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PERIGOSAS NACIONAIS

PERIGOSAS ACHERON
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PERIGOSAS NACIONAIS

Copyright © 2018 Liz Lume e Liz Spencer

1ª Edição

Todos os direitos reservados.

FICHA TÉCNICA E EQUIPE


EDITORIAL:

Ilustração e Capa: ML Capas

Revisão: Liz Lume

Diagramação Digital: ML Capas

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e


acontecimentos nela descritos são produto da imaginação da
autora e usados de forma fictícia. Qualquer semelhança com
nomes, datas, pessoas, vivas ou mortas, e acontecimentos
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reais é mera coincidência.


Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida ou
transmitida sob qualquer forma ou por qualquer meio
eletrônico ou físico sem o prévio consentimento por escrito da
autora, exceto no caso de citações.
Nenhuma parte deste livro pode ser carregada sem a
permissão da autora, nem ser de outro modo circulado em
qualquer outra plataforma diferente daquela em que é
originalmente publicado.
A autora reconhece o status de marca registrada e a
propriedade da marca registrada de todas as marcas, sejam
elas quais forem, mencionadas neste livro.
Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua
Portuguesa.

Edição Digital | Criado no Brasil

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— Ao meu pai, Edivaldo Lopes.


Obrigada por tudo. Me desculpe por tudo.
Onde quer que você esteja, sei que sua luz
sempre estará brilhando.

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SUMÁRIO

Epígrafe

Prólogo

01: Sobre Deixar Ir

02: Sobre Não Compreender

03: Sobre Heróis e Cupcakes

04: Sobre Bolas e Sprays de Tinta

05: Sobre Voltar à Vida

06: Sobre a Tormenta e a Esperança

07: Sobre Encontros Não Marcados e Sachês


de Açúcar

08: Sobre Luz do Sol e a Lista do


Imprescindível

09: Sobre Canções de Ninar

10: Sobre Emily Carter

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11: Sobre Aprender a Voar

12: Sobre Segredos Que Ferem

13: Sobre os Dezoito Anos e a Primeira


Viagem

14: Sobre a Dor Que Não Se Apaga

15: Sobre a Beleza Que Não Se “Vê”

16: Sobre o Muro das Confissões

17: Sobre a Pequena Paige

18: Sobre Enfrentar

19: Sobre Garotos de Fraternidade e o


Recomeço

20: Sobre o Primeiro Encontro

21: Sobre Descobertas Indesejadas

22: Sobre Promessas Inquebráveis

23: Sobre Paz e Amizade

24: Sobre Pais e Filhos

25: Sobre Dançar na Chuva

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26: Sobre o Frio e o Quente

27: Sobre Novas Notícias

28: Sobre Kaylan

29: Sobre Grandes Decisões

30: Sobre Dores do Passado

31: Sobre Pôr Em Pratos Limpos

32: Sobre Perdão e Arrependimentos

33: Sobre o Final Feliz

Epílogo

Agradecimentos

Playlist

Sobre a Autora

Leia também...

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“Jamais permita que sentimentos

negativos lhe impeçam de seguir adiante.


Grite, chore, mas persista e enfrente. Encare
o próximo dia como uma recompensa.”

— Lótus Noturna.

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Suas mãos tremem à medida que ele

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manipula a caneta sobre a folha de papel


amassada. Lágrimas amargas deslizam pelas
bochechas esculpidas, os soluços silenciosos
fazendo com que o objeto escorregue no

momento em que ele tenta contornar uma


última letra.

Para.

Inspira.

Expira.

Uma gota de suor pinga sobre a folha.


Seu nariz se enruga ao observar as palavras
embaçadas e mal escritas. Seu pequeno ato

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de rebeldia.

Mais uma vez, se inclina sobre a mesa,


retomando sua missão. Vez ou outra, seus
olhos deslizam para o móvel de vidro onde

uma garrafa de bebida está apoiada.

Adiante, um revólver descansa ao lado


dela.

Inspira.

Expira.

Dedos se entranham nos fios de cabelo


grossos enquanto ele pragueja, o choro
incessante comprimindo sua garganta.

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É doloroso.

Angustiante.

Frustrante.

É como se um aspirador potente


houvesse sugado tudo em seu interior, e ele
houvesse ficado oco, sem saber quem é, sem
noção de quem ser.

Quando finalmente conclui a carta, ele

a dobra. Toma um gole da bebida já quente


sobre a mesa. É cerveja. O líquido de sabor
amargo desce pela sua garganta e a sensação
é estranha.

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Elevando o olhar, ele analisa o seu

reflexo no espelho. Incríveis olhos prateados


o encaram de volta. Pequenas sardas
ressaltam em seu nariz bonito, reto,

modelado. Um nariz que casa com todos os


demais traços do seu rosto perfeito.

O que adianta ter beleza se você está


vazio por dentro? A pergunta escorre para
dentro da sua mente, como um punho lhe

socando sem piedade.

Há algo de errado com você.

Ele engole em seco.

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Patético.

Pega a arma.

Acabou.

Inspira.

Expira.

Ninguém te ama de verdade.

No instante seguinte, o seu mundo se

torna preto.

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Segundo Samuel Beckett¹, todos nós

nascemos loucos. Nietzsche chegou a


afirmar que existe razão na loucura... ou
algo relacionado a isso. Em Papercut,

Chester Bennington² diz que todos


possuímos uma face que ocultamos dentro de
nós mesmos. Talvez eu tenha uma face
sombria escondida por trás do rosto pálido e
olhos vazios. Talvez eu guarde um monstro
obscuro dentro da minha mente alimentada

por pensamentos melancólicos e


autodegradantes. Ou talvez eu seja apenas
uma marionete danificada que a vida achou
desprezível demais para continuar

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manipulando.

Eu tenho a nítida noção de ter falhado


em inúmeros aspectos no caminho pela
descoberta da minha verdadeira essência.

Talvez eu tenha fracassado ao tentar


encontrar fórmulas que idealizassem a minha
liberdade interior, ou apenas me deixei levar
pelas armadilhas que algum mago do destino
armou, resultando com que a garota de ouro

fosse reduzida ao ser mais patético que


possivelmente já existiu.

Não estou tentando dramatizar, acredite


em mim. Eu fui como uma espécie de Cher

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Horowitz 3 no começo da minha


adolescência. Não digo isso por possuir sua
aptidão por moda, muito menos a sua conta
bancária recheada, mas digamos que eu era

popular, do meu modo.

O meu primeiro beijo foi aos quatorze


anos, no baile de Primavera da escola.
Parecíamos como um par de perfeitos
semideuses intocáveis, com direito a toda

coisa clichê de fantasias de Romeu e Julieta


e uma música da Avril Lavigne tocando ao
fundo.

O ato em si não foi tão incrível como eu

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imaginei que seria — ele utilizava saliva


demais e tinha uma mão escorregadia demais
—, mas aquela, talvez, tenha sido uma das
noites mais significativas da minha

adolescência. Não porque beijei um garoto


bonito com quem eu nem sequer tinha
química, mas por ter sido a noite em que
aconteceram dois fatos incrivelmente
marcantes: eu fui nomeada rainha do baile
daquele ano e tomei o meu primeiro porre

proibido ao lado da minha melhor amiga


Brianna — ou você poderia considerá-la

como a minha Dionne4 pessoal.

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Eu e Bree nos conhecemos durante o

verão, há mais de dez anos. Era uma época


agradável, e ela havia acabado de se mudar
para Claremont duas semanas atrás.

Tínhamos, ambas, seis anos de idade, mas


ela parecia ter mais. Brianna sempre pareceu
ser mais velha, talvez por ser mais alta e
muito mais bonita que eu. Eu me lembro
como se fosse hoje, quando vi aquela menina
de cabelo castanho pela primeira vez, as

sardas bonitas salpicando seu rosto enquanto


eu ostentava uma lacuna nos dentes da frente
por ter acabado de perder mais um dente de
leite.

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Nosso primeiro contato foi uma das

provas de que coisas improváveis podem,


sim, acontecer. Nós sempre fomos contra as
regras quando se tratava de probabilidade.

Éramos completamente opostas, exceto, é


claro, quando parávamos para pensar sobre o
nosso futuro. Não que quiséssemos seguir o
mesmo caminho, mas ambas almejávamos o
sucesso profissional e a felicidade. A
felicidade de Brianna, nesse caso, se

resumia a festas, uma pele bonita e caras


sarados.

A minha ambição, porém, era um pouco


diferente. Enquanto eu almejava estudar e,
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possivelmente, fazer uma carreira no ramo


de jornalismo, ela tinha o grande sonho
americano de se mudar para Califórnia e
garantir um futuro brilhante como atriz

principal em uma comédia romântica onde


pudesse beijar o Ashton Kutcher.

Brianna era realista, mas conseguia ser


sonhadora ao mesmo tempo. Em alguns
momentos, agia tal qual uma Kardashian, à

medida que em outros ela se limitava a


atender a porta com calças de moletom e
uma camada de remela entre os olhos.
Acredite em mim, Brianna era a única garota
que eu conhecia que conseguia parecer uma
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supermodelo usando calças de moletom, com


o rosto sujo. Sua beleza, embora, não se
resumia somente à parte externa. Ela tinha
um grande brilho interior, além de possuir

muitas qualidades que faziam os seus


defeitos parecerem quase nulos.

Mas desde o acidente de carro que


resultou na morte da minha melhor amiga,
tudo desandou e, como eu disse, talvez eu

tenha falhado em alguma parte no caminho.


Na verdade, eu tenho certeza de que falhei,
não só comigo mesma, mas com Brianna,
principalmente.

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E foi assim que eu passei de “Cher

Horowitz de Claremont”, para a real Roslyn


Brooks — o lixo.

A garota de antes não era chamada de

louca ou esquisita pelos corredores da


escola, mas a Roslyn atual se acostumou a
passar por esse tipo de situação
constantemente. Ela nunca foi criticada por
estar acima do peso ou ficar mais de duas

semanas sem lavar o cabelo, mas a Roslyn


de hoje suporta escutar adjetivos como
verme, fantasma ou — oh, eu realmente acho
esse bastante divertido — vômito, a cada
metro quadrado por onde pisa.
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E a Roslyn de antes jamais foi

rejeitada, fosse por garotos ou até mesmo


por seus antigos amigos. Aliás, a Roslyn de
antes tinha muitos amigos, algo que a garota

de hoje perdeu completamente.

Abro os olhos e encaro o teto pintado


de azul pela oitava vez em um período de
dez minutos. Sim, eu contei por quanto
tempo estive deitada na minha cama, fitando

as nuvens pintadas no teto, tentando entrar


em um consenso comigo mesma.

A inquietação em meu estômago deixa


claro o nervosismo e a ansiedade que eu

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estou sentindo. Eu venho tentando controlar


tais oscilações nos últimos dias, mas há
momentos em que é impossível manter os
meus nervos sob controle.

Como agora, por exemplo.

Respiro fundo e volto a apanhar o meu


celular. No momento em que a tela se
acende, corro o dedo pelos poucos
aplicativos instalados até encontrar o do

Facebook. Então eu clico no ícone de


notificações, voltando a mordiscar o interior
da minha bochecha ao reler a mais recente:

LYSA OLIVER CONVIDOU VOCÊ

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PARA O EVENTO

“A MELHOR FESTA DO ANO”

Volto a rolar para baixo, lendo o local

do evento e cientificando-me de que vai


ocorrer na sua casa, às 19h00min.

Ainda não consigo acreditar cem por


cento em Lysa, muito menos em suas boas
intenções ao me convidar. Isso é quase

impossível de acontecer, tendo em vista que


ela foi uma das primeiras pessoas a se
afastarem de mim desde o último ano.

Eu fiquei, pelo menos, meia hora

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encarando aquele convite, cogitando se ela


não havia errado por me chamar ou algo
assim. Mas, no instante em que recebi uma
mensagem de Tate Miller — outra das

garotas mais zoadas da escola —, dizendo


que Lysa também havia lhe convidado, eu
não sabia se ficava confusa ou ainda mais
pilhada.

Eu conheço Lysa desde a sétima série.

Ela era uma personificação barata de mim e


de Brianna quando tínhamos a mesma idade.
As coisas começaram a mudar quando ela
virou a melhor amiga de Annie — Annelise
— Carmichael, a nova Abelha Rainha do
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Elle Meredith High School, e ambas se


transformaram na mais recente versão das
Meninas Malvadas.

De repente, ouço um barulho do lado de

fora da minha janela. Dirigindo-me até ela,


percebo que há uma mão batendo
incessantemente contra o vidro.

Puxo a janela para cima e então algo se


atira contra o parapeito e cai diretamente no

chão do meu quarto.

Mas que diabos?

Fixo meu olhar no corpo mole e

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ofegante da garota, que ainda faz algum


esforço para tentar se levantar devido ao seu
estado, e ponho as mãos na minha cintura.

— O que você está fazendo aqui? —

pergunto a Tate, estreitando os olhos no


momento em que me olha.

Ela abre um sorriso, esticando seus


lábios cobertos por um batom muito roxo, e
se levanta do chão.

— Oh, isso foi assustador. Preciso


melhorar o meu condicionamento físico —
se atira na minha cama. — E respondendo a
sua pergunta: eu vim lhe buscar para irmos

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juntas à festa!

Merda. Sério?

— Tate — falo, apontando para a janela

pela qual ela acabou de entrar —, isso foi


assustador. Por que não bateu na porta da
frente, como uma pessoa normal faria?

Ela me encara, como se estivesse


perguntando: “você está falando sério?”.

— Nós temos uma festa para ir, Rose.


Uma festa à noite, com muita bebida e caras
bonitos. Você realmente acha que a sua mãe
lhe deixaria ir tão facilmente assim? Eu

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entrei pela janela para não termos problemas


quando formos sair por ela.

Eu fico por alguns segundos calada


enquanto examino.

Okay... Não que o que ela diz não faça


sentido algum, mas vamos combinar que ela
está sendo, no mínimo, exagerada.

— É algum tipo de regra que eu ainda

não sei, adolescentes pularem as janelas de


seus quartos feito delinquentes para irem em
festas proibidas? — ironizo. — Sério, Tate,
nós não estamos no American Pie.

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Ela rola os olhos, mas não perde seu

ponto:

— Nós temos dezessete anos, Rose.


Claro que precisamos nos esgueirar feito

delinquentes quando somos menores de


idade e precisamos ir a festas onde há
bebida alcoólica.

Apenas balanço a cabeça, preferindo


não deixar ela saber que já fiz muito isso no

passado, e que seu método nada silencioso


de escalar a parede do meu quarto e passar
pela minha janela não foi algo muito
inteligente de se fazer.

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Tate é o mais próximo que eu tenho de

uma amiga agora. Eu não posso considerá-la


minha melhor amiga ainda porque esse é um
lugar que somente Brianna foi capaz de

ocupar, mas se eu fosse escolher uma nova


melhor amiga daqui para frente, essa seria
Tate. Talvez por sermos tão parecidas
atualmente..., mas não fisicamente, deixo
claro. Digamos que ela é um tipo único de
garota, com suas roupas chamativas e cabelo

colorido. E quando eu digo isso, não estou


falando sobre cabelos pintados de azul ou
vermelho em um tom uniforme. Tate gosta
de tingir o cabelo de várias cores ao mesmo

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tempo. Seu look atual consiste em um corte


Chanel, onde o lado esquerdo do seu cabelo
está pintado de rosa e o outro, loiro

platinado.

Ela diz que pretende se sustentar com o


dinheiro do seu próprio talento um dia. Eu
só não sei se ela vai conseguir se manter em
um salão de beleza quando seu estilo
favorito de tintura é algo semelhante a um

sorvete napolitano.

— De qualquer forma, não fará


diferença alguma — falo. — Eu não vou a
essa festa.

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Ela arregala os grandes olhos castanhos

carregadamente maquiados, mirando-me


como se eu houvesse ofendido a sua banda
de rock favorita.

— Você sabe quando teremos outra


oportunidade como essa?

— Talvez nunca?

— Sim! — Seu tom é agudo e

indignado. — Por favor, Rose, não vou


conseguir ir a essa festa sem você. Faça isso
por mim.

— Tate, Lysa não fala comigo há

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tempos. Ela não gosta de nós, e


definitivamente não há motivos para que
estejamos lá.

Ela bufa e começa sacudir as pernas

curtas, como uma criança teimosa fazendo


birra. Seu suspiro é audível e denota
frustração, mas o olhar de filhote pidão que
ela me lança deixa claro que suas armas para
tentar me convencer a acompanhá-la ainda

não se esgotaram.

— As garotas da equipe de xadrez me


disseram que Lysa convidou vários alunos
que não são do seu círculo social —

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comenta, fingindo casualidade. — Talvez ela


queira fazer com que nos aproximemos dela.
As pessoas mudam, sabe.

Rolo os olhos.

— Conheci essa garota por tempo


suficiente para saber que suas intenções não
são as melhores.

— Mas de qualquer forma, não seria

mais válido não abaixarmos a cabeça para


essa gente e ignorar suas provocações? Na
verdade, se nós formos, isso só vai significar
que não estamos incomodadas, certo?

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Volto a pensar no que ela acabou de

dizer e sinto minhas barreiras se rompendo


aos poucos. É óbvio que Lysa não me
convidou porque queria minha presença por

lá, afinal ela sabia que eu jamais iria. Ela


sempre fez de tudo para me provocar, e nada
do que uma nova oportunidade para que ela
sinta a necessidade de aproveitá-la, certo?

Mas, por fim, chego à conclusão de que

talvez não fará mal algum irmos a essa festa.


Não que eu esteja com vontade de encontrar
todas aquelas pessoas que mais anseio
ignorar, mas também não quero ter que
aturar Tate no meu pé, reclamando sobre o
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fato de eu não ter ido à bendita festa com


ela, durante todo o restante do ano.

Derrotada, caminho até minha


penteadeira. A primeira coisa que vejo ao me

pôr em frente ao móvel é o meu reflexo no


espelho. Por sorte, lavei o meu cabelo hoje.
Ele parece mais solto e brilhante, e as
mechas extremamente loiras caem sobre
meus ombros nus. Estou com algumas

manchas de acne e olheiras devido às noites


mal dormidas, mas isso não me incomoda
tanto assim; portanto, não me preocupo em
passar maquiagem, nem mesmo nas
bochechas, pois apesar de muito pálida,
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possuo uma coloração natural nelas.

Vou até meu guarda-roupas e retiro um


par de calças e uma camiseta roxa. Acabei
de tomar banho, portanto apenas dispo-me

do meu pijama e me preparo para me vestir.

Tate imediatamente me para.

— Ei, o que você pensa que está


fazendo? Nós somos convidadas para a

primeira festa legal em séculos, e é assim


que você quer se vestir?

Levanto uma sobrancelha.

— Além de fazer chantagem emocional

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para eu ir a essa festa, você também quer

opinar em relação ao que vou vestir?

Ela arqueia sua sobrancelha de volta.

— Você realmente quer que eu lhe


responda isso?

Evito lhe dizer que seu par de coturnos,


vestido rosa de saia plissada e meias
arrastão não compõem o look ideal para se

livrar das más línguas das pessoas que,


muito provavelmente, estarão naquela festa
também, mas conhecendo Tate como eu
conheço, é provável de que ela já saiba disso
e não dê uma merda ao fato.

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Eu gosto dela por isso.

Ignorando o meu olhar de


desaprovação, Tate se ergue da cama e se
empenha em revirar meu guarda-roupas. Me

sento diante da penteadeira e apenas espero.


Momentos depois, ela retorna com um
vestido azul — e justo — que eu costumava
usar na minha época de Abelha Rainha.

Eu não sou mais uma abelha rainha

agora.

E definitivamente não vou usar essa


coisa.

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Faço um aceno negativo com a cabeça,

deixando claro que não há negociação, então


ela adquire uma expressão de “você é um pé
no saco” e volta ao guarda-roupas. Minutos

depois, reaparece com um jeans skinny e


uma blusa de laço com decote um pouco
menos revelador que o anterior.

— Esse está perfeito! — diz. — Não


adianta você tentar rejeitá-los. Não temos

muitas opções.

Essa roupa também é da época em que


eu era popular, mas confesso que a blusa já
foi uma das minhas prediletas, portanto dou

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de ombros e finalmente visto. Todavia,


quando volto a encarar o meu reflexo e vejo
meus seios praticamente rasgando o tecido,
me arrependo. Por mais que algumas pessoas

digam que estou no meu peso ideal, engordei


alguns quilos desde o último ano, e é meio
difícil esconder esse monte de curvas nas
roupas de uma adolescente que vestia
tamanho 36.

— Uau, você está sexy! — Tate parece


ter aprovado, no entanto.

Ignorando o fato de que mais pareço


uma mercadoria a vácuo nessas roupas, dou

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um jeito de mexer no meu cabelo.


Inicialmente, decido deixá-lo solto, mas
logo desisto e o prendo em um rabo de
cavalo, optando por soltá-lo novamente no

fim das contas.

No momento de sairmos, escolho ir pela


porta da frente. Tate tinha razão quanto a
minha mãe provavelmente não me deixar
sair, mas ela não está em casa hoje, e logo

voltarei, então que mal pode haver nisso?

Encontro minha bicicleta no jardim, ao


lado da de Tate, e retiro a corrente que a
mantém presa à grade baixa da varanda.

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Desde o acidente, tenho trauma de

andar de carro. Não consigo dirigir, muito


menos confio nas pessoas o suficiente para
me forçar a andar em um com alguém, e é

por isso que Tate deixa sua bicicleta


preparada sempre que vamos sair para algum
lugar — se ir à escola todos os dias
significar algo para você.

Após pedalarmos quase trinta minutos

— fato que, sem sombra de dúvidas, nos


deixou completamente suadas — finalmente
chegamos à casa de Lysa. Ao atravessarmos
o portão de entrada, percebo a quantidade de
pessoas ao redor e fico apreensiva.
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Não é que eu não goste de pessoas, mas

essas pessoas em específico não são do tipo


que você gostaria de estar por perto, caso
fosse eu.

— Minha nossa. Vocês vieram mesmo!


— Escuto a voz Lysa e me viro.

Ela nos observa com o que imagino ser


espanto e uma pitada de diversão. Não gosto
desse olhar, e gosto muito menos dela, mas

tento me manter indiferente, forçando um


sorriso em sua direção.

— Nós fomos convidadas, certo?

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— Claro, claro — ela abre um sorriso

falso, e nos estende uma garrafa de cerveja,


que eu pego só por educação. Seu olhar
passeia pelo corpo de Tate e ela morde o

lábio, prendendo uma risada. — Bela roupa,


a propósito, Tatianna.

— Oh, obrigada! — Tate retribui,


provavelmente não percebendo a ironia por
trás da voz de Lysa. — Você também está...

uau. Quero dizer, toda a sua festa me parece


incrível.

— Tenho certeza disso — A outra


rebate, sem se importar com a modéstia. —

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Há mais bebida lá dentro. A festa está


acontecendo na piscina... Rose, você ainda
se lembra para que lado fica, certo?

— Claro.

— Ok! — ela sorri, fingindo ser


simpática. — Divirtam-se, meninas. Eu
estarei por aí.

E então ela sai, sem dizer mais nada.

Coloco a garrafa no chão e me viro,


dando graças aos céus por ter optado usar
meu par mais confortável de sapatilhas em
vez dos saltos agulha que vejo essas meninas

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por aqui usando. Eu não conseguiria andar


com essas coisas pelo estreito caminho de
pedras que leva até os fundos da mansão da
família Oliver, onde está localizada a

piscina.

Escuto Tate me chamando atrás de mim


e diminuo os passos.

— Você não vai beber? — ela


questiona, já abrindo a garrafa que deixei no

chão e tomando um gole do conteúdo.

Eu nego com um aceno de cabeça e ela


dá de ombros, tomando mais um gole.

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— Você não deveria beber também —

alerto.

Ela rola os olhos e sorri.

— Não há mal algum nisso. Sério,


vamos nos divertir! — E então ela me
ultrapassa no caminho.

Sigo Tate e o barulho da música


eletrônica muito alta misturam-se aos

gritinhos das garotas animadas e rapazes


alterados o suficiente para mal nos notarem.

— Uau — Tate murmura, visivelmente


excitada. — Cara, isso é incrível.

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Deixe-me lhe explicar algo sobre Tate

que eu ainda não havia mencionado: ela


cresceu em uma família extremamente
conservadora, onde sua maior rebeldia até os

dezesseis anos foi se recusar a ir à igreja aos


domingos. O seu pai é pastor fiel, sua mãe
organiza grupos de oração toda a semana; e
enquanto as garotas estavam preocupadas em
colecionar figurinhas e discos de boybands
famosas na pré-adolescência, ela estava

prestes a finalizar a leitura da bíblia sagrada


pela primeira vez.

Ela já leu três vezes.

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Entretanto, apesar de toda a euforia da

juventude e inexperiência, esse brilho no


olhar que ela ostenta, é muito mais do que a
curiosidade de uma garota que foi privada de

tudo isso desde a infância. É admiração. Ela


quer ser igual a eles. Eu tive esse mesmo
desejo quando era uma menina de onze anos
e almejava me misturar aos populares da
escola. Não era muito difícil ser uma garota
popular quando se tinha Brianna como

melhor amiga. Ela era fácil de se enturmar, e


consequentemente me enfiou em seu círculo
de amigos, tornando-nos uma das duplas
mais cobiçadas de todo o colégio.

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Mas há um preço alto a se pagar quando

você é popular. Nem sempre o poder e a


beleza compram sentimentos verdadeiros. Eu
digo isso porque só tive uma amiga de

verdade durante todo esse período, e


realmente não sei se fui mais solitária na
época em que era um deles ou agora que não
tenho ninguém.

Olho em volta, observando os corpos

que se remexem ao som da música.


Aproximadamente três dúzias de jovens
estão aglomerados ao redor, bebendo, rindo
ou se pegando.

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A piscina dos Oliver é o grande atrativo

da casa. Lysa faz natação desde que era uma


criança, e seu presente de aniversário de
quinze anos foi uma piscina esportiva onde

ela pudesse praticar. Ela tem uma estrutura


diferente das piscinas residenciais comuns,
ocupando praticamente uma extremidade à
outra do espaço da área de lazer, com
aproximadamente 1,8 metros de
profundidade.

É realmente uma boa opção para quem


está querendo esbanjar dinheiro.

Estou prestes a chamar Tate para

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caminharmos para onde tem menos gente,


quando, de repente, me choco em um muro
de músculos. Logo sinto algo gelado sendo
derramando em minha roupa.

— Oh, merda. Me desculpe! — o garoto


diz com voz enrolada. Ele direciona os olhos
para a minha blusa encharcada e começa a
rir, apontando para meu busto. — Ei, loira,
belos peitos.

Percebo que ele está bêbado ou


provavelmente chapado, portanto decido
ignorar o seu comentário idiota e lhe dou as
costas, desviando das pessoas e de suas

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bebidas.

— Rose, você está bem? — Tate


questiona, vindo atrás de mim.

— Sim, só vou no banheiro limpar isso.


Já volto, ok?

Ela assente, então eu me viro e sigo em


direção à casa. Eu sei que há um banheiro
nos arredores da piscina, mas não quero

abrir a porta e encontrar algum casal


animadinho trocando fluídos corporais,
portanto prefiro usar algum banheiro dentro
da casa mesmo.

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Alcançando o segundo andar, adentro o

banheiro e fecho a porta. Puxo um papel


toalha do suporte, molhando na torneira e
passando sobre a minha blusa. Sorte que

estou vestindo preto e a mancha não vai


ficar muito visível, mas o cheiro de cerveja
grudado em mim é forte o bastante para que
eu não consiga passar despercebida.

Estou terminando o processo quando

ouço batidinhas na porta, seguidas pela voz


de Tate:

— Rose, saia logo daí!

Rolo os olhos e abro a porta, encarando

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sua expressão animada. Espero que ela não


tenha enchido a cara de cerveja durante esse
breve tempo em que estive aqui em cima.

— O que foi dessa vez?

Ela pisca várias vezes, não se


preocupando em esconder a euforia. Em
seguida me puxa para o corredor, arrastando-
me pelo caminho enquanto fala:

— O pessoal está reunido na sala. Nós


precisamos participar disto.

— Espere... — eu a paro a meio


caminho de chegar até a sala. — Participar

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de quê, exatamente?

Ela sorri mais amplamente.

— Você vai saber.

E assim sou arrastada todo o caminho


até a sala, totalmente confusa.

No momento em que chegamos na sala,


percebo que pelo menos uma dúzia de
pessoas está ao redor da mesa de centro,
sentados no chão.
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— Bem, aqui estamos! — Tate diz.

Descendo um pouco mais o meu olhar,


vejo duas garrafas de vodca — uma cheia e
outra vazia — sobre a mesa com tampo de

vidro, ao lado de um copinho de shot.

Alguém põe o dedo sobre a boca da


garrafa cheia, balançando o líquido
distraidamente. Ergo meu olhar para
observá-la e percebo que se trata de Annie

Carmichael, melhor amiga de Lysa e uma


das maiores cadelas com as quais eu já tive
o desprazer de me deparar.

Nós nunca fomos com a cara uma da

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outra, e isso não é segredo para ninguém.

— Elas vão participar? — Annie


questiona. Ela está com um olhar venenoso e
desafiador direcionado a mim. Ao seu lado,

Maven, seu irmão mais velho, dá risadinhas,


provavelmente muito bêbado para prestar
atenção em qualquer coisa ao seu redor.

— Elas são nossas convidadas — Lysa


diz. — Que mal há em permitir que também

participem?

A outra se inclina e apoia as mãos no


chão, atrás das costas, levemente inclinada
para trás.

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— Bem, bem. Isso vai ser divertido.

Tate parece ignorar a tensão pairando


ao redor e me puxa, sentando-se diante da
mesa. Imito sua atitude.

— Certo, pessoal, eu irei explicar as


regras — Lysa diz, deitando garrafa vazia de
vodca. — O nome do jogo é Beba ou Encare
as Consequências. Nós giraremos a garrafa
uma vez e, quando ela parar, a pessoa para

onde o fundo da garrafa estiver apontado vai


dar a opção para a pessoa da extremidade
oposta de: beber um shot de vodca de uma
só vez ou encarar a consequência que ela

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determinar. O jogo acaba quando eu decidir


que deve. Vocês entenderam?

Engulo em seco e aquiesço fracamente,


sabendo que não há chances de sair daqui

sem que eles me massacrem.

Lysa é a primeira a girar a garrafa. Ela


para com o fundo apontado para um garoto
com cabelo castanho claro e piercings. Ele
sorri para Maven, que está na extremidade

oposta, e aponta com o queixo em sua


direção.

— Bebe ou encara as consequências,


Carmichael?

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Maven sorri, pegando o copinho e

enchendo com a bebida.

— Cara, você acha que vou perder essa


oportunidade?

E então ele vira o copo de uma só vez,


recebendo ovações, como se fosse um deus.

Assim que bate o copo de volta na


mesa, ele gira a garrafa. O objeto acaba

parando com a boca na direção de Lysa,


portanto o garoto diante dela faz a pergunta,
e ela decide beber.

Lysa é quem gira a garrafa agora e, por

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maldade do destino, o objeto para


diretamente em minha direção.

Annie é quem está sentada do outro


lado.

E ela está sorrindo.

— Bebe ou encara as consequências,


Brooks?

Paro por alguns segundos para analisar

a minha situação e chego à conclusão de que


não estarei bebendo vodca, muito menos em
um copo que, muito provavelmente, recebeu
mais saliva alheia em meia hora do que um

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ator pornô já recebeu em toda sua carreira,


portanto respiro fundo e respondo:

— Consequências.

Todos me observam, ao passo que Annie


continua a sorrir maliciosamente.

— Eu te desafio a beijar Jake Midleton


na boca — seu sorriso se amplia. — De
língua.

Arregalo os olhos, escutando as pessoas


ao redor rirem. Em seguida olho para Jake, o
capitão do time de futebol da escola, e
percebo que ele está com uma expressão

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tensa.

— Você ficou louca? — ataco. — Eu


não vou beijá-lo.

Ela arqueia uma sobrancelha.

— Se você não sabe jogar, não entra na


brincadeira.

Estou tentada a avançar em cima dessa


ordinária e estapeá-la, mas por fim decido

manter as minhas emoções para mim mesma.

— Nada feito.

Os olhos dela brilham com malícia.

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— Ah, qual é? — provoca. — Todo

mundo sabe que vocês ficaram no primeiro


ano.

Sinto minhas orelhas se esquentarem.

Eu não fiquei com Jake. Bem, não


exatamente. Nós nos beijamos uma vez em
uma festa, e foi isso. Nada demais, certo?

— Já faz dois anos, Annie. Eu não vou


fazer isso agora.

— Oh, eu acho que a Senhorita Certinha


ficou exigente — caçoa. — Você não o acha
atraente o suficiente?

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Eu abro a boca para rebater, mas antes

mesmo que eu responda, alguém me


interrompe:

— Ela não gosta de garotos — ouço

mais risadas. — Há boatos de que ela e Tate


estão tendo um caso.

— Ugh, meu Deus! — Lysa simula um


som de nojo. — Isso é verdade, Rose? Vocês
duas...

— Claro que não! — Tate protesta. —


Nós somos apenas amigas.

Annie dá de ombros.

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— Bem, as pessoas comentam o oposto

— ela diz. — Vocês possuem uma interação


meio esquisita.

Tate fica tensa ao meu lado. Também

fico tensa, não por estarem nos chamando de


lésbicas, mas por estarem usando esse tipo
de suposição para nos rebaixar.

— Já chega — digo, puxando o braço


de Tate. — Estamos fora.

— Ei, espera, Rose! — Tate puxa seu


braço de volta. — Nós... não podemos ficar
mais um pouco?

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Minha testa se encrespa quando eu tento

discernir se ela está sendo irônica ou não.


Eu espero que realmente seja esse o caso.

— O que você está falando? Quer

mesmo ficar aqui à disposição desses


abutres?

Ela olha para Lysa, e em seguida abre e


fecha a boca, como se estivesse tentando
encontrar argumentos válidos para defender

a situação.

— É só uma brincadeira — diz,


encolhendo os ombros. Isso é quase um
pedido silencioso para que eu não a impeça

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em sua tentativa de se enturmar.

— Sim, Rose. Não seja uma chata —


Annie diz. — Eu só fiz um comentário. Não
precisa ficar tão brava, ok?

— Que seja — falo. — De qualquer


maneira, eu não sou obrigada a ficar aqui,
aturando vocês.

— O jogo ainda não acabou — Lysa

diz. — Você não pode sair até que eu decida.

— Corta essa. Todo mundo sabe que


você nunca me quis aqui, portanto não vai
fazer diferença alguma se eu permanecer

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nesse jogo estúpido ou não.

— Jogo estúpido? — Annie bufa. —


Garota, você é tão sem graça.

— O que é ter graça para você,


Carmichael? — questiono. — Usar roupas de
marca, passear em carros esportivos
oferecidos pelo papai rico, enquanto aprecio
a minha vida de garota mimada que não tem
mais nada de interessante para fazer além de

infernizar a vida dos outros? — fixo meu


olhar no dela. — Quão mais vazia que isso
você consegue ser?

Ela me lança faíscas com os olhos

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enquanto eu me levanto.

Todos ao redor estão em silêncio, talvez


por não terem esperado essa resposta de
mim. Diabos, acho que nem eu mesma

esperaria algo como isso saindo da minha


boca. A Cher Horowitz talvez, mas a Roslyn
Brooks jamais falaria isso para a Abelha
Rainha da escola.

Lanço um último olhar para Tate, em

uma mensagem silenciosa de que ela pode


me seguir se quiser, antes de me virar e sair
da casa.

Volto para a piscina, tentando

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reorganizar meus pensamentos. A música me


parece mais alta, mas aguda e mais irritante.

Eu gostaria de ter uma bebida agora.

Um garoto passa com uma garrafa de


cerveja e eu a puxo da sua mão, tomando
grandes goles enquanto o deixo para trás,
encarando-me com um olhar perplexo.

Começo a caminhar mais rápido,

tentando estabilizar a minha respiração. Eu


não deveria estar aqui. Má ideia vir para
esse lugar de merda com essas pessoas de
merda.

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E em pensar que eu já fui um deles.

Pura vergonha.

Respiro fundo e fecho meus olhos,

tentando me apegar a algo que acalme a


minha mente. Como por ironia, eu só tenho a
música a quem recorrer agora. I Follow
Rivers desliza para fora das caixas de som, e
eu apenas sinto a batida. A música me
acalma. Não a música alta e aguda como as

que as pessoas costumam ouvir nas festas


hoje em dia, mas a música feita para
realmente ser sentida.

De repente, sou tirada de meus

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devaneios quando a canção é interrompida.

Todo mundo para de dançar, movendo-


se ao redor com um olhar confuso, e então
eu escuto uma voz feminina:

— Ei! — Antes que eu me vire, ela


chama de novo: — Ei, esquisitona, eu estou
falando com você!

Me viro e vejo Annie vindo em minha

direção. Ela está trotando em seus sapatos


de salto de grife, apenas uma saia preta
cobrindo as coxas bronzeadas, com uma
expressão furiosa.

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— Quem diabos você pensa que é para

falar daquele jeito com a gente?

Inicialmente, apenas mantenho meu


olhar sobre ela, nem um pouco surpresa por

estar vendo-a aqui. Eu meio que esperei por


isso.

Como eu havia falado antes sobre


dinheiro e popularidade, é isso o que o
estrelato causa a você. Quando você se

acostuma a sempre estar acima dos outros e


na frente de tudo, jamais irá permitir ser
rebaixado, muito menos por alguém que
considera inferior.

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Jamais.

— Eu só disse o que vocês precisavam


ouvir há um bom tempo — digo. — É
maçante essa sua necessidade de causar

situações só para ser perversa com as outras


pessoas, Annie.

Ela ri, cruzando os braços sobre o peito.

— Sabe o que é mais engraçado em

tudo isso, Rose?

Eu recuo em silêncio, enquanto ela dá


pequenos passos em minha direção, ainda
falando comigo:

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— Você, uma perdedora patética, vir me

falar sobre o quão vazia eu pareço. — Me


lança um olhar com nojo. — Você acha que
eu me importo com o que pensa a meu

respeito? Olhe a si mesma, querida. Não é


preciso muito para se sentir uma merda.

As pessoas ao redor começam a rir por


conta de seu pequeno show. A expressão de
Annie muda para algo semelhante a crua

satisfação. Ela conseguiu a atenção que


tanto queria, e está dando a volta por cima.

Tudo em seu devido lugar, hein?

Não sou obrigada a permanecer aqui,

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diante de toda essa gente e aturando todos


esses insultos. Portanto, apenas faço menção
de me retirar, no entanto sua mão segura
meu braço, impedindo-me.

— Ainda não terminei — diz. — No


passado eu realmente imaginei que fosse
bom competir com você, por considerá-la
uma competidora à altura. Mas percebi que
você não passa de uma perdedora

deprimente.

Minha expressão se fecha e eu tento


puxar meu braço de seu aperto, mas ela
permanece me segurando, calculando o meu

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silêncio.

— Você não vai dizer nada? —


pressiona.

— Há mais algo a dizer?

Ela aperta os dentes, como se estivesse


seriamente irritada e então respira fundo,
sorrindo maliciosamente. E é o momento em
que eu percebo que ela vai tentar dar o golpe

final.

— Sabe por que todos se afastaram de


você, Rose?

Encaro-a diretamente agora.

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— Por que eu não sou como você?

Ela dá uma risada, balançando a cabeça


em negativa.

— Não, querida. Porque você é


escória... E escória fede!

A única coisa que sou capaz de sentir


no instante seguinte é a pressão de suas
mãos contra meu peito. Me desequilibro,

caindo para trás, portanto meu próximo


destino é afundar na água da piscina.

Ouço risadas e gritos vindos de algum


lugar. Tento empurrar para cima uma, duas,

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três vezes; mas sempre que o faço, só


consigo adicionar mais cansaço aos meus
músculos.

A piscina é funda.

E eu não sei nadar.

— Rose! — Ouço a voz de Tate


enquanto me debato. — Por favor, alguém
ajuda ela!

— Sua bunda é tão grande que você não


consegue sair daí sem um ajuda extra? —
Annie ri.

Mais pessoas soltam insultos e dão

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risadinhas às minhas custas. Flashes brilham

do lado de fora da água quando eles sacam


seus celulares e começam a tirar fotos
minhas.

Segundos ou minutos se passam.


Continuo me debatendo, meu cabelo loiro
virando um redemoinho ao redor da minha
cabeça. Eu bato meus braços e pernas para
tentar alcançar a borda da piscina, mas meu

desespero só faz com que eu me afaste ainda


mais.

Sinto meus pés tocarem o solo e então


dou impulso para cima, tomando fôlego

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quando, por uma fração de segundo, meu


rosto alcança a área externa. No entanto,
estou descendo novamente, afundando nos
vinte centímetros de diferença que há entre

mim e o limite da água.

Prendo a respiração, ainda me


debatendo para chegar à superfície, mas o
cansaço rouba o melhor de mim. Quando não
aguento mais, minhas vias respiratórias se

abrem e eu começo a engolir água.

E é quando eu percebo que esse é meu


fim.

Eu estou submergindo

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Inundando.

Me afogando.

Morrendo.

Eu escuto ruídos. Há uma pressão no


meu peito, em seguida uma mão inclina

minha cabeça para trás. Há um apertão em


meu nariz e algo se choca contra meus
lábios, empurrando ar para dentro deles.

Paro por um segundo, tentando


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identificar o que está acontecendo.

Tem gosto de álcool e menta.

Macios.

Gelados.

Molhados.

Aliás, tudo ao meu redor está gelado e


molhado.

Minhas pálpebras tremeluzem quando a


superfície macia é mais uma vez pressionada
contra meus lábios, então novamente o
empurrão de ar.

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Aperto e empurrão.

Aperto e empurrão.

Tosse.

Tosse.

Tosse.

Curvo-me de lado, entre ofegos


desesperados à medida que um monte de
água vem para cima.

— Ela vai ficar bem — uma voz


masculina e desconhecida diz, logo acima da
minha cabeça.

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A tosse permanece por algum tempo.

Um momento depois, sinto alguém segurar a


minha cabeça, deitando-a em seu colo.

— Deus, Rose! — Tate chora. — Você

quase morreu.

Sim, eu percebi isso.

Ouço ruídos ao fundo. Tento trocar de


posição, evitando que Tate separe a minha

cabeça do meu corpo com a força com a qual


ela pressiona minha orelha em seu colo, mas
então eu paro quando escuto a mesma voz
masculina de antes:

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— Você foi longe demais! — Ele parece

seriamente irritado.

— Foi só uma brincadeira! — Alguém


responde.

— Uma brincadeira estúpida, Annie —


ele rebate. — Aquela garota poderia ter
morrido. Você iria se responsabilizar por
isso?

A voz de Annie treme ao passo que ela


tenta se explicar, mas o cara parece não estar
tão interessado em ouvir o que ela tem para
dizer.

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É a primeira vez que eu vejo — ou

melhor, ouço — Annelise Carmichael agindo


como se estivesse com vergonha ou
apreensiva.

Na verdade, essa é a primeira vez que


eu presencio ela levando uma bronca.

Com a ajuda de Tate, me ponho sentada


e apoio minhas mãos contra o material frio
da beira da piscina. Olho ao redor, mas

minha visão está embaçada, então eu fecho


os olhos e tento estabilizar a minha
respiração, bem como fortalecer meus
músculos que parecem ter virado gelatina.

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Por questão de minutos, ou talvez

segundos, eu estaria completamente ferrada.

Tremores começam a correr por todo o


meu corpo. Imediatamente fico consciente

da roupa justa e ensopada que uso. Tate


ainda está choramingando ao meu lado e eu
apenas dou um apertão em seu braço para
acalmá-la, evitando muito contato físico. Eu
não gosto de contato físico com as pessoas.

Isso é meio... desconfortável.

Abraço a mim mesma, tentando


controlar os tremores que percorrem minha
pele pálida e endureço meu maxilar,

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impedindo de rachar meus dentes com a


força com a qual estou tremendo.

Botas pretas aparecem em meu campo


de visão. Ergo o olhar aos poucos,

encarando calças pretas, camisa preta,


tatuagens pretas e... caramba.

Balanço a cabeça.

Não vá lá, Rose. Simplesmente não vá

lá.

Ainda tentando agir como uma pessoa


normal que acabou de se afogar numa
piscina, observo calada enquanto o cara se

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ajoelha diante de mim.

Prata líquida me examina. É como se


meus pulmões houvessem inflado
absurdamente durante os minutos em que

estive aqui sentada. Na verdade, tenho


certeza de que alguma merda estranha
aconteceu com os meus pulmões, afinal eu
quase morri afogada minutos atrás.

Ele não se move e não diz uma palavra.

Ele apenas me olha, me olha e me olha. E eu


posso dizer que toda essa coisa está me
deixando nervosa pra caramba. Quer dizer,
ele meio que é o tipo de cara que me

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deixaria nervosa se não estivesse olhando


para mim também.

Simplesmente respire, Rose. Apenas


respire, garota.

E então, de repente, algo é atirado em


meu colo.

De início me assusto, desconfiada de


que eles não tenham acabado com a sessão

d e bullying coletivo, mas logo percebo que


se trata apenas de um casaco.

Um casaco verde e masculino.

Olho para cima, me encontrando

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novamente com seus olhos prateados, mas o

contato dura somente poucos segundos, pois


ainda sem uma palavra, ele se levanta, me dá
as costas e se afasta de nós.

Eu cheguei a mencionar que ele também


está com suas roupas encharcadas?

Tate encrespa a testa e fica por alguns


segundos olhando para a peça de roupa que
me foi atirada. Em seguida, ela balança a

cabeça, como se quisesse afugentar os


pensamentos e pergunta:

— Você está bem?

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— Sim — respondo. — Quero ir para

casa.

Ela parece apreensiva.

— Não seria melhor chamarmos uma


ambulância?

— Sem ambulâncias, sem carros —


digo. — É sério, estou legal.

Ela anui e me ajuda a me levantar.

As pessoas estão se dispersando. Firmo


o casaco contra meu peito e começo a
caminhar com Tate. Não sem antes dar uma
última olhada para a direção de onde o cara

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das tatuagens desapareceu, sabendo que meu

gesto é inútil, pois ele está longe de ser


encontrado.

Volto a analisar o acessório em meus

braços e suspiro, de repente tendo a


sensação estranha de borboletas alçando voo
em meu estômago.

Faço uma careta.

Sério, estômago?

O quão mais clichê que isso o meu


corpo consegue ser?

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1: Samuel Beckett foi um influente dramaturgo e


escritor irlandês. 2: Chester Bennington foi um cantor,
compositor, ator e vocalista da banda americana Linkin
P a r k . 3: Cher Horowitz é a personagem principal do
famoso filme de comédia romântica Clueless (As
Patricinhas de Beverly Hills), interpretada por Alicia
S i l v e r s t o n e . 4 : Dionne é a melhor amiga de Cher,
também do filme Clueless.

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Quando meu despertador toca, às sete

da manhã, eu bato a mão contra o botão do


aparelho, fazendo ele silenciar.

O barulho irritante é praticamente

inútil, considerando que eu mal dormi a


noite inteira. Quando cheguei da festa ontem
à noite, encontrei a minha mãe ao lado de
suas malas ainda feitas, me esperando
apreensiva. Foi uma surpresa e um péssimo

timing, afinal ela não havia me avisado que


chegaria de viagem justo no fim de semana.
Não levei o celular para a festa, e descobri
que havia quase quinze ligações dela. Logo a
culpa me corroeu e eu me senti a pior filha
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do mundo. Ela sempre confiou em mim ao


me deixar sozinha em casa quando saía para
suas viagens de trabalho e, pela primeira vez
depois do acidente, quebrei sua confiança.

Contudo a culpa deu lugar ao desespero no


momento em que ela me encarou de cima a
baixo e perguntou o que diabos havia
acontecido com as minhas roupas.

Eu poderia ter respondido a verdade e

evitado agir como uma adolescente


irresponsável, todavia optei por ignorar sua
pergunta e correr para o meu quarto. Me
tranquei e chorei até que adormecesse.
Chorei um pouco mais quando acordei
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durante a madrugada, e pela manhã também.

Rolo na cama e fico por alguns minutos


apenas admirando meu teto azulado. Ainda
me lembro do dia em que meu pai insistiu

em pintar aquelas nuvens ali em cima.


Segundo ele, aquilo me faria ficar um
pouquinho mais próxima do céu. Uma frase
bonita para uma criança deslumbrada que,
no fim das contas, não possuía significado

algum.

Meu pai é piloto, e eu sempre tive um


certo fascínio por coisas relacionadas a isso.
Era incrível sempre que ele voltava das

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viagens de trabalho e me trazia lembranças;


fossem miniaturas do Cristo Redentor e da
Torre Eiffel ou cartões postais locais, como
imagens panorâmicas do Empire State ou

Grand Canyon.

Bom, isso foi há quase dez anos, de


qualquer maneira. Depois que ele decidiu
terminar o longo relacionamento que tinha
com a minha mãe e foi morar com sua nova

esposa, eu meio que fiquei de lado. Talvez


ele tenha ocupações demais com seus outros
dois filhos ou apenas prefere estar longe de
todas as minhas merdas. Isso é algo que
talvez eu nunca vá descobrir.
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Com um pouco de dificuldade para

vencer a procrastinação, me movo


novamente sobre a cama até estar deitada de
lado. Meu olhar encontra diretamente o

casaco verde-musgo sobre a cadeira da mesa


de computador. Eu o deixei ali ontem à
noite, muito bem dobrado e limpo — o que
foi uma grande ironia, afinal eu não me
preocupei em cuidar nem de mim mesma.

Tate não me falou nada a respeito


enquanto vínhamos embora para casa, mas
eu tenho certeza de que foi aquele garoto
que me salvou do afogamento ontem. Isso
estava meio óbvio, visto que éramos os
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únicos com as roupas molhadas ao redor


daquela piscina.

Eu não sei exatamente como processar


tudo isso, mas sei que preciso agradecê-lo

em breve.

Levanto-me da cama, adiantando-me em


colocar o casaco dentro da minha mochila
antes de tomar um banho quente.

No instante em que desço as escadas,


sou guiada pelo cheiro de fritura na cozinha.
Minha mãe está diante do fogão, seus
cabelos pálidos, que normalmente ficam
presos em um coque elegante, está em rabo

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de cavalo hoje. Ela também está usando algo


diferente de seus terninhos e sapatos de salto
alto. Me parece até mesmo confortável com
short de tecido macio, camisa comprida e

chinelos.

É meio estranho vê-la assim. Desde que


meu pai nos abandonou para morar na
Flórida, a minha mãe tem se tornado uma

workaholic 5 de primeira. Eu não sei se isso

se deve ao seu medo de não ser capaz de


lidar com as despesas sozinha, ou à
necessidade de descarregar ao transferir seus
demais problemas para o trabalho; mas um

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fato é concreto: ela mal para em casa.

Diana Brooks trabalha como secretária


para o presidente de uma empresa voltada
para a área de construção civil. Seu chefe,

Jared Finlay, é o tipo de cara que se


compromete a meter a cara no trabalho, não
importa quantos quilômetros ele precise se
locomover para isso. E é por isso que a
minha mãe passa mais tempo viajando do

que em casa. São raros os momentos em que


passamos juntas, mas eu sei que ela sempre
se esforça para estar comigo.

Acontece que agora ela não parece estar

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tão empenhada em aproveitar o tempo. Eu


posso dizer isso pelo modo como seus
ombros estão tensos, e a mesa não está posta
da forma que ela está acostumada a fazer

também. Na verdade, ela mal pôs a mesa


hoje.

Permaneço parada abaixo do umbral da


porta, observando-a estalar um ovo sobre a
frigideira. O cheiro de manteiga derretida

sobe no ar, então ela pega uma espátula de


madeira, mexendo o conteúdo que ainda chia
sobre o metal quente.

Ela desliga o fogo e se vira para mim.

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Apenas a analiso, incapaz de mover um


músculo ou ser a primeira a dizer qualquer
coisa. O clima entre nós está tenso o
suficiente para eu querer me virar e ir

embora, mas permaneço segurando o nosso


contato, até que ela se dá por vencida e
suspira.

— Você não quis conversar comigo


ontem à noite, mas não vá pensando que

conseguirá escapar sem me dar uma


explicação decente.

Balanço a cabeça, ciente de que lhe


devo uma explicação, mas não sabendo

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exatamente por onde começar:

— Eu... fui convidada para uma festa


ontem — finalmente despejo. Minha mãe
arqueia a sobrancelha, fazendo-me perceber

que essa resposta não é a única coisa que


estará aceitando de mim, portanto continuo:
— E nós... bem, as coisas fugiram um pouco
do controle. Eu acabei na piscina. Não foi
nada de mais.

— Nada de mais? — ela repete com um


tom de voz estridente. — Sério que você vai
tentar jogar essa história para cima de mim?

Estremeço. Ela parece alterada, e eu

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nunca a vi agir dessa maneira antes. Mas,


bem, quem sou eu para julgar o
comportamento da minha mãe quando nem
eu mesma agi como de costume?

Abro e fecho a boca, tentando


argumentar, mas nada coerente sai dos meus
lábios. Confesso que estou ficando
realmente nervosa agora. Minha mãe
aproveita meu silêncio para continuar:

— Eu liguei para Tate ontem. Ela me


contou que vocês foram à uma festa na casa
de Lysa Oliver. Como Tate não quis entrar
em detalhes, liguei para os Oliver hoje mais

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cedo e fui esclarecida sobre o que ocorreu,


de fato — ela faz uma pausa. — Cristo, você
realmente iria me esconder algo como isso?

— Eu não queria preocupá-la, eu só...

— Por Deus, Rose! — ela leva as mãos


para o alto, exasperada. — Eu não a
reconheço mais. A garota que eu criei não
era tão fraca e irresponsável.

— Você fala como se a culpa por ter


sido empurrada em uma piscina de quase
dois metros de profundidade fosse minha —
falo na defensiva. — O que queria que eu
fizesse?

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— Que não tentasse se matar, em

primeiro lugar.

Suas palavras ou um soco no estômago


não fariam diferença alguma.

— Mãe, eu não tentei me matar. Eu


simplesmente...

— Já chega, Rose! — me corta. — Lysa


me disse que, segundo os presentes na festa,

você se meteu em uma briga antes de tudo


isso acontecer. Você nunca havia discutido
com alguém antes, Rose... aí você é jogada
na piscina e não faz esforço algum para
tentar se salvar quando isso acontece. Tudo

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bem que aquela garota a empurrou – e eu


vou deixar seus pais saberem disso mais
tarde –, mas isso não apaga o fato de que
você bebeu e está nessa sua fase constante

de rebeldia e melancolia. Tentar se afogar


não é nada divertido.

Espere. O quê?

— Do que você está falando? — digo.


— Bebi um pouco de cerveja, sim, mas não

foi o suficiente para me deixar embriagada.


Eu fui agredida por uma garota ontem à
noite e quase morri. Quando me acusam de
que a culpa é minha, você simplesmente

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acredita neles?

Seus olhos ficam nublados com tristeza.

— Eu tenho motivos para acreditar em

você?

Oh, certo! Eu acho que o soco doeria


menos.

Minha mãe parece ter percebido o seu


erro, pois ela suaviza o seu tom de voz: —

Eu não estou atribuindo a você essa culpa,


querida, mas desde a morte de Brianna que...

— Já chega! — interrompo. — Por que


diabos você tem que colocar a morte da

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Brianna no assunto? Nós estamos falando de

mim, mãe. De mim e daquelas vadias


malvadas do colégio!

Seu lábio treme enquanto ela inspira

fundo. Um instante depois, ela exala


longamente e se atira no tamborete em frente
ao balcão.

— Deus, onde foi que eu errei? Quando


eu fui tão vil e ingrata para que chegássemos

a esse ponto? — Após uma pausa


consideravelmente longa, ela volta a me
encarar. — Você terá que falar sobre a morte
dela em algum momento. Já faz um ano,

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Rose. Um ano inteiro desde que...

— Para! — interrompo, tapando meus


ouvidos. Minha mãe dá um salto com o meu
grito e eu percebo que talvez eu tenha

exagerado. Mas ela não pode fazer isso


comigo. Por que ela está fazendo isso
comigo?

— Eu vou ligar para a Dra. Evelyn


Horn — diz, de repente. — Ela me foi

indicada, há algumas semanas, pelo Jared.


Ela vai saber o que fazer com você.

Sinto como se houvesse levado um


soco.

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— Ela vai saber o que fazer comigo? —

pergunto. — E desde quando o seu chefe tem


ciência de coisas pessoais em relação a
mim?

— Ela é uma ótima terapeuta. — Não


me passou despercebido o fato de que ela se
negou a responder minha segunda pergunta.
— Eu não queria ter que fazer isso, mas
você acabou de colocar sua vida em risco.

Está mais do que na hora de buscar uma


ajuda médica. Você não é mais a garota que
eu criei, e já estou cansada disso.

E lá vamos nós, novamente, acreditando

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no conto da Rose Suicida.

Apenas balanço a cabeça, cansada de


discutir com ela a respeito disso. Se ela quer
que eu tenha encontros com uma terapeuta,

então eu terei. Eu sei que é praticamente


inútil tentar argumentar. Está feito.

Desistindo de tomar meu café da


manhã, apenas pego a minha mochila e saio
da cozinha, fazendo um caminho ainda mais

rápido para a porta de saída quando me dou


conta de que esse é o momento em que ela
começa a chorar.

Eu não posso lidar com isso.

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Não agora. Não ainda.

Ao chegar na escola, a primeira coisa


em que consigo focar ao passar pelos
portões é em Tate vindo em minha direção,
completamente esbaforida.

— Rose, você está bem? — Essa parece


ser a única pergunta que ela conseguiu me
fazer desde que saí daquela piscina.

— Sim, estou — a tranquilizo. — Aliás,

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você não deveria ter fofocado para a minha


mãe sobre ontem. Ela quase pirou quando
nos falamos.

Ela morde o lábio, aparentemente

arrependida.

— Sua mãe queria saber o que


aconteceu com você — se explica. — Ela fez
um monte de perguntas, o que me deixou um
pouco nervosa. Não acho que seria adequado

esconder isso dela.

É claro que não seria nada adequado,


mas ainda estou irritada pelo fato de a minha
própria mãe não acreditar em mim.

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— Você ao menos deveria ter contado

todos os detalhes — falo. — Você acredita


que aquela cretina da Oliver inventou que eu
tentei forçar o meu afogamento?

Tate arregala os olhos.

— E sua mãe acreditou?

— Estamos em uma fase complicada —


me limito a dizer, não querendo entrar em

muitos detalhes. Sinto-me um pouco culpada


por minha mãe estar, aparentemente,
procurando formas de tentar compreender o
que está acontecendo comigo. Não é como se
eu pudesse mudar o meu comportamento da

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noite para o dia.

Eu a flagrei lendo um livro sobre


adolescentes com tendência suicida certa
vez. Ela ficou uma semana me questionando

sobre lâminas de barbear e pílulas. Por parte


é irritante ela ter decidido dar mais
credibilidade às palavras de uma quase
desconhecida do que às da sua própria filha,
mas posso compreender que talvez a nova

Rose seja uma completa estranha para a


minha mãe agora.

Eu desconfio ser uma completa estranha


até para mim mesma.

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— Eu sinto muito por isso — Tate diz,

com sinceridade. — Mas eu tenho algo para


te contar que talvez vá deixá-la animada. —
Ela sorri. — Você acessou seu Facebook

hoje?

— Eu nem sequer tomei meu café da


manhã. Por que eu acessaria o Facebook?

Seus cabelos coloridos se movimentam


com o vento ao passo que ela se balança,

empolgada. Eu nunca compreendi muito bem


o apreço que Tate tem por coisas coloridas e
chamativas. Fico por alguns segundos focada
nos chaveirinhos e bottons presos à sua

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mochila. Estou analisando uma caveirinha


d o Monster High roxa em particular, quando
a fala de Tate corta completamente a minha
linha de raciocínio:

— Todo mundo está comentando sobre


o afogamento.

Sério que era essa a informação que me


deixaria animada?

Começo a me questionar se não seria


uma boa ideia ter matado aula hoje. Não que
eu seja acostumada a fazer isso, mas eu
realmente não estou no clima de enfrentar
aquelas pessoas depois do que aconteceu na

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festa. Muito menos após a conversa que


acabei de ter com a minha mãe.

— O que eles estão falando?

Ela não responde. Em vez disso, puxa o


seu celular do bolso de seu casaco e me
estende o aparelho. Aperta o play, e em
seguida um vídeo se abre. Nele, o mesmo
cara que me ofereceu o casaco na noite
anterior está me tirando da piscina. Eu estou

completamente inconsciente e, após alguns


minutos de métodos de reanimação, eu
finalmente venho a mim. Tate pausa o vídeo,
ciente de que a partir dali eu já sei o que

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acontece. Ela volta a me encarar.

— O vídeo já tem, tipo, duas mil


curtidas em menos de vinte e quatro horas!
Ele viralizou na página do colégio.

Eu fico momentaneamente entorpecida.


Seria bom considerar dar o fora desse lugar
agora. Eu não quero, de forma alguma, lidar
com o que provavelmente virá para cima de
mim.

— Acho melhor eu voltar para casa —


aviso, prestes a me virar, mas Tate agarra
meu braço.

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— Ei, o que você está fazendo? —

questiona, enrugando a testa. — Rose, você


é a celebridade do Elle Meredith! — O quê?
— Todo mundo está comentando sobre o

afogamento e o seu grande e másculo herói


— ela exagera, fazendo cara de sonhadora.
— Além de salvar a sua vida, ele é gostoso.
Você consegue acreditar nisso?

O que não consigo acreditar é na ideia

de que as pessoas estão transformando em


um conto romântico o fato de que fui
empurrada dentro de uma piscina funda e
quase morri afogada.

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— Está falando sério? — pergunto,

irritada. — O que diabos eu virei?

— Ah, por favor, não é tão ruim assim


— diz. — Você não sabe da maior, não é?

— O quê?

— Você provavelmente não se liga em


política, mas já ouviu falar no deputado
Felton Prescott?

Levanto uma sobrancelha.

— Esse tal deputado também está


criando especulações românticas a respeito
da minha experiência de quase morte?

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Tate revira os olhos, provavelmente

nem um pouco feliz com a minha ironia.

— Não, Rose, mas para sua informação,


o cara que salvou a sua vida se chama Evan

Prescott, filho do deputado Felton Prescott.

Oh. Uau.

— Como você descobriu tudo isso?

— Eu sou uma garota com muitos

contatos — sorri, aparentemente orgulhosa


de si mesma. — As pessoas não param de
comentar sobre isso.

Certo. O cara provavelmente ser podre

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de rico não me impressiona tanto assim. Há

algo que está me incomodando ainda mais.


Elle Meredith não é um colégio tão grande, e
se o filho de um deputado estudasse nela, ele

seria uma das pessoas mais populares. Ao


menos eu saberia quem ele era, certo?

— O que esse cara estava fazendo na


festa de Lysa, afinal? — questiono.

Tate dá de ombros.

— Eu acho que ele estava lá por causa


do Maven. Você sabe, pessoas ricas andam
com pessoas ricas. É isso.

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— Então ele não estuda no nosso

colégio?

Tate para e me fita, seus olhos


praticamente questionando se eu sou

estúpida. Todavia, como uma boa


informante, ela não se preocupa nem um
pouco ao me manter a par:

— Evan Prescott não está mais no


colegial, gata. Ele tem mais de vinte anos e

estuda na Faculdade de Dartmouth 6 ! D-a-r-t-


m-o-u-t-h. Você sabe o que isso significa?

Nesse momento, a sirene indicando que


a primeira aula está prestes a começar, ecoa
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ao redor.

— Significa que você precisa parar de


fantasiar sobre caras mais velhos e
endinheirados e começar a focar no nosso

trabalho sobre Potencial Elétrico — lhe


apresso, desviando completamente do
assunto. — Nós temos Física no primeiro
horário.

Seguro na alça da minha mochila e

começo a andar. Tate solta uma maldição,


mas caminha comigo para a aula.

Por mais que eu queira ignorá-la e


fingir que esse cara não me impressiona, eu

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me pego pensando em Evan Prescott durante


toda a aula de Física, e nos demais horários
também. É meio curioso um cara como ele
ter estado em uma festa repleta de

adolescentes infantis e inconsequentes. Além


do mais, pelo que imagino, ele se manteve
retraído durante toda a noite, afinal eu não o
vi na festa em nenhum outro momento.
Estou começando a me sentir uma versão um
pouco mais paranoica de Tate, com toda sua

fascinação em relação a caras mais velhos,


mas não posso deixar de lado o fato de que
ele me ajudou ontem à noite, e que lhe devo
ao menos um agradecimento.

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Além do mais, preciso devolver o seu

casaco.

Ao final da aula, corro até onde a minha


bicicleta está estacionada e removo seu

cadeado, apressando-me ao montá-la.

— Aonde você vai? — Tate questiona.

— Eu preciso fazer algo — respondo,


deixando claro que não poderemos ir embora

juntas hoje. — A gente se vê amanhã.

Não espero uma resposta de sua parte.


Começo a pedalar para fora do colégio, me
questionando pela milésima vez se meus

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colegas de escola não possuem razão quando


dizem que eu me transformei em uma garota
louca.

5: workaholic é uma gíria em inglês que,


basicamente, caracteriza pessoas viciadas em trabalho.
6 : A Faculdade de Dartmouth é uma universidade
estadunidense fundada em 1769.

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A construção com fachada em tijolos

vermelhos é uma das coisas mais incríveis


que eu já vi. Com a bicicleta ao meu lado,
deslizo o olhar para a estrutura mais alta,

admirando a torre branca no topo e sinto o ar


se esvair dos meus pulmões. Estou diante da

Dartmouth College, membro da Ivy League7


e o sonho dourado de mais da metade da
população jovem de New Hampshire.

As rodas da minha bicicleta deslizam


macias sobre o tapete de grama por onde
passo. O dia está agradável, com uma brisa
balançando sobre as árvores elegantes ao

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redor. O lugar me transmite conforto, mas


também um certo temor. É tudo limpo,
bonito e incrivelmente pomposo. Se eu não
houvesse nascido aqui e conhecesse New

Hampshire como a palma da minha mão, eu


diria que este lugar é uma espécie de
adaptação das antigas moradias da era
vitoriana na Inglaterra. Isso me faz pensar
novamente em Evan Prescott e no quão
desencaixado nesse lugar ele aparenta. Posso

estar soando preconceituosa, mas é mais


fácil imaginá-lo como uma espécie de
tatuador selvagem ou um nobre astro do
rock.

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Malditos estereótipos.

Após, aproximadamente, quinze


minutos de uma caminhada propositalmente
lenta, alcanço meu local de destino. Leio os

símbolos gregos da fraternidade Delta Sigma


Pi, no topo do prédio de três andares, e dou
um suspiro longo. Deito a minha bicicleta no
chão e ajeito o meu cabelo, desejando que
não estivesse tão suada como estou agora.

Foi praticamente um desafio conseguir


encontrar esse cara. Se não fosse pelo grupo
de meninas que abordei logo que cheguei
aqui, dificilmente eu o encontraria. Para

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minha sorte, Evan Prescott é como uma


espécie de deus em toda a faculdade. Me
questiono se isso se deve ao seu alto Q.I. ou
somente à sua conta bancária... e lá vamos

nós novamente, lidando com estereótipos.

Mordo o lábio inferior, de repente me


sentindo tensa. Eu não gosto de estar em
lugares que simbolizem zona de desconforto
e, com certeza, essa casa de fraternidade

parece ser uma delas. Limpo a garganta e


subo os poucos degraus que me separam da
porta de entrada. Pelo horário, é certo que
ele já esteja em casa. A não ser que ele
decidiu sair para algum outro lugar.
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Sinceramente eu espero que isso não tenha


acontecido.

Volto a ajeitar o meu cabelo, não


entendendo muito bem o motivo de eu estar

tão nervosa. Basta deixar o casaco e ir


embora, certo? Bato na porta algumas vezes,
não obtendo resposta. Noto que há uma
campainha ao lado, então eu aperto o botão.

No segundo em que eu estou prestes a

desistir e dar meia-volta, alguém abre de vez


a porta e eu travo no mesmo instante.

O cara que me atende não é Evan


Prescott. Esse cara não é nem de longe

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parecido com ele. Ele é muito mais neutro e


bem menos... intenso. Está usando um
moletom com o escudo do Dartmouth Big

Green 8 e seu cabelo está penteado para trás,


como se houvesse colado os fios com um
monte de gel ou a coisa é de plástico mesmo.
Fico com vontade de tocar no topo da sua
cabeça, só para saber se seu cabelo está
realmente tão duro quanto parece. Ele daria

um belo cosplay do Ken, e a julgar pela


forma como encara minha imagem
completamente desgrenhada, é um
almofadinha de primeira.

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— Pois não? — a expressão com a qual

ele se dirige a mim me faz imaginá-lo como


uma espécie de lorde inglês. Eu consigo ler
as pessoas pelo seu comportamento, e há

algo nesse cara que me diz que ele não foi


muito com a minha cara.

— Olá — cumprimento. — Eu me
chamo Rose e... hum... Evan Prescott está?

Ele arqueia uma sobrancelha, voltando

a me examinar de cima a baixo e eu posso


dizer que essa inspeção não está me
agradando em nada. O cara está prestes a
dizer alguma coisa, quando passos pesados

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se aproximam, então eu escuto alguém dizer:

— Certo, Owen. Acho que é para mim.


Você pode me dar licença? — então Evan
segura a porta, ficando diante do cosplay do

Ken.

Okaaay. Estava escuro na ocasião, e eu


estava mais preocupada em conseguir
respirar corretamente para analisá-lo da
devida forma, mas confesso que por mais

atraente que ele pudesse ter parecido na


noite anterior, eu definitivamente não estava
preparada para isso.

Ele é lindo. Não, na verdade ele é o tipo

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de cara que Tate chamaria de extremamente


lambível. Como sorvete Ben & Jerry’s com
pedaços de chocolate e muita calda.

Eu adoro sorvete com calda.

— Eu não sabia que você estava saindo


com colegiais — a pérola do tal Owen logo
me tira de meu devaneio. Como ele sabe que
sou uma colegial? E por que acha que estou
aqui pelo fato de estarmos saindo? Que

pretensioso. Sem falar que ele está me


analisando como se eu fosse um pedaço de
pizza fedida no seu lixo da cozinha, e tanto
quanto eu quero ser educada e andar rápido

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com isso, tenho vontade de dizer alguma


merda espertinha para ele.

Sinto meu rosto ficando quente e


minhas mãos suando. Evan não muda a

expressão em nenhum momento, apenas dá


um passo à frente, deixando claro a Owen
que ele quer privacidade.

— Não estou — seus olhos não desviam


de mim.

Percebendo que provavelmente está


sobrando, Owen dá de ombros e se afasta,
retornando para dentro da casa. Suspiro,
sentindo-me estranhamente mais aliviada.

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Nós estamos sozinhos na entrada agora,

e eu sei que preciso somente fazer o que vim


fazer aqui e dar o fora. No entanto, não
acredito que consiga fazer um movimento

muito grande em sua direção.

— Hum... ei! — pronuncio, feito uma


idiota. — Eu sou Rose. Roslyn Brooks.

— Roslyn Brooks — ele repete o meu


nome, como se quisesse se adaptar à

fonética. Não que meu nome soe estranho,


mas eu percebi que esse cara não é normal
também.

Só agora, de frente para ele, eu consigo

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analisá-lo melhor. Esqueça toda a coisa


sobre tatuadores e astros do Rock. Ele está
bem diferente do que eu vi ontem. Está
menos... selvagem. Suas roupas pretas foram

substituídas por um suéter azul marinho e


um par de calças cáqui. Em qualquer outra
pessoa eu acharia isso no mínimo sem graça,
mas eu posso dizer que ele está fabuloso
nessas roupas também. E em seus óculos.
Sim, caramba, ele está usando um par de

óculos de armação preta e grossa. E eu posso


dizer que o cara deu um novo sentido para a
tão famosa aparência de “nerd”. Eu poderia
associar nerd com “quente” agora mesmo.

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Sim, isso soa bem.

Forço um sorriso simpático.

— Você provavelmente não se lembra

de mim, não é? — pergunto, sabendo que, a


menos que ele tenha um problema sério de
memória, é bem difícil não saber quem eu
sou. — Eu sou a garota que se afogou na
piscina ontem na festa da Lys... — antes que
eu conclua a minha frase, ele está batendo a

porta atrás de si e me arrastando para um


canto perto do jardim.

Certo. Isso foi estranho.

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— Eu sei quem você é — fala, quase

que em um sussurro. — O que faz aqui?

— Bem... você salvou a minha vida —


aponto o óbvio. — Além do mais, eu fiquei

com o seu casaco ontem. Não sabia quando


ia te encontrar de novo, então decidi vir até
aqui para devolver seu casaco e agradecer.

Sua expressão se suaviza um pouco. Ele


respira fundo e passa a mão pelos cabelos.

— Você mora em Claremont mesmo?

Assinto. Ele levanta a sobrancelha.

— E você viajou por quase uma hora de

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Claremont até Hanover, só para me devolver

o casaco e agradecer?

— Duas horas e meia, na verdade — Já


estou começando a me sentir uma idiota,

mas eu não minto. Aponto para onde a minha


bicicleta está estacionada e encolho os
ombros. — Eu vim de bicicleta.

Ele franze a testa, provavelmente


tentando entender por que diabos eu decidi

atravessar a cidade em uma bicicleta, mas


felizmente não me questiona o motivo.

Sabendo que esse é o momento de


quebrar o clima perceptivelmente tenso entre

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nós, eu abro a minha mochila e tiro o casaco


de dentro dela. Ele recebe a peça e fica por
alguns segundos apenas me encarando. Seus
olhos cinzentos parecem incrivelmente mais

claros à luz do dia. Procuro ignorar o fato de


que seu cabelo loiro areia fica incrível desse
jeito rebelde — a única coisa que o deixa
deslocado do estilo “garoto que toda mãe
pediu aos céus.” Seu cabelo está uma
bagunça. Uma bagunça incrível, devo

adicionar.

— Oh, eu já ia me esquecendo — digo,


apanhando um embrulho da minha mochila e
oferecendo a ele. — Não fui eu que fiz. Na
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verdade, eu comprei em uma padaria, mas


são deliciosos, eu garanto!

Ele olha para o pacote com quatro


cupcakes com uma cobertura azul e branca

no topo. Eu comprei isso achando que ele


fosse gostar, mas pela forma como está
encarando fixamente os malditos doces, ele
odeia cupcakes. Ou talvez ele tenha
diabetes. Ou talvez apenas odeie meninas

que lhe presenteiem com doces?

Eu começo a me perguntar se vou


conseguir ser mais idiota que isso, quando
ele finalmente pega os cupcakes da minha

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mão, um pouco rápido demais, como se


estivesse com medo de manter contato
comigo. Volta a passar a mão sobre o cabelo
loiro escuro e percebo o quão alto e forte ele

é. Quer dizer, ele não é forte do tipo “veja


como meus músculos têm vida própria”, mas
também não é do tipo “eu tenho o peso de
uma criança”. Ele é forte na medida certa.
Tenho certeza de que pratica esportes.
Basquete, talvez.

Por que diabos estou pensando sobre


isso?

— Obrigado — a sua resposta é curta,

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mas serve para me trazer de volta à


realidade. Evan limpa a garganta. — Você...
precisa de carona para voltar?

A forma como ele diz isso meio que

denota um desejo de que eu recuse. Gostaria


de aceitar, só para ver sua reação, mas ele
provavelmente vai me levar de volta em um
carro e ainda é cedo, posso muito bem voltar
pedalando para Claremont. Não irei

incomodá-lo com isso.

— Não precisa, eu já estou acostumada


com a minha bike — respondo. — Obrigada
pelo convite e... por ter me salvado.

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Ele permanece me fitando, e eu começo

a me questionar o que diabos há de errado


comigo para ele ter a necessidade de me
observar tanto.

— Tenha uma boa viagem de volta,


Roslyn. — Nunca gostei de ser chamada por
meu nome completo, mas a forma como ele
sai de sua boca me parece... uau.

Aceno em agradecimento e ajeito a

minha mochila nas minhas costas. Faz um


tempo desde que eu tive uma interação com
um garoto bonito, e isso meio que tornou as
coisas ainda mais difíceis para mim agora.

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Eu costumava ser confiante na minha época


de abelha rainha. Eu era a única a escolher e
a única a tê-los vindo até mim. Hoje, tudo
mudou. Não que eu me preocupe em ter

algum tipo de relacionamento considerado


amoroso com alguém agora, mas eu sou
humana e sei muito bem reconhecer quando
um cara é atraente. E eu posso dizer que
Evan Prescott foi o único cara atraente que
me deixou nervosa ao extremo. Talvez por

ele ser do tipo de cara de quem a gente


nunca sabe o que esperar, de verdade.
Imprevisível e completamente fechado. Juro
que tentei, pelos poucos segundos em que

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ficamos nos fitando em silêncio, encontrar

algo que demonstrasse suas emoções, mas eu


só consegui perceber um pouco de
nervosismo no instante em que ele me

“escondeu” de seus irmãos de fraternidade.


Talvez ele também não vá com a minha cara,
ou é somente vergonha por estar sendo visto
com uma colegial. Universitários costumam
levar essa merda de idade muito a sério.

Isso me deixa irritada.

De qualquer maneira, não é como se


fôssemos nos ver novamente, então posso
engolir o meu orgulho e dar o fora.

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Eu desço as escadas e ponho a minha

bicicleta em pé, dando uma última olhada


para ele — o cara que até mesmo ontem
estava salvando a minha vida. Ele está sério,

imóvel e parece levemente perturbado.


Talvez seja impaciência por eu ainda estar
aqui. Balanço a cabeça, ainda chateada pelo
fato de ele estar com vergonha de ser visto
conversando comigo.

Bufo, irritada.

Ivy League idiota.

7: A Ivy League é uma célebre coligação acadêmica


composta por oito universidades privadas do nordeste dos Estados
Unidos, consideradas umas das melhores do mundo. 8: Dartmouth

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Big Green é o time de atletismo do clube de Dartmouth College.

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— Certo, caras! Acabamos por hoje. —


Libero um suspiro exausto ao ouvir a voz do
treinador e não espero nem uma segunda
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ordem para começar a me afastar da quadra.

Maven me entrega uma toalha branca


enquanto caminhamos lado a lado em
direção ao vestiário. Seco o suor do meu

rosto, me questionando por que ainda


continuo jogando basquete, e por que ainda
continuo submerso em toda essa situação
que em nada me agrada. Eu sei a resposta.
Tanto quanto sei que não é tão fácil, quanto

parece, voltar atrás.

Embora eu me sinta bem praticando


esportes, basquete não é nem de longe o que
eu sempre almejei para mim. Na verdade, o

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basquete não é o que meu pai almeja para


mim também. Acontece que entre ser um
jogador universitário e um vagabundo de
vinte e um anos, que se enche de piercings e

tatuagens, ele prefere a primeira opção. E na


minha situação atual, a preferência do meu
pai é a que deve contar.

— Você tem uma namorada nova? — a


voz de Maven me faz parar a meio caminho

de abrir o meu armário.

Viro minha cabeça em sua direção.

— O quê?

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Ele puxa uma garrafa de água de dentro

do seu próprio compartimento e toma um


gole antes de passar o dorso da mão sobre os
lábios.

— A garota da piscina — esclarece. —


Owen me disse que uma tal de Reese esteve
procurando por você na semana passada.
Imaginei que estivesse se engraçando com
ela.

— É Rose — corrijo. — E Owen não


deveria ter dito nada a respeito. Não é da
conta dele.

Ele ri.

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— Você sabe, eu acho que ele tem uma

queda por você.

Rolo os olhos, já um pouco saturado


dessa piada batida de que “Owen tem uma

obsessão gay por mim” e puxo minha


mochila do armário. Decido tomar banho na
Delta House hoje, portanto não preciso nem
mesmo tirar meu uniforme.

— Não seja um idiota — digo a Maven.

— O nome disso é “falta do que fazer”. Ele


prefere se atentar aos acontecimentos
alheios, em vez de se preocupar com a
própria vida. Você vai ficar igual a ele se

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continuar com essa história chata sobre


Owen e sua atração fantasiosa.

Ele adquire uma expressão zombeteira.

— Não é fantasiosa. Estou falando a


verdade, e dane-se se você não acredita —
franze a testa. — Admiro você por ainda
aturar o Owen e todos aqueles caras da sua
fraternidade. Acho que morreria em meio
àquele monte de nerds egocêntricos e

adeptos de Star Wars — faz uma careta. —


Quem hoje em dia consegue suportar Star
Wars sem estar minimamente chapado?

Não é somente Maven que não suporta

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aqueles caras. Eu mesmo não suporto


nenhum deles. Mas fazer parte da Delta
Sigma não foi uma escolha minha. Meu pai
já foi membro da mesma fraternidade um

dia, e eu acabei tendo que seguir o mesmo


caminho. Evan Prescott se dissolveu, sendo
substituído por uma versão mais jovem e um
pouco danificada de Felton William Prescott.

— Você coleciona quadrinhos do

Capitão América — rebato seu comentário


anterior. — Por que está os criticando, se
praticamente faz o mesmo?

— É diferente — ele diz. — Você nunca

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entenderia.

Dou de ombros. E não entenderia


mesmo. Não curto nenhum dos dois.

— Mas então — Maven retoma o


assunto, alguns minutos depois, deixando
claro de que ainda não se satisfez com o
pouco que obteve. — Você está mesmo
saindo com ela?

— Não — respondo, enfadado. — E não


pretendo, também. Por que você insiste tanto
nisso?

Ele dá de ombros.

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— Garotas mais novas são um belo

prato cheio quando estamos querendo um


pouco de diversão — um sorriso safado
coroa seu rosto. — Talvez você possa

aproveitar a oportunidade... Se é que me


entende.

Eu balanço a cabeça em desaprovação.


Maven é meu melhor amigo e nós
praticamente crescemos juntos, mas isso não

quer dizer que eu deva lhe parabenizar por


todas as suas merdas sem noção. Ele não
mora mais com os pais e, mesmo sendo
bancado pela família por todo esse tempo,
não fala com eles há quase dois anos. Isso
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meio que mexeu com ele pra caramba. Eu sei


que ele gosta de extravasar suas emoções em
encontros com meninas aleatórias, mas não
concordo com a forma que ele lida com essa

situação toda, tratando garotas como se elas


fossem objeto.

— Um dia você ainda vai se apaixonar


— falo — e ela vai chutar tão forte o seu
traseiro, que você vai se arrepender

amargamente de ser o filho da puta que é


agora.

Ele dá uma gargalhada.

— Fala sério! Eu sou Maven

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Carmichael, o rei das calcinhas. Você acha


que me deixaria levar tão facilmente assim
por um pedaço de bunda bonita?

Não, eu não acho. Ele é inconsequente

demais para se importar com isso.

— Que seja — digo. — Mas você não


precisa tentar me fazer compactuar com suas
práticas também. Não estou interessado.

— Claro que não. O seu gosto


atualmente está muito requintado, não é? —
ele provoca. — Eu vi as fotos daquela garota
com quem você estava saindo. Sei que ela
está prestes a se transferir para Harvard e é

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gostosa pra caramba. Qual o nome dela?


Carmen? Candice?

— Cameron. — Eu sei que ele se


recorda, mas parece ser divertido para

Maven fingir que não se lembra dos nomes


das meninas. Ou ele apenas gosta de ser um
babaca completo. — E eu não tenho nada
com ela, ok? Já tentamos alguma coisa uma
vez, e eu descobri que simplesmente não

damos liga.

Isso me irrita porque é verdade. O meu


pai tenta me empurrar para essa garota desde
que ambos estávamos no ensino médio. Ele

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acha que ela, sendo a filha única de um de


seus colegas de partido, é a mulher perfeita
para ser uma boa esposa, boa mãe e boa
primeira dama. Fala sério. Às vezes eu não

entendo o que dá na cabeça daquele velho.

Maven dá de ombros.

— Pelo menos é melhor você tentar


arranjar uma forma de “dar liga” com a
Cameron do que com a colegial — ele diz,

fazendo aspas com os dedos.

Arqueio uma sobrancelha.

— Até cinco minutos atrás, você estava

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praticamente me forçando a correr atrás da


garota e arrancar suas calças. O que foi que
deu em você para mudar de ideia agora?

Sua expressão se torna um pouco mais

séria.

— Ela é bonita, mas é problema, cara


— diz. — A minha irmã estuda com ela
desde o fundamental. Há boatos de que ela
ficou meio pirada depois que a amiga

morreu. Annie me disse que ela até


costumava escrever em um diário para a
garota morta — ele estremece, dando uma
risadinha tensa. — Você tem noção do

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quanto isso é bizarro?

De repente o meu humor muda


totalmente. Me sinto irritado e antes que eu
perceba, estou batendo a porta do armário

com força.

— Para com essa merda — alerto. — Se


você não tem mais nada de interessante para
falar a respeito disso, apenas pare de zombar
e cale a boca.

Uma sombra tensa cobre suas feições.

— Desculpa — diz, genuinamente


arrependido. — Eu já tinha me esquecido do

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quanto esse lance mexe com você. Foi mal


mesmo, cara.

— Tudo bem — passo as mãos pelos


cabelos. — Estou indo.

Coloco a alça da mochila em meu


ombro e começo a caminhar para fora.
Mesmo após eu dizer isso, ambos sabemos
que o clima ficou tenso.

Maven me alcança.

— Escuta, vejo você na festa da Kappa


Fi mais tarde?

— Preciso estudar — minto. — Fica pra

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próxima.

Ele concorda e não insiste.

— Ok. A gente se vê depois.

Após chegar no meu quarto, tomo um


banho e substituo minhas lentes de contato

pelos óculos, uma vez que não estou mais


em quadra, e eles são muito mais
confortáveis que essas coisas.

Ainda estou com a toalha enrolada na


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cintura quando meu celular toca. Respiro

fundo, já sabendo de quem se trata, e nem


um pouco ansioso para falar com ele.

— O que quer? — digo ao atender.

— Não fale comigo como eu fosse um


dos seus amigos de fraternidade — a voz do
meu pai sai dura e fria. Exatamente como
ele. — Onde você estava que não atendeu as
minhas ligações anteriores?

— No treino.

Ele resmunga algo sobre à noite ser um


horário péssimo para se treinar, em seguida

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continua:

— Teremos um jantar aqui em casa na


próxima sexta. Os Vaugh estarão por alguns
dias em Claremont. Seria bom se você

também se reunisse conosco, para começar a


se inserir nesse meio.

Eu caminho até o meu frigobar e tiro de


dentro dele uma garrafa de água gelada.
Meus olhos vão direto para a caixinha de

plástico com dois dos quatro cupcakes que


eu ganhei na semana passada.

Puxo os doces para fora e ponho em


cima da minha mesa, onde vários potes de

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tinta, pincéis e folhas de papel também estão


bagunçados sobre ela.

Volto a pensar na tal Rose, em seguida


nas palavras de Maven e uma sensação

estranha comprime o meu peito.

“Há boatos de que ela ficou meio


pirada depois que a amiga morreu”.

Respiro fundo, ainda sem saber como

digerir tudo isso. Ninguém jamais viajou de


uma cidade a outra para me presentear com
algo. Muito menos me presentear com algo
como... isso. Nem mesmo as minhas antigas
namoradas fizeram uma coisa dessas, e a sua

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atitude, ao mesmo tempo em que me deixa


estranhamente admirado, me encabula.

— Evan? — a voz do meu pai soa do


outro lado e eu me lembro que estamos

discutindo sobre... sobre o que mesmo?

— Sim?

— Você ouviu o que eu disse? — ele


questiona, aparentemente irritado. — Eu

quero você aqui na próxima sexta. Teremos


um jantar com os Vaugh e quero que eles o
conheçam...

— Sim, Felton, ouvi.

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— Certo. Venha ver a sua mãe também.

Ela sente sua falta.

Claro que sente, penso sarcasticamente.

É óbvio que a minha mãe não está


sentindo a minha falta. Não quando ela
precisa de mais bebidas para conseguir
sobreviver do que um viciado precisa de
drogas. Pensando bem, a bebida não deixa
de ser uma droga, e minha mãe não deixa de

ser uma viciada.

Rolo meu pescoço, tentando aliviar a


tensão que se acumulou sobre ele de repente.
O Evan de antigamente teria dado uma

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merda para tudo isso. Aliás, o Evan de


antigamente não teria nem mesmo atendido
esse maldito telefone. Mas, querendo ou
não, agora eu não sou o antigo Evan. Eu sou

o filho prodígio, o robô que meu pai criou,


portanto me contenho.

Passo o dente distraidamente sobre a


bolinha do piercing de prata na minha
língua, o único que meu pai me “permitiu”

continuar usando, pelo simples motivo de


ele não saber que eu realmente o tenho.
Solto um suspiro, fazendo o que ele quer.
Mais uma vez.

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— Estarei aí.

A voz satisfeita do meu pai preenche o


autofalante do meu celular.

— Ótimo — ele diz. — Nos falamos ao


longo da semana para decidirmos melhor
isso.

E então ele desliga.

Bufo com irritação e atiro meu celular

na cama. Encaro meu reflexo no espelho.

Patético. Você é patético, cara.

Desço os olhos para as tatuagens


aleatórias que correm por meu peito e
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braços. Houve uma época em que eu achei

que fazer esse tipo de coisa fosse uma das


decisões mais hilárias do mundo. Então eu
desenhava qualquer coisa em uma folha de

papel e Kamal, um tatuador iniciante que


conheci na época da escola, passava tudo
isso para o meu corpo. Óbvio que eu sempre
estava chapado o suficiente para não poder
me importar, mas era bom. Eu me sentia
livre, me sentia diferente. Eu apenas me

sentia eu.

A única tattoo que fiz e realmente tem


um significado específico é a lótus na parte
interna do meu pulso. De qualquer forma,
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todas elas são escondidas quando assumo o


personagem de “garoto perfeito”. Não que os
caras da fraternidade não saibam sobre
minhas tatuagens, mas a maioria deles meio

que se assusta ao me ver as exibindo. E é


por isso que eu evito ser o Evan de antes
dentro do campus também.

Decidindo parar de pensar sobre isso,


ponho uma camisa preta, vestindo um

moletom da mesma cor em seguida. Após


estar devidamente caracterizado com a
minha vestimenta e botas pretas, apanho a
mochila que deixo escondida atrás da minha
cama e sigo rapidamente para onde meu
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carro está estacionado.

Jogo a mochila no banco traseiro do


veículo e dou início à minha viagem,
seguindo uma rota qualquer, literalmente

sem rumo. Eu costumo fazer essas viagens


furtivas por, pelo menos, duas vezes na
semana. É uma espécie de terapia que atribuí
a mim mesmo, da qual nenhuma outra pessoa
tem ciência, pois jamais entenderia.

Após aproximadamente uma hora e


meia dirigindo, paro o carro. Retiro a
mochila do banco traseiro e decido fazer o
resto do caminho a pé. É mais seguro e

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inteligente fazer o que sempre faço, sem


precisar chamar atenção estando ao lado de
um Camaro de quase cem mil dólares.

Ponho o capuz na minha cabeça

enquanto caminho pela rua escura e vazia. A


lua está enorme, prateada e brilhante. É
bonito de se admirar, de verdade.

Paro ao alcançar um muro velho e sujo,


servindo de apoio para diversas latas e sacos

de lixo. Abro a mochila e pego uma das latas


de tinta de dentro dela. Sorvendo o ar frio,
fecho os olhos. A inspiração sempre vem,
mas hoje é como se um gatilho houvesse

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acionado todas as áreas criativas do meu


cérebro.

A frase me vem à cabeça e eu sorrio,


sabendo já estar pronto para começar:

“A loucura é o resultado do
aprisionamento da alma. Liberte-a e se
sinta. Transborde-a e se ame. Quem não
ama, enlouquece. Quem não transborda,
sufoca”.

Esse é um dos poucos momentos em


que eu posso ser eu mesmo. O momento que
eu me dispo do garoto perfeito de
fraternidade, o filho do político e empresário

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famoso, e encontro a minha própria essência.

Neste momento, eu sou o Evan Prescott,


o playboy vagabundo que fumava maconha
aos dezesseis anos de idade, e deu risada do

próprio pai ao levar dele um soco na boca no


dia em que decidiu colocar um piercing no
lábio.

Sou Lótus Noturna, o artista, o poeta, o


vândalo notívago que desperta reações

distintas enquanto espalha sua arte pelas


ruas escuras do estado de New Hampshire.

Ligo o meu iPod e um Punk Rock


qualquer estoura através dos meus fones de

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ouvido. Ainda sorrindo para mim mesmo,


aprecio a música alta e aponto o spray de
tinta para a parede nua.

Essa cidade maldita precisa de um

pouco mais de cor.

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— O que é isso? — questiono, vendo

Tate fazer um contorno com caneta cor de


rosa brilhante sobre uma folha de cartolina
aberta.

— É um cartaz que estou preparando


para a minha próxima apresentação de Artes
— ela responde, empolgada. — Não está
ficando incrível?

Volto a observar seu cartaz, e posso até

mesmo reconhecer que Tate é criativa. Há


várias colagens de recortes de jornais sobre
ele, juntamente com breves descrições e
títulos em fontes gigantescas. Está colorido

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demais, mas esse é um gosto pessoal dela.


Não seria Tate se não estivesse tudo
chamativo, coberto de rosa e roxo.

— Arte de rua contemporânea... —

começo a ler, sentindo minha testa vincar


um segundo depois. — E quem é Lótus
Noturna?

— Lótus Noturna não é nada menos que


uma lenda! — responde, como sempre,

exagerando. — Ela já foi considerada uma


das maiores artistas de rua dos últimos
tempos. E o mais interessante em tudo isso é
que sua descoberta é recente. Quem

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consegue ser comparado aos grandes


artistas, sendo iniciante no meio? Ela é um
mito.

Me inclino sobre a mesa do pátio da

escola, onde a cartolina está deitada, e passo


a analisar melhor as imagens nos recortes. A
julgar pela quantidade, é evidente que Tate é
uma grande admiradora dessa tal Lótus, seja
ela quem for. Há desenhos de flores

diferentes, em diversos tons e ângulos. O


que mais me impressiona é o fato de sempre
junto a essas flores existirem frases. São
diversas, mas uma que chama minha atenção
em especial está logo no topo:
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“A dor na solidão nem sempre é

caracterizada pela ausência de companhia


externa. Quando se está afastado de si
mesmo, a tortura é muito mais pungente e

silenciosa”.

— Quando se está afastado de si


mesmo... a tortura é muito mais pungente e
silenciosa — repasso, demorando-me ao
estudar as palavras, sentindo uma espécie de

conexão esquisita com elas. — Eu nunca


ouvi falar dela.

— Você não a conhece porque não se


liga nessas coisas, mas deveria procurar

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saber mais sobre — Tate diz. — Lótus é


minha inspiração. Além do mais, ninguém
sabe realmente quem ela é. Essa coisa de
mistério dá um toque muito mais excitante à

história.

Meu rosto se vira imediatamente para a


direção de Tate.

— Se ninguém sabe quem é, por que


você se refere ao artista como sendo ela?

Pode muito bem ser um homem.

Tate pega o bastão de cola e esfrega


sobre o verso de um dos recortes soltos, ao
passo que volta a falar comigo:

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— Quem mais teria a sensibilidade de

fazer algo como isso — ela aponta com o


queixo para a imagem em sua mão e, em
seguida, a gruda sobre a cartolina — do que

uma menina? Nada contra os caras, mas você


sabe que a maioria deles só se preocupa com
festas e garotas seminuas.

Discordo dela, mas não conheço Lótus


Noturna, tampouco estou interessada em

discutir sobre o grau de sensibilidade que os


homens possuem, portanto não debato.

— E o que há com o lance das flores?

— Apenas mais um dos muitos

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mistérios que a cercam — responde. — Há


algumas teorias de que ela é uma artista
ligada ao meio esotérico, com seu ego
reprimido por não querer aparecer na mídia.

Ou uma florista de meia idade que encontrou


na arte de rua uma forma de conseguir
chamar atenção — Tate ri. — Eu acho que
pode ter um significado muito mais
conceitual, tipo uma senhorinha no estilo
“eu sou fofa e fodona” tentando lidar com

um coração partido ou...

— Luto.

Ela para o que está fazendo e me lança

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imediatamente um olhar confuso.

— O que?

— Pode ter a ver com o luto — repito.

— As flores podem significar várias coisas,


inclusive todo o processo que envolve uma
perda. Elas estão presentes em diversas
teorias relacionados à morte e
representatividade de vida eterna. Os textos
falam sobre dor e superação. Talvez seja

algo relacionado a isso.

De início ela fica boquiaberta, apenas


me encarando. Em seguida, arregala os
olhos.

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— Uau, Rose. Você foi profunda agora.

— Sorri, batendo no meu braço. — Muito


obrigada, vou adicionar isso à minha
apresentação.

Balanço a cabeça, prendendo um


sorriso.

— Ok, boa sorte com isso — pego


minha mochila. — Vou embora mais cedo
hoje.

— Por que? — Tate pergunta.

— Tenho minha primeira sessão de


terapia com a tal Dra. Horn — respondo,

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enfastiada. — A minha mãe conseguiu com


que o colégio me liberasse mais cedo.

— Hum... ok — ela diz, provavelmente


temendo entrar em detalhes. — Você tem

algo para fazer amanhã depois da escola?


Poderíamos finalizar o cartaz juntas.

— Não vai dar — digo. — Será sexta,


lembra? Dia de trabalho voluntário na
biblioteca do centro. Daisy precisa de mim.

Ela assente, murchando os ombros.

— Claro. A gente se se vê na aula,


então.

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Remexo-me no sofá com revestimento


de couro macio e sinto cada músculo do meu
corpo ficando tenso. A temperatura não está
tão baixa lá fora, mas o ar condicionado
potente dentro dessa sala — e um tanto de
nervosismo — estão praticamente me

deixando a ponto de congelar.

— Então, Rose — a mulher, sentada


numa poltrona de frente para mim, puxa uma
caneta de dentro do seu porta-canetas com
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estampa de caveira mexicana e me olha. —


Como andam as coisas?

Isso não é como eu imaginei que minha


primeira consulta com uma terapeuta seria.

Em primeiro lugar, ela me chamou pelo meu


apelido, o que torna as coisas menos
impessoais e me deixa um pouco mais
confortável. Segundo, Evelyn Horn é
diferente de qualquer tipo de médico que eu

pudesse ter formulado dentro da minha


cabeça. Seu cabelo cor de cobre está preso
em uma trança rabo de peixe, e adornos em
formato de girassóis o enfeitam. Usa sapatos
amarelos e calças brancas, mas com algum
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tipo de estampa esquisita. O jaleco branco é


a única coisa que a difere de uma hippie dos
anos sessenta.

Isso se eu não quiser citar o seu

sobrenome. Caramba, ela se chama Horn.


Sem preconceitos aqui, mas quem conviveria
normalmente na sociedade tendo “chifre”
como sobrenome?

Volto a refletir sobre sua pergunta e

tenho vontade de lhe responder com “uma


merda total”, mas apenas relaxo meus
ombros e lhe dou a resposta mais neutra que
me vem à mente:

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— Normais.

Ela parece perceber a minha relutância


em colaborar, pois noto uma covinha em sua
bochecha esquerda quando finalmente sorri.

— Você não gostaria de ser um


pouquinho mais clara sobre isso?

Faço que não com a cabeça.

— Certo. Do que você gostaria, então?

— De não estar aqui, em primeiro lugar


— solto. — Estou perdendo metade de um
dia de aula; o que não é muito, considerando
que odeio estar na escola quando me lembro

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do que me aguarda por lá. Quase morri

afogada na semana passada e a minha mãe


acha que tentei me matar propositalmente
porque tenho “pensamentos suicidas”. Oh, e

eu não posso nem mesmo culpá-la por mal


conhecer sua única filha, afinal ela precisa
estar mais preocupada em ficar fora de casa
por metade do mês inteiro, por conta de um
emprego que praticamente se obrigou a
aceitar, do que com uma adolescente

problemática que reclama de tudo. E antes


que me pergunte... não, o meu pai não é uma
figura presente na minha vida, porque, ora
essa, ele tem coisas muito mais importantes

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para tratar com sua nova família perfeita,

vivendo a mais de dois mil quilômetros de


distância de nós — finalmente respiro. —
Então acredite em mim, doutora, gastar uma

hora do meu dia somente para alguém me


dizer que estou depressiva e preciso me
tratar é a última coisa que eu gostaria de
estar fazendo agora.

Após meu pequeno desabafo um tanto

quanto rebelde, Evelyn arqueia levemente


suas sobrancelhas à medida que empurra os
grandes óculos de armação redonda de volta
para o topo do seu nariz. Um ruído estranho
escapa de sua boca enquanto ela estala a
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língua distraidamente ao anotar algo na


folha em sua prancheta. Se eu quisesse
bisbilhotar o que ela está passando para
aquele papel agora, tenho certeza que

encontraria algo do tipo: “Adolescente


carente com Síndrome de Alienação
Parental, ataques de fúria e diversos outros
problemas relacionados à socialização.
Provavelmente vai ser uma solteirona
maluca no futuro — e sem bichos. Vamos

poupar-lhe um pouco de tempo aqui.


Mandem-na para um hospício agora!”

— Sabe, Rose, eu entendo a sua


frustração, mas nem sempre é preciso o
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surgimento de pensamentos suicidas para


que uma pessoa seja diagnosticada com
Depressão — sua voz é paciente e doce. —
Os sintomas se manifestam de diversas

maneiras. Você pode, até mesmo, agir como


qualquer outra pessoa costuma agir: rindo,
divertindo-se, tendo amigos. Mas por dentro,
você se dará conta da mudança. Lembre-se,
são os seus sentimentos que estão em jogo
aqui, não uma anomalia física. — Ela volta a

abrir um sorriso. — Além do mais, estou


aqui para lhe ouvir. Saiba que não irei julgá-
la, nem nada. Eu só quero conhecer você
melhor.

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— Você quer... me ouvir? — pergunto.

— Só se você estiver de acordo.

— E você não vai ficar entediada? —

Por mais que muitas pessoas digam que


psicólogos são sempre muito pacientes,
ainda estou desconfiada.

— Eu não vou ficar entediada, acredite


— diz. — Estou muito empolgada para ouvir

o que você tem a dizer.

Passo a língua sobre meus lábios, ainda


dividida entre colaborar com ela ou não.
Finalmente tomo a decisão mais sensata.

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— Eu costumava ser uma pessoa...

normal — digo. — Hoje, tudo mudou.

— Certo — ela diz, voltando a anotar


algo. — E quando ocorreu essa mudança?

Respiro fundo e continuo.

— Logo depois que a minha melhor


amiga morreu em um acidente de carro, há
um ano — confesso. — Eu quem estava

dirigindo.

Seus olhos voltam a se erguer e ela


cruza as pernas, inclinando a cabeça para o
lado, parecendo genuinamente interessada.

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— Você se importaria de falar um pouco

mais sobre essa sua amiga?

Eu tenho um certo receio de falar sobre


Brianna agora. É como se, falando dela, eu

relembrasse o que aconteceu, e tudo voltasse


a assombrar minha mente. Mas a Dra. Horn é
minha terapeuta. Se devemos aprender a
lidar com isso, eu preciso confiar nela.

— Nós nos conhecemos desde crianças

— começo. — Tínhamos seis anos, para ser


mais exata. Não fomos amigas logo de cara,
claro. Quando a conheci, ela tinha acabado
de “furtar” a minha bicicleta na varanda para

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dar um passeio pelo bairro. Eu fiquei furiosa


e enciumada ao ver todas as outras crianças
da minha rua a encarando como se ela fosse
uma deusa sobre duas rodas. Ela era uma

menina tão bonita. Tinha olhos vivos,


cabelos vivos e até mesmo as sardas em seu
rosto gritavam “vida” ... — pauso, sabendo
que relembrar dos velhos tempos com
Brianna é nostálgico e doloroso. — Depois
de um monte de terra no cabelo e alguns

gritos malcriados, como só uma briga entre


duas crianças pode ser, eu descobri que ela
era a minha nova vizinha. Nós ficamos de
castigo depois disso, e fomos obrigadas a

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escrever uma carta de pedido de desculpas

para a outra. Enquanto eu tentei ser o mais


impressionante possível, falando sobre uma
conversa que tinha ouvido da minha avó a

respeito do valor que tinha o perdão, ela


disse que eu tinha cabelos iguais aos da
Barbie e seria a coisa mais legal do mundo
ser amiga da Barbie. Ponto. Foi a primeira
vez em que elogiaram os cabelos pálidos dos
quais eu tanto detestava. Foi a primeira vez

também em que me deparei com alguém


disposta a me levantar nos piores momentos,
independentemente do quão desacreditada eu
estivesse a respeito. A partir dali nos

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tornamos melhores amigas. Éramos tão

unidas que às vezes os nossos pais


acreditavam que tínhamos uma espécie de
ligação espiritual, como se fôssemos irmãs

na vida passada. — Faço outra pausa,


respirando fundo. — Então depois que ela
morreu, eu sinto como se um pedaço de mim
houvesse sido arrancado. É como se tudo se
desencaixasse, como se eu não pertencesse
mais a esse lugar, e as pessoas ao meu redor

também possuíssem dificuldade em


compreender isso.

— E o que você sente quando lhe vem


esse pensamento de ser deslocada?
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— Eu não posso apontar um único

sentimento porque tudo é tão... confuso.


Acho que um pouco de melancolia, saudade
e... principalmente raiva — olho para ela,

com medo de que ela me julgue, mas seu


olhar permanece neutro. — Eu sinto raiva
das pessoas felizes ao meu redor, como se
suas vidas perfeitas fossem praticamente um
insulto ou uma injustiça. Eu sinto raiva do
destino por ter pregado essa peça maldita em

mim. Eu sinto raiva dos meus colegas por


abusarem de mim, sinto raiva do meu pai por
não estar aqui no momento em que mais
precisei dele, sinto raiva até mesmo de

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Brianna por ter me deixado tão sozinha —

paro, inspiro. — Sinto raiva de mim mesma.

Minha respiração está acelerada,


minhas mãos estão geladas e o meu coração

bate tão forte que eu desconfio de que a


médica consiga ouvir tudo de sua posição a
poucos metros de distância. Imagino que ela
vá fazer um discurso sobre eu provavelmente
ter um problema muito maior do que foi

imaginado no início, mas a única coisa que


ela diz é:

— Por que, Rose?

Eu sei o que ela está perguntando. Sei

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que ela está se questionando sobre o motivo


de eu preferir guardar tudo isso dentro de
mim, e a resposta é igualmente simples:

— Porque sou fraca. — E é a realidade.

Eu sou fraca, quebrável e pequena. Sou


amarga, tediosa e sou tóxica. E isso é motivo
suficiente para que eu queira apenas me
isolar. A única maneira de me sentir mais
confortável quando começo a me sentir

como lixo, é ao estar sozinha. Em


contrapartida, também é ruim porque é nesse
momento que todos os outros pensamentos
ruins invadem a minha cabeça. Eu começo a
me afogar cada vez mais em um poço
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escuro, e não sei se vou ser capaz de sair


dele um dia.

— É tão frustrante o fato de que


somente ela tenha morrido, mas eu também

me sinta morta. Às vezes tenho a sensação


de ser somente um fantasma e, quando eu
menos esperar, vou receber um aviso de que
meu corpo está vegetando em um hospital
qualquer, como acontece com a Reese

Witherspoon no filme Just Like Heaven9 .

Ela inclina a cabeça diante da minha


alusão e um pequeno sorriso coroa seus
lábios.

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— Existem muitas formas de lidar com

a morte, Rose. Esse tipo de comportamento é


mais que compreensível, acredite. — Ela faz
uma pausa, me olhando nos olhos. — Mas

estar respirando não significa que você está


vivendo, embora. Já ouviu falar sobre o
Modelo de Kübler Ross?

— Vagamente — confesso.

— Então é provável de que você já

saiba sobre os cinco estágios do luto:


Negação, Raiva, Negociação, Depressão e
Aceitação. Você está passando por uma
situação em que houve uma perda trágica e

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repentina. Apesar de nem todos os estágios


se apresentarem, ou não apresentarem na
mesma ordem, pessoas que passam por esse
tipo de situação costumam ter, pelo menos,

dois deles ao longo do processo.

Passo as mãos sobre meus braços,


começando a sentir o frio intenso retornar.

— Por mais quanto tempo você acha


que eu vou continuar assim?

— Não há um período exato para


definir quanto tempo uma pessoa demora
para superar o luto, mas se isso a conforta,
saiba que superar é possível. Deve-se tentar

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encontrar meios para que essa dor seja


superada, embora.

— Como o quê?

— Como aprender a entender a morte


— responde. — Talvez seja complicado para
você agora, mas nós ainda temos muito
tempo.

Balanço a cabeça, ainda não muito

convicta de que iremos, realmente,


progredir.

— Não acho que vá conseguir lidar


muito bem com isso algum dia — confesso.

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— Eu estava dirigindo aquele carro. Não é


justo que eu tenha contribuído para a morte
da minha melhor amiga, uma garota de
dezesseis anos com uma vida inteira pela

frente, e continue a seguir minha própria


vida, esquecendo sobre tudo o que
aconteceu, enquanto ela apenas apodrece
dentro de uma caixa, sete palmos abaixo da
terra.

— Não é questão de esquecer, querida,


mas de compreender — ela faz uma pausa e
inclina a cabeça, sua atenção totalmente
concentrada em mim. — Me diga, Rose. Se
você estivesse em uma situação semelhante à
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da personagem da Reese Witherspoon, e


todos estivessem afirmando que você está
morta. Qual seria sua primeira atitude?

— Provar que estou viva?

A médica balança a cabeça em negativa.

— Aí é que está — diz. — Não se trata


de provar nada para ninguém, mas para si
mesma. Vamos fazer um caminho diferente

agora: e se todos dissessem que você está


viva; e você, enxergando-se como um
fantasma, não acreditasse nisso. O que você
faria?

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— O fato de eu não acreditar que estou

viva não quer dizer que eu precise


permanecer como uma alma penada. Não sou
tão idiota assim, certamente eu tentaria

encontrar um meio de descobrir se o que eles


dizem é verdade. Uma vez que isso fosse
provado, eu retornaria ao meu corpo.

— Muito bem, Rose — Um sorriso


ilumina seu rosto, como se eu houvesse,

finalmente, encontrado a resposta para a


pergunta de um milhão. — Pois deixe-me lhe
dizer uma coisa: Você. Não. Está. Morta.
Portanto, encontre uma forma de voltar a
viver... e viva.
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9: Just Like Heaven (lançado no Brasil com o título


de “E Se Fosse Verdade”) é um filme estadunidense de
comédia romântica e fantasia, baseado no livro “Et si
c’était vrai”, de Marc Levy.

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Puxo a gravata de forma ríspida,

fazendo com que o pedaço inútil de tecido


deslize para fora do meu pescoço. Fecho os
olhos e, em seguida, inclino a minha cabeça,

abrindo a torneira e salpicando um pouco de


água fria em meu rosto.

Ao retornar para a posição anterior,


meu olhar se choca com o meu reflexo no
espelho. Inspiro e expiro, procurando me

preparar para o que me aguarda lá fora.


Sinto-me como se fosse um condenado à
execução, apenas implorando
impacientemente para que a minha morte

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seja indolor e rápida.

Uma única batida na porta me diz que


meu período de paz momentânea chegou ao
fim.

— Evan? — meu pai me chama. — O


jantar já vai começar. Saia já desse banheiro.

Ainda me permito ter algum momento


de paz antes de finalmente secar meu rosto e

me virar para abrir a porta. No instante em


que me ponho diante dele, os olhos do meu
pai me varrem de cima a baixo. Seus lábios
se retorcem para cima, ao passo que o
observo demorar-se um pouco mais nas

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tatuagens em meus braços.

— Veja só você. Está todo amarrotado


— repreende, estalando a língua. — E ajeite
as mangas dessa camisa. A última coisa que

eu preciso agora é ter você assustando os


Vaugh com esse monte de sujeira na pele.

A “sujeira” a qual ele se refere se trata


das minhas tatuagens. Acho que sempre foi
assim que o meu pai me enxergou: um ponto

imundo debaixo do seu castelo dourado.


Engulo o comentário irônico que teima em
escapar da minha garganta e puxo as mangas
da camisa social branca para baixo, da forma

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que ele deseja. A parte rebelde de mim está


coçando para mandá-lo ir se foder e sair
dessa casa sem pensar duas vezes, mas a
p a r t e marionete obediente me mantém nos

eixos. Já tenho vinte e um, mas às vezes ele


faz eu me sentir como um garoto estúpido de
dez anos. E eu odeio isso. Simplesmente
odeio.

Sem mais uma palavra, ele me dá as

costas e começa a se afastar, ciente de que


irei segui-lo.

Uma vez na sala de jantar, passo o olhar


superficialmente sobre a imensa mesa

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impecavelmente posta e meu nariz se retorce


em desagrado. Já havia cumprimentado os
Vaugh logo que eles chegaram aqui, e posso
dizer que a antipatia que senti por eles não

diminuiu. Charles Vaugh é um homem por


volta dos cinquenta anos; alto, bem
afeiçoado e com uma postura tão rígida
quanto a do meu pai. Pelo pouco que sei,
Michelle, sua esposa, é uma espécie de
socialite adepta a plásticas faciais e

diamantes — isso eu posso julgar pela forma


como ela veio completamente adornada com
joias caras, como se fosse patrocinada pela

própria Tiffany & Co10 . Sua filha, Melanie, é

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uma menina de aproximadamente dezoito

anos, alta, magra e bonita. A típica garota


rica e perfeita.

Meu pai se acomoda na ponta da mesa,

de modo que eu me sento a uma cadeira da


extremidade. Sr. Vaugh escolhe uma cadeira
da fileira oposta à minha, sua esposa se
senta ao seu lado esquerdo, e Melanie do
lado direito. Isso é um pouco incômodo

porque a garota não para de me encarar, e


sua posição, diretamente de frente para mim,
não ajudou em nada. Eu não quero uma
adolescente me fitando como se eu fosse um
pedaço atraente de muffin de cereja.
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— Lauren pediu que a desculpássemos,

mas ela não está se sentindo muito bem hoje,


portanto não poderá jantar conosco — meu
pai diz, sem vacilar em nenhum instante ao

esboçar uma falsa expressão de pesar.

Se existe uma coisa a qual eu posso


admitir que ele consegue fazer muito bem é
jogar a sujeira para baixo do tapete. O
problema da minha mãe com a bebida é a

prova viva disso.

— É algo muito grave? — Sra. Vaugh


questiona.

— Apenas uma indisposição, minha

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querida — meu pai tranquiliza. — Não se


preocupe.

Após todos estarem devidamente


recompostos, meu pai dá sua ordem para que

o jantar se inicie. Bonnie, nossa governanta


há mais de vinte anos, se encarrega de nos
servir pessoalmente.

— Felton, esse Coq au Vin está divino


— Sra. Vaugh elogia assim que o prato

principal é servido.

— Agradeça a Adéle — Meu pai sorri,


orgulhoso. — Nossa cozinheira é excelente.
Estudou em uma das melhores escolas de

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gastronomia da França. Nós nunca passamos


um tempo ruim na mesa depois que a
contratamos.

Sra. Vaugh sorri.

— Isso me fez lembrar de um episódio


desagradável de quando viajamos para Paris
certa vez — ela torce o nariz. — Decidimos
almoçar em um restaurante muito bem
recomendado, mas imaginem a minha

decepção ao perceber que eles não eram tão


bons quanto diziam. Cristo, vocês
conseguem acreditar que eles mal
conseguiam organizar os talheres

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adequadamente sobre a mesa?

Sr. Vaugh ri, provavelmente também se


relembrando do episódio.

— Michelle ficou louca — ele diz. —


Perfeccionista do jeito que é, tivemos um
pouco de trabalho com ela.

— Deve ter sido um verdadeiro inferno,


não é? — não consigo segurar a minha

língua.

Sra. Vaugh parece não ter compreendido


a minha ironia, no entanto. Ela balança a
cabeça em confirmação e agarra a sua taça

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para tomar um gole de vinho.

— Charles teve que me segurar para


que eu não fosse até a administração fazer
uma reclamação — ela pega seu guardanapo

e recosta contra os lábios pintados com


batom vermelho.

— Eu conheço diversos restaurantes


excelentes em Paris — meu pai se manifesta.
— Garanto que eles são, de fato,

restaurantes incríveis. Posso recomendá-los


a vocês, eventualmente.

— Sei que tem bom gosto e agradecerei


muito se puder fazer isso por nós, Felton —

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Sr. Vaugh diz. — Adoramos a França, e


pretendemos viajar para lá muitas outras
vezes.

Eu achei que minha aula de Economia

fosse a coisa mais entediante que eu já fiz


nessa semana, mas esse jantar está se
superando. Me recosto no espaldar da
cadeira, dando-me conta de que mal toquei
na comida. Eu preferiria estar comendo algo

com bacon e muito ketchup agora. Olho para


o relógio e vejo que ainda não são nem oito
horas da noite. Seguro um bocejo enquanto
observo a conversa entediante se desenrolar.

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— Charles tem razão — Sra. Vaugh

confirma. — Adoro tudo que diz respeito à


França, principalmente a arte. É tudo tão
incrível.

— Oh, sim — meu pai concorda. —


Vocês já foram ao museu do Louvre?

— Fomos uma vez — o outro homem


responde. — Mas Michelle estava mais
ansiosa para visitar o museu de Orsay na

última viagem que fizemos. Ficamos


fascinados com uma pintura de Monet, em
particular... — ele franze a testa,
provavelmente tentando se lembrar do nome

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da pintura.

— Almoço na Relva — sua esposa


conclui. — É tão adorável.

— Almoço na Relva é uma pintura de


Manet, não Monet — corrijo. — E creio que
retratar uma mulher fazendo um piquenique
completamente nua diante de dois caras em
um bosque não é o que as pessoas
chamariam de adorável no século dezenove,

sra. Vaugh.

A mesa está em um completo silêncio


agora. Todos estão olhando para mim com
curiosidade, exceto o meu pai, claro. Ele me

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olha como se estivesse prestes a enfiar o


garfo no meu pescoço. Ele toma um gole do
seu vinho e faz um ruído com a garganta,
indicando que não está nada satisfeito com a

minha atitude. Que se dane.

A mulher limpa a garganta e inclina a


cabeça.

— Eu não sabia que se interessava por


arte.

— Ele não se interessa — meu pai corta


antes mesmo que eu responda. — Seu foco é
outro. Evan está estudando para ser um
grande político e homem de negócios, como

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nós — o sorriso orgulhoso ilumina seu rosto.


— Ele já está fazendo faculdade em
Dartmouth. Estamos planejando sua ida para
a Escola de Negócios em breve.

— Isso é incrível — Sra. Vaugh


comenta, com uma admiração genuína. Seus
olhos desviam levemente para a direção da
sua filha. — Melanie também é uma ótima
aluna. Ela já fala três idiomas fluentemente

e toca piano como ninguém.

— Mamãe, por favor — a menina


abaixa a cabeça e cora, com uma falsa
modéstia na voz.

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A mulher sorri.

— Ela é muito tímida também — diz.


— Vocês dariam ótimos amigos, Evan...

Agradeço aos céus quando o barulho de


passos de salto alto se aproximando
interrompe a tentativa da Sra. Vaugh de me
juntar com a sua filha. Mas logo o meu
alívio se esvai quando vejo que é a minha
mãe quem se aproxima. E que ela está

bêbada.

Caminhando em nossa direção, ela se


esforça o máximo possível para se manter
ereta. No entanto, posso perceber que seus

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passos estão desiguais.

— Lauren, que ótimo ter você aqui — a


sra. Vaugh cumprimenta a minha mãe com
um sorriso. — Felton nos disse que estava

indisposta.

— Sim, eu estava, mas não precisem se


preocupar mais. Estou ótima agora — ela
estende a mão quando Sr. Vaugh se levanta
para beijar o dorso.

Em seguida, parecendo me ver pela


primeira vez hoje, ela vem em minha direção
com um sorriso largo.

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— Olá, querido! — Percebo o forte

cheiro de bebida no momento em que ela se


inclina para me dar um beijo na testa. Sua
voz é carinhosa, mas eu sei que é tudo

forçado porque minha mãe nunca foi


carinhosa comigo. Minha mãe nunca foi
carinhosa com ninguém, exceto... bem. Ela
não é do tipo maternal, eu posso dizer.

Ainda sorrindo, ela senta-se ao meu

lado.

— Sobre o que estavam falando? —


questiona, segurando a taça de vinho depois
que Bonnie a enche com o líquido escuro.

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Ela prova o conteúdo e faz uma careta ao


perceber que é suco de uva.

— Estávamos falando sobre nossos


filhos e seus dotes — sra. Vaugh comenta.

— Evan me impressionou com sua


inteligência. Tão jovem e com um futuro
brilhante.

— Sim, ele é — minha mãe fala, mas eu


me dou conta de que sua atenção está focada

em outra coisa. Na garrafa de vinho tinto em


cima da mesa, mais precisamente. Antes que
ela possa ter posse da garrafa, eu mesmo a
pego e esvazio ao encher a minha própria

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taça. Não vou beber isso, mas também não


vou permitir que ela o faça.

Minha mãe empertiga-se ao meu lado.


Percebo que ela tenta manter o controle

enquanto passa os dedos com unhas bem


cuidadas sobre o cabelo loiro.

Ela vira seu rosto em minha direção e


seus olhos duelam com os meus por longos
segundos. A expressão impressa é séria,

porém ainda é contida. Ainda guiando seu


olhar em minha direção, ela chama:

— Bonnie? — Quando a nossa


governanta aparece, ela ordena: — Traga

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mais vinho para a mesa.

A criada lança um olhar tenso para o


meu pai, mas em vez de fazer o que imaginei
que ele fosse fazer, que é negar, ele dá um

discreto aceno positivo com a cabeça.

O quê!?

A conversa se reinicia, mas não estou


prestando atenção. Os olhos da minha mãe

estão vidrados. Ela provavelmente já bebeu


o suficiente lá em cima, então por que
diabos o meu pai está permitindo que ela
tenha contato com bebida agora? Ele me
disse que estava tudo sob controle da última

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vez.

A mulher retorna com o vinho e serve


todos na mesa, inclusive a minha mãe.
Algumas risadas baixas são ouvidas; eles

permanecem com a conversa tranquila, como


se nada estivesse acontecendo.

A minha mãe termina sua primeira taça


em uma velocidade assustadora. Em seguida,
ela mesma se encarrega de preencher o

recipiente.

No instante em que ela está prestes a


tomar a terceira taça, minha mão vai até seu
pulso e eu a impeço.

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— Solta isso — minha voz é baixa, mas

sai firme e autoritária, o que chama a


atenção dos demais.

Minha mãe lança seus grandes olhos

azuis em minha direção, mas não diz uma


palavra, muito menos solta a taça.

— Eu disse para soltar — repito.

Ela ainda não diz nada, mas afrouxa seu

aperto na taça, fazendo com que eu solte seu


pulso.

— Evan — a voz do meu pai é dura e


clara. Há uma pitada de repreenda também.

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— Não perturbe a sua mãe.

— Você só pode estar brincando! —


explodo. — Ela já está completamente
bêbada, e você ainda permite que ela

praticamente beba uma garrafa inteira de


vinho em menos de quarenta minutos, como
se isso fosse a coisa mais normal do mundo.
Será que só eu aqui estou conseguindo
enxergar a gravidade nisso?

Ele respira fundo, provavelmente


tentando conter a irritação.

— Abaixe o seu tom de voz.

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— Você havia me garantido que ela

estava conseguindo se controlar, mas agora


percebo que mentiu — ignoro seu alerta,
ignorando também o fato de que há uma

família de desconhecidos na mesa.

Bem, senhoras e senhores, conheçam a


verdadeira família Prescott!

Ele fecha suas mãos em punhos com


força.

— Agora não é o momento certo para


discutirmos isso, Evan. Controle-se.

Eu balanço a cabeça, incrédulo sobre

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ele preferir se preocupar em passar uma boa


impressão para os outros do que com o
problema da sua própria mulher.

De repente, o grito esganiçado que a

minha mãe solta chama a atenção de todos


na mesa. Ela me encara furiosamente, então
atira a taça cheia de vinho com força no
chão, fazendo com que o líquido escuro
respingue sobre a minha camisa.

— Por que você me odeia?!

Os Vaugh saltam da mesa, assustados.


Eu me levanto quando a minha mãe faz
menção de ficar em pé e praticamente cai.

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Ela me empurra, rejeitando a minha ajuda.

— Sempre me odiou, seu pequeno


bastardo malvado...

— Bonnie! — a voz grossa do meu pai


corta as divagações da minha mãe. Um
segundo depois, a governanta reaparece. —
Leve Lauren de volta para o quarto. Ela não
está se sentindo bem.

Minha mãe ainda protesta enquanto


Bonnie tenta segurá-la para guiá-la para fora
da sala de jantar.

— Você não é bom para mim, nunca foi

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bom para mim! — ela continua atirando


insultos em minha direção. Houve uma
época em que eu me sentia magoado com
todos os seus insultos e julgamentos. Hoje

eu apenas deixo ir. Ela não está em seu


estado normal.

Depois que a minha mãe é puxada para


fora da sala, meu pai me lança um olhar
duro. Eu acabei estragando o seu jantar de

merda, e se não fosse o fato de que a minha


mãe está completamente fora de si por conta
de todo o álcool em seu sistema, eu sorriria
com isso.

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Um instante depois, Felton se

recompõe, lançando um sorriso sutil para os


Vaugh.

— Bem, como podem ver — diz —,

andamos todos muito estressados


ultimamente. Peço que me perdoem.

Fala sério! Já estou farto de ouvir toda


essa baboseira e me afasto da mesa, não
esperando nem mesmo mais uma palavra

para deixá-los para trás.

Subo as escadas e sigo em direção ao


quarto da minha mãe. Abro a porta e
encontro Bonnie sentada ao lado da cama,

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acariciando os cabelos loiros dela. Ela está


deitada sobre a cama, em posição fetal, e seu
rosto está vermelho e inchado por conta das
lágrimas. Vê-la assim corta o meu coração.

Ela nunca foi perfeita, mas, querendo ou


não, ela é a minha mãe.

Dando-se conta da minha presença,


Bonnie levanta o olhar e me encara. Há uma
pitada de tristeza e cansaço estampada em

seus olhos escuros. Ainda não consigo


compreender como ela não deu o fora desse
antro de loucura ainda.

— Não acho que seja um bom momento

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para você ficar aqui — ela diz, com sua


habitual voz doce.

Ignoro seu conselho e me recosto contra


a parede. Descanso minhas mãos nos bolsos

da minha calça social preta e libero um


suspiro.

— Eu ainda não consigo compreender


como você consegue suportar tudo isso.

Ela abre um sorriso triste.

— Alguém tem que suportar, não é? —


diz. — Por ela.

Não consigo não retribuir o sorriso

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dela. Essa mulher é boa. Ela merece muito

mais do que definhar nesse lugar até a


morte.

Minha mãe se move em seu sono, o que

chama a atenção de Bonnie. A mulher me


lança um olhar triste.

— Precisamos fazer algo, Evan.

Eu passo as mãos sobre meu rosto,

refletindo no que ela está me dizendo. Já


tentamos diversos métodos para controlar o
alcoolismo da minha mãe, mas nem mesmo
uma reabilitação pareceu ser suficiente, uma
vez que ela se recusa a colaborar.

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— Você sabe que eu já tentei — digo.

— Não podemos forçá-la a isso.

Bonnie sacode a cabeça.

— Você sabe que não é sobre isso que


estou falando.

Suspiro.

— Você ainda acredita que... aquilo vá


resolver?

Ela encolhe os ombros.

— Eu vivi com a sua mãe por mais de


vinte anos, acredite em mim quando digo
que devemos ao menos tentar.
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Nossa conversa é interrompida quando

minha mãe se move novamente sobre a


cama, e finalmente desperta. Ela levanta a
cabeça e, após um breve instante com o

cenho franzido, se senta. Seus olhos se


fixam em mim.

— Ethan? — ela murmura. — Ethan,


querido... é você?

Um nó sobe pela minha garganta, mas

eu engulo de volta. Respiro fundo e me


afasto da parede, tendo cuidado para não
chegar muito perto dela e desencadear no
mesmo desastre que ocorreu na mesa.

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— Não me chamo Ethan, mãe — digo.

— Sou Evan, lembra?

Ela pausa por um momento, parecendo


ter um choque de reconhecimento. E então

ela começa a chorar, seu corpo curvando-se


sobre a cama.

— Ethan... — ela começa a murmurar o


nome várias vezes, e eu sei que esse é o
momento de dar o fora daqui. Não acho que

possa suportar mais disso.

Lançando um último olhar a Bonnie,


abro a porta e me retiro do quarto. Ao fechar
a porta atrás de mim, dou de cara com o meu

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pai parado no corredor.

— Está feliz agora? — questiona,


rispidamente.

— Impossível me sentir feliz vendo a


minha mãe afundada nessa foça em que você
a colocou.

Ele me olha incrédulo, em seguida dá


uma risada sinistra.

— Eu coloquei? Você só pode estar


querendo testar minha paciência, garoto.

— Você destruiu a nossa família,


Felton. Tente negar o quanto quiser, mas é a

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verdade.

Ele se aproxima de mim, apertando os


punhos ameaçadoramente.

— Seu moleque! — rosna. — Eu acho


que você se esqueceu de tudo que eu fiz por
você, não é? Quer que eu o relembre de
todas as complicações que se livrou, graças
a mim?

Eu não me esqueci. Como poderia me


esquecer? É algo que me atormenta, e eu sei
que não vai deixar de me atormentar por um
longo tempo.

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— Eu tenho vergonha de você.

— Claro — ironiza. — Andando por aí


com carro que e u comprei, estudando na
faculdade que eu pago e comprando suas

besteiras com o dinheiro que eu forneço é


realmente uma forma de demonstrar sentir
vergonha de mim, não é?

Eu não faço isso por desejar,


exatamente, mas não ressalto esse ponto,

pois sei que ele está ciente disso. Em vez de


rebater suas palavras duras, lhe dou as
costas e saio de casa.

Ao alcançar a garagem, me enfio no

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meu carro e me tranco lá dentro. Tiro um


instante para reorganizar meus pensamentos.
Apesar de mal ter tocado no vinho hoje,
muitas coisas estão girando na minha mente,

e no estado em que me encontro é óbvio que


não é seguro sair de carro assim.

Posso ter sido um irresponsável durante


boa parte da minha vida, mas uma coisa a
qual eu aprendi é que não se deve misturar

bebida com direção. Um exemplo que minha


mãe provavelmente não segue. Acho que ela
está disposta a misturar qualquer coisa com
bebida, se isso significar tirá-la da
realidade.
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Acho que somente um milagre seria

capaz de mudar esse quadro agora. Um


milagre que eu, provavelmente, seja capaz
de executar.

Volto a pensar no que Bonnie me disse


e me pergunto se estou realmente pronto
para dar esse passo.

Que se dane! Penso, enquanto ponho o


carro em movimento e dirijo até o

estacionamento de trailers que fica a alguns


quilômetros de distância da casa dos meus
pais.

Esse trailer é a única coisa que eu

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adquiri sem depender do dinheiro do meu


pai, e o único lugar onde eu me sinto em
casa. É aqui que eu fico quando venho para
Claremont. Não uso mais o meu quarto na

mansão dos Prescott. Duvido que eu seja


bem-vindo por lá.

No instante em que abro a porta do


trailer, o cheiro de ambiente fechado me
encontra. Por mais que eu tente manter a

limpeza desse lugar regularmente, não fico


por aqui por tempo suficiente para que ele
cheire como um verdadeiro doce lar
cheiraria. Vou direto para o quarto, pois não
tenho muito tempo para cerimônias.
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Faço uma caçada desenfreada pelas

gavetas dos poucos móveis ao lado da cama


e, ao finalmente encontrar o envelope pardo,
puxo a carta de dentro dele. Respiro fundo,

relendo as linhas mal escritas que já li tantas


outras vezes. Uma certa emoção e uma
pitada de pavor me invadem.

Preciso fazer isso. Eu tenho que fazer


isso.

Com esse pensamento em mente, enfio


a carta no meu bolso e tranco o trailer antes
de voltar para o carro. Dirijo por pelo menos
trinta minutos antes de estacionar em frente

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à grande biblioteca do centro da cidade. É


ali onde, muito provavelmente, eu
encontrarei o ponto de partida para a solução
de um dos meus maiores problemas.

Olhando no relógio em meu pulso,


percebo que já se passaram alguns minutos
das nove da noite. A Biblioteca está com a
porta da frente fechada, e somente uma
única luz no que me parece ser a ala dos

fundos, se mantém acesa.

Precisando de algo para abrandar o caos


que se transformaram meus nervos, corro a
mão pelo meu porta-luvas até o momento em

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que meus dedos tateiam um cigarro velho


dentro dele. Faz tempo desde que fumei pela
última vez, mas agora eu preciso um pouco
disso ou acho que vou enlouquecer.

Encontrando um isqueiro ali perto, o


apanho e em seguida saio do carro. Com os
olhos ainda vidrados na Biblioteca, acendo o
cigarro e dou um trago, sentindo a nicotina
trabalhar em meu sistema. Não é bom. Muito

pelo contrário, isso é uma merda e


provavelmente vai ferrar com os meus
pulmões mais tarde, mas é isso o que eu sou.
O sujo e errado. O idiota imprudente que só
sabe envergonhar a família.
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O mesmo idiota imprudente que está

considerando invadir uma biblioteca para


poder dar início ao seu plano.

— Merda! — praguejo, começando a me

sentir patético e frustrado. — Merda, merda,


merda! — Chuto o pneu do carro várias
vezes. Passo as mãos pelo meu cabelo,
lutando contra a sensação horrível desse
colarinho sufocando ao redor do meu

pescoço. Libero os primeiros botões da


camisa e aproveito o momento para
arregaçar as mangas.

Isso é loucura. Uma grande loucura,

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devo ressaltar. Eu não vou invadir uma


biblioteca, apenas para pegar algo de lá.
Precisa haver um método mais fácil.

Estou prestes a assumir minha

desistência e me preparar para dar o fora,


contudo paro ao ver a luz de dentro do local
se apagar. Uma movimentação na porta dos
fundos chama minha atenção, então eu vejo,
logo em seguida, uma moça morena e alta

passar pela porta antes de fechá-la. Está


escuro e eu não pude me cientificar disto
antes, mas só agora percebo que a mulher
está acompanhada de uma garota.

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Após a morena dizer algo, ela acena em

despedida e caminha em direção ao


estacionamento. No instante seguinte eu
posso ver mais detalhadamente quando a

outra menina caminha sozinha na direção


oposta, mais precisamente para onde estou
parado agora.

Roslyn Brooks.

Eu não sei o que diabos ela está

fazendo aqui, muito menos em um horário


como esse, mas eu posso dizer que se existe
um Deus lá em cima, foi Ele quem colocou
essa menina no meu caminho agora.

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Ela parece também ter se dado conta da

minha presença, pois para no mesmo


instante em que sua cabeça se ergue e o seu
olhar se choca com o meu.

Eu daria meu dedo mindinho para


descobrir o que ela está pensando agora, ao
me ver por aqui. Procuro não deixar a minha
mente girar em torno disso e opto por fazer
algo que eu sei que não deveria: atiro o

cigarro no chão, apago com a ponta do meu


sapato e caminho em direção a ela.

10: Tiffany & Co. é uma luxuosa empresa norte-


americana do ramo de comércio de joias.

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A primeira coisa na qual eu foco no

instante em que meu olhar pousa em sua alta


estrutura é que Evan Prescott não está
usando óculos, como da última vez. No

entanto, a vestimenta social deixa explícita a


perspectiva de que hoje ele decidiu adotar a
versão “nerd gostoso e endinheirado”.
Apenas superficialmente, claro, afinal ele
parece um nerd gostoso e completamente
desgrenhado. Ele tem uma mancha enorme

do que imagino ser vinho na sua camisa


branca. Os botões do topo estão fora de suas
casas e as mangas estão enroladas, de modo
que eu admito ficar um pouquinho

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hipnotizada com os desenhos curiosos em

seus antebraços expostos.

— Oi — apesar de ele ter tido a


iniciativa de caminhar até mim, eu sou a

primeira a tomar uma atitude, vendo-o


colocar as mãos nos bolsos de sua calça,
aparentemente nervoso.

— E aí — responde, encolhendo os
ombros como se estivesse com frio. Ele

acabou de jogar um cigarro ainda aceso no


chão, o que me surpreendeu. Evan tem esse
ar meio bad boy arruaceiro, mas não
imaginei que fumasse. — Você estava

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estudando na biblioteca até essa hora ou


algo assim?

— Oh, não. Eu trabalho ali — percebo a


forma como o que eu disse soou, portanto

pauso, corrigindo-me: — Trabalho


voluntário, na verdade. Não é como se eu
tivesse um emprego decente fora dos verões.

Ele parece surpreso com a minha


declaração.

— Você... trabalha lá? — questiona. —


Tipo... você tem acesso aos computadores e
tudo mais?

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Franzo a testa, me perguntando se ele

não tinha algo mais relevante para saber a


meu respeito. Como, por exemplo, se eu
tenho um namorado. Eu gostaria de dizer-lhe

que não tenho um.

— É, eu trabalho — afirmo. — Já sei o


que você deve estar pensando: “não havia
nada de mais interessante para essa garota
fazer, do que trabalhar de graça em uma

biblioteca velha e empoeirada?”

Ele sorri diante do que acabei de dizer,


e eu demoro-me por alguns segundos,
tentando colocar meus pensamentos em

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ordem. Noto que é a primeira vez que Evan


Prescott sorri para mim. Também percebo
que as malditas borboletas voltaram a bater
suas asas imaginárias em meu estômago

estúpido.

— Eu acho impressionante, na verdade,


o fato de você ter decidido se conectar com
a arte, sem haver um interesse financeiro
envolvido — isso faz com que algo se

aqueça dentro do meu peito. — É impressão


minha ou você já estava de saída?

— Sim. Nós fechamos às nove.

— Legal — ele diz, tirando a mão do

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bolso e passando a massagear a nuca. —


Então... você já jantou?

Arregalo meus olhos, sendo pega de


surpresa. Ele se adianta em esclarecer:

— Eu só quero conversar. A gente pode


parar em algum lugar — volta a sorrir. —
Prometo que vai ser por minha conta.

Eu simplesmente balanço a cabeça em

concordância, porque, caramba, se ele


estivesse pedindo os meus rins para vender
no mercado negro, enquanto sorri desse jeito
para mim, eu não acho que seria capaz de
negar isso também.

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— Tem uma lanchonete aqui perto —

falo. — Não sei se você vai gostar de lá,


mas a gente pode dar uma passada para
comer algo.

— Por mim tudo bem — diz, fazendo


menção de abrir a porta do seu carro
vermelho, contudo eu o paro.

— Escuta, é bem perto, na verdade —


começo, torcendo para que ele não negue e

eu tenha que passar pela situação


constrangedora de dizer que adquiri o medo
de andar de carro. — A gente pode ir a pé?

Ele me analisa, como se estivesse

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tentando ler meus reais motivos nas


entrelinhas, contudo, para meu alívio,
simplesmente acena.

— Ok.

Durante todo o tempo em que passamos


percorrendo nosso trajeto, eu aproveito para
observá-lo discretamente. Me sinto como
u m a stalker obcecada, mas é praticamente
impossível ignorar a faísca de curiosidade, e

até mesmo admiração, ao observar o modo


como ele anda, como seus músculos se
flexionam sempre que ele coloca as mãos
nos bolsos da calça, ou como o seu cabelo

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fica bonito sob a luz da lua. Evan é loiro,


mas não um loiro como o meu, apagado e
pálido. Ele tem bronzeado na pele, e seu
cabelo é muito mais escuro também — do

tipo que dá para contrastar perfeitamente


com seus olhos incrivelmente claros. Ele não
é o tipo de cara que eu chamaria de comum,
mas também está longe de ser considerado o
cara perfeito. Noto que ele tem uma cicatriz
comprida na têmpora, o que me faz

questionar quantas merdas ele andou


fazendo no seu passado para adquiri-la. Ele
possui algumas sardas abaixo dos olhos
também, além de, aparentemente, ter a

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mania de morder o interior da bochecha

quando está distraído. Tudo isso é algo que


me deixa impressionada e curiosa ao mesmo
tempo. Eu não sei se gosto disso, no entanto.

Ao chegarmos na lanchonete, Evan abre


a porta e a mantém aberta para que eu possa
entrar. Ele me segue um instante depois e,
automaticamente, os olhares alheios vêm em
nossa direção, o que me deixa um pouco

desconfortável. Passei a não lidar muito bem


com a atenção, do modo como eu lidava
antes. Ele, pelo visto, parece já estar
acostumado com isso, pois não dá a mínima
enquanto analisa os possíveis lugares vazios
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por ali.

Evan põe uma mão nas minhas costas e


aponta com o queixo em direção a uma
cabine vazia. Sigo até o local e deslizo em

um dos bancos com acolchoado vermelho.


Ele se acomoda no banco diante do meu.

Ele pega um dos cardápios sobre a mesa


e começa a analisar as opções.

— Bem, você vai ter que me ajudar com


isso — fala. — Eu não faço ideia do que
pedir. Me indique o melhor hambúrguer
deste lugar.

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Eu mantenho-me imóvel por um

pequeno instante, tentando desviar a minha


mente da ideia de como isso parece um
encontro. Quer dizer, ele não me convidou

para sair exatamente, e nós estamos aqui


como dois amigos que se encontram, do
nada, na rua. Mas então eu recordo-me que
nem meu amigo ele é, e minha cabeça
começa a girar novamente. Puta merda.

— Hum... bem — limpo a garganta. —


Eu gosto muito do X-Burger com bacon
duplo e molho especial. Espero que você
tenha sal de frutas em casa. O efeito
colateral nem sempre é agradável.
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Ele dá uma risada e estende a mão,

chamando a atenção de um dos funcionários.

— Certo, eu vou arriscar.

Quando Nataly, a garçonete, vem nos


atender, Evan pede seu hambúrguer e uma
Coca enquanto eu só peço “o de sempre”.
Nataly já me conhece das outras vezes em
que vim aqui, então não preciso detalhar
sobre meu pedido.

Depois que a garçonete se afasta para


buscar nossos pedidos, ele põe os braços em
cima da mesa e passa a me analisar em
silêncio.

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Limpo a garganta, tentando quebrar o

clima estranho que se instalou entre nós.


Não sei o que ele está pensando sobre mim,
mas isso está me deixando inquieta pra

caramba.

— Então... Rose, certo?

Faço que sim com um aceno de cabeça.


Ele abre um pequeno sorriso.

— Esse apelido combina com você.

Me remexo sobre o banco macio,


procurando não aparentar tão afetada por ele
ter feito um simples comentário.

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— Bem, aparentemente, o meu pai

pensou isso também — digo. — Foi ele


quem começou a me chamar de Rose desde
que eu era um bebê.

Seu sorriso morre imediatamente.

— Você e seu pai possuem uma boa


relação?

Dou de ombros.

— Ele mora na Flórida com a esposa


atual e seus dois filhos mais novos — digo.
— Eu, sinceramente, não sei se a nossa
relação pode ser considerada boa, uma vez

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que nos falamos a cada três meses em uma


chamada de vinte minutos no Skype.

— Uau — ele solta a respiração. — Eu


gostaria que o meu pai estivesse bem longe

daqui também. Às vezes a vida é uma merda,


não é?

Aceno em concordância, sem ter certeza


do que lhe dizer. Pensei que ele tivesse uma
relação considerada boa com o pai, afinal ele

é Evan Prescott, o prodígio.

A nossa conversa morre no instante em


que Nataly retorna com os nossos pedidos.
Depois que estamos a sós novamente, Evan

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franze a testa para mim ao perceber que ela


só colocou um copo de suco de laranja na
minha frente.

— Você sempre pede suco de laranja?

— Sim — confirmo, sugando um pouco


da bebida pelo canudo. — É delicioso. Você
deveria experimentar.

O vinco na sua testa permanece.

— Você não está com fome?

Dou de ombros. Eu estou morrendo de


fome, mas ele não precisa saber disso.

— Comi alguma coisa na biblioteca.


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Ele parece perceber minha mentira, pois

estreita os olhos.

— Você tem certeza? — questiona. —


Porque não parece como se estivesse soando

sincera.

Suspiro. Por que ele está insistindo


tanto assim sobre a minha alimentação,
afinal? Não é como se eu fosse uma garota
desnutrida.

— Tá legal, eu engordei quase dez


quilos desde o ano passado — decido abrir o
jogo, torcendo para que ele esqueça esse
assunto de uma vez por todas. — Estou

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tentando perder peso, ok?

Ele me avalia de cima a baixo, o que só


permite que seus olhos alcancem o topo da
minha barriga, uma vez que estou sentada.

Isso me deixa um pouco mais nervosa.

— Você devia ser bem magra —


comenta. — Não que isso deva se tornar uma
preocupação a ponto de privá-la de comer o
que gosta, mas você não se parece como

alguém que tem dez quilos além do peso


ideal.

Sim, eu era supermagra e não me


importava com isso. Ao menos eu achava

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que não me importava. Ter Evan — ou


melhor, alguém — me dizendo que eu pareço
bem, e que estar acima do peso não é o fim
do mundo, é um pouco reconfortante.

— Foi assim que você se tornou tão


popular com as garotas da sua universidade?
— provoco. — Elogiando-as?

Ele balança a cabeça, tomando um gole


do seu refrigerante.

— Eu não dou falsos elogios, Rose.

Eu tento ignorar o formigamento que


me acomete ao escutar isso. No entanto,

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minha mente passa a focar em outra coisa


quando percebo que ele está empurrando seu
hambúrguer em minha direção.

— Vamos, agora coma. Não quero que

você passe mal enquanto conversamos — ele


se inclina para frente e sussurra, com um
sorriso divertido: — As pessoas podem
pensar que eu tentei te dopar ou algo assim.
Isso vai ser um pouco constrangedor.

Não posso conter a risadinha que escapa


após sua declaração.

— Mas é o seu sanduíche.

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Ele dá de ombros, como se isso não

fosse grande coisa.

— Depois eu peço alguma coisa pra


viagem. Não se preocupe.

Ainda relutante, eu aceito o


hambúrguer, dando uma mordida no instante
em que Evan arqueia uma sobrancelha, como
uma mãe prestes a repreender o filho por não
comer toda a comida.

Ele abre um sorriso satisfeito.

— Bom?

Eu faço que sim com a cabeça, ainda

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apreciando a sensação do contato do bacon

com minhas papilas gustativas.

— Eu já havia me esquecido do quão


delicioso isso é. — Após terminar de

engolir, eu ponho o hambúrguer de volta no


prato e limpo meus lábios com um
guardanapo, então pergunto: — O que você
está fazendo em Claremont?

— Jantar em família — ele responde,

parecendo chateado ao se lembrar disso. —


O que foi um grande fiasco, diga-se de
passagem.

— É por isso que você tem essa mancha

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enorme na sua camisa? — questiono. — Eu


não acho que vá poder usá-la novamente um
dia.

Ele bufa desdenhosamente.

— Estou torcendo por isso.

Não é preciso ser muito inteligente para


saber que ele não está feliz em relação à
situação, como um todo. O que me faz

concluir que ele, muito provavelmente, não


esteja satisfeito com o rumo que sua vida
está tomando. Mas se ele tem tanta aversão a
tal personalidade, por que a adota?

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— Como você veio parar aqui? —

interpelo, em vez de fazer o que tanto quero,


que é tentar escavar um pouco mais a
respeito de toda a situação complicada com

a sua família. — Quero dizer, está um pouco


tarde para você ter decidido visitar a
biblioteca, não é?

— Eu não estava seguindo você como


um perseguidor lunático, se é isso o que lhe

preocupa — ele brinca. Não me passa


despercebido o fato de que ele não me
respondeu o real motivo de ter estado ali. —
Escuta... você consegue ter acesso a todo o
sistema da biblioteca mesmo?
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— Sim... eu acho — respondo, não

sabendo ao certo aonde ele quer chegar. —


Mas por que isso te interessa tanto?

Ele desvia o olhar por um pequeno

instante, tomando uma longa respiração,


então me fita.

— Eu preciso de você.

Meus olhos se arregalam

imediatamente. Ele parece perceber meu


choque, apressando-se em consertar o que
disse:

— Quero dizer... eu preciso da sua

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ajuda.

Recosto-me contra o espaldar do meu


assento e cruzo os braços sobre o peito.

— Eu não faço furtos, nem cometo


assassinatos — digo. — Ah, e eu também
não me envolvo com tráfico. Se você estiver
planejando me usar como uma dessas garotas
que viajam com drogas em seus estômagos é
melhor ficar sabendo que o meu sistema

digestivo é fraco e eu não trabalho bem sob


pressão. Seria uma péssima cúmplice.

Inicialmente ele não reage, observando-


me com uma expressão séria. Em seguida,

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sua testa se encrespa e ele finalmente ri,


como se eu precisasse ser estudada.

— Bem, inferno, você acabou com todo


o esquema criminoso que eu estava

planejando — diz. — Mas obrigado por


avisar.

Não consigo deixar de sorrir de volta ao


perceber que ele está sendo irônico.

— Então... você só precisava da minha


ajuda para cometer alguns crimes mesmo, ou
eu posso ser útil em mais alguma coisa? —
indago, também entrando no seu jogo.

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A aura divertida na qual estávamos

imergidos momentos atrás se dissipa em


questão de segundos. Sua expressão se torna
séria. Percebo que seja lá o que ele tem para

me dizer, não é brincadeira.

— Eu preciso da sua ajuda para


encontrar alguém, Rose.

— Alguém? — repito.

— Sim — diz. — Uma garota.

Oh, mas é claro que tinha que ser uma


garota. O que diabos eu estava pensando
quando considerei dizer a ele que não tinha

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um namorado?

— Certo — falo. — E onde o meu


limitado conhecimento com livros
empoeirados o ajudaria?

— Você é voluntária e tem acesso ao


sistema da biblioteca — ele responde. — Ao
menos na parte dos cadastros dos visitantes,
eu imagino que tenha. O máximo que eu sei
é que essa garota tem uma ficha que foi

criada há algum tempo. Imagino que ela não


frequente mais a biblioteca atualmente, mas
sei que a maioria dos cadastros possuem o
telefone e endereço dos frequentadores. Eu

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preciso que você me ajude a encontrar o


endereço dela.

Eu pauso, ainda tentando digerir tudo o


que ele me disse.

— Uau. Realmente estou surpresa agora


— digo. — Eu consigo ter acesso aos
cadastros, mas... não sei.

— Não sabe? — ele fala. — Não sabe

do tipo “estou em dúvida” ou não sabe do


tipo “definitivamente não estou a fim de
ajudar você?

— Não sei do tipo “eu simplesmente

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não sei qual resposta dar”.

Ele suspira.

— Vamos lá, Rose. Não acho que isso

vá prejudicá-la tanto assim, não é? Não é


como se eu estivesse pedindo para roubar
algo de alguém. É só um endereço.

— Sim, eu sei, mas é que a Daisy, a


bibliotecária responsável, confia muito em

mim, e eu jamais faria algo para quebrar


essa confiança. — Tento afirmar para mim
mesma que esse é o real motivo de eu estar
negando-lhe ajuda. Vergonhosamente, algo
grita bem no meu interior de que é um gesto

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mesquinho eu não querer que ele finalmente


encontre essa garota, seja ela quem for. O
que é uma coisa idiota como o inferno.

Eu não sou assim. O que diabos estou

fazendo?

Antes mesmo que eu abra a boca para


dizer-lhe que estou de acordo com o seu
pedido, ele enfia a mão no suporte repleto de
pequenos sachês de açúcar e espalha cinco

deles sobre a mesa.

Ainda estou com a testa encrespada,


tentando entender o que tudo isso significa,
quando ele fala:

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— Em uma escala de sachês de açúcar,

quão disposta você estaria a me ajudar?

Eu sinto o vinco da minha testa se


intensificar.

— Escala de sachês de açúcar? —


questiono, incrédula. — Isso sequer existe?

— Existe agora — diz. — Vamos lá, me


diga.

Eu mordo o lábio inferior enquanto


penso sobre a situação em questão, então eu
pouso a mão sobre três dos saquinhos na
mesa e empurro em sua direção. Paro um

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segundo após, analisando um pouco mais,


com os olhos estreitos, então finalmente
abro um último sachê, não me importando
em despejar metade dentro do meu copo de

suco e empurrar a outra metade para ele


também.

— Três e meio de cinco — ele diz. — É


um bom número. Você sabe que isso pode
ser considerado como um sim, certo?

Eu não respondo imediatamente. Em


vez disso, pergunto:

— Ela é tão importante assim?

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Seu olhar desliza para baixo, como se

ele estivesse com receio de me olhar nos


olhos e me permitir ver muito.

— Considerando a situação atual, ela

seria muito importante.

— Certo — digo, mesmo não sabendo o


que ele quis dizer com “situação atual”. —
Eu ajudo você.

Ele me encara, como se não estivesse


acreditando no que acabei de dizer. Em
seguida, arqueia uma sobrancelha.

— E você não vai pedir nada em troca?

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— Eu não quero o seu dinheiro.

Ele abre um sorriso.

— Não imaginei que quisesse — fala.

— Me diga algo que você deseja muito no


momento — seu sorriso se torna maroto. —
Nada que envolva tráfico, homicídio ou
furto. Fora isso, estou disposto a retribuir.

Eu estreito os olhos, minha mente

vagando nas inúmeras possibilidades do que


eu possa escolher para pedir a ele.
Sinceramente, eu não estou fazendo isso por
querer algo em troca, mas quando paro para
pensar no que eu gostaria de resolver na

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minha vida, sinto como se eu pudesse lhe


pedir diversas coisas, mas nenhuma delas
possui valor material.

— Eu gostaria de me reaproximar de

mim mesma.

Seu silêncio breve deixa claro o fato de


que talvez ele não tenha entendido porcaria
nenhuma do que eu disse.

Balanço a cabeça.

— Esquece isso. É só uma frase idiota


que eu vi e...

— Quando se está afastado de si

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mesmo, a tortura é muito mais pungente e

silenciosa — ele fala. — É essa a frase a que


se refere?

— S...sim — respondo, embasbacada.

— Você conhece Lótus Noturna?

Ele dá de ombros.

— Já ouvi falar. — Eu me pergunto se


era a única pessoa que ainda não conhecia

esse ou essa tal de Lótus.

Meu olhar desvia do seu rosto por um


instante e, por coincidência, deparo-me com
a tatuagem de lótus no interior de seu pulso.

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Fico ainda mais impressionada.

— Pelo visto você é um fã, não é?

Ele olha para a mesma tatuagem a qual

me refiro e em seguida dá de ombros,


puxando a manga da camisa para baixo,
escondendo-a.

— Tenho dezoito tatuagens espalhadas


pelo corpo. Não leve isso tão a sério assim.

— Logo ele está mudando de assunto: —


Então, sobre a frase... você estava falando
sério quando disse aquilo?

Eu encolho os ombros.

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— A minha psicóloga disse que eu

preciso encontrar meios de me sentir viva


novamente — solto, percebendo que talvez
cometi um erro. As pessoas se sentem

desconfortáveis diante de situações onde


“psicólogo” ou “drama”, estejam envolvidos.
Eu nunca comentei isso com ninguém, por
que estou falando para um estranho? Mesmo
assim, esse pensamento não me para. —
Então houve essa frase, e eu passei um bom

tempo pensando sobre ela. Acho que é isso o


que falta em mim: me reconectar comigo
mesma. Me encontrar, de algum modo, e
começar a juntar os cacos que deixei

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espalhar pelo caminho enquanto a vida me

fragmentava.

Ele me analisa por um instante,


aparentemente refletindo em cima do que

acabei de revelar. Imagino que ele vá me


questionar sobre o que realmente deu início
a todo esse drama na minha vida, mas em
vez disso, pergunta:

— E você já sabe o que fazer para

alcançar tal objetivo?

Abro um sorriso triste.

— Ainda estou tentando descobrir.

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Evan fica em silêncio. Talvez ele esteja

se questionando se também sou louca, ou só


uma garota carente. No entanto, ele me
surpreende quando despeja todo o restante

dos saquinhos de açúcar sobre a mesa e se


inclina para a frente.

— O que você está fazendo? —


pergunto, genuinamente atordoada diante de
sua atitude.

— Isso sou eu dizendo a você que estou


dentro, Rose. — Ele empurra todos os
saquinhos para mim, lançando-me um
sorriso cúmplice. Um pouco de açúcar

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mancha a ponta do seu dedo, então observo a


bola de prata do seu piercing lingual brilhar
quando ele põe a língua para fora e lambe o
pozinho branco, deixando-me a um passo da

hipnose. — Eu acho que nós somos uma


dupla agora.

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— Que saco! Eu não aguento mais ser

torturada... — Tate resmunga


dramaticamente, arrastando sua mochila pelo
corredor lotado da escola.

Puxo meus fones de ouvido para baixo,


desviando dos alunos apressados que passam
por mim, e redireciono minha total atenção a
ela. É início de Primavera, o que significa
que teremos só mais uma semana de aula

antes do recesso escolar. O colégio costuma


ficar muito mais agitado nessas épocas, o
que é um incômodo extremo para mim, que
não sou muito fã de aglomerações.

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— Vamos lá, só falta uma semana para

as férias de Primavera — tento encorajá-la.


— Você não pode se segurar só mais um
pouco antes de surtar de vez?

Tate curva os ombros e geme.

— Você não tem noção do quão


torturantes são as férias para mim, Rose —
diz. — Estou torcendo para poder ir visitar
minha tia Maggie. Não quero ter que ficar

em casa. Meus pais são um saco sempre que


resolvem me obrigar a fazer o que eu não
quero.

Fico sentida por Tate. Apesar do seu

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jeito aparentemente rebelde e livre, tenho


certeza de que ela não é o tipo de garota que
faz o que quer, quando quer. Não que
tenhamos que passar dos limites em relação

a isso, mas todos nós precisamos de um


pouco de livre arbítrio, sendo dependentes
dos pais ou não.

— Talvez não seja tão ruim assim —


tento apaziguar. — Seus pais se preocupam

com você. Isso é o mais importante, não é?

— Eles se preocupam em me fazer


seguir suas ordens tiranas — corrige, pondo
as alças da mochila pesada em seus ombros.

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— E você fala isso porque sua mãe vai ficar


fora durante toda a semana de férias. Terá
todo o tempo livre para fazer o que quiser.

Fico tentada a corrigi-la e dizer que a

minha mãe vai ficar fora por, pelo menos,


dois meses, e que isso não é nada legal.
Depois que começou a trabalhar para Jared,
minha mãe tem tido uma rotina profissional
puxada, mas nada que tenha excedido duas

semanas fora de casa. Achei meio estranho


ela passar tanto tempo fora agora, mas ela
me disse que Jared tem um trabalho
extremamente importante na Austrália, e
como será em outro país, eis a explicação
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para tanta demora. Claro que ela não se


esqueceu de me deixar uma lista de
recomendações; entre elas, não me esquecer
de ir à minha terapeuta nas quintas. Ótimo.

— Aimeudeus! — Tenho um sobressalto


ao ouvir o grito estridente vindo do final do
corredor.

Guio meu olhar para a direção de onde


veio o barulho e me deparo com Annie

atenta em algo do outro lado do pátio.

— O que está acontecendo com ela? —


questiona Tate, tão confusa quanto eu.

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Dou de ombros, nem um pouco

interessada em saber o que realmente


ocorreu para desencadear no show dramático
de Annelise Carmichael. Vamos combinar

que não é preciso muito para que ela se sinta


tentada a chamar atenção.

— Ele está aqui! — Annie diz, passando


a mão sobre os fios escuros de seu cabelo
liso. — Ele. Está. Aqui!

— Quem está aqui? — Lysa, parada ao


seu lado, questiona.

A outra rola os olhos, como se a


resposta fosse óbvia.

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— Evan Prescott!

O quê?!

Mal tenho tempo de registrar a situação,

quando Tate agarra meu braço e me puxa


com ela, parando apenas ao alcançarmos o
pátio. No mesmo instante, meus olhos focam
na imagem belamente esculpida de Evan
diante de seu lustroso Camaro vermelho no
estacionamento. Um pequeno movimento ao

seu lado e eu percebo que Maven está com


ele.

— Oh, cara — Tate diz. — Olhe só para


eles.

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— Será que dá pra você tentar

disfarçar? — digo. — Tem um pouco de


baba escorrendo pelo seu queixo.

Tate revira os olhos diante da minha

provocação e retorna a olhar para os caras.


Ambos já se desencostaram do carro e agora
caminham em nossa direção.

Oh. Meu...

Escuto Annie resmungar algo sobre seu


cabelo, mas tudo parece bem distante, pois
meus olhos estão vidrados nele e, caramba,
eu não me canso de dizer o quão bonito ele é
sob a luz do dia. Sinto minhas mãos

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começarem a suar, e começo a me questionar


se o meu cabelo está bom. Não que isso
devesse ter alguma importância, mas eu
quero ao menos estar apresentável.

Evan e Maven permanecem em sua


missão de cortar a distância entre nós, sem
desviar a atenção — nem mesmo quando
passam por Annie e Lysa, que ficam no
vácuo — e param bem na nossa frente.

E como se isso não fosse o bastante,


Evan sorri.

Não, ele sorri para mim.

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Isso mesmo, Evan Prescott está sorrindo

para mim.

Puta merda.

— Ei — o loiro é o primeiro a nos


cumprimentar.

— Oi! — Tate acena. Ela parece não


estar acreditando que ambos pararam para
falar justamente conosco. — Eu sou Tate.

Maven cruza os braços e dá,


descaradamente, uma checada na minha
amiga, parecendo estar averiguando quão
boa ela aparentaria esparramada no banco

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traseiro de algum carro.

— Eu sou Maven. — Sua voz é cheia de


presunção. Me seguro para não rolar os
olhos. — Maven Carmichael.

— Eu sei quem você é — Tate rebate.

— Você sabe? — ele parece um pouco


surpreso.

Ouço um raspar de garganta e percebo

que foi Evan quem o fez. Ele dá mais um


passo à frente, cortando a interação de
ambos.

— Então — Evan diz. — Vocês já

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estavam de saída, certo?

— Sim! — Tate responde por mim. — O


que fazem aqui?

Maven sorri e se adianta:

— Evan disse que nós tínhamos algo


para fazer aqui, então viemos para... ei! —
ele salta para o lado e encara seu amigo,
massageando sua lateral. — Cara, isso doeu!

Evan lhe lança um olhar de advertência.

— Eu tinha algo para fazer aqui — ele


diz. — Maven só recebeu uma carona.

— Mas, ei, cara, eu pensei que a gente


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tivesse...

— Somente uma carona, Mave — Evan


insiste, cortante.

O outro balança a cabeça, fazendo uma


careta, mas finalmente concorda.

— Certo. Uma carona. Nós não vamos


voltar juntos.

Evan se vira para mim, o sorriso

retornando.

— Você está pronta para vir comigo,


Rose?

Eu mordo o lábio e aquiesço. Ele


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estende a mão e percebo que está pedindo

minha mochila. Antes mesmo que eu negue,


ele puxa a alça da minha mão e coloca em
um de seus ombros.

É um contraste interessante ter alguém


como ele, todo carregado em jeans e preto,
sustentando minha mochila rosa.

Sou obrigada a desviar a atenção ao


perceber que Maven trocou de posição, e

agora está ainda mais perto de Tate. Ele


coloca as mãos nos bolsos de sua calça e
olha fixamente para ela.

— Cabelo legal.

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— Obrigada. — Ela sorri toda boba,

tocando em suas mechas coloridas. — Você


tem músculos legais.

Maven passa a analisar seus braços,

apreciando o elogio.

— Você realmente acha? — ele estica


os braços ainda mais para baixo, flexionando
os músculos propositalmente. — Eu jogo
basquete e faço academia com frequência.

Você gostaria de tocar neles?

Qualquer outra garota coraria com o


tipo de comentário cheio de segundas
intenções que Maven acabou de soltar, mas

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Tate muda completamente a expressão,


levantando uma sobrancelha.

— Sem ofensas, mas eu prefiro


jogadores de futebol americano — ela sorri.

— No entanto, se isso o faz se sentir melhor,


você ainda é bem quente. A gente se vê por
aí.

Maven franze o cenho.

— Você não vai nem mesmo pedir o


meu telefone?

— Não, obrigada — diz. — Nos


falamos depois, Rose.

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Então ela acena, se vira e sai.

Oh. Uau. Essa garota me surpreende a


cada dia.

Segundos se passam e Maven ainda está


aparentemente incrédulo, encarando o
caminho por onde Tate desapareceu.

— Você viu isso? — ele diz para Evan,


com uma expressão ofendida. — Ela nem

sequer quis o meu número.

Evan bufa, impaciente.

— Se eu fosse uma garota e tivesse que


aturar você se oferecendo para que eu toque

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em seus músculos, não iria desejar ter o seu

número também — ele diz. — Por que você


não acompanha a sua irmã e deixa a garota
em paz? Eu e Rose estamos indo.

Só tenho tempo de dar uma última


olhada na direção de Maven antes que a mão
de Evan segure a minha e ele me puxe, rumo
ao estacionamento. Durante todo o trajeto
fico tensa, sendo capaz de sentir os olhares

em minha direção, inclusive o de Annie e


Lysa, que tenho certeza que me fuzilariam
nesse mesmo instante, caso tivessem a
oportunidade.

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— Elas são umas idiotas — a voz de

Evan chama minha atenção. — Apenas não


encare de volta.

Pestanejo, atordoada.

— O que disse?

— Eu disse para não encarar de volta —


repete. — Não permita que a amedrontem,
Rose. Você é melhor que isso.

— Ok — digo, apertando mais


firmemente sua mão quente e sentindo-me
um pouco mais protegida.

Finalizamos o caminho até o

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estacionamento e, quando paramos diante do

seu carro, ele se afasta de mim para abrir a


porta do veículo e começa a mexer em algo
lá dentro.

— Não imaginei que você fosse


aparecer por aqui hoje — comento. — Nós
combinamos de nos encontrar na biblioteca
na sexta, certo?

Ele sai do carro e bate a porta.

— Sim, claro, mas já que vou ajudá-la a


partir de agora, achei que poderíamos
começar a organizar algumas coisas hoje.
Você tem algo para fazer depois da escola?

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Eu nego com um aceno.

— Você topa ir comigo então?

Aceno outra vez, só que positivamente.

Ele sorri.

— Ótimo. Você vai de carro comigo?

Eu hesito, e ele logo se adianta a me


tranquilizar:

— Não tem problema se você não


estiver pronta para isso. Eu trouxe uma
bicicleta.

Fico impressionada com o fato de que,

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em apenas três vezes em que nos vimos, ele

percebeu que eu tenho problemas com


carros, e decidiu ser bom para mim.

— Você vai mesmo de bicicleta

comigo?

Ele dá de ombros.

— Por que não? Já faz um tempo que


não pedalo, mas vai ser bom para espairecer.

Nada melhor que admirar a natureza em seu


mais puro estado para enriquecer a mente.

Eu sorrio.

— Certo — fico feliz por ele não me

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pressionar a contar sobre o porquê de eu

insistir em não andar de carro. Ele abre seu


do porta-malas, tira sua bicicleta de dentro
dele e a coloca no chão. Em seguida, fecha

seu carro e seu sorriso se amplia.

— Preparada?

Desço da bicicleta e puxo minha


mochila de dentro da cestinha da frente,
respirando o ar puro do local onde me

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encontro. Estamos em uma espécie de


campo, para o qual Evan quem me guiou
desde o início. Eu nunca havia vindo aqui
antes, mas agradeço internamente por ele ter

me trazido, afinal os pequenos jardins


florescendo ao redor, o ar fresco e as árvores
bem podadas transmitem uma sensação que
há tempos eu não sentia.

— Adoro o início da Primavera —

confesso, apreciando um conjunto de


crianças brincando ao longe. Mais à frente,
casais e grupos de amigos estão sentados,
fazendo piquenique ou apenas apreciando a
paisagem.
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— Você sabia que a Primavera

simboliza o início de um ciclo de


prosperidade? — Evan questiona, fazendo-
me virar o rosto em sua direção.

— Isso é sério?

Ele anui.

— Dizem que essa estação, em especial,


é ligada à fase de renascimento.

Metaforicamente falando, é a melhor época


para lançar as sementes de boas energias em
um solo próspero e começar a plantar uma
vida totalmente nova.

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Pauso em meu lugar, apreciando o calor

brando do sol, e aproveito para pensar no


que ele acabou de me dizer. Tempo de
florescer, de renascer e plantar boas

vibrações. Talvez seja disso o que eu esteja


precisando, certo?

Não digo nada de volta, mas deixo


escapar um sorriso. Momentos depois, nós
deixamos nossas bicicletas próximas e

caminhamos para debaixo de uma das


imensas árvores e nos sentamos na grama
fresca.

Evan se recosta contra o tronco

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enquanto eu me ponho sentada em posição


de yoga, de frente para ele.

— Posso fazer uma pergunta? —


questiono.

Evan anui, começando a brincar


distraidamente com uma das flores plantadas
bem próximas à arvore.

— Você conhece o trabalho de Lótus,

certo?

Ele para o que está fazendo e olha


diretamente para mim.

— A-ham.

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— E o que você acha sobre o lance das

flores? — interrogo. — Tipo... você acabou


de me dizer sobre a Primavera poder
significar uma nova vida, mas eu sempre

achei que essa relação que Lótus possui com


as flores pudesse estar relacionada ao luto.

Ele permanece em silêncio por algum


tempo, parecendo ponderar sobre a minha
analogia.

— E se eu dissesse que Lótus, talvez,


esteja englobando as duas coisas? Que sua
intenção, na verdade, seja simbolizar uma
perda e conscientizar novas pessoas sobre a

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valorização da vida que possuem. A pararem


para pensar no que estão fazendo de errado e
começarem a fazer corretamente enquanto
ainda há tempo?

— Bom, eu acho que me apaixonaria —


digo com sinceridade, arrancando uma risada
dele.

— Como você pode dizer isso sobre


alguém que nem sequer conhece?

Dou de ombros.

— Não importa se eu não conheço —


falo. — Eu tenho certeza que alguém com

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essa mentalidade é especial o suficiente para


ter todo o amor que necessitar. Não importa
se Lótus for feio, bonito, careca ou peludo.
Eu vou continuar o admirando.

Evan estreita os olhos.

— E se Lótus for uma garota?

— Então eu acho que sou lésbica.

Evan solta uma gargalhada ainda mais

alta, o que me deixa um pouquinho


atordoada.

— Você é muito fofa, Rose.

Ele arranca uma das flores e se


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aproxima de mim. Sinto meu coração saltitar

quando ele alisa os meus cabelos para trás e


encaixa a flor na curva da minha orelha.

Em seguida, se afasta e me encara.

Então ele sorri, parecendo genuinamente


satisfeito com o que vê.

— Você está parecendo uma pintura


agora, sabia? — diz. — Eu poderia, até

mesmo, nomeá-la de Sunshine 11 .

Sinto minha testa se encrespar.

— Sunshine?

— Sim — diz. — Você me faz lembrar

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da luz do sol. É realmente... encantador.

Sinto um redemoinho estranho florescer


no meu estômago, ao passo que meu pescoço
e bochechas se aquecem.

Começo a puxar um fio de linha solta


da bainha da minha calça jeans, tentando
desviar a minha mente e o meu corpo das
reações extraordinárias, e limpo a garganta,
projetando imediatamente uma forma de

mudar de assunto.

— Bem... você disse que iria me ajudar


com toda a coisa a respeito das terapias, não
é? — abordo. — Então, como vamos fazer

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isso?

Evan se endireita sobre a grama e


inclina o tronco um pouco mais para a
frente, assumindo a mesma posição que a

minha.

— Estava pensando em começarmos


montando um plano de organização — ele
informa. — Você me disse que sua psicóloga
te aconselhou a encontrar meios de se sentir

viva novamente, então vamos fazer de uma


forma que torne isso interessante. Há um
bloco de notas aí com você?

Eu abro a mochila, pego o meu caderno

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de anotações e uma caneta e lhe entrego.

Evan puxa a tampa da caneta e começa


a traçar alguma coisa sobre a folha de papel.
Fico impressionada por um momento ao

reconhecer que ele é canhoto. Conheci


pouquíssimas pessoas canhotas em toda a
minha vida, e uma delas foi Brianna.

— Primeiro nós temos que destacar


pontos importantes que irão contribuir nessa

sua nova jornada — ele diz. — Eu estava


pensando em fazermos uma espécie de lista,
onde anotaremos, pelo menos, dez itens
essenciais que a façam se sentir viva

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novamente.

— Como aquelas espécies de listas do


que fazer antes de morrer? — questiono.

— Sim — ele sorri. — Mas neste caso


será a lista de o que fazer para viver.

Faço um sinal positivo de cabeça,


começando a me interessar pela coisa.

— Nós só precisamos achar um nome

legal para a minha lista, certo? — digo. —


Nada como “Lista da Rose” ou “A lista do
que fazer para viver”. Minha vida já é um
clichê ensaiado. Quero algo diferente.

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Ele prende a ponta da caneta entre os

dentes e inclina a cabeça para trás,


parecendo pensativo. Desse ângulo, suas
sardas levemente escuras ficam ainda mais

visíveis. Evan também está parecendo uma


pintura agora, e eu poderia nomeá-lo de “O
Grande Destruidor de Psicológico da Rose.”

— Que tal “A Lista do Imprescindível?”


— sugere. — Todos esses itens serão

imprescindíveis nessa sua transição para


uma nova fase. Acho que tem tudo a ver a
nomearmos assim.

— Lista do imprescindível... — repito,

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sentindo um sorriso iluminar meu rosto. —


Eu gostei!

Evan retoma sua atenção para o caderno


de anotações e escreve mais algo na folha.

— Então, me diga, qual seria o primeiro


item que gostaria de colocar na lista?

Paro e analiso a situação. Acho que essa


é uma das partes mais difíceis nessa coisa

sobre ser feliz. O que me faria feliz? Nesse


ponto, eu sempre fui bem diferente de
Brianna. Acho que a felicidade seria fazer as
coisas mais simples, coisas que eu nunca fiz,
por receio ou falta de oportunidade. Evan

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está aqui para me ajudar a superar meus


problemas, então eu preciso ser sincera com
ele, mesmo correndo o risco de ele me achar
uma boba.

— Eu quero... conhecer a praia —


despejo timidamente, voltando a puxar a
linha do meu jeans.

Sua primeira reação é unir as grossas


sobrancelhas loiro-escuras e me analisar

como se estivesse me vendo pela primeira


vez. Não é um tipo de olhar de todo ruim,
mas é algo muito próximo de perplexidade, o
que me deixa nervosa.

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Desde quando a opinião de um cara ao

meu respeito me afetou tanto?

— Você nunca foi à praia, Rose? — ele


pergunta, mais como se quisesse confirmar

que foi isso mesmo o que ouviu.

— Nunca fui — lamento.

Ele ainda parece curioso, mesmo assim


se empenha em apenas anotar.

— Ok. Vamos à praia assim que


possível — sorri marotamente. — É
inadmissível o fato de a minha pequena
Sunshine ainda não conhecer o mar.

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E lá vou eu, corando novamente com

mais um de seus comentários. Dou risada do


que ele disse, principalmente ao reconhecer
que esse é o seu modo de tornar a minha

confissão menos constrangedora.

— Segundo item — ele pede.

— Quero ter minha própria casa na


árvore.

Dessa vez, Evan não parece tão


surpreso. O sorriso que ele me lança diz
muito a respeito do que ele pensa sobre essa
escolha em questão.

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— Nunca tive uma casa na árvore

também — fala. — Isso vai ser divertido.

E assim, ele continua anotando todas as


outras coisas ao passo que vou ditando:

3. Deixar a minha marca em algum


lugar do mundo.

4. Assistir ao nascer do Sol.

5. Dançar sob a chuva.

6. Fazer uma boa ação.

7. Fazer uma coisa inusitada, em um


lugar inusitado.

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Ele enruga o cenho, ainda olhando para

a lista.

— Certo. Você já tem sete itens. Creio


que se escolhermos mais três, teremos o

suficiente.

Balanço a cabeça, ditando mais um


item:

— Quero conhecer San Francisco.

Seu olhar dispara para o meu rosto


outra vez.

— Por quê?

Dou de ombros.
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— Era o sonho de... uma amiga — falo.

— Certa vez, ela me disse que seu sonho era


fazer fama em Los Angeles, ficar bem rica e
depois se mudar para San Francisco. Só

então ela moraria em uma casa na beira da


praia, onde ela pudesse dormir e acordar
escutando o barulho do mar — um sorriso
triste me escapa enquanto minha mente
viaja. — Eu sinto vontade de ouvir o barulho
do mar em San Francisco desde então.

— Essa amiga deve ser muito


importante para você, não é?

Faço que sim com um aceno de cabeça,

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pedindo-lhe silenciosamente para que ele


não insista no assunto. Felizmente Evan
atende o meu pedido e retoma sua missão.

— Você ainda tem mais dois itens para

escolher, Rose.

Me forço a desviar minha mente dos


pensamentos sobre Brianna, que costumam
me deixar triste, e abro um sorriso largo.

— Quero assistir ao Clube da Luta.

Os olhos de Evan se expandem


levemente, como se eu houvesse lhe dito
algo absurdo.

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— Sério?

— Claro que eu estou falando sério —


rolo os olhos. — Esse é um dos filmes que
eu sempre quis assistir, mas nunca tive

oportunidade. Ou isso ou Orgulho e


Preconceito. Você decide.

Ele sacode a cabeça.

— Clube da Luta e não se fala mais

nisso — Ele abaixa a cabeça para anotar, em


seguida volta a me encarar, mordendo o
interior da bochecha. — E agora, o último
item. Escolha bem, Rose. Nós só temos
espaço para mais um.

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Inalo profundamente e medito por um

momento sobre qual seria meu pedido final.


Há tantas outras coisas que eu poderia pedir,
mas em se tratando de felicidade, há apenas

uma delas que é essencial, acima de


qualquer coisa.

— Eu desejo um Amor.

Ele para a ponta da caneta no papel e


eleva seus olhos acinzentados até que ambos

encontrem os meus novamente. Uma nuvem


indecifrável paira sobre eles antes que a
cabeça de Evan se incline levemente para o
lado.

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— Amor? — repete, suas feições

denunciando um interesse genuíno. —


Amor... de um cara?

Balanço a cabeça.

— Não — digo. — Não apenas o amor


de qualquer cara, sem sentido ou
profundidade alguma. Eu quero o tipo de
amor que me roube o ar e depois preencha o
meu coração com felicidade de uma maneira

tão absurda, a ponto de me fazer flutuar e


explodir, em milhares de pedaços e centenas
de direções.

Seu olhar trava em mim por tempo

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suficiente para que eu capte algo de


diferente nele. Evan é uma caixinha de
surpresas, e em se tratando dos seus
pensamentos, principalmente quando ele

demora um tempo calado, é praticamente


impossível discernir. O que vem em seguida
me tira dos eixos: seus lábios bonitos se
curvam em um sorriso fechado, e em seus
olhos agora eu posso ver um quê de
fascinação, tudo isso segundos antes de ele

tornar a baixar a cabeça e voltar a focar em


sua anotação. Talvez eu esteja ficando louca,
mas confesso que meu coração passou a
bater mais forte com essa simples imagem.

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Depois que termina a lista, Evan

destaca a folha de papel e me entrega. Em


seguida, se inclina para trás, com as costas
apoiadas contra o tronco da árvore, e me fita

daquele jeito, com a testa franzida,


parecendo estar profundamente
compenetrado em uma teoria interna.

— Você acredita em destino? — ele me


pergunta.

— Eu acredito no poder que as


divindades possuem sobre as nossas vidas,
Ev. — Um pequeno sorriso me escapa ao me
dar conta do apelido que acabei de lhe

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atribuir. — Minha avó me dizia que Deus e o


Destino são coisas completamente
diferentes. Ela costumava falar que Deus
utiliza o Destino para executar suas ações

sobre os homens.

Ele franze a testa, pensativo.

— Como o quê, por exemplo?

Suspiro e começo a brincar com a folha

de papel enquanto me recordo do que a


minha avó dizia.

— Posso usar como exemplo sua crença


de que Deus sempre aproxima duas almas

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quando ao menos uma delas está em carência


de algo — começo. — Se você necessita de
paz, Ele enviará alguém completamente
sereno para preencher aquele vazio. Se você

precisa aprender a amar, Ele lhe dará um


filho para que você tenha a chance de se
tornar alguém melhor. E se você sente que a
vida não faz mais sentido... Ele usará do
Destino para colocar em sua vida alguém
completamente especial, que lhe ajude a se

sentir vivo novamente — sorrio para ele. —


Então é isso. Eu acredito no poder das
divindades, sejam elas quais forem. O
Destino não atua sozinho.

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Seu silêncio é breve.

— Talvez sua avó tenha razão a respeito


disso — diz. — Acho que passei a acreditar
em Destino e no poder das divindades agora.

Enrugo o cenho, tentando entender


aonde ele quer chegar.

— Mas por que você está me


perguntando isso?

Ele sorri para mim mais uma vez.

— Porque você é a coisa mais


interessante que me aconteceu nesses
últimos meses, Rose — diz. — E eu tenho

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certeza que foi ele quem colocou você no

meu caminho.

O interior do meu peito começa a pulsar


freneticamente. Mais uma vez, a sensação

estranha e prazerosa começa a trabalhar seu


caminho em minha barriga. Abro um sorriso
torto, mal conseguindo manter minha mente
no lugar com uma frase tão simples.

Bem, caramba, lembra o que eu falei

sobre o Destruidor de Psicológico da Rose?

Meus parabéns, Evan Prescott, você


conseguiu. Mais uma vez.

11: Sunshine significa luz do sol em inglês.

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— Foi muito doloroso? — Mesmo em

meio ao barulho irritante de Britney Spears


soando no ambiente, ouço a voz de Blaire, a
garota que esteve empoleirada no braço da

minha poltrona predileta no apartamento de


Maven por quase quarenta minutos, e viro
minha cabeça para olhar em sua direção.

Sei que a pergunta foi direcionada a


mim, mas sua atenção não está concentrada

em meu rosto, exatamente. Na verdade, seus


olhos estão vidrados nos desenhos em meus
braços expostos, como se eu fosse uma
espécie de ser galáctico em exposição.

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— Eu não sei — me limito a responder.

— Estava bêbado quando as fiz.

Seus lábios se desenham abertos quando


ela solta um “uau” e, em seguida, eleva o

copo vermelho preenchido com cerveja até a


metade e o entorna garganta abaixo em
questão de segundos.

— Meu ex-namorado, Devon, tinha um


dragão tatuado nas costas — ela passa a

língua sobre os lábios vermelhos e abre um


sorriso bêbado. — Cara, isso é tão sexy!

Só tenho uma coisa a pensar em relação


a tudo isso: acho que já passei da bendita

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fase onde eu me divertia feito um louco com


as festas de Maven e suas incansáveis
calouras.

Nunca fui o tipo de cara que saía com

uma garota diferente por semana, mas


também nunca fui um santo. Maven, que
mora em um apartamento a pouquíssimos
quilômetros de distância da universidade,
adora fazer festas; o que sempre foi um

prato cheio quando eu estava entediado e


disposto a despejar minhas frustrações em
bebida e garotas.

Isso não é nada bonito, eu sei. Não é

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digno de ovações, mas se isso faz você se


sentir melhor, eu sou um cara diferente
agora. O tipo de cara que está se
perguntando neste exato momento o que

diabos veio fazer em uma festa em plena


quinta-feira, bebendo cerveja quente ao som
de Work Bitch.

— Desfaz essa carranca ou você vai


acabar assustando todas as meninas desse

lugar — Maven aparece, colocando o braço


por cima do ombro de Blaire, que dá uma
risadinha. — Ele não tem muito senso de
humor, querida, mas posso garantir que
ainda gosta de garotas.
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Nesse mesmo instante, engasgo com a

cerveja que acabei de tomar e tusso em uma


tentativa um pouco inútil de segurar o riso.

— Mas que merda. — Me pergunto por

que sou amigo desse imbecil ainda.

Blaire se afasta do abraço de Maven e


escorrega para a poltrona, ao meu lado,
praticamente no meu colo. Sinceramente, eu
não sou um cara dado aos mesmos métodos

de rejeição que o meu melhor amigo, mas


acho que um pouco de sensatez sempre é
bem-vindo, e cabe a cada um perceber
quando o outro não está a fim.

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— Para falar a verdade, eu meio que

gostei desse jeito... contido de Evan — ela


graceja, pressionando seu busto generoso
contra o meu braço. — Odeio caras ousados

demais. Isso só mostra que ele é seletivo.

— Isso não significa ser seletivo,


docinho — Maven diz. — Ele simplesmente
se transformou em um idiota sem graça que
só se envolve com futuras formandas de

Harvard.

Rolo os olhos. Ele está claramente


tentando me provocar com toda a coisa a
respeito de Cameron. Para Maven, Delta

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Sigma e o meu pai corromperam o amigo


“legal” e irresponsável que um dia eu fui,
transformando-me no amigo “chato”, cheio
de sermões e regras. Eu não contesto sua

ideia, pois, apesar de estar soando


exagerado, ele tem razão em parte. Não sou
mais o Evan Prescott que costumava ser e,
mesmo sentindo-me sufocado com toda a
pressão de assumir uma persona que não tem
nada a ver com a minha verdadeira

personalidade, as coisas estão indo bem


assim. Ao menos no modo do meu pai, elas
estão.

Cansado de permanecer alimentando


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esse diálogo, deixo a garrafa de cerveja


sobre a mesinha ao lado da poltrona e me
viro para encarar a garota.

— Blaire, foi bom te conhecer — digo,

dando um aperto suave em seu joelho. —


Você é uma garota muito bonita e me parecer
ser legal também. Tenho certeza que merece
algo muito melhor que... — aponto ao redor
— isso.

Ignorando sua expressão desorientada,


levanto-me do assento e, à medida que
percorro o caminho que me separa da
cozinha, corro a mão pelos bolsos do meu

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jeans, notando que meu celular não está


comigo.

Onde diabos eu o deixei?

— Está procurando por isso? — me viro


e encontro Maven andando em minha
direção, com o celular sob seu poder.

— Onde você o achou? — questiono,


tomando o aparelho de sua mão.

— Você o deixou cair logo cedo e eu


peguei — me informa. — Por falar nisso,
você recebeu uma ligação... — ele faz uma
pausa para provocar — da Reese.

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— O quê? — me altero. — Por que não

me avisou, porra?

Eu e Rose trocamos nossos números na


última vez em que nos vimos, na segunda-

feira. Eu pedi para que me ligasse caso


precisasse de algo. E se ela estiver em
apuros agora?

— Evan, cara, o que aconteceu com


você? — Maven interroga, ignorando minha

pergunta. — Não é a primeira garota que


liga pra você e é ignorada. Nunca o vi tão
perturbado por conta de algo tão simples.

Sacudo a cabeça, me abstendo de lhe

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dar uma resposta logo de imediato e clico no


ícone de chamada, sentindo-me frustrado
quando a ligação cai na caixa de mensagem.

— Talvez não seja algo simples, idiota.

Ela pode estar precisando de mim agora.


Você deveria ter me mantido a par quando
ela me ligou.

Ele franze o cenho.

— Isso é sério? Tem uma gostosa


naquele sofá te dando o maior mole e você
está todo puto por conta de estúpidos
instintos heroicos que você, nem mesmo,
sabia que tinha?

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— A vida não se resume em festas e

sexo, Mave — replico. — E não adianta eu


tentar explicar toda a coisa entre mim e
Rose, porque você jamais entenderia.

Ele libera um suspiro longo.

— Certo, me desculpe então — diz,


dando-se por vencido. — Vamos lá; sente-se,
tente ligar para ela de volta e, quando você
se certificar de que está tudo bem com a

garota, vamos nos divertir, ok?

Balanço a cabeça em negativa.

— Não vai dar, estou caindo fora agora

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— informo. — Preciso ir para Claremont


amanhã cedo.

A expressão do meu melhor amigo


demonstra tanta confusão que as únicas

coisas em que sou capaz de focar no seu


rosto são as linhas levemente sinuosas
desenhadas em sua testa.

— Você vai para Claremont? — ele diz.


— Você nem mesmo gosta de ir até a casa

dos seus pais.

— Não vou me encontrar com meus


pais.

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Seu queixo despenca.

— Você vai ver aquela garota de novo?


— ele parece incrédulo. — Sério, Evan, o
que deu na sua cabeça?

— Por que você está falando assim


comigo? Não é como se a Rose fosse uma
Serial Killer procurada pela polícia.

— Merda, cara! — ele parece frustrado.

— Eu já te falei sobre os problemas dela.


Desde quando você se envolve com garotas
como ela?

— Garotas como ela? — começo a ficar

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irritado de novo. — O que você quer dizer?

— Adolescentes — ele dispara. — Eu


sei que ela já tem dezessete e a diferença de
idade entre vocês não é tão grande assim,

mas garotas dessa idade costumam confundir


as coisas com muito mais facilidade. Você já
parou para pensar na merda que vai ser se
ela se apaixonar por você?

— A única coisa na qual estou pensando

agora é que você deveria parar com seus


preconceitos estúpidos — falo. — Não fui eu
quem estava implorando para uma
adolescente tocar nos meus músculos na

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segunda-feira.

Ele rola os olhos.

— Eu estou acostumado a isso, ok? —

diz. — Sei separar as coisas e, sinceramente,


você está agindo como um idiota
apaixonado.

Dessa vez quem revira os olhos sou eu.

— Eu sei como é estar apaixonado,

Mave, e não é isso o que está acontecendo


aqui — anuncio. — Nós somos apenas
amigos.

Ele bufa.

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— A última vez em que você chamou

alguém de amigo, nós tínhamos onze anos e


fizemos aquela merda de pacto de amizade
estúpida.

— Bom, eu tenho uma amiga agora —


digo. — Apenas lide com isso.

Ele suspira e levanta as mãos.

— Você é louco.

— Que seja. Estou indo — Pego minhas


chaves e não espero nem mesmo uma outra
palavra dele para dar o fora.

Ao chegar em meu quarto, deito sobre a

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cama com o celular na mão.

Esperando que Rose não esteja


dormindo a uma hora dessas, tento ligar
mais uma vez para ela e, felizmente, dessa

vez ela atende.

— Olá — a sua voz limpa me diz que


ela ainda não estava dormindo.

— Luz do Sol — cumprimento. —

Liguei pra você mais cedo, mas não


consegui falar. Como você está?

Ela faz uma pausa antes de continuar.

— Desculpe, eu estava no banheiro —

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diz. — E sobre sua pergunta, bem, eu estou

terrivelmente entediada. E você?

— Estava em uma festa idiota no


apartamento do Mave — falo. — Sua ligação

me salvou de uma situação bastante chata


com uma das calouras. Obrigado por isso.

Ela ri.

— Bem, você não me parece ser o tipo

de cara que foge das garotas.

— Ando fugindo de muitas coisas


ultimamente — eu digo.

— A Annie é um desses exemplos? —

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ela brinca. — Andei analisando o seu

comportamento em torno dela, e não acho


que seja amigável.

Deixo uma pequena risada escapar.

— Sim, a Annie é uma das maiores


dores na minha bunda ultimamente. E por
falar nela, me admira muito aquelas garotas
não terem sido punidas pelo que fizeram
com você. Pensei que fosse dedurá-las aos

seus pais.

— Minha mãe falou com os pais dela


por telefone, mas não resultou em nada —
diz. — Você sabe como essas garotas são

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criadas. Elas sempre têm razão em tudo.

Isso é verdade. Annie sempre teve tudo


o que quis, inclusive carta branca dos pais
para fazer o que quisesse.

— Se depender de mim, você não vai


mais perder o seu tempo com essas garotas,
Rose — digo com sinceridade. — O que
estava fazendo antes de eu ligar para você?

— Nada de mais — suspira. — Estou


deitada em minha cama, olhando para as
nuvens.

— Nuvens?

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— Sim, as nuvens no teto do meu

quarto.

Dou risada.

— Você deveria estar dormindo uma


hora dessas. Não vai ter aula amanhã cedo?

— Por sorte, o colégio decidiu nos


liberar no último dia de aula antes do início
das férias, porém não é por esse motivo que

estou acordada ainda. Para ser sincera, hoje


é uma daquelas noites em que eu fico
deitada enquanto o sono não vem,
inquietamente perdida em meus pensamentos
a respeito de várias porcarias.

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— Como o quê, por exemplo?

— Como... — ela pausa — como seria


se eu tivesse morrido há um ano. Como seria
se eu não tivesse mais os meus pais ou se

recebesse uma espécie de castigo divino e


todo mundo começasse a virar as costas para
mim. São teorias loucas na maioria das
vezes, mas é quase impossível não ruminar
sobre elas.

Suspiro.

— Você está passando por um processo


de mudança, Rose — falo. — Não é legal,
mas é comum esse tipo de coisa acontecer,

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acredite. Lembre-se do que sua psicóloga te


aconselhou e simplesmente viva. Não deixe
obstáculos atrapalharem isso.

— Obrigada, Ev — ela diz, sua voz

quase um sussurro. — Mas eu ainda tenho


que procurar um método de vencer a minha
insônia maldita.

Sinto um fraco sorriso repuxar meus


lábios.

— E o que eu poderia fazer para ajudar


você?

Ela faz um intervalo consideravelmente

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longo e, quando finalmente me responde,


praticamente sou capaz de ver o sorriso
iluminando seu rosto.

— Cante para mim.

Tomo um pequeno tempo para


raciocinar a respeito do seu pedido.

— Cantar?

— Sim — ela diz. — Quero que você

cante pra mim.

— Tenho certeza de que você não


estaria me pedindo isso se soubesse que eu
não tenho a mesma vocação que Maven para

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a música.

Ela parece surpresa com a minha


declaração.

— O Maven sabe cantar?

— Sim — respondo. — Por incrível que


possa parecer, ele tem uma alma de artista
por trás da fachada de pegador sem noção.

Ela solta um pequeno assobio.

— Uau. Por essa eu não esperava —


então ela faz de novo aquela pausa que eu
tenho quase certeza que vem acompanhada
de um sorriso. — Então, Ev... você vai

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cantar para mim?

Eu juro que tento negar ao seu pedido,


mas só em reconhecer o tom esperançoso da
sua voz, a única coisa a qual eu consigo

soltar é:

— Que música você quer que eu cante?

Ouço um farfalhar bem próximo, como


se ela estivesse trocando de posição sobre a

cama. Em seguida, ela responde:

— Linger, do The Cranberries.

Eu gemo.

— Você está falando sério, Rose?


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Tantas canções legais para escolher, e você

me pede para cantar justamente Linger?

— Bem, você me perguntou — ela diz,


como se estivesse encolhendo os ombros. —

Não precisa fazer se não quiser.

Então, novamente, eu não resisto ao seu


tom de voz agora, demonstrando decepção.

— Não, eu quero cantar — digo. — Não

sei muito bem a letra, ok? Você vai ter que


me ajudar com isso.

Ela dá uma risadinha.

— Tenho certeza de que vai sair

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perfeito.

Eu limpo a garganta e começo a fazer


algo que jamais fiz para uma garota antes:
em meio a letras erradas, trechos repetidos e

uma entonação não tão afinada assim, eu


canto Linger para Roslyn Brooks. E eu
poderia até mesmo dizer que foi uma das
coisas mais constrangedoras que já fiz na
vida, não fosse a percepção de que ela

esboçou um sorriso satisfeito durante todo o


momento em que eu estive empenhado em
atender ao seu pedido.

No fim, eu só pude me dar conta de

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duas coisas.

Um: talvez Maven tenha razão ao dizer


que estou fora da minha mente.

Dois: eu acho que não tenho uma voz


tão ruim assim.

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Não posso dizer que a minha noite foi

perfeita, mas me arrisco a afirmar que ela


foi consideravelmente melhor em
comparação às demais, nas quais passei

deitada na cama, rolando de um lado para o


outro, feito um zumbi com pensamentos
negativos.

Tudo graças a Evan, claro, que apesar

de não ser um Freddie Mercury12 , tem uma

voz incrível, mesmo que nem ele mesmo


saiba disso.

Quando passo pela porta da Biblioteca


não fico nada surpresa ao notar que Evan já
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se encontra por aqui. Ele está sentado diante


de uma das mesas redondas, seus óculos
praticamente na ponta do seu nariz. Suas
costas se mantêm apoiadas contra o espaldar

da cadeira. Ambas as pernas estão esticadas,


seus tornozelos cruzados. Me pego
admitindo que isso é uma bela visão de se
ter, principalmente ao me dar conta de que
ele mantém a atenção em um livro,
folheando vez ou outra, parecendo

concentrado.

O local está silencioso e mais vazio do


que eu imaginei que estaria, portanto não me
preocupo em partir de imediato para trás do
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balcão onde Daisy costuma ficar. Eu sei que


Daisy está lá para os fundos, fazendo
qualquer coisa considerada “importante
demais para não ser interrompida”, como se

render aos seus episódios de Bates Motel no


Netflix. As coisas costumam ser bem ociosas
em épocas em que a maioria dos estudantes
da cidade estão mais preocupados em curtir

a tão aguardada Spring Break13 .

Percorro todo o caminho que me


mantém distante de Evan e, ainda sem
anunciar minha chegada, coloco minha
mochila sobre a cadeira diante da sua.

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— Leonardo da Vinci?

Ele empurra seus óculos para cima e


tira seus olhos do preservado exemplar de

Trattato della Pittura14 , desviando-os para a


direção de onde soou a minha voz. Ao
finalmente reconhecer quem está falando
com ele, arqueia a sobrancelha.

— Por acaso você tem algo contra da


Vinci, Luz do Sol?

Sorrio, sentando-me diante dele.

— Não. Até gosto das obras dele, se


você quer saber — replico. — Só acho que

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você está bastante impressionante, lendo


uma das obras mais antigas dessa biblioteca.
Uma versão que está em italiano, por sinal.

Vejo-o dar de ombros discretamente,

então ele fecha o livro e o põe sobre a mesa.

— Eu sei algo de italiano, Rose —


murmura. — Consigo me virar.

Reconheço que, a julgar pela sua

expressão sem graça, ele está tentando ser


modesto — e por que isso o faz se tornar
ainda mais atraen... quero dizer...
impressionante aos meus olhos?

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Apoio meus antebraços sobre o tampo

da mesa e inclino meu tronco, até estar mais


próxima dele. Às vezes eu me pergunto
como um cara como Evan Prescott foi parar

justamente na minha vida de merda. Quer


dizer, eu estava literalmente afogada na
minha fase de garota perdida e melancólica,
e então... boom! — do nada, um cara surge
feito um arco-íris denunciando o brilho do
sol após uma tempestade. Um cara bonito,

legal, inteligente, mas ainda assim trancado.


Evan é um enigma, mas, apesar de nos
conhecermos tão pouco, esse enigma está
fazendo com que tudo que eu imaginei que

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tivesse perdido ao longo desses meses tenha

começado a voltar. Principalmente a vontade


de colocar um pouco de ordem na bagunça

em que minha cabeça havia se transformado.

— Você é um CDF, mas tem essa pinta


de garoto sujo com quem todas as meninas
sonham — começo a dizer. — Se interessa
por arte e sabe cantar bem. Considerando
que eu não sou o tipo de pessoa que se dá ao

trabalho de elogiar qualquer um, por favor,


seja honesto comigo e me deixe estar ciente
de ao menos um defeito seu.

Ele tira os primeiros segundos após

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minha abordagem para simplesmente


retribuir meu olhar, daquele jeito que ele
sabe fazer tão bem, com uma cortina
cobrindo suas emoções. Em seguida, abre

um sorriso torto, suas sobrancelhas


começando a se unir.

— Bem, se isso puder ser considerado


um defeito, eu tenho miopia desde os
quatorze anos de idade; por isso passei parte

da minha vida refém dos óculos e lentes de


contato. Também tenho alergia a gatos,
detesto comida oriental, não por achar ruim,
mas por ser um canhoto que jamais vai ter
coordenação motora suficiente para aprender
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a usar hashi, e já me disseram que eu tenho


a mania irritante de morder o interior da
bochecha quando estou distraído, o que não
me parece algo tão sexy.

Você que pensa.

Limpo a garganta, minha mente ainda


trabalhando nas informações que ele acabou
de me passar, decidindo-me que não irei me
contentar com apenas isso.

— Percebi algumas coisas das quais


você citou, mas isso ainda não me
convenceu por completo, Ev — falo. —
Diga-me algo mais... pesado.

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Ele puxa ar para os pulmões, sua

expressão parecendo se tornar mais fechada


de repente. Então, não com a mesma leveza
com a qual ele me deu as informações

anteriores, murmura:

— Eu não sou um cara legal, Rose.

Uh, bem... mesmo sem saber ao certo


qual a melhor reação tomar, eu sou incapaz
de conter o franzir de testa.

— Como assim, você não é legal? —


gracejo. — O que de tão grave você fez para
julgar a si mesmo dessa maneira?

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Seu tom sério não muda:

— Várias coisas.

Sinto os pelinhos da minha nuca se

levantarem, principalmente ao notar que ele


não está fazendo uma brincadeira, mas não
me intimido:

— Você não matou alguém, matou?

Percebo que fiz a pergunta errada

quando os olhos de Evan se desviam dos


meus e sua mandíbula endurece.

Ele pega o livro em cima da mesa e se


levanta.

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— Eu vou levar esse livro de volta à

prateleira. Você não deveria estar


trabalhando? — Seu tom de voz é suave,
mas percebo que ele está forçando isso. Seja

lá o que esteja se passando pela sua cabeça,


estou certa de que minha pergunta mexeu
com ele de forma negativa.

Limpo a garganta, sabendo que é hora


de mudar de assunto.

— Sim... Eu vou aproveitar que Daisy


não está por aqui e buscar o contato dessa
tal garota que você está procurando nos
registros. Você pode me passar o nome dela

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completo?

— Claro — ele diz. — Pelo pouco que


sei, ela se chama Emily Carter, tem por volta
dos vinte e um anos e viveu em New

Hampshire durante toda a vida.

— Emily Carter — repito. — Ela é bem


jovem, não é? É sua amiga?

— Não exatamente.

Levanto a sobrancelha.

— Não exatamente? — falo. — Vamos


lá, estou sendo sua parceira nessa. Acho que
mereço um pouco mais de informação.

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Ele não parece tão confortável assim

com a minha inspeção descarada, mas no fim


das contas, acaba cedendo:

— Digamos que ela é um pouco mais

que isso.

Uau, Rose, você é uma grande idiota.


Pela segunda vez no mesmo dia, me
arrependo por ser tão curiosa.

— Hum... certo — é a única coisa que


consigo dizer antes de forçar um sorriso e
caminhar até o grande balcão de madeira.

Me ponho de frente para o computador,

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notando de relance que Evan me seguiu. Sem


olhar para ele, começo a mexer no teclado,
batendo meus dedos incessantemente sobre
os botões pretos.

Enquanto movimento o cursor pelos


diversos nomes na lista com a letra E, algo
chama minha atenção. É um nome em
especial que, apesar de me deixar curiosa ao
extremo, não impede que eu continue minha

busca como se nada houvesse acontecido.

Demora alguns minutos para eu


finalmente encontrar a garota certa, afinal
ela tem um nome comum, mas ao finalmente

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conseguir alcançar meu objetivo, sorrio para


mim mesma.

— Acho que achei você, Emily Carter


— divago, encarando Evan logo em seguida.

— De acordo com os dados que você me


passou, há aproximadamente 90% de chance
de eu ter encontrado a garota certa.

— Você está falando sério? — ele


indaga.

Balanço a cabeça positivamente.

— A julgar pelo seu nome e a época em


que Emily fez o cadastro... sim, é ela.

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— Caramba, Rose! Eu não sei nem o

que fazer para agradecer você.

Não sei se estou muito animada com


toda essa descoberta, porém não posso

deixar de sorrir ao notar como ele está feliz


e esperançoso.

— Bem, eu vou imprimir essa folha —


informo. — Vai ser mais fácil pra você
conseguir entrar em contato com ela.

Ele assente e então eu me afasto.


Depois que imprimo a folha com os dados da
tal Emily e estendo em sua direção, ele a
toma, seus olhos trabalhando para focar nas

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informações contidas no sulfite branco.

— Então, você vai atrás dela agora? —


interrogo.

Ele balança a cabeça em negativa,


dobrando o papel e guardando-o no seu
bolso.

— Eu estava pensando em fazer isso


amanhã, e que... bem, você poderia ir

comigo, não é?

— Huh, eu... — Pega de surpresa,


demoro uns bons segundos para pôr minha
voz para funcionar.

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— Eu acho que me sentiria menos tenso

se você fosse comigo, Rose — se adianta, a


veracidade da sua necessidade desenhada em
seu olhar esperançoso. — Não vou tentar

forçá-la a ir se não quiser, no entanto.

Não posso raciocinar muito bem tendo


ele olhando desse jeito para mim,
convenhamos; portanto, acabo assentindo.

— Tudo bem, eu vou com você.

Ele sorri.

— Obrigado, Luz do Sol.

E antes que eu me dê conta, seu

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próximo movimento é cortar a distância que

nos separa e envolver seus braços ao meu


redor.

Fico imóvel logo de início, sentindo

minha bochecha firmemente esmagada


contra seu peito duro e, uau, eu ainda não
havia percebido quão bom seu cheiro é.

Sério, eu ainda tinha alguma esperança


de que ele pudesse ter mal cheiro ou cáries.

Preciso riscar esse primeiro item da minha


lista de possíveis defeitos do Evan. Droga.
Quero dizer... que bom que ele cheira bem,
não é? Seria muito constrangedor se não

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cheirasse.

Mesmo não sendo muito fã dos contatos


físicos, sinto-me bem com esse contato em
especial, reconhecendo a decepção no

momento em que nos afastamos. Ele limpa a


garganta e segura minhas mãos. Seus
polegares massageiam suavemente o dorso,
um sorriso lindo que faz eu virar um pedaço
de manteiga sobre uma frigideira quente em

questão de segundos.

— A gente se vê amanhã então? — diz.

— Claro que sim — afirmo. — Depois a


gente se comunica por mensagem para

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decidirmos o local e horário.

Ele está prestes a dizer mais algo,


porém seus olhos se voltam para um ponto
atrás de mim, então ele solta minhas mãos e

as enfia nos bolsos da sua calça jeans,


acenando com o queixo.

— Acho que a sua chefe chegou.

Viro minha cabeça para olhar para trás

e vejo Daisy recostada no batente da porta


que dá acesso a área dos fundos, seus braços
cruzados e a expressão dividida entre
curiosa e interessada.

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Volto a encarar Evan.

— Me desculpe por isso, mas acho que


é melhor você ir agora.

— Tudo bem, não quero atrapalhar você


— se inclina e dá um beijo na minha testa.
— A gente se fala mais tarde.

Por fim, ele dá um breve aceno na


direção de Daisy e sai.

Tomando uma respiração longa, crio


forças para colocar minhas pernas para
funcionar e dar meia volta, caminhando de
volta para o balcão.

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— Bem, bem... — Daisy aborda. Seus

curtos cabelos escuros balançam quando ela


inclina a cabeça para o lado e sorri
maliciosamente. — Pelo visto você anda

escondendo algumas coisas, não é?

Fecho os olhos, praticamente


implorando para que ela não decida trazer à
tona o fato de que sou tão carente e
antissocial que é praticamente um

acontecimento histórico ter um cara me


abraçando em público.

Volto a olhar para a minha chefe e


percebo que nem se eu prometesse lhe dar

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uma coleção inteira de varinhas do Harry


Potter, Daisy me deixaria em paz.

Oh, infernos! Ela não vai me dar


sossego por um bom tempo.

12: Freddie Mercury foi um cantor, pianista e


compositor britânico que ficou mundialmente famoso
como fundador e vocalista da banda britânica de rock
Q u e e n . 13: Spring Break são as Férias de Primavera.
14: O Trattato della Pittura, em italiano, ou Tratado da
Pintura, conforme aparece em tradução ao português, é
uma coleção de escritos do pintor italiano Leonardo da
Vinci.

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Sinto o bater suave da brisa da manhã

fazer flutuar alguns fios que se


desprenderam do meu rabo de cavalo.
Caminho mais apressadamente ao localizar o

carro vermelho de Evan, estacionado em


frente à biblioteca. Seu corpo está recostado
contra o automóvel lustroso, um par de
óculos de sol descansando em sua cabeça,
enquanto sua mão sustenta um copo

descartável branco.

Ao me aproximar, reconheço que,


apesar do vento fresco, o Sol já está
começando a massacrar. Ainda estamos no

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mês de março, mas o calor por aqui costuma


ser significativo nessa época do ano.

— Espero que goste de chocolate


quente — Evan logo saúda, oferecendo-me o

copo com o a bebida ainda fumegante.

— Eu adoro. Obrigada — aceito o


líquido quente e faço uma pausa para tomar
um gole. — Eu não havia tomado café ainda,
como você conseguiu adivinhar isso?

Ele remexe as sobrancelhas sutilmente,


adquirindo uma expressão divertida.

— Superpoderes.

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Rolo os olhos ao receber sua resposta,

entretanto não deixo de sorrir também.

— Então... Você está pronto?

Evan troca de posição, parecendo


desconfortável ao se recordar de sua missão,
mas, por fim, aprova.

Por mais que eu tente desprender a


minha mente do episódio do dia anterior, é

praticamente impossível ignorar certos


detalhes. Como, por exemplo, o fato de que,
apesar de Evan ser um cara legal e suas
atitudes demonstrarem que ele está sendo
sincero comigo, há pontas soltas por trás do

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seu passado que estão começando a


perturbar a minha mente.

Ontem, logo depois que Evan foi


embora da biblioteca, e eu tive que passar

quarenta minutos tentando convencer Daisy


de que entre nós dois não havia nada de
cunho amoroso, corri de volta para o
computador e busquei novamente no sistema
o nome que, momentos atrás, houvera me

deixado tão abismada:

Ethan Prescott.

A julgar pela data de nascimento


descrita no cadastro, ele tem por volta da

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mesma idade que Evan. Isso me deixou


confusa para caramba. Muita coincidência
para que eu ignorasse.

A parte mais frustrante em tudo isso foi

quando decidi ir mais a fundo e, ao chegar


em casa, pesquisei sobre Ethan Prescott;
todavia, foi como se meu esforço houvesse
sido em vão. Não adiantaria eu perguntar
nada sobre ele a Daisy, afinal ela é tão

recente na biblioteca quanto eu. Eu também


não encontrei nada que pudesse ser útil nas
redes sociais ou mecanismos de busca. Era
como se Ethan Prescott fosse alguém
inexistente... ou ele fosse uma segunda
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personalidade de Evan? Não. Sério. Isso é


louco. Um primo ou outro tipo de parente,
talvez?

Pode, até mesmo, ocorrer de ele ter se

cadastrado na Biblioteca e ter seu nome


trocado, certo? Erros de digitação
acontecem.

— Ev — chamo, esperando que ele


volte a olhar para mim. — Qual sua data de

aniversário?

Ele enruga a testa, mas não hesita.

— Vinte e seis de novembro... por que?

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Reconheço que é a mesma data de

nascimento a qual eu havia visto no cadastro


do tal Ethan, mas isso ainda não é o
suficiente para eu ficar pilhada por conta de

um nome.

— Você tem cadastro na biblioteca?

Ele ainda parece confuso, mas também


não resiste.

— Não, Rose. Eu nunca tive um


cadastro na Biblioteca — diz. — O que deu
em você para me fazer tantas perguntas?

Dou de ombros, não sabendo ao certo se

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é o melhor momento para deixá-lo a par da


minha inspeção.

— Nada de mais — respondo, tratando


de mudar de assunto no mesmo instante: —

Bem... sobre a viagem, eu gostaria de ir de


carro com você hoje, ok?

Sua expressão, de confusa, transforma-


se em surpresa. Observo seus olhos fixarem-
se em meu rosto, ao passo que um brilho

admirado cortina seus olhos claros.

— Você tem certeza? — indaga. — Eu


trouxe a bicicleta.

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Sorrio.

— Não é exatamente uma certeza —


sou sincera. — Para falar a verdade, estou
com muito medo, mas eu quero isso.

— Que bom — pronuncia. — Ainda não


sei muito bem o que aconteceu para que
você adquirisse essa aversão à andar de
carro, mas estou feliz que tenha decidido
superar, Rose. Vamos lá!

Ele abre a porta do carro e espera que


eu me acomode dentro do veículo antes de
dar a volta e me acompanhar. Ouço a porta
do motorista bater e aproveito o momento

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em que ainda estamos parados para encaixar


o copo de chocolate quente no porta-copos.

— Você está bem? — A voz suave de


Evan me faz virar o rosto em sua direção

imediatamente.

Forço um sorriso tranquilizador e


afirmo, não querendo agir como uma
garotinha.

Ele se inclina para puxar o cinto de


segurança e colocá-lo ao meu redor. Durante
esse breve momento, seu rosto fica muito
próximo do meu, alguns fios do seu cabelo
loiro escuro fazendo cócegas na ponta do

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meu nariz. Controlo-me para não cometer a


besteira de avançar a fim de sentir ainda
mais de perto o cheiro do seu perfume.

Depois que se afasta de mim e põe o

seu próprio cinto, Evan retorna a me olhar.

— Respire fundo, Rose — pede, e é isso


o que eu faço. — Agora me diga: qual é a
primeira sensação que lhe vem, sempre que
você se recorda da última vez em que andou

de carro?

— São muitas, mas a mais presente


delas é o medo e a insegurança.

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Ele balança a cabeça.

— Sei bem que não é fácil, mas estou


aqui com você, e você se sente segura
comigo, certo?

Eu afirmo, porque é verdade.

— Agora feche os olhos — ele faz uma


pausa, aguardando até que minhas pálpebras
se fechem. — Lembre-se: sua imaginação

pode levá-la a qualquer lugar. Se você quiser


conhecer a Disney, imagine-se em uma
montanha-russa na Disney, se você quer ser
uma sereia, imagine-se em alto-mar,
brincando com peixes e apreciando conchas.

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Ou se você sonha em ser um pássaro,


imagine-se voando bem alto, na velocidade
que quiser, sem destino ou obstáculos.

— Voar soa bem — digo. — Eu gostaria

de voar.

Eu não consigo vê-lo, mas imagino um


sorriso satisfeito brotando em seu rosto.

— Muito bem, Rose. Eu vou colocar o

carro em movimento e quero que, durante


toda a viagem, você se imagine voando, ok?

Eu faço que sim novamente, então


escuto ele pôr o carro em movimento.

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Desde o acidente, eu tive certa

dificuldade para lidar com a confiança,


principalmente em relação a outras pessoas.
Nem mesmo com a minha mãe eu me

arrisquei a andar de carro, pois, apesar de eu


amá-la acima de qualquer coisa, Diana
Brooks não é o melhor exemplo de pessoa
compreensiva.

Sempre que eu sentia o meu corpo

moldar o estofado de um automóvel,


memórias começavam a dançar
desordenadamente dentro da minha cabeça.
Eu começava a me lembrar de Brianna, da
sensação que tive no instante em que aquele
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outro carro apareceu no nosso caminho, e o


quão aterrorizante foi escutar o grito
apavorado da minha melhor amiga, minutos
antes de ela ser morta.

Eu sei que essa é uma experiência que


qualquer pessoa teria dificuldade para
superar, mas ter sido, além de testemunha,
protagonista dessa tragédia toda, fez as
coisas ainda mais difíceis para mim. E foi

em minha última consulta com a dra. Horn,


que eu decidi que era o momento certo para
superar o meu trauma.

Percebo que Evan está indo lento até

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demais, mas isso não me incomoda. Na


verdade, eu me sinto até mesmo uma boba
ao sorrir sozinha só de imaginá-lo fazer de
tudo para dar o seu melhor, apenas para que

eu consiga ser uma vencedora nessa jornada.

Uma vez mais relaxada, recosto minha


cabeça no banco do carro, sentindo o ranger
suave do couro macio, e deixo minha
imaginação me levar. Imagino-me realmente

como um pássaro. Para mim, que sempre não


fui muito chegada à altura, está sendo uma
experiência interessante.

Devia ser desse modo que meu pai se

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sentia sempre que ele dizia que voar era um


acontecimento mágico e único. Era como
estar ao alcance de Deus e dos homens ao
mesmo tempo.

Uma música começa a tocar no


ambiente e a sensação se torna ainda mais
prazerosa. Relaxo meu corpo o máximo que
consigo e apenas aprecio as batidas sonoras
da canção.

Não demora muito para que eu apague.

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Desperto, sentindo o toque suave da


mão de Evan em meu braço. A música já
parou de tocar e, uma vez que os vidros
estão abertos, a luz do sol invade o interior
do veículo.

— Rose? — diz. — Já chegamos.

Levanto a cabeça, tentando desanuviar a


minha mente sonolenta, conforme guio meus
olhos para além da janela do carro. Nunca

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estive nessa rua antes, porém não é preciso


ser muito inteligente para saber que ela faz
parte da área menos favorecida da cidade.

Tudo do lado de fora deixa explícito a

pobreza e falta de auxílio. Sujeira nos cantos


das casas, buracos no asfalto. Mais à frente,
crianças e alguns outros curiosos se arriscam
a olhar para o carro e apontar em nossa
direção, como se ainda estivessem tentando

entender se nós significamos ameaça ou não.

Fico imaginando como Evan, que tem


um pai ligado à política, se sente ao
reconhecer que, enquanto sua família tem

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dinheiro suficiente para suprir as


necessidades financeiras de, pelo menos,
três gerações futuras, os moradores desse
lugar são obrigados a viver em meio à

miséria, sem receber a devida atenção dos


superiores que o governam.

— Tem certeza de que é aqui? —


questiono, sentindo uma gota de suor descer
pela curva da minha espinha.

Ele balança a cabeça em afirmativa e, a


julgar sua expressão, também está tão
desconfortável quanto eu.

— Era o endereço que estava no papel.

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Retribuo com um meneio de cabeça,

indicando que o compreendi.

— Bem, então acho melhor descermos


do carro e irmos até a casa dela, não é?

Ele dá uma última olhada para a


movimentação do lado de fora.

— Sei que ainda está cedo, mas esse


lugar é um pouco perigoso, Rose — informa.

— Acho melhor você ficar aqui no carro e eu


vou atrás dela. Assim que estiver tudo certo,
nós iremos embora, ok?

Sinto a tensão tomar conta dos meus

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músculos; no entanto, aquiesço. Não ignoro


o fato de que Evan ainda não me disse o que
ele tanto quer com essa garota. E se ambos
tiverem um assunto não tão legal assim para

tratar? Ou se ela for uma paixão antiga e ele


está aqui, justamente, para dizer que a quer
de volta e que ambos precisam fazer as
pazes?

Isso é menos pior do que imaginar Evan

metido com drogas ou coisa parecida;


porém, ainda me dá embrulho no estômago.

Ugh! Sério, Rose. Você precisa parar de


paranoia. Estapeio-me em pensamento.

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Evan dá um aperto de leve na minha

mão, e então sai do carro.

Vejo-o caminhar em direção à porta de


uma pequena casa com fachada deteriorada,

que em momentos melhores já foi pintada de


rosa claro. Ele toca a campainha algumas
vezes, mas não obtém resposta. Então ele
bate à porta, impondo um pouco mais de
força que o normal. Mesmo assim, passa um

bom tempo até que alguém venha ao seu


socorro. Na verdade, a senhora que se dirige
a ele não saiu da casa de Emily. Ela mora na
casa ao lado.

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Ela diz algo a Evan, o que não parece

deixá-lo nada animado, principalmente no


momento em que ele retruca, seu semblante
deixando claro o fracasso. Após alguns

minutos de conversa, ele finalmente olha


para o carro — mais precisamente para a
direção de onde eu estou — e ergue a mão,
pedindo um momento.

No instante seguinte, ele segue a

mulher para dentro da sua residência.

Fico ainda mais tensa, dando-me conta


de que fui deixada sozinha em um lugar que
mal conheço e, que segundo Evan, é

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perigoso.

Checo o meu celular no bolso — a parte


dramática e receosa de mim, trabalhando a
todo vapor para estar preparada caso o pior

aconteça —, mas antes mesmo que eu tenha


tempo de surtar de vez, Evan retorna.

Ele abre a porta e se atira no banco ao


meu lado. Em seguida, passa as mãos pelos
cabelos, parecendo bastante frustrado.

— Por que a minha vida tem que ser tão


fodidamente complicada!? — Ele dá um
soco no volante e eu me sobressalto.

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Por mais que esteja preocupada com sua

reação, não hesito ao puxar sua mão e


encaixar seus dedos entre os meus. Eles são
maiores e com a pele mais áspera que a

minha, mas é uma das melhores sensações


que eu poderia ter nesse momento.

— Você está bem? — pergunto,


alisando o dorso da sua mão. Isso parece
fazê-lo se acalmar mais.

Ele não me responde de imediato, em


vez disso, encara nossas mãos unidas. Sinto
os fios de eletricidade rasgarem seu caminho
sob a minha pele quente quando seu polegar

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retribui meu gesto, de forma suave, porém


firme. E então, tão inesperadamente quanto
uma garota perdida em sensações
desconhecidas pode rotular, ele finalmente

despeja:

— Ela não está aqui, Rose.

Franzo o cenho, genuinamente confusa.

— O que? Como assim?

Ele puxa sua mão da minha e algo


dentro de mim lamenta, mas percebo que sua
quebra de contato foi apenas para pegar algo
do bolso de sua calça. Sua mão reaparece em

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meu campo de visão um segundo depois. Ele


atira um pedaço de papel no meu colo.

Pisco, atordoada, mas finalmente pego


o papel, ainda totalmente confusa a respeito

do que está acontecendo aqui.

— Ev... o que está havendo?

O silêncio lidera nos primeiros


instantes que sucedem ao meu

questionamento, no entanto, seu olhar ainda


está grudado em meu rosto, e não desvia
dele.

— Você ainda quer conhecer San

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Francisco?

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No domingo pela manhã, acordo com

batidas martelando dentro do meu cérebro.

Abro os olhos e pisco algumas vezes,

tendo dificuldade para ajustar a minha visão.


Arrasto a mão sobre o móvel ao lado da
cama, concluindo a breve missão de
encontrar os meus óculos e, só então, me
ponho sentado.

No instante em que meus pés descalços


encontram o tapete macio no solo, as batidas
retornam a todo vapor. Olho para o relógio
ao meu lado e descubro que ainda não são
nem sete horas da manhã. É domingo, início

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das férias de primavera, e a casa está


praticamente vazia. O que diabos esses caras
querem no meu quarto à essa hora?

— Aguarde só mais um minuto! — peço

secamente e me levanto, andando com


cuidado para não tropeçar devido à minha
mente ainda dormente pelo sono.

Ontem à noite, logo após eu ter voltado


de minha tentativa frustrada de encontrar

Emily em Claremont, descobri que os caras


da fraternidade estavam fazendo uma
espécie de social na Delta House. Não fiquei
lá embaixo por muito tempo, mas a julgar

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pela quantidade de garotas e bebida


envolvidas, as coisas devem ter ficado um
pouco selvagens por aqui.

Só não entendo o porquê de tanto

barulho à essa hora. É fim de semana,


inferno! Eles deveriam estar saindo para
algum lugar, bem distante da universidade.

Quando giro a maçaneta, estou convicto


de que talvez seja um dos caras em busca de

auxílio, mas no instante em que abro a porta,


me deparo com a presença da última pessoa
que eu gostaria de ver em uma manhã de
domingo: meu pai.

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— O que você está fazendo aqui? —

questiono, meu tom de voz deixando claro o


meu desprazer. No entanto, ele ignora a
minha pergunta e avança para dentro do meu

quarto.

— Vista uma roupa — ordena. — Nós


precisamos conversar.

Não tenho cuidado algum ao empurrar a


porta, que faz um estrondo ao se fechar.

Apanho uma camisa atirada em cima de


uma cadeira qualquer e a visto.

Meu pai caminha pelo meu quarto, seus

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olhos ávidos analisando cada detalhe ao


redor. Eu não me recordo qual foi a última
vez em que ele esteve no campus da
Universidade, mas sei que nunca vou me

acostumar com essa merda.

Seus passos param quando ele alcança o


que deveria ser a minha mesa de computador
e agora está coberta de papéis e apostilas,
além do meu notebook aberto em alguma

página relacionada a arte contemporânea.

Durante os últimos meses, estive


guardando algumas economias para dar
conta de comprar todo o meu material sem

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ter que depender do meu pai, principalmente


para mantê-lo alheio a essa parte da minha
vida. Minha pretensão é estudar para entrar
em uma boa escola de arte futuramente. É

um sonho que, se depender do meu pai,


nunca irei realizar. Mas eu tenho esperanças
de não viver sob suas ordens por muito
tempo. No entanto, todo o meu cuidado foi
por água abaixo agora. Meu pai é astuto, e
não é preciso muito para que ele capte uma

informação tão explícita quanto essa.

Sinto vontade de chutar meu próprio


traseiro agora, por ter sido tão displicente e
ter deixado essas coisas aqui. Mas eu
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também não poderia adivinhar que ele fosse


aparecer justo agora.

— Você continua com essas porcarias?


— resmunga, encarando as diversas folhas

com desenhos inacabados exibidas em cima


da mesa.

Avanço e fecho o computador e, em


seguida, reúno o máximo de papeis que
consigo e os enfio na gaveta.

Ponho-me recostado contra a mesa,


tapando sua visão do restante.

— O que faz aqui? — repito, ignorando

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sua abordagem em relação às pinturas.

Minha pergunta traz à tona o verdadeiro


propósito de sua presença, e agradeço aos
céus quando ele desiste de tentar discutir

meus anseios acadêmicos e retorna a dirigir


sua atenção unicamente para mim.

— Eu ouvi sua conversa no telefone


com Bonnie ontem à noite — fala. — O que
você vai fazer na Califórnia?

— Férias de primavera — respondo,


como se a resposta fosse bastante óbvia. —
Não se preocupe com a fatura do cartão de
crédito, eu comprei as passagens com meu

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próprio dinheiro.

Ele me lança um olhar enviesado,


provavelmente ainda desconfiado e não tão
satisfeito com a minha resposta.

— Para onde pretende ir?

— San Francisco.

Seus olhos se estreitam.

— Você poderia ter ido para qualquer

lugar do mundo. Por que escolheu ir para a


Califórnia?

— As praias de lá são incríveis e a


comida é uma das melhores — respondo. —
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Qual é, Felton, você vai querer controlar até

onde eu decido ir passar as minhas férias?

Ele ainda me fita desconfiado, mas não


há como saber que estou viajando para a

Califórnia com o propósito de encontrar


Emily. Ele não sabe onde ela mora, e mesmo
se soubesse, para todos os efeitos, estou
indo passar as férias em San Francisco, não
Sacramento — que é a cidade onde ela está

agora.

— Espero que você não faça nenhuma


besteira quando estiver por lá.

— Por que eu cometeria uma besteira?

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— digo. — É só uma viagem.

Ele parece desconfiar, de alguma


maldita forma, o que diabos eu pretendo.
Mas eu conheço meu pai o suficiente para

saber que ele não vai trazer o assunto à tona


sem ter certeza de quais são minhas reais
intenções.

— Não é segredo algum que você


sempre se mete em problemas aonde quer

que vá — diz. — Você sempre foi uma


grande dor de cabeça para mim, vivendo
como um vagabundo e se metendo em
encrencas, e eu sempre precisei estar lá para

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você na maioria das vezes. Já estou cansado


disso. Além do mais, eu não tenho tempo
para suas besteiras agora.

Sinto a pontada fina dentro do meu

peito quando suas palavras me atingem,


porém não permito que isso me abale.

Dou uma risada seca.

— Eu o desaponto tanto assim? —

questiono. — Na última vez em que você


falou de mim para alguém foi... — faço uma
pausa, fingindo estar puxando da memória...
— Oh, certo... eu era um prodígio de
Dartmouth que iria para a Escola de

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Negócios em breve, para ser um grande


empresário e político como você, não é?

Ele parece captar minha ironia, pois sua


expressão se torna ainda mais dura.

— Eu sei o que eu disse — retruca. —


Mas a verdade é que você nunca será bom o
suficiente. Não importa o quanto eu tente
colocá-lo na linha.

Eu engulo novamente a dor de suas


palavras e permaneço com a minha
expressão neutra.

— Nunca serei Ethan, e acho que já está

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na hora de você aprender a lidar com isso —


murmuro, fitando seus olhos acinzentados.
— E infelizmente, Felton, você não vai
conseguir me matar também.

Vejo o fogo cobrir seus olhos antes que


a próxima coisa que eu sinta é o contato
quente do dorso da sua mão batendo contra a
minha cara.

Meus óculos voam para o chão e, da

distância em que me encontro, consigo


perceber que ao menos as lentes vou
conseguir recuperar.

Ele passa a mão sobre os cabelos. Seus

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olhos desviando dos meus.

— Veja só o que você me faz fazer —


diz, respirando pesado. — Sou seu pai,
Evan. Exijo respeito acima de tudo. Você

está se tornando novamente o delinquente


rebelde que era há um ano.

Eu não respondo. Em vez disso,


caminho até os meus óculos e os apanho do
chão, voltando a colocá-los em meu rosto.

Tomando meu silêncio como deixa, ele


retorna a falar:

— Depois de tudo o que eu fiz... depois

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de todo o trabalho que tive, apenas para


proteger você! É assim que me retribui?

— Não pedi que o fizesse.

E é a verdade. Às vezes eu ainda me


vejo desejando que a minha vida pudesse ser
diferente, mesmo se eu tivesse que arcar
com as consequências dos meus próprios
erros. Eu preferiria assim, sem obrigações
ou segredos. Sem as ordens impostas do meu

pai e sem toda a negatividade que ele


representa na minha vida.

Mas na realidade, nada é tão fácil. A


prática nunca é igual à teoria e, muitas das

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vezes, temos que ir contra nossos princípios


se quisermos evitar que algo de pior
aconteça.

Talvez eu seja um covarde. Um idiota e

fraco. Talvez seja assim que o meu pai me


enxergue agora. Ele não me ama, e acredite
ou não, já aprendi a lidar com isso. Eu sei
que tudo o que ele fez não foi por mim. Foi
para benefício próprio. Para não manchar a

sua imagem, e de quebra encontrar um bom


motivo de manipular o seu filho rebelde.

Eu pauso. A ardência do seu tapa já não


incomoda mais, porém é como se sua

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agressão houvesse cavado um buraco bem no


âmago do meu orgulho e torcido incontáveis
vezes, até que eu estivesse queimando e
sangrando por dentro.

Abro meu frigobar e tiro de dentro dele


uma garrafa de cerveja. Arranco a tampa
com os dentes e tomo três longos goles antes
de me sentar na minha cama. Evito ingerir
álcool hoje em dia, mas isso foi mais que

necessário agora. A poio o braço com a


garrafa na minha coxa enquanto a outra mão
vai direto para segurar a minha cabeça, meus
dedos enterrados nos fios do meu cabelo.
Exalo fortemente para evitar que eu desabe.
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As lembranças chovem frescas. Fecho

os olhos, sentindo o peso da culpa adicionar


uma pressão incômoda no meu peito. A
batida do meu pulso se intensifica, bem

como as cenas confusas na minha mente. A


pergunta desliza para fora, sem hesitação:

— Você nunca teve curiosidade de saber


como eles estão?

Ele faz uma pausa diante da minha

pergunta aleatória, sua testa encrespando-se.

— Do que você está falando?

Levanto a cabeça.

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— A família da pessoa que eu...

— Cale a boca! — me interrompe, seus


olhos navegando para os quatro cantos,
como se mesmo apesar de estarmos sozinhos

no quarto, pudesse haver mais alguém capaz


de escutar nossa conversa. — Nunca mais
mencione isso em voz alta, ouviu bem? —
diz. — Nunca mais!

— Só gostaria que você me desse o

endereço — insisto. — Eu jamais iria


mencionar o seu nome, Felton. Só queria
saber como eles...

— Eu já disse que está tudo resolvido

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— me corta. — Eu resolvi tudo para você,


garoto, não foi? Portanto agora só resta você
seguir com sua parte no plano, estudar para
ser um grande homem como o seu pai, e este

assunto estará morto e enterrado.

Eu ainda não estou satisfeito, porém


não insisto.

— Claro... pai.

Ele volta a passar as mãos pelos cabelos


escuros.

— Bem, e sobre essa viagem, eu repito:


não faça nenhuma besteira — avisa. — Se

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algo acontecer e o quadro da sua mãe piorar,


você será o único a se responsabilizar por
isso — faz uma pausa ameaçadora. — E
dessa vez, não haverá Felton Prescott para

lhe socorrer.

E então ele se vira e sai do meu quarto,


como a merda de uma pedra incômoda que
eu teria muito prazer de chutar para longe
com a ponta do meu sapato.

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Estou deitada sobre a cama. Meu braço

direito encontra-se esticado, enquanto o


outro descansa sobre a minha barriga.
Identifico o cheiro característico de certo

perfume masculino pairar no ar, à medida


que uma respiração branda faz vibrar alguns
fios do meu cabelo.

Remexo-me sobre a cama, ainda de


olhos fechados, porém bem ciente de que

não me encontro sozinha. Viro de lado,


sorrindo ao reconhecer que agora estamos
deitados um de frente para o outro.

Ele é alto, muito maior que eu, e isso

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meio que torna essa posição ainda mais


aconchegante. Dedos frios escorregam para a
minha cintura, cortando a minha linha de
pensamento. Mordisco o meu lábio inferior,

nervosa e ansiosa, ao sentir o polegar


acariciar lentamente a pele exposta da minha
barriga em movimentos circulares.

Esse é o contato mais ousado que ele já


se atreveu a fazer desde que nos

conhecemos. Não que eu esteja reclamando,


claro. Eu gosto disso. Gosto muito. Até mais
do que deveria.

Ainda de olhos fechados, aproximo-me

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um pouco mais, meus sentidos todos


conectados em cada gesto, cada toque e cada
sopro de ar trazendo o aroma do seu perfume
delicioso para pairar logo abaixo das minhas

narinas.

Sinto o calor de seu peito contra o meu,


seu hálito quente dançando sobre a pele do
meu pescoço, e então ele sussurra contra
meu ouvido:

— Acorde, Luz do Sol.

Meu sorriso se torna ainda mais aberto,


minhas bochechas esticando e ficando
quentes. Meu coração praticamente ameaça

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romper meu peito quando ele roça seus


lábios contra os meus. Escorrego uma mão
para a base do seu pescoço, puxando-o para
ainda mais perto, e então... One Dance do

Drake começa a tocar.

Mas que porcaria é essa?!

Abro os olhos imediatamente, me dando


conta de que ele desapareceu.

Seus toques desapareceram.

Seu cheiro desapareceu.

Só restou uma Rose estúpida, dentro de


um pijama estúpido, em um quarto solitário,

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e a música de Drake soando de algum lugar

que meu lado irritado ainda quer ignorar.

— Ai, droga! — Soco o colchão,


enfiando a cabeça debaixo do travesseiro,

morrendo de vergonha de mim mesma.

Eu não acredito que sonhei com Evan.


Não desse jeito. Não esse tipo de sonho.

O que diabos está acontecendo comigo?

A música continua tocando. Com um


suspiro exasperado, desenterro minha cabeça
de debaixo do travesseiro e a levanto o
suficiente para pegar o meu celular.

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Aperto em “atender” e aproximo o

aparelho do meu ouvido.

— Hmm...? — minha voz chateada


saúda quem quer que esteja do outro lado da

linha.

— Rose, querida? — escuto a voz da


minha mãe e tento focar no que ela diz,
ainda procurando ignorar a lembrança de que
tive um sonho semierótico com o meu mais

novo amigo. Tem como eu ser mais patética


que isso? — Feliz aniversário!

— Uh, o quê...? — afasto novamente o


celular do meu ouvido para poder conferir a

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data na tela, e praticamente engasgo ao me


lembrar que hoje é trinta e um de março.

Merda. Merda. Merda.

Fala sério, que garota em seu juízo


normal se esquece do seu próprio aniversário
de dezoito anos?

Não que isso seja grande coisa para


mim. Eu nunca fui do tipo que anseia

comemorar aniversários, afinal é uma coisa


chata você seguir com a mesma tradição,
todo maldito ano, mas garotas da minha
idade estariam planejando isso por meses,
porque, vamos combinar, não é todo dia que

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se faz dezoito anos. Mas para mim,


infelizmente, é apenas mais um ano em que
eu passo solitária, correndo em direção à
vida adulta, ainda sem saber ao certo o que

diabos fazer da minha vida.

— Yay — simulo estar animada,


arrastando-me sobre a cama, até ter minhas
costas recostadas contra a cabeceira. — Já
tenho idade suficiente para morar sozinha.

Você não vai mais precisar se preocupar


quando sair para trabalhar.

Ela faz uma pausa longa na linha, e eu


percebo que talvez tenha feito um

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comentário infeliz. Me chuto por dentro.

— Bem, eu tenho boas notícias — ela


diz. — As coisas estão um pouco corridas
por aqui, mas talvez eu volte para casa bem

antes do esperado.

— Sério? — digo, um pouco surpresa.


— Isso é ótimo, mãe. Eu acho que Jared
precisa lhe dar um descanso.

Ela faz uma pausa ainda mais longa


dessa vez. Consigo captar seu embaraço. Há
algo que a minha mãe esconde de mim, e eu
já percebi isso há algum tempo. Acontece
que às vezes é um pouco mais fácil você

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ignorar certas coisas do que decidir trazer a


verdade à tona.

— E por aí, como estão as coisas? —


ela volta a questionar. — Você tem planos

para a semana de férias?

Passo a mão nervosamente sobre minha


colcha cor de rosa, tentando não soar como
uma mentirosa:

— Ler um livro, talvez fazer algum


programa de meninas com a Tate. Nada de
muito interessante — omito a verdade,
ciente de que ela jamais entenderia caso eu
falasse sobre o meu envolvimento com Evan.

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Ela parece sorrir, mas quando escuto

um som abafado do outro lado, percebo que


não foi para mim. Segundos depois, ela
retorna.

— Rose, querida, eu espero que se


divirta. Você precisa espairecer, talvez fazer
algo com Tate seja uma boa ideia — ela
limpa a garganta. — Bem, eu preciso
desligar agora. Não se esqueça de ir à

terapeuta na quinta. Beijos, amo você!

Ouço o clique da ligação se encerrando


e puxo o celular para baixo. Tenho certeza
de que há um vinco na minha testa, deixando

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bem explícita a minha desconfiança


crescente.

Sim, minha mãe está estranha.

Pelo visto eu não sou a única a


esconder alguma coisa.

Decidindo não passar o restante do meu


dia remoendo este assunto, espreguiço-me e,
em seguida, afasto o cobertor. Levanto da

cama e arrasto meus pés até o pequeno


banheiro em meu quarto. Escovo os dentes,
fazendo o possível para evitar minha
imagem deplorável no espelho.

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Ao retornar para o quarto, ouço o sinal

sonoro do Skype apitar no meu computador.

Não preciso nem mesmo conferir para


saber de quem se trata. Só há uma pessoa

nesse mundo que me chamaria no Skype:


meu pai. Ótimo.

Aceito a chamada e me sento na cadeira


diante da mesa de computador.

— Feliz aniversário! — a família feliz


do outro lado me saúda.

Olho para a imagem do meu pai e meus


dois irmãos mais novos, Leah e Andrew,

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tentando reconhecer essas pessoas como


parte de uma vida em que eu participo, mas
é como se eles fossem um grupo de
estranhos. É em momentos como esses que a

f i c h a realmente cai, e eu me dou conta de


que meu pai não construiu uma família
bonita e estabilizada na qual eu estou
incluída. Ao mesmo tempo em que eu quero
que ele seja feliz, me sinto um pouco doente
apenas por saber que ele está sendo feliz

sem mim.

— Ei! — cumprimento-os, simulando


um sorriso alegre.

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— Como está sendo o primeiro dia da

minha garotinha como uma adulta?

Rolo os olhos, sabendo que não importa


quantos anos eu faça, meu pai nunca vai

parar de me chamar de sua garotinha.

— Serei adulta somente após os vinte e


um, pai — corrijo. — Infelizmente, ainda
não posso encher a cara até desmaiar. Isso é
bem chato.

Ele dá uma risada, o que quebra um


pouquinho a minha irritação por reconhecer
que ele poderia ao menos vir me ver esse
ano.

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Por mais que seja mais distante de mim

agora, meu pai sempre foi muito mais aberto


e disposto a me ouvir do que a minha mãe.
Não que eu não reconheça todo o esforço

dela para me criar praticamente sozinha.


Apesar de cada um possuir suas
particularidades, ou não agirem comigo da
forma mais correta possível, eu os amo em
proporções iguais.

— Posso encher a cara até desmaiar


quando estiver com vinte e um? — Andrew,
que tem oito anos, questiona, arrancando-me
um sorriso genuíno pela primeira vez desde
que me sentei nessa cadeira.
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— Você não diria isso se soubesse o

quão ruim é uma ressaca, pequeno homem.


— Meu sorriso desaparece no exato
momento em que reconheço a voz da minha

madrasta ao fundo. Ela aparece logo atrás do


meu pai e se inclina, ficando eu meu campo
de visão. — Olá, Rose! Feliz aniversário. A
propósito, lhe enviamos um presente hoje.
Deve estar chegando ainda na semana que
vem.

Eu balanço a cabeça, forçando um


sorriso em sua direção.

— Olá, Karen. Foi muito legal da parte

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de vocês. Obrigada.

Ela também força um sorriso para a


câmera, e então passa a mão sobre seu
cabelo loiro tingido. Ela sempre foi morena,

mas decidiu começar a pintar o cabelo de


loiro de uns tempos para cá. Talvez ela
queira esconder os fios brancos que eu tenho
certeza que já estão começando a aparecer,
ou apenas se tornar uma versão

artificialmente mais gostosa da minha mãe.

Seguro a contração de lábios que teima


em surgir ao me relembrar de que essa
mulher foi a melhor amiga da minha mãe um

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dia.

Eu sou uma garota crescida agora. Uma


garota que está trabalhando aos poucos para
se tornar alguém melhor. Gritar “cretina

falsa” para a tela do computador não seria a


melhor prova do meu amadurecimento.

— Bem, eu vou terminar de preparar os


lanches — Karen volta a dizer,
provavelmente percebendo que está

sobrando por aqui. — Brady irá ao novo


museu aeroespacial com as crianças hoje, e
em seguida eles farão um piquenique. Leah e
Andrew estão tão animados!

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— Yeah, nós vamos ao museu! — minha

irmãzinha brada, tão enérgica quanto uma


criança de seis anos pode ser.

Depois que minha madrasta se afasta,

meu pai desvia o olhar da câmera,


remexendo-se sobre seu assento
desconfortavelmente. Eu sei o que o está
incomodando, e só tenho a dizer que não
sinto uma pontada de pena.

— Pelo visto você está tendo tempo


para passear com seus filhos agora, não é?
— Tento controlar o meu tom de voz, mas a
frase sai carregada de mágoa.

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Ele passa a mão sobre a cabeça calva,

voltando a se inquietar em cima da cadeira.

— Rose, querida... escute, eu nunca tive


muito tempo quando você era criança,

admito, mas eu juro que em breve irei...

— Esquece, pai — corto, já cansada de


todas as suas promessas vagas. — Já tenho
dezoito agora. A sua garotinha cresceu e tem
coisas muito mais importantes para se

preocupar do que um passeio a um museu


estúpido — minto.

Ele suspira, voltando a abrir a boca,


mas antes que ele tenha a chance de falar

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mais alguma asneira mentirosa, eu volto a


me adiantar:

— Desculpa, mas lembrei que tenho


algo para fazer agora pela manhã — leva

tudo de mim para que meus lábios se


contraiam em um sorriso congelado. —
Divirta-se com os pirralhos. A gente se fala
depois.

E então, eu fecho a tela do computador,

sem ao menos aguardar uma resposta sua.

Novamente sob a proteção do meu lugar


solitário, permito-me apagar o sorriso
dissimulado e engulo o nó doloroso do

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ciúme que sobe pela minha garganta.

Ponho-me de pé e avanço para o meu


guarda-roupas, decidida a começar a arrumar
minha mochila para a viagem de amanhã.

Conversei brevemente com Evan ontem à


noite e, apesar de eu ter insistido para arcar
com as minhas próprias despesas, ele me
garantiu que já havia comprado a minha
passagem e eu só precisava estar preparada

às sete.

Mesmo eu tentando segurar, as lágrimas


vêm aos meus olhos e eu começo a chorar
feito uma garotinha estúpida.

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Fala sério, estou com inveja de duas

crianças com menos de dez anos?

Deito na cama e fito meu ridículo teto


azulado.

Ter dezoito anos é uma merda.

Na quarta pela manhã, estou pronta


antes mesmo que o carro de Evan pare na
porta da minha casa e ele comece a buzinar.

Desço com a minha mochila recheada


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com apenas o básico e o encontro recostado

contra seu carro.

— Olá, Luz do Sol. Preparada para a


melhor viagem da sua vida?

Aquiesço, segurando o sorrisinho que


começa a querer aparecer.

Ainda é praticamente impossível me


esquecer que, apenas uma manhã atrás, eu

estava sonhando com ele deitado na minha


cama e me acariciando.

Caramba, Rose, existe momento pior


para lembrar disso?

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Retomo minha atenção para a nossa

situação atual quando Evan pega a minha


mochila e a coloca na parte de trás do
veículo. Entro no carro e me sento no banco

do carona, surpreendendo-me ao perceber


que não estamos sozinhos. Maven está no
banco de trás, seu melhor sorriso de
cafajeste estampado largamente.

— Bom dia, Reese — saúda, fazendo

com que eu revire os olhos, desistindo da


ideia de corrigi-lo a respeito do meu nome.

— O que você está fazendo aqui?

Ele desvia seu olhar para seu melhor

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amigo, que se empenha em ligar o motor do


carro, e encara a parte de trás da sua cabeça.

— Você ainda não contou a ela?

Evan põe o carro em movimento e,


ainda sem se virar, responde:

— Maven vai ficar com o meu carro até


que eu volte.

Meus olhos se amplificam.

— Você vai mesmo deixar o seu carro


com ele?

— Qual o problema? — Maven me


indaga, parecendo ofendido. — Você não
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acha que sou responsável o suficiente para

cuidar de um Camaro?

Esse cara quer mesmo que eu o


responda?

— Já deixei bem claro o que vou fazer


com ele, caso Maven não cumpra com a sua
promessa de cuidar bem do meu carro —
Evan rebate, lançando-me um sorriso torto.
— Ele sabe que eu tenho meios bem

dolorosos de resolver isso.

Ciente de que ele está somente


brincando, decido não estender esse assunto,
afinal não é da minha conta. Recosto-me

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contra o banco e dirijo minha atenção para a


estrada, feliz comigo mesma ao me dar conta
de que não estou tão temerosa a respeito de
andar de carro com Evan. Não há o que

temer. Ele é muito atencioso, além de ser um


ótimo motorista.

— Escuta, Rose... — Maven demora-se


ao pronunciar meu nome corretamente, e eu
sei que por trás disso há um propósito. —

Como está a sua amiga... aquela garota do


cabelo engraçado?

— Tate — pronuncio claramente. —


Você poderia ao menos tentar se lembrar do

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nome da garota de quem está a fim.

Ele bufa, na defensiva.

— Quem disse que estou a fim dela? —

diz. — Eu só gostaria de ter o seu número


gravado no meu celular. Você sabe, caras
como eu sempre precisam de novos contatos.

Fico tentada a dizer que caras como ele,


se dependesse de mim, ficariam bem longe

das minhas amigas, mas em vez disso,


pergunto:

— O que você está pretendendo com a


Tate?

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Ele cruza os braços musculosos sobre o

peito e me lança um sorriso de lado. Não


consigo ignorar o par de covinhas nas
bochechas que seriam adoráveis se não

estivessem estampadas no rosto bonito de


um completo babaca.

— Convidá-la para sair, quem sabe? —


fala. — Ela tem um estilo meio estranho,
mas eu gostei do jeito dela.

— Maven está em uma espécie de


missão para fazer a Tate se apaixonar por ele
— Evan expõe, nem um pouco amedrontado
quando recebe um olhar fulminante do seu

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melhor amigo. — Se eu fosse você, pararia


por aqui, cara. Tudo bem que a garota não
foi tão receptiva com você, mas um pouco
de ego ferido não faz mal a ninguém.

Eu dou risada. Certo. Maven merece um


pouco disso.

— Tate é diferente, Maven — eu falo,


virando meu rosto para encará-lo seriamente.
— Se for para magoar o coração dela, então

desista. Garota alguma merece isso, mas eu


tenho certeza de que ela merece ainda
menos.

E é verdade. Apesar de toda a sua

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loucura, Tate tem um coração bonito e puro.


Ela não precisa de um babaca egocêntrico
em sua vida para manchar isso.

Ainda em silêncio, Maven volta para

sua posição, recostado contra o banco. Pela


primeira vez, eu o vejo sério e pensativo
sobre algo. Talvez minhas palavras tenham
lhe afetado de alguma maneira. Bem, eu
espero que realmente seja isso.

Depois que chegamos no aeroporto,


deixamos o carro com Maven e seguimos
com nossas bagagens até o portão de
entrada. Percebo que Evan também não está

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com uma bagagem muito grande, então após


executarmos todos os procedimentos e
embarcarmos, chega o momento mais temido
por mim:

A hora da decolagem.

Cada minuto que eu passo sentada nessa


poltrona, sinto como se uma fórmula de
pânico fosse injetada na minha corrente
sanguínea. Aperto o braço do assento,

ouvindo as recomendações da comissária de


bordo, mas não consigo discernir muita
coisa, pois só imagino o que vai ser da
minha vida se essa droga de avião cair antes

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mesmo que cheguemos ao nosso destino.

— Rose? — Evan se inclina. — Está


tudo bem?

Apenas balanço a cabeça


freneticamente.

— Uh, sim, estou ótima. Só com um


pouco de frio... esse ar condicionado é bem
potente.

— Quer um cobertor? — pergunta. —


Eu não trouxe nenhum, mas posso conseguir
para você.

Eu sacudo a cabeça em negativa.

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— Não precisa. Vai passar.

Ele parece ainda não ter acreditado cem


por cento nas minhas palavras.

— Tem certeza de que é somente isso


que está deixando você tão incomodada? —
Me analisa. — Por acaso você tem fobia de
avião?

Por mais que esteja constrangida,

assinto.

— Apesar de o meu pai ser um piloto,


eu nunca voei antes — explico.

Ele sorri.

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— Que ironia, a garota que voa para

vencer seus medos, tendo medo de voar de


verdade? — Seu tom de voz, em vez de
zombeteiro, é carinhoso. — Ei, Rose, olhe

para mim.

Obedeço, e então ele continua:

— Não é tão ruim, eu juro — diz. —


Além de o tempo estar ótimo e existirem
pessoas muito bem especializadas para

realizar seu trabalho, você sabia que a


probabilidade de morrermos em um acidente
aéreo é de uma entre aproximadamente dez
mil?

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Estreito os olhos.

— Isso é sério ou você inventou esse


número só para me acalmar?

— Estou falando sério — responde. —


Você teve mais chances de morrer andando
de bicicleta do que está tendo agora, voando
comigo. — Sorri. — Além do mais, se o
avião cair, eu juro que serei corajoso o
suficiente para lhe abraçar e morrer junto

com você.

O fulmino com o olhar.

— Isso não teve graça. — Apesar de o

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pensamento ser fofo em um filme de


romance para arrancar lágrimas, não estou
interessada em ser protagonista.

Ele ri.

— Tudo bem, me desculpe — um


segundo depois, ele me puxa gentilmente
para si. — Vem aqui. Deita sua cabeça no
meu ombro.

Sou surpreendida com o seu pedido,


mas não recuso. Evan se remexe contra o seu
lugar para que eu acomode minha cabeça
melhor em seu ombro e puxa a minha mão,
descansando-as entre as suas.

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— Está melhor agora?

Apenas meneio a cabeça em afirmativa,


suspirando profundamente ao sentir seu
perfume e reconhecendo que agora me sinto

muito melhor.

Bem mais do que deveria.

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Depois de quase seis horas de viagem,

finalmente chegamos à San Francisco. Passo


pelos portões do aeroporto, apreciando o ar
puro do clima ameno e uma sensação

prazerosa de imediato preenche meu peito.


Sustento minha mochila em um ombro só,
conforme aguardo Evan solicitar um táxi e,
uma vez que estamos dentro do veículo, ele
passa o endereço para o motorista.

— Para onde nós vamos? — pergunto,


dando-me conta de que é a primeira vez que
faço esse questionamento a ele. Um pouco
irresponsável da minha parte, eu sei, mas

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também tenho ciência de que Evan jamais


agiria de forma imprudente em relação a
isso.

— Para um hotel não muito longe daqui

— me responde.

Aceno e viro meu rosto para o lado


oposto, passando a observar a imagem
borrada da cidade através da janela do
automóvel, um pouco tensa por ainda não me

sentir muito segura em estar andando no


carro de um desconhecido, mas consigo me
controlar pelos quase trinta minutos que
demoramos até chegarmos em nosso local de

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destino.

Depois que saímos do táxi e pegamos


nossas bagagens, Evan paga a corrida
enquanto elevo o olhar a fim de contemplar

o imenso hotel com “The Horizon” escrito


com letras douradas na parte mais alta. Com
toda certeza é, no mínimo, um 4 estrelas.
Fico meio receosa no instante em que Evan
me guia até a entrada.

— Há realmente necessidade de nos


hospedarmos aqui?

Ele estaca em sua posição logo à minha


frente e vira o rosto para me encarar.

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— É período de férias e estamos na

Califórnia — me diz. — Realmente não há


muitas opções disponíveis por aqui.

— Não estou reclamando do lugar,

muito pelo contrário. Acho que é luxuoso


demais para ficarmos por apenas alguns
dias.

Evan ri.

— Rose, você é uma figura — diz. — A


maioria das garotas estaria pulando de
felicidade por ter a chance de se hospedar
em um hotel como esse, e você está
incomodada por isso?

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— Não se trata disso — falo na

defensiva. — Só não quero que você gaste


dinheiro desnecessariamente comigo.

Seu sorriso permanece.

— Há quartos para nós aí dentro, e isso


é o que importa — segura na minha mão e
volta a andar em direção à entrada. —
Agora, vem. Preciso de um descanso.

Ao passarmos pela porta automática de


vidro, movo meus olhos para contemplar o
amplo espaço, incapaz de disfarçar o quanto
me sinto impressionada. Homens de terno e
mulheres em seus saltos altos e bolsas de

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grife praticamente deslizam sobre o piso liso


de porcelanato preto. É mais que evidente
que ambos estamos destoando
completamente do restante de hóspedes ao

redor. Evan está mais para um punk, com sua


camiseta de banda de rock e tatuagens
expostas; e eu... bem, eu sou apenas a Rose
deslocada, em seu vestido floral amarelo.

Evan me arrasta até o balcão da

recepção e os batimentos do meu pulso


aumentam. Ele se recosta no balcão, como se
fosse o dono do lugar, e abre o meu segundo
sorriso favorito. Não aquele que ele esboça
quando eu falo algo estúpido e ele acha fofo,
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mas o sorriso arranca-calcinhas de quem está


prestes a pedir um favor e sabe que a pessoa
do outro lado dificilmente será capaz de lhe
dizer não.

— Olá, Sylvia — Evan fala após


verificar o nome da recepcionista no crachá.
— Acabamos de chegar de New Hampshire e
estamos exaustos. Eu adoraria se você
pudesse nos disponibilizar dois quartos no

mesmo corredor, um do lado do outro de


preferência.

A mulher mantém o sorriso congelado,


porém a antipatia está nítida em cada gesto.

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— Vocês estão sozinhos?

— Certamente — Evan esclarece.

— Bem... — seus lábios finos se

contraem enquanto seu olhar navega entre


mim e Evan. — E fizeram uma reserva?

— Não, eu não fiz — ele responde,


puxando sua carteira e tirando de lá um
cartão de crédito. — Mas creio que isso não

seja um problema tão grande, não é?

O que diabos ele está fazendo? Evan


acha, realmente, que vamos conseguir alugar
dois quartos nesse hotel, sem ao menos

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termos feito uma reserva?

A mulher nem sequer dirige um olhar


para o cartão de plástico sobre o balcão.
Seus olhos navegam mais uma vez para as

roupas pretas e tatuagens de Evan, e então


antes que eu tenha a chance de tentar
convencê-lo a irmos embora e procurarmos
um outro local para ficar, ela adianta o
serviço:

— Sinto muito, mas não poderei ajudá-


los. — Sua voz é educada, porém o tom é
hostil. — No entanto, vocês podem optar por
alugar um hostel ou pousada em algum lugar

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próximo. É um pouco difícil nessa época do


ano, mas não é impossível encontrar algo
que lhes sirva.

Os músculos de Evan ficam tensos e

basta um olhar de esguelha em sua direção


para me dar conta de que toda a aura gentil
foi embora. Nunca havia visto Evan assim
antes, mas confesso que é um pouquinho...
entusiasmante.

— Você está se mostrando ser uma


péssima funcionária, querida — ele diz
sarcasticamente. — E eu teria ido para um
hostel se quisesse me hospedar em um.

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A mulher entreabre os lábios, parecendo

chocada com o seu tom.

— Por favor, senhor...

— Prescott — ele corta sua frase. —


Evan Prescott.

A outra imediatamente empalidece.


Seus olhos vão direto para o cartão de
crédito e, quando ela finalmente confirma o

nome no verso, eles se expandem.

— Evan... Prescott? — Pestaneja,


fitando Evan como se ele fosse o anticristo,
e eu confesso que estou começando a ficar

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um pouco confusa aqui. Não demora muito


para que o pequeno “O” de choque dê lugar
a um sorriso largo e muito falso. — Oh...
Céus, que situação... — ela passa a mão

pelos cabelos, aparentemente sem graça. —


Me desculpem pelo transtorno, eu acho
que... bem, é claro que não haverá problema
algum em encontrar dois ótimos quartos
vagos. Irei fazer o check-in de ambos. Me
passem seus documentos.

Mesmo atordoada com toda a situação,


decido abrir a minha bolsa e puxo de lá a
minha habilitação, mas Evan rapidamente
pega o documento e o empurra em seu bolso.
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— Você não vai precisar dos

documentos dela — assevera. — Faça tudo


em meu nome e, se for possível, não deixe
que meu pai fique sabendo disso. Vamos

deixar de fora esse breve momento no


balcão, não é?

Ela engole em seco.

— C..claro, senhor Prescott. Farei o


possível para manter o sigilo.

Sinto minhas sobrancelhas se unirem


conforme ainda tento processar a cena que
se desenrola bem na minha frente. Por que
essa mulher passou a acatar as ordens de

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Evan, quando há pouquíssimos minutos ela


esteve a ponto de chamar a segurança para
nos chutar daqui? E por que o pai dele não
pode saber que estou aqui? Aliás, desde

quando essa recepcionista sabe quem é o pai


de Evan?

Após bater as pontas dos dedos no


teclado de seu computador, ela muda a
atenção da tela para Evan novamente, o

enorme sorriso quase que se transformando


em sua marca registrada.

— Quartos 108 e 109. Possuem vista


privilegiada e ambos estão um ao lado do

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outro. Sejam bem-vindos ao The Horizon


Hotel, e tenham uma boa estadia.

Parecendo ter se cansado de atormentar


a mulher com seu tom arrogante, Evan

finalmente concede um sorriso de lado para


ela.

— Muito obrigado, Silvya.

Depois que pegamos os cartões-chave,

Evan volta a segurar minha mão e nos


afastamos do balcão, seguindo em direção ao
elevador.

— Você já esteve aqui antes? — Assim

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que entramos no cubículo metálico,


questiono.

— Não.

— Você e aquela moça do balcão se


conhecem?

Ele se recosta contra a parede e então


volta a fixar o olhar em mim, de um jeito
neutro que agora está começando a me

deixar irritada.

— Não.

Levo as mãos para o alto, um tanto


frustrada.

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— Então o que diabos foi tudo isso?

— Do que está falando?

— Evan, aquela mulher simplesmente

mudou da água para o vinho ao saber quem


você era; o que me faz pensar que, a menos
que você seja o dono deste hotel ou uma
estrela mundialmente conhecida, estamos em
um mundo paralelo no qual você se
transformou em um X-Men com poderes de

persuasão e a fez nos conceder os quartos.

— X-Men? Sério? — ele começa a rir.


— Ok, Rose, eu não sou um X-Men, muito
menos uma estrela mundialmente conhecida

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ou dono deste lugar.

Levanto a sobrancelha, esperando uma


explicação mais plausível.

— Então...?

Ele suspira, se dando por vencido.

— Meu pai é.

Meus olhos praticamente saltam das


órbitas.

— O q-quê? — gaguejo, atônita. — O


seu pai é o dono deste hotel?

— Dono desta rede de hotéis, para ser

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mais exato.

Não sou capaz de fazer minha próxima


pergunta, pois nesse momento as portas do
elevador se abrem, indicando que chegamos

em nosso andar.

Ponho os pés no corredor luxuoso e


sigo Evan até um dos quartos que nos foram
disponibilizados. Depois que ele abre a porta
e eu me vejo imersa em um cômodo duas

vezes maior que meu quarto, a ficha


finalmente cai.

— Uau — digo, colocando minha


mochila no chão. Olho para a cama grande

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com colcha branca, as paredes com papéis de


parede com uma estampa floral em tom rosa
pálido e todos os outros detalhes que
parecem terem sido escolhidos

minuciosamente, e solto um suspiro. — A


sua família deve ser muito rica.

Ele dá de ombros.

— Isso não tem muita relevância para


mim.

— Mas para o seu pai deve ter, não é?


— questiono. — É por isso que você não
quer que ele saiba sobre mim?

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Por que o pensamento de eu estar sendo

somente um caso de caridade para Evan me


magoa tanto?

De início ele apenas franze a testa,

parecendo não entender aonde eu quero


chegar, mas quando o conhecimento parece
vir à tona, sua expressão se torna chocada.

— Deus, Rose, não... — murmura. —


Você pensou que eu pedi para que a

recepcionista não falasse sobre você para o


meu pai, porque tenho vergonha de você?

— Que outra explicação teria?

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Ele solta um palavrão e passa as mãos

pelo rosto.

— Merda, isso é tão complicado.

— Então me explique, Evan — peço. —


Não estou querendo criar um caso muito
grande aqui, mas você sabe que qualquer
garota se sentiria no mínimo ofendida por
saber que está sendo mantida em sigilo como
um segredinho sujo.

— Não estou fazendo isso para magoar


você, Rose. Estou fazendo apenas para lhe
proteger.

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— Me proteger do quê, exatamente?

Ele suspira.

— Você não faz ideia de como é o meu

pai.

Por parte eu entendo, sim, que talvez


ele tenha a necessidade de preferir não falar
sobre mim para sua família, afinal eu
também omiti o nosso envolvimento desde o

começo por razões óbvias, mas estou tão


acostumada a ficar em segundo plano para as
pessoas que mais gosto, que essa minha
reação é mais como um mecanismo de
defesa natural.

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Ele vem até mim e segura ambas as

minhas mãos, arrastando-me até estarmos


sentados sobre a cama macia. Solta minha
mão e em seguida segura meus ombros.

Alinhando seu olhar ao meu, diz:

— Roslyn Brooks, você é a garota mais


incrivelmente bonita, divertida e
encantadora que eu já conheci. Eu jamais
teria vergonha de você... Por Deus, Rose!

Seria mais fácil você sentir vergonha de sair


por aí ao lado de um cara tão esquisito e
cheio de segredos como eu — faz uma
pausa. — Mas nenhum destes segredos que
eu guardo são por não confiar ou não
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considerar você importante o suficiente para


compartilhá-los. Eu só tenho as minhas
próprias dores e meus próprios demônios
para lidar. E acredite em mim quando eu

digo isso: meu pai é protagonista em meus


maiores pesadelos. Eu sei que ele não vai
nos dar paz se descobrir que viajei para a
Califórnia com uma garota desconhecida, e
vai fazer de tudo para saber quem é você. Só
quero poupá-la disso.

Eu baixo o olhar, impressionada com o


quão fácil é, para mim, compreendê-lo. É
óbvio que para a maioria das pessoas de
fora, a vida do filho de Felton Prescott é
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quase perfeita. O cara é rico, bonito e


jovem, além de praticamente ter o mundo
inteiro nas mãos, mas apesar de ter sido
alguém que beira o superficial um dia, eu

não sou do tipo de pessoa que julga pelas


aparências.

Pois eu sei como é viver em uma


família desunida e não ter o devido apoio
dos pais. Eu sei o que é ter demônios e dores

para superar. Eu sei que, por mais que


nossas feridas talvez não sejam de
profundidades semelhantes, ambos temos
uma bagagem emocional pesada para lidar.

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— Me desculpe por ter duvidado de

você — digo. — Eu não tinha direito algum


de exigir algo como isso de você, uma vez
que também o escondi da minha mãe.

Evan ri, dando um aperto encorajador


na minha coxa.

— Que tal fazermos um acordo hoje?

— Tipo o quê?

— Tipo pedir algo para comermos pelo


serviço de quarto, porque estou morrendo de
fome. — Dou risada ao ouvir isso, pois sinto
imediatamente o meu próprio estômago

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roncar. — E, em seguida, eu quero


esclarecer algumas coisas para você.

Fico tensa, mas não discuto. Seja lá o


tipo de conversa que ele queira ter comigo,

acho que vai ser algo muito bem-vindo a


essa altura do campeonato.

Quinze minutos mais tarde, estamos


sentados na enorme cama, ainda no quarto
cor de rosa. Evan garantiu que este seria o

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meu, por fazer muito mais o meu estilo.


Estou com as costas para a cabeceira,
enquanto Evan está sentado em posição de
yoga na extremidade oposta. Há uma

bandeja entre nós, com comida o bastante


para saciar a fome de meia dúzia de Roses,
mas estou faminta o suficiente para dar
conta da minha parte sozinha.

Evan se inclina, apoiando os cotovelos

sobre as pernas e dirige seus olhos


acinzentados para mim, tomando totalmente
a minha atenção.

— Antes de tudo, eu quero lhe

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esclarecer sobre uma condição — ele diz. —


Ainda há coisas que eu não posso, nem estou
preparado para contar agora, e estou ciente
de que você vai respeitar isso. Da mesma

maneira que eu só quero que você me conte


o que estiver confortável para me dizer. Sem
pressão, sem exigências. Apenas você e o
que a sua consciência mandar, ok?

— Certo — anuo.

— Por onde começamos?

Eu lambo o resíduo de creme de torta de


morango do meu garfo enquanto analiso qual
seria a melhor forma de iniciarmos esse tipo

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de conversa.

— Acho que seria bom se você me


esclarecesse quem é Emily Carter, e por que
está tão ansioso para encontrá-la.

Evan não demonstra estar surpreso com


a minha pergunta, mas hesita um pouco
antes de me despejar a verdade:

— Emily é minha cunhada.

Oh... bom, não é tão ruim quanto eu


imaginei que seria, mas ainda assim sua
revelação me choca.

— Você... tem um irmão?

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— Eu tive.

E é nesse momento que as peças soltas


que obtive ao longo desses últimos dias se
encaixam: Ethan Prescott. A biblioteca.

Emily e a fixação de Evan para poder


localizá-la. Me sinto uma pessoa péssima
por ter trazido um assunto como esse à tona.

— Oh, meu Deus, me desculpe —


lamento. — O seu irmão, ele...

— Morreu há um ano — completa. —


Não é fácil me lembrar disso, mas você não
precisa se sentir mal por ter perguntado,
Rose. Eu realmente quero que você esteja

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ciente sobre essa parte da minha vida.

— Sinto muito, de verdade — repito. —


Mas ainda não entendo completamente o
porquê de você se dar ao trabalho de viajar

até outro estado, apenas para encontrar


Emily.

— Há coisas sobre a minha família que


você provavelmente ficaria chocada se
soubesse — me informa. — Não vivemos no

mundo dourado que os jornais e revistas


fazem as pessoas acreditarem. O meu irmão
gêmeo se suicidou há um ano com um tiro na
cabeça, por conta disso a minha mãe passou

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a dedicar sua vida a esvaziar garrafas de


bebida em tempo recorde. Meu pai é um
homem corrupto e covarde, que venderia a
própria família por mais alguns milhões na

sua conta bancária. Eu provavelmente sou o


cara mais ferrado que você já conheceu, mas
eu só peço uma coisa: não desista de mim.

No primeiro instante a minha garganta


demora para exprimir uma palavra com

exatidão, pois é como se minha cabeça


houvesse dado pane. É muita informação
para raciocinar, principalmente quando volto
a me lembrar sobre o seu irmão.

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Ele se suicidou.

Uma sensação de peso se instala no meu


peito ao imaginar o sofrimento que Evan
deve ter passado quando tudo isso

aconteceu. Um rapaz tão jovem, talvez com


um futuro tão brilhante quanto o dele, ter
dado fim à própria vida.

— Nunca vou desistir de você. — Isso


era para sair mais como uma frase

tranquilizadora, mas meu tom de voz


convicto deixou as coisas um pouco
estranhas. Pigarreio, procurando mudar o
rumo da conversa. — Sabe, a minha família

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também não é lá essas coisas. Eu acho que


entendo você, apesar de tudo. Se sentir sem
importância e deslocado em um lugar que
era para ser o seu porto seguro é, no

mínimo, sufocante.

Ele acena em concordância, lançando-


me um pequeno sorriso triste.

— Quando você sentiu que as coisas


estavam mudando? — interroga. — Quando

você começou a se afastar de si mesma?

— É difícil dizer — respondo, soltando


o ar pesadamente. — Não foi da noite para o
dia, mas também não aconteceu de uma

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forma gradativa o bastante para que eu


percebesse todo o processo. Simplesmente
aconteceu. Em um instante eu era a garota
bonita, que beijava os garotos mais bonitos e

tinha os amigos mais incríveis... e então, um


certo dia eu abri os olhos e encarei meu teto
estúpido, sozinha no meu quarto, percebendo
que estava atirada no fundo de um poço
escuro, e mesmo que eu esticasse meus
braços ou arranhasse a superfície áspera ao

meu redor para tentar alcançar a borda, eu


não conseguiria sair dali. Porque,
simplesmente, eu estava sozinha.

Ele baixa o olhar, parecendo pensativo.


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Em seguida inquire:

— Isso tem a ver com aquela sua amiga,


não é? A amiga que você diz ser especial? —
Fico tensa com a sua pergunta, e ele logo

conclui: — Maven me falou vagamente


sobre ela ter morrido, então eu não sei muito
a respeito disso. Não precisa me contar se
não quiser.

Por mais que seja difícil falar sobre

Brianna, e por mais que Evan tenha me dado


total carta branca para me manter em
silêncio caso não me sinta confortável ao me
expressar, ele dedicou esse momento para

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mostrar que confia em mim, e se eu quero


que a nossa amizade dê realmente certo,
preciso confiar nele também. Eu devo isso a
Evan. Eu devo a mim mesma.

— Sim, isso tem a ver com ela —


finalmente respondo. — Ela também morreu.
Em um acidente de carro. — Sinto ele ficar
tenso, mas continuo: — Ela era incrível. O
tipo de garota que todos queriam ter por

perto por simplesmente ter uma felicidade


contagiante. Ela também era linda, leal e
geniosa. — Abro um sorriso ao me lembrar
de certo episódio. — Houve um dia em que
ela se meteu em uma briga e acabou levando
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um soco no olho só porque uma garota


estava tirando sarro da minha roupa. Me
senti tão culpada por isso, que eu
praticamente surtei ao ver a mancha escura

se formando ao redor do seu olho, mas em


seguida ela simplesmente pegou do chão a
sua bolsa Louis Vuitton preferida e me disse:
“Você tem maquiagem na sua bolsa? Estou
com um olho roxo, mas não vou ficar menos
gostosa só porque uma cretina invejosa me

bateu” — finalizo, imitando o melhor tom


ousado de Brianna.

Evan sorri.

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— Ela deve ter sido uma pessoa

realmente incrível — diz. — Somente pelo


fato de ter cuidado de você, eu tenho certeza
de que era.

Eu coro ante seu comentário, mas ele


não parece ter percebido isso. Seus
pensamentos estão longe agora.

— Eu gostaria de ter tido esse tipo de


relacionamento com o meu irmão — fala.

— Vocês não eram tão próximos?

Ele balança a cabeça em negativa.

— Apesar de termos dividido uma

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placenta e nascido com apenas dezesseis

minutos de diferença, éramos extremamente


opostos. Minha família monopolizava a vida
de Ethan. Ele tinha que se dedicar vinte e

quatro horas às aulas da escola e dos


cursinhos de idiomas. Tinha que ser bom em
tudo, extremamente perfeito e organizado,
do jeito que meu pai sempre quis. E o mais
incrível em tudo isso era que Ethan
conseguia. Ele era forte o bastante para

suportar esse peso por nós dois.

— Engraçado — falo, me lembrando de


quando vi Evan no campus da universidade,
e no dia em que fomos para a lanchonete
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juntos. Ele não parecia estar confortável


adotando o estilo tão diferente do menino
rebelde que me salvou do afogamento. —
Você não parece se sentir bem com a vida

que leva. É como se estivesse sendo o filho


de Felton Prescott apenas por obrigação.

— Você tem razão, Rose — fala. —


Sempre fui diferente de Ethan. Sempre fui o
que seguia minhas próprias regras e o que

sempre desafiava o meu pai. Isso me


prejudicou muitas vezes, confesso, mas era a
minha forma de protesto, de mostrar a ele
que era errado tentar manipular pessoas
como se elas fossem marionetes — solta um
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riso seco. — Irônico o fato de alguém que


relutou tanto para não ser tal tipo de pessoa,
ter ido parar aonde parei — suspira. — Mas
isso está na lista das coisas que eu não posso

falar para você ainda. Desculpe.

Por mais curiosa que eu esteja, lhe


ofereço um sorriso tranquilizador,
respeitando sua decisão.

— Ethan morreu tão jovem, não é? —

digo. — O que aconteceu, exatamente, para


que ele chegasse ao ponto que chegou?

Evan hesita por um momento, mas não


me nega a resposta:

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— Minha família nunca tocou nesse

assunto abertamente, e preferem tachar como


u m acidente, mas estou certo de que ele
sofria de Depressão — sua voz sai baixa. —

Ethan sempre foi muito retraído, mas ele


começou a ficar pior alguns dias antes de
tudo acontecer. Eu até mesmo tentei
questionar a ele sobre isso, mas ele sempre
se recusava a me dizer. Então... em uma
determinada noite, ouvimos um disparo

vindo do quarto dele. No momento em que


chegamos no quarto, ele estava atirado no
chão, uma arma na sua mão e... bem, você já
deve imaginar o resto.

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Eu levo as mãos à boca, chocada só de

imaginar.

— Ele.... — Limpo a garganta ao


perceber que minha voz está rouca de

emoção. — Ele demonstrava sinais de que


havia algo de errado, então?

Evan sorri tristemente.

— Infelizmente eu não sei, Rose —

fala. — Fora esses dias em que ele se


mostrou ainda mais isolado, realmente não
dá para saber com precisão. Talvez ele tenha
mostrado, mas eu nunca estava por perto
para ver e... bem, meus pais jamais

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enxergariam. Eles estavam muito


preocupados com seus problemas
superficiais para sequer prestarem atenção
no próprio filho.

Ele pausa e exala.

— Ethan era o cara mais inteligente e


adorável que você poderia ter conhecido,
mas ele também não era o tipo de pessoa de
muitos amigos ou que se abria com todo

mundo facilmente — outra ingestão de ar. —


Por parte eu me sinto culpado pelo que
aconteceu. Se eu fosse mais amigo dele, se
fôssemos mais próximos... talvez eu tenha

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evitado que algo como isso acontecesse.

Eu toco em seu braço.

— Às vezes é praticamente impossível

prever coisas assim, Ev — falo. — Não se


martirize.

— Talvez — diz. — Mas ainda guardo


dentro de mim o pensamento de que eu
poderia ter feito algo por ele. Que eu

poderia ter tentado insistir em ser mais


amigo dele, que eu poderia ter lutado mais
arduamente para protegê-lo das garras do
meu pai. Ele foi o que nasceu primeiro, era
mais velho, mas era o mais vulnerável e

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mais altruísta de nós dois também. Era óbvio


que o meu irmão não estava feliz com a vida
que levava, mas ele suportava tudo isso nas
costas porque a minha família fazia ele

acreditar que era daquilo que ele precisava.

— Talvez esse fosse apenas o jeito dele,


Ev — digo. — Tudo bem que, para ele ter
chegado ao ponto de se matar, algo muito
grave estava acontecendo, mas você não

pode se culpar por tudo.

Evan fica em silêncio por um momento


longo. Seus olhos claros estão marejados, as
oscilações profundas do seu peito

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demonstram o quão difícil está sendo para


ele se segurar ao se relembrar de tudo isso.
No entanto, ele não recua. Começa a deslizar
o dedo sobre a extremidade da bandeja

distraidamente, ainda imerso em sua própria


melancolia.

— Por mais que não tenhamos sido tão


próximos um do outro, eu sei que ele não era
feliz, Rose — me garante. — Ethan

guardava muita coisa dentro de si.

— Tipo o quê? — pergunto suavemente.

— Tipo o fato de ser gay.

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Pestanejo, atordoada.

— Você está me dizendo que...

— Sim, meu irmão era gay — confirma.

— O que eu só fui descobrir em uma carta


suicida que encontrei dias depois de ele ter
morrido. O relacionamento com Emily não
foi nada mais que uma forma de, mais uma
vez, ser o filho que meu pai queria que ele
fosse. Então, ele simplesmente começou a

namorar a “garota bonita da biblioteca”,


para talvez “consertar” algo que não deveria
ser consertado. O que não deu muito certo
também.

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— Não deu certo porque ele não sentia

atração por ela? — presumo.

Eva acena negativamente.

— Porque Emily não vinha de berço de


ouro — responde. — Meus pais começaram
a implicar com a garota, até que ela
terminou com Ethan. E foi quando tudo
desandou.

Confesso que essa conversa tomou um


rumo que eu jamais imaginei que tomaria.
Por parte me sinto mal por estar fazendo
Evan se lembrar de momentos tão dolorosos
de sua vida, mas por outro lado, estou grata.

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Grata por ele ter confiado em mim, por ter


me escolhido para desabafar. Isso demonstra
o quão especial ele é, por mais que ele
nunca se dê conta disso.

— “Garota Bonita da Biblioteca” —


repito a expressão que ele usou para se
referir a Emily. — Agora eu entendo o
porquê de você ir atrás do endereço dela
justamente na Biblioteca. Ambos se

conheceram lá, não é?

Aquiesce.

— Mas algo que eu ainda não entendo é


o porquê de você insistir em ir atrás de

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Emily — continuo. — Se ela terminou com


seu irmão por culpa da sua família, é
suposto que não queira manter mais nenhum
laço com vocês.

— Como eu já disse, a minha mãe ficou


muito abalada depois que Ethan morreu —
me informa. — Ela está se afundando cada
vez mais em sua amargura e vício pela
bebida. Foi quando decidi que precisava

fazer algo para ajudar a minha mãe a voltar


a enxergar algum sentido na vida, já que está
sendo tão difícil a colocarmos na
reabilitação. Não podemos substituir Ethan,
mesmo se quiséssemos, mas podemos trazer
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para ela algo que a faça se lembrar dele de


uma forma positiva.

Franzo o cenho, ainda confusa.

— E você acha que Emily, a garota que


seus pais jamais aprovaram, seria uma boa
ideia para fazer com que sua mãe se sinta
mais perto de Ethan?

Evan faz uma pausa para tomar um gole

do seu suco.

— Não Emily, mas Paige.

Eu sinto minha testa ficar ainda mais


enrugada. Estou tentando entender se ele

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ainda está falando do mesmo assunto que eu,

ou me deu alguma informação que eu deixei


passar.

— Quem é Paige?

Evan exala.

— Se o meu irmão não estava enganado


e minhas preces forem atendidas — diz —,
Paige é a minha sobrinha.

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Não posso dizer com exatidão em que

momento do meu sono isso aconteceu, mas


em um instante eu estava imersa na
serenidade do conforto oferecido pelo quarto

luxuoso e a cama macia; e no outro, eu


estava sendo puxada desta paz pelo toque do
meu celular.

Novamente, sendo acordada pela


música do Drake. Só que dessa vez, quando

atendo, não é a voz da minha mãe que escuto


saindo do autofalante do meu telefone. É
Evan. E ele me parece bastante animado.

— Mexa seu traseiro e arraste-se para

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fora dessa cama — Seu tom jovial me faz ter


vontade de disparar um palavrão. — Nós
temos um nascer do Sol para assistir daqui
a... aproximadamente, uma hora.

Levanto a cabeça do travesseiro e


murmuro uma maldição para o telefone,
ainda não conseguindo entender que tipo de
pessoa acorda bem-disposta às — olho para
o horário no relógio — 4h47min. da manhã!

— E a propósito, eu agradeceria se
você pudesse abrir a porta — ele adiciona.
— As pessoas já estão começando a me
olhar como se eu fosse um pervertido.

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Salto para fora da cama, de repente

muito consciente. Evan está na porta do meu


quarto?

— Espere um minuto — peço, antes de

desligar o celular e partir para o enorme


banheiro conjugado.

Faço o possível para escovar os dentes


e arrumar o meu cabelo em tempo recorde.
Estou prestes a alcançar a porta, quando

olho para baixo e percebo que ainda me


encontro enfiada em meu vergonhoso pijama
do Mickey Mouse.

Droga!

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Corro até a mochila, que achei

desnecessário desarrumar, e puxo o primeiro


par de shorts e camiseta que encontro. Após
estar devidamente vestida, bagunço o cabelo

recém-penteado — não muito, apenas o


suficiente para que ele não possa perceber
que eu passei quase dez minutos o
arrumando — e então, finalmente, abro a
porta.

Mesmo ainda atordoada pelo sono


interrompido, mordo o lábio por dentro
quando meus olhos ávidos deslizam
involuntariamente sobre seu corpo alto e
muito agradável de se ver. É impossível
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ignorar o quão bem ele aparenta dentro de


bermuda, camiseta e chinelos.

Ao que tudo indica, terei que adicionar


o estilo “Surfista Despenteado” à minha lista

de looks favoritos.

— Bom dia pra você também, Luz do


Sol — provoca, passando por mim e
entrando no quarto.

Fecho a porta e giro em meus


calcanhares, observando-o colocar uma
pequena bolsa sobre a cama.

— Pelo visto você não é uma pessoa

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matinal, não é? — questiona, analisando o


meu estado crítico de preguiça.

— Acertou — afirmo, e ele dá risada.

— Você vai se sentir bem melhor


quando chegarmos à praia, eu garanto — Sua
frase traz um redemoinho de ansiedade para
a boca do meu estômago. — Trouxe um
biquíni?

— Uh... Não — respondo.

— Como diabos você viaja para a


Califórnia e não traz consigo um biquíni? —
Ele arqueia as sobrancelhas, cético.

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— Não é como se a minha bunda pálida

já houvesse estado em uma praia antes —


cientifico, atirando-me sentada sobre a
cama. — Sendo assim, nunca houve a

necessidade de eu desejar comprar roupas de


banho.

— Embora eu não me importe nem um


pouco em apreciar a sua “bunda pálida”
desfilando por aí — ele pisca para mim —,

isso não vai ser um problema.

Eu fico estática quando o peso do seu


comentário atua sobre os meus sentidos. Ele
parece perceber meu embaraço, pois começa

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a rir da minha reação.

— Caramba, Rose, não precisa ficar tão


vermelha — diz, caminhando em minha
direção e juntando-se a mim na cama. Em

seguida, Evan abre a bolsa e tira de dentro


dela um tubo de protetor solar. Despejando
um pouco sobre a palma da mão, ele se
aproxima ainda mais e começa a distribuir o
creme por todo meu rosto, tranquilamente,

como se não houvesse me deixado com as


bochechas pegando fogo segundos atrás. —
Ao menos um pouco de protetor solar você
tem que passar — finaliza, batendo
delicadamente o dedo na ponta do meu nariz,
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resultando em um vincar de cenho, o que faz


ele começar a rir.

Pelo visto, estou divertindo-o muito


hoje.

Por mais que o pensamento de alguém


estar rindo às minhas custas me irrite como
o inferno, estou me sentindo bem por estar
fazendo Evan sorrir. Depois da nossa
conversa ontem à tarde, fiquei preocupada

com o pensamento de que ele tenha se


sentido mal. Perder um irmão, mal saber
aonde está a sobrinha e ainda precisar
carregar o peso dos problemas familiares nas

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costas não é fácil. Evan não merece isso, e


eu farei o que estiver ao meu alcance para
que ele se sinta bem e feliz.

— Você está pronta? — Aquiesço

perante seu questionamento. — Então


vamos, garota. Temos uma lista para
completar.

Enterro os dedos dos pés na areia macia


e me afundo na incrível sensação de paz que

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preenche cada polegada do meu peito. O


cheiro único da água salgada alastra-se por
minhas narinas e o vento fresco da manhã
faz os fios do meu cabelo se esvoaçarem

para todos os lados. Sorvendo ar para os


pulmões, dou mais alguns passos adiante —
o suficiente para que meus pés encontrem a
parte úmida e fria do solo fofo.

O contato é desconhecido, mas me

remete ao começo da minha adolescência —


quando eu passava horas e horas
conversando com Brianna sobre o quão
fascinante seria estar em um lugar como
esse, apenas contemplando, apenas sentindo.
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Olho para trás e me dou conta de que

Evan não me acompanhou. De costas


apoiadas na imensa pedra disforme, ele está
sentado a alguns metros de distância, o olhar

fixo em minha estrutura. Seus joelhos se


encontram flexionados para cima e os braços
bronzeados rodeiam suas pernas longas.
Parecendo perceber que foi pego
observando, ele inclina os lábios sutilmente
e dá dois tapinhas na areia ao seu lado,

convidando-me a me juntar a ele.

E eu aceito o convite de muito bom


grado. Caminho em sua direção e descanso
meu par de chinelos ao meu lado, sentando-
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me perto dele. O sol ainda não apareceu no


horizonte, mas isso não diminui o fato de
que a imagem do mar azul se estendendo ao
infinito é incrível. Deixo que minhas costas

descansem contra a enorme pedra também e


viro o rosto para ele.

Então, novamente, está lá. Seu olhar


cravado em mim, espelhando algo que, ao
mesmo tempo em que me excita, me deixa

completamente nervosa.

— No que está pensando? — questiono.

— Você é bonita — E é assim, direto e


reto.

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Desvio o olhar imediatamente, sentindo

meu rosto quente.

— Não precisa ficar tímida sempre que


eu elogiar você, Rose — ele diz. — Não há

motivos para ter vergonha de mim.

— Não tenho vergonha — refuto, ainda


sem olhar para ele. As sensações que me
acometem sempre que ele diz algo como isso
vão muito além da timidez por estar sendo

elogiada por um cara. Já fui elogiada por


garotos antes. Garotos da minha idade e tão
inexperientes quanto eu, mas com Evan é
diferente.

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É clichê, eu sei, mas é praticamente

injusto compará-lo aos outros meninos que


já conheci. Eles não me deixavam tão
afetada, e eles não faziam o meu ventre

apertar.

— Tenho algo pra você — Ele e se


move de sua posição para puxar algo do
bolso traseiro de sua bermuda e, em seguida,
estende para mim.

— O que é isso? — questiono, pegando


o pequeno pacote.

— Abra — é a única resposta que


obtenho.

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Não tenho graciosidade alguma ao

rasgar o embrulho preto. Me surpreendo ao


finalmente desembrulhar o presente e ver
que se trata de uma pequena pulseira

dourada. Há vários delicados pingentes em


formato de Raios de Sol pendurados nela.

Volto a olhar para ele, minha voz não


ocultando nem um pouco a minha emoção.

— É linda!

Seus lábios se curvam em um sorriso


aliviado.

— Que bom que gostou — ele diz. —

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Por que não me contou sobre seu


aniversário?

— Não é algo muito relevante para mim


— digo, tentando ocultar o fato de que não é

muito relevante para as outras pessoas


também, portanto não há exatamente a
necessidade de comemorar. — Como você
descobriu?

— Sua documentação ficou comigo

ontem, então acabei vendo sua data de


aniversário — responde. — Desculpe não ter
escolhido nada muito elaborado. Tive que
sair ontem à noite para comprar isso.

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Minha pulsação fica mais intensa ao

registrar tal informação. Ele saiu do hotel


ontem à noite, em um lugar que certamente
mal conhece, somente para comprar um

presente para mim.

— Esse foi o melhor presente que já


recebi. Obrigada — digo, sendo sincera. —
Você pode colocar no meu braço?

Ele assente e eu estendo o pulso para

que ele coloque a pulseira. Depois que ele


afasta as mãos, fico por longos segundos
admirando o meu mais novo presente. Nunca
irei tirar essa pulseira do meu pulso.

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Sou puxada dos meus pensamentos

quando Evan cutuca o meu joelho


suavemente e aponta para um ponto diante
de nós.

Guiando meu olhar para onde ele


indicou, começo a ver as primeiras faixas
alaranjadas dos raios solares elevarem-se no
horizonte.

É lindo.

Me pego ruminando em como as


pessoas estão cada vez mais preocupadas em
cultuar a beleza exterior e obter cada vez
mais bens materiais e não se atentam ao que

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há de mais fascinante à sua volta. A


natureza, por exemplo, é um dos maiores
presentes que já tivemos o prazer de receber,
e não é preciso ficar horas dentro de um

shopping lotado ou minutos em uma câmara


de bronzeamento para se sentir bem e
inteiramente pleno.

Ficamos na mesma posição até o sol ter


totalmente aparecido, mas ainda é cedo

quando Evan se levanta da areia e eu


reprimo meu protesto por estarmos indo
embora tão cedo.

No entanto, ele me surpreende, tirando

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sua camisa e atirando-a no chão ao meu


lado. E como se isso não fosse o bastante,
ele remove sua bermuda, ficando apenas de
sunga e... uau.

Pestanejo e mudo a direção do meu


foco, tentando não soar desesperada ao
perceber que sou pega observando seu peito
nu e definido. Mesmo intrigada com a tinta
preta sobre sua pele, contenho minha reação.

— Hora do mergulho — ele diz,


estendendo a mão para mim.

— Eu não tenho um biquíni, lembra?

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— E quem precisa de um maldito

biquíni para mergulhar no mar? — refuta. —


Venha com seu short e camiseta. A praia está
vazia, ninguém vai notar.

Eu reluto por um momento, a parte


receosa de mim falando mais alto, mas
finalmente cedo. Estou com muita vontade
de tomar banho de mar pela primeira vez e,
como ele mesmo deu a entender, que mal há

nisso?

Segura em sua mão, sou puxada para


cima. Ofego quando ele começa a correr em
direção à água e me puxa consigo. Assim

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que meus pés entram em contato com a água


do mar, sou atingida por uma onda pequena,
mas suficientemente forte para me fazer
balançar. Evan me segura pela cintura e eu

dou risada, de repente muito grata por ele ter


insistido para que eu experimentasse a água.
Não iria me perdoar se viajasse até a
Califórnia e não aproveitasse devidamente a
praia.

— As ondas estão um pouco fortes —


ele avisa, sua boca muito perto do meu
ouvido. De repente, eu não tenho certeza se
os arrepios varrendo a minha pele são
mesmo por conta do contato com a água fria.
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— Vou segurar na sua mão e a gente vai um


pouco mais para o fundo, ok?

Anuo, apertando firmemente sua mão


enquanto minhas pernas afundam na água.

Assim que me vejo imersa até a cintura, ele


me solta. Me agacho um pouco mais,
abrindo os braços e sentindo a água em volta
dos meus ombros. Prendo a respiração e dou
um mergulho, voltando à superfície logo em

seguida.

Quando abro os olhos, Evan está bem


na minha frente.

— Podemos ir um pouco mais para o

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fundo? — pergunto.

— Sem chance — ele balança a cabeça


em negativa. — Eu até faria isso em outras
circunstâncias, mas não quero correr o risco

de perdê-la no mar.

— Nós não estamos tão distantes da


margem — tento protestar.

— Sim — ele sorri, maroto. — Mas sua

altura não é muito favorável, convenhamos.

Estreito os olhos, simulando estar


ofendida.

— Você está insinuando que sou uma

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anã?

— Oh, não, não — ele nega, prendendo


o riso. — Pensei em algo mais fofo, tipo um
Smurf com bochechas cor de rosa.

Antes que ele tenha tempo de cair na


gargalhada às minhas custas, o surpreendo
ao atirar um pouco de água em seu rosto.

Evan expande os olhos, como se não

estivesse acreditando na minha audácia, mas


o sorrisinho reprimido ainda está lá.

— Você perdeu a noção do perigo? — E


então ele deixa seu sorriso ainda mais largo

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e me ataca, começando a fazer cócegas na


minha cintura.

— Oh, por favor, não! — peço, meus


gritinhos estridentes misturados ao riso.

Consigo me desvencilhar e, antes


mesmo que ele venha para mim e retome sua
tortura, eu corro de volta para fora do mar,
gritando quando me dou conta de que ele
está chegando cada vez mais perto.

Assim que piso de volta na areia seca,


desabo sobre ela, rolando de costas e
encarando o céu azulado, totalmente
ofegante.

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O sol vem contra meu olho e eu ponho

minha mão na frente, incomodada com o


contato do sal e calor em meu rosto. Evan
aparece instantes depois. Parecendo também

estar exausto de sua corrida até este ponto,


ele desiste de me provocar e opta por se
arrastar até estar bem próximo de mim.

Ele apoia a cabeça na mão, deitado de


lado, enquanto me analisa. Seus olhos

incrivelmente claros estão com um brilho


contagiante hoje.

— Como se sente?

— Um pouco salgada, grudenta e

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encharcada — respondo, mal reconhecendo


minha voz animada. — E eu também estou...
eufórica. Como se meu peito fosse explodir
e como se meus lábios fossem rachar a

qualquer momento, pois eu não consigo


arrancar o sorriso da cara.

Ele sorri.

— Isso é felicidade, Rose — diz,


tirando uma mecha de cabelo grudada no

meu rosto.

— Bem, isso me fez pensar sobre


alguns pontos do meu passado, e que nem
tudo o que eu tachava como sinônimo de

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felicidade era tão valioso assim.

— Do que está falando?

— Prazeres temporários — esclareço.

— A Rose de antigamente era uma garota


que se sentia bem vestindo roupas da moda,
trocando mensagens com garotos
superficialmente bonitos e sendo invejada
pelas líderes de torcida, mesmo não sendo
uma. Eu vivia constantemente tentando ser

boa o suficiente para tudo e todos, sempre


procurando a aprovação dos populares, como
se existisse uma fórmula da perfeição e, se
eu me empenhasse muito, conseguiria

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encontrá-la.

Ele se ajeita, voltando a se sentar com


as costas contra a pedra.

— Nunca tive muita paciência para essa


coisa de popularidade na época do colégio
— diz. — Sempre achei meio idiota caras
que se aproveitam de um maldito casaco e
uma posição no time da escola para impor
regras e conseguir namorar as meninas mais

bonitas.

Ele começa a traçar distraidamente com


o dedo o pequeno relevo na gola da sua
camiseta.

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— Lembro que Ethan era sempre o que

se esforçava para estar à altura deles. Ele era


o melhor aluno, o melhor jogador do time e
o melhor conselheiro também. As garotas o

amavam, não sei se por sua facilidade em


lidar com elas ou se era alguma espécie de
fascínio... eu sempre o admirei também. Mas
mesmo sendo o irmão errado; o cara que
tirava boas notas, mas não dava o braço a
torcer quando o pai falava em uma boa

faculdade; eu sempre acreditei que se você


se sente bem consigo mesmo, não é preciso
mudar apenas para receber aprovação de
outras pessoas — Seus olhos pousam

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diretamente em meu rosto. — E se você tiver

que mudar por fora um dia, jamais perca a


sua essência.

Me ponho sentada, refletindo sobre o

que Evan disse. É claro que nessa última


frase, ele estava se referindo a si mesmo.
Evan mudou, e é alguém que ele não aprova,
mas sua essência é a mesma. O cara que ele
me permite ver é o seu eu mais puro. E isso

me emociona.

— Eu gosto da sua essência — digo.

— Eu também gosto muito da sua


essência, Rose — rebate.

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Sorrio para ele.

— Isso é bom, pois a minha essência


está morrendo de fome agora.

Ele gargalha, mas não perco meu ponto.

— Certo. Esqueci que não tomamos


café da manhã — se levanta, me estendendo
a mão. — Vamos lá. Ainda temos muito o
que fazer hoje.

Depois do café da manhã, saímos para


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passear pela cidade. Nunca imaginei que um

dia pudesse ter a oportunidade de estar em


um lugar tão fascinante. Sério, nem mesmo o
calor nos açoitando faz com que esse

momento se torne menos interessante.

San Francisco é uma cidade incrível,


atraindo-me desde os traços mais
insignificantes, aos mais chamativos. Fico
encantada com a arquitetura, a culinária e o

cheiro de alecrim impregnado em diversos


pontos por onde passamos.

Já se passa do horário do almoço


quando chegamos à parte que, certamente, é

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uma das mais visitadas da cidade: a afamada

Golden Gate Bridge15 .

Lembro-me de, certa vez, o meu pai ter

me trazido um cartão postal da ponte que


veio a se tornar uma das maiores maravilhas
do mundo moderno. Cartão este que não
ficou comigo por muito tempo, pois Brianna
foi a primeira a monopolizar o meu presente.
Eu dei a ela de bom grado. Possuía muitos.

Aproximo-me do parapeito vermelho de


ferro e enrolo meus dedos na borda. No
horizonte, além da imensidão do mar logo
abaixo de nós, é possível ver a cidade de

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San Francisco como uma fotografia recente.


Puxo ar para os pulmões, sorvendo o
máximo que consigo do aroma ao meu redor,
ao mesmo tempo em que meus ouvidos

tentam se adaptar à cacofonia logo atrás de


mim.

— É realmente bonito aqui — a voz de


Evan soa serena ao meu lado.

— E triste... — adiciono, notando, pela

sua expressão, que ele compartilha do


mesmo sentimento misto que eu.

Apesar de fascinante e ter uma vista


incrível, a Golden Gate Bridge está em

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primeiro lugar entre os mais frequentes


pontos de suicídio dos Estados Unidos,
ocupando o segundo lugar no ranking
mundial. É bonito, mas é impossível não me

sentir um pouco melancólica e sufocada ao


parar para pensar na quantidade de pessoas
que tiveram suas vidas interrompidas a
partir deste ponto.

Volto a pensar em Ethan e no quão

difícil deve ser para Evan, que teve um


irmão passando por essa mesma situação,
estar em um lugar como esses.

— Tive uma ideia — ele diz, de

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repente, e eu volto a encará-lo. — Que tal


aproveitarmos esse momento para fazermos
algo inusitado agora?

Minha testa se enruga.

— Do que você está falando?

Ele levanta a mão, pedindo um


momento. No instante seguinte, se afasta,
desaparecendo pela multidão à nossa volta.

Não demora muito para que Evan retorne,


carregando um buquê de rosas brancas e
vermelhas consigo. Antes que eu crie
expectativas de que essas flores são para
mim, ele me estende um papel em branco e,

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em seguida, puxa uma caneta do seu bolso.

— Divida essa folha em pelo menos


doze pedaços. Vamos escrever frases curtas
em cada um deles.

Mesmo sem entender nada a respeito de


suas intenções, faço o que ele pede e
aguardo enquanto ele anota frases em cada
pedaço de papel.

— E agora? — indago ao perceber que


ele finalizou sua parte.

— Agora, você deixa isso comigo.

Quando eu penso que nada mais me

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surpreenderá em Evan, ele decide me dar as

costas e simplesmente aborda uma velhinha


que passa por nós.

— Com licença, senhora — ele diz,

pausando apenas para me puxar, até que eu


esteja parada ao seu lado. — A minha amiga
e eu estamos em uma missão.

— Uma missão? — a idosa estreita os


olhos, provavelmente tão confusa quanto eu.

— Sim — ele afirma. — A missão de


entregar isto — ele lhe oferece a rosa,
juntamente com um dos pedaços de papel —
para as pessoas mais bonitas que

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encontrarmos por aqui. — Volta a sorrir. —


A senhora foi a primeira delas.

— Uh... bem... — ela olha brevemente


para os lados. — Isso é uma pegadinha,

crianças?

— Oh, não — entro no jogo de Evan,


começando a achar isso interessante. — Nós
nem sequer temos uma câmera.

Sua expressão desconfiada se suaviza,


então ela alterna um sorriso entre nós dois,
as bochechas ficando coradas.

— Oh, obrigada — diz, tomando a rosa

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entre os dedos enrugados. — Isso foi muito


gentil.

Depois que a senhora se afasta, me viro


para Evan imediatamente.

— Por que fez isso? — questiono. —


Por que decidiu entregar a rosa justamente a
ela?

— Eu poderia ter entregado a qualquer

pessoa fisicamente deslumbrante, Rose —


fala. — Mas a beleza maior está guardada
aqui — ele aponta com o dedo para o lado
esquerdo do meu peito. — Ela não é do tipo
que se vê, mas que se sente. Não importa a

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idade que tenha ou quantas cicatrizes você


guarde na pele, se sua alma for bela e pura,
as pessoas à sua volta acabarão se dando
conta disso.

— Eu consigo ver — falo. — Seu


coração, quero dizer. Consigo ver o quão
bonito ele é... — Abaixo a cabeça,
envergonhada ao perceber como isso está
soando. — Não que você não seja bonito por

fora também...

Seus lábios se mantêm cerrados


inicialmente, conforme ele aparenta bastante
intrigado. Então, logo em seguida, Evan abre

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um sorrisinho.

— Você está tentando elogiar a minha


beleza, Rose?

Finjo indiferença.

— Foi só um comentário.

Imagino que ele vá deixar para lá, mas


Evan vê isso como uma deixa para continuar
me provocando.

— Ei, não precisa ficar toda


envergonhada apenas por me achar sexy.

Ele ri ainda mais alto quando começo a


caminhar e o deixo para trás, irritada por ter
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deixado ele perceber meu embaraço. Quer

dizer, pessoas bonitas deveriam saber que


outras pessoas sempre as acharão bonitas,
certo? Por que ele insiste em me provocar só

para me deixar vermelha?

Evan me acompanha e, ainda com o


sorrisinho idiota no rosto, coloca um braço
sobre meus ombros, alinhando seu passo ao
meu, parando apenas para entregar o restante

das rosas e mensagens para as outras pessoas


que vimos passar por nós.

Ele não se limita às mulheres. Também


vejo-o entregar uma flor para um garotinho e

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para um morador de rua — junto a uma nota


de cem dólares, que ele fez questão de
apenas dar de ombros no momento em que o
encarei, como se o feito não fosse grande

coisa.

No final do dia, nos sentamos exaustos


no banco de uma pracinha, meu chapéu de
palha recém comprado deslizando da minha
cabeça, e meus pés me matando dentro dessa

sapatilha.

— Estou tão cansada — gemo.

— Pelo menos o dia foi interessante —


ele fala. — Você se deu conta de que, além

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de termos ido à praia e visto o nascer do Sol,


realizamos mais dois desejos da sua lista
essa tarde?

Me volto para ele.

— Dois?

— Nós fizemos algo inusitado e


praticamos uma boa ação — pontua. — Foi
um bom trabalho.

Sorrio.

— Você tem razão. Fizemos um ótimo


trabalho.

Na minha concepção, nós havíamos


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esgotado toda a dúzia de rosas em nosso

passeio pela Golden Gate, no entanto me dou


conta agora de que ainda sobrou uma rosa
vermelha. Evan percebe o meu interesse e

me entrega a flor, o último pedaço de papel


enrolado em seu caule sem os espinhos.

— Essa é pra você.

Fico surpresa e um pouco admirada por


reconhecer que ele se lembrou de mim e

descanso a rosa delicadamente ao meu lado,


dando maior atenção ao papel. Estou ansiosa
para saber o que há na última mensagem e,
mesmo com os rabiscos de alguém que

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escreveu rapidamente, eu consigo muito bem


compreender o que está escrito:

“Falhos são aqueles que não possuem a


capacidade de enxergar a verdadeira beleza

nas flores que perdem suas pétalas ou


secam.

Que não admiram a força dos caules


que, depois de muito resistir, se partem.

Você é incrível do jeito que é.

Com cicatrizes ou rugas.

Sua beleza está em um plano que


transcende a compreensão rasa.”

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No instante em que termino de ler a

última linha, meus olhos disparam para


encontrar o olhar de Evan, meus lábios
incapazes de se manterem juntos.

A lateral da sua boca se inclina para


cima, fornecendo-me um meio-sorriso que
praticamente me desafia a raciocinar, e é
então que a minha ficha realmente cai.

A poesia.

A rosa.

A tatuagem...

Oh. Meu. Deus.

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— V-você é... — Não tenho nem mesmo

voz para concluir a frase.

É realmente ele?

Lótus Noturna?

Impossível.

Evan não desmancha seu sorriso ao


pegar na minha mão e ficar de pé, puxando-
me consigo.

— Não me faça perguntas agora, ok? —


diz. — Vem comigo.

15: Ponte Golden Gate.

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Observo mais um carro passar pela

saída do estacionamento do enorme


supermercado e volto a roer nervosamente a
ponta da minha unha. Uma sensação

congelante se espalha pela minha barriga.


Elevo o olhar para fitar o imenso
estabelecimento e, mais uma vez, detenho
meus olhos na enorme placa azul que ostenta
o nome do local em letras brancas no topo.

Cruzo os braços, ainda ansiosa. Já faz


mais de meia hora que Evan se meteu lá
dentro, pedindo que eu o aguardasse. Mesmo
confusa, obedeci; no entanto, já estou

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começando a ficar impaciente. Se já não


bastasse meu cansaço e a espera, tenho que
lutar contra a curiosidade crescente sobre a
minha mais recente descoberta: Lótus

Noturna, o artista misterioso sobre o qual eu


tanto conversei com Evan é, na verdade, ele
próprio.

Ainda é meio esquisito e confuso


associar a imagem de alguém como Lótus a

Evan. Não que ele não seja um cara sensível


e inteligente, mas ainda é um pouco difícil
imaginá-lo como tal. Esse é um lado de Evan
que eu nunca imaginei que pudesse ver um
dia.
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Mais alguns minutos de tortura se

passam até eu, finalmente, avistar Evan


aparecer carregando algumas sacolas. Ele me
entrega uma delas e eu abro curiosa o

embrulho, tirando de dentro dela um pacote


médio de biscoitos.

— Obrigada — digo. — Mas nós


poderíamos ter esperado chegar ao hotel
para comermos.

Ele devolve o meu olhar, enigmático.

— Na verdade, eu não entrei para


comprar comida — diz. — Mas nós não
voltaremos ao hotel agora, então seria uma

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boa ideia se você se alimentasse.

Sorrio.

— O que mais você comprou?

Lançando-me um sorriso provocativo,


ele abre outra sacola e tira apenas uma
garrafa de água de dentro dela. Estou
morrendo de sede, portanto fico agradecida.

O sigo quando ele começa a caminhar

para o lado de fora do supermercado. Vejo


mais uma sacola em sua mão, a que ele fez
questão de não me mostrar, mas contenho a
minha curiosidade, caminhando calada

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enquanto como.

Durante todo o trajeto, não


conversamos sobre muita coisa. Minha
mente ainda está um pouco conturbada

devido a todos os acontecimentos desta


tarde. Foi o dia mais incrível da minha vida,
e tenho certeza de que cada momento em que
passamos juntos ficará impresso em minha
mente, como uma tatuagem.

Depois que esvaziamos a garrafa de


água e comemos os biscoitos, eu coloco o
lixo dentro do saquinho de supermercado,
aproveitando que ele parou em um ponto ali

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perto para jogar as embalagens em uma lata


de lixo próxima.

Vendo que Evan não trocou de posição,


mesmo eu estando pronta para retomar o

caminho, volto-me para ele e me dou conta


de que sua atenção está totalmente focada no
comprido muro atrás de mim. Cruzo os
braços, ainda tentando entender qual o seu
propósito. A rua está deserta e a noite já caiu

sobre nossas cabeças. Estou começando a


sentir frio.

— Perfeito — ele divaga, colocando a


sacola no chão e passando a mexer em algo

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dentro dela.

— O que vamos fazer aqui? —


interpelo, olhando ao meu redor. Torço o
nariz quando o cheiro da lata de lixo ao meu

lado navega bem abaixo dele. — Ev, esse


lugar fede.

— Eu sei — diz. — É exatamente por


isso que não podemos ignorá-lo. Não acha
que precisa de uma atenção especial?

Eu juro que se esse não fosse o


momento exato em que ele tira da sacola
duas latas de tinta em spray, imaginaria que
sua sugestão de próxima boa ação seria

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limpar a rua.

— Então minha desconfiança estava


correta — digo, observando enquanto ele
pega as latas e caminha até mim. — Você é

Lótus.

— Isso vai mudar a visão que você tem


sobre nós dois, caso eu confirme? — Sua
expressão me diz que ele ainda está me
sondando.

— Na verdade, eu acho que estou me


sentindo uma otária — respondo, colocando
as mãos na cintura. — Por que não me
contou antes?

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Ele suspira.

— Não fiz por mal, Rose.

— Você não confiava em mim?

— Eu não estaria lhe contando agora, se


não confiasse — retruca de forma suave. —
Isso é algo que eu não contei nem mesmo a
Maven.

Solto uma respiração longa.

— Como aconteceu isso? — pergunto.


— Quero dizer, Lótus existe há muito
tempo?

Ele se aproxima do muro e agita a lata


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de tinta, mirando em um ponto na parede e

fazendo um contorno incrivelmente bem


feito de uma flor de Lótus com a tinta roxa.

— Depois que Ethan morreu, as coisas

ficaram bem tensas para mim — diz. —


Permaneci sendo o filho que meu pai tanto
repudiava, ou até mesmo pior. Eu sei que
não é algo para me orgulhar, mas era a
minha forma de protesto, de mostrar a ele

que não estava disposto a me perder e correr


o risco enlouquecer de vez. Na minha
cabeça, depois de o meu irmão ter morrido,
o meu pai me usaria como seu novo
fantoche, e eu seria o próximo a embarcar
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em uma vida miserável, até o ponto da


ruptura.

Ele continua em sua missão de desenhar


a flor, mas ainda se mantém concentrado em

me esclarecer essa parte da sua história:

— Mas no instante em que eu,


inevitavelmente, me vi sem escolha alguma
a não ser me transformar no filho que Felton
tanto queria, soube que teria que tentar um

outro método, o mais rápido possível, de


permanecer sendo eu mesmo. Continuar
fazendo merdas não iria resolver nada, então
eu parei para pensar melhor e decidi que,

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desde que eu fosse resistente, nada nem


ninguém romperia as barreiras dentro de
mim — ele me olha. — Você sabia que a
Lótus nasce na lama?

Faço um aceno positivo com a cabeça,


lembrando-me de ter lido sobre isso.

— Foi assim que eu me sentia por


dentro. Como uma flor que cresce em meio à
podridão e ao caos, mas, mesmo assim, não

se torna mais frágil ou menos nobre por isso.


Esse é o espaço dela, onde ela está
acostumada a florescer, e por mais que
muitos torçam o nariz para isso, o local não

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a impede de se tornar uma planta vibrante e


bonita.

— Então... foi assim que tudo começou


— digo, impressionada. — Uau, a Tate

ficaria louca ao saber disso.

Ele inclina a cabeça.

— Por que?

— Digamos que ela é sua fã número

um. Sabe de quase todos os seus desenhos,


mas não sabe muito bem sobre sua história,
já que você é um artista misterioso — dou
risada. — Ela insiste em acreditar que você

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é do sexo feminino.

Evan também ri.

— A sua amiga é uma figura. Acho que

ela gosta muito de você.

Eu também gosto muito da Tate, mas


não estou preparada para entrar no assunto
sobre melhores amizades agora.

— E então... — falo. — Foi pelo fato de

você escolher uma Lótus para representá-lo,


que o fez pintar todas as flores nesses
muros?

— Não exatamente — diz. — Na

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verdade, a minha intenção era extravasar.

Encontrar uma válvula de escape e ser eu


mesmo, enquanto eu enfrentava todo aquele
inferno que era a minha vida.

“Então eu decidi que, ao menos uma


vez por semana, Lótus sairia nas ruas e faria
aquilo que ele mais ama: desenhar. As flores
vieram automaticamente. Eu não tenho um
ritual ou regra específica para desenhar.

Apenas sigo o meu coração e pinto. O amor


pelas flores foi mais pelo fato de elas terem
tantos significados. De poderem representar,
simultaneamente, tanto a saudade e a dor,
quanto a beleza e a felicidade. E esse foi um
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dos momentos mais cruciais da minha vida,


pois foi quando percebi algo — ele sorri,
pensativo. — Nós sempre viemos à Terra
com uma missão: a missão de Ethan foi me

fazer acordar. A minha missão é fazer outras


pessoas enxergarem a beleza desta vida com
outros olhos.”

É bonito e contagiante ver a forma


como ele se torna mais apaixonado apenas

em falar sobre seu hobby e o que o motivou


a isso. É ainda mais emocionante para mim,
saber que ele, que não contou isso nem
mesmo ao seu melhor amigo, está
compartilhando uma parte tão importante da
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sua vida comigo. Isso faz eu me sentir


especial.

— E sobre as frases? — questiono. —


Eu não sabia que você tinha vocação para

poesia.

— Não me considero exatamente um


poeta, Rose — ele diz. — As frases são
apenas um adicional. Eu parei para pensar
no meu irmão e em tudo o que ele passou,

sem alguém que o apoiasse. E então pensei:


se Ethan ao menos houvesse escutado uma
palavra de carinho e conforto, uma frase
motivacional, ele teria tido coragem de se

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matar? Quantas pessoas, todos os dias, só


estão esperando ouvir ou ler algo que faça
com que elas percebam que não estão
sozinhas, que nem sempre dar um fim em

tudo é a melhor solução?

Eu permaneço em silêncio, totalmente


emocionada. Ele tem razão, e isso é lindo.
Eu não sei em que momento isso aconteceu,
mas só posso dizer que Evan está cada vez

mais escavando um caminho para dentro do


meu coração. Um caminho que começou com
um simples buraquinho, e agora eu me sinto
amedrontada apenas com a desconfiança de
que isso tenha se transformado em uma
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cratera.

Ele provoca em mim sensações que


talvez eu não esteja completamente
preparada para lidar.

Evan me entrega a segunda lata. Vejo


que é cor de rosa, a minha cor predileta.
Sorrio quando ele, mais uma vez, se prostra
diante do muro.

— Que tal você deixar sua marca aqui?


— oferece. — Seria mais um desejo
concedido.

— Estamos realizando quase todos os

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meus desejos hoje — digo, disposta a


quebrar o clima embargado que nos envolve.
— Essa é uma forma adorável de me dizer
que quer se livrar de mim mais rápido?

Ele sorri em resposta, nem um pouco


ofendido com a minha brincadeira.

— Mesmo se eu quisesse, não


conseguiria fazer você realizar todos os
desejos hoje. Eu acho meio impossível

montar uma casa na árvore, assistir a duas


horas de Clube da Luta, fazer chover e
encontrar o amor da sua vida em — ele olha
em seu relógio — sete horas, até o final do

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dia.

Levanto uma sobrancelha.

— Concordo com a parte da casa na

árvore, o filme e a chuva, mas... você não


acredita em amor à primeira vista? —
ironizo. — Eu posso muito bem me deparar
com o Robert Pattinson a qualquer momento
e ambos poderíamos nos apaixonar
completamente um pelo outro.

Evan cai na risada.

— Bem, então nós deveríamos andar um


pouco mais. Não acredito que Robert

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Pattinson iria escolher justamente essa lata


de lixo fedida para estar perto quando for se
apaixonar por alguém.

Rolo os olhos e o empurro de

brincadeirinha, apertando a lata de tinta na


minha mão e voltando a me lembrar para o
que viemos aqui.

— Então... você vai me ajudar a pintar


muros agora ou o quê?

Ele se aproxima, olhando o muro sujo,


parecendo ponderar o que fazer sobre ele.

— Que tal desenhar uma rosa?

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Eu faço uma careta.

— Não me leve a mal, mas o artista


aqui é você — digo. — Nós estamos aqui
para deixar o muro mais bonito e colorido,

não para eu fazer um monte de rabiscos


esquisitos.

— E o que você tem em mente,


espertinha?

Mordo o lábio, de repente tendo uma


ideia.

Não possuo vocação para poesia


também, mas escrever é muito mais fácil.

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Me aproximo ainda mais do muro e,

ignorando o olhar curioso de Evan, começo a


escrever.

Quando finalizo a frase, ele franze a

testa, encarando o que está escrito:

— Eu detesto molho Barbecue? — ele


volta sua atenção para mim, provavelmente
tentando compreender o sentido da minha
frase aleatória. — O que isso significa

exatamente?

— Significa exatamente o que eu quis


dizer — falo. — Já estou cansada de tentar
fazer tudo para agradar as pessoas, para ser

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igual a quem admiro. Já chega de tentar ser


alguém que não me deixa confortável. Você
não se torna inferior ou pior que ninguém só
por não compartilhar o gosto da maioria.

Portanto, vou fazer desse muro o meu


confessionário.

Evan me lança um sorriso de lado.

— Então eu acho que poderia escrever


algo também, não é? — ele estreita os olhos,

parecendo concentrado, e então ergue seu


próprio jato de tinta e finalmente escreve:

“EU TENHO UMA PLAYLIST


REPLETA DE MÚSICAS DO JUSTIN

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BIEBER NO MEU IPOD.”

Caio na gargalhada ao ler sua frase.

— Justin Bieber? — questiono, ainda

rindo. — Sério?

— Ei, ele tem umas músicas legais —


diz na defensiva.

Eu mordo o lábio, prendendo o riso.

— Ok, me desculpe.

E então me viro para a parede de novo,


escrevendo minha próxima frase:

“ODEIO FAZER ANIVERSÁRIO.”

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Ele lê o que escrevi, provavelmente

entendendo o porquê de eu não ter lhe falado


sobre meu aniversário antes, e então
direciona o jato da lata para o muro:

“NÃO SUPORTO REDES SOCIAIS”

Isso me faz lembrar que Evan ainda não


me adicionou no Facebook. Talvez seja pelo
motivo de ele não possuir um.

Deixando de lado minha vontade de lhe


questionar mais sobre isso, volto a apontar o
jato de tinta na parede e escrevo minha
próxima frase:

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“FUTEBOL AMERICANO É

CHATO.”

Evan dá uma gargalhada quando lê,


porém, não comenta sobre.

“ALFACE NÃO É COMIDA”

Eu não seguro a minha risada ao ler sua


última frase, porque... bem, eu concordo.
Estou prestes a escrever minha próxima

frase, quando sinto uma luz intensa vindo


em nossa direção. Assustada, viro meu rosto
para encarar o que quer que seja, e então me
deparo com um homem usando uniforme de
polícia.

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— Ei, seus moleques! O que estão

fazendo aí? — o guarda agita sua lanterna


mais uma vez e a luz oscila sobre meus
olhos, me fazendo pestanejar um pouco.

— Merda — Evan murmura ao meu


lado, mas ele parece até calmo demais para
alguém que acabou de se meter em encrenca.
Limpando a garganta, ele altera o som da
voz para que o homem o escute: — Nós

estávamos apenas nos divertindo, senhor.

O homem dá uma risada seca. Ele é


alto, por volta dos quarenta e tem uma
aparência muito rude para alguém que vai

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nos deixar sair dessa enrascada sem ao


menos uma punição.

— Degradar muros da cidade agora é


diversão? — Seu olhar desvia para a parede

e sua testa se vinca quando lê as frases que


estão escritas. — Que monte de baboseira é
essa?

Não tenho nem mesmo cabeça para me


sentir ofendida. O cara está bastante

irritado, diga-se de passagem. A mão de


Evan escorrega para a minha e ele segura
meus dedos firmemente.

O homem se aproxima mais um passo,

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voltando a apontar sua lanterna maldita em


minha direção.

— Quantos anos você tem, querida?

— Hm... eu... tenho dezoito —


respondo e sinto a mão de Evan se firmar
ainda mais contra a minha.

Ele passa a mão sobre o queixo, seu


olhar como o de uma águia.

— Não é um local um pouco deserto e


escuro para uma garotinha como você estar
metida com um cara como ele? — ele
finaliza, apontando com o queixo para Evan.

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Não gosto de ser chamada de garotinha,

e gostei muito menos do seu tom hostil ao


falar sobre Evan. Ele provavelmente já está
acostumado com esse tipo de julgamento,

mas isso não quer dizer que eu deva me


sentir bem com essa situação.

— Não há mal algum em estar com


alguém como ele — retruco. — Ele é uma
pessoa legal, além disso somos amigos.

O homem dá uma risada, lançando um


outro olhar para Evan.

— Amigos, hein? Esse truque sempre


funciona — torço o nariz para sua

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insinuação. — Ouça bem, eu já lidei com


muitos rapazes como ele, querida. Você
deveria ouvir o meu conselho e se afastar
enquanto há tempo.

— Rose — Evan sussurra, ainda sem


tirar os olhos do homem. — Me dê sua lata.

Eu faço como ele me pediu. Evan


continua, no mesmo tom:

— Eu vou jogar essas latas no chão, e


preciso que você fique bem atenta, porque
quando eu fizer isso nós vamos correr, ok?

Eu engulo em seco, congelada em meu

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lugar. Meu coração começa a bater ainda


mais rápido.

— O... que... nós...

— Rose, fique calma — ele pede e eu


me questiono internamente como alguém
consegue ficar calmo em uma situação como
essas. — Vou tirar a gente dessa, apenas
colabore.

Eu apenas assinto porque, realmente,


não tem nada que possamos fazer agora.

— Vocês vão ficar aí me olhando? — o


homem rosna. — Quero que limpem essa

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bagunça toda e... ei!

Esse é o momento em que Evan atira


nossas latas ao chão, se vira, me puxa
consigo e corre.

Sem opção, eu corro com ele. Sinto


meus pulmões chorarem por ar, minhas
pernas queimarem, mas mesmo cansada não
diminuo os passos.

Dobramos uma esquina e continuamos


correndo. Tenho vontade de olhar para trás e
me certificar de que o homem está longe de
nós agora, mas evito fazê-lo e correr o risco
de diminuir meus passos.

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De repente, ele entra em uma rua à

direita, ainda me puxando consigo, e então


eu sou sugada para a escuridão. Evan me
puxa bruscamente e bate minhas costas

contra uma parede fria.

E então é como se tudo ao nosso redor


houvesse parado. O silêncio é denso, o local
frio e aparentemente úmido. Provavelmente
estamos em uma viela ou coisa parecida.

Ainda sinto minha respiração


dificultada ao engolir em seco. Minha
garganta se movimentando lentamente ao
passo que meus ouvidos se aguçam para

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qualquer barulho ao nosso redor. Meu


coração ainda está batendo com força, mas
finalmente deixo meus músculos relaxarem-
se aos poucos.

— Você... se mete em situações como


essa constantemente? — lanço um sussurro
entrecortado. Estamos imersos na escuridão,
mas ainda tenho medo de que a qualquer
momento o homem apareça e nos encontre

aqui.

— Algumas — confessa. — Gosto de


viver perigosamente.

Paro para pensar no que acabamos de

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passar, fugindo de um guarda de rua como se


fôssemos uma dupla de criminosos
inconsequentes e, não sei se por nervoso ou
o quê, de repente uma risada borbulha da

minha garganta.

— Oh, meu Deus! — murmuro com voz


estridente enquanto começo a rir mais e
mais.

Eu tento me controlar, mas cada vez

que procuro prender o riso, ele vem mais


intenso.

Ouvimos barulho de passos e


institivamente Evan põe a mão sobre a

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minha boca, abafando meus sons e cortando


meu riso.

— Shh — sussurra, aproximando-se


ainda mais de mim.

Meus sentidos parecem muito mais


aguçados agora, e eu sou capaz de sentir o
cheiro de Evan pairando bem próximo. Meus
olhos já se ajustaram à escuridão, e é fácil
detectar a sua silhueta muito próxima da

minha. Seu peito está na altura dos meus


olhos.

Depois de um silêncio terrivelmente


longo, Evan desliza a mão para fora da

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minha boca. No entanto, ela se detém no


meu pescoço. Engulo em seco quando o
polegar de Evan passeia sobre a área da
minha pulsação e ele inclina a minha cabeça

para cima.

Eu gostaria de saber o que ele está


pensando agora. Também gostaria de poder
ver seus olhos com clareza, mas a única
coisa que posso sentir é o movimento da sua

mão sobre a pele do meu pescoço, enquanto


a outra se aloja na minha cintura e dá um
aperto suave.

— Você me defendeu — diz com voz

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branda.

— Por que não defenderia? — retruco


no mesmo tom. — É injusto julgarem sua
índole apenas pela aparência.

Ele inclina a cabeça para baixo, fazendo


com que seu cabelo roce a lateral do meu
rosto e seu nariz escove a região logo abaixo
da minha orelha.

— Você é muito doce, Rose — sopra


contra a minha pele e a única reação que
consigo ter é agarrar a sua camisa para
evitar que meus joelhos cedam.

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— Como... — umedeço meus lábios

ressecados. — Como tem tanta certeza


disso?

Ele ri fracamente.

— Um cara pode perceber certas coisas


muito facilmente quando se empenha em
observar uma garota.

Seu tom não é arrogante, muito pelo

contrário... ele carrega algo rouco e


quente..., mas isso não impede que o
nervosismo se alastre por cada pedacinho de
mim.

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— Então... você consegue perceber que

tipo de garota eu sou?

Ele sorri.

— Sim — murmura. — O tipo de garota


que, mesmo não enxergando muitos motivos
para sorrir, possui um sorriso lindo. Um
sorriso que eu faria questão de pintar em
cada muro da cidade se tivesse a
oportunidade.

Fico sem fala. Principalmente quando a


mão que está no meu pescoço se move para
colocar uma mecha de cabelo atrás da minha
orelha. Seu nariz volta a sondar o meu

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pescoço, e eu estremeço, sentindo meus


pelos se levantarem.

— Ev... — Gaguejo. — O... o que você


está fazendo?

— Eu não sei — sua resposta parece ser


sincera. Ele aparenta tão perdido quanto eu.
— Realmente não sei, Rose.

Ele me puxa para si e eu não protesto

em nenhum momento. Posso sentir sua


cabeça se movimentando para baixo, para
baixo... e então...

Seus lábios encontram os meus.

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Fico imóvel, meus olhos ainda muito

abertos. Assustada o bastante para dar um


próximo movimento, mas também muito
excitada para querer que ele se afaste.

É como se fogos de artifício


explodissem dentro do meu peito, formigas
dançassem sob a minha pele e um
redemoinho estranho se formasse em meu
ventre. Evan descola seus lábios dos meus,

mas não se afasta muito. Ele volta a roçar


sua boca contra o canto da minha, sondando,
me incitando. Finalmente fecho os olhos e
abro meus lábios, dando-lhe fácil acesso.

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E então eu derreto.

Minhas penas derretem.

Tudo dentro de mim está virando

líquido.

Ele me empurra ainda mais para a


parede, sua língua ganhando espaço dentro
da minha boca. Seus toques são suaves,
cuidadosos, mas, mesmo assim, me

queimam. É uma queimadura boa, no


entanto. Eu nunca havia sentido algo como
isso com ninguém. Essa conexão, esse
desejo de que esse momento jamais vá
embora. A confiança que tenho nele, mesmo

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nos conhecendo em tão pouco tempo.

O corpo de Evan está quente contra o


meu, nossos corações batendo muito rápido.
Um braço está cingindo a minha cintura e

ambas as minhas mãos estão agarradas à sua


roupa, como se por instinto estivessem
tentando evitar que esse momento acabe
rápido.

No entanto, infelizmente, Evan

interrompe o beijo e se afasta de repente,


como se estivesse pegando fogo.

Ainda estou fisicamente instável


fisicamente para ousar dizer ou fazer alguma

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coisa.

— Merda, me desculpe! — sua voz


carrega certa angústia.

Ele passa as mãos sobre os cabelos, me


dando as costas, parecendo perdido. Eu fico
imóvel, sentindo-me zonza, tentando
conseguir recuperar por completo o ar.

O que foi isso?

Respiro fundo. Meu coração está tão


frenético que eu tenho medo de ter um
infarto. Ele se vira para mim novamente e
volta a passar a mão pelos cabelos.

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— Rose, olha...

— Acho que ele já não nos alcança mais


— solto, forçando um olhar para a entrada
da viela.

Ele para em seu lugar, parecendo ficar


confuso com a minha tentativa de tornar esse
momento menos constrangedor, mas depois
de alguns segundos de confusão, ele
finalmente relaxa e lambe os lábios bonitos

e quentes, que estiveram muito próximos dos


meus e... ai, droga!

Me afasto da parede, precisando ficar


um pouco mais longe de Evan também.

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Minha pele ainda formiga, seu toque ainda


muito vivo, mas me controlo.

— Pois é — ele diz. — Acho que já


podemos sair daqui, né?

Aquiesço, e então começo a caminhar,


ciente de que ele não vai ter muita
dificuldade para me alcançar. Eu espero que
ele vá avançar e segurar minha mão, como
sempre faz, mas felizmente Evan se mantém

afastado. O clima está um pouco estranho.

Quando chegamos no hotel, paro na


porta do meu quarto. Evan faz o mesmo.

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— Bom, foi cansativo, mas finalmente

chegamos — diz.

Eu permito que um sorriso alcance


meus lábios.

— Eu gostei — falo, tentando fazer com


que ele perceba que essa frase tem um
sentido muito mais amplo. — Foi... legal. Eu
achei tudo incrível.

Ele sorri de volta, parecendo perceber o


que quero dizer.

— Eu também gostei, Rose — fala. —


Gostei muito. De verdade.

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Há varias Roses dentro de mim, dando

pulinhos de alegria e fazendo high fives no


ar. Mordo o lábio inferior, de repente sem
saber ao certo o que fazer depois disso.

— Nós poderíamos fazer isso mais


vezes, não é? — sugiro, me questionando
aonde se meteu o meu filtro quando eu
finalmente preciso dele.

Evan abre um sorriso triste e se

aproxima alguns passos. Automaticamente


minha pulsação se acelera. Ele ergue a mão,
acariciando o meu lábio inferior e eu
suspiro. Estou a ponto de implorar para que

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ele me beije de novo, mas para o meu bem,


ainda tenho um pouquinho de orgulho e
sanidade.

E então, ele me surpreende ao me puxar

para si e me abraçar, colando a lateral do


meu rosto contra seu peito, apoiando seu
queixo sobre a minha cabeça. Mesmo
desconcertada, eu o abraço de volta, meus
sentimentos muito confusos para que eu

decida dizer algo e estragar o momento.

— Você é uma garota muito legal, Rose


— Ele começa a acariciar o meu cabelo. —
Você merece o mundo, e eu sei que terá isso

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um dia.

Franzo o cenho, ainda confusa. O que o


fato de eu querer beijá-lo novamente tem a
ver com isso?

— Eu... eu posso não querer o mundo


inteiro — digo. — Posso querer apenas uma
coisa.

Eu sei que já soltei a minha língua

demais hoje, e o mais sensato seria ficar


calada, mas infelizmente eu não mando nas
minhas emoções estúpidas.

— E é exatamente por isso que eu digo

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que você merece o mundo. Pelo fato de você


nunca pedir muito, mesmo merecendo o
máximo. — Sinto que sorri. — Mas talvez
aquilo que você queira não seja a melhor

coisa pra você agora.

Que diabos? Ele está dizendo que não é


bom o bastante para mim?

Eu me afasto dele, cansada de falar por


enigmas, e limpo a garganta, procurando me

recompor. Se Evan está arrumando desculpas


para não repetir o que aconteceu naquela
viela, não serei eu a ficar insistindo nisso.
Tudo bem, foi um erro. Um erro que não

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deveria ter acontecido. Nós somos amigos e


crescidos o bastante para não deixar que um
b eijo afete a nossa amizade, certo?

Certo, o meu cérebro diz. Mas o meu

coração está apertado e meus olhos estão


começando a arder.

Merda, Rose.

— Estou cansada — digo, sem fazer

contato visual com ele. — A gente se vê


amanhã.

Evan parece um pouco incerto e


relutante, mas por fim suspira.

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— Claro — ele diz, aproximando-se de

mim e me dando um beijo na testa. — Boa


noite, Luz do Sol.

— Boa noite... Lótus — ele sorri e

então permanece no corredor até eu estar


dentro do quarto.

Depois que fecho a porta, me apoio


contra ela e escorrego até o chão. Meus
dedos vão direto aos meus lábios e eu sinto

uma leve comichão no local, como se a boca


dele estivesse sobre a minha novamente.

Praguejo baixinho e fecho os olhos,


logo me dando conta de que talvez tenha

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caído em uma armadilha orquestrada pelo


meu próprio coração. As imagens de Evan,
diversas delas, preenchem os meus
pensamentos. Volto a pensar no beijo e em

como eu não deveria ter ficado tão afetada


por isso. Tudo bem que ele é lindo, incrível
e muito mais experiente, mas eu já beijei
garotos antes. Muitos deles.

Mesmo com toda a turbulência, não

posso negar que esse dia será memorável.


Não me arrependo de nada do que fiz hoje.
Muito menos de ter finalmente beijado Evan
Prescott.

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Ao final da noite, me deito com um

pensamento em mente: colocar mais um item


na lista de qualidades do Evan.

E, sem sobra de dúvidas, o seu beijo

ficará entre as maiores delas.

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— Por favor, me diga que você não está

ligando para avisar que pretende voltar


ainda hoje — Maven diz, assim que atende o
seu telefone. — Meus dias como um

vagabundo devasso estão indo muito bem


sem todo seu puritanismo.

Ligo o motor do Honda Civic preto e


aciono o ar condicionado do carro.
Ignorando a ânsia de verificar mais uma vez

o relógio em meu pulso, volto minha atenção


para o celular.

— Se você já não houvesse se declarado


para mim diversas vezes enquanto esteve

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bêbado, eu me sentiria um pouco ofendido


ao ouvir isso.

Ouço um farfalhar de algo, como se ele


estivesse se levantando da cama. Lembro-me

que ainda é cedo, e hoje é sexta. É claro que


Maven estaria enrolado nos lençóis uma hora
dessas.

— Não use as palavras de um cara


bêbado contra ele — diz. — Isso é covardia.

— Não fira meus sentimentos e eu não


vou jogar sujo — refuto em tom de
brincadeira. — Novidades?

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— Nada que vá mudar a sua vida — ele

diz, perceptivelmente entediado. — Pelo que


sei, os idiotas da sua fraternidade ainda não
retornaram; o seu pai está em Seattle a

trabalho, como sempre; e digamos que seu


carro está sendo muito bem aproveitado.

— Algo que exija uma esterilização dos


meus bancos de couro depois?

— Por mais que a ideia seja

extremamente tentadora, você já tentou


transar no banco traseiro de um carro
esporte? — Deixo meu olhar em branco ao
imaginar o sorriso malicioso que ele ostenta.

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— Fique tranquilo, meu amigo. Estou


aproveitando esse possante de uma outra
maneira.

Eu resmungo algo de volta e volto a

olhar para a entrada do Hotel. Estou há


quase meia hora no carro que peguei
emprestado no hotel, aguardando Rose, que
disse que me encontraria aqui embaixo em
breve, porém ainda não apareceu. Eu sei que

ela está me evitando ao máximo, o que


provavelmente é tudo minha culpa. Eu não
deveria ter cedido aos meus impulsos e a
beijado tão de repente, como um idiota
egoísta.
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Eu não preciso brincar com os

sentimentos de uma garota tão boa, muito


menos deixar ela confusa. Não sou esse tipo
de cara.

— Evan? — a voz de Maven interrompe


meus pensamentos.

Eu passo a mão sobre o rosto, tentando


levar embora todas as lembranças de ontem.

— O que foi?

— Eu quem deveria estar perguntando


isso — ele rebate. — Estou há um tempão
tentando chamar sua atenção e você não me

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responde. O que aconteceu?

— Nada.

— O inferno que não houve nada —

retruca. — Conheço você desde que éramos


crianças, idiota. O que está havendo?

Eu volto a passar a mão pelo rosto,


sabendo que não tenho saída. Então, para
evitar que ele me amole ainda mais, disparo:

— Eu a beijei.

Maven engasga.

— O... o que você disse?

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— Eu beijei a Rose.

Silêncio.

— Posso dizer “eu avisei’?

— Não.

— Ok — limpa a garganta. — Então,


como foi?

— Eu não vou falar sobre isso com você


— retruco. — Mas saiba que não foi ruim.

Foi... diferente. Estou me sentindo o cara


mais estúpido e sortudo do mundo, isso faz
algum sentido?

Ele não diz nada imediatamente, mas eu


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sei que seu cérebro está trabalhando em cada

detalhe da pouca informação que lhe foi


passada. Maven não é idiota, e eu sei que
talvez ele saiba muito mais sobre a minha

vida do que qualquer outra pessoa, além da


Rose, já soube. Ao menos o que eu me
permito mostrar, ele sabe.

— Evan, você está ciente da minha


opinião em relação a isso, certo? — ele diz.

— Sei que não sou o melhor cara para fazer


isso, mas se quer realmente ouvir um
conselho de amigo: afaste-se antes que essa
menina se apaixone por você. Vocês dois
têm problemas. Muitos deles. E eu não acho
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que seja o mais saudável adicionar mais um


item nessa lista.

Eu não fico muito feliz ao ouvir Maven


falando sobre Rose como se ela fosse um

problema na minha vida, mas antes que eu


tenha chance de lhe dar uma resposta, vejo
Rose se aproximando do carro.

— Preciso desligar — digo para Maven.


— A gente conversa melhor quando eu

voltar. Se cuida, cara. Tchau.

E então eu desligo.

Ela abre a porta do carona e escorrega

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para o banco ao meu lado. Fecha o cinto de


segurança ao redor do seu corpo e força um
sorriso desajeitado em minha direção.

— Desculpe a demora — diz, ainda sem

fazer contato visual comigo. Isso é


perturbador.

— Não se preocupe com isso. São


menos de duas horas de viagem e a gente vai
chegar lá rapidinho. — Inclino a cabeça. —

Está tudo bem?

Ela abre um outro sorriso forçado e


alisa a saia de seu vestido.

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— Sim — diz. — Está tudo ótimo.

— Então não fique tão tensa — tento


tranquilizar não só ela, mas a mim mesmo. É
impossível ignorar sua expressão perturbada

e desconfortável. Odeio vê-la assim. — O


que eu disse sobre o seu sorriso não era
mentira. Você poderia sorrir mais vezes para
mim?

Eu cutuco a sua cintura e ela acaba

dando uma risadinha, verdadeira dessa vez.

— Ok — cede.

— Bem melhor — digo. — Vamos lá.

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Vamos conhecer a Paige.

Durante todo o percurso, nós não


falamos sobre muita coisa. Para evitar que o
silêncio se torne denso e estranho, eu mesmo
me encarrego de deixar o som do carro

ligado durante todo esse tempo. Rose me


parece um pouco mais tranquila agora,
lançando-me olhares vez ou outra. Eu me
pego desviando os olhos para seus lábios
algumas vezes também, e me repreendo
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internamente. Por mais que eu queira, como


ela mesma sugeriu, repetir o que fizemos
naquela viela, sei que não posso correr o
risco de lhe dar esperanças falsas. Não estou

em meu melhor momento, e sei que ela


também está lutando arduamente para
colocar todas as suas coisas nos eixos.
Detesto ter que concordar com ele, mas
talvez Maven tenha razão.

Quando a voz robótica do aplicativo de


GPS me orienta a entrar em uma
determinada rua, assim eu faço, começando
a ficar com uma pulguinha atrás da orelha ao
constatar o quão bem cuidado e
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aparentemente valorizado é o lugar. Não que


eu esteja incomodado por saber que minha
sobrinha está, provavelmente, vivendo em
um lugar muito mais bem cuidado do que a

rua em que Emily morava quando ainda


vivia em New Hampshire, mas isso me faz
questionar como diabos ela está conseguindo
se manter em um lugar como esses.

Eu paro em frente a casa com um

imenso portão de garagem branco.


Certificando-me de que o endereço é o
mesmo que a senhora me informou, saio do
carro.

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— Uau — Rose diz, seguindo-me. —

Isso não é nada parecido com o lugar em que


estivemos antes.

Concordo, ainda achando essa situação

muito estranha.

— Vamos lá — digo. — Espero que


aquela mulher não tenha nos dado o
endereço errado.

Aperto o único botão de interfone, e


depois de algum momento, uma voz
feminina atende:

— Sim?

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— Emily Carter? — digo.

— A Emily não está — a moça


responde. — Gostaria de deixar recado?

Eu sinto a frustração rasgando seu


caminho, mas, mesmo assim, não volto atrás
na minha decisão.

— Escute, eu sou Evan, o tio de Paige


— Meu tom de voz é mais suave que o

habitual. — Vim visitar a minha sobrinha.


Você poderia me deixar entrar?

Sinto alívio ao perceber que a menina


não cria resistência.

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— Bem, se é assim, tudo bem — diz. —

Só um minuto.

Segundos depois, o portão automático


se abre, dando-nos a visão de uma casa não

tão ostensiva, mas grande o bastante para


uma garota e um bebê morarem sozinhas. Me
pergunto se Emily acabou se casando com
alguém, e isso me leva a questionar o quanto
de problemas eu estaria trazendo para sua

vida ao aparecer assim, do nada, em sua


nova casa.

De qualquer forma, Paige tem o meu


sangue. Não posso deixar que ela cresça sem

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poder conhecer o tio.

Ao chegarmos na entrada, uma moça


sorridente aparece na porta. Não é Emily,
mas parece ser alguém bem próxima a ela.

— Olá — ela diz, estendendo uma mão


para cumprimentar respectivamente eu e
Rose. — Vocês não me conhecem, mas sou
Maggie, a babá. Entrem.

Ela lidera o caminho e a seguimos. No


instante em que passamos pela porta de
entrada da casa, noto que o aspecto do
ambiente, a mobília e toda a decoração,
condizem com todo o restante que eu havia

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observado antes.

Realmente, Emily tem uma nova vida


na Califórnia.

— Emily não me disse que Paige


possuía tios por perto — ela se vira para
mim.

— Na verdade, eu vim de longe —


explico. — Resido em New Hampshire.

Ela balança a cabeça e sorri.

— Oh, sim — diz. — O senhor Prescott


também está na cidade?

Enrugo a testa ante seu questionamento.


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— Senhor Prescott?

— Sim, o deputado — afirma. —


Imagino que seja seu pai, certo?

Troco um olhar significativo com Rose,


voltando-me para Maggie logo em seguida.

— De onde conhece o meu pai?

— Bem... ele vem visitar Paige sempre


que pode — responde. — Você não sabia?

— Na verdade, eu... — antes que eu


possa finalizar a frase, a porta se abre.

— Oh, Maggie, eu sou tão desatenta —


Emily diz, passando pela porta. — Esqueci
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de pegar minha... — sua voz falha quando

seus olhos param exatamente na minha


figura parada bem no meio da sua sala.

Sinto Rose se aproximar de mim,

dando-me um apoio silencioso. É um pouco


estranho estar nessa situação, porém não me
amedronto.

— Olá, Emily.

Ela fica em transe por um parco tempo,


seus olhos ainda vidrados em mim, mas
parece se recompor bem rápido.

— O que você está fazendo aqui? —

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questiona, visivelmente nervosa.

— Sou tio de Paige — aponto-lhe o


óbvio. — Acho que tenho o direito de
conhecer minha própria sobrinha.

— Você... — ela limpa a garganta. —


Como você descobriu onde estávamos?

— Isso é uma longa história —


respondo. — Podemos nos sentar e

conversar como duas pessoas civilizadas?

— Estou atrasada para o trabalho — ela


logo atira. Vejo o uniforme preto que está
usando, com o logo de uma cafeteria famosa.

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— Tenho certeza de que uma ligação

resolveria o seu problema — digo. — Afinal,


estamos falando da nora de Felton Prescott,
certo?

Percebo a forma como sua expressão


muda, e por um breve momento me pergunto
se estou sendo duro demais ao julgá-la. Mas
é impossível não ficar com uma pulga atrás
da orelha depois de descobrir que ela ainda

mantém contato com o meu pai. E que, de


quebra, ele sempre vem visitar a minha
sobrinha em segredo. Isso me deixou
irritado.

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— Maggie — ela diz. — Você poderia

nos dar licença?

A garota anui e em seguida se retira.


Rose fica vacilante e faz menção de seguir

Maggie, mas eu seguro em sua mão,


deixando claro que a quero aqui comigo.
Acho que vai ser mais fácil ter esse tipo de
conversa com Emily, com ela ao meu lado.

— Bem... — Emily limpa a garganta. —

Acho que não fizemos as apresentações


corretamente, não é? — Ela olha para Rose.
— Eu ainda não sei quem você é.

— Ela é alguém muito especial — digo,

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apertando a mão de Rose. Não sei quem de


nós está mais tenso aqui. — Não se preocupe
em conversarmos na frente dela. A Rose é de
confiança.

— Imagino que sim — Emily diz. —


Por favor, vamos nos sentar.

Nos acomodamos nos sofás, Rose ao


meu lado e Emily de frente para nós. Ela me
parece bem diferente da garota tímida e

amedrontada que eu conheci brevemente há


alguns anos. Talvez a maternidade tenha lhe
feito amadurecer. Ou a morte de Ethan. Eu
me sinto diferente depois que perdi ele,

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também.

Emily é quem quebra o silêncio:

— Não sei muito bem por onde

começar.

— Que tal se você me dissesse o porquê


de ter fugido de New Hampshire daquela
forma?

Ela solta um suspiro embargado.

— Quem na minha situação não fugiria,


Evan? — questiona. — Me admira você, o
irmão dele, ter aguentado isso por tanto
tempo.

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— Tive meus motivos — anuncio, na

defensiva. — Sei que você também tem os


seus.

Ela abaixa o olhar e volta a puxar e

soltar o ar. Alisa a sua calça preta,


provavelmente tentando secar o suor das
mãos. A sala está fresca, mas sei que sua
reação nada tem a ver com a temperatura
ambiente.

— Eu... sinto falta dele — diz, optando


por desviar do assunto. — Todos os dias, a
cada minuto. Sinto muita falta dele.

— Eu também — compartilho, pois é a

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verdade. Sempre senti falta do meu irmão,


mesmo quando ele ainda estava vivo. Nós
éramos distantes, e havia um vazio imenso
dentro de mim, mas me aliviava saber que

ele ao menos estava vivo e que existiam


esperanças de que ele finalmente se
libertasse e decidisse ser feliz um dia.

Depois que Ethan morreu, foi como se


uma parte muito maior houvesse sido

arrancada da minha alma. Uma parte que


talvez jamais pudesse ser recuperada um dia.

— Eu ainda não entendo como diabos


as coisas foram chegar a esse ponto —

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Emily murmura, e eu sinto uma pitada de


revolta em seu tom de voz. — Em um
momento, eu era a garota mais feliz do
mundo, mesmo sabendo que o sentimento

que eu tinha por ele não era devidamente


correspondido; e em outro, meu mundo
estava ruindo.

— Imagino o inferno pelo qual você


passou Emily, mas para Ethan não foi

diferente, acredite — falo. — Ele gostava


muito de você, mas...

— Ele dizia que não se sentia bem,


estando comigo — me interrompe. — Que

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não podia me amar da forma que gostaria.

Eu puxo o ar com força, sentindo-me


dez anos mais velho.

— Como ele poderia dar amor a você,


se não estava conseguindo amar nem a si
mesmo, Emily? — falo. — Isso não é algo
que Ethan escolheu fazer. Você acha que ele
não ficaria com vocês duas, caso achasse
que tinha escolha?

— Sinceramente não sei, Evan — ela


fala. — Quando eu estava com poucos meses
de grávida, sugeri que Ethan contasse aos
seus pais sobre a gravidez. Ele prometeu

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fazer, mas não cumpriu a promessa, como eu


imaginei, e foi quando eu não aguentei mais
— Ela pausa para respirar. — Eu sabia que
algo estava errado com ele, mas havia

muitas coisas que Ethan escondia de mim...


coisas que só fui saber algum tempo depois.

Aproveito o momento e tiro a cópia que


fiz da carta de Ethan, entregando a ela.

Emily pega o papel com mãos trêmulas,

seus olhos começando a marejar quando ela


lê as primeiras linhas.

— Ele escreveu essa carta, momentos


antes de... bem, de ter feito o que fez —

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digo. — Ele sempre pensou em você e em


Paige, por mais que não pareça. Eu tenho
certeza de que não foi fácil para ele fazer
aquilo.

Ela limpa uma lágrima que escorre por


sua bochecha.

— Foi ele quem escolheu o nome dela


— diz, pensativa. — Quero dizer, eu ainda
não tinha ideia de qual nome dar, e quando

descobriu que seria uma menina, queria que


se chamasse Paige — ela sorri, triste.

Acabo sorrindo de volta. Talvez Emily


não saiba, mas essa foi apenas uma maneira

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de Ethan mostrar que se preocupava com a


própria filha.

— Você sabe... — começo com cuidado.


— Não foi a intenção dele magoar você.

Ethan preferiria ferir a si mesmo do que


ferir os sentimentos de alguém que ele
gosta. Eu sei que para ele era muito difícil
lidar com tudo isso. Com suas descobertas
e... todo o resto.

Ela anui fracamente.

— Eu sei — fala, aparentando sincera.


— Ele não chegou a me contar, mas eu
percebi. Quando estávamos juntos era... não

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sei, era como algo robótico. Eu pensei que


isso tivesse relacionado ao fato de ele não
estar apaixonado por mim, mas depois as
peças foram se encaixando.

— Ele amava você, Emily — garanto.


— Não da forma como você talvez gostaria,
mas acredite em mim quando digo que ele
amava muito você.

Ela fica em silêncio por um momento e

em seguida volta a inspecionar a carta. Vejo


as lágrimas descerem por seu rosto. Rose
alisa meu braço, e me dá um olhar
expressivo, como se estivesse pedindo para

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que eu não interrompa esse momento de


Emily com uma das poucas coisas que
sobrou de Ethan.

— A culpa foi minha — diz, ainda de

cabeça baixa. — Eu tinha acabado de


terminar com ele pouco tempo atrás, logo
após me dar conta de que ele não iria se
esforçar para fazer nosso relacionamento
funcionar. Estava fragilizada e irritada, o

pressionei e nós brigamos... merda, a culpa


foi toda minha.

Eu me inclino sobre o sofá e seguro sua


mão, afagando.

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— Não foi sua culpa, Emily. Não foi

culpa de Ethan também, isso eu posso


garantir — digo. — O meu irmão estava
passando por uma fase realmente difícil, ele

precisava de ajuda e não encontrou ninguém


para ajudá-lo naquele momento. O fato de
ele, aparentemente, não ter dado a mínima
para você e Paige, provavelmente tinha a ver
com a sua condição. Se tem alguém que
influenciou para que meu irmão chegasse a

esse ponto, esse alguém é o meu pai.

Ela puxa a mão de entre as minhas.

— Seu pai não é um homem tão ruim

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assim, Evan.

— Fiquei sabendo que ele vem ver


vocês com frequência — Inspeciono sua
reação. — Algo a me dizer sobre isso?

Ela volta a limpar mais uma lágrima no


rosto e em seguida ergue o olhar em minha
direção.

— Felton... tem sua própria maneira de

lidar conosco. Ele gosta da Paige, e isso é


bom.

— Gosta da Paige, a escondendo do


resto do mundo? — solto um riso sem

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humor. — Não acho que essa seria a forma


mais adequada de mostrar sentir amor pela
própria neta.

— Ele não quer escândalos — defende.

— Claro que ele não quer — ironizo. —


Você sabia que Ethan não tinha vergonha,
mas sim medo de apresentá-la à minha
família? Que o meu pai o ameaçava
constantemente em lhe deserdar caso ele não

“desse um jeito” no relacionamento que


possuía com a “garota do subúrbio”?
Chocante, não é? Mas acredite, não são
palavras minhas, e sim dele. O homem que

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você está defendendo agora é um ser


desprezível e preconceituoso. Ele infernizou
a vida do próprio filho ao desconfiar de que
ele era gay. Felton Prescott é a última pessoa

nessa história que merece ser defendida.

Ela desvia o olhar. Sua expressão é


lívida.

— Não sou a maior fã do Felton,


acredite em mim, mas Paige o adora, e sei

que ele também ama a menina do jeito dele.


Eu vi aquele homem quase chorar ao ver o
fruto do próprio filho pela primeira vez. Eu
vi um pedaço dele que tenho quase certeza

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de que nem mesmo você chegou a ver. Nós


temos um trato e eu simplesmente não posso
trair a sua confiança.

— Impossível — repito, incrédulo. É

difícil acreditar que meu pai chegou a chorar


um dia. Muito menos que ele chegou a ponto
de chorar na frente de Emily, alguém por
quem demonstrou tanto asco no passado. —
Imagino que esse lugar em que você mora

tenha um dedo dele também, não é? Ele está


comprando a sua lealdade?

— Não coloque dessa maneira — diz.


— É injusto você me colocar nessa posição,

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Evan. Felton ajuda nas despesas e não


permite que falte nada para Paige, mas não
vejo nada de errado nisso. Ela é neta dele, e
isso é...

— Errado — completo, ainda muito


indignado para entender os motivos do meu
pai. — Não é assim que as coisas deveriam
funcionar, Emily. Você gerou uma criança
com um Prescott. Temos, não só o dever de

arcar com as despesas dela, mas também


assumir essa criança como um membro da
família. Não simplesmente escondê-la em
uma casa cara e achar que está tudo bem.

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Ela suspira.

— Por favor, não torne as coisas mais


difíceis — diz. — Você pode não entender
isso agora, mas se um dia vier a ser pai, vai

desejar fazer qualquer coisa para que seu


filho viva bem. Mesmo que isso inclua se
aliar a alguém que talvez não mereça.

Abrando meu tom de voz, sabendo que


Emily, assim como Ethan e Paige, é só mais

uma vítima nessa história. Meu pai tem uma


espécie de prazer doentio em ver pessoas
sendo manipuladas por ele, e está
conseguindo mais uma vez. Nada de novo.

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— Tudo bem, eu não vim aqui para

pintar uma imagem a respeito do meu pai


também — falo. — Vim conhecer a minha
sobrinha, acima de tudo. Posso vê-la?

Ela força um sorriso, parecendo


aliviada por eu finalmente ter desistido de
pressioná-la.

— Claro que sim — afirma. — Irei


buscá-la. Só um minuto.

Emily se levanta e sai da sala, indo em


direção ao corredor. Sinto a mão de Rose
alisar o meu braço e direciono minha
atenção a ela. Seu sorriso é quase que um

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bálsamo, aliviando toda turbulência dentro


da minha cabeça.

— Não fique tão nervoso — sussurra.


— Você está indo muito bem. A Paige vai

adorá-lo.

— Obrigado — digo. — Obrigado por


ter ficado comigo.

Ela dá um aperto suave em meu bíceps.

— Sempre.

O barulho de passos se aproximando


interrompe nossa interação. Assim que
Emily adentra a sala com o bebê, eu sinto

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como se tudo dentro de mim se derretesse.

Paige está linda em seu vestidinho com


babados cor de rosa.

Quando Emily coloca a minha sobrinha

em meus braços, eu me sinto um pouco


desajeitado porque, diabos, nunca segurei
um bebê antes, e ela aparenta tão frágil em
relação a minha estrutura muito maior e
mais forte que a dela.

— Olá, pequena Paige — digo, sentindo


algo quente em meus olhos e orando para
que não sejam lágrimas. Isso seria
embaraçoso. — Eu sou seu tio Evan.

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Ela remexe suas mãozinhas por um

tempo e em seguida me oferece um pequeno


sorriso banguela, seu olhar muito fixo em
meu rosto. Ela tem o cabelo escuro de

Emily, mas seus olhos são de um azul


acinzentado profundo. Como os de Ethan.
Como os meus.

— Você gostou de mim, não é? — digo,


percebendo seus dedinhos gorduchos

abraçarem meu indicador com força. —


Também gostei muito de você.

Depois de um momento, volto a encarar


sua mãe.

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— Por favor, Emily. Minha mãe precisa

conhecê-la — digo. — Além de ser a avó


dela, Lauren foi uma das pessoas que mais
se afetou com a morte de Ethan. Ela está a

cada dia mais quebrada, enfiada em uma


bolha de fantasia ocasionada pela bebida.
Nós já tentamos quase de tudo, mas é
praticamente impossível fazer com que ela
saia dessa. Eu tenho certeza de que Paige
seria um grande avanço em todo esse

processo.

— Eu sinto muito, Evan — diz. — Mas


não posso fazer isso. Simplesmente não
posso expor minha filha ao risco de ficar
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sem a mãe um dia. Eu não quero criar


inimizades com Felton. Preciso de um pouco
de paz.

Estou desgostoso, mas acabo aceitando.

— Apesar de ainda não estar de acordo,


vou respeitar sua decisão. Paige é sua filha,
e eu sei que você, como mãe, está optando
pelo que acredita ser o melhor para ela —
digo. — Mas espero que você mude de ideia

algum dia.

Ela assente.

— Muito obrigada — diz. — De

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verdade.

A hora de irmos embora chega e eu


estou relutante em deixar Paige para trás. É
a primeira vez que vejo essa menina e já

estou me sentindo tão apegado a ela, como


se ela fosse um pedaço de mim. Mas
pensando bem, ela é um pedaço do meu
irmão gêmeo, o que a torna um pedaço de
mim também.

— O tio Evan já ama você, pequena


Paige — digo, dando um beijo carinhoso na
testa da minha sobrinha. — Prometo vir vê-
la novamente em breve.

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E então eu entrego a menina a Emily,

levantando-me. Rose faz o mesmo.

— Irei manter contato, Emily — falo.


— Caso você mude de ideia, me ligue. Virei

buscar vocês duas, e garanto que meu pai


não vai fazer nada contra vocês.

Ela solta um suspiro profundo e meneia


a cabeça.

— Tudo bem, obrigada.

Uma vez dentro do carro, Rose segura a


minha mão e me surpreende ao levá-la aos
lábios e beijar meus dedos suavemente.

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— Está tudo bem?

— Sim — sorrio. — Obrigado por ter


vindo.

Ela sorri de volta.

— Sua sobrinha é uma graça, e é linda.


Entendo o olhar de tio bobão que você
estava ostentando enquanto segurava ela.

Minhas sobrancelhas se unem.

— Eu não fiz isso.

— Oh, sim, você fez! — repisa, me


arrancando um riso.

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Seu sorriso desaparece aos poucos e

então ela suspira. — Emily está assustada,


Ev, mas vai acabar enxergando o quanto é
necessário que Paige e sua mãe finalmente

se conheçam. Ela está com medo de que algo


de ruim aconteça. Eu não sou mãe, mas
acredito que esse tipo de atitude seja
compreensível.

— Você tem razão — acabo

concordando com ela. — Só estou um pouco


frustrado por não ter conseguido fazer o que
vim fazer aqui.

E é verdade. Eu pensei que ao passar

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por aquela porta, fosse conseguir convencer


Emily de que esse era o melhor método a ser
tomado em relação a Paige, e quando não
consegui alcançar meu objetivo, fiquei

frustrado. Mas então eu penso no que Rose


me disse, e sei que não posso ser
precipitado. Esse é um caso delicado e irá
exigir minha paciência.

Tudo em seu devido tempo.

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Voltamos para New Hampshire no

sábado pela manhã. As duas semanas que


sucedem a viagem me consomem
inteiramente com trabalhos na universidade

e preparativos para o próximo evento da


Fraternidade. Decidimos que alguns
jogadores do time de basquete e membros da
Delta Sigma farão um jogo beneficente no
próximo sábado em prol de arrecadação de

dinheiro para uma instituição de caridade


voltada para crianças carentes. Lógico que
isso teve um dedo do meu pai, que logo se
prontificou a espalhar aos quatro cantos sua
mais nova “boa ação”.
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Na terça, recebo uma mensagem do meu

pai, informando que ele quer falar comigo.

Já passa da hora do jantar quando chego


na mansão dos Prescott. A casa está

silenciosa e a parca iluminação proveniente


de várias arandelas anexadas à parede traz
ao lugar uma sensação de solidão e
melancolia. Eu não veria muita diferença
entre e aura dessa casa imensa, onde cresci,

e a de um mausoléu moderno.

Após fechar a porta, Bonnie se vira


para mim e passa as mãos enrugadas sobre o
uniforme preto. Seus olhos grandes me

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sondam com cuidado.

— Você está bem, meu menino?

Me encho de contentamento ao escutar

o apelido carinhoso. Faz tempo que ela não


me chama assim. Desde que meu pai lhe
dissera, quando fiz dezoito anos, que eu já
estava me transformando em um homem e
não seria nada bom para a minha imagem ser
chamado de “menino”. No entanto, ela

sempre deu seu jeito de me mimar da sua


melhor maneira. Como a avó que eu nunca
tive.

— Poderia estar melhor — respondo

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sugestivamente. — Me diga que você


preparou aquele bolo de cenoura com
cobertura de chocolate que eu tanto amo.

Ela ri.

— Claro que sim. Quer um pedaço


agora?

— Desculpe, mas eu prefiro lidar com


ele primeiro — refiro-me ao meu pai. —

Prometo passar na cozinha quando estiver


indo embora.

Bonnie anui.

— Ele está em seu escritório e já espera

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por você — Seu tom de voz fica mais baixo.

— Por favor, sua mãe finalmente conseguiu


pegar no sono depois de horas. Seria bom se
não se alterassem.

— Não vim aqui para brigar com ele,


Bonnie — falo. — Nem mesmo sei o que
diabos ele quer comigo.

Ela reage curiosamente ao me lançar um


sorriso triste.

— Às vezes é realmente difícil


compreender seu pai — diz. — Só peço que
tenha um pouco de paciência com ele, sim?
O homem pode não demonstrar, mas tem um

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coração... e pode ser que ele precise de


apoio.

O que diabos deu em todo mundo agora,


para que começassem a defender meu pai?

— Não vim para brigar — repiso,


disposto a não querer entrar em mais uma
discussão sobre a integridade de Felton.

Ao parar em frente ao seu escritório,

noto a porta entreaberta, portanto entro sem


me anunciar. Dois abajures transmitem luz
suficiente para que eu possa visualizar a
figura alta e grisalha do meu pai a alguns
metros de distância, sentado atrás de sua

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escrivaninha.

Ele eleva o olhar de uma pilha de


papeis quando me vê e retira os óculos de
leitura do rosto, dobrando a armação e o

posicionando ao lado de uma xícara de café


já vazia.

— Evan — oferece-me a cadeira do


lado oposto à sua. — Por favor, sente-se.

Cruzo os braços e propositalmente me


acomodo no braço de uma das poltronas que
adornam a sala. Não sou seus parceiros de
negócio, então passarei toda essa
formalidade. Olho fixamente para ele, minha

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expressão tão séria quanto a sua.

— Podemos ser breves? — indago. —


Pretendo voltar para Hanover ainda hoje.

Indo contra qualquer reação que eu


imaginei que fosse ter, ele apenas assente
tranquilamente com um gesto de cabeça e
bate a ponta de sua caneta sobre a mesa
conforme me analisa.

— Como foi sua viagem para a


Califórnia?

— Normal.

Suas sobrancelhas se levantam.

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— Nada mais a me dizer?

Ciente de que ele provavelmente já sabe


de tudo, libero um suspiro enfadado.

— Se veio me dar mais um sermão


sobre a decisão de conhecer minha própria
sobrinha, eu quero deixar claro que...

— Não precisa se alterar — intercepta.


— Sim, eu soube que você esteve em

Sacramento em busca de Emily. Sei que


ficou sabendo sobre Paige e que tentou
trazê-las para New Hampshire. Iremos lidar
com este assunto mais para frente. Não foi
por isso que o chamei aqui.

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Sinto minhas sobrancelhas se juntarem

ao tentar compreender aonde ele quer


chegar.

— Então me chamou para quê?

Agora que meu olhar se ajustou à luz,


posso reconhecer o cansaço muito mais
evidente em sua expressão severa. Seu
cabelo também não está mais impecável
como normalmente e o nó da sua gravata

está desfeito. Isso é algo que me deixa um


pouco chocado. Pode parecer ridículo, mas
eu nunca vi o meticuloso e perfeccionista
Felton Prescott em tal estado antes.

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— Poderia, por favor, sentar-se diante

de mim? Odeio ter que conversar sem poder


olhá-lo diretamente.

O lado rebelde que sempre se mantém

aflorado quando estou perto do meu pai,


coça para que eu não acate seu pedido, mas
eu resolvo ceder dessa vez. Essa é uma das
raras vezes em que o homem pede “por
favor”, e isso acabou me encabulando.

— Bem melhor assim, não acha? —


Seus lábios se inclinam levemente para
cima, em um quase sorriso. — Aprenda uma
coisa com o seu pai, garoto: olhe

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diretamente nos olhos das outras pessoas


quando estiver conversando com elas.
Confiança é tudo no mundo dos negócios.

— Esta conversa está sendo produtiva e

tudo mais — ironizo, enfastiado —, mas o


que significa tudo isso, Felton? Você não é
de fazer rodeios.

— Tem razão — ele mexe no colarinho


de sua camisa, como se estivesse se sentindo

sufocado. — Serei direto então: sei que você


não viajou para a Califórnia sozinho, sei
também que estava com uma garota. Antes
que atire cães em cima de mim: não, eu não

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investiguei sobre ela, ainda, mas gostaria de


saber se essa novidade interferirá, de algum
modo, em nosso acordo.

A informação me deixa irritado, porém

controlo meus nervos. Dar a entender a


importância de Rose talvez não seja uma boa
ideia.

— O que o fato de eu, possivelmente,


estar saindo com alguém interferiria em

nosso... acordo?

— Você já viu esse filme antes, Evan —


diz. — O garoto prodígio que se apaixona
pela garota errada, comete burradas e acaba

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destruindo a própria vida.

Começo a me sentir impaciente. Eu não


sei qual a necessidade em citar Ethan nesse
momento. Não preciso relembrar de algo que

me atormenta todos os dias.

Ajeito-me sobre a cadeira e enfrento


seu olhar.

— O que você sabe sobre ela?

— Apenas o nome — responde. —


Roslyn... um nome simples para uma garota
provavelmente simples também. Nada que
não se resolva se eu procurar saber mais

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sobre ela.

— Fique longe dela — minha ameaça é


nítida. — Ela não tem nada a ver com nossas
merdas, então não a perturbe.

— Se quer mesmo saber, não me


importa com quem você se relaciona, desde
que se cuide para não cair em armadilhas —
fala. — Espero que não faça como o seu
irmão e a engravide. Ao menos neste aspecto

eu espero que você seja mais esperto que


ele.

— Sou maior de idade, e isso também


não é seu negócio — digo. — Não se meta

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na minha vida mais do que combinamos que


se meteria.

— Não irei fazê-lo... a menos que haja


necessidade.

Analiso suas feições.

— Como por exemplo?

— Caso eu perceba que essa garota está


atrapalhando nossos planos — ele diz. —

Você está prestes a se formar e irá para a


Escola de Negócios em breve, portanto é
essencial que não haja distrações ou...

— Não vou para a Escola de Negócios

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— disparo, antes mesmo que ele conclua seu

discurso. — E isso não tem nada a ver com


influência de garotas. O trato era eu
terminar a faculdade que você tanto queria.

Estou prestes a finalizar. Não me envolvi em


confusão desde então, portanto eu acho que
seria, no mínimo, sensato da sua parte
considerar isso.

Suspira.

— Claro — diz. — Não será mais


preciso ingressar na Escola de Negócios. Eu
acho que você, por mais que tenha sido
inflexível em alguns momentos, se mostrou

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alguém muito responsável, mas existem


coisas que um rapaz como você tem que ter
cuidado, Evan. Somos homens ricos e
precisamos ter prudência se quisermos que

nossa linhagem prospere.

Seguro a vontade de dizer que não


estamos mais no século dezoito e decido
deixar que ele prossiga:

— Irei transferir a Horizon Hotels para

o seu nome. Quero que as administre e que


comece desde já. Você tem quase vinte e
dois, eu comecei muito mais jovem que isso.

Sinto o sangue desaparecer do meu

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rosto. O que diabos deu nesse velho?

— Isso é uma brincadeira?

— Pensei que você conhecesse

suficiente o seu pai para saber que ele não é


do tipo que brinca.

— Então está delirando — aponto. —


Por que faria algo como isso? Você sabe a
minha opinião em relação a seguir sua

profissão, Felton. Quer mesmo que eu ponha


a perder todo o seu império?

— Você não faria isso — ele diz. — Sei


que é um homem responsável e ambicioso.

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Mesmo que nossas ambições não sejam as


mesmas, eu tenho total ciência de que você
pretende subir na vida.

— Eu não quero isso — reafirmo. —

Não pedi por isso.

Se remexe desconfortavelmente em sua


cadeira, o que chama a minha atenção. Há
um cinzeiro em cima da sua mesa, que eu só
fui perceber agora. Meu pai não fuma há

mais de dez anos. Ele voltou para o vício?

— Não sou imortal, Evan. Precisarei me


aposentar em algum momento. Estou
garantindo o futuro das minhas próximas

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gerações — o tom de voz permanece sério.


— Você sabe, meu pai me ensinou tudo o
que sabia, e eu estou tentando passar isso
para você.

— Talvez o que seu pai lhe passou


tenha sido útil para você, mas já parou para
pensar que seus filhos poderiam ter outros
tipos de anseios?

— Só quero que você não termine como

um artista falido, tendo que se enterrar ainda


mais na sarjeta quando perceber que é um
homem de quarenta anos, sem filhos, sem
perspectiva e sem dinheiro algum!

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— Jamais vou me tornar esse homem —

garanto. — Já sou crescido e espero que


você aprenda a lidar com isso. Estou farto de
você se metendo na minha vida, decidindo

tudo por mim.

— Está dizendo que não quer seguir


com a tradição dos Prescott?

— Estou dizendo que eu jamais vou ser


você, Felton — falo. — Jamais vou ser um

dono de hotéis, político ou seja lá qual


destino esteja planejando para mim — paro,
tentando suavizar minha voz. — Se você
alguma vez na vida já sentiu algo por algum

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de seus filhos, respeite ao menos uma das


minhas decisões.

— Você... — De repente sua expressão


dura se transforma em agonia. A mão cobre

o peito, à medida que o rosto começa a


perder a cor e em seguida ele entreabre os
lábios, respirando com dificuldade.

— Felton? — me levanto, alarmado. —


Felton, o que está havendo?

— Não se preocupe — ele estende a


mão para que eu me mantenha afastado. —
Eu... estou bem.

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— É claro que não está. Você está

sentindo dor, vou chamar um médico...

— Não, Evan — me corta impaciente.


— Não preciso de médicos. É somente

estresse.

Logo ele parece se recompor, apoiando


ambas as mãos sobre o tampo da mesa. Seu
olhar retorna a se fixar em meu rosto e,
percebendo que ele permanecerá inflexível,

eu me sento.

— Só vou dizer isso uma vez, e quero


que você me escute com clareza — começa a
dizer. — Você é meu filho e... os pais amam

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seus filhos, mesmo que nem sempre


demonstrem. — Faz uma pausa. — Eu lhe
dou a minha palavra de não interferir na sua
vida daqui para frente, nem mesmo com essa

nova garota..., mas peço que reveja a minha


oferta, e que não abandone a universidade.
Isso é muito importante para...

— Pra o nosso nome.

— Não, Evan — ignora o meu deboche.

— Isso é muito importante para seu pai.

— A minha felicidade deveria ter


importância para o meu pai — falo. — Mais
alguma coisa?

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Ele pressiona a ponte do nariz e nega

com um aceno de cabeça.

Eu me levanto e me viro, mas antes que


alcance a porta, retorno a olhar para ele.

— Felton — ele ergue seus olhos para


me encarar novamente. — Só queria que
você soubesse que os filhos amam seus pais
também. Até mesmo aqueles que nunca
tiveram a chance de demonstrar.

Em seguida eu me retiro e o deixo


sozinho em sua sala.

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— Olá! — Tate cantarola ao sentar-se


ao meu lado no refeitório na hora do almoço.

É sexta e estou rolando com o garfo de


plástico uma salada praticamente intocada.

Estou com cólica e enjoos, acho que a última


coisa que gostaria de fazer em um momento
como esses seria comer.

— O que deu em você? — viro minha

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cabeça de lado e estreito os olhos. — Por


que no inferno está tão animada?

Me examina como se achasse que eu


sou muito lenta.

— O baile de formatura está próximo,


Rose, acorda. Os garotos já estão começando
a fazer os convites — ela suspira,
sonhadora. — Você acha que eu deveria
optar por Emmet Newman, o bad boy boca

suja da aula de história, ou John Mitchell, o


gato loiro do time de futebol?

Mesmo sentindo como se um E.T. fosse


rasgar meu útero a qualquer momento, não

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posso ignorar a minha surpresa.

— Os dois convidaram você?

— Não — ela murcha os ombros. —

Mas alguém vai me convidar em breve.


Estou apenas preparando a minha listinha de
prioridades. Não quero fazer uma escolha
ruim.

Balanço a cabeça e acabo caindo no

riso. Sinceramente, eu gostaria de ter a


autoestima de Tate.

— De qualquer forma, você terá


bastante tempo para riscar vários nomes da

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sua lista — digo. — O baile é daqui a quase


dois meses.

— Sim, eu sei, mas é preciso ser


precavida. Temos que escolher vestido,

sapato, penteado... e um par. Coisa que, por


sinal, você ainda não tem. — Seus olhos
brilham conforme ela reflete. — Você acha
que o Jake a convidaria para o baile? Tudo
bem que ele ficou meio tenso depois do que

aconteceu na festa da Lysa, mas acho que ele


ainda tem uma queda por você.

— Nem pensar — falo, disposta a tirar


qualquer ideia errada da cabeça dela. — Não

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quero que Jake me convide para o baile. Eu


não preciso de nenhum garoto estúpido para
ir ao maldito baile. Nem mesmo você.
Deveríamos ir sozinhas, como um casal de

amigas lésbicas. Não é isso o que a maioria


anda dizendo a nosso respeito?

— Até porque, que garoto gostaria de


sair com ela, não é mesmo? — Uma voz
feminina desestabiliza o nosso diálogo.

Virando-me para encarar a dona da voz, dou


de cara com Lysa e Annelise. Ambas muito
sorridentes e falsas.

— Desculpe? — Minha voz soa

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controlada, mas por dentro não é exatamente


dessa forma que me sinto. Já estou de saco
cheio dessas garotas e não tenho nem um
pingo de paciência para aturar suas merdas.

— Olá, Rose — Annie diz. —


Estávamos próximas e não podemos deixar
de ouvir a conversa de vocês — ela leva a
mão aos lábios, tentando esconder uma
risada. — Tatianna, acho que você precisa de

um pouco mais do que simplesmente desejar


ser convidada para o baile, para que alguém
a convide.

— Isso é tudo o que vieram fazer aqui?

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— Eu tento forçar uma voz entediada, mas a


tensão de Tate e a irritação de uma TPM que
está destruindo meus nervos, estão me
afetando. — Porque se for esse o caso, por

favor, podem dar meia-volta.

Lysa sorri, mostrando não estar afetada


com o meu comportamento.

— Não precisa ficar brava, Rose. Nós


viemos até aqui para convidar você a se

sentar conosco.

Cruzo os braços sobre o peito.

— Está me zoando?

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— Oh, não, acredite em nós quando

dizemos que estamos sendo sinceras —


Annie diz. — Depois que sua mãe ligou para
meus pais e acabei levando um sermão e

tudo o mais sobre meu mau comportamento,


eu me dei conta de que realmente fui uma
má garota — ela faz biquinho. — Não
deveria ter feito aquilo com você.

Eu contenho o riso irônico que

escorrega para fora ao encarar fixamente seu


rosto cínico. Existem pessoas que
conseguem muito bem disfarçar quando não
estão sendo inteiramente sinceras em relação
a algo, mas Annelise Carmichael com
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certeza não é uma delas. Praticamente vejo o


veneno escorrer dos seus caninos enquanto
despeja toda sua baboseira.

— Não sei o que aconteceu para essa

mudança súbita, mas não tenho interesse na


oferta — digo. — Estou certa de que vocês
possuem capacidade de recrutar qualquer
idiota para ocupar o meu lugar, logo não
precisam de mim.

Me levanto e deixo minha bandeja com


a comida ainda intocada em cima da mesa.
Pego minhas coisas e aguardo Tate que,
ainda em silêncio, faz o mesmo que eu. No

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momento em que ela está pronta para me


acompanhar, não penso duas vezes antes de
lhes dar as costas e seguir em direção à
saída.

— Você está se achando muito


importante, não é? — Ouço a voz furiosa de
Annelise, mas não me intimido com seu tom
e aumento meus passos. — Vamos ver se
toda essa arrogância ainda estará aí quando

não estiver mais transando com Evan


Prescott.

Meu sangue congela e eu paro.

Me viro em sua direção e vejo que ela

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está ostentando um sorriso perverso.

— O que você disse?

Annie solta um riso sem humor.

— Evan é o melhor amigo do meu


irmão — ela diz. — Convivi com ele durante
boa parte da minha infância. Sei bem com
que tipo de garota ele costuma sair. Você
acha que um cara como ele vai se contentar

com alguém como você por muito tempo?

Ela me lança um olhar desafiador, a


doçura a qual demonstrava minutos atrás
totalmente dissipada.

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— Rose! O que você... — Tate tenta me

segurar, mas me desvencilho a tempo e


caminho a passos rápidos na direção de
Annie.

Paro em frente a ela, minha respiração


agitada. Não consigo conter a malícia na voz
quando falo:

— Ao menos eu consegui entrar nas


calças dele, não é? — me deleito com seu

semblante pálido. — Coisa que nem mesmo


você conseguiu.

Ela bufa, fingindo indiferença, mas sei


que atingi um ponto.

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— Você é uma vadia estúpida.

Suas palavras me afetam de alguma


maneira, mas prefiro manter minha mentira e
fingir não me abalar:

— Acredito que Evan não tenha nada


contra vadias — alfineto. — É menos
vergonhoso do que ser uma cretina, hipócrita
e invejosa, que se acha a dona do mundo —
forço um sorriso cínico. — Isso aqui é vida

real, Annie, e exige um pouco de


maturidade. Acho que já está na hora de
você se tocar.

Saio do refeitório ouvindo apenas o

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barulho dos meus passos e burburinhos dos


demais ao redor. Tate está em meu encalço e,
ao chegar na sala de aula ainda vazia,
desabo na cadeira. Apoiando meus cotovelos

sobre a mesa, pergunto a mim mesma se eu


realmente fiz aquilo. Eu disse em voz alta,
para o colégio inteiro, que dormia com Evan
Prescott? Meu estômago parece que vai sair
pela boca. Oh, Deus, o que eu fiz? Não me
ocorreu que Evan provavelmente não vai

gostar nada de ter seu nome envolvido em


toda essa confusão, caso descubra.

— Você pode me explicar que história é


essa? — Tate atira sua mochila na carteira
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ao meu lado e se senta diante de mim. —


Você e Evan...

— Não — digo com voz firme, tentando


não criar uma bola de neve com a minha

mentira. — Eu só estava farta de tê-la


agindo como uma completa idiota comigo.
Não tinha muitas armas para me defender
naquele momento.

Ela abre bem os olhos em surpresa, e

em seguida começa a rir.

— Oh, meu Deus, não acredito que você


fez isso! — Continua rindo. — Deveria ver a
cara dela, Rose. Isso foi tão... hilário. Eu

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tenho um pressentimento de que aparecerão


muitos caras para lhe convidar para o baile
agora.

— Só porque acabei de me tornar a

vadia da escola? — Ironizo, referindo-me ao


fato de que também não neguei quando
Annie me xingou. A essa altura do
campeonato eu não acho que precise me
preocupar com suas acusações idiotas. Meus

problemas vão muito além disso.

— Claro que não — ela rola os olhos.


— Mas você sabe que conseguiu algo que
quase ninguém consegue, não é? Você

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colocou aquela vaca em seu devido lugar.


Isso é... uau. Você vai recuperar seu posto
logo, logo.

— Não quero nenhum posto. Pare de

paranoias.

Ela se empertiga na cadeira, inclinando-


se para frente.

— E então... não está acontecendo nada

mesmo entre vocês?

Lembro-me do beijo que


compartilhamos e acabo soltando um
suspiro.

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— Aconteceu algo.

Ela arregala os olhos.

— O que?

— Nós nos beijamos.

— Puta merda! Está falando sério?

— Sim. — Por mais que não seja muito


do meu feitio falar sobre coisas desse tipo,
por parte é bom ter uma amiga para

compartilhar segredos. Com quem ter um


diálogo interessante entre garotas. Tate é
legal, divertida e faz eu me sentir bem. Ela é
uma boa amiga também, apesar de toda sua

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loucura.

— Por que você não me falou sobre isso


antes?

— Você não perguntou.

Rola os olhos.

— Tá, mas e ele?

— Não sei — digo. — Já faz quase três


semanas que não nos falamos. O que pode

até ser compreensível. Nós não somos um


casal, e ele deve estar ocupado com seus
assuntos.

Tate balança a cabeça, provavelmente


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desaprovando a minha condescendência.

— Pelo menos você não tentou ligar


para ele primeiro — ela diz. — Espere que
ele ligue para você e, quando fizer, só

atenda após o segundo toque.

Enrugo a testa.

— Por que não posso atender no


primeiro?

Arqueia a sobrancelha, muito confiante.

— Será que eu preciso ensinar a você


como tratar um Crush, Rose?

Eu praticamente engasgo, prendendo o


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riso.

— E desde quando você tem


experiência com esse tipo de assunto?

— Revistas femininas também servem


para isso — responde orgulhosa. Suas
feições mudam completamente quando ela
parece ter tido um estalo. — Nós iremos ao
shopping depois da aula.

— Pra quê?

— Para encontrar a gata feroz que eu


tenho certeza que ainda existe dentro de
você — responde, maliciosamente. —

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Precisamos fazer uma surpresinha para Evan


Prescott.

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— Está bem cheio aqui — observo

enquanto tentamos nos locomover pela


massa de pessoas sentadas nas
arquibancadas sem que corramos o risco de

nos esbarrar nas pernas de alguém.

Nem posso acreditar que Tate conseguiu


me arrastar para um lugar como esse.
Quando ela me informou que nosso
programa de fim de semana seria assistir a

uma partida de basquete beneficente com os


garotos da Dartmouth College, confesso que
fiquei dividida entre me sentir empolgada e
apavorada. Jamais havia visto Evan em

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quadra antes, e acho que a curiosidade meio


que influenciou para que eu finalmente
decidisse fazer a loucura de vir com ela.

Só que agora, estou começando a ficar

um pouquinho irritada. Primeiro porque


estou sentindo que vir aqui, depois de
algumas semanas sem falar com Evan, está
causando um rebuliço no meu estômago, o
que não é nada confortável. E em segundo,

porque esse short jeans de cintura alta e


camiseta apertada que uso estão começando
a atrair mais olhares do que eu gostaria.

Um par de roupas que custou metade da

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minha mesada e que, provavelmente, não irei


utilizar novamente.

Continuo pisando com cuidado na


plataforma lisa pintada de laranja,

praticamente fazendo malabarismos para


conseguir alcançar a extremidade.

— Droga! Será que vou mesmo ter que


desabar no colo de alguém para conseguir
assistir a esse maldito jogo? — Tate

resmunga.

— Há duas cadeiras logo mais à frente.


Não parece tão ruim assim.

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— É péssimo, na verdade. A visão

daquele ponto é horrível.

Reviro os olhos.

— Nós chegamos em cima da hora,


Tate. Já era suposto que não encontraríamos
um lugar decente para nos sentar.

— Conseguiríamos chegar a tempo se


alguém não demorasse tanto para vestir um

short e uma maldita camiseta — Seu olhar


escorrega desde meu par de Converse azul
até o meu rosto com o mínimo de
maquiagem possível, finalizando na trança
francesa dupla no cabelo e em seguida ela

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sorri, parecendo satisfeita com sua obra. —


Mas você ficou gostosa. Então acho que
valeu a pena.

Assim que finalmente conseguimos nos

sentar, eu puxo o short um pouco mais para


baixo e volto minha atenção para a quadra,
onde o jogo está prestes a se iniciar. Pessoas
com rostos pintados estão fazendo um
barulho caloroso, líderes de torcida

executam seus movimentos a fim de animar


toda a gente eufórica ao redor. Contemplo
admirada como tudo se desenrola. Há
crianças nas arquibancadas opostas também,
o principal motivo de não haver bebida
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alcóolica por aqui. Não que eu desejasse


estar bebendo, mas imaginei que em partidas
esportivas existissem esse tipo de coisa,
certo? Nunca fui a um jogo antes.

— Oh, veja! — Tate aponta e começa a


gritar quando os times entram em quadra.

Eu acho que gritaria também se toda a


minha atenção não estivesse voltada para um
único e favorecido ponto: Evan em seu

uniforme branco do time, preenchendo muito


bem o espaço dentro do tecido.

Estou hipnotizada.

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Deus, também estou um pouco

assustada aqui, vamos combinar. Já está


ficando patética toda essa coisa de eu não
controlar o deslumbramento que sinto

sempre que me vejo perto dele e... bem,


quão mais patético isso seria se eu admitisse
que senti sua falta? Eu não posso estar
ficando tão obcecada por um cara que
conheci há poucas semanas.

Decidindo não me torturar mais com


essas ideias malucas, comemoro com Tate
quando Evan faz mais uma cesta. Durante
todo o momento em que o jogo prossegue,
eu me deixo relaxar.
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No fim, o time para o qual estamos

torcendo vence, o que me traz uma certa


felicidade, mas o mais emocionante foi o
sorriso no rosto das crianças depois que eles

liberaram a quadra para que os jogadores


interagissem com o restante da torcida.

Não consigo mais ver Evan, mas Maven


está próximo da arquibancada, e ele parece
bem interessado em nós.

— Prepare-se — Tate se levanta e alisa


sua saia preta, hoje combinando com o
cabelo que, por incrível que pareça, não está
colorido. Ela pressiona os lábios pintados de

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roxo e puxa o telefone de sua bolsinha,


começando a digitar algo.

— Com quem você está falando tão


empolgada?

— Estou mandando uma mensagem para


o Maven.

Retomo meu olhar para a direção de


Maven, que agora está grudado em seu

celular.

— O que houve com a história de não


desejar ter o número dele?

— Uma garota tem que jogar um pouco,

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às vezes — então ela morde o lábio. — E é

meio difícil não desejar ter seu número


quando o cara lhe manda uma foto de seus
belos e musculosos bíceps no in box do

Facebook, com a desculpa de: “foi mal,


mandei pra pessoa errada”.

Faço uma careta ao imaginar a cena.

— Por que não me falou?

— Você não perguntou — revida com a


mesma resposta que lhe dei no dia anterior.

Tento não me sentir magoada com a sua


omissão, afinal não mantivemos muito

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contado depois que voltei de viagem. Além


do mais, escondi o meu beijo com Evan
também. Seu comportamento foi mais que
compreensível.

— Estou surpresa — digo. — Nunca


imaginei que você e Maven...

— Não está rolando nada muito sério,


eu juro.

— Estão apenas saindo?

— Nós não saímos — diz. — Apenas


conversamos por telefone.

— Só isso?

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Ela morde o lábio.

— Ele canta para mim também.

— Ele canta? O Maven? Sério? —

seguro o riso e Tate fica irritada.

— Ei, qual o problema em Maven


cantar? Ele tem uma voz muito bonita, se
quer saber.

Me lembro de Evan ter me mantido a

par disso e me desculpo com ela. Mesmo


assim, é estranho imaginar Maven
Carmichael cantando para alguém.

Tate me segura pelo braço e começa a

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descer em direção à quadra. Tento resistir,

mas ela me cala com um gesto de mão.

— Confie em mim.

Apenas a sigo, me perguntando mais


uma vez o que vim fazer aqui. Chegamos até
Maven e o sorriso que ele lança ao fitar Tate
praticamente me põe a ponto de revirar os
olhos.

— Bem, bem, estou impressionada —


minha amiga diz, ficando de frente para ele.

— Com as minhas jogadas?

— Oh, não. Com o seu uniforme — ela

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pisca. — Você ficou muito bem dentro dele.

— Espere só até me ver nu.

Oh, Deus, preciso vomitar.

— Por favor, há crianças por perto —


resmungo.

Ao som da minha voz, Maven me lança


um olhar surpreso, parecendo só ter se dado
conta da minha presença agora. Seus olhos

deslizam desde meus pés até a cabeça.

— Rose? — Ele solta um assobio baixo.


— Caramba...

— É, eu sei — Tate interfere,


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orgulhosa. — Sou muito boa nisso. — Ela

estica o pescoço para inspecionar entre a


multidão. — Por falar em ser bom, onde está
Evan?

Maven dá de ombros.

— Eu sei lá. Por que está tão


interessada nele, se você tem um pedaço de
carne muito melhor, bem na sua frente?

Não quero ficar aqui e decidir qual dos


dois tem a autoestima mais elevada, portanto
aceno brevemente e me afasto.

Começando a explorar verdadeiramente

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a área, percebo o quão importante este


evento está sendo para todas essas crianças.
A maioria delas talvez nem mesmo tenha um
lugar para chamar de lar, e isso mexe

comigo de uma forma assustadora. Acho que


a parte carente de mim sente uma certa
empatia. Desejaria ser mais velha, mais
responsável — e de preferência, rica — para
poder ajudá-los de uma forma mais
significativa.

Meu foco se prende em um menino de


uns oito anos, recostado contra a mureta que
divide a área interna das arquibancadas. Sua
expressão perdida e triste logo se transforma
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em um grande sorriso com janelinhas quando


ele encara um ponto logo à sua frente. Em
seguida, eu vejo um cara se aproximar dele e
bagunçar seu cabelo em um gesto

impertinente.

Esse cara é Evan.

E o meu coração está batendo como um


louco agora.

Em um ímpeto de coragem, começo a


trabalhar minhas pernas e só paro quando os
alcanço. Dois rostos masculinos se viram em
minha direção. Um deles me olha com
curiosidade, enquanto o outro... bem, merda,

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eu não me arriscaria em dizer como Evan


está me olhando agora, mas posso afirmar
que está causando aquela coisa confusa no
meu estômago novamente.

— Rose? — Da mesma forma que


Maven fez, seu olhar desliza por meu corpo,
mas diferente de Maven, Evan me deixa...
entusiasmada. Eu não vou mentir, gosto que
ele me admire. — Que surpresa.

Sorrio para ele, tentando não aparentar


como uma idiota sem fala.

— Pois é. A Tate acabou me arrastando


para cá.

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— Você esteve aqui durante todo o

jogo?

— Sim — afirmo. — Você se saiu muito


bem, por sinal.

— Ela é sua namorada? — uma vozinha


interrompe nosso diálogo e ambos
direcionamos nossa atenção para o garoto
que ainda me olha com bastante curiosidade.

Evan acaba rindo e volta a bagunçar seu


cabelo escuro.

— Não, ela não é a minha namorada.

— Ela é bonita.

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— Sim, é — fala. — Mas que tal parar

de falar em terceira pessoa com a Rose, e se


apresentar corretamente para ela?

O menino balança a cabeça e me abre

um sorriso.

— Oi, eu sou Justin. Tenho sete anos e


a minha mãe me abandonou quando eu tinha
três.

O rosto de Evan fica sério.

— Ei, J., não diga essas coisas — ele


fala. — Você não foi abandonado. A sua mãe
apenas o deixou num lugar em que fosse

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possível encontrar uma família que possa


cuidar melhor de você.

Fico sentida pelo garoto.

— Ele tem razão, Justin — falo. — E


sabe o quê? Você também é muito bonito.

Inclina um pouco a cabeça, tímido.

— Ainda não sou bonito o suficiente,


mas isso não importa porque quando eu

crescer e for muito alto, serei o melhor


jogador de basquete da história dos
jogadores de basquete. Serei tão bom quanto
o Michael Jordan!

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Evan mexe em sua orelha.

— Ei, eu pensei que você quisesse ser


tão bom quanto eu.

Justin encolhe os ombros.

— Se eu não retirar o que disse, você


ainda vai me levar para comer hambúrguer
no McDonald’s?

— Claro que vou. Fiz uma promessa.

O garoto parece satisfeito ao voltar sua


atenção para mim.

— Evan prometeu me levar para comer


hambúrgueres e batatas, e depois tomaremos
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sorvete de graça no McDonald’s. Eu nunca

fui ao McDonald’s antes e gostaria de


ganhar um daqueles bonecos do Homem-
Aranha que vi na TV. Você quer ir com a

gente?

Volto a sorrir. Ele é tagarela, mas é um


garoto adorável.

— Terei muito prazer em ir com vocês.

Levanto o olhar para verificar a reação


de Evan e o pego me observando daquele
jeito irritante/excitante que ele já não faz há
um tempo, mas, mesmo assim, deixa as
coisas agitadas em meu peito.

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— Certo, J. Acho que já está na hora de

você ir se divertir um pouco — Evan diz.

O menino sacode a cabeça e em seguida


se afasta. Depois que Justin desaparece de

vista, Evan se vira para mim.

— Gostei de ver você aqui, Rose.

Sorrio.

— E eu gostei de vir.

Ele dá mais alguns passos até estar bem


perto de mim. Levanta a mão e a desliza por
uma de minhas tranças. Sua cabeça se
inclina para o lado enquanto seus olhos me

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analisam.

— Isso é maquiagem? — passa o dedo


ao longo da minha bochecha e eu fico
desconcertada. Será que ele me achou

ridícula?

— Eu passei um pouco.

Seu sorriso se alarga.

— Eu gostei. Justin não estava blefando

quando a elogiou, você está linda.

Fico tentada a dizer que com esse


cabelo molhado, jeans e camiseta, ele parece
muito mais jovem e mais bonito também,

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mas felizmente me contenho.

Não demora muito para que Tate e


Maven se aproximem de nós, cortando nossa
interação.

— Festa na minha casa agora — Maven


diz. — Quem topa?

Tate não pensa duas vezes antes de


levantar a mão, e eu me pergunto

internamente se ela ficou louca. Seus pais


irão matá-la.

— Não acho que seja uma boa ideia...

— Não seja tímida — Maven me corta.

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— Estamos indo para o meu apartamento

comemorar. Não vamos levar as doces e


virginais meninas para um abatedouro. É só
diversão.

Relevo sua ironia velada e opto por não


deixar que os olhos suplicantes da minha
amiga me convençam.

Sei que Maven está insistindo para que


eu vá somente pelo fato de saber que Tate só

iria se eu estivesse junto. O que me faz


questionar quais serão suas intenções
quando estivermos lá. Posso não ser a garota
mais experiente do mundo, mas Tate, apesar

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de seu jeito ousado, é muito menos


experiente que eu. E Maven fodido
Carmichael parece não saber disso.

— Vamos lá, Rose — Evan se

manifesta, e basta apenas o som da sua voz


para eu saber que estou perdida. — Prometo
que trago você de volta antes da meia noite.

Não me permito muito tempo para


pensar nisso, pois sei que vou vacilar, e

agora eu já não quero isso.

— Ok.

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Quando entro no apartamento de


Maven, ainda me sinto um pouco tensa. Esse
não é o meu lugar, essas pessoas não são
meus amigos e definitivamente não estava
nos meus planos iniciais vir parar em uma
festa repleta de universitários ansiosos para

encher a cara de bebida... mas então eu sinto


a mão de Evan nas minhas costas e me
lembro o motivo de ter vindo. Toda a cisma
por estar aqui é substituída pela faísca

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ocasionada por seu toque.

Percorro com o olhar ao longo da sala


movimentada. Os caras se encarregam de
preparar as bebidas enquanto as meninas vão

para o aparelho de som. Sweater Weather de


The Neighbourhood começa a tocar e eu
reconheço duas das líderes de torcida que vi
quando estávamos no jogo, dançando no
meio da sala. Diferente de Evan, que

certamente tomou banho e se trocou depois


do jogo, a maioria dos caras ainda usa o
uniforme do time. Eles perambulam pelo
apartamento como se já houvessem estado
aqui por diversas vezes antes, o que é bem
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provável que tenha acontecido. O


apartamento de Maven é simples, mas
espaçoso, e eu tenho quase certeza de que
ele organiza, pelo menos, uma festa nesse

lugar a cada semana.

Não demora muito para que um dos


rapazes se aproxime e faça sinal para que
Evan o ajude a colocar as bebidas no gelo.
Ele reluta em me deixar sozinha, mas eu não

quero ser inconveniente, portanto garanto


que está tudo bem.

Observo enquanto Evan se afasta e


percebo a forma como a maioria das garotas

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por perto param pelo menos por um segundo


para olhar para ele. Ele não apresenta muito,
além do seu cabelo loiro bagunçado, as
tatuagens nos braços e um par de roupas

simples, mas há algo a mais lá. Algo que


causa um rebuliço dentro de mim e da
maioria do público feminino heterossexual
aqui presente.

Sinto vontade de dar um cascudo em

mim mesma. Realmente estou com ciúme de


alguém que só beijei uma única vez?

— Não sei você, mas eu vou conseguir


algo para beber e depois vou me jogar no

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meio dessa sala e remexer o meu traseiro. —


Os olhos brilhantes de Tate correm por todos
os lados e sei que não vai demorar muito
para eu ser abandonada.

Minha desconfiança se concretiza no


momento em que Maven se aproxima,
tomando sua total atenção.

Ele cochicha algo no ouvido de Tate e


ela cruza os braços.

— Vai tentar enfiar a mão por baixo da


minha blusa sem o meu consentimento?

Ele parece um pouco atordoado com a

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sua abordagem, mesmo assim responde:

— Não, eu acho...

Ela sorri amplamente e depois se vira

para mim.

— Rose, você vai ficar bem, certo?

— Eu... — Quero dizer para ela que


talvez não seja uma boa ideia ficar sozinha
com esse cara, mas então eu me lembro que

Tate tem quase dezoito anos, seríamos


praticamente gêmeas se fôssemos irmãs. Ela
precisa andar um pouco com as próprias
pernas. Baixo o tom de voz. — Não me

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importo em ficar sozinha, só espero que


você saiba o que está fazendo.

— Maven nunca me forçaria a algo que


eu não queira — assegura. — Também não

sou estúpida de permitir que essa história vá


muito longe.

— Pessoas apaixonadas se tornam


estúpidas, Tate — digo, relembrando-me que
seu deslumbramento por Maven não é

baseado apenas no que Tate insiste em me


dizer. Ela confessou uma vez, que ficou a
fim dele depois de tê-lo observado em uma
festa qualquer antes, mas eu não acreditei

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em sua conversa fiada. — Principalmente se


houver uma paixão platônica reprimida há
tempos. Só não quero que você se
machuque.

Seu sorriso largo vacila por um


momento, mas logo ela se recompõe,
oferecendo-me um rolar de olhos. Sinto-me
um pouco velha e patética.

— Você está preocupada comigo e isso

é doce — aperta as minhas bochechas. — Eu


realmente gosto muito de você, Roslyn
Brooks, mas não precisa ficar careca por
minha causa, ok? Agora, por favor, se

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enturme — ela segura em meus ombros e


começa a me empurrar enquanto sussurra: —
Só peço que tenha cuidado e preserve seu

cartão V16 .

Eu paro.

— Não era para eu estar lhe dando


conselhos aqui?

— Não pretendo fazer sexo antes do

baile de formatura, então você não precisa se


preocupar comigo. — Ela volta a me
empurrar. — Além do mais, eu carrego uma
lata de fixador para cabelo na bolsa e não
terei medo de borrifá-lo contra os olhos de
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algum espertinho caso ele me cause


problemas. Se precisar de ajuda, você tem
meu número. Divirta-se e se cuide!

Caio de bunda em uma poltrona quando

ela me empurra para baixo e em seguida me


dá as costas.

Eu fico estática, chegando à conclusão


de que mesmo se passasse anos tentando,
jamais compreenderia Tate por completo.

Ela é como uma pequena borboleta, alegre e


vibrante. Uma borboleta que está se
descobrindo fora de seu casulo aos poucos.

Volto a me lembrar de que não sou a

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mãe dela, muito menos irmã mais velha,


então está tudo bem em tentar não me
preocupar tanto.

— Você está sentada na minha poltrona

favorita — alguém sopra contra minha


orelha e eu acabo tendo um sobressalto.

Não sei se fico aliviada ou ainda mais


nervosa ao me dar conta de que se trata de
Evan.

— Oh, me desculpe — digo, começando


a me levantar, mas antes que eu tenha tempo
de me afastar muito, ele segura meus quadris
e se senta no meu lugar, puxando-me para

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seu colo.

— Tudo bem se a gente compartilhar?

Isso faz com que cada pelo do meu

braço se erice em alerta, mas não me afasto.


O mais louco em tudo isso é que eu não
quero me afastar. Acabo assentindo.

— Trouxe uma bebida pra você. — Se


inclina para pegar algo na mesinha ao lado

da poltrona e uma lata de refrigerante surge


em meu campo de visão. — Coca-Cola está
bom?

— Está ótimo. Obrigada.

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Abro a bebida e tomo um gole. Ele não

poderia ter me oferecido isso em momento


mais propício. Sua respiração bem próxima
do meu pescoço está me deixando um pouco

calorenta.

— Então... o jogo foi bom pra você ou


Basquete é tão chato quanto Futebol
Americano?

Sorrio.

— Nah! Acho que estou começando a


gostar de Basquete.

— Bem, então presumo que já esteja na

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hora de eu lhe ensinar algumas jogadas, não


é?

Estreito os olhos para ele.

— Se não me engano, da última vez em


que falamos sobre a minha altura, ela não
era nada favorável.

— Merda — ele faz uma careta. — Eu


errei por ter comentado aquilo. Me desculpe.

É adorável a forma como ele parece


realmente arrependido de ter feito aquele
tipo de brincadeira. Eu não me ofendi, pois
sabia que sua intenção era somente me

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provocar, mas fico um pouquinho mais caída


por ele apenas por perceber isso.

— Pensei que você havia me dito que


não saía com colegiais.

A mandíbula de Evan trava no mesmo


instante em que a voz conhecida nos
interrompe. Levanto meu olhar e me deparo
com Owen, o garoto Ken. O que ele está
fazendo aqui? Eu nem mesmo o vi na partida

de basquete.

— Sinceramente, o que isso tem a ver


com você? — a voz de Evan é cortante. Eu
nunca havia escutado esse tom de voz antes.

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Nem mesmo com a recepcionista atrevida do


hotel onde nos hospedamos.

O outro ergue as mãos em sinal de paz,


mas seu sorriso ainda está lá. Owen parece

bêbado.

— Por favor, Prescott, me diga que


você voltou à ativa. Eu havia perdido as
esperanças de que — soluça — você sabe...
ainda gostasse de garotas.

Evan se empertiga em seu assento, mas


não rebate o comentário. Eu sei que ele está
se controlando para não fazer uma cena aqui,
e logo faço menção de me levantar do seu

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colo, mas ele enlaça um braço ao redor da


minha cintura, mantendo-me firme no lugar.

Os olhos de Owen passeiam pelas


minhas pernas nuas.

— Você é muito mais quente do que eu


imaginei.

A tensão do braço de Evan aumenta.

— Você deveria dar o fora —

Resmunga. — Estou certo de que Maven não


iria gostar nem um pouco de ver você aqui.

O outro dá de ombros.

— Maven está muito ocupado trancado


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no seu quarto com aquela outra colegial

esquisita para sequer prestar atenção em


mim — fala. — Mas não se preocupem. Eu
vou deixar vocês a sós. A gente se vê.

Ele toma um gole da sua Budweiser e


nos dá as costas.

— Babaca filho da p...

— Ei, não fale palavrões perto de uma

dama — murmuro, tentando quebrar a tensão


em seus músculos. — Sério, Ev, ele estava
bêbado. Vamos relevar.

— Ele foi um imbecil com você. Eu não

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gostei disso.

— Sim, eu também não gostei, mas


aprendi que às vezes é melhor ignorarmos
certas coisas se quisermos evitar um conflito

muito grande.

Ele suspira.

— Eu sei. Desculpe — diz. — Você está


desconfortável aqui?

Por mais que eu me sinta segura com


ele, não posso negar que toda essa gente está
me deixando um pouquinho inquieta.

— Eu só... não sei se lido bem com

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todos esses garotos de fraternidade.

— Não é de se surpreender. Garotos de


fraternidade são uns idiotas.

Dou risada.

— Você é um garoto de fraternidade.

— Eu sou uma exceção — E meu


sorriso favorito está lá de volta.

— É mesmo?

— Sim — seu rosto está muito próximo


do meu. Contenho a ânsia que tenho de
avançar e sentir mais uma vez o gosto da sua
boca. — Cantei Linger pra você, lembra?
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Que tipo de cara canta Linger para uma

garota sem intenção de levar ela para a


cama?

— Isso quer dizer que você não gostaria

de me levar para a cama?

Seu choque deixa claro que ele não


esperava algo como isso saindo da minha
boca. Nem mesmo eu esperava, se quiser ser
sincera. Observo o movimento que sua

garganta faz quando ele engole em seco e em


seguida rouba o refrigerante da minha mão e
leva a lata aos lábios, tomando um longo
gole antes de me tirar do seu colo.

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Estou feito uma estátua desorientada,

pois não tenho noção de como agir depois


desse pequeno deslize. Mas antes que as
paranoias tenham chance de darem mais

voltas dentro da minha cabeça, ele segura na


minha mão e me puxa em direção à porta.

— Vem, vou tirar você daqui.

— Para onde estamos indo? — pergunto


assim que entro no carro de Evan.

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— Claremont.

— Oh, certo — decepção me engolfa,


mas procuro disfarçar. — Não é preciso você
ir embora da festa tão cedo. Eles são seus

amigos.

— Maven é meu único amigo ali, e foi


um erro ter insistido para que você viesse —
Começo a me sentir decepcionada com o
pensamento de que ele está planejando me

levar de volta para casa, mas então ele


conclui: — Entretanto, eu também não estou
muito a fim de ficar lá. Quero mostrar um
lugar para você. Acho que vai gostar.

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Mais aliviada, me permito relaxar

contra o banco de couro. Lembro-me de Tate


e que o mínimo que eu deveria fazer era me
desculpar por abandoná-la e avisar que estou

bem. Saco meu celular do bolso e lhe envio


uma mensagem:

Rose: Estou voltando para Claremont


com Evan. Desculpe ter saído sem avisar.
Fui pega de surpresa.

Xx

Segundos depois, sua resposta vem:

Tate: Sem problemas sobre isso. Apenas

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tome cuidado, ok?

PS: Esqueça o que eu disse sobre o


cartão V. Até eu abriria as pernas pra esse
cara. =D

Fico vermelha imediatamente e disparo


um olhar na direção de Evan, aliviada ao me
dar conta de que sua atenção está na estrada
e ele está totalmente alheio a nossa
conversa.

Deixo a mensagem de Tate sem resposta


e volto a guardar o celular.

O sol já se pôs quando ele estaciona o

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carro próximo ao Madison Park, uma área


reservada para estacionamentos de trailers.
Já estive aqui algumas vezes no passado. Só
me pergunto por que, de tantos lugares nessa

cidade, Evan resolveu me trazer justamente


aqui.

— O que há sobre esse lugar? —


interrogo ao sair do carro.

Ele se recosta contra o capô,

aguardando até que eu faça o mesmo. Em


seguida olha para o céu, admirando as
estrelas que cintilam.

— Acontece de esse ser o meu lugar

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favorito desde que eu fiz dezenove anos.

Ainda estou confusa, mas desconsidero


a reação e resolvo focar no silêncio do
campo silencioso, as árvores ao redor e a

grama saudável cobrindo o solo.

Ao horizonte, é possível ver as luzes


das casas móveis começarem a se alastrar,
como uma constelação bem diante de nós.
Ciente de que estou sendo observada, olho

para Evan e dou de cara com seu olhar


intenso novamente. É como se ele estivesse
me despindo de dentro para fora e isso é um
pouco assustador. É interessante. Excitante.

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— Senti sua falta — ele diz, de repente.

— Senti falta de conversar com você e ouvir


suas teorias loucas sobre eu ser um
traficante ou um X-Men.

Sorrio, um pouco nostálgica. Apesar de


não ter se passado tanto tempo assim desde
que tivemos nossa última interação, três
semanas longe dele me pareceram uma
eternidade.

— Você sumiu — falo. — Quero dizer,


eu sei que deve ter tido seus motivos e tudo
mais. Eu só... achei que estivesse muito
ocupado e não devesse incomodar.

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Ele passa a mão pelos cabelos cheios.

— Eu errei. Deveria ter ligado pra você.


Nós deveríamos ter conversado melhor, eu
não quero que fique um clima estranho

depois do que aconteceu.

Baixo o olhar, ciente do que se refere.


Quando percebe meu silêncio, ele insiste:

— Rose, nós precisamos falar sobre

isso.

— Foi só um beijo, Evan, não há


necessidade de...

— Você sabe muito bem que não foi só

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um beijo.

O encaro.

— Mas foi você mesmo quem disse que

não era bom o suficiente para mim. Achei


que fosse sua maneira de dizer que nosso
beijo havia sido um erro e que não
deveríamos tocar mais no assunto. Não é
nada legal insistir em algo que
provavelmente não vai dar certo, então

decidi dar o assunto como encerrado.

— Dane-se toda essa coisa... — ele


solta. — Sim, eu disse aquilo; e não, isso
não tem a ver com você, mas comigo...

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Droga! Eu não posso soar menos canalha ao


dizer isso, mas ao mesmo tempo em que
considero aquele beijo um erro, eu acho que
foi a melhor coisa que me aconteceu nesses

últimos meses. Foi bom, foi confuso... Foi


como um recomeço pra mim.

Um recomeço. Minha mente rebobina


para a cena de quando nos beijamos,
semanas atrás. Para a forma como me senti,

e o quão certo aquilo parecia. Talvez tenha


sido um recomeço para mim também. Uma
forma de eu perceber que ainda há chances
de me sentir inteiramente viva.

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De ter alguém que me faça flutuar e

explodir.

Seu corpo está diante do meu agora,


suas mãos plantadas em cada lado do meu

corpo. Inclinando o tronco para a frente, ele


deixa nossos lábios bem próximos.

Meu coração praticamente salta pela


boca.

— Talvez eu tenha sido um idiota por


dizer tudo aquilo, talvez eu esteja sendo
mais idiota ainda por dizer isso pra você
agora, mas eu estive oscilando entre a Terra
e o Inferno desde que perdi meu irmão, e os

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únicos momentos em que senti que podia


respirar novamente foi durante as semanas
em que estive com você — ele faz uma
pausa. — Isso pode ser um erro, talvez a

gente se arrependa futuramente, mas eu


gostaria que você soubesse que eu quero
muito beijá-la de novo, Roslyn Brooks.

As palavras chegam até mim como um


furacão, levando embora a minha fala. Meu

cérebro ainda está muito empenhado em


registrar cada frase que me foi direcionada.

Puxo ar para os pulmões, um pouco


zonza com a nossa proximidade. O

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reconhecimento de que o sentimento é


recíproco faz com que tudo dentro de mim se
inflame. Sua linguagem corporal me diz que
ele está tão nervoso quanto eu, mas há algo

em que ele provavelmente está em


vantagem: Evan ainda consegue manter suas
pernas eretas. Eu sinto que a qualquer
momento vou desabar nesse chão, nem um
pouquinho sexy ou graciosa.

— Se você tem tanta vontade assim de


me beijar — falo num fio de voz —, deveria
fazer exatamente isso.

Evan não espera uma próxima palavra

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para me colocar sentada sobre o capô do


carro, abrigar meu rosto entre as mãos e
avançar. No momento em que seus lábios
reivindicam os meus, o formigamento

característico resultante de nosso contato se


alastra pela minha pele.

Inclino a cabeça para trás e me agarro à


sua cintura. Ele chega mais perto de mim,
praticamente fundindo seu corpo no meu. Os

movimentos lânguidos de sua língua e o


contato de seu piercing trazem uma
experiência completamente diferente ao ato.
Não que nosso último beijo não tenha sido
bom, mas ele não estava usando o piercing
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naquele dia, e eu não posso negar que o


choque da pequena bola de prata causa em
mim sensações que eu não ousaria
pronunciar em voz alta.

Evan se afasta relutantemente, as mãos


ainda roçando delicadamente sobre o meu
pescoço.

— Cristo, você é tão perfeita —


Murmura. Há um dedo alisando a lateral do

meu pescoço, e eu me pergunto se ele


consegue sentir agora quão rápida está a
minha pulsação. — Eu poderia passar a noite
toda só beijando você, mas não estava

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mentindo quando disse que preciso lhe


mostrar um lugar. Quero muito que você
conheça.

Fico tentada a sugerir que façamos

realmente isso, que passemos a noite nos


beijando até morrermos asfixiados, mas não
quero que ele me ache louca ou desesperada,
portanto simplesmente assinto.

— Ok.

Evan agarra a minha mão e caminhamos


um pouco mais até alcançar um trailer
simples de cor branca, logo no final do
estacionamento.

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Ele retira uma chave do bolso e em

seguida abre a porta.

— Minha nossa! — contemplo,


observando o interior totalmente destoante

da parte externa. Cada parede do lugar está


coberta por vibrantes pinturas aleatórias. —
Esse trailer é seu?

— Sim.

— É lindo.

— Que bom que você gostou — diz. —


Isso aqui é o meu santuário.

Eu me viro para ele, admirada. Cada

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vez que penso que sei o suficiente sobre

Evan, ele me surpreende um pouquinho


mais.

Caminho para explorar o lugar, vendo

quadros inacabados e artigos para pintura. O


lugar é bem pequeno, mas aconchegante.
Combina muito mais com ele do que o carro
caro e os ternos.

— Está com fome ou quer beber alguma

coisa? — questiona. — Não passo tanto


tempo por aqui, então não acredito que haja
algo dentro do prazo de validade no armário,
mas a gente pode pedir alguma coisa.

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Sorrio, de repente me sentindo muito

mais relaxada. Não sei se foi por ele ter me


trazido aqui ou o nosso beijo número dois,
mas acredito que o nosso nível de intimidade

avançou mais um passo.

— Estou bem assim. Gostaria de ver


mais dos seus desenhos, na verdade —
encolho os ombros. — Isso se você não tiver
nada contra, é claro.

Ele dá um beijo rápido na minha testa.

— Vem, vou lhe mostrar.

Ele abre mais uma porta e entramos no

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pequeno quarto. Nele há apenas uma cama,


um guarda-roupas e um criado mudo com
gavetas. Todas as outras coisas são cavaletes
desarmados, algumas telas de pintura

inacabadas e um tapete grande e felpudo


preto. Tiro meu tênis e fico mais
confortável. Quando me dou conta, Evan já
está caminhando até mim, carregando uma
pasta preta.

Ele se senta sobre a cama e abre a


pasta. Não escondo o meu deslumbramento
ao finalmente ter acesso ao conteúdo e me
sento ao seu lado.

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— Puta merda — murmuro, observando

os inúmeros desenhos. Há uma variedade


interessante, desde expressões faciais a
representações abstratas. — Você aprendeu

tudo isso sozinho?

— Sim — responde. — Eu costumava


fazer pesquisas e ver alguns tutoriais logo
que iniciei a adolescência. Fui aperfeiçoando
com o tempo.

Volto a revirar a grande quantidade de


papéis. Um desenho em especial chama
minha atenção. Há uma família em frente a
uma enorme casa branca — dois meninos e

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seus pais. É evidente que o desenho foi feito


por uma criança, e não me passa
despercebido o seu significado.

— Esse eu fiz quando tinha uns nove

anos — Evan me informa. — Fiz para dar de


presente aos meus pais no Natal. Lembro
que eu estava tão feliz... Ethan havia saído
com Bonnie, nossa governanta, para comprar
cachecóis de lã e uma gravata para dar de

presente a eles. Eu decidi que seria muito


mais incrível se eu fizesse um desenho
bonito da nossa família. Eu não entendia o
porquê de eles não gostarem tanto de mim.
Eu só queria receber ao menos um elogio.
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Que eles dissessem ao menos uma única vez


que eu era tão incrível quanto meu irmão
gêmeo e que meus desenhos eram realmente
bonitos.

Mesmo já imaginando a resposta,


questiono:

— E o que seus pais disseram quando


receberam o desenho?

— Minha mãe só me olhou como se eu


fosse a criança mais estúpida do mundo e...
bem, essa foi a primeira vez em que o meu
pai me chamou de inútil. Ele não disse isso
literalmente, mas a aversão que vi

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estampada em seu rosto quando ele disse que


eu poderia aproveitar meu tempo com coisas
mais produtivas deixou bem claro o que ele
queria dizer. Não entendia o sentido disso na

época, mas hoje eu compreendo muito bem.

Respiro fundo, tentando não chorar com


essa nova informação. Saber que Evan não
tem uma boa relação com os pais é triste,
mas reconhecer que ele foi rejeitado desde

pequeno é dilacerante.

— Sinto muito — falo. — Mas você


sabe agora que é muito especial, não é? Há
tantas pessoas que gostariam de ter o mesmo

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dom que o seu, Ev. Isso é incrível.

Ele ergue o olhar e eu percebo seu peito


subir e descer conforme volta a fitar meus
lábios. Inconscientemente, retribuo o gesto.

O beijo que ele me deu, minutos atrás, não


foi o suficiente. Estou ficando viciada em
Evan Prescott, e ao mesmo tempo em que
isso deveria me preocupar, me anima.

— Eu deveria agradecer ao Maven. —

Ele recosta sua testa na minha, uma sombra


de sorriso surgindo em seu rosto bonito.

— Pelo quê?

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— Por ele ter me arrastado para aquela

festa idiota no dia em que nos conhecemos


— diz. — Eu nem mesmo estava com
vontade de me misturar a um bando de

adolescentes irresponsáveis, mas depois que


eu vi você passar pela porta daquela porcaria
de sala, eu senti que havia feito a escolha
certa.

Afasto minha cabeça para encará-lo

melhor.

— Você... você me viu desde que eu


cheguei na festa?

— Não, exatamente — responde. —

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Lembro de você ter subido as escadas e em


seguida descido de volta para a sala e
começado aquele jogo maldito. Eu estava de
longe porque havia discutido com o meu pai,

para variar, e meu humor não estava muito


favorável para interações. Meu intuito era
beber até aliviar minhas frustrações. Mas
que bom que eu não bebi o suficiente. Senão
talvez teriam sido dois afogados.

Estremeço com a lembrança daquela


noite.

— Eu gostaria de ter conhecido você


em uma circunstância melhor — falo. —

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Mas talvez eu também deva agradecer a


Tate, por ter insistido para que eu fosse com
ela.

Nós dois rimos, mas logo meu sorriso

desaparece quando percebo que ele está se


aproximando de mim novamente. Ansiedade
retorce o meu estômago em um nó durante
os poucos segundos que aguardo seus lábios
reivindicarem os meus, e quando isso

acontece, derreto-me um pouco contra a sua


boca.

Esse beijo é um pouco mais profundo


que o primeiro e muito mais urgente que o

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segundo. Antes que eu me dê conta, minhas


costas estão batendo contra o colchão, o
peso do seu corpo está logo acima do meu, e
o calor de cada pedaço da sua pele

irradiando do tecido da sua roupa para a


minha.

Sua mão escorrega para a minha coxa e


ele puxa a minha perna para cima.

Oh, Deus, o corpo de Evan Prescott está

encaixado entre as minhas pernas, estou


ofegante e ele está... rígido. Não tenho
coragem de verbalizar o que está prestes a
acontecer aqui, mas posso dizer que estou

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me sentindo quente.

A mensagem de Tate surge como um


letreiro em néon na minha cabeça, e de
repente me vejo prestes a ter uma crise de

riso.

Merda, estou nervosa.

Evan interrompe o beijo, me deixando


um pouco frustrada. Apoia a cabeça em meu

ombro, sua respiração pesada dança sobre a


minha pele.

— O que está havendo? — indago,


resistindo ao impulso de soltar uma

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reclamação.

— Estou... contando.

Minha testa se vinca.

— O quê?

— Carneirinhos — Quando ele ergue a


cabeça, posso contemplar o grande sorriso
em seu rosto. — Isso ajuda a esfriar um
pouco as coisas.

Acabo dando risada também.

— Bem, se é assim, eu prefiro contar


hipopótamos.

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— Hipopótamos?

— Sim. Hipopótamo é uma palavra


muito feia e... desestimulante. Tenho certeza
que ajudaria.

Ele sorri e beija a ponta do meu nariz.

— Você tem razão. Acho que


hipopótamo ajuda.

Evan sai de cima de mim e deita de lado

na cama. Apoiando a cabeça na mão, me


observa.

— Que tal se a gente assistisse a um


filme? — pergunta. — Prometo não escolher

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nada muito longo. Não quero que você

chegue tarde em casa e arrume problemas


com a sua mãe.

— Na verdade, a minha mãe ainda não

voltou de viagem — digo. — Então não há


problema algum nisso.

— Ok, então. Que tal Clube da Luta?

Não consigo conter o meu sorriso

gigante.

— Perfeito.

Ele se levanta para buscar seu notebook


e volta pouco tempo depois. Após abrir uma

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aba do Netflix e dar play no filme, Evan se

recosta contra a cabeceira da cama e eu


aproveito essa posição para deitar minha
cabeça em seu colo.

Eu não sei em que momento do filme


isso acontece, mas me pego despertando ao
sentir Evan desfazer lentamente uma das
minhas tranças, e em seguida pentear
gentilmente meus cabelos com os dedos. Ele

massageia o meu couro cabeludo, e isso é


quase que uma terapia para que eu pegue no
sono outra vez.

— Gosto do seu cabelo — murmura

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perto do meu ouvido.

Eu não respondo, mas faço uma nota


mental para não cortar o meu cabelo nunca
mais.

— Rose?

— Hm? — finalmente digo alguma


coisa, imersa em minha bolha sonolenta.

— Quero ir a um encontro com você. —

Meus olhos imediatamente se abrem. —


Você aceitaria sair comigo?

Tento disfarçar minha euforia ao


responder:

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— Sim.

Sinto que ele sorri, voltando sua


atenção para o filme. A mão ainda está lá,
fazendo todas as suas coisas mágicas em

meus fios. Pela primeira vez na vida, sei que


encontrei o meu lugar favorito no mundo.

16: Virgindade.

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A semana seguinte decorre sem muitas

emoções. Converso pouco com Evan, afinal


ambos estamos mais que atarefados com
nossas ocupações escolares, o que também

resulta no meu pouco contato com Tate fora


da escola, mas isso não impediu que ela se
mantivesse a par sobre o convite para o
encontro.

Assim que fui embora do trailer de

Evan no sábado passado, fui bombardeada


com mensagens dela exigindo que eu lhe
contasse tudo o que havia acontecido entre
nós. Lógico que eu ocultei as partes

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consideradas mais quentes... e os desenhos


também. De uma maneira talvez boba, é bom
saber que, de todas as pessoas em quem ele
poderia ter confiado, Evan escolheu

justamente a mim para se abrir. Não quero


correr o risco de quebrar a sua confiança e
banalizar uma atitude tão bonita. De
qualquer forma, acho que fiquei quite com
Tate, uma vez que ela fez mistério ao ser
abordada sobre o que estava havendo entre

ela e Maven.

Na quinta, eu vou à minha consulta com


a Dra. Horn e relato sobre todas as
mudanças que vieram ocorrendo neste curto
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período na minha vida. Como sempre, ela


não faz julgamentos, mas me deixa feliz
quando diz de que estou progredindo e
garante que isso é muito bom.

O próximo fim de semana chega e com


ele o frio na barriga diante da perspectiva de
que eu, finalmente, vou a um encontro com
Evan. Nosso primeiro encontro.

Dá para acreditar?

Ainda estou no escuro sobre a que lugar


iremos. No dia em que ele me perguntou
onde eu gostaria de ir, eu apenas disse-lhe
para que me surpreendesse, e talvez tenha

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ficado tão hipnotizada com o sorriso cheio


de possibilidades que ele me lançou que mal
percebi que aquele sorriso poderia significar
muitas coisas.

Saio do banheiro enrolada na toalha e


tiro do cabide o vestido que separei para o
dia. Diferente da última vez em que saí, eu
não vou precisar da ajuda de Tate hoje, o
que é bom, pois me sinto muito mais

confortável em meus vestidos do que nas


roupas que a minha amiga insiste em me
fazer usar.

Depois que me visto, penteio o meu

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cabelo e decido deixar as espessas ondas


pálidas correrem por minhas costas. Ainda é
cedo e faz calor lá fora, então decido não
passar muita maquiagem. Nos pés, opto por

um par de sapatilhas, as mais confortáveis.

Quando a buzina de Evan soa do lado


de fora, eu já estou pronta e perfumada. Dou
mais uma olhada para o meu reflexo no
espelho e, após conferir uma última vez a

minha aparência, desço as escadas e o


encontro do lado de fora. Ele está de óculos
hoje, o que me deixa feliz. Faz tempo que
não o vejo com os óculos e eu realmente o
aprecio com eles.
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— Olá — cumprimento, tentando não

sorrir feito uma idiota quando ele me dá um


beijo rápido.

— Você está incrível.

Ok, esqueça isso. Estou sorrindo feito


uma idiota agora.

— Obrigada — falo. — Você também


não está nada mal.

Ele ri e abre a porta do carro para que


eu entre. Uma vez prontos, ele põe o carro
em movimento. Alguns minutos se passam
até que ele ligue o som e Wait For Me, de

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Kings Of Leon preencha o interior do carro.

— Essa é uma das minhas bandas


prediletas — aponto. — Você fez isso de
propósito?

— Talvez o meu sexto sentido esteja


puramente aguçado hoje — brinca. — Eu
também gosto muito dessa banda.

— Sabe, logo que o vi pela primeira

vez, a primeira ideia que me veio à mente


foi a de que você era o tipo de cara que
escutava heavy metal pesado e todas essas
coisas de garoto punk.

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Ele dá uma gargalhada.

— Cristo, Rose, e o que fez você mudar


de ideia sobre isso?

— Quando eu vi você na porta da casa


da sua fraternidade — respondo,
relembrando do quão confusa eu fiquei ao
ver a forma como se comportou no dia em
que fui procurá-lo. — Você meio que sente
vergonha de que os caras da Delta Sigma o

vejam como realmente é, não é?

Ele inspira.

— Não é sentir vergonha, é só... poupar

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dor de cabeça. Aqueles caras possuem uma


visão muito diferente da minha em relação a
quase tudo. É como se eu estivesse tentando
lidar com várias cópias irritantes do meu

pai.

Percebendo que estamos indo por um


caminho que possivelmente incomoda muito
Evan, procuro mudar de assunto:

— Estou um pouco curiosa para saber

aonde iremos.

Ele me lança um olhar enviesado,


repleto de diversão.

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— Eu espero que você goste, mas caso

isso não aconteça, por favor, não tente se


vingar de mim usando a ponta de uma
espada.

Franzo o cenho.

— Por que eu faria isso com você?

— Você vai ver.

Algum tempo depois, estacionamos o

carro e rumamos em direção a um enorme


prédio. Evan carrega uma mochila que tirou
do fundo do carro e eu ainda não faço ideia
do que contém nela.

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Quando alcançamos a entrada do local,

me dou conta de que se trata de uma...


academia? Era esse o seu intuito quando eu
disse para ele me surpreender? Me levar à

uma academia? Eu, definitivamente, não


estava esperando por isso.

— Você vai mesmo me levar para


queimar calorias em uma academia de luxo
no nosso primeiro encontro?

Ele sorri marotamente.

— Eu já disse que você não está gorda


— fala. — Mas bem que não seria nada mal
suar um pouco, hein?

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Eu estreito os olhos.

— Isso não teve graça.

Ele ri ainda mais. Pegamos o elevador

em silêncio e subimos para o último andar. A


porta se abre e eu dou de cara com um
corredor imenso. Os urros masculinos e
femininos se misturando em meio à
cacofonia de metais chocando-se ficam mais
altos conforme nos aproximamos da única

sala do andar.

Meu queixo quase cai quando alcanço a


porta e me vejo diante de uma sala de
esgrima.

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Fito Evan, intrigada.

— Não vai me dizer que você também


sabe praticar isso?

— Sem querer soar hipócrita, confesso


que existem algumas coisas do mundo
elitista que me fascinam — diz. — E
Esgrima é uma delas.

Ainda muito extasiada para fazer

qualquer outra pergunta, sento-me com ele


na arquibancada vazia e observamos
enquanto um grupo de pessoas pratica,
claramente íntimos com o tal esporte a
julgar seus movimentos precisos.

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— Está vendo aquele cara? — ele

aponta para um homem sem uniforme,


entretido em dizer alguma coisa para dois
atletas caracterizados. — Seu nome é Mike,

e ele é meu treinador. Eu comecei a treinar


com uns dezessete anos.

— Então você já poderia competir se


quisesse?

Dá de ombros.

— Sim, eu acho. Mas não é muito a


minha praia a competição. Eu faço apenas
quando quero espairecer — ele sorri
timidamente. — Achei que você fosse gostar

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de saber qual é a minha terceira coisa


favorita no mundo.

— A primeira é pintar, certo?

— Não. Pintar é a segunda.

— E qual é a primeira?

Somos interrompidos quando o tal Mike


começa a se aproximar de nós e rouba
completamente a atenção de Evan.

— Prescott — ele sorri,


cumprimentando Evan. — Quanto tempo.

— Ei, Mike! Viemos treinar um pouco.

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Nós viemos?

O homem sacode a cabeça, parecendo


só ter se dado conta da minha presença
agora.

— Vi que teremos uma novata hoje —


me oferece um sorriso simpático. — Vocês
trouxeram equipamento?

— Claro que sim — Evan responde.

— Bem, se precisarem de mim, estarei


disponível. Divirtam-se!

Depois que o cara se afasta, Evan me


estende a mochila — que agora eu sei que

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carrega o tal equipamento para a esgrima.

— Preparada, Rose?

— Eu tenho uma escolha?

— Acho que não — diz. — Mas não se


preocupe. Essa é apenas a primeira parada
do nosso encontro.

Estreito os olhos.

— Teremos uma segunda?

— Sim... — sorri. — Digamos que se


você conseguir vencer de mim na Esgrima,
poderá escolher o lugar para onde vamos
sair para comer depois daqui.
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Eu cruzo os braços, decidindo tornar as

coisas um pouco complicadas para ele


também.

— Isso quer dizer que mesmo se eu

ganhasse de você, poderia sugerir comermos


em um restaurante japonês, onde tem hashis,
que você odeia, e mesmo assim você me
levaria?

Ele prende um riso.

— Claro.

— Fechado, então.

Depois que vestimos o equipamento,

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ficamos um de frente para o outro no meio

da sala.

— Vou ensinar o básico — ele começa.


— Há três modalidades, nas quais são

utilizados três tipos de armas: o florete, o


sabre e a espada, mas como trouxe você aqui
apenas para apresentá-la ao esporte, nós
vamos usar somente o florete.

Ele me entrega uma arma parecida com

uma espada e eu seguro desajeitadamente,


ainda no escuro a respeito de como usar essa
coisa.

— Segure firme — instrui. — Primeiro

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vou lhe mostrar a posição adequada: coloque


um pé na frente, outro atrás. Dessa forma.

Eu faço conforme orientado e tento


desviar quando ele vem com seu florete em

minha direção, mas acabo tropeçando em


meus próprios pés e quase caio. Evan me
segura.

— Não cruze as pernas. Você


naturalmente vai cair assim.

Depois que aprendo a posição correta,


nós voltamos para as orientações e
movimentos.

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Por mais que esse seja o encontro mais

louco que eu já tive, não posso negar que


estou me divertindo. Eu gosto de estar com
Evan, e gosto da forma como ele faz de tudo

para ter uma participação significativa na


minha vida, até mesmo nos pequenos
detalhes, como agora.

Mas isso não quer dizer que eu esteja


de todo confortável com essa situação. Uma

coisa é certa sobre a esgrima, a qual eu


aprendi em apenas alguns minutos de
tentativas frustradas: se você não tem
prática ou sorte, jamais vai conseguir vencer
de alguém que já pratica há anos.
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E, no meu caso, não tenho nenhuma das

duas.

Já deu para perceber em como isso vai


acabar, certo?

Desabo dramaticamente no chão, meus


braços abertos e as pernas estiradas. Estou
com o peito arfante, meus músculos me
matando e considerando seriamente em me
vingar de Evan agora. Ele me pediu para não

o ferir com uma espada, mas não disse nada


a respeito do florete.

Evan atira sua própria arma no chão e


se ajoelha em cima de mim, prendendo-me

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entre suas pernas. Apoia ambos os braços no


chão, seu corpo pairando acima do meu.

— Luz do Sol — sua voz denota


repreenda, mas ele está prendendo o riso —,

eu não acredito que você perdeu numa


disputa de esgrima para um cara míope.

Eu sopro uma mecha de cabelo do meu


rosto.

— Você trapaceou — provoco. — Estou


seriamente desconfiada de que você armou
tudo isso no intuito de me derrubar apenas
para ficar em cima de mim.

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Seus lábios se inclinam em um sorriso

maroto. Os cabelos escorrem para a frente


quando ele inclina a cabeça para baixo e
roça seus lábios nos meus.

— Você está certa — diz.

— E sabe o que mais?

— O que?

— Acho que você quer me beijar agora.

— Bem, você me pegou.

Ele está prestes a me beijar, quando


alguém nos interrompe:

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— Evan?

Ao escutar a voz feminina, forço seu


corpo para cima, para que ele saia de cima
de mim. Enquanto luto para me manter de

pé, dou de cara com uma garota vestida em


uma roupa de academia, as pernas longas e
bem cuidadas estão de fora, bem como sua
barriga chapada.

— Uh, ei... — Evan fala com ela,

aparentemente nervoso. Me pergunto


imediatamente quem é essa garota. — Eu
não sabia que você estava em Claremont.

Ela sorri amplamente, fazendo-me

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inclinar um pouco a cabeça para observá-la


melhor. Ela é alta, bonita... e rica. Sua pele
em tom achocolatado e os longos cabelos
castanhos escuro com pontas marrom

caramelo, me dão uma sensação de que estou


diante de uma mistura de Rihanna com Kim
Kardashian. Isso é um pouco deprimente
para mim.

— Oh, não ficarei muito tempo aqui, de

qualquer maneira. É aniversário de


casamento dos meus pais amanhã, e eles
estão dando uma festa. Você sabe como eles
são, não é? Grande fraternização com toda a
família reunida, então eu tive que vir... —
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seus olhos pousam em mim. — Eu ia sugerir


de a gente se encontrar em algum momento,
mas vi que você está se mantendo ocupado.
Não vai me apresentar sua namorada?

— Bem, essa é... Rose. Rose, essa é


Cameron, minha...

— Eu sou a ex — ela completa e sorri.


Se aproxima de mim e me dá um abraço
breve.

Não sei se fico surpresa por saber que


estou diante da ex-namorada de Evan, um
pouco enciumada por me dar conta de que
ela é legal e muito mais bonita do que eu

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poderia ter imaginado, ou nervosa por


perceber que ele não negou quando ela
mencionou que eu era sua namorada. Não
que isso signifique que eu seja, embora. Mas

seria muito mais humilhante caso ele


negasse isso na frente dela.

— É um prazer conhecer você.

— O prazer é todo meu, Rose — ela


fala de forma simpática, mas posso perceber

que não sou a única enciumada aqui. Seu


olhar está me avaliando de cima a baixo.
Fico feliz por estar usando esse bendito
uniforme de esgrima. Não vai ser possível

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ela fazer comparações entre seu corpo


tonificado e o meu muito sedentário, caso
tente. — Bem, eu só dei uma passada na
academia para perder as calorias que

inevitavelmente acabei ingerindo nessa


viagem para a casa dos meus pais — ela
acena com a mão. — Vou deixar vocês
treinarem. A gente se fala depois. Tchau.

Em seguida, se afasta. Estou um pouco

hipnotizada tentando descobrir se aquela


bunda é realmente dela quando Evan para
bem na minha frente e levanta meu queixo
para fitar meus olhos.

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— Sinto muito por isso.

— O que?

— Sobre Cameron... eu não sabia que

ela estava na cidade.

Eu forço um sorriso.

— Você está com medo de que eu tenha


uma paixonite lésbica pela sua ex-namorada
bonita e resolva abandonar você?

Ele estreita ligeiramente os olhos.

— Eu corro esse risco?

— Talvez você consiga me convencer

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do contrário — digo. — Vai ter que se

esforçar muito. Ela tem pernas muito


bonitas.

— Há algo no que Cameron não é tão

boa quanto eu — fala. — Ela nunca levaria


você para comer comida japonesa, mesmo
sabendo que você perdeu nossa aposta, e
mesmo odiando os malditos hashis.

Sou pega de surpresa.

— Está falando sério?

— Por acaso eu já menti para você


alguma vez?

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Eu sorrio.

— Certo, eu vou tirar essa coisa quente


do meu corpo.

Ao sairmos da academia, vamos direto


para um restaurante japonês perto dali.

— Será que há alguma coisa aqui onde


eu não precise de pedaços de bambu para
poder comer? — ele indaga, analisando o

cardápio em sua mão.

— E qual a graça se você não tiver que


aceitar um desafio?

Levanta a sobrancelha.

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— Desafio?

— É, vamos lá — digo. — Você me fez


voltar a ter confiança em andar de carro com
outras pessoas, isso porque desafiei a mim

mesma. Acho que seria legal se você


tentasse, ao menos mais uma vez, comer
com os palitinhos, mesmo sem ter
coordenação motora.

Ele fecha o cardápio e cruza os braços.

Um sorriso acaba iluminando seu rosto.

— Você tem razão — sentencia,


decidido.

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Quando a garçonete vem nos atender,

pedimos uma porção de variedades de


sushis. Evan faz questão de comer com os
hashis e eu sorrio internamente com a ideia

de que ele está tentando sair da sua zona de


conforto.

Olho para seu copo com a água com gás


que ele acabou de pedir e uma ideia me vem
à mente.

— Você sabe que poderia beber um


pouco de saquê se quisesse, não é? — digo.
— Sempre tive vontade de experimentar,
mas não acho que me serviriam sem pedir

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minha documentação antes.

— Eu não bebo antes de dirigir.

— Oh, certo. — Isso explica muita

coisa. — Você é um cara responsável no


trânsito, hein?

Ele endireita as costas, aparentemente


desconfortável com meu comentário, mas eu
decido não insistir nesse assunto e volto a

observá-lo enquanto tenta pegar um dos


pequenos rolos com os malditos pauzinhos.

— Você está tendo muitos problemas


aí? — seguro o riso.

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— Estou tentando, eu juro — ele

suspira, irritado. — Mas essas coisas não


foram feitas para mim. Acho que éramos
inimigos mortais em uma vida passada.

Acabo rindo ainda mais ao perceber sua


frustração. Isso é fofo.

— Esqueça isso, Ev — digo, pegando


um dos sushis com a mão. — Veja, acho que
dessa forma acaba sendo muito mais prático.

Ele morde o lábio para evitar rir


enquanto me observa.

— Não me tente.

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— Estou apenas sendo prática — digo,

comendo um dos rolos. — É como comer

frango no KFC 17 .

Ele ri, cede e acaba apanhando um entre


os dedos.

— Você tem razão, é bem mais fácil


comer com as mãos — diz após mastigar. —
É tão deselegante, mas isso é divino.

Algum tempo se passa enquanto


falamos de tudo um pouco. Desde meus
planos para a faculdade, até suas pretensões
de estudar em uma escola de Artes na
Europa. É agradável estar com ele, apenas
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conhecendo um ao outro, sem toda a


melancolia dos nossos problemas no meio.

— Você não ficou desconfortável


mesmo em relação a Cameron? — indaga. —

Não quero que você pense que eu sabia que


ela estava na cidade. Jamais levaria você até
a academia se já estivesse prevendo esse
encontro.

— Tudo bem — dou de ombros. — Ela

parece legal.

— Ela é.

— Por que terminaram?

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— Não combinamos.

— Em relação a quê, exatamente?

Ele suspira.

— Passei muito tempo resistindo às


vontades do meu pai, Rose. Quando eu
infelizmente tive que despegar de quase tudo
que eu estava acostumado a fazer e ser o
cara que ele queria, algumas coisas tiveram

que seguir o mesmo rumo. Eu já conhecia


Cameron há um tempo. Nós estudamos
juntos, ela era legal e divertida, então a
pressão dos nossos pais acabou levando
nossa relação a um nível mais elevado. Mas

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nós nunca tivemos as mesmas vontades, ela


queria seguir o passo dos pais, e eu almejava
outa coisa. Resolvi terminar para não correr
o risco de machucá-la. Isso seria injusto da

minha parte.

Eu limpo a garganta.

— Você chegou a... amá-la?

— Acho que nunca cheguei a amar uma

garota.

— Você nunca namorou?

— Sim — responde, sorrindo. — Talvez


tenha me apaixonado por alguma delas, mas

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nenhuma me fez flutuar e explodir em

milhares de pedaços. Então acho que nunca


as amei.

Eu mordo o interior da bochecha, meio

sem saber o que dizer. Sinto vontade de


aproveitar que estamos falando sobre
relacionamentos e perguntar sobre o
acontecimento de mais cedo, sobre eu
supostamente ser sua namorada, mas acho

que ainda está cedo para darmos um rótulo a


isso. Além do mais, não quero correr o risco
de levar um fora. Seria muito constrangedor.

— Bem, eu também acho que nunca

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amei — digo. — A maioria dos garotos com


quem eu ficava era apenas para alimentar
meu ego ou me sentir... desejada de alguma
forma. O meu pai foi embora tão cedo, a

minha mãe vivia trabalhando fora. Eu


realmente precisava de alguém para me
mostrar quão bonita e importante eu era.
Mesmo que superficialmente.

Ele suspira.

— Isso é foda — diz. — Você nunca


teve um namorado?

— Não — falo.

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Ele se inclina sobre a mesa e deixa seu

rosto muito próximo do meu.

— Eu gostaria de me candidatar a esse


posto caso você tenha interesse.

Enterre-me. Agora.

— Você não está falando sério.

Seu sorriso se amplia.

— Nunca falei tão sério antes — então

ele avança ainda mais e me beija. Não é um


beijo rápido, mas também não é algo
pornográfico. Adequado o suficiente para o
ambiente em que estamos, mas não me deixa

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menos vermelha.

— Ev, as pessoas estão olhando — digo


quando nos afastamos.

Ele rola os olhos.

— Qual o problema? Você acha que eles


nunca viram um casal se beijando antes?

Um casal.

Nós somos um casal.

Não demonstro, mas estou sorrindo por


dentro.

Depois que vamos embora, já está

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anoitecendo. Ele estaciona em frente à

minha casa e eu esmoreço, triste por ter que


deixá-lo.

— Foi divertido — digo.

Ele coloca uma mecha de cabelo atrás


da minha orelha.

— Sim, eu não me divertia assim há


tempos.

Sorrio.

— Eu também — falo. — Acho que me


diverti mais nesses dias que passei com
você, do que em todos meus dezoito anos de

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vida.

Sua expressão se torna triste por um


breve momento, mas logo ele se inclina no
banco e tira meu cinto de segurança. Me

segura pela cintura e antes mesmo que eu


perceba qual sua intenção, está me pondo
sentada sobre seu colo. Minhas pernas estão
esticadas agora, os pés apoiados no banco
onde eu estava acomodada.

— Fico feliz em estar fazendo você


sorrir.

— Eu também.

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Ele segura delicadamente a minha nuca

e me puxa para si, colando seus lábios nos


meus. Nos beijamos até eu sentir meus
membros virarem gelatina.

— Você me perguntou mais cedo qual


era a minha coisa favorita no mundo,
lembra? — questiona acariciando o meu
cabelo e eu aquiesço. — A minha coisa
favorita é beijar você — diz. — Eu

realmente gosto de beijar você.

Não consigo conter a agitação no meu


peito.

— Eu também gosto muito de beijar

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você.

Não sei quanto tempo se passa enquanto


ficamos protegidos em nossa bolha dentro do
carro de Evan, apenas nos beijando, mas

quando ele sela nossos lábios uma última


vez e eu me preparo para deixá-lo, sinto
como se nem todo tempo do mundo fosse
suficiente para que eu me sinta preparada
para ter que voltar à minha realidade

solitária e sem ele.

Ainda estou relutante quando me


despeço, saio do carro e o observo se
afastar. Em seguida, caminho para a minha

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casa, estranhando ao me deparar com um


carro parado em frente a dela.

As luzes da varanda e da sala estão


acesas, outra coisa que chama a minha

atenção.

Assim que alcanço a sala da minha


casa, me dou conta de que não se trata de um
bandido ou coisa parecida. A voz da minha
mãe soa nítida da cozinha, o que significa

que ela já voltou de viagem.

Paro na porta da cozinha e não posso


esconder a minha confusão ao ver a minha
mãe de costas para mim, conversando baixo.

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— Mãe? — interrompo, chamando sua

atenção. — Por que não me avisou que


voltaria hoje? — Entro na cozinha, e estaco
ao registrar a presença masculina, sentada

em frente ao balcão. — E o que o seu chefe


casado está fazendo na nossa cozinha?

17: KFC é uma rede de restaurantes de fast-food


estadunidense, que explora a antiga receita de frango

frito do Kentucky.

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Encontro um refúgio na imagem da tinta

levemente descascada na lateral da porta


fechada, à medida que o silêncio se alastra
pelo interior do cômodo. Estamos todos

sentados na sala de estar agora, de frente


para a nossa lareira inútil, praticamente
inertes.

Não quero que a minha mente foque na


ideia de que a minha mãe provavelmente

está tendo um caso com seu chefe casado,


portanto continuo a fugir da realidade, me
apegando a coisas aleatórias, como por
exemplo, a cadência suave das cortinas que

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cobrem a janela aberta, na forma como o


jarro de flores em cima de um dos móveis
está fora do lugar em comparação ao
restante da decoração. Minha garganta

ressecada, mãos suadas e postura rígida


denunciam o meu gritante desconforto. A
sensação é semelhante a fazer parte de um
júri popular, numa posição que me deixa
completamente em dúvida, dividida entre o
dilema de inocentar um criminoso ou

condenar um possível inocente. Óbvio que


não tenho poder suficiente, muito menos o
desejo de fazer isso, mas essa não deixa de
ser uma experiência enervante.

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— Creio que ficarmos aqui parados,

olhando para a cara um do outro, não vá


resolver muita coisa — Surpreendentemente,
Jared é quem toma uma iniciativa. —

Precisamos conversar sobre isso.

— Vocês estão juntos? — Nada sutil,


confesso, mas a pergunta sai antes que eu
me dê conta.

O rosto da minha mãe fica pálido e

Jared deglute com força, provavelmente não


esperando por esse questionamento vindo da
minha parte. O que ele queria que eu
fizesse? Que me erguesse do sofá, o

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abraçasse e dissesse que está tudo bem?

— Antes de qualquer coisa, Rose, eu


gostaria de dizer que acho sua mãe uma
mulher exemplar, e não quero, em hipótese

alguma, roubar o lugar do seu pai.

O papo clichê de sempre. Sinto vontade


de roer a pontinha da minha unha, mas
felizmente me controlo. É como se
estivéssemos revivendo tudo o que

aconteceu quando eu era apenas uma menina


e tive que acalentar a minha mãe enquanto
ela se rasgava por conta da traição do meu
pai. Os papeis se inverteram e eu,

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sinceramente, não sei o que pensar a


respeito disso agora.

— Eu sinto muito por você ter que


descobrir isso dessa forma, querida — minha

mãe diz. — Nós estávamos planejando


contar de uma maneira mais fácil, mas...

— Vocês deveriam estar se preocupando


com o que a esposa e filhos do Jared
pensariam a respeito disso — interrompo. —

Tenho certeza de que a minha opinião é o


menor dos seus problemas agora.

— Rose, por favor, não torne as coisas


mais difíceis — mamãe pede. — É apenas

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questão de tentar entender...

— Entender? — corto. — Você não me


pediu para entender quando meu pai nos
abandonou para correr atrás da sua melhor

amiga! Eu detestei Karen por anos,


alimentando a ideia de que ela quem havia
destruído nossa família, e agora eu descubro
que a minha mãe está fazendo exatamente a
mesma coisa.

Ela endireita a postura, como se eu


houvesse acabado de lhe dar um tapa na
cara. Fico sentida imediatamente, mas não
está sendo muito fácil para mim também.

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Por mais que eu não queira julgá-la, é um


baque tremendo se dar conta de que sua mãe
se tornou a personagem que mais lhe
aterrorizou desde a infância.

— As coisas são diferentes agora.

— Diferentes porque você está no lugar


de amante?

— Rose! — ela endurece o tom de voz.

— Por favor, não seja hostil.

Eu recuo. Sei que estou sendo dura a


julgando assim. Isso não é muito maduro da
minha parte, muito menos empático.

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— Desculpe — falo. — É só que... eu

passei tanto tempo repudiando esse tipo de


atitude porque você mesma me fez acreditar
que era a coisa mais errada do mundo. Eu

me afastei do meu pai e passei a ter uma


convivência estranha com ele por causa de
uma traição. Eu apenas estou me sentindo
uma idiota por descobrir isso dessa forma.

— Eu sei, querida, eu sei — murmura.

— De qualquer maneira, eu também sou


culpada por você ter esse tipo de
posicionamento agora. Eu criei você assim,
fiz você acreditar nisso, mas... aconteceu,
ok? Talvez agora eu entenda o seu pai e a
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Karen. O nosso casamento não era mais a


mesma coisa de anos atrás, e talvez ele tenha
realmente se apaixonado por ela. Da mesma
forma que eu e Jared nos apaixonamos.

Apaixonados. Dá para acreditar nisso?


Me sinto em outra dimensão, assistindo a
tudo isso de longe.

— Então isso quer dizer que Jared vai


abandonar a família para ficar com você?

— Eu não vou abandonar a minha


família — o homem esclarece. —
Continuarei amando meus filhos e serei
presente na vida deles, mas não estarei mais

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do lado da mãe deles quando isso vier a


acontecer. Sinto muito pelo que aconteceu
com o seu pai, mas nem todos os homens são
como ele. Eu gosto muito da sua mãe e

quero que isso funcione, incluindo minha


relação com você.

A julgar seu olhar, posso concluir que


ele está sendo sincero, o que me surpreende.
Eu e Jared nunca tivemos muitas

oportunidades de nos conhecer melhor, mas


se a minha mãe chegou ao ponto de — como
ela mesma afirmou — ter se apaixonado por
ele, sei que é um bom homem.

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— Sua... sua esposa já sabe de tudo? —

pergunto-lhe.

— Sim. Conversei com ela poucos dias


antes de voltamos da Austrália para cá.

— Não acho que tenha entendido muito


bem. Sua esposa também estava na
Austrália?

Ele solta um suspiro, como se estivesse

se recordando de algo realmente


desagradável.

— Sim, ela já tinha uma forte


desconfiança a respeito do meu

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relacionamento secreto com a sua mãe e


resolveu ir atrás de nós.

Fico chocada.

— Ela pegou vocês no flagra?

— Bem, você pondo dessa forma, me


parece bem pior do que realmente foi — Ele
se endireita, visivelmente desconfortável. —
Mas... Sim, ela acabou nos pegando no

flagra.

— Isso significa que vocês não


viajaram a trabalho, certo?

— Não é bem assim... — Mamãe

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interfere, trocando um olhar significativo

com Jared. — Nós estávamos acompanhando


um projeto que está em reforma em Sydney.
Não falei nada com você sobre isso porque

queria ter certeza primeiro para dar a


notícia, mas a verdade é que a esposa de
Jared, Odette, já estava desconfiada de nós e
acabou planejando tudo isso. Aconteceu uma
pequena confusão por lá, mas isso é muito
estressante para vir à tona agora. O

importante é que Jared adiantou o pedido de


divórcio, que já estava planejando fazer há
algum tempo, e nós vamos trabalhar juntos
para que isso dê certo.

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Solto um suspiro.

— Certo, acho que recebi muita


informação para uma única noite. Preciso
espairecer. Sinceramente eu não sei nem

mesmo o que dizer, mas se é isso o que


vocês querem, desejo que sejam felizes.

Mamãe sorri.

— Obrigada, querida, mas você vai

mesmo ir embora da sala sem ouvir a parte


mais legal da nossa viagem?

— Uh, se vocês forem compartilhar


momentos românticos e tudo mais, eu...

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— Não, nada disso — me interrompe

suavemente. — Na verdade, nós estávamos


fazendo uma surpresa.

— Que surpresa?

— Esse projeto que está sendo


reformado na Austrália é um dos maiores
investimentos do Jared — responde. — Ele
pretende cuidar dos negócios por lá, por isso
o tempo longo da viagem. Queríamos

resolver tudo o mais rápido possível.

— Uau — digo. — Isso é muito bom,


mas... como vocês irão conciliar o
casamento aqui nos Estados Unidos, com

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cuidar dessa nova empresa em outro país?

Seu sorriso se amplia.

— Querida, você não entendeu. Jared

está pensando em migrar seus negócios para


lá, mas porque ele pretende viver em
Sydney! — seus olhos brilham, como se ela
estivesse me dando a maior notícia do
mundo. — E nós vamos morar lá!

— O que? Como assim, vocês vão


morar na Austrália e não planejam me dizer
nada com antecedência? Isso é... uau.
Quando vocês vão?

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— Nós vamos — ela corrige. — Não

confirmamos a data, mas espero que seja


breve. É óbvio que eu vou levar você
comigo. Estamos vendo a possibilidade de

conseguir uma vaga em uma das melhores


universidades de lá. Jared tem muitos
contatos. Além disso, você tem notas
excelentes. Certamente irão aceitá-la.

Isso é como um baque para mim. Me

levanto do meu assento, sentindo como se


minhas pernas de repente não fizessem mais
parte do meu corpo.

— Você está me dizendo que ficou

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noiva, foi pivô de um divórcio e planejou


parte do meu futuro em uma viagem de
menos de dois meses, sem ao menos me
consultar?

Ela fica pálida.

— Nós achamos que...

— Não, mãe! — explodo. — Vocês não


poderiam ter achado nada. E o que eu acho

não importa? Eu já tenho dezoito anos,


sabia?

— Sim, querida, mas você nunca se


opôs quando sugeri que estudasse em uma

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boa universidade. Achei que seria algo do


qual você fosse gostar. Ir para fora do país,
conhecer pessoas novas, culturas novas, isso
é o que a maioria dos jovens de hoje em dia

almeja.

— Eu pensava dessa forma quando


tinha quatorze anos e mal sabia o que queria
da minha vida, mas agora é diferente. Eu me
importo, eu me oponho, e eu não vou morar

na Austrália com vocês.

— Rose... — Ela parece chocada. Eu


nunca alterei o tom de voz dessa forma, mas
já chega de imporem coisas para mim. Já

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chega de sempre me dizerem o que fazer sem


antes pensar no que eu quero. Já estou
cansada de tudo isso.

Não dou mais tempo para prolongar o

assunto, apenas pego meu celular antes de


correr para fora de casa e bater a porta atrás
de mim.

Disco o número da única pessoa nesse


mundo que me entenderia e espero alguns

segundos até ele atender o telefone.

— O que está havendo? — ele pergunta,


sem nem mesmo precisar ouvir meu tom de
voz.

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— Você ainda está na cidade?

Ele demora alguns segundos para me


responder.

— Estarei em breve — diz. — Me diga


onde você está. Estou indo te pegar.

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A rua está deserta quando estaciono o


carro, aproximadamente trinta minutos após
pegar uma Rose trêmula e pálida na porta da
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sua casa. Fiquei apreensivo ao constatar seu


estado, mas ela me garantiu que nada de
muito grave havia acontecido, pedindo que
eu a tirasse dali o mais rápido possível.

Apesar de aparentar mais calma, percebo


que ainda está tensa. Seus olhos curiosos se
detêm na construção escura com paredes
descascadas enquanto Like a
S t o n e d e Audioslave preenche o vazio

ocasionado por nossa parca interação


durante o percurso.

Melancólico, eu sei.

Houve um tempo em que minha vida se

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resumia a noites deprimentes em refúgios


onde eu me escondia e transformava na
minha zona de segurança e conforto.
Lugares que eu costumava chamar de meu

lar temporário. Sei o quanto isso pode


parecer ruim posto neste ângulo, e realmente
era. A parte boa era que pelo menos eu me
sentia reconfortado. Acredito que um pouco
de paz em um lugar vazio seja tudo o que
Rose também precise nesse momento.

— Onde nós estamos? — sua voz


cansada sobrepõe as notas da música,
trazendo minha atenção de volta ao seu
semblante em alerta.
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Eu me estico e puxo minha mochila no

banco de trás antes de responder sua


pergunta:

— É apenas um prédio velho e

interditado.

Ela não esboça uma reação muito


animadora enquanto dirige mais um olhar
para o local.

— Nós... não vamos passar a noite aqui,


vamos?

Minha sobrancelha se arqueia


divertidamente.

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— O que foi? Mal saímos de um

encontro e você já está pensando em


situações eróticas onde eu estou envolvido?
Eu ainda não havia visto esse lado seu, Luz

do Sol.

Ela inclina a cabeça para ocultar a


vermelhidão de suas bochechas.

— Não foi isso o que eu quis dizer.

Eu dou risada.

— Ok, achei que você tivesse um


espírito mais aventureiro. E não, nós não
vamos passar a noite aqui se você não

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quiser. No entanto, esse lugar nos deixa


seguros o bastante. Você sabe, como no The
Walking Dead.

Pela primeira vez desde que a peguei na

porta da sua casa essa noite, ela amolece os


ombros.

— Isso é bom porque eu não acho que


tenho forças para correr hoje. Seja de
zumbis ou guardas maratonistas, dispostos a

nos perseguir enquanto nos chama de


pequenos marginais.

Apesar de seu tom irônico, consigo


perceber que ela realmente me parece para

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baixo. Independentemente da gravidade do


que aconteceu, sei que é algo que a está
atormentando.

Saímos do carro e eu aciono as travas

antes de puxar o zíper do bolso dianteiro da


minha mochila e tirar de dentro dela uma
lanterna e um molho de chaves. Ligo o
aparelho e peço que Rose o segure para
mim, na direção da porta, enquanto me

encarrego de tentar abrir o cadeado que


mantém fechada a pequena porta de metal.

— Você tem certeza de que não vai


aparecer nenhum guarda por aqui?

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— Você não confia em mim?

— É claro que confio — responde. —


Mas eu ainda acho arriscado.

Sorrio inocentemente.

— Tecnicamente não é um crime de


invasão se eu tiver a chave, certo?

Ela rola os olhos.

— Tecnicamente é um crime ainda maior

se você tiver a chave de um lugar no


qual não tem permissão para entrar.

— Não é a primeira vez que venho aqui.


Além do mais, isso são apenas detalhes.
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Depois que abro a porta, pego de volta a

lanterna e aponto para o local escuro. Ela


analisa curiosamente.

— Esse lugar também pertence ao seu

pai?

— Não — respondo.

— Você ao menos conhece o dono?

— Sim. É o pai do Maven.

— Sério? O que ele faz?

— Com certeza qualquer merda que


renda muito dinheiro para alimentar seus
bolsos e ego estúpidos — digo, apontando
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com a lanterna para as escadas e liderando o

caminho. — Pessoas como ele e o meu pai


só visam isso a maior parte do tempo.

Rose vem logo atrás de mim, mas sei

que seus olhos estão muito atentos nas


paredes velhas ao redor.

— E por que está abandonado e


interditado?

Dou de ombros.

— Não faço a menor ideia.

— E você vem aqui sempre?

— Costumava — respondo. — Eu e
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Mave vínhamos treinar basquete no terraço

ou apenas bebíamos por horas enquanto ele


tocava violão e falava algumas merdas
bêbadas enquanto admirava as luzes.

— As luzes?

— Sim — anuo, abrindo a única porta no


fim do último lance de escadas. — Veja.

Assim que Rose passa pela porta, sua

atenção vai direto para o imenso terraço.

A luz da lua ilumina o lugar. Apenas um


sofá com um violão e algumas telas estão
protegidos sobre uma pequena tenda

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improvisada logo mais à frente.

Rose caminha cautelosamente pelo local


até que chega perto da extremidade. Seus
dedos abraçam a tela de proteção enquanto

seus olhos brilham ao ver as pequenas luzes


da cidade brilhando do outro lado.

— Minha nossa, isso é...

— Lindo — completo. — Vê como valeu

a pena subir todas aquelas escadas?

Ela fica alguns instantes apenas olhando


as luzes da cidade, admirada. Em seguida
seus olhos passeiam pelo material de arte e

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música.

— Vocês... treinavam música e pintura


aqui também?

— Yeah — respondo. — Poucas vezes


viemos aqui para fazer isso. A vista é linda,
não é?

— Sim, muito. Estou impressionada. —


Só então ela olha para a mochila em minhas

mãos. — Ela está mais vazia. Você passou


no trailer?

— Sim — respondo. — Passei no trailer


para pegar algumas latas de tinta. Lótus

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estava inspirado hoje.

— Eu estraguei seu momento de


inspiração?

— Talvez você tenha aguçado ele —


digo.

Em seguida eu me sento no puído sofá,


dando tapinhas para que ela se acomode ao
meu lado.

— Então — começo, olhando para o


horizonte. — Por que você está tão tensa?

— Minha mãe está dormindo com o


chefe — ela desaba ao meu lado.

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— Bem... a menos que ele seja um

criminoso, acho que isso é bom, certo? Pelo


que você me disse, ela não teve ninguém
desde o seu pai.

Suspira.

— Ele é casado.

Oh, uau.

— Que merda.

— Sim — diz. — E isso ainda não é a


pior parte. Eles pretendem se casar e morar
na Austrália. E querem me levar junto.

— Você quer morar com eles?


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— Claro que não — fala. — Eles dizem

que eu posso até mesmo estudar em uma boa


universidade lá, mas isso não é o que eu
quero pra mim.

— Não é o que você quer, estudar em


uma boa faculdade?

— Claro que sim, mas... há boas


faculdades aqui e... há você.

Isso me deixa um pouco apreensivo.


Sinto uma pontada no peito.

— Não quero que você vá embora, Rose,


mas se tivesse que escolher entre ver você

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infeliz do meu lado ou feliz e realizada na


Austrália, eu preferiria que você fosse para
lá.

— Isso é uma forma sutil de dizer que o

que mal começou entre nós tem prazo de


validade?

Sua reação me pega desprevenido.

— Você sabe que não.

Rose fica em silêncio por alguns


segundos antes de me deixar ainda mais sem
reação:

— O que eu sou pra você, Evan?

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— Rose...

— Apenas me diga — me corta. — Eu


saberia responder caso você me perguntasse
o que representa na minha vida. Afinal, você

me ajudou a enxergar e superar tanta coisa.


Mas e eu? O que eu sou além de um
recomeço?

Eu poderia dar diversas definições. Ela é


tanta coisa que talvez uma noite em um

terraço velho não fosse o suficiente para


expressar com clareza. É tanto que até o meu
lado mais criativo se retrai quando eu penso
nisso.

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— Você é... inexplicável — respondo. —

Às vezes eu acho que você é tudo, mas me


lembro que talvez o tudo não seja o
suficiente para lhe definir.

Ela sorri timidamente depois de um


silêncio longo.

— Ev?

— O que?

— Você me faz feliz — confessa. —


Acho que Brianna está muito feliz também.
Feliz por mim.

— Você realmente acha isso?

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— Sim. — Afirma. — Depois do

acidente, eu demorei um pouco para me


sentir dessa forma, mas você me ajudou a
enxergar meus demônios e limitações de

uma forma diferente.

— Você nunca me contou como foi


exatamente o acidente — abordo, um pouco
emocionado por saber que significo tanto
para alguém. — Gostaria de falar sobre isso?

Ela abaixa a cabeça.

— Era tarde e voltávamos de uma festa.


Brianna estava irritada por ter flagrado o
namorado se pegando com uma outra garota

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— diz. — Decidi dirigir o carro dela, porque


não seria uma boa ideia a minha melhor
amiga assumir a direção no estado em que se
encontrava. Contudo eu acabei me distraindo

em determinado momento, e quando vi... um


carro já estava vindo em nossa direção.
Tentei desviar para não causar um acidente,
mas... aconteceu.

Faço uma pausa tentando absorver cada

palavra dolorosa.

— Ela morreu na hora?

— Sim — responde baixinho.

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— E o namorado dela? Ele não se

arrependeu de ter sido um babaca e


desencadeado isso?

— Ele nunca apareceu, na verdade — ela

diz. — A morte de Brianna não foi muito


comentada na época, as únicas pessoas que
ficaram sabendo foi o pessoal do colégio e
nossos familiares e amigos, mas como ele
era do mesmo círculo de amizade que a

gente, pensei que fosse ao menos ter a


consideração de se preocupar. No entanto,
ele simplesmente sumiu. Nem mesmo foi no
velório. A última vez em que o vi foi
naquela festa maldita, há um pouco mais de
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um ano. As pessoas não sabem do paradeiro


dele, ninguém é capaz de dizer nada. Até das
redes sociais ele sumiu.

— Uau. Isso é estranho — falo. — Ele...

não tem família?

— Não que eu saiba — Ela suspira.

Volto a pensar no acidente e em tudo o


que Rose passou e sinto uma sensação

estranha me possuir. Não é somente


compaixão pelo que ela passou. Isso me faz
lembrar de coisas. Me traz lembranças que
eu não estou preparado para pensar. Sinto a
pontada na minha cabeça, como um aviso de

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que o nosso fim pode estar muito mais


próximo do que imagino.

— Está tudo bem?

— Sim, claro — respondo, tentando


mudar de assunto logo em seguida: — Você
não teve culpa de nada, Rose. Eu tenho
certeza disso.

Ela dá de ombros.

— De qualquer forma, eu quem estava


dirigindo naquele dia. Eu quem desviei
daquele maldito carro para salvar a vida de
alguém que nem sequer cheguei a conhecer e

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em contrapartida, perdi a minha melhor


amiga.

Seguro sua mão, reconfortando-a.

— Você não teve culpa de nada —


repito. — Preciso que coloque isso na
cabeça, ok?

Ela assente fracamente.

— Você acha que eles estão juntos

agora?

— Quem?

— Ethan e Brianna. Será que estão no


mesmo lugar?
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— Claro que estão — digo. — Em um

lugar calmo e bonito. Estou certo de que eles


são bons demais para estarem em qualquer
outro lugar se não o paraíso.

Ela dá risada.

— O que eles estariam fazendo agora?

Estreito os olhos e viro de lado para fitá-


la.

— Brianna eu não sei, mas Ethan com


certeza estaria com as pernas estiradas em
algum lugar com grama, um livro fechado ao
lado das suas pernas enquanto nos analisa

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aqui embaixo, se perguntando algo como:


"por que aquele tremendo idiota não pediu
aquela incrível garota em namoro ainda?"

Ela dá risada, suas bochechas ficando

vermelhas.

— E o que você acha disso?

— Eu acho que ele tem razão —


respondo. — Me faço a mesma pergunta

todos os dias.

— Bem, eu acho que Brianna estaria


dizendo algo como "Rose, sua estúpida, se
você deixar esse cara passar, eu mesma

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acabo com você".

Acabo rindo também.

— Acho que precisamos concordar com

eles, huh?

— Aonde você quer chegar com isso? —


ela me cutuca, divertida. — Estamos
namorando?

— Se depender de mim, sim.

— Ok, então estamos namorando.

Ela se inclina para me beijar, e eu volto


a me lembrar de que se ela soubesse tudo
sobre meu passado, não estaria de acordo
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com isso tão facilmente.

— Rose?

— O que?

— Me dê sua mão.

Ela fica confusa, mas, mesmo assim, me


entrega. Eu seguro firmemente.

— Eu quero que você me faça uma


promessa.

Ela amolece o sorriso.

— Que... promessa?

— Que independentemente do que

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acontecer daqui a um ou dez anos... que

você vai ser para sempre feliz. Que você vai


seguir seus sonhos, que vai pensar em você
primeiro e vai para sempre carregar esse

sorriso. O sorriso de uma garota que é feliz


e quer recomeçar.

— Por que eu tenho que prometer isso?


Você está me assustando.

— Só me prometa — falo. — Só quero

ter a certeza de que você vai estar bem caso


eu não possa estar por perto.

Ela balança a cabeça.

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— Eu não vou prometer isso.

— Talvez você me odeie um dia — digo.


— Coisas acontecem. Só quero garantir que
mesmo que isso aconteça, você estará

preparada para seguir em frente e ser feliz.

— Impossível alguém odiar você, Evan


Prescott — ela diz. — E eu não vou
prometer nada, ok? Eu não vou ser feliz
longe de você, portanto esqueça isso.

Ela me beija outra vez e toda a angústia


é substituída por algo mais. Bem mais suave
e mais profundo. É diferente de tudo o que
eu já senti. É assustador, louco e tão, mas

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tão bonito.

E é então que eu simplesmente esqueço


de tudo apenas por ver um sorriso em seu
rosto. Eu desisto de lhe exigir e apenas

recebo o que ela tem para me dar.

Por um momento, eu esqueço.

Com ela se torna fácil.

Percebo que eu faria isso por muitas e

muitas vezes.

Faria qualquer coisa por essa garota.

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As vozes animadas vindas da cozinha é

a primeira coisa que escuto ao descer as


escadas pela manhã. É sábado, sinal de que
minha mãe está de folga. E Jared

provavelmente dormiu aqui. De novo.

— Bom dia! — minha mãe me


cumprimenta, um pouco mais animada que o
habitual.

Por mais que seu comportamento de

agora esteja sendo completamente receptivo,


ainda estamos um pouco estranhas depois da
minha atitude quando eu descobri sobre ela e
Jared. Fugir com Evan naquela noite não

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facilitou a minha situação, e agora ela me


pôs de castigo, alegando que passei de uma
menina depressiva para uma garota rebelde
com propensão ao uso de drogas. Tudo isso

graças ao meu novo namorado, que, segundo


ela, é uma espécie de marginal que
provavelmente dirige um carro importado
graças ao dinheiro do tráfico.

Eu não falei que Evan era filho de um

empresário rico, muito menos que era um


garoto de fraternidade em Dartmouth. Isso
foi proposital, claro. Eu acho que ela merece
um pouco disso depois de ter decidido julgá-
lo pela aparência.
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— Olá — devolvo de forma não tão

animada como gostaria de soar. Por mais que


eu esteja verdadeiramente feliz pela minha
mãe, ainda não consigo ser falsa e levar essa

situação completamente numa boa.

Jared acabou de se divorciar da esposa,


e colocou uma aliança no dedo da minha
mãe. Os dois agora vivem como um casal
saído de um filme de romance do Adam

Sandler. Eu fico a todo momento esperando


o instante em que eles irão começar a assar
biscoitos juntos e participar de jogos de
casais.

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Vou até a geladeira pegar uma caixa de

leite, quando noto no balcão da pia uma


cesta repleta de alimentos.

— Para onde vão?

— Nós decidimos tirar o fim de semana


para fazer algo juntos — minha mãe
responde, empolgada.

— Piquenique no parque — Jared

complementa. — Sei que sua mãe a colocou


de castigo, mas gostaria de ir conosco?

— Uhh... na verdade, eu acho que seria


melhor se vocês fizessem isso sozinhos. —

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Segurar vela já não é muito legal, mas


segurar vela para sua mãe e o novo
namorado dela? Isso é algo que eu
definitivamente não quero experimentar

agora. — Divirtam-se.

Não espero eles saírem para retornar ao


meu quarto e me trancar lá dentro. Meus
olhos focam no ventilador de teto e eu tento
colocar meus pensamentos em ordem. Assim

como as hélices que giram a todo vapor, as


mudanças na minha vida têm ocorrido em
uma velocidade assustadora. Faz poucos
meses, mas é como se um furacão houvesse
passado por ela, tirando tudo do lugar. Não é
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uma experiência ruim — muito pelo


contrário — mas mudanças sempre abalam
as nossas estruturas de alguma maneira.

Ouço o barulho do carro de Jared

saindo e respiro aliviada ao me dar conta de


que estou sozinha em casa. Eu poderia
aproveitar o momento para fazer algo fora
daqui, mas talvez Tate tenha planos e Evan
deve ter coisas mais importantes para fazer

também.

Decido passar as próximas duas horas


m a r a t o n a n d o minhas séries na Netflix,
quando uma buzina do lado de fora rouba

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minha atenção. Corro até a janela do quarto,


achando estranho minha mãe ter voltado tão
cedo, para me deparar com o carro vermelho
de Evan parado enquanto Tate e Maven

acenam em minha direção.

O que diabos eles estão fazendo aqui?

Sem ruminar muito no assunto, fecho a


janela e saio em disparada para fora do
quarto. Alcanço o lado de fora da casa no

mesmo momento em que os três estão saindo


do carro. Maven e Tate parecem íntimos o
bastante para estarem praticamente
abraçados, e Evan... bem, ele está

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irresistivelmente bonito como sempre, o que


faz o meu coração disparar um pouco.

— O que estão fazendo aqui? — indago,


realmente curiosa a respeito.

Maven tira o braço de cima dos ombros


de Tate e levanta seus óculos de sol, o que
eu tenho certeza que faria muitas meninas
suspirarem por ele.

— Viemos resgatar a pequena Rapunzel


em nossa carruagem de abóbora para um
breve passeio.

— Carruagem de abóbora é em

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Cinderela — Tate revira os olhos ao corrigir


Maven. — E eu prefiro algo como piratas
perigosos aparecendo para roubar um
tesouro precioso — ela balança as

sobrancelhas enquanto me puxa pelo braço.


— O que você acha disso, Rose? Estamos
dispostos a salvá-la de seu castigo cruel.

Puxo minha mão de volta e cruzo os


braços, dividida entre achar graça de toda

essa loucura ou ficar aflita com a audácia


dos três.

— O que vocês estão planejando,


exatamente?

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— Que graça teria se nós contássemos?

— Evan sorri de lado.

— Ele está certo — Tate o apoia,


voltando a me puxar pelo braço. — Não

saber é a parte mais legal, Barbie Girl.


Apenas passe um pouco de protetor solar,
mova esse traseiro e nos siga!

Quarenta minutos depois, estamos


estacionando em uma entrada arborizada que

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obviamente dá acesso a mais vegetação.

Descemos do carro e eu passo o olhar


ao redor, sentindo a brisa natural ao passo
que os rapazes retiram do porta-malas duas

mochilas.

Eles lideram o caminho e eu e Tate os


seguimos, tendo cautela por onde pisamos.
Fico feliz por ter colocado um tênis. Há
folhas e pedras por toda parte.

Após alguns minutos apenas


caminhando e roçando em folhas e galhos
finos, nós finalmente conseguimos chegar
em nosso destino. É na beira de um rio que,

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como já era de se esperar, eu mal sabia da


existência.

— Eu falei pra você que não saber era a


parte mais legal — Tate diz, observando a

minha clara admiração. Ela tira algo da


mochila e joga em minha direção. — Tome,
esqueci de alertá-la sobre os mosquitos.
Passe um pouco de repelente.

— Obrigada.

Enquanto passo o repelente, observo


Evan e Maven tirarem algumas bebidas e
alimentos embalados de dentro da mochila.

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— Sério? Vocês se deram ao trabalho de

planejar um piquenique justamente em um


lugar de tão difícil acesso?

— Isso foi ideia dele — Evan aponta

com o queixo na direção de Maven. — Me


lembrem de pedir para, na próxima
encarnação, não ter amigos esquisitos.

Maven grita alguma coisa de volta e


Tate o apoia, me fazendo rir. Por um

momento eu até me esqueço que estou de


castigo, me esqueço que ainda tenho que
resolver um dilema sobre ficar nos Estados
Unidos ou morar na Austrália. Me esqueço

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até mesmo da forma como meu namorado


tem agido estranho ultimamente. Eu me
esqueço que ele está me escondendo algo e
eu apenas estou tentando não acreditar que o

que ele tem para me dizer é realmente ruim.


É um momento de diversão e eu acho que
preciso de um pouco disso.

— Preciso confessar algo — Maven diz


ao se acomodar diante de mim.

— Então desembuche — Evan fala.

— Sei que vocês provavelmente irão


usar isso contra mim pelo resto da minha
vida, mas... eu realmente estou feliz por

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estar aqui hoje. É melhor do que festa com


bebida e um monte de garotas.

Tate o encara, incrédula.

— O que deu em você? Está se sentindo


bem?

Maven dá de ombros.

— A verdade é que eu nunca tive muita


oportunidade de interagir com pessoas que

valessem a pena. Nunca considerei ter


amigos de verdade além de Evan — ele toma
um gole da sua bebida. — E é isso. Eu acho
que estou bêbado.

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— Você não precisa ficar envergonhado

por confessar isso — Evan diz. — Também


tenho algo a confessar.

— Espero que não seja nada pervertido

— Tate reclama. — Não suje a imagem


adorável que eu tenho de você.

Ele sorri e seus olhos brilham.

— Bem, se pintar flores e frases em

muros aleatórios em segredo for algo que um


pervertido faria, eu sou culpado.

Tate arregala os olhos.

— Está me zoando?

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— Por que eu faria isso?

A expressão que a minha amiga faz


demonstra claramente o seu choque.

— Oh, meu Deus! Você é... Você é o


Lótus?

— Do que diabos vocês estão falando?


— Maven parece realmente confuso, o que
me faz rir e olhar para Evan.

— Você não podia ter escolhido um


momento mais apropriado para falar sobre
isso?

Ele dá de ombros.

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— Somos todos amigos, certo? Achei

que eles também tivessem o direito de saber.

Tate me olha com acusação.

— Isso significa que você sabia sobre


Lótus o tempo todo e não me contou nada?
— indaga. — Minha nossa, você é uma
traidora!

— Por favor, pare de drama — digo. —

Não faz tanto tempo assim que eu sei; e isso


não faz diferença, já que Evan confessou
para vocês agora, certo? É o que importa.

Ela se ajeita e faz biquinho.

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— Cara, você me decepcionou um

pouco.

Evan parece confuso.

— Por quê?

— Eu jurava que você era uma garota


— bufa. — Mas tudo bem, você pode
resolver isso me dando um autógrafo.

— Que merda. — Maven se intromete.

— Se tem mais algo que vocês queiram


confessar, digam agora. Acho que não vou
suportar saber que meu melhor amigo
esconde mais alguma coisa de mim.

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— Me desculpe por isso, cara — Evan

diz. — Acredito que não há muito sobre mim


que você já não saiba.

— Bem. Depois dessa eu acho que devo

uma confissão também, não é? — Tate bebe


um pouco do seu refrigerante e se aproxima
de nós, como se estivesse prestes a nos
contar seu mais sujo segredo. — Eu sempre
tive vontade de namorar um criminoso.

Eu arregalo os olhos, Mave cospe sua


bebida e Evan faz uma expressão de quem
não está acreditando que ouviu algo como
aquilo saindo da boca dela.

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— Que diabos?! — falamos os três em

uníssono.

— Não se façam de puritanos! — Ela


rola os olhos. — Só estou dizendo isso

porque está todo mundo se abrindo hoje, mas


não acho que eu seja tão bizarra assim por
ter esse pensamento. Qual é? Isso não quer
dizer que eu vá me envolver com
criminosos. É mais uma fantasia sobre

filmes de ação e caras quentes.

— Pois você deveria parar de ver filmes


de ação, afinal, que merda de fetiche é esse?

— Oh, Rose, não seja uma estraga

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prazeres! — Me repreende. — Por acaso


você nunca teve vontade de experimentar
algo... perigoso?

— Não mesmo! — falo, sentindo

minhas bochechas ficarem vermelhas ao


notar o olhar divertido de Evan. — Não
tenho interesse, ok?

— Vamos lá. Toda garota tem seu lado

Bonnie Parker18 .

— Não, Tate, você está louca. Não dá


para sentir atração por alguém, sabendo que
ele cometeu um crime.

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— Nem mesmo se o cara não for

totalmente culpado? — Maven se manifesta,


tomando nossa atenção.

— O que você quer dizer com isso? —

Tate continua. — Por acaso você já cometeu


um crime, Mave?

— Ei, vocês não acham que esse


assunto já está ficando chato? — Evan abre
um sorriso e se levanta. Ele parece

desconfortável com a situação, mas logo


mostra ter superado isso ao puxar a camisa
para fora de seu corpo, deixando seu torso
completamente nu. — Vamos fazer algo mais

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legal.

— Tipo um strip-tease? — Tate


provoca.

— Não. Tipo nadar no rio. Não é tão


fundo e está fazendo calor.

— Garotas sexies com blusas molhadas?


— Maven se põe de pé, e em questão de
segundos sua camisa tem o mesmo destino

que a de Evan. — Cara, você não precisa


perguntar duas vezes! Acho que estou no
paraíso.

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Não sei quanto tempo se passou, mas


tudo está tranquilo enquanto admiramos a
luz do sol que desponta dentre as folhas dos
galhos de árvore.

Tate está aninhada contra Maven —

segundo eles, ouvindo música — enquanto


Evan se mantém recostado contra uma
árvore, perdido em pensamentos. Eu não sei
o que é mais perturbador nisso tudo. O fato
de eu não saber o que pensar a respeito da
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amizade-barra-flerte entre a minha amiga e o


Mave, ou o comportamento — mais uma vez
— estranho de Evan.

Seu celular toca e ele atende a

contragosto.

— Sim? — Não demora muito tempo


para que seu rosto fique pálido e ele una as
sobrancelhas. — Você está falando sério? —
Outra pausa e então ele aperta a mandíbula

com força. — Merda. Logo estarei aí.

18: Bonnie Parker foi uma criminosa norte-


americana que, com o namorado Clyde Barrow e sua
quadrilha de assaltantes, cometeu assaltos pelo interior
dos EUA no começo da década de 1930.

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Quando ainda era criança, eu cheguei a


acreditar na existência de super-heróis. Não

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o cara de capa colorida e superpoderes que


eu costumava ver nos programas de
televisão, mas um tipo diferente de herói:
daqueles que acordam às seis da manhã para

levar as crianças na escola e, mesmo assim,


mantêm um sorriso alegre no rosto. Ou o
tipo que com apenas uma palavra de carinho
e conforto ajuda a aliviar a dor de um joelho
ralado. Eu costumava acreditar que meu pai
pudesse se tornar um grande herói para mim

e para o meu irmão. O que veio a se


fragmentar quando o encontrei em seu
escritório com o rosto entre as pernas da
nossa babá russa, Anya, em pleno jantar de

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Ação de Graças.

Aquela foi a primeira decepção que eu


tivera com ele. Mesmo sem compreender ao
certo o que estava se passando na época, eu

era crescido o suficiente para saber que o


contato da boca de um homem casado, com
as partes íntimas de suas funcionárias não
era algo que devesse ser rotulado como
correto.

Em seguida, fui notando que o


acontecimento tinha sido apenas um ponto
inicial para muitas outras merdas dignas de
troféu de pior pai e marido do século. As

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decepções seguintes foram cada vez mais


frequentes, e eu não sou capaz de detalhar
cada uma delas, mas me lembro de uma
coisa: eu passei a acreditar menos em heróis

e seus poderes e passei e a procurar enxergar


a verdadeira virtude dos humanos reais.

Algumas matérias dizem que Lótus se


trata de um herói para pessoas com
problemas emocionais, outros alegam que

ele não passa de um lunático em busca de


seus quinze minutos de fama por meio de
frases sem sentido, mas o que nenhum deles
chegou a imaginar é que Lótus não quer ser
a subcelebridade de capa colorida e
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capacidade de voar. Ele quer apenas ser um


herói comum. Alguém que eu jamais teria
coragem de ser se não fosse por Ethan.
Melancólico ou não, eu descobri que posso

muito bem ser o herói que não consegui ser


para o meu irmão. O herói que o meu pai
nem ao menos se preocupou em ser para
nossa família.

Cada batida dos meus sapatos sobre o

piso caro da mansão dos Prescott faz com


que a minha cabeça lateje em sincronia. A
notícia que recebi nas últimas duas horas
não foi nada boa, e a tentativa frustrada de
Bonnie de me acalmar só serviu para me
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deixar ainda mais ansioso.

Subo as escadas às pressas e estou


prestes a abrir a porta do quarto principal,
quando sou interrompido pelo meu pai.

— O que pensa que está fazendo?

— Deixe-me entrar — peço.

— Primeiramente acalme-se...

— Você está me pedindo para me

acalmar? — me estresso. — A minha mãe


quase morreu hoje, e você pede para que eu
me acalme?

— Já está tudo sob controle agora,


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garoto — ele continua. — Além do mais, eu

não acredito que seria uma boa ideia...

— Danem-se as boas ideias! —


explodo. — Tudo pra você tem que ser do

seu jeito, mas eu já estou cansado de tudo


isso. Ela é minha mãe e precisa de mim
agora. Não vou ignorar isso, portanto me dê
licença, Felton, pois eu vou entrar nesse
quarto.

Sem dar espaço para que ele argumente,


eu adentro o quarto de uma só vez, parando
ao ter a visão da minha mãe completamente
imóvel sobre a cama. Mas diferente do que

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eu imaginei, ela está acordada. Não parece


estar nesse plano, embora. Seus olhos estão
focados diante de si, e não se movem, nem
mesmo quando me aproximo aos poucos e

me sento ao lado de sua cama. É como se


seus pensamentos estivessem em outra
dimensão. Tiro algum tempo para analisar
sua reação, mas não obtenho nada além de
silêncio.

Meus olhos deslizam para seu pulso


enfaixado, reconhecendo que ela realmente
t e n t o u aquilo. Bonnie não estava blefando
quando disse que ela cortou os pulsos.

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Minha mãe tentou se matar.

— Você deveria ser levada a um hospital


— digo, meus olhos ainda fixos em seu
pulso. — O meu pai não quis levar você?

Silêncio.

— Seria mais seguro se você fosse


analisada por um médico — continuo. — Se
você concordar, eu posso levá-la a um

hospital de confiança. Eu mesmo me


encarregarei disso. O que acha?

Silêncio.

É frustrante, mas libero uma respiração

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pesada e busco forças para manter o

controle. É preciso paciência para lidar com


ela nesse momento.

— Não finja que não está me escutando

— continuo firme. — Se não estiver de


acordo, tudo bem. Mas ao menos me diga
alguma coisa. Eu me preocupo com você e
estou aqui para ajudá-la de alguma f...

— O que faz aqui? — Sua voz ríspida

me paralisa. Parecendo ter se libertado de


um transe, ela move seus olhos lentamente
até estarem focados em meu rosto. — Sua
vida está tão patética e vazia que você

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decidiu preenche-la visitando uma bêbada


decadente? Você vive num inferno como eu.
Por que simplesmente não foge? Por que não
acaba de uma vez por todas com essas

amarras malditas e simplesmente vai


embora? Por que não faz como o seu irmão
e... — Ela bate a mão sobre a boca ao se dar
conta da gravidade do que estava prestes a
sair.

Por mais que ela não tenha concluído a


frase, eu consigo sentir o impacto de suas
palavras mudas.

— É essa a solução que você considera?

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— questiono com voz ainda pacífica. —


Acabar com tudo?

Ela não responde, mas sua respiração


ainda é intensa sob sua mão.

— Achei que fosse mais forte.

— A força não é algo que dure para


sempre — refuta. — Até mesmo o mais forte
dos guerreiros em algum momento acabará

se entregando. Ninguém é forte o suficiente


para ser invencível!

— Você tem razão. Ninguém é forte o


bastante, mas há algo sobre o qual você está

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redondamente enganada: o mais forte dos


guerreiros morre lutando — corrijo. — Isso
não significa que ele tenha desistido.

Ela permanece em silêncio por alguns

minutos, sua respiração voltando ao normal.


Novamente o olhar distante retorna e eu sei
que esse é sua maneira de refletir sobre
minhas palavras.

— Lembra de quando eu era criança e

chorava ao me machucar? Você sempre dizia


que garotos fortes jamais devem sucumbir ao
choro e suas emoções, então eu fazia uma
pausa, pensava no que você tinha me dito e

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percebia que eu era muito mais forte que


aquilo e eu podia superar.

Ela aquiesce com um triste e nostálgico


sorriso.

— Eu fazia isso porque queria ser um


garoto forte pra você — seguro em sua mão
trêmula. — Seja forte por mim também,
mãe. Eu sei que você consegue.

Ela tenta dizer algo de volta, mas de


repente sua expressão se torna triste. Ela
puxa sua mão e um soluço escapa de seus
lábios, seguido por uma onda de choro.

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— Ele fez de novo! — Ela expele

enquanto curva-se, como se fosse doloroso


demais admitir. — Aquele filho da mãe fez
de novo!

Eu pestanejo, preocupado e confuso.

— Do que você está falando?

— Seu pai! — diz. — Eu o encontrei...


no escritório... com a nova assistente.

Filho da...

Eu dou uma longa inspiração, buscando


controle.

— Olhe para mim. — Seguro em seus


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ombros, amparando-a, até que ela me fita. —

Ele não merece a mulher que tem. Ele não


merece a nossa família. Nunca mereceu.

E é então que o pequeno fio de

autocontrole que ela tanto lutou para tecer,


se rompe. Eu deixo que ela desabe em meus
braços e apenas permaneço calado enquanto
ela coloca para fora toda sua tristeza e
indignação reprimida há mais de vinte anos.

É em momentos como esses que você


percebe que valores como amor e família
valem muito mais do que meros rancores do
passado.

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É nesse momento que você percebe o

quão frágil alguém pode se tornar após ser


ferido por dentro. E é nesse momento que
me dou conta que sou muito mais humano do

que imaginei ser capaz. Isso está me


dilacerando por dentro, afinal ela ainda é a
minha mãe. E eu sei que estarei aqui para
ela, sempre que ela precisar.

Não demora muito para que ela

finalmente consiga dar um fim à cessão de


choro.

— Já se alimentou? — pergunto. — Vou


pedir à Bonnie para trazer algo para você.

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— Eu não quero comer nada agora —

ela fala. — Prometo fazer isso mais tarde.


Mas, por ora, prefiro dormir um pouco.

Não fico muito satisfeito com sua

recusa, mas por fim aceito a decisão.

— Certo. Vou fechar as cortinas pra


você e, em seguida, irei ler um livro para
que durma bem.

Ela tenta se controlar, mas acaba


sorrindo.

— Ler para mim? Pare com isso, não


sou mais uma garotinha.

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— Você s e m p re será a minha garota,

não importa o que diga — falo. — E é isso o


que um bom filho faz, não é? Acho que
chegou a hora de me redimir.

Seu sorriso se torna um pouco triste, e


acho que já sei o que ela está pensando.
Lauren Prescott nunca foi o melhor exemplo
de boa mãe também. Mas isso ficou no
passado. Ela precisa de mim e não adianta

nada ficar martirizando-a com lembranças


rancorosas.

Depois de fechar as cortinas, vou até


uma das prateleiras no quarto e seleciono um

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livro qualquer, notando seu olhar estranho


quando volto a ficar ao seu lado.

Ela passa uma última vez as mãos sobre


o rosto e se ajeita, dando espaço para que eu

me sente ao seu lado.

Eu limpo a garganta e inicio a leitura de


um livro que, por falta de sorte minha, é um
romance sobrenatural sobre um vampiro e
uma humana. Eu nem mesmo sabia que

minha mãe gostava desse tipo de leitura. De


qualquer maneira, eu não dou a mínima para
isso, pois é nesse momento que eu me dou
conta de que não é preciso ter superpoderes

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ou usar uma capa para ser o herói de alguém.


Basta você desejar ser.

Já é tarde quando eu desço as escadas e


encontro o meu pai na sala de estar. Ele está
acomodado em uma das poltronas, a

televisão ligada em um noticiário qualquer,


o volume quase mudo.

— Imaginei que você estaria aqui —


falo, sentando-me no sofá diante dele.

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— Está pensando em ir embora ainda

hoje? — questiona. — Seu quarto ainda está


intacto, caso queira saber.

— Ficarei essa noite, não se preocupe

— digo. — Mas eu gostaria de falar com


você antes de me recolher.

Desconfiança sombreia suas feições,


mas por fim ele alisa seu paletó caro e
desliga a TV, guiando sua total atenção em

minha direção.

— Sou todo ouvidos.

— Ela tentou se matar — Digo, sem

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delongas.

— Eu sei.

— Isso significa que ela precisa de

ajuda.

— Eu sei.

— E então?

Ele libera um suspiro, parecendo


contrariado.

— Irei providenciar um psicólogo para


a sua mãe e irei cuidar disso, não se
preocupe. Por enquanto, estou evitando a
internação, mas não irei me opor quanto ao
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acompanhamento médico. Então não acho

que haja motivos para que você se estresse.


Acredite em mim, eu já estou tenso o
suficiente.

Eu cruzo os braços.

— Certo. Mas acho que você está se


esquecendo de algo.

— E o que seria?

— Conte à minha mãe sobre Paige e a


traga de volta para Claremont — abordo. —
Eu decidi não fazer isso hoje por respeito ao
estado de Lauren, mas já estou cansado de

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todas essas omissões entre nós. O que


significa que se você não fizer isso pelas
próximas semanas, eu mesmo farei.

Uma veia salta de sua têmpora

conforme ele me queima com o olhar. O meu


pai não está acostumado com pessoas o
contrariando. Muito menos alguém que, de
acordo com seu pensamento, deveria lhe
dedicar respeito e devoção absolutos.

— Eu já estava pensando sobre isso,


para ser sincero — finalmente se manifesta.
— Não se preocupe, pois quando achar o
momento certo, eu mesmo me encarregarei

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de contar à sua mãe sobre Paige. Por ora, é


bom que ela não se sobrecarregue com
muitas emoções.

Assinto e me levanto, disposto a deixá-

lo sozinho, mas antes que eu me vire, volto a


me lembrar de algo:

— Tem mais uma coisa que eu gostaria


de lhe dizer.

— O que é?

— Você é um péssimo marido e isso não


é surpresa alguma — digo —, mas pare de
pensar somente em si mesmo de hoje em

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diante e procure não ferir os sentimentos da


minha mãe.

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Limpo o excesso de gloss transparente

dos meus lábios e volto a analisar a imagem


da garota loira refletida no espelho. Grandes
olhos azuis me encaram de volta; os cabelos

claros estão presos em um coque jovial e


elegante, pequenas pedrinhas em um tom
bonito de verde ornamentam minhas orelhas.
Apesar de eu mesma tê-la feito, a
maquiagem está boa. Foi o suficiente para

cobrir algumas manchas e disfarçar a pele


extremamente pálida.

Hoje é o dia da minha formatura. O dia


em que eu deveria estar saltitando por dentro

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de alegria. No entanto, neste momento não


me resta nada além de um vazio inexplicável
e ansiedade para que tudo isso finalmente
acabe.

Sempre que via esse momento sendo


retratado nos filmes e seriados, eu
imaginava que quando a minha vez
finalmente chegasse, eu estaria tão animada
quanto as personagens deslumbrantemente

que praticamente se empoleiravam no


corrimão da escada à espera do seu par. A
fantasia era atraente enquanto eu ainda me
via como uma das populares. Quando eu
ainda era um modelo da garota bonita que
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ganha o título de rainha do baile e beija o


cara mais quente no final da festa.

Eu até arquitetei com anos de


antecedência com quem eu perderia a minha

virgindade. Talvez fosse com algum atleta da


escola — alguém com muito músculo e
pouco cérebro. Cérebro o suficiente para não
decidir me ligar no dia seguinte.

Óbvio que nem tudo que ocorre em

nossas vidas é da forma que planejamos. O


que foi bom ter — ou melhor, não ter —
acontecido. Agora eu me dou conta de que
dificilmente conseguiria ser feliz se as

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coisas acontecessem de uma maneira tão


superficial. Continuaria sendo uma menina
vazia em busca de um pouco de aventura na
minha vida monótona e fria.

Isso me leva a imaginar que talvez eu


tenha amadurecido durante o último ano. Ou
apenas ficado sem paciência para algumas
situações que agora, percebo, não são mais
tão significantes assim.

Ouço uma leve batida na porta e em


seguida ela se abre.

— Posso entrar? — minha mãe


questiona. Assim que aprovo, ela adentra o

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quarto, seu olhar brilhando. — Veja só você.


Está tão bonita!

Me sinto corar, passando as mãos sobre


o vestido cor de rosa. Ele é simples, com

saia rodada que vai até os meus joelhos. Não


é a vestimenta que eu escolheria logo de
cara, mas como minha mãe fez uma surpresa
ao me dá-lo de presente de aniversário
atrasado, eu apenas aceitei e agradeci. Estou

feliz só por ser um presente dela.

— Ainda me lembro, como se fosse


ontem, do dia da minha formatura —
devaneia, dando os últimos ajustes no meu

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penteado. — Foi neste dia em que o seu pai


me pediu em namoro.

A minha mãe e o meu pai se


conheceram ainda na adolescência. Ambos

eram dois jovens sonhadores e


inconsequentes quando começaram a
namorar. Mamãe era completamente
apaixonada por ele, mas tinha o sonho de
cursar uma boa faculdade, ter um emprego

que amasse e, de alguma maneira, marcar


sua presença no mundo. Contudo, acabou
abrindo mão de tudo isso ao engravidar e se
tornar a dona de casa que a nossa família
tanto necessitava.
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Com o meu pai as coisas foram um

pouco diferentes. Ele não tinha os mesmos


sonhos que a minha mãe, mas conseguiu se
sair bem sendo um piloto, o que tanto

almejou. Talvez a minha mãe tenha razão de


ainda ter um pouco de mágoa reprimida do
meu pai. Ela praticamente foi forçada a abrir
mão de seus sonhos e, na cabeça dela, parte
dessa “culpa” é dele.

Apesar de ser triste a forma como a


história dos dois acabou, é compreensível.
Os primeiros amores nem sempre estão
destinados a ficarem juntos, certo? Há uma
porção de motivos que podem levar a um
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rompimento temporário ou, até mesmo,


definitivo. Isso não significa que o amor
acabou, mas talvez signifique que há algo
muito mais urgente em pauta. É preciso estar

primeiramente bem consigo mesmo para que


você possa se dedicar a outra pessoa.

— Tenho certeza que sua formatura foi


incrível, mãe, mas confesso que achei que eu
fosse estar mais animada.

Ela segura a minha mão.

— Isso não é o fim do mundo, querida,


acredite em mim. Contanto que você esteja
satisfeita com o fechamento deste ciclo, já é

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o suficiente.

— Você tem razão — digo. —


Obrigada.

— Não há de que. Eu te amo, querida.

— Também te amo.

Nos abraçamos, mas logo somos


interrompidas quando o som da campainha
soa no andar de baixo.

— Meu par para o baile acabou de


chegar — falo, levantando-me. — Eu vou
atender a porta.

Desço as escadas com cuidado por


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causa do salto alto, mas não sem escutar a

campainha tocar por mais quatro vezes.

Meu par para o baile é alguém


impaciente.

Assim que abro a porta, dou de cara


com Tate dentro de seu vestido roxo com
babados e um enorme sorriso iluminando seu
rosto.

— Olá, Barbie Girl! — ela passa pela


porta, não deixando o sorriso morrer em
momento algum. — Minha nossa! Essa roupa
ficou muito boa em você.

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— Você também está ótima — retribuo

o gesto. — E foi mais pontual do que eu


imaginei.

— Baile de formatura, baby! Não

podemos chegar no fim da festa e permitir


que outras pessoas ofusquem o nosso brilho.

— Oh! Vocês estão fofas — minha mãe


diz ao descer as escadas, analisando nós
duas. — A propósito, adorei esse vestido,

Tate.

— Obrigada, Sra. Brooks! Foi com esse


vestido que minha avó, Matilda, se tornou
rainha do baile em mil e novecentos e... eu

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não sei. Mas... o importante é que ela me


deu de presente e eu acabei reformando. Foi
o seu vestido da sorte e agora será o meu!

Tate tem um talento único para moda.

Não de um jeito bom, mas devo confessar


que, além de ter um significado grandioso na
vida dela, esse vestido ficou magnífico.

— Incrível — mamãe sorri. — Bom...


divirtam-se, meninas! Eu vou sair para

jantar com o Jared, então não me esperem


em casa, ok?

Assentimos e saímos de casa poucos


minutos depois.

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Evan insistiu em nos levar para o baile,

mas eu não quis sobrecarregá-lo. Ele já está


cheio de preocupações desde que sua mãe
tentou suicídio alguns dias atrás. Não acho

que seja legal ocupar por completo o seu


tempo livre. Portanto, decidimos ir de táxi.
O automóvel que escolhemos para nos levar
essa noite não é nem de longe igual a
limusine dos meus sonhos, mas eu não me
importo com isso desde que cheguemos em

segurança na festa.

Observo as nuvens carregadas que


cobrem o céu quando saímos do taxi e
seguimos em direção à quadra do colégio.
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Contudo o tempo duvidoso não torna a


decoração e a música menos atraentes.
Apesar de não estar tão animada para esse
momento, reconheço que eles se

empenharam até nos mínimos detalhes.

Vários casais de adolescentes estão


perambulando para lá e para cá ou dançando.
Vestidos de gala, smokings escuros,
penteados alinhados, muita maquiagem e

ponche. Sem contar a música que nos faz


parecer estarmos em um episódio de Gossip
Girl.

O pensamento triste de que Brianna

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adoraria este momento caso houvesse tido a


chance de estar aqui, logo é interrompido
quando Tate retorna a me abordar.

— Oh, veja, veja! — aponta. — Todas

as garotas conseguiram ser convidadas para


o baile. Nós duas somos as únicas que
vieram sem par.

— O que está dizendo? Somos o par


uma da outra — objeto. — Você gostaria de

ter sido convidada por algum cara?

— Na verdade, não — ela diz, pegando


um copo descartável de cima da mesa
comprida onde estão postos os alimentos e

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bebidas. — Decerto eu seria escolhida por


um dos garotos do clube de xadrez. Boby G,
provavelmente. Eu não gostaria de correr o
risco de beijá-lo no final da noite. Ele tem

mal hálito.

Apesar de não ser a atitude mais


correta, eu acabo dando risada do seu
comentário.

— Não acho que seja tão ruim assim

termos vindo juntas — falo, apontando


discretamente para as pessoas que nos
dirigem olhares de vez em quando. — Veja
só, estamos sendo o centro das atenções.

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— Oh, sim! — ela ri. — Prove um

pouco disso. Está gostoso.

Ela pega um dos copos descartáveis


para mim e eu tomo um gole da bebida,

sentindo a acidez do que me parece ser uma


espécie de coquetel de limão sem álcool.

A música acaba e em seguida a voz de


Dua Lipa estoura das caixas de som e o
público feminino vai à loucura.

— Esse definitivamente é o nosso


momento de curtir a festa! — Tate se anima.

— Nós não deveríamos ao menos

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terminar de beber? — tento protestar


enquanto ela me arrasta para o meio da
pista, mas não tem jeito, ela parece bastante
decidida a “curtir a festa”.

— Nah, não se preocupe com isso!


Vamos curtir!

Mal chegamos na pista de dança e ela


começa a remexer os quadris e a cabeça de
uma forma que só Tate teria coragem de

fazer.

Eu não sei se começo a rir ou me junto


a ela.

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Estamos em nossa festa de formatura.

Isso não vai acontecer novamente, então eu


faço o que jamais imaginei que fosse fazer
um dia: Decido dançar IDGAF com a Tate.

Em algum momento, começamos a pular


e cantar a música junto com as batidas
saídas da caixa de som. Tate levanta as mãos
e simula estar em um palco com um
microfone na mão, quando, de repente, se

esbarra com alguém e toda a bebida do seu


copo voa.

Se isso fosse um filme, a cena seria


semelhante a uma animação em 3D quando

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um monte de coisa verde começa a descer


em câmera lenta e para diretamente na
cabeça de alguém com um penteado
impecável e uma coroa brilhante no topo.

Este alguém não é ninguém menos que


Annelise Carmichael.

E ela nos encara furiosa ao lado da sua


fiel escudeira, Lysa.

Tem como isso ficar pior?

— Vocês. Estão. Cegas?! — rosna, nos


queimando com o olhar.

— Oh, meu Deus! — Tate leva as mãos

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à boca. — Eu pediria desculpas por isso se

não fosse tão engraçado — ela começa a


gargalhar. — Veja, Rose, há pedaços de
limão pendurados na coroa dela!

— O que você disse? — Lysa ataca,


irritada. — Como diabos ousa zombar da
Annie estando vestida assim?

— O que há de errado com a minha


roupa?

A outra dá risada.

— Se parece mais como uma palhaça.

— Ao menos eu não estou fantasiada

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como se estivesse participando de um filme

de princesa da Disney — Tate rebate. —


Fala sério, quem usa coroa de princesa como
acessório hoje em dia?

Annie arregala os olhos e entreabre os


lábios.

— Como... você... ora, sua... — antes


mesmo de finalizar a frase, ela ergue a mão
e está prestes a jogar um monte de bebida

vermelha no vestido de Tate.

Seguro em seu pulso e a impeço.

— Que diabos?! — seus olhos confusos

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me analisam.

— Você não se cansa disso?

— O... o que?

— Perguntei se você não está cansada


de tudo isso.

Ela faz uma pausa, livra seu pulso de


meu aperto e atira o copo no chão.

— Não acho que você deveria se meter

nisso, Brooks.

— Qual é, Annie, é nossa formatura!


Vocês estão prestes a ir para a faculdade e é
dessa maneira que insistem em agir no nosso
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último dia como colegiais?

O olhar confuso de Lysa não me passa


despercebido, muito menos a expressão
levemente chocada de Annie.

— Foi a sua amiga quem começou! Ela


molhou todo o meu cabelo.

— Ela fez sem querer, e vocês sabem


muito bem disso. Não precisamos chegar ao

ponto de brigar.

— O que deu em você hoje, Brooks? —


Lysa alfineta. — Está tentando ser nossa
amiga depois de tudo o que aconteceu entre

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nós?

— Não, Lysa. Estou apenas tentando


entender qual o motivo de tanta rivalidade
entre nós. Inveja? Ciúme? Raiva por conta

de um simples ego ferido ocasionado pela


falta de atenção de um cara? Conseguem ser
tão burras a esse ponto?

Ambas forçam uma risada debochada,


mas seus olhos não mentem que minhas

palavras as atingiram em cheio.

— Não acredito que você acabou de


dizer isso — Annie cruza os braços. — Deve
ter ficado louca de vez.

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— Ela tem razão — Tate me apoia. —

Qual é, nós somos garotas. Não deveríamos


estar brigando enquanto um bando de
babacas alimenta seus fetiches doentios em

busca de um pouco de pano rasgado para


poderem tirar algumas fotos.

Ela aponta com a cabeça na direção de


um grupo de garotos aparentemente bastante
ansiosos por uma briga. Na verdade,

praticamente toda a quadra parece estar


ansiosa por uma briga.

— É exatamente o que eu queria dizer


— falo. — Não importa o fato de você ter

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me jogado na piscina, me chamado de um


monte de coisas ou tentado me rebaixar por
ser mais bonita e rica que eu. Isso foi culpa
da sua ignorância e falta de empatia —

sorrio docemente. Ok, há um pouco de


deboche nas minhas palavras, mas é
praticamente impossível evitar. — Também
não estou dizendo que é sua culpa não ter
capacidade de se pôr no lugar das outras
pessoas, acredito que haja um motivo para

isso. E espero que ambas aprendam a


diferenciar rivalidade de obsessão a partir de
agora. Estou pronta para uma briga justa e
madura quando isso acontecer.

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Sem dizer mais nada, eu apenas puxo

Tate pelo braço e lhes dou as costas.

— O... o que você está fazendo? —


minha amiga indaga enquanto tropeça para

me acompanhar.

— Vamos embora.

— Mas... nós mal chegamos.

— Tanto faz. A festa já acabou pra

gente.

No instante em que sinto a brisa gelada


bater contra meu rosto, inspiro
profundamente. Confesso que estou me

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sentindo muito bem comigo mesma.

Eu e Tate não ganharemos o título de


rainha do baile esta noite, mas estou certa de
que aprendemos algo que vai ficar para

sempre marcado em nossas memórias: Não


importa o quão malvadas algumas pessoas
possam ser com você. Retribua-as com
bondade e consiga alcançar a paz de espírito
que elas dificilmente terão.

— Essa foi a pior formatura da história


das formaturas — Tate choraminga. — Mas
eu estou me sentindo feliz e leve.
Conseguimos ser o centro das atenções.

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— Pensando bem, não foi tão ruim

assim — atravessamos a rua, mas é neste


exato momento que eu escolho para não
olhar por onde piso e acabo quebrando meu

salto.

— Merda... eu retiro o que disse! —


bufo, sentando-me em um dos banquinhos de
madeira do parque em frente ao colégio.

A música ainda está alta lá dentro, o

que significa que nosso pequeno show já foi


esquecido. O que não é tão ruim assim,
considerando que fomos alvo de uma
discussão com a futura rainha do baile.

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— Ao menos eu acho que podemos

pensar pelo lado positivo — Tate diz,


puxando a presilha que provavelmente já se
desprendeu do meu cabelo. Ótimo. — O

ensino médio acabou.

— Obrigada pelo conforto.

Ela sorri e levanta os polegares em


sinal de apoio, mas logo seu sorriso morre
quando ela, aparentemente, direciona sua

atenção em algo do outro lado da rua.

— Uau, elas já desistiram? Achei que


fossem ser mais persistentes.

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Viro o rosto para descobrir sobre o que

ela se refere e visualizo Annie e Lysa saindo


da quadra. Pela expressão das duas, ambas
estão prestes a irem embora.

— Espero que não tenham saído para


continuar a discussão.

— Eu... não acho que seja exatamente


isso — Tate cruza os braços e aponta com o
queixo na direção das meninas novamente.

— Pelo visto elas chamaram reforços para


virem buscá-las. Que atencioso.

Mas o que...

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Do outro lado da rua, Maven está

parado enquanto Lysa se pendura em seu


pescoço como se estivesse com problemas
para andar. Essa cena não seria estranha,

uma vez que ele é irmão mais velho de


Annie e tem o direito de cuidar dela e da sua
melhor amiga, mas eu não estava preparada
para encontrar Evan por aqui. E Annelise
parece estar muito empolgada para grudar no
pescoço dele também.

— O que diabos o seu namorado está


fazendo com elas? — Tate rosna. — Vamos
lá, Rose. Vamos acabar com eles!

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Eu puxo meu braço de volta e me recuso

a me levantar. Sei que não vai adiantar de


muita coisa eu ir até onde eles estão. Annie
me odeia e a essa altura do campeonato já

deve saber sobre o nosso relacionamento.


Ela só vai se esforçar ainda mais para me
provocar. E apesar de saber que discussões
não nos levam a nada, eu não fui feita de
titânio.

Mesmo emburrada por eu não ter


seguido ela, Tate decide caminhar até eles
sozinha. Ela para em frente a eles e cruza os
braços, parecendo muito imponente. Seria
uma cena cômica se eu não estivesse com
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essa sensação horrível no meu estômago.

É dessa forma que nos sentimos quando


temos ciúme de alguém que amamos?

Merda. Eu estou começando a ficar


irritada.

Puxo o outro sapato do meu pé com


força e praticamente gemo ao sentir o
pequeno ferimento causado pela fita de

couro no meu tornozelo. Droga. Não estou


acostumada a usar esse tipo de sapato. Já
deveria ter imaginado que algo como isso
aconteceria.

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— Veja só, Rose, você é uma completa

estúpida!

— Eu não acho que você seja estúpida.

Praticamente dou um salto quando


escuto a voz masculina. Olho para Evan em
pé diante de mim e limpo a garganta,
fingindo não estar nervosa.

— Merda... você quase me matou de

susto.

— Não vai me dizer que você não me


viu chegando?

— Não. Não prestei atenção.

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Ele sorri fracamente e se aproxima um

passo. Me analisa por um breve momento


antes de me estender a mão e oferecer-me
ajuda para me levantar.

— Mentirosa — diz, me puxando para si.

Tento não parecer uma maníaca


obcecada ao sentir o seu perfume bem perto
de mim. A minha vontade é de enfiar o meu
nariz no vão do seu pescoço e cheirá-lo até

que eu perca o ar. Em vez disso, pergunto:

— O que você está fazendo aqui?

— Por qual motivo eu viria a uma festa

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de formatura cheia de adolescentes


emburrados que mal sabem esconder bebida
alcóolica?

Eu dou de ombros.

— Veio beber?

Ele ri.

— Vim buscar você.

— Oh... — finjo indiferença. — Eu

jurava que você tinha vindo buscar Annelise


Carmichael.

— Elas foram pegas distribuindo bebida


alcoólica, e então ligaram para o Maven vir
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buscá-las — se explica. — Dei uma carona

ao Maven e agora ele vai conseguir lidar


com a irmã e a amiga dela... e com a Tate
também — nos viramos na direção do grupo

e Tate parece estar tendo uma discussão


calorosa com o melhor amigo de Evan.

Acabo dando risada, o que dissipa um


pouco a minha raiva.

— Você deveria ter dito isso antes.

Estava começando a achar tudo aquilo muito


estranho.

— Você não confia em mim?

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— É claro que confio, mas não deixa de

ser estranho.

— Luz do Sol?

Ergo o olhar.

— O que?

— Eu não tenho culpa de ser tão sexy.


Pegue leve com as garotas.

Dou um soco fraco em seu peito.

— Isso não teve graça, idiota. Não me


deixe ainda mais irritada.

Ele ri e passa as mãos em meus braços

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ao me ver estremecer com o vento. Em

seguida, tira seu próprio casaco e o coloca


nas minhas costas.

— Você é garota a mais bonita entre

todas elas — fala. — A mais bonita do


mundo inteiro. Tão bonita que eu acabo de
lhe proclamar a rainha do baile.

Sinto que fico vermelha


instantaneamente, mas não consigo focar

muito nisso quando ele aproxima seu rosto


do meu e me beija uma, duas, três vezes.

Ele me beija até que eu esteja ofegante e


quente.

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Me beija o suficiente para que eu sinta

minhas pernas ridiculamente bambas.

— Acho que você estava certo —


murmuro depois de um tempo.

— Sobre o que?

— Sobre todas aquelas pessoas ruins


e... sobre eu ser bem melhor do que eu
acreditava. Acho que hoje eu finalmente

entendi que não é preciso usar de força


física para sermos páreo para alguém. Muito
menos usar de argumentos sujos.

Seus lábios se contraem em um sorriso

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torto.

— Você é uma garota incrível — me dá


um beijinho. Eu acho que ele está se
aproveitando do momento apenas para fazer

isso e, que bom que ele está, pois eu estou


gostando muito. — Estou muito orgulhoso
de você — Outro beijo. — Eu sou um cara
de muita sorte — outro beijo. — E eu amo
você ainda mais por isso.

Uh... o que?

Paro no meio de uma inspiração apenas


para absorver suas palavras.

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— O que você disse?

— Eu te amo — repete muito


facilmente. — Eu acho que te amei desde o
dia em que você pedalou quilômetros em sua

bicicleta rosa apenas para me entregar um


casaco e alguns cupcakes coloridos.

Me afasto dele e tento me recompor.

— Eu não fiz aquilo por estar a fim de

você —rebato na defensiva.

Ele volta a sorrir e levanta uma


sobrancelha.

— Mas eu não disse que você estava.

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Solto um suspiro.

— Ok. Talvez eu já estivesse a fim de


você, mas para a minha defesa, isso é algo
que eu ainda não sabia.

Ele sorri mais ainda. Sinto o vento


bater contra meus braços e me arrepio. Ele
me aconchega ainda mais entre seus braços.

— Isso quer dizer que você também me

ama?

Ele precisa mesmo confirmar isso?

— O que você acha?

— Quero que me diga.


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— Sim — murmuro. — E não é um tipo

de amor qualquer. O que eu sinto por você


me faz flutuar e explodir, em milhares de
pedaços e em centenas de direções.

O brilho dos seus olhos deixa claro tudo


o que ele gostaria de dizer nesse momento,
mas não expressa em palavras. Não é
preciso. Eu amo Evan com todas as minhas
forças e sei que ele também foi sincero

quando disse que me amava.

Ele sela seus lábios nos meus e


reservamos esse momento de paz apenas
para nós dois. É como se o mundo além de

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nós não existisse, o que, de uma forma


engraçada, quase sempre acontece quando
estou com ele.

De repente pingos de chuva começam a

cair sobre nós, as gotículas antes


minúsculas, engrossando de forma gradativa.

Oh, meu Deus. Isso é tão clichê. Mas é


um clichê bom. Queria que a minha vida
fosse desse jeito sempre.

— Acho que nós ainda não finalizamos


aquela lista, não é? — ele diz, sem se
preocupar com a chuva encharcando nossa
roupa e cabelos.

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— Ainda faltam dois itens — faço uma

pausa. — Apenas um, contanto que nós


comecemos a dançar agora.

Ele dá uma gargalhada e então faz uma

pequena reverência, me convidando para


dançar.

Eu me aconchego a ele e sinto seu braço


cingir novamente a minha cintura.

Ele apoia o queixo no meu ombro, e


então eu o ouço murmurar:

“I've got sunshine on a cloudy day”.

(Eu tenho a luz do sol num dia nublado)

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Tento conter o sorriso que teima em aparecer

em meu rosto quando Evan continua a


cantar, bem perto do meu ouvido, a letra de
My Girl, dos Temptations.

“When it's cold outside”

(Quando está frio lá fora)

“I've got the month of May”

(Para mim é mês de maio)

“I guess you'll say”

(Eu acho que você diria)


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“What can make me feel this way”

(O que pode me fazer sentir desse jeito?)

“My girl”

(Minha garota)

“Talking about my girl”

(Falando sobre minha garota)

“My Girl”

(Minha garota)

Ele firma ainda mais a mão em minha


cintura e me guia.

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Estamos mesmo dançando na chuva.

Sei o quão difícil é para ele cantar,


mesmo eu dizendo que sua voz é incrível,
então eu fecho os olhos e me entrego a esse

momento. Aproveito cada segundo do dia


que eu achei que fosse ser o mais maçante
da minha vida, mas, graças a Evan, se tornou
o mais memorável.

Agora eu posso realmente dizer: essa é

a formatura pela qual eu sempre esperei.

Depois de alguns minutos, Evan volta a


me fitar. A chuva já cessou, mas o frio se
tornou ainda mais intenso. Mesmo assim, eu

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não me importo com nada disso. Pegaria um


resfriado agora mesmo e esse continuaria
sendo um dos dias mais felizes da minha
vida.

— Eu quero lhe mostrar algo — ele diz,


afastando-se de mim e segurando a minha
mão. — Vem comigo.

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Quando chegamos no estacionamento de


trailers, a chuva já havia retornado. Me
encolho dentro do casaco de Evan e irrompo
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para fora do carro logo depois dele. Saímos


do local da festa sem avisar a ninguém,
graças a Maven e Tate que decidiram brigar
justamente no meio da rua.

Evan não me falou exatamente o que ele


precisava tão urgentemente me mostrar, e
isso não foi nada saudável para a parte
curiosa dentro de mim.

— Feche os olhos — pede e, assim que

faço o que diz, ele me guia por todo o


caminho que nos mantém distantes da,
imagino eu, entrada do seu trailer.

Por mais que esteja curiosa e confusa,

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não tento trapacear em momento algum.


Permaneço com os olhos fechados. Sua mão
me mantém segura e equilibrada ao
caminharmos pela chuva.

Ele para e eu faço o mesmo. Sinto que


ele dá pequenos passos e, segundos depois, o
seu braço está roçando no meu, deixando
evidente que estamos lado a lado agora.

— Preparada?

Puxo seu casaco encharcado ainda mais


contra meu corpo e faço um aceno positivo
com a cabeça. Estou impaciente.

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— Pode abrir os olhos.

Não o espero se manifestar uma segunda


vez ao finalmente abrir meus olhos, e a
primeira visão que tenho é a da árvore de

tronco grosso que sempre esteve nos fundos


do seu trailer. Ainda no escuro, ergo meu
olhar e o ar praticamente foge dos meus
pulmões no momento em que vejo a modesta
construção de madeira lá no alto.

Ele realmente a fez.

— Minha casa na árvore! — minha voz


aguda não deixa dúvidas sobre meu
contentamento e surpresa. — Minha nossa,

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Ev! Eu não acredito que você fez isso


mesmo.

— Costumo cumprir com minhas


promessas — fala. — Quer ir lá em cima ver

como ela é por dentro?

Ele não precisa perguntar duas vezes.


Sou auxiliada enquanto subo na escada
molhada e escorregadia que dá acesso à casa
de madeira.

Quando passo pela porta e me deparo


com o interior pintado de rosa, os puffies
coloridos, o tapete aconchegante e até
mesmo uma minúscula cômoda de três

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gavetas, não consigo conter a euforia.

Mas nada disso se compara ao teto. É


azul, com pequenas estrelas pintadas de
branco. Um céu, como no teto do meu

quarto.

— Ficou incrível! — eu digo. — É ainda


mais bonita do que a da minha imaginação.

— Era o último item da sua lista — me

recorda. — Espero ter cumprido a minha


missão de fazê-la feliz.

Me viro para ele.

— Você me faz feliz desde o primeiro

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momento em que começamos a nos ver,

Evan. Como pode ainda ter dúvida disso?

Ele encolhe os ombros e põe a mão nos


bolsos.

— Eu só não sabia se iria estar do seu


agrado.

Sorrio para ele, achando fofa a forma


como aparenta nervoso.

— Evan Prescott inseguro? Esse não é


muito parecido com você.

Ele sorri de volta.

— Um cara tem seus momentos de


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insegurança às vezes.

— Bem, você não precisa disso, porque


eu ad... — Minha frase é interrompida
quando, de repente, a sensação de um

espirro me atinge: — Atchim!

Evan franze a testa, me olhando com


preocupação.

— Pelo visto não foi uma boa ideia a

dança na chuva.

— Não se preocupe com isso — digo,


incapaz de me sentir mal. É um dos dias
mais felizes da minha vida. Não vou me

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deixar abater por conta de um... — Atchim!

Merda. De novo não!

— Ok, já chega — sua voz é decidida.

— Vamos trocar de roupa.

— Eu não trouxe nada para vestir.

— Há roupas minhas no trailer. Alguma


deve servir em você — me estende a mão. —
Venha.

Uma vez lá embaixo, Evan fecha a porta


do trailer, o que felizmente corta a corrente
gelada de vento que está me fazendo tremer,
e se vira em minha direção.

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— Não tenho um aquecedor por aqui,

mas tenho cobertores quentes.

— Isso vai ser o suficiente.

Eu abraço a mim mesma e o sigo até o


seu quarto. Observo os seus braços se
flexionarem no momento em que ele puxa
uma mala ao lado da sua cama e tira de
dentro dela uma camisa e me entrega.

— Obrigada — digo, observando ele


apanhar uma colcha grossa e colocá-la sobre
a cama.

— Me dê o casaco. Está encharcado. Só

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vai piorar o seu estado.

Entrego-lhe casaco, perguntando-me se


ele acharia estranho caso eu o entregasse
meu vestido molhado também. No entanto,

eu não tenho tempo de pensar muito nisso no


instante em que Evan vem até mim, pega
uma toalha do mesmo lugar de onde tirou o
cobertor e começa a secar o meu cabelo com
ela.

Ele termina de tirar as presilhas


restantes que os mantinham parcialmente
presos e volta a passar a toalha sobre eles.

Fecho os olhos quando ele passa a toalha

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em meu rosto também, provavelmente


tirando a maquiagem derretida.

— Devo estar horrível.

— Está bonita — sorri, apertando a


ponta do meu nariz. — Vou fazer algo para
bebermos enquanto você se troca. Chocolate
quente?

— Para mim está ótimo.

Depois que ele sai, eu tiro o meu vestido


e pego a camisa branca que ele me
emprestou. Ela é grande o suficiente para ir
até as minhas coxas.

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Inspiro e sinto o aroma do amaciante de

roupas que foi usado na lavagem. Não é o


cheiro de Evan. Eu gostaria de vestir algo
com o cheiro de Evan. Seria nojento eu pedir

a ele uma camisa usada?

O que você está pensando, Rose?


Chegou a esse nível de carência?

A verdade é que as coisas que andaram


acontecendo ultimamente talvez tenham

dado origem a muitas outras linhas de


pensamento na minha cabeça.

Me sinto uma garota diferente, e isso


envolve o meu relacionamento com Evan. É

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como se eu precisasse muito mais dele


agora. Talvez eu precise sentir muito mais
dele agora.

Já estamos namorando há algum tempo,

certo? Eu volto a me perguntar qual seria a


sensação de vestir uma camiseta usada sua
depois que nós... bem, depois de nós
fazermos sexo. Evan nunca falou comigo a
respeito de sexo. Ele sente vontade de fazer

isso comigo? Seria estranho eu perguntar?

Meus pensamentos são interrompidos no


instante em que ouço o barulho de louça se
quebrando e dou um salto com o susto.

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Me viro rapidamente para dar de cara

com Evan na porta do quarto e as duas


canecas estilhaçadas no chão.

— Me desculpe, eu pensei que...

— Tudo bem — o tranquilizo. — Você já


viu garotas de calcinha e sutiã antes, não é?
Não precisa me olhar como se eu fosse uma
freira.

Ele mal baixa o olhar para visualizar


meu corpo e isso, ao mesmo tempo em que
me deixa agradecida, me deixa irritada.

Ele se sentiria tentado a olhar caso eu

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fosse a garota bonita que encontramos na


academia de esgrima da outra vez? Ela
parecia ter peitos grandes.

Incapaz de ficar mais tempo parada e

com frio, visto a camisa rapidamente e sinto


seus músculos se relaxarem no instante em
que a peça desliza por completo sobre meu
corpo.

Isso volta a me incomodar.

Não duvido que ele me ame. Sei que está


sendo sincero quando disse isso, mas o fato
de Evan sempre se esquivar quando o
assunto é nós dois nus, já está começando a

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me deixar irritada.

— Por que não quer dormir comigo? —


Não era exatamente essas palavras que eu
gostaria de ter usado, mas elas saem sem que

eu tenha tempo de passá-las em um filtro.

— O que?

— Da última vez em que estivemos


nesse quarto, você começou a contar

carneirinhos para não transar comigo. Não


pode dizer que não sente atração por mim,
porque a sua reação já me provou por
diversas vezes que não é esse o caso. Você
sempre se esquiva quando estamos juntos.

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Sempre se controla. Às vezes eu acho... Às


vezes eu acho que você me vê como uma
criança!

— Rose, eu... — ele expande os olhos e

começa a balbuciar, provavelmente chocado


e sem palavras para rebater o meu repentino
descontrole, e isso é ainda pior do que se ele
não tivesse dito nada.

Eu acho que me sentiria menos

constrangida por estar praticamente


implorando por sexo ao meu namorado.
Implorando por algo que eu nem mesmo fiz.

Algo que eu nem sei se é bom.

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Oh, meu Deus. O que eu estou fazendo?

O constrangimento começa a tomar


forma dentro de mim, crescendo e crescendo
como um monstro asqueroso de tentáculos

gigantes e, como se a única saída para fazer


com que ele se esqueça desse vexame fosse
agir como uma descompensada, é
exatamente isso o que eu faço.

Aponto o meu dedo para baixo e grito:

— O seu pé!

— O que? — ele se assusta. — O que há


com o meu pé?

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— Está sangrando. Veja!

Ele olha para baixo e franze a testa.

— Mas eu não vej...

— Deve ter se cortado quando as


canecas se estilhaçaram. Está sentindo dor?
Venha aqui. — Caminho até ele e o puxo
pelo braço, certificando-me de ser rápida o
bastante para que ele não tenha tempo de se

lembrar da minha atitude anterior.

O empurro sentado sobre a cama e em


seguida ajoelho-me aos seus pés. Puxo sua
perna e não faço contato visual com ele em

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nenhum momento. Ainda estou muito


constrangida pelo que acabei de perguntar e
estou com medo de uma possível rejeição,
então a única coisa que eu faço é manter

meus olhos no seu pé, inspecionando um


ferimento que mal existe.

Cristo, eu sou louca.

— Acho que um pouco de antisséptico e


algodão resolverá.

— Foi só um arranhão, Rose. Mal está


sangrando.

— Mas isso pode infeccionar — insisto.

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— Sabe a quantidade de bactérias que


podem se acumular em um simples
arranhão? Uma ferida minúscula pode se
tornar gigantesca caso não cuidemos dela a

tempo...

— Mas...

— Talvez um band-aid seja o bastante


para proteger...

— Rose...

— Onde você guarda o kit de primeiros


socorros? Eu acho que melhor que um band-
aid, seria fazer um curativo com gaze e

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esparadr...

Evan me beija.

Seu gosto é doce em contato com a

minha língua. Seus movimentos me fazem


suspirar contra seus lábios e é inevitável
sentir a minha pele se eriçar diante da leve
pressão de seus dedos frios em meu rosto.

Ele se afasta o suficiente para conseguir

me puxar pelos quadris e me por sentada


sobre seu colo. Eu o beijo novamente.
Pressiono-me contra ele, sentindo seu braço
cingir minha cintura, embolando a barra da
camisa. Minha pele arde, meu corpo está

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quente, e sensações estranhas estão viajando


por cada pedaço do meu interior.

— Por que está agindo assim? Está me


assustando — ele arfa contra meus lábios e

eu tento suprimir um sorriso.

— Não faça eu me sentir ainda mais


ridícula.

— Não é a minha intenção — murmura.

— E eu não acho que você pareça uma


criança. Por favor, nunca mais diga isso.

Eu baixo a cabeça, envergonhada.

— Eu só... não entendo. Não entendo

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porque você me trata como se eu fosse

quebrar a qualquer momento.

— Eu não faço isso — diz. — Muito


pelo contrário, eu acho você muito forte. Só

não quero que pense que estou querendo


apressar as coisas entre nós.

Eu olho nos seus olhos, vendo a


sinceridade estampada neles.

— Nada é apressado demais com você,


Ev — Me afasto alguns centímetros para
tirar a camisa que estou vestindo. — Acho
que já esperei por esse momento por tempo
suficiente, então não quero que tenhamos

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receio de fazer algo que é tão natural entre


um casal que se ama.

Ele baixa o olhar e contempla o meu


corpo. Seus dedos brincam com a

extremidade do meu sutiã sem alça. Sinto


minha pele se arrepiar no instante em que
eles abraçam a minha cintura e seu polegar a
acaricia a pele.

— Vou tentar ser o melhor pra você.

Ele já é o melhor para mim. Mesmo se


outros vierem depois. Mesmo se muitos
vierem depois. Ele sempre vai ser o melhor.

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Não perco tempo ao puxar sua camisa

para cima e atirá-la ao chão. Em seguida,


suas mãos vão direto para as minhas costas,
de encontro ao fecho do meu sutiã e, assim

que ele é aberto, eu reconheço novamente a


onda de arrepios varrer a minha pele ao
sentir a peça deslizar para fora do meu peito.

Evan me empurra sobre a cama, até que


minhas costas se choquem contra o colchão.

Quando ele inclina a cabeça e volta a me


beijar, enlaço seu pescoço com meus braços,
mantendo-o ainda mais perto de mim.

Sua pele é macia e quente. Seus

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músculos são rígidos. O ar ao nosso redor se


torna ainda mais gelado em contraste com o
vapor de sua respiração bem na base do meu
pescoço.

As sensações se aguçam conforme ele


desce os lábios, beijando entre meus seios,
lambendo a minha barriga. Seus polegares se
enterram no cós da minha calcinha e eu
facilito para que ele possa deslizá-la pelas

minhas pernas.

Quando Evan faz uma pausa para tirar o


restante da sua roupa, eu observo, a todo o
momento deslumbrada com seu corpo. Ele é

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fascinante. A tinta na sua pele, as curvas dos


seus lábios, cada detalhe do seu queixo e até
mesmo a cicatriz que ele tem na sobrancelha
me faz ter certeza de que Evan não é apenas

um artista. Para mim ele é a própria arte.

Ele volta para mim e eu afasto as minhas


pernas para que possa acomodar seu corpo
facilmente entre elas.

Agora estamos ambos nus, pele contra

pele. Evan puxa o cobertor para nos cobrir.


Dentro da nossa barraca improvisada, por
algum motivo, isso se torna ainda mais
confortável e íntimo.

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Agora seu beijo está lento e os toques

passaram de intensos e provocadores para


arrastados e suaves. Seus dedos dançam
magicamente por cada centímetro da minha

pele. Os seus braços me mantêm segura e o


ar parece se tornar rarefeito conforme minha
sensibilidade se apura e eu cravo os dedos
na carne da sua cintura.

Nossos peitos estão subindo e descendo

em um ritmo sincronizado, nossos corações


batem freneticamente e o som da sua
respiração pesada é quase música para os
meus ouvidos.

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— Eu vou te amar pra sempre — ele diz,

fazendo com que um nó surja na minha


garganta. — Não importa o que aconteça.
Você vai ser a única.

— Você não pode dizer isso. Não


sabemos o que vai acontecer daqui a algum
tempo.

Ele passeia a boca sobre a pele da minha


garganta e eu fecho os olhos.

— Eu estou dizendo. Sempre vai ser


você.

Eu não digo nada nesse momento porque

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as sensações que ele está me provocando me


impedem de formular uma frase coerente,
mas é o mesmo comigo. Sempre vai ser ele.
Eu o amo tanto.

Evan se move sobre mim e eu volto a


sentir frio quando ele se levanta. Abro os
olhos a tempo de vê-lo retornar à cama com
um pacotinho prateado na mão. No instante
em que ele volta a me beijar, a minha ficha

realmente cai e eu enrijeço.

Estamos prestes a fazer isso.

Eu vou mesmo perder a minha


virgindade.

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— Não fique nervosa — tenta me

tranquilizar. — Vai ser pior se ficar nervosa.

— Eu não posso evitar.

Ele sorri e acaricia os meus cabelos.


Suas pupilas estão dilatadas. Os lábios estão
inchados por conta dos meus beijos e eu
gostaria de beijá-lo novamente. Tudo parece
se tornar mais fácil quando ele me beija.

— Quer parar?

Eu faço que não com um aceno quase


frenético de cabeça. E eu realmente não
quero que ele pare. Eu preciso que ele

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continue ou eu acho que vou explodir.

Satisfeito com a minha resposta, Evan


volta a me beijar. Suas mãos estão
novamente em cima de mim, mas agora ele

se aventura por partes que me deixaria


vermelha caso estivéssemos em uma outra
situação, mas no momento eu só consigo me
sentir flutuando e quente.

E então ele começa a deslizar a sua boca

pelo meu queixo, meu pescoço, meu peito e


mais para baixo.

Oh, meu Deus, ele está indo ainda mais


para baixo.

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Engulo uma respiração no instante em

que ele para à altura do meu umbigo.

— Não se preocupe tanto — levanta uma


das minhas coxas e beija de leve o interior

dela. — Eu posso me empenhar o suficiente


por nós dois, então apenas relaxe.

E com isso, eu deito a cabeça sobre os


travesseiros e volto a fechar os olhos,
permitindo-me relaxar.

Eu sei que depois dessa experiência, ele


estará marcado em mim de diversas
maneiras. Literal e figurativamente. Cada
toque da sua boca, cada roçar da sua língua,

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cada movimento que ele fizer para me


preencher, ficará gravado feito uma
tatuagem. Marcado no meu coração a ferro
quente.

O restante da noite eu poderia resumir


como uma mistura de dor e excitação em um
momento mágico e memorável. Mas seria
algo clichê demais, então eu digo apenas
que, caso fosse possível visitar o meu eu do

passado e deixar uma mensagem sobre a


ideia louca de perda de virgindade perfeita,
onde teria que ser no dia da formatura com
um atleta gostoso, eu diria “vá em frente,
garota”.
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Mas eu adicionaria uma pequena lista

com três lembretes:

1 – Faça isso sob o barulho da chuva. Tenho


certeza de que vai ser incrível.

2 – Dê preferência a um trailer no meio do


nada. Pode parecer estranho, mas você não
vai se arrepender.

3 – Faça com um cara incrível, inteligente e

que você ama.

PS: Não se esqueça. O nome dele é Evan


Prescott, e ele é bom nisso.

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— O que está fazendo? — a voz

sonolenta de Rose atrai minha atenção para


ela. Ergo minha cabeça e observo-a sentada
sobre o colchão, olhando-me com

curiosidade.

— Estou desenhando — respondo.

Ela morde o lábio e se levanta da cama.

— Deixe-me ver. Você... — ela para ao

ver o desenho da garota deitada sobre a


cama, vestindo apenas uma calcinha e a
minha camisa.

Seu rosto fica imediatamente vermelho.

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— Não faça isso. Eu acabei de acordar.

— Justamente por isso eu estou


retratando este momento — digo, puxando-a
para meu colo. — Você fica linda quando

acorda.

Ela tenta segurar, mas não consegue


esconder o sorriso. Seus olhos brilham
enquanto me observa, e eu tenho certeza de
que os meus estão brilhando também. Ela

está linda dentro da minha camisa comprida.


A chuva já se foi e a luz do sol se infiltra
pelas janelas, formando feixes de luz que
deixam seus cabelos ainda mais dourados.

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Inspiro seu aroma e enfio a mão por

baixo do tecido que a mantém coberta,


alcançando sua pele.

Ela arfa quando minha mão se fecha em

seu peito e eu aproximo minha boca da sua.

— Ev — murmura em protesto. —
Ainda não escovei os dentes.

— Não me importo — avanço mesmo

assim, mas somos interrompidos quando o


toque do meu telefone nos faz congelar.

Solto um suspiro frustrado e deslizo em


“atender” sem mesmo prestar atenção no

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nome que aparece na tela.

— Alô.

— Evan? — a voz da minha mãe parece

alterada e isso me aflige. — Evan, onde você


está?

— Mãe, o que houve?

Há uma pausa e em seguida um


farfalhar.

— Evan, ela é tão bonita! Tão parecida


com ele... Por que não me disse antes? Eu
estou...

Ela pausa novamente e agora eu ouço os


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seus soluços. Está chorando.

— Mãe? — murmuro, ainda mais


nervoso. — Mãe, está tudo bem? Não estou
conseguindo compreender você.

Ela não responde. Em vez disso, eu


percebo que o telefone foi arrancado de sua
mão. Em seguida a voz do meu pai substitui
a sua:

— Evan, Paige está em casa. Venha dar


as boas-vindas à sua sobrinha.

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Assim que estaciono em frente à casa


dos meus pais, meu humor muda. Mas
diferente do que sempre aconteceu das vezes
anteriores em que estive aqui, minha reação
é positiva.

Saio do carro e espero que Rose faça o


mesmo. Seguro em sua mão e, ao notar quão
gelada está, começo a me questionar se foi
uma boa ideia tê-la trazido comigo. Ela
parece que está a ponto de ter um troço e
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não era a minha intenção deixá-la tão


inquieta.

— Ei, não precisa ficar nervosa — digo.


— Você já conheceu a Paige antes.

— Sim, mas... eu não conheço os seus


pais.

— Eu sei. Eles podem ser um pouco


assustadores, mas não mordem, ok?

Ela aquiesce, abrindo um leve sorriso, e


então nos dirigimos em direção à casa.

Bonnie é quem atende a porta. Ela está


radiante, o que me deixa impressionado.

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Depois da morte de Ethan, essa casa se

tornou sombria e triste. Dificilmente


encontrávamos motivos para sorrir.

Mas agora é diferente.

Graças a uma gorducha e minúscula


pessoa que está fazendo as minhas mãos
suarem de ansiedade.

— Onde está Paige? — questiono.

— Estão todos no jardim. Sua mãe não


desgrudou dela em nenhum momento.

Seguimos em direção ao jardim e eu


vejo minha mãe sentada ao lado de Emily,

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mantendo Paige em seu colo. É como se

Ethan estivesse aqui conosco também. Tenho


certeza de que essa reunião entre a nossa
família é algo que ele apreciaria.

— Evan! — minha mãe me chama. Até


mesmo o seu tom de voz está diferente. —
Veja como ela é bonita, Evan. Tem os olhos
do seu irmão.

— Paige é uma menina linda. Teve a

quem puxar — brinco, aproximando-me um


pouco mais e cumprimentando Emily. —
Quando foi que chegaram?

— Ainda essa manhã — Emily

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responde. — Desculpe não ter avisado antes.


Tive medo de ser pressionada.

Eu aceno em compreensão. Realmente


ficaria eufórico caso soubesse.

— Fico feliz que finalmente tenha


tomado essa decisão.

— Pensei muito no que você me disse


naquele dia — confessa. — Além do mais...

o sr. Prescott me aconselhou a vir. Ele disse


que já estava na hora de Paige ser
reconhecida pela família.

A surpresa me toma. Eu não esperava

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ouvir isso. Não esperava nem mesmo


descobrir que meu pai decidiu me ouvir. De
qualquer maneira, o admiro por isso. Foi
uma de suas decisões mais sensatas.

Emily se vira para Rose e sorri.

— Olá, Rose! Desculpe não ter falado


com você antes. É um prazer revê-la.

Minha mãe, parecendo também só ter

notado a presença da garota agora, adquire


um semblante de pura confusão.

— Evan, eu ainda não conheço a sua


amiga.

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Sinto o aperto firme da mão de Rose na

minha e retribuo seu gesto, deixando claro


que não há com o que se preocupar.

— Mamãe, esta é Roslyn — digo. —

Minha namorada.

— Oh... — ela se anima. — Roslyn, eu


sou Lauren, a mãe de Evan. Você é muito
bonita.

Rose solta o ar de leve e devolve-lhe


um sorriso trêmulo.

— Obrigada. A senhora também é muito


bonita.

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— Claro que é — É meu pai quem diz

isso. Ele corta a distância que nos separa e


decide parar bem ao meu lado. — Os
homens Prescott têm muito bom gosto, não

acha?

Eu me viro imediatamente para ele,


tentando decifrar qual é a sua. Talvez ele
ache esse seu comentário desnecessário
bastante engraçado.

Rose tenta disfarçar, mas consigo notar


claramente o seu desconforto. Isso me
enfurece.

— Foi bom ter me reunido com vocês,

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mas estamos com pressa.

— Oh..., mas acabaram de chegar —


minha mãe protesta.

— Pois é. Por que não convida a sua


namorada para almoçar conosco? — meu pai
sugere. — Podemos passar um dia
interessante juntos.

— Felton, nós não podemos ficar por

muito tempo — digo, apontando para o


vestido dela. — Como pode ver, ela precisa
ir para casa e trocar de roupa.

Meu pai aquiesce.

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— Bem, é uma pena. Foi um prazer

conhece-la, menina — em seguida olha para


mim. — E quanto a você, poderia ter trazido
a sua namorada para conhecermos antes,

Evan. Pelo que vejo, você gosta muito dela.

— Talvez tenha sido exatamente por


gostar dela que eu tentei lhe poupar disso.

Ele abre um pequeno sorriso e dá um


leve apertão em meu ombro.

— Não se engane, garoto — diz. —


Somos seus pais, não seus inimigos.

E assim, ele nos dá as costas e sai.

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Rose afrouxa o aperto na minha mão,

mais aliviada.

— Minha nossa — ela diz. — Eu


poderia cortar a tensão ao redor com uma

faca.

Eu tento tranquilizá-la, mas a frase do


meu pai ainda gira na minha mente.

Somos seus pais, não seus inimigos.

Que piada.

Onde ele enfiou toda aquela teoria de


que me relacionar com Rose poderia destruir
seus planos e o que ele achava ser mais

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correto para mim? Será que meu pai também

mudou com a presença de Paige?

Não. Seria ingenuidade demais pensar


dessa maneira.

Decidindo deixar isso de lado, puxo


Rose comigo e me aproximo das outras
mulheres novamente.

— Eu quero tirar o dia para passear com

Paige — falo. — Vocês podem me liberar


ela?

— Oh, não. Eu estive com ela por tão


pouco tempo — minha mãe choraminga.

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— Ela está hospedada na sua casa. Vai

ter todo tempo do mundo para mimá-la —


protesto. — Vamos lá, mãe. Eu sou um
universitário ocupado.

Ela faz um biquinho engraçado, mas por


fim cede.

— Ok. Não serei uma avó egoísta. Mas


não demore. Eu quero ter a chance de
colocá-la para dormir.

— Certo, não irei demorar. Tudo bem


para você, Emily?

— Claro — ela diz. — Deixe-me apenas

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arrumar uma bolsa para que possa levar


junto. É sempre bom estar prevenido.

Depois de praticamente meia hora


apenas tentando acomodar a bebê em sua

cadeirinha no banco traseiro do meu carro,


finalmente saímos com Paige.

Nossa primeira parada é na casa de


Rose, para que ela possa se livrar do
chamativo vestido de formatura. Em

seguida, dirigimos até um pequeno parque


para crianças que tem perto de sua casa. Ela
me conta sobre histórias de quando era
criança e como costumava brincar com

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Brianna por ali. Apenas em ouvir sobre algo


que aconteceu numa época que ela talvez
faça questão de se esquecer, me faz ter ainda
mais certeza de que o que temos é especial.

Nossa próxima parada é para almoçar.


Vamos até a lanchonete na qual paramos
para comer na primeira vez e que decidimos
comer juntos e descobrimos que pessoas que
convivem com bebês vinte e quatro horas

por dia são verdadeiros guerreiros. Paige


está sentada em meu colo e ela faz uma
completa bagunça. Eu não sei o que é mais
hilário: a expressão das pessoas ao nosso
redor, ou a forma como o rosto da minha
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sobrinha fica depois de fazer bagunça com a


nossa comida.

Após estarmos todos limpos, partimos


para a parte que eu mais ansiei do dia: o

shopping. Eu estive durante todo o momento


tentando segurar a vontade de fazer o melhor
papel de tio coruja, mas agora não sei se
consigo controlar mais isso. Quero comprar
roupinhas e brinquedos para a minha

sobrinha. Preciso mimá-la o máximo que


posso, pois eu sei que seria exatamente isso
que Ethan faria caso estivesse conosco.

Quando saímos do shopping, estamos

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repletos de embrulhos e sacolas. Há


brinquedos, roupinhas, sapatinhos e até
mesmo produtos de higiene pessoal. Espero
que Emily não se sinta ofendida, mas eu não

sou o melhor tipo de pessoa para escolher


presentes para bebês, e eu acho que ela deve
gastar muita fralda e talco, certo?

Guardo as sacolas no porta-malas antes


de pegar Paige no colo de Rose e acomodá-

la em sua cadeirinha no banco de trás.

Ela sorri para mim, balançando suas


mãozinhas em meu rosto e apertando meu
nariz.

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— Você é uma garotinha forte — franzo

o cenho. — Aposto que vai ser boa de luta


quando crescer.

Mesmo sem entender nada ela começa a

sorrir novamente.

Volto para o lado de fora do carro,


pronto para informar a Rose que já estamos
prontos para partir, quando uma presença
masculina chama minha atenção.

— Caramba, faz muito tempo — ele diz


e, da posição em que me encontro, não
consigo ver direito quem é. Mas posso
perceber que não é alguém de quem ela

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gosta porque todo seu corpo está rígido.

— Pois é — ela diz. — Parece que uma


eternidade se passou desde a última vez que
nos vimos.

Decido ir até ela. Seja lá quem for esse


cara, ele está incomodando-a e eu não gosto
nada disso. Mas paro imediatamente ao olhar
para ele.

Seu rosto.

Eu posso não ser muito bom com


fisionomias, mas tenho certeza de que não
esqueceria o rosto daquele cara em especial

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tão facilmente.

Imediatamente a minha espinha congela


e minha mente rebobina para algum lugar do
passado.

Seus olhos caem sobre mim e é


justamente neste momento que eu me dou
conta de que ele também se lembra de mim.

Sorri desafiadoramente, dá um passo

para frente e faz uma expressão de surpresa.

— Uau, Prescott, você também está por


aqui — fala. — Puxa vida, como esse mundo
é pequeno.

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O olhar de Evan está cravado

furiosamente no garoto loiro diante de nós.


Eu ficaria assustada pela forma como ambos
se encaram, mas a verdade é que estou

chocada o suficiente com esse reencontro


inesperado para sequer focar por muito
tempo em outra coisa.

— Kaylan? — pronuncio seu nome


como se fosse bile contra minha língua. — O

que você está fazendo aqui?

— Eu tenho que resolver umas coisas


— responde, seus olhos oscilando entre mim
e Evan. — Sabe como é.

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— Resolver umas coisas? — eu tento

controlar o tremor em minha voz. — E onde


se meteu durante todo esse tempo?

Ele volta a trocar um olhar com Evan e

eu sinto imediatamente que há algo ali. Algo


que só os dois sabem. Mas o que?

Isso está a cada vez mais me deixando


paranoica.

— Estive longe, Rose — responde. —


Longe o suficiente para não incomodar.

Eu sinto a indignação me tomar. Não


incomodar? Ele passa um ano fora e quando

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volta isso é tudo o que tem para dizer?

— Como você pode agir como se nada


estivesse acontecendo depois de tudo o que
houve? Ficou sabendo sobre Brianna? Como

pode não ter nem mesmo ligado para


perguntar sobre ela!?

— Ela está morta, não é? Faria alguma


diferença se eu perguntasse?

— Você era o namorado dela! — avanço


com fúria, mas Evan me segura.

— Não se estresse. Não vale a pena —


ele diz.

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Kaylan sorri novamente e coça o

queixo, observando-nos.

— Até que vocês formam um casal


bonito — comenta. — Estão juntos?

— Isso não é da sua conta — Evan


rebate com grosseria, mas ele não parece se
intimidar com seu tom.

— Ora, Prescott, sua arrogância me

irrita — ele ri. — Sua namorada sabe sobre


o seu passado sujo? Tenho certeza de que
você tem muita história legal para contar.

Eu tenciono meus músculos, como se

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estivesse preparada para receber um tiro a


qualquer momento, mas nada vem. Eles
apenas se entreolham desafiadoramente
enquanto eu sinto que minha mente está uma

completa confusão.

Kaylan tem aproximadamente a mesma


idade que Evan. Eu não era sua amiga, e o
pouco de contato que tinha com ele era por
intermédio de Brianna. Não há como saber

se os dois já foram amigos no passado ou se


foram o desafeto um do outro. Mas pela
forma como ambos se encaram, acho que já
tenho minha resposta.

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No entanto, isso não anula o fato de que

eu sou apenas uma peça solta nesse jogo.


Será que tudo o que Evan teve receio de me
confessar até agora está relacionado a

Kaylan?

Seja o que for, eu não acho que vá


aguentar continuar olhando para a cara
cínica desse idiota sem ao menos dar um
soco nela.

— Kaylan, eu acho que se você tivesse


o mínimo de decência daria meia volta agora
e nunca mais apareceria na nossa frente —
eu digo. — Eu tenho nojo de você, e é uma

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pena que Brianna tenha morrido sem saber o


grande babaca que você é.

Ele me lança um olhar furioso, mas


logo se desfaz.

— Certo. Estou indo — olha para Evan.


— Foi bom rever você também, Prescott. A
gente se vê por aí.

Depois que Kaylan sai, me viro

imediatamente para Evan.

— Por que Kaylan estava falando com


você daquela maneira? — indago. — De
onde conhece ele?

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— Nós nos esbarramos no passado —

responde vagamente. — Você... mencionou


Brianna. Era ele o namorado dela?

— Sim — digo. — Por que?

— Nada, eu só... — ele parece um


pouco atormentado. — Tem certeza de que é
esse o nome da sua amiga? Ela não
costumava ser chamada por algum outro
nome?

— Mas é claro que eu tenho certeza de


que esse é o nome da minha melhor amiga,
Evan. Do que diabos está falando? Por que
está tão estranho?

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— Por nada — Ele começa a massagear

as têmporas. — É claro que ela não tinha


outro nome. Não há possibilidade de ter sido
ela.

Não consigo entender mais nada. Estou


frustrada e irritada. Mas antes que eu tenha a
chance de fazer mais alguma pergunta, ele
me orienta a entrar no carro e partimos do
estacionamento do shopping.

Sigo calada durante todo o trajeto. Mas


quando ele para em frente à minha casa, não
consigo me conter. Ainda estou com aquela
conversa martelando na minha cabeça, e

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Evan não parece estar sendo nada sincero


comigo agora.

— Você vai realmente agir como se eu


fosse uma idiota? — indago. — Sei que está

mentindo para mim.

Ele mantém seu olhar reto.

— Eu não estou agindo como se você


fosse uma idiota.

— Então o quê?

— Rose, por favor, estou começando a


ficar com dor de cabeça — diz, impaciente.
— Eu ligo pra você assim que chegar em

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casa, ok?

Ajeito minha postura, meu peito se


apertando diante da sensação desagradável.

Eu tento não me sentir mal com a forma com


a qual ele ignorou completamente a minha
pergunta, mas é praticamente impossível.
Pego minhas coisas e abro a porta.

— Certo. Desejo melhoras — e sem olhar


para trás, eu saio do carro.

Ouço ele chamando meu nome, mas já é


tarde demais. Eu sigo em frente.

Se ele pensa que eu vou engolir essa

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história de ter apenas se esbarrado com


Kaylan, pode até pensar, mas eu não admito
que ele me trate como se eu fosse uma
estúpida.

Evan está escondendo algo sério de


mim, e isso me preocupa.

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Eu poderia dizer que hoje é um dia

perfeito, a julgar pelo sol que bate contra a


minha janela, ou pelo cantarolar dos
pássaros do lado de fora, mas a verdade é

que eu não estou com um humor tão bom


assim.

Já faz alguns dias desde que vi Evan


pela última vez. Conversamos pouco por
mensagens de texto ou quando ele me

telefonava, mas como o meu humor ainda


estava uma merda, decidi que não
passaríamos disso.

Ainda estou muito brava sobre o fato de

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ele estar mentindo para mim. Eu poderia


muito bem ir atrás de Kaylan e arrancar toda
a verdade dele, mas eu não quero nem o
mínimo contato com aquele imbecil.

Hoje é quinta-feira, sinal de que tenho


consulta marcada com a minha terapeuta.
Decido que será uma boa ideia ter um
encontro com a Dra. Horn hoje. Conversar
com ela sempre me deixa mais calma e

aliviada. Estou uma pilha de nervos.

Ao voltar da consulta, encontro Tate


sentada na varanda da minha casa. Meu
olhar pousa em sua bicicleta deitada ao seu

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lado, e em seguida desliza para seu rosto,


captando um sorriso largo.

— Pronta para um passeio? — sugere. —


É sempre bom relembrar os velhos tempos.

Sorrio para ela e peço que aguarde um


momento enquanto pego a minha bicicleta.

Pedalamos por, pelo menos, quarenta


minutos antes de pararmos em uma pracinha

para tomar iogurte gelado.

Ela estreita os olhos entre uma colherada


e outra e, quando percebe que não vai
arrancar nada de mim, apoia os cotovelos

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sobre a mesa e me encara.

— Vamos lá. Desembuche.

— O que?

— O que está acontecendo entre você e


Evan? Não é possível que já tenham brigado
em tão pouco tempo de namoro.

Rolo os olhos e volto a tomar o meu


iogurte.

— Não estamos brigados — eu digo,


torcendo para que isso seja verdade.

— Oh. Certo, então diga isso a ele. O


cara parece que está seriamente perturbado

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com algo. Sério, eu me senti bem mal


quando o vi.

Eu me remexo inquieta. Evan está


perturbado?

— Como você soube disso?

— Olá...? — ela estala os dedos, como


se eu fosse uma idiota. — Ele é o melhor
amigo do Mave. Os dois não se desgrudam.

É a minha vez de estreitar os olhos para

ela.

— Hm... você e Mave, hein? Estão tão


próximos assim?

Ela se empertiga sobre seu assento e

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passa a pentear a franja roxa, aparentemente

nervosa.

— Eu pensei que estivéssemos falando


sobre você.

— Sim, estávamos, mas antes de eu


descobrir que a minha amiga está me
escondendo algo a respeito de certo cara
bonito.

Ela morde o lábio e volta a mexer na sua

colher.

— Certo. Eu... eu meio que fui pedida


em namoro.

— Oh, minha nossa! — praticamente

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grito. — Está falando sério? Ele... ele pediu


mesmo?

Ela olha para os lados, constrangida, e


em seguida põe uma mão ao lado da boca

para cochichar.

— Não haja como uma histérica. Pelo


amor de Deus, Rose... você está me
envergonhando.

Eu acabo dando risada. Ela geralmente é

a que me envergonha.

— Não sei por que está tão tímida em


relação a isso. Já não é nenhuma surpresa
que vocês acabariam namorando um dia.

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— E quem disse que estamos

namorando?

— Mas você acabou de dizer que...

— Sim, eu sei o que disse. E não, nós

não estamos juntos, porque eu não aceitei.

— Mas por que não?

Ela toma mais uma colherada e dá de


ombros.

— Eu não sei, na verdade. Acho que

estava meio assustada. De qualquer maneira,


os meus pais jamais permitiriam. Por que eu
iria insistir em algo que provavelmente
nunca vai dar certo?

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Eu não concordo com ela, mas decido

não me meter. Por parte a entendo. Não é


fácil para ninguém essa situação.

Ficamos mais um tempo entre passear e

colocar o papo em dia. Quando volto para


casa, já está anoitecendo. Só tenho tempo de
tomar um banho e checar as últimas
mensagens no meu celular antes de minha
mãe aparecer na porta do meu quarto.

— Olá, querida. Por que não jantou


hoje?

— Estou sem fome — digo. — Comi


muita besteira com a Tate hoje à tarde.

Ela parece comprar a minha meia


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mentira e se senta ao meu lado na cama.

Olha para minhas mãos vazias e em seguida


volta a me encarar no rosto.

— E então, como você está?

— Bem — respondo. — Por que?

Ela faz uma pausa e segura minhas


mãos.

— Olha, Rose, eu sei que você não tem


uma boa visão sobre isso, mas eu quero

apenas que me ouça antes de dizer qualquer


coisa, ok?

Eu assinto.

— Bem, você sabe como Jared, apesar

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de não ser seu pai, a adora, não é? Ele vê

você de uma forma muito especial, e está


disposto a tratá-la da mesma maneira que
trata todos os seus outros filhos. Basta você

permitir isso.

Meu cenho se enruga.

— Eu também acho o Jared um cara


legal, mas... ainda não estou compreendendo
aonde está querendo chegar, mãe.

— Bom, querida, é que... eu e o Jared


andamos conversando muito sobre você.
Além de se preocupar a respeito do que você
pensa em relação a nós, ele está preocupado
com o seu futuro — ela pausa para umedecer
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os lábios, mas logo continua. — Andei

conversando com ele sobre a sua vontade de


ser uma jornalista e poder ter uma boa
profissão nessa carreira. Ele tem um amigo

muito influente chamado Ryan. Ele é dono


do jornal Grand Post. Você já ouviu falar,
não é?

Eu faço que sim com a cabeça. É um


grande jornal. Sei disso porque pesquisei por
anos sobre as melhores empresas no ramo

antes de decidir se era realmente isso o que


eu queria seguir.

— Bem, acontece que esse amigo de


Jared está transferindo a sede que fica em
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Nova York para Sydney. Ele até mesmo já


comprou uma casa por lá e quase todos os
detalhes acertados para que ele toque o
negócio na Austrália — ela sorri

amplamente. — Mas essa ainda não é a


melhor parte.

— Não? — eu engulo em seco. — E qual


é?

— Bem, o Ryan está prestes a se casar

com a reitora de uma das melhores


universidades de Sydney. Ela também é
superamiga de Jared, viu suas notas e ficou
encantada! Ela decidiu ajudar no que for
preciso para que você consiga uma vaga lá.
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Isso significa que você não teria somente


seus estudos garantidos, mas você teria um
emprego também. É uma oportunidade
única, Rose, e vai ser incrível para abrir

portas para uma infinidade de coisas na


carreira que você tanto quer seguir.

Eu olho para ela, e por uns bons minutos


tenho a impressão de ter perdido
completamente a noção de como se fala.

Austrália.

Uma faculdade.

Um emprego.

Uma oportunidade única.

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Eu abro e fecho a minha boca, ainda um

pouco atordoada. Deus, o que eu digo?

— Mãe... você sabe que eu criei laços


aqui, certo? — começo, tendo o máximo de

cuidado ao utilizar tais palavras. — Afinal,


são dezoito anos vivendo em um único lugar,
sem sequer ter saído da minha cidade para
conhecer o mundo. Eu tenho amigos agora
e... e eu tenho um namorado. Um namorado
legal e que gosta muito de mim.

— Sim, eu sei — ela diz. — Mas... não


seria esse o momento de você pensar
primeiramente em si mesma?

Eu fecho os olhos e inspiro. Gostaria que


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fosse tão fácil.

— Eu o amo, mamãe — falo com um fio


de voz. — Eu o amo e só de pensar em ficar
longe dele, eu sinto como se um pedaço do

meu coração estivesse sendo esmagado.

Ela abre um sorriso triste e


compreensivo.

— Pode não parecer, mas eu entendo


você, Rose. Não estou a julgando nem nada,

mas se anos atrás eu tivesse recebido um


convite como esse, eu não pensaria duas
vezes antes de embarcar no próximo avião.
Talvez seja algo egoísta de se dizer, mas só
eu sei do quanto abri mão na minha vida por
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conta de um amor que nem mesmo durou.

— E não é porque o seu amor com o do


papai não durou, que o nosso não dure. Eu
gosto de Evan, e é realmente difícil abrir

mão de tudo o que construí com ele.

Ela pressiona ambos os lábios e nos


encaramos por algum tempo. Minutos ou
horas, isso não tem relevância. Ela sabe que
eu preciso desse pequeno momento de

silêncio, da mesma maneira que eu sei que


ela precisa do dela.

De repente, sinto as gotas quentes


deslizarem por minhas bochechas.

Estou chorando, droga! Era só o que me


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faltava.

Minha mãe também está chorando


quando vem até mim e me abraça. Isso é
tudo o que eu precisava.

— Me desculpe, Rose — fala. — Só


agora eu percebo o quanto esse garoto é
importante na sua vida. Só agora eu me dou
conta de que ele é alguém muito especial. Só
um rapaz especial poderia se infiltrar no

coração da minha garotinha dessa maneira.

— Ele é — afirmo. — Muito.

Ela limpa uma lágrima do meu rosto.

— Certo. Entendo você completamente,

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e é por isso que estou dando-lhe uma chance


para tomar uma decisão, ok? Não estou
impondo nada. Eu quero que pense com
carinho na minha proposta, Rose, e seja lá o

que você decidir, será bom para mim. A sua


felicidade é a minha felicidade.

Eu balanço a cabeça em afirmativa e


como se houvesse notado a minha
necessidade de privacidade, minha mãe logo
me deixa sozinha.

Passo a noite toda remoendo a nossa


conversa e não consigo chegar em uma
conclusão.

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No dia seguinte vou para a biblioteca


ajudar a Daisy. Tenho muito tempo nas
minhas férias de verão e a pior coisa nesse
momento seria ficar em casa, remoendo os
pensamentos que corroem a minha mente.

Ainda estou dividida sobre a conversa

que tive na noite anterior com a minha mãe.


Morar na Austrália significa dar um pontapé
no futuro brilhante com qual eu tanto
sonhei, mas eu estaria disposta a abrir mão

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de absolutamente tudo em prol disso?

Deve haver um jeito. Eu não posso


simplesmente deixar Evan para trás, como se
o que temos não valesse nada.

No fim do expediente, eu estou um


trapo. O que é bom. Eu pensei que esses
garotos passassem suas férias em
acampamentos ou viagens bem longe dessa
cidade, mas o que presenciei hoje me diz

que ainda há uma boa parte que, como eu,


prefere a tranquilidade dos livros.

Me despeço de Daisy e saio da


biblioteca sem desejar mais nada além de um
banho quente e a minha cama.
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Apesar de ser verão está bastante frio do

lado de fora. Me ajeito dentro do meu casaco


de lã azul e adianto meus passos em direção
à minha bicicleta.

Mas paro imediatamente ao ver o carro


de Evan parado a alguns metros de distância.
Não é preciso ser muito inteligente para
saber que ele está ali por mim.

— Oi — cumprimento ao me aproximar.

— E aí — devolve, e em seguida seus


lábios repuxam em um sorriso torto. — Você
estava estudando na biblioteca até essa hora
ou algo assim?

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Eu estou prestes a dizer-lhe que não sou

mais uma estudante, quando percebo o que


está se passando aqui.

Em nossa primeira conversa nesse

lugar, essa foi a primeira pergunta que ele


me fez.

Acabo sorrindo de volta.

Por que é tão difícil ficar brava com ele

por muito tempo?

— Oh, não, eu trabalho ali — decido


entrar no seu jogo e repito as palavras que
me lembro de ter dito naquele dia. —

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Trabalho voluntário, na verdade. Não é


como se eu tivesse um emprego decente nos
verões. Aliás, não é como se eu tivesse um
emprego decente durante todo o ano.

Isso novamente me remete à proposta


de emprego na Austrália, mas eu a jogo em
um canto escuro. Acabamos de nos ver
depois de dias, eu preciso de um pouco da
minha dose de Evan antes de enfrentar

qualquer problema.

Ele anda até mim. Cada passo me


fazendo mais consciente do seu cheiro e
ansiosa por seu toque.

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Para na minha frente. Suas mãos

seguram meu rosto e ele escova o polegar


sobre as minhas bochechas.

Eu quero me derreter sobre ele, me

fundir com seu corpo e não me separar


nunca mais.

— Eu sou um idiota — seu dedo


acaricia de leve o inchaço do meu lábio
inferior. — Me desculpe por esconder coisas

de você.

Eu não espero ele dizer mais nada.


Enrolo meus braços ao redor da sua cintura e
pressiono a lateral do meu rosto contra seu

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peito. Ele retribui o meu abraço e ficamos


assim, quietos e em silêncio por um longo
momento.

— Talvez eu tenha sido um pouco

incompreensiva — murmuro. — Estava tão


brava com você..., mas isso passou.

Ele beija o topo da minha cabeça e


aperta ainda mais seus braços ao meu redor.

Era disso o que eu precisava. Essa


sensação quente e aconchegante que só ele é
capaz de me proporcionar. A cadência suave
no meu peito sempre que ele está presente
para acalmar a turbulência dentro de mim.

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Sempre vou precisar disso. Sempre vou

precisar dele.

Incapaz de me conter, levanto minha


cabeça e o beijo. O beijo até precisar de ar.

— Você está planejando ir para algum


lugar depois daqui? — questiona.

— Não, eu estava indo para casa.

Ele balança a cabeça e se afasta um


passo. Agora seu olhar está sombrio e eu não

sei se é pela falta do seu toque ou por conta


do vento ao nosso redor, mas sinto um
arrepio me varrer inteira.

Ele coloca uma mecha de cabelo atrás da

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minha orelha.

— Nós precisamos conversar, Rose —


diz com voz tensa. — Espero que tenha
tempo.

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O silêncio no interior do carro é

enervante. Apoio os braços no volante e


observo as luzes que se estendem diante de
nós. Estamos em frente ao meu trailer,

observando a escuridão que despenca sobre


nossas cabeças, ambos aflitos demais para
sequer arriscar falar primeiro.

Sinto mais uma vibração irritante contra


minhas costelas e deslizo a mão no bolso do

meu casaco. Puxo o aparelho celular de


dentro dele e checo as notificações pela tela
de bloqueio.

250 curtidas em uma única foto. Estou

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começando a entender o poder que um


mísero cadastro em um aplicativo tem sobre
o ego das pessoas.

— Você criou uma conta no Instagram?

— Rose questiona ao ver a tela exposta do


meu telefone.

— Sim — respondo. — E uma no


Twitter.

Desbloqueio a tela e mostro-lhe o meu


perfil. Seus olhos se expandem
imediatamente.

— Uau... — ela toma o telefone da

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minha mão e desliza o dedo algumas vezes


sobre a tela. — Você ficou famoso bem
rápido.

Sim, eu sei. Agora já se passaram de oito

mil seguidores. Tudo isso em três dias.


Estou um pouco assustado com a forma com
que o perfil se espalhou.

Ela franze o cenho.

— Como conseguiu tantos seguidores se


quase não tem fotos su... Oh, espere! Você
fez mesmo isso ?

Meneio a cabeça, já sabendo ao que se

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refere.

— Sim, eu fiz.

— Mas, Evan, Lótus era tipo... um

segredo pra você. Um refúgio. Todas essas


pessoas que acabaram de descobrir quem
você é... você sabe que eles não vão mais
deixá-lo em paz, não é?

— Eu sei. — E era exatamente isso o

que eu queria. — Estou cansado de me


esconder, Rose. Estou cansado de tentar ser
alguém que eu não sou. De tentar vestir uma
personalidade que em nada condiz comigo.
Minha cabeça está uma turbulência agora,

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então eu achei que era o melhor momento de


finalmente começar a agir — sorrio para
tranquilizá-la. — E eu me expus. Não
precisa ficar assustada com isso.

— Eu só me preocupo com você — diz.


— A fama pode ser um pouco assustadora.

— Ela é — acaricio seu queixo. — Mas


eu sou forte pra lidar com isso. Além do
mais, é incrível tudo isso. Algumas pessoas

ainda duvidam de que sou mesmo o Lótus,


mas a maioria está elogiando o meu
trabalho. Faz eu me sentir... importante.

Ela sorri.

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— Isso é bom.

Depois de mais alguns minutos em


silêncio, eu decido tomar coragem.

— Acho que deveríamos entrar — falo.


— Seria mais confortável eu conversar com
você lá dentro.

Ela assente, então nós saímos do carro.

— Você está com fome? — questiono,

assim que abro a porta de casa. — Posso


preparar algo para comermos.

— Acho melhor não — ela diz. — A


julgar pelo quão nervosa eu estou, vai ser

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muito difícil eu conseguir comer algo sem

que meu estômago dê uma revirada.

Eu meneio a cabeça concordância e em


seguida ofereço o sofá a ela. Sento-me ao

seu lado e então eu começo.

— Rose, eu só gostaria de dizer que,


apesar de eu ter escondido essa parte da
minha vida de você, não lhe considero
menos importante, ok? Também não sou um

completo mentiroso. Tudo o que eu disse pra


você até agora foi real. O que eu sinto por
você é real, e eu realmente preciso de
alguém que me ajude a superar isso em vez

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de me julgar.

Ela parece ansiosa e assustada agora.

— Por que eu julgaria você, Ev?

— Porque isso é algo que vem me


atormentando por meses. Eu mesmo me julgo
constantemente.

— Você não precisa ter medo de


compartilhar nada comigo, Ev.

Eu solto um suspiro e então começo.

— Tudo aconteceu um ano atrás...

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O barulho de pneus arranhando no


asfalto se arrastam pelos meus tímpanos. O
ranço de borracha e gasolina se infiltram
em minhas narinas.

Coço o meu nariz e fecho os dedos em

volta da garrafinha de cerveja recém-


aberta. Tomo metade dela antes de
direcionar meus olhos ao grupo de garotas
que pulam animadas no meio da pista. Suas
calças de cintura baixa praticamente moem
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suas bundas. Os tops apertados comprimem


os seios fartos, deixando o conjunto de
vestimenta ridiculamente estranho. Não
tenho nada contra meninas que usam roupas

apertadas, mas isso parece desconfortável


pra caramba. Talvez eu nunca vá entender a
preferência.

Dois carros fazem seu percurso em alta


velocidade na pista de corrida improvisada.

O Audi branco de Maven está em vantagem


sobre o Honda vermelho de Kaylan Edwards
— mais um idiota com quem ele compete.

Não é surpresa para ninguém, visto que

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Mave sempre vence estas corridas. Ele é


praticamente invicto, e eu não sei como ele
continua a brincar com as esperanças dos
caras que perdem dinheiro para ele

constantemente nesses jogos perigosos.

Eu volto a entornar a garrafa contra


meus lábios, meus olhos captando cada
pedaço do percurso. Minutos depois, o ruído
dos motores se aproximando preenche o

espaço vazio da noite.

A garotas no meio da pista balançam


seus quadris e braços no sinal de chegada,
indicando o vencedor da corrida: Maven.

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Um sorriso lento se espalha pelos meus

lábios. Boa, cara.

Bato a garrafa sobre o banco em que


estava sentado e me levanto.

Maven está repleto de suor, a


adrenalina provavelmente ainda correndo
por suas veias enquanto uma garota se
aproxima dele e lhe dá um beijo na boca.

Meu telefone toca. Olho no visor e


descubro que é o meu pai. Desligo.

— Evan! — Maven me chama,


aproximando-se de mim. Observo o tal do

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Kaylan passar por nós, esbarrando-se


violentamente em Mave de propósito, sua
expressão carrancuda.

Olho para as costas do cara loiro que

se afasta de nós e em seguida volto a fitar o


meu melhor amigo.

— Pelo visto os caras por aqui não


sabem perder.

Maven dá uma risada e bate a mão no


meu ombro.

— Fracassados como ele dificilmente


sabem — ele diz. — Merda. Eu arranhei a

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lataria do carro do meu pai. O velho vai me


matar quando descobrir.

— Ele já o proibiu de dirigir justamente


por conta dessas corridas ilegais. Por que

ainda insiste em fazer isso?

Seu rosto se contrai em uma sugestão


de sorriso.

— Gosto de perigo.

Balanço a cabeça e desisto de tentar


argumentar. Não é da minha conta, e não é
como se eu tivesse muita razão aqui.

Eu também vivo em guerra com meus

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pais e, mesmo assim, dependo do auxílio

deles.

Maven volta a pôr a mão no meu


ombro, seus olhos fixos com malícia em um

grupo de garotas logo à frente.

— Vem. É hora de comemorar.

E em seguida, ele caminha em direção a


elas. Sem opção, eu o sigo.

Ignorando o olhar de esguelha do meu


melhor amigo, recosto-me contra seu carro e
acendo um cigarro. Maven está me irritando
com toda essa coisa de me arrastar para

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onde quer que vá e ficar de olho em mim a


todo o momento. Às vezes uma parte de mim
desconfia de que talvez os meus pais tenham
pedido para ele me observar por estarem

preocupados comigo, mas a verdade é que


meus pais não têm nada a ver com isso.
Talvez eles nem sequer cogitem misturar
“proteção” e “Evan Prescott” em uma
mesma frase.

Acho que seria mais fácil para eles


caso eu também alojasse uma bala na minha
própria cabeça... ou não, considerando que
o escândalo de dois filhos mortos por
suicídio, na vida profissional do meu pai,
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teria um peso horrível.

Afinal é apenas disso que se trata.


Status.

Sinto a presença de alguém ao meu lado


e percebo que há uma garota caminhando
até mim. Seus passos desnivelados
demonstram o quanto ela está alterada.

— Ei — ela fala, chegando perto

demais de mim. — Você é corredor também?

— Não.

Ela sorri e puxa o cigarro da minha


mão. Enfia o filtro entre seus lábios e dá

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dois tragos antes de fazer anéis de fumaça

no ar.

Essa garota acabou de roubar o meu


cigarro?

— Que diabos? — eu questiono. — Você


poderia ao menos ter pedido um pra você.
Por que roubou o meu?

Ela sorri, nem um pouco afetada com a

minha indignação.

— Não sei, cara. Talvez porque eu


estivesse com vontade de provar você?

— Corta essa — eu digo. — Não estou a

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fim.

Me afasto do carro e lhe dou as costas,


mas ela vem atrás de mim.

— Ei, não quer um pouco de diversão?


Eu juro que você não vai se arrepender.

— Você é estúpida? — eu lanço,


impaciente, conforme volto a encará-la. —
Eu já disse que não estou a fim.

— Sabrina? — uma voz masculina vem


de fundo, e em seguida o tal Kaylan
Edwards aparece. Ótimo, seria bom se ele a
arrastasse para fora daqui. — Que porra

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você está fazendo?

— Kaylan, eu... — ela aponta em minha


direção. — Ele estava dando em cima de
mim!

Sério?! Era só o que me faltava.

O cara me olha.

— Isso é verdade? Estava dando em


cima dela?

— Ela é sua namorada?

— E se for, idiota? Acha que isso lhe dá


o direito de mexer com a garota dos outros?

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Eu dou de ombros.

— Pense o que quiser.

Dou-lhes as costas e volto a caminhar.

Antes que eu me dê conta, mãos pesadas se


chocam contra as minhas costas, lançando-
me alguns passos para frente.

Eu paro imediatamente, meus punhos


fechados. Viro-me em sua direção e sua

expressão presunçosa é o combustível para


me inflamar por dentro.

O que ele não sabe é que talvez eu


tenha estado toda a maldita noite esperando

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por esse momento. Esperando por um pouco


de diversão dolorosa e torcida.

Assim, eu avanço e dou um soco nele.

Kaylan cambaleia para trás e passa a


mão no corte em seu lábio, fulminando-me
com os olhos. Em seguida ele vem para mim.
Seu punho se choca contra a carne do meu
rosto e eu cuspo fora o sangue, sentindo a
adrenalina consumir meu corpo.

Era isso que eu estava buscando.


Aquele momento escuro e amargo do qual a
maioria das pessoas corre. Aquele momento
duramente aterrorizante e doloroso pelo

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qual quase ninguém anseia. Eu faço parte


dessa minoria agora. Absorvendo cada
pedaço dessa sensação sombria e destrutiva.

Depois que Ethan se foi, eu sinto como

se uma parte de mim morresse ou se


mantivesse adormecida. É como se eu
estivesse constantemente esperando pelo
momento em que, finalmente, fosse
desaparecer. É por isso que eu facilito as

coisas para que isso aconteça. Como se eu


merecesse cada merda e cada miséria que a
vida tem planejado para mim.

Eu atiço. Bato contra seu peito,

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esmurro sua carne, ansiando pelo momento


em que ele virá contra mim e me agraciará
com a retaliação.

E ele faz.

Uma, duas, três vezes.

O cheiro agridoce do sangue se espalha


em meu nariz. A dor na minha carne é
praticamente inexistente. Eu sei que isso vai

doer mais tarde, mas não estou tão


preocupado com o fato.

Não demora muito para que os caras


venham até nós e apartem a briga.

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Os xingamentos de Sabrina deslizam

pelo ar da noite.

— Você é mesmo um babaca! — ela


grita em minha direção. Em seguida se volta

para Kaylan. — Baby, você está bem?

Acabo dando risada da situação.

— Vocês são dois fodidos — eu digo.

— Cale a boca! — Kaylan estala. —

Você e aqueles outros universitários imbecis


são um bando de filhinhos de papai
arrogantes! Se acham os donos do mundo só
porque dirigem carros caros e conseguem

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vencer a merda de uma corrida sem muito


esforço.

— Eu não posso fazer nada se Maven é


um corredor muito melhor que você, pedaço

de merda — rebato. — Não me compare aos


outros.

Kaylan mostra os dentes e avança em


minha direção novamente. Eu reteso meus
músculos, pronto para mais uma briga, mas

Maven se prostra entre nós.

— Se você tentar bater nele de novo,


vai ter que me enfrentar também — Meu
amigo ameaça. — São dois contra um, cara.

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O que você me diz?

Kaylan dá um passo relutante para trás


e cospe no chão.

— Filhos da puta — ele rosna sem tirar


os olhos de mim. — Vamos, Sabrina. Esses
filhinhos de papai não perdem por esperar.

E assim, ele se afasta, com a garota em


seu encalço.

Eu volto a endireitar meus músculos,


sentindo as gotas de suor se misturarem ao
sangue em minha testa. Limpo parte da
sujeira com a minha camisa e em seguida me

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afasto da aglomeração.

— Saiam da minha frente — rosno,


vendo as pessoas realmente abrirem espaço
para que eu passe.

Minha cabeça está girando, tudo ao


redor está girando. Eu preciso de mais
álcool no meu sistema.

— Evan! — Maven me grita,

alcançando meus passos. — Aonde você vai?

— Não interessa — rebato. — Por que


não vai cuidar das suas garotas? Essa coisa
que você está fazendo é irritante.

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— Que tipo de coisa?

— Isso! — gesticulo entre nós dois. —


Pelo que o conheço, era pra você estar
derramando uma garrafa de vodca garganta

abaixo, muito mais bêbado que eu..., mas


não. Você está aqui, no meu pé, agindo como
a porra de uma babá irritante. Eu não
preciso que tenha pena de mim.

Seus olhos faíscam com as minhas

palavras e então ele me dá um empurrão no


peito.

— Eu faço isso porque você é


praticamente um irmão pra mim, seu idiota!

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Acha que eu quero isso? Acha que eu quero


ver você se afundando dessa maneira na sua
própria merda?

Eu não respondo. Dou-lhe as costas,

caminhando pela noite fria. Estou sem


carro, então não sei como diabos vou fazer
para chegar em casa, mas isso não importa.
Provavelmente eu vá parar em algum lugar
para beber até perder os meus sentidos.

— Evan, espere — ele me impede. —


Você não vai para casa, não é?

— Não — respondo. — Vou beber em


algum lugar. Por que?

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Ele fecha os olhos e passa as mãos

pelos cabelos escuros. Ele parece frustrado


e preocupado, o que é engraçado pra
caramba, levando em consideração a ironia

da situação. Maven sempre foi o mais


irresponsável de nós dois. O mais sem
noção. Mas depois que eu perdi meu irmão,
eu acho que agora ele se vê no direito de
cuidar de mim como se eu fosse uma criança
que a qualquer momento vai fazer uma

besteira.

Acho que ele desconfia de que a


qualquer momento eu vá querer fazer o
mesmo que Ethan. De que eu não aguente a
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pressão e dê um fim à tudo isso.

Mas a verdade é que eu já estou me


matando aos poucos. Me envolver com
bebida, garotas e brigas está sendo a única

maneira de me fazer esquecer tudo o que


ocorreu. A única maneira de me fazer
esquecer a porcaria em que tudo isso se
transformou.

— Vamos para a casa do Jordan Stevens

— ele finalmente abranda a voz. — Os caras


estão fazendo uma festa de comemoração
por lá. A gente curte um pouco e então eu
levo você pra casa.

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— Não estou a fim.

Tento passar por ele, mas novamente


sou impedido.

— Vamos lá, Evan. Não torne isso


difícil pra mim. Vai ser legal.

Eu sei que ele não vai sossegar


enquanto eu não ceder, portanto eu apenas
abro mão de relutar e entro no carro com

ele.

Assim que estacionamos no local da


festa, o barulho do hip-hop e os gritos
animados dos jovens alterados explodem

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contra meus ouvidos.

Para ser sincero, eu não sei o que


diabos decidi fazer aqui. No começo foi
interessante a ideia de me aproveitar de uma

festa em que teria bebidas grátis — e, de


quebra, acabar com os sermões do Maven —
mas agora eu não estou achando isso tão
legal assim.

Já bebi o suficiente e talvez fosse uma

boa ideia eu voltar para casa. Mas como o


fracassado que sou, eu apenas sento-me em
um sofá e recosto minha cabeça contra o
encosto.

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— Eu não estou acreditando que não

vou conseguir ter sexo hoje — Maven


reclama.

— Eu não estou pedindo para ser minha

babá. Você pode ir transar se quiser — eu


digo. — Há muitas garotas por aqui de olho
em você. Apenas vá se divertir e me deixe
em paz.

Ele resmunga alguma coisa e em

seguida eu sinto uma garrafa de água se


chocar contra meu peito.

— Não me agradeça — diz. — Fique


aqui, idiota. Eu volto logo.

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Depois que Maven me deixa no sofá, eu

me levanto. Meus pés estão pesados, e tudo


ao meu redor está girando. Sei que a melhor
coisa a se fazer agora seria ouvir os seus

conselhos e realmente ficar sentado, mas eu


preciso desesperadamente ir ao banheiro.

Me infiltro na multidão e, ao ir no
banheiro do andar de baixo, me deparo com
a porta trancada.

Parto para as escadas, à procura de um


banheiro no andar de cima. Deve haver
algum.

Assim que abro a primeira porta que

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encontro e dou de cara com um quarto, a


fecho.

Estou prestes a partir para a próxima


porta, mas ouço a voz de Maven atrás de

mim.

— Evan? O que está fazendo aqui?


Nós...

— Shh — eu peço silêncio quando um

barulho em um dos quartos chama minha


atenção. A porta está entreaberta, então eu
espio.

Há um casal lá dentro. É Kaylan

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Edwards com a tal Sabrina. Por que


encontrar esse estúpido aqui dentro não me
surpreende?

— Você acha que consegue fazer isso?

— Kaylan questiona baixinho.

— Eu... eu não sei — a menina


responde, com uma voz aparentemente
nervosa. — Espero que dê tudo certo. Se nos
pegarem aqui, eu... oh, merda!

Os olhos de Sabrina se arregalam


quando ela me vê na porta. Ela esconde algo
atrás de si rapidamente, dando alguns
passos para trás. Kaylan segue seu olhar e

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ao se dar conta da minha presença, caminha


furioso em minha direção.

— O que está fazendo aqui? Não vê que


estamos ocupados?

Eu estreito meus olhos. Eles não


parecem estar aqui para fazer algo
relacionado a sexo. Não pela expressão de
susto que Sabrina está me lançando.

Há algo a mais, e isso não está me


cheirando bem.

— Estou pouco me lixando para o que


vocês dois fazem aí dentro — Mas isso é

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mentira. Se eles estão tão pilhados assim só


porque os peguei aqui dentro, é óbvio que
estão armando alguma coisa.

Logo o pensamento de que os dois

podem estar envolvidos com drogas dentro


da festa vem à minha cabeça. Isso pode
causar um monte de problemas, é claro. Mas
não tenho tempo de pensar muito sobre isso.
Kaylan me empurra para o lado de fora e

choca as minhas costas contra a parede.

— Dê o fora! — ele rosna. — Não se


meta com o que não é da sua conta.

Em seguida ele retorna para o quarto e

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bate a porta na minha cara.

Eu me afasto da parede, começando a


sentir meus músculos doloridos, mas sem
muito me importar com isso. Minha mente

ainda está girando em torno do que eu


acabei de presenciar.

— Mave — eu chamo meu amigo,


observando a porta do quarto fechada
diante de nós. Olho para a fechadura e me

deparo com a chave ainda presa no miolo.


Provavelmente o idiota nem sequer se deu
ao trabalho de tentar disfarçar quando
decidiu invadir o quarto dos outros. — O

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que você acha que eles estão planejando?

— Eu não sei, Evan, a gente não


deveria se meter — diz. — Eu quero beber,
apalpar algumas bundas e ser feliz. Você

está agindo feito um louco.

Eu dou uma risada seca. Sim, porra, eu


acho que estou ficando louco. Mas quem se
importa?

— Esse Edwards está seriamente me


irritando — digo.

— Achei que ele já fosse coisa do


passado — Maven diz. — Você arrancou

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sangue do cara hoje. Chega de procurar


briga.

— E quem disse que eu vou brigar?

Ignorando seu olhar afiado, aproximo-


me da porta e giro a chave na fechadura.
Assim que sinto o clique da porta sendo
trancada, enfio a chave em meu bolso.

— Você perdeu a sua cabeça? — Maven

questiona em desaprovação. — O que pensa


que está fazendo agora?

— Eu já estou de saco cheio desse cara


— digo. — Se eles estão planejando algo

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para acabar com a festa, eu acho que tenho


mais do que o direito de lhes dar uma lição.

— Isso pode ser perigoso, Evan. Você


trancou duas pessoas em um quarto. E se

acontecer algo?

— Que morram lá dentro — Quando ele


adquire uma expressão chocada, acabo
dando risada. — Não faz essa cara,
estúpido, não vai acontecer nada. É só um

susto.

Ele balança a cabeça em negativa, mas


por fim põe o braço por cima do meu ombro.

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— Certo. Vamos voltar lá para baixo.

Depois que voltamos para a sala, me


atiro outra vez no sofá. Música alta retorna
com tudo contra meus tímpanos. O tom da

voz de Wiz Khalifa me deixando ainda mais


entorpecido.

Foco em um quadro na parede. A


pintura em vários tons de amarelo
praticamente queima meus olhos. É uma

tentativa bizarra de reprodução da obra “Os


Girassóis” de Van Gogh.

Bufo internamente e passo a mão sobre


meus olhos cansados. O que eu estou

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fazendo aqui? Pergunto pela milésima vez.

Maven não escolheu o apartamento dele


para dar essa festa e agora eu já imagino o
motivo. A casa de Jordan Stevens é muito

maior que a sua, e ele provavelmente estava


tentando se livrar da bagunça que deixariam
no dia seguinte. Há muita gente aqui. E eu
não conheço nenhum deles.

Essas pessoas não são minhas amigas e

eu tenho certeza de que eles também não são


amigos de Maven. Apenas um grupo de
jovens inconsequentes unindo-se pelo prazer
da adrenalina e diversão.

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De repente a música para, puxando-me

de volta para a realidade.

— Incêndio! — alguém grita.

— Está havendo um incêndio! — outra


voz arranha contra meus ouvidos.

Eu tento assimilar o que está havendo


e, quando minha cabeça finalmente foca na
gravidade da situação, já estou de pé, meus

músculos tensos.

Um incêndio.

Abordo uma garota que passa correndo


por mim.

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— Em que parte da casa está havendo o

incêndio?

— No quarto do Jordan — ela treme. —


Há pessoas lá em cima, eu... eu não sei

muito bem o que aconteceu. O quarto está


pegando fogo!

E é então que a minha ficha cai.

O quarto.

Fogo.

Kaylan e Sabrina.

Imediatamente a minha conversa com


Maven retorna.
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“E se acontecer algo?”

“Que morram lá dentro”.

Merda.

Corro em disparada em direção às


escadas, tropeçando em meus pés e
esbarrando nas pessoas que descem
desesperadamente.

Eu chego no corredor e só vejo fumaça

saindo do vão entre o chão e a porta do


quarto. Começo a cavar pelos meus bolsos,
em busca do pequeno pedaço de metal que
escondi dentro deles mais cedo.

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— Merda — praguejo. — Onde você

está?!

— Evan! — a voz de Maven me chama.


— Evan, o que você está fazendo? Vamos.

Nós temos que sair daqui!

— O quarto está pegando fogo, Mave!


— eu digo. — Eles ainda estão lá dentro.

Seus olhos se expandem com a

compreensão.

— O que está esperando? Abra logo


essa porta.

Eu enfio novamente as mãos nos meus

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bolsos, em busca da chave. Mas

simplesmente estão vazios.

— Eu... eu perdi a chave.

— O que? Você só pode estar


brincando!

Eu passo as mãos sobre meus cabelos, a


aflição apertando meu peito violentamente.

— Pense. Pense. Pense, idiota! —

murmuro diversas vezes, tentando encontrar


uma saída.

Meu amigo me olha com semelhante


impotência. Ele está tão perdido quanto eu e

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a fumaça está começando a invadir

rapidamente o corredor apertado. Se


demorarmos mais um pouco, vai ficar
impossível até mesmo ocupar essa área da

casa.

Sem pensar muito, eu me afasto um


passo e em seguida choco meu pé contra a
porta.

Nada.

Mais um baque.

Sem sucesso.

Eu dou mais quatro ou cinco chutes, até

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escutar os gritos femininos vindos de lá de

dentro.

— Oh, meu Deus, alguém me ajude! —


É Sabrina. — Por favor... — ela começa a

tossir.

— Sabrina? — eu chamo por ela.

— S... sim.

— Aonde está Kaylan?

— Eu... eu não sei! Ele conseguiu sair


pela janela, mas eu tive medo de segui-lo.
Aqui é muito alto. Eu estou com medo!
Droga, me ajude... eu estou com muito

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medo!

Eu dou um mais algumas pancadas na


porta, frustrado ao perceber que não vou
conseguir arrombá-la a tempo.

— Sabrina, me ouça: deve haver uma


chave aí dentro. Em algum armário, alguma
coisa...

— Está tudo pegando fogo, droga! —

ela grita desesperadamente. — Você não


entende! Não há chances de eu conseguir
tocar nos móveis.

Eu volto a passar a mão sobre o rosto.

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Sim, idiota, é claro que estaria pegando


fogo. No que diabos eu estava pensando?

Maven me segura pelos ombros.

— Evan, me escute. Jordan deve ter


uma chave extra, é provável que alguém
tenha chamado socorro a essa altura. Eles
vão abrir a porta e vão tirar ela de lá! Nós
não podemos mais ficar aqui. O corredor é
apertado, a fumaça está passando pelo vão

da porta. Podemos morrer se continuarmos


a inalar toda essa fumaça, cara.

Sacudo a cabeça negativamente.

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— Eu não posso fazer isso. Fui eu que a

tranquei lá dentro e não posso deixá-la lá.


Não sou esse monstro!

Ele passa as mãos pela cabeça. Por

mais que o Edwards e a menina houvessem


sido dois idiotas conosco, é claro que ele
também não quer isso. Ninguém em nossa
situação iria querer isso.

— Certo. Eu vou chamar Jordan. Vou

pedir a ele uma chave, um martelo ou


qualquer coisa que possamos usar para
abrir a porta! Eu já volto. Mas, Evan... se
ficar realmente difícil, você tem que ir

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embora, ok? Tem que sair daqui!

Eu assinto.

Então ele me dá as costas e corre em

direção às escadas.

Eu vou novamente até a porta, fazendo


a única coisa que está ao meu alcance no
momento: continuo batendo meu pé contra
ela. Em algum momento a madeira terá que

ceder.

Eu começo a ver os primeiros efeitos


das pancadas contra a porta quando ela
começa a ficar mais solta.

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Eu tiro minha camisa e enrolo contra

meu rosto, preparado para entrar a


qualquer momento.

Minutos se passam até que eu consigo

ouvir outros passos no corredor novamente.


Maven se põe de pé ao meu lado,
carregando um machadinho.

— Não encontrei Jordan em lugar


algum. Ele deve ter fugido para não se

responsabilizar caso a polícia pare por


aqui. Mas eu trouxe isso. Vamos tentar
arrombar.

Ele me entrega a ferramenta, e eu

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começo a dar fortes investidas contra a


madeira. Assim que a parte da fechadura
começa a ser destruída, empurro a porta e
ela finalmente cede.

Eu entro imediatamente no quarto,


ignorando os pedidos desesperados de
Maven para que eu não faça isso. O local
está nebuloso com a grossa fumaça ao redor.
O fogo está se alastrando pelas cortinas,

colchão e tapetes.

Está tudo um caos. Mesmo assim, eu


procuro por Sabrina dentro do cenário
nebuloso.

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— Sabrina? — chamo. — Sabrina!?

Ela não me responde.

A fumaça começa a se alastrar por

meus pulmões, o fogo intenso trazendo uma


nuvem de calor sobre minha pele. Eu estou
começando a me sentir tonto e enjoado.

E é então que eu vejo a figura feminina


caída no chão. Corro até ela e a iço do

chão, meus braços trêmulos tentando


sustentá-la pelos joelhos e costas.

Tropeço para fora do quarto, caindo


sobre meus joelhos ao chegar no corredor.

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Maven vem ao meu socorro, mas eu não

consigo ouvir direito o que ele diz, muito


menos enxergar.

Meus pulmões estão ardendo em busca

de ar, meus olhos estão doloridos e a tosse


intensa que me acomete está me impedindo
de dizer qualquer coisa.

Maven se ajoelha diante da menina


desmaiada no chão e sua expressão não é

nada encorajadora.

Eu tento olhar uma última vez para ela,


mas novamente começo a tossir.

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Luto para me manter de olhos abertos,

mas é em vão.

Tudo é confuso e distante.

Então, finalmente eu apago.

Acordo com vozes distintas ao meu

redor. Mas a mais nítida e a que me faz


abrir meus olhos é a grossa voz do meu pai.

Tento levantar minha cabeça, para logo


tombá-la sobre os travesseiros novamente.
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Dando mais uma checada na minha

situação, estou dentro de um quarto que com


certeza é de um hospital. Tudo é limpo e
branco e há uma máscara de oxigênio no

meu rosto.

Puxo-a para fora e encaro o meu pai.

— Felton? — murmuro, sentindo como


se minha garganta fosse uma lixa. — Felton,
eu... eu preciso me levantar. Preciso saber

como eles estão.

— Do que você está falando, Evan?

— As pessoas que estavam no quarto...

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a garota que eu tranquei lá dentro. Eu não


sei como ela...

— Evan, se acalme — ele me empurra


pelos ombros, até que eu sou obrigado a me

manter imóvel sobre a cama. — Você acabou


de passar por uma experiência
traumatizante, foi horrível, mas finalmente
está bem. Descanse e depois nós
conversamos.

— Eu não posso descansar, Felton, você


ouviu o que eu acabei de dizer? Eu preciso
saber se ela está bem! Você não pode ser tão
insensível a ponto de...

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— Ela está morta — o impacto de suas

palavras corta a minha fala imediatamente.

Sentindo que meus olhos estão cada vez


mais expandidos, eu volto a perguntar:

— O... o que você disse?

— Eu disse que ela está morta —


repete, como se estivesse me informando a
previsão do tempo. — Era isso o que queria

ouvir?

Eu sinto meus olhos arderem, meus


pulmões apertarem e em seguida aquela
agonia insana no meu peito.

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— Foi tudo minha culpa — eu murmuro.

— Se eu não tivesse trancado ela lá dentro.


Se eu não tivesse sido tão irresponsável.

— Não diga isso em voz alta. Alguém

pode ouvir você.

— Que ouçam! — explodo. — Se fui


realmente eu! Que todos ouçam e...

— Pare de choramingar! — Me sacode

pelos ombros, cortando minhas palavras.

Eu engulo em seco, ainda muito ferido e


exausto emocionalmente para tentar discutir
com ele.

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— Eu não criei você para sair por aí

levando fama de criminoso — continua a


dizer duramente. — Você ter decidido
transformar sua vida em um drama regado a

bebida, tatuagens e prostitutas


universitárias pode ter sido algo que eu
tolerei, mas eu não vou tolerar ter um filho
com fama de assassino.

Eu fecho os olhos e respiro fundo.

Certo. Ele não quer isso para não


manchar a sua imagem. Por que não me
surpreendo?

— O que eu devo fazer então?

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Ele afrouxa o aperto em meus ombros,

até que estou totalmente livre. Ajeita sua


gravata, então eu o observo passar a mão
sobre o cabelo impecável, provavelmente

buscando calma.

— Esse foi um sinal para você


finalmente se dar conta de que o que vem
fazendo com a sua vida não é a melhor
coisa, Evan. Ainda não sabemos a causa do

incêndio, mas há a suspeita de um curto


circuito no quarto. Como as pessoas
estavam trancadas lá dentro, eles não
puderam sair a tempo por sua causa — ele
faz uma pausa. — E antes que me pergunte,
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fiquei sabendo disso porque seu amigo,


Carmichael, me contou. Ele relutou no
início, mas o garoto estava muito abalado
para sequer esconder um fato como esse de

mim. Bem... levando em consideração as


circunstâncias, as únicas pessoas que sabem
que foi você quem trancou a porta com
aqueles dois ainda dentro do quarto, são
Maven e o próprio garoto que conseguiu
escapar.

Engulo em seco, tendo dificuldade para


aliviar a sensação horrível na minha
garganta.

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— Seja mais claro, Felton.

Ele se inclina sobre a cama, ficando a


poucos centímetros de distância do meu
rosto.

— Eu já cuidei do garoto do incêndio.


Ele vai manter a boca fechada por um bom
tempo enquanto eu o mantiver satisfeito —
isso significa dinheiro. Meu pai sempre
resolveu tudo com dinheiro. — Você foi

encontrado desmaiado no corredor de uma


casa em chamas, minutos depois de ter
arriscado sua própria vida para salvar uma
pobre menina. Você tem duas opções, um:

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fazer o que eu mandar e sair dessa história


como um herói, ou dois: continuar agindo
como o idiota irresponsável de sempre e ter
que se explicar com a polícia sobre o seu

pequeno ato de rebeldia. Você pode até não


ir preso por ter feito isso, mas as pessoas o
odiariam a partir de então. Você aceitaria
ser reconhecido como o filhinho de papai
que causou a morte de uma menina apenas
porque não tinha um bom relacionamento

com ela e o garoto com quem ela estava


saindo? Você já não tem um histórico muito
bom, Evan. Vai ser muito fácil odiarem e
repudiarem você caso descubram a verdade.

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Aperto meus punhos, tendo vontade de

refutar suas palavras repulsivas, mas então


eu paro e penso... Ele está certo. Eu não
quero isso. Não quero ser odiado e

hostilizado. Eu já recebo isso suficiente dos


meus pais.

— O que eu tenho que fazer? —


questiono.

Ele sorri satisfeito, batendo a mão

contra meu ombro.

— Seja um bom garoto e torne-me um


pai orgulhoso.

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Eu permaneço encarando-o, indignado

com a sua frieza, mas sabendo que uma


parte vergonhosa de mim admira isso. Acho
que seria bem mais fácil lidar com a minha

vida caso eu tivesse a mesma linha de


pensamento prática do meu pai.

— Você quer que eu seja como Ethan?

— Você nunca conseguirá ser como


Ethan — murmura. — Mas você pode tentar

ser melhor do que está sendo agora.

Sinto lágrimas inundarem meus olhos.

A verdade é que eu não quero mais ser

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um idiota irresponsável. Não quero mais ser


o cara que causa dor e desgraça na vida das
pessoas.

A culpa e o peso do que eu fiz começam

a crescer dentro de mim, e eu sei que será


bem difícil conviver comigo mesmo a partir
de agora.

— Como queira, Felton — finalmente


entrego os pontos.

Meu pai volta a sorrir. Não demora


muito para que eu sinta sua mão novamente
em meu ombro, dando-me um encorajamento
que eu desprezo.

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— Iremos consertar isso, Evan. Iremos

consertar tudo. Afinal... família é pra essas


coisas.

Os olhos de Rose estão inundados em


lágrimas quando termino de lhe contar toda

a história. Ela está me olhando fixamente


agora. Não é um olhar acusador, muito
menos de pena. É como se ela estivesse
absorvendo a minha própria dor, sentindo o
que eu sinto.
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Isso me deixa um pouco mais aliviado.

Não sei se conseguiria olhá-la diretamente


outra vez, caso a visse me encarando com
pena, nojo ou algo semelhante.

— Minha nossa... — ela murmura. — Eu


não sei nem mesmo o que lhe dizer.

— Não precisa dizer muito — falo. —


Eu sei que talvez seja muita coisa para você
digerir. Talvez ainda esteja magoada e

chocada com o que acabei de lhe confessar.

— A verdade é que eu estou mais


decepcionada por você ter me omitido essa
parte da sua vida do que pelo que realmente

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aconteceu — ela diz. — Por favor, não me


leve a mal, não estou dizendo que foi algo
legal de se fazer, mas... Evan, você não teve
culpa.

— Você ouviu o que eu acabei de dizer?


— enfatizo. — Uma menina morreu em um
incêndio por conta de uma atitude ridícula
minha. Eu poderia ter impedido que essa
morte acontecesse caso não tivesse tido a

infeliz ideia de trancá-los lá dentro. O que


eu fiz não tem perdão.

— Mas... mas você tem certeza de que


foi isso mesmo o que aconteceu? — volta a

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argumentar. — Não procurou saber o motivo


do incêndio ou... sei lá! Vários fatores
podem ter desencadeado a morte dessa
garota, Ev. Você não pode simplesmente

carregar todo esse peso nas costas.

— Os peritos disseram que foi um curto


circuito. Eu não posso dizer com toda
certeza o que aconteceu porque o máximo de
informação que tenho veio do meu pai,

mas... se o incêndio foi naquele quarto e eu


fui o único a complicar as coisas para que
ambos saíssem dele... quem mais poderia ser
o culpado?

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Ela morde o lábio e baixa o olhar.

— É complicado — diz. — Em pensar


que eu nunca fiquei sabendo disso. Tudo
bem que eu não tinha muito contato com

Kaylan, mas... um incêndio em uma casa


com tantos jovens, era algo para eu ter
sabido, não é?

— Não soube porque o meu pai foi


eficiente em abafar o caso. No começo ele

queria me expor como um herói, mas


percebeu que as coisas poderiam ficar piores
caso Kaylan decidisse abrir o bico de uma
hora para outra, então ele preferiu ocultar ao

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máximo a situação. Ele foi eficiente em


arcar com as despesas da restauração da casa
de Jordan e levar Kaylan para bem longe do
estado. Meu pai queria que o seu plano de

me tornar seu fantoche desse certo, sem


ninguém para interrompê-lo.

Ela suspira.

— Entendo. Deve ter sido por esse


motivo que não fiquei sabendo de nada. Pelo

que imagino, essa Sabrina não deveria ter


amigos ou parentes. Ninguém se importou
com a morte dela?

— Eu imagino que não — digo. — Eu

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até tentei, por um tempo, fazer com que ele


me desse o contato dos familiares da garota,
mas... nunca consegui nada. Acho que
Sabrina não tinha ninguém por ela.

Ela segura a minha mão e me olha nos


olhos.

— Eu não sou a melhor pessoa para


dizer isso, mas... esse relacionamento com o
seu pai não é nada saudável, Evan. As coisas

que ele já fez para você... o fato de ter


praticamente o obrigado a assumir uma
personalidade que não o deixa confortável...
isso precisa parar.

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— Eu sei — falo. — Mas... como eu

faço isso? Mesmo se eu explanar toda a


verdade agora e tirar esse peso das minhas
costas... eu não sei como fazer isso parar. Eu

não tenho um emprego, os meus estudos é


ele quem banca. O meu pai me deixou
completamente dependente dele. Eu estou
sendo controlado.

— Você não está — ela sorri, dando um

aperto firme em minha mão. — Você tem o


meu apoio, o apoio do seu melhor amigo.
Você tem sua mãe também, Evan. A relação
de vocês dois melhorou significativamente e
eu tenho certeza de que ela nunca deixaria
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você desamparado caso seu pai decidisse lhe


virar as costas.

— Talvez você esteja certa — falo. —


Mas então? O que você acha que eu devo

fazer?

— Enfrentar! — responde com firmeza.


— Agora é a hora de você confrontar o seu
pai e se livrar disso.

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Passo pela porta da casa dos meus pais,

controlando-me para ensaiar uma calma que


em nada condiz com o meu estado atual.
Estou uma pilha de nervos, e tudo se

intensifica quando observo a casa escura e


silenciosa.

— Aonde estão Lauren e Emily? —


questiono ao meu pai.

— Foram passear com Paige —

responde. — Dei o restante do dia de folga a


Bonnie também.

Sinto minha sobrancelha se arquear. O


que Felton estaria aprontando agora?

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Desconfiei do seu comportamento desde que


liguei para ele, uma semana atrás, a fim de
conversarmos, e ele me disse que só teria
tempo hoje. No começo eu achei que fosse

apenas uma desculpa para não se encontrar


comigo, mas agora estou começando a achar
que há algo maior por trás de tudo isso.

De qualquer maneira, eu decido segui-lo


até o seu escritório. Esperei muito pelo

momento em que eu finalmente colocaria


tudo em pratos limpos, e não posso
simplesmente dar um passo para trás agora.

O que Rose me disse, sobre eu ter que

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enfrentar, realmente é o correto a se fazer.


Não posso mais ficar preso em uma relação
tóxica de pai e filho com o Felton, porque
não é isso o que eu quero. Não é disso o que

precisamos. Não é assim que as coisas


deveriam ser.

— Espero que você esteja mesmo


disponível para que possamos conversar —
eu digo ao entrar no escritório.

— Eu estou — ele responde. — Quando


você me ligou avisando que queria falar
comigo, eu já estava disposto a chamá-lo
para conversar também. Só precisava acertar

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algumas coisas.

— Compreendo — digo. — Kaylan


Edwards está novamente na cidade. Você não
ficou sabend... — minhas palavras são

cortadas quando avisto quem está sentado


em uma poltrona num canto do escritório.
Imediatamente fecho minhas mãos em
punhos, lutando contra o sentimento ruim de
traição. — O que esse cara está fazendo

aqui?

Felton massageia as têmporas e retorna a


me encarar.

— Sente-se, Evan.

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— O que diabos vocês pensam que estão

fazendo? — explodo. — Eu perguntei o que


esse cara está fazendo aqui, Felton. É mais
um de seus truques para me ferrar?

— Eu disse para se sentar, Evan — sua


voz é tensa e séria. — Este rapaz está na
cidade porque eu pedi para que ele viesse até
aqui. Nós temos algo muito importante para
lhe contar. Só peço que você colabore.

Incapaz de aguentar mais um minuto


dessa merda, eu finalmente cedo e me sento.
Meus nervos estão em frangalhos. Minha
respiração está pesada e a curiosidade

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misturada ao sentimento da confusão e


desconfiança estão deixando tudo ainda pior.

Meu pai, embora, permanece de pé. Eu


estou impressionado como ele consegue se

manter tão calmo diante de uma situação


como essas. Talvez porque não seja ele o
principal afetado nisso tido, mas, sim, eu.

Ele contorna sua mesa.

— Bem, agora que estamos os três aqui,


precisamos colocar algumas coisas a limpo.

— Eu espero que coloquemos mesmo —


retruco. — Já estou farto de ser controlado

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por você e por suas ameaças ridículas.

Ele me encara, com algo que


inicialmente eu julgo como culpa, mas logo
o semblante indecifrável cai sobre seu rosto

novamente.

— Kaylan, nos conte exatamente a


história que você me contou há um ano.

O garoto engole em seco.

— A que você me obrigou a dizer ou a


que realmente aconteceu?

— A real.

Kaylan se vira e me encara. Ele faz uma


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pausa longa, provavelmente juntando toda

sua merda, mas por fim toma coragem e


começa.

— Bem, sobre aquela noite... a noite em

que você nos trancou no quarto. Foi


traumatizante para mim também. Sabrina era
uma garota de quem eu gostava e...

— Sem enrolações, Edwards — meu pai


diz ameaçadoramente. — Vamos. Reformule

e seja mais prático.

— Certo. Como eu dizia, na noite do


incêndio, eu e Sabrina não estávamos lá
apenas para dar uns amassos, como você

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imaginou. Nós tínhamos outra intenção em


mente.

Eu franzo o cenho, precisando de mais


do que simplesmente isso.

— Seja mais claro.

— Eu não sei se você se lembra, mas eu


perdi a corrida para Carmichael naquela
noite. Em seguida, nós brigamos. Eu fui

hostilizado por um monte de playboys


depois que cheguei na festa, por que, ora
essa, eu era um “perdedor” e não havia sido
convidado. — Seu olhar e tom de voz
demonstram sua indignação. — Fiquei muito

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bravo com tudo o que aconteceu e minha


verdadeira intenção era acabar com a
diversão de todos aqueles riquinhos de
merda.

— E como você faria isso?

— No começo Sabrina pensou em


chamar a polícia — diz. — Havia muitos
menores de idade por lá, e Jordan poderia se
ferrar, caso os caras aparecessem e se

deparassem com a quantidade de bebida que


estava sendo servida. Mas então, eu pensei
melhor e percebi que se não desse tempo de
a gente dar o fora antes que os policiais

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aparecessem, as coisas poderiam ficar feias


para nós dois também, pois estávamos desde
cedo ingerindo álcool... — ele respira fundo
antes de retomar:

“E foi então que eu sugeri que


queimássemos algumas coisas no quarto do
Jordan. Seria apenas um susto, afinal o cara
tinha dinheiro o suficiente para arcar com o
prejuízo de algumas cortinas queimadas.

Algumas pessoas iriam fazer um pouco de


barulho, nós conseguiríamos controlar o
fogo, a festa acabaria, e em seguida, todo
mundo iria embora para casa frustrado e eu
me sentiria ao menos vingado por ter sido
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privado de permanecer na festa — ele passa


o dedo abaixo do nariz, como se secando o
suor imaginário. — Mas as coisas não
aconteceram da forma que imaginamos. Não

calculamos que um incêndio simples poderia


tomar proporções gigantescas. Se eu tivesse
ouvido a Sabrina, se tivéssemos saído logo
depois que você entrou naquele quarto...,
mas não. Eu quis ir adiante. E no momento
eu não pensei que o pior poderia acontecer.

Nunca que eu iria imaginar que você nos


trancaria lá dentro. Eu jamais seria idiota ao
ponto de colocar a minha vida em risco por
nada.”

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Confesso que a ideia de Kaylan e

Sabrina terem causado o incêndio se passou


pela minha cabeça em alguns momentos,
mas logo a culpa me corroía e eu me

repreendia por estar pensando daquela


forma. Eu não queria ser o tipo de cara que
culpava as vítimas para tirar a culpa de si
mesmo. Além do mais, pessoas me
garantiram de que um curto circuito foi a
causa do incêndio. Pessoas em que eu

deveria confiar.

Eu aperto os braços da poltrona,


sentindo como se o ar de repente houvesse
ficado espesso.
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— Então quer dizer que... que o incêndio

não foi causado por um curto circuito? —


tento me certificar mais uma vez dos fatos.
— Foram vocês dois que causaram?

Kaylan assente.

— Eu não queria causar um problema


muito grande. Não queria matar ninguém.
Era só uma brincadeira.

— Uma brincadeira muito irresponsável,


por sinal — meu pai diz. — Edwards pode
tentar negar o quanto quiser, mas a verdade
é que se ele tivesse se esforçado um pouco
mais, conseguiria levar a moça para fora do

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quarto com ele. Mas ele foi egoísta. Egoísta


o bastante para deixar a própria namorada
para trás...

— Ela não era a minha namorada! —

Kaylan rosna. — Eu e Sabrina não tínhamos


nada sério.

— Que diferença faz? — eu acuso. —


Você foi o primeiro a negligenciar o seu
relacionamento com Brianna em troca de

algumas aventuras com garotas que nem


sequer conhecia. Não haja como se soubesse
definir o que é um relacionamento sério ou
não.

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— Minha história com Brianna é assunto

meu, idiota!

— Já chega! — meu pai grita, calando a


nós dois. — Kaylan está certo, Evan.

Estamos aqui para discutir a morte de


Sabrina Michaels. É sobre isso que eu quero
conversar. Ele estar traindo a namorada ou
não, não é da nossa conta.

Eu baixo a cabeça, procurando me

controlar. Meu pai está certo, mas não


consigo levar essa situação numa boa ainda.
Eu sei como Rose gostava da amiga, e eu
imagino o quanto ela sofreu vendo Brianna

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sofrer por um idiota como ele.

— Mas você não acha que deveria ter


sido honesto desde o começo? — eu falo,
direcionando-me a Kaylan.

— E ferrar a minha bunda para salvar a


sua? Acha que sou estúpido?

— Você foi estúpido para pensar que um


incêndio em um quarto não seria prejudicial

a ninguém, seu merda. Assumir a culpa seria


apenas o correto a se fazer!

— Por que eu faria isso, se você, que até


então se julgava culpado, não fez?

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Isso me cala. Ele tem razão, eu estou

sendo hipócrita, certo? Eu me livrei de


assumir a culpa pelo que aconteceu com
Sabrina, simplesmente porque meu pai

facilitou isso para mim. Embora eu não


tenha total culpa na morte de Sabrina, o fato
de que fui eu quem dificultou para que eles
saíssem daquele quarto não pode ser
esquecido.

Me viro para meu pai.

— Tudo graças a você, não é, Felton? —


Ironizo. — Você sabia de tudo esse tempo
todo?

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Meu pai desvia o olhar e faz um aceno

positivo. É um aceno quase imperceptível,


mas eu consigo compreender.

— Como você pode ter escondido essa

parte tão importante de mim? — indago. —


E por que todos me fizeram acreditar
naquela versão ridícula de curto circuito?

— Eu os persuadi — sua confissão vem


acompanhada de uma expressão e postura

cansadas. — Eu persuadi todos a mentirem


para você, Evan. Tirando o seu amigo
Carmichael, todos que conheciam a
verdadeira história mentiram para você.

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— Por que você faria isso? — Talvez a

resposta esteja mais que clara. Mas eu quero


que ele me conte. Quero me apegar nem que
seja mais alguns minutos à esperança de que

meu pai não é o homem frio e baixo dos


meus pesadelos. Que ele tem algum
resquício de humanidade dentro de si. Eu só
quero que as minhas desconfianças estejam
erradas.

— Porque essa era a única maneira de


domar você — finalmente diz. — Eu havia
perdido o meu filho exemplar, o meu menino
de ouro. Você, por outro lado, só me
decepcionava. Era tão rebelde e tão...
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instável. Eu só queria alguém mais maleável,


um filho que me respeitasse de verdade.
Então, quando recebi uma ligação do Maven
avisando que você estava ferido e quase

tinha morrido intoxicado em um incêndio, eu


não soube o que pensar. Primeiro, eu fiquei
apavorado. Só Deus sabe o quanto eu temia
a ideia de perder mais um filho. — É a
primeira vez que ele diz que sentiu medo de
me perder, e isso me choca. Felton nunca foi

o tipo paternal, não é nenhum segredo.

“Mas quando eu vi que você estava bem


— ele continua —, eu só pensava no fato de
que aquilo teria que mudar. Que você tinha
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que parar de se autodestruir aos poucos. E


foi exatamente por isso que fiz o que fiz,
Evan. Foi por isso que eu fiz com que todos
mentissem. Porque eu queria que você

aprendesse uma lição. Que aprendesse com


seus próprios erros. E só aprendendo com
seus atos errados e sofrendo com a culpa
deles para você finalmente se tornar
maleável. E querendo ou não, funcionou.”

— Você é louco — balanço a cabeça,


indignado. — Eu fui praticamente obrigado
a ser alguém que eu não queria. A fazer as
coisas que você sempre quis que eu fizesse.
Você me ameaçou, Felton. Você me
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manipulou psicologicamente.

— Eu só fiz para proteger você.

— Ora, não me venha com essa! —

ralho. — Por acaso pensou que eu me


sentiria grato ao ouvir essa desculpa de que
você fez o que fez apenas para me proteger?
Realmente acredita que essa merda
funcionaria? Você é completamente doente,
porra!

— Evan, por favor, entenda o meu


lado... — Ele tenta vir até mim, mas eu me
afasto.

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— Eu gostaria muito, mas infelizmente

não dá para entender como um pai tem a


coragem de fazer algo tão doloroso com um
filho. Você sabe como o meu psicológico

ficou depois daquela noite? Como eu me


senti culpado por ter permitido que uma
garota inocente morresse em um incêndio
por minha culpa?! Eu me culpei por meses
p o r q u e você foi o primeiro a jogar isso na
minha cara. Meu Deus. Eu tenho vergonha

de ser seu filho!

O choque e a dor nos olhos dele é algo


que eu nunca vi no meu pai antes. Eu posso
até ter visto, mas da forma que eu vejo
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agora, como se eu houvesse o quebrado com


as minhas palavras, é a primeira vez. E isso
me faria ter vontade de engoli-las de volta.
No entanto eu estou tão absorto em minha

própria dor e ira, que agora eu não desejo


mais nada além de feri-lo como ele me feriu.
É um sentimento ruim, amargo e egoísta,
mas eu não consigo controlar isso agora.

Kaylan se levanta.

— Agora que as coisas estão


resolvidas... eu posso ir?

— Pra onde você pensa que vai? — eu


avanço sobre ele e lhe dou um soco no rosto.

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Vários outros socos sucedem a este antes de


eu ser puxado para trás, longe dele e de sua
cara ensanguentada.

Livro-me do aperto do meu pai, e então

portas duplas do escritório se abrem,


paralisando a todos.

Dois homens passam por ela e eu não


tenho nem tempo de raciocinar antes que
Kaylan esteja com os braços puxados para

trás e um par de algemas seja fechado ao


redor de seus pulsos.

— Kaylan Edwards, você está preso —


um dos homens anuncia.

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Eu fico estático no meio do escritório,

minha mente tentando entender o que diabos


está se passando aqui. Nós não estávamos
sozinhos?

Kaylan está pálido. Ele olha para o meu


pai, incapaz de esconder a fúria.

— Você disse que eu teria que vir aqui


apenas para conversarmos. Apenas para que
eu contasse a verdade ao seu filho. Você

disse que iria fazer o possível para impedir


que eu fosse preso!

— Bem, eu mudei de ideia — meu pai


diz.

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— Seu velho desgraçado — Kaylan tenta

avançar para cima de Felton, mas o policial


firma seu poder sobre ele. — Eu nunca
deveria ter acreditado em você...

Ele não tem chance de dizer muita coisa.


O policial o arrasta para fora antes mesmo
que ele consiga finalizar a frase.

Eu alterno um olhar confuso entre meu


pai e o outro homem, ainda chocado com o

rumo que a nossa pequena reunião tomou.

Meu pai pressiona os lábios com força e


se senta em sua poltrona. O policial faz
menção de dizer algo, mas ele pede seu

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silêncio, levantando um dedo e fechando os


olhos. Ele inspira umas duas vezes antes de
voltar a focar em mim.

— Você não deve estar entendendo nada.

Me desculpe por isso — em seguida ele


aponta para o policial. — Evan, este é o
agente Marshall, um velho amigo da polícia.

O homem dá um aceno orgulhoso para


meu pai, e eu já imagino o porquê. Poucas

pessoas têm a chance de serem chamadas de


amigas de Felton Prescott, e isso para este
homem é como ganhar na loteria.

— Vocês armaram tudo isso para

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pegarem Kaylan?

— Edwards está sendo procurado pela


polícia há algum tempo — o homem explica.
— Por tráfico de drogas e furto também.

— Eu não sabia da gravidade da situação


quando decidi acobertá-lo — meu pai fala.
— Mas depois acabei descobrindo que esse
garoto não é somente um menino
irresponsável que provocou um incêndio

“sem querer.” Ele cometeu crimes graves e


precisava pagar pelo que fez.

Estreito meus olhos para ele.

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— Então você armou tudo isso, apenas

porque estava preocupado com o fato de que


havia um delinquente à solta por aí?

— Se eu dissesse que fiz porque estou

arrependido e queria que você finalmente


pudesse se ver livre dessa culpa, você não
acreditaria — fala. — Então, sim, Evan. Eu
fiz porque estava preocupado com o bem-
estar da nossa cidade.

Ignoro o sorriso quase imperceptível que


ele me lança e limpo a garganta ao sentir a
ardência característica em meus olhos.

Fala sério! Eu estou prestes a chorar por

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causa do meu pai?

— Bem... — o policial interfere. —


Estou levando o rapaz para a delegacia.
Vocês terão que nos acompanhar para dar um

depoimento.

— Claro, eu só... — meu pai faz uma


careta, levando a mão ao peito. — Esperem
um minuto. Eu preciso tomar um pouco de
ar.

Ele tenta se levantar, mas logo tomba na


cadeira novamente.

— Felton? — corro até ele, alarmado. —

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Felton, fale comigo. O que está sentindo?

— Não é nada. Estou apen... — Ele não


consegue concluir a frase e começa a arfar.

Entro em desespero. Não é a primeira


vez que ele sente essas dores, e muita coisa
andou acontecendo nos últimos dias. Já era
para eu ter imaginado que algo nesse aspecto
aconteceria.

Me viro em direção ao policial, que nos


fita com olhos esbugalhados.

— Pode me ajudar a levá-lo ao hospital?

O homem assente, e minutos depois

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estamos seguindo em direção ao hospital

mais próximo. Rezo durante todo o caminho


para que nada de pior aconteça.

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Empurro a porta de entrada do hospital e

irrompo para dentro, meu olhar ávido


percorrendo todo o local. Logo encontro
Evan recostado contra uma parede. Sua

expressão é triste e perdida.

— Evan... — chamo, correndo até ele.

Ele me abraça. Quando se afasta,


percebo que os nós dos seus dedos estão
feridos, mas eu não quero perguntar sobre

isso agora. Quero apenas que ele fique bem.

— Ele vai morrer — diz, de repente. —


O meu pai vai morrer.

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— Não diga isso, Evan. Não é verdade.

— Eu sei o que estou dizendo, Rose —


insiste. — E o pior é que eu disse coisas tão
feias para ele.

— Vocês acabaram discutindo? — agora


eu me sinto mal por tê-lo incentivado a
conversar com o seu pai. — A conversa de
vocês dois não foi como o planejado?

— Mais ou menos — responde. —


Kaylan está preso.

— O quê?

— É uma longa história — ele suspira.

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Em seguida me conta sobre o desenrolar de

sua conversa com seu pai e Kaylan.

— Eu descobri que meu pai mentiu


apenas para que eu me sentisse culpado e...

aprendesse com meus erros. — Ele continua,


abrindo um sorriso amargo ao perceber
minha expressão chocada. — Isso também
me soou horrível quando eu ouvi. O pior de
tudo foi ouvir isso dele, foi confirmar o tipo

de pessoa que ele era. Eu fiquei tão bravo.


Eu disse coisas horríveis... então ele passou
mal. Os médicos o atenderam e fizeram os
procedimentos de emergência e agora ele
passa bem. Mas me informaram que o seu
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estado é delicado. Ele tem um problema


sério no coração e não me disse nada!

Eu continuo o afagando, me sentindo


mal por ele.

— Ele vai ficar bem, Ev. Eu tenho


certeza de que ele vai ficar bem.

Eu só espero estar falando a verdade.

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Quase duas horas depois, ainda estou em

alerta. Rose foi para algum lugar comprar


café, mas eu ainda não tive coragem de sair
daqui. Não quero correr o risco de estar

longe caso algo de pior aconteça.

Recosto minha cabeça contra a parede e


encaro a porta de entrada se abrir. Minha
mãe passa por ela, acompanhada de Emily.
As duas carregam expressões aflitas e isso

me deixa ainda pior.

— Evan! — minha mãe chora. — Eu não


sei o que fazer. Eu estou tão...

— Tudo bem — tento tranquilizá-la. —

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Está tudo bem, mãe. O pior já passou.

A verdade é que talvez eu também


queira, muito mais que ela, acreditar nas
minhas próprias palavras de conforto.

Não demora muito para que o médico


apareça no corredor.

— Evan Prescott? — ele chama. — O


seu pai gostaria de falar com você.

Aflito durante todo o curto caminho que


me mantém distante do meu pai, eu entro no
quarto e sigo até ele.

— Ei, garoto — ele diz, dando tapinhas

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em uma poltrona ao lado de sua cama. —

Sente-se aqui.

Eu faço o que pede e me sento ao seu


lado.

— Felton — falo, um pouco trêmulo. —


Você me assustou.

— Eu sou bom em fazer isso, hein?

A pitada de amargura em seu tom de voz

não me passa despercebido.

— Eu... eu sinto muito — falo. — Sinto


muito por tudo o que lhe disse antes. Foi da
boca pra fora.

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Ele sorri fracamente.

— Eu acho que mereci, de qualquer


maneira. Sou um péssimo pai.

Eu não digo nada. Não há o que


contestar a respeito disso.

— A verdade, Evan, é que não há


palavras para expressar o quanto o seu pai
errou — ele continua. — Da mesma maneira

que não há palavras para dizer o quanto eu


estou arrependido.

Eu tento abrir a boca para dizer algo,


mas ele ergue a mão, então eu me calo.

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— Posso não ser um político honesto,

um marido fiel ou um pai amoroso — diz. —


Mas, acredite você ou não, de todos os erros
que cometi, esse foi o único que eu fiz

pensando no seu bem e no seu futuro.

— Pode ser um pouco louco, mas acho


que entendo você. E eu o perdoo por tudo
isso, Felton — digo. — Só não entendo por
que me escondeu sobre sua doença. Por que

não disse que tinha um sério problema no


coração?

— Oh, isso? — dá de ombros, mas eu


percebo quão fraco ele está agora. — Não é

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nada.

— Como pode dizer que não é nada? Seu


problema é grave, Felton. Você pode até...

— Morrer, eu sei — fala. — E eu não


tenho medo de que isso aconteça. Quero
apenas consertar meus erros, ver minha
família feliz e, quem sabe, aceitar o meu
destino em paz.

— Do que está falando? Você não pode


agir assim. Tem que existir ao menos um
tratamento, nós podemos...

— Evan, os riscos de uma cirurgia são

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enormes — me corta. — E acredite em mim


quando eu lhe digo que não estou
preocupado com isso. — Ele sorri. — Eu
tenho uma esposa tão boa que às vezes

acredito que ela não me mereça, uma neta


que eu amo e um filho incrível... Quero que
você seja feliz, Evan. Fazendo aquilo que
mais gosta. Óbvio que isso vai me deixar de
cabelos brancos, afinal eu estava planejando
deixar você na direção dos negócios antes de

morrer, mas eu ainda prefiro que você


escolha ser feliz. Estarei bem só em ver você
fazendo isso.

Eu respiro fundo, esperando que consiga


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encontrar palavras agora. As lágrimas estão


presas em meus olhos.

— E se você não conseguir ver tudo isso


por conta da sua teimosia?

— Então, significa que eu não fui


merecedor de tal bênção — fala. — Mas eu
tenho certeza de que você irá brilhar, onde
quer que vá ou seja lá o que faça. Você é
incrível, e eu acredito no seu potencial.

Eu limpo uma lágrima, segurando sua


mão fraca. Merda, Felton!

— Obrigado, pai — digo. — Eu... eu te

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amo.

Ele sorri fracamente.

— Eu também, garoto — murmura. —

Eu também.

— Eu vou fazer isso — digo. — Serei


feliz. E... quando isso acontecer, eu tenho
certeza de que você ainda estará aqui para
ver.

— Bem, então comece desde já a seguir


seu sonho. Mas só peço que faça isso de
forma consciente. Que faça tendo a certeza
de que é o que você quer.

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— Eu vou fazer.

E então eu dou um abraço nele. O abraço


mais sincero que eu já lhe dei.

Só espero que não seja o último.

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— Então as coisas estão finalmente

acertadas agora? — pergunto a Evan. Suas


mãos passeiam sobre a minha cintura e ele
se vira em minha direção para plantar um

beijo na minha boca.

— Quase — diz. — Meu pai ainda tem


que se explicar por ter acobertado um
criminoso, mas como ele está doente e tem o
apoio de uma grande quantidade de

policiais, vai conseguir sair ileso.

Eu percebo o semblante triste de Evan


ao falar sobre o pai e isso aperta o meu
coração. Já faz algumas semanas desde que

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Felton saiu do hospital, mas Evan se


preocupa a cada minuto com o estado de
saúde dele.

— Não fique tão tenso — eu falo. —

Tudo finalmente está se alinhando, Evan.


Seu pai está se tornando um homem melhor
e ainda terá muitos anos pela frente. Você
vai ver.

— Você tem razão — fala. — Eu devo

ficar feliz com o progresso, em vez de me


martirizar com o inevitável, não é?

— Claro. Veja só a sua mãe. Estava tão


preocupado com seus problemas

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psicológicos no começo, e agora ela foi a


primeira a buscar ajuda profissional, não é?
Depois de Paige ela vem se esforçando para
ser uma avó melhor a cada dia. Tenho

certeza de que Felton irá fazer o mesmo.

— Paige é uma bênção para minha


família — sorri. — E você é uma bênção pra
mim.

Ele me beija e não demora muito para

que estejamos ambos nus, nossos corpos


colados enquanto fazemos amor sobre o
pequeno colchonete estendido no chão da
nossa casa na árvore.

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Deito a cabeça em seu peito, sentindo

uma paz me consumir. Até que sua voz me


tira de meus pensamentos:

— Rose?

— O que?

— Eu preciso lhe mostrar algo.

Suspiro.

— E o que é?

Ele se senta, me incitando a fazer o


mesmo, de frente para ele. Me entrega um
papel e quando eu baixo o olhar para
analisar, só vejo um panfleto.
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— O que é isso?

— Uma escola de artes em Milão —


responde. — Eles ficaram sabendo sobre
Lótus recentemente e entraram em contato

comigo ontem — suspira. — Ganhei uma


bolsa de estudos para me especializar na
Europa.

Eu não consigo conter a euforia. Lótus


alcançou o mundo inteiro, e isso me deixa

muito orgulhosa dele.

— Isso é o máximo, Ev! — eu o abraço.


— Por quanto tempo vai ter que ficar por lá?

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Seu sorriso murcha.

— Essa é a parte complicada. A bolsa é


de dois anos. Mas vou ter que passar uns
quatro anos fora, caso eu queira construir

realmente uma carreira como artista.

Isso faz meu sorriso desaparecer


também.

— Uau... é muito tempo.

— Sim, é — fala. — Não vai ser fácil


ficar longe de você.

— Não vai mesmo.

— Então, sabe... — ele limpa a garganta


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e começa a desviar o olhar, aparentemente

constrangido. — E é por isso que eu gostaria


de... perguntar se você aceita morar comigo.

Eu congelo.

— O que?

— Você gostaria de ir para a Itália


comigo, Rose? — repete. — Eu não estou
pedindo para que nos casemos. Você pode

ter seu próprio apartamento se achar que


morar comigo é demais pra você. Eu só
quero ter você por perto.

De repente eu sinto como se meu mundo

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fosse ruir. Fico triste, feliz e nervosa em


questão de segundos.

— Eu... eu não sei, nós... nossa! Isso foi


inesperado.

— Sim, claro — diz, dando uma


risadinha nervosa. — Não quero pressionar
você. Também não quero que pense que
ficarei bravo caso recuse. Tudo aconteceu
rápido demais, e eu também estou confuso,

portanto estou tentando encontrar meios de


fazer isso dar certo para nós dois. Sem que
precisemos fazer coisas das quais não temos
vontade.

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Eu inspiro, coçando a minha testa, sem

saber ao certo o que fazer ou dizer. Evan me


pegou de surpresa, mas não somente pelo
fato de ter me dito que está considerando ir

embora e que, de quebra, deseja que eu vá


com ele. Fui pega desprevenida porque eu
também tenho algo para lhe contar. Algo que
ainda não contei por não saber ao certo
como tocar no assunto.

— Eu entendo, de verdade, o que você


quer dizer, mas... é complicado.

— Eu sei que é, Rose, mas podemos


tentar fazer funcionar.

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— Não é tão fácil, Ev — digo. — Eu

também tenho algo para lhe contar.

Sua testa se enruga.

— O que seria?

Respiro fundo e decido dizer de uma vez


por todas:

— Diante de tudo o que aconteceu nos


últimos dias, eu não tive cabeça para lhe

falar, mas... o noivo da minha mãe conhece


pessoas influentes na Austrália que estão
dispostas a me ajudar. — E sem enrolações,
eu conto a ele toda a conversa que tive com

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a minha mãe e as oportunidades que terei se


finalmente viajar. — É uma oportunidade
única, afinal eu sei o quanto é complicado
para iniciantes terem um emprego garantido

em uma empresa tão grande. Mas... eu não


quero ter que escolher entre o meu futuro
profissional e você. Eu gostaria de ter os
dois. Mas depois disso... — aponto para o
panfleto. — Eu confesso que estou assustada
pra caramba.

Eu imaginei que ele fosse surtar quando


eu finalmente contasse tudo a ele, mas Evan
simplesmente me lança um olhar
compreensivo e beija o dorso da minha mão.
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— Por que isso a assusta?

— Não é óbvio? — eu digo. — Eu estou


indo para a Austrália e você está indo para
outro continente. Teríamos que abandonar

um ao outro. A gente se separaria e tudo


desandaria.

Ele sorri fracamente.

— Olha, não é tão ruim quanto parece.

— Não é? — estou começando a ficar


chocada com ele. Como Evan consegue agir
tão calmamente em uma situação dessas,
enquanto eu fico uma pilha de nervos

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somente em imaginar que teremos que nos


separar?

— Ouça, Rose... eu iria pra Austrália


com você, se fosse possível — murmura. —

Mas, da mesma maneira que eu não acho


justo fazer você abrir mão do seu sonho para
me seguir, eu não acho que seja a melhor
decisão eu abrir mão dessa oportunidade
única e partir para a Austrália.

Eu baixo a cabeça, sem palavras para


argumentar isso. Evan tem razão, por mais
que essa verdade seja dolorosa.

— Por favor, não me interprete mal ou

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ache que estou sendo egoísta — ele


continua. — É por amar você e por me
preocupar com a sua felicidade que eu quero
que consiga obter o melhor na sua vida.

Você me entende?

Mesmo triste, sacudo a cabeça


positivamente. Eu compreendo. Compreendo
e o admiro ainda mais por isso.

— Isso quer dizer que vamos seguir

caminhos diferentes? — murmuro com voz


trêmula. — Que vamos ter que terminar e
seguir nossas carreiras?

Ele acaricia minha bochecha e me faz

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olhá-lo nos olhos.

— Não, Rose, não significa isso.

— Então o quê?

Evan aproxima seu rosto do meu e dá um


beijo rápido em meus lábios antes de
recostar sua testa na minha. Seus dedos
voltam a acariciar suavemente meu rosto, a
mão parando na minha nuca, mantendo-me

firme a ele.

— Eu estou arriscando tudo para seguir


meu sonho. Vou abandonar Dartmouth para
estudar em outro país. Irei ficar longe da

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minha família e amigos, mas eu jamais


abriria mão de você. Só que não abrir mão
não significa que precisemos ficar atados um
ao outro. Nós podemos seguir caminhos

diferentes, construir nossas carreiras... e


continuar juntos — Estou prestes a pedir
para que ele me explique melhor essa
história, quando conclui: — Podemos
namorar a distância.

Eu pestanejo algumas vezes.

— O que?

— Você sabe... webnamoro, por telefone


ou coisas do tipo — explica. — Pode não dar

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certo com todo mundo, mas poderia dar


certo entre a gente. Depois que eu
terminasse meu curso, eu poderia ir para a
Austrália, ou para A Ucrânia, ou para

Marte... não importa aonde você esteja. Eu


sempre estaria lá por você.

Meu coração está tão acelerado que eu


tenho receio de passar mal a qualquer
momento.

— Está falando sério?

— Eu nunca falei tão sério em toda


minha vida — responde. — Menos no dia em
que eu disse que te amava. Eu falei sério pra

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caramba ali.

Acabo dando risada.

— Webnamoro, hein? — eu falo,

sentindo a palavra soar estranha contra


minha língua, mas começando a achar
interessante. — Por acaso eu teria que
procurar por você no Tinder?

— Talvez — ele fala, sorrindo. — Isso

soa quente. Você já fez sexo por telefone?


Poderíamos tent...

— Ev! — eu tapo a sua boca com a


minha mão e ele dá uma gargalhada.

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O som da sua risada, juntamente com o

fato de que estamos sendo capazes de apoiar


um ao outro, contribuem para que toda
tristeza e a angústia que eu estava sentindo

antes se afastem de mim.

Eu imaginei que fosse ser difícil e triste,


mas podemos fazer isso ser legal. Afinal,
estamos seguindo em direção a um futuro
feliz, não há porquê lidarmos com a situação

como se estivéssemos prestes a ir direto para


o sacrifício.

Podemos fazer dar certo.

É isso.

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Vai dar certo.

Quatro semanas depois, Evan embarcou


em um avião para a Itália, enquanto eu
preparava as minhas malas para poder ir

embora para a Austrália com a minha mãe e


Jared.

Houve lágrimas de Tate e muitos


p a l a v r õ e s amigáveis de Maven, mas não
houve despedidas entre nós.

Foi uma decisão tomada por nós dois.


Não haveria necessidade de nos
despedirmos, porque despedidas são tristes,
e nós não queríamos que a nossa separação

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física significasse algo triste e doloroso.


Queríamos que fosse algo bonito, o
significado do amor e preocupação que
sentíamos um pelo outro. A prova de que

nem sempre é preciso abrir mão de algo


importante para obter outra coisa importante
na vida. Sempre estaríamos juntos,
independentemente do tempo que se
passasse, e independentemente da distância.

No entanto, no dia seguinte à sua


partida, fui surpreendida. Já era de se
imaginar que Evan aprontaria alguma. Eu
que fui boba em não me dar conta disso
antes.
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O desenho de um girassol gigante

enfeitava o muro em frente à minha casa. A


tinta representando lindas pétalas que se
atraíam pelo brilho do Sol no topo

arrancaram o ar dos meus pulmões.

Não consegui conter a emoção e acabei


desabando de joelhos sobre o carpete na
varanda da minha casa.

E então comecei a ler a mensagem ao

lado do desenho, cada palavra me fazendo


ter certeza de que eu esperaria por ele
durante a minha vida inteira, se preciso
fosse:

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“Sempre que se sentir triste, lembre-se

de que você é a luz da estrela mais


importante que existe no universo.

Saiba que em algum lugar tem um cara

que é louco por você e que torce pelo seu


sucesso.

Portanto, brilhe.

Faça isso por mim.

Faça isso por Bree.

Faça isso por si mesma.

Voe alto, Luz do Sol... e brilhe.”

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Após minutos relendo as palavras

infinitas vezes, passei a mão sobre meu


rosto para limpar as lágrimas que escorreram
sem que eu percebesse. Levantei-me do chão

e também limpei os meus joelhos.

Virei-me de volta para casa e respirei


fundo antes de subir as escadas e dizer para
a minha mãe que eu, finalmente, estava
pronta para enfrentar aquela nova fase da

minha vida.

Voltei a pensar em Evan.

Pensei em Brianna.

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Então eu sorri largamente.

Eu brilharia.

Por ele. Por Bree. Por mim mesma.

Pelo futuro que nos aguardava.

Eu brilharia.

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4 anos depois...

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Estaciono o carro e irrompo para o lado


de fora, lutando contra as enterradas que os
saltos dos meus sapatos insistem em dar

entre os vãos dos paralelepípedos. Ainda não


me acostumei com essas coisas, mas a minha
mãe diz que a melhor maneira de testar a
resistência de uma mulher é colocando-a em
cima de um salto de quinze centímetros e

deixando-a lidar o dia inteiro com ele. Isso


pode soar um pouco estranho e sem sentido
vindo dela, mas a verdade é que eu não me
importo com estranhezas ou resistências. O
sapato é bonito e eu quero estar em meu
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melhor momento hoje.

Pego a mina bolsa e respiro fundo antes


de passar a mão sobre meu longo cabelo
solto e ajeitar o amarrotado invisível do

vestido com estampa floral. Ele me deixa


cinco anos mais nova, mas eu não me
importo com isso, na verdade. Há alguém
que ama quando eu uso vestidos coloridos, e
eu decidi agradá-lo hoje.

Ativo o alarme do meu carro, feliz por


finalmente poder dirigir novamente sem
surtar ou achar que vou atropelar alguém a
qualquer momento. Foi um caminho longo

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de terapia até aqui, mas finalmente agora eu


me sinto uma garota normal, que faz coisas
normais e não precisa se preocupar com
traumas do passado.

O local está cheio. Ando pela multidão,


meus olhos ávidos nas pessoas que me
cercam, em busca de alguém em específico.

Meu telefone toca, tirando meu foco. Eu


atendo.

— Você não está com aquele vestido


amarelo com estampa de flores que me
mostrou em nossa última chamada no Skype,
está? — a voz de Tate soa do outro lado da

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linha e eu seguro uma risada. Algumas


coisas não mudam com o tempo. — Você
sabe, Rose, ele não tem um decote muito
favorável e você tem uns peitos lindos.

Sério, são muito lindos. Não esconda isso.

— Tate — eu digo —, pare com o seu


lesbianismo. Estou prestes a me encontrar
com um cara que provavelmente vai amar os
meus peitos nesse vestido, então não precisa

se preocupar com isso, ok?

Ela resmunga algo sobre eu não tornar


isso embaraçoso e eu apenas me despeço,
desligando o telefone logo em seguida. Tem

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sido difícil ficar longe da minha melhor


amiga durante quatro anos, mas nós
conversamos quase toda semana no Skype,
ou ao menos sempre que estamos disponíveis

para atendermos uma a outra.

Volto para minha busca, nervosa, e não


demora muito para que eu o aviste. Ele está
de costas para mim, usando jeans e uma
camisa preta de mangas compridas. Meus

olhos inevitavelmente caem para sua bunda


bonita e eu me sinto uma garota muito
sortuda por ter a chance de transar com esse
cara hoje.

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Respiro fundo e me aproximo. Tento

controlar o nervosismo da minha voz quando


chego bem perto do seu ouvido e o abordo:

— Sabe, eu tenho uma queda por caras

tatuados. Não acho que tenha sido um bom


negócio você esconder as suas.

Ele se vira e finalmente me fita. Uma


sombra de barba cobre o seu rosto
incrivelmente bonito, fazendo-me ficar

olhando para ele por mais tempo do que eu


deveria.

Então ele sorri e meu estômago se


aperta.

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— Me lembre de tirar a camisa pra você

quando estivermos a sós.

Isso envia uma onda de calor pelo meu


corpo, concentrando-se nas minhas

bochechas que eu tenho certeza de que estão


vermelhas agora.

— Talvez eu queira que você tire muito


mais que isso.

Ele volta a sorrir e se aproxima até que


seu peito esteja colado no meu. Uma mão
vai para a minha cintura enquanto a outra
ousadamente passeia sobre as minhas costas.

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Envolvo meus braços ao seu redor e

tento não me derreter com esse mínimo


contato, mas é praticamente impossível. Tem
sido um tempo longo desde a última vez.

— Luz do Sol — murmura contra meu


ouvido. — Você demorou tanto que pensei
que não viesse.

— E perder a primeira exposição que


meu namorado faz na Austrália? — replico.

— Está de brincadeira?

Ele me dá um beijo longo e me encara


nos olhos.

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— Eu sei que você jamais perderia isso

— diz. — Mas, de qualquer forma, eu ainda


me sinto meio inseguro todas as vezes.
Minha família foram os únicos conhecidos

que puderam ir nas minhas últimas


exposições. Queria você lá também.

— Eu sei, mas você sabe como vem


sendo puxado o meu trabalho, não é? —
sorrio. — Estou prestes a ganhar uma

promoção. Preciso me empenhar ao máximo.

— Estou orgulhoso de você — fala. —


Muito orgulhoso.

— Eu também, Ev — digo. — Mas me

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diga... como está sua família?

— Estão bem — diz. — Depois que meu


pai vendeu a rede de hotéis, ele decidiu tirar
os dias para descansar e curtir a Paige. Ela

está incrível. Acho que meu pai descobriu


que a sua verdadeira vocação é ser avô
babão.

Sorrio, feliz de verdade por ele. Já faz


quase três anos que os pais de Evan se

divorciaram. Lauren resolveu seguir o


próprio caminho criando uma ONG de apoio
a mulheres vítimas de relacionamentos
abusivos. Evan me disse que ela se recusa a

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tentar um novo relacionamento, mas está


feliz e realizada com a escolha que fez. Sei
que ela e Felton mantêm uma relação
saudável, como amigos. Estão felizes e isso

é o que importa.

— Isso é tão clichê que até parece o


final de um livro de romance — eu brinco.

Ele dá uma risada, arqueando uma


sobrancelha em diversão.

— Está falando sério? E como se


chamaria esse livro?

Estreito os olhos, pensativa, e em

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seguida me estico para roubar um selinho


dele.

— Sobre Bad Boys... — roubo outro


beijo — e Flores.

Evan sorri e, dessa vez, ao se inclinar


em minha direção, quem rouba um beijo meu
é ele.

Eu senti falta dessa nossa interação.

Senti falta de sentir o contato dele e de fazer


brincadeiras bobas de namorados. Tento não
pensar no fato de que daqui a alguns dias ele
estará voando para algum outro lugar
novamente e eu ficarei aqui, sentindo

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saudade.

Essa é uma das poucas vezes que temos


tempo para nos vermos. Ele tem trabalhado
muito e eu tenho estado mais que ocupada

com meus estudos e o trabalho. Está sendo


um pouco difícil conciliar o nosso
relacionamento com as responsabilidades,
mas aproveitamos momentos como esses,
quando ele finalmente pode vir até mim,

para fazermos com que isso dê certo.

Olho para a grande quantidade de


pessoas ao redor. A fama de Lótus se
espalhou pelo mundo em tão pouco tempo

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que até mesmo nas colunas sociais, as


pessoas ainda comentavam sobre qual seria o
segredo para um rapaz na casa dos vinte
anos ser tão famoso assim. Mas eu tenho

certeza de que Evan já estava destinado a


isso muito antes de sequer compreender o
potencial que tinha.

No dia em que disse que eu brilharia, ele


mal sabia que estava pronto para brilhar

também.

Ano passado eu fiz uma matéria para o


meu trabalho sobre como a arte de rua
contemporânea influenciava no nosso meio,

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e citar Lótus e o trabalho dele foi como abrir


o meu coração para demonstrar o quanto eu
estava orgulhosa dele. Tudo foi feito da
maneira mais profissional possível, claro,

mas meu lado namorada-barra-fã número


u m sentiu como se houvesse ganhado um
prêmio na loteria.

Hoje, por exemplo, estou comendo com


os olhos as fotografias de pinturas gravadas

em muros de diversas cidades do mundo e


meu peito se enche de orgulho. Há pinturas
da França, Inglaterra, e até mesmo no
continente asiático, como no Japão e Índia.
As diversas mensagens de apoio, junto com
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as flores coloridas são sua marca registrada.

— E então... — indago. — Qual vai ser


o próximo destino?

— Brisbane.

Eu paro imediatamente, surpreendendo-


me com o que acabo de ouvir.

— Mas... isso é aqui na Austrália —


digo. — É um sinal de que você vai ficar por

mais tempo dessa vez?

— Sim — ele sorri. — Ficarei por mais


tempo.

— Uau, Ev, isso é incrível! De quanto


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tempo estamos falando?

Dá de ombros.

— Muito tempo.

— Muito?

— Sim — confirma. — Preciso ir em


Brisbane para resolver os últimos detalhes
sobre a compra de uma tal galeria, sabe? O
antigo dono vive por lá agora.

— Eu... eu não sei se estou entendendo.


Nova galeria?

— Rose — ele sorri, apontando com a


cabeça para a galeria repleta de gente. —
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Esse lugar é meu agora.

— Oh, meu Deus... Isso quer dizer que...

— Que eu vou trabalhar e morar em

Sydney a partir de agora.

Meu coração erra uma batida.

— Evan... você não está brincando, não


é? Eu não vou suportar se você estiver
brincando comigo.

— Eu não estou brincando — diz. — Eu


até recebi uma oferta de emprego para dar
aula. Aceitei, claro. Além disso, comprei um
apartamento. E eu pretendo pedir alguém em

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casamento. Mas claro, ela não sabe disso, e

eu vou esperar mais alguns meses até que


estejamos estabilizados.

Eu ainda estou piscando feito uma idiota

quando ele puxa algo do bolso e me estende.

É um chaveiro.

Oh, merda. É um chaveiro c o m uma


chave.

— Mas ela poderá ter uma cópia da


chave se quiser — diz, divertindo-se com a
minha cara de pateta. — E, também, poderá
passar os seus dias e noites por lá... apenas

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para me ajudar a decidir se o apartamento é


realmente confortável, é claro — ele finge
indiferença. — Não estou a convidando para
morar comigo.

Eu não consigo conter o sorriso


gigantesco que se estende em meu rosto. Ele
está, sim. E eu estou mais que disposta a
aceitar.

— Talvez essa garota queira ser

convidada para morar com você — murmuro,


sem conter minha felicidade. — É o que ela
mais deseja agora.

Ele me puxa contra si e me dá outro

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beijo longo antes de segurar a minha mão,


muito satisfeito, e se encarrega de me
mostrar todo o restante sobre sua exposição
ao ar livre. Eu fico admirada com cada

retrato, cada desenho e cada paisagem ao


redor deles.

É tudo incrível.

Paro imediatamente ao ver a fotografia


de uma pintura em particular. Na imagem, a

localização está marcada como San


Francisco – Califórnia, mas eu não
precisaria disso para saber de onde se trata.

— E... essa pintura?

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— Oh, essa? — ele se prostra ao meu

lado e põe as mãos nos bolsos. — É a minha


predileta.

Continuo a encarar a imagem e tento não

surtar. Ela é diferente das outras, e por


inúmeros fatores. A imagem não
está pintada em um muro, como a maioria,
mas sim em uma pedra gigantesca na praia.
A praia que visitamos quando fomos a San

Francisco. A pedra na qual nos recostamos


para realizar mais um de meus muitos
desejos.

O desenho do jovem casal sentado na

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areia da praia, de costas, enquanto observa o


nascer do sol, retrata um dos momentos mais
especiais da minha vida.

— Você esteve mesmo em San Francisco

para desenhar isso?

— O que posso fazer? Minhas melhores


lembranças são daquele lugar. — Ele vem
até minhas costas e me abraça por trás.
Murmura contra meu ouvido: — É sobre uma

menina muito especial, então valeu a pena.

Eu mordo o lábio inferior, prendendo as


lágrimas. Sorrio amplamente e viro o rosto
para encará-lo.

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— Poderia me falar um pouco mais

sobre essa menina?

Ele sorri de volta e então me vira para


que eu possa fitá-lo de frente.

— Eu passaria mil anos retratando as


suas qualidades e o que me fez me apaixonar
por ela, mas não acho que tenhamos tempo
suficiente para isso. — Enfia as mãos em
meus cabelos longos antes de segurar em

meus ombros e me olhar nos olhos. — Mas


eu posso dizer que... de todas as garotas que
eu tive, essa garota é a única capaz de
preencher meu coração com uma felicidade

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tão absurda a ponto de me fazer flutuar e


explodir em milhares de pedaços e em
centenas de direções.

E então eu choro. Não é um choro

compulsivo ou algo constrangedor. São


apenas lágrimas de felicidade inundando o
meu rosto. Evan foi a coisa mais incrível
que me aconteceu, ele vem provando isso a
cada dia.

Me aperto contra ele e o beijo.

— Eu senti sua falta, Ev.

— Também senti sua falta, Luz do Sol.

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Sinto sua testa descansar na minha e

fecho os olhos, meu peito tão inundado com


felicidade que, de fato, eu imagino que estou
flutuando, a ponto de explodir.

Ele disse que daria certo, e finalmente


deu.

E essa é a maior prova de que nossa


história foi feita para durar para sempre.

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AGRADECIMENTOS
Caro leitor, se você chegou até aqui sem
pensar em desistir do livro, esse é um sinal
de que cumpri com a minha missão de
entretê-lo. Mas, além disso, eu espero ter
cumprido com a missão de fazê-lo se
apaixonar por Sobre Bad Boys & Flores e
por seus personagens, da mesma maneira
que eu me apaixonei ao escrever sobre eles.
Muito obrigada aos leitores fiéis do
Wattpad, que nunca me abandonam e sempre
estão dispostos a me ouvir e compreender
minhas dificuldades.
Obrigada a todos que disponibilizaram
um pouquinho do seu tempo para se dedicar
à leitura deste livro.
Um obrigada à minha mãe, que sempre
me apoiou e sempre acreditou em mim.
Um obrigada especial à Chely
(@ZoyaKroon), por ter abraçado Evan e
Rose com tanto carinho e me surpreendido
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ao criar uma fan account de Sobre Bad Boys


& Flores no Twitter (acesse aqui).
Por fim, um obrigada a todos que se
identificaram, se emocionaram e se sentiram
reconfortados depois dessa experiência. É
muito importante, para mim, saber que fui
capaz de mandar uma mensagem de apoio e
conforto para todos aqueles que sofrem com
certos problemas, da maneira que mais amo
fazer, que é por meio da escrita.

Se estiver precisando de ajuda, saiba que


você não está só.

Acesse o site do CVV (Centro de


Valorização da Vida) ou ligue para o número
188 e converse com pessoas dispostas a lhe
ouvir e compreender.
CVV _ Centro de Valorização da
Vida.html

VOCÊ INSPIRA O LÓTUS

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P L AY L I S T
1. Roslyn – Bon Iver
2. Saturn – Sleeping At Last
3. Dressed In Black – Sia
4. Sunshine – Matisyahu
5. San Francisco – Scott McKenzie
6. We Are Young – Fun. feat. Janelle Monáe
7. Brother – Kodaline
8. Paint Me Black – Ben Hazlewood feat. Mali-Koa
Hood
9. Big Jet Plane – Angus & Julia Stone
10. Linger – The Cranbierries
11. My Girl – The Temptations
12. Here With You – Lost Frequencies
13. Breathe Me – Sia
14. Friend, Please – Twenty One Pilots
15. True Colors – Cyndi Lauper
16. If Words Had Power – Loud Forest
17. Running With The Wolves – AURORA
18. Scars To Your Beautiful – Alessia Cara
19. Imagine – John Lennon
20. Like a Stone – Audioslave

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…E MUITO MAIS!
Acesse aqui a playlist completa:
Spotify Web Player - SOBRE BAD BOYS E FLORES -
Liz - 22kpjvncg4vwbj45ujeusn3zq

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SOBRE A
AUTORA
Liz Lume (inicialmente, Liz Spencer) é o
pseudônimo de uma autora que nasceu no
ano de 1995, em Ilhéus – BA, e atualmente
reside no estado do Rio de Janeiro.
Fascinada por livros, descobriu desde
cedo um amor imensurável pelo ato de
contar histórias. E foi assim que surgiu a
necessidade de dar voz aos seus
personagens, quando começou, em 2015, a
publicar de forma gratuita e online suas
obras literárias.
Hoje, Liz é autora dos gêneros Dark
Romance e New Adult, viciada em Twitter e
Wattpad, onde ainda compartilha suas
criações com milhares de leitores por quem
é apaixonada.
É louca pelo frio e ama programas
caseiros. Totalmente a favor dos bad boys
literários e finais felizes.
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L E I A TA M B É M

SÉRIE QUEBRANDO REGRAS

BROKEN

WILD

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