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REVISÃO:
Simone Mota
CAPA:
Lucy Grffin
Hórus Design
DIAGRAMAÇÃO:
Larissa Chagas
lchagasdesign
Para as coquinhas,
que chegaram quando tudo era mato.
Era o último mês do ano de 2017, estava frio e chuvoso em
Los Angeles, era um péssimo dia para mudar de país.
Estava pela terceira vez, acho, arrumando minhas coisas para
mais uma mudança de casa por conta do trabalho de meu pai. Ele
era advogado, o escritório em que ele trabalhava era aqui, em Los
Angeles, mas o transferiram, pois era competente e o queriam
comandando um dos outros escritórios. Era estranho pensar nisso,
a maioria das vezes meu pai quem parecia ser o chefe do escritório
todo.
De qualquer forma, estávamos voltando para a cidade de São
Paulo, Brasil, onde nasci e morei meus três primeiro anos de vida.
Puxei meu último livro para colocar na mala e, junto dele, caiu
meu diário, um dos sete que tive em minha vida.
A capa com o desenho de um unicórnio me lembrava que este
era o que comecei a escrever no primário, não contive as risadas.
Observei as folhas gastas e velhas do diário, que letra horrível,
eu tinha aos sete anos de idade. Abri em uma folha aleatória e
comecei a ler:
Comecei a rir de mim mesma. Eu e Cameron nos odiávamos
desde que nos entendemos por gente.
Ele ainda me chama de nerd esquisita sempre que tem
oportunidade e virou meu apelido oficial no ensino fundamental. O
odeio por isso e outras coisas, ele é tão mimadinho, esnobe e
egocêntrico, e isso nunca mudou, nem com o tempo aquele garoto
teve salvação!
Para a minha tristeza, ele mora na Rua dos Alfeneiros, n°324. E
eu na 325. Quer dizer, morava.
— Já está pronta, querida? — meu pai questionou, parando na
porta que estava aberta.
— Estou — respondi, fechando o diário em minhas mãos e o
joguei na mala.
Papai se aproximou e me ajudou a fechar a última mala que
faltava.
— Onde estão meus outros diários? — questionei, descendo as
escadas junto com ele.
— Sua mãe colocou no carro — explicou e eu apenas
concordei, balançando a cabeça.
Entrei no carro e embaixo do banco do passageiro, estava a
caixa com os meus diários. Minha mãe sempre faz isso nas viagens,
nunca jogou nada fora e nem quis saber de ler, eu sempre contava
tudo para ela.
Peguei outro diário enquanto minha mãe estava se despedindo
da vizinha da frente, por algum motivo, queria relembrar alguns
momentos da minha vida. Dessa vez, minha letra estava melhor:
Fazia alguns meses que isso havia acontecido e até hoje não
entendia o motivo de Cameron Styles não ter tirado proveito da
situação para me zoar, debochar de mim ou coisa do tipo, não me
importava com as implicações dele, mas... Que seja, estou me
mudando e é isso o que importa.
— Querida, os Styles querem te ver antes de partirmos —
mamãe disse, enfiando a cabeça pela janela.
Suspirei, lembrando-me que minha ex-melhor amiga, Natalie, e
eu tínhamos parado de nos falar, mas, para disfarçar e evitar
questionamentos, sai do carro. Abracei a tia Eliza, que era um doce
de pessoa e eu ainda não entendia como podia ter um filho como
Cameron, e abracei o tio Arthur em seguida.
Natalie acenou de longe e voltou rapidamente para a casa.
— Rebecca, se despeça educadamente de Cameron, por favor
— papai pediu com tom provocativo por saber que eu detestava
aquele garoto.
Sorri ironicamente para papai e olhei Cameron, que já me
olhava enojado com aqueles malditos olhos bem azuis.
— Espero nunca mais ter o desprazer em te ver, atleta
detestável!
— Digo o mesmo, nerd insuportável! — Ouvi-o exclamar
enquanto voltava para o meu destino, e quando o olhei, ele me
mostrou o dedo do meio.
Revirei os olhos e entrei no carro enquanto Arthur, o pai de
Cameron, fingia brigar com o garoto, sendo que, na verdade,
adorava nossas discussões.
Quando papai deu partida, decidi relevar.
Adeus Rua dos Alfeneiros, adeus escola cheia de gente babaca
e insuportável, adeus Cameron Babaca William Styles!
Quase três anos haviam se passado desde o dia em que eu e
minha família saímos de Los Angeles para São Paulo, e novamente
quinze.
— Bem-vinda ao Goldens, sou Esme, a senhora Payne está te
aguardando no escritório dela — a garota do caixa informou. — É só
subir as escadas, é a sala do fim do corredor — explicou antes de ir
atender um cliente.
— Ok, obrigada — disse, mesmo depois dela ter saído,
caminhando até às escadas.
Certo. Era só uma entrevista de emprego. "Era só…", meu
Deus, até parece que era simples e fácil assim.
Respirei fundo, minha mente estava a milhão. E se eu fizer algo
errado? E se eu falar algo errado? Meu Deus, meu Deus!
Meus pais, mesmo que tenhamos uma vida financeira muito
boa, não me impediram de vir trabalhar. Já ouvi muitas amigas de
São Paulo dizendo que os pais dizem para focar apenas nos
estudos, os meus também me ajudam e incentivam a focar nos
estudos, mas também concordam em eu ir atrás do meu dinheiro.
Em São Paulo eu trabalhava com eles algumas vezes na
semana, porém, entramos em um acordo de que eu procuraria o
meu próprio emprego depois da mudança.
Bati na porta, respirei fundo e aguardei algum retorno.
— Pode entrar — ouvi a voz suave da senhora Payne, a dona
da lanchonete.
Entrei na sala e ela estava anotando alguma coisa. Fechei a
porta e me aproximei da cadeira.
"Espere até ela mandar você se sentar, isso mostra respeito e
reverência", a voz de meu pai dando dicas para a entrevista
ecoaram na minha mente.
A senhora de cabelos pretos e olhos escuros me olhou por cima
dos óculos, em seguida levantou totalmente o rosto e sorriu. Era
amiga do meu pai, mas eu não era nada próxima dela e não tinha
liberdade alguma.
— Sente-se, querida — pediu.
Concordei me sentando, ela me olhou de uma forma como se
eu tivesse toda a atenção dela, em seguida ela encarou um papel a
sua frente.
— Rebecca Malik Nogueira, correto? — Questionou arrumando
os óculos redondos no rosto.
— Sim, senhora Payne.
— Por que você quer essa vaga de emprego? — Ela me olhou.
"Porque eu quero meu dinheiro", pensei, mas respondi:
— Estou há uma semana em Los Angeles e ouvi falar muito
bem daqui, vim aqui duas vezes e me encantei. A organização,
harmonia e o atendimento me fizeram querer trabalhar aqui, pois é
um ambiente assim que eu quero para trabalhar — afirmei a
olhando nos olhos.
"Sempre olhe nos olhos, demonstra sua confiança e
sinceridade. Sempre olhar nos olhos", relembrei das palavras de
minha mãe.
A senhora Payne também me olhava nos olhos a cada palavra.
— Rebecca, fico feliz em saber que é essa impressão que
causamos.
A mulher a minha frente começou a falar sobre a política quanto
aos funcionários, a forma com que ela gosta de administrar as
coisas na Goldens e eu apenas concordava com tudo. Me sentia
leve, como se não precisasse ter medo de falar com a chefe.
— Eu nunca fiz testes com ninguém, mas com você quero fazer.
— Certo — concordei a olhando. Seus olhos seguiram para a
tela onde mostravam as imagens das câmeras da lanchonete.
— Pode se vestir com esse uniforme? — Questionou pegando
um uniforme em mãos. — Não vou te colocar para trabalhar hoje,
mas quero um... Um breve teste. Faz parte da entrevista.
— Claro, senhora Payne — disse pegando o uniforme que ela
estendeu para mim.
Me arrumei no banheiro que ela indicou. O uniforme é um pouco
mais curto do que estou acostumada a usar, mas não foi problema.
— Senhora Payne — a chamei, entrando novamente em seu
escritório. Ela se levantou e sorriu caminhando até mim.
— Querida, ficou ótimo em você — afirmou pegando as roupas
de minhas mãos e as colocando em cima de uma das poltronas. —
Vamos, vou te explicar o que quero que faça.
Concordei descendo as escadas com ela. Paramos no caixa e
ela pegou um tablet me explicando como funcionava a seleção de
pedidos. Não era nada difícil para falar a verdade.
— Boa tarde Raquel — ouvi uma voz grossa e rouca.
Pisquei por pelo menos três vezes. Não pode ser. Não. Não.
Não.
Ele estava acompanhado de três meninas e dois meninos. As
meninas com uniforme que parecia ser de líder de torcida e eles
com um moletom que parece ser do time. Liberty? Ah não!
Por uma força que ia além de mim, me virei disfarçadamente
enquanto olhava o tablet na mão da senhora Payne, evitando que
ele e seu grupo me vissem. Que péssimo dia para fazer meu
primeiro atendimento na Goldens.
— Essa é a Raquel, vocês trabalharam poucas horas juntas por
conta da faculdade dela, você trabalhará com o meu filho, quando
ele chegar, o apresentarei — senhora Payne disse e eu abri um
sorriso forçado.
— Então, já estou contratada? — Questionei rindo.
— Vamos ver isso agora — avisou. Raquel me olhou de cima
abaixo.
— Prazer, Raquel. Sou Reb…
— Sei quem você é. Boa sorte — disse ríspida.
No mesmo minuto, o sininho que avisa quando alguém entra na
Goldens tocou. Um casal de velhinhos simpáticos entrou sorrindo e
nos cumprimentaram.
Por favor Deus, me permita atendê-los?
A mesa seis estava barulhenta com o grupinho do babaca. Meu
Deus, ele está tão diferente...
— Vou atender a mesa seis — Raquel avisou saindo de trás do
caixa e, mesmo que ela não parece ser muito amigável comigo,
quase a agradeci.
— Não — a senhora Payne colocou a mão na frente da garota,
a impedindo de continuar caminhando. — Rebecca atenderá as
duas mesas.
Balancei a cabeça concordando, não tinha alternativa favorável
para mim.
— Ordem de chegada. E nada de descontos especiais — avisou
em voz baixa. — Aquele garoto, Cameron Styles, já me fez demitir
três garotas por descontos especiais sem autorização. Espero não
ter esse problema com você.
— Sim, senhora Payne — concordei.
Meu estômago doeu ouvindo o nome de Cameron. Mas que
droga! Tanta gente no mundo e olha quem foi o enviado que vou
atender.
— Pode ir, querida — a senhora Payne pediu. Amarrei meu
cabelo em um rabo de cavalo e arrumei os óculos em meu rosto
para em seguida pegar o tablet.
Me aproximei da mesa e quando parei, os olhares se
levantaram em minha direção. Exceto o olhar de Cameron que
estava voltado para o cardápio, o braço direto envolto de uma
garota de cabelos loiros e olhos claros. Ela me olhou e olhou
novamente para o cardápio, sem se importar muito com a minha
presença. Os dois meninos olharam minhas pernas e voltaram os
olhares, também, para os cardápios.
— Boa tarde, meu nome é Rebecca, qual será o pedido de
vocês? — Questionei os olhando.
O olhar de Cameron se levantou no segundo em que comecei a
falar boa tarde. Seus olhos azuis me encararam surpresos, me
olhou de cima abaixo parecendo surpreso e sua boca se abriu um
pouco. A garota loira ao lado dele o olhou e me olhou.
— Malik? — Sua voz rouca questionou. Essa voz… ah, claro
que não.
— Boa tarde, qual será o pedido de vocês? — Questionei
novamente.
Cada um fez seu pedido. Mas Cameron continuou me
encarando, piscando lentamente.
— E o seu? — O olhei, quase rindo dele estar prestes a babar.
Ele se recompôs e ergueu o queixo de forma arrogante, como
sempre fazia.
— Um número cinco, com desconto — ele sorriu como um
galanteador.
— Não tem desconto hoje — afirmei sorrindo sem mostrar os
dentes.
— Para mim, sempre tem — disse com a voz cheia
convencimento e seu ar esnobe. Ah, Cameron, que pena.
Eu sabia que minha reação me faria ser mandada embora, mas
foi impossível controlar minhas palavras.
— Você conseguiu desconto? — Questionei um dos garotos e
ele negou balançando a cabeça. — E você? Pediu um número cinco
também, conseguiu desconto? — Perguntei ao outro garoto e ele,
também, negou — Então, Styles, você é como todos os outros,
sendo assim, não tem desconto. O pedido de vocês chega em vinte
minutos — disse caminhando até a mesa do casal de velhinhos.
A senhora Payne sorriu e caminhou até o corredor que dava em
direção as escadas após ouvir os meninos zombando de Cameron.
O casal foi extremamente fofo e simpático comigo, o que deu
uma balanceada e esperança de que esse trabalho não fosse ruim.
— Os pedidos da mesa seis estão prontos — Raquel avisou
indo atender outros clientes que entraram no estabelecimento.
Peguei primeiro as bebidas e as coloquei na mesa. Em seguida
peguei os lanches.
— Três números dois — disse entregando os lanches naturais
para as meninas — Um número três e dois números cinco... Sem
desconto especial — debochei após entregar o lanche de Cameron,
ele pegou encostando a mão na minha e deu um sorrisinho de lado.
— Oh, droga! Sou muito desastrada — disse a garota loira, que
está com Cameron, após derrubar o próprio suco de uva na mesa —
Pode limpar aqui... Garçonete? — Disse enojada e dando ênfase na
palavra garçonete.
Sorri após respirar fundo.
— Desnecessário, Melissa — a voz grossa de Cameron afirmou.
— Foi sem querer, gatinho — a voz enjoada dela chegou aos
meus ouvidos.
Peguei o esfregão e o passei onde o suco havia caído.
Entreguei outro suco para a garota.
— Bom apetite! — Avisei me afastando sem nem olhar para
Cameron.
As garotas ainda brigam por garotos? Que seja, meu advogado
é o meu Senhor.
Levei os pedidos da mesa doze, a do casal de velhinhos e eles
sorriram e me agradeceram.
Raquel voltou para o caixa e me olhou. Por que ela me olha
fazendo pouco caso? Eu nem a conhecia!
— A senhora Payne está te chamando na sala dela — avisou.
— Ok, obrigada — agradeci caminhando até o corredor. O
sininho novamente tocou, mas não me importei, apenas segui
adiante. Bati duas vezes na porta e a abri — Com licença, senhora
Payne, mandou me chamar?
— Pode entrar — me aproximei. — Sente-se — me sentei e ela
me olhou. — Será seu primeiro emprego?
— Sem meus pais, sim — ela sorriu.
— Mas você sabe atender ao público, com seus pais era assim
também?
— Não — neguei com a cabeça. — Atendimento ao público eu
aprendi nos trabalhos voluntários da igreja, no Brasil.
A senhora Payne arrumou os óculos em seu rosto e me olhou.
— Você é da igreja?
— Sim, não sou praticante, mas sim — confirmei.
— Cristã? — Concordei com um aceno de cabeça. — Eu
também era — ela encostou as costas em sua cadeira. — Até
começar a namorar uma mulher.
— A senhora frequenta alguma religião? — Ela me analisou por
instantes.
— Às vezes a espírita, mas é mais minha mulher que vai. Você
vai conhecê-la em breve, é diretora de Liberty High School. Vai
estudar lá, não?
— Meu pai contou? — Ela riu.
— Conheço seu pai desde o fundamental, querida, é claro que
contou. Você começa amanhã, às 16h. O uniforme já é seu. Seu
turno será junto com Andrew, meu filho — a porta se abriu no
mesmo instante em que ela disse o nome de seu filho.
Andrew? O que tentou roubar um beijo meu há anos? Eu sabia
que o conhecia, só não tinha certeza de que era filho dela.
— Mãe, a Raquel disse que...
Não consegui me virar, me mantive olhando para frente. A
senhora Payne se levantou e eu fiz o mesmo que ela. É, vou ter que
olhar para ele.
— Filho, essa é Rebecca Malik. Rebecca, esse é meu filho
Andrew — disse cordialmente.
— Becc…
— Prazer em conhecê-lo, Andrew — disse estendendo a mão
para ele. Ele a apertou e logo me afastei.
— Vocês nunca se conheceram? Ele era amigo de Cameron —
a senhora Payne disse, desconfiada.
— Não me lembro, evitava ficar muito perto de Cameron e não
conheci muitos amigos dele — expliquei sorrindo.
O olhar de Andrew era de surpresa, mesmo que ele estivesse
quase sem piscar, não me sentia intimidada.
— Bom, ela trabalhará no mesmo período que você — senhora
Payne explicou caminhando até sua mesa, me virei de frente para
ela e Andrew parou ao meu lado; será que ele continua sendo o
mesmo babaca de antes? — Querida, Andrew te explicará tudo aqui
amanhã. Hoje foi apenas um teste. Bem-vinda a Goldens!
— Obrigada, senhora Payne — sorri animada sentindo o olhar
de Andrew ainda em mim.
— Pode me chamar de Rosie. Andrew, pode ir — pediu e ele
saiu, ela me olhou e eu franzi o cenho. — Vocês já se conheciam?
— Engoli em seco.
— Não exatamente. Só de vista, ele sempre foi da turma mais
velha que a minha.
— E por que agiu como se nunca tivesse o visto? — Questionou
olhando em meus olhos.
— O Andrew que eu ouvia falar e que via na escola não era
exatamente uma pessoa boa — afirmei a olhando nos olhos, não
vacila Rebecca! — Desculpa se for ofensa. Acho que já perdi o
emprego — disse descontraindo o clima e ela riu negando.
— Não tolero namoro entre funcionários — disparou. — E muito
menos mentiras — concordei, ainda em choque. Eu realmente não
esperava por isso — Até amanhã, Rebecca.
Vesti um short preto que faz conjunto com a blusa preta, um par
de meias brancas que chega até o meio da canela e um par de
chinelos branco da Nike. Até que estou bem arrumada para ir à casa
dos Styles.
— Para onde vai? — Meu pai questionou parando na porta
aberta do meu quarto.
— Na casa da Nat — o olhei. — Achei que tínhamos um acordo
de você não esconder nada de mim sobre eles.
— E arriscar ter você reclamando durante a viagem toda por ser
vizinha dos Styles novamente? Não mesmo — brincou. — Fico feliz
que você tenha voltado a falar com Natalie.
— Ainda não sei. Vamos ver como vai ser hoje.
— Tudo bem e cuidado — afirmou beijando o topo de minha
cabeça.
E para variar eu estava atrasada... Como sempre. E o mais
engraçado era lembrar que a casa era do lado da minha.
Bati na porta da casa dos Styles e me virei de costas me
espreguiçando até que fosse atendida. Ouvi a porta se abrindo e
quando me virei de frente para ela, me deparei com os olhos de um
babaca em minha bunda, ele levantou o olhar, simplesmente largou
a porta aberta e saiu. Cameron nunca me atendeu bem, não estava
surpresa com sua reação.
Entrei de mansinho na casa me sentindo uma grande invasora
já que não fui recebida devidamente.
— Oh, Rebecca, meu Deus, como você está linda! — Elizabeth
disse animada assim que me viu. Sorri para ela e ela me abraçou.
— Tia Eliza, quanto tempo — disse a abraçando de volta.
— Arthur, venha ver a Rebecca — o chamou animadamente,
sem me soltar. O homem loiro dos olhos azuis se aproximou de nós
vestido com um avental azul marinho.
O cheiro de doce invadiu o ambiente. Arthur estava com uma
panela, mexendo alguma coisa com uma colher de madeira. Mesmo
sendo o dono da maior indústria e comércio de doces, ele sempre
fazia questão de preparar doces para a família, parece que nada
disso mudou.
— Nossa, nem parece a pequenininha que eu conheci há anos
— ele disse e sorriu me abraçando com o braço desocupado.
— Natalie está tomando banho, achou que você não iria vir mais
— Eliza explicou me trazendo até a cozinha onde Cameron estava
sentado no banco da bancada.
Olhei seus braços tatuados, como pode alguém da mesma
idade que eu ter tantas tatuagens?
O olhei, seus olhos me encararam de uma forma incomum, ele
olhou a única e pequena tatuagem que tenho no braço escrito que
sou diabética.
Fiz assim que descobri ser diabética e por precaução de passar
mal em algum lugar, sem uma identificação eu poderia correr o risco
de ser medicada incorretamente ou coisa pior. Ouvi diversos
julgamentos por frequentar raramente a igreja e ter uma tatuagem,
mas quando eu passar mal ninguém vai avisar que há remédios que
eu não posso tomar por ser diabética, certo?
E felizmente tive autorização dos meus pais para esse feito.
— Quer experimentar um pouco? — Arthur questionou
passando a colher na borda da panela.
— Tentador, mas não quero, obrigada.
— Você sempre amou meus doces — Arthur disse como se
estivesse decepcionado.
— Você é diabética — Cameron afirmou olhando a tatuagem,
concordei balançando a cabeça.
Eliza e Arthur me olharam surpresos. O mesmo olhar que todos
me olham quando falo que sou diabética e eu sabia o que viria
agora. Questionamentos e expressões de piedade, essa era sempre
a pior parte...
— Talvez eu faça um doce especial para você — tio Arthur
sugeriu calmamente, me deixando surpresa.
— Um doce para a docinho — tia Eliza brincou beijando o topo
de minha cabeça. Senti meu coração quentinho e aliviada em não
ter que fingir que não me incomodava as lamentações por eu ser
diabética.
— Você é muito amarga para uma diabética — Cameron
disparou me olhando.
Ah não, não ria disso Rebecca!
— E você é bem sem graça para um capitão do time —
retruquei, sorrindo com sarcasmo.
Cameron me olhou com um sorrisinho de lado nos lábios.
— Cameron, eu não tenho palavras para descrever a sua
pessoa — Eliza disse aos risos e me olhou. — E parece que
algumas coisas nunca mudam — afirmou animadamente.
— Mãe, acho que ela não vem mesm... — Natalie, que estava
secando seus cabelos com uma toalha, parou de falar quando me
viu — Você veio.
— Eu vim — repeti sorrindo sem mostrar os dentes.
— Você chora água com açúcar, Malik? — Cameron
questionou; tio Arthur e tia Eliza tentaram não rir, mas ficaram
vermelhos de tanto segurar e acabaram explodindo.
— O quê? — Natalie questionou franzindo o cenho.
— Filho, pelo amor de Deus — Eliza disse voltando a ficar séria.
Subimos para o quarto de Natalie, depois que eu decidi ignorar
Cameron, e ela me olhou.
— Eu tenho tanta coisa para falar, mas nem sei por onde
começar — disse coçando a cabeça e nos sentamos na cama. —
Eu errei feio, muito feio, não devia ter contado uma coisa que você
confiou a mim. Fui muito otária só porque era apaixonada por
Andrew e nada a ver, ele gostava de você e eu não sabia que ele ia
usar isso para te zoar.
— Nat...
— Eu fiquei com tanta vergonha que te tirei da minha vida, te
bloqueei das redes sociais achando que as coisas ficariam
melhores, achei que você queria isso também, que eu sumisse da
sua vida. Eu me odeio tanto por isso. Fui burra e só quero seu
perdão, mas nunca soube como... Como ... — Sua voz falhou e ela
abaixou o olhar.
— Você era apaixonada por Andrew? — Questionei franzindo o
cenho.
— Sério que você só escutou isso? — Indagou incrédula.
— Sim, se apaixonar por ele era muita burrice, fala sério —
respondi naturalmente e ela riu dando de ombros.
— Infelizmente, eu fui — ela se deitou na cama e olhou para o
teto branco.
— Nossa que vagabunda — seus olhos se arregalaram em
surpresa. — Me largou por causa de macho — Natalie fez um
barulho como se tivesse engasgado e começou a rir sem parar.
— Me desculpa — pediu disse após se recompor. — Eu fui
muito inconsequente mesmo. Não pensei em nada, só em mim.
— Vou trabalhar com ele, se isso for problema para você, então
o problema é todo seu — disse amarrando meu cabelo em um
coque e ela gargalhou.
— Nossa tá assim agora? Toda bruta? — Ri para ela dando de
ombros. — Ninguém vai ficar entre nossa amizade. Foi paixãozinha
rápida e eu queria a atenção dele por ser mais velho.
— Vocês tiveram algo? — Ela negou com a cabeça — Você
ainda gosta dele?
— Não — disse me olhando desconfiada. — Vai ficar com ele?
— Eu só fico sozinha querida, sou evangélica — afirmei a
fazendo rir.
— Por que o Cam perguntou se você chorava água com
açúcar? — Questionou me olhando.
— Porque eu sou diabética — ela me olhou confusa. —
Descobri faz um tempo. Achei que eles ficariam surpresos, sabe?
Mas seus pais e seu irmão agiram normalmente quando souberam
disso.
— Ah sim, é porque não é incomum pra gente. Meus avós
paternos são, os dois. Meu avô é desde os 40 anos, então meu pai
tá bem acostumado e Cam também porque morou com meu avô
durante um ano e cuidou dele e da vó — ela passou os dedos na
minha tatuagem. — Agora eu entendi.
— Não me surpreenderia você entender depois de dias comigo,
é tão lerda que me dói.
— Nossa, mas parece que já estamos bem né? — Rimos e ela
me olhou — Senti sua falta — disse e, finalmente, me abraçou.
— E eu a sua — afirmei, me sentindo incrivelmente bem.
— Queridas, vamos jantar. Becca, não aceito um não como
resposta — tia Eliza disse me olhando.
— Sim, senhora.
Descemos as escadas e Natalie me trouxe até a sala de jantar
onde já tem algumas coisas postas na mesa. Me sentei ao lado
dela.
Senti uma pressão que fez minha cadeira ir um pouco para trás.
Olhei na direção de onde vinha, Cameron apoiou a mão na borda da
cadeira enquanto colocava a tigela de salada na mesa. Seu rosto
ficou próximo do meu de uma forma que nunca havia acontecido
antes e eu me mantive imóvel. Ele me olhou, sorriu e se afastou.
Ok, que merda foi essa?
— O que foi isso? — Natalie questionou baixinho e me olhando.
— O quê? — Olhei para frente e ela apenas riu.
— Vamos orar antes — disse tio Arthur.
Fizemos a oração. Em casa era a mesma coisa. Sempre tem
que fazer o agradecimento, meu irmão as vezes tirava um cochilo
quando meus avós paternos estavam em casa porque as orações
do meu avô eram extensas.
Achei fofo que eles fizeram suco natural de limão com menos
açúcar para mim.
— Vocês chegaram de viagem quando? — Tio Arthur
questionou.
— Faz uma semana — afirmei.
Cameron estava na minha frente e por algum motivo não parava
de me olhar. Era horrível comer com ele me olhando daquele jeito.
Meu Deus, que ódio!
— E Owen não me disse nada — Arthur reclamou.
— Meus pais quase nem ficaram em casa nessa semana, minha
mãe estava resolvendo uns negócios das lojas e meu pai estava
organizando as coisas do escritório — expliquei. Quando olhei
Natalie, ela estava olhando Cameron como se estivesse falando
algo para ele sem palavras.
— É bom que vocês tenham voltado, assim seu pai volta a ser
meu advogado — Arthur disse nos fazendo rir.
— E você, Becca, está trabalhando? — Eliza questionou.
— Ela trabalha na Goldens, mãe. Na lanchonete da mulher que
você deixou de ser amiga só porque ela é lésbica — Natalie
disparou.
— Agora não Natalie — Arthur advertiu.
— Ela fez a escolha dela. Luz e trevas não andam juntos —
Eliza disse tentando finalizar o assunto.
— Luz e trevas? — Natalie questionou e riu.
— Melhor fazer outra oração, pai — Cameron sugeriu voltando
a comer.
— Por favor, parem com esse assunto. Não é hora! — Arthur
disse com firmeza.
Decidi voltar a comer. Natalie sempre foi de rebater com a mãe,
quando eu morava aqui há dois anos era a mesma coisa e isso
parece que não mudou também.
Meu cabelo, que antes estava preso em um coque, se soltou e o
joguei para trás discretamente. Levantei minha cabeça e Cameron
estava me olhando com os olhos semicerrados, como se estivesse
olhando uma escultura que admirasse.
Um sorrisinho se formou em seu rosto, como se ele estivesse
hipnotizado e um frio extremamente desconfortável e incomum
surgiu em meu estômago. Ele passou a língua nos lábios e os
comprimiu em seguida, balançou a cabeça desviando o olhar e
voltou a comer.
Qual era o problema dele?
encontrei minha sala após falar com a inspetora e não tive que
isso depois das aulas com Cameron que ela nem sequer sabia.
em seu rosto.
— O que aconteceu? — Questionei largando minha bolsa no
outro sofá e me sentando ao lado dela, a abracei e ela chorou ainda
mais.
Acariciei seus cabelos enquanto ela molhava minha blusa com
suas lágrimas. Eu mataria aquele desgraçado do Andrew se ele
tivesse feito algo!
— Foi Andrew? — Ela negou.
— Eu quem terminei o que tínhamos — disse passando os
dedos nos cantos dos olhos — Becca estava certa, não mereço ser
segunda opção. Mas sabe, eu me deixei levar por tão pouco que…
— Sua voz falhou e ela novamente me abraçou — Que valor eu
tenho depois de ter ficado com alguém que não vale um real? Que
me fazia de segunda opção?
— Irmã, isso não tem nada a ver. Você vale muito sim, mais do
que ele jamais conseguiria ter. O fato de você ter ficado com ele não
diminui o valor que você tem. Olha pra mim — pedi e ela me olhou
com os olhos inchados e lacrimejantes — Não deixe Andrew e nem
ninguém diminuir o valor que você tem, combinado? — Fechei o
punho e ela entendeu me dando um toque de mão. — E você é uma
Styles, não pode ficar sofrendo assim não — ela riu.
— Besta — rimos —, mas obrigada — beijei o topo de sua
cabeça e ela me abraçou se deitando em meu ombro. — Você tá
com o cheiro da Becca — ela me olhou desconfiada — Porque
vocês estavam juntos hoje — deduziu.
— Fui tirar a foto.
— Não estavam juntos antes? — Neguei com a cabeça, se ela
perguntasse demais eu acabaria entregando as aulas extras em que
Rebecca estava me ajudando. — Vocês vão ficar assim agora? Se
ajudando pra afastar as garotas de você?
— Não sei, talvez.
— Você tá gostando de tudo isso, não? — Natalie se sentou no
sofá e me olhou como uma criança animada. — Anda, Cam, fala.
— Claro que não. Eu só quero que essas meninas assediadoras
me deixem em paz — afirmei olhando a tevê.
— Você ainda sonha com ela? — Questionou e eu dei de
ombros. Já fazia mais de um ano que aquela garota não saia dos
meus sonhos.
— Não importa, isso vai passar. Eu sei que você abomina a
ideia de eu ter algo com ela, isso não vai acontecer.
— Cameron, você nunca me deu espaço pra falar sobre,
sempre desvia o assunto. Pode parar de ser cabeça dura uma vez
em relação a ela e me ouvir?
— Não — rebati.
— Problema é seu, vou falar mesmo assim — cocei a cabeça; lá
vem. — Eu não quero fazer a sua cabeça e Becca não é ingênua e
nem burra. Mas aquela escorpiana sempre escolhe esconder os
sentimentos e sofrer em silêncio e vai ser isso que vai acontecer se
ela começar a gostar de você, assim como você, ela jamais vai
admitir. A questão é, eu não sei como é Becca apaixonada porque
ela nunca se apaixonou. Mas tenho medo, Cam, muito medo. Eu a
amo demais e eu odiaria ter que ficar entre vocês dois.
— Natalie, você está sofrendo por uma coisa que nem vai
acontecer. Eu e a Malik? Nunca mesmo!
— Você não consegue nem me olhar falando dela — Natalie riu
com ar vitorioso. — Ela não é como as outras que você já ficou, por
favor, caso aconteça só não seja egoísta e babaca com ela —
revirei os olhos.
— Seus papos estão nada a ver, Natalie. Eu e a Malik não vai
acontecer.
— Você é um cabeça dura — disse dando um tapa em meu
braço. — Enfim, amei o jeito que ela te tirou da confusão hoje,
mamãe teria amado.
— Cala a boca, Paola — a empurrei e ela riu.
— Josh comentou sobre você ter falado para não fazerem
apostas com ela envolvida. Isso foi por que ela nunca beijou? — A
olhei, complemente impressionado.
— Ela nunca foi beijada? — Questionei, sem disfarçar minha
curiosidade, e Natalie travou ficando em silêncio.
— Quem nunca beijou? — Questionou se fazendo de
desentendida e desviou o olhar, ela com certeza achou que eu
sabia.
Rebecca Malik? Essa garota era uma surpresa constante e
agora a segurança dela com esses garotos do time com hormônios
a flor da pele seria dobrada.
— Mamãe e papai foram pro jantar de negócios? — Mudei de
assunto.
— Sim, mas em outra cidade.
— Beleza, vou ir dormir — me levantei pegando a bolsa.
— Boa noite apaixonadinho — provocou.
— Vai se ferrar — resmunguei subindo as escadas aos risos.
Eu apaixonado? Cameron Styles não se apaixona, só faz
pessoas se apaixonarem.
Ajudei tia Olívia a trazer Elo e Louis para minha casa junto com
Isaac, minha mãe e ela colocariam a fofoca em dia. Rebecca
chegou pouco depois e em sua face estava uma expressão
incrédula e ao mesmo tempo irritada. Lá vem…
Deixei as crianças na sala e subi as escadas com Rebecca até
meu quarto. Abri a porta, ela entrou, colocou os livros na minha
mesa de estudos e quando me virei para olhá-la, vi que estava em
pé de braços cruzados. Encostei a porta e me aproximei da fera.
— Qual foi?
— Qual foi, Cameron? Eu saí do trabalho hoje e me deparei
com Elliot, ele me seguiu ATÉ A MINHA CASA — disse irritada.
— Você reclamou de eu estar indo, então…
— Qual é a sua dificuldade, Cameron? — Ela me deu um tapa
que me fez rir.
— Nunca vi alguém reclamar tanto, puta merda — me sentei na
cadeira relaxando o corpo. — Eu te envolvi nisso, só estou fazendo
a minha parte.
— As meninas nem estavam lá quando eu saí — ela voltou a
falar em seu tom normal, o que já era um começo.
— Ótimo — ela bufou negando com a cabeça.
— É melhor começarmos logo com os estudos — concordei
pegando meu livro.
Durante todo o tempo de estudo ela mal conseguia me olhar e
eu não conseguia deixar de olhar sua boca rosada e carnuda a cada
palavra que ela falava.
— Por hoje acho que é só — ela disse fechando o livro. Minha
cabeça estava doendo de tanta informação.
— Finalmente — afirmei pegando meu celular e vendo as mil
ligações de Katherine e mensagens das líderes, meninas do grêmio
e do jornal. Eu não aguentava mais, nem respondia e elas mesmo
assim insistiam.
— Que foi? — Questionou me fazendo a olhar, mostrei o celular
para ela e ela riu. Pegou seu celular e mostrou para mim me
deixando ver as mensagens e ligações de alguns meninos do time.
— É por isso que você quer fingir que tem alguém, não?
— Sem dúvidas — coloquei meu celular na mesa — já estou de
saco cheio disso, esse ano tá de ferrar.
— É porque você voltou a ser capitão — concordei. — Natalie
vai saber sobre as aulas que estou te dando e sobre o… — Ela
respirou fundo — Namoro.
Primeiro eu congelei, sem entender direito. Depois, ouvi fogos
de artifício em minha mente e uma euforia crescendo como um
balão dentro de mim, mas ao mesmo tempo minhas mãos estavam
suando, era um risco enorme ficar perto dela, principalmente assim.
— Meus pais sabem. Minha mãe achou graça e meu pai odiou,
mas eles não palpitam na minha vida, principalmente nessa parte.
Não contei a eles sobre os meninos do time, contei só sobre te
ajudar — explicou e eu ainda não acreditava que ela tinha aceitado.
— Você está falando sério? — Ela me olhou e se virou na
cadeira ficando de frente para mim.
— Eu não faço ideia de como isso funciona, mas não deve ser
difícil baseado em tudo o que já vi — ela riu. — Fora que você já
namorou, sabe mais do que eu e isso é um ponto.
— Becca, isso é sério, tipo, sério mesmo? — Questionei apenas
para ter certeza.
— Sim e espero do fundo do meu coração que dê certo.
— Vai dar certo — afastei o cabelo de seu rosto e ela me olhou
por instantes, em seguida balançou a cabeça como se acabasse de
sair de uma hipnose.
— Acho que poderíamos começar com um boato, dessa vez eu
posto uma foto e deixamos todo mundo falando como já está
acontecendo. E aí vamos dando vestígios na escola.
— Pra mim parece ótimo — sorri enrolando uma mecha de seu
cabelo em meu dedo.
— Podemos fazer algumas coisas juntos depois só pra
confirmar o namoro, eu vou a uma ou duas festas com você, desde
que você venha pra igreja comigo quando eu for — explicou.
— Tudo bem, eu até gosto da igreja que você vai — ela riu me
olhando.
— Ok — deu de ombros.
— Eu vou poder te tocar sem você me empurrar ou me xingar?
— Questionei sentindo borboletas no estômago, o que era brega pra
cacete. Ela respirou pesado e sorriu nervosa — Vai ser como no
estacionamento — ela fechou os olhos e inspirou na medida em que
meus dedos deslizavam em sua nuca entrando em seus cabelos,
ela passou a mão no rosto comprimindo os lábios enquanto expirava
pesado.
Sorri vendo o efeito que causava nela.
— Ok — disse me olhando e deslizando as unhas em meu
braço. — Acho que consigo.
Passei a língua nos lábios. Ah, consegue…
— A foto, vamos tirar a foto — tirei a mão de sua nuca e me
afastei.
Ela concordou se levantando, me levantei afastando a blusa de
meu corpo, quando foi que eu comecei a suar?
Tiramos a foto e ela postou. Parecia tão corajosa e determinada,
totalmente diferente do que estava mais cedo.
— Cameron, a mãe disse que… — Natalie parou de falar
quando abriu a porta e nos olhou. Olhou o material em nossa mesa
e nos olhou novamente.
— Irmã, não é isso que você tá pensando — disparei me
preparando para o surto dela.
— Eu já sei que vocês estão estudando, Becca é péssima na
mentira — ela riu — e sobre o namoro mesmo sendo contra, sabia
que ela iria acabar fazendo o que quer, porque ela é assim.
— Aí Natalie, me erra — Rebecca retrucou se sentando na
cadeira.
— Enfim, a mãe disse pra você acompanhar a Becca na hora de
ir embora e — Natalie fez som de ânsia de vômito — que Deus me
ajude com vocês. Becca, não vai embora sem falar comigo — ela
saiu fechando a porta.
— Natalie não ficou brava pela gente?
— Sim, ela surtou, ficou com raiva, falou que eu era falsa,
mentirosa e depois começou a chorar falando que me amava e que
não queria que eu me apaixonasse por você — ri me sentando
novamente — o que é compreensível visto que você é você — franzi
o cenho e ela não me deu espaço para defesa. — Como você vai
fazer pra ficar com quem você quiser sem parecer que está me
traindo?
— Quanto a isso você não precisa se preocupar — ela se
levantou pegando a bolsa.
— Ótimo, vou falar com Natalie e já venho pra você me levar em
casa.
— Ok, te espero lá embaixo — avisei e ela concordou saindo do
quarto.
Me joguei na cama, eu finalmente poderia parar de fingir que a
odeio e ficar perto dela. Passei a mão no rosto, se ela soubesse que
eu já não consigo olhar para mais nenhuma garota além dela, não
se preocuparia em ver as pessoas achando que a traí. Merda, eu
nem conseguia evitar o sorriso quando pensava nela.
Desci as escadas até a cozinha e encontrei minha mãe. Peguei
um copo e o enchi d'água, ela me olhou.
— Um namoro falso — dona Eliza disse me fazendo a olhar e
sorriu. — Não acredito que Becca aceitou.
— Nem eu — ri tomando um gole d'água.
— Filho — ela se encostou na bancada a minha frente —, você
tem noção de que ficar muito próximo, toques, criar um
relacionamento mesmo que seja de mentira pode fazer vocês se
apaixonarem de verdade? — Abaixei o olhar e ela fez um barulho de
surpresa — Oh! Você já está apaixonado… — Afirmou.
— Claro que não, mãe — neguei colocando o copo na pia.
Minha mãe ia falar algo, mas Rebecca apareceu na entrada da
cozinha.
— Licença — pediu nos olhando antes de entrar. Educada como
sempre mesmo que em alguns momentos não precisasse. —
Preciso ir — disse calmamente.
Minha mãe me olhou me fazendo parar de encarar Rebecca e
riu.
— Seu namorado vai te levar, querida — disse sorrindo e a
beijou no rosto. — Boa noite.
A casa dela era ao lado da minha e mesmo assim meu pai
sempre exigiu que eu buscasse Natalie quando estava tarde e que
trouxesse Rebecca pelo mesmo motivo. Isso acabou virando
costume.
— Obrigada por me trazer — disse parando na frente de sua
casa, concordei e ela se virou para abrir a porta.
— Becca — coloquei a mão em sua cintura e ela se virou. —
Obrigado… Por aceitar me ajudar.
— Na verdade é pra me ajudar a tirar os machos do meu
caminho — ela riu tirando a tensão do clima.
— Se você diz — ri esperando que ela abrisse a porta de sua
casa. Outra regra do meu pai era esperar até que ela estivesse
dentro de casa.
— Até amanhã, Styles.
— Até amanhã, Malik.
Mas antes de deixa-la fechar a porta, a puxei e beijei sua testa.
Entrei em casa sem acreditar que tinha aceitado a proposta
de Cameron.
Meu Deus, eu enlouqueci de vez! A sensação era incrível e
aterrorizante.
Minha mãe me olhou assim que entrei na cozinha enquanto
meu pai ainda estava com aquela cara de pai ciumento como se eu
realmente estivesse namorando, o que era engraçado.
— Só estava esperando você chegar para ir dormir. Boa noite,
caramelinho — papai deu um beijo em minha testa.
— Boa noite, pai — sorri o observando sair.
— Ele estava chorando, falando que você ia se apaixonar de
verdade, casar e abandonar a gente — mamãe disse rindo.
— Até parece — balancei a cabeça aos risos e meu corpo
estremeceu só de pensar em casamento.
Não mesmo! Com Cameron ainda? Não!
— Você realmente fica confortável com ele, não é? —
Concordei, não só pelo namoro falso, mas às vezes conseguíamos
colocar nossas diferenças de lado. — Bom, espero que dê certo o
que vocês estão tentando fazer — ela sorriu me abraçando —
qualquer coisa, estou aqui.
— Mãe, a senhora está exausta. Descanse enquanto as
crianças estão dormindo — pedi em um tom brincalhão. — Se elas
acordarem, não se levante, dou conta.
— Obrigada — disse expressando sua sincera gratidão com um
abraço rápido. — Boa noite querida — se despediu saindo da
cozinha.
Peguei um copo d'água e comecei a encarar a lua, estava linda
e luminosa de uma forma incomum, pelo menos aos meus olhos.
Meus pensamentos seguiram um rumo totalmente fora do
comum. E se acontecer de eu precisar beijá-lo? Meu Deus, não
mesmo! Não assim… Por obrigação.
Meu irmão não vai nem chegar perto dela, eles nem se gostam de
de seus ombros.
Natalie e Calleb pulavam em silêncio animados nos olhando
como se fossem duas crianças prestes a irem a um parque de
diversões, sorri abrindo totalmente os meus olhos e fazendo sinal de
silêncio para eles.
— Vamos fazer um churrasco hoje — Calleb disse quase que
sem som e eu concordei piscando para ele.
— Vou deixar aqui — Natalie disse sem som nenhum, apenas
movimentando a boca, e colocou a caixa do meu presente para
Cameron em cima da mesa de cabeceira.
— Obrigada — sussurrei e ambos mandaram beijos para mim.
Calleb saiu primeiro e Natalie se virou para mim, colocou a mão
no peito e a outra na cabeça como se fosse desmaiar de emoção e
saiu aos risos.
Observei Cameron dormindo tranquilamente, parecia um anjo
de tão sereno que estava. Passei levemente os dedos em sua
sobrancelha, em seguida acariciei seus cabelos sentindo uma
alegria crescer dentro mim e, metaforicamente falando, percorrer
minhas veias junto com a minha corrente sanguínea.
Eu acho que gosto dele. Suspirei com esse pensamento. E vai
doer, ah, vai doer muito.
Quando terminarmos o colegial, quando irmos para a faculdade
ou melhor, quando ele decidir que está na hora de terminar essa
farsa e enjoar de mim… vai doer. Isso tudo vai doer. E por mais que
eu soubesse disso, da encrenca em que estava entrando, eu não
me importava.
Um coração quebrado não me mataria e eu não estava com
medo de arriscar. Sabia dos meus objetivos e metas, confesso que
até então Cameron não me mostrou que era uma pessoa que
seguiria meus objetivos, acredito que ele entenderia, mas na prática
era diferente. E, por conta disso tudo, seguiria com o
relacionamento falso, me permitiria uma nova experiência, mas
admitir os sentimentos? Tomar o primeiro passo? Não, isso não.
Me soltei cuidadosamente dele e ele se mexeu um pouco.
Caminhei até o banheiro, troquei minhas roupas e escovei os
dentes, peguei a blusa dele e a cheirei deixando um sorriso se
formar em meu rosto.
Olhei-me no espelho rindo de mim mesma... como eu estava
ferrada!
Sai do banheiro e vi Cameron se espreguiçando.
Seu corpo era tão lindo, forte, musculoso e definido e eu
provavelmente começaria a babar se prolongasse meu olhar nele.
— Bom dia flor do dia — disse pegando minha bolsa e
arrumando as coisas.
Ele olhou a caixa em sua escrivaninha, me olhou e se levantou.
— Bom dia bê — beijou minha cabeça e entrou no banheiro.
Me olhei no espelho por instantes depois de colocar minha
bolsa novamente na cadeira. Andei de um lado para o outro
sentindo o nervosismo tomar conta de mim. Ele vai gostar do
presente? Ele vai odiar? Estou fazendo certo em dar um presente
assim para ele? Não era muito precipitado?
Me sentei na cama pegando meu celular na tentativa de me
distrair.
— Vai ficar pro churrasco? — Questionou saindo do banheiro.
Estava com uma bermuda preta e uma blusa azul claro que
combinava com os seus olhos.
— Vou a igreja primeiro, mais tarde eu volto — me levantei
pegando seu presente — para você — estendi a caixa e ele sorriu
se aproximando. — Feliz aniversário!
— Você me dando presente? Deus fez uma obra na sua vida —
ele brincou pegando a caixa e me fazendo rir —, não precisava,
sério.
Nos sentamos enquanto ele desembrulhava o presente e ele
inclinou as costas as apoiando na borda da cama, parecendo
relaxar.
— Isaac me disse que namorados dão presentes, não tive
argumento contra ele — expliquei me lembrando que Isaac era o
maior apoiador do meu namoro com Cameron e disse que para ele
não era nada falso.
Ele abriu a caixa e seu rosto se iluminou com um sorriso largo.
— NÃO ACREDITO! — Disse eufórico — Becca, não acredito,
muito obrigado! — ele olhava o presente com um sorriso lindo.
— Fico feliz que você tenha gostado — disse o vendo guardar a
luminária com cuidado e ele me puxou me abraçando.
— Gostei mesmo — seus olhos buscaram os meus.
— Preciso ir, volto depois — me levantei e selei nossos lábios
rapidamente.
Me dei conta do que havia feito quando estava próxima da porta
e senti um frio gigantesco no estômago. Meu Deus, o que eu fiz?
Virei-me lentamente em sua direção sentindo meu rosto queimar
e minhas mãos suarem, ele parecia desnorteado e passou os dedos
nos lábios.
— Meu Deus — disse ainda em choque e me aproximando dele
com passos pesados e o coração disparado por ter agido totalmente
no impulso —, me desculpe.
Seu sorriso maroto ficou ainda mais largo e ele disse:
— Eu amei esse presente — passou a língua nos lábios —
devia se estender dia todo, pelo menos hoje — o olhei confusa e
tensa.
— Como? — Questionei curiosa.
— Como presente de aniversário você podia liberar… — ele
sorriu — pelo menos o selinho, hoje o dia todo, sempre que eu
quiser — gargalhei com a sua proposta.
— Até parece — balancei a cabeça negando e consegui sentir
meus músculos relaxando.
— Qual foi? Está com medinho, Malik? — Questionou em tom
desafiador.
Passei a língua nos lábios sabendo que não resistiria.
— Ok, válido — me rendi sentindo meu coração disparar.
O medo de partirmos para um beijo real e eu fazer algo errado
era enorme, mas eu já estava aqui, não fugiria agora.
— Sempre que eu quiser? — Ele estendeu a mão como se
estivéssemos fazendo um acordo.
— Sempre que você quiser — apertei sua mão em
concordância.
E foi o necessário para Cameron me puxar. Cai sentada na
cama, ele me deitou encaixando a mão em minha nuca e selou
nossos lábios como se esperasse por aquilo há tempos. Deu outro
selinho e passou a língua contornando meus lábios, abri um pouco a
boca sem lhe dar o espaço suficiente para um beijo e ele agarrou
meu lábio inferior com os dentes o puxando levemente.
Meu coração disparou ainda mais, apertei sua cintura e ele
puxou levemente meu cabelo, dei um último selinho nele... eu
desmaiaria, tinha certeza.
— Não sabia que isso fazia parte do seu combinado de
aniversário — comentei sem me afastar dele enquanto sentia minha
nuca suando.
— Isso te incomoda? — Questionou beijando minha bochecha
até roçar o nariz em minha nuca.
Respirei pesado o empurrando.
— Não nos deixeis cair em tentação — murmurei um trecho do
'Pai nosso' rindo e ele riu quando me levantei — até mais tarde,
Styles.
— Até, Malik — disse sem esconder o sorriso.
Peguei minha bolsa e sai de seu quarto após pegar a caixinha
de isopor de seu frigobar.
— Bom dia gente — disse sorridente.
Elliot e Natalie se entreolharam e então percebi que estava mais
empolgada do que deveria.
— Bom dia querida — tia Eliza beijou meu rosto — vai tomar
café com a gente? — Neguei com a cabeça.
— Obrigada, mas não. Vou a igreja primeiro — expliquei e ela
concordou.
— Tem culto hoje? — Natalie questionou confusa.
— Não, os cultos são aos domingos e tem reuniões de ajuda
aos dependentes químicos na quinta, mas sábado e domingo de
manhã eles deixam a igreja aberta das oito às onze, caso alguém
queira ir orar ou só conversar mesmo, quer ir? — Natalie pareceu
tentada e tia Eliza sorriu animada.
— Queria muito, mas vou amanhã, tenho que preparar as
coisas do churrasco.
— Ok.
Abracei tia Eliza e Natalie, cumprimentei Elliot e sai.
O churrasco começou às sete da noite e eu estava enrolando
até agora, tinha feito de tudo para não ficar muito tempo com
Cameron hoje por medo, insegurança e confusão.
Levei minha mãe para almoçar hoje em um restaurante longe
daqui e isso serviu de desculpa. Mamãe mostrou uma foto de
Cameron a Angel, minha prima de quatorze anos que foi com a
gente, e ela ficou o tempo todo falando o quanto ele era lindo e
parecia um príncipe, mas meu pensamento estava longe.
Quando fui a igreja, não precisei explicar a situação ao pastor,
comecei a chorar e como um pai ele me abraçou e disse: “Deus é
Deus de certeza. Mas pessoas machucadas podem ser confusas
com seus sentimentos e isso pode atrapalhar relacionamentos, mas
tenha paciência e fé, o amor é paciente e pode curar doenças do
coração”.
Em seguida ele disse o que estava em Josué 1:9: “… seja forte
e corajoso!”. E mesmo não querendo, no fundo do meu coração eu
entendia que teria que ser forte mesmo sabendo que a situação
tendia a doer. Foi incrível, eu chorei muito com suas palavras, mas
as entendi. O pastor Joseph não sabia o que estava acontecendo
entre eu e Cameron e mesmo assim seu conselho havia sido ótimo.
Cameron, pelo que Elliot me contou, sofreu por Alice. Talvez
seja essa a insegurança dele. A sua doença coração era devida a
uma garota que não o amou como ele merecia. Eu não sabia se
podia amá-lo como ele merecia, mas não podia descartar a
possibilidade, ainda não entendia meus sentimentos e também não
queria dar algo incerto a ele.
— Querida… — Minha mãe chamou, só então percebi que
estava com o rosto molhado por algumas lágrimas, e a olhei.
— Eu acho que gosto dele — ela sorriu me abraçando enquanto
eu limpava o rosto com a manga da blusa.
— E você já está sofrendo por isso? — Questionou com voz
suave.
— Mãe, eu não quero viver um vamos ver no que vai dar —
disse fungando.
— Becca, você já viu como ele te olha? Não acho que ele queira
qualquer coisa com você, ele parece gostar de você de verdade —
disse com sinceridade.
A olhei colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha.
— Não sei o que fazer e ser a primeira a falar sobre os
sentimentos está fora de cogitação! — Afirmei e minha mãe riu.
— Vocês são dois cabeças duras — ela afastou meus cabelos
dos ombros — e orgulhosos! Vão ficar esperando um admitir pro
outro os sentimentos. Já está em vocês, não é? Essa implicância
toda — ela se levantou, concordei rindo e me sentindo mais calma
— eu não vou me envolver nisso, mas se precisar estarei aqui —
disse beijando o topo de minha cabeça — aliás, ele está lá embaixo
te esperando.
— Ele o quê? — Questionei assustada e sentindo meu corpo
estremecer de euforia.
— Não demore, vou ir para a sua avó — disse saindo do quarto.
Me olhei no espelho com nervosismo. Eu sempre fui tão sem
graça assim?
Analisei minhas roupas. Meu conforto sempre vinha primeiro,
mas as vezes me sentia um tanto sem graça diante de todas as
meninas. Cameron não me olhará por muito tempo, mas eu estava
me preparando para isso e não mudaria meu estilo. Meu rosto
estava levemente avermelhado pelo choro.
— Todo mundo na festa e minha namorada se olhando no
espelho — ouvir sua voz e fez dar um gritinho de susto e ele riu me
olhando.
Estava com uma calça jeans preta, uma blusa cinza, um casaco
preto e um jordan preto, branco e vermelho. Ele mexeu no cabelo o
jogando para trás.
— Estava chorando? — Questionou, eu neguei e ele me olhou
desconfiado — Vamos?
— Vamos — disse colocando meus óculos.
Me despedi de minha mãe e sai com Cameron. Era possível
ouvir a música alta ainda que estivéssemos na rua, sabia que não
me sentiria muito confortável, mas concordei em vir por ser
aniversário dele.
— Tem muita gente? — Questionei assim que paramos na porta
de sua casa. Cameron simplesmente ignorou minha pergunta e
selou nossos lábios com ternura.
Ele sorriu colocando as duas mãos em minha nuca e selando
nossos lábios outra vez. Gelei e meu coração bateu forte e rápido.
Apertei sua cintura e ele acariciou minhas bochechas com seus
polegares.
O segurei pela mandíbula o afastando.
— Vamos entrar, seu atentado — ele riu concordando.
Entramos e eu me senti um tanto perdida vendo sua casa
lotada.
A música alta, fumaça de narguilé invadindo o espaço, jovens
com bebidas nas mãos, gente se beijando, quase se comendo e
todos dançavam animadamente.
Passamos da sala. Cameron estava atrás de mim e afastava as
pessoas que estavam dançando. Ele cumprimentava várias pessoas
com um sorriso no rosto.
Suspirei quando chegamos na área da piscina e churrascaria de
sua casa. Exalei o ar e senti a brisa fria batendo em meu corpo. O
tempo estava frio, bem frio.
Aqui perto das piscinas estava mais tranquilo. Calleb, Natalie e
Luce — a amiga de Jasper — estavam sentados em um sofá.
— Cameron, filhão, traz sua namorada aqui — tio Arthur
chamou, Cameron e eu nos olhamos e seguimos em direção a
Arthur — essa é a namorada de Cameron — me apresentou a um
homem de cabelos grisalhos que não parecia ter mais de cinquenta
anos — esse é meu irmão, Thomas, trabalhou em Stanford —
estendi minha mão o cumprimentando.
Arthur me apresentou a alguns outros familiares e Cameron não
tirou a mão de minha cintura em nenhum instante, principalmente
quando um de seus primos tentou me abraçar, ele simplesmente me
apertou e me puxou com cuidado impedindo que o abraço
acontecesse.
— Acho melhor você ir com Natalie — Cameron sussurrou
calmamente em meu ouvido me deixando arrepiada, me virei o
olhando e ele ainda assim não me soltou.
— Por que você tá tão estranho? Está agindo como um
namorado ciumento — brinquei, mas ele se manteve sério.
Seus olhos seguiram para trás de mim. Olhei na mesma direção
e vi que seu primo, o que tentou me abraçar, ergueu o copo em
cumprimento e voltou a fumar seu cigarro.
— Depois te explico, prometo — disse beijando minha testa.
Concordei selando nossos lábios. Ele sorriu, mas ainda parecia
tão tenso que me dava agonia. Me soltei dele e o vi se aproximar de
seus parentes brincando com o mesmo primo que o deixava
incomodado.
— Oi gente — disse me aproximando e beijei o rosto de Natalie,
Calleb e Luce.
Eles sorriam para mim e continuaram a conversa, estavam
analisando cada pessoa enquanto Luce e Calleb compartilhavam do
mesmo narguilé. Observei Luce, ela era linda e transmitia uma luz
incrível, seu rosto não me era estranho e eu sentia uma certa
familiaridade estando perto dela. Olhei na mesma direção que ela
estava olhando e admirando, e vi que era Melissa dançando. Voltei
meu olhar para ela, ela sorriu, ergueu o copo em minha direção e
em um gole só secou o copo, apenas sorri para ela.
— Amiga, tem coca na geladeira se você quiser — Natalie
avisou e suas palavras foram como uma luz de escape para mim.
— A casa na árvore ainda está em uso? — Questionei em voz
baixa e ela concordou — qualquer coisa, estarei lá.
Ela se preparou para rebater ou talvez se ofereceria para ir
comigo, mas Elliot se aproximou de nós.
— Não se preocupe — sorri beijando o rosto dela.
Caminhei até a cozinha vendo que tia Eliza conversava com
algumas mulheres e me apresentou a seus parentes. Amberly e
Hilda, que são tias de Cameron e Natalie, e Kiara, filha de Amberly,
que me deu um abraço caloroso e disse que estava feliz por
Cameron ter sossegado.
As mulheres se retiraram quando alguns adolescentes
invadiram a cozinha para pegar mais bebida. Peguei uma lata de
coca e me senti frustrada por não ter coragem de ir buscar carne,
considerando que tinha inúmeras pessoas desconhecidas ou que eu
não tinha intimidade alguma.
— Eu desisto — ouvi a voz aguda de Melissa, fechei a geladeira
e a olhei, estava com o rímel borrado, o cabelo colando na testa
molhada de suor e o nariz vermelho — eu não te odeio — disse de
forma enrolada, o suficiente para notar que ela estava bêbada —,
mas eu o amo e ele gosta de você, isso acabou comigo e com o
meu futuro com ele — ela começou a chorar e quando pensei em
fazer algo, ela se afastou sem me olhar e saiu da cozinha.
Parei um tempo refletindo sobre suas palavras, eu nunca quis
tirá-lo de ninguém.
Sai da cozinha. Quando passei pela sala, senti pessoas me
puxando para dançar, desviei de todos e finalmente consegui chegar
até a área da piscina. Caminhei até a parte de trás da churrasqueira,
desci os degraus de concreto com alguns matos envolto e
finalmente cheguei na velha casa da árvore.
Parecia intacta como na minha infância.
Subi os degraus de madeira e senti uma felicidade tomar conta
de mim. Tantas lembranças boas de minha infância com Natalie e
até mesmo com Cameron.
Antes eu conseguia ficar em pé normalmente aqui dentro, mas
agora, só conseguia andar com as costas encurvadas para não
bater a cabeça.
Algumas coisas pareciam iguais, um pouco mais velhas, porém,
iguais. Os desenhos que eu e Natalie fazíamos na parede
continuaram aqui, a marca de bola que quase quebrou a parede que
Cameron fez e a nossa coleção de botons da Barbie permaneciam
pregados na parede.
Caminhei até a parte de fora da casa e me sentei onde a cerca
estava quebrada, até hoje não fizeram uma cerca nova. Balancei
meus pés olhando para o céu; quando ficava triste com a minha
mãe, pulava o muro que separa minha casa da de Natalie e vinha
para cá, ela sempre vinha ao meu socorro ou eu no dela. Tínhamos
um pequeno rádio transmissor e nos comunicávamos por ele.
Lembrar disso me fez sorrir.
Abri minha coca, bebi um gole e em seguida fechei meus olhos
me deixando ouvir o silêncio. A barulheira da festa estava longe,
aqui ninguém me incomodava, não precisava fingir nada, nem ouvir
os surtos de ninguém.
— Então, Deus… sobre o que estávamos conversando hoje
cedo — olhei para o céu sabendo que Ele estava me ouvindo — eu
sinto algo por ele que cresce cada vez mais, não sei o que vai
acontecer daqui para frente, mas espero que o Senhor o aprove,
aprove a minha decisão de querer fazer dar certo.
Calei minha voz quando a silhueta distante de Cameron. Ele se
aproximou até chegar na casa da árvore, subiu com mais rapidez
que eu e se sentou ao meu lado.
— Já comeu? — Cameron questionou se sentando ao meu
lado.
— Ainda não — ele acariciou meu cabelo e selou nossos lábios.
— Você precisa comer — disse analisando cada traço do meu
rosto, como se quisesse fixar minha imagem em sua mente.
— Eu vou.
— Por que está aqui sozinha? — Me virei um pouco de frente
para ele e ficamos ainda mais próximos.
— Por mais que eu tente, essas festas não são para mim —
expliquei e ele sorriu ainda acariciando meu cabelo.
— Tudo bem, na verdade, nem eu sabia que viria tanta gente,
até então era só a família e alguns amigos — olhei a lua me
deitando no ombro de Cameron e entrelaçando nossos dedos.
— Vai me contar por que mudou totalmente na frente do seu
primo? — Questionei acariciando sua mão com o polegar e ele
beijou o topo de minha cabeça.
— Não confio nele desde que tentou ficar com uma empregada
a força — disparou e uma agonia passou pelo meu corpo inteiro e
apertei sua mão, acho que ele sentiu pois me abraçou firme — e se
alguma coisa te acontecesse eu…
— Não pense nisso — pedi o olhando —, por favor.
— Eu penso sempre, Rebecca — disse colocando uma perna
atrás de mim e a outra pendurada me deixando entre elas — na
escola, no trabalho e até na igreja. Penso em você, na Natalie, na
minha mãe — suspirou afundando os dedos em meu cabelo — sei
que existem vários Oliver e pessoas como o meu primo — explicou
acariciando meus cabelos próximos da nuca — e eu sempre percebi
como te olham na escola, é uma loucura, nunca tinha visto nada
igual.
Olhei para frente novamente e suspirei.
— Foi depois de descobrirem que eu nunca tive nada com
ninguém — expliquei.
Esse assunto se tornou um tanto embaraçoso de se falar com
Cameron e eu simplesmente não entendo o porquê.
— Uma grande idiotice — disse me puxando e selando nossos
lábios com suavidade. — Te incomoda, não? Precisar de um homem
para afastar outros homens.
Suspirei. Ele não fazia ideia de como incomodava.
— Demais. Porém, pelo menos funcionou. Não gosto de como
aconteceu, mas funcionou, na faculdade não vai ter isso — dei de
ombros.
Ele sorriu beijando meu ombro.
— Só isso te importa, não é? A faculdade.
— E com o que mais eu deveria me importar? — Questionei e
pelo seu silêncio entendi que ele gostaria de outra resposta.
Busquei seus olhos, mas eles não me deram resposta alguma.
— A temporada começa semana que vem, se importa de ir a
alguns treinos e jogos? — Questionou afastando a mão de meu
cabelo.
— Não para — choraminguei pegando sua mão e colocando
novamente em meu cabelo e ele me olhou com um sorrisinho no
rosto — aliás, treinos, tudo bem. Consigo um horário na minha
agenda — brinquei tirando um pouco da tensão —, agora nos
jogos? Conhece meu pai? Ele com certeza vai me fazer ir a jogos
até debaixo de chuva — rimos, ele puxou levemente meu cabelo me
fazendo prender a respiração e olhar para frente.
— Sogrão me apoia, porque a filha — ele me puxou nos
deixando mais próximos — não quer nem saber.
— Eu não disse isso — rebati o olhando.
— Só vai me ver jogar porque Owen gosta de futebol — disse
me dando um selinho e me envolvendo em seus braços quase que
me deitando.
— Vou te ver jogando porque sou sua namorada — expliquei o
puxando para outro selinho.
— Minha namorada — ele deu um sorrisinho bobo.
Seus lábios roçaram nos meus com calma e ele os selou
suavemente enquanto apertava minha cintura.
— Ah gente — sua voz soou desapontada — odeio atrapalhar,
se beijem logo — disse Natalie impaciente —, vamos cantar os
parabéns.
Cameron e eu nos arrumamos aos risos. Natalie me olhou
entediada como se nos reprovasse, em seguida abriu um sorriso
sincero e animado. Ela saiu andando e o clima ficou um tanto
desconcertante, eu realmente ia beijá-lo? Ah, eu iria.
Ele me ajudou a descer da casa da árvore e seguimos até a
área de piscinas abraçados. Natalie nos olhou como se ainda não
acreditasse no que via, apenas riu e foi até Elliot.
— Vem comigo, querido — tia Eliza chamou Cameron.
Me soltei dele e me aproximei de Luce que estava na beira da
piscina.
— Eu não tinha te visto na escola até ontem — comentei me
aproximando dela.
— Pois eu já tinha te visto — ela sorriu —, sou Lucinda Martín.
— Sou… — Parei de falar quando ela me olhou incrédula e
rimos juntas.
— Ele gosta mesmo de você — disse bebendo o líquido de seu
copo e olhou Cameron — Tinha que ver como ele ficou puto com
Oliver.
Abri minha boca para falar, mas parei quando começaram a
cantar os parabéns. Os meninos ficaram zoando na hora de cantar e
virou uma bagunça enorme.
— COM QUEM SERÁ… — Peter começou e eu senti meu rosto
queimando quando todos o acompanharam.
— VAI DEPENDER SE A BECCA VAI QUERER — o time todo
gritou.
Senti vontade de me enfiar em um buraco e Cameron não se
aguentava de rir da minha cara.
— ELA QUER — Natalie gritou fazendo todos rirem, mas muitas
garotas da escola não pareciam ver naquilo tudo.
— Faz um pedido — Josh disse em voz alta.
— CASAR COM A CAPITÃ — Peter gritou me fazendo colocar a
mão no rosto de vergonha, tio Arthur e tia Eliza riram.
Cameron riu me olhando e apagou as velas. Ele me olhou
novamente enquanto todos batiam palmas, seu olhar parecia que
ele tinha feito exatamente o que Peter disse.
— Vamos cortar o bolo, vem querido — tia Eliza o chamou.
A música voltou assim que os dois saíram da área da piscina
entrando na casa.
— Acho que o pedido dele foi o que Peter falou — Luce disse
me lembrando que ainda estava ao meu lado.
Antes que eu pudesse responder, fui jogada para dentro da
piscina após alguém trombar em mim com força. O frio dominou
meu corpo e eu me impulsionei subindo para a superfície. Melissa
me olhava com culpa e desespero. Todos tinham parado enquanto
eu conseguia sair da piscina. Melissa estava em choque, mas seu
choque se acabou quando Luce lhe deu um tapa tão forte que a fez
cair no chão.
— Eu tô cansada de você, sua desgraçada! — Luce exclamou.
Melissa tocou em sua bochecha avermelhada pelo tapa, os
olhos cheios de água e carregados de culpa.
— Me desculpa — ela disse baixinho — eu não… — Luce gritou
algo para ela o qual eu não entendi.
Quase não conseguia me mexer.
Frio, eu nunca tinha sentido tanto frio.
Meu corpo estava congelando quando Natalie correu até mim.
— Amiga, meu Deus — disse me carregando para dentro de
casa.
Cada músculo do meu corpo tremia em um frio que parecia
rasgar a minha pele.
— Amor! — Cameron exclamou preocupado.
Meus passos estavam lentos, já estava um frio cortante,
juntando com a água gelada da piscina me dava dor até no
estômago. Meus dedos paralisaram e eu senti minhas pernas
fraquejarem.
Ele me pegou no colo, meu cérebro pareceu entrar em curto-
circuito e não estava me obedecendo.
Eu tremia tanto que sentia que a qualquer momento começaria
a me debater, até que meus músculos relaxaram quando Natalie me
colocou debaixo da água quente do chuveiro e me ajudou a tirar as
peças molhadas e frias.
Suspirei voltando ao normal aos poucos, mas ainda sentia frio,
muito frio.
— Não acredito que Melissa fez isso! — Natalie resmungou
torcendo a blusa na pia. Fechei a porta do box.
Nem eu acreditava que ela tinha feito aquilo, pela primeira vez
ela parecia não querer ter feito o que fez.
Enquanto eu comia, ainda fungando pelo frio, Natalie passava
o secador em meus cabelos. Tia Eliza entrou no quarto e se
aproximou.
— Tudo bem, meu amor? — Questionou pegando em minha
mão — Você ainda está muito gelada!
— Daqui a pouco passa — afirmei na intenção de não
preocupa-la.
Ela pegou uma coberta de Natalie, me cobriu e se sentou em
minha frente.
— Não sei qual é o problema dessa menina, é igualzinha a irmã!
— Tia Eliza disse impaciente. Dei de ombros e apertei sua mão.
— Não se estresse com isso — pedi e ela suspirou.
— Lembra que você veio aqui em casa assim que voltou de
viagem, eu e minha mãe discutimos por causa de Rosie? — Natalie
questionou.
Recordei-me daquele dia. Tia Eliza pareceu a maior homofóbica
de todos os tempos por insinuar que parou de falar com Rosie por
ela ser lésbica.
Concordei balançando a cabeça.
— Por que não explica a história para ela, mãe? — Natalie
pediu.
— Essa tonta parou um dia pra me ouvir — tia Eliza disse se
referindo a Natalie e as duas riram — Rosie e a diretora López eram
apaixonadas por mim na época da escola, nós três íamos a mesma
igreja e eu simplesmente me apaixonei por Arthur.
“Eu e Arthur começamos a namorar depois que acabamos a
escola e Rosie surtou, assumiu que era lésbica e que me amava. A
diretora López e Rosie brigaram feio porque a López já tinha falado
a Rosie sobre gostar de mim”.
“Não tinha culpa alguma por amar Arthur, mas as duas pararam
de falar comigo por não aguentar me ver com ele. Era sofrido para
elas e eu as entendi. Tínhamos dezoito anos quando isso
aconteceu. Aos vinte eu e Arthur nos separamos, eu já estava
grávida e ele engravidou outra enquanto estávamos separados,
aquele safado”.
Natalie gargalhou por ela ser a filha da outra. Eliza acabou rindo
pela risada engraçada de Natalie e eu também, considerando que
essa história não era engraçada.
Terminei de comer e deixei o prato em cima da escrivaninha.
Tia Eliza continuou:
— Depois que Cameron e Natalie nasceram, eu me casei e
comecei a cuidar de Natalie também — a mãe de Natalie tinha
falecido no parto — Rosie e López me visitaram, as duas se
reencontraram e começaram a namorar. Porém, quando eu disse
que voltaria a igreja, elas não gostaram.
— Como a igreja às machucou? — Questionei.
Se elas eram da igreja, lésbicas assumidas e agora odiavam a
igreja, certamente foram machucadas.
— A igreja que frequentamos na adolescência as machucou
demais quando elas se assumiram, Rosie foi chutada de casa e
morou no meu porão por meses até encontrar alguém que a ajudou
a sair dessa, o pai de Andrew. López precisou fingir que não
gostava de garotas para não ser expulsa de casa — aquilo me
doeu, que horrível! — A religião acabou com elas e elas passaram a
não gostar de crentes, me admira Rosie ter você lá — disse
surpresa.
— Não sou religiosa.
— Eu sei — ela sorriu; Natalie terminou de secar meu cabelo —
as duas não aceitaram bem a minha volta a igreja, mas eu sentia
falta de Deus mesmo que pessoas da antiga igreja tivessem me
condenado por engravidar antes do casamento, Arthur também
sentia falta, começamos a ir para a que estamos agora e eles nos
acolheram tão bem… Erramos ao mudar de igreja e aconteceu
algumas coisas com Cameron e a filha do pastor, mas retornamos
para a que não devíamos ter saído — ela suspirou — enfim, Rosie,
López e eu discutimos feio e elas se afastaram, até hoje não nos
falamos. Me desculpe ter passado a impressão de ser homofóbica e
intolerante, não sabia como explicar tudo no meio do jantar, Natalie
nunca me ouvia quanto a isso e eu falei a primeira coisa que veio na
mente para acabar com o assunto, mas foi escolhas delas pararem
de falar comigo.
Ela finalizou e eu a abracei forte, ela parecia ter saudade de
Rosie e López.
— Fico feliz que ela tenha te ouvido, Natalie é cabeça dura —
brinquei.
— Olha quem fala, já falou pro meu irmão que gosta dele? —
disparou provocando e nós três rimos.
— Caladinha, Natalie — pedi.
— Meu coração de mãe não aguenta, vou amar ter você como
filha sem toda essa frescura de namoro falso — tia Eliza me
abraçou.
Acabei rindo de sua euforia e não consegui negar. Natalie se
acabou na gargalhada vendo o desespero nítido em meu rosto.
Paramos de rir quando vi Cameron através do espelho,
encostado na abertura da porta. Não deixei que seus olhos
encontrassem o meu.
— Vamos deixar vocês a sós, vou fazer um chocolate bem
quente pra você — tia Eliza disse se levantando e puxando Natalie
para fora do quarto.
Ela parou na frente de Cameron, disse algo em voz baixa e
saiu.
Puxei as mangas da blusa cobrindo minhas mãos na tentativa
de esquentá-las, me sentei na cama de Natalie e reclinei minhas
costas, dobrei minhas pernas na altura de meu peito e me cobri com
a coberta.
Cameron fechou a porta e se sentou próximo de mim.
— Você está bem? — Questionou me olhando e colocando a
palma da mão em meu rosto.
Acabei inclinando minha cabeça deitando meu rosto em sua
mão como uma criança e ele sorriu me acariciando com o polegar,
espirrei em resposta a sua pergunta o vendo rir.
— Ainda com frio — comentei.
Cameron se aproximou ainda mais e me abraçou. Afastou meu
cabelo da nuca e aproximou seus lábios de meu ouvido. Foi o
suficiente para fazer meu corpo se esquentar de dentro para fora,
mas minhas mãos ainda estavam geladas.
— Está menos cinco graus hoje — sussurrou lentamente em
meu ouvido.
Me senti atordoada e sorri. Não era nada romântico o que ele
estava falando e mesmo assim o efeito era assustador.
— Você e ela discutiram? — O olhei confusa, ele dobrou as
pernas na altura de seu peitoral — Pra ela ter te jogado na piscina
— completou.
— Ela não me jogou — disse me deitando em suas pernas e o
olhando, seus dedos acariciavam minha nuca — ela literalmente
esbarrou em mim e eu estava próxima da piscina, não acho que foi
proposital.
Ele concordou pensativo.
— Cortamos o bolo — disse após segundos de silêncio, funguei
novamente, frio e rinite não combinavam.
— Ainda está rolando a festa?
— Não, mandei todos embora, só ficaram meus parentes agora
e alguns amigos — explicou — podemos descer um pouco?
— Claro — me levantei.
Antes de sairmos do quarto ele me puxou cuidadosamente e
selou nossos lábios.
Descemos as escadas e Cameron colocou outro casaco em
mim antes de entrarmos na cozinha.
— Eu estou bem, Cam — disse o olhando, mas aceitando seu
casaco.
— A ponta do seu nariz está vermelha e gelada, suas mãos
parecem a parte de dentro do meu frigobar e você aceitou o casaco
sem nem retrucar como você sempre faz — disse risonho. Fiz cara
de tédio pra ele e ele riu beijando a ponta de meu nariz.
Entramos na enorme cozinha e todos nos receberam muito
bem. As tias de Cameron me perguntaram se eu estava bem ou se
precisava de algo. Kiara e Luce conversavam animadamente e
então percebi que Jasper e Samuel também estavam aqui, só que
conversando com Elliot e Josh.
— Tudo bem mesmo? — Calleb questionou e eu concordei
balançando a cabeça.
— Quer bolo, meu doce? — Tia Eliza questionou.
Neguei balançando a cabeça.
Cameron afastou meus cabelos da nuca com as duas mãos
após eu me sentar em um dos bancos, os segurou e aproximou os
lábios de minha orelha me deixando sentir sua respiração.
— E um beijinho, você quer? — Questionou.
— Não, acho que minha diabetes vai ficar muito alta, comi
bastante doce, mas obrigada — disse naturalmente e ele riu ainda
próximo de meu ouvido.
— Não falei desse beijinho, o que eu quero te dar não prejudica
sua diabete — sussurrou com calma em suas palavras e envolveu o
braço em meus ombros.
Senti um calor que não tem nada a ver com o sol ou o verão e
respirei pesado o olhando.
— Esse eu quero — respondi sem medo algum.
Ele abriu um sorriso largo, passou a língua nos dentes e tentou
conter a felicidade, mas seus olhos brilharam como nunca.
— Vocês sumiram na festa — o primo de Cameron disse nos
fazendo o olhar — mal posso imaginar o que estavam fazendo —
disse com a fala carregada de malícia.
— Pense bem antes de insinuar qualquer coisa sobre ela,
Jeremy — Cameron disse ríspido e parou na frente de seu primo.
O clima não ficou tenso como eu fiquei. A família de Cameron
apenas os olhou como se aquilo fosse normal.
— Ou o quê? — Jeremy questionou provocativo e endireitou
suas costas.
Elliot e Jasper ficaram atrás de Cameron assim dois garotos
ficaram atrás de Jeremy.
— Sente falta do braço quebrado, Jeremy? — Cameron
provocou vitorioso, eu engoli em seco e soltei a respiração que nem
sabia que estava prendendo.
— Senhores — tio Arthur disse cordialmente e de forma calma
se aproximando deles — acredito que não precisamos chegar a
isso, outra vez — ele me olhou dando um aceno de cabeça e
Natalie se aproximou de mim.
— Tira ele daqui — pediu em voz baixa, concordei me
levantando e pegando na mão de Cameron.
Mesmo de mãos dadas comigo, ele se aproximou mais de seu
primo.
— Nunca mais dirija a palavra a ela e nem pense em falar
qualquer sobre ela — avisou friamente. O rosto de Jeremy ficou
pálido, mas ele permaneceu encarando Cameron.
— Amor… — Cameron ainda ficou olhando Jeremy, apertei sua
mão e ele finalmente colocou os braços envoltos de mim me
puxando para fora da cozinha.
— Vamos para a parte da churrasqueira? Ainda tem coisa pra
comer — Kiara sugeriu.
Concordamos e Cameron ainda me abraçava pelos ombros.
Antes de sairmos ele pegou uma coberta do sofá e me puxou pela
cintura, me sentei em um sofá que tinha distante da churrasqueira,
eles pegaram alguns banquinhos e cadeiras e colocaram próximas
do sofá. Josh começou a organizar as coisas pro narguilé enquanto
conversava com Calleb.
Cameron se sentou ao meu lado, na verdade praticamente se
jogou em cima de mim e nos cobriu com a coberta que trouxe, me
abraçou pela cintura e eu senti meus olhos pesarem, não fazia ideia
de que horas eram.
— Você bebe? — Kiara questionou estendendo um copo pra
mim.
— Não — ri um pouco apreensiva.
— Nem eu — ela deu de ombros e entregou o copo a Luce que
aceitou — você é muito mais legal que a outra — ela fez expressão
de nojo.
— Lá vem — Cameron disse roçando o nariz em minha
bochecha até descer em meu pescoço.
Ele apertou um pouco mais minha cintura. O abracei pelos
ombros e ele encaixou o rosto em minha nuca me deixando sentir
sua respiração quente.
— Aquela lambisgoia era ridícula! Que menina podre! — Kiara
disse ainda com expressão de nojo. Eu e Luce, por algum motivo,
nos entreolhamos — E a garota que te empurrou, a irmã dela, é a
mesma coisa.
— Ela não me empurrou — comentei em voz baixa.
Cameron parou de beijar meu pescoço e me olhou confuso.
— Eu duvido. Você tinha que ter visto o tapa que Luce deu nela
e a cara dela depois — sorri um pouco desconfortável e Cameron
ainda me encarava em busca de respostas.
Natalie e Elliot se aproximaram e Kiara começou a conversar
com eles animadamente. Luce ainda me olhava de relance, como se
tivesse notado algo estranho em mim e talvez estivesse certa, mas
seu olhar se voltou para Kiara.
— O que foi? — Cameron questionou passando os lábios em
minha orelha e a mordiscou levemente. Ele vai me deixar louca!
— Nada — ri sentindo meu corpo estremecer, mas não era pelo
frio —, não acho que Melissa queria mesmo me jogar na piscina —
comentei baixo observando o pessoal ao nosso redor; Cameron
apertou minha cintura me abraçando ainda mais forte como se
precisasse cada vez mais de mim.
— Ainda não temos certeza — foi a única coisa que disse antes
de me puxar pela nuca e selar nossos lábios. Ele passou a língua
contornando meus lábios e os agarrou com os dentes puxando
cuidadosamente.
— A gente sente a tensão de longe com eles, né? — Ouvi Kiara
questionar, mas não consegui desviar meus olhos de Cameron.
Deslizei os dedos em seu rosto e ele sorriu fechando os olhos —
Gente, para tá me machucando — ela disse nos fazendo rir e a
olhar.
Olhei o relógio de parede que marcavam 02:03. Eu tinha
perdido totalmente a noção das horas.
Peguei meu celular e me impressionei por não ter nenhuma
chamada perdida, nem se quer uma mensagem de minha mãe.
— Eu gostaria muito de ficar, mas preciso ir — disse tentando
me soltar de Cameron.
— Falamos com tia Olívia pra você dormir aqui caso ficasse
muito tarde — Cameron explicou em voz baixa, o olhei.
— Não vou dormir aqui — disse em voz baixa e calma.
Ele me soltou e eu me despedi de todos, Natalie me olhou sem
entender nada enquanto eu mandava mensagem para a minha mãe
avisando que ia para a casa.
Andei até a entrada da casa de Cameron, mas ele me alcançou
parando em minha frente.
— Não adianta, Cameron, vou dormir na minha casa — insisti
fungando pelo frio.
Sair da coberta me deu um choque pelo frio e minhas mãos
gelaram com rapidez.
— Você dormiu aqui ontem, qual é o problema? — Suspirei
sentindo meu coração apertar.
— Te deixar preocupado de novo, e se eu tiver mais uma crise?
Não quero te preocupar, nem somos namorados de verdade para
termos essa conversa — expliquei entrando na cozinha que estava
vazia.
— Que se dane o namoro falso! — Ele me puxou pela cintura —
Eu me importo de verdade com você — olhei em seus olhos,
mesmo com a luz baixa, conseguia ver que cada palavra sua era
sincera.
— Cameron — eu sentia as lágrimas vindo —, ter meus pais
preocupados comigo o tempo todo já é o suficiente. Eu posso viver
normal, mas quando alguém sabe dessas crises tudo muda, não
quero isso de você — confessei sentindo seus braços me apertarem
mais.
— Isso não vai mudar pra mim — Cameron deu passos para
frente me fazendo dar passos para trás com seus braços envoltos
de mim —, você vai continuar sendo a Rebecca chata — ele deu
outro passo — insuportável — deu outro passo me fazendo sentir a
bancada em minhas costas — incrivelmente mandona, que eu
simplesmente não consigo evitar querer proteger, cuidar — ele
olhou em meus olhos — e ter em meus braços — admitiu.
Tudo ao meu redor pareceu sumir. Meu coração disparou e eu
sabia que era agora. Não queria fugir, não queria ir a lugar nenhum,
queria apenas ele. Não existia crises, nem confusões ou medos.
Ele olhou meus lábios e foi o suficiente para que eu me
entregasse selando nossos lábios. Mesmo sem jeito, abri um pouco
a boca indicando o que queria. Cameron me afastou e olhou em
meus olhos. A luz do luar entrava dentro da cozinha e, juntando com
a baixa luz da cozinha, eu via seus olhos brilharem. Seu rosto
estava radiante e iluminado, mas ao mesmo tempo ele carregava
preocupação.
— Você quer mesmo isso? — Questionou.
Concordei, nunca tive tanta certeza.
— Sim, Cameron, eu quero... eu quero — repeti em um
sussurro.
Ele sorriu me segurando com firmeza e precisão em seus
braços. Nossos lábios foram selados com ternura. Seu coração
estava acelerado, assim como o meu.
Segui o mesmo ritmo que Cameron, de início um pouco errado
e sem jeito, mas nada impossível. Antes era um beijo rápido, mas se
tornou lento e carregado de desejo. Sua mão subiu pelas minhas
costas enquanto a outra apertava cada vez mais minha cintura me
puxando para si. Envolvi meus braços por cima de seus ombros e
arranhei sua nuca sentindo seu sorriso.
— Você mentiu pra mim — disse de forma calma afastando meu
cabelo do pescoço — achei que não sabia beijar.
— E eu não sabia — sorri envergonhada.
Levada pelo desejo, o beijei descendo as mãos por seus braços
e apertando sua cintura. Cameron estremeceu quando arranhei
suas costas por dentro da blusa de frio, não toquei sua pele devido
a blusa fina que ele estava por baixo da de frio.
Ele sorriu mordendo meu lábio inferior envolvendo a mão em
minha nuca, subindo pelo meu cabelo. Seus olhos encontraram os
meus e eu o enchi de beijinhos o vendo sorrir. Ele segurou
cuidadosamente em meu pescoço me fazendo parar com os leves
beijinhos, me fez arfar quando apertou um pouco e selou nossos
lábios outra vez. Me beijando com calma, eu estava sentindo coisas
que não sabia que poderia sentir e era incrível.
Afastamos nossas bocas com a respiração ofegante.
Suspirei quando ele me abraçou, me sentindo realizada, valeu a
pena esperar por ele, mesmo não sabendo que era ele quem eu
esperava.
Cameron me apertou ainda mais e me deu dois selinhos, ficou
com os olhos fechados e sorrindo. Afastei a mecha de cabelo de
seu rosto e ele pegou em minha mão levando até seu coração que
ainda batia descompassado.
— Meu coração implora para que eu faça o certo com você —
disse olhando em meus olhos —, mas não posso te pedir em
namoro agora, não até o meio da temporada dos jogos.
— O que está querendo dizer? — Questionei sentindo minha
felicidade se tornar confusão.
— Que eu quero você — assumiu tocando em meu rosto — e
quero fazer da forma certa, eu não posso te perder, mas preciso que
você confie em mim, pelo menos agora.
Tentei afastá-lo, mas ele se manteve imóvel e sem me deixar
sair. Apoiou as duas mãos na bancada e aproximou os lábios de
minha orelha. Era injusto, ele sabia que aquilo me deixaria
desestruturada.
— Preciso que confie em mim, Becca — disse sussurrando e
roçando o nariz em meu pescoço. — Eu preciso de você e preciso
que espere só um pouco, mesmo não sabendo o motivo — ele me
olhou.
Suspirei, nunca dei esse tipo de voto de confiança em ninguém,
mas com ele… Por que não tentar? Não fazia ideia do que ele
estava querendo dizer e mesmo assim meu coração insistia em
querer arriscar.
— Você se guarda até mesmo no beijo — ele envolveu os
braços em minha cintura — e eu prezo demais por isso. Não posso
oficializar o namoro agora, pelo menos não até o meio da
temporada.
— Ou seja, sem beijos até você resolver seja lá o que for —
disse entendendo e ele pareceu não ter pensado nisso.
— Não, calma, não foi isso o que…
— Porque assim, se você quiser fazer tudo certo vai ter que me
pedir em namoro antes de querer ficar me beijando — disse
adorando sua expressão de incrédulo.
— Becca…
— Já entendi, amorzinho — dei um selinho nele — isso é o
máximo que você vai ter, ok? — Disse me afastando dele para ir até
o quarto de Natalie pegar minhas coisas, mas Cameron me puxou e
me encostou novamente na bancada.
— Você não vai fazer isso comigo — choramingou.
Seria mais torturante pra mim, sem dúvidas, mas se ele queria
que eu esperasse, teria que ser assim.
— Cam, eu vou esperar sim, não é fácil, não tenho garantia
nenhuma sobre nós dois, mas vou confiar em você. Porém, não vou
ficar de beijos e beijos com quem não tem nada sério comigo —
expliquei olhando em seus olhos e abaixei o olhar.
Ele me soltou e então eu entendi que esperar até o meio da
temporada seria extremamente importante para nosso futuro, ou
não, relacionamento.
— Só selinhos? — Questionou desanimado, porém,
esperançoso e me olhou.
— Continua como estava antes do beijo — dei de ombros me
sentando na bancada.
Ele se colocou em minha frente e se aproximou ficando entre
minhas pernas.
— Você sabe que não vai dar certo — disse passando as mãos
nas curvas de minha cintura.
— Resisti a você até agora, consigo muito mais — falei firme,
mas sua proximidade me fez estremecer e ele me abraçou forte.
— O namoro continua — sussurrou mexendo no meu cabelo.
O abracei pelos ombros sentindo sua respiração em meu
pescoço.
— Continua — fechei meus olhos o sentindo dar beijinhos em
meu pescoço — preciso ir — disse tentando empurrá-lo.
— Não vai mesmo dormir aqui? — Questionou subindo a mão
em minha nuca e puxando meus cabelos.
Suspirei sabendo que ele tentaria até o fim ter outro beijo, mas
não ia ceder. Ele apresentou seus motivos e eu os meus. Agora na
prática que eu nem queria imaginar. Eu e ele nos olhamos, minhas
bochechas estavam queimando.
Rimos quando eu apertei sua cintura tentando mantê-lo longe
de mim e abaixei a cabeça respirando fundo.
— Preciso ficar longe de você. Não quero te ver amanhã,
apenas segunda.
— Mas…
— Se afasta em nome de Jesus! — Disse firme o vendo
gargalhar. — Sem mais, Cameron, só me leva em casa — ele riu
beijando minha testa e concordando.
Desci da bancada, peguei minhas coisas no quarto de Natalie e
desci a passos silenciosos. A casa estava toda em silêncio, acho
que os parentes de Cameron foram embora e seus pais foram
descansar.
Caminhei até a cozinha vendo que todos tinham entrado, mas
Cameron não estava.
— Dorme aqui, amiga — Natalie pediu.
Ela não fazia ideia da preocupação que eu tinha feito seu irmão
passar na noite passada.
— Não amiga, hoje eu só quero minha cama — disse me
apoiando na bancada esperando Cameron.
— Eu durmo com você — Kiara disse abraçando Natalie pelos
ombros.
— Não te convidei — Natalie provocou.
Kiara rebateu, mas não a ouvi. Não quando Cameron envolveu
os braços em minha cintura me puxando de forma calma e suave.
Senti seus lábios se aproximando de meu ouvido e ele
sussurrou:
— Vamos? — Concordei um pouco atordoada.
— É o tempo todo assim esses desgraçados — Calleb disse
apontando para nós — o tempo todo me deixando boiola.
— Boiola você já é — Natalie o provocou e Calleb mostrou seus
dois dedos do meio para ela, mas nem ele se aguentou de rir.
— Gente, beijos e boa noite — mandei um beijo coletivo e
saímos da cozinha.
Cameron me abraçou pelos ombros enquanto andávamos pela
rua, mas os passos dele estavam lentos como se ele não quisesse
chegar até minha casa.
— Posso te ver amanhã? — Questionou me apertando um
pouco mais.
O olhei rindo e paramos em minha casa.
— Não, senhor Styles, não pode — respondi decidida.
— Mas Becca… — Ele se aproximou de mim me puxando pela
cintura e seus olhos buscaram os meus e eu abaixei a cabeça
suspirando.
Cameron levantou meu rosto com seus dedos em meu queixo.
— É por causa disso que não quero te ver — admiti e ele riu
aproximando os lábios de minha orelha.
— Não consegue resistir?
Prendi minha respiração o afastando de mim.
— Você nem é tudo isso, me erra — rebati encaixando a chave
na fechadura da porta me tremendo por inteiro.
— Não respondeu minha pergunta — sussurrou juntando meu
cabelo para trás e o enrolando levemente em seu pulso.
— Cameron — disse em voz baixa sem conseguir deixar de rir
— boa noite.
Abri a porta e ele me deu um selinho rápido.
— Boa noite amor — se despediu descendo os dois degraus da
frente da minha porta e seguindo até sua casa.
Tranquei a porta e suspirei.
Eu devia estar com uma cara de boba enorme. Ri de mim
mesma com esse pensamento. Observei a sala que estava com
uma luz baixa e me aproximei vendo meu pai com Elô em seu colo,
a balançando para dormir, mas ela não parecia querer dormir,
estava observando tudo ao redor.
— Boa noite pai — disse entrando na sala — achei que
chegaria amanhã.
— Boa noite querida, íamos mesmo voltar amanhã, mas tive
que resolver algumas coisas no trabalho. Como foi a festa? —
Questionou ainda balançando Elô.
Sorri me lembrando da melhor parte da festa.
— Foi legal.
— Soube que foi jogada na piscina — disse arrumando os
óculos redondos em seu rosto e eu dei de ombros me sentando em
sua frente enquanto Elô me olhava rindo —, como estão as coisas
com o menino Cameron? Ele parece muito feliz.
Olhei meu pai, seus olhos transmitiam sinceridade. Forcei um
sorriso e ele pareceu confuso.
— O que aconteceu, docinho? — Questionou sem tirar os olhos
de mim e eu suspirei.
— Talvez ele goste mesmo de mim, parece que sim, mas… Ele
disse pra esperá-lo até o meio da temporada do time — expliquei
pegando Elô e ela se aconchegou em meu colo.
— E qual é o problema? Não é você que sempre disse sobre
esperar?
— Mas… esperar o quê? Tem alguma ideia? Alguma luz? Estou
confiando nele sem saber o que isso quer dizer — papai se sentou
ao meu lado com os olhos cheios de confusão.
— Eu não devia falar sobre isso, mas Arthur ficou muito
animado quando soube que Cameron finalmente decidiu que quer ir
para Stanford — o olhei surpresa — ele já estava falando sobre
Stanford há algum tempo, mas agora está decidido. Arthur está bem
animado pois se formou lá e foi quarterback de lá também — papai
deu um sorriso carregado de lembranças boas —, talvez essa seja a
resposta que ele queira antes de te pedir em namoro.
— Stanford — murmurei relembrando a conversa que tive com
Cameron em sua casa quando falei sobre ir para Stanford e ele
pareceu animado.
— Você com certeza vai entrar, os olheiros de lá vão vir e se
Cameron se dedicar como já vem feito, pode ter boas
recomendações e uma chance enorme de estudar lá — papai
explicou.
— Não tenho certeza se vou entrar mesmo — comentei
desanimada —, mas o melhor será esperar mesmo, tanto ele quanto
eu precisamos focar nos estudos, as provas não serão fáceis —
disse me levantando com Elô dormindo em meus braços — boa
noite, pai.
Estava prestes a subir a escada, pela primeira vez meu pai não
se despediu de mim.
— Caramelinho — chamou com voz calma, me virei o olhando e
voltando o caminho — você gosta dele? — Suspirei, mas acabei
deixando um sorriso transparecer, ele sorriu junto e apenas
balançou a cabeça concordando — Boa noite, filha.
— Boa noite, pai.
afastada de Cameron.
Não queria vê-lo, era difícil não o beijar antes, mas agora,
depois de ter sentido seus lábios e depois de sonhar com ele me
beijando ardentemente, com um desejo que fervia meu corpo e o
dele… eu enlouqueceria a qualquer instante.
Foi tudo muito real no sonho que tive na madrugada de terça
para quarta, ontem. O toque dele, os lábios dele, não era para ter
um efeito tão real, mas teve.
Cheguei atrasada por ter levado meu irmão para a escola hoje,
minha mãe estava ocupadíssima trabalhando em outra cidade e
voltaria hoje de tarde. Eu e meu pai prometemos a ela que
cuidaríamos de Isaac e assim estávamos fazendo.
Entrei na biblioteca para esperar a segunda aula começar. A
diretora me liberou e avisou que alguém me esperava na biblioteca.
Me deparei com Neji e ele acenou animadamente para mim.
Estava lhe devendo uma conversa e sabia que era sobre o
Fênix, o grupo de estudos.
— Bom dia — beijei o rosto dele e me sentei ao seu lado.
— Bom dia, como vai?
— Desculpem o atraso — Luce disse se aproximando com
Samuel —, oi Becca — ela beijou meu rosto e o garoto me
cumprimentou com um aceno.
— E aí, o que aconteceu? — Samuel se sentou na frente de
Neji e Luce na minha frente. Olhei o garoto ao meu lado.
— Kath se tornou a nova capitã das líderes — Neji começou e
eu senti um incômodo, o que aconteceu com Melissa? Desde
segunda não a vejo. — Então ela saiu do Fênix, assim como as
outras líderes. Os irmãos Halder se mudaram, ou seja, acabou o
grupo, só sobrou eu — disse aflito como se estivesse prestes a
chorar — e eu não quero ter que desistir das competições desse
ano, mas eu não tenho ninguém.
— Estou dentro — tomei a frente e ele me olhou surpreso.
— Eu também — Luce disse logo em seguida.
Olhamos Samuel e ele deu de ombros.
— Eu também — disse com seu jeito despojado e sorrimos.
— Ótimo! A primeira competição é amanhã uma hora da tarde
— Neji disse e o olhamos, todos, assustados, Luce soltou um
gritinho de susto — Física Quântica será o assunto — Samuel
relaxou o corpo suspirando.
— Tá fácil — disse naturalmente.
A paz dele acabou contagiando positivamente eu, Luce e Neji.
— A diretora liberou as duas últimas aulas pra gente se reunir
hoje e podemos estudar amanhã cedo, tudo bem pra vocês? — Neji
questionou sem disfarçar a euforia. Concordamos, essa semana as
aulas com o time foram suspensas por conta do jogo de amanhã.
— Obrigado mesmo gente, não sei o que faria.
Luce e Samuel apenas concordaram e se despediram.
Eu e Neji saímos da biblioteca. Ele parou e disse:
— Luce aceitou por você e Samuel aceitou por Luce — o olhei
parando em meu armário e dando de ombros.
— O que aconteceu com Melissa? — Questionei e ele franziu o
cenho.
— Ela não veio ontem também, ninguém sabe — disse
normalmente e o sinal tocou —, nos vemos mais tarde.
— Bom dia — Natalie disse e forçou um sorriso.
Peguei meus livros e a abracei.
— Tudo bem? — Questionei percebendo que algo estava
errado.
— Sim — disse com os dentes serrados.
— O que aconteceu e onde está Cameron? — Ela respirou
pesado.
— Lana, Karen e Katherine estão insuportáveis agora que
Melissa parece estar fora de jogo, elas estão muito em cima!
Katherine estava enchendo a paciência dele desde ontem e ele
acabou cedendo pra conversar com ela agora na ala de piscinas,
ele tentou de tudo para evitar e…
Não a deixei terminar. Fechei a porta do meu armário e me dirigi
até a ala de piscinas mais rápido do que deveria. Se fosse Cameron
conversando com qualquer outra pessoa, tudo bem, mas sabia que
Katherine faria de tudo para tê-lo.
Kristen e Paloma estavam na porta, de vigias, conversando
disfarçadamente quando cheguei.
— Licença — disse colocando a mão na trava da porta para
abri-la.
— Mas… — Paloma começou e eu lancei um olhar furiosa para
ela.
Ela e Kristen abriram espaço e quando entrei na ala de piscinas,
vi Katherine fazendo Cameron dar passos para trás em direção a
parede como se quisesse deixá-lo sem saída, mas não iria
conseguir pois ele estava mantendo uma grande distância dela e
desviando toda vez que ela vinha para cima.
Katherine me viu, mas Cameron não.
Ela voltou o olhar para ele rapidamente.
— Ela não vai te dar o que eu posso te dar — disse na intenção
de me afetar.
Sexo, sexo, sexo. Era só isso o que elas tinham a oferecer?
A olhei querendo rir, era hora de tirar Cameron dali.
Ele estava de costas para mim, me aproximei a passos
silenciosos e abracei sua cintura. Ele virou a cabeça me olhando no
mesmo segundo, beijei seu ombro e vi Katherine bufar como um
touro com raiva.
— Estou atrapalhando, amor? — Questionei e ele se virou para
mim me abraçando pelos ombros.
— Meu Deus, obrigado — sussurrou em meu ouvido soltando a
respiração.
Lhe dei um selinho e caminhei até Katherine.
— Vou deixar uma coisa bem clara: ele não te quer! Supere
isso, Katherine. Ele namora e você precisa respeitar isso
urgentemente! Ele não vai ser seu príncipe, muito menos seu rei.
Então respeita! E pare de achar que precisa oferecer sexo a alguém
pra te notarem — o olhar de Katherine mudou de raiva para dor e
surpresa. — Você deve ser melhor que isso! — Disse e soou mais
como um conselho.
Não queria atingi-la, mas ela precisava perceber o que estava
fazendo!
Cameron me segurou pela cintura, com a alça da bolsa no
ombro. Dei uma última olhada em Katherine e sai com Cameron.
— De todo o nosso namoro falso, hoje foi a vez em que você
mais me ajudou — disse em tom provocativo quando nos sentamos
em nossos lugares na aula de literatura.
O olhei incrédula.
— Ah e eu não fiz nada não, né Styles? — Questionei — Se não
fosse por mim — aproximei meus lábios de seu ouvido — você teria
enlouquecido com essas garotas — ele virou o rosto deixando
nossos lábios próximos e sorriu.
Me afastei e ele se deitou em cima de sua bolsa na mesa.
— Talvez — murmurou em resposta me fazendo rir.
— Não vai admitir mesmo que estou te dando uma grande
ajuda? — Nossos tons eram baixos para ninguém nos ouvir.
— Só depois do baile — disse fechando os olhos.
— Babaca.
— Mandona — rebateu, eu acabei rindo e pegando meu livro.
Cameron arrumou sua pose assim que a professora entrou na
sala. Consegui ver seu rosto e ele parecia estar exausto.
— Você dormiu? — Sussurrei.
Ele me olhou e deu de ombros.
Neji disse pelo menos cinco vezes que estava feliz por eu ser a
nova representante porque Karen sempre implicava com tudo e era
uma insuportável. Foi difícil acreditar, Karen parecia ser legal sem
todo o negócio do baile e do Cameron.
Eu e ele separamos os projetos, o que cada um ficaria
responsável.
Ele não gostava de esportes e quanto a isso, tinha meu pai e
Cameron para me ajudar. Ele também se recusou a falar com
Katherine sobre as líderes e com Karen sobre o grêmio, sabia que
nisso Natalie estaria comigo. Sendo assim, a separação ficou:
Neji: aulas de pintura, de dança, teatro, coral e o Fênix;
E eu: os esportes — futebol americano, futebol das meninas e
natação —, as líderes, o grêmio e o jornal.
Lana parecia me odiar, mas tinha Calleb, Karen provavelmente
me odiaria porque antes ela era a representante e queria a coroa e
Katherine, bom, preciso nem dizer.
— Agora sim eu vou treinar — Cameron disse beijando meu
pescoço quando parei em frente ao meu armário, suspirei com seu
toque e suas mãos deslizavam em minha cintura —, te vejo mais
tarde?
— Sim — lhe dei um selinho rápido e ele me virou de frente.
Seus lábios encontraram os meus com desejo e ele os roçou
nos meus e agarrou meu lábio inferior com os dentes.
— Cameron… — apertei sua cintura tentando controlar minha
respiração.
— Tchau, representante — sussurrou em meu ouvido.
— Tchau, capitão — arranhei seu braço.
Ele me apertou pela última vez e me soltou saindo de perto, me
dando fôlego.
— Eu me cansei de você! — Virei na direção da voz que
esbravejava comigo.
Karen pisou forte com seus saltos enquanto caminhava até mim
com duas garotas atrás dela, olhei seus pés me questionando quem
vinha para a escola de saltos, mas eu não tinha nada a ver com
isso, mesmo sendo um pouco... demais.
— Melissa foi burra, devia tê-la empurrado mais forte e as duas
teriam caído na piscina! Mas não, ela é fraca demais — disse
impaciente.
Olhei Karen extremamente surpresa e, por algum motivo,
decepcionada. Sempre a achei linda, seus traços delicados davam
um charme a sua aparência, mas ela não parecia delicada falando
comigo daquela forma.
Fechei meu armário e a olhei.
— Você também vai começar com isso por causa de Cameron
ou o quê? — Questionei cruzando os braços.
Ela deu passos para frente como se quisesse me intimidar, mas
me mantive imóvel e olhando em seus olhos.
Karen buscava medo em mim, coisa que ela não encontrou.
Como Josh podia ser um amor e sua irmã assim?
— Você acha que eu sou idiota? Que brigo por macho? Isso eu
deixo pra burra da Melissa que quer superar a irmãzinha!
Você, Rebecca — ela quase rosnou meu nome e seus olhos
pareciam querer me devorar —, você chegou aqui tomando tudo.
Rebecca, a nerd que é uma santinha, que nunca está envolvida em
nada, que é a uma crentinha que todos gostam, que salvou
Cameron, que vai ser rainha do baile, que é a mais inteligente, a
nova representante, a capitã… Rebecca, Rebecca e Rebecca —
disse enojada — escuta, garota, seus dias de paz acabaram! Vou
colocar essa escola em ordem e todos vão me agradecer. Eu não
pego leve como Melissa, nem sou fraca como Katherine e nem
sonsa como Lana. Então se prepare, você vai implorar para sair
dessa escola, pra deixar de ser a representante. Vou pegar de volta
o que é meu!
Não consegui deixar de rir. Uma vibe meio garota surtada e
afins.
— Mais alguma coisa, Karen? — Questionei depois de suspirar.
Ela riu tentando mostrar superioridade, mas estava nítido que
ela não esperava uma reação tão calma.
— Eu devia saber que aquelas burras não serviam para nada!
Mas estou ansiosa para ver sua reação — ela deu outro passo para
frente ficando ainda mais próxima de mim — quero ver se vai
aguentar sozinha ou se vai ir correndo pro seu namoradinho, já que
precisa dele pra tudo.
Continuei a olhando com calma mesmo que meu corpo todo
quisesse avançar para cima dela e socá-la.
Deixei um sorriso aparecer em meu rosto.
— Boa sorte com isso, Karen — foi tudo o que disse antes de
sair de sua presença.
Ouvi a batida do salto dela contra o chão.
Acabei me recordando de um ocorrido na antiga escola. Uma
garota começou a implicar comigo por eu ser a novata que todos
davam atenção e foi um ano inteiro assim, uma idiotice na minha
opinião.
Minha mãe me avisou que eu teria pessoas desejando o meu
mal em alguns lugares, por inveja. Vou considerar a ameaça de
Karen como uma preparação pro futuro. Um futuro que não sei se
terei Cameron, um futuro que terei que lidar com pessoas querendo
passar por cima das outras, mas não vou basear toda a minha vida
apenas nisso, ainda existem pessoas boas, sabia disso.
enquanto me aproximava.
— Viu Peter? Ele não comeu nada até agora — disse com a voz
carregada de preocupação. Vasculhei em minha mente, me
lembrando de que ele não estava com o time no refeitório.
— Na verdade não.
— Se vê-lo, pode entregar a ele? — Questionou levantando o
pacote em mãos — Se eu entrar na escola agora, a López vai
querer me apresentar pra todo mundo — ele riu de si mesmo.
— Claro, pode deixar — peguei o pacote e ele me olhou por
instantes. — Achei que não viria — ele deu de ombros.
— Uma amiga ficou decepcionada quando disse que não viria,
não queria deixá-la triste, sabe? — Rimos quando o empurrei pelo
ombro — E meus parabéns representante, capitã e futura rainha do
baile — revirei os olhos com o último título e fiz uma careta o vendo
rir.
— Obrigada, chefe — o provoquei e nos abraçamos
brevemente.
Nos soltamos e ele soltou a respiração que nem percebi que
estava prendendo durante o abraço.
— Preciso ir, minha mãe está me esperando — avisou sem me
olhar nos olhos. Concordei balançando a cabeça e vendo que suas
bochechas estavam coradas.
Me afastei o observando partir com o carro.
Era complicado perceber que ele gostava de mim porque o via
apenas como um amigo. Queria que o sentimento da parte dele
fosse um surto, mas toda vez que me olhava percebia algo diferente
nele. Algo que não teria parado para notar se ele não fosse motivo
do meu desentendimento com Cameron hoje cedo.
Quando me virei para voltar pra escola, Cameron e Natalie
estavam parados me encarando. Ele estava com os braços
cruzados e os olhos pareciam queimar como chamas ardentes.
Natalie me olhava com uma careta de ah não...
Cameron não disse e nem demonstrou nada, apenas entrou na
escola empurrando a porta com força. Pensei em ir atrás, mas
Natalie negou com a cabeça respondendo meu pensamento.
E assim era melhor. Ele me estressou antes de começar a
competição do Fênix e eu precisava ao máximo me concentrar, faria
o mesmo com ele. Não queria isso. Sabia que depois resolveríamos
tudo.
— Por que ele tá tão ciumento? — Reclamei e ela riu.
Ele nunca tinha ficado assim mesmo que tínhamos pouco tempo
juntos e ele nunca conseguia falar sobre sem ficar com raiva.
— Ele conhece Andrew como a palma de sua mão e sabe
perfeitamente ler seu olhar em você — disparou sem rodeios — e
Cameron não sabe lidar, não quer impor nada, mas não gosta de
você conversando com Andrew. Deve ser a primeira vez que ele
sente ciúmes assim — ela riu da situação.
Suspirei me sentando na escada e assimilando tudo.
— Ele é imaturo na questão de não parar para conversar sobre,
confesso. E não concordo em estar agindo assim, mas está
tentando não estragar tudo, ou mais do que já estragou, com você.
Deixe-o descontar tudo no jogo e que Deus ajude quem atravessar
o caminho dele hoje.
— Vontade de socar a cara dele e falar garoto, é de você que eu
gosto! — admiti com firmeza na voz e Natalie abriu um sorriso de
orelha a orelha — O quê? — Questionei confusa.
— Você disse pela primeira vez em voz alta que gosta dele —
seu sorriso ficou ainda mais lindo e aberto. Olhei para frente
repassando o que tinha dito e acabei sorrindo também.
— É… eu falei — admiti.
Analisei a situação.
Era sobre isso? Eu não admiti gostar de Cameron, demonstrei,
mas não admiti. Não como ele no nosso primeiro — e único — beijo
quando disse que me queria. Ele me deu um colar, me deu
a chave de seu coração. E o que eu fiz até então? Mesmo que ele
não tenha dito exatamente com essas palavras, ele demonstrou
mais do que eu. Mas isso não justificava a forma com que ele falou
e agiu comigo.
— Soque a cara dele e depois fale pra ele — incentivou e rimos
juntas, mas seu sorriso se desfez — Você e Andrew…?
— Não, não mesmo — ela pareceu aliviada —, você ainda
gosta dele, não é? — Ela parou um pouco refletindo sobre isso.
— É, mas hoje tenho perfeita noção de que só eu gostava —
explicou, franzi o cenho.
— Como descobriu isso? — Ela me olhou por instantes como se
a resposta estivesse diante de seus olhos e balançou a cabeça após
parecer repensar no que ia dizer.
— Não importa. Esse lanche é pra quem? — Questionou e
então me lembrei o real motivo de Andrew ter me chamado no
estacionamento.
— Peter, preciso encontrá-lo. Te vejo no futebol feminino —
beijei seu rosto me despedindo.
Observei o refeitório e nada de Peter. Caminhei pelo campo de
futebol e nada.
Por algum motivo, senti que devia ir até o jardim atrás das
arquibancadas do campo, onde Cameron quase foi pego batendo
em Oliver.
Suspirei ao ver que Samuel parecia estar de vigia, me aproximei
dele e ele nem sequer se moveu.
— Viu Peter? — Questionei calmamente e ele concordou.
— Está fazendo comprinhas com Jasper — disse rindo, mas
não vi graça. Sabia exatamente do que se tratava.
Meu coração apertou em saber que Peter estava comprando
drogas e tudo piorou quando comecei a pensar demais no que faria
com essa informação.
Jasper e Peter saíram de trás dos arbustos. Jasper me olhou e
caminhou até mim como olhar frio, enquanto Peter me olhava como
uma criança encrencada.
Me impressionei quando Jasper parou em minha frente
parecendo querer me intimidar ou me amedrontar. Achava que o
deduraria?
Sabia que sete pessoas já contaram sobre isso a diretora e ele
sempre se safava. Samuel nos olhou cheio de confusão e Peter
achou graça.
Olhei Jasper nos olhos, tentando decifrá-los.
— Está tentando me intimidar? — Questionei tranquilamente.
— Não, estou esperando seu julgamento — respondeu com
naturalidade.
— Jasper, já conversamos sobre isso, se Cameron desconfiar…
— Samuel parou de falar quando Jasper fez sinal para que ele
ficasse em silêncio, mas os olhos ainda estavam em mim.
— E desde quando minha opinião importa pra você? — Seus
olhos cravados em mim não me assustavam, mas uma onda de
confusão se formava em minha mente. O que Samuel queria dizer
com se Cameron desconfiar?
— Jasper, cacete! — Samuel o chamou com preocupação e
irritação.
Jasper saiu sem dizer uma palavra.
Relaxei o corpo decidindo ignorar o que tinha acontecido.
— Contagem de pessoas a fim da capitã: Neji, Victor, Noah,
Jack, Jasper, meu primo… — Olhei Peter.
— Jasper? — Questionei olhando os garotos que caminhavam
de volta ao campo de futebol, Jasper olhou para trás e Samuel deu
um soco no braço dele o fazendo virar para frente, o olhar dele não
parecia ser flerte, parecia querer minha aprovação. — Neji?
Minha confusão só crescia. Eu jurava que Neji era a fim de
Katherine.
— Acho que quanto mais você não quer chamar a atenção de
ninguém, mais você chama e que Deus ajude o capitão e te ajude
— comentou rindo.
— Isso não importa — ele disse o primo dele? Andrew era o
primo dele… — Pra você — entreguei o pacote com seu lanche que
provavelmente estava frio.
— Bem que Calleb disse que você é o novo Cameron, todo
mundo te quer também — o empurrei pelos ombros bufando e ele
riu.
Caminhamos até às arquibancadas.
— Cameron sabe? Sobre… — O olhei assim que nos sentamos
no primeiro banco.
— Sabe. Não concorda, sempre briga comigo, diz que se eu
usar algo muito pesado vai me cortar do time sem pensar duas
vezes, mas ele entende.
— Entende que você usa drogas? — Questionei em voz baixa.
— Entende que cada um tem um jeito de lidar com seus
problemas, sei que o meu não é o jeito certo — disse desanimado.
Queria fazer um discurso, falar sobre como ele podia se
prejudicar, quis socar sua cara, mas tudo o que fiz foi lhe dar um
puxão de orelha.
— Aí, sua louca! — exclamou colocando a mão na orelha.
— Estou com vontade de te socar até perceber que isso pode
acabar com você — admiti e ele riu mordendo o lanche.
— Agressiva que nem o namorado.
— A diferença é que ele literalmente bate quando quer —
repliquei.
— E você bate com as palavras — rimos —, eu consigo ficar
sem às vezes. Principalmente quando é semana de exames do
time. Alguns dias são bons, outros nem tanto — o abracei pelos
ombros e ele sorriu com o meu ato, mas seus olhos ficaram
marejados —, só uso coisas pra relaxar.
Senti que invadiria sua privacidade se perguntasse a quais
problemas se referia e quando são os dias ruins, então decidi não
questionar nada, quando ele quisesse, ele falaria.
— Talvez eu não seja a melhor pessoa pra isso, mas se quiser
conversar, estou aqui — ele me olhou.
— Gosto de conversar com você, me traz paz — sorri o ouvindo.
— Você e o capitão estão bem? — Questionou e eu suspirei
sentindo meu coração apertar — Vocês estão distantes hoje.
— É complicado — admiti e o vi do outro lado do campo —,
nunca imaginei que Andrew ficaria no meio do meu relacionamento
— ri da situação —, sendo que nem tem motivos.
— Andrew? Meu primo? — Peter questionou e só então me
recordei dessa informação.
Abri minha boca para falar, mas desisti quando Cameron, Josh
e Elliot se aproximaram. Queria pedir a Peter para que não contasse
a ninguém sobre o que eu falei, mas como faria isso com os
meninos aqui?
Cameron me olhava sério e eu o olhei com a mesma
intensidade.
— Vocês precisam se resolver logo — Elliot advertiu.
Eu precisava contornar a situação com Peter e mostrar que não
estávamos tão ruins como parecia.
— Sim mano, ninguém aguenta mais, tem gente passando mal
aqui — Josh dramatizou.
A cada dia que passava ele falava mais parecido com Calleb e
esse pensamento me fez sorrir. Cameron se manteve sério e eu me
levantei, acabaria com essa marra agora.
— Vejo vocês mais tarde, time — me despedi.
Parei na frente de Cameron, ri passando os dedos em sua nuca
e em seu pescoço até suas bochechas e selei nossos lábios.
Ele tentou ficar sério, mas virou o rosto mostrando um
sorrisinho. Passei a mão em sua cintura na medida que ia me
afastando e fiquei feliz pelos meninos estarem conversando ao
ponto de não se importarem com a gente.
Exceto por Peter que, disfarçadamente, nos olhou.
Natalie capturava cada momento da competição de natação.
Acredito que as fotos ficariam incríveis e seria material suficiente
para o jornal, ela chegou com Neji fazia em torno de trinta minutos.
Jasper evitou me olhar durante a competição. Ele estava
auxiliando cada competidor da nossa escola e parecia saber
exatamente o que fazer. Seus olhos encontraram os meus quando
foi anunciado que nossa escola tinha acabado de vencer. Tentei
afastar meu pensamento, mas foi inevitável. Se Peter estava certo e
Jasper era uma das pessoas a fim de mim… não, isso era loucura,
precisava ter outra explicação.
— Precisamos prestar nossas felicitações a eles também — Neji
relembrou estendendo a mão para mim em prol de me ajudar a
levantar e eu aceitei.
Como representantes, tínhamos que demonstrar apoio em todos
os projetos. Era cansativo, porém, eu estava gostando.
Karen e o grêmio estavam passeando em todas as
competições, até porque isso também era parte de seus deveres e
precisaríamos de um relatório deles. A presidente trombou em mim
no mínimo três vezes quase me derrubando e a cada provocação,
ela recebia uma reação tranquila minha.
Estava com fogo nos olhos e eu sentia indícios de quem estava
planejando algo ruim.
Lana e Calleb monitoravam tudo, mas, diferente do grêmio, eles
estavam atrás de fofocas e novidades para o jornal. Calleb estava
tirando algumas fotos também pra ajudar Natalie, afinal, ela era uma
só para vários projetos.
— Meus parabéns a equipe de natação — disse sem muitos
rodeios quando me aproximei —, capitão — estendi minha mão para
Jasper.
Natalie mirou a câmera em nós, Jasper segurou minha mão com
firmeza, o encarei friamente para que percebesse que, se Peter
estivesse certo, ele não tinha abertura nenhuma comigo.
Puxei minha mão de volta e Neji o cumprimentou. Olhei Natalie
que me encarava surpresa. Ela me olhou, olhou Jasper e riu de
desespero, em seguida gargalhou chamando a atenção até mesmo
da diretora que estava falando com a equipe de natação.
— Natalie! — Repreendi a puxando para um canto.
— Não pode ser — Natalie disse ainda em choque.
— E não é — afirmei séria e ela desfez o sorriso.
— O pessoal da academia de artes de Stanford está na pintura.
Vou acompanhá-los, não vou conseguir ficar no treino do time e das
líderes, você fica bem sozinha? — Neji questionou parando ao meu
lado.
— Sim, claro — sorri sem mostrar os dentes.
— Natalie? — Ele a olhou como se questionasse algo.
— Certo, já te encontro no campo — ela me avisou e saiu com
Neji.
Claro. Eu e um bando de machos, conseguiria lidar.
Cheguei ao campo junto com Melissa, só que em direções
diferentes. Ela me olhou fazendo um sinal com a cabeça para que
eu me aproximasse. Melissa chegou com postura firme e
intimidante.
— Katherine, pode ir para trás fofa, temos uma coreografia para
ensaiar — as líderes se entreolharam sorrindo.
Estava claro que Melissa era A capitã delas.
Quatro garotos com uniforme de líderes se aproximaram.
— Esses são os novos integrantes dos líderes — Katherine
ainda estava na frente enquanto a garota loira falava — para trás,
Katherine — Melissa se aproximou dela. — Obrigada por ter me
substituído durante a minha falta, não precisa mais.
Katherine foi para trás como se tivesse desaprendido a falar,
mas seus olhos carregavam fúria e eu sabia que ela não deixaria
barato assim. Precisei virar meu rosto e cobri-lo com a mão para
não mostrar que estava rindo. Depois de Karen surtando por eu ser
representante, essa foi a cena mais ridícula que já vi, apesar de que
ainda perdia para as garotas disputando a atenção de Cameron
mesmo com nosso namoro falso.
Melissa se aproximou de mim sorridente, porém, sabia que não
era um sorriso para mim e sim por ela ter seu lugar de volta. Olhei
minha prancheta na folha das líderes, rabisquei o nome de
Katherine como capitã e coloquei o de Melissa.
— Bem-vinda de volta, capitã — disse cordialmente e com
sinceridade.
— Obrigada, representante — disse com a mesma cordialidade.
Sua atenção foi voltada para o centro do campo.
Os Warriors e o Baltimore Ravens entraram em campo. Ambos
com olhares frios e intimidantes o suficiente para deixarem o vasto
local tenso. As líderes do time de Baltimore estavam do outro lado
do campo.
O amplo local ficou pequeno com tantas pessoas, os
treinadores conversavam sem um fio de rivalidade, ao contrário dos
jogadores imaturos. O campo foi separado em dois.
Me aproximei das líderes de Baltimore. Uma garota um pouco
maior que eu, de pele negra, cabelos enrolados e olhos de gato me
encarou com frieza. Não me deixei abalar, não era rival de ninguém
no momento.
— Bem-vindos a Liberty — disse esbanjando cordialidade —,
precisam de algo? — Questionei.
A garota se aproximou de mim com os demais líderes atrás
dela.
Senti que seria atacada a qualquer momento até Melissa se
aproximar com a nossa equipe.
— Melissa, não precisa, obrigada — agradeci antes que uma
confusão começasse sem necessidade.
Melissa me olhou uma última vez conferindo se tudo estava
realmente em ordem e saiu com a equipe. Voltei o olhar para os
líderes de Baltimore que encaravam as líderes enquanto se
afastavam.
— Bom, meu nome é Re…
— Todo mundo te conhece, Malik — a garota disse mostrando
um sorriso amigável — literalmente, todo mundo — afirmou e os
demais líderes riram.
O clima tenso se esvaiu com rapidez e isso me trouxe um alívio
inexplicável.
— Ah, não deve ser tudo isso — gesticulei com a mão
desocupada e ela riu negando.
— Não precisamos de nada até agora, mas se precisarmos,
falarei com você, obrigada. É um prazer conhecer a princesa de
Liberty — ela fez um gesto de realeza e aquilo me fez rir alto —
aliás, acho que o príncipe está a sua espera.
— Por favor — fechei os olhos —, por favor — a olhei — não faz
mais isso — implorei rindo e ela gargalhou.
— Sim, majestade — provocou —, sou Arya.
— Prazer, Arya. Preciso ir. Qualquer coisa, estou à disposição.
Ela agradeceu e eu precisei tomar coragem a cada passo que
dava me aproximando do time de Baltimore. O capitão Kevin, cujo
nome Neji repetiu três vezes para que eu decorasse — mesmo
sendo um nome comum e fácil — me encarou fazendo com que
sentisse calafrios.
— Você deve ser o capitão Kevin — disse mostrando simpatia e
fazendo ao máximo para não deixar minha voz falhar.
— E você deve ser a garota mais inteligente e linda das escolas
do estado — ele disse estendendo a mão.
Fiz o mesmo gesto.
Kevin tocou minha mão, se curvou um pouco e a beijou.
— Bom — puxei minha mão e ele arrumou sua postura, ouvi
passos atrás de mim se aproximando, não precisei me virar para
saber quem era e pelo aproximar do time de Baltimore, deduzi que
estava certa. — Sejam bem-vindos a Liberty, precisam de algo? —
Questionei com tom monótono.
Kevin olhou além e voltou os olhos para mim.
— Preciso de uma garota como você na minha vida — disparou
e senti a mão firme de Cameron envolvendo minha cintura e me
apertando, ele não me deixava mover um músculo se quer.
Me senti no fogo cruzado. Ou melhor, na cova dos leões com
Daniel.
— Sugiro que procure em outro lugar, Kevin — Cameron disse
firme, a voz dele pareceu engrossar um pouco mais.
Nunca havia o escutado falar dessa forma e por que eu gostei
de ouvi-lo falar assim com outra pessoa?
— Ou o quê? — Kevin desafiou.
Estavam todos tensos e os treinadores pareciam adorar o show
pois não moveram um dedo para intervir.
— Desejo boa sorte a vocês — disse sorrindo e tentando afastar
a tensão do lugar.
Me virei para Cameron o empurrando calmamente pelo
abdômen enquanto ele encarava os meninos do outro time.
— Não mostre suas fraquezas a ele — disparei longe o
suficiente do time rival, os meninos do time pareciam querer atacá-
los a todo custo —, não demonstrem as fraquezas de vocês — disse
no coletivo fazendo Cameron se juntar ao time.
Fiquei de frente para um bando de garotos, como se estivesse
dando aulas extras a eles e continuei:
— Parem de olhar eles, parem de demonstrar o que irritam
vocês ou os lugares que eles podem atacar para tirar vocês do foco!
Parem com essa infantilidade! Vocês precisam ser rivais durante o
jogo — disse firme.
Os meninos me olhavam com atenção, depois olharam uns aos
outros e Cameron tomou a frente, parando ao meu lado.
— Ela está certa — o treinador Sanchez disse se aproximando
— Rebecca, o que sugere?
Ele realmente estava interessado em me ouvir?
O treinador era conhecido por ser machista e estúpido. Meus
olhos encontraram o rosto sereno de Cameron, ele balançou a
cabeça positivamente me incentivando a falar.
Olhei o time rival e ouvi em meu pensamento tudo o que meu
pai já me falou sobre jogos e o que comentávamos quando
assistimos. Aprendi muito mesmo sem querer, adorava vê-lo falando
sobre algo que era apaixonado.
— Baltimore vai observar cada movimento do Warriors para
entender as estratégias, o plano de jogo para hoje. Sugiro que
mostrem um plano aleatório e totalmente diferente do que será de
fato — Cameron sorriu concordando e o treinador também.
— Ouviram a capitã? — Cameron questionou com voz firme e
os meninos gritaram sim em coro — Então vamos começar.
Mostraremos o plano de jogo que fizemos na primeira semana de
treino — ele anunciou e os meninos concordaram se arrumando em
suas posições. — Quando você vai parar de me surpreender? —
Questionou me puxando pela cintura e me tirando do meio do
campo.
— Quando você não tiver mais nada com o que se impressionar
— avisei e ele selou os nossos lábios com ternura.
— Seu conselho foi ótimo — forcei um sorriso e ele afastou uma
mecha de cabelo do meu rosto —, precisamos conversar sobre hoje
cedo, sei que fui um…
— Cameron, não vamos perder tempo falando de algo que pode
ser resolvido depois. Assim como a competição do Fênix foi
importante pra mim, sei que o jogo é pra você e precisa do máximo
de concentração, isso resolveremos depois — disse calmamente e
arrumando seu cabelo bagunçado.
Cameron pareceu cair em si sobre o que tinha feito mais cedo.
Sua fala sumiu e ele ficou me olhando atordoado. Aprendi com meu
pai a dizer com sutileza que uma pessoa fez errado, sem dizer que
ela fez errado.
— Vai treinar, amor — pedi; ele apertou minha cintura e, após
beijar minha testa, se juntou ao treino do time passando a mão no
cabelo. Ainda sim parecia pensativo.
Kevin estava nos encarando e riu como se tivesse acabado de
pensar em algo, e não parecia ser bom.
— Deixe-me adivinhar — o treinador se aproximou parando ao
meu lado e me acompanhando na observação dos treinos — Owen
quem te fez aprender sobre jogos? Porque você fala igual a ele —
sorri concordando.
— Papai me fez gostar de esportes e praticar alguns e minha
mãe me levou para o lado artístico — expliquei.
Meu pai quem me incentivou a jogar vôlei, futebol e aprender
dois tipos de luta, karatê e boxe, quando completei onze anos e
fiquei nisso até os quinze. E minha mãe, com sete anos me colocou
no bale e em ginástica artística que fiz até os dez anos, voltei com
quatorze enquanto aprendia boxe. Minha mente sempre foi muito
ocupada e organizada graças aos meus pais.
— Sua mãe — o treinador riu de uma forma que me deixou com
milhares de dúvidas —, você é a cara dela mais nova. Ela arrancava
suspiros dos meninos do time assim como você com o time atual e
mais algumas outras pessoas da escola — explicou, mas sua fala
não carregava maldade —, seu pai já contou sobre a briga entre ele
e Arthur pela Olívia? — O olhei surpresa e ele riu — É, achei que
Cameron seria igual ao pai que ficaria com todas as meninas da
escola até se apaixonar pela única que não o queria e teria o
coração quebrado, mas não. E fico feliz por isso, por ele ter
encontrado você. Cameron é um garoto especial.
As palavras do treinador eram boas de se ouvir, mas meu
pensamento ficou preso na história de tio Arthur e meu pai. Tio
Arthur era o cara que minha mãe me contou sobre a família querer
que ela se casasse?
— Acha que seu pai aceitaria ser conselheiro do time? — O
olhei sorrindo.
— Ele adoraria — o treinador concordou com um balanço de
cabeça.
— Falarei com ele. Até mais tarde, Rebecca.
Observei o campo quando me sentei no banco da arquibancada
vendo o treino do time e o ensaio das líderes. Provocações de todas
as partes e não tinha um só que se livrava.
Meus olhos encontraram Luce se aproximando das líderes de
Baltimore. Ela falou com Arya de forma íntima, as duas sorriram e
Luce se despediu vindo em minha direção.
— Pra você, senhorita — ela me entregou uma barrinha de
cereal com cobertura de chocolate e uma garrafinha de água.
— Ah, não precisava, mas obrigada — agradeci aceitando.
Precisava sim, minha última refeição tinha sido a do almoço.
— Já sabe como o pessoal de Baltimore está te chamando? —
Ela riu se sentando ao meu lado.
— Não — disse curiosa.
— Princesinha de Liberty — disse sorrindo — e não é na
maldade que te chamam assim. Você cativa as pessoas de um jeito
impressionante — afirmou com admiração.
Estava prestes a dizer algo quando ouvi gritos animados das
líderes de ambas torcidas. Segui o olhar de todos vendo que
Cameron tinha acabado de tirar a camiseta molhada de suor.
Não tive tempo de ficar com ciúmes, meu olhar ficou preso ao
corpo dele. Ele era tão bem definido e tinha mais tatuagens do que
eu me lembrava. Quase sempre evitava ficar o olhando por muito
tempo, mas nesse exato momento era impossível.
Me sentia hipnotizada ao olhar ele, parecia um deus grego.
— Minha gloriosa Ariana Grande — Calleb passou por mim e
começou a fotografar Cameron que pareceu não se importar em
estar sendo fotografado.
As meninas começaram a falar alto sobre ele querendo chamar
sua atenção. Revirei os olhos enquanto terminava de comer a
barrinha.
Deixei a prancheta e a garrafinha de água ao meu lado no
banco.
— MEU DEUS! — Calleb gritou chamando a atenção de
algumas pessoas, inclusive Josh que parecia não gostar de sua
euforia por Cameron.
Confesso que me incomodava os olhares e os comentários que
insistiam em fazer, mas era eu quem ele esperava, me estressaria
por quê?
— Preciso de uma foto do príncipe e da princesa de Liberty!
Agora mesmo, quero minha realeza pra já! — Disse determinado e
me puxando pelo pulso.
A ideia de ser princesa de Liberty fez meu estômago revirar.
Não, não queria isso. Tentei me soltar de Calleb, mas ele nem
se importou.
Os olhares estavam em nós, não podia fazer birra como uma
criança, não podia ser grossa ou estúpida, mas também não queria
tirar foto alguma e deixar que colocassem esse título em mim.
— Amigo, não — pedi calmamente quando ele invadiu o campo
me trazendo até Cameron que nos olhou exibindo tranquilidade —
por favor, eu não quero — repliquei.
— Amiga, sim. A escola, os alunos, até quem é de fora está
pedindo por isso — Calleb explicou.
— Mas…
— Becca, o jornal está sem notícias — Calleb admitiu
desanimado.
— Gente, estamos treinando — Cameron disse apertando
minha cintura enquanto todos nos olhavam.
— Cameron, vem com a gente só um minutinho por favor? —
Calleb pediu e Cameron concordou caminhando para um canto sem
soltar minha cintura.
Meu ar ia sumir a qualquer momento, principalmente se o
olhasse. Ele tinha que estar sem camisa me segurando desse jeito?
— Becca — Calleb chamou me trazendo de volta para a terra
—, a diretora está querendo tirar o jornal por falta de conteúdo.
Vamos ter o que falar essa semana pelos projetos, mas com vocês,
o casal do ano... isso seria incrível — disse animado.
Suspirei. Sabia que ele amava estar no jornal e Natalie
encontrou algo que realmente gostava através do jornal. Cameron
apertou minha cintura colando meu corpo no dele. Prendi a
respiração sentindo meu corpo todo formigar, era incrível estar nos
braços dele.
— Você não precisa fazer isso se não quiser — sussurrou em
meu ouvido e eu o olhei soltando a respiração.
Eram sinceras suas palavras, ele parecia me querer confortável,
mas quando olhei Calleb esperançoso, decidi que valia o risco.
— É só uma notícia, não significa que serei a rainha —
comentei tentando relaxar. Calleb e Cameron se entreolharam
incertos do que eu havia acabado de dizer.
— Não, amiga… não — Calleb suspirou abaixando a câmera. —
Tem razão, vai ser pior pra vo…
— Anda, Calleb — pedi.
— Ei — Cameron chamou calmamente, como ele conseguia? —
Olhe para mim — pediu colocando a mão em minha nuca enquanto
Calleb já tirava fotos — e esqueça tudo isso, não tem baile, não
precisa ser a princesa de Liberty — olhei em seus olhos, eles
emitiam sinceridade, adoração e intensidade. — Você já é a minha
princesa — sussurrou sorrindo e envolvendo o braço em minha
cintura.
Poderia admirá-lo pelo resto dos meus dias.
Nossos olhares estavam fincados, o mundo pareceu congelar e
meu coração começou a bater forte.
— Diabete passa? Porque com esse doce todo de vocês, acho
que tô ficando diabético — Calleb murmurou com a mão na barriga
fingindo enjoo.
Voltamos a realidade aos risos.
— CAMERON! — o treinador Sanchez chamou — DEIXE PARA
NAMORAR DEPOIS! — Exclamou sem conseguir disfarçar as
risadas.
— Preciso ir, amorzinho — ele disse selando nossos lábios e
correndo até o campo.
Calleb passou a mão em meu queixo como se estivesse
limpando.
— Tá babando, amiga — brincou e eu empurrei sua mão.
— Me erra! — reclamei rindo e voltando ao lugar que deixei
minha prancheta.
aqui, mas minha avó Abigail ligou dizendo que queria ver os netos
deixando apenas úmido. Fingi que não percebi tal intimidade entre
Stacye C.