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ACONSELHAMENTO

RELIGIOSO

BACHAREL EM TEOLOGIA
ÍNDICE

A Igreja e o Aconselhamento 3

O Núcleo do Aconselhamento 7

O Conselheiro e o Aconselhando 18

As Crises no Aconselhamento 29

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A IGREJA E O ACONSELHAMENTO

Há pouco tempo atrás o pastor de uma igreja na região oriental dos Estados
Unidos escreveu um artigo provocante sob o título, “O Aconselhamento é Uma Perda
de Tempo. Frustrado pelo seu pouco êxito no aconselhamento, o escritor queixou-se
de gastar “horas e mais horas... falando ad infinitum com grande número de pessoas
que simplesmente não seguem seus ‘conselhos pastorais’”.

O líder da igreja foi suficientemente sincero para reconhecer que seu insucesso
talvez resultasse do fato dele não ter as qualificações necessárias para aconselhar com
eficácia. Concordou também que existe lugar para discussões doutrinárias e bíblicas
entre um ministro e um paroquiano, para falar sobre o casamento com os que estão se
aproximando do altar, ou para ministrar pessoalmente aos doentes e aos que sofrem.
Mas concluiu que não há lugar para “o aconselhamento pastoral tradicional tão pouco
produtivo”.

Uma conclusão semelhante foi expressa recentemente pelo presidente de uma


faculdade quando afirmou que “a única razão dos pastores aconselharem é com o
intuito de desempenhar o papel de psiquiatras e alimentar o seu ego de maneira pouco
saudável”. Os pastores devem restringir-se à pregação e evitar o aconselhamento,
afirmou o educador em questão, sem lembrar-se aparentemente de que a pregação
pode também incentivar o ego e que os motivos pouco sadios tendem a anuviar
qualquer atividade, e não apenas o aconselhamento. Ao continuarmos nossa
discussão, ele não disse como um pastor ou outro líder da igreja poderia ministrar às
pessoas, cuidar de suas necessidades e mesmo assim evitar ajuda-las numa base
individual ou em grupos pequenos.

Em um de seus primeiros livros Wayne Oates escreveu a este respeito com


surpreendente clareza:

O pastor, sem levar em conta o seu treinamento, não tem o privilégio de


escolher se irá ou não aconselhar o seu povo. Eles inevitavelmente levam-lhe os
seus problemas, a fim de obter orientação e cuidado. Não é possível evitar tal
coisa caso permaneça no ministério pastoral. A sua escolha não é feita entre
aconselhar ou não aconselhar, mas entre aconselhar de maneira disciplinada e
hábil ou aconselhar de modo indisciplinado e inábil.

Infelizmente, não é fácil aconselhar de forma disciplinada e hábil. Milhares de


técnicas de aconselhamento acham-se literalmente em uso; livros sobre terapia e ajuda
às pessoas são impressos com inquietante regularidade; existem quase tantas teorias
e abordagens ao aconselhamento quanto conselheiros; e mesmo com toda esta
informação e atividade até mesmo o conselheiro de tempo integral pode sentir-se
confuso.

Seria ótimo se todas essa publicações, teorias e treinamentos ajudassem


realmente os conselheiros a serem mais eficazes, mas parte dos chamados “auxílios
de aconselhamento” não têm na verdade muito valor. Até mesmo os conselheiros bem
treinados e experimentados, que se mantêm em dia com a literatura profissional e
aplicam as mais modernas técnicas descobrem que seus aconselhados nem sempre
melhoram. Não é difícil de entender, portanto, que alguns desistam concluindo que o
aconselhamento é realmente uma perda de tempo.

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Se todos desistissem, porém, para onde iriam as pessoas com seus problemas?
Jesus, que é o exemplo do cristão, passou muito tempo falando com as pessoas
necessitadas, em grupos e em contato face a face. O apóstolo Paulo, que era muito
sensível às necessidades dos indivíduos sofredores, escreveu: “Ora, nós que somos
fortes, devemos suportar as debilidades dos fracos, e não agradar nos a nós mesmos”
(Rm 15.1). Paulo escrevia, provavelmente, aqui sobre os que tinham dúvidas e
temores, mas seu cuidado compassivo estendeu-se a quase todas as áreas de
problemas que poderiam ser encontradas hoje. A ajuda às pessoas não é apresentada
na Bíblia como uma opção, mas como uma exigência para todo crente, inclusive o líder
da igreja. O aconselhamento pode parecer às vezes uma perda de tempo, mas deve
constituir uma parte importante do ministério, necessária e biblicamente estabelecida.

A fim de ajudar as pessoas, o aconselhamento busca estimular o


desenvolvimento da personalidade; ajudar os indivíduos a enfrentarem mais
eficazmente os problemas da vida, os conflitos íntimos e as emoções prejudiciais;
prover encorajamento e orientação para aqueles que tenham perdido alguém querido
ou estejam sofrendo uma decepção; e para assistir às pessoas cujo padrão de vida
lhes cause frustração e infelicidade. Além disso, o conselheiro cristão busca levar o
indivíduo a uma relação pessoal com Jesus Cristo e seu alvo é ajudar outros a se
tornarem, primeiramente, discípulos de Cristo e depois discipularem outros.

Para alcançar esses objetivos, é importante que os conselheiros se familiarizem


com os problemas (como surgem e como podem ser resolvidos), assim como as
técnicas de aconselhamento. Se, porém, dermos créditos às pesquisas recentes, as
características pessoais dos conselheiros parecem ter ainda maior significado. Depois
de rever quase 100 estudos sobre a eficácia do aconselhamento, uma dupla de autores
concluiu que as técnicas terapêuticas só podem atuar quando o conselheiro possui
uma personalidade “inerentemente positiva” – isto é, caracterizada por cordialidade,
sensibilidade, compreensão, cuidado e a disposição de confrontar as pessoas em uma
atitude de amor. Um psicólogo chamado C. H. Petterson chegou a uma conclusão
similar depois de escrever um livro profundo sobre as teorias contemporâneas do
aconselhamento:

A fim de ser mais eficaz o terapeuta deve ser uma pessoa real, humana...
oferecendo um relacionamento genuinamente humano... Grande parte da
atuação dos terapeutas é supérflua ou não tem relação com sua eficiência; de
fato, muito de seu sucesso não tem qualquer ligação com o que fazem ou
acontecem do que fazem, desde que ofereçam a relação que os terapeutas de
opiniões muito diferentes parecem fornecer...Trata-se de uma relação que não
se caracteriza tanto pelas técnicas usadas pelo terapeuta mas pelo que ele é;
não é tanto pelo que ele faz, mas pela maneira como o faz.

Jesus Cristo é certamente o melhor exemplo que possuímos de um “maravilhoso


conselheiro”, cuja personalidade, conhecimento e habilidade capacitaram-no
eficazmente para assistir às pessoas que precisavam de sua ajuda, Quando tentamos
analisar o aconselhamento de Jesus, existe sempre a tendência, inconsciente ou
deliberada, de encarar o ministério de Cristo de modo a reforçar nossas próprias
opiniões sobre como as pessoas são ajudadas. O conselheiro diretivo-confrontacional,
reconhece que Jesus tinha às vezes esta qualidade; o não-diretivo, “centrado no
cliente”, encontra apoio para esta abordagem em outros exemplos de ajuda aos
necessitados prestada por Jesus. É indiscutivelmente mais exato afirmar que Jesus fez

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uso de várias técnicas de aconselhamento, dependendo da situação, da natureza do
aconselhado e do problema específico. Ele algumas vezes ouvia cuidadosamente as
pessoas sem dar muita orientação, às claras, mas em outras ocasiões ensinava
incisivamente. Ele encorajava e apoiava, embora também confrontasse e desafiasse.
Jesus aceitava pessoas pecadoras e necessitadas, mas também exigia
arrependimento, obediência e ação.

A personalidade de Jesus era, entretanto, básica ao seu estilo de ajuda. Ele


demonstrou em seu ensino, cuidado e aconselhamento naqueles traços, atitudes e
valores que o tornaram eficaz como ajudador das pessoas e que servem de modelo
para nós. Jesus era absolutamente honesto, profundamente compassivo, altamente
sensível e espiritualmente amadurecido. Ele dedicou-se a servir seu Pai celestial e
seus semelhantes (nessa ordem), preparou-se para sua obra mediante períodos
freqüentes de oração e meditação, conhecia profundamente as Escrituras, e buscou
ajudar as pessoas necessitadas a se voltarem para ele, onde podiam encontrar paz,
esperança e segurança.

Jesus servia muitas vezes as pessoas através de sermões, mas também


combateu os céticos, desafiou os indivíduos, curou os doentes, falou com os
necessitados, encorajou os desanimados e deu exemplo de um estilo de vida santo.
Em seus contatos com o povo, ele compartilhou exemplos tirados de situações reais e
buscou constantemente estimular outros a pensarem e agirem de acordo com os
princípios divinos. Ele aparentemente acreditava que alguns precisam de ouvido
compreensivo que lhes dê atenção e consolo, e que discutam o problema, antes de
poderem aprender através do confronto, desafio, conselhos ou pregação pública.

De acordo com a Bíblia, os cristãos devem ensinar tudo o que Cristo nos
ordenou e ensinou. Isto inclui, certamente, doutrinas a respeito de Deus, autoridade,
salvação, crescimento espiritual, oração, a igreja, o futuro, anjos, demônios e a
natureza humana. Todavia, Jesus também ensinou sobre o casamento, interação entre
pais e filhos, obediência, relação entre raças, e liberdade tanto para homens como para
mulheres. Ele ensinou igualmente sobre assuntos pessoais como sexo, ansiedade,
medo, solidão, dúvida, orgulho, pecado e desânimo.

Todas essas são questões que levam as pessoas a procurar o aconselhamento


hoje. Quando Jesus tratava com essas pessoas ele freqüentemente ouvia suas
perguntas e as aceitava antes de estimula-las a pensar ou agir de modo diferente. Às
vezes dizia o que deveriam fazer, mas também orientava as pessoas para que
resolvessem os seus problemas através de indagações hábeis e divinamente
orientadas. Tomé foi ajudado em sua dúvida quando Jesus mostrou-lhe a evidência;
Pedro aparentemente aprendeu melhor por refletir (com Jesus) sobre os seus erros;
Maria de Betânia aprendeu ouvindo; e Judas parece que não aprendeu nada.
Ensinar tudo o que Cristo ensinou, portanto, inclui instrução na doutrina, mas
abrange também ajudar as pessoas a se entenderem melhor com Deus, com o próximo
e consigo mesmas. Essas são questões que se referem a todos praticamente. Alguns
aprendem através de palestras, sermões ou livros; outros pelo estudo pessoal da Bíblia
ou discussões; outros ainda aprendem através de aconselhamento formal ou informal;
e talvez a maioria de nós tenha aprendido mediante uma combinação dos elementos
acima.

No centro de toda ajuda cristã, particular ou pública, acha-se a influência do


Espírito Santo. Ele é descrito como um consolador ou ajudador que ensina “todas as

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coisas”, nos faz lembrar das palavras de Jesus, convence as pessoas do pecado, e nos
guia a toda a verdade. Através da oração, meditação sobre as Escrituras e entrega
deliberada a Cristo todos os dias, o conselheiro-professor se coloca à disposição como
um instrumento mediante o qual o Espírito Santo pode operar, ajudar, ensinar,
convencer ou guiar outro ser humano. Este deve ser o alvo de todo crente – pastor ou
leigo, conselheiro profissional ou ajudador leigo: ser usado pelo Espírito Santo para
tocar vidas, modifica-las e leva-las em direção à maturidade tanto espiritual quanto
psicológica.

A Igreja Como Uma Comunidade Terapêutica

Como vimos, Jesus falou com freqüência a indivíduos sobre as suas


necessidades pessoais e ele se reunia muitas vezes com pequenos grupos. O principal
entre estes era o grupinho de discípulos que ele preparou para “tomar seu lugar”
depois da sua ascensão ao céu. Foi durante uma dessas ocasiões em que estava com
os discípulos que Jesus mencionou a igreja pela primeira vez.

Nos anos que se seguiram foi esta igreja de Jesus Cristo que continuou seu
ministério de ensino, evangelização, serviço e aconselhamento. Essas atividades não
foram vistas como responsabilidade especial de líderes eclesiásticos do tipo “super-
star”; mas sim por crentes comuns trabalhando, compartilhando e cuidando uns dos
outros e dos incrédulos fora do corpo. Se lermos o livro de Atos e as Epístolas, torna-se
aparente que igreja não era apenas uma comunidade de evangelização, ensino,
discipulado, mas também uma comunidade terapêutica.

Em anos recentes, profissionais de saúde mental passaram a apreciar o valor de


grupos terapêuticos em que os membros se ajudam uns aos outros provendo apoio,
desafio, orientação e encorajamento que não seria possível de outra forma. Como é
natural, tais grupos podem ser prejudiciais, especialmente quando se transformam em
encontros não-controlados que buscam criticar e embaraçar os participantes em lugar
de edificá-los ou desafiá-los à franqueza ou ação eficaz. Quando conduzidas por um
líder sensível as sessões em grupos podem ser, porém, experiências terapêuticas
grandemente eficazes para todos os envolvidos.

Tais grupos terapêuticos não precisam limitar-se às reuniões de aconselhados e


um conselheiro. Famílias, grupos de estudo, amigos dignos de confiança, colegas de
profissão, grupos de empregados e outros pequenos conjuntos de pessoas
freqüentemente fornecem a ajuda necessária tanto nas crises como quando os
indivíduos enfrentam os desafios diários da vida. Em toda sociedade, porém, é a igreja
que possui o maior potencial como comunidade terapêutica. Os corpos locais de
crentes podem oferecer apoio aos membros, cura aos indivíduos perturbados e
orientação quando as pessoas tomam decisões e seguem em direção à maturidade.

Livros recentes sobre a igreja têm apresentado alguns títulos intrigantes: A


Comunhão dos Santos, Uma Comunhão Viva – Um Testemunho Dinâmico, A
Comunidade Incendiária, O Corpo de Cristo, A Companhia dos Dedicados. Em
contraste com este tom otimista, é provável que para muitos a igreja contemporânea
seja mais exatamente descrita como Uma Reunião de Estranhos, com Bancos Cheios
e Pessoas Solitárias. O corpo de crentes, que possui potencial para ser uma
comunidade dinâmica, produzindo crescimento, demasiadas vezes degenera em um
grupo de pessoas indiferentes que jamais admite ter necessidades ou problemas,

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assistindo aos cultos por simples hábito, e deixando a maior parte das atividades a
cargo de um pastor sobrecarregado. Tal quadro talvez seja exagerado, mas para
muitos a igreja local não representa ajuda ou não tem grande significado. Esta não foi
seguramente a intenção de Cristo quando a igreja foi estabelecida no princípio.

Por que a igreja foi iniciada? A resposta com certeza se encontra nas últimas
palavras de Jesus e seus seguidores, quando voltou ao céu: Ide, portanto, fazei
discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito
Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que
estou convosco até à consumação do século.

A igreja foi estabelecida a fim de cumprir a grande comissão de fazer discípulos


(que inclui evangelização) e ensinar. Ela é agora encabeçada por Jesus Cristo que nos
mostrou como evangelizar e ensinar, quem, pela sua vida e instrução, nos indicou os
aspectos tanto práticos como teóricos do cristianismo e que resumiu seus
ensinamentos em duas leis: amar a Deus e amar ao próximo.

Tudo isto deve ter lugar dentro dos limites de um grupo de crentes, tendo cada
um recebido os dons e habilidades necessários para edificar a igreja. Como um grupo,
guiado por um pastor, os crentes dirigem sua atenção e suas atividades para o alto,
através da adoração a Deus; para o exterior, mediante a evangelização, e para o
interior através da fraternidade e mútua divisão das cargas. Quando falta um desses
elementos, o grupo fica desequilibrado e os crentes incompletos.

O NÚCLEO DO ACONSELHAMENTO

Como quase todos sabem, a Bíblia contém vários exemplos de necessidades


humanas. Através de suas páginas lemos a respeito de solidão, desânimo, dúvida,
tristeza, inveja, violência, pobreza, doença, tensão interpessoal, e diversos outros
problemas pessoais – algumas vezes manifestados na vida dos maiores santos.

Considerando Jó por exemplo. Ele era um homem piedoso, conhecido, rico e


grandemente respeitado por seus contemporâneos. De repente as coisas mudaram. Jó
perdeu toda a sua riqueza. Sua família inteira morreu exceto sua mulher que, sob
pressão, mostrou-se queixosa e implicante. Ele perdeu a saúde, os amigos pouco o
ajudaram e Deus deve ter-lhe parecido muito remoto.

Veio então Eliú, um jovem que deu atenção às palavras de Jo e o ouviu falar de
suas dificuldades. Eliú criticou os que haviam censurado e oferecido conselhos numa
tentativa de ajuda. Ele mostrou aceitação e interesse, uma disposição humilde de
nivelar-se a Jo (sem uma atitude negativa de parecer “mais santo do que tu”), coragem
para confrontar, o desejo firme de dirigir o aconselhado a Deus que é o único soberano
no universo. Eliú foi o único conselheiro que prestou auxílio. Ele teve êxito onde os três
outros haviam falhado.

Há vários anos atrás, um ex-presidente da Associação Americana de Psicologia


calculou que ainda hoje, três entre cada quatro conselheiros são ineficazes. A

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proporção cresceu levemente segundo as descobertas de escritores mais recentes que
estudaram a eficácia do aconselhamento. De acordo com esta pesquisa, podemos
estar “bem certos” de que dois dentre cada três praticamente são ineficientes e até
prejudiciais; desperdiçando energia, dedicação e cuidado.

Existem porém conselheiros bem sucedidos, cujo aconselhamento é


grandemente eficaz. Essas pessoas são caracterizadas por uma personalidade que
irradia compreensão, sinceridade e aptidão para confrontar de maneira construtiva.
Esses conselheiros são também hábeis na aplicação de técnicas que estimulam os
aconselhados a se dirigirem para alvos terapêuticos específicos. Iniciaremos esta lição
com uma consideração desses alvos de aconselhamento, discutindo as qualificações
de um ajudador eficaz, resumindo algumas técnicas básicas de aconselhamento,
dando uma breve visão geral do processo de aconselhamento e concluindo com um
exame das tarefas para casa ligadas ao processo em questão.

Os Alvos do Aconselhamento

Certo dia em que ensinava a seus seguidores, Jesus contou a razão de sua
vinda a terra: dar-nos vida em abundância e em toda a sua plenitude. Antes disso, no
versículo que é hoje certamente o mais conhecido das Escrituras, Jesus falara sobre o
propósito de Deus ao enviar o Filho – “Para que todo o que nele crê não pereça, mas
tenha a vida eterna”. Jesus tinha, portanto, dois alvos para os indivíduos: vida
abundante na terra e vida eterna no céu.

O conselheiro que é um seguidor de Jesus Cristo tem o mesmo alvo ulterior e


abrangente de mostrar às pessoas como ter uma vida abundante e apontar aos
indivíduos a vida eterna prometida aos crentes.

Note as palavras “ulterior” e “abrangente” na sentença anterior. Se levarmos a


sério a grande comissão, desejaremos ansiosamente ver todos os nossos
aconselhados se tornarem discípulos de Jesus Cristo. Se levarmos a sério as palavras
de Jesus, provavelmente chegaremos à conclusão de que uma vida plena e abundante
só é concedida àqueles que buscam viver de conformidade com os seus ensinos.

Vamos reconhecer, porém, que existem muitos cristãos sinceros que terão uma
vida eterna nos céus mas não gozam de uma vida muito abundante na terra. Essas
pessoas precisam de aconselhamento que envolva mais do que evangelização ou
educação cristã tradicional. Tal aconselhamento poderia, por exemplo, ajudar os
aconselhados a reconhecer as atitudes prejudiciais inconscientes, ensinar habilidade
interpessoais e novos comportamentos, ou mostrar como mobilizar os recursos íntimos
a fim de enfrentar uma crise.

Tal aconselhamento pode às vezes, quando orientado pelo Espírito Santo,


libertar o aconselhado de situações que o impedem de desenvolver-se até a
maturidade cristã. No caso do incrédulo, tal aconselhamento pode servir como uma
espécie de “pré-evangelização” para usar o termo de Schaeffer, que remove alguns
dos obstáculos mais insidiosos à conversão. A evangelização e o discipulado são,
portanto, os objetivos “ulteriores e abrangentes” do conselheiro, embora não sejam os
únicos.

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Quais são alguns dos demais alvos? Qualquer lista pode incluir pelo menos os
seguintes:

1. Autocompreensão. Compreender a si mesmo é, no geral, o primeiro passo para


a cura. Muitos problemas são auto-impostos, mas a pessoa que está sendo
ajudada talvez não reconheça que suas percepções são preconceituosas, suas
atitudes prejudiciais e seu comportamento autodestrutivo. Considere, por exemplo,
o indivíduo que se queixa: “Ninguém gosta de mim”, mas não percebe que sua
reclamação é uma das razões de ser rejeitado por outros. Um dos alvos do
aconselhamento é que um ajudador objetivo e alerta, auxilie os que estão sendo
assistidos a obter um quadro real do que está passando em seu íntimo e no mundo
que os rodeia.

2. Comunicação. É bem conhecido que muitos problemas no casamento estão


relacionados com uma falta de comunicação entre os cônjuges. O mesmo se aplica
a outros problemas. As pessoas são incapazes ou não estão dispostas a
comunicar-se. O aconselhado precisa aprender a comunicar sentimentos,
pensamentos e atitudes, correta e eficazmente. Tal comunicação envolve a
expressão da pessoa e a capacidade de receber mensagens corretas por parte de
outros.

3. Aprendizado e Modificação de Comportamento. Quase todo, senão todo o nosso


comportamento é aprendido. O aconselhamento, portanto, inclui ajuda no sentido
de fazer com que o aconselhado desaprenda o comportamento negativo e
aprenda meios mais eficientes de agir. Tal aprendizado vem através da instrução,
da imitação de um conselheiro ou outro modelo, e da experiência e erro. O
ajudador deve encorajar a pessoa que está auxiliando a “avançar”, praticando o
que aprendeu. Algumas vezes será também necessário analisar o que houve de
errado quando ocorrer um fracasso e recomendar uma nova tentativa por parte do
aconselhado.

4. Auto-realização. Escritores humanistas recentes têm enfatizado a importância do


indivíduo aprender a alcançar e manter o seu potencial máximo. Isto é chamado de
“auto-realização”, sendo proposto por alguns conselheiros como o alvo de todos os
seres humanos quer se achem ou não no ramo do aconselhamento. Para o cristão,
um termo como “Cristo-realização” poderia ser substituído, indicando que o alvo na
vida se completa em Cristo, desenvolvendo nosso mais elevado potencial mediante
o poder do Espírito Santo que nos leva à maturidade espiritual.

5. Apoio. As pessoas com freqüência conseguem alcançar cada um dos alvos


acima e funcionar eficazmente, salvo em períodos temporários de tensão ou crise
incomuns. Tais pessoas podem beneficiar-se de um período de apoio,
encorajamento e “divisão de fardo”, até que sejam capazes de remobilizar seus
recursos pessoais e espirituais, a fim de enfrentar eficientemente os problemas da
vida.

Em qualquer tipo de aconselhamento é, no geral, útil quando o conselheiro e o


aconselhado estabelecem alvos ou objetivos definidos para o aconselhamento. Esses
alvos devem ser específicos e não vagos, realistas e (no caso de serem vários)
organizados em alguma seqüência lógica que identifique os pontos a serem atingidos
em primeiro lugar e, talvez, por quanto tempo.

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Qualificações dos Conselheiros Eficazes

O que faz de alguém um bom conselheiro? Num estudo de quatro anos


conduzido com pacientes hospitalizados e vários conselheiros, foi descoberto que os
pacientes melhoravam quando seus terapeutas mostravam um nível elevado de
cordialidade, sinceridade e compreensão empática correta. Quando faltavam essas
qualidades ao conselheiro, os pacientes pioravam.

Essas primeiras descobertas foram apoiadas por pesquisas subseqüentes tanto


com pacientes como com aconselhados não hospitalizados. As qualificações do
conselheiro são de tal importância que vale a pena considerá-las em mais detalhe:

1. Cordialidade. Este termo implica em cuidado, respeito ou preocupação sincera,


sem excessos, pelo aconselhado – sem levar em conta seus atos ou atitudes.
Jesus mostrou isto quando se encontrou com a mulher junto ao poço. As
qualidades morais dela talvez deixassem a desejar, e Ele certamente jamais
aprovou o comportamento pecaminoso; mas, mesmo assim, Jesus respeitou a
mulher e a tratou como pessoa de valor. Sua atitude calorosa, interessada, deve
ter sido aparente onde quer que fosse.
2. Sinceridade. O conselheiro sincero é “real” – uma pessoa aberta, franca, que
evita o fingimento ou uma atitude de superioridade. A sinceridade implica em
espontaneidade sem irreflexão e honestidade sem confrontação impiedosa. Isto
significa que o ajudador é profundamente ele ou ela mesmo – não sendo do tipo
que pensa ou sente uma coisa e diz algo diferente.

3. Empatia. Como o aconselhado pensa? Como ele se sente na verdade por


dentro? Quais os valores, crenças, conflitos íntimos e mágoas do aconselhado?
O bom conselheiro mostra-se sempre sensível a essas questões. Capaz de
entendê-las e comunicar eficazmente essa compreensão (por palavras ou
gestos) ao aconselhado. Esta capacidade de “sentir com” o aconselhado é que
queremos dizer com compreensão empática correta. É possível ajudar as
pessoas, mesmo quando não entendemos completamente, mas o conselheiro
que consegue empatizar (especialmente no início do aconselhamento) tem mais
probabilidade de tornar-se um ajudador eficaz de pessoas.

Embora a cordialidade, sinceridade e empatia se achem entre os atributos mais


freqüentemente citados de um bom conselheiro, existem outras características
importantes de ajuda. O bom conselheiro, por exemplo, é capaz de viver
eficientemente, com poucos conflitos imobilizantes, desânimos, inseguranças ou
problemas pessoais. O conselheiro eficiente é também compassivo, interessado nas
pessoas, alerta em relação aos seus próprios sentimentos e motivos, revelando-se
mais do que se ocultando, e bem informado no setor de aconselhamento. O cristão
poderia resumir tudo isto afirmando que o conselheiro deve ter amor.

Este aspecto foi ressaltado há vários anos atrás num livro de Gordon Allport,
professor da Faculdade de Harvard e ex-presidente da Associação Americana de
Psicologia. Ele chamou o amor de “incomparavelmente o maior agente
psicoterapêutico... algo que a psiquiatria profissional não pode criar por si mesma, nem
focalizar, nem liberar”. Allport sugeriu que o conselheiro secular muitas vezes não pode
suprir o amor necessário ao aconselhado e é incapaz de receber o amor que este quer
lhe dar. Será possível, sugeriu ele, que o cristianismo ofereça uma abordagem para a
vida baseada inteiramente no amor e portanto possa ajudar onde o aconselhamento

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secular fracassa? Isto dá lugar a um desafio que leva o conselheiro cristão a refletir: um
meio básico de ajudar é amar – pedir a Deus para amar as pessoas necessitadas
através de nós e suplicar que nos conceda mais amor.

Mas, será o amor suficiente? Para algumas pessoas e em relação a alguns


problemas, o amor basta; mas, quanto a outros mais ajuda é necessária. Há vários
anos atrás um famoso psiquiatra infantil escreveu um livro como o título: O Amor Não é
Suficiente (Love is Not Enough) e discutiu a importância da disciplina, da estrutura e de
outras influências terapêuticas. O ajudador cristão eficiente mostra amor. Isto é básico,
fundamental. Mas ele ou ela também busca desenvolver qualificações terapêuticas e
tenta tornar-se perito no conhecimento e uso das técnicas fundamentais de
aconselhamento.

Técnicas de Aconselhamento

O aconselhamento é, primariamente, uma relação em que uma pessoa, o


ajudador, busca assistir outro ser humano nos problemas da vida. De modo diferente
das discussões casuais entre amigos, a relação de ajuda, pelo menos para os
profissionais, é caracterizada por um propósito claro – ajudar o aconselhado.

As necessidades do ajudador são, na maior parte, satisfeitas em outra situação


e ele não depende do aconselhado para receber amor, para afirmar-se ou ser ajudado.
O conselheiro tenta remover seus próprios conflitos, tomar consciência das
necessidades do aconselhado e comunicar tanto compreensão como sua vontade de
ajudar. A ajuda pode ser um processo complicado, impossível de ser descrito em
poucos parágrafos. Podemos, porém, resumir algumas das técnicas básicas utilizadas
numa situação de ajuda.

1. Atenção. O conselheiro deve tentar conceder atenção integral ao aconselhado.


Isto é feito mediante (a) contato de olhos – olhar sem arregalar os olhos, como
um meio de transmitir interesse e compreensão; (b) postura, que deve ser
relaxada e não tensa, e que geralmente envolve inclinar-se em direção ao
aconselhado e (c) gestos naturais, mas não excessivos ou que provoquem
distração. O conselheiro deve ser amável, bondoso, fortemente motivado à
compreensão. Ele deve estar sempre vigilante quanto a algumas das distrações
íntimas que nos impedem de oferecer atenção integral: fadiga, impaciência,
preocupação com outros assuntos, devaneios e inquietação. A ajuda às pessoas
é naturalmente difícil, sendo uma tarefa exigente que envolve sensibilidade,
expressões genuínas de cuidado e estar sempre vigilante para atender a outrem
tanto física como psicologicamente.

2. Ouvir. Isto abrange mais do que uma recepção passiva de mensagens. Segundo
o psiquiatra Armand Nicholi, o ato de ouvir eficazmente envolve:

 percepção suficiente e solução dos próprios conflitos a fim de evitar reagir


de modo a interferir com a livre expressão dos pensamentos e
sentimentos do aconselhado;
 evitar expressões verbais ou não-verbais dissimuladas de desprezo ou
juízo com relação ao conteúdo da história do aconselhado, mesmo
quando esse conteúdo ofenda a sensibilidade do conselheiro;

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 aguardar pacientemente durante períodos de silêncio ou lágrimas
enquanto o aconselhado se enche de coragem para aprofundar-se em
assuntos penosos ou faz pausas para reunir seus pensamentos ou
recuperar a compostura;
 ouvir não apenas o que o aconselhado diz, mas aquilo que ele ou ela está
tentando dizer ou deixou de dizer;
 usar os dois olhos ou ouvidos para captar as mensagens transmitidas
pelo tom de voz, postura, e outras pistas não-verbais;
 analisar as próprias reações quanto ao aconselhado;
 evitar desviar os olhos do aconselhado enquanto este fala;
 sentar-se imóvel
 limitar o número de excursões mentais às próprias fantasias;
 controlar os sentimentos em relação ao aconselhado que possam
interferir com uma atitude de aceitação, simpatia, que não faz juízos
antecipados; e
 compreender que é possível aceitar plenamente o aconselhado sem
aprovar ou sancionar atitudes e comportamento destrutivos para o
aconselhado ou para outros.

É fácil ignorar tudo isto e escorregar rapidamente para a oferta de conselhos e


falação excessiva. Isto impede o aconselhado de expressar realmente suas mágoas,
esclarecer um problema através de conversa, partilhar todos os detalhes de uma
questão ou experimentar o alívio que vem com o desabafo.

Os conselheiros que falam muito podem dar bons conselhos, mas estes
raramente são ouvidos e terão ainda menos probabilidade de serem seguidos. Em tais
situações, o aconselhado sente que não foi compreendido. Em contraste, ouvir é um
modo de dizer-lhe: “Eu me interesso”. Quando não ouvimos, mas aconselhamos
falando, esta é com freqüência uma expressão da própria insegurança do conselheiro
ou de sua incapacidade para tratar de situações ambíguas, ameaçadoras ou
emocionais.

3. Responder. Não se deve supor, porém, que o conselheiro nada faz além de
ouvir. Jesus era um bom ouvinte (lembre-se de seu encontro com os dois
discípulos confusos na estrada de Emaús, por exemplo), mas a sua ajuda
também se caracterizava pela ação e respostas verbais específicas.

Orientar ou liderar é uma habilidade mediante a qual o conselheiro prevê a


direção dos pensamentos do aconselhado e responde de maneira a redirecionar a
conversação. “Você pode dar mais detalhes...?” “O que aconteceu então...?” “O que
você estava querendo dizer com...?” – todas essas são perguntas breves que, espera-
se, irão orientar ao máximo a discussão em direções produtivas.

Refletir é um modo de permitir que os aconselhados saibam que “estamos com


eles” e podemos compreender seus sentimentos ou pensamentos. “Você deve sentir-
se...”, “Tenho a certeza de que isso o frustrou”, “Acho que foi mesmo divertido” – essas
frases refletem o que está acontecendo no aconselhamento. Tenha cuidado para não
usar esse método depois de cada declaração (faça isso apenas periodicamente) e
tente evitar respostas estereotipadas (repetir sempre sentenças, começando com
frases como: “Você deve pensar...” ou “Estou ouvindo você dizer que...”).

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Um breve resumo da entrevista pode ser também um meio de refletir e estimular
maior exploração por parte do aconselhado. O conselheiro pode resumir sentimentos
(“isso realmente magoa”) e/ou temas gerais do conteúdo (“de tudo que me contou
parece que teve uma série de decepções”), mas dê sempre ao aconselhado tempo e
oportunidade para responder a tais reflexões – fazendo um sumário.

Perguntar, caso seja feito com habilidade poderá extrair bastante informações
úteis. As melhores perguntas são aquelas que exigem pelo menos uma sentença ou
duas do aconselhado (Fale-me sobre o seu casamento”) em lugar das que podem ser
respondidas em uma palavra (“Você é casado?” “Qual a sua idade?”). Os conselheiros
iniciantes fazem mais perguntas que os mais experimentados, e desde que um
interrogatório intensivo pode sufocar a comunicação, os alunos são no geral instruídos
a fazerem poucas perguntas. As perguntas que começam com “Por quê?” são quase
sempre evitadas, desde que tendem a parecer críticas ou a estimular discussões
intelectuais prolongadas que impedem o aconselhado a confrontar seus verdadeiros
sentimentos ou mágoas.

Confrontar significa apresentar alguma idéia ao aconselhado, a qual ele ou ela


talvez não percebesse de outro modo. Os aconselhados podem ser confrontados com
o pecado em sua vida, inconsistência ou comportamento derrotista, devendo ser
encorajados a modificar seu comportamento ou atitudes.

O confronto é mais bem aceito quando apresentado de maneira suave, cheia de


amor, sem uma atitude de julgamento. Todavia, ele com freqüência provoca
resistência, culpa e algumas vezes ira por parte do aconselhado. Torna-se importante,
pois, que o conselheiro dê tempo ao aconselhado para responder verbalmente ao
confronto e discutir maneiras alternativas de comportar-se. Um tal confronte leva às
vezes à confissão e a uma experiência significativa de perdão. Alguns cristãos
sugeriram que aconselhamento e confronto são termos sinônimos. Isto não tem apoio
psicológico nem bíblico. O confronto é uma parte relevante e por vezes difícil do
aconselhamento, mas não é a única habilidade envolvida no processo de ajudar as
pessoas.

Informar abrange a apresentação de fatos aos que precisam de informação. Isto


difere da idéia do conselheiro partilhar suas opiniões ou dar conselhos. Informar é uma
parte comum e aceita no aconselhamento; oferecer conselhos é bem mais controverso.
Os que fazem isto geralmente não possuem o conhecimento necessário de uma
situação para orientar com competência, seus conselhos encorajam a dependência do
aconselhado, e se as recomendações não forem bem sucedidas o conselheiro irá mais
tarde sentir-se responsável pela sua orientação negativa.

Toda vez que lhe pedirem conselhos ou sentir-se inclinado a aconselhar,


certifique-se de que conhece bem a situação. Você tem suficiente informação e perícia
para aconselhar outrem? Pergunte a si mesmo quais poderiam ser os resultados de
seus conselhos. Haveria possibilidade de provocar dependência no aconselhado? Você
tem condições para enfrentar os sentimentos que talvez venham a surgir no caso de
sua orientação ser rejeitada ou mostrar-se errada? Caso positivo, ofereça conselho,
ofereça-o na forma de sugestão, dê ao aconselhado tempo para reagir e falar a
respeito de sua sugestão, e informe-se depois para ver até que ponto o conselho foi
proveitoso.
Interpretar envolve a idéia de explicar ao aconselhado o que seu comportamento
ou outros eventos significam. Esta é uma habilidade altamente técnica com grande

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potencial para capacitar os aconselhados a verem a si mesmos e suas circunstâncias
mais claramente. Mas as interpretações podem ser também prejudiciais, especialmente
se forem introduzidas antes do aconselhado poder tratar emocionalmente do material,
ou se as interpretações forem erradas.

Se você, como conselheiro, começar a perceber algumas explicações possíveis


para os problemas de outra pessoa, pergunte-se se o aconselhado acha-se intelectual
ou emocionalmente preparado para tratar do assunto, mantenha os termos simples
enquanto interpreta, apresente a sua explicação de modo tentativo (Não será que...?) e
dê tempo ao aconselhado para responder. Enquanto você discute a interpretação o
aconselhado muitas vezes desenvolve maior percepção e fica capacitado a explorar
cursos futuros de ação em conjunto com o conselheiro.

Apoiar e encorajar são partes importantes de qualquer situação de


aconselhamento, especialmente no início. Quando as pessoas estão sobrecarregadas
por necessidades e conflitos, elas podem tirar proveito da estabilidade. Cuidado com
uma pessoa empática que mostre aceitação e lhe forneça uma sensação de
segurança. Isto, porém, é mais do que assistir aos oprimidos. O apoio inclui a
orientação do aconselhado no sentido de fazer uma avaliação de seus recursos
espirituais e psicológicos, encorajá-lo à ação e ajudar com quaisquer problemas ou
fracassos que possam resultar desta ação.

 4. Ensinar. Todas essas técnicas são na verdade formas especializadas de


educação psicológica. O conselheiro é um educador, ensinando através da
instrução e orientando o aconselhado à medida que ele ou ela aprende a
enfrentar os problemas da vida. Da mesma forma que outros tipos pessoais de
educação, o aconselhamento é mais eficaz quando as discussões são
específicas e não vagas, focalizando situações concretas (“Como posso
controlar meu gênio quando sou criticado por minha esposa?”) em lugar de alvos
nebulosos (“Quero ser mais feliz”).

Um dos instrumentos de aprendizado mais poderosos é o que os psicólogos


chamam de respostas imediatas (“immediacy responses”). Isto envolve a capacidade
do conselheiro e aconselhado discutirem direta e abertamente o que está acontecendo
no aqui e agora de sua relação. “Sinto-me muito frustrado com você no momento”,
alguém pode dizer por exemplo, ou “Estou ficando zangado porque acho que você está
me desprezando”. Tais expressões sinceras e diretas de como alguém se sente numa
situação são terapêuticas e tratam com os sentimentos antes destes deteriorarem e
crescerem negativamente. As respostas imediatas também ajudam os aconselhados (e
conselheiros) a compreenderem melhor como as suas reações afetam outros e como
eles respondem emocionalmente aos relacionamentos interpessoais. Tal compreensão
é um aspecto educacional importante do aconselhamento.

O Processo do Aconselhamento

O aconselhamento não é um processo tipo passo-a-passo, como assar um bolo,


mudar um pneu, ou mesmo preparar um sermão. Cada aconselhado é único – com
problemas, atitudes, valores, expectativas e experiências peculiares. O conselheiro
(cujos problemas, atitudes, valores, expectativas e experiências pessoais são também
parte das situações de aconselhamento) deve abordar cada indivíduo de modo um

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pouco diferente e descobrirá que o curso do aconselhamento irá variar de pessoa a
pessoa.

Em toda relação de aconselhamento, porém, existem, ao que parece, vários


estágios, e os três primeiros podem ser repetidos diversas vezes, à medida que os
problemas são considerados e reconsiderados. Esses estágios incluem o
estabelecimento e manutenção de um relacionamento entre conselheiro e
aconselhado; a exploração de problemas a fim de esclarecer certas questões e
determinar como os problemas podem ser tratados; a decisão sobre um curso de ação;
o estímulo do aconselhado para que tome uma atitude; a avaliação do progresso e
decisão sobre ações subseqüentes; assim como terminar a relação sem a ajuda
contínua do conselheiro.

No papel, tudo isto parece direto e simples, mas o processo de aconselhamento


pode ser bastante complexo e exigir muito do nosso tempo e energia.

Uma das razões para isto é que os estágios são raramente identificados com
tanta clareza ou tão facilmente como os parágrafos anteriores talvez sugiram. Por
exemplo, o primeiro passo de estabelecer uma relação é especialmente importante no
início, quando os aconselhados (e conselheiros) talvez estejam nervosos e
apreensivos. Todavia, uma vez que a relação tenha começado, ela deve ser mantida, a
fim de que o conselheiro jamais perca completamente de vista o passo número um. No
decorrer do aconselhamento surge uma vacilação natural entre estes estágios, de
avanço e retrocesso, à medida que os problemas se tornam mais definidos, as
soluções são encontradas e o aconselhamento se dirige para o seu final.

Sem levar em conta quão eficaz possa ser a hora de aconselhamento, sua
influência pode ser diminuída se o aconselhado sair da sessão e esquecer-se ou
ignorar o que aprendeu. A fim de enfrentar este problema, muitos conselheiros dão
tarefa de casa – projetos destinados a fortalecer, expandir e estender o processo de
aconselhamento para além do período que o aconselhado passa com o conselheiro.

Tarefa de Casa do Aconselhamento

Em seu excelente livro sobre a ajuda, o psicólogo Paul Welter nota que cada
pessoa tem um modo especial de aprender. Alguns aprendem melhor ouvindo –
escutando o que outros dizem. Outros vendo – lendo, assistindo filmes e observando
diagramas.

Existem também indivíduos que aprendem melhor fazendo – completando


projetos, desempenhando papéis, ou representando seus sentimentos. Embora tenha
havido algumas exceções recentes (especialmente em certas abordagens do
aconselhamento orientadas no sentido da experiência), a ajuda tradicional às pessoas
sempre envolve uma aproximação do tipo falar-ouvir. As sessões de aconselhamento
duram aproximadamente uma hora, sendo separadas por uma semana ou mais de
outras atividades.

As tarefas de casa capacitam as pessoas a estenderem o seu aprendizado para


além das sessões de aconselhamento e permitem ver e fazer além de ouvir. A tarefa
de casa, escreve Adams,

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É a essência do bom aconselhamento. O conselheiro que aperfeiçoa a sua
habilidade nesse sentido verá a diferença em sua eficácia na ajuda às pessoas.
Aprender como passar tarefa de casa positiva, bíblica, concreta, que se adapte
criativamente à situação, exige tempo e esforço, mas produz dividendos.

Desde que o termo “tarefa de casa” geralmente faz pensar em algo monótono
imposto sobre um receptor rebelde, foi sugerido que “acordos-tarefa” poderia ser um
termo melhor e mais exato.

O conselheiro e aconselhado concordam a respeito de tarefas que podem ser


realizadas nos intervalos das sessões de aconselhamento. Essas tarefas ajudam o
aconselhado a manter-se cônscio dos alvos do aconselhamento, obter informação
adicional (mediante leitura ou ouvindo fitas), desenvolver e praticar novas habilidades,
eliminar o comportamento prejudicial, testar o que foi aprendido no aconselhamento, e
experimentar novas maneiras de pensar e agir.

Os acordos-tarefa podem ser de vários tipos e incluir comportamentos


específicos, tais como fazer um elogio todos os dias, abster-se de críticas, ler um
capítulo diário na Bíblia, dedicar tempo a um parente que considere importante, manter
um registro do uso do tempo, ou fazer uma lista dos próprios valores e prioridades.

No final de cada sessão de aconselhamento, o conselheiro e o aconselhado


poderiam perguntar: “Depois deste período de aconselhamento, de que modos
específicos o aconselhado pode praticar o que aprendeu hoje ou obter novos
conhecimentos que serão ainda mais úteis?” As respostas e, portanto, os acordos-
tarefa em potencial, são quase ilimitados.

Apesar destas possibilidades de diversificação, cinco tipos de tarefas de casa


têm sido quase sempre usados:

 1. Testes. Isto inclui questionários, formulários para completar sentenças, testes


padronizados, e trabalhos escritos (tais como preparar uma breve biografia,
fazer uma lista dos alvos na vida, fazer uma lista daquilo que gosta ou não gosta
sobre o emprego, e assim por diante). Essas respostas escritas são devolvidas
ao conselheiro e discutidas com ele.

 2. Discussão e Guias de Estudo. Esses guias aparecem algumas vezes nos


apêndices de livros, mas volumes inteiros têm sido dedicados à orientação dos
estudos em casa ou discussão em pequenos grupos. Este estudo tem lugar
algumas vezes independentemente de qualquer aconselhamento. Outras vezes
o estudo é um acordo-tarefa a ser completado entre as sessões de
aconselhamento e discutido subseqüentemente no aconselhamento.

 3. Tarefas Comportamentais. Os aconselhados são às vezes encorajados a


modificar suas atitudes de maneira leve mas importante, entre as sessões de
aconselhamento, Dizer “obrigado”, fazer elogios periódicos, não se queixar de
certo hábito aborrecido do nosso cônjuge, chegar ao trabalho na hora, ler a
Bíblia durante dez minutos diariamente – esses são os tipos de sugestões de
mudança de comportamento dadas pelos conselheiros e depois discutidas com
os aconselhados.

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 4. Leitura. Os livros e artigos com freqüência contêm informação útil que pode
completar as sessões de aconselhamento. Existe sempre o perigo dos
aconselhados interpretarem mal o que foi escrito ou que algo seja tirado de seu
contexto. Poucos conselheiros têm o tempo necessário para examinar todos os
livros potencialmente revelantes e será difícil encontrar materiais escritos com os
quais o conselheiro esteja de pleno acordo. Apesar dessas limitações, os artigos
e livros podem ser um suplemento proveitoso no aconselhamento,
especialmente se a leitura for discutida subseqüentemente com o aconselhado.

 5. CDs. A terapia musical – uso da música para ajudar as pessoas com seus
problemas – é pelo menos tão antiga quanto às melodias calmantes que Davi
tocava pare serenar o perturbado rei Saul. Muitas pessoas relaxam ligando o
botão de seu aparelho de som depois de um dia pesado de trabalho.

Mas a recente explosão de interesse nas fitas-cassete e a grande


disponibilidade de equipamentos de repetição pouco dispendioso, vem dando ao
conselheiro um recurso potencialmente poderoso mas ainda não pesquisado. De modo
literal, milhares de fitas acham-se presentemente disponíveis sobre uma ampla escala
de assuntos. A qualidade das fitas e a exatidão da informação nelas contidas nem
sempre é boa, mas elas podem ser melhoradas e utilizadas como um suplemento
positivo no aconselhamento pessoal.

Por exemplo, há vários anos atrás na Universidade de Austin, várias fitas-


cassete foram preparadas, cada uma das quais durava de sete a dez minutos e
continha recomendações práticas de aconselhamento, assim como informação sobre
onde conseguir mais ajuda. Essas fitas tornaram-se parte de um serviço telefônico 24
horas em que as pessoas podiam chamar a qualquer hora e ouvir a fita da sua escolha.
A pesquisa inicial demonstrou que as fitas estão sendo largamente usadas, são úteis e
quase sempre estimulam as pessoas a buscarem mais aconselhamento.

O CONSELHEIRO E O ACONSELHANDO

Quase todos nós encontramos pessoas que gostariam de desempenhar o papel


de conselheiros, muitas vezes por se tratar de uma atividade considerada fascinante –
dar conselhos e ajudar as pessoas a resolverem os seus problemas. O
aconselhamento, como é natural, pode ser um trabalho muito gratificante, mas não leva
tempo para descobrirmos que se trata de uma tarefa árdua, emocionalmente exaustiva.

Ele envolve concentração intensa e algumas vezes nos faz sofrer, ao vermos
tantas pessoas infelizes. Quando esses indivíduos não conseguem melhorar, como
acontece com freqüência, é fácil culpar-nos, tentar dar mais ainda de nós mesmos e
ficar imaginando o que aconteceu de errado. Enquanto mais e mais pessoas procuram
aconselhamento, surge a tendência de aumentar nosso período de trabalho,
esforçando-nos até o limite máximo de nossas forças.

Alguns dos problemas dos aconselhados nos fazem lembrar de nossas próprias
inseguranças e conflitos e isto pode ameaçar nossa estabilidade ou sentimentos de

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auto-estima. Não é de admirar que o aconselhamento tenha sido considerado uma
ocupação tanto gratificante quanto arriscada. Discutiremos neste capítulo alguns dos
riscos, e consideraremos alguns dos meios que podem tornar a tarefa do conselheiro
mais satisfatória e bem sucedida.

A Motivação do Conselheiro

Por que você quer aconselhar? Alguns conselheiros cristãos, especialmente


pastores, foram praticamente obrigados a exercer essa ocupação devido às pessoas
que os procuram espontaneamente para pedir ajuda com seus problemas.

Outros conselheiros encorajaram as pessoas a procurá-los e talvez tenham feito


um treinamento especial, baseados na suposição válida de que o aconselhamento é
uma das maneiras mais eficazes de servir aos outros. Como vimos, a Bíblia ordena o
cuidado mútuo e isto com certeza envolve o aconselhamento.
Quase nunca é fácil analisar e avaliar nossos motivos. Isto talvez se aplique
especialmente quando examinamos nossas razões para praticar o aconselhamento.
Um desejo sincero de auxiliar as pessoas a se desenvolverem é uma razão válida para
tornar-se um conselheiro, mas existem outras que motivam os conselheiros e que
interferem com a eficácia de seu aconselhamento.

 1. Curiosidade – Necessidade de Informação. Ao descrever seus problemas, os


aconselhados, no geral, oferecem certas informações que não contariam a mais
ninguém de outra forma. Quando o conselheiro é curioso, ele ou ela algumas
vezes esquece o aconselhado, pressiona para obter mais detalhes e com
freqüência não consegue manter segredo. Por esse razão, as pessoas preferem
evitar os ajudadores curiosos.

 2. A Necessidade de Manter Relações. Todos precisam de aproximação e


contatos íntimos com pelo menos duas ou três pessoas. Para alguns
aconselhados, o conselheiro será seu melhor amigo, pelo menos
temporariamente. Mas, e se os conselheiros não tiverem outros amigos além
dos aconselhados? Em tais casos a necessidade que o conselheiro tem de um
relacionamento pode prejudicar sua ajuda. Ele na verdade não quer que os
aconselhados melhorem e terminem o aconselhamento, visto que isto
interromperia a relação. Se você procura oportunidades para prolongar o
período de aconselhamento, para chamar o aconselhado, ou reunir-se com ele
socialmente, a relação pode estar satisfazendo suas necessidades de
companhia tanto quanto (ou mais do que) proporciona ajuda ao aconselhado.
Neste ponto o envolvimento conselheiro-aconselhado deixa de ser uma relação
de ajuda profissional. Isto nem sempre é negativo, mas os amigos também nem
sempre são os melhores conselheiros.

 3. A Necessidade de Poder. O conselheiro autoritário gosta de “endireitar” os


outros, dar conselhos (mesmo quando não solicitado), e desempenhar o papel
de “solucionador de problemas”. Alguns aconselhados do tipo dependente
podem desejar isto, mas não serão ajudados se suas vidas forem controladas
por outra pessoa. A maioria das pessoas, no entanto, irá eventualmente opor
resistência a um conselheiro autoritário. Ele ou ela não será verdadeiro
ajudador.

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 4. A Necessidade de Socorrer. O conselheiro deste tipo tira a responsabilidade
do aconselhado ao demonstrar uma atitude que diz claramente: “você não é
capaz de resolver isso, deixe tudo comigo”. Esta foi chamada de abordagem do
messias benfeitor. Ela pode satisfazer o aconselhado por algum tempo, mas
raramente fornece ajuda duradoura. Quando a técnica de socorro falha (como
acontece muitas vezes) , o conselheiro sente-se culpado e inadequado – como
um messias incapaz de salvar os perdidos.

É provável que todo conselheiro perspicaz experimenta por vezes tais


tendências, mas não deve ceder às mesmas. Quando a pessoa procura
aconselhamento, está aceitando o risco de compartilhar informação pessoal e entregar-
se aos cuidados do conselheiro. Este irá violar esta confiança e portanto diminuir a
eficácia do aconselhamento se a relação de ajuda for usada primariamente para
satisfazer as necessidades do próprio ajudador.

A Eficácia do Conselheiro

Todos sabem que algumas pessoas dão melhores conselhos que outras. Isto faz
surgir uma questão importante e fundamental. Todo cristão pode ser um bom
conselheiro ou o aconselhamento é um dom reservado para certos membros
escolhidos no corpo de Cristo?

Segundo a Bíblia, todos os crentes devem ter um interesse compassivo por seus
semelhantes, mas não se deduz disso, necessariamente, que todos os crentes sejam
ou possam tornar-se conselheiros bem dotados. Neste respeito, o aconselhamento é
como o ensino. Todo pai tem a responsabilidade de ensinar seus filhos, mas apenas
alguns são professores especialmente dotados.

Em Romanos 12.8 lemos a respeito do dom da exortação (paraklesis), uma


palavra cujo significado é “andar ao lado para ajudar” e implica em atividades tais como
advertir, apoiar e encorajar outros. Ele é mencionado entre os dons espirituais
possuídos por algumas pessoas, mas não todas. Os que possuem este dom e o
desenvolvem, verão resultados positivos em seu aconselhamento, à medida que as
pessoas são ajudadas e a igreja edificada.

Se o aconselhamento parece ser o seu dom especial, louve a Deus e procure


aprender a exercê-lo melhor. Se o aconselhamento parece ineficaz, Deus talvez tenha
concedido um outro dom. Isto não isenta ninguém de ajudar as pessoas, mas pode
estimular alguns a concentrarem seus esforços em outro setor e deixar o
aconselhamento para os que são melhor dotados nessa área.

Parafraseando I Coríntios 12.14-18:

O Corpo não é um só membro mas muitos... Se o conselheiro dissesse, “como


não sou professor, não faço parte do corpo”, nem por isso deixa de ser parte
dele. Se todo o corpo consistisse de conselheiros, onde ficaria o ministério de
ensino formal? Se todos fossem professores, quem faria o trabalho dos
diáconos?
Mas Deus dispôs os membros, colocando cada um deles no corpo, como lhe
aprouve... O professor não pode dizer ao conselheiro: “Não preciso de você”, ou
o evangelista ao professor, “Não preciso de você”.

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Nós claramente precisamos uns dos outros e o aconselhamento é uma parte –
mas apenas uma parte – da igreja em funcionamento. Ajudamos as pessoas pelo
aconselhamento, mas também as auxiliamos através da evangelização, ensino,
preocupação social e outros aspectos do ministério.

O Papel do Conselheiro

O aconselhamento, especialmente o pastoral, torna-se às vezes ineficaz porque


o conselheiro não tem uma idéia clara do seu papel e responsabilidades. Numa série
inteligente de artigos publicados há vários anos atrás, Maurice Wagner identificou
várias áreas potenciais de confusão de papéis.

 1. Visita em Lugar de Aconselhamento. A visita é uma troca mútua e amigável


de informações. O aconselhamento é uma conversa centralizada num problema,
dirigida para um alvo, que focaliza principalmente as necessidades de uma
pessoa, o aconselhado. Todo aconselhamento envolve visitas periódicas, mas
quando estas se prolongam ou são o ponto principal, os problemas são evitados
e é reduzida a eficácia do aconselhamento.

 2. Pressa em Lugar de Deliberação. As pessoas ocupadas preocupadas com um


alvo, no geral querem apressar o processo do aconselhamento até um término
rápido e bem sucedido. É verdade que os conselheiros não devem perder
tempo, mas também é certo que o aconselhamento não pode ser acelerado.
“Grande parte do sucesso de qualquer conselheiro está baseada em sua
atenção tranquila e refletida, concentrada nas palavras do aconselhado. Seu
equilíbrio é freqüentemente um ponto de apoio para a pessoa perturbada... Se o
conselheiro for apressado ou dividir sua atenção, seus comentários
encorajadores irão ser provavelmente objeto de suspeita, julgando estar dizendo
apenas aquilo que o aconselhado quer ouvir, a fim de passar para outro
assunto.

“Uma entrevista descontraída e deliberada também faz com que o aconselhado


sinta que está recebendo toda a atenção do conselheiro... quando este mostra-se
apressado e impaciente, tende a formular julgamentos baseados em impressões
precipitadas... A deliberação não pode ser exercida se a pessoa estiver com pressa em
acabar com o problema”.

 3. Desrespeito em Lugar de Simpatia. Alguns conselheiros classificam


rapidamente as pessoas (por exemplo, como um “cristão carnal”, um
“divorciado”, ou um “tipo fleumático”) e depois despedem os indivíduos com um
confronto rápido ou conselho rígido. Ninguém quer ser tratado com tanto
desrespeito e o ajudador que não ouve com simpatia provavelmente não dará
conselhos eficazes.

 4. Condenação em Lugar de Imparcialidade. Há ocasiões em que os


aconselhados precisam enfrentar o pecado ou comportamento incomum em sua
vida, mas isto não é o mesmo que pregar e condenar na clínica de
aconselhamento. Quando os aconselhados se sentem atacados eles ou se
defendem (freqüentemente com irritação) com uma atitude de indiferença
resignada, ou ainda aceitam as palavras do conselheiro temporariamente e sob

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protesto. Nenhum desses tipos de reação contribui para o amadurecimento do
aconselhado e todos são uma resposta a uma técnica de aconselhamento que
geralmente refletem a ansiedade, incerteza e necessidade do próprio
conselheiro. Jesus é descrito como alguém que “tomou sobre si as nossas
enfermidades”. Ele jamais fez vista grossa para o pecado, mas compreendia os
pecadores e sempre manifestou bondade e respeito por aqueles que, como a
mulher junto ao poço, estavam dispostos a aprender, arrepender-se e mudar seu
comportamento.

 5. Sobrecarregar a Sessão em Lugar de Moderar o Aconselhamento. Devido ao


seu entusiasmo com a idéia de ajudar, o conselheiro tenta às vezes fazer
demasiado numa sessão. Isto confunde o aconselhado, perturbando o projeto.
Desde que na verdade os aconselhados só podem provavelmente assimilar um
ou dois pontos principais em cada entrevista, o aconselhamento deve ser
compassado, mesmo que isto signifique reuniões mais curtas e mais freqüentes.

 6. Ser Diretivo ao Invés de Interpretativo. Este é um erro comum e, como vimos,


pode refletir a necessidade inconsciente de dominar do conselheiro. Quando os
aconselhados recebem ordens quanto ao que devem fazer, eles confundem a
opinião do conselheiro cristão com a vontade de Deus, sentem-se culpados e
incompetentes se não seguem os conselhos e jamais aprendem como
amadurecer espiritualmente e emocionalmente até o ponto em que possam
tomar decisões sem o auxílio de um conselheiro. O conselheiro e o aconselhado
devem colaborar como uma equipe, na qual o primeiro serve como um
professor-instrutor cujo alvo eventual é retirar-se do campo.

 7. Envolver-se Emocionalmente ao Invés de Permanecer objetivo. Existe uma


linha divisória muito fina entre interessar-se e tornar-se muito perturbado,
confuso ou lutando com um problema semelhante ao do próprio conselheiro.
Surge então uma tendência para preocupar-se e permitir que os aconselhados
interrompam nossos programas segundo a sua conveniência. Um envolvimento
emocional desse tipo geralmente faz com que o conselheiro perca a sua
objetividade e isto por sua vez reduz a eficácia do aconselhamento. As pessoas
compassivas não conseguem, com freqüência, evitar o envolvimento emocional,
mas o conselheiro cristão pode evitar esta tendência considerando o
aconselhamento como uma relação de ajuda profissional, claramente limitada
em seus termos, tais como duração das entrevistas, número de sessões,
resistência ao toque, etc. Isto não tem como propósito isolar o conselheiro, mas
ajuda-lo a manter-se suficientemente objetivo para prestar auxílio.

 8. Atitude de Defesa em Lugar de Empatia. A maioria dos conselheiros sente-se


às vezes ameaçada durante o aconselhamento. Quando somos criticados,
incapazes de ajudar, sentimos culpa, ansiedade, ou estamos em perigo, nossa
capacidade de ouvir com empatia é prejudicada. Quando esta qualidade se vai,
também desaparece nossa eficácia no aconselhamento.

Toda vez que surgem ameaças desse tipo é geralmente proveitoso perguntar-
nos o porquê da situação. Se não soubermos a resposta, vale a pena discutir o assunto
com um amigo ou um outro conselheiro. Quanto mais conhecemos e aceitamos a nós
mesmos, tanto menos provável será nos sentirmos ameaçados pelos nossos
pacientes.

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O conselheiro deve manter uma atitude vigilante caso deseje evitar esses oito
riscos. Como ajudadores cristãos honramos a Deus executando nossa tarefa da melhor
forma possível, desculpando-nos ao cometer erros, e usando nossos erros como
situações de aprendizado e degraus de acesso para o nosso desenvolvimento.

Se em nosso desejo de ajudar tivermos assumido um papel pouco saudável no


aconselhamento, devemos reestruturar o relacionamento, chegando mesmo a falar às
pessoas de nossa intenção de mudar (mediante atos tais como estabelecendo horas
de aconselhamento mais rígidas, recusando-nos a largar tudo quando o aconselhado
nos chama, sendo menos autoritário, e assim por diante).

Esta reestruturação é sempre difícil em vista de envolver a retomada de algo que


foi concedido antes. A alternativa é continuar numa situação confusa e ineficaz no
aconselhamento. Os erros e confusão de papéis não são, porém, tragédias
irreversíveis. A boa comunicação com os aconselhados pode cobrir uma multidão de
erros no aconselhamento, mas não devemos usar isto como uma desculpa para um
trabalho mal feito e incompetência. “O conceito mais importante a ter em mente é que
Cristo é realmente o Conselheiro; nós somos seus agentes executando a sua obra,
representando-o. O seu Espírito Santo é o nosso Consolador e Guia e nos orientará, a
fim de livrar aqueles que Ele nos trouxe para receberem ajuda”.

A Vulnerabilidade do Conselheiro

O aconselhamento seria mais fácil se pudéssemos supor que todo aconselhado


quer ajuda, e irá cooperar plenamente no aconselhamento. Mas, infelizmente, isto nem
sempre acontece. Alguns aconselhados têm o desejo consciente ou inconsciente de
manipular, frustrar ou não colaborar. Esta é uma descoberta difícil para o conselheiro
que deseja ser bem sucedido e cujo sucesso depende principalmente da mudança
operada no paciente. É sempre difícil trabalhar com pessoas assim, principalmente
quando não têm espírito de cooperação. Ao decidirmos ajudar, estamos
necessariamente aceitando a possibilidade de luta pelo poder, exploração e fracasso.
São pelo menos duas as principais maneiras em que as pessoas frustram o
conselheiro e aumentem a sua vulnerabilidade:

 1. Manipulação. Algumas pessoas são mestras em impor a sua vontade


controlando outros. Conta-se a história de um jovem conselheiro que se sentia
inseguro e queria agradar. Não desejando ser rotulado como o “conselheiro
anterior que não se importava”, o jovem conselheiro achava-se decidido a ser
útil. As sessões de aconselhamento encompridaram e tornaram-se mais
freqüentes. Antes de pouco tempo o conselheiro estava dando telefonemas,
fazendo pequenos serviços e empréstimos e até compras para o aconselhado,
que constantemente expressava sua gratidão e chorosamente pedia mais.

Os conselheiros manipulados geralmente têm pouca utilidade. Os indivíduos que


tentam manipular seu conselheiro quase sempre fizeram da manipulação um modo de
vida. Eles agem bem e com sutileza, mas não conseguem viver sem praticar o embuste
e a arte de dominar. O conselheiro precisa opor-se a essas táticas, recusar-se a ser
movido por elas e ensinar meios mais satisfatórios de relacionar-se com outros.

É sábio perguntar-se continuamente: “Estou sendo manipulado?”; “Será que


tenho ultrapassado minhas responsabilidades como conselheiro?”; “O que este

22
aconselhado deseja realmente?”. Algumas vezes as pessoas alegam desejar ajuda
com um problema, mas na verdade querem seu tempo e atenção, sua aprovação de
um comportamento pecaminoso ou prejudicial, ou seu apoio como aliado num conflito
familiar. Outras vezes eles o procuram por acreditarem que cônjuges preocupados,
outros membros da família ou empregadores deixarão de queixar-se de seu
comportamento um vez que iniciem o processo de aconselhamento. Quando você
suspeitar desse tipo de desonestidade e manipulação, é prudente conversar a respeito
com o aconselhado, esperar uma negativa da parte dele, e depois estruturar o
aconselhamento de modo a impedir manipulação e exploração do conselheiro no
futuro. Lembre-se de que o aconselhamento verdadeiramente útil nem sempre agrada
ao aconselhado ou é conveniente para o conselheiro, mas contribui para o
amadurecimento do indivíduo que solicitou ajuda. A idéia de que “as pessoas sinceras
em seu desejo de aceitar ajuda raramente mostram-se exigentes”, desonestas ou
manipuladoras, é, sem dúvida, verdadeira.

 2. Resistência. As pessoas algumas vezes buscam ajuda por desejarem alívio


imediato da dor, mas quando descobrem que o alívio permanente pode exigir
tempo, esforço e maior sofrimento ainda, elas resistem ao aconselhamento.
Noutras ocasiões os problemas fornecem benefícios que o paciente não quer
perder (atenção pessoal de outros, por exemplo, ou compensações pela sua
invalidez, menor responsabilidade, ou gratificações mais sutis, tais como castigo
ou a oportunidade de tornar a vida difícil para os demais). Desde que o
aconselhamento bem sucedido iria interromper esses benefícios, o aconselhado
não coopera. A seguir estão aqueles que adquirem um senso de poder e
realização quando conseguem frustrar os esforços de outros – por exemplo, dos
conselheiros profissionais. Essas pessoas com freqüência convencem a si
mesmas: “Ninguém pode me ajudar – mas também o conselheiro que não for
bem sucedido comigo não vale nada”. O conselheiro continua aconselhando, o
aconselhado finge colaborar, mas ninguém melhora.

A resistência é uma força poderosa que quase sempre exige aconselhamento


profissional em profundidade. Quando os conselheiros começam a trabalhar, as
defesas psicológicas do aconselhado são ameaçadas e isto leva à ansiedade, à ira e a
uma atitude de não-colaboração por vezes inconsciente. Quando o paciente é
relativamente bem-ajustado esta resistência pode ser discutida com brandura e
franqueza. Permita que ele ou ela saiba que é responsável (e não o conselheiro) pelo
resultado final do processo, obtendo ou não melhora. O conselheiro fornece uma
relação estruturada, evita ficar na defensiva, e deve reconhecer que a sua eficácia
como conselheiro (e certamente como uma pessoa) nem sempre é proporcional à
melhora dos aconselhados.

Foi sugerido que os conselheiros se perdem não apenas quando ignoram a


direção que estão tomando, mas também quando não conhecem a si mesmos.
Podemos permanecer vigilantes quanto a problemas em potencial quando
freqüentemente fazemos a nós mesmos (e um ao outro) perguntas tais como:

 Por que acho ser esta a pior (ou melhor) pessoa que já aconselhei?
 Existe uma razão para o meu constante atraso, ou o do aconselhado?
 Existe uma razão para que o aconselhado ou eu deseje mais (ou menos)
tempo do que haveríamos combinado no início?
 Minhas reações às palavras deste aconselhado são excessivas?

23
 Sinto-me aborrecido quando estou com esta pessoa? O problema sou eu, o
aconselhado ou nós dois?
 Por que eu sempre concordo (ou discordo) com o aconselhado?
 Sinto vontade de terminar esta relação ou de apegar-me a ela embora
devesse terminar?
 Estou começando a sentir demasiada simpatia pelo aconselhado?
 Penso constantemente no aconselhado entre as entrevistas, sonho acordado
com ele ou ela, ou mostro mais do que o interesse comum no seu problema?
Por quê?

A Sexualidade do Conselheiro

Sempre que duas pessoas trabalham juntas em direção a um alvo comum,


surgem sentimentos de camaradagem e cordialidade entre elas. Quando esses
indivíduos possuem um estilo de vida similar (ambiente semelhante), e especialmente
quando são do sexo oposto, os sentimentos calorosos quase sempre incluem um
componente sexual. Esta atração sexual entre conselheiro e aconselhado foi chamada
de “problema ignorado pelos clérigos”. Trata-se porém de um problema que quase
todos os conselheiros enfrentam, quer falem ou não sobre ele com outros.

O aconselhamento freqüentemente envolve a discussão de detalhes íntimos que


jamais seriam tratados em outro lugar – especialmente entre um homem e uma mulher
que não são casados um com o outro. Isto pode despertar sexualmente tanto o
conselheiro como o aconselhado. O potencial para a imoralidade pode ser ainda maior
se o aconselhado é atraente e/ou tende a mostrar-se sedutor, se o aconselhado indicar
que ele ou ela necessita realmente do conselheiro, e/ou se o aconselhamento envolver
discussões detalhadas de informações sobre o despertamento sexual.

Tais influências sutis escreveu Freud há muitos anos atrás, “acarretam o perigo
de fazer o homem esquecer-se de sua técnica e tarefa médica a favor de uma
experiência agradável”. É provável que todo aluno conheça conselheiros, inclusive
pastores-conselheiros, que transigiram com seus padrões “a favor de uma experiência
agradável” e descobriram que seus ministérios, reputação, eficácia de aconselhamento
e talvez seu casamento acabaram sendo destruídos como um resultado disso – sem
falar sobre os efeitos negativos que isto pode ter no aconselhado. A atração sexual por
um aconselhado é coisa comum e o conselheiro prudente deve esforçar-se ao máximo
para exercer autocontrole.

 1. Proteção Espiritual. A meditação sobre a Palavra de Deus, a oração (incluindo


a intercessão de outros) e a confiança na proteção do Espírito Santo, são
elementos importantíssimos. Além disso, os conselheiros devem vigiar sua
mente. A fantasia muitas vezes precede ação e o conselheiro sábio cultiva o
hábito de não se demorar em pensamentos luxuriosos, mas focaliza-los naquilo
que é verdadeiro, respeitável, justo, puro, amável e bom. Encontrar um outro
crente a quem você possa prestar contas regularmente de seus atos também é
de muito valor. Isto pode ter um impacto poderoso em seu comportamento.
Finalmente, tenha cuidado em não cair na perigosa armadilha de pensar: “Isso
acontece com outros, mas jamais aconteceria comigo”. Essa é a espécie de
orgulho que no geral precede a queda na tentação. Ele ignora o mandamento
bíblico de que ele (ou ela) que pensa estar de pé deve cuidar para não cair.

24
E, se você cair? Servimos a um Deus que perdoa, embora as cicatrizes – na
forma de uma reputação arruinada ou um insucesso no casamento, por exemplo –
possam durar a vida inteira. Se confessarmos qualquer pecado recebemos perdão,
mas temos depois a obrigação de modificar daí por diante nosso comportamento a fim
de faze-lo mais coerente com as Escrituras.

 2. Percepção dos Sinais de Perigo. Num livro inteiro dedicado aos sentimentos
sexuais do conselheiro e aconselhado, Rassieur indicou várias pistas que
podem apontar para uma mudança potencial do profissionalismo do
aconselhamento para uma intimidade perigosa. Isto inclui:

 a comunicação de mensagens sutis de qualidade mais íntima (sorrisos,


levantar as sobrancelhas, contatos físicos, etc.);
 o desejo do conselheiro e aconselhado de manterem o relacionamento;
 ansiedade, especialmente por parte do aconselhado, de divulgar detalhes de
experiências ou fantasias sexuais;
 permissão do conselheiro para que o aconselhado o manipule;
 reconhecimento por parte do conselheiro de que ele ou ela precisa ver o
aconselhado (este é um sinal de fracasso);
 frustrações crescentes na vida conjugal do conselheiro; e
 o prolongamento do tempo e freqüência das entrevistas, algumas vezes
suplementadas por chamadas telefônicas.

 3. Estabelecimento de Limites. Quando a atração sexual se faz presente e é


reconhecida, o conselheiro pode interromper o aconselhamento, transferir o
trabalho para outra pessoa, ou até mesmo discutir esses sentimentos com o
aconselhado. Antes de qualquer coisa, porém, é melhor estabelecer certos
limites definidos, prescrevendo claramente a freqüência e duração das sessões
de aconselhamento e apegar-se a esses limites; recusar conversas telefônicas
prolongadas; desencorajar discussões detalhadas de tópicos sexuais; evitar o
contato físico; e encontrar-se num lugar que desestimule olhares eloqüentes ou
intimidades pessoais. A maneira de sentar-se, sem aproximar-se demasiado do
paciente também é importante.

 4. Análise de Atitudes. Não existe proveito algum em negar os seus instintos


sexuais. Eles são comuns, com freqüência embaraçosos e bastante
estimulantes, mas controláveis. Lembre-se do seguinte:

a) As Conseqüências Sociais. Ceder à tentação sexual pode arruinar a


reputação da pessoa, seu casamento e eficácia como conselheiro. Esta
compreensão pode agir como um importante impedimento.
b) Imagem Profissional. Lembre-se de que você é um conselheiro profissional e,
pelo menos se espera, um homem ou mulher de Deus em direção ao
amadurecimento. As intimidades sexuais com os aconselhados jamais
ajudam as pessoas com problemas nem beneficiam o trabalho profissional do
conselheiro.
c) Verdade Teológica. O envolvimento sexual fora do casamento é pecaminoso
e deve ser evitado. É verdade que as circunstâncias influenciam nosso
comportamento presente e as experiências passadas podem limitar nossas
opções correntes, mas isso não nos absolve da responsabilidade. Cada
conselheiro e aconselhado é responsável pelo seu próprio comportamento. O
indivíduo, escreve o psiquiatra Vicktor Frankl “não é completamente
25
condicionado e determinado; ele decide por si mesmo se vai ceder ou opor-
se às condições... Todo ser humano tem liberdade para modificar-se a
qualquer momento”. Podemos alegar que “o diabo me obrigou a isso”, mas o
diabo só tenta. Ele nunca nos obriga a fazer nada. Nós decidimos pecar,
deliberando e agindo contrariamente à orientação do Espírito Santo, que
reside no interior do crente e é maior que Satanás. É importante que tanto
conselheiros como aconselhados compreendam isto.

 5. Proteção do Grupo de Apoio. A resistência eficaz envolve o reconhecimento


sincero da atração sexual. Existe, pois, grande valor em discutir o assunto com
um ou dois confidentes dignos de confiança.

A primeira pessoa na lista é o nosso cônjuge. O bom casamento não impede


que alguém se sinta atraído sexualmente por um aconselhado, mas tem uma
influência significativa na capacidade do conselheiro resistir. Algumas vezes por medo,
embaraço ou desejo de não provocar mágoas, o conselheiro jamais discute este ponto
com seu cônjuge. Como resultado, ele perde uma boa oportunidade para uma
comunicação conjugal e, profundidade, apoio e conforto por parte do companheiro. Se
o aconselhado tornar-se uma séria ameaça para o casamento do conselheiro, é
provável que já existam problemas na união antes do aconselhado entrar em cena.

Discutir nossos sentimentos com outro conselheiro ou um amigo em quem


temos confiança sempre resulta proveitoso. O problema pode ser mantido assim em
perspectiva, o amigo cristão pode orar pedindo proteção e o conselheiro tem alguém a
quem prestar contas.

A atração sexual deve ser discutida em alguns casos com o aconselhado? Isto
pode ser às vezes apropriado no sentido de ajudar na compreensão e amadurecimento
do mesmo, mas os riscos envolvidos em tais discussões são muito altos. Alguns
pacientes podem interpretar tais conversas como um convite a maiores intimidades.
Outros, especialmente os imaturos e convencidos, podem contar a outros a respeito do
assunto e isto poderia ter conseqüências desastrosas no sentido profissional. Antes de
discutir seus sentimentos sexuais com um aconselhado, seria prudente conversar
primeiro com um amigo ou consultor profissional.

Se decidir não revelar seus sentimentos ao aconselhado, tente aplicar as


sugestões dadas nos parágrafos anteriores: evite o flerte a todo custo e considere
seriamente a transferência para outro conselheiro se observar indícios como ansiedade
contínua durante as sessões de aconselhamento, falta de concentração interrompida
por fantasias sexuais; medo de desagradar o aconselhado; preocupação com
pensamentos e fantasias sobre o aconselhado no intervalo das sessões e expectativa
óbvia da próxima entrevista acompanhada de temor da sessão ser cancelada ou
terminado o aconselhamento.

A Ética do Conselheiro

A maioria das organizações de aconselhamento profissional (tais como a


Associação Americana de Psicologia ou a Associação Americana de Orientação e
Pessoal) desenvolveu códigos éticos para orientar os conselheiros nas decisões morais
e proteger o público de práticas que não sejam éticas. No geral, os profissionais
cristãos buscam cumprir esses códigos éticos mas, desde que consideramos a Bíblia

26
como a Palavra de Deus, as Escrituras se tornam o padrão final ao tomarmos todas as
nossas decisões morais.

O conselheiro cristão respeita cada indivíduo como uma pessoa de valor, criada
por Deus à imagem divina, manchada pela queda da humanidade no pecado, mas
amada por Deus e objeto da redenção divina. Cada pessoa possui sentimentos,
pensamentos, vontade e liberdade para comportar-se como achar adequado. Como um
ajudador de pessoas, o conselheiro busca sinceramente o melhor para o bem-estar do
aconselhado e não tenta manipular ou imiscuir-se na vida do mesmo. Como servo de
Deus, o conselheiro tem a responsabilidade de viver, agir e aconselhar de acordo com
os princípios bíblicos. Como empregado, ele tenta cumprir as suas responsabilidades e
executar seus deveres com fidelidade e competência. Como cidadão e membro da
sociedade, busca obedecer às autoridades governamentais e contribuir para o bem da
cultura.

Quando não existem conflitos entre essas suposições e valores, o trabalho do


conselheiro pode prosseguir tranqüilamente. Os problemas éticos surgem quando há
conflito de valores e decisões diferentes devem ser tomadas. Muitas, embora não
todas, dessas decisões envolvem questões confidenciais. Considere, por exemplo, o
seguinte:

Um aconselhado confessa ter infringido a lei ou que pretende prejudicar alguém.


Você conta à polícia ou à vítima em potencial?

A filha de um líder da igreja revela estar grávida e que pretende fazer um aborto.
O que você faz com esta informação?

Um jovem vem pedir-lhe ajuda, a fim de obter maior autoconfiança com as


mulheres de modo a poder encorajar suas amiguinhas a terem intercurso sexual com
ele. Qual a sua responsabilidade como conselheiro, desde que considera errado o sexo
pré-conjugal?
Um aluno formado pelo seminário que está buscando empregar-se como pastor,
revela no aconselhamento que é um homossexual ativo. Como membro da igreja você
revela isto ou não diz nada ao preencher um formulário de recomendação?

O conselheiro tem a obrigação de manter em segredo as informações


confidenciais, a não ser quando haja risco para o bem-estar do aconselhado ou de
outra pessoa. Em tais ocasiões, o aconselhado deve ser orientado no sentido de
transmitir a informação diretamente às pessoas envolvidas (polícia, empregadores,
pais, etc.), e em regra geral, a informação não deve ser divulgada pelo conselheiro sem
conhecimento do paciente. Além disso, o conselheiro deve abster-se de administrar ou
interpretar testes, dar conselhos médicos ou legais, ou oferecer quaisquer serviços
para os quais não esteja treinado nem qualificado. Nos estados e países onde os
conselheiros são licenciados ou possuem certificado, eles anunciam seus serviços
corretamente de acordo com a lei.

Em toda decisão moral o conselheiro procura agir de modo a dar honra a Deus,
manter-se conforme o ensino bíblico e respeitar o bem-estar do consulente e de outros.
Quando decisões diferentes precisam ser tomadas, os conselheiros têm a obrigação de
discutir a situação confidencialmente com um ou dois conselheiros cristãos e/ou
especialistas, tais como um advogado ou médico que não precisam saber a identidade
do aconselhado, mas que podem auxiliar nas decisões éticas. Tais decisões não são

27
fáceis, mas o conselheiro cristão obtém o máximo de fatos possíveis (inclusive dados
bíblicos), confiando sinceramente em que Deus irá orienta-lo, e em seguida toma a
decisão mais sábia possível baseado na melhor evidência a seu dispor.

O Conselheiro dos Conselheiros

Muitos programas de treinamento profissional exigem que os alunos tenham


experiência de aconselhamento pessoal, prática supervisionada, treinamento de
susceptibilidade em grupo, ou outras técnicas semelhantes, num esforço para
aumentar a autopercepção, facilitar a auto-aceitação e remover os bloqueios
emocionais e psicológicos que impedem a eficácia no aconselhamento. Embora tal
aconselhamento seja muitas vezes útil e altamente recomendado, ele com freqüência
ignora a maior fonte de força e sabedoria dos conselheiros cristãos – o Espírito Santo
que orienta e habita na vida de todo crente.
“Fico preocupado”, escreveu um conselheiro pastoral. “Os ajudadores cristãos
ficam tão envolvidos nas técnicas e teorias do aconselhamento que chegam até nós
através de outras profissões do mesmo ramo, que eles ignoram ou jamais tomam
consciência da Fonte em que todo tipo de socorro tem origem – o próprio Deus”.

A Bíblia descreve Jesus Cristo como o Maravilhoso Conselheiro. Ele é o


conselheiro dos conselheiros – sempre disponível para encorajar, dirigir e conceder
sabedoria aos ajudadores humanos.

Vale a pena repetir que o conselheiro cristão verdadeiramente eficaz é


basicamente um instrumento perito e disponível através de quem o Espírito Santo
opera transformando vidas. Quando o trabalho do conselheiro provoca ansiedades e
confusão, estas podem ser entregues ao próprio Deus, que prometeu apoiar e ajudar.
A oração diária e a leitura bíblica nos mantêm em comunicação ativa com Aquele que é
mentor e ajudador.

Através da Bíblia inteira, entretanto, vemos que Deus também opera mediante
outros seres humanos. Ele ajuda os conselheiros por meio de outras pessoas com
quem ele pode partilhar suas opiniões, manter perspectiva, relaxar – e ocasionalmente
chorar. Sem o apoio, o encorajamento e opinião de um amigo cristão confiável, o
trabalho do conselheiro será provavelmente mais árduo e menos eficiente. Dois ou
mais conselheiros podem no geral encontrar-se regularmente para apoio mútuo e
oração conjunta. Se lhe falta tal relação, ore, pedindo a Deus que o faça encontrar um
companheiro com quem possa se abrir.

Dois pesquisadores pediram recentemente a um grupo de conselheiros que


respondessem à seguinte pergunta: Como você passaria o resto de sua vida se tivesse
os meios para fazer o que quisesse?

Dentre os mais de cem conselheiros avaliados, apenas três indicaram que


passariam o resto de sua vida no sérvio de aconselhamento e uma delas afirmou
preferir este trabalho como uma atividade a ser realizada em seu tempo livre.

O aconselhamento pode trazer satisfação, mas não é um trabalho fácil. Quanto


mais cedo isto seja reconhecido e encarado honestamente, tanto mais satisfatório será
nosso ministério de ajuda e mais eficaz o nosso aconselhamento.

28
AS CRISES NO ACONSELHAMENTO

À medida que avançamos na vida, a maioria de nós tem um comportamento


bastante consistente. Como é natural, todos enfrentamos altos e baixos espirituais e
temos às vezes de aplicar um esforço extra para tratar de emergências ou problemas
inesperados, mas ao nos aproximarmos da idade adulta, cada um de nós desenvolve
um repertório de soluções de problemas baseado em sua personalidade, treinamento e
experiências passadas. Usamos repetidamente essas técnicas e conseguimos assim
enfrentar com sucesso os desafios da vida.

Surgem, porém, às vezes, situações mais graves que ameaçam nosso equilíbrio
psicológico. Essas situações, ou acontecimentos da nossa existência, são também
chamados de crises. Elas podem ser esperadas ou inesperadas, reais ou imaginárias,
fatuais (como quando um ente querido morre) ou potenciais (como quando parece que
um ente querido possa vir a morrer logo).

Vários escritores comentaram que a palavra chinesa para “crise” inclui dois
símbolos. Um significa perigo e o outro oportunidade. Uma crise é um perigo porque
ameaça vencer a pessoa ou pessoas envolvidas. As crises envolvem a perda de
alguém ou de algo importante, a mudança brusca de nosso papel ou posição, ou o
aparecimento de pessoas ou acontecimentos novos e ameaçadores. Em vista desta
situação crítica ser tão intensa e única, descobrimos que nossos hábitos costumeiros
de tratar da tensão e de resolver problemas não funcionam mais. Isto leva a um
período de confusão e espanto, geralmente acompanhado de comportamento negativo
e distúrbios emocionais inclusive ansiedade, ira, desânimo, tristeza ou culpa. Embora
este tumulto intelectual, comportamental e emocional geralmente seja de curta
duração, ele pode persistir por várias semanas ou até mais.

As crises, porém, dão às pessoas a oportunidade de mudar, crescer e


desenvolver meios melhores de superá-las. Desde que as pessoas em crise quase
sempre sentem-se confusas, elas ficam mais abertas à ajuda externa, inclusive o
socorro de Deus e aquele proporcionado pelo conselheiro. O que o indivíduo faz com
essa ajuda e como resolve a crise tem:

... considerável importância para a saúde mental futura do mesmo. Seu novo
equilíbrio pode ser melhor ou pior do que no passado... Ele poderá vir a tratar
dos problemas críticos desenvolvendo novas técnicas para a solução de
problemas, socialmente aceitáveis baseadas na realidade, o que irá aumentar
sua capacidade de tratar de maneira sadia com futuras dificuldades. Por outro
lado, durante a crise, ele talvez desenvolva novas respostas socialmente
inaceitáveis e que tratem das dificuldades através da evasão, fantasia irracional,
manipulações ou regressão e alienação – sendo que tudo isso aumenta a
probabilidade dele vir a tratar também desajustadamente as futuras dificuldades.
Em outras palavras, o novo padrão por ele desenvolvido para enfrentar as crises
torna-se daí por diante uma parte integral de seu repertório de respostas à
solução de problemas e aumenta a possibilidade de vir a tratar dos riscos futuros
com maior ou menor objetividade.

Quando os médicos falam de uma crise clínica, com freqüência referem-se a


esse momento crucial no tempo em que ocorre uma mudança, seja em direção à
recuperação ou ao declínio e morte. As crises emocionais e espirituais, da mesma

29
forma, são pontos críticos inevitáveis na vida. Viver é passar por crises. Experimentar
crises é enfrentar pontos críticos que trarão seja crescimento e maturação, ou declínio
e imaturidade contínua. O conselheiro cristão está numa posição vital para influenciar a
direção que as soluções para a crise vão tomar.

A Bíblia e os Tipos de Crise

Grande parte da Bíblia trata de crises. Adão, Eva, Caim, Noé, Abraão, Isaque,
José, Moisés, Sansão, Jefté, Saul, Davi, Elias, Daniel e várias outras personagens
enfrentaram crises que o Velho Testamento descreve em detalhes. Jesus enfrentou
crises (especialmente quando de sua crucificação) e o mesmo aconteceu aos
discípulos, Paulo, e muitos dos primeiros crentes. Várias das Epístolas foram escritas a
fim de ajudar os indivíduos ou igrejas a enfrentarem crises, e Hebreus 11 resumiu tanto
crises cujo final foi feliz como aquelas que resultaram em tortura, incrível sofrimento e
morte.

Os escritores contemporâneos identificaram três tipos de crise, cada uma das


quais contém exemplos tanto modernos quanto bíblicos.

 1. As crises acidentais ou situacionais ocorrem quando surge uma ameaça


repentina ou perda inesperada. A morte de um ente querido, uma doença súbita,
a descoberta de uma gravidez fora do casamento, distúrbios sociais tais como
guerra ou depressão econômica, perda da casa ou das economias do indivíduo,
perda súbita da reputação e posição – todas essas são tensões situacionais,
muitas das quais podem ser observadas em um homem do Velho Testamento –
Jó. Num período muito curto de tempo ele perdeu sua família, riqueza, saúde e
posição. Além disso, seu casamento parece ter estado sob tensão e ele passou
por um prolongado período de incerteza, ira e tumulto íntimo.

 2. As crises de desenvolvimento surgem no curso do desenvolvimento humano


normal. Entrada na escola, ida para a faculdade, ajustes no casamento e na
paternidade, aceitação de críticas, enfrentar a aposentadoria e o declínio da
saúde, adaptação à morte de amigos, todas essas podem ser crises que exigem
novas abordagens para a solução de problemas e de como superar as
dificuldades. Abraão e Sara, por exemplo, tiveram de enfrentar mudanças,
críticas, muitos anos de esterilidade, tensões familiares e até a ordem de Deus
de que o jovem Isaque fosse sacrificado. Poderíamos ficar imaginando como um
casal idoso como Zacarias e Isabel trataram um filho tão peculiar como João
Batista, ou como Maria e José puderam criar alguém tão diferente e brilhante
como o menino Jesus. Houve com certeza crises de desenvolvimento – pontos
críticos que exigiram períodos prolongados de tomada de decisões sábias mas
que também proporcionaram crescimento progressivo.

 3. As crises existenciais, que quase sempre se sobrepõem às acima, surgem


quando somos forçados a enfrentar verdades perturbadoras, tais como a
compreensão de que:

- Sou um fracasso;
- Sou velho demais para alcançar meus objetivos de vida;
- Fui “deixado para trás” numa promoção;
- Sou um viúvo agora – novamente solteiro;

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- Minha vida não tem propósito;
- Minha doença é incurável;
- Não tenho nada em que acreditar;
- Minha casa e bens se foram por causa do incêndio;
- Estou aposentado;
- Fui rejeitado por causa da cor da minha pele.

Estes pensamentos e outros similares são difíceis de assimilar, exigindo tempo e


esforço. Trata-se de mudanças de autopercepção que podem ser negadas
temporariamente, mas que com o tempo devem ser aceitas realisticamente.

Depois de uma grande vitória espiritual, Elias foi perseguido por Jezabel e fugiu
para o deserto aonde chegou à conclusão de que não passava de um fracasso. Jonas
teve esses mesmos pensamentos enquanto lutava com Deus. Depois de seus
infortúnios, Jó certamente debateu a pergunta: “O que aconteceu comigo e o que mais
ainda vai acontecer?”

A Bíblia se refere a essas três crises e dá orientação tanto ao aconselhado como


ao conselheiro interessado em intervir nas crises. Existem técnicas de aconselhamento
aplicáveis a cada situação crítica. Estas devem ser compreendidas pelo conselheiro
cristão, antes de nos voltarmos para áreas problemáticas mais específicas.

Intervenção nas Crises

O aconselhamento em situações críticas tem vários objetivos:

 ajudar a pessoa a enfrentar eficazmente a situação difícil e voltar ao seu nível


comum de comportamento;
 diminuir a ansiedade, apreensão e outros tipos de insegurança que possam
persistir depois de ter passado a crise;
 ensinar técnicas para a solução de crises, a fim de que a pessoa fique mais
bem preparada para antecipar e tratar das crises futuras; e
 considerar os ensinos bíblicos sobre as crises, a fim de que a pessoa
aprenda com as mesmas e cresça como resultado dessa experiência.

Ao ajudar as pessoas a enfrentarem as suas crises, as diferenças entre os


indivíduos precisam ser reconhecidas. As pessoas diferem em sua flexibilidade,
maneiras de enfrentar as dificuldades, capacidade para aprender novas técnicas para a
solução de problemas, força física e psicológica, assim como nível de maturidade
espiritual e emocional. Ao manter essas diferenças em mente, o conselheiro pode
ajudar de diversos modos.

 1. Fazer Contato. As pessoas em crise nem sempre procuram a ajuda de um


conselheiro. Na maioria das vezes somos nós que devemos nos aproximar
delas, mostrando cordialidade, compreensão e interesse genuínos. É preciso
entender que o aconselhamento nas ocasiões de crise pode levar tempo, e que
o ponto de vista do aconselhado deve ser compreendido antes de serem feitas
quaisquer sugestões.

Às vezes a pessoa em crise entra num estado de devaneio, fantasia, ou


pensamentos profundos, devendo ser trazida de volta à realidade. Quer isto aconteça

31
ou não, é sempre útil fazer um contato visual e procurar dar-lhe segurança. Mesmo
sem palavras, o toque e outras formas de contato físico podem proporcionar grande
conforto, embora alguns pareçam considerar o toque como um tabu. É aceitável
apertar as mãos, dar uma “palmadinha” nas costas de um amigo, ou abraçar de leve os
atletas quando o seu time faz ponto, mas pegar as mãos de uma pessoa em crise ou
colocar os braços à sua volta é geralmente desencorajado no aconselhamento. Isto se
deve aos aconselhados algumas vezes interpretarem mal o contato físico e o
considerarem como uma insinuação de caráter sexual.

Para muitos existe também o medo da intimidade e isto faz o toque parecer
ameaçador. Ao compreender o valor e os riscos envolvidos no toque, o conselheiro
deve decidir em cada entrevista se o contato físico irá realmente ajudar o aconselhado
e se há probabilidade dele interpretá-lo mal. Pergunte também qual a sua motivação
para o contato. Será provável que esteja satisfazendo mais as suas necessidades
sexuais e de aproximação do que as do aconselhado? O toque pode ser um meio
excelente de estabelecer contato e dar apoio, mas talvez deve ser controlado. Pela
regra: se estiver em dúvida – não faça!

 2. Reduzir a Ansiedade. Os modos calmos e descontraídos do conselheiro


podem ajudar a reduzir a ansiedade do aconselhado, especialmente quando
esta calma é acompanhada de segurança. Ouça com paciência e atentamente
enquanto o aconselhado descreve a sua situação, forneça fatos que lhe dêem
segurança (“Existem meios de tratar desse problema”), mostre aprovação
quando algo for feito eficientemente (“Penso que tomou uma boa decisão – isto
mostra que está no caminho certo”), e quando possível ofereça um prognóstico
do que vai acontecer (“Sei que é difícil, mas penso que você vai resolver tudo
muito bem”). Você pode querer às vezes sugerir uma pausa para tomar fôlego, a
tensão e relaxamento consciente dos músculos ou o uso periódico de outras
técnicas para reduzir a tensão muscular. O efeito calmante dos versículos
bíblicos, tais como 1 Coríntios 10.3 pode ser também útil. Cada um desses
métodos de redução de ansiedade é por vezes usado em excesso, fazendo com
que o aconselhado sinta-se preso numa armadilha ou sufocado, mas eles
podem igualmente reduzir os efeitos da tensão e tornar mais fácil tratar
construtivamente dos problemas envolvidos nas crises.

 3. Focalizar os problemas. Em épocas de crise é fácil ser vencido pelo que


parece um amontoado de fatos e problemas confusos. Ajude o aconselhado a
decidir quais as questões específicas que devem ser enfrentadas e os
problemas a serem resolvidos. Tente focalizar a situação como se apresenta no
momento e não naquilo que poderá acontecer no futuro.

 4. Avaliar os Recursos. A disposição do conselheiro em prestar ajuda é um


recurso importante para o aconselhado em crise, mas existem outros.

Os recursos espirituais incluem a presença interior e a orientação do Espírito


Santo, juntamente com palavras e promessas consoladoras das Escrituras. Eles
podem ser uma fonte de grande força e orientação durante as crises. Alguns
conselheiros se utilizam das Escrituras como um instrumento para empurrar ou
manipular os aconselhados, a fim destes agirem do modo que eles acreditam que
devem agir. Isto não é proveitoso nem ético. Pelo contrário, a Bíblia deve ser
apresentada como a verdade, com a esperança de que o Espírito Santo faça uso dela,
atuando no aconselhado segundo lhe aprouver.

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Os recursos pessoais incluem as habilidades e capacidade intelectual do
aconselhado, sua experiência passada e motivação. Tenha novamente cuidado em ser
realista, mas lembre-se de que uma simples listagem dos pontos positivos do
aconselhado e a lembrança de como ele enfrentou com êxito seus problemas em
ocasiões anteriores, podem ser tanto confrontadoras como úteis.

Os recursos interpessoais referem-se a pessoas – amigos, família, comunidade


e membros da igreja que queiram prestar serviço; estes, no geral seriam realmente de
auxílio caso tivessem conhecimento da necessidade.
Recursos adicionais podem incluir dinheiro e outros auxílios tangíveis de que se
possa dispor, período de tempo que resta antes da tomada de decisões, assim como
ajuda legal, médica, psicológica, financeira, educacional e outras oferecidas pela
comunidade.

 5. Planejar a Intervenção. Depois de avaliar o problema e considerar os recursos


disponíveis, é interessante decidir sobre um curso de ação que pergunte
especificamente: “O que faremos agora?” O conselheiro e o aconselhado devem
examinar juntos os fatos apresentados e fazer uma lista dos vários cursos de
ação alternativos. Quão realista é cada um deles? O que deve ser feito em
primeiro lugar, em segundo e assim por diante?

Alguns aconselhados terão dificuldades em tomar essas decisões. Nosso alvo


não é colocar mais pressão sobre eles, forçando-os a isso, embora também não
queiramos encorajar a dependência, deixando que outra pessoa resolva os seus
problemas. Com gentileza, mas firmemente, o conselheiro deve ajudar o aconselhado a
fazer planos e, se necessário, pensar em melhores alternativas quando um plano
anterior tiver falhado. Certo escritor sugeriu que “a regra de ouro para o terapeuta
envolvido numa intervenção em período de crise, é fazer pelos outros aquilo que eles
não podem fazer por si mesmos e nada mais!”.

 6. Encorajar Ação. Certas pessoas são capazes de decidir qual a melhor atitude
a tomar e depois ficam com medo de prosseguir com o plano. O conselheiro
deve, portanto, encorajar o aconselhado a agir, avaliar o seu progresso, e
modificar os planos e atos sempre que a experiência indicar a sabedoria desta
atitude.

A ação quase sempre envolve pelo menos algum risco. Existe a possibilidade de
fracasso ou arrependimento posterior, especialmente se a ação acarretar modificações
importantes na vida da pessoa, tais como uma mudança de casa ou de emprego.

É preciso reconhecer também que em algumas situações, a crise jamais pode


ser completamente resolvida, mesmo agindo. Quando uma pessoa perde um ente
querido através da morte, descobre a existência de uma moléstia incurável, ou deixa de
obter uma promoção importante, a crise pode trazer uma modificação permanente. O
aconselhado precisa ser então ajudado a enfrentar a situação com honestidade,
reconhecer e expressar sentimentos, reajustar seu estilo de vida, planejar
realisticamente seu futuro, e apoiar-se no conhecimento de que Deus, em sua
soberania, sabe o que estamos sofrendo e se preocupa conosco. Em todas as crises,
mas especialmente em tempos de mudança permanente, ajuda muito quando as
pessoas são rodeadas por amigos sinceros, interessados, úteis, com espírito de
oração, prontos para prestar auxílio quando e da forma necessária.

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 7. Instilar Esperança.Em todo aconselhamento é mais provável haver melhora
quando é transmitido ao aconselhado um senso realista de esperança para o
futuro. A esperança traz alívio ao sofrimento, baseado numa crença de que as
coisas serão melhores no futuro. A esperança nos ajuda a evitar o desespero e
liberta a energia para enfrentar a situação de crise.

O conselheiro cristão instila esperança de três maneiras (que não são citadas
aqui necessariamente na ordem em que devem ser usadas).

Primeiro, transmissão de verdades bíblicas que podem proporcionar segurança


e esperança, baseadas na Palavra e natureza imutáveis de Deus. Esta é uma
abordagem que instila esperança estimulando a fé em Deus.

Segundo, podemos ajudar os aconselhados a examinarem sua lógica derrotista.


Idéias como “Jamais vou me curar” ou “Nada poderia ser pior”, geralmente entram nos
pensamentos do aconselhado em períodos de crise. Tais idéias deveriam ser
contrariadas com brandura. Qual a evidência para a conclusão: “Jamais vou me curar?”
Qual a evidência para um resultado mais auspicioso?

Terceiro, os conselheiros podem convencer os aconselhados a se moverem e


fazerem algo. Um mínimo de atividade basta para proporcionar a sensação de que
alguma coisa está sendo feita e que o aconselhado não é inútil. Isto, por sua vez, pode
despertar a esperança – especialmente se a atividade realiza algo que valha a pena.

 8. Interferir no Ambiente. Às vezes é necessário modificar o ambiente do


aconselhado – encorajando outros a orar, dar dinheiro ou suprimentos, fornecer
ajuda prática, ou assistir de qualquer outra forma a pessoa em crise.

Tal mobilização da comunidade está além do escopo do aconselhamento


tradicional, mas alguns ajudadores cristãos podem desejar interferir neste sentido. Ao
agir assim, procure descobrir os sentimentos do aconselhado a respeito de tal ajuda.
Algumas pessoas podem ter dificuldade em aceitar auxílio externo. Elas talvez se
sintam embaraçadas com a atenção, ameaçadas pela implicação de sua necessidade
de ajuda e ficam zangadas com o conselheiro que tentou fazer algo agradável. Outras
vezes, o socorro externo encoraja a dependência e uma atitude “inerte”, do tipo “não
preciso fazer nada”, por parte do aconselhado. É importante discutir tudo isto com ele,
sempre que possível, pois deve ser encorajado a buscar ajuda de outros sem o auxílio
do conselheiro.

 9. Acompanhamento. O aconselhamento em tempos de crise é, no geral, de


curta duração. Depois de uma ou duas sessões o aconselhado volta à rotina da
vida e não continua com a terapia. Mas, será que alguma coisa foi aprendida? A
próxima crise será enfrentada com mais eficiência? A pessoa está vivendo
satisfatoriamente agora, depois de passado o ponto crítico?

Essas questões devem preocupar o conselheiro, que quase sempre pode


acompanhar o caso com um telefonema ou visita. Mesmo quando o aconselhamento
não é mais necessário, tal interesse de “acompanhamento” pode encorajar o
aconselhado e fazê-lo lembrar-se de que alguém ainda se importa com ele.

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Encaminhamento

Algumas vezes podemos ajudar melhor os aconselhados encaminhando-os para


outra pessoa cujo treinamento, perícia e disponibilidade talvez os assistam melhor. O
encaminhamento não significa necessariamente que o conselheiro seja incompetente
ou que deseje livrar-se do aconselhado. Pelo contrário, pode refletir o interesse do
conselheiro pelo seu paciente e mostrar a compreensão por parte dele de que ninguém
é suficientemente hábil para aconselhar todo tipo de pessoas.

Os pacientes devem ser encaminhados quando não mostram sinais de melhora


depois de várias sessões, têm necessidades financeiras graves, precisam de atenção
médica ou assistência jurídica, estejam severamente deprimidos ou com intenções
suicidas, mostrem um comportamento extremamente agressivo, despertem
sentimentos fortes de antipatia ou atração sexual no conselheiro, ou tenham problemas
que se achem fora da área da especialização do conselheiro.
Os conselheiros devem estar familiarizados com os recursos da comunidade e
pessoas a quem os aconselhados possam ser encaminhados. Isto inclui profissionais
como médicos, advogados, psiquiatras, psicólogos e outros conselheiros; pastores-
conselheiros e outros líderes da igreja; agências beneficentes, tais como as
Sociedades de Ajuda aos Excepcionais ou aos Cegos; agências governamentais como
o Departamento de Bem-Estar Social ou de Desemprego; clínicas ou hospitais de
aconselhamento particulares e públicos; agências particulares de emprego; centros de
prevenção do suicídio; e grupos como os Alcoólicos Anônimos. Ao considerar o
encaminhamento, não deixe de considerar a importância dos grupos da igreja que, com
freqüência, podem dar apoio e ajuda prática em momentos de necessidade.

Antes de sugerir a transferência, pode ser útil comunicar-se com a fonte


pretendida, a fim de certificar-se de que o paciente será recebido. Ao sugerir a
transferência ao aconselhado, não deixe de contar-lhe as suas razões para a
recomendação. Tente fazer com que o aconselhado participe da decisão de
transferência, mostrando-lhe ser esta uma maneira positiva de obter mais ajuda e não
por acreditar que o aconselhado esteja excessivamente perturbado ou seja um
problema grande demais para você.

É melhor deixar que os aconselhados marquem sozinhos as entrevistas com o


novo conselheiro. Algumas vezes estes desejam informações a respeito do
aconselhado, mas isto só pode ser feito se ele der autorização. Depois de encaminhá-
lo, é bom continuar interessado no paciente, mas lembre-se de que uma outra pessoa
é agora responsável pelo aconselhamento.

O Futuro do Aconselhamento

O aconselhamento foi dividido, classicamente, em três áreas: terapêutica,


preventiva e educativa. O aconselhamento terapêutico envolve a ajuda ao indivíduo, a
fim de que ele trate dos problemas existentes na vida. O preventivo procura impedir
que os problemas se agravem ou evitar completamente a sua ocorrência. O
aconselhamento educativo envolve a iniciativa por parte do conselheiro, no sentido de
ensinar princípios de saúde mental a grupos maiores.

É impossível calcular a porcentagem de aconselhamento envolvida em cada


uma dessas três áreas, mas é provável que a terapêutica exija a maior parte do tempo

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e energia do conselheiro. Os programas de treinamento em pós-graduação têm
contribuído para esta ênfase assimétrica e os profissionais descobriram que é muito
mais fácil ganhar a vida com o aconselhamento de reabilitação do que com o
preventivo e educativo. A maioria das pessoas pagam para serem ajudadas com um
problema; mas poucas pagarão para evitar o problema.
Há algum tempo atrás, um comitê da Associação Americana de Psicologia
recomendou a inversão dos três papéis do aconselhamento. Devemos dar mais ênfase
ao aconselhamento educativo, concluiu o comitê, ênfase secundária à prevenção, e
menor ênfase à ajuda terapêutica clássica, de reabilitação.

Tal mudança iria ampliar e alterar grandemente o campo do aconselhamento.


Em lugar de concentrar-se nos indivíduos com problemas, haveria maior ênfase nos
grupos de pessoas da comunidade. Em lugar de esperar que os aconselhados
procurassem os conselheiros, a ajuda se daria mais freqüentemente onde as pessoas
se encontram. Além da ênfase nas técnicas de aconselhamento, haveria também um
destaque para o uso de livros, instrução programada, áudio-cassetes e outros métodos
educativos. Nada disto pressupõe que o aconselhamento terapêutico irá desaparecer
de cena, pois ele provavelmente será sempre necessário e estará presente. Mas o
campo do aconselhamento está mudando e os conselheiros cristãos começam a sentir
essas mudanças.

Num sentido muito real, porém, os cristãos acham-se à frente dessas


tendências. Desde a época de Cristo, a igreja se preocupou com a prevenção e
educação. Quando surgiu o movimento de aconselhamento pastoral, a igreja aumentou
sua ênfase na ajuda individual, mas o papel mais amplo de educar as pessoas e fazê-
las encontrar a saúde mental e espiritual jamais foi abandonado. Nossos esforços
educativos e preventivos nem sempre foram eficazes, nem os nossos objetivos sempre
claros, mas já existe dentro da igreja uma corrente de pensamento que dá à educação
um lugar de proeminência, o qual supera freqüentemente o aconselhamento
terapêutico.

O aconselhamento cristão é uma tarefa difícil mas desafiadora. Ele envolve o


desenvolvimento de traços terapêuticos de personalidade, o aprendizado de
habilidades, sensibilidade às pessoas, compreensão do processo de aconselhamento,
percepção dos perigos envolvidos, familiaridade a nível profundo com as Escrituras, e
sensibilidade à orientação do Espírito Santo.

O aconselhamento pode ser assunto para um livro, mas não pode ser aprendido
completamente num livro. Nós nos tornamos bons conselheiros cristãos mediante uma
entrega a Cristo, através do treinamento e da experiência de ajudar as pessoas com os
seus problemas.

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