha testa com a dela, já com um pouco de dificuldade de
manter os olhos abertos pelos pingos grossos e contínuos da chuva.
— Mas eu quero tudo com você! Cazzo, Emma. Eu já queria tudo
com você antes mesmo de tê-la reconhecido, eu já a queria para ser minha
na primeira vez que a vi na merda daquela cafeteria, e eu te quero a cada dia
mais do que quis no dia anterior.
A respiração dela fica pesada, e não sei se também chora ou se é
apenas a chuva molhando seu rosto.
— E você descobriu isso de uma hora para outra? Por que me viu com
outro homem?
— Não amore, eu aceitei todos os meus sentimentos quando percebi
que o vazio que ficava em minha vida, em meus dias, quando você não
estava comigo ou quando não nos falávamos. — Ela abre os lábios para
respirar, e eu aproximo os meus dos dela. — O que eu constatei hoje,
quando te vi beijando outro homem e percebi que realmente poderia te
perder para sempre, é que eu te amo, mia costellazione.
Ela arregala os olhos e acho que para de respirar por alguns segundos.
Eu não tinha planejado nada desse discurso, só deixei que a verdade saísse
da maneira mais crua.
— Você o quê?
— Eu te amo! Te amo por ser quem é, por ter sido minha amiga
mesmo eu sendo assim, por ter paciência, pelos carinhos, por ser linda, por
ter se entregado a mim… eu poderia pontuar tantas outras coisas, amore. —
Roço os meus lábios nos seus. — Eu sou todo seu há tanto tempo, que é
ridículo que eu não tenha percebido antes, é ridículo ter me prendido
naqueles motivos e ignorado o meu coração, que mesmo muito quebrado,
sempre bateu diferente quando você estava por perto.
Eu pego uma das suas mãos e coloco em cima do meu coração, que
parece uma bateria de banda de rock. Emma pega a minha mão e faz a
mesma coisa, só que em cima do seu coração.
— Eu também te amo, Jacob. Te amo do jeito mais puro que alguém
pode amar outra pessoa, e foi por isso que eu decidi ser sua amiga, porque
precisava ter a sua amizade, pelo menos.
— Fica comigo, amore. Eu procurei alguém para me ajudar a me
abrir, e cada dia da minha vida, eu me esforçarei para ser a pessoa que você
merece ter. Eu faço o que for preciso, Emma… me dá uma chance e eu
prometo que não se arrependerá.
Nossos corpos já estão completamente ensopados, e quando ela abre
um sorriso enorme, que clareia toda a rua e a minha vida, eu me abaixo um
pouco e a beijo. Abraço o seu corpo, tirando-a do chão, beijando pela
primeira vez com todo o meu coração envolvido nisso, e tentando nesse
beijo mostrá-la como tudo que falei é verdade.
Seu corpo pequeno se encaixa no meu, e eu a aperto em mim
enquanto nos beijamos com saudade, com amor e esperança de que tudo
dará certo.
Eu precisei falar alto para entender que eu a amo, e se um dia achei
que sabia o que era o amor, eu estava enganado. Nada nunca foi tão forte, e
nem fez com que eu me sentisse tão preenchido só de saber que daqui para
a frente iremos começar a caminhar juntos, lado a lado.
49

Nós pedimos um táxi e viemos para a minha casa. Manter o controle


dentro daquele carro foi uma coisa extremamente difícil para mim, e
também para a minha ruiva que ficava apertando a minha perna.
Chegamos aqui em casa, e pelo quintal já começamos a nos beijar e
nos agarrar. Agradeço pelos cachorros não terem pulado na gente, e nesse
momento eu seguro Emma pela bunda enquanto as suas pernas rodeiam a
minha cintura.
— Sua mãe deve estar acordada! — Ela afasta a sua boca da minha
para falar quando entramos. Eu tinha esquecido disso, mas vou subindo
direto para o meu quarto e nos tranco lá.
Emma sai do meu colo e nós começamos uma competição de quem
tira a roupa primeiro, e eu nunca irei me acostumar com como ela é
perfeita. Parece que seu corpo foi todo desenhado para me fazer
enlouquecer, e querer beijar cada cantinho dele.
— Eu amo tudo em você, amore — digo ao alisar a sua cintura, subo
as mãos até os seus seios, os rodeio e estimulo ambos os mamilos com
meus polegares. — Não tem nada em você que não seja perfeito para mim,
tudo é a porra da perfeição.
Emma me olha como nunca olhou antes, e eu me sinto como se fosse
a sua presa. Ela segura uma das minhas mãos, me puxa até meu closet e
depois se vira para mim.
— Abre a porta, amor.
Oh, merda! Ela não pode estar falando sério.
— Certeza?
— Jacob, eu quero tudo com você! E isso também significa descobrir
se eu gosto das coisas que você gosta, e sendo bem sincera, eu fiquei com
vontade de voltar aqui com você desde o dia que me mostrou.
Eu não perco tempo e abro a porta, aproveito e mostro para ela onde
fica o botão que é bem discreto na lateral de uma das gavetas.
Fecho por dentro, para que nenhum som saia desse ambiente, Emma
olha para algumas coisas, e já me pontua o que não poderei usar de jeito
nenhum hoje e eu só concordo.
Se ela quisesse me dominar, eu com certeza deixaria e apenas
aproveitaria a tortura antes do sexo incrível que rolaria.
Decido que irei começar pelo básico, nesse momento, entro total no
modo dominador, e Emma morde o lábio inferior ao perceber a mudança
em meu olhar.
— Deita — digo, e ela vai sem nem questionar. Eu pego a máscara do
lado da cama, e coloco em seus olhos, tapando-os. Aproveito para já
prender as suas mãos e os seus pés nos conjuntos que já ficam na cama que
por dentro são de pelúcia para não machucar.
Emma se agita um pouco, e a sua respiração mostra o quanto está
ansiosa.
Vou até onde ficam todos os chicotes, pego um que é cheio de fivelas
e também algumas camisinhas e deixo perto da cama para trocar com
facilidade.
— Hoje eu quero ouvir você berrar meu nome enquanto eu te fodo
com força — digo e ela geme baixinho.
Fico de joelho na cama, bem entre as suas pernas, e começo a passar o
chicote por seu tornozelo, subo até a sua barriga, deixando que ela anseie
por senti-lo em outros lugares.
Minha ruiva se mexe um pouco quando sente o couro das fivelas perto
dos seus seios, mas entende que não tem como se mover mais que isso. O
seu gemido alto vem assim que o chicote encontra o seu mamilo, e meu pau
pinga de tesão.
Desço o chicote pela sua barriga, bem devagar, e chego até a sua
boceta. Bato bem de leve, para que sinta as oito fivelas dele em partes
distintas, e as algemas em seu tornozelo fazem barulho quando tenta se
mexer.
Faço de novo, só que um pouco mais forte e ela geme, querendo mais.
É a porra da realização do meu sonho mais sujo, e eu bato de novo e de
novo, vendo sua boceta ficar vermelha.
Me agacho e passo a minha língua pelo meio dos seus lábios que estão
quentes, e faço movimentos circulares bem precisos em cima do seu
clitóris.
— Jacob… me fode!
— Xiii… no momento certo! — ela choraminga, mas volta a gemer
quando passo a cabeça do meu pau na sua boceta encharcada, e eu me
arrepio todo, querendo fodê-la desse jeito que está.
Me afasto antes que eu desista e a coma agora mesmo. Pego em uma
gaveta um par de grampos para os mamilos com pressão leve, que tem
vibração regulável. Volto para a cama, e já ligo os grampos no botão que
vem neles, e apenas esfrego em seus mamilos. Também pego um vibrador
que eu sei que ela gosta, e comprei exatamente para usar com ela.
— Se for demais, você me diz! — Ela só concorda entre gemidos, e
eu coloco um dos grampos e fico vendo a sua reação. Depois coloco o outro
e aumento a vibração. Emma abre a boca, surpresa pela sensação que está
sentindo e mais uma vez tenta mexer as pernas.
Já percebi que quando está excitada, tem a mania de
involuntariamente fechar as pernas.
Visto uma camisinha, e ela morde o lábio quando escuta o barulho do
plástico, sabendo o que a espera.
Vou entrando em Emma bem devagar, pego o vibrador que suga o
clitóris e o ligo em cima dele. A ruiva ergue um pouco o tronco, e geme alto
ao sentir tudo ao mesmo tempo, e eu quase desmaio quando ela aperta meu
pau com força dentro da sua boceta.
Eu começo a meter com força, sem tirar o vibrador de onde está e vê-
la assim é uma delícia, me deixa louco de tesão.
— Porra, Jacob! — xinga quando tenta soltar os braços e eu enfio com
mais força a cada estocada, vendo seus seios se movimentando e sei que a
fricção com o grampo aumenta.
As pernas dela tremem, sua boceta continua me apertando, e ela grita
quando começa a ter um squirting que me molha, mas não paro meus
movimentos nela.
— O que foi is…
— O ápice do seu prazer, mi amore!
Saio de dentro dela, solto as correntes que prendem as algemas dos
seus punhos e tornozelos, e a viro de costas. Pego um separador e a prendo
novamente nele, deixando-a com as pernas e braços presos no ferro que fica
no meio das suas costas na horizontal.
Abro as suas pernas, passo novamente o chicote pela sua boceta
sensível, mas é na bunda que eu miro para bater, e ela geme quando sente.
Não consigo mais ficar nesses joguinhos enquanto vejo a sua bunda
empinada, e sua boceta à mostra, me esperando.
Seguro em seu cabelo que ainda está molhado e me enfio fundo com
facilidade pela forma que ela está, mordo meu lábio inferior enquanto o
tesão corre pelo meu corpo.
Tiro meu pau todo para entrar mais uma vez, preenchendo todo o
espaço dentro dela, que dessa vez me aperta de propósito e vira o rosto para
que eu veja seu sorriso malicioso.
Cazzo! Que mulher incrível.
Bato na sua bunda com a minha mão, escuto ela pedindo por mais,
dou tudo de mim para que ela goze com meu pau dentro dela, depois que
isso acontece, eu saio dela, arranco a camisinha e deixo o meu gozo espirrar
em sua bunda e escorrer pela sua perna.
É uma das melhores sensações possíveis.
Respiro por alguns segundos, depois a solto e passo um pano onde a
sujei e também me limpo. Emma desaba quando tem os punhos e tornozelos
livres, e depois tira a máscara.
Ajudo ela a tirar as algemas de couro, puxando-a para sairmos desse
quarto, vamos até meu banheiro onde eu ligo a hidromassagem e ela fica
sentada na beira, mexendo na água.
— Isso foi diferente! — comenta. — Mas eu gostei! Quero saber o
que mais podemos fazer lá.
— Nós podemos conversar sobre isso, e eu te explico mais coisas.
Tudo aquilo foi o básico do básico, e eu nem tive coragem de agir como um
dominador. — Dou um beijo em seus lábios que estão inchados de tanto
que ela já mordeu.
— Então seja da próxima vez.
Entro na hidro e depois ela entra também, mas eu a puxo para sentar
em meu colo, e começo a jogar água em seus ombros, alisar seus braços e
fazer carinho pelo seu corpo.
— Vamos com calma, mi amore. Eu sei que você tem uma safada
incontrolável dentro de você, mas agora que estamos juntos teremos muito
tempo para isso.
Ela sorri, e me olha com carinho.
— Então nós estamos… ficando sério?
— Amore, eu faço 30 anos daqui a alguns meses! — Rio e ela ergue as
sobrancelhas. — Não tenho tempo para isso, eu quero que seja minha
namorada. — Beijo sua mão, e depois começo a massageá-la nos ombros.
— Me pedir em namoro enquanto está pelado, debaixo de mim e me
fazendo massagem é jogo sujo. — Rio. — Mas eu aceito tudo que você
tiver para me oferecer.
Sinto parte do meu coração se curar, como se Emma tivesse juntado
alguns caquinhos e conseguido encaixá-los com perfeição.
— Então o que eu preciso fazer para que você diga sim ao te
perguntar se moraria comigo?
Emma arregala os olhos, mas começa a rir, e eu acho que tenho
grandes chances de tê-la comigo todos os dias, dormindo e acordando ao
meu lado.
50

Eu estou namorando e nem acredito nisso! Se alguém me falasse há


anos atrás que isso tudo aconteceria, eu jamais iria acreditar e falaria que
essa pessoa é muito louca.
Já tem duas semanas desde que Jacob decidiu que iria procurar ajuda,
e também desde que começamos a namorar.
Ele está indo fielmente nas consultas, e é notável o quanto ele está se
esforçando para que realmente as coisas melhorem para ele, e eu me sinto
uma namorada muito orgulhosa.
Há duas semanas que venho descobrindo um novo Jacob. É como se
ele tivesse entrado em um modo que jamais pensei que ele possuía, e eu o
amo cada dia mais. Ele é carinhoso, romântico incorrigível, safado e um
gostoso. O que mais eu poderia querer em um homem?
Hoje é meu aniversário de 20 anos, e Jacob decidiu que faria uma
festa para mim na sua casa. Oficialmente, todos virão aqui pela primeira
vez, e ele está muito tranquilo quanto a isso. Na verdade, está até animado.
Eu fui acordada com um café da manhã maravilhoso, e depois teve
muito sexo, antes de ele deixar eu tomar banho para me arrumar e desde
então ele está lá fora arrumando tudo com a equipe que Liz indicou.
O tema será Rio de Janeiro, e eu amei. Da janela do quarto dele, ou
melhor, da janela do nosso quarto consigo ver que está tudo ficando lindo, o
buffet está repleto de comida típica de lá e o meu amore está de braços
cruzados, conferindo se tudo ficará perfeito com seu jeitinho perfeccionista
e convincente.
Falando em ser convincente, Jacob fez uma planilha com os prós e
contras de eu vir morar com ele. Na parte dos contras só tinha “não vai
transar a hora que quiser” e os prós eram tantos que eu fiquei horas rindo de
como ele é sagaz quando está querendo alguma coisa.
Não tive como falar não, sabia e ainda sei do risco de me jogar de
cabeça nisso, mas eu o amo e sei que ele realmente está disposto a fazer de
tudo para que a gente dê certo. E eu duvido que alguém recusaria um
convite desse vindo do homem mais carinhoso e prestativo que conhecesse.
As três semanas que fiquei com ele foi uma amostra do que
poderíamos ter, e na semana que vim para cá, Jacob chamou Liz e Jô e
pediu para que elas fizessem tudo que eu pedisse, queria que eu ficasse à
vontade e que a casa também tivesse a minha cara.
A casa dele é incrível, e por mim, eu não mudaria nada. Mas aquele
quarto vazio ficou estranho, e parecia errado deixá-lo daquela maneira,
então foi ali que eu fiz as mudanças e transformei o quarto que um dia foi
um tipo de altar para uma parte ruim do seu passado, em um ambiente
alegre com uma TV bem grande, sofás confortáveis, muitos jogos de
tabuleiro, vídeo game e até mesmo uma sinuca.
Antes Jacob não tinha um espaço assim porque ele não trazia ninguém
para cá, mas eu sei que adorava ficar na sala de jogos que tem na casa de
Kath e Noah, e foi isso que decidi fazer. Até um barzinho eu consegui
encaixar lá, e eu também amei e sei que eu e as meninas aproveitaremos
muito ali.
— Mi amore! — Jacob aparece no quarto enquanto eu estava distraída
pensando em tudo que aconteceu nessas duas semanas. — Os convidados
estão começando a chegar, mas agora que estou te vendo tão linda, acho que
me arrependi da festa. Era melhor ficar o dia todo aqui dentro… e dentro de
você.
Ele me abraça e beija meu pescoço. Eu rio do que fala, porque isso
com certeza não foi uma brincadeira e sim o que ele deseja.
— Teremos a noite toda para isso. — Faço carinho em seu rosto e o
beijo. — E podemos dar uma escapadinha durante a festa também.
— Entende por que eu te amo tanto? Você é a minha alma gêmea. —
Me beija de novo, e depois me solta falando que se continuar muito perto
não vai aguentar, e sai do quarto, pedindo para que eu desça. — Ah! Tem
uma surpresa chegando.
— Jacob! — grito quando ele sai, porque suas surpresas costumam ser
grandiosas demais. Eu tive que implorar para que ele não comprasse um
carro para mim, e só descobri porque Barbie é fofoqueiro demais.
Me olho no espelho, e no reflexo vejo a minha versão mais bonita e
feliz que já vi em tempos, vou até lá fora, onde já tem alguns dos nossos
amigos e vou falando com eles. Os presentes que vou ganhando são
inacreditáveis, eu tenho certeza que amarei usar cada um deles.
— Cunhadinha, buon compleanno! — Francesco me abraça forte, e
depois beija a minha bochecha. — Sabia que você um dia se tornaria minha
cunhada, acho que por isso nunca entreguei meu coração para você. Ele
seria esmagado pelo meu próprio fratello!
— Deixa de ser ridículo, Fran! E obrigada por tudo. — Ele me entrega
uma sacola de uma livraria, e dou uma espiada nos livros que tem ali
dentro. — Não teria como ter acertado mais no presente.
Eu vou até a sala e deixo todas as bolsas no sofá, volto correndo lá
para fora a tempo de ver todo mundo olhando para mim, como se
esperassem por alguma reação ou qualquer coisa de mim.
— Querida! — Meu corpo treme todo quando escuto a voz da minha
mãe, e eu já me viro na direção com meus olhos quase transbordando de
lágrimas. Minha mãe corre até mim, e eu a abraço com muita força,
escondendo meu rosto em seu peito enquanto choro e depois sinto os braços
do meu pai nos rodeando. — Que saudades, meu amor.
— Você está tão linda, filha — meu pai diz quando eu levanto meu
rosto e ele beija a minha testa, sem tirar os lábios de lá. — Que sonho poder
estar com você em seu aniversário.
Me afasto um pouco, minha mãe limpa meu rosto e passa os dedos
abaixo dos meus olhos para tirar a maquiagem que provavelmente deve ter
borrado, e eu nem me importo.
As pessoas ao nosso redor nos olham felizes, algumas contendo o
choro como Kath, mas quem eu procuro é o Jacob, porque sei que isso é
coisa dele.
— Te falei que o que é nosso, nada é capaz de tirar de nós? — mamãe
sussurra bem pertinho do meu ouvido, me dá mais um abraço e me olha nos
olhos. — Você será muito feliz com esse homem, querida. Eu sei disso
desde o dia que ele nos ligou para contar que estavam juntos e quando
decidiu que queria nos trazer para o seu aniversário.
— Eu o amo, mãe. E parece tão certo amá-lo, como se sempre
houvesse um espaço na minha vida destinado a ele.
Minha mãe sorri e depois olha por cima dos meus ombros, e se afasta
dizendo que irá cumprimentar as demais pessoas junto com meu pai, que
aperta meu ombro e vai com ela.
— Acertei? — Jacob pergunta atrás de mim, e eu viro, sentindo meu
coração querer explodir a qualquer momento de tanto amor. — E prometo
que isso aqui é o último dos presentes. — Ele me entrega uma sacola
pequena, e dentro tem a caixa do Kindle mais recente que foi lançado até
agora.
— Você acerta em tudo que faz, amor. — O abraço pelo pescoço, e
fico na ponta dos pés para beijá-lo. — Você é um sonho realizado — repito
as palavras que ele sempre diz para mim.
— Tudo por você, mi amore. Essa é a minha maior promessa!
Nós nos juntamos com os demais convidados para curtir a festa, e eu
me acabo com a caipirinha que todo mundo bebe, aproveitamos para
relembrar o carnaval incrível que tivemos, que foi quando eu e Jacob
ficamos a primeira vez e também me acabo na feijoada.
Quando eu me sento um pouco afastada de todos, para descansar os
meus pés. Vejo que aqui tem todas as pessoas que eu quero levar para
sempre em minha vida, até mesmo a Bella e os amigos de Francesco que eu
conheço há pouco tempo, mas sei que são boas pessoas. É felicidade demais
para uma pessoa, mas aceitarei de bom grado tudo de bom que a vida tem
me dado depois de tantos momentos difíceis.

A festa foi incrível, consegui convencer meus pais de ficarem aqui em


casa ao invés de um hotel, e Jacob foi mais uma vez incrível. Arrumou tudo
para que eles ficassem bem confortáveis, agora estamos deitados na cama,
depois de transarmos no cantinho onde tudo acontece, e hoje eu até
amarrada fui.
Jacob é um excelente professor, e tudo que fizemos até agora eu
adorei, o que o deixa muito animado a me ensinar ainda mais coisas. E é um
choque entre dois mundos: ele todo dominador lá dentro, e depois quando
saímos é carinhoso, tomamos banho juntos, me faz massagem e me enche
de amor.
— Amor, tem uma coisa sobre mim que eu não te contei.
Termino de vestir minha camisola, e me sento do lado dele na cama,
que me olha com muita atenção e até mesmo preocupação.
— Eu descobri há pouco tempo que sou uma pessoa demissexual.
Ele tira os óculos, abaixa o seu Kindle e ergue uma sobrancelha.
— Desculpa amore, mas não sei o que isso significa.
— Eu sou uma pessoa que só consigo me sentir atraída sexualmente
por outra pessoa quando já tenho alguma conexão emocional com ela,
independe do sexo dela. — Fico olhando atenta para o seu rosto para ver
como reagirá.
Jacob me puxa para ficar perto dele, e me dá alguns beijinhos pelo
rosto.
— Então eu sou ainda mais sortudo do que imaginava, já que temos
uma conexão desde que você era apenas um monte de cabelo ruivo
correndo pela mansão, e depois que nos reencontramos e passamos da fase
que parecia que eu ia te matar apenas com o olhar, viramos amigos e
evoluímos isso muito bem. — Me rouba um selinho. — Eu fico muito feliz
que você tenha se descoberto, mi amore. É importante saber quem
realmente somos, e eu te amo ainda mais.
Eu fiquei com receio de talvez ele reagir mal, nunca sabemos como
outra pessoa irá receber esse tipo de informação, mas o Jacob é uma pessoa
incrível, e claro que me deixaria confortável em relação a isso.
51

— Mamma, eu virei aqui todos os dias! — digo, sentindo meu coração


ficar apertado, mas sei que ficar na clínica, que a futura funcionária da
reabilitação do Barbie trabalha, é o melhor para ela. E assim que a Nós
estiver funcionando ela será transferida para lá.
— Não faça isso, figlio. Venha nos meus dias bons e traga a minha
nora! — Ela sorri e beija meu rosto mais uma vez. — Eu prometo que dessa
vez dará certo e eu finalmente serei a mamma que você e seu fratello
merecem ter.
Francesco funga bem nessa hora, e eu preciso me segurar para não
chorar também. Por mais que seja o melhor para ela, nós sabemos o quanto
tudo será difícil, e é horrível pensar nisso.
Mas é o melhor para ela, e é nessa ideia que nos agarramos.
Infelizmente, ficar em casa não é seguro para ela em muitos níveis, e
estávamos com medo de um dia chegar em casa e nos depararmos com o
pior.
A funcionária da clínica leva ela para o seu quarto, e nós vamos
embora.
Deixo o meu irmão na frente do seu apartamento, e depois vou para
casa buscar a minha ruiva para irmos até o Barbie.
Estaciono meu carro dentro da garagem,e quando eu olho a minha
moto tenho uma ideia.
— Amore, que tal um passeio de moto? Você disse que queria treinar
mais, e eu conheço um lugar que é deserto o suficiente para ninguém sair
ferido. — Ela ri e se anima, dando alguns pulinhos.
Emma que antes tinha medo de moto, agora quer aprender a pilotar, na
verdade, ela e a Bella, nossa vizinha que virou uma nova amiga para ela,
tem treinado aqui no condomínio, e só fico tranquilo porque a Bella pilota.
Até umas jaquetas de couro minha ruivinha já comprou, alegando
que todo motoqueiro que se preze tem que ter algumas jaquetas em seu
armário.
Nós montamos na moto e eu piloto até um campo que sempre fica
vazio no domingo, vamos para a parte mais distante dele, onde tem algumas
árvores, eu saio de cima da moto e mais uma vez mostro a ela quais são os
botões certos, o momento de acelerar, as funções do pedal e ela fica atenta
ouvindo.
Me afasto e peço para que ela vá para o lado contrário das árvores, e a
ruiva faz o percurso direitinho, um pouco devagar demais até para quem
está aprendendo, mas é melhor assim do que acabarmos tendo que ir para o
hospital.
Depois que ela cansa, totalmente alegre por ter conseguido dar várias
voltas sem muita dificuldade, me entrega a moto e eu paro de baixo da
árvore, na sombra.
— Vem cá, mia costellazione — chamo para que se sente de frente
para mim na moto, como sempre fazemos e ela me olha com um sorriso
malicioso. Lá vem!
Emma que está com uma saia soltinha, simplesmente tira a calcinha e
coloca em seu decote. Ela olha ao redor, rindo sozinha e garantindo que
ninguém nos pegará aqui. Com sorte as árvores irão nos esconder, mas eu
nem me importo mais com isso quando ela pede para que eu abaixe minha
bermuda e cueca.
Claro que eu faço, ela vem por cima depois que garanto que não
iremos cair da moto, me beija enquanto sua mão vai direto para o meu pau e
começa a me masturbar.
— Se for demais para você é só falar que eu paro — a safada repete a
frase que sempre digo quando estamos fazendo algo diferente, e isso me
excita. Eu tento pegar a minha carteira para por a camisinha, mas ela segura
a minha mão e coloca em cima do seu seio. — Não precisamos dela, amor.
Já vi seus exames, e eu tomo remédio.
Não preciso ouvir mais nada para suspendê-la o suficiente para que
possa encaixar a cabeça do meu pau na sua boceta, e ela desliza devagar.
Aproveitando a sensação de sentir direto na pele e eu juro que é impossível
algo ser mais gostoso que isso.
Emma começa a subir e descer, e eu estoco de baixo para cima, indo
contra os movimentos dela, deixando tudo mais intenso. Minha ruiva geme
enquanto se apoia em meus ombros para conseguir sentar com força e eu a
beijo.
Aperto a sua bunda com força, e deixo que um dos meus dedos vá até
o meio da sua bunda, eu começo a alisar o seu cu. Ainda não chegamos a
fazer sexo anal, mas Emma gosta de ser estimulada lá, e eu fico louco
quando ela geme mais alto ao sentir meu dedo.
Tiro nós dois de cima da moto, e faço com que ela deite o tronco nela,
e a coloco de quatro. Antes que eu consiga fazer qualquer coisa, ela mesmo
empurra a boceta em meu pau e engole ele todinho, eu deixo que ela me
coma. Apenas me posiciono melhor, e assisto essa bunda gostosa bater em
mim toda vez que ela vem com força.
Seguro em sua cintura quando ela vai perdendo a força e dessa vez
sou eu quem estoco, ouvindo o barulho alto que nossos corpos fazem pelo
impacto e as minhas bolas pesam, querendo gozar.
A ruivinha começa a se tocar, e logo depois agarra o estofado da moto
com vontade e geme alto ao deixar que seu corpo relaxe e goze no meu pau,
deixando ainda mais quente do que já estava.
Eu dou mais umas estocadas fortes, e me mantenho dentro dela
enquanto meu pau goza forte dentro dela, e é bom pra caralho fazer isso.
Nós nos vestimos depois de termos recuperado a força e ela ri,
mordendo o lábio inferior e me beija antes de sairmos dali.
— Você é muito gostoso, amor. Então talvez a gente precise transar no
lugar que estivermos, independente de onde seja para matar a vontade —
sussurra em meu ouvido depois de subir na garupa. — E essa semana
pensei em te visitar na empresa… — Cazzo! Meu pau fica duro novamente
só de imaginar ela toda aberta em cima da minha mesa, enquanto eu chupo
sua boceta gostosa.
Emma mostra animada para as meninas a aliança que eu dei para ela.
Ainda é apenas de compromisso, mas se dependesse de mim eu já teria a
pedido em casamento, mas não quero que ela se assuste e acabe fugindo de
mim.
Eu não suportaria isso.
— Vou amar passar esse mês todinho com a sua moto. — Noah pega a
chave da minha preciosa Harley, e me lembra da aposta que fizemos meses
atrás. — Aposta é aposta, e além de estar namorando, você também está
morando junto com a Emma. Deveria ficar com a moto por mais um mês só
por causa disso.
— Nem fudendo! — digo e todo mundo ri. — Mas a realidade é que
eu fui arrebatado mesmo, e entendo o porquê de vocês serem como são com
as meninas! Porra, eu faria qualquer coisa pela Emma. Nada é mais
importante do que ela, e isso me assusta às vezes.
Justin sorri, e passa um braço pelo meu ombro.
— Querido, eu estou há muitos anos com a Liz e isso me assusta até
hoje. — Noah cruza os braços, olhando com carinho para o pai que fala
com tanto amor da sua mãe. — E amar é isso, nós sempre seremos reféns
daquelas mulheres e essa é uma das melhores partes. Eu sinto, mesmo
depois de anos, a ansiedade por vê-la ao chegar em casa, é sempre um
choque ver como é tão linda, bondosa e generosa.
— E parece que cada dia amamos ainda mais — Barbie completa, e os
outros dois concordam. — Bem-vindo ao clube, italianinho. Comer na mão
da sua mulher é a coisa mais natural para o homem apaixonado.
Justin dá uns tapinhas em minhas costas, e aproveita para ir até as
meninas e oferecer mais bebida para elas.
— Jacob, já viu isso? — Francesco me mostra o seu celular, com cara
de quem viu algo inacreditável.
Eu pego o aparelho, e vejo que é uma notícia do jornal mais famoso
da Itália, e o anúncio diz: Enrico Vacchiano, um dos homens mais ricos da
Itália é preso tentando fugir do país após ter o vazamento de vários
documentos que provam, além de sonegação de impostos, plantação de
cocaína e tráfico de órgãos, o empresário também foi culpado por ser
mandante de alguns assassinatos.
Ótimo, isso significa que tudo deu certo. Já tem algum tempo que eu
estou correndo atrás de conseguir provas concretas para denunciá-lo, e há
uma semana havia pedido para enviarem todos os arquivos para que ele
fosse preso. Eu me sinto realizado por ler isso.
— Não me surpreende, Fran.
— Você sabia disso? — ele me pergunta e eu faço que não. É mentira,
e eu odeio mentir, mas não quero que saibam que fui eu quem ferrei com a
vida dele e depois acharem que foi uma vingança pela Sophie, eu só quero
que ele tenha o que merece. — Que loucura! — Ele pega o celular, balança
a cabeça em choque, mas depois dá de ombros e volta a beber.
Tudo foi muito bem planejado, e Sophie e o Matteo não ficarão
desamparados. Tem uma pessoa do meio de confiança do Enrico que eu
consegui subornar, ele fez com que o pappa assinasse alguns documentos
sem nem ler, e a agora a mansão e outros imóveis são da Sophie, e o
vinhedo é do meu fratello mais novo. Ele é uma criança e não tem culpa de
ser filho de um homem como o Enrico, mas ele terá uma boa vida, e se for
inteligente, cuidará muito bem do vinhedo e poderá ser um homem muito
bem-sucedido.
Ninguém dá muita ideia para esse assunto porque eu e o Fran
realmente não nos preocupamos com o bem-estar dele, e por conta disso o
dia continua alegre e divertido, como deveria ser.
Eu olho para a minha ruiva de longe, e fico sorrindo sozinho. É
surreal como eu a amo com todo o meu ser, e ter sido atingido por esse
Tsunami que mudou a minha vida para sempre, foi um dos melhores
acontecimentos da minha vida… até agora!
Nós já estamos há horas aqui na casa do Barbie, e quando todos
decidem começar a se despedir para ir embora, B aparece onde estamos, e
seu jeito preocupado assusta a todos nós, que perguntamos o que houve.
— Barbie — ele fala direto com nosso amigo, que parece saber
exatamente o que ele vai falar e engole em seco. — É a Laura! Eu a vi
falando com um homem que deu um saco com droga para ela, e agora ela
não me responde e nem atende na sua casa.
Eu vejo a hora que meu amigo perde a cor, mas sai correndo até o
carro, e todos nós vamos juntos, até porque somos uma família e ficamos
juntos em todas as merdas que acontecem.
Meses depois.

Não faz sentido nenhum as pessoas desse país gostarem desta estação
do ano. Como alguém é feliz vivendo no Rio de Janeiro com um verão que
marca 45 graus? Para mim, isso não tem nenhum sentido.
Quando eu contei para Emma que viríamos para o Brasil para a
inauguração do restaurante dos seus pais, ela ficou superanimada, e me
avisou que já estaríamos no auge do verão.
Por sorte o restaurante é muito bem climatizado, e em falar nele, uau.
A empresa responsável pela decoração foi impecável e deixou do jeitinho
que Owen e Helena queriam, e pessoalmente está ainda mais bonito do que
pelas fotos.
Hoje a inauguração é apenas para convidados, um coquetel. E amanhã
as portas estarão abertas para todos os públicos. Eu paguei uma agência de
marketing e publicidade para divulgar muito bem, cuidar das redes socais
do restaurante, e eles até mesmo colocaram anúncios em rádio, que ainda é
muito utilizado no Brasil, e também foram convidados vários blogueiros
hoje para divulgar.
Kath e Noah vieram, e trouxeram a Milla que estava doida para
conhecer de onde a tia Emma tanto fala. E sem dúvidas, Kath está
empenhada em mostrar o restaurante para seus seguidores de NY, ela é
muito boa no que faz, então eu não duvido que quando os seus seguidores
vierem até o Rio de Janeiro com certeza virão aqui.
O restaurante, que ainda não tinha nome até o aniversário de Emma,
se chamará Costellazione. Os pais dela me ouviram chamando-a assim, e
disseram que não teria nome mais perfeito para ser o lugar que eles
trabalharão todos os dias.
— Está tão lindo, mãe! — Emma diz, toda emocionada em ver o
sonho dos seus pais ser realizado. — Vocês terão muito sucesso, eu tenho
certeza disso.
Deixo as duas para que tenham seu momento, e dou uma olhada pela
parte externa do restaurante que ainda não tinha visto, e encontro o
Eduardo, primo da Emma.
— E aí, irmão — fala em inglês, mas cheio de sotaque brasileiro, e eu
o cumprimento. — Tudo certo para mais tarde, né?
— Opa, claro! Vamos esperar quando as demais pessoas forem
embora e ficar só a família e amigos mesmo.
Ele concorda, e nós começamos a conversar. O parabenizo por ter
conseguido se tornar delegado depois de tanto tempo estudando e se
esforçando para conseguir, ele é um homem bom e parece que realmente
tem a intenção de melhorar as coisas por aqui, neste lugar tão lindo, mas
que tem muito perigo.
As horas vão se passando, e o nervosismo que eu não estava antes
bateu com tudo, mas eu tento me manter minimamente calmo e abraço a
minha namorada por trás enquanto ela toma um drink e conversa com
algumas meninas que não conheço, mas me apresento.
O momento de discurso dos seus pais começa, e todo mundo fica
ansioso para ouvi-los, mas Helena começa a chorar e não consegue dar
início, por isso Owen toma a sua vez.
— Como podem ver, estamos muito emocionados com tudo. —
Aponta para a esposa e todos riem, mas de um jeito carinhoso e não
caçoando dela. — Eu tenho que começar agradecendo a cada um de vocês
por estarem aqui, e agora que só ficaram a família e amigos, nos sentimos à
vontade para dizer que cada um de vocês, de alguma forma contribuiu para
que isso acontecesse. — Vejo Emma traduzir baixinho para Kath e Noah
que chegam ao nosso lado, mas sem tirar os olhos dos pais. — O nome
Costellazione é uma homenagem a nossa filha, que mesmo longe sempre
estará presente em nossos corações e pensamentos. — Emma joga um beijo
para os pais, toda chorosa. — O restaurante é um sonho que vínhamos
nutrindo desde que eu e Helena nos conhecemos, e trabalhávamos em uma
casa na Itália, ela como cozinheira e eu como motorista. Lá conhecemos um
garotinho muito especial, e vimos crescer até certa idade, anos depois ele
voltou para as nossas vidas de uma maneira muito inesperada, e é a você,
Jacob, que devemos o nosso maior obrigado e gratidão eterna.
Cazzo! Eles não podem me fazer chorar.
— Além de ser a parte crucial para que o nosso sonho se realizasse,
você agora também é da família, e cuida da nossa filha com todo seu
coração que sempre foi bondoso. — Owen respira fundo, porque sabe o que
acontecerá assim que me passar o microfone. — Nós te amamos desde que
era uma criança, e saber que é você quem realizará também os sonhos da
minha filha, é algo que dinheiro nenhum paga. Venha aqui filho, por favor.
Eu vou, mas levo Emma comigo, e ela vai toda boba. Abraço Owen,
que me deseja sorte baixinho, e depois beijo a testa da Helena.
— Poucas pessoas aqui me conhecem, mas sei que cada uma de vocês
tem um carinho especial pela Emma e foi por isso que eu aproveitei essa
oportunidade única de estarem todos juntos para… — Emma me olha, sem
ter noção do que irei fazer. Eu tiro de dentro do paletó uma caixinha, e a
abro antes de me ajoelhar, minha ruiva coloca as duas mãos na boca e
arregala os olhos.
— Jacob… — sussurra.
— Amore, eu aprendi com um casal de amigos. — Olho para Kath e
Noah, que estão de mãos dadas com a Milla no meio deles. — Que essa
coisa de um mínimo de tempo para casar, ou namorar é algo que não vale
de nada quando já sabemos em nosso coração que amamos a pessoa mais
que tudo, e eu sabia que você seria a mulher da minha vida desde o
momento em que acordei para a vida e entendi que já te amava muito antes
de ter te dado o nosso primeiro beijo aqui, meses atrás. — A ruiva chora,
mas o seu sorriso lindo não sai do rosto. — Eu viveria tudo novamente se
no meio do caminho te encontrasse, eu não mudaria nada em minha vida se
soubesse que essa tal mudança tiraria você do meu destino. Te amo tanto
que às vezes me sufoco sozinho imaginando: e se eu não for suficiente para
ela? E se eu ainda não conseguir ser quem ela merece ter? Mas eu não
posso deixar de te perguntar se você aceita se casar comigo, e continuar
nessa jornada juntos, lado a lado, passando por tudo que tivermos que
passar, e podendo contar com o outro para tudo?
— Eu não poderia falar nada diferente de sim, amor. — Eu me levanto
para abraçá-la e todo mundo bate palma. Coloco a sua aliança nova em seu
dedo, e ela coloca a minha no meu. — Juntos nós somos invencíveis, Jacob.
E tudo que você fez e faz por mim é muito mais do que eu poderia sonhar.
— Eu te amo, mi amore. — Encho-a de beijos e todo mundo continua
gritando. — Você tem o poder de curar todas as minhas cicatrizes, e aliviar
as dores que ainda trago comigo. É o meu sonho realizado!
8 anos depois.
Hoje é a festa para comemorarmos que a minha esposa é
oficialmente uma neurocirurgiã. Depois de muitos anos, de muito estudo,
várias noites mal dormidas, e a residência que a deixou louca, Emma
conseguiu finalizar a sua especialização e trabalhar no melhor e mais
renomado hospital de NYC.
Mi amore teve que pausar os estudos por um ano, porque
engravidou e era uma gravidez de risco. Tudo deu certo, mas passamos
muitas noites acordados com medo de que algo acontecesse enquanto
dormíamos, e por isso ela achou melhor se afastar para garantir a saúde do
bebê.
Eu iria apoiá-la na decisão que tomasse, e nesse um ano também
fiquei trabalhando de casa e ia apenas uma vez na empresa para resolver
algumas coisas que realmente só poderiam ser resolvidas por lá.
Mas tudo deu certo, e agora o Brandon é um garotinho muito alegre,
que adora brincar com nossos cachorros e comer macarrão cheio de molho.
Às vezes, eu converso com ele e nem acredito que essa criança ainda fará 4
anos, pois é inteligente demais para a minha sanidade.
E ele já foi promovido a irmão mais velho! Emma está grávida
novamente, na verdade, já está com nove meses e resolvemos fazer essa
comemoração aqui em casa, exatamente por conta que a barriga de gêmeos
cansa demais a minha esposa para ir a qualquer lugar. Eu nem sei como ela
ainda trabalhou até duas semanas atrás.
— Por que mesmo é a mulher que tem que carregar as crianças? Não
poderia ser igual aos cavalos-marinhos? — resmunga com a mão na
lombar, se arrastando até a parte de fora da nossa nova casa.
Depois do Brandon, decidimos nos mudar e por sorte a casa do outro
lado da de Noah e Kath foi colocada à venda, e nós compramos. A obra
durou cinco meses, depois foram mais dois meses com a Liz e Jô
decorando, mas valeu a pena cada centavo e tempo investido. Além de ser
vizinho dos meus dois melhores amigos, o condomínio é incrível e tem
várias opções de recreação para as crianças. E foi em um dia desses que a
Milla buscou o Brandon para uma festinha de outra criança aqui do
condomínio que eu e Emma fizemos as meninas.
A minha mamma passa por nós, depois de ter levado a comida lá para
fora e faz um carinho na barriga da Emma. A reabilitação Nós fez muito
bem para ela, e agora minha mamma é uma outra mulher. Trabalha, mora
em um bom apartamento e já tem anos que não tem mais problemas com
seu vício. Foi tudo difícil, mas valeu muito a pena e ela continua sendo
acompanhada por psicólogos até hoje.
— Mamãe, por que você não colocou a semente na barriga do papai
então? — Essa criança que é a minha cara, faz umas perguntas que não
temos noção de onde ele tira. — Papai é mais forte!
O pego rápido, colocando-o em meus ombros e ele ri.
— Você é tão corajoso em falar isso para uma mulher, ainda mais uma
grávida. Mas vai entender quando for adulto que não se deve falar isso.
Emma olha para ele em cima dos meus ombros e respira fundo.
— Sua sorte é que eu te amo, garotinho! — Ele ri, sem entender nada
do que estamos falando. — Mas explicando a sua pergunta, só a barriga das
mamães que podem receber essa sementinha.
Nossos amigos chegam todos juntos nesse exato momento, e vem
entrando para os fundos, onde estamos e todos vão até a Emma para
parabenizá-la, e Brandon fica nervoso para sair de cima de mim e ir brincar
com as crianças que chegaram. Nós sem dúvidas somos uma família que
gosta de crescer, e eu vivo confundindo o nome dessa criançada, seria mais
fácil colocar um crachá em cada uma delas.
— Como está se sentindo, amiga? — Olívia pergunta para Emma, mas
vem até mim me dar um beijo na bochecha e volta a sua atenção para a
amiga. — Por Deus, como elas mexem. — A mulher de Barbie nem precisa
encostar na barriga da minha esposa para ver como as meninas mexem
muito.
— Torcendo para que elas queiram se mexer aqui fora! — resmunga e
senta na cadeira, fazendo uma cara feia e colocando a mão na parte baixa da
barriga. Olho para ela, preocupado, mas ela me tranquiliza falando que está
tudo bem.
— Aproveite enquanto é só um para cuidar, Em. — Kath senta ao lado
dela. — Adam e Milla tem dias que parecem que se juntam em um complô
contra mim, cada um do seu jeito. E para piorar, se o tio deles estiver lá. —
Aponta com o queixo para Barbie. — Eles colocam a culpa nele, e ele
sempre defende aqueles dois. Sério, ainda irei afogar esse loiro na piscina.
De todos os tios, até os mais novos, Barbie é o pior.
— Eu sou o melhor tio para eles! — Barbie afirma. — Não tenho
culpa se algumas coisas fogem da minha jurisdição e sobre para você.
Ela ri e revira os olhos para ele.
— Mas saiba que o Barbie vai estar aqui sempre que precisar — diz
baixinho, para ele não ouvir, e se achar ainda mais. — Só eu sei quantas
vezes ele ficou olhando as crianças para que eu pudesse dormir algumas
horas.
É claro que eu e Emma sabemos que com três crianças tudo será uma
loucura, e novamente irei me afastar da empresa para poder cuidar
integralmente delas. Emma não deve demorar a voltar para o hospital, e eu
consigo resolver as coisas de casa. Eu quero muito que ela atinja o patamar
desejado como cirurgiã, e há anos eu disse que estaria com ela para tudo. E
sendo bem sincero, é meio ridículo isso de sempre a mãe ter que abrir mão
das coisas para cuidar dos filhos, como se seus empregos fossem menos
importantes do que dos seus maridos.
E quero que ela seja feliz! E ser mãe e cirurgiã é o que a deixa
completamente feliz e realizada, então eu farei de tudo para que as coisas
deem certo.
As crianças foram todas para o quarto de brinquedos do Brandon, e
nós ficamos ouvindo só a gritaria delas e a Milla pedindo para que elas não
façam muita bagunça. Ela já é uma adolescente, mas ama os nossos filhos
como se fossem seus irmãos, e vive brincando com eles e ajudando a
manter o controle.
Nós aproveitamos para conversar sem nos preocupar em nenhuma
criança escutar o que não deve, e relembramos os velhos tempos. Os dois
anos que mudaram a vida de todos nós, quando os casais foram se
formando.
— Jake, ainda lembro que antes de ficarmos você tinha a mania de me
levar para o canto e implorar para que eu parasse de implicar — Emma fala
e ri, bem nostálgica. — E pior que eu nem fazia de propósito… pelo menos
não naquela época.
— Ah, eu lembro disso! Morria de curiosidade para saber porque ele
fazia isso toda hora — Barbie diz e eu rio.
Eu lembro daquela época como se fosse hoje e quase consigo sentir
em meus lábios o nosso beijo na chuva quando eu finalmente assumi que a
amava.
— Na verdade, eu te levava para o canto querendo que você me
beijasse do nada! Aí eu poderia colocar a culpa em você, mas nunca fez tal
coisa e eu ficava ainda mais louco.
Todo mundo ri alto disso, e ela me olha cheia de amor, e eu vou até
ela para dar um selinho, mas ela reclama de dor na hora em que eu me
afasto e todo mundo já olha assustado.
— Amore…
— Ai! — reclama novamente, e sua respiração começa a ficar
descontrolada. — Jake, acho que as meninas vão nascer.
Eu estive me preparando há meses, mas na hora é sempre um
nervosismo sem igual. Minha sorte é que meus amigos conseguem pensar
rápido, e nos dividimos entre ficar com as crianças e ir para o hospital em
um carro só.
Noah, Kath e Olívia ficaram. Barbie, minha mamma e Francesco
vieram com a gente, e é meu fratello quem dirige o carro.
Nós entramos e a bolsa dela já estourou. Como ela quer ter uma
recuperação rápida, o parto das duas também será normal, igual ao do
Brandon, e a enfermeira já leva ela para a sala e eu fico na de espera com os
meninos que me tranquilizam o tempo todo.
Eu sabia que não deveria ter pesquisado por complicações em parto
normal de gêmeos, agora a minha cabeça só foca nessas merdas, e com todo
o café que estou tomando da máquina, a ansiedade só vai aumentando.
Sempre que passa alguém no corredor, eu acho que é o médico para
anunciar que algo aconteceu. Eu sempre acho que algo irá acontecer, mas
depois de mais de duas horas, ele aparece sorrindo e pede para que eu
coloque a roupa esterilizada para conhecer as minhas filhas.
Fran e Barbie me abraçam e comemoram por mim, falando que irão
esperar até a hora de poder vê-las também. Minha mamma aperta forte a
minha mão e diz para que eu vá, antes que ela acabe indo na frente para
conhecer as suas netinhas.
Entro na sala onde ela está, já estou com a roupa que o enfermeiro me
ajudou a colocar, e a minha ruiva está com as duas crianças em seu colo, e
os olhos vermelhos de tanto chorar.
Eu choro só de vê-las, e quando minha esposa sorri para mim, como
se dissesse que conseguimos, eu choro mais e beijo o alto da sua cabeça.
Nossas filhas são lindas, mesmo sujas. As duas são cabeludas, seus cabelos
são ruivos como o da mãe, e já conseguimos notar que a personalidade de
cada uma será diferente da outra.
— Essa é Giulia — Emma fala para a que está dormindo, com um
sorrisinho no rosto. — E essa é a Geovanna. — Que já está chorando e
fazendo uma careta, como se não quisesse ter saído de dentro da barriga da
mãe.
— Oi, minhas vidas! O pappa aqui ama vocês, e saibam que terão a
melhor mamma desse mundo inteirinho. — Geo para de chorar, e dá um
sorrisinho ao ouvir a minha voz. Emma chora mais uma vez e eu beijo seus
lábios. — Eu te amo, mi amore. Obrigado por nunca ter desistido de mim e
ter me presenteado com a famiglia dos meus sonhos.

FIM
Finalizamos mais uma história juntos! E eu espero que a experiência
tenha sido ao menos divertida. Já vou pedir que não esqueçam de avaliar na
Amazon e no Skoob, isso me ajuda muito e faz com que os meus livros
cheguem em mais pessoas e talvez assim a trilogia Opostos ganhe o coração
de mais leitores.

Quero lembrá-los que os 150 primeiros que avaliarem na Amazon,


ganharão vários brindes. Para saber melhor como funciona, é só ir no meu
Instagram e lá terá um post explicando tudo.
Esse agradecimento é um dos mais especiais que eu farei até agora.
Ruined foi um livro difícil, que me deixou noites sem dormir e insegura a
cada página que eu escrevia. Eu sei que esse livro foi muito esperado e
desejado por quase todas as minhas leitoras, até porque, quem não gosta de
um personagem com passado misterioso, né? E se querem saber, o Jacob é o
meu personagem preferido da trilogia, então acho que isso dificultou ainda
mais as coisas para mim.

Eu espero de coração que o livro tenha alcançado as expectativas de


vocês, ou até mesmo superado. Tudo foi feito com muito carinho, iguais aos
anteriores.
Vou começar a agradecer a Evelyn Fernandes, minha revisora, amiga,
beta, leitora crítica, sensível e tudo mais que ela é. Ganhei uma amiga para
a vida toda na época de Mistaken e sou tão grata a tudo que poderia
escrever páginas só agradecendo por tudo.
Agradeço a todas as meninas do Kalovers, vocês são sensacionais e
sei que poderei contar sempre com o apoio de vocês! Obrigada por me
defenderem, me aguentarem e por não reclamarem das minhas fotos quase
diárias com o copinho de cerveja. Cada uma de vocês tem um espaço
especial em meu coração.
Aos meus leitores em geral também! Obrigada por darem uma chance
aos meus livros, eu amo cada surto que recebo na dm.
E por último, mas não menos importante, quero agradecer as minhas
betas. Em especial, Bru, Duda, Lu e Isah. Vocês foram geniais e toda a
ajuda foi importantíssima para a história.
Ah, antes que eu me esqueça… Lembra que no final de Betrayed o
Jacob diz que tem um segredo para contar para o Barbie? O segredo é que
foi o Jacob quem denunciou tudo sobre o Enrico, mas ele não contou para
ninguém, além do seu amigo, mas anos depois. E talvez a gente veja mais
desdobramentos disso em um livro futuro.
E para finalizar, quero deixar claro que ainda não é um adeus para a
Trilogia Opostos. Nos veremos muito em breve no primeiro Spin-off.
Com amor, K.A PEIXOTO.

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