Você está na página 1de 740

Capa

Almeidaadesigner
Diagramação
Katherine Salles

Revisão e Preparação de Texto


Ana Roen

Livro Digital
1ª Edição

Aline Damasceno

Todos os direitos reservados © Aline Damasceno.


É proibido o armazenamento ou a reprodução de qualquer parte

desta obra, qualquer que seja a forma utilizada – tangível ou intangível,

incluindo fotocópia – sem autorização por escrito da autora.

Esta é uma obra de ficção. Nomes de pessoas, acontecimentos e

locais que existam ou que tenham verdadeiramente existido em algum


período da história foram usados para ambientar o enredo. Qualquer

semelhança com a realidade terá sido mera coincidência.


Me siga no Instagram

https://www.instagram.com/autoraalinedamasceno/
Nota:
Apesar de ser um livro independente, com início, meio e fim, A

babá dos Gêmeos do Milionário contém pequenos spoilers do casal


Riccardo e Juliana. Caso você goste de ler tudo em sequência, baixe aqui O

Bebê Desconhecido do Bilionário: https://a.co/d/fGvEpIQ

Caso você não se incomode com isso, pode prosseguir a leitura sem
medo. Você não precisa ler o outro livro para entender esse.

Atenção: abordo, de forma leve, narcisismo e abandono


parental durante a história.

Não prossiga a leitura se se sentir desconfortável com os temas.


Sinopse:
Quando o milionário Edgar Pratt conhece Thais, a melhor amiga da

esposa do melhor amigo dele, não imaginava que a atração seria instantânea
e muito menos que ela cativaria seus irmãos gêmeos de imediato.

O CEO fez de tudo para suprimir o desejo que sentia por ela, afinal,

envolvimento romântico não estava nos seus planos, muito menos com uma
garota que sonha com um príncipe encantado.
Edgar tinha duas crianças abandonadas pela mãe sob sua

responsabilidade, além de um cachorro bagunceiro e várias empresas para

administrar, não tinha tempo nem interesse em se envolver com ninguém. O


que o milionário não esperava era que ele acabaria oferecendo abrigo para

Thais em sua casa depois que ela teve uma discussão com o pai dela, e
acabou a contratando para ser a babá dos gêmeos, e que com a convivência

a paixão à primeira vista se tornaria algo muito mais forte.


A whole new world

A dazzling place I never knew


But when I'm away up here

It's crystal clear


That now I'm in a whole new world with you

Now I'm in a whole new world with you

A whole new word – Peabo Bryson e

Regina Belle[1]
Índice
Nota
Sinopse
Cinco meses antes…
Capítulo um
Capítulo dois
Capítulo três
Capítulo quatro
Capítulo cinco
Capítulo seis
Capítulo sete
Capítulo oito
Capítulo nove
Capítulo dez
Capítulo onze
Capítulo doze
Capítulo treze
Capítulo quatorze
Capítulo quinze
Capítulo dezesseis
Capítulo dezessete
Capítulo dezoito
Capítulo dezenove
Capítulo vinte
Capítulo vinte e um
Capítulo vinte e dois
Capítulo vinte e três
Capítulo vinte e quatro
Capítulo vinte e cinco
Capítulo vinte e seis
Capítulo vinte e sete
Capítulo vinte e oito
Capítulo vinte e nove
Capítulo trinta
Capítulo trinta e um
Capítulo trinta e dois
Capítulo trinta e três
Capítulo trinta e quatro
Capítulo trinta e cinco
Capítulo trinta e seis
Capítulo trinta e sete
Capítulo trinta e oito
Capítulo trinta e nove
Capítulo quarenta
Capítulo quarenta e um
Capítulo quarenta e dois
Capítulo quarenta e três
Capítulo quarenta e quatro
Capítulo quarenta e cinco
Epílogo
Leia também
Agradecimentos
Cinco meses antes…

— Acho que a gata desistiu de você — brinquei, levando a minha


garrafa de refrigerante aos lábios enquanto vigiava os gêmeos e Batata que,

assim que chegaram à mansão do meu melhor amigo, entraram na piscina.


— Pensando bem, quem iria querer se amarrar a um idiota como você?

— Você tem vários negócios comigo, Edgar — grunhiu, irritado, ao

passar a mão pelos cabelos.


Gargalhei.

— Nossa relação é diferente — continuei, querendo provocá-lo

ainda mais. —Se eu quiser, coloco um fim na nossa parceria.


— Fique à vontade então, Edgar — murmurou, e eu senti o olhar

dele pousado sobre mim. — Quando eu recebo os documentos de rescisão?


Em uma semana?

Fiz uma careta desgostosa.

Quando eu não respondi, Riccardo riu da minha cara.

— Você me ama, caralho! —debochou.

— Na sua imaginação, talvez…


— Idiota.

— Quem ama quem aqui? — Arqueei a sobrancelha, tomando mais

um gole da minha bebida.

— Eu que irei pedir essa rescisão! — Riccardo murmurou.

— O caralho que eu assinaria essa merda!


— Bela declaração de amor, amico.

— Que nada! Estou apenas pensando nos lucros!

Gargalhamos da minha piada.

Por mais que negássemos, ainda que não tivéssemos o mesmo

sangue, éramos irmãos e eu o amava. Havíamos nos conhecido uns anos

atrás quando eu, um moleque quase inexperiente, deslumbrado pelos

milhões que havia ganhado com uns colegas em uma startup de tecnologia
limpa voltada para o mercado agrícola, quase entrei em um negócio que iria

foder com tudo. Um conselho dito no elevador fez com que eu não fizesse a

maior besteira da minha vida.

Porra!
Eu tinha batalhado muito para sair da merda de onde vim, e quase vi

tudo desmoronar, deixando-me cegar pela ganância.

Foi um italiano arrogante, quase da mesma idade que eu, que me

trouxe a razão, e eu só tinha a agradecer, principalmente quando ele

compartilhou comigo a sua expertise em gestão. Seis meses depois,

estávamos em uma mesma sala e fechávamos a nossa primeira sociedade,


que se provou extremamente lucrativa, principalmente quando associamos

nossos conhecimentos. Foi a primeira parceria de muitas, apesar das

diferenças entre nós.

Nossas realidades não poderiam ser mais opostas. Eu fui um menino

que cresci sem conhecer o pai, cujos avós tinham morrido lutando pela

sobrevivência, e era o pilar de uma mãe que havia engravidado de gêmeos

de um bosta qualquer, já Riccardo era um italiano herdeiro de um vasto

império, criado desde novo para gerir as empresas da família. No entanto,

no final das contas, o vício em trabalho, a sede por demonstrar o próprio

valor, os pesos que carregávamos e a solidão fizeram com que virássemos


bons amigos, ou melhor, irmãos.

O acidente que ele sofreu e o deixou paraplégico só nos uniu ainda

mais. Ele não havia me deixado cair no início de nossa parceria, e eu não o

deixei cair quando ele mais precisou de alguém que lutasse por ele. Eu

nunca vou me arrepender de ter tido paciência e ouvido sem reclamar os


inúmeros palavrões que meu amigo soltou, de ter insistido em ficar ao seu

lado quando ele me mandava embora.

Porra! Éramos uma família, uma família que estava crescendo, já


que ganhei uma “cunhada” e um "sobrinho".

Um grito me tirou do transe e foquei minha atenção nos gêmeos.

— Caralho!

Meu coração gelou quando vi Spencer saltar da bomba bem

próximo a borda da piscina, arrancando risadas de Jaxon e latidos do

Batata.

Para ter acontecido um acidente não custava.

Largando minha garrafa sobre uma superfície qualquer, corri em

direção a eles com minhas pernas trêmulas, sem me importar com Riccardo.

— Não faça mais isso, droga! Ou não vou deixar vocês nunca mais

entrarem em uma piscina…

Encarei os meninos que se encolheram automaticamente, e vi pelas

expressões tristes deles que eu havia me excedido.

Caralho!

Não que eu me arrependesse de ter tomado aquela responsabilidade

para mim quando eu tinha apenas vinte e três anos, mas ser "pai" de duas

crianças era tão difícil! Era uma tarefa árdua e frustrante, e, a todo o
momento, me questionava se estava fazendo a coisa certa por eles.
— Me desculpem por ter gritado com vocês, ferinhas, mas o que eu

falei sobre pular próximo a borda? — Adotei um tom mais suave, tentando

não ser um babaca com eles por não ser capaz de assumir meus erros.

— Que machuca — Spencer falou em meio ao latido de Batata, ao

mesmo tempo que Jaxon completou:

— Que não pode.

Não me surpreendi com a sintonia dos três, incluindo aí o cãozinho.

— Por mais que vocês sejam ótimos nadadores, não quero que se

machuquem, ferinhas, ou pior, que aconteça algo grave com vocês. Eu amo

vocês pra caralho!


— A gente sabe disso! — Jax retrucou com a sua voz infantil.

— Então nada de executar manobras arriscadas.

— Tá! — Spencer deu um gritinho.

Não tive chance de falar mais nada quando, latindo e fazendo festa,

Batata passou em frente a eles, jogando água para tudo quanto é lado com o

seu nado de cachorrinho, convidando meus irmãos para a bagunça.

Suspirei, me sentindo vencido. Confiando que os gêmeos iriam me

obedecer, dei as costas para eles e caminhei novamente em direção a

Riccardo, que eu podia ver que estava extremamente ansioso pela chegada

da mulher dele e do filho.


— Qual a graça? — Meu melhor amigo fez uma carranca quando eu

gargalhei.

— Você parece um adolescente apaixonado, cara. Só falta gozar nas

calças.

— Vai se foder! — rosnou.

Ri ainda mais.

— Quando se apaixonar, será você que… — Não completou a frase.

O rosto dele se transformou, um sorriso enorme surgindo.

— O quê? — Pensei que ele havia enlouquecido quando começou a

bater as mãos sobre as coxas e me ignorou.

— Oi, figlio, venha aqui até o papai!

Girei meu corpo para encarar o meu sobrinho de coração. Riccardo,

como um grande bobão, havia me mostrado várias fotos de Lucca, mas,

pessoalmente, ele era muito mais fofinho e bonito. Era a cara do pai. Fiz

uma careta com o pensamento de que era a mesma coisa de chamar

Riccardo de bonito.

Dominado pela curiosidade, meu olhar foi do menininho que dava

passinhos em direção ao meu amigo até a mulher que ajudava o pequeno.


No mesmo minuto em que a encarei, descobri o porquê meu melhor amigo

havia perdido a cabeça por ela.


Se a beleza dela não fosse o suficiente, o sorriso e a forma que

olhava para o homem ao meu lado faria qualquer um cair aos seus pés.

Porra! Riccardo estava fodido.

Encarei meu amigo com o canto de olho e vi que ele estava

realmente totalmente ferrado. Rendido.

Torci meus lábios, divertido. Eu não tinha nenhum pingo de pena

dele.

Já ia cumprimentar os dois recém-chegados quando um suspiro


longo, quase que apaixonado, atraiu a minha atenção e eu vi uma jovem a

alguns passos de distância atrás deles.


A diversão morreu de forma instantânea e, sem nenhum controle de

mim mesmo, encarei o corpo miúdo, perfeitamente modelado pelo vestido


que batia pouco abaixo dos joelhos. A pele preta parecia macia ao toque e

contrastava com a cor da veste.


Tinha seios pequenos, a cintura era fina, se comparada aos quadris, e

as coxas grossas. Os cabelos trançados estavam reunidos em um coque alto


na cabeça, uma mecha emoldurando o rosto redondo. Os lábios eram

grossos, volumosos... pareciam deliciosos. O sorriso que tinha ao observar a


família do meu melhor amigo me provocava várias fagulhas, aumentando o
meu desejo.
Me imaginei, por um segundo, roçando a minha boca na dela,
enquanto minhas mãos percorriam a lateral do seu corpo, descobrindo se as

curvas suaves eram tão macias quanto pareciam.


Não me assustei com o pensamento, afinal, o fato de eu não querer

compromisso não me impedia de sentir desejo por uma mulher bonita


quando eu via uma, e, naquele momento, eu contemplava uma bem gostosa,

apesar de ser muito jovem. Continuei a encarar o corpo lindo até que meu
olhar encontrou o dela.
Meu coração disparou como nunca antes enquanto mergulhava

naqueles olhos castanhos escuros emoldurados por cílios que, pela sua
extensão, com certeza eram artificiais.

Um calafrio percorreu a minha espinha e meus pelos se arrepiaram


em uma resposta extravagante e incompreensível. Quando ela desviou o

olhar, uma pontada de irritação me invadiu, e só então me dei conta do


papel de tolo que estava fazendo.

Lançando um olhar para a piscina, verificando se estava tudo certo


com os gêmeos, fingi uma normalidade que estava longe de sentir e virei-

me para Riccardo, que era entretido pelo filho, enquanto tentava não babar
pela mulher que gostava. Realmente ele estava fodido.

— Vai me apresentar ou eu tenho que fazer isso sozinho? —


brinquei.
Tanto a mulher quanto o meu amigo se voltaram para mim e, para
minha diversão, vi Riccardo ficar carrancudo.

— Esse é o palhaço do meu amigo, sirena. — Ignorando-me, deu


atenção para o menino que brincava com a gola da blusa polo que usava.

O rosto dele se iluminou tanto que eu acabei sorrindo para o meu


amigo, me sentindo feliz por ele. Se alguém merecia ser feliz e formar a

família que sempre sonhou era Riccardo.


— Prazer em conhecê-lo, Edgar.

— Finalmente nos conhecemos, Juliana. De tanto que ele fala de


você, sinto que eu te conheço há anos. — Estendi a mão em cumprimento,

não resistindo em provocar Riccardo com o exagero quando deixei um beijo


no dorso da dela.

— Entendo — murmurou.
Riccardo bufou e os olhos dela brilharam enquanto uma espécie de

rubor parecia se espalhar pelo seu pescoço.


Me senti divertido. Riccardo não era o único a parecer um
adolescente.

Suprimi o pensamento de que, um minuto atrás, era eu quem me


comportava como se tivesse recém entrado na puberdade.

— Ta-Ta-Ta! — O pequeno soltou um gritinho empolgado, dando


socos no peito do pai.
— Ele é muito lindo, amigo — falei.

— Sim… perfeito... — A voz soou rouca, dominada pela emoção.


Trocamos olhares cúmplices, mas desviei minha atenção para a

piscina quando os latidos de Batata ficaram mais intensos. Felizmente, não


era nada demais, só o cachorro tentando pegar a bola que Jaxon e Spencer

jogavam um para o outro.


— Obrigada por me deixar vir, Riccardo. — A voz doce ecoou nos
meus ouvidos e eu senti a minha pulsação até então controlada se acelerar

de maneira instantânea enquanto meus olhos voltavam a encarar a


desconhecida, que parecia extremamente sem graça.

Os cabelos da minha nuca se arrepiaram e, outra vez, eu fiquei


momentaneamente paralisado, demorou para que eu conseguisse piscar.

Que porra estava acontecendo comigo?


— Você sempre será bem-vinda aqui, Thais, Juliana nem precisava

ter me pedido — meu melhor amigo disse.


— Era o certo a se fazer, Riccardo, é a sua casa, não a minha — a

mulher dele falou.


— Bobagem, sirena! — O tom de Riccardo era de diversão, mas eu

o conhecia bem o suficiente para ver que ele estava um pouco frustrado.
Apesar do que fez para forçar sua aproximação com Juliana, o que

quase fodeu com tudo, eu sabia que para ele a situação estava longe do
ideal.

— Agradeço mesmo assim… — falou a desconhecida.


Outra vez me senti esquisito ao som da voz dela e olhei para os

lábios provocantes que sorriam.


— Ma-ma-ma! — Lucca gritou, se agitando no colo do pai, atraindo

a nossa atenção para ele.


O pequeno repetiu as sílabas ao escutar a voz dos gêmeos.

— Acho que alguém quer entrar na água! — Juliana falou divertida


quando Riccardo colocou o menino no chão e ele começou a marchar rumo

aos meninos.
Juliana o segurou pela mãozinha, já que ele quis dar pequenos

passos na direção da piscina.


— Ma-ma-ma! — Fechou a carinha, parecendo emburrado.

— Melhor levá-lo antes que ele comece a chorar, sirena. Enquanto


isso, eu vou cuidar do churrasco
— Okay! — Juliana falou, dando um sorriso enorme para ele, que

meu amigo retribuiu, os olhos brilhando em resposta. — Vamos, filho?


Thais?

— Não há nada que eu queira mais do que mergulhar nessa piscina


— Thais, esse pelo jeito era o nome da desconhecida, disse em um tom
empolgado, quase que infantil, antes de seguir Juliana, que caminhava
lentamente, levando um Lucca animado.

Meu olhar recaiu sobre a bunda que, ainda que o vestido solto não a
valorizasse, era gostosa pra caralho. Quando o meu pau começou a querer
ganhar vida só por olhar o traseiro da garota, em um descontrole sem

sentido, me senti extremamente puto comigo mesmo.


Eu estava tão carente assim?

Bobagem, Edgar. Você não é movido a sexo como várias pessoas


por aí. Você tem o controle de si mesmo e não se deixa agir por uma

necessidade física, ainda mais pela luxúria.


Você é mais forte do que isso, porra!

O pensamento fez com que eu me sentisse mais confiante e me


virasse para Riccardo, que tinha um sorriso extremamente bobo no rosto,

sem dúvida olhando para Juliana e o filho.


— Se depender de você, o churrasco não vai sair nunca, cara! —

falei em tom de diversão.


— Vá se foder, Edgar! — Me fuzilou com os olhos e eu comecei a

rir da cara dele. — Por que você não faz então, caralho?
— Sou seu convidado!

— Como se isso impedisse de você sair mexendo em tudo e de


roubar o meu whisky! — grunhiu.
Dei de ombros e Riccardo voltou a olhar na direção onde estava a
mulher e o filho.

Era um erro, mas, automaticamente, acabei deixando o meu olhar


recair na garota que, para a minha surpresa, estava sobre os calcanhares e

conversava com os gêmeos enquanto Batata rolava de barriga para cima


querendo atenção de todos.

Algo se revirou dentro de mim, deixando-me como se eu fosse um


fio desencapado em contato com a água, me eletrizando, e eu não gostei

nenhum pouco da sensação desconhecida e irritante.


Cerrei os dentes com força quando a garota se deixou arrastar por

duas crianças em direção a piscina, a risada dela mexendo com o meu brio e
se infiltrando no meu corpo de uma forma estranha.

Pulou na piscina com vestido e tudo e ouvi os gritos eufóricos dos


meus irmãos, que não hesitaram em segui-la, começando uma guerrinha
d'água.
Mais reboliço dentro de mim.

Me ocupar com o churrasco não me pareceu uma péssima ideia no


final das contas.
— Os hambúrgueres estão na geladeira? — questionei, sem desviar
minha atenção daquilo que acontecia na piscina.

— Onde mais estariam?


Quando me dei conta de que fiz uma pergunta boba, eu fiquei mais
irritado ainda.

— Nunca se sabe…
— Já foi mais inteligente, Edgar…
Foi a vez dele rir da minha cara.
Diferente de Riccardo, não achei graça nenhuma, já que todo o meu
foco estava na mulher que deixava a piscina, o vestido molhado colando nas

poucas curvas que tinha, ressaltando os seios pequenos, firmes, empinados,


perfeitos.
Minha boca secou, o desejo correndo veloz em minhas veias.
Assisti Thais remover a roupa com um puxão e ficar só de biquíni, e

me odiei quando tive que conter um ofegar, ao ver as peças que me


pareceram pequenas demais, mas que eu sabia que era apenas fruto da
minha imaginação.
Minha reação exacerbada foi a gota d'água para mim, e antes que

meu melhor amigo percebesse a merda que eu estava fazendo, virei as


costas para a piscina.
— Vigie os gêmeos para mim — pedi.
Sem esperar uma resposta, caminhei com passos duros para dentro

da mansão do meu melhor amigo. A distância faria com que eu controlasse


melhor os sentimentos voláteis ridículos produzidos, provavelmente, por
uma carência infundada que eu não deixaria me vencer…

Forçando-me a encarar os gêmeos que brincavam com Batata e


tentavam chamar atenção de Lucca, e não a jovem que conversava
animadamente com Juliana, perguntei mentalmente, pela milésima vez, que
merda que estava acontecendo comigo.

Eu tentei mentir para mim mesmo, que eu olhava para a piscina para
cuidar dos gêmeos, mas até Riccardo percebeu meu interesse pela garota e
começou a me provocar, dizendo ladainhas de um cara apaixonado, o que
me deixou ainda mais puto.
Queimar o churrasco por agir como um maldito obcecado pelo

corpo dela foi infernal, tinha sido o cúmulo. Uma idiotice. Eu havia
chamado a atenção demais, mas pior foi a ideia de entrar na piscina.
Cansado de ouvir Riccardo falando o quanto os gêmeos gostaram da jovem,
algo que eu nunca admitiria em voz alta, entrei na água e acabei interagindo

com a moça ao brincar de vôlei com ela, Jax e Spencer e fiquei bastante
ciente dos sorrisos dela direcionados a mim.
Fiquei ciente também que, diferente de mim, a garota não parecia
sofrer com nenhuma agitação estranha, e que ela não parecia nem um pouco
interessada em mim. Um baque no meu ego. O estopim.

Estávamos sentados na sala após o almoço quando um toque de


celular, que reconheci ser a música do filme do Aladdin, ecoou em meio ao
barulho das crianças, e nem precisei procurar a origem do som, porque vi
Thais abrindo sua bolsa. Meus lábios começaram a se curvar em um sorriso,

mas me contive.
Que porra!
Com o canto do olho, vi que a alegria dela se transformou em tensão
e ela se ergueu do sofá para atender em um canto, falando em sussurros.

Não era da minha conta, mas não gostei da mudança no semblante de Thais.
Por quê? Preferi não pensar que era algo que ia muito mais além do que
somente preocupação por alguém que foi gentil o tempo todo com os
gêmeos.

— Eu preciso ir, amiga — falou ao se aproximar de Juliana, que se


ergueu para tocar o ombro dela. — Está ficando tarde e eu ainda preciso
organizar umas coisas.
Escutei um muxoxo.

— Tem dinheiro para o táxi, amiga?


— Eu posso levar você em casa, Thais. — A sugestão saiu antes
que eu pudesse contê-la.
As duas mulheres se viraram para mim, assustadas.

— Não precisa se incomodar — a jovem murmurou, me dando um


sorriso amarelo.
— Não é incômodo.
— Realmente não é necessário, Edgar. Eu já chamei o táxi e ele está

a caminho.
— Tudo bem, então. — Não insisti, mascarando a pontada de
decepção que nem sequer deveria sentir. Me ergui. — Vamos nessa,
ferinhas? Realmente está ficando tarde e, pelo que me lembro, vocês têm
uma atividade escolar para fazer e entregar amanhã.

— Ah, não, mano! — Jax choramingou.


— Temos dever de casa, não. — Spencer tentou me enganar.
Arqueei a sobrancelha em aviso aos dois. Eles sabiam que eu não
tolerava mentiras, por menor que fossem. A última coisa que eu queria era

que eles ficassem parecidos com a nossa mãe, uma mentirosa do caralho
que, além de usar a falsidade para benefício próprio, também usava as
mentiras para destruir vidas.
— Podemos ficar mais um pouco? — Spencer mudou de tática. —

Aqui está tão legal!


— É, mano — Jax acrescentou.
Batata, até então quieto, emitiu um latido alto, fazendo com que
Lucca soltasse uma risada.

— Não, ferinhas. Recolham suas coisas para irmos. — Fizeram


careta para mim.
— Tá! — Disseram em uníssono, cabisbaixos.
— Vocês poderão voltar sempre que quiserem, meninos — Riccardo

falou.
— Valeu, tio! — Pareceram empolgados, e eu vi meu melhor amigo
dar um sorriso torto.
As despedidas duraram vários minutos, já que os gêmeos enrolaram

bastante, mas aquele tempo não foi o suficiente para afastar a eletricidade
que percorreu o meu corpo quando eu segurei os dedos da garota em um
simples aperto de mão que nada significava, e isso me fez ficar mais mal-
humorado.

— A gente vai vê ela de novo? — Jaxon perguntou e eu olhei


rapidamente o retrovisor, vendo-o no seu assento de elevação, e voltei a
prestar atenção no trânsito.
— Ela quem? — questionei, mesmo sabendo de quem ele falava.
— A Thay! — Spencer deu um gritinho, fazendo com que Batata
latisse e a respiração ofegante dele me alcançasse.
— Acredito que sim, ferinhas. — Acabei suspirando, não sabendo
se eu gostava ou não da ideia.

— É? — falaram, empolgados.
— Ela é a melhor amiga da esposa do Riccardo…
— Eeee — gritaram ao ponto de eu sentir meu ouvido doer.
Outro latido.

Estalei a língua, reprovando-os.


— Ela é legal! — Spencer continuou.
— É. — Jax concordou, seguido de outro latido de Batata, que pelo
jeito dava sua resposta canina.
— A Thay disse que gosta de videogame!

— Mesmo? — perguntei, surpreso.


— Uhum… — Outra vez, os dois falaram em uníssono.
— Ela pode jogar com a gente? — perguntou Jax.
— Quem sabe um dia, ferinha… Já que estamos falando de

videogames... — mudei de assunto, abordando um jogo novo que havia


saído na plataforma, atraindo a atenção dos meus irmãos.
Estava sendo covarde, eu sei, mas definitivamente não queria falar
sobre a Thais, não quando meus irmãos pareciam ter se apaixonado por ela
à primeira vista e até faziam planos de jogar videogame com ela, o que eu
duvidava que acabaria ocorrendo.
Capítulo Um

— Você está tão linda, amiga. — Funguei quando a cabeleireira


terminou de fixar o véu sobre o penteado de Juliana e o tecido diáfano caiu

sobre os ombros dela.


Nossos olhares se encontraram através do espelho e eu vi que a íris

dela brilhava com a emoção, como se contivesse as lágrimas. Na verdade,

minha amiga toda irradiava felicidade por casar-se com o homem que ela
amava.

— Obrigada, Thay — Juliana murmurou ao passar a mão pelo cinto

cravejado de diamantes que deixava o vestido simples, de um ombro só,


estilo deusa grega, um verdadeiro luxo. — Será que ele vai me achar a

noiva mais bonita do mundo? — perguntou insegura.

— Que pergunta boba, Ju.


— Não é boba!

— É, sim! Mesmo que você usasse um saco de batatas, ele iria te

achar linda.

— Duvido! — Me provocou.

Revirei os meus olhos.


— Nunca esteve tão linda, Ju. Pode não ser o vestido princesa que

eu tanto amei, mas… — Dei de ombros e minha melhor amiga soltou uma

risada. Acabei rindo também.

— Você pode ter o seu próprio vestido princesa, Thay!

— Mas você tinha ficado linda no de princesa — falei, guardando


para mim os pensamentos ressentidos de que era improvável que me

casasse, afinal, hoje, não era o momento de falar sobre mim e o quanto,

cada vez mais, meu pai me sufocava.

— Seria impossível eu andar ao lado de Riccardo com aquele monte

de pano… Você é uma madrinhazilla sabia?

— Não, eu sou a melhor madrinha do mundo! — retruquei,

colocando as duas mãos na cintura, fingindo que estava brava.


— Se você diz… — Estalou a língua para mim.

Novamente, nós duas rimos.

Lembrei do dia em que ela me contou que seria sua madrinha.


Tudo bem que eu era a melhor amiga de Ju, mas o convite dela para

eu ser a única madrinha deles de casamento, junto ao melhor amigo do

noivo, me fez cair no choro enquanto dava saltinhos de felicidade. Não me

passou despercebido o arquear de sobrancelha irônico de Edgar, mas estava

tão radiante com a felicidade da minha amiga que nem me importei com a

zombaria do milionário.
Aceitei de imediato o convite, mas logo depois caiu a minha ficha

de que talvez meu pai não fosse gostar. E James não gostou. No entanto,

pela primeira vez, bati o pé por algo que eu queria. Eu nunca perderia

aquele momento da minha melhor amiga.

— Está pronta? — perguntei, saindo do transe de pensamentos.

Mesmo que a noiva sempre se atrase, ficamos mais tempo no spa do que

deveríamos. — Seu noivo deve estar tendo um colapso nervoso de tanto

esperar…

— Às vezes Riccardo é muito impaciente… — Deu um sorriso

enorme que não deixava dúvidas do quanto ela o amava.


— Até eu ficaria impaciente pela lua de mel — provoquei minha

amiga.

— Thay! — Vi o pescoço dela ficar avermelhado.

— É na Itália. Em um castelo. Com um príncipe carinhoso e

atencioso… é quase um conto de fadas!


— Só você mesmo, amiga…

Levei a mão ao peito em um gesto dramático.

— Estou morrendo de inveja! Não do noivo, longe disso, mas, sim,


do castelo e da Itália — me expliquei quando me expressei mal.

— Eu sei! — fez uma pausa e disse em um tom divertido: — Você

não é fura-olho!

— Não mesmo! — Dei um grito. — Tenho pavor disso!

Enfatizando, estremeci no lugar.

Tornamos a rir de modo descontrolado, achando graça daquela

bobagem.

— Eu vou acabar ficando descabelada — Juliana falou.

— Eu já estou!

— Um pouco!

— Ju!

— Também está linda, querida — sussurrou.

Me sentindo emocionada pelo elogio dela, cruzei a pequena

distância que havia entre nós e a envolvi em um abraço apertado.

— Seja muito feliz, amiga! De verdade! — sussurrei.

— Eu já sou feliz, Thay, mais do que poderia imaginar —

murmurou.
— Você vai me fazer chorar, sua vaca! — Afrouxei o aperto.
— Você que começou, amiga! — Os olhos estavam marejados.

— Melhor eu chamar a cerimonialista antes que a gente acabe

estragando a sua maquiagem. — Funguei.

— Okay!

Dei um passo para trás e me virei para ir avisar à organizadora que a

noiva estava pronta, sem conseguir conter as minhas lágrimas de felicidade

por Juliana.
Capítulo dois

— Eu não mordo, sabia? — Edgar sussurrou no pé do meu ouvido

enquanto esperávamos para entrar na igreja, e o hálito quente contra a


minha pele fez os pelos do meu corpo se arrepiarem, me deixando mais

nervosa.

— Eu sei — forcei minha voz a sair.


— Então não precisa ficar tensa, Thais!

Engoli um é fácil para você dizer isso, já que não é você que irá

ouvir depois poucas e boas do seu pai por estar tocando um homem e fingi
um sorriso, tentando relaxar os meus músculos, mas sem sucesso.

Não podia dizer que era apenas a reação de James que me

preocupava. A presença do homem alto, que eu sabia ser todo tatuado,


provocava coisas estranhas sobre mim, sensações que me faziam ficar

consciente do perfume amadeirado que ele usava, do calor dele sob a minha

palma, mesmo que o tecido grosso do smoking cobrisse o seu braço. E não

ajudava em nada ele ser muito bonito, mas era só. Não que ele fosse ríspido

ou algo do tipo, mas Edgar parecia incomodado sempre que eu estava no


mesmo ambiente que ele.

Ensaiarmos a entrada várias vezes deve ter sido um verdadeiro

martírio para ele. Eu tive pena, afinal, ser obrigado a ficar próximo a

alguém que você claramente desgostava era horrível. Eu sou o tipo de

pessoa que acreditava que podia acontecer de não gostar de alguém só pela
cara dela, e eu respeitava isso.

— Relaxe — voltou a sussurrar.

Não tive tempo de responder, já que a cerimonialista fez um aceno,

autorizando a nossa entrada. Respirei fundo, dando os primeiros passos.

Tentei focar minha atenção não no homem ao meu lado, mas no corredor de

mármore que levava ao altar, e em outros detalhes arquitetônicos da igreja

composta por vários arcos e abóbadas de diversos formatos, cobertos por


quadradinhos, mas falhei, ciente de que momentaneamente a atenção de

todos estava sobre nós dois, o que era natural.

Deve ter durado um minuto ou dois, mas parecia ser o caminho mais

longo que já tinha percorrido. Emiti um suspiro ao remover minha mão do


braço de Edgar quando chegamos no altar e ele me lançou um olhar

estranho, antes que cada um de nós fosse para os lugares determinados.

Foi meio automático procurar pelo meu pai no meio de tantos

convidados. Infelizmente, de onde eu estava eu podia ver bem a fileira onde

ele estava sentado. A carranca de James me encheu de vergonha. Eu sabia

que acabaria escutando poucas e boas mais tarde. O caminho até a recepção
seria extremamente longo pelo jeito, mais longo do que aquele que fiz na

nave central da igreja.

Desviei o olhar para a porta quando a música mudou e eu sorri ao

ver a minha amiga começar a andar em direção a Riccardo e a Lucca, que

estava de mãozinha dada com o pai. Alternei meu olhar entre ela e o noivo,

que tinha os olhos avermelhados, como se a qualquer momento fosse

chorar. Não contive outro suspiro, ficando sentimental. Eu era uma

romântica incurável, como a minha melhor amiga costumava dizer, e

presenciar tal amor entre duas pessoas era tocante. Tornava a fantasia em

algo real.
Não sei a razão, mas acabei encarando Edgar, que olhava

estoicamente na minha direção. Flagrado, desviou rapidamente a cabeça.

— Ma-ma-ma-ma! — o gritinho de Lucca atraiu todo o foco para

ele.
— Ela é a noiva mais linda do mundo, não é mesmo, figlio? —

Riccardo falou em tom emotivo, provando que a insegurança de Ju era

totalmente infundada.
— Ma-ma! — tornou a gritar o pequeno.

Quando soltou a mão do pai para caminhar em direção a Juliana,

com seus passinhos ainda não completamente firmes, a igreja se afundou

em risos, mas quando Riccardo o seguiu e minha melhor amiga também

acelerou o passo para ir ao encontro do filho, as risadas se transformaram

em suspiros. Comecei a chorar quando, sem se preocupar se amassaria o

vestido, Ju se agachou para receber o filho nos braços enquanto também se

deixava levar pelas emoções em forma de lágrimas. Tentei não fungar tanto,

como uma criança, mas era uma cena terna de se assistir. Tudo ficou ainda

mais emotivo no momento em que Riccardo a cumprimentou com um

beijinho carinhoso na testa e, como a família que já eram, os três deram as

mãos e foram até o altar.

— Podemos começar? — o padre perguntou.

— Sim, reverendíssimo — Riccardo respondeu com a voz

embargada, olhando para a mulher que amava.

Lucca deu outro gritinho que duvidava muito que fosse uma

resposta, arrancando mais risadas dos convidados e um sorriso do


celebrante que, diferente de muitos, não era tão rigoroso, já que o espaço de
Deus era sagrado e cabia aos pais controlar uma criança, por menor que

fosse.

— Estamos aqui hoje… — começou.

Confesso que não prestei muita atenção nas palavras do padre, por

mais que o sacramento tenha sido algo breve, com algumas interrupções

fofas de Lucca que arrancava risinhos e suspiro de todos.

— O senhor Mazoni quer fazer um pronunciamento — o padre

falou.

— Dio! Estou tão nervoso! — falou com a voz trêmula, estendendo

a mão para ela.


— Riccardo? — Escutei minha melhor amiga arfar ao colocar a

palma sobre a dele. — O quê?

— Hoje, você ainda não escutou o quanto eu te amo, sirena, o

quanto eu te quero, o quanto você e Lucca são as coisas mais lindas que

aconteceram na minha vida…

— Eu também te amo, Riccardo — minha melhor amiga sussurrou,

para em seguida fungar. Ou fui eu quem funguei?

— Já disse o quanto eu sou um homem de sorte por ter o seu amor?

— Abriu um sorriso.

— Todos os dias… — gracejou, arrancando uma risada coletiva.


— Eu prometo que todos os dias da minha vida eu irei cochichar no

seu ouvido que eu quero uma eternidade com você, mesmo sabendo que

não será tempo suficiente. Que eu não existo sem você. Que você me

completou de diferentes formas. Que você é a metade da minha alma. Que

você é a minha força. Que essas palavras, que ainda que sejam mais ou

menos bonitas, não expressam com exatidão meu amor por você.

— Elas são lindas, amor… — Segurou o rosto dele, acariciando-o

com devoção extrema.

— Na-na-na-na! — Lucca gritou e mais risadas se fizeram ouvir.

— Não, figlio?

O pequeno deu um sorrisinho em meio a um gritinho, batendo

palminha.

Mais gargalhadas.

— Eu prometo, sirena, que não terei apenas palavras doces.

Demonstrarei todos os dias o quanto sou grato pelo amor que você me

professa. Posso errar no meio do caminho, mas eu juro que tentarei

aprender a ser o melhor para vocês dois…

— Eu amo você, Riccardo. Ontem, hoje, amanhã, nos próximos mil


anos. E eu juro que, mesmo com os meus erros e defeitos, sempre tentarei

dar o meu melhor para você. Sempre serei sua amiga. Sua companheira.

Sua amante. Você sempre será a minha terceira parte.


Inclinou-se sobre ele e roçou os lábios em um beijo suave. Eu puxei

um lenço da bolsinha, limpando o rastro úmido que as lágrimas deixavam

em meu rosto, que provavelmente estava borrado pela minha maquiagem,

mas sabia que era em vão, já que continuavam escorrendo dos meus olhos.

Quando os gêmeos entraram na igreja como pajens, elegantes com

os cabelos penteados para trás, um carregando as alianças e o outro

espalhando pétalas de flores pelo caminho, fiquei feliz por eles estarem

fazendo tudo bonitinho, já que os ensaios indicaram que não sairia nada do
tipo. Com o canto do olho, procurei por Edgar e o sorriso orgulhoso que

ostentava fez minha pulsação se acelerar de maneira estranha. Como se


pressentisse meu olhar sobre ele, me encarou daquela forma enervante.

Envergonhada pelo flagrante e também pelas sensações estranhas


que me corroíam, foquei nos gêmeos que, depois que Jax entregou a aliança

ao padre, foram cumprimentar Riccardo e Juliana. Uma onda excessiva de


ternura me invadiu quando os dois seguraram as mãozinhas de Lucca e o

levaram para se sentar com eles em uma escadinha, para aguardarem o final
da cerimônia. Mesmo no fim, com o beijo apaixonado que trocaram depois

do famoso silêncio do se calem para sempre, ainda foi capaz de me arrancar


mais lágrimas …
Capítulo três

Por mais que eu amasse muito o meu melhor amigo e tenha ficado
muito feliz por ele, a cerimônia foi bastante cansativa e eu contei os

minutos para que toda a ladainha terminasse logo.


Porra!

Ainda havia a recepção, em que teria a dança, os brindes e mais

situações românticas e bregas.


Assinei o livro de testemunhas, depois os outros documentos para

efeito civil do casamento, contendo um grunhido de desagrado ao pensar no

trânsito fodido para chegar até o local da festa.


Merda!
Afastei-me para deixar que Thais assinasse a papelada. Para minha

irritação, o sorriso dela ao pegar a caneta me prendeu e eu não consegui

afastar a minha vista do rosto levemente redondo emoldurado por pequenos

cachinhos. Os cabelos trançados ficavam bonitos nela, mas ao natural,

chegando bem próximo a bunda linda que era ressaltada pelo vestido justo,
me atraia ainda mais, tanto que eu podia me imaginar envolvendo a massa

cacheada em uma das minhas mãos e…

Olhei para o alto e a pintura fixada em quadradinhos na abóbada me

recordou que eu estava em um local sacro e que eu era um filho da puta por

ter pensamentos profanos com aquela mulher na casa de Deus.


Percebi que ela havia terminado e que os noivos se preparavam para

sair, exigindo que eu participasse do cortejo.

A fúria instantânea que sentia por mim mesmo era apenas mais um

dos meus pecados.

Não me orgulhava da minha obsessão por aquela mulher, algo que

vem perdurando por tempo demais. Pouco convivemos, isso era um fato,

mas nos almoços ou jantares, ou nas vezes que nos encontrávamos quando
eu dava uma passada na casa de Riccardo, eu agia como um desgraçado,

acompanhando cada um dos movimentos da jovem. O ensaio de casamento

foi um inferno, e mil vezes mais inferno foi disfarçar o que o toque sutil

dela produzia em mim. Bem, meu estoicismo não enganou o meu melhor
amigo que me olhava e erguia uma sobrancelha para mim. O fato da tensão

dela ao entrar comigo na igreja me desagradou de uma forma irritante.

Mil vezes merda!

Éramos os padrinhos, não o casal de noivos…

— Edgar? — A voz doce fez com que eu olhasse para a garota, me

tirando do transe.
— Sim? — respondi secamente, querendo rir de escárnio com o

rumo que meus pensamentos tomavam.

— A foto com os noivos!

Percebi que eu tinha parado assim que cruzei a saída da igreja, e eu

praguejei mentalmente. Outro palavrão me escapou quando vi que vários

convidados que saiam pela entrada lateral me encaravam.

— Okay!

Escutei a risadinha dos meus irmãos, mas não podia culpá-los, era

eu quem estava agindo como um parvo.

Fui até eles, parando próximo a Jax, Spencer e Thais.


Passei meu braço em torno dos quadris da mulher para fazer uma

pose.

— Edgar — falou baixinho, e só então me dei conta do que eu havia

feito.

Porra!
Que direito eu tinha de tocá-la? Ainda mais dessa forma levemente

possessiva?

Eu não era um maldito babaca aproveitador!


— Me desculpe — murmurei ao ver o constrangimento dela.

— Tudo bem — continuou.

Dando-me conta de que eu ainda a estava tocando, baixei minha

mão como se o contato me queimasse, resvalando meus dedos sem querer

na coxa dela.

Escutei o suspiro baixinho e senti uma descarga elétrica no meu

corpo. Ignorei a sensação, bem como o leve ardor nas pontas dos meus

dedos.

Sob uma chuva de palmas e assovios, os noivos e Lucca entraram na

limusine para irem até a recepção.

— Quer uma carona até a festa, Thais? — ofereci quando ela

começou a se afastar de mim e dos gêmeos.

Parou de andar e virou o pescoço para me encarar.

— Seria legal! — Spencer falou animadamente.

— Simmm! — Jaxon concordou, olhando para o irmão, antes de dar

um sorriso sapeca para Thais.

Com certeza os dois planejavam tagarelar na cabeça dela.


— Agradeço, mas não é necessário, Edgar…
— Ah! — Os gêmeos gemeram em uníssono, parecendo chateados.

— Ia ser legal! — Spencer moveu o pezinho, tentando comovê-la.

Por uma fração de segundos, vi certa tristeza cruzar as feições de

Thais.

— Eu…

— Pu favorrrr…

— Eu não estou sozinha — se justificou, e eu senti uma pontada de

decepção absurda ao saber que ela tinha um namorado. Era de se esperar,

afinal, a jovem era bonita.

— Ele pode vir com a gente. Isso não é um problema — falei,


fingindo uma naturalidade que não sentia e massacrando o desejo de não

ver esse cara.

— O carro do mano é grandão! — Jax ficou empolgado novamente.

— Cabe até um dinossauro — Spencer fez um gesto, enfatizando.

— Isso eu duvido! — A jovem riu.

— Né verdade, mano? — Ele se voltou para mim.

— Um filhote, quem sabe! — brinquei, bagunçando o cabelo dele.

— Thais! — Uma voz baixa e severa falou roubando a atenção para

si.

Olhei por sobre os ombros e vi um homem de expressão desgostosa,

os lábios crispados com raiva.


Ele deveria ter mais ou menos cinquenta anos, mas as rugas, pés de

galinha e outras marcas de expressão tornava-o mais velho.

Tinha um palpite: bebidas e cigarros demais.

Olhei para um e para o outro, procurando semelhanças, mas não

encontrei nenhuma.

Aquele era o namorado dela?

Mau gosto ou dinheiro?

Duvidava que fosse a primeira opção.

Não sabia que a garota era desse tipo.

Estalei a língua baixinho, mas não deixei meus pensamentos irem

para um terreno perigoso.

— O que está fazendo aí parada? — Foi mais rude quando ela

sequer se moveu e minha atenção recaiu sobre ela, que parecia preocupada.

— Me desculpe — ela se virou na direção do homem —, eu já

estava indo procurar o senhor!

— Você não vai com a gente? — Spencer falou, alheio ao clima

estranho.

— Do que eles estão falando, garota?


— O senhor Pratt nos ofereceu uma carona até a festa.

Franzi o cenho por ela ter me chamado pelo sobrenome, já que ela

sempre me chamava de Edgar, não precisávamos ser tão formais um com o


outro, porém não disse nada.

— Vai ser legal! — Jax disse.

— Muito! — Meu outro irmão concordou.

Irritado, o homem me encarou em uma tentativa de me colocar

medo.

Arqueei a sobrancelha, arrogante.

Tolo!

Cara feia não me amedrontava, nem desaprovação. Não cheguei


onde estava sendo um covarde.

Antes tinha medo de fracassar nos negócios, agora, meu único medo
era não ser capaz de cuidar dos meus irmãos.

— Podemos ir, senhor? — fui arrogante, olhando para o homem de


cima a baixo como se ele fosse uma mosca morta.

— Papai? — Thais sussurrou e um alívio estranho me invadiu, ao


mesmo tempo que senti uma pontada de culpa quando pensei que a garota

era uma sugar baby.


— A porra do trânsito está ficando mais pesado… — continuei

quando o homem ficou em silêncio.


— Eeee! — Meus irmãos ficaram empolgados.
Só Jax e Spencer ficam felizes por ficarem presos em um carro

sabe-se lá por quanto tempo.


Dei um sorriso divertido. Crianças eram crianças.
— Eu tenho intenção de assistir a primeira dança do casal — menti,

já que pouco me importava com isso.


— Eu também. Vai ser tão romântico! — Thais falou em meio a um

suspiro longo, e eu encarei os olhos dela.


Sonhadora. Romântica.

Eu deveria ter aversão por aquela mulher que representava tudo o


que eu não queria na minha vida, mas, por alguns segundo, me vi cativo
daquelas íris brilhantes repletas de emoção.

Estranhamente, os cílios longos falsos só a deixavam mais


expressiva.

Linda. Porra de linda!


— Você deveria parar com essas bobagens românticas, Thais, a vida

real não é igual aos filmes que você assiste — o homem falou
grosseiramente.

Não, não era. Na verdade, o amor poderia ser algo bem cruel. Estava
longe de ser o mar de rosas, a perfeição romantizada pela indústria do

entretenimento.
Era sofrimento.

Era dor.
Era ver a outra pessoa definhar com a perda.
— Você não vai viver essa idiotice toda! — completou.
Uma onda de raiva me invadiu ao ver o semblante dela ficar um

pouco abatido. Não gostei nada da transformação que houve em Thais, e


isso me fez querer esfolar o rosto do homem com vários socos.

Quem ele pensava que era para tentar destruir os sonhos românticos
dela?

— Por quê? — Spencer perguntou.


— Porque amor é uma bobagem, garoto!

— Bobagem ou não, senhor, não pode ter certeza se a sua filha irá
viver ou não algo parecido — disse secamente.

— Vamos embora, pai? — Thais segurou o braço do homem quando


a expressão dele ficou mais sombria.

— Vamos com esse metidinho — grunhiu e eu vi a jovem parecer


surpresa pelo pai dela ter aceitado a minha carona. — O riquinho vai me

economizar uma grana alta! Bem que ele podia nos levar para casa
também…
Thais pareceu querer se afundar no chão de tanta vergonha.

— Espero que essa festa não seja regrada… Esses ricos são muito
mesquinhos — continuou a resmungar.

— Meu melhor amigo é um homem generoso — defendi Riccardo.


— Isso que veremos! Vamos? Eu não tenho a noite toda! — foi rude

e eu arqueei a sobrancelha.
— A Thais vai com a gente, mano? — Jax questionou.

— Sim, ferinha.
— Eeeee! — Meus irmãos gritaram, superempolgados.

Para minha surpresa, Spencer se aproximou da garota e segurou sua


mão. Thais entrelaçou os dedos aos dele. Quando Jaxon imitou o irmão, ela
abriu um sorriso que, por mais que o meu lado cínico quisesse dizer que era

falso, sentia que não era.


Outro redemoinho indesejado se formou no meu corpo.

Na verdade, em nenhum momento, ela pareceu fingir carinho com


os meus irmãos, como muitos faziam, já que os dois eram meus herdeiros

legítimos. Ela era paciente com eles, e até mesmo poderia dizer que era
bastante afetuosa, afeto que a nossa mãe negava a eles.

O bufar desagradado me fez sair do transe e eu olhei para o pai dela,


que parecia irritado em ver os meus irmãos com a filha dele, que puxava

assunto com os gêmeos enquanto caminhava a esmo.


Segurando outra vez minha vontade de dar um murro naquele idiota,

já que não havia nada que eu detestasse mais do que pessoas que tratavam
meus irmãos dessa maneira ou que pudessem ferir seus sentimentos, bem
como o meu desejo de desfazer a oferta, passei por ele com passos

calculados.
Porra! Iria ser um trajeto longo.

O homem era um filho da puta.


Dito e feito!

Por mais que eu tivesse me pegado sorrindo com as risadas dos


meus irmãos e, para o meu desgosto, com os comentários divertidos da

garota sobre alguns filmes infantis, o pai dela conseguiu azedar o meu
humor. Eu queria dizer que ele era o único culpado da minha irritação, mas

o desgraçado que habita em mim se decepcionou pela mulher ter se sentado


no banco de trás, mesmo que eu não quisesse aquele cara perto dos meus

irmãos. Tinha me ocorrido o pensamento malévolo de colocar o infeliz no


porta-malas, mas eu não era tão bárbaro assim... ainda. Se eu tivesse que

conviver com ele, não duvidava que eu poderia cometer uma atrocidade.
Na verdade, eu estava a ponto de cometer uma violência contra mim
mesmo, já que eu buscava por Thais pelo retrovisor em todas as paradas.

Caralho!
O pior de tudo é que eu nem poderia tomar o whisky delicioso que,

diferentemente do que pensava o imbecil, sabia que seria servido.


Capítulo quatro

— Eu preciso ir ao banheiro — falei, precisando de uma desculpa


para sair de perto do meu pai.

Ele fez uma carranca, mas não me impediu de me levantar, mais


preocupado com o garçom que viu que daqui a pouco passaria por onde

estávamos sentados.

Fiz o meu caminho por entre as mesas de ferro fundido decoradas


com castiçais de cobre que suportavam velas e rosas enormes, dando um

sorriso fraco para as pessoas que me olhavam. Meu rosto literalmente

queimava de vergonha, já que James não parava de resmungar que a bebida


cara não mais chegava até a nossa mesa, algo que eu era extremamente

grata, ainda que eu não entendesse a razão. Papai já estava me


envergonhando sóbrio, completamente bêbado seria um verdadeiro

pesadelo e mancharia uma festa tão linda, tão romântica.

Suspirei.

Toda a decoração parecia ter saído de um jardim encantado,

deixando o ambiente ainda mais romântico.


Outro suspiro, dessa vez de tristeza, ao lembrar o momento que

papai menosprezou meus sonhos românticos na frente de Edgar. Eu fiquei

extremamente constrangida ao ver pena no rosto bonito e másculo dele, e só

quis sumir. Pensar no milionário fez com que os meus olhos buscassem por

ele, encontrando-o parado próximo a uma coluna ornamental enquanto


conversava com um homem igualmente alto e bonito, com cabelos escuros

fartos e longos e cheios de anéis nos dedos. Sorri inconscientemente ao vê-

lo e, pela milésima vez, fui pega em flagrante por Edgar.

Mesmo a distância, o peso do olhar dele, que durou pouco tempo,

provocou aquelas mesmas sensações estranhas em mim.

Respirei fundo e apressei o meu passo em direção ao banheiro. No

caminho, uma porta de vidro aberta que dava para uma sacada mal
iluminada pelos últimos raios de luz me chamou a atenção e os meus passos

me guiaram naquela direção.

A solidão, o frescor do vento e a escuridão me foram

completamente bem-vindos.
Apoiando os meus cotovelos no balaústre, respirei fundo e

contemplei o nada por minutos a fio.

— Está tudo bem, Thais?

Os pelos da minha nuca ficaram arrepiados. Meu coração se

acelerou de forma imediata.

— Por que não estaria, Edgar? — sussurrei, me virando na direção


dele, mesmo que seu rosto provavelmente estaria nas sombras.

— Porque não estaria aqui sozinha.

— Precisava respirar um pouco de ar fresco — acabei confessando,

mesmo que não devesse.

— Posso imaginar o motivo — a voz era incrivelmente suave, me

surpreendendo.

Esperava o julgamento, afinal, meu pai havia sido muito rude com

ele, quando o homem foi gentil ao nos oferecer uma carona.

— Desculpe pelo comentário infeliz do meu pai — fiz uma pausa

—, e também por ele ter sido seco com os meninos sem razão alguma. Não
sabe a vergonha que senti por isso.

— Você não tem que se desculpar pelos atos que não cometeu,

Thais.

— Como James nunca irá fazer isso, eu preciso fazer por ele.

— Não, não precisa — foi mais firme, até arrogante.


Não iria discutir.

— O que você está fazendo aqui, Edgar? Você parecia bastante

entretido na sua conversa — perguntei em um sussurro, me arrependendo


logo em seguida. Quem era eu para questioná-lo?

— Precisava ver como você estava…

— É bastante gentil da sua parte. — Acabei sorrindo, sentindo uma

onda de ternura por ele, ainda mais quando achava que Edgar não ia muito

com a minha cara.

— Não, não é.

Ele deu um passo, depois outro, e mesmo que houvesse uma curta

distância entre nós, eu podia sentir o calor do corpo dele reverberando no

meu.

— Bom, eu acho — murmurei, tentando ignorar as sensações que

ele me despertava.

— Você sofre todas as vezes que ele fica bêbado, não é? —

perguntou à queima-roupa.

— Como…

— Sua tensão quando ele pede uma bebida deixa isso claro.

— É querer demais que ele não estrague a festa da minha melhor

amiga?
Nem sei como ele ainda não estragou ao fazer um escândalo por

causa de você, Edgar. Talvez meu pai ainda tivesse algum senso perante a

empresários ricos, completei em pensamentos.

— Não, também não quero que ele arruíne a festa do meu melhor

amigo. Mas você está fugindo da minha pergunta… — sussurrou.

— O que você está fazendo sozinha com esse homem? — Uma voz

rude alcançou os meus ouvidos.

Fechei os olhos, enquanto um suspiro aterrorizado escapava dos

meus lábios.

Merda!
Capítulo cinco

Não precisava ver a expressão de papai para saber que a discussão

que eu esperei a noite inteira acabaria ocorrendo agora.


Uma pontada de dor atingiu-me.

O fato de ele não estar fazendo estardalhaço na frente de todos os

convidados deveria me consolar, mas não me confortava isso. Estava


exausta.

— Parece muito óbvio, estamos conversando — Edgar respondeu

com secura quando fiquei calada, se virando para o meu pai.


— Eu não sou idiota, riquinho! — papai gritou, furioso. — E eu não

estou falando com você, mas, sim, com essa fedelha! O que você pensa que

está fazendo, porra?


— Me desculpe …

— Você me envergonha se comportando como uma vagabunda!

Engoli em seco. Receber um tapa na minha cara teria doído menos.

— Se eu fosse você, diminuía o seu tom e não falaria desse modo

com a sua filha. — O tom de Edgar foi perigoso e eu olhei para as costas
elegantes do homem.

Mesmo sob o terno, eu podia ver a tensão nos ombros dele.

— Não se meta, seu idiota!

— Não me deixa escolha, senhor.

— O que você irá fazer, riquinho? Chamar os seguranças? —


Começou a rir com escárnio.

— Não queira saber! — ameaçou.

— Não tenho medo de você! — continuou a rir.

— Está tudo bem, realmente não precisa se incomodar — murmurei,

tentando apaziguar um pouco James.

— Tá de sacanagem? — Edgar se virou para mim, parecendo

irritado comigo. — Olha o jeito que ele te trata sem você ter feito nada.
Meu estômago deu um nó.

— Edgar, ele é o meu pai…

— Edgar? — James continuou a gritar. — E nem tem a coragem de

disfarçar que está saindo com esse cara. Saiba que eu não vou tolerar você
agindo como uma puta.

Ouvi um rosnado.

— Somos apenas conhecidos, papai…

— Acha que eu sou cego? Todo mundo na igreja viu vocês entrando

na igreja juntos…

— Éramos padrinhos dos noivos. Etiqueta… algo que você não deve
ter conhecimento, já que te falta uma — Edgar falou secamente.

Meu pai riu.

— Faz parte da etiqueta ficar olhando para a madrinha?

— O que que tem isso, caralho? — Edgar passou a mão pelos

cabelos.

— Tocar nela como se ela fosse sua posse também faz parte da

etiqueta? — Senti que ficava quente com a lembrança da mão de Edgar

sobre os meus quadris, mas o peso das palavras do meu pai eram maiores

do que tudo. Ele conseguia realmente me fazer sentir como um lixo. —

Você me envergonha, Thais, deixando ele te tocar, retribuindo os olhares


desse homem e ficando com ele debaixo do meu nariz, na festa da sua

amiga.

— Eu não fiz nada, pai... — Lágrimas quentes escorreram pelas

minhas bochechas com a dor.


— E o pior, você sabe bem que esse desgraçado irá te comer até

cansar e te descartar! — continuou a cuspir. — E mesmo assim, você ainda

dorme com ele, age como uma prostituta na frente de todo mundo. Com
certeza, foi influenciada por essa mulher que chama de amiga que foi

esperta em vender o corpo dela para um deficiente de merda que tem

dinheiro o suficiente para comprar uma vagabunda! Um meio homem!

Riu alto e eu fiquei paralisada no lugar, chocada com as palavras

cheias de veneno que proferia sobre Riccardo e Ju.

James poderia ser muitas coisas, mas, preconceituoso? Não

conseguia acreditar nisso!

Meu estômago embrulhou.

— Caralho! — Edgar rosnou, se voltando para o meu pai,

segurando-o pelo colarinho da camisa. — Você pode achar e falar de mim o

que quiser, seu desgraçado, mas nunca mais ouse falar do meu melhor

amigo dessa forma desdenhosa. Meu amigo é um homem bom, honrado,

diferente de você que é um maldito verme que nem vale essa porra de terno

de segunda mão.

— E seu eu falar? — Riu.

— Eu vou foder a sua vida, velho! Como eu ainda não sei, mas eu

não vou parar enquanto não ver você afundado na merda.


— Sei. Alguém precisa defender o aleijado!
Edgar jogou meu pai no chão. A queda provavelmente o deixaria

todo dolorido, mas não consegui sentir pena de James. Na verdade, quando

ele voltou a rir em tom de desafio, eu senti raiva. Muita raiva.

— Se não estivesse na festa de casamento dele, velho, eu te

quebraria ao ponto de ficar irreconhecível.

Meu pai riu mais ainda, levantou e o escutei cuspindo.

— Já chega, pai! — gritei, passando por Edgar e me postando a

frente dele, não apenas tentando tomar o controle da situação, mas, sim, da

minha própria vida. — Chega!

Ele pareceu atônito.


— Quem você acha que é para falar assim comigo, fedelha? Eu sou

o seu pai!

— Pode até ser o meu pai, mas tudo o que eu sinto por você é nojo,

desgosto por ver que é tão preconceituoso, vergonha por você ser assim!

— Sua fedelha…

— Estou cansada desses escândalos que você faz toda vez que um

cara conversa comigo.

— Eu só quero te proteger!

— De quê? De eu ter uma vida normal?

— De ser usada por homens como esse riquinho, mas vi que falhei,

já que abriu as pernas pra ele.


Tombei a minha cabeça e ri. Ri para não chorar.

— Pode não acreditar, mas nem todo homem me quer. Sua filha não

é essa beleza toda que você acha que ela é. Olhe bem para mim!

— É linda como a sua mãe — grunhiu.

— Você me achar bonita não me faz irresistível para todos os

homens — fui desdenhosa, não me deixando levar pela doçura das palavras

dele. — Sem peito, sem curvas, cheia de espinha...

Escutei um som desdenhoso vindo de Edgar, e meu pai começou a

rir.

— Está vendo? O riquinho não parece se importar com isso, só com

a sua boceta. Se não te comeu ainda, fará de tudo para comer e você irá cair

na lábia dele.

— Filho da puta! — Edgar rosnou.

— Não, eu que tenho uma filha puta! — retrucou.

Edgar partiu para cima do meu pai, mas eu segurei seu braço para

contê-lo, mesmo sabendo que eu não tinha força nenhuma para impedir que

ele avançasse.

Edgar parou ao meu toque, girando o pescoço como para me


encarar, e meu pai riu de novo.

— Até finge bem em ser um cavalheiro! — Passou a mão pelo

terno, ajeitando-o.
— Vá embora! — gritei, sentindo o calor de Edgar transpassar o

tecido de seu paletó e alcançar as pontas dos meus dedos, mas eu não

removi minha mão.

Estranhamente, ele não se afastou do meu toque.

— Vamos, fedelha! Daqui em diante, você não irá mais se relacionar

com essas pessoas.

— Eu não vou com senhor, pai!

— O quê? — O timbre saiu esganiçado.


— E não vou continuar a morar com o senhor.

— É claro que vai!


— Não, não vou — falei em um tom firme, mesmo que as incertezas

sobre o futuro me amedrontassem.


— Não diga absurdos, fedelha. Vamos para casa, agora!

— Não! — Balancei a cabeça em negativa, reforçando minha fala.


— Já está na hora de eu crescer, de eu começar a viver. Estou cansada de

você me sufocar sempre me proibindo de sair, de fazer novos amigos. Não


aguento mais isso!

— Ingrata! Eu fiz de tudo por você! Te criei, te dei roupas, comida,


teto! Eu deixei que você cuidasse daquele menino.
— E eu retribui isso tudo que me deu sendo uma boa filha, cuidando

da casa, tomando conta do senhor.


— É sua obrigação!
— Não, não é! E mesmo que fosse, eu quero mais. Quero entrar na

universidade, quero estudar. Eu quero ter um futuro! — Imprimi toda a


paixão, toda determinação que havia dentro de mim, nessa frase.

Eu realmente queria minha liberdade. Na verdade, eu precisava


disso! Eu necessitava viver fora da bolha que ele havia construído. Eu

queria me permitir!
— Bobagem!
— Você teve a sua carreira!

— E te sustentei com ela, fedelha.


— Eu sei, mas eu quero ter a minha também, pai!

— Puta ingrata!
Me encolhi quando papai se aproximou de mim com a mão em riste,

como se fosse me bater, porém Edgar interveio, segurando o pulso dele com
força.

— Se eu fosse você não faria isso, velho!


— Você só ameaça! — debochou.

— Dessa vez tenho toda a intenção de cumprir! — A voz dele era


fria, tanto que, mesmo que não fosse direcionada para mim, eu senti que era

atingida por ela.


— Posso ser velho, mas devo ser mais forte do que você.
— Quer pagar para ver? — Edgar continuou naquele mesmo tom.
— Essa garota ingrata não vale o meu esforço.

— Então, por favor, vá embora — pedi.


— Eu vou, mas não pense que é por sua causa e, sim, por causa

dessa festa mixuruca que não serve os convidados direito… Eu tenho


certeza de que amanhã você vai se arrepender da sua decisão.

— Não vou, papai.


— É o que veremos — mostrou descrença. Dando as costas para

mim, continuou: — Fique sabendo, fedelha, que enquanto não voltar atrás e
me pedir perdão, você não vai poder pegar suas coisas. Afinal, você quer

ser independente, então que seja! Vamos ver se o seu riquinho e sua amiga
golpista vão te ajudar.

Antes que eu pudesse processar a sua ameaça ou mesmo dizer


alguma coisa, afastou-se com passos pesados, resmungando uma série de

palavrões.
Tive vontade de ir atrás dele, queria defender minha posição, mas
sabia que se eu fizesse isso levaria a discussão para o salão, o que se

transformaria em um escândalo. De toda forma, não tinha certeza se


conseguiria falar nada, não quando eu parecia paralisada, com as lágrimas

retornando com toda força, descendo quentes pelo meu rosto.


Capítulo seis

— Caralho! — murmurei o palavrão entre os dentes, seguido de


vários outros.

A raiva era algo que eu vinha sentindo com bastante recorrência já


há algum tempo, mas neste momento, eu não estava com raiva, eu estava

com ódio, ódio que parecia alimentar todos os impulsos violentos dentro de

mim.
Porra!

Nunca estive tão próximo de esmurrar alguém.

Nunca quis tanto deixar-me levar pela irracionalidade da violência e


transformar o rosto daquele verme em uma massa irreconhecível.
Meu sangue queimava. Minha mente estava presa na imagem dele

levantando a mão para agredir Thais.

Desgraçado!

Somente covardes batem em mulheres. Foi o toque dela que me

impediu de cometer uma atrocidade que eu sabia que não me arrependeria.


Ouvir um soluço dela me fez sair de meus pensamentos. Sem pensar

muito, girei o meu corpo e, esticando os braços, trouxe-a contra mim,

tentando oferecer algum conforto. Mesmo dominado pela selvageria, cada

centímetro meu ficou consciente da mulher... do calor de sua pele... do

cheiro suave do perfume dela... de como nossos corpos pareciam se


ajustar... do quanto um simples abraço dela poderia me excitar e que, em

outras circunstâncias, me faria cometer uma loucura sem volta, pois queria

beijá-la, mas o choro baixo só aumentava a minha fúria direcionada ao pai

dela.

Filho da puta abusivo e tóxico!

Quanto tempo se passou, eu não sabia dizer, mas quando ela se

afastou e deu um passo para trás, meu corpo protestou contra a distância.
Dei um passo à frente, nos aproximando outra vez, tão

inconscientemente como tinha me afastado de Rafael para procurá-la meia

hora atrás quando a vi indo para a sacada. Eu não era idiota. Por mais que

ela estivesse sorrindo e tentando se divertir, a tensão estava lá e se tornava


cada vez maior toda vez que o pai levava um copo aos lábios. Foi fácil

somar dois mais dois, como foi igualmente fácil impedir que os garçons

oferecessem bebida alcoólica para ele.

— Obrigada por me consolar, Edgar — sussurrou.

— Não precisa me agradecer, não quando eu fui parte do

problema… — retruquei, contendo a minha vontade de deslizar as pontas


do meu dedo pelo rosto dela.

Meus lábios se torceram em uma careta. A minha falta de

autocontrole em ficar encarando-a o tempo todo e o toque inapropriado na

igreja haviam levado a isso.

— Não é a primeira vez que James faz esse tipo de coisa. — A voz

soou fraca, e não escondia a dor. — Papai muitas vezes cria situações

ridículas na cabeça dele. Não podem falar um oi para mim que ele acha que

o cara vai querer me levar pra cama!

Deu uma risada com o próprio comentário, mas não consegui achar

graça. Na verdade, meu asco pelo pai dela aumentou ainda mais.
— O problema está longe de ser você, Edgar. Se tem algum culpado

nisso tudo é papai... e eu também, que deixei essa situação ir longe demais e

chegar nesse ponto.

— Você não tem culpa de nada, Thais.


A veemência com que falei isso, tentando tirar dos ombros dela a

responsabilidade do que havia acontecido, me foi completamente estranha,

mas não mergulhei a fundo nos meus sentimentos extremamente caóticos e


volúveis.

— Eu deixei que ele mandasse na minha vida por tempo demais,

Edgar.

— Relação com pais às vezes é complicado.

— A sua é? — perguntou suavemente e confesso que fiquei

surpreso por ela não saber.

— Depois do nascimento dos gêmeos, sim...

— Sinto muito, Edgar!

— Faz parte…

— Não deveria — retrucou.

— Talvez seja melhor assim — disse mais para tentar convencer a

mim mesmo do que a ela.

Sabia que Jax e Spencer sentiam falta do amor materno e que aquilo

deixaria marcas ferradas neles.

— Eles são meninos tão doces e carinhosos. — Emitiu um suspiro

baixinho.

— E bagunceiros — completei, sentindo uma onda de ternura por


eles.
— Um bocado, mas a vida é mais divertida com bagunça…

— Provavelmente…

Deu uma risada e eu me peguei sorrindo para ela. Mesmo que eu

não pudesse ter certeza, eu sentia que nossos olhares estavam presos um ao

outro. Uma agitação desconhecida vibrou no meu corpo, disparando os

meus batimentos cardíacos, deixando a minha respiração ofegante.

Fechei os olhos, querendo colocar um fim naquela sensação que eu

não queria sentir, mas isso não foi capaz de interrompê-la.

Porra! Que merda era aquela?

— Você pode me prometer uma coisa, Edgar? — sussurrou.


— O quê? — Forcei-me a abrir os olhos e a vi se afastar, colocando

uma distância entre nós. Dessa vez não me movi, apenas ignorei a sensação

de rejeição.

— Por favor, não conte para Riccardo nem para Juliana o que

aconteceu hoje. Melhor, esqueça o que aconteceu aqui.

— Difícil… — Passei a mão pela minha barba.

— Eu sei, mas, hoje, é um dos dias mais especiais da vida deles.

Fora que eles vão viajar amanhã cedo, não quero que os meus problemas

estraguem a lua de mel deles. Minha amiga vai ficar preocupada comigo.

— E com razão, Thais. Você foi expulsa de casa, seu pai está

fazendo chantagem para que você volte rastejando e aceite as condições que
ele te impôs. — Fiz uma pausa, a raiva que sentia por esse cara me

consumindo. — Você precisa de apoio nesse momento. Tem outros amigos

próximos?

— Não.

— Caralho! Você precisa da ajuda da sua amiga, agora!

— Eu sei, mas não posso fazer isso com Ju, Edgar, não quando já

ela me deu tanto em troca. Juliana me deu uma ocupação, me deu a amizade

dela. Ela enxugou as minhas lágrimas sempre que precisei. Estou com um

pouco de medo? Sim. Estou perdida? Sim. Queria o abraço dela nesse

momento? Sim. Mas eu não quero ser egoísta e estragar esse momento

dela... eu vou dar um jeito.

Não respondi, sentindo uma onda de admiração pela mulher à minha

frente. Eu podia compreender as razões dela em se manter em silêncio,

apesar de não concordar com Thais, mas talvez eu fizesse o mesmo se

estivesse no lugar dela.

— Eu já estava pensando em sair da casa do meu pai há algum

tempo, estava me organizando para isso, James só adiantou um pouco esse

momento. Sobre as minhas coisas, o que ela e Riccardo me pagam como


babá me permitirá comprar tudo de novo.

— Entendo.

— Quando a Ju chegar, eu conto para ela.


— Você tem onde ficar?

— Vou encontrar um lugar.

— Caralho! — rosnei.

— Vai ficar tudo bem, Edgar.

Bufei.

— Você vai ficar no meu apartamento enquanto isso — a sugestão

escapou pela minha boca antes que eu me desse conta.

— Eu agradeço, mas não será necessário.


Fiquei petrificado por um segundo ou dois.

— Sério isso? — Explodi, incrédulo, passando a mão pelos cabelos.


— Não precisa gritar comigo! — A voz saiu ferida.

Merda! Eu não deveria gritar com uma garota fragilizada. Baixei


meu tom.

— Você disse que não tinha para onde ir. Meu apartamento tem
várias suítes vagas.

— Eu ficarei num quarto de motel enquanto procuro um local


melhor.

Senti que gelava ao pensar naquela mulher sozinha e vulnerável em


um local que poderia ficar refém de qualquer canalha.
— Porra! Está louca? — grunhi. — Eu não vou deixar você fazer

essa merda!
— Você não pode me impedir, Edgar.
— Posso e vou!

Foi a vez dela bufar.


— Caralho! Você não entende? — Tentei me controlar para não

gritar outra vez. — Riccardo vai me matar se souber que eu deixei você ir
para um motel, lugar sem segurança nenhuma!

— Eu não sou idiota em ficar em um local que não me sinta segura.


Além do mais, você não tem nenhuma obrigação comigo, Edgar.
— Você é a melhor amiga da esposa do meu melhor amigo.

— E daí?
— Não seja cabeça dura, Thaís! — resmunguei. — Você vai para a

minha casa, caramba!


— Não, Edgar.

— Qual o problema da minha casa?


— Você tem a sua rotina... e eu sou uma estranha.

— Os gêmeos adorariam ter você lá por um tempo…


Eu não tinha a mínima ideia porque a recusa dela me incomodava

tanto, muito menos a razão pela qual estava insistindo tanto. Eu deveria
estar ficando maluco ao querer essa mulher dentro da minha casa. A

presença dela seria infernal para o meu controle já fodido.


Caralho!
— O Batata também ia gostar— completei, dizendo a mim mesmo
que era o mais certo a se fazer.

— Você joga sujo! — respondeu um tom divertido.


— Jogar sujo seria ameaçar contar para Riccardo… — Dei de

ombros.
— Você não faria uma coisa dessas! — gritou.

Dei uma risada.


— Pela sua segurança? Sim, faria. Você escolhe.

— Isso é chantagem.
— Se você acha…

Suspirou.
— Não será um incômodo?

— Eu não teria oferecido se fosse um problema, Thais — murmurei,


embora o meu bom senso dissesse que sim.

— Obrigada pela gentileza.


— Isso é um, sim? — Senti algo estranho na boca do meu estômago.
— Sim, mas ficarei por uns dois dias ou três, no máximo…

— Okay! — concordei, a contragosto.


— Realmente não tenho como te agradecer, Edgar, por não contar a

eles e por se dispor a me ajudar — falou ao se aproximar.


Surpreendendo-me, ficou nas pontas dos pés e deixou um beijo na

minha bochecha.
Uma onda avassaladora de desejo se apoderou do meu corpo. Fechei

meus olhos e o deixei me consumir.


Caralho!

Eu fiquei bambo só com um casto beijo.


Mil vezes merda!
— Vou ao banheiro me recompor antes de voltar para a festa. Com

certeza Ju deve ter notado o meu sumiço e que meu pai foi embora.
— O que você vai dizer a ela?

— Ainda não sei…


— Não gosto de mentiras, Thais!

— Eu também não, Edgar, mas ela irá entender por que eu fiz isso.
Fiquei em silêncio, ponderando.

— Tudo bem.
— Agora deixe eu ir antes que eu acabe perdendo a oportunidade de

tentar pegar o buquê. Quem sabe eu tenho sorte! — Falou em meio a uma
risada juvenil antes de se afastar de mim.

Fiquei parado enquanto um calafrio percorria a minha coluna. Era


apenas uma superstição tola que tinha a mínima chance de resultar em um

casamento, mas as palavras dela soaram como uma sentença sobre mim.
Emiti um som de desagrado.

Tolo ou não, culpei o cansaço, a raiva e os acontecimentos da última


meia hora quando eu passei a torcer para que a garota não pegasse o

maldito buquê.
Capítulo sete

Mentir para Juliana por que não fui embora com meu pai foi uma
das coisas mais difíceis que eu tive que fazer, mas ver o sorriso com que ela

deixou a festa me deu a certeza de que eu havia feito a coisa certa em não a
preocupar.

E eu também não estava sozinha.

Forcei meu olhar a permanecer nas ruas iluminadas de Seattle, ainda


que eu quisesse encarar o homem ao meu lado que tinha me estendido a

mão mesmo que não passássemos de meros conhecidos. Ele poderia ter

soado como um arrogante controlador, mas Edgar havia me surpreendido


com a sua oferta de me oferecer um lugar para ficar. Eu sabia que não

deveria ter aceitado, que era melhor eu tentar dar um jeito sozinha, sendo

finalmente a mulher independente que há muito eu queria ser, mas acabei


concordando por uma razão que eu não sei bem definir. Talvez fosse a

insistência dele...

Felizmente, como o milionário tinha dito, os gêmeos ficaram

empolgados, o que terminou de derreter o meu coração. Jax e Spen, apesar

de travessos, eram meninos doces. Faria de tudo para retribuir o carinho


deles por mim naqueles dias que passaria com eles.

Eu não queria pensar muito no que fazer, mas sabia que eu não

podia ficar muitos dias no apartamento de Edgar, não sem ser um tremendo

incômodo. Eles tinham uma rotina a ser seguida, e sabia que, bem ou mal,

eu acabaria atrapalhando.
Comecei a fazer uma lista mental de coisas que eu deveria fazer

amanhã mesmo, como procurar uma quitinete já mobiliada para alugar,

comprar roupas e itens de higiene pessoal.

Só então a minha ficha caiu sobre a realidade imposta pelo meu pai.

Eu não tinha nada, só aquela roupa no meu corpo.

— Será que tem alguma loja aberta a essa hora? — perguntei em

voz baixa, me virando para ele.


— Loja? — Franziu o cenho.

— De roupas. Eu não posso dormir assim.

— Duvido que terá algo aberto às duas da manhã, Thais.

— Uma loja de departamentos?


— Não na minha região. Conhece algum?

— Não, mas podemos procurar na internet.

— Sendo honesto? Estou cansado pra caralho, Thais — sussurrou.

— Entendo. — Mordisquei meu lábio. Eu não podia abusar mais da

boa vontade dele.

— Posso fazer uma ligação quando a gente chegar e pedir a minha


secretária para contatar um estilista. Tenho certeza de que algum deles

ficará muito feliz em providenciar alguma coisa para você vestir.

— Estilista? — Arregalei os olhos.

— Sim.

— Deus! — Minha voz soou mais alta do que deveria e eu olhei

para trás, temendo ter acordado os gêmeos que, cansados, há muito tinham

pegado no sono no banco de trás. — Eu não tenho dinheiro para isso. —

Terminei em um cochicho.

— Não se preocupe com a conta, eu resolvo esse problema.

— Isso já é demais, Edgar!


Os lábios dele se torceram em desagrado.

— É isso ou ficar nua, Thais! — falou em um tom baixo que eriçou

os pelos do meu corpo e deixou minha boca seca.

— Eu não posso ficar nua — sussurrei, sentindo o peito disparado

ao me imaginar ficando pelada na frente desse homem.


Ele gostaria do que veria? Não, claro que não. Pensar que sim seria

me deixar levar pelas mesmas bobagens que o meu pai dizia.

Se precisasse de confirmação, a carranca de Edgar dizia tudo.


— Por que não?

— Você está louco?

— Provavelmente — quase não escutei a palavra sussurrada.

— Eu não vou ficar pelada no seu apartamento, Edgar.

— Nem para tomar banho, Thais? — perguntou com um tom neutro,

virando o volante para entrar numa rua.

Revirei os olhos.

— Não sabia que detestava tomar banho — continuou. — Devo me

preocupar com você sendo má influência para os gêmeos?

— Claro que não — grunhi.

Edgar deu uma risada e temi que ele acordasse os meninos, o que

acabou não ocorrendo.

— O que será? — Pareceu estar falando sério.

— Se realmente me puder arrumar algumas coisas... — murmurei,

evitando pensar no quanto ele gastaria com essa brincadeira toda.

— Okay. Tamanho?

Enquanto falava meu número, Edgar entrava com o carro em uma


garagem subterrânea de um condomínio de luxo na Union St que nunca
imaginei que pisaria algum dia.

— Acordem, ferinhas, chegamos! — Edgar falou, mexendo nos pés

dos gêmeos.

Continuou a mexer nas pernas e nos pés deles por um tempo e me

surpreendeu que eles tivessem um sono tão pesado.

— Chegamos, mano? — Jax choramingou com voz sonolenta.

— Sim. Vamos indo!

— Tá.

— Abra os olhos, Spencer, eu sei que está acordado.

— Ah, não!
— Nada de ah!

— Ah!

— Eu não vou te carregar, então levante-se.

— Tem que tomá banho, mano? — Jax questionou, removendo o

cinto.

— Tá tarde! — Spencer falou.

— Caralho! Eu tenho um bando de porquinhos em casa!

— Hey! Eu já falei que vou tomar banho! — Coloquei as mãos na

cintura, fingindo que estava brava.

Os gêmeos riram enquanto deixavam o veículo.


— Sei, sei. Bora lá todo mundo para o banho, meus três porquinhos!

— Brincou, fazendo os meninos rirem ainda mais.

Acabei sorrindo, seguindo em direção ao elevador.

Assim que Edgar abriu a única porta do andar com sua digital, um

cachorro sapeca, balançando o rabo freneticamente, saiu por ela para fazer

festa.

— Oi, querido — falei enquanto ele me cheirava para ver se eu era

alguém amigo.

Gargalhei quando ele colocou as duas patas enormes sobre as

minhas coxas, e escutei a risadinha dos gêmeos.

— Você é muito bonitão, sabia? — Segurei a carinha de pelagem

preta e dourada e completei: — E também muito macio!

Deixei um beijinho no focinho dele enquanto acariciava seus pelos e

ele latiu para mim.

Os gêmeos se juntaram a mim e começamos a brincar juntos com o

cachorro que não sabia para quem dava atenção primeiro. Não me

surpreendeu quando eu acabei sentada no chão com os três, rindo,

recebendo mais afeto do que eu poderia imaginar.


— Vocês estão me enrolando, porquinhos — Edgar falou em tom de

diversão em meio aos latidos.

— Tamo não! — Spencer disse animado


— É! — Jax concordou.

— Está tarde, meninos. Amanhã vocês brincam mais.

— Ah! — Falaram em uníssono e achei graça quando o animalzinho

endossou o coro.

O homem arqueou a sobrancelha.

— Já para o banho!

— Tá! — Se ergueram com facilidade e correram para dentro do

apartamento.
Batata, achando que era uma brincadeira, os seguiu animado,

latindo. Dei uma risada e tentei me levantar, mas sem muito sucesso.
Edgar se aproximou e estendeu a mão para mim.

— Obrigada!
Sorri ao colocar a minha palma sobre a dele e o contato, mesmo que

breve, fez com que uma espécie de calor me dominasse. Ficar de pé tornou-
se difícil, já que minhas pernas ficaram instáveis.

Perdi completamente o meu fôlego quando Edgar me conduziu até


uma sala de estar enorme, de pé direito alto, com uma porta de vidro que

cobria toda a extensão do cômodo e dava para uma sacada.


Como se eu fosse uma abelha atraída por uma flor, sem dar conta do
que estava fazendo, caminhei até a porta de vidro, enfeitiçada pela vista.

Nunca havia visto a Great Wheel a noite e ver a roda-gigante iluminada,


com seu reflexo colorido espelhado nas águas da Elliott Bay, foi algo
mágico.

— A vista é linda — murmurei, fascinada, quando ouvi os passos


dele se aproximando de onde eu estava.

Respirei fundo, tentando controlar as sensações que a proximidade


de Edgar me provocava, mas não consegui, já que o cheiro dele impregnou

a minha mente.
— Foi por isso que eu comprei esse apartamento — disse em meio a
um arfar. — Acho mais bonita no fim de tarde.

— Impossível. Não tem as luzes da Great Wheel.


Emitiu um suspiro profundo e eu encarei o homem com o canto do

olho. Ele parecia sério ao encarar fixamente a roda-gigante.


— O que é a luz artificial em comparação a do sol nascendo ou se

pondo sobre toda a baía?


— Verdade.

— Você vai ver que tenho razão, Thais. — Os lábios se curvaram


para cima.

— Nem um pouco arrogante.


Olhou para mim, parecendo divertido, e eu comecei a sorrir para ele.

Os olhares ficaram presos um no outro. O tempo pareceu ficar suspenso


enquanto eu tinha a impressão de que conversávamos em silêncio. Meu
corpo foi invadido por várias sensações conflitantes e, outra vez, Edgar fez
meu pulso bater forte, minhas pernas vacilarem. Mergulhei naqueles olhos

escuros, profundos e insondáveis, que mesmo assim eu tentei desvendar,


mas sem sucesso. Só parei de tentar alcançá-lo quando senti a umidade de

um focinho em minha palma e uma rabada contra a minha perna.


Acariciei o corpinho rebolento de Batata e vi Edgar dar um passo

para trás, a expressão se tornando pétrea, como se não tivesse sequer por
um minuto sentido algo.

— Quer conhecer o quarto que você vai ficar?


Engoli em seco e respondi:

— Claro!
O segui em silêncio e, quando alcançamos o fim do corredor, ele

abriu a porta de uma suíte. Eu passei por ela, junto com Batata, que trotava
ao meu lado.

— Não! — Deu o comando quando o cachorro quis subir em cima


da cama enorme de ferro fundido, decorada com uma colcha bordô e vários
travesseiros.

O cãozinho latiu, olhando para o dono.


— Não estou aberto a negócios, Batata. Venha aqui!

Parecendo indignado, ele trotou em direção a Edgar.


— Bom garoto — sussurrou, coçando atrás da orelha do animal,

abrindo um sorriso para ele.


O cachorro passou a pata nas pernas dele, querendo mais carinho.

Edgar olhou para mim e disse:


— Acho que tem tudo o que você pode precisar no banheiro, mas se

precisar de algo, só me dizer que eu providencio.


— Obrigada!
— Fique à vontade na minha casa, Thais. Pode usar sem cerimônia a

hidromassagem, a sauna, mexer na geladeira se estiver com fome… e ficar


nua — terminou com a voz rouca.

Com um último olhar, que não conseguir decifrar nada, mas que me
deixou de pernas bambas, deu as costas para mim e, fazendo um gesto para

o cachorro, deixou o quarto, fechando a porta atrás de si.


Suspirei, trêmula, e me sentei na beirada da cama, bastante fofa e

convidativa a dormir, começando a remover as sandálias, depois os brincos


que havia ganhado da minha melhor amiga. Enquanto fazia isso sentia todo

o cansaço pesar sobre os meus ombros.


Estava esgotada, física e emocionalmente.

Obriguei-me a ir em direção ao banheiro para tomar um banho. Não


foi uma surpresa quando confundi com a porta do closet. Com uma risada,

abri a porta certa e, quando entrei no cômodo, uma exclamação escapou dos
meus lábios ao ver a banheira de hidromassagem que mais parecia uma

pequena piscina pelo tamanho e profundidade. Fiquei admirada com a


beleza dos azulejos que a revestiam.

Aproximei-me e, quando vi uma espécie de bomboniere com


bombas de sais num canto, acabei desistindo da ideia de ir logo me deitar.

Quanto tempo eu não entrava em uma banheira que me cabia, que não tinha
que encolher as minhas pernas?

Mesmo que já fosse tarde, não resisti e fui abrir o registro. Em


seguida, removi a minha roupa, colocando-a em uma bancada, e prendi

meus cabelos em um coque no alto da cabeça.


— Deus! Isso é muito bom! — murmurei ao entrar na água morna e

cheirosa pelos sais, sentindo os jatos sobre a minha pele.


Mergulhei boa parte do meu corpo e tombei a cabeça na borda da

banheira enorme, dando uma risada ao mover os dedos dos pés.


Brinquei um pouco com a água até que estiquei minhas pernas e
fechei os olhos, deixando que a massagem relaxasse todos os meus

músculos tensos.
Os sons de prazer me deixavam sem que eu me desse conta. Eu não

me importava se a água já estava esfriando, porque aquilo era muito, mas


muito bom. Acabei rindo outra vez com o pensamento de que eu poderia

muito bem dormir ali.


Uma batida na porta fez com que eu desse um pulinho na banheira
com o sobressalto.

— Thais? — A voz rouca e abafada de Edgar transformou o susto


em uma onda intensa de calor e também vergonha por estar nua na
banheira.

Meus olhos foram em direção a porta e só então me dei conta de


que, na minha empolgação, eu não havia trancado nenhuma das portas.

Fiquei mortificada.
Minha cara queimava.

E se ele abrisse a porta?


Outra espécie de quentura me invadiu e meu corpo pareceu se

derreter. O desejo que eu não deveria sentir por Edgar se espalhou com
rapidez.

— Thais?! — Ele bateu na porta outra vez.


— Sim? — Tive que dizer duas vezes para me fazer ouvir.

— Deixei as roupas em cima da cama.


— Obrigada, Edgar.

— Precisa de mais alguma coisa?


— Não, no momento não…

Ou talvez sim.
Deus!
— Então, boa noite.
— Boa noite! — Não sei se ele escutou, já que minha voz saiu

baixa.
A magia da banheira havia se extinguido, mas, mesmo assim, tomei

o meu banho como se a água não estivesse me congelando.


Deve ter se passado quase meia hora quando deixei o banheiro com

o coração aos saltos, apertando o roupão que encontrei atrás da porta contra
o meu corpo, como se Edgar estivesse me esperando no quarto. Claro que

não estava e eu não entendi minha decepção.


— Tola — murmurei, indo até a porta para trancá-la.

Fui até as roupas que ele havia providenciado e deixado em cima da


cama, que eu sequer havia olhado.

Franzi o cenho ao ver a pilha de caixas e sacolas sobre a cama que


poderia muito bem ser o estoque de uma loja.
— Exagerado!
Revirei os meus olhos, começando a abrir as embalagens uma por

uma, procurando pelas calcinhas.


Ele teria pedido algumas, não? Deus, tomara que sim.
Peguei a última sacola, sentindo certa esperança, que logo morreu
quando eu abri um dos pacotinhos. Ergui a peça frágil que encontrei com a

ponta do dedo.
Era uma calcinha, sem dúvidas, mas que diabos eu faria com aquela
calcinha minúscula?
Capítulo oito

O despertador tocou e, por mais que eu quisesse continuar a dormir,


eu sabia que em menos de uma hora eu tinha uma reunião com Matsumoto

e alguns conhecidos dele.


Havia tentado remarcar a reunião para um outro dia que não fosse o

seguinte ao do casamento do meu melhor amigo, mas ele foi inflexível.

Caralho!
Odiava dançar conforme a música dos outros e me perguntava o

porquê de uma sociedade com Matsumoto ser algo tão importante para

mim.
Bom... Dinheiro.
Seriam milhares de dólares e ienes que iriam me aproximar mais da

casa dos bilhões na minha conta bancária.

Fora que eu usava o império farmacêutico dele como laboratório

para a tecnologia que minha empresa vinha desenvolvendo para diminuir

ainda mais a produção de resíduos durante a manipulação dos remédios,


fora outras tecnologias que poderiam ser pensadas na gestão de resíduos,

ampliando para outras áreas da indústria química.

Resumindo, era apenas a minha ambição que me manteve

controlado e me impediu de explodir com ele, mandando a merda essa

parceria.
Meus lábios se torceram com amargura.

Sabia que a minha relação de negócios com Matsumoto e lidar com

os comentários dele eram os menores dos problemas, o pior era controlar o

maldito desejo insano que eu sentia por Thais, desejo que se tornou ainda

maior quando a provoquei ao falar para ela andar nua no meu apartamento.

Que caralho estava pensando quando falei essa merda? E pior,

insistindo nas provocações. No carro, foi quase impossível não deixar


minha mente criar imagens daquela mulher nua.

Caralho!

Quando entrei no quarto dela, que, para minha surpresa, a porta

estava destrancada, para levar as roupas que uma das grifes rapidamente me
enviou, e parei próximo a porta do banheiro, todo o meu autocontrole tinha

ido para o saco, principalmente quando não escutei o som do chuveiro e,

sim, som da água vindo da hidro.

Eu fiquei fodido.

Foi rápido imaginar a mulher de costas, dando-me uma visão

deliciosa da bunda pequena arrebitada antes de entrar na banheira. Muito


mais fácil foi pensar nela usando os dedos para se tocar, a expressão

tornando-se mais enlevada à medida que acariciava o clitóris inchado,

dando-se prazer. Tinha sido extremamente difícil não girar a maçaneta para

ver se, como o quarto, a porta do banheiro também estava destrancada e,

quem sabe, acabar tendo um vislumbre do corpo gostoso. Ia agir não apenas

como um babaca, mas me tornaria um filho da puta assediador se fizesse

isso.

O pensamento de me tornar alguém tão repulsivo fez com que eu

sentisse um ódio visceral de mim mesmo. Avisei sobre as roupas e, como se

estivesse possuído por um demônio, saí rapidamente do quarto dela, indo


para o meu. Assim que entrei, fiquei tentado a dar um soco com força

contra a parede, já que eu não poderia surrar a minha cara.

Nem mesmo a raiva fez com que a minha ereção baixasse, me

deixando mais puto. Passei a madrugada duro, pois cedi a minha mente
perversa bastante criativa, que tinha sido capaz de fantasiar com ela nua

invadindo o meu quarto, e isso acabou sendo a minha penitência.

Não me dei alívio, torturando-me de propósito, deixando que o meu


pau duro baixasse sozinho, o que foi bem difícil. Ter conseguido dormir,

mesmo que por poucas horas, foi surpreendente, ainda mais quando, como

um filho da puta, passei a fazer sexo com Thais mentalmente, imaginando

os sons prazerosos que escapariam dela enquanto mergulhava em seu canal

cada vez mais contraído pela excitação.

Um grunhido brotou da minha garganta ao imaginar a mulher se

mexendo debaixo do meu corpo ao passo que retribuía o meu beijo com um

desejo que se igualava ao meu.

Ergui meu tronco em um movimento súbito quando senti meu pau

ficar duro outra vez, latejando contra o meu short, e abri meus olhos, a

claridade me cegando.

— Caralho! — sussurrei, tentando afastar Thais dos meus

pensamentos e também ignorar a ereção dolorosa.

Mesmo não enxergando direito, automaticamente busquei pelo meu

celular e desliguei o alarme que durante o tempo todo continuou tocando.

Pisquei os olhos várias vezes, acariciando a barba que cobria o meu rosto,

lutando contra a claridade até que minha vista se acostumasse e eu pudesse


começar o meu ritual diário, que consistia em passar alguns minutos

admirando a Baía de Elliott.

Meu melhor amigo poderia dizer que a baía não passava de águas

sujas e que vista de verdade era das montanhas italianas, mas havia algo na

imagem que exercia um magnetismo sobre mim e que me fazia ser capaz de

contemplar o mar por minutos a fio, o mesmo magnetismo que me fazia

olhar para Thais. Não, estava longe de ser. A atração que sentia pela

paisagem era apenas uma centelha se comparada a minha necessidade de…

— Para com isso, porra! — grunhi.

Dei um soco na cama, com raiva. Desferi vários outros até que,
sabendo que eu estava fazendo um papel ridículo, ergui-me e prossegui com

o meu dia.

Vinte minutos depois, eu fechava os botões da minha camisa social,

me sentindo mais no controle de mim mesmo, determinado a não pensar

mais em Thais.

Peguei o meu celular e, depois de checar a minha agenda, abri o

meu e-mail para conferir se havia alguma mensagem urgente ou documento

que precisava da minha assinatura eletrônica enquanto caminhava em

direção a cozinha para preparar um café.

Estava disperso, passando o olho rapidamente sobre um relatório

mensal de uma pequena empresa que produzia salsichas defumadas de


porco que eu tinha sociedade, quando risadas fizeram eu estacar no lugar e

desviar a minha atenção do aparelho.

Fiquei surpreso em ver os meus irmãos sentados nos bancos da ilha

conversando animadamente com a mulher que mexia nos armários e lutava

para afastar o cachorro que xeretava com o focinho, querendo pegar alguma

coisa. Por mais que fossem nove horas, como eles foram dormir tarde,

imaginei que eles acordariam lá pelas onze.

— Vocês estão rindo da minha cara, mas realmente sou muito rápida

— falou, atraindo a minha atenção para ela.

Da curva elegante do pescoço, que estava exposto por conta de ter

feito um coque no topo da cabeça, meu olhar foi para a bunda arrebitada

destacada pelo vestido que, para a minha irritação, não era apertado ou

curto. Não podia negar que o vermelho vivo da peça contrastava com a pele

preta, o que a deixava ainda mais bonita.

Rapidamente, minha mente imaginou a mulher usando um sutiã

vermelho e uma sainha de renda, que não esconderia a calcinha pequena e

transparente que deixava a bunda toda à mostra e…

Meu corpo começou a se agitar em resposta e isso fez com que eu


colocasse um basta nos meus pensamentos ridículos e impróprios que me

deixariam duro. Tentei me concentrar apenas na interação dos quatro.

— Mais do que o Flash? — Spencer pareceu empolgado.


— Vocês conhecem o Flash? — Thais perguntou, surpresa.

— Do filme! — Jax praticamente deu um gritinho.

— Sabia que ele é o meu super-herói favorito? — a jovem

continuou.

— Sério?

— Uhum… O superpoder dele pode não parecer fantástico perante

os outros, mas eu acho incrível porque a rapidez dele já salvou várias

pessoas.
— Ele é legal! — Jax moveu os braços para o alto.

— O Homem-Aranha é mais! — Spencer falou.


— É — meu outro irmão concordou.

— Não é não! — A garota resmungou e eu achei graça.


— É, sim! — Os gêmeos gritaram em uníssono e Batata latiu.

— Não mesmo!
— O Homem de Ferro é o melhor! — Jax continuou.

— Ninguém merece esse aí! — Thais falou.


— Ele é o meu favorito.

— O meu é o Homem-Aranha! — Spencer decretou.


— E eu achando que era o mano aqui. Bom saber que eu perco para
eles… — falei em tom decepcionado, fingindo mágoa.
Thais deu um pulinho no lugar com o susto e os gêmeos deixaram
correndo seus bancos para vir me cumprimentar, com o cachorro disparando

também na minha direção.


Guardei o celular no bolso da minha calça social e me agachei sobre

os calcanhares para receber o abraço dos meus meninos e as lambidas de


Batata.

— Oi, ferinhas. Acordaram cedo.


Deixei e recebi um beijo no rosto de cada um, mesmo que nós
homens fôssemos criados para não demonstrar afeto por outros homens...

meu pai havia me criado assim. Sabia que o meu carinho não supria
completamente a ausência do pai e da mãe na vida deles, mas eu fazia de

tudo para que eles se sentissem amados, e o amor vinha na forma de beijos,
abraços, conversas e brincadeiras.

— Estava com fome — Jax murmurou.


— Eu também — Spencer disse.

— Vocês comeram pouco na festa. — Acariciei o cachorro que me


dava rabadas querendo atenção.

— É…
— A Thay vai fazer panqueca! — Spencer disse com empolgação.

— Com calda de chocolate! — completou Jax, dando um sorrisinho


maroto. — E morangos!
— Nossa convidada não deveria cozinhar para vocês, ferinhas —
ralhei.

— Por que não? — Fizeram biquinhos.


— Dá trabalho.

— Eu que ofereci, Edgar — a mulher disse e eu desviei minha


atenção dos gêmeos para ela.

Meus pelos se arrepiaram ao ver que ela sorria diretamente para


mim, e eu maldisse aquela porra de sensação.

— Espero que não seja um problema a calda de chocolate e


morangos... — Pareceu insegura, já que não sabia nada da alimentação dos

gêmeos.
— Não, claro que não.

— Okay. — Voltou a sorrir em meio à algazarra dos meus irmãos,


que sempre ficam felizes com doces, e a latição de Batata, que os

acompanhava em tudo. — Vai querer também?


Balancei a cabeça em negativa, me erguendo.
— Daqui a quinze minutos tenho uma reunião. Só vim preparar um

café para mim. — Caminhei em direção aos armários.


— Vai trabalhar hoje, mano? — Spencer pareceu decepcionado.

— De novo? — Jax endossou naquele mesmo tom.


Mal sabiam o quanto não poder passar um dia inteiro com eles

partia o meu coração ao meio. Nesses momentos, me questionava se estava


fazendo a coisa certa.

Buscava ficar o máximo de tempo possível com os dois, melhor,


com os três, incluindo Batata, mas nunca me parecia o suficiente, afinal, eu

sempre tinha uma porrada de trabalho me esperando ao retornar para casa,


várias reuniões para comparecer e viagens que não podia levá-los comigo
por conta da escola.

Merda!
Odiava isso, mas o trabalho tinha sido uma válvula de escape, no

entanto, com o nascimento dos dois, tudo havia mudado. Eles haviam dado
um novo sentido a minha vida que nem sabia que precisava. Trabalhar

excessivamente, agora, não era tão atraente, preferia ficar com eles
brincando e rindo.

Outra vez me questionei o porquê daquela reunião e de eu aceitar


aquela imposição, e a resposta, a ambição de me tornar bilionário, não me

pareceu tão satisfatória. Eu já tinha o suficiente, não tinha?


— Mano?

— É, de novo, ferinhas — acabei murmurando, e fui pegar uma


cápsula de café para colocar na máquina.

— Ah!
— Você tem que ir trabalhar mesmo?

— Sim, Jax. — Coloquei o café no eletrodoméstico, que começou a


fazer um barulho quando eu liguei.

— Ah, não!
— Infelizmente, não tenho como não ir.

Usando o canto do olho, observei Thais, que mexia a massa com


agilidade, adicionando mais alguns ingredientes.

A expressão dela era pensativa e eu senti certa raiva ao imaginar que


nesse exato momento a mulher estaria me julgando.

Porra!
Será que ela não sabia o quanto era difícil para mim conciliar tudo?

Minha vida não era diferente da que a amiga dela levava antes de
reencontrar Riccardo, então, caralho, porque ela estaria me julgando?

Não era porque havia homens que muitas vezes não cumpriam o seu
papel com os filhos que eu era esse tipo de bosta.
Como se soubesse que eu a encarava, girou o pescoço e nossos

olhares se encontraram.
A raiva passou quando, depois de parecer entender o conflito que

vivia, vi compaixão nos olhos castanhos escuros.


Ela me compreendia. Muito. Talvez mais do que devesse, do que

seria seguro para mim.


Me senti estranho.
Quando na minha existência uma mulher pareceu compreender

aquilo que eu sentia só com um olhar?


Fui dominado por um calafrio que arrepiou todos os meus pelos.
Que porra, Edgar! Ninguém podia ler alguém tão bem assim só com

um olhar. Isso era balela.


— Assim que essa reunião terminar, eu prometo que não irei

trabalhar mais hoje, ferinhas — falei, virando-me para os meus irmãos,


fugindo do escrutínio daquela mulher e daquela sensação de compreensão

que com certeza foi criada pela minha mente.


— Tá.

— Vamo jogar videogame? — Jax pareceu mais animado.


— Claro! — Abri um sorriso para os dois.

— Eeeee.
— Enquanto isso, vocês têm que ficar quietinhos, brincando no

quarto de brinquedos, okay?


— Tá! — Jaxon abriu um sorrisinho.

— A Thay vai ficá brincano com a gente!


— Spencer…

— Quê? — Fez bico.


— Ela não está aqui para brincar com vocês — murmurei.
— Não? — Vi a decepção no rosto dele e do outro gêmeo, e eu senti
um nó se formando na minha garganta. Outra vez, fui dominado pela

sensação de estar falhando com eles, uma bastante aguda.


Eu não era suficiente. Nunca seria.

— Não, ferinha — confirmei.


— Por quê?

— Por que…
— Por que não, Edgar? — A voz feminina me cortou.

Virei-me para ela e vi que Thais passava o desmoldante na frigideira


para começar a fazer as panquecas.

— Porque você não é obrigada a fazer isso.


— Não, não sou.

— Não tem coisa melhor para fazer?


— Como o quê? — Arqueou a sobrancelha para mim.
— Sei lá! — Passei a mão pelo queixo.
— Vamo brincar? — Meus irmãos gritaram, animados. Batata latiu

alto, já que adorava algazarra.


— Vamos! — A mulher falou.
Fizeram mais festa.
Antes que eu pudesse dizer algo, meu celular até então esquecido

tocou.
Não precisei checar o visor para saber quem era: Matsumoto.
Eu estava atrasado e ele iria encher meu saco.

Merda!
A ligação caiu, mas voltou a tocar, então não tive dúvidas de quem
era.
Com uma calma que não deveria estar sentindo, enquanto meus
irmãos engatavam uma conversa novamente com a garota e o toque ecoava

pela cozinha, virei-me para pegar a minha caneca de café. Tomei um gole
da bebida forte, sem açúcar, degustando as notas mais amargas do grão
arábico produzido na Etiópia.
Beberiquei mais um pouco do líquido escuro. Excelente!

— Não vai atender, Edgar? — Thais falou, me tirando da minha


apreciação.
Olhei para ela, que tinha o cenho franzido, e respondi:
— Não, eu já estou indo. — Tomei mais outro gole.

— Okay. — Uma sobrancelha dela se arqueou e eu achei graça.


Caralho, com aquela pose, ela parecia uma esposa mandona!
Meu humor azedou com a analogia descabida e eu forcei-me a
caminhar para deixar a cozinha, mas o cheiro delicioso das panquecas

tornava a ação difícil.


— Ferinhas? — Falei, me virando na direção dos gêmeos antes de
entrar no corredor. Para minha surpresa, os dois haviam se levantado e

estavam próximos da mulher. Nenhum deles pareceu me escutar, então me


forcei a falar mais alto: — Jaxon e Spencer?
— O quê?
— Sim? — falaram ao mesmo tempo, se virando na minha direção.

— Comportem-se e obedeçam a Thais. Se desobedecerem, teremos


uma conversa séria quando eu voltar — avisei.
— Tá! — falaram, se virando logo na direção dela outra vez.
Sendo ignorado por eles, obriguei-me a continuar o meu trajeto.

Quando os latidos e as risadas infantis e da mulher me alcançaram,


lutei contra a vontade imensa de não ir participar da reunião, tacando um
foda-se para tudo e ficando com eles. Tinha achado que havia vencido essa
batalha quando me coloquei atrás do computador, mas soube que eu havia
sido derrotado quando a sensação de que estava perdendo algo me invadiu,

me massacrando.
Capítulo nove

Tombando contra o encosto da minha cadeira presidencial, fechei os


meus olhos, sentindo minha têmpora latejar com a dor de cabeça.

Havia tomado analgésicos, mas foi a mesma coisa de ter ingerido


nada.

Suspirei, cansado.

Sabia que só oito horas de sono ininterruptas fariam com que o


pulsar doloroso passasse, mas também estava ciente de que demoraria um

bom tempo para que eu pudesse pousar minha cabeça contra um

travesseiro.
Tinha uma reunião daqui meia hora, um encontro de negócios para

comparecer mais a noite que se sabe lá que horas iria terminar, além do
trabalho rotineiro. Acariciei minha barba por fazer. No dia seguinte, seria a

mesma correria. Isso que dava pedir ao secretário para encaixar todas as

reuniões possíveis em dois dias, só para poder voltar o mais rápido possível

para casa. Detestava Nova York com todas as forças, mesmo que eu não

tivesse um motivo plausível para tal. Talvez fossem as cinco horas de


distância dos meus irmãos e de Batata. Ou o trânsito sempre caótico. Ou

simplesmente porque não gostava.

O pulsar da minha dor de cabeça pareceu ficar ainda mais forte e eu

tornei a emitir um som longo e profundo.

O tempo passava rápido, rápido demais. Eu sobreviveria a essa


maratona, como sempre.

O meu celular tocou e, imaginando que era o meu secretário, já que

tinha pedido a ele para entrar em contato com um dos meus advogados para

ver se a parte jurídica de um documento enviado por Matsumoto me dava o

respaldo legal que eu precisava, atendi sem olhar:

— Conseguiu entrar em contato com ele?

— Com quem? — A voz feminina afetada fez com que o meu corpo
ficasse rígido, a cabeça ficando imediatamente mais pesada.

Caralho!

— Não te interessa, porra. — Passei a mão furiosamente pelos

cabelos, mas arrependi-me em seguida de tê-los desarrumado.


A pessoa do outro lado emitiu um chiado.

— Sua mãe não te deu educação, garoto?

— Você deve saber a resposta — fui grosseiro.

— Hm.

— O que quer, merda?

— Seja mais educado com a sua mãe, Edgar! — Eu pude imaginar


que ela fazia um biquinho.

— Genitora, você quis dizer?

— Sou sua mãe! — gritou, fazendo minha têmpora latejar ainda

mais.

— Ótimo! — a provoquei.

— Você está sendo injusto comigo, Edgar! Fui uma boa mãe!

— Para quem?

— Para você! Eu estive presente na sua vida, Edgar. Quando tive

tempo, sabe que eu te abracei, te beijei, brinquei com você!

— E os seus outros dois filhos? — cuspi a pergunta. — Duas


crianças que precisavam de você e que você abandonou! Que boa mãe

abandona os filhos?

— Você não entende...

— Realmente não entendo — murmurei secamente.


Nunca iria entender Nicole, por mais que me esforçasse para tentar.

A gravidez tinha sido indesejada e inesperada, mas minha genitora, até um

ano e pouco após os gêmeos terem nascido, se mostrara uma mãe


responsável, até mesmo amorosa, mas depois que ela conheceu Chad, que

se apaixonou perdidamente por aquele desgraçado, ela mudou da água para

o vinho, tornando-se uma megera desalmada, egoísta e interesseira. Como

ela foi capaz de trocar os filhos por um vagabundo ia além da minha

compreensão.

— Eu sempre vivi sufocada! Chad me mostrou o que é viver —

continuou.

— Foda-se! O que você quer?

— Saber como vocês estão…

Comecei a rir de escárnio.

— Tá de sacanagem, né?

— Não.

— Já mentiu melhor, senhora.

— Estou em apuros…

— Financeiro?

— Bem…

— Inacreditável! — Usei de ironia.


— Precisamos viver…
— Comendo em restaurantes caros? Viajando?

Estalei a língua.

— O que que tem isso, Edgar?

— Ainda pergunta? Você não pode pagar por isso, Nicole.

— Mas você pode! — gritou.

— Diferente de você e do seu namoradinho…

— Você é desprezível! — falou num tom furioso.

— Mesmo?

— Pare de cinismo.

— Pensei que gostasse. Você dorme com um sátiro todos os dias.


— Chad é um bom homem, diferente de você!

— Sério?

— Eu não preciso ficar me humilhando para ele para que me dê um

agrado, me leve para jantar ou viajar…

— Que bom para você!

— Por que você é assim, Edgar? Se você tem milhões à sua

disposição para gastar, em partes você deve a mim. Eu lutei pra caralho por

você. Não pude pagar uma escola privada, mas eu batalhei demais para

colocar comida na mesa…

As palavras já esperadas eram um tapa na minha cara.


Todas as vezes que discutíamos, Nicole acabava conseguindo o que

queria ao usar aquele argumento que me fazia sentir-me como um grande

filho da puta, pois por mais que eu quisesse dizer o contrário, não podia.

Quando vovó adoeceu, foi Nicole quem trabalhou pra caramba para

manter a casa, se desdobrando para ajudar meu avô e eu a cuidar dela. Foi

ela quem insistiu para que eu continuasse a estudar quando a revolta de

perder vovó e depois meu avô por coração partido me tomou. Foi ela,

minha mãe, que enxugou as minhas lágrimas.

No entanto, tudo o que eu sentia era raiva e culpa. Raiva por ela não

lutar pelos meus irmãos da mesma forma que havia lutado por mim... Culpa

por Jax e Spencer não terem o amor dela que um dia eu tive.

— Você é um maldito ingrato, Edgar…

Talvez... No entanto, nunca admitiria aquilo em voz alta.

— O que é duzentos mil para você?

Nada.

Tudo.

— Queria que você me entendesse, Edgar!

Mesmo que eu estivesse em ligação, meu aparelho apitou, indicando


que alguém tentava me contatar.

— Alguém está tentando falar comigo, então aguarde só um minuto

— falei e nem esperei Nicole dizer algo, deixando a ligação dela em


suspenso.

Meu coração deu um baque ao ver o nome da escola dos meus

meninos no visor.

Por que estariam me ligando àquela hora, muito fora do horário de

aula? Senti uma espécie de pressentimento ruim me invadir, mas tentei não

dar importância para a sensação.

— Boa noite. Falo com o senhor Edgar Pratt?

— Sim, é ele falando.


— Sou funcionária da Escola Churchill e estou entrando em contato

para saber quando o senhor ou algum outro responsável virá buscar os


alunos Spencer e Jaxon Pratt.

— O quê? — Senti meu coração gelar. Cheguei a imaginar que tinha


escutado errado.

— De acordo com as normas da instituição, a tolerância de atraso


para a saída dos alunos é de no máximo uma hora e é cobrada uma taxa

quando esse horário não é respeitado, mas como ninguém apareceu até o
momento e já se passou e muito do horário-limite para buscar os dois,

decidimos contatar o responsável que consta em suas fichas para saber o


que houve.
— A senhorita Collins não foi buscá-los?

— Não. O senhor pode virá ou enviará outra pessoa?


Senti o pânico se alastrar em mim como se fosse uma espécie de
lava, deixando a minha respiração irregular.

Porra!
A senhorita Collins trabalhava como babá dos gêmeos há quase oito

meses. Tinha que admitir que ela era uma espécie de faz tudo, pois dormia
no meu apartamento enquanto eu estava viajando ou quando estava

ocupado demais. Em minha defesa, eu pagava muito bem pela tarefa e a


mulher não parecia se importar com o trabalho extra. Nunca houve
problemas antes. Eu confiava nela e na agência que a havia me indicado.

Caralho!
Que merda havia acontecido?

— Senhor?
— Vocês tentaram falar com a cuidadora dos meninos?

— Sim, mas não obtivemos sucesso.


— Bom, poderiam me dar uns minutos para que eu tente contatá-la?

— Claro, senhor, aguardaremos o seu retorno.


Desliguei a ligação assim que a mulher atendeu meu pedido e, com

os dedos trêmulos, ignorando minha mãe, tentei ligar para a babá.


Chamou até cair.

Tentei de novo, mas só caía na caixa postal, e isso aumentou a


minha angústia.
Várias foram as tentativas, mas ela não atendia.
Os minutos pareciam passar rapidamente.

Mesmo que eu entrasse em um voo nesse exato momento, eu


chegaria de madrugada em casa. Eu não podia contar com Riccardo, já que

ele ainda estava viajando em lua de mel.


Eu não tinha ninguém, nem mesmo um funcionário a quem eu

conseguisse confiar os meus irmãos.


Tinha Nicole... Ela tinha que fazer algo.

— Mãe? — Minha voz saiu estrangulada quando retomei a


chamada.

— Agora sou mãe? — Fungou, dramatizando.


— Você está em Seattle?

— Por quê?
— Preciso que você pegue os gêmeos na escola para mim e passe a

noite com eles — pedi, mas quando Nicole não falou nada, insisti: — Por
favor. Preciso de ajuda.
— Eles não têm uma babá?

— Têm, mas algo aconteceu e ela não foi buscar os dois hoje. Não
consigo falar com ela — expliquei.

— E a outra?
— Que outra?
— Pão duro o suficiente para não pagar duas babás? Tsc.

Uma pontada de culpa me invadiu. Realmente não fazia sentido ter


somente uma babá.

— E então? — insisti,
— Eu não posso ficar à noite com eles. Eu tenho um compromisso.

— O tom dela era frio.


— Compromisso?
— Sim. Combinei de sair com Chad, vamos a uma festa.

— Festa? Caralho, Nicole!


— É importante!

— Jax e Spencer são seus filhos! Eles são mais importantes do que a
porra de uma festa.

— Importante para quem?


— Porra! Seja mãe uma vez na vida para eles! — Passei a mão

pelos meus cabelos, puto que estava.


— Não me julgue dessa forma, Edgar. Eu tinha prometido a ele.

— Você está de sacanagem!


— Não grita comigo!

— Foda-se, Nicole!
— Você é meu filho!

— Não mais!
— E o dinheiro?

— Vá a merda, caralho! — Desliguei a ligação, transtornado, a fúria


me consumindo por dentro.

Como nossa mãe podia ser tão filha da puta assim?


Porra!

Soquei a mesa com força, meus dedos latejando com o impacto.


Tentei ligar novamente para a babá dos gêmeos, mas foi em vão.

O nome de Nicole apareceu no visor, mas eu a bloqueei.


Fechei os olhos por alguns segundos. O desespero aumentou

exponencialmente dentro de mim ao imaginar meus irmãos assustados, se


sentindo abandonados. Pensar nisso só aumentou a minha aflição. Nunca

me senti tão de mãos atadas na vida, minha mente parecia ter dado um
branco enorme. Não sabia o que fazer até que o rosto de uma mulher surgiu

na minha mente, uma que me atormentava noite e dia e sempre roubava


pedaços das minhas madrugadas, me deixando louco ao imaginarmo-nos
juntos, nus.

Suspirei.
Sabia que não tinha o direito de pedir que Thais assumisse aquela

responsabilidade de cuidar dos meus irmãos enquanto eu estivesse viajando


a trabalho, mas estava desesperado o suficiente para implorar.
Enquanto ligava para Thais, torcia para que ela não me
decepcionasse tanto quanto a minha mãe, que o carinho que eu a vi

dispensando aos meninos não fosse uma mentira…


Capítulo dez

— Aquecimento, internet, lavanderia e limpeza não estão inclusos,


gatinha, nem as suas necessidades básicas, é claro — o homem um pouco

mais velho do que eu falou ao terminar de me mostrar o apartamento


localizado em Capitol Hill.

— Certo! — murmurei, lançando um olhar para os móveis, que

pareciam não ter tido nenhum tipo de cuidado e precisavam ser substituídos
com urgência. O cheiro forte de cigarro também parecia impregnado nos

cômodos.

— Moramos eu e mais cinco pessoas. Pode trazer seu namorado,


foda, essas coisas. Fazemos festas nos finais de semana…

— Entendi — sussurrei.

— Você tem interesse, gatinha?


— Posso pensar um pouco?

Apesar do valor do aluguel ser ótimo e a localização ser excelente

pela proximidade do metrô, não me via morando naquele lugar, muito

menos com aquele homem que tinha um olhar estranho.

— Tem mais gente interessada, mas como te achei linda, posso


esperar uma resposta até amanhã.

Eu deveria me sentir lisonjeada por um cara bonito como ele me

achar linda, mas o sorriso lascivo e o brilho nos olhos fizeram com que eu

estremecesse.

Não sei por que eu ainda estava ali. Comecei a caminhar em direção
a porta automaticamente.

— Agradeço, Benjamin.

— Mais alguma pergunta? — Encostou no batente.

— Acho que não. Boa noite para você.

— Se não topar morar com a gente, liga para mim de qualquer

forma. Podemos nos conhecer melhor, sair, dar uns amassos... — Piscou.

Balancei a cabeça, concordando, e dei as costas para ele, indo


rapidamente até a escada, sentindo o olhar dele sobre a minha bunda.

Um calafrio percorreu a minha espinha e eu não tive dúvidas de que

nunca ligaria para ele ou voltaria a pisar ali.


Me senti aliviada quando deixei o prédio, mas, ao mesmo tempo,

estava preocupada.

Tentava encontrar um quarto para alugar há três dias e tinha que

confessar que estava sendo mais difícil do que eu imaginava. Nada parecia

bom o suficiente para mim, e quando era, eu não conseguiria manter as

outras despesas.
Os gêmeos pareciam não se importar com a minha presença na casa

deles. Presunção ou não, eles pareciam gostar da minha companhia, das

piadas que contava, das histórias que eu inventava... Dia após dia, eu

gostava mais dos dois e de Batata. Eles eram bagunceiros, barulhentos e

falantes, mas era impossível não me sentir cativada pela doçura que havia

neles.

Jax e Spencer eram amorosos, muito carinhosos, e pareciam suprir

algo dentro de mim que eu não sabia dizer o que era. Talvez fosse a pureza

e inocência do abraço e dos beijinhos.

Mesmo que Edgar não dissesse uma única palavra, eu sabia que
estava atrapalhando a rotina deles, tanto que, quando ele chegava do

trabalho, eu tentava me manter afastada. O sentimento de culpa me tomava

nessas horas, culpa por estar sendo exigente demais na escolha de um lugar,

me incomodando com a localização, a limpeza do local, com as pessoas

com quem iria dividir o espaço. Me sentia culpada até mesmo por ter
encontrado um tempo para fazer minhas tranças box-braids, já que cuidar

dos cabelos cacheados dava bastante trabalho…

Me sentia uma chata.


Estava quase cogitando a possibilidade de voltar para a casa do meu

pai e parar de ser um peso para Edgar, mas sabia que isso tornava a minha

bravata e tentativa de independência em algo patético. Era dar razão a

James, que não me procurou e provavelmente esperava que eu voltasse com

o rabo entre as pernas.

Suspirei.

Na verdade, cada vez mais, me achava realmente patética.

Se não era nem capaz de achar um lugar para morar, o que dirá ser

realmente independente?

— Talvez você devesse engolir o orgulho e… — falei comigo

mesma, mas não consegui completar o pensamento, já que senti uma

vontade enorme de chorar.

Engoli o pranto e continuei a caminhar em direção à estação de

metrô, alcançando o local em menos de cinco minutos. Havia terminado de

passar pela catraca quando escutei a música do filme do Aladdin tocar em

meu celular. Torci para que fosse a minha melhor amiga, ainda que não

pudesse desabafar sobre minha situação. Abri minha bolsa e peguei o


aparelho.
Ao ver que era Edgar, minhas mãos ficaram trêmulas.

O que ele poderia querer comigo, ainda mais quando ele estava em

Nova York? Nada. Provavelmente foi uma discagem sem querer. Fiquei

paralisada e acabei não atendendo a ligação. Estava ainda em dúvida se

ligava de volta, quando Edgar tornou a telefonar.

— Oi!

— Porra, que bom que atendeu! — Sua voz estava tensa e uma

sensação ruim me invadiu.

— Está tudo bem, Edgar?

— Eu preciso de você, Thais!


Meu coração disparou no peito, as pernas bambearam, minha mente

rodopiou com o tom que ele havia utilizado ao falar a palavra preciso. De

alguma forma, Edgar me fez sentir no meu íntimo que ele realmente

precisava de mim. Minha mente começou a navegar por terrenos mais

perigosos, bem fantasiosos. Um homem como ele nunca iria precisar de

uma mulher como eu em um sentido romântico. Só se estivesse muito

bêbado.

— Eu preciso de você... — continuou em um sussurro.

— O que aconteceu? — Tentei ignorar aquela emoção que

impregnou a minha alma, apelando para a racionalidade. — Você está me

deixando nervosa.
— Sei que não tenho o direito de pedir isso, mas você poderia

buscar os gêmeos na escola e ficar com eles essa noite pra mim?

— E senhorita Lilly? — Franzi o cenho. Jax e Spencer tinham uma

babá que, igual a Edgar, parecia um pouco incomodada com a minha

presença. Se eu fosse honesta, admitiria que eu também não fui muito com

a cara dela. Ela era seca com os dois, muito rigorosa, chata, cheia de

proibições, mas quem era eu para falar algo ou palpitar?

— Ela não apareceu na escola e não consigo contactá-la. Faço o que

você quiser em troca, Thais, mas, por favor, os leve para casa e fique com

eles. Eu não confio em mais ninguém para fazer isso. Eu só tenho você. —

O sussurro era doloroso, revelando o quanto estava vulnerável. — Porra!

Conhecendo-os, eles devem estar assustados por ninguém ter ido buscá-los

até agora. Droga! Até eu estou com medo.

Meu peito doeu por eles. Uma urgência monstra de sair correndo e ir

ao encontro das duas crianças fofas e sapecas surgiu dentro de mim, mas me

contive.

— Claro, Edgar! Você pode me passar o endereço da escola? — Mal

reconheci minha voz.


— Fica na Greater Seattle… — falou.

— Não consegui anotar, Edgar.

— Eu te passo o endereço por mensagem.


— Okay. — Dei meia volta, para passar pela catraca e sair da

estação.

— Você realmente vai pegá-los para mim? — Parecia inseguro,

como se temesse que eu tivesse falado da boca para fora, mas não me

ofendi.

— Sim, Edgar, eu nunca negaria fazer isso, não depois de terem me

acolhido na casa de vocês. — Ofegava ao começar a correr. — Estou indo

para o ponto de táxi. De ônibus ou metrô vai demorar muito.


— Farei uma transferência para você pagar… Droga! A escola está

me ligando!
— Depois resolvemos isso. Fale que já estou a caminho e que em

meia hora estarei lá.


— Não sei como te agradecer, Thais — a voz era baixa, com uma

pontada de alívio.
— E nem precisa, Edgar. Os abraços e os beijos que os dois me

darão são o suficiente…


Ele ficou em silêncio, mas ouvia o som da respiração dele.

— Me manda o endereço antes de atendê-los, okay? — pedi, me


sentindo estranha, agitada, ao escutar aquela cadência direto no meu
ouvido.

— Certo. Obrigado.
— Nada! — falei, antes de desligar.
Menos de trinta segundos após encerrar a ligação, escutei o som de

uma mensagem chegando e, em menos de dois minutos depois, com o


coração ainda pesado, eu entrava no táxi e passava a localização para o

motorista, que rapidamente pisou no acelerador. Troquei mensagens com


Edgar, que, depois de atender a escola, precisou do meu nome completo

para permitir que eu buscasse os meninos. Por mais que eu estivesse


ocupada lendo e respondendo as mensagens dele, tinha a sensação de que
meia hora nunca tinha passado tão lentamente.
Capítulo onze

— Vim buscar os alunos Spencer e Jaxon Pratt, me desculpe pela

demora — falei esbaforida para o porteiro da escola luxuosa em que os


gêmeos estudam, sentindo aquele mesmo peso no peito e ombros.

— É a senhorita Donovan? — me olhou de cima a baixo, curioso, e

abriu um sorriso.
— Sim, sou eu.

— Pode me apresentar um documento de identificação, por favor?

Preciso preencher a ficha de entrada.


— Claro. — Entreguei minha identidade e ele anotou os meus

dados, depois me pediu para assinar um termo de autorização.


Entrei no prédio logo em seguida. Nem cheguei a alcançar a sala de

espera e já escutei um dos meninos chorando enquanto o outro tentava

consolar o irmão. Engolindo o nó que se formou na minha garganta,

acelerei meus passos para alcançá-los.

— Oi, queridos — falei com a voz embargada ao vê-los, ignorando


a mulher que estava próxima a eles. Deveria ser a professora deles ou a

diretora da escola.

Dois rostinhos assustados, avermelhados pelas lágrimas, se

ergueram e me encararam. A dor e o medo deles pareceram se tornar meus.

— Thay! — Jax deu um gritinho, se levantou e veio correndo na


minha direção.

Spencer seguiu o irmão, ainda que continuasse a chorar

convulsivamente.

Me coloquei sobre os calcanhares para receber o abraço deles. Me

apertaram com força, mas não me importei. Não sabia que eu precisava

daqueles abraços até que eu os recebi.

— Oi, meus amores, eu estou aqui — murmurei, deixando um beijo


no rostinho de cada um deles, querendo acalmá-los.

— Tava com medo, Thay! — Spencer falou com a voz fraquinha.

— Não precisa ter medo, querido, não mais. Eu estou aqui com

vocês — repeti, voltando a cobrir os gêmeos com beijinhos.


— O mano não quer mais a gente? — Foi a vez de Jaxon perguntar.

— Por que diz uma coisa dessas? —questionei, assustada com a

pergunta dele. — Claro que seu irmão quer vocês, e de montão!

— Mamãe não quis a gente — sussurrou.

— Nem o papai! — Jax completou.

Foi como receber um soco na boca do meu estômago. Eu não sabia


nada sobre os pais deles. Nem Edgar e nem a minha melhor amiga haviam

comentado sobre o assunto e eu não havia perguntado, já que não era da

minha conta, mas de uma coisa eu tinha certeza: não entendia como alguém

poderia ignorar a existência de dois meninos maravilhosos. Na verdade,

criança nenhuma deveria ter medo de ser abandonada.

— Seu irmão ama vocês, carinhas, muito.

— Por que ele não veio pra levar a gente pra casa? — Spencer

perguntou.

— Ele está muito, mas muito longe!

— Eu falei isso para ele — Jax falou com uma bravata que eu sabia
ser falsa, já que recomeçou a chorar.

— Edgar só chegaria lá pela meia-noite aqui. Então, como eu estava

mais perto, seu mano me pediu para vir buscar vocês. Eu devo servir, não é?

— tentei brincar, querendo arrancar um sorriso deles.


— É. — Spencer abraçou o meu pescoço com força e eu o envolvi

em um abraço forte quando ele também começou a chorar.

— Xiu, eu estou aqui — repeti em um sussurro, traçando círculos


lentos pelas costas dele. — Vamos para casa? Vocês estão precisando de um

banho. — Segurei o meu nariz, como se eu não aguentasse o mau cheiro

deles.

Deram uma risadinha, o que me acalmou um pouco.

— Tô com fome! — Spencer pareceu mais animado.

— Hum… mais um motivo para ir para casa então. — Me coloquei

de pé. — Vamos dar tchau para a moça que ficou com vocês?

— Tá!

Correram em direção a mulher para agradecerem enquanto eu

pegava as mochilinhas esquecidas num banco e coloquei-as sobre os meus

ombros.

— Obrigada por ficar com eles — falei para a funcionária, que tinha

uma aparência gentil, estendendo a minha mão.

— É um dever cuidar do bem-estar dos nossos alunos, senhorita.

Estamos aqui para garantir isso.

— Posso imaginar, mas, mesmo assim, agradeço. Prometo que não

irá acontecer mais — falei, mesmo que eu não pudesse garantir algo do
tipo.
Ela abriu um sorriso complacente.

— Uma boa noite para vocês.

— Para você também! — Voltei minha atenção para os dois

menininhos que haviam parado de chorar e pareciam mais calmos. —

Vamos?

— Sim!

Segurei a mão deles para deixarmos a escola, e eles apertaram com

força meus dedos.

— O que você tá fazendo? — Spencer perguntou quando, já no táxi,

eu comecei a mexer no meu celular.


— Avisando ao seu irmão que eu estou com vocês e que estamos

indo para casa, querido. Ele me pediu para informar. — Digitei rapidamente

uma mensagem para ele.

— Ah! — Jax murmurou.

— Vocês estão se sentindo melhor, carinhas?

— Uhum…

— Eu tava com medo — Spencer falou baixinho, mas ouvi

perfeitamente. Meu coração se afundou.

— De quê?

— De ficar lá na escola pra sempre.


— Vai ficar tudo bem, querido. — Entrelacei meus dedos nos do

pequeno, apertando sua mãozinha suavemente. — Na verdade, já está tudo

certo! Só foi um susto.

— Promete? — Foi Jaxon quem perguntou.

— Prometo! — respondi, sabendo que pelo menos aquela promessa

eu poderia cumprir.

Antes que pudesse inventar um assunto para afastar o acontecimento

da mente deles, meu celular começou a tocar.

— É o seu irmão, ele deve estar querendo conversar com vocês —

falei.

— Tá!

Quando peguei o meu celular, fiquei um pouco surpresa por Edgar

querer uma videochamada, mas logo me caiu a ficha de que ele

provavelmente queria ver por si mesmo que os irmãos estavam bem.

— Oi, ferinhas — disse, assim que eu aceitei a chamada, e ajeitei o

meu aparelho, como se nós três estivéssemos fazendo uma selfie, para que

pudéssemos aparecer na telinha.

— Oi, mano! — gritaram.


— Oi. Me desculpem, manos.

Edgar começou a conversar com eles, mas não prestei muita

atenção, já que fiquei observando os traços tensos no rosto dele. A culpa


estava estampada em seus olhos e reverberava no tom de voz.

Compaixão tomou meu coração e uma vontade imensa de acariciar

o rosto dele me invadiu. Dei graças por Edgar estar do outro lado da tela e a

quilômetros de distância, já que eu corria o risco de cometer um ato

imprudente, algo que ele não desejaria. Edgar com certeza não queria minha

compaixão e não compartilharia o peso que ele sentia nesse exato momento

comigo.

— A gente pode comer pizza? — O grito de Spencer me tirou do


transe.

— Tô com fome, mano! — Jax falou em um tom sapeca.


— Fome de pizza? — Edgar franziu o cenho.

— É. — O menino deu um sorrisinho.


— Por que não, ferinhas? — Acabou concordando. — Vou pedir

para entregarem para vocês.


— Eeee! — Acabei sorrindo com a animação deles.

— Gosta de marguerita, Thais? Essa é a favorita deles, por incrível


que pareça — Edgar falou comigo.

— Não muito.
— Pepperoni?
— Não precisa se preocupar com isso, Edgar.
— Pepperoni? — Insistiu, arqueando a sobrancelha de forma
arrogante.

— Minha predileta — confessei, revirando os olhos de jeito


dramático.

— Certo. — Um sorriso lento começou a se formar no rosto


esgotado e eu me senti derreter contra o assento.

— Você tá vindo, mano? — Jax perguntou.


— Cê vem hoje? — Spencer insistiu.
— Sim, ferinhas. Eu vou ver se encontro um voo, se não conseguir,

alugo um jato.
— Tá bom! A gente vai ter que ir pra escola amanhã? — Spencer

perguntou.
— Conversaremos sobre isso depois, okay?

— Ah não, mano! Eu não quero ir pra escola! — Spencer


choramingou.

— Eu também não quero — Jax resmungou.


— Ferinhas… — Ele emitiu um suspiro cansado.

Os gêmeos começaram a falar ao mesmo tempo, o que durou vários


minutos, e o irmão os escutou pacientemente. Pude ver no semblante dele

que estava muito irritado com a babá quando os meninos citaram que não
queriam mais ficar com a mulher.
— O mano vai lidar com a situação da melhor forma possível,
ferinhas — disse por fim, em um tom calmo, que parecia bem contrário ao

que parecia sentir, e mudou de assunto: — Vocês podem tomar um copo de


refrigerante para acompanhar a pizza, okay?

— Eeee! — Os dois fizeram festa.


— Eu preciso desligar, ferinhas, mas qualquer coisa, peçam a Thais

para me ligar, tá bom?


— Tá bom! — responderam em uníssono.

— Me liga se precisar de algo, Thais.


— Claro, que sim, Edgar.

— Obrigado. Mais uma coisa, maninhos...


— O quê?

— Obedeçam a Thais.
— Tá bom! — prometeram.

— Até mais. — Se despediu com mais uma advertência para os


meninos.
— Até, Edgar — respondi.

Não demorou muito para que chegássemos ao apartamento, já que


aquela hora o trânsito estava bem mais leve.

— Cadê a Lilly? — Spencer perguntou assim que entramos na sala.


— Não sei, Spen.
Tive que controlar a pontada de raiva que senti pela mulher. Mesmo

que tivesse acontecido algo grave, ela deveria ter avisado a Edgar para
tomar as providências necessárias. Deus! Ela era a responsável por Jax e

Spencer e os tinha negligenciado.


— Não gosto dela! — Jaxon gritou.

— Jaxon, não fale assim! — pedi.


— Eu também não gosto! — O irmão concordou.
— Ela é chata! Ela briga muito! — Jax bateu os pés no chão.

— É! — Spencer gritou.
Suspirei profundamente, sem saber o que dizer.

— Eu não gosto dela! — Jax repetiu. — Ela bate na gente!


— O quê? Ela bate em vocês? — Minha voz saiu esganiçada.

Busquei controlar a minha raiva, que faiscou como um relâmpago ao ouvir


isso.

Os meninos deram um saltinho e os olhos ficaram esbugalhados.


Pareciam ter ficado com medo do que contaram.

— Meninos?
Jax fez que não com a cabeça e Spencer se encolheu.

Ergui minha mão para tocar o rostinho dele, acariciando a curva


suave.

— Ela bateu em vocês? Quando?


— Não — Jax falou fracamente.

— Okay… Spencer?
— Ela só briga! — Jax tomou a frente.

— Entendi.
Tentei disfarçar a minha preocupação, dando um sorriso para eles.

Mesmo só ameaçar bater já era algo grave e duvidava muito que Edgar
gostaria de saber disso. Resolvi não insistir no assunto. Tentaria voltar ao

assunto outra hora, quando estivessem mais calmos.


Foi difícil colocar os dois menininhos no banho, já que não queriam

desgrudar de mim, achando que eu iria desaparecer nesse meio tempo. Foi
só a promessa de que eu ficaria esperando do lado de fora do banheiro e que

depois iríamos comer uma boa pizza, que os convenceu a entrar no chuveiro
e deixarem de ser os porquinhos que Edgar dizia que eles eram.
Capítulo doze

Continuei a contemplar os dois meninos que dormiam esparramados


na cama da suíte que eu vinha usando, com Batata deitado aos pés deles.

Os gêmeos fizeram de tudo para ficarem acordados para esperarem


Edgar chegar, mas o cansaço acabou vencendo e dormiram rapidamente

enquanto eu contava uma das minhas histórias mirabolantes sobre um

super-herói que tinha o superpoder do fogo.


Pensar em cenas de ação e aventuras era extremamente fácil para

mim e eu tinha me divertido bastante com eles, arrancando risadas e mil

perguntas.
Tomei uma liberdade que talvez eu não devesse, que o irmão deles

poderia vir a achar ruim, mas quando eles me pediram para dormir no meu

quarto, não consegui dizer não. Também não pude evitar subir no colchão
junto com eles e abraçá-los, recebendo beijinhos no rosto que sem dúvidas

eram a minha maior recompensa. Não tinha como negar que eu me sentia

bem com a proximidade dos dois pequenos. Só me ergui da cama quando

percebi que eu não conseguiria dormir e fui me sentar no chaise.

Sentindo sede, levantei-me e saí do quarto nas pontas dos pés,


torcendo para Batata não latir.

Estava bebendo minha água olhando para a escuridão através de

uma das enormes janelas, quando escutei saltos altos batendo contra o piso

de mármore. Não podia ser a namorada, ou uma amante, de Edgar, já que

achava que ele não tinha uma. Ou será que tinha? Se tinha mesmo, por que
ela não foi buscar os gêmeos na escola? Por que nunca tinha aparecido

nesse tempo todo que estou por aqui e nem foi na festa de casamento do

melhor amigo dele? Não sei exatamente por que, mas a perspectiva de ele

ter alguém me deixou para baixo.

Tola!

— Oh, é você! — falei quando me virei em direção do clic clic do

salto e vi quem era.


Lilly deu um saltinho no lugar e me encarou de cara feia.

— Quem mais poderia ser?

— Qualquer outra mulher... — Dei de ombros.


Franzi o cenho ao reparar que ela estava com um vestido curto,

como se tivesse saído de uma balada. Bom, pelo menos, eu achava. Vai lá

saber se ela se vestia assim no dia a dia... Era um direito dela.

— Claro que não, burrinha! Edgar não tem ninguém… — revirou os

olhos —, ainda.

Não entendi o porquê do ataque gratuito, mas não iria descer ao


nível dela.

Balancei a cabeça.

— Onde você estava que não foi buscar os gêmeos, Lilly? Por que

não atendeu às ligações da escola nem de Edgar? Aconteceu alguma coisa?

— perguntei em tom suave.

— Não é da sua conta, garota.

— É da minha conta, sim. — Talvez, só talvez, ela tivesse um

pouco de razão em dizer isso, mas, mesmo assim, insisti.

A mulher me lançou um olhar nada amigável.

— Não mesmo, fedelha. Quem você acha que é?


— Sou a pessoa que consolou duas crianças assustadas porque você

não foi buscá-las na escola. Você foi negligente.

— Grande coisa!

— Imprevistos acontecem, mas poderia ter avisado, poxa! —

Mantive meu tom calmo. — Você poderia ter me pedido, que eu te faria
esse favor.

— Não enche, garota. Só devo explicações para Edgar.

Arqueei uma sobrancelha.


— Desde que você chegou, só atrapalha o meu trabalho. Sempre

interfere nos horários, deixando-os brincar até quando querem, contando

suas histórias idiotas e nada educativas.

— Crianças gostam de brincar, de receber carinho, precisam de

atenção.

— Tem horário para isso. Se você fosse uma profissional da área,

saberia disso.

— Isso não tem hora, Lilly, crianças não são robôs.

— Você não tem direito de dar opinião nenhuma, fedelha. Você é só

uma ralé que nem deveria estar aqui, muito menos interferindo na rotina

deles… é um ato de caridade de Edgar. Por quê? Não tenho a mínima ideia.

Talvez seja por pena.

Ouvir em voz alta a confirmação de que você é um peso na vida dos

outros era algo doloroso.

— Sobre amor e carinho, não sou paga para isso. Aqueles fedelhos

chatos e preguentos não são minha responsabilidade emocional. Não sou

mãe deles, e mesmo que fosse, iria querer distância. Eles são sufocantes,
bagunceiros e mimados ao extremo.
Meus olhos se arregalaram com o choque. Cerrei minhas mãos em

punhos com a raiva que me tomou. Nunca tive tanta vontade de voar no

pescoço de alguém como eu tinha agora, mas duvidava que Edgar acharia

correto eu arrumar briga na casa dele.

Me controlei, mas sabia que se ela dissesse um A a mais de Jaxon e

de Spencer, eu perderia a minha cabeça.

Eu não via uma babá na minha frente, via um monstro.

— Fica na sua, garota — continuou, quando eu permaneci em

silêncio. — Eu não devo satisfação da minha vida e da minha conduta

profissional para você…


— Mas a sua relação com os meus irmãos diz respeito a mim,

senhorita Lilly.

A voz era tão cortante que eu senti um frio na minha espinha,

mesmo que não fosse direcionada a mim.

Olhei para o homem posicionado atrás dela, vendo o semblante

cheio de ódio misturado com outros sentimentos que eu não sabia bem

definir.

Quando os olhos escuros encontraram os meus, soube que a mulher

estava encrencada, mas não consegui sentir um pingo de pena dela.


Capítulo treze

— Por que não continua a falar das virtudes dos meus irmãos na
minha frente, senhorita Lilly, ou só tem coragem de falar o que pensa para a

minha convidada? — fui irônico. Fervilhei ainda mais de raiva quando a


mulher ficou em silêncio.

— Ed..Edgar… — gaguejou, se virando na minha direção.

Toda a cor parecia ter sido drenada do rosto dela.


— Senhor Pratt para a senhorita. Nunca dei permissão para que me

chamasse pelo meu primeiro nome — a cortei bruscamente.

Não costumava impor minha posição de patrão, não era esnobe a


esse ponto, mas a babá havia mexido no vespeiro quando ofendeu Thais,

tentando rebaixá-la como se ela fosse um ser desprezível. Isso havia me


repugnado de uma forma que eu não conseguia explicar, meus instintos

praticamente gritando para defendê-la daquele ataque gratuito.

Ato de caridade?

Porra!

Thais havia sido a minha salvação. Ela poderia ter virado as costas
para o meu problema, mas a garota me estendeu a mão e acolheu os meus

irmãos.

Quando liguei e vi Jax e Spencer com um sorriso estampado nos

rostos, parecendo bem animados, foi um alívio fodido. Não que o peso de

não estar ali com eles tivesse saído completamente dos meus ombros, eu
havia me questionado cada segundo dentro do voo, mas consegui me

tranquilizar ao constatar que estavam bem.

Agora, frente a frente com aquela desgraçada que cuidava dos meus

irmãos, o peso havia voltado com força, o sentimento de culpa me

massacrando.

— Já que sua bravata morreu, peço que você se retire da minha casa,

senhorita Lilly. A senhorita não trabalha mais para mim nem para os meus
irmãos. — Senti um amargor forte na minha boca ao proferir essas palavras

com uma calma que não sentia.

— Eu preciso desse emprego, senhor.

— Mesmo? — Dei uma risada seca. — Que pena!


— Eu posso explicar...

— Eu até estava disposto a escutar o motivo pelo qual a senhorita

não foi buscar os meus irmãos na escola e nem atendeu a porra dos meus

telefonemas, mas depois de saber o que pensa deles, não me interessa mais.

— Fiz uma pausa. — É uma tola ao achar que irei perder meu tempo

ouvindo suas justificativas.


— Eu amo Jax e Spencer!

— Vai mentir para a puta que te pariu! — falei entre dentes. — A

senhorita foi muito clara em sua descrição! Carentes! Chatos! Porra, eles

são duas crianças carinhosas!

— Eu estou bêbada! É claro que eu gosto dos dois! Eles são uns

amores de criança, mesmo com as bagunças que fazem. É normal para a

idade!

— E vem bêbada para cuidar dos meus irmãos? — cortei secamente

a fala mentirosa. — Que ótimo!

— Sou uma excelente profissional! — gritou


— Eu também achava que era, mas, hoje, me mostrou que

absolutamente não é.

— Nunca deixei de cumprir minhas obrigações.

— Os meninos contaram que ela ameaçava bater neles — Thais

falou baixinho.
— O quê? — Encarei Thais sem acreditar naquilo que meus ouvidos

escutaram, buscando a verdade nos olhos dela.

— Foi o que eles me disseram…


Raiva pura me invadiu e eu cerrei os meus dentes com tanta força

que senti que eles poderiam quebrar com o impacto.

Porra!

— Isso é mentira, sua puta! — Lilly gritou, se virando para Thais.

— Meus irmãos não mentem, senhorita — mal reconheci a minha

voz, tamanha a fúria.

— Eles não são santos, Edgar! — retrucou, girando o corpo

novamente para me encarar. — Esses meninos são mal-educados, precisam

de disciplina. Quem disse que não mentem?

— A educação que eu dei para eles.

A mulher riu na minha cara.

— O que você sabe sobre educar uma criança? Nada. Você está

criando dois monstros mimados que ficam querendo abraços e beijos o

tempo todo.

— Saia dessa casa agora! — Thais disse em um tom furioso e eu

olhei para ela, surpreso com a reação.

Uma leoa.
Em meio a raiva que sentia, uma outra emoção forte pareceu querer

ganhar espaço dentro de mim.

Porra!

Thais estava linda.

Muito linda!

— Vá! — continuou.

— Fedelha maldita, você não manda nada aqui!

— Diferente de você, ela manda, sim, senhorita Lilly, mas se não

quiser sair com as próprias pernas, eu chamo a segurança do prédio para te

retirar.
— Seu filho da puta!

Arqueei a sobrancelha.

— Sim, um filho da puta que irá entrar em contato com a agência

amanhã para dizer algumas coisas a respeito da sua conduta.

Ela ficou ainda mais pálida.

— Você não pode fazer isso!

— Não só posso como irei.

— Assim não conseguirei um novo emprego.

— Eu pessoalmente farei com que você não tenha mais nenhum

outro.
— Por favor, Edgar! É o meu sustento! — Lágrimas surgiram nos

olhos dela.

— Estou pouco me fodendo para isso. Você vai se arrepender pelo

resto de sua vida de ter falado dos meus irmãos dessa forma.

— Edgar…

— Preciso falar novamente?

— Não, claro que não — murmurou, submissa, e eu achei graça da

súbita mudança. — Meu salário do mês, como fica?

— Resolverei com a agência — falei, a contragosto. —

Providenciarei para que seus objetos pessoais que estão no quarto lhe sejam

entregues.

— Obrigada. — Juntou as mãos na frente do corpo. — Me desculpe

o mal-entendido.

Contive a minha vontade de mandar aquela idiota à merda, dizendo

que eu não era otário de me comover com lágrimas de crocodilo.

— Melhor você ir embora agora, Lilly, ou serei eu quem chamará os

seguranças para você. — Thais foi firme e na expressão dela ficou mais do

que claro que a garota poderia muito bem remover Lilly de lá ela mesma.
Vi raiva cintilar nos olhos da babá e imaginei que ela faria um circo

por causa do jeito de Thais tratá-la. Não disse nada, apenas passou por mim
como se estivesse possuída por um demônio. Porra! Ela era o próprio

demônio.

Me surpreendeu ver Thais acompanhando a mulher até a porta,

parecendo se certificar que ela iria mesmo embora, voltando a ser a leoa

capaz de tudo para proteger os seus filhotes.

Os meus filhotes.

Outra vez, meu peito foi tomado por uma sensação estranha que

suplantava a minha raiva. Tentando compreender aquele sentimento, sem


pensar no que estava fazendo, comecei a desabotoar a minha camisa social,

removendo a peça, já que eu costumava ficar só de calça ou shorts em casa.


Quando escutei os passos de Thais, girei meu corpo em direção ao

som.
— Pensei que ela não iria sair… — A garota parou de falar e andar

quando me viu sem camisa.


Podia pedir para que ela terminasse o que que iria falar, mas também

não tinha capacidade de dizer nada. Eu estava sendo consumido pelas


chamas que o olhar cheio de admiração pelo meu torso nu ateavam em

mim.
Era a primeira vez que Thais mostrava abertamente uma espécie de
desejo por mim e, porra, eu estava a ponto de perder a sanidade.
O brilho nos olhos castanhos, o entreabrir dos lábios, convidando-
me sem dizer uma palavra a prová-los com os meus, os seios pequenos

subindo e descendo em uma cadência acelerada fizeram com que meu pênis
começasse a crescer.

Deixei meu olhar passear pelo corpo gostoso, devorando cada


pedaço da pele sedosa que a camisola recatada me deixava ver, sonhando

acordado em ter as pernas envolvendo o meu tronco, apenas para voltar a


fitar os seios firmes, empinados.
Senti minha boca secar, meu pênis meia-bomba latejar contra o

tecido da minha calça ao ver os bicos dos seios dela ficarem duros. Um
desejo insano de tomar as pequenas protuberâncias com meus lábios e sugá-

las me invadiu, bem como a vontade de deixar minha marca sobre elas.
Lutei para não me mover, para não ceder à tentação de ir até ela e aplacar o

fogo que me consumia, mas algo fez Thais dar um passo para trás e abaixar
o olhar.

Emiti um rosnado irritado.


O maldito pudor.

A desgraça da vergonha.
— Preciso de um whisky — murmurei.

Passando a mão pela minha barba, ignorando meu pau, que latejava,
caminhei até o armário alto onde ficavam minhas bebidas, pegando uma
garrafa.
— Quer? — perguntei.

— Não sei se vou gostar de whisky, Edgar.


— Sempre se tem uma primeira vez para experimentar.

Fui até a ilha da cozinha, me servi de uma dose generosa e, sem


esperar uma resposta, um dedinho para ela. Fechei a garrafa e me virei para

a mulher cuja aproximação voltou a perturbar os meus sentidos.


Tomei um gole grande, sentindo o líquido envelhecido descer

queimando pela minha garganta, o álcool sendo bem-vindo nesse momento,


e estendi o copo para ela.

— Tome — falei.
Nossos dedos se roçaram e os olhares se encontraram. Mesmo que

tenha sido algo breve, o prazer que senti foi avassalador, roubando o fôlego.
Foi minha vez de ficar atordoado e recuar. Vi uma pontada de

decepção cruzar as feições dela.


Caralho!
Essa força era assustadora e muito, mas muito indesejada.

Thais se afastou de mim ainda mais, dando a volta na ilha, pondo


uma distância segura.

Meu corpo sentiu falta da proximidade do dela.


— Meu pai me matará pelo que estou prestes a fazer — tentou

brincar para disfarçar a tensão. Levantou o copo num brinde e foi se sentar
no banco alto.

— Ele não precisa saber — sussurrei, guardando para mim o


pensamento de que ele seria um maldito hipócrita.

— É!
Deu um sorriso divertido, antes de levar o copo aos lábios cheios e
convidativos, bebericando o líquido dourado. Diferente do que pensei, não

fez uma careta com o gosto forte e o ardor.


— É bom!

Bebi um gole mais longo do que o dela, ela pousou o copo sobre o
tampo do balcão.

— É um dos melhores que já tomei.


— Se você diz. — Deu de ombros, chamando minha atenção para a

parte estreita do corpo, e ficou encarando o líquido no cristal. — É verdade


que beber ajuda a esquecer os problemas?

— Nem sempre. Às vezes, só serve para que nos assombrem ainda


mais… — falei em um tom sério, recordando das vezes que eu fiquei

completamente chapado quando era um inconsequente, sofrendo pela perda


dos meus avós, mas logo me arrependi de ter dito isso em voz alta, tanto
que tentei contornar: — Dizem que uma dose moderada de whisky faz bem

para a memória.
Thais olhou para mim e eu senti como se ela pudesse ler a minha

alma, meus segredos, meu passado... meus sentimentos.


— Entendo — sussurrou após uns instantes, tomando mais um gole

de sua bebida. — Acho que gostaria de esquecer esse dia, especialmente


essa mulher!

A raiva até então esquecida sob a camada do desejo retornou com


força, e com ela veio o sentimento que tentei não pensar muito enquanto

conversávamos, mas que não consegui mais segurar.


— A culpa foi minha — falei a queima-roupa, fechando os olhos

por alguns segundos.


Que porra eu estava fazendo dizendo isso a ela?

— Claro que não, Edgar!


— Sim, foi — tomei o resto do destilado em um gole só, desejando
que o ardor da bebida diminuísse aquele peso que sentia em meu peito.

— Sabe que isso não é verdade.


— Thais, eu sou responsável pelo bem-estar dos dois, e olha a

merda que eu fiz? — Pousei meu copo sobre o tampo de mármore.


— Lilly era uma babá bem recomendada por uma agência

conceituada, com um currículo invejável — tentou me confortar.


— Recomendada ou não, cabia a mim ter sido mais vigilante, ter
protegido os meus irmãos, mas não, eu só deixei os dois nas mãos dela,

achando que o trabalho dela era excelente, apesar de ela ser um pouco fria
com eles.
Não falou nada, e nem precisava. Continuei meu desabafo:

— Como eu pude deixar Jax e Spencer aos cuidados de uma mulher


que os detestava? Só depois de todo esse tempo que fui descobrir que ela

ameaçava bater neles, algo que eu abomino pra caralho! Inferno! — Bati
meu punho com força sobre o tampo, machucando a minha mão, que

latejou. — Seria preciso ela realmente ter batido neles para eu ter enxergado
o que estava acontecendo?

— Claro que não — sussurrou.


— Fui negligente, Thais, tanto quanto essa desgraçada foi hoje. Eu

deveria ter colocado câmeras para vigiá-la. Que porra de irmão eu sou que
não conversou nunca com eles para perguntar o que achavam dela, se estava

tudo bem?
— Não é tão simples assim, Edgar…

— É simples, sim! — Passei a mão dolorida pelos cabelos, enquanto


começava a andar pela cozinha. Estava angustiado. — Eu falhei com eles!

Por mais que eu tente, eu falho com eles todo maldito dia! Falho em tudo,
caralho!
— Claro que não, Edgar! — Sua voz soou bastante alta, mas ela se
controlou, adotando um tom mais suave. — Você pode ter errado algumas

vezes, como qualquer ser humano, mas olhe bem para eles, são meninos
adoráveis, muito educados, amigáveis. Você é um irmão presente, paciente

e amoroso. Você mais acerta do que erra. Só não consegue ver isso agora
por estar aborrecido com tudo que aconteceu.

Parei de andar e encarei a garota, que ainda estava sentada no


mesmo lugar. Vi nela uma maturidade que não condizia em nada com a

idade que tinha.


— Você está chateado com o fato de não ter enxergado além do

currículo impecável que ela tinha, por ela ter traído sua confiança. Irritado
por ter ouvido coisas horríveis sobre seus meninos. Você está assim porque

os ama demais, Edgar.


— Meu amor não é o suficiente pelo visto, Thais — sussurrei,
balançando a cabeça. Sentia como se algo estivesse esmagando o meu peito.
— Por mais que eu queira, nada muda o fato de que os gêmeos sentem falta

de uma figura feminina na vida deles.


— Entendo.
— Antes de te ligar, eu implorei que Nicole os buscasse na escola…
— A mãe deles?
— Nossa mãe...— Não consegui disfarçar a minha dor e, sem pensar
muito, fui me servir mais uma dose de whisky. — Sabe o que ela me disse?

— O quê?
— Que tinha uma festa para ir com o desgraçado do amante, que só
ela não vê que a usa.
— Sinto muito.
— Só queria que ela fizesse o papel dela… Eu não sei mais o que

fazer…
Percebendo que estava falando demais, virei todo o líquido goela
abaixo, sentindo as lágrimas se formarem em meus olhos com a queimação.
Caralho!

— Não posso obrigar ninguém a amá-los. Posso tentar fazer o papel


de pai, mas não posso dar uma mãe para eles... Nicole não os quer...
Thais pareceu triste e virou o restante da bebida que havia em seu
copo na boca. Não engasgou nem encheu os olhos de água, o que achei

admirável, ainda mais por ela ter dito que nunca tinha experimentado
whisky antes.
Thais era pequena, mas era forte.
Generosa.

Doce.
Carinhosa.
Parei minha reflexão quando senti uma mão pousar sobre o meu
ombro nu e fechei os olhos para apreciar melhor o calor de pele contra pele,

meus pelos ficando arrepiados.


Desejei ter a palma dela deslizando pelo meu peito, descendo ainda
mais para brincar com o meu abdômen, me provocando...
Porra!

Eu já estava excitado e a respiração quente dela contra minha pele


só me deixava mais rígido.
— Criar duas crianças pode ser bastante pesado de vez em quando,
Edgar — murmurou em uma voz rouca. — É você quem precisa estar à

frente de tudo, tomar todas as decisões, mas, como disse uma vez para a Ju,
você não está sozinho. Posso ajudar sempre que precisar, como hoje.
Virei-me na direção dela e olhei dentro dos olhos castanhos
brilhantes, e o que vi me deixou trêmulo.
Vi companheirismo, um companheirismo que tinha uma natureza

bem diferente daquele que eu tinha com Riccardo, mas que poderia vir a se
tornar tão profundo quanto, forte, que poderia extrapolar limites. Era algo
intangível.
Um desejo estranho se apossou de mim, uma ânsia de aprofundar

aquele vínculo. Um querer insano de tomar aquele apoio emocional que ela
oferecia. De compartilhar com ela aquela carga que carregava.
Como amiga.

Como mulher.
Como companheira.
Porra!
Companheira?
Mulher?

Que merda estava acontecendo comigo?


Eram pensamentos de um homem que estava vulnerável pelos
acontecimentos. De alguém cansado. De alguém solitário. Ânsia de um
maldito carente imbecil.

Senti um gosto amargo na boca enquanto meu maxilar ficava rígido


com a tensão.
— Sei que eu não tenho muito para oferecer, Edgar, que estou
incomodando… — falou quando eu não disse nada.

Rocei a ponta dos meus dedos sobre a boca dela impedindo-a de


continuar.
Os lábios eram muito mais macios do que eu tinha imaginado e eu
senti o sangue se acumular no meu pau com o desejo fulminante.

Acariciei seus lábios, traçando as linhas bem-feitas.


Quis culpá-la por não se afastar, mas sabia que quem tinha se
enfiado naquele poço de emoções tinha sido eu, poço que ficou mais
profundo quando vi o desejo cintilar nos olhos de Thais.

Caralho!
— Edgar — murmurou o meu nome, o hálito quente me tocando, e
me senti afundar ainda mais naquele querer.
— Quantas vezes já disse que não é nenhum incômodo ter você

aqui? — sussurrei.
— Eu sou seu ato de caridade.
Senti raiva ao ouvi-la repetindo as palavras da babá.
— Eu que fui seu ato de caridade hoje, Thais. — Deslizei meu dedo

pela comissura do lábio.


— Claro que não, Edgar! — murmurou contra a minha pele. — Está
longe de ser isso.
— Então não repita nunca mais essa porra pra mim! — Fui um
pouco grosso, e ela arregalou os olhos.

— Okay.
— Eu que preciso te agradecer pelo que fez por nós hoje.
— Você já disse isso mil vezes! — Revirou os olhos daquela forma
cômica dela, e eu me peguei sorrindo.

— Porque eu te devo muito, Thais!


— Bobagem! — Abriu um sorriso e eu senti o meu coração
corresponder, batendo feito um louco. — Já recebi vários abraços de Jaxon
e Spencer como recompensa. Além das lambidas do Batata, é claro!

— Então só falta eu pagar a dívida com você.


Dominado pela luxúria, pela fome, pela irracionalidade, passei um
braço pelo corpo esguio, trazendo-a de encontro a mim, minha boca
substituindo a gema do meu dedo.

Thais pareceu surpresa e arregalou os olhos quando meus lábios


roçaram os dela, mas não me afastou, se deixou ser beijada por mim.
Testei nosso encaixe, e o toque, que era tão suave quanto uma
carícia feita por uma pena, eletrizou-me e eu me senti vivo.

Um som rouco subiu pela minha garganta e morreu contra os lábios


dela no momento em que a beijei de verdade, não como o selvagem que
queria sua boca com desespero, não como o homem que queria fazer sexo
com ela, e só com ela, mas, sim, como alguém que precisa de algo

metafísico.
Eu deslizava meus lábios pelos dela, sem pressa, escutando os
pequenos estalos provocados com o encontro das bocas, me deixando levar
pelo desejo, ouvindo os sons suaves que escapavam da sua garganta.

Querendo que eu intensificasse o beijo, Thais abriu um pouco a


boca, porém não mergulhei minha língua nela, matando a fome que sentia,
apenas continuei a provar aquele contato doce, diferente, que me levava a
um outro plano.
Thais emitiu um suspiro que reverberou no meu pau, provando o
quanto eu era idiota por não nos dar aquilo que nós dois queríamos. Outro
som baixinho e excitado escapou dela no momento em que suas mãos
quentes começaram a percorrer toda a extensão das minhas costas, me

fazendo queimar no meu próprio inferno.


Por um momento, parei de mover a minha boca sobre a dela,
tentando lutar por ar, preso ao toque suave que eram pequenos roces e
dedilhares sobre algumas de minhas tatuagens. Estava refém da mulher que

não tinha pudor em explorar cada músculo do meu tronco, mas logo Thais
encontrou uma brecha por entre os meus lábios e a sua língua invadiu a
minha boca.
No início, os movimentos eram hesitantes, como se não tivesse
certeza de que me beijar era o certo, mas, assim como as mãos, logo ela se

entregou completamente ao contato, a língua passando a deslizar sobre a


minha, procurando conhecer cada canto da minha boca, me fazendo gemer
em resposta.
Tombei um pouco a minha cabeça, acompanhando aquele bailar

lento e delicioso que Thais impunha as nossas bocas enquanto continuava a


mapear o meu corpo de cima a baixo. O toque dela impregnava todos os
meus sentidos, meu corpo, minha mente, mas eu estava pouco me fodendo
para isso, queria mais. Ela era gostosa, linda, responsiva, beijava bem pra
caralho. O sabor do whisky só parecia acentuar o gosto suave dela,
tornando o beijo ainda melhor.
Thais era tudo o que eu precisava naquele momento, aquilo que eu
necessitava para esquecer o que passei.

Ela provocou o céu da minha boca, arrancando de mim um gemido


abafado, antes de voltar a roubar a minha sanidade ao enroscar lentamente
nossas línguas. Meu braço se tornou uma barra de ferro sobre a cintura fina
e eu a puxei ainda mais contra mim, sentindo os mamilos duros em meu

peitoral, contato que levou mais sangue para o meu pênis.


Me esfreguei nela com desespero, desejando que Thais se sentisse
tão insana quanto eu. Depois de tocar as tranças que compunham o cabelo
dela, roubei completamente o controle do beijo ao segurá-la firmemente

pela nuca.
Um arfar baixo escapou pela garganta dela, o que me levou ao
extremo do prazer. Meus lábios e língua se tornaram mais urgentes,
devorando a boca macia que me retribuía com a mesma fome e ânsia.

Minha tentativa de submetê-la à minha vontade não durou muito,


porque escutamos som de passos e de unhas arranhando o piso.
Nos separamos e ficamos nos encarando, ainda atordoados, até que
Thais levou as mãos aos meus ombros e me deu um empurrãozinho para
que eu me afastasse dela.
Deixei cair minha mão que estava em sua nuca e ela deu um passo
para trás, colocando uma distância entre nós. Fiz uma careta, grunhindo
pela irritação. Me senti como se eu tivesse uma doença contagiosa que

Thais não queria pegar, não o homem que ela havia acabado de beijar e
excitar com tanta vontade.
— Mano! — Jaxon deu um gritinho e eu me virei, vendo ele correr
na minha direção.
— Oi, ferinha. — Inclinei-me para pegá-lo no colo.

Ignorei Batata, que também queria a minha atenção. Como ele não
conseguiu nenhuma carícia minha, com um latido, trotou em direção a
Thais buscando um chamego.
— Como você está? — Deixei um beijo no rosto redondo do meu

irmãozinho.
— Bem! — Coçou os olhos.
— O que está fazendo acordado a essa hora, Jax?
— A Thay sumiu! Vim procurá ela — falou com a sua vozinha

infantil.
Franzi o cenho, confuso.
— Ela está bem na nossa frente.
O menininho balançou a cabeça em negativa.

— Não?
Olhei na direção onde a mulher estava, como se eu precisasse da
confirmação de que eu não estava delirando e o beijo não tinha passado de
um sonho.

Thais estava ali, na minha frente, então fitei a boca deliciosa e vi


que os lábios ficaram mais vermelhos pelo meu beijo.
Olhar para aquela parte do corpo dela fez o desejo queimar dentro
de mim, mas eu me controlei, já que meu irmão estava no meu colo.

— Eles estavam deitados na minha cama. Os dois pediram para


dormir comigo — ela explicou quando percebeu que não tinha entendido o
que o pequeno havia falado.
Os gêmeos, vez em quando, pulavam na minha cama ao terem

pesadelos ou por não conseguirem dormir, mas fiquei surpreso por Thais
concordar com o pedido deles, abrindo mão da sua privacidade por eles,
algo que, agora que pensava, duvidava que a senhorita Lilly poderia ter
feito algum dia pelos meus irmãos, se é que alguma vez ela consolou-os. A

amargura retornou com força em meu peito ao lembrar da mulher dizendo


que não era paga para dar carinho aos meninos, o que me deu a certeza de
que nunca havia feito nada do tipo.
Porra!
Por que eu não tinha me atentado a isso antes?

Que droga de irmão mais velho eu era?


— Sério que pediram isso, Jax? — Minha voz saiu baixa enquanto
eu buscava controlar o meu temperamento. O menininho não tinha culpa

dos meus erros.


— É! — Encarei o rostinho dele, que estava vermelho.
— Por que, ferinha? — Removi uma mexa do cabelo que havia
caído sobre o olho dele. Tinha que levá-lo ao barbeiro para cortar.
— Spen tava com medo. — Arregalou os olhos.

— Você não, Jax?


— Eu não!
— O que eu disse sobre mentir? — Abri um sorriso para ele.
— É feio! Por que você veio pra cozinha, Thay?

— Não ia conseguir dormir, iria ficar rolando no colchão, e só ia


atrapalhar vocês dois, querido. Aí, acabei ficando com sede e vim tomar um
copo d’água.
— Ah! Vai voltá pra lá agora? — perguntou em um fiozinho de voz.

— Vou, sim. Já estou ficando com sono — respondeu, dando um


bocejo que me pareceu bem falso.
Eu a encarei. A vergonha estampada na cara dela me deu a certeza
de que ela se apegava aquela desculpa frágil para fugir de mim, o que foi

confirmado quando desviou o olhar rapidamente.


Porra!
Ela estava com medo de mim?
A ideia me caiu mal pra caramba.

— Também tô com sono — Jax murmurou, abrindo a boca como se


fosse um leão.
— Então vamos dormir, querido — a garota falou e se aproximou de
mim para pegar o menino.

— Você não é leve, ferinha — eu disse quando Jax estendeu os


bracinhos em direção ela, querendo ir para seu colo.
— Não? — A voz era manhosa.
— Claro que não, e Thais é pequena.

Fez um biquinho.
— Sou pequena, mas forte — a jovem falou, me dando um sorriso
antes de esticar os braços novamente.
Meu irmão não hesitou em passar para o colo dela, que o pegou com

firmeza, aninhando-a contra o tronco.


Admirei-a ainda mais, principalmente quando deixou um beijinho
carinhoso nos cabelos dele.
— Comeu algo no voo, Edgar?
Fiz que não.

Não havia pensado muito em comida durante o trajeto, passei o


tempo resolvendo pendências e organizando com meu secretário uma nova
agenda em Nova York.

Agora que ela tinha falado, senti a fome apertar o meu estômago,
consequência das várias horas sem comer.
— Tem pizza na geladeira. Na verdade, muita pizza, já que um certo
alguém exagerou no pedido. — Revirou os olhos para mim e eu sorri. — É
só esquentar.

— Vai fria mesmo! — Dei de ombros e vi o olhar dela recair sobre


os meus músculos, admirando-me.
— Sério? — Fingiu horror.
— Espero que Riccardo nunca ouça essa merda — entrei na

brincadeira.
— Por quê? — Foi maliciosa.
— Não quero escutar a ladainha dele pelo resto da minha vida sobre
o pecado que é comer pizza fria! — Passei a minha mão na nuca.

Ela deu uma risada que arrepiou os pelos da minha nuca. Eu quis
voltar a ter os lábios generosos contra os meus, dessa vez só desgrudando
nossas bocas quando ela explodisse em um orgasmo forte.
— Thay? — Jax choramingou, querendo ir para o quarto.

— Já vamos! Boa noite, Edgar — ela sussurrou.


— Boa noite para vocês. Se quiser que eu tire esses pestinhas da sua
cama, só me avisar — falei.
— Acho que consigo sobreviver uma noite com eles — os lábios se

curvaram em um sorriso.
— Boa sorte! — Pisquei de um olho só para ela.
Rindo outra vez do meu comentário, mandou um beijinho no ar para
mim.

Eu fiquei estacado no lugar, assistindo Thais deixar o cômodo com o


meu irmão no colo, Batata atrás deles, trotando e balançando o rabo.

Era algo infantil, mas eu agi como um adolescente, ficando todo

derretidinho e felizinho com o caralho de um beijo soprado.


— Vá para a puta que pariu, Edgar! — rosnei.

Para aumentar ainda mais o meu desconcerto, abri um sorriso de

orelha a orelha, um grande, de doer as bochechas.


Eu era um maldito imbecil!

Primeiro por beijá-la.


Segundo por desejá-la.

Terceiro por sorrir diante disso.

O pior era eu querer ir para o quarto dela e me juntar a eles, e ao


cachorro, como se fôssemos a porra de um casal feliz, que compartilha a

mesma cama todos os dias e deixa os dois filhos dormirem com a gente
após um pesadelo.
Capítulo quatorze

— Eu quero dar na sua cara! — Juliana brigou comigo depois de eu

terminar o meu monólogo, em que, óbvio, omiti o comentário asqueroso


que meu pai tinha feito sobre o marido dela.

Pensar no preconceito de James com relação a Riccardo embrulhava

o meu estômago, ainda mais quando ele era tão bacana. Mesmo estando
bastante ocupado com o trabalho acumulado por conta da lua de mel,

Riccardo não tinha se importado em ficar com Lucca para que eu e Ju

tivéssemos um momento a sós.


— Hey! Essa frase é minha! — provoquei-a, tentando descontrair

um pouco a conversa, pois tinha ficado um clima pesado, mas minha

melhor amiga não sorriu, apenas continuou a me encarar com seriedade.


Não podia julgá-la. Nem eu consegui sorrir.

— Deveria ter me contado… — sussurrou, apertando a minha mão

em forma de apoio.

— Acabei de contar, amiga.

— Não se faça de boba, Thay! Estou falando no dia!


Suspirei pesadamente, sentindo um nó se formar na minha garganta,

quando vi no semblante dela a mágoa, que ela não escondeu e deixou clara

em seu tom de voz:

— E ainda escondeu de mim por todos esses dias.

— Não podia fazer isso com você, Ju — sussurrei.


— Sou sua amiga!

— E é por isso que eu sei que você irá perdoar a minha omissão,

querida.

— Convencida!

— Me sentiria péssima se estragasse a sua felicidade, Ju, com um

problema que é só meu. — Ignorei a brincadeira dela.

— O problema é nosso amiga, como os meus, de alguma forma,


sempre foram seus, sempre apoiamos uma a outra.

— Você quer me fazer chorar? — Senti meus olhos encherem

d’água.
— Eu que quero chorar, Thay. — A voz dela estava embargada. —

Por que você é sempre tão generosa comigo, até mesmo quando está

sofrendo?

— Por que eu te amo e você faria o mesmo por mim.

— É, provavelmente — sussurrou e uma lágrima escorreu pela

minha bochecha.
Não me surpreendeu quando Ju começou a chorar também.

— Seu pai foi tão covarde! Estou com tanta raiva dele! —

murmurou. — Tentar te agredir, Thay? Eu quero ir na sua casa dar vários

tapas nele! — A ira cintilou nos olhos dela.

Dei um sorriso triste e comentei:

— Isso é meio contraditório, né, amiga?

— Eu sei. — Suspirou. — Que bom que Edgar estava lá para

impedir James de te bater.

— É — concordei. — Agradeço muito aos céus por Edgar ter se

controlado e não ter revidado como gostaria.


— Seu pai bem que merecia!

— Ju! — gritei arregalando os meus olhos.

— É verdade, amiga.

— Não teria valido a pena. Papai iria fazer um escarcéu e estragaria

sua festa. Nem sei como ele não fez... E pensando bem, eu odiaria ver meu
pai machucado... — Estremeci. Ainda bem que não tinha passado disso, de

uma possibilidade.

— Ele não teria se importado de te machucar — resmungou.


— Isso me dói tanto, Ju…

— Posso imaginar. — Voltou a apertar a minha mão e eu vi que ela

sofria por mim. — Sinto tanto. Deus, eu também sinto muito pela violência

emocional que você sofreu, com ele te proibindo de pegar as suas coisas.

— Dei um jeito, isso foi o de menos. — Dei de ombros, tirando a

importância do ocorrido.

— Tenho certeza que sim…

— Não que venha me sentido tão capaz assim… — Suspirei. —

Ainda estou à procura de um lugar para alugar. São quase quinze dias

morando de favor.

— Você pode vir para cá!

— E atrapalhar vocês? Não mesmo, Ju!

— Para com isso!

Revirou os olhos.

— Posso aumentar o seu salário como babá de Lucca.

— Não precisa — balancei a cabeça para enfatizar a negativa.

— Você vai poder encontrar um lugar legal, sem ter que dividir com
ninguém.
— Meu trabalho não vale mais do que você já paga, Ju. Já disse que

é muito!

— Tá sendo ridícula. — Fez uma careta.

— Não, amiga. Não é porque tem muito dinheiro agora que precisa

fazer isso.

Bufou.

— Você é ridícula!

— Sensata! — Mostrei a língua de maneira infantil para ela.

Ju fez a mesma coisa e nós duas começamos a rir, achando graça

daquela bobeira.
Gargalhei até sentir lágrimas surgindo nos meus olhos e minha

barriga doer.

— Mas sabe de uma coisa? — falei, limpando o canto dos meus

olhos.

— O quê?

— Como estou ajudando Edgar com os gêmeos depois que ele

demitiu a babá deles, isso me faz sentir menos um peso morto dentro da

casa dele.

— Edgar disse alguma coisa que te fez sentir assim, como um peso

morto? — Juliana perguntou, pronta para atacar o coitado quando o

encontrasse.
— Não! — respondi rápido e alto demais.

Ela arqueou a sobrancelha para mim enquanto os olhos ardiam de

curiosidade, e eu senti que morria de vergonha com minha defesa

apaixonada.

— Ele sempre me fez sentir bem-vinda, Ju, apesar da resistência,

até diria ranço, que tinha por mim.

— Que nunca foi aversão… — completou.

Olhei para minha melhor amiga, atordoada.

Ela…?

— Achei que era coisa criada pelo meu pai até que… — Me calei

quando vi que estava falando demais.

— Até que...? — Pareceu curiosa.

Merda!

Ju não iria descansar até que eu contasse tudo.

— Ele me deu um selinho e eu beijei ele de volta — confessei

depois de uns instantes, morrendo de vergonha.

A lembrança dos lábios dele sobre os meus me invadiu. Não sei o

que estava na minha cabeça para beijá-lo, mas acabei cedendo a


irracionalidade de querer mais do que o contato suave que ele impunha.

Quando minha língua adentrou a boca dele, pensei que Edgar iria me
rechaçar pela minha inexperiência, mas ele apenas se entregou ao beijo, me

dando mais confiança para continuar até que ele tomasse o controle.

Um desejo brutal se espalhou pelo meu corpo, e eu tive que me

controlar para não fechar os olhos e emitir um suspiro.

Queria muito ser beijada por ele outra vez, ter aqueles olhos

famintos me devorando, me fazendo esquecer o quanto odiava tudo em

mim, escutar os sons baixinhos que ele emitia enquanto minhas mãos

deslizavam por toda sua pele tatuada.


— Pelo jeito alguém gostou — minha melhor amiga disse em um

tom malicioso.
Eu devo ter feito algum som que revelou demais.

Merda!
— Tínhamos bebido um pouco — me justifiquei.

— Você? Deus!
Começou a rir da minha cara e eu fiz um bico enorme.

— Sim, eu bebi whisky pela primeira vez. Pouco, mas bebi, talvez o
suficiente para ficar bêbada.

Ju arqueou a sobrancelha, mostrando que não acreditava em mim.


Eu a ignorei.
— E Edgar estava bastante irritado com a situação toda da babá não

ter ido buscar os gêmeos na escola — comecei a contar para Juliana, ciente
de que cedo ou tarde ela saberia através de Riccardo.
— Que cachorra! — rosnou.

— Demais! Nunca quis tanto socar alguém.


— Se eu estou com vontade de socar a peste, nem imagino o que

você sentiu.
— É…

— Mas você está desviando o assunto.


— Que assunto? — Desviei meus olhos.
— Do seu primeiro beijo. Do beijo que você roubou!

— Hey!
— Safada! E você dizendo que nunca iria ser beijada antes dos trinta

anos. — Continuou a me provocar.


— Era uma possibilidade…

— Sei… Estou orgulhosa de você, amiga. — Seu tom era de pura


malícia.

— Não é para tanto.


— Ele é um gato com todas aquelas tatuagens! — disse, mas sabia

que era apenas para me provocar. Minha amiga só tinha olhos para o
italiano dela.

— Mesmo?
— Não se faça de sonsa, Thais! — resmungou.
— O que você quer que eu diga?
— Que admita!

— Que ele é bonito? Tá! Ele é bem bonitão e as tatuagens deixam


ele bem sexy.

— Humm…
— E por alguma razão estranha, ele me desejou naquela noite.

— E em todas as vezes que te viu.


Balancei a cabeça em negativa. Isso era exagero dela.

— Você não acha, mas é uma mulher linda, amiga.


— Não para o nível de homens como ele.

— E existe nível?
— Claro que sim — retruquei.

— Eu sou do nível de Riccardo?


— E ainda pergunta? É uma gostosona! — Olhei para o corpo

dourado pelo sol da minha amiga.


— Isso não quer dizer nada…
— Tá sendo ridícula agora, Ju. Sabe que foi sua beleza que deixou

seu marido aos seus pés.


Ela mordiscou os lábios, sabendo que não podia me contradizer.

— Eu não sou idiota, amiga. Por mais romântica que eu seja, que
sonhe com o meu príncipe encantado, sei que o meu conto de fadas não
envolve um milionário bonitão que irá me levar para um castelo, como o

seu marido fez. O beijo foi só algo movido por vulnerabilidade e gratidão
mútua.

Ju ficou me fitando em silêncio.


— Meu príncipe não falará tanto palavrão… Fora que duvido muito

que ele vá querer assistir comédias românticas comigo, e isso eu não abro
mão — disse em tom de confidência e pisquei um olho para ela.
Começamos a rir. Também não consegui me controlar ao imaginar

Edgar assistindo um filme brega comigo. Não duvidava que soltaria uma
enxurrada de palavrões irritados.

— Falando em príncipe, quero saber cada detalhezinho da sua lua de


mel… — pedi, sendo maliciosa.

— Tenho certeza que você não irá querer saber de todos os


detalhezinhos, Thay. — O tom era jocoso, enquanto os olhos brilharam. Um

sorriso bobo surgiu nos lábios bonitos.


— Sua devassa! — Provoquei.

— Era a minha lua de mel, oras! — Se defendeu.


— Quero saber sobre o local onde estiveram hospedados, sobre a

comida, os passeios, os momentos ao pôr do sol... — Emiti um suspiro.


— Não me recordo de nada disso!

— Juliana! — gritei com ela, exasperada.


Minha melhor amiga gargalhou pra caramba.

— E se eu te disser que achei o castelo do meu marido mais bonito e


mais romântico?

— Você não é nada tendenciosa — provoquei.


— Bastante tendenciosa eu diria. — Deu um sorriso. — Eu amei o

pátio, que era cheio de árvores altas que circundavam a piscina que mais
parecia um espelho, o interior que era um contraste entre o rústico, o

medieval e o moderno, mas Barolo… Barolo é mais lindo que a Toscana.


— É o seu lar na Itália… — Abri um sorriso para ela, que retribuiu.

— Sim, mas tenho certeza que você ficaria louca pela piscina
interna…

— Milionários! — falei, jocosa, e voltamos a rir.


Felizmente, Ju não comentou mais nada a respeito do beijo,

entusiasmada em contar como foi a viagem, em me mostrar as inúmeras


fotos que ela havia tirado, já que ela amava registrar tudo. Para o meu
deleite, havia inúmeras fotos de Lucca e suas trapalhadas também.

Mesmo que estivesse superfeliz por eles, pela família linda que
minha amiga havia conquistado, não pude negar que sentia uma pontinha de

inveja pelos inúmeros lugares na Toscana que ela conheceu. Nunca havia
saído de Washington e tinha tantos lugares que queria conhecer, como a

Disney e outros parques temáticos. Visitar Paris, Inglaterra...


— Thay? — Juliana chacoalhou os meus ombros, me trazendo de
volta para a realidade.

— Oi?
— Seu telefone está tocando.
— Ah!

— Onde você estava?


— Presa a um pensamento que não vale a pena contar — murmurei,

sendo idiota em confessar a minha inveja.


— Como assim? — Me pressionou.

— Viagens que queria fazer…


— Sei que você irá conseguir realizar todos os seus sonhos, Thay…

— Não havia julgamento pela minha inveja, só compaixão.


— Vou batalhar muito para isso acontecer. Pode demorar, mas…

— Eu sei que vai.


— Obrigada pela fé em mim.

— É a mesma que você tem em mim.


— Deus! Eu não vou começar a chorar de novo! — falei ao sentir

meus olhos ficarem úmidos.


— Nem eu.

— Por que a gente é tão brega, amiga?


— Sei lá.
— Deveríamos parar com isso.
— Talvez.

— Eu não vou conseguir…


— Nem eu pretendo…

Uma explosão de risadas ecoou na sala de novo.


— Seu celular, amiga — Ju falou, ainda rindo.

— Tá!
Abri minha bolsa para pegar o meu aparelho e meu coração disparou

ao ver que eram mensagens de Edgar, a última enviada há um minuto.

Edgar:
Oi

Você está ocupada?



Thais?

Eu:
Não, estou na casa da Ju
Pq? 🙃

Edgar:
Estou em uma reunião que não tem hora para acabar e não posso
sair. Busca os gêmeos e fica com eles para mim?

Eu:
Claro 😀😀

Edgar:

Obrigado, mais uma vez

Eu:
Nada 😀😀

Boa reunião

Edgar:
Até mais tarde, Thay.

Eu:
Até

Edgar:
😘��
Fiquei encarando a tela do meu celular, atônita demais.

Eram emoticons bestas, mas nunca imaginei que ele me enviaria um


desses.
— Por que está sorrindo tanto, amiga? — Ju questionou e eu olhei
para ela.

— Eu estava sorrindo?
— Ainda está! — Arqueou a sobrancelha para mim.
Tentei me aprumar.
— Edgar me pediu para buscar os meninos na escola — fiz uma

pausa —, nada demais.


— Sei. — O escrutínio dela era férreo.
— Você não se importa com isso?
— Com o quê? — Pareceu confusa.
— De eu estar ajudando Edgar com os meninos enquanto ele não

contrata outra pessoa…


— Claro que não, amiga. De onde tirou isso?
— Sou a babá do Lucca, você me paga para cuidar dele. Prometo
que não irei comprometer minhas funções, tá?

Fechou a cara para mim.


— Você pensar que eu me importo com isso me ofende, Thay!
— Desculpa. — Ergui as duas mãos em um gesto arrependido.

— Eu já estive na posição dele.


— Verdade. — Dei um sorriso amarelo.
— Os três precisam mais de você no momento do que eu…
— E Riccardo?
— É o melhor amigo dele. Foi Edgar que lutou pelo meu marido

quando ele mais precisou e se encontrava perdido. Riccardo faria de tudo


por ele e pelos gêmeos.
— Estou sendo uma tola por me preocupar com isso, não é? —
sussurrei.

— Um pouco. Mesmo que ele não tivesse ajudado Riccardo a se


adaptar à vida numa cadeira de rodas, Jax e Spen são duas crianças fofas
que não precisam passar por mais um abandono.
— Detestaria que eles fossem machucados outra vez — confessei,

mesmo sabendo que eu nunca poderia evitar isso.


— Sei do seu carinho por eles, foi desde que os viu pela primeira
vez.
— Foi mesmo, não foi?

— Sim, e eu fico feliz por Edgar confiar em você para cuidar deles
enquanto ele está ocupado, em reuniões e viagens.
— Não vou deixar de trabalhar para você, Ju!
— Será?

— É só até ele encontrar outra pessoa…


— Espero que ele não encontre tão cedo! — Ju pareceu misteriosa.
— Amiga! Que coisa ruim de se falar! — gritei outra vez com ela.
Ju deu de ombros.

— Tá querendo se livrar de mim, é?


— Nunca! Seremos melhores amigas para sempre.
— Acho bom, senão serei obrigada a te bater.
Dessa vez, as risadas foram acompanhadas pelas lágrimas.

Continuamos conversando sobre outros assuntos que precisávamos


colocar em dia, até que Riccardo apareceu com um Lucca choroso, que só
acalmou no colo da mamãe. Aproveitei a deixa para me despedir e buscar
os meus meninos que, infelizmente, não eram nada meus…
Capítulo quinze

Li um parágrafo do documento jurídico eletrônico à minha frente,


tendo que ler outra vez quando o meu cérebro não processou a informação.

Há horas eu me forçava a me concentrar, já que tinha bastante


trabalho acumulado devido a uma odiosa viagem que tive que fazer para

resolver alguns problemas jurídicos e fiscais de uma empresa em que eu era

o sócio majoritário, erros que fizeram com que eu amargasse um belo


prejuízo, e, para ajudar, em meio aos problemas que pareciam se sobrepor

um sobre o outro, minha mãe me ligou várias vezes através de números pré-

pagos, enchendo a porra do saco pedindo dinheiro para pagar as dívidas de


Chad, o que me fez chegar ao ponto de bloquear as chamadas dela.
Afastei os pensamentos que diziam respeito a minha mãe, o que me

deixaria ainda mais irritadiço, mas a lembrança do rosto decepcionado dos

meus irmãos quando disse que passaria a noite no escritório e não com eles,

me azedou.

Estava sentindo uma falta tremenda de ficar com os dois, e isso me


deixava mais volúvel do que eu já era.

Queria ouvir as risadas deles quando eu contava as minhas piadas

péssimas, escutar as histórias mirabolantes que inventavam, sair com eles e

jogar videogame enquanto ganhava patadas de Batata, que sempre queria

atenção.
— Essa porra pode esperar — grunhi, desistindo de tentar me

concentrar, sabendo que era uma tarefa impossível.

Tinha sido perda de tempo vir até aqui quando o meu coração queria

outra coisa.

Estava determinado a fazer valer a pena aquele final de semana que

passaria com os meus ferinhas. Acabei sorrindo, me sentindo mais leve.

— Que se foda!
Continuava a falar comigo mesmo quando a notificação de

recebimento de e-mail enviado por Matsumoto apareceu na minha tela, mas

eu apenas ignorei e fechei meu notebook. Até mesmo iria fingir que a

reunião de mais tarde não aconteceria.


Antes que pudesse pegar os meus pertences para ir para casa, ouvi a

voz do meu melhor amigo.

— Nunca imaginei que você fosse um covarde, Edgar.

Surpreso, olhei para Riccardo, que conduzia a cadeira de rodas na

minha direção.

— Me enche de desgosto! — falou ao se acomodar à mesa que foi


desenhada especialmente para que ele não batesse os joelhos quando ficasse

atrás do móvel.

O acidente do meu melhor amigo não havia mudado apenas a

percepção dele sobre as coisas, mas também a minha. Passei a ver que meu

escritório e meu apartamento estavam longe de ser locais acessíveis, o que

fez com que eu mudasse muitas coisas, tornando os ambientes mais

confortáveis.

— De que merda você está falando?

— Está fugindo de mim, caraglio. Ou melhor, cagone.

— Vai se foder, porra! — Bati a mão no tampo da minha mesa. Ser


chamado de cagão me irritou tão rápido quanto um relâmpago alcança o

solo.

Riccardo apenas ergueu uma sobrancelha de forma arrogante para

mim, ele já estava bem acostumado com o meu gênio.


— Estava resolvendo os problemas da empresa, merda! Essa porra

consumiu todo o meu tempo, você sabe disso. — Nem sei por que estava

tentando me justificar.
— Sei.

— Porra! Você estava ocupado com o seu trabalho, tão afundado em

relatórios e em reuniões quanto eu. No seu tempo livre, duvido que você

iria querer ficar de tititi comigo quando poderia estar com o seu filho ou

beijando a sua mulher.

— Tem razão nisso, Edgar, realmente meu tempo foi bem gasto…

— falou de forma maliciosa, os olhos escuros brilhando, e não tive dúvidas

que o filho da puta estava pensando em sexo.

— Porra! Eu não quero saber dos detalhes.

Ele deu de ombros, ignorando-me.

— Mas não foi só eu que estava aproveitando o tempo livre, não é

mesmo? — Os lábios se curvaram de forma diabólica e eu quis dar um

murro na cara dele.

— Não tenho a mínima ideia do que você está falando.

— Beijou a melhor amiga da minha esposa, Edgar?

Senti meu corpo ficar rígido e a dor nos ombros e pescoço retornou.

— Como é? — gritei, tentando compreender do que ele estava


falando.
— Juliana me contou. — Dei de ombros.

— Caralho! Por que ela foi contar isso para a sua mulher? — rosnei.

Passei diversas vezes as mãos pelos meus cabelos. Eu não entendia

a fúria que me consumia naquele momento. A garota era tola a esse ponto?

— Melhores amigas contam as coisas umas para as outras... — Era

uma alfinetada merecida, mas que me deixou mais puto.

— E a sua mulher tinha que ir fofocar com você? — explodi.

A diversão de Riccardo morreu na hora. Ele desferiu um soco na

mesa com força, o rosto transtornado pela fúria, e me repreendeu.

— Você pode ser o meu melhor amigo, Edgar, mas não vou permitir
que use esse tom desdenhoso ao falar da minha mulher!

— Desculpa, caralho! — Ergui a mão em um gesto de paz.

Por mais que nós dois nos amássemos como irmãos, Riccardo nunca

deixaria de proteger a mulher pela qual se apaixonou perdidamente e que

tinha dado a ele a coisa mais preciosa: um filho.

Eu tinha certeza que se tivesse uma esposa teria feito a mesma coisa,

ou até pior, partiria para agressão. Não era eu quem queria surrar o pai de

Thais uns quinze dias atrás?

Senti meu corpo fervilhar.

A verdade é que até hoje queria encher a cara daquele merda de

socos pelas malditas palavras que disse para ela.


A constatação de que eu ainda tinha vontade de fazer aquilo me fez

ficar um pouco atônito.

— Entre mim e minha sirena só existe cumplicidade. Prometemos

um ao outro que nunca mais haveria segredos entre nós.

— Mas não é algo dela para contar, não é? — murmurei.

Riccardo balançou a cabeça, negando. Pude notar a fúria cintilar nos

olhos dele.

— Comentei com Ju como você estava distante depois de eu ter

chegado da lua de mel, então ela me contou tudo o que você estava

escondendo de mim.

— Tudo? — perguntei, sem pensar muito, quando a pontada de

curiosidade em saber se a garota tola havia contado para a amiga se ela

havia gostado do nosso beijo ou não me espetou.

Caralho!

— Bom, não sei se tudo. — A resposta dele foi um balde de água

fria em mim.

— Entendo.

Ele me analisou por uns instantes e eu soube que estava ferrado,


pois dificilmente meu melhor amigo não conseguia me ler.

— Por que fez isso, Edgar?

— O quê? — Fiz-me de desentendido.


Ele começou a batucar os dedos no apoio da cadeira de rodas.

— Por que se ofereceu para ajudá-la?

— Fui parte do problema dela com o pai, meu nome foi envolvido.

— Dei de ombros e senti a dor muscular me incomodar novamente. — E,

como você disse, ela é amiga da sua mulher. O que você esperaria que eu

fizesse? Que a deixasse sozinha, às duas da manhã, para procurar um lugar

para dormir, porra?

— E decidiu levá-la então para a sua casa?


— O que que tem demais? Ela queria ir passar a noite num quarto

fuleiro de um motel qualquer! — Minha voz soou estranha aos meus


ouvidos, mas não consegui identificar o porquê. — Eu poderia ter oferecido

pagar um quarto de hotel decente, mas ela é cabeça dura demais, sabia que
não ia aceitar.

Ele ficou ali me analisando, o que provocou vários calafrios na


minha espinha, continuei me justificando para tentar disfarçar aquela

sensação.
— Não pude mandar Thais embora, porque ela ainda está

procurando um lugar bom para ficar, e as coisas se complicaram pra caralho


nesse meio tempo…
Antes que Riccardo pudesse vir a saber por outras fontes, contei de

forma sucinta tudo o que havia acontecido nos últimos dias. Vi várias
emoções passarem pelo rosto do meu melhor amigo, e percebi que ele me
entendia, principalmente o quanto me sentia vulnerável quando eu estava

longe dos meus irmãos.


— E no meio disso tudo, você acabou roubando a babá do meu

filho… — comentou, mas sem julgamentos, me encarando daquela forma


analítica que era enervante.

— Eu precisava de ajuda e Thais se ofereceu — expliquei. — Jaxon


e Spencer gostam dela.
— Eles podem vir a gostar de outra babá, Edgar. Você deveria ter

procurado por uma.


Mesmo sabendo qual era a tática dele, caí na armadilha do meu

melhor amigo.
— Porra! Tenho medo de cometer o mesmo erro ao buscar outra

babá. Tenho medo de descobrir que coloquei outra filha da puta dentro da
minha própria casa — falei algo que nunca tinha dito em voz alta, algo que

eu fazia de tudo para sufocar dentro de mim.


Bastou uma ligação minha depois do ocorrido para a senhorita Lilly

ser demitida da agência, mas isso não me bastava. Eu era mesquinho.


Quando sabia que ela havia se candidatado a uma vaga, movia meus

pauzinhos, mas eu sabia que não podia brincar com o destino dela.
Washington era um estado grande, a América, um país enorme.
— Eu confio em Thais e… — Calei-me, dando-me conta de que já
estava falando demais.

— E? — pressionou-me.
— Caralho, Riccardo! — rugi. — Não sou nenhum idiota! Vejo o

quanto ela é carinhosa e atenciosa com os meus irmãos, de um jeito que a


porra da nossa mãe jamais chegará a ser um dia.

— Eu te avisei, Edgar… — sussurrou, malicioso.


Franzi o cenho, mas logo me recordei das palavras de Riccardo no

dia em que eu a vi pela primeira vez: que a garota poderia se tornar um


membro da minha família, uma figura materna para os meninos.

O ódio que senti do meu melhor amigo por ele ter razão fez com que
o meu maxilar trincasse.

— Isso não tem nada a ver comigo, desgraça.


— Não? E a porra do beijo?

— Eu estava vulnerável…
— Pessoas vulneráveis não saem beijando outras pessoas por aí,
Edgar.

— Não significou nada, merda! — Me levantei da minha cadeira,


bufando tanto quanto um búfalo.

Eu odiava mentiras, condenava Nicole por ter me contado muitas


recentemente, e ali estava eu, contando uma mentira deslavada.
Aquela porra de beijo não havia saído da minha mente um instante

sequer, por mais que eu tentasse apagar da minha mente, e mesmo depois de
tantos dias, eu podia jurar que conseguia sentir o sabor dela misturado ao do

whisky.
Toda vez que eu olhava para Thais, o desejo de voltar a sentir a

maciez dos lábios dela contra os meus, de agarrar o corpo gostoso, de tocá-
la, de deixá-la mole em meus braços, sedenta, me incendiava.
Eu queria mais beijos.

Eu queria me sentir vivo outra vez contra o corpo daquela mulher,


mas eu fugia.

Eu mentia, mentia dia após dia para mim mesmo sobre o que sentia,
assim como quando tentava colocar na minha maldita cabeça que eu não

gostava nem de conversar com Thais.


Ainda que ela fosse bastante jovem, brincasse bastante, muitas vezes

me surpreendia como Thais parecia muito madura para a idade. Conversar


sobre o trabalho, sobre a rotina do dia a dia e sobre os gêmeos com ela me

parecia algo natural, tanto que quase me pegava falando demais,


compartilhando de tudo um pouco com ela.

Tentava me enganar ao dizer que o fato de ela gostar de acompanhar


política e economia mundial não me atraía pra caralho, que não me sentia

atraído pela inteligência da garota e que eu poderia ficar a madrugada


inteira discutindo os impactos da crise em alguns países da América Latina

só para ver os olhos dela brilhando de entusiasmo.


Continuaria mentindo, tentaria me convencer que eu realmente não

desejava aquelas balelas sentimentais até que isso estivesse enraizado na


minha mente.

— Se Thais é tão tola por dar tanta importância para um beijo de


gratidão, o problema não é meu. — Tentei me esconder atrás de uma

fachada de pura arrogância.


Riccardo continuou me encarando daquela maneira analítica que me

fazia ter calafrios.


— Sei que você não é esse babaca que quer aparentar ser, Edgar.

— Sabe que sou. — Dei um sorriso falso, me odiando por isso. —


Várias vezes jogou na minha cara que eu sou um cretino.

— Nunca foi cretino com ninguém, Edgar.


Caralho!
Ele me conhecia como ninguém. Eu podia me esconder de mim

mesmo, mas não dele.


— Do que você tem medo, amico? — sussurrou.

De muitas coisas.
— De não jogar videogame com os ferinhas hoje — imprimi um

tom de diversão na minha voz, mesmo que eu não me sentisse tão leve para
isso.
Na verdade, eu tinha medo dele descobrir que…

— Estou indo para casa, eu preciso ficar com os meus irmãos —


continuei.
E com ela... completei em pensamento.

A sobrancelha dele se arqueou.


— Você precisa de mim para algo? — completei.

— Não, eu só decidi passar no seu escritório para saber a razão pela


qual está fugindo… — repetiu.

— Não estou fugindo.


— Posso ver.

— Vai ficar até mais tarde? — Tentei desviar a atenção dele.


— Também já estou indo. — O vi levar a mão ao aro propulsor da

cadeira para movê-la para trás.


— Posso imaginar por quê — soei malicioso.

— Pelo menos um de nós sabe o que está perdendo…


— Estou tendo dias péssimos, caralho! Por favor, pode parar com

isso? — Levei a minha mão à fronte.


— Eu só quero o melhor para você, Edgar.

— Eu sei me cuidar.
Ele assentiu e girou a cadeira para dar as costas para mim. Fiquei
estacado no lugar.

Quando alcançou a porta, ele se virou outra vez para mim.


— Nos vemos amanhã na reunião?

— Claro!
— Certo… — ficou me encarando uns instantes, parecendo mais

tranquilo. — Só vou fazer mais um comentário. — Abriu um sorriso, e eu


praguejei.

— Não pretendo ficar pagando Thais para ser a babá dos seus
irmãos…

— Não sabia que era um muquirana, amigo.


— Eu e minha sirena já nos conformamos que perdemos uma ótima

babá, então o mínimo que você pode fazer é pagar o salário dela e acertar as
horas extras que ela não é obrigada a fazer…
— Claro. Discutirei o assunto com Thais, ver se ela quer trabalhar
para mim… — minha voz soou firme, mas meu estômago embrulhava.

Porra!
O que eu faria se Thais não aceitasse o emprego e fosse embora,
levando com ela o carinho que dispensava aos meus irmãos?
Mesmo que eu fosse gastar uma boa soma de dinheiro, eu moveria

céus e terra para mantê-la como babá dos gêmeos.


Me senti um pouco amargo ao pensar que estaria comprando a
atenção dela, mas logo descartei o pensamento. Eu era mesmo um filho da

puta por só cogitar que a doçura dela poderia ser comprada.


— Quanto você paga a ela? — perguntei, curioso.
— Quinze dólares a hora.
— Realmente é um mão de vaca do caralho! Os cuidados com o seu
filho valem muito mais — rosnei, irritado com a pouca valorização dos

serviços de Thais.
Riccardo me olhou com uma expressão divertida.
— Boa sorte em tentar convencer a garota que cuidar de Jaxon,
Spencer e Batata vale muito mais com isso.

Ele apenas confirmou o que eu achava sobre o caráter da mulher.


Sem esperar eu responder, virou a cadeira e, puxando a porta,
passou por ela, me deixando sozinho.
Cai sobre a minha cadeira, exaurido pela conversa, que nem deve ter

durado quarenta minutos, mas que arrancou todas as minhas forças.


Eu estava fodido!
E minha intuição, algo que eu não seguia muito, dizia que eu ficaria
mais fodido ainda.
Capítulo dezesseis

Emiti um som de decepção quando abri a porta do apartamento e


não fui recepcionado com gritos, abraços, beijos e lambidas. Eu não podia

dizer que não estava acostumado a ser recebido por uma grande festa
comandada por Batata, que sabia que eu estava me aproximando pelo meu

cheiro, mas minha mordomia parecia que cada vez mais, chegava ao fim.

Resignado, removi o celular do bolso da calça e não me surpreendi


ao ver que várias ligações haviam caído no spam.

Descartei o aparelho sobre o aparador, junto com a minha carteira.

Enquanto caminhava em direção a sala, comecei a abrir os botões da minha


camisa social. O bom senso dizia que eu deveria manter o meu torso

coberto, mas gostava de ficar sem camisa e acabei não abrindo mão do meu
hábito. Tinha o direito de me pôr confortável na minha própria casa, não era

para me exibir para a garota, querendo ver a luxúria nos olhos dela outra

vez, claro que não.

Grunhi, sabendo que era mais uma das inúmeras mentiras que

contava para mim mesmo, mas deixei o pensamento de lado. Riccardo já


havia me atormentado o suficiente com a conversa fiada dele e, depois de

ter ficado parado no escritório por longos minutos quando meu amigo saiu,

decidi que não perderia mais meu tempo me martirizando com isso.

Alcancei o corredor e escutei as risadas em meio aos latidos, o que

não me surpreendeu e me fez sentir um tolo em não ter prestado atenção no


quão diferente era o comportamento dos meus irmãos quando estavam com

a senhorita Lilly.

Com ela, não havia risadas nem muita conversa, apenas silêncio, um

silêncio nada natural de duas crianças e um cachorro que gosta de farra.

Outra vez senti culpa me tomando, mas não tive tempo de deixá-la crescer

dentro de mim, já que, alertado pelos meus passos, Batata correu na minha

direção, chamando a atenção dos gêmeos e de Thais, que estavam na


cozinha.

— Mano! — gritaram.

— Oi, ferinhas! — respondi, enquanto dava umas tapinhas na parte

traseira do cachorro que se jogava contra mim, a língua para fora pela
excitação.

Animados, os dois meninos também correram na minha direção,

finalmente me dando a recepção que desejava.

Abracei os dois e recebi seus beijinhos, retribuindo o carinho,

absorvendo a energia deles que me revigorava.

— Não tem que trabalhar mais não, né? — Jax falou em um


tonzinho de voz inseguro, mas vi nos olhos dele um pingo de esperança.

— É, mano, no computador.

Batata, como sempre, latiu em hora oportuna, dando a sua

contribuição.

Acabei sorrindo com o pensamento de que eu não tinha gêmeos,

mas, sim, trigêmeos, ainda que um deles tivesse bastante pelos e quatro

patas.

— Decidi que tenho coisa melhor pra fazer do que ficar o dia inteiro

no escritório, trabalhando no computador — dei ênfase na palavra, me

erguendo.
— É? — Deram um sorrisinho esperançoso.

— Sim!

— O que você vai fazer?

— Jogar videogame — falei as duas palavras mágicas deles.


Sorri ao escutar os gritos e latidos ecoando na cozinha. Notei meus

irmãos se segurando para não pular de alegria, dando-me mais certeza de

que havia feito a escolha certa. Logo uma risada feminina se juntou a dos
meus irmãos e meus olhos foram atraídos na direção dela.

Fiquei olhando o sorriso de Thais por alguns segundos, mas logo

baixei o olhar para a blusinha de alcinha fina, que poderia não ser cavada,

mas era colada ao corpo, deixando-me ver toda a curva dos seios delicados

e empinados.

Porra de lindos.

Desviei o olhar quando uma imagem, dos meus lábios se fechando

no bico daquele peito por cima da blusa, impregnou minha mente. Encarei

meus irmãos, que estavam imersos no próprio mundinho de gêmeos deles,

até que se viraram para mim, os olhinhos brilhando.

— Vamos jogar, mano? — Os dois falaram ao mesmo tempo, me

dando aquele sorrisinho manipulador que faria com que eu não conseguisse

negar algo a eles.

O cachorro latiu, parecendo endossar o pedido.

— Hey! Vocês não iam me ajudar aqui na cozinha? — Thais gritou.

Meus irmãos deram um pulinho no lugar, e eu vi os rostos deles

ficarem tomados pela vergonha.


— E então, ferinhas? — perguntei, e os gêmeos viraram-se na

minha direção.

— Jogar videogame é legal, Thay! — disse Spen.

— Muito! — Jax balançou a cabeça para cima e para baixo,

concordando.

— Estávamos nos divertindo bastante por aqui! — Thais retrucou e

os pequenos começaram a alternar a atenção deles entre mim e ela. Como

tudo era uma diversão enorme para Batata, ele começou a latir, cheirar e

pular nos meus irmãos.

Olhei para a garota e vi que ela fazia aquele biquinho injuriado que
era a minha maior desgraça. A mulher não sabia o quão sexy ela ficava e o

quanto eu queria beijá-la quando fazia isso.

— Tava legal! — Jax gritou, fazendo o cachorro latir mais ainda.

— É! — Spencer ficou ainda mais vermelho.

— Tenho certeza que ficará muito gostoso — continuou a

argumentar com eles.

Os gêmeos se entreolharam, parecendo incertos.

— O que estão fazendo de bom? — questionei Thais.

— Whoopie Pies! — Antes que ela pudesse abrir a boca, Jax gritou,

entusiasmado.
— Só que com confeitos! — Spencer demonstrou a mesma alegria

ao passar a mão sobre a barriga de maneira sapeca, arrancando uma risada

coletiva.

— Vai ficar muito gostoso! — Pen falou.

— Tem muiitoo chocolate — Spencer completou.

— Deve ser bom mesmo — concordei, sentindo minha boca salivar.

— Gosto de confeitos.

— Jura? — Thais chamou a minha atenção com a pergunta.

— O mano come muito confeite! — Spen me delatou para ela em

meio a uma risadinha.

— Todo dia! Ele come lá no escritório. — Spencer gargalhou.

— Sério? — Thais olhou para mim.

— Sim. Por quê? — Franzi o cenho.

— Nunca imaginaria que você gosta de confeitos de chocolate,

muito menos que comia escondido. — As comissuras dos lábios se

ergueram em provocação, os olhos cheios de diversão.

Meus irmãos riram ainda mais com o comentário dela. Thais

também acabou gargalhando enquanto o cachorro passou a correr de um


lado para o outro com a língua para fora. Estalei a língua, como se os

repreendesse, mas o meu sorriso me denunciava. Era impossível me

aborrecer vendo os três se divertindo a valer.


— Não faço nada escondido — falei, dando de ombros.

— Sei… — murmurou ao me olhar com suspeita.

A minha descontração sumiu.

Olhei bem para ela. Era como se ela soubesse que estava tendo

todos aqueles pensamentos fantasiosos com o corpo dela.

Bobagem! Das grandes.

— Vocês vão me ajudar ou não? — Thais perguntou. — Melhor,

acho que vou jogar videogame com vocês e deixar o doce para lá.
— Ah, não, Thay! — Jax bateu os pés enquanto Spencer cruzava os

braços.
— A culpa não é dela se vocês prometeram ajudar e não vão

cumprir com a palavra que deram, ferinhas…


— Ah! Mas queria comer uma torta!

— Então tem que ajudar a fazer, Spencer.


— Tá! — Correu em direção a Thais e Jax disparou atrás dele.

Batata foi trotando, sacudindo a cauda com vigor.


Balancei a cabeça em negativa. Terminando de remover a minha

blusa aberta, sentei no sofá para tirar os sapatos.


— O que que a gente tem que fazê? — Escutei Spencer perguntar,
animado.
— Vamos até a dispensa pegar todos os ingredientes. Leite, farinha,
ovos, o cacau em pó…

— Tá — disseram em uníssono, nem deixando que ela terminasse a


lista.

Olhei para eles de cenho franzido com a falta de educação e vi os


gêmeos dispararem em direção ao armário.

Outra vez, a garota gargalhou, atraindo a minha atenção para ela, e


meu corpo todo foi tomado por uma espécie de eletricidade que deixava os
meus pelos arrepiados, minha mente em torvelinho.

Como se soubesse que eu a encarava, Thais voltou-se para a minha


direção, e mesmo estando sentado, vi o olhar dela recair sobre o meu

peitoral.
Durou poucos segundos, já que meus irmãos exigiam a atenção dela

ao fazerem perguntas, correndo de um lado para o outro, para levar os


ingredientes para a cozinha, mas aquela fração de tempo em que Thais

parecia acariciar o meu tronco com os olhos, percorrendo as várias


tatuagens que eu tinha, foi o suficiente para que meu corpo ficasse mais

eletrizado.
Traguei o ar com força.

Não quis nem pensar no que o toque dela seria capaz de produzir em
mim se apenas o mero olhar dela já fazia um estrago.
Só o fato de não estarmos a sós impediu do meu pau reagir a Thais.
Porra!

— Precisamos de sal! — falou suavemente com eles.


— Sal? — Os dois pareceram confusos.

— É para realçar o gosto do chocolate e da baunilha — explicou


suavemente.

— Tá! Eu pego! — Jax deu um gritinho, tornando a correr, e a


mulher começou a procurar algo nos armários.

— Onde está a batedeira, Edgar? — A mulher perguntou


diretamente para mim. — Não estou encontrando.

Levantei o rosto para encará-la, já que eu tinha começado a remover


as minhas meias.

— Nós temos isso?


— Como vou saber? — Uma ruguinha se formou no meio da testa

dela e eu achei que deveria estar louco por achar aquele gesto bonitinho.
— Se não estiver no armário em que guardamos o liquidificador,
não temos. — Dei de ombros.

— Caralho! — ela falou um palavrão.


Como se se desse conta do que tinha feito, fez uma expressão

engraçada de choque, arrancando risadas dos meus irmãos.


Meus lábios se ergueram com diversão enquanto me levantava do

sofá.
— Me desculpe — murmurou, parecendo envergonhada.

— Pelo quê? — Caminhei na direção de onde eles estavam.


— Pelo palavrão.

— O mano sempre fala isso! — Jax contou animadamente.


— É! — Spencer concordou.
— E também porra! — Jaxon soltou em meio a uma risadinha e meu

outro irmão acabou gargalhando também.


Fiz uma careta ao parar na frente deles, sentindo uma pontada de

culpa pelo meu linguajar.


— Vocês não deveriam repetir essas palavras, ferinhas — falei,

tentando corrigi-los. — Já disse que é feio!


— Ah, mas você fala! — Jaxon fez muxoxo.

— É, você fala — Spencer retrucou, colocando as duas mãos na


cintura.

Fiquei sem saber o que responder.


Eu não podia dizer a eles que falar palavrões foi algo que se tornou

bastante frequente quando passei a ficar mais tempo na rua, quando enchia
a cara... Na verdade, não havia uma razão específica, eu apenas falava e era

algo que passou a ser inerente a mim.


— Deve ser força do hábito — Thais respondeu por mim enquanto

eu abria e fechava a boca, pensando o que responder.


— O que é hábito? — perguntou Jax.

— Algo que a gente faz de forma repetitiva.


— Ah, tá!

— Vou tentar me controlar— sussurrei e, com um sorriso, mudei de


assunto: — Precisa mesmo de uma batedeira, Thay?

— Vai dar muito trabalho bater a massa na mão. — Mordiscou os


lábios e eu tentei não prestar atenção no movimento sexy.

— Não vamos mais fazer as tortinhas? — Spencer fez um muxoxo.


— Eu queria comer tortinha cheia de confeito de chocolate! — Jax

parecia decepcionado.
— Me deixe só lavar as mãos, meninos. Vai ser bom exercitar um

pouco esses braços — falei, abrindo um sorriso.


Enquanto meus irmãos gritavam, animados, fazendo festa, eu fiz
aquela pose de halterofilista, flexionando o meu bíceps para demonstrar a

minha força.
Os três riram e eu dei um sorriso meio abobado.

— Eu posso ajudar, mano? — Jax perguntou, me imitando,


mostrando o bracinho fino, enquanto eu caminhava até a pia.

— Eu também posso, mano? — Spencer pediu.


— Será bom ter ajuda — respondi, aproximando minha mão da
torneira, ligando-a.

— Acho que o problema da batedeira foi resolvido. — Thais emitiu


um suspiro alto de alívio, arrancando mais risadinhas dos meus irmãos. —
Enquanto os meus fortões lidam com a massa líquida, eu preparo a parte

seca dos biscoitos!


— Tá! — os gêmeos responderam em uníssono.

— Como é que faz? — Jaxon perguntou.


Ela respondeu alguma coisa para ele, mas meu cérebro não

processou, porque fiquei preso ao pronome “meus”, por mais que fosse uma
brincadeira.

Não deveria gostar de como soava ela se referindo a mim e meus


irmãos como dela, mas, porra, uma parte patética dentro de mim havia, sim,

gostado. Obriguei-me a lavar as mãos e parar de pensar naquilo.


Me juntei a Thais e meus irmãos que, ainda que tivessem muito que

aprender até estarem alfabetizados, pareciam se divertir com a pequena aula


de medição que ela dava para eles, o que incluía mostrar alguns números.

Um sentimento que não quis definir preencheu o meu peito. Tentei


não dar importância a ele, mas falhei ao observá-los, pois a sensação

parecia crescer dentro de mim, junto à admiração que tinha pela mulher.
Thais era fodidamente doce, talvez mais doce que as tortinhas que iríamos
preparar.

— Você vai ficar só olhando, Edgar? — falou em um tom como se


estivesse brigando comigo, e meus irmãos não conseguiram suprimir uma

risadinha divertida.
Meus lábios se curvaram para cima.

— Estava esperando suas ordens, chef — provoquei para a diversão


dos gêmeos.

— Coloque o açúcar e a manteiga naquela tigela. — Apontou para a


tigela em cima do balcão.

— Quanto?
— 100 gramas de manteiga e duzentos e cinquenta gramas de

açúcar.
— Tá! — Balancei a cabeça em concordância, pegando o medidor
que estava próximo a ela. — Quem vai me ajudar?
— Eu! — Falaram ao mesmo tempo os dois, se aproximando de

mim.
Empolgados, os meninos me encheram de perguntas quando, com a
mesma paciência de Thais, fui mostrando aos meus irmãos as medidas dos
ingredientes, deixando que eles se divertissem ao misturar tudo na tigela.
Era a primeira vez que cozinhava com eles. Nunca imaginei que
fosse algo tão prazeroso para mim, prazer que ela também parecia

compartilhar comigo, criando uma espécie de conexão que deveria ser


indesejada para mim, mas, naquele momento, eu não conseguia repeli-la,
apenas desfrutar.
Além de conversarmos bastante sobre filmes de super-herói com os
meus irmãos, várias foram as vezes que nós nos entreolhamos, e em todas

elas acabamos sorrindo um para o outro.


Nos divertíamos com os comentários e gracinhas dos gêmeos que
demonstravam sua “força” ao bater a massa, desistindo um minuto depois,
entregando a tarefa para mim.

— Ai! — soltei quando Thais deu um tapa na minha mão quando a


enfiei no saco de confeitos. Recuei rapidamente, e vi Jax e Spencer se
divertindo às minhas custas. — Por que fez isso?
Olhei para ela, que tinha o cenho franzido enquanto estava

concentrada para fazer o formato dos biscoitos com a colher de sorvete.


— Para você parar de roubar os confeitos.
— Não estou roubando! — me defendi.
— Tá, sim, mano — gritou Spencer.

— Claro que não!


— Toda hora você pega um pouco, Edgar — Thais resmungou e eu
vi que ela parecia exasperada.

— Nunca comi dessa marca — me justifiquei, como se isso


abonasse algo.
— Edgar! — gritou, quando me atrevi a colocar a mão no pote de
novo.

Dessa vez, fui mais rápido que o tapinha dela, conseguindo pegar
um punhado de confeitos, e levei a boca todos eles. Enquanto mastigava,
escutei um bufar em meio às gargalhadas dos meus irmãos.
— Você vai acabar com todo pacote! — falou, por fim, me fuzilando

com os olhos.
— O que posso fazer se está gostoso? — Dei de ombros.
Thais segurou a minha mão, me impedindo de pegar mais um
pouco. Vários choques me percorreram por ter pele contra pele, o contato
sendo pólvora para o meu desejo. A delicadeza da mão dela, que era

pequena se comparada a minha, os dedos longos e finos, me encantaram.


Não era difícil imaginar a palma dela acariciando o meu corpo, produzindo
várias fagulhas.
Como se soubesse o rumo dos meus pensamentos, soltou a minha

mão depressa para voltar aos biscoitos.


— Estou falando sério. — A voz levemente rouca traía a expressão

neutra, e eu tive a certeza de que Thais não era imune ao meu toque.
— Que má! — Estalei a língua para ela, tentando brincar, me
controlando para não imaginar como seria a reação da garota diante das
minhas carícias. — Vai me deixar sem confeitos?
— Vou! Você pode comprar mais depois!

— Pode crer que irei, Malévola! — meus lábios se curvaram em


diversão, e a vi revirar os olhos antes que eu voltasse minha atenção para os
meus irmãos: — Ferinhas?
— Que foi?

— Sim, mano?
Eles ficaram retos, como se esperassem uma ordem.
— Eu seguro e vocês pegam?
Eles deram um sorriso sapeca, assentindo.

— Um, dois… — comecei a contar.


— O quê? — A mulher virou-se para mim, confusa.
— Três!
Ela arfou e largou a vasilha sobre o balcão com o susto quando me

aproximei dela e, sem deixar que ela reagisse, passei um braço em torno da
cintura delgada e a tirei do chão sem nenhum esforço, já que ela era bem
levinha.
— Me põe no chão, Edgar!

— Não, mesmo, Malévola! — Inspirei fundo e o cheiro do shampoo


dela infiltrou-se nas minhas narinas, me atordoando um pouco.
— Edgar! — A voz soou estrangulada.
— Agora! — Ordenei para os meus irmãos.

Abracei-a com mais força quando ela tentou se soltar, tentando


ignorar o quanto era gostoso ter a bunda dela colada ao meu corpo, o quão
eu estava gostando de tê-la em meus braços.
Dei vários passos para trás, para afastá-la do meu objeto de desejo.

Rindo, meus irmãos pegaram a vasilha de confeito e correram em direção a


sala com Batata a tiracolo. As gargalhadas deles se tornaram ainda mais
estridentes com a euforia enquanto Batata latia.
— Deixe um pouco para mim, ferinhas — falei, sentindo a minha
voz falhar devido a respiração curta enquanto a mantinha minha refém.

— Tá! — gritaram.
— Você vai correr atrás de nós? — perguntei.
Ela não respondeu.
Acabei emitindo um impropério quando ela estremeceu com o meu

hálito quente contra a nuca dela, movendo-se por instinto.


— Thais?
— Tudo bem, pode ficar com os confeitos.
— Ótimo! — falei, pousando-a no chão e afrouxando o meu aperto,

antes que meu corpo me fodesse.


Arfando, ela se virou nos meus braços.
Encaramo-nos. Os olhos dela refletiam um desejo que poderia se
equiparar aos meus. Os lábios estavam levemente entreabertos, convidando-

me a dar o beijo que eu tanto queria.


Tirei minhas mãos do corpo dela, sabendo que eu não teria mais
controle de mim mesmo se continuasse a segurando, eu estava agitado.
Quando Thais tocou os meus ombros, estive bem próximo de roçar

minha boca na dela, mas ela me empurrou e eu cambaleei um pouco para


trás, surpreso.
Baixei meu olhar para os seios dela, vendo que subiam e desciam
com rapidez.

— Não precisava disso tudo — murmurou, ofegante.


— Sim, precisava.
— Claro que não!
— Claro que sim!

— Isso foi ridículo!


Para minha diversão, voltou a me empurrar, só que, dessa vez, Thais
não conseguiu me mover um centímetro sequer, e pareceu ficar irritada por
causa disso.
Ri, me aproximando mais dela.
— Edgar? — Arregalou os olhos quando tornei a passar meu braço
em torno do seu corpo.
— Isso é para você aprender a não deixar um homem sem os seus

confeitos de chocolate, Malévola — sussurrei.


Deixei um beijo na testa dela e a soltei. O choque de Thais fez com
que eu risse ainda mais. Dei as costas para ela e caminhei em direção aos
meus irmãos, antes que os dois não deixassem nada para mim.
Capítulo dezessete

— Ah, não! — Jaxon falou e soltou um muxoxo, quando, com um


golpe, meu personagem no jogo acertou o dele, fazendo com que ele caísse.

— Tenho certeza que você ganha da próxima — procurei animá-lo,


mexendo nos cabelos dele.

— Mesmo?

Ele girou o pescoço para me fitar e eu olhei para sua boca suja de
whoopie pie, que o garotinho havia devorado, e acabei sorrindo para ele.

— Sim, só tem que apertar o botão x e bolinha ao mesmo tempo

para fazer o poder especial.


— Tá! — Jax disfarçou um bocejo sem muito sucesso enquanto eu

mostrava para ele como fazia a jogada.


— Me passa o controle que eu vou derrotar ela, ferinhas — Edgar

pediu.

— Você é ruim, mano! — Spencer me provocou com uma risada

bem sapeca enquanto piscava os olhos, como se estivesse lutando para se

manter acordado.
— Muito! — Jax concordou, rindo também.

— Não sou tão ruim assim — Edgar se defendeu, fazendo uma

careta.

E realmente não era.

Diferente de mim, que jogava normal, Edgar deixa os dois


ganharem dele, para o delírio dos meninos, que não hesitavam em rir da

cara do irmão mais velho.

— Você perdeu todas! — Os gêmeos praticamente falaram ao

mesmo tempo.

— Eu sou bom! — bufou.

— Né, não. — Jax abriu mais um bocejo.

— Mesmo assim, quero tentar derrotar essa Malévola — falou,


confiante.

— Vamos ver se você consegue — falei, revirando os olhos para o

apelido que ele havia me dado.


Tinha sido apenas uma brincadeira dele me manter prisioneira

enquanto tinha instigado os meninos a roubarem os confeitos, mas meu

corpo não parecia entender dessa forma. Por mais que eu quisesse esquecer

o ocorrido, eu ainda sentia uma espécie de ardor no meu baixo-ventre por

ter tido aquele braço forte me envolvendo para me suspender, por sentir a

respiração quente contra a minha pele.


Suprimi um suspiro, mas os pelinhos do meu corpo se arrepiaram de

forma nada bem-vinda. Edgar não deveria provocar essas sensações em

mim.

— Está com medo de perder para mim, Thais? — me provocou,

fazendo os garotos, que estavam cada vez mais sonolentos, rirem. Vi

malícia nos olhos e no sorriso dele.

— Claro que não! — Foi a minha vez de bufar.

— Vamos apostar?

Franzi o cenho quando Edgar pareceu empolgado.

Um arrepio estranho percorreu a minha coluna e minha respiração


começou a ficar descompassada.

— Melhor não — sussurrei.

— Tá com medo? — Começou a cacarejar, fazendo os garotos rirem

ainda mais da minha cara e, Batata que até então estava quieto, tirando a

sua sonequinha, ficou em alerta ao ouvir o barulho.


— Sabe que não.

— Covarde! Covarde! — Sendo mais infantil ainda, incentivou os

meninos para me provocarem também e eu mostrei a língua para ele sendo


tão boba quanto ele.

— Se perder não venha chorar, Edgar! — falei, aceitando o desafio.

— Não vou perder — soou arrogante ao pegar a manete que Jaxon

havia estendido para ele.

Os olhos de Edgar brilharam e eu me arrependi de ter aceitado a

aposta por impulso.

Merda!

Resignada, ajeitei o meu corpo no sofá e me concentrei no jogo.

Apertei o “quadrado” para me defender do ataque dele e,

rapidamente, fiz o comando de direcional para baixo mais o x para dar uma

rasteira no personagem dele. Edgar fez seu boneco pular, desviando da

minha tentativa de ataque, me golpeando e tirando um pouco da minha

vida.

Fiz um muxoxo quando notei os gêmeos torcendo para o irmão

deles, mas acabei sorrindo. Era de se esperar, não era?

Contragolpeei e escutei Edgar falar um palavrão, parecendo irritado,

quando eu consegui emendar uma série boa de socos e chutes ao encurralar


seu personagem em um canto.
Minha vantagem foi para o saco quando ele fez o poder especial,

gastando parte da vida.

— O que você disse mesmo? — Estalei a língua depois de, com um

arco no ar, minha espada atingir o personagem dele, “matando-o”.

— Melhor de três! — grunhiu em meio a um som de lamento.

Gargalhei.

— Não sei se deveria, dizem que é melhor parar quando se está

ganhando — falei, maliciosa, olhando para o homem emburrado.

— Se é tão boa, não deveria ter medo — retrucou.

— Nunca disse que era boa!


— Melhor de cinco?

— Vai Thay! — Spencer gritou.

— O mano é ruim! — Jax repetiu.

— Hey! — Edgar franziu o cenho, virando-se para os gêmeos. —

Vocês não estavam torcendo para mim, ferinhas?

— Tamu torcendo! — As bochechas deles ficaram vermelhas com

vergonha.

— Sei! — O homem fez drama, se voltando para mim. — Vamos?

Antes que eu pudesse responder, ele reiniciou o jogo e me pegando

desprevenida, me deu um golpe. Não foi uma surpresa eu ter perdido depois

de Edgar sendo tão baixo.


Motivada a vencer a qualquer custo, dei tudo de mim para tentar

vencer a próxima rodada, mas Edgar parecia igualmente motivado.

— A melhor venceu! — falei só para irritá-lo.

— Isso não é justo! — Fez uma carranca.

— Você que foi injusto! — Outra vez mostrei a língua para ele, que

pareceu contrariado. — Quer melhor de sete perdedor?

— Eu sei perder! — grunhiu.

— Sabe mesmo? — provoquei.

— Sim — a voz soou rouca e algo nele pareceu se estilhaçar,

fazendo com que eu me arrependesse de ter pronunciado aquela pergunta.

Edgar parecia sentir dor, que ele mascarou com um sorriso que não

chegava aos olhos.

— E eu tenho que dar exemplo para os meus irmãos — falou em um

tom divertido que me soou bastante falso. — Tenho certeza que da próxima

irei ganhar.

Piscou, mas não achei graça.

— Agora é a minha vez! — Spencer disse com a voz cansada.

— Acho que está na hora de vocês dormirem, ferinhas — Edgar


interveio, se voltando para eles.

— Ah, não! — Spencer emitiu um protesto irritado que foi

arruinado com outro abrir de boca.


— Tá legal o jogo, mano! — choramingou.

— Já são quase dez horas, Jaxon, e vocês já jogaram bastante!

— Jogamo não! — Spencer pareceu contrariado, Jax também.

— Eu não vou discutir, meninos… — Franziu o cenho.

Emitiram um muxoxo.

— Vamos jogar mais amanhã, prometo, ferinhas, tá legal? — Edgar

tentou apaziguá-los.

— Tá bom! — Pareceram um pouco mais alegres, mas o cansaço


pesava.

— Vamos escovar os dentes?


Assentiram.

— Você vai dar beijo na gente depois, Thay? — Spencer me olhou,


abrindo a de novo.

— Claro, meu bem. — Abri um sorriso reconfortante para ele, que


retribuiu.

Colocar os meninos para dormir tornou-se praticamente uma rotina.


Confesso que quando eu não puder mais fazer isso, sentiria bastante falta.

Só de pensar, senti um nó na garganta, mesmo ciente de que era inevitável a


separação.
Não querendo pensar nesse momento que ocorreria muito em breve,

ergui-me e acompanhei os dois até o banheiro onde eles fizeram um pouco


de graça para escovar os dentes, mas logo já estavam deitados em suas
camas.

— Durma bem, querido — sussurrei para Jaxon, deixando um beijo


na testa dele depois de remover uma mecha de cabelo que caiu sobre a

têmpora.
Ele murmurou uma resposta, já cedendo ao sono. Continuei a

acariciar sua cabeça por um minuto ou dois, antes de me erguer lentamente


e caminhar em meio a luz escassa do quarto em direção a cama de Spencer,
que era acalentado por Edgar.

Não tive tempo de desejar boa noite a ele, já que o menino havia
dormido.

Com um suspiro, deixei o quarto com o menor ruído possível, para


não acordar os dois garotinhos que ganhavam pouco a pouco o meu

coração.
Capítulo dezoito

Voltando para a sala de jogos, desliguei o videogame e, pegando

uma tortinha na bandeja, me joguei esparramada no sofá. Dei uma bela


mordida no meu whoopie pie, e o gosto delicioso e suave da baunilha, em

contraste com o amargo do cookie de chocolate e o doce do confeito quase

inexistente, já que os três haviam quase acabado com o pote, fez com que
eu emitisse um suspiro de deleite.

Fechei os olhos depois de enfiar mais um pedacinho na boca e

mastiguei bem lentamente. Ficou muito, mas muito bom.


Devorei o doce apreciando cada grama dele.

— Você deveria fazer mais tortinhas qualquer dia desses — Edgar

falou em um tom pastoso e eu tomei um susto, abrindo meus olhos depressa


para encará-lo.

Meu corpo reagiu de imediato ao escrutínio dele e eu me senti um

pouco nervosa diante da pontada de desejo que reconheci em seus olhos.

Muda, me questionei quanto tempo ele estava ali, me observando.

Lambi um pouco do creme que havia ficado na comissura do meu


lábio. Ele respirou fundo, continuando a me olhar daquela forma que

produzia um calor excessivo em mim. Me arrependi de imediato do meu

gesto e quis me afundar no sofá.

— Alguém já te disse que você cozinha bem? — continuou a falar

quando eu não disse nada.


Ele desencostou do batente da porta e caminhou na direção da mesa

onde havia uma última whoopie.

— Minha melhor amiga me diz isso todos os dias que faço o

almoço. Ju detesta cozinhar — me forcei a dizer algo, já que seria ridículo

ficar calada.

— Acho que Riccardo me disse algo do tipo.

— Sério? — Fiquei surpresa, e também senti um senso enorme de


defesa da minha amiga surgir.

— Não precisa ficar na defensiva e querer voar no meu pescoço,

Thais. Riccardo comeria até pedra se Juliana desse para ele comer.

— Acho que sim. — Dei um sorriso.


— Eu não tenho dúvidas disso… — fez um gesto e apontou para o

doce. — Posso?

— Claro! — Dei de ombros, ignorando o comentário dele.

Pegou o último biscoito e deu uma mordida grande.

— Realmente ficou muito bom — murmurou de boca cheia, bem

mal-educado.
— Que bom que gostou!

— Teria ficado melhor com os confeitos.

— Eu nem vou falar nada, Edgar — bufei com o descaramento dele.

— Da próxima você coloca mais confeitos? — perguntou, divertido,

dando mais uma mordida na tortinha.

Sem pensar, peguei a almofada que estava sobre o sofá e taquei nele.

Edgar gargalhou, pois era óbvio que meu ataque não faria nenhum

efeito. Fiz uma carranca, que não consegui manter por muito tempo, já que

tolamente comecei a sorrir para ele.

— Vai fazer mais? — questionou e, para a minha surpresa, por mais


que tivesse outras poltronas, se jogou ao meu lado no sofá.

A proximidade dele voltou a me deixar tensa, aumentando o meu

calor. Eu apenas ignorei a sensação e forcei-me a olhar para ele, fingindo

que a presença dele não me causava nada.


— Não sei, Edgar — respondi depois de ter se passado tempo

demais, pelo menos na minha percepção.

— Por quê, Malévola?


Torceu os lábios como se estivesse irritado pela minha recusa, e eu

me perguntei se alguma vez eu tinha achado a boca de um homem tão

bonita quanto a de Edgar. E como ele beijava bem! Bom, a minha

inexperiência me fazia acreditar que ele beijava bem.

Coloquei uma distância entre nós, o que o desgostou ainda mais,

tentando focar no que eu precisava dizer, algo que me partia o coração, já

que mais e mais eu estava gostando da minha rotina com os gêmeos.

— À tarde, uma das meninas do lugar que eu me interessei para

morar disse que um quarto será desocupado nos próximos dias…

A irritação dele se transformou em algo que eu não soube definir,

não sabendo dizer se era algo bom ou ruim.

— Demorou, mas finalmente você vai se ver livre de mim, Edgar —

completei quando ele não disse nada e dei um sorriso falso.

— Você está me deixando? Deixando meus irmãos? — perguntou

em um tom desprovido de emoção depois de ficarmos uns instantes em um

silêncio muito desconfortável.

Edgar me cortou ao meio com as perguntas dele, mas tentei ser mais
racional do que emotiva.
— Posso continuar a te ajudar a cuidar deles enquanto não encontra

outra pessoa, Edgar. — Fiz uma pausa, tomando coragem para perguntar, já

que, até então, ninguém havia mencionado o assunto: — A agência indicou

uma nova babá qualificada para os gêmeos?

— Não. — Foi monossilábico.

— Entendo… Os currículos que te apresentaram foram tão ruins

assim?

— Não faço ideia.

— Como não? — Franzi o cenho.

— Eu não pedi que me indicassem uma.


— O quê? — Dei um grito estrangulado, encarando-o como se

tivesse crescido um par de chifres no meio da testa dele.

Esperei uma explicação, mas ele ficou em silêncio, continuando a

me encarar daquela forma ressentida.

— Edgar! — Briguei com ele.

— O que você quer que eu diga? — Olhou para frente, como se não

conseguisse me encarar mais.

— Por que você não procurou outra babá? — quis saber.

— Eu não pude…

— Edgar? O que está acontecendo?

Silêncio.
— Porra! Não confio em mim mesmo para escolher outra pessoa —

murmurou quando eu acreditei que não falaria nada.

Foi impossível não sentir uma onda de compaixão por ele e, antes

que me desse conta, coloquei minha mão sobre o ombro dele onde tinha a

tatuagem de uma rosa delicada, um contraste com a personalidade explosiva

do homem.

O que será que ela significava?

A pergunta pareceu perder a importância quando o calor da pele

dele irradiou pelo meu corpo, me fazendo entrar em uma espiral forte de

sensações, que ficou mais forte quando ele girou o pescoço para me olhar.

Me obriguei a continuar a tocá-lo, por mais que não me parecesse ser algo

seguro, não para minha sanidade.

— Não precisa ter medo, Edgar — minha voz saiu baixinha.

Acariciei o ombro dele e continuei: — Você será mais cauteloso, vigilante

em tudo. Não irá cometer o mesmo erro.

— Quem garante?

— Não há garantias, infelizmente.

— Então?
— Não seja tão duro consigo mesmo, Edgar! — resmunguei.

Inconscientemente, meus dedos desceram, percorrendo a tatuagem

que fechava todo o braço forte.


— É a verdade, merda! — sussurrou. — Por isso, para não correr

esse risco, decidi te contratar como babá dos meus irmãos.

— Mas eu sou a babá do Lucca, Edgar!

— Não mais! — Soou arrogante.

— O quê? — Arregalei os meus olhos, afastando a minha mão do

corpo dele.

— Você é a babá dos gêmeos agora!


Capítulo dezenove

— Não é assim que as coisas funcionam, Edgar. Tenho um

compromisso profissional com a Ju e Riccardo!


— Riccardo me disse que te liberava, e acho que Juliana deve ter te

dito algo do tipo…

— Sim, mas…
— Caralho! É tão ruim assim trabalhar para mim e ficar com os

meus irmãos? — Soou ressentido e eu quis gritar com ele mais alto do que

um vendedor de peixe.
— Você está me ofendendo! Essa é a sua tática para conseguir as

coisas? — Não consegui me controlar da forma como eu gostaria.


— Porra! — Passou a mão pelos cabelos. — Não quis te ofender.

Caralho! Me desculpe. Eu preciso de você, Thais!

Escutar novamente aquela frase foi um tremendo baque, ainda mais

quando ela foi dita em um tom ainda mais desesperado do que da última

vez. Ou talvez fosse o fato de Edgar estar sentado bem perto de mim, me
olhando como se eu fosse a sua única salvação.

Meu coração mandou à merda a racionalidade. Ele batia tão

acelerado que eu não me surpreenderia se Edgar estivesse escutando aquele

som forte.

— Deus! Jax e Spen também precisam de você. Você sabe que


precisam!

— Okay, eu vou ser a babá dos gêmeos. — Suspirei, ciente de que

mesmo que meu cérebro quisesse, meu coração não tinha forças para negar.

Vi uma pontada de alívio brilhar nos olhos dele. — Só preciso avisar

Juliana que não poderei cuidar de Lucca todos os dias como venho fazendo.

Você não vai se importar se eu precisar ajudá-la de vez em quando, não é?

— Claro que não, Thais. — Fez uma careta. — Lucca é meu


afilhado, amiguinho dos gêmeos, apesar da diferença de idade. É filho do

meu melhor amigo. Problema? O caralho que isso será um problema. Lucca

e Juliana são da minha família agora.

— Fico feliz por ouvir isso. — Acabei sorrindo para ele.


— Eu e os gêmeos ganhamos uma família— falou baixinho, e eu

tive a certeza de que não era para eu ter ouvido isso.

Suspirei profundamente. Tinha sido algo tão doce de se dizer, que eu

tive que lutar contra as lágrimas e não fazer papel de idiota.

Estava feliz por Ju, por ela não estar mais sozinha para cuidar do

filho, e por encontrar em Edgar um amigo também.


Outro suspiro escapou dos meus lábios e um brilho estranho surgiu

nos olhos dele, que de novo não soube definir o que era, só sabia que era

intenso, que deixava todo o meu interior mais esticado do que a corda de

uma harpa.

Senti uma contração incômoda e inapropriada no meu baixo-ventre

e quis ser engolida pelo sofá quando notei que ele passou a me encarar com

desejo, aumentando ainda mais o fogo que me consumia por dentro.

— Precisamos definir algumas coisas — disse com a voz bastante

falha, já que não me deixou de olhar daquela forma.

— Que coisas?
Senti minha boca subitamente seca e quase que umedeci os meus

lábios com a língua, só um lampejo de sanidade me impediu.

O que eu estava fazendo?

Pigarreei.
— Salário, funções... — Fez uma pausa, voltando a se aprumar,

apenas para soar indiferente ao acrescentar: — ... moradia…

— Sei que tenho abusado muito da sua boa vontade, Edgar, mas,
assim que me mudar, só dormirei aqui quando for necessário.

— Que porra você está falando, Thais? — grunhiu, fazendo uma

carranca.

— Que terá a sua privacidade e a dos meninos de volta em breve.

— Sério?

— Sério.

— Que porra!

Pedi aos céus paciência.

— Por que está tão irritado?

— Por que não deveria estar?

— Você não tem motivo.

— Claro que eu tenho!

— Me explique, porque não estou conseguindo te entender, Edgar

— falei suavemente.

— Você não atrapalha a minha privacidade, caralho.

— Obrigada por dizer isso, mas sabemos que, mesmo sem querer,

eu acabo tirando a liberdade de vocês. Não tem um momento em que não


esteja junto de vocês. Sou quase um carrapato.
— Carrapato? — Ficou atônito.

— É.

— Merda!

— Devo estar incomodando.

— Sabe que os gêmeos gostam de estar com você.

— Mas e você, Edgar? — Forcei a minha voz a sair, chegando ao

ponto que eu queria tocar. — Para eles, é fácil gostar, porque eu brinco com

eles, converso, dou beijos e abraços. Mas e você? Você pode me dizer com

todas as letras que minha presença aqui não te incomoda?

Ele permaneceu em silêncio, como se ponderasse, fazendo algo


dentro de mim se afundar, e não compreendi minha própria decepção em

confirmar aquilo que eu mesma pensava.

— Será bom estabelecer alguns limites entre funcionária e patrão,

algo que não há entre nós nesse momento — continuei.

— E o que há entre nós, Thais? — perguntou em um tom estranho.

— Amizade? — Sorri.

— Se somos amigos, Malévola, por que você quer se mudar daqui?

— Amigos moram em casas separadas. Agora que terei vínculo

empregatício com você, faz mais sentido ainda.

Crispou os lábios, desgostoso.


— E prefere morar com pessoas que não conhece do que comigo?

— Foi ácido.

— Sabe que gosto daqui. — Me defendi. — Como não gostar de

cada detalhe dessa casa? De ver o sol nascer e se pôr da sacada? E a

banheira… Deus! Acho que nunca me cansarei de tomar banho nela.

— Então por que você quer se privar de tudo isso? — Pareceu

divertido.

Abri e fechei a boca, atordoada por ter falado demais.

— Não vou ser persuadida por não querer perder um banho de

banheira, Edgar.

— Será que não? — brincou e eu o empurrei pelos ombros.

— Você não presta!

— Nunca disse que prestava!

Estalei a língua para ele de forma venenosa.

— Por que não continuamos do jeito que estamos? — sugeriu.

— Não é certo, Edgar — falei em tom sério.

— Eu incomodo você, Thais? — perguntou à queima-roupa, me

olhando como se quisesse ler a minha alma, e eu arregalei os olhos.


— Claro que não — respondi rápido demais até mesmo para mim.

Edgar me incomodava, mas não da forma que ele imaginava. Aquilo

que ele produzia em mim era que me incomodava.


Não deveria me sentir queimar por ele, nem querer os beijos dele…

os toques... muito menos desejar conhecer cada tatuagem dele com as

pontas dos meus dedos.

Minha única desculpa plausível para querer um homem como ele,

que apesar de ser bonito, era uma bomba ambulante, era a minha

sexualidade sempre reprimida pelo meu pai, mas esse argumento não era

suficiente para que eu permanecesse ali, como se eu tivesse direito a morar

nessa casa para sempre.


— Então só vejo benefícios — falou, me tirando do transe.

— Até para você? — Mostrei descrença.


— Se eu precisar participar de uma reunião de última hora, você já

estará aqui.
— Não me parece ser um argumento tão bom assim, Edgar… —

falei em tom de reprovação.


— Te garanto que é.

Semicerrei os olhos, um pouco irritada, já que Edgar estava certo. O


local que eu tinha encontrado ficava bem próximo da divisa de Seattle com

a cidade de Tukwila, não era tão perto assim.


— Estou certo? — Foi bastante arrogante.
— Você sabe que sim, Edgar — resmunguei, querendo bater nele.
Deu uma risada, mas logo voltou a ficar sério, me encarando
daquela forma que me atordoava.

— Tem sido muito bom ter você aqui, Malévola — falou


suavemente.

Senti meu coração disparar, prestes a sair pela boca, e várias


emoções rodopiaram pelo meu corpo, me deixando um pouco trêmula.

— Mesmo? — sussurrei, quando o pensamento de que ele falava


por falar, para conseguir o que quer, me invadiu.
— Eu não minto, Thais…

Ele estava sério, o olhar penetrante parecendo sondar a minha alma,


e cada grama no meu ser acreditou nele, mas o que eu faria com essa

informação? Minha mente não sabia, mas meu coração, idiota e romântico,
ficou contente em saber que Edgar não me detestava e nem me achava uma

grande inconveniente, o que eu sentia que era.


— Caralho! Os gêmeos precisam de… — Se calou, como se tivesse

se dado conta de que tinha dito demais, e eu vi arrependimento cruzar as


feições dele.

Sem uma explicação coerente, senti um nó se formar na minha


garganta, e mesmo que eu tivesse tentado tragá-lo, aquele bolo permaneceu

entalado.
— Precisavam do que Edgar? — sussurrei, surpresa por eu ter
aberto a boca, ciente de que eu fazia pressão sobre ele.

Algo faiscou em seus olhos, mas mais uma vez não pude definir se
era algo bom ou ruim.

Edgar me prendeu com seu olhar e eu me joguei de cabeça no


redemoinho que aquele homem era sem pensar nas consequências, mesmo

que meus instintos me dissessem que ele iria acabar me machucando.


Como, não poderia dizer, mas ele me feriria, tinha certeza.

— De alguém que não seja eu — falou em um tom baixo quando


imaginei que não teria nenhuma resposta.

— Entendo…
Meu coração bateu com mais força enquanto meu cérebro tentava

entender as implicações nas palavras dele.


Edgar não achava que eu…?

Não.
Pensar sequer por um momento que eu poderia fazer o papel da
figura materna para os gêmeos era algo fantasioso demais. Eu não tinha

aquele direito. Seria a babá, uma amiga dos dois, mas desejar suprir aquela
ausência emocional dos menininhos por afeto materno eu sabia que era ir

longe demais.
— É muito fácil gostar deles — completei, dando um sorriso,

quando mais uma vez o silêncio perdurou.


— Acho que já disse que nem todos pensam assim — falou com

secura, com dor.


Não consegui mais me conter, e senti uma lágrima escorrer pelo

meu rosto.
Edgar me encarou de uma forma estranha, porém não disse nada.
Nem sei se ele entenderia o que se passava comigo.

Me sentindo ridícula, passei a mão pelo rosto, limpando as lágrimas


e buscando me controlar, mas parecia difícil.

— Vai ficar conosco, Malévola? — perguntou, parecendo ansioso.


— Isso vai dar certo, Edgar? — Pigarreei. — Porque eu não vejo

como…
— Não está dando certo até agora? — O cenho se franziu.

— Sim, mas…
— Caralho! — Me interrompeu, voltando a ser o Edgar explosivo

de sempre. — Não me venha com essa merda que somos patrão e


funcionária. Já abandonamos essa porra e definimos que somos amigos.

— Okay!
— Isso é um sim?

Suspirei, resignada.
Sabia que deveria ser mais firme, que não deveria aceitar aquela

proposta de trabalho dele, mas Edgar havia me convencido no momento em


que tinha apelado e falado dos gêmeos.

Eu podia não ter o direito de assumir o papel de mãe para eles, mas
confesso que gostava daqueles momentos com os dois, com Batata e Edgar.

Por mais que isso não fosse o que imaginava fazer quando saísse da casa do
meu pai, pensei que iria curtir baladas, festas, sair e fazer amigas, estender

mais um pouco aquele tempinho com eles seria bom, muito bom. Na
verdade, as outras coisas não pareciam tão divertidas quanto ganhar abraços

e beijinhos dos dois. E não era porque eu moraria ali que eu não poderia
sair no meu tempo livre.

— Sim, Edgar.
— Excelente! — Sorriu de forma arrogante e eu revirei os olhos

com o gênio dele.


— Se não der certo, como acho que não dará a longo prazo, sempre
posso me mudar.

Ele fez uma cara de desgosto para mim e eu quis rir dele.
Deus! Aquele homem era terrível.

— Tenho certeza que dará! — Mais presunção.


Estalei a língua no céu da boca, repreendendo-o, mas acabei rindo

quando ele permaneceu impassível na sua arrogância.


— Como você vai me fornecer moradia, uma bem cara por sinal,
cobro dez dólares por hora e vinte por horas extras e finais de semana. —

Tentei soar prática.


— Sem chance! — grunhiu.
— Podemos negociar então — murmurei, ignorando a pontada de

decepção por Edgar desvalorizar o meu trabalho.


— Tenho toda a intenção de fazer isso.

— Está no seu direito, afinal não sou formada em pedagogia e nem


nada…

— De que porra você está falando? — perguntou.


— Sete dólares e quinze nos horários extras está bom? São duas

crianças, no final das contas.


— Porra! Sério? — Passou a mão pelos cabelos.

— Eu não posso fazer… — não consegui continuar.


Movendo-se no sofá, Edgar segurou-me pelo queixo com uma

pressão forte que deixou meus pelos eriçados e fez meu sexo latejar com
desejo, ânsia que se tornou maior quando ele aproximou o meu rosto do

dele, a respiração quente me tocando.


— Edgar… — Não sabia se estava pedindo uma explicação ou um

beijo, que eu não tive dúvidas de que ele queria me dar.


— Porra! Se valorize, Malévola.
— Eu me valorizo! — Custei a reconhecer minha voz por conta da
rouquidão.

— Por que pede tão pouco?


— É o justo!

— Para quem?
— Eu…

— Dez dólares é muito pouco para cuidar de duas crianças. Baixar


para sete, você me insulta.

— Desculpe. Vinte dólares?


Rosnou um palavrão.

— Cinquenta? Cem pelas extras? — Chutei bastante alto.


— Eu cuidarei disso, Thais.

Arregalei os meus olhos e, antes que pudesse emitir um protesto,


ainda segurando meu queixo, Edgar puxou o meu rosto e os lábios dele
cobriram os meus.
Capítulo vinte

Eu estava irritado com ela.

Muito.
Odiava o fato de ela se rebaixar tanto, mas isso não me impedia de

beijá-la. Acho que nada nessa porra de mundo me impediria. Exceto Thais.

Quando deslizei minha boca pela dela e seus lábios acompanharam


os meus, acabei gemendo baixinho por ela não me rechaçar da forma que

imaginei que faria e merecia.

Por mais que minha vontade fosse de enfiar minha língua em sua
boca e beijá-la furiosamente, despertando nela o mesmo desejo que me
fodia, mantive o contato moroso, me deleitando com a calidez e textura

aveludada da boca generosa.

Deixei minha mão descer do queixo para percorrer a garganta, que

era extremamente delicada e frágil.

Thais me surpreendeu quando estremeceu com o contato suave que


eu exercia naquela parte do corpo que nunca antes me fascinou tanto.

Mas o que não me encantava nela?

Cada um dos fios de cabelo dela era capaz de me deixar insano.

Porra!

Ela era intoxicante.


A boca, viciante.

Eu me sentia afundar nos olhos dela, que eram emoldurados por

aqueles cílios compridos, no som doce que vinha da garganta dela e se

somava aos meus que eram muito mais guturais, fruto do mais puro

desespero, desespero que se tornou maior quando tomou um dos meus

lábios entre os dela, deixando um beijo delicado, que foi o meu paraíso e o

meu inferno, já que meu pau reagiu e começou a enrijecer, latejando quando
ela fez o mesmo com meu lábio inferior, voltando a deslizar a boca pela

minha.

A reação imediata do meu corpo me assustou. Thais era capaz de

deixar meu pênis pronto para ela só com um beijo. Mandei à merda esse
pensamento, e, com um gemido, continuando a acariciar toda a extensão da

sua garganta, abri a minha boca, pedindo pela língua dela.

— Porra, Malévola! — gemi, quando a mulher malvada não deu o

que eu queria. A gostosa preferiu deslizar a língua pelo meu lábio superior.

A lambida fez meu pênis reagir dolorosamente, querendo sair do seu

confinamento. Enquanto ela lambia meu lábio, foi fácil imaginá-la fazendo
o mesmo por toda a cabeça do meu pau, brincando com a fenda, deixando a

língua dela impregnada com meu pré-gozo.

— Merda! — Arfei quando senti uma gota se formar na ponta do

meu pênis.

Os olhos dela brilharam com diversão.

No momento em que lambeu toda a minha boca, eu falei outro

impropério e perdi o controle de mim mesmo.

Foi a vez de Thais gemer alto quando a agarrei pela nuca com

firmeza, fazendo com que emitisse outro gemido quando puxei a cabeça

dela para trás e inclinava o meu rosto em direção ao dela. Não precisei
pedir, ela abriu a boca para mim e minha língua encontrou a dela, que não

hesitou por um momento sequer em enroscar na minha, retribuindo o meu

beijo.

Como se fosse possível, meu pau ficou mais rígido ao sentir o gosto

dela na minha boca. Capturei cada um dos sons baixos que escapavam dela,
gemendo junto no processo.

Mesmo com um desejo fodido me dominando, diminuí a intensidade

do beijo e passei a acariciar seu couro cabeludo, vendo os olhos dela


brilharem com uma emoção indecifrável. Eu poderia não saber ao certo o

que era, mas eu desejava com toda a porra do meu corpo e da minha mente

que aquela emoção retornasse sempre e que eu fosse o causador dela.

Embrenhei meus dedos nos cabelos dela e gememos juntos.

Rodopiávamos nossas línguas naquela dança que só nós dois sabíamos os

passos. Continuamos a nos beijar lentamente, nos afogando na boca um do

outro, nos perdendo naquelas sensações, até que eu senti as mãos pequenas

alisarem os meus ombros, descendo por meus braços.

Parei de fazer carícias nos cabelos dela e cedi o controle do beijo a

ela.

Arfei contra sua boca e fechei os olhos.

Como a porra de um imbecil romântico, senti que as sensações

provocadas pelo mero toque dela se intensificavam.

O pré-gozo se acumulou na ponta do meu pau.

Os gemidos ficaram mais altos.

Thais me transformou no seu prisioneiro, me colocando em uma

prisão que não queria escapar.


Eu deveria ficar irritado por perder o controle, mas eu apenas me

permiti sentir.

Ela deslizou as duas palmas pelo meu peito e meu coração bateu

com mais força.

Isso fez com que eu abrisse os olhos e então enrolei suas tranças em

uma das minhas mãos e a puxei para um beijo duro, exigente, querendo

assustá-la da mesma forma que ela me assustava com tanta paixão.

Meu tiro saiu pela culatra quando Thais correspondeu da mesma

forma, emitindo um som excitado que selou a porra do meu caminho.

O último pensamento coerente que tive antes de me jogar naquela


merda que era tomar aquela mulher para mim foi de que era apenas uma

troca de prazer, prazer que ela parecia mais do que disposta a receber.

Minha boca devorava a dela, a língua demandava entrega. Com a

mão livre, passei a acariciá-la. Deleitava-me com o contato da pele sedosa,

na verdade, me perdia a cada pedacinho que eu tocava.

Os pelinhos do braço se arrepiando ao meu toque ateou fogo ao meu

corpo, e senti uma gota de pré-gozo escorrer pelo meu pau ao imaginar o

quão eu a deixaria úmida com as carícias dos meus dedos.

Eu precisava masturbar Thais! Queria ouvir os gemidos dela, sentir

seu canal se estreitar enquanto eu estocava o dedo indicador e o médio

dentro dela. Queria escutá-la pedir por algo a mais... e eu daria. Esfregaria o
clitóris inchado até que ela se estilhaçasse em meus braços e suspirasse com

o orgasmo.

Rosnei um palavrão contra os lábios dela quando a necessidade de

dar prazer a ela, na verdade, dar prazer a nós dois, me atingiu com força,

principalmente com o vislumbre de tê-la rebolando no meu colo roçando no

meu pau.

Sem pensar em mais nada, tornei a amassar sua boca e, soltando

seus cabelos, levei minhas mãos até os quadris dela.

Infiltrei minhas mãos dentro da blusinha, marcando a pele nua dela

com meus dedos, toque que, de alguma forma, também me marcava.

Acariciei a região das ancas por um bom tempo, apreciando o

contato, absorvendo cada um dos suspiros baixinhos de prazer que Thais

emitia na minha alma. Tinha a sensação de me comunicar com ela apenas

com os olhos.

Com um movimento brusco, puxei Thais para o meu colo e abafei o

gritinho dela com a minha boca.

— Gostosa!

Não contive um gemido quando, pegando-me desprevenido, ela


montou em mim, roçando o seu sexo na minha ereção, deixando meu pau

mais sensível do que já estava.


A resposta de Thais foi voltar a me beijar, as mãos acariciando a

minha omoplata com as mãos delicadas.

Deixando os quadris, subi meus dedos pelo abdômen dela indo em

direção ao seio, mas não o toquei, ganhando um olhar frustrado da mulher.

— Edgar! — choramingou, raspando as unhas na minha pele. Parou

de se mover em meu colo, talvez para se vingar de mim.

Meu pau latejou, quase que em um protesto.

— Má… — grunhi.
Arqueou a sobrancelha para mim, e eu rapidamente dei o que ela

queria.
Rocei a ponta dos meus dedos na curva suave do seio, que era do

tamanho de um limãozinho, e ouvi-la gemendo e sentir o arranhar suave


que ela exercia em minhas costas foi a reação perfeita.

Perdi todo o tempo do mundo dedilhando a parte de baixo, tomando


ciência do quanto aquela zona era erógena. Se apoiando em mim,

infiltrando a língua na minha boca, ela passou a ondular os quadris,


friccionando a pelve na minha, me levando ao limite.

Gozar nas calças só com o roçar se tornou uma possibilidade e, uma


parte de mim ficou ainda mais excitado com a ideia. Quis rir da minha cara.
Querendo ajudá-la com os movimentos, agarrei uma das nádegas

dela que, apesar de pequena, tinha carne o suficiente para encher a minha
mão, e a mulher rebolou por instinto.
Porra de gostosa! Ela acabaria comigo em um piscar!

De súbito tudo parou. O beijo, os movimentos...


Sem compreender a razão, movi a minha língua pelos lábios dela,

mas ganhei uma mulher imóvel. Foi como um balde de água gelada.
— Que houve? — Não consegui esconder minha frustração, ainda

que isso fizesse de mim um imbecil.


— O interfone. — A respiração dela estava entrecortada.
— O que que tem?

— Tocou.
Não consegui responder já que estava ocupado em gemer, porque

ela se moveu no meu colo, a pelve roçando na minha de uma forma que fez
meu pau doer.

Porra!
Doeria muito mais se eu não gozasse.

— Eu não ouvi nada…


— Eu escutei…

— A única coisa que eu escutei foram os seus gemidos, gostosa! E é


a única coisa que eu quero continuar ouvindo!

— Edgar! — gritou.
Ignorando-a, apertei a coxa dela. Como Thais parecia não estar
muito disposta a continuar me beijando, não desperdiçaria o meu tempo

com isso. Baixei minha cabeça em direção ao seu pescoço e, inspirando o


cheiro, deixei um beijo na junção com a clavícula.

Arfou, se arqueando no meu colo enquanto sentia a minha língua


deslizar por ela.

A boca dela era gostosa, mas a pele…


Eu passaria o resto da minha vida beijando o corpo dessa mulher,

fazendo com que ela se contorcesse e se desmanchasse de prazer.


Thais parecia concordar comigo, já que os dedos se embrenharam

nos meus cabelos, acariciando o meu couro cabeludo enquanto rebolava no


meu colo, me incentivando a continuar a minha exploração.

— Droga! — resmunguei ao ouvir o som irritante junto com os


latidos frenéticos de Batata.

— Está esperando alguém a essa hora, Edgar? — falou.


— Por que a pergunta? — respondi, franzindo o cenho, e acabei
ganhando um tapa na minha mão quando tentei segurá-la no meu colo.

— Só por perguntar… — Deu um sorriso sem graça.


Tive que me controlar para não ficar emburrado como uma criança

birrenta quando se ergueu do meu colo, pondo um fim a qualquer tentativa


minha de continuar a beijá-la e tocá-la, de nos dar o prazer que queríamos.

Não insisti.
— Perguntar só por perguntar? — Minha voz saiu mais seca do que

eu gostaria.
Me levantei também e a segui. A cada passo que eu dava ficava

mais ciente do quanto eu estava duro pelo desejo insatisfeito, duvidava que
tão cedo meu pau iria baixar.
— Bom, pode ser uma amiga sua...

Se estava irritado, fiquei ainda mais furioso com aquele comentário.


Que merda era aquela?

— Porra! Olhe para mim!


Quando Thais não fez o que pedi, segurei-a pelo braço quando

alcançamos a cozinha para que olhasse para mim.


Ela se virou e eu vi mágoa em seus olhos, que ela tentou disfarçar.

A soltei e ela procurou refúgio em Batata, acariciando o corpanzil


dele.

Ela não me olhava nos olhos...


Senti meu maxilar travar. Não gostei daquela atitude dela.

— Não tenho mulheres e você sabe disso!


— Sei?

— Está sabendo agora, Thais — fui sucinto.


— Entendo.

— Não marco nenhuma reunião presencial no meu apartamento...


— O interfone tocou outra vez, atraindo a atenção de Batata e eu acabei

explodindo: — Caralho, quem quer que seja, eu vou foder com a vida dele!
Ela olhou para mim, assustada, mas não dei importância. Apertei o

botão do interfone que conectava a portaria para atender quando tornou a


tocar.

— Sim? — Modulei o meu tom de voz para algo inexpressivo.


— Boa noite, senhor Pratt. — O segurança parecia nervoso. — Me

desculpe pelo número de vezes que interfonei, senhor, mas a senhora Pratt
está aqui na portaria e insiste em subir.

— O quê? — sussurrei, meu sangue esfriando. Broxei na hora só de


escutar o sobrenome de Nicole.

Caralho!
— Como deve saber, é regra do condomínio… — começou a se
justificar, mas não prestei atenção.

A tensão se espalhava pelos meus músculos.


Porra! O que aquela desgraçada quer aqui?

Fiz um som de desdém, o ódio corroendo as minhas veias, pois era


bem óbvio: dinheiro! Ela não tinha nenhuma outra razão para me procurar.

— Posso autorizar a sua mãe para subir, senhor Pratt?


— Não, ela não tem autorização para subir. — Fui seco.
— Sim, senhor.

— Boa noite e bom trabalho — falei para encerrar o contato.


— Boa noite, senhor Pratt.
Fechei os olhos e respirei fundo.

— Caralho! — rosnei, tentado a dar um soco na parede.


— Quem era? — perguntou.

Girei o meu corpo para encarar a mulher que esteve entregue nos
meus braços poucos minutos atrás.

Os lábios rosados estavam levemente entreabertos. Os seios subiam


e desciam em uma cadência rápida, indicando que Thais ainda não havia se

recomposto. Uma fina camada de suor fazia a pele dela brilhar.


Eu ainda desejava Thais, mas saber que a minha mãe estava a alguns

andares abaixo de mim me trazia de volta ao terreno da responsabilidade e


da culpa.

Era difícil negar a entrada da sua própria mãe em sua casa para
proteger os seus irmãos, mesmo que eles não viessem a saber que ela esteve

aqui por estarem dormindo, mas não podia correr o risco, não quando
podiam acordar e ela tratá-los com indiferença, isso iria machucá-los e me

ferir no processo.
Merda!
Sensitivo, Batata se aproximou de mim, jogando o corpo nas minhas
pernas, para depois lamber a minha mão.

— Edgar?
— Era Nicole.

— Entendo — sussurrou.
Ver a compaixão no olhar dela diminuiu um pouco a tensão que eu

carregava. Thais me entendia. A garota sabia o quão difícil era aquela


situação, afinal, já esteve em um lugar parecido com o meu.

O pai dela, de alguma forma, tinha muito em comum com a minha


mãe. Eram egoístas e escandalosos.

O som do interfone novamente ressoou.


Inferno! Deveria ter imaginado que Nicole não aceitaria bem a

minha recusa.
— Quer que eu lide com isso, Edgar? — murmurou, me dando um
sorriso fraco.
Fiz que não com a cabeça, por mais tentadora que fosse a oferta.

Apertei o botão.
— Sim?
— Me desculpe, senhor Pratt, estamos com um problema aqui
embaixo. A senhora Pratt insiste em subir. Poderia descer para resolver esse

problema?
— Se não conseguem lidar com ela, chamem a polícia — disse,
sentindo um aperto no peito, bem como a maldita culpa.

— Chamar a polícia para a sua mãe? — Horrorizado, o porteiro


esqueceu de qualquer formalidade.
— Se ela não quiser ir embora, será necessário.
O funcionário pigarreou.
— Senhor, ela está bêbada. Quase não consegue ficar de pé.

Merda!
— Me faça um favor. Chame um táxi, um motorista em que você
confie, e a mande para casa — pedi, me sentindo um covarde por não fazer
isso eu mesmo, por delegar esse trabalho a outra pessoa, sendo que era a

minha obrigação como filho era cuidar dela, garantir seu bem-estar. Mesmo
assim, continuei: — Acho que isso não será um problema para vocês.
— Claro que não, senhor — falou em um tom hesitante.
— Serão bem recompensados por essa ajuda, e o motorista também.

Peça para retorne aqui após deixá-la em seu endereço que eu acertarei o
valor da corrida e dos inconvenientes.
— Tudo bem, senhor.
— Qualquer problema, entre em contato novamente — falei, em

uma tentativa de diminuir o peso que eu sentia na minha consciência. Claro


que não funcionou.
Não esperei o funcionário dizer mais nada, encerrando o contato.
— Porra! — xinguei alto e desferi um soco na parede, desejando

que fosse o meu rosto.


A dor do impacto não foi maior que aquela que eu sentia no peito.
Ela era a minha mãe!
— Vai ficar tudo bem, Edgar — Thais falou.

Surpreendendo-me, os braços finos me envolveram por trás e ela


encostou a face nas minhas costas.
Fechei os olhos, respirando fundo, me entregando ao abraço que não
era apenas físico, mas também emocional. Toquei a mão dela que estava

sobre o meu abdômen e acariciei o dorso.


Dor e culpa ainda faziam o seu estrago, mas Thais parecia tornar o
sentimento menos pesado.
— Ela está bêbada… — Acabei falando.
— Sinto muito — murmurou.

— Eu deveria ir lá embaixo e resolver isso, cuidar dela, mas… —


me interrompi, porque um bolo se formou na minha garganta, impedindo-
me de continuar.
Tive outra surpresa ao receber um beijinho na minha omoplata, um

beijo que pareceu mais íntimo do que qualquer um dos que trocamos.
Essa droga foi fundo, tão fundo que eu não deveria querer mais um

beijinho dela... mas eu queria. Melhor, necessitava, no entanto, não pedi.


— Sou um covarde — falei em um tom seco.
Era um covarde por não descer e por não pedir o carinho que
precisava a Thaís.
Carinho...

Tirando o afeto que recebia dos meus irmãos e de Riccardo, não


sabia dizer quando foi a última vez que alguém me tocou daquela forma,
que alguém me consolou...
Era irônico constatar que a última pessoa que fez isso por mim foi

Nicole, pouco antes de ela conhecer Chad. Estava tendo um dia difícil no
trabalho e na faculdade, e o abraço dela tinha sido um pequeno refúgio.
— Não, não é um covarde, Edgar — Thais disse, me dando outro
beijinho que lavou a minha alma e me fez arfar —, você só se sente ferido.

— Que tipo de filho eu sou por pedir que chamem a polícia para a
própria mãe?
— Um que só quer se defender.
— É errado!

— É humano. Como é humano ainda a amar, Edgar.


Fiquei em silêncio.
Não tinha o que dizer. Sabia que era por ainda amá-la que aquilo me

machucava tanto. O pior de tudo era saber que não seria a última vez que
Nicole me faria me sentir assim, machucado.
Independente da forma, essa tal porra de amor doía.
Te fodia.

Te quebrava.
Te destruía.
Vi a ruína com os meus próprios olhos, várias vezes. Não queria ir
por esse caminho.

Respirei fundo e foquei no calor vindo do corpo da garota, no toque


suave das mãos que me afagavam, nos lábios que continuavam a deixar
beijinhos pelas minhas costas, até que ela desfez o abraço. O afastamento
dela me fez me sentir vazio, e me atentei para o caminho que estava
trilhando, para o que estava me permitindo.

Não tinha sido eu que desejava evitar a qualquer custo as dores de se


envolver emocionalmente? E o que estava fazendo? Me abrindo dessa
forma, ficando vulnerável, deixando que ela entrasse dentro de mim?
Me virei de súbito e encarei a mulher causadora de tudo aquilo.

Linda... Perigosa.
Thais me olhava com doçura, a compreensão que via em sua
expressão me fazendo desejar construir com ela uma ligação emocional
forte, receber tudo mais o que ela pudesse me oferecer.

— Preciso ficar sozinho, Thais — forcei a minha voz a sair.


— Okay — murmurou, mas logo perguntou, parecendo preocupada:
— Você vai ficar bem?
Não, não irei!

— Sim.
— Se precisar, estarei no meu quarto vendo um filme…
— Obrigado.
Passei por ela e por Batata, que deixou de mexer na sua vasilha de

ração e me seguiu trotando.


Como se um demônio tivesse se apossado do meu corpo,
rapidamente entrei no meu escritório. Não havia nenhum demônio, só o
homem medroso que esteve bem próximo de abraçar Thais com força, se

jogando naquele precipício de emoções, pouco se fodendo se mais tarde a


queda machucaria.
Capítulo vinte e um

— Obrigada, querido — falei em meio a um suspiro apaixonado

quando, como um cavalheiro, Spencer abriu a porta para que eu deixasse o


veículo.

— Nada! — Me deu um sorriso sapeca.

— Você precisa me deixar passar — murmurei quando ele ficou


parado, me impedindo de sair.

Jaxon, que saiu pelo outro lado, começou a rir.

— Ops! — Ele deu um passo para o lado e eu não contive uma


gargalhada com o jeito travesso dele.

Saindo do carro, segurei a bolsa com força, dando um passo à frente,

depois outro, vacilando um pouco nos saltos altos e finos que me faziam
questionar como alguém conseguia se equilibrar sobre eles.

Deus, eu não podia cair! Eu não podia pagar esse mico!

Embora a cor prata da sandália fizesse um belo contraste com o

vestido preto justo, com uma fenda na coxa e um decote que ficaria melhor

se eu tivesse um par de seios para preenchê-lo, me sentia patética, uma


impostora. Claramente aquilo não era para mim.

Me perguntei onde estava com a cabeça quando, depois de Edgar me

pressionar sobre a aposta que eu havia ganhado há uma semana, achei uma

ideia ótima vir jantar num restaurante elegante, que só a estrutura de vidro e

madeira gritava que ali não era o meu lugar.


Realmente não era, já que dificilmente teria condições de pagar a

conta, mas, mesmo assim, a plebeia quis viver aquele conto de fadas por

uma noite.

Foi impossível não lembrar a fala do meu pai de que eu estava

deslumbrada com um mundo que não era meu. Morar na casa de Edgar e

ser incluída em tudo que ele e os irmãos faziam, ser tratada como uma

amiga, uma igual, não como a babá, talvez não ajudasse muito a me trazer
para a realidade. O pensamento fez com que eu esmorecesse ainda mais e

eu quis me abraçar.

Tola!
— Vamos, Malévola? — Edgar sussurrou bem próximo a minha

orelha, a respiração quente me arrepiando. — Ou vai ficar aí?

Os gêmeos riram da fala do irmão.

— Tô com fome, Thay! — disse Spen.

— Eu também — Jax reforçou, passando a mão na barriga.

— Então vamos logo — falei, abrindo um sorriso para os dois,


suprimindo a vontade de me xingar pelo mico que estava pagando, situação

que eu poderia ter evitado.

Comecei a andar, buscando imprimir confiança aos meus passos,

enquanto os meninos tagarelavam sobre o quanto estavam com fome.

Focar na conversa deles me ajudou um pouco, mas quando Edgar

tocou a minha lombar, meu coração disparou com a onda de excitação que

me percorreu. As minhas pernas ficaram tão bambas que eu imaginei que

iria ao chão.

Deveria me afastar, mas meu corpo estava sentindo falta do contato

de Edgar, o que era absurdo, tão ridículo quanto desejar que Edgar tornasse
a me beijar e aplacasse o desejo que havia suscitado em mim. O mais

absurdo era ficar decepcionada por ele não ter voltado a tentar algo comigo.

Sentia vergonha do quanto eu queria Edgar, tanto que eu não fui

capaz de contar para a Ju. Ele era um homem que eu não deveria desejar

nem por um minuto.


Sacudi a cabeça de forma sutil, tentando me livrar daqueles

pensamentos, sentindo as box-braids balançarem.

Quando adentramos o edifício, tive que me controlar para não abrir


a boca de forma exagerada. Com o pé direito alto, todo o teto da recepção

era de madeira adornado com traves de ferro e luminárias modernas, que

caiam sobre nós como se fossem grandes pendentes, destacando a parede de

pedra, que ostentava uma lareira ao centro.

— Boa noite, sejam bem-vindos — o maître falou quando nos

aproximamos, fazendo uma vênia. — Possuem reserva?

— Sim! — os gêmeos falaram juntos, animados.

— Em nome de quem, senhores? — O funcionário foi gentil em se

dirigir aos meninos.

— Meu! — Jax deu um gritinho impróprio para o ambiente.

— Spencer — O outro menino retrucou.

— Senhores? — O atendente fingiu confusão.

— Edgar Pratt — o irmão mais velho disse.

— Só um momento que irei verificar, senhor.

— Okay. — A mão de Edgar, que ainda estava apoiada nas minhas

costas, alcançou os meus quadris, puxando-me suavemente de encontro à

lateral do corpo dele.


Fiquei ainda mais quente por dentro e, mesmo que eu devesse me

afastar, permaneci no lugar enquanto escutava os gêmeos cochichando se ali

teria lasanha.

Com o canto do olho, o analisei. Os meninos usavam roupas

despojadas, mas Edgar trajava um terno bem cortado, os cabelos penteados

para trás. Diferente de mim, que estava agitada, ele parecia tranquilo, imune

ao contato.

Quando ele acariciou a região, dedilhando as minhas ancas, eu não

consegui suprimir um suspiro. Em resposta, um sorriso malicioso curvou os

lábios de Edgar e eu quis dar uns tapas naquele safado.


Deveria saber que ele estava só me provocando, mas por que ele

estava fazendo isso?

— Me acompanhem, por favor — o atendente falou, devolvendo os

nossos documentos, já que a reserva era feita de forma nominal, o que nos

tirou daquele joguinho estranho.

Guardando a minha identidade na bolsa, dei um belo passo à frente

para me livrar do toque do homem, mas para a minha mortificação, Edgar

acelerou para continuar caminhando ao meu lado, a mão voltando a tocar os

meus quadris.

Tentei ignorar o toque dele, observando como os gêmeos eram bem-

educados e estavam se comportando lindamente, admirando toda a


luxuosidade do local, mas era difícil me concentrar em qualquer coisa, já

que, mesmo que Edgar não tocasse diretamente a minha pele, meu corpo e

meus sexo estavam bem consciente dele.

Também foi impossível não perceber alguns olhares rápidos e

discretos sobre nós, principalmente sobre mim, já que eu era uma

desconhecida e estava ao lado de um milionário que vira e mexe aparecia na

mídia e também dos irmãos dele. Nunca tive tanta vontade de sair correndo,

mas, mesmo que eu quisesse, duvidava que conseguiria, já que Edgar

aplicou mais pressão ao agarre.

— Uau! — Jax exclamou alto assim que alcançamos a nossa mesa,

que ficava próximo a enorme janela panorâmica que tinha vista para a

cidade e para o Union Lake.

— Legal! — Spencer falou, quase colando o rosto na enorme parede

de vidro. O irmão gêmeo o seguiu.

Fiquei parada, lutando com a tentação de me unir aos meninos. Sem

se importar onde estávamos, Edgar se colocou atrás de mim, praticamente

colando minhas costas ao seu peitoral.

Suspirei, controlando para não me arquear contra ele, e tentei não


pensar no show que dávamos, muito menos o quanto aquela posição, em

outra ocasião, poderia muito bem ser uma cena de filme, ainda mais se ele
me abraçasse. No entanto, sabia que pensar em Edgar e comédia romântica

juntos era idiotice.

— É lindo aqui! Não que a vista seja mais bonita do que a do seu

apartamento, mas…

— Você que é linda, Thais! — Me interrompeu em uma voz baixa

para que só eu ouvisse, e me senti trêmula, me levando pelos desvaneios

românticos e tolos com aquele elogio. — Está linda pra caralho com esse

vestido e esses saltos altos.


— Edgar… — Me derreti contra ele.

— Quando você não está linda? — Continuou e apertou o meu


quadril de uma forma que pareceu me deixar como os fios desencapados em

contato com a água.


Suspirei e escutei um ofegar dele. Estávamos brincando com fogo, e

por que ele resolveu fazer isso ali, eu não entendia.


Se o local não fosse tão seleto, eu já podia imaginar a fofoca que

geraríamos por estarmos tão colados um no outro. Nem mesmo minha


amiga e Riccardo, que eram reservados, haviam escapado dos holofotes. Na

época, eu havia suspirado pelo conto de fadas moderno, mas ela tinha
ficado irritada. Eu a chamei de chata, mas agora podia entender
perfeitamente o que sentiu.

— Vamos nos sentar?


Como se só agora se desse conta do lugar em que estávamos, Edgar
me soltou, dando um passo para trás, e eu me senti como se estivesse com

uma doença contagiosa.


— Claro. — Forcei minha voz a sair.

Me surpreendendo, ele puxou a cadeira para que eu me sentasse, se


antecipando ao garçom.

— Obrigada.
— Nada. — Ajeitou a cadeira quando me sentei.
— Ferinhas? Vocês não estavam com fome?

— É — falaram um seguido do outro e os dois meninos rapidamente


se ajeitaram nos assentos próximos a janela.

Edgar se colocou na minha frente e eu senti um friozinho na barriga


de antecipação ao saber que o homem provavelmente passaria a noite me

olhando, fazendo com que as palavras dele ficassem ecoando na minha


mente como um mantra.

Linda. Sempre linda.


Eu não era isso tudo e nós dois sabíamos disso, mesmo assim, a

idiota começou a acreditar nisso, já que ele tinha me feito sentir dessa
forma.

Idiota, mil vezes idiota.


— Não vai olhar o cardápio, Malévola? — Edgar falou em um tom
cheio de diversão e eu dei um pulinho na cadeira com o susto, para a graça

dos gêmeos.
Olhei para ele e outra vez quis dar uns tapas nele por sorrir daquela

forma arrogante e também por se divertir às minhas custas.


Peguei o cardápio, me contendo para não arregalar os olhos com os

preços, que eu já sabia que seriam exorbitantes.


— Tem lasanha, mano? — Jaxon perguntou.

— Eu também quero lasanha! — Spencer concordou.


— Acho que não, ferinhas. Mas tem batata frita e ravioli.

— Tem bife? — Spencer perguntou.


— Sim.

— Eu quero bife e batata.


— Eu quero chocolate! — Jaxon demonstrou entusiasmo e eu

acabei rindo.
— Não pode jantar chocolate, querido — falei.
— Por que não?

— Tem que jantar primeiro. Chocolate é só no fim.


— Tá! Quero macarrão e frango.

— Okay!
— Ovo também! — Spencer deu um gritinho.
Não consegui suprimir uma risada.

— Por que tá rindo, Thay? — falou, emburrado, e eu me virei para


ele, que tinha um bico enorme.

— Ovo, carinha? — Tentei me controlar. Não queria estragar a noite


chateando-o.

— É, ué.
— Ovo se pode comer todo dia em casa — expliquei.
— Isso foi tão… — Edgar começou, mas se interrompeu.

— Pobre?
Deu de ombros, sem graça.

— Tenho que aproveitar, afinal, não é todo dia que posso comer um
bife de wagyu — falei em meio a um sorriso

— Pode comer sempre que quiser, Malévola… — começou a sorrir.


Estalei a língua para ele com o absurdo, já que a carne bovina

poderia custar centenas de dólares, e voltei a olhar o cardápio.


— Quer como o seu ovo, ferinha?

— Mole.
— Que mais que tem, mano?

Com uma paciência enorme, Edgar leu um a um os itens, e eu acabei


prestando atenção na voz dele, e não nas letras à minha frente.
A paciência dele com os dois, mesmos nos momentos de bagunças,

era tocante e apaixonante, ao ponto de eu querer ficar suspirando várias


vezes enquanto assistia a interação deles.

Não duvidava de que Edgar tinha ciência que o lado paizão dele o
tornava atraente.

— Quero pão! — Jax falou.


— Marshmallow! — Pen completou.

— Salada de pepino.
— Chocolate.

— Vão comer tudo isso mesmo, ferinhas? — Arqueou a


sobrancelha.

— Uhum…
— Vão mesmo? — Insistiu.

— Sim!
— Sim, mano!
— Tá. Escolheu algo além do wagyu, Malévola? — Me provocou.

— Além da salada com peixe e do suflê de laranja, estou em dúvida


entre o ravioli e o carpaccio....

— Peça os três então. — Edgar falou.


— Seria algo deselegante — comentei.

— Por quê? — Jaxon me perguntou.


— Seria demais pedir três pratos principais, querido.
— Foda-se! Quem se importa com isso? — Edgar resmungou,

fazendo um gesto discreto para um dos garçons.


— Eu me importo — retruquei.
— Mas quer comer os três…

— Em que posso ajudar? — perguntou, solicito, um dos atendentes.


— Quero um carpaccio, um bife de wagyu, ravioli de frutos do

mar…
— Edgar! — quase gritei com ele, sendo mais do que deselegante,

fazendo os meninos rirem.


Edgar me ignorou, continuando a fazer o pedido dele, que

praticamente incluía o cardápio inteiro.


— O que desejam para beber, senhores?

— Refrigerante. — Os meninos responderam bastante animados.


— Thais?

— Refrigerante para mim também — murmurei.


— Então quatro refrigerantes, por favor.

— Claro, senhor, com licença. — Fez uma vênia e se retirou.


— Por que fez isso, Edgar?

— Fiz o quê? — Fingiu inocência.


Arqueei a sobrancelha para ele.
— Eu não fiz nada — continuou naquele tom afetado, arrancando
mais risadas dos meninos.

— Não sei como vamos comer tudo isso. Você exagerou.


— A gente manda embalar e leva para casa… — falou, divertido.

— Isso é tão… — comecei a provocar ele.


— Pobre? — completou.

Estalei a língua para Edgar e acabamos gargalhando, ainda que não


tivesse tanta graça assim.

— De vez em quando, tento não esquecer das minhas origens —


falou em um tom baixo enquanto me encarava fixamente, mas não vi

amargura nele. — Na verdade, isso é universal, independente da classe


social.

— Nunca estive em um lugar tão chique para saber.


Dei de ombros, mas a conversa cessou quando o garçom trouxe as
bebidas e uma entrada, que era uma espécie de cortesia da casa.
Os meninos, com fome, logo foram beliscando e eu acabei fazendo

o mesmo. O gosto forte do presunto parma com o molho fez minha boca
salivar, e eu gemi baixinho ao comer mais um pedaço. Aquilo era bom.
— Como foi o dia de vocês na escola, ferinhas? — Edgar perguntou
ao dar um gole no refrigerante. Como sempre, me senti derreter com a

pergunta que era feita diariamente aos dois.


Sei que era o mínimo um pai ou responsável perguntar isso para um
filho, no caso, um irmão, mas sabia que muitos sequer se davam o trabalho.

Eu não precisava ir muito longe para buscar um exemplo. Meu pai


raramente tinha perguntado. Evitei pensar nisso.
— Chato! — Jaxon deu a mesma resposta de sempre, já que ele não
gostava de ir para a escola.
— Foi legal! — falou Spen.

— Foi não! Foi chato! — Jax retrucou.


— O que fizeram de bom? — Edgar continuou, balançando a
cabeça.
— Colori e a professora deixou brincar com massinha — Spencer

murmurou, pegando mais um petisco da mesa.


— A gente jogou futebol. Eu fui o goleiro! — Jax pareceu mais
animado em falar do esporte, que não era tão popular aqui na América, mas
que inegavelmente vinha crescendo.

— Pegou todas as bolas, carinha? — Entrei no assunto.


— Não! — Fez beicinho.
— Não?
— Levei dois gols! — Emitiu um choramingar desanimado.

— Faz parte, querido, mas tenho certeza que defendeu um


montão… — Tentei animá-lo, mesmo que não entendesse muita coisa do
jogo.
— É! — Continuou a fazer bico.

— Posso te colocar numa escolinha de futebol, carinha — Edgar


falou.
— Sério, mano? — O menininho voltou a ficar empolgado.
— Por que não? — Edgar abriu um sorriso enorme que o deixava

ainda mais lindo.


— Ebaaa! — Deu um grito, provavelmente chamando a atenção das
pessoas no restaurante, mas sequer olhei para os lados para verificar.
— Eu não quero. Eu não gosto — Spencer murmurou.

Toquei a mãozinha dele que estava sobre a mesa.


— Nem precisa se preocupar, carinha, seu mano nunca te forçaria a
fazer o que não gosta — falei com uma certeza que talvez eu não poderia
ter.
— Sim, mano, até parece que já te obriguei a fazer algo que não

queria. — Edgar pareceu um pouco machucado pela fala do menino.


— Obriga, sim, tomar banho! — Arrancou uma risada nossa.
— Isso é higiene pessoal, porquinho — falei.
— É chato! — Os gêmeos disseram quase que ao mesmo tempo.

— Por isso que eu obrigo vocês a tomarem banho…


— É… — Spencer concordou.
— Aprenderam bastante coisas hoje? — Edgar perguntou.

— Letras — Spencer respondeu primeiro, para logo Jax falar outra


coisa:
— Nada!
— Nada? — O homem franziu o cenho.
— É…

— Jaxon! Claro que aprendeu alguma coisa! — ralhei suavemente


com ele.
Deu de ombros.
— Por que acho que você vai me dar trabalho no futuro, Jax? —

Edgar passou a mão pelo queixo barbado e fez uma pergunta diretamente
para mim.
— Sobre o que foi a reunião de hoje na escola, Thais?
Como um tal de Matsumoto tinha solicitado encontrá-lo aquela

tarde, Edgar acabou me pedindo para ir no lugar dele, mesmo que não fosse
minha função.
— Foi para falar sobre a peça que eles vão participar — respondi.
— Ainda existe isso?

— Acho que nunca sairá de moda…


— Hum…
— Vai ser divertido!
— Vai não, Thay! — Foi a vez de Spencer reclamar.

— Estava tão empolgado, querido…


— Eu quero ser o leão!
— Eu quero ser a árvore! — Spencer acabou soltando enquanto o
garçom se aproximava trazendo os pedidos.

Enquanto saboreávamos nossos pratos, continuamos a falar sobre a


peça, sobre a escola, e sobre outras coisas aleatórias que permitiam que os
dois meninos participassem.
Várias foram as vezes em que eu e Edgar nos olhamos, nos

divertindo com algum comentário de um dos meninos, e, para a minha


mortificação, também foram várias as vezes que ele me flagrou admirando-
o, mas o contrário também aconteceu. Diferente do que pensei, não fiquei
desconfortável, por mais que o desejo crepitasse.
— Tá gostoso, Thay? — Spencer perguntou ao olhar para o meu

ravioli.
— Muito bom, carinha.
— Posso pegar um?
— Spencer, é feio pedir algo do prato de outra pessoa — Edgar o

repreendeu em um tom suave.


— Por quê? Você sempre dá pra mim.
— Eu sou seu irmão, ferinha, não tem problema, mas tem pessoas

que tem nojo.


— Ah! — Pareceu um pouco emburrado antes de se virar para mim
e perguntar: — Você tem nojo, Thay?
— Spencer… — Edgar falou em advertência.

— Por que você não me dá um pedaço do seu frango e eu te dou um


pouco do meu ravioli? — sugeri, abrindo um sorriso.
— Também quero! — Jaxon pareceu empolgado.
— Tem certeza de que isso não é um problema? — Edgar perguntou

em um tom baixo.
Me encarou e eu senti vários arrepios. Não era apenas desejo sexual
que vi ali, mas havia algo de mais forte naquele olhar, uma necessidade que
era muito mais do que luxúria. Parecia uma ânsia emocional, ou assim eu

quis interpretar.
— Claro que não! — Forcei minha voz depois de um pigarrear. —
A batata frita parece bem gostosa também, meninos!
— Tá muito gostosa! — Jax concordou.

— Agora que não posso recusar. — Abri um sorriso e roubei uma


batatinha, fazendo as crianças rirem.
Mordi um pedaço. Realmente estava muito boa.
— Então, tá! — Edgar curvou os lábios de forma diabólica.
— Hey! — Dei um gritinho de protesto quando, sem cerimônia, ele
fincou o garfo no meu prato e pegou um ravioli.
Influenciado pelo irmão, vi os meninos fazerem a mesma coisa.
— Você deixou! — Pareceu divertido enquanto cortava um pedaço

da massa.
— Não você!
— Sempre malvada! — fez um som desdenhoso, levando a comida
à boca. — Isso realmente está bom.

— É!
— Tão bom que me sinto tentado a pegar mais um!
— Edgar! — Fiquei indignada quando ele realmente pegou. — Pede
para você!
— Você só queria um dos pratos mesmo — provocou.

Bufei.
— Dizem que roubado é mais gostoso! — completou fazendo os
meninos rirem.
Os olhos escuros de Edgar brilharam de luxúria, como se se

recordasse dos beijos que havia roubado de mim, que nem sei se eram tão
roubados assim.
— Fique à vontade para roubar o que quiser de mim…
— Vou pegar seu cartão de crédito então. Só vai faltar a senha.
— Acho que é meio óbvio... — sussurrou.
— Edgar! — Você…— Arfei quando minha mente processou que a
senha era o aniversário dos gêmeos e que ele realmente havia me passado.
— Faça bom uso da informação, Malévola.

Abri a boca, chocada, e ele piscou para mim. Ficamos olhando um


para o outro e, enquanto isso, Jax e Spencer aproveitaram para atacar o meu
prato, deixando apenas o caldo.
— Eu avisei… — o homem murmurou, me dando aquele sorriso

arrogante, que durou apenas alguns segundos, já que ele pareceu ficar rígido
ao fitar algo atrás de mim. — Que merda!
— O que aconteceu, Edgar? — perguntei, confusa com a mudança
súbita dele.

Não me respondeu, mas notei que ele tentava controlar as emoções.


Felizmente, os gêmeos estavam alheios à tensão do irmão enquanto
atacavam o próprio prato. Um calafrio percorreu a minha espinha.
— Porra! — Edgar não chegou a pronunciar o palavrão em voz alta,

apenas moveu os lábios.


Já ia insistir, quando um cheiro forte de perfume adocicado invadiu
as minhas narinas e senti vontade de vomitar. Virei meu pescoço e descobri
a razão da tensão súbita de Edgar.
Ainda que ele tivesse alguns traços da mulher que caminhava de
braços dados com um homem bonito em direção a nossa mesa, como o
nariz e a boca, as semelhanças entre mãe e filho paravam aí, porque o rosto

dela era tomado por botox, os cabelos compridos eram pintados de um loiro
platinado e era muito mais baixa do que ele.
O homem que acariciava o braço dela de forma lasciva era
praticamente da idade de Edgar. Com cabelos longos, olhos incrivelmente
azuis e corpo atlético, ele era bonito, mas havia algo de falso nele,

confirmado pelo sorriso que dava.


— Que cheiro ruim! — Jaxon fez uma careta, e eu fiquei surpresa
por só então eles sentirem o perfume.
— Tá uma catinga! — Spencer concordou e eu o vi mover o nariz,

incomodado.
— Deveria dar mais educação a esses pirralhos, Edgar. Faz parte da
etiqueta não comentar sobre a pessoa na frente dela, só pelas costas — a
mulher retrucou de forma ácida.

— O que esse aí sabe de etiqueta, amor? — O homem falou em tom


afetado, acariciando o braço dela de forma vulgar.
— Realmente, dinheiro não compra nenhum refinamento. — Ela
estalou a língua, e os dois riram da piada sem graça deles.
Ao som da risada, os meninos finalmente desviaram a atenção da
comida e gritaram:
— Mamãe!

A mulher torceu os lábios em uma careta ao ser chamada de mãe, e


uma raiva súbita me invadiu.
Olhei para Edgar cuja tensão parecia ainda maior, mas ele
permaneceu em silêncio, como se estivesse se controlando para não dizer

nada que se arrependesse depois. Edgar poderia ser explosivo, mas nunca
agia de forma bruta na frente dos gêmeos. Eu o admirava por sempre
mostrar a melhor versão dele para os dois.
Alheios a falta de empolgação da mãe, os gêmeos jogaram os

talheres sobre os pratos, fazendo o som reverberar com o impacto, se


ergueram em um salto e praticamente correram até a mulher, parando na
frente dela.
— Oi, mãe! — Spencer pareceu tímido de repente.

— Oi! — Jaxon também disse, só que mais animado.


Nicole franziu o cenho.
— Posso te dar um abraço? — Spencer perguntou quando ela não
respondeu ao cumprimento.
Além da raiva, senti meu coração se apertar pela hesitação que havia

na voz dele ao fazer o pedido.


— Por que você quer fazer isso, pirralho? — Torceu os lábios.
Vi os dois darem um passo para trás, os ombros caírem.

— Você é a nossa mamãe! — Jaxon respondeu e, em um impulso,


abraçou as pernas dela.
— O que você está fazendo? — A mulher deu um grito estridente
que provavelmente fez com que o restaurante todo olhasse para nós. — Me
solta! E você nem pense em se aproximar.

O menino não a soltou.


— Mãe? — Spencer perguntou em tom choroso.
— Pare de me chamar de mãe ou mamãe, me faz parecer uma velha!
— Tentou se recompor, fingindo uma elegância que ela não tinha. — E já

disse para me soltar, fedelho!


Obedecendo, ele abaixou os braços.
Nicole deu um passo para trás, se afastando do garoto.
— Merda! — Edgar sussurrou, em um tom ferido, quando Spencer

começou a chorar.
Jax, assustado com a reação do irmão gêmeo, também começou a
chorar. Sentindo o meu peito se apertar, movida pelo instinto protetor, me
ergui da cadeira com um pulo.

— Venham aqui, queridos — me coloquei sobre os calcanhares e


abri os braços para acolher os dois.
Não hesitaram em vir até mim, então os abracei com força,
desejando tomar a deles para mim. Alternei sussurros de carinho e beijos

nas bochechas molhadas.


— Não precisam chorar, ferinhas — Edgar disse ao se aproximar de
nós e se colocar de cócoras.
Jax passou para os braços do irmão, que, após acarinhar os cabelos

dele, o pegou no colo com facilidade e se ergueu.


— Thay! — Spencer murmurou, provavelmente querendo o mesmo.
— Tudo bem, meu amor — com um beijo, o segurei com mais força
e, mesmo que ele fosse pesado, me ergui com ele no colo.

— Satisfeita? — Edgar murmurou, com o semblante fechado.


— Não fiz nada, eu só não queria ser abraçada por ele. — Fez uma
expressão inocente.
— Eles são os seus filhos! — Mal reconheci minha voz. Sentia a

fúria me tomar, mas me controlei para não chamar mais ainda a atenção.
Seríamos o assunto da noite.
— Quem é você para me criticar, garota? — A mulher fez uma
carranca.
— Uma puta qualquer, amor — o homem falou, me olhando de

cima a baixo. — Uma de muito mal gosto por sinal. É, realmente dinheiro
não faz a gente comer coisas boas.
— Ela até que tem um rostinho bonitinho…

— Não sejam vulgares na frente das crianças — pedi, ajeitando


Spencer no colo, sentindo meus braços doerem com o peso.

Percebendo meus desconforto, Edgar esticou o braço para pegar


Spencer que envolveu o pescoço dele com força.

— Vamos nos sentar! A porra do restaurante inteiro está olhando pra


nós! Chega de espetáculo! — Edgar disse entre dentes e voltou para sua
cadeira com as crianças agarradas em seu pescoço.
Fui me acomodar perto dele. Só Deus sabia o quanto eu desejava dar

uns tapas naquela mulher por fazer os dois chorarem, por ser ausente na
vida deles, por rejeitá-los, mas tinha que me conter pelo bem dos gêmeos.
Nicole e o homem obedeceram ao comando, mas assim que se
sentaram continuaram o ataque:

— Diferente de você, amor, meu filho sempre teve mal gosto —


sibilou ao me encarar.
— Tenho que concordar. — O homem olhava fixamente para mim.
— Diferente dele, gosto de peitos. Ele deveria pagar um par de silicone para

a coitada.
Riram.
Tentei me manter ereta, mas a minha vontade era de me encolher.

Mesmo que várias vezes eu mesma tivesse dito que queria colocar silicone,
ouvir alguém zombar dos meus seios era doloroso.
— Talvez eu devesse ensinar o seu filho a pegar uma mulher
gostosa, se é que ele realmente gosta disso.

— Chega de falar essas vulgaridades na frente das crianças! —


Edgar disse entre entres. — Nicole, pelo seu bem, diga logo o que quer e

saia daqui!

O esforço que fazia para se controlar era visível. A raiva que sentia
transformou-se em pesar e eu acabei pousando uma mão no ombro de

Edgar, querendo confortá-lo também. Ele sofria tanto quanto os meninos,

ou talvez mais.
— O que você quer, Nicole? Já fodeu a porra da minha noite e

chamou a atenção de todo mundo dessa merda de lugar. Fale logo!


— Só quero conversar.

— Conversar? — Deu uma risada seca. — Não temos nada para

conversar.
— Estou tentando falar com você há dias, mas você não me atende.

Você deveria ter vergonha de fazer isso com a sua mãe. — Fez beicinho,
como uma criança birrenta.

— Porra! Agora você virou minha mãe?


— Sou a sua mãe! A mãe que você proibiu de ir na sua casa, a mãe

que você bloqueou no celular, que ameaçou chamar a polícia para ela

quando quis te visitar... a mãe que você se nega a ajudar!


— Não se faça de vítima, Nicole.

— Sim, sou vítima de um filho mesquinho… sabe que estamos com


dificuldades, mesmo assim…

— Não me parecem estar com problemas. Estão aqui, não estão? —

a cortou secamente.
— Precisamos nos divertir de vez em quando… O que tem se

tornado bem raro, e tudo por sua culpa.


— Francamente — Edgar riu, mas sem humor.

— Deixe de ser pão-duro cara, a quantia que queremos nem arranha

o seu bolso — o homem murmurou.


— Tenho certeza de que gasta mais com essa sem peito... — a mãe

de Edgar choramingou.

— Deixe-a de fora disso, porra — Edgar falou entre dentes


enquanto eu lutava com a vontade de cruzar os braços na frente do corpo.

— Por quê? É a verdade! — Fungou.


— Já te disse que não verá mais nenhum centavo meu! Isso é tudo?

Agora saia daqui e nos deixe em paz!

— Você não pode fazer isso! — Ficou transtornada de raiva.


— O dinheiro é meu e faço o que eu quiser, Nicole, então, sim, eu
posso.

— Filho da puta! Se acha melhor do que nós? — O homem disse,

perdendo toda a pose de deboche que tinha adotado até então.


Edgar ergueu uma sobrancelha de forma bem arrogante.

— Quero ver se essa sua marra irá durar quando eu tirar os gêmeos

de você!
Edgar ficou paralisado quando ouviu a ameaça e confesso que eu

também. Meu coração bateu rápido, o medo deixando as minhas pernas


tremendo.

— Vou ensinar a eles a deixarem de ser esses bebês chorões

mimados — o homem zombou.


— É uma boa, amor.

— Eu não quero ir com ela! — Spencer choramingou e se virou para


olhar o irmão.

— Nem eu! Ela é má! — Jax lamuriou,

— Nunca vou deixar isso acontecer, ferinhas. Nicole nunca


conseguiria tomar vocês de mim. — Edgar falou, acariciando as costas dos

dois, e com uma segurança que me encheu de alívio da cabeça aos pés,

ainda que eu não pudesse ter certeza disso.


— Eu sou a mãe deles! Tenho todo o direito.
— Você deixou de ser mãe deles no momento em que os abandonou,

porra!

Fez um gesto para um garçom, que rapidamente se aproximou.


— A conta, por favor.

— Claro, senhor. Só um momento, vou mandar fechar —


murmurou, constrangido

— Não é preciso. Tem a máquina de cartão aí? Passe dez mil. Isso

deve cobrir essa merda…


— Mas, senhor…

— E fique com o troco como gorjeta. Faça logo!

— Sim, senhor.
Mais do que rápido, o rapaz fez o que foi ordenado e Edgar fez o

pagamento por aproximação com seu relógio.


— Vamos? — Virou-se para mim.

— Claro! — murmurei.

Nos olhamos por alguns segundos, mas foi o suficiente para que eu
visse raiva, tristeza, dor e culpa nos olhos dele. Levantou-se com os

meninos no colo e se dirigiu para a saída. Pegando a minha bolsa, que havia

ficado sobre a mesa, fui depressa atrás deles.


Nos apressamos para sair de lá o mais rápido possível, mas confesso

que tive medo de Nicole nos seguir, insistindo até conseguir o que desejava.
— Você pode não me dar o dinheiro que pedi, mas sabe de uma

coisa? Seus irmãos nunca irão saber o que é o amor de uma mãe — berrou
para todos ouvirem. — Bastardos indesejados! — continuou a gritar. —

Deveria ter me livrado deles enquanto podia.


Edgar parou no lugar e se voltou para ela, os olhos ficando quase

sem vida.

As palavras de Nicole, mesmo que não fossem direcionadas para


mim, foram como se eu levasse uma facada no peito, e eu senti que

sangrava. Não queria nem imaginar a dor dos meninos por escutar algo tão

cruel, muito menos o que Edgar estaria sentindo. Ele se cobrava muito,
queria a todo custo proteger os gêmeos daquela víbora. Por serem tão

novinhos, torcia para que não entendessem o que ela queria dizer com
‘bastardos indesejados’.

Fechei os olhos por alguns segundos.

Deus! Aquela mulher não tinha limites?


— Vamos embora, Edgar — falei quando ele continuou parado no

lugar, a tensão deixando os ombros dele rígidos.


Pareceu não me ouvir, preso nos próprios pensamentos, mas logo

reagiu.

Com passos rápidos, deixamos aquele local que nunca mais eu


queria voltar. Ignorei o pensamento, já que, de qualquer modo, eu não tinha
grana para bancar locais como esse.

Assim que o manobrista entregou as chaves para Edgar, ele me fez

um pedido:
— Você pode ir no banco de trás com os meninos? — Me encarou,

parecendo meio pensativo, depois de colocar os meninos no chão.

— Nem precisava pedir, Edgar — respondi, dando um sorriso fraco


para ele.

— Obrigado, mesmo assim.


Balancei a cabeça.

— Entrem, queridos — pedi, abrindo a porta para eles.

— Tá — responderam baixinho.
Entraram no carro e eu os segui, ajudando os dois a afivelarem o

cinto do assento elevado.

Tudo foi feito em um silêncio. Logo estávamos na estrada, voltando


para casa.

Fiz carinho neles, curvando o quanto o meu cinto me permitia para


deixar beijinhos no topo da cabeça deles.

— Por que ela não gosta da gente? — Spencer falou de repente.

— O quê, querido? — Usei um tom suave.


— A mamãe... por que ela não gosta da gente?— repetiu num tom

dolorido. Meu coração ficou mais machucado pela pergunta inocente, pela
rejeição que ele sentia.

— Oh, meu amor… — Me curvei para dar um beijo no topo da


cabeça dele, sem saber o que dizer.

— A mamãe não gosta da gente, mano? — Jaxon perguntou.

Eu e Edgar nos entreolhamos novamente pelo retrovisor, e além da


dor, vi que havia culpa em seus olhos, como se ele fosse responsável pelos

atos da mãe.
Como se fosse possível, as garras invisíveis que já massacravam o

meu peito fincaram com ainda mais força.

Deus! Isso era difícil pra caramba!


— Ela é uma bobona — obriguei-me a dizer algo, quando o silêncio

caiu com força sobre nós.


Era uma resposta infantil da minha parte, mas não havia outra

melhor para dar no momento, pelo menos não encontrei.

Eu não conseguia entender aquela atitude da mulher, e talvez não


houvesse nada para se entender.

— Mesmo? — Spencer fungou.

— Só uma bobona não gostaria de vocês, queridos.


— Você gosta da gente? — O menino continuou.

— Mas que pergunta! — Fiz uma careta para ele. — Claro que
gosto!
Deu uma risadinha quando passei a fazer cócegas nele.
— Tá achando que sou boba, é? — Continuei a provocá-lo, até que

Spencer se contorcesse no assento.


— Para, Thay! — pediu, perdendo o fôlego de tanto rir.

— Eu não, você acha que não gosto de vocês! Eu gosto de montão

de vocês! Okay?
Parei de fazer cócegas nele antes que o menininho fizesse xixi nas

calças ou passasse mal.

— Tá bom! — respondeu quando recuperou um pouco do fôlego. —


Eu também gosto de você, Thay!

— Eu também! — Jax até então em silêncio, falou.


Senti meus olhos ficarem marejados com o afeto. Deixei um beijo

estalado na bochecha de cada um deles.

— A gente pode ter outra mamãe? — Spencer perguntou em um


tom baixo.

— A Chantel tem duas mamães e dois papais — Jax explicou.

— Eu… — Comecei, porém acabei sem saber o que dizer.


— Não é tão simples assim, ferinhas — Edgar murmurou.

— Por que não?


— Os pais dela se casaram com outras pessoas, Jax, por isso ela tem

dois papais e duas mamães.


— Ah, tá! — Vi que Spencer fez bico.

— É só arrumar uma mamãe pra gente, ué — Jaxon falou como se


fosse a coisa mais simples do mundo. — Todo mundo fala que você é nosso

papai, aí você arruma uma namorada e ela vira nossa mamãe, né?

— É mesmo! — Spencer bateu palmas.


Não consegui suprimir uma risada com a lógica deles.

— Não é assim que as coisas funcionam, manos… Eu… — a voz de


Edgar soou tensa.

— Por que não? — perguntaram juntos, desanimados.

— Merda! Como vou explicar isso?


Acabei tentando ajudar Edgar, mesmo que não achasse as minhas

palavras tão boas assim.

— Ser mãe e pai é muito mais complicado do que vocês imaginam,


carinhas. Tem a parte dos abraços, dos beijos, das brincadeiras? Tem, sim,

mas tem muito mais coisas. Uma mamãe ou um papai de coração que vai
morar junto com as crianças acabam pegando responsabilidades, como

mandar tomar banho, escovar os dentes e outras coisas. E nem todas as

pessoas estão dispostas a isso. Se ela quiser ser a “mãe” de vocês, ótimo, é
um bônus. Se não, isso não mudará o carinho que a namorada do seu irmão

terá por vocês, carinhas.


— É... — Jaxon murmurou enquanto Spencer emitia um som
desanimado.

— Hey, mas pra que ficar pensando nisso agora? Eu estou aqui com

vocês, não estou? — falei, animada, ignorando o quanto minha frase era
presunçosa e arrogante.

— É!
— Você gosta da gente mesmo, Thay? — Jax insistiu.

— Ara! — Fiz a minha língua estalar que nem um chicote,

arrancando uma risada deles. — Acho que esse menino também precisa de
uma lição!

Pegando Jaxon desprevenido, não hesitei em atacar o menino com

cócegas, fazendo ele rir e perder o fôlego. Quando Spencer começou a me


provocar, girei meu corpo na direção dele, partindo para mais uma batalha.

Fiz de tudo ao meu alcance para desviar a atenção dos dois daquele assunto
infeliz e eu pensei que tinha conseguido, mas soube que eu havia falhado no

momento em que mais perguntas difíceis sobre a mãe deles vieram…


Capítulo vinte e dois

Não conseguiria dormir. Isso ficou mais do que claro quando rolei

na cama pela milésima vez.


Abri meus olhos e fui recebida pelo quarto escuro.

— Acender — dei o comando, fazendo as luzes se acenderem.

Piscando várias vezes, tentando me acostumar a iluminação forte,


sentei na cama e, automaticamente, abracei os meus joelhos.

Suspirei fundo.

Minha mente era um verdadeiro turbilhão. Os acontecimentos da


noite passavam com um loop infinito na minha cabeça, me atormentando.

Depois de muita conversa, carinho e histórias mirabolantes que

inventei, os gêmeos pegaram no sono. Batata também contribuiu bastante.


Sentindo a tristeza dos meninos, ele fez de tudo para animá-los, dando

patadas, lambidas, além de jogar todo o seu charme canino para cima deles.

A lealdade dele era bastante tocante.

Quando Edgar deixou o quarto em silêncio, o animalzinho pareceu

um pouco dividido em ficar com os gêmeos e seguir o seu dono, mas as


crianças levaram a melhor.

Confesso que o cachorro não foi o único que hesitou em ir atrás de

Edgar.

Estava preocupada com Edgar que provavelmente estava se

afundando em pensamentos sombrios. Desejei envolvê-lo em um abraço


apertado, sussurrar palavras de conforto, remover a dor que o afligia, mas

fiquei incerta se ele iria querer isso ou não. Como da última vez que Edgar

ficou transtornado com a mãe, achei melhor deixá-lo sozinho, ainda que o

meu coração protestasse contra a minha decisão.

Outro suspiro me deixou, um mais longo e dolorido, e depois de

passar vários minutos olhando para o nada, decidi me levantar e ir até a

cozinha.
Chá não resolveria os meus problemas, nem diminuiria aquela

sensação opressora que tomava o meu peito ao pensar em Edgar, mas seria

bom para tentar me acalmar um pouco.


Foi instintivo passar pelo quarto dos meninos para ver como eles

estavam. Na penumbra, vi de relance Batata erguer a cabeça, mas o

cachorro não emitiu nenhum som. Sorri ao olhar Spencer dormindo na

posição contrária ao da cabeceira, ressoando como um anjo. Já Jax estava

todo torto e, se continuasse nessa posição, acordaria cheio de dores.

Nas pontas dos pés, cruzei o cômodo e, com cuidado, tentei ajeitar o
menininho, mas ele acabou acordando, e eu senti um pouquinho de culpa.

— Thay? — sussurrou, abrindo os olhinhos.

— Volte a dormir, querido. — Deixei um beijo na testa dele.

— Tá! — Abriu um bocão.

Sentei-me na beiradinha da cama e, acariciando o rostinho lindo,

não se passaram cinco minutos para que ele voltasse a pegar no sono.

Me ergui e, de fininho, deixei o quarto. Não cheguei a dar muitos

passos quando percebi que a porta da suíte de Edgar estava aberta, algo que

não era muito recorrente. Minha pulsação disparou. Lutei contra mim

mesma, sabendo que eu deveria passar direto, mas perdi a batalha. A


preocupação com Edgar foi mais forte.

Me aproximei da porta e dei uma espiada.

Como todos os outros cômodos do apartamento, a suíte tinha um ar

moderno, só que as paredes eram pintadas de um tom cinza chumbo, algo

bem austero, que destacava os móveis em estilo industrial.


Meu olhar recaiu sobre a cama enorme, de ferro fundido, e meu

coração se apertou ainda mais ao encontrar Edgar sentado na beirada do

colchão com as duas mãos na cabeça, em um gesto que me pareceu de


derrota.

Fiquei parada, sem saber se eu entrava sem dizer nada, se me

anunciava, ou se isso seria invadir a privacidade dele. Como se sentisse que

estava sendo observado, ergueu o rosto e me encarou.

Mesmo que estivéssemos a vários metros de distância, percebi que

os olhos de Edgar estavam avermelhados. Se era de cansaço ou de choro,

não soube dizer, só sei que me incomodou.

— Está há muito tempo me observando?

Balancei a cabeça em negativa.

— Uns poucos segundos. Estava indo até a cozinha, vi a porta

aberta e… — Dei de ombros enquanto tentava me justificar. — Precisava

saber como você estava, mas acho que é meio óbvio.

Me fitou fixamente, parecendo perscrutar a minha alma. Um arrepio

percorreu a minha espinha, e eu me senti nervosa de repente.

— Se preocupa se estou bem ou não? — A pergunta foi dita em um

tom rasgado. — Se preocupa tanto comigo quanto se preocupa com os

gêmeos?
— Você também precisa de uma lição, Edgar, como a que dei a eles

no carro? — brinquei, revirando os meus olhos de forma dramática.

— Talvez… — os lábios dele se curvaram levemente para cima, e

eu me senti tomada por uma agitação que tinha muito a ver com o desejo.

Tola! Eu não deveria pensar em beijá-lo, não quando ele estava mal.

— Irá me punir, Malévola? — perguntou em tom baixo.

— Você gostaria? — A pergunta saiu antes que eu pudesse contê-la.

Que o chão me tragasse, pois estava morta de vergonha.

— Do quê? — Os olhos ficaram mais escuros.

— Deixa para lá! — Dei um sorriso sem graça. As preferências


sexuais dele não me importavam. — E, sim, Edgar, eu me preocupo com

você. Somos amigos, então claro que eu me importo com você!

Ele ficou em silêncio enquanto me olhava daquela forma arrasadora

que parecia enxergar o meu íntimo, até que por fim falou:

— Fica aqui comigo?


Capítulo vinte e três

— Edgar — sussurrei, atônita, enquanto eu sentia o meu corpo todo

estremecer quando meu cérebro assimilou o pedido dele.


— Por favor…

— Não sei se é uma boa ideia — forcei-me a dizer, tentando ser

racional, ainda que eu não fosse nada fácil ser racional nesse momento. Eu
era mais emocional do que tudo.

Vi dor aparecer na expressão dele.

— Porra, Thais, não me deixe sozinho comigo mesmo, não me faça


ficar sozinho com os meus pensamentos.

Fechei os olhos por uma fração de tempo, tentando processar o que

ele pedia, mas não consegui, já que fui arrastada para o meio de um furacão,
o furacão Edgar, que poderia me devastar por dentro, me destruir, mas que

mesmo sabendo disso, eu estava tentada a enfrentar, por ele, por mim...

Voltei a encarar o homem que precisava de mim, não só com o

corpo, mas acreditava que também com a alma.

A batalha estava perdida, ou melhor, sempre esteve.


Certo ou errado, impulsivo ou não da nossa parte, me voltei para a

porta e a fechei. O clique da chave na fechadura selou o que quer que fosse

que estava para acontecer. O suspiro de Edgar ressoou no ar e transpassou

o meu corpo, indo de encontro ao meu íntimo.

Foi a minha vez de suspirar e, girando o meu corpo, caminhei até a


cama com passos lentos, consciente de que Edgar me observava.

Mesmo que o momento não fosse propício para a luxúria, o desejo

estava presente no olhar de admiração dele, mesmo que eu tivesse

consciência de que não havia nada em mim a ser admirado. A minha pele

esquentava sob o escrutínio dele, meu baixo-ventre pulsava intensamente.

Parei na frente dele, colocando minhas pernas no meio das dele e vi

o peito de Edgar, estranhamente ainda coberto pela camisa que vestia


quando saímos, já que ele adorava andar desnudo pela casa, subir com uma

cadência mais acelerada.

— Quer conversar? Desabafar? — Estiquei a minha mão para tocar

a barba dele, e os pelos curtos e um pouco ásperos fizeram cócegas nas


minhas palmas.

Fez que não.

— Eu quero esquecer… — sussurrou quando uma das mãos grandes

tocou o meu quadril, provocando vários choques que se espalharam por

todos os meus membros. — Porra, Malévola, só me faça esquecer. Me beije

e afaste toda essa merda de culpa, essa droga de mágoa que eu sinto, da
minha mente. Me faça esquecer que ela pode ferir aqueles que eu mais amo,

aqueles a quem ela deveria amar e proteger, só para me atingir. Me faça

parar de me perguntar o porquê disso tudo. Eu…

Coloquei um dedo sobre os lábios dele, calando-o, mas a mão

continuou a deslizar pela lateral do meu corpo, me arrancando um suspiro.

— Só seja carinhoso...— pedi.

— Eu sou…? — Ficou surpreso.

— O meu primeiro homem? — Dei um sorriso sem graça. — Sim,

será o meu primeiro em tudo, Edgar.

— Porra!
Os olhos cintilantes e analíticos me contemplaram da cabeça aos

pés. Fez o mesmo caminho várias vezes, produzindo um calor enorme em

mim, que transbordava de dentro para fora, ao passo que lutava contra o

pensamento de que ele seria doido para querer algo tão sem sal como eu.

Imaginei que ele iria desistir.


— Tentarei não te machucar muito — disse por fim, a mão subindo

pela minha cintura, mapeando meu corpo.

— Agradeço — tentei brincar com Edgar, mas gemi quando as


pontas dos dedos dele resvalaram por cima da camisola na lateral do meu

peito.

— Me beija, Thais — pediu em um tom rouco, continuando a tocar

aquele pedaço surpreendentemente sensível, que só aumentava a tensão no

meu sexo.

— Sim — murmurei.

Meu instinto e as sensações que ele produzia em mim com as

carícias suaves fizeram com que eu me sentasse sobre uma das coxas

grossas e poderosas dele.

O som rouco que escapou dele em meio ao meu gemido, o toque

mais possessivo, o olhar faminto e o meu sexo sensível resvalando contra

ele fizeram com que labaredas incendiassem o meu corpo e eu me movesse

inquieta em seu colo.

Edgar arfou outra vez com o roçar dos nossos corpos, e eu infiltrei

meus dedos nos cabelos macios e fiz o rosto dele baixar para que meus

lábios encontrassem os dele. Não o beijei, não da forma que ele desejava,

eu apenas rocei os meus lábios nos dele, provocando-o. Ele continuava a


deslizar a palma pela lateral do meu seio, aumentando a minha própria

agonia.

Quando Edgar abriu a boca, sem nenhum pudor, segurei uma mecha

de cabelo dele com mais pressão e lambi os lábios macios, fazendo com que

ele me olhasse com mais intensidade, a mão finalmente agarrando o meu

peito. A palma roçando no bico excitado fez com que eu me retorcesse no

colo dele, sentindo uma ardência no meu sexo, que ficava úmido.

— Me beija logo, Thais — grunhiu, quando continuei a contornar a

boca dele, dando atenção a cada pedaço, atiçando-o, mesmo que o feitiço

estivesse virando cada vez mais contra mim, que precisava dele. — Que se
foda-se!

Com um movimento súbito, a mão livre segurou a minha nuca com

posse e eu abri um pouco a boca com a surpresa. O leve entreabrir foi o

suficiente para que a língua dele me invadisse, tomando o que ele queria.

Diferente da pressa com que ele me tomou, da fome que havia nos

olhos dele e que me mantinha cativa, o beijo era terno, moroso, e eu me

entreguei ao dançar lento e prazeroso das línguas.

Gemi baixinho, me deixando envolver pelo gosto, pelas salivas que

se mesclavam, pela pressão dos lábios que deslizavam sobre os meus.

Com o beijo, tentava afastar todos os demônios que o

atormentavam, mas sabia que eu não tinha esse poder e nunca teria. Ainda
assim, entreguei tudo o que eu era para ele, dando o meu corpo, minha

emoção, fazendo amor com a boca dele, passando a acariciar a linha dos

ombros.

Edgar arfou, imprimindo aos lábios e língua mais velocidade,

apertando o meu seio quando fiz carinho na parte de trás do pescoço dele.

O contato mais bruto enviou um choque de prazer no meu centro e

me joguei naquela sensação forte, me sentindo incapaz de não fazer outra

coisa a não ser beijá-lo enquanto me esfregava nele, quase que cavalgando

em suas coxas, buscando o alívio para o latejar incessante no meio das

minhas pernas.

Os olhos dele ficaram mais escuros e, com um suspiro visceral,

acabamos perdendo o controle de nós mesmos. O beijo se tornou voraz, as

línguas se enroscavam com fervor, os lábios demandando redenção,

enquanto os toques buscavam deixar o outro mais louco, a gentileza que eu

havia pedido sendo esquecida em algum lugar.

Ergueu o meu seio apenas para esmagá-lo. Eu senti que me

desmanchava nos braços dele, meus movimentos ficando lentos ainda que

ele exigisse que eu continuasse a corresponder ao beijo com o mesmo


fervor. Tentei, mas a massagem que Edgar fazia no meu peito, a luxúria dele

e os sons baixos que minha boca e a dele faziam tornava impossível de

continuar.
— Edgar — sussurrei, perdida, prendendo alguns fios dos cabelos

dele em meus dedos e puxando-os ao deixar a minha boca e ir trilhando

uma série de beijos pela minha mandíbula.

— Caralho! — rosnou ao deixar um beijinho na parte de trás da

minha orelha, me fazendo estremecer.

Senti uma sensação estranha se acumulando no meu abdômen

quando encostou o nariz na minha pele e inspirou fundo.

— Cheirosa! — Puxou o ar novamente.


— Hummm. Gosta?

— Porra, seria um louco se não gostasse, como não gostar de


algodão doce?

Me contorci ao ganhar vários beijinhos naquela região sensível.


Choraminguei quando a mão dele deixou o meu seio para percorrer o meu

abdômen.
Suspirei.

— Não duvido que esteja usando isso só pra me provocar. Algodão


doce só perde para os confeitos de chocolate! — sussurrou, divertido, antes

dos lábios dele voltarem a correr pela minha pele, deixando uma trilha
úmida.
— Eu tenho certeza que não, Edgar — minha voz soou rouca.
— Deveria dizer que sim, mulher má! Que você só está usando para
mim. — Ergueu um pouco o rosto para me encarar.

— Muda alguma coisa?


— Gosto de ser agradado.

— Sei… — Criei coragem para “agradá-lo”, levando a minha mão


ao cós da calça social dele. — Gosta assim?

— Sim — sussurrou quando toquei a ereção dele. — Porra!


Não precisei de mais incentivo para continuar tocando-o do que os
gemidos baixos que Edgar emitia.

Ainda que meus movimentos fossem limitados pelo confinamento


da calça, percorri todo o volume lentamente, sentindo um prazer intenso por

explorá-lo.
O desejo era tão forte que os músculos da minha boceta se

contraíram em uma resposta dolorosa, e senti que fiquei muito úmida,


excitação que conheceu um outro patamar quando, sussurrando mais um

palavrão, Edgar beijou todo o meu pescoço, passando a alternar sucções e


mordidas na minha pele que estava toda arrepiada com o contato da barba

dele.
Concentrar em tocar a ereção dele se tornou difícil com o homem

me devorando com os lábios e com as mãos, que pareciam estar em todas as


partes do meu corpo, percorrendo as minhas costas, a lateral dos meus
seios, a cintura. Desisti das carícias, me entregando a Edgar para o que
quisesse fazer do meu corpo. E ele fez.

Acariciando as minhas costas por cima da camisola, os lábios dele


voltaram a encontrar os meus em um beijo desesperado que me deixava

mais viva e sedenta por ele.


Me peguei tocando-o de volta de forma muito descoordenada,

apalpando-o sobre as roupas, o que arrancou um som mais rouco quando


resvalei meus dedos no pau dele.

Sem deixar de encarar um ao outro, me dando a sensação de que


ficávamos mais conectados, um beijo seguiu-se de vários outros. Uns eram

mais quentes, digno dos filmes que adorava assistir, outros mais ternos e
doces, temperados com selinhos que deixavam tudo muito mais especial.

Por mais que meu corpo estivesse em chamas e meu sexo latejasse,
eu não me importava de ele continuar a me dar aqueles beijinhos suaves,

mas Edgar, cada vez mais rígido, parecia não concordar comigo.
A boca e a língua estavam afoitas pela minha e ele roubou meu
fôlego quando passou a acariciar minha pele com os lábios. Em meio a

gemidos, ele beijava, sugava, raspava os dentes nas zonas erógenas do meu
pescoço, descendo o rosto cada vez mais.

Estava presa naquelas sensações, mas tudo pareceu evaporar quando


ele começou a baixar uma alça da camisola, para expor um dos meus seios e
poder beijar a região do meu esterno.

Um lampejo de consciência sobre a minha aparência me atingiu, me


deixando insegura e tensa. Diferente de mim, ele era tão perfeito, todo

sarado, e eu… Edgar poderia ter algo melhor.


Parou de me beijar ao sentir a tensão do meu corpo que não pude

controlar.
— Thais? — A voz era rouca.
Ergueu o rosto para me olhar quando não respondi e, diferente do

que imaginava, não encontrei frustração por parar, só preocupação.


— O que aconteceu? — perguntou.

— Nada.
Com um sorriso amarelo, me inclinei para beijá-lo outra vez,

retomando de onde havíamos parado, me sentindo uma idiota, mas ele não
me deixou continuar.

— Algo aconteceu, e preciso saber por que você ficou tensa. —


Estava sério.

— Bobagem.
— Não precisamos continuar se não quiser. Não quero que se sinta

obrigada só porque eu pedi.


— Não é isso, Edgar — brinquei com os cabelinhos da nuca dele,

me sentindo sem graça —, só não vale a pena dizer.


— Se está com medo da dor, não precisa perder sua virgindade hoje,

Thais — insistiu e os lábios dele se curvaram de forma maliciosa —, ficarei


feliz só de te chupar, gostosa.

Senti meu canal se contrair com força com a perspectiva de receber


o meu primeiro oral, e eu acabei me movendo no colo dele, fazendo com

que nós dois gemêssemos.


— Ou podemos ficar só nos beijos. — Acariciou o meu braço.

— Você passaria a noite só me beijando, Edgar? — perguntei, quase


suspirando com a onda de ternura que me invadiu.

— Se você quiser, sim. Mas se eu me comportar como um


adolescente, a culpa será sua. — Deu de ombros.

— Hey! Olha a pressão!


— Sou eu quem acabará gozando nas calças só com os seus beijos,

Malévola.
Fez uma careta e eu acabei rindo, meio abobada.
— Hum. — Gemi, deixando um beijinho nos lábios dele. — Que

terrível, Edgar!
— Muito. Te excita?

— Sim — respondi a verdade, mesmo que eu morresse de vergonha.


— Interessante… — sussurrou, malicioso, antes de voltar a ficar

sério: — Então por que ficou tensa, Malévola?


— Não conseguirei fugir de você, não é?
— Não.

Suspirei, criando coragem, já que fui eu quem havia começado com


aquilo.
— Eu odeio o meu corpo, Edgar — confessei com a voz

estrangulada.
Um pesar enorme me preencheu por ter acabado de vez com o nosso

clima. Eu tive que conter a vontade de chorar que nem uma criança quando
ele não fez nada para me impedir de sair do seu colo dele e dar vários

passos para trás.


Capítulo vinte e quatro

Uma ruga enorme surgiu no meio da testa dele.

— Detesto a minha aparência — continuei a me justificar, dando


outro passo para trás. — Acho essas marcas de espinhas horríveis e você

estava beijando todas elas!


— Thais...

— E essas coisas inexistentes? — Levei a mão aos meus seios,

erguendo-os, e, diferente do de Edgar, o meu toque não produziu nada em


mim.

— Eles são perfeitos, caralho! — grunhiu.

— Conta outra!
— Pensando bem, eles podem ficar mais perfeitos!
— Tá vendo? — Cruzando os braços na frente do corpo, tentei

escondê-los.

— Falta minha boca neles!

— Edgar! — Dei um gritinho, já que as palavras dele me deixaram

mais febril.
Ele se levantou da cama e se aproximou de mim. Parou na minha

frente, carrancudo, e olhou para os meus peitos inexistentes.

— Vou chupar os dois até que você esqueça a merda de problema

que você acha que eles têm.

Abri e fechei a boca para dizer alguma coisa, mas não consegui
pronunciar nada, não quando ele roçou as pontas dos dedos por um dos

meus seios. O desejo me percorreu de cima a baixo e eu sufoquei um

gemido.

— Eles são lindos do jeito que são, porra! São pequenos,

empinados...! — Ofegou. — Merda! Você não precisa de silicone, eles são

perfeitos, Thais!

— Eu…
— E a sua pele… — continuou, os dedos subindo em direção a

minha clavícula — ela é tão macia... tão cheirosa...

— E cheia de marcas de espinhas... — Tentei fazer uma careta, mas

um suspiro me deixou ao sentir o dedilhar suave dele.


— E o que que tem isso? Sou cheio de desenhos.

— Tatuagens são diferentes!

— Algumas são malfeitas…

— Olhe para você, Edgar! Quem vai reparar nisso quando você é o

senhor gostosão em pessoa?

— Sou gostosão? — Deu um sorriso malicioso.


— Sabe que sim! — Revirei os olhos.

— Gosto de ouvir você dizendo isso, mas não estamos falando de

mim, e sim de você. — Tornou a ficar sério. — É uma mulher linda, Thais!

— Não sou do seu nível.

— Nível? — Franziu o cenho. — Que merda é essa que está

falando?

Perdi o fôlego quando beliscou suavemente o bico do meu seio.

Rocei as pernas uma na outra, me sentindo mais molhada.

— Thais?

— Sua mãe e o namorado dela tem razão, Edgar, pode encontrar


coisa melhor por aí — forcei-me a dizer.

— Puta que pariu! — rosnou, e me surpreendendo, ele segurou o

meu pescoço, mas com gentileza, me obrigando a olhar para ele. — O que

eles pensam pouco me importa, Malévola, ainda mais aquele gigolô de


merda! Sou a porra de um homem feito e não um filhinho comandado pela

mamãe! Eu tomo minhas decisões, Thais.

Roçou o polegar pela minha garganta em uma carícia que me


excitou ainda mais, e lembrei do filme mais quente que havia assistido.

Achava que a personagem era doida por querer aquilo, mas a verdade era

loucura não querer.

— Não quis ofender, Edgar.

— Eu quero você!

Baixou o rosto e colou a testa na minha, o calor da respiração

entrecortada dele me encontrando.

— Eu desejo você desde o momento em que te vi pela primeira vez.

Não sabe o quanto quis tirar o seu biquíni e ter você na piscina do meu

melhor amigo, ou em qualquer outro lugar daquela casa.

Meu coração disparou, tanto que eu imaginei que acabaria tendo um

troço.

— Eu me imaginei fazendo isso várias vezes, e eu vou para o

inferno, porque também desejei te ter dentro de uma igreja. Eu babo por

você e não é metaforicamente, Thais. Se enfiar a mão nas minhas calças,

verá que não estou brincando quando digo que estou ficando melado…

Interrompeu o discurso sujo e igualmente doce ao encostar os lábios


nos meus, me dando um beijo suave, enquanto olhava no fundo dos meus
olhos. Vi frustração, vi desejo, vi ternura, vi um homem disposto a se

entregar para mim.

— Você, só você, faz isso comigo, porra! — sussurrou, meio

desesperado. — Quer colocar uma droga de silicone nos peitos? Eu pago se

isso te fizer se sentir melhor consigo mesma.

— Edgar! — murmurei, chocada, já que podia ver que ele não

estava brincando ao falar que pagaria o implante.

— Mas coloque nessa sua cabeça que você se achando bonita ou

não, você tendo marcas de espinha ou não, você estar coberta por um

moletom ou a porra de um biquíni, ou se tiver um par de seios falsos, o seu


corpo sempre me deixará duro pra caralho!

Dei um gritinho surpreso ao sentir o braço forte de Edgar me

envolver e me puxar na direção do corpo rígido. Acabei suspirando ao ter a

ereção pressionada contra o meu abdômen, mas não tive tempo de dizer

algo, já que os lábios dele voltaram a tomar os meus em um beijo quente.

O beijo era brusco e o toque na minha coluna era firme, me

mantendo quase fundida ao corpo dele. A língua exigente saqueava a

minha, como se quisesse me convencer com o gesto de que eu era tudo o

que ele havia falado. Estava cada vez mais mole e ofegante, e Edgar

terminou de me dominar quando enrolou as minhas box-braids em uma

mão e fez com que eu tombasse um pouco a minha cabeça, ganhando um


novo acesso a minha boca. Por instinto, me apoiei nos ombros dele, e

continuei a retribuir o beijo, até que o fôlego me deixasse.

Afrouxando o aperto do braço, respirou fundo enquanto deixava

uma mordida no meu queixo e começou a baixar a boca. Eu me contorcia

ao sentir a umidade dos lábios dele contra a minha garganta, não

conseguindo conter os suspiros. O arranhar da barba era uma espécie de

afrodisíaco no meu corpo, e eu fiquei consciente de cada contração forte no

meio das minhas pernas.

No momento em que alcançou o ossinho da minha clavícula, fechei

os olhos e tentei não pensar em nada que não fosse a sensação da língua

dele deslizando pela minha pele, do calor da palma dele que tornava a tentar

a baixar a alcinha da camisola.

De alguma forma, os gemidos que ele emitia ao fazer amor com a

minha pele tornou possível esquecer temporariamente tudo o que detestava

em mim. Aos poucos, ele me dava confiança, tanta que eu me peguei o

ajudando a remover minha roupa, passando um dos meus braços pela alça,

depois o outro.

Traguei saliva quando o tecido se acumulou nos meus quadris,


expondo todo o meu tronco, mas o olhar apreciativo impediu-me de tentar

me esconder dele.
Ele segurou os meus seios, que pareceram ficar mais pesados contra

suas palmas, e o contato de pele contra pele causou-me arrepios. Os

gemidos foram inevitáveis perante a carícia suave e provocante que o

polegar fazia na minha auréola.

— Olhe para mim, gostosa — ordenou, pairando sobre o bico do

meu seio, que eu acabei empinando na direção dele. — Veja o quanto seu

seio é perfeito para o seu homem.

Abri um pouco os olhos e vi o desejo palpável dele ao brincar com


aquela parte do meu corpo, excitando-a ao ponto de eu choramingar por

algo que eu desconhecia.


O olhar e o sorriso malicioso me deixaram de pernas bambas, e

fiquei ainda mais mole no momento em que os lábios dele substituíram as


mãos. Edgar percorreu lentamente toda a parte de baixo dos meus seios,

tornando-os muito mais sensíveis pelo calor e umidade da língua.


Forçando a me manter de olhos abertos, suspirei várias vezes

enquanto as lambidas subiam pelos meus seios em uma velocidade


torturante, parecendo se dedicar a cada célula daquela região, aumentando a

urgência no meio das minhas pernas.


— Edgar! — falei baixinho o nome dele, pedindo por mais.
Segurei o tecido da camisa no momento em que, esfregando um dos

meus mamilos com a palma da mão, os lábios dele se fecharam no bico


túrgido e ele começou a sugar aquele ponto como se fosse uma iguaria.
Grunhiu, excitado, e eu não precisei de mais nada para que eu

ficasse presa em uma espiral violenta indo rumo ao desconhecido.


Não tinha consciência de nada que não fosse a pressão e a

velocidade com que me chupava, das comichões que Edgar provocava no


meu baixo-ventre. Soprando a auréola, o ar quente encontrando a umidade

da saliva dele, fazia com que me espichasse com um espasmo e segurasse a


camisa dele com mais força.
Estava ciente do toque ora gentis, ora famintos, que percorriam

também o meu abdômen e meus quadris. As carícias que eu fazia na parte


de trás do pescoço dele em retribuição o fazia gemer ainda mais, mas era o

olhar de Edgar, que não me deixou por um momento, que me fez sentir
linda e me emocionou de uma forma inexplicável. Não tive dúvidas de que

fazer dele o meu primeiro em tudo era uma decisão mais do que acertada.
Eu não me arrependeria.

Com um suspiro rouco, os lábios deixaram o meu seio e tornaram a


subir, até que as bocas voltaram a se encontrar.

Em meio ao beijo, desceu as mãos em direção ao tecido embolado


em minha cintura e começou a forçá-lo para baixo, passando a camisola

pelos meus quadris.


O toque me avivou novamente. Assim que a peça foi ao chão,
passou um braço pelas minhas costas e outros pelos meus joelhos.

— Envolva meu pescoço, Thais — sussurrou na minha orelha,


mordiscando o lóbulo.

Fiz o que ele pediu e ele me tirou do chão com facilidade. Foram
poucos passos até a cama, mas eu achei extremamente romântico ele me

carregar no colo e me deitar no centro do colchão com suavidade.


Colocando-se de lado, analisou lentamente cada pedacinho de pele

exposta, a respiração dele ficando mais ruidosa.


— Caralho! Fica uma tremenda gostosa na minha cama. — As

gemas dos dedos acariciaram o meu seio, que praticamente sumia quando
eu estava deitada.

— Só na sua cama, Edgar? — Fiz um biquinho.


— Especialmente na minha cama — espalmou a mão no meu

abdômen.
Ao aplicar uma pressão deliciosa, acabei dobrando as minhas pernas
com a contração forte no meu baixo-ventre. Gemi ao roçar minhas coxas

uma na outra, buscando diminuir aquele ardor doloroso.


— Porra! Você vai me foder desse jeito! — grunhiu, deslizando a

mão até encontrar o meu sexo. — E que caralho de calcinha sexy é essa?
Passou o dedo pelo elástico verde-água que contrastava com os

pequenos bordados no tecido na cor cobre.


— Você quem pagou por essa e por várias outras bem menores.

Acabei gostando de usar — forcei-me a dizer.


— Isso que eu chamo de um bom investimento! — sussurrou, cheio

de malícia, e deu uma risada rouca, que morreu no momento em que ele
encostou no tecido e sentiu a umidade. — Porra! Você está encharcada!
— Hum… — Gemi, esticando todo o meu corpo como se eu fosse

uma gatinha quando o dedo dele roçou na minha fenda.


— Caralho! — rosnou, continuando a me acariciar por cima da

calcinha.
No momento em que encontrou o ponto latejante, eu senti que

entrava em combustão. Me remexi, inquieta, presa na sensação de ter Edgar


me acariciando ali, mas tudo parou e ele afastou a mão, deixando um latejar

incômodo.
— Edgar! — gritei, observando-o rolar da cama e se pôr de pé.

— Estou vestido demais, não acha? — falou com diversão.


Olhando para o meu corpo, começou a remover os botões das casas

com uma lentidão enervante.


— Sim… — sussurrei, ao ver os músculos do abdômen definido que

ele havia desnudado.


Riu da minha cara, mas não dei importância, não quando estava

vidrada na fina camada de suor que já cobria a pele dele, ressaltando ainda
mais os desenhos que tinha feito no corpo.

Jogou a camisa no chão como se fosse um trapo e, com um sorriso


malicioso, sabendo que tinha toda a minha atenção, passou a mão pelo

abdômen.
Assisti cada carícia lenta que ele fazia em si mesmo, hipnotizada,

enquanto meu sexo reagia com força a isso,


Dois poderiam jogar aquele jogo, então, sem dizer uma palavra,

mesmo que a vergonha me tomasse, levei meus dedos ao elástico da


calcinha e, rebolando, comecei a remover a peça.

Edgar parou o que fazia para me assistir. Outra vez me senti linda,
com aquele olhar penetrante que não perdia um movimento que eu fazia.

Encorajada, ao terminar de remover a peça, mordi meus lábios e joguei a


calcinha nele em um convite claro. Não me decepcionei com ele quando
pegou a peça e a levou ao nariz.

Esfreguei minhas coxas uma na outra de novo.


— Delícia — sussurrou depois de inspirar outra vez o meu cheiro, e

deixou a peça cair.


Sem deixar de me olhar, levou a mão à calça. Desabotoou-a, baixou

o zíper e, com um puxão, removeu a calça junto com a cueca.


Minha boca ficou seca ao olhar para o pau mais do que pronto para
mim.

O meu desejo por Edgar não conhecia limites, ele vinha da minha
parte primitiva, e, mesmo em minha inexperiência, me peguei imaginando
como seria acariciá-lo, como seria tomá-lo em minha boca e dar prazer a

ele.
— Você fez essa porra! Então nunca duvide do quão gostosa é —

murmurou com a voz rouca, e sem vergonha nenhuma, caminhou em


direção ao móvel de cabeceira.

Enquanto mexia na gaveta, imaginava que procurando a camisinha,


admirei as costas largas com algumas tatuagens tribais e pintinhas

espalhadas, deixando meu olhar recair na bunda quadrada que era bonita.
— Pensei que não iria achar essa porra nunca — resmungou e, se

virando para mim, o vi ele rasgar o lacre.


Querendo aprender como se fazia, observei Edgar rodear o próprio

pau e segurando o látex pela ponta, deslizando em seguida a borracha pela


ereção.

— Me toque, Thais — sussurrou ao deitar ao meu lado na cama


colocando uma trança minha atrás da orelha. — Eu preciso da sua pele na

minha. Eu preciso de você!


Ao ouvi-lo dizer “eu preciso de você” mais uma vez me deu a
sensação de que fiz a coisa certa de permanecer ali com ele.

Disposta a dar toda a ternura que ele me pedia, deslizei uma mão
pelo pescoço dele, subindo e descendo suavemente, ouvindo-o arfar

baixinho ao meu toque, e percebi várias emoções cruzarem o rosto bonito.


Não tinha nenhuma pressa, então saí do pescoço e passei a dedilhar

toda a lombar, e quando alcancei o cóccix, tornei a subir, acariciando os


músculos que iam se contraindo. Alcancei o ombro definido e,

contornando-os, desci pelo peitoral, sentindo o coração dele bater forte


contra os meus dedos, enquanto com a mão livre entrelacei os fios de seu

cabelo e o beijei.
Tudo parecia diferente dessa vez, tanto o gosto quanto o cheiro e as

carícias que ele passou a fazer no meu corpo. O desejo ainda era puro fogo,
mas havia algo a mais. Tudo era melhor, mais gostoso, mais significativo.
Os suspiros eram mais altos, síncronos, formando uma música só.
Nós dois éramos capazes de nos comunicarmos apenas com os

olhos. Nossa troca era muito mais intensa.


Tinha a impressão de que tocava não só o corpo dele, mas muito
mais fundo, eu alcançava sua alma.
Edgar parecia ficar impregnado em mim. Ele me marcava, me

libertava de formas que nunca imaginei.


Deslizei minha mão pelo abdômen dele, sentindo os gominhos se
contraírem. Subi e desci, mapeando cada pedaço do tronco, dedilhando suas

costelas cobertas por desenhos, fazendo com que ele estremecesse.


— Toque-me — pediu com rouquidão quando depois de trilhar todo
o caminho até a garganta dele, o fitei com os olhos ainda mais escuros.
— Posso tirar a camisinha?
— Sim, eu coloco outra depois, mas, porra, me toque logo, Thais…

Com o coração aos saltos, sem nenhum pudor, fiz o que ele pediu.
Segurando a base do pênis dele, comecei a remover o látex, os meus
movimentos fazendo com que ele emitisse sons incoerentes.
— Isso — ronronou, quando finalmente desencapei o pau dele e

toquei diretamente a carne, conhecendo a textura aveludada, a extensão, a


ânsia dele por mim. — Porra, deusa!
Meu coração pulsou forte. Borboletas pareceram surgir no meu
estômago, provocando cócegas ao ter Edgar me chamando assim. Uma

única palavra, sussurrada em meio ao prazer, e ele me fez sentir poderosa.


Tive muito mais poder quando seu pau latejou entre os meus dedos,
endurecendo ainda mais com as minhas carícias lentas. Semicerrou as
pálpebras em êxtase, impulsionando os quadris na minha direção e eu

acabei sussurrando o nome dele.


Edgar me deu um sorriso safado que fez com que o desejo dele se
tornasse o meu. Cada movimento que ele fazia para roçar em meus dedos

enviava um impulso para o meu canal, cada vez mais contraído e úmido.
Arfou quando deslizei meu indicador pela pequena fenda onde um
líquido já saía, molhando a ponta do meu dedo.
— Bom? — Continuei a brincar com a glande, excitando-o ainda

mais.
Gemeu, ou eu gemi, ou talvez os dois, quando deslizei minha mão e,
ao alcançar a base, rodeei o pau dele e dei uma leve apertada que o fez
estocar contra a minha mão.

Repeti uma, duas vezes e recebi a mesma reação visceral dele. Foi o
combustível para o meu desejo e o de Edgar inflamarem.
Enquanto subia e descia a mão pela extensão rígida, apertando
alguns pontos que faziam ele babar contra os meus dedos, Edgar se curvou
em direção ao meu pescoço e deixou uma mordida que me roubou o eixo e

me arrancou um som primitivo. Minha mão livre começou a tocá-lo de


forma descoordenada.
Continuei a masturbá-lo, alternando a pressão e a velocidade dos
meus movimentos, querendo enlouquecê-lo, desejando que chegasse ao

orgasmo, mas lentamente ele me dominava com os lábios, com os dentes,


com as lambidas que ele dava na lateral da minha garganta.
— Edgar! — dei um gritinho, cravando minhas unhas em sua

lombar quando de súbito ele me penetrou com um dedo.


Grunhiu e deixou um beijo no meu queixo, começando a mover o
dedo dentro de mim.
Juntos passamos a nos estimular, encontrando uma sintonia perfeita,
provocando um ao outro sem dar aquilo que realmente queríamos. A tensão

entre nós era cada vez mais palpável, irrefreável.


Balbuciei palavras desconexas, recebendo um pequeno mordiscar no
meu ombro em resposta. Senti a pressão que ele usava sobre o meu clitóris,
iniciando a fazer momentos lentos que me levaram à beira do limite, me

dominando por completo.


Minha punheta no pau dele se tornou mais frouxa, já que todos os
meus sentidos estavam no dedo que trabalhava no meu ponto de prazer,
brincando com minhas terminações nervosas.

Meu canal se expandia e fechava, e eu desejei que ele me


preenchesse, mas não com o dedo. O ar parecia não encher meu pulmão,
gotas de suor percorriam a minha coluna. Minha visão ficava mais
desfocada a cada círculo que ele traçava enquanto eu arqueava meus

quadris contra a mão dele, seguindo os meus instintos mais primitivos.


Egoísta, eu passei apenas a receber o prazer que ele me
proporcionava a cada roçar. Edgar pareceu não se importar com a minha
interrupção. Estava focado em beijar cada pedaço da minha pele, em

arranhá-la, em oferecer mais atrito naquele ponto, deixando um ardor


intenso enquanto a mão livre percorria o meu braço.
— Edgar! — murmurei, pedindo pela explosão que se aproximava,
e inconscientemente, coloquei minha mão sobre a dele, temendo que ele

parasse subitamente.
— Sim, deusa — sussurrou contra a minha pele.
Manteve aquela constância, ao passo que os lábios deslizaram em
direção ao meu peito. Empinei, me oferecendo para ele, e Edgar não me

decepcionou. Sentindo o olhar dele sobre mim, encarei-o e o vi traçar com a


língua o mamilo, tirando-me um gemido baixo.
No momento em que a boca habilidosa se fechou sobre o meu bico,
Edgar pressionou o meu clitóris com mais força. Minha resposta foi me
esticar contra os lençóis, movendo minhas pernas. Buscava por ar.

Não tive tempo para me recuperar, já que, inserindo mais um dedo


dentro de mim, ele encontrou outro ponto prazeroso que foi a minha
completa redenção.
— Edgar — sussurrei, perdida, meu corpo cada vez mais vivo e em

chamas.
Fechei os olhos e me deixei levar pelas sensações provocadas pela
sucção no meu mamilo, que pareceu encontrar o mesmo ritmo que as
carícias que Edgar fazia dentro de mim.

Arranhando a mão dele que eu ainda segurava, mantendo-a na


minha boceta, bastou alguns movimentos feitos com os dois dedos sobre
meu clitóris para que eu me deixasse levar por aquela onda forte que
pareceu arrebatar todas as minhas forças.

O nome dele ficou entalado na minha garganta, minhas pálpebras


ficaram pesadas.
Edgar continuou a me tocar, a sugar meu mamilo com aquela
mesma sucção deliciosa, prolongando aquele torpor forte que tomava meus

membros, meus pensamentos, até que finalmente pronunciei o nome dele,


me movendo contra o colchão em um frenesi.
— Gostosa — abri os olhos quando o ouvi sussurrar isso,
Ele passou a deixar beijos os meus seios, como se os venerasse.

Reuni minhas forças para acariciar os cabelos úmidos dele e sorri.


Os minutos se passaram com lentidão, mas quando ele deixou um
beijinho em um dos bicos dos meus seios e parou de me tocar para buscar
outra camisinha, eu senti uma falta absurda dele.

Um suspiro me deixou quando ele voltou a se deitar no colchão e


vários outros quando o corpo dele pairou sobre o meu. Foi instintivo puxá-
lo para mim, mas Edgar permaneceu com os cotovelos apoiados, mantendo
uma distância.
— Tem certeza de que quer isso? — perguntou, roçando a ereção no
meu abdômen em uma espécie de espasmo.
Segurei o rosto dele com as duas mãos.
— Sim, eu quero sentir você dentro de mim — sussurrei, vendo um

brilho estranho cruzar o olhar dele. — Eu ainda preciso de você e você de


mim!
— Sim, preciso — falou com uma voz baixa.
Ergui o meu rosto de encontro ao dele e começamos outra vez

aquela dança lenta das bocas. Em meio ao beijo, senti que o peso do corpo
dele finalmente cobria o meu e uma mão segurava as minhas coxas, me
abrindo para ele.
Uma mistura de tensão e excitação me varreu. Tentei focar nos
lábios doces que faziam mais uma vez amor comigo, no olhar penetrante e

na pele suada e escorregadia que passei a tocar. Devemos ter ficado um


bom tempo nos beijando, nos sentindo, mas acabei falhando na minha
tentativa de esquecer o que estava por vir.
— Eu quero, Edgar — sussurrei quando vi a hesitação dele.

Ele tornou a me beijar, dessa vez, a língua mergulhando fundo, para


depois enroscar na minha com urgência.
Fiquei instantaneamente rígida quando, ajeitando o pau na minha
entrada, ele me penetrou lentamente. A invasão da cabeça foi incômoda,
mas no momento em que jogou um pouco os quadris para trás e
impulsionou para frente e rasgou a membrana frágil, a dor foi dilaceradora.
Meus dedos eram como garras na pele dele, machucando-o da
mesma forma que ele me machucava. Senti meu canal se apertar com força

em torno do pau dele, como se quisesse repeli-lo. Edgar gemeu, apesar da


tensão que tomava o corpo dele.
Me movi tentando parar aquela dor, mas ele segurou-me pelos
quadris, me mantendo quieta enquanto fazia de tudo para ficar parado

também, deixando que eu me acostumasse ao tamanho dele.


— Fique calma. — Um beijinho marcou a minha testa, seguido de
vários outros, parando quando meus músculos se fecharam sobre o pênis
dele. — Caralho, você é muito gostosa!

— Sério?
— Mu-i-to — respondeu em meio a beijocas, os dedos dele
entrelaçando aos meus.
Apesar da dor, acabei sorrindo.

— Perfeita... Quente!
Continuou a me distrair com beijinhos e elogios. Lentamente, ele se
retirou um pouco, antes de prosseguir com pequenas estocadas.
A dor era muito incômoda, mais do que sequer eu poderia imaginar.
A cada invasão, ainda que algo pulsasse no meu sexo, eu me sentia
sendo rasgada ao meio. Com uma paciência que me emocionava e que não
imaginava que ele fosse capaz de ter, ele se movimentava sem pressa, sem

deixar de me olhar nos olhos, querendo ter a certeza que eu estava bem.
Devagar, acabei me acostumando à cadência que ele impunha e que
eu via que ele se esforçava para manter.
Me sentindo mais conectada a aquele homem e querendo cumprir
minha promessa de fazê-lo esquecer tudo, pelo menos por essa noite, passei

a língua pelos lábios antes de saquear a boca ávida pela minha.


Grunhiu baixinho e retribuiu, jogando para trás um pouco a pelve
antes de arremeter um pouco mais fundo dentro de mim.
Ignorando a dor, passei a mover os meus quadris em direção aos

dele, querendo que ele aumentasse o ritmo das estocadas.


Suspirando, removeu-se alguns centímetros, apenas para voltar a me
invadir. Um som rouco me deixou. Era um misto de dor e prazer ao ter
meus músculos se esticando para acomodá-lo.

Vi a tensão tomar conta dele, então o incentivei.


— Está tudo bem — sussurrei, ondulando meu quadril em direção
ao dele, retomando os movimentos, obrigando-o a me acompanhar.
Deixei vários beijinhos na face dele, tentando relaxá-lo. Ele

respirava entrecortado, indo e voltando para dentro do meu canal, insistindo


naquela dança lenta. Uma onda de ternura me invadiu por Edgar ser tão
carinhoso comigo, por pensar tanto em mim, e eu senti vontade de chorar.
Deus! Se eu chorasse agora, com certeza ele me acharia patética e

eu acabaria com tudo. Me concentrei em rebolar, tomando-o mais fundo,


suspirando quando o pau roçou naquele ponto sensível.
— Porra! — Arfou. Quando tentei agarrá-lo dentro de mim, uma
gota de suor dele escorreu pelo meu corpo. — Eu não consigo mais me

segurar…
— Se entregue para mim... — pedi, levantando minhas ancas do
colchão.
— Caralho! — Com um rosnar baixo, voltou a capturar os meus

lábios com urgência enquanto passava a mover os quadris com mais afinco.
Nossos corpos passaram a se mover em sincronia, se buscando de
forma incessante.
A cada estocada, o pau dele latejava dentro de mim. O barulho das

nossas pélvis se chocando juntavam-se aos gemidos. O peitoral firme dele,


que se movia rapidamente, oferecia um atrito delicioso aos bicos dos meus
seios excitados, o que reverberava diretamente no ponto em que os nossos
corpos se encontravam.
O suor fazia deslizarmos um contra o outro, nos encaixando de

forma perfeita. Pensar que éramos um só corpo fez com que várias ondas de
prazer se espalhassem pela minha espinha, diminuindo o incômodo.
Edgar gemeu alto, perdendo finalmente o controle, bombeando com

força para dentro de mim, em uma velocidade cada vez mais difícil de
acompanhar.
Continuei a recebê-lo dentro de mim, a ser devorada pela boca, a ter
os olhos fixos nos meus, até que, segurando minhas mãos com mais força,
prendeu-as contra o colchão. Impulsionou os quadris para trás antes de me

penetrar com um tranco firme, alcançando bem fundo. Repetindo a mesma


pressão algumas vezes, jogou a cabeça para trás e um som rouco deixando
sua garganta quando dava uma última bombeada forte que fez meu canal
contrair, prendendo-o.

Estremeci com a força do ápice dele, o cheiro pungente infiltrando


as minhas narinas. Ainda dentro de mim, pulsando, Edgar deixou que todo
o peso do corpo caísse sobre o meu, e as bocas se encontraram naquela
junção perfeita que era pura entrega.

Suspirei, tomando para mim o som baixo que escapou dele.


Minha primeira vez foi bastante diferente do que eu imaginei, bem
mais dolorida, mas, de alguma forma, soube que não poderia ter sido mais
perfeita.

Euforia borbulhou no meu abdômen e foi a minha vez de apertar as


mãos dele, que permaneciam entrelaçadas com as minhas, quase que um
símbolo da nossa união, mas todos os meus devaneios românticos e tolos se
tornaram pó ao ouvir as palavras que Edgar proferiu a seguir…
Capítulo vinte e cinco

Deixando o meu corpo cair sobre o dela, ciente de que eu

praticamente amassava-a com o meu peso, continuei a mergulhar minha


língua na boca gostosa, tentando prolongar as sensações letárgicas que se

espalhavam pelo meu corpo.

Cada músculo meu estava cansado pela tensão e esforço de conter


meus impulsos e ser gentil com ela, já que Thais era um poço de

insegurança, mesmo que ela fosse linda pra caralho, e era sua primeira vez.

Tentei fazer com que fosse bom para ela da mesma forma que era
para mim, mas falhei, porque deixei-me levar pelas palavras compreensivas

que me libertavam das amarras invisíveis que o bom senso impunha.


Não me orgulhava do meu egoísmo, mas disse a mim mesmo que

faria de tudo para recompensá-la daqui a pouco.

Caralho!

Não conseguia recordar se alguma vez um único beijo, um único

toque, um único olhar tinha sido capaz de me arruinar. Não sabia se alguma
vez fui capaz de conseguir esquecer de tudo, até mesmo do meu nome, nos

braços de alguém. Não lembrava se eu havia tido um orgasmo tão forte

quanto eu tive ao estar dentro de Thais. O que eu sabia era que nunca havia

pedido alguém para ficar comigo, quase que implorando.

Nunca fiquei tão vulnerável, tão exposto, tão inseguro na vida.


Nunca um sim me deixou tão eufórico. Nunca precisei tanto de alguém

como necessitei da mulher embaixo de mim. Nunca me entreguei daquela

forma e recebi tanto em troca, mais do que eu poderia sequer imaginar.

Nunca fiquei tão conectado a alguém, como eu estava ligado a ela. Nunca

meu coração ficou tão disparado.

Eu sabia que eu e ela havíamos feito amor e…

Cortei a droga de pensamento.


Amor?

Porra!

De onde havia surgido aquela balela ridícula de que os nossos

corpos estiveram envolvidos em algo metafísico? De que ela havia tocado a


minha alma?

Imprimi as bocas um ritmo mais intenso, sedento, como se buscasse

me convencer de que era apenas físico, que era só desejo, e que não havia

nada de amor, carinho ou ternura. Essas eram coisas que eu não queria.

Mentia para mim mesmo ao dizer que o que tivemos não foi

especial, que eu não queria as sensações que ela me proporcionava e me


tornava completo, que o ardor que eu senti assim que eu pousei os olhos

nela não tinha nada a ver com a história de amor à primeira vista do meu

avô.

Eu não tinha uma escolhida. Eu não ia ter o meu destino escrito e

selado nas estrelas.

Não era nada fácil, mas, mesmo assim, tentava colocar isso na

merda da minha cabeça. Eu precisava me proteger. Precisava!

— Porra! Foi só sexo! E é só isso que eu quero dela, caralho!

— Tudo bem, Edgar.

Ouvir essa resposta sussurrada me tirou do transe de pensamentos e,


confuso, eu encarei Thais.

A tristeza em seu semblante, que ela tentava disfarçar, me disse

tudo. Eu havia falado aquela merda em voz alta!

Fechei os olhos, sentindo uma raiva imensa tomar conta de mim.

Desgraçado!
Maldito mentiroso!

Parabéns Edgar, seu hipócrita. Odeia mentiras, mas mente para si

mesmo.
Caralho! Eu queria socar a porra da minha cara até que eu ficasse

irreconhecível.

— Saia de cima de mim, por favor — pediu.

Uma dor tomou o meu peito. O meu medo de sofrer, que me fazia

mentir para mim mesmo, não era nada se comparado aquela pontada

estranha. As mãos, que eu tanto havia apreciado ter acariciando o meu

corpo, me empurraram para que fizesse o que havia pedido.

— Inferno! — praguejei baixinho.

Sentindo o meu maxilar trincar com a raiva, só rolei para o lado para

não correr o risco da camisinha ficar presa dentro dela e causar uma merda

maior, já que todo o desejo tinha evaporado.

— Onde você vai, Malévola? — perguntei entredentes, dando um nó

no látex, ao vê-la sair da minha cama.

— Para o meu quarto. — Não processei a resposta dela, já que eu

me desconcentrei ao olhar para a bunda perfeita, que eu achava que não

havia tocado o suficiente.

Porra! Eu não tive Thais o suficiente.


Havia tanto que eu queria explorar, tanto lugar para beijar... A

realidade era que, por mais que eu tentasse me enganar, eu ainda precisava

dela com todo o meu ser. Eu precisava me aferrar a Thais como se ela fosse

o meu bote salva-vidas que iria me impedir de afundar, mas ela me

escapava... Ela fugia de mim, me deixando à deriva, e o único culpado era

eu mesmo.

A raiva voltada para mim era potente, banhava minhas veias.

Segurei a porra do lençol com força, apertando o tecido até que meus nós

dos dedos ficaram brancos. Desejava que fosse a minha garganta.

— Vamos conversar, Malévola — murmurei quando a vi pegar a


camisola no chão.

— Não temos o que conversar.

— Porra! É claro que temos! — Rolando no colchão, me pus de pé.

— Está tudo bem, Edgar. Não preciso que você se justifique para

mim. Eu entendo que foi só sexo. — Passou a camisola de qualquer jeito

pela cabeça.

Junto a raiva de mim mesmo, veio o amargor que nem o gosto da

mulher que ainda estava em minha boca foi capaz de adoçar.

— Isso não é verdade, caralho! — Me aproximei dela, segurando-a

pelo braço, mas com um safanão, ela recuou.

Podia me impor, mas eu só pioraria as coisas.


— Não precisa mentir para mim, Edgar. Você não gosta de mentiras,

lembra?

Ouvir aquilo foi como receber um soco na boca do estômago. Abri e

fechei a boca, querendo retrucar, mas as palavras pareciam me faltar.

— Eu fui uma válvula de escape, só isso.

— Porra, mulher! Você não é só isso para mim. Nunca foi.

A dor por ter ferido Thais daquela forma suplantou a raiva.

Caralho! Se eu pudesse voltar no tempo e calar a minha boca, eu

faria, mas não podia. Porra! Não podia!

— Então o que eu sou para você, Edgar? — Ergueu um pouco o

queixo, tentando uma bravata que me fez admirá-la.

Engoli o bolo que pareceu entalar na minha garganta, sufocando-me,

e eu odiei-me por não conseguir pronunciar aquilo que eu sentia em relação

a ela.

Por que eu era tão covarde?

Por que era tão difícil dizer que eu gostava dela?

— Não quer mentir outra vez, não é mesmo? — Balançou a cabeça

em negativa. — Posso entender.


— Caralho, Thais, não é isso….

— Não precisava ter mentido para mim, Edgar — me interrompeu e

eu desejei que ela gritasse comigo, não que usasse aquele tom baixo e
ferido. — Me fazer acreditar que eu sou a mulher mais linda do mundo, que

me desejava além do meu corpo, que você precisava de mim…

— Porra, mas você é linda, Malévola. Eu nunca menti para você…

— Só para mim mesmo…completei em pensamento.

— Tudo bem... — Deu um sorriso triste, deixando claro que não

acreditava em mim. — Mas sabe de uma coisa, Edgar? Se você tivesse dito

que só queria sexo comigo desde o início, eu teria dado o meu corpo a você

da mesma forma.
Eu não quero apenas o seu corpo, droga!

Por que aquela merda de frase era tão difícil de ser dita?
Porque você é um cagão de merda, que não consegue consertar as

coisas simplesmente contando a verdade!


— Teria sido menos cruel — murmurou.

— Thais…
— Sei que sou uma sonhadora, uma fã de comédias românticas

ridículas, mas é muita arrogância a sua pensar que só porque eu fui para
cama com você, que eu iria achar que nós ficaríamos juntos — continuou o

discurso dela, ignorando as minhas tentativas de falar.


Não me defendi da acusação, que não era completamente infundada,
porque estava preso a uma imagem que passou rapidamente por minha

cabeça, de acordar com Thais em meus braços, ela me dando um beijo de


bom dia. A ideia não era horrível como eu deveria achar, muito pelo
contrário, eu quis mais do que nunca que isso acontecesse, mas sabia que

era tarde demais.


Merda!

— Nunca tive ilusões de que você teria algum sentimento por mim
além da gratidão, Edgar…

Eu poderia criticá-la, em uma autodefesa, dizendo que para quem


não tinha ilusões, ela estava tendo uma reação passional demais, mas não o
fiz, eu só pioraria as coisas e seria mais babaca ainda. E quem era eu para

julgá-la? Se estivesse no lugar dela, eu teria explodido.


— Bem… — prosseguiu. — Também o desejo, sabe-se lá por quê.

Provavelmente por carência.


0— Eu gosto de você, caralho!

Passando a mão pelos meus cabelos, finalmente gritei a confissão


que estava entalada na minha garganta, movido pelo desespero. Queria que

ela me entendesse, mas a descrença nos olhos castanhos me machucou,


cortando profundamente não só a minha carne, mas também a alma que eu

dizia que ninguém iria alcançar.


— Talvez seja melhor assim. Nunca deveríamos ter ultrapassado os

limites entre patrão e funcionária — murmurou.


— Nunca fomos apenas patrão e funcionária, Thais, e você sabe
disso… — Mal reconheci a minha voz.

— Seria mais prudente que a partir de hoje agíssemos como tal —


deu um sorriso triste. — Passamos tempo demais juntos e isso não é

apropriado. Com o que você me paga, não terei problema de encontrar um


lugar próximo daqui para morar.

— O quê? — Meu coração errou uma batida, meu corpo sendo


tomado por um choque.

Balancei a cabeça, negando frenética e enlouquecidamente.


Não. Ela não estava pensando em…

Porra!
Ela não ia me deixar!

Ela não ia deixar os meus irmãos!


Thais não iria nos abandonar!

— Não posso continuar a morar aqui. — Confirmou aquilo que os


meus ouvidos não queriam assimilar.
Garras invisíveis pareciam segurar meu coração e espremê-lo com

força, até que sangrasse.


— Já superamos essa conversa dias atrás, Malévola. Você não vai a

lugar algum— fui arrogante, tentando me proteger daquela sensação de


abandono.
— Foi uma experiência que não deu certo, Edgar.

— Discordo. E isso não diz respeito apenas a nós dois. — Sabia que
estava sendo um filho da puta, mas não consegui parar: — E meus irmãos?

Porra! Você disse que gostava deles, Thais!


— Eu gosto, Edgar! Não menti sobre isso — sussurrou, passando

um braço em torno de si, mais ferida, mas eu também estava machucado.


— Por que então os está abandonando também? — Minha voz soou
rasgada.

— Não estou abandonando os gêmeos, Edgar, nem você. Não estou


deixando o meu emprego, apenas vou morar em outro lugar. Ainda vamos

nos divertir bastante juntos.


— O que eles vão pensar depois de hoje, merda? — Insisti, o medo

revirando as minhas entranhas. — Em um momento você está aqui,


participando de tudo da vida deles, no outro, se muda, deixando-os…

— Não torne as coisas mais difíceis para mim, Edgar, porque já está
bastante… — falou num tom mais alto, e eu vi fúria cintilar nos olhos dela.

— Então continue aqui — pedi.


Com eles.

Comigo.
— Não posso, Edgar. — Balançou a cabeça. — Estou apaixonada

por Jax e Spencer? Sim. Adoro tomar café da manhã e colocar os dois para
dormir? Sim. Mas não posso continuar a agir como se tivesse direito a isso,

de fazer parte de todos os momentos das vidinha deles, até mesmo daqueles
quando eles estão com você!

— Isso não precisa mudar — disse com suavidade, tentando ser


mais diplomático.

— Sabemos que, mais cedo ou mais tarde, eu precisarei tirar o


curativo, que a minha presença não será tão bem-vinda, não toda hora.

Franzi o cenho.
— Não será bem-vinda para quem?

A resposta dela foi um dar de ombros, e eu semicerrei os olhos,


quando a minha ficha caiu.

— Porra! — Aproximei dela. Mesmo que ela pudesse me repelir,


segurei o queixo dela, impedindo-a de desviar o olhar. — Como você pode

falar que eu vou transar com outra depois do que tivemos?


— Sexo é sexo. — Outro dar de ombros. — Sou substituível, afinal,
não temos nenhum compromisso.

— Caralho, Thais!
Senti raiva de mim mesmo por merecer ouvir aquelas palavras e

pela descrença nas feições dela.


Soltei-a, embora a minha vontade fosse de colar nossas bocas outra

vez, demonstrando o quanto ela era, sim, insubstituível, beijando Thais até
que ela se esquecesse da merda que eu havia feito.
— Você não querer nada comigo não significa que não pode

encontrar uma pessoa legal no futuro, que não possa se apaixonar e querer
que ela conviva com os seus irmãos.
— Isso não irá acontecer, Thais. — Senti o meu maxilar pulsar com

a tensão.
— Você não pode prever esse tipo de coisa, Edgar… — suspirou. —

Já será estranho eu permanecer aqui depois de tudo o que aconteceu hoje,


mas será mais desconfortável ainda se eu continuar a ser tão próxima de

vocês, mesmo que eu seja a babá dos gêmeos.


Quando ela terminou o discurso, vi certa tristeza cruzar os olhos

dela, algo que mexeu com todo o meu ser, me dando a certeza que eu estava
mais do que fodido.

Eu tinha feito um estrago enorme não apenas na minha vida e na dos


meus irmãos, mas na dela também, já que ela se privaria de tudo achando

que seria a melhor coisa a ser feita em prol de um relacionamento meu que
nunca existiria.

— Você não está apenas apaixonada pelos gêmeos, você os ama…


— Afirmei ao digerir aquela verdade, sendo tragado por várias emoções

intensas que me deixaram trêmulo.


— Eu gosto de crianças, sempre gostei, mas seus irmãos são
diferentes. Eles são tão falantes, tão inteligentes, quase não implicam um

com o outro, são carinhosos, educados, sempre têm um abraço e um beijo


para dar. É fácil amá-los, por mais que você diga que não, pelas

experiências ruins que teve com a sua mãe — confessou com ternura.
Fez uma pausa, parecendo emocionada, mas logo continuou:

— Por mais que as pessoas não possam acreditar nisso, nem você,
eu os amei desde quando os vi pela primeira vez.

Fechei os olhos, emitindo um suspiro longo que vinha de algo muito


mais profundo do que poderia explicar.

À primeira vista. Sempre tive horror a essa expressão. Na verdade,


era um medo forte. Conhecia bem a intensidade dessas palavras para negá-

la.
Se eu não tivesse crescido ouvindo a história dos meus avós, que
tinha sido quase um conto de fadas moderno, eu não duvidaria do amor à
primeira vista porque presenciei isso acontecer com o meu melhor amigo,

que se apaixonou pela sua sirena desde a primeira vez que a viu.
Essa porra existia.
— E é por amor aos dois que eu irei morar apenas por mais uma
semana aqui, Edgar. Nesse meio tempo, conseguiremos explicar que eu sou

uma funcionária, que preciso ir para a minha própria casa, mas que isso não
muda o amor e o carinho que eu tenho por eles, e que os beijos e abraços
irão continuar.

— Agradeço — obriguei-me a dizer, mesmo sentindo o meu


estômago revirar.
O embrulhar não era pelas conversas difíceis que teria com os
meninos, mas, sim, pela ausência dela, ausência que eu já sentia e que ficou
mais doída quando ela virou as costas para mim, caminhando até a porta,

para me deixar.
O som da chave girando na fechadura foi doloroso.
— Edgar? — murmurou, com a mão na maçaneta, parecendo
hesitar.

— Sim?
— Você não é o meu príncipe encantado e nunca será. Ele não
falaria tantos palavrões como você… — falou antes de abrir a porta e sair.
Assisti, atordoado, Thais passar pela soleira e fechar a porta com

suavidade atrás de si, colocando mais uma barreira entre nós.


— Puta que pariu! — grunhi.
Cerrei os punhos, me sentindo bastante irritado ao pensar nela com
um almofadinha de terno da moda, todo educado e meloso, um lorde. Um

príncipe ridículo que compraria rosas enormes, a levaria para jantar à luz de
velas, iria dizer um monte de balelas tolas e românticas, só para transar com
ela.

A raiva ficou ainda maior ao pensar em um cara idiota a tocando,


beijando, afagando, fazendo com que ela se contorcesse e gemesse o nome
dele.
— Caralho!

Me sentei na cama e desferi um soco no colchão, soltando um grito,


que felizmente foi abafado pelo isolamento acústico do meu quarto. Em um
ataque de fúria, imaginando um rosto masculino qualquer, dei outro soco,
mais outro, e logo imaginei que era a minha cara que eu desfigurava.

Continuei a socar e socar, extravasando toda a frustração que eu


sentia, até que o ar parecia queimar meus pulmões com o esforço físico. No
lugar da fúria, só restou um vazio incômodo, permeado por lembranças
agridoces do meu corpo contra o dela, dos beijos, do olhar de ternura, de
tudo aquilo que havia perdido. Meu peito doeu pra caralho, um nó se

formando na minha garganta.


Me sentindo oco, caminhei até o móvel próximo a cama e abri a
gaveta onde eu sabia que encontraria o que desejava, e tateei até achar o
porta-retrato.

Me sentei na beirada da cama e olhei para fotografia de baixa


qualidade com algumas marcas de queimado nas bordas da moldura. Era a
única foto dos meus avós que me havia restado, que eu tinha conseguido

resgatar das chamas. Todas as outras haviam sido queimadas pelo meu avô
quando ele achou que destruindo todos os registros do amor dos dois
espalhados pela casa, ele conseguiria mitigar a dor que sentia pela perda da
vovó.
Paixão à primeira vista que se tornou amor.

Toquei o vidro que protegia o papel frágil como se pudesse tocá-los


outra vez.
Era um amor que pulsava nos sorrisos e no modo em que olhavam
um para o outro, amor que sobreviveu ao preconceito dos pais dela, aos

problemas cotidianos, mas que foi destruído pela dificuldade financeira.


Vovô tinha trabalhado duro, mas não foi o suficiente para pagar um bom
tratamento e minha avó acabou falecendo.
O bonito se transformou em feio.

O amor se metamorfoseou em culpa, em impotência, em uma dor


cega que o fez sucumbir logo depois.
O meu sonho infantil de ter um amor igual dos meus avós se
esfarelou.

Crescer assistindo os namoros malsucedidos da minha mãe, numa


busca incessante por migalhas, ver meus colegas quebrando a cara, ver
Riccardo sofrendo após uma única noite, só reforçou a minha crença de que

eu tinha que me blindar.


Prometi a mim mesmo que não me apaixonaria, que não seguiria por
aquele caminho espinhoso, cheio de dor e desilusão. Eu não queria passar
por aquilo, não queria mais sofrer por causa daquela merda chamada amor.

Continuei a olhar para a foto do casal outrora feliz.


Sempre que fitava a imagem, queria acreditar que eles se sentiriam
orgulhosos pelo homem que eu havia me tornado, alguém responsável,
bem-sucedido, que ficariam admirados pelo irmão que eu era para os

gêmeos, agora, só acho que ficariam decepcionados, que sentiriam o mesmo


desgosto que eu sentia.
Pousei o porta-retrato sobre o móvel de cabeceira, não conseguindo
mais olhar para a fotografia deles.
Para me proteger, feri Thais, mas por que caralho doía tanto? Por

que me machucava, me deixava tão vazio e quebrado?


Porque era tarde demais para mim, e eu preferi tomar um atalho que
só me traria ainda mais aquilo que eu tentei evitar: a porra de um coração
partido.
Capítulo vinte e seis

Mal tranquei a porta do meu quarto e senti as lágrimas, que fiz de

tudo para não derramar na frente do Edgar, deslizarem pela minha face. Não
fiz nada para impedir. Quem sabe a tristeza que eu sentia fosse embora

junto com o choro.

Sabia que era apenas mais uma ilusão minha, era impossível a dor
passar tão rápido. Levava dias para um machucado se curar, e alguns deles

deixavam marcas, cicatrizes que nunca se fechavam.

— Não seja exagerada, Thay, não é para tanto — murmurei para


mim mesma, tentando me convencer disso.

A dor no meu peito era tão grande que, naquele momento, toda a

minha esperança parecia ter se evaporado ou ser algo muito distante.


Encostei minhas costas na superfície de madeira e deixei-me cair,

até encontrar o chão.

Abracei os meus joelhos e meu choro ficou ainda mais intenso.

Ele não apenas me machucou, Edgar me usou, me enganou, ou fui

eu quem me deixei enganar pelo momento.


Um soluço doloroso escapou dos meus lábios ao pensar que ser

usada não tinha sido a pior coisa que havia ocorrido. Ouvir as mentiras

contadas por Edgar sobre gostar de mim apenas para continuar a transar

comigo e ter que colocar limites na minha relação com Jax e Spencer doía

bastante também.
Mesmo que eu ainda estivesse presente todos os dias na vida dos

menininhos, que eu fosse dormir várias noites ali, que eu teria e daria o

mesmo carinho aos pequenos, que isso não mudaria, sabia que tinha que

colocar barreiras profissionais, e esses limites não incluíam participar dos

momentos em que o irmão mais velho dos gêmeos estava presente, não da

mesma forma que era antes. Não teria mais os sorrisos cúmplices, não teria

provocações, toques e olhares com Edgar. Tinha que ser séria, tinha que
mudar o meu comportamento. Não éramos amigos, e nem podíamos ser.

Meu coração foi quebrado em mil pedacinhos que pareciam nunca

mais serem colados. Os pequenos fragmentos de cacos me causavam muita

dor.
A fantasia que criei ao participar da dinâmica familiar foi mais

dolorosa do que eu poderia ter imaginado. Só agora eu conseguia ver o

quanto ela era nociva para o meu coração. Eu não havia protegido meus

sentimentos, fui irracional. Tinha evitado pensar no fim, presa em uma

ilusão, do para sempre, agora que chegou ao ponto final, eu estava

devastada.
Desde quando passei a desejar fazer parte daquela família?

No instante em que eles me acolheram na casa deles... que eles

sorriram, que me abraçaram, que me incluíram nas brincadeiras... no

momento em que me senti integrante da família.

Tola! Mil vezes idiota!

Nunca fui e nunca seria parte da família.

— Você se iludiu porque quis, Thais! — sussurrei.

Meu choro ficou ainda mais convulso quando um sentimento forte

de perda começou a me sufocar. Mesmo sabendo que não era nada meu

para perder, eu continuava com a sensação que me deixava vazia e solitária


como nunca antes.

— Você não está sozinha. A Ju e o Lucca são a sua família, e tem

também o seu pai — murmurei, batendo a cabeça de leve contra a porta,

querendo me ferir ainda mais. — Você não precisa cobiçar família alheia,

Thay, uma família que nunca será sua, apesar de você ter interagido com
ela. Ainda tem tempo de conseguir a sua própria com o seu príncipe

encantado…

Dei uma risada desprovida de humor.


Príncipe encantado...

Eu tinha sido muito infantil em jogar aquilo na cara de Edgar.

Queria atingi-lo da mesma forma que ele tinha feito comigo, mas,

agora que pensava melhor, sabia que era algo ridículo de se fazer. Como

essa acusação besta o incomodaria se Edgar não dava a mínima para mim?

Eu fui apenas uma conquista, nada mais, e ele deixou isso bem claro. Quem

me foderia na manhã seguinte, não importava.

Eu estava um caos, um caco.

Senti um desejo insano de ligar para a minha melhor amiga e

procurar nos braços dela, nas palavras que ela diria, a boia salva-vidas que

me mantinha na superfície, que não me deixaria afundar ainda mais naquele

mar tempestuoso.

Balancei a cabeça em negativa. Eu não a acordaria, mesmo que Ju

fosse brigar comigo depois por não ter feito isso, porque era o que eu faria

com ela e com bastante drama se os papéis fossem invertidos.

Drama.

A constatação de que tudo não passava de um dramatismo meu fez


meu estômago revirar. Bile subiu pela minha garganta, me deixando com
um amargo na boca.

Os pensamentos que vieram em seguida foram todos para me

martirizar, me culpar, deixando que uma ideia se empilhasse sobre a outra

me deixando cada vez mais cansada. Só sai daquele loop quando um

lampejo de razão me invadiu e resolvi tomar um banho.

Passei a mão pelo meu rosto enquanto me erguia e fui para o

banheiro.

Encarei a banheira azulejada em que muitas vezes tinha tomado

banhos longos, com vários sais, usando-a como se fosse o meu SPA

particular. Suspirei. Seria bom tomar um banho quente, sentir o cheirinho


bom que as bombinhas deixavam na água...

— Aqui não é a sua casa, Thay, você está no seu local de trabalho

— falei em voz alta e o som que ecoou pelo cômodo pareceu ferir os meus

ouvidos.

Removi a camisola com um puxão, dando-me conta de que eu não

tinha me preocupado em pegar a calcinha.

Balancei a cabeça em negativa, dando pouca importância a peça,

enquanto caminhava até o box e, fechando a porta, dei o comando que

ativou todos os jatos.

Quando a água quente tocou a minha pele, me envolvendo em uma

carícia acolhedora, as lágrimas que haviam parado retornaram.


Chorei até que eu não tivesse mais lágrimas, sentindo o cansaço se

apossar do meu corpo, meus olhos ardendo.

Reunindo o restante das minhas forças, me obriguei a terminar o

meu banho e vestir uma roupa qualquer.

Quando deitei na cama em posição fetal e abracei o meu travesseiro,

descobri que eu estava enganada: eu tinha muito mais para chorar.


Capítulo vinte e sete

— Cheguei! — falei em alto e bom som, chamando a atenção de Ju

e do menininho
— Ta-ta-tá! — Lucca deu um gritinho assim que me viu e, com um

movimento abrupto, se levantou, derrubando os bloquinhos que ele

empilhava.
Não prestei atenção na minha melhor amiga que estava sentada no

sofá, mas, sim, no menininho que corria na minha direção, agitando os

bracinhos.
— Oi, meu amor!

Sem hesitar, coloquei-me sobre os calcanhares e, pousando as

minhas coisas no chão, abri os meus braços.


— Ta-ta-tá! — Deu um gritinho quando o abracei.

— A titia sentiu tanta a sua falta — murmurei, mesmo que eu o

tivesse visto não fazia muitos dias.

Inspirei fundo, sentindo o cheiro suave e gostoso de bebê infiltrando

pelas minhas narinas. Sem resistir, deixei vários beijinhos nas bochechas
gordinhas dele.

— Amo muito você, querido! — sussurrei.

— Não, não! — Deu pequenos soquinhos em mim e olhou-me com

aqueles olhos arregalados.

Fiz um bico enorme.


— Não? É claro que a tia ama você!

— Não, não! — Começou a se agitar, querendo fugir dos meus

braços.

Quando ele fez um bico enorme indicando que iria começar a

chorar, eu o soltei, mas a contragosto.

Lucca continuou a me encarar e eu franzi o cenho quando ele

esticou os bracinhos, querendo me abraçar. Fiz aquilo que ele queria, mas
logo ele me soltou, dando as costas para mim.

Soltei um muxoxo enquanto o assistia caminhar em direção aos

brinquedos.
— A fase de contradizer para chamar atenção. — Ju balançou a

cabeça em negativa, se levantando.

— Vai passar, amiga. — Abri um sorriso, tentando animá-la.

— Está só começando, e você sabe disso! — Emitiu um suspiro

longo e cansado enquanto revirava os olhos.

— Sim, você diz isso todo dia! — Me ergui.


— É!

Se aproximando, passou os braços pelo meu corpo e me deu um

abraço.

— Não estava esperando você hoje, Thay! — Se afastou um pouco

para me encarar.

— Eu não poderia deixar de vir e te dar um abraço — disse, apenas

para em seguida gritar, toda alegre: — Deus! Minha melhor amiga vai para

a Universidade!

Isso chamou a atenção de Lucca, que virou o pescocinho para nos

encarar, mas logo voltou a atenção para os blocos de madeira coloridos.


— Sim! — Foi a vez dela sorrir.

— Não sabe o quanto estou orgulhosa de você! — Senti lágrimas

querendo se formar com a emoção.

— Você praticamente berrou isso no telefone ontem à noite, Thay.

Pensei até que ficaria surda — me provocou.


— Não exagera — resmunguei.

— É a verdade! — retrucou.

— Hey! Doeu! — reclamou quando dei um soquinho no ombro


dela.

— Estou tão feliz, amiga! — Voltei a abraçá-la com força.

— Podia ser nós duas entrando juntas na Universidade de Seattle,

Thay. — Fez biquinho ao voltar a me fitar.

— Eu não teria entrado — falei no automático.

— Não venha com essa, Thay! — Fechou a cara para mim. — Você

estava estudando, é inteligente e tem um currículo de dar inveja.

— Não exagera… aí! — Ela revidou o saquinho, só que aplicou

mais força.

— Você mereceu, Thay… — disse, carrancuda. — Na verdade, você

merecia era uns bons tabefes por se menosprezar.

— É…

— Já imagino você ocupando futuramente algum cargo na máquina

pública. — Tocou o meu rosto quando quis olhar para Lucca, e não nos

olhos castanhos e sábios.

— Diz isso porque você me ama — a provoquei, dando uma risada.

— Porque você é capaz… Por que você se coloca tanto para baixo?
É inteligente e sabe disso, amiga — sussurrou.
Dei de ombros.

— Tentarei o SAT na próxima vez — prometi, tentando mudar de

assunto. Não valia a pena ela estragar o dia dela comigo.

— Não escapará de mim — falou depois de me analisar por uns

instantes.

— Sei que não, amigazilla… — Meus lábios se curvaram para cima.

— Hey! Não tem graça! — bufou.

— Tem, sim! — Meus lábios se curvaram para cima.

— Quem está sendo a amigazilla aqui?

— Na-na-não! — Lucca gritou, chamando a nossa atenção.


— Até ele concorda que não sou uma amiga dinossauro.

Abri um sorriso ao olhar para o menininho por cima do ombro de

Ju, vendo que Lucca tinha derrubado os bloquinhos para voltar a empilhá-

los.

— Convencida. — Mostrou a língua para mim.

— Não! — O menininho deu um grito.

— Tá vendo? — provoquei.

— Ele não está te defendendo, Thay! — Ficou indignada.

— Sei… mas uma amigazilla não traria presente! — Apontei para a

sacola no chão.

Me curvei para pegar a minha bolsa e também o embrulho.


— Presente?

Surpresa, pegou a sacola que eu havia estendido e caminhou em

direção ao sofá.

— Sim, espero que goste, futura engenheira Mazoni — murmurei e

me sentei ao lado dela.

— Não precisava me dar nada, amiga — falou, abrindo o embrulho.

— Claro que precisava, Ju. Você passou nos primeiros lugares! —

foi a minha vez de ficar indignada. — E é só um presentinho.

— Riccardo disse a mesma coisa. — Os olhos dela brilharam com a

lembrança, os lábios se curvando, cheios de malícia.

— Sua devassa — sussurrei, dando uma cotovelada nela.

— Sempre, mas a culpa é toda de Riccardo! — Usou o mesmo tom

de confidência que eu.

— Sei… — Estalei a língua para ela.

Nós duas rimos.

— É lindo, amiga — falou, ao abrir a caixinha e tirar de lá uma

pulseira prateada.

— Sei que não dá para usar no dia a dia, que não é algo tão chique
como você merece, Ju... — ela fez uma careta —, mas escolhi os berloques

representando tudo aquilo que você é, o que você gosta e a nossa amizade.

E é claro, um simbolozinho com a nova fase da sua vida.


— Eu amei — colocando a peça no colo, abraçou a lateral do meu

corpo.

— Quando você se formar, eu te dou um capelo. Se você tiver outro

bebê, já sabe…

— Você quer me fazer chorar? — Olhou para mim com os olhos

marejados e eu senti uma umidade se formar sob as pálpebras.

— Você que quer me fazer chorar — retruquei.

— Você quem começou. — Desviou o olhar para a pulseira.


— Eu não fiz nada.

— Deus! Eu já estou chorando. — Vi uma lágrima escorrer pelo


rosto dela, seguida de várias outras.

— Grande novidade, é uma manteiga — tentei me controlar para


não cair no choro também.

— Você é pior e sabe disso. — Me deu uma cotovelada.


— Sim, eu sei. — Funguei.

Nos entreolhamos e um silêncio só quebrado pelos sons de Lucca


brincando se instaurou na sala.

Além da felicidade que eu sentia pela conquista de Ju, senti uma


gratidão enorme por ela. Assim que soube de tudo o que ocorreu comigo e
Edgar, ela me abraçou com força, me dando um impulso para emergir

daquele caos.
Tentei não pensar muito no quão difícil foram aqueles quatro dias
depois da minha noite com Edgar.

Foi pesado ter uma conversa séria com os gêmeos sobre a minha
mudança cada vez mais breve. Manter uma normalidade para os dois

meninos que estavam com medo de serem abandonados me cortava. Fingir


que não existia um desconforto entre mim e o irmão deles, esquivar-me das

tentativas de conversa e dar uma desculpa qualquer para evitar os


momentos de lazer dos gêmeos com Edgar foi difícil, mas o pior era ver a
decepção deles, isso era mais doloroso do que imaginava. Só de pensar

nisso, senti uma dor absurda.


— Eu te amo, Thay. — Acabou dizendo, provavelmente percebendo

o meu desconforto.
— Também te amo, amiga — sussurrei e senti uma lágrima escorrer

pela minha bochecha. — Tá satisfeita por me fazer chorar?


— Muito! — Estalou a língua em uma tentativa de me fazer sorrir.

— E ainda diz que não é uma amigazilla — bufei, passando a mão


pelo rosto, tentando limpar o rastro de lágrimas.

— Não abusa! — Fingiu que estava brava.


Caímos na risada um segundo depois.

— Ta-Ta-Ta! — Lucca gritou, para chamar atenção.


Olhei para o menininho, que tentava se erguer ao mesmo tempo que
pegava um bloquinho. E meu menino conseguiu, ficando de pé com

desenvoltura, caminhando na minha direção com o bracinho esticado.


— Quer brincar com a titia? — perguntei quando ele me estendeu o

brinquedo.
Lucca deu um gritinho animado e desconexo bem fofo.

— Também estou sentindo falta de brincar com você — respondi.


— Ta-ta!

Me mostrou os dentinhos como se sorrisse para mim.


Suspirei.

Deus! Lucca era tão lindo!


Suspirei quando ele esticou o bloquinho na minha direção outra vez.

Antes que eu pegasse o bloquinho dos dedinhos dele, o som do atrito da


cadeira de rodas contra o chão e de passos atraiu a atenção do menininho

que virou o pescoço.


— Papà! — Deu um gritinho animado.
Não era surpreendente o menininho ter aprendido a palavra em

italiano e ter uma dificuldade enorme de falar papai em inglês, já que o


Riccardo só pronunciava a palavra no idioma dele.

Soltando o bloquinho, sem parar de dar gritinhos, começou a correr


com passos meio trôpegos na direção do barulho cada vez mais próximo, e
eu fiz muxoxo pelo menininho ter desistido de brincar comigo.

— Sempre perderá para ele, amiga — Ju falou, divertida.


— Como se você também não perdesse — mostrei a língua para ela

enquanto Lucca continuava a gritar pelo pai.


— Nove meses carregando na barriga para no fim não ser a predileta

— fez um bico.
— Foi menos de nove meses, amiga — cutuquei.
— Você entendeu… — Revirou os olhos, apenas para continuar

fazendo careta.
— Papà! — Lucca berrou de forma estridente.

— Oi, figlio. — Com um sorriso enorme, Riccardo se inclinou na


cadeira para pegar o menininho no colo.

Escutei um suspiro apaixonado vindo da minha melhor amiga, que


indicava que Ju não parecia se importar de ser a segunda favorita do filho.

Acabei sorrindo, extremamente alegre pela família que o destino


havia separado de forma trágica e que, felizmente, havia sido unida

novamente.
Meu inconsciente fez meus olhos procurarem por Edgar, sabendo

que ele poderia estar acompanhando o marido da minha amiga, e quando o


vi, tudo ruiu. Encontrei-o próximo de um homem alto, moreno, com cabelo
na altura dos ombros. De forma instantânea, uma dorzinha me invadiu,

fazendo meu brilho sumir.


Eu sabia que deveria afastar o meu olhar, como vinha fazendo nos

últimos dias, mas não consegui, ficando refém do magnetismo dele. Em um


terno elegante cinza chumbo, os cabelos desordenados, como se tivesse

passado a mão pelos cabelos várias vezes, e a barba um pouco mais


comprida, o achei extremamente lindo, mesmo que não devesse.

Edgar percorreu-me rapidamente dos pés à cabeça, até que me fitou


nos olhos. Ele me encarava de forma intensa. Uma onda de calor tomou o

meu corpo com a lembrança daquele mesmo olhar enquanto ele mergulhava
dentro de mim.

Senti um bolo se formar no meio da minha garganta e eu o engoli a


seco.

Seria sempre assim? Dor e desejo invadindo o meu corpo sempre


que olhasse para ele?
Os últimos quatro dias, em que fiz de tudo para evitá-lo, diziam que

sim.
Estava tão distraída que só então me dei conta de que Riccardo e o

outro homem haviam se aproximado de onde eu e Ju estávamos.


— Papà! — Lucca deu outro gritinho e eu vi o menino se debater

mais do que um peixe fora d’água no colo dele.


— Tá bom, filho — o italiano fez um muxoxo ao pousar o filho no
chão, que correu de volta para os brinquedos.

O pesar se transformou em malícia quando, sem perder tempo,


como a apaixonada que era, minha melhor amiga se jogou nos braços dele e
logo as bocas se encontraram em um beijo para lá de romântico.

Estava mais do que acostumada com as demonstrações de afeto a lá


filme entre os dois, que sempre me tirava um suspiro baixinho, mas, dessa

vez, me senti péssima ao ser tomada por uma pontinha de inveja, inveja do
beijo, do carinho, do companheirismo... de algo que eu não tinha, de algo

que poderia ter sido.


Se ele não tivesse mentido, me enganado com palavras doces,

estaria cumprimentando o meu amante com um beijo igualmente intenso?


Acabei olhando para Edgar, buscando uma resposta para minha

pergunta, e soube que cometi um erro. Os pensamentos dele pareciam em


sintonia com os meus, mas havia algo a mais.

Meu coração disparou. Edgar parecia estar sofrendo e…


Cortei meus pensamentos.

Tola! Mil vezes tola!


As fantasias que criei já não foram o suficiente? Agora eu precisava

inventar que Edgar sofria por mim, por nós, pelo beijo que não aconteceria?
Deus! Eu era patética, mais do que eu poderia imaginar.
Senti tanta raiva de mim mesma, mas tanta, que eu quis sentar e
chorar.

Não cansava de me humilhar? A única explicação era eu ser uma


masoquista.

— O que você está fazendo aqui, amor? Pensei que iria ficar no
escritório a tarde inteira. — Escutei a voz da minha melhor amiga e vi que

se levantava do colo do marido, que grunhiu em protesto pelo movimento


dela.

— Na pressa, me esqueci de salvar na nuvem algumas coisas que


precisava para a reunião — foi malicioso ao esticar a mão para tocar o

corpo da minha melhor amiga.


— Hum, sei — deu um tapinha na mão do marido quando ele tentou

apalpá-la.
Dessa vez, consegui suprimir o sentimento nocivo de inveja e acabei
rindo da careta que o italiano fez.
— Ninguém merece esses recém-casados! — O homem que só

conhecia de vista bufou em um tom irônico, cheio de sotaque.


O sorriso malicioso indicava que ele estava brincando.
— Está com inveja de mim! — Riccardo acusou em tom de
diversão.
— Pelo quê, amigo? — Arqueou a sobrancelha negra, fingindo que
não entendia.

— Minha vida maravilhosa de casado, é claro.


— Que Guadalupe sempre me proteja desse mal!
— Sua queda será feia, Rafael — Ju entrou na brincadeira.
— Isso é uma espécie de praga?
— Digamos que sim — minha melhor amiga provocou.

— Dios! Você parece a vovó! — Estremeceu e eu, Ju e Riccardo


acabamos dando uma risada pela interpretação exagerada do mexicano, que
balançava a mão cheia de anéis.
A risada acabou atraindo a atenção de Lucca, que imitou a gente,

rindo, e veio em nossa direção, soltando um monte de sons de bebê.


Riccardo o interceptou quando chegou próximo a cadeira de rodas e
ergueu o menino no colo, arrancando mais gargalhadas gostosas dele.
— Sorte a minha e de Edgar que estamos imunes a essa praga. Não

é, cara?
— Se você diz, Rafael. — A voz de Edgar soou rouca e eu senti o
olhar dele pousado sobre mim.
Dessa vez, não o encarei.

— Era para você concordar, amigo. — O homem pareceu confuso.


— É… — Foi reticente e eu senti uma trilha de excitação
percorrendo toda a minha coluna.

Ele…
Engoli a raiva que voltou a me atingir. Eu não me cansava de
imaginar situações irreais e sofrer com elas?
Deus! Só podia ser mesmo uma masoquista.

— Falando em vovó, Esperanza puxaria a minha orelha pela minha


falta de educação.
— A culpa é toda minha, Rafael, é que não precisamos dessas
formalidades — Ju respondeu.

— Mesmo assim, parabéns por entrar na Universidade.


— Como você soube? — Ju pareceu surpresa.
— Sou o marido mais orgulhoso do mundo, meu amor — Riccardo
respondeu, ainda brincando com Lucca.
— Sei. — Ela se virou para ele com um sorriso. — Tenho sorte.

Se curvou para deixar um beijo nos lábios do italiano.


— Ma-mamãe! — Lucca deu um gritinho.
— Assim está melhor, não? — Ju falou depois de dar um beijinho
no menininho também, que gargalhou.

Suspirei. Lucca havia levado um pedaço do meu coração outra vez.


— Como a sua avó está, Rafael? — Ju se aprumou.
— Ótima, e com a língua cada vez mais afiada — fez uma careta,

arrancando mais risadas de nós.


Ele se virou para mim, com um sorriso que poderia fazer qualquer
mulher ficar de pernas bambas, mas estranhamente ele não me produziu
nenhuma sensação, e comentou:
— Lembro de ter visto você no casamento, mas não fomos

apresentados.
— Thais... e eu era a madrinha da Ju e do Riccardo.
— Junto de Edgar… Agora estou entendendo — sussurrou depois
de olhar para mim e Edgar de forma analítica, me deixando confusa. Um

frio percorreu minha espinha, mas ignorei a sensação. — Sou Rafael


Esparza.
— Prazer em conhecê-lo. — Dei um sorriso que me pareceu
amarelo, estendendo a mão em cumprimento, o qual ele retribuiu com um

aperto firme.
— O prazer é todo o meu.
— Você pretende ficar muito tempo aqui, Malévola? — Edgar me
perguntou diretamente.

Meu coração galopou no peito com o uso do apelido que ele havia
me dado, e eu me senti uma grande idiota.
— Só dei uma passada para abraçar a Ju. Por quê?
— Se quiser, podemos ir embora juntos… — fez uma pausa e

completou quando eu não disse nada: — Acho que devo me demorar umas
duas horas aqui.
Prendi o ar nos meus pulmões ao processar que era mais uma
tentativa da parte dele de ficarmos a sós para conversarmos, para que ele

pudesse me contar mais mentiras que me fariam ceder e…


— Certo… — murmurei.
— Podemos buscar os gêmeos na escola e passar no shopping com
eles para lanchar…

Fechei os olhos por alguns segundos, contendo um som baixo,


enquanto me perguntava o porquê de Edgar tornar as coisas tão difíceis para
mim. Ele sabia que não conseguiria dizer não, sabia o quanto abrir mão
daqueles momentos era doloroso para mim, então por que ele insistia em
me machucar ainda mais, e na frente de todos?

Olhei para a minha melhor amiga e vi compaixão e também um


pouco de fúria em suas feições, como se estivesse prestes me defender.
— Ir ao cinema. O que acha? — Insistiu com uma pontada de
desespero, que eu sabia que era fingido.

Tive que me controlar para não me abraçar no automático. Droga,


Edgar!
— Tenho outros planos para depois daqui, Edgar — me forcei a

dizer, sentindo minha vista ficar nublada.


Me encarou e vi várias emoções passarem por seu rosto que me
fizeram querer voltar atrás na minha decisão, que me fizeram desejar dar
vários passos à frente e o envolver em meus braços em uma tentativa de

remover a decepção em seus olhos, que parecia não ser fingida, ou assim
meu coração tolo queria acreditar.
— Okay. — Passou a mão pelos cabelos, desorganizando-os, o gesto
produzindo mais dor em mim — Te vejo mais tarde então?

— Claro. — Sorri, mesmo que meu coração sangrasse.


— Se me derem licença, tenho um e-mail para responder — Edgar
falou, antes de dar as costas para nós.
Como se fosse perseguido por um demônio, ele praticamente saiu

correndo para deixar a sala.


— Preciso ir ao banheiro — sussurrei, com o peito apertado,
sentindo que não conseguia mais me controlar e acabaria passando mais
vergonha ao desabar na frente dos amigos dele.

Sem olhar para Ju, tomei o caminho oposto de Edgar.


Mal tinha alcançado o corredor e as lágrimas começaram a cair.
Doía, doía muito.
Entrei no banheiro e fechei depressa a porta atrás de mim. Me
aproximei da pia para lavar o meu rosto em uma tentativa para me
recompor, mas tudo o que consegui ao contemplar a minha imagem no
espelho, vendo o quão acabada eu parecia, foi segurar na borda do mármore

e chorar ainda mais.


Perdi a noção de tempo enquanto cedia a tristeza e acabei dando um
saltinho no lugar quando uma fresta da porta se abriu.
— Quem é? — sussurrei, com medo de ser Edgar, o que era um

absurdo já que ele não sairia para me procurar por toda casa.
— Sou eu, amiga — Ju falou com um tom de voz preocupado,
enfiando a cara pela abertura. — Queria ver como você está. Posso?
— Claro, a casa é sua, Ju, e você é a minha amiga — sussurrei.
— As duas coisas não me dão o direito de entrar.

— Eu preciso de um abraço… — pedi com a voz rouca, me


sentindo quebrada.
Não precisou de mais nada para que a minha amiga abrisse toda a
porta para passar por ela e para fechá-la suavemente. Virei-me para Ju e os

braços dela me apertaram com força.


Segurando a parte de trás da blusa dela, pousando meu rosto contra
seus ombros, chorei ainda mais.
Como uma irmã mais velha, ela acariciou os meus cabelos, me
confortando.
— É tão difícil. — Tentei me controlar, mas parecia impossível.
— Eu sei — sussurrou.

— Por que Edgar tem que dificultar tanto as coisas para mim? Por
que ele me faz sentir alguém infantil?
— Não é infantilidade querer se proteger, amiga.
— Toda vez que eu falo não, me esquivo, sinto que me comporto

como uma criança, Ju, e uma das bem birrentas, que está fazendo isso para
conseguir o que quer…
— Isso não é verdade. — Deixou um beijo no topo da minha cabeça
e emitiu um suspiro.

— Por que isso dói tanto? — perguntei, depois de uns instantes em


silêncio, que eu só sabia chorar.
— Seria por que você está apaixonada por ele? — perguntou em
meio a um suspiro.

— O quê? — arfei, pensando que eu não tinha escutado direito.


Sem me afastar do abraço, recuei um pouco para encarar o rosto da
minha amiga, querendo saber se era brincadeira da parte dela, mas tudo o
que eu vi foi seriedade, compaixão e uma pitada de pesar.
Não, não podia ser.
— Isso é um absurdo, Ju — mal reconheci minha voz trêmula.
— Te dói ficar afastada dele, não é?
Abri e fechei a boca sem saber o que responder. Minha mente entrou

em uma espiral de recordações do tempo que havíamos passado juntos e


desses dias que me obriguei a me manter afastada.
Felicidade e tristeza. Dois sentimentos opostos permeados por
presença e ausência.
Senti uma lágrima sorrateira deslizar pela minha bochecha.

Deus.
Não. Não. Não.
Eu não podia…
— Thais? É tão impossível assim se apaixonar por Edgar, amiga? —

Tentou racionalizar comigo.


— Sim, é.
Tentava negar, mas a verdade estava ali, pulsando, doendo.
Fechei os olhos.

— Tem certeza? — Ela insistiu.


Minha resposta foi abraçá-la novamente e chorar nos ombros da
minha amiga. De alguma forma, eu havia me apaixonado por Edgar, pelo
homem que quis apenas o meu corpo e mais nada. Me senti estilhaçar.

— Como? — questionei em um sussurro.


Voltando a encará-la, vi compaixão e pesar novamente nublarem seu
olhar.
— Vinham passando muito tempo juntos, seja cuidando dos gêmeos

e o cachorro, seja conversando…


— Sobre os gêmeos, sobre política internacional e outras coisas
banais, Ju. Não é nada demais. Quase nunca falamos de coisas sérias.
— É no banal, no cotidiano, que acabamos nos apaixonando.

— Não deveria ter me apaixonado — balancei a cabeça várias


vezes, voltando ao estado de negação. — É errado.
Ju pousou a mão no meu ombro.
— Não tem nada de errado em se apaixonar…

— Não por ele, Ju. Edgar está longe de ser o tipo de cara que
esperava me apaixonar! — Estava desesperada.
— Como uma romântica viciada em filmes de romance, deveria
saber que a mocinha sempre se apaixona pelo cara improvável — brincou,

mas nós duas não conseguimos rir. Como eu não disse nada, continuou: —
Edgar tem boca suja? Sim. É arrogante e estourado? Em excesso para o
próprio bem dele. Mas ele é um homem carinhoso com os irmãos e com
Lucca. Ele é protetor, responsável, honesto... leal. Isso são coisas difíceis de
se encontrar em um homem hoje em dia.
— Eu sei… — murmurei, ciente de que a lista de qualidades dele
era muito mais extensa, coisas que me fazem admirá-lo.

— Fora que Edgar te estendeu a mão quando precisou, foi carinhoso


e bastante atencioso com você. Ele te tratou como uma igual. Ele confiou
em você para cuidar dos meninos. Ele agiu como um amigo. Me parecem os
ingredientes perfeitos para você se apaixonar por ele.
— É…

— Gostar de alguém não é um erro, amiga, e não ser


correspondida... faz parte. Dói, e muito, mas ninguém é obrigado a gostar
romanticamente de alguém.
— Eu sei, Ju.

— Todos temos nossa quota de corações partidos.


— Infelizmente…
— Ou felizmente, já que tem pessoas que saem das nossas vidas que
são um verdadeiro livramento!

Fez uma careta e eu acabei gargalhando com aquela verdade e Ju


caiu na risada também.
— O único erro disso tudo é Edgar ter agido como um babaca com
você. — Os olhos cintilaram e ela pareceu ficar furiosa. — Só Deus sabe o

quanto eu quero dar uns tapas nele por isso.


— Eu te ajudo! — brinquei e Juliana estalou a língua para mim.
Voltamos a rir, mas logo ela ficou séria.
— Ver Edgar todos os dias só irá prolongar o seu sofrimento, Thay.

— Eu sei. — Forcei a minha voz a sair quando meus olhos ficaram


tomados pelas lágrimas outra vez. Só de pensar em olhar para ele me doía.
— Sabe que não precisa mais trabalhar para ele se não quiser, não
sabe? — Me olhou nos olhos. — Estou disposta a cobrir o salário que ele te

paga.
— Sabe que não é pelo dinheiro. Só não quero me afastar de
Spencer e Jaxon, não ainda…
Ficou me encarando de forma analítica, mas assentiu.

— Você é linda, amiga. De corpo e de alma.


— De alma até que pode ser — provoquei-a.
— Não vem com essa. — Com uma careta, me empurrou pelos
ombros, me fazendo cambalear pela surpresa. — Tô achando que isso é

tática sua para ganhar elogios.


— Talvez…
— Palhaça!
— Mas você me ama mesmo assim.
— Infelizmente.

Fiz cara feia para ela, mas não consegui manter por muito tempo. A
vontade de rir foi bem maior e nós duas caímos na risada.
— O que vai acontecer agora, Ju? — perguntei, voltando a ficar

melancólica e chorosa.
— Não sei, amiga, ainda mais quando você continuará a trabalhar
para ele… — Me envolveu em um abraço.
— É a coisa certa a se fazer… — murmurei.
— Não sei se seria tão madura quanto você, Thay.

— Você estava disposta a conviver com Riccardo pelo Lucca,


mesmo que ele tivesse outra pessoa, ou que ele não te quisesse. Isso é o
auge da maturidade para mim.
— Meu caso é diferente do seu. Filho é para sempre.

— O que torna tudo muito mais difícil.


— Sim… — suspirou. — Confesso que nem quero imaginar o
inferno que seria o ver com outra pessoa. Só de pensar, sinto calafrios.
— Ciumenta! — a provoquei de novo, e tentei lidar com a dorzinha

que me invadiu ao imaginar uma mulher nos braços de Edgar. Por mais que
ele tivesse dito que não estava saindo com ninguém, sabia que um dia isso
ocorreria.
— Muito — abriu um sorriso enorme, os olhos brilhando, repletos

de desejo —, mas Riccardo é muito mais possessivo.


— Até eu seria se minha esposa fosse uma gatona… — falei,
maliciosa.
Ela deu de ombros e me fitou nos olhos com ternura.

— Será difícil, mas se dê tempo, Thay. Você é jovem, vai conhecer


muito cara legal e encontrar um que vai valorizar a gostosona que você é.
— Quem sabe! — sussurrei, não muito animada com a perspectiva
de encontrar outra pessoa.

— Que ótimo! Você não está se desvalorizando, dizendo que é uma


tremenda baranga! — Bateu palminhas, parecendo Lucca quando ficava

animado.

Bufei, revirando os meus olhos.


— Mas agora falando sério — o sorriso dela indicava que ela estava

tudo, menos séria —, você tem planos para as próximas horas?

— Sabe que foi uma desculpa para não ficar a sós com Edgar… —
sussurrei. — Não posso correr o risco de ouvir mais mentiras doces que só

me machucariam ainda mais, porque sinto que eu seria idiota o suficiente


para me enganar e acabar na cama dele outra vez.

— Entendo… — Respirou fundo, o olhar tomado por compaixão e

compreensão. Eu fiquei feliz em não ver julgamento perante a minha


confissão, algo que me incomodaria se vindo dela. — Já que não tem

planos, eu tenho para você! Quer dizer, para nós.


— O quê? — perguntei, curiosa.
— O primeiro passo que toda mocinha de filme faz para curar um

coração partido!

— Que seria...?
— Filmes bregas que nos farão chorar horrores, chocolate e sorvete.

— Parece perfeito para mim! — Acabei sorrindo. — Veremos o


filme do Jake?

— De novo?

— O que que tem? — Fingi que estava indignada.


— Tem outros filmes no streaming, sabia?

— Mas o do Jake é o melhor! É quase um clássico.


— Está longe de ser um…

— Não fale assim. Você ama o Jake também!

— O que a gente não faz pelas amigas! — Revirou os olhos,


fingindo que seria um sacrifício.

Dei um abraço nela e sussurrei em sua orelha:

— Obrigada por isso.


— Sempre estarei ao seu lado. Sempre enxugarei as suas lágrimas.

— Eu sei disso.
— Não prometo que não irei julgar as suas escolhas, afinal, amigas

servem para dar uns tapas de vez em quando!

— Hey! — Dei um gritinho.


— Enquanto lava o rosto e se recompõe, vou pegar Lucca com
Riccardo e providenciar as guloseimas.

— Okay.

Juliana deu um beijo na minha bochecha antes de se virar em


direção a porta.

Voltei-me para a pia.

— Thay?
— Sim? — Olhei para ela através do espelho.

— Vamos superar isso juntas — murmurou, antes de passar pela


porta e me deixar sozinha.

Abri a torneira e inclinei-me para lavar o meu rosto antes que uma

torrente de lágrimas surgisse outra vez.


Meu coração poderia ter sido quebrado por Edgar e pelos meus

sentimentos recém-descobertos por ele, mas o carinho e o amor da minha


melhor amiga e do Lucca seriam a cola que uniria os pedacinhos outra vez.

Definitivamente, não estava sozinha nessa.


Capítulo vinte e oito

— Pensei que estava ocupado respondendo um e-mail, não tomando

o meu whisky. — Escutei a voz de Riccardo soar atrás de mim.


— Me deixe em paz, caralho — fui grosso.

Levei o meu copo aos lábios, tomando um gole generoso do

destilado, e virei-me a tempo de ver meu melhor amigo passar pela porta

larga com Lucca no colo, que balbuciava algo na linguagem de bebê. Para
minha surpresa, Rafael entrou no escritório também.

— Porra! Eu quero ficar sozinho.

— Tarde demais, amigo — falou a última palavra em um espanhol

preguiçoso, jogando-se na cadeira, me dando um sorriso que me irritou


ainda mais.
— Caralho!

— Sem palavrões na frente do meu filho — pediu.

— Até você? — Fiquei na defensiva pela repreensão dele, que me

lembrou a maldita crítica feita por Thais.

O ele não falaria tantos palavrões como você era como um espinho
cravado na minha carne, uma pedra no meu sapato. E todas as vezes que me

lembrava disso, eu sentia um ódio mortal do ele.

— O que quer dizer com isso?

Franzindo o cenho para mim, colocou Lucca no chão que, gritando,

correu em direção a um monte de brinquedos em um canto.


Era engraçado como os dois escritórios do meu melhor amigo, tanto

o daqui quanto o do prédio comercial, haviam mudado em menos de um

ano. Além das fotografias espalhadas por todo e qualquer canto, em nichos

e prateleiras, agora os dois contavam com um cantinho para o filho brincar.

— Não vai me responder? — Dando um giro rápido, fechou a porta,

antes de virar novamente e conduzir a cadeira de rodas na minha direção.

— O quê?
— O até você, Edgar.

— Nada, porra — cuspi.

— Edgar… — Riccardo falou em tom de advertência.


— Okay, cara… — me interrompi, bebendo o restante do whisky,

quando meu melhor amigo arqueou a sobrancelha para mim.

— Quero saber de toda a fofoca… — Rafael falou com diversão.

— De que merda você está falando? — Fingi não saber de nada.

Não queria conversar sobre aquilo.

— Do que aconteceu entre você e a garota. Vovó irá querer mais


detalhes.

— O quê? — perguntei, minha voz se misturando a um som de um

miado vindo de um brinquedo barulhento de Lucca.

— Pa-pa-to! — O menino gritou, dando uma risada.

— É gato, figlio, gato — Riccardo corrigiu quando o menino

apertou novamente o botão e pronunciou o nome errado.

— Esperanza adora fofocas, principalmente de famosos — Rafael

respondeu à pergunta retórica, movendo a mão cheia de anéis de uma forma

quase que indiferente. — Posso dizer que a minha vida e a de vovô se

resumem a deliciar os ouvidos dela.


Franzi o cenho e acabei explodindo:

— Não sou celebridade, porra!

— Edgar… — Riccardo me repreendeu outra vez.

— Mas é meu amigo. Vovó gosta de saber de tudo sobre com quem

eu ando. — Rafael deu de ombros.


— Amigo? — Continuei de cenho franzido.

— Não somos? Que decepção. — Ergueu uma sobrancelha.

— Que seja! — murmurei.


— O que você fez para a garota te dar um fora daqueles? — Deu um

sorriso debochado que me fez querer quebrar todos os dentes dele. —

Amigo ou não, essa é uma fofoca suculenta para contar para vovó.

— Vai a merda com essa coisa de fofoca!

— O que você fez, Edgar? — Riccardo disse em um tom sério. — E

não me adianta dizer que não fez nada. Thais não agiria assim à toa…

— Como você pode saber? — retruquei, ficando mais na defensiva

por ser pressionado a falar algo. — Ela é amiga da sua mulher, não sua.

Me encarou analiticamente e assentiu.

— Certo, mas você é meu amigo e sei que, por mais que tente

esconder de mim, que está sofrendo em silêncio, amico, e não é pelo que

aconteceu na minha sala de estar. Tentei não fazer perguntas, mas é que me

importo com você!

— Sei disso — murmurei, sentindo uma pontada de culpa por

esconder coisas dele.

Porra, como eu contaria que fui um tremendo babaca com Thais

para o homem que eu tinha como um irmão e que iria me repreender, com
certeza? Meus sentimentos e tudo que eles causavam em mim já eram o

suficiente para me foder.

Me virei para o decantador para me servir de uma outra dose de

whisky.

— A bebida não vai resolver o seu problema, Edgar — Riccardo

falou suavemente.

— Nada irá — acabei dizendo em voz alta, me sentindo amargo.

Porra! Eu não podia calar a merda da minha boca?

Antes que Riccardo dissesse algo, em um timing perfeito, distraindo

a todos, Lucca apertou um botão que emitiu um relinchar.


— Papa-to. — Lucca gritou.

— É cavalo, ferinha — corrigi o menininho.

— Ca-ca?

— Ca-va-lo — Rafael soletrou.

— Ca-ca-ca-lo — o menininho tentou imitar o mexicano.

Entramos em um loop até que o bebê conseguisse pronunciar a

palavra. Nós três batemos palmas para incentivá-lo, mesmo que a palavra

tivesse que ser repetida até que Lucca a adicionasse ao seu pequeno

vocabulário.

— Por que nada irá resolver o problema, Edgar? — Rafael falou,

voltando ao assunto.
— Alguém já te disse que é muito inconveniente? — Olhei

diretamente para o homem, fuzilando-o.

— Alguns concorrentes… — Os olhos brilharam enquanto os lábios

se curvavam de forma diabólica.

Acabamos rindo.

— Vou ser obrigado a perguntar para Juliana o porquê da melhor

amiga dela estar quase chorando, Edgar? — Riccardo foi firme.

— Chorando? — perguntei, minha mente processando somente a

última parte da pergunta.

Senti um bolo na minha garganta e, automaticamente, levei o copo

cheio aos lábios.

— Ela saiu correndo da sala logo depois de você… — Rafael

completou.

— Merda! — Fechei os olhos, sentindo garras ficando no meu peito

com força.

Se eu tivesse alguma dúvida que eu havia me apaixonado, a raiva e

a dor que eu sentia de mim mesmo nesse instante me dariam a resposta.

— Estávamos jantando em um restaurante, minha mãe apareceu e


falou um monte de coisas que fizeram meus irmãos chorarem só porque não

dei dinheiro para ela… — Comecei a explicar, em meio aos sons que Lucca

emitia ao brincar.
— E? — O mexicano insistiu.

— Eu estava na merda! Queria esquecer a porra de noite que tive,

desejando me livrar da culpa que sinto por Nicole tratar meus irmãos com

tanta frieza, jogando na cara deles que eles são indesejados.

— Deus! — meu melhor amigo sussurrou baixinho, e eu vi que ele

se continha para não praguejar.

— Eu precisava daquilo que o beijo de Thais produzia em mim.

Precisava do corpo dela, do toque dela, da porra toda... Eu praticamente


implorei para que ela ficasse comigo, e ela ficou.

— E qual foi o problema nisso tudo, pombinho? — Rafael falou a


última palavra de forma irritante.

— O que você fez, Edgar? — Riccardo me interpelou e eu olhei


para ele.

Ele estava sério, sério pra caralho.


Eu estava fodido.

— Acabei dizendo para ela que foi só sexo para mim.


— Stronzo, Edgar! — Riccardo praticamente gritou comigo. Além

de raiva, eu vi decepção em seu semblante.


Era essa merda que eu queria ter evitado ao ficar em silêncio.
Caralho! Odiava mais do que tudo decepcioná-lo.
— Papà? — Lucca, que até então estava brincando, deu um gritinho
assustado. O choro foi instantâneo

Vendo a preocupação cruzar o rosto de Riccardo por ter assustado o


filho, senti um pouco de culpa. Mais do que depressa, ele levou a mão ao

propulsor da cadeira e foi até o menininho, se inclinando para pegá-lo no


colo

— Papà! — O menino começou a dar saquinhos nele.


— Desculpe por ter gritado, figlio — Riccardo sussurrou em meio
ao choro convulso da criança e passou a acariciar os cabelos dele. — Papà

odeia ver você chorar.


Enquanto sussurrava palavras de conforto, Riccardo olhou para

mim, me reprovando, e, como se fosse possível, fiquei mais puto comigo


mesmo.

Eu só fazia merda.
— Pronto, pronto. Melhor assim, meu amor — falou quando os sons

do menininho ficaram mais baixos. — Eu amo você!


— Não! — O menino gritou.

— Claro que sim! — Riccardo fez um bico de todo tamanho.


— Não!

— Ama sim! É a vida do papà. — Deixou um beijo na bochecha


dele.
— Ca-cá! — Se contorceu no colo do pai, querendo descer.
— Tá, tá!

Com um muxoxo, colocou o menino no chão, mas antes mesmo de


voltar ao brinquedo barulhento, sua atenção foi atraída pelo som de uma

batida na porta e de alguém a abrindo.


— Mama! — Ao ver que era Juliana, Lucca deu vários passinhos na

direção dela.
— Oi, meu amor — falou quando ele se aproximou e esticou os

bracinhos, pedindo colo. — Por que estava chorando?


— Sem querer, eu acabei o assustando ao reagir mal a algo —

Riccardo se justificou, parecendo pesaroso.


— Acontece, amor. Vou levar Lucca para não te atrapalhar mais.

— Ele nunca me atrapalha… nem você. — Levou as mãos aos


quadris dela, acariciando-a.

A demonstração de afeto nada surpreendente me incomodou por


jogar na minha cara que poderia ser eu fazendo a mesma coisa com Thais.
— Amo escutar isso, senhor galanteador — se inclinou para dar um

beijo nele. — Conversamos mais tarde, está bem?


— Sim, sirena.

— Como a Malévola está? — perguntei em um impulso quando


Juliana se virou para deixar o escritório.
Porra! Eu precisava saber como Thais estava.

Juliana voltou-se para me encarar e me lançou um olhar frio.


— Thais ficará bem — deu uma resposta evasiva antes de dar as

costas para mim e sair do escritório.


Isso foi o suficiente para me machucar ainda mais. Desferi um soco

na mesa do meu melhor amigo.


— Por que você falou isso para Thais, stronzo? — Riccardo voltou
ao assunto.

O olhar dele estava tomado por uma decepção que eu nunca havia
visto antes. Senti meu estômago revirar.

— Eu achava que você era um homem de verdade, mas tudo o que


vejo é um moleque inconsequente que usou uma garota doce, gentil,

romântica para se consolar. Ela estendeu a mão para você em vários


momentos e veja como retribuiu!

— Acha que me orgulho disso, caralho? Acha que não me odeio por
ter deixado essas malditas palavras escaparem da minha boca sem querer,

depois do que aconteceu entre nós? — Balancei a cabeça com força, como
um animal tentando se livrar da corrente que o prendia. — Não precisa vir

com um sermão, Riccardo. A cada segundo desde que essa porra toda
aconteceu, eu só quero me bater por ter falado isso para ela.

— Então por que fez isso? Por que você a machucou?


— Eu estava com medo! — Abri e fechei a mão, me controlando

para não desferir outro soco na superfície da mesa. — Medo daquilo que
houve entre nós. Medo de ficar dependente dela. Medo por querer o que nós

dois tivemos, uma, duas, várias vezes, por acabar me apaixonando por ela e
sofrer depois. O medo me fez mentir para ela, para mim.

— Me parece muito apaixonado, se você quer a minha opinião —


Rafael disse com desdém.

— Acha que não sei disso, caralho?


— Vai que era necessário, já que você é um idiota. — Deu de

ombros.
— Valeu a pena se proteger, Edgar? — Riccardo perguntou em um

tom sério. — Valeu a pena mentir para você mesmo esse tempo todo?
Porque nós dois sabemos que você se sentiu atraído por ela desde a primeira

vez que a viu. Você não queimou um churrasco inteiro à toa.


— Sério isso? — Rafael pareceu curioso e quando Riccardo
assentiu, o mexicano começou a rir.

— A querer desde que a conheci foi o que mais me assustou… —


ignorei Rafael, focando no meu melhor amigo. — Tive medo de acabar me

perdendo, de me entregar a ela e ficar vulnerável, mas, agora que eu perdi


Thais por causa da mentira que disse, de ter sido só sexo, não sabe a porra

do que estou sentindo.


Ficaram em silêncio e eu continuei o meu discurso:
— Descobri tarde demais que o medo que eu tinha não é nada se

comparado a essa angústia por saber que eu estraguei tudo.


— Já tentou dizer isso a ela, amigo? — Rafael estava sério.
Dei um sorriso amargo, antes de responder:

— Eu disse no minuto seguinte, tentando consertar a merda que fiz,


mas Thais acha que eu menti.

— Compreensível — Riccardo murmurou.


— Mea-culpa. — Assumi minha responsabilidade.

— E o que você vai fazer agora? — O mexicano me questionou.


— O que sugere que eu faça?

— Comprar um anel e pedi-la em namoro?


— Acha que a porra de um anel resolveria o problema? Isso é quase

subestimar o intelecto de alguém.


— Foi só uma sugestão, cara. — Se defendeu, colocando as duas

mãos na frente do corpo.


— Na verdade, acho que não há nada que eu possa fazer. — Senti

uma dor absurda ao pronunciar aquelas palavras. — Eu não quero vê-la


chorar todas as vezes que tentar forçar uma conversa. Caralho! Eu já fui ao

extremo quando a coagi a permanecer como babá dos gêmeos.


— Cazzo, Edgar! — Riccardo voltou a gritar comigo. — O que você
fez?

— Usei o amor dela pelos dois para que ficasse conosco… Eu não
poderia fazer os meus irmãos pagarem pelo meu erro, não seria justo.

— Você está indo longe demais, Edgar. Você não pode manipular as
pessoas dessa forma.

— Já está sendo difícil eles entenderem que ela irá se mudar. Estou
sendo egoísta, eu sei, mas Jaxon e Spencer precisam do amor dela, e Thais

parece precisar deles também.


— E você vai viver das migalhas do que poderia ter sido… —

Rafael sussurrou.
Não respondi, não era necessário, mas eu me questionava qual o

preço que acabaria pagando por mantê-la tão próxima a mim.


Eu sofreria, mas ela sofreria ainda mais. Nesse exato momento, ela
estava sofrendo.
— Eu não gosto dessa situação toda, Edgar — Riccardo murmurou,

deixando clara a decepção dele.


— Eu também não, caralho.
— Eu deveria socar a sua cara até você ficar irreconhecível.
— Sim, eu mereço.

— Encerrar meus negócios com você…


— Está exagerando, não? — Franzi o meu cenho para ele.
Deu de ombros e começou a acariciar a barba.

— O que me pergunto é porque ainda torço para que você consiga


se redimir e encontrar uma forma de convencer Thais que você se
apaixonou por ela?
— Por que você é meu melhor amigo? — respondi ao mesmo tempo
que Rafael a pergunta retórica:

— Sororidade masculina?
— Eu deveria virar as minhas costas para você, mas, mesmo que
você tenha sido o causador de todo esse problema, não posso não estender a
minha mão quando eu sei que está sofrendo. Não sabe o quanto quero que

você seja feliz, Edgar.


— Já é tarde demais para mim conquistar essa felicidade, amigo, eu
a perdi. Talvez seja melhor assim. — Senti uma pontada com as minhas
próprias palavras.

— Nunca se sabe.
— É um tolo apaixonado, sabia, Riccardo? — Nem eu consegui
achar graça da minha tentativa de brincar.
— Eu que sou o maior idiota por ter negócios com vocês dois.

Me virei para Rafael, achando o comentário estranho.


— Mesmo?
— Essa coisa de se apaixonar parece contagiosa. — Estremeceu no
assento.

— Um solteirão convicto como você não deveria ter medo disso —


o provoquei.
— Falou o até então solteirão convicto que até uns minutos atrás só
faltava declarar poesias sobre o seu amor perdido.

— Babaca! — grunhi, irritado pelo deboche dele.


— Realista.
— Vá pra merda, Rafael!
Ele deu um sorriso que me fez respirar fundo para não ir até lá para

apagá-lo do rosto dele.


— Me sirva uma bebida antes de começarmos a reunião. Sua vida
amorosa rendeu fofocas suculentas para a vovó, mas elas não são lucrativas
— Rafael disse em um tom desprovido de humor.
Poderia retrucar, mas apenas virei-me para o meu melhor amigo.

— Riccardo?
— Um whisky vai cair bem.
Assenti e fui até o decantador dele, servindo três copos cheios
enquanto Riccardo se colocava à frente do notebook dele.

Não foi surpreendente que, depois de eu distribuir o destilado e me


jogar na cadeira ao lado de Rafael, o silêncio recaísse sobre nós, cada um
preso em seus próprios pensamentos, sendo que todos os meus estavam

voltados para a mulher que estava a alguns cômodos de distância. O desejo


de ir atrás de Thais me invadiu, mas eu não faria isso. Eu tinha que desistir
de insistir para parar de machucá-la.
Depois de ficar olhando para a bebida por minutos a fio, tomei um
gole longo, sentindo tudo queimar.

Me veio a lembrança do nosso primeiro beijo e isso me fez sentir


uma dor aguda.
Porra! Eu podia chegar mais no fundo do poço?
Capítulo vinte e nove

Girei o volante, fazendo a curva para entrar no segundo andar do

estacionamento subterrâneo onde ficavam as vagas reservadas para o meu


apartamento.

Franzi o cenho ao ver que uma delas estava inconvenientemente

ocupada por um esportivo de luxo vermelho. Sabia que soaria infantil da

minha parte reclamar para o responsável pelo prédio sobre Beiley ocupar
minhas vagas com a coleção de automóveis dele, já que tinha mais cinco à

minha disposição, mas eu faria essa merda, eu precisava de confusão. Uma

urgência enorme em canalizar a raiva que eu sentia em alguém me tomou, e

Beiley me deu a oportunidade perfeita, mesmo que soubesse que caçar


briga com o vizinho era idiotice.
— Você não fará porra nenhuma, Edgar!

Grunhindo um palavrão, fechei os meus olhos ao estacionar e bati

minha cabeça contra o encosto do assento de couro enquanto meus dedos

seguravam o volante com força, provavelmente deixando os nós brancos.

— Brigar com alguém não vai afastar a raiva que sente de si mesmo
— sussurrei, tentando ser racional.

A hora havia chegado e eu não estava sabendo lidar com isso. Passei

cada minuto do meu dia me sentindo vazio e amargo.

— Para de drama, caralho!

Voltei a bater minha cabeça contra o banco do carro de forma


masoquista.

Sendo um covarde, permaneci dentro do veículo um bom tempo,

mesmo ciente de que eu enrolar para subir não mudava o fato de que Thais

deixaria a minha casa para ir dormir na dela.

— Seja homem e lide com as consequências dos seus atos —

murmurei, removendo a chave da ignição.

Ainda precisei de vários minutos para abrir a porta e finalmente


deixar o carro e de vários outros para alcançar o elevador. Infelizmente, a

caixa de metal não colaborou e chegou no meu andar rápido demais.

Antes de entrar em meu apartamento, afrouxei a gravata, que

parecia apertar a minha garganta, mas a sensação permaneceu.


Não foi uma surpresa quando somente Batata me recepcionou no

hall e, depois de me cheirar por um minuto, saiu trotando, voltando para

onde eles estavam.

Amargando uma espécie de solidão, fiz tudo lentamente, mas sabia

que não adiantava em nada.

— Esse poder é chato! — Escutei a voz de Spencer quando me


aproximei da sala de estar com passos que tentei fazer com que soassem o

mais silenciosos possível.

— É! — Jaxon concordou.

— Não é, não! — Thais retrucou. — Soltar gelo é muito maneiro!

— Né, não. — Os garotos falaram praticamente juntos.

— Claro que sim! — ela continuou.

Acabei dando um sorriso agridoce quando imaginei que Thais fazia

um bico enorme para os dois. Era algo idiota, mas mesmo emburrada, eu a

tinha achado bonita, mas quando Thais não estava bonita aos meus olhos?

Por que eu lutei tanto contra os meus sentimentos?


Semicerrei as pálpebras com força.

— Imagina congelar os inimigos, o mundo inteiro, impedindo os

vilões de fazer o mau na hora H… — prosseguiu, entusiasmada.

Ao alcançar o vão de entrada, vi Thais sentada de costas para mim

no tapete com os gêmeos enquanto tentava se livrar de Batata, que subia em


cima dela.

Aproveitando que os três não se deram conta da minha presença,

escorei na parede e os observei.


— Mas ia ficar muito frio! — Spen deu um argumento lógico para

os seus cinco anos.

— Burrrrp — Jax estremeceu, fazendo uma performance digna de

um Oscar ao tremer os lábios e esfregar os braços como se estivesse

congelando.

— Não exagerem! — Fez um muxoxo — Ele não precisa se

preocupar com o frio!

— Não? — Spencer mostrou-se curioso e confesso que eu também,

já que Thais sempre tinha umas ideias mirabolantes nas histórias que

contava.

— Não! — Balançou a cabeça, enfatizando ainda mais sua fala,

fazendo com que as tranças ricocheteassem nas costas.

Uma vontade descomunal de tocar os cabelos dela me invadiu, mas

eu não podia, nunca mais poderia. Engoli a vontade de suspirar com a

sensação ruim que me tomou.

— Por quê? — Jax perguntou em meio a um latido do cachorro.

— É! — Meu outro irmão insistiu.


Vi Thais se curvar na direção deles como se fosse contar um

segredo.

— As células dele foram modificadas em laboratório pelo doutor

Mercedes…

— Mesmo? — Jaxon sussurrou, provavelmente nem

compreendendo o que aquilo significava, enquanto Batata verbalizava seu

interesse na forma de latido.

— Sim, mas é algo que ele esconde de todos, até mesmo do Frost.

— Por quê?

— Porque essa modificação genética permite que Frost sobreviva a


qualquer temperatura…

— Até ao fogo? — Spencer pareceu animado.

— Uhum.

— E lava também? — Jaxon insistiu.

— Também.

— Uau! — exclamaram em uníssono.

— Viram como ele é maneiro?

— É! — concordaram.

— Ele pode me mudar também? — Spencer perguntou e Jax logo

depois mostrou sua empolgação:

— Eu também quero!
— Acho que não seria uma boa ideia, ferinhas — acabei falando,

ainda que quisesse prolongar aquele momento por mais tempo.

— Mano! — Spencer se levantou em um salto e correu na minha

direção, fazendo com que Batata o seguisse, quase o derrubando no meio do

caminho.

— Oi, ferinha! — Me inclinei para erguê-lo no colo, mas não

consegui, já que um certo cachorro se jogou contra as minhas pernas.

Acariciei a lateral do corpo do cãozinho, dando pequenas batidinhas

enquanto, gargalhando, meu irmão ficava nas pontas dos pés para me dar

um beijo no rosto.

— Como foi o seu dia hoje, Spen?

— Legal!

— Mesmo?

— Teve filme — respondeu.

— Qual filme?

— Ahhh, esqueci o nome.

— Oi! — Cumprimentei Jaxon quando finalmente ele veio até mim.

Diferente de minutos atrás, ele pareceu mais ressabiado e todos os


meus instintos ficaram em alerta com a mudança repentina.

— Jax?

— Oi! — respondeu em um fiozinho de voz.


— Venha dar meu beijo, ferinha.

— Tá! — falou e me deu um beijo xoxo.

— Tá tudo certo? — perguntei, mexendo nos cabelos dele até virar

uma verdadeira bagunça.

Fez um gesto de indiferença e eu franzi o cenho…

— Você vai precisar de mais alguma coisa, Edgar? — Thais

perguntou.

Antes de eu continuar a investigar o estado melancólico do meu


irmão, me virei para ela. Eu senti um calafrio percorrer a minha espinha ao

encará-la e a dor foi instantânea por saber que o que eu queria não poderia
ter...

Sim, eu preciso. Eu preciso de você, porra!


Essas palavras pareceram ficar entaladas na minha garganta e por

mais que desejasse pronunciá-las, não consegui. No entanto, dizê-las não


adiantaria em nada. Thais não acreditaria.

Isso doía, doía demais.


— Edgar? — insistiu com a voz embargada.

Thais parecia sofrer tanto quanto eu. Como se fosse possível, me


senti mais machucado.
Merda!
— Nada que eu não consiga lidar — forcei minha voz a sair e dei
um sorriso falso.

— Então estou indo nessa — sussurrou. — Quem vai me dar um


abraço de despedida?

Spencer foi o primeiro a correr na direção dela e estender os


bracinhos e Thais não hesitou em dar um abraço apertado nele.

Olhei para Jax, que ficou parado no mesmo lugar. Ele estava ainda
mais tenso e eu fiquei preocupado.
— Você tem que ir embora mesmo, Thay? — Spencer perguntou

com uma vozinha triste.


— Sim. Eu tenho um monte de coisas para ajeitar, carinha.

— É?
— Aham. Mudança sempre dá um trabalhão, mesmo que eu não

tenha muita coisa ainda.


— Ah! Eu posso ir com você pra te ajudar. — Pareceu esperançoso.

Thais fez que não com a cabeça.


— Mudança não é coisa de criança, Spencer.

— Por que não?


— Tem muitos móveis para montar, coisinhas que podem ser

perigosas e te machucar…
— É?
— É. Não vai me dar um abraço também, Jax? — Abriu um sorriso
para o outro gêmeo.

— Fica aqui com a gente, Thay! — Jax gritou e eu não gostei nada
da reação dele, que praticamente fez Thais se encolher como se tivesse

levado um tapa.
Sentando-me sobre os meus calcanhares, olhei nos olhos do meu

irmão.
— Por que está gritando com a Thais, Jaxon? — retruquei em um

tom suave, controlando meu mau gênio.


Brigar com ele não levaria a nada e não ajudaria a educá-lo. E

claramente Jaxon estava sofrendo. Me senti amargo por saber que fui eu
quem havia provocado aquilo. Thais não precisaria ir embora se eu não

fosse tão estúpido.


— Eu não quero que ela vá embora, não quero! — gritou, batendo

os pés no chão, fazendo birra, e eu suprimi um eu também não quero.


— Sem gritar, Jaxon. — Tentei corrigi-lo. — Sei que você está
chateado, mas gritar comigo ou com a Thais não é legal, fora que você não

irá ganhar nada gritando ou sendo rude.


Toquei os ombros dele ao ver que o meu ferinha lutava contra as

lágrimas.
— Eu não quero, mano.
— Já conversamos sobre isso, Jaxon. — Respirei fundo, engolindo a

minha culpa. — A Thais estava ficando com a gente só por um tempo.


Agora, ela achou um apartamento legal para morar. Amanhã ela está de

volta para ficar com vocês.


— Não. Eu quero ela morando aqui!

Sim, ferinha, o lugar dela é aqui, com a gente, guardei também esse
outro pensamento para mim.
— Meu bem, a tia precisa do próprio canto dela… — Thais

respondeu antes que eu pudesse retrucar. — Eu prometo que nada irá mudar
entre a gente e eu vou continuar a passar bastante tempo com vocês!

— Não! — Deu um grito estridente.


Assisti, sem reação, Jaxon começar a chorar e, se afastando do meu

toque, sair correndo em direção ao quarto, sendo seguido pelo cachorro, que
ficou agitado.

Foi questão de segundos Spencer começar a chorar também,


assustado com a reação do irmãozinho.

— Está tudo bem, querido. — Escutei a voz de Thais consolando-o.


— Merda! — Fechei os olhos rapidamente, com o coice metafórico

que eu havia levado com aquela cena.


Sabendo que não poderia perder tempo comigo mesmo, me coloquei

de pé e olhei para Thais.


— Me desculpe por isso. Ele não deveria ter gritado com você —

falei, atraindo a atenção dela, que me encarou.


A dor e a tristeza dela eram visíveis, mas tentou disfarçar

— Não por isso. Ele só está chateado, e é normal ele extravasar o


que está sentindo. Quer que eu converse com ele?

— Eu faço isso. Você nos espera? Ele precisa se desculpar e também


se despedir.

— Claro! Enquanto isso vou dar vários beijinhos nesse mocinho


aqui! — Imprimiu diversão a voz, começando a atacar Spencer com beijos e

cócegas, fazendo o menino protestar e rir.


Sabendo que Spencer iria ficar bem e que Thais não sairia sem

esperar por nós, com passos apressados, fui até ao quarto dos gêmeos,
encontrando a porta aberta.

Vi Jaxon deitado de bruços na cama enquanto Batata o cheirava,


enfiando o focinho na sua perna, demonstrando sua preocupação.
— Posso entrar? — perguntei ao bater na superfície de madeira,

avisando da minha presença.


Como não obtive nenhuma resposta além do choro, entrei, me

aproximando dele.
Sentei na beirada da cama, ganhando uma rabada do Batata, e toquei

as costas dele gentilmente.


Jax não se moveu, apenas segurou os lençóis com mais força,
extravasando a frustração dele.

— Quer conversar sobre o que você está sentindo, ferinha? —


sussurrei assim que percebi que o choro diminuía.
— Não… — a vozinha soou abafada em meio a um fungar.

— Não? — Continuei a acariciar as costas dele. — Por que não?


— Porque não quero!

Abri e fechei a boca, pensando na melhor maneira de abordar o que


aconteceu, mas não havia jeito fácil. Resolvi começar pelo olho no olho.

— Por que não se senta na cama para conversarmos?


— Você vai brigar comigo.

— Claro que não, eu nunca brigo e você sabe disso.


— Briga, sim!

— Corrigir é diferente de brigar.


— Não é não.

— Okay.
— Promete que não vai brigar comigo? — perguntou depois de uns

instantes em silêncio.
— Sim, prometo que só vamos conversar. O mano não está com

raiva de você.
— Tá bom!
Ainda demorou um pouco para se sentar. Batata, que tomava tudo
como farra, subiu em cima dele e lambidas, rabadas e patadas se fizeram

presentes. Deixei que os dois interagissem um pouco, até que, segurando a


coleira, o fiz descer da cama. Um latido de protesto ecoou no ar.

— É normal se sentir com raiva, triste, com medo e frustrado, Jax


— prossegui quando tinha a atenção do menino, que abraçava os joelhos.

— O que é isso fustado? — A voz era baixa.


— Se sentir frustrado é quando a gente quer muito que aconteça

algo, mas quando não acontece como a gente planejou, a gente fica assim,
como você está agora.

— Entendi.
— Várias vezes eu me senti frustrado também.

— É?
— Sim, ferinha. Muitos planos dão errado e nem sempre temos tudo
o que queremos.
— Mesmo?

— Uhum. Mas não podemos gritar com a outra pessoa por causa
disso.
— Por que não?
— Além de ser algo feio, isso pode acabar deixando a outra pessoa

triste também.
— Ah! Thay ficou triste?
Estiquei a minha mão para acariciar o rosto úmido.

— O que você acha, Jax? Ela ficou triste porque ama você, ferinha,
e você falou alto com ela, o que não é legal — falei o mais suave possível,
mas aquela merda não era fácil. Novas lágrimas rolaram pelas bochechas
dele, e ele não disse nada, só chorou.
— Desculpa — disse quando se acalmou um pouco.

— Não é para mim que você tem que pedir desculpa, Jaxon, mas
para ela.
— Tá. — concordou, passando as mãozinhas no rosto para secar as
lágrimas. — Ela tem que ir embora mesmo?

— Sim, Jaxon, mas tanto eu quanto ela temos a certeza de que nada
mudou.
— E se ela não voltar nunca mais? — perguntou, com uma carinha
triste de cortar o coração.

— Você não ouviu o que eu disse, carinha? Thais não vai sumir da
vida de vocês. Amanhã ela estará aqui.
— Mas eu fui mau com ela.
— Você errou com ela? Errou, ferinha, mas a Thais é ainda a babá

de vocês e continua amando vocês dois do mesmo jeito.


— Mesmo?
— Uhum. — Abri um sorriso, querendo reconfortá-lo.
— Tá! — Passou a mão pelo rosto de novo com mais força do que

deveria.
— Agora você precisa fazer uma coisa.
— O quê, mano?
— Pedir desculpas para ela.

— Ela ainda tá aqui?


— Sim, está esperando por você lá na sala. Então, se levante e vá lá.
— Tá!
— Hey, o que está esperando? — perguntei ao me erguer, ao vê-lo

parado no mesmo lugar.


— E se ela não gostar mais de mim? — Se encolheu.
Franzi o cenho.
— Claro que ela gosta de você. Tá só inventando desculpas para não
ir falar com ela, ferinha. E isso não é legal.

O rosto ficou mais vermelho pela vergonha.


— Vamos? — Estendi a mão para ele, tentando passar confiança.
Ele entrelaçou os dedos aos meus e voltamos para sala, sendo
seguidos pelo cãozinho. Não foi surpreendente Thais estar esperando meu

irmão de braços abertos e com milhares de palavras doces para aceitar o


pedido de desculpas dele, além de muitos beijinhos.
Não demorou para que ela enredasse os gêmeos em uma festa,

transformando as lágrimas em gargalhadas.


Enquanto os contemplava, senti um vazio que tinha sido brevemente
esquecido, mas que voltou com força.
— Eles já tomaram banho? — perguntei, quando ela se preparava
para sair.

— Ainda não, Edgar, eles só trocaram o uniforme — me respondeu.


— Então o que estão esperando, ferinhas? — Me voltei para os dois
que ainda estavam no chão.
— Ah, não, mano! — Os dois resmungaram ao mesmo tempo.

Batata latiu em protesto também.


— Sem ah! Já para o banho. Vou pedir um lanche superlegal para
nós.
— O que cê vai pedir? — Spencer ficou bem animado.

— Só vai descobrir se tomar banho, carinha — Thais entrou na


brincadeira.
— O que vai ser? Vão ou não para o chuveiro? — insisti.
— Tá bom! — Spencer falou.

— Você volta amanhã mesmo, Thay? — Jax perguntou.


— Claro! — Thais fez aquele bico dramático dela. — Eu lá ia
deixar de contar mais segredos do Frost para vocês? Não mesmo!
— Tá bom! — Falaram um depois do outro.

— Fica pra comer com a gente, Thay. — Spencer pediu.


— A mudança, lembra, carinha? Eu não posso adiar mais. E já está
ficando tarde. — Apesar do tom de brincadeira na voz, vi dor cruzar o
semblante dela.

— Ah!
— Deem um último beijo nela e já para o banho. — Acabei dizendo,
mesmo que uma parte idiota minha torcia para que eles a convencessem a
ficar.

Infelizmente, os gêmeos cumpriram a minha ordem rapidamente e


foram para o quarto.
— Vou indo nessa então — Thais repetiu as palavras angustiantes,
se curvando para pegar a bolsa dela.
— Te levo até a porta, Malévola — murmurei, querendo prolongar a

estadia dela.
— Não precisa.
Arqueei a sobrancelha para ela, para que soubesse que não adiantava
me contradizer.

— Okay! — Deu um suspiro.


Caminhamos em um silêncio pesado até a entrada, e cada passo que
eu dava era como se estivesse indo em direção ao cadafalso. Meu
apartamento, que ocupava um andar inteiro, pareceu pequeno demais, já

que em um minuto alcançamos a porta.


Thais parou com a mão na maçaneta, e se virou para me encarar. Os
olhos castanhos estavam muito tristes.
— Eles ficarão bem? — A voz era quebrada.

— Acredito que sim… Bom, isso se você cumprir sua promessa de


estar aqui amanhã cedo, é claro — tentei brincar.
— Claro que voltarei, Edgar — sussurrou, ferida, e eu soube que eu
havia cometido um erro ao tentar brincar desse jeito.

Porra! Eu não parava?


— Me desculpe, eu…
— Está tudo bem, Edgar. — Deu um sorriso fraco.
— Não está, não!

— De verdade…
Sem que me desse conta da merda que fazia, cruzei a distância entre
nós e a envolvi nos meus braços; ela não me repeliu.
Naqueles segundos, o calor do corpo dela irradiou para o meu,

fazendo o meu coração se acelerar. O cheiro dela invadiu as minhas narinas,


me inebriando.
Droga! Aquele abraço era agridoce, me dando prazer ao mesmo
tempo que me causava dor.
— Obrigado, Thais — sussurrei e isso fez com que ela reagisse.
Em um instante, não havia mais nada. Bem, havia tristeza,
amargura, garras invisíveis que espremiam meu peito... havia lágrimas não
derramadas. Minhas. Dela... mas não tinha mais o calor.

Era ridículo querer chorar por aquilo, mas, droga, eu sentia que por
ela, pela ausência dela, eu era capaz de chorar.
— Nos vemos amanhã?
Concordei com a cabeça, incapaz de dizer algo no momento, e ela

deu as costas para mim.


Assisti, imóvel, ela girar a maçaneta e passar pela porta.
— Edgar? — Parou antes de chegar ao elevador.
— Oi? — Nunca duas letras pareceram tão difíceis de pronunciar.
— Se eles precisarem de alguma coisa, você me liga?

— Sim, ligo.
— Okay.
Respirou fundo e foi embora, deixando um vazio no meu
apartamento e no meu peito.

Fiquei parado no lugar, afundando em desesperança e em culpa, até


que fui obrigado a sair daquele torpor e seguir com a rotina dos gêmeos.
Tive que mascarar as minhas emoções. Afundar na minha
melancolia não ajudaria em nada a lidar com os sentimentos dos meus
irmãos.
Capítulo trinta

Controlei-me para não chorar com a parte dramática do filme, mas

perdi a batalha contra mim mesma quando o Titanic começou a afundar nas
águas profundas do Atlântico Norte.

Funguei.

Talvez fosse masoquista por ver aquele filme, ainda mais quando eu
ainda juntava as minhas migalhas que pareciam se colar lentamente com o

passar dos dias, mas, na verdade, eu não via somente o romance de Jack e

Rose. Havia muito mais profundidade em toda a história passada no navio,


explorando facetas como a ganância e o preconceito social, por exemplo,

além de mostrar que muitas pessoas sofreram, quase uma cidade inteira

ficou órfã.
Estava tão imersa no longa que que nem me preocupei com Batata

saindo dos meus pés e ter começado a latir, mas o som de passos se

aproximando em meio a latição do cãozinho fez com que eu pulasse no sofá

devido o susto enorme, meu coração quase saindo pela boca. Meu celular

caiu no sofá.
— Te assustei? — Escutei a voz de Edgar em meio aos sons do

cachorro e dei mais um pulo no lugar.

— Edgar? O que houve?

Levei a mão ao peito e o encarei, como se ele fosse uma

assombração, mas a pulsação acelerada não era mais só pelo susto, mas,
sim, por vê-lo ali, parado na minha frente.

Por que aquela sensação que parecia deixar o meu corpo como um

fio desencapado, prestes a dar um curto-circuito, não passava?

Deus! Aquele que caminhava na minha direção com Batata no seu

encalço era o homem que havia me machucado.

— O que tá fazendo aqui? — acabei dizendo.

— Você está chorando? — Fez com que iria esticar a mão para tocar
o meu rosto, mas se impediu.

Olhei para o rosto dele e, além do cansaço, identifiquei várias outras

emoções que, para o meu próprio bem, eu não quis analisar.


Dia após dia, e já se foram quase duas semanas, nada parecia mudar

em relação a minha tendência fantasiosa.

— É… — Passei a mão pelo rosto, enxugando-o.

— Por quê, Malévola? — A voz soou rouca enquanto o olhar dele

me percorria.

Senti certa raiva de mim mesma por reagir ao escrutínio de Edgar,


uma onda de calor irradiando pelo meu baixo-ventre.

— Ah, nada demais. — Coloquei uma trança atrás da minha orelha.

— Não me parece que não é nada demais — continuou naquele tom

cheio de rouquidão enquanto o olhar dele ficou mais repleto de luxúria.

Acompanhei seu olhar, só então me dando conta de que o vestido

que usava havia subido demais, mostrando muito das minhas coxas e até

mesmo a calcinha.

Droga!

Morrendo de vergonha por estar à vontade demais em uma casa que

não era minha, me ajeitei no assento.


— Por que está chorando, Thais? — insistiu.

— Como disse, nada demais. — Peguei o meu telefone que ainda

rodava o filme e mostrei para Edgar.

— Titanic? — Franziu o cenho.

— O que que tem?


— Eu deveria ter imaginado algo do tipo. — Colocou a mão nos

bolsos da calça e abriu um sorriso cretino.

— Hey! Vai dizer que nunca chorou vendo um filme? —


questionei.

— Acho que eu tinha uns cinco anos da última vez que fiz isso,

Malévola.

— Não tenho culpa se eu sou sensível. — Alfinetei, arqueando uma

sobrancelha para ele.

— Não precisa ficar na defensiva, Thay — fez um gesto de

desculpa. — Foi mal.

— Tudo bem — falei, me martirizando por dentro ao ficar ciente de

que estava sendo infantil e acabei mudando de assunto: — Pensei que

voltaria para casa só daqui uns dias.

— Decidi mudar meus planos. — O sorriso de Edgar se desfez, o

cansaço se abatendo sobre ele.

— As negociações não deram certo? — perguntei em um tom baixo,

querendo oferecer alguma espécie de conforto a ele, e só então me dei conta

daquilo que eu estava fazendo. Senti meu corpo enrijecer, a dor me

invadindo. — Me desculpe, Edgar, eu não deveria fazer esse tipo de

pergunta.
— Por quê, Malévola? Por que você não pode me perguntar isso? —

retrucou em um sussurro.

— É melhor assim. — Dei um sorriso amarelo, antes de trocar o

assunto, procurando ser prática: — Precisará que eu busque os gêmeos hoje

na escola ou você fará isso?

Me encarou atordoado.

— Porra!

— E então? — Ignorei os vários palavrões que escapavam pela boca

dele enquanto caminhava de um lado para o outro, sendo seguido por

Batata.
— Não aguento mais essa merda! Não aguento mais! — Parou na

minha frente e eu tentei ignorar a expressão dele, sua respiração ofegante,

mas eu era fraca, incapaz de não me deixar levar pela minha mente

imaginativa de que Edgar parecia atormentado, de que ele sofria.

Tola, eu era uma tola. Uma boboca que ficava com o coração

apertado por ele, por aquilo que eu achava que Edgar estava sentindo.

E o que eu estava sentindo? Ele não dava a mínima.

Deus! Eu deveria me importar mais comigo mesma do que com ele.

— Nós precisamos conversar sobre o que aconteceu entre nós dois

— a voz soou baixa.


— Nada aconteceu entre nós, Edgar. — Nunca pronunciar algumas

palavras foi tão doloroso.

— Não finja que não houve nada, droga! — Passou a mão pelos

cabelos, frustrado.

— Fizemos sexo e é só isso. Não temos mais nada para falar um

para o outro. — Tentei soar indiferente, como uma mulher madura que

levou um fora, mas não sei se era capaz de executar bem aquele papel.

— Não vê que não podemos continuar assim, Malévola?

Edgar fez meu peito doer, e doeu ainda mais quando uma

possibilidade passou pela minha mente.

Não, não, não…

— O que você quer dizer com isso? Você vai me demitir? —

sussurrei.

Edgar arregalou os olhos para mim e eu vi um medo que ele não

conseguiria fingir em sua expressão.

— Do que caralho você está falando?

— É uma forma de resolver o seu desconforto, Edgar.

Sem que me desse conta, me encolhi contra o sofá, como se as


próximas palavras dele terminassem de me destruir.

— Porra, Thais! — Tornou a percorrer os cabelos com os dedos,

exasperado. — Te afastar de vez só me foderia ainda mais por dentro! Pode


não acreditar em mim, mas estou mal desde o momento que eu te

machuquei.

Um nó se formou na minha garganta, parecendo me asfixiar, quando

olhei nos olhos de Edgar e vi um brilho estranho, como se estivesse

segurando-se para não chorar.

Olhando-o, eu queria muito acreditar nas palavras dele, mas o medo

de ficar mais machucada, de, no final das contas, eu dar um voto de

confiança e ser enganada, de ele me jogar fora na manhã seguinte, era muito
grande.

— Eu… — Antes que eu pudesse dizer algo, o meu celular tocou.


Franzi o cenho ao olhar o número desconhecido no visor.

— Quem é?
— Não sei — respondi, mesmo que não fosse da conta dele. — Já é

a terceira vez que me ligam em pouco tempo.


— Não vai atender?

— Deve ser telemarketing.


— Pode ser algo importante.

— Duvido.
Dei de ombros, mas ele continuou a me encarar.
— Você me deve dez dólares se for algum vendedor chato. — Foi

automático brincar com Edgar e antes que a ligação caísse, deslizei o dedo
para atender. — Alô?
Você está recebendo uma ligação do King County Correctional

Facility e essa ligação está sendo monitorada e gravada.


Estava quase desligando a chamada, pensando ser um trote de mal

gosto, quando um bipe ecoou nos meus ouvidos e eu escutei uma voz que
me fez estacar:

— Nem pense em desligar, fedelha.


— Papai — sussurrei.
— Com certeza não é o Brad Pitty, garota — foi irônico. — Por que

não atendeu o telefone antes? Quer me ferrar ainda mais com os policiais?
— O quê? — Dei um grito, meu sangue gelando.

Minha mão ficou tão trêmula com o choque que parecia que, a
qualquer momento, o celular escorregaria dos meus dedos.

— Não precisa gritar na minha orelha, merda — resmungou.


— Papai, eu… — Algo pareceu tampar minha garganta, me

impedindo de continuar a falar.


Olhei para Edgar quando ele tocou o meu ombro em um gesto de

conforto, e vi tanta preocupação em seu semblante que eu esqueci de como


respirar por alguns segundos.

Antes que pudesse fantasiar, dando outro significado ao gesto dele, a


voz do meu pai me trouxe para a realidade:
— Preciso que você me consiga um advogado.
— Pra quê? — sussurrei, tentando processar o que estava

acontecendo.
— É burra ou o quê, fedelha? — Foi a vez dele gritar. — Preciso de

um doutor para me arrancar daqui antes que eu seja transferido, mas um que
seja bom, não qualquer merdinha.

— O se-nh-nhor es-tá pre-so? — gaguejei, sentindo lágrimas se


formando nos meus olhos. Acho que nunca estive tão assustada.

— É mesmo tão estúpida assim? — Bufou. — Eu deveria ter ligado


para a sua tia.

— O que aconteceu? — Tentei ser racional, respirando fundo para


controlar o pânico.

— Um mal-entendido.
— Mal-entendido? — Tive que me conter para não gritar de novo

com ele.
— Sim!
— O senhor está preso por um mal-entendido? — Dizer aquelas

palavras em voz alta fez com que as lágrimas rolassem de vez.


Tristeza e decepção tomaram o meu peito. Fechei os olhos e senti

uma carícia sutil de Edgar em meu ombro que me fez desabar ainda mais.
Meu pai poderia ser muitas coisas: controlador, arrogante, um viciado em

álcool, mas jamais imaginaria que poderia ser preso.


— Não fui julgado ainda — murmurou em sua própria defesa depois

de alguns segundos.
— Não importa! — Eu estava nervosa, sentindo o meu peito rasgar.

— Não enche, fedelha! Só me traga um bom advogado.


— Sabe que eu preciso saber o que fez para achar um especialista,
né?

— O dono do bar em que trabalhava não gostou que eu peguei


emprestado um dinheiro no caixa sem pedir a ele.

— Roubou o cara?
Não houve mais tristeza, ela foi substituída pela raiva, uma raiva

bruta dele. As lágrimas, que não paravam, faziam meus olhos arderem.
— Peguei emprestado — me corrigiu.

— Você roubou o homem, pai…


— Caralho! — Escutei o palavrão vindo de Edgar.

Quando olhei para ele, além da raiva que sentia pelo ato do meu pai,
também senti vergonha por ele ter roubado alguém. Ainda não havia sido

julgado, mas estava na cara que era culpado.


— Eu deveria te deixar apodrecer aí, para aprender com os seus

erros — falei, tomada pela amargura.


Essa ligação se encerra em um minuto, uma voz mecânica soou.

— Escute, fedelha —meu pai adotou um tom de voz baixo e


ressentido —, eu fiz de tudo por você. Te criei, te dei um teto, te dei

comida, e agora que estou velho, você me abandonou, Thais. Esse tempo
todo, não me fez uma ligação sequer para perguntar se eu estava bem, se eu

precisava de algo…
Mesmo que pudesse retrucar, dizer que foi ele quem me proibiu de

buscar minhas coisas no apartamento dele, que ele em nenhum momento se


preocupou com o meu bem-estar, fiquei em silêncio.

— Sou o seu pai! — continuou. — Não seja mais ingrata me


deixando apodrecer junto com um monte de criminosos perigosos, com

drogados, estupradores e sabe se lá mais o quê. Quer que eu continue aqui


passando por isso? Você me quer morto?

Antes que pudesse responder, a chamada caiu.


Meu celular escapou dos meus dedos. Levei minhas mãos ao rosto e,
com um choro convulsivo, sucumbi ao desespero. Sabia que estava sendo

injusta comigo mesma, mas me senti mal ao imaginar meu pai passando por
aquilo.

Eu não podia desampará-lo nesse momento, ainda que eu não


tivesse ideia se poderia fazer de fato alguma coisa para ajudá-lo, ainda mais

que as informações que ele me deu eram muito vagas.


Me senti perdida, até que um braço envolveu a minha cintura. Ainda
que o bom senso dissesse para eu me afastar, deixei-me ser abraçada por

Edgar, chorando nos ombros dele.


— Ficará tudo bem. — Deixou um beijo no topo da minha cabeça
enquanto acariciava o meu braço.

— Eu não sei, Edgar. A única coisa que eu sei é que preciso fazer
algo pelo meu pai. É um ladrão, mas é o meu pai.

— Não precisa se justificar para mim — murmurou.


— Eu não conseguiria dormir à noite sabendo que eu não fiz nada

para ajudá-lo. Ele está velho já, como ele bem disse...
— Eu entendo.

— É irônico que ele diga que está velho para não ir para a cadeia,
mas é sem-vergonha o suficiente para furtar sabe-se lá quanto do dono do

bar.
Edgar permaneceu em silêncio, apenas ouvia meu desabafo.

— Me sinto perdida, com um peso enorme nas costas para carregar


— continuei. — Talvez eu devesse ligar para titia, procurando um norte. Ou

Ju… Deus! Como irei contar isso para a Ju?


— Olhe para mim — falou em um tom baixo.

Sem me dar escolha, segurou o meu queixo e me fez encará-lo.


Procurei por julgamento, mas não encontrei nenhum, só preocupação.
— Posso te ajudar no que for preciso.
— Você não precisa fazer isso, Edgar. Bem, você pode fazer algo

por mim, ir buscar os gêmeos na escola.


— Thais, divida o seu peso comigo. Eu tenho recursos e contatos

para te ajudar — pediu com urgência na voz.


— Eu… — Me impediu de continuar a falar ao colocar um dedo

sobre os meus lábios.


— Você pode não acreditar nas minhas palavras quando eu digo que

estou arrependido pela merda que eu fiz naquela noite, então me deixe
demonstrar com gestos, Thais. — Deu um sorriso triste. — Porra! Estou

desesperado para que acredite em mim, que acredite que eu gosto de você,
de que não foi apenas uma foda, mas não consigo ver uma saída desse poço

fundo onde eu mergulhei.


Fiquei em silêncio, a dor dele estava me atingindo também.
— Me deixe mover o mundo para te ver sorrir outra vez, Malévola.
Me dê uma oportunidade de me redimir com você, de mostrar que não sou

um maldito babaca. Me dê uma chance para me explicar quando


resolvermos o problema com o seu pai. Sei que não é o melhor momento,
mas me dê uma chance de ter um futuro com você.
Senti uma lágrima grossa deslizar pela minha bochecha. Minhas

emoções estavam em um turbilhão. Como poderia estar sentindo tantas


coisas ao mesmo tempo ao ponto de não conseguir defini-las?
— Não quero me machucar, Edgar, não mais… — confessei,

ficando ainda mais vulnerável para Edgar.


Estava abrindo uma brecha que permitiria que ele brincasse com
meus sentimentos de novo.
— Eu imagino que você tenha receio de se decepcionar comigo
outra vez, eu no seu lugar também teria, mas me deixe demonstrar que me

apaixonei por você desde o primeiro momento em que eu te vi. Posso não
ser o seu príncipe encantado, mas você é a minha princesa, Malévola.
— Sabe que Malévola não é uma princesa, mas, sim, uma fada que
foi traída, não é?

Vi seus olhos brilharem e ele abriu um sorriso que eu me peguei


retribuindo.
— Mas a minha Malévola é uma princesa e eu vou cuidar dela como
se fosse uma — sussurrou.

Segurando o meu rosto, os olhos fixos nos meus, Edgar se inclinou


na minha direção e os lábios dele roçaram suavemente nos meus, deixando
a minha boca formigando por mais.
Suspirei, sabendo o que aquele beijo significava. Não era apenas um

beijo, era o meu sim. Sim para a explicação dele. Sim para a possibilidade
de no futuro ele me machucar ainda mais.
Eu estava com medo, na verdade, aterrorizada pelo passo que estava
dando. Mesmo assim, me peguei movendo meus lábios contra os dele, me

rendendo.
O suspiro de contentamento de Edgar ateou fogo no meu corpo, me
lembrando do tempo que não teve o dele. Dando vários selinhos nele,
fascinada pelo brilho dos seus olhos, passei minha língua em seus lábios,

querendo que ele abrisse a boca para mim, mas ele interrompeu o beijo.
— Obrigado — sussurrou, para depois deixar um beijinho na minha
testa.
— Não me machuque mais, Edgar — pedi. — Não terá uma outra

chance.
— Prefiro cortar um braço a te ferir outra vez — falou com voz
séria. — Eu prometo não te magoar novamente.
Não respondi, pois isso só o tempo diria. É, tínhamos muito o que
conversar.

— Tenho que encontrar um advogado para o meu pai — falei,


tentando pensar no problema que tinha em mãos, e não em mim mesma e
no meu futuro com Edgar.
— Vou contatar a firma que presta serviços para nossas empresas,

com certeza terão alguém para indicar que saiba nos orientar como devemos
proceder — disse, puxando o celular do bolso.
— Vai ser caro…

— Você confia em mim?


— Sim, mas…
— Eu resolvo tudo, Malévola.
— Edgar…
— Por que não lava o rosto, respira fundo, depois anota para mim a

localização da delegacia em que o seu pai está e outros dados dele que você
se lembrar?
Se curvou para me dar um selinho.
Por um momento eu fiquei atônita, sentindo que eu deveria protestar

e que não deveria deixar que ele interferisse, que ele tomasse o controle da
situação, mas acabei me levantando para buscar papel e caneta para anotar o
que ele me pediu, afinal, eu estava extremamente perdida no que fazer para
ajudar o meu pai, e confesso, que estava impactada demais para pensar…
Capítulo trinta e um

Meu estômago revirava com a repulsa por saber que em questão de

minutos, os policiais trariam James. Não sei como conseguiria olhar na cara
dele. Só o pensamento, fazia com que bile subisse queimando pelo meu

esôfago, mas eu precisava fazer isso.


Sentindo os meus dedos escorregadios com suor frio e meu

nervosismo, Edgar ergueu a minha mão que estava entrelaçada a dele e

deixou um beijo no dorso.


— Já está quase acabando, Malévola — sussurrou e eu olhei para

ele, que além de sério, estava cansado.

— Obrigada, Edgar — foi a única coisa que fui capaz de responder,


já que eu tinha a sensação de que o meu pai ainda iria encontrar um modo

para deixar a situação mais pesada.


— Não precisa me agradecer. — Me deu outro beijinho, dessa vez

na testa e eu suspirei.

Sabia que nunca seria capaz de agradecer o milionário por tudo o

que ele fez por mim, por James. Além de me incentivar a contar para

Juliana, dizendo que eu não precisava ter vergonha, Edgar havia movido o
mundo para ajudar o meu pai, fazendo inúmeras ligações, uma seguida da

outra, dando ordens, conversando com os advogados que eu nunca poderia

pagar, tentando entender o quão grave foram os delitos cometidos por

James.

Mal-entendido.
Meu pai estava louco se achava que furto, seguido de lesão corporal

e resistência a detenção, eram mal-entendidos. Mesmo que James tivesse

sinais de embriaguez quando foi detido em flagrante, dia atrás, isso não

diminuía a minha repulsa por ele. O pensamento de que tudo seria diferente

se eu estivesse com ele passou pela minha mente, mas fiz de tudo para não

me deixar levar por ele. Foi meu pai quem escolheu encher a cara, ninguém

o forçou a nada e, comigo por perto, o resultado seria o mesmo.


Suspirei.

Meu pai tinha sorte de o advogado ter conseguido na Corte que ele

pagasse uma fiança para responder ao processo em liberdade.


— Seu pai está vindo — Edgar sussurrou, me tirando do transe de

pensamentos, e eu olhei na direção onde ele passaria para ir embora da

penitenciária, que me surpreendeu por ter alguns bancos na recepção.

Forcei-me a engolir o vômito ao olhar para o rosto do meu pai e ver

que ele sorria, como se tivesse chegado da sala de desembarque no

aeroporto e não na cadeia, sendo escoltado por um agente da polícia. Dentre


de todas as emoções que eu poderia sentir ao vê-lo, nunca imaginei que

arrependimento seria uma delas, mas o deboche do meu pai pela situação,

era um tapa na minha cara. Eu havia sofrido por ele, chorado, senti culpa

por ele ser idoso, mas, para quê? Para ele rir. Zombar.

Com a sensação de que eu era uma palhaça, sentindo o aperto de

Edgar na minha mão ficar mais forte à medida que os segundos se

passavam.

Assim que James olhou na direção em que eu e Edgar estávamos, o

deboche dele se transformou em fúria. Os passos dele foram pesados, e eu

podia ouvir os bufares dele.


— Você me enoja, sua puta — cuspiu quando o agente penitenciário

se afastou, me olhando de cima a baixo, como se eu fosse um ser asqueroso.

— Não deixarei que você fale assim com ela — Edgar retrucou em

um tom frio e baixo, que não escondia sua fúria, mas meu pai o ignorou.
— Você deveria ter vergonha de ser uma prostituta barata, fedelha.

Era isso que você estava fazendo o tempo todo em que me abandonou?

Sendo o jantar de um riquinho?


— Filho da puta! — Com uma carranca e o maxilar trincado, prestes

a explodir, Edgar se levantou da cadeira.

— Vamos embora daqui, senhor — o advogado falou.

— Deveria ter imaginado que você estava abrindo as pernas para

pagar esse advogado almofadinha, sua vagabunda — continuou a ignorar os

demais e a me ofender.

— Não complique a sua situação ainda mais. — O advogado tocou

o braço dele.

— Não encoste em mim. Essa vadia merece ouvir poucas e boas —

foi ríspido. — Me deixa doente você ter trocado o próprio pai, que precisa

de você, por dinheiro e o pau de um imbecil que só quer te usar. —

Balançou a cabeça em negativa, me encarando com ódio. — Eu e a sua mãe

não criamos você para isso, fedelha.

— Tem vários policiais olhando para nós nesse momento. Quer ser

preso por perturbação pública também? — falei em um tom baixo, cansada

das acusações dele, da confusão que ele sempre fazia.

Ele me acusava de burra, mas James era muito mais.


Me ergui e Edgar passou um braço em torno da minha cintura,

trazendo-me de encontro ao corpo tenso. Ele não apenas me protegia, mas,

de alguma forma, conseguiu me transmitir mais força para enfrentar o meu

pai. Mais uma vez naquelas vinte e quatro horas, o milionário era o meu

pilar.

Meu pai pareceu ficar mais alterado, começando a me xingar de

tudo e qualquer nome, quando eu e Edgar trocamos um olhar cheio de uma

cumplicidade profunda que ia muito mais além do que o físico. Voltei a

falar:

— Não foi o suficiente tudo o que fez? Pode me criticar, me chamar


de vadia, falar que eu sou uma vergonha, mas o único que lesou alguém foi

o senhor. Nesse momento, sou eu quem estou enojada de ser a sua filha.

— Sua puta! — falou entre dentes, atraindo a atenção dos agentes, e

eu senti o toque de Edgar ser mais firme na minha cintura.

Não demorou para que um policial nos abordasse:

— Algum problema, senhorita?

Vi a bravata dele morrer e ficar com um olhar assustado.

— Não, está tudo bem, senhor, não se preocupe — falei

rapidamente, não querendo ver o meu pai ser levado outra vez para o

presídio por desacato, fazendo os esforços de todos ir para o ralo.


— Certo. — O policial encarou meu pai com desconfiança e vi que

ele ficou ainda mais em pânico quando se dirigiu a ele: — Aqui não é a sua

sala de estar, lembre-se disso.

Com um último olhar de aviso, deu as costas para nós.

— Vamos conversar lá fora! — falou, ressabiado.

Balancei a cabeça, negando.

— Não temos mais o que dizer um para o outro.

— Eu ainda não acabei, fedelha… —começou a se exaltar outra vez.

— Senhor, é melhor parar com isso. Vou acompanhá-lo até a saída

— O advogado interferiu, perdendo a paciência.

— Talvez seja melhor para nós que essa seja a nossa última

conversa, pai. — Fui firme, mesmo que por dentro eu sentisse prestes a

desabar.

James pareceu sem palavras com a minha sugestão que me levou à

beira das lágrimas. A possibilidade de nunca mais falar com ele era

dolorosa, mas sabia que era o melhor a se fazer. Não queria mais acusações.

Não queria lidar com o egoísmo dele. Com o ódio que ele voltava contra

Edgar.
Tentei pensar em coisas boas que ele havia feito para mim nos

últimos anos, mas, não consegui pensar em nada além das cobranças,

críticas, escândalos. Das alfinetadas, das palavras para me desmotivar.


Doía, mas meu pai fez com que a repulsa, a decepção, vencessem o

meu amor de filha.

Eu precisava colocar esse fim. Era para isso que eu estava lá, e ver o

comportamento dele só me deu mais certeza de que era o correto a se fazer.

— Não me ligue mais, por favor — sussurrei, encostando a cabeça

no peito de Edgar, me segurando nele, como se ele fosse uma coluna que

mantinha de pé.

— Vai escolher ficar com essa bostinha que só está te usando do que
comigo?

Fiz que não.


— Vou me escolher, pai. — Senti uma lágrima escorrer.

— Que seja, fedelha. Acha que vou sentir sua falta? Está enganada.
Dorothy tem me tratado como um rei, coisa que você nunca fez, e com

outros benefícios… — Foi o único que riu. — Quando ele se cansar de


você, não venha me procurar. Esqueçam que eu sou seu pai.

Um tapa na cara não poderia ser tão doloroso quanto às últimas


palavras dele. Mesmo que meu pai não valesse a pena, uma lágrima

escorreu e outras se seguiram. Me aninhei em Edgar, não me achando tão


forte assim. O milionário me envolveu com mais força e deixou um beijo
no topo da minha cabeça.

— Ouviu bem, vadia? Você já não tem pai!


— Mas ela ganhou um companheiro que a apoia — Edgar
respondeu, me defendendo.

— Vamos ver até quando. Duvido que irá durar muito, não quando
descobrir quem Thais é de verdade, quando ela te trair da mesma forma que

ela me traiu. Você logo vai ver que o seu dinheiro pode comprar algo
melhor, bostinha.

Com um sorriso irônico e um olhar carregado de desdém, passou


por mim, fazendo questão de roçar os ombros nos meus como se quisesse
me empurrar.

— Filho da puta! — Escutei Edgar praguejar.


Segurei o braço dele para que ele não fosse atrás do meu pai, que já

estava a caminho da saída, levado pelo advogado.


Edgar se voltou para mim, frustrado.

— Não vale a pena partir para agressão, Edgar — sussurrei em um


tom quebradiço.

— Ele merece isso, droga.


— Por favor — pedi.

Ficou me encarando como se houvesse nascido um par de chifre na


minha testa, até que assentiu.

— Você está bem? — murmurou antes de me envolver em um


abraço forte.
— Não, mas vou ficar. — O calor do corpo dele era tão
reconfortante, que foi um convite para que eu desabasse, deixando que

todas as emoções, toda a tensão dos últimos minutos, se esvaíssem.


— Odeio te ver sofrer, Malévola, ainda mais por esse imbecil —

falou contra a minha orelha.


Não respondi, continuando a chorar.

— Ficará tudo bem… — ele sussurrou, deixando beijinhos na minha


cabeça.

Eu sabia que um dia ficaria, mas, naquele momento, era difícil


acreditar nisso.

— Estou com você — continuou. — Sempre estarei.


— Agora sei disso, Edgar — falei, tombando a minha cabeça para

olhar nos olhos dele, dando aquele voto de confiança.


— Farei com que nunca se esqueça disso — brincou, tentando dar

uma leveza ao momento.


— Estou contando com isso — retruquei, abrindo um sorriso por
entre as lágrimas.

Me deu um selinho enquanto me encarava com várias promessas.


— Vamos para casa? Juliana e Riccardo devem estar preocupados

também.
— Só vou agradecer o advogado — concordei, dando um selinho

nele.
Estava ciente de que ele me levaria para o apartamento dele, não

para o meu. Não me importei. Naquele momento, não havia nada que eu
queria mais do que o abraço de Ju e vários beijinhos dos gêmeos que eu

amava com paixão.


Capítulo trinta e dois

Eu não era conhecido pela minha paciência, mas, naquele momento,


fazia mais um exercício brutal de esperar ao sufocar os meus impulsos para

não ir até o quarto de Thais e invadir a privacidade dela.


Horas atrás, tinha exercido toda a minha paciência para não me

intrometer no momento dela com a amiga e depois, com os meus irmãos

que fizeram bastante perguntas, já que estavam assustados por terem ficado
algum tempo com Riccardo e a esposa.

Batata, sensitivo, junto com os gêmeos, tentou animar ela com

lambidas e gracinhas caninas.


Suspirei.
Agora, quando meus irmãos haviam dormido e Juliana e Riccardo

ido embora, permaneci afastado.

Sabia que Thais precisava de um pouco de espaço para processar

tudo o que aconteceu a ela nas últimas vinte e quatro horas.

Mas, droga, todo o meu ser se rebelava contra a pequena distância


que havia entre nós e por eu estar no meu quarto e ela no dela.

Nunca senti uma necessidade tão urgente de ficar próximo a alguém

que não fossem os meus irmãos, como neste instante.

Não se tratava de mim, das minhas vontades e desejos, mas sim,

daquilo que Thais queria.


Seria egoísmo me impor a ela, forçar uma proximidade que talvez

ela não quisesse no momento.

Era difícil, muito difícil.

Se eu queria ser o homem dela em todos os sentidos, mostrar para

Thais que ela era importante para mim, eu tinha que respeitar o tempo dela.

Passando a mão na minha nuca, inconsciente me ergui, meus passos

me levando em direção a porta. Com um grunhido, forcei-me a ir para o


lado oposto, em direção a porta panorâmica de vidro que cobria toda a

parede.

Abri uma fresta da porta e fiquei surpreso por uma rajada de vento

tocar o meu corpo, já que o dia inteiro havia feito um calor forte. Permaneci
ali, deixando que o frio agisse sobre mim, como se ele fosse capaz de

colocar um pouco de bom-senso na minha cabeça, até que o som de uma

batida na madeira fez com que eu tivesse um sobressalto com o inesperado.

— Edgar? — Senti meu coração se acelerar ao escutar a voz baixa.

— Sim? — Virei-me de súbito em direção a entrada da minha suíte

para encará-la, como se temesse que fosse o meu desejo por ficar próximo
dela quem a materializasse.

Não era imaginação.

Thais estava ali, me deixando ver parte do rosto dela pela fresta.

— Posso entrar? — murmurou.

— Não precisa pedir permissão, Malévola — brinquei.

— Sabe que sim, Edgar. — Abriu a porta, trancando-a em seguida.

Com o meu corpo fervendo com uma antecipação que não deveria

estar sentindo por ter ela ali, fui ao encontro dela, sem deixar de encarar o

movimento suave dos quadris, a forma como a camisola de algodão roçava

nas coxas dela enquanto caminhava.


Porra!

Ela era linda... E meu pau era uma besta, já que começou a reagir a

ela.

— É sempre bem-vinda ao meu quarto, sabia? — Quando se

aproximou, deixei que os meus dedos percorressem as curvas dela até


alcançar os quadris.

Suspirou.

— Sim? — Tocou o meu peitoral, espalmando as mãos fazendo eu


emitir um som abafado por um morder de lábios.

Caralho.

Ela fazia um estrago tremendo em mim e no meu corpo, me levando

ao limite no meu autocontrole.

— Sim! — Concordei.

Poderia fazer um comentário lascivo, falando o quão perfeita ela

ficava na minha cama, mas, não era o momento.

— Como você está? — perguntei, segurando o rosto dela.

O brilho de Thais desapareceu, e ela ficou triste.

— Eu não sei, Edgar — demorou a responder, traçando círculos pelo

meu peito.

As palavras dela, ou melhor, a ausência de um sim ou não, foram o

suficiente para que eu a abraçasse, só que, dessa vez, permaneci em

silêncio. Esperei pelo choro, mas felizmente ele não veio.

— A única coisa que sei é que não quero ficar sozinha — falou

baixinho, depois de vários minutos.

— Sorte a minha então — brinquei, mexendo nas trancinhas dela.


Franziu o cenho.
— Por que diz isso?

— Estava louco pra te ver, para ficar com você.

— Então por que não foi atrás de mim? Sabe onde fica o meu

quarto…

Os lábios se curvaram com um pouco de malícia, ao passo que a

mão dela tocou o meu pescoço, naquela região que ela sabia ser sensível,

me excitando. Minha respiração ficou ruidosa, meus pelos se arrepiaram ao

toque, meu pau pulsou.

— Porra! — Arfei. — Você dificulta a minha vida, Malévola.

— Em quê? — Continuou a me acariciar, colando mais o corpo dela


ao meu e eu estremeci.

— Estou lutando para não te pegar no colo, te jogar na cama e fazer

amor com você até que nós dois estivéssemos cansados demais para

continuar.

— Parece bom. — Sentia uma luxúria tão forte que precisei sufocar

mais um palavrão. — Não acha?

— Sim, porra! — Não consegui me conter. — Mas…

Engoli em seco ao sentir que meu pau ficava rígido com o modo

como ela segurou-me pela nuca.

Gostei pra caralho daquela pegada sexy e meu pênis endureceu

ainda mais quando imaginei aquela mulher me dominando na cama, me


submetendo, fazendo com que eu implorasse para tocar ela, para que ela

descesse no meu pau.

Eu poderia pedir, mas seria mais interessante a iniciativa dela.

Quem sabe um dia…

— Mas? — Insistiu.

— Você deve estar cansada… — Tentei ser racional, afastando as

imagens eróticas da mente.

— É…

— Também sinto que devemos conversar primeiro. — Coloquei

uma mecha do cabelo dela atrás da orelha, vendo que tinha ficado um

pouco tensa. Porra! Me detestei por entrar naquele assunto. — Não quero

que haja mal-entendidos entre nós.

— Entendo — puxou ar com força —, podemos conversar agora.

Fiz que não.

— Já teve muitas emoções para um dia só, Malévola. — Acabei

deixando um beijo na testa dela. — Você está vulnerável, sensível, não

quero que pense que estou usando isso ao meu favor para te manipular.

— Eu…
— Que tal apenas dormirmos de conchinha, hoje?

— Conchinha? — Arregalou os olhos.

Fiz uma careta por ela parecer horrorizada.


— Qual o problema?

— Nenhum — brincou com os cabelos da minha nuca —, só é meio

estranho você sugerir isso.

— Por quê? — perguntei, deslizando minhas mãos dos quadris pelas

costas dela.

— Não parece ser muito o seu estilo dormir de conchinha.

— Mesmo?

— Um pouco. É algo romântico, bem piegas…


— Hey! Sou um cara romântico — me defendi.

Arqueou uma sobrancelha para mim, mostrando descrença.


— Tá! — Resmunguei. — Não tenho nada de romântico.

— Que bom que admite.


Deu um sorriso vitorioso que pareceu iluminar o rosto dela e eu

acabei dando um tapinha no traseiro dela, oferecendo alguma espécie de


punição besta.

Os olhos de Thais brilharam com luxúria.


— Mas vou apreender a ser romântico por você, Malévola —

murmurei, acariciando a bunda dela.


— Sim?
— Uhum.

— Que brega, Edgar!


Não disse nada, apenas tombei a minha cabeça e rocei meus lábios
nos de Thais, que emitiu um suspiro baixinho.

Deslizando a boca contra a minha, beijando-me de volta, enlaçou


meu pescoço, colando-nos ainda mais, pressionando os seios pequenos

contra o meu peitoral. Toda a minha tentativa de manter o beijo casto se


rompeu no momento em que Thais entreabriu os lábios em um convite

silencioso para que eu a tomasse.


Soltei um palavrão, aceitando o que ela poderia me dar. Minha
língua mergulhou na boca gostosa, mas mal tive tempo de explorá-la, já que

a língua dela encontrou a minha com avidez.


Deixei que Thais controlasse os movimentos e a pressão dos nossos

lábios, que fizesse amor comigo da forma que quisesse.


Não ser refém do medo de se entregar completamente, de alguma

forma, tornou o beijo ainda mais gostoso, indescritível. Eu guardaria isso na


minha memória, ciente de que era o meu primeiro beijo de verdade. Quis rir

com o pensamento brega, mas que era real, porém, apenas gemi em resposta
ao suspiro delicado que escapou da garganta dela enquanto o aperto dela se

afrouxava.
Meu sangue ferveu nas veias quando Thais mordeu um dos meus

lábios, puxando-o até provocar um estalo, e eu perdi ainda mais o meu


controle.
Colei nossas bocas em um beijo urgente, dominando-a, exigindo que
a língua dela me devorasse e passei a reunir um punhado de trancinhas,

enrolando-as na minha mão.


Tocar as tranças de Thais fez com que eu acabasse cedendo o

controle do beijo outra vez. Suspirei. Como eu tinha sentido falta da textura
dos cabelos dela, de ter os meus dedos emaranhados nos fios.

Porra! Nunca na minha vida eu queria ficar mais sem poder tocá-los.
Sem resistir, movendo meus lábios contra os dela, dei um puxão

suave, arrancando um som excitado que fez o meu pau pulsar. Em uma
resposta primitiva, Thais se esfregou os quadris nos meus, ao passo que as

unhas raspavam suavemente a lateral do meu pescoço, descendo pelo meu


ombro.

— Não-podemos-continuar — falei entre selinhos, acariciando os


braços dela, irritado comigo mesmo por tentar ter um pingo de juízo.

— Tem certeza? — sussurrou ao tocar o meu pau por cima da calça.


Gemi, sentindo uma dor fodida no meu pênis com o deslizar de cima
a baixo que ela fazia.

— Por que não tenho nenhuma dúvida de que você pode, sim,
continuar.

— Porra!
Ela me deu um sorriso malicioso ao prosseguir subindo e descendo

pela minha ereção.


— O que vai ser? — Insistiu.

— Dormir? — sussurrei com a voz estrangulada, segurando o pulso


dela, impedindo-a de continuar, me maldizendo ao sentir a pulsação dela

acelerada.
— Okay — soltou um muxoxo —, parece bom também.
Me deu um beijo no peito que me fez praguejar outra vez. Abri uma

carranca quando a garota riu da minha cara, mas fiquei bambo quando ficou
nas pontas dos pés e deixou um beijinho no meu queixo, antes de sussurrar

contra a minha orelha:


— Vamos para cama?

— Deus, mulher! Você faz uma coisa inocente parecer


extremamente erótica.

— Ou você que é malicioso demais — me provocou, para depois se


soltar e dar as costas para mim.

Senti uma gotinha de pré-gozo escapar pela ponta do meu pênis


quando se afastando de mim a alguns metros, deu uma reboladinha suave.

Arfei quando a imagem dela rebolando para tomar meu pau surgiu
na minha mente e eu enrijeci ainda mais.
Com passos rápidos, ofegando com o desejo latente em todos os

meus poros, me aproximei dela, e com um movimento súbito, segurando-a


pelo pescoço, escutando o som baixo, excitado, a beijei outra vez sem

nenhuma delicadeza.
Com as línguas se enroscando, sedentas, minhas mãos pareceram

criar vida sobre o corpo feminino, traçando cada curva, ciente dos pontos
que faziam a respiração dela falhar, que deixavam os olhos ainda mais vivos

com luxúria.
Espalmou as mãos nos meus ombros, tombando um pouco a cabeça,

dando-me um novo acesso ao beijo.


— O que está fazendo? — Interrompeu o beijo quando comecei a

subir a camisola dela, aproveitando para tocar cada centímetro da pele


macia.

Ao chegar nas coxas, contive a vontade de apertá-las.


Thais suspirou quando baixei minha boca pela garganta dela,
trilhando vários beijos. Continuei a subir o tecido, passando-o pelos

quadris.
— Edgar? — Insistiu, se contorcendo quando mordisquei a junção

do pescoço com a clavícula. — Não íamos dormir?


— Sim, vamos!
— Por que isso então? — Pareceu confusa e eu parei de beijá-la
para fitar nos olhos dela.

— Preciso sentir sua pele contra a minha, Malévola — falei,


urgente, uma necessidade forte apoderando do meu corpo, da minha alma.
— Entendo.

— Entende?
— Acho que sim. — Sorriu e para a minha surpresa, levou a mão ao

elástico da minha calça.


Fui tomado pela ansiedade, meus dedos ficaram trêmulos por ter ela

removendo a minha roupa ao mesmo tempo que eu tirava a dela, tudo se


tornando mais intenso por ter nossos olhos fixos um no outros criando algo

muito maior, me deixando consciente daquilo que quase perdi.


Conversávamos em silêncio e foi em um silêncio cheio de palavras que nos

deitamos juntos na minha cama, que nossos corpos se entrelaçaram um ao


outro. O desejo ainda existia, mas, para mim, ia além da carne.

Brinquei com o bico do seio, roçando a gema do dedo, sentindo o


botãozinho ficando mais duro, recebendo em troca um suspiro baixinho e

um dedilhar suave sobre a rosa que eu tinha tatuada no corpo.


— E então? — murmurou.

— Então o quê? — Fiquei confuso.


— Por que você disse que eu era só sexo para você, Edgar?
Senti meu corpo ficar tenso por outra razão.
— Não disse para conversarmos sobre isso uma outra hora?

— Sim, mas eu preciso saber…


— Thais…

— Sei que estamos cansados, Edgar, que talvez não seja uma boa
hora, mas eu preciso. — Me encarou com seriedade. — Hoje coloquei uma

pedra no meu relacionamento com o meu pai e eu sinto que eu devo te


escutar para que eu possa passar uma borracha na mágoa que você me

causou.
— Entendo. — Emiti um suspiro cansado, sentindo uma pontada de

culpa por ouvir outra vez que eu a tinha machucado.


— Não quero dormir brigada com você. — Deixou um beijinho no

meu torso.
— Não estamos brigados agora, Malévola. — A trouxe para mais
perto do meu corpo, quase que nós fundindo.
— Não, na verdade, não.

— Eu não quero discutir isso agora, Thais… colocar um fim nisso


— confessei, fazendo um gesto breve para indicar o momento.
— Eu só quero entender, Edgar.
Fiquei em silêncio por uns instantes.

— E então? — perguntou depois de alguns minutos.


— Você realmente dificulta a minha vida!
— Hey! — Fez aquele biquinho dela, me dando um tapinha. — Não

dificulto não!
— Dificulta bastante — revidei com um tapinha também, só que na
bunda dela, e acabei gargalhando quando a careta ficou maior.
— Não vejo em que…
— E você é má!

— Edgar! — gritou, indignada


— Me seduziu, tirou a minha roupa, só para termos essa conversa.
— Foi você quem tirou a minha roupa. — Se defendeu.
— Você se aproveitou de mim, sabendo que eu nunca negaria algo

para você estando nua na minha cama… — Me fiz de coitado.


Bufou, revirando os olhos e eu acabei enrolando uma das tranças no
meu dedo, criando coragem de começar.
— Sabe como meus avós se conheceram? — Acabei sussurrando

uma pergunta retórica.


Ela franziu o cenho e balançou a cabeça, negando.
— O pai da minha avó tinha uma pequena companhia marítima no
Porto de Seattle e como meu avô era fortão, jovem, acabou o contratando

para trabalhar no descarregamento dos navios — minha voz saiu


embargada, tomada por várias emoções contraditórias —, em um dia
bastante ensolarado, uma garota bem mais jovem apareceu no cais com o
seu vestido rodado, na altura dos joelhos, cheio de florezinhas brancas na

estampa, uns sapatinhos brilhantes e o cabelo cheio de ondas modeladas na


ponta com bastante fixador.
— Como você sabe como ela estava vestida?
— Ouvi essa história demais para não saber, Malévola. — Abri um

sorriso com a recordação do meu avô contando, e porra, senti uma falta
tremenda dele.
— Huum…
— Como você, ela nem olhou para o meu avô…

— Hey. — Mais um tapinha. — Eu te olhei, te cumprimentei.


— Não foi assim que me lembro não…
— Até sorri para você, ri da sua gracinha.
— Não o suficiente para o meu ego — brinquei.
Colocou os olhos em branco.

— Tanto que eu senti muito ignorado — continuei.


— Ridículo.
— Queria que você tivesse me despido com os olhos, me desejado
da mesma forma que eu te desejei. Que quisesse ir para a cama comigo ou

que me pedisse para te levar para um cômodo vazio da mansão…


— Edgar! — Soltou outro gritinho.
— É a verdade — fiz uma pausa dramática —, mas como você sabe,

isso não aconteceu…


— Claro que não!
— É… algo decepcionante…
— Porque está me contando isso? — Traçou círculos lentos pelo
meu peito que subia e descia com força.

— Meu avô se apaixonou por ela assim que a olhou, ele a quis para
si, da mesma forma que eu quis você, só que diferente de mim, ele não
negou… — Uma pontada de raiva voltada para mim mesmo me invadiu.
— Entendo.

— Ele acabou descobrindo que ela era a filha do empregador dele,


algo proibido, mas, vovô era cabeça dura. Ele colocou na cabeça que iria
chamar a atenção dela e acabou tentando de tudo, até que um plano dele,
que deu errado, conseguiu.

— Que plano?
— Ele iria fingir tropeçar nela, só para dizer oi.
— O que deu errado? — Pareceu curiosa, os olhos brilhando, de
forma sonhadora, e eu desejei sentir da forma que ela se sentia, mas sabia

que era difícil, não quando eu sabia o resultado disso.


— Ele acabou tropeçando nela, mas ao invés do efeito desejado,
vovô acabou tropeçando de verdade, e como ela estava na beirada do cais,
ele acabou caindo no mar.

— Sério? — Começou a rir, e o riso dela pareceu se infiltrar por


todo o meu corpo e eu prometi que o escutaria todos os dias da minha vida.
— Ele chamou a atenção como queria, e eles meio que começaram a
trocar algumas palavras, até que ele deu outro passo e a convidou para sair.

Foi óbvio que ela recusou, com medo do pai, mas, dia após dia, nas
conversas breves sobre música, flores, nos bons-dias, eles se apaixonaram.
O amor é irracional, e sem pensar nas consequências, eles passaram a se
encontrar em segredo, em uma tarde, em um contêiner vazio, eles se

entregaram ao amor um do outro…


— Que romântico — sussurrou.
— Romântico? — Franzi o cenho.
— É! Só faltou ser a luz da lua… — Deu um suspiro, batendo os
cílios e eu acabei gargalhando.

— Se você diz… — falei, tentando controlar a minha risada, sem


muito sucesso: — posso te levar a um contêiner qualquer dia desses.
— Isso não tem graça. — Fez bico.
— Você disse que é romântico… — me defendi —, e como estou

tentando ser um romântico…


— Consegue fazer melhor, Edgar.
— Veremos — voltei a tocar a bunda dela, apalpando-a, antes de

voltar a ficar sério. — Vovó acabou grávida aos dezesseis e a merda


desandou. O pai dela não gostou da notícia, já que pensava dar ela em
casamento a um dos sócios. Ele demitiu o meu avô e foi covarde o
suficiente para agredir a própria filha, ao ponto de ela precisar ir ao

hospital.
A expressão antes sonhadora, se entristeceu, e vi que ela lutava
contra as lágrimas.
— Eles fugiram juntos para uma cidade do interior para criar a

criança que felizmente sobreviveu e foi a única que eles puderam ter, mas
foi uma vida cheia de privações, fome, frio, trabalho árduo. Os pais dela
nunca mais falaram com ela, nunca se preocuparam com o bem-estar da
criança. Sabe que não nasci rico, não sabe?

— Acho que a Ju me contou…


— Dinheiro, desde sempre, foi uma merda de problema —
reconheci a secura e a impotência na minha voz.
— Mas havia amor…

— Sim, tinha, mas esse mesmo amor foi a ruína de ambos. Quando
eu tinha lá pelos meus dez anos, minha avó ficou gravemente doente, e eu
vi tanto meu avô quanto Nicole se afundarem para tentar pagar os
tratamentos dela — meu coração se afundou no peito, e senti uma lágrima
dela me molhar —, mas foi em vão. Os recursos mais modernos eram caros
e até hoje me lembro de escutar uma discussão dos dois na cozinha sobre
isso. Ele querendo dar tudo, vovó se recusando. Quando ela decidiu tentar,
ela já não conseguia mais responder.

— Sinto muito, Edgar — a voz era quebrada, dolorida, enquanto as


lágrimas escorriam pelas bochechas dela.
— Nós a perdemos. — Senti as minhas próprias lágrimas esvair
enquanto revivia aquela dor profunda que sempre permanecia adormecida

dentro de mim.
Em silêncio, Thais me abraçou com força e eu me aferrei a ela, com
desespero. O calor da pele dela contra a minha, era uma espécie de bálsamo
que ainda que não curasse aquele sentimento, o amenizava. Ela me
confortava de várias formas, de corpo, de alma. E eu tomava aquele

acalento,
— Ele a amava com força, Thais. Ele a amava tanto, que não
suportou a perda. Assisti não apenas minha avó definhar pela doença, mas
também vi o meu avô se perder por causa da dor. O homem doce, se

transformou em amargo. Vi ele se tornar algo que eu odiei. O pior, assisti,


sem poder fazer nada, ele morrer lentamente até que a tristeza o venceu.
— Sinto muito, Edgar — falou em meio a um soluço, continuando a
me abraçar.
— O amor o destruiu, Thais. O amor o tirou de mim, me afastou do
homem que eu amava, admirava e que tinha como pai. Eu me rebelei,
encontrando nas ruas, na maldade, na bebida, na droga, nas tatuagens,
algum conforto.

— Ele estava doente, Edgar.


— Sim, hoje posso ver isso, mas dói!
— Você era uma criança.
— Sim, mas essa porra ainda dói! — Respirei fundo para continuar.

Agora que eu havia começado, precisava terminar. — Vi esse mesmo amor


tirar a minha mãe de mim, dos gêmeos, e pelo quê? Por um homem que está
com ela só pelo dinheiro que eu mando. Ela ama sozinha… Além de ver o
amor ser amargo para outras pessoas, vi o meu melhor amigo sofrer por

uma mulher que ele só teve uma única vez…


— E eu conheci uma mulher que sofreu muito ao ficar sozinha,
grávida desse homem — retrucou, na defensiva, me arrancando um sorriso
pela lealdade excessiva dela.

— Eu não sabia a outra versão da história. Preferi pensar o pior. Só


então descobri que o destino foi ingrato com os dois, mas isso não muda o
fato que houve dor.
— É…
— Na minha mente deturpada, odiei essa porra chamada amor. Eu o
generalizei. Detestei a dor que ele sempre causava. Odiei como ele pode
transformar as pessoas. Elas ficam cegas, mudam. Jurei a mim mesmo que

não iria passar por isso, que eu não iria sofrer desse mal, que eu não me
entregaria a ele. Que nunca me perderia, mudaria por ele…
Levei uma mão ao rosto dela, o segurando em concha.
— Depois de ter você naquela noite, eu tive medo, Thais. Medo de
me trair, medo da dependência que eu senti de você. Eu também tive medo

de você me machucar, de você me deixar na fossa. Eu me arrependi no


minuto seguinte quando vi que, ao tentar me blindar da dor, eu te trouxe
dor. Me arrependi quando você deixou o meu quarto, me deixando com um
vazio estranho no peito. Me arrependi por essas três palavras fizeram você

mudar comigo, fizeram com que você se afastasse e não me desse uma
oportunidade de falar.
— Eu precisava me proteger de você, Edgar — sussurrou.
— Eu sei e não te julgo. Eu mesmo não achava que estava fazendo

isso? Me protegendo?
Fez que sim com um assentir de leve.
— O único culpado dessa merda toda sou eu, Malévola. Eu que fui
um imbecil ao tentar me convencer de que não era nada, quando você se

tornou especial. Mas, mesmo assim, ter você longe de mim, perder aquilo
que tínhamos, doeu, me machucou de uma forma que eu não soube
descrever.
— Doeu em mim também, Edgar. Não sabe quantas vezes você me

feriu ao insistir em ficar próximo, o quanto me incomodou ter que dizer não
quando me fazia um convite. Do quanto senti falta dos momentos de vocês.
Eu chorei várias vezes.
Um nó se formou na minha garganta.

— Sinto muito por ter te trazido tanta dor, para você, para nós... mas
eu estava com tanto medo de me envolver, de me transformar em algo
repulsivo, como o meu avô e minha mãe…
— Nunca iria pedir que você mudasse por mim, e odiaria se você

quisesse me mudar — sussurrou —, quando se ama, a gente ama a pessoa


da forma que ela é.
— Mesmo com os palavrões? — brinquei, deixando um beijinho na
ponta do nariz de Thais.

— Eles podem diminuir um pouco. — O pé dela deslizou pela


minha perna em uma carícia suave.
— Só um pouco?
— Um bocado.
Acabamos rindo.
— Sempre podemos trabalhar para melhorar os nossos defeitos,
Edgar, mas o benefício é mais para nós mesmos do que para outra pessoa.

Melhorar, não é alterar a nossa essência, apesar que estamos sempre em


mutação.
— Isso foi filosófico e maduro, Malévola. — Abri um sorriso.
— Só é a realidade.
— Sim.

— Nunca iria querer que você mude a sua essência, Edgar — fez
uma pausa, envergonhada —, não que nós dois temos alguma coisa nesse
nível, se é que me entende.
— É algo que eu quero para nós, Thais — acabei confessando.

— Sim? — Pareceu surpresa e eu não pude culpá-la por isso, eu


quem tinha feito merda.
— Por mais que ainda seja cedo, eu realmente penso em um futuro
com você se me quiser, Thais.

— Isso é um pedido de namoro, Edgar?


— Tenho que fazer um pedido mais romântico, Malévola. — Outro
beijinho.
— Seria bom… — Os olhos dela brilharam e ela voltou a me

acariciar com o pé, um sorriso voltando aos lábios dela.


— Vou me esforçar.
— Talvez você devesse pedir dicas para o Riccardo. O pedido dele
de casamento para a Ju parece que foi bem lindo.

— Talvez — estalei a língua, arrancando uma risada dela, antes de


voltar a ficar sério —, mas, no momento, quero que tenha certeza,
Malévola, de que prometo ter mais responsabilidade com os seus
sentimentos. Juro que farei de tudo para não te magoar, para não te fazer

chorar…
Ficou em silêncio e eu senti uma agonia estranha.
— Me desculpa pelas minhas palavras impensadas? Me perdoa por
ser um babaca com você? — Tornei a tocar os cabelos dela.

— Não estaria deitada na sua cama se não tivesse te perdoado,


Edgar — fez uma pausa —, eu acho que estou pronta para recomeçar com
você.
Tomando a inciativa, segurou o meu maxilar, os lábios dela

encontraram os meus e eu abri minha boca, recebendo a língua dela em um


contato doce, intoxicante. Em meio ao beijo, minha mão voltou a acariciar o
corpo dela, detendo-se na lateral do mamilo, friccionando-o, tragando o
suspiro que subia pela garganta dela e morria contra minha boca.
Não demorou para que o beijo tornasse algo mais afoito, a pressão

do toque dela no meu rosto ficasse maior, fazendo com que o desejo
corresse de forma furiosa dentro de mim. Tentando pensar no bem-estar
dela, eu apenas me manteria nos beijos e nos toques que não tinham nada de

inocente, por mais que minha ereção estivesse mais do que pronta para
sentir o canal contraído dela.
Ficamos nos beijando até que perdemos o fôlego. Deixei vários
beijinhos pelo rosto lindo, fazendo várias carícias suaves com a intenção de
fazê-la relaxar ainda mais. Com o passar dos minutos, vi o cansaço se

apoderar de Thais, e eu senti o meu próprio.


— Acho que está na hora de eu cumprir o que eu falei — brinquei,
dando um beijinho nas pálpebras fechadas, depois de ver ela abrir a boca.
— O quê? — Piscou os olhos.

— A conchinha…
— Ah!
— Deite de lado — pedi.
Se moveu na cama, dando as costas e depois de ajeitar o meu

travesseiro, passei um braço em torno do corpo dela.


Não precisei de mais nada para que Thais se acomodasse contra
mim, praticamente se encolhendo, as tranças longas e cheirosas se
espalhando tocando o meu rosto.

Espalmei a minha mão no abdômen plano, passando o outro braço


por baixo dela e dei um comando para as luzes se apagaram.
Mordi meus lábios para abafar um gemido pelo roçar da bunda no

meu pau.
Respirei fundo e tentei pensar em nada que não fosse o calor de pele
contra pele. Me senti extremamente bem tendo Thais assim.
— Isso é bom! — Ecoou os meus pensamentos.

— Eu não sabia que era tanto — respondi.


— Sua primeira vez, Edgar? — perguntou, sonolenta.

— Sim.

— Huumm…
— Você é a minha primeira em muitas coisas, Thais, e será a minha

primeira em várias outras. E a última em várias outras.

— Como? — Escutei mais um som de bocejo.


— É a primeira e a última que vou me entregar — sussurrei, lutando

contra o torpor que me invadia.


— Última é exagero.

— Não acho.

— Nunca se sabe, pode ser que…


— Não quero pensar em um fim sendo que acabamos de começar…

— retruquei, ficando um pouco contrariado quando pensei que eu não seria


o último dela também.

— Okay.
— Foi a primeira a fazer amor comigo, foi a mulher que eu escolhi

depois de muito tempo.

— Quanto?
— Quer mesmo saber?

— Quer confessar que mentiu para me adular?


Bufei.

— Sem mentiras…

— Vai que… — Se moveu contra mim, e eu segurei o ar nos


pulmões com o roçar dela que me fez latejar. — Quanto tempo?

— Mais de cinco anos.


— Inacreditável! — A voz era mais fraca, e outro bocejar seguiu.

Deixei um beijo no ombro dela, depois vários outros.

— Eu escolhi você, Thais!


— E eu escolhi você, Edgar…

— Que você sempre me escolha, Malévola. — Falei, de alguma

forma, pedindo aos céus por isso.


Não falou mais nada e eu também não. Em questão de minutos,

minhas pálpebras ficaram bastante pesadas, e foi com Thais em meus


braços, escutando o ressonar baixinho dela, me sentindo em paz, que eu

peguei no sono também.


Capítulo trinta e três

Abri meus olhos ao sentir uma dorzinha aguda pela cotovelada na

altura da costela que eu havia acabado de receber, mas acabei sorrindo com
o contentamento que preenchia o meu corpo ao saber que minha cama não

estava mais vazia e no que dependesse de mim, nunca mais estaria.

Olhei para fora, vendo que, apesar do quarto estar bastante claro,
deveria ser umas sete da manhã.

Ao invés de tentar voltar a dormir, com cuidado, me movi no

colchão para encará-la.


Fazendo um biquinho, uma trança caía sobre o rosto e eu lutei para

não a remover, para não a tocar, para não a beijar, e apenas observei a face
marcada pelo sono, o seio empinado que subia e descia pela respiração

regular, as marquinhas que ela tinha pelo corpo, o monte de pelos

irregulares que cobriam o sexo dela.

Meu sorriso ficou ainda maior com o pensamento apaixonado de

que ela era perfeita com as suas pequenas imperfeições. Tão perfeita que
cada detalhe dela, me excitava. Tanto que, por mais que eu tentasse, não

conseguia lutar contra a minha ereção.

Thais era linda, gostosa, e eu contava os minutos para que eu

pudesse tê-la outra vez. E depois outra, mais outra, de várias formas.

Algo me dizia que eu seria insaciável por ela e o meu desejo nunca
teria fim. O pensamento deveria me assustar, já que beirava a uma obsessão,

mas, incrivelmente, senti euforia, fora que, nunca entendi tão bem o meu

melhor amigo como agora. De alguma forma, essa ânsia pelo corpo dela

que eu esperava que nunca se acabasse, via de encontro a conversa que eu e

Thais tivemos sobre mudanças. Sem que me desse conta, eu já mudava.

Não para pior, não quem eu era.

— Bom dia, Edgar — sussurrou ainda de olhos fechados e eu tomei


um susto.

— Merda! Te acordei?

— Não.
Me encarou, abrindo um sorriso para mim enquanto movia o corpo

dela de encontro ao meu.

Não resisti e, abraçando-a, me inclinei para deixar um beijo nos

lábios dela.

Ou isso era bom ou era eu quem estava apaixonado pra caralho.

— Volte a dormir, ainda é cedo, Malévola — falei ao acariciar toda


a coluna dela, alcançando a bunda bem-feita.

— Estou acostumada a acordar nesse horário, e dificilmente consigo

voltar a dormir. — Roçou as pontas dos dedos no meu pescoço.

Senti meu corpo estremecer, meu pau ficar ainda mais rígido com o

toque dela.

— Sério? — Minha voz era rouca.

— Sim. Fora que não é cedo para muitas pessoas. Eu deveria

acordar uma hora atrás.

Fiz uma careta.

— Você dormiu bem? — Baixou a carícia e eu prendi o meu fôlego.


— Acho que nunca dormi tão bem apesar das cotoveladas e também

dos chutes.

— Hey! — O cenho se franziu. — Eu não te chutei!

— Acordei com uma cotovelada sua, Malévola.


— Isso não é verdade! — Fez um biquinho irritado e com uma

gargalhada eufórica, por saber que eu poderia beijar ela sempre que eu

quisesse, rocei meus lábios nos dela.


Era para ser apenas um selinho, mas o instinto, o desejo, tinha

outros planos para nós.

As bocas passaram a se mover furiosamente, as línguas deslizavam

uma contra a outra, travando um duelo incessante pelo controle do beijo. Os

gemidos se propagavam no ar junto aos suspiros. Os olhos não se

deixavam. As mãos percorriam o corpo um do outro, descobrindo novas

zonas erógenas em uma exploração excitante, que me deixava mais duro,

principalmente quando ela passou a arranhar a minha pele.

Porra! Eu gostava disso, gostava e muito do descontrole dela. E o

que eu não gostava em Thais?

— Você precisa ir para o escritório agora pela manhã?

Quando não respondi, agarrou um pouco dos meus cabelos e

puxando-os, jogou a minha cabeça para trás. Encarei os lábios rosados,

cheios, que eram a minha perdição e o meu objeto de desejo enquanto

deslizei a minha mão até a bunda redonda, apertando-a, arrancando um

gemido baixinho dela.

Meu pau latejou com força.


— Tem alguma reunião? — Insistiu.
— Não que me lembre... — Naquele exato momento, eu não

conseguia pensar em nada que não fosse beijos, toques, ter a boca dela

sobre o meu corpo e vice-versa.

— Hum… — Vi os olhos dela brilharem com malícia.

— Por quê? — Forcei-me a perguntar.

— Digamos que tenho planos para nós dois. — Se insinuou ao

passar o pé na minha panturrilha.

Olhei para baixo, assistindo as carícias que ela fazia em mim, e eu

fiquei ainda mais em chamas, principalmente ao imaginar Thais subindo

com os pés até alcançar o meu pênis. Me surpreendi com a fantasia, já que
não podia dizer que eu era um aficionado por aquela parte do corpo.

— Muitos planos, na verdade… — Subiu um pouco mais e eu

acabei soltando um gemido.

— Mesmo? — Não consegui disfarçar a minha euforia. — Quais?

— Começar aquilo que você me negou ontem. E também aprender

algumas coisas novas… — sussurrou em um tom provocante. Emiti um

chiado quando ela parou de me tocar com os pés, mas acabei gemendo

quando ela roçou de leve o meu pênis. — Me ensina? Isso se você não tiver

que ir trabalhar, ou quiser dormir, Edgar. Diferente de mim, não sei se ainda

tá cansado.

Thais era a minha perdição.


Com o coração descompassado, pouco me fodendo para tudo que

não fosse fazer amor com aquela mulher, antes que ela pudesse dizer

qualquer coisa, minha boca voltou a cobrir a dela. Eu não tive nenhum

pudor em segurar o pulso dela, mantendo sua mão próxima ao meu pau.

Thais arfou, surpresa, e eu aproveitei o entreabrir dos lábios para

mergulhar minha língua dentro dela, matando a ânsia que me consumia pelo

gosto dela, pela retribuição e por tudo que eu sabia que a minha mulher me

daria.

Senti que fiquei ainda mais excitado com o pensamento de que

Thais era minha. Só minha. Minha para beijar, minha para tocar, minha para

amar.

Gemi quando minha pelve buscou a palma dela por instinto.

Não houve delicadeza no beijo, eu não conseguia beijá-la de forma

doce, por mais que a minha alma pedisse para que fizéssemos um amor

lento. Possessivo, eu demandava a entrega dos lábios e da língua dela.

Também não houve nenhuma gentileza no meu toque que ainda a

mantinha cativa ao passo que a outra mão estava enterrada em uma das

nádegas, aplicando uma pressão que a fez gemer contra a minha boca.
Eu era uma besta furiosa que não parecia ter o suficiente do beijo,

do toque dela.
Ver nos olhos de Thais que a minha selvageria a excitava, só

alimentou ainda mais o meu desejo e a necessidade furiosa que eu tinha de

Thais.

Esfreguei meu pau por instinto na palma dela, e a minha Malévola

tocou-me, explorando as texturas, veias, suspirando.

Com a respiração a mil, brinquei com cada canto da boca, antes de

voltar a deslizar a minha língua pela da gostosa, misturando ainda mais as

nossas salivas, fazendo com que um som baixo, uníssono, escapasse de nós
dois.

Me perdi no beijo, no gosto dela, na pequena mordida nos lábios


que ela me deu, antes de voltar a se entregar.

— Porra! — Grunhi, cravando meus dedos com mais força na bunda


dela, no momento em que sua mão circundou o meu pênis.

Ela suspirou em resposta ao meu toque possessivo e aplicou uma


pressão deliciosa ao agarre no meu pau, que me fez latejar, o pré-gozo se

acumulando na ponta.
Senti uma gota de suor escorrer pela minha coluna e tive problemas

de acompanhar o ritmo que a boca dela imprimia a minha, praticamente me


rendendo a ela, quando começou a deslizar a mão por todo o comprimento,
alcançando a base, apenas para voltar a subir, repetindo os movimentos em

uma cadência fodida que me deixava mais tenso, rígido, sensível.


Meu coração parecia que a qualquer minuto, sairia pela boca de tão
forte que batia.

Olhá-la trabalhando na minha carne fez com que eu começasse a


babar, mas logo fui atraído de novo pelos olhos dela que mostrava não só o

prazer que sentia por continuar a subir e descer pelo meu pau, mas também
autoconfiança por saber que era capaz de me enlouquecer.

Ver minha Malévola se sentir poderosa, aumentou ainda mais o


prazer que eu sentia.
— Gostosa! — incentivei em uma tentativa de fazer com que ela se

sentisse ainda mais confiante, de que Thais tivesse mais certeza de que o
meu corpo era dela.

Desferi um tapa na bunda redonda, marcando-a, fazendo com que


ela gemesse e rebolasse contra a minha palma.

— Estou indo bem, Edgar? — A voz era entrecortada, um pouco


insegura.

— Sim, caralho! — respondi em meio a um arfar, brincando com o


traseiro dela. — Você é muito gostosa.

Perdi a fala quando Thais deu um apertão de leve na cabeça do meu


pênis, fazendo com que mais líquido deslizasse pelo meu pau, e voltou a me

punhetar, aplicando mais velocidade aos movimentos.


— Toque minhas bolas também — ordenei, impulsionando meus
quadris em um espasmo, sabendo que ali era uma zona erógena.

Não precisei pedir outra vez. Com a mão livre, minha mulher usou
as pontas dos dedos para acariciar os meus testículos que ficaram ainda

mais sensíveis, cheios ao toque. Vários choques de prazer me percorreram


quando a gema do polegar roçou a pele fina, fazendo uma massagem suave,

me deixando ainda mais tenso.


Thais me explorou, sem se comedir, e eu fiquei ciente de outros

pontos sensíveis daquela região que me era desconhecido. Verbalizei, me


sentindo mais fodido com as carícias desajeitadas que ela fazia ao tentar ao

mesmo tempo me masturbar, me tocar e retribuir ao meu beijo.


Várias emoções brotaram no meu peito, e eu senti uma onda de

ternura pela minha mulher, que extrapolava o plano físico.


Thais poderia não saber, mas a inexperiência dos toques, a fome

dela em me conhecer e dar prazer, tornava tudo mais prazeroso, mais


perfeito.
Eu estava cada vez mais ofegante, uma fina camada de suor cobria

toda a minha pele, o instinto me fazendo mover meus quadris para frente e
para trás, estocando a mão dela, em uma busca cega pelo ápice que não

demoraria a vir.
Tudo ficou mais intenso quando fechei os meus olhos e me

entreguei de vez à minha mulher, permitindo que ela fizesse o que quisesse
do meu corpo. E Thais brincou comigo, terminando de me enlouquecer,

fazendo com que uma onda forte de felicidade me afogasse, tanto que eu
poderia rir alto, sem controle.

Com um último selinho e um som baixinho, os lábios deixaram a


minha boca, me fazendo protestar, para depois suspirar quando ela começou
a trilhar vários beijos pelo meu maxilar enquanto a mão continuava a

friccionar o meu pau de forma torturante.


Sem deixar de me acariciar, senti os lábios dela descerem ainda

mais, beijando o meu peito, e, mesmo que eu ainda mantivesse minhas


pálpebras cerradas, reuni um punhado de tranças em uma das mãos,

embolando-as, sentindo mais prazer no ato. Porra! Eu amava os cabelos


dela, amava poder dar pequenos puxões, comunicando-me com a minha

mulher,
Suspirando, ela beijou cada uma das minhas tatuagens, e eu me senti

no paraíso e no inferno ao mesmo tempo.


Cada beijinho dela era uma tortura doce sobre a minha pele que

ardia por ela.


O nome Thais saia pelos meus lábios como uma prece.
Porra! Era eu quem deveria estar fazendo com que ela dissesse o

meu nome.
Eu não conseguia me privar dela, precisava daqueles beijinhos como

precisava de ar.
— Gostoso! — sussurrou antes de deslizar a língua por todo o meu

abdômen que se contraiu e pareceu culminar no meu pênis.


Segurei os cabelos dela com mais força, e ao escutar um gemido,

uma mistura de excitação com dor, forcei-me a afrouxar o aperto e a


acariciá-la.

Nunca que iria machucá-la.


— Porra, Thais! — Mal reconheci a minha voz, quando a lambida

subiu, acompanhando o movimento que ela fez no meu pau que ficou ainda
mais melado por ela.

Abri meus olhos no momento exato em que a língua voltou a descer


pela minha barriga, criando uma tensão insuportável em mim com a
expectativa, principalmente por ela ir baixando, baixando...

Ela não iria…


Ela foi.

Esqueci de como respirar no momento em que ela usou a língua no


meu pênis, percorrendo da ponta a base, deixando todos os meus nervos do

meu pau à flor da pele. A umidade da saliva, o tato da língua contra a minha
carne fez com que eu praticamente me esfregasse nela com o enlevo que
banhava as minhas veias.

Thais me experimentava, deslizando a língua por toda extensão,


agindo mais pelo instinto do que por uma técnica. Eu poderia ensinar o que
fazer, verbalizar como eu queria, mas, estava cativo das sensações que ela

produzia em mim.
— Thais — sussurrei, baixinho, pedindo pelo êxtase, dando um

puxão suave nas tranças.


Com os olhos cada vez mais desfocados, com a minha pelve indo de

encontro ao rosto dela, assisti Thais segurar o meu pau e envolver a minha
glande com os lábios carnudos.

Gotas de suor escorreu pelas minhas costas, o calor da boca dela me


tomando foi a minha ruína.

Não conseguiria me segurar por muito tempo, o prazer agindo como


pólvora.

A minha última ação coerente foi me afastar da boca dela, e


tombando meu corpo no colchão, deixei-me levar pelo orgasmo forte, o

nome dela sendo gritado por mim, ecoando pelo quarto em meio ao jato
quente que lambuzava o meu abdômen.

Respirei fundo, tentando lidar com as sensações que infelizmente


não duravam tanto quanto eu gostaria. Um leve tremor ainda agitava o meu
corpo.
— Edgar? — perguntou ao se mover na cama, e pelo tom de voz,

percebi que ela parecia confusa.


Me virei para ela, vendo uma pequena ruguinha no meio da sua

testa.
— Me desculpe, Malévola, eu não consegui me conter — acariciei

os lábios dela, a lembrança da boca dela no meu pau voltou a minha mente,
agitando-me.

— Tudo bem.
— Minha única desculpa, uma das bens ruins, é você ser muito

gostosa — brinquei.
Revirou os olhos, como se não acreditasse em mim.

— Você é muito gostosa, caralho! — falei, baixando a minha mão


indo em direção a bunda dela.
Um gemido baixo escapou de Thais quando agarrei um punhado de
carne e eu acabei emitindo um som estrangulado, tomado por uma espécie

de regojizo em tocar ela da forma que eu queria, por saber que Thais
também apreciava a porra da minha pegada.
Enroscou a perna na minha, se insinuando, ao passo que as pontas
dos dedos roçavam no meu abdômen.
Não tive dúvidas de que ela foderia todos os meus miolos e eu
permitiria de bom grado.

— Então por que você me afastou? — Fez beicinho.


— Por mais que eu quisesse, não podia gozar na sua boca,
Malévola. — Acariciei a fenda entre as nádegas.
— Por quê?
— Precisava da sua permissão. Não é todo mundo que curte.

— Só saberei se experimentar, Edgar… — Continuou a fazer


charme.
— Caralho, mulher! — rosnei, a respiração se acelerando, sentindo
meu pênis voltando a endurecer com a imagem mental dela engolindo a

minha porra. — Você me faz querer a sua boca no meu pau outra vez.
— Hum… Posso? — Abriu um sorriso cheio de malícia, deslizando
a mão, até agarrar o meu pau, apertando-o suavemente.
Ca-ra-lho!

Fiz um gesto em negativa e segurei-a pelo pulso.


— Por que não? — Fez um muxoxo.
Antes de dar uma resposta, com um movimento rápido, deitei-a no
colchão, fazendo-a emitir um gritinho com a surpresa, e cobri o corpo dela

com o meu, prendendo as duas mãos dela acima da cabeça.


— É a minha vez de te dar prazer, deusa — sussurrei.
Vi os olhos dela se arregalarem com espanto, até mesmo inocência,
mas havia um fogo, um desejo, que era capaz de queimar. Eu me queimaria

sorrindo.
Segurando com mais força os punhos de Thais, baixei meu corpo
ainda mais, prensando os seios macios contra o meu peitoral, sentindo o
bico duro estimular o meu mamilo, enquanto aproximava o meu rosto do

dela.
Por mais que minha mulher abriu levemente a boca para receber
minha língua, por mais que o meu corpo sentia urgência pelo dela, não tive
nenhuma pressa em degustá-la.

Com sons roucos, excitados, lambi cada um dos lábios, gravando a


textura deles na minha mente. Mordisquei-os, provocando Thais, até que
um suspiro em rendição a deixasse.
Percorrendo todos os dentes, finalmente encontrei a língua dela,
imprimindo ao beijo um ritmo lento, sentindo o meu gosto nela.

Me senti ainda mais rígido, a selvageria me dominando outra vez.


Cedendo ao desejo, amei a boca de Thais, fazendo inúmeras
promessas de prazer enquanto era arrebatado pela entrega da minha mulher
que devorava meus lábios, que demonstrava por meio de sons baixos, pelo

olhar, pelo corpo que se contorcia contra o meu, o quanto eu a excitava.


Deslizando a minha língua pela dela, travando aquele duelo onde os

dois sairiam vencedores, senti que rapidamente Thais me roubava o fôlego,


fazendo com que eu ficasse trêmulo, o som da minha respiração ficando
mais alto e ruidosa.
Ela poderia estar presa debaixo de mim, com as mãos atadas, mas
era eu quem tinha sido dominado, domado por um mero beijo, pelos corpos

que deslizavam um contra o outro, suados, em uma dança lenta.


Ela se impregnava dentro de mim, me marcando e, mais uma vez, eu
me perdia na doçura dela.
Sem querer a afastar a minha boca da dela, a beijei uma e outra vez,

mesmo que o ar parecesse mais escasso, aumentando a minha adrenalina.


Quando os impulsos fizeram com que eu deslizasse o meu pênis
contra a barriga dela, querendo a nossa fusão completa, apeguei-me a pouca
racionalidade que ainda tinha, e deixei a boca gostosa.

Baixei os meus lábios pelo queixo, deixando uma mordida nele, e o


suspiro sôfrego escoando contra a minha orelha, fez com que a minha carne
latejasse.
Ignorando o latejar do meu pau e a minha necessidade de estar

dentro dela, foquei no gosto da pele de Thais ao deixar beijos, mordidas,


pela curva do pescoço. Fiquei atento à reação da minha mulher quando
rocei a minha barba naquela região sensível, escutando o som ofegante,

sentindo o estremecer de leve do corpo dela.


Baixei ainda mais, alcançando a clavícula, o esterno, e beijei uma
marca que eu sabia que ela odiava. Senti Thais ficar tensa com os meus
beijinhos naquela região.

— Olhe para mim — pedi no momento em que ela virou um pouco


o rosto, como se a imagem da minha boca sobre o corpo dela fosse
repulsiva.
Ter meus lábios nela era a coisa mais sexy que existia e eu desejei

que o meu quarto fosse repleto de espelhos, para que ela visse o quão
fodidamente erótico, o quão sensual nós dois éramos juntos, o quanto
nossos corpos se complementam.
— Ande, Thais — insisti, mordiscando o ossinho da clavícula, um
arfar escapando dela. — Não vou continuar até que você me olhe.

— Sério? — sussurrou.
— Sim! Dê prazer ao seu homem em saber que você o observa,
gostosa… — Deixei outro beijinho. — O que vai ser?
Timidamente, voltou a me fitar, e forçando-a a manter os olhos

sobre mim, meus lábios percorreram cada uma das marcas, venerando-as,
querendo que ela se sentisse linda, porque ela era mesmo maravilhosa.
Eu adorava cada um dos traços de Thais, cada célula do corpo dela,

cada imperfeição e torcia para que um dia ela também se adorasse, que ela
se visse como eu a via.
Me sentindo ainda mais determinado em ajudá-la nesse processo,
continuei a deixar vários beijinhos no tórax até que o prazer falasse mais

alto e o corpo dela precisasse de mais do que meros beijos. Senti que Thais
se deixava levar pelo desejo.
— Edgar! — Os suspiros, ofegos, ecoaram no ar, e ela erguia o
tronco, oferecendo os seios sensíveis para mim, presa em um frenesi

intenso.
Assistir ao desejo crescente da minha mulher, alimentou ainda mais
o meu, e, com o meu pau pulsando, continuando a olhar para ela, soltando
as mãos dela, enterrei meu rosto no peito dela. Permaneci ali, no meu

paraíso particular, até que com um som baixo, querendo ação, minha
mulher entrelaçou os dedos nos meus cabelos, trazendo-me ainda mais
contra si.
Deslizei minha língua pelo vale entre os seios, lambendo lentamente

o suor que a cobria, fazendo Thais se arquear contra o meu rosto enquanto
segurava meus fios com força, até alcançar o umbigo.
Todo o desejo em torturar minha mulher, em subir com a lambida,
para alcançar os bicos atrevidos e chupá-los até que ela implorasse, morreu
quando o cheiro pungente da excitação dela invadiu as minhas narinas.
Senti minha boca encher de água, o desejo por descobrir o sabor que
teria o prazer dela se tornando mais intenso do que qualquer coisa.
Tentou me puxar para cima, mas, contrariando-a, desci ainda mais,

deixando vários beijos pelos quadris, ancas.


— Edgar?
— Abra as pernas para mim, amor — falei com a voz rouca ao olhar
para os pelos úmidos.

Inspirei fundo a fragrância dela, ficando ainda mais louco por Thais,
o desejo pulsando de forma brutal. Cada segundo sem tê-la era um martírio.
A resposta dela foi segurar os meus fios com mais força, emitindo
um suspiro.
Beijei um pedaço da coxa dela e olhei para ela, em expectativa, mas

logo voltei a acariciá-la com os lábios, sentindo minha mulher estremecer


com meus beijos, e nos olhos dela, vi a expectativa, bem como uma nuvem
de excitação.
— Abra as pernas — repeti, mandão.

Ela arfou, remexendo os quadris, ao sentir o roçar da minha barba


na pele sensível, e eu acabei chiando com a delícia do movimento.
— Quero sentir você gozando na minha boca, se esfregando na
minha cara... — Minhas palavras foram sujas, mas, neste momento, eu não
era nenhum cavalheiro.
Tornei a baixar minha cabeça, mordiscando o interior da perna dele
enquanto meus dedos apertavam a outra coxa.
— Edgar!

— Porra, gostosa! Eu preciso ter você. — Dei mais beijinhos para


atordoá-la, mais roçar da minha barba, fazendo com que ela passasse a
esfregar as coxas uma na outra.
— Sim, Edgar!

Sem pudor, ficando os pés no colchão, o desejo a fez abrir as pernas.


Eu senti o meu pau reagir, tornando a ficar babado, quando a vi toda
escancarada para mim.
— Deusa! — Sussurrei, beijando cada pedaço de pele que eu tinha à

minha frente, ciente de que eu torturava a nós dois.


Arqueou-se, tirando as costas do colchão, e eu grunhi um palavrão
quando minha mulher me trouxe para o meio das pernas dela, fazendo com
que o meu rosto ficasse bem próximo da vagina. Roçando minha boca nos

pelos úmidos, usando os meus dedos, abri os grandes e pequenos lábios, e a


penetrei com a minha língua, fazendo com que nós dois gemêssemos juntos,
cada um por um motivo diferente.
Passando a minha mão por entre o corpo dela, agarrei-a pelas
nádegas, e Thais me presenteou com mais um som baixo, que se tornou um
grito rouco quando me afastei um pouco e deixei uma lambida por toda a
extensão da abertura dela.
Brincando com a polpa da bunda, subi e desci pela boceta dela,

lambendo, estimulando-a, fazendo Thais rebolar na minha cara de forma


selvagem, antes de eu voltar a passar pelos pequenos lábios, sentindo meu
caralho ficar mais duro, como se não tivesse tido alívio a tempos atrás.
Com um grunhido e outro latejar no pau, rodopiei minha língua
dentro dela, deixando que a excitação da minha mulher dominasse todos os

meus sentidos, roubando o restante da minha sanidade.


O sabor dela era uma espécie de ambrosia na minha boca e eu sabia
que ficaria viciado nele, tanto quanto no modo como os dedos dela
seguravam os meus cabelos, na forma como os quadris se impulsionavam

em direção a minha face, no modo como o meu coração batia ainda mais
rápido com o prazer de fazer oral nela.
Sem pressa, sem dar aquilo que eu sabia que tanto eu quanto ela
precisava, explorei cada canto do sexo molhado, lambendo os pequenos e

grandes lábios, usando os meus dentes para dar pequenos puxões, me


fartando dela, dos sons, da contração que o canal dela fazia quando eu a
penetrava, tentando alcançar o mais fundo possível.
— Ed… — choramingou, e eu senti uma espécie de ardor se

espalhar pelo meu peito que de alguma forma, causou uma pane em mim,
me deixando abobado.
Ed. Ela me deu um apelido...
— Por favor, Ed — pediu, jogando os quadris para frente.

Porra! O que eu não daria a Thais com ela me chamando de Ed?


— Ed...
Liberando a besta dentro de mim, enterrei meus dedos com mais
força na bunda dela, mantendo-a no lugar, e depois de voltar a percorrer

toda a extensão da vagina dela com uma lambida que fez com que ela
choramingasse outra vez, mergulhei minha boca dentro de Thais e encontrei
a carne inchada com a ponta da língua.
Traçando pequenos círculos na região, fiz minha mulher gemer

várias vezes, em um misto de prazer e frustração quando não permiti que


ela se movesse.
Prolonguei a tortura, lambendo, dando pequenas pancadas sobre o
clitóris, provocando vários choques de prazer nela que se traduziram em

mais lubrificação, em arrepios. Várias foram as tentativas deliciosas de


fechar as coxas na minha cara e também os puxões nos meus cabelos que
me eram uma espécie de afrodisíaco, fazendo com que eu quisesse esfregar
meu pau em qualquer lugar, obtendo um pouco de alívio também.
Parei por alguns segundos para olhar para expressão enlevada

quando um gritinho escapou dela, e eu não pude mais me conter, precisando


ver o orgasmo da minha mulher.
Com um som gutural, rouco, deslizando a língua uma última vez,

finalmente fechei os meus lábios sobre o clitóris, começando a sugar aquele


pontinho, brincando com as pressões, empurrando os quadris dela para
baixo enquanto ela queria os erguer.
Deslizei os meus lábios por toda a carne dolorosa dela, e eu quis rir
do chiado que Thais emitiu e da força com que ela puxava meus fios, mas

apenas baixei meus lábios, encontrando um outro local que faria ela
espichar contra o colchão.
Ficando mais ofegante, preso no meu próprio prazer, sentindo Thais
ficar cada vez mais mole, alternei minha atenção naqueles dois pontos,

aumentando e diminuindo a pressão que eu exercia, sentindo o meu pau


ficar úmido com o pré-gozo.
Não conseguindo mais manter o mesmo ritmo, o desejo levando-me
a uma espiral incongruente, usei o dedo para acariciar o ponto g dela,

fazendo movimentos lentos, ao passo que tomava o clitóris dela entre os


lábios, sorvendo-o devagar, construindo o prazer dela.
Devorei o corpo de Thais, sentindo-a ficar cada vez mais tensa
contra os meus lábios, os suspiros e gemidos ficarem bem mais altos.

Senti vivo como nunca antes, um uivo gutural subindo pela minha
garganta no momento em que, beliscando o clitóris dela, deixei várias
pancadas, Thais cravou os dedos na parte posterior das minhas costas,
deixando um vergão ardido, doloroso, um contraste com a carícia que ela

fazia no meu couro cabeludo.


— Mais forte, Ed! Mais. — O tom me pareceu imperioso enquanto
ela rebolava sem comedimento contra mim, fodendo todos meus sentidos,
tornando aquela experiência mais perfeita.

Parei outra vez para encarar a expressão dela, e porra! As pálpebras


semicerradas, os lábios entreabertos e o suor que fazia a pele dela brilhar,
deixavam-na ainda mais linda.
— Toque os seus seios, deusa… — rosnei a ordem, antes de dar

vários beijos no monte dela.


Ela se contorceu quando lambi toda a vulva, raspando meus dentes
sobre o clitóris.
— Se toque para mim — pedi.

Obedecendo, levou a mão ao peito e roçou a palma sobre o bico


rígido. Tirou as costas do colchão com o espasmo ao brincar com o mamilo,
um gemido delicado a deixando por se dar prazer.
Senti meu maxilar trincar e meu pênis endureceu ainda mais em
resposta ao desejo dela, que era tanto, que não se deu conta que eu havia

parado. Estoquei o nada com o espasmo.


Caralho! Eu poderia passar a minha vida inteira vendo os dedos dela

trabalhando em si mesma, mas eu precisava estar dentro dela, necessitava


explodir, sentindo o canal dela se contrair contra o meu pau, prendendo-me
com força.
Baixei a cabeça outra vez, sorvendo o clitóris dela com mais
velocidade, ao passo que inseria mais um dedo dentro da minha mulher. Em

alguns segundos, tudo me pareceu entrar em uma sintonia perfeita: meus


dois dedos que passaram a entrar e sair do canal dela que se contraia com a
invasão. A sucção dos meus lábios, o corpo dela que se arqueava de uma
forma extremamente sensual em resposta. As carícias que ela fazia em si

mesma, me fazendo inveja por não ser os meus dedos. Os nossos gemidos
que mais uma vez se tornaram uma única coisa, o prazer de dar e receber.
Enfiei mais um dedo dentro do canal contraído e escorregadio, e
comecei a entrar e sair, imitando os movimentos que eu faria nela em

breve, brincando com as paredes cada vez mais tensas e que tentavam me
prender enquanto eu devorava a carne inchada e excitada.
— Ed — choramingou em meio a um suspiro.
Apliquei mais velocidade aos meus movimentos, o ar queimando

meus pulmões com a força com que eu respirava, e capturei o momento


exato em que, beliscando o clitóris de Thais ao mesmo tempo que ela
puxava o bico do seio, minha mulher deixou-se cair contra o colchão, e

entregou-se ao orgasmo.
— Ed — a voz era fraca, mas foi capaz de me excitar ainda mais.
Perdendo o controle, lambi toda a excitação dela e continuei a
chupar o clitóris e a penetrei com os três dedos juntos em um tranco,

prolongando o êxtase dela, fazendo com que ela reunisse as últimas forças
para erguer e descer os quadris na busca por outra onda, mas eu a

interrompi, deixando um último beijo no baixe-ventre.

— Edgar? — protestou enquanto eu subia, deixando várias


mordidas pelo abdômen dela, dando um beijo na mão que ainda estava em

um dos seios, até alcançar a boca.

Me apoiei sobre os cotovelos, mergulhando bem fundo nos olhos


dela que pareciam desfocados.

Enfiei minha língua pelos lábios entreabertos e deixei que ela


sentisse o próprio gosto na minha boca, que Thais se excitasse da mesma

forma que eu me excitava pelo gosto pungente dela. Gemeu baixinho, ou

foi eu quem gemi, mas não me importei, roçando a minha ereção na barriga
dela, sentindo o meu pré-gozo se misturando ao suor dela.

— Preciso de você, Malévola — murmurei, apoiando minha testa na


dela, impulsionando os meus quadris para frente e para trás, precisando de

alívio. — Porra! Eu preciso ter você.


Comecei a me acomodar em cima dela, mas o sussurro me

interrompeu, me trazendo a razão:

— Tema camisinha?
— Merda! — Me xinguei por ter esquecido do preservativo.

Sai de cima dela depressa para pegar.


Mexi na gaveta do móvel de cabeceira, tateando até encontrar um

pacote bem no fundo.

Acomodei-me em cima de Thais outra vez, fazendo questão de roçar


meu pau nela, mas o feitiço virou contra o feiticeiro quando tive dificuldade

de abrir o pacotinho.
— Porra!

Ouvi Thais rir, então, para provocá-la, belisquei o bico intumescido,

o que fez com que ela emitisse um som estrangulado, arqueando o tronco na
minha direção.

— Ainda acha graça? — falei, voltando a deslizar meu pênis, dessa

vez, indo até o vale entre os seios dela.


Senti meu pau latejar contra o calor dela e a urgência me consumiu,

principalmente quando fiz um vai e vem contra os dois montinhos.


Me olhando com desejo, a safada me ajudou, fazendo com que meu

pênis esfregasse neles. Removi meu pau antes que eu gozasse ali mesmo.

— Ed…
— Porra! Adoro ouvir você me chamar assim.
Mesmo que soubesse que era imprudente fazer isso, rasguei a merda

do pacote do preservativo com os dentes e, segurando a ponta, deslizei o

látex pelo meu pênis.


Assim que coloquei a camisinha, Thais se abriu por instinto.

— Me beija — pedi.

Segurando o meu rosto com as duas mãos, ergueu a cabeça para


capturar meus lábios em um beijo doce e moroso que me fez suspirar,

movendo a boca lentamente contra a dela enquanto colocava o meu pau na


entrada molhada.

O desejo me fez querer penetrá-la em um tranco, deslizando fundo,

mas eu me recordei a tempo de que era apenas a segunda vez de Thais.


Senti suor escorrer por toda a linha da coluna por ter que ir mais devagar.

Enroscando a língua na dela, retribuindo o beijo, tentando distraí-la


do incômodo que poderia vir, observando a todo momento a expressão,

avancei centímetro a centímetro, deslizando facilmente pelo canal,

ganhando mais terreno, mesmo que os músculos dela se fechassem em uma


contração que me fazia pulsar contra o látex.

— Tá tudo bem? — perguntei contra a boca da minha mulher

quando entrei todo, colando minha pelve na dela.


— Sim.
Suspirou no momento em que eu joguei os meus quadris para trás,

apenas para ir para frente, e a luxúria dela e o ato de ela voltar a me beijar,

moldando nossas bocas, exigindo da minha língua, foi o consentimento para


que eu iniciasse um vai e vem lento.

Não demorou para que em meio ao me retirar um pouco, para me


voltar a afundar dentro dela, nossos gemidos soassem abafado pelos lábios

cada vez mais afoitos, a excitação crescendo dentro de nós.

Com o desejo pulsando entre nós, fui para trás e para frente,
amando-a lentamente, sentindo o prazer de ter os corpos deslizando um

contra o outro, de unir-me a ela não só em físico, mas em um plano onde

envolvia almas, uma conexão mais profunda, que tornava o nosso encontro
ainda mais especial. E o ponto chave era o olhar preso um ao outro, também

se amando.
— Ed — pediu, mordendo os meus lábios de uma forma que me fez

latejar dolorosamente quando removi meu pau um pouco mais.

Usei mais velocidade para estocá-la, emitindo um som rouco onde


tudo nela se esticou para me acomodar.

Repeti uma e outra vez o mesmo movimento, enquanto meus lábios

deslizavam pelos dela, sentindo a tensão crescer no meu interior, deixando


todo o meu corpo rígido.
Joguei um pouco meus quadris para trás, empurrando-o para frente,

e minha mulher acompanhou cada uma das minhas estocadas, movendo os


quadris para cima e para baixo, me encontrando no meio do caminho.

Quase perdendo o fôlego, o desejo me dominando, penetrei mais


fundo, retirando-me, apenas para entrar mais rápido, gemendo alto com a

fricção dos nossos sexos, com o corpo que me recebia com desejo, com as

contrações cada vez mais fortes que ela exercia no meu pau, oferecendo um
atrito prazeroso, doloroso.

— Gostosa! — gemi contra a orelha dela, quando suas pernas

cruzaram nas minhas costas e Thais segurou nos meus ombros, buscando
um novo ângulo que lhe desse mais prazer.

A penetrei, indo mais fundo, escutando o choramingar ao roçar meu


pau no clitóris.

Tornei a amassar a boca dela na minha, engolindo todos os sons que

minha mulher emitia enquanto brincava de roçar aquele ponto sensível que
a fazia se segurar em mim com mais força. Eu ficava mais tenso a cada

segundo que se passava, tentando manter o foco em dar prazer a ela, mas eu
me perdia na busca do meu orgasmo todas as vezes que tirava o pau

lentamente, friccionando no clitóris inchado, apenas para penetrá-la em um

tranco firme.
Soltei uma blasfêmia ao sentir os lábios dela tocarem o meu

pescoço, me rendendo quando deixou vários beijinhos na minha pele ao

passo que os dedos apertavam meus ombros e as pernas me agarravam com


mais força a cada estocar.

Entrei e saí várias vezes, fazendo nossos quadris estalarem com o

impacto, escutando nossas respirações ficarem mais curtas.


— Mais forte — contraiu o canal, apertando o meu pau, e me

mordeu.
— Caralho, Thais! — urrei quando mordiscou o meu pescoço, e

meti mais forte, o gemido dela sendo combustível para o meu prazer.

Bombeei dentro dela, aumentando a pressão e a velocidade dos


meus movimentos, em uma busca selvagem, sentindo-a cada vez mais

entregue, os lábios e dentes parando de acariciar a minha pele.

Ciente de que eu não aguentaria mais segurar, levei a minha mão


para os cabelos dela e, enrolando as tranças nos meus punhos, puxei seu

rosto de volta para o meu, tomando-a em um beijo cheio de urgência,


nossas línguas duelando para se domarem.

Não precisei de mais nada. Com uma última arremetida e um puxão

suave nos cabelos dela, juntos, olhando um para o outro, fomos engolfados
pelo êxtase que me fez minha mulher emitir um grito abafado, apertando o

meu pau em vários espasmos enquanto um jato quente preenchia a


camisinha e eu me deixava tombar sobre ela, prensando o corpo languido

com o meu peso, suspirando com o nosso encaixe perfeito que fazia o bico
dos seios atitarem com os meus.

Temporariamente sem forças, deixei vários beijinhos pelo rosto

suado, sentindo uma ternura excessiva ao olhar para as pálpebras fechadas,


os lábios se curvando em um sorriso satisfeito.

— Linda! — murmurei, colando minha testa na dela, e eu senti


meus batimentos cardíacos aumentarem.

Amor. Havia feito amor pela primeira vez.

O pensamento me fez sentir completo, eufórico.


— Isso foi bom — sussurrou, deslizando as mãos pelas minhas

costas.
— Maravilhoso! — retruquei.

O sorriso dela ficou ainda maior e eu acabei retribuindo, antes de

beijar a comissura da boca dela.


Não surpreendeu acabarmos nos beijando, beijo que só foi

interrompido quando senti meu pau ficar flácido.

Com um movimento súbito, rolei para o lado e removi a camisinha,


colocando-a sobre o móvel.

Deitando novamente, puxei-a para os meus braços, colando nossos


corpos, enquanto minhas pernas buscavam entrelaçar as dela.
— Você é maravilhosa, Malévola. Gostosa demais!
— Não sei não.

— Quer mais elogios? — Bufei.


— Talvez — brincou.

— Perfeita.

— Hum.
— Gostosa?

— Já disse isso, Edgar.

— Vai escutar eu dizer isso várias vezes. — Beijei um ombro dela,


antes de percorrer a lateral do corpo, traçando as curvas.

— Mesmo?
— Sim.

— Acho que você precisa ver alguns filmes para aumentar o seu

vocabulário romântico, Edgar.


Deslizou a ponta do dedo pelo meu peito.

— Eu tenho certeza de que não preciso, Malévola, já que eu sei a

principal frase clichê.


— É?

— Uhum.
— E qual é?
Para dramatizar, levei as minhas mãos a bunda dela e a agarrei com

pressão, tirando dela um gemido.


— Você é minha, Thais! — Minha voz soou rouca quando a beijei

outra vez, demonstrando não apenas o meu desejo, mas minha

possessividade com relação a ela. — Você é minha e só minha, Malévola.


Como eu sou só seu.

— Deus, isso foi… — A interrompi com um selinho.


— Eu sou o seu homem, gostosa!

E serei para sempre, completei mentalmente.

Deveria ficar com medo dessas palavras, mas não tive, pelo

contrário, eu abracei o “para sempre” com força, torcendo fortemente para

que ela fosse realmente minha para sempre.


— Edgar… — murmurou.

— Eu te conquistarei todos os dias, princesa Malévola, até que você


se apaixone por mim — jurei, pensando nas minhas palavras da noite

anterior.

— Nada presunçoso você. — Estalou a língua.


— É o meu charme — me defendi,

— Besta!
— Me apaixonei por você, Thais — sussurrei a confissão,
acariciando o rosto dela, e eu vi várias emoções passarem nos seus olhos.

— Edgar…

— Sim, sou um tolo apaixonado.


— Que sorte a sua…

— Ainda diz que eu que sou presunçoso — provoquei, desferindo


um tapinha na bunda dela, que vibrou.

Revirou os olhos.

— Sorte a sua que estou me apaixonando por você, Edgar — falou


baixinho. — Foi por isso que doeu tanto ouvir aquilo.

A euforia sufocou a culpa, a abracei com força enquanto os lábios se

encontravam.
Caralho! Thais estava se apaixonando por mim!

— Os gêmeos daqui a pouco estão acordando — falou em meio a


um arfar, interrompendo o beijo.

— Temos tempo. — Passei a minha barba pelo pescoço dela, vendo

os pelinhos dela se arrepiarem, pouco me fodendo para as horas.


— Não, Edgar. Eles vão bater na porta e me encontrar aqui.

Enquanto tentava processar as palavras dela sobre meus irmãos a


verem no meu quarto, Thais se moveu, saindo do meu abraço e rolou para o

lado. Emiti um muxoxo quando ela se ergueu do colchão, mas logo gemi ao
olhar para a bunda dela, minha mente entrando em um torvelinho. Senti

minha boca salivar pelo corpo dela.

— Preciso de um banho.
— Okay, pode usar o nosso banheiro.

— Nosso? — Pareceu surpresa.


— Sim. — Dei de ombros.

— Melhor não.

— O caralho que não! — grunhi, sentindo um pouco irritado pela


negativa e também por sentir que eu poderia continuar a pisar em ovos.

Arqueou a sobrancelha.
Porra!

Não queria entrar naquela conversa de como apresentaríamos a

nossa relação aos meninos, não quando estava de tão bom humor, quando
me sentia feliz por ter meus sentimentos retribuídos.

Me ergui e com passos longos, me aproximei de Thais e tentei

brincar, desviando o foco dela:


— Você não vai me excluir do seu banho, Malévola. Nós vamos

tomar banho juntos!


— Edgar! — Deu um gritinho quando, como um homem das

cavernas, passei meu braço pelo joelho dela e a ergui sobre os ombros. —

Me põe no chão!
Desferi outro tapa na bunda da mulher, gargalhando, começando a
caminhar em direção ao banheiro com Thais pendurada em mim, que

resmungava vários palavrões.

Ri ainda mais.
Não tive dúvidas de que eu era melhor do que qualquer galã dos

filmes que ela gostava da assistir, deixando-os no chinelo com a minha

atuação.
Capítulo trinta e quatro

— Finalmente, caralho! Pensei que não viria mais, porra! — rosnei

quando Rafael passou pela porta do meu escritório, fechando-o atrás de si.
— Dando chilique logo pela manhã, Edgar? — Arqueou a

sobrancelha grossa, caminhando com passos lânguidos, o que me foi ainda

mais irritante.
— Vá se foder — grunhi —, está atrasado.

— O trânsito estava infernal. — Passou a mão cheia de anéis pelos

cabelos.
— Saísse mais cedo, porra! Você que marcou esse maldito horário!

— É o único que tinha disponível. — Emitiu um som irônico.


— Nem deveria estar. Sete da manhã é o cúmulo — resmunguei.

— É um horário normal! — Sem que eu permitisse, depois de

colocar a pasta sobre a minha mesa, foi até o meu decantador.

— Para beber? — Fui irônico, vendo ele se servindo de uma dose do

meu whisky.
— Tive uma madrugada péssima — grunhiu, bebendo um gole

longo.

— Algo sério? — Não tive pena dele, mesmo que agora eu pudesse

ver a tensão marcando o rosto dele.

— Questões alfandegárias nos meus negócios de exportação para a


Europa, mas já está sendo resolvido.

Tomou o restante do whisky.

— Que minha avó não saiba disso! — falou, se servindo de mais um

pouco de álcool.

— Talvez eu devesse contar para ela.

Rafael ia levar o copo aos lábios, mas parou no meio do caminho,

me encarando.
— Carajo! Não fará essa mierda.

— Não é ela que adora uma fofoca?

— Sim, mas…
— Então a vovó vai adorar saber o que o netinho querido dela bebe

no café da manhã — fui seco.

— Que porra de mau humor é esse? — Deixou o copo de lado e

com o cenho franzido alcançou a cadeira em frente à minha mesa e

praticamente se jogou nela, cruzando as mãos na altura do abdômen. — Eu

que não dormi e você que está putinho?


— Uma hora e meia de espera diz muita coisa, Rafael. Meu tempo é

precioso demais.

— Tenho certeza de que você foi bastante produtivo enquanto me

esperava. — Estalou a língua e logo um sorriso irônico surgiu na face dele.

— Mas esse não é o problema, não? O maior problema, digamos, é você

querer outro tipo de produção.

Praguejei quando começou a rir da minha cara.

— Estou errado?

— Não é da sua conta, Rafael.

— Agora eu entendi o mau humor. Até eu estaria cuspindo fogo se


me tirassem esse tempo com uma gata.

— Gata? — murmurei, sentindo o meu corpo ficar rígido.

— Ela é gata. Ou você não acha? — Me lançou um olhar estranho.

— É claro que eu acho ela linda — explodi, sentindo uma onda de

ciúmes tremenda por saber que ele achava a minha mulher bonita. — Você
que não tem que achar nada.

— Não sou cego. — Mais um mover de mão displicente que me

tirou do sério. — Bonita, delicada, sorriso bem doce.


— Porra! — Soquei a mesa. — Você está me irritando.

— Que ótimo! Não que eu precise de muito para irritar você. —

Riu.

— Imbecil.

— Com medo da concorrência? — Mais um estalar de língua.

— Claro que não. E se você continuar com essa merda, a próxima

fofoca que você vai contar para a sua avó é de como acabou com o rosto

desfigurado e o nariz quebrado.

— Sei, sei. — Outro gesto displicente. — Mas não precisamos

chegar a tanto. Não por uma mulher.

Rosnei.

— Diferente de você, ainda me mantenho convicto na minha causa

— me alfinetou.

— Que bom para você! — Fui seco.

— Então você conseguiu arrumar a cagada?

— Espero que não tenha marcado essa reunião para discutir minha

vida privada, Rafael — adverti.


— Só quero ficar por dentro das novidades primeiro…
— Para fofocar? — Arqueei uma sobrancelha.

— Esperanza ficará feliz. — Deu de ombros.

— Eu deveria ficar de boca fechada…

— Mas não irá querer fazer uma velhinha infeliz por não ter o

restante da história. — Arreganhou os dentes.

— Tenho certeza de que ela está bastante envolvida com outra coisa

no momento.

— Sí. Novidades, são novidades.

Ficou me encarando, esperando uma resposta.

— Porra!
— Faça minha avó feliz, Edgar.

— Minha Malévola conseguiu compreender os meus motivos, por

mais que ache que isso não aconteceu do dia para a noite. Levou dias depois

da minha conversa com ela, para eu ver a insegurança se dissipar mais… —

acabei cedendo, já que não era nada que eu não tivesse falado no

interrogatório do meu melhor amigo.

— Compreensível. — A voz era séria.

— Sim. Um pouco incômodo saber que fui eu quem fiz isso com

ela? Sim, muito, mas os dias fez com que Thais acreditasse no que sinto.

Rafael ficou em silêncio,


— Eu tenho me esforçado para cumprir minha promessa que eu fiz a

mim mesmo de que eu demonstraria a Thais que ela foi uma das melhores

coisas que me aconteceu.

— Isso me parece bem…

— Apaixonado? Eu sempre estive apaixonado por ela, Rafael, e eu

não tenho mais medo disso. Na verdade, tenho orgulho de ser apaixonado

por ela.

Fez uma careta.

— Um dia você vai se sentir assim.

— Pare de me rogar praga, mierda!

— É a verdade — provoquei. — Vai ficar pior do que eu e Riccardo

juntos.

Bufou.

— Madre de Dios! Você está pior do que a minha vó com as

ladainhas dela — disse entredentes.

Comecei a rir ao ver o mexicano ficar irritado, me dando mais

pólvora para continuar, fazendo a mesma pergunta que um dia meu melhor

amigo fez para mim:


— Qual o seu medo?

— Medo? — Fez cara feia.

— Sim, esse que te faz ser um solteirão.


— Não tenho medo de nada. — Passou a mão pelos cabelos,

desalinhando-os ainda mais, semicerrando os olhos. — Ainda mais de

mulheres. Só não quero uma. Eu já tenho a vovó.

— É diferente… — fiz uma pausa, lembrando uma coisa que eu

tinha em comum com o homem à minha frente, algo que poderia fazer ele

temer também — seu avô é completamente apaixonado pela sua avó.

— Sim. Louco. Mas o que isso tem a ver comigo?

— Muitas coisas.
— Vá se foder, porra!

— Quem começou esse assunto foi você. — Foi a minha vez de dar
de ombros.

— Um a qual eu me arrependo de ter entrado.


— Estou achando interessante — alfinetei.

— Cabrón[2]!

Comecei a rir, mesmo supondo que ele havia me xingado. Meu


espanhol era péssimo.

— Apesar de você ter me tirado da cama para essa merda de reunião


sem sentido, se quer mesmo saber, Rafael, fofoque para a sua avó que em

breve irei pedir minha mulher em namoro, apesar que me sinto preparado
para dar passos muito mais além disso… — acabei falando demais.
Senti-me arrependido no segundo seguinte, ainda mais que, as
transações financeiras que tínhamos em comum, não necessariamente,

tornava eu e Rafael amigos, não naquele ponto.


Caralho!

Eu não tinha nem mesmo falado para Riccardo sobre aquele assunto
que vinha dando voltas na minha cabeça, por mais precipitado que fosse,

ainda mais que, nem eu e nem Thais havíamos declarado em voz alta que a
paixão virou amor.
Afinal, levava tempo para isso acontecer, não?

— Casar? — sussurrou depois de vários minutos. — Está louco?


Tornei a dar de ombros e o mexicano continuou a me encarar como

se eu estivesse possuído por um demônio.


O que ele achava, pouco me importava.

— Quero que ela more comigo, como antes — sussurrei e eu


comecei a praguejar por ter aberto a minha boca outra vez.

Sim, eu desejava pra caralho que Thais voltasse a morar com a gente
e não no apartamento que ela tinha alugado desde a nossa briga, ainda que a

minha Malévola passasse boa parte do tempo dormindo comigo. Respeitava


o fato de ela querer manter o que estávamos vivendo em segredo dos

gêmeos enquanto fortalecíamos ainda mais a nossa relação, para não criar
expectativa nos dois, mas eu não aguentava mais me conter.
Queria que fôssemos um casal para todo mundo ver, e isso incluía
meus irmãos verem troca de afeto entre nós dois.

Talvez eu realmente devesse tirar o pedido de namoro do papel logo


e sair daquele hiato.

Talvez fosse aquilo porque ela queria.


Caralho! Eu era um idiota!

— Você vai foder tudo — Rafael murmurou, como se fosse a minha


consciência.

— Se eu for com calma, não.


— Calma e você na mesma frase é quase uma piada, Edgar.

Fechei a cara.
— Và pra merda, Rafael!

— Do jeito que é emocionado, vai se ferrar pedindo a garota em


casamento daqui a pouco e depois vai ficar chorando pelos cantos porque

perdeu a gata por conta da precipitação — falou em um tom de desdém.


— Não sou emocionado, porra! — rebati, sentindo meu maxilar
trincar.

— Sua reação me diz muita coisa. — Mais um movimento da mão


cheio de anéis que me foi irritante.

— Talvez Thais ache romântico que eu a peça em casamento —


cuspi por cuspir, mas a ideia me foi atraente por um momento.
Será?

Arqueou a sobrancelha.
— Podemos apostar, Edgar. — Abriu um sorriso como se tivesse

vencido alguma coisa e eu senti vontade de cumprir a minha promessa e dar


uma boa razão para a avó dele se preocupar.

— Não vou apostar porra nenhuma com você, caralho.


— Porque sabe que estou certo e tudo o que vai ganhar é ela
correndo de você outra vez… — Estalou a língua, me reprovando.

— Merda! — Soquei a minha mesa.


— Me escute, Edgar — ficou sério —, sei que quer dormir e acordar

juntinho todos os dias, que está mais do que apaixonado por ela, mas se
impor não é a solução. Vocês têm o quê? Nem seis meses juntos. É loucura.

— Por que deveria escutar um solteirão convicto que não quer um


relacionamento? — Fui desdenhoso.

— Porque sou mais racional do que você, fora que sou um homem
prático.

— Por que, no fundo, acho que você é passional, Rafael?


Franziu o cenho.

— Não tenho nada de passional. Já você, amigo… — Mais um


gesto desdenhoso.
— E essa aparência selvagem? Parece mais um homem das

cavernas do que um rico herdeiro.


— É bastante benéfico não ser levado a sério algumas vezes ... E

sou um empresário, não um rico herdeiro.


— Tanto faz.

— Só não diga que eu não te avisei, Edgar... Mantenha-me


atualizado das merdas que irá fazer.

Ergui uma sobrancelha para ele outra vez.


— O que te trouxe aqui afinal, Rafael? E por que você não convidou

Riccardo?
— Já perdemos tempo demais com uma conversa que não vai nos

levar a lugar algum, não é verdade? — Começou a mexer na pasta dele,


pegando o notebook.

— Sim. Nós dois temos coisas mais importantes para fazer do que
ficar falando bobagens pelos cotovelos.
— Fiquei sabendo de um edital de concessão do governo mexicano

para a ampliação do sistema de tratamento de esgoto e reaproveitamento


hídrico que pode te interessar. — Começou a mexer no computador.

— Poderia ter me enviado um e-mail.


Me encarou e fez que não com a cabeça.

— E ver você ganhar milhões e eu nada?


— Não vejo problema nisso, na verdade.
— Já foi mais esperto, Edgar.

— O único bobo é você quem falou disso, Rafael. Para que eu


dividiria os lucros com você?
Surpreendo-me, jogou a cabeça para trás e riu.

— Teria lógica — falou em meio à risada.


Franzi o cenho, confuso.

— Fiquei sabendo que eles não pretendem divulgar amplamente —


fez uma pausa, parecendo tomado pela fúria —, alguns propositores querem

privilegiar um determinado grupo, e não quero que isso aconteça.


— O que você pretende fazer? — minha pergunta era honesta. — É

quase impossível evitar esse tipo de coisa.


— Jogar o mesmo jogo. Nada ilegal, garanto.

— Entendo. O que ganha com isso além de dinheiro?


— Eu não posso deixar que uma empresa meia boca foda com os

recursos hídricos do país.


— Que nacionalista! — Fui irônico. — O que ganha com isso,

Rafael? Eu não vou entrar em algo sabendo que você tem outras razões por
trás.

Pareceu pensativo.
— O dinheiro que iria para alguém que eu não gosto? — o tom de
voz era seco. — Se não te interessa, Edgar, encontrarei alguém que queira

se beneficiar.
— Explique-me mais sobre essa concessão — concordei, afinal das

contas, negócio era negócio, e não podia negar que seria bom ver a minha
empresa crescer para além das fronteiras, por mais trabalhoso que fosse.

Mergulhei na conversa com Rafael, anotando alguns pontos que me


eram pertinentes, ou pelo menos, assim tentei, já que vez ou outra, meus

pensamentos iam para a minha Malévola e para o próximo passo que eu


queria dar.

Porra! Eu precisava dar esse passo, por mim, por nós, mas, não tinha
ideia do que faria de romântico. Poderia perguntar para o homem à minha

frente ou para Riccardo se tinham alguma ideia, mas não tive vontade
nenhuma de entrar naquele terreno sentimental e escutar baboseiras.
É, talvez ver umas comédias românticas com Thais não fosse de
todo ruim.

Pedir alguém em namoro e me conter para não fazer merda não


deveria ser tão difícil, mas, caralho, porque eu estava tão perdido?
Alguma ideia eu tinha que ter.
Capítulo trinta e cinco

— Tá tão gostoso, Thay! — Spencer falou com a boca cheia de


migalhas.

— É — Jax concordou.
— Graças a ajuda de vocês, carinhas — brinquei, dando uma

mordida no cookie que era fruto das nossas brincadeiras na cozinha.

— E eu? — Edgar fez um bico grande.


— Você só roubou os confeitos, Edgar. — Revirei os olhos para o

homem pela qual estava cada vez mais apaixonada.

Escutei a risadinha dos dois gêmeos.


— Eles precisavam passar no teste de qualidade — se defendeu, os

olhos escuros brilhando, cheios de diversão.


— Você sabia que eram gostosos! — retruquei.

— Vai saber se mudaram a receita, Malévola. — Deu de ombros,

chamando a atenção para a linha bem definida da musculatura e eu senti

certa vergonha por ver um arranhão em meio as tatuagens que eu havia

feito.
— Um ou outro, até vai, mas meio pacote? — Tentei focar na minha

argumentação que divertia os dois menininhos e não nas noites quentes que

eu vinha passando nos braços dele.

— É só para ter certeza — um sorriso malicioso surgiu nos lábios

dele.
— Sei — bufei, não acreditando nem um pouco na desculpa

esfarrapada daquela formiga ambulante que se chamava Edgar.

Os três riram da minha cara e Batata endossou o coro contra mim,

latindo alto.

— Posso comer mais? — Jax e Spencer perguntaram um seguido do

outro, fazendo carinhas de cachorro pidão que poderia muito bem ter sido

ensaiado junto com o Batata.


— Pode, Thay? — Jaxon insistiu quando eu não respondi, de

alguma forma, sabendo que o meu coração molenga iria dizer sempre sim

para eles.
— Só mais um, ferinha, vocês já comeram demais. — Edgar foi

sério

— Ah, não, mano! — Spencer choramingou.

— Comer muitos de uma vez faz mal, querido, deixa a gente com

dor de barriga — falei.

— Por quê? — Jax falou.


— Açúcar demais atrapalha o funcionamento do sangue, carinha…

— Não sabia explicar sobre isso e também não sabia se ele conseguiria

entender muito bem. — Amanhã, você pode comer outro no almoço.

— Tá! — O menininho ficou bem chateado por ter que esperar, mas

isso não o impediu de comer o último cookie e depois me encarar daquela

mesma forma apaixonante e que fazia meu coração molenga querer ceder.

— Só mais um, Thay, tá?

— Nada disso, ferinha — Edgar respondeu antes mesmo que eu

abrisse a minha boca.

— Ah, mano!
— Sem ah, bicos e reclamações. — Foi firme e eu e Edgar trocamos

um olhar que deixava claro o quanto detestava ter que fazer aquele papel

intransigente.

Senti uma vontade enorme de esticar e tocar a mão de Ed,

oferecendo minha compreensão e apoio, mas, por mais que nós dois
estivéssemos apaixonados um pelo outro e envolvidos emocionalmente, que

Edgar tenha demonstrado nesse último mês com gestos e palavras que

queria algo sério comigo, eu ainda pedia cautela, precaução que cada vez
mais eu me questionava se era tão necessária assim, afinal, eu tinha passado

uma borracha no passado e éramos namorados, pelo menos achava que

éramos. Eu não tive um quase pedido por parte dele?

Todos os dias, o ouvia dizer que estava apaixonado por mim. Podia

não ser o sonhado eu te amo, mas, os sentimentos dele por mim eram fortes

o suficiente para que pudéssemos caminhar nessa relação.

Por mais que Edgar não falasse uma palavra sequer sobre o assunto,

eu sabia que ele estava um pouco frustrado por nós mantermos nosso

relacionamento em segredo. O olhar dele dizia tudo, principalmente quando

eu negava os selinhos bobos na frente dos irmãos dele, uma demonstração

de afeto mais banal.

Suspirei.

Não queria fazê-lo sofrer por algo tão bobo. Mais tarde, conversaria

com Edgar para encontrarmos um jeito de contar para os irmãos dele que

nós dois estamos em um relacionamento que podia ficar mais sério. Havia

riscos pensando em um futuro a longo prazo, ninguém podia garantir nada,

mas, falar para os gêmeos parecia ser algo importante para ele.
— Por que vocês não ligam o videogame enquanto ajudo a

Malévola com as louças? — Edgar falou em um tom animado, me tirando

do transe dos pensamentos.

Não precisou dizer mais uma vez para que, em meio aos sons de

gritos, arrastar de cadeira e latidos empolgados de Batata, os gêmeos

saíssem correndo em direção a sala de jogos, com um cachorro a tiracolo.

Sorri. Não havia nada que os meninos gostassem mais do que

ganhar uma hora extra para jogar videogame com o irmão mais velho.

Me ergui, começando a recolher as louças, e não me foi uma

surpresa Edgar esquecer temporariamente das louças e vir na minha


direção.

Mesmo que eu devesse protestar com Edgar, suspirei ao sentir os

braços fortes me envolverem por trás e por deixar um beijo no meu

pescoço.

— Você deixando eu te beijar? — Pareceu confuso.

— Eu sempre deixo você me beijar, Edgar — provoquei.

— Mentirosa.

— Sim — confessei.

Me girou nos braços dele para que nós dois nos fitássemos.

— Precisamos conversar sobre nós, Edgar.

Ele pareceu ficar tenso e eu toquei o pescoço dele, fazendo carinho.


— Está na hora de falarmos com os gêmeos — sussurrei, abrindo

um sorriso quando eu vi os olhos dele brilharem.

— Verdade? — Sorriu de volta.

— Sim…

Pareceu ficar meio abobado.

Eu o achei diabolicamente lindo, mas quando ele não era lindo?

Mais e mais, Edgar se tornava o meu príncipe. Boca suja, mais meu

príncipe.

— Só não fique me enrolando para formalizar o pedido, Edgar —

me fingi de brava. — Não vou ficar te esperando como Viola esperou o

Boris.

— Quem são esses? — Franziu o cenho.

— Esquece… — não dei importância. — E eu não vou te pedir em

namoro como minha melhor amiga fez com o seu melhor amigo.

— Juliana fez isso? — Pareceu surpreso.

— Ele não te contou?

— Não.

— Estranho. — Uma ruguinha deve ter se formado na minha testa.


— Nem tanto. Eu também tenho meus segredos, nem tudo conto

para ele. Minha amizade é diferente da sua com a Juliana.

— Entendi.
— Mas seria bem romântico ser pedido em namoro, Malévola —

me provocou, levando as mãos aos meus quadris, me acariciando de forma

maliciosa.

— Para quem?

— Para mim, é claro.

Bufei.

— Nós também gostamos de iniciativa, sabia? — Continuou a

brincar.
Balancei a cabeça em negativa.

— Você tem que seguir o manual romântico dos filmes, Edgar.


— Sério?

— Uhum. Sou tradicional.


— Que pena, adoraria que você me pedisse em namoro. — Emitiu

um muxoxo.
— Hey! — Dei uns tapinhas no ombro dele.

Riu da minha cara e eu acabei resmungando, antes de ficar nas


pontas dos pés para sussurrar de forma maliciosa na orelha dele, sabendo

que eu iria enlouquecê-lo:


— Prometo outro tipo de iniciativa, Edgar. Uma bem mais
interessante para você.
— Porra, Malévola! — Arfou, apertando os meus quadris com mais
força. — Vou cobrar essa promessa.

— Nem precisará me cobrar. — Para provocar Edgar ainda mais,


deixei um beijinho no pescoço e ouvi um som excitado escapar dele,

ficando ciente de que mais um pouco, eu deixaria ele duro, o que não era a
minha intenção.

— Você é uma mulher muito má. — Segurou o meu rosto e me


puxou para um beijo.
Para a minha decepção, foi um beijo muito mais comportado do que

eu imaginava, e ainda que eu tentasse intensificar o rodopiar da minha


língua sobre a de Edgar, querendo muito mais, ele me impediu, mantendo o

contato moroso.
— Tem planos para hoje à noite?

— Eu tenho muitos e você? — Provoquei.


— Alguns. — Os olhos dele brilharam de forma indecifrável.

— Como?
— Recolher a louça e jogar videogame com os gêmeos — falou em

tom divertido antes de baixar a mão dos meus quadris para lidar com os
pratos, talheres e copos esquecidos.

— Tá bom então. — bufei.


Sabia que estava fazendo birra que nem uma criança mimada, só
faltando bater os pés.

— Ficará com a gente hoje? — Continuou naquela mesma voz


divertida.

— Não sei se devo, Edgar — falei só para provocar, me movendo


para ajudá-lo.

Fez uma careta para mim.


— Amanhã é sábado, Malévola.

— O que que tem?


— Pensei que tinha planos.

— Tenho.
— Que me envolvessem.

— Seus planos não me envolvem, Edgar — fiz charme.


— O caralho que não! — grunhiu

Soltando os talheres, com passos duros, se aproximou de mim. Me


abraçou com força, quase me espremendo de encontro ao corpo dele e eu
suspirei, me derretendo toda.

— Você está sempre nos meus planos, Thais, principalmente nos


meus mais sujos e pervertidos, e sabe que eu tenho um bocado deles —

sussurrou contra a minha orelha.


O hálito quente fez com que eu ficasse arrepiada e igualmente

excitada. Não era uma novidade. Bastava um pequeno toque, a proximidade


de Edgar, para que eu virasse uma gelatina.

— Mesmo? — Me fiz de inocente. Ele era um furacão insaciável,


sempre disposto a me ter e eu descobri o meu lado devasso também, já que

estava sempre disponível para tentar o quer que fosse.


— Sim, Malévola, você está sempre nos meus planos e dos meus
irmãos. Tenho certeza de que eles vão adorar jogar videogame com você.

Deu um beijinho na minha orelha, me deixando mais louca, antes de


me virar outra vez, como se eu fosse uma boneca de pano, para me encarar

nos olhos e com isso pude ver várias emoções cruzarem os olhos dele.
— Dificilmente não gostariam. Jax e Spencer gostam de tudo que eu

faço.
— Eles amam muito você, Malévola. — A voz era séria.

— Eu sei, e eu amo muito os dois — sussurrei, sentindo uma ternura


sufocante pelos dois menininhos me tomar.

— Sei disso. — Abriu um sorriso para mim, acariciando o meu


rosto.

Me segurei para não perguntar E você, Edgar? Você me ama


também?.
Era muito pouco tempo juntos para fazer essa pergunta, ainda mais

quando eu não tinha uma resposta certa para dar.


Eu só podia torcer para que um dia isso acontecesse e que eu

ouvisse essas três palavras vindo dos lábios dele.


— Você está tanto nos meus planos, Malévola, que, por mim, não

precisaria mais ir embora daqui.


— Edgar, eu… — sussurrei, sentindo meu coração bater mais forte.

Voltar a morar aqui era um assunto que nunca havíamos tocado,


ainda que, sempre que me despedia dele e dos gêmeos, via certa tristeza nos

meninos e também desconforto em Edgar. E não podia negar que eu


também ficava triste por ir mesmo sabendo que o fato de eu ser babá dos

gêmeos e também ter um caso com Edgar não fazia dali minha casa. Eu me
obrigava a ir, pensando que era o correto. Afinal, éramos algo próximo de

namorados, não de casados.


— Me desculpe, Thais — disse em um tom baixo e eu vi
arrependimento nos olhos dele quando eu não respondi. — Porra! não

deveria ter falado nada. Eu não quero te assustar ou foder com tudo de
novo.

— Para com isso, Edgar! — ralhei, não prestando atenção no


praguejar incessante dele. — Você é tão doce!

— Doce? — Franziu o cenho.


— E muito romântico — suspirei.
Pareceu tão incrédulo que eu me questionei se algo havia brotado na

minha cabeça para que ele ficasse me olhando daquele jeito.


— Porra! Tá falando sério?
— Claro que é! É bem romântico escutar que alguém gosta tanto de

você ao ponto de não querer que você vá embora.


— Caralho!

— Para de falar palavrão, Edgar. Está atrapalhando sua declaração.


Revirei meus olhos de novo.

— Por que cê tá demorando, mano? — Escutei a voz de Spencer em


meio a latidos, e eu dei um saltinho no lugar com o susto.

Tentei sair dos braços de Edgar por força do hábito, mas quando
consegui escapar, ele passou um braço em torno da minha cintura e me

puxou de volta.
— Culpa da Malévola, ferinha — respondeu em um tom cheio de

diversão.
— Por quê?

— Ela está me impedindo de ir.


— Hey! Não estou fazendo nada disso! — ralhei com Edgar.

— Por que tá fazendo isso, Thay? — O menino pareceu confuso.


Batata latiu, parecendo endossar a pergunta.
— Seu irmão está brincando com você, Spencer. — Fiz uma pausa
— É que nós dois estávamos conversando, só isso.

— É?
— Sim.

— Mano? — Jax deu um gritinho, se aproximando também.


— Oi.

— Por que tá demorando? — Fez a mesma pergunta.


— Nada de mentiras — adverti Edgar antes que ele abrisse a boca.

— A Thay tá segurando ele aqui — Spencer explicou.


— Hey! Não estou fazendo isso! Seu irmão que está me abraçando.

— Por quê? — Jaxon perguntou.


— Vocês não são os únicos que precisam de abraços, ferinhas —

Edgar murmurou.
— Ah, tá! — disseram um seguido do outro, não sei se tão
convencidos assim, e Batata latiu.
— Por que não levam a Malévola para jogar com vocês, ferinhas?

Ela disse que vai dormir aqui hoje.


— Sério? — Jax e Spencer gritaram.
— Sim, manos.
A animação dos dois em forma de gritos e dancinhas me impediu de

contradizer Edgar. Nem discuti, mesmo que ele não deveria falar por mim,
porque, antes mesmo de começarmos aquela conversa, eu já tinha toda a
intenção de passar minha sexta com eles. Edgar ter dito que me queria ali,

com eles, só reforçou ainda mais o meu desejo de ficar e continuarmos


aquela conversa interessante.
— Nunca irei perder a chance de ganhar de vocês, carinhas! —
Falei, imprimindo diversão na minha voz.
— Ah, não! — Jax fez biquinho.

— Não, vai, não! — Spencer retrucou.


— Tenho certeza de que eu irei — provoquei os dois garotinhos que
protestaram, dizendo que não, que eles que iriam vencer.
Afastei Edgar com um empurrão dos quadris e comecei a caminhar

em direção a sala de jogos, fazendo pose de vencedora.


Acabei sorrindo quando escutei a risada deles, dizendo a mim
mesma mentalmente que eu deveria ficar séria, afinal, tinha uma postura
falsa para manter.
Capítulo trinta e seis

— Aposto que eu vou vencer você na melhor de três, Malévola —

falei quando a minha mulher me derrotou no videogame.


— Sabe que não irá! — Provocou. — Você sempre perde para mim

nesse jogo.

— Isso não é verdade!

— É sim, mano! — Jaxon disse enquanto Spencer ria.


— De novo vocês contra mim?

— Para de drama, Ed — Thais falou e eu acabei sorrindo, como

sempre acontecia por ela me chamar pelo apelido que tinha me dado.

— Não é drama. Você está sendo exagerada.


— Sei. — Afunilou os olhos.
— Está com medo de perder? — A aticei.

— Claro que não. — Fez um gesto desdenhoso.

— Tá com medo! Tá com medo! — Meus irmãos fizeram coro.

— Hey! Isso é feio, meninos — Thais os corrigiu, fazendo um papel

que antes era só meu.


Sempre admirei isso nela.

Minha mulher, que já fazia isso quando era apenas amiga e babá,

agora que estávamos juntos, parecia ainda mais livre em chamar atenção

dos dois.

Fazendo um papel de…


Interrompi meus fluxos de pensamentos, ciente de que estava indo

longe demais, mesmo que eu…

— Por quê? — Jax questionou.

— Bullying não se faz — ela respondeu.

— O que é isso? — Jax pareceu confuso.

— É quando a gente fala uma coisa que machuca os sentimentos da

outra pessoa, quando a gente zomba do outro.


— Você tá machucada? — Spencer pareceu preocupado.

— Não, carinha, eu estou feliz — Thais o tranquilizou ele —, mas

se vocês continuarem, posso ficar triste.

— Não vou fazer mais isso! — Spen respondeu rapidamente.


— Nem eu — Jax disse.

— Fico contente por isso, carinhas. — Abriu um sorriso enorme que

me deu vontade de beijá-la.

— Então por que não aceita a minha aposta? — Voltei ao tema

principal, me sentindo ansioso, precisando que Thais concordasse em jogar

comigo.
— Estou querendo te ajudar, Ed.

— Não precisa ter pena de mim. Eu vou vencer.

— Se não se lembra, a última vez que jogamos quem ganhou fui eu

— me provocou.

— Lembro. — Quis corrigi-la, falando que no final das contas, eu

quem acabei ganhando, já que havíamos nos beijado outra vez e a tive no

meu colo, mas não falaria isso na frente dos irmãos.

— O que vou ganhar quando você perder? Porque sabemos que

dificilmente ganhará de mim.

— Você saberá na hora, Malévola.


— Isso não me parece muito interessante, Ed — detectei um tom de

malícia que era imperceptível para os meus irmãos.

— O que tem a perder? — Fiz o mesmo jogo, ainda que eu tivesse

outros planos que não envolviam uma cama ou outra superfície qualquer.

— Melhor de três.
— Eeee! — Meus irmãos ficaram animados e Batata latiu.

Acenei, sentindo a manete escorregar dos meus dedos suados, meu

corpo tomado pela adrenalina do que eu faria daqui a pouco.


Sequer prestei atenção no jogo, repassando na conversa que tivemos

minutos atrás.

Senti que apertei os dentes com uma fúria fora de hora, voltada

contra mim mesmo. Porra! Minha impulsividade quase coloca tudo a

perder. Ia pedir que ela morasse comigo!

Onde estava com a merda da minha cabeça?

Quase pude escutar Rafael me dizendo o “eu te avisei” daquela

forma zombeteira, o que me fez ficar ainda mais puto comigo mesmo.

Minha sorte é que a minha Malévola era surpreendente.

Romântico…mal podia acreditar. Só ela para achar minhas palavras

impulsivas algo romântico.

Ainda que soubesse que a nossa conversa estava inacabada e que o

fato de Thais achar bonitinho não significava que ela concordaria em deixar

o apartamento dela para ficar no meu, vivendo como um casal, a euforia

começou a substituir a raiva.

— Tá perdendo de propósito, Ed! — Thais resmungou, me trazendo

de volta ao presente onde eu estava sendo massacrado.


— Estou fazendo o meu melhor — brinquei, desferindo um golpe

no personagem dela, mas acabei morrendo.

— Conta outra. — Soltou um som exasperado de descrença.

Meus irmãos riram.

Não falei nada e tentei focar na partida para despistá-la, mas, com os

pensamentos se sobrepondo um ao outro, o nervosismo surgindo, foi

impossível correr atrás do meu prejuízo.

— Perdeu de novo, mano! — Spencer deu um gritinho, fazendo o

cachorro até então deitado nos pés de Thais, ficasse agitado.

— É! — Jax concordou.
— Isso não teve graça, Edgar.

— Por quê? — Me virei para ela, vendo que tinha um bico de todo

tamanho.

Tive uma vontade imensa de dar um beijo nos lábios dela, mas me

impedi.

— Você nem tentou. — Uma ruguinha se formou na testa da mulher.

— Não sei o que aconteceu comigo — retruquei.

— Quero ganhar do mano! — Jax pareceu muito animado com a

possibilidade.

— Eu também! Ele é ruim! — Spencer deu uns pulinhos.

Fiz uma careta.


— Não é para tanto, ferinha.

— Hoje não tem nenhuma defesa para você — Thais me alfinetou.

— Culpado! De toda forma, você ganhou a aposta, Malévola. — Fiz

um gesto de redenção depois de entregar a manete para um dos meus

irmãos.

— Não precisa pagar essa aposta — Thais começou em um tom

doce, para depois falar como se fosse superior a mim: — nem fiz nenhum

esforço para vencer as duas partidas.

Os dois meninos riram com a careta afetada que ela tinha feito e eu

acabei gargalhando também.

— Eu sou um homem de palavra — sussurrei com diversão ao me

erguer do sofá.

Com as pernas meio trêmulas, o coração descompassado, comecei a

caminhar em direção ao meu quarto.

— Onde tá indo? — Spencer perguntou.

— Buscar o presente da Malévola — falei, me virando para os três.

— Enquanto isso, tentem se vingar dela por mim.

Thais revirou os olhos quando ouviu meu pedido.


— O que é vingar? — Escutei a pergunta ao sair da sala.

Rapidamente entrei na minha suíte e alcancei o armário. Olhei a

caixa com o enorme laço dourado que estava guardado à vista para quem
abrisse o guarda-roupas do closet, me sentindo inseguro.

Comprei aquele presente para Thais em uma tentativa furada de ser

romântico, mas sempre que pensava em dar a ela, eu hesitava, como agora.

Fiquei ainda mais nervoso, sentindo o meu estômago embrulhar.

Havia tentado pensar em algo à altura da minha mulher, mas o

conteúdo daquela caixa foi a única coisa que consegui elaborar sem a ajuda

de ninguém.

Fiquei encarando a embalagem por segundos a fio, inseguro.


Thais merecia algo melhor.

No entanto, dominado pela alegria de saber que ela havia decidido


contar para os meus irmãos sobre o nosso relacionamento e a brincadeira do

pedido me fez agir por impulso.


Por que eu tinha que ser assim, tão impulsivo? Já podia ver a

decepção no rosto da minha mulher quando visse as minhas limitações em


fazer algo especial por ela.

Merda! Parecia que eu sempre seria um sapo, nunca um príncipe.


Poderia fechar a porta do guarda-roupa e dar uma desculpa qualquer,

mas quase escutei Riccardo me chamar de cagone. Respirei fundo em uma


tentativa de acalmar meus batimentos cardíacos e peguei a caixa. Sem
fechar a porta, forcei-me a fazer o caminho de volta até a sala, minha mente
travando vários duelos consigo mesmo. Meu coração queria seguir adiante,
minha racionalidade desejava dar vários passos para trás.

— Demorou, mano! — Jax, que não estava jogando, deu um pulo no


sofá, indo na minha direção.

— Sério?
— Tanto que eu estava quase indo atrás de você, Ed — Thais falou

em tom divertido enquanto encarava a televisão, mas logo vi o famoso


biquinho —, que droga! Perdi de novo!
— Yes! — Vi Spencer fazer uma comemoração da vitória, atraindo

a atenção de Batata.
Nossos olhares se encontraram, cúmplices, e igual a mim, ela havia

deixado o menininho ganhar. Não que eu e a Thais não tentava ensinar os


dois a perderem, a lidar com a frustração que vinha, mas, de vez em

quando, era bom para eles terem um gostinho da vitória.


— Ela perdeu todas, mano! — Jax falou animadamente.

— Que bom que se vingaram dela por mim — provoquei.


Os dois meninos riram e a minha mulher mostrou a língua para

mim.
Acabei gargalhando também.

— O que tem na caixa, mano? — Um dos garotos perguntou.


— É! — O outro endossou.
— Pode abrir? — Spencer me questionou.
— Não, ferinha, é o presente da Malévola.

— Ah! — Os dois pareceram decepcionados, mas logo voltaram a


atenção para o videogame, já que Thais entregou a manete a eles.

— E então? — perguntou.
— O quê? — sussurrei.

Arqueou a sobrancelha para mim.


— Não vai me dar o prêmio da aposta? — Estalou a língua.

Abri e fechei a boca ao me dar conta de que eu tinha ficado parado


no lugar, fazendo papel de bobo.

— Claro, Malévola! — Dei um sorriso amarelo, me forçando até ir a


ela, por mais que eu quisesse dar a volta e sair correndo.

— Você tá na frente, mano! — Spencer resmungou quando fiquei


praticamente na frente da tela.

— Mano! — Jax gritou, fazendo com que o cachorro latisse.


Thais riu quando os dois meninos resmungaram, para depois
conversar entre si sobre mim, mas porra, eu estava tão nervoso. Como eu

iria sobreviver aqueles poucos minutos de tensão?


— Sabia que eu estava certa — comentou em meio a uma risadinha,

provocando um rebuliço dentro de mim, deixando o meu coração mais


louco.
Pegou a caixa que eu havia estendido para ela com os meus dedos

trêmulos.
— Sobre? — Minha voz soou estranha aos meus próprios ouvidos e

eu vi ela colocar o pacote sobre o colo.


— Você perdeu de propósito — piscou de um olho só.

— Sim. — Não tinha razão para negar.


— Hum… É uma caixa bem grandona — continuou a tagarelar
enquanto puxava o laço.

— É um dinossauro? — Spencer perguntou,


— Duvido muito, carinha — Thais respondeu.

— Por quê? — Mais decepção.


— Dinossauro é grande!

— Tem dos pequenos também — continuou a argumentar, fazendo


um gesto, demonstrando o tamanho.

Não consegui assimilar a conversa deles, só sei que prendi o meu


fôlego, observando a expressão dela, quando Thais abriu a caixa.

— Edgar! — Deu um grito ao remover o ursinho com lacinho e


vestidinho rosa, assustando Batata que, latindo, quis subir em cima dela.

— Senta, Batata! — Dei o comando, mas não me obedeceu,


derrubando a caixa com a pata.
Bufando, obriguei-me a segurar o cachorro pela coleira, tirando-o de

cima de Thais, que parecia em choque ao segurar a pelúcida, enquanto os


meninos riam das peripécias do animal.

Capturei o momento exato em que o brilho dos olhos dela se


transformou em lágrimas grossas que escorriam pelas bochechas. Inseguro

pra caramba, ou dramático, não soube dizer, mas, senti um aperto estranho
no peito.

— Senta, Batata — repeti o comando para o animal que, mesmo


agitado, dessa vez obedeceu.

— Por que tá chorando, Thay? — Jaxon pareceu preocupado.


— Estou feliz, carinha! — Abraçou a pelúcia, chorando ainda mais.

— Thay?
— É a primeira vez que eu ganho uma pelúcia, Jax. Estou

emocionada, e é tão linda, Ed — falou com a voz chorosa, me fazendo


sentir um pouco de alívio, e encarou o meu rosto — Obrigada por ter
comprado algo tão fofo e especial.

Voltou a abraçar o ursinho com força, como se temesse que o objeto


fosse escapar dos braços dela.

— Que bom que gostou, Malévola — murmurei e sabendo que


havia chegado o momento em que eu daria o próximo passo, coloquei-me
de joelhos. — Eu tentei pensar em várias formas de fazer isso, mas, eu sou
bem novo nisso… Porra! Isso não é uma desculpa boa.

Passei a mãos pelos cabelos um gesto.


— Edgar? — Desviou a atenção da pelúcia e me encarou, os olhos
se arregalando. — O quê?

— Sabe que sou apaixonado por você, droga, nos últimos vinte dias
eu só falo sobre isso, sobre o quanto você é maravilhosa, linda, inteligente.

O quanto eu adoro o seu sorriso, seus olhos, seus cabelos, seus lábios — me
interrompi, quando me dei conta que iria falar algo de conotação mais

sexual na frente dos meus irmãos.


— Mano? — Spencer perguntou em um tom confuso.

— Estou me declarando, ferinha. — Abri um sorriso quando encarei


ele com o canto do olho, antes de voltar a fitar a minha mulher.

— Declarando? — Jax murmurou.


— Sei que as palavras do mano são horríveis, mas ele está tentando

expressar o quanto ele gosta, melhor, ama a Thais, e quer que ele seja a
garota dele.

— Eu também amo ela! — Spencer gritou.


— Eu também! — Jax adicionou.

Batata latiu, como se declarasse para ela também.


— Você me ama? — Minha mulher sussurrou, paralisada com o
choque.

— Como não te amar? Você é um doce. Tão doce quanto os


confeitos. Melhor, mais. — Pisquei de um olho só para ela.

Thais riu em meio às lágrimas.


— Sei que você merece muito mais do que um homem ajoelhado no

apartamento dele, fazendo tudo precipitado, mas ele não aguenta mais
esperar. Ele não pode passar mais um minuto sequer sabendo que ele não é

o seu namorado.
— Ed… — Fungou.

— Ele promete a você que estará ao seu lado em tudo da mesma


forma que você esteve ao lado dele, te jura fidelidade e devoção — fiz uma

pausa, tentando organizar as palavras que saiam como uma cachoeira pela
minha boca. — Ele pode ser péssimo com essas coisas, mas ele promete
continuar tentando, todos os dias, por amar você. Ele jura que um dia ele
passará de sapo a príncipe.

— Você já é o meu príncipe, Edgar!


Se ergueu em um salto e, ainda segurando para a pelúcia, para a
minha surpresa, se jogou em meus braços. Só tive tempo de abraçá-la de
volta, prendendo o ursinho entre os nossos corpos, antes de cair ao chão,

levando Thais comigo, as tranças dela tocando o meu rosto.


Batata, achando que era uma brincadeira, latindo, começou a enfiar
o focinho, dando patadas, cabeçadas e também rabadas.

Foi automático Jax e Spencer rirem e a minha garota também,


fazendo com que uma onda de excitação me percorresse por ter o corpo
dela pressionado ainda mais. Inesperado foram os gêmeos subirem em cima
de nós, praticamente criando uma torre-humana.
— Porra! — Grunhi, mas acabei rindo da situação toda.

— Minha costas estão começando a doer, carinhas, podem sair? —


Thais arfou depois de um tempo, enquanto tentava se controlar.
— Tá!
Ainda rindo, os dois meninos obedeceram, um saindo de cima de

nós, depois o outro. Batata foi atraído pelos meninos que continuaram com
a algazarra.
Thais fez com que fosse levantar também, mas não deixei,
mantendo os meus braços em torno dela. Tombou um pouco a cabeça para

trás.
— Prometo que o próximo pedido será especial.
— Esse pedido foi mais do que especial, Edgar. — Abriu um sorriso
enorme, e o semblante todo tomado por alegria, me contagiou.

— Um homem sem palavras bonitas, duas crianças e um cachorro


bagunceiro é algo especial, Malévola? — provoquei.
Estalou a língua para mim.
— Um homem que diz me amar e que me deu uma pelúcia linda,

duas crianças que me amam muito e um cachorro que suponho que me ama
também. O que mais uma garota pode querer?
— Não sei. — E realmente não sabia.
— Sou muito sortuda. Nada dos filmes chegam aos pés ao seu

pedido, Ed. — Deixou um beijinho gostoso e apaixonado nos meus lábios, e


eu tive que me conter para não invadir a boca de Thais com a minha língua.
— Mas você não respondeu a minha pergunta, Malévola — a tensão
que havia evaporado por alguns momentos, retornando com força —, você

aceita ser a minha namorada e viver comigo?


— Realmente me ama, Edgar? — Vi os olhos dela ficarem úmidos.
— Prometi que não mentiria, certo?
— Você mentiu sobre um monte de coisas hoje. — Revirou os
olhos.

— Não como eu me sinto, Thais. — Foi a minha vez de deixar um


beijo na ponta do nariz dela.
— Hum.
— Então?

— Eu aceito, Edgar — sussurrou e ela caiu no choro outra vez.


Sem pensar se ela me amava ou não, o carinho e o som de Thais

fizeram com que por uma onda eufórica me tomasse e eu gargalhei alto
antes de infiltrar a mão nos cabelos dela e puxá-la para um beijo contido,
mas não tão casto. A paixão teria que ficar para depois e pelo olhar de
Thais, mesmo que as lágrimas ainda caíssem, pela linguagem do corpo dela,
eu sabia que ainda no fim daquela noite, nos amaríamos lentamente, com

pressa, de todas as formas.


— Você me faz um homem mais completo, Malévola — sussurrei.
— Você me faz uma mulher mais feliz ainda.
— No que depender de mim, te farei sempre feliz.

— Hm. — Outro selinho.


— Tenho que te dar uma coisa, namorada — falei.
— O quê? — Uma ruguinha se formou na testa dela.
— Está no bolso do vestido da ursinha — sussurrei.

Soltei uma risada quando, mais do que depressa, ela saiu de cima de
mim.
Me levantei também, sentando próximo a ela.
Vi Thais mexer no bolsinho e o choque estampado na cara dela ao

tocar os dois aros.


— Edgar — murmurou ao olhar para o anel feito de ouro branco e
com uma pedrinha delicada. — É um diamante?
— Pensei que minha garota acharia romântico receber diamantes

junto com o pedido — provoquei, sorrindo ao ver o brilho em seus olhos.


— Acertou.
— Gostou?
— Nem precisava perguntar, é lindo, e você sabe que eu iria amar,

Ed — a voz estava embargada.


— Posso? — Apontei para o aro que ela olhava de forma abobada.
— Sim.
Peguei o anel da mão dela e senti que ficava um pouco trêmulo

enquanto deslizava a peça pelo dedo anelar direito.


— Obrigado por aceitar, princesa — deixei um beijo na falange
dela, ouvindo um suspiro baixo.
Fiquei observando-a, achando o contraste da pedra contra a pele
dela, lindo.

Eu deveria cobrir a minha mulher de diamantes, principalmente o


pescoço. Thais ficaria linda, mas o maior brilho sempre viria dela.
— E esse? — perguntou, com a voz rouca, ao tirar o outro aro
combinando com o dela, de dentro do bolsinho.

Olhou-me nos olhos.


— Quero que todos saibam quem eu pertenço a você, Malévola.
Meu corpo e minha alma são seus!
— Ainda diz que não é romântico — tentou bufar, mas caiu no

choro ao pegar a minha mão, para deslizar a meia-aliança pelo meu dedo.
O contato do metal contra a minha pele fez meu coração saltar, meu
corpo estremecer.
Era uma peça simples, mas, mesmo assim, o significado dele era

forte, e quanto mais eu o olhava, mais eu ficava ciente disso.


Eu nunca havia quisto usar uma aliança e nunca passou pela minha
cabeça que eu usaria uma enquanto só era namorado, mas aqui estava eu,
usando algo que era a representação física de que eu era de Thais. Há muito

eu havia deixado de só me pertencer e aos meus irmãos, agora eu era dela e


Thais era minha.
O pensamento fez com que eu fosse dominado por algo selvagem e
sem pensar muito, segurei-a pela nuca e tornei a beijá-la. Minha mulher me

retribuiu, segurando o meu rosto, o anel dela tocando a minha pele,


aumentando ainda mais a sensação de pertencimento.
— Por que tá beijando-a de novo, mano? — Spencer perguntou, me
fazendo sair daquele transe hipnótico que era beijar os lábios dela.

Olhei para ele e vi que o menino parecia curioso, ao contrário do


irmão que tinha uma careta.
— Ela aceitou meu pedido — falei.
— É?
— Sim, carinha — Thais entrou na nossa conversa —, sou a
namorada do seu irmão.
Os dois começaram a gritar, comemorar e pular, animados, fazendo
com que Batata latisse mais ainda, indo de um lado para o outro, pulando

nos meninos.
Trocando um olhar cúmplice com Thais, acabei rindo junto dela
com a algazarra que a minha sala havia se transformado. Nem por um
segundo sequer duvidei que a reação dos gêmeos seria diferente. Eles a

amavam.
Me movimentei para abraçar a minha então namorada que pousou a
cabeça sobre os meus ombros e a mão dela procurou a minha.
Olhei para os anéis em nossos dedos e foi como se eu tivesse sido
atingido por um raio outra vez. A satisfação que eu sentia por isso, era

monstruosa.
— Nem acredito que comprou uma aliança para você também —
sussurrou.
— Por quê? — Franzi o cenho.

— Tem caras que nem gostam de usar a aliança de casamento.


— Eu estou gostando de usar a minha — confessei.
Sorriu para mim, acariciando a minha mão, mas logo pareceu
insegura.
— O que foi?
— Posso tirar uma foto para mostrar para a Ju?
— Só se você postar nas suas redes sociais e me marcar — falei em
tom divertido.

— Sério? — Arregalou os olhos para mim.


Deixei um selinho nos lábios dela.
— Se estivesse com o meu celular por perto, eu mesmo tirava a
selfie e postava.

— Que brega, Ed! — Os lábios se curvaram para cima de forma


zombeteira.
— Mesmo?
— Muito! — Não resisti e roubei outro beijo dela.

— Eca! — Escutei um gritinho infantil, seguido de vários latidos.


— Que nojo! — Spencer ajudou o irmão, fazendo com que os lábios
de Thais parassem de se mover contra o meu.
— É melhor se acostumarem, ferinhas — respondi, me sentindo

divertido.
— Ah, não! — Mais resmungo.
— Por quê, mano? — Spencer perguntou, ainda fazendo cara de
nojo.
— Namorados demonstram afeto — expliquei. — Não é bacana ver
que eu gosto da Thais, Spen?
— A Thay é a minha namorada também? — Jax perguntou,

parecendo animado com a ideia.


A minha careta foi automática.
— Sou muito velha para você, não acha? — Thais começou a rir.
— Não! — o menino respondeu.
— Quando ficar mais velho, encontrará alguém para você, Spen —

falei.
— Sou grande já!
— A Thay é do mano — Jax respondeu.
— Isso mesmo, ferinha. — Sorri, convencido.

— Mas ela me dá beijos! — Spencer continuou a argumentar.


— Vou continuar a dar — Thais falou com diversão.
— É diferente, Spencer.
— É! — Jax endossou.

— Eu não te dou vários beijos também, e sou seu mano? —


expliquei.
— Sim. — Finalmente aceitou.
— Então…
— Ela não vai ser mais nossa babá? — o menino perguntou em um
fiozinho de voz, parecendo com medo.
— Vou continuar a ser, carinha, nada mudou — Thais assegurou

antes que eu pudesse falar algo.


— Mudou, sim! — Jax exclamou alto.
— Por que diz isso, Jax? — perguntou suavemente, com a testa
estivesse levemente franzida.

— Você é a nossa mamãe agora! — Deu um grito alto, empolgado.


— Eeeeee! — Spencer deu vários pulinhos.
Antes que eu pudesse abrir a boca, uma algazarra se formou na sala
outra vez.

Fiquei paralisado, um bolo tampando a minha garganta.


Sabia que Jax não tinha dito aquilo por maldade, mas, mesmo que
não devesse, a conhecida pontada de culpa pelos gêmeos não terem
conhecido aquele amor retornou.

Porra! Aquilo me assombrará até nos momentos mais felizes?


Thais apertou a minha mão. Mesmo que eu tivesse medo da
expressão dela, ciente de que ela não era obrigada a aceitar aquela alcunha,
mesmo que ela não significasse ser mãe em termos práticos, me forcei a
olhar para ela e vi que tinha um sorriso no rosto.
— Malévola? — sussurrei, meio incrédulo, em meio à algazarra que
os meninos e cachorros ainda faziam.

— Está tudo bem. — Me olhou.


— Mesmo?
— Se não se incomodar com isso, Ed. Sei que não serei a mãe deles
de verdade, não faz nem sentido, já que você é irmão deles, não pai, mas
fico feliz por me considerarem assim. Saiba que continuarei ajudando no

que posso, como a sua funcionária, sua amiga, mas, principalmente como
sua namorada…
Vi certa hesitação nela, não por temer me desagradar, mas, sim, por
achar que ao se intitular assim, ela estaria ultrapassando limites.

— Posso te dar um abraço, Thay? — Spencer me cortou.


— Também quero! —pediu Jaxson.
— Claro! Beijinhos também, carinhas?
— Uhum… — falaram ao mesmo tempo.

— O que estão esperando? — Os provocou.


Com gritos, os dois correram e, juntos, se jogaram nos braços dela,
fazendo-a rir quando foi ao chão. Batata não demorou a se juntar aos três.
Sorri, ao assistir os três rolarem e brincarem, sentindo o meu peito

ser tomado por várias emoções e uma certeza: eu amei minha namorada
ainda mais por ela estar disposta a tentar preencher um pouco daquela
lacuna que nunca seria preenchida.

Eu tinha que agradecer e muito o destino por ter colocado aquela


mulher na minha vida e na dos meus irmãos.
Capítulo trinta e sete

— Mano? — Escutei a voz sonolenta de Spencer quando eu deixei

um beijo na testa dele.


Merda!

Odiava quando isso acontecia, mas, era inevitável não fazer carinho

neles sempre que voltava de viagem, por mais curta que fosse. Era como

uma espécie de ritual, um rito que tão cedo queria que acabasse.
— Volte a dormir, ferinha — pedi, tirando uma mecha de cabelo que

havia caído sobre o rosto dele.

— Não.

— Está tarde… — argumentei, mesmo que não fosse madrugada


ainda.
— Não.

— Ferinha…

Meu irmão tentou relutar, mas, acabou cedendo ao cansaço do dia

para lá de agitado que eles tiveram com a minha Malévola no parque, onde

pelo que a minha mulher contou, os gêmeos se divertiram muito apostando


corrida com ela e com o cachorro.

Sem pressa, velei o sono dele por alguns minutos para depois,

tomando cuidado para Batata não latir, deixar um beijo na fronte de Jaxon

cujo sono era bastante pesado.

Com passos fininhos, deixei o quarto dos dois, deixando a porta


entreaberta para o cachorro passar e quando estava um pouco distante,

praticamente corri em direção a minha suíte, sabendo que a minha mulher

estava me esperando dentro dela.

Não me decepcionei quando girei a maçaneta e encontrei Thais

deitada de bruços no centro da cama, assistindo um dos filmes dela. Uma

agitação familiar me dominou só por olhar para ela.

Fechei a porta e a tranquei, me sentindo predatório. Estava faminto


por ela.

Dois dias sem poder beijá-la tornou-se tempo demais para mim e

por mais cansado que eu estivesse, precisava dos beijos e da pele dela.
— Não vai receber o seu homem? — Perguntei, quando ela sequer

olhou na minha direção.

— Está na melhor parte do filme, Ed — sussurrou.

— Para quem estou perdendo hoje? — Disse em meio a um

muxoxo.

— Para o Mr. Thornton! — falou, maliciosa.


— Que bom que não é o Jake! Com o Jake fica difícil de competir

pela sua atenção. Não sei o que você vê nesse cara.

— Hey! — Finalmente olhou para mim, franzindo o cenho. — Não

fale assim dele!

Fechei a cara.

— Esse cara é idiota!

— Ele é o meu idiota!

— A merda que ele é! — Grunhi, irritado, mesmo sabendo que era

apenas uma provocação.

Se levantou e, pela milésima vez, eu me perdi no modo como a


camisola simples escorregava pelas curvas dela enquanto caminhava.

— Jake é meu marido, Ed — falou, parando na minha frente.

Com um rosnado, enlacei a cintura dela com posse, trazendo o corpo

esbelto contra o meu, ficando mais excitado com a proximidade da minha

mulher, com o cheiro doce que emanava dela.


— O único cara que você tem, sou eu, Malévola. — Acariciei as

costas dela.

Os olhos de Thais brilharam.


— Ciúmes de um personagem cinematográfico, Edgar?

— Muito!

— Hm. — Mordeu os lábios, provavelmente contando uma risada.

— Sou a por-ra do ú-ni-co — soletrei. — Ouviu bem?

— Escutei. — Envolveu o meu pescoço com os braços, atritando

ainda mais os seios no meu peitoral. — Vai me fazer repetir que você é o

único?

— Talvez devesse — baixei a mão, apertando a bunda dela,

escutando um suspiro delicioso —, mas tenho algo ao meu favor…

— O quê?

— O único nome que você grita e continuará a gritar enquanto goza

é o meu, amor! — Minha voz era rouca, o sangue se acumulando no meu

pênis com o flash que me invadiu da nossa última vez.

— Ed… — Não a deixei protestar, sufocando o meu nome com os

meus lábios.

Thais não me decepcionou, abrindo um pouco a boca para receber a

minha língua. O beijo foi temperado com o suspiro satisfeito que deixava
nossas gargantas, com a ânsia do tempo em que passamos separados. Eu
tentei me fartar dela, roubando o fôlego da minha Malévola, sentindo-a

apertar o enlace no meu pescoço à medida que ficava mais bamba.

Os corpos, mesmo vestidos, se buscavam, atritando, e excitando um

ao outro. Meu pau latejava ao se esfregar nela, querendo sentir outra vez o

calor e a pressão dos músculos dela me envolvendo.

Ao segurá-la pela nuca, escutei o arfar baixinho e tomei os lábios

carnudos entre os meus, apenas para voltar a mergulhar dentro da boca

sedenta, nossas línguas brincando uma com a outra, as salivas se mesclando

igual as nossas respirações.

Inclinei a cabeça de Thais para trás, ganhando um novo acesso ao


beijo, me sentindo trêmulo das cabeças aos pés quando uma das mãos dela

deslizou pela minha costa, voltando a subir, as unhas cravando na minha

omoplata quando pressionei a parte de trás do pescoço dela de uma forma

um pouco mais selvagem.

O pequeno estalo provocado com o movimento ecoou junto com o

som excitado da minha mulher e eu a beijei com mais fúria.

— Você é terrível, Ed — sussurrou com a voz rasgada quando

agarrei ela pelos cabelos, sabendo que eu a deixaria ainda mais molhada.

— Vai me dizer que não sentiu falta de mim, Malévola — tragando

ar para os pulmões, comecei a deslizar meus lábios em direção ao pescoço

macio e cheiroso, ainda segurando-a com firmeza.


— Queria dizer que não… — me provocou. — Ed… — gemeu meu

apelido quando desferi um tapa na bunda dela pelo comentário.

— Eu deveria te jogar na cama e te punir… Ou te colocar de

joelhos. — Deixei uma mordida na curva delicada e grunhi com a

excitação.

— Talvez seja o que eu quero que você faça. — Era pura malícia.

— Caralho! — Perdi o meu fôlego enquanto o meu pau latejou em

uma resposta dolorosa.

— Mas você deve estar cansado da viagem, Edgar! — Piscou para

mim, fazendo uma cara inocente.

Grunhi.

— Nunca estou cansado o suficiente para não querer ter você,

Malévola, e sabe disso.

— Sei. — Abriu um sorriso. — Como foi o seu dia? Quase não

conseguimos conversar.

Senti meu coração bater mais forte só por Thais perguntar como foi

o meu dia. Quis rir, eufórico. Porra! Eu estava muito apaixonado.

— Também senti sua falta, amor — acabei sussurrando e vi os olhos


dela brilharem comigo a chamando de amor.

— Eu também.
Sorriu, me olhando com tanta ternura, amor, que eu imaginei que ela

iria se declarar naquele momento, mas isso não aconteceu. Toda minha

frustração e anseio de ouvir ela dizer que me amava de volta, algo que eu

vinha esperando de forma incessante, morreu quando ficou nas pontas dos

pés e outra vez beijou os meus lábios de forma doce e igualmente quente.

— E então, como foi a reunião com Matsumoto?

— Cansativa. Entediante. Longa. Ainda mais quando tenho que

ouvir e repetir sempre as mesmas coisas.


— E eu achava que você amava ele — me provocou.

— Ele é uma ótima companhia — fui sarcástico.


— Posso imaginar.

— Da próxima vez, me manda mensagens, Malévola.


— Não quero atrapalhar o seu trabalho, você sabe disso.

— Nunca me atrapalha.
Bufou.

— Então me envie uma foto sua para me entreter.


— Você já tem muitas fotos minhas, Edgar.

— Não só de lingerie. — Pisquei.


— Edgar! — Mais grito, só que dessa vez indignado. — Não tem
graça!

— Não tem mesmo. Não é uma brincadeira. — Dei de ombros.


Ela abriu e fechou a boca várias vezes, sem saber o que dizer, até
que resmungou, me dando um empurrão de leve: — Vá sonhando que isso

irá acontecer.
— Dizem por aí que sonhar não custa nada — dei um sorriso torto.

— Quem sabe um dia acontece.


— Não mesmo.

— Seria sexy!
— Sei.
— Muito.

— Pervertido.
— Você quer enviar essa foto para mim, Thais, só não quer admitir.

Revirou os olhos, apenas para me fitar com malícia.


— Sabe o que eu quero, Ed?

Usou a ponta do indicador para acariciar o meu pescoço.


— Sim? — Arfei, sentindo meu pau reagir a carícia dela.

— Ficar sem a minha calcinha encharcada.


— Porra! — Rosnei, acariciando a curva do quadril, adorando

aquela merda de palavras timidamente sujas. — O que está te impedindo de


ficar sem calcinha, Thais?

— Você que não quer tirar ela para mim.


— Que imbecil eu sou. — Deslizei minha mão pelos quadris dela,
acariciando-a.

— Muito.
— O foda que eu preciso de um banho. Não tive tempo de passar no

hotel antes do voo.


— Isso não impede você de tirar a minha calcinha, Ed, e muito

menos de me dar prazer.


— Tentador.

— Eu não recusaria.
— Safada. Mas tenho um plano melhor…

— Eu ainda fico com o meu — continuou, maliciosa.


— Posso ser criativo em uma banheira.

— Isso é um convite para eu me juntar a você no seu banho, Ed? —


Se curvou para deixar um beijo no meu peito.

Abri um sorriso de orelha a orelha, predatório.


— O que você acha, Thais?
— Que você é um grande safado, Edgar.

— Você é uma grande mentirosa se disser que não quer ensaboar o


meu corpo, Malévola.

— Sim, estaria mentindo mesmo.


— E então?
— Só se você me deixar colocar muitas bombas de sais.

— E fazer bastante espuma, já sei.


— Que bom que me conhece, Edgar. — Deu uma risada gostosa e

eu deixei um beijinho na ponta do nariz dela.


— Prepara a banheira enquanto pegos os confeitos e chocolates?

— Confeitos?
— Ficará mais romântico com confeitos.
— Não é morango e champanhe?

— Uma pequena adaptação.


— Me parece bem interessante, Ed.

— Será!
— Okay! — Abriu um sorriso, mas logo fez uma careta. — Só não

coma tudo no meio do caminho.


— Tentarei!

— Edgar! — Gritou comigo.


Acabei gargalhando.

— Te encontro daqui a pouco — sussurrei.


Roubei um beijinho dela antes de dar as costas para Thais e deixar a

suíte com passos rápidos. Por mais cansado que eu estivesse, me sentia
mais do que pronto para amá-la a noite e madrugada inteira.
Capítulo trinta e oito

Joguei uma cápsula de perfume na banheira assistindo a explosão de

sais que efervescia na água enquanto a fragrância suave de flores


impregnava as minhas narinas. Senti que faltava algo, um toque a mais ao

banho.

— Pétalas de rosas — comentei, passando as pontas dos meus dedos


sobre a espuma morna e perfumada.

Estalei a língua, me xingando mentalmente pela pontada de

decepção que senti por saber que não havia nenhuma pétala para que eu
pudesse jogar na água.

Estava sendo uma tola por desejar uma pitada de romantismo, sendo

que, no final das contas, tudo passaria despercebido ao primeiro toque de


Edgar, ao primeiro beijo, ao calor da pele.

Continuei a brincar com a água, fazendo movimentos lentos, até que

escutei passos se aproximando.

— Algum confeito sobreviveu a você, Ed? — brinquei.

— Um ou outro se perdeu — respondeu, divertido.


— Coitados! — Fingi que estava injuriada e ele deu uma risada.

Olhei para o meu homem e eu pouco me importei com os confeitos,

sentindo a minha boca secar ao passo que o meu baixo-ventre esquentava.

O tronco todo tatuado, os músculos definidos pelo exercício, os gomos que

formavam o abdômen dele, era um contraste com a calça social elegante e


feita sob medida.

Edgar era sexy e aqueles passos lentos, como se fosse um felino, só

o deixava com uma aparência ainda mais poderosa. Era o olhar faminto

dele, no entanto, que me fazia querer ser sua caça.

Quis rir ao constatar que eu já era a presa de Edgar e que, muito em

breve, seria devorada.

Mal podia esperar por isso.


— Por que não está na banheira, Malévola? — Falou ao aproximar e

eu vi ele depositar na borda da banheira os chocolates, alguns pacotes de

camisinha.
— Estou esperando certo alguém me despir — tentei adotar um tom

sensual na minha voz.

— Sim?

— E também não iria perder a chance de te despir.

— Sou todo seu. — Abriu um sorriso predatório ao passo que fazia

um gesto, apontando para o próprio corpo. — Faça o que quiser de mim,


amor.

Sorri, sentindo que Edgar terminava de me derreter ao me chamar

de amor. Amor. Ainda me era meio inacreditável eu ser o amor daquele

homem, mas, eu torcia para que um dia eu me acostumasse com isso, como

dia após dia, a ideia de eu amar Edgar parecia menos teoria e mais real.

No fundo, eu sabia que o amava, com todos os defeitos, com as

virtudes.

Meu coração era de Edgar e eu apenas não tinha encontrado o

momento romântico de dizer a ele.

Suspirei.
Talvez tenha começado a amá-lo quando, me surpreendendo, Ed não

teve vergonha de mim e postou primeiro que eu uma foto de nós dois juntos

em todas as redes sociais, me marcando, expondo o nosso namoro para o

mundo.
— Não vai despir o seu homem, Malévola? — Me provocou quando

fiquei paralisada, tomada por pensamentos. — Ou está esperando a água

esfriar?
— Sabe que a banheira mentem a água aquecida, Ed. — Semicerrei

meus olhos.

— Sei.

— Então não invente problemas. — Deu um empurrão de leve,

mesmo que dificilmente iria mover ele de lugar.

Deu uma risada e eu fiz bico.

— Só quero que me toque, amor. Senti falta das suas mãos em mim.

— O sorriso era uma mistura de ternura e malícia.

Suspirei, derretida por Edgar, e mais do que depressa dei um passo à

frente, aproximando-nos ainda mais.

Toquei o rosto dele com as duas mãos e me pus nas pontas dos pés,

mas antes que eu pudesse beijá-lo, Edgar falou:

— Romântico.

Minha confusão durou pouco.

A iluminação feita por lâmpadas de led branca deu lugar para uma

luz amarelada baixa, deixando todo o banheiro a meia luz. Uma música

suave, vinda de uma caixa de som, passou a ecoar no recinto.


Suspirei, olhando ao meu redor, embasbacada. Era quase como se no

lugar das lâmpadas, tivesse velas espalhadas por todo o banheiro, a

iluminação formando um jogo de luz e sombra por todo ambiente.

Com uma única palavra, Edgar havia tornado tudo mais romântico,

mais especial.

— Gostou, Malévola? — Tocou a minha bochecha, fazendo com

que eu o encarasse.

O rosto dele na penumbra parecia ainda mais bonito, ou era o meu

coração que batia acelerado, apaixonado, por ele.

— Sabe que sim. — Suspirei outra vez. — Nem sabia que tinha esse
comando para deixar o banheiro assim. Você deveria ter me contado antes,

Ed. — Dei um pequeno tapinha nele.

— Eu tive medo. — Os lábios dele se curvaram para cima ao passo

que Edgar baixou a mão para acariciar a minha cintura e eu me senti

eletrizada.

— Medo? — Me fingi de brava.

— Você nunca iria querer deixar esse banheiro, Malévola.

— Bobo!

— Com razão.

— Realmente. — Sorri, brincando com os cabelos dele. — Ficou

tão romântico.
— Sabe o que vai ser ainda mais romântico?

— Sim?

— Nós dois nus — encostou a testa na minha e eu senti o ar quente

da respiração dele tocar a minha pele —, nos amando, nos entregando, nos

rendendo.

— Ed… — sussurrei o apelido dele como se fosse uma prece e

entreabri meus lábios para receber o beijo dele.

Como esperava, envolvendo-me em um abraço, ele me beijou. A

boca deslizava suavemente contra a minha, acompanhando a carícia que ele

fazia na minha lombar e como Ed me pediu, eu me rendi completamente em

meio a um gemido.

Minhas palmas ganharam vida ao percorrer as costas definidas que

se contraiam ao meu toque, enquanto a minha língua fazia amor com a dele,

os suspiros que deixavam nossas gargantas morrendo nos lábios um do

outro, se mesclando a música.

Não tivemos pressa ainda que nossas peles ficavam mais arrepiadas

ao toque, nossos corpos cada vez mais ansiosos pelo do outro, pela fusão

que viria.
Tombei um pouco a cabeça para trás ao interromper o beijo e ofereci

a minha garganta para os lábios dele. Com um som faminto, não hesitou em
beijar e mordiscar meu pescoço, a barba oferecendo um atrito delicioso que

me fazia retorcer.

Meu sexo, já encharcado, ficava mais contraído, ao passo que as

mãos fortes acariciavam as minhas curvas quase inexistentes, descendo

cada vez mais até alcançar a barra da camisola que eu usava.

A expectativa tomou cada grama do meu ser e eu arranhei as costas

de Edgar, soltando um gemido em um pedido por mais. Para que ele me

tomasse, me despisse e fizesse o que quiser comigo, desde que ele aplacasse
o fogo que consumia toda a região do meu baixo-ventre.

— Gostosa! — ronronou antes de lamber a extensão do meu


pescoço de baixo para cima, apenas para voltar a descer.

— Ed!
— Cheirosa!

Arfei.
Continuou a me atormentar, me lambendo ao passo que enterrou as

mãos na minha bunda, segurando as nádegas com força. Rebolei sem


nenhum comedimento contra as palmas dele, provocando-o, o rosnado

excitado me deixando ainda mais eletrizada, o desejo se tornando ainda


mais intenso.
— Sim! — murmurei de forma incoerente quando o homem baixou

ainda mais o rosto, e depois de traçar a auréola por cima da camisola,


tomou o bico do meu seio entre os dentes.
Sem importar com a presença do tecido, grunhindo, sugou com uma

pressão que roubou todo o meu fôlego e me fez segurar nos ombros dele
com força, com medo de cair tamanha bambeza que me acometeu.

Não consegui conter meus gemidos, minha respiração ficando cada


vez mais entrecortada, presa naquela espiral crescente feita pelos lábios do

meu namorado que dava atenção ao outro seio, pelo modo como ele me
encarava, cheio de desejo ao chupar meu mamilo, por me tocar.
A expectativa cresceu ainda mais no meu interior quando Edgar

começou a descer enquanto enrolava a barra da camisola na região dos


meus quadris, as palmas provocando uma série de comichões na minha

boceta a qual tentei aplacar ao roçar as coxas uma na outra, suspirando com
o atrito perfeito.

— Fica delicioso assim, Ed — sussurrei, olhando o homem


poderoso se colocando de joelhos, sombras marcando ainda mais o rosto

dele.
— Dominadora! — Deu um tapa na minha nádega nua, já que o fio

dental nada cobria, o impacto do tapa fazendo com que eu mordesse meus
lábios para conter um som mais alto.

Não consegui responder, não com palavras coerentes, já que o meu


homem se curvou em direção ao meu sexo, roçando os pelos da barba na
minha pele.
— Porra! — rosnou depois de aproximar o nariz da minha boceta e

inspirar fundo, me fazendo perder momentaneamente o foco de tudo que


não fosse a respiração quente transpassando a renda. — Tá excitada pra

caralho, deusa!
— Sim.

— E nem começamos.
Poderia discordar, já que desde o primeiro beijo, eu havia ficado

assim, mas arfei o nome de Edgar baixinho, sentindo meu corpo entrar em
uma espécie de frenesi quando ele deixou um beijo no interior das minhas

coxas, os dedos brincando com o elástico lateral da calcinha, fazendo


estalar nos meus quadris.

Edgar me atormentou, deixando vários beijinhos na região sensível,


ao passo que meus dedos buscaram os cabelos dele, agarrando os fios. Não

desejava que o meu namorado parasse, pelo contrário, queria o afago da


língua dele naquele ponto pulsante até que o orgasmo me alcançasse.
Conhecendo todos os sinais do meu corpo, sem deixar de brincar

com as minhas coxas, alternando beijinhos e mordidas, Edgar começou a


baixar a minha calcinha.

Grunhiu um palavrão quando, acariciando o couro cabeludo dele,


passei a rebolar na cara de Ed, tentando ajudá-lo a remover a peça, já que
meu homem estava demorando demais a tirá-la.

Mordiscou uma partezinha que eu sabia que tinha uma marca de


espinha, mas eu não pensei em nada além do prazer que Ed me daria. Em

um momento, eu passava um pé e depois outro para tirar a calcinha, no


outro, Edgar destruía todas as minhas esperanças de receber um oral,

quando, deixando um beijo no meu monte, começou a subir, deixando uma


trilha de beijinhos, levando a camisola junto.
Fiquei tão atordoada que eu senti como se fosse uma boneca, já que

não fiz nada para impedir ele de tirar a peça pela minha cabeça e jogá-la
para o lado.

Me abraçando, deu um selinho nos meus lábios, parecendo


divertido.

— Isso é irritante, Edgar — bufei, me sentindo frustrada, meu


clitóris latejando por uma carícia que não veio.

Começou a gargalhar, usando o dorso da mão para me atiçar e eu


senti um pouco de raiva de mim mesma por ficar derretida e ainda estar

superquente e excitada por ele. A risada de Edgar morreu, virando um


gemido, quando, me vingando, rocei as pontas dos dedos pelo abdômen

dele, fazendo as ondulações se contrair ao meu toque, até alcançar o cós da


calça.
— Tire a minha roupa — pediu com a voz rouca quando apenas

mantive minha mão próximo ao botão, deixando-os na mesma expectativa.


Não tinha intenção de obedecê-lo de imediato, apenas deslizei

minha palma pela ereção, percorrendo-o de cima a baixo. Mesmo que o


rosto dele estivesse em meio a sombras, eu sabia que os olhos dele

escureceram.
Como todas as vezes, me senti poderosa pela reação visceral de

Edgar a mim.
Gemeu quando dei um apertão de leve no pau dele, querendo deixá-

lo tão insano quanto ele havia me deixado.


— Gosta?

— Sabe que sim! — falou com a voz rasgada quando por minutos a
fio continuei a manuseá-lo por cima do tecido ao ponto de deixá-lo não

apenas ofegante, mas que eu sentisse o pau dele estocar a minha mão em
vários espasmos.
— Hum.

Abri o botão da calça e baixei o zíper, apenas para enfiar minha mão
dentro da cueca dele, iniciando minhas provocações ao brincar com o saco,

ciente da sensibilidade da região.


Tombou um pouco para trás, emitindo um som animalesco.
— Duro... Melado... — falei, me sentindo mais excitada ao roçar
meus dedos na carne rígida e pulsante, subindo e descendo por toda

extensão.
Brinquei com a cabeça do pênis, impregnando ainda mais a ponta do
indicador com o pré-gozo.

— Só seu — sussurrou, antes de segurar-me pelos cabelos e puxar-


me para um beijo.

Senti o meu canal se apertar com força, com o impacto das palavras
dele, com o beijo exigente.

Meu... Edgar era meu.


Sem pensar em mais nada, me entreguei a boca e língua habilidosa,

suspirando baixinho com o prazer que me invadia só por ele ser meu. Logo,
em minutos, eu removia a calça junto com a cueca deixando vários beijos

pela pele tatuada, provocando o meu homem da mesma forma que ele tinha
feito, nos excitando no processo.

Quando as peças foram ao chão, ainda segurando as minhas tranças,


puxou-me de encontro ao rosto dele outra vez, os lábios tomando os meus.

— Vamos entrar? — sussurrou, o aperto dele nos meus fios se


afrouxando.

Fiz que sim e, enquanto ele pegava uma camisinha, para encapar o
pau dele, aproveitei para fazer um coque no topo da minha cabeça, ainda
que eu duvidasse que eu não acabaria molhando os fios.
Edgar pegou a minha mão e como se eu fosse uma princesa,

arrancando-me um suspiro longo e apaixonado, me ajudou a entrar na


banheira.

Me deixei afundar na água quente e perfumada, suspirando outra


vez no momento quando se colocou atrás de mim. Senti uma tensão

deliciosa se acumular no meu corpo quando, segurando-me pelos quadris,


puxou-me apenas para me montar sobre as coxas musculosas, o pau firme

roçando na minha bunda.


Me movimentei contra Edgar, arfando baixinho quando uma mão

dele se fechou no meu seio e ele o massageou antes de aplicar uma espécie
de pressão deliciosa, forte, mas não ao ponto de me machucar.

Um som baixinho de deleite escapou pelos meus lábios com o


pensamento de como meu namorado, de alguma forma, me fez perceber que
aquela parte do meu corpo não era tão odiosa assim. Eu ainda gostaria de
colocar silicone? Sim. Mas havia algo de perfeito naquele imperfeito.

Talvez fosse o modo como ele brincava, ou como a palma cobria o mamilo
todo.
Deixando uma mordidinha na parte de trás do meu ombro, acariciou
o meu seio de cima a baixo, brincando com o glóbulo que parecia mais
pesado às carícias, fazendo o meu sexo se contrair ao beliscar o bico
sensível.

Gemi, fechando meus olhos, e tudo ficou ainda mais intenso. O


cheiro, a proximidade dele, a música suave até então esquecida, o calor dos
corpos próximos e do líquido que nos banhava.
Entreguei-me ao contato dos lábios contra a minha pele, do toque,
da água que ondulava suavemente com os nossos movimentos, àquelas

miríades de sensações que não tinha nada a ver com sexo, mas com carinho,
amor, companheirismo.
Aquilo era bom, muito bom. E romântico, extremamente romântico.
Outro suspiro.

— Abra a boca, amor — pediu.


Ele me oferecia um bombom enquanto continuava a tocar o meu
corpo. Mordi um pedaço e o gosto do chocolate amargo com a leve doçura
do caramelo explodiu na minha língua.

— Gostoso — murmurei.
— Gostosa! — Retrucou contra a minha orelha, a respiração quente
me arrepiando, fazendo arquear minha coluna, quando passou o bombom
pela minha pele, apenas para lamber o traço que havia ficado.

Repetiu o gesto, me dando um pouco do chocolate antes de voltar a


me lamber, dessa vez meu pescoço, até alcançar o lóbulo da minha orelha,
que mordiscou enquanto apertava o meu seio e eu rebolei sobre as coxas
dele, roçando a minha bunda na ereção.

A excitação retornou com força, meu coração batia feito louco, os


meus gemidos e os dele propagavam no ar, como uma única coisa.
Eu necessitava dos beijos de Edgar. Precisava ter o pênis dele me
preenchendo. Queria que o nome dele escapasse dos meus lábios enquanto

um orgasmo forte me atingia.


Por mais que eu amasse as brincadeiras, o romantismo de tudo ao
nosso redor, o carinho, o companheirismo eu precisava dele.
O tempo em que Edgar estava viajando já foi tempo o suficiente de

espera. Para mim. Para ele. Para nós.


Me virei no colo de Edgar com um movimento súbito, fazendo com
que água, espuma transbordasse para fora da banheira, e me acomodei em
cima dele, roçando meu sexo na ereção dele.
Ofegou e automaticamente as mãos seguraram os meus quadris de

forma possessiva, produzindo uma mistura de dor e prazer.


Um feixe de luz tocava o rosto dele, deixando-os com uma
aparência ainda mais poderosa, máscula.
Sem resistir, acariciei a barba, apreciando a aspereza dos pelos, o

olhar cada vez mais escuro, com um desejo bruto, me tornando cativa.
— Thais? — Questionou de forma retardatária.
— Não posso mais esperar, e sei que você também não, Edgar...

Ondulei minha pelve para frente e para trás, me insinuando, e o


gemido baixo foi a resposta que eu queria
— Não, não posso. Porra, eu preciso ter você, amor! Cada segundo
sem você, sem que sejamos um só, é doloroso — sussurrou.
As palavras pareciam soar exageradas, mas, ao mesmo tempo, eram

bem próximas daquilo que sentíamos, pelo menos eu. Eu senti uma falta
enorme de estar com ele, de ter o corpo dele de encontro ao meu, do beijo,
da pele, do cheiro, do calor, do friozinho na barriga que sempre me
acometia com o toque ou com um mero olhar.

Não pensei em mais nada quando nossos lábios se encontraram, e eu


pressionei a mandíbula dele com mais pressão, acompanhando o ritmo que
ele impunha. Bocas se moldavam suavemente sem nenhuma pretensão de se
separarem, e eu suspirei com o prazer que se espalhava por todo o meu ser.

Abri um pouco a minha boca, convidando Edgar a aprofundar o


contato e com um grunhido excitado, lambendo meus lábios, a língua me
invadiu, tomando o que eu dava.
O beijo tinha resquícios de chocolate, do caramelo do bombom, mas

o principal tempero era a conexão que havia entre nós, física, emocional, de
almas.
O tempo me pareceu entrar em uma espécie de suspensão. Só

existiam eu e Edgar.
Meus ouvidos pareciam captar somente os gemidos, o som daqueles
produzidos pela água com o mover dos corpos.
O ambiente em que estávamos não importava, só o beijo, a mão

forte que deslizava pelas minhas costas ao passo que me trazia mais de
encontro ao peito dele.
Sem afastar o olhar um do outro, passámos a gemer em uníssono
com o roçar do meu sexo na ereção, adotando mais e mais, uma cadência

alucinante.
Meu peito parecia prestes a explodir, os músculos do meu sexo se
esticavam, ansiosos para receber o pau de Ed, ao passo que acariciando o
pescoço do homem a quem eu nutria sentimentos profundos, eu percebia o
quão ele lutava para não me penetrar, continuando a roçar o pênis dele na

minha entrada e abdômen.


Por mais que a tensão fosse deliciosa e me levasse lentamente em
direção ao ápice, eu quis agradá-lo mais que tudo. Tomando a iniciativa,
ciente de que, além de me apoiar a explorar o corpo dele, posições e outras

coisas no sexo, Ed amava quando eu ficava no controle, apoiei uma mão no


ombro dele enquanto afundei meu braço na água.
— Caralho, deusa! — Tombou a cabeça para trás, apertando o beijo,

tragando ar com força quando rodeei o pau dele.


Fechou os olhos, enterrando os dedos na minha bunda no momento
em que passei a descer e subir por toda a extensão latejante.
Alcançando a base, dei um apertão suave, fazendo com que ele

mordesse os lábios para conter um gemido alto. Edgar estava tão sexy que
eu senti meu corpo entrar em uma espécie de combustão, o prazer dele
mesclando-se ao meu.
Precisando levar o meu homem a algo mais profundo, me acomodei

no colo dele e segurando a carne rija, levei o pau dele a minha entrada.
— Olhe para mim! — ordenei da mesma forma que ele fazia muitas
vezes comigo. — Olhe a expressão da sua mulher sendo empalada pelo seu
pau.

— Porra! — soltou o impropério ao me obedecer.


Abri um sorriso malicioso quando, a mão dele me agarrou pela nuca
com aquela pressão que me fazia vibrar, e a outra acariciou a polpa da
minha bunda, antes de apertá-la, provocando dor e prazer.

Malvado.
Dominador.
Gostoso.
Meu.
Todo meu.
Com um som animalesco, ao mesmo tempo que Edgar me puxava
para um beijo duro, exigente, deslizei sobre a ereção com um tranco,
sentindo a pequena pressão da água com o impacto, mas estava presa

demais a sensação de ser preenchida para me importar.


Rebolei em uma tentativa de alcançar mais fundo, colando minha
pelve na dele, sentindo meu ponto sensível ficar mais excitado por ter carne
contra carne, em uma fusão completa.

Um som escapou de nós dois, de forma cúmplice, enquanto as


línguas se enroscavam com fúria, lutando pelo controle, até que, me
apoiando ainda mais no meu homem, iniciei um subir e descer lento no pau
dele.
Todas as minhas terminações nervosas ficavam mais excitadas com

o contato, principalmente com o roçar do pênis sobre o meu clitóris, com a


pequena pressão que a água fazia com o impacto dos meus movimentos.
A sintonia entre nós dois se tornou ainda mais perfeita quando,
Edgar forçou o beijo a se tornar igualmente lento, a mão no meu pescoço

passando a fazer carícias que me arrepiaram, me emocionavam.


Começamos a fazer amor na sua forma mais pura, sem pressa,
nossos corpos mergulhando um no outro e acabei me jogando de cabeça
naquelas sensações que bambeavam minhas pernas, que fazia meu coração
saltar pela boca e que tornava aquele prazer de sentir ele deslizando dentro
de mim ainda mais indescritível.
A espiral se tornava cada vez mais próxima, um passo, depois do
outro, e nunca fiquei tão consciente de tudo. Aquela experiência atingia um

novo patamar, um patamar em que, agora que conheci, sempre iria querer
visitar.
Sentei com mais força nele e o rosnado baixo contra os meus lábios
e um impulsionar de quadris forte, me estocando, atingiu minhas veias e foi

difícil não forçar um ritmo eletrizante, aquela busca cega.


Continuei a cavalgar o meu homem, gemendo, escutando o som
baixo dele, uma e outra vez, sentindo os bicos dos meus seios ficarem mais
doloridos ao roçar no peitoral de Edgar.

— Ed. — Arfei, remexendo no colo dele, quando deixou os meus


lábios para beijar o meu pescoço, fazendo com que eu perdesse a
capacidade de continuar a quicar.
— Gostosa! — Enterrou as duas mãos na minha bunda, fazendo

com que eu gemesse em resposta e fechasse meu canal em torno do pênis


dele. — Porra!
Falando um monte de palavrões, alternando beijos, mordidas no
meu ombro e pescoço, me segurou com firmeza e ajudou a me movimentar
no pau dele, saindo o suficiente apenas para resvalar no meu ponto de
prazer.
Me entreguei plenamente ao ato, falando o nome dele em meio a

gemidos, minhas mãos o tocando de forma descoordenada ao passo que


tentava prender o pau dele dentro de mim a cada vai e vem que mantinha a
mesma lentidão, atiçando, amando.
Quanto tempo havia se passado, não soube dizer, mas só sei que,
abraçando Edgar com força, recebendo cada uma das investidas, apreciando

a pegada forte no meu traseiro, eu entrava no terreno mais fundo do êxtase.


Meus pensamentos estavam embaralhados, minha vista ficava mais
desfocada, meus suspiros saiam de forma descontrolada, a tensão se tornava
cada vez mais forte.

Meu corpo e minha alma queriam se entregar a Edgar mais uma vez.
O beijo foi a minha redenção e eu não precisei de mais nada para
que a sensação poderosa me dominasse.
Por vários minutos, as únicas coisas que tive ciência era do ponto

em que os nossos corpos se uniam e a pressão dos lábios, até que a força do
ápice dele com uma estocada curta me atingiu e, alcançando um outro
orgasmo sublime, eu sussurrei uma única palavra que expressava tudo o que
eu sentia:

— Amor!
— Amor? — repetiu contra a minha boca, obrigando a manter o
meu olhar preso nos deles e eu vi meus sentimentos espelhados na íris do
homem que eu amava naquele curto espaço de tempo.

— Sim — minha voz soou rouca e o pensamento de que poderia


dizer algo mais romântico passou como um raio pela minha cabeça, mas foi
reprimido pelo desejo dos corpos ainda unidos, mesmo que não fosse durar
muito mais. — Eu te amo, Ed.

— Caralho! — Acabei sorrindo com o palavrão de Edgar, apenas


para suspirar com a fala dele em seguida: — Eu também amo você,
Malévola.
Nenhum de nós dois precisava de mais nenhuma palavra, já que,

outra vez, um único beijo foi capaz dizer aquilo que não poderia ser
verbalizado, apenas sentido.
Capítulo trinta e nove

— Já pensaram no que comprar para a amiguinha de vocês? —

perguntei assim que entramos no shopping luxuoso que ficava a algumas


quadras de distância do apartamento de Edgar, parando para encarar os

meninos.
— Dinossauro! — Spencer foi tomado pela animação.

— Dinossauro, Spen? — Franzi o cenho.

— É!
— Duvido muito que ela vá gostar de receber um boneco de

dinossauro, querido — murmurei. — E você, Jax?

— Blusa!
Arqueei a sobrancelha, mas logo lutei para não rir da sugestão dele.
— Você gostaria de receber uma blusa de presente, Jax? —

provoquei.

— É chato!

— Então…

— Um boneco do Homem de Ferro! — Spencer pareceu animado.


— Homem de Ferro?

— Ela gosta! — Jax concordou.

— Tem certeza?

— Uhum. É o favorito dela!

— Hum… — fiquei pensativa. — Podemos começar por aí então.


Edgar havia me dado também autonomia para escolher algo que

agradasse a coleguinha de escola dos meninos, que teria uma pequena

festinha de aniversário na escola, mas eu gostava muito da ideia de serem

os meninos que tivessem mais poder de escolha.

— Legal! — Comemoraram.

— Vamos? — Sem esperar uma resposta, voltei a caminhar.

Não tive pressa em achar a loja de brinquedo, ao contrário, dei


pequenas paradas para observar algumas vitrines de lojas de roupas que não

tinha coragem de comprar, apesar de Edgar ter falado para eu escolher algo

para mim, o que eu não faria.


Não era porque o meu namorado tinha muito dinheiro que me dava

o direito de gastá-lo. Fora que eu tinha o meu.

Estava tão distraída olhando vitrines, conversando com os meninos

que acabei tomando um susto quando algo me fez desviar o olhar da cascata

enorme de chocolate de uma das lojas e olhasse para o lado a tempo de ver

a mulher tão parecida com o meu namorado há alguns metros de distância.


Senti um reboliço causado por pânico.

— Acho que a loja que estamos procurando fica do outro lado,

carinhas — falei para os meninos, ciente de que eu estava sendo covarde.

Eu não queria conversar com aquela mulher, por mais que ela

tivesse um sorriso doce no rosto. Só o pensamento de interagir com ela me

fez sentir mais calafrios. A única vez que estive na frente dela me foi o

suficiente.

Lembrei das palavras cruéis dela para os dois meninos, chamando-

os de bastardos, e um senso de urgência gritou com força dentro de mim. Eu

não podia deixar Nicole se aproximar deles. Por mais sorridente que ela
estivesse, não podia permitir que ela machucasse os pequenos outra vez

com palavras e com sua indiferença. Seria o que Edgar gostaria que eu

fizesse.

— Vamos entrar nessa, Thay. — Jaxon me tirou do transe, e eu o vi

apontar para a vitrine.


— A Chantel gosta de doce! — Spencer argumentou.

— É.

— Por que não olhamos o boneco primeiro? Juro que depois


passamos aqui. — Sugeri, tentando movimentar os meninos enquanto

lançava um olhar em direção a mulher que estava mais próxima de nós.

— Vamos? — Insisti.

— Tá bom! — Concordaram um em seguida do outro.

Dei a mão para os meninos e os forcei a andar mais rápido, pouco

me importando se ela achasse que era a falta de educação da minha parte.

— Espere, preciso conversar com você — a voz rouca de Nicole

ecoou no corredor do shopping.

— Mamãe? — Escutei Jaxon falar baixinho e eu vi com o canto do

olho que ele havia parado de andar, parecendo assumir uma posição

defensiva.

— Venha, querido — sussurrei.

— Mamãe está aqui? — Spencer também parou, só que, diferente

do irmão, ele se encolheu.

— Sim, Spen, mas não iremos falar com ela agora, então vamos

andando, carinhas. — Mal disse aquelas palavras quando senti uma mão

tocar o ombro em que eu carregava a minha bolsa, me deixando mais tensa.


— Por que está fugindo de mim? — perguntou em um tom doce que

me soou bem falso, fazendo meu estômago embrulhar.

— Não me toque e muito menos neles, senhora — pedi, minha voz

soando baixa.

Dei um passo à frente para me afastar do contato, sentindo o aperto

da mão do garotinho ficar mais forte.

Quando ela voltou a me tocar, me sentindo ainda mais tensa, me

virei para encará-la, já que a mãe dos meninos parecia bem-disposta a nos

perseguir.

— O que você quer? — perguntei, mesmo sabendo que estava sendo


muito grosseira e que eu não era assim, mas a presença dela me enervava.

— Eu já disse, conversar — o tom dela soou doce.

— Não temos nada para conversar. Agora, se nos der licença, temos

que ir.

— Quem você pensa que é para me ignorar assim? — Os lábios dela

se crisparam, mas outra vez ela sorriu, tentando mascarar a raiva.

Um frio gelou novamente a minha espinha, uma sensação ruim

tomando o meu peito. Me perguntei outra vez o que ela queria ao se

aproximar de nós e eu tive certeza de que não era algo bom.

— Ela é a namorada do mano, mamãe — Spencer respondeu

primeiro do que eu, parecendo alegre com o fato.


Acabei sorrindo ainda que a situação fosse tensa e eu só quisesse

sair correndo dali.

Por mais que os dois fossem crianças e não tinham muito poder de

escolha na vida de Edgar, me alegrava que os gêmeos estivessem felizes por

eu ser a namorada do irmão dele e também por eu praticamente voltar a

morar com os três e o cachorrinho.

Mesmo que não devesse, senti muita falta daquela rotina com eles e

eu não poderia estar mais feliz com a minha vida, por poder ficar

praticamente grudada neles, sendo incluídas nas brincadeiras, na sessão de

filmes e passeios.

— Namorada? — Demonstrou descrença depois de me encarar de

cima a baixo por vários segundos.

— Sim — Jax proferiu também de forma alegre.

— Mesmo? Pensei que você era somente uma funcionária, ou

uma… — Interrompeu o insulto quando seu olhar se fixou na meia-aliança

de diamantes no meu dedo, e várias emoções díspares percorreram o rosto

dela.

Me deu mais vontade de sair correndo daquela mulher.


— Meu filho te deu um anel? — Perguntou naquele mesmo tom

afetado, ainda que uma pontada de raiva cintilou nos olhos escuros.

— Algum problema, senhora?


— Não, claro que não. Fico feliz que você seja a minha futura nora

— completou. — Até pensei que meu filho não gostasse mais de mulher.

Mordi minha língua para não a chamar de mentirosa e retrucar a fala

preconceituosa. Isso só me traria mais dor de cabeça e eu só queria acabar

logo com aquilo.

— Ela é a nossa mamãe agora! — Spencer deu um gritinho feliz que

ecoou pelo corredor.

Deveria me sentir como uma usurpadora do lugar dela, mas ver o


rosto de Nicole se encher de raiva, saber o quanto ela negligenciou aquele

papel, impediu que aquele sentimento viesse à tona e eu não pensasse nisso.
— Essa garota não é a sua mãe, eu que sou a mãe de vocês! — falou

em um tom baixo, adotando um tom doce, quase que inocente.


— Ela é nossa outra mamãe — Spencer continuou em um tom

animado.
— Igual a Chantel, que tem duas! — Jax concordou.

— É. — Spen balançou a cabeça.


— Vocês só tem uma mãe e ela sou eu, meninos! — Percebi a fúria

mal disfarçadas por trás do sorriso.


— Por que a gente não pode ter duas mamães? —os dois falaram
praticamente juntos, se aproximando de mim.

— Thay? — Jax se virou para mim.


— Depois conversamos sobre isso, okay, carinhas? — Tentei
encerrar o assunto, e acomodando a bolsa que os gêmeos brincavam que

caberia um dinossauro dentro, passei o braço em torno deles, sentindo meu


instinto que gritava para protegê-los, ficando mais fortes, com medo do que

mais a mulher poderia falar.


Ficou me encarando e pensei que o menino iria me questionar outra

vez, mas apenas assentiu.


— Vamos lá comprar o presente da amiguinha de vocês?
— Posso ir com vocês? — Nicole interpelou em uma voz rouca.

— Acho melhor não — retruquei.


— Por que não, pirralha? Eles são meus filhos! Eu tenho direito de

ficar com eles.


— Não quero ficar com ela, Thay! — Jaxon sussurrou.

— Não preciso da sua permissão, garoto, eu sou sua mãe! — gritou


com o menino.

Lutei muito para não dar uns tapas na cara daquela mulher ao sentir
os dois agarrarem a minha perna, com medo. Agora que eu não deixaria que

ficasse perto deles mesmo.


— Mas precisa da minha, e eu não dou — fui fria.

— Que parte não entendeu do eu sou a mãe deles e eu posso ficar


com eles a hora que eu bem entender, pirralha? — Revelou de vez a sua real
natureza, demonstrando fúria ao ser contrariada.
— Sei muito bem que você deu à luz a eles, mas Edgar me deu

autoridade para, quando ele estiver fora, eu tomar todas as decisões com
relação ao bem-estar dos dois, e eles não querem ficar próximos de você.

Respeite o desejo das crianças, por favor.


— Você é só uma prostituta que está com meu filho por causa de

dinheiro e que banca a boazinha com essas duas crianças horrorosas só para
fazer média.

— Não fale assim deles! Eles são duas crianças lindas e doces. Você
saberia disso se convivesse com seus filhos. — Mesmo que sentisse

vontade de gritar com ela, mantive meu tom baixo para não assustar ainda
mais os dois pequenos, principalmente Spencer que estava quase chorando.

A fúria dela ficou ainda maior.


— Eu conheço esse tipinho de vagabunda que só tem palavras

falsas, e meu filho é burro o suficiente para acreditar nessa sua carinha
angelical, mas o que dizer? Ele é um grande tapado por escolher uma
mulherzinha feia que nem você.

— Vamos, meninos?
Eu não precisava provar nada para ela, então segurei as mãos dos

gêmeos, e comecei a me afastar daquela víbora, mesmo pressentindo que


Nicole não iria desistir de nos atormentar.
Suspirei, cansada, ao ouvir a pergunta quando ela tocou o meu

ombro.
— Quem é você para dar as costas para mim, piranha?

— Alguém melhor do que você, que está falando palavrões no meio


de um shopping, se impondo a duas crianças que não querem ficar perto de

você — falei, olhando novamente para a mulher. — Terei que chamar a


segurança ou você irá se afastar por conta própria?
— Você é muito arrogante. Quem você pena que é? Você é um nada!

Você é um lixo!
— O que vai ser? — Não iria discutir.

— Edgar vai ficar sabendo como você trata a mãe dele — cuspiu. —
Duvido muito que ele achará graça quando souber que você só fica

bancando a boazinha com esses fedelhos por interesse nas coisas que ele
tem.

— Fique à vontade para contar — não tinha medo da ameaça dela,


duvidava muito que Ed acreditaria em uma palavra se quer. — Se isso é

tudo, por favor, não nos siga mais, Nicole.


— Você não tem o direito de me chamar pelo primeiro nome, puta.

Sou a senhora Pratt para você.


Arqueei a sobrancelha para ela e não me dei ao trabalho de

responder.
Com um olhar desdenhoso, ela empinou o queixo e, dando as costas

para mim, com passos duros, os saltos ecoando por todo o corredor, entrou
em uma loja qualquer.

— Não gosto da mamãe — Spencer falou baixinho.


— Também não! Ela é uma bruxa! — Jaxon falou com a voz

esganiçada.
— Não fale assim dela, Jax — me forcei a dizer, mesmo que

também achasse isso dela. Encher a cabeça dos meninos ainda mais de
coisas contra mãe não me levaria a lugar algum e só criaria mais problemas.

— Mas ela é! — Bateu os pés.


— Ela é má! — Spen adicionou.

— As pessoas muitas vezes são difíceis de se lidar, carinhas. Tem


vários defeitos, algumas fazem mais maldades ainda. E sabe como a gente

lida com isso?


— Como?
— Tentando ser pessoas boas, bem diferente daquilo que a gente não

gosta.
— Ah!

— Chamar sua mãe de bruxa não nos torna melhores que ela.
— Entendi — Jax sussurrou.
— Mas que tal a gente deixar para lá o que aconteceu e focar no que
viemos fazer aqui? Ainda precisamos do presente da Chantel.

— Um dinossauro? — Spencer disse em um tom sapeca.


— Deus, querido! De novo essa conversa? — Não consegui conter
uma risada, fazendo os dois darem uma risadinha.

— Eles são legais. — Se justificou.


— É.

— Por que não compramos um dinossauro para você ao invés disso?


— Acabei falando, mesmo que talvez não fosse uma boa ideia comprar as

crianças depois de uma frustração, mas, Deus, era tão difícil!


— Pode? — Pareceu bastante animado.

— Por que não?


— O mano não vai brigar? — Jaxon perguntou.

— Vocês têm que parar de pensar que seu irmão vai brigar com
vocês a toda hora — ralhei, arrancando dos dois um sorriso tímido —, ele

só corrige vocês, o que é diferente. E não, ele não vai brigar. Ele me deu
permissão.

— Promete?
— Prometo. — Pisquei de um olho só.

— Posso comprar um carrinho? — Jax perguntou.


— Só um.
— Tá!
— Vamos?

— Siiiim! — Deram um gritinho e eu sacudi a minha cabeça,


lançando um olhar para trás só para garantir que ela não estava mais no

nosso campo de visão.


Sabia que os distrair do encontro com a mãe seria uma tarefa fácil, o

difícil seria lidar com a sensação ruim deixada por Nicole.


Torci para que eu nunca mais encontrasse essa mulher, mas sabia

que era uma esperança em vã, já que ela tinha a tendência de sempre
esbarrar em nós. Infelizmente não contive um leve estremecer com o

pensamento de que talvez isso ocorreria mais vezes do que eu poderia


imaginar.
Capítulo quarenta

Por mais que toda vez eu olhasse várias vezes para trás para conferir

se Nicole não estava se aproximando de nós outra vez, não encontrando


nada, eu não conseguia me livrar da ideia que a qualquer momento ela

surgiria na nossa frente, nos assombrando como se fosse um fantasma

diabólico.
Contive a vontade de emitir um som cansado e deixar o shopping

naquele mesmo momento, indo para outro qualquer, mas não iria agir de

forma paranoica. Com certeza, ela já havia esquecido de nós, se entretendo


com as inúmeras boutiques, fazendo outra coisa, ou até mesmo tinha ido

embora.
— Não corram na minha frente, meninos — pedi quando os dois

fizeram como que fossem soltar a minha mão ao avistarem a loja de

departamento que era um contraste com as lojas de marcas luxuosas.

— Ah não, Thay! — Jax resmungou enquanto Spencer

choramingava. Os dois me obedeceram.


— A loja não vai a lugar algum, carinhas.

— É. — Spencer emitiu um muxoxo.

— Por que você não corre também? — Jax perguntou, emburrado.

— Correr no shopping? — Franzi o cenho.

— É.
Balancei a cabeça em negativa.

— As pessoas achariam que eu sou maluca, Jax. — Os dois deram

uma risadinha.

— Você é? — Spencer perguntou.

— Acho que não — fiz uma pausa dramática —, ou talvez um

pouquinho só. Bem pouquinho, mas isso é nosso segredo.

— A gente pode contá para o mano? — Jax perguntou quase


gritando, outra vez chamando a atenção de quem passava por perto.

— É dele que eu quero esconder, carinhas — confidenciei, como se

fosse um segredo de estado, e mais risadas eufóricas vieram.


Sorri, me permitindo relaxar um pouco. Eu não tinha medo de que

esse segredo em específico caísse nos ouvidos de Ed.

— Viram que não precisavam correr? Já chegamos — falei, quando

em menos de dois minutinhos alcançamos a loja.

Tiveram a decência de parecer um pouco envergonhados.

— Vamos olhar o presente da Chantel, primeiro, tá ok? E nada de


um ir para um lado e o outro seguir para o outro. É para sempre ficar no

meu campo de visão.

— Tá! — Concordaram, dando um sorrisinho que me fez ficar em

alerta.

Eles eram bonzinhos, mas quem resistia a tantas opções de

brinquedos? Confesso que até eu estava deslumbrada com a enorme pelúcia

de cachorro na entrada que deveria ser maior do que eu.

— Vamo, Thay! — Jaxon deu um puxão na minha mão e só então

me dei conta de que eu havia ficado parada no lugar, olhando para o

brinquedo.
— É, Thay! — Spencer concordou.

Não esperaram uma resposta e saíram me arrastando ainda mais

pelo interior da loja, mas, sem resistir, os dois meninos logo soltaram a

minha mão para olhar melhor os brinquedos nas gôndolas, que iam desde
valores mais acessíveis até outros que me fizeram arregalar os olhos. Era

um absurdo um brinquedo custar mais de trezentos dólares.

Não tive nenhuma pressa, e mais e mais me peguei sorrindo com as


falas exageradas dos meninos, com os gritos empolgados ao apontar para os

carrinhos de diferentes modelos que praticamente formavam um setor da

loja.

Comecei a relaxar ao ver que os gêmeos pareciam mais soltos, como

se tivessem esquecido do encontro com a mãe deles, e também por ver que,

por mais que eles amassem tecnologia, videogames, eles ainda eram

capazes de gostar de brinquedos mais simples.

— Nem sabia que isso ainda existia — falei, meio surpresa, ao ver

uma caixa com um dos jogos que eu sempre quis ter e nunca pude.

— O quê? — Spencer perguntou, desviando a atenção da caixa que

ele segurava, se aproximando de mim. Jax, que estava do outro lado do

corredor, se aproximou também.

— Esse jogo aqui. — Apontei para a embalagem com um desenho

de um pirata saindo de dentro de um barril. — Sabia que tinha um desses na

minha época?

— É? — Spencer murmurou.

— É velho! — Jax comentou.


— Não é velho! — resmunguei, fazendo com que os dois dessem

uma risadinha.

— É, sim! — falaram praticamente juntos, ainda rindo.

— Tá me chamando de velha, carinha? — Semicerrei meus olhos.

Riram ainda mais, sabendo que eu estava brincando.

— Você é velha, Thay! — Spencer falou mais alto, animado.

— Muito. Muito, velha! —reforçou Jaxson

— Hey! — Foi a minha vez de gritar. — Não sou velha!

— É, sim! — retrucaram e eu fiz um bico de todo tamanho.

— Não sou não.


— É, sim!

— Sou mais nova do que o irmão de vocês. Quase dez anos!

— O mano é velho! — Jaxon disse em meio a um gritinho.

— Muito! — Spen concordou.

— Um dia vocês vão ter a nossa idade, sabia? — Bufei.

— Vamu não! —falaram quase juntos.

— Vão, sim! — Comecei a abrir um sorriso que queria que fosse

cheio de mistério e zombaria, como se eu fosse uma bruxa Malévola. —

Ficarão tão velhos, que várias verrugas surgirão na cara enrugada de vocês!

Pegando-os desprevenidos, dei um salto no lugar e fiz que iria

roubar a barriga deles, arrancando um gritinho assustado dos dois.


Comecei a rir quando eles fizeram uma careta para mim.

Logo os gêmeos não se seguraram e começaram a rir também.

— Por que ele tá voando? — Spencer perguntou, de súbito.

— Ele quem? — Franzi o cenho.

Apontou para o pirata da caixa.

— É o jogo. A gente tem que enfiar as espadinhas no buraquinho e

perde quem faz o pirata pular.

— Ele pula mesmo? — Pareceram espantados.

— Sim. Tem uma mola dentro do barril que é acionada, fazendo

com que ele “voe” por aí.

— Legal! — Jaxon ficou bastante empolgado com a perspectiva.

Sorri.

— Muito.

— Vamos comprar? — Spencer perguntou.

— Por que, não? — respondi ao olhar o preço na etiqueta e ver que

eu podia pagar. — Sempre quis ter um mesmo.

Ajeitando a minha bolsa, peguei uma caixa.

— Eeeeeee! — Deram gritinhos e pulinhos no lugar.


— Agora vamos olhar o Homem de Ferro e outra coisa.

— Pode comprar pra Chantel também? — Spencer perguntou.


— Acha que é um presente legal, carinha? — Olhei para o

menininho.

— Uhum. — Balançou a cabeça para enfatizar.

— Também acho bem bacana, Spen. — Sorri. Não precisou de mais

nada para que ele pegasse outro brinquedo igual ao da estante.

— E esse? — Jax apontou para outra caixa.

Ficamos naquela seção por um bom tempo, comentando sobre os

jogos, rindo, se provocando enquanto a pilha de brinquedos dentro do


carrinho, que um dos vendedores nos deram, ficavam ainda maior.

Dei uma risadinha.


Descobri que não eram apenas os gêmeos que representavam um

perigo dentro da loja, eu também podia ser colocada na lista.


Definitivamente uma parte do meu salário iria embora só em jogos de

tabuleiro.
— Fiquem por perto, meninos — pedi quando o meu celular

começou a tocar.
— Tá! — Os dois responderam sem de fato prestarem atenção.

Balancei a cabeça e atenta aos movimentos deles, abri minha bolsa


para pegar o celular.
— Oi, amiga — atendi ao ver que era a Ju.
— Agora sou sua amiga, é? — Fungou, dramática, e eu revirei os
olhos.

— Eu continuo sendo a sua amiga, já você… — fiz uma pausa


igualmente teatral — Se esqueceu que eu existo, demora horrores para

responder as minhas mensagens...


— Hey! Eu já disse que estava ocupada ontem, estudando para uma

prova — se defendeu —, quem está negligenciando a nossa amizade é você,


Thay!
— Não tô não! — Com o canto do olho, vi que os gêmeos

continuavam conversando sobre um carrinho.


— Alguém deveria te dizer que é feio esquecer das amigas só

porque arrumou um namorado. — Me ignorou.


— Eu mereço — chiei —, sabe que converso todos os dias com

você, palhaça.
— É… — Não tinha argumentos para me contestar.

— Como foi a prova hoje, Ju? — mudei de assunto.


— Acho que fui mal, amiga — o tom dela foi cabisbaixo e eu não

gostei nem um pouco de ouvir ela assim.


— Pode ser que você tenha ido bem…

— Realmente acho que não, Thay, estou tão desapontada!


— Não precisa ficar assim, é só a primeira prova, amiga. — Apoiei
meu telefone entre os ombros e a orelha, empurrando o carrinho ao ver os

gêmeos continuando a andar.


— Eu sei, mas fico me questionando se esse curso é…

— Nem ouse completar ou eu vou dar na sua cara! — ralhei com


ela, fazendo com que não só os gêmeos me encarassem, dando risadas,

como também as poucas pessoas que estavam lá. Resmunguei, falando


agora mais baixo: — Por sua causa, estou pagando mico na loja.

— Não tenho culpa de nada, você que tá gritando — soou divertida


do outro lado da linha.

— Você me tira do sério ao duvidar de si mesma, Ju.


— Só estou frustrada…

— Eu sei, mas, você não pode desistir só por uma prova que nem
sabe se foi bem, amiga. E se você foi mal, dá tempo de recuperar. Essa não

foi a sua primeira nota baixa e não será a última.


Emitiu um suspiro profundo.
— Tenho certeza que irá arrasar nas próximas — tentei animar a

minha melhor amiga.


— Eu não…

— Pare! — Controlei-me para não gritar com ela outra vez. — Ou


eu vou largar essas compras e ir até aí dar uns tapas em você.
— Agressiva!

— Você está merecendo, Ju, e tenho certeza que… — Antes que


pudesse completar meu discurso, senti alguém esbarrar no meu ombro, que

instantaneamente doeu com o impacto, e cravar as unhas com força no meu


braço.

Virei meu pescoço para encarar a pessoa e senti meu coração gelar.
— Amiga? — Escutei a voz de Ju do outro lado da linha, mas não
consegui responder, já que o pânico pareceu colocar um bolo na minha

garganta.
— Me desculpe, eu tropecei nos meus saltos — Nicole falou

naquele tom doce, me dando um sorriso falso.


— Amiga? — Juliana insistiu.

— Você está nos seguindo? — perguntei para a mãe de Edgar em


um tom tão baixo que eu mal me escutei e duvidei se ela tinha conseguido.

— Claro que não, só vim comprar um presente para a filha de uma


conhecida. — continuou, se aprumando, e só então me lembrei de dar um

safanão para afastar-me do toque dela, fazendo Nicole cambalear um pouco


Deu uma risada que me provocou calafrios.

— Não que precise dar satisfação a você. Até onde sei, meu filho
não é dono desse lugar e o shopping é público. Então, se me der licença...
Antes que eu pudesse dizer que era mentira, que ela estava nos

perseguindo e que tinha esbarrado em mim de propósito por alguma razão


escusa que não conseguia pensar, Nicole riu ao passar por mim,

caminhando de forma arrogante.


— Thais? — Minha melhor amiga gritou na minha orelha, me

tirando do transe.
— É a mãe dos gêmeos outra vez, te ligo daqui a pouco — falei com

a voz trêmula.
Sabendo que Juliana entenderia a gravidade da situação e que

aceitaria que eu me explicasse depois, joguei o aparelho na bolsa.


— Thay! — Os dois meninos gritaram, com medo, e correram até

mim, quando, propositalmente, Nicole passou por eles e os encarou.


— Está tudo bem, queridos — falei, dando um passo para trás para

abraçá-los, sentindo o meu peito apertar.


— O que a mamãe tá fazendo aqui? — Spencer perguntou em um
fiozinho de voz, me agarrando.

— Sua mãe tem o direito de estar aqui também, Spen — usei a


desculpa que ela mesmo tinha me dado, já que não podia dizer o que

pensava para duas crianças. Se é que eu estava tendo algum pensamento


coerente além de fugir daquele shopping.

— É. — Concordou, baixinho.
— Vamos pagar as coisas e ir para casa? — Falei para os dois,
dando um sorriso amarelo, fingindo uma calma que eu não sentia

— E o chocolate, Thay? — Jaxon murmurou.


— Ficará para outro dia, querido — respondi.
— Mas você disse que ia comer chocolate, Thay! — Fez beicinho.

— Sei que eu prometi, Jax, mas acho melhor irmos agora.


— Mas…

— O mano disse que é para obedecer a Thais — Spen me ajudou.


— É… — O outro menininho concordou.

— Não quero ficar com a mamãe! — Spencer continuou.


— Também não.

Meu incômodo ficou ainda maior.


— Então vamos, meninos. — Forcei um sorriso. — Prometo

compensar vocês com um jantar bem gostoso!


— Sanduíche? — Ficou um pouco mais animado.

— Teremos que ir para casa para descobrir. — Pisquei, tentando


brincar.

— Tá!
Contive um suspiro quando consegui convencer os meninos a irem

embora e conduzindo o carrinho pela loja, torci para não encontrar mais a
mãe dos gêmeos pelos corredores e também no caixa.
Eu já estava esgotada pelos dois encontros, todos os meus músculos
irradiando tensão, e não queria um terceiro.

Deus. Eu precisava urgentemente de um banho para remover


aquelas energias.

Com pressa, pegando uns papéis para embrulho próximo ao balcão


do caixa, não me preocupei em separar o que era para mim pagar e o que

era de Edgar, apenas peguei o cartão de débito que o meu namorado havia
me dado e que eu tinha guardado no bolso da frente, aproximando da

maquininha.
Depois eu resolveria aquilo com uma transferência.

Pagar foi relativamente rápido e eu estava quase sentindo uma onda


de alívio ao manejar a bolsa, duas crianças e inúmeras sacolas, quando ao

passar pela entrada, um apito alto dos detectores ecoou. Mordi os lábios
enquanto os meninos achavam graça do som.
— Pode dar um passo para trás e passar novamente, senhora? —
Um dos seguranças da loja pediu e, apesar de ser grandalhão, o achei bem-

educado. — Os meninos também.


— Claro.
Fizemos o que ele pediu, recuando vários passos para trás, antes de
avançar outra vez, mas o som ecoou nos meus ouvidos outra vez.
Senti uma vontade enorme de cavar um buraco no meio do shopping
e me esconder nele.

Droga!
Era só o que me faltava, passar pelo constrangimento de ter vários
pares de olhos sobre mim por terem esquecido de passar o brinquedo no
desmagnetizador. Sabia que as pessoas próximas me encaravam, ainda que
eu não olhasse diretamente para elas, com medo do julgamento que eu

poderia encontrar.
— Que legal! — Jaxon comentou.
— Nem tanto, querido — murmurei.
— Por quê?

— É algo ruim.
— Ah!
— Você pode me acompanhar até uma sala para verificação,
senhora? — O homem questionou.

— Por quê? — Spencer perguntou ao segurança.


— É algo padrão, querido, para evitar que as pessoas peguem algo
sem pagar. — Dei um sorriso confiante para eles, apesar da vergonha que
eu sentia por causa do som.

— Você pegou? — Jax questionou, curioso.


— Que pergunta, Jax, sabe que não! — Ri com a questão do
menino. — Você me viu pagando tudo que escolhemos. É só um mal-

entendido que vamos resolver.


— Pode me acompanhar até a sala de revista, senhora? — O
segurança pediu e eu vi que ele estava ficando impaciente.
— Sim — respondi. — Vamos, carinhas.

— Tá! — falaram juntos.


Acompanhei o segurança, que fez um gesto para uma mulher, que
nos acompanhou, e não pude negar que minha vergonha aumentou ainda
mais quando a ouvi cochichando com outra atendente, falando que sabia

quem eu era, dizendo meu nome e de Edgar provavelmente me


reconhecendo de alguma matéria que saiu na mídia, antes de se aproximar
de nós.
Suspirei quando alcançamos uma sala no fundo da loja, porque
fiquei longe de possíveis olhares.

— Coloque as sacolas sobre a mesa, senhora — o homem pediu.


— Nos mostre a nota fiscal também, por favor — solicitou a
funcionária.
— Claro. — Comecei a fazer o que me era ordenado.

Assim que terminei, dei um passo para trás, permitindo que eles
olhassem tudo à vontade, e dei as mãos para os gêmeos, que pareciam
bastante ansiosos, enquanto o segurança passava uma espécie de detector e

a moça conferia os itens.


— Vai demorar muito, Thay? — Jaxon perguntou.
— Acredito que não, carinha. Não compramos tantas coisas assim
— tentei brincar, para afastar o nervosismo dos dois.
Falhei com eles e falhei comigo mesma. Sabia que não tinha nada a

temer, mesmo assim, senti minhas palmas ficarem suadas.


Os minutos se passaram de forma torturante e eu esperei, ansiosa,
pelo som constrangedor do apito, mas ele não veio.
— Está tudo certo aqui, confere com o que está descrito no cupom

fiscal — a mulher falou, se virando na minha direção.


— Será que foi algum problema no detector? — Sorri, sentindo um
alívio enorme quando ela disse isso, comprovando o mal-entendido.
— Pode ser. — Ela deu de ombros.

— Podemos revistar a sua bolsa, senhora? — O segurança pediu


mais uma vez.
— O quê? — Não consegui disfarçar minha surpresa com o pedido.
— É parte do procedimento — explicou.

— Tudo bem — falei e mesmo que eu me sentisse como uma


criminosa, minha pele ardendo com a vergonha, entreguei a minha bolsa
para a atendente, que a colocou sobre a mesa.
Disse a mim mesma para ficar tranquila, já que obviamente não

encontrariam nada.
Abriram minha bolsa e foram retirando tudo de dentro dela,
deixando os itens sobre a mesa.
Minha confiança se extinguiu no momento em que o segurança se

virou, mostrando uma embalagem em formato de cápsula, que eu reconheci


como uma das bonecas da moda.
— Esse item dentro da sua bolsa, senhora, não consta como pago.
— O quê? — murmurei, meus olhos se arregalando. Meu coração

disparou, sem acreditar que aquele brinquedo estava dentro da minha bolsa.
— Eu não peguei isso! — comecei a falar em um tom esganiçado
Eu não entendia.
— Thay? — Escutei a voz de um dos meninos soar amedrontada e
eu apertei a mãozinha dele com mais firmeza.

— Está tudo bem — sussurrei, mesmo que nada estivesse realmente


bem. Comecei a balançar a cabeça em negativa, sentindo o meu estômago
embrulhar. — Não sei como isso foi parar na minha bolsa. Eu… Eu nem me
aproximei do setor de bonecas.!

— É, mas estava na sua bolsa e não consta nos itens na nota fiscal
que a senhora apresentou — a vendedora me olhava de forma acusatória.
— Eu não sei dizer como isso aconteceu.
Sentindo-me péssima, como uma criminosa, olhei para ela, com

minha vista turva pelas lágrimas. A expressão de desconfiança em seu rosto


me deu mais vontade de chorar, mas tentei segurar o pranto para não
assustar ainda mais as duas crianças.
— Não faz nenhum sentido. Por que eu deixaria de pagar um

brinquedo se comprei tantos outros? — Tentei fazer com que pensassem a


respeito. Nada disso fazia sentido.
— Vai entender. — Percebi mais acusação naquele dar de ombros e
senti que minha luta foi em vão, pois as lágrimas caíram rolando pela minha

face.
— Eu não roubei nada! Eu juro! Eu nunca faria isso! Eu não sou
uma ladra! — Cedi ao desespero, não conseguindo controlar o meu tom de
voz.

— O que que tá acontecendo, Thay? — Jaxon perguntou em um


fiozinho de voz, assustado.
— Eu… — Não consegui me explicar.
Ver os meninos com as carinhas mostrando o medo só me fez sentir

mais miserável, meu coração doendo por eles.


Os abracei, tentando oferecer algum conforto, e fechei os olhos por
alguns segundos para me controlar, tinha que fazer isso por eles. Desejava
que fosse um mero pesadelo, mas não era.
Estremeci e senti como se uma faca afiada rasgasse o meu peito
pelas crianças terem que passar por aquele constrangimento. Respirei
fundo.
— Existe a possibilidade de um dos meninos ter pegado e colocado

em sua bolsa sem a senhora ver? — O segurança perguntou, tendo um


pouco de compaixão por conta das crianças, que estavam com os olhos
arregalados, provavelmente não entendo o que se passava.
— Jax e Spencer, foi um de vocês que pegou o brinquedo e colocou

em minha bolsa? — perguntei por perguntar, duvidando muito que tenha


sido um deles.
— Eu não peguei isso! — Jaxon murmurou.
— Nem eu! — Spencer logo respondeu também.
— Hey, claro que não, carinhas. Foi uma pergunta besta a minha,

mas é só para ter certeza, tá bem? — Toquei o rostinho de um e depois do


outro, dando um sorriso fraco para acalmá-los.
Olhei para o segurança.
— Como pode ver, não foi nenhum deles.

— Tem certeza?
— Eles não fariam isso. Bom, eu não sei como isso aconteceu, mas
não foi nenhum de nós.
Senti minhas lágrimas voltarem a brotar com força, mas me segurei.
— Irei chamar a gerente para ver como resolver a questão — a
vendedora falou.
Nunca me senti tão humilhada. Estava horrorizada ao pensar que
eles iriam me acusar de furto.

Respirei fundo, tentando acalmar meus nervos em frangalhos,


controlar o pânico, e tornei a envolver os gêmeos em um abraço, sabendo
que nenhum deles estava entendendo muito bem o que estava ocorrendo, o
que aumentava ainda mais o medo que pareciam sentir.

— Está tudo bem, daqui a pouco vamos para casa — disse,


deixando um beijo no rosto de cada um deles para tranquilizá-los.
— Senhora? — Uma voz feminina me tirou daquele transe que
poderia ter durado segundos ou minutos.

Olhei para ela, engolindo a bile que subiu para a minha garganta.
— Deveríamos prestar queixa por furto, mas a minha funcionária
me informou que a reconheceu como a namorada do senhor Pratt, que
sabemos ser um empresário influente da nossa cidade, e como nossa loja

não quer seu nome exposto em uma propaganda negativa apenas pela
tentativa de subtração de um brinquedo de valor tão irrisório, não faremos
isso e a liberaremos se pagar pelo produto que pegou...
— Eu não peguei nada! — repeti.
— Tudo bem, senhora, isso não importa agora, estamos dispostos a
esquecer o ocorrido. É só passar no caixa e pagar pelo brinquedo
encontrado em sua bolsa e está tudo resolvido.

Recebi as palavras dela como um tapa na minha cara, um bem forte


e doloroso.
Meu caráter ilibado era a única coisa que eu tinha. Eu não era uma
ladra. Eu estava sendo acusada de algo que eu não fiz. Estava em choque, a
humilhação presente em cada fio do meu cabelo.

— Isso me importa, sim, é a minha índole que está sendo


questionada aqui!
— Senhora, não torne as coisas mais difíceis do que já estão. Estou
tentando solucionar o problema de forma razoável para todos, sem nenhum

prejuízo para ninguém.


— Eu…
— Realmente não queremos confusão. Faça o que sugeri, pense nas
crianças. Elas já estão assustadas o suficiente, não acha?

Olhei para os dois meninos cujos olhos estavam arregalados, e por


mais que doesse aceitar ser acusada injustamente, eu não podia continuar
expondo os dois daquela forma. Amava os dois demais para isso e meus
sentimentos não eram tão importantes perante os deles. Jaxon e Spencer, os

meus menininhos, eram minha prioridade.


— Thay, a gente pode ir pra casa agora? — Spencer sussurrou, me
dando a certeza do que eu tinha que fazer. Eu os protegeria, sempre.
— Vocês podem trazer a máquina de cartão até aqui? — perguntei,

me sentindo vulnerável demais para ir até o caixa.


— Com certeza— a gerente pediu para a vendedora providenciar.
— Agradeço — sussurrei, vendo a mulher pegar o brinquedo,
provavelmente para registrá-lo.

A gerente não disse mais nada e ficamos em silêncio aguardando o


retorno da funcionária.
Me voltei para os gêmeos e novamente meu coração doeu por vê-los
tão assustados por minha culpa.

— Já vamos para casa, meus amores — prometi aos dois.


— Tá bom — Spencer sussurrou.
— Agora venham aqui — pedi ao me abaixar e os dois envolveram
o meu pescoço em um abraço duplo.

Uma lágrima sorrateira acabou escorrendo pelas minhas bochechas.


Quando a mulher voltou, me forcei a ficar de pé e me afastar dos
gêmeos para caminhar em direção a mesa onde estava a minha bolsa.
Fui tomada por uma espécie de repulsa que me corroeu por dentro,
meus dedos ficando trêmulos quando peguei a minha carteira e removi o

cartão de dentro dela.


Era uma simples transação, mas digitar uma senha nunca me
pareceu tão difícil. Cada tecla que eu apertava era como se eu concordasse

com a acusação de que eu era uma ladra.


Me senti amarga quando, do nada, meu pai me veio à cabeça. Pude
escutar a voz dele zombando de mim, me chamando de hipócrita por tê-lo
julgado sendo que eu tinha cometido o mesmo crime que ele. Uma vontade
enorme de vomitar me invadiu, mas eu respirei fundo para controlar o mal-

estar.
— Quer a sua via? — A vendedora perguntou quando apareceu
compra aprovada, e tudo o que eu escutei foi julgamento em seu tom de
voz.

— Não, obrigada — respondi, como se fosse um robô. — Posso


pegar as minhas coisas?
Fiz tudo mecanicamente, colocando os objetos de volta na minha
bolsa, não conseguindo sorrir para o segurança quando ele me ajudou a

guardar os brinquedos.
— Podemos ir? — perguntei, dando as mãos para os meninos,
mesmo que ficasse difícil com o tanto de sacolas que carregava.
— Claro.

— Obrigada. — Forcei a minha voz sair para me despedir e me


dirigi a saída.
Assim que eu pisei fora da sala, fui tomada por vários calafrios ruins
e cometi o erro de olhar em volta. O embrulho no estômago, como se fosse

possível, ficou ainda maior.


Na minha cabeça, era como se todas as pessoas ali estivessem me
olhando, apontando um dedo acusatório para mim.
Obriguei-me a ser forte pelos gêmeos e continuei andando de cabeça

erguida, mas meus passos eram tão pesados que pareciam ser feitos de
chumbo.
— A senhora esqueceu a boneca! — Escutei uma voz soando atrás
de mim, me fazendo congelar no lugar.

Pareceu demorar uma eternidade eu girar o meu corpo para ver a


vendedora, cujo olhar tinha maldade, esticando a sacola com o brinquedo na
minha direção que representava a minha vergonha, a minha humilhação.
Senti mais repulsa por mim mesma quando peguei o embrulho,

sentindo a alça de papel queimar meus dedos. Sem dizer uma palavra, dei as
costas para a vendedora e caminhei para fora da loja.
Vários arrepios percorreram a minha espinha quando alcançamos o
detector magnético. Eu suei frio, esperando que a qualquer momento o
alarme soasse, apontando-me como uma ladra outra vez.

O som não veio, mas a ausência não me trouxe alívio, já que eu tive
que encarar várias pessoas no corredor do shopping, que provavelmente não
sabiam o que tinha ocorrido dentro da loja, mas que, na minha imaginação,

estavam me olhando e condenando.


Obriguei-me a ser forte a cada centímetro percorrido até
alcançarmos a saída,
Abracei os gêmeos no banco de trás do táxi que pegamos para
voltarmos para o apartamento, tomando todo o carinho deles como se fosse

uma dementadora que suga todos os sentimentos bons. Me senti estilhaçar


por dentro com a vergonha que sentia me fazendo sucumbir.
A sensação de que nunca poderia recuperar aquilo que eu perdi
naquela tarde por um evento que não tinha nenhuma explicação lógica

tomou o meu peito, e por muito pouco não recomecei a chorar.


Capítulo quarenta e um

— Deu vinte dólares, senhor — o homem falou ao estacionar em

frente ao meu prédio.


Puxei a carteira do bolso da calça social no automático, e sem

verificar o valor, entreguei a cédula ao taxista.

— O senhor não tem trocado? — falou enquanto eu me preparava

para descer do veículo.


Não respondi, apenas abri a porta do carro e saí praticamente

correndo em direção ao edifício, ignorando os gritos do homem para que eu

voltasse para pegar o troco.

A minha única preocupação no momento era com a mulher que


havia me ligado há uma hora com voz meio chorosa, dizendo coisas
desconexas como encontrar a minha mãe, um roubo, acusações e algo sobre

ela não ser culpada.

Eu poderia não ter entendido muito bem o que havia ocorrido, só

sabia que era grave o suficiente para fazê-la se sentir mal e assustar os meus

irmãos. Isso foi o suficiente para deixar o meu corpo tenso e para que eu
não hesitasse em abandonar a reunião em que eu estava e que me geraria

muito dinheiro para voltar para casa.

Nada era mais importante na minha vida do que os três, e por eles eu

abriria mão de qualquer coisa; o que me importava era a felicidade dos

meus irmãos e de Thais.


Caralho! Não saber o que tinha acontecido com eles deixava um nó

na minha garganta, aumentando a minha ansiedade.

O trajeto até meu apartamento foi tão agonizante quanto os

segundos que tive que esperar para um dos elevadores descer.

— Porra!

Desferi um soco na parede, como se isso fizesse com que eles

chegassem ao térreo mais rápido. Estava a ponto de subir pelas escadas


quando escutei o som de uma das máquinas parando.

Mais uns segundos intermináveis se passaram até que finalmente

alcançasse o andar do meu apartamento.


— Oi, amigão. — Me surpreendeu o cachorro estar no hall de

entrada e não com os três.

O animal latiu e eu fiz um carinho na orelha dele.

— Vamos ver como eles estão? — sussurrei, urgente.

Sem esperar uma resposta que não viria, voltei a caminhar e vi o

bichinho passar trotando por mim.


Assim que entrei na sala, meu coração que estava bem apertado

pareceu se afundar de vez ao ver meus irmãos levemente abatidos e a

mulher que estava encolhida no sofá, bastante perdida enquanto segurava

uma bonequinha entre os dedos.

— Mano! — Os gêmeos gritaram ao me ver, alertados pelos sons

dos meus passos e se levantaram em um pulo.

Thais ergueu um pouco o rosto para me encarar e nossos olhares se

encontraram.

Vi uma tristeza crua nela que me incomodou ainda mais,

principalmente quando ela não se ergueu para ir até mim para me dar um
abraço e um beijo suave nos lábios.

Eu queria tirar dela o que quer que fosse que a incomodava e trazer

de volta o sorriso pela qual eu era apaixonado. Mesmo que eu quisesse ir

até ela agora, foquei nas duas crianças.

— Oi, ferinhas.
— Oi — falaram em uníssono e eu me agachei para receber o

abraço duplo, sentindo um focinho gelado se interpondo entre nós, e dei e

recebi beijinhos, sentindo o calor dos três me atingirem, me acalentando.


— Como vocês estão? — perguntei, analisando os rostos deles em

alerta, buscando qualquer sinal que me indicasse algo.

— A gente tá triste — Spencer disse em um fiozinho de voz.

— É. — Jax concordou.

— Por quê, ferinhas? — Mesmo que eu soubesse que era pelos

acontecimentos do dia, seria bom para os gêmeos verbalizarem o que

sentiam, nunca escondendo as emoções deles de mim.

— Tô com medo, mano! — Spencer continuou.

— Por que está com medo?

— A gente viu a mamãe! —contou.

— A Thay tá chorando! — Jax falou ao mesmo tempo.

Senti a tensão ficar ainda forte no meu interior e automaticamente

olhei para Thais. Dentro da apatia toda, vi a culpa em seus olhos, algo que

não gostei nem um pouco.

— Não precisa ficar com medo, ferinha — toquei rostinho de

Spencer e assegurei: — Nossa mãe não fará nada para machucar vocês.

— A mamãe falou que só temos uma mamãe — Jax continuou


lutando contra as lágrimas.
— Não gosto dela, mano! — Spencer bateu os pés no chão,

enlouquecendo o cachorro, que latiu.

Começaram a chorar e eu envolvi os dois em um abraço apertado.

Me surpreendendo, vi Thais se levantar e pousar o brinquedo que estava em

suas mãos sobre a mesa, e vir se juntar ao abraço.

A admiração por ela pareceu transbordar dentro de mim. Mesmo em

meio à tristeza, à dor que parecia sentir, minha namorada se entregou aos

dois pequenos, consolando os gêmeos, fazendo carinho nos rostos deles.

Ela se negligenciava apenas para se doar.

E, em cada olhar que eu e Thais trocávamos enquanto


conversávamos com os meus irmãos, compreendendo os sentimentos deles,

eu tentei deixar claro o quanto era grato, o quão eu admirava, o quanto ela

me dava mais um motivo dentre milhares para eu amá-la ainda mais.

Eu amei aquela mulher com todas as minhas forças, e não importa o

que tenha acontecido, eu estava ao lado dela.

— Vocês se importam de ficar aqui assistindo o desenho enquanto o

mano conversa a sós com a Thais, ferinhas? — questionei, quando não

houve mais lágrimas, a conversa sobre Nicole, esquecida.

Olhei para a minha mulher que se encolheu um pouco, como se

temesse falar comigo. Senti uma vontade imensa de bufar. Por que ela teria

medo de mim?
Em contramão a frustração que me invadiu, busquei os dedos de

Thais que estava sobre o colo e entrelacei aos meus, sentindo a palma fria e

suada, que me levou à beira do desespero de querer oferecer consolo para

ela.

Porra! Ver alguém que se amava assim, era pesado e a impotência

não era muito bem-vinda.

— Por quê? — Jaxon questionou, inseguro.

— É conversa de adulto, Jax — expliquei. — E também porque

preciso cuidar dela um pouco.

Ficou um pouco contrariado, mas acabou assentindo.

— Tá bom! — Spencer concordou.

Me levantei, já que em meio a conversa acabamos nos sentando no

chão, e estiquei minha mão para a minha namorada. Thais hesitou por

alguns segundos, antes de me dar a mão e eu a ajudei a se erguer.

— Se precisarem de algo e só baterem na porta do escritório,

ferinhas — falei e depois me voltei para o cachorro, em uma tentativa de

fazer graça: — você vigia esses dois por mim.

O animal, que estava deitado, latiu, e eu escutei a risadinha dos


meus irmãos que começaram a falar que era fácil enganar o meu ajudante.

Ao passar pela mesa de centro, Thais pegou o brinquedo que ela

estava segurando quando eu cheguei e eu fiquei confuso com isso.


Mal fechei a porta do meu escritório, quando tomado pela ânsia da

espera, por querer remover a dor dela, envolvi minha namorada em um

abraço apertado, escutando o som do objeto tocando o chão. Se aninhando

em mim ainda mais, chorou em meus braços de forma convulsa.

— Porra, odeio ouvir você chorar! — confessei, acariciando as

costas dela, o som baixinho do pranto me era agonizante. — O que

aconteceu, meu amor?

Não me respondeu.
Com um soluço, segurou a lapela do meu terno em desespero e

continuou a chorar. Se eu achava que a espera de todo o trajeto tinha sido


uma merda, soube o que era o inferno ao estar tão próximo, mas, ao mesmo

tempo, estar de mãos atadas.


— Amor? — sussurrei depois de ter se passado alguns minutos,

dando um passo para trás só para encarar o rosto dela, mas ela voltou a me
abraçar, se escondendo. — Por favor, me conte o que aconteceu. Eu não

aguento mais ficar em suspenso.


— Estou me odiando, Edgar. Tanto. — A voz era tão baixa, que

quase não escutei.


Dei mais um passo para trás, colando minhas costas na superfície de
madeira.
— Você pode se odiar nesse momento, Malévola — ergui o queixo
dela, para que ela me encarasse nos olhos e visse meus sentimentos por ela

—, mas saiba que o meu amor por você é muito maior que essa raiva. E o
quer que faça com que você se deteste, nós dois vamos dar um jeito de lidar

com isso juntos, até que você volte a se amar da mesma forma que eu te
amo.

— Não sei se um dia conseguirei me sentir melhor comigo mesma,


Ed. Não por completo. Eu me sinto podre, sinto minha alma suja, mesmo
que eu não tenha feito nada.

— Lidaremos com isso, amor — falei, confiante.


Balançou a cabeça em negativa e os braços que me envolviam,

caíram.
— Nem sei se você irá acreditar em mim. Deus! Nem sei se depois

de saber, você irá querer continuar comigo…


Um nó se formou na minha garganta quando minha namorada

começou a chorar outra vez, em desespero.


Mesmo que Thais se debatesse um pouco, eu a abracei novamente e

ela cedeu ao abraço.


— Isso não vai acontecer, Malévola, nunca — falei. — Eu te amarei

para sempre. Então só me conte.


Pegando-a desprevenida, passei um braço em torno das pernas dela
e apoiei um braço em torno das costas, erguendo-a em meus braços.

Em poucos passos, alcancei a minha cadeira e sentei-me com Thais


no meu colo, mesmo que ela pudesse sentir toda a tensão do meu corpo.

Não sei por que, meu olhar se fixou no brinquedo jogado no chão, e eu senti
que ele era a razão do problema.

— Confie em mim, amor — pedi, fazendo carinhos e deixando


beijos pelo rosto úmido, ouvindo aquele som cortante de choros, soluços.

Quanto tempo ela precisou para começar a falar, eu não tive ideia,
mas foi difícil controlar a explosão furiosa que parecia um vulcão em

erupção dentro de mim, quando, em meio ao choro, em pequenas pausas,


minha namorada me contou sobre o encontro com Nicole, com a recusa de

Thais em conversar com ela, sobre o medo que a nossa mãe havia colocado
nos gêmeos ao forçar a aproximação e depois os insultos. E em meio a

raiva, veio a velha culpa, que fiz de tudo para sufocar naquele momento.
Sabia que mais tarde eu acabaria ruminando a culpa, processando-a de
forma amarga, me martirizando.

Em meio a tudo isso, uma pergunta me invadiu: Por que minha mãe
se aproximou deles no shopping e foi atrás deles na loja de brinquedos?

Dinheiro era uma boa opção, mas não justificava por completo as
ações da minha mãe.
Nicole não era burra, ela sabia que não conseguiria nada de mim se

impondo aos gêmeos e ofendendo a minha namorada, então por que ela
seguiu os três?

Medo pareceu brotar em meio aos outros sentimentos, e eu não


sabia se queria ter uma resposta. A única certeza que eu tinha era que eu

não podia mais continuar com aquilo, em ficar me esquivando da minha


mãe.
— Nós pagamos tudo, mas na saída da loja, o detector magnético

soou uma vez, depois outra, e eles me levaram até uma sala e fizeram uma
revista nas sacolas, nas coisas… — a voz trêmula de Thais me tirou do

transe e eu senti o corpo da mulher ficar rígido em meus braços.


Uma sensação ruim tomou o meu peito e eu sabia que não gostaria

do que acabaria ouvindo. A tensão tornou-se mais forte ao ponto de todos


os pelos da minha nuca ficaram eriçados e dos meus dentes trincarem com

força, me fazendo sentir dor nas raízes.


Acariciando-a, outra vez, fiz um exercício de paciência, esperando o

tempo dela para que ela conseguisse completar. Mas, porra! Eu sentia que
eu falhava a cada segundo perante aquela sensação de merda que me

tomava.
— Não sei como — fungou, tomando uma pausa longa —, mas eles

acabaram encontrando um brinquedo dentro da minha bolsa… A gerente


disse que não chamaria a polícia se eu pagasse o valor já que não queriam

problemas com você.


— Cacete! — Não consegui conter o palavrão, me sentindo furioso,

ao imaginar não somente pelo que Thais havia sentido ao ser acusado de
furto, mas também por ter os meus irmãos expostos a isso.

— Juro pela minha vida que eu não peguei nada, nunca roubaria
nada de ninguém. — Soou mais desesperada ao tentar se levantar do meu

colo, talvez achando que meu palavrão era direcionado para ela.
— Eu sei que você não faria isso, Malévola — sussurrei, passando

um braço em torno dela para mantê-la ali.


— Sei que não acredita em mim, mas eu não sou uma ladra! — Não

me escutou. — Eu nunca faria isso. Eu não sou uma criminosa.


— Claro que não, amor.

Novamente, se entregou ao choro convulso, murmurando várias


vezes as mesmas coisas sobre não ter pegado nada, que nunca faria isso,
dizendo coisas sobre o caráter dela, e eu repeti a mesma coisa, dizendo que

eu acreditava nela por mais que a situação não tivesse uma explicação
lógica.

— Eu não sei o que aconteceu — falou quando parecia não ter mais
forças para chorar, o que me partiu ao meio.
— Eu também não sei, Malévola — coloquei uma mecha atrás da
orelha dela, deixando um beijo na testa —, mas sei que não pegou o

brinquedo e nunca faria isso. É aquele que está caído no chão?


— Eu nem fui naquela seção.
Olhei para o objeto outra vez e uma vontade súbita de destruí-lo, por

tudo o que ele representava, pela dor que ele havia causado, me invadiu,
mas sabia que era ignorância.

— Sei que não foram os meninos — continuou. — Eu perguntei e


eles me garantiram.

Eu teria sorrido com a lealdade de Thais se as circunstâncias fossem


outras.

— Só sei que… — Antes que ela pudesse continuar, pousei um


dedo sobre os lábios dela.

— Sei que não faria isso, Malévola. De verdade.


— Realmente acredita em mim, Edgar? — Mexeu um pouco a

cabeça para me fitar.


— Claro que acredito.

— Por quê?
— Conheço o seu caráter, a sua doçura. — Deixei outro beijinho

nela. — E também sei que a sua índole não deixaria você dormir a noite se
tivesse feito.
— Provavelmente…
— Eu tenho certeza. Fora que não tem sentido pegar algo sendo que

pagou por todos os outros.


— Eu disse isso, mas eles não acreditaram em mim — falou em um

sussurro dolorido —, não que os culpe. Acho que no lugar deles, não
acreditaria também, afinal, estava na minha bolsa.

Fiquei em silêncio.
Provavelmente acharia a mesma coisa.

Havia uma prova contra ela.


— Mesmo sabendo que tudo foi solucionado, que a gerente não deu

queixa, me sinto péssima. Por mais que eu já tenha sido chamada de várias
coisas, de puta, de interesseira, nunca senti que o meu caráter tivesse uma

mancha enorme nele, nunca me senti tão humilhada, baixa — começou um


discurso com várias pausas, soluços e lágrimas
A abracei e esperei.
— Pagar pelo brinquedo, mesmo que não seja tão caro, só aumentou

ainda mais a minha vergonha, já que praticamente assumi a culpa pelo ato
que não cometi.
— Sinto muito — murmurei, acariciando as costas dela, ofertando
compreensão e compaixão.
Eu poderia ter feito muitas coisas na minha adolescência de que eu
não me orgulhava, mas, nunca chegou a tanto. Então, não compreendia

muito bem o que Thais sentia, eu só tentava me colocar no lugar.


— Pode parecer dramático, mas não tenho certeza de como
conviverei comigo mesma sabendo que eu me condenei.
— Você não se condenou e muito menos se resume ao que ocorreu
hoje, Thais. Tem inúmeras qualidades e sabe disso. Você é a mesma mulher

com quem acordei hoje de manhã. A mesma gostosona que rouba todo o
meu fôlego, a mesma garota que, mesmo se odiando, acolheu os medos dos
meus irmãos
Começou a sorrir com as minhas palavras, mas se impediu.

— Nunca poderei limpar essa mácula, por mais injusta que seja —
falou, por fim.
— Podemos tentar descobrir o que aconteceu — falei depois de um
tempo em que só fiz carinho nas tranças dela.

— Acho difícil.
— Talvez… — Franzi o cenho, tentando pensar em algo, até que eu
tive um estalo: — podemos ver se as câmeras registraram alguma coisa. A
gerente chegou a checar as imagens?

Fez que não e eu senti um pingo de raiva por eles não terem feito
isso.
— Nem sei se tem alguma câmera lá — continuou desanimada.
— Acho difícil não ter. É uma loja de grande porte.

— Pode ser que nem gravem nada e que nem mesmo tenha ângulo
que prove a minha inocência.
— Já foi mais otimista, Malévola — tentei brincar com a minha
mulher, dando batidinhas na ponta do nariz dela. — Acho que está

convivendo demais comigo.


A ausência de resposta ou risada me indicou que eu havia falhado.
— Não custa nada a gente tentar. Vou contratar um investigador para
tentar obter acesso às imagens registradas pela câmera — completei, não

querendo pensar na possibilidade de não existir nada que provasse a


inocência de Thais. — Acredito que a loja não irá colocar nenhum
empecilho.
— Vai mexer os seus pauzinhos se eles não permitirem, sei disso…
— Se precisar, sim — respondi com convicção, mesmo que não

fosse uma pergunta. — Eu iria para o inferno por você, Malévola.


— Não precisa chegar a tanto.
— Talvez. — Fui evasivo.
Se aninhou ainda mais em mim e eu suspirei fundo, ciente de que

iria muito mais além por ela.


Deveria ter medo da força dessa minha convicção, mas esse meu

medo havia ficado no passado.


O amor que nós dois tínhamos um pelo outro era mais forte que
qualquer receio que eu pudesse ter. Esse amor não era egoísta e pedia que o
outro mudasse, pelo contrário, ele fazia com que os erros, acertos, quem
éramos, se complementassem.

Éramos um. E eu detestava ver a minha quinta parte infeliz.


Prometi a mim mesmo que, por mais que isso não fizesse Thais se
sentir melhor, não pararia até obter respostas.
Uma batida na porta fez com que eu saísse do transe de

pensamentos.
— Entrem, ferinhas — falei mais alto, ciente de que ir até ali foi
uma decisão conjunta dos dois.
Foi instantâneo Thais se ajustar no meu colo para não demonstrar a

sua vulnerabilidade.
A porta se abriu e eu dei um meio sorriso ao ver os dois,
comprovando a minha teoria.
— Está tudo certo? — questionei, quando eles entraram depois de

Batata, que praticamente correu na nossa direção.


Protetor, ele começou a cheirar e lamber a mão de Thais, oferecendo
conforto.
— Sim — Spencer falou ao se aproximar também.

— Obedeceram ao meu ajudante? — brinquei.


O cachorro latiu em um time perfeito e os dois meninos deram uma
risadinha, divertidos.
— Bom saber disso — falei, como se tivesse entendido a linguagem

canina, fazendo com que os meus irmãos rissem ainda mais.


— Vocês tão demorando! — Jaxon disse em um tom estrangulado
pelas risadas.
— Sério?

— Uhum! — disseram.
— Conversas de adulto as vezes demoram, ferinhas.
— É? — Spencer perguntou.
— Que chato! — Jaxon fez muxoxo e eu não consegui sufocar uma
risada.

— Nem sempre é legal, mas faz parte. — Dei de ombros, mudando


de assunto: — vocês comeram alguma coisa? O mano aqui está faminto!
— A Thay fez sanduíche! — Jaxon falou, animado.
— Tava gostoso, mas tinha maçã e eu não gosto! — Meu outro

irmão fez uma careta.


— É. — Jaxon concordou. — Maçã é ruim.
— Nem é tão ruim assim, carinha — minha mulher entrou na

conversa.
— É, sim! — Eles falaram um em seguida do outro.
— Não gosto! — Jax murmurou.
— Pobre maçã! O quanto ela é humilhada nessa casa! — brinquei e

escutei a risada deles.


— E eu me esforçando para fazer um corte legal nelas — Thais
bufou.
— Banana é melhor! — Spencer foi aleatório.

— Eca! — Jaxon fez uma cara de nojo.


Balancei a cabeça em negativa.
Meu irmão era terrível, mas, no fim, ele acabava comendo tudo o
que via pela frente.

— A Thay nem comeu nada! — Spencer murmurou.


— É.
Franzi o meu cenho.
— Não pode ficar sem comer, amor — falei contra a orelha dela.

— Estou sem fome.


— Mesmo assim — ralhei.
— Não pode falar nada de mim — retrucou.
Merda!
Ela tinha razão.
Apesar de eu ter certo rigor com a alimentação dos meus irmãos, eu
não podia dizer que cuidava muito da minha. No trabalho, eu costumava
pular várias dela.

— Por que não fazemos uma brincadeira? — Sugeri mesmo assim.


— Qual? — Meus irmãos deram gritinhos e Batata latiu.
— Vamos brincar de enfermeiro.
Eles pareceram animados.

— Como é que brinca disso? — Spencer perguntou.


— A missão é cuidar, paparicar e tentar animar a Thais!
— Edgar — a mulher sussurrou.
— O que acham? — Ignorei o protesto dela.
— Vai ser legal! — Jax comentou.

— Muito! — Spencer concordou.


Meus lábios se curvaram com a animação dos meus irmãos.
— Essa porquinha já tomou banho? — questionei, brincalhão, e
escutei um bufar irritado vindo de Thais.

Spencer balançou a cabeça em negativa e Jaxon gritou um não.


— E vocês? — Insisti.
Fizeram que sim.
— A Thay mandou! — Spencer deu um gritinho.
— Ótimo! Então só falta essa porquinha! — comentei, fazendo os
meninos rirem e o cachorro latir.
— Falou o senhor porcão que está o mesmo tempo que eu sem
tomar banho — resmungou, arrancando mais risadas dos meninos,

principalmente quando fiz uma careta.


— Vocês vão na frente, ferinhas?
— Tá! — Falaram antes de sair correndo, seguidos por Batata que
trotou, balançando o rabo.

— Por que você fez isso, Edgar? — Thais perguntou baixinho.


— O quê, amor? — Me fiz de desentendido, deixando um beijo no
rosto dela.
— Essa brincadeira. Não deveria ter feito isso.

— Será bom você distrair, comer, tirar o foco de si mesma,


Malévola.
— Eu não sei se consigo.
— Sua família irá te ajudar — sussurrei.

— Família?
Se acomodou no meu colo para me encarar.
Vi várias emoções percorrerem os olhos marejados.
— Isso que nós quatro somos, Malévola: a sua família.
— Quer me fazer chorar?
— Quero que você sorria outra vez — retruquei.
Ela me abraçou com força e eu retribuí o contato. Não resisti e
roubei um beijo suave, sentindo o gosto de sal pelas lágrimas.

— Família… — quase que esboçou um sorriso, mas parou no meio


do caminho, e eu vi dor. — Juliana... Eu sei que ela está esperando uma
ligação minha, que eu responda a mensagem dela, mas não sei…
— Vai te fazer bem — sussurrei, acariciando o rosto redondo.
— E se ela…

— Eu não tenho dúvidas de que ela irá largar tudo para vir até aqui.
— Você não pode ter essa certeza.
— Mas eu tenho…
— Por quê?

— O marido dela faria a mesma coisa por mim. Porque amigos


sempre estão juntos, em qualquer merda.
— Eu…
— Você consegue, mulher, você consegue fazer qualquer coisa. —

fui mais incisivo. — Vai continuar a doer muito. Você irá querer chorar
milhares de vezes, os pensamentos não te darão trégua, mas você vai tomar
seu banho, se alimentar, ligar para a sua amiga. Vou dizer toda hora até que
você entenda que não é esse monstro e que é inocente nessa merda. Pode se
passar um dia, uma semana, um mês, mas você vai superar isso e ver que
seu caráter ainda é o mesmo!
— Edgar…

— Agora vá já para o banho, porquinha. — Não deixei ela protestar,


desferindo um tapinha na bunda dela.
— Pare de me chamar assim! — Fez com que ia me empurrar, mas
pensou melhor, já que a chance de cairmos era alta.

— Eu iria com você se os meninos não estivessem acordados.


— Safado! — Revirou os olhos.
Fiz que não.
— Só cuidar, nada além disso.

— Obrigada, Ed. Pelo cuidado, por acreditar em mim.


— Você teria feito a mesma coisa. — Sorri.
— Eu te amo.
— Eu também te amo.

Os lábios dela encontraram os meus outra vez e eu me deixei beijar.


— Vá, antes que eu tenha que te obrigar.
— Okay!
Dei um tapinha na bunda dela para me obedecer e ela se levantou do
meu colo.
Assisti minha mulher caminhar para deixar o escritório, passando
pelo brinquedo jogado no chão sem enxergá-lo, como os gêmeos e Batata

tinham feito, o que era bom.


Se só de olhá-lo eu sentia a raiva queimar em meu interior, temi o
que aquele objeto poderia desencadear nela.
Ignorando os meus sentimentos, as questões que voltaram a circular
pela minha mente, peguei o meu celular no bolso da calça. Eu não tinha

tempo para eles naquele momento.


Fui prático, discando o número da empresa de investigação
particular que às vezes realizava alguns trabalhos voltados para as finanças
para mim, querendo ir a fundo na merda que havia acontecido.

Felizmente a ligação terminou antes que os gêmeos me procurassem


para começar a nossa “brincadeira”.
Sem me dar conta, quando passei pela boneca, peguei o brinquedo,
disposto a nunca mais olhá-lo e deixar que a minha mulher o encarasse

outra vez.
Capítulo quarenta e dois

Estava concentrado nos apontamentos preliminares feitos por


pesquisadores da minha empresa sobre uma tecnologia que permitirá que

pessoas que vivem em regiões vulneráveis e de escassez hídrica


transformem água insalubre em potável, quando o meu ramal tocou,

fazendo com que eu tomasse um susto tamanha a minha concentração.

— Sim? — questionei ao atender.


— O senhor Davis está aqui e pergunta se pode recebê-lo nesse

momento, senhor Pratt — a voz anasalada de Scarlett ecoou nos meus

ouvidos.
— Ele está aqui? — Franzi o cenho, confuso, ao mesmo tempo que

uma onda de ansiedade me tomava.


— Eu disse que o senhor está ocupado e que só está recebendo com

hora marcada, mas ele falou que era urgente.

— Faça-o entrar e prepare um café — ordenei.

— Claro, senhor, mais alguma coisa, senhor Pratt?

— No momento não.
— Okay.

Pousei o ramal no gancho e fechei o arquivo que estava lendo e

esperei.

Não se passou nem um minuto para que a senhorinha de aparência

brava fizesse o investigador responsável pela investigação das imagens das


inúmeras câmeras de segurança da loja entrasse.

— Estava esperando a sua ligação — falei quando ele se sentou e

Scarlett fechou a porta, nós deixamos a sós.

— Achei melhor conversarmos pessoalmente, senhor — disse em

um tom sério.

— Entendo.

Senti o meu sangue esfriar, um pressentimento ruim fazendo com


que o meu estômago revirasse.

Diferente de Thais, que ainda se sentia meio melancólica com a

acusação de dias atrás, eu ainda acreditava que pudéssemos ter uma

resposta, principalmente por cada corredor da loja ter uma câmera e pela
gerente se prontificar a entregar uma cópia das imagens sem nenhum

problema. As imagens poderiam não apagar o ocorrido, nem a humilhação

sofrida, mas, ajudaria Thais a lidar melhor com tudo.

— Não encontraram nada que pudesse dar uma pista de como

aquela merda foi parar na bolsa dela? — questionei, quando o homem ficou

em silêncio.
— Felizmente não foi o caso, mas queria dizer que as notícias irão

te deixar contente — foi evasivo.

Senti minha apreensão aumentar e também irritação.

— Responda logo qual a merda que aconteceu, caralho! — explodi

ao mesmo tempo que Scarlet batia na porta.

— Posso entrar, senhor? — A mulher falou.

— Sim — falei, ainda que eu quisesse dizer um sonoro não, que ela

estava atrapalhando.

Eficiente, serviu rapidamente o café e nos deixou.

— E então? — Insisti, ainda mais agonizado quando ele levou a


xícara de café aos lábios.

— Acho melhor o senhor ver com os próprios olhos — falou ao

pousar louça sobre o pires. — Se trata de um crime no final das contas.

Grunhi um palavrão, sentindo o meu coração saltar pela boca.

— Crime?
— Sim. Um bem grave por sinal. — O vi mexer na pasta dele para

pegar um tablet.

Por mais que eu devesse me sentir aliviado, ciente de que a minha


mulher não cometeria crime nenhum, mas aquela meia-informação me

baqueou, de uma forma que eu não sabia explicar.

Estendeu-me o aparelho e eu o peguei com meus dedos trêmulos.

Senti um nó se formando na minha garganta, ficando paralisado, só

de olhar a imagem congelada e em zoom.

— Sinto muito, senhor — falou e eu dei play na imagem, me

obrigando a assistir.

Não queria acreditar naquilo que os meus olhos viam, então repeti

uma, duas, várias vezes, por mais que a imagem fosse nítida: minha mãe,

aproveitando o momento em que Thais falava ao telefone, jogando o

brinquedo na bolsa da minha namorada, para depois fingir um esbarrão.

A dor pareceu se tornar maior a cada replay.

Tudo pareceu se encaixar, minhas perguntas, que eu tentava

responder sem querer atender uma das ligações entre a minha mãe, sendo

respondidas de forma parcial.

— Porra, Nicole! — sussurrei.

— Temos imagens da sua mãe indo na seção das bonecas e pegando


o item também.
— Entendo.

Na verdade, não entendia.

Não conseguia compreender por que minha mãe havia feito aquela

merda, a razão pela qual ela havia colocado algo dentro da bolsa de Thais,

só para incriminá-la.

Nicole poderia ser negligente com os meus irmãos, ter se

transformado em alguém mesquinho e egoísta, mas aquela maldade em si,

eu não conseguia assimilar, já que a minha namorada não havia feito nada

para ela.

Ao mesmo tempo que eu sentia raiva, dor, o sabor amargo da traição


e também a culpa vieram com força.

Eu me sentia traído por Nicole, indiretamente, cravar uma faca nas

minhas costas com as suas ações, culpado por não proteger Thais e meus

irmãos dela.

Eu tinha sido omisso, ficado na ameaça, nunca tomando uma

atitude.

E por quê?

Por uma esperança tola de que minha mãe pudesse voltar a ser quem

era.

Mas ela nunca iria.


A verdade mais do que nunca estava ali, debochando da minha cara,

das minhas ilusões.

Nicole era baixa, muito pior do que eu imaginava.

Ela era um monstro, uma vilã.

Minha mãe tinha ido muito baixo ao incriminar a minha namorada,

gerando o constrangimento.

Senti repulsa por ser filho dela, asco de mim mesmo por ter deixado

as coisas chegarem a esse ponto.

Eu havia fugido por tempo demais das minhas responsabilidades e

eu tinha que dar um basta nisso. Não podia continuar a brincar com a

segurança dos três.

Não ia mais fingir que Nicole ainda possuía limites e consciência.

Por mais que Nicole fosse a minha mãe, ela era capaz de tudo, até

mesmo dar mais um passo na sua maldade: agressão.

Meu estômago revirou ainda mais com a ideia e a culpa ficou maior.

Eu teria esperado chegar naquele ponto?

Sem que me desse conta, pousei o tablet sobre a mesa, busquei pela

minha carteira na gaveta e me ergui com um salto.


— Onde você vai, senhor? — O homem perguntou quando dei a

volta na mesa e passei por ele.


— Buscar uma última resposta — sussurrei, ciente de que seria o

ponto final daquela merda. Das minhas merdas.


Capítulo quarenta e três

Deixei o táxi, caminhando em direção ao prédio onde a minha mãe

tinha uma cobertura que dividia com o namorado, me sentindo estranho.


Estalei a língua, me reprovando.

Eu deveria me lembrar de chamá-la pelo nome. A alcunha mãe não

mais servia.
Em algum momento durante o trajeto curto, a dor, a tristeza, a raiva

e decepção se transformaram em apatia.

Era como se estivesse indo a uma reunião de negócios, não para um


último confronto, mas eu me conhecia. Eu sabia que uma hora eu explodiria

e que nada de bom viria disso.


— Em que posso ajudá-lo, senhor? — O vigilante me interpelou

assim que alcancei a portaria.

— Edgar Pratt. Eu vim visitar a minha… — me repreendi por quase

chamá-la de mãe outra vez. — A senhora Nicole Pratt, acho que o número

dela é o 2006.
— Documento de identificação, por favor. Irei verificar se ela está e

se pode atendê-lo no momento, senhor.

Tirei minha carteira de motorista e entreguei para ele.

— Não tenho dúvidas de que ela irá me atender— sussurrei para

mim mesmo enquanto esperava, já que eu tinha algo que ela desejava:
dinheiro.

— O senhor pode subir. Tenha uma boa tarde — falou tempos

depois, me entregando o meu documento.

Fiz um som de desdém por estar certo ao guardar o documento no

bolso da calça.

— Boa tarde — falei, antes de seguir em frente.

O hall de entrada luxuoso não me surpreendeu nem um pouco,


apesar que eu me perguntei como ela ainda conseguia manter esse padrão,

já que fazia meses que eu não dava dinheiro a ela.

— Isso não é problema seu, porra! — falei secamente, batendo a

minha cabeça de leve na parede do elevador como punição.


Deixei a caixa de metal assim que as portas se abriram e eu não

precisei procurar qual era o número do apartamento de Nicole, já que ela

me esperava na entrada.

Toda a calmaria e apatia no meu interior pareceu se estilhaçar em

mil fragmentos ao ver o sorriso nos lábios pintados de vermelho.

Raiva.
Nojo.

Decepção.

Todas as emoções adormecidas entraram em erupção, deixando o

meu corpo rijo com a tensão.

Como ela podia sorrir para mim depois de tudo o que ela fez?

— Que bom que veio me visitar, filho. É a primeira vez que está

aqui, não é mesmo? Entre, entre.

— Isso não é uma visita, Nicole — fui frio, ignorando todas as

palavras dela. — E você deve saber disso.

— Sei? Estou tão feliz em te receber aqui, filho. — Fez beicinho, o


que me enfureceu ainda mais.

— Porra, Nicole! Não finja que é inocente, caralho! Não tente fazer

o papel de mãe — explodi.

O sorriso dela vacilou.

— Eu sou a sua mãe, Edgar, você querendo ou não.


— O caralho que é! — gritei.

— Pare de fazer escândalo na minha porta — o tom foi seco. — O

que os meus vizinhos vão pensar?


— Foda-se, Nicole.

Estalou a língua para mim.

— Seja civilizado, não um animal. Não te dei educação?

— Tá de sacanagem, comigo?

— Se quiser conversar, entre, filho — me ignorou ao dar as costas

para mim e entrar no apartamento.

Senti a raiva queimar dentro de mim por acabar obedecendo Nicole,

sem ter outra escolha.

— Aceita um chá ou uma xícara de café? — perguntou, se sentando

no sofá que parecia ser feito de pele de animal, um luxo que deveria cuidar

de milhares de dólares.

— Eu já disse que isso não é uma visita, porra!

— Mas sou educada em oferecer, filho.

— Eu não quero a sua educação, Nicole, eu não quero mais nada de

você. Você me enoja.

— Por que está falando assim comigo, Edgar? — se encolheu contra

o encosto, fingindo. — Aquela mulher finalmente conseguiu envenenar


você contra mim, não é?
— Você se envenenou sozinha — fui ríspido. — Eu que fui burro

esse tempo todo em deixar que o seu veneno se alastrasse.

— Você deveria escolher melhor suas parceiras, Edgar — retrucou,

fingindo que não ouviu as minhas palavras —, eu sempre te considerei um

homem inteligente, tanto que foi por isso que eu forcei você a estudar, mas

se envolver com uma prostituta que só quer o seu dinheiro?

— Se fosse você, lavava a própria boca antes de falar da Thais,

Nicole.

— O que posso fazer que ela é uma rameira? — Deu de ombros. —

Sei que ela te enfeitiçou filho, mas eu conheço tipo de mulheres como ela.
Ela é nociva, arrogante. Ela finge gostar dos gêmeos, só para te adular.

Você, como só pensa com a cabeça de baixo, não vê isso, mas, como sua

mãe, é o meu papel te fazer enxergar isso…

— Faz parte do seu papel de mãe também incriminar a minha

namorada ao colocar um brinquedo na bolsa dela? — Eu vi Nicole arregalar

um pouco os olhos, mas logo se aprumou, assumindo aquela máscara

inocente. — Responda, porra!

— Não sei do que você está falando… — Se fez de desentendida.

— Sei que você incriminou a Thais, só não sei o porquê, caralho. O

que ela te fez?


— Ouvi o detector apitando, mas eu não sei do que está falando,

filho.

— Existem câmeras de segurança que filmaram tudo, Nicole. Que

registraram cada ação sua. Então, caralho, para de se fazer de sonsa —

explodi de vez com ela, sentindo a raiva fluir em todos os meus poros.

Vi a minha mãe ficar pálida, como se estivesse em choque.

— Onde você estava com a cabeça, droga?

— Eu-eu.. — Começou a gaguejar.

— Por quê, caralho? — Grunhi, passando a mão pelos meus

cabelos, olhando bem nos olhos dela, tentando entender Nicole. — O que

Thais fez para você ir tão longe?

— Não finja que ela é uma santa, Edgar — cuspiu, e eu vi fúria

arder nos olhos dela enquanto se colocava de pé, adotando uma postura

orgulhosa que me fez ter mais nojo dela. — Essa pirralha é dissimulada e

arrogante, merecia uma lição.

— Lição? Chama essa porra de lição?

— Sua santinha contou que ela deu as costas para mim, sendo que

eu só queria conversar? — retrucou.


— Vocês não tinham nada para conversar — falei secamente.

— Eu queria dizer um oi para os garotos, queria ficar com meus

filhos um pouco e essa puta não deixou — falou em tom de lamúria e se


abraçou, como se estivesse vulnerável.

— Isso é sério? — Comecei a rir de escárnio.

— Eu estou arrependida, Edgar, eu quero conviver com os meninos,

fazer parte da vida deles — murmurou.

Senti uma dor tremenda diante daquelas palavras.

Porra!

Quantas vezes eu desejei ouvir aquelas mesmas palavras? O quanto

eu quis que aquilo se tornasse real... mas as palavras de Nicole eram


permeadas de mentiras atrás de mentiras.

Eu teria caído nesse jogo com todas as minhas forças, desejando


resgatar algo que eu não podia.

De forma torta, a vida acabou esfregando na minha cara que eu não


podia.

— Você já foi melhor atriz, Nicole — fiz uma pausa quando minha
mente lerda juntou tudo — Era esse era o seu plano? Se aproximar deles, de

mim, fingir que nos quer de volta na sua vida…


— Não é fingimento. — Fungou.

— Um jeito fácil de conseguir dinheiro não? Brincar com os meus


sentimentos, me fazer acreditar que você mudou… — não escondi a minha
mágoa no meu tom de voz, nem a dor que sentia por Nicole estar disposto a
me usar mais ainda. — E eu seria idiota o suficiente para ceder, expondo-
nos, só para você nos foder ainda mais.

— Não precisaria ter chegado a tanto se você não tivesse virado as


costas para mim. Eu não tive escolhas. — Me culpou, fazendo mais um dos

jogos dela, que eu não cairia, não depois de tudo.


— Sempre teve escolhas, Nicole. Você escolheu um homem, um que

não te ama, que só te usa, ao invés dos seus filhos.


— Isso é mentira! — gritou, raivosa, por eu ter tocado na ferida
dela.

— Ele te trai, porra! — Ri com secura.


Ficou chocada por uma fração de tempo antes dos lábios se

curvarem em irritação.
— Por que você não suporta a minha felicidade, Edgar? —

murmurou. — Por que eu e Chad incomodamos tanto ao ponto de você


inventar mentiras?

— Tem certeza de que é mentira?


Vacilou um pouco outra vez, mas logo se recompôs:

— Ele me ama. E quem você pensa que é para julgar as minhas


escolhas? Você escolheu uma puta sem graça — cuspiu. — O que ela tem

na boceta que te atrai tanto assim?


— Vai se foder! — Grunhi e acho que nunca tive tanta vontade de
torcer o pescoço de alguém como tive agora, mas eu não a tocaria. Eu não

me rebaixaria ao nível dela.


— Essa fedelha realiza algum fetiche pervertido seu? Pois do jeito

que você se comporta, agindo como um abstêmio, não duvido que deva ter
milhares dele. — Começou a rir, me causando mais repulsa.

— Você me enoja, Nicole, me enoja pela sua vulgaridade, por achar


que me submeteria a qualquer merda que esteja pensando. — Senti bile

subir pela garganta com a repulsa.


— Você que me deixa doente de desgosto — torceu os lábios. —

Imagine o quão péssima me senti ao ver que você deu um diamante


caríssimo para aquela garota interesseira enquanto eu tenho que me

humilhar por ajuda?


— Mesmo?

— Eu que sempre estive ao seu lado, te apoiei nos piores momentos


da sua vida, mas não, você prefere encher uma garota qualquer de luxos,
uma vagabunda que só quer ser bancada, ao invés de ajudar a própria mãe

em um momento de dificuldade.
— Dificuldade? Onde está essa merda de dificuldade? — Fiz um

gesto abarcando todo o apartamento. — Isso parece dificuldade para você?


— Mal posso me manter e você sustentando ela — foi repetitiva.
— Eu te dei mais nesses últimos tempos do que dei a ela, Nicole,

eu… — me interrompi, querendo me bater por começar a me justificar.


Como eu gastava o meu dinheiro não era da conta dela, mas, porra,

o que eu não teria feito por Nicole se esse tempo todo ela não tivesse nos
traído.

— É o que você diz, mas só eu sei a dificuldade pela qual estou


passando e tudo por culpa da sua mesquinharia. — Fez beicinho. — Mas
sabe qual a sua pior traição, Edgar?

— Acho que você vai me dizer de qualquer forma — fui irônico,


pouco comovido com o discurso que só me deixava mais puto.

— Como você pôde deixar que os meus filhos chamassem essa


fedelha de mãe? — disse em um tom ferido, como se ela tivesse direito a

isso, voltando a se abraçar.


Joguei a cabeça para trás e comecei a rir daquela merda.

— Eu sou a mãe deles, não aquela puta! — gritou.


— Desde quando?

— Eu dei à luz a eles. — Rilhou os dentes de raiva.


— Thais daria a vida dela pelos dois. Tem muita diferença nisso.

— Isso é ridículo — bufou —, está na cara que…


— A única ridícula é você — a interrompi e eu senti que era a

última vez que eu abriria meus sentimentos e ficaria vulnerável na frente


dela. — Você se acha no direito de se intitular mãe, sendo que deixou de

exercer esse papel há muito tempo para os dois.


— Claro que não…

— Porra! Você perdeu esse direito no momento que fingiu que eles
não existiam, que os assustou, que os chamou de bastardos indesejados. E

agora vem falar merda? Thais foi e é muito mais mãe para Jaxon e Spencer
do que você foi a vida toda, caralho.

— Eu entrarei na corte contra você, por permitir que os dois vivam


com uma criminosa.

— Tenho a certeza de que eles concordarão que eu não posso


permitir que os dois convivam com uma criminosa. Espere a intimação.

Ela arregalou os olhos, parecendo assustada.


— Do-que-vo-cê-está-fa-lan-do? — gaguejou.

— Acha mesmo que sairá ilesa por incriminar minha namorada,


Nicole? — Falei em um tom baixo, sentindo uma pontada de dor e desgosto
ao pensar no quanto seria difícil fazer isso, mas eu não tinha escolha. Era a

honestidade de Thais acima de tudo e Nicole precisava pagar pelo crime


dela.

— Não pode fazer isso… — falou baixinho.


— Acha que eu deixaria você se aproximar dos meninos depois do

que fez? — A ignorei, continuando, mesmo que um bolo parecesse preso na


minha garganta. — Já cometi esse erro e eu não posso mais continuar a
insistir nisso. Vou entrar com o pedido de guarda definitiva dos meninos e

com uma medida protetiva contra você, estipulando que você deve se
manter distante deles e da Thais.
— Não pode me denunciar. Posso ser presa — continuou naquele

tom baixo.
— Deveria ter pensado nisso antes, Nicole.

— Eu sou sua mãe, Edgar…


— Você também deixou de ser a minha mãe a muito tempo.

— Podemos tentar de novo. Eu posso ser a mãe de vocês outra vez.


— Pareceu esperançosa. — Eu lamento por tudo…

— Sempre quis ouvir essas palavras, Nicole, mas não posso, não
mais… — sussurrei, sentindo mais decepção, mais dor. — Nos vemos na

corte, pela última vez.


Antes que ela pudesse dizer uma resposta, me virei, dando as costas

para ela, caminhando para deixar o apartamento de Nicole, sentindo os


meus passos pesados.

— Espere, filho, por favor — gritou.


Não foi uma surpresa quando Nicole tentou me segurar pelo braço.

Mais forte do que a mulher, desvencilhei-me do toque e das várias


tentativas que ela fez, achando que poderia me manipular.
Chamei o elevador, ignorando a voz aduladora.
Com um último desvencilhar, entrei dentro da caixa de metal

quando chegou no andar e enquanto as portas se fechavam, como não caí no


jogo emocional dela, escutei as piores palavras que eu poderia ter escutado

de Nicole que me feriram mais forte do que uma navalha, tanto que eu
desabei contra a parede do elevador, a dor se tornando profunda.

Se eu ainda tinha dúvidas de que ela era um monstro depois do que


ela fez com a minha namorada, aquelas malditas palavras sobre os meus

irmãos, me deram a certeza. Descobri que tinha mais uma pergunta a ser
feita para Nicole, mas eu não me atreveria a perguntar.

A questão morreria comigo. No final das contas, não importava, não


quando a resposta só traria mais dor.
Capítulo quarenta e quatro

Tentei prestar atenção na aula online. Estava me preparando para

prestar o SAT, pois planejava entrar na universidade no próximo semestre,


mas não conseguia me concentrar, o que me frustrou.

Eu sempre aproveitava o período em que os gêmeos estavam na

escola e Edgar no escritório, mas há dias eu não conseguia fazer nada


direito.

Eu lutava contra mim mesma para esquecer o assunto do furto, mas

ele parecia mais forte do que eu, me deixando apática e desmotivada.


Mesmo que a vida continuasse seguindo seu curso, que a situação

tenha sido resolvida e que tinha tido o apoio do homem que amava e da
minha melhor amiga, que acreditaram em mim, eu me sentia em um grande

hiato, como se não merecesse dar um passo em frente na minha vida.

Eu ainda me via com pessimismo, como a garota cujo brinquedo ela

havia colocado na bolsa, mesmo que fosse muito irreal.

Queria acreditar em Edgar que o escritório de investigação que ele


havia contratado provaria a minha inocência, mas eu temia criar uma

esperança e vê-la se esvaindo quando os analistas não encontrassem uma

resposta, ou até mesmo que a informação não fosse capaz de me tirar

daquela fossa.

— Para de drama, Thay — fiz um som de reprovação, chamando


atenção de Batata, que latiu. — Você vai querer perder a sua vida toda por

causa disso? Bora superar isso e aprender química antes que você tenha

uma boa razão para ficar deprimida com os resultados do seu teste.

Forcei-me a prestar atenção na explicação, anotando com uma

caneta colorida um ponto que parecia a chave de tudo daquele tema

horrível.

Deus! Por que a gente precisava de química mesmo?


— Para tudo, sua besta. — Bufei, mas dessa vez, não houve nenhum

latido. — Ele deve estar futricando no pote de ração querendo comer mais.

Revirei meus olhos e logo os meus ouvidos se atentaram para o som

que o animal fazia. Ele latia e arranhava o piso com as suas unhas, que
precisavam ser cortadas urgente.

— Não tá vendo que eu quero estudar, rapazinho? — brinquei com o

animal, já que era a pior desculpa que eu poderia ter dado, e olhei em

direção a porta, esperando o cãozinho vir trotando.

Percebi que o bichinho barulhento não estava sozinho e que junto

dele estava o homem que eu amava, já que os passos dele também


ressoavam no piso.

Senti um friozinho na barriga com a possibilidade de vê-lo, então,

rolando na cama, me levantei de um salto para dar um abraço nele, mas no

meio do caminho estaquei ao ver o semblante abatido de Edgar.

Meu coração bateu apertado, o frio que parecia percorrer as minhas

veias, dessa vez não foi algo bom.

Medo.

Ansiedade.

— Edgar — murmurei e antes mesmo que eu me movesse, senti os

braços dele me envolverem com força e eu me deixei abraçar, circundando-


o para afagar as costas dele.

Batata soltou um uivo alto e eu estranhei quando ele não tentou

colocar o focinho entre os nossos corpos.

— Está tudo bem?


— Não, não está — falou o óbvio em um tom rasgado, depois do

que me pareceu vários minutos.

Me senti não apenas preocupada com ele, mas como se naquele


abraço eu pegasse para mim parte da dor dele e aquele sentimento parecia

bem pesado.

— O que aconteceu, amor? Está me assustando. — Insisti em meio

aos sons do cachorro agitado.

— O investigador descobriu o que aconteceu no dia em que você foi

acusada…

Um nó estranho formou-se na minha garganta e em um flash de

lembranças, senti que revivia o momento.

Tive vontade de apertar o abraço, me sentindo nojenta, mas eu sabia

que não podia.

— Eu… — pigarreei, tentando encontrar a minha voz para fazer

aquela pergunta que às vezes me corroía. — Eu peguei o brinquedo sem

querer?

— O quê? — Afastou-me um pouco, apenas para me encarar nos

olhos.

— Eu peguei aquele brinquedo? Eu realmente roubei a boneca?

— Que conversa louca é essa? — Franziu o cenho.


— Pode ter acontecido — me senti mais nervosa.
— Não foi você — a voz dele soou segura e eu fiquei trêmula de

alívio, um peso que eu carregava no meu corpo me deixando.

Eu não era uma vilã... Eu não era uma criminosa.

Senti meus olhos se encherem de lágrimas, de felicidade.

— Deus — sussurrei.

— Você realmente…? — perguntou, franzindo levemente o cenho, e

eu não precisei de mais palavras para entender.

— Vai que foi num momento de loucura meu, ou algo do tipo.

— Porra! Você é muito sã, Malévola… — Eu teria rido em outras

circunstâncias, mas a seriedade dele me impediu.


— Foi um dos seus irmãos? — Me senti contrariada com a pergunta.

— Não — respondeu depois de tragar o ar com força e eu fiquei

confusa.

— Não entendo. O que houve então?

— Não sei como estou te encarando nesse momento. Estou com

vergonha do caralho!

— Nunca tenha vergonha de mim. Eu te amo, Ed.

Ficou me encarando, sem dizer nada.

— Foi a minha mãe, Thais. — Os lábios se torceram com amargura

ao me contar, e eu vi dor em seus olhos. — Ela jogou a boneca dentro da

sua bolsa.
Eu não disse nada por um momento. Estava em choque, sem

acreditar.

Por que Nicole havia feito aquilo comigo? Nem nos conhecíamos

direito!

Bem, eu só a conhecia um pouco por tudo o que eu e Ed havíamos

conversado, mas o que Nicole sabia de mim?

Nada.

Os pelos do meu braço ficaram todos arrepiados com isso e eu senti

algo ruim.

— Por quê?

— Ela quis se vingar de você por ter se recusado a falar com ela,

pelos gêmeos terem te chamado de mãe.

— Por causa disso? — continuei incrédula.

— Sim.

— E eu poderia ser fichada na polícia por isso?

Não me respondeu e voltou a me abraçar.

Eu não soube o que sentir.

O motivo dela era tão fútil, o acontecido me foi tão cruel!


Presa nas minhas emoções, acabei esquecendo um detalhe, que só

me veio em um grande estalo.


Ela era a mãe dele, alguém que eu sabia que, mesmo que ele não

dissesse em voz alta, eu sabia que Edgar a amava.

Eu poderia estar aliviada, mas o homem que eu amava estava

sofrendo.

Não era algo fácil, eu bem sabia que não era.

Meu pai e Nicole tinham muito em comum.

Enterrei os meus dedos no couro cabeludo e acariciei os fios macios

enquanto o braço livre o prendia com mais firmeza nos meus braços,
tentando ser uma espécie de pilar de apoio para ele.

— Sinto muito por isso, amor — sussurrei. — Sinto muito pela sua
mãe.

— Eu também sinto — a voz era quebrada —, eu não a reconheço.


Fiquei em silêncio, só fazendo carinho, esperando o momento que

ele desabaria.
— Ela é um monstro. Ela não tem coração. Eu não posso perdoá-la

por aquilo que ela fez.


Senti algo úmido tocar o meu pescoço e eu emiti um som baixo por

saber que ele chorava.


— Eu a perdi para sempre, Malévola.
— Você não a perdeu — sussurrei.
— Sim, eu a perdi há muito tempo, eu só demorei a enxergar. E qual
o preço que estou pagando por isso?

Não soube o que dizer.


— Eu não pude continuar. Ela iria me usar. Ia usar os sentimentos

dos meus irmãos para se aproximar e conseguir dinheiro.


— Espere, Edgar. — Tombei um pouco a cabeça dele para que ele

me encarasse, outra vez, me dando conta de que eu havia atropelado coisas.


Por um momento ou dois, eu fiquei presa nos olhos avermelhados pelas
lágrimas e eu senti uma vontade enorme de chorar por ele. — Como sabe as

razões da sua mãe para tentar me incriminar? Que ela iria se aproximar só
para isso?

— Precisava de respostas antes de colocar um fim em tudo. Eu


queria entender porque ela fez essa droga.

— Deus! — sussurrei.
— Foi tão difícil enxergar a nova versão dela, uma que eu não

romantizava, me apegando ao passado. Não sabe o desgosto que senti ao


falar que eu a arrancaria das nossas vidas para sempre ao entrar com o

pedido de guarda unilateral…


— Posso imaginar, amor.

Outra vez me veio a percepção do quanto as dores causadas pelos


nossos pais eram próximas.
James e Nicole nos fizeram tirá-los de perto de nós de forma brutal.
— O pior foi escutar que… — Ódio cintilou em meio a mágoa.

— Que...?
— Meus irmãos estragaram tudo e que Nicole teria sido mais feliz

se ela tivesse encontrado um meio de se livrar deles como o pai deles


sugeriu.

A raiva foi instantânea e imaginei que as palavras dela foram ainda


mais cruéis. Eu não julgava o procedimento em si, existem vários

momentos em que uma mulher precisava tomar tal decisão difícil, mas,
Nicole tinha falado isso usando maldade, como se fosse uma decisão que

não exigia nada de uma mãe.


— Eu os amo demais para não imaginar a existência deles. — Mais

uma lágrima escorreu pelo rosto dele.


— Eu também os amo, Ed — disse aquilo pela milésima vez, e antes

que eu pudesse me conter, falei, brava: — os amo tanto que eu quero dar
uns belos tapas na cara dela.
— Por que não me surpreende? — Tentou imprimir a voz um pouco

de diversão, mas falhou. — Sabe o que eu pensei de você no dia em que


meus irmãos foram esquecidos na escola?

— O quê? — Fiquei curiosa.


— Que era uma leoa defendendo os seus filhotes…
— Seus filhotes? — sussurrei.

— Eu era um idiota na época por negar, mas, de alguma forma, no


momento em que você olhou para Jaxon e Spencer e se jogou na piscina

com vestido e tudo, eles estavam predestinados a serem seus, seus


filhotinhos.

— Deus! — sussurrei, emocionada com as palavras dele que


atingiram profundamente a minha alma, tanto que, como uma manteiga
derretida, comecei a chorar. — Que coisa linda de se dizer, Edgar…

— É a verdade! — Deixou um beijo carinhoso na minha testa que


me fez ficar ainda mais chorosa. — O destino colocou você no caminho

deles para descobrirem o que é o amor.


— Eles já sabem o que é amor há muito tempo — tentei brincar com

ele, afinal, não havia sentimento mais incondicional do que o dele pelos
gêmeos, mas minha voz soou falha.

Balançou a cabeça, negando.


— Não o que é afeto de uma mãe, o carinho, a preocupação, o apoio

— apesar da ternura da fala, havia uma mágoa profunda com relação a


Nicole, uma dor que tão cedo passaria, o que era compreensível.

— Lamento por isso, Edgar — toquei o rosto dele, fazendo carinho


na barba dele —, não deveria ser assim.

— Não, não deveria.


— Sei que existem diferentes circunstâncias, que é algo exaustivo,

mas todos os filhos deveriam conhecer o carinho dos pais…


— Difícil só conhecer o ódio, não? A cobrança? A rejeição…

Fiz que sim com a cabeça, ciente do quão complicado lidar com as
implicâncias, ordens, e nunca carinho.

Machucava demais não escutar uma palavra de afeto, de não receber


um abraço.

— Mas não sabe o quanto odeio ter conhecido o amor, o carinho. —


Mais dor.

— Não fale assim, Ed — sussurrei.


— Dói demais essa, porra!

— Eu sei.
— Dói demais conhecer e perder.

Como não tinha palavras para consolá-lo, só o abracei.


— Eu a odeio. Tenho raiva de Nicole por ter me tirado isso, tenho
desprezo por ela pelo fato dela odiar meus irmãos, odeio ela por ter feito

isso com você! — Me abraçou com mais força.


— Sinto tanto — sussurrei.

— Sei que não posso te pedir isso, que eu não sou criança para falar
isso por falar, mas seja a mãe deles de alma — murmurou e soube que ele
estava chorando. — Não os abandone como Nicole fez, não deixe que os
dois sintam o que é ser amado e depois ter isso tirado deles.

Meu coração voltou a bater apertado pela dor dele e também por
aquilo que Edgar me pedia. Eu não podia dar essa garantia a ele, ainda mais
que amanhã poderia acontecer algo que nos separasse.

Senti uma pontada de dor só pela possibilidade.


Iríamos acabar esbarrando pela amizade que tínhamos com Ju e

Riccardo, mas não seria cotidiano, eu não participaria de tudo, como agora.
Desde quando eu comecei a exercer aquele papel na vida dos dois? Desde

quando minha função de babá, minha amizade, me fez mãe deles? Não de
sangue, mas de coração ou alma como ele tinha dito?

— Por favor — insistiu.


— Eles são os meus filhotinhos, Ed — sussurrei e num passe de

mágica, meu coração passou a cantar, alegre, tanto que eu podia dançar pela
sala e também cantar.

Talvez eu fizesse isso daqui a pouco.


Me abraçou com mais força.

— Saiba que, no futuro, se a gente terminar, pedirei guarda


socioafetiva.

— Sério? — Pareceu se divertir com minha fala.


— Não estou brincando — bufei.
— Imagino que não — afastou-se um pouco para me encarar —,
mas não vamos chegar a tanto, Malévola.

— Nunca se sabe.
— Disso eu sei. — Me apertou com mais força, possessivo.

— Eu deveria ter medo disso?


— O que acha?

— Que sim! — Provoquei.


Fez uma carranca de todo o tamanho, a mão subindo pelas minhas

costas até alcançar a minha nuca, usando firmeza.


Olhei nos olhos dele.

— Eu amo você. Eu amo tudo o que você é, tudo o que você


representa — fez uma pausa, me acariciando, enquanto eu ficava mole de

emoção outra vez —, o destino não foi só generoso com os meus irmãos,
mas também comigo. Você me fez descobrir o amor, Malévola, um que eu
imaginei não ser para mim.
Sorri.

— E eu descobri que seu amor é muito melhor que nos filmes —


falei com a voz embargada.
— Hum…
Abriu um sorriso antes de me puxar para o rosto dele e tomar os

meus lábios em um beijo doce, quente e apaixonado.


— Como você está? — questionou quando findou o contato, me
olhando com seriedade.

— Aliviada — falei, entendendo o motivo da pergunta. — Vai


demorar processar tudo, a acusação e tudo mais, mas eu sinto como se um
peso enorme fosse tirado de mim e que agora eu pudesse ser a Thay de
novo, que eu pudesse voltar a sonhar.
— Você é a Thay e sempre pode… — Me deu um selinho. — Fico

feliz por se sentir assim, amor.


Respondi com um sorriso, ciente de que era bastante agridoce para
ele.
— Pedirei para a loja se retratar com você.

— Não é necessário
— Sim, é. Te fará se sentir ainda melhor — fez uma pausa —,
pedirei aos advogados para resolverem isso e também entrar com os
processos. — Assim que terminou de falar, a dor surgiu nos olhos dele.

— Por que não faz isso depois? — sugeri.


— Eu preciso… — Coloquei um dedo sobre os lábios dele.
— Isso pode esperar até amanhã.
— Sim?

— Temos uma hora e pouco antes de buscar os gêmeos na escola…


— O que está me propondo? — Soou malicioso e eu revirei os
olhos.

Homens! Mesmo sofrendo, só pensam em sexo.


— Só uma massagem.
— Aceito. Afinal, ter as suas mãos em mim é melhor do que nada.
— Idiota.

— Como o Jake?
— Nem venha falar mal dele.
Dei um tapinha nos ombros de Edgar.
Mais careta.

— Eu amo você, Edgar.


— Também amo você.
Com mais um beijo, dessa vez, com a intenção de me persuadir,
pegou a minha mão para nos levar até o quarto. Para o azar dele, tudo o que
ele ganhou foi uma massagem, e alguns, mais só alguns, beijinhos.
Capítulo quarenta e cinco

— Precisa ficar quieto ou os seus bigodes ficarão todos tortos,

carinha — falei para Spencer quando ele se moveu no assento, inquieto,


pela milésima vez.

— Isso é chato! — resmungou.

Batata, que estava deitado em um canto, latiu.


— Maquiagem é legal! — Fiz um bico, defendendo minhas

queridinhas que só perdiam para os cílios postiços que eu amava usar.

— Né, não! — sacudiu a cabeça no momento em que eu estava


fazendo um risco na bochecha dele com o delineador, fazendo com que eu

praticamente estragasse o bigode de baixo.


— Olha só o que você fez, Spen! — ralhei, apesar de não estar tão

brava assim por ter retrabalho. — Vamos ter que começar tudo de novo!

Peguei um pouco de algodão e demaquilante.

— Ah, não, Thay!

— Ah, sim!
— Não precisa. — Me deu um sorrisinho que sempre abalava todas

as minhas estruturas.

— Eu não vou deixar você ir com um bigode mal feito — falei,

passando o removedor com cuidado na pele dele —, o que vão pensar de

mim?
— Nada, ué! — Jax respondeu pelo irmão e os dois deram uma

risadinha.

Bufei.

— Claro que sim! Me chamarão de negligente… — parei de falar ao

olhar para o outro gêmeo, sentindo certo horror ao olhar para a face dele

que tinha virado uma mistura de cores. — O que aconteceu com o seu

rosto?
— Nada, ué! — repetiu a expressão que vinha se tornando cada vez

mais recorrente nos últimos dias, quase que uma mania.

— Como não? Você era um lindo gatinho! — Dei um gritinho.


Escutei mais risadas vindo deles em meio ao latido de Batata que

ficou agitado comigo, se erguendo para se aproximar com o seu abanar de

cauda.

— O que aconteceu?

— Nada, ué!

— Sabia que essa expressão tá chata?


— É?

— Diminua um pouco, querido — pedi.

Balançou a cabeça.

— Vou ter que refazer sua maquiagem também — suspirei.

— Isso é coisa de menina! — Bateu os pés no chão.

— Claro que não, é de meninos também. — Franzi o cenho para ele,

voltando a minha atenção para Spencer.

— Né, não — o menino que eu maquiava falou.

— Os atores usam e homem também! — retruquei.

— Por quê?
— Para ficarem mais bonitos, para criarem personagens…

Peguei o delineador, vibrando por dentro quando consegui fazer dois

riscos perfeitos.

— Sabiam que os super-heróis e vilões também usam? — Continuei

a tagarelar enquanto tentava trabalhar, já que os meninos são bem inquietos.


— É?

— Sim.

— Ah! — Jaxon falou.


— Até o Capitão América?

— Sim!

— Ah! — Spencer verbalizou.

— Ainda é chato! — Jax continuou.

— Faz parte dos personagens, querido — murmurou —, e eu quero

que vocês sejam os gatinhos mais lindos da peça hoje.

— Não quero ir — Jaxon disse em meio a um resmungo.

— Também não! — Spencer concordou, se remexendo.

Batata arrumou uma latição, como se concordasse.

Suspirei.

— Quieto ou vou errar de novo — pedi para o garotinho que

obedeceu —, e vocês vão sim.

— Vamos não.

— Seus papéis durarão minutos.

— É… — concordaram.

— Tenho certeza de que deixarão eu e o seu irmão tremendamente

orgulhosos!
— Tá!
— Se vocês me deixar fazer a maquiagem direitinho e não passar a

mão no rosto, é claro — fiz uma advertência em meio a brincadeira.

Resmungaram algo, mas os meus “filhotes” de coração,

obedeceram, começando a conversarem entre si, mas não prestei atenção,

presa em pensamentos.

Sorri para os dois, sentindo o meu amor por eles em cada pulsar.

Meses atrás eu havia feito uma promessa a Edgar de que eu seria a

mãe de coração dos dois e todos os dias eu tentava fazer o melhor possível,

ainda que fosse bem difícil ajudar meu namorado no papel de educar e ser

firme.
Como babá e namorada de Ed eu sempre dava um toque ou outro

nos meninos, mas conversas sérias eram completamente diferentes.

Ser tachada de chata quando exigia mais firmeza não era tão legal

assim, preferia mil vezes ser a tia legal e das brincadeiras, mas era

necessário e pensava que estava contribuindo com o caráter deles e que os

gêmeos me agradecerão no futuro.

Era difícil ser “mãe”, ainda mais quando eu era tecnicamente nova

demais para isso e eu tinha que conciliar esse papel com os estudos

universitários, mas me adaptei bem.

Para minha surpresa, tinha ido muito bem no exame e, com o meu

currículo escolar e entrevista, tinha conseguido ingressar no Colégio das


Artes e Ciências da Universidade de Seattle para Administração Pública.

Como a minha amiga Ju, que até então não tirou uma nota baixa

como ela tinha imaginado, eu surtei quando tive minha primeira avaliação

com menos de um mês de aula. Diferente da minha melhor amiga, fui mais

ou menos, mas felizmente me recuperei e estava bem animada com tudo,

por mais difícil que fosse.

— Espero não estar muito atrasado e não ser xingado por isso…

Tomei um susto, quase errando o último bigode e estragando tudo ao

escutar a voz de Edgar. Fiz uma careta com o comentário, já que, diferente

de todos, eu era a mais empolgada com a atividade escolar dos meninos.

— Que horas são? — Fiquei tensa, já que não queria atrasos.

— Quatro e meia.

— Temos tempo. — Suspirei, aliviada.

— O que aconteceu com a sua cara, ferinha? — questionou, olhando

para a cara do menino.

— Um acidente! — Deu um gritinho.

— Posso ver! — comentou, divertido.

— Acidente, sei! — resmunguei, fazendo os dois menininhos e meu


namorado rirem enquanto Batata latiu.

Estalei a língua para eles, reprovando-os por gargalharem da minha

cara.
— Vê se não passa a mão no rosto, carinha — falei, afastando um

pouco para Spencer se erguer.

— Tá! — concordou.

— É a sua vez, Jax! — falei.

— Não vai me dar um beijo, Malévola? — Edgar disse com uma

voz desgostosa e eu escutei um eca coletivo seguido de resmungos e latidos.

Olhei para ele, sentindo um friozinho na barriga, que sempre me

acometia ao fitá-lo.
Com os cabelos desgrenhados, como se tivesse passado os dedos por

eles várias vezes, o torso desnudo, Ed sabia que ele era gostoso, tanto que
ele passou a mão pelo peitoral em um gesto sutil, me provocando.

Safado!
— Não quero que os dois se atrasem, então vá para o banho — falei,

mesmo sentindo a minha boca secar, o desejo despertado.


— Não vai se atrasar por causa disso — arqueou a sobrancelha.

— Estou ocupada, não está vendo? — Dei de ombros e me voltei


para o outro gêmeo. — Venha aqui, Jax, tenho que refazer essa bagunça.

— Porra! — Edgar grunhiu, irritado, fazendo os meninos rirem, e


antes mesmo que eu pudesse pegar o algodão para passar o demaquilante,
senti braços me envolverem com força.
— Edgar! — Dei um grito quando ele me ergueu. — Me põe de
volta no chão! — pedi, no meio do barulho de mais risadas e latidos.

Me colocou no chão apenas para me girar nos braços dele e para que
eu o fitasse.

— Nunca mais diga que está ocupada demais para me beijar,


Malévola — o tom era de advertência e também de posse, me deixando

arrepiada. — E eu não dou a mínima se atrasarmos, desde que você me dê o


meu beijo.
— Não é ass… — Sem me deixar completar, a boca dele tomou a

minha, e ao som de vários barulhos de nojo, dos meninos dizerem eca mil
vezes, meu namorado me beijou.

Acabei envolvendo o pescoço dele. Foi um beijo rápido, comedido


por estar na frente das crianças, mas intenso, e também um outro aviso de

que ele me puniria mais tarde por não o ter beijado quando chegou.
Mandão!

— Por sinal, está linda, amor — falou em um tom de voz rouco ao


lançar-me um olhar de cima a baixo.

— Obrigada, amor, mas você diz isso sempre. — Fiz biquinho.


— Porque está sempre linda… — Começou a abrir um sorriso

malicioso.
— Vou fingir que acredito — Provoquei.
— Sempre! — Foi mais firme, quase irritado e eu dei uma risada
por ele sempre cair nisso. — Muito linda!

Fiquei abobada.
— Obrigada, amor, mas vá para o banho agora — mandei, tentando

apartar o abraço, sem sucesso.


— Você não disse que temos tempo?

— Temos, mas não para ficar enrolando. Tenho bigodes para fazer e
você não pode ir fedendo de suor.

— Não está sendo neurótica por coisa à toa, Malévola? — Franziu o


cenho, acariciando a minha lombar. — É só uma peça escolar.

— Hey! — Dei um gritinho, arrancando risadas. — É a peça!


— Não quero ir, mano — Spencer falou.

— Nem eu! — Jax concordou.


— Já conversamos sobre isso, meninos, vocês irão! E você vai para

o banho agora, porcão! — ordenei, escutando a risada dos meninos por eu


chamar o irmão deles assim.
— Ah, não, Thay! — Reclamaram e se voltaram para o irmão dele.

— Mano!
— Sempre obedeçam a uma mulher, ferinhas, ainda mais uma que

cuida de vocês… — sussurrou.


— Isso é bem machista, Edgar — resmunguei, fazendo uma careta

para ele.
— O que é isso? — Jaxon perguntou.

— É? — Spencer me questionou.
— Boa sorte em explicar, amor — falou, me roubando um selinho

antes de me soltar e se virar, obedecendo, me deixando com uma bomba, já


que, ainda que fosse necessário, era difícil de se explicar para crianças de
cinco anos.

— Você me paga, Ed… — disse entredentes.


— Thay!

— Vamos cuidar desse rosto enquanto explico — falei, tentando


pensar em uma forma fácil de fazer os dois entenderem.

Definitivamente, não tinha tempo a perder, não quando tinha dois


gêmeos levados determinados a estragar o meu trabalho.

Senti meus olhos ficarem úmidos de emoções quando Spencer abriu


os bracinhos como se estivesse abraçando a plateia ao declamar um trecho
de um poema sobre a importância de se preservar o meio-ambiente.

Mesmo que Spencer esquecesse alguns trechos ou trocasse algumas


palavras, deixando a peça mais engraçada, meu menininho estava muito

lindo.
Na verdade, os meus gêmeos eram uma gracinha interpretando os

seus papéis de animais e eu sentia um orgulho danado deles pela entonação


e pelo esforço para dar vida aos bichinhos. E modéstia à parte, eu havia

caprichado na maquiagem e todo o meu esforço, mesmo que ainda


continuei a ser alvo de deboches dos meus meninos, valeu muito a pena.

— Sério que está chorando? — Juliana sussurrou na minha orelha,


com diversão.

Passei a mão pelo rosto.


— O que que tem?

— Demais não?
— Falou a pessoa que chora por tudo — retruquei.
Com o canto do olho, vi a minha melhor amiga fazer uma careta.

Antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, Edgar apertou a minha coxa.
Mesmo que ele estivesse certo, que era falta de respeito, me senti

como uma criança, tendo que ser repreendida pelo pai por fazer bagunça.
Voltei-me para o palco, prestando atenção em cada declaração e

gesto, maravilhada, como se fosse uma peça teatral profissional e não algo
infantil.
Vez ou outra, acabava sorrindo com as partes cômicas e com as

palavrinhas gritadas de Lucca que, sem filtro por ser novinho, estava
bastante entediado no colo do pai.
Poderia não ser o local adequado para uma criança pequena, muito

menos para um cadeirante, já que o local reservado para pessoas com


deficiência estava longe de ser o mais acessível e era bem apertado para

fazer o giro de 360°, mas estava feliz por eles estarem ali.
Ju, Lucca e Riccardo, os meninos e meu namorado eram a única

família que eu tinha, e o mesmo valia para Edgar.


Perdi qualquer vontade de ter contato com James quando, bêbado,

ele acabou agredindo a companheira, indo preso de novo, já que ele violou
as regras da liberdade provisória e cometeu outro crime.

Só de pensar que ele foi capaz de violência doméstica, senti meu


estômago embrulhar. Não queria ter nenhum contato com ele, nunca mais.

Isso era imperdoável.


Já Ed, ainda que não tocasse mais no assunto, eu sabia que ele

estava sofrendo pela mãe. O pedido da guarda unilateral com medida


protetiva de distanciamento de segurança tinha sido bastante difícil e muito

mais penoso para o meu namorado, apesar dos resultados a nosso favor.
Como era de se esperar, a mulher fez um escândalo horrível durante
a sessão, usando vários argumentos infundados que foram rapidamente

quebrados pelo advogado e testemunhas.


Já a ação que o advogado moveu em meu nome contra ela por

calúnia e difamação ainda corria na Corte. Não que realmente me


importasse com o resultado da indenização. Descobrir que eu era inocente

realmente foi o que eu precisava para esquecer e seguir em frente.


Vi os meninos darem as mãos para os coleguinhas da escola, cada

um vestido de um bicho diferente, e eu peguei o meu celular no colo, para


registrar aquele momento em que, com as vizinhas desafinadas, as crianças,

começaram a cantar uma música sobre salvar a Terra.


Tentei afinar meus ouvidos para captar só a voz de Jaxon e Spencer,

mas outra vez, senti a emoção tomar conta de mim. Para não ser alvo de
piadas da Ju, tentei me controlar, não obtendo muito sucesso.
Assim que eles terminaram a canção e colocando um fim a peça
curta com uma vênia, eu me ergui e, sorrindo, comecei a bater palmas, sem

me importar se o meu comportamento fosse ridículo. Os gêmeos olharam


na minha direção e deram um sorrisinho.
Uma salva de palmas ecoou no auditório.
— Papá! — Lucca deu um grito no meio do barulho, provavelmente

assustado.
— Bata palma também, figlio! — falou, e imaginei que o ajudava a
bater a mãozinha uma na outra, o que não era necessário, já que na maioria

das vezes, o menino adorava bater palminhas e era extremamente fofo


fazendo isso. — Não, não precisa, chorar, piccolo.
As tentativas de Riccardo de tranquilizar o menino falharam, já que
o pranto foi audível e eu não podia negar que ouvir ele, Jaxon ou Spencer
chorar, sempre me doía um pouco.

— Vou levá-lo para andar um pouco — Ju falou e eu vi ela pegar


Lucca do colo de Riccardo e passar para o dela, que colocou o pequeno
choroso no chão. — Vamos lá nos bichinhos, amor?
— Pato! — Ele gritou em meio ao choro.

— Não tem nenhum pato.


— Paa-to! — Lucca gritou, mas não escutei a resposta dele, já que
Ju caminhava em direção ao palco onde as crianças desciam.
— Viu que não precisava ficar neurótica, Malévola? Deu tudo certo.

— Hey! Para de me chamar assim! — Me controlei para não gritar


com ele.
— Quer se complicar, hein, amico? — Riccardo falou com diversão.
— Isso que você não viu o que ela aprontou. Fui até ameaçado de

ficar de castigo se não fosse tomar banho! — falou divertido.


— Imbecil! — resmunguei.
— Sou obrigado a concordar. Que cara chato! — o italiano brincou.
— Vocês me amam — falou, convencido, passando um braço em

torno da minha cintura, e eu dei um tapa na mão dele.


— Aí!
— Não toque numa neurótica — provoquei, recuando um pouco
para o lado.

Fez uma carranca.


— Você é minha neurótica!
— Que coisa mais romântica de se dizer. — Revirei os olhos.
— Precisa aprender a dizer coisas melhores, Edgar — Riccardo

sussurrou. — Essa foi ridícula. Imagine se a Thay decide te chamar de


“meu estouradinho”.
— Gostei — provoquei Edgar, fazendo um som com a língua. —
Meu temperamental. —Comecei a rir.
— Combina também — o melhor amigo dele concordou em meio a

uma risada.
— Não tem graça.
— Realmente combina muito bem — continuei.
— Porra!

— Nada de palavrão aqui!


— Tá bom! — Passou a mão pela nuca e virou para me fitar. —

Graças a você, meus irmãos ficaram lindos bichinhos, amor. Assim está
melhor?
— Hum. Ainda não sei…
— Olha quem eu e Lucca trouxemos! — escutei a voz animada de
Ju.

— Ca-ca! — Lucca falou.


— Isso, meu amor — Riccardo falou, incentivando o filho, que
estava prestando mais atenção na cauda da fantasia dos meninos do que
tudo, pegando-os com os seus dedinhos.

Suspirei. Era lindo ver os três juntos.


— Vocês foram bem demais, ferinhas! — Ed falou.
— Sim! — Riccardo disse.
— Me deem um abraço! — falei, passando por Edgar para abraçar

os meus dois filhos com força. — Vocês estavam tão lindos!


— Eu esqueci coisas — Spencer sussurrou baixinho.
— Estou orgulhosa de vocês mesmo assim — falei, sentindo meus
olhos ficarem úmidos outra vez, colocando um fim ao abraço quando eles

começaram a se retorcer —, não foi divertido atuar e receber um monte de


palmas, carinhas?
— Foi bem chato tudo — Jaxon respondeu.
— É! — Spencer foi na onda.

— É! — Lucca, que nem tinha atuado, imitou os meninos.


Fiz um bico enquanto todos riam da minha cara.
— Agora posso tirar isso? — Jaxon apontou para o rosto.
— Vai brigar? — Spencer fez outra pergunta.

— Hey! Não estava brigando!


— Tava, sim! — os gêmeos falaram em uníssono.
— Tava, não! — retruquei.
— Estava bem próxima disso, amor! — meu namorado, brincou.

— Edgar! — briguei com ele, minha voz soando mais alta do que
deveria, e eu morri de vergonha.
— Ta-tá! — Lucca deu um gritinho.
— Pode? — Spen perguntou.
— Claro que sim — falei, meio a contragosto.

— Eeee! — Fizeram festa e Lucca os imitou, dando uns pulinhos de


alegria, deixando-o ainda mais fofo.
Senti um certo pesar idiota por eles quererem tanto tirar.
Os gêmeos estavam tão bonitinhos.

— Vai superar isso, amiga — Juliana me provocou, dando tapinhas


nos meus ombros. — E quem sabe da próxima você não chore…
— Palhaça! — Mostrei a língua para ela, sendo infantil. — Desejo

que você chore o dobro quando for a vez de Lucca.


— Do jeito que a mia sirena é, bem capaz — Riccardo brincou.
— Riccardo! — Fez uma careta para ele.
— Estamos ferrados com elas, amigo! — Edgar falou, fingindo um

estremecer.
— Mas muito felizes por tê-las! — O italiano sussurrou e o suspiro
da minha melhor amiga foi alto e longo, com certeza o marido dela olhava-
a da mesma forma quente e apaixonada.

— Sim. Eu não poderia ser mais feliz por ser apaixonado pela minha
Malévola — Ed concordou e eu olhei para ele, ficando abobada por ver o
amor direcionado para mim.
— E ela dizendo que seria uma solteirona a vida toda! — Ju me

provocou.
— Amiga! — Fiquei indignada por ela ter contado aquilo.
— Sério? — Ed murmurou.
— Dá para acreditar?

— Tô com fome! — Spencer falou.


— Eu também. A gente já pode ir embora? — Jax pediu.
— Podemos ir para a pizzaria, que tal? — Riccardo falou.
— Você paga! — Edgar provocou.
— Tudo para não comer a porcaria que você chama de pizza. — O
marido da minha amiga fingiu um tremor, fazendo a cadeira de rodas ranger
um pouco.
Rimos.

— Vamos ao banheiro tirar a maquiagem?


— Siiim!
Voto vencido, dei a mão para os meninos.
— Vou com você, amiga — Ju disse e apontou para Lucca. —

Alguém vai querer perseguir esses bichinhos


— Esperamos aqui, amor — Edgar piscou para mim.
— Conto com isso, Ed! — brinquei.
— Temos sorte, não?! — Juliana repetiu a fala do marido enquanto
estávamos a meio caminho do banheiro e os meninos tagarelam sobre pizza

e tentava fazer Lucca responder as perguntas deles, ganhando muitas sílabas


e pequenas palavras deslocadas, o que arrancavam risadas dos gêmeos.
— Muito! — Sorri, lutando contra as emoções e as lágrimas quando
sussurrei para mim mesma: — quem diria que eu encontraria o amor em um

boca suja tatuado que virou príncipe e eu seria mãe aos dezenove anos de
dois menininhos lindos…
Epílogo

Um ano depois…

Puxei ar devagar para os meus pulmões, tentando me acalmar, mas


tentar controlar a minha respiração foi infrutífero.

Eu estava ansioso, muito ansioso.

Minhas mãos nunca suaram tanto quanto agora, meu coração nunca

esteve tão disparado.


Ainda que a decoração do jardim interiorano parecesse ter vindo de

um conto de fadas, uma mistura de flores rosas e brancas, folhas de um

verde vivaz, laços e também treliças e arcos, meus olhos estavam presos em

um único ponto: na entrada do enorme corredor feito por folhas pela qual a
minha mulher passaria. Nem mesmo olhei para os convidados que enchiam

os bancos.

A expectativa de ver Thais usando um vestido de noiva me corroía

por dentro, provocando um rebuliço no meu estômago.

Quis rir de nervoso.


Nunca imaginei que um dia eu iria querer tanto ver uma mulher de

noiva ao ponto de querer ir com ela nos ateliês dos estilistas para ajudá-la a

escolher e também participar das provas.

Não foi nenhuma surpresa eu receber um belo de um não, vindo não

só de Thais, mas também da melhor amiga dela.


Para minha irritação, que não foi pouca, o idiota do Rafael começou

a zombar de mim, rindo quando acabei confessando a minha decepção por

não poder vê-la de noiva antes do casamento.

Falando no imbecil, escutei a voz zombeteira dele:

— Será que a noiva vem mesmo?

— Vai se foder! — Grunhi, agradecendo por ser um juiz de paz que

iria fazer a cerimônia, e não um padre.


— Se fosse eu no lugar dela, fugiria — continuou, rindo da própria

piada.

— Conte a novidade, Rafael — meu melhor amigo e padrinho falou,

zombando também —, você sai correndo de todas as mulheres!


Demos uma risada.

— Isso não é verdade! — disse entre dentes e com o canto do olho,

vi que o mexicano fazia uma careta. — Eu adoro sair com elas!

— Tanto quanto nosso amigo, Edgar. Adora tanto, que não sai com

nenhuma delas… — Riccardo falou.

— Sou um homem ocupado! — Rafael bufou.


— Sei…

Rimos.

— Eu estava esperando a mulher certa — me defendi. — E você

não pode falar nada, Riccardo. Era tão solteirão quanto eu. Só se deu bem

porque eu te dei um bolo.

— Foi o meu charme que me fez me dar bem.

— Não sei qual. Você não tem nenhum — zombei, a conversa

ajudando a desfocar a minha ansiedade.

— Devo ter algum, afinal, estou casado com uma mulher linda e

sexy. — Com o canto de olho, vi Riccardo dar de ombros.


— Pensando por esse lado. — O mexicano estalou a língua.

Rimos.

— Por que demora tanto? — Grunhi, quando o silêncio caiu sobre

nós.
— Provavelmente fugiu com ajuda da amiga dela — Rafael falou,

animado, dando uma risada.

Nem eu e nem Riccardo rimos.


— Imbecil! — Praguejei ao mesmo tempo que o meu melhor amigo

grunhiu: — minha sirena não faria uma coisa dessas!

— Nunca se sabe… se eu fosse uma amiga mesmo, ajudaria. Afinal,

viver com esse daí deve ser tipo morte em vida.

— Por que convidei esse cara? E como padrinho. — Quase que

passei a mãos pelos meus cabelos, exasperado, mas queria manter o meu

penteado intacto, por mais que eu ficasse parecendo um almofadinha com

os fios jogados para três.

— Ter poucos amigos dá nisso — Rafael continuou.

— Conhecido, não amigo — o corrigi.

— Sei, sei… continue a se iludir, amigo. — O tom era falso,

irritante.

— Vou chamar Esperanza para você se continuar com essa merda!

— Como se eu tivesse medo dela… — Foi arrogante.

— Esperanza vai adorar saber disso — Riccardo brincou.

— Ela não precisa saber disso — a voz do milionário soou trêmula.

— Meninão da vovó — zombei, rindo.


— Com orgulho! — retrucou e nós três caímos na gargalhada.
Não sei quanto tempo havia se passado, mas, para o meu

nervosismo, foram séculos. No entanto, quando Juliana, de mãos dadas com

Lucca, tomou o seu lugar ao lado da outra madrinha, uma amiga de

faculdade da minha mulher, eu me senti aliviado por saber que em breve eu

veria Thais, ao passo que fiquei ainda mais nervoso.

Os minutos foram infindáveis, parecendo horas, e eu voltei a tentar

respirar devagar, para diminuir os meus batimentos cardíacos. Outra vez

falhei.

O som instrumental da música A Whole New Word, tema de

abertura do filme do Aladdin, o filme da Disney favorito da Thais, ecoou no


recinto, e eu fui tomado por várias emoções ao saber que em minutos,

finalmente, a espera de meses acabaria.

Sorri, orgulhoso, ao olhar os meus irmãos vestidos de fraque

entrarem pelo corredor, jogando pétalas pelo caminho, o preparando para

Thais passar.

Nada mais pareceu existir quando a Malévola surgiu e eu imaginei

que teria uma síncope de tanto que meu corpo tremia.

Lágrimas se formavam nos meus olhos de emoção.

Eu não conseguia acreditar que eu me casaria com aquela mulher,

aquela que eu amava com todas as minhas forças.


— Tenho medo de ficar assim — escutei a voz de Rafael quando no

momento em que Thais sorriu para mim, eu me deixei levar pelo momento.

Estava emocionado.

Ignorei-o, bem como os tapinhas que ele dava sobre meus ombros,

forçando a minha vista nublada pelas lágrimas que tentava conter, não

querendo perder nada da minha noiva.

Os cabelos estavam ao natural, repletos de florezinhas brancas o

enfeitando. A saia do vestido era volumosa, me deixando com a sensação

de que ela era uma princesa flutuando vindo em minha direção. As

manguinhas bufantes só destacavam ainda mais a pele preta, e ela ficou

ainda mais linda com os ombros e colo parcialmente à mostra pelo decote

estilo coração. Eu senti orgulho por ela não querer cobrir aquela parte que

antes a incomodava tanto.

O que me surpreendeu foi a cor do vestido. Imaginei que ela seria

tradicional e ficaria no branco liso, mas ver as inúmeras pequeninas flores

rosas bordadas no tecido diáfano foi interessante. De alguma forma, ela

ficou ainda mais linda, mais perfeita.

Porra! Eu era um homem de sorte, muita sorte!


— Nem acredito que você está chorando, Ed. — Fungou, quando

finalmente os passos curtos dela trouxeram-na até a mim.

Mudando o buquê de mão, passou a mão livre pelo meu rosto.


— Você está linda, mais linda do que eu poderia imaginar, e eu

imaginei muito. Sabe o quanto estava ansioso — sussurrei, deixando um

beijo na testa dela, escutando um suspiro.

— Não mais do que eu… — Abriu um sorriso.

— Sim! — Não tive vergonha de assumir enquanto mais uma

lágrima deslizava pela minha bochecha. — Eu sou o noivo mais impaciente

que você poderia ter.

Balançou a cabeça em negativa.


— De alguma forma, saber que você esperava por esse momento,

mesmo que a gente já estivesse praticamente casado, deixou tudo mais


especial, Ed. Obrigada — sussurrou.

— Hum…
— Agradeça se tornando a minha esposa, Malévola — disse.

Sem pensar muito, a envolvi em um meio abraço, sem me importar


com as flores, e baixei meu rosto em direção ao dela para capturar seus

lábios em um beijo.
— Esse daí é apressado — Rafael zombou, fazendo os convidados

rirem, mas não me importei.


Estava feliz demais.
Apaixonado demais.
Embriagado demais pelo sabor do beijo, pela maciez dos lábios e a
textura da língua.

No entanto, o beijo não durou pelo tempo que eu gostaria, já que ela
colocou um fim nele para que o juiz de paz pudesse iniciar a cerimônia.

As palavras ditas pelo homem eu não saberia dizer quais foram,


porque toda a minha atenção estava voltada para a mulher ao meu lado. Eu

não conseguia desgrudar os olhos dela.


Estava tão focado nela que Thais teve que pedir para que me virasse
para olhar Batata, que fez as vezes de pajem das alianças, arrancando

risadas de todos e gritinhos de Lucca quando, ao invés de seguir uma linha


reta e vir até nós, o cachorro parou para cheirar alguns dos convidados.

— Obrigado, amigão — falei, desamarrando o saquinho com as


alianças do pescoço dele para entregar ao juiz. Por mais que não fosse uma

cerimônia religiosa, nós dois fizemos questão de ter a troca de alianças e


votos.

Fiz um carinho no topo da cabeça do animal e ele latiu, que tirou


mais risadas de todos.

— Ba-ba-ta-ta! — O filhinho do meu melhor amigo deu um grito


empolgado.

Ignorando-me, meu cachorro foi até as crianças que estavam na


escada.
Balancei a cabeça em negativa e me pus de frente para a minha
noiva, que entregou o buquê para Juliana, que tinha a maquiagem borrada

de tanto chorar.
Quando nos encaramos nos olhos, as emoções voltaram a me

dominar.
Peguei a aliança da mão do juiz quando ele disse algumas palavras

que não consegui entender, sentindo os meus dedos trêmulos e, com a mão
livre, busquei a dela.

— Lembre-se de respirar, Ed — Thais disse.


— Estou tentando, amor, mas o que eu posso fazer que você me

rouba todo o fôlego? — Dei uma risada nervosa.


Não prestei atenção nas risadas, apenas no suspiro que deixou os

lábios dela.
Encarando-a nos olhos, pigarreei para tentar começar:

— Tentei preparar um discurso bastante romântico, que estivesse à


sua altura e que fosse memorável, mas, nenhum deles me pareceram bons
os suficientes. — Fiz uma pausa quando a minha voz soou arranhada, já que

eu tentava controlar a emoção. — E eu tentei várias vezes, pode acreditar.


Ela sorriu em meio ao choro.

— Todas as palavras bonitas me pareceram simples demais para


traduzir meus sentimentos, para fazer os meus votos, então não te ofereço
frases, mas prometo oferecer ações que façam jus ao amor que sinto por

você e que te façam ser sentir amada. Todos os dias da minha vida. E
prometo fazer com que o seu amor por mim, nunca morra.

— Nunca irá, Ed — sussurrou com a voz abafada.


— Então aceita com essa aliança ser a minha esposa? Aceita esse

cara explosivo que é louco pela princesa Malévola dele?


— Sim, amor — respondeu alto, fazendo Batata latir e os meninos
gritarem de animação.

Olhei para eles e minha mulher também.


Senti meu amor por Thais ficarem ainda mais fortes e, lentamente,

deslizei o aro pelo dedo anelar, deixando um beijo na falange em sinal de


respeito e devoção.

Quando Thais pegou a aliança, eu não consegui segurar o pranto.


— Eu que sempre cobrei palavras românticas, descobri que sou

péssima com elas. Espero que não fique tão decepcionado pela minha falta
de romantismo — o discurso foi quebrado por risadas —, mas se você me

aceitar como esposa, prometo minha fidelidade, o meu companheirismo.


Prometo o meu amor eterno e que eu tentarei te fazer sentir amado pela

minha vida.
— Não há nada que eu queira mais — falei.
Assim que a minha mulher colocou a aliança no meu dedo anelar,

senti que eu desabava com as várias emoções que sentia e fui amparado
pelos braços dela que me envolveram em um abraço.

— Como não existe nenhum impedimento legal que impeça essa


união, eu os declaro marido e mulher!

Sob uma salva de palmas, me sentindo eufórico, puxei o corpo que


sempre me excitava em direção ao meu e colei as nossas bocas em um beijo

que nada tinha de recatado.


Meus lábios deslizavam pelos dela com voracidade, a língua exigia

toda a paixão que havia nela.


Os suspiros baixinhos de prazer da minha mulher, me inflamando

enquanto meus dedos automaticamente se infiltraram nos cabelos dela,


sentindo a textura macia dos pequenos cachinhos.

Eu me banqueteei de Thais e, quando senti que perdia meu fôlego,


apoiei minha mão na lombar dela e, mesmo encontrando alguma
dificuldade pelo volume do vestido, a tombei para trás, como nos filmes,

ganhando um novo acesso à boca gostosa.


— Eu amo você, Thais! — sussurrei, colando a minha testa na dela

ao erguê-la.
— Eu também amo você, Ed. — Abriu um sorriso lindo que me deu

vontade de beijá-la outra vez.


— Vamos assinar a papelada, amor? — falei, a ansiedade voltando a
borbulhar no meu interior pelo que estava prestes a acontecer.

— Okay.
Nós viramos para o juiz e eu fiz um gesto discreto para que os
gêmeos pegassem os buquês deles.

— Primeiro as damas — minha voz soou estranha aos meus


próprios ouvidos.

— Que cavalheiro, Ed… — Sorriu para mim.


— Se eu fosse você, lia tudo direitinho. Ainda dá tempo de desistir.

— Rafael disse em um tom baixo e zombeteiro.


Sufoquei um palavrão e eu acabei dizendo:

— Sim, melhor ler.


Thais franziu o cenho para mim, confusa.

— Okay.
Fiz outro gesto para os meus irmãos se aproximarem enquanto a

minha esposa estava debruçada sobre a mesa para ler o documento.


Batata os seguiu, parando próximo deles, e eu apoiei minhas mãos

nos ombros dos gêmeos capturando o momento exato em que a serenidade


do semblante dela se tornasse um mix de várias emoções. Meu coração

estava a mil.
— Edgar… O que é isso? — sussurrou com a voz trêmula ao ficar
de pé e se virar na nossa direção, os olhos repletos de lágrimas. —

Meninos… — falou ao perceber os gêmeos e as flores que eles seguravam.


— Seja a nossa mamãe! — falaram em uníssono como havíamos

ensaiado várias vezes. Batata, oportuno, latiu.


— Deus! — Levou a mão ao rosto e começou a chorar alto.

— Por que tá chorando, Thay? — Spencer perguntou, preocupado.


— Não quer ser mais nossa mamãe? — Jax insistiu com os olhos

rasos d’água.
— Eu já sou a mãe de vocês, carinhas — respondeu com a voz

embargada antes de se abaixar e esticar os braços. — Me deem um abraço.


— Tá bom, mamãe — disseram antes de cruzar a distância até ela.

— A gente pode te chamar assim? — Jax questionou.


— Por todos os dias da minha vida, meus filhos.
Sorri ao ouvi-la chamar os meninos de filhos, e tive outra vez que
fazer um puto esforço para me controlar e não me entregar a emoção.

Ainda que eles vez ou outra falassem para as pessoas que Thais era
a mãe deles, os gêmeos haviam me perguntado se podiam ficar chamando
Thais assim sempre, e confesso que minha única resposta foi que eles
tinham que perguntar para ela, algo que eles nunca fizeram, então tive essa

ideia, usando algo que ela tinha me falado de brincadeira.


— Eu amo vocês, carinhas. — Deixou um beijo na bochecha de
cada um, ainda chorosa. — Muitão!

— Eeee! — Deram gritinhos e eu escutei Lucca gritando também.


Thais continuou abraçada a eles por vários segundos, até que ela se
ergueu e se jogou nos meus braços, o que arrancou mais uma salva de
palmas.
— Sabe o quanto ser a mãe socioafetiva dos gêmeos, de forma legal,

é algo importante para mim…


— Também é importante para mim, Malévola.
— Eu nunca terei palavras para agradecer esse presente…
— Eu que tenho que agradecer por você ser um presente na vida

deles, amor.
Ela sorriu docemente.
— Só não vai achando que depois disso vai ser fácil você me pedir o
divórcio — brinquei.

— Idiota! — Fez com que iria me empurrar.


— O seu único idiota. Sempre! — provoquei-a, menosprezando o
Jake que ela tanto amava.
Sem esperar que ela retrucasse, meus lábios encontraram os seus

outra vez, selando o início dos nossos felizes para sempre…


Vocês devem estar se perguntando: cadê os bebês não só do Edgar e
da Thais, mas também do Riccardo e da Ju? Eu estava esperando tanto o
italiano e a sua sirena terem mais um filhinho! Que sem graça eles não
terem mais bebês! Que chato não ter o passar dos anos desses dois casais!

Muita calma nessa hora!


A Esperanza tem uma fofoca para te contar: a história dos quatro

não acabou!
É isso mesmo que vocês leram!

Teremos uma linda novela que permitirá que vocês matem as


saudades desses dois casais e continuem a torcer por eles.

Por que uma novela, Aline?


Eu poderia dar várias justificativas para isso, mas confesso que a

principal delas é por desejar algo a mais para a Juliana e para a Thais. Que

elas são excelentes mães, todas nós sabemos, mas elas são mulheres cheios

de sonhos a serem realizados e, não sei exatamente o porquê, mas para mim

era importante realizá-los.


Espero que não fiquem chateadas comigo. Em breve, a novela estará

disponível na Amazon também.

Enquanto esperam, que tal conferir a capa babadeira de Amigas e

Grávidas dos CEOs?


Leia também:
O BEBÊ DESCONHECIDO DO BILIONÁRIO
LINK: https://a.co/d/5P8IXOp

Sinopse: Quando o melhor amigo do multi-investidor Riccardo

Mazoni o deixou plantado esperando por ele em uma boate, o bilionário

italiano não imaginava que acabaria tendo uma madrugada quente com uma

morena sedutora, e muito menos que, na manhã seguinte ao encontro teria

que sair correndo para uma reunião de emergência, deixando apenas seu

número de telefone com ela.

Encantado, ele esperou uma ligação, mas que nunca veio. Sentindo-se

rejeitado, o empresário estava determinado a seguir em frente até que um

acidente quase tirou sua vida, e o deixou paraplégico.

O que o bilionário não esperava era que, quase dois anos depois, ele

se veria frente a frente com a mulher que nunca esqueceu. Arrogante, estava

determinado a descobrir o porquê de ter sido rejeitado por Juliana, mas não

esperava que ela teria uma doce notícia para lhe contar...
Agradecimentos

Eu começo agradecendo, como sempre, a você, mãe, e desejando


que você pudesse estar aqui, celebrando essa história e se apaixonando por

ela. É impossível não imaginar você a adorando, principalmente se

encantando com os gêmeos e o amor do Edgar por eles, já que o amor do


protagonista pelos irmãos pequenos nada mais é do que um reflexo do seu
amor incondicional pelas suas gêmeas, um reflexo pálido se comparado ao

seu amor por nós. Novamente, tentei te eternizar, só que, dessa vez, sinto

que fiz com mais força, enfatizando os momentos de carinho, as partidas de


videogame, as correções de nosso atos, as memórias boas. Eu te amo,

Monica, e é esse amor que faz com que todos os dias as suas gêmeas tentem
seguir em frente.

Amanda.
Um dia desses, você me disse algo engraçado, que a minha tentativa

de te animar não era tão fofa quanto a do seu namorado, já que eu sou o seu

pilar. Você tem razão. Não é fofo. É forte, é natural. É puro, é recíproco.

Você conhece todas as minhas dores, todas as minhas frustrações. Sabe que
nem sempre é fácil para mim escrever, trabalhar, mas me apoia todos os
dias para que eu continue a dar vida as minhas histórias. Obrigada por ser a

minha coluna que me mantém de pé.

Fadinha Ana e Duendezinho Pedro. Agradeço todos os dias por

vocês terem entrado na minha vida e por permanecerem comigo nessa

jornada. O amor que tenho por vocês é enorme e ultrapassa qualquer


barreira física. Ele está presente em cada momento da minha vida. Ana,

você sabe que eu não curto muito a palavra gratidão, mas sou sempre grata

por você tirar o seu tempo para dedicar-se a tornar minhas publicações

melhores e trabalhar com tanto carinho.

As minhas leitoras do grupo de WhatsApp, que não só torcem por


mim e prestigiam meu trabalho, mas que, mesmo em meio às lutas diárias,

as ausências que a vida as vezes impõem, se tornaram amigas de verdade,

meu muito obrigada. Vocês me inspiram, me tornam uma pessoa melhor.

As autoras dos Taradas por Capas, um muito obrigada. Vocês leem

meus surtos, me ajudam a pensar como prosseguir numa história e a

construir cada enredo. Um vício nos uniu e tomara que nunca nos

separaremos.
Por fim, o meu muito obrigada a você, leitor, que me acompanha,

que surta no meu privado, que sempre torce por mim e se encanta com as

minhas palavras, ou que chegou até o fim da minha história pela primeira

vez. É superclichê, mas essa autora não existiria sem você!


Beijos,

[1] Um mundo totalmente novo


Um lugar deslumbrante que eu nunca conheci
Mas quando estou aqui em cima
É muito claro
Que agora estou em mundo totalmente novo com você
(Agora, estou em mundo totalmente novo com você)

[2]
Desgraçado.

Você também pode gostar