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Fui ao coquetel com Cindy, mas, para o meu azar, Trevor não
apareceu. Fiquei um pouco frustrado por não o ter encontrado.
Contudo, no intuito de me ajudar a conseguir falar com o dono da
Rock Star, Cindy me convidou para acompanhá-la nos próximos
eventos. Eu não poderia perder aquela oportunidade, ainda mais
depois de saber que a banda não tinha dinheiro na conta.
Embora o evento tivesse sido chato pra caralho, pelo menos,
conheci alguns artistas e produtores musicais influentes. Networking
nunca era demais. Além disso, Cindy foi uma excelente companhia.
Geralmente, eu costumava levar minhas acompanhantes para
cama, mas Cindy era diferente. Ela estava sendo uma boa amiga e
não pareceu interessada em nada além de me ajudar. Estávamos
muito confortáveis só na amizade e eu pretendia manter a nossa
relação exatamente assim.
Um pouco depois da meia-noite, saímos do evento e Joseph
nos deixou na casa de Cindy.
— Valeu por tudo, Cindy. — Abracei minha nova amiga.
— Pena que o sr. Wood não estava lá. — Ela se
desvencilhou para me encarar.
— Tudo bem. Pelo menos, tentamos. — Dei de ombros e ela
assentiu.
— Quer entrar? — convidou, se abraçando devido ao ar
gelado de dezembro. Ela estava de vestido longo, mas tinha os
braços desnudos.
— Valeu, Cindy. Mas vou embora.
— Vai deixar suas roupas aqui?
— Nem esquente! Pego outra hora. Tenho uma coleção de
roupas iguais a essas. — Ri ao me lembrar que o meu armário era
composto por cinquenta tons de preto.
— Sem problemas. Ficarão guardadas no quarto de
hóspedes.
— Combinado! Te vejo no show. Até amanhã! — Depositei
um beijo em seu rosto. — Agora, acho melhor você entrar que aqui
está frio.
Ela anuiu, batendo o queixo, e deu meia-volta. Eu me afastei,
subi na moto, tirei a gravata borboleta e guardei no bolso do paletó.
Desabotoei o botão asfixiante do pescoço e coloquei o capacete.
Era para sair da casa de Cindy e ir direto para a minha, mas eu
estava muito agitado para dormir. Então segui a Pacific Coast
Highway e rodei por muitos quilômetros até chegar a um ponto alto
da estrada.
Parei a moto no acostamento e deixei o capacete no guidão.
Caminhei pelo gramado e me recostei no desnível do terreno
acidentado. Inspirei fundo, sentindo a brisa tocar minha pele e o ar
fresco preencher meus pulmões, curtindo o som estrondoso das
ondas quebrando nos rochedos da encosta. Acendi um cigarro para
me fazer companhia, enquanto pensava em tudo o que tinha
acontecido naquele dia.
Uma coisa era certa: eu ainda não contaria para a banda
sobre o problema da nossa conta bancária. Queria esperar os
relatórios de Will antes de levantar qualquer suspeita. Talvez o
nosso dinheiro só estivesse aplicado mesmo.
Não sei quanto tempo depois adormeci, mas ao acordar, fui
presenteado com um nascer do sol incrivelmente lindo. Depois de
assistir àquele espetáculo, subi na moto e voltei para casa. À tarde,
teríamos que fazer a passagem de som e à noite, faríamos o último
show do ano.
Onde será que Luigi tinha se enfiado?
Eu me perguntava enquanto fechava a porta do quarto dele,
constatando que ele tinha passado a noite fora de casa. Claro que
Luigi era livre para fazer o que bem quisesse, mas éramos melhores
amigos e ele nunca mentiu ou omitiu nada de mim. Mesmo quando
ficava com uma garota, me contava sem rodeios. No entanto, dessa
vez, ele me deixou muito preocupada. Simplesmente ignorou as
minhas mensagens e a única que respondeu foi bem evasivo
dizendo que estava com uma amiga.
Ele nunca chamou uma “fiquete” de amiga. Nunca!
Entrei na cozinha e encontrei Nick passando café, e Fly
arrumando a mesa.
— Bom dia! — cumprimentei, enquanto pegava um copo no
armário e me servia de água. — Luigi avisou algum de vocês que
passaria a noite fora?
Os meninos me cumprimentaram e Nick respondeu:
— Pra mim, ele não falou nada.
— Nem pra mim — Fly disse, segurando uma caneca e se
recostando no móvel próximo à cafeteira.
Bufei, angustiada com o “sumiço” do meu amigo e bebi um
gole de água.
— Ontem à noite, tentei ligar pra ele, mas caiu direto na caixa
postal como se o celular estivesse desligado. — Larguei o copo
sobre a mesa e me recostei no armário nos fundos da cozinha.
— Não pira, Kit. Hoje é o nosso último show do ano. Daqui a
pouco Luigi vai…
— Eu vou o quê? — Luigi entrou na cozinha vestindo calça
social, camisa branca e paletó. Vê-lo assim quase fez o meu queixo
despencar.
— Caralho, véi! — Nick abriu um sorriso. — Que porra de
roupa é essa? — questionou com diversão.
Fly o olhava tão surpreso quanto eu. Mas Luigi apenas se
aproximou da mesa e apoiou as mãos no espaldar da cadeira.
— Fui a uma festinha com ninguém menos do que a popstar
Cindy Harper. Tá bom pra vocês? — falou com presunção.
Meu estômago embrulhou no mesmo instante, mas fiquei
sem entender o motivo daquilo ter me incomodado.
— Cindy Harper? Caralho! — Fly conseguiu verbalizar,
depois de ter ficado estático, provavelmente assimilando a notícia
que eu mesma custava a acreditar.
— Quer dizer que você está pegando aquela boneca? — Nick
apanhou uma caneca de cima da mesa, ainda sorrindo, e se
aproximou de Luigi. — Você é a porra de um filho da puta sortudo
mesmo! — Entregou a caneca ao amigo, exibindo um olhar
aprovador.
— Valeu! — Luigi abriu um largo sorriso e deu um tapinha
amistoso no braço de Nick. — Mas ainda estamos nos conhecendo.
— Caminhou em direção à cafeteira e se serviu de café, em
seguida, também encheu a caneca de Fly que não tinha se movido
do lugar.
— Você não pensou em nos avisar que passaria a noite fora?
Passou o dia todo na rua. Eu estava preocupada! — Foi a minha
vez de me manifestar.
— Fiquei sem bateria, docinho. — Ele veio em minha direção
com a caneca fumegante e a ofereceu para que eu pegasse. —
Desculpa! — Retorceu os lábios do jeito que sempre fazia quando
pisava na bola.
Balancei a cabeça em negação e soltei um pesado suspiro
antes de pegar o café da mão dele. A minha preocupação tinha se
misturado com o sentimento de alívio e uma pontinha de ciúmes
incômoda que não tinha razão nenhuma para eu sentir.
— Você passou o dia inteiro com a popstar? — inquiri, mas
me odiei no instante seguinte por ter feito aquela pergunta que
soava como a cobrança de uma namorada ciumenta.
— Basicamente, sim. Ela é gente boa pra caralho. Acho que
você vai adorar conhecê-la. — Luigi sorriu e se virou para encarar
nossos amigos. — Inclusive, Fly, conheci a prima dela, Hanna. A
garota é muito fã da banda e é louquinha por você.
— Ah, moleque! — Nick provocou Fly com um empurrãozinho
no ombro que quase o fez cuspir o café que estava tomando.
— Caraca! Tenho uma fã! — Fly falou com exagero e os
caras gargalharam.
— E tem mais — Luigi continuou. — Hoje, Cindy e Hanna
irão ao show como nossas convidadas especiais, dei passes para o
camarim também.
— Não creio! — Fly continuava empolgado com o assunto.
Os meninos se sentaram à mesa e continuaram a conversa.
Eu não estava acreditando que receberíamos a tal popstar Cindy e a
prima no camarim depois da nossa apresentação. Luigi devia ter se
encantado mesmo com a garota.
Ele falava superanimado sobre cookies, Hanna, cafeteria e
sair de novo com Cindy Harper. Em outra ocasião, eu me sentaria
com eles e me divertiria com o assunto. Mas depois que Luigi me
mostrou aquela música que tinha escrito na madrugada passada,
fiquei com os sentimentos à flor da pele. E agora, o encontro dele
com a popstar tinha me deixado enciumada.
Inspirei fundo e sorvi um gole de café. Sem vontade de
continuar ali, deixei a caneca no balcão atrás de mim e marchei para
o meu quarto. Talvez eu devesse ligar para Derek, o carinha que
fiquei na festa que Will deu naquela semana, e convidá-lo para me
encontrar nos bastidores do show, após a apresentação. Uma noite
de sexo certamente me ajudaria a enterrar de novo aquele
sentimento que estava oprimindo o meu peito. Afinal, Luigi e eu
éramos apenas amigos.
Deitei-me na cama e peguei o celular para procurar o contato
de Derek, mas uma batida na porta desviou a minha atenção.
— Oi, Kit. Você está bem? — Luigi entrou no quarto, seu
olhar exibia preocupação. Ele tinha tirado o paletó e a camisa
estava para fora da calça.
— Tá tudo bem. — Forcei um sorriso e coloquei o celular na
mesinha de cabeceira.
— Tem certeza? — Ele se aproximou e se deitou ao meu lado
na cama, apoiando o cotovelo no colchão e descansando a cabeça
na mão.
— Total certeza. — Virei o rosto para encará-lo.
— Você está brava — afirmou e eu revirei os olhos.
— Não, Luigi. Não estou brava. Eu fiquei preocupada, o que
é bem diferente.
— Já disse que acabou a bateria do meu celular…
— E eu já entendi — interrompi a desculpa que ele já tinha
dado na cozinha. Não queria mais falar sobre o assunto.
— Então… — começou a dizer. — Ontem de manhã fui até o
escritório do sr. Wood.
— Will conseguiu agendar uma reunião com ele? — Franzi o
cenho, incrédula.
— Na verdade, tentei a sorte. Não avisei a Will que iria.
Mas… — Luigi se virou, deitando-se de costas no colchão, então
colocou as mãos sobre a barriga e fitou o teto. — Trevor não me
recebeu.
— Mas Will já tinha avisado que o sr. Wood só atendia com
horário marcado.
— Sim, mas não custava tentar. — Virou o rosto para me
olhar outra vez. — E foi lá que conheci Cindy. Ela se propôs a me
ajudar.
— Ajudar como? — Ergui uma sobrancelha, desconfiada. —
A te dar prazer enquanto espera pela reunião?
— Quê? — Ele se virou de lado outra vez, um sorriso de
orelha a orelha. — Você acha que Cindy e eu transamos?
— Isso não é da minha conta. — Cruzei os braços e desviei o
olhar para o outro lado.
— Não é mesmo — respondeu e voltei a encará-lo. — Mas
nunca escondi de você as garotas que levei para minha cama, não
teria motivos para fazer isso agora.
— Tá, Luigi. Então se você não comeu a Cindy, qual é o
lance entre vocês? Em que ela vai te ajudar? — Agitei as mãos no
ar, esperando uma explicação lógica para ele ter passado a noite
fora.
— Na verdade, ela já está me ajudando. Ontem ela me
convidou para ir a um evento no qual eu poderia conhecer o sr.
Wood e ter uma conversa informal. Mas infelizmente, ele não
apareceu.
— Será que ela já não sabia que Trevor não estaria lá e não
inventou essa papagaiada só para sair com você?
— A Cindy Harper? — Ele sentou-se e ficou de frente para
mim. — Você só pode estar de brincadeira, né?! — semicerrou os
olhos, duvidando da minha pergunta.
— Ué? — Dei de ombros. — Você é um músico bonito e
talentoso. Tá cheio de garota louca pra “dar” pra vocalistas gostosos
como você.
A minha resposta o fez abrir um sorriso preguiçoso e eu
revirei os olhos outra vez.
— Nem se ache! — Já fui logo dizendo e o sorriso dele virou
uma gargalhada.
— Vou tentar. Mas é difícil não me achar, nem que seja um
pouquinho… — Gesticulou com os dedos. — Depois de escutar a
minha melhor amiga dizer: “você é um vocalista gostoso”.
— Beleza. — Estiquei-me para pegar o celular outra vez,
ignorando seu jeito convencido. — Agora você deveria tirar essa
roupa que te faz parecer seus irmãos e descansar um pouco. Mais
tarde temos que ir para o show. O último do ano, antes das férias.
A última frase saiu na forma de alívio. Eu estava esgotada,
precisava de uns diazinhos para descansar, voltar a fazer tatuagens,
nem que fosse em peles artificiais. Derreter o cérebro em frente à
televisão assistindo Friends, minha série de conforto favorita desde
que a professora do cursinho de inglês passou alguns episódios
para a turma treinar o idioma. Ou fazer qualquer coisa bem banal
que não envolvesse música ou viagem. Inclusive, precisava de um
caderno de rabisco novo, ou começaria a vandalizar as paredes só
para poder desenhar.
— Tô indo. — Ele desceu da cama e começou a desabotoar
a camisa da maneira mais despretensiosa possível. — Vou tomar
banho. Até depois, docinho. — Abriu a porta e saiu.
Peguei o travesseiro, enfiei a cabeça e dei um grito. Tudo
estava tão confuso e apenas… demais. Então me sentei de uma vez
na cama, respirei fundo e, decidida a me presentear com uma noite
de prazer após o show, peguei o celular na mesinha de cabeceira e
mandei uma mensagem para Derek. O cara era lindo pra cacete e,
para a ocasião, era o que bastava. Ainda não conhecia muito sobre
ele, já que nem conversamos direito, até porque, entre quatro
paredes, ação é tudo, e o cara mandava muito bem no quesito me
dar orgasmos múltiplos. Era disso que eu precisava: momentos sem
pensar em absolutamente nada.
Precisando de um banho, me levantei da cama e tranquei a
porta do quarto. Mas antes que eu entrasse no banheiro, meu
celular começou a tocar. Peguei-o de cima da cama e fiquei
surpresa ao ver o nome de Will no visor.
O que será que ele queria?
Atendi o telefone, apreensiva.
— Bom dia, minha Barbie Metaleira! — cumprimentou com
sua usual animação e eu revirei os olhos mentalmente. Aquele
apelido era ridículo.
— Bom dia, Will! Aconteceu alguma coisa? Você nunca me
liga.
— Não fale assim que me sinto um péssimo agente.
— Não se sinta — retruquei. — Luigi é o representante da
banda. Confiamos muito na escolha dele e ele confia em você.
— Confiança é tudo, minha cara. E acho que sem querer
você tocou no assunto que eu queria falar.
— Não entendi. — Franzi o cenho, mesmo que ele não
pudesse ver.
— Hoje cedo, olhando as notícias, vi que Luigi foi a uma festa
com Cindy Harper. Sabe se eles estão tendo um caso?
— Não que eu saiba.
— Menos mal! — falou com tom de alívio.
— Mas por que o interesse? E o que isso tem a ver com
confiança? — inquiri, curiosa.
— Gostaria que soubesse que já fui agente de Cindy Harper,
mas deixei de trabalhar com ela porque é uma pessoa egocêntrica e
mentirosa. Para você ter uma ideia, o ex-namorado dela estava
envolvido com coisas erradas. Todo mundo que se aproxima dela se
ferra, essa mulher não presta. Acho que não seria bom para
ninguém da banda se envolver com ela.
— Desculpa, Will, mas preciso perguntar: que coisas erradas
foram essas?
— Não posso abrir essas informações por uma questão de
sigilo profissional. Mas posso advertir que essa garota não é boa
companhia para o seu amigo e nem para a reputação da banda.
— Obrigada pelo conselho, mas sem saber o que ela ou o ex-
namorado fizeram de errado fica muito difícil de entender a sua
preocupação.
— Tudo bem, só liguei mesmo porque achei que você deveria
saber disso e ficar de olho no seu amigo caso ele comece a agir de
maneira estranha. Por favor, não fale para Luigi que te liguei.
Preciso conversar com ele antes.
— Tudo bem.
— Obrigado, Kit. Bom show para vocês. E se não nos
falarmos nos próximos dias, feliz Ano Novo!
— Pra você também! — agradeci e encerrei a ligação com
uma pulga atrás da orelha.
Will pareceu mais querer especular do que outra coisa. Luigi
gostava de Cindy, mas eu não podia dar a minha opinião sem antes
conhecê-la. Meu amigo não costumava se aproximar de gente
errada, mas eu investigaria e se houvesse algo, daria um jeito.
Afinal, faria qualquer coisa para protegê-lo.
Puta que pariu! Que merda era aquela? O que será que Luigi
tinha aprontado? Será que era algum traficante querendo receber?
Senti o meu coração acelerar e o sangue correr alucinado em
minhas veias. Minhas pernas fraquejaram e meus olhos se
encheram de lágrimas. Apertei o celular com força, me sentindo
impotente.
Luigi era tudo para mim. Era meu melhor amigo, meu irmão
de alma. Daria a vida por ele. Jamais colocaria a sua vida em risco
e, naquele instante, deixei o bom senso de lado e respondi: “Estou
indo”.
Voltei para o meu quarto completamente aturdida, troquei de
roupa muito rápido e em menos de dois minutos estava pronta para
sair.
O engraçado era, sempre que assistia a algum filme e via a
protagonista receber uma mensagem ameaçadora, eu pensava: ela
é muito idiota se for sozinha. Mas aqui estou eu, fazendo a mesma
coisa.
— Volto daqui a pouco! — Passei por Fly e Nick,
esparramados no sofá, aproveitando o dia de folga.
— Beleza! — Nick respondeu sem tirar os olhos da televisão,
uma reprise de algum jogo da NBA passando na tela.
Devido aos poucos dias livres em nosso calendário, nem
pensamos em comprar carros. Luigi tinha comprado uma moto e o
resto de nós compartilhava um carro que raramente usávamos. Na
maior parte do tempo, viajávamos de um show ao outro dentro do
ônibus da banda.
Entrei na Dodge Ram e coloquei o endereço no GPS. Tempo
estimado de viagem: vinte e cinco minutos. O estacionamento ficava
no subúrbio de Los Angeles. Enquanto dirigia a caminhonete, eu me
perguntava se Luigi devia mesmo a algum traficante ou se a treta
era outra.
Por que ele não falou comigo?
Se fosse uma questão de grana, eu poderia ter descolado
alguma coisa, tinha dinheiro aplicado no Brasil. Além disso, meus
pais tinham boas condições financeiras. Jamais se negariam a me
enviar alguns dólares se eu precisasse. Luigi também tinha muito
dinheiro no Brasil, mas eu sabia que ele jamais recorreria àquele
recurso. Não ousava tocar em um real que fosse proveniente da
construtora da família. O bicho era turrão.
Será que ele estava esperando o dinheiro do contrato sair
para pagar o que devia?
Um monte de perguntas rodopiava em minha cabeça. Não
entendia o porquê de ele ter escondido de mim o que quer que
fosse. Sempre contávamos tudo um para o outro. Nossa amizade
era baseada em honestidade.
Entrei na rua do estacionamento, o lugar era deprimente.
Havia barracas ao longo da rua, pessoas alteradas por drogas e
escoradas por todos os cantos. Provável que chapados de crack ou
heroína. Quanto mais eu olhava para aqueles zumbis, mais medo
sentia.
Entrei no estacionamento subterrâneo e os faróis se
acenderam de imediato, iluminando a escuridão. O meu coração
acelerou um pouco mais, o medo era latente. Adentrei o ambiente
úmido e vazio, vagando os olhos pelo local em busca do meu
amigo.
Puta. Que. Pariu!
Brequei o carro me maneira brusca quando vi Luigi estirado
no chão. Saltei da caminhonete, não me importando de tê-la largado
de qualquer jeito. Sentindo o estômago revirar, corri na direção dele
e me ajoelhei ao seu lado.
— Luigi! Fala comigo! — implorei, a voz presa na garganta.
Levantei a cabeça de Luigi e a pousei em minhas coxas para
deixá-lo mais confortável. Seu rosto estava todo machucado. Tinha
um olho roxo, a boca cortada, o supercílio aberto e muito sangue.
— Luigi! Por favor, fala comigo! — Corri a mão por seus
cabelos, as lágrimas escorriam aos montes. Coloquei dois dedos em
seu pescoço, tentando sentir o pulso. — Luigi… — balbuciei,
aproximando a minha testa da dele.
Ele precisava acordar. Precisávamos sair dali.
— Luigi, eu te amo, por favor… não posso te perder… —
declarei, sentindo o meu coração apertar de tal maneira que estava
ficando difícil de respirar. Minhas lágrimas pareciam um dilúvio
despencado em cima do rosto dele.
Luigi moveu a cabeça e me afastei para observar se ele
estava mesmo recobrando a consciência. Ele retorceu o rosto,
visivelmente com dor.
— Ei, você está bem? Consegue me ouvir?
Ele abriu os olhos com dificuldade e tentou se mover.
Colocou a mão no abdômen, se virou de lado e cuspiu um pouco de
sangue. Vê-lo naquele estado me deixou muito angustiada. Ele
precisava de cuidados médicos com urgência.
— Você está bem? — perguntou ele, ajoelhando-se para se
levantar.
— Estou, mas você não. — Coloquei o braço dele sobre o
meu ombro e o ajudei como pude. Ele era grande, mas eu não era
pequena e muito menos fraca. Ele se apoiou em mim e ficamos de
pé. — Quem fez isso com você? E por quê? — disparei, enfurecida.
— Não sei. — Caminhou ao meu lado com dificuldade até a
caminhonete e o ajudei a deitar no banco de trás do carro. — Mas
como você me encontrou aqui?
— É uma história que pode esperar. Agora precisamos sair
daqui e ir para um hospital! — Fechei a porta e entrei no carro
sentindo muito medo.
Nunca dirigi de forma imprudente em todo o meu tempo como
motorista. Era a primeira vez que eu acelerava com tudo. Pela surra,
ele poderia ter tido desde uma concussão mais leve até mesmo um
traumatismo craniano. Uma hemorragia interna poderia ser fatal e
perder Luigi estava fora de questão. Eu o amava demais.
Duas horas depois, após Luigi ter passado por uma triagem
minuciosa, o médico o liberou. Sorte que ele não precisou levar
pontos, e tirando uma leve concussão, não teve nada mais grave,
mas precisaria de muita compressa de gelo para desinchar o rosto.
Antes de ir para casa, passei na farmácia e providenciei
curativos e remédios. Já era quase quatro da tarde quando entrei
em casa com Luigi apoiado em mim. Nick e Fly não estavam mais
na sala e a julgar pelo silêncio, deviam ter saído. Nick devia ter ido
treinar na academia que tinha ali perto, ele vinha treinando forte nos
últimos dias. E Fly, com certeza, deveria ter ido visitar Hanna na
cafeteria. Se eu bem o conhecia, ele já estava com os quatro pneus
arriados por ela.
Luigi subiu as escadas com dificuldade, entramos em seu
quarto e ele sentou-se na cama bagunçada. Puxei os lençóis e o
edredom que estavam embolados e ajeitei o travesseiro para que
ele se deitasse.
— Está sentindo muita dor? — indaguei, enquanto arrumava
a cama.
— Parece que um trator passou por cima de mim, mas vai
passar… — A voz falhou e ele gemeu quando fez menção de se
deitar.
— Espere! Me deixe tirar os seus sapatos. — Intervi antes
que ele se acomodasse. Agachei-me e soltei os cadarços de suas
botas. — Pronto! Agora pode se deitar. — Fiquei de pé e o ajudei,
me sentindo impotente ao ouvir outro gemido enquanto ele se
recostava.
— Valeu, Kit! — Esboçou um sorriso pequeno. O lábio
cortado não permitiu mais do que isso. — Agora me conta, como
você me encontrou naquele lugar?
Sentei-me ao lado dele e segurei a sua mão.
— Já vamos chegar a essa parte. Mas Luigi, preciso que seja
muito sincero comigo: você está com dívida de droga? — Comecei a
interrogar, mesmo não conseguindo aceitar aquela possibilidade.
Não fazia o perfil de Luigi, ele sempre foi sensato demais, mas nos
últimos dias, ele estava tão mudado que já não duvidava de nada.
— Quê? Dívida? Tá doida? De onde você tirou essa ideia? —
Seu tom era de indignação.
— Você anda muito distante, ultimamente. Entre passar as
noites fora e voltar pra casa chapado ou ter levado um soco no
bar… — Balancei a cabeça em negação, frustrada em verbalizar as
merdas que ele vinha fazendo. — Além disso, encontrei uns
bagulhos na sua mesinha de cabeceira.
— Nada a ver. — Ele se ajeitou na cama com dificuldade. —
Já te contei a história do bar. E quanto às drogas, já te disse que eu
as ganhei de Amber na última festa que teve aqui em casa. Ela me
deu aqueles baseados que fumei naquela vez que você até ralhou
comigo, mas a coca e os comprimidos, eu não pretendia usar. Só
deixei aí e me esqueci de jogar fora.
— Se você não está envolvido com drogas, por que diabos
recebi isso? — Tirei o celular do bolso e mostrei a mensagem que
tinha me apavorado naquela manhã e me levado ao estacionamento
onde o tinha encontrado desacordado.
Luigi pegou o celular da minha mão e vi seu pomo de adão
se mover como se tivesse engolido uma bola de pingue-pongue ao
ler a ameaça. Como se as peças de como fui parar naquele
estacionamento imundo estivessem se encaixando em sua mente.
— Filhos da puta! — rosnou.
— Concordo… Mas o que isso quer dizer?
— Não faço ideia, Kit.
— Será que Cindy não tem alguma coisa a ver com isso.
— Pelo amor de Deus. Não fode, Kit! Cindy não tem nada a
ver com essa merda. Que perseguição é essa com a menina? Você
nunca foi disso! — Balançou a cabeça, resoluto.
— Porque eu nunca precisei abrir seus olhos para merda
nenhuma. Mas depois que você conheceu essa garota, parece que
enfiou o juízo em outro lugar! Não sei como você pode ter tanta
confiança nela. — Ergui as sobrancelhas, duvidando da inocência
de Cindy. — Até Will me procurou há alguns dias e me contou que
foi o agente dela, disse que deixou de agenciá-la porque ela era
egocêntrica e mentirosa. E parece que o ex-namorado dela estava
envolvido com coisas erradas, e deixou a entender que ela também.
Se essa surra não foi por dívida de droga, a minha teoria é que esse
ex deve estar mandando um recado. E para o seu bem, acho bom
você escutar.
Luigi ficou em silêncio. O olhar fixo na janela era sinal de que
ele estava pensando.
— Quando Will te ligou? — Fitou o meu rosto outra vez.
— No dia seguinte daquela primeira festa que você foi com
Cindy.
Luigi anuiu com a cabeça.
— Ele também me ligou, mas não mencionou nada sobre
isso. Disse apenas que ela era perigosa e que estava envolvida com
gente barra pesada que poderia foder com a minha vida. Mas achei
que era só implicância de Will, ela nunca me mostrou sinais de nada
disso.
— As aparências enganam. Para mim, o que aconteceu com
você só aumenta a certeza de que o ex dela não deve ser flor que
se cheire.
— Pode até ser… — Inspirou fundo, olhando para a janela
outra vez. — Ontem, Cindy me disse que conhecia Will, mas não
quis falar sobre o assunto…
— Tá vendo! Will deve estar certo! Até que enfim, você tá
retomando o juízo! — exclamei, meus olhos arregalando.
— Não, Kit. — Meneou a cabeção em negação. — Tem
alguma coisa errada nessa história. Tenho certeza de que ela está
me escondendo alguma coisa e Will também. — Luigi disse, o olhar
ainda distante.
— Mas os caras que te sequestraram, não disseram nada?
— inquiri com cautela. — Só bateram e foram embora? Nenhuma
advertência? Nada?
— Foi tudo muito confuso. Pegaram o meu celular… Me
lembro que discutiram entre eles… Só sei que escutei o seu nome e
o de Cindy… Algo sobre cor-de-rosa… Mas cada vez que eu
recobrava a consciência, eles me davam uma porrada e eu
apagava. E se não me engano, um dos caras tinha uma tatuagem
de aranha no pescoço, se não for uma aranha, devia ser algo
parecido.
Então Luigi apalpou os bolsos procurando alguma coisa. Mas
logo em seguida ele bufou irritado.
— Caralho! Não só roubaram o celular como levaram a minha
carteira.
— Merda! Fizeram parecer um assalto. Mas claramente não
foi. — Esfreguei o rosto com as mãos, angustiada, e me levantei da
cama. — Cindy e o ex-namorado devem estar envolvidos com algo
bem cabuloso. Mesmo assim, não faz sentido me enviarem uma
mensagem pedindo para que eu pague alguma coisa se quisesse te
ver vivo.
— Muita coisa não faz sentido, preciso falar com Cindy —
Luigi falou, incisivo.
— Como assim precisa falar com ela? Olha pra você! Quer se
foder um pouco mais? — Não conseguia acreditar que ele não
estava tão puto com a situação quanto eu.
— Kit, não posso supor que Cindy seja culpada sem antes
ouvir o que ela tem a dizer. Além disso, ela prometeu que nos
falaríamos hoje.
Muitas vezes, aquela ponderação toda dele me dava nos
nervos. Caminhei até a janela sentindo o sangue se agitar nas
veias. Abri a cortina e não acreditei quando vi Nick conversando
com Cindy na frente da nossa casa. Ele tinha a camiseta pendurada
no ombro e Cindy…
— Não acredito… — Balancei a cabeça, incrédula. Ela tinha
feito mechas rosas no cabelo? Ela só podia estar de brincadeira. —
Acho que a sua amiguinha ouviu os seus pensamentos.
— Do que está falando, Kit?
Virei-me para encarar Luigi.
— A popstar está aí… — resmunguei sem ânimo.
— Então pede pra ela vir até aqui, Kit, por favor. Eu
realmente preciso conversar com ela.
Revirei os olhos, inconformada com a cara de pau daquela
garota.
— Conselho de amiga: se afaste dela antes que algo pior
aconteça — adverti e saí do quarto puta da vida. A minha vontade
era dar uma surra naquele cisco de gente.
Luigi precisava se afastar de Cindy e encontrar alguém que o
merecesse de verdade. Por que ele foi logo se meter com uma
popstar problemática? Ele nunca tinha apanhado por causa de um
lance. Agora estava todo fodido por causa dela…
Quando Kit saiu do quarto, recostei na cabeceira com os
olhos fechados, tentando juntar todos os fragmentos de informação
que eu tinha até aquele momento. Mas algumas coisas não faziam o
menor sentido.
O que os bandidos queriam com o meu celular? O que Cindy
e Kit tinham a ver com a surra que levei? E que merda de dívida era
essa?
Uma batida na porta me fez retesar e abrir os olhos. Kit
entrou e Cindy veio logo atrás. Assim que me viu, Cindy levou as
mãos à boca e veio até mim, hesitante.
— Meu Deus! — Ela se sentou na beirada da cama, os
movimentos como se estivessem em câmera lenta. — O que
fizeram com você…? — A voz dela falhou, os olhos vertendo
lágrimas.
— Um pequeno estrago. — Passei a língua pelo lábio e senti
o gosto metálico do sangue.
— Vou resumir o que aconteceu — Kit interveio, o rosto
vermelho de raiva. — Ontem à noite, Luigi foi sequestrado na frente
de casa e deram uma surra nele. Hoje de manhã, recebi uma
mensagem bem ameaçadora pedindo que eu pagasse o que
devíamos. Fui resgatá-lo em um estacionamento imundo. Ele estava
desacordado. — Engoliu em seco e continuou. — Mas algo me diz
que isso só aconteceu porque você entrou na vida do Luigi. —
Balançou a cabeça com indignação. — Em pensar que Will me
alertou que você nos traria problemas…
Cindy fechou os olhos e mais lágrimas escorreram. Depois
enxugou o rosto com as mãos e respirou fundo.
— Podemos conversar em particular? — perguntou em tom
suplicante, fitando o meu rosto.
Kit me encarou com os olhos arregalados, parecendo
chocada com o pedido de Cindy. Seu olhar implorava que eu
negasse. Mas, em vez disso, apenas meneei a cabeça em direção à
porta, em um pedido silencioso para que ela saísse do quarto. Kit
fez uma careta, mas assentiu. Pude ver em seus olhos que não
aprovava a minha decisão. Ela saiu do quarto, pisando duro, e
fechou a porta para nos dar privacidade, batendo com mais força
que o necessário.
Eu sabia que mais tarde precisaria ter uma conversa séria
com Kit, mas, naquele momento, só podia resolver um problema de
cada vez. E se Cindy não queria falar o que quer que fosse na frente
de Kit, não me custava nada respeitar.
— Acabei de magoar a minha melhor amiga, espero que você
tenha algo muito importante a dizer… — Quebrei o silêncio e Cindy
enxugou as lágrimas que teimavam em cair.
— Não sei se o que vou te contar tem alguma conexão com o
que aconteceu, mas devo isso a você — começou. — Quando saí
de Iowa, não saí sozinha. Meu namorado veio comigo para Los
Angeles. A gente se amava muito. Mas a cidade dos anjos também
é a cidade dos pecados. — Fitou o teto, na tentativa de conter as
lágrimas. — Éramos como você e Kit: melhores amigos. Uma boa
dupla. Ele tocava guitarra e eu cantava. A gente compunha juntos e
sonhávamos em fazer sucesso…
Um soluço interrompeu a fala e mais uma lágrima escorreu.
Mas ela logo endireitou a postura e continuou, determinada.
— Tommy e eu começamos a tocar pelos bares da cidade,
mas ganhávamos uma mixaria, isso quando nos pagavam. Hanna
nos acolheu na casa dela e moramos de favor por algum tempo.
Após tantos reveses, Tommy foi se decepcionando com tudo até
que as drogas o abraçaram. Eu queria que ele parasse, mas foi um
caminho sem volta. Então, numa trágica noite, dentro do camarim,
antes de uma apresentação, ele cheirou uma última carreira de
cocaína e teve overdose. Ele tinha exagerado muito naquele dia.
Tommy morreu nos meus braços. — Ela cobriu o rosto com as mãos
e voltou a chorar com a sua lembrança.
Queria me esticar para abraçá-la e confortar a sua dor, mas
eu estava tão fodido que nem sequer conseguia me mover.
— Cindy — chamei e ela abaixou as mãos do rosto. Estava
devastada, a sua tristeza era quase palpável. Estendi os braços
para que ela se aproximasse. Ela veio e eu a abracei. — Sinto
muito… — Afaguei suas costas, tentando acalmá-la. Perder alguém
de uma forma tão brutal devia ser muito doloroso.
Assim que ela conseguiu voltar a si, desvencilhou-se de mim
e, outra vez, enxugou o rosto com as mãos.
— Depois do enterro… — Cindy continuou a contar. —
Estava decidida a voltar para Iowa, virar garçonete na lanchonete
dos meus pais e seguir a vida. Mas antes que eu partisse, Hanna
me disse algo que significou muito para mim. Ela me encarou com
seu olhar doce e falou: “você e Tommy sonharam em fazer sucesso
juntos. Você não deveria desistir desse sonho, deveria lutar e fazer
sucesso por vocês dois. Tenho certeza de que ele vai te aplaudir de
onde estiver”. Foi então que decidi erguer a cabeça e continuar
cantando. Mas aí, como se a merda fosse pouca, conheci Will. Ele
me viu cantar em um bar e me abordou no final da apresentação…
— Então ele foi o seu agente… — interrompi, minha cabeça a
mil.
Cindy anuiu com um movimento contido.
— Will prometeu me tornar uma popstar. Estendeu a mão no
momento mais difícil da minha vida. Eu estava em luto, sem grana e
ele foi a minha tábua de salvação. Pelo menos, foi o que pensei na
época. Ele tinha muitos contatos e dinheiro. Will alterou o meu
repertório musical e criou a personagem Cindy Harper como se eu
fosse uma Barbie.
— Então, por que vocês se afastaram? — Aquilo ainda não
tinha feito sentido em minha cabeça.
— Porque Will é um estelionatário, ladrão, explorador e
viciado em jogo. Só por isso — disse em tom irônico e amargurado.
As palavras de Cindy me acertaram como um soco na boca
do estômago.
— Do que você está falando? — perguntei, o pânico se
alastrando pelo meu corpo.
— Will se aproximou de mim porque viu potencial. Quando
comecei a fazer sucesso, ele ficava com a maior parte do dinheiro
que eu recebia pelos shows e me dava apenas algumas migalhas.
Dizia que quando eu assinasse o contrato com a gravadora, teria o
resto do dinheiro. Mas isso nunca aconteceu.
O meu corpo estava tremendo. Will tinha prometido para
Cindy as mesmas coisas que prometeu para a 4Legends. Meu
estômago embrulhou.
— Como eu fazia sucesso com os adolescentes — ela
continuou, enquanto minha cabeça revirava. — Will e eu tivemos a
ideia de fazer um programa de talentos. Eu confiava nele a ponto de
estar disposta a me tornar apresentadora de um programa de
entretenimento e revelar novos talentos para ele agenciar. Mas
quando descobri que estava sendo usada e que outras pessoas
poderiam sofrer com isso, procurei o produtor James Carter e
apresentei o projeto. Por ironia, o conheci em uma das festas que
Will me levou e mantivemos contato. Essa foi a minha sorte. James
adorou a ideia e assinei contrato com a emissora de TV.
Soltou um suspiro como se o peso tivesse saído das suas
costas.
— Então, antes mesmo de assinar com a emissora, rescindi o
contrato com Will, catei todas as minhas economias e até cheguei a
pedir ajuda a Hanna para pagar a multa ridícula de quebra do
contrato dele para me ver livre de vez do desgraçado. Só que Will
ficou possesso quando soube que entreguei o programa para a
emissora sem que ele participasse da negociação. Quando o
programa foi para o ar, ele surtou. Queria que eu pagasse direitos
autorais e tudo mais. Mas eu tinha sido roubada por meses, não
podia continuar naquela vida. O programa foi o único jeito que
encontrei para me livrar daquele salafrário.
— Quer dizer que você nunca viu a cor do dinheiro que foi
resultado do seu trabalho? — Depois de ouvir tudo isso, eu estava
mesmo com vontade de vomitar.
— Nunca. — Cindy fez que não com a cabeça. — Ele
apostava o dinheiro que eu ganhava nos casinos de Vegas, em
corridas de cavalos e sabe Deus em que mais. Por acaso, vi os
recibos e papeis das apostas no dia que juntei coragem e fui ao
escritório dele para confrontá-lo, mas ele tinha dado uma saída e eu
aproveitei que estava sozinha na sala e vasculhei por lá.
A gente estava muito fodido! O que eu diria para Kit e para o
resto do pessoal? Estava a ponto de explodir de raiva.
— E você o denunciou para a polícia?
Ela sorriu pela primeira vez desde que entrou no quarto.
— Como você acha que eu poderia denunciá-lo se não
tínhamos nada além de um contrato de gaveta que eu nem sequer
tinha cópia? Ele negociava tudo em meu nome. A minha vida inteira
estava nas mãos dele.
Ele tinha feito exatamente a mesma coisa com a banda.
Tínhamos assinado um contrato de duas páginas dando a ele todo o
direito de gerir nossas carreiras. O ar começou a ficar cada vez mais
pesado, nunca tinha me sentido tão vulnerável em toda a minha
vida.
As pecinhas do quebra-cabeça enfim estavam se
encaixando. Possivelmente, Will não queria que eu me aproximasse
de Cindy porque temia que ela me contasse sobre os seus crimes e
eu o deixasse. Por isso ficou tão furioso quando me aproximei dela.
Só tinha uma coisa que ainda não encaixava…
— Acho que quase tudo fez sentido até agora, Cindy. No
entanto, não entendo por que Kit recebeu aquela mensagem
pedindo para pagarmos o que devíamos… Juro que isso não faz o
menor sentido para mim, já que é ele quem nos deve.
— Também não sei, Luigi. — Balançou a cabeça em
negação. — Ele me mandava mensagens desse tipo algum tempo
atrás. Mas não recebo desde a metade do ano passado.
— Será que se eu for na delegacia e denunciar essa
mensagem, poderiam abrir uma investigação? — perguntei, mais
para mim do que para ela. Estava pensativo.
— Sendo sincera, acho que não. Deve ser de um número
pré-pago e só vai expor a banda. Mas acho que posso ajudar. —
Pegou o celular da bolsa e fez uma ligação.
Enquanto ela conversava com alguém sobre segurança e
coisas do tipo, minha cabeça não parava de pensar em como eu
poderia resolver aquele problema. A minha sensatez dizia para eu
parar com tudo e voltar para o Brasil com o rabo entre as pernas, e
assumir para o meu pai que ele tinha razão. Que eu devia aceitar o
meu cargo como engenheiro na construtora Ferrari e viver do jeito
que nunca quis. Mas meu outro lado gritava para lutar aquela
batalha, não apenas por mim, mas também por meus amigos e por
todos aqueles que um dia poderiam ser ludibriados e enganados
pelo crápula do Will.
— Então… — Cindy falou assim que encerrou a ligação. —
Antes de vir te contar toda essa merda, me certifiquei de aumentar a
minha segurança particular. Achava que poderia haver retaliação de
Will se vocês rescindissem o contrato por minha causa depois que
eu te contasse a verdade. Liguei agora para a minha assistente para
saber se posso estender a segurança para vocês. Mas ela disse que
não. Apenas familiares ou cônjuge podem se beneficiar, podendo
ser namorado, noivo ou marido.
— Fico feliz que tenha como se proteger. Mas, infelizmente,
não sei o que fazer para proteger os meus amigos. Não conto com
os mesmos privilégios… — Fiz uma pausa, pensativo. — Ou a
gente volta para o Brasil, ou a gente tá fodido.
— Outra opção é nos unirmos para desmascarar Will e
colocá-lo atrás das grades. Sozinha, não tenho forças, mas se topar,
vou até o fim com você — sugeriu, os olhos brilhando.
— Não posso expor as pessoas que amo, Cindy.
— Você não vai… — contrariou, séria.
— E o que você sugere?
— Sei que estou pedindo muito contando minha história sem
mostrar provas concretas e apenas esperando que você acredite em
mim, mas acho que tenho um plano. É ousado, mas que só
envolverá nós dois, sem envolver a banda… — Fez uma pausa
como se esperasse alguma reação minha, como eu não disse nada,
continuou. — O primeiro passo seria a gente fingir que está
namorando e aí a segurança se estenderia para você. E como a
banda tem vínculo direto com você, também teriam acesso à
segurança.
Engoli em seco e fiquei em um silêncio mortificado. Eu
poderia forjar um namoro para poder proteger meus amigos
enquanto juntava provas que comprometessem Will. Além de
continuar vivendo nos Estados Unidos e tentar assinar contrato com
alguma gravadora, teria a chance de colocar aquele canalha na
cadeia. Dentre as alternativas disponíveis, esse plano poderia dar
certo…
— Só tem uma coisa… — interrompeu, me arrancando dos
meus pensamentos agitados. — Ninguém pode ficar sabendo desse
segredo. Porque se a empresa de segurança descobrir que
mentimos, perderemos a proteção e seremos processados. É muito
arriscado.
— Isso significa que nenhum dos meus companheiros de
banda poderão saber?
— Nem eles, infelizmente. É o único jeito que consigo pensar
de proteger a todos. Mas só se você quiser. — Apertou as mãos,
parecendo nervosa. — Gosto de vocês, não queria que desistissem
do sonho de se tornarem ícones mundiais do rock por causa de um
monstro como Will.
Abaixei a cabeça, assimilando tudo o que conversamos. Eu
nunca tinha mentido para os meus amigos e até dias atrás, nunca
tinha omitido nada. Nunca os tinha deixado no escuro. Sempre fui
direto e verdadeiro. Mesmo que aquela mentira fosse proteger as
pessoas que eu amava, me sentia um traidor. Mas eu não podia
pensar assim. Considerei a mensagem que Kit recebeu naquela
manhã. Por sorte, foi só uma mensagem. Só Deus sabe o que eu
faria se algum daqueles filhos da puta encostassem um só dedo na
minha garota. Eu a amava tanto que até doía. Já no meu caso, olha
o estado deplorável que me encontrava, estava todo fodido e
machucado. Será que isso não era motivo o suficiente para eu
encarar um namoro falso com Cindy? A resposta era simples: pelos
meus amigos e nossos sonhos, valia tudo.
— Eu aceito — falei, sentindo a boca seca.
Cindy segurou minha mão e me deu um sorriso triste. Dava
para ver que encarar aquela situação não seria fácil para alguém
que passou por uma barra tão pesada e ainda teria que encarar seu
algoz mais uma vez. No entanto, assim como eu, ela queria justiça.
— Então, eu também aceito namorar com você, Luigi Ferrari!
— declarou no mesmo instante em que Kit entrou no quarto.
Desviamos a atenção para ela. Kit, que segurava um pacote
de ervilhas congeladas nas mãos, deixou o pacote cair e pareceu
paralisada no lugar enquanto nos encarava boquiaberta. Como em
um estalo, ela sacudiu a cabeça e se abaixou para pegar as
ervilhas.
— O que caralhos está acontecendo aqui? — Kit olhou para
mim, desconfiada, enquanto ficava de pé.
— É que a partir de agora, Cindy e eu estamos namorando —
contei, me sentindo um merda.
Kit abriu o sorriso mais forçado que já vi na vida.
— Nesse caso, parabéns aos pombinhos — felicitou, o tom
carregado de ironia. — Ah, trouxe isso para você. Toma! — Jogou o
pacote de ervilhas que caiu bem no meu estômago, me fazendo
soltar um grunhido de dor. — Nossa, desculpa, foi sem querer,
estava mirando na cama. — Abriu um sorriso de falsa inocência.
— Imagina… nem doeu. Valeu, Kit! — Tentei parecer
convincente, mas a voz ainda saiu meio engasgada.
— Bom, vou avisar agora mesmo a minha assessora de
imprensa para anunciar o nosso namoro nas redes sociais — Cindy
comunicou e se levantou da cama.
— Faz isso, Cindy. — Assenti, desviando o olhar de Kit para
a minha mais nova “namorada”.
Cindy se aproximou e depositou um beijo na minha testa,
possivelmente o local menos machucado do meu rosto.
— Até amanhã, querido. Pela manhã estarei aqui para cuidar
de você. — Deu uma piscadinha cúmplice para mim. — Agora
preciso ir. Tchau, Kit!
Assim que Cindy saiu do quarto, Kit se aproximou. Ela me
encarou com ar glacial que cheguei a sentir frio.
— Olha, Luigi, vou falar a real: tô decepcionada pra caralho
com você — falou, cruzando os braços, os olhos uma mistura de
raiva e mágoa. — Não estou nem dizendo isso porque você
escolheu Cindy Harper como sua namorada. Dane-se, você é livre
para namorar com quem quiser. Mas o problema é que você não
confiou em mim o suficiente para me contar o que estava
acontecendo de verdade entre vocês dois.
Kit parou e mordeu o lábio inferior, os olhos ficando
marejados. Então, apenas me fitou por mais um momento sem dizer
nada. Sinceramente, parecia que estava decidindo se me matava ou
não. De repente, ela balançou a cabeça e soltou uma pesada lufada
de ar, como se quisesse recuperar o controle, então se aproximou e
pegou o pacote de ervilhas que eu ainda segurava na barriga e o
colocou no meu rosto, depois pegou minha mão e a levou até o
local, um sinal claro de que eu devia segurar lá.
— E sabe o que me deixa ainda mais decepcionada? É te ver
cada vez mais distante de mim… — ela finalizou, fitando os meus
olhos.
Nosso rosto estava tão perto, a dor em seus olhos beirava ao
desprezo e o nó que se formou em minha garganta me fez pigarrear.
Como se a tivesse tirado de um transe, ela se afastou.
— Desculpa, Kit. Não queria te decepcionar. — Desviei o
olhar, não aguentava vê-la daquele jeito nem por mais um segundo.
Como sempre previ, mentira nunca trazia coisas boas, a primeira
consequência dessa já estava ali, sendo jogada na minha cara.
Desse ponto em diante, só pioraria.
Sentia minha boca amarga. Estava tão devastado que não
sabia o que dizer ou fazer para Kit não ficar magoada comigo.
— Deixa pra lá, Luigi. — Ela deu dois passos para trás. —
Mais tarde a gente conversa. Por agora, só continue colocando o
gelo no rosto para não inchar mais e descanse um pouco.
Assenti, sentindo uma pressão no peito enquanto ela seguia
em direção à porta.
— Kit! — Eu a chamei assim que ela pegou na maçaneta,
então ela se virou para me olhar. — Você me emprestaria o seu
celular para eu ligar para Will?
No mesmo instante, ela tirou o celular do bolso da calça e
veio até a cama para me entregar. Ainda segurando o pacote de
ervilha na lateral do rosto, disquei para Will com a mão livre. Sem
ressalvas, deixei o celular no viva-voz. Mas depois de muitos
toques, caiu na caixa postal, então deixei uma mensagem de voz.
— Boa noite, Will! Preciso falar com você. Quando puder, me
ligue, mas liga no celular da Kit porque roubaram o meu.
O tempo todo, Kit me olhou com um misto de mágoa e
inquietação que eu ainda não sabia como lidar. Então, depois da
mensagem, apenas agradeci e devolvi o celular para ela. Kit saiu do
quarto e me deixou sozinho com a minha frustração. A dor física de
ter apanhado nem se comparava com a que eu estava sentindo no
meu coração. Soltei um pesado suspiro, me odiando por ter ferido o
amor da minha vida.
Ajeitei-me na cama e fechei os olhos para refletir. Estava
decidido a manter Will o mais próximo que pudesse. É como dizem:
mantenha seus amigos por perto e seus inimigos mais perto ainda.
Mas os meus pensamentos não se sustentaram por muito tempo e
foram vencidos pela força da medicação. E sem que eu pudesse
evitar, adormeci.
— Já disse que vou pagar, Jack — falei, tentando tranquilizar
o agiota que estava me pressionando há alguns dias.
— Mas que caralho, Will! Não sou uma instituição de
caridade! — bradou do outro lado da linha.
— Sei disso, cara. Mas preciso que me dê mais alguns dias.
Os shows da banda retornam no dia vinte, então até lá não consigo
pagar.
— Acha que estou de brincadeira, Will?
— Claro que não, irmão. Pode ficar tranquilo! Até o dia vinte
entrego essa grana pra você, beleza?
— Beleza, porra nenhuma, seu picareta de merda! Se eu não
vir a cor do dinheiro até o dia vinte, seu cu vai pra rifa. Entendeu?
— Entendi — afirmei, sentindo a boca secar. — Dia vinte
essa parcela estará quitada e com juros. Pode anotar.
Jack desligou na minha cara como sempre fazia. O que me
deixava muito puto. Senti vontade de arremessar o aparelho para
fora da janela do escritório. Mas antes que eu pudesse me dar mais
um prejuízo, guardei o celular no bolso do paletó e acendi um
cigarro.
Luigi tinha me fodido pra caralho quando exigiu aquele
depósito de dez mil dólares. O pior era que aquela grana fazia parte
do pagamento de Jack. No entanto, se eu não desse o dinheiro para
o moleque, ele ficaria desconfiado. Só que já se passaram dias e eu
não consegui repor.
A essa altura, nem sei se toda a manobra que fiz para
entregar o dinheiro para ele valeu a pena. Vi no extrato bancário que
o imbecil torrou a grana em uma loja de trajes caríssima de Los
Angeles. O pior: ele comprou o terno para poder acompanhar Cindy
Harper em um coquetel.
O que me deixava mais furioso é que foi exatamente por
causa dessa aproximação de Luigi com aquela ratinha ridícula da
Cindy que tive que dar um susto nele. Juro que tentei pedir para que
ele se afastasse dela de maneira amigável, mas o insolente não me
deu ouvidos. Odeio quem não segue as minhas ordens. Se o
roqueirinho não pretendia se afastar por bem, se afastaria por mal.
Então, coloquei meus capangas na cola dele para dar um susto.
O meu plano consistia em parecer um sequestro relâmpago,
algumas agressões e roubo. Um combo perfeito para mostrar o que
acontecia com quem se aproximava de Cindy Harper. E ainda, pedi
que os capangas enviassem uma mensagem para a ratinha
exigindo que ela e o produtor ladrão me pagassem o que deviam.
Para deixar a situação ainda mais dramática, Cindy precisaria
buscar o namoradinho no lugar mais barra pesada de Los Angeles.
O lugar onde o ex-namorado comprava as drogas que o mataram.
Eu tinha certeza de que se eu mexesse com o emocional de
Cindy, ela recuaria. Se Luigi ainda insistisse em querer alguma coisa
com ela, a garota daria para trás. Tanto por ver o que eu era capaz
de fazer com as pessoas que ela gostava, quanto o que eu poderia
fazer com ela. O medo a afugentaria e Luigi teria que procurar outra
piranha para comer.
Meu fluxo de pensamento foi interrompido pelo aviso sonoro
de mensagens de voz. Peguei o celular e vi que havia uma ligação
perdida de Kit. Traguei o cigarro e me empertiguei na cadeira.
Luigi mandou uma mensagem do celular de Kit como eu já
esperava. Apaguei o cigarro e liguei para o número dela. Depois do
que aconteceu, com certeza Luigi me daria razão e se afastaria de
Cindy.
Kit atendeu com a voz cansada, mas eu precisava fingir que
não sabia de nada.
— Oi, Barbie Metaleira! Com estão sendo as férias? — Fiz a
pergunta todo animado.
— Oi, Will. Por aqui as coisas não estão nada bem — ela
respondeu e tive que conter a minha alegria e fingir surpresa.
— Nossa! Por quê? Aconteceu alguma coisa? — disparei
com ar preocupado.
— Aconteceram muitas coisas, Will. Essa manhã recebi uma
mensagem ameaçadora pedindo que pagássemos o que devíamos
e que eu fosse sozinha buscar Luigi em um endereço estranho. Ele
foi sequestrado e estava desacordado quando cheguei…
— Quê? — interrompi, em choque com a informação.
Como assim ela tinha recebido a ameaça que era para ter
sido enviada para a ratinha cor-de-rosa? Eu tinha falado com os
capangas naquela manhã e eles confirmaram que tinha dado tudo
certo. Eu mataria aqueles inúteis.
— Isso mesmo que você ouviu. Sequestraram Luigi ontem à
noite e o largaram em um estacionamento imundo… Ele estava
muito machucado…
— Meu Deus, Kit! — exclamei, tentando soar consternado
com o incidente, mas sentindo o sangue ferver com o erro estúpido
do meu pessoal. — Mas ele está bem? Posso falar com Luigi?
— Ele está muito machucado, mas está bem. Só não vou
passar o celular para ele porque ele acabou de dormir.
— Tudo bem, não o incomode… — Suspirei, simulando
preocupação. — Isso deve ser coisa da turminha da Cindy Harper…
— Fiz um estalo com a língua, parecendo chateado. — Em pensar
que avisei para Luigi ficar longe dessa garota, mas, pelo visto, ele
não me levou a sério… — Joguei a isca.
— Não tem nada que possa ser feito agora, já que Luigi e
Cindy estão juntos — contou e meu coração acelerou em uma
velocidade quase letal.
— Juntos como? Ela está aí com ele? — inquiri, sentindo o
mundo ruir debaixo dos meus pés.
— Juntos tipo… namorando.
— Mas você me disse que eles não tinham nada. —
Levantei-me da cadeira e caminhei para o meio do escritório, a
tensão me consumindo.
— Pois é… — falou, pesarosa. — Mas Luigi deve ter mudado
de ideia ou omitido que estava com ela. Sei lá.
Pude sentir na sua voz que ela não aprovava a relação do
amigo. Eu não entendia como esses dois não eram um casal, dava
para sentir a tensão sexual entre eles a quilômetros de distância.
Mas que se foda… Isso era de menos… Agora que Luigi e Cindy
eram namorados, se Cindy abrisse o bico para ele e contasse o que
rolou entre a gente no passado, eu me foderia pra caralho.
Se Luigi soubesse das armações que precisei fazer, poderia
rescindir o contrato comigo e eu não conseguiria pagar Jack.
Poderia até começar a me despedir da minha vida, porque Jack
“Dirty” não tinha esse apelido à toa. O cara era sujo com quem devia
para ele.
— Vamos fazer assim, Kit, amanhã cedo eu passo aí pra ver
o Luigi, para levar um celular novo pra ele e pra gente conversar
sobre essa merda. Tá?
— Beleza, Will. Então, até amanhã.
Joguei o celular no sofá e gritei com força. Corri os dedos
pelos cabelos, precisando desesperadamente de uma ideia para
separar aquela ratinha de Luigi.
Los Angeles é enorme, cheio de mulher gostosa, por que
Luigi foi se interessar justo por aquela ordinária?
Urrei outra vez, o sangue circulando agitado em minhas
veias. Ainda por cima, aqueles filhos da puta dos meus capangas
idiotas me ferraram bonito. Balancei a cabeça, inconformado com a
burrice daqueles brutamontes. O que tinham de músculo não tinham
de cérebro. Tudo o que pedi foi para que mandassem uma
mensagem para Cindy. Era só pegar o número da ratinha no celular
de Luigi e mandar uma mensagem do pré-pago que coloquei nas
mãos deles.
Como puderam ser tão burros e enviar a mensagem para Kit?
Pensa Will. Você precisa pensar. Falei para mim mesmo, enquanto
caminhava de um lado para o outro, a minha mente turbulenta não
conseguia focar. Cindy não pode ficar no meu caminho. Ela não
pode ficar no meu caminho. Se aquele pacote cor-de-rosa não se
afastar da minha mina de dinheiro, terei que dar um jeito nela.
Peguei o celular de cima do sofá e voltei a me sentar em
frente à mesa. Abri a tela do laptop, precisando ser iluminado com
uma ideia que não envolvesse matar aquela ratinha.
O aviso de novo e-mail da gravadora Rock Star me chamou a
atenção. Abri de imediato. Vai que o sr. Wood tinha decidido me
receber em seu escritório. Talvez eu pudesse dar uma boa notícia
para Luigi e a banda… Realmente, a sorte favorecia os bons.
Concurso de banda? Hã? Sério mesmo que Trevor
promoveria um concurso entre bandas?
Continuei baixando a barra de rolagem e lendo mais
informações sobre o concurso. As bandas que seguissem para as
etapas finais teriam que apresentar músicas autorais. A
originalidade e popularidade da música seriam avaliadas. E a banda
vencedora receberia no final o prêmio de um milhão e meio de
dólares e um contrato com a Rock Star Records.
Uau! Quem diria que Trevor Woods se renderia a um
programa de caça-talentos?
Recostei-me na cadeira, fitando o teto, pensativo. A
4Legends era uma banda muito foda. Os meninos tinham talento pra
caralho. Eu apostava a minha casa que venceriam.
O concurso daria ainda mais motivação para tocarem e
divulgarem suas músicas autorais nas aberturas dos shows. Talvez
esse namoro entre Cindy Harper e Luigi Ferrari não fosse tão ruim
assim. A fama de Cindy poderia ajudar na visibilidade da banda e
isso aumentaria a chance de vencerem o concurso.
Não! Espera! Sem chances!
Cindy poderia abrir a boca a qualquer momento e colocar
tudo a perder. Os riscos são muito maiores do que os benefícios. De
jeito nenhum! Se a 4Legends fizesse o mesmo que Cindy e me
traísse, minha cabeça iria a prêmio. Eles não podiam ficar juntos. Eu
precisava afastar aqueles dois de qualquer jeito.
O meu trunfo poderia ser tornar a Barbie Metaleira uma
aliada. Era nítido que rolava um lance reprimido entre ela e Luigi.
Ela pareceu abalada com a questão do namoro. Quem sabe se eu
usasse os argumentos certos, a garota me ajudasse a monitorar
Luigi.
Hummm… Retesei-me na cadeira, uma ideia iluminando
minha mente enevoada. Havia um jeito de monitorar os passos de
Luigi. Bastava instalar um aplicativo oculto de rastreamento em seu
celular novo. Desse modo, saberia onde ele e a ratinha estavam em
tempo real. Além de poder acompanhar cada passo deles. Isso seria
muito útil.
Eu era um gênio mesmo!
Puxei o laptop para mais perto de mim e acessei o site da
gravadora. Eu tinha vários assuntos para resolver, mas com certeza
inscrever a banda no concurso da Rock Star era prioridade. Se a
banda vencesse, Trevor teria que me engolir. Além de se obrigar a
assinar contrato com os MEUS clientes.
Will, seus dias de glória estão chegando! Suspirei, animado.
Meia hora depois, saí do meu escritório direto para o de
Chuck. Ele e os três irmãos sempre faziam serviços sujos quando
eu os contratava. Mas, dessa vez, tinham pisado na bola.
Entrei no Lolita’s Bar, puto da vida.
— Boa noite, sr. Parker! — o barman cumprimentou,
enquanto enxugava um copo atrás do balcão de bebidas.
Meneei a cabeça num aceno e segui para o escritório de
Chuck. Para chegar lá era necessário atravessar todo o bar. Passei
pela lateral do palco onde algumas mulheres seminuas faziam Pole
Dance. Nos fundos, um segurança estava de guarda na porta.
— Boa noite, Michael, preciso falar com Chuck. Ele está?
— Está sim, sr. Parker. Só me deixa ver se ele pode te
receber. — Tirou o rádio do bolso e anunciou a minha presença. —
Pode entrar! — Abriu a porta e eu segui pela sala onde eram
armazenadas as bebidas do bar. O escritório ficava logo após uma
sala particular de poker.
Entrei no escritório e Chuck estava sentado em sua mesa
com as mangas da camisa dobradas até a altura dos cotovelos, se
esbaldando em um balde de frango frito. Como ele conseguia comer
aquela coisa banhada em gordura? Forcei para não torcer o nariz. O
seu hábito alimentar com certeza justificava o tamanho da barriga.
— Boa noite! — cumprimentei, com as mãos guardadas no
bolso da calça. De jeito nenhum eu apertaria a mão dele.
— Satisfeito com o serviço? — Chuck subiu o olhar e voltou a
roer uma asinha.
— Infelizmente, não! — Balancei a cabeça e ele parou de
comer.
Graças a Deus ele abaixou o pedaço de frango.
— E por que não? — Pegou um punhado de guardanapos de
cima da mesa e limpou a boca e as mãos.
— Mandei vocês enviarem uma mensagem ameaçando a
ratinha cor-de-rosa. Mas, em vez disso, vocês enviaram para Kit.
Enlouqueceram? Querem foder com a minha vida? — inquiri,
revoltado.
— John! — Chuck bradou, chamando o irmão mais novo.
Levantou-se com dificuldade da cadeira, a barriga enroscando na
mesa.
Jonh, que era tão grande quanto o irmão, saiu pela porta que
ficava nos fundos da sala. Ele me cumprimentou e parou em frente
a Chuck. Os meus olhos se prenderam na tatuagem em seu
pescoço. Era uma aranha em 3D. Que grande bosta.
— Will está dizendo que enviaram a mensagem para a
pessoa errada. Poderia explicar?
— Errada? — John franziu a testa, com ar de interrogação. —
Enviamos a mensagem para a garota rosa.
— Cindy ou Kit? — Analisei o brutamontes, respirando
devagar para não perder a cabeça.
— E eu sei lá, caralho! — Fez uma careta de quem estava
perdido. — Chuck disse que era para enviar uma mensagem para a
garota que usava rosa. Enquanto o cara estava desmaiado,
pegamos o celular dele. Mas, mano, na moral, esse moleque deve
ter fetiche por rosa. — Abriu os braços com indignação. — As
últimas duas ligações foram para garotas que tinham o cabelo rosa.
Kit? Cindy? As duas eram cor-de-rosa! A gente enviou pra uma
dessas aí, não me lembro o nome da maluca — explicou,
inconformado.
Fitei o teto, me controlando para não dizer poucas e boas ao
desmiolado. Se eu me alterasse com aqueles gigantes, poderia sair
dali sem vida. Voltei a encarar Chuck.
— Você não passou o nome da Cindy para ele? — perguntei,
esboçando uma calma que não havia dentro de mim.
— Claro que passei! — Chuck se alterou, encarando o irmão.
— Você não anotou? — perguntou, irritado.
— Andrew anotou, mas perdeu o papel. Eu só lembrava que
você disse que a garota vivia de rosa… Ninguém imaginou que o
cara fosse um maníaco por mulheres de cabelo rosa!
Balancei a cabeça, não sabia se ria ou chorava de ódio.
— Como assim perdeu a anotação? — Massageei a testa,
tentando me controlar para não avançar no ogro sem miolos.
— Ele anotou em um papel, mas perdeu. Acontece — disse
com naturalidade.
— Acontece? — A pergunta pulou da minha boca sem que eu
pudesse conter. — Em que século vocês vivem? Não podiam ter
anotado no bloco de notas do celular? Isso é inadmissível! Eu
paguei por um serviço e por incompetência as coisas quase saíram
do controle. Eu… — Bati a mão no peito. — Terei que resolver. No
entanto, a minha grana já está com vocês! — desabafei, sentindo
uma raiva insana.
— Se acalme, Will. — Chuck tentou abrandar a situação. —
Não queremos que nossos clientes tenham prejuízo por erro interno.
— Desviou o olhar para o irmão. — Pode ir, John. Eu termino de
negociar com o sr. Parker.
John assentiu e saiu do escritório pela mesma porta que
entrou.
— Olha, Will, infelizmente não posso mudar o que aconteceu
e nem devolver sua grana. Mas estou em débito com você. Quando
precisar de algum serviço, estaremos à disposição e você não terá
que pagar nada por isso.
Bufei, insatisfeito, sabendo que não tinha para onde correr.
— Tudo bem, Chuck. Aceito a sua oferta, vou dar um jeito de
consertar essa merda. Mas que fique claro que não aceito outro
erro. Se não, da próxima vez, contratarei alguém mais qualificado —
falei em tom de ameaça.
— Pode confiar, Will. Você não irá se arrepender.
Chuck voltou a sentar-se atrás da escrivaninha e pegou uma
coxa de frango do balde. Com certeza, eu precisaria do serviço
deles em breve. Ainda precisava dar um jeito na Cindy Harper.
— Até mais! — despedi-me e saí do escritório, ciente de que
deveria terminar o que aqueles idiotas não foram capazes de fazer.
Após ter resolvido aquele assunto, só precisava comprar um
celular pré-pago e enviar a ameaça para a pessoa certa. Em
seguida, teria que ir ao shopping para providenciar um celular novo
para o roqueirinho.
Depois que encerrei a ligação do Will, me deitei na cama
encolhida em meu casulo e chorei como há muito não fazia. Chorei
de soluçar. A força na qual eu tinha me agarrado para suportar a dor
de ver Luigi naquele estado deplorável e de trazê-lo carregado para
casa tinha se esgotado. Não pelo esforço físico, pois eu poderia
suportar o peso do corpo dele sobre mim por uma vida inteira. Mas
a dor que esmagava meu coração estava me devastando. Senti
tanto medo de perdê-lo, de nunca mais ouvir o som da sua voz, de
nunca mais conversar com ele e de não o ter ao meu lado…
Além disso, após todo o pânico que senti naquele dia,
receber a notícia de que Luigi estava namorando com Cindy foi
como levar o golpe final. Naquele instante, voltei a ter 12 anos.
Lembrei-me de quando os meus pais se divorciaram, dizendo que
continuariam amigos, porém, nunca mais se falaram. Foi então que
enterrei o amor que sentia por Luigi bem fundo em meu coração e
lutava todos os dias contra o desejo que sentia por ele, usando os
meus temores como escudo a cada vez que esses sentimentos
ameaçavam ressurgir. Não suportava a hipótese de construir um
amor lindo e ter um final triste como meus pais tiveram.
Fui tão covarde quando Luigi se declarou para mim quando
tínhamos 17 anos. Meus medos me fizeram construir uma muralha
entre nós. Combinamos que seríamos sempre melhores amigos e
que encontraríamos alguém que nos fizesse feliz, e que jamais
afetaríamos a nossa amizade com um sentimento tão complexo
como o amor. Por isso, eu deveria estar feliz por Luigi ter
encontrado alguém que despertasse nele o desejo de namorar com
ela, mas não conseguia.
Até Cindy aparecer, tudo estava calmo e seguro, a rotina de
shows pelos Estados Unidos era exaustiva, mas desde que ela
entrou em nossas vidas, foi como se uma tempestade sombria
tivesse caído sobre minha amizade com Luigi e ele se afastou de
mim. Aquilo estava me enlouquecendo. Não sabia como lidar com
sua distância ou a confusão catastrófica de sentimentos dentro de
mim. Saber que ele não estava mais compartilhando as coisas
comigo, vinha me afetando tanto a ponto de coisas banais como o
que ele fazia quando saía de casa me incomodar.
Luigi chegou a me acusar de pegar no pé dele, mas era mais
forte do que eu. Quando o via preocupado e tão fechado, apenas
tentava qualquer coisa para arrancar algo dele, para tentar entendê-
lo. Caramba, eu estava uma bagunça. Mas de uma coisa eu tinha
certeza: não podia culpar Cindy por tudo isso. Sabia que a culpa do
meu sofrimento era toda minha.
Sentei-me na cama de sobressalto e enxuguei as lágrimas
com avidez. Eu não podia fraquejar, não podia ser o elo fraco da
nossa relação. Luigi estava machucado e corria risco por estar com
aquela garota. Eu não podia ser tão egoísta e ficar ponderando o
romance que nunca tivemos, precisava pensar na vida dele. No
risco que ele estava correndo. Ele era importante demais para eu
ficar desperdiçando tempo focando em sentimentos egoístas.
Antes que tudo ficasse demais para suportar e eu voltasse
para minha concha e me isolasse do mundo, decidi ir ao banheiro e
jogar um pouco de água no rosto para me centrar, só então voltei
para o quarto. Tinha prometido preparar uma sopa para Luigi. Além
disso, precisava conversar com Nick e Fly sobre o ocorrido, eles não
faziam ideia do que tinha acontecido. No entanto, Luigi precisava
participar dessa conversa. Então mandei mensagem para os
meninos avisando que estavam intimados para jantar às 21h.
Estava prestes a sair do quarto quando meu celular começou
a tocar. Tirei o aparelho do bolso da calça e era Derek. Olhei para a
tela, considerando se deveria ou não atender. Ele era um cara muito
legal e gostava de mim. Sabia que se continuássemos nos
encontrando, eu poderia machucá-lo. Diferente de Luigi, não me
sentia pronta para estabelecer um relacionamento sério. Apertei os
olhos com força e pensei em Luigi e Cindy. Por mais que eu não
estivesse disponível emocionalmente, poderia aproveitar o tempo ao
lado de alguém interessante. Quem sabe com o tempo algo
mudasse dentro de mim… Voltei para dentro do quarto para atender
a ligação.
— Oi, Derek. — Fiz um esforço enorme para soar natural.
— Que voz é essa, linda? Aconteceu alguma coisa? —
perguntou com visível preocupação. Pelo visto, minha tentativa
falhou.
— Só estou com alguns problemas para resolver, mas está
tudo bem. Eu acho — respondi, hesitante.
— Quer falar sobre isso?
— Hoje, não.
— Então o que acha de nos vermos amanhã à tarde? Já
estou sentindo a sua falta…
Derek conseguia ser tão doce que me sentia uma cretina por
sair com ele. De querer passar o tempo com alguém tão bom e que
merecia alguém melhor do que eu.
— Tenho que resolver algumas coisas. Posso confirmar mais
tarde? — Suspirei, chateada.
— Claro, Kit! Resolve o que você tiver que resolver e depois
me chama. Sabe que pode contar comigo para o que precisar.
— Valeu, Derek.
Encerrei a ligação sentindo o coração mais apertado do que
antes, mas não podia ficar presa àquele sentimento. Respirei fundo
e exalei o ar com força, retomando o controle. Guardei o celular no
bolso e desci para a cozinha, a sopa não se prepararia sozinha.
Broken | Quebrado
Luigi Ferrari
Fim!
Cinco meses depois…
O cheiro de peru assado invadiu a sala quando Marta colocou
a travessa decorada sobre a mesa de jantar. A casa da família
Ferrari estava cheia como nunca. A sala de jantar ganhou uma
mesa de dezesseis lugares e todos foram ocupados para a
celebração da ceia de Natal.
Lorenzo estava de pé com seu filho Benício no colo, tentando
fazê-lo se acalmar, enquanto Olívia ninava Valentim. Os bebês
nasceram no final de setembro e estavam manhosos da vacina que
tomaram dois dias atrás. Eram uns amores de criança, mas quando
um deles decidia chorar, o outro abria o berreiro logo atrás.
Luigi tentava ajudar o irmão com o pequeno chorão e Lily, a
melhor amiga de Olívia, tentava distrair o outro garotinho com um
ursinho de pelúcia. Lorenzo continuava trabalhando na construtora e
Olívia tinha se dado um ano longe do escritório para curtir a
maternidade. Moravam na chácara e estavam muito felizes. Até
compraram outro Border Collie para fazer companhia para Enrico, o
cachorro de Lorenzo.
Lucca estava se vendo louco com Laís que fazia pirraça, ela
tinha aprendido a andar e não queria ficar no colo ou no carrinho de
jeito nenhum. Georgina tentava conversar com a filha, mas ela era
bastante teimosa e obstinada, bem provável que tivesse herdado
isso da família Ferrari. Olavo também tentava distrair a neta com um
pedacinho de pão, mas sem sucesso.
Hanna que tinha vindo com Fly para o Brasil para passar a
festividade com a família Ferrari, veio da cozinha trazendo uma linda
travessa de arroz colorido com tâmaras, cebolas caramelizadas e
amêndoas. Ela e Marta se deram muito bem, as duas adoravam
cozinhar. Edith não era lá grandes coisas na cozinha, mas estava
ajudando Marta e Hanna como podia. Giuseppe parecia um pinto no
lixo, tentando agradar os netos, indo de um para o outro. Ninguém
nunca o viu tão feliz na vida.
Kit conversava, ou melhor, tentava conversar com seu irmão
Dudu, com Cindy, Nick e Fly, mas o barulho era ensurdecedor.
Muitas vozes falando ao mesmo tempo, parecia uma feira. Mas
tanto Kit, quanto o pessoal da banda, e Cindy, estavam
acostumados com esse tipo de bagunça. Não de crianças chorando,
mas de pessoas agitadas a sua volta. Afinal, um show não era
menos barulhento.
Dudu, ou dr. Eduardo, como muitos o conheciam, seguia
firme no namoro com Lily e tinha se afeiçoado a Kat, o gato de Kit.
O bichano vivia com ele desde que Kit se mudou para Los Angeles
e agora eram melhores amigos. Lily, que era avessa à
compromissos, tinha se rendido ao charme de Eduardo e até faziam
planos de morarem juntos.
Muitas coisas tinham mudado, exceto a agitação de quando
estavam todos reunidos. Dificilmente a família conseguiria jantar
com paz e tranquilidade, se bem que nos últimos anos, eles não
tiveram nada disso. Os gêmeos, Lorenzo e Lucca, passaram a
adolescência brigando entre si, enquanto Luigi se rebelava contra o
sistema imposto em sua própria casa. Em meio a isso, Giuseppe
tentou a todo custo colocar os filhos na linha e Marta sempre
procurou apaziguar os conflitos. Depois de adultos, eles
continuaram dando trabalho e agora que tudo parecia ter entrado
nos eixos, vieram os netos.
Luigi e Kit ainda não tinham planos para se casarem, mas
eram exageradamente apaixonados, talvez estivessem
compensando o tempo em que não ficaram juntos, ou apenas
estivessem curtindo a juventude com intensidade.
A tatuagem de Kit chamava a atenção por onde ela passava.
Algumas pessoas criticavam, outras elogiavam, mas o importante é
que ela estava bem com isso. Luigi, por sua vez, tatuou o rosto de
Kit em seu peito e logo abaixo escreveu o nome de uma das
músicas que compôs para ela: Rescue Me. Os dois possuíam uma
sintonia tão única que era impossível não cair de amores os vendo
juntos.
Georgina não pretendia engravidar tão cedo, a carreira que
ela tanto quis estava só começando, ainda mais depois de ter sido
campeã em sua categoria no Porsche Carrera Cup da Itália. Lucca
também levou o troféu na categoria principal, o que encheu o seu
chefe e sogro de orgulho. Por falar nele, Matteo Mancini ainda
estava firme com Patrizia. Os dois viviam o namoro dos sonhos,
com direito a muita festa e luxo. Enquanto isso, Georgina e Lucca se
ocupavam mesmo era em cuidar e encher de amor a pequena Laís.
O que não era uma tarefa das mais fáceis, a garotinha era uma
força da natureza.
Cindy e Nick ainda estavam aproveitando que as suas turnês
não tinham começado, porque quando a loucura de shows iniciasse,
seria muito difícil se encontrarem, precisariam viver em ponte aérea
para ficarem um pouco juntos. No último outubro, Cindy e a
4Legends se uniram para realizar o evento da ONG e repor o
dinheiro que Will tinha roubado no início do ano. O show foi um
sucesso e arrecadou muito mais dinheiro do que imaginaram.
Fly e Hanna seguiam firme no namoro, mas assim como
Cindy e Nick, teriam que se virar nos trinta para se verem nos
próximos meses. A turnê da banda, que duraria um ano, seria um
grande desafio para os casais de namorados.
A 4Legends passou os últimos meses gravando o álbum para
a turnê que começaria em dois meses. A turnê mundial se iniciaria
no Brasil e passaria pelos cinco continentes. Luigi e Kit eram o casal
sensação do momento, eles estampavam revistas adolescentes
mundo afora, assim como muitos souvenirs. Uma legião de garotas
passou a tingir os cabelos de cor-de-rosa, se intitulando como
“namoradas de Luigi”. Kit nem ligava, porque sabia que ele era só
dela.
No dia 31 de dezembro, Andy e Derek farão o último serviço
no DeVille, restaurante em que trabalhavam. E em janeiro, vão
inaugurar oficialmente o restaurante “You”, você em inglês. O nome
conceitual foi pensado na ideia de que “você”, o cliente, sempre será
o principal ingrediente de sucesso.
Desde que Will foi preso, tentaram matá-lo três vezes. Ele
estava tendo um período bastante conturbado na prisão. O
advogado dele pediu muitas vezes para transferi-lo para outro
presídio para salvaguardar a sua vida. Ninguém sabia ao certo por
quanto tempo ele sobreviveria se continuasse assim.
Edith seguia firme com a grife de roupas Elisa Bianchi. Em
setembro, ela esteve em Milão para o lançamento da coleção
outono/inverno que foi um sucesso avassalador. Olavo a
acompanhou e aproveitou para visitar o túmulo da filha, e dar um
cheiro na neta. A pequena Laís era o seu xodó. O mais engraçado é
que Teresa previu que a garotinha teria os olhos da mãe antes
mesmo de ela nascer. E não é que nasceu com o mesmo formato e
cor dos olhos de Elisa?
Quando os gêmeos de Marta enfim conseguiram acalmar os
ânimos das suas crianças, eles puderam jantar. A conversa seguiu
animada, ora falando de corrida de carro, ora de show, da
construtora e até da escola de música. Eles esbanjavam felicidade,
brincando e se divertindo ao redor da mesa, e acima de tudo:
aceitando e apoiando as escolhas e sonhos uns dos outros.
Exatamente como uma família de verdade deveria ser.
Quem me conhece sabe que esse é o momento mais difícil
da escrita. Sempre tenho muito a agradecer e morro de medo de
não expressar a minha gratidão da melhor maneira. Contudo, se
cheguei até aqui, preciso agradecer imensamente a minha família e
ao seu apoio incondicional. Preciso dizer que o meu marido é o
cara. Ele participa ativamente do meu mundo e acolhe todos os
meus personagens com muito carinho. Os irmãos Ferrari então, se
tornaram praticamente da família. Agradeço aos meus filhos e mãe
que sempre me apoiam e incentivam a continuar escrevendo.
Gratidão sem tamanho a Elaine, a minha
editora/revisora/amiga que cruzou o meu caminho através da
literatura e se tornou parte da minha vida. Muito obrigada por
caminhar ao meu lado, a sua presença (mesmo que distante) é
valiosa para mim. Também quero agradecer imensamente a minha
assessora Mari por estar sempre me aconselhando, orientando e
auxiliando no processo de escrita. Você é top. Um obrigada super
especial a Amanda que também me acompanhou durante a criação
dessa história.
Muito obrigada as minhas leitoras betas Adriana e Eliane.
Não me canso de dizer que vocês são as melhores. Amo trabalhar
com vocês! Agradeço também a Grazi por mais essa diagramação
linda e a Luciana pelas ilustrações que são verdadeiras obras de
arte. Um superobrigada a minha filha Giovana, a designer digital
mais talentosa que conheço. Obrigada por criar mais uma capa
maravilhosa e por fazer os posts mais lindos do mundo. Seu
trabalho é incrível.
Gostaria de agradecer a minha assessora literária Vanessa
por seu trabalho impecável e por ser tão querida, e me ajudar
sempre que preciso de socorro. Agradeço também a minha
marqueteira Jaque e a sua equipe, saibam que sem o trabalho de
vocês eu não chegaria tão longe.
Quero agradecer as minhas parceiras literárias por todo o
carinho que vocês têm comigo. Eu me divirto muito em nosso grupo
de leitoras. Com toda certeza, vocês deixam o meu dia muito mais
alegre. Agradeço aos meus leitores que acompanham o meu
trabalho e que sempre deixam uma mensagem de carinho em
minhas postagens. Vocês são demais!
Enfim, meu muito obrigada a todas que fizeram parte desse
projeto. Juntas somos um time perfeito.
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Lorenzo sempre viveu a vida como sua profissão:
cada passo calculado.
Era o típico filho perfeito. CFO na construtora da
família, o braço direito do pai e noivo da sua
amiga de infância, Elisa, com quem namorava há
quase dez anos. O filho e homem ideal.
No entanto, seu noivado havia se tornado tóxico
e insustentável. Em mais uma das birras de Elisa,
Lorenzo chega ao limite e rompe o
relacionamento. Procurando esfriar a cabeça, vai
a um bar para assistir a banda do irmão caçula.
Alguns copos de uísque mais tarde, uma garota
surge em meio à multidão e o beija com fervor.
Um beijo que o faz se sentir mais vivo do que
nunca. Porém, assim como veio, ela desaparece.
Olívia estava feliz, era a mais nova arquiteta no
famoso Studio Arq., tinha a amiga e o namorado
perfeito, o que mais poderia querer? Só que o
namorado não era tão perfeito assim… após
flagrá-lo com outra em meio a um bar, ela toma
uma decisão impensada.
Na semana seguinte, o mais improvável
acontece: ela se torna a arquiteta responsável
pela renovação da casa de campo da família
Ferrari. Na sua frente, aparece o cara que ela
beijou no bar…, mas espera: ele tem um irmão
gêmeo. Qual dos dois ela beijou, afinal?
Sem que ela soubesse, aquele beijo de vingança
seria a origem de uma série de acontecimentos
improváveis e que mostrariam que tudo está
interligado.
Em meio ao caos absoluto, poderia surgir uma
paixão avassaladora capaz de transformar para
sempre a vida de Olívia e Lorenzo?
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