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EDITORA FRUTO PROIBIDO

É proibida a reprodução total e parcial desta obra de qualquer forma


ou quaisquer meios eletrônicos, mecânico e processo xerográfico,
sem a permissão da autora. (Lei 9.610/98)
Essa é uma obra de ficção. Os nomes, personagens, lugares e
acontecimentos descritos na obra são produtos da imaginação da
autora. Qualquer semelhança com nomes e acontecimentos reais é
mera coincidência.

REVISÃO:
Simone Mota

CAPA:
Lucy Grffin
Hórus Design

DIAGRAMAÇÃO:
Larissa Chagas
lchagasdesign
Para as coquinhas,
que chegaram quando tudo era mato.
Era o último mês do ano de 2017, estava frio e chuvoso em
Los Angeles, era um péssimo dia para mudar de país.
Estava pela terceira vez, acho, arrumando minhas coisas para
mais uma mudança de casa por conta do trabalho de meu pai. Ele
era advogado, o escritório em que ele trabalhava era aqui, em Los
Angeles, mas o transferiram, pois era competente e o queriam
comandando um dos outros escritórios. Era estranho pensar nisso,
a maioria das vezes meu pai quem parecia ser o chefe do escritório
todo.
De qualquer forma, estávamos voltando para a cidade de São
Paulo, Brasil, onde nasci e morei meus três primeiro anos de vida.
Puxei meu último livro para colocar na mala e, junto dele, caiu
meu diário, um dos sete que tive em minha vida.
A capa com o desenho de um unicórnio me lembrava que este
era o que comecei a escrever no primário, não contive as risadas.
Observei as folhas gastas e velhas do diário, que letra horrível,
eu tinha aos sete anos de idade. Abri em uma folha aleatória e
comecei a ler:
Comecei a rir de mim mesma. Eu e Cameron nos odiávamos
desde que nos entendemos por gente.
Ele ainda me chama de nerd esquisita sempre que tem
oportunidade e virou meu apelido oficial no ensino fundamental. O
odeio por isso e outras coisas, ele é tão mimadinho, esnobe e
egocêntrico, e isso nunca mudou, nem com o tempo aquele garoto
teve salvação!
Para a minha tristeza, ele mora na Rua dos Alfeneiros, n°324. E
eu na 325. Quer dizer, morava.
— Já está pronta, querida? — meu pai questionou, parando na
porta que estava aberta.
— Estou — respondi, fechando o diário em minhas mãos e o
joguei na mala.
Papai se aproximou e me ajudou a fechar a última mala que
faltava.
— Onde estão meus outros diários? — questionei, descendo as
escadas junto com ele.
— Sua mãe colocou no carro — explicou e eu apenas
concordei, balançando a cabeça.
Entrei no carro e embaixo do banco do passageiro, estava a
caixa com os meus diários. Minha mãe sempre faz isso nas viagens,
nunca jogou nada fora e nem quis saber de ler, eu sempre contava
tudo para ela.
Peguei outro diário enquanto minha mãe estava se despedindo
da vizinha da frente, por algum motivo, queria relembrar alguns
momentos da minha vida. Dessa vez, minha letra estava melhor:
Fazia alguns meses que isso havia acontecido e até hoje não
entendia o motivo de Cameron Styles não ter tirado proveito da
situação para me zoar, debochar de mim ou coisa do tipo, não me
importava com as implicações dele, mas... Que seja, estou me
mudando e é isso o que importa.
— Querida, os Styles querem te ver antes de partirmos —
mamãe disse, enfiando a cabeça pela janela.
Suspirei, lembrando-me que minha ex-melhor amiga, Natalie, e
eu tínhamos parado de nos falar, mas, para disfarçar e evitar
questionamentos, sai do carro. Abracei a tia Eliza, que era um doce
de pessoa e eu ainda não entendia como podia ter um filho como
Cameron, e abracei o tio Arthur em seguida.
Natalie acenou de longe e voltou rapidamente para a casa.
— Rebecca, se despeça educadamente de Cameron, por favor
— papai pediu com tom provocativo por saber que eu detestava
aquele garoto.
Sorri ironicamente para papai e olhei Cameron, que já me
olhava enojado com aqueles malditos olhos bem azuis.
— Espero nunca mais ter o desprazer em te ver, atleta
detestável!
— Digo o mesmo, nerd insuportável! — Ouvi-o exclamar
enquanto voltava para o meu destino, e quando o olhei, ele me
mostrou o dedo do meio.
Revirei os olhos e entrei no carro enquanto Arthur, o pai de
Cameron, fingia brigar com o garoto, sendo que, na verdade,
adorava nossas discussões.
Quando papai deu partida, decidi relevar.
Adeus Rua dos Alfeneiros, adeus escola cheia de gente babaca
e insuportável, adeus Cameron Babaca William Styles!
Quase três anos haviam se passado desde o dia em que eu e
minha família saímos de Los Angeles para São Paulo, e novamente

me deparei com mais uma mudança, ou melhor, um retorno. Estava

voltando para a Rua dos Alfeneiros, número 325.


Encarei pela última vez minha casa. Sentirei falta do clima
quente de São Paulo, ou melhor, clima confuso. Uma hora chovia e
minutos depois estava um sol de acabar com qualquer um, para no
fim do dia ficar frio.
Olhei todas as minhas prateleiras vazias, o guarda-roupa sem
nada, a luz da lâmpada que iluminava aqui e senti uma imensa
vontade de chorar. Um dos lugares mais fáceis de eu fazer amizade
foi aqui em São Paulo, tive a sorte de conhecer pessoas receptivas.
— Vamos, filha? — minha mãe questionou.
Despedi-me dos meus amigos ontem por conta da minha
viagem ser de madrugada. Era só mais uma mudança, um retorno,
o que poderia dar de errado?
— Vamos, meu doce — meu pai chamou. Concordei, pegando a
última bolsa que tinha no quarto e apaguei a luz.
Sempre que ele me chamava de meu doce eu sentia uma
imensa vontade de rir. Desde que tinha descoberto a diabetes, ele
me chamava assim.
Fez um ano e alguns meses que acordei em uma madrugada
jogando para fora tudo o que tinha no estômago. Foi horrível, não
conseguia nem me levantar e quando conseguia, mal ficava de pé.
Tinha perdido dez quilos em um mês e não tinha, até então, uma
explicação. Até aquele dia...
Dez de Outubro, o dia em que descobri ser diabética, o dia em
que tive certeza de que morreria, o dia em que eu achei que minha
vida tinha acabado, mas não acabou. Graças Àquele que me olha
sempre, não acabou.
A vida de diabética não era fácil, as pessoas tentam te limitar o
tempo todo sem nem ao menos entender ou saber como funciona a
doença. Porém, não é nada que o tempo não ensine e ajude.
Meu maior sonho era conhecer alguém que não ficasse agindo
como se eu fosse uma coitadinha por ser diabética, pois não sou.
Minha vida era normal e a diabetes não era uma limitação para que
não eu faça alguma coisa ou não seja alguém na vida. Preciso
cuidar da minha saúde, principalmente alimentação, como qualquer
pessoa precisa fazer, só que um pouco mais que pessoas não
diabéticas.
Aliás, o nome da minha diabetes é caramelinho e nunca vi
minha mãe rir tanto depois que contei a ela.
Caramelo é feito de açúcar e por mais irônico e engraçado que
seja, esse é o nome da minha diabete. Acho que ela até está
virando minha amiga.
Entrei no carro e me encostei, deitando minha cabeça no canto
do banco. Meu irmão, Isaac, de dez anos, se deitou no meu colo
para trocar uma palavra comigo.
— Fofinhos, nem parece que tentam se matar todo dia — minha
mãe comentou, fazendo-me sorrir.
— Matar é uma palavra muito forte, quero só dar uma paulada
na cabeça dele — eu disse, rindo.
— Eu nem gosto de você, insuportável — meu irmão
resmungou de olhos fechados.
— Ah, não gosta, não, tá bom — minha mãe disse, rindo,
acompanhada pelas risadas de papai.
Quarenta e cinco minutos de viagem de carro ao aeroporto, em
plena cinco horas da madrugada, e meu corpo não pedia nada além
de descanso.
E não demorou segundos para que eu adormecesse.

Estava na estrada quando ouvi os barulhos de várias buzinas ao


mesmo tempo, um clarão do farol do carro quase me cegou e eu
jurava que seria atropelada, mas não fui.
Não senti nada e nem sei como aconteceu, toquei meu próprio
corpo, confirmando que estava inteira e viva.
Observei o lugar onde vim parar. Estava nevando e mesmo eu
usando um vestido de alças finas, não sentia frio.
Uma criança de cabelos loiros cortado em tigelinha e olhos
azuis claros veio correndo em minha direção com um belo sorriso no
rosto. Me transmitiu uma paz enorme quando ele pegou em minha
mão e fez sinal para que eu o seguisse. Ele começou a correr me
segurando, acabei rindo enquanto corria junto.
A criança abriu a porta de uma cabana velha caindo aos
pedaços, me empurrou para que entrasse, fechou a porta e saiu
correndo.
A cabana, por mais que do lado de fora parecesse velha e
horripilante, por dentro era organizada, tinha uma lareira, uma
pequena mesa no centro e duas poltronas de frente para a lareira.
O fogo se acendeu sozinho, mas não me deu medo. Observei
as chamas e elas pareciam brigar. O fogo está brigando? O quê?
Isso não fazia o menor sentido.
Me aproximei mais, elas ainda estavam brigando. Não, agora
estão dançando.
Me sentei no chão, observando o fogo que agora parecia um
casal se beijando de forma tão envolvente que eu não conseguia
parar de olhar.
Brigas, danças e beijos. Que loucura! Estou lendo muito livro de
fantasia, só tinha essa explicação, considerando que eu não usava
nenhum tipo de drogas.
O fogo que parecia ser o homem começou a... Me chamar?
Perdi o controle do meu corpo, minha mente gritava não, mas meu
corpo simplesmente foi.
E eu caí dentro do fogo, mas não me queimei. Estava os
próprios Sadraque, Mesaque e Abede-nego.
Toquei meu corpo e olhei minhas mãos e braços, nada
queimado. Agora estava em uma praia. O que estava acontecendo?
Comecei a caminhar pela areia quente que entrava nos dedos
dos meus pés e havia um garoto com os pés na água. Em suas
costas, uma tatuagem de águia com asas abertas.
Sentia que o conhecia, dentro de mim, eu sabia.
O garoto tinha cabelos loiros dourados, era alto, com as costas
largas e braços fortes. Não tinha como falar muito já que estava de
costas, usava uma bermuda azul claro e estava sem camisa.
Ele começou a andar, indo cada vez mais fundo no mar. Tentei
gritar para ele parar, mas minha voz não saia e uma barreira
invisível não me permitia me aproximar.

— Filha, chegamos. Precisamos embarcar! — Minha mãe


avisou.
Concordei, saindo do carro e a ajudando com as coisas.
O sentimento de não lembrar do que sonhou era estranho.
Estou há meses sonhando sem lembrar de absolutamente nada.
Fico enjoada e me sentindo estranha o resto do dia. Minha mãe é
ótima em interpretar sonhos, eu só queria lembrar de um para
contar a ela, mas nunca consigo me lembrar. Será que estou com
algum problema?
Embarcamos no avião depois de organizar tudo. O dia já estava
clareando e o sol estava nascendo.
Depois da turbulência, que eu detestava, tudo ficou bem. Olhei
pela janela do avião, era tão calmo, me trazia uma paz enorme e,
mesmo que não fosse, me sentia ainda mais próxima de Deus. Tirei
uma foto como uma despedida momentânea de São Paulo e
coloquei meus fones de ouvido.
E novamente fui vencida por um sono arrebatador.
Cheguei em uma cabana no meio do nada, uma tempestade de
levar as árvores de um lado para o outro, estava encharcada. Mas
onde eu estava?
Corri até a lareira com o objetivo de me secar, mas, ao chegar
na mesma, eu já estava seca.
— Você veio — disse uma voz rouca e grossa que eu nunca
ouvi em toda a minha vida. — Esperei você por anos, Becca. —
Olhei, seu rosto me lembrava alguém, mas quem? Forcei minha
mente, porém, falhei. Ele se aproximou de mim, colocou as mãos
carinhosamente em minha nuca e selou nossos lábios.
— Quem é você? — questionei, olhando seus olhos claros e
segurando seus pulsos.
— Você não lembra de mim? — questionou, sorrindo, e eu
quase cai para trás. Ele estava lindo... O quê? Não pode ser, o que
Cameron Styles estava fazendo nos meus sonhos?
Em um relâmpago amarelo, estávamos em outra praia. Uma
praia de Los Angeles. Cameron estava segurando minha mão,
passamos o relâmpago de mãos dadas? Por quê?
— Por que você ainda sonha comigo? — questionou Cameron e
entrelaçou nossos dedos.
— Eu me questiono a mesma coisa — admiti, sem saber ao
certo o que aquilo significava.
Ele sorriu, é ele... Em todos os meus sonhos, é ele. A tatuagem
nas costas, os cabelos loiros dourados... Cameron Styles, mas por
quê?
— Espero que as coisas sejam diferentes dessa vez — afirmou,
ficando frente a frente comigo.
Seus dedos deslizaram em meu rosto, o toque dele era
tranquilizador e ao mesmo tempo, me deixava com borboletas no
estômago. Um sentimento incomum para mim, principalmente sendo
causado por ele.
Seus dedos passaram pela minha nuca e se afundaram
carinhosamente em meus cabelos. Sua outra mão deslizou em
minha cintura e ele me puxou. Eu sabia o que fazer, mas, como, se
eu nunca beijei? O que estava acontecendo?
— Não precisa ter medo — disse, sorrindo e acariciando meu
rosto com o polegar. Seus lábios roçaram nos meus.
Me sentia calma, sem medo e me parecia ser certo. Abri a boca
lentamente, dando-lhe passagem. Para onde foi todo o nosso ódio?
Cameron sempre foi um completo2 idiota e agora é como se nada
disso importasse.
Sua língua massageou a minha lentamente, senti meu corpo
todo quente e uma felicidade incomum que eu nunca havia sentido.
Ele me deu três selinhos finalizando o beijo. Eu estou no céu?
— Eu vou voltar, Becca, estou voltando para Los Angeles —
afirmou e eu abri os olhos. O quê?
— Filha, acorda, estamos chegando. — Ouvi a voz de minha
mãe. Abri calmamente meus olhos.
Quanto tempo eu dormi?
Uma sensação estranha me dominou e eu toquei meus lábios.
O que sonhei?
Entrei em casa e decidi tomar um longo banho. Mesmo
dormindo durante a viagem, eu não descansava nada.
Ouvi o barulho de bola batendo contra o chão quando sai do
banheiro do quarto, enrolada na toalha. Pelas batidas da bola no
chão, acredito ser basquete.
Olhei no relógio. Meia noite e meia. Amanhã minha entrevista
de emprego em uma lanchonete será antes do meio-dia e meia.
O barulho ficava cada vez mais alto. Aproximei-me da janela
mesmo enrolada na toalha e abri um pouco da cortina. Dois garotos
altos estavam se divertindo jogando basquete.
Não faço ideia de quem sejam, o loiro se virou de costas para a
minha janela, possibilitando-me ver sua tatuagem de águia com
asas abertas.
Eu já não vi essa tatuagem antes?
— Becca, a mãe me mandou te lembrar de tomar o remédio!
— Isaac gritou do outro lado da porta.
— Ok, Isaac — gritei de volta, fechando a cortina.
Como todo dia e noite, medi minha glicemia, tomei meu
remédio, comi e subi para o quarto.
Fechei a porta e encarei a janela. Aquela tatuagem… Onde eu
vi aquela tatuagem?
Aproximei-me da janela, afastei a cortina e vi apenas a pequena
quadra de basquete, que só tem uma cesta, já não tinha mais
ninguém jogando e as luzes que iluminavam a quadra se apagaram.
Talvez eu esteja ficando louca.
B

Ao meio-dia da segunda-feira eu cheguei na lanchonete

Goldens, para a entrevista de emprego, e fui chamada meio-dia e

quinze.
— Bem-vinda ao Goldens, sou Esme, a senhora Payne está te
aguardando no escritório dela — a garota do caixa informou. — É só
subir as escadas, é a sala do fim do corredor — explicou antes de ir
atender um cliente.
— Ok, obrigada — disse, mesmo depois dela ter saído,
caminhando até às escadas.
Certo. Era só uma entrevista de emprego. "Era só…", meu
Deus, até parece que era simples e fácil assim.
Respirei fundo, minha mente estava a milhão. E se eu fizer algo
errado? E se eu falar algo errado? Meu Deus, meu Deus!
Meus pais, mesmo que tenhamos uma vida financeira muito
boa, não me impediram de vir trabalhar. Já ouvi muitas amigas de
São Paulo dizendo que os pais dizem para focar apenas nos
estudos, os meus também me ajudam e incentivam a focar nos
estudos, mas também concordam em eu ir atrás do meu dinheiro.
Em São Paulo eu trabalhava com eles algumas vezes na
semana, porém, entramos em um acordo de que eu procuraria o
meu próprio emprego depois da mudança.
Bati na porta, respirei fundo e aguardei algum retorno.
— Pode entrar — ouvi a voz suave da senhora Payne, a dona
da lanchonete.
Entrei na sala e ela estava anotando alguma coisa. Fechei a
porta e me aproximei da cadeira.
"Espere até ela mandar você se sentar, isso mostra respeito e
reverência", a voz de meu pai dando dicas para a entrevista
ecoaram na minha mente.
A senhora de cabelos pretos e olhos escuros me olhou por cima
dos óculos, em seguida levantou totalmente o rosto e sorriu. Era
amiga do meu pai, mas eu não era nada próxima dela e não tinha
liberdade alguma.
— Sente-se, querida — pediu.
Concordei me sentando, ela me olhou de uma forma como se
eu tivesse toda a atenção dela, em seguida ela encarou um papel a
sua frente.
— Rebecca Malik Nogueira, correto? — Questionou arrumando
os óculos redondos no rosto.
— Sim, senhora Payne.
— Por que você quer essa vaga de emprego? — Ela me olhou.
"Porque eu quero meu dinheiro", pensei, mas respondi:
— Estou há uma semana em Los Angeles e ouvi falar muito
bem daqui, vim aqui duas vezes e me encantei. A organização,
harmonia e o atendimento me fizeram querer trabalhar aqui, pois é
um ambiente assim que eu quero para trabalhar — afirmei a
olhando nos olhos.
"Sempre olhe nos olhos, demonstra sua confiança e
sinceridade. Sempre olhar nos olhos", relembrei das palavras de
minha mãe.
A senhora Payne também me olhava nos olhos a cada palavra.
— Rebecca, fico feliz em saber que é essa impressão que
causamos.
A mulher a minha frente começou a falar sobre a política quanto
aos funcionários, a forma com que ela gosta de administrar as
coisas na Goldens e eu apenas concordava com tudo. Me sentia
leve, como se não precisasse ter medo de falar com a chefe.
— Eu nunca fiz testes com ninguém, mas com você quero fazer.
— Certo — concordei a olhando. Seus olhos seguiram para a
tela onde mostravam as imagens das câmeras da lanchonete.
— Pode se vestir com esse uniforme? — Questionou pegando
um uniforme em mãos. — Não vou te colocar para trabalhar hoje,
mas quero um... Um breve teste. Faz parte da entrevista.
— Claro, senhora Payne — disse pegando o uniforme que ela
estendeu para mim.
Me arrumei no banheiro que ela indicou. O uniforme é um pouco
mais curto do que estou acostumada a usar, mas não foi problema.
— Senhora Payne — a chamei, entrando novamente em seu
escritório. Ela se levantou e sorriu caminhando até mim.
— Querida, ficou ótimo em você — afirmou pegando as roupas
de minhas mãos e as colocando em cima de uma das poltronas. —
Vamos, vou te explicar o que quero que faça.
Concordei descendo as escadas com ela. Paramos no caixa e
ela pegou um tablet me explicando como funcionava a seleção de
pedidos. Não era nada difícil para falar a verdade.
— Boa tarde Raquel — ouvi uma voz grossa e rouca.
Pisquei por pelo menos três vezes. Não pode ser. Não. Não.
Não.
Ele estava acompanhado de três meninas e dois meninos. As
meninas com uniforme que parecia ser de líder de torcida e eles
com um moletom que parece ser do time. Liberty? Ah não!
Por uma força que ia além de mim, me virei disfarçadamente
enquanto olhava o tablet na mão da senhora Payne, evitando que
ele e seu grupo me vissem. Que péssimo dia para fazer meu
primeiro atendimento na Goldens.
— Essa é a Raquel, vocês trabalharam poucas horas juntas por
conta da faculdade dela, você trabalhará com o meu filho, quando
ele chegar, o apresentarei — senhora Payne disse e eu abri um
sorriso forçado.
— Então, já estou contratada? — Questionei rindo.
— Vamos ver isso agora — avisou. Raquel me olhou de cima
abaixo.
— Prazer, Raquel. Sou Reb…
— Sei quem você é. Boa sorte — disse ríspida.
No mesmo minuto, o sininho que avisa quando alguém entra na
Goldens tocou. Um casal de velhinhos simpáticos entrou sorrindo e
nos cumprimentaram.
Por favor Deus, me permita atendê-los?
A mesa seis estava barulhenta com o grupinho do babaca. Meu
Deus, ele está tão diferente...
— Vou atender a mesa seis — Raquel avisou saindo de trás do
caixa e, mesmo que ela não parece ser muito amigável comigo,
quase a agradeci.
— Não — a senhora Payne colocou a mão na frente da garota,
a impedindo de continuar caminhando. — Rebecca atenderá as
duas mesas.
Balancei a cabeça concordando, não tinha alternativa favorável
para mim.
— Ordem de chegada. E nada de descontos especiais — avisou
em voz baixa. — Aquele garoto, Cameron Styles, já me fez demitir
três garotas por descontos especiais sem autorização. Espero não
ter esse problema com você.
— Sim, senhora Payne — concordei.
Meu estômago doeu ouvindo o nome de Cameron. Mas que
droga! Tanta gente no mundo e olha quem foi o enviado que vou
atender.
— Pode ir, querida — a senhora Payne pediu. Amarrei meu
cabelo em um rabo de cavalo e arrumei os óculos em meu rosto
para em seguida pegar o tablet.
Me aproximei da mesa e quando parei, os olhares se
levantaram em minha direção. Exceto o olhar de Cameron que
estava voltado para o cardápio, o braço direto envolto de uma
garota de cabelos loiros e olhos claros. Ela me olhou e olhou
novamente para o cardápio, sem se importar muito com a minha
presença. Os dois meninos olharam minhas pernas e voltaram os
olhares, também, para os cardápios.
— Boa tarde, meu nome é Rebecca, qual será o pedido de
vocês? — Questionei os olhando.
O olhar de Cameron se levantou no segundo em que comecei a
falar boa tarde. Seus olhos azuis me encararam surpresos, me
olhou de cima abaixo parecendo surpreso e sua boca se abriu um
pouco. A garota loira ao lado dele o olhou e me olhou.
— Malik? — Sua voz rouca questionou. Essa voz… ah, claro
que não.
— Boa tarde, qual será o pedido de vocês? — Questionei
novamente.
Cada um fez seu pedido. Mas Cameron continuou me
encarando, piscando lentamente.
— E o seu? — O olhei, quase rindo dele estar prestes a babar.
Ele se recompôs e ergueu o queixo de forma arrogante, como
sempre fazia.
— Um número cinco, com desconto — ele sorriu como um
galanteador.
— Não tem desconto hoje — afirmei sorrindo sem mostrar os
dentes.
— Para mim, sempre tem — disse com a voz cheia
convencimento e seu ar esnobe. Ah, Cameron, que pena.
Eu sabia que minha reação me faria ser mandada embora, mas
foi impossível controlar minhas palavras.
— Você conseguiu desconto? — Questionei um dos garotos e
ele negou balançando a cabeça. — E você? Pediu um número cinco
também, conseguiu desconto? — Perguntei ao outro garoto e ele,
também, negou — Então, Styles, você é como todos os outros,
sendo assim, não tem desconto. O pedido de vocês chega em vinte
minutos — disse caminhando até a mesa do casal de velhinhos.
A senhora Payne sorriu e caminhou até o corredor que dava em
direção as escadas após ouvir os meninos zombando de Cameron.
O casal foi extremamente fofo e simpático comigo, o que deu
uma balanceada e esperança de que esse trabalho não fosse ruim.
— Os pedidos da mesa seis estão prontos — Raquel avisou
indo atender outros clientes que entraram no estabelecimento.
Peguei primeiro as bebidas e as coloquei na mesa. Em seguida
peguei os lanches.
— Três números dois — disse entregando os lanches naturais
para as meninas — Um número três e dois números cinco... Sem
desconto especial — debochei após entregar o lanche de Cameron,
ele pegou encostando a mão na minha e deu um sorrisinho de lado.
— Oh, droga! Sou muito desastrada — disse a garota loira, que
está com Cameron, após derrubar o próprio suco de uva na mesa —
Pode limpar aqui... Garçonete? — Disse enojada e dando ênfase na
palavra garçonete.
Sorri após respirar fundo.
— Desnecessário, Melissa — a voz grossa de Cameron afirmou.
— Foi sem querer, gatinho — a voz enjoada dela chegou aos
meus ouvidos.
Peguei o esfregão e o passei onde o suco havia caído.
Entreguei outro suco para a garota.
— Bom apetite! — Avisei me afastando sem nem olhar para
Cameron.
As garotas ainda brigam por garotos? Que seja, meu advogado
é o meu Senhor.
Levei os pedidos da mesa doze, a do casal de velhinhos e eles
sorriram e me agradeceram.
Raquel voltou para o caixa e me olhou. Por que ela me olha
fazendo pouco caso? Eu nem a conhecia!
— A senhora Payne está te chamando na sala dela — avisou.
— Ok, obrigada — agradeci caminhando até o corredor. O
sininho novamente tocou, mas não me importei, apenas segui
adiante. Bati duas vezes na porta e a abri — Com licença, senhora
Payne, mandou me chamar?
— Pode entrar — me aproximei. — Sente-se — me sentei e ela
me olhou. — Será seu primeiro emprego?
— Sem meus pais, sim — ela sorriu.
— Mas você sabe atender ao público, com seus pais era assim
também?
— Não — neguei com a cabeça. — Atendimento ao público eu
aprendi nos trabalhos voluntários da igreja, no Brasil.
A senhora Payne arrumou os óculos em seu rosto e me olhou.
— Você é da igreja?
— Sim, não sou praticante, mas sim — confirmei.
— Cristã? — Concordei com um aceno de cabeça. — Eu
também era — ela encostou as costas em sua cadeira. — Até
começar a namorar uma mulher.
— A senhora frequenta alguma religião? — Ela me analisou por
instantes.
— Às vezes a espírita, mas é mais minha mulher que vai. Você
vai conhecê-la em breve, é diretora de Liberty High School. Vai
estudar lá, não?
— Meu pai contou? — Ela riu.
— Conheço seu pai desde o fundamental, querida, é claro que
contou. Você começa amanhã, às 16h. O uniforme já é seu. Seu
turno será junto com Andrew, meu filho — a porta se abriu no
mesmo instante em que ela disse o nome de seu filho.
Andrew? O que tentou roubar um beijo meu há anos? Eu sabia
que o conhecia, só não tinha certeza de que era filho dela.
— Mãe, a Raquel disse que...
Não consegui me virar, me mantive olhando para frente. A
senhora Payne se levantou e eu fiz o mesmo que ela. É, vou ter que
olhar para ele.
— Filho, essa é Rebecca Malik. Rebecca, esse é meu filho
Andrew — disse cordialmente.
— Becc…
— Prazer em conhecê-lo, Andrew — disse estendendo a mão
para ele. Ele a apertou e logo me afastei.
— Vocês nunca se conheceram? Ele era amigo de Cameron —
a senhora Payne disse, desconfiada.
— Não me lembro, evitava ficar muito perto de Cameron e não
conheci muitos amigos dele — expliquei sorrindo.
O olhar de Andrew era de surpresa, mesmo que ele estivesse
quase sem piscar, não me sentia intimidada.
— Bom, ela trabalhará no mesmo período que você — senhora
Payne explicou caminhando até sua mesa, me virei de frente para
ela e Andrew parou ao meu lado; será que ele continua sendo o
mesmo babaca de antes? — Querida, Andrew te explicará tudo aqui
amanhã. Hoje foi apenas um teste. Bem-vinda a Goldens!
— Obrigada, senhora Payne — sorri animada sentindo o olhar
de Andrew ainda em mim.
— Pode me chamar de Rosie. Andrew, pode ir — pediu e ele
saiu, ela me olhou e eu franzi o cenho. — Vocês já se conheciam?
— Engoli em seco.
— Não exatamente. Só de vista, ele sempre foi da turma mais
velha que a minha.
— E por que agiu como se nunca tivesse o visto? — Questionou
olhando em meus olhos.
— O Andrew que eu ouvia falar e que via na escola não era
exatamente uma pessoa boa — afirmei a olhando nos olhos, não
vacila Rebecca! — Desculpa se for ofensa. Acho que já perdi o
emprego — disse descontraindo o clima e ela riu negando.
— Não tolero namoro entre funcionários — disparou. — E muito
menos mentiras — concordei, ainda em choque. Eu realmente não
esperava por isso — Até amanhã, Rebecca.

Entrei no enorme prédio cinza com janelas verdes água. Passei


das portas de vidro e uma mulher alta me aguardava.
— Senhorita Malik? — Questionou com sua voz grave,
concordei — Seus pais já chegaram. Por favor, me siga.
Caminhei pelo corredor até às escadas. Subimos até o terceiro
andar e a mulher me trouxe até a diretória. Na porta estava escrito
“Mrs. López Payne”. Bati na porta da sala da diretora e entrei após
alguns instantes. A diretora se levantou e sorriu.
— Olá Rebecca, me chamo Helena López Payne. Sou diretora
de Liberty, seja bem-vinda — a cumprimentei — Sente-se, por favor.
A senhora López começou a falar sobre a escola, sobre como
funciona o ensino e os projetos da escola.
Após toda a conversa, fui direcionada para uma sala de aula
vazia onde seria aplicada uma prova apenas para ver meus
conhecimentos nas matérias. Como vim do Brasil, as pessoas
acham que eu estou atrasada em algo, mas como ninguém quer ser
rude e falar isso na minha cara, eles me colocaram para fazer uma
prova.
Meus pais bateram na porta antes que eu começasse a prova
de conhecimentos.
— Já assinamos todos os documentos. Boa sorte na prova,
querida — minha mãe me abraçou.
— Depois da prova você vai conhecer a escola. Como foi na
entrevista? — Meu pai questionou, um pouco mais ansioso do que
eu.
— Começo amanhã — eles sorriram e meu pai me abraçou.
— Ótimo. As aulas também começam amanhã para você.
Estamos orgulhosos, meu bem — minha mãe disse sorrindo.
— Rebecca Malik? — Uma mulher me chamou e eu concordei.
Me despedi e entrei novamente na sala.
Não sabia ao certo qual era o tempo que eles julgavam
necessário para fazer uma prova tão fácil e simples como aquela,
mas em vinte e seis minutos eu tinha acabado.
Me deixaram sentada na diretoria por aproximadamente dez
minutos aguardando a aluna que iria me apresentar a escola.
— Rebecca — disse a inspetora Lívia, que me atendeu assim
que cheguei. — Essa é Natalie Styles, vai te apresentar a escola.
Olhei nos olhos verdes da garota. Minha ex melhor amiga. É
claro que seria ela, a vida adorava me sabotar.
— E aqui estão os seus horários, seus livros estão no seu
armário, Natalie vai te mostrar qual é o seu armário, a combinação
está anotada no segundo papel. Bem-vinda a Liberty.
— Obrigada, inspetora Lívia — agradeci a olhando.
No momento em que ela se retirou, observei Natalie, sentindo
meu coração doer pela falta que sentia dela, mas não daria o braço
a torcer.
— Rebec...
— Só me mostra a escola, por favor — pedi sem olhá-la
diretamente, mas sabia que ela tinha concordado.
Natalie começou mostrando a melhor parte da escola: a
biblioteca. Em seguida os laboratórios, o refeitório, as demais salas,
o pátio de piscinas e por fim as quadras, até pararmos no campo
onde o time estava treinando.
— E esses são os Warriors, o nosso time que não perde nunca
desde que meu irmão se tornou o capitão — disse orgulhosa
olhando os meninos treinando.
Cameron olhou em nossa direção. Tirou o capacete e começou
a caminhar até nós.
— Ah não — murmurei dando um passo para trás e Natalie riu.
— Ainda odeia ele?
— Podemos ir até meu armário? Preciso buscar meu irmão
depois daqui — pedi, com certa urgência em minha voz.
— Rebecca Malik, a garota que não me dá desconto especial —
anunciou rindo. — Sabia que ela trabalha na Goldens? — Ele parou
na minha frente e cruzou os braços. — Bem-vinda de volta.
— Devo ir buscar o esfregão caso sua namorada surte outra
vez? — Sua expressão mudou de esnobe e superior para
impaciente.
— Ela não é minha namorada.
— Isso não me importa. Pode me levar até meu armário, Nat…
Natalie? — Questionei a olhando.
— Claro — Natalie disse e eu a segui. Porém, Cameron parou
em minha frente me impedindo de passar.
— Te atrapalhei ontem enquanto jogava basquete? — Cameron
questionou aproximando o rosto do meu, me fazendo levantar o
olhar e minha fala simplesmente sumiu.
Aquela tatuagem era dele?
— Cameron, vai jogar, vai — Natalie pediu — Vamos? —
Concordei ainda atônita e sob o olhar de Cameron. — Para a gente
ir você precisa começar a andar, criatura — Ela riu me puxando pelo
braço e quando a olhei ela me soltou — Desculpa.
— Tudo bem — disse a seguindo.
Natalie e Cameron tinham apenas meses de diferença de idade.
O pai deles engravidou as duas melhores amigas na mesma época.
Infelizmente a mãe de Natalie faleceu no parto e Elizabeth, a mãe
de Cameron, a criou como filha e é assim até hoje.
Entramos na escola e caminhamos pelo corredor, até meu
armário número setenta e sete. O penúltimo armário da segunda
fileira.
— Ah, droga — Natalie murmurou.
— O quê? — Questionei fazendo a combinação do armário e o
abrindo.
— O armário 78 é do meu irmão. Do Cam — explicou. A olhei
incrédula, em seguida olhei para o teto.
— Sério isso, Deus? — Natalie riu.
— É só ignorar ele — dei de ombros arrumando os livros no
armário — Então, você voltou para a Rua dos Alfeneiros?
— Sim, Natalie. Sou sua vizinha novamente — respondi sem a
olhar.
— Becca, a gente precisa conversar…
— Sobre?
— Sei que ter zombado de você foi errado, sei que não devia ter
contado a Andrew sobre você nunca ter beijado, pelo menos até
aquela época, mas isso já faz tempo. Já faz anos — ri a olhando.
— Natalie, não me importo de saberem que nunca beijei, isso
realmente não é um problema para mim. Mas você vacilou comigo e
me bloqueou em tudo, eu não te conheço mais, já faz dois anos e
você simplesmente fez com que eu não tivesse mais nenhum
acesso a você — fechei o armário e a olhei. — Eu não sai da sua
vida, você me tirou dela e não vou brigar por espaço, até que você
me coloque novamente na sua vida não temos o que conversar. Até
amanhã.
Caminhei pelo corredor, mas acho que segui para o lado errado.
— O estacionamento é pela outra porta, por essa você vai sair
no campo de futebol — Natalie disse rindo.
— Eu sabia disso, ok? — Ri passando por ela.
— Pode ir lá em casa hoje de noite? — Questionou em voz alta
quando eu já estava próxima de chegar na porta do estacionamento.
Respirei fundo.
— Te vejo às sete — avisei empurrando a porta e saindo.
Los Angeles, vai com calma que eu acabei de chegar!

Vesti um short preto que faz conjunto com a blusa preta, um par
de meias brancas que chega até o meio da canela e um par de
chinelos branco da Nike. Até que estou bem arrumada para ir à casa
dos Styles.
— Para onde vai? — Meu pai questionou parando na porta
aberta do meu quarto.
— Na casa da Nat — o olhei. — Achei que tínhamos um acordo
de você não esconder nada de mim sobre eles.
— E arriscar ter você reclamando durante a viagem toda por ser
vizinha dos Styles novamente? Não mesmo — brincou. — Fico feliz
que você tenha voltado a falar com Natalie.
— Ainda não sei. Vamos ver como vai ser hoje.
— Tudo bem e cuidado — afirmou beijando o topo de minha
cabeça.
E para variar eu estava atrasada... Como sempre. E o mais
engraçado era lembrar que a casa era do lado da minha.
Bati na porta da casa dos Styles e me virei de costas me
espreguiçando até que fosse atendida. Ouvi a porta se abrindo e
quando me virei de frente para ela, me deparei com os olhos de um
babaca em minha bunda, ele levantou o olhar, simplesmente largou
a porta aberta e saiu. Cameron nunca me atendeu bem, não estava
surpresa com sua reação.
Entrei de mansinho na casa me sentindo uma grande invasora
já que não fui recebida devidamente.
— Oh, Rebecca, meu Deus, como você está linda! — Elizabeth
disse animada assim que me viu. Sorri para ela e ela me abraçou.
— Tia Eliza, quanto tempo — disse a abraçando de volta.
— Arthur, venha ver a Rebecca — o chamou animadamente,
sem me soltar. O homem loiro dos olhos azuis se aproximou de nós
vestido com um avental azul marinho.
O cheiro de doce invadiu o ambiente. Arthur estava com uma
panela, mexendo alguma coisa com uma colher de madeira. Mesmo
sendo o dono da maior indústria e comércio de doces, ele sempre
fazia questão de preparar doces para a família, parece que nada
disso mudou.
— Nossa, nem parece a pequenininha que eu conheci há anos
— ele disse e sorriu me abraçando com o braço desocupado.
— Natalie está tomando banho, achou que você não iria vir mais
— Eliza explicou me trazendo até a cozinha onde Cameron estava
sentado no banco da bancada.
Olhei seus braços tatuados, como pode alguém da mesma
idade que eu ter tantas tatuagens?
O olhei, seus olhos me encararam de uma forma incomum, ele
olhou a única e pequena tatuagem que tenho no braço escrito que
sou diabética.
Fiz assim que descobri ser diabética e por precaução de passar
mal em algum lugar, sem uma identificação eu poderia correr o risco
de ser medicada incorretamente ou coisa pior. Ouvi diversos
julgamentos por frequentar raramente a igreja e ter uma tatuagem,
mas quando eu passar mal ninguém vai avisar que há remédios que
eu não posso tomar por ser diabética, certo?
E felizmente tive autorização dos meus pais para esse feito.
— Quer experimentar um pouco? — Arthur questionou
passando a colher na borda da panela.
— Tentador, mas não quero, obrigada.
— Você sempre amou meus doces — Arthur disse como se
estivesse decepcionado.
— Você é diabética — Cameron afirmou olhando a tatuagem,
concordei balançando a cabeça.
Eliza e Arthur me olharam surpresos. O mesmo olhar que todos
me olham quando falo que sou diabética e eu sabia o que viria
agora. Questionamentos e expressões de piedade, essa era sempre
a pior parte...
— Talvez eu faça um doce especial para você — tio Arthur
sugeriu calmamente, me deixando surpresa.
— Um doce para a docinho — tia Eliza brincou beijando o topo
de minha cabeça. Senti meu coração quentinho e aliviada em não
ter que fingir que não me incomodava as lamentações por eu ser
diabética.
— Você é muito amarga para uma diabética — Cameron
disparou me olhando.
Ah não, não ria disso Rebecca!
— E você é bem sem graça para um capitão do time —
retruquei, sorrindo com sarcasmo.
Cameron me olhou com um sorrisinho de lado nos lábios.
— Cameron, eu não tenho palavras para descrever a sua
pessoa — Eliza disse aos risos e me olhou. — E parece que
algumas coisas nunca mudam — afirmou animadamente.
— Mãe, acho que ela não vem mesm... — Natalie, que estava
secando seus cabelos com uma toalha, parou de falar quando me
viu — Você veio.
— Eu vim — repeti sorrindo sem mostrar os dentes.
— Você chora água com açúcar, Malik? — Cameron
questionou; tio Arthur e tia Eliza tentaram não rir, mas ficaram
vermelhos de tanto segurar e acabaram explodindo.
— O quê? — Natalie questionou franzindo o cenho.
— Filho, pelo amor de Deus — Eliza disse voltando a ficar séria.
Subimos para o quarto de Natalie, depois que eu decidi ignorar
Cameron, e ela me olhou.
— Eu tenho tanta coisa para falar, mas nem sei por onde
começar — disse coçando a cabeça e nos sentamos na cama. —
Eu errei feio, muito feio, não devia ter contado uma coisa que você
confiou a mim. Fui muito otária só porque era apaixonada por
Andrew e nada a ver, ele gostava de você e eu não sabia que ele ia
usar isso para te zoar.
— Nat...
— Eu fiquei com tanta vergonha que te tirei da minha vida, te
bloqueei das redes sociais achando que as coisas ficariam
melhores, achei que você queria isso também, que eu sumisse da
sua vida. Eu me odeio tanto por isso. Fui burra e só quero seu
perdão, mas nunca soube como... Como ... — Sua voz falhou e ela
abaixou o olhar.
— Você era apaixonada por Andrew? — Questionei franzindo o
cenho.
— Sério que você só escutou isso? — Indagou incrédula.
— Sim, se apaixonar por ele era muita burrice, fala sério —
respondi naturalmente e ela riu dando de ombros.
— Infelizmente, eu fui — ela se deitou na cama e olhou para o
teto branco.
— Nossa que vagabunda — seus olhos se arregalaram em
surpresa. — Me largou por causa de macho — Natalie fez um
barulho como se tivesse engasgado e começou a rir sem parar.
— Me desculpa — pediu disse após se recompor. — Eu fui
muito inconsequente mesmo. Não pensei em nada, só em mim.
— Vou trabalhar com ele, se isso for problema para você, então
o problema é todo seu — disse amarrando meu cabelo em um
coque e ela gargalhou.
— Nossa tá assim agora? Toda bruta? — Ri para ela dando de
ombros. — Ninguém vai ficar entre nossa amizade. Foi paixãozinha
rápida e eu queria a atenção dele por ser mais velho.
— Vocês tiveram algo? — Ela negou com a cabeça — Você
ainda gosta dele?
— Não — disse me olhando desconfiada. — Vai ficar com ele?
— Eu só fico sozinha querida, sou evangélica — afirmei a
fazendo rir.
— Por que o Cam perguntou se você chorava água com
açúcar? — Questionou me olhando.
— Porque eu sou diabética — ela me olhou confusa. —
Descobri faz um tempo. Achei que eles ficariam surpresos, sabe?
Mas seus pais e seu irmão agiram normalmente quando souberam
disso.
— Ah sim, é porque não é incomum pra gente. Meus avós
paternos são, os dois. Meu avô é desde os 40 anos, então meu pai
tá bem acostumado e Cam também porque morou com meu avô
durante um ano e cuidou dele e da vó — ela passou os dedos na
minha tatuagem. — Agora eu entendi.
— Não me surpreenderia você entender depois de dias comigo,
é tão lerda que me dói.
— Nossa, mas parece que já estamos bem né? — Rimos e ela
me olhou — Senti sua falta — disse e, finalmente, me abraçou.
— E eu a sua — afirmei, me sentindo incrivelmente bem.
— Queridas, vamos jantar. Becca, não aceito um não como
resposta — tia Eliza disse me olhando.
— Sim, senhora.
Descemos as escadas e Natalie me trouxe até a sala de jantar
onde já tem algumas coisas postas na mesa. Me sentei ao lado
dela.
Senti uma pressão que fez minha cadeira ir um pouco para trás.
Olhei na direção de onde vinha, Cameron apoiou a mão na borda da
cadeira enquanto colocava a tigela de salada na mesa. Seu rosto
ficou próximo do meu de uma forma que nunca havia acontecido
antes e eu me mantive imóvel. Ele me olhou, sorriu e se afastou.
Ok, que merda foi essa?
— O que foi isso? — Natalie questionou baixinho e me olhando.
— O quê? — Olhei para frente e ela apenas riu.
— Vamos orar antes — disse tio Arthur.
Fizemos a oração. Em casa era a mesma coisa. Sempre tem
que fazer o agradecimento, meu irmão as vezes tirava um cochilo
quando meus avós paternos estavam em casa porque as orações
do meu avô eram extensas.
Achei fofo que eles fizeram suco natural de limão com menos
açúcar para mim.
— Vocês chegaram de viagem quando? — Tio Arthur
questionou.
— Faz uma semana — afirmei.
Cameron estava na minha frente e por algum motivo não parava
de me olhar. Era horrível comer com ele me olhando daquele jeito.
Meu Deus, que ódio!
— E Owen não me disse nada — Arthur reclamou.
— Meus pais quase nem ficaram em casa nessa semana, minha
mãe estava resolvendo uns negócios das lojas e meu pai estava
organizando as coisas do escritório — expliquei. Quando olhei
Natalie, ela estava olhando Cameron como se estivesse falando
algo para ele sem palavras.
— É bom que vocês tenham voltado, assim seu pai volta a ser
meu advogado — Arthur disse nos fazendo rir.
— E você, Becca, está trabalhando? — Eliza questionou.
— Ela trabalha na Goldens, mãe. Na lanchonete da mulher que
você deixou de ser amiga só porque ela é lésbica — Natalie
disparou.
— Agora não Natalie — Arthur advertiu.
— Ela fez a escolha dela. Luz e trevas não andam juntos —
Eliza disse tentando finalizar o assunto.
— Luz e trevas? — Natalie questionou e riu.
— Melhor fazer outra oração, pai — Cameron sugeriu voltando
a comer.
— Por favor, parem com esse assunto. Não é hora! — Arthur
disse com firmeza.
Decidi voltar a comer. Natalie sempre foi de rebater com a mãe,
quando eu morava aqui há dois anos era a mesma coisa e isso
parece que não mudou também.
Meu cabelo, que antes estava preso em um coque, se soltou e o
joguei para trás discretamente. Levantei minha cabeça e Cameron
estava me olhando com os olhos semicerrados, como se estivesse
olhando uma escultura que admirasse.
Um sorrisinho se formou em seu rosto, como se ele estivesse
hipnotizado e um frio extremamente desconfortável e incomum
surgiu em meu estômago. Ele passou a língua nos lábios e os
comprimiu em seguida, balançou a cabeça desviando o olhar e
voltou a comer.
Qual era o problema dele?

Depois do jantar, eu e Natalie decidimos voltar ao quarto dela e


aproveitarmos a minha volta. As horas se passaram tão rápidas que
quase não percebemos.
As dez e meia da noite, avisei que iria embora.
— Desculpa ter discutido com a minha mãe na sua frente, mas
ela é tão mente fechada que não dá! — Natalie disse enquanto
caminhávamos até minha casa.
— Sem problemas, no fundo nada mudou — eu disse, a
abraçando.
— Só o jeito que Cam te olha — sussurrou e eu revirei os olhos.
— Ele ainda me odeia — ela me olhou rindo.
— Sei. Não seja a vizinha pelada, ok? O quarto de Cam é de
frente para o seu e direto os amigos dele vem jogar.
— Por que mudou de quarto? — Questionei.
— O do Cam era o maior e eu precisava colocar minha máquina
lá.
— Ah sim, estilista agora, né? — Ela riu dando de ombros. —
Até amanhã.
— Até.
A olhei até chegar em sua casa, onde tio Arthur estava a
aguardando. Acenei para eles e entrei em casa.
Dei boa noite para os meus pais e subi para o quarto. Isaac já
devia estar dormindo.
Entrei no quarto, o vento balança a cortina da janela. Me
aproximei da mesma e quando a olhei, vi a imagem de Cameron.
Estava de costas para a janela, deixando amostra sua tatuagem de
asas, o que me deixava assustada era a sensação de já ter visto
essa tatuagem em algum lugar, mas onde?
Fechei minha janela e as cortinas. Troquei minhas roupas e me
deitei na cama após apagar as luzes.
Em segundos olhando para o teto, me questionei outra vez:
onde foi que eu vi aquela tatuagem?
O primeiro dia de aula nunca era fácil, mas felizmente

encontrei minha sala após falar com a inspetora e não tive que

passar a vergonha de acabar na sala errada. Bati na porta e todos

os alunos olharam pela janela de vidro no meio da porta na parte de

cima, o que me deixou ainda mais apreensiva.


O professor me atendeu, olhou meus horários e sorriu voltando
o olhar para mim. Todos da sala estavam, também, me olhando.
— Então você é a Rebecca Malik. Na reunião dos professores
todos ficaram admirados com as suas respostas na prova de
conhecimentos. Você não errou uma se quer — ele elogiou me
dando passagem. — Sou o professor Tomlinson de inglês, seja
bem-vinda a Liberty.
— Obrigada, professor Tomlinson.
— Mais uma nerd na sala — Cameron debochou e todos riram.
Olhei para o fundo da sala, o vendo.
— Mais um babaca que depende de nerd para ter notas boas na
sala — rebati e todas as risadas se transformaram em murmúrios. O
sorriso esnobe de Cameron se esvaiu e o professor Tomlinson me
olhou surpreso.
— Esses nerds otários fazem porque querem, não porque eu
preciso! — Rebateu Cameron, ofendido e irritado.
— Então você admite que recebe lições, trabalhos e outras
coisas dos nerds otários? — Questionei convencida. O clima ficou
pesado e eu me mantive firme o olhando. Seu rosto ficou
avermelhado, o professor, que está parado ao meu lado, o olhou
com indignação e arrumou os óculos em seu rosto.
— Não foi isso o que eu quis dizer — Cameron tentou concertar.
Ele fechou o punho e seu olhar estava frio sobre mim.
— Ah, com certeza não — deixei um sorrisinho falso aparecer
em meu rosto.
— Sente-se, Malik. Styles, conversaremos depois — alertou o
professor Tomlinson.
Me sentei ao lado de uma garota, de cabelos pretos amarrados
em uma bandana, que estava no canto da parede, mas antes, vi o
olhar furioso de Cameron. Ele levantou a mão quando o professor
se virou de costas e me mostrou o dedo do meio, em resposta sorri
vitoriosamente para ele.
— Prazer, me chamo Katherine Mendes, sou uma nerd otária e
já te amei — ela me estendeu a mão e eu sorri a cumprimentando.
— Sou Rebecca, uma nerd otária também — sorrimos e
voltamos nossa atenção para o professor.
Mas não demorou muito para que eu sentisse uma pressão em
cima de mim. Olhei na direção dele, Cameron estava com os olhos
fixos em mim, quando o olhei, ele se virou para frente balançando a
cabeça negativamente.
— Acho que alguém ficou bravinho — Kath sussurrou.
— Eu só dei a corda, ele se enforcou sozinho — afirmei dando
de ombros e olhando para frente.

O refeitório estava lotado e barulhento. Não que isso fosse


problema, mas não havia lugar algum para nos sentarmos. A mesa
do time era a mais barulhenta de todas.
— Vamos para as arquibancadas? — Kath questionou.
Concordei balançando a cabeça.
Natalie estava sentada na mesa das líderes, acenei para ela
com a cabeça e ela forçou um sorriso. Hoje já discutimos pois ela
queria sentar comigo no intervalo, mas sendo líder de torcida todas
tem que sentar juntas de acordo com as regras da capitã, Melissa, e
eu preferia não ter Natalie a desobedecendo só porque eu cheguei.
Melissa, a namorada não namorada de Cameron, me olhou no
mesmo tempo que Cameron. Os olhos dele me seguiram enquanto
eu caminhava com Kath para fora do refeitório.
Assim que passei pela mesa das líderes, Melissa se levantou e
se não tivesse dado um passo para trás, os lanches que estavam
em minha bandeja teriam caído em mim.
— Então, você é a nerd sem noção — afirmou me olhando de
cima abaixo. — E a garçonete — debochou. — Que tal me servir?
— Estou em horário de trabalho? — Questionei a olhando
fixamente — Aqui na escola — dei um passo para frente deixando
que a bandeja encostasse em sua barriga e ela pareceu indignada.
— Eu sou aluna assim como você.
O refeitório pareceu parar, os olhares estavam em nós e o
silêncio dominou o ambiente. Eu prometi para minha mãe que não
me envolveria em confusão nenhuma, mas como? Que Deus me
ajude.
Voltei a andar deixando a garota para trás, mas parei quando
ouvi o barulho de líquido contra o chão.
— Anda, garçonete, limpe aqui — Melissa gritou. Cameron se
levantou. Dei risada e a ignorei voltando a andar. A mesa do time
ficava depois da das líderes. — Eu mandei você… — A olhei, mas
ela havia sido barrada antes de chegar em mim.
— Chega, Melissa — Cameron estava na frente dela e manteve
um tom calmo.
Revirei os olhos saindo pela porta que dava para o campo de
futebol.
Eu e Kath nos sentamos nas arquibancadas, ela parecia querer
falar um bilhão de coisas, mas estava se segurando.
— Fala, Kath — pedi a olhando e mordendo o sanduíche
natural.
— Você foi demais! Como pode? Você desestruturou Melissa de
um jeito que nem sei explicar! Não tem medo dela vir atrás de você?
— Medo dela? — Ri franzindo o cenho — Não. Eu já fui expulsa
do karatê por causa de uma valentona, mas uma coisa que eu
aprendi é que se eu não consigo brigar, então eu corro. Deus me
deu pernas grandes para correr melhor — Kath se engasgou e
começou a rir sem parar depois de tossir, até se recompor.
Abri minha lata de coca, minha diabete com certeza estava
baixa por conta dos remédios e pelo tempo que estou sem comer.
Algumas pessoas acreditavam que ser diabético significava se
abster de todo o açúcar, lanches e outras coisas. Quando na
verdade o que precisamos mesmo é comer controladamente. Nem
muito, nem pouco. Um limite.
Claro que existem vários tipos de diabetes, mas com a que eu
tenho era basicamente isso, um limite. Visto que a diabete na
verdade era por conta do meu pâncreas não produzir a insulina que
eu preciso.
Mas confesso que era um descuido meu tomar Coca-Cola,
ainda precisava aprender muito com a vida de diabética.
— Melissa zombou de você por trabalhar em uma lanchonete?
— Concordei balançando a cabeça. — Eles zombam por motivos
nada ver. Ser classe baixa e trabalhar em uma lanchonete não é
motivo para isso.
— Ah, não sou classe baixa, na verdade — disse rindo — Estou
trabalhando porque quero meu dinheiro. Meus pais são bem
financeiramente — ela me analisou por instantes.
— Malik — murmurou pensativa. — Ah, sei! Seu pai é advogado
da nossa família, eu sabia que conhecia seu sobrenome — sorri
para ela.
— E então, está aqui na escola há quanto tempo?
— Desde o meio do ano passado — disse parecendo
desconfortável.
— Fez amizades? — Ela negou e o desconforto ficou ainda
mais nítido — Ok.
— É que...
— Não precisa falar se não quiser — afirmei olhando para o
campo e vendo que Cameron estava vindo em nossa direção.
— Prefiro que você saiba por mim — a olhei. — Em um país
onde o cristianismo predomina, nem todos querem amizade com
uma macumbeira preta que perdeu a irmã para AIDS — ela me
olhou esperando pelo pior, nos seus olhos mostrava isso.
— Macumba não é uma árvore africana? Ouvi falar que é um
instrumento também — afirmei com naturalidade e ela me olhou tão
surpresa que era difícil definir. — Sinto muito pela sua irmã.
— Eu também — peguei em sua mão.
— Não vou deixar de falar com você por causa de coisas assim.
Mas quero que saiba que sou cristã e respeito sua religião — ela
sorriu.
— E eu respeito a sua — ela segurou minha mão, sorrimos e
nos soltamos.
— Silêncio, o babaca chegou — disse quando Cameron parou
em nossa frente, estava segurando um pote pequeno transparente
com frutas cortadas dentro.
— Você não está facilitando, Malik — disse me olhando e subiu
dois bancos — Você não pode chegar achando que manda em tudo!
Desci as arquibancadas parando no mesmo banco que ele.
— Eu não acho que mando em tudo, só rebati a arrogância das
pessoas que acham que mandam em tudo. Isso aqui é uma escola,
não deveria ser assim — rebati o olhando, ele coçou a nuca e
colocou o pote de frutas ao lado da minha coca.
— Você tem noção de que me ferrou? Os professores vão fazer
uma reunião e depois a diretora vai falar comigo. Que inferno
Rebecca! — Por mais indignado que ele parecesse, não estava com
o tom superior ou arrogante.
— Eu te dei a corda, Cameron, você se enforcou!
— Vai ter volta — ameaçou olhando nos meus olhos e deu um
passo para frente. — Se eu me ferrar, vou te levar junto.
— Ah, eu duvido — disse de forma desafiadora. Ele deu outro
passo para a frente, ficando extremamente próximo de mim. Meu
Deus, ele estava tão forte e radiante como um anjo.
— Não fica no caminho da Melissa, ela vai fazer um inferno na
sua vida — disse em um sussurro.
— Ela quem veio pra cima, por causa de você — seus olhos
azuis me olhavam atentamente e ele riu negando com a cabeça. —
E desde quando você se importa?
— Não é com você que eu me importo, nerdzinha. É com a Mel
— afirmou se afastando.
Cameron desceu os bancos e foi quando ele virou a lata de
coca na boca que eu percebi que ele tinha trocado a salada de
frutas pela coca. STYLES EU TE ODEIO!
— Babaca — afirmei me sentando ao lado de Kath.
— Ou vocês vão se matar ou vocês vão se pegar — Kath
afirmou. — Que bonitinho, ele até trouxe colher — disse apontando
para o pote de frutas.
— Pode pegar pra você — afirmei me levantando novamente
pois o sinal tocou.
— Não, é seu — disse se levantando — Que bonitinho —
brincou ainda rindo.
— Katherine, me erra — ela riu dando de ombros.
Peguei o pote de salada de frutas e Kath pegou a bandeja com
as embalagens dos lanches que comemos.
— Você e Cameron já tiveram algo? — Questionou enquanto
andávamos.
— Graças a Deus não e nem vamos. Nossos pais sempre foram
amigos, por isso tive a infelicidade de conhecê-lo.
— E vocês nunca se gostaram? — Concordei. — Ah, sei —
disse rindo. — Qual é sua aula agora? — Questionou colocando a
bandeja junto das outras depois de jogar fora os lixos e saímos do
refeitório.
— Matemática.
— Ah, boa sorte. A senhora Horan é a melhor, vem, vou te levar
na sala dela.
Kath me deixou na sala de matemática. Mais uma aula com
Cameron. Ótimo! Pelo menos a namorada dele não estava junto.
A professora ainda não havia chegado.
Caminhei até a rodinha do time e deixei o pote de frutas na
mesa de Cameron. Os meninos do time me olharam com sorrisos
maliciosos e eu saí andando ainda sentindo seus olhares. Mas
Cameron não disse absolutamente nada.
— Oi, tem alguém sentado aqui? — Questionei o garoto de
olhos puxados que estava desenhando algo no caderno.
— Não, fique a vontade — disse me olhando. — Uau — o olhei
confusa. — Desculpa, mas você é muito linda — sorri
envergonhada.
— Obrigada — agradeci abaixando a cabeça. Ele sorriu e voltou
a desenhar — Sou Rebecca Malik.
— Sou Neji Mizuki. Prazer.
— Boa tarde turma, abram o livro página 243 — a professora
disse entrando na sala — A famosa Rebecca Malik — anunciou se
aproximando da minha mesa. — Não tem um professor que não
esteja falando bem de você depois da prova que você fez. É um
prazer tê-la em Liberty!
— Obrigada, professora Horan — ela sorriu para mim e se
aproximou da lousa.
Por instinto, olhei para trás vendo Cameron sentado com o
braço esticado na cadeira ao lado. Ele olhou na minha direção e na
mesma hora olhei para frente.

— Por que você não aceitou minha salada de frutas? — Natalie


questionou cruzando os braços. — Trate de comer, dona Malik! —
Disse me estendendo o potinho de frutas.
— Seu irmão quem trouxe, achei que estava envenenada ou era
alguma zoeira dele — ela olhou para o nada e riu.
— É compreensível — admitiu.
— Precisa de carona? Aproveita hoje que amanhã eu venho de
moto — alertei aos risos destravando o carro e entrando no mesmo.
— Você tá andando de moto agora? — Questionou entrando no
carro.
— Sim, desde o ano passado — afirmei dando partida.
— Você foi muito corajosa com Melissa — dei de ombros. — Ela
vai fazer um inferno na sua vida.
— Tudo bem, sei lidar com pragas, li a parte da bíblia que fala
sobre as pragas do Egito, acho que sei me defender — brinquei
rindo.
— Idiota! — Rimos — Ela deve estar te vendo como ameaça.
— Ela se acha superior, percebi isso quando ela chegou na
Goldens, achei que na escola conseguiria evitar, mas não deu — dei
de ombros.
— É e nem vai dar — Natalie afirmou.
A deixei em casa e depois de um banho fui para a lanchonete.
Raquel ainda estava atendendo. Fui até o banheiro dos funcionários
e vesti o uniforme. Assim que sai, esbarrei em Andrew.
— Estava te procurando — disse Andrew abrindo um sorriso.
— Pois achou — rimos.
— Vem, vou te mostrar o seu armário.
Andrew, após mostrar meu armário, me apresentou para o
pessoal da cozinha, o Bob, Joe e a Freya. Em seguida me
apresentou as duas mulheres que cuidam da limpeza do
estabelecimento, me mostrou como funcionava o caixa e quais são
os lanches especiais de cada dia.
Amarrei o cabelo enquanto ele me explicava as coisas e ele
simplesmente parou me olhando assim que terminei de arrumar o
cabelo.
— O que foi? — Questionei assustada, pois ainda estava
parado me olhando.
— Você tá linda — disse com um sorrisinho fofo.
— Obrigada — agradeci, desconfiada.
— Já estou liberada então? — Raquel questionou.
— Sim, Raquel — Andrew disse, um dos meninos da cozinha o
chamou e ele se afastou de nós.
— Bem-vinda ao Goldens, desculpe a ignorância de ontem, não
tive um dia bom — Raquel disse, a olhei — Isso não é justificativa,
eu sei, mas...
— Tudo bem — a interrompi. — Se quiser, fingimos que nada
disso aconteceu, ok?
— Ok — ela sorriu e começou a caminhar na direção do
corredor, mas voltou o caminho — E... Muito cuidado com Andrew, a
namorada é um pouco… ciumenta e ele, bom, eu devo ter sido o
vigésimo chifre que ele deu nela — arregalei os olhos.
— E você já me contou assim? Confia?
— E você vai contar para quem? — Questionou rindo e acabei
rindo também — Até amanhã, bom trabalho — disse caminhando
pelo corredor.
— Até e obrigada.
A observei se afastar, um pouco confusa com o que tinha
acontecido. Isso com certeza não era normal.
Andrew retornou para próximo de mim e me analisou.
— Algum problema? — Indagou, encarando a porta que eu
antes estava olhando.
— Não, nenhum. — Menti, certamente tinha um problema aqui
sim.
Meu dia havia sido cansativo e ótimo para um primeiro dia de
trabalho. Normalmente, eu sairia as oito horas da noite, porém, hoje

sai às dez, pois Andrew e eu estávamos organizando algumas

coisas após o horário de expediente.


Um telefonema afligiu meu coração de uma forma ruim,
principalmente com o desespero na voz de quem me ligava.
— Por favor, Natalie bebeu demais, não sei onde ela mora, só
por favor, vem! — Katherine disse respirando pesado e ofegante.
— Mas onde vocês estão? — Questionei me afastando de
Andrew que estava fechando a lanchonete.
— Estamos na... Ah, não Nat, droga! Estamos na Lowenville,
234, na casa do Peter Cole. Vem rápido, ela tá mal!
A ligação simplesmente foi desligada. Quem era Peter Cole?
— Aconteceu alguma coisa? — Andrew questionou se
aproximando de mim. O olhei concordando.
— Onde fica Lowenville, 234?
— É a casa do meu primo. O que aconteceu?
— Se importa de vir comigo? Te explico no caminho — afirmei,
tentando conter o desespero em minha voz.
— Não me importo, estou sem carro mesmo — ele riu, mas não
consegui sorrir de volta, caminhei a passos rápidos até o carro.
Andrew me olhava apreensivo enquanto eu dirigia, porém não
me questionava de nada. Ele explicou o caminho até Lowenville e
eu dirigi rapidamente de uma forma que meu pai adoraria e minha
mãe faria uma palestra falando sobre os perigos de dirigir assim.
Um jipe com vários adolescentes da minha idade parou na
frente da casa que estava lotada até o quintal. Quem faz festa em
plena terça?
— Meu Deus, que derrota — afirmei saindo do carro, Andrew
parou ao meu lado; ver toda essa gente, toda essa bagunça, música
alta e pessoas se pegando nos arbustos me deixava ainda mais
perdida, não tinha costume algum com lugares assim. — Minha
amiga tá passando mal em algum lugar dessa casa.
— Conheço bem aqui, posso te ajudar — o olhei.
— Seria ótimo — admito.
— Vem — chamou e automaticamente me puxou pela cintura
me trazendo até a porta da casa.
Andrew parou na minha frente, pegou em minha mão, começou
a afastar as pessoas abrindo passagem e até cumprimentando
algumas, essas mesmas pessoas me cumprimentavam ou me
olhavam estranho.
— Malik? — Ouvi a voz de Cameron me gritando. Soltei a mão
de Andrew, desde quando estamos assim? — O que está fazendo
aqui? — Questionou se aproximando — E com esse cara — ele
olhou Andrew com fúria e enojado.
Olhei os dois garotos que pareciam exalar um cheiro de
confusão, conflito e problemas. E eu definitivamente não precisava
disso.
— Onde está Natalie? — Questionei em voz alta, mas Cameron
e Andrew estavam com os olhos fixos um no outro.
Me coloquei entre os dois garotos. Andrew deu um passo para
trás e Cameron continuou me olhando, que péssima ideia a minha!
Estávamos próximos, muito próximos.
— Natalie está passando mal! Precisamos achar ela! —
Cameron me olhou no mesmo instante e concordou.
Subimos as escadas e vi Katherine na frente de uma porta
fechada, ela suspirou aliviada me chamando com um aceno de mão.
Caminhamos até ela que abriu a porta. Quando Andrew ia
entrar no quarto, Cameron se colocou em sua frente.
— Minha irmã, minha responsabilidade. Pode vazar — disse
ríspido.
— Não vim aqui por você, nem pela sua irmã. Vim ajudar a
Becca — Andrew disse no mesmo tom que Cameron.
— Parem de ser assim, que saco! A prioridade aqui não é
nenhuma confusão entre vocês — esbravejei entrando novamente
entre os dois, dessa vez os afastei com a mão no abdômen de cada
um e afastei a mão rapidamente deles. — Cameron, sua irmã é
prioridade, então por favor — o olhei; ele olhou Andrew, me olhou e
entrou no quarto — Obrigada Andrew, me desculpa pelo...
— Tudo bem. Vou ver se encontro meu primo. Fica bem? — Ele
afastou meu cabelo da nuca com os dedos.
— Sim, obrigada.
— Até amanhã — ele beijou meu rosto e caminhou pelo
corredor.
Olhei até perdê-lo de vista. O que foi isso?
Entrei no quarto vendo que Natalie estava sendo carregada por
um garoto com traços parecidos com o de Kath enquanto ela estava
tentando organizar o quarto.
— Vocês podem ir levando-a pro carro. Eu termino de organizar
aqui — pedi vendo a bagunça que estava na cama e Natalie estava
apagada. — Acordem ela lá fora e façam ela beber água, por favor.
— Ok — Kath e o garoto disseram juntos e saíram com Natalie.
Comecei a pegar as coisas que são de Natalie enquanto
Cameron estava me olhando. Só então percebi que ele estava sem
camisa e com tinta preta em duas listras horizontais em cada
bochecha.
— Vai ajudar eles — disse pegando os sapatos de Natalie.
— Ela tá com as melhores pessoas que poderia estar agora —
o olhei confusa e ele se deitou na cama de solteiro antes que eu
pudesse arruma-la, revirei os olhos o vendo sorrir. — A família da
Kath é de médicos, os melhores na verdade. Inclusive o irmão dela
vai se formar na área.
— Aquele é o irmão dela? — Questionei e ele concordou, o
olhei por segundos, o miserável estava bonito mesmo. — Enfim,
preciso ir ajudar a minha amiga, já que o irmãozinho nojento dela só
pensa em si mesmo.
— Eu não penso só em mim — retrucou se levantando, eu já
estava próxima da porta — Também penso no time — ele riu
abrindo a porta para mim. — Vou com você.
Dei de ombros saindo do quarto. Em segundos Cameron estava
descendo as escadas comigo enquanto colocava uma blusa preta.
Estávamos chegando na porta de saída quando ela foi fechada e
trancada, em seguida tudo ficou escuro e as pessoas começaram a
gritar.
— PUXOU BEIJOU — ouvi um grito de uma voz masculina. Meu
Deus, não!
Senti alguém me puxando e minha primeira reação foi golpeá-lo
com um soco no rosto, mas quando fui empurrada para um
almoxarifado com coisas de limpeza e a luz se acendeu mostrando
Cameron com a mão no rosto eu vi que aquela havia sido a minha
melhor reação.
— Caramba, precisa bater? — Ele tirou a mão de cima do olho
e bateu à porta, irritado, a fechando.
— Achei que ia me beijar — expliquei rindo por vê-lo irritado e
me encostei em uma prateleira.
— E qual é o problema, garota? — Ele se encostou na porta.
— Por que vou beijar alguém que não quero beijar? —
Questionei, parecia lógico e simples na minha cabeça, até porque
de fato era.
Ele riu cruzando os braços, pensou um pouco e deu de ombros
fazendo uma careta engraçada.
— É, faz todo o sentido — admitiu.
— Até que horas vai esse apagão? — Ele olhou no relógio em
seu pulso.
— Em dez minutos acaba.
Apenas concordei em um balanço de cabeça e comecei a olhar
o almoxarifado esperando que o tempo passasse. Cameron me
olhava e desviava o olhar. Queria questionar o motivo dele ficar me
olhando assim, desde quando fui ao jantar em sua casa ele me
encara desse jeito, mas não tinha qualquer resquício de coragem
para interrogá-lo.
— Ok, vou sair mesmo assim, minha amiga tá lá fora passando
mal — disse farta me aproximando da porta e girando a maçaneta,
mas Cameron se manteve encostado na porta, me impedindo de
abri-la.
— Você continua a mesma chata, teimosa e insuportável que
era antes de ir embora — disse com tom esnobe e cruzou os
braços.
— Você continua babaca, prepotente e egocêntrico que era
antes de eu ir embora — rebati e ele me olhou.
— Nerd insuportável, não vamos sair agora e pronto — disse
me afastando com uma mão em minha cintura.
— Me erra, Styles — o empurrei da frente da porta.
No mesmo instante em que a abri, a música e a luz voltaram.
Não olhei para trás, apenas sai do almoxarifado indo até a porta,
sentia novamente olhares estranhos, mas isso não me importava.
Finalmente sai dessa bagunça toda e me deparei com Katherine
e seu irmão sentados na calçada. Natalie estava com a cabeça no
colo do irmão de Kath e ele estava tentando fazê-la beber água.
— O que aconteceu com vocês? Por que demoraram? — Kath
questionou me olhando. Vocês?
Olhei para trás vendo Cameron a pouca distância de mim.
— Teve o apagão — Kath sorriu maliciosamente revezando o
olhar entre mim e Cameron, a olhei incrédula e revirei os olhos. —
Enfim, Nat vai pra minha casa, Cameron vai avisar os pais de que
ela dormiu lá e esqueceu de avisar. Amanhã vemos o que fazer.
Kath e... — Olhei seu irmão.
— Nathan — disse o garoto.
— E Nathan, obrigada pela ajuda e desculpa a trabalheira.
Cameron, pega a Nat pra colocá-la no carro.
— Mandona como sempre — resmungou. O olhei.
— Vai ou não? — Ele riu negando com a cabeça e ajudou
Natalie a se levantar.
— Hospital, quero ir pro hospital — Nat disse no idioma
norueguês. Kath e Nathan a olharam confusos, apenas eu e
Cameron a entendemos.
— Norueguês — Cameron disse a pegando no colo — Ela fala,
principalmente quando está bêbada.
— Vocês vão embora tranquilamente? Ou precisam de carona?
— Questionei olhando os irmãos Mendes.
— Estou de moto — Nathan disse.
— Bebeu? — O analisei e ele negou rindo.
— Relaxa meu bem, não bebi — disse com ousadia em sua
voz.
— Ótimo, Nathan. Então, até amanhã, Kath — me despedi
caminhando até o carro.
Cameron colocou Natalie no banco de trás do carro e se sentou
no banco do passageiro. O olhei, o analisando.
— Você não parece bêbado — ele riu.
— Não bebi — disse e me olhou. — Não hoje.
— Natalie quem pediu pra vir? — Questionei dando partida.
— Pediu, mas a proibi, sei que não é ambiente pra ela.
— A proibi — repeti com ironia. — Mas é ambiente pro machão
que você é — debochei e ouvi sua risada.
— Não, não é isso. Nessas festas sempre tem drogas e
bebidas, Natalie não devia ficar nisso.
— Nem você, nem ninguém — o olhei após parar o carro no
sinal vermelho. — Adolescentes da nossa idade querem a primeira
coisa que os fizerem felizes ou que os tirem da realidade. Drogas e
bebidas não deviam ser os caminhos porque quando o efeito incrível
acaba, eles vão querer mais até chegar na dependência, caso não
tenham controle.
— Vai falar de Deus? Me evangelizar? — Ri dando partida.
— Quem citou Deus foi você — rebati e ele pareceu sem fala. —
E evangelizar quem já foi da igreja é perca de tempo, você sabe
tanto do evangelho quanto eu — parei o carro na garagem de minha
casa. — Mas me fala uma coisa — ele me olhou — precisa seguir
uma religião pra entender que cocaína, LDS, heroína e alcoolismo
não fazem bem e podem te viciar? Não falo de beber, falo de não ter
controle — ele ficou sem reação. — É, com certeza não precisa.
Isso não tem nada a ver com religião ou... Evangelizar.
Sai do carro, ele fez o mesmo e conseguimos tirar Natalie.
Por incrível que pareça, fiquei feliz pelos meus pais terem
viajado justamente hoje, teria que falar a verdade para eles e seria
pior para Natalie pois eles não esconderiam dos Styles, minha mãe
talvez, mas meu pai não esconderia do melhor amigo dele.

Com muita dificuldade, consegui dar um banho em Natalie que


caiu desmaiada em um sono na minha cama depois de me xingar
em norueguês pela água gelada. Ninguém mandou encher a cara.
Aproveitei e tomei um banho também, vesti meu pijama e senti
tontura pela fome.
Desci as escadas cambaleando. A última vez que comi era seis
da tarde, meu corpo estava frio, a glicemia devia estar baixa.
— Ei, você está aqui aind… — Minhas forças se esvaíram,
sentia que ia cair, mas Cameron me segurou — Pega minha coca,
por favor.
Ele me sentou no sofá e foi até a cozinha. Não era o indicado,
mas coca também ajudava a subir minha glicemia, mas às vezes
subia demais e minha diabete ficava tão alta que precisava tomar a
mais do remédio. Sei que coca não era o certo, mesmo assim,
continuava tomando.
Cameron voltou com a minha xícara do Naruto. Sem pensar,
bebi do líquido sentindo o gosto de achocolatado.
— Tinha pedido coca — reclamei me forçando a rir. — Mas
obrigada.
Depois de dez minutos, senti minha glicemia subindo como em
um passo de mágica, era assim que funciona, mas nem sempre.
— Eu sei o que você pediu — ele riu quando o olhei. —
Mandona.
— Babaca — resmunguei olhando para o teto.
— Nerd insuportável.
— Quarterback egocêntrico.
— Pelo menos os apelidos mudaram — Cameron comentou me
fazendo rir.
— Vai dormir aqui?
— Não quero me explicar para os senhores Styles — me
levantei. — Mas vou pra casa — ele se levantou.
— Ok — caminhei até a porta, a abrindo.
— Até amanhã, nerd mandona — provocou passando por mim,
revirei os olhos rindo e quando ia fechar a porta, ele a segurou —
Aliás, a diretora soube sobre as minhas notas e perguntou se eu
tinha alguém em mente pra me ajudar — ele sorriu vitoriosamente.
— Espero que você não se importe.
— Cameron, o que você fez? — O olhei assustada e furiosa.
— Até amanhã, caramelinho — disse descendo as escadas da
frente de casa.
Cameron, você não fez isso!

Uma semana depois...


— Senhorita Malik, a diretora a aguarda na diretoria — disse a
inspetora depois de atrapalhar a aula de história.
Sai da sala ouvindo um "uhhh" dos alunos, como se eu
estivesse encrencada. E talvez eu estivesse, Cameron não estava
aula e ficou uma semana me lançando sorrisinhos vitoriosos. O que
ele quis dizer na madrugada de quarta? Não, por favor, que não seja
isso!
Bati na porta da diretoria e a abri pedindo licença. Pelo menos
só a diretora estava presente. Nada de Cameron. Isso é bom,
espero.
— Olá Rebecca, sente-se. Fique à vontade — disse sorrindo.
Fechei a porta e me sentei de frente para a diretora; era normal
sentir esse nervosismo? Eu nem fiz nada.
— Aconteceu algo?
— Não, minha querida. O professor Tomlinson me informou
sobre você ter feito Cameron confessar que recebe trabalhos de
alunos. Já desconfiávamos, mas não tínhamos nenhuma prova e
não podíamos acusá-lo. Até você fazê-lo admitir e, claro, isso teve
consequências — ela me olhou por instantes.
— Com todo respeito, diretora López, não estou disposta a
ajudá-lo.
— E por que não? — Questionou me olhando.
— Eu e ele não nos damos muito bem, não me sinto à vontade
com ele, não tenho interesse em ajudá-lo e depois da escola eu
preciso ir trabalhar.
— Vocês estudariam na biblioteca dás 13 as 15h, não te
atrapalharia pois não são horários de aulas e sim de projetos e
treinos do time. Você só sairia meia hora depois do horário normal
— explicou.
— Ainda prefiro os projetos — disse firme, ela me olhou e sorriu.
— Entendo. Minha querida, Cameron disse que você teria todos
os argumentos para não o ajudar, também me disse sobre a relação
entre vocês e é justamente por isso que você é a mais indicada para
ajudá-lo — franzi o cenho. — Qualquer garota da escola que ir
ajudá-lo nos estudos, ficando só os dois na biblioteca poderá
resultar em atividades... proibidas — soltei a respiração me
encostando na cadeira. — Como já aconteceu.
— E ele continua na escola? Isso não leva a expulsão?
— Esse não é o ponto — rebateu, deixando claro que era a
passa pano de quarterback. — Pense a respeito — ela pegou
alguns documentos. — Seu pai me disse sobre você querer ir para
Stanford, tenho contatos lá, se me ajudar, eu te ajudarei.
— Meu problema não é ajudar a senhora e sim ele — olhei para
a janela, vendo que ele estava encostado em um muro conversando
com uma garota. — Ele não escuta ninguém, ele faz o que quer, ele
é egocêntrico, teimoso, arrogante, incrivelmente difícil de lidar e,
muito, muito orgulhoso, ele sempre quer sair por cima. Será bem
difícil entrar em Stanford apenas fazendo a prova, mas vou tentar.
— Então isso é um não — afirmou rindo. — Você me lembra
muito sua mãe, determinada igual ela. Mas é direta como Owen —
sorri dando de ombros. — Pode ao menos pensar sobre o assunto e
falar comigo segunda?
— Sim, posso.
Sai da sala da diretora e já era hora do intervalo. Pensar no
quê? Eu e Cameron no mesmo ambiente com certeza resultaria em
morte!
Desci as escadas, não estou a fim de encarar o pessoal do
refeitório e decidi não ir para lá. Kath e Nat pegaram amizade depois
da festa, então, acho que elas vão ficar bem. Parei no meu armário
para guardar os livros e no mesmo instante ele, Cameron Styles,
entrou pela porta que dava para o estacionamento.
— Vai indo lá, gata — o ouvi falar e senti uma vontade enorme
de sair correndo.
— Não vai comer? — Melissa questionou.
— Depois.
Fechei meu armário e ele estava parado me olhando. Arqueei a
sobrancelha o olhando.
— Pois não?
— Falou com a diretora? — Questionou se aproximando.
Olhei na máquina de refrigerante que tinha próximo ao corredor
do refeitório vendo os cabelos loiros de Melissa que estava nos
espionando e aquilo não me deixou nada surpresa.
— Sim — o olhei.
— Vai aceitar? — Olhei nos olhos dele.
— Não — a esperança em seu olhar se apagou. — Você
mesmo disse que eu seria uma das únicas pessoas que não
transaria com você e nisso você está certo, eu posso exigir algo em
troca e já até pensei no que, mas — o puxei até a máquina de
refrigerante o fazendo ver Melissa e ela nos olhou assustada dando
um gritinho de surpresa — não vou me sujeitar a coisas assim. Ex-
namoradas, ficantes ou seja lá o que for em cima de mim por um
quarterback que eu nem gosto. Fora que, dois minutos juntos já
vamos saber a péssima ideia que seria eu te ajudar. Encontre outra
pessoa, Cameron.
Caminhei até o estacionamento, subi na moto e quando peguei
o capacete Cameron parou na minha frente.
— O que você pediria em troca?
Suspirei dando de ombros, decidindo falar.
— Meu irmão sempre quis aprender a tocar violão, ele precisa
de alguém pra treinar Jiu-jitsu sem ser expulso e tem que fazer
esportes também, enfim, você faz tudo isso e eu chego tarde em
casa, sei pouco de Jiu-jitsu e pra esportes que ele gosta, bom, pra
mim não dá principalmente agora que meus pais adotaram duas
crianças. Mas isso não vai acontecer, vou dar outro jeito.
— Rebecca — ele apoiou as mãos no guidão da moto — a
gente consegue colocar as diferenças de lado e ambos vão sair
ganhando.
— Você vai parar de ser orgulhoso? — Ele franziu o cenho —
Não percebe? Você não pede ajuda, jogou essa pra diretora, não
consegue falar um Rebecca, eu preciso da sua ajuda, você sempre
quer sair por cima e por isso não dá o braço a torcer. Você é bom
demais pra pedir ajuda?
— Eu não pedi ajuda?
— Em que momento? Tudo o que você falou foi a diretora falou
com você? Vai aceitar? Quando, de verdade, você falou que quer ou
precisa da minha ajuda?
— Você quer que eu me humilhe? — Ele ficou com a coluna
reta — Não mesmo, Malik — disse ríspido.
— Você é um arrogante mesmo! Pedir ajuda não é se humilhar
seu completo idiota! Eu admiti que precisava de ajuda por querer o
bem do meu irmão e você não consegue admitir que precisa de
ajuda pro seu próprio bem. Cameron, sai da minha frente —
coloquei o capacete.
— Becc...
Não o deixei terminei, virei a moto desviando dele e acelerei.
Depois de horas trabalhando, sentia que precisava ir à igreja
mesmo estando atrasada. Não sou do tipo que quer ficar enfiada o
tempo todo dentro de uma igreja, mas ir as vezes me fazia bem.
—… As vezes não entendemos o trabalhar de Deus em nossas
vidas — disse o bispo. — Principalmente quando é uma coisa que
nunca desconfiávamos que iria acontecer — o bispo olhou para a
porta de entrada e saída da igreja e voltou a falar; olhei na direção
quase sem acreditar que Cameron entrou e se sentou no último
banco — E quando acontece, não sabemos como reagir, pois,
muitas das vezes não é aquilo que queremos. Mas se o Senhor nos
deu, é porque somos capazes, é porque Ele viu algo em nós que
nos outros não tinha, pois cada um tem um propósito debaixo do
céu.
Olhei para o alto e fechei os olhos. Isso só pode ser brincadeira!
O culto acabou por voltas das nove e vinte da noite, enquanto
pastor segurava Cameron para conversar com ele, eu consegui
escapar depois da mulher do pastor me recepcionar e dizer que
esperava me ver outras vezes.

— Filha, venha jantar — minha mãe me chamou.


Desci as escadas me deparando com os Styles, ainda bem que
não coloquei meu pijama ainda. Os cumprimentei e me sentei ao
lado de Natalie.
— Você não vai acreditar no que Cam fez — ela riu. A olhei
séria e sem saber o que me esperava. O jantar foi posto à mesa, a
bebê conforto de Louis, meu irmãozinho, estava ao meu lado e o de
Eloise está ao lado de minha mãe. Ele tá "sempre" acordado,
enquanto Elo está "sempre" dormindo. Eles são lindos, lindos
demais e eu me apaixonei assim que meus pais os trouxeram. A
viagem que fizeram na semana em que Natalie passou mal foi para
isso. São recém-nascidos e foram abandonados pelos pais em San
Diego.
Após orarmos, começamos a nos servir, meu pai e tio Arthur
estavam conversando sobre negócios e nem nos deu atenção.
— Cameron vai dar aulas de violão para Isaac, querida —
minha mãe me disse e o garfo caiu de minha mão, chamando a
atenção de todos. Rebecca 0 x 1 Cameron.
— Ahn... desculpa — pedi pegando o garfo. Olhei Cameron, que
me lançou um sorriso.
— Vai me ajudar nos esportes e em Jiu-jitsu também — Isaac,
que estava ao lado de Cameron, disse animado e meu sangue
ferveu. Cameron me olhou vitorioso e com um sorriso sarcástico.
Rebecca 0 x 100 Cameron.
— Que ótimo que encontrou alguém pra te ajudar, irmão — sorri
mostrando animação — E você, Cameron — enchi meu copo com
coca cola. — Já achou alguém pra te ajudar com as notas?
O sorriso de Cameron se esvaiu. Meus pais me olharam e os de
Cameron o olhou.
— Você não dá um tempo, Malik! — Disparou quase que em um
rosnado.
— Não vai ser do seu jeito que as coisas vão funcionar, não
dessa vez, Styles — rebati sem desviar o olhar.
— O que está acontecendo? — Meu pai questionou.
— Nossos filhos vão namorar — tio Arthur disparou me fazendo
engasgar com a coca e tossir. Natalie gargalhou alto.
— Namorar? — Nossas mães questionaram juntas e riram.
— Ia ser legal — Isaac afirmou. Revirei os olhos. Quando olhei
Louis, ele estava com os olhos abertos e sorrindo, abriu a boquinha
como se quisesse falar. Louis, seu traidorzinho!
— Nem ferrando — Cameron rebateu.
— Olha a boca — tia Eliza repreendeu.
— Becca não discordou — Natalie disse fazendo a sonsa
enquanto bebia coca.
— Se eu discordar vocês não vão acreditar, mas sei que eu
jamais teria qualquer coisa com ele.
— Aram — minha mãe debochou.
— Eu acredito em você — meu pai disse fazendo todos rirem.
— Você não vale — Arthur disse.
— Certo, mas que história é essa das notas, Cameron? — Eliza
questionou o olhando.
O olhei com um sorriso vitorioso, ele negou com a cabeça me
olhando e passou a mão no cabelo ficando com as bochechas
coradas, acredito que de raiva. Vai Styles, conta pra gente. Que
história é essa das notas?
Rebecca 100000 x 0 Cameron.
Era terça-feira e eu não fazia ideia de como tinha conseguido
enrolar a diretora por não ter uma resposta sobre Cameron. Ele ia

pedir minha ajuda? Ou simplesmente achava que eu iria me

oferecer? Não mesmo!


— Dona Rosie — chamei minha patroa me aproximando dela
depois de limpar as mesas, estávamos prestes a fechar a
lanchonete. Como Andrew não ficou hoje, ela quem iria fechar a loja
comigo.
— Sim — ela me olhou quando me aproximei, estava atrás da
bancada do caixa.
— Quando a senhora disse que não aceitava namoro entre
funcionários, foi pelo seu filho, certo? — Ela concordou com um
balanço de cabeça — Ah...
— Por quê?
— Acho que quem devia receber essa advertência era seu filho,
principalmente por ele namorar — disparei sem pensar. Ela riu e eu
senti que perderia o emprego.
— Sempre direta — afirmou.
— Desculpa, não quis ser... Grossa ou inconveniente — fiz uma
careta.
— Meu filho é um tanto difícil, conversar e brigar não resolve.
— Sendo difícil ou não, traição é caráter, não o gênio de alguém
— disse baixinho para que ela não ouvisse enquanto limpava a
bancada.
— Obrigado por dizer que não tenho caráter — a voz de Andrew
ecoou atrás de mim. — Você não pode chegar pra minha mãe — me
virei de frente para ele e ele parou próximo de mim — e falar isso,
você nem me conhece — disse ríspido. O encarei, o olhando nos
olhos por instantes até que ele desviou o olhar.
Meus pais me entenderiam por perder o emprego, considerando
que eles nem me queriam trabalhando agora.
— Você tem toda a razão, isso justifica tudo — disse sem conter
a ironia — Estou dispensada, dona Rosie? — Ela concordou rindo.
Me troquei e me despedi de Rosie e Andrew, que nem se quer
olhou na minha cara. Tinha certeza de que seria demitida,
conseguia até mesmo me ver assinando os documentos de
demissão.
Pelo amor de Deus, Rebecca, você precisa calar a boca.
Entrei no refeitório com Katherine e Neji, que discutiam sempre
que estavam juntos por motivos que ninguém entendiam visto que
eles se conheciam há tão pouco tempo e já se implicavam como eu
e Cameron, a diferença era que eles ainda conversavam numa boa
às vezes.
— Você quer sempre ser a dona da razão, quem te aguenta? —
Neji questionou se sentando ao meu lado e Katherine se sentou em
minha frente.
— Se você estivesse certo, não estaria errado — Katherine
rebateu revirando os olhos, acabei rindo deles.
— Vou pegar os lanches e Neji, desculpa, mas essa discussão
já foi ganha. Larry existiu sim, só não vê quem não quer e você só
discorda porque Kath concorda que existiu — ri para eles.
Ela fez expressão de vitoriosa e eu me levantei batendo de
frente com Cameron Styles que derrubou todo o lanche em mim.
O refeitório ficou barulhento por risadas e os olhares estavam
em nós. Minha blusa azul claro estava cheia de molho, ótimo!
— Tinha que ser — disse controlando a respiração e tirando o
pão do hambúrguer que estava colada com molho em minha
clavícula.
Coloquei o pão em sua bandeja, ele simplesmente ficou sem
reação me olhando; nunca deve ter pedido desculpas na vida.
Puxei minha bolsa e sai do refeitório o mais rápido possível indo
até o banheiro. Droga de molho! Amarrei meu cabelo e comecei a
me limpar.
— Amiga, meu Deus — Natalie disse entrando no banheiro com
Katherine.
— Ah, droga, pior que nem tenho uma blusa reserva —
Katherine se queixou.
O molho parecia ter impregnado em minha blusa. E aquele
babaca nem se quer pediu desculpas. Não estava brava, na
verdade, não era algo que ele ou eu podíamos controlar, também
não lhe dei tempo de pedir desculpas, mas era inevitável não ter
algum conflito com Cameron.
— Eu tenho, mas é bem curta, pode ser? — Natalie questionou.
— Se tivesse sujado só a blusa de baixo estava tranquilo, mas
não, sujou a de frio também, eu vou passar frio — reclamei vendo
meu casaco sujo e molhado por estar tentando limpá-lo.
— Malik — a voz de Cameron era mansa. O olhei através do
espelho e ele estava com um moletom preto do Paris Saint-Germain
em mãos. Ele olhou Natalie que saiu puxando Katherine, ela estava
quase babando olhando Cameron e eu me questionei quando foi
que isso aconteceu?
— Isso não é um banheiro unissex, Styles — disse ainda o
olhando pelo espelho.
— Rebecca — chamou com firmeza — não foi minha intenção
— me virei o olhando. — Me desculpa, não queria mesmo — o
encarei por instantes, seu olhar era firme em mim e seus olhos
estavam bem azuis.
— Ok, Styles, tudo bem.
— Toma — ele me estendeu o moletom preto. Franzi o cenho.
— Você é insuportável com suas blusas de time, mas obrigada
— me virei para a pia voltando a limpar a blusa que estava em meu
corpo.
Cameron parou atrás de mim e colocou o moletom em cima do
meu casaco na pia.
— Você não tem muita escolha — ele riu e simplesmente saiu
do banheiro.
Eu jamais admitiria isso em voz alta, mas ele estava certo. Ou
eu passava frio e ficava suja, talvez eu passe frio usando a blusinha
que Nat propôs ou eu fico em paz usando a blusa dele... Não tão em
paz por ser uma blusa de Cameron.
Encarei por segundos o moletom preto, o peguei e o perfume
impregnou em meu nariz. Um cheiro ótimo de perfume de quem não
presta e que eu devo manter o máximo de distância.
Mas acabei colocando o moletom e o perfume não saia de meu
nariz de forma alguma, chegava a me deixar zonza e espirrando
pela rinite. Passar frio ou morrer de rinite?
Caminhei até o carro, coloquei as blusas sujas no mesmo e
aproveitei pra espirrar o remédio no nariz antes que eu o arranque
de tanto coçar. Me olhei não acreditando que estava usando o
moletom desse garoto, meu Deus que ódio!
Olhei para frente o vendo com uma garota que não era Melissa,
estava se agarrando com ela, devia ser a segunda ou terceira
garota da semana. Às vezes me questionava qual era necessidade
disso? Beijar só por beijar em busca de sentir alguma coisa que em
beijos com desconhecidos nunca vai trazer. Mas, se era disso que
ele gosta, boa sorte e eu não tinha absolutamente nada a ver com a
vida das pessoas que gostavam disso.
Sai do carro tentando não mostrar a minha presença, mas foi
impossível quando assim que travei o carro, o alarme disparou.
Minha mãe deve ter conseguido quebrar o alarme do meu carro
outra vez.
O casal me olhou e eu desviei o olhar. Desliguei o alarme e
quando estava prestes a sair, Cameron se aproximou de mim e a
garota começou a andar de volta para escola. Sua boca estava
marcada e seu cabelo bagunçado.
— Tá gripada? — Perguntou e eu funguei negando com a
cabeça.
— Rinite, seu perfume é muito forte, mas dá pra usar.
— Se quiser tem o moletom do time.
— Nunca — disparei quase que desesperada e nós dois rimos,
pela primeira vez, juntos. — E para de fingir que se importa, sei que
você quer alguma coisa — ele riu de lado.
— Ficou bem em você — disse me olhando por inteira.
— Deve ter ficado bem em todas as outras que já usaram esse
moletom — dei de ombros rindo e ele ficou sério, sério até demais.
Negou com a cabeça em desaprovação, mas não me contrariou.
— Malik, por que não me ajuda logo com as notas? —
Questionou e estendeu a mão para passar no meu rosto.
— Primeiro — segurei a mão dele, o impedindo — para de falar
comigo como se quisesse me conquistar — soltei a mão dele e ele
me olhou surpreso. — Segundo, cinco palavrinhas, Cameron,
apenas cinco.
Ele revirou os olhos e se afastou virando-se para trás. Colocou
as duas mãos na cabeça como se estivesse se rendendo, abaixou
os braços e virou novamente se aproximando de mim.
— Eu preciso da sua ajuda — admitiu em voz extremamente
baixa, pareceu ser bem difícil para ele, como se nunca tivesse feito
isso antes.
— Desculpa, não te ouvi — debochei e ele bufou.
— Malik, eu preciso da sua ajuda! — Disse alto e indignado.
— Ficou bem em você.
— O quê? — Seu olhar era de confusão.
— Pedir ajuda — ele riu mostrando o dedo do meio na minha
cara, empurrei sua mão rindo. — Vai ajudar meu irmão nas coisas
que te falei?
— Já estou fazendo isso — ele cruzou os braços.
— Certo. Vou falar com a diretora, começamos amanhã.
— Mas amanhã tenho treino.
— Isso não é problema meu — afirmei passando por ele e
ouvindo sua risada.
— Malik — me virei o olhando. Ele deu alguns passos até mim,
parou em minha frente e soltou o coque que eu estava — Não estou
dando em cima de você, é só que... — O sinal tocou; ele afastou a
mão de meu cabelo desviando o olhar do meu e saiu de perto de
mim.
Soltei a respiração que não sabia que estava prendendo, meu
coração estava acelerado e... por que ele não terminou de falar?
Voltei para a escola e os olhares estão cem por cento em mim.
Eles me olhavam, olhavam o moletom e me olhavam novamente
tentando acreditar no que estavam vendo.
— O quê? — Natalie quase gritou e riu se aproximando, Kath
me olhou com desconforto. Mas por quê?
— O que o quê? — Rimos.
— Você está com a blusa do meu irmão, ele nunca empresta as
blusas dele, principalmente de time, pra ninguém — disse surpresa.
Arrumei os óculos depois de espirrar.
— Foi porque ele que me sujou, era o mínimo — disse dando de
ombros e olhei Katherine que me encarava de uma forma estranha.
— Amiga, te vejo depois, te amo — Natalie beijou meu rosto e
correu para a quadra, pois teria treino das líderes agora.
Sorri a olhando correr desengonçadamente, Cameron parou no
armário ao meu lado e Kath saiu caminhando até o armário dela.
Organizei meus livros, quando fechei a porta do armário espirrei
novamente e Cameron riu.
— Tá rindo do que, idiota? A culpa é toda sua!
— Tô rindo de você — ele riu de lado e me olhou por instantes.
Ele precisava urgentemente parar de me olhar assim.
— O palhaço aqui é você — disfarcei o fato de que o olhar dele
está… diferente.
— Quem tá com o nariz vermelho aqui é você — rebateu,
acabei rindo, mas fiquei séria. Não ria pra ele, dissimulada!
— Babaca! — Disse caminhando até o armário de Kath.
— Insuportável! — Retrucou fechando a porta de seu armário e
ouvi seus passos saindo do corredor.
— Vamos? — Questionei Kath, estávamos em um grupo de
estudos chamado Fênix, mas não vou poder participar dos
campeonatos pois vou ajudar Cameron na hora dos estudos do
grupo.
— Você gosta dele? — Questionou diretamente.
— Claro que não, por que insiste nisso?
— Porque parece — disse séria. — Pelo menos da parte dele,
não parece ser raiva ou ódio — ela saiu andando antes de mim em
direção contrária da biblioteca.
Fiquei um tempo parada tentando entender os motivos de
Katherine estar agindo assim, não sabia muito sobre a vida dela fora
da escola, mas algo estava acontecendo. Conhecia Cameron há
anos, era impossível ele gostar de mim. Ele gostava dele mesmo,
gostava de ficar com várias e... Credo, era o Cameron!
— Fica longe do Cameron — Melissa disse em tom ameaçador.
O que esse garoto tem pelo amor de Deus? Parece vaga de
emprego de tão disputado que é!
— Infelizmente é impossível, vou ajudá-lo com as notas. Mas
não se preocupe, ele é seu e do resto da escola, não é comigo que
você precisa se preocupar! — Avisei a olhando, as palavras
sumiram de sua boca. Visto que ela não falaria nada, entrei na
biblioteca.
— Kath não vem? — Neji questionou quando me sentei ao seu
lado.
— Não sei, tem algo de errado com ela — Neji me olhou e
forçou um sorriso.
— Desde que ela começou a ficar com Cameron, ela mudou.
— Nem sabia que ela estava com ele — franzi o cenho. Ela
parecia achar graça em relação a mim e Cameron.
— Ela pediu pra não te contar — arqueei uma sobrancelha. —
Não explicou o motivo, só não quis falar.
Katherine entrou na biblioteca no mesmo instante e se sentou
ao meu lado, sem me olhar.
— O que falei pra Melissa, vou falar a você: Cameron é seu e
do resto das pessoas que ele fica, eu não tenho nada a ver com a
vida de vocês. Não é comigo você precisa se preocupar — ela me
olhou — e se você é do tipo que implica por causa de homem, por
favor, pare de falar comigo — disparei e ela arregalou os olhos.
— Então gente, vamos começar — Neji, o capitão do Fênix,
chamou nossa atenção e a dos outros alunos que conversavam
entre si. Desviei o olhar de Kath.
Depois das aulas de projetos, sai da sala de pintura e Katherine
estava encostada na porta.
— Me desculpa, eu não brigo por homem, principalmente
Cameron que fica com outras pessoas. Me desculpa — disse
caminhando ao meu lado. — Eu não sou assim, sério — a olhei.
— Sem problemas — sorri relaxando o corpo. — Não tenho a
intenção de ficar com alguém que é de todo mundo, fora que — faço
uma careta de nojo — é o Cameron.
Ela riu me abraçando, mas eu já não conseguia retribuir tanto
como antes.
— Avisa a Natalie que eu fui falar com a diretora por favor? —
Questiono. Ela concordou.
Caminhei até a diretoria.
Então, eu iria mesmo ajudar Cameron Styles? Que Deus me
ajude!

A diretora ficou extremamente feliz por eu ter aceitado ajudar


Cameron e explicou que eu o ajudaria durante o primeiro semestre,
a temporada de futebol começaria daqui há três meses e ele
precisava ter o máximo de notas recuperadas. Cameron tem cinco
trabalhos para fazer até o mês que vem, o que esse garoto pensa
que está fazendo da vida?
Sai da escola vendo que Natalie e Cameron ainda estava, no
estacionamento com Katherine… me esperando?
— E aí — Cameron desceu do capô do carro e Kath estava não
parava de encará-lo. — Falou com a diretora?
— Sim, começaremos amanhã, depois do intervalo até às 15h.
— Não ia ser a partir das 13h? — Natalie questionou me
entregando um copo de 500ml de suco de limão.
— Ia — aceitei o copo. — Mas o mocinho tem mais coisas a
fazer do que eu imaginava — ele riu relaxando os ombros — então
ela estendeu o horário.
— Ah — Natalie pegou em nossas mãos — vocês prometem
que não vão se matar? Vocês lembram como era antigamente,
brigas toda hora — ela revezou os olhares entre nós.
— Se ela for mais legal explicando matéria do que como pessoa
no geral, vai dar certo — Cameron provocou.
— Se ele deixar o ego dele um pouco de lado, ser menos
prepotente, menos babaca e não ser arrogante — o olhei e ele me
olhou — talvez dê certo.
Ele passou a língua nos lábios tentando não sorrir.
— Não conte com isso — disse Cameron; soltei a mão de
Natalie e fiquei de frente para ele.
— Você não tem muita escolha — o relembrei e seus lábios
tremeram em um sorrisinho.
— Ah meu Deus — Natalie se queixou e eu acabei rindo a
olhando.
— Vamos meninas? — Questionei e Katherine me olhou
apreensiva.
— Ela vai comigo — Cameron disse olhando Katherine e
caminhou até seu carro.
Eu e Natalie nos olhamos e olhamos Katherine que nos olhou e
quando ia dizer algo, Cameron buzinou, ela apenas deu um aceno
com a mão para nós e saiu em direção ao carro de Cameron. Dei de
ombros e caminhei até meu carro. Cameron era rude, não esperava
ninguém e fazia pouco caso das meninas e mesmo assim elas
corriam para ele, era tão... estranho.
— Ele vai acabar com ela — Natalie disse entrando no carro.
— Provavelmente — concordei dando partida.
— Eu avisei, na primeira vez que ela foi lá em casa na semana
passada, eu avisei que ele ia acabar com ela. Ela tá se envolvendo
totalmente e Cameron só envolve o que é importante pra ele. Ele vai
acabar com ela.
— Se você já avisou e mesmo assim ela quer, não tem o que
fazer — afirmei.
— É… Ela não me ouve, Cameron tá iludindo e usando ela. Não
falei com essas palavras, afinal, não vou prejudicar meu irmão...,
mas tentei avisá-la.
— Iludindo? — A olhei após parar o carro no sinal vermelho.
— Ela fala que gosta dele e ele fala que gosta dela, fingindo ser
recíproco, bom, isso é o que Kath disse e Cameron não fala dela pra
mim. Ela já deu vários presentes pra ele nesse tempo e ele tá tipo,
nem aí pra ela. Eu realmente não sei o que fazer, ele devia ao
menos deixar claro que não gosta dela. Por que ele é tão
irresponsável emocionalmente? Sempre sai meninas destruídas por
ele e ele simplesmente não se importa.
— Esse assunto tá me deixando nauseada, mas só prova o
péssimo caráter do seu irmão — disse voltando a dirigir.
— Talvez ele encontre alguém que dê um jeito nele — disse
desanimada.
— Pessoas não são centros de reabilitação pra dar jeito em
outra pessoa. Ele, com ele mesmo, precisa entender que o que ele
faz é ridículo e podre! — Natalie respirou pesado.
— Sabe, não é culpa dos meus pais. Tenho muito o que falar da
minha mãe, mas nisso não posso julgá-la. Meu pai já desceu a
porrada no Cam quando ele disse pra uma garota da igreja que só
usou ela, nossa foi horrível! Foi pouco antes de vocês voltarem.
Cameron tá em uma fase horrível desde que Alice o traiu.
— Alice Parker? Ela tá na faculdade, não? Eles namoraram? O
que eu perdi? — Parei o carro na frente de casa.
— Sim, Alice terminou ano passado. Eles namoraram durante
dois anos do colegial, depois que você foi embora, há dois anos
atrás. Cameron chegou em Liberty e já conquistou seu lugar na
escola por ser tão novo e jogar tão bem, conseguiu tirar o time de
Andrew, que era capitão na época, Cam é o primeiro de toda a
história da escola a ser capitão logo no primeiro ano. Chegou no
segundo ano, no baile de formatura do terceiro e Cam viu Andrew
com Alice. Eles namoram até hoje — arregalei os olhos.
— Andrew e Alice? — Questionei.
— Sim — ah, meu Deus e ele trai ela agora — e foi por agora
que Cam começou a decair nas matérias, beber, às vezes fuma e
usa as pessoas constantemente. Disse que amor é limite e ele não
precisa de limite nenhum — ela riu preocupada e desanimada. —
Ele me preocupa tanto, parece estar mais calmo agora, mas no fim
do ano passado depois de descobrir tudo ele começou a se envolver
em confusões e chegava todo arrebentado em casa.
— Eu sinto muito amiga, mas isso não justifica ele usar as
pessoas.
— Não, eu sei. Não estou justificando, pois sou a primeira a
discutir com ele quando começa a usar alguém, quando é amiga
minha então... Enfim, nunca tinha falado sobre isso com ninguém e
me sinto até mais leve — a abracei e ela sorriu. — Me conforta
saber que você jamais se envolveria com ele, seria horrível e eu não
o perdoaria.
— Fique tranquila — sorri tranquilamente para ela.
— Quando você vai me convidar a ir pra sua igreja? —
Questionou soltando o cinto de segurança.
— A igreja tá lá, é só ir — ela deu um tapa na minha testa me
fazendo rir. — Por que parou de ir?
— A igreja que eu ia é muito preconceituosa, intolerantes
religiosos e justificam homofobia com a bíblia, sabe? Minha mãe
parou de ir faz pouco tempo, eu, Cam e meu pai paramos quando
deu a confusão do Cam com a garota, ela é a filha do pastor aliás.
Depois disso não tive mais interesse, mas sinto falta.
— Amanhã tem, vou direto do trabalho, se quiser pode ir comigo
— ela sorriu concordando.
Depois de atender alguns clientes, Andrew — que nem na
minha cara estava olhando — avisou que dona Rosie estava me
chamando em seu escritório.
Subi as escadas depois de passar pelo corredor, bati na porta
duas vezes e entrei na sala sabendo que seria demitida.
— Sente-se, Becca — pediu após eu fechar a porta.
— Dona Rosie — me sentei — peço desculpas por ontem, eu
preciso me segurar em algumas coisas, juro que não vai acontecer
— ela riu tirando os óculos.
— Não vou te mandar embora, Becca e esse negócio de dona
Rosie, guarde a formalidade para quando estivermos na frente de
clientes e fornecedores — sorri concordando. — O que você falou
ontem deixou Andrew pensando a noite toda, ele reclamou de você,
mas foi porque você falou algo que ele nunca havia escutado assim.
Mas gostaria de te dizer para não falar esse tipo de coisa na frente
de outras pessoas.
— Eu espero nunca mais falar nada sobre — rimos.
— Certo. Mas é sobre outro assunto que quero tratar com você.
Você está no último ano e se preparando para as provas da
faculdade, sendo assim, há dias em que a lanchonete fica mais
vazia, você pode estudar nesse meio tempo, desde que fique atenta
quando chegar clientes. Liberei isso para Raquel faz um tempo; nas
quintas e sextas o movimento é muito grande então não dá.
— Sério? — Ela balançou a cabeça concordando. — Nossa,
muito obrigada.
— Não é todo lugar que aceita isso, mas entendo que você é
estudiosa, dedicada e responsável, por isso estou te liberando para
isso.
— Muito obrigada, Rosie, de verdade! Não sei como agradecer
— ela sorriu.
— Pode voltar ao trabalho — concordei me levantando e indo
até a porta. — Aliás, boa sorte ajudando Cameron — a olhei.
— Vou precisar — afirmei e rimos.
Eu quase cai da cadeira quando o sinal tocou. Olhei no

relógio, eram três horas da tarde e Cameron tinha vindo. Ótimo! De

acordo com o que foi conversado e combinado com a diretora, se

Cameron não viesse hoje, eu não precisaria ajudá-lo.


Obrigada, Styles!
Sai da biblioteca depois de guardar meu livro na bolsa. Bati na
porta da diretoria duas vezes e minha entrada foi permitida.
— Ele não veio? — A diretora López me olhou por cima dos
óculos, sorri negando com a cabeça. — Você nem disfarça sua
felicidade — rimos, mas ela logo ficou séria.
— Eu sabia que ele não viria, estava óbvio, conheço o Styles —
ela concordou com um balançar de cabeça, parecia desapontada.
Cameron com certeza devia estar com alguma garota ou
bebendo com os amigos, talvez estivesse fazendo qualquer outra
coisa que fosse irresponsável. Responsabilidade nunca foi seu
ponto forte.
— Estou liberada? — Questionei e a diretora pareceu acordar.
— Claro, Malik. Até amanhã.
Sai da diretoria, coloquei meus fones e deixei tocar a música
Oceans – Hillsong.
Senti um baque me empurrando para trás e me deparei com o
próprio atribulado em minha frente. Cameron me segurou pelos
braços, caso contrário eu teria caído lindamente no chão. Estava
suado, com o rosto avermelhado, ofegante, seus cabelos dourados
estavam bagunçados, em cima da sobrancelha esquerda havia um
pequeno machucado, envolto de seu olho esquerdo tinha um
sombreado roxo como o de um hematoma e o canto de sua boca
estava com um pouco de sangue. Seus punhos estavam roxos e ele
estava acompanhado de seu melhor amigo, Elliot. Claro, ele estava
metido em alguma confusão.
— Malik, eu...
— Guarde suas desculpas — me recompus me afastando dele
— para a diretora — o olhei vitoriosa — e boa sorte.
— Malik...
Antes que ele continuasse, sai andando o mais rápido que pude
em direção ao estacionamento. Tinha vinte minutos para chegar no
trabalho e eu ainda não havia comido nada. Cameron atrapalhava
minha vida de um jeito assustador.
Passei na frente da farmácia da escola e não pude evitar ver
Jace, um garoto que era deficiente visual, sendo examinado pelo
enfermeiro Simon. Jace parecia ter levado uma surra das boas.
Surra? Mas Cameron aparentemente parecia ter acabado de
chegar de uma confusão. Não, Cameron não seria ruim a esse
ponto... Eu acho.

Cheguei à lanchonete e Andrew estava de péssimo humor, uma


hora trabalhando com ele parecia um pesadelo.
— Rebecca, vá limpar as mesas — Andrew disse de forma rude
que até mesmo dois clientes que estavam sentados nos bancos das
bancadas nos olharam.
Fiz o que ele pediu. Os clientes, depois de comerem, saíram
deixando apenas eu e Andrew na lanchonete.
— Vai me tratar assim até quando? — Questionei me sentando
na cadeira de frente para o caixa e pegando meu livro de francês, já
que Rosie tinha me liberado para tal feito. Andrew ficou em silêncio
apenas encarando o celular em sua mão.
O sino da lanchonete tocou alertando a entrada de alguém.
Levantei meu olhar vendo quem eu não gostaria de ver.
— O que você estava fazendo com Cameron? — Melissa
indagou com estresse em sua voz e Andrew levantou o olhar.
— Como? — Questionei confusa.
— Ele falou que estava com você, mas está todo machucado e
parecia cansado — Andrew riu maliciosamente. — Anda nerd, fala!
— Quem devia saber do seu namorado é você, ele nem
apareceu para o estudo de hoje, portanto, não estava comigo —
afirmei calmamente.
Ela respirou fundo e simplesmente saiu como uma patricinha
que não conseguiu o que queria. Essa farsa toda de Melissa me
estressa, ela não era uma patricinha, muito menos uma Regina
George como tentava mostrar. Ela tentava sustentar uma
personagem de ensino médio porque acredita que assim vai sair por
cima, era patético e ao mesmo tempo triste.
— Talvez você não seja tão santinha como finge ser — Andrew
riu e eu o olhei entendendo sua insinuação. — Mais uma crente
disfarçada.
— Andrew — me levantei parando em sua frente, o sino de
aviso tocou e ele me encarou curioso — não é assim que você vai
conseguir me irritar, você só está provando o grande babaca que
você é — sussurrei e sua expressão vitoriosa mudou
repentinamente.
Caminhei até a mesa onde os clientes se sentaram e os atendi.
— Por que você é assim? — Andrew questionou assim que
voltei para o caixa.
— Andrew, nunca quis ficar assim com você, mas você tá na
defensiva desde o dia em que eu falei aquilo. Não falei por mal, mas
foi o que você mostrou ser e até agora só tem piorado — expliquei
calmamente.
— De caráter questionável? — Ele cruzou os braços e eu soltei
a respiração.
— O que você quer que eu pense de pessoas que traem? —
Questionei em voz baixa.
— Você não sabe da história toda.
— Então, isso explica tudo? — Olhei em seus olhos e ele
travou.
— O pedido da mesa dezessete está pronto — Freya, que
trabalhava na cozinha, avisou após bater o sininho.
Passei por Andrew, peguei o pedido e o levei até a mesa
dezessete.
— Bom apetite! — Disse sorrindo e quando olhei para frente,
através do vidro da lanchonete, vi Cameron em sua moto me
olhando. — Com licença — pedi me afastando.
Coloquei a bandeja na bancada, Andrew olhou na direção onde
Cameron estava e negou com a cabeça.
— Já venho — avisei saindo da lanchonete.
Me aproximei de Cameron que estava com seu capacete em
mãos. Ele levantou o olhar para mim e eu senti meu corpo todo
estremecer.
— Pode ficar feliz, não precisa mais me ajudar — disse
abaixando seu olhar.
— Se não tivesse se metido em confusão, talvez as coisas
seriam diferentes — afirmei e ele me olhou.
— Você não faz ideia do que aconteceu — disse em voz baixa,
seu olhar demonstrava uma tristeza enorme.
— Como vai ficar o time? — Ele arrumou sua pose e olhou para
a frente.
— Com um novo capitão — disse colocando o capacete.
— Cameron…
— Acabou, Malik. Desculpa ter feito você esperar — antes que
eu pudesse responder, Cameron acelerou a moto sem nem olhar
para trás.
O olhei até perdê-lo de vista. O carro de Melissa, que estava
parado na outra calçada, o seguiu. Quanto tempo ela tinha ficado
ali? Ela era algum tipo de maníaca? Que horror!
Voltei para a lanchonete sem fazer ideia do que tinha com
Cameron. Nada tirava da minha cabeça os machucados de Jace.
Amanhã falaria com ele, com certeza. Cameron não iria me explicar
o que tinha acontecido.

Depois do jantar e de me despedir dos meus pais, subi as


escadas para o meu quarto.
Peguei minha bíblia e abri em Mateus 14:22, que falava sobre
Jesus andando sobre as águas. Olhei minhas anotações nesse
capítulo:
“...A oração chega até Jesus e Jesus chega até as
dificuldades”.
Isso nunca tinha sido tão verdade, pelo menos para mim.
Meus pensamentos foram interrompidos por gritos e coisas
quebrando vindos da casa ao lado, a casa dos Styles.
—… VOCÊ É UM GRANDE IMPRESTÁVEL MESMO! PERDEU
O TIME, CAMERON? — Ouvi Arthur gritando e em seguida um
barulho estrondoso de algo, ou alguém, sendo jogado contra algum
objeto pesado — VOCÊ PRECISAVA DISSO PRA PASSAR NA
FACULDADE! — Os barulhos ficavam cada vez piores e mais
assustadores.
Desci as escadas o mais rápido possível. Meu pai estava
colocando os chinelos e se levantou o mais rápido que pode do
sofá.
— Ele vai matar o garoto, eu já venho — papai disse saindo
pela porta.
— Segure Louis e fique com Isaac, vou ver Eliza, Elô tá
dormindo no bebê conforto, fique de olho nela também — mamãe
pediu me entregando Louis e saindo, também, de casa. Fechou a
porta e Isaac me olhou assustado.
Encarei Louis que me olhava enquanto chupava o dedo. Me
sentei com Isaac e ele se deitou em mim.
— Mana, o que aconteceu? — Isaac questionou fazendo
carinho em Louis.
— Não sei, mas acho que foi por Cameron ter sido expulso do
time — comentei olhando a tevê.
— Você não vai ajudar ele? — Neguei com a cabeça, Isaac me
olhou entristecido e se deitou novamente. — Então ele não vai mais
me ajudar — disse baixinho, tanto que quase não o ouvi.
Fiquei em silêncio. Por segundos de estresse eu havia me
esquecido do trato que fiz com Cameron.
— Isaac…
— Por favor irmã — ele se sentou no sofá me olhando — ajuda
ele, por favor, Cameron é legal, muito legal.
— Podemos encontrar outra pessoa pra te…
— Eu não quero que outra pessoa me ajude — Isaac se
levantou emburrado. — Eu quero meu amigão me ajudando! Você
não entende, ninguém me ajuda com a paciência que ele me ajuda!
— O olhei surpresa, Isaac nunca tinha ficado alterado comigo por
nada — E ele não... — Seus olhos se encheram d'água — Ele não
zomba de mim por ser doente — disse coçando os olhos que
estavam avermelhados. O puxei para se sentar comigo.
— Ei — acariciei o cabelo dele — você não é doente, seu
cérebro só funciona um pouco diferente igual ao meu pâncreas... A
diferença é que meu pâncreas nem funciona — ele riu.
— Você não tá ajudando — disse fungando.
— Eu não sabia que Cameron sabia lidar com seu TDAH, mas,
já que você quer tanto seu amigão te ajudando, eu vou ajudá-lo —
afirmei e Isaac deu um pulo de alegria, em seguida me abraçou.
— Acha que tio Arthur o expulsou de casa? — Neguei com a
cabeça.
A porta se abriu e meus pais entraram, atrás deles estava
Cameron, que não nos olhou, com uma mochila nas costas.
— Amigão! — Isaac se levantou, o abraçou e ele sorriu.
— Tudo bem, garotão? — Cameron bagunçou o cabelo dele,
em seguida me olhou, olhou Louis em meu colo e deu um sorrisinho
bobo, balançou a cabeça e voltou o olhar para Isaac.
— Cameron vai dormir aqui hoje — papai avisou e eu apenas
concordei. — Vem, vou te mostrar o quarto que você vai ficar.
Meu pai, Isaac e Cameron subiram as escadas e minha mãe se
sentou ao meu lado no sofá.
— Arthur deu uma surra em Cameron — minha mãe disse em
voz baixa — Natalie foi pra casa de uma amiga no meio da confusão
e Eliza estava passando mal quando chegamos.
— Por que ele foi expulso do time? — Questionei.
— Por causa das notas e por causa de irresponsabilidade,
Arthur encontrou maconha nas coisas de Cameron e isso foi o fio
que precisava.
— Tio Arthur também não sabe conversar, ele sempre partiu pra
agressividade com Cameron e não é assim que funciona. Enquanto
Cameron só apanha, Natalie faz as mesmas coisas e tio Arthur só
conversa com ela — disparei e revirei os olhos.
— Está do lado de Cameron? — Perguntou com certa surpresa
na voz e eu a olhei.
— Não é certo o lado de Cameron, mas em toda a nossa
convivência eu sempre ouvi Cameron apanhando quando
aprontava, parece que nada mudou. Não é assim que as coisas
funcionam, mãe — expliquei.
— Eliza está grávida, espero que Arthur aprenda a ser pai de
menino o mais rápido possível — mamãe disse pegando Louis de
meu colo. — Traz a Elô quando subir, por favor?
— É um menino? Mas como já sabem? Nem sabia que ela
estava grávida — disse confusa e pegando a bebê conforto com a
minha irmãzinha dentro.
— No meu sonho ela segurava um menininho — mamãe deu de
ombros subindo as escadas. — Aliás, Eliza ainda não sabe que está
grávida — completou.
Acabei rindo, os sonhos de minha mãe nunca erravam, era
incrível como ela sabia lidar com isso.
Subi as escadas, ajudei minha mãe com os bebês e em seguida
entrei no meu quarto, me preparei para dormir e me deitei. Mas o
sono não vinha.
Conversei com Deus, mas ainda assim o sono não vinha.
Rodei e rodei na cama, nada.
Tomei um banho relaxante, coloquei o pijama e desci as
escadas enrolada na coberta fina.
Me sentei em cima da bancada com uma xicara com
achocolatado e olhei pelas janelas vendo o céu estrelado. Deus é
tão perfeito em tudo o que faz que eu poderia ficar a noite toda aqui,
apenas admirando.
— Sem sono? — Ouvi a voz de Cameron. Ele estava apenas
com um short da Nike, desviei o olhar dele, concordando com a
cabeça.
— Preciso falar com você — fechei mais o cobertor em mim e
ele se encostou na pia a minha frente.
Seu corpo estava com alguns hematomas, ele estava péssimo.
— Vou te ajudar a conseguir o time novamente — ele riu
negando com a cabeça.
— Não adianta mais — disse se virando de costas me deixando
ver sua tatuagem.
Senti um soco em meu estômago, meu coração se acelerou e
meu corpo suou frio. Não conseguia tirar os olhos daquela
tatuagem.
Um relâmpago amarelo se passou em minha mente… Eu
estava na estrada quando ouvi os barulhos de várias buzinas ao
mesmo tempo, um clarão do farol do carro veio até mim, eu jurava
que seria atropelada, mas não fui.
— Malik? — Cameron chamou e eu o olhei após balançar a
cabeça. O que foi isso? Lembranças?… Mas do quê?
— Adianta sim, Cameron — voltei ao assunto tentando
disfarçar.
— A diretora deixou bem claro que agora é só eu recuperando
minhas notas sozinho, eu tenho meses até o início da temporada,
não dá Malik — Cameron disse decidido. Ele estava para sair da
cozinha, quando parei em sua frente.
— Ela não precisa saber que eu estou te ajudando — ele me
olhou. — Podemos estudar aqui em casa, meus pais não vão achar
ruim.
— Por que, do nada, você quer isso? Achei que ficaria feliz por
não me ajudar.
— Isaac pediu — ele riu assim que me ouviu.
— Eu não vou parar de ajudar ele só porque você não vai me
ajudar.
— Tínhamos um acordo, Styles — Cameron olhou em meus
olhos.
— Eu tô nem aí pra esse acordo — disse sério e calmamente
para que eu marcasse suas palavras. — Vou continuar ajudando o
baixinho porque eu gosto dele, me vejo muito nele e ninguém, até
hoje, sabe como agir com uma pessoa hiperativa. Não se preocupe,
Isaac é mais que um acordo — me coloquei outra vez em seu
caminho, nossos corpos quase se bateram e ele não conseguiu me
olhar.
— Me deixa te ajudar, Cameron — pedi seriamente. — Sem
acordos, só… — Soltei minha respiração, sentia que devia fazer
isso — Só me deixa te ajudar.
Cameron me olhou fixamente e, por algum motivo, não consegui
manter meu olhar. Me afastei dele quase que de imediato.
— Começaremos sábado de manhã.
— Tá brincando, né? Sábado? De manhã? — Questionou,
incrédulo.
— Traga todos os seus trabalhos, amanhã você fala com os
professores sobre o que você precisa fazer, fale com a diretora que
você vai tentar sozinho e pede para ela te dar mais uma chance —
peguei a xicara que estava na bancada e a coloquei na pia. — Boa
noite, Styles.
Sai da cozinha com milhares de perguntas a mim mesma. Eu
realmente ia fazer aquilo?

Entrei no laboratório de química e me sentei ao lado de Jace,


sempre ficava um garoto com ele por conta de sua dificuldade.
— Oi, posso ficar com ele nessa aula? — Questionei o garoto
de cabelos brancos e ele me olhou.
— Você não sabe cuidar dele e não vou deixar ninguém
maldoso com ele, já bastou ontem — disse ríspido.
— Quem é a pessoa? — Jace questionou passando os dedos
pelo livro de química, que era em braile.
Tirei meus óculos e peguei nas mãos de Jace.
— Sou Rebecca Malik — disse o deixando passar as mãos em
meu rosto, seu toque era suave e ele parecia ser curioso, suas
mãos foram até meu cabelo, passaram pelas minhas orelhas e
pararam, novamente, em meu rosto.
— Você é bonita — ele disse rindo.
— Muito obrigada — coloquei meus óculos.
— Calleb, eu gostei dela — Jace disse e o garoto de cabelos
branco acinzentado sorriu.
— Vou estar na biblioteca, o leve até mim no fim dessa aula,
ok? — Questionou me olhando e eu concordei.
— Você quer saber de Cameron Styles — disse passando,
novamente, os dedos no livro.
— Como você sabe? — Questionei curiosa e com humor em
minha voz.
— Ele falou de você ontem.
— Ele...
— Bom dia turma — disse a professora de química.
Ela me olhou surpresa por estar com Jace, todos estavam me
olhando na verdade. Alguns surpresos, outros enojados.
— Prof, desculpe o atraso — Katherine disse entrando na sala.
— Sente-se, Katherine — pediu a professora.
— Ah, que bom que nos sentamos com Jace hoje — Katherine
disse se sentando na mesma bancada que nós — Jace, sente só o
que eu fiz no cabelo — ela pegou a mão dele e colocou em suas
tranças o fazendo sorrir.

Envolvi meu braço com o de Jace e, com sua bengala, ele


começou a caminhar pelo corredor comigo. Katherine disse que iria
para as arquibancadas, a encontraria depois de deixar Jace na
biblioteca.
— Cameron pediu pra não contar nada sobre ontem — Jace
iniciou — ele não quer que as pessoas saibam que ele tem um lado
bom — disse rindo e me fazendo rir. — Mas não foi ele quem me
bateu — afirmou e paramos na frente de Calleb. — Acredite, ele é
mais do que sua visão pode ver.
Calleb nos olhou.
— Obrigado por cuidar dele — Calleb pegou o bolsa das costas
de Jace.
— Não precisa agradecer — sorri o olhando. — Aliás, se quiser
que eu fique com ele nas aulas de química ou inglês, pode deixar.
— Seria ótimo — Calleb sorriu.
— Certo, até semana que vem então — sorri me despedindo e
sai da biblioteca.
Cameron estava encostado na porta que dava para o
estacionamento, quando me viu fez um aceno de cabeça para que
eu o seguisse e saiu indo até o estacionamento.
Caminhei o seguindo, ele se encostou em meu carro e eu parei
em sua frente. Tirou um cigarro do bolso da jaqueta, o colocou na
boca e quando ia acender, puxei o cigarro de sua boca.
— O que tá fazendo? — Questionou quando joguei o cigarro no
chão e o esmaguei.
— Você nem gosta disso, para de fingir — ele me encarou sem
acreditar, mas acabou rindo.
— Como sabe que eu não gosto?
— Você estava testando esses dias na janela do seu quarto e
começou a tossir que nem um condenado, depois falou que negócio
ruim do caramba — disse imitando sua voz e ele riu de uma forma
que eu ainda não tinha visto.
— Então você estava me observando da janela, Malik? — Ele
questionou com convencimento e bagunçou meu cabelo como fazia
quando éramos crianças.
Empurrei sua mão e desviei de sua pergunta, quando
questionei:
— Enfim, o que aconteceu? — Cruzei os braços. Ele me olhou
por instantes sorrindo e desviou o olhar.
— A diretora me deu dois meses pra fazer os trabalhos de todas
as matérias, depois vou fazer uma prova geral e se for bem, eu volto
pro time.
— Isso é ótimo! — Disse animada e sorrindo.
— Ela me deixou continuar treinando com o time, mas disse que
tenho que cumprir tudo sozinho devido a minha irresponsabilidade
de ter te deixado lá plantada me esperando.
— Justo — ele riu dando de ombros. — Te vejo amanhã então,
as nove da manhã.
— Sim, nerd insuportável.
— Quarterback babaca — rebati enquanto caminhava para
longe dele.
Um sorriso se formou em meu rosto. O quê? Nada disso
Rebecca Malik, nada disso!
Caminhei até o campo de futebol, me sentei nas arquibancadas
com Katherine, Natalie e Neji.
— Pra onde foi ontem? — Questionei Natalie e mordi um
pedaço do meu lanche natural.
— Pra casa de uma amiga — disse sem me olhar nos olhos.
— Por que tá mentindo pra mim? — Senti o olhar de Neji e
Katherine se revezando entre mim e Natalie.
— Não começa, Rebecca. Estava com uma amiga — a analisei
até olhar um roxo em seu pescoço.
— Amiga… entendi — olhei para frente vendo Cameron entrar
no campo com o uniforme do time.
— E você, onde estava? — Por reflexo, sabia que Natalie
estava me olhando.
— Com uma amiga — disse vendo Cameron com toda a sua
brutalidade treinando e ela olhou na mesma direção que eu no exato
momento em que Cameron me olhou.
— Você é patética — Natalie se levantou.
— Não mais que você — rebati. Ela me olhou irritada e saiu
andando. A olhei até vê-la ir na direção do refeitório.
— Com quem você estava, Becca? — Katherine olhou Cameron
e me olhou desconfiada.
— Fui levar Jace na biblioteca — relaxei o corpo e os olhei. —
Acabei parando pra conversar com Calleb — expliquei.
— Oxalá, que susto! — Disse rindo — Achei que estava com
Cam — neguei com a cabeça — Vou sair com ele essa noite, ele é
tão… Ele — suspirou.
Forcei um sorriso. Eu deveria me incomodar com isso? Claro
que não e nem estou!

— Vamos fechar mais cedo hoje — Andrew avisou na cozinha,


não evitei o sorriso pois iria conseguir ir para a igreja na hora hoje.
Quando ele me olhou, desfiz o sorriso e comecei a arrumar as
coisas. — Ouviu, Rebecca?
— Sim, senhor — disse com formalidade, já que seria assim que
o trataria.
— Ótimo.
Revirei os olhos já que estava de costas para ele. Limpei as
mesas e passei pano no chão. Troquei minhas roupas e desci as
escadas voltando para a lanchonete.
Fechamos tudo e me despedi do pessoal da cozinha que
sempre iam embora juntos.
— Até segunda — disse a Andrew, começando a caminhar até
minha moto.
— Até, manda um beijo pra Natalie — o olhei confusa.
— Do que você tá falando?
— Achei que fossem amigas — ele riu. — Ela não te contou?
— Andrew, com a Natalie não, por favor — pedi me
aproximando dele.
— Ela que veio atrás de mim, Rebecca — senti uma pontada no
meu coração, meus olhos se encheram d'água, que merda ela tá
fazendo? — Nossa, não imaginei que ficaria assim — sua
expressão mudou para preocupação. Ele estendeu o braço como se
fosse me tocar e eu me afastei. Respirei fundo e o olhei.
— Você é um babaca — neguei com a cabeça. — É egoísta, trai
a namorada, usa as pessoas porque não tá feliz com o
relacionamento e Natalie sabe que você tá usando ela, mas não
venha querer usá-la pra me atingir, ela já tem idade pra saber o que
faz da vida — parei na frente dele — mesmo que seja com um
grande... — ri com sarcasmo e decidi não entrar na pilha dele —
Você não vale a pena — caminhei até minha moto. — E se quiser
me mandar embora por tudo o que eu falei e por achar você uma
pessoa de caráter duvidoso — montei na moto e coloquei o
capacete — vai em frente — fechei a parte da frente do capacete e
acelerei dando partida.
Cheguei do culto e me joguei na cama. Cameron tinha voltado
para a casa dele hoje, provavelmente depois de ter explicado aos
pais, esperava que eles se resolvessem.
Troquei minhas roupas e fui na direção da janela para abri-la um
pouco. Olhei através da mesma vendo a janela de Cameron aberta,
o que me possibilitou ver ele com Raquel, a garota que reveza os
horários comigo na lanchonete. Mas ele não saiu com Katherine
hoje?
Olhei meu celular e vi a notificação de mensagem da própria
Katherine dizendo:

Kath: sei que você odeia ele


Kath: mas ele tem sido muito bom pra mim

Bloqueei meu celular, sem saber o que responder e ao mesmo


tempo enjoada com aquilo tudo.
Olhei novamente a janela dele. Cameron caminhou até ela, o
olhei negando com a cabeça e ele sorriu fechando a janela.
Um grande babaca mesmo!
Meus pais saíram cedo para ir a um parque com os meus tios
e eu prometi a Katherine que hoje iriamos fazer alguma coisa juntas,

isso depois das aulas com Cameron que ela nem sequer sabia.

Ninguém sabia na verdade.


A campainha tocou. Fiz um coque no cabelo, coloquei meus
óculos e caminhei até a porta, a abri e Cameron me olhou. Estava
com uma bermuda preta, uma blusa salmão e chinelos.
— Bom dia — disse guardando o celular no bolso da bermuda.
— Bom dia — lhe dei passagem.
Nos sentamos na mesa de jantar onde deixei todo o material
que precisaríamos.
— Vamos começar pelos trabalhos maiores que são os de
química, física, matemática e inglês — abri meu notebook e o liguei.
— Tem alguma preferência de qual dessas quatro matérias quer
começar? — O olhei, ele estava sentado todo relaxado na cadeira e
mexendo em seu celular — Cameron! — Exclamei.
— Só um minuto — disse rindo para o celular, revirei os olhos
negando com a cabeça e me levantei caminhando até a cozinha,
peguei uma lata de coca e respirei fundo.
Voltei para a sala de jantar, me sentei sentindo meu cabelo se
soltar e comecei a organizar as coisas para o estudo.
— Se você não se ajudar, ninguém vai poder te ajudar,
Cameron — ele me olhou quando o olhei. — São suas notas, não as
minhas. A galera que você tá conversando não vai te ajudar a fazer
o que você precisa no momento.
Ele me olhou por instantes com seus olhos azuis, bloqueou o
celular e tirou da bolsa o livro.
— Química Ambiental, a professora quer um trabalho sobre isso
— disse colocando o livro em cima da mesa.
— Certo, então vamos começar.
— Podemos colocar música? — Concordei virando o notebook
e o deixando colocar a música.
Ficamos horas em pesquisas e explicações.
Reli a proposta que a professora de química passou para ele e
o questionei:
— Trouxe as coisas pra fazer a maquete?
— Pode ser depois do almoço? — Olhei no relógio de parede
vendo que tinha se passado do meio-dia.
— Pode sim — disse rindo. — Nem vi a hora passar.
— Vai fazer o que pra gente almoçar? — Questionou com um
sorrisinho maroto nos lábios.
— Pra você nada, se quiser, você que faça.
— Olha que eu faço — desafiou, o olhei com a sobrancelha
arqueada. — Vou fazer uma lasanha — disse se levantando, ri o
vendo caminhar até a cozinha, mas seus passos voltaram — e você
vai me ajudar.
— Quem quer comer lasanha é você.
— Até parece que você não vai comer também, vem Malik —
disse me puxando pelo braço.
Me levantei rindo, ele me trouxe até a cozinha com as mãos em
minha cintura e me soltou assim que entramos na cozinha.
— Ok, garoto, vou pegar as coisas — me rendi amarrando o
cabelo e pegando as coisas no armário.
Quando me virei para ele, o vi com o avental rosa de minha mãe
que ficou pequeno nele e não contive a risada.
— Coube certinho — brinquei e ele fez uma pose colocando a
mão na cintura.
— Preciso amarrar meus cabelos também — brincou jogando o
cabelo imaginário para trás me fazendo gargalhar.
Ele tirou os anéis que sempre usava, exceto quando ia jogar ou
treinar, e começou a preparar as coisas.
Peguei meu notebook, coloquei nas músicas que, daquela vez,
eu quem tinha escolhido e comecei a fazer o molho ao som de You
& I do One Direction.
—… Cause You and I... — Imitei o solo de Zayn Malik.
Abri os olhos quando ouvi o barulho de talher caindo. Cameron
me olhava com os olhos arregalados e sem reação.
— Becca... — Disse impressionado.
— Eu... — Dei de ombros sentindo minhas bochechas
queimando pela empolgação que não tinha conseguido conter.
— Você canta muito bem! — Me interrompeu sorrindo — Não
sabia que você cantava.
— Às vezes eu tento — disse mexendo o molho na panela.
— Tenta — ouvi sua risada. — Tenta muito bem por sinal.
— Obrigada — agradeci sem o olhar.
Terminamos de preparar as coisas, arrumamos a mesa e nos
sentamos para comer.
— Posso te fazer uma pergunta? — Ele me olhou concordando
— Por que mentiu pra Katherine? — Sua expressão mudou para
confusão.
— Menti pra Katherine? Sobre o quê? — Questionou cortando
um pedaço da lasanha e o levando até a boca.
— Você falou que gosta dela — enchi meu copo com coca —,
mas fica com Raquel e Melissa — ele riu tossindo.
— Eu nunca falei que gostava dela, ela falou isso pra Natalie
também, mas não é verdade — ele relaxou o corpo na cadeira
pegando o copo dele. — Pelo contrário, deixei bem claro que se ela
quiser diversão ok, mas que eu não tenho nenhum sentimento ou
interesse por ela, a não ser meus próprios interesses.
— E elas aceitam isso? — Ele riu dando de ombros e tomando
um gole da sua coca.
Levantei às sobrancelhas e um pouco o nariz em expressão
de “Ah... Entendi...”, arrumei os óculos no rosto e voltei a comer.
— Você devia parar de ouvir o que os outros falam de mim.
— Concordo — o olhei. — Mas, considerando que você não me
dá abertura pra nada, eu vou ficar sem te conhecer se não ouvir os
outros.
— Prefere me conhecer errado então? — O fitei por instantes, o
analisando.
— Cameron Styles é um tiro no escuro — limpei meus lábios
com o guardanapo. — Não dá pra saber o que se esperar, não
sabemos se ele é bonzinho com jeito de malandro badboy ou se ele
é mau escondido em um ótimo jogador de futebol que fica com
geral, quando na verdade quer acabar com todo mundo — ele riu de
forma que seus olhos se fecharam um pouco.
— O que a senhorita Rebecca Malik acha de mim? — Joguei
meu cabelo para trás.
— Desde quando minha opinião importa pra você? —
Questionei e ele ficou em silêncio por segundos, abaixou o olhar e
me olhou novamente; — Bom... Eu acho que você pode ser uma
boa pessoa, mas prefere mostrar que é valentão, briguento,
desapegado e egocêntrico pra que as pessoas não esperem nada
de você, que não criem expectativas em você — ele ficou sério —,
mas como toda pessoa, você tem seus problemas, seus traumas,
suas dores e esconde tudo isso em um personagem que é popular,
capitão do time e pegador.
— Ou talvez eu queira que você pense isso de mim — abaixei o
olhar negando com a cabeça.
— Eu duvido que você, Cameron Styles, daria abertura pra que
eu notasse que você tem suas fragilidades — o olhei. —
Principalmente pelo nosso ódio recíproco a longo prazo — afirmei
me levantando e pegando as coisas da mesa — precisamos voltar a
estudar.
Coloquei as coisas na pia. Cameron começou a lavar e eu a
secar e guardar a louça. Guardei o último prato e ele se encostou na
bancada secando as mãos.
— Eu não te odeio — cruzei os braços me encostando na pia e
ficando de frente para ele. — Só te acho mandona, as vezes chata,
quer sempre ter razão e chega a ser insuportável — ri revirando os
olhos.
— Tem muitos adjetivos que eu poderia associar a você —
afirmei e seu típico sorrisinho maroto de lado apareceu em seu
rosto. — Mas, no momento, coloquei isso de lado. Vem, vamos fazer
a maquete logo.

Depois de horas trabalhando na maquete, finalmente ela estava


pronta.
— Ficou perfeita — afirmei olhando a maquete sobre reciclagem
que fizemos.
— Ficou mesmo — disse analisando cada detalhe da maquete
por conta de seu perfeccionismo. — Perfeita — afirmou me olhando.
Ficamos instantes nos encarando, me deixando na dúvida se ele
estava mesmo falando sobre a maquete, e quebramos o olhar.
— Então, você sabe como vai explicar as coisas de química
ambiental?
— Sim, sim — ele se aproximou de mim, colocou a mão em
minha cintura e se impulsionou para o lado para pegar as anotações
que fez. Respirei fundo tentando disfarçar que o toque dele me
trouxe borboletas no estômago.
Cameron nem notou, começou a explicar as coisas que
tínhamos estudado e quase nem precisou ler. Enquanto ele falava,
um sorrisinho se formou em meu rosto, mas logo o desfiz.
— Tá explicando mais que a professora — admiti quando ele
terminou a prévia da apresentação que ele vai fazer para a
professora na segunda.
— Uma pessoa me explicou muito bem — disse cordialmente.
— Bom, acho que por hoje é só — ele concordou coçando a
nuca.
— Vai ter uma festa na casa de Elliot, quer vir?
— Você não precisa me convidar pra nada só porque eu te
ajudo com as notas — disse rindo, sua expressão parecia
desapontada, mas ele fez o máximo para disfarçar, tentei melhorar
as coisas dizendo: — Fora que eu não curto muito as festas de
vocês e tenho trabalhos na igreja hoje.
Ele balançou a cabeça concordando.
— Então eu não vou mais te atrasar — disse arrumando suas
coisas.
Desliguei meu notebook e ele organizou suas coisas. Me
levantei indo até a porta e a abri. Ele passou por mim e parou em
minha frente.
— Você até que dá pra conviver — provocou rindo.
Neguei com a cabeça abaixando o olhar enquanto dava risada,
uma mecha de cabelo caiu em meu rosto. E, antes que eu pudesse,
Cameron calmamente colocou a mecha para trás da minha orelha,
me fazendo o olhar.
— Obrigado pela ajuda, mas você ainda não se livrou de mim,
nerd — disse ainda com a mão em meu cabelo.
— É uma pena pra mim, que Deus me ajude — brinquei e ele
afastou a mão rindo — Até, Styles.
— Até, Malik — disse se virando e começando a caminhar.
Soltei a respiração que não tinha percebido que estava
prendendo, quando foi que comecei a ficar tão apreensiva perto de
Cameron?

Kath passou reto por mim no corredor quando cheguei na


escola. A olhei caminhando até chegar em seu armário, ela me
olhou, negou com a cabeça e fechou o armário saindo andando logo
em seguida.
— Malik — sua voz e sua mão deslizando em minha cintura me
mostraram que era impossível não reconhece-lo. Me questionei em
que momento eu tinha começado com essa familiaridade com ele.
— Pois não? — Virei o rosto o olhando.
Cameron estava radiante, seus olhos mais azuis que o normal
ou eu quem nunca o tinha visto tão de perto.
— Vou ir apresentar o trabalho de química agora — disse ainda
com a mão em minha cintura.
— Boa sorte, sei que você vai ir bem.
Ele sorriu concordando e caminhou pelo corredor, mas voltou o
caminho parando novamente em minha frente.
— Natalie sabe que você tá me ajudando? — Questionou em
voz baixa e neguei com a cabeça — Acho melhor continuarmos
assim.
— Eu também — admito.
— Até, nerd — se despediu se afastando.
Perdi Cameron de vista e caminhei até a sala de inglês. Encarei
Katherine que estava sentada com Melissa... Estranho, tínhamos
combinado de que seriamos dupla durante esse ano letivo. Coloquei
minha bolsa na primeira carteira da mesa do canto da sala e
caminhei até ela, que estava conversando animadamente com as
líderes de torcida, forçando minha mente a lembrar o que fiz de
errado.
— Katherine — ela, Melissa e as líderes me olharam —
podemos conversar? — Ela revirou os olhos — a sós.
— Pode falar aqui mesmo, vou contar a elas de qualquer forma
— as líderes e Katherine riram como se fossem as melhores
amigas.
— Ok — dei de ombros. — Pode me explicar o motivo de estar
andando com Melissa sendo que deixou bem claro que não gosta
del... — Katherine se levantou me puxando para fora da sala. Olhei
Melissa e as amigas que não tinham mais um sorriso no rosto.
— Entrem na sala, meninas — a professora pediu.
— Só um minutinho, prof, juro que vai ser rápido — Katherine
implorou. A professora deu de ombros e entrou na sala fechando a
porta.
— O que aconteceu? O que eu fiz?
— Me deixou plantada em casa esperando que você fosse pra
lá conforme combinamos, mas não, acho que não sou tão
importante assim — disparou e eu a olhei com expressão de “Ah,
droga!”.
Eu realmente não tinha visto o tempo passar com Cameron.
— Eu me esqueci totalmente do combinado, me desculpe. Você
podia ter me liga...
— Corta essa, Rebecca — disse ríspida. — Eu já me humilhei o
suficiente por ficar te esperando, acha que me humilharia mais te
ligando? Você me esqueceu! — Katherine deu passos para a frente
como se tentasse me intimidar e eu cruzei os braços permanecendo
parada.
— Quem tá falando é você ou a Melissa? — Ela respirou fundo
negando com a cabeça.
— Não importa. Enquanto você estava fazendo sabe se lá o que
com sabe se lá quem, Melissa me chamou pra uma festa e, enfim,
entrarei para as líderes. Espero que encontre boas amigas, já que
nem Natalie quer falar com você — acabei rindo sarcasticamente de
sua fala.
— Espero que você e Melissa sejam boas amigas mesmo
ambas querendo Cameron — afirmei passando por ela — aliás — a
olhei — evite mentir sobre os sentimentos de Cameron — ela deu
um passo rápido para frente e me segurou pelo braço.
— O que você estava fazendo para ter me deixado esperando?
— Questionou furiosa.
— Estava estudando — soltei meu braço de sua mão. — Você
não tem noção do quanto está sendo ridícula com essa pose de
Melissa, eu queria me desculpar, mas quando a Katherine de
verdade voltar, aí eu faço isso — afirmei entrando na sala.
Ao lado da cadeira em que deixei minhas coisas estava Elliot, o
melhor amigo de Cameron. Ah não, lá vem...
Me sentei em meu lugar após pedir licença para a professora e
tirei minhas coisas da bolsa.
— Cameron, por algum motivo, falou pra eu me sentar com você
hoje — franzi o cenho o olhando.
— E por que ele te pediria isso? — Questionei no mesmo tom
baixo que Elliot falou comigo.
— Você não percebeu os olhares em você hoje? — Neguei com
a cabeça; cheguei atrasada hoje e não tinha parado para pra ver
nada e não me importava na verdade. — Cameron ia ficar fora do
time porque você não ia dar mais aulas pra ele, os meninos fizeram
uma aposta de quem vai conseguir sua ajuda primeiro só pra provar
que são melhores que os outros em alguma coisa.
— Isso parece bem burro — comentei e ele riu — Eu só ajudaria
Cameron porque a própria diretora pediu, caso contrário eu não o
aju...
— Você não precisa fingir pra mim — Elliot disse rindo em voz
baixa.
— Desculpe, talvez o casal queira compartilhar a conversa com
a sala — a professora nos interrompeu.
— Não, professora Meredith, desculpe — Elliot se desculpou.
— Eu insisto — disse a professora.
— Estávamos conversando sobre como o feminismo é
ridicularizado por garotas e mulheres que se dizem feministas, mas
brigam por macho ou se juntam pra falar mal de uma garota também
por causa de macho, será um prazer compartilhar minha conversa
sobre isso, professora Meredith — disse calmamente e sorri; ela
levantou os óculos em seu rosto com um olhar desconfiado.
— Seria ótimo mesmo falar sobre isso, em uma outra
oportunidade e sem atrapalhar a aula — rebateu a professora.
Concordei balançando a cabeça e ela voltou a passar o conteúdo na
lousa.
— Que um dia eu tenha pensamentos rápidos como você —
Elliot disse rindo baixo.
Ri para ele sentindo olhares em mim, quando olhei para trás,
Katherine me mostrou o dedo do meio. Lhe lancei uma piscadela,
mandei um beijo no ar em resposta e voltei meu olhar para a
professora.

Sai da sala por último e Elliot estava me esperando.


— Seguinte — comecei caminhando até meu armário e ele me
seguiu; só então notei os olhares de jogadores, líderes e outros
alunos em mim — não quero um segurança e não vai ser Cameron
Styles que vai me fazer ter um, ok?
— Sabe o que é mais engraçado? Que o próprio Cameron
quem fez a aposta de que ninguém conseguiria sua ajuda e mesmo
assim quer que eu te “vigie” — disse fazendo aspas com os dedos.
— Cameron o quê? — Indaguei sentindo meu sangue ferver.
— Ele quem...
Sai andando pelo corredor e entrei no refeitório, EU VOU
MATAR ESSE GAROTO!
O refeitório estava cheio, Katherine e Natalie estavam sentadas
na mesa das líderes e Cameron estava conversando com o time
euforicamente.
— Você perdeu a noção, Styles? — Parei em sua frente e todos
do time me olharam. — Me apostar? — Ele sorriu. — Você
enlouqueceu? Qual é o seu problema?
— É só não aceitar ajudar ninguém — respondeu calmamente,
o olhei incrédula e ele se levantou. — Achou mesmo que ficaria tudo
tranquilo por não aceitar me ajudar? Aqui não é assim, Malik —
disse com um sorriso maroto. Então seria assim que iriamos
disfarçar?
— Ah, que bonitinho, ele não suporta o fato de que nem toda
garota está aos pés dele — debochei o vendo ficar sério — As
coisas não vão ficar assim, Styles — afirmei com um sorriso
vitorioso e sai do refeitório.

— Pergunta agora, time: qual é o valor de x considerando que


ele vale um touchdown (6) vezes dois field goal (3) dividido por
dois safety (2)? — Questionei anotando tudo na lousa que o time
usava para anotar as estatísticas. Todos ficaram em silêncio
raciocinando o que falei.
— Nove? O x vale nove? — Peter questionou.
— TOUCHDOWN! — Comemorei animadamente dando um
toque de mão com Peter ouvindo os meninos gritando
animadamente.
— Que merda tá acontecendo aqui? — O treinador Sanchez
entrou na sala de estáticas do time onde estávamos. Cameron veio
logo em seguida com expressão franzida.
— Aulas extras — Finn disse e o diretor o olhou surpreso.
— Becca deu aula pra todo mundo aqui sobre a aula de
matemática de hoje — Josh explicou e Cameron me olhou
incrédulo, seu rosto ficando avermelhado de raiva.
Arrumei minhas coisas enquanto o treinador analisava as
anotações no quadro.
— Até amanhã, time — me despedi rindo e passando por eles
que se despediram de mim com beijos e abraços e parei na frente
de Cameron. — Melhore suas jogadas, essa foi muito... Fraca — os
meninos começaram a gritar "uhhh" e eu saí com um sorriso
vitorioso.
— Becca — Natalie me chamou quando eu estava no
estacionamento. Ela parou em minha frente, ofegante com seu
uniforme de líder.
— Pois não?
— Por que não estamos conversando? O que mudou? — A
olhei sem entender.
— O que mudou? Eu quem pergunto isso. Primeiro você mente,
surta e para de falar comigo. O que mudou? — Ela bufou relaxando
o corpo, fechou os olhos e os abriu.
— Olha, tem coisas que se eu te contar você vai me odiar e...
— Não te odeio por estar dormindo com Andrew, te acho um
pouco burra e muito inconsequente, mas não tenho nada a ver com
a sua vida — ela me olhou sem reação. — Agora mentir pra mim por
medo de ouvir a verdade, a Natalie que eu conheço não é assim.
— Eu sei. Eu sei, mas não quero sermões, sei que é errado.
— Sabe mesmo? — Ela me olhou e olhou para o chão dando de
ombros. — A única coisa que tenho pra te dizer é: se trai ela pra
ficar com você, vai te largar a qualquer momento pra ficar com
outra. Ele só está te usando, sobre isso, não tenho mais nada pra
falar, morre aqui — afirmei pegando meu capacete e montando na
moto. O grupo de líderes estava chegando no estacionamento a
gritos animados. Katherine me olhou e desviou o olhar.
— Vocês não estão mais se falando, não é?
— Confesso que errei com ela e queria me desculpar sim, mas
ela veio totalmente na defensiva, então deixe que ela alimente a
raiva dela. Katherine encontrou companhia melhor — Natalie riu
negando com a cabeça.
— Com certeza não, Melissa tá desconfiando que ela tá ficando
com o meu irmão e acha que sendo amiga dela vai deixar Kath com
peso na consciência.
— Uau, você é uma grande fofoqueira — disse rindo.
— Só com a minha melhor amiga — disse me abraçando. —
Melhores amigas outra vez? — Questionou ainda abraçada comigo.
— Nunca deixei de ser, Nat — beijei o rosto dela. — Mas se
Alice vier atrás de você, corra — ela riu dando um tapa na minha
testa.
— Vai fazer algo hoje à noite?
— Sim, já tinha compromisso marcado — afirmei. —
Tchauzinho, até amanhã — acelerei antes que viessem mais
perguntas.

Depois de trocar minhas roupas e descansar por minutos, fui


diretamente para a lanchonete. E toda vez que Andrew se
aproximava eu saia, me afastava e ficava longe.
— Já deu, né, Rebecca? — Andrew parou em minha frente
quando estava tentando fugir dele.
— O que foi, Andrew? — Questionei dando passos para trás.
— Eu fui um idiota sim, mas não vai se repetir, eu prometo.
— Ok — concordei passando por ele e caminhando até a parte
de trás da bancada do caixa.
— Estou falando sério, Rebecca, não estou brincando com
Natalie, só não consegui terminar com Alice ainda — o olhei.
— Você não deve nada a mim, eu não quero saber seus planos
futuros, nem o que você vai fazer ou deixar de fazer. Você e Natalie
já começaram errados e eu não quero ter parte nisso.
— Mas vocês são amigas... — disse em voz baixa.
— E ela sabe muito bem que eu não concordo — expliquei.
— Não concorda em vê-la feliz? Sério? — Rio ironicamente.
— Isso não é felicidade, é adrenalina e uma muito ruim por
sinal. Quando todo esse efeito de emoção passar, vocês vão
entender — ele negou com a cabeça e caminhou pelo corredor até
às escadas para o andar de cima.

Eram quase oito e meia da noite quando observei Cameron


pular minha janela com uma facilidade enorme.
— Eu diria que estou surpresa por você pular a janela tão bem e
silenciosamente, mas não estou — disse rindo e agradecendo a
Deus por não dar para ouvir nada daqui de cima nos cômodos de
baixo.
— O que quer dizer com isso, nerd? — Cameron questionou se
jogando na minha cama.
— Que você deve pular muitas janelas — disse rindo.
— Pra estudar nunca.
— Pra tudo tem uma primeira vez — adverti me sentando na
cadeira da mesa de estudos. — Como foi a apresentação de
química?
— A professora perguntou se alguém estava me ajudando
porque a apresentação estava perfeita e sem falhas — disse se
sentando na cadeira ao meu lado e eu o olhei.
— E o que você disse?
— Que fiz tudo com a ajuda de Deus — ele deu um sorrisinho.
— Colocando Deus nas suas mentiras, Cameron?
— Se não foi Ele quem amoleceu seu coração duro pra me
ajudar, foi quem? — Fiquei instantes raciocinando e quase não
acreditei por fazer tanto sentido.
— Faz sentindo — rimos. — Pagou os meninos do time? —
Questionei vitoriosamente e ele revirou os olhos.
— Quase, mas consegui me livrar — disse colocando uma
mecha do meu cabelo para trás como tinha feito no sábado e eu
simplesmente perdi o rumo da conversa. — Como a aposta era
ajudar só um e não todos, eu ganhei.
— Que triste — disse fazendo expressão de decepção e ele riu.
— Mas eles ficaram o treino todo falando sobre você, arrumou
pra cabeça Malik.
— Lembre-se que a culpa é toda sua. Se eu parar de dar aulas
pra você pra dar aulas pra eles, a culpa é sua — afirmei rindo e ele
ficou sério.
— Vai parar de dar aulas pra mim? — Questionou. Seu corpo
estava virado de frente para mim e eu de lado para ele, ele colocou
o braço na borda da minha cadeira e começou a enrolar uma mecha
de meu cabelo em seu dedo. Por que ele tinha que ficar tão próximo
de mim?
— Sim, vou ser obrigada a parar — olhei sua expressão de
preocupação e me entreguei quando comecei a rir. — Tô brincando,
besta — ele colocou a mão desocupada no coração e respirou
fundo. — Hoje vamos estudar física.
— Eu mandei muito bem em química, física vai ser tranquilo —
disse com seu ar esnobe.
— Menos, Cameron, menos — pedi.
— Você sabe que é verdade — ele disse rindo.
— Você é tão bom em tudo que nem precisa da minha ajuda
com as notas, certo capitão? — Ele mostrou o dedo do meio pra
mim e dei de ombros rindo.
— Sem graça.
— Egocêntrico — rebati.
— Insuportável — disse relaxando o corpo na cadeira.
— Vai ter que suportar, Cameron, sinto muito — afirmei
vitoriosa.
— Você é chata pra caramba, mano — disse jogando o caderno
em cima da mesa.
— Ah, me erra garoto! — O empurrei pelos ombros.
Ouvi sua risada e começamos a estudar eletromagnetismo.
Enquanto falávamos sobre as matérias conseguimos lidar até que
bem, mas quando era sobre qualquer outra coisa, acabava.
Ontem eu e Cameron estudamos até tarde sobre física

quântica e eu me sentia acabada. Mas, pelo menos era sexta-feira.


— Ah não — ouvi Natalie murmurando.
A deixei dirigir meu carro hoje por conta do cansaço e por ela
estar sem carro. Abri meus olhos e ela apontou com a cabeça para
o carro de Cameron.
Olhei na direção apontada e senti vergonha alheia por ele que
estava em cima do capo de seu carro, sem camisa. Nem estava sol
hoje, estava abafado, mas não ensolarado e mesmo assim ele
queria mostrar o corpo de princesa.
— Nem tá tão calor — Natalie comentou desapontada e eu ri de
sua expressão.
— Você não tem que ficar assim pelas coisas que seu irmão faz
— afirmei colocando o capuz na cabeça, eu só queria dormir o dia
todo hoje.
— Fácil falar quando não tem nada relacionado a Cameron,
mas é com isso que as meninas vêm pra cima de mim querendo ter
algo com ele, fingem amizade comigo. Esse ano tá mais
insuportável que qualquer outro, é o tempo todo, eu não tenho paz
por culpa dele! — Disse estressada.
— Por que eu nunca vejo ninguém em cima de você quando
estou junto?
— Quando estou com você, ninguém vem mesmo — ela riu. —
Deve ser pela sua cara de brava ou porque Cameron já comentou
que vocês não se gostam, não sei. E você nem fica mais no
refeitório, nem faz parte das líderes e não temos nenhuma das aulas
juntas — ela pensou um pouco. — Por que você não fica mais no
refeitório?
— Não sei. Essa semana eu fiquei com Neji na ala de natação,
Calleb e Jace me chamaram pra ficar no refeitório ao ar livre e
ontem eu fui buscar meu irmão na hora do intervalo pra levar ele pro
trabalho da minha mãe.
— E hoje vai ficar comigo — afirmou e eu neguei com a cabeça.
— Vai sim — insistiu.
— Você se senta com as líderes e as líderes me odeiam —
Natalie concordou com a cabeça me fazendo rir.
— Vamos nos sentar em outro lugar então, você voltou para cá
e parece que não voltou. A gente não fez nada juntas ainda.
— Terminou com os machos e lembrou de mim, Natalie? — Ela
deu um tapa em minha testa.
— Não, Rebecca Malik, e eu te chamei pra sair três vezes e
você disse que estava ocupada. Acho que quem tem macho aqui é
você — ela me olhou.
— Sim, tô pegando todo mundo — brinquei e ela revirou os
olhos rindo. — Eu só tô pegando o jeito de tudo, o trabalho tá me
matando e eu ainda tenho que estudar.
— Mas hoje podemos fazer alguma coisa?
— Tenho reunião na igreja — a olhei.
— Eu vou com você — concordei sorrindo e a abracei. — Eu te
amo e a partir de hoje vamos nos sentar juntas no intervalo — ela
beijou meu rosto.
— Eu quero ir embora dessa selva e dormir até a hora do
trabalho — comentei e ela gargalhou.
Fechei meus olhos me deitando no banco, mas Natalie saiu do
carro, abriu a porta, soltou meu cinto e me puxou para fora pegando
minha bolsa como se fosse mãe de criança.
— Hoje não, docinho — ela travou o carro depois que sai.
Estava praticamente me arrastando, vim com um moletom preto
da Nike de capuz, uma regata também preta, uma calça jeans
rasgada azul escura, um par de chinelos e meias pretas, a política
da escola deixava as meninas usarem shorts curtos e minissaias,
não seria um par de chinelos e meias que me fariam voltar para
casa.
Parei no meu armário e me sentei no chão para esperar dar o
horário da primeira aula. Neji se aproximou e rindo se sentou ao
meu lado.
— Muito sono, docinho? — Questionou rindo, concordei
enlaçando nossos braços e me deitando em seu ombro.
— Dormi nada essa noite, estudei até tarde e meu irmãozinho
chorou a madrugada toda. E como minha mãe estava com Louis, eu
fiquei com a Elô — expliquei.
Ouvi o armário ao lado, o de Cameron, sendo aberto, mas não o
olhei.
— Japa — Cameron chamou e senti Neji levantando o olhar —,
vai ter uma festa lá em casa amanhã, preciso de um DJ — olhei Neji
que concordou, franzi o cenho sem entender quando essa amizade
começou. Ele e Cameron deram um toque de mão como se fossem
amigos.
— Não se esqueça que você tem vizinhos — o relembrei.
— Dane-se. Se te incomodar mete o pé, seus pais não vão
estar em casa mesmo — disse ríspido.
— Vou meter o pé pra delegacia — rebati me deitando
novamente em Neji.
— Não ferra, Malik — Cameron disse caminhando pelo corredor.
O sinal tocou. Neji se levantou e me puxou pelas duas mãos me
fazendo levantar.
— Não sabia que vocês eram amigos — comentei olhando Neji.
— Não somos, mas quando precisa eu vou — fiz expressão de
impressionada e caminhamos até a sala.
Nos sentamos no mesmo lugar de sempre. Melissa se sentou
na mesa ao lado e Katherine se sentou atrás dela. Assim que
Cameron chegou, Melissa o beijou fazendo todos gritarem, exceto
Katherine que piscou demoradamente, respirou fundo e sorriu de
forma forçada.
Cameron se afastou de Melissa após o beijo, me olhou e se
sentou ao lado dela sem dizer uma palavra se quer. Obviamente
Melissa estava o usando, mas ele aparentemente gostava e
também a usava.
— Por que ele te olhou daquele jeito? — Neji questionou em voz
baixa.
— Daquele jeito? — Franzi o cenho — Que jeito?
— Ele estava checando sua reação, como se esperasse algo de
você e você ficou tipo nossa, que soninho.
— Eu tô com sono mesmo — ri dando de ombros. — Acho que
você tá vendo coisa, não tem motivos pra ele esperar algo de mim
ou querer... ver minha reação
— Se você diz... — Disse deixando uma interrogação imensa na
minha cabeça.
Por que Cameron checaria minha reação?

Na hora do intervalo, entrei no refeitório com Neji, mas nos


separados pois ele foi se sentar com o grupo de estudos, o qual eu
tinha saído no início da semana. Me recusava ficar competindo com
Katherine sobre quem sabe mais ou ficar recebendo indiretas dela e
de suas novas amigas que entraram para o grupo de estudos. E não
me daria ao luxo de ver Neji babando por Katherine e ela
simplesmente pisando nele.
Vasculhei o refeitório com os olhos a procura da loira mais chata
que existe nesse mundo, depois de Cameron claro, e a encontrei
em uma mesa no fim do refeitório acenando para mim.
— Achei que não viria — Natalie comentou comendo da sua
salada de frutas, a olhei com pena.
— Trocou o x-burguer mesmo? — Perguntei me sentando em
sua frente.
— Ordens da capitã das líderes — disse dando de ombros. — E
você só toma Milk shake agora? — Neguei com a cabeça.
— Hoje eu vou comer um bolo de chocolate amargo que eu amo
— afirmei mostrando o bolo de pote para ela e seus olhos brilharam
como os de uma criança vendo seus doces favoritos. — Eu não
conto se você não contar.
— Não posso, amiga — disse desanimada.
— Uma colherada não vai te engordar — ela me olhou
esperançosa, abri o pote de bolo, comi da primeira colherada e dei a
segunda escondido para ela.
Ela provou e fechou os olhos como se fosse o melhor bolo que
já comeu em toda a sua vida. E talvez seja mesmo, minha mãe fazia
bolos incrivelmente maravilhosos.
— Você é um anjo as vezes — disse rindo.
— Eu sei — me gabei e ela negou com a cabeça.
— É tão estranho ver Cam sem ninguém no intervalo — disse
olhando a mesa do time e me olhou — Ele sempre ficava com
alguma garota, esse ano ele tá tão... Calmo?
— Isso é calmo? — Ela gargalhou e quando todos nos olharam,
tentou disfarçar. — Eu saí do grupo de estudos — mudei de assunto
quando ela se recompôs e ela me olhou surpresa.
— O quê? Por quê?
— As líderes estão tomando conta de tudo ou sempre foi assim
e como eu não estudava aqui eu não sabia. Katherine fez duas
líderes entrarem no grupo de estudos e ela fica o tempo todo
querendo mostrar que é melhor que eu, fica jogando piadinhas com
as meninas, indiretas e, sinceramente, isso não é pra mim. Minha
saúde mental antes da vaidade dela — afirmei.
— Eu não acho certo você deixar de fazer uma coisa que você
gosta por causa de outra pessoa, mas entendo e concordo com
isso. Katherine mudou da água para o vinho de uma forma
absurdamente triste. Cada dia que passa ela tá mais Melissa. Soube
que Mel beijou meu irmão na frente dela e ela chorou no banheiro,
ela nem sabe que eu a ouvi e eu nem sabia que era ela até às
meninas comentarem sobre o beijo.
— Ela quis isso — comentei tomando do meu Milk Shake.
— Melissa tem um poder de manipulação, sabe? Ela consegue
fazer as pessoas acharem que vão beneficiar elas próprias quando
na verdade, quem é a beneficiada é ela. No fim do ano passado
Melissa afirmou que esse ano seria dela, que ela estabeleceria um
reinado melhor que o da irmã mais velha e derrubaria quem
entrasse no caminho — Natalie disse pegando uma uva e levando
até a boca.
— Querer ser melhor que a irmã é fruto de falta de aceitação em
casa. A irmã dela sempre foi a preferida e todos a acham melhor,
mas Melissa quer provar o contrário.
— Psicóloga Malik? — Natalie questionou.
— Nem de longe — rebati rindo. — Mas é o que normalmente
acontece em casos assim.
— Natalie — ouvi a voz de Cameron, ele se sentou ao lado dela
fazendo-a ir para o lado e Elliot se sentou ao meu lado. — O que
vamos fazer hoje à noite?
— Você eu não sei, mas eu vou pra igreja com Becca — Natalie
afirmou. Olhei Elliot, que olhava Nat com os olhos brilhando. Ora,
ora Elliot.
— Vamos junto — Cameron disse abraçando Natalie.
— Ninguém convidou vocês — ele empurrou o irmão.
— A igreja é pública, Paola — Elliot provocou. Natalie odiava
ser chamada pelo segundo nome. Ela mostrou o dedo do meio para
ele.
— Por qual motivo vocês querem ir à igreja? — Questionei
confusa — Não iam fazer uma festa?
— A festa é amanhã. E hoje estamos tentando fugir das gêmeas
Crawsford que estão enchendo nossa paciência pra sair com elas —
Cameron explicou e eu o olhei.
— Já experimentou dizer não para uma garota alguma vez na
vida, Styles? — Ele me olhou com os olhos semicerrados e com seu
sorrisinho de lado. Cameron devia gostar de ser contrariado, não
era possível!
— Não que eu me lembre, Malik — disse com seu sorriso
safado. O sinal de fim de intervalo ecoou no refeitório.
— Talvez devesse tentar — afirmei me levantando e o olhando.
Eu e Natalie saímos juntas do refeitório, estava nítido a raiva
dela. Melissa parou em nossa frente no meio do corredor com
Katherine e outras três líderes.
— Todas as líderes precisam se sentar juntas, Natalie — disse a
capitã com imposição.
— Não vou me sentar mais com vocês, a partir de hoje vou me
sentar com Rebecca, você querendo ou não — Natalie rebateu com
firmeza e eu a olhei surpresa, sem entender o motivo dela estar
fazendo isso.
— Você pode ser expulsa das líderes por desobedecer às
regras — Melissa disse seriamente, aparentemente ela não
esperava resistência da parte de Natalie.
— Regras que não servem pra você quando meu irmão te
chama pra se sentar com ele — Melissa arregalou os olhos. — Vai
em frente, é só me expulsar — desafiou e saiu andando me
puxando.
— Natalie, você não precisa fazer isso por mim.
— Por que você não me deixar ser sua amiga de verdade? Não
posso querer ficar perto de você? — Questionou me olhando
confusa — E não, eu não quero nada, só quero minha melhor
amiga. Sinto sua falta e você parece estar nem aí.
— Rebecca Malik, a diretora quer falar com você, agora — a
inspetora Sullivan chamou antes que eu pudesse responder Natalie.
Olhei a inspetora e olhei a loira a minha frente.
— Vai lá, conversaremos depois — Natalie disse com a voz
carregada de compreensão.
Abri a boca para falar, mas acabei optando pelo silêncio e sai
seguindo a inspetora.
A diretora descobriu que estou ajudando Cameron? Era só o
que me faltava mesmo!
— Malik, pode ir para a sala da diretora — disse a inspetora
Sullivan.
Concordei me levantando e caminhei até a sala da diretora. Bati
na porta duas vezes e fui autorizada de entrar.
Me deparei com o treinador Sanchez que estava de braços
cruzados com sua expressão séria.
— Sente-se, querida — pediu a diretora e assim o fiz. — O
treinador Sanchez me contou sobre as aulas extras com o time —
iniciou como se fosse me dar uma bronca.
— Diretora, eu só estava tentando ajudar os meninos. Eles
estavam bem perdidos em matemática e eu os ajudei. Atrapalhou no
treino?
— Sim, atrapalhou — disse o treinador e a diretora riu.
— Pare de assustar a garota, Sanchez — pediu, o olhei e ele riu
relaxando o corpo.
— Começamos a treinar depois, os meninos falaram o tempo
todo sobre como você explica bem. Hoje, pelo que soube, o time
prestou atenção na aula de matemática como nunca fizeram antes e
ainda conseguiram resolver os exercícios da matéria. A professora
Horan ficou impressionada e comentou que, talvez, não seja
necessário tirar mais ninguém do time — o treinador explicou.
— Porém, eles não estão tão bem em física e química. Você é a
garota mais inteligente da escola e já que recusou continuar
participando do grupo de estudos e também não ajuda mais
Cameron com as notas, penso que poderia ajudar os meninos três
vezes na semana para contar como nota de projeto. O que acha? —
A olhei com o cenho franzido.
— E em que horário seria isso? — Questionei.
— Das 13h às 14h30. Na terça, quarta e quinta. Acredito que
você deve se perguntar o motivo de não ter essas aulas com algum
professor, já tentamos, mas os meninos nunca prestam atenção e...
— Ok, eu aceito — dei de ombros. A diretora me olhou surpresa
e o treinador sorriu.
— Sem resistências? Pra ajudar um garoto eu quase não
consegui te convencer, mas com o time todo...
— O time todo foi bem tranquilo comigo ontem, agora Styles é
uma missão extremamente difícil e insuportável que eu não estou
disposta a cumprir — o treinador e a diretora se olharam rindo.
— Ele não participará das aulas. Como expliquei a ele, agora
terá de se virar sozinho e acho que ele está conseguindo. A
professora de química falou que ele foi muito bem na apresentação
— a diretora disse me analisando. López, López, não vou me
entregar assim fácil não.
— Eu duvido — rimos.
— As aulas com o time começam semana que vem — concordei
me levantando e logo fui autorizada de sair da sala.
Ajudaria o time todo, o que poderia dar errado?
Assim que sai da diretoria, vi o time todo, exceto Cameron, no
corredor. Eles me olharam esperançosos e a cada passo que eu
dava me aproximando deles eu ficava mais confusa.
— E aí, aceitou? — Josh questionou.
— Vocês já sabiam?
— Obvio. Fomos nós que demos a ideia para o treinador —
Peter disse.
— Eu aceitei — disse ainda sem reação e eles fizeram uma
barulheira bem animada.
— Ei, bando de marmanjos e Rebecca, para a sala, agora! — A
inspetora disse em alto e bom tom; rimos descendo as escadas.
Confesso que era bem estranho descer as escadas de Liberty
rodeada de meninos, mas ao mesmo tempo engraçado.
— Cameron vai poder participar? — Outro garoto me
questionou, neguei com a cabeça e eles de imediato mostraram
desanimação.
— Não tem jeito, capitã? Se você falar com a diretora ela não
deixa? — Questionou Peter.
— Capitã? — Questionei rindo e eles concordaram balançando
a cabeça euforicamente. — Certo. A diretora deixou claro que ele
vai ter que se virar sozinho. Talvez se ele voltar a ser capitão ele
possa participar.
— Ele tem um mês pra isso — Elliot disse. — Ele vai conseguir,
time — afirmou me olhando e eu segurei o riso.
Mas, um mês? Por que ele me disse dois meses?
— Bom, vou pra sala, acho bom vocês irem também — alertei
me despedindo.

— Soube que agora é a capitã dos estudos do time — Andrew


comentou. Ele estava tentando puxar assunto comigo desde a hora
que cheguei.
— Quem te contou? — O olhei rindo.
— Meu primo, Peter.
— Ah sim. Pois é, não sei se já aconteceu isso na escola, mas é
uma boa oportunidade de eu afiar meus conhecimentos. Afinal, pra
ensinar precisa aprender e se eu aprender o suficiente pra ensiná-
los...
— Eu entendi, Becca — disse rindo e eu acabei rindo junto. — É
legal isso que você tá fazendo. Peter falou muito sobre, onde
aprendeu tanto de esportes?
— Meus pais e meus tios amam esportes. Meu pai era jogador
de futebol americano e minha mãe ginasta, então qualquer
oportunidade eles falam sobre esportes. Acabei pegando gosto por
alguns — expliquei enquanto limpava as mesas, ele pegou um pano
e começou a me ajudar. Coisa que ele nunca tinha feito.
— Tinha me esquecido que Owen já foi jogador e dos brabos —
concordei rindo.
— Ele quem me ensinou a associar matemática e física com
esportes — Andrew se aproximou de mim, tocou meu queixo me
fazendo olhá-lo e afastou a mão de mim.
— Fiquei pensando essa semana nas coisas que você me disse
— iniciou ainda próximo de mim e tinha certeza de que não se
afastaria, então eu quem dei um passo me afastando. — Eu fui um
grande idiota sem você merecer, não quero continuar assim
principalmente por trabalharmos juntos.
— Promete nunca mais citar Natalie? Não quero saber se estão
juntos ou separados, só não fica colocando ela em provocações que
são comigo — ele sorriu de lado concordando — Então, tá feito —
estendi minha mão, ele a segurou e me puxou para um abraço. O
abracei mesmo estando desconfortável e o barulho do sino de
entrada tocou.
Olhei Andrew e ele estava olhando para a porta, meu olhar
seguiu na mesma direção vendo Cameron e por algum motivo me
afastei rapidamente de Andrew.
— O babaca do seu chefe pode te liberar mais cedo, Malik? —
Cameron questionou se aproximando de nós.
— Não vou liberar só porque o babacão aí quer — Andrew disse
encarando Cameron. E novamente eu estava entre eles dois.
— Vocês não conseguem ficar no mesmo ambiente sem
discutir? — Questionei revezando o olhar entre eles.
— Seu irmão sofreu um acidente no treino dele, deslocou o
ombro. Minha mãe tá com ele, mas sua mãe tá presa no trânsito do
outro lado da cidade. Seu pai está assinando os documentos da
cirurgia, mas Isaac quer voc…
Não o esperei terminar, olhei Andrew que de imediato entendeu
e sai puxando Cameron. Entramos no carro e ele dirigiu o mais
rápido que pôde.
— Onde ele está? — Questionei meu pai.
— Em cirurgia. Queríamos te esperar, mas ele estava com muita
dor. Era urgente, mas ele vai ficar bem — papai explicou depois de
beijar minha testa. — Ainda temos 1h e 40 minutos de espera. Vou
buscar sua mãe, ela foi deixar as crianças na sua tia — concordei o
abraçando.
— Ele vai mesmo ficar bem?
— Com repouso e cuidados, sim — sorri para ele e me sentei ao
lado de tia Eliza. Observei meu pai sair. Para onde foi Cameron?
Senti um frio tomando conta do meu corpo. Sai da lanchonete
com o uniforme me esquecendo do fato de que no hospital tinha um
ar-condicionado que acabava comigo.
— Querida, você acabou de chegar do trabalho. Vamos comprar
algo pra você comer — tia Eliza disse e eu neguei com a cabeça.
— Só depois de meu irmão estar bem.
— Nada disso, já venho, vou comprar algo pra você — disse se
levantando e saindo antes que eu retrucasse.
Meu corpo se esquentou um pouco quando senti algo me
cobrindo. Cameron colocou o moletom salmão em meus ombros,
seu cheiro dominou meu olfato e meu corpo ficou quente, mas não
era exatamente por conta do moletom. Olhei Cameron.
— Não precisa — afirmei e ele riu se sentando ao meu lado,
pegou em minhas mãos e me olhou.
— Suas mãos estão geladas — ele subiu os dedos em meus
braços me fazendo arrepiar. — E você está toda fria, então está com
frio. Para de ser orgulhosa — ri dando de ombros e me rendendo.
— Sabe, se eu fosse uma garota iludida eu já teria caído nesse
seu jeitinho — ele me olhou confuso e eu coloquei meus braços nas
mangas do moletom. — Empresta moletom, as vezes é cavalheiro
— me encostei no sofá — e quem vê até acha que se importa
comigo — sua expressão ficou difícil de decifrar, ele parecia triste e
ao mesmo tempo frio.
— Eu achava que era egocêntrico, mas nessa você me venceu.
— Como? — Questionei confusa.
— Você acha mesmo que eu falo com você como se te
desejasse? — Ele riu de forma irônica. — Não mesmo, eu te olho e
vejo uma garota insuportável que eu jamais teria algo.
— E quem disse que eu teria algo com você garoto? Nem
morta, nem se fosse o último homem da terra!
— E nem se você fosse a última terra, prefiro encerrar a
humanidade a te ajudar na procriação — Cameron rebateu.
— Procriação? Eu com certeza não ajudaria você nisso, imagina
nascer pessoas iguais a você? O mundo seria melhor se
encerrássemos mesmo — ele mostrou o dedo do meio para mim e
um casal ao lado começou a rir de nós. Cameron se levantou e saiu
pela porta que dava para o estacionamento.
— Amada, este homem é a fim de você — o homem loiro de
olhos azuis falou rindo.
— O quê? Não, a gente é assim desde sempre — expliquei.
— O jeito que ele te olha diz outra coisa — o homem preto de
olhos castanhos, que estava com o braço envolto dos ombros do
homem loiro, afirmou.
— Não faz sentido. Ele fica com muita gente, credo — fiz
expressão de nojo.
— E você não fica? — O loiro questionou. Eu nunca os veria,
por que não falar da minha vida pra desconhecidos?
— Não — ri dando de ombros. — Somos opostos. Eu tenho 17
anos e nunca nem beijei, não acho que beijar geral vai acrescentar
algo na minha vida, assim, sem sentimento. Já ele, bom, sexo é
essencial no momento. Ele ama festas, bebidas, drogas e eu prefiro
a igreja, minha casa, livros e, assim, eu gosto de sair com pessoas
da minha idade, mas não pra ir aos lugares que ele vai. Nunca daria
certo.
— Desculpe, mas isso tem a ver com a religião? — Neguei com
a cabeça.
— Cameron não vai a igreja por coisas que já aconteceram,
mas — soltei a respiração. — Só… nunca daria certo. As
prioridades dele são outras e eu não vou abrir mão da minha vida
dentro e fora da igreja por causa das práticas dele.
— Se ele gosta de você, ele não vai querer que você abra mão
da sua vida. O amor não pede isso — o homem preto disse.
Senti um tapa na minha cara e minha fala sumiu. Queria que
fosse simples assim, no momento, não parecia.
— Senhores Campbell, me sigam por favor — a doutora os
chamou. Nos despedimos e eu os perdi de vista.
Olhei o relógio vendo que ainda tinham uma hora e quinze
minutos de cirurgia. Sai do hospital indo até o estacionamento e
vendo Cameron encostado no capô do seu carro.
— Viu tia Eliza? Deixei minhas coisas na lanchonete, inclusive
meu celular — Cameron olhou atrás de mim de forma estranha.
— Ah, merda.
— O quê? — Olhei na mesma direção, mas ele me virou de
frente antes que eu visse o que ele observava.
— As gêmeas me acharam. Vou matar Elliot. Merda, elas estão
vindo pra cá com o carro.
Uma luz veio na minha mente, nossa que péssima ideia... vou
fazer.
— Vem — o puxei para perto da porta do motorista, coloquei o
capuz de seu moletom enfiando os fios de meus cabelos dentro, me
encostei no carro e o abracei pela cintura abaixando a cabeça no
ombro dele para que as meninas não me vissem.
Ele hesitou por segundos, até seus braços envolverem meus
ombros. Ficamos naquele abraço por um tempo que não fazia ideia
de quanto, mas foi o suficiente para eu entender que nunca mais
esqueceria o cheiro dele. E o que era aquilo no meu estômago?
Cameron me olhou e passou a mão nos fios de meus cabelos
os tirando de dentro do capuz quando soltei sua cintura, nossos
corpos continuavam próximos.
— Elas pararam no fim do estacionamento. Posso piorar as
coisas? — Questionou e eu dei de ombros rindo.
Ele passou a mão em uma mecha de meu cabelo e, sem tirar
meu capuz, encaixou a mão em minha nuca e beijou minha testa,
para me olhar sorrindo e acariciando meu rosto com o polegar. Em
seguida me abraçou outra vez. O quê? Meu Deus do céu por que eu
estava com tanto calor?
Meu corpo todo estava em euforia e formigando, mesmo
sabendo que era apenas para despistar as gêmeas. Era
extremamente estanho sentir toques assim, ninguém nunca chegou
a ficar assim comigo, não com a minha permissão. Minhas mãos
suavam frio e meu coração estava disparado, como que controlava
isso?
— Elas já foram — disse em voz baixa olhando além de mim e
me olhou. — Por que fez isso? — O soltei, ele tirou meu capuz e
afastou meu cabelo da nuca com uma naturalidade enorme e o
pior... eu não estava incomodada.
Prendi a respiração, ele precisava parar de mexer no meu
cabelo urgentemente, mas por que eu não conseguia mandá-lo
parar?
— Porque, infelizmente, eu preciso de você — afirmei e ele riu.
— Então você só tá me usando? — Questionou cruzando os
braços, me encostei no carro, ele podia se afastar um pouco, não?
— E o que você acabou de fazer comigo? — Ele riu negando.
— Você quem deu a ideia.
— Sim, porque eu preciso de um favor e duas meninas em cima
de você não me ajudaria — expliquei e ele afastou uma mecha do
meu cabelo que estava caindo em meu rosto. — Você pode parar de
mexer no meu cabelo?
— Por quê? — Disse com um sorrisinho maroto e desceu a mão
pela mecha inteira. O olhei por instantes querendo rir, revirei os
olhos e me afastei dele.
— Enfim, me empresta seu celular para eu falar com Andrew?
— Pra quê? — O olhei.
— Eu perguntei pra que você queria despistar as gêmeas?
— Grossa.
— Anda Cameron — estendi a mão e ele me entregou o celular.
— Melhor ligar pra Natalie — o olhei de imediato e confusa —
É… Eu sei o que Natalie faz — disse transparecendo decepção.
— Cameron…
— Não tem o que fazer, Malik — disse se encostando no carro
— ligue para ela.
Soltei minha respiração e liguei para Natalie. Cameron estava
certo, eles estavam juntos e ela iria trazer minhas coisas até o
hospital. Se eu pudesse eu desceria a bibliada na cabeça dessa
garota!
Desliguei e entreguei o celular a Cameron.
— Errei? — Neguei com a cabeça, ele concordou pegando o
celular, o olhou e riu — Olha isso.
Cameron me mostrou seu celular. Melissa mandou uma foto que
foi tirada minha e dele. Não mostrava meu rosto por conta do capuz,
nem o uniforme pois eu estava bem próxima de Cameron e ele me
cobriu. Em baixo tinha a mensagem: Quem é essa, Cameron?
— Mais uma na lista — respondi o olhando. — Fala que é só
mais uma — insisti e ele riu negando.
— Não mesmo — o olhei digitar um: não é da sua conta e o
observei sem entender.
— O que você tá fazendo, Styles? Perdeu a noção? — Tentei
puxar o celular de sua mão, mas ele me impediu.
— Talvez assim ela me deixe em paz, eu preciso de paz pra
esse ano — explicou, o encarei incrédula.
— Ela vai me caçar, apaga isso seu babaca — ele levantou o
celular no alto quando tentei pegá-lo novamente e me segurou pela
cintura, a apertando levemente.
— Fala direito comigo, agora você é meu casinho oculto —
debochou com o rosto próximo do meu.
O empurrei me afastando. Cameron? Casinho oculto?
— Prefiro a morte — afirmei caminhando de volta para o
hospital, mas ele me puxou.
— Ela não vai te caçar, nem dá pra saber que é você — disse
calmamente.
— É bom você estar certo — avisei retornando para o hospital.
Quem ele achava que era? Droga, isso vai dar uma confusão
imensa se ela souber que sou eu. Cameron eu te odeio!
Entrei no hospital, tia Eliza estava sentada, me sentei ao lado
dela e ela me entregou o lanche natural que havia comprado. Sorri
após agradecê-la, eu realmente estava faminta.
— Amiga — ouvi Natalie me chamar assim que entrou, me
levantei e ela me abraçou com força —, você tá bem? —
Questionou ainda abraçada comigo.
— Sim, amiga. Estou bem — nos soltamos, ela me olhou de
cima abaixo e arregalou os olhos — Eu posso explicar — disse
rindo.
Meus pais chegaram, mamãe me abraçou e correu para falar
com o médico. Tia Eliza a acompanhou e meu pai foi para a
lanchonete com tio Arthur. Eu e Natalie nos sentamos em um canto
da sala, ela me entregou minha mochila e meu celular.
— Estava com Andrew? — Questionei.
— Estava com Cameron? — Rebateu em tom sério, a olhei
incrédula.
— Prometemos ser sem máscaras, então, sim, estava com
Cameron — ela fechou os olhos puxando a respiração. — Natalie —
ela me olhou —, eu precisava falar com Andrew, pegar minhas
coisas, eu deixei tudo pra vir pra cá. Só tinha Cameron pra me
ajudar, as gêmeas acharam ele e eu fiz o que veio na mente pra ele
poder me ajudar.
— Vocês pareciam tão próximos, tão… — Neguei com a
cabeça.
— Só foi pra despistar as meninas, elas já tinham o visto —
expliquei. Cameron entrou no hospital, o olhei e desviei o olhar para
Natalie.
— Tenho medo de você se apaixonar por ele — franzi o cenho
— eu o conheço. Amiga, não o perdoaria se te magoasse. Não me
importo de vocês fingirem, mas por favor, tranca seu coração e não
o deixe entrar. Ele não quer saber disso, sempre que pode ele me
fala isso.
— Eu o ajudei pro meu próprio bem, não pro dele. Fica em paz,
não vou me apaixonar logo por ele — fiz expressão de nojo.
Ela riu entrelaçando nossos dedos. Cameron se sentou ao meu
lado e olhou Natalie.
— Estava com Andrew? — Questionou e ela revirou os olhos.
— Becca, Cam já tinha me avisado que ia te buscar na
lanchonete pra trazer você aqui, porém, eu estava na aula de
francês e só vi a mensagem depois. Fui ver sim Andrew, mas foi
antes. Estava a caminho daqui quando Andrew me ligou falando que
suas coisas estavam lá, quando você me ligou eu estava com ele
sim, mas porque fui pegar suas coisas.
— Ok — dei de ombros e me encostei na parede. Cameron
estava, também, encostado na parede de olhos fechados e sentado
relaxadamente no banco.
— Sei que você não gosta dele e nem da nossa relação, mas...
— Isso não tem nada a ver comigo, Natalie, não quero discutir
nem entrar nesse assunto. Mas me dói ver você aceitando ser
segunda opção, ser mais uma, ficar no oculto. Quem gosta te trata
como prioridade e no mínimo tem que te assumir, você não nasceu
pra ser segunda opção dele e só de falar nisso eu já fico enjoada —
disparei a olhando nos olhos e os vendo marejados — Me
desculpa...
— Não — ela fungou se arrumando na cadeira — eu prefiro
você assim, sem filtros — a puxei a abraçando.
— Você merece mais — sussurrei.
— Filha — mamãe se aproximou — deu tudo certo na cirurgia
— disse animada; me levantei a abraçando animadamente.
O alívio dominou meu corpo totalmente. Obrigada meu Deus!
— Quem é a garota misteriosa? — A voz de Cameron ecoou
em meu ouvido em um sussurro que me fez arrepiar.
— Eu falei que elas me caçariam, Styles — me virei o olhando e
ele sorriu.
— Elas não fazem ideia de que é você — disse se encostando
em seu armário. Peguei o livro de história, fechei meu armário e o
encarei.
— Que seja — dei de ombros — já basta o time, não quero
essas garotas egocêntricas e mimadas em cima de mim — expliquei
passando em sua frente e ele me parou com seu corpo.
— O time? — Concordei.
— Até tinha estranhado os meninos me seguindo no Instagram
e me chamando pra conversar, mas hoje eu ganhei uma coca e eles
trouxeram os meus livros — comentei rindo e ele permaneceu sério.
— Eles querem te conquistar — disse dando de ombros — boa
sorte — desejou caminhando até a sala. O segui, afinal, minha aula
era a mesma que a dele.
Paramos na frente da sala, Cameron bateu na porta e a abriu
me deixando entrar primeiro, estranhei porque ele nunca era
cavalheiro com as meninas.
Pedi licença ao professor e só então percebi o quão péssimo foi
ter entrado com Cameron na sala. Todos estavam nos olhando e
cochichando, ele não parecia se importar, devia estar mais do que
acostumado. Calleb, que sempre acompanhava Jace na escola,
guardou um lugar para mim e Elliot para Cameron.
— Não acredito — Calleb sussurrou em voz baixa, apenas duas
meninas não me olhavam com ódio. — Você e…
— Não. Não mesmo — afirmei séria — Onde está Jace?
— Ele tem um cuidador especial agora, próprio para ajudar
pessoas com a dificuldade que Jace tem — explicou —, mas no
intervalo eu busco ele — concordei balançando a cabeça.
Sentia uma nuvem de olhares em mim. Olhei para o lado vendo
Katherine, Melissa e as outras líderes cochichando enquanto me
olhavam.
Franzi o cenho por ver que as meninas continuavam me
encarando, como se quisessem arrumar confusão. Às vezes eu me
sentia em uma selva com animais querendo acabar comigo e tudo
isso por… macho.
Olhei Cameron e ele olhou as meninas seriamente, elas
abaixaram o olhar e pararam de me encarar. Eu tinha cada vez mais
repulsa das coisas que via. Abaixavam a cabeça para um garoto só
por popularidade e sexo, parecia que suas vidas dependiam daquilo.
O professor passou atividades e os meninos estavam falando
extremamente alto.
— Rebecca, sente-se no fundo com os meninos durante a
atividade, por gentileza? — O professor pediu, eu e Calleb nos
olhamos e ele riu. — Eles vão escutar a capitã deles.
— Vem capitã — Josh chamou e os meninos me olharam, assim
como o resto da sala. As líderes reviraram os olhos e Melissa estava
corada de raiva.
Dei de ombros e antes que pudesse organizar minhas coisas,
Peter e Josh se aproximaram para pegar meu material. Acabaria
ficando mal-acostumada.
— Vocês não precisam carregar minhas coisas toda vez —
comentei rindo e me aproximando da turma do fundão composta
pelo time.
— Por que não? — Josh questionou.
— Porque eu posso levar — disse rindo.
— E por que a gente não pode levar pra você, capitã? — Peter
questionou. Cameron me olhou rindo.
— Vocês venceram — afirmei. Elliot se levantou me dando
espaço para me sentar ao lado de Cameron e se sentou ao lado de
Josh.
Viramos a mesa para que eu ficasse de frente para os meninos
e a aula passou mais rápido do que estava acostumada.
O sinal de troca de aula tocou, guardei minhas coisas e antes
que pudesse sair da sala as líderes me pararam na porta. Analisei
todas as possibilidades de sair correndo de cinco meninas que
estavam me cercando, mas acreditava que com o professor ainda
na sala elas não fariam nada.
— Se eu desconfiar que você é a garota que estava com
Cameron ontem, se prepare, pois … — a interrompi.
— Se poupe, Melissa, se poupe do trabalho de me ameaçar, é
ridículo até pra você — disparei mesmo sendo arriscado. Um dos
meninos do time estava encostado em frente a máquina de
refrigerante nos observando, estava acompanhado de outros dois
garotos que não são do time.
— Era você? — Melissa questionou.
— Será? — Debochei.
— Se considere acabada se eu descobrir — afirmou e saiu
andando com suas amigas. Katherine ainda ficou instantes me
olhando, mas logo as seguiu.
Quem elas pensam que são? Onde elas acham que estão? Em
um filme adolescente?
Pensando bem, as deixaria caçando a garota da foto com
Cameron, achando que era outra pessoa que não seja eu. Vai ser
engraçado vê-las correndo em círculos por se acharem as donas da
razão.
— Fala pra mim que não é você — Calleb me empurrou para
fora da sala e mostrou minha foto com Cameron no jornal — não,
Becca, não — disse rindo como se quisesse que fosse eu.
— Está bem, capitã? — Victor, o garoto que estava me
observando enquanto as líderes falavam comigo, questionou.
— Estou sim, Victor, obrigada — ele sorriu concordando e saiu
com dois garotos que não são do time. — Por que as pessoas são
assim com o Styles? — Questionei Calleb.
— Porque ele vai ser o rei do baile, como foi ano passado com
uma garota do terceiro. O comitê gestor do baile está só esperando
ele voltar a ser o capitão oficial pra anunciar que a porcentagem
dele ser o rei novamente é de 99,9% de chance. Em seguida, todas
as meninas vão pra cima por quererem a coroa e quando eu falo
todas estou me referindo a presidente do grêmio, a capitã das
líderes e todas essas meninas egocêntricas. Você vai ver, é um
verdadeiro inferno.
— Rebecca — um garoto do time me chamou, o olhei e ele
parou em minha frente — Está livre hoje à noite? Pensei em darmos
uma volta.
— Hmm — murmurei — pode ser outro dia, Noah? Já tenho
compromisso marcado — ele concordou e saiu parecendo
desapontado. — Bom, sobre o baile eu só fico me perguntando o
motivo de uma coroa ser tão impor…
— Capitã — Josh parou em minha frente, ele e Calleb se
olharam, e depois Josh me olhou. — Tá afim de um cinema hoje à
noite?
— Pode ser outro dia? Hoje já tenho compromisso — expliquei
calmamente. Ele deu um sorrisinho fofo e me abraçou.
— Sem problemas, até mais tarde capitã — disse se afastando
depois de olhar novamente Calleb.
— Rebecca is the new Cameron — Calleb debochou.
— Me erra, Callebito — ele mostrou o dedo do meio para mim
rindo.
Olhei o celular em minha mão vendo uma notificação de
mensagem.
Styles: Me encontra na sala de estatísticas do time
Styles: Agora
Styles: Por favor?

Acabei rindo do jeito que ele foi mandão e tentou contornar a


situação com um por favor, consigo até mesmo ouvi-lo empurrando
as palavras de sua boca.
— Te vejo depois, Callebito.
— Ok, new Cameron — revirei os olhos rindo e caminhei em
direção ao vestiário do time, no fundo do vestiário estava a sala de
estatísticas.
Entrei no vestiário com máximo de cuidado para ninguém me
ver. Felizmente estava vazio por ser horário de aula. Ah meu Deus,
eu estava matando aula?
Caminhei até a sala de estatísticas e Cameron estava parado
olhando a lousa, mas se virou assim que abri a porta. Ele me olhou
fixamente e balançou a cabeça.
— Soube que enfrentou Melissa hoje — disse cruzando os
braços.
— Vai brigar comigo por enfrentar sua amada? — Debochei e
ele se forçou a não rir.
— Malik, eu…
— Não tenho medo delas, Cameron. Elas se acham demais e
por mim, vai ser engraçado elas caçarem alguém que está tão perto
— brinquei vendo um sorriso escapar em seu rosto. — Eu acho
desnecessário brigas por homem, então vou ignorar e fingir que não
sou eu ali.
— Você podia me ajudar mais nisso, já que não tem problema
pra você.
— De jeito nenhum. Já fiz mais do que deveria — rebati e ele
alongou o corpo levantando os braços e esticando o peitoral para
frente.
— Ah, para de graça. Você também gostou — fiquei o olhando
com expressão de ah garoto, me erra e ele riu. — Enfim, tudo bem
continuar as aulas?
— Sim — dei de ombros e ele me olhou por instantes de forma
que quase me intimidou. — Como você aguenta essas meninas em
cima de você como se você fosse uma… Celebridade?
— Vai por mim, nos outros anos não foram assim. As meninas
estão descontroladas esse ano.
— Ouvi comentários de que é porque você está solteiro — rimos
e ele deu de ombros.
— Ano passado eu também estava, mas Gabbe quis minha
ajuda pra ser rainha do baile e por um tempo eu tive paz — dei de
ombros.
— Enfim, melhor irmos — afirmei.
Assim que abri a porta da sala de estatísticas, a porta do
vestiário foi aberta; em um movimento rápido Cameron me puxou
pela cintura me tirando da frente da abertura da porta colocando sua
mão em minha boca abafando o som do grito de susto que dei e me
encostando na parede. Ele me olhou fazendo sinal de silêncio e
deslizou a mão a afastando de minha boca, me encarando
atentamente como se bilhões de pensamentos passassem por sua
mente.
— Cara, a Becca é muito linda — ouvi Josh falando e isso nos
tirou de um leve êxtase em que entramos — Noah já tá atacando
ela, ele tá louco se acha que eu vou deixar ele com ela — afirmou e
Cameron me olhou com olhar de eu avisei.
— Ela é incrível mesmo, tão na dela, é simpática e puts… muito
gata — Peter disse suspirando — Andrew disse que espera só uma
brecha dela, mas ela nunca dá.
— Andrew a quer? — Jack questionou.
— Quem não quer? — Josh rebateu.
Incrível a forma com que ignoraram o fato de que Andrew
namorava.
— O capitão? — Peter supôs e todos começaram a rir. — Ali só
finge — olhei Cameron, ele revirou os olhos negando e se afastou,
finalmente, de mim.
— Só finge porque ela não quer, se ela quisesse ele já teria ido
pra cima — Josh afirmou e Cameron franziu o cenho como se
aquela fala fosse a coisa mais louca que ele já ouviu em sua vida.
— Bom, pelo menos não temos ele no caminho — Jack
disparou.
— Tirem o cavalo da chuva, se depender de mim, a princesa vai
ser minha — Peter disse se gabando me fazendo segurar a
gargalhada.
— Não mesmo, meu pai é pastor, eu tenho mais chance — Josh
disse e eu me encolhi para não rir alto, eles realmente achavam
isso?
— Boa sorte garotos, porque se depender de mim, ninguém
encosta nela — Jack afirmou determinado.
— O Victor falou alguma coisa dela, não foi? — Peter
questionou.
— Ela enfrentou as líderes, estão achando que ela é a garota da
foto com Cameron — Jack explicou.
— Mas nem dá pra ver. Nem cor de cabelo, nem roupa. Só a
blusa do capitão e que a garota é alta — ouvi Josh falando.
— Cameron pega tanta menina e essas garotas ainda ficam de
briguinhas — Jack riu. Concordei em um balançar de cabeça
mesmo que eles não estivessem me vendo. Cameron me olhou
incrédulo e mostrou o dedo do meio me fazendo rir em silêncio.
— Enfim, só lembrem que Becca não é objeto, se alguém
apostar qualquer coisa relacionado ela, vocês já sabem — Peter
alertou.
— O capitão avisou — Josh explicou. Olhei Cameron confusa e
ele desviou o olhar. — Quando eu falo que ele gosta dela, ele ainda
fica bravo, mas aquele discurso de se apostar qualquer coisa
relacionado a ela, vão se ver comigo deixou na cara.
— Que seja, se ele não assume que gosta dela, deixa que o pai
aqui vai — Peter afirmou e ouvimos passos. — Fora que apostar
uma garota daquelas é muita burrice até pro Jack.
— Ei, o que você quis dizer com isso? — Jack questionou em
tom engraçado.
Os passos ficaram mais longes e a porta foi aberta e fechada.
Cameron olhou pela abertura da porta da sala em que estávamos e
me olhou.
— Já sabe com quem vai sair? — Debochou rindo.
— Babaca — ri me desencostando na parede e pegando minha
mochila. — Já sabe quando vai assumir que gosta de mim? —
Debochei de volta.
— Gostar de você? — Questionou com expressão de nojo —
Nem de brincadeira — rimos.
— É recíproco — afirmei rindo e saindo da sala de estatística e
do vestiário com, novamente, o máximo de cuidado.
A última coisa que queria era prolongar o assunto com
Cameron. Essa era a última coisa com que precisava me importar.
Imagina os meninos tentando me conquistar, meu Deus NÃO!
Precisava despistá-los, mas como? Não podia ficar o ano todo
fugindo.
E que Deus me ajude!

Caminhei até a biblioteca, afinal, tinha perdido metade da aula


de economia, e me sentei no fundo da biblioteca onde Neji estava,
matando aula.
— Kath está enlouquecendo — Neji sussurrou e eu balancei a
cabeça para que ele continuasse — ela está fazendo de tudo pra
descobrir quem é a garota misteriosa com Cameron ontem e está
determinada a saber quem é ela antes de Melissa.
— Melissa me questionou hoje.
— Eu sei, Kath contou que desconfia de você. Pediu pra eu te
questionar onde você estava ontem — ele riu.
— E o que disse?
— O que Natalie disse — fiz sinal para ele continuar. — Ah,
então, ela disse que estava com você no hospital porque seu irmão
se machucou. Cameron foi visto naquele mesmo hospital, mas você
ainda tava na lanchonete quando a foto foi tirada, então não tinha
como ser você porque você estava com Natalie e sabemos que ela
jamais concordaria com esse tipo de coisa por não apoiar vocês
juntos.
— Nem precisava dessa explicação toda — rimos. — Teve festa
no sábado? Não ouvi barulho nenhum de música.
— Não, os pais de Cameron estavam em casa, aí molhou.
— Graças a Deus — afirmei.
— Eu não acredito em Deus — Neji provocou, ele amava fazer
aquilo.
— E quem disse que isso é problema meu? — Questionei e ele
gargalhou fazendo as poucas pessoas da biblioteca nos olharem
fazendo barulho para ficarmos em silêncio.
— Sabe, você é a única evangélica que eu gosto — o olhei
querendo rir —, não força religião, não fica o tempo todo falando
sobre o inferno pra quem não segue o que você acredita, fora que é
muito bom estar perto de você, traz algo bom.
— Eu sigo a tese de que forçar não leva a nada, cada um terá
seu momento espiritual independente do que acredita. E já te falei,
não é que você não acredita, é que você tem mágoa de Deus —
voltei meu olhar para o livro.
A mãe de Neji o abandonou com oito anos de idade e ele
acreditava que a culpa era de Deus… Porém, mesmo tendo
milhares de argumentos, convencê-lo do que eu acredito não cabia
a mim. Eu só falava quando Neji me dava brechas, mas quem
convencia era o Espírito Santo.
Finalmente o dia tinha acabado e não teria aulas com o time.
Sai do laboratório, deixei meus livros no armário e caminhei até
o estacionamento para esperar Calleb e Natalie.
— Rebecca — ouvi a voz grossa e firme de Victor e o olhei. —
Você é demais! — Ele me abraçou, acabei retribuindo mesmo sem
entender, ele me soltou e, ainda sorrindo, me mostrou uma atividade
de física com um 98 de vermelho.
Arregalei meus olhos surpresa.
— Não acredito! Parabéns — comemorei batendo palminhas de
animação.
— Se continuar assim poderei ser o novo capitão do time —
disse animado e meu sorriso se esvaiu. — O correto é um aluno do
segundo ser o capitão, só deixaram Cameron porque ele é muito
bom pro time, mas isso vai mudar com a sua ajuda — explicou e
minha voz simplesmente sumiu. — Enfim, muito obrigado mesmo!
— Sorriu se despedindo. O encarei até vê-lo se juntar com outros
meninos do time.
— Então foi você, seu desgraçado! — Cameron acusou indo
para cima de Victor assim que chegou no estacionamento.
Cameron socou certeiramente o rosto de Victor que foi jogado
contra seu próprio carro. Natalie correu enquanto Cameron gritava
com Victor sobre ele tê-lo dedurado para a diretora sobre os
trabalhos que ele recebia.
— EU VOU ACABAR COM A SUA RAÇA! — Cameron
esbravejou vorazmente.
Os meninos do time tentaram conte-lo, mas foi impossível.
— Victor fez a maior burrice da vida dele — Natalie disse
ofegante e parando ao meu lado.
— O que acont…
— Vem, me ajuda com Cameron — Natalie me puxou.
Quando nos aproximamos, Cameron já estava novamente em
cima de Victor o socando sem parar.
— ELLIOT, TIRA O CAMERON DE CIMA DELE — Natalie gritou
desesperadamente.
Os policiais da escola estavam se aproximando, Cameron iria se
ferrar ainda mais. Droga, garoto, me devia mais uma!
Tentei me aproximar, mas Peter me segurou.
— Você não tá ficando nem loca — disse, o olhei seriamente e
ele me soltou.
Me aproximei dos garotos, desviei de um soco de Cameron que
foi acertado em Victor, que estava com o rosto machucado, e como
mãe de criança puxei Cameron pela orelha.
Ele se levantou na medida em que eu puxava sua orelha. Victor
ainda levantou o rosto, mas se deitou novamente. Cameron gemeu
de dor tentando se soltar de mim, mas parei de puxá-lo apenas
quando estávamos entre o carro dele e o meu. Os policiais olharam
por um tempo, Elliot falou com eles e eles se retiraram.
— Você ficou louc… — Dei um tapa em sua testa o deixando
sem reação.
— Você perdeu a noção garoto? Agora vou ter que ser sua
mãe? Quantos anos você tem pra ficar batendo em outro garoto?
Enlouqueceu? — Repreendi e ele abriu a boca para falar. — Entra
no carro.
— Rebecc…
— AGORA CAMERON! — Ele levantou os braços se rendendo.
Abriu o carro, estendi a mão esperando que ele me entregasse
a chave, Cameron bufou e me entregou.
— Leva ele embora — pedi a Natalie e Elliot.
— Rebecca, o que você tá faz… — Elliot iniciou.
— Leva ele embora — entreguei a chave a Natalie e sai
andando até onde estava Victor e o time o ajudando a ficar em pé.
— Vocês são uns idiotas, sabia? Ficam se batendo como se tudo se
resolvesse assim — afirmei me aproximando.
— Becca, quem começou foi o Victor, ninguém mandou ele
contar pra diretora sobre o Cameron receber os trabalhos dos
alunos — Peter defendeu Cameron.
— Me errem! Isso não justifica nada! Vocês são um time, mas
ficam se provocando e querendo tomar o lugar um do outro. Victor,
cresce. Não é passando por cima de alguém que você vai ter o seu
lugar! — Adverti, todos ficaram em silêncio, apenas me ouvindo. —
Parem de brigar por coisas assim, isso só vai separar vocês. E
agradeçam por ter um líder que, por mais difícil que ele seja, desde
que cheguei aqui tenho ouvido que Styles fez a diferença pro time.
Mas se vocês quiserem perder todas as temporadas, estão indo
pelo caminho certo!
— A maçã podre aqui é o Victor — Jack disse.
— Você não vai ser melhor falando assim dele, Jack! — Jack
abaixou o olhar. — Mas se vocês querem um time bom e continuar
ganhando as temporadas, tratem de se unirem e pararem de querer
passar por cima de alguém — afirmei olhando Victor que me olhou e
abaixou o olhar; os olhei por instantes, estavam parecendo crianças
que acabaram de levar uma bronca da mãe. — Preciso ir, Victor,
você tá péssimo — eles riram enquanto eu caminhava até meu
carro onde Calleb estava encostado.
— Mandou bem — disse rindo.
— Eu tento — me gabei entrando no carro. — Essa
necessidade de provar que um é melhor que o outro me irrita, sabe?
Enquanto eu dou aulas pra eles, eles ficam querendo passar um por
cima do outro — expliquei dando partida saindo do estacionamento
escolar. — Acho que o que eu falei nem foi pela briga e sim pelo que
vejo — rimos.

— Além de capitã é conselheira do time? — Andrew brincou se


aproximando de mim. No mesmo momento me lembrei de Peter
falando que Andrew só esperava uma brecha minha.
— Os garotos estão querendo me conquistar — comentei
apoiando meus cotovelos no balcão. — É exaustivo isso, não tenho
a necessidade de um namorado. Sabendo que eles querem isso, só
me deixa com mais vontade de me afastar.
— Becca, com todo o respeito, é meio difícil algum garoto não te
querer — franzi o cenho o olhando. — Você é tão na sua, não fica
em cima de ninguém. Não querer chamar atenção, chama a atenção
de alguns.
— Incluindo a sua atenção? — Questionei diretamente,
considerando que esse foi um dos assuntos dos meninos do time.
Andrew primeiro parou me olhando sem reação, em seguida sorriu.
— Você tem o meu silêncio — disse contraindo a mandíbula.
— É, talvez seja melhor — afirmei e ele se aproximou.
— Mas não posso mentir que você tem algo que me atrai —
disse em um sussurro próximo de meu ouvido.
— Eu tô disposta a perder meu emprego por justa causa — me
virei de frente pra ele o empurrando — se você continuar se
aproximando de mim assim — olhei em seus olhos.
— Becca, não é isso que você tá pensando. Eu…
— Confundiu as coisas? — Cruzei os braços — Ou só está
esperando uma brecha minha?
— Rebecca, não quero que pense isso de mim — disse de
forma sínica.
— Só por favor fica longe mim, ok? — Pedi pegando as coisas
para limpar as mesas e o deixando sem reação. Sai de perto dele
rapidamente.

Andrew me dispensou mais cedo hoje. Desde o ocorrido mais


cedo ele não desceu para trabalhar. Eu nunca, nunca, me senti tão
desconfortável com ele como hoje. O olhar dele, o jeito dele… ficava
nauseada quando pensava demais.
Cheguei em casa me deparando com Cameron sentado em
meu sofá conversando com a minha mãe enquanto tomava uma
xícara de chá. Era só o que me faltava.
— Olá querida — mamãe disse quando a beijei no rosto.
— Oi mãe, oi Cameron — desviei meu olhar dele e acariciei
Louis e Eloise. — Oi meu amor — beijei a cabeça de Isaac, o
abracei com cuidado e olhei Cameron. — Já te chamo pra
estudarmos — avisei subindo as escadas.
Tomei meu banho, coloquei uma roupa confortável e quando
abri a porta, Cameron estava no quarto de frente para o meu com
Isaac e Jeff, meu primo dois anos mais velho que meu irmão.
— Eu só não acabo com vocês no FIFA porque tenho que
estudar — Cameron disse convencido. Ele entrou em meu quarto e
encostou a porta. — Só tem os trabalhos de matemática, inglês e
economia agora.
— Ok, qual primeiro? — Questionei sem o olhar.
Por que todo garoto que se aproximava de mim era com
intenções ruins ou que me deixasse mal? Por que tinha que ser
assim? No trabalho, na escola, na rua eu não me sentia segura
andando. Estava segura trabalhando em um lugar onde um cara me
olhava daquele jeito? E o que eu deveria fazer?
— Becca? Tá aí ainda? — Olhei Cameron que me trouxe de
volta a realidade.
— Desculpe, vamos começar por…
— Por você falando o que tem de errado contigo — completou.
Acabei rindo e negando.
— Inglês? — Cameron cruzou os braços.
— Não me enrola — pediu. Suspirei colocando o livro de inglês
em cima da mesa de estudos.
— É só que… — Soltei a respiração — Desde sempre os
meninos se aproximam de mim só pra ter algo a mais. Me olham
como se eu fosse um pedaço de carne e, meu Deus, não quero nem
imaginar o que eles pensam quando me olham — fiz um coque no
cabelo. — Isso me incomoda, me deixa insegura e se eu pudesse
não trabalhava mais na… — Cameron franziu o cenho e eu percebi
que tinha dito algo errado. — Enfim, é chato demais.
— Por que citou o trabalho?
— Não, isso não tem nada a ver — desviei o olhar.
— Rebecca — disse firme; respirei fundo e soltei a respiração.
— O que os meninos falaram sobre Andrew esperar uma brecha
minha. Não resisti e acabei jogando pra fora. Ele sempre me olhou
tão... — fiz expressão enojada, o celular de Cameron não parava de
acender mostrando que alguém estava ligando. — Precisava
confirmar e ele veio pra perto de mim de forma que me deixou
desconfortável de um jeito que nunca senti antes — Cameron olhou
pro nada pensativo. — Enfim, você nem se importa. Não sei nem
porque tô falando isso.
— Andrew sempre me incomodou — Cameron disse ignorando
eu ter falado que ele não se importava. — Avisei Natalie assim que
peguei os dois aos beijos.
— Eu queria que eles se afastassem, mas não dá pra obrigar
ninguém a nada — o celular de Cameron novamente tocou. Ele
bufou já estressado e pegou o celular, o atendendo.
— O que foi Melissa? — Questionou ríspido — Não, não vou
pra festa hoje… porque eu — Cameron me olhou com um sorriso
maroto me fazendo entender o que se passava em sua mente.
— Não! — Falei sem som e negando com a cabeça.
Cameron?, ouvi Melissa questionar e neguei novamente com a
cabeça. Ele sorriu.
— Estou com uma garota hoje — explicou fazendo meu coração
parar.
Que garota, Cameron?, Melissa praticamente gritou.
— Não te interessa e você está me atrapalhando. Sai do meu
pé, Melissa! — Cameron deligou antes de qualquer resposta.
— Não! — Afirmei me levantando da cadeira e me encostando
na janela.
— Por favor — pediu sorrindo de lado.
— Não, já falei que não, é não — repeti e ele se levantou se
aproximando de mim.
— Qual é? Só uma foto — pediu afastando meu cabelo do
rosto. Suspirei pesadamente.
— Só se você arrumar meu cabelo depois — sugeri e ele fez
expressão de entediado. — Você arruma o da Natalie. Sabe quanto
tempo demora pra arrumar esse cabelo? — Questionei me
afastando dele e me sentando na cama. — Essa é a minha
condição — ele me olhou.
— Combinado — sorri concordando.
— Como será a foto? — Ele me olhou por instantes pensando e
a resposta foi o silêncio. — Por que você tá fazendo tudo isso? Por
que não simplesmente admite que não quer nada com ela e as
outras? — Ele se sentou na cama — Você não vai deixar de ser o
popular que todas querem.
— Tem uma que me odeia — afirmou rindo de lado.
— Esse não é o ponto — rimos.
— Você acha que eu não já tentei? — Questionou desfazendo o
sorriso de seu rosto. — Já falei que não quero ficar com ninguém,
mas elas não param. Estão tão sedentas por popularidade ou por ter
alguém que não percebem que são irritantes pra cacete.
— Deve ser horrível — comentei.
— O pior é que elas só param se eu estou com alguém, como
se eu falando que não quero não fosse importante — explicou
passando a mão no cabelo e o jogando para trás, o cabelo voltou
para a frente ficando bagunçado.
— Com Andrew e os meninos do time é a mesma coisa, só vão
parar se eu estiver com alguém — ele me olhou como se tivesse
pensado em algo.
— Tive uma ideia.
— É, mas eu odeio suas ideias, então não — afirmei rindo. O
celular de Cameron acendeu novamente, ele virou o celular pra mim
mostrando a ligação de Katherine. Ri quando ele revirou os olhos
em sinal de irritação. — Já sei como podemos tirar a foto.
— Como? — Questionou.
— Se você quer uma foto pra mostrar que realmente tem algo
com alguém e sem mostrar meu rosto — deslizei a mão em seu
braço até pegar em sua mão e entrelacei nossos dedos, Cameron
arfou, mas logo disfarçou — A melhor forma é assim — levantei
nossas mãos.
— Ok — disse quando soltei nossas mãos.
Me levantei indo até o interruptor abaixando a luz do quarto
enquanto Cameron me olhava atentamente. Ele se levantou, pegou
em minha mão e tirou a foto.
— Deixa eu ver — pedi soltando sua mão e ele me mostrou a
foto — ficou muito boa — o olhei, ele estava me encarando de forma
que seus olhos ficam ainda mais azuis e com um brilho que nunca
havia visto antes. Cameron passou a língua nos lábios e afastou a
mecha de cabelo molhada que saiu em meu rosto.
Me senti hipnotizada. Não conseguia sair de perto dele. Seus
olhos, que antes estavam olhando os meus, desceram até minha
boca. Balancei a cabeça me afastando.
— Então, essa foto serve? — Questionei tentando aliviar a
tensão. Minhas mãos suavam frio.
— Serve sim, com certeza — afirmou.
— Ótimo — peguei o secador — porque agora é a sua vez —
ele riu.
Arrumei as coisas enquanto ele postava a foto. Me sentei na
cadeira de estudos e assim que peguei o celular, vi a ligação de
Natalie.
— Pois não, querida — falei para a garota do outro lado do
telefone.
— É você? — Natalie questionou em um sussurro. — Na foto, é
você?
— Sim, foi pra despistar Melissa — Cameron me olhou através
do espelho com o cenho franzido.
— Imaginei. Andrew está desconfiado e comentou com Peter
que provavelmente vai comentar com Melissa — Natalie alertou. —
Vocês estão sendo descuidados.
— Mas por que desconfiariam de mim? Todo mundo sabe que
eu e ele não nos damos bem — relembrei vendo Cameron rir
começando a pentear meu cabelo.
— Não se dão bem ou só fingiam? — Senti um soco no meu
estômago. — Vocês se implicam, mas conseguem ficar numa boa
juntos… E o seu silêncio só confirma. Droga, era o que eu temia —
disse a si mesma. — Enfim, Melissa e Kath colocaram na cabeça
que você tem algum envolvimento. Preciso ir.
— Ok, depois a gente se fala. Te amo.
— Te amo — disse desligando.
— Estão desconfiadas que sou eu de novo — avisei. Cameron
deu de ombros ligando o secador. Três batidas na minha porta
fizeram com que Cameron desligasse o secador e abrisse a mesma.
— Mamãe disse pra eu ficar aqui de olho em vocês — Isaac
disse entrando no quarto e se jogando em minha cama.
— O quê? Por quê? — Questionei.
— Ela falou que acha que vocês estão namorando — Isaac
disse sem tirar os olhos do celular.
— Jamais, ela nem faz meu tipo — Cameron afirmou.
— E você tem tipo, Styles? — Ele me olhou cruzando os braços.
— Se é gente e respira você pega. Quem não quer sou eu. Nunca
mesmo.
— Tá se achando demais, nerd — Cameron disparou. Isaac
colocou os fones e se deitou na minha cama.
— Arruma meu cabelo, anda — me virei de frente para o
espelho.
— Mandona.
— Irritante — ele me mostrou o dedo e rindo voltou a arrumar
meu cabelo.
Peguei meu celular vendo mensagens de Calleb.

Calleb: Onde você tá? E com quem?


Calleb: Tá todo mundo falando da foto e as únicas pessoas
relevantes que não vieram foram você e o Cam
Becca: Tô cuidando dos meus irmãos
Becca: E eu nunca vou pra festas
Calleb: É, isso é mesmo
Calleb: Vou ir beber, beijos
Becca: Não morre, beijão
Podíamos considerar Isaac um péssimo vigia. As 22h15,
quando começamos a assistir Naruto Shippuden, ele dormiu
deixando eu e Cameron acordados.
Minha mãe veio nos checar três vezes, o que me fez rir. Ela
deixou Elô e Louis sob nossa responsabilidade para poder dormir
um pouco, mas os nenéns acabaram adormecendo antes do
esperado e depois de alimentados. Cameron mostrou que no grupo
do time estavam todos falando sobre a foto. Postei uma foto com
Elô para tirar o foco do time e pelo que entendi Calleb espalhou que
não sou eu. O que era bom, não era?
— Styles? — Chamei o garoto que estava cochilando e ele se
mexeu um pouco segurando Louis que estava deitado de bruços em
cima de sua barriga — Me ajuda a colocar as crianças nos quartos?
— Pedi quando ele abriu um pouco os olhos.
Cameron se levantou com cuidado. Me seguiu até o quarto dos
gêmeos e os colocamos em seus berços. Em seguida voltou ao meu
quarto, pegou Isaac e o colocou em seu quarto.
— Obrigada — agradeci arrumando os materiais na mesinha.
Ele pegou suas coisas e descemos as escadas.
— Obrigado pela ajuda — disse assim que abri a porta.
Concordei balançando a cabeça — Até segunda.
Cameron me puxou me abraçando, deu um beijo em minha
testa como se fosse algo normal entre nós e saiu andando até sua
casa.
Um ponto de interrogação se formou em minha cabeça. O quê?
Por quê? Isso não fazia o menor sentido!
Fechei a porta, a tranquei e subi as escadas. Me joguei na
cama.
E se Natalie estiver certa? Só fingimos? Não mesmo!
E por que estou pensando nisso? Era o Cameron! Só nos
dávamos bem porque tínhamos objetivos em comum. Ele o time e
eu a ajuda dele com o meu irmão, independente dele concordar ou
não. E as fotos foram só pra… Só para ajudar. Isso, nada além
disso.
Cheguei em casa abrindo a porta com cuidado e me deparei
com Natalie sentada encolhida no sofá enrolada em um cobertor.

Estava chorando sem parar e limpando as lagrimas que escorriam

em seu rosto.
— O que aconteceu? — Questionei largando minha bolsa no
outro sofá e me sentando ao lado dela, a abracei e ela chorou ainda
mais.
Acariciei seus cabelos enquanto ela molhava minha blusa com
suas lágrimas. Eu mataria aquele desgraçado do Andrew se ele
tivesse feito algo!
— Foi Andrew? — Ela negou.
— Eu quem terminei o que tínhamos — disse passando os
dedos nos cantos dos olhos — Becca estava certa, não mereço ser
segunda opção. Mas sabe, eu me deixei levar por tão pouco que…
— Sua voz falhou e ela novamente me abraçou — Que valor eu
tenho depois de ter ficado com alguém que não vale um real? Que
me fazia de segunda opção?
— Irmã, isso não tem nada a ver. Você vale muito sim, mais do
que ele jamais conseguiria ter. O fato de você ter ficado com ele não
diminui o valor que você tem. Olha pra mim — pedi e ela me olhou
com os olhos inchados e lacrimejantes — Não deixe Andrew e nem
ninguém diminuir o valor que você tem, combinado? — Fechei o
punho e ela entendeu me dando um toque de mão. — E você é uma
Styles, não pode ficar sofrendo assim não — ela riu.
— Besta — rimos —, mas obrigada — beijei o topo de sua
cabeça e ela me abraçou se deitando em meu ombro. — Você tá
com o cheiro da Becca — ela me olhou desconfiada — Porque
vocês estavam juntos hoje — deduziu.
— Fui tirar a foto.
— Não estavam juntos antes? — Neguei com a cabeça, se ela
perguntasse demais eu acabaria entregando as aulas extras em que
Rebecca estava me ajudando. — Vocês vão ficar assim agora? Se
ajudando pra afastar as garotas de você?
— Não sei, talvez.
— Você tá gostando de tudo isso, não? — Natalie se sentou no
sofá e me olhou como uma criança animada. — Anda, Cam, fala.
— Claro que não. Eu só quero que essas meninas assediadoras
me deixem em paz — afirmei olhando a tevê.
— Você ainda sonha com ela? — Questionou e eu dei de
ombros. Já fazia mais de um ano que aquela garota não saia dos
meus sonhos.
— Não importa, isso vai passar. Eu sei que você abomina a
ideia de eu ter algo com ela, isso não vai acontecer.
— Cameron, você nunca me deu espaço pra falar sobre,
sempre desvia o assunto. Pode parar de ser cabeça dura uma vez
em relação a ela e me ouvir?
— Não — rebati.
— Problema é seu, vou falar mesmo assim — cocei a cabeça; lá
vem. — Eu não quero fazer a sua cabeça e Becca não é ingênua e
nem burra. Mas aquela escorpiana sempre escolhe esconder os
sentimentos e sofrer em silêncio e vai ser isso que vai acontecer se
ela começar a gostar de você, assim como você, ela jamais vai
admitir. A questão é, eu não sei como é Becca apaixonada porque
ela nunca se apaixonou. Mas tenho medo, Cam, muito medo. Eu a
amo demais e eu odiaria ter que ficar entre vocês dois.
— Natalie, você está sofrendo por uma coisa que nem vai
acontecer. Eu e a Malik? Nunca mesmo!
— Você não consegue nem me olhar falando dela — Natalie riu
com ar vitorioso. — Ela não é como as outras que você já ficou, por
favor, caso aconteça só não seja egoísta e babaca com ela —
revirei os olhos.
— Seus papos estão nada a ver, Natalie. Eu e a Malik não vai
acontecer.
— Você é um cabeça dura — disse dando um tapa em meu
braço. — Enfim, amei o jeito que ela te tirou da confusão hoje,
mamãe teria amado.
— Cala a boca, Paola — a empurrei e ela riu.
— Josh comentou sobre você ter falado para não fazerem
apostas com ela envolvida. Isso foi por que ela nunca beijou? — A
olhei, complemente impressionado.
— Ela nunca foi beijada? — Questionei, sem disfarçar minha
curiosidade, e Natalie travou ficando em silêncio.
— Quem nunca beijou? — Questionou se fazendo de
desentendida e desviou o olhar, ela com certeza achou que eu
sabia.
Rebecca Malik? Essa garota era uma surpresa constante e
agora a segurança dela com esses garotos do time com hormônios
a flor da pele seria dobrada.
— Mamãe e papai foram pro jantar de negócios? — Mudei de
assunto.
— Sim, mas em outra cidade.
— Beleza, vou ir dormir — me levantei pegando a bolsa.
— Boa noite apaixonadinho — provocou.
— Vai se ferrar — resmunguei subindo as escadas aos risos.
Eu apaixonado? Cameron Styles não se apaixona, só faz
pessoas se apaixonarem.

Cheguei na escola atrasado e levando sermão da diretora


López, coisa com que eu já tinha me acostumado, e fui liberado
para entrar apenas na segunda aula.
Caminhei até o campo de futebol observando que o lugar que
estava totalmente vazio exceto pelas arquibancadas, onde Rebecca
estava.
A olhei por instantes, como ela podia ser tão linda?
A brisa fria bate em seus cabelos os fazendo voar, parecia uma
obra de arte que eu poderia ficar horas admirando.
Cacete, do que eu estava falando? É a Malik!
Ela me olhou e eu permaneci imóvel a olhando, até meu cérebro
finalmente obedecer aos meus comandos e me permitir caminhar na
direção de Rebecca.
Subi pelos bancos das arquibancadas e me sentei um pouco
distante vendo que seu rosto estava avermelhado e seus lábios
rosados; ela era tão perfeita, droga!
— Não sabia que nerds matavam aula — provoquei a vendo rir
e ela limpou os olhos, estava chorando?
— Não sabia que quarterbacks tiravam notas altas em química
sem colar na prova — ela me olhou e eu franzi o cenho, como ela
sabia? — Parabéns, Styles, parece que você está se recuperando
— ela me entregou o jornal da escola.
Encarei o jornal onde dizia sobre eu voltar para o time visto que
me recuperei em 80% das matérias e que agora só faltavam
matemática e inglês. O treinador e a diretora me convocaram na
escola em pleno sábado para passar a notícia.
— Não vai precisar mais da minha ajuda — disse sorrindo e eu
a olhei.
— Ainda faltam matemática e inglês — expliquei e ela olhou
para a frente. — Faço as provas na semana que vem — coloquei o
jornal de lado. Merda, agora vai começar o inferno!
Me inclinei para a frente apoiando os cotovelos em minhas
pernas e passei as mãos em meu cabelo o jogando para trás.
— O que tem de ruim nisso? Achei que ficaria feliz. Foi mais
rápido e fácil do que imaginei — Rebecca disse, a senti se
aproximando.
A olhei e ela realmente tinha se aproximado, seus olhos
estavam, de fato, inchados. O que tinha acontecido?
Ainda não sabia como conseguia ficar perto dela numa boa, às
vezes sentia borboletas no estômago, coisa que nunca senti com
ninguém e a sensação era horrível!
— Depois que oficializar eu como capitão novamente, o comitê
gestor do baile vai falar sobre eu ser o mais provável de ser o rei do
baile e…
— As meninas vão ir para cima — completou e eu apenas
concordei balançando a cabeça. — Já viu a principal notícia de
hoje? — Ela pegou o jornal novamente e passou para mim.
Na capa estava uma foto dela dando aulas para o time.
O título da notícia era: Rebecca, a nova capitã do time?
E o texto era basicamente sobre ela estar sendo desejada por
todos do time e a questão final da matéria era mais ridícula do que
eu conseguiria imaginar, finalizada com um E aí, quem vai conseguir
a mão da nerd?
— Que merda é essa? — Questionei levantando meu olhar para
ela que deu de ombros.
— O pior é que não sabemos quem foi o autor. Calleb é do
jornal e disse que a dona do jornal, Lana, não deixou ninguém saber
quem fez a notícia — ela passou a mão na testa, suspirou e se
levantou depois que o sinal tocou. — Que Deus nos ajude! — Ela riu
forçadamente e desceu um banco.
— Becca — a chamei.
Ontem ela tinha me deixado falar sobre minha ideia de um
namoro falso, mas agora me parecia uma ótima oportunidade.
— Pois não? — Ela me olhou e de imediato me veio a voz de
Natalie me relembrando que Rebecca nunca tinha beijado… e com
certeza eu não era a melhor pessoa para alguém que se guardava
daquela forma.
— Por que matou aula? — Mudei o assunto e ela franziu o
cenho desconfiada.
— Não importa — disse, com um tom de cansaço, descendo as
arquibancadas. Ela passou a mão nos olhos fungando e não parou
de andar.
Merda! Para tinha ido a minha coragem? Desde quando me
importava se alguém tinha beijado ou não?
Entrei novamente na escola e fui puxado para dentro do
laboratório vazio de biologia pelo carinha que sempre ficava com
Jace. Ele me soltou após eu já estar dentro da sala e fechou a porta.
— Estava na casa de Josh ontem e a irmã dele, Karen a
presidente do grêmio, estava com Melissa e Katherine em seu
quarto, elas não sabiam que eu estava no quarto ao lado e estavam
falando bem alto. Eu e Josh começamos a ouvi-las. Planejaram de
abordar da Rebecca hoje no intervalo, se não der certo no intervalo
será na saída ou antes dela chegar no trabalho e até mesmo
Raquel, aquela vaga que trabalha na Goldens está envolvida. Becca
não quer me ouvir, disse que sabe se cuidar, mas três ou quatro
garotas contra ela é muito.
— Cadê Natalie? — Questionei cruzando braços.
— Foi falar com Andrew, acho que é sobre isso. Enfim, por
algum motivo ela disse que eu podia confiar em você, Josh também
confia em você, então acho que você é a única pessoa que pode
ajudar. Becca não quer saber, a avisamos e ela simplesmente
ignorou. Você pode tentar?
— Ela nunca me escuta, duvido que vá me ouvir agora —
passei as mãos em meu cabelo pensando no que deveria fazer.
— Cameron, você lembra do quanto Melissa ficou em cima da
garota que te ajudou ano passado? — Assenti me lembrando do
inferno que foi ano passado. — Nem Gabbe aguentou, agora
imagina três e em breve mais outras garotas indo atrás de Becca.
Esse ano elas estão péssimas, Cameron, você precisa proteger ela
porque é por você que elas estão assim.
Soquei uma das mesas ao ouvi-lo e me recordei do nome do
garoto, Rebecca tinha dito enquanto estávamos nas arquibancadas.
— Por causa disso que ela estava chorando? — Calleb
comprimiu os lábios apreensivo.
— Seu time assediador teve parte nisso — disparou.
— O time? — O olhei sentindo meu corpo ferver de raiva.
— Você deve ter uma noção dos pensamentos sujos que os
garotos têm, principalmente com ela, cristã, virgem e o novo prêmio
do time. Puta que pariu, eles estão em cima dela de forma que dá
nojo. Josh finge que a quer só pra ficar inteirado no assunto dos
meninos, mas Cameron — Calleb parou na frente minha frente —
eu, que sou homem e gosto de homem, tenho medo dos
pensamentos dos garotos e quando Becca fica lá com eles pra dar
aulas, mesmo com câmeras lá, mesmo com a inspetora lá, eu tenho
medo. Um medo do cacete só de lembrar o que Josh me fala. Eles
não vão fazer apostas, mas o primeiro conseguir vai explanar e já
chamam ela de virgenzinha.
Meu sangue subiu, sentia minhas bochechas queimando e
minhas mãos suando. Chutei um dos bancos da bancada e sai
laboratório. Caminhei até o laboratório de química, bati na porta e
assim que aberta, entrei.
— Atrasado, sr. Styles — a professora disse. — Sente-se por
favor.
Caminhei até Rebecca, Noah estava ao lado dela, a forma com
que ele falava estava a incomodando e isso ficava nítido visto que
quanto mais ele se aproximava, mais ela se afastava.
— Noah, vaza — mandei parando atrás dele e ele se virou
ainda no banco me olhando. A sala parou com todos me
observando.
— Capit…
— Não vou repetir, Noah. Agora — mandei e ele saiu pegando
suas coisas.
— O que aconteceu? — Rebecca questionou em um sussurro.
— Esses idiotas não vão ficar em cima de você — afirmei quase
que em um rosnado enquanto olhava os meninos da sala olhando
em nossa direção.
Comecei a tremer a perna, não conseguia prestar atenção no
que a professora dizia e fechei o punho o forçando, só de pensar em
tudo o que esses garotos provavelmente falavam me queimava por
dentro. Observei Oliver e Noah sussurrando e olhando Rebecca,
seus sorrisos carregados de maldade era torturante.
— Cameron — ouvi de longe, mas o que me despertou foi seu
toque em minha perna, e a olhei. — Qual é o seu problema? —
Questionou.
— Não importa — ela revirou os olhos afastando a mão de
minha coxa. Seus olhos ainda estavam um pouco inchados e seu
nariz avermelhado.
— Ok, pode me ajudar na atividade que a professora acabou de
pedir? Eu duvido que você tenha prestado atenção — sorri a
olhando, a paz que ela me transmitia era surreal. Concordei
colocando os óculos próprios para fazer experiências.
— Por que estava chorando hoje? — Questionei em voz baixa.
A sala estava barulhenta pois estávamos fazendo a atividade.
— Você não devia ficar próximo de mim e nem se sentar ao meu
lado, evite falar comigo, estão todos nos olhando — disse sem me
olhar e colocando um líquido verde dentro de um frasco grande.
— Não me importo com o que os outros pensam — a olhei
quase suplicando que ela me olhasse de volta.
— Você não, mas eu preciso chegar inteira em casa, ir pro
trabalho inteira, comer em paz e… — Ela parou de falar quando me
olhou. — Enfim, só, fica longe de mim e acho que as coisas vão
ficar melhores pra mim.
— Inclusive com os meninos? — Questionei e ela me olhou de
imediato. — Calleb me contou.
— Professora, terminamos nossa atividade — Rebecca
anunciou tirando os óculos e o avental. A professora se aproximou e
analisou nosso experimento.
— Muito bem, Rebecca e Cameron. Estão liberados pra ficarem
na biblioteca.
Rebecca fechou os olhos desapontada como se não quisesse
isso.
Ela arrumou suas coisas e saiu da sala sem olhar para trás.
Melissa e Katherine a olharam, me olharam e se entreolharam.
Antes de sair de sala, parei na bancada delas.
— Deixem ela em paz — avisei revezando o olhar entre elas.
— Ela é a garota da foto, Cam? — Melissa questionou
colocando um dos elementos no frasco grande.
— Claro que não, Mel. Eu tenho repulsa dessa garota, jamais
ficaria assim com ela — menti mostrando expressão enojada.
— Então tudo bem um dos meninos do time desvirgindar a
crente? — Melissa me olhou, meu sangue estava fervendo.
— Ela é amiga da minha família Mel, não posso permitir isso —
Melissa riu se levantando.
— Bom, eu não acredito em você — ela tirou os óculos — e não
a quero no meu caminho, vamos ver se a resposta dela em relação
a foto é a mesma que a sua. Professora terminamos — Melissa
disse me olhando.
Neguei com a cabeça e sai da sala o quanto antes. Melissa era
insuportável e incontrolável, precisava pensar num jeito dela deixar
isso pra lá sem precisar fingir que a queria.
Passei pelo corredor vendo Rebecca com Josh conversando,
parecia confortável com ele. Josh me olhou balançando a cabeça
mostrando que estava tudo bem, fiz o mesmo sinal e caminhei até a
diretoria.
— Cameron, pode entrar na sala da sra. López — a
recepcionista avisou depois de minutos a esperando.
— Obrigado — agradeci indo até a sala, após duas batidas na
porta, entrei na sala.
— Aprontou de novo, Cameron? — Questionou tirando os
óculos.
— Vim fazer um pedido — fechei a porta e me sentei em sua
frente.
— Não vou liberar o banheiro, nem o vestiário e muito menos a
biblioteca para sexo — disparou me fazendo rir por lembrar do
pedido que fiz ano passado apenas para irritá-la.
— Não é isso — afirmei sorrindo e voltei a ficar sério. — Minha
volta para o time será anunciada no treino de hoje e, como estou de
volta, quero participar das aulas do time com a Bec… Rebecca —
me corrigi e ela franziu o cenho.
— Você? Quer estudar? Mesmo depois de já estar recuperado?
— Questionou desconfiada.
— Sim, pra não decair — expliquei relaxando os ombros.
— Bom, tudo bem então — disse se encostando na cadeira.
— Obrigado, diretora — me levantei, ela concordou e eu saí da
sala.

Na hora do intervalo, vasculhei o refeitório até achar Rebecca.


Natalie, Calleb e Neji estavam com ela. Quando foi que Natalie
tinha chegado?
Parei na mesa do time e olhei os meninos.
— Josh, vem comigo — o chamei e caminhei saindo do
refeitório ouvindo os meninos murmurando um uhhh como se ele
estivesse encrencado.
Entramos no mesmo laboratório em que Calleb me trouxe de
manhã.
— Agora que eu parei pra pensar, você e Calleb… — Josh
bateu à porta xingando em voz baixa.
— Cameron, mano… Cacete, não era pra ninguém saber — o
olhei rindo.
— Tudo bem cara, Calleb é um garoto legal e bom — ri dando
de ombros. — O que os meninos estão falando sobre a Rebecca?
— Cruzei os braços e ele passou a mão no cabelo. O sorriso em
seu rosto se desfez.
— Mano, você já deve imaginar. Os meninos começaram a ligar
os pontos sobre ela nunca ter namorado ou ficado com alguém. Ela
fica nervosa quando alguém chega muito perto dela e… — Josh
estava nervoso nível extremo. — Cara, eles estão falando muita
merda mesmo. Principalmente depois dela ter sido toda mandona
quando você e Victor brigaram. Eu e Peter ficamos nesse meio pra
saber de tudo, ninguém fala quando Elliot estava por perto, mas é
uma coisa de louco...
Josh continuou falando toda a merda que os meninos do time
falavam fazendo meu sangue subir à cabeça. Eu nunca tinha
sentido tanta raiva tendo uma garota envolvida assim. Cacete, de
onde vem tanta fúria e necessidade de protegê-la?
— Mano, você tá ficando vermelho — Josh comentou tocando
meu ombro e eu o olhei.
— Vou precisar que você fique ligado nos meninos como já vem
sendo feito — o olhei tentando controlar todos os meus instintos
para não sair pela porta e socar a cara de qualquer um envolvido
nessa merda.
— Ok. Você já sabe sobre minha irmã? — Concordei. — Agora
no intervalo Calleb e Natalie estão com ela, mas na saída e no
trabalho… — O interrompi.
— Eu cuido disso, não se preocupe — avisei saindo da sala.
Entrei novamente no refeitório onde Rebecca ainda estava, pelo
menos Melissa não a abordou dessa. Me sentei depois de pegar o
lanche vendo que Melissa e Katherine estavam me olhando
fixamente, me analisando na verdade.
Estava entre me afastar de Rebecca para as meninas não
ficarem em cima dela ou fazer a proposta que estava pensando e
afastar os garotos. Se bem que se ela aceitasse um namoro falso as
meninas não continuariam a caçando. Podia até acontecer delas
provocarem Rebecca, mas nada que ameaçasse a segurança dela.
Porém, era arriscado demais, ficar perto dela me deixa nervoso de
uma forma incomum. Nas aulas particulares eu ainda conseguia me
controlar, mas essa garota fazia com que eu me sentisse um virgem
nível hard.
— Está quieto hoje, capitão — Jack comentou.
— Soubemos que você voltou a ser capitão oficial — Peter
disse.
— Vão anunciar hoje no treino — expliquei e os meninos
comemoraram, mas meus olhos seguiram Rebecca saindo do
refeitório com Natalie e Calleb.
— Podemos dar uma festa na sexta — Elliot comentou se
sentando em minha frente. — Minha casa tá livre.
— Por mim tudo bem — afirmei dando de ombros.

Chegamos ao fim do intervalo.


Sai do refeitório indo até o corredor de armários com Elliot
falando sobre todos estarem animados e surpresos com o meu
retorno. Nem eu esperava que seria tão rápido a minha volta.
Elliot parou em seu armário e eu segui para o meu, ao lado do
de Rebecca que estava conversando com Victor e Noah. Ela
segurava firme seus livros e estava com o corpo encostado no
armário, seu nervosismo e medo perto deles era perceptível. Ela me
olhou e abaixou o olhar quase pedindo socorro.
— Becca — me aproximei, os garotos me olharam, me
cumprimentaram e saíram. — Vou te levar pra casa hoje.
— Não, não vai — disse abrindo seu armário.
— Você fala assim com os outros meninos? Acredito que eles
não ficariam em cima de você se falasse assim — ela fechou o
armário e eu a olhei.
— Quando são idiotas eu falo assim, Cameron — disse dando
as costas. Fechei meu armário e parei em sua frente antes que a
perdesse de vista.
— Você, pro seu bem, vai embora comigo hoje — afirmei
novamente.
O corredor começou a se esvaziar.
— Cameron, você não manda em mim.
— Não estou mandando, mas é pro seu bem — ela negou
revirando os olhos, como eu odiava quando ela fazia isso!
Rebecca deu passos para sair pela minha esquerda.
— Eu não vo…
Antes que ela terminasse, a puxei pela cintura a colocando
contra o armário tentando ser delicado. Ela me olhou surpresa, mas
não havia vestígios de medo. E por Deus, medo era a última coisa
que queria dela.
— Você vai embora comigo, Becca — falei mais firme. Ela arfou
e só então notei que estava apertando levemente sua cintura.
A olhei e me afastei saindo andando apressadamente.
Eu nunca tinha me sentido assim antes, o que essa garota
estava me causando?

Comecei a rabiscar um desenho do Pain de Naruto em meu


caderno e ouvi a porta da sala de estatísticas do time se abrindo.
— Você só pode estar brincando comigo — a voz indignada
dela me fez rir.
— É assim que se dá boas-vindas para o novo aluno? —
Questionei e ela parou em minha frente, incrédula, após fechar a
porta. Levantei meu olhar, a observando.
— Cameron, eu já te aturo em horário normal de aula, te aturo
na minha casa e agora até nas aulas extras do time? Não cansa
não? — Me levantei sem tirar meus olhos da deusa a minha frente.
— Malik, Calleb e Josh me contaram tudo. Você não faz ideia do
que eles são capazes, é perigoso você ficar com eles e…
— Desde quando você se importa? Você fica agindo como se
ligasse realmente pra isso, mas você só não aguenta o fato de que
não tem uma pessoa da escola em suas mãos — disse colocando a
bolsa em uma das mesas.
— Por que você tem que ser tão teimosa?
Ela suspirou soltando a respiração, pensou um pouco e me
olhou.
— É só que… o problema nem é com você na verdade, me
desculpe, parece que está tudo desmoronando — admitiu. — É
horrível você falar pros garotos que certas brincadeiras incomodam
e ninguém te ouvir. Eu os ouvi me chamando de virgenzinha,
falando que a forma com que falo com eles só dá mais vontade
deles me darem um jeit… — A voz dela falhou e ela fechou os
olhos… O que eu devia fazer? Nunca passei por algo assim, nunca
liguei na verdade. — Eles sabem que eu ouvi e agiram
naturalmente, mas isso não é normal, não é natural. Eu ainda falei
com Oliver sobre não ter gostado dessas brincadeiras, mas todos
riram, exceto Peter e Josh.
— Elliot estava junto? — Ela negou. — Eu posso dar um jeito,
Becca, você sabe disso — afirmei a olhando.
— Vai sair batendo em todo mundo que fizer isso comigo? —
Questionou como se fosse uma má ideia.
— Sim.
— Não — ela riu me olhando e se aproximando. — Quando falei
que não tinha gostado, Oliver disse que era frescura minha e que
ele adoraria acabar com esse apelido — ela abaixou o olhar — e
todos riram.
— Becca, precisamos falar com a diretora.
— Infelizmente ela já sabe, disse que daria um jeito, mas você
sabe, quem se importa? São os hormônios — ironizou.
— Boa tarde, capitã — ouvi Josh dizer ao entrar na sala.
Ela sorriu para ele sem mostrar os dentes e se afastou de mim.
São os hormônios, vamos ver se os hormônios vão poder
interferir quando Oliver estiver todo arrebentado.
Antes de sair da sala, fui puxado após quando ela estava
totalmente vazia.
Rebecca se despediu de todos e me olhou.
— Você não vai bater em Oliver — disse séria.
— Rebecca mano, só quebrar o braço que ele usa pra se
mastur…
— Cameron! — Brigou tentando conter a risada — Não. Tá me
ouvindo? — Questionou parando em minha frente — Não! — disse
passando por mim e saindo da sala.
A segui sem compreender o motivo dessa garota não me deixar
fazer Oliver querer jamais ter feito ela sentir o que sentiu.
Caminhamos até o estacionamento e Melissa junto com
algumas líderes estavam encostadas em seu carro. Natalie
convenceu Rebecca de entregar a chave de seu carro e ir embora
comigo.
Entreguei um capacete para ela que negou com a cabeça, mas
aceitou.
— Isso vai dar mais encrenca — disse em voz baixa com o tom
carregado de preocupação.
— Vamos ver — montei na moto e ela logo em seguida.
Seus braços envolvendo minha cintura deixou meu corpo
quente me fazendo respirar fundo e soltar a respiração.
— Podemos? — Questionei disfarçando o efeito que ela causou
em mim.
— Não tenho escolhas — relembrou.
Ri acelerando a moto em direção à Rua dos Alfeneiros.
— Uma coisa que eu não entendo — começou descendo da
moto e tirando o capacete após eu parar na frente de sua casa —,
por que você tá me protegendo? — Questionou me entregando o
capacete. — Sabe, a você nunca foi assim comigo.
Parecia de fato querer que eu falasse algo que a deixasse
convencida, a curiosidade era nítida em seu rosto.
— Porque é minha culpa as meninas estarem em cima de você
— expliquei tirando o capacete.
— E com os meninos? — Passei a língua nos lábios e cocei a
cabeça. — É por eu ser o prêmio deles, não? E você não suporta o
fato de alguém ter alguém que você não teve — a olhei incrédulo.
— Você só pode estar brincando! Acha mesmo que eu te vejo
como um prêmio? — Questionei a vendo franzir o cenho.
— Não vejo outra explicação pra alguém que sempre me odiou
fingir que gosta de mim de uma hora pra outra — rebati.
— Rebecca, não preciso te ver como um prêmio pra te proteger
de coisas assim. Você me ajudou pra cacete, é amiga da família, eu
só estou fazendo o certo — consegui dizer.
"Amiga da família", "Fazer o certo", até parecia que eu ligava
pra isso.
Garota, eu só quero te proteger de toda maldade desses
garotos!
— Amiga da família — ironizou — agora sim as meninas vão me
matar, praticamente confirmamos pra elas que sou eu nas fotos —
ela andou de um lado para o outro.
— Eu vou dar um jeito, Malik, te levo pro trabalho hoje.
— Cameron, você não pode me proteger o tempo todo! —
Disparou. — Que horrível! Só assim as pessoas nos entendem, nos
escutam? Quando um garoto com status intervi? Vai ser assim
agora? Vou ficar debaixo das asas do capitão?
— Rebecca — desci da moto — isso não tem nada a ver. Com
os meninos talvez sim porque eles são uns idiotas, mas com as
meninas você não entendeu que quem tem o controle é você! Elas
estão com tanto medo de você que estão agindo impulsivamente e
correndo em círculos. Você percebeu que só foi eu mostrar que
tenho alguém que elas não me pressionam mais querendo ficar
comigo? Só assim elas entenderam que eu não quero.
— Essas pessoas são estranhas e ignorantes demais — ela se
sentou na escada da porta de sua casa e me sentei ao lado dela. —
Então minha palavra só significa algo pros meninos se eu tiver você
e a sua só vale algo pras meninas se estiver comigo ou melhor, com
a garota da foto? — Rimos.
— Aparentemente sim.
— Qual é o problema desse pessoal?
— Pras meninas, status. Pros meninos… — Parei de falar
quando a olhei, ela jamais seria um mísero prêmio.
— Um prêmio — ela deu um sorriso triste. — Meu Deus, só faz
dois meses que estou nessa escola e já está assim, imagine até a
formatura — juntei minha coragem e a olhei.
— Devíamos admitir que você é a garota — ela me olhou
surpresa e ao mesmo tempo parecia não acreditar no que eu estava
falando. — As meninas não vão te caçar e os meninos com certeza
não vão dar em cima de alguém que está comigo, não são nem
loucos de fazer isso — ela abriu a boca para falar, mas desistiu.
Olhou para frente pensando e me olhou.
— E aí vamos fingir que estamos namorando? — Ela
questionou, ri em resposta e ela se levantou como se isso tivesse a
desestabilizado totalmente. — Preciso me arrumar pro trabalho, a
ideia é boa, mas não vai rolar — me levantei a olhando.
— Becca, a gente consegue se suportar e você sabe disso,
resolveria os nossos problemas e teríamos um ano melhor do que
vamos ter se não fizermos algo.
— Cameron, não, definitivamente não. Deve ter outro jeito! —
Rebateu.
— Isso é medo das meninas? Namorar comigo não vai ameaçar
sua segurança como elas estão fazendo querendo te abordar e
fazer sabe-se lá Deus o que.
— Medo das meninas? — Questionou parando em minha frente.
— Definitivamente não! Mas um namoro? Isso jamais vai dar certo.
— É só fingir, nem é tão difícil assim — ela negou apreensiva e
se afastou indo até a porta de sua casa.
— Eu nunca nem beijei, Cameron, quem dirá namorar —
explicou sem me olhar e entrou em sua casa.
Então esse era o medo dela. Cacete, como um fui burro! Eu
devia ter entendido. Mas seu primeiro beijo não precisava ser beijo
comigo, por mais que pra mim não seria problema nenhum…
podíamos fazer de outro jeito, um casal não precisava ficar se
pegando por aí para provar que era um casal. Se bem que seria
muito bom beijá-la…
Rebecca me olhou incrédula quando me viu parado na calçada
da lanchonete em que ela trabalhava. Melissa e as meninas estava
na esquina.
— Você tá me irritando — Rebecca disse saindo de seu carro,
mas ao contrário de irritação, ela sorriu.
— Grande novidade — a olhei rindo e tirando o capacete —
você não quis vir comigo e eu te avisei que elas viriam.
— Eu não vou aceitar sua proposta — disparou com incerteza
em sua voz.
— Tem ideia melhor? — Ela engoliu em seco — Quando você
for lá em casa, a gente conversa sobre isso.
— Tenho mesmo que ir? — Questionou, concordei afastando o
cabelo de seu rosto e ela empurrou minha mão. — Não piora, Styles
— disse se afastando e entrando na lanchonete. A expressão dela
me fez rir.
Desci da moto quando vi Melissa caminhando sozinha até mim.
— Eu vou acabar com essa vagabunda por ter mentido pra mim,
eu não acredito que você está com ela, seu… — Melissa levantou a
mão para dar um tapa em meu rosto e eu a segurei.
— Melissa, eu tô cansado dessa sua loucura e fixação. Por que
você decidiu implicar com Rebecca?
— Porque você mudou, Cameron! E ela vai continuar fazendo
isso. Você não vai mais na minha casa e pelo que entendi nem vai
mais nas outras meninas. Enquanto podíamos te dividir, ok. Mas
Rebecca te pega todo só pra ela!
— Você enlouqueceu, caralho? — Questionei, irritado. —
Melissa, você acha que tá falando de um objeto? — Neguei com a
cabeça. — Fica longe dela — avisei virando de costas para
caminhar até minha moto.
— Camer…
— Eu não estou pedindo, Melissa — a olhei — Eu estou
mandando — seu olhar mudou para vulnerável, ela engoliu em seco
e voltou para seu carro.
Inferno! Qual era o problema dessas garotas?
Elliot, Peter e Josh tinham combinado de irmos comer em uma
hamburgueria e segui o mais rápido para lá, pronto para me pedir
algo a Elliot.
— E aí — os cumprimentei.
— E aí — disseram de volta.
— Levou a capitã em segurança? — Josh questionou.
— Sempre — confirmei e eles balançaram a cabeça
concordando.
Fizemos nossos pedidos e Josh quis se sentar em um lugar
mais reservado, tinha algo estranho com ele, parecia nervoso.
Comemos conversando sobre futebol americano e depois
entramos no assunto da NBA.
— O que aconteceu, cara? — Peter questionou Josh e o
olhamos. — Tá estranho — observou.
— Tenho uma coisa pra falar a vocês — começou e me olhou
—, o capitão já sabe.
De imediato entendi ao que se referia e, admito, estava
surpreso.
Peter e Elliot se entreolharam e me olharam, confusos.
— Vocês são os meus melhores amigos, mais do que os outros
meninos do time, somos amigos a vida inteira — ele disse rindo e
rimos com ele —, não sei bem como contar isso, é difícil... demorei
pra entender.
Peter pensou um pouco e me olhou, em seguida olhou Josh.
— Fala caralho, tô passando mal de nervoso — ele disse de
forma tão engraçada que não conseguimos segurar a risada.
— De uns tempos para cá eu... bom, comecei a entender
algumas coisas que estavam acontecendo comigo e eu sou... — ele
deu uma pausa e coçou a nuca — eu sou bissexual — admitiu.
Peter explodiu em risadas olhando Josh.
— Você percebeu isso agora? Cara, você estava babando em
Calleb desde o ano passado, achou mesmo que eu, amigo desde
sempre, não perceberia?
Elliot também sorriu.
— É de uns tempos pra cá, você estava péssimo no disfarce,
Calleb chegava perto da capitã com a gente por perto e você já
ficava todo desconcertado — ele afirmou.
— Eu pensei em te avisar que você estava a fim de Calleb, mas
estava ótimo te ver descobrindo — Peter disse apertando o ombro
de Josh.
— Porra, é sério que eu fiquei desse jeito e ninguém me avisou?
— Josh questionou, ainda incrédulo pela reação dos meninos e nós
rimos.
— Estava cara e pra mim não é problema nenhum o que você é,
vai ser sempre meu melhor amigo — Peter afirmou.
— E o nosso também, qualquer homofobia que você sofrer, nós
resolveremos e se Calleb está com você, terá a mesma proteção —
alertei vendo Josh ficar boquiaberto. — Família defende família —
completei.
— Família defende família — Peter e Elliot repetiram juntos e
Josh concordou, logo repetindo a frase.
— Falando nisso — olhei Elliot —, preciso que busque Rebecca
na lanchonete, ela vai me bater se eu aparecer lá — disse aos risos.
— Sem problemas irmão, mas ela vai me deixar buscá-la? —
Ele questionou.
— Você vai apanhar no lugar do capitão — Peter ironizou nos
fazendo rir.
— Não, não acho que ela vai deixar — afirmei —, mas se ela
não quiser ir com você, só confira se ela fez o caminho dela sem
problemas inesperados.
— Pode deixar — Elliot concordou.
— Agora, preciso ir ver minha mãe, a conta fica pra vocês —
brinquei me levantando e seguindo para a saída enquanto ouvia
eles reclamando de eu ser folgado.
Mas antes de ir embora, passei no caixa e paguei tudo o que
gastamos.

Ajudei tia Olívia a trazer Elo e Louis para minha casa junto com
Isaac, minha mãe e ela colocariam a fofoca em dia. Rebecca
chegou pouco depois e em sua face estava uma expressão
incrédula e ao mesmo tempo irritada. Lá vem…
Deixei as crianças na sala e subi as escadas com Rebecca até
meu quarto. Abri a porta, ela entrou, colocou os livros na minha
mesa de estudos e quando me virei para olhá-la, vi que estava em
pé de braços cruzados. Encostei a porta e me aproximei da fera.
— Qual foi?
— Qual foi, Cameron? Eu saí do trabalho hoje e me deparei
com Elliot, ele me seguiu ATÉ A MINHA CASA — disse irritada.
— Você reclamou de eu estar indo, então…
— Qual é a sua dificuldade, Cameron? — Ela me deu um tapa
que me fez rir.
— Nunca vi alguém reclamar tanto, puta merda — me sentei na
cadeira relaxando o corpo. — Eu te envolvi nisso, só estou fazendo
a minha parte.
— As meninas nem estavam lá quando eu saí — ela voltou a
falar em seu tom normal, o que já era um começo.
— Ótimo — ela bufou negando com a cabeça.
— É melhor começarmos logo com os estudos — concordei
pegando meu livro.
Durante todo o tempo de estudo ela mal conseguia me olhar e
eu não conseguia deixar de olhar sua boca rosada e carnuda a cada
palavra que ela falava.
— Por hoje acho que é só — ela disse fechando o livro. Minha
cabeça estava doendo de tanta informação.
— Finalmente — afirmei pegando meu celular e vendo as mil
ligações de Katherine e mensagens das líderes, meninas do grêmio
e do jornal. Eu não aguentava mais, nem respondia e elas mesmo
assim insistiam.
— Que foi? — Questionou me fazendo a olhar, mostrei o celular
para ela e ela riu. Pegou seu celular e mostrou para mim me
deixando ver as mensagens e ligações de alguns meninos do time.
— É por isso que você quer fingir que tem alguém, não?
— Sem dúvidas — coloquei meu celular na mesa — já estou de
saco cheio disso, esse ano tá de ferrar.
— É porque você voltou a ser capitão — concordei. — Natalie
vai saber sobre as aulas que estou te dando e sobre o… — Ela
respirou fundo — Namoro.
Primeiro eu congelei, sem entender direito. Depois, ouvi fogos
de artifício em minha mente e uma euforia crescendo como um
balão dentro de mim, mas ao mesmo tempo minhas mãos estavam
suando, era um risco enorme ficar perto dela, principalmente assim.
— Meus pais sabem. Minha mãe achou graça e meu pai odiou,
mas eles não palpitam na minha vida, principalmente nessa parte.
Não contei a eles sobre os meninos do time, contei só sobre te
ajudar — explicou e eu ainda não acreditava que ela tinha aceitado.
— Você está falando sério? — Ela me olhou e se virou na
cadeira ficando de frente para mim.
— Eu não faço ideia de como isso funciona, mas não deve ser
difícil baseado em tudo o que já vi — ela riu. — Fora que você já
namorou, sabe mais do que eu e isso é um ponto.
— Becca, isso é sério, tipo, sério mesmo? — Questionei apenas
para ter certeza.
— Sim e espero do fundo do meu coração que dê certo.
— Vai dar certo — afastei o cabelo de seu rosto e ela me olhou
por instantes, em seguida balançou a cabeça como se acabasse de
sair de uma hipnose.
— Acho que poderíamos começar com um boato, dessa vez eu
posto uma foto e deixamos todo mundo falando como já está
acontecendo. E aí vamos dando vestígios na escola.
— Pra mim parece ótimo — sorri enrolando uma mecha de seu
cabelo em meu dedo.
— Podemos fazer algumas coisas juntos depois só pra
confirmar o namoro, eu vou a uma ou duas festas com você, desde
que você venha pra igreja comigo quando eu for — explicou.
— Tudo bem, eu até gosto da igreja que você vai — ela riu me
olhando.
— Ok — deu de ombros.
— Eu vou poder te tocar sem você me empurrar ou me xingar?
— Questionei sentindo borboletas no estômago, o que era brega pra
cacete. Ela respirou pesado e sorriu nervosa — Vai ser como no
estacionamento — ela fechou os olhos e inspirou na medida em que
meus dedos deslizavam em sua nuca entrando em seus cabelos,
ela passou a mão no rosto comprimindo os lábios enquanto expirava
pesado.
Sorri vendo o efeito que causava nela.
— Ok — disse me olhando e deslizando as unhas em meu
braço. — Acho que consigo.
Passei a língua nos lábios. Ah, consegue…
— A foto, vamos tirar a foto — tirei a mão de sua nuca e me
afastei.
Ela concordou se levantando, me levantei afastando a blusa de
meu corpo, quando foi que eu comecei a suar?
Tiramos a foto e ela postou. Parecia tão corajosa e determinada,
totalmente diferente do que estava mais cedo.
— Cameron, a mãe disse que… — Natalie parou de falar
quando abriu a porta e nos olhou. Olhou o material em nossa mesa
e nos olhou novamente.
— Irmã, não é isso que você tá pensando — disparei me
preparando para o surto dela.
— Eu já sei que vocês estão estudando, Becca é péssima na
mentira — ela riu — e sobre o namoro mesmo sendo contra, sabia
que ela iria acabar fazendo o que quer, porque ela é assim.
— Aí Natalie, me erra — Rebecca retrucou se sentando na
cadeira.
— Enfim, a mãe disse pra você acompanhar a Becca na hora de
ir embora e — Natalie fez som de ânsia de vômito — que Deus me
ajude com vocês. Becca, não vai embora sem falar comigo — ela
saiu fechando a porta.
— Natalie não ficou brava pela gente?
— Sim, ela surtou, ficou com raiva, falou que eu era falsa,
mentirosa e depois começou a chorar falando que me amava e que
não queria que eu me apaixonasse por você — ri me sentando
novamente — o que é compreensível visto que você é você — franzi
o cenho e ela não me deu espaço para defesa. — Como você vai
fazer pra ficar com quem você quiser sem parecer que está me
traindo?
— Quanto a isso você não precisa se preocupar — ela se
levantou pegando a bolsa.
— Ótimo, vou falar com Natalie e já venho pra você me levar em
casa.
— Ok, te espero lá embaixo — avisei e ela concordou saindo do
quarto.
Me joguei na cama, eu finalmente poderia parar de fingir que a
odeio e ficar perto dela. Passei a mão no rosto, se ela soubesse que
eu já não consigo olhar para mais nenhuma garota além dela, não
se preocuparia em ver as pessoas achando que a traí. Merda, eu
nem conseguia evitar o sorriso quando pensava nela.
Desci as escadas até a cozinha e encontrei minha mãe. Peguei
um copo e o enchi d'água, ela me olhou.
— Um namoro falso — dona Eliza disse me fazendo a olhar e
sorriu. — Não acredito que Becca aceitou.
— Nem eu — ri tomando um gole d'água.
— Filho — ela se encostou na bancada a minha frente —, você
tem noção de que ficar muito próximo, toques, criar um
relacionamento mesmo que seja de mentira pode fazer vocês se
apaixonarem de verdade? — Abaixei o olhar e ela fez um barulho de
surpresa — Oh! Você já está apaixonado… — Afirmou.
— Claro que não, mãe — neguei colocando o copo na pia.
Minha mãe ia falar algo, mas Rebecca apareceu na entrada da
cozinha.
— Licença — pediu nos olhando antes de entrar. Educada como
sempre mesmo que em alguns momentos não precisasse. —
Preciso ir — disse calmamente.
Minha mãe me olhou me fazendo parar de encarar Rebecca e
riu.
— Seu namorado vai te levar, querida — disse sorrindo e a
beijou no rosto. — Boa noite.
A casa dela era ao lado da minha e mesmo assim meu pai
sempre exigiu que eu buscasse Natalie quando estava tarde e que
trouxesse Rebecca pelo mesmo motivo. Isso acabou virando
costume.
— Obrigada por me trazer — disse parando na frente de sua
casa, concordei e ela se virou para abrir a porta.
— Becca — coloquei a mão em sua cintura e ela se virou. —
Obrigado… Por aceitar me ajudar.
— Na verdade é pra me ajudar a tirar os machos do meu
caminho — ela riu tirando a tensão do clima.
— Se você diz — ri esperando que ela abrisse a porta de sua
casa. Outra regra do meu pai era esperar até que ela estivesse
dentro de casa.
— Até amanhã, Styles.
— Até amanhã, Malik.
Mas antes de deixa-la fechar a porta, a puxei e beijei sua testa.
Entrei em casa sem acreditar que tinha aceitado a proposta
de Cameron.
Meu Deus, eu enlouqueci de vez! A sensação era incrível e
aterrorizante.
Minha mãe me olhou assim que entrei na cozinha enquanto
meu pai ainda estava com aquela cara de pai ciumento como se eu
realmente estivesse namorando, o que era engraçado.
— Só estava esperando você chegar para ir dormir. Boa noite,
caramelinho — papai deu um beijo em minha testa.
— Boa noite, pai — sorri o observando sair.
— Ele estava chorando, falando que você ia se apaixonar de
verdade, casar e abandonar a gente — mamãe disse rindo.
— Até parece — balancei a cabeça aos risos e meu corpo
estremeceu só de pensar em casamento.
Não mesmo! Com Cameron ainda? Não!
— Você realmente fica confortável com ele, não é? —
Concordei, não só pelo namoro falso, mas às vezes conseguíamos
colocar nossas diferenças de lado. — Bom, espero que dê certo o
que vocês estão tentando fazer — ela sorriu me abraçando —
qualquer coisa, estou aqui.
— Mãe, a senhora está exausta. Descanse enquanto as
crianças estão dormindo — pedi em um tom brincalhão. — Se elas
acordarem, não se levante, dou conta.
— Obrigada — disse expressando sua sincera gratidão com um
abraço rápido. — Boa noite querida — se despediu saindo da
cozinha.
Peguei um copo d'água e comecei a encarar a lua, estava linda
e luminosa de uma forma incomum, pelo menos aos meus olhos.
Meus pensamentos seguiram um rumo totalmente fora do
comum. E se acontecer de eu precisar beijá-lo? Meu Deus, não
mesmo! Não assim… Por obrigação.

Me sentia estranha enquanto estava na escola.


Fazia dois dias desde que postei aquela foto. Ninguém
questionava diretamente a mim, mas todos comentavam se ao
menos disfarçar. Calleb insistiu para que eu o contasse quem era,
mas mantive o mistério. Cameron tentou se sentar ao meu lado
ontem e hoje, porém, das duas vezes, fui insegura o suficiente para
arrumar uma desculpa e me sentar com outra pessoa e adiei as
aulas extras de ontem.
Era como se eu estivesse desistido sem nem mesmo tentar.
Sentimentos de fracasso e insegurança estavam dominando
meu pensamento, por que tenho que ser assim? Sempre fui
corajosa em tudo, nunca deixei de cumprir com uma promessa e
agora…
Eu prometi ajudá-lo. Parecia ser certo. Minha decisão não foi
tomada de qualquer jeito, nem as pressas, nem sob pressão. Pensei
muito, foi complicado entender, pensei em todos os prós e contras,
os contras sem dúvida venceram.
Ter todos em cima de nós, ser observada o tempo todo,
pessoas querendo destruir o namoro do ano, as garotas com
sangue nos olhos me odiando por alguém que eu nem estava
apaixonada e, o pior para mim, ter que manter as aparências o
tempo todo, fingir que era tudo perfeito no mundinho de populares.
Mas, por algum motivo, sabia que o correto era ajudá-lo, sabia
que não seria fácil. Cameron precisava de ajuda sim com isso e ele
admitiu, estava perdido era nítido, o que foi surpresa até para
Natalie quando a contei.
Ela de imediato concordou ser uma ótima ideia para as
aparências e uma péssima ideia para os sentimentos. Deu para ver
que ela não gostava muito da ideia, mesmo assim, deixou claro que
estaria ao meu lado caso ele me destruísse, mas que não poderia
ficar ao meu lado caso eu destruísse seu irmão.
Natalie era honesta e transpareceu que seu único medo era
esse: um destruir o outro. Um quebrar o outro. E deixou explícito
que ficaria ao lado de quem precisasse mais, apenas para juntar os
cacos. Ela jamais me odiaria e muito menos odiaria seu irmão, sabia
disso e compreendia.
Mas era um pensamento extremamente precoce, na minha
opinião. Não havia possibilidade alguma eu conseguir quebrar o
coração de Cameron.
O problema real não era esse. Eu tinha medos, inseguranças,
nunca tinha namorado e achava que isso demoraria mais; e, sem
dúvidas, nunca se passou pela minha cabeça um namoro falso.
Ficava nervosa ao lado dele, nunca sabia o que fazer, sentia
minhas mãos suarem frio sempre que estava ao seu lado em
público. Era uma péssima namorada de mentira e precisava
urgentemente de forças para mudar aquilo.
Dispensei todos os meus pensamentos ao ver Andrew se
aproximando com uma expressão desconfortável e tímida ao
mesmo tempo.
Desde o dia em que eu e ele nos desentendemos, Andrew não
desceu para a lanchonete e se manteve no escritório. Nunca mais
tinha o visto, nem ao chegar ou ao sair da lanchonete. Até
contrataram uma garota chamada Esme, que tinha cabelos cor de
rosa e era superanimada. Amava música, ficava a maior parte do
tempo com seus fones e isso era bom. Me dava o tempo de ler
meus livros que estavam atrasados por eu ter relaxado meu hábito
de leitura. O que eu jamais deveria ter deixado acontecer.
— Esme, tudo bem ficar um tempo sozinha aqui na lanchonete?
— Andrew a questionou, ela concordou e ele me olhou — Podemos
conversar? — Concordei balançando a cabeça. — Me espere no
corredor, já estou indo.
Assenti novamente. Olhei Esme e seu olhar era interrogativo.
Como se perguntasse se eu estava bem.
— Tudo bem — sorri para ela tirando o avental branco de minha
cintura. E estava realmente tudo bem.
Subimos as escadas assim que ele chegou, caminhamos até
seu escritório, que agora era mais seu do que de sua mãe, Rosie, a
dona da lanchonete.
Ele abriu a porta e me deixou entrar antes. Observei que
algumas coisas estavam diferentes, as janelas estavam maiores do
que da última vez que tinha vindo. Acredito que houve uma pequena
reforma no fim de semana. Mas, confesso, a luz aqui dava um ar
mais confortável.
— Sente-se, por favor — pediu cordialmente.
Andrew estava diferente, como se tivesse amadurecido do dia
para a noite. Fiz o que ele pediu e ele se sentou na cadeira a minha
frente.
— Fim de jogo? — O questionei e ele riu negando.
— Não, não. Minha mãe me mataria se eu fizesse isso —
suspirei aliviada — não devia usar seu horário de trabalho para
tratar de coisas pessoais, mas só hoje tomei coragem para te olhar
e falar com você.
Ele me tratava com formalidade. Uma formalidade estranha.
Franzi o cenho e ele continuou:
— Rebecca, eu sei que fui um completo idiota com você — ele
se levantou olhando pela janela, parecia estar nervoso. Andrew
parou apoiado na mesa ao meu lado, nossa distância agora já não
era tanta, levantei meu olhar. — Terminei com Alice e Natalie
terminou comigo — ele riu da própria desgraça — e foi como se um
peso fosse tirado de mim. Eu realmente estava empurrando tudo e
usando Natalie como escape da minha vida amorosa fracassada —
ele parecia sofrer enquanto falava —, mas isso não justifica eu ser
um babaca com você. Não espero que você me dê abertura para
nada, sei que você não é assim e quando falei isso foi apenas para
estar no assunto dos meninos. O que foi idiota da minha parte, eu
sei. Mas quero te pedir perdão.
Me levantei analisando seu olhar. Sua voz era carregada de
sinceridade, coisa que nunca havia visto antes.
— E quais são seus objetivos tendo o meu perdão? Se
aproximar para ter o que quer? — Questionei mesmo assim,
precisava de certeza. Ele me olhou incrédulo. Vi fúria e tristeza em
seu olhar, mas ele se conteve e respirou fundo.
— Rebecca, confesso que não te olho como as outras garotas.
Você tem algo de diferente, muito diferente que chama minha
atenção de uma forma inexplicável. — Minha fala sumiu, o que eu
deveria pensar sobre isso? — Mas não estou pedindo seu perdão
por interesse. Estou arrependido. Ter visto seu olhar amedrontado e
enojado acabou comigo por culpa minha, eu quem causei isso. Não
consigo dormir desde então porque sempre fecho os olhos, vejo
aquele olhar. Não quero isso. E seu perdão pode amenizar. Não
precisa ser agora, quando você quiser, estarei aqui — explicou com
os olhos fixos nos meus.
A sinceridade em seu olhar era nítida. Mas por que ele estava
fazendo aquilo? E como assim sou diferente das outras? O que ele
queria dizer?
— Tudo bem, Andrew — me rendi finalmente, após uma análise
se podia confiar em suas palavras. Cheguei a nenhuma conclusão,
mas não descobriria nada se ignorasse seu pedido que parecia ser
sincero.
Andrew respirou aliviado, como se uma dor cessasse.
— Posso te dar um abraço? — Questionou.
O Andrew que eu esperava um dia ver acabara de aparecer,
estava leve e isso em questão de instantes. Sorri concordando.
Ele se levantou e eu me aproximei o abraçando pela cintura.
Andrew acariciou meu cabelo um pouco sem jeito e me abraçou
forte, mas logo nos soltamos.
Descemos as escadas e caminhamos pelo corredor até o centro
da lanchonete conversando sobre Rosie estar na lanchonete que
abriu recentemente no centro da cidade. Ela só ficava lá agora e
Andrew cuidava daqui.
— Você podia voltar a me ajudar com a parte contábil da
lanchonete. Estou ficando louco com tantos números — Andrew
sugeriu — se não for problemas ficar uma hora lá no escritório
comigo.
— Sem problema nenhum — sorri para ele disfarçando que
meus pensamentos estavam em nunca contar isso a Natalie e
Cameron. Eles detestariam a ideia.
— Olha só se não é a virgenzinha — ouvi a voz de Oliver.
O olhei com olhar sereno, não o deixaria me incomodar no meu
local de trabalho. Ele estava acompanhado com um garoto do jornal
e mais duas outras garotas da escola. Eles riram caçoando de mim.
— E qual é o problema, Oliver? — Andrew se pôs a minha
frente.
Seu olhar mudou. Antes estava tranquilo, agora parecia em
chamas.
— Nenhum, Andrew, nenhum — Oliver levantou os braços em
rendição e se sentou na mesa do fundo da lanchonete, após me
lançar um olhar carregado de maldade.
Estremeci enojada com o olhar dele. Me trazia sentimentos ruins
e lembranças do passado.
— Por que ele te chama assim? — Andrew questionou.
Sua expressão mostrava o quanto ele estava entendendo
absolutamente nada.
— Porque é a verdade — ele pareceu chocado com a minha
declaração — surgiu um boato na escola semana passada entre o
time, eu soube e não neguei nada, porque é a verdade. Espera só
até eles saberem que nunca nem beijei — ri mexendo os ombros
aliviando a tensão de meu corpo.
Andrew me olhava tão surpreso que me fez rir.
— Você…, mas você agora não está namorando?
— Não — respondi de imediato — é complicado — admiti. —
Mas sabe, não me importo deles tentarem me deixar mal por uma
coisa assim. Qual é o problema em querer me apaixonar e amar a
uma só pessoa? Não que seja um problema você querer várias
pessoas, todos vivemos de escolhas e essa foi a minha. Sim, sou
bem clichê e a moda antiga, mas não vou deixá-los me inferiorizar
por algo que não tenho vergonha.
— Calma, isso não tem nada a ver com você ir à igreja? —
Neguei aos risos.
— Andrew, desde quando a igreja impede alguém de perder a
virgindade? Algumas igrejas tentam usando o medo sim, mas quase
nunca funciona. No final, isso acaba sendo uma escolha totalmente
particular. Agora — peguei a bandeja de lanches da mesa número
cinco — preciso ir, se não, meu chefe me mandará embora — lhe
lancei uma piscadela e caminhei até a mesa.
Andrew permaneceu imóvel por instantes, seu rosto ainda
mostrava surpresa. Ele sorriu de forma boba e inocente, o que me
deixou confusa. Ao sair voltei meu olhar para a clientela ignorando o
olhar dele.

Senti sua mão tocando levemente a minha. O olhei sorrindo e


ele também sorriu, um sorriso lindo e encantador.
— Eu te esperei por muito tempo, muito tempo — disse
envolvendo o braço esquerdo em minha cintura enquanto sua mão
direita acariciava calmamente meu rosto com seus dedos. O olhei
confusa. O toque dele estava intenso, mais do que o normal.
— Me esperando? — Questionei confusa.
Toquei seus cabelos vendo se ele era real ou fruto da minha
imaginação e desci as mãos em seus braços musculosos.
— Não sei explicar — ele apertou mais minha cintura me
fazendo respirar pesado —, mas eu não consegui parar de pensar
um só minuto em você durante muito tempo. Como se eu estivesse
preso a você — sussurrou roçando os lábios nos meus.
Dei um pulo da cama.
Foi um sonho? E por que justamente com Cameron? O que isso
significava?

Novamente Natalie quem dirigiu meu carro. E enquanto ela


dirigia e as músicas no rádio tocavam, meu pensamento parava
diretamente no sonho que tive.
O toque dele era tão real, seus lábios macios, suas mãos
tocando delicadamente meu rosto, seus braços envoltos de minha
cintura... tudo tão real e o sentimento ao acordar foi como nos
sonhos que tive durante meses.
Meus sonhos anteriores foram todos com ele? Por que não me
lembrava de nenhum?
— Amiga — chamou me fazendo a olhar após parar o carro no
estacionamento da escola.
Eu já sabia qual seria o assunto. Fazia duas semanas desde
que postei a foto.
No começo todos comentaram e Melissa me questionava com
fúria se era Cameron. Mas agora… quase ninguém se importava. As
meninas voltaram para cima de Cameron, os meninos me
convidavam para sair o tempo todo, não questionavam sobre a foto
mais e meu apelido nada legal voltou a soar nas bocas de alguns
garotos, ser chamada de virgenzinha não é o meu maior problema,
mas sim, o grande fracasso em ajudar Cameron e tudo isso por
medo da minha parte.
— Eu sei, eu sei — respirei fundo — eu não devia ter aceitado.
Não sei como fazer isso amiga.
— É, está bem ruim mesmo — a olhei e revirei os olhos —, mas
sei que vocês conseguem. Você e Cameron nunca precisaram ser
carinhosos um com o outro, para ele é um pouco mais difícil com
você por ele não saber o que pode, o que não pode, o que te deixa
confortável ou não. E meu irmão, o garoto que conheço mais que a
mim mesma, não quer te deixar mal — explicou.
Suas palavras me fizeram pensar demais, estávamos falando
apenas pelo namoro falso? Desde quando Natalie passou a
defender Cameron e por quê? Era uma boa hora para questionar
isso? Acredito que não.
Ela continuou:
— Tente. Finja que está realmente apaixonada, que gosta do
toque dele, que quer o toque dele — ela falava de forma
motivacional e quando me olhou vendo meu olhar surpreso, tentou
disfarçar a animação. — Ele sabe que é tudo mentira e que faz
parte do combinado. Enfim, sei que não é fácil pra você, mas tente.
— Como é o sentimento? — Questionei e ela me olhou com
grande confusão expressa em seu rosto. — Estar apaixonada, como
é?
Ela suspirou sorrindo e olhando para o teto. Voltou o olhar para
mim e disse:
— Não conseguimos parar de pensar na pessoa um só
segundo. Queremos ficar perto dela, ela perturba seus
pensamentos, sonhos e tudo mais.
Senti um frio na barriga.
Ele não saia dos meus pensamentos… e nem dos meus
sonhos. Mas não estava apaixonada, não tinha como e não podia
estar. Saberia se estivesse.
Acredito que Natalie compreendeu minha expressão facial.
Milhares de pensamentos e eu mal conseguia a olhar.
Perturbam seus pensamentos, sonhos…, senti as palavras me
marcando de forma inexplicável e confusa.
— Vocês conseguem, amiga. Não concordei com essa ideia,
mas ele parece tão perdido que não poderia querer outra pessoa
ajudando aquele cabeça dura. Não alguém que fosse concordar
com isso só para ter status e usá-lo com objeto — admitiu.
Soltei a respiração sem me lembrar de que momento a prendi.
Ela estava certa, precisávamos fingir melhor.
— Acho que consigo.
— Claro que consegue — motivou. — Devo te chamar de
cunhada ou irmã? — Brincou e eu a empurrei pelos ombros.
— Devo chamar Elliot de cunhado? — Questionei e ela ficou
séria. Eu sabia, então tinha algo entre eles. — Estou brincando,
amiga — ri descontraindo.
— Enfim, se posso dar mais um conselho é, se for para parecer
que vocês estão apaixonados se olhem como se realmente
tivessem, o siga com os olhos e quando ele se aproximar, o toque
como se esperasse por isso o dia todo — disse mudando de
assunto. Senti um nó em meu estômago.
Olhares e toques. Tudo bem. Tudo bem, não é?
— Olhares e toques, anotado — a abracei e saímos do carro.
— Hoje vamos no cinema, eu, você, ele e Elliot. Nas sextas
quase todos da escola estão no shopping quando não tem festas,
vamos expandir para novos ares e mostrar que é real — disse como
se finalizasse um discurso motivacional.
— Elliot. — Repeti confirmando o que desconfiava — Desde
quando? — Natalie travou o carro e riu mexendo os ombros
deixando claro que não me explicaria nada naquele momento.
Me encostei no carro enquanto ela se olhava no espelho
retrovisor lateral arrumando seus cabelos e encarei Cameron com
os meninos do time. Certo, eu iria conseguir. Olhares e toques. Não
devia ser tão difícil assim fingir. Porque, enfim, era tudo uma
mentira.
— Vamos? — Natalie me acordou — Preciso ir ao banheiro.
— Claro, vamos.
Lavei minhas mãos após sair da cabine do banheiro e Natalie
estava falando sobre o jornal, estava as secando quando ouvi a voz
de Melissa e outra líder. Eu e Natalie nos olhamos rapidamente e
entramos nas cabines as impedindo nos ver.
— Eles não estão juntos — disse a líder Kristen — por mais que
tenha fotos, não dá pra saber se é ele com ela. Fora que, eles nem
ficam perto. Não tem aquele negócio de te quero perto, mas não
podemos assumir, sabe?
— Direto ao ponto, Kristen.
— Eu tenho todas as aulas com eles. Eles nem sequer se falam
ou se tocam mesmo lado a lado, Rebecca sempre sai de perto
quando ele se aproxima. Não tem nem tensão entre eles, tenho
certeza de que ela nem o quer — Kristen afirmou.
Senti uma dor desconfortável em meu estômago. Eu tinha
arruinado tudo.
— E já faz duas semanas desde a foto — Kristen continuou —
duas semanas e eles nem ficam perto. Eles com certeza não têm
nada. Você precisa ir pra cima, já estão comentando sobre você
estar no mesmo patamar que a Karen, presidente do grêmio e a
Lana, do jornal. Fora que — a garota riu de forma provocativa —
você não pode ficar abaixo de uma nerd, o que sua irmã diria?
— Jamais estarei abaixo de uma nerd! Principalmente daquela
nerd! — Esbravejou Melissa e eu me senti nauseada, estavam
criando uma rivalidade feminina em cima de um garoto. E por
que aquela nerd? Qual era o problema comigo?
Era horrível ouvir tudo aquilo, queria sair da cabine para explicar
que não queria aquilo, não queria uma rivalidade idiota! Queria
saber o que ela tinha de errado comigo. Mas foi impossível sair
quando ouvi mais passos se aproximando.
— Capitã das líderes — ouvi a voz de Lana em tom sarcástico
— duas semanas e você não conseguiu seu namoradinho de volta?
— Lana riu — Acho que agora é minha vez de provar que ele está
nem aí para você. O título de rainha do baile que sua família carrega
por anos vai se acabar agora sem Cameron para te ajudar!
O título de rainha do baile, Cameron era apenas isso para essas
garotas? Um título? Um status idiota que se perderia com o passar
dos anos?
— Nem tente, Lana! Aquele rei já tem uma rainha e você está
olhando para ela — Melissa afirmou determinada.
— Eu não teria tanta certeza — Lana rebateu, daqui era
possível sentir o clima ruim que estava do lado de fora. — A
presidente do grêmio vai pra cima hoje também, admite, até suas
líderes não te respeitam mais e estão indo pra cima do nosso
reizinho — ouvi sua risada e passos saindo do banheiro.
Desde quando Cameron era um qualquer para ser disputado
assim?
— Eu vou dar um jeito ainda hoje! Ninguém vai tocar em
Cameron — Melissa afirmou; inclusive você não vai encostar
nele! — A coroa será minha e ninguém vai tirar isso da minha
família! — Disse firme e seus passos foram se afastando do
banheiro.
A coroa, era impossível não lembrar do príncipe Maxon que
para muitas selecionadas ele não passava de uma coroa e um título
de rainha. A diferença era que ali não era uma mísera coroa de baile
escolar, era tudo bem real e nem por isso todas se viraram umas
contra as outras. Isso estava mais para Jogos Vorazes e que vença
a melhor.
Sim, era isso. Não era apenas a coroa, mas a necessidade de
provar que era a melhor. Como notei que Melissa tinha o problema
de sempre querer ser a melhor, outras pessoas com certeza
também notaram e agora decidiram ir para cima usando seu ponto
fraco: Cameron.
Poderia conversar com ela, tentar ajudar, mas ela simplesmente
faria pedaços de mim. E eu jamais me humilharia por alguém que
não queria ser ajudada. Espero que ela mude um dia.
Estando certa ou errada, a situação atual era ridícula e o tiraria
dessa como prometido. E elas que briguem entre si pelo poder de
algo que esse ano ainda acabaria.
— Isso não vai acabar bem — Kristen disse como se gostasse
da situação e seus passos também ficaram longes.
Era ridículo ver tudo aquilo. A rivalidade que as garotas estavam
criando titulando uma coroa era tão desnecessária. De que valia
aquela coroa? Estávamos em época de pensar na faculdade e não
em coroas, nem em um poder temporário. Isso era um dos motivos
que me fazia odiar o baile. Estipulavam o que você precisava vestir,
quem você precisava ser, como devia agir e nomeavam quem era a
mais poderosa em sua época escolar. Fora que a forma com que
tratavam Cameron, como o envolveram naquilo, como o colocaram
em um pódio ridículo. Só queriam usá-lo.
Não mesmo! Melissa acertou em dizer que ninguém tocaria
nele, só se esqueceu do detalhe que até ela não conseguiria. Ele
não era apenas uma coroa idiota, ninguém era só isso!
Por que eu estava tão nervosa? Sentia um nó em meu
estômago como se a qualquer momento meus nervos ficariam
atacados e eu começaria a agir irracionalmente.
— Barra limpa — Natalie avisou. Abri a cabine saindo da
mesma e ela me olhou.
— Você viu? Elas são loucas. União feminina é coisa de internet
porque na prática, brigam pelo primeiro pedaço de coroa falsa que
veem e usam pessoas para seus próprios interesses como se
fossem um qualquer, vou acabar com isso agora — segurei
Natalie.
— Não. Deixe comigo — pedi e ela me olhou, a soltei. — Vou
ajudá-lo pra valer, mas vou deixar claro que não quero essa coroa,
nem poder temporário e idiota.
— Está pronta para isso? — Indagou tentando conter sua
animação e eu sorri para ela. Todas essas informações me
motivaram ainda mais. Imaginava que devia ser insuportável pra ele
quanto era para mim com os meninos do time.
— Sim — ela me abraçou animada, retribui o abraço e nos
soltamos. — Pode me deixar sozinha só um pouquinho?
— Claro — ela beijou meu rosto pegando sua bolsa — confio
em você. — Concordei e logo ela saiu.
Me olhei no espelho. Minha mãe sempre dizia que eu era
corajosa e para onde foi minha coragem agora? Deixar Cameron me
tocar e não surtar sempre que lembrar do sonho seria mais difícil do
que eu achava ter capacidade de imaginar.
Como relaxar diante disso? Sei que precisava tocá-lo, parecer
envolvida e apaixonada… eu esperava ao menos conseguir.
Era loucura deixar as meninas em cima dele sendo que aceitei
ajudá-lo.
Passei uma água no rosto, o sequei e coloquei meus óculos.
Ok Rebecca, você consegue.
Não seria difícil, era só agir como se realmente tivesse algo com
ele.
Me olhei novamente no espelho. Ficar aqui não ajudaria em
nada.
Sai do banheiro e caminhei até o estacionamento onde os mais
populares estavam. Observei o lugar enquanto caminhava. Líderes
de torcida, pessoas do jornal, do grêmio e do time enchiam o lugar.
Quando passei por Melissa ela ameaçou avançar para cima de mim,
a olhei como se ela fosse a garota mais doida que já vi em minha
vida. Eu jamais brigaria por homem, mas essas garotas precisavam
urgentemente parar com essa obsessão.
Caminhei até Cameron que estava rodeado por Lana e duas
outras meninas, deslizei a mão em seu braço até sua mão,
rapidamente ele a abriu, a segurei o puxando e ele de imediato me
olhou um pouco confuso.
— Vem comigo? — Questionei o vendo passar a língua nos
lábios e sorrir. Olhei as meninas que olhavam furiosas — Algum
problema, meninas? — Perguntei em tom suave.
O time começou a rir alto. Lana murmurou um xingamento que
preferi fingir não ter ouvido e saiu com as duas amigas.
Grande parte do time começou a gritar animadamente como se
estivesse em um jogo, exceto Noah, Victor e o babaca do Oliver, o
olhar de Oliver era repugnante e me deixava enjoada.
Na terça-feira ele chegou antes de todos na aula extra do time,
começou dizendo que queria me levar para passear e terminou
dizendo que adoraria ser o meu primeiro. Aquilo me deu vontade de
vomitar. Ainda não contei a Cameron sobre e acho que nem vou.
Cameron colocou seu braço envolto dos meus ombros
começando a caminhar comigo. Olhei Melissa e seu rosto estava
ficando avermelhado. O queixo de Kristen caiu. Natalie sorriu de
forma contagiante e eu lhe lancei uma piscadela. Ela começou a
bater palminhas com Elliot ao seu lado. Katherine me olhou de
forma triste.
Foi como em um filme americano, o estacionamento parou e
tudo pareceu ficar em câmera lenta. Todos nos olhavam e suas
expressões estavam entre surpresa, ódio ou inveja.
Paramos no refeitório ao ar livre que era atrás da escola e
quase ninguém ficava. Os professores estavam em uma reunião
que foi avisada de última hora, então tínhamos alguns minutos até a
reunião acabar.
— O que foi isso? — Cameron questionou se sentando na mesa
de concreto.
O sorriso alegre iluminava seu rosto. Andei de um lado para o
outro, respirei fundo e parei em sua frente.
— As meninas estão mais loucas do que eu imaginava, no
Brasil nunca teve isso pelo menos não onde eu estudava. Enfim,
isso passou a ser um problema meu, não é mais só por causa do
time, mas imagino que seja horrível pra você — soltei minha
respiração e ele deu de ombros. — Precisamos ser mais
convincentes.
— Eu tentei te falar isso, mas você não me deu espaço e
simplesmente ignorou — relembrou.
— Não espero que você me entenda, mas… Eu nunca me
relacionei com ninguém — tentei explicar e ele riu.
— E eu entendo, mas se eu fizer algo que te incomode você
pode falar pra mim.
O olhei. O problema não era me incomodar, era eu gostar,
querer mais e acabar como várias outras com o coração partido.
Respirei fundo.
Isso não aconteceria, não vou deixar!
Algumas pessoas do jornal que nunca ficavam naquele refeitório
estavam aqui fingindo estar conversando, mas só queriam ver a
nova atração da escola. Que loucura, meu Deus! Ainda bem que
estávamos longe e falando baixo o suficiente para só eu e ele nos
ouvirmos.
— A partir de agora eu sou sua namorada — ele jogou os
cabelos para trás e os mesmos, por ser muito lisos, voltaram para
frente ficando um pouco bagunçados. — Podemos ser convincentes
do jeito certo e se me incomodar, eu te falo — ele sorriu colocando a
mão em minha cintura, me puxando para si de forma calma, suave e
ao mesmo tempo firme, nos deixando próximos ao ponto de eu
sentir sua respiração.
— Isso te incomoda? — Questionou, tentei controlar minha
respiração negando com a cabeça. Meu coração disparou, mas o
único desconforto que sentia eram as borboletas em meu estômago.
— Ótimo — ele acariciou meu rosto com a mão desocupada —
Agora me fala, como soube que as meninas estão loucas e
obcecadas pela coroa? — O observei por instantes. Eu poderia
tentar ser convincente também.
— Estava na cabine do banheiro quando Melissa e Kristen
entraram…
Comecei afastando a mecha de cabelo loiro que caia em seu
rosto, expliquei sobre o ocorrido enquanto desci os dedos em seu
rosto e ele envolveu os dois braços em minha cintura. Meu Deus, eu
nunca me senti tão eufórica. O ar parecia que sumiria a qualquer
momento. Finalizei o assunto depositando minhas mãos sobre seus
ombros.
— É uma idiotice isso! Pedi que me tirassem desse negócio do
baile por precisar focar no time, mas não tem como porque quem
decide são os alunos — explicou depois de suspirar.
Me sentia hipnotizada olhando seus olhos iluminados. Estavam
bem azuis comparado ao que eu via quando criança.
Sempre ficavam assim desde que começamos com tudo isso e
a cada dia parecia que ficava mais. O abracei sem explicação
alguma, se continuasse o olhando eu não sabia o que seria de mim.
Não sabia se existiam palavras para explicar o que estava
acontecendo, era confuso, diferente, parecia real mesmo não sendo.
Ele me abraçou forte colocando a mão direta em minhas costas
me empurrando mais contra seu peito. Sorri corando sem ele ver,
sentia que ia além de apenas mostrar para a escola que estávamos
juntos ou talvez fosse só a minha parte fanfiqueira querendo falar
mais alto.
— E Melissa ainda disse que ninguém encostaria em você — ri
o olhando após imaginar que eu não estava avermelhada — que
pena, nem ela vai — o tom de vitória em minha voz saiu
inesperadamente.
Eu não deveria estar gostando disso.
Ele apertou minha cintura, rindo da minha reação animada.
— É, teatralmente falando, só você vai — riu me fazendo olhar
seus lábios avermelhados, levantei os olhos e ficamos nos olhando
por instantes. Inspirei negando com a cabeça e expirei tentando
disfarçar.
— Natalie disse que vamos ao cinema com ela e Elliot hoje —
mudei de assunto; comecei a passar as unhas em seus braços
como em meu sonho, Deus, como ele era forte. Ele me apertou um
pouco mais e eu mantive minha visão em um colar de Akatsuki que
estava em seu pescoço, caso contrário, surtaria.
— Eu vou matar o Elliot se ele estiver ficando com a minha irmã
— disse começando a mexer em meu cabelo e soltando minha
cintura. Finalmente, estava a ponto de desmaiar.
— Por quê? — Me sentei ao lado dele.
— Meu melhor amigo com a minha irmã? Não mesmo!
— Teatralmente falando — peguei em sua mão vendo que o
refeitório estava com mais pessoas e eles estava adorando
o show — você também está ficando com a melhor amiga da sua
irmã — entrelacei nossos dedos e ele sorriu tentando não sorrir.
— Isso é golpe baixo, amor — disse dando ênfase no amor,
acariciando minha mão com o polegar. Me faltou ar e se ele reparou
isso, preferiu não comentar.
Amor… soltei a respiração. Isso sim era um golpe baixo, mas
não deixaria a diversão só para ele. Vamos ver como eu me saio
com essa palavra.
O sinal tocou e o olhei novamente. Provavelmente, estava
corada, mas não tinha como simplesmente sair correndo.
— Se acostume, amor — afirmei dando ênfase, como ele fez, e
me levantei parando em sua frente. Ele sorriu e mordeu os lábios
tentando conter o sorriso que ficaria mais largo se ele permitisse —
vai disso para pior — me virei para sair, mas ele me puxou pela
mão.
— Eu aguento seus golpes baixos — desafiou.
— Vamos ver — afirmei com o mesmo tom desafiador.
— Capitão namorando — Josh anunciou se aproximou com
Peter.
— Vejo vocês depois — avisei.
Cameron foi soltando minha mão na medida em que eu me
afastava, como se fossemos um casal tão apaixonado que não
podíamos ficar longe um do outro. Sorri para ele finalmente soltando
sua mão por completo, os meninos estavam sorrindo de forma fofa e
engraçada.
Por incrível que pareça e por mais que eu queira negar as
aparências, era inevitável. O sentimento que tudo isso estava me
causando era aterrorizante e gostoso ao mesmo tempo.
Entrei na escola e parei em meu armário procurando meu livro
de física?
— Menina, quê? — Calleb disse parando ao meu lado de forma
tão engraçada que me fez rir.
— Amigo, preciso te contar uma coisa que acho que você vai
me matar porque você ficou falando duas semanas que eu não
devia e eu fiz — falei com medo dele socar minha cara mesmo ele
sendo uma das pessoas mais tranquilas desse mundo.
— Bom dia Calleb — Cameron disse deslizando a mão em
minha cintura até parar em minha barriga e eu simplesmente perdi o
rumo, fechei os olhos suspirando e me virei de frente para ele após
fechar o armário. — Guarda meu lugar, bê? — Bê? — O treinador
quer falar comigo — explicou.
— Guardo sim — ele concordou, deu um beijo em minha testa e
saiu. O olhei até perdê-lo de vista.
Minha alma voltou quando ouvi Calleb dando um gritinho. As
poucas pessoas no corredor me olhavam incrédulas e surpresas,
mas não tanto quanto o garoto a minha frente.
— Minha gloriosa Ariana Grande, como assim? — Calleb
questionou ainda em choque.
— Eu posso explicar.
— E com certeza você vai — rimos — eu já sabia que você não
me ouviria. Minha entidade me avisou que eu não deveria me meter,
que o que eu pensava sobre Cameron não estava certo.
— E você não ouviu sua entidade? — Questionei incrédula.
— Nem sempre eu escuto, mas ela sempre me pega no final —
ele riu.
— Vamos para a aula. Prometo te explicar tudo depois.
— Mas eu quero agora — disse como uma criança mimada.
— Problema é seu, me erra — entrelacei nossos braços
começando a caminhar com ele.
— Bruta — rimos.
Calleb não tinha a primeira aula comigo. Então entrou na sala
ao lado e quando eu entrei na sala de aula de física todos me
olharam. Me sentei, fiz um coque simples no cabelo e abri meu livro
A Escolha de Kiera Cass.
Ainda não havia me concentrado em meu livro, percebia que as
pessoas me olhavam querendo me questionar, mas todos pareciam
ter medo de fazê-lo, até mesmo Melissa que me olhava com sangue
nos olhos ou Katherine que parecia ter chorado a noite toda ou
qualquer líder e garoto do time, ninguém chegava em mim, mas
cochichavam alto para que eu escutasse.
Os ignorei. Coloquei meus fones e finalmente mergulhei em
meu mundo ou melhor, no mundo de Maxon e América.
Porém, foi impossível não o olhar quando entrou na sala. Ao
contrário de mim, Cameron não se importava com olhares. Ele se
sentou ao meu lado e eu senti um balão crescendo dentro de mim
abrindo espaço para um frio no estômago extremamente grande,
como se fosse me consumir; Elliot e Josh se sentaram nas mesas
atrás.
Não sabia se esses sentimentos eram por todos estarem
comentando sobre eu e Cameron ou se era pelo garoto que sonhei
e estava ao meu lado. Não conseguia parar de pensar naquele
sonho, conseguia por minutos, mas sempre voltava.
Retornei meu olhar para o livro, estava lendo, mas sem prestar
atenção. Senti meu cabelo soltar, Cameron o afastou de meus
ombros e eu evitei o olhar, mas com seu toque carinhoso meu corpo
começava a se aquecer.
Ele fez algo que eu não esperava. Me puxou cuidadosamente
pela nuca beijando meu rosto, sorri o olhando e me deitei em seu
ombro. Sua mão encontrou a minha desocupada e entrelaçou
nossos dedos, permaneci olhando o livro até que ele se inclinou
para frente depositando o braço por cima de sua bolsa que estava
na mesa e em seguida deitou a cabeça em cima de seu braço sem
soltar nossas mãos.
Era estranho. Estávamos fazendo aquilo com tanta facilidade,
como se já tivéssemos feito antes e era… bom.
Sabia que era minha vez. Então soltei nossas mãos e ele virou
o rosto me olhando. Aproximei minha cadeira e comecei a acariciar
seu cabelo o vendo sorrir. Voltei meu olhar para o livro sentindo seu
olhar sobre mim.
Estava nervosa, acariciar o cabelo de alguém enquanto lia era
totalmente mais fácil quando fazia com meu irmão, Isaac, que
sempre ia ao meu quarto quando não conseguia dormir.
Olhei novamente Cameron que, agora, estava de olhos
fechados com expressão serena e um leve sorriso nos lábios.
— Ele tá muito apaixonado — Elliot comentou me deixando
entre acreditar que ele estava falando só como apoio ao namoro
falso ou por ser verdade.
— Nunca o vi tão tranquilo sabendo que a temporada começa
semana que vem — Josh disse. — Ele tá caidinho por ela —
completou e ambos riram. Inclusive eu.
— Eu tô ouvindo, idiotas — Cameron comentou sem se mover.
Rimos ainda mais.
Sabia que aquilo tinha chamado a atenção das pessoas pois foi
inevitável não me sentir observada, mas estava conseguindo lidar.
— Então, vocês estão juntos? — Ouvi Neji questionar. Levantei
meu olhar o vendo parado em nossa frente.
— Quem quer saber? — Questionou Cameron com seu jeito
despojado e esnobe ainda deitado e com olhos fechados.
Como eu odiava quando ele transparecia arrogância. O olhei e
minha mão parou sem me afastar, ele era sempre tão folgado assim
com as pessoas?
— Todo mundo — Neji riu me fazendo rir.
O jeito fofo dele era tão incrível. Cameron levantou a cabeça e
endireitou sua postura fazendo-me afastar a mão.
— Não é da conta de ninguém — disparou de forma brusca
deixando Neji totalmente sem graça.
Comecei a entender o que estava acontecendo. A escola estava
em suas mãos mais do que nunca. Ele tinha a garota que os outros
queriam, os jogos começariam e ele sem dúvidas estava preparado
e, para completar, todas ainda o queriam e brigavam por ele. Que
pena Cameron, as coisas não aconteceriam dessa forma.
— Indefinível ainda, meu anjo — expliquei calmamente
colocando minhas coisas novamente na bolsa — aliás, posso me
sentar com você hoje? — Questionei e Cameron me olhou sem
entender.
— Certeza? — Concordei. — Vou guardar seu lugar — Neji
disse receoso e saiu. Eu e Cameron mantivemos nossos olhares
travados um no outro.
— O que você tá fazendo? — Questionou arrastando a cadeira para
trás me impossibilitando de sair.
— Acha mesmo que vai ser estúpido com os meus amigos e eu
vou apoiar só por estar namorando com você? — Ele riu parecendo
surpreso. Josh e Elliot riram baixo. — Depois a gente se fala — me
levantei pegando meu livro e ele arrastou a cadeira para frente me
deixando passar. Elliot e Josh gargalharam enquanto Cameron
tentava se manter sério.
— Cara, boa sorte — Josh disse dando tapinhas no ombro de
Cameron.
— Katherine quem pediu pra você me perguntar? — Questionei
Neji em voz baixa.
— Parei de falar com Kath a partir do momento em que ela
achou normal Melissa assediar Cameron e seguiu o mesmo
caminho.
— É horrível isso, como ela se tornou tão…
— Podre — Neji completou — ela mudou mesmo, totalmente. A
necessidade de sair da escola com status é grande.
— Que seja.
— Posso te fazer uma pergunta? Vai parecer uma coisa bem
ignorante, mas preciso saber — concordei — Ainda vai à igreja?
Soube que você não cuida mais das crianças. Minha irmã me
contou.
— Ah sim, foi apenas por conta do tempo. Com escola, trabalho,
família, estudos para a faculdade fica difícil. Fora que os cultos são
nas quintas e domingos, quinta eu nunca vou porque sempre estou
atrasada.
— E eles deixam você ficar? Tipo, você e Cameron… estão
ficando, certo? — Ri de sua pergunta.
— Desde quando igreja tem que deixar algo? Se até Deus dá o
livre arbítrio, quem tem o poder de tirar? — Ele me olhou surpreso.
— A igreja não impõe nada, mas aconselha a fazermos o que é
bom. Pelo menos na que eu vou agora eles me aconselham e o que
eu vou fazer ou deixar de fazer, se vai me aproximar ou me afastar
de Deus é responsabilidade. Mas não estou ficando, estou
namorando — expliquei em tom baixo — Até meus pais já sabem —
e ninguém da igreja me questionava assuntos assim.
— Cameron Styles? Namorando?
— Ainda não assumimos oficialmente, mas amigos e família já
sabem. É inevitável a bagunça por Cameron estar namorando,
então só deixamos as pessoas com a ideia de que temos algo — ele
me olhou como se acabasse de tomar um choque de realidade. —
Por favor, não conta pra ninguém.
— Becca, você não é Jesus, mas acabou de fazer o impossível
aos olhos do homem acontecer — disse me fazendo rir e paramos
de conversar assim que a professora entrou na sala. Cameron me
olhou negando com a cabeça e olhou para frente. Sim, amor, era
assim que as coisas funcionariam.
Ajudar a afastar as meninas? Ok.
Ajudar com seu ego inabalável? Jamais!
A primeira semana de namoro falso com Cameron não tinha
sido nada fácil e parecia que a cada dia que passava ficava mais

difícil. As pessoas ficavam em cima querendo saber do nosso

namoro com perguntas inconvenientes e ridículas.


E a segunda semana não estava sendo melhor que a primeira.
Alguns meninos se afastaram, outros me olhavam como se
esperassem algo e eu definitivamente não sabia e nem queria saber
o que era.
Mas era chato e desconfortável ter olhares em cima de mim
esperando que eu fizesse algo, que eu o beijasse ou algo assim.

O sinal tocou indicando a hora do intervalo.


Por mais despreparada e incomodada que eu me sentia em
relação aos olhares e cochichos sobre o namoro, eu não tinha mais
aquilo que me impedia de ajudar Cameron: a insegurança. Não
estava insegura.
Insegura de fazer algo errado, de parecer jogada demais ou de
Cameron achar algo ruim em mim.
Nessas duas semanas eu e Cameron nos entendemos bem. Ele
passou em todas as matérias depois do provão e mesmo assim
mantivemos os estudos. A gente se irritava e implicava mais do que
nunca, mas não como antes, algo certamente tinha mudado.
Toda minha insegurança passou depois que entendi que mudar
meu jeito e criar um personagem não era o melhor meio. Criar um
namoro falso já era o suficiente e foi a única coisa que Cameron
pediu. Não precisava deixar de ser a nerd e nem precisava apoiá-lo
em toda idiotice que fizesse; não precisava concordar com ele
falando com as pessoas de forma arrogante, pelo contrário, sendo
sua namorada podia confrontá-lo em alguns casos, era isso
acontecia em namoros.
Fingir não era mais problemas, mas ouvir os comentários o
tempo todo era tão… chato! Infelizmente, hoje passei três aulas
ouvindo comentários como "ela não era crente? E agora está
namorando o cara mais safado e gostoso da escola", "até parece
que vão dar certo" e "talvez ela não seja tão crente assim, pra estar
namorando o Cam deve ter dado já, caso contrário, ela não vai
segurá-lo".
Era drasticamente ridículo a forma que viam Cameron como
uma pessoa que só pensava em sexo ou como se ele não passasse
de um objeto. Que tipo de status Cameron criou aqui? Que horror!
—... é óbvio que pra crente segurar o capitão ela não pode ser
mais virgem. Porque se for, não dou duas semanas pra ele ir caçar
outra — ouvi uma líder de cabelos cacheados conversando com
uma garota do jornal.
Elas me olharam rindo com maldade e caminharam em direção
ao refeitório.
Crente. Eu frequentava a igreja às vezes e as pessoas
encaravam isso como motivo para me envergonhar. Não me
envergonhava, ninguém deveria se envergonhar por algo que
acredita, independente do que seja.
Guardei minhas coisas no armário pensando um pouco na
situação. Precisava de fato ir ao refeitório hoje? Nas aulas que
tivemos no laboratório fiquei com Cameron, trocamos carícias e
rimos de alguns comentários bobos. Era o suficiente por hoje, não?
— Poxa gata, logo o capitão? — Ouvi Oliver dizer com voz
triste. Me virei o olhando após fechar o armário. — Era pra ser eu —
ele se aproximou quase me deixando presa contra o armário.
— Oliver, por que não me deixa em paz? — Sai de perto dele e
do armário antes que ele me encurralasse, sentia repulsa sempre
que esse garoto se aproximava.
Oliver me puxou pelo braço e bateu minhas costas no armário.
O empurrei com o máximo de força possível, um pouco assustada e
ao mesmo tempo com ódio da situação.
— Qual é o seu problema? — Questionei em voz alta.
Algumas pessoas no corredor me encararam e logo uma garota
se aproximou de nós.
— Tudo bem, Becca? — Indagou encarando friamente Oliver.
— Tudo bem, obrigada — a respondi quando Oliver saiu com
um sorriso sarcástico. Nojento!
A garota apenas balançou a cabeça concordando e se juntou
aos seus amigos. Os dois garotos com ela me olharam e se
afastaram.
Caminhei na intenção de ir para a biblioteca. Cameron não se
importaria, acho. Me recusava a ficar no refeitório hoje, um dia de
folga apenas.
— Becca — me virei na direção de onde meu nome foi
chamado.
Ele tinha acabado de sair do vestiário masculino e seus cabelos
estavam molhados, os treinos estavam bem pesado em dias de
sexta, pois a temporada começaria na próxima semana.
— Vamos?
— Pro refeitório? — Questionei e ele concordou. — Preciso
mesmo?
Tentei pensar em uma desculpa, mas acho que ele não queria
saber disso e se eu falasse sobre Oliver não sabia qual seria a sua
reação.
— E por que não? — forcei um sorriso e arrumei meus óculos
no rosto.
— Não sei — dei de ombros e olhei para frente.
— Becca, qual é o problema? Eu já falei pro time que você tá
comigo — o olhei novamente. — Não vou deixar as pessoas
debochando sobre você ser a santinha que agora sai ficando com o
capitão, para todos, estamos namorando sério, já falei que você —
ele parou em minha frente e desceu as costas dos dedos em meu
braço — É minha — disse com convicção.
Minha. Uma parte de minha tinha odiado, mas a outra parte
amou, parecia tão real que não consegui disfarçar o sorrisinho. Ele
não parecia falar com possessividade, mas sim com desejo.
Suspirei aceitando, ele franziu o cenho ainda desconfiado, mas
não me questionou.
Caminhamos pelo corredor até nosso destino, mas havia algo
que eu precisava falar:
— Ouvi muita coisa hoje — admiti pegando em sua mão e
entrelaçando nossos dedos, ele ainda ficava surpreso e sorria
quando fazia isso. Não tinha ninguém no corredor, por que estava
fazendo isso? — Sobre eu só conseguir segurar você porque já…
— Eu sei. Sinto muito.
— Não — parei em sua frente antes de entrarmos no refeitório
—, eu não me importo com o que dizem — percebi que algumas
pessoas que vieram para o corredor estavam prestando atenção em
nós. — Você já falou com os meus pais — afirmei em tom um pouco
alto — quem tinha que saber já sabe.
Ele sorriu concordando quando percebeu o que eu estava
fazendo. Entramos no refeitório e eu senti sua mão em minhas
costas enquanto andávamos. Pela primeira vez em duas semanas
de namoro falso assumido Cameron tinha me feito sentar ao lado
dele, felizmente Natalie estava sentada na minha frente.
Duas meninas em uma mesa repleta de meninos, era
engraçado. Cameron fez com que eu me sentasse na ponta para
não ficar ao lado de nenhum outro garoto.
Olhei Natalie que estava ao lado de Elliot, que a deixou na
ponta pelo mesmo motivo que, acredito eu, Cameron fez comigo.
Não tinha pensado que agora nem mesmo meus intervalos
seriam como antes. Adeus biblioteca, adeus arquibancadas vazias e
adeus estacionamento, bom, acho que as vezes Cameron poderia ir
comigo.
Em mim nada mudaria, mas algumas atitudes precisavam ser
revistas agora que definitivamente todos me consideram a
namorada do capitão e era assim que me olham. Como por
exemplo, ver o Cameron treinando as vezes ao invés de me enfiar
na biblioteca...
De nerd virgenzinha a namorada do capitão do time. Para mim
isso parecia uma decadência, como se antes eu fosse inteligente e
agora só a companheira de um homem.
Pensar nisso me deixa enjoada, mas, pelo menos, eu poderia
estudar sem toda hora algum garoto me chamar para sair. Era isso o
que me importa: estudar para a faculdade.
— Cameron, mano, foi mal ter dado em cima da Becca, antes
eu não sabia que ela era sua mina — Jack disse e alguns outros
garotos concordaram.
Era sério? Estavam pedindo desculpas PARA ELE?
— Não é pra mim que vocês devem pedir desculpas e sim pra
ela — Cameron ressaltou os fazendo ficar tensos.
— Vão fazer alguma coisa hoje? — Peter questionou mudando
de assunto e eu revirei os olhos, tinha certeza de que isso
aconteceria.
— Vamos assistir um filme lá em casa, certo Elliot? — Natalie
disparou para Elliot como se fosse a namorada dele.
Todos a olhamos e ela se encolheu depois de notar nossos
olhares. Acabei rindo.
— Hoje vamos fazer uma fogueira na praia — Peter disse.
Elliot olhou Natalie em busca de resposta e Cameron me olhou
da mesma forma.
Eu e Natalie nos olhamos, sabendo que a decisão era nossa.
Se ela fosse, eu iria, Cameron e Elliot também. Se eu fosse, ela iria
e os meninos também. Apenas balancei a cabeça concordando.
— Então vamos para a fogueira — Natalie, por fim, respondeu.
Senti uma nuvem de olhares sobre mim. Olhei na direção do
primeiro olhar que senti, Oliver. O olhar dele era carregado de
maldade, me olhava com um desejo incomum como se fosse me
devorar. Victor e Noah estavam me olhando também, mas nada se
comparava a Oliver.
O olhar ficava cada vez mais carregado de maldade. Não
conseguia mais comer. Fechei meus olhos tentando me manter
calma. Olha-lo parecendo que ia me devorar, mesmo vendo que eu
estava incomodada, me deixava mal. Muito mal.
— Amor — ouvi Cameron chamar suavemente me fazendo abrir
os olhos, sua mão estava na minha perna.
O olhei e então percebi que estava apertando seu braço. Ele me
olhou confuso.
— Desculpa — pedi, mas ele não parecia incomodado comigo
segurando seu braço.
— Tudo bem — Cameron beijou minha mão.
Um dos garotos que estava no corredor quando Oliver veio para
cima de mim chamou Cameron de longe, com um aceno de mão.
Me senti tensa e sabia que aquilo era problema. Observei o estilo do
garoto e então me recordei de onde tinha o visto. Ele era do lado
sul, nunca estava em confusão, mas sabia de tudo o que acontecia
na escola. Sempre o via conversando com Cameron, mas agora era
diferente como se fossem aliados.
Cameron voltou o olhar para a mesa, mas seus olhos eram
como faíscas que se transformaram em chamas quando olhou
Oliver. Ah não…
O garoto que estava com Cameron saiu em direção ao campo
de futebol, Cameron se aproximou de Oliver e o puxou pelo
colarinho com tanta força que Oliver ficou sem fôlego.
— Elliot, vem comigo. Peter e Josh, fiquem com as meninas —
Cameron deu as coordenadas e saiu puxando Oliver que estava
pálido como se tivesse acabado de ver um fantasma.
O sorriso malicioso tinha sumido de seu rosto dando lugar ao
desespero.
O refeitório observou e os cochichos se estenderam por todo o
local. Mas ninguém foi louco o suficiente de se levantar e ir atrás,
ninguém queria encrencar Cameron mesmo tendo a noção de que
ele estava indo fazer algo errado.
— Coitadinho — Peter debochou.
Eu e Natalie nos olhamos entendendo perfeitamente o que uma
queria dizer a outra. Nos levantamos rapidamente e saímos na
mesma direção que os meninos haviam saído.
Peter e Josh nos alcançaram extremamente rápidos. Josh se
colocou em minha frente e Peter na frente de Natalie.
— Peter, o que de fato está acontecendo? — Questionei o
olhando.
— Não podemos contar da mesma forma que vocês não podem
ir até lá — Josh quem respondeu. Ambos estavam tranquilos, sem
nenhum vestígio de preocupação. Claro que concordavam com isso.
— Lá onde? — Natalie questionou e eu senti meu corpo todo
ficar tenso.
— Eu quero que vocês me expliquem agora o que aconteceu —
exigi.
— De jeito nenhum, Cameron vai achar ruim — Peter me
contrariou.
O encarei furiosa e ele pareceu se encolher um pouco.
— Peter, agora! — Falei mais firme.
Odiava ser mandona em alguns momentos, mas não tinha outra
escolha.
Josh suspirou.
— Oliver não parou de fazer piadinha sobre você, só quando
Cameron ou Elliot chegavam que ele parava. Ficava cada vez pior,
ninguém aguentava mais — Josh iniciou. Peter passou a mão no
rosto preocupado.
— Vamos sair daqui — pediu.
Chegamos rapidamente no campo de futebol, sentia que nosso
tempo passava e as coisas pioravam para Oliver. Não que ele não
merecesse, mas dentro da escola era perigoso para Cameron.
— Não te contamos porque não queríamos você mal, falamos
pra ele parar, nos afastamos e evitamos ao máximo você com ele
mesmo sem você notar — Josh explicou me olhando.
— Mas, ontem Cameron chamou os meninos do lado sul pra
jogar basquete com a gente na aula de educação física e foi bem
tranquilo. Jasper, o garoto que conversou com Cameron no
refeitório, pegou amizade rápido com o capitão. Muito rápido mesmo
porque enfim, o capitão faz amizade rápido — Peter deu uma
pausa, eu e Natalie nos olhamos já impacientes.
— Parem de prolongar a história — pedi, conseguindo imaginar
claramente o que Cameron estava fazendo.
— Jasper entrou no vestiário masculino e ouviu tudo o que
Oliver falava sobre você — Josh fez uma cara enjoada e aquilo fez
uma corrente elétrica de repugnância passar pelo meu corpo — e
contou ao Cameron.
— Oh não! — Natalie ficou pálida — Se é por ela que ele está
fazendo isso, Cameron vai acabar com Oliver — disse se
levantando e eu me levantei junto.
— Onde eles estão? — Questionei e os meninos apenas se
olharam. — Respondam! — Minha voz soou mais alto do que eu
queria.
— Peter, Josh — a garota que estava com Jasper no corredor
chamou — Os seguranças estão à procura dos meninos, anda,
Cameron não pode bater muito no Oliver se não vai para a diretoria.
Os meninos se levantaram e a garota continuou:
— Andem, eu e Samuel vamos distrai-los.
Depois do campo de futebol, bem depois do campo, tem um
jardim mal-cuidado. E lá estavam eles. Era um pouco tarde,
Cameron havia dado socos em Oliver enquanto Jasper e Elliot
estavam apenas olhando com naturalidade. Não parecia ser os
primeiros socos e Cameron falou algo a Oliver que estava no chão.
— Becca, só você vai conseguir acalmá-lo — Natalie disse.
Não a olhei, apenas fiz o que meu coração implorou.
Foi então que eu corri e me aproximei enquanto Cameron
esbravejava para Oliver nunca mais chegar perto de mim.
— Nem pensar — Elliot me segurou.
— Os seguranças estão vindo. Luce avisou. Alguém nos
dedurou — Peter disse ofegante por ter corrido.
— Inferno! — Jasper xingou e Elliot me soltou.
— Acalme ele e o tire daqui. Cameron nunca se importou com
os seguranças — Elliot avisou. Concordei e corri para me aproximar
ainda mais. Fazia tempo que não via Cameron em confusões.
Oliver gemeu de dor ao receber um chute na costela.
— Cameron, para — implorei tentando agarrá-lo pela blusa.
— Fique fora disso, Rebecca — pediu furioso e sem me olhar.
Eu odiava o fato de que teria de me acalmar para acalmá-lo.
Mas não tinha escolha, os seguranças o veriam e suas chances no
time se acabariam definitivamente.
Antes que Cameron agarrasse Oliver para levantá-lo do chão,
segurei firme em sua cintura, com as duas mãos, a apertando e o
empurrando com o meu corpo. Foi a deixa para os meninos
correrem até Oliver e ajudá-lo a se levantar.
— Vão. Eu resolvo daqui em diante — avisei e eles apenas
concordaram.
Cameron ainda tentou avançar para cima de Oliver outra vez,
mas consegui impedir.
— Você não devia fazer isso! — Disse firme e se afastando de
mim. — Você não tem noção das merdas que ele falou, sobre o que
ele queria fazer com você, as intenções dele… Argh! — Cameron se
contorceu de raiva.
A respiração descontrolada, os cabelos bagunçados, a raiva,
fúria e ira juntos. Ele cerrou o punho e socou o ar.
— Você devia me deixar acabar com ele. Você devia, Rebecca.
Você não tem noção do tamanho da raiva que tenho só de pensar
em…
— Ei — o puxei pela cintura e beijei seu rosto — chega, vamos
sair daqui — pedi deslizando as unhas por suas costas cobertas
pela blusa.
Isso fez com que todos os músculos tensos de seu corpo
relaxassem. Ele suspirou e seu corpo estremeceu.
— Nossa, que maldade — disse em meio a suspiros.
— Precisamos sair daqui, os seguranças estão vindo — afirmei
rapidamente e ele concordou.

Cameron me trouxe a um lago, onde tinha uma ponte e arvores


ao redor. Achei que me levaria para casa, mas não e por mais chata
que eu fosse, não achei ruim. Era lindo e tranquilo aqui, porém
estava mais frio do que na escola e eu definitivamente não estava
preparada para o vento gelado que batia em meus braços pois
deixei o casaco na escola. Me sentei no fim da ponte observando o
lugar sentindo a brisa fria tentando não tremer.
— Rebecca não passa frio porque está sempre coberta de
chatice — Cameron disse colocando o moletom do time em meus
ombros. Ri o vestindo e vendo Cam se sentar ao meu lado.
— Cameron não passa frio porque está sempre coberto pelo
seu ego inabalável — rebati empurrando seu ombro com o meu.
Rimos nos olhamos por instantes até nossos olhares se tornarem
desconcertantes, pelo menos para mim.
— Becca, eu não quero que você pense que sou possessivo,
que você não pode falar com ninguém. Jamais. Mas as coisas que
Oliver disse ultrapassaram qualquer limite — explicou.
Apenas concordei balançando a cabeça. Cameron não estava
nem louco de querer ser possessivo comigo, apesar de que ele
nunca foi e muito menos tentou algo do tipo nessas duas semanas
juntos.
— Quer me contar o que aconteceu antes do refeitório? —
Questionou e eu neguei. Olhei para a frente respirando fundo.
— Não quero contar algo que te deixe mais estressado.
— Pelo menos você sabe acalmar o estresse — meus lábios
formaram um sorriso envergonhado, mas meus olhos continuaram
voltados a longa extensão do lago. — Vamos, conte-me sua versão.
— Cameron — peguei em sua mão —, não quero que você
fique mais nervoso.
Ele entrelaçou nossos dedos, beijou minha mão e disse:
— Não posso prometer isso. Mas quero te ouvir — pediu.
Pela primeira vez, longe de todos, não nos tocamos por precisar
que alguém visse e comentasse ou sem ser porque ele estava
estressado. Era bom não precisar fingir e ao mesmo tempo tão…
estanho. Não devia gostar disso.
— Começou com ele indo na lanchonete há semanas atrás, foi
quando eu entendi que ele não me deixaria em paz. Isso já faz um
tempo. Depois na escola, sempre que eu passava por ele, ele ficava
de piadinha com os garotos e nem eram garotos do time —
Cameron bufou e eu acariciei sua mão com o polegar —, mas ele
ficou ainda mais irritante depois de terça retrasada.
Cameron franziu o cenho quando parei de falar. Eu não devia
contar, mas agora era tarde e não queria mentir.
— O que aconteceu na terça? — Suspirei. — O que aconteceu
na terça? — Questionou novamente.
— Cameron, você já está tão nervoso com ele, não quero piorar,
não devia nem era começado a falar — senti uma pressão em mim.
Eu pioraria tudo.
— Não, não está piorando. Não se culpe — ele colocou uma
perna atrás de mim e cruzou a outra me deixando entre elas. — Ele
quem fez isso, não se culpe por ele ser um idiota — disse
acariciando meu cabelo após soltar minha mão.
Cameron estava próximo, se inclinando um pouco para frente
sua respiração bateria em meu pescoço. Como chegamos a esse
ponto e por que eu ainda não me afastei?
— Ele chegou mais cedo nas aulas extras do time, começamos
a conversar e você sabe, não sou grossa de graça com outras
pessoas, então, mesmo não querendo conversar com ele,
conversamos — o olhei, me arrependi de imediato por conta da
proximidade e olhei para o lago outra vez — enfim, ele estava
falando que queria me chamar pra sair, que queria me levar em um
lugar legal onde… onde… — Suspirei. Só então percebendo o quão
horrível seria falar que ele sugeriu ser meu primeiro.
— Becca — Cameron subiu a mão em minha nunca me fazendo
o olhar. — Eu sei do resto — meu olhar era surpreso, assim como
minha expressão — Oliver se gabou no vestiário e Josh me falou —
ele não parecia tão nervoso agora.
— Sabe Cam, infelizmente isso acontece sempre com as
mulheres. Há sempre alguém para te assediar, te amedrontar de
uma certa forma, como se gostassem disso. Tenho medo, confesso.
Principalmente sabendo que não é só um garoto. Não é só Oliver,
não é só na escola. E os garotos, muitos deles não querem nem
saber. Não vou me calar, mesmo que ter falado com Oliver que isso
me incomodou não adiantou de nada. Algumas vezes sou grossa
com alguns que ficam dando em cima de mim, isso é uma tentativa
de dizer que são inconvenientes e nojentos. Alguns mudaram como
— Andrew, pensei — Jack, Noah e Victor, conversei muito com eles
pois eles perceberam que ter rido do apelido que Oliver me deu não
foi legal. Outros não querem mudar, insistem em ser nojentos.
— Eu vou bater nele — o olhei rindo, toda essa conversa me
deixou leve.
Esse garoto era impossível.
— Cameron e seu belo jeito de resolver as coisas — ele riu me
olhando.
— E resolve.
— Só na sua frente — provoquei vendo sua expressão um tanto
engraçada — Na sua frente eles pedem desculpas por eu ser a
“sua” — gesticulei — garota, mas continuam falando de mim.
— Quem falou da minha garota? — Ri da forma engraçada que
ele questionou — Agora sim, nem que você me segure eu vou
deixar de bater neles — ele ameaçou levantar e eu o puxei pelo
braço.
— Tô brincando — afirmei; nem tanto, Jack ainda falava de mim
com Noah e Victor, mas nada que me incomodava. — Como sua
namorada eu digo, por favor, não — ele fez expressão de entediado
— sem isso de bater em todo mundo. Pelo menos eles já pararam
de dar em cima de mim diretamente.
— Pelo menos — debochou — Oliver foi pra cima de você
sozinha.
— Para de querer resolver tudo na violência, homem — me
levantei após sentir minhas costas doerem. Ele se levantou também
e me olhou enquanto eu me esticava.
— Não. É o meu jeito Becca e isso eu não vou mudar. Como
minha namorada — ele deu um passo para frente me fazendo dar
um passo para trás e sentir a proteção da ponte em minhas costas
— eu vou te proteger. Mesmo que seja só de mentira todo o namoro
— disse olhando em meus olhos e colocou as mãos apoiadas na
proteção da ponte me deixando encurralada.
Fiquei hipnotizada com seu olhar. Ele parecia buscar algo em
meus olhos, o que me fez virar o rosto desviando o olhar.
— Cameron… não fica tão próximo assim — pedi com a
respiração cortada.
O que estava acontecendo comigo? De novo meu corpo estava
em chamas e aconteceu de uma forma assustadoramente rápida.
— Isso te incomoda? — Questionou e com o meu silêncio eu
me entreguei, não me incomodava, mas, meu Deus o que tinha que
fazer? Ele se aproximou mais e eu senti que meu coração sairia
pela boca. — Você agora é minha namorada — tentei o empurrar
com as mãos em sua cintura, mas falhei. Sabia que ficar próxima
demais estando só eu e ele não daria certo.
— Aqui não somos namorados — expliquei sem o olhar.
Minhas mãos estavam suando, mas não queria sair daqui. Senti
seu olhar em mim por instantes e ele sorriu se afastando um pouco.
— Não somos, mas precisamos discutir a relação — afirmou
cruzando os braços e seus músculos saltaram. Ele não estava com
frio apenas com essa camiseta de mangas?
— Discutir a relação? — Questionei me apoiando na borda da
ponte.
Meu corpo estava voltando a temperatura normal, mas ainda me
sentia tensa.
— Não gostei da forma que você falou comigo quando estava
falando com Micael — disse lembrando-me dele sendo grosso com
um garoto e eu debati com ele. — Foi a mesma coisa com Neji —
explicou calmamente.
Mas não era esse o ponto, ele queria apenas me irritar.
— Então não fale com eles daquele jeito outra vez — sugeri e
ele deu um passo para frente.
Abaixei a cabeça passando a mão no rosto na intenção de
disfarçar o sorriso.
Eu pedia pra ele se afastar e ele não colaborava comigo.
— Sempre falei assim — disse naturalmente.
Cameron mexeu na correntinha em seu pescoço e levou até a
boca a mordendo. Observei seus movimentos e por instantes quase
me esqueci do assunto.
— Você devia rever a forma que fala com as pessoas, não
precisa ser arrogante de graça e nem em nenhum caso — expliquei
tentando manter a calma, mas minha respiração estava
descompassada e eu não fazia de como controlar isso com ele tão
perto.
— Não vai acontecer — afirmou apoiando novamente as mãos
na borda na ponte me deixando sem saída.
A proximidade não era tanta e mesmo assim me aproximei
ainda mais. Nunca conseguia ficar quieta vendo Cameron tentar me
tirar do sério e isso me dava forças para contrariá-lo sem parecer
desesperada pela nossa proximidade.
— Então se acostume com a forma que lidarei com a sua
babaquice — disse passando os dedos em seu rosto até sua nuca
— se você quer ser um babaca, seja. Mas não espere que eu
concorde por ser sua namorada — aproximei meus lábios de seu
ouvido e ele estava imóvel — e eu não vou pegar leve, já que sei
que você faz isso de propósito.
Ele me empurrou com seu corpo contra a borda da ponte e seus
olhos buscaram os meus. Nossos olhares estavam travados um no
outro e a proximidade era mínima. Seus olhos desceram até meus
lábios e não sentia medo. Sentia meu coração bater depressa e
mesmo assim, não tinha outro lugar em que eu gostaria de estar
agora.
— Vamos, você precisa comer antes de ir trabalhar — ele se
afastou e eu soltei a respiração sem nem saber desde quando
estava prendendo.
E preciso evitar ficar sozinha com você outra vez.

— Sobre irmos à praia… — Comentei quando Cameron parou o


carro na frente do meu trabalho abrindo a janela toda. Disse que
fazia questão de mostrar a Andrew que estava definitivamente
comigo, para ele nunca mais chegar perto de mim.
Expliquei a ele que desde o dia em que Andrew me deixou
desconfortável ele não descia mais para trabalhar comigo, só ficava
no escritório, mas isso não adiantou nada, Cameron insistia em me
trazer. Sabia do ódio entre eles então, por necessidade, não contei
nada a ele sobre eu fechar o caixa com Andrew.
— Você precisa ir comigo, nada de ir com a minha irmã.
— Não quero — me fiz de mimada e cruzei os braços. Ele me
olhou e revirou os olhos rindo.
— Mas precisa — disse rude, o olhei com a sobrancelha
arqueada, ele achava que estava falando com quem? — Por favor?
— Tentou contornar a situação o que me fez rir e relaxar o corpo.
— Tudo bem — dei de ombros. — Eu vou. Mas eu quero dirigir
esse carro.
— Colocar a mão nessa belezinha? — Questionou rindo com
sarcasmo até ver que eu estava falando sério. — Tá falando sério?
— Pareço estar brincando? — Questionei e ele passou a mão
no rosto.
— Tudo bem — resmungou.
— Obrigada, amor — brinquei beijando seu rosto e ele não
conseguiu evitar o sorriso.
Cameron observou a lanchonete.
— Não disse? Olhe Andrew na janela nos observando — ele
apontou com a cabeça e eu dei de ombros.
— Preciso ir.
Cameron saiu rapidamente do carro e abriu a porta para mim.
Ele me abraçou, certamente provocando Andrew.
— O objetivo não é provocar Andrew — sussurrei em seu
ouvido enquanto o abraçava.
— Não estou provocando ninguém — disse com tom sarcástico.
Me virei o fazendo ficar contra o carro e eu de frente para a
lanchonete. Confirmei minhas dúvidas, Andrew ainda estava
olhando. Meus olhos encontraram os seus, mesmo de longe, e ele
se afastou da janela a fechando rapidamente.
— Tchau, Cameron — me soltei dele.
Ele ia me responder, mas uma voz aguda o interrompeu.
— Cameron! — Raquel disse animada — Quanto tempo. Nossa,
você sumiu! — Ela praticamente me empurrou para abraçá-lo.
Os olhei querendo rir da forma com que Raquel estava sendo
inconveniente de propósito para me afetar. Era cômico a cena.
Cameron me olhou pedindo socorro e eu não acreditei no que ia
fazer. Cruzei meus braços e mudei a expressão rapidamente para
séria.
— Vou te dar três segundos para tirar as mãos
do meu namorado — afirmei mais rude do que achei que
conseguiria. Não precisei contar, Raquel se afastou.
Mantive o olhar devorador e ela me olhou apavorada. Ainda
estava de braços cruzados como se fosse fazer pedaços dela,
porém, por dentro estava chorando de rir. O que eu faria? Bateria na
garota pelo safado que pegou a cidade inteira? Se ela soubesse não
me olharia assim, mas riria comigo.
— Becca… me desculpe… eu... — Raquel pareceu perder a
fala.
Me lembrava do dia em que as meninas se juntaram para me
abordar e ela estava no meio. Em seguida, exatamente no dia
seguinte, disse que se eu me aproximasse de Cameron ela faria
Andrew me demitir. De acordo com ela, ela conseguiria.
Aparentemente não tinha mais tanta certeza. Sem dúvidas aquela
Raquel desapareceu.
— Eu não sabia que vocês estavam juntos — disse como se
estivesse arrependida, mas seus olhos mostravam outra coisa.
Odiei esse papel, mas precisava mantê-lo já que Melissa e
Katherine pararam na entrada da Goldens.
— Ok, Raquel — mantive minha frieza e me aproximei de
Cameron que parecia tão surpreso quanto eu com a reação que
tive.
Ele estava imóvel, mas quando a distância era pouca, Cameron
me puxou pela cintura com firmeza e roçou nossos lábios e por
algum motivo eu deixei. Fechei meus olhos deixando que ele me
segurasse firme pela nuca e me desse um selinho demorado, ele
sorriu apertando ainda mais minha cintura como se fosse continuar
se eu não o afastasse levemente. Nos afastamos e, como se
estivesse hipnotizado e em êxtase, ele ficou me olhando e sorrindo
passando os dedos em meus cabelos. Meus lábios tremeram e tudo
pareceu sumir. Passei a língua nos lábios tentando não abrir um
sorriso.
— Tchau… Amor — tentei agir como se aquilo fosse comum
entre nós. Melissa gritou e voltou para seu carro. Ele me soltou
deslizando as mãos lentamente em minha nuca e minha cintura até
me soltar por completo.
Cameron… Selou nossos lábios…, mas… MEU DEUS!
Meu coração estava acelerado.
Entrei cumprimentando Esme e olhei para trás, Raquel havia
saído, porém, Cameron permaneceu imóvel.
Minhas mãos gelaram, mas meu corpo estava suando. Estava
para ir ao banheiro quando fui impedida de tal ato. Andrew me olhou
e subiu para o segundo andar deixando a entender que queria falar
comigo.
Agora não, agora não. O que estava acontecendo ali? Por que
Cameron tinha feito aquilo? Como vou olhar para ele? Eu não
deveria ter ficado brava? Isso fazia parte do acordo, não?… Acordo.
Isso. Namorados fazem isso.
Deixei minha bolsa em meu armário e subi até o escritório de
Andrew. Dei duas batidas e entrei mesmo sem resposta, sabia que
podia pois Andrew me deu essa liberdade.
Quando entrei, o vi olhando pela janela. Impossível não
perceber que ele sempre olhava pela janela quando estava
pensativo.
— Andrew? — O chamei e ele pareceu acordar. Se virou com
lentidão e me encarou. Fechei a porta e me aproximei. — Aconteceu
algo?
— Vamos fechar o caixa de ontem — disse firme, mas notei que
escondia algo e me questionei se tinha liberdade para perguntar o
motivo disso. — Preciso sair mais cedo — e se sentou em sua
cadeira evitando qualquer contato visual comigo.
— Andrew? Aconteceu algo? — Questionei me sentando na
cadeira a sua frente.
— Aconteceu. Mas você não pode ajudar — foram suas
palavras e eu entendi que ele não queria conversar.
— Como quiser.
Olhei o notebook que estava a sua frente. Ele costumava
sempre me entregar, mas pelos seus olhos, mesmo que fixos na
mesa, não estava aqui. Ele estava longe, como se tentasse
organizar diversos pensamentos em sua mente. Minha curiosidade
se aflorou, por que estava assim?
— Licença — quebrei o silêncio, me levantei e peguei o
notebook. Ele nem sequer se mexeu.
Me sentei, abri as planilhas e me senti tensa. Tensa como
nunca.
— Então é ele — disse em confirmação.
Gelei, não precisava de muito para entender. Me mantive em
silêncio fingindo concentração e sem saber o que esperar.
— É ele quem você escolheu. Alguém que ficou com tanta
gente…
— Grande moral, Andrew — interrompi ainda olhando a tela a
minha frente. Senti seu olhar acima do notebook, mas, por algum
motivo, não queria olhá-lo.
Desde o dia em que conversamos, comecei a ajudar a fechar o
caixa diário, o semanal e no fim do mês fechávamos o mensal. Mas
uma hora era muito para isso e acabávamos ficando conversando.
O movimento era menor pela noite e deixávamos Esme com Joe na
lanchonete. Pelo que Andrew me disse, eles estavam tendo algo e,
diferente de sua mãe, ele não via problema nisso.
E uma hora em todos os dias foi necessário para rirmos
bastante juntos e contarmos algumas coisas sobre nós mesmos. Eu
sobre como descobri ser diabética e ele sobre sua com casamento
de sua mãe com outra mulher. Os assuntos surgiam com
naturalidade, mas hoje, estava tudo cinzento entre nós.
Andrew passou os dedos nos lábios, coçou a nuca e me olhou.
— Você gosta dele? — Questionou. O olhei e hesitei. Como
namorada de mentira eu devia responder que sim, mas hesitei. —
Está namorando alguém que não gosta? — Seu tom parecia
vitorioso.
Pra cima de mim, Andrew?
— Só porque você teve um namoro superficial, não significa que
o meu seja — afirmei voltando o meu olhar para a tela.
Não precisei o olhar para saber que sua expressão era de
surpresa, uma surpresa ruim.
— Por hoje é só — disse pegando o notebook de minhas mãos.
— Mas eu não termi…
— Por favor, Rebecca, por hoje é só — disse soando como uma
súplica. — Segunda veremos isso, mas por favor, volte a trabalhar
— pediu sem me olhar.
Meu coração doeu por instantes. Sabia que algo estava errado
e, ao que parecia, eu tinha tudo a ver com isso.
— Licença — pedi cordialmente e me retirei de sua presença.
Desci as escadas indo até a lanchonete. Minha cabeça estava
uma confusão. Cameron, Andrew. Por que era tão estranho?
A lanchonete estava vazia, estávamos apenas eu e Esme.
Queria Natalie, mas Esme com certeza me responderia melhor,
talvez pela idade. Acredito que com vinte e seis anos ela saiba bem
mais que eu e Natalie. A observei por instantes observando que seu
cabelo agora estava preto, antes era rosa.
— Esme — a chamei. Ela tirou os fones, parou de limpar a
mesa e se aproximou de mim com os olhos cheios de curiosidade
—, sei que não conversamos muito, só sobre o Joe às vezes — ela
sorriu —, mas eu queria te fazer uma pergunta.
— Sobre Andrew, meu doce? — disse me chamando pelo
apelido que me deu quando a contei ser diabética.
— Andrew? — Questionei.
— Ele mudou, não? As responsabilidades o ajudaram a
amadurecer um pouco, mas seus sentimentos amorosos continuam
como o de um garoto.
— O que quer dizer?
Sentia que minha cabeça explodiria.
— Ele não sabe lidar com o gostar de alguém e não ser
correspondido. Diferentemente de seu namorado que está nas
nuvens.
— Esme, me ajude — implorei — Andrew e Cameron, como
cada um me olha?
— Você nunca se apaixonou de verdade, não é? Ou nunca
percebeu alguém apaixonado por você — concordei. — Meu doce,
Andrew está encantado por você, muito encantado. Seus olhos
brilham e anseiam por te conhecer melhor. Ele te observa como se
quisesse desvendar seus mistérios, como se quisesse te entender,
te deseja muito, acredito eu. Já Cameron, o conheço há anos, seus
olhos brilham intensamente, não só brilham, se acendem como
chamas. Nunca o vi desejar alguém como ele te deseja. O olhar
dele é assim — meu corpo se esquentou, eu não sabia se queria
continuar ouvindo e meu coração estava disparado — carregado de
desejo intenso e ardente, mas ao mesmo tempo ele quer te
proteger, cuidar de você, ao contrário de Andrew, não é só desejo.
E…
— E eu, Esme, transpareço algo? — Decidi mudar o foco antes
de começar a discordar dela.
Cameron? Sério? Me proteger? Me desejar? Até parece. Ele
desejava todo mundo!
— Você é fria — disparou sem quaisquer rodeios, um nó se fez
em meu estômago. — Desapegada, seu coração está fechado ou
você disfarça muito bem. Você é uma garota forte, não me
impressionaria se escondesse algum sentimento — a olhei, isso era
bom ou ruim? — E se quer saber, isso não é tão ruim — respondeu
meus pensamentos —, mas não se feche totalmente se você tiver
confiança de que gosta de alguém e ele também gosta de você.
Quer saber? Não preciso te dar conselhos, você é cautelosa.
Preciso dar conselhos a Cameron, ele sim pode sair machucado.
— Definitivamente não — contrariei — Cameron não está
apaixonado por mim.
E fica com outras garotas, completei mentalmente. Ele vai para
festas onde ninguém nos conhece, certamente pega todo mundo.
Afinal, comigo ele não vai beijar e muito menos ter algo mais.
— Prefere acreditar nisso? — Questionou.
Não, mas precisava, não podia acreditar que tudo o que ela
disse era verdade.
Concordei, finalmente, balançando a cabeça.
— Bom, olhe nos olhos dele. A boca mente, mas os olhos não,
eles nunca mentem.
Ela colocou os fones e voltou ao trabalho.
Só então percebi que eu entreguei que não sou apaixonada
pelo meu, teatralmente, namorado e Emes questionou
absolutamente nada. Não havia nem se quer um vestígio de
confusão em seu rosto por eu falar de Cameron como falei. Ela
sabia? Cameron contaria? E se contou, por qual motivo? Nem sabia
que eles se conheciam.
Andrew passou por mim e foi até Esme que apenas concordou
com algo que ele disse em voz baixa. Sem olhar para trás, saiu da
lanchonete.
Não sabia se as horas tinham se passado rapidamente hoje ou
se eu havia ficado tempo demais assimilando tudo o que Esme tinha
dito. Cameron me olhava com desejo? Os olhos de Andrew
brilhavam e ele desejava me conhecer mais?
Conseguia acreditar mais na perspectiva dela sobre Andrew,
isso justificaria o jeito estranho dele comigo após eu chegar com
Cameron. Era uma pena caso ela estivesse certa, não tinha a menor
intenção de ter algo com Andrew.
Já Cameron era impossível ter qualquer sentimento por mim.
Afinal, ele era o Cameron. Rodou na mão de várias pela cidade e se
apaixonaria justamente por quem nunca teve nada a não ser troca
de farpas e ofensas? Uma pessoa como eu que sempre rebatia
contra as coisas que ele falava, ele jamais se apaixonaria por mim!
— Por favor, tia, ela tem que dormir lá em casa. Não posso
ficar sozinha com Elliot, ele vai me achar uma jogada. Por favor.

Meu irmão não vai nem chegar perto dela, eles nem se gostam de

verdade, por favorzinho — Natalie implorou sendo que nem tinha

deixado minha mãe responder ao seu primeiro pedido.


Vamos para a fogueira na praia e chegaremos tarde.
— Natalie, por mim tudo bem, querida. Você não me deixou
responder quando perguntou pela primeira vez — eu e mamãe
rimos da expressão de Natalie quando percebeu que não tinha
deixado minha mãe falar —, sabemos que é tudo uma farsa — ela
me olhou como se nem ela acreditasse em suas próprias palavras
—, mas, por favor, tomem cuidado.
— A senhora deixou? Assim? De boa? Meu Deus! A mãe da
minha antiga amiga evangélica nem a deixava respirar com
Cameron perto — minha mãe achou graça.
— Sei que por Cameron eu também não deixaria — me senti
corando sabendo exatamente do que se tratava —, mas conheço
meu docinho ela não dá brechas e, mesmo que desse, não posso
fazer as escolhas por ela, já tem dezessete anos. A criei para viver
nesse mundão e ela se sai muito bem, não tenho motivos para
prende-la quando já sabe o que quer — ela me olhou.
Me senti emocionada, sempre amei esse espaço, essa
confiança.
Eu e minha mãe tínhamos diversas diferenças. Discutíamos por
várias coisas, como ela sempre interromper meu pai quando ele
estava falando, às vezes ser preocupada demais com Isaac e seu
TDAH ou pela pressão que as vezes ela colocava em mim. Mas
sempre tivemos esse espaço, principalmente na vida amorosa,
profissional e em religião, ela sempre deixava aberto a minha
escolha.
Natalie bateu palminhas de alegria. A olhamos rindo e ela pulou
em minha mãe a abraçando.
— Eu adoraria ver a senhora dando aulas pra minha mãe —
admitiu. — Vamos, Becca, eles estão nos esperando.
Me despedi de minha mãe, caminhei até a sala, me despedi de
minha prima Angel de quatorze anos que dormiria em casa, ela era
a maior fã da minha mãe, e passei os dedos na mãozinha de Elô.
Meu pai levou Isaac e Louis para outra cidade, disse que seria o fim
de semana dos meninos e eu não poderia ter um pai melhor, ele
tinha jeito com crianças, cuidar de Louis, que era o mais calmo dos
gêmeos, seria fácil para ele.
Sai de casa com Natalie. Minhas roupas estavam em sua casa
pois ela tinha certeza de que convenceria minha mãe.
Assim que passamos pela porta, a segurei pelo braço. Vi os
meninos do outro lado da rua, distantes o suficiente para não ouvir
nossa conversa.
— Ok, qual é o real problema? Por que está com medo de
Elliot? — Questionei em voz baixa e ela respirou pesado.
— Não sei o que fazer, nem como agir, nem como fazer. Tenho
medo de não ser bom pra ele — as palavras dela não faziam o
menor sentido — ele é virgem amiga — explicou me deixando
surpresa. Elliot? O quê?
— Ele? — Questionei ainda impressionada. Não deveria estar
surpresa com isso, mas foi impossível. — Ele não é como seu
irmão?
— Ah, francamente — pareceu decepcionada — acha que
Cameron sai transando com todo mundo? Que horror! Já ficou com
várias, admito, mas ir além com todas? Credo.
Me sentia ainda mais confusa. Não fazia sentido.
— Meu irmão não é virgem, se é isso o que você tá se
perguntando.
— Aí que horror, Natalie! Claro que não — afirmei mostrando
espanto — só estou tentando entender. Na escola falam muita
coisa, é confuso pra mim.
— Cameron foi em algumas garotas e acertou em cheio, ele não
queria, mas sua popularidade simplesmente cresceu e ele nem sabe
quem foi a infeliz que espalhou que ele…
— Pra mim tá ótimo por aqui — a interrompi sentindo um
desconforto imenso ao ouvir tudo aquilo, não sabia explicar o
motivo, mas estava incomodada.
Algumas garotas..., por que eu me importava? Isso não me dizia
respeito. Não queria saber qual tinha sido o boato, nem quem falou.
Parecia invasivo demais.
— Elliot? — Questionei, ouvimos a buzina do carro de Cameron
e o ignoramos.
— Sinceramente? Nem eu sei.
— Certo. Que horrível falarmos disso. Não deveria saber de
algo tão particular — comentei um pouco decepcionada comigo
mesma. Sabia como era ruim.
— Mas Becca, você é minha amiga. Sei que jamais caçoaria
dele por algo assim — ela segurou minha mão — e nem espalharia
— concordei de imediato — vamos.
A cada passo que dava na direção dos meninos, meu estômago
parecia se fechar cada vez mais. Passei a tarde toda pensando no
que Esme me disse. Se Cameron ao menos falasse algo indicando
que gostava de mim, talvez ficaria mais fácil entender, porque ele
sempre pareceu gostar apenas de implicar comigo. Mas ele não
falava nada. Sabia que não queria Andrew, isso eu tinha certeza,
mas Cameron… parecia ser muito mais complicado.
Cumprimentei Elliot com um aceno, Cameron abriu a porta do
carro na parte do banco do passageiro, o olhei incrédula e estendi a
mão esperando a chave. Elliot gargalhou sem disfarce algum e
Cameron o xingou.
— Você me paga! — Cameron disse com os dentes cerrados.
Vê-lo assim me deixava com mais vontade de desafiá-lo.
— Claro, amor — debochei beijando seu rosto e pegando as
chaves de sua mão.
Ele revirou os olhos e, mesmo bufando, deu a volta no carro e
abriu a porta para mim, não consegui evitar sentir seu cheiro que me
deixou desorientada por instantes.
Elliot e Natalie, que estavam no carro da frente, já haviam
partido.
Entrei no carro, que era igual ao do meu tio Dave então não
seria tão dificultoso.
Cameron não fechou a porta, achei que me daria instruções
sobre o carro, mas apenas me olhou e questionou:
— Consegue conversar e dirigir ao mesmo tempo? — Concordei
disfarçando o quanto aquilo tinha me deixava nervosa, muito
nervosa.
Falaríamos sobre o selinho? Não queria que aquilo continuasse
sem finalidade nenhuma, não queria um relacionamento de
brincadeira, ficar só por ficar, não queria e nem me via fazendo
aquilo... mesmo seus lábios sendo deliciosos, não queria um desejo
passageiro que no dia seguinte acabaria. Não queria ser incerteza,
mas como dizer isso a ele? Ele queria saber disso ao menos?
Ninguém nunca entendia meu lado, diziam ser frescura, que eu
devia me entregar aos meus desejos, mas eu não queria coisas
rasas e, sinceramente, ainda não sabia ao certo o que Cameron
sentia por mim e acreditava que teria respostas se continuasse com
o namoro falso.
Ele entrou no carro e eu não consegui olhar em seus olhos. "Os
olhos… Eles nunca mentem", as palavras de Esme ecoavam em
minha cabeça. Talvez se ele falasse de verdade eu entenderia, mas
às vezes ele parecia tão fechado…
— Precisamos buscar Calleb e Josh, vamos ter que fingir aqui
no carro também — Cameron disse assim que dei partida. —
Podemos? — O olhei me rendendo.
— Melhor você dirigir depois de buscarmos Calleb.
— Por quê? — Mantive meu olhar fixo na estrada.
Não se trave, Rebecca, não agora.
— Porque estou tensa — parei o carro no sinal vermelho —
você me deixa assim — expliquei sem acusar e ouvi sua risada.
Em instantes parei na casa de Calleb, que avisou que se
atrasaria minutos. Trocamos de lugar e eu me sentia um pouco
menos tensa por não ter o carro em minhas mãos, mesmo querendo
muito dirigi-lo, hoje não era o melhor dia. Acabamos nem
conversando no pequeno percurso pois a casa era perto das nossas
casas.
— Ok, Cameron, não aguento essa tensão. O que tiver de falar,
fale. Calleb se atrasa mais do que você pode imaginar — disparei
sentindo meu coração pular.
Ele se virou para mim, calmo e sereno. Olhei seus olhos, mas
não conseguia ver se brilhavam por conta da pouca luz.
— Eu sinto muito, não devia ter feito o que fiz. Por instantes
esqueci que você nunca tinha beijado e eu não devia ter feito
independente disso. Foi no impulso, a culpa é toda minha e vou
entender se não quiser mais, passei dos seus limites e…
— Aí, Cameron, tá bom — fiz voz de cansada e ele me olhou
confuso, nem eu estava me entendendo, mas não recuaria — isso
nunca tinha me acontecido, mas não é o fim do mundo. Foi
inesperado e estranho, mas tudo bem. Vamos seguir o combinado e
não faremos isso mais.
— Nunca mais? — Questionou em tom brincalhão. Agora sim o
clima estava como eu gostava, relaxei o corpo no banco. — Porque
assim, eu acho que devia se repetir — passei a mão na testa rindo
da forma que ele falou.
— Não. Eu te acho um saco, nem de você eu gosto. Pra que
vou te beijar? — Questionei em tom provocativo.
— Eu te acho insuportável e mesmo assim quero te beijar —
disparou e eu comecei a rir, com certeza era de desespero.
— Para de dar em cima de mim, Styles — o empurrei pelo
ombro aos risos — não vai rolar, não quero beijos sem significado
nenhum — repliquei olhando pela janela.
Esperei que ele falasse algo, que me contrariasse, que me
fizesse acreditar no que Esme disse, mas nada disso aconteceu.
Apenas o silêncio e com ele um sentimento de leve angústia. Não
devia criar expectativas, não devia criar expectativas, não iria criar
expectativas.
— Pronto para voltar a fingir? — O questionei vendo Calleb
vindo em direção ao carro.
— Sim, bê — disse pegando em minha mão e a acariciando.
Josh e Calleb entraram no carro discutindo. Josh estava
reclamando que Calleb demorava demais, mas ele perdeu a postura
quando Calleb disse que estava ficando lindo para Josh e aquilo me
fez sorrir.
— Oi casal — Calleb disse animado.
— Oi casal — falei na mesma animação.
Cameron riu dando partida.
— Amiga, liga o bluetooth do carro — Calleb pediu e assim o fiz
após soltar a mão de Cameron.
Calleb colocou uma música e tanto Cameron quanto Josh
bufaram. Eu e Cameron até então não tínhamos nos tocado depois
que soltei sua mão. O olhei em busca de respostas, mas ele, de
forma tão natural, colocou a mão em minha coxa e eu suspirei sem
conter o sorriso.
Vê-lo dirigindo, sua mão rodando no volante me deixava
desconsertada e não sabia explicar o motivo.
Uma euforia enorme cresceu em mim e eu senti que explodiria
de animação. Cantarolei a música com Calleb e atingi a nota mais
alta de Ariana Grande em Bang Bang.
O carro parou no sinal vermelho.
— Uau — ouvi Josh surpreso.
— AH VOCÊ SÓ PODE ESTAR BRINCANDO — Calleb gritou
eufórico e bateu levemente em meu ombro, Cameron me olhava
surpreso e sorrindo. — Eu te odeio, como você nunca me contou
que canta? — Questionou ainda animado.
— Porque eu não canto, só arrisco — dei de ombros. Cameron
apertou minha coxa, fechei os olhos tapando a boca com a mão
para não mostrar o sorriso.
— Arrisca? Garota, sua voz é perfeita! Trouxeram o violão? —
Calleb questionou.
— Está no carro de Elliot — Cameron respondeu.
— Ótimo — disse Calleb.
— Minha vez de escolher a música — Josh disse arrancando o
celular da mão de Calleb.
Chegamos na praia, mas nem todos tinham chegado, apenas
nós na verdade. Calleb e Josh saíram do carro e Cameron estava
prestes a sair quando o segurei pelo braço.
— Calleb é do tipo muito observador — avisei e ele concordou
entendendo o que queria dizer.
Ele abriu a porta do carro para mim como sempre fazia.
Achava graça nisso e não conseguia evitar o sorriso.
— Peter já está chegando — Josh disse assim nos
aproximamos e Cameron se encostou na traseira de seu carro.
— Então… — Calleb começou e Cameron me puxou pela
cintura me abraçando por trás, me envolvendo em seus braços
fortes — Desde quando vocês são casais? — Ele revezou o olhar
entre mim e Cameron, Natalie e Elliot.
— Não somos um casal — Elliot e Natalie responderam juntos.
Eu já não estava prestando atenção em nada, apenas no cheiro
do perfume amadeirado de Cameron. Ele apertou forte minha
cintura com seus braços fortes ao meu redor, ficou apenas com um
braço envolto de meu corpo e com a mão desocupada afastou o
cabelo de minha nuca, o jogando para o lado. Ele permaneceu com
a mão segurando meus cabelos, os dedos afundados nos mesmos
como se tentasse impedi-los de atrapalhar seus próximos atos e ao
mesmo tempo me fazendo inclinar a cabeça levemente para o lado.
Meu corpo todo se arrepiou quando ele roçou o nariz em minha
nuca e deu suaves beijinhos. Apertei seu braço fechando os olhos,
prendendo a respiração e inclinando a cabeça para trás em busca
de apoio. Minhas pernas tremeram, eu sentia que cairia a qualquer
momento.
Me dei conta de que ainda estávamos com os nossos amigos
quando Calleb e Natalie deram um gritinho de desespero interno.
Calleb parecia animadíssimo, enquanto Natalie parecia embargada.
Soltei a respiração.
— Oxalá! Essa até eu senti — Calleb disse se abanando.
— É… do que estávamos falando? — Questionei tentando
voltar para a terra.
Eles riram, inclusive ouvi a risadinha vitoriosa de Cameron.
— Vamos até o mar, nos chame quando Peter chegar — Josh
pediu saindo com Calleb.
Cameron me virou de frente para ele em um movimento rápido e
eu não o olhei, não sabia nem se conseguia olhá-lo sem ficar
nervosa e tensa.
— Me perdi todo. Isso ainda é farsa? — Elliot questionou.
Cameron insistia em me apertar. Coloquei um de meus braços
envolta de seu pescoço e ele beijou meu rosto.
— Acho que não quero saber — Natalie disse com os dentes
serrados de tensão.
— Por que dá pergunta? Está com ciúmes? — Descontrai e
Elliot tentou conter o riso enquanto Natalie ria um pouco alto.
— Se eu piscar pra ele, você perde o namorado — Elliot
desafiou.
Arranhei levemente os bíceps de Cameron e ele me apertou um
pouco mais quase me deixando sem fôlego.
— Se ele gostar, pode levar.
— Ei — Cameron protestou.
Peter parou o carro atrás de nós jogando a luz do farol em
nossa direção como aviso de que tinha chegado. Melissa saiu com
Karen e Katherine, mas não se aproximaram.
— Estou brincando, amor — aproveitei minha deixa e beijei seu
rosto quase no canto de sua boca.
Não queria parecer jogada ou desesperada, mas precisava de
mais respostas da parte dele sobre seus sentimentos. Ouvir os
outros falando era uma coisa, mas na prática essa situação se
tornava um desafio, e eu amava um desafio.
Ele perdeu o rumo enquanto me encarava. Natalie soltou um
gritinho de desespero interno novamente e disse:
— Meu coração não está preparado para isso — admitiu com a
mão em cima do peito.
— Podem nos dar um minutinho? — Pedi e eles concordaram.
Puxei Cameron até a frente do carro.
— Fiz papel de namorada ciumenta com Raquel hoje cedo, mas
odiei. Melissa está aqui, Karen e Katherine também. Todas te
querem, sabemos — ele me olhava com expressão neutra e calma
de dar raiva — não quero repetir a cena de hoje cedo, não sou
assim e não gosto de contar vantagem em cima de ninguém.
— Becca, não estamos aqui para fazer ciúmes a ninguém. Não
se preocupe — disse afastando os cabelos do meu rosto.
Olhei em seus olhos e então vi o brilho. Estavam iluminados de
uma forma que nunca tinha visto ou reparado antes. Talvez
estivesse vendo coisa já que estávamos a luz do luar, mas meu
coração insistia em disparar. Não devia criar expectativas, não até
ele falar… Meu Deus, eu conseguiria isso?
— Você está me olhando estranho — Cameron observou.
Seus olhos buscavam respostas nos meus e eu balancei a
cabeça negativamente.
— Desculpe. Vamos? — Questionei.
Ele assentiu, entrelaçou nossos dedos e caminhamos até o
pessoal.
— Vamos até às pedras, lá tem lugar para nos sentarmos —
ouvi Melissa dizer.
Começamos a segui-los e só então percebi que quase todo o
time estava aqui, grande parte das líderes também. Os meninos
estavam brincando e zoando um pouco mais a frente enquanto
Cameron, Elliot e Josh estavam atrás comigo, Natalie e Calleb.
Os meninos olhavam para trás o tempo todo sem saber se
podiam chamar Cameron e os outros para se juntarem.
— Vai lá com eles — disse e ele me olhou surpreso.
— Sério? — Questionou animado.
— Sim, vai lá — confirmei rindo.
Cameron olhou Josh e Elliot que sorriram e os três se juntaram
ao resto do time.
— Achei que a capitã não ia te liberar — Peter brincou.
Fiz cara de tédio e sorri para ele.
A barulheira do time ficou ainda maior. Isso porque diziam que
as meninas que eram as mais escandalosas, apesar de que a frente
do time, onde estavam as líderes, estava uma barulheira e
extremamente alta, parecendo querer chamar atenção. Isso não me
incomodava, quem às vezes não queria atenção?
Desviei meu olhar para o mar e parei um pouco de andar.
Natalie e Calleb que estavam conversando pararam ao meu lado.
— Olhem o mar — pedi e eles não disseram nada, apenas
observaram. Senti meu corpo queimar e meu coração se encher de
felicidade. — O tamanho do amor de Deus por vocês é maior que
isso.
Calleb sorriu satisfeito. Olhei Natalie, seus olhos se encheram
d'água e ela disse:
— Quero voltar pra igreja — a olhei surpresa.
— Eu falei — Calleb disse com um sorriso largo e a abraçou
forte. — Foi na igreja evangélica que você se encontrou.
Voltamos a caminhar um pouco distante dos demais.
— Posso ir com você? Quando você for a igreja… sinto falta —
Natalie disse.
— Claro que sim — a abracei de lado — vou amar ter
companhia.
— Seus pais não estão indo? — Calleb questionou entrelaçando
o braço no meu.
— Eles gostaram de uma outra e não exigem que eu os siga —
expliquei e ele sorriu.
Chegamos até às pedras que Melissa citou e os meninos
começaram a arrumar as coisas para a fogueira, Natalie e Calleb
começaram a conversar sobre algo que não prestei atenção, me
afastei deles indo até a beira do mar e o observei novamente.
A brisa fria e leve batia em meu rosto. Me sentia bem olhando o
mar, o céu e o luar.
— Então vocês estão namorando — Katherine se aproximou.
A olhei, em seguida olhei Cameron que nos observava e ao
mesmo tempo conversava com os meninos do time.
— Isso — voltei meu olhar para a extensão escura do mar.
— Não faz sentido — revirei os olhos, sabia que isso
aconteceria —, vocês começaram assim, do nada?
— Primeiro que eu e ele nos conhecemos desde a infância,
segundo que eu não devo explicações para alguém que me
abandonou por causa de macho e por garotas que nem gostam dela
de verdade — disparei a olhando nos olhos e sua expressão mudou
rapidamente como se ela acabasse de levar um soco inesperado —
o que você de fato quer falar, Katherine?
— Você sabia que eu gostava dele — disse em voz baixa. —
Você sabia! Não é justo o que você fez! — Disse com o tom mais
elevado.
— Você e outras garotas — dei de ombros.
— Isso não vai ficar assim. Está muito estranho esse namoro!
Cameron não ter te beijado na frente de ninguém ainda? Até parece!
Seja o que for, vou descobrir — a olhei fingindo uma expressão de
pena.
— Boa sorte com isso — seus olhos me devoraram e ela
parecia prestes a atacar quando senti meus cabelos sendo juntados
cuidadosamente para trás.
— Algum problema, amor? — Cameron questionou e levou meu
cabelo até seu nariz o cheirando.
— Nenhum — disse olhando Katherine, ela engoliu em seco e
saiu andando.
— O que aconteceu? — Cameron questionou quando me virei
de frente para ele e joguei meus braços por cima de seus ombros.
— Katherine e seu surto por eu namorar o garoto que ela gosta.
Achou estranho Cameron Styles não ter beijado a namorada na
frente de todos ainda — expliquei rindo. Ele abraçou minha cintura
sorrindo.
— Os meninos do time comentaram sobre também, mas já
cortei isso — ele disse.
Uma de suas mãos estava em minhas costas me empurrando
contra seu peitoral, enquanto a outra afastava os cabelos dos meus
ombros e nuca. Prendi a respiração por instantes tentando controlar
todas as reações de meu corpo.
— Às vezes eu queria saber no que você tá pensando pra me
olhar assim — Cameron disse olhando nos meus olhos como se
tentasse me entender.
Estou pensando se você é apaixonado por mim ou se eu estou
enlouquecendo e isso é um delírio da minha parte.
— Só como chegamos até aqui — disse rindo e acariciando
seus cabelos.
Por reflexo, atrás dele, vi que vários do time e das líderes nos
olhavam esperando algo, mas os ignorei.
— Isso nem eu sei — ele me abraçou forte com os dois braços
quando deslizei as unhas por sua nuca e balançou a cabeça
estremecendo.
— BECCA, VEM CANTAR AGORA — Calleb gritou de forma
que me fez rir e eu definitivamente agradeci a ele por me tirar daqui.
Me soltei de Cameron, peguei em sua mão e nos aproximamos
de todos. Me sentei em uma das pedras grandes daqui e Cameron
se sentou ao meu lado pegando o violão.

Estava tudo ótimo para mim enquanto estávamos apenas


cantando, conversando e assando marshmallow. Mas decidiram
comprar bebidas e as coisas para fumar, e eu sabia que não era
mais aqui que queria ficar. Natalie e Elliot pareceram
desconfortáveis também e Cameron era neutro como sempre.
A maioria se juntou a Peter e Katherine para ir até a adega que
tinha por perto. Natalie, Elliot e Calleb estavam na beira do mar.
— Cameron, quero falar com você — Melissa disse parando em
nossa frente, ele me olhou e eu a olhei franzindo o cenho. — Por
favor, é rápido. Mas eu preciso conversar com ele — ela pareceu
odiar ter que se dirigir a mim.
A olhei por instantes, a analisando. Seu corpo se contraiu
quando me levantei.
— Sem problemas — beijei o rosto dele e aproximei meus lábios
de seu ouvido — não se esqueça que você namora — sussurrei
ouvindo os passos de Melissa se afastando e o olhei.
— Eu vou te beijar se você ficar próxima desse jeito de novo —
admitiu e se levantou. — Já venho — e saiu, me deixando
totalmente sem reação.
Soltei a respiração, olhei ao meu redor vendo Natalie e Calleb
molhando os pés enquanto Elliot estava sentado na areia distante
deles e me aproximei.
— Posso? — Questionei antes de me sentar, Elliot concordou e
eu me sentei ao lado dele.
— Como você consegue? — Indagou depois de alguns
segundos em silêncio e eu o olhei sem entender. — Está claro que
você e Cameron tem uma química que qualquer um que estiver
perto repara. Bom, pelo menos agora que vocês estão realmente
fingindo — ele me olhou rindo, achei graça.
— O que você está querendo dizer? — questionei.
Ele soltou a respiração e olhou para Natalie que estava distante
com Calleb.
— Natalie deve ter falado, as meninas sempre falam sobre isso,
não? — Ele me olhou e olhou novamente para frente — não acho
que Natalie vai ficar comigo, não acho que vou segurá-la.
Suas palavras esclareceram tudo na minha mente. Ele não me
diria exatamente o que o incomodava, mas conseguia entender.
— Acha que ela não vai aceitar que você quer esperar seu
tempo? — Ele me olhou, pensou um pouco e concordou. — Você
não é um passatempo ou um objeto sexual, não se sinta um — sua
expressão se franziu para confuso.
— O que isso significa?
— Não nos conhecemos muito bem, mas não tenho problemas
em falar com você sobre — respirei fundo. — Eu me guardo porque
tudo o que quero pra minha vida amorosa é uma só pessoa, que me
entenda, que me ame, que me respeite… sou a moda antiga porque
acho lindo isso e porque realmente quero isso pra minha vida. Não
quero me entregar a qualquer um e pra mim o casamento, a junção
de objetivos, você amar tanto uma pessoa que tem certeza de que é
ela, é por isso que eu me guardo — suspirei olhando para frente —
não quero várias pessoas, quero a pessoa que vai fazer dar certo
comigo — o olhei — sexo pra mim não é uma coisa banal. Na
verdade, o relacionamento afetivo pra mim não é só isso. Por isso
até no beijo me guardo, mesmo que muitos achem idiotice da minha
parte. Não vou me entregar a qualquer um porque não sou um
simples objeto sexual. Cada pessoa se entrega pra quem quiser,
mas pra mim eu quero isso, quero a moda antiga — dei de ombros
rindo.
— Isso é lindo — disse com a fala carregada de pensamentos.
Ele me olhou como se entendesse cada palavra que eu tinha
dito, isso de fato me deixou totalmente surpresa. Olhei Natalie que
ria com Calleb, voltei meu olhar a Elliot e disse:
— Ela entenderia — ele a olhou — seja qual for seus motivos,
ela entenderia. Não tenha medo, Elliot, ela é minha melhor amiga,
mas se não te entender, seus desejos e algo que seja importante
pra você, então não é ela.
Ele suspirou e passou a mão na nuca.
— Você está certa — sorri concordando — Cameron acertou
dessa vez — disse em voz baixa e, por algum motivo, decidi ignorar
sua fala.
— Preciso ser sincera, eu jamais imaginaria algo assim de você
— nos olhamos e rimos.
— Meus pais me criaram a moda antiga nessa parte. Depois de
um tempo fomos a igreja e tudo só se confirmou, entende? —
Assenti.
— Ainda vai à igreja?
— Raramente. Meus pais não me julgam, mas os demais estão
sempre falando algo por eu não estar na igreja sempre, então estou
meio afastado. Mas isso em mim não mudou — explicou
gesticulando.
— É estranho — ele me olhou confuso — lembro de uma festa
que fui buscar Natalie e vi você ficando com três meninas diferentes,
fora que, você sempre anda com Cameron e pra mim vocês eram
iguais nessa parte.
Elliot riu alto fazendo Natalie e Calleb nos olharem, mas logo
voltaram a conversar e caminhar pela beira do mar se afastando
ainda mais de nós.
— Natalie me disse que você tinha um pensamento errôneo
quanto a Cameron — me virei o olhando melhor — permita-me
apresentar o meu amigo, porque sei que ele não quer se apresentar
de verdade a você por não querer que crie boas expectativas nele.
— Hummm — murmurei — continue — pedi cordialmente.
— Não sei se vai dar tempo, mas tentarei resumir. Primeira
coisa, sabe quem é Alice? — Concordei, a garota que traiu
Cameron com Andrew. — E sabia que Alice é irmã por parte de mãe
de Melissa? — Arregalei os olhos.
Então Alice era a irmã de Melissa que Kristen estava falando no
banheiro. Neguei com um balançar de cabeça e ele continuou:
— Cameron chegou na escola já conquistando todo mundo. Era
o primeiro ano e ele sempre teve o porte de jogador dele e sempre
quis ser atleta. Pelo que sei, Alice sempre gostou de estar no auge,
acho que por causa da mãe ela, aquela mulher é o inferno na terra.
“Alice se interessou por Cameron logo de cara, ele foi o único
do primeiro que entrou pro time e aquilo chamou a atenção de geral.
Em meses eles começaram a namorar. Ela foi a primeira namorada
dele, primeiro beijo, primeiro tudo".
Senti um nó em meu estômago e um desconforto terrível
crescendo em mim ao saber daquilo, mas me mantive firme.
— Andrew era o capitão do time na época e ele apoiou muito o
Cameron, em absolutamente tudo. Tudo mesmo. Eles viraram
melhores amigos quase que de imediato e era muito forte a amizade
deles. Tipo, Andrew era o Scott e Cameron o Liam de Teen Wolf —
concordei rindo — dois meses antes de acabar o primeiro ano,
Andrew simplesmente passou o título de capitão para Cameron, era
o que Andrew queria e o que o time precisava. Foi um fato histórico
porque nunca tinha acontecido antes, até hoje é na verdade.
Cameron é o primeiro capitão a ser do terceiro ano, sendo que o
capitão tem que ser do segundo ano por regra. Era o segundo ano
de Andrew e o primeiro de Cameron, mas eles não ligaram pra isso.
“A amizade deles continuou muito forte, Andrew sempre
aconselhando, defendendo ele e em toda confusão de Andrew,
Cameron estava e em toda confusão de Cameron, Andrew estava
para defender".
— Calma — o interrompi — então Cameron não tomou o lugar
de Andrew? Andrew que fez tudo por que quis? — Elliot concordou
e continuou:
— Chegamos no segundo ano e Cameron continuou de capitão,
mas como regra, ele não poderia ser rei do baile porque só quem é
do terceiro ano pode. Já estava mais que certo de que seria Andrew
porque ele é um cara legal, foi quando Alice mudou totalmente
depois das férias de verão. Andrew me contou que ela ficava muito
em cima dele e que ele não queria, mas não contamos pro Cameron
porque ele estava muito apaixonado.
“Mas Alice insistiu em Andrew e bom, ele não resistiu pelo que fiquei
sabendo. Sei que foi muito desgraçado, porém, dias antes disso
acontecer, Andrew tentou conversar sobre o assunto e Cameron
ignorou, não que isso justifique”.
Elliot deu uma pausa e meus pensamentos começaram a se
organizar. Andrew e Cameron melhores amigos? Isso explicava
algumas coisas.
— Andrew e Cameron, isso até que justifica o jeito que
Cameron o olha com raiva — comentei.
— Pois é. Depois que Alice fez o que fez, Cameron se perdeu,
começou a beber e ficar com algumas meninas.
— Ficar? — Questionei com a sobrancelha arqueada.
— Bom, Felicity, a presidente do grêmio e ele tiveram algo mais,
mas ela terminou o colegial no ano passado, a questão é que ela
tinha muita influência e bom, tenho pra mim que ela quem espalhou
boatos sobre dormir com Cameron porque as meninas começaram
a ir pra cima depois dela e como se não pudesse piorar, o povo
escolheu o Cameron pra ser rei do baile ano passado mesmo sendo
fora das regras do comitê. Andrew nem apareceu no baile, disse
que não tinha mais nada a perder e essa coroa pra ele não valia de
nada. Enfim, Alice conseguiu a preciosa coroa, mas nunca amou
Cameron de verdade, já ele… — Elliot suspirou — realmente
gostava dela.
Concordei pensativa e Elliot novamente me olhou.
— E aqui estamos nós no terceiro ano. Melissa está
desesperada agora que sua mãe está a pressionando, ela quer
superar a irmã. No fim do ano passado Cameron estava péssimo e
ainda colocaram a fama de ser pegador depois de Felicity e ele
terem ficado. Alice também fingia que ainda o queria. Então, não
estou justificando nada, mas Cameron aproveitou toda a fama e
começou a ficar com ele queria, já estava todo mundo falando
mesmo, mas ele não era assim. O cara que eu conheço nem gosta
de beber e fumar. Fico feliz se ele esteja voltando. Continua
briguento e marrento porque ele é assim, mas não finge mais ser
algo que não é.
Meu queixo caiu e fiz sinal para que Elliot parasse. Minha
cabeça explodiria.
— Isso não faz sentindo — falei a mim mesma e olhei Elliot —
desculpe, continue.
Eu jamais imaginaria toda essa história. Então Cameron não
saiu pegando geral? Quer dizer, dormindo com metade da escola…
ainda sim, era desconfortável saber que ele beijou tanta gente.
— Bom, agora a parte final. Por incrível que pareça, ainda tem
esse negócio das meninas acreditarem que precisam dele pra ser a
rainha do baile — ele forçou um sorriso triste — e ainda ficam indo
pra cima pra ver quem dorme com ele primeiro — o olhei ainda mais
confusa.
— Mas Melissa e Kath já… — não consegui evitar uma faísca
de esperança para que ele não tivesse indo além com elas.
— Eu avisei pra ele que as duas e Raquel eram problemas —
Elliot deu de ombros.
A faísca de esperança se apagou com a mesma rapidez em que
apareceu. Eu não devia me sentir assim, um nó no estômago, um
desconforto em saber que elas já o tiveram a esse nível de
intimidade. Não devia me sentir assim! Entrei nessa sabendo quem
ele era e já tinha o visto com Raquel em seu quarto.
— Pelo menos agora que está com você, mesmo que de
mentira, ele sossegou — disse se levantando. Bateu a mão nas
calças tirando todo a areia e estendeu a mão para mim.
— Sossegou? — Questionei me levantando e vendo Cameron e
Melissa próximos de uma pedra enorme que tem forma de bico de
papagaio parecendo estar discutindo.
Ela tentou tocar o rosto dele e ele a afastou. Voltei meu olhar a
Elliot.
— Que tipo de sossego é esse que ele vai a festas no fim de
semana? — Questionei rindo, mas ele não riu, não mostrou nem se
quer um vestígio de humor. Sua expressão estava franzida.
— Festas? Sábado passado a gente foi jogar hóquei, na
verdade, nos últimos finais de semana a gente anda jogando vários
esportes, inclusive, seu pai e tio Arthur vão com a gente.
Isso explicava meu pai essa semana falando muito sobre
Cameron saber jogar vários esportes, parecia até um fã, mas não
explica Cameron ter me falado que continuaria saindo nos fins de
semana.
— O q… — Parei de falar quando vi Melissa indo para cima de
Cameron como se fosse beijá-lo.
Todos os meus sentidos afloraram e minha primeira reação foi
querer ir até lá, mas Cameron a impediu, disse algo a ela e se
afastou vindo em nossa direção.
— Se posso te falar uma coisa é, aproveite esse namoro e se
permita conhecer Cameron, apenas conhecer. É claro que ele vai
dar em cima de você — rimos —, mas ele é mais do que você acha
que conhece. Ele só tenta mostrar o contrário, é muito cabeça dura
também, não gosta de admitir os sentimentos…
Olhei Elliot surpresa e sorri de forma que ele sorriu. Ele
conseguiu me passar a resposta que eu precisava, não a resposta
completa, mas amenizou um pouco a minha dúvida. Ok, eu aceitaria
o desafio de entender Cameron.
Cameron estava com o rosto avermelhado, era nítido sua
impaciência, ele passou direto pela gente e parou perto do mar, o
observando.
— Vou deixar vocês a sós — Elliot disse, mas antes de sair ele
abaixou o tom de voz — todos estão de olho em vocês — avisou.
Concordei e ele saiu. Decidi não olhar para trás, olhei Cameron,
em seguida percebi que algumas líderes estão próximas
conversando e olhando para nós.
Me aproximei de Cameron ouvindo sua respiração pesada e
deslizei a mão em sua cintura o abraçando por trás. Ele suspirou
quando beijei seu ombro e passou as mãos em meus braços.
— O que aconteceu? — Ele passou a mão na nuca.
Parei ao seu lado, peguei em seu braço o colocando envolto
dos meus ombros e o abracei pela cintura. Cameron beijou o topo
de minha cabeça acariciando meus cabelos e meus lábios formaram
um sorrisinho.
— Nada de importante — disse naturalmente.
Os meninos estavam se divertindo a base de álcool correndo
envolta da fogueira, não fazia ideia de quando foi que surgiu uma
caixinha de som.
— Por que não vai com eles? — Questionei me virando para
olhar o pessoal e ele se virou também, sem tirar o braço de meus
ombros — Se distrair um pouco?
— Por que eu iria?
— Se quiser eu volto dirigindo — sugeri e ele riu.
— Mas eu não bebo — disse rindo da minha cara.
— Eu achei que…
— Você acha muitas coisas às vezes — riu beijando o topo de
minha cabeça. O jeito que ele falou comigo e agiu de forma fofa me
desestruturou. Que isso?
— Gente, tô a fim de meter o pé — Calleb resmungou se
aproximando de nós — toda essa energia, tô sentindo tudo, odeio
ser uma esponja.
— Devíamos ir pra minha casa e a gente assiste um filme,
Becca já vai dormir lá mesmo — Natalie sugeriu e eu concordei
balançando a cabeça.
Cameron avisou Peter que iríamos embora. Estava tudo certo
até Kristen e uma outra garota questionar para onde íamos e se
ofereceram para ir também.
Eu teria dito não tranquilamente, mas Natalie não conseguiu.
— Meu nome é Paloma, sou do grêmio — a garota entendeu a
mão para mim com um sorriso falso no rosto.
— E está buscando informações para repassar para Karen —
completei apertando sua mão e sorrindo da mesma forma que ela.
Seu sorriso se desfez e Cameron riu me empurrando contra o carro
dele.
— Não começa, marrentinha — brincou beijando meu rosto.
— Nem comecei, estressadinho — abracei sua cintura.
— Levou seu remédio lá pra casa? — Questionou me
abraçando pelos ombros enquanto me olhava nos olhos.
Mas seu olhar logo desceu aos meus lábios e eu me lembrei de
suas palavras "Eu vou te beijar se você ficar próxima desse jeito".
Meu corpo todo se esquentou.
— Levei sim — franzi o cenho — Como você sabe?
— Meus sogros me contaram — disse se gabando. Nos
olhamos e rimos.
— Vamos? — Calleb questionou — Não acredito que essas
meninas vão junto — disse bufando.
— Nem eu… — Disse entrando no carro após Cameron abrir a
porta para mim.

Os pais de Cameron estavam em casa e tia Eliza parecia nos


esperar há horas pois assim que chegamos, ela chamou eu e
Cameron para o escritório de Arthur.
— Eu e Arthur decidimos colaborar com o relacionamento falso
de vocês — iniciou após nos sentarmos de frente para ela — antes
de acharem brega, Natalie me contou que vocês não estavam
convencendo ninguém…
— Mãe… — Cameron tentou interromper, mas ela não o deixou
continuar.
— Então, decidi ajudar e vou explicar meu ponto de vista. Em
nenhum namoro Cameron fez o que eu quero que vocês façam
então isso com certeza vai deixar todo mundo chocado.
— Meu Deus — Cameron murmurou quando Eliza colocou uma
caixinha preta em cima da mesa.
Eu e Cameron nos olhamos e começamos a rir. Tia Eliza nos
olhou confusa.
— Tia, já resolvemos o problema de não acreditarem em nós.
— Sim, não precisamos de… — Vi a expressão decepcionada e
constrangida de tia Eliza, e decidi levar essa conversa para outro
rumo.
— É uma ótima ideia — peguei a caixinha — e o ponto de vista
da senhora foi incrível — admiti e ela abriu um lindo sorriso.
— Tá falando sério? — Cameron questionou.
Parando para pensar, a ideia era ótima. Olhei tia Eliza e ela
apenas concordou, se levantou e saiu do escritório pedindo licença.
— Fala sério, Cameron, todo mundo quer um beijo como prova,
mas isso… Isso eles com certeza não estão esperando — expliquei.
Ele olhou para a caixinha, a pegou e a abriu pensando um
pouco.
— Ah não — disse a olhando e virou a caixinha para mim.
— Que lindinha — minha voz afinou quando a toquei — meu
Deus, que coisa mais linda — sorri olhando as alianças finas.
Uma com um pequeno símbolo de lua e a outra com um
símbolo de sol.
— Isso é coisa de Natalie, certeza — Cameron disse rindo.
— Você vai ser minha lua? — Brinquei e ele me olhou com um
sorrisinho.
— Eu não acredito que vou fazer isso — ele riu pegando a
aliança de sol, seus olhos brilharam quando me olhou e suas
bochechas ficaram avermelhadas — me dê honra senhorita Malik?
— Disse cordialmente estendo sua mão para mim.
— Claro, senhor Styles — sorri colocando minha mão em cima
da sua.
Ele colocou a aliança em meu dedo com um sorriso de uma
criança inocente que acabou de conseguir algo que queria muito e
eu sorri junto.
Peguei a aliança de lua, estendi a mão e ele colocou sua mão
em cima da minha após tirar o anel preto que estava em seu dedo.
Ele amava usar anéis em seus dedos.
— Cameron William Styles, aceita namorar comigo? —
Questionei rindo e ele gargalhou.
— Tá engraçadinha, né? — Disse rindo e arrumando a aliança
no dedo.
— Gente, pelo amor de Deus, vocês… — Natalie parou de falar
assim que abriu a porta — MEU DEUS NÃO! ELLIOT, CALLEB
CORRE AQUI — disse dando pulinhos enquanto balançava as
mãos animadamente.
— MEU DEUS A COLEIRA — Calleb começou a pular com
Natalie.
— Soldado abatido, JOSH PERDEMOS O GENERAL — Elliot
gritou.
Josh se aproximou rindo, Kristen e Paloma se juntaram a nós e
seus queixos caíram.
— Então é oficial mesmo? — Josh questionou — Parabéns,
cara — disse tocando na mão de Cameron e dando um meio
abraço.
Ele apenas balançou a cabeça para mim me parabenizando.
Então seria assim? Os meninos nem vão se quer tocar em mim?
Não gostava de como isso tinha acontecido, mas o resultado me
satisfez.
— AAAAAA PARABÉNS! — Calleb me abraçou.
— Obrigada — disse rindo.
Kristen e Paloma começaram a digitar rapidamente no celular e
saíram sem falar nada.
— Calleb, faz uma pipoquinha pra gente? — Natalie pediu,
Calleb concordou e saiu com Josh — Isso foi a minha mãe, não foi?
— Acho que eles esquecem da finalidade desse namoro — falei
em voz baixa.
— Ou talvez eles queiram que torne verdadeiro — eu e
Cameron olhamos, Natalie e Elliot riram. — Qual é? Nossos pais te
adoram, Becca. Enquanto estávamos longe e sem nos falar, minha
mãe vivia falando de você porque tia Olívia e ela sempre
mantiveram contato. Mamãe está nas nuvens e meu pai? Nossa!
Ele tá superfeliz com o relacionamento mesmo que falso.
— Isso ninguém me falou — olhei Cameron e ele deu de
ombros abaixando o olhar.
— Enfim, não vim aqui para falar disso, nem deveria estar
apoiando, mas acho que até eu estou gostando — Natalie disse
rindo — Kristen e Paloma me lotaram de perguntas, sejam
cuidadosos — avisou.
Saímos do escritório de tio Arthur e, antes que descêssemos as
escadas, tia Eliza chamou Cameron para o quarto dela. A observei
vendo que sua barriguinha já estava crescendo.
— Já desço — ele avisou e eu apenas concordei.
Desci as escadas me deparando com as meninas e Calleb
escolhendo um filme enquanto Josh e Elliot reclamavam.
Me sentei no sofá ao lado de Natalie e puxei a coberta que
estava atrás dela, logo me cobri e relaxei no sofá enquanto eles
discutiam sobre o filme.
Não demorou muito para que Cameron descesse. Paloma e
Kristen o olharam como se estivessem encantadas e fizeram
questão de lançar um olhar safado para ele.
Uma faísca se formou dentro de mim e, por segundos, senti
vontade de questionar se elas perderam algo nele. Mas meus
ânimos se acalmaram quando senti seus braços envolvendo minha
cintura. Cameron se cobriu e se deitou em meu peito.
— Vamos assistir um de terror — Josh sugeriu e todas as
meninas o olharam.
Não me importei com o assunto. Cameron riu pegando em
minha mão brincando com os meus dedos. Comecei a acariciar
seus cabelos e arranhar levemente sua nuca. Seu corpo
estremeceu, acabei sorrindo e beijando o topo de sua cabeça.
Eu nunca imaginei trocar carícias tão intensas com Cameron.
Por mais carinhosa que eu fosse com Isaac e os gêmeos, com
Cameron sempre fui bruta e retrucava suas implicâncias.
Lembro-me de quando tinha dez anos e ele onze, eu ia
completar onze em duas semanas. Estava com Natalie brincando de
futebol, até que ele chegou e pegou à bola só para nos provocar,
começou a me chamar de quatro olhos, mas o que irritou foi ele ter
falado que mulheres não jogavam bola. Eu fui para cima dele e
Natalie começou a gritar desesperada, ela sempre foi uma
princesinha em relação a brigas e eu só sai de cima de Cameron
porque tio Arthur conseguiu me tirar.
Acabei sorrindo discretamente com essa lembrança.
Sempre fomos assim, ele implicava comigo e eu rebatia. E
agora… Meu Deus, o mundo não girou, ele capotou.
Mas não vou mentir que esse namoro falso estava me
mostrando outros lados de Cameron e isso só piorava as coisas, me
sentia cada vez mais envolvida, mas não tinha pressa pra resolver
tudo, não precisávamos correr.
— E vocês, casal? — Paloma questionou.
Ela me olhava com uma certa repulsa e pouco caso.
— Tanto faz — Cameron deu de ombros me abraçando
totalmente e fechando os olhos após enterrar seu rosto na curva de
meu pescoço.
Senti sua respiração quente e foi impossível não lembrar de
seus leves beijinhos quando estávamos na praia.
— Tenho medo de terror — suspirei e ele riu abrindo seus olhos.
— Só me abraçar — sussurrou e quando virei meu rosto para
ele, a distância entre nossas bocas se tornou ainda menor, quase
nenhuma.
— Engraçadinho — comentei aos risos.
Mas ele pareceu longe, como se não entendesse uma palavra
se quer que eu havia dito. Seus olhos desceram até minha boca,
mordi o lábio inferior e ele passou a língua em seus lábios. Ele
sorriu e eu sorri junto. Expirei olhando pro teto e arrumando os
óculos em meu rosto.
— Você não comeu nada desde que fomos a praia. Nem
experimentou o marshmallow que assamos na fogueira — falou em
voz baixa enquanto os demais discutiam ainda sobre o filme e eu
dei de ombros — vem, vou fazer algo pra você comer — se levantou
e antes que eu retrucasse ele me puxou me levantando e trazendo
até a cozinha.
Depois de prepararmos um lanche natural, nos sentamos na
bancada.
— Você gosta de cozinhar, não? — Questionei o olhando.
— Sim, cresci vendo meu pai sempre cozinhando e às vezes
cozinho com ele — explicou, o olhei atentamente enquanto comia.
— Pretende seguir algo nessa área? — Ele balançou a cabeça
discordando.
— Cozinhar pra mim é só distração. Quero me formar em
direito, e você? — Questionou me olhando.
— Esse lanche estava incrível! — Disse lambendo os beiços.
— Eu sou demais mesmo — o empurrei pelo ombro aos risos.
— Só faltou uma coquinha geladinha — reclamei.
— Tem na geladeira, mas tomou seu remédio? — Questionou.
O jeito que ele se preocupava todo era engraçado e incomum.
— Vou tomar quando escapar da noite de filmes — avisei, ele
riu se levantando e pegando a coca, a colocou na mesa junto de
dois copos — Então, eu quero me formar em Ciências Contábeis e
fazer pós em Comércio Exterior.
— Isso é legal — disse animado enchendo nossos copos.
Bebi o líquido e senti minha alma renovada.
— Sim. Não vejo a hora do ano acabar e eu ir pra Stanford —
sorri ao terminar a fala — eu vou ir me medicar, obrigada pelo
lanche — agradeci beijando seu rosto.
Entrei na sala e Natalie não estava lá. Subi para o corredor e
quando estava prestes a entrar no quarto dela, a vi aos beijos com
Elliot. Ok, péssima hora, mas precisava me medicar. Ela disse que
estava no frigobar de Cameron.
Por que Cameron tinha um frigobar no quarto? E como eu
nunca notei sendo que já estive lá?
Entrei no banheiro do corredor pensando em como me medicar
após pedir para Cameron pegar a insulina. Não queria injetar em
sua frente, não mesmo e odiava só de pensar nisso, mas ao mesmo
tempo não podia ficar esperando, já tomei coca, acabei de comer e
só a insulina para me ajudar.
Sai do banheiro e trombei exatamente com quem eu estava
pensando. Ele me segurou pelos braços como se achasse que eu
fosse cair.
— Eu já ia falar com você — sorri nervosa — Natalie disse que
meu medicamento está no seu frigobar.
— Sim, vem, vou te mostrar — disse me trazendo até seu
quarto.
— Por que você tem um frigobar no seu quarto? — Questionei
vendo o pequeno frigobar preto no canto de sua mesa de estudos.
— Por que não teria? — O olhei ainda incrédula, mas dei de
ombros — Aqui está — disse me entregando cuidadosamente a
pequena caixa retangular de isopor que deixei minha insulina.
A peguei e me senti leve em não precisar pedir para ele sair, ele
mesmo pareceu notar meu desconforto.
— Vou ir tomar um banho enquanto você procura um filme pra
gente, pode ser? — Concordei e ele entrou em seu banheiro tirando
a blusa me deixando ver apenas suas costas e aquela tatuagem.
Apliquei o medicamento em meu braço e o guardei no frigobar
novamente.
Me sentei na beira da cama de Cameron, liguei sua tv e
comecei a procurar algo para vermos. Cameron amava Naruto e por
isso quem me ajudou a escolher seu presente de aniversário foi
Isaac. Uma luminária do Naruto Modo Kyuubi. Espero que ele goste,
quero presenteá-lo amanhã cedo e ver sua reação.
Decidi colocar o filme Correr ou Morrer, mas antes de
assistirmos, estava curiosa para saber o que Melissa disse a ele
para que ficasse irritado daquela forma.
Cameron saiu do banheiro apenas com um short preto e sem
camisa, seu corpo ainda está escorrendo água. Senti que ia babar
quando o olhei, mas desviei o olhar antes que pudesse passar
vergonha. Suspirei fingindo estar procurando um filme.
— O que Melissa disse pra você ficar tão bravo? — Questionei
sem o olhar.
— Não importa — o olhei e me tranquilizou vê-lo de camisa. Ele
se sentou na cama e bateu com a palma da mão no lugar vazio ao
seu lado.
Me aproximei e ele jogou uma coberta em mim, cobrindo-me.
— Importa sim — o olhei, seus cabelos estavam molhados e
bagunçados, isso lhe dava um charme ainda melhor — tem algo a
ver comigo? — Ele abaixou o olhar — Cameron — levantei seu
rosto pelo queixo.
— Não quero te deixar mal, bê — disse afastando o cabelo do
meu rosto.
— Não vai, me conte.
Ele suspirou.
— Ela primeiro disse que não acreditava no namoro e que se
fosse real, eu só estava com você pra… — Ele parou de falar e eu
concordei entendendo — E disse que poderia ser muito melhor que
você por não ser… — De imediato o senti desconfortável, mas
precisava saber tudo — Por não ser limitada em nada.
Arqueei a sobrancelha. Ah, ela não disse isso! Não era possível!
— Disse que você jamais poderia me dar uma vida normal —
ele deu de ombros — mal sabe ela que eu convivo com diabéticos e
é normal, você vive normalmente — sua voz era tranquila.
— Ela apelou para a minha saúde? — Questionei apenas para
confirmar.
— Sim, fiquei nervoso por ela falar assim de você — explicou se
aconchegando na cama —, mas já passou, ok? O que vamos
assistir?
05 de maio.
Me sentei na cama em um forte impulso, como se algo me
puxasse para cima. Meu corpo gelado, trêmulo e uma fome de me
consumir por inteiro. Minha visão estava turva e não conseguia ver
onde deixei meu aparelho que media a glicemia, mas tinha certeza
de que estava baixa.
Passei a mão na mesa de cabeceira tentando achar o abajur, eu
não estava em casa. Droga! Eu não estava em casa.
Ainda assim, consegui me levantar. Minhas pernas tremiam e
não sabia até quando me sustentariam. Me senti fraquejando com a
fome me consumindo. Estava lenta, com muito sono e desesperada.
Um barulho longo de pi dentro da minha cabeça me deixava zonza.
Meu corpo estava suando frio e eu sentia um vazio, como se fosse a
morte se aproximando.
— Becca — o ouvi longe e suas mãos me tocaram — droga,
você está gelada — disse me sentando na cama.
Não conseguia reagir, não conseguia fazer nada a não ser
estremecer. Cameron foi ágil pegando o medidor de glicose,
aparelho que informa se a diabete estava estável ou instável, furou
meu dedo mindinho com a caneta do medidor e o pouco de sangue
que saiu ele colocou na fita.
— Meu Deus — o ouvi falar e o barulho de pi em minha cabeça
estava mais constante e ensurdecedor.
Cameron não esperou. Levantou-se rapidamente e foi até o
frigobar. Me inclinei vendo o que estava no medidor de glicose e
estava o número 47. Uma crise de hipoglicemia, ou seja, o remédio
que tomei abaixou a taxa de açúcar do meu sangue de forma
violenta.
Cameron trouxe um pedaço de bolo de chocolate recheado e
deu em minha boca. Eu me sentia confusa e desnorteada, mesmo
assim aceitei. Quando parei de temer, peguei o prato e comecei a
comer sozinha depois que ele me deu dois pedaços.
— Beba isso, é mais rápido — disse me entregando um
achocolatado que aceitei o tomando.
Meus sentidos estavam voltando ao normal. Eu odiava essas
crises!
Diabetes era uma doença que eu tentava a todo custo entender.
Às vezes eu e ela estávamos de acordo, mas às vezes ela
conseguia me vencer.
— Obrigada — disse após terminar de comer — mesmo,
obrigada.
— Não precisa agradecer — ele sorriu sincero, mas ainda me
olhava com preocupação. Senti meu corpo tenso e suado — Está
melhor? — Concordei.
— Posso tomar um banho? — Questionei apreensiva.
— Claro, sem problemas — ele se levantou e eu me levantei
também — tem toalha limpa no armário — concordei, mas antes de
entrar no banheiro, voltei o caminho e o olhei nervosa e
envergonhada.
— Pode me emprestar uma blusa? Não tenho uma boa para
dormir agora que essa já foi — pedi em voz baixa.
Eu só queria me enfiar em um buraco e não sair mais!
Cameron se levantou e me entregou uma blusa preta.
Tomei um banho rápido e coloquei novas roupas. Me sentei no
chão do banheiro e não consegui deixar de chorar, odiando dar
trabalho para as pessoas por causa da diabete, e não conseguia
deixar de me sentir mal por preocupar Cameron, por fazer ele
acordar no meio da madrugada.
Não devia ter vindo dormir aqui, eu realmente não podia dar
uma vida normal a Cameron. Essas crises são raras, mas nunca
paravam.
Sai do banheiro tentando ao máximo disfarçar que estava
chorando. Cameron estava mexendo no celular sentado na cama,
mas ao lado da mesma estava montada uma cama improvisada no
chão com cobertas bagunçadas em cima. Não era justo!
Estava frio e ele dormindo no chão por minha causa, não era
certo.
Ele largou o celular assim que me viu.
Não o olhei, sabia que voltaria a chorar só dele começar a falar
comigo.
— Becca, tudo bem? — Questionou se levantando.
Balancei a cabeça concordando e tentando desviar dele, mas
ele me puxou pela cintura. Ainda sim tentei não o olhar e senti meus
olhos lacrimejando.
— Ei — ele passou os dedos em meu cabelo — O que foi? —
Funguei limpando os olhos — Becca…
— Me desculpa — pedi o olhando e ele riu me abraçando — é
sério, não queria te preocupar — sussurrei sentindo meu coração
apertar e as lágrimas saírem sem controle — já estraguei seu
aniversário.
— Becca, meu amorzinho — ele me fez o olhar — não foi sua
culpa. Você aplicou a quantidade que sempre aplica de insulina? —
Questionou limpando meu rosto e eu concordei balançando a
cabeça — Então, infelizmente isso acontece e tudo bem.
As lágrimas ainda insistiam em descer pelo meu rosto.
Cameron se sentou na cama, me puxou e deitou comigo. Me
abraçou e começou a acariciar meus cabelos. Ele ficou em silêncio
e eu me senti tão confortável em me permitir estar ali com ele. A
vergonha de ter passado mal em sua frente se amenizou na medida
em que sentia suas carícias em meus cabelos, mas eu sabia que
nunca mais iria querer dormir aqui, mesmo que essas crises
acontecessem raramente, não o queria se preocupando com isso.
Estava deitada em seu peitoral quando ele se mexeu como se
fosse levantar, só então percebi que estava sem camisa.
— Becca, vou me deitar na outra cama — disse quando o olhei,
apenas a luz de seu abajur iluminava o quarto e seu rosto estava
sereno — quero que você durma confortável.
— Então dorme aqui, não é justo você dormir no chão com esse
frio todo. A cama é grande — falei com voz sonolenta.
— Não me importo de dormir no chão desde que você durma
confortável — voltei meu olhar a ele. Sorri beijando seu rosto e o
abraçando mais forte. Ele prendeu a respiração como se aquilo
fosse surpresa.
— E eu não me importo de dividirmos a mesma cama porque
estou confortável com você aqui — sussurrei e vi um sorriso se
formar em seus lábios.
— Tem certeza? — Questionou. — Eu só durmo assim — disse
se referindo a estar se camisa. Desliguei o abajur e me aconcheguei
em seu peitoral novamente.
Era claro que eu tinha certeza.
— Boa noite, amor — falei me entregando ao sono.
Eu falei amor? Devia estar realmente com muito sono.
Senti o peso de ser observada e abri meus olhos lentamente.
Acredito que no meio da noite eu e Cameron trocamos nossas

posições, pois agora ele estava deitado em meu peito me

abraçando pela cintura enquanto eu estava com os braços envoltos

de seus ombros.
Natalie e Calleb pulavam em silêncio animados nos olhando
como se fossem duas crianças prestes a irem a um parque de
diversões, sorri abrindo totalmente os meus olhos e fazendo sinal de
silêncio para eles.
— Vamos fazer um churrasco hoje — Calleb disse quase que
sem som e eu concordei piscando para ele.
— Vou deixar aqui — Natalie disse sem som nenhum, apenas
movimentando a boca, e colocou a caixa do meu presente para
Cameron em cima da mesa de cabeceira.
— Obrigada — sussurrei e ambos mandaram beijos para mim.
Calleb saiu primeiro e Natalie se virou para mim, colocou a mão
no peito e a outra na cabeça como se fosse desmaiar de emoção e
saiu aos risos.
Observei Cameron dormindo tranquilamente, parecia um anjo
de tão sereno que estava. Passei levemente os dedos em sua
sobrancelha, em seguida acariciei seus cabelos sentindo uma
alegria crescer dentro mim e, metaforicamente falando, percorrer
minhas veias junto com a minha corrente sanguínea.
Eu acho que gosto dele. Suspirei com esse pensamento. E vai
doer, ah, vai doer muito.
Quando terminarmos o colegial, quando irmos para a faculdade
ou melhor, quando ele decidir que está na hora de terminar essa
farsa e enjoar de mim… vai doer. Isso tudo vai doer. E por mais que
eu soubesse disso, da encrenca em que estava entrando, eu não
me importava.
Um coração quebrado não me mataria e eu não estava com
medo de arriscar. Sabia dos meus objetivos e metas, confesso que
até então Cameron não me mostrou que era uma pessoa que
seguiria meus objetivos, acredito que ele entenderia, mas na prática
era diferente. E, por conta disso tudo, seguiria com o
relacionamento falso, me permitiria uma nova experiência, mas
admitir os sentimentos? Tomar o primeiro passo? Não, isso não.
Me soltei cuidadosamente dele e ele se mexeu um pouco.
Caminhei até o banheiro, troquei minhas roupas e escovei os
dentes, peguei a blusa dele e a cheirei deixando um sorriso se
formar em meu rosto.
Olhei-me no espelho rindo de mim mesma... como eu estava
ferrada!
Sai do banheiro e vi Cameron se espreguiçando.
Seu corpo era tão lindo, forte, musculoso e definido e eu
provavelmente começaria a babar se prolongasse meu olhar nele.
— Bom dia flor do dia — disse pegando minha bolsa e
arrumando as coisas.
Ele olhou a caixa em sua escrivaninha, me olhou e se levantou.
— Bom dia bê — beijou minha cabeça e entrou no banheiro.
Me olhei no espelho por instantes depois de colocar minha
bolsa novamente na cadeira. Andei de um lado para o outro
sentindo o nervosismo tomar conta de mim. Ele vai gostar do
presente? Ele vai odiar? Estou fazendo certo em dar um presente
assim para ele? Não era muito precipitado?
Me sentei na cama pegando meu celular na tentativa de me
distrair.
— Vai ficar pro churrasco? — Questionou saindo do banheiro.
Estava com uma bermuda preta e uma blusa azul claro que
combinava com os seus olhos.
— Vou a igreja primeiro, mais tarde eu volto — me levantei
pegando seu presente — para você — estendi a caixa e ele sorriu
se aproximando. — Feliz aniversário!
— Você me dando presente? Deus fez uma obra na sua vida —
ele brincou pegando a caixa e me fazendo rir —, não precisava,
sério.
Nos sentamos enquanto ele desembrulhava o presente e ele
inclinou as costas as apoiando na borda da cama, parecendo
relaxar.
— Isaac me disse que namorados dão presentes, não tive
argumento contra ele — expliquei me lembrando que Isaac era o
maior apoiador do meu namoro com Cameron e disse que para ele
não era nada falso.
Ele abriu a caixa e seu rosto se iluminou com um sorriso largo.
— NÃO ACREDITO! — Disse eufórico — Becca, não acredito,
muito obrigado! — ele olhava o presente com um sorriso lindo.
— Fico feliz que você tenha gostado — disse o vendo guardar a
luminária com cuidado e ele me puxou me abraçando.
— Gostei mesmo — seus olhos buscaram os meus.
— Preciso ir, volto depois — me levantei e selei nossos lábios
rapidamente.
Me dei conta do que havia feito quando estava próxima da porta
e senti um frio gigantesco no estômago. Meu Deus, o que eu fiz?
Virei-me lentamente em sua direção sentindo meu rosto queimar
e minhas mãos suarem, ele parecia desnorteado e passou os dedos
nos lábios.
— Meu Deus — disse ainda em choque e me aproximando dele
com passos pesados e o coração disparado por ter agido totalmente
no impulso —, me desculpe.
Seu sorriso maroto ficou ainda mais largo e ele disse:
— Eu amei esse presente — passou a língua nos lábios —
devia se estender dia todo, pelo menos hoje — o olhei confusa e
tensa.
— Como? — Questionei curiosa.
— Como presente de aniversário você podia liberar… — ele
sorriu — pelo menos o selinho, hoje o dia todo, sempre que eu
quiser — gargalhei com a sua proposta.
— Até parece — balancei a cabeça negando e consegui sentir
meus músculos relaxando.
— Qual foi? Está com medinho, Malik? — Questionou em tom
desafiador.
Passei a língua nos lábios sabendo que não resistiria.
— Ok, válido — me rendi sentindo meu coração disparar.
O medo de partirmos para um beijo real e eu fazer algo errado
era enorme, mas eu já estava aqui, não fugiria agora.
— Sempre que eu quiser? — Ele estendeu a mão como se
estivéssemos fazendo um acordo.
— Sempre que você quiser — apertei sua mão em
concordância.
E foi o necessário para Cameron me puxar. Cai sentada na
cama, ele me deitou encaixando a mão em minha nuca e selou
nossos lábios como se esperasse por aquilo há tempos. Deu outro
selinho e passou a língua contornando meus lábios, abri um pouco a
boca sem lhe dar o espaço suficiente para um beijo e ele agarrou
meu lábio inferior com os dentes o puxando levemente.
Meu coração disparou ainda mais, apertei sua cintura e ele
puxou levemente meu cabelo, dei um último selinho nele... eu
desmaiaria, tinha certeza.
— Não sabia que isso fazia parte do seu combinado de
aniversário — comentei sem me afastar dele enquanto sentia minha
nuca suando.
— Isso te incomoda? — Questionou beijando minha bochecha
até roçar o nariz em minha nuca.
Respirei pesado o empurrando.
— Não nos deixeis cair em tentação — murmurei um trecho do
'Pai nosso' rindo e ele riu quando me levantei — até mais tarde,
Styles.
— Até, Malik — disse sem esconder o sorriso.
Peguei minha bolsa e sai de seu quarto após pegar a caixinha
de isopor de seu frigobar.
— Bom dia gente — disse sorridente.
Elliot e Natalie se entreolharam e então percebi que estava mais
empolgada do que deveria.
— Bom dia querida — tia Eliza beijou meu rosto — vai tomar
café com a gente? — Neguei com a cabeça.
— Obrigada, mas não. Vou a igreja primeiro — expliquei e ela
concordou.
— Tem culto hoje? — Natalie questionou confusa.
— Não, os cultos são aos domingos e tem reuniões de ajuda
aos dependentes químicos na quinta, mas sábado e domingo de
manhã eles deixam a igreja aberta das oito às onze, caso alguém
queira ir orar ou só conversar mesmo, quer ir? — Natalie pareceu
tentada e tia Eliza sorriu animada.
— Queria muito, mas vou amanhã, tenho que preparar as
coisas do churrasco.
— Ok.
Abracei tia Eliza e Natalie, cumprimentei Elliot e sai.
O churrasco começou às sete da noite e eu estava enrolando
até agora, tinha feito de tudo para não ficar muito tempo com
Cameron hoje por medo, insegurança e confusão.
Levei minha mãe para almoçar hoje em um restaurante longe
daqui e isso serviu de desculpa. Mamãe mostrou uma foto de
Cameron a Angel, minha prima de quatorze anos que foi com a
gente, e ela ficou o tempo todo falando o quanto ele era lindo e
parecia um príncipe, mas meu pensamento estava longe.
Quando fui a igreja, não precisei explicar a situação ao pastor,
comecei a chorar e como um pai ele me abraçou e disse: “Deus é
Deus de certeza. Mas pessoas machucadas podem ser confusas
com seus sentimentos e isso pode atrapalhar relacionamentos, mas
tenha paciência e fé, o amor é paciente e pode curar doenças do
coração”.
Em seguida ele disse o que estava em Josué 1:9: “… seja forte
e corajoso!”. E mesmo não querendo, no fundo do meu coração eu
entendia que teria que ser forte mesmo sabendo que a situação
tendia a doer. Foi incrível, eu chorei muito com suas palavras, mas
as entendi. O pastor Joseph não sabia o que estava acontecendo
entre eu e Cameron e mesmo assim seu conselho havia sido ótimo.
Cameron, pelo que Elliot me contou, sofreu por Alice. Talvez
seja essa a insegurança dele. A sua doença coração era devida a
uma garota que não o amou como ele merecia. Eu não sabia se
podia amá-lo como ele merecia, mas não podia descartar a
possibilidade, ainda não entendia meus sentimentos e também não
queria dar algo incerto a ele.
— Querida… — Minha mãe chamou, só então percebi que
estava com o rosto molhado por algumas lágrimas, e a olhei.
— Eu acho que gosto dele — ela sorriu me abraçando enquanto
eu limpava o rosto com a manga da blusa.
— E você já está sofrendo por isso? — Questionou com voz
suave.
— Mãe, eu não quero viver um vamos ver no que vai dar —
disse fungando.
— Becca, você já viu como ele te olha? Não acho que ele queira
qualquer coisa com você, ele parece gostar de você de verdade —
disse com sinceridade.
A olhei colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha.
— Não sei o que fazer e ser a primeira a falar sobre os
sentimentos está fora de cogitação! — Afirmei e minha mãe riu.
— Vocês são dois cabeças duras — ela afastou meus cabelos
dos ombros — e orgulhosos! Vão ficar esperando um admitir pro
outro os sentimentos. Já está em vocês, não é? Essa implicância
toda — ela se levantou, concordei rindo e me sentindo mais calma
— eu não vou me envolver nisso, mas se precisar estarei aqui —
disse beijando o topo de minha cabeça — aliás, ele está lá embaixo
te esperando.
— Ele o quê? — Questionei assustada e sentindo meu corpo
estremecer de euforia.
— Não demore, vou ir para a sua avó — disse saindo do quarto.
Me olhei no espelho com nervosismo. Eu sempre fui tão sem
graça assim?
Analisei minhas roupas. Meu conforto sempre vinha primeiro,
mas as vezes me sentia um tanto sem graça diante de todas as
meninas. Cameron não me olhará por muito tempo, mas eu estava
me preparando para isso e não mudaria meu estilo. Meu rosto
estava levemente avermelhado pelo choro.
— Todo mundo na festa e minha namorada se olhando no
espelho — ouvir sua voz e fez dar um gritinho de susto e ele riu me
olhando.
Estava com uma calça jeans preta, uma blusa cinza, um casaco
preto e um jordan preto, branco e vermelho. Ele mexeu no cabelo o
jogando para trás.
— Estava chorando? — Questionou, eu neguei e ele me olhou
desconfiado — Vamos?
— Vamos — disse colocando meus óculos.
Me despedi de minha mãe e sai com Cameron. Era possível
ouvir a música alta ainda que estivéssemos na rua, sabia que não
me sentiria muito confortável, mas concordei em vir por ser
aniversário dele.
— Tem muita gente? — Questionei assim que paramos na porta
de sua casa. Cameron simplesmente ignorou minha pergunta e
selou nossos lábios com ternura.
Ele sorriu colocando as duas mãos em minha nuca e selando
nossos lábios outra vez. Gelei e meu coração bateu forte e rápido.
Apertei sua cintura e ele acariciou minhas bochechas com seus
polegares.
O segurei pela mandíbula o afastando.
— Vamos entrar, seu atentado — ele riu concordando.
Entramos e eu me senti um tanto perdida vendo sua casa
lotada.
A música alta, fumaça de narguilé invadindo o espaço, jovens
com bebidas nas mãos, gente se beijando, quase se comendo e
todos dançavam animadamente.
Passamos da sala. Cameron estava atrás de mim e afastava as
pessoas que estavam dançando. Ele cumprimentava várias pessoas
com um sorriso no rosto.
Suspirei quando chegamos na área da piscina e churrascaria de
sua casa. Exalei o ar e senti a brisa fria batendo em meu corpo. O
tempo estava frio, bem frio.
Aqui perto das piscinas estava mais tranquilo. Calleb, Natalie e
Luce — a amiga de Jasper — estavam sentados em um sofá.
— Cameron, filhão, traz sua namorada aqui — tio Arthur
chamou, Cameron e eu nos olhamos e seguimos em direção a
Arthur — essa é a namorada de Cameron — me apresentou a um
homem de cabelos grisalhos que não parecia ter mais de cinquenta
anos — esse é meu irmão, Thomas, trabalhou em Stanford —
estendi minha mão o cumprimentando.
Arthur me apresentou a alguns outros familiares e Cameron não
tirou a mão de minha cintura em nenhum instante, principalmente
quando um de seus primos tentou me abraçar, ele simplesmente me
apertou e me puxou com cuidado impedindo que o abraço
acontecesse.
— Acho melhor você ir com Natalie — Cameron sussurrou
calmamente em meu ouvido me deixando arrepiada, me virei o
olhando e ele ainda assim não me soltou.
— Por que você tá tão estranho? Está agindo como um
namorado ciumento — brinquei, mas ele se manteve sério.
Seus olhos seguiram para trás de mim. Olhei na mesma direção
e vi que seu primo, o que tentou me abraçar, ergueu o copo em
cumprimento e voltou a fumar seu cigarro.
— Depois te explico, prometo — disse beijando minha testa.
Concordei selando nossos lábios. Ele sorriu, mas ainda parecia
tão tenso que me dava agonia. Me soltei dele e o vi se aproximar de
seus parentes brincando com o mesmo primo que o deixava
incomodado.
— Oi gente — disse me aproximando e beijei o rosto de Natalie,
Calleb e Luce.
Eles sorriam para mim e continuaram a conversa, estavam
analisando cada pessoa enquanto Luce e Calleb compartilhavam do
mesmo narguilé. Observei Luce, ela era linda e transmitia uma luz
incrível, seu rosto não me era estranho e eu sentia uma certa
familiaridade estando perto dela. Olhei na mesma direção que ela
estava olhando e admirando, e vi que era Melissa dançando. Voltei
meu olhar para ela, ela sorriu, ergueu o copo em minha direção e
em um gole só secou o copo, apenas sorri para ela.
— Amiga, tem coca na geladeira se você quiser — Natalie
avisou e suas palavras foram como uma luz de escape para mim.
— A casa na árvore ainda está em uso? — Questionei em voz
baixa e ela concordou — qualquer coisa, estarei lá.
Ela se preparou para rebater ou talvez se ofereceria para ir
comigo, mas Elliot se aproximou de nós.
— Não se preocupe — sorri beijando o rosto dela.
Caminhei até a cozinha vendo que tia Eliza conversava com
algumas mulheres e me apresentou a seus parentes. Amberly e
Hilda, que são tias de Cameron e Natalie, e Kiara, filha de Amberly,
que me deu um abraço caloroso e disse que estava feliz por
Cameron ter sossegado.
As mulheres se retiraram quando alguns adolescentes
invadiram a cozinha para pegar mais bebida. Peguei uma lata de
coca e me senti frustrada por não ter coragem de ir buscar carne,
considerando que tinha inúmeras pessoas desconhecidas ou que eu
não tinha intimidade alguma.
— Eu desisto — ouvi a voz aguda de Melissa, fechei a geladeira
e a olhei, estava com o rímel borrado, o cabelo colando na testa
molhada de suor e o nariz vermelho — eu não te odeio — disse de
forma enrolada, o suficiente para notar que ela estava bêbada —,
mas eu o amo e ele gosta de você, isso acabou comigo e com o
meu futuro com ele — ela começou a chorar e quando pensei em
fazer algo, ela se afastou sem me olhar e saiu da cozinha.
Parei um tempo refletindo sobre suas palavras, eu nunca quis
tirá-lo de ninguém.
Sai da cozinha. Quando passei pela sala, senti pessoas me
puxando para dançar, desviei de todos e finalmente consegui chegar
até a área da piscina. Caminhei até a parte de trás da churrasqueira,
desci os degraus de concreto com alguns matos envolto e
finalmente cheguei na velha casa da árvore.
Parecia intacta como na minha infância.
Subi os degraus de madeira e senti uma felicidade tomar conta
de mim. Tantas lembranças boas de minha infância com Natalie e
até mesmo com Cameron.
Antes eu conseguia ficar em pé normalmente aqui dentro, mas
agora, só conseguia andar com as costas encurvadas para não
bater a cabeça.
Algumas coisas pareciam iguais, um pouco mais velhas, porém,
iguais. Os desenhos que eu e Natalie fazíamos na parede
continuaram aqui, a marca de bola que quase quebrou a parede que
Cameron fez e a nossa coleção de botons da Barbie permaneciam
pregados na parede.
Caminhei até a parte de fora da casa e me sentei onde a cerca
estava quebrada, até hoje não fizeram uma cerca nova. Balancei
meus pés olhando para o céu; quando ficava triste com a minha
mãe, pulava o muro que separa minha casa da de Natalie e vinha
para cá, ela sempre vinha ao meu socorro ou eu no dela. Tínhamos
um pequeno rádio transmissor e nos comunicávamos por ele.
Lembrar disso me fez sorrir.
Abri minha coca, bebi um gole e em seguida fechei meus olhos
me deixando ouvir o silêncio. A barulheira da festa estava longe,
aqui ninguém me incomodava, não precisava fingir nada, nem ouvir
os surtos de ninguém.
— Então, Deus… sobre o que estávamos conversando hoje
cedo — olhei para o céu sabendo que Ele estava me ouvindo — eu
sinto algo por ele que cresce cada vez mais, não sei o que vai
acontecer daqui para frente, mas espero que o Senhor o aprove,
aprove a minha decisão de querer fazer dar certo.
Calei minha voz quando a silhueta distante de Cameron. Ele se
aproximou até chegar na casa da árvore, subiu com mais rapidez
que eu e se sentou ao meu lado.
— Já comeu? — Cameron questionou se sentando ao meu
lado.
— Ainda não — ele acariciou meu cabelo e selou nossos lábios.
— Você precisa comer — disse analisando cada traço do meu
rosto, como se quisesse fixar minha imagem em sua mente.
— Eu vou.
— Por que está aqui sozinha? — Me virei um pouco de frente
para ele e ficamos ainda mais próximos.
— Por mais que eu tente, essas festas não são para mim —
expliquei e ele sorriu ainda acariciando meu cabelo.
— Tudo bem, na verdade, nem eu sabia que viria tanta gente,
até então era só a família e alguns amigos — olhei a lua me
deitando no ombro de Cameron e entrelaçando nossos dedos.
— Vai me contar por que mudou totalmente na frente do seu
primo? — Questionei acariciando sua mão com o polegar e ele
beijou o topo de minha cabeça.
— Não confio nele desde que tentou ficar com uma empregada
a força — disparou e uma agonia passou pelo meu corpo inteiro e
apertei sua mão, acho que ele sentiu pois me abraçou firme — e se
alguma coisa te acontecesse eu…
— Não pense nisso — pedi o olhando —, por favor.
— Eu penso sempre, Rebecca — disse colocando uma perna
atrás de mim e a outra pendurada me deixando entre elas — na
escola, no trabalho e até na igreja. Penso em você, na Natalie, na
minha mãe — suspirou afundando os dedos em meu cabelo — sei
que existem vários Oliver e pessoas como o meu primo — explicou
acariciando meus cabelos próximos da nuca — e eu sempre percebi
como te olham na escola, é uma loucura, nunca tinha visto nada
igual.
Olhei para frente novamente e suspirei.
— Foi depois de descobrirem que eu nunca tive nada com
ninguém — expliquei.
Esse assunto se tornou um tanto embaraçoso de se falar com
Cameron e eu simplesmente não entendo o porquê.
— Uma grande idiotice — disse me puxando e selando nossos
lábios com suavidade. — Te incomoda, não? Precisar de um homem
para afastar outros homens.
Suspirei. Ele não fazia ideia de como incomodava.
— Demais. Porém, pelo menos funcionou. Não gosto de como
aconteceu, mas funcionou, na faculdade não vai ter isso — dei de
ombros.
Ele sorriu beijando meu ombro.
— Só isso te importa, não é? A faculdade.
— E com o que mais eu deveria me importar? — Questionei e
pelo seu silêncio entendi que ele gostaria de outra resposta.
Busquei seus olhos, mas eles não me deram resposta alguma.
— A temporada começa semana que vem, se importa de ir a
alguns treinos e jogos? — Questionou afastando a mão de meu
cabelo.
— Não para — choraminguei pegando sua mão e colocando
novamente em meu cabelo e ele me olhou com um sorrisinho no
rosto — aliás, treinos, tudo bem. Consigo um horário na minha
agenda — brinquei tirando um pouco da tensão —, agora nos
jogos? Conhece meu pai? Ele com certeza vai me fazer ir a jogos
até debaixo de chuva — rimos, ele puxou levemente meu cabelo me
fazendo prender a respiração e olhar para frente.
— Sogrão me apoia, porque a filha — ele me puxou nos
deixando mais próximos — não quer nem saber.
— Eu não disse isso — rebati o olhando.
— Só vai me ver jogar porque Owen gosta de futebol — disse
me dando um selinho e me envolvendo em seus braços quase que
me deitando.
— Vou te ver jogando porque sou sua namorada — expliquei o
puxando para outro selinho.
— Minha namorada — ele deu um sorrisinho bobo.
Seus lábios roçaram nos meus com calma e ele os selou
suavemente enquanto apertava minha cintura.
— Ah gente — sua voz soou desapontada — odeio atrapalhar,
se beijem logo — disse Natalie impaciente —, vamos cantar os
parabéns.
Cameron e eu nos arrumamos aos risos. Natalie me olhou
entediada como se nos reprovasse, em seguida abriu um sorriso
sincero e animado. Ela saiu andando e o clima ficou um tanto
desconcertante, eu realmente ia beijá-lo? Ah, eu iria.
Ele me ajudou a descer da casa da árvore e seguimos até a
área de piscinas abraçados. Natalie nos olhou como se ainda não
acreditasse no que via, apenas riu e foi até Elliot.
— Vem comigo, querido — tia Eliza chamou Cameron.
Me soltei dele e me aproximei de Luce que estava na beira da
piscina.
— Eu não tinha te visto na escola até ontem — comentei me
aproximando dela.
— Pois eu já tinha te visto — ela sorriu —, sou Lucinda Martín.
— Sou… — Parei de falar quando ela me olhou incrédula e
rimos juntas.
— Ele gosta mesmo de você — disse bebendo o líquido de seu
copo e olhou Cameron — Tinha que ver como ele ficou puto com
Oliver.
Abri minha boca para falar, mas parei quando começaram a
cantar os parabéns. Os meninos ficaram zoando na hora de cantar e
virou uma bagunça enorme.
— COM QUEM SERÁ… — Peter começou e eu senti meu rosto
queimando quando todos o acompanharam.
— VAI DEPENDER SE A BECCA VAI QUERER — o time todo
gritou.
Senti vontade de me enfiar em um buraco e Cameron não se
aguentava de rir da minha cara.
— ELA QUER — Natalie gritou fazendo todos rirem, mas muitas
garotas da escola não pareciam ver naquilo tudo.
— Faz um pedido — Josh disse em voz alta.
— CASAR COM A CAPITÃ — Peter gritou me fazendo colocar a
mão no rosto de vergonha, tio Arthur e tia Eliza riram.
Cameron riu me olhando e apagou as velas. Ele me olhou
novamente enquanto todos batiam palmas, seu olhar parecia que
ele tinha feito exatamente o que Peter disse.
— Vamos cortar o bolo, vem querido — tia Eliza o chamou.
A música voltou assim que os dois saíram da área da piscina
entrando na casa.
— Acho que o pedido dele foi o que Peter falou — Luce disse
me lembrando que ainda estava ao meu lado.
Antes que eu pudesse responder, fui jogada para dentro da
piscina após alguém trombar em mim com força. O frio dominou
meu corpo e eu me impulsionei subindo para a superfície. Melissa
me olhava com culpa e desespero. Todos tinham parado enquanto
eu conseguia sair da piscina. Melissa estava em choque, mas seu
choque se acabou quando Luce lhe deu um tapa tão forte que a fez
cair no chão.
— Eu tô cansada de você, sua desgraçada! — Luce exclamou.
Melissa tocou em sua bochecha avermelhada pelo tapa, os
olhos cheios de água e carregados de culpa.
— Me desculpa — ela disse baixinho — eu não… — Luce gritou
algo para ela o qual eu não entendi.
Quase não conseguia me mexer.
Frio, eu nunca tinha sentido tanto frio.
Meu corpo estava congelando quando Natalie correu até mim.
— Amiga, meu Deus — disse me carregando para dentro de
casa.
Cada músculo do meu corpo tremia em um frio que parecia
rasgar a minha pele.
— Amor! — Cameron exclamou preocupado.
Meus passos estavam lentos, já estava um frio cortante,
juntando com a água gelada da piscina me dava dor até no
estômago. Meus dedos paralisaram e eu senti minhas pernas
fraquejarem.
Ele me pegou no colo, meu cérebro pareceu entrar em curto-
circuito e não estava me obedecendo.
Eu tremia tanto que sentia que a qualquer momento começaria
a me debater, até que meus músculos relaxaram quando Natalie me
colocou debaixo da água quente do chuveiro e me ajudou a tirar as
peças molhadas e frias.
Suspirei voltando ao normal aos poucos, mas ainda sentia frio,
muito frio.
— Não acredito que Melissa fez isso! — Natalie resmungou
torcendo a blusa na pia. Fechei a porta do box.
Nem eu acreditava que ela tinha feito aquilo, pela primeira vez
ela parecia não querer ter feito o que fez.
Enquanto eu comia, ainda fungando pelo frio, Natalie passava
o secador em meus cabelos. Tia Eliza entrou no quarto e se

aproximou.
— Tudo bem, meu amor? — Questionou pegando em minha
mão — Você ainda está muito gelada!
— Daqui a pouco passa — afirmei na intenção de não
preocupa-la.
Ela pegou uma coberta de Natalie, me cobriu e se sentou em
minha frente.
— Não sei qual é o problema dessa menina, é igualzinha a irmã!
— Tia Eliza disse impaciente. Dei de ombros e apertei sua mão.
— Não se estresse com isso — pedi e ela suspirou.
— Lembra que você veio aqui em casa assim que voltou de
viagem, eu e minha mãe discutimos por causa de Rosie? — Natalie
questionou.
Recordei-me daquele dia. Tia Eliza pareceu a maior homofóbica
de todos os tempos por insinuar que parou de falar com Rosie por
ela ser lésbica.
Concordei balançando a cabeça.
— Por que não explica a história para ela, mãe? — Natalie
pediu.
— Essa tonta parou um dia pra me ouvir — tia Eliza disse se
referindo a Natalie e as duas riram — Rosie e a diretora López eram
apaixonadas por mim na época da escola, nós três íamos a mesma
igreja e eu simplesmente me apaixonei por Arthur.
“Eu e Arthur começamos a namorar depois que acabamos a
escola e Rosie surtou, assumiu que era lésbica e que me amava. A
diretora López e Rosie brigaram feio porque a López já tinha falado
a Rosie sobre gostar de mim”.
“Não tinha culpa alguma por amar Arthur, mas as duas pararam
de falar comigo por não aguentar me ver com ele. Era sofrido para
elas e eu as entendi. Tínhamos dezoito anos quando isso
aconteceu. Aos vinte eu e Arthur nos separamos, eu já estava
grávida e ele engravidou outra enquanto estávamos separados,
aquele safado”.
Natalie gargalhou por ela ser a filha da outra. Eliza acabou rindo
pela risada engraçada de Natalie e eu também, considerando que
essa história não era engraçada.
Terminei de comer e deixei o prato em cima da escrivaninha.
Tia Eliza continuou:
— Depois que Cameron e Natalie nasceram, eu me casei e
comecei a cuidar de Natalie também — a mãe de Natalie tinha
falecido no parto — Rosie e López me visitaram, as duas se
reencontraram e começaram a namorar. Porém, quando eu disse
que voltaria a igreja, elas não gostaram.
— Como a igreja às machucou? — Questionei.
Se elas eram da igreja, lésbicas assumidas e agora odiavam a
igreja, certamente foram machucadas.
— A igreja que frequentamos na adolescência as machucou
demais quando elas se assumiram, Rosie foi chutada de casa e
morou no meu porão por meses até encontrar alguém que a ajudou
a sair dessa, o pai de Andrew. López precisou fingir que não
gostava de garotas para não ser expulsa de casa — aquilo me
doeu, que horrível! — A religião acabou com elas e elas passaram a
não gostar de crentes, me admira Rosie ter você lá — disse
surpresa.
— Não sou religiosa.
— Eu sei — ela sorriu; Natalie terminou de secar meu cabelo —
as duas não aceitaram bem a minha volta a igreja, mas eu sentia
falta de Deus mesmo que pessoas da antiga igreja tivessem me
condenado por engravidar antes do casamento, Arthur também
sentia falta, começamos a ir para a que estamos agora e eles nos
acolheram tão bem… Erramos ao mudar de igreja e aconteceu
algumas coisas com Cameron e a filha do pastor, mas retornamos
para a que não devíamos ter saído — ela suspirou — enfim, Rosie,
López e eu discutimos feio e elas se afastaram, até hoje não nos
falamos. Me desculpe ter passado a impressão de ser homofóbica e
intolerante, não sabia como explicar tudo no meio do jantar, Natalie
nunca me ouvia quanto a isso e eu falei a primeira coisa que veio na
mente para acabar com o assunto, mas foi escolhas delas pararem
de falar comigo.
Ela finalizou e eu a abracei forte, ela parecia ter saudade de
Rosie e López.
— Fico feliz que ela tenha te ouvido, Natalie é cabeça dura —
brinquei.
— Olha quem fala, já falou pro meu irmão que gosta dele? —
disparou provocando e nós três rimos.
— Caladinha, Natalie — pedi.
— Meu coração de mãe não aguenta, vou amar ter você como
filha sem toda essa frescura de namoro falso — tia Eliza me
abraçou.
Acabei rindo de sua euforia e não consegui negar. Natalie se
acabou na gargalhada vendo o desespero nítido em meu rosto.
Paramos de rir quando vi Cameron através do espelho,
encostado na abertura da porta. Não deixei que seus olhos
encontrassem o meu.
— Vamos deixar vocês a sós, vou fazer um chocolate bem
quente pra você — tia Eliza disse se levantando e puxando Natalie
para fora do quarto.
Ela parou na frente de Cameron, disse algo em voz baixa e
saiu.
Puxei as mangas da blusa cobrindo minhas mãos na tentativa
de esquentá-las, me sentei na cama de Natalie e reclinei minhas
costas, dobrei minhas pernas na altura de meu peito e me cobri com
a coberta.
Cameron fechou a porta e se sentou próximo de mim.
— Você está bem? — Questionou me olhando e colocando a
palma da mão em meu rosto.
Acabei inclinando minha cabeça deitando meu rosto em sua
mão como uma criança e ele sorriu me acariciando com o polegar,
espirrei em resposta a sua pergunta o vendo rir.
— Ainda com frio — comentei.
Cameron se aproximou ainda mais e me abraçou. Afastou meu
cabelo da nuca e aproximou seus lábios de meu ouvido. Foi o
suficiente para fazer meu corpo se esquentar de dentro para fora,
mas minhas mãos ainda estavam geladas.
— Está menos cinco graus hoje — sussurrou lentamente em
meu ouvido.
Me senti atordoada e sorri. Não era nada romântico o que ele
estava falando e mesmo assim o efeito era assustador.
— Você e ela discutiram? — O olhei confusa, ele dobrou as
pernas na altura de seu peitoral — Pra ela ter te jogado na piscina
— completou.
— Ela não me jogou — disse me deitando em suas pernas e o
olhando, seus dedos acariciavam minha nuca — ela literalmente
esbarrou em mim e eu estava próxima da piscina, não acho que foi
proposital.
Ele concordou pensativo.
— Cortamos o bolo — disse após segundos de silêncio, funguei
novamente, frio e rinite não combinavam.
— Ainda está rolando a festa?
— Não, mandei todos embora, só ficaram meus parentes agora
e alguns amigos — explicou — podemos descer um pouco?
— Claro — me levantei.
Antes de sairmos do quarto ele me puxou cuidadosamente e
selou nossos lábios.
Descemos as escadas e Cameron colocou outro casaco em
mim antes de entrarmos na cozinha.
— Eu estou bem, Cam — disse o olhando, mas aceitando seu
casaco.
— A ponta do seu nariz está vermelha e gelada, suas mãos
parecem a parte de dentro do meu frigobar e você aceitou o casaco
sem nem retrucar como você sempre faz — disse risonho. Fiz cara
de tédio pra ele e ele riu beijando a ponta de meu nariz.
Entramos na enorme cozinha e todos nos receberam muito
bem. As tias de Cameron me perguntaram se eu estava bem ou se
precisava de algo. Kiara e Luce conversavam animadamente e
então percebi que Jasper e Samuel também estavam aqui, só que
conversando com Elliot e Josh.
— Tudo bem mesmo? — Calleb questionou e eu concordei
balançando a cabeça.
— Quer bolo, meu doce? — Tia Eliza questionou.
Neguei balançando a cabeça.
Cameron afastou meus cabelos da nuca com as duas mãos
após eu me sentar em um dos bancos, os segurou e aproximou os
lábios de minha orelha me deixando sentir sua respiração.
— E um beijinho, você quer? — Questionou.
— Não, acho que minha diabetes vai ficar muito alta, comi
bastante doce, mas obrigada — disse naturalmente e ele riu ainda
próximo de meu ouvido.
— Não falei desse beijinho, o que eu quero te dar não prejudica
sua diabete — sussurrou com calma em suas palavras e envolveu o
braço em meus ombros.
Senti um calor que não tem nada a ver com o sol ou o verão e
respirei pesado o olhando.
— Esse eu quero — respondi sem medo algum.
Ele abriu um sorriso largo, passou a língua nos dentes e tentou
conter a felicidade, mas seus olhos brilharam como nunca.
— Vocês sumiram na festa — o primo de Cameron disse nos
fazendo o olhar — mal posso imaginar o que estavam fazendo —
disse com a fala carregada de malícia.
— Pense bem antes de insinuar qualquer coisa sobre ela,
Jeremy — Cameron disse ríspido e parou na frente de seu primo.
O clima não ficou tenso como eu fiquei. A família de Cameron
apenas os olhou como se aquilo fosse normal.
— Ou o quê? — Jeremy questionou provocativo e endireitou
suas costas.
Elliot e Jasper ficaram atrás de Cameron assim dois garotos
ficaram atrás de Jeremy.
— Sente falta do braço quebrado, Jeremy? — Cameron
provocou vitorioso, eu engoli em seco e soltei a respiração que nem
sabia que estava prendendo.
— Senhores — tio Arthur disse cordialmente e de forma calma
se aproximando deles — acredito que não precisamos chegar a
isso, outra vez — ele me olhou dando um aceno de cabeça e
Natalie se aproximou de mim.
— Tira ele daqui — pediu em voz baixa, concordei me
levantando e pegando na mão de Cameron.
Mesmo de mãos dadas comigo, ele se aproximou mais de seu
primo.
— Nunca mais dirija a palavra a ela e nem pense em falar
qualquer sobre ela — avisou friamente. O rosto de Jeremy ficou
pálido, mas ele permaneceu encarando Cameron.
— Amor… — Cameron ainda ficou olhando Jeremy, apertei sua
mão e ele finalmente colocou os braços envoltos de mim me
puxando para fora da cozinha.
— Vamos para a parte da churrasqueira? Ainda tem coisa pra
comer — Kiara sugeriu.
Concordamos e Cameron ainda me abraçava pelos ombros.
Antes de sairmos ele pegou uma coberta do sofá e me puxou pela
cintura, me sentei em um sofá que tinha distante da churrasqueira,
eles pegaram alguns banquinhos e cadeiras e colocaram próximas
do sofá. Josh começou a organizar as coisas pro narguilé enquanto
conversava com Calleb.
Cameron se sentou ao meu lado, na verdade praticamente se
jogou em cima de mim e nos cobriu com a coberta que trouxe, me
abraçou pela cintura e eu senti meus olhos pesarem, não fazia ideia
de que horas eram.
— Você bebe? — Kiara questionou estendendo um copo pra
mim.
— Não — ri um pouco apreensiva.
— Nem eu — ela deu de ombros e entregou o copo a Luce que
aceitou — você é muito mais legal que a outra — ela fez expressão
de nojo.
— Lá vem — Cameron disse roçando o nariz em minha
bochecha até descer em meu pescoço.
Ele apertou um pouco mais minha cintura. O abracei pelos
ombros e ele encaixou o rosto em minha nuca me deixando sentir
sua respiração quente.
— Aquela lambisgoia era ridícula! Que menina podre! — Kiara
disse ainda com expressão de nojo. Eu e Luce, por algum motivo,
nos entreolhamos — E a garota que te empurrou, a irmã dela, é a
mesma coisa.
— Ela não me empurrou — comentei em voz baixa.
Cameron parou de beijar meu pescoço e me olhou confuso.
— Eu duvido. Você tinha que ter visto o tapa que Luce deu nela
e a cara dela depois — sorri um pouco desconfortável e Cameron
ainda me encarava em busca de respostas.
Natalie e Elliot se aproximaram e Kiara começou a conversar
com eles animadamente. Luce ainda me olhava de relance, como se
tivesse notado algo estranho em mim e talvez estivesse certa, mas
seu olhar se voltou para Kiara.
— O que foi? — Cameron questionou passando os lábios em
minha orelha e a mordiscou levemente. Ele vai me deixar louca!
— Nada — ri sentindo meu corpo estremecer, mas não era pelo
frio —, não acho que Melissa queria mesmo me jogar na piscina —
comentei baixo observando o pessoal ao nosso redor; Cameron
apertou minha cintura me abraçando ainda mais forte como se
precisasse cada vez mais de mim.
— Ainda não temos certeza — foi a única coisa que disse antes
de me puxar pela nuca e selar nossos lábios. Ele passou a língua
contornando meus lábios e os agarrou com os dentes puxando
cuidadosamente.
— A gente sente a tensão de longe com eles, né? — Ouvi Kiara
questionar, mas não consegui desviar meus olhos de Cameron.
Deslizei os dedos em seu rosto e ele sorriu fechando os olhos —
Gente, para tá me machucando — ela disse nos fazendo rir e a
olhar.
Olhei o relógio de parede que marcavam 02:03. Eu tinha
perdido totalmente a noção das horas.
Peguei meu celular e me impressionei por não ter nenhuma
chamada perdida, nem se quer uma mensagem de minha mãe.
— Eu gostaria muito de ficar, mas preciso ir — disse tentando
me soltar de Cameron.
— Falamos com tia Olívia pra você dormir aqui caso ficasse
muito tarde — Cameron explicou em voz baixa, o olhei.
— Não vou dormir aqui — disse em voz baixa e calma.
Ele me soltou e eu me despedi de todos, Natalie me olhou sem
entender nada enquanto eu mandava mensagem para a minha mãe
avisando que ia para a casa.
Andei até a entrada da casa de Cameron, mas ele me alcançou
parando em minha frente.
— Não adianta, Cameron, vou dormir na minha casa — insisti
fungando pelo frio.
Sair da coberta me deu um choque pelo frio e minhas mãos
gelaram com rapidez.
— Você dormiu aqui ontem, qual é o problema? — Suspirei
sentindo meu coração apertar.
— Te deixar preocupado de novo, e se eu tiver mais uma crise?
Não quero te preocupar, nem somos namorados de verdade para
termos essa conversa — expliquei entrando na cozinha que estava
vazia.
— Que se dane o namoro falso! — Ele me puxou pela cintura —
Eu me importo de verdade com você — olhei em seus olhos,
mesmo com a luz baixa, conseguia ver que cada palavra sua era
sincera.
— Cameron — eu sentia as lágrimas vindo —, ter meus pais
preocupados comigo o tempo todo já é o suficiente. Eu posso viver
normal, mas quando alguém sabe dessas crises tudo muda, não
quero isso de você — confessei sentindo seus braços me apertarem
mais.
— Isso não vai mudar pra mim — Cameron deu passos para
frente me fazendo dar passos para trás com seus braços envoltos
de mim —, você vai continuar sendo a Rebecca chata — ele deu
outro passo — insuportável — deu outro passo me fazendo sentir a
bancada em minhas costas — incrivelmente mandona, que eu
simplesmente não consigo evitar querer proteger, cuidar — ele
olhou em meus olhos — e ter em meus braços — admitiu.
Tudo ao meu redor pareceu sumir. Meu coração disparou e eu
sabia que era agora. Não queria fugir, não queria ir a lugar nenhum,
queria apenas ele. Não existia crises, nem confusões ou medos.
Ele olhou meus lábios e foi o suficiente para que eu me
entregasse selando nossos lábios. Mesmo sem jeito, abri um pouco
a boca indicando o que queria. Cameron me afastou e olhou em
meus olhos. A luz do luar entrava dentro da cozinha e, juntando com
a baixa luz da cozinha, eu via seus olhos brilharem. Seu rosto
estava radiante e iluminado, mas ao mesmo tempo ele carregava
preocupação.
— Você quer mesmo isso? — Questionou.
Concordei, nunca tive tanta certeza.
— Sim, Cameron, eu quero... eu quero — repeti em um
sussurro.
Ele sorriu me segurando com firmeza e precisão em seus
braços. Nossos lábios foram selados com ternura. Seu coração
estava acelerado, assim como o meu.
Segui o mesmo ritmo que Cameron, de início um pouco errado
e sem jeito, mas nada impossível. Antes era um beijo rápido, mas se
tornou lento e carregado de desejo. Sua mão subiu pelas minhas
costas enquanto a outra apertava cada vez mais minha cintura me
puxando para si. Envolvi meus braços por cima de seus ombros e
arranhei sua nuca sentindo seu sorriso.
— Você mentiu pra mim — disse de forma calma afastando meu
cabelo do pescoço — achei que não sabia beijar.
— E eu não sabia — sorri envergonhada.
Levada pelo desejo, o beijei descendo as mãos por seus braços
e apertando sua cintura. Cameron estremeceu quando arranhei
suas costas por dentro da blusa de frio, não toquei sua pele devido
a blusa fina que ele estava por baixo da de frio.
Ele sorriu mordendo meu lábio inferior envolvendo a mão em
minha nuca, subindo pelo meu cabelo. Seus olhos encontraram os
meus e eu o enchi de beijinhos o vendo sorrir. Ele segurou
cuidadosamente em meu pescoço me fazendo parar com os leves
beijinhos, me fez arfar quando apertou um pouco e selou nossos
lábios outra vez. Me beijando com calma, eu estava sentindo coisas
que não sabia que poderia sentir e era incrível.
Afastamos nossas bocas com a respiração ofegante.
Suspirei quando ele me abraçou, me sentindo realizada, valeu a
pena esperar por ele, mesmo não sabendo que era ele quem eu
esperava.
Cameron me apertou ainda mais e me deu dois selinhos, ficou
com os olhos fechados e sorrindo. Afastei a mecha de cabelo de
seu rosto e ele pegou em minha mão levando até seu coração que
ainda batia descompassado.
— Meu coração implora para que eu faça o certo com você —
disse olhando em meus olhos —, mas não posso te pedir em
namoro agora, não até o meio da temporada dos jogos.
— O que está querendo dizer? — Questionei sentindo minha
felicidade se tornar confusão.
— Que eu quero você — assumiu tocando em meu rosto — e
quero fazer da forma certa, eu não posso te perder, mas preciso que
você confie em mim, pelo menos agora.
Tentei afastá-lo, mas ele se manteve imóvel e sem me deixar
sair. Apoiou as duas mãos na bancada e aproximou os lábios de
minha orelha. Era injusto, ele sabia que aquilo me deixaria
desestruturada.
— Preciso que confie em mim, Becca — disse sussurrando e
roçando o nariz em meu pescoço. — Eu preciso de você e preciso
que espere só um pouco, mesmo não sabendo o motivo — ele me
olhou.
Suspirei, nunca dei esse tipo de voto de confiança em ninguém,
mas com ele… Por que não tentar? Não fazia ideia do que ele
estava querendo dizer e mesmo assim meu coração insistia em
querer arriscar.
— Você se guarda até mesmo no beijo — ele envolveu os
braços em minha cintura — e eu prezo demais por isso. Não posso
oficializar o namoro agora, pelo menos não até o meio da
temporada.
— Ou seja, sem beijos até você resolver seja lá o que for —
disse entendendo e ele pareceu não ter pensado nisso.
— Não, calma, não foi isso o que…
— Porque assim, se você quiser fazer tudo certo vai ter que me
pedir em namoro antes de querer ficar me beijando — disse
adorando sua expressão de incrédulo.
— Becca…
— Já entendi, amorzinho — dei um selinho nele — isso é o
máximo que você vai ter, ok? — Disse me afastando dele para ir até
o quarto de Natalie pegar minhas coisas, mas Cameron me puxou e
me encostou novamente na bancada.
— Você não vai fazer isso comigo — choramingou.
Seria mais torturante pra mim, sem dúvidas, mas se ele queria
que eu esperasse, teria que ser assim.
— Cam, eu vou esperar sim, não é fácil, não tenho garantia
nenhuma sobre nós dois, mas vou confiar em você. Porém, não vou
ficar de beijos e beijos com quem não tem nada sério comigo —
expliquei olhando em seus olhos e abaixei o olhar.
Ele me soltou e então eu entendi que esperar até o meio da
temporada seria extremamente importante para nosso futuro, ou
não, relacionamento.
— Só selinhos? — Questionou desanimado, porém,
esperançoso e me olhou.
— Continua como estava antes do beijo — dei de ombros me
sentando na bancada.
Ele se colocou em minha frente e se aproximou ficando entre
minhas pernas.
— Você sabe que não vai dar certo — disse passando as mãos
nas curvas de minha cintura.
— Resisti a você até agora, consigo muito mais — falei firme,
mas sua proximidade me fez estremecer e ele me abraçou forte.
— O namoro continua — sussurrou mexendo no meu cabelo.
O abracei pelos ombros sentindo sua respiração em meu
pescoço.
— Continua — fechei meus olhos o sentindo dar beijinhos em
meu pescoço — preciso ir — disse tentando empurrá-lo.
— Não vai mesmo dormir aqui? — Questionou subindo a mão
em minha nuca e puxando meus cabelos.
Suspirei sabendo que ele tentaria até o fim ter outro beijo, mas
não ia ceder. Ele apresentou seus motivos e eu os meus. Agora na
prática que eu nem queria imaginar. Eu e ele nos olhamos, minhas
bochechas estavam queimando.
Rimos quando eu apertei sua cintura tentando mantê-lo longe
de mim e abaixei a cabeça respirando fundo.
— Preciso ficar longe de você. Não quero te ver amanhã,
apenas segunda.
— Mas…
— Se afasta em nome de Jesus! — Disse firme o vendo
gargalhar. — Sem mais, Cameron, só me leva em casa — ele riu
beijando minha testa e concordando.
Desci da bancada, peguei minhas coisas no quarto de Natalie e
desci a passos silenciosos. A casa estava toda em silêncio, acho
que os parentes de Cameron foram embora e seus pais foram
descansar.
Caminhei até a cozinha vendo que todos tinham entrado, mas
Cameron não estava.
— Dorme aqui, amiga — Natalie pediu.
Ela não fazia ideia da preocupação que eu tinha feito seu irmão
passar na noite passada.
— Não amiga, hoje eu só quero minha cama — disse me
apoiando na bancada esperando Cameron.
— Eu durmo com você — Kiara disse abraçando Natalie pelos
ombros.
— Não te convidei — Natalie provocou.
Kiara rebateu, mas não a ouvi. Não quando Cameron envolveu
os braços em minha cintura me puxando de forma calma e suave.
Senti seus lábios se aproximando de meu ouvido e ele
sussurrou:
— Vamos? — Concordei um pouco atordoada.
— É o tempo todo assim esses desgraçados — Calleb disse
apontando para nós — o tempo todo me deixando boiola.
— Boiola você já é — Natalie o provocou e Calleb mostrou seus
dois dedos do meio para ela, mas nem ele se aguentou de rir.
— Gente, beijos e boa noite — mandei um beijo coletivo e
saímos da cozinha.
Cameron me abraçou pelos ombros enquanto andávamos pela
rua, mas os passos dele estavam lentos como se ele não quisesse
chegar até minha casa.
— Posso te ver amanhã? — Questionou me apertando um
pouco mais.
O olhei rindo e paramos em minha casa.
— Não, senhor Styles, não pode — respondi decidida.
— Mas Becca… — Ele se aproximou de mim me puxando pela
cintura e seus olhos buscaram os meus e eu abaixei a cabeça
suspirando.
Cameron levantou meu rosto com seus dedos em meu queixo.
— É por causa disso que não quero te ver — admiti e ele riu
aproximando os lábios de minha orelha.
— Não consegue resistir?
Prendi minha respiração o afastando de mim.
— Você nem é tudo isso, me erra — rebati encaixando a chave
na fechadura da porta me tremendo por inteiro.
— Não respondeu minha pergunta — sussurrou juntando meu
cabelo para trás e o enrolando levemente em seu pulso.
— Cameron — disse em voz baixa sem conseguir deixar de rir
— boa noite.
Abri a porta e ele me deu um selinho rápido.
— Boa noite amor — se despediu descendo os dois degraus da
frente da minha porta e seguindo até sua casa.
Tranquei a porta e suspirei.
Eu devia estar com uma cara de boba enorme. Ri de mim
mesma com esse pensamento. Observei a sala que estava com
uma luz baixa e me aproximei vendo meu pai com Elô em seu colo,
a balançando para dormir, mas ela não parecia querer dormir,
estava observando tudo ao redor.
— Boa noite pai — disse entrando na sala — achei que
chegaria amanhã.
— Boa noite querida, íamos mesmo voltar amanhã, mas tive
que resolver algumas coisas no trabalho. Como foi a festa? —
Questionou ainda balançando Elô.
Sorri me lembrando da melhor parte da festa.
— Foi legal.
— Soube que foi jogada na piscina — disse arrumando os
óculos redondos em seu rosto e eu dei de ombros me sentando em
sua frente enquanto Elô me olhava rindo —, como estão as coisas
com o menino Cameron? Ele parece muito feliz.
Olhei meu pai, seus olhos transmitiam sinceridade. Forcei um
sorriso e ele pareceu confuso.
— O que aconteceu, docinho? — Questionou sem tirar os olhos
de mim e eu suspirei.
— Talvez ele goste mesmo de mim, parece que sim, mas… Ele
disse pra esperá-lo até o meio da temporada do time — expliquei
pegando Elô e ela se aconchegou em meu colo.
— E qual é o problema? Não é você que sempre disse sobre
esperar?
— Mas… esperar o quê? Tem alguma ideia? Alguma luz? Estou
confiando nele sem saber o que isso quer dizer — papai se sentou
ao meu lado com os olhos cheios de confusão.
— Eu não devia falar sobre isso, mas Arthur ficou muito
animado quando soube que Cameron finalmente decidiu que quer ir
para Stanford — o olhei surpresa — ele já estava falando sobre
Stanford há algum tempo, mas agora está decidido. Arthur está bem
animado pois se formou lá e foi quarterback de lá também — papai
deu um sorriso carregado de lembranças boas —, talvez essa seja a
resposta que ele queira antes de te pedir em namoro.
— Stanford — murmurei relembrando a conversa que tive com
Cameron em sua casa quando falei sobre ir para Stanford e ele
pareceu animado.
— Você com certeza vai entrar, os olheiros de lá vão vir e se
Cameron se dedicar como já vem feito, pode ter boas
recomendações e uma chance enorme de estudar lá — papai
explicou.
— Não tenho certeza se vou entrar mesmo — comentei
desanimada —, mas o melhor será esperar mesmo, tanto ele quanto
eu precisamos focar nos estudos, as provas não serão fáceis —
disse me levantando com Elô dormindo em meus braços — boa
noite, pai.
Estava prestes a subir a escada, pela primeira vez meu pai não
se despediu de mim.
— Caramelinho — chamou com voz calma, me virei o olhando e
voltando o caminho — você gosta dele? — Suspirei, mas acabei
deixando um sorriso transparecer, ele sorriu junto e apenas
balançou a cabeça concordando — Boa noite, filha.
— Boa noite, pai.

Cheguei da igreja me sentindo bem espiritual e péssima


fisicamente. Estava exausta, me sentindo mal e enjoada, talvez seja
pelo bolo extremamente doce que eu comi na igreja. Fizeram uma
pequena confraternização pois a mulher do pastor Joseph estava
fazendo aniversário hoje.
Entrei no banheiro de meu quarto praticamente correndo e
deixando tudo em meu estômago ser jogado para fora na privada.
Isaac juntou meu cabelo para trás e o amarrou enquanto eu
dava descarga. Sem forças, fiquei sentada no chão. Minha mãe veio
logo em seguida, mediu minha glicose e sua expressão de
preocupação me fez entender que eu não estava nada bem.
— Pegue a insulina dela, as duas, e traga aqui rápido! Diga ao
seu pai que não é para deixar Cameron subir — mamãe disse
rapidamente.
Abaixei a tampa da privada e apoiei minha cabeça me sentindo
fraca.
Tirei meus óculos e passei a mão na nuca suada. Olhei o
aparelho de medir a glicose vendo que marcava as letras HI. Isso
significava que a taxa de açúcar em meu sangue extrapolou a um
nível que nem o aparelho era capaz de identificar.
Com a ajuda de minha mãe, consegui me sentar no vaso. Isaac
trouxe o que minha mãe pediu e uma garrafinha de água. Após
aplicar a insulina em meu braço, mamãe me fez beber água e me
fez levantar a cabeça.
— Você precisa de um banho, consegue? — Concordei ainda
sentindo meu corpo mole.
Não sei em que momento Isaac trouxe um sachê de sal, mas
aquilo melhorou as coisas para mim. Consegui me levantar e tomar
um banho após minha mãe sair do banheiro.
Suspirei me olhando no espelho. Uma hora a diabete resolvia
descer uma montanha russa e me paralisar, outra hora subia como
um foguete descontrolado e me fazia jogar tudo para fora.
Coloquei um pijama confortável, mesmo que estando frio, ficar
com um short e blusa regata de linho fino debaixo das cobertas era
tudo o que eu queria. Soltei meus cabelos e sai do banheiro ainda
me sentindo enjoada e cansada.
— Como se sente? — Questionou Isaac me olhando.
— Melhor, obrigada por me ajudar — beijei o topo de sua
cabeça e ele riu.
— Mamãe disse não, mas eu e papai não concordamos e
deixamos ele subir — Isaac riu da minha cara e saiu correndo do
quarto antes que eu o estapeasse.
— Obrigado, amigão — ouvi a voz de Cameron.
E eu simplesmente travei. Não sabia se virava para trás e o
olhava, se me escondia embaixo das cobertas por conta das roupas
ou se simplesmente saia correndo. Não que eu não aceitasse meu
corpo, mas roupas curtas eu costumava usar em casa apenas por
conforto mesmo e sair na rua com roupas assim para mim nunca foi
confortável. Não era problema em outras pessoas, mas eu
simplesmente não gostava.
Decidi me virar e Cameron parecia atordoado me olhando por
inteiro, seus olhos passearam pelo meu corpo e eu senti minhas
bochechas queimando.
— Oi — disse e seus olhos encontraram os meus.
Eu teria me sentido incomodada e o expulsaria do meu quarto,
mas ele não apenas me olhava, na verdade, parecia me admirar.
— Está melhor? — Ele ainda estava imóvel na porta e perdido,
como se não soubesse se entrar seria uma boa ideia.
Me sentei na cama, me cobri com a coberta e me encostei.
— Cameron? — Ele tinha desviado o olhar de mim e seu rosto
estava levemente rosado — Pode entrar, fique à vontade.
Ele sorriu tentando relaxar a postura tensa, porém, nem se
sentando em minha cama ele pareceu relaxar. Sua tensão estava
quase passando para mim.
— Estou melhor sim, só foi uma… — suspirei desanimada —
Uma crise.
— Vou ficar aqui com vo…
— Filha — papai apareceu na porta aberta —, como está?
— Bem — sorri e ele concordou.
Papai estava acostumado com essas crises e sabeia que no fim
eu ficava bem.
— Precisa de algo? — Neguei com a cabeça — Ok, qualquer
coisa me ligue, estou indo jogar hóquei. Estamos te esperando,
Cam — papai beijou minha testa e saiu do quarto.
Olhei Cameron que esperou meu pai sair para me olhar
novamente.
— Vai lá — acariciei o rosto dele, ele sorriu tocando minha mão
e a apertando com cuidado.
— Você está bem mesmo? Venho te ver mais tarde — prometeu
beijando as costas de minha mão.
— Só quero te ver amanhã — retruquei.
Ele se levantou sorrindo e selou nossos lábios com suavidade.
— Até mais tarde, Malik — disse acariciando minha nuca e me
dando outro selinho.
Resistir para que se eu queria vê-lo mais tarde?
— Até, Styles.

Ouvi a sirene do carro de polícia. As luzes vermelhas e azuis se


infiltravam em meu quarto através da janela, mas não me importei
em sair da cama para ver o que estava acontecendo. Estava quente
e confortável debaixo das cobertas agora que finalmente não estava
passando mal.
Me virei na direção contrária à da janela e voltei a dormir, o
aconteceu provavelmente não me dizia respeito.

Desci as escadas até a cozinha e preparei algo para comer.


Ouvi risadas vindas da sala. Pensei em ir até lá, mas meu pai
provavelmente estava com visitas e eu ainda estava vestida com o
pijama.
Terminei de comer e retornei ao meu quarto. Hoje o dia foi
produtivo, terminei uma temporada de Peaking Blinders e ainda
dormi descansando até minha alma.
Me sentei na cama, coloquei meus fones e me concentrei no
livro Crepúsculo que estava lendo pela segunda vez.
Cameron apareceu na porta de meu quarto e sorriu me olhando
por instantes. Levantei meu olhar quando ele entrou e fechou a
porta.
— Como se sente? — Questionou se sentando ao meu lado.
— Bem, muito bem na verdade — admiti fechando o livro e
ligando a tv. Isaac sempre vinha assistir no meu quarto porque disse
que a televisão era maior. Sempre que ligava a tv estava passando
Naruto.
Foi quase que automático abraçá-lo quando ele se aconchegou
ao meu lado. Ficamos olhando a tv por instantes, Cameron amava
Naruto e tinha até tatuagens em homenagem, ele quem fez Isaac
começar a assistir.
— Ei — me sentei na cama me afastando dele —, tinham
policiais na sua casa hoje ou foi em outra casa?
Seu silêncio e os olhos fixos na televisão me fizeram entender
que havia sido em sua casa.
— Cameron? — Chamei, mas em resposta ouvimos a batida na
porta.
— Cam, eles chegaram — Elliot disse abrindo a porta com
cuidado.
Olhei Cameron que se levantou.
— Eles chegaram? — Questionei apreensiva e pegando na mão
dele.
— Estamos te esperando no escritório de Owen — Elliot avisou
fechando a porta e eu me levantei.
— Quem está no escritório do meu pai? — Questionei sem nem
esperar sua resposta. Quando fui na direção da maçaneta para gira-
la e ver o que estava acontecendo, Cameron me puxou pela cintura
me apertando com cuidado e firmeza.
— Bê, não desce agora — pediu com voz calma quando me
pressionou contra a parede, seu olhar era sereno e me deixava
ainda mais nervosa — Oliver está aqui e eu prometi pro seu pai que
dentro da sua casa eu não bateria nele… de novo — disse
tranquilamente.
— Você bateu nele?
— Quebrei o braço dele como disse que faria — disse
deslizando as mãos em minha cintura e eu o empurrei.
— Você o quê?
— Prometo te explicar depois, amor — prometeu colocando as
duas mãos em minha nuca com uma delicadeza de me
desestruturar, por que eu não conseguia ficar com raiva? — Eu já
venho, só preciso resolver esse problema — disse selando nossos
lábios com calma.
— Mas…
Já era tarde.
Cameron havia saído do quarto deixando o gosto de seus lábios
nos meus. Natalie entrou logo em seguida com Luce, minha mãe
segurando Elô e tia Eliza segurando Lou. Elas pareciam calmas e
leves, estavam aos risos e mamãe fechou a porta assim que todas
entraram.
— Ok, o que está acontecendo? — Questionei — Por que está
todo mundo tranquilo?
— Cameron deu um jeito em Oliver, ele vai pensar quinhentas
vezes antes de querer falar qualquer coisa — Luce disse.
— Pela primeira vez eu concordo com Cameron batendo em
alguém — Natalie disse orgulhosa.
— Eu não falo mais nada. Ele é igualzinho o Arthur nessa parte
— tia Eliza admitiu.
— Ele vai te explicar tudo querida — mamãe me abraçou pelos
ombros — tenho certeza de que vai.
— Conto com isso — suspirei.
Natalie começou a mexer no meu cabelo depois que deitei
minha cabeça em seu colo.
As mulheres estavam falando tão alto que minha cabeça
começou a doer. Tia Eliza e minha mãe são as mais empolgadas e
isso me fazia rir.
Duas batidas na porta me fizeram levantar mais rápido do que
eu deveria.
Sabia que era Cameron, só podia ser.
— É a nossa deixa — mamãe disse abrindo a porta e Cameron
sorriu.
Ele parece um príncipe com uma beleza angelical, nem parecia
o mesmo garoto bruto que batia nos outros.
Meu quarto se esvaziou voltando a ter sua aparência vazia e
confortável. Cameron fechou a porta e eu me sentei na cama.
— O que aconteceu?
— Pode ficar com raiva. Mesmo você dizendo que não, planejei
de Oliver ir até o jogo de hóquei — ele se sentou ao meu lado e
observei suas mãos com pequenos machucados nos punhos que
ainda estavam avermelhados — Josh o chamou para ir até o
hóquei, ele caiu certinho e foi. No estacionamento eu o peguei e não
tinha ninguém que pudesse me parar.
— Cameron…
— Eu sei, Rebecca, eu sei. Você não aprova essas atitudes,
mas ele tentou se justificar falando que suas roupas… — Seu tom
estava elevado e ele respirou fundo fechando os olhos, eram nítidas
sua raiva e repulsa — Eu o fiz entender que você e qualquer outra
garota pode usar a roupa que quiser e ele tem que controlar os
instintos dele, esse tarado dos infernos!
— Cameron…
— E meu pai e Owen estranharam minha ausência e nos
encontraram, mas não me pararam — eu queria dizer a ele que não
estava brava e fazê-lo se acalmar de toda essa ansiedade em se
explicar, mas ele não deixava — eles entenderam perfeitamente
bem a raiva que estava sentindo. É loucura a forma com que ele te
olhava!
— Cam…
— Então eu dei meu jeito. Oliver serviu de exemplo pros outros
garotos! Se conversar não resolve, o medo vai resolver! — Afirmou
determinado — O pai de Oliver veio atrás, mas Owen e meu pai
deram um jeito, tudo resolvido — me levantei andando de um lado
para o outro e assimilando todas as informações — eu sei que você
está brava comigo — disse se levantando.
— Claro que estou — bufei pegando em suas mãos —, você
fica machucando as mãos com essas coisas, como vai me pegar
depois? — Descontrai e seu rosto se iluminou com um sorriso. Ele
abriu a boca para falar, mas só conseguiu sorrir — O que deu no
final?
— Oliver vai mudar de escola — ele disse suspirando e se
sentando na minha cama —, mas isso nem me incomoda mais —
observei sua expressão, ele mudou para preocupado de uma hora
pra outra.
— E o que te incomoda?
— Não importa — ele se levantou, ainda inquieto — te vejo
amanhã — disse selando os nossos lábios.
Antes que eu pudesse falar qualquer coisa, ele saiu do quarto
me deixando confusa. O que o incomodava?
Andei de um lado para o outro pensando e Natalie entrou em
meu quarto.
De imediato uma luz veio na minha mente.
— Como Cameron fica durante a temporada dos jogos? —
Questionei e ela fechou a porta, se sentou na cama e respirou
fundo.
— Conseguiu perceber que ele está incomodado, não? —
Concordei e ela pareceu triste — A verdade é que ele não tem
dormido direito, eu amo meu pai, mas ele está cobrando muito
Cameron por causa da faculdade. Cameron mostra que está tudo
bem, mas não está. Fiquei feliz por você ter passado a noite com ele
no aniversário dele porque ele finalmente dormiu.
Balancei a cabeça concordando.
— Vim me despedir, estamos indo pra casa — a beijei no rosto
e ela me abraçou, estava para solta-la, mas ela me segurou —, eu
não concordava de início, mas você faz muito bem pra ele, mesmo
com essas provocações idiotas — disse rindo e olhando em meus
olhos.
Eles se iluminaram e eu percebi então, o quanto ela se
preocupa com Cameron, nunca havia a visto assim.
Faltei na escola ontem e isso me deu um tempo para ficar

afastada de Cameron.
Não queria vê-lo, era difícil não o beijar antes, mas agora,
depois de ter sentido seus lábios e depois de sonhar com ele me
beijando ardentemente, com um desejo que fervia meu corpo e o
dele… eu enlouqueceria a qualquer instante.
Foi tudo muito real no sonho que tive na madrugada de terça
para quarta, ontem. O toque dele, os lábios dele, não era para ter
um efeito tão real, mas teve.

Cheguei atrasada por ter levado meu irmão para a escola hoje,
minha mãe estava ocupadíssima trabalhando em outra cidade e
voltaria hoje de tarde. Eu e meu pai prometemos a ela que
cuidaríamos de Isaac e assim estávamos fazendo.
Entrei na biblioteca para esperar a segunda aula começar. A
diretora me liberou e avisou que alguém me esperava na biblioteca.
Me deparei com Neji e ele acenou animadamente para mim.
Estava lhe devendo uma conversa e sabia que era sobre o
Fênix, o grupo de estudos.
— Bom dia — beijei o rosto dele e me sentei ao seu lado.
— Bom dia, como vai?
— Desculpem o atraso — Luce disse se aproximando com
Samuel —, oi Becca — ela beijou meu rosto e o garoto me
cumprimentou com um aceno.
— E aí, o que aconteceu? — Samuel se sentou na frente de
Neji e Luce na minha frente. Olhei o garoto ao meu lado.
— Kath se tornou a nova capitã das líderes — Neji começou e
eu senti um incômodo, o que aconteceu com Melissa? Desde
segunda não a vejo. — Então ela saiu do Fênix, assim como as
outras líderes. Os irmãos Halder se mudaram, ou seja, acabou o
grupo, só sobrou eu — disse aflito como se estivesse prestes a
chorar — e eu não quero ter que desistir das competições desse
ano, mas eu não tenho ninguém.
— Estou dentro — tomei a frente e ele me olhou surpreso.
— Eu também — Luce disse logo em seguida.
Olhamos Samuel e ele deu de ombros.
— Eu também — disse com seu jeito despojado e sorrimos.
— Ótimo! A primeira competição é amanhã uma hora da tarde
— Neji disse e o olhamos, todos, assustados, Luce soltou um
gritinho de susto — Física Quântica será o assunto — Samuel
relaxou o corpo suspirando.
— Tá fácil — disse naturalmente.
A paz dele acabou contagiando positivamente eu, Luce e Neji.
— A diretora liberou as duas últimas aulas pra gente se reunir
hoje e podemos estudar amanhã cedo, tudo bem pra vocês? — Neji
questionou sem disfarçar a euforia. Concordamos, essa semana as
aulas com o time foram suspensas por conta do jogo de amanhã.
— Obrigado mesmo gente, não sei o que faria.
Luce e Samuel apenas concordaram e se despediram.
Eu e Neji saímos da biblioteca. Ele parou e disse:
— Luce aceitou por você e Samuel aceitou por Luce — o olhei
parando em meu armário e dando de ombros.
— O que aconteceu com Melissa? — Questionei e ele franziu o
cenho.
— Ela não veio ontem também, ninguém sabe — disse
normalmente e o sinal tocou —, nos vemos mais tarde.
— Bom dia — Natalie disse e forçou um sorriso.
Peguei meus livros e a abracei.
— Tudo bem? — Questionei percebendo que algo estava
errado.
— Sim — disse com os dentes serrados.
— O que aconteceu e onde está Cameron? — Ela respirou
pesado.
— Lana, Karen e Katherine estão insuportáveis agora que
Melissa parece estar fora de jogo, elas estão muito em cima!
Katherine estava enchendo a paciência dele desde ontem e ele
acabou cedendo pra conversar com ela agora na ala de piscinas,
ele tentou de tudo para evitar e…
Não a deixei terminar. Fechei a porta do meu armário e me dirigi
até a ala de piscinas mais rápido do que deveria. Se fosse Cameron
conversando com qualquer outra pessoa, tudo bem, mas sabia que
Katherine faria de tudo para tê-lo.
Kristen e Paloma estavam na porta, de vigias, conversando
disfarçadamente quando cheguei.
— Licença — disse colocando a mão na trava da porta para
abri-la.
— Mas… — Paloma começou e eu lancei um olhar furiosa para
ela.
Ela e Kristen abriram espaço e quando entrei na ala de piscinas,
vi Katherine fazendo Cameron dar passos para trás em direção a
parede como se quisesse deixá-lo sem saída, mas não iria
conseguir pois ele estava mantendo uma grande distância dela e
desviando toda vez que ela vinha para cima.
Katherine me viu, mas Cameron não.
Ela voltou o olhar para ele rapidamente.
— Ela não vai te dar o que eu posso te dar — disse na intenção
de me afetar.
Sexo, sexo, sexo. Era só isso o que elas tinham a oferecer?
A olhei querendo rir, era hora de tirar Cameron dali.
Ele estava de costas para mim, me aproximei a passos
silenciosos e abracei sua cintura. Ele virou a cabeça me olhando no
mesmo segundo, beijei seu ombro e vi Katherine bufar como um
touro com raiva.
— Estou atrapalhando, amor? — Questionei e ele se virou para
mim me abraçando pelos ombros.
— Meu Deus, obrigado — sussurrou em meu ouvido soltando a
respiração.
Lhe dei um selinho e caminhei até Katherine.
— Vou deixar uma coisa bem clara: ele não te quer! Supere
isso, Katherine. Ele namora e você precisa respeitar isso
urgentemente! Ele não vai ser seu príncipe, muito menos seu rei.
Então respeita! E pare de achar que precisa oferecer sexo a alguém
pra te notarem — o olhar de Katherine mudou de raiva para dor e
surpresa. — Você deve ser melhor que isso! — Disse e soou mais
como um conselho.
Não queria atingi-la, mas ela precisava perceber o que estava
fazendo!
Cameron me segurou pela cintura, com a alça da bolsa no
ombro. Dei uma última olhada em Katherine e sai com Cameron.
— De todo o nosso namoro falso, hoje foi a vez em que você
mais me ajudou — disse em tom provocativo quando nos sentamos
em nossos lugares na aula de literatura.
O olhei incrédula.
— Ah e eu não fiz nada não, né Styles? — Questionei — Se não
fosse por mim — aproximei meus lábios de seu ouvido — você teria
enlouquecido com essas garotas — ele virou o rosto deixando
nossos lábios próximos e sorriu.
Me afastei e ele se deitou em cima de sua bolsa na mesa.
— Talvez — murmurou em resposta me fazendo rir.
— Não vai admitir mesmo que estou te dando uma grande
ajuda? — Nossos tons eram baixos para ninguém nos ouvir.
— Só depois do baile — disse fechando os olhos.
— Babaca.
— Mandona — rebateu, eu acabei rindo e pegando meu livro.
Cameron arrumou sua pose assim que a professora entrou na
sala. Consegui ver seu rosto e ele parecia estar exausto.
— Você dormiu? — Sussurrei.
Ele me olhou e deu de ombros.

— Depois que comer me encontre nas arquibancadas? Não


quero ficar no refeitório hoje — avisei Cameron que concordou e
beijou minha testa caminhando até o refeitório.
Me aproximei de Natalie que estava organizando as coisas em
seu armário.
— Amiga, me desculpa ter te deixado falando sozinha, fui
correndo pra ala de piscinas — me desculpei, mas ela riu negando.
— Acha que estou brava com isso? — Ela fechou seu armário e
colocou o braço em meus ombros — Não mesmo, na verdade eu
até te segui e amei o jeito que você agiu. Vamos comprar algo para
comer?
— Não vai pro refeitório?
— Elliot vai me encontrar nas arquibancadas com a minha
melhor amiga, agora vamos comer — ela pegou em minha mão e
saímos da escola.
Compramos uma salada de frutas para Natalie e um lanche
natural para mim. Eu e Natalie não gostamos de comer frituras logo
de manhã, então descobrimos uma lanchonete fitness há minutos
da escola. Os lanches eram maravilhosos.
Nos sentamos nas arquibancadas do campo de futebol.
— O que aconteceu com Melissa? — Questionei pegando o
suco de limão que Natalie me forçou a comprar quando disse que
queria uma coca.
— Primeiro que todo mundo a julgou por ter te jogado na
piscina. Domingo só se falava disso nos grupos da escola —
explicou —, mas você não deve ter visto porque não vê nada dos
grupos que está — relembrou me fazendo rir — Melissa não saiu
dos grupos, mas também não falou nada, agora inventou que está
com uma virose.
— Inventou?
— Sim, a vi no mercado ontem — rimos — Katherine aproveitou
a deixa, fingiu estar ao seu lado e virou a cabeça de todas as líderes
contra Melissa. Assim que vi tudo isso, sai dessa palhaçada toda
após dar na cara daquela falsa — a olhei surpresa.
— Você bateu em Katherine?
— Sim, ontem, foi uma delícia. Estávamos ensaiando e quando
ela veio pra cima de mim dizendo que contaria para a diretora, a
desafiei. Aproveitei e sai das líderes, ninguém falou nada pra
diretora.
— E por que você bateu nela?
— Porque ela é uma falsa do cacete! Odeio violência e sempre
deixei isso pro Cam, mas eu não aguentava essa falsidade toda, ela
vive falando mal de você. Espero que esteja certa sobre Melissa não
ter feito de propósito, não gosto muito dela, mas vou adorar vê-la
baixando a bola de Katherine quando voltar — Natalie disse
determinada.
— Também espero estar certa quanto a Melissa — comentei —
Cameron dormiu? — Ela negou.
O vi com Elliot rindo e se aproximando.
— Olhe as mãos dele, passou a madrugada batendo no saco de
pancadas e antes das cinco da manhã ele saiu, deve ter tirado só
um cochilo, a semana toda foi assim — disse em voz baixa.
— Eu entrei pro Fênix — mudei de assunto quando eles
estavam próximos o suficiente para nos ouvir e Natalie abriu um
sorriso largo.
Cameron se sentou ao meu lado e Elliot ao lado de Natalie.
— A primeira competição será amanhã, uma da tarde.
— Becca, isso é incrível — Cameron disse apertando levemente
minha mão, vi suas mãos com machucados leves e avermelhados.
— Estou um pouco nervosa, a matéria não é difícil, mas…
— Você consegue amiga! Tenho certeza. É a garota mais
inteligente da escola — disse Natalie com a voz carregada de
orgulho.
— Consegue mesmo — Cameron se encostou nas
arquibancadas mais altas e esticou o braço atrás de mim, mas sem
me abraçar.
O observei. Estava olhando para o campo.
Coçou os olhos, bocejou e piscou lentamente.
Olhei Natalie e ela apenas concordou.
— Ell, vem comigo — disse puxando Elliot pela mão, os dois
foram para as arquibancadas mais altas e se afastaram para a
direita.
— Trouxe uma coisa pra você — disse acariciando meu cabelo,
o olhei animada.
— Uma coquinha geladinha?
— Becca — disse aos risos e tirou do bolso uma caixinha
branca —, não é a garantia sobre nós dois — me entregou a
caixinha, a abri vendo um colar rose com um pequeno pingente de
chave e pedrinhas ao redor, abri um sorriso —, mas simboliza a
chave — meu coração disparou.
— A chave? — Disse com voz trêmula de emoção.
Ele balançou a cabeça positivamente, pegou em minha mão e
colocou em cima de seu peito me deixando sentir seu coração que
batia rapidamente.
— É seu.
Eu prendi a respiração e fiquei totalmente sem reação. Atônita,
emocionada e assustada. Sorri soltando minha respiração e, com os
ânimos a milhão, selei nossos lábios com um sorriso no rosto. O
enchi de beijinhos e ele sorriu agarrando minha cintura e me
aproximando de si.
— Você… Meu Deus Cameron — foi tudo o que consegui dizer
antes de ataca-lo com mais beijinhos em seu rosto.
Cameron sorria comigo e recebia todos os beijinhos que eu lhe
dava me segurando firme pela cintura.
— Quero usar agora — disse me virando de costas para ele
após lhe entregar o colar. Coloquei meu cabelo de lado.
Ele colocou o colar e beijou meu pescoço calmamente. Suspirei
sorrindo.
Nunca me senti tão feliz, tão animada e tão realizada. Ele
realmente me esperaria.
— Gostou? — Me virei de frente tocando o pingente.
— Eu amei! — Disse soando mais animada do que eu
esperava.
— Fico feliz por isso — ele selou nossos lábios com a mão em
minha nuca —, vai estar no jogo amanhã? — Questionou descendo
os lábios pelo meu pescoço quase me deitando em seu colo.
Arrumei minha postura passando a mão na nuca que estava
suando e ele riu.
— Sim, com certeza — comentei me recompondo e guardando
a caixinha do colar na bolsa —, acho que podemos estudar na
semana que vem, não? Teremos um teste de biologia — me virei
para ele e peguei em suas mãos com pequenas feridas —, o que foi
isso? — Questionei fingindo que Natalie não havia me dito nada.
— Treinando boxe — disse beijando minhas mãos.
Arqueei a sobrancelha. O sinal de fim do intervalo ecoou pelo
campo.
— Boxe — comentei em voz baixa quando ele se levantou.
Descemos as arquibancadas e ele me segurou pela cintura
após descermos o último degrau da escada.
— Não quero você se importando com isso, ok? Meu sono, eu
me viro, não se preocupe.
— Ok, dorme lá em casa hoje? — Disse o contrariando.
— Você não ouviu uma palavra que eu disse? — Questionou
em tom engraçado e envolvendo os braços calmamente em minha
cintura.
Tudo que ele fazia era com tanta calma e graciosidade que meu
coração disparava rapidamente.
— Ouvi — joguei meus braços por cima de seus ombros —, isso
não significa que eu concorde com você — beijei seu rosto e ele fez
expressão de tédio, mas logo sorriu me olhando. — Enfim, pense
nisso.
Me desprendi dele e entrelacei nossos dedos começando a
caminhar para dentro da escola.
— Preciso encontrar o treinador — avisou e beijou minha testa.
Concordei o observando ir até o vestiário masculino.
— Rebecca — ouvi a diretora López me chamar cordialmente
—, por favor, me acompanhe — a segui após deixar minhas coisas
no armário e fechá-lo.
Caminhamos pelo corredor e eu me senti tensa mesmo
sabendo que não fiz nada de errado. Ela parou em uma parede com
fotos dos times, medalhas e troféus que a escola já ganhou. Um
pouco a esquerda estava a foto de Karen intitulada a aluna mais
inteligente até hoje, ela tirou 97 na prova com todas as matérias
quando se transferiu para Liberty, essa informação estava bem ao
lado de sua foto, junto com a prova. Abaixo de sua foto, estava a
lista com alunos que tiraram as maiores notas no provão.
Uma garota de cabelos encaracolados loiros apareceu ao lado
da diretora com uma foto minha em um quadro e a olhei sem
entender.
— Me siga, por favor — disse a diretora López caminhando até
a diretoria.
Não entramos em sua sala, entramos na sala de reunião, onde
se reunia o comitê gestor do baile, os professores responsáveis pelo
Fênix, o grêmio escolar, os diretores das escolas próximas, os
organizadores do time que no caso era Cameron, Elliot, o treinador,
a diretora e alguns patrocinadores; e o conselho escolar que era
composto por cada representante de um projeto escolar.
Entrei na sala deduzindo o porquê de cada um estar aqui, só
não entendia o motivo de eu estar aqui.
Vi Neji que estava aqui por ser capitão do Fênix; Katherine por
ser a nova capitã — provisória — das líderes; Lana e Calleb que
cuidavam do jornal; Jasper que era o novo capitão da equipe de
natação; estavam presentes, também, o organizador das aulas de
pintura, os que eram do teatro, os que davam aulas de dança, a que
cuidava do coral, Karen que era presidente do grêmio e me olhava
com sangue nos olhos; e por fim, Cameron que era o capitão do
time.
Os professores de matemática e literatura estavam presentes,
junto com dois inspetores e duas outras pessoas com vestimentas
elegantes, um homem e uma mulher, os vi em uma reunião das
escolas estaduais, mas não sabia seus nomes.
A postura de Cameron era de uma verdadeira realeza, sabia
que ele estava exausto, mas conseguia disfarçar tão bem que me
deixava impressionada e preocupada.
Meus olhos encontraram os dele em busca de respostas e ele
me lançou um sorriso orgulhoso.
Me senti em um julgamento vendo todos me olharem, mas suas
expressões não eram de julgamento, exceto por Katherine, Lana e
Karen.
A diretora me fez parar diante de todos e minhas pernas
tremeram, olhei para Cameron, apavorada, que me disse um fique
tranquila sem som.
Respirei fundo tentando relaxar, porém, era inevitável.
— A última vez que um fato tão histórico ocorreu, foi há mais de
trinta anos. Hoje, ano de dois mil e vinte, quero apresentar a vocês a
aluna mais inteligente que Liberty já teve. Ultrapassando a nota 99
de Geórgia Lacerda em 1989, Rebecca Malik é a primeira aluna a
tirar 100 na prova geral, a primeira e maior nota que Liberty já
presenciou — olhei a diretora López sentindo meu coração disparar
e ela me olhou orgulhosa.
Eu... eu tirei o quê?
Todos aplaudiram, exceto o trio das bonitonas das tapiocas que
me odiavam de graça, e eu permaneci totalmente sem reação.
— Queremos que você, juntamente com Neji que já é do
conselho, represente a escola nas reuniões estaduais — a diretora
disse com ternura.
— Será um prazer — foi tudo o que consegue dizer.
— Minha garota é demais — Cameron disse um pouco alto,
mas sem escândalo, fazendo todos rirem.
— Neji — a diretora o chamou —, sra. Geórgia, sr. Anthony, por
gentileza — disse no mesmo tom que chamou Neji — Rebecca,
esses são os diretores das escolas do estado de Los Angeles.
Geórgia fez questão de ver pessoalmente a garota que a
ultrapassou — explicou.
Meu queixo caiu.
— Estou impressionada, fico feliz em ter alguém tão inteligente
para representar essa escola — ela apertou minha mão com um
sorriso no rosto.
A alegria dela era contagiante, e ela era linda e tão elegante que
eu estava quase babando.
— Me desculpe tirar o título da senhora — disse envergonhada
e ela gargalhou.
Os alunos conversavam entre si em voz baixa, mas Cameron
não parava de me olhar.
— Esse é Anthony, foi quarterback na época de Geórgia —
disse a diretora —, sabe com quem ela namora, Anthony?
— Tenho uma leve suspeita — Anthony riu olhando Cameron e
quando me olhou, deu uma piscadela —, seja bem-vinda, sei que
será uma ótima representante de Liberty. Marcaremos uma reunião
nas próximas semanas com vocês dois — disse revezando o olhar
entre mim e Neji. — Desejamos boa sorte no campeonato do Fênix,
sei que vocês irão muito bem. Diretora López?
O homem era agradável e elegante em cada palavra que falava,
assim como Geórgia.
— Precisamos ir, temos muito a fazer. Entraremos em contato
para as reuniões — Geórgia disse e seu olhar se voltou para mim.
— Boa sorte, representantes — ela me abraçou de surpresa e
cumprimentou Neji.
A garota de cabelos encaracolados loiros os acompanhou até a
porta.
— Quem é ela? — Sussurrei para Neji.
— Paty, a secretária da diretora.
— Sentem-se, vamos começar a assembleia — a diretora pediu
com voz suave. Assembleia?
Me sentei entre Cameron e Neji.
— Fique tranquila e apenas preste atenção em tudo, cada um
vai apresentar seu projeto. Vou falar sobre o Fênix e você só precisa
anotar coisas importantes — Neji me entregou uma prancheta — e
depois vamos juntar nossas anotações, daremos um feedback
sobretudo para a diretora, o que concordamos e o que não
concordamos. Dependendo do que falarem, até mesmo no grêmio,
nem Karen poderá passar por cima de você. Como tenho o Fênix,
você será a principal representante e eu o seu segundo. Não se
preocupe agora, prometo explicar tudo depois — Neji explicou
apressadamente.
Mesmo com toda a pressa, eu entendi cada palavra que ele
disse tomando consciência da grande responsabilidade que tinha
em minhas mãos.
E assim, do nada, como tinha chegado até aqui?
— Você consegue, amor — Cameron deslizou a mão em minha
coxa e eu a empurrei.
— Preciso me concentrar, capitão. Não fala comigo agora, você
tira meu foco — e ele riu beijando meu rosto.
E a reunião começou.

Neji disse pelo menos cinco vezes que estava feliz por eu ser a
nova representante porque Karen sempre implicava com tudo e era
uma insuportável. Foi difícil acreditar, Karen parecia ser legal sem
todo o negócio do baile e do Cameron.
Eu e ele separamos os projetos, o que cada um ficaria
responsável.
Ele não gostava de esportes e quanto a isso, tinha meu pai e
Cameron para me ajudar. Ele também se recusou a falar com
Katherine sobre as líderes e com Karen sobre o grêmio, sabia que
nisso Natalie estaria comigo. Sendo assim, a separação ficou:
Neji: aulas de pintura, de dança, teatro, coral e o Fênix;
E eu: os esportes — futebol americano, futebol das meninas e
natação —, as líderes, o grêmio e o jornal.
Lana parecia me odiar, mas tinha Calleb, Karen provavelmente
me odiaria porque antes ela era a representante e queria a coroa e
Katherine, bom, preciso nem dizer.
— Agora sim eu vou treinar — Cameron disse beijando meu
pescoço quando parei em frente ao meu armário, suspirei com seu
toque e suas mãos deslizavam em minha cintura —, te vejo mais
tarde?
— Sim — lhe dei um selinho rápido e ele me virou de frente.
Seus lábios encontraram os meus com desejo e ele os roçou
nos meus e agarrou meu lábio inferior com os dentes.
— Cameron… — apertei sua cintura tentando controlar minha
respiração.
— Tchau, representante — sussurrou em meu ouvido.
— Tchau, capitão — arranhei seu braço.
Ele me apertou pela última vez e me soltou saindo de perto, me
dando fôlego.
— Eu me cansei de você! — Virei na direção da voz que
esbravejava comigo.
Karen pisou forte com seus saltos enquanto caminhava até mim
com duas garotas atrás dela, olhei seus pés me questionando quem
vinha para a escola de saltos, mas eu não tinha nada a ver com
isso, mesmo sendo um pouco... demais.
— Melissa foi burra, devia tê-la empurrado mais forte e as duas
teriam caído na piscina! Mas não, ela é fraca demais — disse
impaciente.
Olhei Karen extremamente surpresa e, por algum motivo,
decepcionada. Sempre a achei linda, seus traços delicados davam
um charme a sua aparência, mas ela não parecia delicada falando
comigo daquela forma.
Fechei meu armário e a olhei.
— Você também vai começar com isso por causa de Cameron
ou o quê? — Questionei cruzando os braços.
Ela deu passos para frente como se quisesse me intimidar, mas
me mantive imóvel e olhando em seus olhos.
Karen buscava medo em mim, coisa que ela não encontrou.
Como Josh podia ser um amor e sua irmã assim?
— Você acha que eu sou idiota? Que brigo por macho? Isso eu
deixo pra burra da Melissa que quer superar a irmãzinha!
Você, Rebecca — ela quase rosnou meu nome e seus olhos
pareciam querer me devorar —, você chegou aqui tomando tudo.
Rebecca, a nerd que é uma santinha, que nunca está envolvida em
nada, que é a uma crentinha que todos gostam, que salvou
Cameron, que vai ser rainha do baile, que é a mais inteligente, a
nova representante, a capitã… Rebecca, Rebecca e Rebecca —
disse enojada — escuta, garota, seus dias de paz acabaram! Vou
colocar essa escola em ordem e todos vão me agradecer. Eu não
pego leve como Melissa, nem sou fraca como Katherine e nem
sonsa como Lana. Então se prepare, você vai implorar para sair
dessa escola, pra deixar de ser a representante. Vou pegar de volta
o que é meu!
Não consegui deixar de rir. Uma vibe meio garota surtada e
afins.
— Mais alguma coisa, Karen? — Questionei depois de suspirar.
Ela riu tentando mostrar superioridade, mas estava nítido que
ela não esperava uma reação tão calma.
— Eu devia saber que aquelas burras não serviam para nada!
Mas estou ansiosa para ver sua reação — ela deu outro passo para
frente ficando ainda mais próxima de mim — quero ver se vai
aguentar sozinha ou se vai ir correndo pro seu namoradinho, já que
precisa dele pra tudo.
Continuei a olhando com calma mesmo que meu corpo todo
quisesse avançar para cima dela e socá-la.
Deixei um sorriso aparecer em meu rosto.
— Boa sorte com isso, Karen — foi tudo o que disse antes de
sair de sua presença.
Ouvi a batida do salto dela contra o chão.
Acabei me recordando de um ocorrido na antiga escola. Uma
garota começou a implicar comigo por eu ser a novata que todos
davam atenção e foi um ano inteiro assim, uma idiotice na minha
opinião.
Minha mãe me avisou que eu teria pessoas desejando o meu
mal em alguns lugares, por inveja. Vou considerar a ameaça de
Karen como uma preparação pro futuro. Um futuro que não sei se
terei Cameron, um futuro que terei que lidar com pessoas querendo
passar por cima das outras, mas não vou basear toda a minha vida
apenas nisso, ainda existem pessoas boas, sabia disso.

Pelo que Neji me disse, ser representante requer ficar na escola


depois do horário, acompanhar tudo, ouvir os alunos e seus
projetos, ainda tinha os meus estudos… estava decidida a falar com
os meus pais e parar de trabalhar, mas não agora. Primeiro queria
ver como seria minha primeira semana como representante.
— Andrew está te esperando no escritório — Esme avisou.
Concordei tirando o avental de minha cintura.
Bati na porta de seu escritório e entrei logo em seguida.
— Licença — ele estava tão focado nos papéis que não
levantou os olhos.
— Fique à vontade — disse ainda sem me olhar, fechei a porta
e me sentei em sua frente — tudo bem? — Ele me olhou
rapidamente, apenas concordei balançando a cabeça e ele voltou os
olhos para os papéis. — Precisamos fechar o caixa de ontem e o de
hoje. Tudo bem pra você? — Seus olhos voltaram para mim.
— Sim, sem problemas.
Ele me entregou o notebook.
Ficamos uma hora apenas trabalhando, não trocamos uma
palavra se quer sobre nenhum outro assunto, apenas sobre o
trabalho. Acreditava que seria assim daqui para frente, sem muitas
conversas.
— Terminei — disse salvando as planilhas.
— Obrigado — agradeceu pegando o notebook e olhando as
planilhas —, está dispensada, peça para Esme fechar a lanchonete
com Joe, por gentileza? — Pediu profissionalmente.
— Peço sim — me levantei e caminhei até a porta, mas não sai,
me virei o olhando —, vai ser assim agora? Eu e você?
— Sou seu chefe e você uma funcionária muito competente, se
é sobre isso que se refere, sim, será assim — disse mantendo o tom
profissional, mas não me olhou.
— Andrew…
— Está dispensada, Rebecca — disse firme e finalmente me
olhou.
Busquei seus olhos, mas não consegui entendê-los.
— Chefe — o chamei com profissionalismo e vi seu incomodo,
ele odiava quando o chamava de chefe, mesmo tendo acabado de
falar que era —, amanhã eu…
— Eu sei, tudo bem — disse em tom calmo e monótono —, vou
estar aqui de manhã — ele me olhou.
— Vai pra competição? — Questionei me lembrando que em
uma de nossas conversas ele tinha prometido que iria.
— Te espero amanhã de manhã com a declaração — disse e
voltou a olhar os papéis.
Abri a boca para falar, mas desisti, não tinha motivos para
perguntar mais nada.
Sai de sua presença, organizei minhas coisas, troquei minhas
roupas e me despedi de Esme e Joe.
Dirigi um pouco sem rumo e avisei minha mãe de que chegaria
um pouco mais tarde. Cheguei na ponte que Cameron me trouxe há
dias, olhei o lago ao meu redor e me deixei pensar sobre tudo o que
estava acontecendo desde a minha chegada em Los Angeles.
Mas agora, não era simples como antes, tinha a faculdade para
pensar, Cameron, uma garota do segundo ano querendo me
perseguir, Cameron, minha família, o Fênix, diabetes, Liberty e de
novo ele…
Era provável ele ter mais chance de entrar em Stanford do que
eu, não estava estudando como antes e talvez isso me impediria de
entrar na universidade.
Tinha Yale, Cambridge e Oxford como opções, mas Stanford,
onde meus pais se formaram, era para lá que eu queria ir.
Mas e se não for? Se ele for e eu não? Seria o nosso fim?
Sabia que um namoro a distância estava fora de cogitação para
nós dois.
Isso doeria… a despedida, vai doer.
Chorei com esse pensamento e decidi dispensá-lo por hora.
Achei que teria problemas só com Melissa, mas veio Katherine e
Karen que eu jamais imaginava ser assim.
Colocar a escola em ordem? E desde quando alguém consegue
colocar quinhentos alunos em ordem? O que ela queria dizer
com não vai pegar leve? Ela achava mesmo que tinha medo de
ameaças idiotas?
E tinha Andrew… eu devia odiá-lo, mas ele mudou tanto. Me
ouvia e me aconselhava sobre meu futuro, dizia para nunca desistir.
Talvez ele tivesse sentimentos por mim como Esme disse e ainda
assim era um ótimo amigo.
— Ei gostosa — ouvi alguém gritando e aquilo me deixou com
medo.
Olhei para trás e vi dois garotos.
Meu coração disparou de medo e a única coisa que consegui
fazer, foi entrar no carro e sair o mais rápido dali me certificando o
tempo todo de que ninguém estava me seguindo.
Eu odiava isso.
Ter medo de homem o tempo todo, não poder ficar em paz
sozinha, ter medo quando começava a anoitecer.
Eu amava ser mulher, mas odiava ter que passar por isso!

Cheguei em casa e ouvi o barulho da bola de basquete batendo


contra o chão.
Beijei minha mãe e peguei Louis no colo para que ela pudesse
dar mamadeira para Elô.
— Tudo bem, docinho? — Ela passou a mão em meu rosto que
provavelmente estava avermelhado pelo choro.
— Tudo sim, só precisava ficar sozinha — expliquei e ela
entendeu que eu não queria falar sobre — Mãe? — A chamei
quebrando o silêncio.
— Sim, meu bem — disse voltando a atenção para mim.
— Sou a nova representante de Liberty — ela abriu um sorriso
de orelha a orelha e colocou Elô no carrinho.
— Não poderia ficar mais orgulhosa — ela me abraçou com
cuidado por eu estar com Louis no colo —, López me contou sobre
a aluna nota 100 — ela bateu palminhas animadas e sorriu —, você
é incrível, querida, seu pai até chorou de felicidade.
— Obrigada — disse com um sorriso largo no rosto, mas ele se
desfez — Mas… não acho que vou conseguir conciliar com o
trabalho — suspirei desanimada. — Gosto de ter o meu dinheiro,
mas meus estudos são mais importantes.
— Docinho, te apoiamos a começar a trabalhar porque
sabíamos que queria seu próprio dinheiro, mas avisamos que os
estudos viriam estão em primeiro lugar e isso não vai mudar. Seu
pai fica com a mão coçando pra voltar a transferir o dinheiro pra sua
conta como fazíamos antes, ele com certeza não vai se importar.
— Não queria deixar o trabalho — admiti.
— Queremos o melhor para você, sabe que tem nosso apoio e
na faculdade você consegue trabalhar lá dentro mesmo — ela beijou
minha cabeça e eu sorri.
— Vou ver como vai ficar essa semana — suspirei e ela
concordou.
Ouvi gargalhadas vindas da pequena quadra de basquete que
temos depois do estacionamento. Era composta por apenas uma
cesta.
A risada dele, eu a reconheceria em qualquer lugar.
Me aproximei da quadra e vi Isaac, Cameron e meu pai
jogando. Estavam rindo à toa, Isaac ficava tão bem quando estava
distraído, papai parecia leve e contente e Cameron… parecia um
anjo.
O olhei entendendo um pouco do seu significado para mim.
Cameron era estressado com muita gente, se irritava fácil, era o
mais novo motivo da minha preocupação, mas ele era a ausência do
caos.
Ficava irracional com ele, não precisava pensar tanto, podia ser
eu mesma e parecia não existir problemas quando estava em seus
braços, e eu não precisava ter medo dele ultrapassando os meus
limites, as coisas pareciam melhores com ele.
Louis sorriu me olhando e tentou falar alguma coisa, ri o
olhando.
— É, talvez eu esteja muito apaixonada — passei a ponta de
meu nariz em sua bochecha.
Entrei novamente em casa sem ser vista. Coloquei Louis no
bebê conforto onde minha mãe conseguia vê-lo e subi para o
quarto.

Estava no mundo de A Elite, chorando toda vez que Maxon


ficava com alguém que não fosse a América, quando alguém bateu
na porta.
— Está aberta — avisei ainda com os olhos focados no livro.
A porta se abriu e eu olhei, perdendo o foco.
Não estava mais com as roupas de quando jogava basquete,
seu rosto não estava molhado de suor e nem avermelhado, mas
seus cabelos pareciam úmidos e pouco escuros.
Ele fechou a porta e se sentou ao meu lado.
— Soube que Karen surtou com você — comentou tocando
minhas pernas cobertas pelo edredom.
— Nada importante — dei de ombros fechando o livro.
— Querida? — Mamãe disse após dar dois toques na porta e
abri-la — Sua avó não está se sentindo bem, vou deixar as crianças
na sua tia e ir vê-la. Fica bem?
— Me dê notícias? — Ela concordou se aproximando e beijando
minha cabeça — Isaac vai pra onde?
— Para a casa de Jeff — concordei —, pode vir aqui fora só um
minutinho?
Concordei me levantando e saindo do quarto, paramos no
corredor, ao lado da porta.
— Ele vai dormir aqui? — Questionou apreensiva.
— Na verdade, nem eu sei — ela suspirou.
— Confio em você, mas tome cuidado, por favor, não faça nada
que se arrependa depois — avisou e notei sua preocupação.
Ela nunca precisou se preocupar com isso e por mais que fosse
liberal, se preocupava em eu fazer algo que me arrependesse
depois, nunca foi segredo que eu queria uma vida sexual depois do
casamento.
A abracei rindo.
— Não vamos fazer nada, mas quer que Jeff durma aqui? Vai
ficar mais tranquila se ele dormir aqui?
Ela riu.
— Vou pedir para Amora trazê-lo.
Concordei e ela se despediu beijando meu rosto.
Jeff tinha treze anos e amava ficar aqui em casa.
Entrei no quarto me sentindo um tanto constrangida, mas não
falaria o ocorrido a Cameron.
— Sua mãe está preocupada? — Questionou olhando minha
estante de livros. — Não se preocupe, não vou dormir aqui — cruzei
meus braços.
— E nem vai dormir, não é?
Ele me olhou, riu se aproximando de mim e me puxou pela
cintura.
— Não se preocupe comigo.
— Não é só sobre você — menti acariciando seus braços
sabendo que daria certo —, eu caí de paraquedas no Fênix,
descobri que sou representante da escola, estou extremamente
preocupada e você — suspirei — as vezes me tira do sério, mas as
vezes me acalma, tenho competição amanhã, acha que não estou
com medo e apreensiva?
Ele olhava em meus olhos.
Era verdade, por mais que eu quisesse que ele descansasse,
era inevitável não sentir medo por participar de uma competição
televisionada e manter as medalhas da escola que não eram
perdidas há anos.
— Fica aqui… comigo? — Pedi acariciando seu rosto.
Ele tinha se rendido quando apertou minha cintura.
— Vai me dar um beijinho? — Questionou descontraído e com
um sorrisinho maroto.
— Não senhor — ri quando ele me apertou ainda mais.
— Não custa nada tentar — disse com a mão em minhas costas
me empurrando contra si e aproximou os lábios do meu ouvido — e
eu não vou parar de tentar.
— E eu não vou parar de resistir — o provoquei.
Meu Deus, o que eu estava fazendo da minha vida?
— Você — ele deu um passo para frente e eu para trás — está
me desafiando? — Questionou me pressionando contra a estante
de livros.
Me faltou ar, mas me recompus, não sabia com que força, mas
tinha conseguido.
— Esse desafio eu já ganhei — disse vitoriosa.
Não sairia por baixo mesmo me sentindo fraca.
Ele sorriu afundando os dedos em meus cabelos próximos da
nuca e roçou os lábios em meu pescoço.
— Eu não teria tanta certeza.
Seus lábios começaram a distribuir leves beijinhos em meu
pescoço até minha orelha. Apertei seus braços fechando os olhos e
me deixando levar pelas emoções, mas o empurrei antes que me
deixasse levar demais.
— É, acho melhor você não dormir aqui — comentei retomando
o fôlego e me afastando dele ainda sentindo meu corpo todo
arrepiado.
— Agora eu faço questão de dormir aqui — disse rindo.
— Eu te odeio — afirmei saindo do quarto.
— Ah, eu bem acredito nisso — ele saiu do quarto.
Descemos as escadas e ficamos com Isaac assistindo um filme
enquanto esperávamos Jeff chegar.
— E aí Cameron — Jeff o cumprimentou como se fossem
amigos de anos — prima! — Ele me abraçou forte.
Jeff era um amor de criança. Era o primo favorito de Isaac e a
minha prima favorita era a irmã dele, Nicolly.
— Desde quando vocês se conhecem? — Questionei confusa.
— Já levei ele pra jogar basquete — Cameron disse e eu o olhei
surpresa.
— Ah sim. Vocês estão com fome?
— Sempre — Isaac resmungou.
— Um bolinho de chuva seria ótimo, né Becca? — Jeff se jogou
no sofá tirando o tênis.
— Vou fazer — disse indo até a cozinha.
Cameron entrou logo após mim e talvez eu não o quisesse por
perto por motivos de estar desconfiando da minha própria
capacidade de resistência.
— Eu te ajudo — se ofereceu.
Suspirei pesadamente.
— Não precisa — disse amarrando o avental em minha cintura.
— Mas eu quero ajudar — rebateu se aproximando de mim e eu
desviei dele. — O que que foi? Fiz algo de errado? — O olhei e ele
parecia totalmente perdido.
Amarrei meu cabelo pensando em uma forma de afastá-lo e ele
riu.
— Becca — ele levantou meu queixo com os dedos —, por mais
que eu quero muito você, eu te respeito. Não vou forçar, não vou
ficar o tempo todo em cima. Quero te beijar? Quero te beijar! Gosto
de te provocar? Demais! — Disse com expressão de apaixonado. —
Mas não ao ponto de você ficar incomodada com uma simples ajuda
ou eu te deixar desconfortável e apreensiva! — Explicou acariciando
meu rosto com o polegar.
— Eu sei, desculpa, é só que…
— Não precisa pedir desculpas, está tudo bem — ele beijou
minha testa —, como que faz esse bolinho? — Questionou se
encostando na bancada.
— Hora de dormir gente — avisei entrando na sala, depois que
os três estavam há uma hora e meia jogando. — Jeff e Isaac, vão
escovar os dentes e depois arrumar a cama.
— Mas… — Jeff começou.
— Não vou repetir — o cortei e Cameron riu.
Isaac desligou o videogame bufando, ele e Jeff arrumaram as
coisas e subiram para o quarto. Cameron quem ajudou os meninos
a arrumarem suas camas e os colocou para dormir.
— Eu vou pra casa — anunciou entrando no meu quarto.
— Teimoso — bufei o olhando.
Estava sentada na cama com as costas encostadas e a coberta
em cima de mim.
— Aprendi com a melhor — ele riu se aproximando e me dando
um selinho, revirei os olhos e ele se sentou abraçando minhas
pernas — é sério, bê, não estou com sono e não vou atrapalhar o
seu, achei que cansaria jogando com os meninos, mas não.
— Te faço dormir em dois minutos — desafiei e ele riu.
— Não vai adiantar, caramelinho — ri do jeito que ele falou.
— Tudo bem — me rendi a desistência —, pode ficar só um
pouquinho? — Entrelacei meus dedos nos dele, observando seus
olhos cansados e avermelhados.
Ele riu convencido pela minha insistência, tirou o tênis e se
deitou ao meu lado. Liguei a tv e o abracei pelos ombros, Cameron
deitou a cabeça em meu peito e nem estava prestando atenção no
filme aleatório que coloquei.
Comecei a acariciar seu cabelo, deslizei as unhas em sua nuca
levemente o vendo sorrir e desci a mão por suas costas, as
arranhando cuidadosamente.
— Talvez eu durma um pouco — ele murmurou.
Sorri voltando a acariciar seus cabelos enquanto cantava
baixinho a música Kiss Me do Ed Sheeran e seu corpo se arrepiou
quando deslizei novamente as unhas em suas costas.
Cameron se arrumou um pouco para cima, o suficiente para
roçar o nariz em minha bochecha enquanto eu cantava e passou a
ponta do nariz trilhando um caminho da minha bochecha até meu
pescoço.
Estava quase em cima de mim quando começou a beijar meu
pescoço com leveza, entretanto, suas mãos apertavam minha
cintura com força.
Prendi a respiração, me faltou fôlego quando sua mão subiu até
o meu cabelo. Apertei sua cintura sentindo meu ar se esvair. Sua
respiração quente batia em minha nuca.
— Parou de cantar por quê? — Disse em um sussurro.
Eu estava em êxtase. Ele me olhou e selou graciosamente os
nossos lábios com um sorriso vitorioso. Cameron se deitou ao meu
lado e eu sabia que seus olhos estavam presos em mim, mas
estava totalmente desnorteada e perdida em meus próprios
pensamentos. Me virei ficando de costas para ele finalmente
soltando a respiração. Minha vontade era de gritar de euforia.
— Boa noite, amor — sussurrou me abraçando e me
aproximando dele.
— Boa noite — disse quase sem som.
Acordei e passei a mão na cama a sentindo vazia. De

imediato abri os olhos e não vi Cameron ao meu lado.


Estranho, combinamos de ir à escola juntos já que vamos entrar
às dez horas, onde ele estava?
Me levantei e caminhei até o banheiro deixando a água quente
descer pelo meu corpo.
Tentei pensar em mil coisas, ocupar minha mente com os
projetos que aconteceriam na escola hoje, mas só me vinha o último
sonho que tive com Cameron.
Estávamos em um salão de festas, dentro de um enorme e
elegante palácio. De início, havia várias pessoas nos olhando
sentadas em mesas redondas com toalhas brancas e azuis. Mas,
quando toquei a mão de Cameron, todos sumiram. O salão era
nosso. Uma melodia romântica ecoava pelo salão, mas não havia
banda, apenas eu e ele.
Meu vestido era branco rendado e longo, como o de uma noiva
e meus cabelos amarrados em um penteado perfeito.
Cameron estava com um terno azul escuro, o rosto sereno e
alegre.
Nossos sorrisos tinham a mesma intensidade. Nossos rostos
cobertos pela mais pura felicidade. Ele me girou e me tomou em
seus braços fortes.
— Eu te amo — sussurrou selando nossos lábios com
suavidade e, quando eu estava prestes a respondê-lo, fui puxada
para longe.
De repente eu estava no campus de Yale, o qual só vi por foto,
Cameron havia sumido e eu, agora, estava sozinha.
Nem pessoas, nem palácio, nem vestido de noiva. Apenas eu
com uma calça jeans rasgada, um casaco preto e tênis cinza.
O procurei pelo campus, perguntei a pessoas desconhecidas
onde estava o meu amor, mas ele havia desaparecido.
Gritei seu nome, o busquei com os olhos, mas ele não veio.
Ele não viria mais… eu sabia, por algum motivo, eu sabia.
Estremeci ao repensar em todo o sonho.
Parecia real, eu sentia a dor de perdê-lo, ali, diante dos meus
olhos.
As lágrimas descerem junto com a água do chuveiro, pensar em
nunca mais vê-lo, eu sentia como se esse sentimento fosse me
sufocar. Desliguei o chuveiro dispersando todas as lembranças
desse sonho… ou devo chamá-lo de pesadelo?
Desci as escadas com um vestido gasto que amava usar em
casa, minha avó quem havia feito, e vi minha mãe com Elô e Louis
em seus bebês conforto.
— Bom dia — cantarolei beijando o rosto dela.
Ouvi risadas vindas da cozinha e foi inevitável não as
reconhecer.
Papai, Isaac, Jeff e Cameron. As risadas eram altas e gostosas
de serem ouvidas.
— Bom dia querida — ela sorriu pegando Elô e me entregando
a garotinha risonha —, tudo bem ontem?
Ela me olhava como se tentasse me ler, sorri concordando.
— Como está a vovó? — Questionei brincando e dançando com
Elô enquanto cantarolava, ela sorria sem parar.
— Está ótima. Passou mal por causa da diabetes, mas disse
que precisava tomar uma coca cola e comer um x-burguer
extragrande — mamãe disse negando com a cabeça, mas não
deixou rir da situação. — Está com sua tia Ada agora, vai passar um
tempo na Suíça.
— Vão levar a diabética pra cidade do chocolate? — Ela me
olhou rindo.
— Há-ha-ha, engraçadinha — disse se levantando com Louis.
— Mulheres e garotinho — disse olhando Louis — da minha
vida, vamos tomar café, hoje o dia será cheio — papai replicou
entrando na sala com Cameron.
— Bom dia — Cameron beijou o topo de minha cabeça com a
mão em minha cintura me puxando discretamente.
Me senti tão feliz e leve por vê-lo aqui, sentir seu braço em
minha cintura e sua mão me apertando com firmeza... era real, ele
estava aqui e isso me fez suspirar de alívio.
Papai nos olhou e Cameron de imediato levantou as mãos como
se estivesse diante da polícia.
— Dormir no mesmo quarto já não foi o suficiente? —
Questionou meu pai como se aquilo ferisse profundamente o seu
coração e Cameron continuou com as mãos levantadas — Na
minha época…
— Acho melhor nem começar a falar o que fazíamos, Owen —
mamãe alertou lançando-me uma piscadela, fiz expressão de nojo e
ela riu dando um beijinho em meu pai.
— Bons tempos — papai disse abraçando minha mãe pelos
ombros, o ar carregado de insinuações que fizeram eu e Cameron
rirmos de vergonha.
— Gente, pelo amor de Deus, são nem nove horas da manhã —
reclamei e eles riram.
Meu estômago estava gritando de fome e eles caminharam até
a cozinha.
— Cameron, abaixa os braços — ri tocando em seus braços.
Ele riu concordando e pegou Elô no colo.
Com o braço desocupado, me puxou pela cintura selando
nossos lábios e Elô deu um gritinho como se estivesse reclamando,
a olhamos e ela sorriu.
— Você fica linda de vestido, minha princesa — disse
calmamente sorrindo.
Meu coração explodiu de felicidade de uma forma inexplicável.
Sempre achei brega ser chamada de princesa, mas vindo dele
era perfeito.
— Obrigada, amor — agradeci e lhe dei um selinho.
Caminhamos até a sala de jantar, a mesa estava pronta com as
coisas para comermos. Elô estava elétrica porque Cameron não
parava de brincar com ela.
Me sentei ao lado dele após colocar Elô no carrinho e papai
falava animadamente sobre sua época com Arthur no time de
Liberty.
Mamãe me contou essa história uma vez e aproveitou para me
falar que com a minha idade ela era bem diferente de mim. Disse
que ela e tia Ada — sua irmã mais velha — deram muito trabalho
aos meus avós.
Meus pais se conheceram na época rebelde da minha mãe, ela
não queria saber de nada e ele muito menos. Se encontravam nas
madrugadas até serem descobertos, as famílias se odiavam na
época, minha mãe ficou de castigo e meu pai invadia o quarto dela
no meio da noite para vê-la.
Meus pais eram o casal que todos acharam que seria apenas
uma paixão adolescente, mas aqui estão eles, a hippie e o jogador
de futebol americano, casados e com quatro filhos.
Uma das maiores verdades da minha vida era que quando os
pais eram liberais, os filhos eram mais tranquilos. Meus pais eram
liberais, porém, bem cuidadosos e minha mãe sempre conversou
sobre tudo, desde um beijinho até o sexo, ela nunca teve vergonha
de falar sobre, mas sempre teve muita cautela comigo.
Isaac, Jeff, Cameron e até mesmo o pequeno Louis, que não
entendia nada, estavam prestando atenção em meu pai. Cameron
colocou a mão em minha perna coberta pelo vestido longo e foi tão
natural que o olhei notando que ele nem se quer percebeu seu ato.
Toquei delicadamente em sua mão, ele a olhou, afastou de imediato
como se tivesse feito algo errado e voltou o olhar disfarçadamente
para meu pai.
Por que isso? O que fiz de errado?
— Vocês precisam se arrumar! — Mamãe disse me tirando de
meus pensamentos.
— Sim — me levantei com calma —, vocês vão pra
competição? — Questionei encaixando a cadeira no vão da mesa.
Cameron me olhou de cima abaixo e voltou o olhar para os
meus olhos.
— Claro que sim — papai disse rindo.
— Eu já vou indo também — Cameron disse se levantando —,
vejo vocês mais tarde.
Saímos da cozinha com todos os olhares em nós, paramos na
porta, sozinhos, e ele me olhou.
— Deixei minhas coisas no seu quarto — comentou com um
peso incomum em sua voz. Por que ele ficou assim, estranho, do
nada?
— Sim, claro — concordei subindo as escadas até meu quarto.
Assim que entramos, ele encostou a porta com cuidado e me
puxou pela cintura antes mesmo de eu pegar suas coisas para lhe
entregar.
— Eu não percebi o que eu fiz, sério — disse olhando meus
olhos —, virou costume e eu me esqueci totalmente que você
estava de vestido, não queria e nem quero ultrapassar seus limites,
não quero te incomodar e… — ele estava envergonhado, suas
bochechas estavam coradas e seu olhar carregado de sinceridade.
— Cameron — acabei rindo, peguei em suas mãos e entrelacei
os nossos dedos —, não me incomodou, tudo bem, se acontecer
algo que me deixe desconfortável, te falarei — ele ainda me olhava
com culpa —, isso não me deixou incomodada, amor, sério — selei
nossos lábios.
Um sorriso se formou em seu rosto, ele tentou disfarçá-lo, mas
não conseguiu e logo deu espaço a um sorriso largo e iluminado.
Ele suspirou e me puxou para um abraço.
Meu coração disparou e eu me aconcheguei mais em seu
abraço.
Ficaria ali o dia todo se pudesse, mas havia outras coisas a
serem feitas.
— Cameron — o olhei —, ainda preciso passar na lanchonete
para levar a declaração da minha falta de hoje — me afastei. —
Daqui a pouco estarei pronta! — Me soltei dele.
— Para dizer sim no altar?
Não consegui deixar de sorrir quando ele segurou em minha
mão.
— Para ir à escola, engraçadinho.
Ele me puxou selando nossos lábios.
Pensei no sonho, pensei em tudo e o abracei com firmeza e
precisão.
— Ei, tudo bem? — Questionou acariciando meu rosto com
máximo cuidado, como se eu fosse tão frágil que quebraria se ele
não fosse cuidadoso.
Sorri selando nossos lábios.
— Tudo, vou me arrumar — o avisei beijando sua bochecha.
Ele me segurou pela nuca e selou nossos lábios outra vez com
calma enquanto apertava minha cintura com firmeza.
— Queria ficar assim o resto do dia com você — sussurrou
quando me abraçou pelos ombros.
O senti afastando meus cabelos da nuca e beijando o topo de
minha cabeça.
— Eu também — afirmei arriscando roçar meus lábios em seu
pescoço como ele sempre fazia comigo.
Ele me segurou com os dedos em minhas bochechas e um
sorrisinho no rosto.
— Esteja pronta em vinte minutos.
Avisou e saiu do quarto mais rápido que o normal.

— Eu falei que não precisava me trazer, podia muito bem ir


sozinha até a escola depois daqui — reclamei o olhando após ele
abrir a porta do carro para mim.
— Temos dez minutos para chegarmos na escola, amor, estou
esperando — disse me olhando.
Revirei os olhos e ele riu.
— Você é impossível mesmo.
— Penso a mesma coisa sobre você — replicou quando sai do
carro.
Entrei na lanchonete e quem estava atendendo era Raquel.
— Bom dia Ra…
— Andrew está te esperando no escritório dele — avisou fria e
sem me olhar.
Subi as escadas sem me importar muito, Raquel nunca me
recebia bem, estava acostumada.
Dei duas batidas na porta e ele a abriu.
— Bom dia — disse me dando espaço para entrar.
— Bom dia, Andrew — disse sorrindo.
— Está tudo bem? — Questionou caminhando até sua mesa.
— Um pouco nervosa, confesso — respondi tirando a
declaração de minha bolsa e a entreguei.
— Boa sorte, Becca — disse me olhando com sinceridade —,
sei que você vai ir bem.
— Você não vai? — Questionei esperançosa.
E nem eu entendi o motivo de eu querer que ele vá… talvez
fosse pela amizade que criamos, o apoio que ele me dava e a
sinceridade quando ele dizia querer o meu bem.
Antes dele ver eu com Cameron, conversávamos bastante.
Durou duas semanas, mas passar dias conversando com ele me
deu espaço para conhecê-lo, mesmo que pouco. Ele se desculpou
infinitas vezes pela forma que foi um babaca comigo.
Conversamos sobre a faculdade, sobre o futuro, sobre eu ter
medo de toda a pressão e ele soube dizer as coisas na hora certa,
mas depois do namoro assumido, ele optou por se afastar e se
fechar totalmente, me lembro perfeitamente do que Esme me disse
e doía perceber que ela estava certa.
— Não.
Abri a boca para me despedir, vendo que não adiantava insistir,
mas parei quando ele se levantou e se aproximou.
— Tenho certeza de que Cameron é melhor do que eu com
você — afirmou e eu me levantei o olhando.
— Não é sobre isso, Andrew. Éramos amigos e agora…
— Acha que está pronta para essa conversa? — Questionou
com mansidão.
Engoli em seco e abaixei o olhar, ele levantou meu rosto pelo
queixo e se afastou no mesmo instante.
— Te desejo boa sorte, conversaremos outro dia.
Ele abriu a porta.
Não, eu não estava pronta para essa conversa, sabia que tudo
mudaria entre nós principalmente quando eu dissesse que não sinto
o mesmo por ele e não sentia o mesmo, independente do que ele
sentia por mim. Meu coração era totalmente — e assustadoramente
— de Cameron, eu jamais escolheria outra pessoa além dele.
Sai da sala.
Era melhor assim, se Andrew sentia algo por mim e eu não o
queria, não tinha motivo para prendê-lo a mim, nem mesmo na
amizade, eu estaria prolongando seu sofrimento e isso não era
justo.
— Vamos? — Questionei me aproximando de Cameron que
estava fora do carro.
Ele encarava a janela do escritório da lanchonete fixamente.
Olhei na mesma direção e Andrew estava com os olhos
fincados em mim acompanhando cada ação minha.
— Vamos — disse colocando a mão em minhas costas, abriu a
porta do carro e quando a fechou, me olhou pela janela aberta —,
eu jamais vou confiar nele com você — afirmou com os dentes
serrados, deu a volta e entrou no carro.
— Não vamos nos preocupar com isso — entrelacei nossos
dedos —, temos coisas mais importantes a serem feitas.
— Não tem como ignorar isso, Rebecca — disse com os olhos
fixos na estrada após dar partida e soltar minha mão —, não tem
como não reparar o jeito que ele te olha, o jeito que ele te quer —
Cameron tentava controlar sua raiva a cada palavra que saia de sua
boca.
Ficamos em um silêncio desconfortável por instantes.
— Se você quiser começar com isso, a gente começa — o olhei
quando ele parou o carro no estacionamento da escola —, mas não
agora — disse mantendo meu tom calmo.
— E vai ser quando? Porque sempre que começo a entrar
nesse assunto, você desvia — disse mantendo um tom calmo, mas
havia indícios de irritação.
Cameron estava certo, eu nunca entrava nesse assunto. Nunca
foi de fato necessário, não via necessidade de perdermos tempo
falando de alguém que eu claramente não tinha afeto amoroso,
apenas amizade e agora nem tinha mais isso, mas não tinha como
falar isso a Cameron sem que ele ficasse emburrado.
— Cameron, você sabe muito bem que eu não dou liberdade a
ele em nenhum momento, somos amigos — disse sabendo que
esse assunto me irritaria —, apenas isso.
— Ele sabe disso? — Questionou parando o carro no
estacionamento da escola.
Não conseguia distinguir seu tom, ele estava insinuando algo?
O olhei sentindo minhas bochechas e meu corpo todo queimar.
— O que está querendo dizer? — Questionei respirando fundo.
— Você não dar liberdade não significa que ele não tente algo
— disparou.
Seu rosto, geralmente sereno, se contorceu de raiva.
— Já deixei claro pra ele que não quero nada amoroso e ele
respeita isso. Gosto da amizade dele e não vou me afastar de
ninguém por não ter motivos, eu nunca te pedi isso com ninguém.
— Nunca foi necessário — rebateu.
— Cameron, você fala com todas as garotas que dão em cima
de você, Katherine, Lana e Karen insistem mesmo que você não dê
liberdade a elas, é o mesmo caso e eu não fico implicando com
ninguém mesmo sabendo da situação! — Afirmei conseguindo
controlar meu nervosismo. — Andrew não fica em cima de mim
como as garotas ficam em cima de você e…
— Está defendendo ele? — O olhei incrédula e ele desviou os
olhos de mim. — Não sei porque estamos discutindo sobre isso,
é só um namoro falso mesmo — disse calmamente tentando
assumir o controle da situação.
Senti uma dor como a de uma facada com suas palavras e, ao
mesmo tempo, senti raiva, mas não perderia minha compostura.
— Aí que bonitinho — debochei.
— O quê? — Ele pareceu confuso e ofendido.
— Você sendo super infantil — ironizei com voz normal e notei a
irritação o consumindo. — Viu que estava perdendo o controle e
apelou pra isso? Ah, Cameron, não seja baixo — afirmei saindo do
carro.
Ia sair andando até a escola, mas retornei até sua janela
abaixada, seu rosto estava avermelhado. Aproximei meu rosto do
seu e ele fincou os olhos nos meus.
— Namoro falso? — Ri o contrariando e o vendo ficar ainda
mais irritado — De todas as suas tentativas de provocações, essa
foi a mais idiota — disparei e me afastei indo até a entrada da
escola.

— Atrasada — Luce disse assim que entrei no laboratório de


física.
— Desculpe se eu estava tendo uma leve discussão com o
capitão do time — rebati com uma superioridade fingida.
— Tanta hora para discutir e o casal do ano resolve fazer isso
agora? — Questionou em tom provocativo, me segurei para não rir.
— Lucinda, me erra. Toma conta da sua vida, menina chata —
disse fingindo impaciência e ela mostrou o dedo do meio
começando a rir.
— Ridícula.
— Maravilhosa — debochei.
— Física Quântica, né gente? — Samuel interrompeu fazendo
todos rirmos.
Me sentei ao lado de Neji.
Gostava de como Luce tinha demonstrado querer minha
amizade, parecíamos até familia. Nunca gostei de amizades que
tinha que pisar em ovos e ela claramente não era assim.
— Está tudo bem? — Neji questionou segurando em minha
mão, demonstrando preocupação.
— Está sim — respondi com firmeza para não dar abertura a
outros questionamentos.
Mas no fundo eu não me sentia tão bem. Distraída talvez.
Cameron tentaria me deixar mal sempre que perdesse o
controle de alguma discussão? Ele jogou na minha cara que o
namoro era falso, vai ser assim quando não concordarmos em algo?
E começar uma discussão horas antes de algo extremamente
importante para mim acontecer? Isso não me deixava nada bem.

Em dez minutos a competição começaria.


O apresentador Gerald estava lendo suas fichas com calma, ele
era um homem alto, de cabelos castanhos escuros e aparentava ter
em torno de trinta a quarenta anos. Os traços de seu rosto eram
firmes, mas, por trás dessa sua imagem, havia um homem simpático
que desejou boa sorte a nós e aos competidores da escola
Baltimore de um jeito adorável. A forma com que ele conversou com
Neji e Samuel deram indícios de que nós éramos os favoritos de
uma competição que mal se iniciou.
Eu imaginava um ambiente totalmente diferente com a plateia
vazia e poucas câmeras, mas me enganei, eles levavam aquilo bem
a sério. A competição seria gravada e passada no sábado, as oito
da noite, no canal 97, um canal carregado pelo conteúdo que
chamam de matéria nerd. Era como um canal de curiosidades sobre
várias coisas e cada dia da semana tem uma categoria separando
os assuntos.
Os jogos do Warriors seriam televisionados e passados ao vivo
no canal 385.
Por algum motivo as pessoas daqui gostavam de assistir os
jogos dos times escolares, vinham como entretenimento e alguns
diziam que adolescentes jogavam com tanta paixão e determinação
que era impossível não gostar de assistir. Papai mesmo disse que
os jogos de hoje em dia eram superficiais e não transmitiam tanta
emoção.
Conseguia entender perfeitamente o que ele queria dizer, os
treinos desde que Cameron voltou para o time eram puxados e ele
treinava como se estivesse no jogo, nunca o vi jogar em uma
competição, mas, pelo treino, quem fosse seu oponente que orasse
no mínimo sete vezes pra não se quebrar todo.
Olhei o relógio em meu pulso e faltavam apenas cinco minutos.
O palco do teatro estava com cortinas pesadas na cor vinho com
detalhes dourados e estavam fechadas como se esperassem uma
apresentação de uma peça teatral.
Me sentia ainda mais nervosa quando vi que os bancos do
extenso lugar se ocupavam cada vez mais. Vi os alunos de Liberty,
os de Baltimore, a diretora bem na frente conversando com um
homem de postura firme que a olhava e concordava dando algumas
risadas discretas. Passei meus olhos pela plateia e vi meus pais,
mamãe mandou um beijo para mim e os lábios de meu pai disseram
um "você consegue" sem som; Calleb sorriu acenando com a
cabeça me dando um certo apoio, ao seu lado estava Lana, pela
primeira vez ela não me olhou com superioridade, parecia querer
me desejar boa sorte, mas não sabia como; Karen e Katherine
conversavam algo e Katherine parecia estressada.
Todas as líderes estavam presentes, algumas com olhares
críticos e outras impacientes. O time também estava presente, o
treinador estava na segunda porta a direita conversando com a
professora de literatura.
Procurei mais uma vez na plateia e ele não estava lá.
— Vamos, já vai começar — Neji avisou.
Concordei sentindo minhas mãos suarem e meu coração
disparar.
Por que Cameron tinha vindo? Estava tão bravo comigo que
preferiu não vir?
Dispensei esses pensamentos, precisava me concentrar apenas
em Física Quântica.
No alto do palanque havia uma tribuna no centro com dois
microfones grudados, ao lado direito estava uma bancada com uma
toalha na cor vinho, na frente estava escrito Liberty High School.
Havia plaquinhas com os nossos nomes em cima da bancada e nos
sentamos. Neji, eu, Luce e Samuel. Atrás de cada nome tinha um
botão vermelho e na frente um microfone grudado na mesa, para
cada competidor responder as perguntas.
Ao lado esquerdo estava outra bancada, com as mesmas coisas
que a nossa, porém, com a toalha verde e o nome Baltimore High
School.
O grupo, que era nosso rival, passou pela nossa mesa e nos
encarou com superioridade.
— Boa sorte, japa — um garoto de olhos firmes disse com ar
falso olhando Neji, que preferiu ignorá-lo.
— Bom — Gerald parou no meio, de forma que ambos os
grupos puderam vê-lo —, aos calouros, as regras continuam as
mesmas; aos novatos, os botões na frente de seus microfones
acenderam a cada pergunta feita, o primeiro a ser apertado fará os
demais se apagarem e o aluno poderá responder à pergunta feita,
não se pode responder uma pergunta se não tiver apertado o botão,
o microfone ficará sem som e a resposta será desconsiderada,
mesmo que certa. Desejo a vocês boa sorte e que vença o melhor
— disse empolgado e caminhou para trás da tribuna.
Natalie subiu no palco que ainda estava coberto pelas cortinas.
Ela segurava uma câmera em mãos, sorri para ela, sempre
amou fotografia e vê-la fazendo algo que realmente gostava me
deixava feliz.
Tiramos fotos dos grupos separados e de todos juntos com
Gerald. O professor Tomlinson e um professor de Baltimore também
tiraram fotos com a gente.
Nos sentamos em nossos lugares novamente, mesmo com
todos esses rodeios, não conseguia ficar tranquila, estava cada vez
mais perto de iniciar e acreditava estarmos atrasados. Só queria que
isso acabasse logo.
Os olhares do grupo ao lado estavam fincados em mim como
duas facas.
Não conseguia entender o motivo disso, mas me deixava com
um nó no estômago, principalmente vendo que eles conversavam
olhando para mim.
— Ela é a aluna nota cem? — Uma garota das garotas disse um
pouco alto.
Os olhei e desviei o olhar assim que perceberam meu ato
repentino.
— Sim, Becca, todos sabem sobre você. Geórgia contou a
todos os diretores das escolas estaduais em uma reunião ontem,
todos que vierem competir sabem disso — Neji parecia orgulhoso
em cada palavra que dizia, mas isso me deixava ainda mais
nervosa.
— Escutem, sei que tiveram pouquíssimo tempo para estudar,
mas vocês conseguem. Hoje está cheio, mas por ser a estreia, nas
próximas serão mais tranquilas. Sei que vocês vão conseguir, esse
é o melhor grupo que já tivemos. Becca, você é a aluna nota cem,
esse grupo está tranquilo, mas os próximos tentaram te intimidar,
acredito que não seja problema pra você — disse sorrindo, suspirei
sorrindo e concordei. — Confio em vocês. Boa sorte a todos!
Natalie me lançou uma piscadela e um sorriso animado antes
de descer as escadas e sair. Luce segurou em minha mão e isso me
deixou um pouco mais relaxada.
Ouvimos um barulho agudo como aviso de que começaria. As
cortinas se abriram e o teatro parecia ainda mais cheio, meus olhos
correram rápido pelo vasto lugar.
Andrew estava na segunda porta a esquerda, Rosie se
aproximou dele e o puxou para se sentar na primeira fileira com a
diretora López. Rosie sorriu animada para mim enquanto Gerald
começava o programa.
O amplo teatro tinha cinco portas, duas menores nas laterais e
uma maior de centro que era a entrada principal.
Ao lado de Elliot estava um lugar vazio e eu me senti frustrada
por isso. Olhei Natalie em busca de respostas e ela apontou com o
queixo para a segunda porta a direita.
E lá estava ele, me olhando com firmeza, admiração e algo que
não conseguia distinguir. Estava com os braços cruzados e usava o
moletom do time. Ele me encarava com seriedade, mas sabia que
no fundo queria que eu fosse bem.
Andrew me olhava sério também, mas seu olhar parecia um
pouco sofrido.
Quando o olhei, ele desviou olhando na direção de Gerald.
Afastei todos os pensamentos quando o apresentador disse que
começaria com as perguntas. Não tinha para onde correr, era
vencer ou vencer.
As perguntas começaram e o grupo de Baltimore se irritava toda
vez que conseguíamos responder uma pergunta e estava certa.
Estava 6 a 6 quando o grupo ao lado errou uma questão que
valia três pontos por ser a última e que seria repassada para nós.
— Gente, essa eu não sei — Samuel se queixou preocupado.
Luce e Neji se juntaram a ele com preocupação enquanto eu
pensava na questão.
— Becca? — Ouvi de longe Neji chamar.
Puxei o bloco de notas que ele trouxe e fiz sinal para que ele
esperasse um minuto.
— Vocês terão trinta segundos para responder à pergunta —
Gerald avisou.
— Pode repetir por favor? — Pedi alto o suficiente para que ele
ouvisse.
O salão todo estava tenso e era possível sentir o outro grupo
emitindo energias negativas em nós.
Gerald limpou a garganta e com muita calma repetiu a pergunta:
— Quais são: (a) a frequência; (b) o comprimento de onda e (c)
o momento de um fóton, cuja energia é igual à energia de repouso
do elétron?
Enquanto ele fazia a pergunta com muita calma, foquei minha
visão na última porta do teatro escrevendo o cálculo sem o olhar.
Papai me ensinou esse truque, rabiscar as anotações de qualquer
jeito, mas não me concentrar demais ao ponto de travar.
Assim que Gerald terminou a pergunta, apertei o botão
vermelho. Não tinha nem chagado a começar a contagem dos trinta
segundos. Não olhei ninguém, nem mesmo minhas anotações, as
respostas estavam em minha cabeça.
— (a) 1,24 x 1020 Hz; (b) 2,43 pm; (c) 0,511 MeV/c.
— A resposta está…
Gerald fez suspense, todos, a plateia e os grupos, o olhavam
apreensivos e ansiosos, mas eu estava calma, sabia que estava
certo.
— Correta! — Disse eufórico a apontando para mim.
Sorri relaxando o corpo, nem tinha me ligado no quão tensa eu
estava.
— Parabéns, Fênix, vocês estão na próxima fase da
competição.
O Fênix se levantou e me abraçou com uma animação fora do
normal; a plateia se levantou nos aplaudindo, a escola Baltimore nos
aplaudiu desanimados; o garoto do grupo ao lado que tinha falado
com Neji deu um soco leve na mesa e chamou uma garota de burra.
— QUAL É O GRUPO VENDEDOR? — Ouvi Peter gritar e
todos, absolutamente todos, o olharam ficando em silêncio.
Os garotos do time bateram em seu próprio antebraço fazendo
um barulho alto e em conjunto, como um grito de guerra,
gritaram FÊNIX.
As pessoas começaram a aplaudir na medida em que riam e
comentavam o ato. Não me aguentei de rir, papai se sentou na
cadeira rindo sem parar e Gerald os olhou surpreso. Olhei Cameron
sabendo que isso era coisa dele, ele apenas balançou a cabeça em
confirmação. Ele não participou do grito de guerra para o Fênix,
mesmo assim, eu sabia que ele quem tinha organizado isso.
Cameron saiu e o time todo o acompanhou. As líderes saíram
com Katherine pela primeira porta a direita e o teatro começou a se
esvaziar. Andrew saiu antes do grito do time, simplesmente sumiu.
— Nunca havia presenciado o time fazendo algo por um grupo
de estudos — Gerald disse se aproximando de nós após se
despedir do outro grupo.
O grupo rival nem se quer nos parabenizou, saíram sem olhar
para trás.
— Nunca tivemos uma capitã do time no grupo — Neji gracejou.
— Capitã do time? — Gerald questionou demonstrando
interesse em saber mais.
— Ela dá aulas extras ao time, eles a amam — Neji explicou
sorrindo.
— Principalmente o capitão do time — a diretora López
literalmente brotou na conversa e Gerald a abraçou como se fossem
amigos de anos. — Parabéns, Fênix, fico feliz que tenham
conseguido passar da primeira fase — disse sorrindo.
A agradecemos e quando estava para sair com o resto do
grupo, ela pediu que eu ficasse. Colocou o braço envolto de meu
ombro e olhou Gerald.
— Geórgia falou muito sobre você ontem — Gerald disse me
olhando —, seu potencial é enorme, será um prazer tê-la em
Stanford — ele estendeu a mão e eu a apertei ainda confusa.
— Gerald é um dos patrocinadores de Stanford e busca alunas
como você para indicar a universidade — a diretora disse
praticamente respondendo todas as minhas dúvidas.
— Mas, confesso — Gerald iniciou tendo minha atenção — que
nunca conheci alguém tão inteligente. Nota cem na prova mais difícil
que já fizemos? Isso é surpreendente — disse maravilhado.
— Ah, foi por sorte — balbuciei envergonhada.
A diretora havia nos deixado para conversar com o diretor de
Baltimore.
— Nada disso, você que é muito inteligente — replicou —
Owen! — Olhei para trás e meu pai se aproximava segurando Louis
com um braço só — Quanto tempo, meu amigo — os dois se
cumprimentaram.
— Então você já conheceu minha filha — papai disse com a voz
carregada de orgulho e Gerald ficou atônito.
— Sua filha com Olívia? Que maravilha! — disse animado. —
Estava para oferecer a ela uma visita a Stanford, o que acha? —
Questionou voltando os olhos para mim.
— Seria incrível! — Disse animada.
Mais uma chance de entrar em Stanford, como poderia ficar
mais feliz?
— O que acha de ir também, Owen? Matar a saudade?
— Cavalheiros, Rebecca tem muito o que fazer ainda hoje —
disse a diretora.
— Foi um prazer te conhecer. Entrarei em contato para falar
sobre sua visita a Stanford — Gerald disse me cumprimentando
com um aperto de mão.
— Mal posso esperar — admiti — O prazer foi todo meu, até
logo, tchau pai — beijei o rosto de meu pai e me afastei com a
diretora.
— Paty — a diretora chamou a garota de cabelos loiros
encaracolados, ela sorriu para mim. Estava segurando uma sacola
preta.
— Parabéns pela vitória — ela disse animada e me abraçou de
surpresa.
— Obrigada — retribui o rápido abraço.
— Rebecca, aqui está a blusa e o casaco da escola para você
que é a representante. Fizemos o casaco para os dias frios de
competição. A do Fênix você pode usar apenas nas competições do
grupo, mas durante o dia de hoje nos outros projetos, precisa usar a
blusa da representante. Como você já sabe, hoje terão as
competições de natação, futebol feminino e o futebol americano.
Natalie acompanhará você e Neji em horários diferentes por conta
das fotos, preciso que você veja os treinamentos também. Hoje o
dia será cheio. Neji está te aguardando para a separação entre
vocês. Boa sorte. Paty, entregue a ela por favor.
A garota me entregou a sacola e a diretora se aproximou de
mim como se quisesse falar algo que ninguém podia escutar.
— O time adversário da escola Baltimore treinará também,
qualquer confusão envolvendo os times, preciso que me conte —
olhei nos olhos da diretora, ela parecia querer me intimidar ou
entender minha reação, mas não me abalei.
— Com todo o respeito, diretora López, não sou dedo-duro e se
é necessário ser assim para ser representante, precisarei rever se
realmente quero isso — disse respeitosamente.
Ela me olhou, lendo todos os meus pensamentos. A deixei fazer
isso.
Não, não concordava com Cameron brigando com meio mundo
e sim, estava fazendo isso para não prejudica-lo. Me impressionei
comigo mesma por colocar em risco o cargo de representante para
proteger Cameron de uma coisa que eu discordava. Não podia ter
parte em fazê-lo perder o time, não mesmo!
— Você é igualzinha à Geórgia. Na época ela protegia Anthony
como você está fazendo agora — o olhar intimidador se esvaiu —,
hoje são casados — meu corpo se esquentou ouvindo aquilo e
milhares de coisas vieram em minha mente —, mas sua opinião
forte e seu jeito sábio de falar é totalmente herança de seus pais.
— Vou levar isso como um elogio — balbuciei em voz baixa.
Seus lábios se contraíram em um sorriso que logo se desfez.
— E eu vou fingir que essa conversa nunca existiu — avisou e
eu concordei abaixando a cabeça —, mas sabe que tudo o que
acontece nessa escola está sob meus conhecimentos. Se tiver
qualquer briga dentro da propriedade escolar, eu saberei. A menos
que seja do portão para fora — a olhei e ela sorriu como se aquilo
fosse uma dica —, espero os relatórios das competições na quarta.
— Diretora — a chamei quando ela me deu as costas e seus
olhos se voltaram para mim —, Cameron não precisa saber que...
— Eu sei — ela sorriu como se já tivesse visto aquela história
antes.
Sorri em agradecimento e ela se afastou.
Me senti perdida, queria ver minha mãe, mas ela tinha sumido.
Sai do teatro e me deparei com Neji, que estava com a blusa de
representante.
— Becca — chamou caminhando até uma sala vazia e me
entregou uma prancheta assim que entramos na sala —, você foi
demais — disse me abraçando.
— E você também — afirmei e quando nos soltamos, olhei
rapidamente a prancheta — Tudo iniciará as 14h30… — comentei
comigo mesma.
— Como ficará as separações? Para onde quer que eu vá?
— Prefere ver a natação ou as meninas jogando? — Neji me
lançou um sorrisinho malicioso e fofo ao mesmo tempo.
— As meninas — ri dando de ombros.
— O futebol feminino começa às 15h e a natação as 16h. Você
fica com o coral e com o futebol feminino, vou conseguir assisti-las
por trinta minutos e vou pra natação. Assim que o futebol terminar,
você me encontra na natação e assiste o finalzinho que vai até às
17h se tudo correr como está planejado. Assim que acabar a
natação vou ir ver o treino do time e as líderes, ambos estarão no
campo, se quiser ir para lá depois, fique à vontade. Pode ser?
— Nossa — disse impressionado —, como organizou tudo isso
lendo só uma vez o planejamento de hoje? — Dei de ombros e ele
riu — Pra mim está ótimo!
— Perfeito, vai estar no jogo de hoje às 18h45?
— Óbvio — rimos.
Eu e Neji fizemos os últimos ajustes no nosso dia. Entrei no
banheiro feminino e coloquei a blusa de representante que era azul
escuro, atrás tinha meu nome escrito de vinho e o símbolo da escola
embaixo do meu nome, na frente tinha apenas o nome da escola a
direita e embaixo, na cor vinho, estava escrito representante em
letras pequenas. A blusa era um pouco justa e deixava meus seios
bem definidos, mas não de forma extravagante.
Sai da cabine e vi Melissa com o uniforme das líderes passando
gloss nos lábios. Ela me olhou, se olhou no espelho e depois de um
silêncio, que para mim era comum, ela disse:
— Parabéns — a olhei e vi uma leve sinceridade em seu olhar
—, pelo Fênix, pela nota cem e por hoje. Sério, parabéns — sorri
para ela.
— Obrigada.
— Não queria ter te derrubado na piscina — disse quase que de
imediato —, eu…
— Tudo bem — disse calmamente e soltando meus cabelos —,
voltou para as líderes? — Questionei olhando seu uniforme.
— Hoje Katherine será chutada das líderes — afirmou
determinada e olhando para frente.
— Bom — a olhei rindo —, boa sorte — desejei pegando minha
bolsa e o casaco.
— Rebecca — chamou antes que eu pudesse sair e eu a olhei
—, me arrependo por todas as maldades que já fiz e já falei sobre
você, aguardo um dia o seu perdão — não consegui disfarçar o
quanto aquilo me impressionou, mas ainda não sabia se estava
fazendo aquilo por eu ter um status em Liberty —, mas… não posso
me desculpar por amar Cameron — disparou sem rodeios.
— Não devemos nada uma à outra, Melissa, apenas o respeito
— afirmei — e por mim, ele jamais será motivo de uma briga entre
nós — ela me olhou com dúvida — nem mesmo se ele ficasse com
você ao invés de mim.
Percebi que ali eu desfiz todos os seus argumentos e ela ficou
calada.
Sai do banheiro repensando nas minhas palavras. Era verdade,
eu jamais brigaria por alguém que escolheu ou que gosta de outra
garota, mesmo que aquilo me destruísse.
— Bora almoçar, representante? — Ouvi Natalie dizer. A olhei
sorrindo e concordando.
Deixei minhas coisas no armário e fiquei apenas com a bolsa.
Natalie guardou a câmera e me puxou até o refeitório onde tinha
alguns poucos alunos. No fundo estavam Luce e Calleb
conversando. Em cima da mesa estavam quatro pacotes do
McDonald's e quatro copos grandes de bebidas. Nos sentamos de
frente para eles. O time chegou fazendo barulho, como sempre, e se
sentaram em sua mesa. Meu olhar encontrou o de Cameron e
ambos desviamos.
— Vocês brigaram? — Natalie questionou me entregando meu
pacote e o meu copo de coca, dei de ombros em reposta e ela sorriu
forçado — Espero que se resolvam.
— Pra mim nem foi briga — comentei —, aquilo não chega nem
aos pés das brigas que já tive com a minha mãe ou com você, então
pra mim não foi briga — brinquei relaxando o corpo e era verdade,
não tinha sido uma briga, mas a forma com que aconteceu não foi a
melhor.
— Vocês são orgulhosos — Natalie disse com um tom de
repreensão.
Escolhi responder com o silêncio, não discutiria com outro
Styles.
Voltei a comer e meu celular acendeu notificando uma
mensagem.
Andrew: Pode me encontrar no estacionamento, por favor? É
rapidinho.
Caminhei até o estacionamento e Andrew estava encostado
em seu carro esportivo cinza. Ele enfiou a mão dentro do buraco da

janela aberta e tirou de lá um pacote com lanches da Goldens

enquanto me aproximava.
— Viu Peter? Ele não comeu nada até agora — disse com a voz
carregada de preocupação. Vasculhei em minha mente, me
lembrando de que ele não estava com o time no refeitório.
— Na verdade não.
— Se vê-lo, pode entregar a ele? — Questionou levantando o
pacote em mãos — Se eu entrar na escola agora, a López vai
querer me apresentar pra todo mundo — ele riu de si mesmo.
— Claro, pode deixar — peguei o pacote e ele me olhou por
instantes. — Achei que não viria — ele deu de ombros.
— Uma amiga ficou decepcionada quando disse que não viria,
não queria deixá-la triste, sabe? — Rimos quando o empurrei pelo
ombro — E meus parabéns representante, capitã e futura rainha do
baile — revirei os olhos com o último título e fiz uma careta o vendo
rir.
— Obrigada, chefe — o provoquei e nos abraçamos
brevemente.
Nos soltamos e ele soltou a respiração que nem percebi que
estava prendendo durante o abraço.
— Preciso ir, minha mãe está me esperando — avisou sem me
olhar nos olhos. Concordei balançando a cabeça e vendo que suas
bochechas estavam coradas.
Me afastei o observando partir com o carro.
Era complicado perceber que ele gostava de mim porque o via
apenas como um amigo. Queria que o sentimento da parte dele
fosse um surto, mas toda vez que me olhava percebia algo diferente
nele. Algo que não teria parado para notar se ele não fosse motivo
do meu desentendimento com Cameron hoje cedo.
Quando me virei para voltar pra escola, Cameron e Natalie
estavam parados me encarando. Ele estava com os braços
cruzados e os olhos pareciam queimar como chamas ardentes.
Natalie me olhava com uma careta de ah não...
Cameron não disse e nem demonstrou nada, apenas entrou na
escola empurrando a porta com força. Pensei em ir atrás, mas
Natalie negou com a cabeça respondendo meu pensamento.
E assim era melhor. Ele me estressou antes de começar a
competição do Fênix e eu precisava ao máximo me concentrar, faria
o mesmo com ele. Não queria isso. Sabia que depois resolveríamos
tudo.
— Por que ele tá tão ciumento? — Reclamei e ela riu.
Ele nunca tinha ficado assim mesmo que tínhamos pouco tempo
juntos e ele nunca conseguia falar sobre sem ficar com raiva.
— Ele conhece Andrew como a palma de sua mão e sabe
perfeitamente ler seu olhar em você — disparou sem rodeios — e
Cameron não sabe lidar, não quer impor nada, mas não gosta de
você conversando com Andrew. Deve ser a primeira vez que ele
sente ciúmes assim — ela riu da situação.
Suspirei me sentando na escada e assimilando tudo.
— Ele é imaturo na questão de não parar para conversar sobre,
confesso. E não concordo em estar agindo assim, mas está
tentando não estragar tudo, ou mais do que já estragou, com você.
Deixe-o descontar tudo no jogo e que Deus ajude quem atravessar
o caminho dele hoje.
— Vontade de socar a cara dele e falar garoto, é de você que eu
gosto! — admiti com firmeza na voz e Natalie abriu um sorriso de
orelha a orelha — O quê? — Questionei confusa.
— Você disse pela primeira vez em voz alta que gosta dele —
seu sorriso ficou ainda mais lindo e aberto. Olhei para frente
repassando o que tinha dito e acabei sorrindo também.
— É… eu falei — admiti.
Analisei a situação.
Era sobre isso? Eu não admiti gostar de Cameron, demonstrei,
mas não admiti. Não como ele no nosso primeiro — e único — beijo
quando disse que me queria. Ele me deu um colar, me deu
a chave de seu coração. E o que eu fiz até então? Mesmo que ele
não tenha dito exatamente com essas palavras, ele demonstrou
mais do que eu. Mas isso não justificava a forma com que ele falou
e agiu comigo.
— Soque a cara dele e depois fale pra ele — incentivou e rimos
juntas, mas seu sorriso se desfez — Você e Andrew…?
— Não, não mesmo — ela pareceu aliviada —, você ainda
gosta dele, não é? — Ela parou um pouco refletindo sobre isso.
— É, mas hoje tenho perfeita noção de que só eu gostava —
explicou, franzi o cenho.
— Como descobriu isso? — Ela me olhou por instantes como se
a resposta estivesse diante de seus olhos e balançou a cabeça após
parecer repensar no que ia dizer.
— Não importa. Esse lanche é pra quem? — Questionou e
então me lembrei o real motivo de Andrew ter me chamado no
estacionamento.
— Peter, preciso encontrá-lo. Te vejo no futebol feminino —
beijei seu rosto me despedindo.
Observei o refeitório e nada de Peter. Caminhei pelo campo de
futebol e nada.
Por algum motivo, senti que devia ir até o jardim atrás das
arquibancadas do campo, onde Cameron quase foi pego batendo
em Oliver.
Suspirei ao ver que Samuel parecia estar de vigia, me aproximei
dele e ele nem sequer se moveu.
— Viu Peter? — Questionei calmamente e ele concordou.
— Está fazendo comprinhas com Jasper — disse rindo, mas
não vi graça. Sabia exatamente do que se tratava.
Meu coração apertou em saber que Peter estava comprando
drogas e tudo piorou quando comecei a pensar demais no que faria
com essa informação.
Jasper e Peter saíram de trás dos arbustos. Jasper me olhou e
caminhou até mim como olhar frio, enquanto Peter me olhava como
uma criança encrencada.
Me impressionei quando Jasper parou em minha frente
parecendo querer me intimidar ou me amedrontar. Achava que o
deduraria?
Sabia que sete pessoas já contaram sobre isso a diretora e ele
sempre se safava. Samuel nos olhou cheio de confusão e Peter
achou graça.
Olhei Jasper nos olhos, tentando decifrá-los.
— Está tentando me intimidar? — Questionei tranquilamente.
— Não, estou esperando seu julgamento — respondeu com
naturalidade.
— Jasper, já conversamos sobre isso, se Cameron desconfiar…
— Samuel parou de falar quando Jasper fez sinal para que ele
ficasse em silêncio, mas os olhos ainda estavam em mim.
— E desde quando minha opinião importa pra você? — Seus
olhos cravados em mim não me assustavam, mas uma onda de
confusão se formava em minha mente. O que Samuel queria dizer
com se Cameron desconfiar?
— Jasper, cacete! — Samuel o chamou com preocupação e
irritação.
Jasper saiu sem dizer uma palavra.
Relaxei o corpo decidindo ignorar o que tinha acontecido.
— Contagem de pessoas a fim da capitã: Neji, Victor, Noah,
Jack, Jasper, meu primo… — Olhei Peter.
— Jasper? — Questionei olhando os garotos que caminhavam
de volta ao campo de futebol, Jasper olhou para trás e Samuel deu
um soco no braço dele o fazendo virar para frente, o olhar dele não
parecia ser flerte, parecia querer minha aprovação. — Neji?
Minha confusão só crescia. Eu jurava que Neji era a fim de
Katherine.
— Acho que quanto mais você não quer chamar a atenção de
ninguém, mais você chama e que Deus ajude o capitão e te ajude
— comentou rindo.
— Isso não importa — ele disse o primo dele? Andrew era o
primo dele… — Pra você — entreguei o pacote com seu lanche que
provavelmente estava frio.
— Bem que Calleb disse que você é o novo Cameron, todo
mundo te quer também — o empurrei pelos ombros bufando e ele
riu.
Caminhamos até às arquibancadas.
— Cameron sabe? Sobre… — O olhei assim que nos sentamos
no primeiro banco.
— Sabe. Não concorda, sempre briga comigo, diz que se eu
usar algo muito pesado vai me cortar do time sem pensar duas
vezes, mas ele entende.
— Entende que você usa drogas? — Questionei em voz baixa.
— Entende que cada um tem um jeito de lidar com seus
problemas, sei que o meu não é o jeito certo — disse desanimado.
Queria fazer um discurso, falar sobre como ele podia se
prejudicar, quis socar sua cara, mas tudo o que fiz foi lhe dar um
puxão de orelha.
— Aí, sua louca! — exclamou colocando a mão na orelha.
— Estou com vontade de te socar até perceber que isso pode
acabar com você — admiti e ele riu mordendo o lanche.
— Agressiva que nem o namorado.
— A diferença é que ele literalmente bate quando quer —
repliquei.
— E você bate com as palavras — rimos —, eu consigo ficar
sem às vezes. Principalmente quando é semana de exames do
time. Alguns dias são bons, outros nem tanto — o abracei pelos
ombros e ele sorriu com o meu ato, mas seus olhos ficaram
marejados —, só uso coisas pra relaxar.
Senti que invadiria sua privacidade se perguntasse a quais
problemas se referia e quando são os dias ruins, então decidi não
questionar nada, quando ele quisesse, ele falaria.
— Talvez eu não seja a melhor pessoa pra isso, mas se quiser
conversar, estou aqui — ele me olhou.
— Gosto de conversar com você, me traz paz — sorri o ouvindo.
— Você e o capitão estão bem? — Questionou e eu suspirei
sentindo meu coração apertar — Vocês estão distantes hoje.
— É complicado — admiti e o vi do outro lado do campo —,
nunca imaginei que Andrew ficaria no meio do meu relacionamento
— ri da situação —, sendo que nem tem motivos.
— Andrew? Meu primo? — Peter questionou e só então me
recordei dessa informação.
Abri minha boca para falar, mas desisti quando Cameron, Josh
e Elliot se aproximaram. Queria pedir a Peter para que não contasse
a ninguém sobre o que eu falei, mas como faria isso com os
meninos aqui?
Cameron me olhava sério e eu o olhei com a mesma
intensidade.
— Vocês precisam se resolver logo — Elliot advertiu.
Eu precisava contornar a situação com Peter e mostrar que não
estávamos tão ruins como parecia.
— Sim mano, ninguém aguenta mais, tem gente passando mal
aqui — Josh dramatizou.
A cada dia que passava ele falava mais parecido com Calleb e
esse pensamento me fez sorrir. Cameron se manteve sério e eu me
levantei, acabaria com essa marra agora.
— Vejo vocês mais tarde, time — me despedi.
Parei na frente de Cameron, ri passando os dedos em sua nuca
e em seu pescoço até suas bochechas e selei nossos lábios.
Ele tentou ficar sério, mas virou o rosto mostrando um
sorrisinho. Passei a mão em sua cintura na medida que ia me
afastando e fiquei feliz pelos meninos estarem conversando ao
ponto de não se importarem com a gente.
Exceto por Peter que, disfarçadamente, nos olhou.
Natalie capturava cada momento da competição de natação.
Acredito que as fotos ficariam incríveis e seria material suficiente
para o jornal, ela chegou com Neji fazia em torno de trinta minutos.
Jasper evitou me olhar durante a competição. Ele estava
auxiliando cada competidor da nossa escola e parecia saber
exatamente o que fazer. Seus olhos encontraram os meus quando
foi anunciado que nossa escola tinha acabado de vencer. Tentei
afastar meu pensamento, mas foi inevitável. Se Peter estava certo e
Jasper era uma das pessoas a fim de mim… não, isso era loucura,
precisava ter outra explicação.
— Precisamos prestar nossas felicitações a eles também — Neji
relembrou estendendo a mão para mim em prol de me ajudar a
levantar e eu aceitei.
Como representantes, tínhamos que demonstrar apoio em todos
os projetos. Era cansativo, porém, eu estava gostando.
Karen e o grêmio estavam passeando em todas as
competições, até porque isso também era parte de seus deveres e
precisaríamos de um relatório deles. A presidente trombou em mim
no mínimo três vezes quase me derrubando e a cada provocação,
ela recebia uma reação tranquila minha.
Estava com fogo nos olhos e eu sentia indícios de quem estava
planejando algo ruim.
Lana e Calleb monitoravam tudo, mas, diferente do grêmio, eles
estavam atrás de fofocas e novidades para o jornal. Calleb estava
tirando algumas fotos também pra ajudar Natalie, afinal, ela era uma
só para vários projetos.
— Meus parabéns a equipe de natação — disse sem muitos
rodeios quando me aproximei —, capitão — estendi minha mão para
Jasper.
Natalie mirou a câmera em nós, Jasper segurou minha mão com
firmeza, o encarei friamente para que percebesse que, se Peter
estivesse certo, ele não tinha abertura nenhuma comigo.
Puxei minha mão de volta e Neji o cumprimentou. Olhei Natalie
que me encarava surpresa. Ela me olhou, olhou Jasper e riu de
desespero, em seguida gargalhou chamando a atenção até mesmo
da diretora que estava falando com a equipe de natação.
— Natalie! — Repreendi a puxando para um canto.
— Não pode ser — Natalie disse ainda em choque.
— E não é — afirmei séria e ela desfez o sorriso.
— O pessoal da academia de artes de Stanford está na pintura.
Vou acompanhá-los, não vou conseguir ficar no treino do time e das
líderes, você fica bem sozinha? — Neji questionou parando ao meu
lado.
— Sim, claro — sorri sem mostrar os dentes.
— Natalie? — Ele a olhou como se questionasse algo.
— Certo, já te encontro no campo — ela me avisou e saiu com
Neji.
Claro. Eu e um bando de machos, conseguiria lidar.
Cheguei ao campo junto com Melissa, só que em direções
diferentes. Ela me olhou fazendo um sinal com a cabeça para que
eu me aproximasse. Melissa chegou com postura firme e
intimidante.
— Katherine, pode ir para trás fofa, temos uma coreografia para
ensaiar — as líderes se entreolharam sorrindo.
Estava claro que Melissa era A capitã delas.
Quatro garotos com uniforme de líderes se aproximaram.
— Esses são os novos integrantes dos líderes — Katherine
ainda estava na frente enquanto a garota loira falava — para trás,
Katherine — Melissa se aproximou dela. — Obrigada por ter me
substituído durante a minha falta, não precisa mais.
Katherine foi para trás como se tivesse desaprendido a falar,
mas seus olhos carregavam fúria e eu sabia que ela não deixaria
barato assim. Precisei virar meu rosto e cobri-lo com a mão para
não mostrar que estava rindo. Depois de Karen surtando por eu ser
representante, essa foi a cena mais ridícula que já vi, apesar de que
ainda perdia para as garotas disputando a atenção de Cameron
mesmo com nosso namoro falso.
Melissa se aproximou de mim sorridente, porém, sabia que não
era um sorriso para mim e sim por ela ter seu lugar de volta. Olhei
minha prancheta na folha das líderes, rabisquei o nome de
Katherine como capitã e coloquei o de Melissa.
— Bem-vinda de volta, capitã — disse cordialmente e com
sinceridade.
— Obrigada, representante — disse com a mesma cordialidade.
Sua atenção foi voltada para o centro do campo.
Os Warriors e o Baltimore Ravens entraram em campo. Ambos
com olhares frios e intimidantes o suficiente para deixarem o vasto
local tenso. As líderes do time de Baltimore estavam do outro lado
do campo.
O amplo local ficou pequeno com tantas pessoas, os
treinadores conversavam sem um fio de rivalidade, ao contrário dos
jogadores imaturos. O campo foi separado em dois.
Me aproximei das líderes de Baltimore. Uma garota um pouco
maior que eu, de pele negra, cabelos enrolados e olhos de gato me
encarou com frieza. Não me deixei abalar, não era rival de ninguém
no momento.
— Bem-vindos a Liberty — disse esbanjando cordialidade —,
precisam de algo? — Questionei.
A garota se aproximou de mim com os demais líderes atrás
dela.
Senti que seria atacada a qualquer momento até Melissa se
aproximar com a nossa equipe.
— Melissa, não precisa, obrigada — agradeci antes que uma
confusão começasse sem necessidade.
Melissa me olhou uma última vez conferindo se tudo estava
realmente em ordem e saiu com a equipe. Voltei o olhar para os
líderes de Baltimore que encaravam as líderes enquanto se
afastavam.
— Bom, meu nome é Re…
— Todo mundo te conhece, Malik — a garota disse mostrando
um sorriso amigável — literalmente, todo mundo — afirmou e os
demais líderes riram.
O clima tenso se esvaiu com rapidez e isso me trouxe um alívio
inexplicável.
— Ah, não deve ser tudo isso — gesticulei com a mão
desocupada e ela riu negando.
— Não precisamos de nada até agora, mas se precisarmos,
falarei com você, obrigada. É um prazer conhecer a princesa de
Liberty — ela fez um gesto de realeza e aquilo me fez rir alto —
aliás, acho que o príncipe está a sua espera.
— Por favor — fechei os olhos —, por favor — a olhei — não faz
mais isso — implorei rindo e ela gargalhou.
— Sim, majestade — provocou —, sou Arya.
— Prazer, Arya. Preciso ir. Qualquer coisa, estou à disposição.
Ela agradeceu e eu precisei tomar coragem a cada passo que
dava me aproximando do time de Baltimore. O capitão Kevin, cujo
nome Neji repetiu três vezes para que eu decorasse — mesmo
sendo um nome comum e fácil — me encarou fazendo com que
sentisse calafrios.
— Você deve ser o capitão Kevin — disse mostrando simpatia e
fazendo ao máximo para não deixar minha voz falhar.
— E você deve ser a garota mais inteligente e linda das escolas
do estado — ele disse estendendo a mão.
Fiz o mesmo gesto.
Kevin tocou minha mão, se curvou um pouco e a beijou.
— Bom — puxei minha mão e ele arrumou sua postura, ouvi
passos atrás de mim se aproximando, não precisei me virar para
saber quem era e pelo aproximar do time de Baltimore, deduzi que
estava certa. — Sejam bem-vindos a Liberty, precisam de algo? —
Questionei com tom monótono.
Kevin olhou além e voltou os olhos para mim.
— Preciso de uma garota como você na minha vida — disparou
e senti a mão firme de Cameron envolvendo minha cintura e me
apertando, ele não me deixava mover um músculo se quer.
Me senti no fogo cruzado. Ou melhor, na cova dos leões com
Daniel.
— Sugiro que procure em outro lugar, Kevin — Cameron disse
firme, a voz dele pareceu engrossar um pouco mais.
Nunca havia o escutado falar dessa forma e por que eu gostei
de ouvi-lo falar assim com outra pessoa?
— Ou o quê? — Kevin desafiou.
Estavam todos tensos e os treinadores pareciam adorar o show
pois não moveram um dedo para intervir.
— Desejo boa sorte a vocês — disse sorrindo e tentando afastar
a tensão do lugar.
Me virei para Cameron o empurrando calmamente pelo
abdômen enquanto ele encarava os meninos do outro time.
— Não mostre suas fraquezas a ele — disparei longe o
suficiente do time rival, os meninos do time pareciam querer atacá-
los a todo custo —, não demonstrem as fraquezas de vocês — disse
no coletivo fazendo Cameron se juntar ao time.
Fiquei de frente para um bando de garotos, como se estivesse
dando aulas extras a eles e continuei:
— Parem de olhar eles, parem de demonstrar o que irritam
vocês ou os lugares que eles podem atacar para tirar vocês do foco!
Parem com essa infantilidade! Vocês precisam ser rivais durante o
jogo — disse firme.
Os meninos me olhavam com atenção, depois olharam uns aos
outros e Cameron tomou a frente, parando ao meu lado.
— Ela está certa — o treinador Sanchez disse se aproximando
— Rebecca, o que sugere?
Ele realmente estava interessado em me ouvir?
O treinador era conhecido por ser machista e estúpido. Meus
olhos encontraram o rosto sereno de Cameron, ele balançou a
cabeça positivamente me incentivando a falar.
Olhei o time rival e ouvi em meu pensamento tudo o que meu
pai já me falou sobre jogos e o que comentávamos quando
assistimos. Aprendi muito mesmo sem querer, adorava vê-lo falando
sobre algo que era apaixonado.
— Baltimore vai observar cada movimento do Warriors para
entender as estratégias, o plano de jogo para hoje. Sugiro que
mostrem um plano aleatório e totalmente diferente do que será de
fato — Cameron sorriu concordando e o treinador também.
— Ouviram a capitã? — Cameron questionou com voz firme e
os meninos gritaram sim em coro — Então vamos começar.
Mostraremos o plano de jogo que fizemos na primeira semana de
treino — ele anunciou e os meninos concordaram se arrumando em
suas posições. — Quando você vai parar de me surpreender? —
Questionou me puxando pela cintura e me tirando do meio do
campo.
— Quando você não tiver mais nada com o que se impressionar
— avisei e ele selou os nossos lábios com ternura.
— Seu conselho foi ótimo — forcei um sorriso e ele afastou uma
mecha de cabelo do meu rosto —, precisamos conversar sobre hoje
cedo, sei que fui um…
— Cameron, não vamos perder tempo falando de algo que pode
ser resolvido depois. Assim como a competição do Fênix foi
importante pra mim, sei que o jogo é pra você e precisa do máximo
de concentração, isso resolveremos depois — disse calmamente e
arrumando seu cabelo bagunçado.
Cameron pareceu cair em si sobre o que tinha feito mais cedo.
Sua fala sumiu e ele ficou me olhando atordoado. Aprendi com meu
pai a dizer com sutileza que uma pessoa fez errado, sem dizer que
ela fez errado.
— Vai treinar, amor — pedi; ele apertou minha cintura e, após
beijar minha testa, se juntou ao treino do time passando a mão no
cabelo. Ainda sim parecia pensativo.
Kevin estava nos encarando e riu como se tivesse acabado de
pensar em algo, e não parecia ser bom.
— Deixe-me adivinhar — o treinador se aproximou parando ao
meu lado e me acompanhando na observação dos treinos — Owen
quem te fez aprender sobre jogos? Porque você fala igual a ele —
sorri concordando.
— Papai me fez gostar de esportes e praticar alguns e minha
mãe me levou para o lado artístico — expliquei.
Meu pai quem me incentivou a jogar vôlei, futebol e aprender
dois tipos de luta, karatê e boxe, quando completei onze anos e
fiquei nisso até os quinze. E minha mãe, com sete anos me colocou
no bale e em ginástica artística que fiz até os dez anos, voltei com
quatorze enquanto aprendia boxe. Minha mente sempre foi muito
ocupada e organizada graças aos meus pais.
— Sua mãe — o treinador riu de uma forma que me deixou com
milhares de dúvidas —, você é a cara dela mais nova. Ela arrancava
suspiros dos meninos do time assim como você com o time atual e
mais algumas outras pessoas da escola — explicou, mas sua fala
não carregava maldade —, seu pai já contou sobre a briga entre ele
e Arthur pela Olívia? — O olhei surpresa e ele riu — É, achei que
Cameron seria igual ao pai que ficaria com todas as meninas da
escola até se apaixonar pela única que não o queria e teria o
coração quebrado, mas não. E fico feliz por isso, por ele ter
encontrado você. Cameron é um garoto especial.
As palavras do treinador eram boas de se ouvir, mas meu
pensamento ficou preso na história de tio Arthur e meu pai. Tio
Arthur era o cara que minha mãe me contou sobre a família querer
que ela se casasse?
— Acha que seu pai aceitaria ser conselheiro do time? — O
olhei sorrindo.
— Ele adoraria — o treinador concordou com um balanço de
cabeça.
— Falarei com ele. Até mais tarde, Rebecca.
Observei o campo quando me sentei no banco da arquibancada
vendo o treino do time e o ensaio das líderes. Provocações de todas
as partes e não tinha um só que se livrava.
Meus olhos encontraram Luce se aproximando das líderes de
Baltimore. Ela falou com Arya de forma íntima, as duas sorriram e
Luce se despediu vindo em minha direção.
— Pra você, senhorita — ela me entregou uma barrinha de
cereal com cobertura de chocolate e uma garrafinha de água.
— Ah, não precisava, mas obrigada — agradeci aceitando.
Precisava sim, minha última refeição tinha sido a do almoço.
— Já sabe como o pessoal de Baltimore está te chamando? —
Ela riu se sentando ao meu lado.
— Não — disse curiosa.
— Princesinha de Liberty — disse sorrindo — e não é na
maldade que te chamam assim. Você cativa as pessoas de um jeito
impressionante — afirmou com admiração.
Estava prestes a dizer algo quando ouvi gritos animados das
líderes de ambas torcidas. Segui o olhar de todos vendo que
Cameron tinha acabado de tirar a camiseta molhada de suor.
Não tive tempo de ficar com ciúmes, meu olhar ficou preso ao
corpo dele. Ele era tão bem definido e tinha mais tatuagens do que
eu me lembrava. Quase sempre evitava ficar o olhando por muito
tempo, mas nesse exato momento era impossível.
Me sentia hipnotizada ao olhar ele, parecia um deus grego.
— Minha gloriosa Ariana Grande — Calleb passou por mim e
começou a fotografar Cameron que pareceu não se importar em
estar sendo fotografado.
As meninas começaram a falar alto sobre ele querendo chamar
sua atenção. Revirei os olhos enquanto terminava de comer a
barrinha.
Deixei a prancheta e a garrafinha de água ao meu lado no
banco.
— MEU DEUS! — Calleb gritou chamando a atenção de
algumas pessoas, inclusive Josh que parecia não gostar de sua
euforia por Cameron.
Confesso que me incomodava os olhares e os comentários que
insistiam em fazer, mas era eu quem ele esperava, me estressaria
por quê?
— Preciso de uma foto do príncipe e da princesa de Liberty!
Agora mesmo, quero minha realeza pra já! — Disse determinado e
me puxando pelo pulso.
A ideia de ser princesa de Liberty fez meu estômago revirar.
Não, não queria isso. Tentei me soltar de Calleb, mas ele nem
se importou.
Os olhares estavam em nós, não podia fazer birra como uma
criança, não podia ser grossa ou estúpida, mas também não queria
tirar foto alguma e deixar que colocassem esse título em mim.
— Amigo, não — pedi calmamente quando ele invadiu o campo
me trazendo até Cameron que nos olhou exibindo tranquilidade —
por favor, eu não quero — repliquei.
— Amiga, sim. A escola, os alunos, até quem é de fora está
pedindo por isso — Calleb explicou.
— Mas…
— Becca, o jornal está sem notícias — Calleb admitiu
desanimado.
— Gente, estamos treinando — Cameron disse apertando
minha cintura enquanto todos nos olhavam.
— Cameron, vem com a gente só um minutinho por favor? —
Calleb pediu e Cameron concordou caminhando para um canto sem
soltar minha cintura.
Meu ar ia sumir a qualquer momento, principalmente se o
olhasse. Ele tinha que estar sem camisa me segurando desse jeito?
— Becca — Calleb chamou me trazendo de volta para a terra
—, a diretora está querendo tirar o jornal por falta de conteúdo.
Vamos ter o que falar essa semana pelos projetos, mas com vocês,
o casal do ano... isso seria incrível — disse animado.
Suspirei. Sabia que ele amava estar no jornal e Natalie
encontrou algo que realmente gostava através do jornal. Cameron
apertou minha cintura colando meu corpo no dele. Prendi a
respiração sentindo meu corpo todo formigar, era incrível estar nos
braços dele.
— Você não precisa fazer isso se não quiser — sussurrou em
meu ouvido e eu o olhei soltando a respiração.
Eram sinceras suas palavras, ele parecia me querer confortável,
mas quando olhei Calleb esperançoso, decidi que valia o risco.
— É só uma notícia, não significa que serei a rainha —
comentei tentando relaxar. Calleb e Cameron se entreolharam
incertos do que eu havia acabado de dizer.
— Não, amiga… não — Calleb suspirou abaixando a câmera. —
Tem razão, vai ser pior pra vo…
— Anda, Calleb — pedi.
— Ei — Cameron chamou calmamente, como ele conseguia? —
Olhe para mim — pediu colocando a mão em minha nuca enquanto
Calleb já tirava fotos — e esqueça tudo isso, não tem baile, não
precisa ser a princesa de Liberty — olhei em seus olhos, eles
emitiam sinceridade, adoração e intensidade. — Você já é a minha
princesa — sussurrou sorrindo e envolvendo o braço em minha
cintura.
Poderia admirá-lo pelo resto dos meus dias.
Nossos olhares estavam fincados, o mundo pareceu congelar e
meu coração começou a bater forte.
— Diabete passa? Porque com esse doce todo de vocês, acho
que tô ficando diabético — Calleb murmurou com a mão na barriga
fingindo enjoo.
Voltamos a realidade aos risos.
— CAMERON! — o treinador Sanchez chamou — DEIXE PARA
NAMORAR DEPOIS! — Exclamou sem conseguir disfarçar as
risadas.
— Preciso ir, amorzinho — ele disse selando nossos lábios e
correndo até o campo.
Calleb passou a mão em meu queixo como se estivesse
limpando.
— Tá babando, amiga — brincou e eu empurrei sua mão.
— Me erra! — reclamei rindo e voltando ao lugar que deixei
minha prancheta.

Atravessei o vestiário masculino, o lugar que sempre pareceu


espaçoso agora estava pequeno diante de dois times. Felizmente,
quando entrei estavam todos vestidos.
Natalie estava quase surtando por poder entrar também. Viemos
com a diretora, Neji e o treinador. Teríamos que desejar boa sorte
para ambos os times, e por algum motivo estava sentindo um nó na
barriga como se fosse ter um ataque de nervos a qualquer
momento.
— Liberty deseja boa sorte a vocês — disse estendendo a mão
para Kevin.
— Obrigado, representante — Kevin agradeceu com voz
carregada de convicção.
Era quase como se ele falasse não preciso das suas sortes.
Natalie capturou o momento exato em que nos cumprimentamos.
Neji o cumprimentou e antes que eu me direcionasse a
separação onde Cameron estava, ouvi perfeitamente Kevin dizer ela
é linda, não acha?
Eu e Natalie nos entreolhamos e eu revirei os olhos feliz por já
estar de costas para o time de Baltimore.
A diretora não resistiu em dar uma risadinha. Enquanto
caminhávamos até o capitão do time Warriors ela sussurrou em meu
ouvido:
— Se você quiser, pode ter qualquer um em suas mãos —
alegou e eu a olhei escolhendo bem as palavras que diria.
— Já sei quem eu quero — ela sorriu concordando.
Olhei Cameron e senti que meu coração ia pular para fora do
peito de tão acelerado que ficou. Ele estava lindo, usava uniformes
novos na mesma cor que minha blusa de representante — azul
escuro e vinho — com o número 13 na frente contornado de branco,
seus cabelos estavam em uma bagunça charmosa; seus olhos, que
antes eram frios, se iluminou quando me encontraram. Ele não
sorriu, mas seu rosto ficou relaxado. Encontrei admiração em seu
olhar, era fascinante.
— Boa sorte, capitão — desejei estendendo minha mão.
— Obrigado, representante — disse no mesmo tom sério que
eu.
Mas ao nos olharmos, a vontade de rir nos dominou. Ele
segurou minha mão a acariciando. Seguramos ao máximo as
risadas até Natalie fazer as fotos.
Cameron deu um passo à frente como se fosse falar algo, mas
o treinador o chamou.
— Tudo bem, conversaremos depois — sorri fraco.
Ele me analisou rapidamente, beijou minha mão e se juntou ao
resto do time.
— Eu odeio vocês assim — Natalie reclamou me puxando para
fora do vestiário masculino — Elliot disse que vocês fizeram
uma ceninha no campo quando você estava falando com Peter e
depois deixou Calleb tirar fotos, achei que no meio de toda a
correria vocês tinham conseguido conversar.
— Não — dei de ombros —, ainda não conversamos, mas não
queria ninguém comentando que estávamos brigados.
— Vamos nos sentar, se não ficaremos com os piores lugares
das arquibancadas! — Neji avisou aparecendo ao meu lado e
concordamos.
Encontramos lugares perfeitos. Papai chegou cedo e se sentou
ao meu lado com Isaac.
— Sua mãe não veio, vai assistir na casa de sua tia, Elô está
um pouco enjoadinha e aqui é muito bagunçado para os bebês —
papai explicou.
Concordei balançando a cabeça.
Não demorou muito para que o treinador convocasse meu pai a
ficar próximo do campo com ele e Isaac, animado e radiante, foi
junto. Nunca havia visto meu pai tão feliz conversando com o
treinador e tio Arthur. O pai de Cameron, pelo que Natalie me disse,
era um dos patrocinadores do time então sempre ficava por aqui.
Tia Eliza, que estava nos primeiros bancos na parte baixa das
arquibancadas conversando com a professora de química, acenou
animadamente para mim a retribuí com um sorriso no rosto.
Os primeiros a entrar foram os Baltimore Ravens seguido por
uma gritaria animada de sua torcida. As líderes fizeram uma dança
de entrada, a qual Melissa analisava os passos e me olhou como se
precisasse de um incentivo.
Sorri para ela fazendo um sinal positivo e ela sorriu mandando
um beijo no ar para mim. Foi estranho, Natalie estava distraída
capturando cada momento proveitoso, mas tenho certeza de que
estranharia a situação tanto quanto eu.
— Viraram amiguinhas? — Luce questionou se sentando ao
meu lado.
Samuel se sentou ao lado dela e acenou com a cabeça.
Seu olhar buscava algo em mim ou talvez fosse apenas
impressão minha.
Havia uma grande distância que separava eu e Melissa de
sermos amigas. E, parando para analisar, não tinha a ver apenas
com Cameron.
Ela disse sobre a minha virgindade tentando me diminuir por
uma coisa tão importante para mim e quis me atacar mais de uma
vez por não ter tudo o que quer — como Cameron por exemplo.
Meu problema jamais seria os sentimentos dela por alguém que eu
também gosto, mas sim, a sua forma de lidar com isso.
— Não, eu acho — respondi Luce que fez uma careta.
— Ótimo! — disse tentando demonstrar nojo, mas sua voz
vacilou quando ela olhou Melissa. Olhei Neji para verificar se ele
estava vendo o mesmo que eu e sua risada me confirmou tudo.
Achava nada a ver essas pessoas que ficavam fingido que se
odiavam quando na verdade se queriam. Eu jamais me prestaria a
um papel desses!
Ri de mim mesma com esse pensamento, quem eu queria
enganar? Aposto que os anjos estavam rindo de mim também.
A torcida vibrou quando os Warriors entraram em campo. Todos
ao meu redor se levantaram e eu me senti na obrigação de levantar
e bater palmas como os demais. As líderes fizeram uma entrada
espetacular e mal conseguia pensar no que elas preparariam caso o
time chegasse na final.
Havia câmeras por toda a parte e até jornalistas.
Os olheiros de Stanford e Yale estavam aqui e eu não
conseguia explicar minha felicidade.
Isso podia ser a solução de muita coisa.
Cameron, com certeza, jogaria perfeitamente bem e com os
olheiros aqui, ele teria muita chance de entrar na universidade,
assim como os outros jogadores.
Olhei para trás vendo Andrew nas arquibancadas acima, ele
acenou com a cabeça e eu sorri, mas logo voltei o olhar para o
campo.
A partida começou e mesmo que tentasse, não conseguia ficar
calma. Estava ansiosa e a todo tempo me levantava e me sentava,
assim como Luce e Samuel que a cada jogada que poderia levar a
pontuação dos Warriors mostravam animação. Neji anotava tudo e
eu o agradeci por isso, não conseguia ficar parada e gritei para o
time como se estivesse em casa com o meu pai assistindo.
Percebi que minhas reações e as de Isaac eram muito
parecidas com as de meu pai.
Amarrei o cabelo em um coque quando, violentamente,
o cornerback do time rival abordou Noah com tanta força que o fez
cair no chão e ali mesmo Noah ficou, sem conseguir se mexer.
Ele foi substituído com rapidez por Phillipe. Não precisei olhar
Cameron para saber o quão irritado aquilo o deixou.
O segundo tempo se finalizou após um safety do time de
Baltimore.
Olhei o placar: Warriors 7 x 10 Baltimore Ravens.
Observei Cameron sair do campo, a distância em que
estávamos não impossibilita dele me olhar e mesmo assim, seus
olhos não acharam os meus.
Queria falar com ele, motivá-lo ou apenas verificar como estava,
mas não tinha como, não agora.
Neji e Luce avisaram que iriam comprar algo para comer e eu
concordei em guardar nossos lugares com Samuel.
— Ok, abre o jogo — pedi olhando Samuel —, o que foi aquilo
com Jasper?
— Existem coisas que são melhores você ignorar e fingir que
nunca aconteceu — Samuel disse olhando para frente, ele se
levantou quando Jasper apareceu nas escadas das arquibancadas.
— Avise a Luce que a encontrarei na festa da vitória? — Pediu.
Eu sabia que não adiantava prolongar o assunto com Samuel,
apenas concordei o vendo partir e evitei contato com Jasper.
Andrew se sentou ao meu lado e, sem dizer uma só palavra, me
entregou uma lata pequena de coca.
— Não precisava — disse mais em um agradecimento.
Ele abriu a lata para mim, já que minhas unhas não permitiam.
— Você parece nervosa — disse aos risos.
— Sempre fico. Se quando é apenas um jogo na televisão que
eu nem torço fico ansiosa, imagina sendo um ao vivo e da minha
escola — comentei rindo e bebendo um gole de coca.
— E que seu namorado é capitão — completou e eu não
consegui o olhar.
Natalie virou em nossa direção animada com a câmera, mas
seu sorriso se desfez e ela abaixou a câmera quando olhou Andrew.
Mesmo longe, seu olhar carregava uma certa tristeza. Fiquei
frustrada por ela ainda ser apaixonada por Andrew, ele nunca falou
sobre ela.
— Andrew…
— Não queria ficar no meio do relacionamento de vocês —
disse tocando minha mão com delicadeza — Não mesmo. Sei que
você gosta dele e que ele te faz feliz. Reconheço uma luta perdida,
Becca — seu olhar era carregado de sinceridade e sofrimento —,
mas preciso da sua amizade.
— Eu sou sua amiga — disse com um sorriso nos lábios e ele
também sorriu, mas ainda assim era um sorriso triste.
Olhei para frente vendo que os Warriors estavam de volta ao
campo.
Os olhos de Cameron estavam fincados em mim e Andrew,
pegavam fogo e estavam em alerta como olhos de um falcão. Ele
olhou minhas mãos e então percebi que as mãos de Andrew
estavam em cima das minhas. O próprio Andrew notou e se afastou
de imediato, saindo até mesmo de perto de mim e voltando ao seu
lugar.
Um pouco distante estava Kevin, que parecia ter encontrado
algo que estava procurando o dia todo. Aquilo me deu calafrios.
Tentei relaxar e encontrar os olhos azuis de Cameron
novamente, mas ele estava focado no que meu pai e o treinador
diziam.
Os times foram para suas posições após o aviso do juiz.
Pude jurar que vi Kevin dizendo algo a Cameron que o olhou
como se recebesse aquela provocação de braços abertos e esse foi
o motivo da minha apreensão.
O terceiro tempo iniciou-se e não tinha quem parasse Cameron.
Ele estava três vezes mais agressivo e aquilo pareceu motivar o
resto do time.
Os olheiros conversavam entre si com uma certa euforia.
As investidas do capitão dos Warriors nos jogadores rivais eram
fortes e doía até mesmo em quem estava assistindo.
No quarto e último tempo, houve uma confusão entre os dois
capitães em que os juízes e treinadores precisaram intervir, o que
me deixava um tanto cismada era a forma que meu pai e tio Arthur
não moviam um dedo se quer para afastar a briga. Aposto que eles
se vinham em todas essas confusões adolescentes, sabia que
ambos eram iguais na questão de sempre se meterem em confusão.
O jogo acabou com uma virada enorme no placar.
Warriors 38 x 10 Baltimore Ravens.
A torcida vibrou, as líderes comemoraram dançando, todo o
time correu para cima de Cameron e Luce me abraçou dando
pulinhos animados.
Me sentia feliz. Liberty conquistou absolutamente tudo hoje. A
competição de física, a natação, o futebol feminino e agora, o
americano.
A diretora cumprimentou Cameron e o treinador, em seguida
olhou eu e Neji. Caminhamos até ela e Neji foi o primeiro a
parabenizar o capitão.
Cameron estava suado, os cabelos molhados e bagunçados.
Em sua mão ele segurava o capacete e sua roupa era a que menos
estava suja comparado a dos outros meninos.
— Parabéns, capitão — estendi a mão e ele a apertou com
firmeza.
Essas formalidades fingidas acabam comigo.
O time se aproximou para que Natalie tirasse uma foto e eu e
Neji nos afastamos para não atrapalhar.
Kevin e o time de Baltimore saíram antes mesmo de eu falar
com eles.
Melissa correu para cima de Cameron o abraçando
animadamente, mas ele a afastou após um abraço rápido.
Ele primeiro conversou com os olheiros de Stanford, em seguida
com os de Yale e foi na direção do time.
O campo começou a ficar vazio e nas arquibancadas não
tinham quase ninguém. Meu pai também não estava aqui. Luce se
aproximou de mim e, antes que eu pudesse falar com Cameron, ele
já não estava mais.
De repente tudo ficou vazio e me senti assustada.
Havia poucas pessoas nas arquibancadas, as líderes de Liberty
conversavam entre si mostrando alguns passos que poderiam ser
feitos nas próximas coreografias, mas isso não me importava.
— Não surta — Luce pediu e Natalie se aproximou tocando
minha mão e deixando a câmera pendurada no pescoço.
Estava perdida, confusa, aflita e cansada.
Os meninos de ambos os times haviam sumido. Jasper com
Samuel também sumiu. Olhei para trás, na bancada onde Andrew
antes estava, mas ele também desapareceu. Me senti ainda mais
agoniada. Onde foi que eles se meteram?
Kevin não fazia ideia de onde tinha se metido ao me provocar
durante o início do terceiro tempo.
Ele achava mesmo que eu resolveria tudo em campo? Com os
olheiros e toda escola nos assistindo? Eu sei, isso quase aconteceu,
mas não faria nada que me prejudicasse em campo.
Durante a discussão no quarto tempo ele citou o quanto minha
namorada era linda e que eu a perderia, acrescentou dizendo que a
prova disso foi a cena que, infelizmente, presenciamos: Andrew com
a mão sobre as mãos de Rebecca.
Eu estava com raiva. Não dela, mas de mim e com a situação.
Simplesmente não sabia como agir diante disso e sabia que Andrew
tinha sentimentos por ela, mas não podia culpá-la por isso, discutir
sem explicar o motivo de estar discutindo.
Droga, fui um completo idiota.
Kevin atingiu o ponto máximo quando disse que saber que ela
era virgem só o deixou mais desejoso de tê-la. E isso seria resolvido
agora.
Caminhamos além do jardim atrás da escola, passamos do ferro
velho onde tinha uma quadra de basquete abandonada e lá estava
Kevin com seu time. Havia o avisado de que resolveríamos tudo
entre nós, mas a notícia de que Kevin ousou falar de Rebecca
atingiu o time.
Era inevitável não gostar dela. A garota cativava a todos com
uma facilidade impressionante. Talvez fosse o seu jeito de lidar,
suas opiniões fortes, a forma de tratar as pessoas e a paz que ela
transmitia. Por mais que isso me tirasse do sério, não me
impressionava por ver outras pessoas apaixonadas por ela, eu
entendia, afinal, ela tinha todo o meu coração.
— Quando quiser, capitão — Peter disse e com ele estava
Andrew.
— O que ele tá fazendo aqui?
— Não vim por você e você sabe disso — Andrew tomou a
frente.
A confusão se iniciou quando Kevin jogou uma pedra na minha
direção. A qual não me atingiu pois desviei. Foi o necessário para
que eu fosse para cima dele. Minha fúria havia subido até a cabeça
enquanto ele enchia a boca para disparar coisas horríveis sobre a
garota que eu mais queria proteger.
Descontei a raiva que ainda me sobrava, senti um ferro
rasgando minha pele e minha blusa, era um dos jogadores de
Baltimore que tinha acabado de me atingir. O garoto foi tirado de
perto antes que eu pudesse revidar.
Estava cego, via Oliver e Kevin ao mesmo tempo falando coisas
horríveis sobre Rebecca. Não sentia a dor dos ferimentos em meu
lombar, o calor da raiva não me permitia isso. O soquei até Andrew
e Elliot precisarem me tirar de cima dele. Estava furioso, me
provocar tudo bem, mas envolvendo uma garota tão incrível como
Rebecca era algo inaceitável.
E não durou muito. Os meninos de Baltimore saíram carregando
Kevin. Alguns estavam machucados também, principalmente o
jogador que atingiu Noah durante o jogo e o que me machucou com
a ponta de uma barra de ferro.
Mais uma cicatriz para as minhas costas…
Me soltei dos garotos enquanto tentava colocar meus
pensamentos em ordem. Minhas mãos estavam ensanguentadas
pelo sangue que arranquei do rosto de Kevin, mas ele não havia
acertado um soco se quer em mim e meu corpo ainda tremia em
uma raiva incontrolável.
— Sai todo mundo! — Ouvi Andrew dizer com firmeza.
Quem ele achava que era para falar assim com o meu time?
Balancei a cabeça negativamente me contorcendo e sentindo
meu sangue ferver. Ele era uma das últimas pessoas que queria
conversar.
Me virei e ele me empurrou antes que eu pudesse sair de perto.
— Então agora você fica descontando seu ciuminho de merda
na Rebecca? — Disparou me empurrando outra vez. — Se você
está com raiva, desconta em mim seu otário — tentei ignorar, mas
ele novamente me empurrou — ANDA SEU MERDA! FAZ O QUE
VOCÊ QUISER! MAS NÃO MACHUQUE AQUELA GAROTA! —
Gritou acertando um soco na ferida causada pelo garoto de
Baltimore.
Senti meu lombar arder. O chutei e soquei o fazendo cair no
chão. Brigar com Andrew me deixava consciente de que eu bateria,
mas levaria algumas também. Sempre foi assim com ele quando
estudávamos juntos.
Poderíamos fazer isso a noite toda se não tivéssemos ouvido a
sirene da polícia que sempre fazia ronda por aqui.
Nos afastamos; me sentei no chão limpando o sangue de meu
nariz enquanto via Andrew se aproximar mancando e com a mão na
costela parecendo sentir dor. Ele se sentou ao meu lado, um pouco
distante.
— Você perdeu totalmente a noção, brigar com Rebecca por
ciúmes de mim? Otário — disse mostrando a ironia em sua voz.
Era como conversar com ele quando eu me envolvia em
confusões no primeiro ano e ao mesmo tempo era tão diferente.
— Te conheço, Andrew, é quase como se eu conseguisse ler
seus pensamentos quando você a olha — disparei olhando para o
céu estrelado.
— A culpa não é dela — disse sério e se levantou —, quer
saber, Cameron? Eu gosto sim dela, pra cacete. Ela é incrível,
encantadora, me faz bem e eu sou uma pessoa melhor só de ter
amizade com ela. Mas ela, infelizmente, escolheu você — vi tristeza
em sua voz, mas isso não me deixou mal — e eu não sabia o que
era gostar de alguém, até gostar dela. E acredito que você seja o
único que entenda isso. Porque gostar de alguém ao ponto de ficar
feliz por ver ela com outra pessoa que não seja você, isso eu
achava que estava além da minha capacidade e toda vez, sempre
que você a deixa na lanchonete ela trabalha sorridente,
cantarolando o dia todo ao ponto de deixar os clientes cheios de
admiração... é você, que pra mim é um idiota, é você quem ela quer.
Abaixei a cabeça assimilando tudo o que foi dito.
Suspirei e ele continuou:
— Vou te mandar a real — disse com olhar frio —, eu devia ser
a pessoa que mais torce pelo seu fracasso, porque é disso que eu
preciso. Se ela me quisesse só um pouquinho do que ela te quer, eu
faria de tudo pra fazer dela a garota mais feliz desse mundo. Se
fosse só por você, estaria tudo bem pra mim. Mas não, não consigo
desejar o seu fracasso porque isso a destruiria e eu jamais iria
querer isso pra ela. Então — Andrew estendeu a mão e a aceitei me
levantando —, não ferra com o que vocês têm, Cameron! Pode ter
certeza de que não vou fazer nada a ela, tem minha palavra.
O olhei nos olhos buscando um fio, um pequeno vestígio de que
tudo o que ele acabou de falar era mentira, mas não era. Conhecia
Andrew o suficiente para saber que ele estava falando a verdade.
— Não confio em você, mas fico feliz por ver que sabe perder
uma guerra.
— Não tem como perder alguém que nunca tive — admitiu com
sofrimento —, não costumo desistir, mas se não desistir significa
deixar ela desconfortável, então tirei o meu da reta, mas não quero
perder a amizade dela.
— Saber totalmente das suas intenções só me prova que estou
certo, mas sabemos que a decisão de vocês serem amigos não
cabe a você e nem muito menos a mim, é totalmente dela — ele riu
concordando, mas logo ficou sério.
— Espero que você não seja o motivo das lágrimas e nem
quebre o coração dela — advertiu.
— Está me ameaçando? — Ele me lançou um olhar como o de
uma águia.
— Você sabe que sim — afirmou e, antes que eu respondesse,
ele subiu as escadas saindo da velha quadra de basquete.
E então entendi perfeitamente a nossa situação. Enquanto a
felicidade de Rebecca estivesse parcialmente em minhas mãos,
poderíamos considerar que estávamos do mesmo lado, mas se eu
vacilasse, acabaria.
Uma relação estranha que jamais considerei ter com Andrew.
Hoje brigamos pelo mesmo motivo, batemos em alguém que
estava contra nós e depois brigamos entre nós mesmos. O mais
confuso era que ambas as situações envolviam a mesma garota.
Não uma garota qualquer, era a garota.
Caminhei até o campo de futebol.
A energia de todos que antes ocupavam as arquibancadas
havia acabado, mas o time estava aqui, eles sempre me esperavam
independente do que acontecia e mesmo que os mandasse para a
casa.
Tirei a camisa rasgada e suja e a passei no machucado em meu
lombar que expelia sangue.
Já estavam todos arrumados para a festa da vitória, acredito
que se arrumaram no vestiário. Pedi que fossem para a festa que
seria na casa de Peter e ninguém me questionou.
Cheguei em minha casa com Elliot, precisei colocar uma blusa
escura dele para que ninguém visse o machucado e o carro de
Rebecca estava estacionado em sua casa, isso me faz entender
que ela não tinha ido à festa.
— O que aconteceu? — Mamãe interrogou preocupada assim
que me viu passar pela porta.
— Não sabia que o capitão do time rival batia tão bem — meu
pai disse rindo de mim.
O olhei vitorioso.
— Não foi Kevin, briguei com Andrew — afirmei e ele riu.
Minha mãe e Elliot se entreolharam, mas Elliot demonstrou que
preferia nem entrar no assunto, já o meu pai…
— Ele saiu pior que você? — Questionou com superioridade.
— Bem pior — afirmei e ele concordou me puxando para um
abraço.
Precisei me conter para não gemer e nem mostrar expressão de
dor.
— Meu garoto!
— Arthur, eu não sei mais o que fazer com você — mamãe
disse passando a mão na testa e a outra mão na barriga.
— Qual é? O garoto foi demais no jogo de hoje — disse me
soltando e bagunçando meu cabelo.
— Nisso concordamos — ela sorriu passando a mão em meus
cabelos bagunçados e me abraçou com delicadeza, mesmo eu
estando todo suado e sujo.
— Elliot, venha cá por favor — papai o chamou e ambos saíram.
— Estou orgulhosa de você — mamãe disse, sorri balançando a
cabeça positivamente e passei a mão na barriga dela, tinha certeza
de que era um menino —, mas fale com Rebecca o quanto antes,
ela desabou de chorar quando Luce e Natalie explicaram o motivo
da briga. Elas estão com ela até agora, Becca sente muita culpa
pelas confusões que você anda se metendo quando aparentemente
é por ela.
Não pude evitar a preocupação. Concordei e subi para o quarto,
me arrumei mais rápido do que eu achava ter capacidade de fazer.
Olhei minhas costas, estava com uma ferida no lombar. Ótimo,
se Rebecca vê-se isso ficaria ainda mais nervosa. Limpei a ferida de
qualquer jeito e torci para que não saísse sangue.
Queria ver Rebecca o mais rápido, me desculpar, tocá-la, tê-la
em meus braços onde sentia que podia protegê-la de todo o mal.
Principalmente depois de hoje. E estava ansioso para isso, mesmo
que tenha que quebrar todo o meu orgulho e pedir desculpas.
Desde que isso me fizesse estar com ela, não importava o antes ou
o depois.
Desci as escadas com rapidez.
Não pretendia ir à festa da vitória.
Elliot me encarou assim que me viu entrando na sala.
— Natalie e Luce convenceram Rebecca de ir à festa, disse que
encontraríamos elas lá.
Não tive escolhas. Concordei, me despedi de meus pais e
saímos.

Chegamos na festa e uma comemoração enorme aconteceu


quando passei da porta. As pessoas me parabenizaram e
cumprimentaram.
Respondi a todos, mas só pensava nela.
— Cam! — Ouvi Melissa chamar animadamente — Meus
parabéns, você foi incrível — disse me abraçando.
Retribuí o abraço com rapidez e a soltei.
Cada toque em minhas costas era uma sensação árdua
diferente.
— Desculpe Mel, conversaremos depois — disse calmamente
me afastando dela.
Seu olhar era triste e eu entendia o motivo. Ela sabia quem eu
de fato estava procurando. Minha relação com Melissa era um tanto
estranha.
Quando Alice fez o que fez, foi Melissa quem colou cada caco
meu. O que sobrou de mim foi ela quem reconstruiu, com base em
uma amizade que era boa no início, até ela começar a gostar de
mim de outra forma.
Nunca alimentei sentimentos amorosos com ela, não era justo
considerando que eu não sentia o mesmo, mas isso não impediu
que acontecesse o contrário.
Fiz de tudo para que ela entendesse os meus sentimentos e
não criasse expectativas em mim. O pior foi o que ela fez consigo
mesma ao me escolher para ser seu primeiro. Foi um tapa na minha
cara porque eu não sabia e quando soube, não deixei que tal ato se
repetisse e mesmo assim ela manteve a aparência de que eu e ela
tínhamos algo além de beijos. Desisti de desmenti-la no terceiro
boato na escola, era perca de tempo.
Tentei de tudo para que ela entendesse e parasse com essa
obsessão.
Ela se autodestruía alimentando um sentimento nada recíproco.
Minha mãe sendo a incrível psicóloga que era, disse que minha
parte eu estava fazendo ao falar dos meus sentimentos e por não
criar nada amoroso com ela, mas que Melissa cairia em si sozinha e
precisaria de muita ajuda quando isso acontecesse pois ela era
dependente emocional.
Não a achava uma garota ruim, mas precisava de ajuda. Seus
problemas pessoais e traumas não resolvidos com a irmã mais
velha afetavam a vida até mesmo de quem estava apenas próximo
dela. O ruim era que ela não queria ser ajudada.
Lana, Karen e Katherine estavam prestes a vir para cima de
mim quando encontrei Calleb e Luce.
— Onde ela está? — Questionei com pressa e eles se olharam
— Onde ela está?
— No quarto de Peter, com Natalie. Não estava se sentindo
bem e queria ir embora, insistimos que ela esperasse você chegar
— Luce explicou.
Subi as escadas com rapidez.
Conhecia a casa de Peter. A área dos quartos era proibida
durante as festas, abri a porta que ficava trancada sempre que tinha
eventos assim, isso impedia a passagem de qualquer pessoa.
Quem me atendeu foi o próprio Peter que estava conversando
com Andrew.
Eu e ele nos olhamos e Peter riu.
— Vocês estão péssimos — afirmou.
Fiquei feliz em ver que Andrew estava pior que eu. O deixei com
os olhos roxos e, pela cara de dor quando ele tocava sua costela,
acredito que esteja com hematomas pelo corpo. Também estava
mancando. Enquanto eu estava com algumas feridas no canto da
sobrancelha esquerda, os punhos machucados — não só pelas
brigas, mas também pelo boxe — e dois hematomas no braço
direito.
— Ela está no quarto, perguntou o que tinha acontecido comigo
— Andrew começou.
— E o que você disse? — Questionei começando a andar pelo
corredor.
— Que me envolvi na confusão com os Baltimore Ravens, ela
sabe dessa briga, mas não sabe da outra. Ande logo, ela não está
bem.
Corri para entrar no quarto e quando o fiz, me deparei com
Rebecca chorando no colo de Natalie. Meu coração se despedaçou
ao vê-la assim. Quando me viu, toda a preocupação pareceu sumir
junto com as lágrimas, dando espaço a raiva e ela veio para cima de
mim.
— Você — me empurrou —, precisa parar de se meter em
confusão — as lágrimas rolaram por seu rosto e mesmo assim ela
começou a me dar tapas — por mim…
Natalie saiu antes que eu pedisse e fechou a porta enquanto
Rebecca perdia as forças. A segurei pelos pulsos olhando seu rosto
molhado e a abracei. Sabia que ela estava furiosa comigo por tudo o
que aconteceu hoje. Não nos falamos direito, eu ainda fui um
babaca com ela e briguei com o time rival. Se os olheiros de
Stanford souberem disso, poderiam não me querer na universidade.
Isso era uma das milhares de coisas que eu me impressionava
com ela.
Ela odiava brigas, tentava evitá-las a todo o custo e ainda se
culpava por eu bater em alguém que falou dela. Por que ela se
sentia tão culpada por uma coisa que claramente não era sua
culpa?
— Amor — chamei calmamente quando senti que ela estava
mais calma.
Estava com a cabeça em meu peitoral, mas não se moveu.
Com cuidado, a trouxe até a cama, me sentei e a puxei com
cautela para não a machucar. Ela deitou a cabeça em meu peitoral e
eu fiquei ali, apenas ouvindo sua respiração.
— Você não pode continuar brigando por mim — ela se inclinou
um pouco me olhando, dobrei as pernas e ela se encostou nas
mesmas — por favor, não quero você se machucando assim por
mim — sua voz falhou e eu a abracei novamente.
Tirei os óculos de seu rosto e afastei o cabelo de sua nuca.
— Não posso prometer isso — sussurrei em seu ouvido —, mas
não se culpe pelo que as pessoas falam e nem pela forma com que
eu reajo a essas coisas.
— Cameron — ela se afastou se sentando na cama com as
pernas dobradas, tentou recuperar a força enquanto fungava e
limpava o rosto —, não vou aguentar mais alguém se machucando
por minha causa.
— Mais alguém? — Acariciei seu rosto me arrumando na cama,
entrelacei nossos dedos e ela suspirou. — Quanta culpa você
carrega dentro de você, minha princesa? — Beijei suas mãos.
— Uma maior do que eu aguento — admitiu abaixando o olhar.
— Então não carregue sozinha — pedi e ela me olhou —, me
deixe te entender.
Ela pareceu pensar um pouco no que falar.
Respirou fundo e começou:
— Com sete anos vi meu pai apanhando de três bandidos por
mim, ele apanhou muito. Estávamos saindo do mercado e eles iam
levar o carro comigo dentro, meu pai o travou e quando os bandidos
viram o que ele fez, começaram a bater nele sem parar, até deixá-lo
inconsciente — as lágrimas silenciosas desceram em seu rosto, as
limpei, mas outras apareciam — e eu vi tudo, Cam, comecei a bater
desesperadamente nas janelas do carro, mas não conseguia sair.
Fiquei ali, impotente, vendo meu pai ensanguentado por minutos até
alguém encontra-lo.
— Becca…
— Essa foi uma das coisas que são minha culpa, mas eu
destruí minha mãe — as lágrimas vieram com mais força, pensei em
pedir para ela parar, mas ela continuou. — Quando descobri a
diabetes, minha mãe começou a ter crises de ansiedade. Achava a
todo tempo que eu iria morrer, não dormia, não comia direto, vivia
em minha função — ela apertou os olhos e limpou o rosto, o que
não adiantou nada, ela não parava de chorar. — E isso fez com que
ela deixasse Isaac um pouco de lado, o TDAH dele piorou com isso.
Isaac todo dia vai no meu quarto antes de dormir para ver se eu
estou bem. Cam — ela me olhou nos olhos —, eu sou um gatilho
pra minha família — a voz dela falhou e ela desabou em lágrimas.
A abracei com força, queria tirar toda essa culpa dela, toda essa
dor. Preferia morrer sentindo dores por ela, do que vê-la assim. A
deixei chorar até que se acalmasse.
— Amor, sei que nada do que eu falar vai mudar o que você
sente — disse calmamente em seu ouvido, ela se mexeu tentando
levantar o rosto, mas a mantive em meus braços — apenas me
escute, minha princesa — pedi acariciando seus cabelos. — Os pais
sempre se preocupam com os filhos, não é sua culpa ter diabetes e
isso leva tempo para a adaptação, mas não é sua culpa e isso não é
gatilho, é apenas um se acostumar com a situação. Isaac ainda é
criança e é normal ele ter medo de te perder, porque ele te ama.
Seus pais te amam. Se Owen te defendeu no estacionamento do
mercado, foi por amor e você não deve se culpar por alguém te
amar.
Ela levantou o rosto e me olhou com seus olhos verdes.
Continuei:
— E você não pode se culpar por eu querer te proteger — ela
deu um leve sorrisinho. — Não é sua culpa, amor, jamais vai ser.
— Mas fico tão aflita quando você se envolve em alguma
confusão, quando é por mim então, nem se fale.
Encarei seu rosto com as bochechas rosadas e o nariz e olhos
avermelhados pelo choro. Ela era linda de qualquer forma, até
depois de uma crise de choro. Não ficava feia nunca. Poderia ficar
apenas a admirando, mas sabia que tinha de falar algo.
— Como assim? Acha mesmo que não sei me cuidar? —
Questionei como se fosse a maior ofensa de minha vida.
— Claro que não — ela finalmente abriu seu sorriso e isso me
deixou feliz de uma forma inexplicável —, mas preferia que não
fossem necessárias essas confusões.
— Rebecca, olha bem pra quem você não quer que se meta em
confusões — ela me olhou incrédula e eu a puxei para os meus
braços quase a deitando em meu colo —, tenho um histórico familiar
de homens que brigam muito, quando conhecer meus parentes vai
ouvir as histórias — ela sorriu.
— Vai me apresentar para os seus parentes? — Questionou
animada.
— Sim, com certeza. O que acha de ser nas férias de verão?
— Eu adoraria — disse me puxando pela nuca e selando
nossos lábios com graciosidade.
— Becca, sobre hoje cedo... — ela se arrumou na cama — me
desculpe, eu fui um completo idiota, não devia ter falado o que eu
falei. Não é só um namoro falso, reconheço que fui um otário e nem
sei como fazer pra você me desculpar. Fico louco quando você tá
com ele, mas não é sua culpa, eu sei — as palavras se
embaralharam em minha mente.
— Sim você foi um idiota não por reclamar de algo que te
incomoda, mas sim porque começou a falar na hora errada, sim
você devia ter entendido que a competição era minha prioridade
naquele momento e não, não vou me afastar de ninguém só pra
elevar seu ego! — Disparou e a garota que antes chorava em meus
braços parecia ter desaparecido. — Não é minha culpa outras
pessoas gostarem de mim…
— Eu sei, Rebecca, eu sei — disse desanimado.
— Posso continuar? — Questionou deixando nítido o incomodo
em ser interrompida e eu concordei — Da mesma forma que eu
convivo com as meninas loucas te querendo, gritando sempre que
você tira a camisa, se insinuando o tempo todo, você vai precisar
conviver comigo falando normalmente com outras pessoas. Não
tenho medo, Cam, ciúmes? Sim, claro. Mas medo não, porque sei
que você está me esperando — ela suspirou recuperando o fôlego
—, a verdade é que eu estou completamente apaixonada por você,
não tem espaço pra gostar de outra pessoa — disse olhando em
meus olhos e eu senti um balão de felicidade crescendo dentro de
mim. — Gosto, de verdade e apenas de você, Cameron — admitiu e
um brilho apareceu em seu olhar, a puxei selando nossos lábios.
Ela gostava de mim e tinha acabado de admitir.
Eu queria mais. Queria sentir de verdade seus lábios, mas sabia
que ela queria esperar, por mais difícil que fosse estar com ela e
não beija-la, respeitar seu espaço era meu dever.
Rocei a ponta de meu nariz em sua pele, sentindo seu cheiro
maravilhoso que me deixava nas nuvens e a abracei com mais força
a ouvindo prender a respiração quando beijei seu pescoço.
A olhei acariciando seu rosto e ela parecia frágil, mas sabia que
não era, nenhum pouco.
Em meus braços eu sabia que poderia protegê-la de qualquer
coisa, mesmo que não precisasse, na verdade ela não precisava.
Rebecca era forte, sabia muito bem se defender, mas daria a minha
vida por ela se fosse necessário.
— Você me perdoa? — Questionei acariciando seu rosto e ela
me olhou sorrindo.
— Só se você deixar eu cuidar da sua pele amanhã à noite —
pediu com os olhos com os de uma criança.
Segurei a risada com o seu pedido.
— Sem chance.
— Por favor, amorzinho? — Pediu com manha e eu não resisti.
A olhei e selei nossos lábios.
— Tudo bem — disse entediado e ela sorriu me abraçando.
— Mas não fale mais comigo daquele jeito e não é legal você
usar uma coisa que você sabe que me afeta contra mim, na próxima
vez, vou colocar fogo em você — gargalhei com a sua ameaça. — E
sei que também joguei na sua cara o fato das meninas ficarem em
cima de você, não é sua culpa, me desculpe por isso.
— Tudo bem amor — beijei suas bochechas e ela sorriu.
Saímos do quarto abraçados. Eu não podia me sentir mais
tranquilo e aliviado agora que estávamos bem.
— Afe, tá em relacionamento saudável — Calleb disse assim
que nos viu no corredor. Rimos o olhando e eu balancei a cabeça
negativamente.
— Resolveram? — Natalie questionou esperançosa.
— Sim — Rebecca respondeu naturalmente.
Descemos para a festa e era nítido o desconforto dela no meio
de toda aquela gente. Ela saiu indo até a parte de piscinas e ficou
sentada com Luce e os meninos enquanto eu fui cumprimentar o
time.
Depois de um tempo deixei a brincadeira que os meninos
estavam fazendo com bebidas e me aproximei dela, me sentei ao
seu lado tentando não encostar meu lombar no sofá, mas era
impossível, tomei cuidado para minha blusa não colar na ferida após
encontrar uma posição confortável no sofá.
Não sabia se estava louco, mas podia acreditar que vi Jasper
com os olhos fixos em Rebecca, cheios de admiração. Mais um?
Por que não estava surpreso?
A abracei ainda observando Jasper, ele nos olhou rapidamente
e abaixou o olhar.
Luce conversava animadamente com Rebecca, um pouco
movida pelo álcool.
— Luce, estamos indo embora — Jasper disse se levantando e
evitando a todo custo não olhar Rebecca. Ele jogou o toco de
cigarro no chão e o pisoteou.
— Algum problema, cara? — Questionei e Rebecca se deitou
em meu peitoral me deixando abraçá-la.
Ele não vacilou em manter os olhos apenas em mim.
— Nenhum, mano, preciso resolver algumas coisas — explicou.
Concordei quando ele me deu um toque de mão e saiu com
Samuel.
— Ele está estranho ultimamente — Luce disse o observando
sumir na multidão.
— Deve ser o estresse das competições — Rebecca rebateu
ainda deitada em mim.
— Acho que tem alguma garota envolvida — Luce riu e
Rebecca despertou rapidamente a olhando —, seria engraçado ver
Jasper apaixonado, nunca vi isso em anos de amizade.
Rebecca ficou em silêncio. A olhei e ela olhava na mesma
direção de Luce: Melissa. Luce estava boquiaberta prestes a babar
quando Rebecca estralou os dedos a acordando.
— Se você é a fim dela, não espere que ela vá adivinhar —
alertou arrumando os óculos no rosto.
— Eu? A fim de Melissa? Essa loirinha nojenta? — Ri da forma
que Luce disse e me impressionei por nunca ter percebido o olhar
dela em Melissa.
— Vai logo atrás da garota, Lucinda — reclamei.
Eu e Rebecca nos olhamos rindo quando Luce se levantou
fingindo estar ofendida.
A olhamos caminhando até Melissa, mas ela escolheu desviar o
caminho e seguir até um grupo de alunos e Rebecca me olhou.
— Nem todos tem coragem de falar sobre seus sentimentos —
disparei acariciando sua nunca e envolvendo meu braço em sua
cintura a puxando para mim.
— Inclusive você — disse com tom desafiador, franzi o cenho e
ela continuou —, eu já falei que gosto de você e você…?
— Meu coração está com você e eu prometi te esperar —
expliquei como se fosse óbvio.
— E… — Disse esperançosa.
Abri minha boca para falar e as palavras entalaram em minha
garganta. A esperança em seu olhar se desfez e ela tentou não
mostrar que aquilo a chateou.
Eu demonstrei, sem problema ou dificuldade alguma, e por que
simplesmente não conseguia falar o que estava em meu coração?
— Tudo bem, amor — ela selou nossos lábios —, eu te espero
— seus lábios formaram um sorrisinho, mas seus olhos
demonstravam uma leve tristeza.
— Josh e Calleb brigaram e Josh está passando mal porque
bebeu além da conta. Cameron, pode ajudá-lo? — Karen, a irmã de
Josh e presidente do grêmio, pediu demostrando preocupação.
Rebecca me olhou concordando e eu saí o mais rápido que
pude. Assim que me dirigi até a cozinha, ouvi uma gritaria vindo do
lugar que estava e antes que eu pudesse ver o que estava
acontecendo, Elliot me puxou para ajudar a levantar Josh.
Não tinha moral nenhuma, mas esses meninos precisavam
parar de afogar as mágoas nas bebidas ou acabariam se matando.

Josh levou mais de uma hora para se acalmar e então percebi


que ele não tinha apenas bebido, mas tinha se drogado também.
Não precisava explicar o tanto que eu e Elliot brigamos com Peter
por isso, o alertei milhares de vezes sobre usar essas merdas e o
avisei pela última vez que a próxima não passaria, teria que tirá-lo
do time mesmo que isso nos fizesse perder um ótimo jogador.
A festa tinha acabado e a casa de Peter estava uma bagunça.
Desci as escadas e vasculhei o lugar a procura de Rebecca.
— CAMERON! — Ouvi uma voz aguda me gritar da sala.
— Agora não, Katherine — disse firme.
— Você não fala mais comigo direito, bebe algo comigo por
favor — implorou.
Me virei em sua direção.
— Eu nunca, nunca mais vou beber nada com você. Já chega,
Katherine, tentei ficar numa boa, mas chega. Se continuar no meu
caminho, todo mundo vai saber que você precisou me embebedar
pra dormir comigo — esbravejei, sem paciência.
Estava cansado dessas garotas problemáticas e não me
importava com o que falariam quando eu explodisse, não aceitaria
passar por isso para manter as aparências. Katherine me olhava
amedrontada e se encolheu com os olhos marejados.
Demorou para que eu entendesse o que Katherine tinha e esse
era o tipo de coisa que iria comigo para o túmulo, mas como ela
pôde ser tão podre e por que demorei tanto para perceber o que
tinha acontecido? Ela literalmente se aproveitou de mim bêbado.
Mas quem acreditaria que eu, logo eu, fui vítima de uma coisa
assim?
Sai da casa indo até às piscinas e finalmente a encontrei.
Estava de mãos dadas com Natalie, limpando o rosto e a roupa
estava suja de bebida. Corri em sua direção.
— O que aconteceu? — Perguntei me agachando e tocando
sua perna.
Bastava estar perto dela para me sentir mais calmo.
— Karen derrubou bebida em mim — disse limpando o nariz
com a manga da blusa. — Estou exausta, pode me levar pra casa?
— Pediu se levantando e caminhando até a saída.
— Cam — Natalie chamou antes que eu seguisse Rebecca e eu
voltei minha atenção para ela —, Becca chora de exaustão e fica
sensível, muito sensível. Ela está de cabeça cheia, passou o dia
todo na escola trabalhando, participou de uma competição e não
gosta de descontar em ninguém. Se precisar de mim, me chame
que eu vou até ela.
Concordei balançando a cabeça.
Ela me ajudou quando não conseguia dormir direito, o mínimo
que podia fazer era estar com ela agora. E eu queria estar.
Abri a porta do carro para ela e dirigi o mais rápido que pude.
Sua casa estava toda apagada e ela chorou por aquilo, tentando
disfarçar para que eu não me preocupasse.
— Ei, amor, podemos pegar umas roupas de Natalie e você
dorme lá em casa.
— Não, Cam, não posso dormir na sua casa — afirmou.
Segurei seu rosto com cuidado, ela era tão delicada que as
vezes parecia que eu podia quebrá-la.
— Não estou pedindo, você vai dormir lá em casa, quando for
de manhã, você toma seu remédio, mas agora precisa descansar —
disse calmamente.
Ela abriu a boca para falar, mas acabou concordando e tenho
certeza de que só concordou por estar cansada.
Tomei um banho e senti meu lombar arder novamente. Coloquei
uma blusa preta, um short qualquer e sai do banheiro vendo minha
mãe entregar uma xícara para Rebecca.
— Obrigada, sogrinha — ela brincou e mamãe riu.
— De nada, filha — mamãe se encheu de orgulho ao chamá-la
de filha.
Ela e Rebecca se olharam com sinceridade e isso me trouxe
uma alegria inexplicável.
Mamãe me olhou enquanto eu as olhava e Rebecca seguiu seu
olhar, seus olhos continuavam avermelhados, assim como a ponta
de seu nariz.
— Querido, posso falar com você um minutinho? — Concordei e
saímos do quarto.
— Ela nem comeu direito hoje — disse em voz baixa e ela
concordou.
— Preciso te contar uma coisa, filho — mamãe começou
também em voz baixa —, sabe que amo os pais dela, eles são
ótimos, mas com a faculdade estão pressionando muito ela — a
olhei e comecei a entender um pouco do porquê Rebecca estava
chorando com tanta facilidade. — Ela só tem dezessete anos,
carrega o peso de irmã mais velha, de representante, de estudante
que precisa ir para faculdade e tem as pessoas que ficam em cima
dela — disse se referindo aos meninos e as meninas da escola.
Sabia que tinha parte na questão de as meninas estarem em
cima dela e precisava dar um jeito nisso. Mamãe continuou:
— Seu pai também ficava te pressionando com a faculdade —
relembrou e eu concordei dando de ombros —, mas vocês se
resolveram nisso ou estão se revolvendo. Só que Olívia nessa parte
é muito difícil de lidar, ela quer tanto o bem da filha que não percebe
que está fazendo mal. É errado, mas os pais fazem isso sem
perceber. Owen desabafou sobre isso com seu pai, eles andam se
desentendendo por isso — mamãe suspirou. — Quando Rebecca
tinha menos idade, fazia milhares de coisas ao mesmo tempo: luta,
dança, esportes, ginástica artística… e a alimentação não era das
melhores, então...
— Está me dizendo que… — dei uma pausa começando a
entender — Ela não nasceu diabética, ela adquiriu?
— Isso mesmo — respondeu desanimada —, comia besteiras
nos intervalos que tinha entre tudo o que fazia, não há corpo que
aguente.
Meu queixo caiu.
— O que devo fazer? — Questionei preocupado e ela sorriu.
— Você já está fazendo o suficiente só de respeitá-la e estar
presente — concordei pensativo, mas ainda não era suficiente —,
mas a deixe chorar quando ela precisar — disse se levantando. —
Estou exausta, boa noite filho — beijei a testa dela como de
costume.
— Boa noite.
A observei indo até seu quarto, entrei no meu e lá estava ela,
com os olhos cansados na tv e resistindo ao sono.
— Hora de dormir, minha princesa — disse fechando a porta.
Ela colocou a xícara na escrivaninha e estendeu os braços
como uma criança pedindo colo. Sorri a abraçando e selando
nossos lábios.
Ficamos assim por segundos até eu sentir minha pele
queimando e logo minha blusa estava colando nas feridas.
— Amor — Rebecca disse em voz baixa e olhando a própria
mão.
Olhei na mesma direção e estava com um pouco, bem pouco,
de sangue.
O corte não tinha sido tão fundo, mas ainda sangrava.
Me levantei rapidamente caminhando até o banheiro e antes
que eu pudesse fechar a porta, Rebecca a segurou. Precisei ter
cuidado para não bater à porta em sua mão.
— Não — disse firme e com os olhos marejados —, você vai me
deixar te ajudar e ponto! — Ela respirava pesado.
— Não precisa — afirmei tentando fechar novamente a porta.
Ela entrou no banheiro sem dizer nada, pegou a caixa de
primeiros socorros e me puxou pelo braço.
— Deita — ordenou com seu típico tom mandão e o pior de tudo
era que eu gostava de vê-la daquela forma.
Sorri tirando a blusa e me deitando de costas para ela.
Rebecca começou a limpar a ferida, que pelo jeito não era tão
grande, e sua mão era cuidadosa enquanto fazia o curativo.
Senti seus dedos delicados contornando minha tatuagem.
Uma tatuagem que fiz pela cicatriz que meu pai deixou em mim
e, felizmente, ela cobria.
A olhei e ela estava um pouco pálida olhando os dedos como se
milhares de coisas se passassem em sua cabeça. Parecia perdida e
balançou a cabeça me olhando e limpando o canto dos olhos.
— Kevin fez isso com você? — Questionou fungando e
arrumando as coisas sem me olhar.
Ela estava exausta, era notório, e mesmo assim começou a
limpar meus punhos pelos socos que tinha dado.
— Não, foi outro jogador que tentou me tirar de cima de Kevin
— expliquei.
Ela balançou a cabeça e começou a limpar um pequeno
machucado no canto de minha sobrancelha.
— Andrew foi te ajudar? — Questionou assim que terminou.
Ela guardou as coisas no banheiro e voltou ainda com olhar
interrogativo.
— Foi por Noah, eles são amigos — expliquei e ela me olhou
sem acreditar muito.
A puxei para se deitar e ela aceitou de bom grado.
— Sua tatuagem tem algum significado ou só fez por que quis
mesmo? — Perguntou sonolenta.
Apaguei o abajur e a abracei forte.
— Um dia te contarei, prometo — selei nossos lábios e ela se
aconchegou em meu peitoral.
Puxei a coberta para cima de nós. Fechei meus olhos e foi
inevitável não lembrar do motivo de ter feito uma tatuagem tão
grande.
Foi minha primeira e foi depois da filha do antigo pastor dos
meus pais ter inventado que eu tentei pegá-la a força quando na
verdade eu não quis sexo com ela.
Quando ela falou isso, meu pai me bateu demais porque achava
que eu estava mentindo e exigia a verdade. A fivela do cinto pegou
bem nas minhas costas, a rasgando.
Lembro que quase desmaiei e vi mais sangue do que achava ter
em meu corpo. Meu pai só parou quando viu o que tinha feito e isso
foi por minha mãe ter corrido para fazê-lo parar.
Quando a garota contou a verdade, meu pai ficou quase um ano
sem conseguir olhar em meus olhos de tanta vergonha que sentia.
Aproveitei a situação e fui morar com meu avô. Entretanto, algumas
coisas voltaram a ser como antes. Quando o orgulhava ou fazia algo
que ele concordava, ele era meu pai e quando não…
Meu coração disparou ao lembrar de tudo aquilo, ainda sentia
as dores nas costas.
Foi fundo e precisei levar pontos na época. Meu pai se
desculpou e agora fazia muito por mim, as vezes era agressivo, mas
mudou em algumas coisas, a última vez que ele levantou a mão
para mim foi quando achou maconha em meu quarto e eu tinha
perdido o time. A maconha na verdade era de Natalie, mas ninguém
precisava saber disso, felizmente ela não usava mais essas coisas.
Minhas mãos começaram a suar e a dor em meu lombar
apareceu do nada só por ter lembrado do que aconteceu.
Droga, eu estava todo destruído, o que tinha a oferecer a…
— Amor? — Ouvi sua voz mansa e todos os meus pensamentos
ruins sumiram — Não me solta não — pediu em um sussurro se
aconchegando mais em mim e então percebi que estava quase a
soltando.
Senti seus doces lábios tocando os meus e a calma dominou
meu corpo.
Ela me abraçou forte sem tocar meu lombar e a dor foi sumindo
dando espaço a calmaria. Foi como se eu estivesse em uma
enorme tempestade que me consumiria e me destruiria a qualquer
momento e ela, apenas ela, me acalmou totalmente.
A abracei forte e ao olhá-la dormindo serena, percebi que tinha
o mundo, mais do que isso, em meus braços.

Abri meus olhos e a vi desmaiada no chão de meu quarto.


Gritei seu nome, mas minha voz não saia. Tentei tocá-la, mas fui
empurrado para longe. Empurrado por quem ou pelo quê?
Eu estava cada vez mais longe e não podia ajudá-la, não podia
protegê-la, não podia nada. Tentei correr até ela e quando
finalmente consegui, ela havia sumido. E como em um passe de
mágica estávamos em um hospital. Corri pelos corredores a
procurando e ninguém sabia dela. Entrei em um corredor e a vi. Os
médicos conversavam com seus pais e Isaac abraçava a mãe com
força. Comecei a bater no vidro, mas ninguém me ouvia. Bati com
mais força, mas não tinha portas que me deixassem entrar.
— BECCA, NÃO! NÃO! — Gritei batendo no vidro quando os
médicos começaram a desligar os aparelhos.
Não. Eu não podia perdê-la. Não podia! NÃO PODIA!
— BECC…

— Amorzinho? — Pulei da cama em um susto.


Outro sonho com ela, mas esse tinha sido o pior de todos, sem
dúvidas.
Me faltaram palavras, a puxei a abraçando, a sentindo. Ela era
real.
— Você está bem? — Questionei tocando seu rosto tentando
mostrar calma, mas estava desesperado, nunca tinha me sentido
tão agoniado.
— Amor, você está queimando — ela retribuiu meu abraço e
meu corpo estava todo suado — Cam? — A abracei mais forte, mas
com cuidado.
— Pensei que tinha te perdido — sussurrei e ela ficou em
silêncio por instantes.
— Não perdeu — ela levantou o olhar —, eu estou aqui —
afirmou selando nossos lábios.
Quis questioná-la, mas não tinha forças.
Ela estava aqui, mas até quando?
Sai da casa de Cameron antes que ele acordasse.
Natalie quem abriu a porta para mim e fiquei feliz em vê-la bem,
normalmente sempre voltava das festas podre de ressaca e agora,
ela quem virou a tia do rolê, porque a mãe ainda era eu, pelo que os
meninos diziam.
Depois que Cameron acordou no meio da madrugada gritando
meu nome demorou um pouco para dormir. Estava morta de
cansaço, mas consegui forças para cantar até que ele
adormecesse.
Não contei que o ouvi gritando que não podia me perder.
Parecia desesperador e não queria atormentá-lo com isso, ele
tentaria me fazer acreditar que estava tudo bem, mas confesso que
nunca o vi tão vulnerável e desesperado. Assim como eu, Cameron
com certeza carregava pesos que não deviam ser dele e fingia estar
tudo bem.
Estava tocando o piano que temos em casa, próximo da lareira,
enquanto minha mãe andava da cozinha para a sala de estar a todo
vapor.
Ela se aproximou de mim outra vez, ainda eram nove da manhã
e já tinha me questionado, pelas minhas contas, dezessete vezes se
eu realmente estava conseguindo lidar com tudo: as
responsabilidades da escola, o trabalho, o estudo e Cameron.
Pela primeira vez precisei mentir e disse que estava tudo sob
controle, mesmo que eu tenha desabado de chorar com Cameron
ontem. Me sentia mais leve, sem dúvidas.
Mamãe estava uma pilha de nervos e acabava sobrando até
para as funcionárias da família.
Eu estava com a paciência no limite por ela não estar lidando
direito com Isaac hoje. Por um lado, tentei entendê-la. Segunda-feira
ele teria prova, as notas dele estava decaindo, o TDAH não estava
nos dias bons, e ela ainda cuidava de duas crianças e estava de
TPM.
Só consegui notar tudo isso agora, nos dias da semana estava
tão ocupada com as responsabilidades da escola que simplesmente
não fiz minha parte como filha e irmã mais velha, mas agora com a
cabeça em ordem vou conseguir fazer algo pela minha família.
Papai estava trabalhando, tinha dois casos para resolver, com ele
aqui as coisas eram mais fáceis.
— Querida, pode parar de tocar um pouco? — Pediu irritada,
mas tentou manter a calma ao falar comigo.
— Mãe — a chamei parando de tocar e peguei a bebê conforto
com Louis dentro —, se arrume, tia Eliza vai passar aqui para sair
com a senhora em trinta minutos. ISAAC — gritei e ele apareceu na
sala de estar rapidamente —, me ajude a trocar Louis e Elô, por
favor, tia Eliza chega em breve.
— Não, Isaac tem prova segunda, não posso deixá-lo. É teste
de matemática, filha, preciso ajudá-lo.
— Assim me sinto ofendida. Esqueceu que está falando com a
aluna nota 100? — Pela primeira vez usei o título que me foi dado e
ela ficou sem reação, achei graça e Isaac deu uma risadinha. — Eu
o ajudarei, fique tranquila.
Ela resistiu um pouco, mas acabou cedendo. Tia Eliza disse que
iria a um clube com a minha mãe e levaria os gêmeos. Vou ajudar
Isaac com os estudos e passar o dia com ele, pois fazia dias que
não tirava um tempo para o meu irmão.
Subi as escadas até o quarto dos bebês começando a preparar
as coisas para dar banho neles, Nádia, uma das funcionárias mais
novas da família, estava me ajudando. Ela trabalhava com a gente
fazia uns anos e sempre viajava quando nos mudamos.
— O QUE FOI ISSO? — Isaac gritou correndo até mim e
levantando a barra de minha blusa vendo uma leve equimose roxa
esverdeada.
Pensei em milhares de coisas para dizer e abaixei a blusa de
imediato percebendo que quando levantei os braços a blusa subiu
um pouco.
— Cai ontem no meio do corredor, você precisava ver que
tombo horrível foi aquele — fingi uma gargalhada e ele riu.
— Desastrada.
— Às vezes — brinquei.
Nádia me olhou desconfiada e em nenhum momento riu da
minha mentira. Desviei o olhar dela voltando a cuidar das crianças.
Cameron durante o, provável, pesadelo me apertou com muita
força. Foi por isso que acabei despertando e acordando ele, mas
não era sua culpa, ele nem estava acordado. Ficou uma marca leve
que provavelmente sairia entre hoje e amanhã. Isaac acreditou
porque sempre aparecia algum roxo em minha pele, às vezes
parecia que alguém me tinha me socado de verdade sendo que isso
era causado por eu esbarrar em tudo que era canto de casa.
— Isaac querido, pode pegar um shampoo para as crianças, por
favor? — Nádia pediu com seu tom doce.
Ele saiu correndo como o Naruto com os braços para trás, ele
sempre fazia isso.
Nádia pegou meu pulso com delicadeza e o virou com cuidado
mostrando uma marca minúscula em meu braço.
— Senhorita, desculpe a indiscrição, mas o que aconteceu?
Devo me preocupar? — Questionou preocupada.
— Promete não contar a ninguém?
— Sabe que nesse caso depende — rebateu sem medo
nenhum na voz.
Suspirei e comecei a explicar o que tinha acontecido.
— Não sei o que ele sonhou, mas não achei que era momento
pra perguntar — finalizei.
— Ele precisa saber — neguei com a cabeça.
— Cameron perde o sono com facilidade, comigo ele ainda
dorme e relaxa. Se ver isso… — suspirei — Não, não vou contar
nada.
— Querida…
— Está decidido, Nádia — disse com firmeza e ela apenas
concordou.

Eleonor, a funcionária mais antiga da família, foi atender a porta


enquanto eu continuava explicando expressões numéricas a Isaac.
— Está pronto meu Shinobi? — Questionei e ele sorriu.
— Sim, com certeza — respondeu animado.
Ele amava minhas explicações pois sempre envolvia Naruto.
Olhei as expressões numéricas e formulei a pergunta em minha
mente, de uma forma que ele entenderia.
— Essa é a pergunta — mostrei a questão: X=9 +(8x5÷4)-17. —
O que precisamos fazer primeiro para encontrar o valor da aliança
Shinobi?
Aliança Shinobi para Isaac era o X, ou seja, precisávamos achar
o valor de X.
— Resolver as contas dos parênteses.
— Isso mesmo. Como vai fazer isso? — Ele pensou um pouco.
Usaria a explicação das Bijuus do Naruto.
— Hachibi, oito caudas. Gobi, cinco caudas. Hachibi vezes
Gobi, 40 — disse a si mesmo anotando no caderno —, dividido por
Yonbi, quatro caudas, fica 10 — ele anotou o número dez — Kyuubi,
nove caudas. Com dez, fica dezenove. Dezenove menos dezessete,
sobra Matatabi, duas caudas. Sobra dois.
Todo esse raciocínio de Isaac foi falado em menos de um
minuto e eu sorri por ele ter entendido tudo. Para alguns, esse
caminho era mais difícil, mas era o melhor para Isaac.
— ACERTOU, VOCÊ ESTÁ A UM PASSO DE SE TORNAR UM
CHUNNIN — comemorei o abraçando e ele sorriu animado.
— Acha que vou conseguir? Mamãe não está confiante — disse
desanimado.
— Claro que vai conseguir! — Ele me olhou sem acreditar muito
em minhas palavras. — Quer desistir? O que Naruto faria? — Ele
gargalhou.
— Quero que minhas aulas extras sejam assim também — ouvi
a voz dele e meu coração disparou.
Gelei. Puxei as mangas finas da blusa que estava usando para
cobrir o pequeno roxo em meu braço, mas eu estava morrendo de
calor.
— Prima, quero estudar assim também — Jeff me abraçou e
Isaac correu para abraçar Cameron.
Me levantei ainda confusa.
— Oi Jeff, pode vir aos sábados de manhã que eu te ajudo —
beijei o todo de sua cabeça dele e ele sorriu.
— Cameron vai levar a gente no parque aquático — me virei o
olhando confusa.
Cameron estava com roupas folgadas, bermuda vinho e blusa
preta. Fiquei um tanto perdida e o olhando em busca de respostas.
— Vamos Isaac — Jeff e ele começaram a arrumar a mesa com
os materiais e eu caminhei até a sala com Cameron.
Ele me deu um selinho e afastou meu cabelo dos ombros.
— Está com frio? — Indagou desconfiado e eu neguei com a
cabeça.
— O que aconteceu? — Questionei deslizando as unhas nos
músculos de seus braços e ele me apertou um pouco mais forte. —
Não sabia que os meninos iam sair com você — tentei me esquivar
de seus apertos, mas era impossível.
— Os meninos do time tinham marcado de irmos no parque,
Isaac estava junto quando eu e Elliot falamos sobre, então o chamei
para ir — explicou.
— O time e meus dois nenéns? — Ele concordou. — Cam, não
deixe os meninos do time fazerem maldade com os pequenos —
pedi e ele riu selando nossos lábios.
— Não vou deixar — nos sentamos e eu coloquei minhas
pernas em cima das suas. — Vai fazer o que hoje?
— Bom — entrelacei nossos dedos o fazendo parar de acariciar
minhas pernas, isso me causava arrepios —, já que Isaac vai sair,
vou passar na Goldens — ele me olhou com o cenho franzido.
— Por quê? Vai trabalhar hoje? — Neguei balançando a cabeça.
— Vou ir pedir as contas — suspirei o vendo tentar não deixar
aparecer um sorriso nos lábios. — Você nem disfarça — o empurrei
pelo ombro.
Ele se deixou rir e selou nossos lábios com calma.
— Amor, vou sempre te apoiar quanto a estudar, trabalhar ou
fazer o que você quer fazer, pra mim não é problema nenhum. Bom,
respeito sua amizade com seu chefe — disse contendo a expressão
franzida.
— Mas?
— Sem mais, não quero voltar nesse assunto — disse olhando
minha mão e a acariciando.
Sabia que tinha mais, que queria falar que ficava feliz por me
ver longe de Andrew, mas depois de tudo ele preferiu ignorar suas
vontades para ficarmos bem.
Sorri dando dois selinhos em seus lábios.
— Tô pronto — Isaac apareceu na sala todo animado.
— Então vamos — Cameron disse e eu tirei as pernas de cima
dele.
Os levei até a porta, Isaac e Jeff correram para fora até Josh e
Eric que acenaram pra mim, retribui sorrindo. Peter não estava
junto, então me lembrei do ocorrido na festa, pelo menos Josh
parecia estar bem.
— Cuida deles, por favor — pedi olhando Cameron.
— Como se fossem nossos filhos — disse selando nossos
lábios e por algum motivo senti confiança nele, não só em cuidar
dos meninos, mas suas palavras soaram como uma promessa para
o nosso futuro.
— Ei — segurei sua blusa antes que ele se afastasse —, você
está bem? — Indaguei e ele forçou um sorriso me abraçando.
— Sim, estou, me descul…
— Não — o olhei nos olhos —, não vou aceitar desculpas pelo
que aconteceu porque você não teve culpa — beijei seus lábios. —
Anda, vai se divertir — o soltei.
Ele beijou minha testa e se aproximou dos meninos após soltar
minha mão.
Observei o carro até o perder de vista.
Andei pelo meu quarto, encarei minha bíblia e a peguei tocando
a capa.
— Já faz um tempo que não falo com o Senhor, né Pai? — Ri
sabendo que Ele estava me ouvindo.
Me olhei no espelho sabendo exatamente para onde devia ir.

A praia era há trinta minutos de carro da minha casa e tinham


várias rochas grandes. Meu pai, o maior fã de Vikings, batizou essa
praia como Ragnarok e sua explicação era de que o nome era
bonito e só a opinião dele importava.
Sorri o ouvindo falar essas palavras como se estivesse ao meu
lado.
Subi em uma rocha enorme, a praia não tinha muita gente
mesmo estando calor, se fosse no Brasil estaria lotada. Me sentei na
rocha e encarei o vasto e belíssimo oceano.
Águas cristalinas e uma brisa suave me trouxeram uma paz
enorme e abundante. Sabia que Deus estava comigo, O chamei
para conversar e a paz repentina que estava sentindo com certeza
vinha DEle.
Não precisei fechar os olhos. Uma energia muito forte de
tranquilidade e amor estava presente. Meu coração se encheu de
alegria, meu estômago queimava intensamente e até o vento
parecia soar uma melodia calma.
Me deixei chorar, sem explicação alguma. Mas era tão bom em
meu coração, Ele me entendia sem que eu precisasse dizer uma só
palavra.
Minhas preocupações, o medo de perder Cameron, as
cobranças que eu fazia a mim mesma, o não ser boa para minha
família, não orgulhar meus pais, não cuidar dos meus irmãos, não
entrar em Stanford, não ser uma boa amiga pra Natalie e Andrew,
meus sentimentos, meus medos... Deus entendia sem que eu
dissesse nada.
Repentinamente começou a garoar e o tempo foi se fechando.
O céu trovejou com flashs fortes de trovão dentro das nuvens, mas
não me davam medo, o dia ainda estava lindo. Tirei meus óculos,
me levantei com cuidado na rocha e encarei o céu.
— Obrigada por me ouvir — disse sorrindo e novamente
trovejou.
Desci da rocha com cuidado, sabendo que quem tivesse me
visto aqui com certeza me acharia uma louca.
Entrei no carro e batuquei os dedos no volante.
Hora de começar a colocar as coisas em ordem.
Decidi ir falar com Andrew agora mesmo, não tinha mais como
adiar.
Essa semana foi cansativa e nas próximas seria ainda mais.
Precisaria ver os treinos das líderes, do time dos meninos, do time
das meninas e da natação, fora as reuniões com o Fênix; no
próximo sábado de manhã teria uma reunião com Geórgia e
Anthony, eu precisaria passar por todos, absolutamente todos, os
projetos e ainda teria que revisar o relatório do grêmio pois Karen se
recusou a revisar com Neji.
Eu não teria tempo. Não conseguiria trabalhar e corria o risco de
se tentar, fazer errado.
Meus pais sabiam da minha decisão, no fundo eles também
tinham a noção de que não aguentaria se continuasse com tudo
aquilo, além de que eu precisava refazer meu cronograma de
estudos. Andrew entenderia, sabia que sim.
Esme quem me atendeu quando cheguei, a abracei e ela
entendeu o que tinha vindo fazer, havia comentado com ela antes.
— Promete não me esquecer? — Pediu com os olhos
marejados.
— Jamais, irmã mais velha — a abracei novamente.
Ela limpou os olhos quando um cliente entrou na lanchonete e
eu caminhei até o escritório de Andrew.
Bati na porta duas vezes e ninguém me atendeu, a abri um
pouco receosa do que veria e quando vi, a preocupação tomou
conta de mim.
Fiquei aliviada por saber como reagir diante dessa situação pois
Jeff tinha asma. Fechei a porta rapidamente vendo Andrew buscar
ar para os seus pulmões. Ele estava desesperado e vermelho, cada
vez mais vermelho. A bombinha estava em cima da mesa, mas ele
não a viu.
A peguei e levei até sua boca cuidadosamente apertando o
botão que saia a medicação. Ele segurou minhas mãos com
precisão e puxou o máximo de ar possível. Nunca tinha o visto
daquela forma, sabia que tinha asma, mas foi a primeira vez que o
vi tendo crise.
— Tudo bem? — Questionei e suas mãos ainda seguravam as
minhas.
Ele passou um tempo em silêncio, apenas inspirando e
expirando.
— Sim — disse me soltando e passando a mão no cabelo —,
obrigado, de verdade — ele olhou em meus olhos.
Suspirei ao ver que estava bem e sorri concordando.
— Sem problemas — nos olhamos e eu desviei mordendo o
lábio inferior pensando em como começar a falar.
Andrew me analisava com doçura e curiosidade ao mesmo
tempo, seus olhos pareciam clarear um pouco me olhando. Ele
pegou em minha mão e virou meu pulso com cuidado, como Nádia
fez. Antes que pudesse ver, puxei minha mão. Tinha me esquecido
totalmente de que coloquei uma blusa de manga curta antes de ir
para a praia.
— Eu queria falar com você sobre…
— Quem fez isso? — Questionou com firmeza.
— Bati em algum lugar, isso sempre acontece — expliquei
dando de ombros.
— Mentira — se levantou, deu a volta na mesa e parou ao meu
lado —, ele levantou a mão pra você?
A irritação em sua voz e a fúria em seus olhos estavam nítidas,
mesmo assim ele tentava disfarçar.
— Claro que não — me levantei me afastando dele. — É claro
que não! De onde tirou isso?
— Vai por mim, eu me odeio por pensar em uma coisa dessas.
O que aconteceu?
— Nada, Andrew. Nada — repliquei e ele inspirou com força.
— Becca, o que...
— Vai me contar o motivo dos hematomas em seu rosto e
braços?
— Becca, ele levantou a mão pra você? — Questionou olhando
no fundo dos meus olhos e em nenhum momento deixou de
demonstrar sua imensa preocupação.
— Você e eu sabemos que ele jamais faria isso! — afirmei.
Pensei um pouco, era arriscado esse pedido, mas não tinha
escolhas.
— Não conte a ele.
— Mas…
— Por favor, Andrew — implorei e, mesmo contrariado, ele
apenas concordou.
Ficamos em silêncio olhando para o chão, então, juntei coragem
e o olhei.
— Vim pedir as contas — disparei.
Ele andou de um lado para o outro e se sentou no sofá que
tinha no escritório colocando os cotovelos em cima dos joelhos e a
cabeça apoiada nas mãos.
— Eu já sabia — murmurou em voz baixa e eu me sentei ao seu
lado —, é por causa das atividades na escola? — Concordei.
— Não queria sair, de verdade, mas…
— Eu preciso de você — admitiu levantando a cabeça e me
olhando —, quer dizer — ele se endireitou — para fazer os
fechamentos — se corrigiu rapidamente, mas ainda assim não
parecia falar sobre a lanchonete. — Podemos fazer um acordo, não
acha? — O olhei com a sobrancelha arqueada, interessada em suas
próximas palavras — Você vem uma vez por semana.
Ele levantou e se virou me encarando, caminhou até sua
cadeira e me convidou a sentar na cadeira da frente. Seu olhar e
tom de voz voltaram a ser profissionais tão rapidamente que me
sentia surpresa. Antes ele parecia desolado, mas em uma fração de
segundos voltou a ter tudo sob controle, parecia saber que eu viria
falar sobre isso. Então continuou:
— Esme pode fechar o caixa diário, mas o semanal e o mensal
precisarei de você. Se aceitar, combinaremos dias e valores, você
não vai ficar sem um emprego, sei que quer seu próprio dinheiro e
não vai trabalhar todos os dias — sugeriu e por mais profissional
que tentasse parecer, a esperança pairou em sua voz. — Pode vir
aos sábados se for melhor. O que acha?
Pensei um pouco. Era uma ótima proposta na verdade, qualquer
outro lugar jamais faria algo assim e eu precisava de experiencia na
minha área.
— Bom — sorri —, ótimo para mim, resta saber qual será o meu
valor trabalhando assim — o olhei interrogativa.
Ele se recostou na cadeira relaxando o corpo e soltou a
respiração que nem percebi que estava prendendo. Seus olhos
brilharam, eu não devia aceitar, não mesmo, mas não precisar ficar
pedindo dinheiro para os meus pais sempre que queria comprar
algo era uma pequena liberdade que gostava de ter, mesmo que
eles já tenham me dito que isso não os incomodava.
— Você vale mais do que qualquer pessoa pode pagar —
disparou me olhando.
Sorri concordando.
— Meu preço foi pago com sangue, por alguém me ama tanto
que morreu por mim na cruz — o vi sorrir mesmo depois de cortar
sua cantada.
— Você está certa — admitiu e pensou um pouco. — Sabe, eu
nunca te pedi desculpas por ter tentado te beijar quando éramos
crianças — o olhei confusa —, sei que errei e peço que me
desculpe, não vou me justificar pela idade que eu tinha pois
independente disso, eu errei com você e não quero que fique
desconfortável comigo ou pense que vou repetir o que fiz.
Abri um sorriso.
— Fico feliz que tenha reconhecido isso mesmo depois de anos
desse acontecimento e aceito suas desculpas — ele me olhou por
instantes e eu não resisti em dizer: — Para melhorar, só falta você
parar de tentar flertar comigo, assim, vou me sentir, de fato,
confortável sem precisar te cortar o tempo todo.
Ele riu, como se aquilo fosse uma piada e eu me mantive séria.
— Ah, certo... — disse sem jeito — você está certa, não irá se
repetir.
— Andrew — ele levantou os olhos, me encarando —,
passamos boas horas conversando sobre nossas vidas aqui,
acredito ter liberdade para falar sobre isso — ele concordou — não
trabalho aqui para provocar Cameron ou algo do tipo, é por algo
mais como uma realização pessoal, mas, por favor, nunca pense
que pode ficar entre mim e ele.
— Vai sempre ser ele — completou me olhando, na espera de
minha reação.
Balancei a cabeça concordando e o vi respirar fundo,
balançando positivamente a cabeça.
— Eu sei, só precisava te ouvir falar isso — concordou.
Os valores que Andrew e eu combinamos eram bem menores
do que recebia, mesmo assim, valia a pena e não era algo
cansativo.
Perdi as horas conversando, falamos sobre a faculdade e ele
pretendia voltar. López estava o ajudando a entrar em uma
universidade e ele se recusou a me falar o nome, disse que seria
surpresa.
Senti meu corpo tremer e um frio repentino começar a passar
pelo meu corpo. O açúcar em meu sangue estava abaixando, talvez
porque minha última refeição foi ao meio-dia.
— Andrew, preciso ir — comentei me levantando, minhas
pernas fraquejaram e precisei me sentar novamente.
— Becca — ele deu a volta na mesa e pegou em minha mão —,
o que está acontecendo?
Parecia desesperado. Ao contrário de Cameron, Andrew não
fazia ideia de como eu ficava quando isso acontecia.
— Eu… eu preciso comer — murmurei fraca sentindo a fome
começar a doer.
— Ah, merda! A diabetes! — Ele disse e tudo pareceu se
encaixar em sua mente.
Ele não mais disse nada, apenas saiu da sala correndo e
deixando a porta aberta. Comecei a sentir desespero, meu corpo
parecia ficar ainda mais frio. Tentei me levantar, queria gritar de
agonia, mas minha voz parecia sumir; minha visão estava turva e eu
me senti desfalecendo na cadeira, até sentir uma mão segurando
minha cabeça.
— Rebecca, fica comigo, não dorme — chamou Andrew
levantando minha cabeça.
Abri os olhos com dificuldade e consegui vê-lo com uma coca
na mão que ele me ajudou a tomar. Em um prato tinha um misto
quente que parecia ter sido feito agora. Consegui me arrumar na
cadeira e comer.
— Você está bem? — Andrew questionou segurando em minha
mão me olhando preocupado depois que dei algumas mordidas no
lanche e tomei alguns bons goles de coca.
— Sim, me desculpe por isso — ele riu negando, beijou minha
mão e se levantou.
— Já passou do horário e Esme ainda está lá embaixo com
Freya e Joe, preciso dispensá-los — avisou afastando o cabelo de
meu rosto.
O olhei concordando após terminar de comer.
— Está bem mesmo? — Questionou me analisando.
— Sim, estou. Obrigada mesmo — ele balançou a cabeça
concordando.
Descemos as escadas e eu beijei o rosto de Esme a abraçando
animadamente.
— Ainda vou te ver uma vez na semana — sussurrei em seu
ouvido e ela me olhou com confusão em seu rosto —, te explico
depois.
Me despedi de Freya e Joe e Andrew pediu que eles fechassem
a lanchonete.
— Obrigado por aceitar minha proposta — disse me olhando,
seus olhos desceram até meu braço e eu sabia que ele queria ver
novamente o pequeno roxo.
— E obrigada por me ajudar na crise de diabete — agradeci e
ele negou com a cabeça.
— Ambos nos ajudamos em nossas crises, não precisa
agradecer — sorri concordando e sentindo uma tensão dominar o
clima entre nós.
— Bom, preciso ir — comentei me virando para abrir o carro e
ele tocou meu braço justamente onde estava a equimose.
— Becca, não vai mesmo me contar o que aconteceu? — O
olhei afastando meu braço de seu toque.
— Bati em algum lugar, apenas isso, não se preocupe — ele me
analisou procurando algo em meu olhar.
— Impossível não me preocupar, você é minha amiga e amigos
se preocupam — sua fala parecia um pouco sofrida, como se fosse
péssimo para ele ter que admitir que éramos apenas amigos —,
mas se eu desconfiar que foi ele, nem você vai poder me impedir —
avisou com voz mansa, beijou minha mão e abriu a porta do carro
para mim.
— Andrew…
— Acho melhor você ir, o tempo já está esfriando — disse firme.
Qualquer possibilidade de contar a ele o que tinha acontecido
se acabou ali. Entrei no carro dando partida e comecei a pensar em
milhares de coisas. Andrew jamais entenderia o que aconteceu para
que meu braço ficasse assim. Para ele seria Cameron me
machucando e ponto final.
E Cameron pensaria da mesma forma e escolheria se afastar
por achar que estava me machucando. Voltaria a não dormir e isso
seria péssimo. Nunca havia acontecido nada parecido, caso de
repetisse, falaria com ele.
Coloquei minha blusa de mangas compridas e entrei em casa
após estacionar o carro na garagem. Minha mãe estava em casa e
fiquei feliz por ver seu rosto calmo e tranquilo. Tia Eliza estava ao
seu lado cuidando das crianças e conversando. Cumprimentei as
duas e subi para o meu quarto. Tomei um banho, coloquei meu
pijama, mesmo não sendo nem oito horas da noite, e me sentei na
cama.
Peguei os livros de Crepúsculo tentando me distrair, mas não
consegui. Os de Harry Potter e falhei novamente. Os de Divergente,
Jogos Vorazes, Diário de Um Vampiro e nada de conseguir manter o
foco.
Respirei fundo; meu pensamento estava tão longe..., mas não
longe o suficiente para que não consiga me distrair com Maxon
Schreave.
Peguei o livro A Escolha e quando estava para abri-lo, ouvi
batidas em minha porta. Me olhei no espelho, meu pijama era
composto por uma blusa fina de mangas compridas e um short,
ambos na cor rosa salmão.
Abri a porta ansiosa para que fosse Cameron, mas quase tomei
um susto ao ver Peter.
— Peter? — Questionei sem entender.
— Sua mãe disse que podia subir — concordei o deixando
entrar mesmo confusa. Encostei a porta e me sentei na cama o
vendo andar de um lado para o outro.
— Pê, o que aconteceu? — Interroguei confusa e ele parou me
olhando.
— Não dei drogas a ele. Juro, jamais faria isso, principalmente
com o meu melhor amigo, eu juro Becca, não foi eu.
Do que ele estava falando? Por que estava tão agitado?
— Peter, calma — pedi o puxando pela mão e ele se sentou ao
meu lado. — Do que estamos falando?
— Josh, ontem — começou me olhando e se levantou, não
parava quieto. — Sabe que ele e Calleb brigaram?
— Sim — ele me olhou e suspirou.
Puxou a cadeira da mesa de estudos e se sentou em minha
frente. Fiquei confortável com Peter, ele nem se quer se importou
em olhar minhas pernas por eu estar de shorts, mas com o frio,
acabei me cobrindo com uma coberta fina.
— Josh começou a beber muito, pedi pra ele parar, mas não me
escutava de jeito nenhum — Peter coçou a nuca —, mas alguém
vendeu drogas pesadas pra ele, Becca, não foi eu. Cameron não
quer me escutar, Elliot está com raiva achando que foi eu e Josh
não estava bem para explicar o acontecido quando os meninos
vieram falar comigo, mas não foi eu, jamais faria isso! Ele é meu
irmão, porra!
Ele parecia uma criança se justificando para a mãe,
desesperado, mas acho que uma criança não falaria um palavrão
para a mãe.
— Pê, acredito em você — segurei sua mão e ele sorriu
soltando a respiração, mas ficou sério de repente.
— Eles não acreditam em mim — soltamos as mãos —, só
Andrew — seu olhar era triste — Jasper nem vende heroína pra
gente do time, Cameron proibiu ele de vender esse tipo de coisa,
proibiu várias drogas na verdade.
Então Cameron sempre soube das vendas que Jasper faz na
escola, na verdade todo mundo sabia. Não sabia o que pensar
quando os imaginava selando um acordo de vendas assim. Odiei ter
conhecimento dessa informação.
— Becca — Peter chamou —, Jasper só vende maconha —
explicou — tipo, continua sendo errado para a nossa idade, mas ele
não vende nada além disso dentro da escola. Entende?
— Sim, entendo — pensei um pouco —, então quem poderia ter
vendido a Josh? — Questionei.
Peter me olhou de uma forma fofa, como se nunca tivesse visto
alguém acreditando nele de verdade.
— É… — ele coçou a cabeça — Oliver — admitiu, meu queixo
caiu e um incômodo dominou meu corpo apenas por ter ouvido
aquele nome. — Sei que você acha que a confusão entre ele e
Cameron começou por ele ter falado de você, mas esse problema
estava desde o ano passado, falar de você foi a bomba que
precisava pra fazer o capitão explodir.
— Mas ele não saiu da escola?
— Sim, da escola, mas ainda é vizinho de Josh — explicou e eu
me joguei na cama juntando todas as informações em minha mente.
Ouvi duas batidas leves na porta e me sentei. Cameron abriu a
mesma com calma e Peter se levantou como se fosse um soldado.
Acabei rindo da situação e eles se olharam.
— E aí, cara — Cameron e ele deram um toque de mão —,
segunda tem reunião do time na primeira aula — avisou se
aproximando de mim e beijou minha testa.
— Cameron… — Peter deu um passo à frente quando Cameron
se sentou ao meu lado.
— Relaxa, conversaremos segunda — disse enquanto dava
beijinhos em meu ombro. — Os meninos vão assistir um filme aqui
hoje, estão lá embaixo se quiser ficar — o olhei com o cenho
franzido.
— Como assim vão assistir um filme aqui? — Questionei quase
que o interrompendo. Peter saiu sem dizer nada, acredito que tenha
aceitado o convite.
— Isaac estava falando sobre seus filmes favoritos, Josh disse
pra chamar ele pra assistir, Isaac convidou, Elliot disse que também
viria e outros meninos disseram o mesmo, seus pais apoiaram a
ideia — ele riu — se quiser assistir também, está convidada —
brincou mexendo em meu cabelo.
— Assistir um filme na minha casa? Vou pensar no caso —
rebati selando nossos lábios e uma vontade enorme de começar um
beijo cresceu dentro de mim, mas Cameron nos afastou.
E tenho certeza de que era por ele ter concordado em esperar
meu tempo.
— Vou começar a levar Isaac pra escola, combinei com seus
pais.
— Mas eu posso levá-lo sem problemas — retruquei
entrelaçando nossos dedos.
— Você já está fazendo muita coisa, Becca — disse afastando
meu cabelo da nuca.
— Você também, amorzinho — deitei o rosto na palma de sua
mão.
— Menos que você. Não se preocupe, pra mim não será
problema — afirmou.
Estava acordando um pouco mais cedo todos os dias para
deixar Isaac em sua escola, não era problema para mim, mas sabia
que ele adoraria a ideia de Cameron o levar.
— Ele vai amar chegar com você na escola — comentei e ele
concordou sorrindo.
— Vamos descer, devem estar nos esperando — disse se
levantando e estendendo a mão para que eu levantasse.
Assim o fiz, abri a coberta fina para arrumá-la em mim e ele me
olhou.
— Ei — o olhei percebendo que ele estava me observando por
inteira, fascinado —, deixa eu ver seu machucado.
— Tá tudo bem, princesa.
— Anda garoto — o empurrei fazendo-o se virar, deixei que o
cobertor caísse de meus ombros, ele se virou de costas e eu
levantei sua blusa na parte do lombar — Cameron, isso vai
infeccionar — reclamei vendo que não estava limpo e nem tinha
sido feito um curativo. — Tenho uma pomada ótima pra isso, mas
você vai ter que ficar sem camisa — expliquei indo até meu
banheiro e pegando a caixa de primeiros socorros.
Por ser diabética, qualquer ferida em mim demorava um pouco
mais que o normal para cicatrizar, então sempre tinha coisas assim
por precaução.
Voltei para o quarto e Cameron estava sentado.
— Vou fazer um curativo e antes de dormir a gente passa a
pomada, pra você não ter que ficar sem camisa agora — disse
naturalmente, mas ele parecia não entender nada do que eu estava
falando.
Seu olhar estava intenso enquanto me encarava carregado de
admiração. Senti meu corpo esquentar e minhas bochechas
queimarem.
— Para de me olhar assim — pedi envergonhada.
Seu olhar voltou para meu rosto e suas bochechas estavam
rosadas, mas ele não parecia nada envergonhado.
— Impossível, você é perfeita — admitiu passando a mão no
rosto me fazendo rir.
Peguei a caixa de primeiros socorros e a coberta que estava no
chão.
— Deixa eu limpar seu machucado — pedi me sentando na
cama.
Ele se virou de costas para mim.
Comecei a limpar e fazer um curativo. Na madrugada de hoje
enquanto limpava a ferida de seu lombar, observei sua tatuagem e
quando a toquei todos os sonhos que não conseguia me lembrar
vieram em minha mente como uma avalanche.
Sonhei com Cameron esse tempo todo. Sempre foi ele.
— Te falei que meu cachorro vem pra casa amanhã? —
Questionou quebrando o silêncio.
— Pra começar, nem sabia que tinha um cachorro — comentei e
rimos.
— Tenho três na verdade. Estão na fazenda do meu avô
materno, nasceu um filhote e vai vir pra casa amanhã — explicou.
— E qual é o nome dele? — Questionei.
— Floki — gargalhei sem acreditar, isso só podia ser de Vikings.
— Bem a sua cara — dei um beijinho em seu ombro o vendo
sorrir.
Terminei de fazer o curativo no pequeno machucado, guardei a
caixa no banheiro e sai do mesmo vendo Cameron arrumar sua
blusa.
— Como foi com seu chefe? — Questionou me olhando.
— É… fizemos um acordo — admiti.
E voltamos ao silêncio. Ele pensou um pouco.
— Que acordo? — Se levantou ficando próximo de mim.
— Vou trabalhar uma vez na semana pra fechar os caixas
mensais e semanais, irei nos sábados, então não vai ficar pesado —
expliquei deslizando os dedos em seus braços e puxei sua mão a
colocando em minha cintura.
Seu rosto se contorceu e suas bochechas ficaram coradas.
Cameron apertou minha cintura me puxando para si, sabia que ele
não tinha gostado da ideia.
— Pelo menos vai continuar ganhando seu dinheiro — disse
envolvendo os braços em minha cintura.
O olhei impressionada, jurava que suas palavras seriam outras,
mas não. Ele beijou minha testa e eu o abracei.
— Quem é você e o que fez com o Styles? — Questionei e ele
riu me fazendo o olhar.
— Só quero ficar bem com você. Confio nele? Com certeza não.
Gosto da ideia de você sozinha com ele? — Ele inspirou pesado e
soltou a respiração — Definitivamente não, mas confio em você —
explicou selando nossos lábios — e se ele fizer algo, eu mato ele —
gargalhei negando com a cabeça.
Sorri o abraçando mais forte.
— Eu falei pra ele — Cameron me olhou — não me fazer
escolher entre ele ou você, mesmo que eu o veja apenas como
amigo... — pensei um pouco — não tenho espaço para opções
quando já fiz minha escolha — ele sorriu passando os dedos em
meus cabelos e selou nossos lábios devagar.
A vontade quase que incontrolável de beijá-lo cresceu em mim
outra vez.
— Irmã, vem assistir — Isaac disse manhoso do outro lado da
porta.
Eu e Cameron nos olhamos rindo.
— Vamos — disse pegando minha coberta e colocando em
meus ombros.
Pensei em trocar minhas roupas, me olhei no espelho antes de
sair do quarto e percebi que não tinha motivo nenhum pra trocar, eu
iria facilmente na padaria com essa roupa.
Sai de mãos dadas com Cameron. Descemos a escada e ao
invés de entrarmos na sala fui puxada para a cozinha. Josh, Peter,
Elliot, Cole, Eric, Adam, Brian e Richard estavam na cozinha
conversando animadamente com meu pai, Jeff e Isaac enquanto
Natalie e minha mãe faziam pipoca. Sorri vendo Peter com Lou no
colo brincando com ele e Josh com Elô. Quando entramos, os
meninos ficaram na frente da bancada escondendo uma caixa
média que estava em cima.
— Meu Deus, vocês não sabem nem disfarçar — Natalie
reclamou rindo alto.
— Ah, gente, a capitã já viu — Eric disse desanimado.
— Vi o quê? A caixa? — Questionei confusa e os meninos
abriram espaço.
A caixa média de papelão tinha furos. Me aproximei depois que
Cameron me soltou e ouvi barulhos vindo da caixa.
— Se isso for uma pegadinha, vou fazer vocês estudarem o
dobro do que já estão estudando — alertei os vendo rir.
Abri a caixa e quase gritei de felicidade. Uma gatinha, meu
Deus, uma gatinha.
A peguei com cuidado.
— Meu Deus! — Sorri animada a acariciando, ela tentou passar
a pata no meu rosto e começou a brincar com a minha coberta. —
Gente, não acredito, meu Deus, como assim?
Mamãe e papai sorriam. Desde quando estávamos em São
Paulo eu falava sobre ter um gatinho. Achávamos que a rinite não
permitiria, mas como nossa casa era bem arejada e extremamente
limpa não teríamos problemas. Sabia que teria que voltar a fazer
higiene nasal com mais frequência, mas isso não importava.
— Ah gente… — Meus olhos ficaram marejados.
— Mas já tá chorando — Isaac reclamou e os meninos me
olharam preocupados.
— A encontramos ontem antes do jogo — Cameron começou, o
olhei me aproximando e me encostando nele —, comentamos com
Owen e ele disse que você queria.
— Ah, meu Deus, eu amei — disse passando a ponta do nariz
em sua pequena cabeça e ela tentou me arranhar. — Qual vai ser o
nome, Isaac?
Isaac tomou a frente pensando um pouco e passou a mão na
gatinha que o arranhou incomodada, rimos com a cena. Ele sempre
escolhia o nome dos nossos bichinhos. Temos a Romanoff, o Stark
e o Spider Men com a minha avó, são os cachorros dela. Os
peixinhos Aquaman, Batman e Ariel com a minha tia. E uma
tartaruga que meu tio tem e Isaac literalmente a batizou de Ninja.
— Kurama — Isaac disse finalmente.
Olhei Cameron que riu alto, assim como os outros meninos do
time.
— Eu gostei — admiti mesmo sabendo que a origem do nome
era de Naruto.
— Que bom que gostou, capitã — Cole disse e os meninos
concordaram.
Eles começaram a conversar alto, mas estava distraída com a
gatinha. Peter entregou Lou a meu pai e foi escolher o filme com
Isaac, Jeff, Brian e Elliot.
— Deixa eu ver minha netinha — mamãe pediu a pegando
cuidadosamente.
Sorri a olhando sair de perto de mim brincando com Kurama.
— Espero que o Floki e a Kurama se gostem — Cameron disse
deslizando o braço em minha cintura e me puxando para si.
— Eu amei — fiquei em sua frente enquanto ele arrumava a
coberta que estava quase caindo de meus ombros.
A cozinha ficou silenciosa rapidamente e eu nem percebi
quando foi que todos saíram.
— E isso me deixa bem feliz — ele sorriu passando os dedos
em meus cabelos.
Meu coração disparou e um frio invadiu meu estômago quando
notei que estávamos sozinhos. Ele me aproximou de si com as
mãos por cima da coberta, abaixei a cabeça mordendo o lábio
inferior de nervosismo e Cameron levantou meu rosto pelo queixo.
— O que foi princesa? — Questionou subindo a mão pela minha
nuca.
Fechei os olhos passando a língua nos lábios enquanto tentava
controlar minha respiração e sua mão desocupada entrou por dentro
da coberta apertando minha cintura.
— Algo te incomoda? — Abri os olhos vendo um sorrisinho em
seu rosto.
Era óbvio, deixei claro que estava quase surtando e ele devia
estar amando isso. Me afastei quase que de imediato.
— Vamos assistir o filme — pedi saindo da cozinha às pressas.
Meus pais e os nenéns não estavam na sala e Kurama estava
com Isaac. Escolheram um filme de terror e sabia que Isaac aceitou
porque não dormiria sozinho hoje.
Havia vários colchões no chão, o sofá cama estava aberto, Elliot
e Natalie estavam deitados no canto e acho que o outro espaço era
para mim e Cameron.
Me sentei e ele veio logo em seguida me abraçando. Arrumei o
cobertor para cobri-lo também e ele sorriu. Era impossível focar no
filme com os meninos fazendo palhaçada.
— Aí que burra, não entra nessa porta caralho — Richard disse
para o filme.
— O filho da puta, não fala palavrão que tem criança na sala —
Brian reclamou me fazendo rir.
— Respeita a capitã, cuzão — Adam deu um tapa em Richard e
Brian.
— Oh capitã, me desculpa falar palavrão — Brian pediu
colocando a mão no coração e eu não me aguentei de rir.
— Relaxa — disse me arrumando no sofá.
Cameron me abraçou pela cintura e afundou o rosto na curva de
meu pescoço. Sua mão desceu até minha coxa e a apertou. Apertei
seu ombro respirando fundo e mordendo o lábio inferior, acabei
soltando um suspiro pesado.
— O que aconteceu? Está estranha — sussurrou roçando o
nariz em meu pescoço me fazendo estremecer.
O falatório dos meninos cobria nossas vozes e as luzes
estavam apagadas, mas conseguia ver seu rosto pela iluminação da
tv.
Dei de ombros e me arrumei no sofá trocando as posições. Ele
se deitou com as costas encostadas no sofá e eu me deitei em seu
peitoral.
— Amor? Fiz algo? — Questionou preocupado e acariciando
meu cabelo.
Virei o rosto para ele indicando que queria falar em seu ouvido,
ele inclinou um pouco a cabeça e eu aproximei meus lábios de sua
orelha.
— Não posso te olhar demais — expliquei e ele rapidamente
virou o rosto me olhando.
— Por quê? — Questionou parecendo totalmente confuso.
Estávamos tão próximos…
Meu olhar desceu até seus lábios.
— Porque senão eu vou te beijar — disparei e ele sorriu
mordendo o lábio inferior enquanto subia a mão em minha nuca.
Nossos olhares se separaram quando Jeff colocou Kurama em
meu colo. Suspirei quase que o agradecendo por tirar minha
atenção de Cameron.
Rebecca, isso ainda é um namoro falso!
Era domingo de madrugada, em torno das quatro da

madrugada quando me levantei. Os meninos do time iam dormir

aqui, mas minha avó Abigail ligou dizendo que queria ver os netos

antes de oficialmente viajar para a Suíça e exigiu que eu levasse

Cameron pois queria ver seu mais novo neto.


Me levantei animada, estava ansiosa para ver meus avós. A
casa de campo deles ficava em São Francisco, cinco horas de
viagem, e para chegarmos a tempo do café da manhã sairíamos às
cinco da madrugada.
Ajudei minha mãe a arrumar as crianças, voltei para o meu
quarto terminando de me arrumar e desci as escadas com Kurama
em meu colo. Não consigo explicar em palavras o quanto fiquei feliz
ao ver Cameron com Louis no colo.
O bebê quase sumiu em seus braços e ele o segurava com o
máximo cuidado, o olhei e seus olhos pareciam cansados, mas tinha
um sorrisinho em seus lábios.
Me aproximei colocando minha bolsa no sofá e selei nossos
lábios sem soltar Kurama. Achei estranho ele parecer tão exausto.
— Dormiu amor? — Questionei selando nossos lábios
novamente e ele negou.
— Minha mãe passou mal a madrugada inteira e só conseguiu
dormir quase agora — explicou.
— Quer ficar e descansar? Sei que vovó vai entender — afirmei
afastando uma mecha de cabelo que insistia em cair em seu rosto.
Ele colocou cuidadosamente Louis no bebê conforto com
praticidade e me puxou pela cintura. Kurama miou reclamando que
queria sair do meu colo e saiu desengonçada para a cozinha.
— Princesa — ele riu quando o olhei —, já fiquei sem dormir por
muito mais tempo, não se preocupe.
— Eu dirijo — disparei.
— Não — rebateu.
— Sim — afirmei.
— Não — ri o puxando pela nuca e ficando com os nossos
rostos próximos.
— Sim — selei nossos lábios o vendo abrir um sorrisinho e
apertar minha cintura.
— Eutocomsono — Isaac disse aparecendo enrolado em uma
manta azul, se sentou no sofá e eu o olhei —, o que foi? Perdeu o
quê? — Disparou para mim.
Cameron o olhou estranho, mas não disse nada. Papai entrou
na sala logo em seguida segurando Elô com um braço só.
— Fale direito com a sua irmã, você me vê falando assim com
ela? — Questionou o olhando sério.
Isaac negou abaixando a cabeça e eu senti as mãos de
Cameron me soltar um pouco.
— Desculpa irmã — Isaac disse.
— Tudo bem.
— Sua filha estava tentando entrar debaixo da geladeira —
mamãe disse me entregando Kurama e eu ri a pegando —, bom dia
— beijou meu rosto em seguida o de Cameron.
— Bom dia — respondemos juntos.
Kurama me arranhou como um aviso. A coloquei no bebê
conforto com Louis e ela se aconchegou com ele.
— Vamos orar antes de sairmos — papai pediu.
Meu pai sempre orava sozinho, depois com a minha mãe e por
mim e Isaac antes de sair para trabalhar ou para qualquer outra
coisa. Quando viajamos, seja uma viagem de quarenta minutos ou
cinco horas, tínhamos que orar. Gostava disso, papai dizia que pedir
proteção nunca era demais.
Orei em silêncio para que tudo ficasse bem. Alguns parentes da
minha mãe não são bem o que chamamos de pessoas boas.
Meus avós tiveram dois filhos e quatro filhas contando com a
minha mãe.
Meus dois tios, Paulo e Silas, eram gêmeos. Tio Paulo era pai
de Jeff e Nicolly, enquanto tio Silas não tinha filhos —
desconfiávamos que sim, mas ele dizia que não. Eles eram muito
amigos do meu pai e o ajudou a ficar com a minha mãe, papai os
ajuda com os negócios, mas não podia ser advogado por ser da
família, ele achava ser antiético.
Minhas tias Ada, que estava na Suíça aguardando meus avós,
era casada e não tinha filhos. Tia Mical e tia Merabe, as duas eram
casadas, se casaram com homens que tinham filhos e eles… bom,
nunca foram pessoas muito legais comigo.
Tia Mical se casou com um homem chamado Hayato, que tinha
dois filhos e os dois sempre foram maldosos comigo. Assim como
os filhos do marido de tia Merabe. Os pais deles sempre soltavam
comentários sexualizando a mim e Nicolly dizendo
que daríamos trabalho quando ficássemos mais velhas, que já
tínhamos corpo de adolescente e outros comentários. Papai e meus
tios já até avançaram para cima deles e a família se dividiu por um
tempo, eu era muito nova para entender o quão problemático aquilo
era, mas sempre ficava desconfortável com a proximidade deles.
Os filhos deles eram mais velhos que eu e Nicolly, enquanto
eles tinham dezoito, eu e ela tínhamos quinze. Agora estavam entre
dezenove ou vinte anos. Eram cinco garotos e eu e minha prima
sempre tivemos medo deles quando mais novas, não podíamos
subir as escadas de vestidos ou saias que eles sempre estavam
tentando ver algo, ficavam se esfregando na gente quando
passavam perto e era muito desconfortável, isso foi o motivo maior
da briga entre meu pai, meus tios e os maridos das minhas tias.
Além do meu pai, a única que se dava bem com meus tios era a
esposa de tia Ada.
— E que o Senhor nos dê um domingo de paz — papai finalizou
a oração.
Em coro concordamos com um amém.
Ouvimos uma batida na porta. Papai a abriu como se já
soubesse quem era.
Nicolly entrou e eu pulei em seu colo quase a derrubando.
— BECCA MINHA DELÍCIA CREMOSA — ela disse me
abraçando forte e me empurrando para a sala.
— Meu Deus que saudade! — Exclamei e ela começou a dar
pulinhos enquanto me abraçava.
Papai entrou com tio Paulo, tia Amora e Jeff entrou brincando
com Carter, o namorado de Nicolly. Meu pai quem apresentou
Cameron aos meus tios, chegou na vez de Carter e eles se
cumprimentaram como se já se conhecessem.
Eu e Nicolly nos olhamos.
— Onde eles se conheceram? — Questionou em voz baixa.
Meu pai estava conversando com meu tio.
Jeff, após me abraçar, se jogou no sofá ao lado de Isaac para
mostrar um jogo no celular; mamãe e tia Amora conversavam;
Kurama dormia feito um anjinho com Louis, ela amava ficar com ele;
e Cameron estava conversando com Carter.
— Não faço ideia — comentei.
— Cameron e Carter, precisamos falar com vocês — papai
avisou se preparando para ir à cozinha.
— Pai — eu e Nicolly falamos ao mesmo tempo chamando
nossos pais.
— Eles precisam saber, docinho — tio Paulo avisou dando um
beijo na minha cabeça, em seguida em Nicolly e acompanhou meu
pai e os meninos até a cozinha.
Me sentei abraçando Nicolly e esperando a conversa dos
homens acabar.
— Se Pollo estivesse aqui adoraria participar dessa conversa —
ela comentou em voz baixa para que tia Amora não a ouvisse.
— Sem dúvidas — ri sentindo meus olhos encherem d'água.
Pollo. Meu primo e irmão mais velho de Nicolly e Jeff.
O perdemos em dezembro do ano passado para as drogas. Era
como meu irmão mais velho enquanto morávamos no Brasil. Ele era
incrível, uma das melhores pessoas que já conheci em minha vida.
Sentia falta dele, com ele não precisávamos ter medo dos enteados
das minhas tias, ele sempre nos defendia.
Pollo me lembrava Shikamaru, preguiçoso, inteligente, defendia
quem amava, mas entre dormir e viver ele optava por dormir.
— Teve notícias de Killian? — Questionei me referindo ao ex-
namorado de Pollo.
— Está em Londres, tentando… recomeçar — explicou forçando
um sorriso.
— Ele precisa — admiti.
— Vamos? — Papai questionou voltando para a sala.
Concordamos nos arrumando. Cameron e Carter estavam
colocando algumas coisas no porta-malas quando eu e Nicolly nos
aproximamos.
— De onde vocês se conhecem? — Ela questionou ainda com
os dedos entrelaçados nos meus. Os olhei, também estava curiosa.
Eles se olharam rindo e eu franzi o cenho olhando Nicolly que
estava com a mesma expressão que eu.
— De uma festa aí — Carter disse com naturalidade.
Me questionei se ainda queria saber sobre o assunto.
— Vamos, garotada — tio Paulo disse entrando em seu carro.
Acabou que não precisei dirigir, viemos no carro de Carter e foi
bom pois Cameron dormiu um pouco durante a viagem após contar
que a festa que eles se conheceram foi da faculdade de Carter e ele
foi mesmo sendo proibido.
O dia se passou rapidamente, meus avós amaram Cameron,
toda a família na verdade, meus avós o conheciam pela família dele
ser amiga da minha há anos, mas o viram duas ou três vezes.
Descobri que ele e Carter faziam uma dupla incrível e engraçada.
— Vocês vão entrar juntos no meu casamento — Nicolly avisou
e eu concordei rindo.
Estávamos felizes e em paz até tia Mical e tia Merabe
chegarem. Meu pai, tio Paulo, tio Silas e meu avô Johnny se
olharam e a casa se encheu com os maridos das minhas tias e seus
filhos.
Cameron, que antes estava brincando com Jeff e Isaac, se
aproximou de mim sutilmente.
— Rebecca — Ricardo, marido de tia Merabe que meu pai
odiava, se aproximou de mim —, como você está grande — ele
sorriu me deixando em uma situação desconfortável — e bonita.
Ele se inclinou para me abraçar, mas Cameron não me soltou e
Ricardo recuou.
— Calma garoto, não vou levá-la embora — brincou.
Cameron se manteve sério e não fez questão de demonstrar
senso de humor.
Enquanto Carter parecia nervoso como se nunca tivesse
entrado em uma briga, Cameron esbanjava calmaria e ao mesmo
tempo firmeza diante de tal situação.
Os enteados das minhas tias apenas acenaram para mim e
Nicolly. As filhas, minhas primas, entraram e eu segurei na mão de
Nicolly.
— Se essas otárias se insinuarem como sempre fazem, juro que
vou afogá-las — disse com os dentes semicerrados.
— Elas não virão falar com a gente, você estapeou a Jackeline
na última reunião de família — relembrei e Carter riu.
Odiava reuniões de família. Não todas, mas quando estavam
todos os parentes reunidos eu odiava com todas as minhas forças.
Se estivéssemos apenas com as pessoas de antes, tia Ada e sua
esposa, estaria ótimo.
Não demorou muito para que minha mãe, com o apoio dos
irmãos, começasse a discutir com Mical, Merabe e seus maridos.
Meus avós, mesmo tendo em torno de sessenta anos de idade, não
aguentavam mais essas brigas. Eu e Nicolly os tiramos da sala de
estar e levamos para os banquinhos perto do lago, onde víamos os
peixes.
Cameron e Carter estavam conversando um pouco distante de
nós e meu avô se uniu a eles. Minhas três primas estavam na
piscina, quase nuas, se insinuando para Cameron e Carter que nem
as olhava. Eles começaram a caminhar para o campo de golfe.
— Vou ir ver seus irmãos — Nicolly avisou e eu apenas
concordei.
Vovó pegou Kurama de meu colo e começou a acariciá-la.
Minha gatinha basicamente não gostava de ninguém e vivia
arranhando Isaac e minha mãe. Mordeu Jeff e Nicolly, nunca ficava
perto de Elô, porém amava dormir com Louis, com minha avó ela
ficou tranquilamente. Com Cameron e meu pai, Kurama vivia uma
relação de amor e ódio, e comigo, era só amor, e arranhava quem
se aproxima de mim.
— Caramelinho, estou te sentindo tão longe hoje — vovó disse
me olhando e eu suspirei colocando minhas pernas em cima do
banco —, seu avô gostou muito de seu namorado, até Silas gostou
dele e olha que aquele ali não gosta de ninguém.
Sorri a ouvindo.
— Mamãe já deve ter contato que isso não é um namoro de
verdade, certo? — A olhei, ela sorriu calmamente e concordou.
— Mas também não parece ser de mentira — disse voltando o
olhar para o lago —, de longe é possível ver que esse
relacionamento é real, muito real.
— Ele ainda não me pediu em namoro… não de verdade — ela
me olhou.
— Conta pra vó, qual é o verdadeiro problema? — Pediu.
Olhei para o lago pensando um pouco.
— Não quero beijar alguém que não tenha compromisso sério
comigo — disparei.
— E você acha que ele não tem compromisso sério com você
por ele não ter te pedido em namoro?
Estava pronta para ouvir sua opinião, concordei balançando a
cabeça, ela pegou em minha mão e acariciou minha aliança.
— Isso pode ser algo simbolizando o namoro falso de vocês,
mas isso não — disse passando o dedo indicador no colar de chave.
— Filha, vocês firmaram um compromisso e nem perceberam isso.
Vi o jeito que ele te olha, você ainda não se soltou, mas ele já
estava totalmente com você.
Ela se virou um pouco me olhando e continuou:
— Sei de toda história, seu pai contou. Ele parece conversar
bastante com Cameron — ela respirou fundo —, você está cobrando
um relacionamento perfeito e sei que isso é por ser da igreja, não
adianta me falar que não, as igrejas que você frequentava no Brasil
te cobravam violentamente de ser perfeita, sei disso, já briguei com
sua mãe por frequentar aquele lugar. Mas não existe relacionamento
perfeito, não existe a pessoa certa, mas existe a pessoa que se
apaixona por você e faz de tudo para dar certo. Você e ele estão
envolvidos e compromissados, ainda não entendo do que mais você
precisa sendo que ele é o garoto que está sempre nos seus sonhos.
Arregalei meus olhos sentindo calafrios.
— Como a senhora sabe dos meus sonhos? — Questionei
incrédula.
NEM EU SABIA!
Em resposta ela olhou para o céu, sorriu e eu entendi.
— Meu doce, falei milhares de vezes a sua mãe que ela te
cobra demais e sei que tenho culpa nisso pela criação que dei, mas
isso está te afetando. Você não tem medo de beijá-lo, não tem medo
de entender que já está compromissada ou não, não está
esperando um pedido de namoro, você está assustada porque se
cobra tanto que não consegue acreditar que alguém pode gostar de
você de verdade.
Foi o necessário para que eu começasse a chorar como
criança. Ela riu tranquilamente me abraçando e me deixando deitar
em seu peito. Quando consegui parar de soluçar, me arrumei a
olhando.
— Ele me viu em uma crise de diabetes, vó, e se acontecer de
novo? Vai ficar se preocupando sempre? Vai ficar como minha mãe
toda hora querendo saber como estou? Agindo como se eu não
fosse uma pessoa normal?
— Rebecca, ele não é seus pais — disse um pouco mais rude.
— Ele te viu em uma crise, provavelmente te ajudou e aí, gostou
menos de você? Ficou toda hora querendo saber se você está bem?
Está te tratando com dó? — Neguei com a cabeça — Então, meu
doce, você tem diabetes, não há como tirar, precisa saber lidar com
isso e aceitar. Olha só para mim — pediu e eu a olhei —, seu avô já
me viu em mais crises do que consigo me lembrar, sou diabética e
isso não me impede de ser cuidada por alguém que me ama.
Mais lágrimas desceram em meu rosto. Me sentia aliviada, vovó
sabia o momento exato para ser dura comigo, mas também me
dava colo.
— Obrigada vó — a abracei.
Cameron veio correndo em nossa direção. Estava com os
cabelos bagunçados, expressão preocupada e assim que me viu, se
aproximou com rapidez e se abaixou tocando minha perna.
— Isaac disse que você estava chorando, o que aconteceu? —
Questionou me analisando e tocando meu rosto.
— Vou deixar vocês a sós — vovó avisou se levantando.
Beijou minha testa e a de Cameron como se fosse seu neto.
— Estava conversando com vovó sobre a gente — expliquei e o
vi relaxar um pouco quando se sentou no banco — e ela me disse
algumas verdades que precisava ouvir — expliquei o abraçando
pela cintura. Senti seus dedos acariciando meu cabelo.
— E o que ela disse?
O olhei e quando abri a boca para falar, Isaac estava
gargalhando com Jeff enquanto corria até nós.
— Irmã, a mãe bateu na tia Mical e na tia Merabe de novo —
avisou e correu para a casa.
Passei a mão no rosto sem conseguir segurar a risada. Eu e
Cameron entramos na casa no momento exato em que meu avô
chegou.
— JA CHEGA! Quero os cinco no meu escritório, agora — vô
Johnny disse com firmeza olhando meus tios e minha mãe.
— Mas pai… — tia Merabe tentou intervir.
— EU DISSE AGORA! — Meu avô disse ainda mais firme.
Os cinco subiram para o escritório como se fossem crianças
encrencadas.
Meu avô pegou na mão da minha avó em um gesto cuidadoso,
pediu licença e saiu.
Os maridos, enteados e filhas de tia Mical e tia Merabe saíram
da casa com os olhares atravessados em quem ficou na sala. Era
como se a parentela fosse totalmente dividida.
— Eu amo a sua mãe — papai disse se sentando no sofá.
Acabei rindo. Eu e Cameron nos sentamos de frente para ele.
Nicolly estava ensinando Carter a segurar Louis enquanto o
garotinho gargalhava em seu colo. Tia Amora estava dando mama
para Elô. Isaac e Jeff estavam comendo sobremesa, pela quinta
vez.
— Qual foi o motivo da briga? — Questionei sentindo o braço de
Cameron envolver minha cintura com sutileza.
— O marido de Mical foi falar sobre como você estava bonita,
mas daquele jeito dele — disse demonstrando incômodo e entendi
que foi com maldade —, nem deu tempo de eu abrir a boca, sua
mãe já tinha começado a falar.
— Mical foi mandar sua mãe falar baixo com o marido dela e
sobrou pra ela também. Quando Olívia disse que Mical se casou
com um tarado por interesse, sua tia explodiu e começou a querer
falar mais alto — tia Amora explicou.
— Aí mamãe deu logo um tapão nela — Isaac disse rindo
levando a colher de pudim até a boca.
— Tia Merabe foi defender e levou na cara também — Jeff
gargalhava.

Depois da conversa entre meus avós e meus tios, nos


despedimos pois não queríamos chegar em casa tarde. Vovó disse
alguma coisa a Cameron, ele riu em sua primeira fala, depois ela
disse outra coisa e ele ficou sério, em seguida a abraçou
concordando.
— O que achou da minha família? — Questionei Cameron
quando sai do meu quarto vestida com meu pijama. Ele me olhou
por inteira e voltou a olhar meu rosto.
— Tranquila — comentou —, seus avós são bem legais — me
deitei ao seu lado enquanto Kurama brincava com uma bolinha de
barbante no chão.
— Não sei nem o que dizer sobre a confusão da minha família,
sempre acontece então nem vou me desculpar, vai ter que se
acostumar — ele riu me abraçando pelos ombros. O olhei.
— Tudo bem, minha família não é muito diferente — o abracei
pela cintura —, a diferença é que normalmente algumas mobílias se
quebram, sabe? — Ri alto — Acho que é por ser família com mais
homens, minha mãe é a única mulher da família e minha tia
Adelaine na família do meu pai também, minhas tias, esposas dos
meus tios, e minha mãe nem se metem nisso — rimos juntos e ele
ficou sério. — Princesa, vou ir para a casa.
— Ah, claro — me sentei na cama com dificuldade, não queria
deixá-lo ir. — Sua mãe está melhor?
— Sim, meu pai avisou que sim, mas vou ir vê-la agora — disse
calmamente se sentando na cama.
Nos olhamos e eu o abracei. Queria que dormisse aqui, mas
não podia exigir isso. Queria questionar sobre o que minha avó
disse, mas sabia que ele não contaria.
Cameron me puxou um pouco mais me fazendo sentar em suas
pernas. Ficamos ali, abraçados até ele apertar minha cintura
indicando que queria que eu o olhasse.
— Te vejo amanhã — disse selando nossos lábios e com
cuidado tirou-me de seu colo.
Sorri forçadamente quase o puxando para ficar e ele me olhou
buscando algo.
— Se você não for agora, não vou te deixar ir mais — ameacei
selando nossos lábios.
Ele apenas riu dando um beijo em minha testa. O levei até a
porta sendo seguida por Kurama e o observei ir até sua casa.
Subi para o meu quarto me questionando: por que não o beijei
logo?
Ouvi a buzina do carro de Cameron e me aproximei da janela,
Isaac correu até ele e o abraçou. Eles brincaram de uma lutinha
rápida e Isaac entrou no carro todo contente. Sorri vendo a cena.
Cameron o levaria para a escola conforme combinou com meus
pais. Papai o cumprimentou e se despediu depois de agradecê-lo
pela ajuda.
Observei meus pais entrando em seu carro após arrumar os
nenéns. Mamãe vai deixá-los com minha tia Amora para ir trabalhar,
combinaram tudo ontem e minha mãe quis deixar o mínimo de
coisas nas minhas mãos para que eu me dedique totalmente aos
estudos.
Estava encarregada apenas de estudar e trabalhar uma vez por
semana. Como vou passar quase meu dia todo na escola me rendi
facilmente ao que minha mãe impôs.
Me sentei na cama e Kurama veio para cima de mim em um
pulo que me fez rir. Queria colocá-la dentro da bolsa e levá-la para a
escola.
Kurama era um pouco esquentadinha, no sábado arranhou
Cameron em todas as vezes em que ele começava a provocá-la. O
pior era que ele não parava, ela podia morder, arranhar e miar em
reclamação e ele não parava, parecia uma criança.
Sorri a acariciando e lembrando dele irritando-a, mas na hora de
dormir eu me aconcheguei no peitoral dele e ela do outro lado.
Me olhei no espelho e a gatinha me seguiu, ontem ela aprendeu
a me seguir para todo o canto, nem no banheiro eu tinha paz. Minha
avó se apaixonou assim que a viu e até contou uma historinha para
ela enquanto eu estava com Cameron perto do lago, Nicolly riu
contanto isso no carro.
As marcas em meu corpo felizmente sumiram. Estava pronta
para ir à escola, desci as escadas com a bolsa nas costas e Kurama
no colo. Pregaria uma peça em Nádia agora mesmo. Na terceira
série minha avó deixou uma filhotinha de cadela em casa, a escondi
na bolsa e a levei para escola, minha mãe foi chamada para buscar
a filhote. Nádia se acabou de rir quando contamos a ela.
Segui a passos silenciosos até a porta de saída, mas Nádia, a
funcionária da família, me barrou antes que eu saísse. Dei um
gritinho de susto quando ela me olhou séria em seguida olhou
Kurama em meu colo.
— Mulher que susto — disse colocando a mão no peito —,
cuide dela — disfarcei lhe entregando a gatinha.
— Bem que sua mãe disse que você faria isso — ela gargalhou.
— Deu certo na terceira série — relembrei.
Beijei a cabeça de Kurama e caminhei até a garagem.
Natalie entrou no carro assim que me viu, a deixei dirigir já que
estava com preguiça e ela sentia muita falta de seu carro — pois
estava de castigo até hoje por ter batido quando estava bêbada.
Suspirei pesadamente pensando em como seria ruim hoje.
Natalie questionou sobre meu domingo e consegui apenas
responder que foi bom. Ela estava falando sobre tia Eliza ter
vomitado muito ontem, mas que ficou bem após dormir
— Mas minha mãe ficou bem o resto do dia, um pouco enjoada,
mas bem — Natalie finalizou o assunto.
Apenas concordei, minha mente estava longe. Hoje era o dia de
os representantes dos projetos entregarem os relatórios sobre
sexta-feira e eu sentia que ninguém colaboraria comigo e Neji, isso
me deixava frustrada.
— Amiga — Natalie pegou em minha mão após estacionar o
carro —, eles vão entregar os relatórios — a olhei.
— Está tão aparente meu incômodo?
— Pra quem te conhece como eu, sim — ela riu saindo do carro.
— É — sai também e me encostei no mesmo ao lado dela, ela
me entregou a chave. — Aliás, fico feliz por tia Eliza estar bem, está
de quantos meses já?
— Três, Cameron chegou ontem e cuidou tanto dela que ela até
chorou — ri contente por essa informação. Mas aquilo significava
que ele não tinha dormido muito de novo, já que chegamos tarde da
casa de minha avó.
Falando nele, ele estava junto do time com a atenção de todos
voltado para ele enquanto falava. Ele me olhou, se desencostou do
carro e se despediu dos meninos que me olharam e acenaram,
retribui e voltei meu olhar a Cameron e Elliot.
— Bom dia minha princesa — disse colocando uma mecha de
meu cabelo atrás da orelha e eu selei levemente nossos lábios o
sentindo sorrir.
— Capitã — ouvi a voz de Melissa me chamar.
Melissa? Me chamando de capitã?
Cameron abriu espaço parando atrás de mim e me abraçando
após se encostar no carro.
— A capitã me chamando de capitã? — Brinquei a vendo sorrir.
Seu sorriso era lindo, mas seu olhar estava carregado de
tristeza. Ela olhou Cameron e abaixou a cabeça. Meu coração doeu
por essa cena porque sabia que se fosse ao contrário eu estaria
destruída em vê-lo com ela. Tentei me soltar, mas ele estava
entretido falando com Elliot e nem se quer notou o olhar de Melissa.
— Aqui o relatório de sexta — ela me entregou uma pasta azul
pastel.
Meu queixo caiu, não esperava que ela fosse a primeira.
— Qualquer coisa que precisar, pode falar comigo — completou
e abriu novamente o sorriso.
— Obrigada Melissa — sorri pegando a pasta.
— Até logo — se despediu dando uma última olhada em
Cameron e saiu.
Estava prestes a me virar quando Jasper se aproximou. Senti as
mãos de Cameron subindo e descendo em minha cintura, ele me
abraçou um pouco mais forte e beijou meu ombro me arrancando
suspiros baixos.
— E aí — Jasper nos cumprimentou e deu um toque de mão
com Cameron —, o relatório, qualquer erro foi o Brad — justificou
rindo e eu concordei.
— Jasper, precisamos conversar depois — Cameron disse com
sua voz rouca e eu me senti atordoada com a firmeza de suas
palavras tão próximas de minha orelha.
— Eu sei — Jasper também tinha um jeito firme de falar, mas
nada comparado ao Cameron — Josh não comprou nada comigo na
festa e o que eu vendi pra Peter não causaria o que causou em
Josh — alertou.
Olhei Cameron pois já tinha ciência do assunto. Ele apenas
concordou e Jasper deu um aceno com a cabeça antes de se
afastar.
Ouvi o sinal tocar. Cameron quem pegou minha bolsa e
entregou para Josh levar. Nos primeiros dias eu reclamava disso,
mas eles sempre levavam minhas coisas. Peter se aproximou, me
entregou uma salada de frutas no pote e sorriu se juntando a Eric,
que estava levando a pasta com os relatórios dos representantes.
— Não acha que está na hora de falar para os meninos pararem
de me tratar como uma rainha? — Questionei Cameron enquanto
caminhávamos atrás de todos de mãos dadas. E ele riu.
— Quem disse que eu pedi? — Indagou me puxando pela
cintura — Você tem literalmente o time aos seus pés, ajuda todos
com as notas e eles só querem te agradecer e te mimar por isso,
fazem porque gostam de você — explicou e eu me senti explodindo
de felicidade.
— Jamais imaginei estar assim, sabia? — Disse sorrindo
quando entramos na escola. Cameron me olhou.
— Nem eu — disse como se milhares de coisas passassem em
sua cabeça.
Os meninos me ajudaram a guardar as coisas no armário,
mesmo que eu não precisasse de ajuda.
— Capitã, o relatório do time está junto com os outros relatórios
— Eric avisou me entregando as pastas.
— Obrigada, Eric — sorri.
— Hora de ir, time, reunião na quadra de basquete agora —
Cameron avisou soando mais como uma ordem.
Os meninos se moveram rapidamente após se despedir de mim
e Natalie.
— Amorzinho — seu tom mudou de autoritário para manso e ele
acariciou meu rosto —, te vejo depois — disse selando nossos
lábios.
Concordei sorrindo e ele saiu com Elliot, antes ouvi seu amigo
dizer ela acaba com a sua postura, men. Ri os observando e
quando olhei Natalie, ela parecia desanimada.
— Preciso conversar com a minha amiga — disse me olhando e
senti uma dor no estômago de preocupação —, pode ser hoje
depois da escola?
— Claro amiga, sem problemas.
— As sete na minha casa então? — Questionou caminhando
comigo até nossas salas.
— Posso levar Kurama? — Ela riu.
— Claro — beijei seu rosto e entrei na minha sala após sua
resposta.
Me sentei ao lado de Calleb e ele me abraçou.
— Ei, como está? Esqueceu sua amiga esse fim de semana —
reclamei e bastou isso para seus olhos ficarem marejados.
— Eu e Josh… acho que acabou — disse abaixando a cabeça.
Abri minha boca para falar, mas fui interrompida.
— Capitã — Lana chamou, a olhei em seguida eu e Calleb nos
olhamos surpresos.
Ela parecia tão animada e leve. Isso me fez acreditar que era
uma garota legal, principalmente sem estar com Karen e Katherine.
— Aqui está o relatório do jornal, aliás, a matéria sobre sexta sai
na quarta-feira — avisou e eu apenas concordei.
Como representante, me senti frustrada. Tinha permissão para
fazer milhares de coisas na escola, intervir em projetos, opinar e
outras coisas, mas não abusava desses privilégios, não via
necessidade. Mas não tinha o prazer de ver o jornal antes dele ser
publicado e isso me deixava triste. A única que via o jornal antes de
todos, além de Lana e Calleb, era a diretora. E convenhamos, ela
amava uma fofoca e só não tolerava uma coisa: discurso de ódio.
De resto, se for sobre os casais da escola, sobre o baile, sobre
o garoto mais gostoso — que felizmente é meu namorado — ou
motivos para deixar a escola mais animada, ela apoiava.
— Posso dar uma olhadinha? — Tentei convencê-la e ela negou
rindo.
— Não senhorita — alegou indo até sua mesa.
Ela se sentou e a aula iniciou.
— Quer conversar no intervalo? — Questionei Calleb em voz
baixa e ele apenas concordou.

Peguei minha salada de frutas que havia deixado na geladeira


do refeitório, Dorotéia, uma funcionária da escola, sempre guardava
para mim.
Avisei Cameron que almoçaria com Calleb. Na verdade, pedi a
Luce para avisá-lo, ele e o time não participaram de nenhuma aula
hoje e pelo que Neji me contou, eles estavam acertando as coisas
para os próximos jogos.
Entrei no campo e percebi que os meninos do time estavam
sentados nos bancos da arquibancada conversando alto e fazendo
palhaçadas. Calleb disse que viria para cá em breve. Josh me olhou
esperando que eu estivesse acompanhada e abaixou a cabeça
coçando a nuca.
— Capitã — Adam pulou em minha frente me dando um susto.
— Aí, garoto! — Reclamei tirando o pirulito da boca — Quer me
matar do coração? — Ele riu.
— Você precisa ver nossas notas, tipo, agora — Brian surgiu ao
meu lado e eu praticamente fui empurrada para perto do resto do
time.
Me aproximei e por algum motivo todos começaram a bater
palmas gritando animadamente. Parei ao lado de Cameron que era
o único que estava em pé.
Ele me puxou pela cintura assim que me aproximei e tirou o
pirulito de minha boca colocando na sua, o olhei fingindo estar brava
e ele riu.
— Você já é doce demais pra ficar comendo mais doce,
caramelinho — brincou e eu o empurrei com o ombro.
— Babaca.
— Mandona — retrucou apertando minha cintura e rimos de
nossas palavras.
— Capitã — Jack pulou de um banco e veio até mim como uma
criança animada —, olha — e me mostrou sua prova de física.
Entreguei minha garrafinha d'água e meu potinho com salada de
frutas a Cameron que precisou me soltar para segurar as coisas.
Os demais meninos também mostraram suas provas, a nota
menor foi de 85,4 de Noah que ainda estava com o braço enfaixado
pelo jogo de sexta passada, ele não participaria da próxima partida.
Percebi que alguns garotos se inclinavam para me abraçar, mas
quando olharam Cameron, recuavam. Ri com isso, pois Cameron
estava totalmente envolvido em uma conversa com Peter e Josh
que nem estava prestando atenção em mim.
— Estou orgulhosa de vocês, meninos — disse pegando minha
garrafinha e a salada de frutas. Josh olhou para trás e eu também,
vi Calleb bem distante de nós, porém, me olhava e Cameron seguiu
meu olhar. — Espero que nas outras matérias vocês se saíam bem
também — afirmei os olhando, eles sorriram animados e
concordando.
— Ironside, vamos ir comprar algo pra comer, vai também? —
Eric questionou e Cameron concordou. O olhei confusa.
— Ironside? — Questionei e ele me puxou pela cintura quando
os meninos começaram a se afastar indo até o estacionamento.
— Seu pai me chamou assim três vezes durante o jogo —
explicou me olhando e a cada palavra ele fechava mais o braço em
minha cintura, me apertando e me puxando para si —, disse que
significa braço de ferro — ele riu — e você sabe, em Vikings o cara
foi um líder que vários seguiam e gostavam dele, que era agressivo
nas batalhas e…
— E teve várias mulheres — completei e ele me olhou rindo
sem vergonha nenhuma.
— Mas que era um guerreiro dos bons — disse como se uma
coisa anulasse a outra.
— Cheio das graças — ironizei tentando me soltar —, Cameron
os meninos estão te esperando e preciso ir falar com Calleb.
— Mas eu nem fiquei com você hoje — resmungou.
— Não me lembro de o Bjorn Ironside ser assim com as
mulheres — impliquei.
— Pra mulher ele era facinho — rebateu me empurrando contra
si pelas costas.
— Pra todas? — Parei de tentar me soltar e o olhei.
— Ah, sabe como é — provocou me soltando.
— Cameron, não me testa — ameacei me afastando dele com
pressa e o vendo rir alto.
Achei que ele não falaria nada, que não iria me contrariar até
ele me gritar quando já estava com os meninos.
— BECCA — me virei o olhando — VOCÊ É O AMOR DA
MINHA VIDA — disse abrindo os braços — NADA VAI DESFAZER
ISSO!
Antes que eu pudesse falar qualquer coisa, ele saiu com os
meninos que estavam bem animados e saíram gritando. Meu
coração estava acelerado após Cameron chamar a atenção de
todas as poucas pessoas que estavam no campo, estava
queimando de vergonha, mas isso me deixou extremamente
contente.
— Vocês são insuportáveis, sério, não aguento — Calleb
resmungou. — Ah, eu amo vocês — rimos nos sentando.
— Viemos falar de você, amigo — o olhei abrindo meu pote de
salada —, o que aconteceu?
Calleb foi rápido em explicar que brigou com Josh por ele ter
comprado drogas, sendo com Oliver ou outra pessoa, ele não
aceitava que Josh se acabasse assim. O aconselhei dizendo que
eles precisavam conversar, Calleb disse que Josh não era viciado,
nem nada, que fazia aquilo isso para se sentir descolado e esquecer
os problemas com a mãe e a irmã, Karen.
— Karen é insuportável, sabe? Mimada, egocêntrica e pior, é a
queridinha. Os pais tratam ele e ela diferente e sei que isso o deixa
triste, mas usar drogas? Becca, ele comprou LSD, ah, fala sério —
disse desanimado. — Não quero que ele entre nessa vida, inferno,
já perdi meu irmão pra isso — Calleb abaixou a cabeça e começou
a chorar.
O abracei forte. Senti meu coração doer pensando em Josh e
Peter, e com Calleb contando isso, a dor parecia ainda maior
principalmente por ter perdido Pollo para essas coisas.
— Calleb, vocês também estavam bêbados — relembrei e ele
levantou a cabeça — e você bêbado xinga até a quarta geração da
pessoa, fica descontrolado. Sobre isso, vocês precisam conversar,
sem bebidas, sem pessoas para interferir, sem drogas e sem
infantilidade.
— Nossa, eu venho aqui achando que você vai ficar no meu
lado e só levo paulada — ele riu da situação.
— Vocês são meus amigos, quero o bem de ambos — expliquei
e ele me abraçou.
— Você é uma ótima amiga — sussurrou ainda abraçado
comigo e logo me soltou pois o sinal de fim do intervalo tocou.
Entramos na escola de mãos dadas.
Olhei Calleb antes que ele fosse para o seu armário.
— Suas entidades não o avisam sobre você beber
descontroladamente e em local com muita gente? — Questionei me
lembrando do que minha avó paterna, que era espírita, me contou
sobre ter parado de beber quando soube de sua mediunidade. Ela
também disse que isso variava de pessoa para pessoa.
— Exu me deu um sermão ontem na gira — ele riu de si
mesmo, mas me olhou buscando algo. — Como você sabe dessas
coisas?
— Aí meu Deus, esqueci que sou crente, calma, me perdi no
personagem — respirei fundo fingindo estar realmente treinando
para atriz, abri os olhos e o olhei com superioridade — Exu é do
demônio — me fiz de intolerante e ele caiu na gargalhada
chamando a atenção de algumas pessoas —, minha avó paterna é
umbandista e eu sou curiosa — joguei o cabelo para o lado e beijei
meu próprio ombro.
— Você não tem noção do quanto eu te amo, você é incrível
amiga — nos abraçamos e a calmaria dele passou para mim —
preciso ir, beijos.
— Beijos — me despedi e segui para a sala de aula.
Fiquei desanimada por não ter Cameron para ser minha dupla,
mas fiquei contente por Neji guardar meu lugar.
Entrei na sala e todos me olharam. Devia ter me acostumado, a
todo tempo tinha olhares em mim aqui na escola, mas não, acho
que nunca me acostumaria. Me sentei ao lado de Neji após
cumprimentar pessoas que nunca nem falaram comigo.
— Pedi a Luce que fizesse o relatório do Fênix, mas acho
melhor você revisar — ele riu me entregando um documento.
A pasta que Melissa trouxe era muito eficaz, coloquei todos os
relatórios.
— Todos te entregaram os relatórios? — Questionei e ele
concordou.
— E pra você? — Fiz uma careta.
— Falta o do grêmio, que é um dos principais — expliquei
tentando não demonstrar minha frustração.
Karen tentaria fazer do jeito dela e eu só tinha amanhã para
revisar.
— Boa tarde, turma — disse o professor Tomlinson.

O resto do meu dia foi tranquilo. Quer dizer, monótono.


Karen cochichando coisas sobre mim com várias garotas,
pessoas passando por mim comentando algo entre si, olhares e
mais olhares. Nada de novo, mas era sempre tão irritante.
O comentário que Karen andava fazendo era de como meus
pais cristãos lidam com uma filha puritana namorando um garoto
como Cameron, ouvi Kristen e Paloma comentando que talvez eu
não fosse puritana, que com o capitão do time era impossível se
manter virgem. Calleb discutiu por isso hoje, mas era perca de
tempo.
Eric e Adam entraram em meu quarto com um frigobar pequeno
preto, igual ao de Cameron.
Deixei meu livro de história na página marcada e os encarei.
— Que invasão é essa? O que é isso? — Questionei ainda
confusa.
— Um frigobar — Cameron apareceu na porta de meu quarto
com o braço envolto dos ombros de minha mãe, quando era mais
novo ele parecia tão pequeno perto dela e agora, meu Deus,
mamãe quase sumia ao seu lado.
— Mas…
— Achei a ideia do meu genro incrível — mamãe encheu a boca
de orgulho o chamando de genro.
Ele sorriu me olhando como uma criança, com o olhar disse viu,
ela me chamou de genro e disse que minha ideia foi incrível. Ri
negando com a cabeça.
— Meninos, obrigada por trazer — mamãe agradeceu e saiu
com eles.
O frigobar estava na tomada quando me aproximei o
observando.
— Falei com seus pais, é bom pra deixar sua medicação —
suas mãos deslizaram em minha cintura — e o que você quiser.
— Minhas coquinhas.
— E a sua medicação — repetiu me puxando fazendo meu
corpo colidir contra o seu.
— Você que comprou?
— Não reclama, sei que você não gosta de ficar ganhando
presentes, mas eu quis te dar.
— Não gosto de você gastando dinheiro comigo — disse me
virando de frente para ele, ele bufou ainda com as mãos em minha
cintura.
— E eu não gosto de ouvir você reclamando — rebateu me
olhando.
— Reclamar já faz parte de mim — ele abriu um sorrisinho
maroto.
— Ser mandona também faz parte de você — o empurrei
fingindo estar ofendida.
— E ser teimoso e egocêntrico faz parte de você — ele riu se
sentando na minha cama começando a irritar Kurama que o
arranhou.
Me aproximei, ele me segurou pela cintura e quando ia abrir a
boca para falar, fomos interrompidos.
— Cameron, vem comer a torta que fiz — mamãe chamou.
Ele se levantou na mesma hora e saiu do meu quarto após
passar a mão em minha cintura.
Suspirei, hoje quase nem ficamos juntos, nem ontem na
verdade.
— Oi gostosa — Natalie disse aparecendo na porta.
— Oi delícia — a olhei e ela beijou meu rosto, em seguida se
sentou na cama.
— Dorme lá em casa — pediu, quase que implorando —, mas
comigo, nada de fugir pro meu irmão — gargalhei concordando.
— Vou sim amiga — peguei minha bolsa própria de colocar
minha medicação. — Não estava indo dormir com você porque Elliot
sempre estava lá.
— É, ele sempre está lá — disse como se aquilo a
incomodasse.
Kurama arranhou meu pé chamando minha atenção.
— Vem neném — a peguei no colo.
Já entendia o problema de Natalie, mas esperaria o momento
certo para conversarmos.
Ficamos um tempinho mexendo no celular deitadas em minha
cama e brincando com Kurama às vezes. Arrumamos minhas coisas
e descemos as escadas, os meninos tinham ido embora. Avisei
minha mãe de que dormiria fora e caminhamos até a casa de
Natalie e ela pegou Kurama de meus braços assim que entramos.
Passamos pela sala e o cachorrinho que estava no colo de

Cameron no sofá correu até mim começando a me cheirar. Em

seguida, começou a fazer voltas ao meu redor e pulou em mim. Me

abaixei rindo e me sentando no chão.


— Oi neném — brinquei afinando a voz.
Enquanto o acariciava fui pedindo a Deus que com a companhia
de Floki, Cameron conseguisse ter noites de sono em paz. Floki
começou a pular ainda mais em mim. Sorri brincando com ele, meu
coração ficou tranquilo e então entendi que Deus ouviu minha rápida
oração.
— Chega Floki — Cameron disse firme e o cachorro correu até
ele.
Nos olhamos por instantes e Natalie suspirou indo até Cameron.
— Ok, vou liberar ela por alguns minutos, mas depois ela é
minha — disse séria e Cameron sorriu. Me levantei do chão.
— Estou aqui ainda — murmurei me aproximando de Cameron
e ele pegou em minha mão entrelaçando nossos dedos.
— Depois você sobe, sabe o caminho do meu quarto ou só
sabe o do Cameron? — Questionou séria, mas começamos a rir.
— Otária — fiz uma careta sentindo as mãos dele deslizando
em minha cintura.
— Vem Floki, vamos amigar — Natalie o pegou com a outra
mão.
Floki estendeu a patinha para tocar em Kurama, ela bateu em
sua pata como se não quisesse contato e ameaçou arranhá-lo.
— Meu Deus, tem as personalidades dos donos já — Natalie
brincou subindo as escadas.
Cameron me puxou antes que eu pudesse o olhar. Cai sentada
no sofá e ele me puxou pela nuca selando nossos lábios. O desejo
de antes veio como uma onda furiosa, eu precisava beijá-lo e como
estava sentindo sua falta.
— Percebi uma coisa — ele disse sem quebrar nossa
proximidade e beijou minha bochecha até meu pescoço.
— O quê? — Arranhei levemente seu braço que apertava minha
cintura.
Senti meu corpo todo se arrepiar quando ele aproximou os
lábios de minha orelha. Fechei os olhos sentindo seu cheiro invadir
meu olfato, senti um frio no estômago enquanto sua mão me
apertava mais e deslizava em minha cintura.
— Que eu sou péssimo em ficar longe de você — sussurrou em
meu ouvido e cada músculo de meu corpo se contraiu com suas
palavras.
— Eu também descobri uma coisa — disse e ele ficou me
olhando, esperando que eu continuasse — minha vontade de te
beijar é maior do que eu imaginava — disparei.
Ele me olhou surpreso, meus olhos emitiam um pedido, tinha
certeza, porque ele, sem aviso, selou nossos lábios com
graciosidade.
Tirou os óculos de meu rosto com calma e novamente colou os
lábios nos meus.
Abri a boca deixando que sua língua massageasse a minha com
calma. Subi a mão em sua nuca o puxando mais para mim e seus
braços me envolveram por completo em um abraço forte.
Milhares de sentimentos envolvidos em um beijo, era impossível
explicar. A mão de Cameron entrou em minha blusa de frio, mas não
por dentro da camiseta fina que estava por baixo. Ele me apertou
um pouco mais sem quebrar o beijo.
Não sabia quanto tempo tinha durado, mas foi o suficiente para
nos deixar ofegantes e com um desejo dele surreal.
Seus lábios desceram até meu pescoço fazendo meu coração
disparar, senti sua respiração quente seguida por seus beijinhos e
puxadas de cabelo que me faziam inclinar a cabeça para trás.
Respirei fundo e me arrumei no sofá me afastando dele. Ele me
olhou confuso e eu tentava controlar minha respiração enquanto
arrumava meu cabelo. Coloquei meus óculos e o olhei abanando
meu corpo com as mãos.
— Ok, talvez eu tenha me perdido aqui, mas já voltei. Lembrei
que vim para ficar com a minha amiga — relembrei, ele bufou
encostando as costas no sofá e passando a mão no rosto, porém,
logo sorriu.
— Você não recuou, nem pensou duas vezes em me deixar te
beijar — comentou com os olhos brilhando, mas ficou sério — estou
te pressionando? Por isso deixou?
— Claro que não — me aproximei novamente e abracei suas
pernas dobradas. — Sei que há coisas a serem resolvidas e que
concordamos em esperar, tenho meus princípios, mas — peguei em
sua mão entrelaçando nossos dedos — não tenho dúvidas de que
você quer que isso dê certo, assim como eu. Não acho que estamos
vivendo um vamos ver no que vai dar, e essa era a única coisa que
não queria, você acha que estamos vivendo um talvez?
— Tenho plena certeza de que é com você que vou me casar,
minha princesa — ele acariciou meu rosto com a mão desocupada,
me puxando para outro beijo.
Quando afastamos nossas bocas, ele disse:
— Vou ficar alguns dias longe — o olhei confusa — não vai ser
agora, mas hoje passamos o dia todo conversando com os
patrocinadores do time, a diretora e o treinador. Teremos um jogo
agora em maio e dois em junho. O último jogo de junho que fechará
a primeira temporada será na escola do time rival.
Comecei a deslizar minhas unhas em seu braço o vendo
estremecer e sorrir, ele continuou:
— O último jogo vai ser na quinta-feira, depois disso nós e o
outro time vamos conhecer a liga de futebol americano de Nova
Iorque, vamos ficar por lá sexta, sábado e domingo, voltaremos na
madrugada de segunda para as férias de verão — explicou.
Senti vontade de chorar ao pensar em ficar longe dele por tanto
tempo e isso me fez entender o quão apegada estava.
— Entendo — disse o abraçando e ficando ali, aconchegada em
seu peitoral.
Ele beijou minha cabeça enquanto acariciava meu cabelo.
— Vai ser rápido, minha pequena — disse em meu ouvido me
abraçando forte.
— Você precisa aproveitar o máximo essa viagem — o olhei e
selei nossos lábios. — Vai ser ótimo pra vocês.
— Sim — ele se animou —, os patrocinadores de Stanford
sempre estão por lá.
Meu coração se aqueceu com essa informação e eu sorri
passando os dedos em seu rosto. Daria certo, sabia disso,
precisava dar certo!
— Preciso ir falar com a Nat, Cam — avisei tentando me
levantar, mas ele não me soltou.
— Pode falar uma coisa a ela quando vocês entrarem no
assunto? — Pediu olhando em meus olhos e eu balancei a cabeça
positivamente — Pra ela ser ao menos cuidadosa com Elliot quando
for terminar com ele, vai ser horrível porque ele está muito
apaixonado — sua fala era carregada de tristeza.
De imediato entendi tudo. Natalie terminaria com Elliot, Elliot era
o melhor amigo de Cameron, isso o faria ficar dividido, mas ele
entenderia a irmã por não querer algo. Devia ser horrível essa
sensação.
— Ah, amor — acariciei seu rosto — sinto muito por você estar
nessa situação, mas falarei com ela.
— Não devia te pedir algo assim, mas acho que ela vai te
escutar e não quero que ela saiba que Elliot conta essas coisas pra
mim.
— Bê — levantei seu rosto pelo queixo —, Natalie vai saber
falar com ele porque é isso o que ela desejaria se fosse eu falando
com você ou você falando comigo — ele me olhou tentando
disfarçar que a situação o deixava mal.
Cameron achava mesmo que sempre conseguiria esconder
seus sentimentos?
— Se está nos seus planos se livrar de mim, esqueça, não
estou a fim — ele disse gesticulando. Sorri o olhando.
— Conversaremos depois, pode tentar, mas não vai conseguir
fingir que está tudo bem estando em uma situação que claramente
te incomoda — afirmei me levantando, mas me inclinei apoiando
minhas mãos em suas coxas e ficando próxima de seu rosto — não
precisa fingir, Cam, não comigo — selei nossos lábios e ele pareceu
pensativo.
— Se conseguir escapar, a porta do meu quarto estará aberta
pra você, amor — avisou quando eu estava para subir as escadas.
Sorri em resposta. Eu e ele sabemos que não trocaria amizade
e estaria com Natalie até quando dissesse que não me queria com
ela.
— Finalmente, né bonita — ri me jogando em sua cama e
Kurama se aconchegou em mim. — Olha, comprei uma caixinha de
areia pra neném — ela apontou para o canto do quarto onde tinha
uma caixinha rosa de areia.
— Ah, que lindo — a abracei.
Natalie se deitou e apoiou a cabeça em minha barriga e
assistimos um filme por um tempo. Nossa atenção se voltou para a
porta quando Cameron apareceu abrindo a mesma.
— Vem Floki — chamou e o cachorrinho correu até ele — vou
levá-lo para passear.
— Agora de noite? — Natalie disse se sentando na cama.
— Não, agora de manhã — rebateu com sarcasmo.
— Achei que você era esperto o suficiente pra diferenciar o dia
da noite, Cameron — rebati brincando com Kurama e Natalie soltou
uma risadinha.
Levantei meu olhar, Cameron me encarava com um sorrisinho
nos lábios e os olhos semicerrados.
— Não comecem — Natalie pediu antes que ele rebatesse e
provavelmente iríamos começar com uma provocação sem fim —,
por favor — ela riu.
— Beleza, estou indo — Cameron disse entrando no quarto,
deu um beijinho na testa de Natalie e selou nossos lábios antes de
sair do quarto.
Suspirei o observando partir.
— Você tá muito apaixonada — Natalie disse me tirando de
meus pensamentos.
— Ah — suspirei —, eu tô, não tô? — A olhei.
Devia estar com uma cara de boba agora.
Balancei a cabeça na tentativa de afastar todos os meus
pensamentos.
— O que aconteceu amiga? — Questionei enquanto Kurama
brincava com os meus dedos. Achei graça ela tentando morder
minhas unhas e minha aliança.
Natalie pareceu pensar em diversas maneiras de começar essa
conversa. Parou, pensou, me olhou, olhou para o nada e quando
novamente me olhou começou:
— Elliot é muito, muito, muito grudento — ela suspirou
desanimada e se encostou no travesseiro — chega a ser
insuportável, ele fica querendo me agradar o tempo todo, sempre
concorda com tudo até quando não é pra concordar, se esforça
tanto que acaba sendo chato. Parece que é dependente de mim,
não gosto disso. E quando começo a entrar no assunto ele começa
a fazer drama, se vitimiza e ainda quer colocar outra pessoa no
meio.
— Outra pessoa?
— Andrew — disse seu nome como se fosse um peso —, fica
achando que eu vou largá-lo para ficar com Andrew — peguei em
suas mãos entrelaçando nossos dedos — eu… — meu cérebro
pareceu congelar quando ela parou de falar.
— Você…
— Ainda gosto de Andrew — assumiu.
— Então o problema não é Elliot, é você — ela engoliu em seco
— quer dizer, ele pode ser de fato grudento e isso é bem chato
mesmo. Mas quando você gosta de alguém também é grudenta,
amiga. A questão é que você queria que Andrew fosse grudado em
você, sinto muito, mas acho que isso é uma coisa que não deveria
esperar dele.
Ela me analisou por instantes. Pelo jeito percebeu que eu não
concordava em simplesmente trocar um pelo outro, não era assim
que as coisas funcionavam.
— Não vou fazer trocas, amiga, mas não é certo usar Elliot pra
tentar esquecer Andrew.
— Ah… — suspirei aliviada — odiei pensar nessa ideia de
descartar Elliot como se fosse nada — disparei e ela negou de
imediato.
— Quero meu espaço. Gosto de Andrew, mas sei que ele não é
pra mim, não vou me sujeitar a ser apenas sua diversão, mas
preciso saber — ela pensou um pouco — ele… ele já falou de mim?
— Questionou com o olhar carregado de esperança.
Escolhi bem minhas palavras e a olhei.
— Não vou ficar no meio disso, por favor, não me coloque nisso
— ela murchou como uma flor e suspirou.
— Sabia que você não ia falar nada sobre ele — rendeu-se —,
mas eu precisava tentar — e forçou um sorriso.
— Quando vai falar com Elliot?
— Dói bastante isso, sabe? — Ela pensou um pouco — Vou
falar com ele amanhã! — Afirmou determinada e triste. — Vamos
fazer um bolo de cenoura, esse assunto me deixa deprimida —
pediu se levantando rapidamente.

Me soltei de Natalie com cuidado e sai de seu quarto, estava


morrendo de sede. Kurama continuou dormindo em cima da cabeça
de Natalie, uma cena extremamente fofa.
Desci as escadas a passos silenciosos, mesmo sabendo que tia
Eliza e tio Arthur não estavam em casa, não sabia se Cameron
estava dormindo.
Cheguei na sala e minha resposta foi respondida, ele estava
assistindo Vikings. Me dirigi até a cozinha, peguei um copo d'água e
me sentei na bancada. Não queria atrapalhar, ele parecia
confortável e quase dormindo com Floki no colo.
Meu pensamento foi até minha conversa com Natalie. Não
acreditava muito que ela ficaria sozinha, mas se ela voltasse com
Andrew, não sabia como seria. Ela parecia saber dos sentimentos
de Andrew, mais do que eu sem dúvidas. O problema não era eles
terem um relacionamento, mas ele claramente ficaria com ela por
diversão, como foi da última vez e ela se sujeitaria a isso porque
gostava dele.
Não era justo. Ela ficar com ele por sentimento e ele por
diversão. Mas sabia que Natalie podia ser bem insistente em algo e
Andrew cairia facilmente nos encantos dela. E ainda tinha Elliot,
meu Deus, ele vai ficar tão mal.
Natalie chorou por quatro horas em meu colo, disse que era por
causa dos filmes, mas sabia que ela não estava bem. Tudo o que
pude fazer foi ficar ao seu lado, a deixando chorar.
— Sem sono, minha princesa? — A voz de Cameron invadiu
meus ouvidos e tudo pareceu sumir. Sorri sentindo a calmaria me
dominar.
— Não, só estava com sede — me virei para ele.
A luz baixa da cozinha me permitiu ver seu rosto e seu corpo,
ele estava apenas com um short fino azul royal, droga! Por que tão
lindo?
— Natalie já te derrubou da cama? — Questionou quando me
levantei e ele não me deixou sair; rimos, Natalie realmente se mexia
demais.
— Não, mas estou toda dolorida — fiz uma careta colocando o
copo na bancada — ela chutou minhas costas três vezes e nem me
pergunte como — ele conteve a risada colocando a mão na boca.
— Posso te ajudar — afirmou e, com as mãos na minha cintura,
ele me virou de costas.
— Não precis… — parei de falar quando ele começou a apertar
levemente minhas costas bem onde estava dolorido.
Ele continuou até subir as mãos em meus ombros os apertando
e eu suspirei aliviada e fechando os olhos. Depois de mais alguns
apertos, Cameron desceu os dedos carinhosamente pelos meus
braços me fazendo arrepiar. Em seguida, suas mãos apertaram
minha cintura e ele me puxou para si, afastando meu cabelo dos
ombros e da nuca e começou a dar leves beijinhos em meu
pescoço.
Me virei de frente o fazendo parar, o vendo sorrir e colocar as
mãos na borda da bancada, me deixando sem saída.
— Melhorou? — Questionou olhando meus lábios.
— Sim, obrigada — sorri beijando sua bochecha — está na hora
de dormir — resmunguei e ele concordou sem se mexer.
E sorriu, desceu os olhos admirando meu corpo e me olhou nos
olhos novamente. Tentei controlar minha respiração, como podia ele
ser tão respeitoso, cauteloso, um príncipe e ao mesmo tempo me
olhar com esse jeito safado?
— Seja lá o que você está pensando — levantei seu rosto pelo
queixo antes que ele descesse novamente os olhos — para!
Ele gargalhou me abraçando pelos ombros.
— Foi tudo bem com Natalie? — Questionou me puxando para
a sala.
— Sim, mas preciso voltar pro quarto, conversaremos depois —
avisei e ele me olhou concordando.
Lhe dei um selinho e subi as escadas. Quando fui para abrir a
porta do quarto de Natalie, ela estava trancada. Percebi que Floki
me seguiu.
— Amiga? — Bati na porta e Floki latiu.
A porta se abriu.
— Anda neném da tia, vem dormir comigo e deixa seus pais —
Natalie disse e foi o tempo de Floki entrar para ela quase fechar a
porta e ficar com a cabeça para fora —, amiga, vai dormir com ele,
sei que você prefere os abraços dele do que os meus empurrões —
ela riu alto.
— Não precisa fazer isso, Natalie, deixa eu… — ela bateu à
porta na minha cara — sua mal-educada! — Exclamei ouvindo sua
risada e a fechadura se trancando.
— Te amo, mas sei que você vai querer insistir e eu prefiro ficar
com os animais — disse do outro lado da porta me fazendo rir.
— Para de fingir, não precisa fazer isso Natalie.
— Não vou repetir dona Rebecca, não venha de escândalo
agora de madrugada — ela debochou.
Acabei rindo e ficando em silêncio ainda encostada na porta
esperando que isso a fizesse abrir e me deixar entrar.
— Vai dormir, Becca — pediu.
— Vai ficar bem? — Questionei vendo Cameron aparecer no
corredor com olhar interrogativo.
— Sim amiga, boa noite — respondeu e Cameron caminhou até
seu quarto.
— Te amo.
— Te amo, AGORA ME DEIXA DORMIR — gritou do outro lado.
Achei graça e me dirigi para o quarto de Cameron, parei na
porta o vendo se arrumar na cama.
— Acabei de ser expulsa — fingi que ia chorar e ele riu me
convidando para me deitar ao seu lado.
— Queria dizer que estou triste, mas não estou — disse quando
me deitei.
Ri o abraçando. A tv de seu quarto estava ligada passando um
filme aleatório.
— Cam? — Chamei após minutos olhando a televisão.
— Oi — ele disse brincando com os meus dedos e eu o olhei.
— Acha que Elliot vai ficar muito mal? — Ele me olhou e apenas
balançou a cabeça positivamente.
— Principalmente porque ele sabe que ela gosta de Andrew e,
bom, Andrew não tem nada a perder — explicou, mas sua voz
continha uma certa irritação.
— O que você pensa disso?
— Muitas coisas, mas não posso interferir em nada, Elliot vai
ficar bem — deu de ombros, quando abri minha boca para falar ele
começou a coçar os olhos — amor, acho que tem algo de errado
com os meus olhos.
— O quê? — Me sentei na cama ligando o abajur para ajudá-lo.
— Tem algo de errado com os meus olhos — ele passou os
dedos nos olhos e fechou os forçando enquanto se deitava na
cama, joguei meu cabelo para o lado para que não me atrapalhasse.
— Não consigo tirar eles de você — disse me olhando.
Passei a mão no rosto rindo envergonhada e Cameron me
puxou selando nossos lábios com um sorrisinho no rosto.
— Besta — reclamei dando outro selinho nele, meu cabelo veio
para frente e novamente o joguei para o lado.
Cameron engoliu em seco me olhando como se um fio tivesse
se soltado em sua mente. Suas bochechas coraram de imediato, ele
pareceu perdido, como se tivesse dado curto-circuito e piscou
algumas vezes com lentidão.
— Puta merda — reclamou virando de costas —, boa noite
Rebecca — disse com a cara enfiada no travesseiro e puxando a
coberta.
— Mas am…
— Boa noite Rebecca — repetiu.
Pensei um pouco tentando entender o que tinha feito. Foi a
jogada de cabelo?
Acabei rindo. Me levantei pegando o controle e desligando a tv,
peguei Cameron me espionando e novamente ele afundou o rosto
no travesseiro.
Eu estava gargalhando por dentro. Então isso era mais uma
coisa que acabava com a postura dele?
Me deitei novamente em sua enorme cama, desliguei o abajur e
o abracei sendo a conchinha maior. Nem parecia o capitão que saia
batendo em todo mundo.
— Boa noite, amor — beijei seu ombro e me deixei dormir após
sentir seu braço envolvendo o meu.
Era quarta-feira e para variar Karen não tinha me entregado o
relatório de sexta. O que me confortava era que a diretora precisou
resolver algumas coisas e a reunião comigo e Neji ficou para
amanhã.
Perdida em meus pensamentos, ainda olhava meu guarda-
roupa em busca de uma roupa confortável. Era primavera, mas
estava bem abafado e quente.
Coloquei uma regata preta de alças bem finas que, felizmente,
não precisava usar sutiã e mostrava um pouco da barriga. Vesti uma
calça jeans azul claro rasgada, um tênis preto e soltei o cabelo.
Desci as escadas sendo seguida por Kurama após aplicar
minha medicação, peguei uma pera da fruteira e me despedi da
minha neném.
— Não vai tomar café? — Mamãe questionou quando coloquei
Kurama dentro do bebê conforto de Louis.
— Tomo no caminho — avisei. Beijei seu rosto em despedida,
beijei os nenéns e sai.
Entrei no carro de Natalie e fiquei extremamente feliz por seu
castigo finalmente ter acabado. Desde que eu cheguei em Los
Angeles, ela estava sem o carro porque dirigiu bêbada e bateu em
uma árvore, por sorte ninguém saiu machucado.
— Você tá linda! — Disse assim que entrei — Uma grande
gostosa! — E beijou meu rosto.
— E você é uma grande gostosa — retribui o sorriso —,
podemos passar na Coffee Village?
— Claro — disse dando partida.
Paramos na cafeteira, pegamos nossos pedidos no drive-thru e
partimos para a escola.
— Então, vai falar com Elliot hoje mesmo? — Questionei
abaixando o volume do rádio e mordendo meu croissant.
— Não sei. Ia falar ontem, mas não consegui parar pra nada,
precisei cobrir o ensaio do coral e do teatro, não sei como vai ser
hoje — explicou com tranquilidade.
Ela não parecia tão mal como estava na segunda. A olhei
quando estacionou o carro.
— Quando dormi na sua casa na segunda — ela me olhou —,
você realmente queria ficar sozinha? Ou só fez aquilo por causa de
mim e seu irmão? — Ela riu.
— Amiga, eu te amo muito, mas precisava chorar sozinha —
disse entrelaçando nossos dedos — e você ficou ali comigo, o
tempo todo secando minhas lágrimas, deu seus conselhos, mas não
me julgou. Sabia que era hora de você descansar e só com
Cameron isso seria possível — sorri a ouvindo. — Obrigada,
mesmo.
Apenas concordei balançando a cabeça e nos abraçamos.
Saímos do carro juntas e eu quis me esconder quando senti todos
os olhares em mim. As garotas me olhavam com uma mistura de
raiva, surpresa, inveja e ódio e os meninos ficaram boquiabertos.
Olhei meu próprio corpo.
— O que tem de errado comigo? — Questionei quase voltando
para dentro do carro.
— Você é uma grande gostosa — ela riu — e só usa roupas
folgadas, ninguém imaginava que seu corpo era assim. Fica
tranquila. Preciso ir falar com Lana, ela quer que eu faça algumas
fotos hoje — explicou, beijou meu rosto e nos despedimos.
Ignorei todos os olhares, mas ouvi um garoto dizer "nunca vi
uma nerd tão gostosa", e outro dizendo "se eu pegasse uma dessa
ia deixar de cadeira de rodas", senti vontade de vomitar com esses
comentários. Algumas garotas disseram que estava explicado o
motivo de Cameron estar comigo.
Suspirei os ignorando.
Estava ansiosa para ver o jornal de hoje, mas só sairia na hora
do intervalo.
Peguei meus livros de dentro do carro e antes que pudesse
fechar a porta, os meninos do time se aproximaram como soldados.
Eles me olharam rapidamente por inteira e desviaram os olhares na
velocidade da luz.
— Gente — ri quando Eric pegou meus livros —, não precisa —
comentei e antes que pudesse argumentar, já estava sem segurar
nada, apenas o celular e minha garrafinha d'água.
Neguei com a cabeça os olhando aos risos e Calleb se
aproximou de mim.
— Meu sonho é isso — ele apontou para os meninos que
seguravam minhas coisas.
Nos olhamos rindo. Observei o estacionamento a procura de
Cameron, mas não o encontrei. Ao invés disso, percebi mais olhares
em mim. Algumas meninas, como Katherine e Karen, me olhavam
com raiva, nojo e outras coisas ruins. Já garotas como Melissa me
olhavam como se quisessem se aproximar, mas não sabiam como.
— Amiga — Calleb pegou em minha mão e me fez dar
uma rodadinha —, se eu gostasse da sua fruta te pegava, meu
Deus, você é linda!
— Obrigada — beijei sua bochecha o abraçando —, também te
pegaria se você gostasse da minha fruta — ele riu alto.
— Estou super ansioso pro jornal de hoje — comentou quando
começamos a caminhar para a escola —, está incrível! Quer dizer…
algumas coisas estão incríveis — disse em um suspiro.
— Me conta o conteúdo do jornal e eu digo se esperava ou não
— o olhei esperançosa enquanto ele negava com a cabeça.
— Não adianta tentar, monamur — riu com graciosidade quando
paramos em meu armário.
Fiz biquinho rindo logo em seguida.
— Capitã — Adam chamou se aproximando e me entregando
os livros.
Os coloquei no armário e Eric me entregou minha bolsa.
— Obrigada meninos — disse sorrindo.
Eles também sorriram e se despediram, voltei meu olhar a
Calleb.
— Eles estão lutando contra eles mesmos pra não te olhar toda
— disse me fazendo o olhar confusa —, olha — ele apontou com a
cabeça para Eric e Adam que me olhavam.
Quando os olhei, eles abaixaram a cabeça e andaram até seus
armários meio que se atropelando e conversando alto, mas ainda
sim se viraram para me olhar.
— Se você não namorasse ia ser disputada entre eles — olhei
Calleb fazendo uma careta.
— Becca — Neji chamou e, também, me olhou por inteira —
uau — murmurou, Calleb estava boquiaberto e riu.
— Tudo bem? — Questionei e ele concordou após me abraçar.
— A reunião com Georgia e Anthony será na sexta, não vamos
ficar com falta e a diretora vai junto.
— Tudo bem — concordei o olhando.
— Vejo você mais tarde — se despediu e acenou para Calleb
enquanto se afastavam.
— Você e Josh já conversaram? — Questionei pegando meu
livro de história antes de ouvir meu amigo fazer algum comentário
sobre Neji.
— Estou evitando ele por enquanto.
— Quer conversar sobre isso? — Ele negou com a cabeça.
— Acho que se eu te roubar mais uma vez no intervalo o
capitão não vai gostar — disse rindo e eu franzi o cenho.
— Pelo menos hoje ela pode ficar comigo? — A voz rouca dele
fez meu coração disparar.
Senti suas mãos deslizando em minha cintura até minha
barriga, ele me puxou para si e beijou o topo de minha cabeça. Virei
o rosto sorrindo, fechei meu armário e me virei totalmente para ele.
Calleb saiu discretamente.
— Bom dia minha princesa — disse selando nossos lábios.
— Bom dia meu príncipe — sorri envolvendo meus braços por
cima de seus ombros.
Ele me afastou com as mãos em minha cintura me fazendo
solta-lo e seus olhos desceram e subiram me observando por
inteira.
— Meu Deus — ele murmurou boquiaberto e me puxou para si
novamente —, eu tenho a garota mais linda desse mundo em meus
braços — abri um sorriso selando nossos lábios e ele parecia
atordoado.
Abri a boca para falar, mas a fechei quando uma voz falou mais
alto.
— Tá comendo bem, hein capitão — um garoto enorme com
uniforme do time de outra escola disse com um sorriso maldoso.
Os meninos do time que ainda estavam no corredor olharam o
garoto, Cameron mudou seu olhar e se virou o encarando.
— O que disse? — Questionou desacreditado das palavras que
ouviu e eu apertei seu braço.
E lá vamos nós...
O garoto não teve tempo para responder, Cameron com apenas
um olhar deu uma ordem aos garotos do time Warriors, eles riram e
Peter colocou a mão no ombro do garoto.
— Vem com a gente — disse calmamente.
— Mas… — O garoto foi interrompido por um aperto forte em
seu ombro logo cedendo ao pedido de Peter e saiu caminhando
com Adam, Eric e Josh.
— Gente… — me impulsionei para frente, mas Cameron me
segurou — Cameron?
— Fique tranquila, não vão bater nele, vão só… — ele sorriu —
dar um aviso.
— Mas…
— É sério minha princesa — ele colocou as mãos em minha
nuca —, eles só vão dar um aviso — repetiu.
— E você quer que eu acredite que eles não vão bater no
menino? — Cameron riu em resposta. — Aviso do quê?
— As pessoas não podem falar da capitã do time e ficar numa
boa — disse colocando a mão em minha cintura, abri a boca para
falar, mas ele selou nossos lábios me calando. — Olha, amorzinho,
os próprios meninos quem decidiram isso e eu apenas concordei —
explicou afastando meu cabelo dos ombros.
— É claro que concordou — respirei fundo —, mas não quero
eles se envolvendo em confusões por mim.
— Pode parar um pouco de se culpar por coisas que claramente
não dependem só de você e simplesmente ficar feliz por ter gente
que gosta de você e quer te defender a todo custo? — Questionou
com tom sereno e minha fala simplesmente sumiu. — Eles gostam
de você, gostam de te defender e qual é o problema? Eu não passei
nenhum dever a eles, então os deixe fazer o que querem.
Soltei a respiração calmamente e ele beijou minha testa.
— É tudo muito novo pra mim, nunca tive um time todo me
defendendo e nem um namorado que fica brigando por mim — ele
sorriu maravilhado ao me ouvir.
— Pois se acostume — disse selando nossos lábios. — O time
está marcando de ir pra casa de campo dos meus avós, o que
acha?
— Por mim tudo bem — beijei seu rosto e ele sorriu como uma
criança.
— Vai ficar comigo no intervalo ou preciso marcar horário na sua
agenda? — Questionou pegando minha bolsa e colocando a alça
em seu ombro.
Senti uma pequena alfinetada e acabei rindo, o intervalo do dia
anterior eu tinha passado com Luce e o de segunda com Calleb.
— Acho que tem horário pra você — fingi olhar minha agenda
imaginaria e ele fez cara de tédio.
Ele estava a coisa mais linda com a minha bolsa rosa claro.
Entrelacei nossos dedos enquanto caminhávamos. As pessoas
nos encaravam sempre que chegávamos, só faltavam se curvar e
chamar de majestade.
Era cômico suas reações, nunca mudavam e parecia que a
cada dia que passava eles buscavam algo mais em nós sendo já
fazia quase dois meses de namoro… falso.
— Não vamos ficar no refeitório — avisou me puxando pela
cintura.
— Biblioteca?
Entramos na sala e Cameron cumprimentou algumas pessoas,
a todo tempo com a mão em minha cintura.
Uma garota tentou se aproximar para abraçá-lo, mas seu braço
me envolveu me levando até nossos lugares. As garotas ainda
estavam nessa?
Me sentei na cadeira do canto, ele ao meu lado e colocou minha
bolsa em cima da mesa.
— Biblioteca — iniciou puxando minha cadeira me aproximando
dele e envolveu os dois braços em minha cintura —, última fileira
onde ninguém vai, pra mim está ótimo — disse beijando meus
ombros e afastando meus cabelos.
— Primeira fileira, onde podemos conversar com a bibliotecária
— o corrigi estremecendo um pouco quando senti seus dedos
brincando com a alça de minha blusa, como se fosse abaixá-la a
qualquer instante.
— Prefiro minha ideia — disparou.
O olhei e aproximei meus lábios de seu ouvido.
— Não vou te beijar aqui na escola — avisei em voz baixa.
— Nenhuma vez? — Questionou beijando a curva de meu
pescoço.
— Nenhu… — minha voz falhou, precisei respirar fundo mais de
uma vez e mesmo assim não adiantou.
Ele começou a passar os dedos em minha nuca enquanto eu
inclinava a cabeça para o lado.
Cameron parou suas carícias com um sorriso malicioso e
contente por ver o que causava em mim. E eu ainda caía nos
joguinhos dele.
— Bom dia turma — o professor cumprimentou entrando na sala
—, página 373 — disparou apagando as coisas escritas na lousa.
Tirei meu caderno da bolsa, meu estojo e Cameron abriu
o meu livro de história.
— Cadê o seu livro? — Questionei em voz baixa.
— Não trouxe — disse dando de ombros com seu jeito
despojado e procurando a página 373.
— Você é um folgado! — Reclamei pegando meu livro.
— E você o amor da minha vida — o olhei e ele sorriu olhando
meus lábios. Tentei não rir, mas foi impossível.
— E você o meu amor, mas não vou aturar suas folgas. Quer
ser assim? Pois folgue com outra pessoa! — Alertei observando o
livro.
Cameron era cheio dessas de esquecer o livro, esquecia
caderno, lápis, borracha, TUDO! Assim não dava.
Eu dividiria meu livro sem problemas, mas antes precisava
provocá-lo um pouco.
Ele me olhou com seu sorrisinho maroto nos lábios.
— Beleza — e se virou para Aaron e Lucca, dois garotos nerds
da sala, gostava deles, eles sempre tiravam dúvidas comigo nas
aulas. — Aaron, me empresta seu livro — pediu.
Meu queixo caiu quando o garoto entregou o livro a ele quase
que de imediato. Cameron olhou Lucca e ele tirou um caderno fino
da bolsa e o entregou.
— Aí, eu não acredito! — Resmunguei me recostando na
cadeira.
— Valeu aí — Cameron abriu o livro e me olhou —, que foi?
— Você é um folgado — reclamei.
Ele abriu a boca para retrucar, mas o professor foi mais rápido
em começar a aula. Senti sua mão deslizando em minha coxa, a
apertou e ficou ali parada.
A aula foi interrompida pela entrada de Peter, Josh, Eric e
Adam.
— Desculpe o atraso professor, estávamos resolvendo um
problema — Peter disse com um sorrisinho cínico no rosto.
— Sentem-se logo — o professor disse sem se importar muito.
— Tudo resolvido — Peter disse baixo a Cameron e se sentou
atrás de mim e Josh ao lado dele. Adam e Eric se sentaram atrás de
Aaron e Lucca.
— O garoto quase se mijou — Josh murmurou baixo e os
meninos começaram a rir.
Olhei séria para eles, Peter comprimiu os lábios segurando o
riso e Josh puxou a respiração ficando sério quando o encarei,
assim como Adam e Eric. Cameron passou a língua nos lábios logo
os mordendo e deu um sorrisinho sem vergonha.
Ele veio me dar um selinho e eu desviei voltando minha atenção
para o professor. Sua mão apertou minha coxa novamente e ele
beijou meu ombro ainda com expressão atrevida me fazendo
inspirar e expirar.
— Vocês farão um seminário — o professor iniciou —, já separei
os temas e os grupos.
O professor começou a falar os nomes de cada integrante e
seus grupos. Segurei a risada quando o professor falou que Melissa,
Katherine e Lana ficariam no mesmo grupo que Calleb, ele revirou
os olhos, bufou alto e Katherine o olhou.
— O que foi caralho? Perdeu o quê? — Disparou e Lana o
acalmou depois de rir.
— Meu namorado ele — Josh disparou, começamos a rir e
Calleb mostrou o dedo do meio a Josh.
Ele colocou a mão no peito e fingiu ter sido atingido por uma
flecha em seu coração.
Calleb tentou não demonstrar, mas ficou nítido que ele amou a
reação de Josh e ficou com as bochechas avermelhadas.
— Desculpe professor, pode continuar — Lana pediu.
— E por fim, seu grupo Malik será com Peter, Josh — os dois
deram um toque de mãos animados — Eric, Adam, Brian — os três
comemoraram animados e me fazendo rir — e Cameron —
completou como se não fosse óbvio.
Do time só tinha eles seis na sala, eu basicamente fiquei com o
pessoal do time.
— Rebecca e os cuecas — Eric disse rindo e todos começamos
a rir.
— Tem uma pessoa a mais no grupo dela — Katherine
observou e o professor a olhou com expressão entediada.
— Sim, Katherine, eu sei, eu quem separei os grupos —
relembrou e todos riram; ele voltou o olhar para nós — o tema de
vocês será sobre Absolutismo.
— Quê? — Ouvi Adam questionar baixo.
Balancei a cabeça positivamente.
O professor passou uma atividade para fazermos em dupla
após explicar o conteúdo. Cameron conseguiu responder as
perguntas sozinho sobre a revolução francesa depois que expliquei
mais sobre o assunto e fomos os primeiros a terminar.
Ele se deitou sobre a mesa me dando liberdade para acariciar
seus cabelos e seus lábios se contraíram em um sorrisinho quando
comecei. Senti olhares em nós, levantei a cabeça vendo Melissa me
olhar com os olhos marejados, ela olhou para o teto, respirou fundo
e voltou o olhar para a atividade. Isabel, uma garota das líderes que
estava próxima de Melissa, apertou seu ombro tentando confortá-la.
Observei o resto do pessoal da sala. Algumas meninas nos
olhavam tristes e foi inevitável não começar a me questionar
quantas pessoas dessa sala ele deve ter beijado antes de mim.
Passei a mão desocupada na nuca desconfortável com esse
pensamento.
Supondo que na sala tenha trinta e cinco alunos e vinte são
meninas, se ele ficou com as meninas que estavam nos olhando
podemos contar dez… seguindo esse cálculo, quantas pessoas da
escola ele ficou e por que isso está me incomodando tanto?
O sinal tocou e eu comecei a arrumar minhas coisas.
Cameron novamente pegou minha bolsa e meu livro.
— Rebecca e Cameron, venham aqui por favor — o professor
pediu antes de sairmos. Eu e ele nos olhamos e nos aproximamos
do professor.
Esperamos até o último aluno sair da sala e o professor Smith
começou:
— Como Katherine observou — Cameron por algum motivo
apertou minha cintura quando o professor citou o nome dela —, seu
grupo tem uma pessoa a mais — ele me olhou — isso porque você
não vai apresentar o seminário, vai apenas organizá-lo, coordená-lo
e os meninos que vão apresentar.
— Certo — pensei um pouco — e como vai ficar minhas notas?
— Ele achou graça.
— Rebecca — ele se levantou e parou em nossa frente se
apoiando na mesa —, começamos o bimestre tem duas semanas e
você já está com 67 pontos pelos testes que passei, somando com
as atividades que vou passar até o fim do mês, você provavelmente
nem precisará fazer o seminário.
— O bimestre começou tem duas semanas — disse a mim
mesma.
— Sim, os projetos também contam. O seminário valerá 20
pontos, 10 de apresentação e 10 da escrita, suponho que 10 pontos
você já tem garantido.
— Mas eu preciso fechar com 100 pontos — comentei mais
para mim do que para eles e Cameron me olhou rindo.
Ele dizia que não existia pessoa mais chata do que eu com as
notas escolares.
— Ainda temos um mês e meio para acabar o bimestre, não
acha que até lá chega a 90 pontos na média? — O professor
questionou como se a resposta fosse clara e eu sorri concordando.
— Então só precisará de mais 10 pontos. Conseguiu entender o que
quero de seu grupo?
— Sim, professor.
— Ótimo, conto com isso — disse e olhou Cameron — e você
precisa urgentemente tirar no mínimo 90 pontos nesse bimestre. Te
coloquei no grupo do time porque soube que Rebecca está
ajudando muito vocês, por favor, não me decepcionem — o
professor se sentou — estão dispensados.
— Por que não me disse nada sobre suas notas em história? —
Questionei parando em meu armário e guardando o livro.
— Porque eu descobri agora — ele riu — Aaron, seu livro —
disse ao garoto que estava passando pela gente, entregou livro a
Aaron e o caderno a Lucca depois de arrancar as folhas de suas
anotações — valeu — agradeceu e os meninos saíram andando
após um breve aceno de concordância.
— A escola está toda nas suas mãos mesmo, né? — Ele fechou
seu armário e me puxou pela cintura.
— Uma garota hoje não quis dividir o livro de história comigo,
acho que não tenho toda a escola em minhas mãos — disse
apertando minha cintura e subindo a mão em minhas costas, me
puxando para si.
— Talvez você esteja nas mãos dela — sussurrei roçando a
ponta de meu nariz no dele.
— Cada dia tenho mais certeza de que não é só um talvez —
admitiu olhando em meus olhos e eu, por algum motivo, fiquei
hipnotizada.
— Vou precisar ajudá-los a encontrar o caminho da sala de
aula? — A inspetora Sullivan questionou e só então notei que o
corredor estava vazio.
— Sul, meu amor — Cameron me soltou e riu abraçando a
inspetora — estava falando pra minha namorada a incrível inspetora
que temos — ela deu um leve soco em sua barriga me fazendo
gargalhar.
— Ah, seu garanhão, não caio nessa — ela se recompôs — os
dois, para a aula agora.
— Sim, general — Cameron fez um gesto de soldado.
Eu e Cameron nos separamos e eu fui para o vestiário feminino
trocar minhas roupas. A diretora disse que precisava ter pelo menos
duas aulas de esportes, então decidi fazer duas aulas de futebol
feminino, considerando que eu jogava quando morei no Brasil, não
seria problemas.
Tive a má sorte de ter a aula de futebol com a sala de Karen.
Entrei no vestiário feminino e caminhei até onde ficava meu
armário.
Senti um alívio enorme quando vi que Luce, Melissa e Lana,
que dividiam a ala comigo, estavam presentes e jogaríamos juntas.
— Graças a Deus! — Luce suspirou — Achei que estaria
sozinha com um bando de patricinhas.
Melissa revirou os olhos com seu comentário.
Acabei rindo e me lembrando de uma coisa: o relatório que
Melissa me entregou das líderes estava com a escrita de Luce.
Pensei em comentar algo, mas com Lana aqui, achei melhor não.
— Só tem patricinha? — Questionei começando a trocar minhas
roupas e Luce riu dando de ombros.
— É só olhar aqui na ala — Luce tinha um tom provocativo.
— Vai se foder, Lucinda — Melissa disparou e Luce mostrou o
dedo para ela.
Eu e Lana nos entreolhamos segurando a risada e começamos
a nos arrumar fingindo que nada tinha acontecido.

Coloquei o short fino e curto, a blusa do time, tênis e meia,


quando terminei, vi que Lana, Melissa, Luce e garotas de outras
alas me olhavam impressionadas. Katherine e Karen estavam com
os olhos esbugalhados em mim.
Amarrei meu cabelo sem entender, todas vinham os corpos
umas das outras, mesmo sendo a primeira vez que me troquei no
vestiário da escola, ainda assim era estranho.
— Nunca viram alguém com o corpo bonito não, cacete? Eu
hein — Luce reclamou.
As meninas voltaram a conversar, mas ainda me olhavam.
Melissa abaixou o olhar, mas vi seus lábios dizerem ela é
perfeita, claro que ele vai se apaixonar por ela a si mesma e sem
som. Ela percebeu meu olhar e o abaixou novamente.
— Nossa senhora, você é toda perfeita! — Lana disse animada.
— Por trás das roupas folgadas tem uma grande gostosa!
— Lana, pelo amor de Deus — disse sorrindo e sentindo minhas
bochechas corarem.
— Você é linda mesmo, não vou mentir — Luce disse entrando
na conversa.
— Todas somos — corrigi dando de ombros.
A treinadora Pattinson nos chamou dizendo que o treino
começaria.
Guardei meus óculos e me olhei no espelho antes de sair do
vestiário. O corpo que tinha era totalmente herança brasileira e por
mais difícil que fosse encontrar uma calça por conta do tamanho de
minha bunda, estava feliz em tê-la.
Entrei no campo de futebol e quando percebi que algumas
pessoas iriam assistir ao treino, me senti apreensiva. Tudo piorou
quando os meninos do time se sentaram nas arquibancadas.
Melissa me olhou e eu só queria me esconder.
— Você viu o corpo dela, é claro que é por isso que o Ironside
se interessou — uma garota disse com a voz carregada de maldade
enquanto passava por mim.
— Vem, não ligue para isso! — Melissa pediu me puxando pela
mão.
— Na verdade, não ligo — disse rindo — já ouvi coisas piores.
— Eu sei, até porque eu também já falei de você — comentou
desanimada e eu senti um arrependimento em sua voz.
— Sabe, Mel — entrelacei meu braço no dela enquanto
caminhávamos pelo campo até a treinadora — quando você não
está fingindo ser um personagem ou um clone de Regina George
você é muito mais legal — comentei e ela pareceu levar um choque,
quando comecei a rir ela me acompanhou com uma risada
engraçada.
— Por que você espera algo bom de mim? Tipo, eu já falei
coisas horríveis sobre você — ela admitiu e seu olhar era carregado
de confusão.
— Na verdade eu espero que você me decepcione, assim como
espero isso de qualquer pessoa. Mas não posso deixar de esperar o
bem também, ninguém é feito apenas de atitudes ruins. Confesso
que se você me decepcionar, não vou ficar impressionada, porém,
vou ficar feliz em me surpreender caso isso não aconteça — afirmei
a vendo ficar pensativa.
— Ótimo, estão todas aqui — a treinadora começou — Melissa
e Karen, vocês serão as capitãs dos times.
A treinadora disse algo mais, porém não prestei atenção. Olhei
as arquibancadas e todos pareciam me olhar boquiabertos.
Encontrei Cameron com os olhos e ele parecia estar em estado
de alerta. Me olhava, verificava os olhares dos garotos e me olhava
novamente. Ele comentou algo com Elliot e Elliot deu um tapa na
cabeça de Victor que estava me encarando. Cameron passou a mão
no rosto e sorriu para mim colocando a mão no peito fazendo
expressão de apaixonado.
— Rebecca — Melissa chamou.
Rapidamente entendi que se tratava da escolha do time.
Me aproximei dela e de Lana, que tinha sido escolhida.
— Katherine — Karen disse e a garota se aproximou dela.
— Escolhe a Luce — pedi e Melissa sorriu de uma forma que
nunca havia visto antes.
— Lucinda — Melissa escolheu e Luce a olhou como se
tentasse questionar algo.
Como um o que você tá fazendo?
Eu e Lana nos olhamos novamente e rimos disfarçadamente.
Luce me abraçou sem nenhum aviso prévio.
— Sinto muito pelas meninas estarem falando de você — disse
olhando Kristen e Paloma que foram escolhidas para o time de
Karen.
As duas estavam conversando com alguns meninos da escola
que me encaravam e sorriam.
— Luce, me ajuda a escolher — Melissa pediu e Luce se
aproximou com um sorriso enorme, mas se conteve.
— Não temos paz em um lugar se quer — Lana disse se
aproximando de mim — estamos com você, principalmente sabendo
que as meninas querem tanto a atenção que ficam falando de você
pros meninos — olhamos os meninos quando Kristen e Paloma
voltaram rindo —, eles são nojentos.
Quando olhei Cameron outra vez, seus olhos estavam grudados
nos meninos que antes conversavam com as meninas. Os três
meninos eram da natação e estavam me olhando e comentando
algo, um deles foi o que disse que se me pegasse me deixaria de
cadeira de rodas e lembrar disso me deixou enjoada. Cameron
desceu das arquibancadas em que estava sentado e começou a se
aproximar dos meninos, sozinho. Nenhum outro garoto o seguiu.
Olhei Elliot em busca de respostas e ele apenas sorria satisfeito
enquanto via o amigo se aproximando dos garotos.
— Meu Deus, o que ele tá fazendo? — Questionei a mim
mesma.
O time de Melissa estava completo, mas não conseguia me
concentrar em ver quem eram as jogadoras.
Karen falava alguma coisa com a treinadora e Melissa e Luce
pararam ao meu lado observando Cameron caminhar até os três
meninos. Eles arrumaram suas posturas assim que o capitão se
aproximou. Não sei o que ele falou, mas os três meninos abaixaram
a cabeça concordando.
Cameron deu dois tapinhas na cara de um deles como se
aprovasse alguma coisa. Os três se sentaram nas arquibancadas e
Cameron ficou em pé, seu olhar se voltou para mim e percebi que
os três meninos faziam de tudo para não me olhar, os meninos do
time os olhavam procurando uma forma de começar uma confusão,
começaram a caçoar deles até que eles se levantaram, se
despediram e saíram.
Não precisava estar tão perto para perceber a irritação dos três
nadadores.
Melissa suspirou aliviada e se virou para mim.
— Você joga na posição de atacante, né? — Questionou
colocando o braço envolto de meus ombros. Concordei e ouvimos o
apito da treinadora.
Organizamos as posições de cada jogadora.
Luce era expert nisso e então, começamos o jogo após outro
barulho de apito.
Percebi que poucas meninas do time de Karen sabiam o que
fazer. Enquanto a mesma só ficava gritando o tempo todo, Katherine
estava super perdida na posição de zagueira, Kristen caia a todo
tempo reclamando de falta e Paloma parecia no mundo da lua no
gol, o resto do time que parecia saber jogar estava sendo
prejudicado por isso.
O placar estava: Time Melissa 5 x 0 Time Karen. Nos dois
primeiros gols comemoramos, mas depois não tinha graça.
Apenas encostei em Kristen próximo das arquibancadas onde
os meninos estavam e ela se jogou no chão fazendo um drama
desnecessário.
— Neymar tá diferente — debochei e Kristen, quando os
meninos gargalharam alto, parou de fazer seu show.
Ouvimos o apito e o jogo finalmente acabou.
Suspirei me sentando no banco e observando outra turma
começar jogar. Cameron se aproximou enquanto os meninos saíam
das arquibancadas.
— Não sabia que você jogava tão bem — comentou me
entregando uma garrafinha d'água.
— Obrigada, amor — peguei a garrafinha e quando ele se
inclinou para me dar um selinho, me afastei — estou toda suada,
minha roupa tá até me pegando.
— Também queria estar te pegando — disse naturalmente e eu
o empurrei pelo ombro aos risos.
— Engraçadinho — dei um selinho nele e percebi que Melissa e
Luce estavam me esperando para ir ao vestiário.
— Te espero na biblioteca na hora do intervalo — avisou.
Concordei, em seguida corri até às meninas.
Caminhei pelo corredor indo em direção a biblioteca depois

de tomar um banho rápido e trocar minhas roupas. Odiava ter que

lavar o cabelo correndo e ainda ficar com ele molhado na escola,

felizmente Luce passou o secador de Melissa em meus cabelos o

deixando apenas úmido. Fingi que não percebi tal intimidade entre

as duas, mas estava amando.


Antes de entrar na biblioteca, vi o garoto do time rival que falou
de mim no corredor e Cameron pediu para os meninos darem um
jeito nele. Não parecia machucado, mas seu olhar era indecifrável.
Ele me encarou por instantes enquanto conversava com Bárbara,
uma garota do jornal, ela sussurrou algo no ouvido dele que
continuou a me olhar. Decidi ignorá-los e entrei na biblioteca.
Havia poucas pessoas conversando em voz baixa.
— Cameron veio pra cá? — Questionei uma garota de cabelos
azuis, Anna, que tinha aulas de francês comigo.
— Está na última fileira de livros — avisou.
— Obrigada — sorri e ela retribuiu.
Minhas mãos suaram frio e senti borboletas no estômago.
Minhas pernas tremeram um pouco, mas me mantive firme. Lucca e
Aaron estavam conversando em uma das mesas e me aproximei
deles. Uma dúvida imensa me rondava.
— Oi meninos — disse em voz baixa, os dois me olharam
atentos e sorrindo de forma simpática, sem nenhum vestígio de
maldade, o que parecia ser raro nessa escola.
— Pois não, capitã — Lucca disse em tom brincalhão
arrumando os óculos no rosto.
— Queria fazer uma pergunta a vocês — comecei, me sentei e
os olhei, eles pareciam curiosos — Cameron… é, vocês deram o
livro de história e o caderno na mesma hora em que ele pediu —
pensei um pouco, observei a biblioteca quase vazia e felizmente
ninguém nos olhava — por quê? Ele já fez alguma coisa por vocês?
Lucca e Aaron riram como se não acreditassem no que estavam
ouvindo.
— Sim, ele já fez e faz algo pela gente — Lucca respondeu.
— Ele quem não deixa os meninos da natação, do time e os
valentões do lado sul baterem em nós ou roubar nossos lanches,
implicar com a gente, nos prender no armário, enfiar nossas
cabeças na privada e essas coisas — Aaron explicou e meu queixo
caiu.
— Então pra gente não é problema nenhum fazer uma coisa
mínima para ele, se ele quisesse continuaríamos fazendo os
trabalhos e lições dele — Lucca disse relaxando na cadeira.
— Nem pense em dizer isso a ele — brinquei os vendo rirem. —
Obrigada e até logo meninos — me despedi.
Cameron conseguia me surpreender e me deixar ainda mais
apaixonada a cada dia que passava.
Cheguei na última fileira o vendo com o livro Orgulho e
Preconceito em mãos. Vê-lo lendo o deixou mais atraente do que já
era. Me aproximei até o fim da fileira, ele fechou o livro, o colocou de
volta na prateleira e me olhou.
— A atacante mais linda que eu já vi — disse me puxando pela
cintura.
— O quarterback mais lindo que eu já vi — rebati selando
nossos lábios.
— Me diga, atacante, o que quer comer? — Questionou
descendo e subindo as mãos em minha cintura.
— Estou com uma vontade imensa de comer um lanche do
Subway, mas preciso medir minha glicose antes — comentei
arranhando levemente seus braços.
Ele concordou e quando ia me soltar, senti seu aperto mais
forte.
— Só um minutinho aqui? — Pediu.
— Cameron… — ele acariciou meu rosto e eu sorri quando
começou a dar vários beijinhos em meu rosto.
Ele beijou a ponta do meu nariz, em seguida minhas bochechas
e desceu lentamente até meu pescoço. Apertei seus ombros e puxei
a respiração. Suas mãos apertaram ainda mais minha cintura e seus
lábios voltaram aos meus os selando com calma. Fechei meus olhos
suspirando e ele afastou nossas bocas.
— Só um beijinho? — Pediu com um sorrisinho nos lábios e me
puxando com a mão em meu pescoço.
Sorri me rendendo com facilidade, já que era uma coisa que
também desejav. Selei nossos lábios com dois selinhos e lhe dei
passagem para um beijo calmo. Cameron envolveu os braços em
minha cintura e subiu uma de suas mãos em minhas costas.
Senti sua mão quente em contato com a minha pele e afastei
nossas bocas. O olhei sorrindo por instantes o admirando, me sentia
no céu; e voltei a beijá-lo.
Sua mão continuava a subir na medida em que o beijo se
tornava ainda mais lento. Deslizei as unhas em sua nuca e seus
dedos brincaram com a alça de minha regata novamente me
fazendo arrepiar. Mordi seu lábio o puxando e o senti suspirar
apertando forte minha cintura. Beijei seu queixo e ele sorriu.
— Você acaba comigo, sabia?
Me afastei o olhando e rindo de sua expressão abobada.
— Sabia — disse convencida. — Eu acabo com o reizinho de
Liberty, vou contar a Calleb pra ele colocar no jornal — ele me olhou
fazendo pouco caso.
— Vai contar nada não — rebateu na mesma intensidade de
minha provocação.
— Vou sim — ele tentou me puxar para perto, mas não deixei.
— Não vai.
— Vou sim, você não manda em mim — provoquei e ele riu
maliciosamente.
No segundo seguinte sua mão subiu em minha nuca, afundando
os dedos em meus cabelos e me puxou com firmeza, inclinando um
pouco minha cabeça para que olhasse em seus olhos e deixou
nossos lábios próximos.
Seu toque era selvagem, intenso e cuidadoso ao mesmo tempo,
era indefinível.
— Não me provoca — sussurrou e passou a língua nos lábios,
minha fala sumiu.
Perdi totalmente o rumo. Não sabia o que falar, nem o que fazer
para que minha alma voltasse para o meu corpo. Seus olhos azuis
me encaravam fixamente e sua expressão deixava nítido que ele
gostava da situação.
Ele me soltou com calma, deslizando a mão em minha nuca, e
eu soltei a respiração que nem sabia que estava prendendo.
— Vamos amor? — Questionou se desencostando da prateleira
e eu engoli em seco apenas concordando. — Você está pálida —
disse afastando meu cabelo do rosto delicadamente com os dedos
—, tudo bem?
Um sorriso cínico apareceu em seu rosto.
— Idiota — dei um tapa em sua mão —, fica longe de mim —
disse dando um passo me afastando ainda mais dele.
— Não quero — deu de ombros rindo, se aproximou e selou
nossos lábios com suavidade. — Me conte algo que você gostaria
muito que eu fizesse — começou se inclinando e pegando minha
bolsa do chão, jogou a alça da bolsa nos ombros e me puxou pela
cintura caminhando até a saída da biblioteca —, mas que você acha
que eu jamais faria.
Quando passamos pelos corredores da biblioteca as conversas
aumentaram. Algumas pessoas paravam nos encarando, outras se
inclinavam em cumprimento. Sorri para elas enquanto Cameron
continuava com sua pose de durão e intimidador.
— Bom — ri do meu próprio pensamento quando saímos da
biblioteca e começamos a caminhar pelo corredor da escola —, já
imaginei essa cena mais de uma vez na verdade — chegamos no
estacionamento, ele abriu a porta do carro para mim, deu a volta e
entrou logo dando partida.
— O quê? — Questionou de imediato e entrelaçou nossos
dedos com a mão desocupada.
— São duas coisas. O time sempre faz uma dancinha de
comemoração quando faz uma jogada impressionante ou ganha
pontos, então a primeira coisa seria a comemoração desses pontos
serem uma dancinha da Beyoncé — ele me olhou rindo como se
aquilo jamais fosse acontecer e sua risada logo se tornou em uma
gargalhada.
Soltei sua mão, tirei o pequeno medidor de glicose da bolsa,
furei o dedo mindinho e coloquei o pouco de sangue na fitinha que
encaixava no aparelho. Cameron pareceu nem se importar com
isso, acredito que por costume, pelo que me disse, ele fazia os
testes de glicose do avô dele. Fiquei feliz por isso, normalmente
ficava desconfortável porque as pessoas ficavam olhando e
questionando, então nunca tinha feito na frente de ninguém.
O teste deu 84, a taxa de açúcar estava baixa, então podia
comer um lanche sem muito exagero, claro.
— Sério que você imaginou isso? — Questionou ainda rindo e
estacionou o carro, saímos do mesmo após eu limpar meu dedo
com algodão.
Ele envolveu o braço em meus ombros ainda rindo sobre a
minha ideia.
— Imagina os garotos todos marrentos e intimidantes,
principalmente o capitão Ironside — comecei, o olhei e ele parecia
ainda não acreditar no que estava ouvindo — e então do nada
começam a dançar Singles Ladies — ele riu alto quando entramos
no Subway.
— Não senhorita, no campo não podemos ser assim.
— Discordo — retruquei negando com a cabeça.
— Grande novidade você discordando de mim — comentou
rindo e beijou meu rosto.
Fizemos nossos pedidos e pela primeira vez não me sentia
desconfortável comendo um lanche na frente dele.
— Parei — disse deixando quase metade do lanche na bandeja.
Ele deu de ombros puxando a bandeja para si.
— Então — limpei meus lábios — não acho que o time tenha
que chegar intimidando geral, pelo contrário, imagina o time rival
jurando de pé junto que vocês são fracos e na hora do jogo vem
aquela surpresa, sabe? — Ele me olhou com o cenho franzido
enquanto limpava a boca — Ok, esquece — dei de ombros.
— E qual é a outra coisa que você acha que eu não faria?
— Uma noite das garotas comigo e sua irmã — comentei e ele
riu passando a mão no rosto — até porque o time atrapalhou a
nossa noite das garotas — reclamei.
— Mas minha irmã precisa ir? — Ele fez uma careta.
— Luce também e Calleb adoraria, sem dúvidas — disse
animada.
Ele abriu a boca para falar, mas uma voz fina e irritante chamou
nossa atenção.
— Olha só se não é a realeza — Karen disse alto e me
empurrando para se sentar ao meu lado, acabei lhe dando espaço.
Katherine se inclinou para se sentar ao lado de Cameron, mas
ele não se moveu e isso evitou que ela tivesse espaço para se
sentar. Ele a olhou de uma forma que nunca havia visto, com uma
certa raiva e rancor.
— Já soube da maior? — Karen questionou colocando o jornal
sob a mesa. Perto de Cameron ela parecia outra pessoa, quem via
até achava que me tratava bem.
Vi parte da primeira matéria: uma foto minha com Cameron no
campo, a que foi tirada por Calleb na sexta-feira do jogo.
Cameron olhou Karen com frieza e ela se levantou saindo de
perto de mim entendendo o olhar dele.
Nos levantamos saindo da mesa e ele me puxou pela cintura.
— Esse ano não vou tolerar metade do que tolerei no ano
passado — disse de forma rude e firme.
Karen e Katherine abaixaram a cabeça quase que se
encolhendo e apenas concordaram.
Saímos após ele pagar os lanches e eu quase o soquei por não
me deixar ajudá-lo. O puxei pela cintura assim que me encostei no
carro.
— O que aconteceu no ano passado? — Questionei o vendo
suspirar e coçar a nuca.
— Elas em cima de mim o tempo todo depois que saiu no jornal
que eu tinha maior probabilidade de ser o rei, até comecei a ficar
com uma garota legal por um tempo, mas foi tanta coisa em cima
dela que ela preferiu se afastar — ele me olhou por instantes como
se buscasse algo em mim.
— A única coisa que faria eu me afastar de você, é você se
apaixonar por outra pessoa, porque com sentimentos não há como
competir — admiti e ele passou os dedos em meu rosto.
— Então nunca vai precisar se preocupar em se afastar de mim
— afirmou passando os dedos no colar de chave que me deu —,
mas se as meninas ficarem muito em cima de você, mais do que já
ficavam então…
— Isso está fora de cogitação, Cameron, só me afasto de você
se for uma decisão sua ou minha. Respeito seu espaço, mas me
afastar porque essas meninas não reconhecem seus potências e
acham que só com homens vão conseguir status? Não mesmo! —
Ele sorriu orgulhoso.
— Você é incrível, sabia?
— Ah, eu faço o que posso — me gabei e beijei seus lábios. —
Ei, por que você olhou Katherine daquele jeito? Parecia… não sei —
pensei um pouco e vi que seu olhar mudou — com raiva.
Ele deu de ombros abrindo a porta do carro para mim e entrou
logo em seguida.
— Nada de novo — foi tudo o que disse e eu entendi que ele
não queria conversar sobre.
Entrelacei nossos dedos assim que ele deu partida.
Voltamos a escola e o campus próximo do estacionamento
estava lotado.
Cameron abriu a porta do carro para mim e Natalie me recebeu
com o jornal de Liberty, mas não me deixou prestar atenção nas
notícias pois começou a mostrar as fotos que fez hoje.
Enquanto observava as fotos e ela me explicava animadamente
a origem de cada uma, Cameron parou ao meu lado, começou a
mexer em meus cabelos e afundou os dedos nos mesmos os
colocando para trás.
Com o carinho que ele estava fazendo eu fui com Deus… a
última coisa que entendi Natalie dizendo foi que tirou fotos do ensaio
das líderes e que isso tinha tirado toda a paciência dela. Fiquei feliz
quando Lana e Luce se juntaram a Natalie após cumprimentar eu e
Cameron.
Cameron juntou todo meu cabelo para trás e o enrolou na mão,
tentei manter minha atenção em Natalie, mas foi impossível quando
ele puxou meu cabelo e apertou minha cintura tão discretamente
que apenas eu e ele entendíamos nitidamente o que estava
acontecendo. Cambaleei para trás sentindo o calor de seu corpo.
Me virei o empurrando e ele estava com um sorriso aberto.
— Vai com os meninos, vai? — Pedi me afastando dele e o
vendo gargalhar.
— Já viu o jornal, capitã? — Lana questionou fazendo nossa
atenção se voltar a ela.
— Vou ir falar com os meninos mesmo — Cameron avisou.
Ele parecia não se importar com o jornal, devia estar
acostumado.
Concordei e ele beijou minha testa para em seguida sair
caminhando até os meninos.
Me encostei no capô do carro dele com Natalie ao meu lado.
Olhei a primeira página encarando a matéria de uma garota do
segundo ano:
Procurei algo mais na matéria, algum outro nome dos demais
alunos citados no último parágrafo e nada, a matéria foi totalmente
focada em mim e Cameron.
— Achei tranquilo até — admiti olhando as matérias sobre sexta
— aliás, as fotos ficaram incríveis.
— Olha a próxima página — Natalie pediu e seu olhar dizia
tanta coisa que fui o mais rápido possível.
Uma foto de Melissa me olhando desanimada enquanto eu
estava sorridente conversando com o time rival de sexta-feira
passada, a matéria foi escrita por um garoto chamado Yuna. Calleb
não o suportava, pelo que sabia era o mais novo melhor amigo de
Karen, mas antes era de Melissa.
Desci meus olhos para a matéria que dizia:
Meu estômago revirou com toda essa informação.
Cameron se aproximou de mim e eu me senti sendo filmada por
todos os olhares do estacionamento. Me senti frustrada e com raiva.
Com raiva de quererem criar uma rivalidade idiota, com raiva dessa
mentira e com raiva de deixarem sair uma matéria dessa.
— Eu sinto muito — Lana disparou —, mas para o jornal ser
aprovado passa por algumas pessoas e… — Ela pareceu
desanimada — era isso ou nada.
— Pode nos deixar um instante? — Cameron pediu a Lana com
calma, ela apenas concordou e se retirou com Luce — Respira
fundo — pediu parando em minha frente — talvez você não
entenda, mas Lana fez de tudo para que não fosse pior — disse
colocando as mãos em meu pescoço e afundando os dedos em
meus cabelos.
— Pior? Deixaram criar rivalidades idiotas e não falaram nada,
como seria pior? — Questionei tentando manter o tom baixo,
quando na verdade queria gritar, não com Cameron, mas com todos
que aceitavam e apoiavam esse tipo de coisa.
— Amiga — Natalie pegou em minha mão —, só vai ter
rivalidade se você descer no nível deles e é isso que eles querem
para deixar tudo mais animado, querem tirar você do sério, ou
provocar Melissa até ela surtar. Lana disse que Yuna queria fazer
uma matéria pior dizendo que você roubou tudo de Melissa, Lana
tentou, de verdade, mesmo tendo muito a perder.
Suspirei. Não perderia a cabeça por coisas assim. Era só um
jornal e se Melissa disse isso mesmo, não estava surpresa. O
pensamento dela devia ser o de muitos e eu não podia culpar Lana,
se ela de fato tentou amenizar a situação, só me restava reconhecer
aquilo.
— Vou ir ao banheiro — avisei pegando minha bolsa que ainda
estava com Cameron. Não dei espaço para eles, apenas sai
andando firmemente com todos me olhando.
Yuna, Katherine e Karen me olhavam buscando minha reação.
Os olhei e sorri me curvando e levantando meu vestido imaginário
como se realmente fosse da realeza. Karen soltou o copo de suco
que estava em sua mão e o mesmo se esparramou no chão, Yuna e
Katherine a seguraram quando ela gritou estou farta de você!
Os meninos do time riram, assobiaram e bateram palma como
se estivessem comemorando. Sentindo o olhar furioso de Karen,
continuei meu caminho até o banheiro da escola.
Não seria eu a perder a cabeça.
Sai da cabine do banheiro exatamente no momento em que
Melissa saiu de outra cabine limpando os olhos avermelhados. Me
olhei no espelho, ela parou me olhando por instantes e abaixou a
cabeça puxando a respiração. Não sabia exatamente o que dizer ou
fazer, então optei pelo silêncio fingindo não ter percebido que ela
estava chorando.
Amarrei meu cabelo em um rabo de cavalo e ela se aproximou
do granito da pia enquanto eu lavava as mãos.
Mas eu não aguentava um clima assim.
— Não vou cair nas provocações de Karen ou do resto da
escola…
— Nem todo mundo é forte como você — disse me
interrompendo — eu falei de você sim, Rebecca, no meio do
desespero, falei e sinto muito por isso — seus olhos marejaram, ela
os fechou e abriu rapidamente —, mas você já sabia que eu te
decepcionaria — olhei no fundo de seus olhos — e eu não podia ter
perdido uma coisa tão simples — foram suas últimas palavras antes
de sair rapidamente do banheiro.
Pensei no significado de sua fala, assim como eu sofria
pressões da minha mãe quanto aos estudos, Melissa devia passar
pela mesma coisa.
Mas uma coroa falsa? Minha mãe me pressionava por causa do
meu futuro e eu sabia que não era bom, agora por uma simples
coroa ou status em escola... imagina o que isso causava nela. Se os
pais fizessem terapia antes de terem filhos certamente muita coisa
não aconteceria e, em alguns casos, não seria os filhos a irem para
a terapia.
O sinal de fim do intervalo tocou.
Sai do banheiro pensando no que Melissa disse, ela faria algo
para reconquistar seu favoritismo? Na verdade, não me importava
com isso, nunca quis ser a princesinha ou a favorita, se ela
conseguisse tirar esse status de mim ficaria extremamente grata.
— Representante — Yuna chamou — o relatório de sexta do
grêmio — ele sorriu com falsidade.
— Obrigada Yuna — agradeci com sutileza pegando a pasta
transparente de sua mão e seu sorriso pareceu ainda mais falso de
perto —, com licença — pedi dando as costas.
Cameron estava em seu armário conversando com Natalie,
Calleb, Luce e Samuel.
— Representante — Yuna chamou outra vez me fazendo parar
de andar e os alunos do corredor pararam me olhando — o que
achou da minha matéria? — Questionou.
Não precisei o olhar para entender sua provação.
Olhei para o chão, todos pareciam esperar minha resposta, e eu
não tinha para onde correr. Meus olhos encontraram Cameron que
xingou baixinho um puta merda, Calleb arregalou os olhos e Natalie
riu por me conhecer bem.
Me virei calmamente para ele e vi Lana em seu armário,
esperando uma resposta minha.
— Sem conteúdo algum — disparei e seu olhar mudou
drasticamente, Yuna estava com fogo nos olhos e Lana riu baixo,
mas o time não conteve as risadas extravagantes, começou uma
murmuração alta, percebi que Melissa se aproximou de Lana.
— Achou o mesmo de Elise? — Questionou.
Elise estava à direita em seu armário, nos olhando como os
demais.
— Não — respondi com calma — Elise não precisou criar uma
rivalidade entre duas garotas com grandes potenciais, nem precisou
fazer comparações, ou muito menos rebaixar alguém para ter algo a
dizer. Entendo que assim como você todo mundo erra, mas se
quiser meu conselho, sugiro que em sua próxima matéria você
escreva algo sem precisar se rebaixar a rivalidades que claramente
não existem — olhei Melissa e o olhei novamente. Ele parecia
inconformado com a situação e prestes a me atacar a qualquer
momento.
— Rivalidades que claramente não existem, representante? —
Ele olhou Melissa e sorriu me olhando novamente — Da sua parte
talvez não, mas isso não significa que não exista — disse passando
por mim antes que eu pudesse respondê-lo.
Optei por não olhar Melissa porque talvez Yuna estivesse certo
e eu preferia não me importar com isso, por mim, poderiam fazer o
que quisessem, mas eu não ficaria quieta se caso meu nome fosse
citado.
— O showzinho acabou — ouvi Calleb dizer em voz alta e os
alunos pareceram cair em si de que as aulas iriam começar em
poucos segundos.
— Quer sair daqui? — Cameron questionou com os lábios
próximos de meu ouvido.
— Não, temos aula de biologia agora, conteúdo importante — o
olhei e selei nossos lábios rapidamente. Peguei meu livro e
caminhamos até o laboratório.
A professora estava conversando com a inspetora quando
entramos na sala. Todos nos olharam, alguns sorriram e outros
começaram a cochichar.
— Ei — ele passou os dedos em minhas costas e desceu a mão
em minha cintura, puxou minha cadeira me aproximando de si e
beijou meu ombro —, você está bem?
Encarei seus olhos azuis. O toque dele era tudo o que eu
precisava. As coisas que aconteceram hoje já não tinham mais
significado algum, porque eu o tinha comigo.
— Sim, amor. — Selei nossos lábios e ele sorriu.
— Boa tarde, turma — a professora disse, entrando na sala.
Nos liberaram cedo dos projetos pois os professores teriam

uma reunião entre si e eu estava combinando com os meninos de

irmos para minha casa começar o seminário.


— Mas capitã, ainda temos um mês e meio pela frente — Eric
reclamou.
— Em quantos seminários você tirou nota máxima, Eric? —
Cameron questionou e o garoto abaixou a cabeça — E em quantos
Rebecca já tirou nota máxima?
— Então vamos — Peter quebrou o clima tenso que ficou e os
meninos entraram em seus carros. A expressão de Eric partiu meu
coração, ele ficou totalmente sem graça.
— Não precisa falar assim com os meninos, Eric iria de qualquer
jeito — disse baixo e olhando Cameron.
— Eu sei o que estou fazendo — rebateu vindo me beijar e eu
virei o rosto.
— Sabe mesmo ser estúpido — adverti — não precisava
diminuir ele pra que concordasse em ir começar o seminário, ele iria
de qualquer forma.
— Rebecca…
— Não — discordei calmamente —, não é assim que as coisas
funcionam, Cameron, não comigo — ele tentou me puxar pela
cintura — não vou cair nos seus joguinhos. Fale com Eric e depois a
gente conversa — afirmei dando a volta em seu carro e entrando no
de Peter.
— Isso vai me deixar encrencado? — Peter questionou me
olhando quando Josh entrou no carro de Cameron com Brian.
— Não — disse balançando a cabeça negativamente e ele deu
partida.
Durante o tempo separando, organizando e abordando um
pouco sobre o assunto do seminário, Cameron me encarava quase
sem piscar. Se eu estivesse em pé, provavelmente teria caído com
seu olhar fixado em mim.
— Capitã, depois daqui você podia liberar sua tv pra jogarmos
um game, né? — Josh questionou e os meninos concordaram.
— Já terminamos na verdade, podem jogar sim, mas se
começarem a brigar vou colocar vocês de castigo — brinquei os
vendo rir alto e dizer em conjunto um sim senhora.
Eles se organizaram, arrumaram as coisas e foram para a sala.
As coisas estavam tensas, acredito que por eu e Cameron não
termos trocado quase nenhuma palavra durante a organização e
pesquisas para o seminário.
Peguei minha bolsa, o notebook e subi as escadas até meu
quarto. Cameron entrou logo em seguida e fechou a porta, brincou
com Kurama e a colocou na cama enquanto eu tirava meu tênis.
— Não vou pedir desculpas a ele — Cameron disse cruzando
os braços.
— Pra mim tanto faz — rebati.
Ele tentou me tocar e eu desviei.
— Rebecca, me escuta — o olhei e cruzei os braços. — Eles
são folgados e…
— E você não?
Cameron tentou se defender, mas não dei ouvidos. Não até ele
me prender contra a parede.
Estava fazendo um coque em meu cabelo, mas parei quando
ele, com uma mão só, segurou meus pulsos cruzados no alto, acima
de minha cabeça.
— Assim consigo sua atenção? — Questionou com os lábios
próximos dos meus e apertando minha cintura me fazendo prender
a respiração — Os meninos são folgados, você sendo a mais
inteligente e mais responsável eles vão folgar ainda mais. Sei do
que estou falando, com eles não pode pegar leve com coisas assim
não, Becca.
Passei a língua nos lábios os mordendo.
Sabia que tinha ouvido o que ele disse, mas meu cérebro não
entendia nada.
Soltei a respiração com muita dificuldade e ele me apertou um
pouco mais.
— Se toda vez que você ficar brava comigo por coisa
desnecessária terminarmos assim, exatamente como estamos aqui
— ele aproximou os lábios de meu ouvido — eu juro que vou te
irritar todo dia — disse soltando meus pulsos e envolvendo os
braços em minha cintura com firmeza.
A forma com que ele me puxou causou uma colisão entre
nossos corpos.
E, movida pela raiva ou pelo desejo, o puxei pela nuca selando
nossos lábios.
Minha raiva pareceu sumir dando espaço a uma euforia e eu o
beijei com calma sentindo suas mãos me apertarem cada vez mais.
O olhei após ele finalizar o beijo com vários selinhos e um sorriso
nos lábios.
— Você explica tudo pro time e deixa que com eles eu me
resolvo pode ser? Sempre deu certo.
— Pode fazer isso sem humilhações? Eric ficou totalmente sem
graça com o que você falou, não precisa ser tão bruto também —
pedi deslizando os dedos em seu cabelo e ele riu concordando.
— Já que minha donzela insiste, quem sou eu para discordar?
— Quem é você? — Beijei seu queixo e me virei o deixando
contra a parede — Meu príncipe — beijei sua bochecha —, o amor
da minha vida — beijei seu pescoço o vendo estremecer e rocei o
nariz pelo mesmo sentindo seu cheiro —, meu briguento —
aproximei meus lábios de sua orelha — e o garoto que eu vou me
casar — ele apertou minha cintura fechando os olhos e sorrindo.
As palavras pareciam ter sumido de sua boca, ele puxou e
soltou a respiração duas vezes quando me abraçou.
— Às vezes me pergunto se o que estamos vivendo é real —
disse se afastando de mim e pegando Kurama, em seguida me
puxou pela cintura depois que coloquei meu chinelo.
O olhei confusa enquanto caminhávamos pelo corredor em
direção a sala onde os meninos estavam.
— Nunca me apaixonei por ninguém de verdade, o sentimento é
tão bom que não parece ser real — explicou.
— Esse seu nunca se apaixonou por ninguém ainda é válido?
— Ele me olhou e sorriu antes de entrarmos na sala.
— Não — disse soltando Kurama e ela foi para a sala onde era
possível ouvir a gritaria dos meninos — Rebecca Malik, eu sou
completamente apaixonado por você — admitiu.
Selei nossos lábios sentindo meu corpo todo se agitar de
alegria. Um balão de felicidade crescia dentro de mim, minhas mãos
suaram e meu coração disparou.
Ele disse, ele finalmente disse!
O enchi de beijinhos e ficamos abraçados por instantes, eu não
parava de sorrir. Entramos na sala e eu me sentei no sofá puxando
uma coberta fina para nos cobrir.
Os meninos começaram a jogar, questionaram se Cameron
queria, mas ele negou envolvendo o braço em minha cintura e me
puxando para si.
Senti suas carícias em minha cintura revezando com alguns
apertos. Entretida observando os meninos jogar comecei a arranhar
sua cintura. Quando deslizei em seu abdômen ouvi sua respiração
começar a ficar pesada, ele beijou o topo de minha cabeça e
segurou minha mão na altura de seu peitoral me fazendo parar. Seu
corpo estremeceu. Estava pronta para perguntar se estava tudo
bem por conta de sua respiração, mas quando entendi o que tinha
feito, fiquei em silêncio e abaixei a cabeça tentando não rir.
— Isso não tem graça, Malik — afirmou baixo e eu não consegui
conter a risada.
Em resposta, Cameron subiu a mão em meu pescoço e o
apertou disfarçadamente me fazendo engolir em seco e parar de rir.
Meu celular tocou e eu empurrei sua mão com urgência. Josh o
pegou e me entregou, na tela vi que era Calleb me ligando.
— Oi Ca — disse saindo da sala vendo que Josh me encarava.
— Posso ir pra sua casa? — Ele fungou. — Minhas mães estão
brigando demais, não aguento mais isso, por favor — pediu.
— Claro, quer que eu vá te buscar? — Questionei e Josh me
encarou preocupado quando entrou na cozinha com Cameron.
— Tentei ligar pro Josh, mas ele não atendeu, ele está aí? Pede
pra ele vir me buscar?
— Calleb está pedindo pra você buscá-lo na casa dele e trazê-lo
pra cá — disse a Josh que quase nem esperou eu terminar de falar
e saiu apressadamente. — Ele já está indo.
— Obrigado amiga, de verdade, te vejo já, beijos — e desligou.
Deixei meu celular na bancada e olhei Cameron
— Eles não vão vir pra cá — Cameron disse se encostando na
bancada.
— Não mesmo, mas eles ficarão muito bem — sorri
concordando. — Vou fazer uma vitamina de abacate.
Enquanto colocava as coisas no liquidificador, Cameron parou
atrás de mim me abraçando pela cintura e deitando a cabeça em
meu ombro, afastou meu cabelo e roçou o nariz em meu pescoço
me fazendo arfar.
— Amo seu cheiro — disse apertando mais minha cintura.
Liguei o liquidificador e passei os dedos nas veias pulsantes de
seu braço. Com a mão desocupada, ele desceu um pouco a alça de
minha regata e beijou meu ombro até minha nuca, meu corpo se
arrepiou por inteiro e eu precisei puxei ar para os meus pulmões.
Desliguei o liquidificador, olhei Cameron e o empurrei me virando de
frente para ele.
— Menino, que perigo você tá hoje — brinquei o vendo rir
tentando mantê-lo afastado.
Me virei novamente para experimentar a vitamina e o senti se
aproximar outra vez.
— Fica longe de mim, benção — pedi mesmo sabendo que ele
iria ignorar.
Suas mãos juntaram meu cabelo para trás, o enrolou no pulso e
o puxou me fazendo dar um passo para trás.
— Cameron! — Me virei dando um tapa em seu braço.
— Eu quero um beijo — reclamou.
— E o que eu tenho a ver com isso? — Provoquei o olhando.
— Tudo, ou devo beijar outra? — Rebateu no mesmo tom
provocativo.
— Se você quiser ir beijar outra é só ir, Styles — retruquei.
Ele passou a língua nos dentes e em questão de segundos sua
mão estava envolta de meu pescoço, ele me puxou com firmeza e
cuidado ao mesmo tempo. Nossos lábios ficaram próximos e eu
senti meu corpo inteiro ficar tenso de desejo.
— Tá muito engraçadinha, Malik — sussurrou e passou a língua
em meus lábios.
Engoli em seco escorregando a mão em seu braço que estava
em meu pescoço, me enforcando levemente.
— Se toda vez que eu te provocar você me pegar desse jeito,
juro que vou te provocar todo dia — disse o vendo sorrir.
Nádia entrou na cozinha fazendo com que ele soltasse meu
pescoço e me abraçasse pela cintura às pressas. Ela olhou
Cameron de forma estranha, depois me olhou.
— Está tudo bem? — Questionou receosa e Cameron a olhou
confuso.
Nádia não sabia disfarçar que as marcas que ficaram em mim
há dias a incomodou ao extremo, entendia sua preocupação, mas
ele não fez por mal.
— Sim Nad, já vai? — Indaguei e ela concordou — até amanhã
— me despedi.
Ela olhou Cameron novamente, apenas acenou com a cabeça e
saiu sem dizer nada.
— Por que ela me olhou daquele jeito?
— Que jeito? — Perguntei fingindo não entender.
— Você viu — afirmou e eu o olhei franzindo o cenho.
— Ela te olhou normal, amor — selei nossos lábios encerrando
o assunto, mas pelo seu olhar ele não estava convencido com a
minha resposta.
Apesar de tudo, sabia, que se falasse a verdade a ele, Cameron
se afastaria de imediato e eu não estava preparada para vê-lo se
afastando de mim.
Depois que Peter foi embora, descemos as escadas até a
sala. Minha mãe estava com tia Eliza que se levantou sorrindo, me

abraçou e abraçou Cameron.


— Seu pai está te esperando no escritório de Owen — avisou
depois que ele beijou a testa dela.
— Ok — disse, me deu um beijo na testa e caminhou até o
escritório de meu pai.
— O que aconteceu? — Questionei e tia Eliza sorriu se
sentando no sofá.
Peguei Louis e me sentei.
— Cameron finalmente está criando responsabilidade —
iniciou —, ele e Arthur sempre discutiam porque Cameron não
queria saber de nada dos negócios de família, queria só curtir a
vida. Mas pedi a Arthur que tentasse mais uma vez, pelo menos
uma vez e Cameron aceitou. Amanhã terá uma reunião importante e
ele vai participar. Estou tão feliz e orgulhosa por ele finalmente
entender que dinheiro não caí do céu — ela disse sem disfarçar sua
felicidade.
— A maturidade chega para todos — disse sentindo Louis
apertar meu dedo mindinho, ele me olhava como se entendesse o
que eu falava. Tia Eliza e minha mãe riram.
— Conte a ela o que ele disse — mamãe pediu enquanto fazia
Elô dormir.
Olhei Eliza com curiosidade, ela se ajeitou no sofá ficando um
pouco mais confortável e começou:
— Sei que é errado, mas quando Arthur foi conversar com
Cameron sobre os negócios acabei ouvindo um pouquinho atrás da
porta — sua voz estava em tom baixo — quando Cam aceitou logo
de cara o pedido de Arthur foi muito estranho para meu marido, ele
de fato não esperava e então questionou Cameron se algo tinha
mudado desde a última conversa deles sobre negócios. Cameron
disse que antes ele só queria aproveitar mesmo, mas que sempre
entendeu que quando quisesse construir uma família precisaria ter
responsabilidade e acordar pra vida — senti uma felicidade enorme
tomando conta de mim, mas me controlei para não parecer
emocionada demais —, quem conheceu meu filho nos anos
passados jamais acreditaria que ele se apaixonaria tanto por alguém
a ponto de pensar em casamento. Mas aconteceu, ele de fato quer
que dê tudo certo com você, filha — tia Eliza finalizou e eu já estava
chorando.
A tentativa de me segurar foi totalmente falha e sorriu limpando
meu rosto com cuidado.
— Estou feliz por vocês. De verdade, Rebecca, muito
obrigada. Esse ano eu tinha plena certeza de que passaria o mesmo
ou pior que o ano passado com ele — admitiu.
— O que aconteceu ano passado?
— Cameron sumiu de casa três vezes — iniciou — Arthur
queria colocá-lo em um colégio militar, mas parte das vezes que
nosso filho fugiu foi culpa do pai, então não deixei que isso
acontecesse. A relação de pai e filho nem sempre foi boa,
principalmente porque Cameron sempre segurava todas as coisas
que Natalie fazia de errado só para não ver o pai brigando com ela.
Eu tentava intervir de todas as formas, mas nem sempre era ouvida.
As coisas melhoraram depois que eu surtei com Arthur no fim do
ano passado e o fiz passar o Natal sem os filhos e a esposa.
Independentemente de como Cameron estava rebelde, nunca
concordei com violência — tia Eliza disse como se quisesse mandar
uma pista, acabei entendendo, Arthur era agressivo com Cameron e
não precisava de muito para notas aquilo.
— Ele fugiu três vezes? Algum motivo exato? — Mamãe
questionou.
— A primeira vez foi quando ele tinha acabado de voltar da
casa dos avós no começo do ano, ele e o pai discutiram por causa
dos negócios e ele ficou três dias fora; a segunda foi um dia antes
do aniversário dele, quando Arthur foi brigar com Natalie por ter
batido o carro, Cameron não achou necessário os xingamentos do
pai e se envolveu, não acabou bem e Cameron nos deixou
procurando ele durante dois dias e a terceira — ela parou e retomou
o fôlego para continuar — foi por um desentendimento meu com ele.
Ficou a madrugada fora de casa depois de eu tentar falar com ele
sobre a escola, as várias meninas que ele ficava e a falta de
responsabilidade. Não brigamos de fato, só nos desentendemos, ele
sumiu e disse que só queria colocar a cabeça no lugar, mas ficamos
preocupados do mesmo jeito. Colocamos seguranças atrás dele
depois da primeira vez que ele sumiu, mas ele sempre dava um
jeito.
Cameron aprendeu a esconder os sentimentos dele por conta
do que passou e aposto que eu não tinha conhecimento de metade
de suas feridas, mas ele procurava esconder os sentimentos para
não preocupar ninguém.
— Ele já levou muita garota para a casa de vocês? —
Questionei e assim que as palavras saíram de minha boca, quis
pegá-las de volta.
— Meu Deus Rebecca — mamãe disse e acabou rindo.
Tia Eliza riu também, então considerei que não foi uma
pergunta tão inesperada.
— Na verdade nenhuma foi lá em casa. Quer dizer, ele levou
uma garota uma vez, mas disse que foi tudo armação — ela disse
como se nem ela entendesse a situação. — Aliás, foi uma garota
que trabalha na Goldens, Raissa?
— Raquel — corrigi.
— Ela mesma — tia Eliza pegou Louis de meu colo — é
liberado muita coisa lá em casa, mas leva e traz de garotas ou
garotos não, isso por Natalie e por ele.
Balancei a cabeça apenas concordando, ainda estava presa
na palavra armação que saiu no meio da conversa, estava ansiosa
para entender o que aconteceu.
— ...então amanhã sairemos bem cedo — ouvi papai dizer
entrando na sala. — Oi docinho, não te vi o dia todo — disse me
olhando.
— Bença pai — me levantei e o abracei mesmo segurando
Kurama com um braço só e cumprimentei tio Arthur.
Seguimos para a cozinha, arrumamos as coisas para comer e
nos sentamos nos bancos da bancada.
— Então você e Raquel ficaram por armação? — O olhei e ele
riu.
— Minha mãe é muito fofoqueira às vezes, meu Deus do céu
— disse tomando um gole de suco de laranja — ela falou que sem
querer deixou escapar que foi amante de Andrew, ficou com medo
de você contar alguma coisa pra alguém e pediu pra fingir que
estava com outra pessoa. Foi meio confuso, mas ajudei mesmo
assim.
— Aposto que não foi problema ajudar nisso — murmurei e
mordi um pedaço do lanche natural.
— Alguém aqui está com ciúmes — brincou dando um beijo
em meu rosto.
— Jamais — disparei dando de ombros —, só acho você
tóxico por ter ficado com outras pessoas antes de mim.
— Se você tivesse chegado antes eu não teria ficado com
ninguém — rebateu e eu o olhei incrédula, com uma enorme
vontade de socar sua cara.
— Se me amasse de verdade teria sonhado comigo e saberia
que era pra me esperar — rebati e ele riu.
— No começo, não sabia que você era a garota do sonho, se
não teria esperado mesmo — disparou e minha fala sumiu.
Deixei o lanche no prato e tomei um gole de suco tentando
assimilar suas palavras.
— O que foi?
— Você sonhou comigo? Tipo, antes de eu voltar para Los
Angeles?
Ele terminou o lanche dele, limpou os lábios, me olhou e
balançou a cabeça confirmando.
— Mas…
— Nos sonhos eu via você de costas olhando o mar, na
verdade não sabia que era você, mas soube por causa do cabelo.
Via seu rosto, mas quando acordava só lembrava do cabelo longo.
Quando te vi veio tudo de uma vez, todos os sonhos e eu achei que
iria enlouquecer, principalmente quando chegou na minha casa e
jantou com a gente.
— Cameron, por que nunca me contou isso?
— Nunca entramos no assunto, pensei que você me acharia
louco — ri o olhando e passei a mão em seus cabelos.
— Não acharia você louco porque também sonhei com você.
Várias e várias vezes.
— Tá brincando? — Questionou animado e eu neguei
balançando a cabeça — E você sonhava o quê?
— Era um pouco confuso, ainda é na verdade. Às vezes
parecia que estávamos nos separando, as vezes era a gente se
cansado, a gente se desencontrando ou se reencontrando —
expliquei o vendo limpar as mãos. — E você?
— Quase a mesma coisa — disse me ajudando a limpar a
bancada.
— Você ainda sonha comigo? — Questionei quando
terminamos de limpar tudo, o olhei e ele sorriu colocando as mãos
em minha cintura.
— Às vezes sim — ele pareceu incomodado, mas tentou
disfarçar — e você?
— Quando você dorme aqui em casa não, na verdade não
lembro dos meus sonhos quando durmo com você de tão bem que
eu durmo — ri selando nossos lábios. — Preciso te mostrar uma
coisa — disse o puxando para as escadas que dava para o corredor.
Entramos no meu quarto com ele perguntando pela terceira
vez o que era.
— Calma garoto — reclamei rindo.
Soltei a mão dele, peguei uma caixinha preta que estava em
cima da minha mesa de estudos e a entreguei. Ele me olhou
desconfiado e quando abriu a caixinha sorriu.
Cameron tirou de dentro da caixinha a corrente prata com o
pingente de Konoha e um risco no meio do símbolo como na
bandana de Itachi e um anel que, também, era do Itachi.
— Ahhhh, você é perfeita — disse colocando a corrente e o
anel, em seguida me puxou pela cintura e selou nossos lábios.
— Gostou? — Questionei esperançosa.
Cameron sempre usava correntes pratas e anéis, quando vi na
loja logo comprei.
— Claro amor, mas por que disso? Nem é meu aniversário —
disse confuso.
— Mas você tá de parabéns todo dia — brinquei o olhando de
cima abaixo.
Ele ficou totalmente sem reação e suas bochechas coraram.
— Meu Deus você ficou com vergonha — sorri selando nossos
lábios.
E ele riu apertando minha cintura.
— Princesa — chamou acariciando meus cabelos —, amanhã
vou ir a reunião e provavelmente vou te ver só de noite pois será em
outra cidade, e como vamos sair muito cedo, não vou dormir aqui.
Suspirei desanimada, mas sorri por ele estar de empenhando
para a reunião.
— Promete que vai ao menos dormir? — Questionei
acariciando seu rosto com meu polegar.
— Prometo — disse selando nossos lábios com calma.
Queria beijá-lo, mas fomos interrompidos pelas batidas na
porta.
Me soltei dele e abri a porta me deparando com Isaac
segurando Kurama.
— Que tipo de mãe abandona a filha? — Questionou entrando
no meu quarto, ele olhou Cameron e me entregou Kurama — E que
tipo de pai deixa a mãe abandonar a filha?
— Ih, tá cheio de marra baixinho, vem no soco — Cameron
disse como se preparasse para uma luta e quando Isaac fez o
mesmo entrei no meio dos dois.
— Dentro do meu quarto não — disse séria e Isaac fez uma
careta.
O dois quando começavam não paravam.
— Deu sorte senão eu acabaria com você — Isaac disse
debochado e saiu do quarto andando como os homens musculosos.
— Ah, mas ele tá muito engraçadinho — Cameron se
impulsionou para ir atras dele.
— Amor — disse rindo e o parando com a mão em seu peitoral
—, já está tarde e amanhã você vai sair cedo — beijei seus lábios
com a mão desocupada em sua cintura.
— Cameron, seus pais estão te esperando — mamãe disse
parando na porta do quarto que estava aberta pois Isaac a deixou
assim.
— Tá me expulsando sogrinha? — Brincou me abraçando por
trás.
Mamãe adorava o jeito de Cameron e sempre entrava nas
brincadeiras dele.
— Sim — disparou séria, mas logo rimos. — Boa noite
crianças — disse saindo do quarto.
Mesmo sabendo que o veria amanhã, odiava me despedir
dele.
Se você chegou até aqui, mesmo passando raiva, tendo surtos ou
colapsos nervosos durante a leitura e ainda assim não desistiu,
saiba que eu te amo.
Primeiramente, eu agradeço a Deus. Ouvi de muitos que
através do livro vocês sentiram uma conexão de acordo com a
crença de vocês e se essa conexão aconteceu, é porque eu tive
uma e através do que eu senti pude mostrar um pouquinho a vocês.
Não poderia deixar de agradecer aos que chegaram enquanto
eu começava a escrever Doce Garota, não poderia me esquecer
jamais de quem esteve comigo quando eu pensava em desistir e
sempre sabiam o que falar ou me mostravam acreditar no meu
potencial.
Vocês, as coquinhas primatas, que chegaram quando eu não
tinha expectativa de estar onde estou agora, com meu livro físico,
obrigada por tudo! Nunca vou conseguir colocar em palavras o
quanto o apoio de vocês mudou tudo para mim e até hoje continua
mudando. Vocês são a minha força no mundo literário, de coração,
muito obrigada.
Ao meu amigo em quem tive base para escrever o
personagem Calleb: obrigada pelo apoio, a sua animação em saber
que meu livro se tornaria físico e seu orgulho de mim fizeram toda a
diferença.
A minha amiga que conheci em uma rede social em dois mil e
vinte: espero que você veja isso e se orgulhe, se não fosse por
você, eu provavelmente teria desistido anos atras, obrigada jujuba.
Agradeço aos meus outros amigos, que me mostraram estar
ao meu lado e orgulhosos de mim, que confiam no meu potencial
ainda mais do que eu mesma.
Todo o meu amor e agradecimento aos meus pais que nunca
me desmotivaram nesse mundo literário, pelo contrário, me
incentivaram a amar os livros, e ao meu irmão que adorou a ideia de
ter uma irmã escritora.
Bianca e Simone, se não fosse por vocês nada disso estaria
acontecendo, agradeço muito, muito, muito por confiar e acreditar
que investir em mim e em Doce Garota seria uma boa ideia, espero
todo o crescimento a vocês.
A Thay, Manu, Mel e Ju, sempre me refiro a vocês como a
minha equipe, não, a melhor equipe que existe nesse universo.
Obrigada por todo o apoio, toda a confiança, todo o carinho, por não
soltarem a minha mão, me defenderem e serem pessoas tão
incríveis.
E para você que leu todo o livro e vai esperar os próximos,
muito obrigada!
Não importa quando você me encontrou, se foi quando tudo
era mato ou anos depois, muito obrigada por ter lido Doce Garota e
nos vemos em breve.

Stacye C.

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