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RELIGIOSO
BACHAREL EM TEOLOGIA
ÍNDICE
A Igreja e o Aconselhamento 3
O Núcleo do Aconselhamento 7
O Conselheiro e o Aconselhando 18
As Crises no Aconselhamento 29
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A IGREJA E O ACONSELHAMENTO
Há pouco tempo atrás o pastor de uma igreja na região oriental dos Estados
Unidos escreveu um artigo provocante sob o título, “O Aconselhamento é Uma Perda
de Tempo. Frustrado pelo seu pouco êxito no aconselhamento, o escritor queixou-se
de gastar “horas e mais horas... falando ad infinitum com grande número de pessoas
que simplesmente não seguem seus ‘conselhos pastorais’”.
O líder da igreja foi suficientemente sincero para reconhecer que seu insucesso
talvez resultasse do fato dele não ter as qualificações necessárias para aconselhar com
eficácia. Concordou também que existe lugar para discussões doutrinárias e bíblicas
entre um ministro e um paroquiano, para falar sobre o casamento com os que estão se
aproximando do altar, ou para ministrar pessoalmente aos doentes e aos que sofrem.
Mas concluiu que não há lugar para “o aconselhamento pastoral tradicional tão pouco
produtivo”.
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Se todos desistissem, porém, para onde iriam as pessoas com seus problemas?
Jesus, que é o exemplo do cristão, passou muito tempo falando com as pessoas
necessitadas, em grupos e em contato face a face. O apóstolo Paulo, que era muito
sensível às necessidades dos indivíduos sofredores, escreveu: “Ora, nós que somos
fortes, devemos suportar as debilidades dos fracos, e não agradar nos a nós mesmos”
(Rm 15.1). Paulo escrevia, provavelmente, aqui sobre os que tinham dúvidas e
temores, mas seu cuidado compassivo estendeu-se a quase todas as áreas de
problemas que poderiam ser encontradas hoje. A ajuda às pessoas não é apresentada
na Bíblia como uma opção, mas como uma exigência para todo crente, inclusive o líder
da igreja. O aconselhamento pode parecer às vezes uma perda de tempo, mas deve
constituir uma parte importante do ministério, necessária e biblicamente estabelecida.
A fim de ser mais eficaz o terapeuta deve ser uma pessoa real, humana...
oferecendo um relacionamento genuinamente humano... Grande parte da
atuação dos terapeutas é supérflua ou não tem relação com sua eficiência; de
fato, muito de seu sucesso não tem qualquer ligação com o que fazem ou
acontecem do que fazem, desde que ofereçam a relação que os terapeutas de
opiniões muito diferentes parecem fornecer...Trata-se de uma relação que não
se caracteriza tanto pelas técnicas usadas pelo terapeuta mas pelo que ele é;
não é tanto pelo que ele faz, mas pela maneira como o faz.
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uso de várias técnicas de aconselhamento, dependendo da situação, da natureza do
aconselhado e do problema específico. Ele algumas vezes ouvia cuidadosamente as
pessoas sem dar muita orientação, às claras, mas em outras ocasiões ensinava
incisivamente. Ele encorajava e apoiava, embora também confrontasse e desafiasse.
Jesus aceitava pessoas pecadoras e necessitadas, mas também exigia
arrependimento, obediência e ação.
De acordo com a Bíblia, os cristãos devem ensinar tudo o que Cristo nos
ordenou e ensinou. Isto inclui, certamente, doutrinas a respeito de Deus, autoridade,
salvação, crescimento espiritual, oração, a igreja, o futuro, anjos, demônios e a
natureza humana. Todavia, Jesus também ensinou sobre o casamento, interação entre
pais e filhos, obediência, relação entre raças, e liberdade tanto para homens como para
mulheres. Ele ensinou igualmente sobre assuntos pessoais como sexo, ansiedade,
medo, solidão, dúvida, orgulho, pecado e desânimo.
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coisas”, nos faz lembrar das palavras de Jesus, convence as pessoas do pecado, e nos
guia a toda a verdade. Através da oração, meditação sobre as Escrituras e entrega
deliberada a Cristo todos os dias, o conselheiro-professor se coloca à disposição como
um instrumento mediante o qual o Espírito Santo pode operar, ajudar, ensinar,
convencer ou guiar outro ser humano. Este deve ser o alvo de todo crente – pastor ou
leigo, conselheiro profissional ou ajudador leigo: ser usado pelo Espírito Santo para
tocar vidas, modifica-las e leva-las em direção à maturidade tanto espiritual quanto
psicológica.
Nos anos que se seguiram foi esta igreja de Jesus Cristo que continuou seu
ministério de ensino, evangelização, serviço e aconselhamento. Essas atividades não
foram vistas como responsabilidade especial de líderes eclesiásticos do tipo “super-
star”; mas sim por crentes comuns trabalhando, compartilhando e cuidando uns dos
outros e dos incrédulos fora do corpo. Se lermos o livro de Atos e as Epístolas, torna-se
aparente que igreja não era apenas uma comunidade de evangelização, ensino,
discipulado, mas também uma comunidade terapêutica.
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assistindo aos cultos por simples hábito, e deixando a maior parte das atividades a
cargo de um pastor sobrecarregado. Tal quadro talvez seja exagerado, mas para
muitos a igreja local não representa ajuda ou não tem grande significado. Esta não foi
seguramente a intenção de Cristo quando a igreja foi estabelecida no princípio.
Por que a igreja foi iniciada? A resposta com certeza se encontra nas últimas
palavras de Jesus e seus seguidores, quando voltou ao céu: Ide, portanto, fazei
discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito
Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que
estou convosco até à consumação do século.
Tudo isto deve ter lugar dentro dos limites de um grupo de crentes, tendo cada
um recebido os dons e habilidades necessários para edificar a igreja. Como um grupo,
guiado por um pastor, os crentes dirigem sua atenção e suas atividades para o alto,
através da adoração a Deus; para o exterior, mediante a evangelização, e para o
interior através da fraternidade e mútua divisão das cargas. Quando falta um desses
elementos, o grupo fica desequilibrado e os crentes incompletos.
O NÚCLEO DO ACONSELHAMENTO
Veio então Eliú, um jovem que deu atenção às palavras de Jo e o ouviu falar de
suas dificuldades. Eliú criticou os que haviam censurado e oferecido conselhos numa
tentativa de ajuda. Ele mostrou aceitação e interesse, uma disposição humilde de
nivelar-se a Jo (sem uma atitude negativa de parecer “mais santo do que tu”), coragem
para confrontar, o desejo firme de dirigir o aconselhado a Deus que é o único soberano
no universo. Eliú foi o único conselheiro que prestou auxílio. Ele teve êxito onde os três
outros haviam falhado.
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proporção cresceu levemente segundo as descobertas de escritores mais recentes que
estudaram a eficácia do aconselhamento. De acordo com esta pesquisa, podemos
estar “bem certos” de que dois dentre cada três praticamente são ineficientes e até
prejudiciais; desperdiçando energia, dedicação e cuidado.
Os Alvos do Aconselhamento
Certo dia em que ensinava a seus seguidores, Jesus contou a razão de sua
vinda a terra: dar-nos vida em abundância e em toda a sua plenitude. Antes disso, no
versículo que é hoje certamente o mais conhecido das Escrituras, Jesus falara sobre o
propósito de Deus ao enviar o Filho – “Para que todo o que nele crê não pereça, mas
tenha a vida eterna”. Jesus tinha, portanto, dois alvos para os indivíduos: vida
abundante na terra e vida eterna no céu.
Vamos reconhecer, porém, que existem muitos cristãos sinceros que terão uma
vida eterna nos céus mas não gozam de uma vida muito abundante na terra. Essas
pessoas precisam de aconselhamento que envolva mais do que evangelização ou
educação cristã tradicional. Tal aconselhamento poderia, por exemplo, ajudar os
aconselhados a reconhecer as atitudes prejudiciais inconscientes, ensinar habilidade
interpessoais e novos comportamentos, ou mostrar como mobilizar os recursos íntimos
a fim de enfrentar uma crise.
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Quais são alguns dos demais alvos? Qualquer lista pode incluir pelo menos os
seguintes:
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Qualificações dos Conselheiros Eficazes
Este aspecto foi ressaltado há vários anos atrás num livro de Gordon Allport,
professor da Faculdade de Harvard e ex-presidente da Associação Americana de
Psicologia. Ele chamou o amor de “incomparavelmente o maior agente
psicoterapêutico... algo que a psiquiatria profissional não pode criar por si mesma, nem
focalizar, nem liberar”. Allport sugeriu que o conselheiro secular muitas vezes não pode
suprir o amor necessário ao aconselhado e é incapaz de receber o amor que este quer
lhe dar. Será possível, sugeriu ele, que o cristianismo ofereça uma abordagem para a
vida baseada inteiramente no amor e portanto possa ajudar onde o aconselhamento
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secular fracassa? Isto dá lugar a um desafio que leva o conselheiro cristão a refletir: um
meio básico de ajudar é amar – pedir a Deus para amar as pessoas necessitadas
através de nós e suplicar que nos conceda mais amor.
Técnicas de Aconselhamento
2. Ouvir. Isto abrange mais do que uma recepção passiva de mensagens. Segundo
o psiquiatra Armand Nicholi, o ato de ouvir eficazmente envolve:
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aguardar pacientemente durante períodos de silêncio ou lágrimas
enquanto o aconselhado se enche de coragem para aprofundar-se em
assuntos penosos ou faz pausas para reunir seus pensamentos ou
recuperar a compostura;
ouvir não apenas o que o aconselhado diz, mas aquilo que ele ou ela está
tentando dizer ou deixou de dizer;
usar os dois olhos ou ouvidos para captar as mensagens transmitidas
pelo tom de voz, postura, e outras pistas não-verbais;
analisar as próprias reações quanto ao aconselhado;
evitar desviar os olhos do aconselhado enquanto este fala;
sentar-se imóvel
limitar o número de excursões mentais às próprias fantasias;
controlar os sentimentos em relação ao aconselhado que possam
interferir com uma atitude de aceitação, simpatia, que não faz juízos
antecipados; e
compreender que é possível aceitar plenamente o aconselhado sem
aprovar ou sancionar atitudes e comportamento destrutivos para o
aconselhado ou para outros.
Os conselheiros que falam muito podem dar bons conselhos, mas estes
raramente são ouvidos e terão ainda menos probabilidade de serem seguidos. Em tais
situações, o aconselhado sente que não foi compreendido. Em contraste, ouvir é um
modo de dizer-lhe: “Eu me interesso”. Quando não ouvimos, mas aconselhamos
falando, esta é com freqüência uma expressão da própria insegurança do conselheiro
ou de sua incapacidade para tratar de situações ambíguas, ameaçadoras ou
emocionais.
3. Responder. Não se deve supor, porém, que o conselheiro nada faz além de
ouvir. Jesus era um bom ouvinte (lembre-se de seu encontro com os dois
discípulos confusos na estrada de Emaús, por exemplo), mas a sua ajuda
também se caracterizava pela ação e respostas verbais específicas.
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Um breve resumo da entrevista pode ser também um meio de refletir e estimular
maior exploração por parte do aconselhado. O conselheiro pode resumir sentimentos
(“isso realmente magoa”) e/ou temas gerais do conteúdo (“de tudo que me contou
parece que teve uma série de decepções”), mas dê sempre ao aconselhado tempo e
oportunidade para responder a tais reflexões – fazendo um sumário.
Perguntar, caso seja feito com habilidade poderá extrair bastante informações
úteis. As melhores perguntas são aquelas que exigem pelo menos uma sentença ou
duas do aconselhado (Fale-me sobre o seu casamento”) em lugar das que podem ser
respondidas em uma palavra (“Você é casado?” “Qual a sua idade?”). Os conselheiros
iniciantes fazem mais perguntas que os mais experimentados, e desde que um
interrogatório intensivo pode sufocar a comunicação, os alunos são no geral instruídos
a fazerem poucas perguntas. As perguntas que começam com “Por quê?” são quase
sempre evitadas, desde que tendem a parecer críticas ou a estimular discussões
intelectuais prolongadas que impedem o aconselhado a confrontar seus verdadeiros
sentimentos ou mágoas.
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potencial para capacitar os aconselhados a verem a si mesmos e suas circunstâncias
mais claramente. Mas as interpretações podem ser também prejudiciais, especialmente
se forem introduzidas antes do aconselhado poder tratar emocionalmente do material,
ou se as interpretações forem erradas.
O Processo do Aconselhamento
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pouco diferente e descobrirá que o curso do aconselhamento irá variar de pessoa a
pessoa.
Uma das razões para isto é que os estágios são raramente identificados com
tanta clareza ou tão facilmente como os parágrafos anteriores talvez sugiram. Por
exemplo, o primeiro passo de estabelecer uma relação é especialmente importante no
início, quando os aconselhados (e conselheiros) talvez estejam nervosos e
apreensivos. Todavia, uma vez que a relação tenha começado, ela deve ser mantida, a
fim de que o conselheiro jamais perca completamente de vista o passo número um. No
decorrer do aconselhamento surge uma vacilação natural entre estes estágios, de
avanço e retrocesso, à medida que os problemas se tornam mais definidos, as
soluções são encontradas e o aconselhamento se dirige para o seu final.
Sem levar em conta quão eficaz possa ser a hora de aconselhamento, sua
influência pode ser diminuída se o aconselhado sair da sessão e esquecer-se ou
ignorar o que aprendeu. A fim de enfrentar este problema, muitos conselheiros dão
tarefa de casa – projetos destinados a fortalecer, expandir e estender o processo de
aconselhamento para além do período que o aconselhado passa com o conselheiro.
Em seu excelente livro sobre a ajuda, o psicólogo Paul Welter nota que cada
pessoa tem um modo especial de aprender. Alguns aprendem melhor ouvindo –
escutando o que outros dizem. Outros vendo – lendo, assistindo filmes e observando
diagramas.
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É a essência do bom aconselhamento. O conselheiro que aperfeiçoa a sua
habilidade nesse sentido verá a diferença em sua eficácia na ajuda às pessoas.
Aprender como passar tarefa de casa positiva, bíblica, concreta, que se adapte
criativamente à situação, exige tempo e esforço, mas produz dividendos.
Desde que o termo “tarefa de casa” geralmente faz pensar em algo monótono
imposto sobre um receptor rebelde, foi sugerido que “acordos-tarefa” poderia ser um
termo melhor e mais exato.
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4. Leitura. Os livros e artigos com freqüência contêm informação útil que pode
completar as sessões de aconselhamento. Existe sempre o perigo dos
aconselhados interpretarem mal o que foi escrito ou que algo seja tirado de seu
contexto. Poucos conselheiros têm o tempo necessário para examinar todos os
livros potencialmente revelantes e será difícil encontrar materiais escritos com os
quais o conselheiro esteja de pleno acordo. Apesar dessas limitações, os artigos
e livros podem ser um suplemento proveitoso no aconselhamento,
especialmente se a leitura for discutida subseqüentemente com o aconselhado.
5. CDs. A terapia musical – uso da música para ajudar as pessoas com seus
problemas – é pelo menos tão antiga quanto às melodias calmantes que Davi
tocava pare serenar o perturbado rei Saul. Muitas pessoas relaxam ligando o
botão de seu aparelho de som depois de um dia pesado de trabalho.
O CONSELHEIRO E O ACONSELHANDO
Ele envolve concentração intensa e algumas vezes nos faz sofrer, ao vermos
tantas pessoas infelizes. Quando esses indivíduos não conseguem melhorar, como
acontece com freqüência, é fácil culpar-nos, tentar dar mais ainda de nós mesmos e
ficar imaginando o que aconteceu de errado. Enquanto mais e mais pessoas procuram
aconselhamento, surge a tendência de aumentar nosso período de trabalho,
esforçando-nos até o limite máximo de nossas forças.
Alguns dos problemas dos aconselhados nos fazem lembrar de nossas próprias
inseguranças e conflitos e isto pode ameaçar nossa estabilidade ou sentimentos de
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auto-estima. Não é de admirar que o aconselhamento tenha sido considerado uma
ocupação tanto gratificante quanto arriscada. Discutiremos neste capítulo alguns dos
riscos, e consideraremos alguns dos meios que podem tornar a tarefa do conselheiro
mais satisfatória e bem sucedida.
A Motivação do Conselheiro
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4. A Necessidade de Socorrer. O conselheiro deste tipo tira a responsabilidade
do aconselhado ao demonstrar uma atitude que diz claramente: “você não é
capaz de resolver isso, deixe tudo comigo”. Esta foi chamada de abordagem do
messias benfeitor. Ela pode satisfazer o aconselhado por algum tempo, mas
raramente fornece ajuda duradoura. Quando a técnica de socorro falha (como
acontece muitas vezes) , o conselheiro sente-se culpado e inadequado – como
um messias incapaz de salvar os perdidos.
A Eficácia do Conselheiro
Todos sabem que algumas pessoas dão melhores conselhos que outras. Isto faz
surgir uma questão importante e fundamental. Todo cristão pode ser um bom
conselheiro ou o aconselhamento é um dom reservado para certos membros
escolhidos no corpo de Cristo?
Segundo a Bíblia, todos os crentes devem ter um interesse compassivo por seus
semelhantes, mas não se deduz disso, necessariamente, que todos os crentes sejam
ou possam tornar-se conselheiros bem dotados. Neste respeito, o aconselhamento é
como o ensino. Todo pai tem a responsabilidade de ensinar seus filhos, mas apenas
alguns são professores especialmente dotados.
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Nós claramente precisamos uns dos outros e o aconselhamento é uma parte –
mas apenas uma parte – da igreja em funcionamento. Ajudamos as pessoas pelo
aconselhamento, mas também as auxiliamos através da evangelização, ensino,
preocupação social e outros aspectos do ministério.
O Papel do Conselheiro
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protesto. Nenhum desses tipos de reação contribui para o amadurecimento do
aconselhado e todos são uma resposta a uma técnica de aconselhamento que
geralmente refletem a ansiedade, incerteza e necessidade do próprio
conselheiro. Jesus é descrito como alguém que “tomou sobre si as nossas
enfermidades”. Ele jamais fez vista grossa para o pecado, mas compreendia os
pecadores e sempre manifestou bondade e respeito por aqueles que, como a
mulher junto ao poço, estavam dispostos a aprender, arrepender-se e mudar seu
comportamento.
Toda vez que surgem ameaças desse tipo é geralmente proveitoso perguntar-
nos o porquê da situação. Se não soubermos a resposta, vale a pena discutir o assunto
com um amigo ou um outro conselheiro. Quanto mais conhecemos e aceitamos a nós
mesmos, tanto menos provável será nos sentirmos ameaçados pelos nossos
pacientes.
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O conselheiro deve manter uma atitude vigilante caso deseje evitar esses oito
riscos. Como ajudadores cristãos honramos a Deus executando nossa tarefa da melhor
forma possível, desculpando-nos ao cometer erros, e usando nossos erros como
situações de aprendizado e degraus de acesso para o nosso desenvolvimento.
A Vulnerabilidade do Conselheiro
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aconselhado deseja realmente?”. Algumas vezes as pessoas alegam desejar ajuda
com um problema, mas na verdade querem seu tempo e atenção, sua aprovação de
um comportamento pecaminoso ou prejudicial, ou seu apoio como aliado num conflito
familiar. Outras vezes eles o procuram por acreditarem que cônjuges preocupados,
outros membros da família ou empregadores deixarão de queixar-se de seu
comportamento um vez que iniciem o processo de aconselhamento. Quando você
suspeitar desse tipo de desonestidade e manipulação, é prudente conversar a respeito
com o aconselhado, esperar uma negativa da parte dele, e depois estruturar o
aconselhamento de modo a impedir manipulação e exploração do conselheiro no
futuro. Lembre-se de que o aconselhamento verdadeiramente útil nem sempre agrada
ao aconselhado ou é conveniente para o conselheiro, mas contribui para o
amadurecimento do indivíduo que solicitou ajuda. A idéia de que “as pessoas sinceras
em seu desejo de aceitar ajuda raramente mostram-se exigentes”, desonestas ou
manipuladoras, é, sem dúvida, verdadeira.
Por que acho ser esta a pior (ou melhor) pessoa que já aconselhei?
Existe uma razão para o meu constante atraso, ou o do aconselhado?
Existe uma razão para que o aconselhado ou eu deseje mais (ou menos)
tempo do que haveríamos combinado no início?
Minhas reações às palavras deste aconselhado são excessivas?
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Sinto-me aborrecido quando estou com esta pessoa? O problema sou eu, o
aconselhado ou nós dois?
Por que eu sempre concordo (ou discordo) com o aconselhado?
Sinto vontade de terminar esta relação ou de apegar-me a ela embora
devesse terminar?
Estou começando a sentir demasiada simpatia pelo aconselhado?
Penso constantemente no aconselhado entre as entrevistas, sonho acordado
com ele ou ela, ou mostro mais do que o interesse comum no seu problema?
Por quê?
A Sexualidade do Conselheiro
Tais influências sutis escreveu Freud há muitos anos atrás, “acarretam o perigo
de fazer o homem esquecer-se de sua técnica e tarefa médica a favor de uma
experiência agradável”. É provável que todo aluno conheça conselheiros, inclusive
pastores-conselheiros, que transigiram com seus padrões “a favor de uma experiência
agradável” e descobriram que seus ministérios, reputação, eficácia de aconselhamento
e talvez seu casamento acabaram sendo destruídos como um resultado disso – sem
falar sobre os efeitos negativos que isto pode ter no aconselhado. A atração sexual por
um aconselhado é coisa comum e o conselheiro prudente deve esforçar-se ao máximo
para exercer autocontrole.
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E, se você cair? Servimos a um Deus que perdoa, embora as cicatrizes – na
forma de uma reputação arruinada ou um insucesso no casamento, por exemplo –
possam durar a vida inteira. Se confessarmos qualquer pecado recebemos perdão,
mas temos depois a obrigação de modificar daí por diante nosso comportamento a fim
de faze-lo mais coerente com as Escrituras.
2. Percepção dos Sinais de Perigo. Num livro inteiro dedicado aos sentimentos
sexuais do conselheiro e aconselhado, Rassieur indicou várias pistas que
podem apontar para uma mudança potencial do profissionalismo do
aconselhamento para uma intimidade perigosa. Isto inclui:
A atração sexual deve ser discutida em alguns casos com o aconselhado? Isto
pode ser às vezes apropriado no sentido de ajudar na compreensão e amadurecimento
do mesmo, mas os riscos envolvidos em tais discussões são muito altos. Alguns
pacientes podem interpretar tais conversas como um convite a maiores intimidades.
Outros, especialmente os imaturos e convencidos, podem contar a outros a respeito do
assunto e isto poderia ter conseqüências desastrosas no sentido profissional. Antes de
discutir seus sentimentos sexuais com um aconselhado, seria prudente conversar
primeiro com um amigo ou consultor profissional.
A Ética do Conselheiro
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como a Palavra de Deus, as Escrituras se tornam o padrão final ao tomarmos todas as
nossas decisões morais.
O conselheiro cristão respeita cada indivíduo como uma pessoa de valor, criada
por Deus à imagem divina, manchada pela queda da humanidade no pecado, mas
amada por Deus e objeto da redenção divina. Cada pessoa possui sentimentos,
pensamentos, vontade e liberdade para comportar-se como achar adequado. Como um
ajudador de pessoas, o conselheiro busca sinceramente o melhor para o bem-estar do
aconselhado e não tenta manipular ou imiscuir-se na vida do mesmo. Como servo de
Deus, o conselheiro tem a responsabilidade de viver, agir e aconselhar de acordo com
os princípios bíblicos. Como empregado, ele tenta cumprir as suas responsabilidades e
executar seus deveres com fidelidade e competência. Como cidadão e membro da
sociedade, busca obedecer às autoridades governamentais e contribuir para o bem da
cultura.
A filha de um líder da igreja revela estar grávida e que pretende fazer um aborto.
O que você faz com esta informação?
Em toda decisão moral o conselheiro procura agir de modo a dar honra a Deus,
manter-se conforme o ensino bíblico e respeitar o bem-estar do consulente e de outros.
Quando decisões diferentes precisam ser tomadas, os conselheiros têm a obrigação de
discutir a situação confidencialmente com um ou dois conselheiros cristãos e/ou
especialistas, tais como um advogado ou médico que não precisam saber a identidade
do aconselhado, mas que podem auxiliar nas decisões éticas. Tais decisões não são
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fáceis, mas o conselheiro cristão obtém o máximo de fatos possíveis (inclusive dados
bíblicos), confiando sinceramente em que Deus irá orienta-lo, e em seguida toma a
decisão mais sábia possível baseado na melhor evidência a seu dispor.
Através da Bíblia inteira, entretanto, vemos que Deus também opera mediante
outros seres humanos. Ele ajuda os conselheiros por meio de outras pessoas com
quem ele pode partilhar suas opiniões, manter perspectiva, relaxar – e ocasionalmente
chorar. Sem o apoio, o encorajamento e opinião de um amigo cristão confiável, o
trabalho do conselheiro será provavelmente mais árduo e menos eficiente. Dois ou
mais conselheiros podem no geral encontrar-se regularmente para apoio mútuo e
oração conjunta. Se lhe falta tal relação, ore, pedindo a Deus que o faça encontrar um
companheiro com quem possa se abrir.
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AS CRISES NO ACONSELHAMENTO
Surgem, porém, às vezes, situações mais graves que ameaçam nosso equilíbrio
psicológico. Essas situações, ou acontecimentos da nossa existência, são também
chamados de crises. Elas podem ser esperadas ou inesperadas, reais ou imaginárias,
fatuais (como quando um ente querido morre) ou potenciais (como quando parece que
um ente querido possa vir a morrer logo).
Vários escritores comentaram que a palavra chinesa para “crise” inclui dois
símbolos. Um significa perigo e o outro oportunidade. Uma crise é um perigo porque
ameaça vencer a pessoa ou pessoas envolvidas. As crises envolvem a perda de
alguém ou de algo importante, a mudança brusca de nosso papel ou posição, ou o
aparecimento de pessoas ou acontecimentos novos e ameaçadores. Em vista desta
situação crítica ser tão intensa e única, descobrimos que nossos hábitos costumeiros
de tratar da tensão e de resolver problemas não funcionam mais. Isto leva a um
período de confusão e espanto, geralmente acompanhado de comportamento negativo
e distúrbios emocionais inclusive ansiedade, ira, desânimo, tristeza ou culpa. Embora
este tumulto intelectual, comportamental e emocional geralmente seja de curta
duração, ele pode persistir por várias semanas ou até mais.
... considerável importância para a saúde mental futura do mesmo. Seu novo
equilíbrio pode ser melhor ou pior do que no passado... Ele poderá vir a tratar
dos problemas críticos desenvolvendo novas técnicas para a solução de
problemas, socialmente aceitáveis baseadas na realidade, o que irá aumentar
sua capacidade de tratar de maneira sadia com futuras dificuldades. Por outro
lado, durante a crise, ele talvez desenvolva novas respostas socialmente
inaceitáveis e que tratem das dificuldades através da evasão, fantasia irracional,
manipulações ou regressão e alienação – sendo que tudo isso aumenta a
probabilidade dele vir a tratar também desajustadamente as futuras dificuldades.
Em outras palavras, o novo padrão por ele desenvolvido para enfrentar as crises
torna-se daí por diante uma parte integral de seu repertório de respostas à
solução de problemas e aumenta a possibilidade de vir a tratar dos riscos futuros
com maior ou menor objetividade.
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forma, são pontos críticos inevitáveis na vida. Viver é passar por crises. Experimentar
crises é enfrentar pontos críticos que trarão seja crescimento e maturação, ou declínio
e imaturidade contínua. O conselheiro cristão está numa posição vital para influenciar a
direção que as soluções para a crise vão tomar.
Grande parte da Bíblia trata de crises. Adão, Eva, Caim, Noé, Abraão, Isaque,
José, Moisés, Sansão, Jefté, Saul, Davi, Elias, Daniel e várias outras personagens
enfrentaram crises que o Velho Testamento descreve em detalhes. Jesus enfrentou
crises (especialmente quando de sua crucificação) e o mesmo aconteceu aos
discípulos, Paulo, e muitos dos primeiros crentes. Várias das Epístolas foram escritas a
fim de ajudar os indivíduos ou igrejas a enfrentarem crises, e Hebreus 11 resumiu tanto
crises cujo final foi feliz como aquelas que resultaram em tortura, incrível sofrimento e
morte.
- Sou um fracasso;
- Sou velho demais para alcançar meus objetivos de vida;
- Fui “deixado para trás” numa promoção;
- Sou um viúvo agora – novamente solteiro;
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- Minha vida não tem propósito;
- Minha doença é incurável;
- Não tenho nada em que acreditar;
- Minha casa e bens se foram por causa do incêndio;
- Estou aposentado;
- Fui rejeitado por causa da cor da minha pele.
Depois de uma grande vitória espiritual, Elias foi perseguido por Jezabel e fugiu
para o deserto aonde chegou à conclusão de que não passava de um fracasso. Jonas
teve esses mesmos pensamentos enquanto lutava com Deus. Depois de seus
infortúnios, Jó certamente debateu a pergunta: “O que aconteceu comigo e o que mais
ainda vai acontecer?”
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ou não, é sempre útil fazer um contato visual e procurar dar-lhe segurança. Mesmo
sem palavras, o toque e outras formas de contato físico podem proporcionar grande
conforto, embora alguns pareçam considerar o toque como um tabu. É aceitável
apertar as mãos, dar uma “palmadinha” nas costas de um amigo, ou abraçar de leve os
atletas quando o seu time faz ponto, mas pegar as mãos de uma pessoa em crise ou
colocar os braços à sua volta é geralmente desencorajado no aconselhamento. Isto se
deve aos aconselhados algumas vezes interpretarem mal o contato físico e o
considerarem como uma insinuação de caráter sexual.
Para muitos existe também o medo da intimidade e isto faz o toque parecer
ameaçador. Ao compreender o valor e os riscos envolvidos no toque, o conselheiro
deve decidir em cada entrevista se o contato físico irá realmente ajudar o aconselhado
e se há probabilidade dele interpretá-lo mal. Pergunte também qual a sua motivação
para o contato. Será provável que esteja satisfazendo mais as suas necessidades
sexuais e de aproximação do que as do aconselhado? O toque pode ser um meio
excelente de estabelecer contato e dar apoio, mas talvez deve ser controlado. Pela
regra: se estiver em dúvida – não faça!
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Os recursos pessoais incluem as habilidades e capacidade intelectual do
aconselhado, sua experiência passada e motivação. Tenha novamente cuidado em ser
realista, mas lembre-se de que uma simples listagem dos pontos positivos do
aconselhado e a lembrança de como ele enfrentou com êxito seus problemas em
ocasiões anteriores, podem ser tanto confrontadoras como úteis.
6. Encorajar Ação. Certas pessoas são capazes de decidir qual a melhor atitude
a tomar e depois ficam com medo de prosseguir com o plano. O conselheiro
deve, portanto, encorajar o aconselhado a agir, avaliar o seu progresso, e
modificar os planos e atos sempre que a experiência indicar a sabedoria desta
atitude.
A ação quase sempre envolve pelo menos algum risco. Existe a possibilidade de
fracasso ou arrependimento posterior, especialmente se a ação acarretar modificações
importantes na vida da pessoa, tais como uma mudança de casa ou de emprego.
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7. Instilar Esperança.Em todo aconselhamento é mais provável haver melhora
quando é transmitido ao aconselhado um senso realista de esperança para o
futuro. A esperança traz alívio ao sofrimento, baseado numa crença de que as
coisas serão melhores no futuro. A esperança nos ajuda a evitar o desespero e
liberta a energia para enfrentar a situação de crise.
O conselheiro cristão instila esperança de três maneiras (que não são citadas
aqui necessariamente na ordem em que devem ser usadas).
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Encaminhamento
O Futuro do Aconselhamento
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e energia do conselheiro. Os programas de treinamento em pós-graduação têm
contribuído para esta ênfase assimétrica e os profissionais descobriram que é muito
mais fácil ganhar a vida com o aconselhamento de reabilitação do que com o
preventivo e educativo. A maioria das pessoas pagam para serem ajudadas com um
problema; mas poucas pagarão para evitar o problema.
Há algum tempo atrás, um comitê da Associação Americana de Psicologia
recomendou a inversão dos três papéis do aconselhamento. Devemos dar mais ênfase
ao aconselhamento educativo, concluiu o comitê, ênfase secundária à prevenção, e
menor ênfase à ajuda terapêutica clássica, de reabilitação.
O aconselhamento pode ser assunto para um livro, mas não pode ser aprendido
completamente num livro. Nós nos tornamos bons conselheiros cristãos mediante uma
entrega a Cristo, através do treinamento e da experiência de ajudar as pessoas com os
seus problemas.
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