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Ódio à Primeira Vista

por Diana Nixon


Ódio à Primeira Vista
(Sinopse)
Cada dia da vida de Megan era cuidadosamente planejado. A
liberdade e a independência tinham sido suas amigas por anos. Até
que certo dia, ela encontrou Aiden, cujas prioridades eram muito
parecidas com as dela...
O que acontece quando a atração vence?
O que acontece quando polos diferentes se tornam iguais?
O que acontece quando as chamas da paixão queimam tudo
no caminho?
Ainda existe alguma chance de resistir ao poder do
magnetismo?
As paredes da inacessibilidade desmoronarão. Tudo que ela
pensou ser inaceitável, ele transformará em puro prazer...
Mergulhe no mundo de Ódio à Primeira Vista para saber se o
ódio pode se tornar algo completamente diferente...
Copyright © 2013 por Diana Nixon
Todos os direitos reservados

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detentor do copyright.
Os personagens e eventos retratados neste livro são fictícios.
Qualquer similaridade a pessoas reais é mera coincidência e não foi
intenção da autora.

Design de Capa por Amina Black


Capítulo 1
Megan
Lar, doce lar…
Sim, esta será uma semana longa, pensei comigo mesma ao
abrir a porta da casa de meus pais. Eu não tinha estado naquele
lugar há cinco anos e se não fosse pelo casamento de meu irmão,
eu duvidava que teria ido tão cedo.
Da última vez que estive em Axbridge, no Sudoeste da
Inglaterra, eu estava me formando no ensino médio, sonhando com
meu futuro de conto de fadas e completamente apaixonada por um
dos meus colegas de classe. Bem, felizmente, minha vida atual não
era tão patética. Eu era aluna da London School of Economics,
onde estudava economia, e definitivamente não estava apaixonada
por ninguém.
Eu não tinha tempo para namorados e com certeza não iria
deixar que um daqueles babacas que minhas amigas geralmente
namoravam arruinasse minha vida. Eu odiava casamentos e tudo
que me lembrasse do quão facilmente o ato de se apaixonar era
capaz de destruir tudo com o que eu sempre sonhei.
Eu sabia que a maioria das pessoas não compartilhava o meu
ponto de vista. Incluindo minha família, que tinha certeza de que já
que eu estava no início dos meus vinte-e-poucos-anos, eu precisava
pensar sobre marido e filhos.
É por isso que eu não queria ir ao casamento de Owen. Eu
sabia que os membros da minha família fariam o possível para me
enlouquecerem, me perguntando incansavelmente sobre minha vida
pessoal, ou para ser mais exata — sobre a ausência dela. Mas eu
amava muito meu irmão para chateá-lo em um dia tão importante de
sua vida.
Então aqui estou eu, de pé no saguão com uma mala em
cada mão; nosso cachorro lambendo meus sapatos de camurça.
Ótimo... aparentemente, ninguém nesta casa esperava me
ver tão cedo.
— Mãe? Pai? Tem alguém em casa?
Deixei minhas malas de lado e dei tapinhas em Ginger (um
apelido atribuído a ruivos), nossa velha rottweiler. Quem inventou
um nome tão estúpido para ela? Eu não fazia ideia. O pelo do cão
era negro e eu tinha certeza de que a existência de alguns poucos
pelos acobreados em seu corpo não eram suficientes para chamá-la
de Ginger. Obviamente, alguns membros da minha família tinham
um senso de humor estranho.
— Alguém quer me dar um abraço?
Espiei a sala de jantar e a cozinha, mas não havia ninguém.
— Eu a abraçaria com prazer, querida — disse a voz atrás de
mim.
Eu me virei, franzindo a testa.
— Ah, é mesmo? Bem, é uma pena que eu não abrace
estranhos.
Cruzei meus braços, lançando ao cara um dos olhares mais
malignos do qual eu era capaz. Ele sorriu para a minha expressão e
eu me inclinei preguiçosamente contra o caixilho da porta.
— Você deve ser Megan. A irmã famosa, que foge.
Ah, sim. E quem diabos é você, sabichão?
— Me desculpe, não entendi seu nome — eu disse em voz
alta. Eu geralmente não era muito agressiva com estranhos, mas
fosse quem fosse a pessoa com a qual eu estava conversando, ele
estava testando minha paciência.
— Erro meu — ele disse, esticando a mão. — Aiden Murphy.
— Prazer em conhecê-lo — eu disse, ignorando a mão. —
Então, Sr. Murphy, você poderia fazer a gentileza de explicar sua
presença aqui? Eu acho que perdi a parte em que meus pais
adotaram uma criança ou algo do tipo.
Os cantos dos lábios da minha companhia se curvaram
sarcasticamente.
— Estou certo de que você nunca teria perdido um
acontecimento tão grande — ele disse, a malícia dançando em seus
olhos. O cara estava obviamente apreciando aquele momento. — E
eu fico muito feliz em não ser seu parente, Megan.
Ergui minhas sobrancelhas, surpresa. Como eu deveria reagir
à indelicadeza dele?
— Ser irmão de uma criatura tão charmosa seria uma perda
de meu tempo.
Você tem que ter muita coragem, eu pensei, encarando-o.
Aiden deu alguns passos à frente e parou de frente para mim.
— E sim, esses lábios são deliciosos demais para beijos de
irmão — ele acrescentou em um murmuro, seus olhos brilhando
divertidamente.
Eu tinha certeza de que minhas bochechas tinham se tornado
vermelhas e eu queria desesperadamente dar um tapa no rosto
daquele babaca, mas estava chocada demais para me mover.
Finalmente, eu me virei sobre os calcanhares e rumei para fora da
sala, sem me preocupar em saber quem aquele cara realmente era
e o que ele estava fazendo em minha casa. O eco de sua risada me
seguiu até o que costumava ser meu antigo quarto. Eu abri a porta e
a bati com força atrás de mim, esperando que fosse alto o suficiente
para refletir o quão irritada eu estava. O pobre homem não fazia
ideia de como eu poderia ficar quando alguém me irritava. Não que
eu me tornasse uma serial killer, mas eu sabia colocar as pessoas
em seus devidos lugares.
Era melhor que ele ficasse fora do meu caminho.
E assim meu primeiro dia em casa se iniciou. Eu esperei
cerca de meia hora para descer as escadas e pegar minhas malas.
Felizmente, o Sr. Lindo-e-Imprudente não estava por lá. Eu acabei
de chamá-lo de lindo? Bem, sim, eu não era cega, afinal de contas.
Aiden era alto e forte, com uma voz linda de morrer e um sorriso que
prometia muito; ele tinha cabelos escuros e os olhos azuis
acinzentados mais incríveis que eu já tinha visto. Ele era perfeito
para a capa de uma revista e eu tinha certeza de que ele também
sabia disso. Assim como muitos homens como ele. Eu não era
feminista, mas eu odiava caras como Aiden: sexy para caramba,
arrogante e muito autoconfiante. Eles sempre conseguiam o que
queriam e a lista de mulheres que visitavam suas camas era maior
do que a Oxford Street.
Quando eu voltei para o meu quarto, eu desfiz minhas malas,
tomei um banho e estava prestes a me vestir quando a porta se
abriu e os braços calorosos de minha mãe se prenderam ao meu
redor.
— Minha garota! Eu senti tanta saudade de você! — ela disse
animadamente, beijando cada centímetro de meu rosto.
— Também senti saudades de você — eu disse um pouco
menos animada, tentando escapar de seu aperto.
— Como foi seu voo? Eu disse ao seu pai para pegá-la no
aeroporto, mas ele e Owen foram à Igreja para falar com o padre
sobre a cerimônia.
— Sem problemas. O táxi me trouxe até a porta de entrada —
eu disse, esfregando meu rosto para tirar as marcas de batom de
minha mãe. Infelizmente, eu não podia fazer o mesmo com o seu
perfume enjoativo que eu tinha certeza de que estava impregnado
em mim agora. Ugh, eu precisava de outro banho.
— Ah, querida! Eu estou tão feliz de que esteja aqui! — minha
mãe disse, me abraçando outra vez. — Vamos nos divertir tanto!
— Sem dúvidas — murmurei.
— Os eventos começarão na quarta, então você tem alguns
dias para você mesma. Vá ao cabeleireiro, faça as unhas, caminhe
pela praia e se esqueça de economia pelo menos por um instante.
Estamos em maio, então saia! Garotas da sua idade passam tempo
namorando e aproveitando a vida!
Ah, não! Eu gemi mentalmente. Não isso de novo!
— Mãe, por favor, não comece. Eu não sou como a maioria
das garotas da minha idade e você sabe disso. Eu tenho outras
prioridades.
— Como o quê? Perder tempo em números e livros
empoeirados?
— Eu quero me tornar uma especialista financeira! E eu vou
ser uma. E até lá, sim, números e livros empoeirados serão meus
únicos encontros.
— Meu Deus, me ajude! Minha única filha vai me deixar sem
netos.
Por Deus!
— É claro que não! Eu vou ter filhos. Mas não agora. Eu
tenho vinte e dois anos! Eu tenho uma vida inteira para presenteá-la
com netos, mãe. Não sou sua única filha e eu tenho certeza de que
Owen e Mary estão planejando ter filhos também.
— Quem sabe quanto tempo terei de esperar até seu irmão
pensar em ter filhos? Você sabe o quanto ele trabalha? Eu não sei
como ele conseguiu pedi-la em casamento. Ele e Mary não se viam
há meses!
— Ela mora sabe-se-lá-onde e a que distância daqui! E você
conhece os pais dela. Eles nunca a teriam deixado morar com Owen
antes do casamento. A mãe dela quase teve um ataque do coração
quando descobriu que eu estava me mudando para Londres depois
de me formar no ensino médio. Como se eu fosse me tornar uma
stripper, ou coisa pior. — Eu revirei meus olhos.
— Bem, eu não quero julgar ninguém. Tudo que estou
dizendo é que estou preocupada com você e seu irmão. Eu quero
vê-los felizes!
— Eu estou feliz, mãe. Mais feliz do que você imagina.
— Isso significa que você está saindo com alguém?
— Namorar não é a única coisa que deixa uma garota feliz.
— Na sua idade, querida, é o que deixa uma garota feliz.
— Tudo bem, você ganha. Vou considerar a ideia de
encontrar um namorado. Está feliz agora?
— Muito! — Minha mãe sorriu, dando uma palminha. — Terão
muitos garotos legais no casamento. Você poderia...
— Mãe! Eu disse que vou considerar a ideia. Eu não vou me
jogar no primeiro cara que eu vir pela frente!
— Tudo bem, querida. Não vamos mais falar sobre isso. Mas
não se esqueça das minhas palavras. Não importa quantas vezes
você diga que está feliz sem um homem, nenhuma mulher pode ser
verdadeiramente feliz sem um.
Essa é minha mãe. Ela sempre dizia que a felicidade de uma
mulher está nas mãos de um homem. Bem, talvez ela estivesse
certa, eu não sabia. Eu nunca tinha tido um relacionamento sério.
Na verdade, eu pensava que não precisava de uma adição
desnecessária como aquela à minha vida. Pelo menos não agora.
Quando minha mãe finalmente saiu, eu andei até a cama e
me afundei em meus travesseiros, fechando meus olhos. Houve um
tempo em que eu poderia passar horas deitada daquela forma
sonhando com Jeff. Ele era um dos caras mais lindos que eu já
tinha conhecido. Todas as garotas da nossa escola eram loucas por
ele, inclusive eu. Mas Jeff nunca tinha sequer olhado na minha
direção. Ele flertava com minhas amigas, ria e as convidava para
sair. Mas eu estava fora de seu radar. E eu não podia parar de
imaginar o motivo para isso.
No dia do nosso baile, eu finalmente decidi falar com ele.
Quando outra música lenta começou, eu reuni toda a minha
coragem e o convidei para dançar. E para a minha surpresa, ele
concordou. Eu estava chocada demais para falar, então ele falou
primeiro.
— Eu nunca teria imaginado que você me convidaria para
dançar — ele disse, sorrindo.
— Por quê? Você acha que eu não sou boa o suficiente para
dançar com você?
— Na verdade, eu pensei que eu não fosse bom o suficiente
para dançar com você.
— O quê?
— Bem, sim. Você nunca me notou. Você nunca parava para
falar comigo, sempre fugia quando eu tentava dizer ‘oi’. Eu pensei
que você me odiasse, ainda que não soubesse o porquê.
— Pensou que eu o odiasse? Não, eu... — O que eu deveria
dizer? Que eu sempre tinha sido completamente apaixonada por ele
desde a primeira série? Não, eu não iria admitir aquilo. — Eu nunca
o odiei, eu estava ocupada demais estudando.
Ele estava definitivamente errado sobre mim, mas eu não
tentei mudar sua opinião. Em vez disso, eu agradeci pela dança e
saí do salão tentando manter a cabeça erguida.
Mais tarde, naquela mesma noite, eu o ouvi falando com os
amigos.
— Pessoas como Megan sempre conseguem o que quer. Mas
na realidade, elas não são nada sem seus papais e seu dinheiro.
Foi como água gelada que se tornou lágrimas escorrendo
pelas minhas bochechas. Eu corri o mais rápido possível. E quando
parei, eu estava em meu quarto arrumando minhas coisas e saindo
de casa apressadamente.
Eu tinha um primo em Londres, que me ajudou a me
estabelecer na cidade grande. Meus pais me ligaram
constantemente, me pedindo para voltar para casa. Mas eu nunca
voltei... até hoje.
Eu fiz o melhor que pude para provar a todos e a mim mesma
que eu não era apenas uma garotinha que não podia tomar conta de
si mesma. Eu me matriculei na universidade, encontrei um emprego
e aluguei um apartamento no noroeste de Londres. Não era grande,
mas era o que eu podia pagar sobrando algum dinheiro para mim
mesma.
Nunca peguei dinheiro dos meus pais ou de meu irmão,
mesmo que eles sempre se certificassem de que meu cartão de
crédito pré-pago estivesse carregado. Eu não o usei, mas prometi a
eles que ficaria com ele pelo caso de algo imprevisível acontecer.
Eu tinha orgulho da minha vida independente e não iria deixar
ninguém tomar isso de mim, muito menos partir meu coração e me
deixar chorando no travesseiro. Ainda que eu me parecesse como a
versão real de uma rainha de gelo, eu não me importava. Minha
coroa gélida era a coisa mais confortável que eu já tinha usado.
Capítulo 2
Aiden
Eu ouvi passos, mas não virei minha cabeça para ver quem
descia as escadas. Eu não precisava me virar para saber que era
Megan. Parecia que eu sabia tudo sobre ela: desde suas cores e
comidas favoritas até a lista de hábitos e gostos sobre os quais seu
irmão poderia falar por horas. Ele amava a irmã mais nova e sentia
muitas saudades dela. E a única coisa que eu ainda não entendia
era a razão para sua fuga. Ninguém sabia por que ela havia se
mudado para Londres.
Owen e eu nos conhecemos há dois anos, quando ele foi
convidado a trabalhar na empresa de meu pai. Ele era um ótimo
advogado. Nos tornamos bons amigos e agora ele me chamava
para ser seu padrinho. Não que eu não gostasse de casamentos,
mas eu também não os amava. Owen precisava de minha ajuda
com algumas preparações para o casamento e era por isso que eu
tinha praticamente ficado preso na casa de seus pais a semana
inteira.
Eu nunca tinha encontrado Megan antes, mas no momento
em que a vi no meio da sala de estar, com as mãos nos quadris, eu
percebi quem ela era. Seus cabelos longos castanho escuros e
cacheados desciam como uma cascata pelas costas e foi muito
difícil impedir a mim mesmo de correr meus dedos por entre eles. E
a garota obviamente sabia como vestir jeans, os dela evidenciavam
as pernas compridas e os quadris incrivelmente lindos.
Algumas horas se passaram depois de nosso primeiro
encontro e embora eu não quisesse admitir, estava morrendo de
vontade de ver Megan novamente.
— Eu quase posso sentir a minha nuca queimando sob o seu
olhar penetrante — eu disse, virando outra página do jornal que lia
no momento.
— Você ainda está aqui? — ela perguntou, obviamente
descontente em me ver.
— Onde mais eu deveria estar?
Ela entrou na sala e deu alguns passos até parar de frente
para mim, os braços cruzados.
— Não sei. Onde você mora?
Mal pude conter um sorriso.
— Aqui — eu disse, fechando o jornal. — Eu moro aqui.
— Você é um dos convidados de Owen?
— Sim.
A decepção cruzou o rosto de Megan. Ela ainda esperava
encontrar um motivo para me expulsar de sua casa.
— Entendo. Bem, sinta-se em casa, então.
— Obrigado — eu disse, me levantando. Mesmo estando de
salto, a garota era menor do que eu. — Tenho certeza de que vou
adorar ficar aqui.
Os olhos cor de mel dela encontraram os meus.
— Sem dúvida.
Me presenteando com um último olhar de soslaio, Megan se
virou para a porta de vidro que se abria para o terraço.
— Eu não me importaria em fazer um pequeno tour — eu
disse atrás dela. — Não tive tempo de conhecer o lugar.
Ela parou e me olhou a cabeça aos pés, como se estivesse
tentando decidir se eu era bom o suficiente para receber sua
atenção.
— Tenho certeza de que você pode fazer isso por conta
própria.
Ai. Beleza e atitude — minha combinação favorita.
— Acho que eu posso me perder sem a sua ajuda — eu
disse, seguindo-a.
Ela revirou os olhos e empurrou a porta de vidro com força.
Talvez ficar aqui não será tão entediante no fim das contas, pensei
comigo mesmo. Eu já estava gostando da semana que ainda estava
por vir.
— Então, me diga, Megan: como é estar de volta?
— Uma droga.
Eu sorri.
— Por quê?
— Esse é o último lugar onde quero estar agora.
— Eu pensei que você estaria com saudades de casa. Você
não visita há... quanto tempo? Quatro anos?
— E daí? Eu não sinto falta de nada.
— Mas você disse que é o último lugar onde gostaria de estar,
o que me faz pensar que você deve estar sentindo falta de alguém
ou de algo que não está aqui.
Ela parou abruptamente e me olhou furiosamente.
— Por que todo mundo continua me perguntando sobre
namorados? Eu não vou entrar em um relacionamento tão cedo.
— Ótimo. — Eu sorri com sua resposta. — Somos dois.
— Sério? E eu pensando que o Sr. Popularidade não deixava
uma saia passar desapercebida.
— O que a faz pensar isso? Eu pareço um mulherengo?
Eu realmente não era um, embora a maioria das mulheres
que eu conhecia compartilhasse completamente da opinião de
Megan.
— Sim, você parece. Um típico desastre ambulante
prometendo sexo arrebatador e problemas.
Eu me desatei a rir.
— Eu não acredito que você acabou de dizer isso em voz
alta. E o seu irmão sempre a descreveu como uma garota discreta.
— Palavras são apenas palavras. Dizê-las não me torna uma
vadia.
— É claro que não. Mas... — Eu me inclinei para mais perto
de seu rosto. — Me faz querer ouvir as palavras que você gritaria
enquanto faz aquela coisa arrebatadora que mencionou.
— Ugh, você é nojento! — ela disse, se virando.
Continuamos a caminhar em silêncio, embora eu estivesse
certo de que estávamos pensando sobre a mesma coisa naquele
momento. Eu podia ver que o que estava escondido sob a superfície
de sua casca perfeita e gelada era um lado muito atrevido de sua
natureza.
Nosso tour acabou na porta de entrada, onde Owen e seu pai
nos encontraram alguns minutos depois.
— Oi, mana. Não a vejo há uma eternidade!
— Também senti saudades — Megan disse, abraçando seu
irmão. — Oi, pai.
— Quase desisti da esperança de vê-la novamente — o Sr.
Brawley disse, sorrindo.
— Era só uma questão de tempo.
— Por que não entramos e tomamos chá? — Owen sugeriu.
— E, Megs, eu pensei que você pudesse nos ajudar com os
convidados que vão ficar aqui.
Ela franziu a testa e eu ri baixinho, observando a cachoeira de
emoções que cruzavam seu rosto.
— O quê? — Owen perguntou, intercalando seu olhar entre
mim e sua irmã.
— Nada — eu e ela dissemos em uníssono.
— Mentes inteligentes pensam igual — eu acrescentei.
Os olhos de Megan brilharam com raiva e se tornaram mais
escuros, me lembrando de um uísque refinado que é capaz de
enviar fogo pelas veias. Ah, que ótimo começo de dia, eu pensei,
fascinado pela graça que poderia ser vista em cada movimento de
Megan.
Eles dizem que os homens sempre escolhem esposas como
suas mães ou irmãs. A noiva de Owen, Mary, era uma destas
mulheres que tem planos para tudo. Eu tinha certeza de que ela já
havia escolhido os nomes de seus futuros filhos, a cor das paredes
de sua futura casa e sabe-se-lá o que mais. Além disso, ela era uma
garota muito educada, com brincos de pérola e saias cujas barras
nunca ficavam acima de seus joelhos. Ela e Owen tinham sido
melhores amigos desde a infância, até que um dia eles perceberem
que não podiam viver sem o outro. Bem, pelo menos era o que
Owen tinha dito. Ela era louco por ela e essa era a única coisa que
importava. Meu amigo não se importava com o que os outros
poderiam pensar deles como um casal. Ele sempre dizia que almas
gêmeas não precisavam da aprovação de mais ninguém. E Mary
era sua alma gêmea. Um pouco antiquada, mas ainda assim legal e
gentil.
No fundo, eu tinha um pouco de inveja do que os dois
compartilhavam. Era uma combinação rara de amor e compreensão
que eu, particularmente, só via entre meus pais. E eu sempre me
perguntei se seria capaz de ser devoto a alguém. Minha mãe disse
que eu precisava encontrar a pessoa certa para sacrificar minha
liberdade. Bem, talvez ela estivesse certa, no fim das contas.
Nenhuma das mulheres que eu tinha namorado tinha sido capaz de
me fazer ficar com ela por mais do que alguns dias. Algumas,
extremamente irritantes, nunca chegavam a duas horas.
A voz melodiosa de Megan me trouxe de volta à realidade.
— Quantas pessoas vão ficar aqui? — ela perguntou ao
irmão.
— Alguns amigos meus e os pais de Mary.
— Pensei que eles fossem ficar em sua casa antiga.
— Não, está sendo reformada agora. Aliás, eu quero que
você encontre eles e Mary no aeroporto. Eu tenho uma surpresa
para ela, mas preciso de mais tempo para arrumar tudo.
— Claro, sem problemas. Vou pegar seu carro, se não se
importar.
— Na verdade... — eu disse, pausando para receber a
atenção de todos. — Eu posso levar Megan até o aeroporto.
— Ótima ideia, Aiden. — Meu amigo assentiu, fazendo
algumas anotações em um pedaço de papel.
— Definitivamente não!
Aqui vamos nós, exatamente o que eu esperava ouvir de
Megan.
— Por que não, querida? — a Sra. Brawley perguntou. —
Você poderia usar a ajuda de Aiden. Além disso, o caminho até o
aeroporto não vai parecer tão chato se tiver companhia.
Eu quase engasguei com meu próprio chá.
— Sua mãe tem razão, Megs — eu disse, piscando para ela.
— Meu nome é Megan. — Ela me lançou um olhar assassino.
— E eu não preciso de companhia para animar minha viagem.
Eu estava prestes a desistir quando o Sr. Brawley veio ao
meu resgate.
— Ah, querida, eu me esqueci do bolo para amanhã! E o meu
carro está com um problema no motor, então vou precisar do de
Owen.
— Você só pode estar brincando... — Megan encarou seu pai.
— Desculpe, querida. — Ele sorriu apologeticamente.
— Ótimo. — Ela me olhou novamente e saiu da sala, dizendo
na metade do caminho: — Eu espero que você saiba a diferença
entre acelerador e freio.
Owen e eu rimos, compartilhando um olhar.
— Tente não assustá-la — ele disse. — Minha irmã não é fã
de velocidade.
— Não se preocupe, eu prometo trazê-la de volta sã e salva.
Terminei meu chá e fui para fora esperar por Megan. Owen
sabia que eu gostava de velocidade, mas desta vez eu dirigiria o
mais devagar possível. Eu não poderia deixar de admitir que a ideia
de passar um tempo sozinho com Megan era estimulante.
Ela apareceu quinze minutos depois com sua expressão trivial
irritada, meio escondida sob o chapéu e óculos escuros. Uma
camuflagem perfeita.
— O quê? — ela perguntou, abrindo a porta do passageiro.
Balancei minha cabeça, entrando no carro.
— Nada.
— Não acredito que eles me fizeram ir com você — Megan
murmurou, tentando colocar o cinto de segurança.
— Devo ajudá-la? — perguntei, observando-a lutar contra o
cinto.
— Sim, por favor.
Eu me aproximei e Megan congelou, como se estivesse com
medo de que eu me jogasse sobre ela. Bem, não que eu não tivesse
pensado nisso. Não era fácil manter a calma estando tão próximo de
uma garota que cheirava a mel e morangos, os quais eu estava
morrendo de vontade de saborear de cada centímetro de sua pele.
Eu podia sentir o calor de sua respiração fazendo cócegas em
minha bochecha; todos os meus instintos estavam em alerta.
— Pronto — eu disse, fechando o cinto. Nossos rostos ainda
estavam próximos demais para pensar em qualquer coisa além de
beijar aqueles lábios convidativos dela.
— Obrigada — ela disse baixinho. Eu não conseguia ver seus
olhos, mas eu sabia que mesmo por trás dos óculos, eles me
observavam cautelosamente.
Respirar pareceu repentinamente doloroso, como se meu ar
tivesse sido arrancado de mim. Pigarreei e liguei o motor. Pelo canto
dos olhos, notei Megan expirando. Era bom saber que eu não era o
único me sentindo desconfortável.
— Então, me diga: gosta de viver em uma cidade grande? —
perguntei, tentando diminuir a tensão. Não que isso me ajudasse a
ganhar controle sobre meu corpo, que estava pegando fogo. Se
situe, cara!
— Londres é o lugar perfeito para alguém como eu. Eu posso
ser eu mesma lá e ninguém vai se importar se eu sair de casa de
pijama ou me esquecer de arrumar o cabelo. É o paraíso da
liberdade.
— Então é por isso que você não gosta de Axbridge? Todos a
conhecem aqui. Todos prestam atenção a cada detalhe da sua
aparência.
— Na verdade... eu sempre gostei da minha cidade.
— Então por que foi embora?
— Tive minhas razões.
Eu olhei para Megan, esperando por uma explicação que não
se seguiu.
— Entendi. — Eu assenti. — Então deve existir um cara
culpado pela sua fuga.
— Por que não olha a estrada, sabichão?
— Como quiser, querida.
Capítulo 3
Megan
O dia não poderia ter sido pior.
Minha família não me via há anos e quando eu finalmente
apareci em casa, ninguém nem mesmo se importou em me
encontrar! Então descobri que um hóspede muito interessante
estava ficando em nossa casa e, de acordo com meu irmão amado,
eu deveria entretê-lo durante os próximos sete dias. E agora eu
estava presa em um carro conduzido pelo mesmo homem que
parecia estar apreciando me irritar. Se ele pensava que eu iria entrar
para sua lista de garotas, estava muito enganado.
Eu fiquei de olho no Sr. Perfeito: barba feita, camiseta azul
clara destacando cada músculo de seu peito e braços, perfume bem
escolhido — uma mistura de madeira, tabaco e especiarias.
Eu suspirei irritadamente e me virei para a janela. Eu estava
um tanto nervosa. Não por conta do maldito aroma delicioso de seu
perfume me envolvendo como um lençol macio e sedoso, mas por
conta da maneira como Aiden me fazia sentir — insegura...
E eu não estava acostumada a ficar insegura. Ninguém nunca
tinha me feito questionar minha autoestima. Eu sempre soube o que
queria e como consegui-lo.
Mas tudo estava diferente hoje. Os olhos azuis acinzentados
de Aiden pareciam ver através de mim, até o mais profundo, o que
ninguém nunca havia visto. Eu precisava escolher minhas palavras
deliberadamente e pensar em cada movimento. Parecia que ele
percebia cada respiração minha.
Agora eu podia sentir os olhos dele sobre mim, embora eu
não ousasse olhar para ele, sabendo que não veria nada além de
um sorriso misterioso em seu rosto. Eu me sentia como um inseto
que ele estava estudando atenciosamente sob o microscópio de
seus pensamentos.
Quase pulei quando ele tocou minha mão.
— Você está bem?
— O quê?
— Você parece estar prestes a vomitar.
— Por que acha isso? — Eu cruzei meus braços em um gesto
defensivo. Se isso pelo menos pudesse me ajudar a estabelecer
uma distância entre nós.
Ele se esquivou com a frieza de minhas palavras.
— Não, você ainda é a mesma Megan.
— E o que isso significa?
Eu tirei meus óculos, esperando por sua resposta. Tudo que
ele dizia soava como um desafio para mim e eu estava mais do que
disposta a aceitá-lo.
— Se eu não a conhecesse melhor, pensaria que você quer
me congelar com o frio que está irradiando de você.
Ergui minhas sobrancelhas, surpresa.
— Então você acha que me conhece?
Outra risada irritante se seguiu.
— Eu a conheço melhor do que você mesma.
— Ah, é mesmo? Você não acha que dá muito crédito a si
mesmo, querido? — eu disse com o máximo de doçura possível.
— Acho que não, docinho — ele respondeu, correspondendo
à minha entonação. A última palavra foi acompanhada por uma
piscadinha pela qual eu quis matá-lo desesperadamente. — Você
quer ouvir o que eu realmente penso de você?
— Estou morrendo de vontade de saber — eu disse
irritadamente, meus olhos nunca deixando seu rosto com uma
expressão de satisfação.
— Tudo bem. Então vamos começar com a sua atitude
comigo.
Revirei meus olhos.
— É claro. Essa é a coisa mais importante a se discutir.
— É sério, Megan. O que tem de errado comigo flertando com
você? Eu sou um homem, afinal de contas. Você é uma mulher
linda. A Terra não vai parar de girar se você me der um sorriso.
Eu gargalhei. Pela primeira vez em 24 horas. Sua seriedade
repentina me deixou humorada.
— Feliz agora? — eu perguntei, enxugando algumas lágrimas
de diversão.
Mas ele não disse nada. Em vez disso, me olhou como se eu
tivesse acabado de dizer que a grama era roxa.
— O quê?
— Nada. — Ele franziu a testa e voltou a atenção à estrada.
— Você soou tão sério — eu disse, ainda sorrindo.
— Soei?
— Nunca pensei que você pudesse ser sério sobre qualquer
coisa.
— Você não me conhece.
— Ah, você é o único aqui que sabe tudo sobre todo mundo.
Sim, entendi. Então vá em frente. O que mais queria dizer sobre
mim?
— Um dia você vai conhecer um homem que vai quebrar sua
casca. E acredite em mim, Megan, quando isso acontecer, você não
vai conseguir continuar fingindo. Você vai sentir e você vai perder.
E aquela não era a resposta que eu esperava ouvir em
contrapartida.
— Eu nunca perco.
— Até mesmo os mais famosos vencedores de diferentes
competições têm pelo menos uma derrota entre as inúmeras séries
de medalhas de ouro.
Em um piscar de olhos, a atmosfera do carro mudou. Eu me
afastei de Aiden e voltei a estudar a paisagem pela janela. E ele...
bem, ele se tornou repentinamente frio e mal-humorado. Uma
parede invisível se ergueu entre nós. Gigante e grossa.
Eu não entendi o que o deixou tão irritado. Eu não fiz nada!
Eu apenas ri de seu comentário estúpido. Ou não tinha sido tão
estúpido? Será que ele tinha razão? Era tão difícil sorrir para ele
pelo menos uma vez e não interpretar meu papel de megera? Boa
pergunta...
Eu nunca deixava as pessoas se aproximarem de mim. Elas
podiam ver apenas o que eu permitia que elas vissem. Nada mais.
Talvez fosse por isso que eu não tivesse muitos amigos? Eu gostava
de fazer compras sozinha, eu podia facilmente ir a um café sem
pensar em trazer alguém comigo; e estava tudo bem em dormir
sozinha...
Bem, nem sempre. Às vezes eu realmente desejava o corpo
caloroso de outra pessoa para abraçar e não apenas um travesseiro
gelado. Eu ainda tinha certeza de que eu tinha muito tempo para
aproveitar as falhas de um relacionamento. De alguma forma, eu
tinha certeza de que não seria capaz de amar e ser devota a
alguém.
Era por isso que as palavras de Aiden tinham me assustado.
Eu não estava pronta para me abrir com ninguém. Será que eu
estava sendo paranoica ao pensar em ser deixada com o coração
partido? Talvez. A tristeza não estava na minha lista de desejos de
Natal.
— O clima está piorando — Aiden disse.
Eu não tinha prestado atenção à chuva do lado de fora até
aquele momento.
— Meu Deus... se continuar chovendo assim, não vamos
chegar ao aeroporto a tempo.
— O trânsito está ficando mais lento. Você conhece algum
atalho?
— Sim. Nós podemos virar na fazenda Peterson, bem ali. Não
vai demorar muito para desviarmos do engarrafamento.
Se eu soubesse que isso nos levaria uma eternidade...
As estradas da fazenda estavam cheias de barro e
definitivamente não estavam boas para um carro esportivo. Nós
dirigimos por cerca de oito quilômetros até que o carro preto
elegante de Aiden se atolasse em uma poça de lama.
Ele xingou baixinho e depois se virou para mim dizendo:
— Você está de salto, certo?
— Ah... sim? — Eu olhei cautelosamente para os meus
sapatos vermelhos novos. — O que tem em mente?
Eu tinha um pressentimento muito ruim sobre a resposta dele.
— Perfeito! Esse bebê precisa de um empurrão — Aiden
disse, sorrindo.
— Perdão?
— Eu quis dizer que o carro precisa de um empurrão.
Olhei pela janela, estava chovendo copiosamente.
— Você está brincando, não é?
— Não. Nós precisamos sair daqui. E você vai me ajudar com
isso.
— Claro que não!
— É claro que você pode ficar aqui dentro e esperar que a
gasolina acabe. Quando ficar muito frio, você vai morrer sem nem
saber o que aquela coisa arrebatadora que mencionou
anteriormente significa. — Ele sorriu de orelha a orelha.
— Tudo bem! — Eu tirei meus sapatos e abri a porta. — E a
propósito, quem disse que eu não sei o que essa coisa significa?
Eu pulei diretamente em uma poça gigante. Meus jeans
ficaram molhados até os joelhos; gotas marrom escuras se
espalhavam pela minha blusa branca. Mas a coisa mais
inacreditável foi o som atrás de mim.
— Não queria que fosse assim, Megs — Aiden disse através
de suas risadas. Ele ainda estava sentado no carro. — Então,
quando é que você vai me dar uma aula sobre sua arte da sedução?
— Se não arrastar sua bunda até aqui, eu vou contar a Owen
que foi sua a ideia de me trazer até aqui para fazer... deixa para lá.
Eu vou inventar algo depois.
Outra risada se seguiu.
— Você é uma criatura absolutamente adorável, sabe disso?
— Cale a boca, Aiden, e venha aqui! Agora!
Quando ele terminou a histeria, se juntou a mim na poça, sem
nem pensar sobre sua calça e botas que ficaram molhadas em
segundos. Suas mãos nos quadris, os lábios distorcidos em um
maldito meio sorriso sexy.
Meus olhos se arregalaram em surpresa ao que a
compreensão me atingiu.
— Você não estava falando sério sobre empurrar o carro,
estava?
— Eu a observaria fazendo isso com prazer, Megs, mas eu
duvido que consigamos fazer essa coisa se mover.
— Agora é oficial, Aiden Murphy: eu o odeio mais do que
qualquer coisa no mundo! — eu gritei, socando-o no peito com o
máximo de força, ainda tentando não perder o equilíbrio. — E.
QUANTAS. VEZES. EU. TENHO. QUE. REPETIR. QUE. O. MEU.
NOME. É. MEGAN?! — Cada palavra era acompanhada de outro
soco.
— Uau, ok! Ok! Entendi! — Ele nem mesmo tentou bloquear
meus ataques.
Idiota doentio, pensei comigo mesma.
Quando eu estava completamente encharcada e já não podia
mais socá-lo, ele se aproximou. Estava mais perto do que eu já
tinha deixado um homem ficar de mim. Isso me deixou
autoconsciente, mas eu era incapaz de desviar o olhar uma vez que
nossos olhos se encontrarem.
— Acabou? — ele perguntou suavemente, suas palavras
quase inaudíveis na chuva. Eu me encolhi quando Aiden pegou
meus pulsos e colocou minhas mãos atrás de minhas costas. —
Agora que expressou toda a sua raiva, podemos pensar em algum
lugar onde nos escondermos e esperar até que a tempestade
acabe?
Eu estava respirando com dificuldade. As gotas de água
misturadas às lágrimas que escorriam por meu rosto. Eu não sabia
por que estava chorando. Talvez eu simplesmente estivesse com
raiva dele por ter rido de mim? Ou talvez eu estivesse com raiva de
mim mesma por deixá-lo arruinar minha paz interior? O que quer
que fosse, doía para caramba.
Eu não me mexi quando a mão de Aiden encontrou meu rosto
e seus lábios se aproximaram perigosamente dos meus. Eu engoli
em seco. Eu estava consciente de que cada centímetro dos nossos
corpos se tocava. E mesmo através do tecido de nossas camisas
encharcadas, eu podia sentir o calor que provinha da pele dele.
— Viu? — ele perguntou, olhando em meus olhos. — Você já
está derretendo. E eu pensando que você era do tipo que tem tudo
sob controle.
Meu sangue ferveu. Eu puxei minhas mãos do aperto dele e o
empurrei para longe de mim.
— Não se atreva a me tocar outra vez — eu disse, enquanto
tentava me afastar.
Em um piscar de olhos, os braços de Aiden se prenderam ao
redor de minha cintura, pressionando minhas costas contra seu
peito.
— Se continuar fugindo de mim, Megan, sua vida sempre
será solitária e miserável — ele disse em meu ouvido. — Por que
você não dá uma folga a si mesma e tenta ser feliz?
Eu me virei abruptamente.
— Homens como você e felicidade não se encaixam bem.
Ai. Até mesmo para os meus próprios ouvidos aquilo soou
duro.
Ele me soltou, seus olhos se tornaram nuvens tempestuosas
repentinamente. Então ele se virou para o carro, fechou a porta do
passageiro com força e se dirigiu à floresta.
— Aonde você acha que está indo? — eu gritei atrás dele.
— Não quero morrer de pneumonia! Eu vi uma casa não
muito longe daqui.
— Ninguém mora aqui!
Era uma casa velha dos Peterson que tinha sido construída
sabe-se-lá quando. Tinha estado vazia desde que eu me conhecia
por gente. Mas ainda assim, Aiden tinha um bom argumento. Eu não
estava animada com a ideia de ficar doente ou morrer.
— Meu Deus... Owen vai nos matar por arruinar isso — eu
murmurei, seguindo meu companheiro impossível.
Quando cheguei na casa que não era muito maior do que o
closet de minha mãe, Aiden já estava lá tentando colocar fogo no
que parecia ser uma fogueira muito velha.
— Você tem certeza de que não vamos morrer de inalação de
fumaça? — perguntei, observando-o.
— Você pode ficar do lado de fora, se quiser — ele revidou
sem me olhar.
Ótimo... consegui o que eu queria — agora o ódio era mútuo.
— Pessoalmente, eu recomendaria que você ficasse, tirasse
os sapatos e tentasse secar o cabelo. — Aiden se levantou, andou
até um sofá e apontou para um cobertor. — Use isso para se cobrir.
É o único pedaço de tecido seco por aqui.
— E você? — perguntei, tremendo da cabeça aos pés.
— Vou ficar bem — ele disse, tirando a camisa e a calça.
Gotas de água brilhavam em sua pele bronzeada e eu não
pude evitar notar como seus ombros eram musculosos. Meu olhar
escorregou para baixo pelo resto de seu corpo: o cara era lindo para
caramba.
A risada de Aiden me trouxe de volta à realidade.
— Gosta do que vê?
Ah, meu Deus! Ele me pegou encarando. Garota idiota!, eu
gritei mentalmente comigo mesma, corando. Agora ele terá mais
motivos para me provocar.
Aiden suspirou e se aproximou.
— Tudo bem, nós precisamos tirar sua roupa.
— Eu não p-preciso da sua ajuda — eu disse, tremendo.
— Certo. — Ele balançou a cabeça, irritado. — Levante as
mãos, Megan.
— Eu disse...
— Levante as mãos, Megan! — ele repetiu estritamente,
alcançando a barra de minha camisa. Eu me sentia uma garotinha
na frente de seu pai irritado.
Eventualmente, eu fiz o que ele disse e ele puxou a peça
molhada por sobre minha cabeça, cobrindo meus ombros com o
cobertor que havia encontrado no sofá.
— Devo ajudá-la com a calça também?
Não havia diversão em seu tom. Aparentemente, ele
realmente se importava com minha saúde.
— N-não — eu disse baixinho, tentando desabotoar minha
calça com as mãos trêmulas. Mau sinal. Não eram apenas as
minhas mãos que tremiam, mas meu corpo inteiro.
Aiden andou até o sofá perto da lareira e gesticulou dizendo:
— Venha aqui.
Eu me sentei no sofá, me enrolando no cobertor e ele se
sentou no chão, mais perto do fogo.
— Me desculpe — eu disse, observando as sombras da
chama dançando sobre sua pele. Em qualquer outra situação, seria
o momento perfeito para me sentar ao lado dele, compartilhar o
cobertor e descansar minha cabeça sobre o ombro dele. Mas não
havia nada de romântico naquele momento. Eu podia sentir a
tensão crescendo entre nós. Aiden ainda estava irritado comigo e eu
continuava a ponderar sobre qual das minhas atitudes tolas o tinha
irritado mais.
— Não tem nada pelo que se desculpar, Megs. Eu a
pressionei e a fiz sair do carro. Foi muito idiota da minha parte.
Oh... aquilo era inesperado. Quem diria que a arrogância e a
consciência poderiam coexistir na mesma mente? Talvez aquele
cara não fosse uma causa perdida no fim das contas?
Capítulo 4
Aiden
Eu precisava de uma bebida; ou melhor, duas.
Ver Megan com aquele cobertor que mal cobria alguma coisa
fazia o meu corpo doer. Não, não era apenas uma atração física o
que eu sentia por ela. Havia algo a mais. Algo que me fazia querer
descobrir cada segredo obscuro dela, tirar os pedaços de sua
casca, uma por uma. E naquele momento, a casca consistia de
apenas dois pedaços de renda... Deus, me ajude!
— O que está procurando? — Megan perguntou, me
observando.
Eu estava revirando os armários de cozinha, rezando para ao
menos achar algo que bloqueasse meus pensamentos sobre a
criatura linda sentada a apenas alguns passos de distância de mim.
— Bingo! — eu disse, mostrando a ela uma garrafa do que
parecia ser um uísque antigo.
— Ah, não. Você não vai beber isso!
— Por que não?
— Quem sabe por quanto tempo esta garrafa esteve
escondida aqui!
— É uísque, Megan, não um suco de laranja. Quanto mais
velho, melhor. — Abri a garrafa e tomei um gole. — Nada mal. Quer
experimentar?
— Não, obrigada, eu prefiro ficar sóbria.
Eu dei de ombros e tomei mais alguns goles. Meu corpo
acolheu o líquido quente, os músculos relaxados, e eu inspirei
profundamente.
— Hmm, é ótimo! Tem certeza de que não quer?
— Positivo. — Ela assentiu e se virou para a fogueira. —
Quanto tempo você acha que essa chuva vai durar?
— Eu não sei. Mas duvido que consigamos sair daqui tão
cedo.
Me sentei no chão, me recostando no sofá atrás de mim. A
única coisa da qual a casa estava cheia era lenha. Pelo menos nós
não íamos congelar até a morte. Bem, talvez eu estivesse
exagerando um pouco, considerando que era maio. Mas a
combinação de uísque e fogo me fazia sentir muito bem.
Olhei para cima, na direção de Megan. Ela parecia perdida
nos próprios pensamentos. Eu me lembrei da conversa que tivemos
no carro. O som de sua risada ainda soava em meus ouvidos. Fui
pego de surpreso. Ela estava linda naquele momento: jovem e
despreocupada. E repentinamente, eu desejei prolongar o momento
apenas para ver mais daquelas covinhas adoráveis em suas
bochechas e a alegria brilhando em seus olhos. Mas eu nunca diria
aquilo a ela.
— Ei, por que você não vem aqui embaixo comigo? Está mais
quente.
Ela me olhou, hesitando.
— Por que você não vem aqui em cima? Vou dividir o
cobertor.
Uau...
— Quando você se tornou tão generosa? — perguntei, me
levantando, embora a perspectiva de dividir o cobertor com ela
fosse tentadora.
— Não sou um monstro, como você pensa.
Eu sorri.
— Não acho que você seja um monstro. Eu acho que você
é...
— Não, por favor — ela me interrompeu. — Eu já ouvi o
suficiente hoje.
— Tudo bem. — Eu dei de ombros. — Dê um espaço para
que eu possa me deitar do seu lado.
Ela hesitou novamente, aparentemente reconsiderando o
brilhantismo de sua ideia. Então ela se aproximou das costas do
sofá para me dar mais espaço para deitar. O sofá era muito
pequeno para nós dois, mas eu não me importei.
— Você ainda está tremendo — eu disse, reajustando o
cobertor para que cobrisse nossos corpos. — Venha para mais
perto, não vou mordê-la. Bem, a não ser que você me peça.
— Cuide com a língua e com as mãos! — ela me censurou.
— Você pode colocar os braços ao meu redor. Vai ajudar a
aquecê-la mais rápido.
Ela me fitou semicerrando os olhos.
— Você sempre aproveita as oportunidades, não é?
— Ah, sim. Eu nunca perco minhas chances — eu disse,
sorrindo para ela.
— Você é uma criatura sem-vergonha, Sr. Murphy.
— Já fui chamado de coisa pior. — Peguei a mão esquerda
dela e a coloquei ao redor de minha cintura, abraçando-a. — Se
sente melhor agora?
— Na verdade, não.
— Por que não tira seu sutiã? Ainda está molhada.
— Não vai acontecer — ela disse irritadamente.
Eu sabia que ela nunca faria aquilo, mas gostava de irritá-la.
— Só estava tentando fazê-la se sentir mais confortável.
Era tão incrivelmente bom segurá-la entre meus braços. Ela
cheirava a um misto de chuva e folhas viçosas. Eu estava morrendo
de vontade de deslizar minha mão por suas costas, mas não ousei
abusar de minha sorte. Eu podia sentir a respiração de Megan sobre
minha pele e o modo como seus seios roçavam meu peito quando
ela suspirava. Era tão intoxicante. Ela estava quieta, embora eu
estivesse certo de que ela não estava dormindo.
— Em que está pensando? — perguntei em um sussurro.
— Em Mary e seus pais, que ainda devem estar esperando
por nós no aeroporto.
Bem, não era exatamente a resposta que eu estava
esperando ouvir, considerando o fato de que todos os meus
pensamentos estavam voltados a ela.
— Não tem área. Tentei ligar para Owen, mas não funcionou.
— Ele deve estar tão irritado com a gente.
— Acho que ele está preocupado, mas não irritado. Não é
nossa culpa que tenha começado a chover.
— Espero que não chova no dia do casamento.
— Ei, posso perguntar uma coisa a você?
— Desde quando precisa da minha permissão? — Ela se
moveu de leve para ver meu rosto.
Meu Deus, ela era tão linda. Mesmo sem maquiagem e com o
cabelo molhado, como se ela tivesse acabado de sair do banho.
Quando meus olhos pararam em seus lábios, eu congelei, engolindo
em seco.
Megan pigarreou, molhando os lábios, e eu grunhi
mentalmente, fechando os olhos. Vê-la fazer aquilo não estava
ajudando meu autocontrole. Nem um pouco.
Mesmo à meia-luz da sala, eu podia vê-la corando. Ela baixou
a cabeça dizendo:
— O que queria me perguntar?
Eu respirei fundo, tentando acalmar meu corpo. Não que eu
estivesse com vergonha da reação da garota entre meus braços,
mas eu não queria que Megan se sentisse desconfortável.
— Queria perguntar sobre o casamento. Você já pensou
sobre o seu próprio?
— É claro que sim. Toda garota sonha com o dia de seu
casamento.
— E como você quer que seja o seu?
— Odeio casamentos grandes. Quero uma cerimônia íntima,
em algum lugar em uma praia linda; apenas família e amigos
próximos. Sem nada chique. Eu de vestido branco tomara-que-caia
com algumas orquídeas no cabelo. E o meu noivo esperando por
mim no altar feito de lírios, rosas vermelhas e laços brancos.
— Uau... posso imaginar isso facilmente.
E eu realmente podia. Era o casamento perfeito para alguém
como Megan: elegante, lindo e simples.
— E você? — ela perguntou, me olhando novamente. — Será
que um dia existirá alguém digno de ser chamado de Sra. Aiden
Murphy?
— Eu não sei, talvez. Eu sou um homem difícil de aguentar,
sabe?
— Já percebi isso. — Ela riu.
— Posso pedir um favor?
— Claro.
— Você tem sido inacreditavelmente prestativa nos últimos
dez minutos. Primeiro o cobertor, agora isso...
— Cale a boca! — Ela bateu em minhas costas.
— Então minha beleza funciona com você, no fim das contas
— eu disse, intensificando meu abraço.
— Aiden, eu juro...
— Ok, ok, não seja irritante.
Ela me lançou um de seus olhares malignos dos quais eu
tanto gostava. A parte diabólica que era definitivamente meu traço
favorito de sua natureza rebelde.
Coloquei um dedo sob seu queixo e me aproximei,
sussurrando:
— Se um dia eu encontrar uma mulher digna de ser chamada
Sra. Murphy, me prometa que você nunca vai dizer a ela o quanto
eu queria tirar proveito de segurar você nua nos meus braços.
Megan riu novamente.
— Ok, eu prometo. Embora eu não esteja nua, estou vestindo
minha roupa íntima. É quase a mesma coisa que vestir roupa de
banho. E eu nunca teria deixado você fazer nada além de me ajudar
a me aquecer.
— Eu conheço outras maneiras de aquecê-la, querida.
— Tenho certeza de que conhece.
— E só para constar, nenhuma roupa de banho é tão sexy
quanto uma lingerie.
Eu não podia deixar de admitir: o meu corpo estava pegando
fogo. E eu finalmente ousei abusar de minha sorte. Eu deslizei uma
mão pela pele dela, sob as costas de seu sutiã bege.
— Nem pense nisso — ela disse, encontrando meu olhar.
— Você não pode me proibir de pensar nisso. Especialmente
se é a única coisa sobre a qual consigo pensar no momento. — Meu
pulso se acelerou. — O que você está fazendo comigo, Megs? — eu
disse, meus lábios roçando sua testa.
A respiração dela se intensificou.
— Aiden, não...
— Isso não soa muito convincente — respondi, trilhando
beijos por suas pálpebras e bochechas.
Ela colocou uma mão em meu peito, tentando me empurrar.
— Eu estou falando sério, Aiden. Pare ou eu vou...
— Vai o quê? — perguntei, olhando em seus olhos. Eles eram
o reflexo dos meus: cheios de atração e desejo. Ela podia continuar
negando pelo tempo que quisesse, mas era difícil me enganar.
De repente, tudo mudou. Megan se libertou de meu aperto e
se sentou no sofá o mais distante possível de mim.
Eu me deitei de costas e passei os dedos pelos meus
cabelos, suspirando.
— Me desculpe, Megan. Eu não deveria ter...
— É, você não deveria.
Eu me sentei e estiquei minha mão dizendo:
— Volte aqui. Eu vou me comportar, prometo.
— Eu acho que as minhas roupas estão secas o suficiente
para me vestir. — Ela se levantou e andou até a cadeira onde suas
roupas estavam.
Idiota!, eu gritei mentalmente para mim mesmo. Eu deveria
saber que Megan não era como as outras garotas que eu
costumava namorar. Ela evitava relacionamentos, evitava afeição e
ela não queria se machucar. E eu não tinha certeza se o que eu
queria no momento era justo. Eu não sabia se estava pronto para
oferecer algo a ela, mas naquela noite...
Ela se vestiu em silêncio, colocou uma cadeira velha mais
próxima à lareira e se sentou lá, de costas para mim.
Eu esfreguei a ponte do nariz, suspirando. Eu e ela éramos
tão diferentes de tantas formas. Eu era a figura vívida de tudo que
ela odiava nos homens e ela era a figura perfeita de tudo que eu
gostava nas mulheres.
Mas a questão era que nenhum de nós estava pronto para
sacrificar a liberdade a qual apreciávamos mais do que qualquer
outra coisa em nossas vidas.
Eu amaldiçoei o clima e as circunstâncias que nos trouxeram
até a velha casa, me vesti e fui para fora para respirar um ar fresco
e espairecer.
Era uma pena que a chuva ainda estivesse forte demais para
dar mais alguns passos além da varanda, então me sentei na
escada de madeira e acolhi o vento gélido que tocava minha pele.
Amanhã tudo ficará bem. Nós vamos voltar para a cidade,
ajudar Owen com as preparações para o casamento, ouvir seus
votos e voltar para as nossas vidas como se nada tivesse
acontecido. É, deveria ser tão simples assim.
Capítulo 5
Megan
Ele foi embora…
Ainda que eu soubesse que ele não iria muito longe da casa,
eu estava preocupada. Andei na ponta dos pés até a janela e olhei
através desta. Ele estava sentado na varanda, a mão direita
esticada para pegar as gotas de chuva. Eu balancei a cabeça,
inspirando profundamente. Nós estragamos tudo... muito mesmo.
Eu já tinha sido tola o suficiente ao convidá-lo a se juntar a
mim sob o cobertor, não daria a ele nenhum motivo para pensar que
aquela noite poderia acabar de um modo diferente.
Aiden me fazia sentir algo que eu nunca havia sentido antes
— fraqueza...
Sim, houve um momento em que nossos olhares se
encontraram e seus dedos enviaram arrepios pela minha espinha.
Sim, por um segundo eu pensei que pudesse me esquecer de tudo
e simplesmente aproveitar o que quer que seus olhos prometiam. E
embora cada parte da minha pele e dos meus lábios ainda se
lembrassem dos toques dele, nós não poderíamos deixar aquilo ir a
diante. E nós dois sabíamos disso.
Era cedo demais para desistir dos meus sonhos, cedo demais
para deixar outra pessoa decidir algo por mim; cedo demais para
deixar as emoções me cegarem e arruinarem tudo que eu tinha
tentado construir por tanto tempo. Não era hora de me permitir
sentir. E Aiden me fazia sentir… algo com o qual eu não estava
pronta para lidar.
Eu voltei para o sofá, me encolhi sob o cobertor e encarei o
fogo. Eu não sabia quanto tempo havia passado antes de ouvir a
porta rangendo e passos na direção do sofá. Eu fechei meus olhos,
fingindo estar dormindo.
— Megan? — Aiden chamou. Eu não respondi.
Ele se sentou do meu lado e passou os dedos pela minha
testa até minhas bochechas. Seu toque era muito suave, quase
intangível. E eu queria chorar. Quando os lábios dele tocaram meu
ombro, eu parei de respirar. O que ele estava fazendo?
— Eu sinto muito, Megs — ele sussurrou, acariciando meu
braço. Então ele se moveu até o outro lado do sofá e eu deixei as
lágrimas fluírem.
Eu não sabia se ele sabia que eu ainda estava acordada e
não sabia quanto tempo levei para dormir, mas a próxima coisa da
qual eu me lembrava era do sol da manhã entrando pelas cortinas e
me acordando.
Eu esfreguei meus olhos e olhei em volta. Aiden estava
adormecido; sentado, com o braço direito sob a cabeça. Eu olhei
para o meu relógio — sete e meia da manhã.
Eu me levantei e fui para fora, acolhendo a brisa suave que
sempre se seguia às tempestades. Me endireitei e olhei para os
meus pés descalços. Eu já podia sentir os calos causados pela
caminhada sem os sapatos que havia deixado no carro de Aiden. O
carro! É claro, nós precisávamos de ajuda.
Voltei para a casa e tentei encontrar meu celular, mas não
estava em lugar algum. Então notei o celular de Aiden, meio
escondido no bolso de sua calça jeans. Me aproximei e peguei o
aparelho.
De repente, os olhos de Aiden se abriram e ele olhou para a
minha mão.
— Na verdade, esperei que a sua mão safada deslizasse para
dentro da minha calça ontem à noite.
— Bom dia para você também — eu disse, pegando o celular.
Nossos olhos se cruzaram por alguns segundos silenciosos antes
de eu me virar e ir até a janela.
— O que está fazendo?
— Vou chamar ajuda. Não podemos ficar aqui mais uma
noite.
— Definitivamente não — ele murmurou, se levantando.
Senti a fome predatória se formando dentro de mim. Ele não
podia mais me tolerar? Tudo bem. Que seja. O sentimento era
mútuo.
Felizmente, naquele momento a conexão estava boa e meu
pai atendeu o telefone na segunda chamada.
— Oi, querida! Você e Aiden estão bem? Onde vocês estão?
Estávamos tão preocupados com vocês!
— Estamos bem, pai. Nós tivemos alguns problemas com o
carro e não conseguimos chegar até o aeroporto. Você sabe de
alguma coisa sobre Mary e seus pais?
— Sim, eles tiveram que esperar a chuva parar e depois
Owen e eu os pegamos e os trouxemos para casa. Um dos nossos
vizinhos disse que viu o carro de Aiden ir na direção da fazenda
Peterson, então pensamos que vocês tivessem ficado lá à noite.
— Sim, estamos na casa velha. Mas precisamos que alguém
venha até aqui tirar nosso carro da poça de lama onde ele se atolou.
— Sem problemas, querida. Estaremos aí logo, logo.
— Ok, vou esperar. — Desliguei o celular e o devolvi a Aiden.
— Eles estão a caminho.
— Ótimo. — Ele assentiu, sem me olhar. — E quanto a Mary
e seus pais?
— Estão em casa, sãos e salvos.
Eu odiava o modo como as coisas entre mim e Aiden
estavam. Ele manteve a distância, não falou muito e evitou olhar
para mim. Quando ouvimos sons de motor de carro, cerca de uma
hora depois, nós dois suspiramos com alívio.
— Ah, meu Deus! Vocês dois nos deram um susto daqueles!
— Owen disse ao que entrou na casa e me abraçou apertado. —
Por que diabos vocês viraram na fazenda?
Era a primeira vez que Aiden e eu compartilhávamos um olhar
desde o incidente da manhã com o celular.
— Foi minha culpa — ele disse. — Eu pensei...
— Na verdade, a culpa foi minha — eu o interrompi. — Eu
sugeri contornar o engarrafamento. Eu não sabia que a estrada
estava tão ruim.
— Por que não ficaram no carro? — Owen olhou para os
nossos pés descalços, franzindo a testa. As botas de Aiden estavam
na casa, mas estavam úmidas demais para calçar.
— Ah... nós pensamos que...
— Nós pensamos que dormir no carro não era confortável —
Aiden disse. E eu quis matá-lo desesperadamente naquele
momento.
Owen riu em resposta.
— Certo. Então estão prontos para voltar à civilização? Ou
precisam de mais tempo para... — Seu olhar divertido se intercalou
entre mim e seu amigo. — Deixa para lá — ele disse, percebendo
que não estávamos no clima para seus comentários estúpidos.
Entramos no jipe de Owen e fomos averiguar a situação com
o carro de Aiden. Não precisamos de mais de dez minutos para
resgatá-lo. Aiden trouxe meus sapatos e os devolveu a mim sem
dizer uma palavra. Então ele entrou em seu carro e nos seguiu até
nossa casa.
— Está tudo bem entre vocês dois? — Owen perguntou,
olhando pelo espelho retrovisor. Meu pai estava dirigindo com
Aiden, então estávamos sozinhos no carro.
— Sim. Por quê?
Owen olhou para mim ceticamente.
— A única coisa que não mudou em você, mana, é o fato de
que você ainda é a pior mentirosa que eu já vi. Então me diga: o que
aconteceu?
Eu suspirei.
— Não aconteceu nada. De verdade.
— Megan...
— Nada que a sua mente suja esteja pensando.
— Oh... ah, tudo bem. Devo me preocupar com você? Devo
falar com Aiden?
— Claro que não!
— Ok, ok. Mas ainda assim... o que aconteceu na noite
passada que fez vocês dois nem mesmo se olharem hoje?
— Não estou pronta para falar sobre isso. Nós... brigamos um
pouco. Nada demais.
Owen deu de ombros.
— Se você diz; mas você sempre pode falar comigo, sabe?
— Eu sei.
Eu sorri, tocando a mão de Owen. Além de ser meu irmão
mais velho, ele era meu melhor amigo. Eu sempre soube que,
independente do que acontecesse, ele estaria do meu lado.
Owen era seis anos mais velho do que eu. Ele era inteligente
e bonito. Nós tínhamos a mesma cor de cabelo castanho escuro e
olhos cor de mel. Mas diferentemente de seu melhor amigo, Owen
nunca usava sua beleza para partir o coração das garotas. Na
verdade, até onde eu me lembrava, Mary era a única garota com a
qual ele havia namorado.
No fundo, eu queria que alguém me amasse tanto quanto ele
amava sua noiva. Toda vez que um cara me chamava para sair, eu
o comparava ao meu irmão — um exemplo de tudo que uma mulher
quer ver em um homem. Mas nenhum deles era bom o suficiente
para me fazer dizer ‘sim’.
Então aqui estou eu, com o meu cabelo bagunçado após uma
noite terrível e tempestuosa; roupas sujas e com os pés doendo
com calos; um coração cheio de emoções, me destroçando; minha
cabeça cheia de pensamentos sobre o cara que provavelmente
nunca mais falaria comigo novamente. Eu perdi alguma coisa? Não,
nada...
Quando chegamos em casa, fui diretamente até meu quarto.
Eu nem mesmo disse ‘oi’ para Mary, seus pais ou minha mãe. Eu
simplesmente queria ficar sozinha por um tempo.
Quando entrei no chuveiro, as memórias da chuva da noite
passada voltaram à minha mente. O rosto de Aiden se aproximando
do meu, seus olhos, sua mão, o calor de seu toque, o modo como
ele me fazia sentir, o modo como ele olhava para mim, o modo
como eu queria desistir de tudo apenas para morder a fruta
proibida... droga!
Lágrimas queimavam meus olhos e eu não as impedi. Eu
chorei de um modo que não chorava há anos. Quando saí do
chuveiro, eu fui diretamente para a cama, me escondi sob o cobertor
e adormeci em segundos. Segundas sempre eram uma droga. E
hoje eu tinha tido a pior segunda-feira de todas.
Quando acordei algumas horas depois, percebi que eu não
seria capaz de sair de meu quarto tão cedo. Os meus pés pareciam
ainda piores do que durante a manhã, cada centímetro deles doía.
Eu gemi e tentei encontrar um kit de primeiros socorros.
Quando os calos foram cobertos com curativos, caminhar parecia a
maior tortura de todas. Eu chamei Owen e pedi que ele fosse até a
farmácia para comprar remédios. Enquanto isso, eu voltei para a
cama e chequei as mensagens deixadas em meu celular e
notebook. Havia algumas do meu reitor, que queria que eu
escrevesse algumas matérias para a revista anual da universidade.
Uma mensagem era de meu amigo, que queria saber se eu
compareceria ao baile de formatura, mas eu ainda não sabia se
queria ir com ele. A última mensagem havia sido enviada por um
número desconhecido e dizia o seguinte:

“Eu soube que você está de volta. Vejo você no casamento.”

Poderia ter sido enviado por qualquer um dos meus colegas


de escola que sabiam sobre o casamento de Owen, então não dei
muita atenção à mensagem.
Vinte minutos depois, alguém batia à minha porta.
— Pode entrar! — eu gritei, mandando um e-mail para meu
reitor. — Você comprou o que eu precisava?
— Não sabia exatamente do que você precisava, então
comprei algumas pomadas diferentes.
Olhei para meu visitante. Não era Owen. Era Aiden.
— Obrigada — eu murmurei, observando-o. Ele colocou uma
sacola sobre minha mesa de cabeceira e recuou alguns passos, as
mãos em seus bolsos. Ele parecia renovado, vestindo calça e uma
camisa branca nova de mangas curtas.
— Como está se sentindo? — ele perguntou.
— Não muito bem. Mas vou ficar.
Deixei meu celular e meu notebook de lado e peguei a sacola.
— Deixe-me ajudá-la — Aiden disse.
Eu me sentei na cama e esperei que ele pegasse as
pomadas.
— O farmacêutico disse que essa era a melhor.
Peguei o tubo e comecei a ler a descrição, já que não sabia o
que mais fazer. Aparentemente, Aiden não ia sair.
— Como estão os calos? — ele perguntou, se sentando do
meu lado. Eu me senti paralisada. — Megan? — ele perguntou
novamente.
— O que você disse? — Tentei me lembrar de sua pergunta.
— Ah, os calos. Não estão tão ruins como você pensa.
— Deixe-me ver — ele disse. E antes que eu pudesse
protestar, ele se ajoelhou próximo à minha cama e tirou um dos
curativos. Eu fiz uma careta com a dor que me causou.
— Tem certeza de que não quer chamar o médico?
A única coisa na qual eu podia pensar agora era a mão de
Aiden acariciando meu tornozelo e seus dedos suaves tocando meu
pé. A dor foi imediatamente esquecida.
Aiden pegou a pomada das minhas mãos e começou a aplicá-
la sobre os calos. Meu Deus, se eu soubesse que seria tão...
— Ah... você não precisa fazer isso — eu disse, engolindo em
seco. Ele não respondeu. Em vez disso, ele começou a fazer o
mesmo com o outro pé, lentamente movendo seus dedos sobre
meus machucados.
Era ainda melhor do que estar entre seus braços. Parecia que
ele estava tocando não apenas meus pés, mas cada centímetro do
meu corpo. Porque eu podia sentir o calor daqueles toques em
todos os lugares; até mesmo onde eu não deveria senti-los.
Mordi meu lábio inferior, reprimindo o gemido que estava
prestes a escapar de minha garganta. Cada movimento de Aiden
era tão sensual. Eu queria morrer bem ali. E teria sido a morte mais
prazerosa de todas.
Por um segundo, nossos olhos se cruzaram e o fogo familiar
brilhou em seus olhos azuis acinzentados. Quando ele terminou seu
trabalho com meus pés, trouxe uma toalha de meu banheiro e a
colocou sobre a cama.
— Não cubra seus pés por um tempo. A pomada precisa
penetrar a pele.
Quando ele foi lavar as mãos, coloquei meus pés sobre a
toalha e me afundei contra os travesseiros, tentando recuperar o
fôlego. Aquilo não deveria ser tão tentador. O meu coração batia tão
rápido que eu tinha medo de que Aiden o escutasse.
Ele saiu do banheiro e se inclinou contra o caixilho da porta.
— Megan, eu queria falar com você.
Suas palavras imediatamente bloquearam as fantasias em
minha mente.
— Sobre o quê? — perguntei, tentando parecer calma.
— Sobre a noite passada.
Ah, não!
— Não temos nada para falar, Aiden. Temos idade suficiente
para saber como a química entre duas pessoas funciona.
— Temos? — ele perguntou, se aproximando. — Não
funcionou muito bem no nosso caso, não é?
Eu respirei fundo.
— Escute... não aconteceu nada. Então não tem nada para
explicar. Você não me deve nada e eu não devo nada a você. Por
que não nos esquecemos disso? Como se a noite passada nunca
tivesse acontecido. O que me diz? — Tentei forçar um sorriso.
— Tem certeza de que está bem com isso?
— É claro. Eu disse que não quero mais discutir isso. Nós
estamos aqui para celebrar um dos maiores eventos na vida do meu
irmão. Então vamos fazer nosso melhor para ajudá-lo a tornar esse
momento algo especial.
— Eu queria dizer outra coisa a você também... — O celular
dele tocou. — Desculpe, eu preciso atender. Nos falamos mais
tarde, está bem?
Eu assenti e Aiden saiu, me desejando melhoras.
Capítulo 6
Aiden
Eu olhei para o número na tela do celular e franzi a testa.
— Annabel? A que devo a honra?
— Oi, baby! Eu pensei sobre o convite de Owen e decidi ir ao
casamento!
Ah, não... não, não, não!
— Você o quê?
— Bem, sim. Eu pensei que uma semana na Inglaterra seria
ótimo. Estou cansada da Escócia. Então estou a caminho da casa
do Owen.
Ah, meu Deus...
Eu me inclinei contra a parede atrás de mim.
— Como você sabe onde fica a casa dele?
— Eu liguei para ele mais cedo para pegar o endereço.
Meu melhor amigo estava prestes a morrer.
— Ok, vejo você daqui a pouco.
Eu desliguei o celular e suspirei.
Annabel era a filha do melhor amigo de meu pai. Nós
crescemos juntos e a maior parte de nossos amigos pensavam que
nós estávamos noivos desde o momento em que nascemos. Longe
disso. Às vezes, quando tínhamos a chance, nós viajávamos juntos
nas férias, apesar de nunca termos compartilhado nada além de
beijos na bochecha.
Eu sabia que Annabel nunca perderia o casamento de Owen.
Especialmente por ter recebido o convite do próprio Owen. Ela
sempre teve uma queda por ele. E era exatamente sobre isso que
eu queria falar com Megan. Eu sabia que ela era a única pessoa
sensata na casa e apenas ela saberia o que fazer se Mary
descobrisse sobre a afeição secreta de Annabel. Eu disse a Owen
que era uma má ideia convidá-la, mas ele tinha certeza de que ela
nunca arruinaria seu casamento, acreditando tolamente nos
sentimentos estritamente amigáveis dela por ele. Bem, agora era
hora de pensar em uma estratégia de resgate. Porque
diferentemente do meu amigo, eu sabia que Annabel nunca perderia
a chance de tê-lo somente para ela.
Eu ouvi passos, me virei e vi meu amigo.
— Precisamos conversar — eu disse.
— É, eu também queria falar com você.
— Queria? Sobre o quê? — perguntei, seguindo-o até o
escritório de seu pai.
— Sobre minha irmã.
Ah...
Fechei a porta atrás de mim dizendo:
— Ela pediu para você falar comigo?
— Não, na verdade ela disse que essa era a última coisa que
ela queria que eu fizesse. Mas eu gostaria de esclarecer as coisas.
— Ele me olhou, sorrindo ardilosamente. — Você gosta dela?
Bem... o que eu deveria dizer? Eu quase dormi com a sua
irmã há algumas horas? Isso significava que eu gostava dela? Eu ri
nervosamente diante da minha pergunta mental.
— Não importa se eu gosto ou não dela — eu disse,
passando os dedos por entre meus cabelos. — Megan merece algo
muito melhor do que eu.
— O que quer dizer com isso?
— Não posso oferecer o que ela quer. Estou longe de ser o
namorado ideal. E ela precisa de perfeição em tudo. Apesar de eu
ter certeza de que nesse exato momento ela não precise de nenhum
namorado. Ela está muito ocupada estudando e construindo sua
carreira.
— Hmm... — Owen me olhou pensativamente.
— O quê?
— Eu pensei que... deixe para lá. Vocês não são mais
crianças. Vocês vão resolver tudo por conta própria. Só um
conselho, Aiden: você é meu amigo e eu realmente aprecio o fato de
que você vai ser meu padrinho, mas se você machucar Megan, você
vai ter que lidar comigo. Está claro?
— Como água.
— Ótimo. Então, sobre o que queria falar comigo?
— Annabel.
— Ah, sim. Eu me esqueci de dizer que ela vai ao casamento.
— Mary sabe sobre ela?
— É claro que sabe. Ela leu a lista de convidados.
— Não, quis dizer se ela sabe sobre os sentimentos de
Annabel por você?
— Já disse que Annabel é minha amiga. Nada além disso.
— Espero que sua noiva pense o mesmo.
Nós conversamos por cerca de quinze minutos e Owen me
contou sobre sua surpresa para Mary na festa na praia naquela
noite. Ele também pediu que eu me certificasse de que sua irmã
estivesse lá. Depois ele se foi, me deixando sozinho com minhas
próprias preocupações.
De repente, tudo que usualmente não me incomodava, se
tornou um problema sério e muito lindo, chamado Megan. Se na
noite anterior eu havia pensado que seria fácil ficarmos juntos sob o
mesmo teto pelos próximos seis dias, eu estava definitivamente
errado. E a sessão de cuidado com os pés de hoje provou meus
piores medos. Eu estava atraído por ela. Quando eu estava com ela,
não podia pensar em mais nada além de tê-la entre meus braços,
beijar sua boca e fazer amor com ela...
Eu ainda podia sentir o calor da pele dela tocando a minha
como se eu estivesse de volta na velha casa Peterson, deitado no
sofá com a respiração dela fazendo cócegas em meu pescoço.
Surpreendentemente, além do desejo selvagem me queimando
naquele momento, eu senti um conforto silencioso que nunca pensei
encontrar ao estar com alguém. Aquilo ofuscou até mesmo a
eletricidade que percorria entre nós.
Eu me lembrava de cada pequeno detalhe dela como se
estivéssemos juntos há anos e não horas. A sombra de um sorriso
brincando nos cantos de seus lábios; o modo como os olhos dela
mudavam de cor quando a iluminação mudava; ou o modo como ela
me olhava esperando minhas respostas. As memórias de seu
cheiro, me envolvendo com seu frescor e suavidade nunca
deixavam minha mente. E não importava o quanto eu tentasse voltar
meus pensamentos a outra coisa, tudo que eu queria era cruzar a
distância entre o escritório e o quarto dela e vê-la novamente.
Eu não percebi quando aquele pensamento puxou meu corpo
até a porta e, um momento depois, eu me encontrei de pé em frente
ao quarto de Megan. Eu bati, mas ninguém respondeu.
— Megan? Posso entrar?
Quando ela não respondeu, eu abri a porta e entrei. Ela
estava dormindo, encolhida debaixo de um cobertor gigante que me
fez sorrir. Ela parecia uma garotinha, perdida entre travesseiros e
brinquedos; embora seus brinquedos não fossem ursinhos e
bonecas, mas um celular, um caderno, uma caneta escondida entre
as páginas e um notebook. Ele estava aberto com uma nova
mensagem na tela. A primeira linha chamou minha atenção e eu
comecei a ler.

“Oi, docinho,
Eu espero que seu voo tenha sido bom e que tenha chegado
em casa com segurança. Eu queria me certificar de que você se
lembrasse de nossos planos. Estou sentindo muitas saudades suas!
Volte o quanto antes!!!
Amo você,
Z.”

O que ela havia dito sobre um namorado? Que ela não tinha
um? Sim, claro... eu fechei o notebook e rumei para fora do quarto,
sem nem mesmo me incomodar em ser silencioso.
Como eu poderia ter sido tão idiota? Eu desci as escadas o
mais rápido possível. Eu sabia que ela estava escondendo alguma
coisa, mas quem diria que era um namorado?
— Aiden, você pode me ajudar com—
— Não agora, Owen! — eu revidei agressivamente, entrando
no carro. Liguei o motor e avancei em direção ao cais.
Eu estava tão irritado: com Megan por ter mentido para mim,
comigo por ter confiado nela, por me sentir culpado com tudo que
havia acontecido — ou não acontecido — na noite passada, por
chateá-la. Bem, parecia que eu estava mais irritado comigo mesmo.
Bem feito, cara, pensei comigo mesmo.
Parei em um café, me sentei em uma mesa de frente para o
mar e pedi uma xícara de café. Eu pediria algo mais forte, mas teria
que voltar para a casa de Owen e precisava estar sóbrio para não
arruinar sua surpresa para Mary.
Xinguei e suspirei. Por que ela não me contou sobre o
misterioso Sr. Z? Será que ela pensou que isso a comprometeria
aos olhos da família, que acreditava verdadeiramente em seu ódio
pelos homens? Que ridículo!
O que mais me surpreendeu foi minha própria reação à
mensagem. Aquilo me irritou. Como se eu tivesse algum direito de
estar irritado. Megan não era minha, então por que eu ficaria bravo?
Ela não poderia ter mexido tanto comigo, poderia?
Eu não queria pensar muito sobre aquilo. Nunca tinha
pensado tanto nas mulheres que namorei. E eu nunca havia
namorado Megan, então não havia motivo para me incomodar com
as perguntas que não podia responder.
No momento em que meu carro parou na entrada da casa de
Owen, vi Annabel lá. Ela vestia um vestido curto vermelho e saltos
que a faziam parecer uma versão real da Barbie. Ah, cara, nenhuma
mulher em sã consciência acreditaria que aquela criatura humana
era apenas amiga de seu noivo. Pobre Mary.
Eu respirei fundo e fui cumprimentá-la.
— Oi, raio de sol! Sempre soube que seria impossível fazê-la
mudar de ideia sobre algo que você quer muito fazer.
— É bom ver você também — minha amiga respondeu, me
beijando nas bochechas. — Já viu a noiva de Owen?
— Sim, por quê? — perguntei, desconfiado.
— Por nada. — Annabel deu de ombros, mas eu a conhecia
bem o suficiente para ver que ela estava nervosa. — Ela é bonita?
— Acho que nós dois temos opiniões diferentes sobre a
definição de beleza.
— Então ela é.
Eu sorri, peguei a mala dela e abri a porta.
— Pensei que você tivesse dito que simplesmente queria
desejar a Owen um casamento feliz.
— Bem, isso também.
Parei abruptamente e Annabel esbarrou em mim.
— Não arruíne nada. Você prometeu, lembra?
— Relaxe, Aiden. Você sabe que eu posso ser uma boa
garota — ela disse em uma voz doce.
— É exatamente isso que mais me preocupa. — Eu precisava
da ajuda de Megan, e quanto antes, melhor. — Por que você não
espera aqui? Eu vou encontrar Owen.
— Claro, sem problemas.
Annabel foi para a sala de estar e eu me apressei para subir
as escadas para ver se Megan estava acordada. Meu plano de ficar
longe dela estava arruinado em segundos.
No momento em que parei na porta do quarto dela, a ouvi
dizendo:
— Não se preocupe, estarei lá no horário. É, também sinto
sua falta. Te ligo mais tarde. Tchau.
Outra onda de raiva correu pelo meu corpo. O sentimento
estranho que eu tinha tentado reprimir durante a viagem de volta
para casa aparecia com uma nova intensidade. Quem diria que eu
sabia o que significava sentir os malditos ciúmes?
— Entre! — Megan respondeu à minha batida.
— Oi — eu disse, abrindo a porta. — Como se sente?
Eu queria que alguém me fizesse a mesma pergunta, porque
a visão do cabelo bagunçado de Megan espalhado sobre os
travesseiros me lembravam de coisas sobre as quais eu não deveria
estar pensando.
— Muito melhor — ela disse, sorrindo de leve. — Graças a
você. A pomada que você trouxe fez mágica nos meus pés. Eu mal
consigo sentir a dor.
— Ótimo. Significa que você não vai perder a festa na praia.
— Na verdade, eu não planejava ir.
Me senti decepcionado.
— Owen disse que queria que você estivesse lá. Ele até me
pediu para me certificar de que você fosse.
As bochechas de Megan ficaram vermelhas.
— Você não precisa tomar conta de mim, Aiden. Eu posso
chegar na praia por conta própria. Além disso...
— Aí está você, querido! — Annabel disse animadamente,
entrando no quarto. — Estive procurando por você por todos os
lados! Você nunca me disse que Maggy era sem sal!
— O nome dela é Mary — Megan começou em um tom duro.
— E eu não me lembro de meus pais terem convidado uma boneca
Barbie para o casamento.
O-oh... em um piscar de olhos, me encontrei no meio de um
fogo cruzado.
Capítulo 7
Megan
Eu olhei para os lábios trêmulos da garota. Ela estava furiosa
e parecia estar prestes a chorar, mas eu nem me importava. Eu não
a conhecia, mas ela obviamente conhecia Aiden, cujo braço ela
estava segurando firmemente, como se fosse um colete salva-vidas.
— Quem é essa? — eu perguntei a ele.
— Acalme-se, Megan, esta é…
— Você diz para ela se acalmar? — a Barbie chiou. — E eu?
Ela acabou de me chamar...
— Não aconteceu nada, Annabel — Aiden disse, se
libertando do aperto de morte dela. — Vocês duas precisam se
desculpar pelo que disseram e tudo vai ficar bem.
— Você só pode estar brincando! — eu explodi.
— Sem chance! — a dona dos lábios vermelho escarlate
disse.
Eu me virei para Aiden novamente.
— Viu? Não precisamos de desculpas. Tenho certeza de que
vamos sobreviver simplesmente ignorando uma à outra. Ela é uma
das suas garotas? — Eu não iria perguntar aquilo, mas de alguma
forma o demônio dentro de mim venceu.
Aiden esfregou a ponte do nariz antes de dizer:
— Annabel é minha amiga e convidada do Owen.
Quem diria que meu irmão tinha amigas como aquela?
— Legal — eu disse, sorrindo docemente. — Agora que as
apresentações terminaram, podem fazer a gentileza de se retirarem
do meu quarto para eu me vestir?
A mandíbula de Aiden se retesou. Obviamente, ele não
estava acostumado a ser expulso do quarto de uma mulher. Bem, às
vezes o mundo girava. Ele balançou a cabeça e se dirigiu até a
porta, seguindo sua amiga charmosa.
— Ótimo... — murmurei, olhando para a porta fechada.
As coisas estavam ficando cada vez piores e eu não estava
gostando nem um pouco. Eu realmente esperava que minha estadia
em casa fosse menos estressante. Não tive sorte.
Quando era hora de me arrumar para a festa, eu vesti um
vestido branco leve que ia até os pés, peguei um casaco apenas
para o caso do clima britânico nos trazer novas surpresas, e desci
as escadas.
Para minha grande decepção, Aiden era a única pessoa
esperando por mim lá.
— Onde estão todos?
— Foram à praia — ele respondeu asperamente. — Você vai
comigo.
— Posso pegar um táxi.
Aiden revirou os olhos.
— Não me faça arrastá-la até o carro, Megan. E pode
acreditar que eu farei isso se for preciso.
— Tudo bem.
Encontrei o olhar dele, esperando que outro comentário duro
se seguisse. Em vez disso, Aiden abriu a porta para mim e me
seguiu em silêncio até o carro.
Nossa segunda viagem juntos não foi muito diferente da
primeira. Eu quase podia ouvir o ar crepitando ao nosso redor. E
não havia nada de legal nisso. Parecia que quanto mais tempo
passávamos juntos, mais forte o ódio se tornava. E eu não entendia
o motivo para tal. Por que estranhos se tornariam inimigos? Se não
fosse pela atitude de Aiden e a minha própria sobre aquele
relacionamento, eu teria pensado que...
— Bem-vinda ao paraíso!
— Perdão? — O encarei, confusa.
— É o nome da festa — ele disse, apontando para a faixa na
entrada da área da praia locada para aquela noite.
Eu fiz uma careta para o quão ridiculamente romântico aquilo
soava.
É claro que meu irmão sabia fazer surpresas. E eu nunca
duvidei de que sua esposa seria uma das mulheres mais felizes do
mundo, se não a mais feliz. Era uma pena que existisse apenas um
Owen Brawley no planeta.
— Devo ajudá-la? — Aiden perguntou, olhando para os meus
pés. A dor já era quase inexistente. Eu ainda não podia usar salto,
mas já podia ficar de pé sem a ajuda de ninguém.
— Não, obrigada — eu respondi, saindo do carro. Eu não
perguntei a ele sobre sua amiga, embora quisesse saber
desesperadamente onde ela estava. O que estava acontecendo
comigo?
— Você se importa se eu a deixar sozinha por um momento?
Preciso encontrar alguém — Aiden disse.
— Claro, não tem problema — eu respondi distraidamente.
Minha atenção estava voltada às decorações do paraíso, criadas
pelo meu irmão.
Ora, inferno... talvez até mesmo eu gostaria de ter uma festa
como aquela.
Havia vários balões brancos gigantes em todos os lugares.
Os postes estavam decorados com rosas e fitas cor-de-rosa e os
buquês de hortênsia estavam balançando nas ondas de uma praia
privada, iluminada por milhares de velas.
— Um verdadeiro paraíso — eu disse baixinho, admirando a
vista.
— Megan! — Owen chamou.
Eu me virei e vi meu irmão e sua noiva. Eles estavam sorrindo
e até mesmo à distância eu podia ver como eles estavam felizes.
— Estamos felizes que você tenha conseguido vir — Mary
disse, me abraçando. — Owen me contou sobre a noite terrível que
você teve que passar na fazenda.
— Terrível não é a palavra — eu respondi.
Meu irmão me olhou desconfiadamente. Eu odiava quando
ele fazia aquilo. Significava que ele sabia muito mais do que eu
queria que ele soubesse. Às vezes parecia que era impossível
esconder qualquer coisa dele. Talvez ele estivesse certo, no fim das
contas, e eu fosse a pior mentirosa de todas?
— Como você está se sentindo? — ele perguntou após uma
breve pausa.
— Quase ótima — eu disse, tentando sorrir.
— Você veio com Aiden?
— Sim... quer dizer, não. Ele me trouxe, mas não sei onde ele
está.
— Então por que não se junta a nós na mesa principal? —
Mary sugeriu. Eu tinha que admitir: ela estava linda vestindo um
vestido tomara-que-caia longo que combinava perfeitamente com
seus olhos verdes.
— Você sabia que Aiden está indo embora hoje? — meu
irmão perguntou, caminhando do meu lado.
— O quê? Ele não me disse nada disso... — Eu encarei o
caminho arenoso sob meus pés com o olhar perdido.
— Ele disse que se esqueceu de um contrato que precisava
assinar. Mas ele vai voltar para a cerimônia no sábado, porque eu
certamente não tenho tempo de procurar outro padrinho.
Bem, é melhor assim, eu pensei. Eu preferia ignorar a minha
voz interior que dizia que a notícia não era muito animadora. Eu
também ignorei os sentimentos de decepção e tristeza repentinos
que me corroíam.
Meu celular vibrou e uma nova mensagem chegou, dizendo:

“Vire.”

Eu obedeci e congelei, estarrecida.


Ali estava ele — a razão de minha fuga — de pé em toda a
sua glória, a apenas alguns passos de distância.
Engoli em seco.
— Jeff? O que você está fazendo aqui?
— Oi para você também, Megan — ele respondeu com o
sorriso que ainda me fazia derreter. É sério?
O cara era um sonho ambulante se tornando real: alto,
ombros largos; com olhos castanho escuros onde qualquer garota
gostaria de se perder e cabelos louros por entre os quais sempre
quis correr meus dedos. Eu senti o nervosismo predatório se
formando dentro de meu peito. Inacreditável, Jeff ainda tinha aquele
efeito sobre mim.
— Eu não sabia que você estava convidado para as
comemorações — eu disse. Minha voz vacilou na última palavra.
Merda.
— Minha mãe é dona da confeitaria que fará os bolos para o
casamento.
— Entendi. Bem, divirta-se.
Eu senti uma necessidade desesperadora de me afastar dele
o quanto antes. E de repente, vi meu salvador.
— Com licença, — eu disse a Jeff, — meu namorado está
procurando por mim.
E antes que ele dissesse qualquer coisa em resposta, eu me
apressei até Aiden. Não era a melhor escolha para um namorado de
mentira, eu sabia, mas era melhor do que ficar com Jeff.
Exibi meu melhor sorriso, fui até o Sr. Impossível e coloquei
meus braços ao redor de sua cintura dizendo:
— Oi, baby. Quer dançar comigo?
Aiden derrubou metade de sua bebida e me encarou em
choque.
— Você está louca ou algo do tipo?
Alguns homens com os quais ele estava falando voltaram sua
atenção a mim.
— Não. — Eu sorri para eles, me xingando mentalmente por
ser tão idiota. — Mas eu preciso dançar — acrescentei baixinho,
para que apenas Aiden me ouvisse.
Ele ergueu as sobrancelhas, tentando entender o motivo para
meu comportamento estranho.
— Tudo bem. Com licença, cavalheiros — ele disse aos
companheiros. Então ele deixou a bebida de lado e me levou até a
pista de dança. — Para quem é essa farsa? — ele perguntou, nem
mesmo tentando esconder o nojo em sua voz.
— Por que você acha que isso é uma farsa?
— Porque eu sei que você preferiria morrer do que me
convidar para dançar sem um motivo.
Eu sorri.
— É verdade.
Os olhos de Aiden escureceram.
— Desculpe, eu não quis dizer isso. — Eu baixei meus olhos
com culpa. Meu namorado não estava no clima para brincadeiras.
— Que seja — ele disse indiferentemente.
Merda, eu não deveria ter usado ele como distração. Mas era
tarde demais para mudar alguma coisa. Então decidi falar sobre
outra coisa.
— Owen disse que você vai embora hoje à noite.
— Sim. Por quê?
Os olhos frios de Aiden me fitaram. Seus braços estavam ao
redor de minha cintura, mas ainda assim parecia que estávamos
distantes demais um do outro. E mesmo que estivéssemos
dançando, e que toda dança significasse algo íntimo, nosso caso
era diferente.
— Por nada. Só estou curiosa.
Nenhum músculo se moveu no rosto de Aiden. Ele era uma
estátua imóvel. Então ele sorriu e olhou para algo atrás de mim
dizendo:
— Parece que eu não sou o único homem com o qual você
vai dançar esta noite.
Capítulo 8
Aiden
Meus olhos cravaram buracos na camisa preta do cara. Eu
não o conhecia, mas aparentemente ele conhecia Megan. O modo
como ele a olhava me fazia querer incendiá-lo. Seu olhar se movia
lentamente pelo corpo de Megan de cima a baixo, como se ele
tentasse despi-la com os olhos.
Meu sangue ferveu lentamente.
— Esse é o cara que você queria provocar ao me convidar
para dançar? — Acenei com a cabeça para o idiota atrás dela.
Ela se virou lentamente e eu podia jurar que vi a excitação
brilhando em seus olhos.
— Eu não sei do que você está falando.
Xinguei mentalmente.
— Sim, certo. Então o que você disse a ele? Hã? Que eu sou
um primo que você não vê há anos? Ou melhor: que eu sou o
namorado sem o qual você não pode viver?
Megan ficou paralisada. Ponto para a sua mente brilhante,
cara, pensei.
— Então você disse que eu era seu namorado, certo? — Eu
sorri com as minhas próprias palavras. Que ironia... quem diria que
um cenário daqueles seria possível?
Eu baixei minha cabeça para me aproximar de Megan.
— Você deveria saber que jogos como este incluem muito
mais do que apenas uma dança, querida. E eu acho que é minha
vez de jogar.
Eu sorri lentamente antes que os meus lábios encontrassem
os de Megan. Eu a pressionei contra meu peito, minha mão
alcançando sua bochecha e minha língua deslizando por entre os
lábios mais doces. Eu não me apressei para aprofundar o beijo. Eu
estava saboreando cada segundo daquele momento e queria que
Megan me beijasse de volta. Sim, era um preço justo pela pequena
mentira dela.
Deslizei minha mão sobre as costas de Megan, mordiscando
seu lábio inferior de leve e provocando sua língua com a minha. Ela
gemeu baixinho e seus dedos se entrelaçaram entre meus cabelos;
seu coração batia rápido contra o meu peito.
O corpo dela estava pressionado contra o meu, nossos lábios
se beijando, seu cheiro se misturando ao meu, nossas línguas
brincando no jogo mais sedutor com o qual já havia me envolvido.
Caramba, a garota sabia beijar.
Terminei o beijo relutantemente, sussurrando:
— Venha comigo.
Então olhei nos olhos de Megan e não havia nenhum indício
de protesto. Ela estava pronta para me seguir a qualquer lugar. Eu a
peguei em meus braços e me dirigi até o carro.
— As chaves — eu disse. — No meu bolso traseiro.
Ela alcançou as chaves e destrancou o carro. Nós entramos
no banco traseiro e nosso beijo recomeçou com uma nova
intensidade.
Eu não me importei com as pessoas no estacionamento ou
com meu amigo, que iria me matar por estar com sua irmã, ou com
o cara que ainda estava esperando pelo retorno de Megan à festa.
Foi mal, cara, hoje não...
Ela estava sentada no meu colo, ambas as pernas sobre as
minhas. Eu alcancei a barra de seu vestido e o levantei até seus
quadris, trilhando beijos por seu pescoço e colo. Eu não me cansava
dela, nada parecia suficiente. A suavidade de sua pele queimava
meus lábios. Eu encontrei sua face novamente e olhei em seus
olhos, passando meus dedos por seus cabelos sedosos. Ali,
naquele momento, eu estava pronto para morrer apenas para fazer
o tempo parar. Eu não estava pronto para deixar Megan ir. E eu não
ia fazer isso...
Eu envolvi meu dedo com uma mecha de cabelo dela e
aproximei seu rosto do meu.
— Eu quero você — eu sussurrei a centímetros dos lábios
dela. — Agora.
Ela estava tão sexy com os lábios inchados por conta dos
meus beijos e seu cabelo comprido nos separando do mundo do
lado de fora do carro; fogo puro queimava nos olhos dela.
Eu acariciei seus braços e ombros, puxando as alças de seu
vestido e sutiã para baixo.
— Roxo? — eu perguntei, sorrindo e tocando o cetim que
envolvia seus seios. — Da última vez você estava vestindo preto e
eu pensei que aquela fosse a melhor visão de todas. Mas isso... isso
me faz querer muito mais do que o abraço que compartilhamos na
fazenda.
— Tem certeza de que estamos prontos para isso?
— Você não consegue sentir o quanto eu estou pronto?
Ela riu baixinho.
— Não foi o que eu quis dizer.
— O que você quer que eu diga, Megs? Sou apenas um
homem e você é uma mulher incrivelmente linda. Eu quero que esse
momento pertença a nós e não quero pensar no amanhã. Você vai
ficar comigo esta noite? Você decide. Mas eu quero que você saiba
que isso não é só sexo. Eu nunca quis outra mulher como quero
você. E talvez uma noite não seja suficiente para tirar você de
dentro de mim, mas eu quero que você fique. Se permita ser livre.
Pelo menos uma vez na vida.
— Sem promessas e sem arrependimentos?
— Sim.
Megan ainda parecia estar hesitando, então intensifiquei meu
abraço dizendo:
— Eu vou aceitar o que você decidir.
Então deslizei minha língua sobre seus lábios novamente e
ela fechou os olhos, gemendo suavemente.
— Tem uma coisa que você precisa saber antes — ela disse.
— Podemos falar sobre isso amanhã? — perguntei, movendo
meus lábios até o lóbulo de sua orelha.
— Não, é sobre—
— Aiden? Megan? — Owen chamou.
— Merda — eu xinguei. — Não agora, cara!
— Fique quieto — Megan disse, cobrindo minha boca com
sua mão. — Ele não sabe que estamos aqui.
Felizmente, as janelas do meu carro tinham película e sob a
escuridão da noite, dificilmente alguém conseguiria ver o que estava
acontecendo dentro do carro.
— Ele está indo embora. — Megan suspirou com alívio. —
Estávamos a segundos de sermos pegos.
Quando ela mencionou o tempo, eu olhei meu relógio.
— Merda, eu me esqueci da reunião que tenho amanhã cedo.
— Acariciei sua bochecha. — Venha comigo para Bristol. Nós
voltamos em um ou dois dias.
Ela balançou a cabeça.
— Não, Aiden. Eu não posso. Owen vai me matar se eu for
com você.
Eu inspirei profundamente e pressionei minha testa contra a
dela.
— Parece que o destino não gosta dos nossos jogos. Ele
continua a criar novos obstáculos para nós.
Megan arrumou seu vestido e se sentou do meu lado.
— Talvez ele esteja certo e nós não devêssemos fazer isso...
Definitivamente, a mágica do momento se foi. Obrigado,
Owen, disse mentalmente ao meu amigo. Você acabou de estragar
tudo.
— Eu acho que nós deveríamos voltar para a festa — Megan
disse, inquieta.
— Sim, eu acho que não deveríamos deixar seu irmão
chateado.
E assim, tudo estava acabado.
Voltamos à praia fingindo que nada havia acontecido. Megan
se juntou à família e eu... bem, eu continuei a migrar de grupo em
grupo, falando sobre coisas banais e observando-a de soslaio.
Ela parecia perdida. Como se seu corpo ainda estivesse lá,
mas seus pensamentos estivessem em outro lugar... e eu acho que
sabia exatamente onde eles estavam.
Havia algo de errado comigo. Era a primeira vez que eu não
conseguia o que queria. Duas vezes. E eu nunca perdia quando o
assunto era mulher.
Mas desta vez, tudo era diferente. Megan era diferente. Eu
sabia que sentíamos algo um pelo outro e embora ambos nos
recusássemos a admitir, não era apenas sobre sexo.
Eu duvidava que uma noite com ela fosse ser suficiente. Eu
não sabia de onde aquele pensamento tinha vindo, mas era
verdade. Eu queria passar o máximo de tempo possível com ela. E
eu precisava ir embora em algumas horas...
Eu balancei minha cabeça, frustrado.
Eu precisava falar com Megan. Eu esperei até que a festa
tivesse acabado, mas quando pensei em dar uma carona a ela, não
a encontrei. Um dos convidados disse que ela havia saído com o
irmão e sua noiva. Desapontado, eu voltei para a casa de Owen,
esperando ter uma chance de falar com sua irmã.
Era quase meia-noite quando bati na porta do quarto dela.
— Um segundo! — Megan respondeu de trás da porta.
Quando ela abriu, vestia uma camisola bege curta e tinha
uma toalha enrolada em sua cabeça.
— Aiden? Pensei que você tivesse ido embora.
— Não podia ir embora sem me despedir. Posso entrar?
Ela olhou para o corredor vazio com cuidado.
— Claro.
— Pensei que você tivesse idade o suficiente para não ter
medo dos seus pais verem um cara entrando escondido no seu
quarto.
— Ha-ha, muito engraçado. — Ela fez uma careta com meu
comentário. — E eu pensei que você não ousaria entrar escondido
no meu quarto depois do que aconteceu hoje.
Ela tirou a toalha e a jogou sobre a cama. Depois ela foi até o
espelho e começou a pentear os cabelos.
— É exatamente por isso que estou aqui — eu disse, ficando
atrás dela.
— Nem pense nisso — ela disse, olhando para mim através
do espelho.
— Nunca? — Eu sorri de leve ao que colocava meus braços
ao redor de sua cintura.
— Não agora, não aqui.
— Ok. Quando e onde?
— Eu não sei.
— Resposta errada — eu disse, beijando seu ombro; meus
olhos nunca deixavam os dela. — Pare de fingir, Megan. Você quer
isso tanto quanto eu.
— E daí? — Ela se virou para me olhar.
— Espere mais alguns dias. Eu vou voltar e fazer o que você
me pedir para fazer.
— E se eu mudar de ideia?
— Você mudou? — eu perguntei em um sussurro. Mas não a
deixei responder, porque quando meus lábios encontraram os dela,
não havia mais tempo para falar. Havia apenas o puro desejo que
ela enviava às minhas veias. O mero pensamento de deslizar
minhas mãos sob o tecido fino de sua camisola me fazia perder a
cabeça. Eu estava prestes a me esquecer do contrato que precisava
assinar, sobre a reunião e tudo mais, menos dela.
As mãos dela acariciaram minhas costas gentilmente, fazendo
cada músculo do meu corpo se tensionar. Seu cabelo ainda estava
úmido e eu queria segurá-lo entre meus dedos. O beijo era muito
lento e sensual, como se nenhum de nós quisesse aprofundá-lo,
provocando um ao outro com as sensações que ele nos causava.
Ela me puxou para mais perto pelos ombros.
Eu sorri para ela.
— Isso não é justo, sabia?
— O quê? — ela perguntou suavemente.
— Você sabe o quê. Primeiro, você me afasta e agora você
parece estar bem feliz em me ter para si. E você sabe que eu não
posso ficar, mas continua a corresponder meus beijos, sabendo que
isso não torna a minha ida mais fácil.
— É mesmo? Eu não notei. Mas você está certo. Você precisa
ir — ela disse, recuando.
— Você me deixaria ficar na sua cama se eu não tivesse que
ir? — perguntei, me aproximando dela.
— Não.
— Não?
— Sou uma garota decente, sabe?
— Ah, é mesmo? Então como devemos resolver esse
probleminha? Você se juntaria a mim em minha cama?
— Vou pensar sobre o assunto quando você realmente me
pedir para fazer isso.
— Combinado — eu disse. Então me inclinei para beijá-la
novamente e ela não me parou. — Volto em alguns dias. Você
espera por mim?
— Sem promessas, lembra?
É, bem, de alguma forma eu já não gostava mais do modo
como aquilo soava...
Capítulo 9
Megan
Que diabos você pensa que está fazendo? Minha voz interior
continuou a me fazer aquela pergunta e eu não sabia o que
responder. Eu já estava andando de um lado para o outro em meu
quarto por cerca de uma hora e não podia parar de pensar em
Aiden. Eu ainda podia sentir sua presença e cada centímetro do
meu corpo ainda se lembrava de seus toques.
Ah, Deus... isso não é nada bom! Eu grunhi, me sentando na
beirada de minha cama. Como devo me concentrar no casamento
quando tudo em que posso pensar é correr para Bristol e para os
braços de Aiden?
Toda vez que fechava meus olhos, podia senti-lo se
alastrando sob minha pele e fazendo seu caminho pelas minhas
veias até o ponto em que meu coração encontrava minha mente... e,
oh meu Deus, eu não queria que ele parasse. Eu queria que ele
fizesse meu coração bater mais rápido, queria perder a cabeça com
ele; eu queria que ele me fizesse sentir selvagem, pedindo cada vez
mais...
E eu nunca imaginei que poderia pensar em um homem
daquela forma, com imagens dele fazendo amor comigo
continuamente. Talvez minha mãe estivesse certa no fim das contas,
porque parecia que eu estava me tornando um desastre obcecado
por sexo.
Quase pulei de susto quando meu celular tocou. A mensagem
que eu recebi tinha sido enviada por um número desconhecido, mas
as palavras me fizeram sorrir. Era a primeira linha de uma das
minhas canções favoritas do The Lost.

“Me dê um pouco de sol, me dê um pouco de chuva


Me dê uma chance de ver você outra vez.”

Eu não sabia como Aiden sabia do meu amor pela banda,


mas estava certa de que a mensagem havia sido enviada por ele.
Eu me lembrei da próxima frase e digitei de volta:

“Então tudo de que você precisa é só mais uma chance?


Por que não começamos com uma música lenta?”

A resposta me fez rir.

“Aqui vem minha parte favorita,” Aiden escreveu. “E eu mal


posso esperar para que se torne realidade...”

“Uma palavra e o jogo começa,


Envolvendo nossos pensamentos e emoções em pecados.”

“Você é um sem-vergonha,” eu digitei, ainda sorrindo. Eu não


ousava digitar o restante da canção. Não havia nada de errado com
as palavras, não fosse pelo fato de que Aiden e eu as
compartilhávamos agora. Eu abri meu laptop e encontrei a canção
em minha playlist.

“Você não ouve o canto do rouxinol?


Quando nos comprometemos, até os pecados são doces.
Até mesmo o mundo para de girar
Nos observando, criando um novo começo.
Venha sobre mim e me liberte
Me ame, me ame, me ame,
Oh, minha rainha!
Deixe meus dedos correrem sobre seus lábios,
Enquanto minha mão vai até seus quadris,
Diga que concorda
Com o que quer que eu queira que nós sejamos.
Venha sobre mim e me liberte
Me ame, me ame, me ame
Oh, minha rainha!
Encoste seus lábios em meu peito,
E sinta o mundo descansar,
Deixe-nos sentir que somos abençoados
Sem protestos, o que você sugere?
Venha sobre mim e me liberte
Me ame, me ame, me ame
Oh, minha rainha!”

“Você está escutando a música?” dizia a próxima mensagem.

“Como sabia?”

“Sabendo... bons sonhos, Megs.”

Eu me afundei em meus travesseiros, ainda encarando a


mensagem. Sim, estar com Aiden era bom, quase intoleravelmente
bom.
Ainda que o momento em que nos conhecemos tivesse sido
terrível, uma sensação agradável em meu estômago diminuiu a
raiva e o ódio pelo homem. Eu estava encurralada... não sentia mais
vontade de fugir. Em vez disso, eu queria seguir o conselho de
Aiden e aproveitar minha vida ao menos uma vez.
A manhã seguinte se iniciou com um ruído alto vindo do lado
de fora de minha porta. Eu esfreguei meus olhos, joguei o cobertor
de lado e me dirigi até a porta, amaldiçoando todo mundo no
caminho.
— Que diabos está acontecendo aqui?
— Bom dia, mana. Desculpe o barulho. A mamãe queria que
nós colocássemos essa poltrona no quarto de hóspedes.
Owen e meu pai sorriram apologeticamente e voltaram ao seu
trabalho ruidoso. Nós sabíamos que discutir com nossa mãe era
uma causa perdida. As ordens dela eram sagradas.
— Boa sorte — eu disse antes de voltar para o meu quarto.
Aquele dia seria muito difícil. Eu odiava ser acordada. Meu
despertador não contava. Era apenas um mecanismo e
independentemente da quantidade de vezes que eu o
amaldiçoasse, isso nunca mudaria.
Tomei um banho, coloquei uma calça jeans e uma blusa
branca e fui para a cozinha para tomar café da manhã. Meus calos
estavam se curando, felizmente, o que significava que eu poderia
usar meu sapato turquesa novo para o casamento — ao menos
havia algo de positivo sobre tudo aquilo.
Mary foi a única pessoa que encontrei na cozinha e ela
parecia estar prestes a chorar.
— Está tudo bem? — eu perguntei, me sentando do lado
dela.
— Meu casamento vai ser um desastre! — ela disse,
escondendo o rosto entre as mãos.
— O que aconteceu?
— Minha madrinha não vem. Ela torceu o tornozelo e mal
consegue andar. O que devo fazer agora?
— Sinto muito, querida. Por que não pede a outra pessoa
para ser sua madrinha?
— Nenhuma das outras damas de honra me conhece bem o
suficiente para tomar o lugar dela.
— Você precisa de uma madrinha? — a voz atrás de mim quis
saber.
Mary e eu nos viramos para a porta e vimos a amiguinha de
Aiden. A Barbie ainda estava na nossa casa. Meu aperto no braço
de Mary se intensificou.
— Não mais — eu disse, sorrindo para ela. — Ela já
encontrou uma.
— Já? — Mary me olhou, confusa.
— Vou ser sua madrinha.
— Sério? Ah, muito obrigada, Megan! — Ela me abraçou
apertado. — Você e Aiden vão fazer um casal lindo.
Ah... o quê?
— O padrinho e a madrinha são o casal principal do
casamento. Bem, depois da noiva e do noivo, é claro.
— Ah...
Eu me arrependi imediatamente de minha proposta estúpida.
Será que a atmosfera fez alguma coisa com meu cérebro? Eu
estava dizendo e fazendo as coisas mais idiotas do mundo!
A Barbie atrás de mim sorriu e saiu da cozinha.
— Qual é o problema dela? — Mary perguntou.
— Homens — respondi, irritada. — Você sabe quem ela é?
— Owen disse que ela é a ex de Aiden ou algo do tipo. O
relacionamento deles é complicado. Eu não sei os detalhes.
Então ela é ex dele... bem, isso explica tudo. A única coisa
que eu ainda não conseguia entender era o motivo de sua presença
no casamento. Será que ela estava tentando recuperar o que ela e
Aiden compartilhavam? Ou ela estava atrás de algo que eu não
podia ver?
— Precisa de mim hoje? — perguntei a Mary. — Eu queria ver
alguns amigos da escola.
— Claro, sem problemas. Já fizemos quase tudo, então vou
precisar mais de você no dia do casamento mesmo.
— Tudo bem, é só me ligar se precisar de ajuda.
— Obrigada novamente, Megan. Eu não sei o que teria feito
sem você.
— De nada.
Minha mãe se juntou a nós alguns minutos depois e ela ficou
demasiadamente feliz em saber das notícias sobre meu novo papel
no casamento. Nós tomamos café e discutimos algumas coisas
sobre um jogo de minigolfe que deveria acontecer durante aquela
tarde.
Perguntei a Owen se eu poderia emprestar seu carro por um
tempo e quando estava prestes a sair de casa, a campainha tocou.
Eu estava certa de que minha boca havia encostado no chão
quando vi o visitante.
— Jeff?
— Bom dia, Megan. Eu... ah... queria ver você.
Uau, quem diria?
— Para quê? — eu perguntei, franzindo a testa. Eu não tinha
a mínima vontade de falar com ele. E eu pensei que tivesse sido
clara da última vez que nos encontramos. Aparentemente, não tinha
soado convincente.
— Quer tomar uma xícara de café comigo?
— Já tomei.
— Tudo bem, então que tal uma caminhada?
Eu olhei para o meu relógio. Eu iria encontrar Jessie e
Angelina em cerca de meia hora e parecia que Jeff queria mais do
que apenas trinta minutos de caminhada.
— Vou à cidade, na verdade. Por que não nos encontramos
mais tarde? Perto das três?
— Perfeito. — Ele sorriu. — Vejo você mais tarde, Megs.
Megs? Perdi o momento em que nos tornamos melhores
amigos?
— Até mais. — Eu acenei para ele e fui para a garagem,
ainda sentido o olhar de Jeff sobre minhas costas.
Há dois anos, eu morreria por uma chance de sair com ele,
mas hoje isso parecia ser uma perda de tempo. Ainda que o cara
ainda fizesse meu coração tripudiar.
Jessie, Angeline e eu éramos melhores amigas há muitos
anos. Nós fazíamos tudo juntas: tarefas de casa, compras, festas.
Elas não gostavam do fato de que eu morava em Londres. Nós
ainda conversávamos de tempos em tempos, mas agora cada uma
tinha sua própria vida. Diferentemente de mim, elas também tinham
o que era chamado de vida pessoal; eu sabia que Jessie era noiva e
Angeline namorava um dos nossos colegas de classe.
Eu estava um pouco decepcionada sem receber nenhuma
mensagem de Aiden. Eu sabia que ele tinha uma reunião cedo, mas
ainda esperava ter notícias dele. E isso não era normal para mim.
Isso significava que eu sentia falta dele? Sem chance...
Eu deixei o carro de Owen no estacionamento e fui para o
café.
Eu reconheci Jessie imediatamente. Ela era ruiva com
grandes olhos azuis. Angeline era loura e as pessoas sempre nos
chamavam de Trindade Inseparável.
Eu sorri, acenando para elas.
— Meu Deus! Olhe para você! — Jessie disse, me abraçando.
— Você está fantabulosa!
— Bom ouvir isso de quem sempre foi a rainha do estilo e da
moda.
— Cale a boca. — Ela riu em resposta.
— Sentimos tanta saudade de você! — Angeline disse.
— Eu também, garotas. — Eu estava verdadeiramente feliz
em ver minhas velhas amigas.
— Queremos saber cada detalhezinho da sua vida em
Londres. — Jessie não tinha mudado e sua curiosidade também.
— E especialmente os detalhes que envolvem homens —
Angie acrescentou.
Revirei meus olhos.
— Não tenho nada para falar. Não estou namorando. Não
tenho tempo para homens.
Minhas amigas compartilharam um olhar confuso.
— Como está se sentindo, querida? — Jessie perguntou,
semicerrando os olhos. — Tem certeza de que isso não tem alguma
coisa a ver com algum vírus de vida de cidade grande ou algo do
tipo? Porque eu tenho certeza de que nenhuma mulher sã da sua
idade pode ficar tanto tempo sem homem.
Eu ri.
— Estou bem, é sério. E está tudo bem com a minha vida de
cidade grande.
— Você precisa de uma boa lavagem cerebral, querida.
Felizmente, você tem nós duas para ajudá-la com isso. — Angelina
piscou para mim. — Não faça planos para hoje à noite. Nós vamos
para a boate.
— Mas...
— Sem mas! — ela disse estritamente. — Não existe a
mínima possibilidade de nós deixarmos você morrer sendo virgem.
Capítulo 10
Aiden
Eu precisava trabalhar muito para conseguir voltar para
Axbridge o quanto antes. Eu assinei um contrato sem ler tudo
cuidadosamente. Eu realmente esperava que Owen já o tivesse lido
e que eu não tivesse feito nada de errado.
Eu acho que quebrei todas as regras de velocidade, porque
quando parei em frente à casa de Owen, era cerca de oito da noite.
Eu ainda estava vestindo terno, mas não me importava. Eu estava
morrendo de vontade de ver Megan.
Abri a porta do motorista e vi o mesmo cara que havia visto na
festa de pé na varanda. Cerrei a mandíbula. Que diabos ele estava
fazendo ali?
— Posso ajudar? — perguntei, me aproximando dele.
Ele se virou e franziu a testa, o reconhecimento cruzando seu
rosto.
— Oi. Eu sou Jeff, Jeffrey Morison.
Eu assenti silenciosamente
— Sou amigo de Megan.
— Nunca ouvi falar de você — eu revidei. Por que eu deveria
tentar esconder minha irritação se nem mesmo sabia nada sobre
aquele maldito amigo?
— Nós combinamos de nos encontrarmos aqui.
Aquilo imediatamente instigou meu interesse.
— É mesmo? Ela não me disse nada sobre esse encontro.
O cara recuou com o olhar assassino que eu lhe dei. E eu
tinha certeza de que Owen justificaria os motivos para o assassinato
que eu estava prestes a cometer em sua varanda.
— Ah... vocês estão namorando ou algo assim? — O babaca
teve a audácia de fazer a pergunta mais estúpida de todas.
— Sim — respondi sem hesitar. — Você tem algum problema
com isso?
— Não me leve a mal, mas eu não acho que você seja bom o
suficiente para ela.
Você só pode estar brincando...
— E por que você pensa isso? — Cruzei meus braços,
tentando reprimir o desejo selvagem de socar aquele cara até ele
cair no chão.
— Não é óbvio?
— Na verdade, não. — Minha paciência estava acabando.
— Ela é inteligente, linda e gentil e você é... bem, só um cara
mimado que nunca fez nada para conseguir o que seus pais deram
a você.
Eu gargalhei.
— Então é isso que você pensa de mim? Sério? — Eu dei um
passo à frente. — A verdade é que você está simplesmente com
ciúmes. — Não havia motivo para tentar fazê-lo mudar de opinião
sobre mim. Eu não me importava nem um pouco sobre o que ele
pensava. — E sabe de uma coisa? Megan nunca vai olhar para uma
pessoa como você. Porque ela gosta de homens que possam
protegê-la e cuidar dela, e não caras que ainda leem revistas pornô
debaixo do cobertor.
Jeff ficou vermelho dos pés à cabeça e eu não sabia se era
devido à veracidade das minhas palavras ou à raiva que ele sentia.
De qualquer forma, eu sabia que ele tinha me entendido. Ele se
virou e partiu apressado.
— Ei, você está de volta! — Owen apareceu na porta. —
Como foi a reunião?
— Ótima. Eu fiz tudo que precisava fazer e voltei. Sabia o
quanto você precisava de mim.
— Isso é verdade — ele disse, cansado. — Eu acho que
preciso de algumas horas longe desse hospício. Que tal um drink?
— Boa ideia. — Eu assenti e nós dois voltamos para o meu
carro.
— O que eu perdi? — perguntei ao meu amigo. — Espero
que isso não tenha nada a ver com Annabel?
— Nem perto disso. São as ideias loucas da minha mãe sobre
encontrar um marido para Megan.
Meu aperto ao redor do volante de intensificou.
— Eu não vejo nenhum problema nisso. Megan é adulta. Ela
vai encontrar um marido quando precisar de um.
— É isso que eu disse à minha mãe. Mas ela ainda acha que
nós precisamos ajudá-la. A propósito, minha irmã vai ser seu par no
casamento. A madrinha de Mary não vai vir e Megan vai substituí-la.
Pelo menos uma boa notícia, eu pensei.
— Tem alguma coisa sobre a qual você queira conversar? —
Eu conhecia Owen bem o suficiente para ver que algo o estava
incomodando.
— Megan foi a uma boate hoje e nossa mãe mandou alguns
caras “para entreter nossa garota”.
— Meu Deus...
— Exatamente.
— Você sabe para que boate ela foi?
— Sim, The Blue Laguna. Por quê?
— Sua irmã obviamente precisa da nossa ajuda.
Eu sorri para meu amigo e entrei na rua onde estava
localizada a The Blue Laguna.
A boate estava meio vazia. Algumas pessoas estavam
dançando e metade das cadeiras perto do bar estavam disponíveis.
Meus olhos encontraram Megan imediatamente. Ela estava
acompanhada de duas garotas que eu não conhecia. Elas pegaram
uma das mesas mais distantes, onde a música não era tão alta.
Alguns caras estavam sentados na mesa ao lado da delas e eu me
perguntei se eles eram os mesmos caras enviados pela mãe de
Owen.
Um deles pegou seu copo, foi até a mesa de Megan e se
sentou ao lado dela. Para a minha surpresa, ela não se importou
com isso. Ele esticou a mão dizendo algo em seu ouvido, ela riu e
apertou a mão dele. E por que eu pensaria que ela não gostava da
atenção dos homens? Agora ela parecia estar apreciando-a em
demasia.
Owen disse que queria comprar uma bebida e foi ao bar; eu
fiquei na entrada, observando sua irmã.
Ela estava linda, como sempre. E eu não podia nem mesmo
imaginá-la de óculos, passando noites inclinadas sobre livros e não
sobre o peito nu de outra pessoa. Eu tinha certeza de que se tivesse
uma especialista financeira tão charmosa em minha empresa,
nenhum homem seria capaz de pensar em números e documentos
quando ela estivesse por perto.
Me lembrei das mensagens que trocamos na noite passada.
Era hora de cobrar a dança prometida. Então dei meu melhor sorriso
e andei até a mesa dela.
— Me concederia esta dança?
Os olhos de Megan se arregalaram. Ela não esperava me ver
ali. Ela assentiu silenciosamente, eu peguei sua mão e a guiei até a
pista de dança.
Com sua mão direita na minha e a esquerda no meu ombro,
começamos a nos mover lentamente ao som da música que
preenchia o espaço ao nosso redor.
— Eu não sabia que você estava de volta — ela disse.
— Eu tentei voltar o mais rápido possível. — Eu a puxei para
mais perto por um momento e então a soltei, girando-a. Quando
pressionei suas costas contra meu peito, abaixei minha cabeça e
sussurrei em seu ouvido: — Sentiu minha falta?
Ela sorriu, se virando para me encarar.
— Longe disso.
— Ah, sim, eu posso ver como você está ocupada demais
com outros caras para se lembrar de mim.
— Por que se importa?
Meu abraço se intensificou.
— E se eu estiver com ciúmes?
— Sem chance! — Ela riu diante da minha resposta. — Você,
dentre todas as pessoas, deveria saber o quão insignificante um
relacionamento de uma noite é.
— E se eu quiser você por mais de uma noite?
Ela hesitou por um momento.
— Essa é uma das coisas com as quais você não está pronto
para lidar.
— Por que não me dá um pouco mais de crédito?
— Por quê?
— Me dê três dias e eu vou provar que você está errada.
— Você gosta de desafios, não é?
— Ah, sim, baby. Eu gosto deles mais do que tudo.
Eu achei que Megan não daria importância àquilo quando ela
disse repentinamente:
— Tudo bem. Você tem até sábado de manhã.
Eu aplaudi mentalmente a minha pequena vitória.
— Quando chegar sábado de manhã, você não vai conseguir
pensar em mais nada além de estar nos meus braços.
— Não superestime seus poderes, Sr. Perfeito. Eu sou osso
duro de roer.
— Não vou fazer isso com você, Megan. Vou mostrar a você o
quão bom pode ser construir o prazer.
— E quanto a Annabel? Você não me disse que ela era sua
ex.
— Minha o quê? Quem disse isso?
— Então não é verdade?
— É claro que não! Nunca namoramos. Nosso
relacionamento a incomoda?
— Nem um pouco.
Mas havia uma coisa que me incomodava.
— Quem é Jeff? E por que você perdeu seu encontro com ele
hoje?
Megan baixou os olhos, encarando a barra de minha
camiseta.
— Jeff é... só um amigo da escola.
— Hmm... algo me diz que ele é mais que um amigo.
— Eu não tenho mais nada para dizer, então por que não
mudamos de assunto?
— Como quiser. — Eu podia ver que o assunto não era
agradável para Megan e me perguntei se Jeff tinha algo a ver com
sua fuga...
Quando a música terminou, levei Megan de volta às suas
amigas, encontrei Owen e pedi um drink para mim.
— E eu pensando que você tivesse dito que não gostava dela
— ele comentou sobre nossa dança.
— Eu não disse isso.
— Mas você disse que não estava pronto para um
relacionamento duradouro, que ela merecia mais do que um caso de
uma noite.
— É, bem, eu acho que posso tentar algo diferente desta vez.
— Só não parta o coração dela, Aiden.
— Não vou.
— Espero que não. Saúde!
— Saúde!
Ficamos na boate por cerca de uma hora e então Megan nos
encontrou e disse que queria ir para casa. Eu concordei que já era
hora de ir. Eu odiava boates e mesmo quando eu finalmente cheguei
à rua, ainda parecia que eu sentia a música martelando em minha
cabeça.
— O que você estava fazendo na boate? — Megan perguntou
do banco de trás.
— Seu irmão e eu precisávamos fugir — eu disse.
— E de um drink — Owen acrescentou. — Como foi a reunião
com as amigas?
— Boa. Só agora percebi o quanto senti saudades delas.
— É o seu ano de formatura, então por que não volta para
cá?
Olhei pelo espelho retrovisor e encontrei os olhos pensativos
de Megan me encarando de volta.
— Eu acho que não é uma boa ideia — ela disse após uma
breve pausa. — Estou acostumada às ruas barulhentas e
engarrafamentos. E eu tenho certeza de que paz local e silêncio vão
me deixar louca em uma questão de tempo.
— Que tal Bristol? — perguntei. — É uma cidade grande, mas
não tão populosa quanto Londres.
— Não conheço ninguém lá. Além disso, já encontrei um
emprego em Londres.
— Você poderia trabalhar com a gente — Owen disse, como
se lesse minha mente. O pensamento era animador, mas um tanto
assustador ao mesmo tempo. Três dias na companhia de uma
mulher bonita é uma coisa, mas trabalhar ao lado dela é muito
diferente.
— É uma decisão difícil de se fazer — ela disse, como se
estivesse esperando que eu repetisse a oferta de Owen. Mas eu
não fiz isso...
O restante da viagem de volta para casa foi silencioso. E de
alguma forma, parecia que a culpa era minha. Eu podia sentir a
tensão crescendo entre nós três. Owen sabia que estava
acontecendo alguma coisa entre mim e sua irmã, afinal de contas,
ele não era cego.
Megan evitava meu olhar, mas eu não iria desistir do meu
plano em relação a ela. E o primeiro passo deveria ter sido tomado
naquele momento...
Capítulo 11
Megan
Eu fiquei feliz em passar algumas horas longe de casa, das
preparações para o casamento e dos meus pensamentos sobre
Aiden. Embora eu não esperasse vê-lo na boate e nossa última
conversa tivesse deixado um sentimento estranho dentro de mim.
Eu não sabia como descrevê-lo. Era uma mistura de decepção,
esperança e animação pelos três dias seguintes que ele queria
passar comigo.
Eu voltei para o meu quarto perto da meia-noite. Eu estava
tão cansada que nem mesmo queria tomar banho, mas o cheiro
repugnante de cigarro que eu podia sentir em toda a minha pele e
cabelo me fez arrastar a mim mesma até o banheiro, onde tentei
esfregar todos os traços dos entretenimentos daquela noite para
longe.
Eu não consegui dormir e não sabia por quanto tempo já
estava acordada quando o braço caloroso de alguém envolveu
minha cintura repentinamente e lábios suaves beijaram meu ombro.
O cheiro familiar queimou minhas narinas e eu inspirei
profundamente, apreciando a mistura de shampoo e loção pós-
barba. Eu não queria abrir meus olhos, com medo de arruinar
aquele sonho lindo.
Arrepios correram pela minha espinha, seguindo os dedos
quase intangíveis que desenhavam círculos em minhas costas; uma
necessidade se alastrou pelo meu corpo e minha respiração
acelerou.
Havia apenas uma pessoa capaz de me fazer tremer em
segundos. E ele estava ali agora: na minha cama, em meu sonho.
Aiden...
Eu podia sentir seus beijos cobrindo meu pescoço e se
movendo lentamente até minha orelha. Ele roçou meu corpo com
suas mãos e parou no limite de minha camisola, acariciando meu
quadril antes de sua mão escorregar até o pedaço pequeno e
rendado de minha lingerie.
Eu gemi baixinho, esperando que a mão se movesse mais.
Em vez disso, ela se moveu até minha barriga, pressionando
minhas costas contra um peito duro atrás de mim.
Meu coração tripudiou quando os dedos suaves alcançaram
meus seios. Eu rolei até ficar de costas para dar a elas um melhor
acesso ao que quisessem tocar. Meus lábios se curvaram em um
sorriso ao que eu ergui minhas mãos para deslizá-las pelos braços e
ombros fortes. Cravei minhas unhas em sua pele e puxei Aiden para
mais perto. Ele entrelaçou suas pernas às minhas, me prendendo
contra o lençol com seu torso. Não que eu me importasse em ser
sua prisioneira, é claro.
— Me beije — ele pediu em um sussurro. E eu obedeci.
Quando meus lábios encontraram os dele, minha mente
explodiu em milhões de pedacinhos e não havia como pararmos
nosso jogo doce. Cada centímetro do meu corpo se tensionou
quando senti a mão de Aiden deslizando até a parte mais sensível
de meu corpo.
— Ah, Deus — ele respirou contra a curva de meu pescoço.
— Você é tão suave e doce. Não consigo ficar longe de você. Eu
quero explorar cada centímetro seu; beijar e sentir seu sabor em
todos os lugares.
— Então o que você está esperando?
Eu estava desesperada. Eu não queria que ele parasse. Mas
foi exatamente o que ele fez...
— Hoje não — ele disse antes de seus lábios encontrarem os
meus novamente e suas mãos começarem a acariciar minhas
costas e a lateral de meu corpo.
A pulsação em minha barriga era intolerável, mas não
importava o quanto eu tivesse tentado fazer Aiden ficar, ele foi
embora. Deixando a mim e meus desejos loucos insatisfeitos...
As imagens sensuais que traziam a Aiden e a mim presos em
nossos abraços não me deixaram até a manhã. Eu estive me
revirando por horas quando o despertador finalmente tocou, me
salvando de minha tortura. Que noite!
Eu precisava desesperadamente de uma xícara de café.
Coloquei meu roupão e desci as escadas. Felizmente, a cozinha
estava vazia. Eu olhei para o relógio na parede — cinco e trinta da
manhã. O quê? Ugh, aquela semana em casa acabaria comigo
rapidamente. Balancei minha cabeça, bocejando.
Quando o café ficou pronto, eu peguei minha xícara e fui para
o terraço. Me sentei em uma cadeira e coloquei um cobertor sobre
minhas pernas.
A cor do céu me lembrava daquelas manhãs quando eu
acordava durante a madrugada apenas para desenhar meus
arredores, iluminados pelos primeiros raios de sol do verão. Sim,
houve um tempo em que eu adorava desenhar. Eu poderia passar
horas trancadas em meu quarto criando novas imagens de
diferentes lugares e coisas que eu queria ver. Era uma pena que eu
não tivesse conseguido aprimorar minhas habilidades artísticas. A
Economia tinha tomado a maior parte do meu tempo.
Meu pai sempre gostou dos meus trabalhos. Ele dizia que eu
via apenas coisas boas sobre a vida ao meu redor. Bem, sim, isso
era verdade... até que um dia eu percebi que o que eu via não era
real e que o mundo ao meu redor estava longe de ser o que eu
imaginava que fosse.
Suspirei tristemente. Muitas coisas haviam mudado desde
aquele tempo...
A porta de vidro atrás de mim se abriu e eu derramei meu
café, pega de surpresa pelo visitante inesperado.
— Desculpe, eu não quis assustá-la — Aiden disse, se
sentando do meu lado.
— Essa cadeira é muito pequena para nós dois — eu disse,
me movendo para dar mais espaço para ele.
Ele me olhou, um sorriso ardiloso brincando em seus lábios.
— Talvez eu queira ficar o mais perto de você possível.
— É, eu pensei nisso — eu disse, observando-o. Seu cabelo
não estava penteado, uma barba por fazer cobria suas bochechas e
queixo, mas ele ainda estava perfeito. Como um homem que toda
mulher amaria ver pela manhã. Ele vestia jeans e uma camisa
branca, os pés descalços.
— Não é cedo demais para um café? — ele perguntou,
acenando para a xícara em minhas mãos.
— Não, é a hora perfeita para tomar um. Quer um pouco?
— Claro.
Pensei que ele fosse pegar minha xícara e tomar alguns
goles. Em vez disso, ele colocou as mãos sobre as minhas e levou a
xícara até os lábios, fazendo com que eu me aproximasse dele;
seus olhos nunca deixaram os meus.
— Hmm... você tem razão. É a hora perfeita para uma xícara
de café. — Então seus olhos foram até meus lábios e ele se inclinou
para frente. — Que tal um beijo de bom dia? — perguntou
suavemente.
Eu balancei a cabeça.
— Hora ruim.
Aiden riu baixinho, tomando mais um gole do meu café.
— Na noite passada você não se importou em me beijar.
Parei de respirar por um momento.
— O quê?
Não havia como ele saber do meu sonho.
— E eu me lembro de como você tentou me fazer ficar.
Sem chance...
— E você quase conseguiu. Meu desejo de ficar era além da
compreensão.
Eu não podia acreditar que tinha sido real.
— Você está brincando, não é?
Aiden franziu a testa, me encarando de volta.
— Não.
— Então não foi um sonho?
— Um o quê? — Ele riu ao que colocava minha xícara no
chão, próxima à cadeira.
— Ah, não... — Eu fechei meus olhos, sentindo o rubor
predatório me cobrir da cabeça aos pés.
— Você pensou que fosse um sonho? — Aiden colocou um
dedo sob meu queixo. — Olhe para mim, Megan. Eu pareço ser um
homem que gosta de seduzir mulheres adormecidas?
Eu queria me enfiar em um buraco desesperadamente.
— Responda minha pergunta, Megs.
— Não.
Aiden se levantou, seus olhos brilharam maliciosamente. Mas
havia uma coisa que eu queria saber.
— Por que você foi embora? — perguntei, encontrando seu
olhar.
Ele colocou as mãos nos braços da cadeira, se inclinando
sobre mim.
— Porque estou certo de que fazer amor com você não deve
ser algo silencioso. E eu não queria que seus pais ou seu irmão me
expulsassem da casa no meio da noite.
Meu corpo doía de forma agradável com suas palavras, mas
eu não queria que Aiden visse minha animação. Eu tentei me
manter calma, mesmo que ele estivesse perto demais para que eu
ignorasse o calor que provinha de seu corpo. Eu estava encabulada
demais para dizer alguma coisa. É por isso que foi uma surpresa
para nós dois quando eu me levantei e envolvi a cintura de Aiden
com os meus braços lentamente.
— Dois podem fazer esse jogo, sabe? — eu disse. E então eu
beijei sua boca.
Seus lábios ainda tinham gosto de café e leite e era a primeira
vez desde nosso ‘encontro’ noturno que eu percebia o quanto
precisava daquele beijo de bom dia.
Aiden colocou a mão em minha nuca e aprofundou o beijo,
me enlouquecendo. Como eu deveria me manter calma por três dias
quando cada segundo com ele parecia uma tortura pura? Uma
tortura muito doce e intoxicante, minha mente acrescentou.
Caramba...
Minhas mãos deslizaram sob a camisa dele e minhas unhas
se enterraram na pele de suas costas, fazendo-o gemer.
— Quem diria que você seria uma demônia? — ele disse,
sem fôlego. — Pensei que você fosse continuar a interpretar aquele
seu papel inacessível. Três dias... tem certeza de que está pronta
para esse aceitar esse desafio?
— Sem beijos e visitas à noite?
— Sim.
— Então o que vamos fazer?
— Confie em mim, você não vai se decepcionar.
— Hmm...
De repente, eu percebi que o que aconteceria após aqueles
três dias me incomodava mais do que as 72 horas de sorrisos
inocentes e caminhadas longas na praia.
— E então?
— Qual será o prêmio do vencedor dessa aposta?
— Se você vencer, eu faço o que você disser. Se eu vencer...
você vai passar a noite depois do casamento comigo.
Aquele soava como o melhor prêmio de todos. Não que eu
fosse perder a aposta, é claro.
— Tudo bem. Vamos fazer isso.
Será que eu tinha certeza das minhas palavras? Não muita...
— Mas antes... posso ganhar mais um beijo?
E antes que eu pudesse responder, Aiden me pegou pela
mão, abriu a primeira porta que viu e a fechou atrás de mim, nos
trancando na escuridão de uma sala pequena.
— O que você está fazendo? — eu perguntei, sentindo suas
mãos se movendo pelas laterais de meu corpo.
— Eu não queria que ninguém nos visse — ele sussurrou
contra meus lábios. Então suas mãos deslizaram até meus quadris
e ele me empurrou contra a porta, me levantando e envolvendo sua
cintura com minhas pernas.
— Eu gosto de sentir você tão perto de mim — ele disse,
roçando meus lábios com os seus. Encontrei seu beijo faminto
voluntariamente e fechei meus olhos, me deleitando nas sensações
que ele enviava pelo meu corpo. Até mesmo quando Aiden
pressionou seu corpo com mais força contra o meu, parecia que ele
estava longe demais.
— Esse vai ser um desafio terrível — ele sussurrou, como se
lesse minha mente.
— Você pediu por isso — eu respondi, chupando seu lábio
inferior de leve.
Meu coração batia selvagemente. O de Aiden também. O que
quer que tivéssemos compartilhado, não era apenas um beijo. Era
uma obra de arte das nossas artes da sedução que faziam a
temperatura ao nosso redor aumentar em vários graus.
Eu não me lembrava do momento em que o beijo se terminou.
Tudo que eu sabia era que tinha sido de tirar o fôlego.
Meia hora depois, eu estava de frente para o meu espelho,
tentando escolher algo para vestir para o meu primeiro encontro
com Aiden. Eu não sabia aonde ele me levaria, pois tudo que ele
havia dito antes de sair foi:
— Esteja pronta em uma hora.
Sim, soava intrigante e eu mal podia esperar para vê-lo
novamente. E de alguma forma, eu tinha certeza de que ele
manteria sua palavra sobre os beijos e todo o resto. Embora eu não
conhecesse Aiden muito bem, eu sabia que ele faria o melhor para
me provocar o máximo possível.
Mas a única coisa que ele não sabia era que eu faria o
mesmo com ele...
Coloquei minha calça jeans favorita combinando com uma
blusa bege e sapatos dourados de salto. Para dificultar tudo,
arrumei meu cabelo em um coque alto, sabendo que a vista do meu
pescoço e ombros era uma das coisas que Aiden não deixaria
passar desapercebido. Em geral, eu estava pronta para o primeiro
round do nosso jogo. E eu iria adorar cada momento dele.
Que se danem as regras e medos. Eu merecia alguns dias de
diversão e meus planos para o futuro podiam esperar até a semana
seguinte.
Capítulo 12
Aiden
Eu queria que o primeiro encontro fosse especial. Aquela era
a primeira vez que eu chamava alguém para um encontro. Todas os
momentos que eu havia passado com outras mulheres poderiam ser
chamados de qualquer coisa, menos de encontros.
— Pronta? — perguntei a Megan, abrindo a porta do
passageiro do carro.
— Acho que isso não importa, considerando o fato de que eu
não faço ideia dos seus planos para hoje.
Eu sorri.
— Você vai gostar.
— É melhor você estar certo — ela respondeu, entrando no
carro.
Ela estava linda e eu não podia deixar de admitir que seu
amor pelos saltos era uma das coisas que me enlouquecia nela. E
eu precisava tentar meu melhor para me livrar do pensamento dela
vestindo nada além de saltos altos...
— Para onde estamos indo? — ela perguntou quando liguei o
motor.
— Tenho certeza de que você conhece esse lugar, mas
vamos deixar isso ser um segredo por mais alguns minutos.
De soslaio, eu vi o sorriso de Megan. Eu sabia que ela estava
animada com o encontro, e eu também estava.
Eu a levei até o estúdio de dança onde ela havia feito aulas
de dança há alguns anos. De acordo com meu plano, nós
deveríamos dançar um tango. Aquela sempre tinha sido uma das
danças mais fascinantes para mim e eu mal podia esperar para ver
o quanto Megan era boa neste ritmo. Eu não era um profissional,
mas conhecia os movimentos e estava pronto para seguir suas
instruções.
— Agora, feche os olhos — eu disse quando parei nos fundos
da entrada do estúdio.
Ajudei Megan a sair do carro e a guiei até o prédio. Quando
entramos em uma das salas, Megan abriu os olhos e exclamou
animadamente:
— Não acredito! Dança?
— Pensei que você pudesse me dar algumas aulas.
— Como você sabe que eu gosto de dança?
— Eu sei quase tudo sobre você, lembra?
— Vou matar Owen um dia — ela disse, balançando a
cabeça. — Eu duvido que ele tenha contado a você seus próprios
segredos obscuros.
— E eu duvido ter querido ouvir algum deles em algum
momento.
Nós rimos. Megan olhou ao redor, franzindo a testa.
— Vamos dançar sem música?
— É claro que não — eu disse, mostrando a ela uma sala
pequena com um rádio e CDs.
— Alguém sabe que estamos aqui? Quero dizer: é legal e não
vamos ter nenhum problema depois, certo?
— Não se preocupe, já cuidei de tudo.
— Ótimo — ela disse, me seguindo até o rádio. — Você
sequer sabe dançar?
Sorri com a pergunta.
— Eu aprendo rápido.
Achei o CD do qual precisava e o inseri no rádio.
— Tango? — ela perguntou, surpresa. — É uma das danças
mais difíceis, sabia?
— Vou tentar não decepcioná-la — eu disse, piscando. — A
propósito, acho que você precisa se trocar. Aqui. — Dei a ela um
vestido Vermelho até a altura dos joelhos com um decote em V e
saia lisa e um par de sapatos. Eu vestia calça preta e uma camisa
que combinava.
— Onde você conseguiu isso? — ela perguntou, pegando o
vestido.
— Subornei uma professora local — eu disse em um
sussurro.
— Foi o que pensei. — Ela me olhou semicerrando os olhos
como se tentasse descobrir algo sobre mim. — Ok, me dê alguns
minutos para me trocar.
Eu estava certo sobre o vestido. Ele ficava perfeito nela,
destacando cada curva da parte superior de seu corpo e cintura. Ela
girou e sorriu.
— Eu não danço há anos!
— Então acho que é hora de se lembrar dos movimentos.
Vamos? — eu disse, esticando minha mão direita. Ela a aceitou com
uma expressão engraçada no rosto que eu sempre relacionava a
abrir presentes de Natal. Era uma mistura de animação e
antecipação.
Nosso tango começou com um abraço, a primeira conexão na
dança. Eu gostei imediatamente do início do nosso encontro. A
afeição que vi nos olhos de Megan fez meu coração bater mais
rápido.
— Não pressione seu corpo tão perto do meu — ela disse,
olhando para o nosso reflexo no espelho gigante na parede. — Eu
preciso de espaço para me mexer.
Que comentário tentador, pensei comigo mesmo.
Eu sabia que ao dançar tango, a mulher deveria ser segurada
na dobra do braço do homem. Megan colocou sua mão direita em
meu quadril e eu a guiei pela sala em círculos. Nossos movimentos
eram tão naturais, como se já dançássemos juntos há muitos anos.
Parecia que sentíamos cada batida da música e dançávamos de
acordo com elas, desafiando e provocando um ao outro. Nós
deixamos a música nos levar. Nada mais importava; somente eu e
ela, dançando nas chamas vermelhas do tango.
Nós dois sentíamos a intensidade da conexão. Cada vez que
nossos corpos se tocavam, perdíamos o fôlego, como se
estivéssemos saboreando o momento.
No segundo seguinte Megan se afastou alguns passos de
mim, mas seus olhos nunca deixaram os meus, me puxando para
mais perto com o magnetismo que brilhava em suas profundidades.
Ela continuou a recuar e eu continuei a me aproximar,
morrendo de vontade de tocá-la. Nossos lábios se roçaram em
alguns momentos, mas não deixamos que aquilo se tornasse um
beijo. Era um jogo em que ambos os jogadores eram iguais; ambos
impacientes, ambos inflexíveis e exigentes.
Quando a música estava prestes a acabar, eu girei Megan
novamente e ela colocou uma perna ao redor de minha coxa.
Envolvi sua cintura com um braço e quando ela sentiu que eu a
estava segurando, esticou a perna para cima e jogou a cabeça para
trás, fazendo cada centímetro da parte inferior do meu corpo reviver.
Eu não sabia que ela era tão boa em dança. Uma provocação
ambulante — era como eu a chamaria.
A última nota da música soou no silêncio da sala e eu ajudei
Megan a se colocar de pé, tentando recuperar o fôlego.
— Quem o ensinou a dançar? — ela perguntou, maravilhada.
— Não acredito que você seja dançarino profissional. Isso foi...
— Fantástico — eu disse, ainda olhando em seus olhos.
Naquele dia, eles estavam inacreditavelmente claros, com milhões
de tons dourados brilhando neles.
— Obrigada pela dança — ela agradeceu.
Para mim, aquela tinha sido a melhor dança de toda a minha
vida. Nunca tive uma parceira tão boa quanto ela.
— O prazer foi todo meu — eu disse, beijando a mão dela. —
Fique com o vestido.
— Tem certeza de que posso ficar com ele? — Ela tocou o
tecido com cuidado. Eu podia ver que ela havia gostado.
— Comprei para você.
— Ah... você não precisava...
— Queria que você tivesse algo para se lembrar desse dia.
Traços de tristeza cruzaram seu lindo rosto.
— Eu nunca serei capaz de esquecer.
— Ei, o dia ainda não acabou.
Cara, eu queria tanto beijá-la. Eu ainda podia me lembrar do
gosto dos lábios dela e o modo com o qual eles se moviam sobre os
meus...
— O que mais você preparou para hoje?
— Outra surpresa — respondi, guiando-a até a porta.
— Preciso fechar meus olhos outra vez?
— Não. Desta vez eu quero que você adivinhe aonde
estamos indo.
— Alguma dica?
— É um lugar onde poderes naturais vencem a habilidade dos
humanos de criarem coisas.
— Hmm... Cheddar Gorge?
— Como soube? — Eu ri. — Eu pensei que você levaria mais
tempo para descobrir meus planos.
— Sempre foi um dos meus lugares favoritos para visitar.
— Eu sei.
— Ah, Owen de novo, certo?
— Exatamente.
Cheddar Gorge era um destino turístico local com várias
cavernas e outras atrações. Havia diversas lojas pequenas onde se
podia comprar artigos de lã, couro e cristais de rocha. Eu sabia o
quanto Megan gostava de souvenirs de cristal. Certa vez, Owen
mencionou sua coleção de sinos e pratos. Era uma das poucas
coisas que sua irmã havia levado para Londres.
Passamos o restante do dia no Cheddar visitando o
desfiladeiro e andando pelo lago. Então paramos em um restaurante
próximo à cachoeira local para jantar. Ele era famoso por ter o
melhor Fish & Chips da região. Nós ocupamos uma mesa na parte
exterior para apreciar a vista das montanhas e o ar fresco.
— Senti tanta falta desse lugar — Megan disse, inalando os
aromas das flores ao nosso redor.
— Estive aqui algumas vezes, mas nunca tinha visto o
desfiladeiro.
— Minha família costumava passar todo final de semana aqui
durante o verão. Quando eu e Owen éramos crianças, uma viagem
até o Cheddar era o melhor presente para qualquer ocasião. Nós
vínhamos bem cedo, tomávamos café da manhã em um dos cafés e
depois íamos para as cavernas, tomávamos sorvete e tirávamos
milhares de fotos fazendo caretas.
— Você gostaria de viver em um lugar como esse?
Ainda que Megan gostasse de sua vida em Londres, eu
duvidava que aquele fosse o tipo de vida que ela quisesse para si
mesma.
— Eu não sei… talvez. — Ela olhou em volta pensativamente.
— Eu acho que sou nova demais para perceber o valor verdadeiro
de se viver em um lugar como esse. É o lugar perfeito para uma
família que já passou por muita coisa; para uma família com filhos,
cachorros e alguns netos. Por que pergunta?
— Por nada. — Dei de ombros.
Mas, na verdade, havia uma razão para aquela pergunta. Eu
tinha uma casa em Cheddar e queria que Megan a visse. Eu nunca
havia ficado por lá, mas não queria vendê-la. Havia algo pacífico
naquela casa. E assim como Megan havia dito, era o lugar perfeito
para uma família com uma esposa, filhos e cachorros. Era o lugar
perfeito para a minha família...
— Quero mostrar uma coisa a você — eu disse quando
terminamos de comer. — Venha comigo.
Em vilas como o Cheddar, as pessoas não precisavam de
carros. Uma caminhada de quinze minutos poderia levá-lo de um
lugar ao outro.
Eu tinha uma casa construída no alto de uma montanha, a
vila inteira poderia ser vista através das janelas do lado oeste. Tinha
três quartos, uma sala de estar espaçosa e um jardim com várias
flores e árvores. O jardim era o principal motivo pelo qual eu amava
aquele lugar.
Minha empregada, a Sra. Crosby, vinha duas vezes por
semana. Não havia muito trabalho a fazer, já que tinha ficado vazia
pela maior parte do ano.
Capítulo 13
Megan
O dia que eu tanto temia acabou se tornando muito bom. A
aula de dança foi uma surpresa muito agradável. Eu ainda podia
sentir a animação que sempre se seguia após minhas aulas de
dança. E o tango de hoje tinha sido a dança mais sensual que eu já
tinha dançado. Cada movimento de Aiden era cautelosamente
escolhido, como se ele estivesse tentando ao máximo não me
desapontar. Bem, eu duvidava que ele fosse me desapontar, mas
ainda assim era bom saber que eu não precisava pensar sobre nada
mais além da música nos guiando no misterioso mundo da dança.
E dançar com Aiden foi inesquecível; com suas mãos
deslizando lentamente sobre minha pele; seus olhos me queimando
viva e seu corpo se movendo em uma perfeita conexão com o meu.
Cada vez que nossos rostos estavam a centímetros de distância, eu
queria tocar os lábios de Aiden com os meus desesperadamente. E
ele era tão bom em me provocar, sorrindo despretensiosamente
com cada tentativa minha de me aproximar. A visão dele naquela
calça preta e camisa com alguns botões superiores abertos me
faziam querer arrancar aquela maldita peça em pedacinhos e
deslizar minhas mãos sobre seu peito e costas perfeitos... ah, eu
estava completamente ferrada.
— Aqui vamos nós, minha casa — Aiden disse ao que
paramos na frente de uma linda casa.
— Sua casa?
— Bem, eu comprei há alguns anos, mas não tive chance de
ficar aqui por mais do que algumas horas. Entre.
Ele abriu a porta para sua sala de estar, com janelas
enormes, poltronas brancas, cortinas azuis claras e uma lareira que
parecia ter sido retirada de um filme antigo. Era cercada de velas e
flores que se refletiam no espelho oval da parede oposta.
— Se eu tivesse uma casa como essa, nunca a trocaria por
nada nesse mundo — eu disse, olhando em volta.
— É mesmo? — Aiden colocou as chaves na mesa de vidro
ao lado da entrada e se aproximou de mim. — Você gostou?
— Gostar não é uma palavra forte o suficiente. Agora eu sei o
que as pessoas chamam de ‘casa dos sonhos’. Essa é uma delas.
— Gostaria de morar aqui?
Olhei para Aiden, mas não havia nem mesmo um resquício de
humor em seus olhos. Ele parecia muito sério, como se sua vida
inteira dependesse de minha resposta.
— Eu passaria mais algumas horas aqui com muito prazer —
eu disse, me afastando de seus olhos penetrantes.
— Nós podemos ficar aqui até amanhã. O que me diz?
As borboletas em meu estômago começaram a voar. Coisas
estúpidas...
— Acho que não é uma boa ideia.
Aiden sorriu.
— Por que não? Ou você tem medo de perder a aposta?
Bem, sim. Era exatamente o que eu estava pensando no
momento em que ouvi as palavras dele. Uma noite com Aiden?
Quer dizer, uma noite inocente com Aiden? Eu duvidava que isso
fosse possível...
— Esta é a segunda vez em que a vejo ficar sem palavras —
ele disse, se inclinando contra as costas do sofá.
— É mesmo? Qual foi a primeira vez? — perguntei, tentando
não demonstrar meu nervosismo.
Ele pegou minha mão e me puxou para mais perto.
— A primeira vez foi o momento em que eu disse que seus
lábios eram deliciosos demais para beijos de irmão.
Eu me lembrava daquele momento, o mesmo em que pensei
que nunca mais falaria com ele novamente por conta daquele
comentário desavergonhado.
De repente, minha respiração se acelerou. Aiden acariciou
minha bochecha com as costas da mão e deslizou os dedos sobre
meu lábio inferior.
— E eu estava certo: esses lábios merecem os beijos mais
apaixonados e profundos.
Por um segundo, pensei que Aiden desistiria e me beijaria.
Em vez disso, ele sorriu e seus dedos escorregaram até o limite do
vestido vermelho que eu vestia.
— E eu a beijaria com muito prazer; não somente seus lábios,
Megan, mas cada centímetro da sua pele. Aqui — ele disse,
passando os dedos perigosamente próximos ao limite do vestido
que cobria meus seios. — E aqui — disse, deslizando a mão até
minha barriga. — E aqui — acrescentou em um sussurro, ao que
sua mão parou no meu quadril. — E em todo lugar que eu quisesse
— disse, o desejo selvagem brilhando em seus olhos.
Ah, Deus, eu precisava me libertar de seus braços tentadores,
porque cada palavra que ele dizia fazia meu desejo de perder a
aposta se tornar mais forte.
— Por que você não me mostra o resto da casa? — eu
sugeri, olhando deliberada e diretamente para seus lábios. Eu sabia
que ele notaria e estava certa.
Aiden sorriu, pegou minha mão e me guiou até o corredor
dizendo:
— Devo começar com a suíte principal?
— Como quiser — respondi, seguindo-o.
O quarto não era grande, mas era muito aconchegante;
decorado tons de verde claro e bege. Havia uma cama gigante no
centro do quarto, outra lareira de frente para esta e uma cadeira de
balanço perto da janela.
— Legal — eu disse, pegando um dos travesseiros da cama.
— Podemos ficar aqui mais um pouco — Aiden disse
enquanto envolvia minha cintura com seus braços.
Eu ignorei seu convite significante.
— Me mostre o quarto onde vou dormir hoje.
— Na verdade, pensei que você fosse preferir dividir a cama
comigo.
— Tem certeza de que pode lidar com isso, sem beijos e...
todo o resto? — perguntei, acariciando a pele de seu pescoço que
estava visível através de sua camisa semiaberta.
— Você vai pagar por isso, sabia? — ele disse, olhando para
minha mão.
— Mal posso esperar. — Eu sorri e me afastei. — Quantos
quartos você tem para me mostrar ainda?
— O suficiente para fazer essa excursão durar para sempre.
Mas na realidade, nossa excursão não durou mais do que
quinze minutos. Vimos os outros quartos, o terraço e o jardim do
qual Aiden tanto gostava; cerca das oito da noite, fomos para a
cozinha para fazer o jantar. A geladeira estava cheia de legumes,
carnes, diferentes tipos de queijo e frutas.
— Quem trouxe tudo isso? — perguntei, pegando um prato
com frango congelado.
— Minha empregada. Eu liguei para ela antes de vir.
— Então você tinha certeza de que passaríamos a noite aqui
hoje?
— Digamos que... eu tinha certeza de que poderia fazê-la
ficar.
No fim das contas, Aiden era um ótimo cozinheiro. Ele me
ajudou a assar o frango, fazer espaguete e salada. Eu arrumei a
mesa no terraço e ele trouxe uma garrafa de vinho, serviu duas
taças e me ofereceu uma dizendo:
— Não importa o que aconteça no futuro, eu nunca vou me
arrepender de ter conhecido você, Megan.
— Eu também — eu disse, bebericando minha bebida.
— Então, quando você volta para Londres?
Aiden se sentou à mesa e colocou um pouco de salada em
seu prato.
— No domingo. Eu tenho só uma semana para decidir se
quero ir ao baile de formatura.
— Presumo que você precise de um acompanhante.
— Na verdade... eu tenho um amigo que quer ser meu
acompanhante.
— Um amigo? Hmm... — Os lábios de Aiden se contorceram
em um sorriso irônico.
— O quê?
— Qual é o nome dele? — ele perguntou, me olhando
curiosamente.
— Zack. Mas acho que ele não é um bom candidato a
acompanhante. — Mastiguei um pedaço de frango preparado por
Aiden e estava delicioso; um pouco apimentado, mas muito bom.
— Como assim?
— Bem... ele é diferente de todos que eu conheço. — Eu
sorri, observando a expressão confusa de Aiden. — Ele é gay.
Aiden se desatou a rir.
— E ele é seu amigo, certo?
— Qual é o problema de ele ser meu amigo? Ele é o único
homem que nunca pensará em dormir comigo.
Aiden revirou os olhos.
— Não seja ingênua, Megan. Estou certo de que ele já
pensou nisso várias vezes.
— Pelo menos ele nunca disse isso em voz alta.
— Que seja. De qualquer forma, se você mudar de ideia e
quiser ir ao baile com um homem de verdade, me ligue.
— Nunca.
Aiden tomou mais um gole de vinho e sorriu como se
soubesse de algo que eu não sabia.
— Você é impossível — eu disse, balançando a cabeça.
— Eu sei.
Quando terminamos o jantar, fomos para a sala de estar.
Aiden encontrou um CD com algumas músicas antigas e nós nos
sentamos em frente à lareira apreciando a paz daquele momento.
Eu sempre gostei de observar o fogo queimando. Não
importava o quão irritada ou cansada eu estivesse, o fogo era uma
destas coisas que podiam mudar tudo em segundos. Eu não me
importei quando Aiden se aproximou e se sentou atrás de mim para
que pudesse me apoiar em seu peito. Ele colocou um braço ao
redor de minha cintura e começou a cantarolar junto à música.

“Eu estico minha mão para tentar te alcançar


Mas você desaparece com o pôr-do-sol
E não há mais ninguém a quem me segurar
Seja boa ou seja má, mas não se vá
Eu não quero ser o homem que costumava ser
há tantos anos
Seja boa ou seja má, mas não se vá
Sem você, minha vida é como uma rocha fria
Eu quero ter você do meu lado para sempre...
Fique por um segundo ou um dia
Com você eu quero dançar
Ao som da guitarra que estou tocando
Estou rezando para que você fique...
Seja boa ou seja má, meu anjo da meia-noite
Metade inocência, metade perigo
Meu sonho mais louco se tornando realidade
Farei qualquer coisa que você me pedir...”

Eu fechei meus olhos escutando as últimas frases da música.


Elas se repetiram algumas vezes antes da música acabar.
— Em que está pensando? — Aiden perguntou em uma voz
quase inaudível. Suas mãos acariciavam meu braço e tudo em que
eu podia pensar era o sentimento inacreditavelmente agradável de
paz interior. Eu não me sentia daquela forma há muito tempo. E eu
não sabia o motivo, mas o homem que combinava tudo que eu mais
odiava, repentinamente se tornava o homem que eu não queria
largar...
— Como você fez isso? — Eu me movi para poder ver seu
rosto.
— Fiz o quê?
— Se infiltrou sob a minha pele, me fez perder o controle.
Aiden balançou a cabeça, sorrindo para mim.
— Acredite em mim, Megan, eu ainda não fiz nada.
— E o que isso significa?
— Eu sempre consigo o que quero, você já sabe disso. E
quando eu quero algo tanto quanto quero você, não me importo com
mais nada além de ganhar meu prêmio.
— Isso é uma ameaça?
— Não. Um aviso, uma promessa... eu juro que é tudo, menos
uma ameaça.
— Isso me faz querer fugir para o mais longe possível.
— É isso que você faz quando se sente atraída por outra
pessoa?
— Quem disse que me sinto atraída por você?
— Não preciso que ninguém me diga o que posso ver por
conta própria.
— Você tinha razão, você é um homem terrível de se tolerar
— eu disse, batendo em sua cabeça de leve.
— Eu disse que isso não seria fácil.
— E eu esperei tolamente que fosse tão simples quanto
qualquer outra coisa...
Aiden me olhou com os olhos semicerrados.
— O quê?
— Você não nega que gosta de mim.
Ora, inferno... era difícil de negar algo sobre o qual eu não
tinha certeza. Mas ainda assim, eu não iria admitir.
— Eu odeio você, Sr. Murphy. Está feliz agora?
— Há uma linha tênue entre amor e ódio, querida.
— Uma linha muito, muito longa — acrescentei, observando o
fogo.
Aiden não disse nada sobre meu comentário. Eu não podia
ver seu rosto, mas jurava que ele estava sorrindo naquele momento.
Novamente, eu pensei que ele estava rindo de mim, porque não
havia a mínima possibilidade de ele acreditar em suas próprias
palavras...
Capítulo 14
Aiden
Eu podia ouvir os sons da água correndo. Eu estava andando
de um lado para o outro no quarto pelos últimos dez minutos,
tentando reprimir o desejo de me juntar a Megan no banho. Eu
gostava do jogo que estávamos fazendo, mas a parte inferior do
meu corpo tinha sua própria opinião sobre aquilo — ele estava
prestes a explodir a qualquer segundo. Merda...
Eu suspirei, passando uma mão pelo cabelo. Eu não estava
pronto para a noite iminente. Aparentemente, eu tinha
superestimado os limites da minha paciência. O primeiro dia da
aposta nem havia terminado e eu já queria mandar as regras que
estabelecemos naquela manhã para o inferno. Então decidi dar um
espaço a Megan e fui para o terraço espairecer.
A noite estava surpreendentemente quente. Eu me sentei em
um dos bancos e inspirei profundamente. A imagem de Megan no
chuveiro preencheu minha mente. Eu quase podia sentir como sua
pele era dolorosamente macia, coberta de gotas de água. Eu quase
podia sentir a doçura de seu aroma em meus lábios. Eu queria
explorar cada parte de sua pele e não sabia como me fazer parar de
pensar em fazer amor com Megan. Eu queria reivindicar cada
centímetro do corpo dela com meus beijos e fazê-la se perder em
meus braços, me afogar nas ondas de seu calor e ternura.
Será que eu não tinha percebido o quão perto estava de
sacrificar a mim mesmo para todos os desejos dela? Não... eu ainda
tinha certeza de que tinha tudo sob controle. Será que ela percebia
o quão perto estávamos de cruzar a linha proibida? Às vezes
parecia que eu estava sob um feitiço que misturava meu sangue à
intensidade de seu olhar, me tornando um ser humano indefeso.
Será que ela sabia o como ela tinha ficado inacreditavelmente
linda naquele vestido vermelho que eu havia dado a ela? Será que
sabia o quanto eu queria me livrar dele e sentir sua pele tocando a
minha? Será que eu tinha percebido que estava a um passo de
desistir de tudo pela chance de estar com ela? Um passo de me
apaixonar por ela...
Fechei meus olhos, tentando voltar meus pensamentos a algo
diferente; era cedo demais para deixar aqueles sentimentos me
controlarem. Então eu vi algumas rosas cor-de-rosa lindas nascendo
próximo a uma pequena cascata. Eu peguei uma e voltei para o
quarto. O jogo ainda não tinha terminado...
Quando entrei no quarto, Megan estava sentada na beirada
da cama digitando algo em seu celular. Ela vestia uma de minhas
camisetas, a qual eu quis arrancar desesperadamente do corpo
dela. Minha caminhada até o jardim não tinha ajudado nem um
pouco...
— Está tudo bem? — eu perguntei, me aproximando.
— Sim, é só Owen. Ele queria me perguntar algo sobre o
churrasco de amanhã. Eu não acredito que ele e Mary decidiram
juntar a despedida de solteiro com o chá de panela.
— Ele sabe que você está comigo? — Me sentei ao seu lado,
entregando a rosa a ela.
— Não. Você quer que eu conte a ele que vamos passar a
noite juntos? — Ela sorriu de leve, pegando a flor. — Obrigada, é
linda.
— Você tem medo do que ele possa dizer sobre isso?
— Na verdade, não. Não é da conta dele. E eu sou adulta,
posso cuidar de mim mesma.
— É mesmo? — Eu me inclinei para ela, tirando algumas
mechas de cabelo que escondiam seu pescoço; deixei que o aroma
intoxicante de leite e mel preenchesse minhas narinas.
— Seu banheiro está cheio dos meus produtos favoritos —
ela disse.
— Parece que nós amamos as mesmas coisas.
Ela estremeceu no momento em que minha mão deslizou por
suas costas e eu a puxei para perto.
— Você ainda se lembra da aposta?
— Por que não relaxamos? — eu sugeri, segurando seu
queixo entre meus dedos.
— Sem chance — ela respondeu firmemente.
Eu suspirei, desapontado.
— Então devemos encerrar essa noite?
Ela se libertou de meus braços e deslizou para baixo do
cobertor.
— Você é impossível, Megs, sabe disso?
Eu me levantei e fui até o outro lado da cama.
— Olhe quem fala! — Ela riu, se apoiando em um cotovelo.
— Primeiro você deixa que eu me aproxime e depois dá
cinquenta passos para longe de mim!
— Bem, a sina pode ser uma garota muito malvada, sabe?
Eu balancei minha cabeça, sorrindo.
— Só estou vendo uma garota malvada aqui. E ela está linda
demais com a minha camisa. Tem alguma coisa por baixo?
— Você será a última pessoa a saber.
— Hmm... você não acha isso injusto? — Eu tirei minha
camisa e minha calça e me deitei ao lado de Megan que, para a
minha surpresa, não se moveu quando eu me aproximei. — Viu?
Você não tem mais medo de dormir nos meus braços, embora a
cama seja grande o suficiente para dormirmos sem nem mesmo nos
encostarmos.
— E se eu gostar de ficar perto de você?
Meu Deus do céu, ela sabia o que dizer para me fazer perder
a cabeça.
— O quão perto de mim você quer ficar? — perguntei,
colocando um braço ao redor de sua cintura.
— O quão perto podemos ficar sem nos beijarmos e fazermos
amor?
Eu hesitei por um momento e então meus olhos pararam
sobre a rosa que eu havia dado a ela.
— Feche os olhos — eu disse, alcançando a flor. — Confia
em mim?
Eu inspecionei seu rosto ao que a incerteza cruzou seus
traços delicados.
— Confio — ela respondeu em um quase sussurro.
— Então faça o que eu digo e não faça perguntas. Não se
preocupe, vou me comportar. Bem... dentro do possível.
— É uma barganha com o diabo — ela disse, rolando para se
deitar de costas.
— Sim, mas você gosta dele, não gosta?
— Nem perto disso.
Ela fechou os olhos, sorrindo. Eu me apoiei sobre os
cotovelos, olhando para ela, e meu coração tripudiou. Eu não sabia
o quão perto dela eu poderia chegar naquela noite, mas eu faria
meu melhor...
Peguei a rosa e toquei a bochecha de Megan com as pétalas.
Os lábios dela tremularam e ela os umedeceu, respirando fundo.
— O que você sente? — perguntei em um sussurro, movendo
a rosa até seus lábios. Não importava o quão perto eu chegasse,
eles ainda estavam fora de alcance.
— Você está me observando, seu olhar está seguindo a flor e
a sua respiração está tocando minha pele como se seus lábios
estivessem beijando meu rosto.
— Pode sentir meus lábios aqui? — perguntei, deslizando as
pétalas até seu pescoço e clavícula.
— Sim.
— E se eu a beijar aqui? — eu disse, colocando minha mão
em seu quadril. — E depois for mais para cima — acrescentei,
deslizando minha mão sob a camisa até seu umbigo. Depois, eu me
ajoelhei e levantei a camisa até seus seios.
— O que você está fazendo? — ela perguntou, um tanto
preocupada.
— Você disse que confiava em mim, lembra?
— Eu deveria ter pensado duas vezes antes de dizer isso.
— Fique parada — eu disse enquanto arrancava a rosa do
caule e a posicionava entre meus lábios.
Me inclinei sobre a barriga de Megan e comecei a desenhar
linhas invisíveis sobre sua pele. Ela estremeceu com meus toques.
Eu sabia que ela gostava do que eu estava fazendo e não iria parar.
Em vez disso, desci até o limite de sua lingerie azul escura,
acariciando seus quadris com as minhas mãos enquanto a rosa em
meus lábios tocava sua pele. Quando a rosa parou na parte mais
sensível de seu corpo, o fogo se acendeu dentro de mim. Eu
pressionei a rosa com mais força contra o tecido de seda ao que
meu aperto nos quadris de Megan se intensificou e ela os erguia de
leve, entrelaçando os dedos entre meus cabelos. Os músculos da
parte inferior do meu corpo se retesaram em resposta.
Era uma tortura para nós dois, mas a tentação era mais forte
do que a necessidade de parar. Eu poderia facilmente me imaginar
fazendo amor com Megan; estar com ela parecia tão certo. Cada
vez que nós nos beijávamos, era perfeito, como se nossos lábios
soubessem exatamente o que queríamos receber um do outro;
como se cada movimento dela imitasse os meus.
Minhas mãos foram até suas pernas e quanto eu pensei que
a tortura não poderia piorar, ela se sentou abruptamente e pegou a
rosa dos meus lábios.
— O que você está fazendo? — perguntei quando ela se
levantou e se sentou em meu colo, ambas as pernas sobre as
minhas.
— Confia em mim?
— Confio, mas...
Ela colocou um dedo sobre meus lábios e colocou a rosa
entre os seus próprios lábios. Meu Deus, ela era tão incrivelmente
linda: parte anjo, parte perigo... eu estava maravilhado demais para
fazer qualquer coisa além de fitá-la.
Com seus olhos queimando com as chamas da paixão e suas
bochechas coradas, ela me empurrou contra o cobertor e se inclinou
sobre mim. Eu fechei meus olhos e me permiti afundar no rio do que
ela me fazia sentir.
Primeiramente, senti as pétalas de rosa tocando o lóbulo de
minha orelha, e então elas se moveram até minha bochecha,
seguidas pelos toques suaves de seus dedos. Nossos narizes se
tocaram e eu congelei quando as pétalas roçaram o canto de minha
boca, e então meus lábios. Eu não pude me impedir de alcançar a
barra de sua camisa e levantá-la, deslizando minhas mãos
lentamente pelas laterais de seu corpo; sua pele começou a
esquentar sob meus dedos.
Quando eu senti a rosa se movendo por meu peito, minha
respiração parou.
— Você está me matando — eu disse, pegando suas mãos.
Eu a queria tanto que minha cabeça doía.
— Você começou — ela respondeu, sorrindo. Seus olhos
estavam escuros agora, quase negros, e eu percebi que estava me
afogando neles, como se fossem imãs aos quais eu não podia
resistir.
— Sim, mas ser um caçador e uma presa são coisas
diferentes. Agora, eu preciso de um banho muito gelado.
— Não congele até a morte — ela disse, girando a rosa entre
os dedos, seus olhos ainda me observando atentamente.
— Essa aposta vai acabar comigo logo, logo — murmurei.
Apesar do fato de eu ter iniciado aquilo tudo, parecia que eu
não era mais o único no controle. Ela tinha controle total sobre a
situação... e sobre mim.
Olhei em seus olhos uma última vez e fui para o banheiro,
xingando tudo no caminho.
Quando terminei meu banho e minha animação parecia
menos intolerável, voltei para o quarto e vi o seguinte: Megan
dormindo pacificamente em minha cama. Ótimo...
Eu a cobri com o cobertor, depositei um beijo em sua testa e
fui até a sala de estar para beber, porque não havia a mínima
possibilidade de eu ficar com ela naquele momento. As memórias
de nosso jogo com a rosa ainda eram vívidas demais para arrancá-
las de minha mente.
Acordei na manhã seguinte com o som da cafeteira. Ah, sim,
eu me esqueci de dizer que dormi no sofá. Naquela hora da noite,
parecia a melhor coisa a se fazer.
Olhei para o meu relógio, que denunciava as dez e meia da
manhã, e me levantei para ir até a cozinha.
A imagem que vi era muito engraçada: Megan ouvindo
alguma música pop e dançando com uma xícara de café no meio da
minha cozinha. Eu não queria interrompê-la, então me inclinei sobre
o caixilho da porta e a observei.
Seus cabelos compridos e castanhos ainda estavam
despenteados, como se ela tivesse tido a noite mais aventurosa de
todas. A camisa que ela vestia estava amarrotada, mas não afetava
a vista de suas pernas compridas e quadris se movendo no ritmo da
música. De repente, eu pensei na manhã em que poderíamos
acordar juntos em uma só cama, nos braços um do outro, sem
roupas nos cobrindo. Seria a melhor manhã de todas...
— Meu Deus, Aiden, eu não sabia que você estava acordado!
— As bochechas de Megan coraram e ela riu. — Que falta de
educação! Você deveria ter me avisado que estava aqui.
— E arruinar a sua dança? Sem chance. — Me aproximei
dela e coloquei meus braços ao redor de sua cintura. — Bom dia,
raio de sol. Dormiu bem?
— Definitivamente melhor do que você. Por que dormiu no
sofá?
— Pensei que seria mais seguro ficar longe de você por um
tempo.
— Ah... então você acha que não vai conseguir sobreviver a
mais dois dias da nossa aposta?
Eu ri, intensificando meu abraço.
— Não vou desistir. Além disso, vale a pena esperar pelo
prêmio que pretendo ganhar, mesmo que tenha que esperar para
sempre. E você? Na noite passada você estava mais do que
disposta a me dar o que eu quisesse.
— Na noite passada você estava mais do que disposto a
aceitar o que quer que eu oferecesse.
É verdade, pensei comigo mesmo. Eu estava certo, no fim
das contas — ela estava no topo agora.
Capítulo 15
Megan
No momento em que voltamos de Cheddar, eu sabia que
havia algo de errado. Meu irmão estava tão melancólico quanto uma
nuvem acinzentada. Ele não disse nada quando nos viu entrando
em casa, mas o olhar intenso que nos lançou dizia tudo: estávamos
ferrados.
— Esse vai ser um dia difícil — eu disse a Aiden. — Preciso
falar com Owen.
— Quer que eu vá com você?
— Não, acho que nós precisamos falar a sós.
— Ok. — Aiden assentiu, me deu um beijo rápido e foi para
seu quarto.
Meu irmão estava no terraço. Com os braços cruzados, ele
olhava o céu.
— Ei — eu disse, ficando do lado dele. — Como estão as
coisas por aqui?
— Mary cancelou o casamento.
— O quê? — Eu o encarei em choque. — O que aconteceu?
— Ela me viu beijando Annabel.
— Você beijou aquela vadia?
— Não, ela me beijou. Mas no momento em que ela fez isso,
Mary entrou na sala e saiu correndo chorando.
— Tentou falar com ela?
— Ela não me deixou dizer nada. Ela disse que nunca mais
queria me ver e então cancelou o casamento.
— E o que você vai fazer agora?
— Eu não sei.
Meu irmão nunca desistia facilmente, e sabendo o quanto ele
amava Mary, eu fiquei mais do que surpresa em saber que ele não
tinha um plano.
— Ok, você sabe onde ela está?
— Não faço ideia. Não nos vemos desde a noite passada. A
mãe dela estava furiosa.
— Então Mary foi embora na noite passada? Por que não me
ligou?
— Na verdade, eu liguei. Várias vezes. Mas aparentemente
você estava ocupada demais para atender minhas ligações. —
Owen me olhou com irritação. — O que está acontecendo, Megs?
Você e Aiden estão namorando ou algo do tipo?
— Algo do tipo... — murmurei, me virando para longe dele. A
culpa estava me consumindo.
— Que seja — ele rebateu, andando de volta para a casa.
Tudo estava contra mim e Aiden. Mesmo agora, quando
pensamos que poderíamos fazer tudo funcionar, um novo obstáculo
aparecia do nada. E eu não podia acreditar que Owen e Mary não
iriam se casar. Eles, dentre todas as pessoas do mundo, mereciam
o felizes-para-sempre. É por isso que eu precisava encontrar Mary o
quanto antes.
Mas antes, eu queria falar com Aiden. De alguma forma, eu
tinha certeza de que ele sabia mais sobre Annabel do que qualquer
outra pessoa e não havia dúvidas de que ele sabia sobre a queda
dela por Owen.
— O que aconteceu? — ele perguntou no momento em que
entrei em seu quarto. Aparentemente, minha expressão estava
longe de demonstrar felicidade.
— Você sabia dos planos da Barbie de arruinar o casamento
do meu irmão?
— O que ela fez?
— Responda à pergunta, Aiden.
— Escute, Megan... tanto eu quanto Owen sabemos do amor
dela por ele. E eu disse a ele que convidá-la para o casamento era
uma má ideia, mas você conhece seu irmão, ele nunca escuta
ninguém.
— O que significa que é culpa dele...
— Pode me dizer o que está acontecendo?
— Mary o pegou beijando Annabel e cancelou o casamento.
— Oh...
— E agora nós precisamos encontrar uma maneira de
consertar isso. Eu não sei como, mas nós precisamos achar Mary e
falar com ela. Ela não vai escutar Owen agora, mas espero que nos
escute.
— Ok, com que devemos começar?
E assim a busca se iniciou. Primeiro, Aiden e eu falamos com
nossos vizinhos para descobrir se algum deles tinha visto Mary na
noite anterior. A Sra. Therwing disse que a viu indo na direção da
praia, mas a informação não era muito útil. Então fomos até a antiga
casa de Mary, mas não encontramos ninguém por lá.
— Você tem ideia de para onde mais ela poderia ter ido? —
Aiden perguntou.
Havia mais um lugar no qual eu podia pensar. O parque de
diversões o qual Owen, Mary e eu tanto amávamos quando éramos
crianças. Ele tinha sido fechado há anos, mas às vezes nós ainda
íamos até lá quando queríamos nos esconder de todos.
O lugar era deserto, mas havia um velho brinquedo que
sempre atraía as crianças e jovens — The Wild Seashells (As
Conchas Selvagens). Apesar dos mecanismos não funcionarem
mais, as conchas ainda se moviam.
— Tem certeza de que podemos encontrá-la aqui? — Aiden
perguntou, olhando para o brinquedo ceticamente.
— Vamos ver... Mary? Você está aqui? Sou eu, Megan!
Olhei em volta, escutando o eco da minha voz.
— Ela não está aqui.
— Tem alguém aqui — eu disse, apontando para a concha
mais distante que balançava lentamente.
Nos aproximamos e eu tentei novamente:
— Mary?
— Vá embora! — uma voz respondeu, do lado de dentro.
— Graças a Deus! — Aiden e eu dissemos em uníssono.
— Fique aqui — eu acrescentei, entrando na concha.
Mary estava sentada, tremendo da cabeça aos pés e
chorando.
— Vá embora, Megan — ela repetiu entre lágrimas.
— Esse não é o melhor lugar para um chá de panela — eu
disse, sorrindo com nervosismo. Tirei meu casaco e o pousei sobre
os ombros de Mary. Ela me olhou brevemente.
— Obrigada.
Eu hesitei por um momento, incerta sobre o que dizer em
seguida.
— Você se lembra de quando essa coisa ainda funcionava?
Mary sorriu de leve.
— Sim, foi a melhor época das nossas vidas. Nós éramos tão
jovens e despreocupados...
— Acho que a melhor época da sua vida vai começar no
sábado.
— Não. Não vai ter casamento. Então não perca seu tempo
comigo, Megan. É melhor você ir e passar mais algumas horas com
o bonitão que está ficando na casa de Owen. Da última vez que o vi,
ele não conseguia tirar os olhos de você.
Eu sorri com as palavras que eu tinha certeza de que Aiden
também podia ouvir.
— Ele não consegue tirar os olhos de qualquer mulher bonita
que vê.
— Não é verdade. Eu o vi com outras mulheres e ele nunca
olhou para ninguém do modo como olha para você.
— Bem, eu acho que vou lidar com ele mais tarde. Agora,
estou aqui para dizer algumas coisas que você precisa saber.
— Por favor, Megan, não comece...
— Me ouça, Mary... não, ouça a nós dois.
— Nós dois? — ela perguntou, confusa, enxugando as linhas
de rímel sob os olhos inchados. — Não me diga que Owen está
aqui!
— Não, sou só eu — Aiden disse, entrando.
— Oh, ah... me desculpe, eu não sabia que você também
estava aqui. — As bochechas de Mary coraram.
— Tudo bem, eu não ouvi nada desagradável.
— Vocês estão perdendo tempo, é sério.
— Você pode ao menos nos dar uma chance de explicar
tudo? Aiden, diga a ela o que você sabe.
— O que é? — Mary perguntou atentamente, seu olhar
intercalando entre mim e Aiden.
— Annabel fez aquilo de propósito — ele disse lentamente. —
Ela veio até aqui para arruinar o casamento porque está apaixonada
por Owen.
— Já descobri essa parte. — Mary fez uma careta para as
palavras.
— Mas Owen nunca sentiu o mesmo e ele nunca deu a ela
nenhum motivo para pensar que as coisas poderiam ser diferentes
entre eles.
— Como sabe disso?
— Owen e eu passamos dias trabalhando juntos no mesmo
escritório. E acredite em mim, não existe um único dia em que eu
não o ouça dizer o quanto ele ama você. Você é a única mulher da
qual ele fala.
A esperança preencheu os olhos de Mary.
— É mesmo?
— Você deveria ter dado a ele uma chance de explicar o que
aconteceu — eu disse, dando tapinhas em sua mão. — Meu irmão a
ama mais do que qualquer coisa nesse mundo. Você não percebe
isso?
— Sim, mas... o que você faria se visse Aiden beijando outra
pessoa dois dias antes do seu casamento?
Eu congelei. E Aiden também.
— Nós estamos falando de coisas diferentes — eu disse,
tentando acalmar a batida acelerada do meu coração. Por um
segundo, eu imaginei a situação e... bem, eu quis
desesperadamente matar a pessoa que ele estaria beijando.
— Então você acha que eu devo voltar para casa e falar com
Owen?
— Sim, com certeza! — eu disse. — Não deixe que nada ou
ninguém estrague o que vocês dois têm.
— Obrigada, Megan — ela disse, me abraçando. — Você
pode me dar uma carona até a casa de Owen?
— Claro.
Nós três saímos do parque, entramos no carro de Aiden e nos
dirigimos até a estrada principal que levava até nossa casa. As
palavras de Mary ainda soavam em minha mente. Eu olhei
brevemente para Aiden. Ele parecia estar totalmente focado na
estrada, mas eu sabia que ele também pensava naquelas palavras.
Mais cedo, quando acordei na cama de Aiden, pensei que
aquela tinha sido uma das melhores manhãs que eu já tinha tido,
ainda que ele não estivesse por perto. Eu ainda podia sentir o cheiro
dele em mim e em sua camisa, que eu estava vestindo. Eu não
podia parar de pensar sobre as coisas que ele tinha me feito sentir
na noite anterior. E eu mal podia esperar pelo momento de acordar
nos braços dele após uma noite longa fazendo amor com ele...
Nós não falamos muito sobre a noite passada, mas ainda
mencionamos algumas coisas que nos faziam sorrir de vez em
quando. Não fizemos nenhum plano para o futuro. Tudo que
queríamos eram alguns dias de diversão, sem preocupações e
problemas.
Mas de alguma forma, toda vez que nós pensávamos que
seria fácil, se tornava ainda mais complicado...
Como agora. Eu não sabia o que aconteceria depois que a
aposta tivesse acabado. Eu não sabia se uma noite seria suficiente
para me afastar pela manhã como se nada tivesse acontecido. Eu
nem mesmo sabia se estava pronta para aquela noite, sem nada
além Aiden e eu nos aproximando mais do que nunca. Nós dois
sabíamos que cedo ou tarde, isso aconteceria, e não era necessária
nenhuma palavra para ver que nós estávamos atraídos um pelo
outro.
Eu não queria que o sábado chegasse, porque simbolizava o
fim de algo especial e o início de algo desconhecido. E ninguém
sabe se o desconhecido vai ser um final feliz ou um fracasso...
Capítulo 16
Aiden
Eu sinceramente queria que minha sina pudesse ao menos
me dar um tempo. Mas a vadia estava longe de ser legal comigo. E
hoje ela havia me dado mais um motivo para duvidar de meus
poderes.
No momento em que ouvi as palavras de Mary e meu
casamento hipotético com Megan, quis desesperadamente me
enfiar em um buraco. E não porque a perspectiva era assustadora,
mas tentadora demais para que eu pudesse parar de pensar nela.
Eu estava pronto para me unir a Megan para sempre? Boa
pergunta...
Toda vez que estávamos juntos, eu queria prolongar o
momento e toda vez que ela se afastava, eu queria correr atrás dela
e passar o máximo de tempo possível com ela.
E agora... bem, agora eu estava tentando me impedir de
correr até a joalheria mais próxima e comprar um anel de noivado
para ela, o que significava que eu estava definitivamente perdendo a
cabeça.
E havia mais uma coisa sobre a qual eu não conseguia parar
de pensar. Naquele sábado. Algo me dizia que ele não seria tão
perfeito quanto eu queria que fosse. E em momentos como aquele,
eu odiava minha intuição, que nunca errava.
Megan e eu não dissemos nada no caminho para casa.
Quando paramos na varanda, ela disse que queria falar com a mãe
e entrou.
— Vai ficar tudo bem — Mary disse do banco de trás. —
Vocês precisam de mais tempo para entender o que está
acontecendo.
— Você acha mesmo? — perguntei, olhando para ela pelo
espelho retrovisor.
— Tenho certeza. Owen e eu tivemos que esperar um pouco
antes de isso acontecer, mas estamos juntos agora e essa é a única
coisa que importa.
— Bem, você e Owen tiveram que esperar quase quinze anos
para perceberem que se amavam e eu duvido que Megan ainda
estará esperando por mim em alguns dias, quanto mais em alguns
anos.
Mary sorriu gentilmente.
— Não se preocupe, o tempo coloca tudo no lugar certo.
— Espero que isso aconteça nessa vida e não quando for
tarde demais. — Eu sorri, abri a porta e acompanhei Mary até a
casa. — Não seja dura demais com ele — eu disse baixinho, vendo
Owen andando até nós.
Deixei os pombinhos para se resolverem e fui até a cozinha,
pois precisava desesperadamente de uma xícara de café.
— Aiden, como você está? — Sr. Brawley perguntou,
fechando o jornal que estava lendo naquele momento.
— Bem, obrigado, senhor.
— Café?
— Sim, preciso muito de café.
— Você deve ter tido uma noite agitada — ele disse, andando
até a bancada.
Por um segundo, eu pensei que meu constrangimento me
mataria naquele momento.
— Perdão?
Se comportar de modo estúpido sempre parece dar alguns
segundos a mais para inventar uma explicação.
— Owen disse que você e Megan pegaram uma chuva de
novo e não conseguiram chegar em casa ontem à noite.
Obrigado, cara, eu disse mentalmente ao meu amigo.
— Sim, parece que a chuva gosta de nós.
— Nem me diga! — Kevin riu, me dando a xícara. — Onde
passaram a noite?
Agora eu estava alarmado por suas perguntas. Eu o conhecia
há anos, pelo mesmo tempo que conhecia Owen, mas hoje parecia
que eu era uma criança esperando a punição por fazer coisa errada.
— Tenho uma casa em Cheddar — eu disse cautelosamente.
— Está vazia no momento, então não tivemos problema em
encontrar um lugar para parar.
— Ah... ótimo. Aposto que foi você quem fez o café da
manhã, porque conhecendo minha filha, duvido que ela cozinharia
para alguém.
Aquilo me fez sorrir.
— Na verdade, desta vez ela deixou essa política de lado e
fez uma omelete com bacon e tomates maravilhosa.
Parecia que o Sr. Brawley estava surpreso.
— Uau... quem diria? — Ele me olhou pensativamente, sorriu
e saiu da cozinha.
Aparentemente, eu estava perdendo uma grande parte do
que estava acontecendo à minha volta.
O restante do dia foi surpreendentemente pacífico. Eu não vi
Megan, mas eu sabia que ela iria ao churrasco. Tomei um banho,
me vesti e desci as escadas para encontrar mais alguns convidados
da festa.
O clima estava perfeito para um churrasco. Convidados
apreciavam suas bebidas e o sol. E eu estava adorando a visão de
Megan em um vestido rosa bebê que me lembrava da rosa que
estava tocando sua pele na noite passada...
— Sem chuva hoje, hein? — Sr. Brawley disse, se
aproximando.
— Não, parece que os deuses do tempo serão bons conosco
hoje — eu disse, ignorando minha voz interior que me dizia que o
pai de Megan sabia que havia algo acontecendo entre mim e sua
filha.
— Espero que você aproveite essa noite — ele disse antes de
ir receber os convidados.
Eu olhei para ele novamente. O homem era mais sábio do
que sua esposa o taxava ser. E ele definitivamente sabia mais do
que queríamos que ele soubesse.
Meus olhos pararam sobre Megan novamente. Ela estava
brincando com as crianças dos vizinhos. Uma das garotas se
parecia muito com ela e eu poderia facilmente imaginá-la sendo filha
de Megan. E minha...
— Aiden! — Mary chamou. — Venha nos ajudar! Essas
crianças são loucas!
Eu sorri, coloquei minha taça de champagne em uma mesa
próxima e fui me juntar à diversão.
— Ok, que jogo é esse?
— Precisamos colocar o máximo de bolas nos cestos que
Megan e Mary estão segurando — um dos meninos disse. — Mas
as meninas vão correr ao redor das mesas e nós não podemos
pegá-las!
— Tudo bem, e qual é o prêmio do vencedor?
— Se você colocar cinco bolas em um dos cestos, Megan ou
Mary vão fazer o que você quiser.
— É mesmo? — Eu sorri maliciosamente para Megan.
Mary sorriu com minha expressão. Aparentemente, ela podia
adivinhar os desejos que eu queria que sua futura parente
cumprisse.
— Vamos lá, cara — eu disse para um dos meninos. — Se
vencermos, eu compro um bolo de chocolate gigante para você e
você me ajuda a fazer Megan sair comigo hoje à noite.
— Combinado — o garoto respondeu, apertando minha mão.
E assim o jogo começou. As crianças estavam certas, era
muito difícil colocar as malditas bolas nos cestos que estavam
correndo de nós. Então eu tentei desenvolver uma estratégia para
chegar até Megan sem ser visto. Vergonhoso para mim, mas usei as
crianças para distraí-la e quando ela não me viu, corri até ela.
— Peguei você! — eu disse, colocando meus braços ao redor
de sua cintura.
— Ponto para as Panteras! — um dos garotos gritou, tirando
vantagem da imobilidade de Megan.
— Não é justo! — Ela riu, tentando se libertar do meu aperto.
— Você já deveria saber, Megs: não existem jogos justos
comigo. — Pisquei para ela.
— Você... — Ela bateu no meu ombro, ainda sorrindo. — É
uma brincadeira de criança e você é velho demais para ajudá-los!
— Segundo ponto para as Panteras! — eu disse, colocando
mais uma bola no cesto de Megan.
— O quê?
Ela não esperava que eu me aproximasse duas vezes
seguidas.
— É melhor você ficar de olho no cesto — eu disse, indo
pegar mais uma bola.
Meia hora depois, o jogo tinha acabado, e adivinha quem era
o vencedor?
— Você é um grande jogador, Aiden — Megan disse,
contando as bolas em seu cesto. — Oito? É sério?
Eu dei de ombros, me recostando a uma das mesas.
— Eu queria me certificar de que minha vitória fosse justa.
— Mas o seu modo de jogar foi qualquer coisa, menos justo!
— O resultado é a única coisa que conta. E vista algo... preto
hoje.
— O quê?
— O encontro, lembra? Você me deve um encontro.
— Sim, você deve — o garoto do meu time disse. — Esse era
o combinado.
— Homens... vocês sempre apoiam seus planos loucos. —
Megan suspirou, balançando a cabeça.
— Vejo você às oito na varanda — eu disse.
Ela revirou os olhos, colocou as bolas no cesto novamente e
foi ajudar Mary a limpar o restante da bagunça deixada após o jogo.
— Ela é legal — um dos garotos do meu time disse.
— Sim, ela é.
Eu não podia discordar dele. Eu o agradeci pelo ótimo jogo e
ele foi se juntar aos amigos.
Para o segundo encontro com Megan, eu escolhi um bar de
salsa. Além de dança, o lugar oferecia ótima comida e vinho, coisas
nas quais eu sabia que Megan era uma especialista. Seu pai era
parte francês e sua família era dona de uma pequena vinícola no sul
da França. Kevin ensinou a filha a escolher o melhor vinho, e
embora Owen também fosse um amante do vinho, apenas sua irmã
sabia da tecnologia de sua produção. Era por isso que eu esperava
que ela gostasse de minha surpresa.
A escolha de vestido de Megan tinha sido perfeita para a
noite. Era preto, assim como eu havia pedido, sem alças e com uma
saia rodada.
— Você está linda, como sempre — eu disse.
— Aonde vamos?
— Não, não vou contar. Mas eu já sei que você vai gostar do
lugar.
— Você é um dos homens mais confiantes que já conheci.
Eu ri com seu comentário.
— Admita, Megs, você nunca conheceu um homem como eu.
— Cale a boca, Aiden, ou vou mudar de ideia e ficar em casa.
— E então eu vou dizer às crianças que você roubou e que eu
não ganhei meu prêmio. Você não quer decepcioná-las, quer?
— Espertinho — ela disse, entrando no carro.
A corrida foi curta e no momento em que eu parei em frente
ao bar, Megan reconheceu o lugar.
— Dança de novo?
— Sim, por que não? Eu pensei que você tivesse gostado da
nossa sessão de dança passada.
— Sim, mas é um bar de salsa...
— E daí?
— Vamos lá, Aiden, você sabe o que quero dizer. Salsa é
como transar na pista de dança!
— Exatamente.
— Você provoca demais.
— Eu sei. Mas eu também sei que você gosta desse traço da
minha natureza.
— Tudo bem. Eu gosto. Está feliz agora? — Ela cruzou os
braços, se inclinando contra o carro.
— Ah, sim. — Eu parei de frente para ela, tocando sua
bochecha. — Sempre estou feliz quando estou com você, Megan.
— Mentiroso. Você estava longe de estar feliz quando
estávamos na fazenda.
— Não é verdade. Eu estava nervoso e ver você naquele
cobertor que mal cobria alguma coisa não me deixou focar na minha
felicidade. Mas eu estava definitivamente feliz em passar um tempo
com você.
— Você sequer sabe dançar salsa?
— Hmm... me deixe pensar. As garotas dizem que eu sou
bom naquilo que você comparou à salsa, então acho que a resposta
é sim.
— Meu Deus, eu juro que vou matar você um dia, Aiden.
— Faça isso lentamente, baby — eu disse, colocando um
braço ao redor da cintura de Megan e a guiei até a entrada do bar.
Capítulo 17
Megan
Cada centímetro do meu corpo e mente estava em alerta.
Salsa sempre tinha sido uma das minhas danças favoritas, mas
dançá-la com Aiden se igualava a colocar minha cabeça na boca de
um leão. E eu tinha muita certeza de que o maldito leão era ótimo
em dançar salsa. Se ele conseguiu dançar tango, não havia dúvidas
de que sabia o que estava fazendo.
— Nossa mesa é lá — ele disse, me levando até o segundo
andar.
El Fuego — era o nome do bar — sempre tinha sido um dos
lugares mais badalados da costa. Duas vezes por ano, dançarinos
de salsa de todos os lados do mundo vinham até ali para
campeonatos.
— Aposto que já esteve aqui antes — Aiden disse.
— É claro. Eu conheço os donos, um casal espanhol muito
gentil da idade dos nossos pais.
Nos sentamos à mesa e eu olhei através das escadas para o
primeiro andar, onde casais dançavam uma música lenta.
— Quer começar com uma dança?
— Não, vamos aproveitar a atmosfera antes. Eu gosto de
observar outras pessoas dançando.
Salsa era um jogo doce e sensual. Era por isso que era
sempre engraçado observar outros dançarinos tentando demonstrar
seus talentos com um verdadeiro show.
— Que tal uma taça de vinho?
— Claro. Eu adoraria.
Aiden gesticulou para a garçonete e pediu que ela nos
trouxesse uma garrafa de vinho tinto. Ainda que a salsa sempre
fosse associada a tequila, os visitantes do bar preferiam vinho.
— Ótima escolha — eu disse, acenando com aprovação para
a garrafa.
— Eu sabia que você iria gostar — Aiden respondeu,
enchendo as taças.
— Você sabe tudo sobre mim e eu quase não sei nada sobre
você.
— O que gostaria de saber?
— Quanto tempo seu último relacionamento durou?
— Dois ou três dias.
— Uau... você tinha medo de comprometimento?
— Não. Eu tinha medo de fazer a escolha errada, já que
nenhuma das mulheres que namorei eram tão incríveis quanto você.
— Mentiroso.
Um sorriso malicioso dançou nos lábios de Aiden.
— Longe disso. Estou falando a verdade.
— Ok. Próxima pergunta. Qual é sua comida favorita?
— Italiana.
— Cor favorita?
— Gosto de todos os tons de cinza e azul.
— Estação do ano favorita?
— Outono.
— É sério? Que surpresa. Geralmente as pessoas odeiam o
outono.
— Sou de escorpião e gosto de tudo em relação ao outono,
desde as folhas mudando de cores até as chuvas que sempre me
deixam um pouco nostálgico.
Hmm... primeiras aparências podem enganar. Quanto mais eu
sabia de Aiden, mas eu percebia o quão errada estive sobre ele.
— Sem mais perguntas? — ele perguntou, rindo.
— Lugar favorito para visitar?
— Veneza.
— Então você é um cara romântico.
— Não é sobre romantismo. Embora eu sabia agradar uma
mulher.
Eu sorri.
— Isso é óbvio.
— Eu gosto de Veneza pelo charme único; o mistério dos
festivais, bailes de máscara e o melhor café do mundo, é claro. Quer
ir comigo um dia?
Sob a meia luz do bar, os olhos de Aiden pareciam piscinas
de prata líquida, brilhando misteriosamente e fazendo meu sangue
ferver lentamente. O que quer que ele estivesse dizendo, a
intensidade do olhar dele sempre tinha aquele efeito sobre mim.
— Vou pensar sobre isso — eu disse, bebericando meu vinho.
— Está pronto para dançar?
— Claro.
Esvaziamos nossas taças e nos juntamos aos outros
dançarinos.
A principal coisa sobre a salsa era a conexão entre os
parceiros: olhos, movimentos, passos. Homens sempre guiavam e
as mulheres seguiam, como se fossem uma extensão um do outro;
os pés desenhavam círculos no chão, corpos se arqueavam e
contorciam.
Aiden colocou um braço ao redor de minha cintura e sorriu
despretensiosamente.
— Me mostre o seu melhor.
— E você? — perguntei, contornando seu pescoço com meu
braço esquerdo. Isso aproximou nossos rostos.
— Vou dar meu melhor — ele disse, acariciando meu rosto
com seu olhar.
Após alguns passos, percebi que eu não precisava prestar
atenção neles. Cada movimento de Aiden era perfeito e nós
estávamos simplesmente apreciando a música, perdidos no
momento como dois imãs que não podiam se manter afastados um
do outro.
Toda vez que as mãos dele deslizavam pelos meus braços e
lateral do meu corpo, eu sentia as ondas de eletricidade quebrando
dentro de mim. Toda vez que eu deslizava minhas próprias mãos
pelo peito dele, seus olhos escureciam e eu podia sentir o quão
intensa nossa conexão era.
Minhas mãos alcançaram sua camisa e eu abri alguns botões,
deslizando meus dedos sob o tecido. Aiden pegou meu pulso,
sussurrando em meu ouvido:
— Se você não parar de fazer isso, eu juro que rasgo esse
seu vestido em pedaços. Agora mesmo.
Eu ignorei suas palavras e deslizei minha mão ainda mais
para baixo, até a barra de sua calça.
— É só uma dança — eu disse, envolvendo seu quadril com
minha perna.
Ele colocou a mão direita em minha nuca, sua respiração
fazendo cócegas em meus lábios.
— Você está despertando minhas partes mais obscuras, baby.
— Eu nem comecei. Mas quero que você experimente algo
antes. — Eu o levei até o bar e pedi uma dose de tequila.
— Ah, isso é o que eu chamo de ‘das antigas’. — Aiden riu. —
Só uma dose? E você?
Eu pisquei para ele, coloquei sal no meu pulso e um pedaço
de limão entre os dentes. Nossos olhares se cruzaram.
— Provocando, como sempre — ele disse antes de sua
língua lamber o sal lentamente e seus lábios se moverem até os
meus. Aiden foi muito cuidadoso para não deixar que o beijo que
nós dois estávamos morrendo de vontade de dar acontecesse. —
Delicioso — ele disse baixinho. — Eu quero repetir isso algum dia
quando eu puder saborear tudo que você me oferecer de verdade.
Misturar tequila e vinho era errado, mas ainda assim pedi
mais uma dose para mim e repeti o ritual. Com uma única diferença
— desta vez era Aiden quem segurava o limão.
— Você é corajosa — ele disse, sorrindo. — Eu pensei que
não fosse ousar chegar tão perto da minha boca.
— Eu só deixo você pensar que sabe tudo sobre mim, mas na
verdade você não sabe nada.
— É verdade.
Eu peguei sua mão e nós voltamos para a pista de dança.
Dançamos mais um pouco, tomamos mais algumas doses de
tequila, sem provocações desta vez, e fomos para a praia para nos
refrescarmos.
Tirei meus sapatos e meus pés acolheram a suavidade da
areia morna. Eu não estava bêbada, mas um pouco tonta. A
presença de Aiden não me incomodava. De alguma forma, aquela
noite havia me mostrado como era me sentir eu mesma outra vez. E
eu gostava daquilo.
— Obrigada — eu disse, pegando a mão de Aiden. Ele estava
surpreendentemente quieto. Sem piadas, sem comentários astutos,
sem nada. — Em que você está pensando?
— Você.
— Eu? E o que está pensando sobre mim agora?
— Owen estava certo, você é especial. É difícil prever suas
ações e palavras. Às vezes eu nem noto o momento em que você
muda. Acontece tão rápido. Como você faz isso?
— Não faço ideia — eu disse, rindo. — É um fenômeno louco
e natural.
— Sempre levo um tempo para me acostumar a pessoas
novas. Mas tudo foi diferente com você. Desde o primeiro segundo
em que a vi, senti que a conhecia desde sempre.
— É culpa de Owen. Ele contou muitas coisas sobre mim a
você.
— Não, não é isso.
— Então o que é? — Eu parei, fazendo Aiden me olhar.
— Tem alguma coisa em você que atrai a atenção de todos. E
não é o seu rosto, ou seu corpo. Tem algo nos seus olhos que me
fascina. A profundidade, é místico. Toda vez que penso que estou
perto de saber o que quer que esteja passando pela sua cabeça,
você se torna um novo alguém. Alguém que não consigo
decodificar.
— Posso dizer o mesmo sobre você. Você nunca para de me
surpreender.
A tristeza cruzou os traços de Aiden.
— O homem que achar a chave do seu coração será o
babaca mais feliz do mundo. — Ele colocou os braços ao meu redor
e me abraçou apertado.
Eu quis chorar, porque suas palavras pareciam tão
definitivas... como se ele estivesse dando sua bênção aos meus
futuros relacionamentos que não o incluíam. E de repente eu
percebi que ele era a única pessoa com a qual eu queria ter um
relacionamento.
Depois de algumas horas, voltamos para casa. Naquele
momento, eu estava acabada. As palavras de Aiden ainda estavam
em minha mente e eu queria, desesperadamente, que ele as
retirasse. Mas ele me desejou boa noite e foi para seu quarto.
Embora fossem três da manhã, eu não queria dormir. Eu fui
para a cozinha e preparei uma xícara de chá com leite. De repente,
as luzes se acenderam e meu pai entrou no cômodo.
— Por que ainda está acordada, querida?
— Aiden e eu fomos ao bar.
— Você não parece feliz dizendo isso. Você está bem? —
Meu pai sempre sabia quando havia algo de errado comigo.
— Na verdade, não.
— Quer falar sobre isso?
— Talvez na próxima — eu disse, tentando forçar um sorriso.
— Aiden a machucou de alguma forma?
— O quê? Não, é claro que não. Nós... ah, bem, é meio difícil
de explicar.
— Tudo bem, podemos falar sobre isso mais tarde.
— Obrigada, pai. — Dei um abraço nele e fui para o meu
quarto.
Eu precisava de forças para sobreviver ao dia seguinte...
Capítulo 18
Aiden
O dia anterior ao casamento foi agitado. As pessoas estavam
correndo pela casa, perdendo e tentando encontrar coisas
constantemente. A noiva e o noivo pareciam estar realmente
cansados de tudo e eu tinha certeza de que eles queriam que a
manhã de sábado chegasse o quanto antes. E eu também...
Eu tinha uma noite inteira para pensar sobre o dia seguinte.
Eu não sabia o que tinha me feito falar com Megan sobre o outro
homem com o qual ela poderia ser feliz, porque eu queria ser aquele
homem para ela. E amanhã, eu finalmente diria aquilo em voz alta.
Eu não tinha certeza sobre a reação de Megan, mas eu realmente
esperava que ela não me rejeitasse antes de meu discurso acabar.
Eu não tive chance de falar com ela naquele dia, já que Mary
precisava de sua ajuda com tudo, assim como Owen precisava da
minha. Mas no momento em que vi Megan se dirigir ao seu quarto,
pedi licença dizendo que precisava trocar de roupa e a segui até o
segundo andar.
— Posso entrar? — perguntei, batendo à porta.
— Você já entrou — Megan disse. Ela estava de pé em frente
ao espelho, olhando tristemente para o vestido que vestia.
— Está tudo bem?
— Eu odeio lavanda — ela murmurou, fazendo uma careta
para o reflexo. — Mary obviamente enlouqueceu. Esse vestido mal
cobre alguma coisa.
Eu sorri, a observando. Ela estava muito engraçada naquele
vestido. Como um bolo de aniversário sexy para um garoto de
dezoito anos.
— Ele é... legal — eu disse, ficando do lado dela.
Ela revirou os olhos.
— Cale a boca, Aiden. Você não gostou dele e nem eu. Eu
preciso de um vestido novo e ainda que eu saiba que Mary vai me
matar por mudá-lo, não posso vestir isso amanhã.
— Precisa de ajuda?
— Na verdade, não. Mas eu não me importaria se você
quisesse me dar uma carona até a loja de vestidos.
— Sou todo seu pelo resto do dia. Eu acho que não posso
mais aguentar as ordens de Owen. Está tudo pronto para amanhã,
mas ele ainda quer que eu me certifique de que não deixei passar
nada desapercebido.
— Não me surpreende. — Megan riu. — Tenho certeza de
que você vai estar tão nervoso quanto ele quando a hora do seu
próprio casamento chegar.
E daquela forma, eu recebi um tapa muito doloroso no rosto.
Ela sentiu o mesmo quando eu disse aquilo sobre o outro homem na
noite passada?
— Vou estar pronta em um minuto — ela disse, se
escondendo atrás da porta do banheiro.
Assenti distraidamente e encarei meu reflexo no espelho.
Nada tinha mudado em minha aparência, mas minha vida estava se
desmoronando diante dos meus olhos. Eu suspirei.
Megan não disse nada sobre a noite passada. Ela pensou
que eu estava certo e que ela poderia ser feliz com qualquer
pessoa, menos eu? O que ela pensou que aconteceria amanhã? Eu
não fazia ideia sobre o que estava se passando em sua mente. E eu
tinha certeza de que ela não facilitaria minha vida.
— Ok, podemos ir agora — ela disse alguns minutos depois.
— Tem certeza de que Owen vai ficar bem sem sua ajuda?
— Estou certo de que não existe mais nada que eu possa
fazer por ele hoje.
A loja de noivas não era muito longe da casa de Owen, então
levamos um pouco menos de dez minutos para chegar lá. A Sra.
Hughson, a dona, era uma mulher muito gentil de cerca de sessenta
anos. Ela imediatamente percebeu que a escolha de vestido de
madrinha de Mary não era boa o suficiente para Megan.
— Eu disse a ela que nem toda garota gostaria desse vestido,
mas ela garantiu que sua amiga aprovaria a escolha.
— Os planos mudaram e agora estou substituindo a garota —
Megan disse, seguindo a senhora até o provador.
— Escolha algo turquesa — eu disse atrás dela.
Ela se virou, me olhando com surpresa.
— Como soube que eu queria um vestido turquesa?
— É sua cor favorita.
— Hmm... certo.
Nenhum comentário se seguiu. E mais uma vez, eu pensei
que o comportamento de Megan era estranho. Ou talvez ela
simplesmente quisesse parecer indiferente?
Eu me sentei em uma poltrona e comecei a folhear uma
revista de casamentos que encontrei na mesa de centro. Uma coisa
imediatamente chamou minha atenção — um vestido longo creme.
Era muito simples: sem alças, com padrões rendados e uma fita na
cintura. A modelo que o vestia me lembrava Megan e eu pensei que
o vestido seria perfeito para o casamento que ela descreveu como
sendo de seus sonhos previamente. Eu olhei em volta para garantir
que ninguém me visse, rasguei a página com o vestido e o coloquei
em meu bolso. Bem, só por garantia…
— O que acha desse aqui? — Megan perguntou, saindo do
provador em um vestido lindo. Era longo e de cauda, com uma
abertura até o quadril.
— Legal — eu disse, acenando em aprovação.
— Você disse o mesmo sobre a escolha de Mary.
— Estou falando a verdade desta vez.
— Ótimo. Vou levar esse.
— Você não acha que Mary deveria saber sobre sua troca de
vestido?
— Acho que ela tem o suficiente com o que se preocupar no
momento. Não preciso dar a ela mais motivos para entrar em
pânico.
Eu ri.
— Sim, certo. É melhor deixar a notícia para a cerimônia.
— Ela vai estar focada demais nos seus votos para prestar
atenção em mim.
Megan olhou para sua escolha mais uma vez e voltou ao
provador.
No caminho de casa, sugeri almoçar e nós paramos em uma
padaria local, conhecida por seus muffins de chocolate com geleia
de morango.
Megan leu o menu e pediu duas xícaras de latte com leite e
caramelo.
— Sabe, eu sempre quis aprender a fazer bolos e salgados.
Mas tenho medo de fazer a experiência na minha cozinha. Não
quero colocar fogo nela.
— Por que não pede à sua mãe para ajudá-la? Eu sei que ela
é uma ótima cozinheira.
— É exatamente por isso que nunca peço para ela me ajudar
na cozinha. Ela sempre me critica.
— E se nós fizermos alguns experimentos juntos? Quando o
casamento acabar?
A xícara de Megan congelou em suas mãos.
— Eu... acho que não vou ter tempo para cozinhar amanhã.
Preciso fazer minhas malas, porque tenho um voo logo cedo para
Londres no sábado.
Eu franzi a testa. Um sentimento muito ruim se formou dentro
de mim.
— Então... amanhã é o último dia que vamos passar juntos?
Ela me olhou, respirando fundo antes de dizer:
— Esse era o combinado, lembra? Três dias.
— E o que vai acontecer quando você voltar para Londres?
— Bem... eu provavelmente vou ao baile de formatura e
depois tirar uma semana de folga e ir a algum resort para me
preparar para minha nova vida e trabalho. Se minha chefe me
permitir ter férias, é claro. Da última vez que a vi, ela queria que eu
começasse a trabalhar na segunda.
— E quanto a nós?
Eu não achava que aquele era um bom momento para fazer
aquela pergunta, mas não pude evitar.
— O que tem nós? Você vai perder a aposta, eu vou fazer
você fazer algo engraçado e depois você vai voltar para Bristol. —
Ela sorriu de leve. — Tenho certeza de que sua vida não vai parar
depois do casamento.
— Verdade. Mas... de alguma forma, achei que ela fosse
mudar.
— Sabe, não importa o quanto eu tente me convencer de que
não gostei dessa semana em casa, eu gostei. Muito. E talvez, se
não fosse por você, eu teria fugido novamente antes mesmo do dia
do casamento. Mas você fez seu melhor para me mostrar que a vida
não é só preta ou branca como eu costumava pensar que era. Então
obrigada por isso, Aiden. Esses três dias que passamos juntos
foram os melhores da minha vida. Mas é hora de seguir em frente,
voltar para as nossas vidas normais onde nem tudo é um conto de
fadas.
— Mas o terceiro dia da aposta ainda não acabou.
— Aiden...
— Você está desistindo?
Eu sabia que não estava sendo justo, mas parecia que aquela
era minha última chance de mudar a situação.
— Não, não estou.
— Ótimo. Eu tenho algo para você, mas antes, precisamos
ver sua família. Espero que eles não tenham se matado enquanto
estávamos fora.
Tentei meu melhor para não deixar Megan perceber meu
nervosismo. E eu ainda não estava pronto para dizer adeus; eu
precisava inventar um novo plano para fazê-la ficar. Eu menti sobre
a surpresa. Na verdade, eu não sabia o que fazer...
Felizmente, ninguém percebeu nossa breve ausência e
Megan e eu voltamos para as nossas tarefas sem problemas. Owen
e eu checamos várias vezes tudo que deveria ser feito para o jantar
de ensaio da noite, e quando ele notou que eu mal conseguia ficar
de pé, me deixou ir embora. Finalmente!
Fui para o meu quarto para tomar um banho e me trocar. Eu
estava tão exausto que não havia nada na minha mente além da
ideia de dormir. Até eu ver Megan na porta de meu quarto.
— Desculpe incomodá-lo, Aiden, mas eu preciso de ajuda
para fechar o vestido e o seu quarto era o mais próximo.
— Claro, vire-se — eu pedi, tocando o vestido sedoso. — É
meu prazer ajudá-la com qualquer coisa que inclua suas roupas.
— Obrigada. — Ela sorriu e voltou ao seu quarto.
Ugh, por que é que tudo que ela vestia parecia tão sexy? Ela
obviamente sabia como chamar atenção.
O jantar começou com o noivo agradecendo os seus pais e os
de Mary por tudo que tinham feito pelo casamento. Depois, a noiva
deu presentes aos convidados e quando a parte formal terminou,
finalmente relaxamos e começamos a aproveitar a comida e as
conversas.
Megan estava sentada na minha frente, junto aos pais.
Continuamente, nossos olhos se encontravam, enviando milhares
de mensagens silenciosas. Às vezes, os olhos de Megan brilhavam
e um rubor adorável cobria suas bochechas, como se ela se
lembrasse de algo constrangedor demais para compartilhar com o
restante de nós. Mas apenas eu sabia que naquela noite, ela
sentiria a força total daquelas coisas constrangedoras consumindo
seus pensamentos...
— Aiden? Por que você não nos conta alguma coisa sobre
seu trabalho com Owen? — um dos convidados perguntou.
— Ah, bem, não há nada de interessante para contar. Para
mim e para o resto da empresa, ele é um advogado esperto e difícil
de aguentar.
Os convidados riram.
— E você, Megan? Se lembra de algum incidente engraçado
do passado de Owen?
— Meu irmão odeia quando eu revelo seus segredos, tia
Betty. Mas tenho certeza de que Mary pode nos contar algo
interessante sobre o romance deles.
— Claro — a noiva disse. — Certa vez, Owen me levou para
andar de cavalo. Era início de novembro e o clima não estava bom o
suficiente para a cavalgada. Mas Owen disse que estava bom e
meia hora depois nós fomos pegos de surpresa pela chuva no meio
da floresta. Na manhã seguinte, depois de ficarmos encharcados,
Owen e eu estávamos quase morrendo de febre e tosse. Quando eu
perguntei a ele qual era o motivo para a cavalgada, ele disse que
queria me mostrar o antigo moinho perto do rio. No fim das contas,
ele iria me pedir em casamento lá, mas teve que fazer isso com um
termômetro na boca em vez de uma aliança na mão. — Nós todos
rimos. — Ele estava tão chateado por ter arruinado a surpresa, mas
disse que não podia mais esperar. Então se ajoelhou do lado da
minha cama e perguntou se eu queria passar o resto da vida com
ele.
— Que linda história! — uma das damas de honra disse. —
Mas por que você disse que não tinha aliança? — perguntou ela,
confusa.
— Porque a aliança estava escondida no moinho — Owen
respondeu. — Então eu tive que voltar lá para pegar a aliança e
repetir o pedido de casamento.
— Apesar de eu já ter dito sim mesmo sem a aliança — Mary
acrescentou, beijando sua bochecha.
Megan e eu compartilhamos um olhar e eu me surpreendi ao
ver algumas lágrimas brilhando nos cantos de seus olhos. Ela pediu
licença e foi para a casa. Algo me dizia para segui-la, então me
levantei, disse algumas palavras à noiva e ao noivo e fui encontrar
Megan.
Capítulo 19
Megan
Eu não queria voltar para o jantar. Eu pensei que era forte o
suficiente para tolerar tanta conversa sobre amor, mas
aparentemente, eu tinha superestimado meus poderes.
Eu estava tentando parecer normal. Talvez até mesmo um
pouco indiferente, mas toda vez que via Aiden, meu coração
começava a bater mais rápido. E eu sabia o que isso significava...
Eu estava me apaixonando por aquele Sr. Lindo arrogante e
impossível em todos os sentidos. E embora eu tivesse percebido
que não havia nada de ruim nisso, parecia que eu estava perdendo
a maior batalha de todas — a batalha comigo mesma.
Eu fui para o meu quarto e fechei a porta atrás de mim, me
recostando a esta. Eu precisava sair daquela casa o quanto antes e
estava seriamente pensando em perder o casamento de Owen
quando alguém bateu à porta.
— Megan, eu sei que você está aí. Abra a porta, por favor —
Aiden pediu.
Droga... ele era a última pessoa que eu queria ver naquele
momento.
— O que você quer?
— Precisamos conversar.
— Precisamos?
— Me deixe entrar! — ele revidou asperamente.
Eu respirei fundo antes de abrir a porta.
— O que aconteceu? Por que você saiu?
— Precisava de espaço.
— Por quê?
Eu ignorei sua pergunta.
— Por que você está aqui, Aiden?
Ele parecia estar avaliando alguma coisa, sua mandíbula
estava cerrada e o brilho usual de seus olhos não estava lá. Ele
estava bravo comigo?
— Estou pronto para desistir — ele disse finalmente, fazendo
um gesto de impotência.
— Você o quê? — Eu não entendi de imediato sobre o que
ele estava falando.
— Perdi a aposta, Megan. Eu pensei que fosse capaz de ir
embora quando tudo tivesse acabado, mas não posso. — Ele deu
um passo à frente e tocou meu rosto, fechando os olhos. — Eu
pensei que estivesse errado sobre meus sentimentos por você,
mas... eu amo você, Megan — ele disse, olhando para mim. — Mais
do que tudo nesse mundo.
Ah, não... não, não, não!, chorei mentalmente.
— Por que... por que você está me dizendo isso?
— Porque quero que você saiba que agora tem uma razão
para ficar.
— Você deve estar louco, Aiden. — Eu ri com nervosismo, me
virando. — Eu não posso ficar. Londres é minha vida. Eu não posso
me esquecer de meus sonhos por algumas palavras românticas.
— E quanto a isso? — Aiden perguntou suavemente,
colocando os braços ao redor de minha cintura. — Você não sente a
eletricidade?
— Não faça isso — eu pedi, engolindo em seco. É claro que
eu sentia. Era impossível não sentir quando Aiden e eu estávamos
tão próximos.
— Não vá, Megan — ele disse, tocando minha orelha com
seus lábios. — Fique comigo.
Eu virei meu rosto para ele, tentando impedir as lágrimas que
queimavam meus olhos.
— Não posso.
— Sim, você pode — ele sussurrou a centímetros dos meus
lábios. — E eu vou fazer de tudo para fazer você ficar —
acrescentou antes de seus lábios encontrarem os meus.
Ah, meu Deus... como eu poderia pensar em fugir quando
tudo que eu queria era Aiden? E agora ele estava me beijando tão
ardente e desesperadamente que eu não pude fazer mais nada
além de corresponder.
Eu envolvi seu pescoço com meus braços e me aproximei,
apreciando a dança sensual de nossas línguas se mesclando. Suas
mãos deslizaram pelas minhas costas e eu nem percebi o momento
em que meu vestido caiu no chão, revelando minha lingerie preta.
— Não tire os saltos — Aiden disse, sem fôlego. Então ele me
pegou nos braços e me colocou sobre a cama, se inclinando sobre
mim com os olhos queimando com paixão.
Eu não sabia o que tinha acontecido com meus pensamentos
racionais, mas quando vi Aiden desabotoando sua camisa e
expondo seu peito perfeito e sua pele bronzeada, eu parei de
respirar. Ele era tão lindo, como uma estátua que eu tinha medo de
tocar para não arruinar seus lindos traços. Ele tirou a calça e se
juntou a mim na cama, cobrindo meu corpo com o seu.
— Você é uma destas mulheres que fazem anjos caírem —
ele disse, me beijando suave e docemente. Suas mãos roçaram
meu corpo, desde minha barriga até meus seios, os quais ele beijou
através da renda.
Me olhando de cima, ele sussurrou:
— Seja minha.
Seus olhos azuis acinzentados profundos se suavizaram no
momento em que eu disse:
— Já sou sua.
Ele realmente achou que eu diria não?
Os lábios de Aiden se curvaram em um sorriso de satisfação
e eu apertei seus ombros tentando puxá-lo para mais perto. Sua
mão deslizou até minhas costas e abriu meu sutiã. Ele o tirou com
os dentes e eu arfei baixinho quando seus lábios tocaram a pele
suave do meu seio; os músculos de Aiden se tensionaram no
momento em que a parte inferior de seu corpo se pressionou ao
meu.
— Eu venderia minha alma ao diabo por uma chance de
senti-la dessa forma outra vez — ele disse, traçando beijos da
minha clavícula até meu pescoço, queixo e lábios. Sua mão
descansou em meu seio e então se moveu até minhas laterais e
quadris.
— Coloque sua perna ao meu redor — ele pediu, beijando o
lóbulo de minha orelha. — Ah, eu sempre quis sentir esses seus
saltos me arranhando.
Eu fiz o que ele disse, intensificando meu aperto ao redor de
seus quadris.
— Assim?
— Ah, sim, baby. Você sabe exatamente o que eu quero.
Cada parte de mim ansiava mais ao sentir os lábios de Aiden
na parte superior de meu corpo. Cada segundo com ele era repleto
de paixão. Mas ele não era bruto. Cada toque dele era tão terno e
sensual que eu pensei que morreria bem ali. Um gemido escapou
de sua garganta e eu ergui meus quadris, encontrando seu
movimento.
— Eu quero beijá-la... aqui.
Eu arfei quando a mão de Aiden deslizou até minha calcinha.
Eu não achava que estava pronta para deixá-lo fazer aquilo, mas ele
não me deu uma chance de impedi-lo. Ele acariciou minhas coxas,
roçando minha barriga com seus lábios, e eu fechei meus olhos
esperando seus lábios tocarem mais de mim.
Ele tirou minha calcinha e sorriu, olhando para os meus saltos
— a única coisa que eu ainda vestia.
— Era exatamente assim que eu queria que você estivesse
na minha cama.
— Tecnicamente, essa é minha cama — rebati, retornando o
sorriso.
— Quem se importa? — Ele abaixou a cabeça e seus lábios
tocaram minhas coxas. Eu enfiei minhas unhas em seus ombros,
quase pronta para implorar a ele que parasse aquela tortura.
— Hmm... tão doce... em todos os lugares — ele gemeu,
acariciando meus quadris.
Acho que chamei seu nome, porque Aiden parou de me
provocar e se inclinou sobre mim perguntando:
— O que você quer que eu faça, Megan?
Eu hesitei por um segundo.
— Eu quero senti-lo dentro de mim.
— Farei isso com prazer.
— Não se preocupe, estou tomando a pílula — eu disse
quando ele fez menção de alcançar sua calça.
Com os lábios me beijando famintamente, suas mãos
segurando meus quadris e nossos peitos se roçando, Aiden entrou
em mim em uma estocada rápida, me fazendo gemer alto. Ele
fechou os olhos por um segundo e então começou a se mover,
acelerando e diminuindo, como se suas torturas anteriores não
tivessem sido suficientes para me enlouquecerem.
Eu estava ciente de cada pulsação correndo sob minha pele.
Meus quadris se moviam e erguiam para acompanharem os
movimentos dele e quando eu pensei que explodiria, Aiden parou
abruptamente, respirando com dificuldade.
— O que você está fazendo? — perguntei, olhando para ele.
— Eu mal consigo me controlar com você.
Eu sorri, tocando sua bochecha.
— Não se preocupe com isso. Pare de se controlar.
— Eu perco a cabeça quando estou com você — ele
sussurrou contra os meus lábios.
— Eu amo você, Aiden — eu disse, sentindo-o se mover
lentamente dentro de mim. Eu não podia mais me segurar. Eu
queria que ele soubesse que nossos sentimentos eram mútuos.
— O que você disse? — Ele me encarou como se estivesse
chocado demais para me ouvir.
— Você me ouviu. Eu amo você — repeti, observando a
cachoeira de emoções que cruzou sua face.
— Eu pensei que nunca ouviria isso de você — ele disse, me
beijando outra vez.
E esse novo beijo não era nada além de puro amor. Se eu
pudesse encontrar as palavras para descrever o que sentia naquele
momento...
Meus quadris se ergueram e os movimentos de Aiden se
aceleraram até nós dois soltarmos um gemido final, um levando o
outro até o paraíso de nosso amor.
Aiden continuou a sussurrar meu nome, acariciando as
laterais de meu corpo, braços e barriga até adormecemos; ambos
exaustos, mas felizes.
O som de água correndo me acordou. Eu me virei sobre o
lado esquerdo, procurando por Aiden, mas ele não estava lá. Então
eu me levantei e fui ao banheiro. E lá estava ele, de pé sob o
chuveiro em toda a sua glória. As gotas de água misturadas ao
shampoo corriam por seu corpo, fazendo cada centímetro do meu
próprio corpo gritar.
— Quer se juntar a mim, linda?
Eu olhei para ele, apenas agora percebendo que minha
atenção não estava voltada para seu rosto. Sorrindo, eu entrei no
chuveiro e me esquivei quando senti a quentura da água contra
minha pele.
Aiden riu baixinho.
— Você está congelando.
— Talvez você não devesse ter me deixado sozinha na cama.
— Perdão — ele disse, beijando meus lábios. — Eu nunca
mais vou deixar isso acontecer.
Nós tomamos um banho que eu tinha certeza de que não
tinha demorado menos de uma hora, e voltamos para a cama, onde
eu me encolhi em seu abraço caloroso, apreciando cada respiração
minha ao lado dele.
— Se lembra do dia em que você disse que nunca faria amor
comigo nessa casa?
Apenas agora eu percebia que ele tinha quebrado sua própria
promessa.
— Não, eu não disse isso. Eu disse que pensei que fazer
amor com você não seria nada silencioso.
— Então você não tem mais medo de que meu pai o expulse
da casa?
— Acho que ele vai entender meus motivos.
— Espero que você esteja certo, porque eu não quero que o
casamento de Owen se torne outra briga de família.
— Não se preocupe, querida; seu pai é um homem muito
sábio.
— Eu sei. Mas nós ainda temos outro problema para resolver.
— Que problema?
— Meu emprego. Eu não posso me demitir. Eu preciso
trabalhar lá pelo menos por seis meses antes de me deixarem sair.
— Tenho certeza de que vamos pensar em algo. E agora...
que tal um descanso?
— Um descanso? Eu pensei que você tivesse algo mais
interessante em mente.
— Só me diga o que fazer e eu obedeço.
Eu sorri, deslizando meus dedos sobre seu lábio inferior.
— Me surpreenda.
Capítulo 20
Aiden
Eu me apoiei em um cotovelo, observando Megan. Ela estava
dormindo e eu não queria acordá-la — nós tínhamos um dia longo
ao qual sobreviver.
As memórias da noite passada ainda estavam em minha
mente e eu sorria comigo mesmo, contente. Eu tinha razão sobre
fazer amor com Megan: tinha sido algo muito especial, além da
compreensão. Eu gostei de ter sido beijado, segurado e tocado por
ela. Tudo que eu queria no momento era viver e respirar nela,
próximo à batida de seu coração, onde seus sentidos se misturavam
aos meus, onde sua pele queimava a minha, onde seu corpo
dançava com o meu; onde eu a amava e ela me amava...
Quem diria que um dia dizer a palavra amor soaria tão bem e
natural? Eu duvidava que havia outra mulher além de Megan capaz
de me fazer dizê-la.
Havia algo de diferente nela. Mesmo quando ela não estava
fazendo nada extraordinário, o mundo parecia estar girando ao
redor dela, obedecendo suas palavras. E eu era parte daquele
mundo também. Cada desejo dela era sagrado para mim e eu
estava pronto para fazer qualquer coisa por ela.
Meus olhos viajaram pelas linhas de suas costas e eu estiquei
minha mão para tocar sua pele. Ela se virou sobre as costas e um
sorriso suave tocou seus lábios; eu ponderei sobre o que ela estaria
sonhando. Eu senti a necessidade de beijá-la, de me aproximar para
poder absorver sua vida, suas risadas e suas palavras.
Me aproximei e coloquei um braço ao redor dela. Lentamente,
ela rolou sobre o lado esquerdo do corpo, me encarando.
Desenhando linhas quase intangíveis em suas costas, eu rocei seus
lábios com os meus. Eles eram tão convidativos, eu não podia
resistir aos meus instintos.
— Bom dia — eu disse baixinho.
— Pensei que teria que esperar uma eternidade para beijá-lo
— ela respondeu, me abraçando.
— Eu não queria arruinar seu sonho.
— Você não o teria arruinado, porque estava sonhando com
você. Mas... — Ela parou por alguns segundos para me beijar. — A
realidade é muito melhor do que qualquer sonho.
Eu não podia discordar. Deslizei minha mão pela perna dela,
com a intenção de colocá-la ao redor de meu quadril, mas Megan
agarrou minha mão, sorrindo.
— Não temos tempo para isso.
— E se nós estabelecermos um novo recorde de tempo?
Ela riu, batendo em meu peito de leve.
— Sem chance. Alguém pode nos ouvir.
— Você não se importou com isso ontem à noite.
— Ontem à noite a casa estava vazia e eu tinha certeza de
que estávamos livres para fazer o que quiséssemos.
Eu suspirei, desapontado.
— Que tal mais um beijo? Bem rapidinho.
Em um piscar de olhos, Megan me fez deitar de costas e se
inclinou sobre mim.
— Você sabe como eu gosto quando você está em cima de
mim. — Eu sorri para ela.
— É mesmo? — Ela pausou, me olhando maliciosamente. —
Vou me lembrar disso. — Ela se aproximou, provocando meus
lábios com a ponta da língua. Quando ela se deslizou para a minha
boca, o mundo ao meu redor explodiu. Tudo que ela fazia tinha o
mesmo efeito sobre mim.
Eu a prendi em meus braços, apreciando o beijo e o modo
como meu corpo reagia a ele. Ainda que eu soubesse que nada
aconteceria em seguida, eu aproveitei aquele momento, saboreando
a doçura dos lábios de Megan se movendo suavemente sobre os
meus.
— Precisamos nos vestir — ela disse em um sussurro. — Do
contrário você vai ter que encarar a força da fúria do meu irmão. —
E antes que eu pudesse dizer qualquer coisa em resposta, ela pulou
da cama e foi até o banheiro. — Suas roupas estão no seu quarto,
Aiden.
— Você está me expulsando, é isso?
— Bem, eu poderia sugerir algo do meu guarda-roupa para
você vestir, mas duvido que Owen vá aprovar.
Eu sorri com seu comentário e me arrastei para fora da cama,
onde eu ficaria pelo restante do dia com muito prazer.
Meia hora depois, eu estava de frente para um espelho,
tentando vencer a batalha com a gravata preta. Eu odiava aquela
coisa e, aparentemente, o sentimento era mútuo. Finalmente, eu
olhei uma última vez para o meu reflexo e fui ver meu melhor amigo.
Owen parecia nervoso. Ele abotoou o punho da camisa e
tomou mais um gole do que parecia ser uísque.
— Ei, achei que você, dentre todas as pessoas, não estaria
nervoso hoje — eu disse, servindo um pouco de água para mim
mesmo.
— E eu pensei que você, dentre todas as pessoas, deveria
saber o quão difícil é se vincular a obrigações.
— Nós dois tratamos as obrigações de maneiras diferentes.
— Espero que você não esteja falando sobre minha irmã, cujo
quarto você acabou de deixar há pouco tempo.
Merda...
— Acho que preciso explicar tudo.
— Você poderia ao menos tentar.
Owen não soava muito feliz e eu não tinha certeza de como
começar minhas explicações. Mas não havia nada melhor do que a
verdade.
— Eu a amo — eu disse.
Owen me encarou estupefato.
— E ela disse que também me ama.
— Uau... vocês não perdem tempo. Isso significa que ela vai
voltar para cá?
— Não tivemos muito tempo para falar sobre isso.
— Ok, eu não quero ouvir o que vocês dois estavam
ocupados fazendo. Mas, Aiden... tem certeza de que é isso que
vocês dois querem?
— Acredite em mim, Owen, ela é a primeira mulher com a
qual eu quero passar o resto da minha vida.
— Então você tem minha bênção para tudo que a fizer feliz.
Eu sorri, dando tapinhas em seu ombro.
— Obrigado.
— Mas somente para o que a fizer feliz, e não para o que
parta seu coração.
— Entendo.
— Ótimo. — Owen respirou fundo. — Agora é hora de me
casar.
— Não perca a coragem, meu amigo — eu disse, seguindo-o
até a porta.
A cerimônia aconteceria na Igreja St. Joseph e Teresa em
Wells. Os convidados já tinham chegado e todos esperavam pela
noiva.
— Tem certeza de que ela não mudou de ideia? — perguntei
a Owen em tom de brincadeira.
— Não. Nós sonhamos com esse dia pelo que parece ser
uma eternidade.
Eu sabia que Mary amava meu amigo demasiadamente para
machucá-lo e estava certa de que eles fariam um lindo casal.
Quando as primeiras notas do órgão preencheram a igreja,
todos os olhos se voltaram para as portas. Duas garotas de vestido
rosa bebê entraram na igreja, espalhando pétalas de rosa por todo o
caminho até o altar. Depois vieram as damas de honra. Elas
caminharam pelo tapete de flores e pararam em lados opostos do
altar. Eu me surpreendi em não ver Megan entre eles, mas depois
olhei para a entrada novamente e lá estava ela... vestindo o mesmo
vestido turquesa que compramos no dia anterior, segurando um
buquê pequeno nas mãos, com um sorriso brincando nos lábios.
Eu paralisei, fascinado. Nossos olhos se encontraram e eu
sorri, assentindo em aprovação.
— Respire, cara — Owen disse baixinho. — Eu não quero
que você desmaie no meio da igreja.
— Cale a boca — eu disse, ainda sorrindo.
Megan parou ao lado das outras damas de honra, me lançou
um último olhar e voltou a atenção à porta, onde a noiva e seu pai
estavam.
Quando os votos foram feitos e os convidados aplaudiram o
casal recém-casado, nós voltamos para Axbridge para aproveitar o
restante do dia do casamento. A recepção foi organizada em um
restaurante local que tinha um terraço gigante com vista para o
oceano.
Finalmente, Megan e eu tivemos uma chance de
conversarmos.
— Você tinha razão sobre o vestido — eu disse. — É muito
mais bonito do que o que Mary escolheu. O que ela disse sobre ele?
— Ela disse que sabia que eu nunca usaria aquele vestido
horrível.
— Você sabe qual é a melhor parte dele? — eu perguntei,
olhando para a abertura que fazia as fantasias em minha mente
enlouquecerem. — Eu já consigo imaginá-la tirando esse vestido.
— Deixe seus sonhos para depois, Aiden. Tem cerca de
oitocentos convidados que precisamos entreter pelas próximas seis
horas.
— Seis horas... Deus me ajude. — Eu suspirei, observando
Megan se encaminhar até a mesa de seus pais.
O restante da recepção foi surpreendentemente bom. As
pessoas dançaram e se divertiram, cumprimentando Owen e Mary.
Até mesmo Megan e eu tivemos uma chance de dançar juntos. Não
era nada parecido com um tango ou uma salsa, mas a sensação de
segurá-la em meus braços era maravilhosa. Quando eu estava
prestes a levar Megan de volta para nossa mesa, vi alguém que não
esperava ver naquele dia.
— Que diabos ele está fazendo aqui? — eu perguntei,
apontando para seu velho amigo.
Os olhos de Megan seguiram minha mão e seu sorriso
esmaeceu.
— A mãe de Jeff fez os bolos para o casamento — ela disse,
inquieta.
Cerrei minha mandíbula.
— Você gostaria de uma taça de champagne? — perguntei,
esperando que a bebida ajudasse a me acalmar.
— Claro.
Eu assenti e fui até o bar.
Quando eu voltei alguns minutos depois, não encontrei
Megan em lugar algum. Seu pai disse que um dos convidados havia
derramado sua bebida no vestido dela e que ela havia voltado para
casa para se trocar.
— Ótimo — murmurei, deixando o champagne na mesa mais
próxima. O que deveria ser o dia perfeito estava piorando cada vez
mais, a cada segundo que se passava.
Eu peguei meu celular e liguei para Megan.
— Aiden, me desculpe, eu tive que sair.
— Sim, eu sei. Não se preocupe com o vestido, nós vamos...
— Megan! — a voz de um homem disse no outro lado da
linha.
— Eu preciso ir, já volto — ela disse.
Que diabos?, xinguei mentalmente. Era Jeff falando com ela?
Eu precisava da resposta para aquela pergunta imediatamente,
então encontrei um táxi e fui para a casa de Owen.
O hall de entrada estava escuro, mas eu podia ouvir vozes
vindas da cozinha. Eu abri a porta, mas não havia luz no cômodo.
Dei alguns passos e congelei. Havia duas pessoas de pé perto da
pia. E eles estavam se beijando.
Uma delas era Jeff. Ele estava de costas para mim e eu não
podia ver o rosto da mulher que estava com ele, mas podia ver seu
vestido... o que Mary havia escolhido para sua dama de honra.
Eu não podia mais aguentar aquela visão, então saí em um
rompante da cozinha, meu sangue fervendo em minhas veias. Eu
não podia acreditar no que Megan tinha feito comigo... estava além
de meu entendimento e tudo que eu sabia sobre ela.
Ela estava beijando Jeff...
Agora eu sabia exatamente a razão de sua fuga para
Londres. Aparentemente, houve um tempo que ela amou o cara,
mas o sentimento não era recíproco. Bem, o tempo muda tudo.
Eu estava um pouco bêbado, mas não me importei com o fato
quando liguei o motor de meu carro e voltei para Bristol. O
casamento já estava quase no fim e Owen não precisava mais de
mim, então mandei uma mensagem para ele dizendo que uma
urgência havia surgido e saí de Axbridge, deixando minha alma
morta em uma cidade pequena perto do mar...
Capítulo 21
Megan
Eu voltei para a festa de mau humor. Primeiro, meu vestido
perfeito tinha sido arruinado, e depois, eu não esperava ver Jeff na
casa de meus pais. No fim das contas, ele tinha ido até lá para
deixar mais algumas coisas que sua mãe havia preparado para a
recepção. Além disso, ele queria conversar comigo. Ele disse que
sabia que eu tinha ouvido o que ele disse no dia de nosso baile e as
tinha dito deliberadamente em voz alta justamente para que eu as
ouvisse. Ele disse que se sentia culpado pelo que havia feito e
queria se desculpar.
Eu não era a única pessoa cujo humor havia sido arruinado
naquela noite. Uma das damas de honra de Mary rasgou a alça de
seu vestido e também precisou se trocar. Era por isso que eu tinha
oferecido uma carona e dado a ela o vestido que eu deveria ter
vestido originalmente naquele dia.
Outra coisa que havia me deixado nervosa era a ausência de
Aiden. Eu tinha procurado por ele em todos os lugares, mas
ninguém o viu saindo e ele não atendia minhas ligações.
— Você sabe onde Aiden está? — perguntei ao meu irmão.
Ele pareceu surpreso em ouvir minha pergunta.
— Pensei que você soubesse... ele foi embora.
— Ele o quê? — Agora era minha vez de ficar surpresa.
— Ele me mandou uma mensagem há uma hora dizendo que
tinha coisas urgentes para fazer.
— Ah... — Eu ri nervosamente. — Você só pode estar
brincando!
— Ei, você está bem? — Owen perguntou com preocupação.
— Melhor do que nunca! — rebati.
Aiden não podia fazer aquilo comigo. Tudo estava tão
perfeito! Talvez perfeito demais, minha voz interior disse. Tinha sido
tão simples assim? Ele conseguiu o que queria e foi embora sem
dizer adeus? Eu não podia acreditar que tinha confiado nele...
Aquela era uma das piores noites da minha vida. Até mesmo
as palavras de Jeff, ditas há dois anos, não doíam tanto quanto as
de Aiden. Eu tentei ligar para ele mais algumas vezes, mas tive que
ouvir sua caixa postal todas as vezes, me pedindo para deixar uma
mensagem. Mas eu não sabia o que dizer, então não deixei
nenhuma mensagem.
Acho que estava chocada demais para entender o que estava
acontecendo. Mesmo quando a manhã seguinte chegou e eu não
tinha tido notícias de Aiden, fiz minhas malas como se nada tivesse
acontecido e fui para o aeroporto.
A única coisa sobre a qual eu pensava no caminho de volta
para Londres era minha semana fracassada em casa.
Uma das maiores vantagens de se viver em uma cidade
grande é a indiferença com a qual ela o acolhe quando sua vida se
despedaça. As pessoas não prestam atenção em seu mau humor
ou cabelo bagunçado. Elas estão ocupadas demais lidando com
seus próprios problemas. E a vida ao seu redor continua seguindo
em frente do mesmo jeito que sempre fez antes de seu próprio
mundo mudar.
Cruzei a porta do meu apartamento perto do meio-dia, desfiz
minhas malas, tomei um banho e liguei a TV; estava passando The
Bachelor.
Que irônico, pensei comigo mesma, assistindo vinte mulheres
tentando conquistar o coração de um homem. O solteiro era bonito e
me lembrava do meu primeiro encontro com Aiden. Quem diria que
ele levaria menos de uma semana para transformar meu ódio em
algo completamente diferente...
Meu celular tocou; eu olhei para a tela e o desliguei sem
atender. Era Owen novamente. Acho que ele queria conversar sobre
Aiden e eu não sabia o que dizer. Então eu mandei uma mensagem
dizendo que cheguei em casa com segurança, esperando que fosse
suficiente para ele me deixar em paz por um tempo.
Havia uma pessoa que sempre sabia o que dizer para me
fazer sorrir, então liguei para Zack.
— Ah, querida, pela sua voz, parece que você engoliu um
limão. O que aconteceu?
— Que tal me encontrar em meia hora?
— Eu topo!
— Ótimo. Vejo você daqui a pouco. — Eu desliguei o celular e
me arrastei até o guarda-roupa para encontrar alguma roupa que
não demonstrasse minha tristeza.
— Um vestido curto vermelho? É sério? — Zack me olhou
como se eu tivesse acabado de lhe dar um tapa no rosto.
— O que tem? — perguntei, confusa, olhando para minhas
roupas.
— Aqui, coloque isso — ele disse, me dando seu casaco. —
Eu não quero que as pessoas pensem que eu a encontrei na rua.
— Pensei que eu estivesse sexy.
— Bem, sim... para alguém que está querendo uma rapidinha
no banco de trás do carro.
— Por favor, me poupe do seu sarcasmo. E a propósito, você
me ajudou a escolher esse vestido, lembra?
— Mas era um vestido para o Halloween! E você deveria ser
um demônio sexy e não uma garota miserável com o coração
partido.
— Quem disse que meu coração está partido?
— Seu vestido, querida.
Revirei meus olhos e peguei o casaco de Zack para me cobrir.
Ele sugeriu que fôssemos ao Nic’s — um de nossos pubs favoritos.
Não era lotado como o restante dos pubs londrinos em uma noite de
domingo e nós gostávamos de passar tempo lá.
Além de Zack, eu tinha poucos amigos em Londres. Não que
eu não gostasse de fazer amigos, mas eu pensava que minha
carreira era mais importante do que festas e o restante.
— Agora me diga o que aconteceu e quem é o cara que
roubou o sorriso desse rosto bonito?
Então eu contei a Zack sobre Aiden, nossos três encontros
inesquecíveis e tudo sobre a noite passada que arruinou minhas
crenças em tudo que há de bom nesse mundo.
— Ah, sinto muito em ouvir isso, querida. Mas você deveria
saber que caras como Aiden sempre trazem problemas. E no seu
caso, esse problema tem um nome: amor.
— Como eu pude ser tão estúpida? — Engoli o resto de meu
martini e escondi meu rosto em minhas mãos.
— Nós sempre nos apaixonamos pelos caras errados.
— Quem sabe? Talvez sejamos perfeitos demais para eles?
Zack e eu rimos.
Eu me lembrei do dia em que nos conhecemos. Foi no
vigésimo primeiro aniversário dele. Ele deu uma festa e uma das
minhas colegas de quarto me fez ir. Eu nunca teria pensado que
Zack fosse gay, não fosse pela quantidade de garotos naquela festa.
Todos eles eram lindos, arrumados e educados demais para serem
de verdade.
Zack e eu nos tornamos bons amigos e não houve um dia em
que me arrependi de tê-lo conhecido. Diferente de outra pessoa...
— Eu acho que é hora de encerrar a noite — eu disse. Não
havia motivo para ficar no pub, já que tudo que eu dizia ou em que
pensava ainda me lembrava de Aiden.
— Ok, hora de ir. — Zack esvaziou seu copo e nós fomos
embora.
Eu estava feliz em estar de volta. Mesmo que não houvesse
ninguém para me distrair de meus pensamentos tristes, eu gostava
do silêncio ao meu redor. Troquei o vestido horrível por um short e
um moletom e me encolhi no sofá para ler um livro.
Eu gostava de ler. E diferentemente de qualquer outra coisa,
minhas escolhas de livros eram sempre boas.
Na manhã seguinte, eu deveria começar meu novo emprego
na O’Brian’s Enterprises. Era uma empresa comercial especializada
em eletrônicos. Eu achava que aquela não era a melhor hora para
tirar férias, então decidi mergulhar no trabalho e em novas tarefas.
Minha chefe, a Sra. Delancour, era exigente, mas uma
gerente justa. Pelo menos era o que as outras pessoas diziam sobre
ela. Eu conhecia sua assistente anterior, Eliana, que tinha se
formado na mesma universidade que eu. Foi a mesma pessoa que
sugeriu que eu enviasse meu currículo para a O’Brian’s. E agora eu
mal podia esperar para que meu primeiro dia de trabalho
começasse.
— Na semana que vem temos uma reunião com os
fundadores, então esses cálculos devem estar prontos o quanto
antes — Sra. Delancour disse, me entregando uma pilha de papéis.
— Leia-os com cuidado e me diga se encontrar alguma coisa
incorreta. Aqui está seu escritório — ela acrescentou, abrindo a
porta de vidro. O escritório não era grande, mas eu gostei.
— Obrigada, vou começar a ler os documentos
imediatamente.
— Ótimo, me avise se precisar de alguma coisa.
— Tudo bem.
Coloquei meu casaco nas costas de minha cadeira e fui até a
janela que tinha vista para um parque. Meu irmão continuava a me
ligar insistentemente e eu continuei a ignorá-lo. Eu tinha tido menos
de trinta horas para me acostumar à ideia de ter sido usada.
Infelizmente, nenhuma outra palavra vinha à mente para o que havia
acontecido. Então, respirei fundo e comecei meu trabalho.
Meia hora depois, alguém bateu à porta.
— Oi, perdão por interromper. Eu sou Josh, outro assistente
da Sra. Delancour.
— Ah, prazer em conhecê-lo, Josh. Eu sou...
— Megan, certo? Eliana me contou sobre você.
— Espero que ela não tenha dito nada ruim. — Eu sorri para
o cara. Ele parecia ser apenas alguns anos mais velho do que eu.
Seus olhos eram verdes, contrastando com sua pele bronzeada e
seu cabelo castanho escuro, quase preto.
— Você não parece ser britânico — eu disse.
— Bem, sim, sou parte espanhol. Eu morava em Barcelona
com meus pais. Mas desde que meu pai conseguiu um emprego
aqui há alguns anos, tivemos que nos mudar para Londres.
— Você não gosta de morar aqui, não é?
— Como sabe?
— Nenhuma pessoa em sã consciência trocaria a ensolarada
Espanha pela chuvosa Inglaterra. Pelo menos, não por espontânea
vontade.
Ele riu.
— Verdade. Ok, não vou mais tomar seu tempo, mas adoraria
falar com você mais tarde. Que tal almoçarmos juntos?
— Claro.
— Ótimo.
Josh saiu e eu me inclinei contra o encosto de minha cadeira,
suspirando. Havia algo de muito errado comigo se eu tinha
concordado em almoçar com um cara que mal conhecia sem
hesitar. Ou talvez tivesse sido uma reação protetiva do meu ego
ferido? De qualquer forma, eu não tive muito tempo para pensar
sobre aquilo, já que tinha muito trabalho a fazer.
Algum tempo depois, recebi uma mensagem de Angeline. Ela
e Jessie viriam a Londres para o fim de semana e queriam me ver.
Aquele era também o fim de semana de meu baile de formatura. Foi
por isso que eu disse que conseguiria mais dois convites para levar
minhas amigas comigo.
Eu não deixaria meus sentimentos e preocupações
controlarem e arruinarem minha vida; eu era mais forte do que isso
e nenhum Aiden Murphy podia tirar isso de mim.
Capítulo 22
Aiden
Minha segunda-feira começou com uma dor de cabeça
terrível. Geralmente, as pessoas chamavam isso de ressaca, mas
eu preferia não pensar na quantidade de álcool circulando pelo meu
sangue. A noite passada tinha sido um erro... um dos muitos erros
que eu tinha cometido desde domingo.
Meu cérebro se recusava a pensar, muito menos trabalhar ou
tomar decisões sérias. Eu pedi à minha secretária que preparasse
uma xícara de café forte para mim e fui para o meu escritório. Eu
fechei a porta e me inclinei contra ela, fechando meus olhos. Ainda
que eu estivesse de óculos de sol, as cores ao meu redor ainda
pareciam muito brilhantes e irritantes.
Uma pilha de documentos não assinados estava sobre minha
mesa, mas eu não tinha a mínima vontade de lê-los. Eu olhei o
cronograma para o dia e suspirei aliviado — não havia reuniões
importantes planejadas.
— Seu café, senhor — Shelli disse, entrando no escritório
dois minutos depois.
— Você é minha salvadora, querida. — Tomei um gole do que
parecia ser o melhor café que eu já tinha tomado e forcei um sorriso,
tentando ser educado. — Não deixe ninguém entrar. Eu preciso de
dez minutos para fazer uma ligação urgente.
— Mais alguma coisa, senhor?
— Não, obrigada, Shelli. Eu aviso se precisar de você.
A melhor qualidade de minha secretária era que ela não se
intrometia em nada. Shelli era uma destas mulheres que fazem seu
trabalho perfeitamente bem e nunca fazem perguntas
desnecessárias. Ela era casada e tinha dois filhos de nove e
quatorze anos. Nós já trabalhávamos juntos há cinco anos e aquele
era meu relacionamento mais longo com uma mulher.
Eu suspirei e xinguei mentalmente. Mulheres... elas nunca
traziam nada além de problema para a minha vida. E o último
exemplo não era exceção. Megan...
Não havia um minuto em que eu parasse de pensar nela.
Cada maldita coisa ao meu redor me lembrava dela. Desde o
momento em que a vi beijando Jeff, minha mente não conseguia se
livrar daquela imagem. Eu continuava a me lembrar continuamente.
E não importava o quanto eu bebesse para fazer minha mente idiota
se calar, nada ajudava. Era por isso que eu me sentia um zumbi
naquele dia e era culpa de Megan.
Eu não sabia o que tinha acontecido quando fui embora, mas
Owen continuou me ligando a cada hora, me fazendo me
arrepender de ser seu amigo e chefe. A única coisa que me
poupava de uma longa conversa com ele era sua lua de mel, que
não terminaria tão cedo.
Terminei meu café e quando pensei que era hora de começar
a trabalhar, meu pai me ligou.
— Oi, pai. Como você está?
— Não muito bem, filho. A dor nas minhas costas está
piorando e eu acho que preciso ir ao hospital para fazer um
tratamento.
— Ah, não. Sinto muito em ouvir isso. A mamãe sabe?
— Sim, eu liguei para ela ontem à noite e ela disse que iria
para casa hoje.
Minha mãe e sua irmã Andrea, minha tia, eram donas de uma
galeria de arte em Paris e era por isso que, às vezes, meu pai
precisava passar alguns fins de semana sozinho. Minha mãe era
uma mulher de negócios desde que eu me conhecia por gente. Mas
esse fato nunca tinha afetado seu relacionamento com meu pai.
Eles ainda eram loucamente apaixonados um pelo outro.
— Você acha que vai conseguir me substituir na reunião da
semana que vem? — meu pai perguntou.
— Que reunião?
— Em uma das nossas filiais em Londres.
— Claro, sem problemas — eu disse um segundo antes de
minha mente perceber a ironia da situação. Eu iria para Londres: o
último lugar no mundo onde gostaria de estar agora.
— Está tudo bem, filho? Você parece exausto.
Esta não é a palavra, pensei, antes de dizer:
— É só o casamento. Acabou comigo.
Esfreguei a ponte de meu nariz exaustivamente.
— Por que você não vai a Cheddar? É lindo lá nessa época
do ano.
Sem chance...
— Acho que não é uma boa ideia. Eu estive lá há alguns dias
e acho que já passei tempo suficiente lá pelo resto da minha vida.
— Ah, bem... então vá a outro lugar. Estou certo de que nossa
empresa ficará bem se você tirar férias.
— Vou pensar nisso, pai. Talvez você esteja certo e eu
realmente precise de férias.
Ou talvez aquilo fosse a última coisa da qual eu precisasse
agora. O trabalho sempre tinha sido uma distração. Então eu
duvidava que fosse capaz de parar de trabalhar tão cedo.
Aparentemente, a ferida que eu precisava curar era maior do que
meu coração tinha esperado.
A luz vermelha se acendeu no meu telefone.
— Sim, o que aconteceu, Shelli?
— A senhorita Annabel está aqui para vê-lo.
Ah, Deus... não agora!
— Quer que eu diga que o senhor está ocupado?
Sim, isso seria ótimo, mas...
— Não, por favor, deixe ela entrar.
— Oi, querido! — Annabel cantarolou em sua maneira doce,
como de praxe.
— Oi — respondi friamente, nem mesmo me incomodando
com sua reação às minhas palavras. Ela odiava pessoas que não
gostavam dela. E eu odiava o que ela tinha feito com meu amigo.
Então não havia mais como nossa relação voltar a ser o que era
antes.
— O que tem de errado com seu humor? — ela perguntou, se
sentando na poltrona próxima à janela. Como sempre, o
comprimento de sua saia deixava muito à mostra. Eu mal podia
chamar aquilo de saia. Parecia mais um cinto.
Cruzei meus braços, observando-a.
— Por que fez aquilo?
— Fiz o quê?
— Você realmente acha que pode vir aqui como se nada
tivesse acontecido?
— Eu não entendo...
— Ah, por favor, Annabel. Isso não é nem um pouco
engraçado. Você quase estragou o casamento de Owen!
— Quase é a palavra-chave aqui — ela disse, com irritação;
eu não podia acreditar que nós estivéssemos discutindo aquele
assunto.
— Ok, sabe de uma coisa? Estou cansado de tudo que você
faz. Então poderia se retirar do meu escritório e nunca mais voltar,
por gentileza?
— Mas, Aiden, nós somos amigos desde criança! Você não
pode me expulsar daqui!
— Eu posso e vou. — Apertei um dos botões do telefone
dizendo: — Shelli, pode acompanhar minha visitante até a saída?
Annabel me lançou um olhar assassino.
— Isso não é apenas sobre o que eu fiz, certo?
— O que quer dizer?
— Isso é sobre a irmã de Owen? Megan, é isso?
Cerrei minha mandíbula.
— O que tem ela?
— Você tem uma queda por ela. Eu pude ver isso desde o
momento em que os vi juntos.
— Não é da sua conta.
— O que ela fez para deixá-lo tão irritado?
— É hora de você ir embora, Annabel.
Ela sorriu, andando lentamente até a porta.
— Ninguém é perfeito, Aiden. Ela também não é.
Não brinca.
— Vou me lembrar disso — murmurei atrás dela.
Duas horas depois, eu ainda estava irritado, e nem mesmo o
trabalho tinha conseguido me ajudar a afastar meus pensamentos
de Megan. Annabel estava certa, ela conseguiu se infiltrar sob
minha pele e eu não sabia o que fazer para me sentir melhor.
E foi naquele momento que Owen me ligou. Novamente.
Olhei para seu número, hesitando por alguns momentos antes
de pegar o celular, pronto para ouvir o que quer que ele fosse me
dizer.
— Ei, e aí?
— Onde é que você esteve nos últimos dois dias?
— Estou feliz em ter notícias suas também. Pensei que você
estivesse muito ocupado aproveitando a lua de mel.
— Bem, eu provavelmente teria conseguido aproveitá-la se
não fosse por você e Megan terem fugido, se escondendo e me
assustando!
— Me desculpe, Owen. Não deveria ter sido assim.
— Exatamente! Eu disse para você ser bom com minha irmã
e agora...
— Espere aí, cara. Ok? Não é minha culpa que sua irmã e
eu... bem, eu não fiz nada para chateá-la.
Houve uma breve pausa e então Owen disse:
— Acho que você não falou com ela depois do casamento,
não é?
Eu não respondi.
— Você não acha que seria melhor se vocês ao menos
tentassem discutir o que quer que tenha acontecido entre vocês?
— Má ideia.
— Bem, eu espero que tudo fique bem. Com ou sem vocês
dois se falando.
— Não pense muito sobre isso, Owen. Aproveite o sol e a
companhia da sua linda esposa. E deixe o tempo fazer seu trabalho
mágico e limpar a bagunça que nós fizemos.
— Vou seguir seu conselho, mas se você precisar de alguém
para conversar, sempre pode me ligar.
— Eu sei. Obrigado, cara. Se divirta no Havaí.
Eu desliguei o telefone e voltei aos documentos que precisava
ler. Eu já tinha tido conversas desnecessárias suficientes para um
dia.
A semana se passou em um borrão: casa, trabalho, casa; um
copo de uísque aqui e ali e algumas festas entediantes às quais
precisei comparecer, sendo parte do que as pessoas chamavam de
uma ótima sociedade. Toda vez que eu via uma garota bonita me
olhando, eu ia embora. Eu não precisava de mais drama em minha
vida. Sexo nunca tinha sido um problema, mas agora parecia que eu
nem mesmo precisava disso.
Algo estava obviamente errado comigo. Eu não conseguia
imaginar fazer amor com ninguém além de Megan. E ela não estava
comigo, mas eu ainda não conseguia seguir em frente e perdoá-la
pelo maldito beijo. Até mesmo para mim, eu parecia um cachorrinho
perdido, e isso era uma droga...
Capítulo 23
Megan
Hoje era um dos dias mais importantes da minha vida. Minha
chefe tinha ido a Nova York e eu precisava preparar uma
apresentação de seu relatório financeiro para a reunião com os
fundadores da O’Brian’s. E eu nunca tinha estado tão nervosa.
Minhas mãos estavam suando e eu não conseguia me lembrar dos
nomes dos fundadores. Eu não queria parecer pouco profissional,
então precisava me acalmar e mostrar o melhor dos meus talentos
como especialista financeira.
— Como estão indo as coisas com o relatório? — Josh estava
de pé na porta. Seu tom encorajador e sorriso não ajudavam nem
um pouco.
— Isso vai ser um desastre — eu disse, frustrada.
— Ok, vamos ver o que você já fez até agora. — Ele veio até
minha mesa e se posicionou atrás de mim. — Vamos ver a
apresentação.
Eu abri o documento e cruzei meus dedos, esperando a
opinião de Josh. Ele era um cara inteligente e uma semana
trabalhando com ele tinha sido suficiente para perceber isso. Ele
sempre estava ali para me ajudar quando eu tinha dúvidas e eu
tinha certeza de que ele nunca diria nada apenas para parecer
educado; não era fácil ganhar um elogio dele.
— Ótimo trabalho, Megan. Sério — Josh disse depois de um
tempo. — Eu gostei do modo como você mostrou as diferenças
entre os lucros do ano passado com o que conseguimos ganhar em
seis meses neste ano.
— Você acha que eles vão gostar?
— Tenho certeza de que vão. Não seja covarde. Você sabe o
que fazer. Não tem nada com o que se preocupar.
— Eu ainda não me lembro dos nomes dos fundadores.
— Você pode fazer anotações. Eu sempre faço isso.
— Você não acha que vai ser vergonhoso se eu começar a
olhar minhas anotações para encontrar o nome correto?
— Eu acho que vai ser mais vergonhoso se você disser os
nomes errados.
Olhei para ele esperançosamente.
— Eu posso fazer isso, não é?
— Vai ficar tudo bem. Você quer que eu vá com você?
— Ah, não. Obrigada, Josh. É minha primeira missão séria e
eu preciso fazer isso sozinha.
— Ok.
— Espere... o que você pode me dizer sobre o dono da
empresa?
— O Sr. O’Brian? Bem, ele é um ótimo homem. Exigente
quando o assunto é negócios, mas muito legal quando o assunto é
seus colegas de trabalho e comunicação pessoal. Você vai gostar
dele.
Pelo menos alguma coisa boa em relação à reunião, eu
pensei.
Algumas horas depois, eu estava pronta para enfrentar os
fundadores da empresa e minha apresentação estava ótima. Eu fui
para a sala de reunião para me certificar de que não tinha me
esquecido de nada. Os relatórios impressos estavam em seus
devidos lugares, junto às garrafas de água, cadernos e canetas.
Josh passou na sala algumas vezes para garantir que eu
estivesse bem e não precisasse de tranquilizantes ou ajuda. Eu
precisava de ambos, mas aquela era a pior hora para admitir aquilo
— os fundadores já tinham começado a tomar seus lugares.
Dez minutos depois, todos os assentos tinham sido tomados,
com a exceção de um. Nós ainda estávamos esperando que o Sr.
O’Brian se juntasse a nós.
Eu olhei para meu relógio. É claro que os donos de grandes
empresas tinham todo o direito de se atrasarem, mas eu já não tinha
gostado da maneira com a qual aquela reunião tinha começado.
— Eu sinto muito por estar atrasado, senhores e... senhorita.
Eu acho que meu queixo caiu no momento em que olhei para
a pessoa de pé na porta.
— Que surpresa agradável, senhorita Brawley — Aiden disse,
tomando seu assento.
Meus joelhos tremeram.
— De fato — murmurei, tentando não perder o equilíbrio. Que
diabos ele estava fazendo ali?
Irritação não era a palavra certa para descrever o que eu
sentia. Eu estava furiosa, eu queria dar um tapa no rosto de Aiden e
sair da sala, sem me preocupar em ser demitida. Eu não aguentaria
respirar o mesmo ar que ele; eu o odiava mais do que tudo e eu...
— Quem vai nos mostrar os relatórios? — Aiden perguntou.
— A senhorita Brawley é nossa nova especialista financeira
— a secretária disse. — Ela preparou uma apresentação.
— Ótimo. Então por que não pedimos a ela que comece?
Ele iria falar comigo através da secretária agora? Tudo bem,
babaca, pensei, encontrando seu olhar. A frieza de seus olhos me
surpreendeu. Como se tivesse sido eu a deixá-lo horas depois de
passarmos a noite em uma mesma cama.
Tomei alguns goles de água, sorri educadamente para todos,
com exceção do Sr. Impossível, e comecei meu discurso. Não durou
mais do que trinta minutos, mas pareceu uma eternidade. Eu podia
sentir o olhar de Aiden sobre mim. Eu me esqueci do que dizer
algumas vezes porque nossos olhos se cruzavam. Felizmente, nós
dois tínhamos sido as únicas pessoas a perceberem aquilo e o
restante dos fundadores não prestaram atenção em nada além dos
diagramas e números na tela.
Quando meu discurso acabou, eu respondi algumas
perguntas e estava prestes a sair da sala quando Aiden me parou.
— Você se esqueceu de mencionar uma coisa muito
importante, senhorita Brawley.
— Esqueci? — Eu parei de frente para ele, esperando o que
quer que ele estivesse prestes a dizer em seguida.
— E a sua opinião sobre a situação do mercado? Nossos
produtos estão dentro dos requerimentos dos nossos clientes?
Ele realmente queria minha opinião?
— Acho que em geral, as coisas estão indo bem, mas
acredito que precisamos criar uma variedade maior de produtos. Vai
atrair novos consumidores e os antigos terão motivo para voltar às
nossas lojas.
— Então você acha que nossa velha lista de produtos não é
boa o suficiente para atrair novos consumidores? — Aiden estava
obviamente atrás de algo que eu não entendia. — E quanto à
qualidade dos serviços de suporte técnico que oferecemos? São
satisfatórios? — Eu não achava que a última pergunta tinha algo a
ver com a pauta, mas aparentemente, o tópico de satisfação
incomodava Aiden.
— É difícil dizer, Sr. Murphy, já que não tive tempo suficiente
para ler a lista completa de serviços que você oferece. Quer dizer,
sua empresa.
Aiden sorriu com minha resposta, mas ninguém mais notou a
ironia de nossa conversa.
— Talvez se você tivesse passado mais tempo estudando os
serviços que eu, quer dizer, nossa empresa oferece, você teria visto
o verdadeiro valor das coisas que fazemos.
— Talvez — eu concordei, reunindo meus papéis. — Eu
prometo inspecionar a lista da próxima vez que nos virmos. Tenham
um ótimo dia, senhores. — Eu me virei sobre os saltos e me dirigi à
porta, sentindo os olhos de Aiden em minhas costas durante todo
aquele tempo.
No momento em que deixei a sala de reunião, corri até meu
escritório respirando com dificuldade. Eu temia desmaiar e não
queria que ninguém me visse daquela forma. Eu tinha certeza de
que eu parecia uma pessoa que tinha acabado de ver um fantasma.
Fechei a porta atrás de mim e tirei meu casaco, deixando-o
sobre a mesa. Então fui até a janela e a abri, tentando recuperar
meu fôlego. Aiden tinha aquele efeito estranho sobre mim, parecia
que eu estava sufocando.
Eu não podia acreditar que ele era o dono da empresa na
qual eu quis trabalhar há tantos meses. Meus pensamentos eram
uma bagunça. Eu me sentei na cadeira e escondi meu rosto entre
as mãos.
— Isso não está acontecendo, isso não está acontecendo —
eu murmurei, sentindo o batimento selvagem do meu coração. Eu
esperava não ter um ataque do coração.
— Megan, você está aí? — Josh chamou do outro lado da
porta. — Alguém quer vê-la.
Ugh, não agora...
— Estou indo — eu disse, olhando no espelho. Minha
aparência deixava a desejar, mas eu não me importava, já que a
única coisa que eu queria fazer no momento era fugir do escritório
para o mais longe possível. Eu não iria me demitir ou algo do tipo,
mas precisava de um tempo para superar o choque que senti no
momento em que vi Aiden.
Coloquei meu casaco e fui para o corredor.
— Quem queria me ver? — perguntei a Josh.
— O filho do Sr. O’Brian. Ele disse que gostou da sua
apresentação e queria discutir mais algumas coisas com você.
— Posso perguntar uma coisa? Pode parecer idiota, mas...
Aiden Murphy é filho do Sr. O’Brian?
— Sim. — Josh sorriu. — Ninguém sabia que ele viria à
reunião, mas aparentemente seu pai não pôde vir hoje.
— Por que eles têm nomes diferentes?
— Até onde eu saiba, Murphy é o sobrenome da mãe de
Aiden.
— Ah, sim. E onde ele está?
— Ele ainda está na sala de reunião.
Eu assenti silenciosamente e fui encarar o diabo.
— Entre — Aiden disse quando bati à porta.
— Queria me ver, Sr. Murphy?
— Sim, senhorita Brawley. Por favor, sente-se — ele disse,
sem nem mesmo me olhar.
Meu pulso acelerou. Se é que aquilo era possível,
considerando o fato de que eu mal podia me controlar.
— Sobre o que você queria falar? — perguntei, indo direto ao
assunto. Eu não tinha vontade de falar com ele, mas não queria
perder o emprego.
Os olhos de Aiden seguiram o meu casaco e minha blusa e
eu me senti nua, porque ele obviamente gostou do que viu.
— Seda preta sempre cai bem em você.
— Você me chamou até aqui para discutir minha roupa?
— Foi um dos motivos — ele disse, sorrindo para mim. — Eu
não sabia que você tinha conseguido um emprego em uma de
nossas empresas.
— Eu também não.
— Tenho certeza de que já se arrepende de trabalhar aqui.
— Não. Por que me arrependeria? — Cruzei meus braços em
um gesto de defesa. — Dormir com o chefe sempre foi uma grande
vantagem quando o assunto é conseguir um bom emprego.
O sorriso de Aiden sumiu.
— Não sou seu chefe, Megan. E eu não vou tirar seu
emprego. Então você não deveria se preocupar em me agradar para
conseguir manter o emprego. — As faíscas familiares brilharam em
seus olhos. — A não ser que você queira fazer isso apenas por
diversão.
Aquilo era suficiente.
— Por que você não vai para o inferno, Aiden? — disse, me
levantando.
— Não tão rápido, querida — ele disse, pegando minha mão.
— Eu tenho mais algumas perguntas para você.
— Se você vai continuar rindo de mim, é melhor eu ler a lista
de serviços que a sua companhia oferece mencionada
anteriormente.
— E quanto aos meus próprios serviços que você usou
voluntariamente? — Aiden deu um passo a frente e eu fiquei presa
entre seu corpo e a mesa atrás de mim.
— E eu pensando que você não se importava que eu os
utilizasse.
Encontrei seu olhar sem hesitação. A situação estava me
irritando e eu queria desesperadamente que aquela conversa
acabasse.
— Você não imagina o quanto senti sua falta, Megan.
E antes que eu pudesse impedi-lo, Aiden colocou seus braços
atrás de mim e me beijou.
Capítulo 24
Aiden
O beijo não foi nada além de uma exploração tentadora. Eu
não tinha percebido o quanto realmente queria sentir o gosto
daqueles lábios novamente. Nada havia mudado, eu ainda era louco
por Megan. Eu a beijei avidamente, como se não nos beijássemos
há séculos, e não apenas uma semana. Mas a coisa mais
surpreendente foi sua reação ao meu beijo. Ela nem mesmo tentou
me parar. Ela correspondeu como se ainda quisesse as mesmas
coisas que eu.
Eu soltei suas mãos e apertei seus quadris de leve,
apreciando o modo como nossos corpos reagiam um ao outro. Onde
estava meu bom senso no momento? Eu não fazia ideia...
Tudo em que eu podia pensar era Megan. E não importava o
quão irritado eu estivesse com ela, naquele momento eu não me
importava. Eu queria estar com ela e eu sabia que ela também
queria estar comigo.
De repente, ela parou o beijo.
— O que foi? — perguntei, ofegando.
— Você está louco, Aiden? — Ela se afastou, arrumando o
casaco e a saia. Meu Deus, eles eram tão sensuais, destacando
cada curva do corpo dela, as quais eu estava louco para tocar.
— Você não pareceu se importar em me beijar há alguns
segundos.
— Exatamente! Levei muito tempo para perceber o que
estava acontecendo!
Ai...
— Pare de enganar a si mesma, Megs. Nós dois gostamos.
— Não se atreva a me tocar, Aiden. Nunca mais — ela chiou,
me olhando com fúria.
— Como quiser, querida. Mas se você mudar de ideia algum
dia, me ligue. Talvez eu consiga encontrar um tempo para você.
— Nos seus sonhos! — ela revidou antes de sair fechando a
porta atrás de si.
E eu pensando que minha vida não poderia piorar.
— Bem feito, idiota — murmurei para mim mesmo.
Por que eu não podia ter ido embora sem vê-la? Eu não tinha
nenhuma pergunta. Tudo que eu queria era vê-la uma última vez. E
eu não iria beijá-la, mas aparentemente não pude impedir a mim
mesmo. Ela tinha um poder ao qual eu não podia resistir e sabia
disso.
No momento em que entrei na sala de reunião e a vi ao lado
da mesa naquele terninho preto e saltos que me lembravam da noite
que passamos juntos, eu mal pude me concentrar em outra coisa
que não fossem seus lábios e sua voz que me levavam lentamente
ao vórtice dos sonhos que vinham me assombrando há tantas
noites: eu e ela fazendo amor continuamente. Eu pensei que a
reunião nunca acabaria. A lista de perguntas parecia infinita e
embora eu mal conseguisse ouvir quais eram aquelas perguntas, eu
pude ver como Megan conseguiu respondê-las muito bem. Ela sabia
o que estava fazendo e eu gostava disso. Linda, inteligente e sexy...
— Sr. Murphy, perdão por incomodá-lo — a secretária disse.
— Mas eu gostaria de saber se o senhor vai ficar para o coquetel de
hoje à noite.
— Qual é a ocasião?
— É algo tradicional aqui. Toda vez que novas pessoas se
juntam ao nosso time, fazemos uma festa. E têm alguns
funcionários novos que ainda não recebemos propriamente.
— Ah... — Então isso significava que Megan também estaria
lá. — Claro, conte comigo. Onde será a festa?
— No andar de baixo, no café.
— Ok, obrigado pelo convite.
— Será nosso prazer vê-lo lá, senhor. Seu pai nunca perde
nossas festas.
Sim, meu pai sempre se importou com seus funcionários.
Todos sabiam que se tivessem alguma dúvida ou problema, seriam
respondidos e resolvidos em pouco tempo.
Eu não iria ficar em Londres por tanto tempo, mas meus
planos haviam mudado e eu precisava ligar para Bristol para pedir a
Shelli que cuidasse dos compromissos que eu perderia. Eu não
contei a ela a data de meu retorno, porque não sabia quanto tempo
levaria para conseguir as respostas para as perguntas que não
podia deixar de lado. Owen estava certo, Megan e eu precisávamos
conversar.
A festa começou perto das seis e eu imediatamente me tornei
o centro das atenções. Não que eu estivesse animado com o que
estava acontecendo ao meu redor, mas eu não podia decepcionar
meu pai e precisava impressionar minha audiência. Então pensei
que seria ótimo começar com um breve discurso. Eu peguei o
microfone e me virei para os convidados, meus olhos imediatamente
encontraram os de Megan. Ela estava de frente para mim, com
aquele sorriso misterioso que eu nunca sabia decifrar. Ela tomou um
gole de champagne, seus olhos nunca deixando os meus.
Eu pigarreei e olhei para ela dizendo:
— Primeiramente, eu gostaria de dar boas vindas aos novos
membros do nosso time. Tenho certeza de que todos vocês são
especiais e dignos de estarem aqui. Eu espero que vocês apreciem
cada dia de trabalho e se tiverem alguma dúvida ou reclamação,
não hesitem em entrar em contato comigo.
Mesmo à distância, eu pude ver o sorriso de Megan. Bem,
minhas últimas palavras eram basicamente endereçadas a ela e ela
sabia. Ela balançou a cabeça de leve, esvaziou sua taça e se
encaminhou até a saída. Agradeci a todos pela atenção e corri atrás
dela. A festa não iria terminar tão cedo.
— Já está indo? — eu perguntei, trancando a porta de seu
escritório. Eu não queria que ninguém nos interrompesse.
Megan não parecia surpresa em me ver ali. Ela sabia que eu
a seguiria?
Ela colocou alguns documentos em sua bolsa, fechou o
laptop e me olhou.
— Sim. Foi um dia longo e eu preciso descansar para
amanhã.
— Que tal um drink?
— Já tomei um, Aiden. E estou cansada demais para ir a
qualquer lugar além da minha casa.
— E se eu der uma carona a você?
Ela cruzou os braços e me encarou.
— Você realmente acha que eu vou dizer sim?
— Ah... sim?
— Hã, e eu achando que você fosse mais inteligente do que
isso. — Ela pegou a bolsa e estava prestes a sair do escritório
quando eu peguei sua mão.
— Você está fugindo de novo. Posso perguntar por que você
continua fazendo isso?
— Fazendo o quê, Aiden? — Seus olhos brilharam com
irritação quando ela se virou para me encarar. — Você não acha que
é um pouco tarde para drinks e conversas amigáveis?
— Na verdade, acho que é hora de conversar.
— Eu não tenho a mínima vontade de conversar com você.
Me solte.
— E se eu não soltar? — falei, me aproximando. Meus olhos
foram até seus lábios, e caramba, eles pareciam estar me
implorando para beijá-los.
— Não vou cair em sua armadilha outra vez. Uma vez foi mais
do que suficiente.
— Resposta errada, amor — eu disse, tocando sua bochecha
com as costas de minha mão. — Uma vez foi apenas uma amostra
do que eu realmente quero ganhar. — E assim, nossa conversa
tinha acabado. Meus lábios encontraram os de Megan e eu
amaldiçoei mentalmente as consequências do que eu estava
prestes a fazer. Eu a queria. Agora.
— Aiden, não...
— Eu compro uma nova para você.
— O quê?
Em um movimento rápido, a abertura de sua saia foi até seus
quadris e eu a rasguei. Eu não parei nem mesmo por um segundo
antes de me livrar do casaco e da blusa dela, deixando-a apenas
com um sutiã e um fio-dental vermelhos.
— Hmm... eu sempre gostei da sua escolha de lingerie.
— Aiden, nós não podemos... alguém pode entrar — ela
disse, ofegando entre meus beijos.
Eu tirei meu casaco, a peguei em meus braços e a carreguei
até o sofá.
— A empresa é minha, lembra? Eu posso fazer o que quiser.
E agora eu quero estar com você. — Eu olhei para o rosto dela com
os traços perfeitos que eu tanto amava. — Por que você fez aquilo
comigo? — Então, me inclinei para frente e cobri seus lábios com os
meus, tentando atribuir o máximo de amor naquele beijo.
Algo dentro de mim estava gritando para que eu parasse, mas
eu ignorei minha voz interior. Tudo que tinha acontecido nas últimas
duas semanas voltou à minha mente, me torturando com uma nova
força com a qual eu não sabia lidar. Megan estava tão linda e tão
inocente, como se as palavras de amor que ela tivesse dito há dias
ainda significasse algo para ela.
Com cuidado, eu estiquei minha mão e abri seu sutiã,
removendo as alças de seus ombros e clavícula, até os seios que
esperavam que meus lábios os tocassem. Ela gemeu baixinho
quando minha língua acariciou a superfície delicada. Eu não podia
acreditar que meus sentimentos por ela não tivessem ido a lugar
algum; na verdade, eu estava me apaixonando ainda mais por cada
parte dela.
Tomei meu tempo removendo o restante de suas roupas,
beijando e saboreando cada centímetro de sua pele suave. Minhas
próprias roupas foram tiradas em menos de cinco segundos; eu mal
podia esperar para estar perto de Megan. Eu me abaixei até sua
barriga lisa e a beijei, enquanto minhas mãos apalpavam suas
laterais e quadris, se movendo lentamente para ganhar o prêmio
que eu tanto queria. Então eu coloquei meus braços ao redor dela,
fazendo-a se sentar sobre mim.
Seu cabelo comprido provocava meu rosto e ombros em um
toque sedutor e ela sorriu para mim, um rubor adorável cobrindo
suas bochechas.
— Isso é insano, Aiden.
— Eu não quero ser sensato agora. Venha aqui. — Eu a puxei
para meu peito, apreciando o modo como seus seios roçavam
minha pele. — Não vamos pensar em mais nada além de nós dois
— eu disse, acariciando seu lábio inferior com minha língua.
Seus lábios se abriram e ela me beijou lentamente, fazendo
cada centímetro do meu corpo reviver. Eu coloquei minha mão em
sua nuca, aprofundando o beijo e deslizando minha outra mão até
seu quadril. Nós dois sabíamos que não podíamos mais esperar,
então eu me mexi de leve e coloquei suas pernas ao redor de meus
quadris, me guiando para dentro dela.
Um gemido de satisfação escapou de nossas gargantas ao
que nossos corpos se tornaram um. Minhas estocadas eram lentas
e provocantes, e embora eu quisesse fazer tudo de um modo
diferente, eu amei observar as reações de Megan aos meus
movimentos.
— Você quer que eu acelere?
Em vez de me responder, ela apertou as pernas ao meu
redor, como se aquele fosse nosso último momento juntos e ela não
quisesse me soltar. Nossos movimentos se tornaram selvagens,
como se estivéssemos morrendo de vontade de dar ao outro o
máximo de prazer. Mas ainda não era suficiente.
Minhas estocadas se tornaram mais urgentes. Eu podia sentir
os músculos da parte inferior de seu corpo se tensionando e eu
sabia que estávamos próximos das alturas do prazer. Quando o
prazer consumiu nossos corpos e mentes, aquele foi o melhor
momento de todos. E se não fosse pelo maldito beijo que eu tinha
testemunhado há uma semana, eu teria pensado que o que
compartilhamos há segundos não tinha sido mais nada além de
puro amor...
Quando tudo tinha acabado e meu cérebro pôde finalmente
pensar com coerência, eu percebi que o que fizemos não tinha sido
nada além de um grande erro. Megan não me amava, ela ainda
estava apaixonada por Jeff e talvez nossa atração física fosse difícil
de resistir; nós tínhamos que ficar afastados.
Nos vestimos em silêncio, como se tivéssemos medo de
compartilhar nossos pensamentos. Não deveríamos ter feito o que
fizemos...
— Vou levá-la para casa.
— Não, Aiden. Vou pegar um táxi.
A raiva tomou conta de minha mente. Megan parecia calma,
como se nada tivesse acontecido. Ela penteou o cabelo e passou
batom, como se fôssemos apenas amantes compartilhando nada
além de sexo no escritório. Eu xinguei mentalmente.
— Como quiser — eu disse, saindo e fechando a porta com
força atrás de mim. Nós fizemos uma bagunça outra vez. E eu
pensando que seríamos capazes de conversarmos como pessoas
adultas e inteligentes. Aparentemente, nossa habilidade de
conversar morreu no momento em que nossos olhos e lábios se
encontraram.
Porra...
Capítulo 25
Megan
Meus olhos não viam a rua sob meus pés. Estava chovendo
torrencialmente, mas eu não me importava. Apertei o cinto do meu
casaco, mas isso não me impediu de estremecer. Meu apartamento
não era longe do escritório, então eu raramente pegava um táxi para
o trabalho. Mas hoje eu mal podia compreender o que estava
acontecendo ao meu redor. Eu nem mesmo consegui pensar em um
táxi ou notar as gotas de chuva que escorriam dos meus cabelos e
rosto. Nem me importei com as pessoas que passavam por mim
apressadamente. Todos queriam chegar em casa o quanto antes,
exceto por mim.
Eu queria morrer ali mesmo. Eu estava tão depressiva e
perdida que nem mesmo ouvi meu celular tocando em minha bolsa.
Quando finalmente cheguei em casa, vi doze chamadas perdidas.
Todas elas eram de Angeline. Ela e Jessie ainda estavam em
Londres e apenas agora eu percebia que tinha perdido o encontro
que combinamos há dois dias. Meu baile de formatura tinha sido
ótimo e eu e minhas amigas tínhamos nos divertido muito. Elas não
quiseram ficar no meu apartamento para não me incomodarem com
sua presença e agora eu estava feliz por elas terem ficado em um
hotel. Eu não queria ver ninguém. Enviei uma mensagem para
Angeline dizendo que tinha muito trabalho a fazer e não conseguiria
ir ao nosso encontro. Depois tirei minhas roupas úmidas e fui ao
banheiro. Eu precisava desesperadamente de um banho quente.
Quando as primeiras gotas de água tocaram meus ombros,
eu me sentei o chão e deixei as lágrimas caírem. Eu não podia
acreditar que Aiden e eu tínhamos transado no meu escritório.
Depois de tudo que ele havia feito comigo há uma semana! Como
eu deveria voltar à empresa amanhã quando tudo no meu local de
trabalho me lembraria do que fizemos naquela noite?
Me senti um nada. Xinguei meu corpo por tomar o controle da
minha mente. Naquele momento, eu me odiava. Eu era fraca,
estúpida e... ainda loucamente apaixonada por Aiden.
Ugh, por que eu tinha concordado em ficar com ele? Como eu
poderia ter me esquecido de meu insulto por alguns poucos beijos
dele? Mas os beijos dele são tão doces, minha mente acrescentou.
Droga, droga, droga!
Eu não deveria ter deixado aquilo acontecer. Eu continuei a
me culpar por ser uma idiota e quando finalmente terminei meu
banho, fui para a cozinha, servi uma taça de vinho, a esvaziei em
segundos e dormi no sofá da sala de estar.

***

Alguém estava batendo à porta. Alto.


Eu abri meus olhos e verifiquei o relógio na parede oposta —
quase meio-dia.
Meio-dia? Ah, meu Deus! Eu dormi demais.
Saí da cama em um salto e fui atender a porta.
— Você só pode estar brincando comigo, porra!
— Bom dia para você também — Aiden disse, entrando.
— Que diabos você está fazendo aqui? — Meus olhos o
seguiram até a cozinha.
— Trouxe aspirina e comida.
Eu encarei as sacolas em suas mãos sem expressão.
— Por quê?
— Você perdeu a reunião da manhã e seu celular estava
desligado. Você não atendeu o telefone que tem em casa e eu
comecei a me preocupar.
— É mesmo? Quando você começou a se preocupar comigo?
— Sempre me preocupei com você, Megan.
Finalmente, ele me olhou. Seus olhos me inspecionaram da
cabeça aos pés descalços, e ele fez uma careta.
— Como se sente?
— Eu me sentiria muito melhor se você não estivesse aqui! —
respondi com frieza. — Me desculpe por ter faltado ao trabalho hoje.
É a primeira e última vez que faço isso.
Fui ao meu quarto para encontrar o carregador de meu celular
e Aiden me seguiu.
— Você poderia sair do meu apartamento, por gentileza?
— Isso não vai acontecer.
Eu suspirei, irritada. Com as mãos nos quadris, eu me virei
para encará-lo.
— Qual é o seu problema, Aiden?
— Você.
— Se você veio aqui para uma rapidinha de bom dia, vou
decepcioná-lo. Péssima hora.
— Não, na verdade eu vim contar a boa notícia.
— Que notícia?
— Decidi me mudar para Londres.
— Você o quê?
— Meu pai está com problemas de saúde e vai sair do país
por alguns meses. Ele quer que eu seja o chefe da filial da nossa
empresa aqui e seu irmão vai liderar a de Bristol.
— Você não pode estar falando sério.
Choque não era a palavra certa para descrever o que eu
sentia naquele momento.
— Estou falando muito sério, Megan. E já que vamos
trabalhar juntos, eu acho que precisamos discutir algumas coisas.
— Tipo o quê? Transar em vez de almoçar?
— Vamos deixar nosso passado para trás e nos concentrar no
trabalho. Eu sei que você é uma ótima especialista financeira e eu
quero continuar a trabalhar com você. Então nem pense em se
demitir, Além disso, seu contrato não permite que você deixe a
empresa tão cedo.
— Eu não acredito que isso está acontecendo comigo — eu
disse, exausta, à beira da minha cama. Eu nem mesmo sabia como
reagir às palavras de Aiden. Eu sabia que trabalhar lado a lado com
ele não seria fácil, mas parecia que não havia espaço para a minha
opinião naquela situação.
— Ok, então... o que você sugere?
— Pensei que você pudesse se tornar minha assistente. O
que me diz?
— Sua assistente? Tipo a assistente do dono da O’Brian’s
Enterprises? — Eu pensei que estivesse com problemas de
audição.
— Exatamente.
O rosto de Aiden não transparecia nada. Parecia que
estávamos em lados diferentes de uma parede que se tornava mais
grossa a cada segundo que se passava.
— Por quê?
— Por que o quê?
— Por que você ainda quer que eu trabalhe com você?
— Eu já respondi esta pergunta, Megan.
— Não, não respondeu. — Eu me aproximei dele, perto o
bastante para fazê-lo se encolher. — Qual é o motivo real?
— Como eu disse, você é uma ótima especialista. E eu não
quero perder você. — Ele olhou em meus olhos e por um momento,
eu pensei que suas palavras não tinham nada a ver com meu
trabalho.
— Você realmente acha que conseguimos fazer isso?
— Tenho certeza que sim. Mas antes, eu quero que você
tenha um dia de folga. Você não me parece muito bem.
Eu não sabia se tinha sido um gesto não intencional, mas em
um segundo, a mão de Aiden estava em minha bochecha e ele a
acariciou de leve, fazendo cada centímetro meu doer.
— Acho que não é uma boa ideia — eu disse, engolindo em
seco. — Eu não posso fazer isso. Sinto muito, Aiden, mas eu não
posso...
— Não importa — ele disse, dando um passo para trás. —
Vejo você amanhã, Megan.
E assim, ele se foi.
O que ele quis dizer quando disse que não importava? Era
apenas sobre o contrato que não me permitiria sair da empresa tão
cedo? Ou era sobre seu próprio desejo de me torturar por mais seis
meses? Nenhuma das variantes era boa.
Eu tinha apenas um dia para me recuperar e iria passá-lo
cuidando da minha desgraça. Sim, nada mais vinha à mente. Então
eu fui até a cozinha para ver o que tinha nas sacolas que Aiden
havia trazido. Minha cabeça estava girando um pouco, então eu
fiquei feliz em achar remédios e frutas. Lavei as uvas, coloquei uma
das minhas comédias românticas favoritas no DVD e me encolhi sob
o cobertor que seria minha única companhia pelo restante do dia.
Mais tarde, minhas amigas me ligaram e pediram para que eu
passasse com elas sua última noite em Londres. Eu não estava
animada para sair, mas não queria chateá-las. Então liguei para
Zack e perguntei se ele gostaria de passar algumas horas na
companhia de algumas garotas lindas.
— Nós vamos arrasar nesta noite! — foi sua resposta
animada.
— Ugh, sem esse look digno de pena outra vez! — minhas
amigas exclamaram em uníssono quando me encontraram lá
embaixo uma hora depois.
Olhei para baixo, na minha direção, tentando entender o que
havia de errado com minhas roupas, mas Zack se pronunciou antes:
— Seu rabo-de-cavalo é uma droga. E o que aconteceu com
seu guarda-roupa, querida? Você não tem algo mais apropriado
para vestir?
— Apropriado para quê? — perguntei, olhando-os com
atenção. Angeline e Jessie compartilharam um olhar divertido. —
Ok, o que está acontecendo?
— Nós vamos ao karaokê!
Ah, não... gemi mentalmente.
— Não podemos ir a um restaurante em vez de forçar nossas
vozes com alguma música da Britney?
— Você não quer estragar nossa diversão, quer? — Angeline
disse, me pegando pela mão.
— Eu não estou me sentindo bem hoje. Me desculpem, gente,
mas é melhor eu voltar para casa e dormir.
— Sem chance! — Zack choramingou. — Você vai com a
gente. Ponto.
Às vezes eu queria não ter nenhum amigo, porque se eles
tinham algo em mente, era simplesmente impossível fazê-los mudar
de ideia.
— Tudo bem — eu disse finalmente, já sabendo que a manhã
seguinte começaria com um energético e duas grandes xícaras de
café.
E eu estava certa. Acordar foi a pior coisa de todas. As
palavras ‘Oops, I did it again’ ainda soavam em meus ouvidos, e
considerando que elas foram repetidas pelo menos dez vezes em
uma noite, eu me sentia um robô programado para tocar apenas
músicas da Britney. Eu xinguei mentalmente e me arrastei até o
banheiro. Eu não poderia ir trabalhar parecendo um zumbi. E agora,
minha aparência era ainda pior. Eu vacilei quando vi meu reflexo no
espelho e entrei no chuveiro.
Duas horas depois, eu estava pronta para começar um novo
dia de trabalho. Eu entrei em meu escritório, tentando
veementemente não olhar para o maldito sofá onde Aiden e eu
passamos uma hora inesquecível no dia anterior; pedi a uma garota
do café que me trouxesse o que se tornou minha quarta xícara de
café, respirei fundo e abri meu laptop.
A primeira coisa que vi foi uma mensagem de Josh. Ele disse
que estava resfriado e ficaria em casa por alguns dias. Depois, eu li
o restante das mensagens que não havia lido ontem e estava
prestes a revisar meu cronograma quando a Sra. Delancour entrou
em meu escritório.
— Bom dia, Megan — ela disse, se sentando. — Soube da
sua apresentação brilhante e queria agradecê-la por me ajudar.
— Não há o que agradecer. É meu trabalho ajudá-la, não é?
— Não mais. — Ela sorriu. — Também soube sobre sua
promoção. Parabéns.
— Ah, hã... obrigada. Foi um pouco inesperado e eu não tive
tempo de me acostumar à ideia. — Eu ri com nervosismo. Eu não
tive tempo de me acostumar a nada que incluísse Aiden, mas
parecia que eu não tinha muita escolha.
— Seu novo escritório estará pronto até o meio-dia.
— Meu o quê?
— Bem, o Sr. Murphy disse que quer que você esteja mais
perto do escritório dele, já que sendo assistente dele vocês
passarão mais tempo juntos.
— Filho da puta — eu murmurei, incapaz de me controlar.
— Perdão?
— Me desculpe, estava falando comigo mesma — eu disse,
sorrindo afavelmente. Eu realmente esperava que ela não tivesse
ouvido minhas palavras. Fofoca era a última coisa com a qual eu
gostaria de lidar agora. — Então, onde é meu novo escritório?
— Você e o Sr. Murphy têm escritórios compartilhados.
Ótimo... o babaca tinha pensado em tudo!
— Obrigada, eu vou dar uma olhadinha depois.
Quando a Sra. Delancour saiu, encontrei o número de Aiden e
o disquei, me acalmando mentalmente. Não que isso fosse possível,
é claro.
— Precisamos conversar. Agora! — eu gritei no telefone, e
sem esperar por sua resposta, me dirigi até seu escritório.
Era melhor ele me dar uma boa explicação para tudo que
estava fazendo.
Capítulo 26
Aiden
Megan estava furiosa. No momento em que ela entrou em
meu escritório, eu pensei que ela fosse me matar. Ela trancou a
porta, o que me fez sorrir mentalmente, e cruzou seus braços, me
olhando com irritação.
— Que diabos você pensa que está fazendo?
— É bom vê-la novamente, senhorita Brawley. A que devo a
honra?
— Pare de me chamar de senhorita Brawley, Aiden! Estou
cansada dos seus jogos. Por que você quer que eu troque de
escritório?
— Porque eu pensei que seria menos cansativo do que você
precisar subir dois andares cada vez que eu precisar de você.
— E exatamente com que frequência você pretende me
chamar aqui? — Ela espalmou as mãos em minha mesa e eu não
podia evitar admitir que a visão de seu decote era simplesmente de
tirar o fôlego.
Pigarreei e me inclinei para trás em minha cadeira, me
divertindo com sua fúria.
— Com a frequência que eu quiser — eu disse, encontrando
seus olhos. Hoje eles estavam destacados com uma sombra
marrom e dourada, que a faziam parecer ainda mais misteriosa e
sexy.
— Você não vai facilitar, não é?
— Eu não sei do que você está falando, Megan. Isso é
apenas sobre trabalho, nada mais. Você prefere ficar em seu
escritório antigo?
Ela não respondeu imediatamente e eu soube o motivo. Se
ela dissesse que não queria ir para um escritório novo, significaria
que ela não era forte o suficiente para lidar comigo e nós dois
sabíamos que ela nunca admitiria aquilo.
— Tudo bem, vou me mudar para cá. Mas isso não significa
que você vai ficar mais no meu escritório do que no seu.
— É claro que não. Como já disse, isso é apenas sobre
trabalho. — Eu me levantei e fui até a porta que abria para o
escritório ao lado do meu. — Você gostaria de ver seu escritório?
Megan me presenteou com um sorriso falso e me seguiu até
a sala. Era muito espaçosa, quase tão grande quanto o meu próprio
escritório. Eu pedi que trouxessem algumas flores e fotos, pois sabia
que Megan gostava de aconchego.
— Tem uma mesa grande, várias estantes de livro, uma
televisão e um sofá, é claro. Eu me certifiquei de que esse fosse
mais confortável do que o que você tem no outro escritório.
Talvez eu não devesse ter dito aquilo, mas não pude evitar.
Para a minha surpresa, Megan não disse nada em resposta.
Em vez disso, ela foi até uma janela grande e a abriu.
— Gostei do escritório.
— Ótimo. Eu realmente torci para que você gostasse.
Ela pareceu perdida em seus pensamentos por um momento,
porque quando eu a chamei, ela não respondeu.
— Megan? Está tudo bem?
— Desculpe, eu não ouvi o que você disse.
— Tudo bem. Eu queria saber se você precisa de ajuda com
as suas coisas?
— Não, obrigada. Não preciso trazer muita coisa.
Eu assenti silenciosamente e voltei ao meu escritório, dando a
ela algum tempo para olhar em volta.
Sua mudança repentina de humor me surpreendeu. Há um
minuto, ela estava furiosa e agora ela parecia tão frágil e indefesa.
Ela estava tão infeliz por ficar mais perto de mim? Ou eu não estava
sabendo de algo?
— Só tem uma porta aqui.
— O quê? — Me virei e a vi de pé atrás de mim.
— Só existe uma entrada para o meu escritório. E é através
do seu.
— Ah... sim. Eu pensei que não seria um problema, já que
temos uma secretária e uma recepção para nós dois.
— Não, não é problema nenhum. Vejo você depois, Aiden.
Ela foi embora, fechando a porta silenciosamente atrás de si.
Havia algo de errado. Comigo, com Megan, com tudo que estava
acontecendo entre nós. A única coisa que eu ainda não entendia era
seu comportamento após seu retorno a Londres. Ela não parecia
estar sentindo falta de Jeff. Eu até mesmo chequei a lista de
chamadas que ela havia feito na semana anterior e não havia
nenhuma ligação para Axbridge. Talvez ela tivesse ligado para ele
do próprio celular, eu não sabia. Mas de alguma forma, o fato ainda
parecia estranho. Quando eu estive em seu apartamento no dia
anterior, eu não vi nada que pudesse significar que ela estivesse em
um relacionamento: sem fotos dela e de Jeff sorridentes, sem
presentinhos de amor, nada. Isso significava que o beijo deles não
tinha sido nada além de um momento de fraqueza? E como Jeff
podia viver tão longe de seu amor?
Estou enlouquecendo, pensei, passando as mãos pelos
cabelos. A situação era frustrante e não importava o quanto eu
tentasse me convencer de que tudo ficaria bem, eu duvidava que
isso realmente fosse acontecer. Bem, talvez o tempo pudesse ter
respostas para as minhas perguntas. Por enquanto, eu não iria
apressar as coisas. Eu queria que Megan se acostumasse a estar
comigo. E mesmo que eu tivesse que tomar um banho gelado dez
vezes por dia, eu não iria abusar da minha sorte e testar os limites
de sua paciência. Eu iria ser o melhor chefe de todos.
Merda, até mesmo em minha mente aquela ideia parecia
ridícula...
Era hora do almoço quando Megan chegou com uma caixa e
o laptop nos braços.
— Deixe-me ajudá-la — eu disse, pegando a caixa. — Isso é
tudo que você vai trazer?
— Sim.
— Eu pensei... que talvez você quisesse almoçar comigo?
— Tipo comer e…
— Conversar?
— Certo. Bem, eu preciso terminar algo antes, mas se você
pedir a comida aqui, eu me juntarei a você. — Ela sorriu brevemente
e foi desfazer suas coisas.
Eu liguei para o restaurante e fiz um pedido. Tudo deveria ser
entregue em trinta minutos, então eu tive tempo para recuperar o
fôlego. Como minha mudança para Londres tinha sido uma decisão
espontânea, eu precisava encontrar um apartamento para morar; eu
odiava hotéis. O apartamento de Megan não era distante do
escritório e eu gostei da área. Eu também me perguntei se ela
poderia recomendar algo em sua vizinhança.
— Posso perguntar uma coisa? — eu perguntei, parando na
porta de seu escritório.
— Claro — ela disse, sem nem mesmo me olhar.
— Você acha que eu consigo encontrar um apartamento aqui
por perto?
— Pensei que você já tivesse um.
— Não, estou ficando em um hotel.
— Por que você não liga para uma imobiliária?
— Pensei que você conhecesse a área bem o suficiente para
me recomendar algum lugar.
— Ah... bem, eu tenho uma amiga que vive a alguns blocos
daqui. Ela vai sair do país e vender a casa. É um pouco grande para
uma pessoa, mas talvez você goste.
— Gostaria de ver esse lugar.
— Ok, vou ligar para ela e aviso se ainda estiver disponível.
— Obrigada, Megs. — A utilização de seu apelido não tinha
sido intencional. Apenas aconteceu. — Me desculpe — eu disse,
percebendo meu erro. Eu não tinha certeza se ainda estávamos em
termos amigáveis.
— Tudo bem, Aiden — ela disse, esfregando a ponte do nariz.
— Não precisa se desculpar.
— Escute... eu sei que a situação é um pouco estranha, mas
eu acho que seria melhor se nós agíssemos de modo...
— Normal?
— Exatamente.
— Por mim, tudo bem.
— O almoço estará aqui em quinze minutos.
— Ok.
Bem, não que aquela conversa tivesse sido amigável, mas
era melhor do que gritarmos um com o outro ou rasgarmos nossas
roupas.
Passamos o almoço quase em silêncio. Megan e eu falamos
algumas poucas frases insignificantes e voltamos ao trabalho.
Algum tempo depois, eu a ouvi conversando com o irmão.
— Eu sei, Owen. Me desculpe por não atender suas ligações.
Sim, eu vou ligar para a mamãe mais tarde. Aiden? Sim, ele está
aqui. Espere um segundo.
Megan entrou em meu escritório e ligou o viva-voz.
— Oi, Owen — eu disse. — Como você está? E sua esposa?
— Estamos definitivamente melhores do que você e minha
irmã.
— Ela está aqui, sabia?
— Eu sei e é por isso que eu pedi que ela colocasse no viva-
voz. Eu queria falar com vocês dois.
Megan e eu nos olhamos com confusão.
— Eu me importo com vocês dois e espero que se comportem
e não tentem se matar até o fim da semana, porque eu não vou
justificar nenhuma das suas ações. E se vocês decidiram trabalhar
juntos, por favor, não transformem a vida do outro em um inferno.
Eu ri baixinho e Megan revirou os olhos.
— Prometemos nos comportar — ela disse.
— Fale por si mesma — eu acrescentei, sorrindo.
— Ok, gente. Tudo que eu queria era me certificar de que
vocês saibam o que estão fazendo — Owen disse. — Não me
decepcionem ou vou até aí chutar suas bundas.
— Ah, por favor, Owen, pare com o discurso de irmão mais
velho. Eu sou adulta, não preciso de babá.
— E eu sou velho demais para ser babá dela — adicionei,
recebendo outro olhar significativo de Megan.
— Estou falando sério, gente. Sem brigas, ok?
— Sim, papai — nós dissemos em uníssono.
— Ótimo, agora passe o telefone para Aiden, Megs. Eu
preciso dizer mais algumas coisas para ele.
Megan me olhou, hesitando.
— Não se preocupe, eu posso lidar com ele — garanti.
— Eu quero saber cada palavra que ele disser a você — ela
disse, me dando o celular.
— Mesmo se for algo... não apropriado para moças?
— Pare de abusar da sorte, Aiden. Minha paciência está
longe de ser infinita.
Eu revirei meus olhos, peguei o celular e Megan saiu.
— Oi, Owen. Sobre o que você queria falar?
— Tenho apenas uma pergunta, Aiden. O que você fez para
fazer Megan fugir depois do casamento? Todos nós pensamos que
ela mudaria de ideia e ficaria em casa pelo menos por mais um
tempo.
— Eu não fiz nada! — Eu olhei para a porta fechada do
escritório de Megan e acrescentei baixinho: — Por que você não
pergunta à sua irmã o que ela fez para me fazer ir embora sem dizer
adeus?
— O que quer dizer com isso?
— Pergunte a ela, Owen. Talvez ela seja capaz de explicar
tudo. A propósito, você sabe como está Jeff, o amigo de escola
dela? — Eu não iria fazer aquela pergunta, mas de alguma forma,
minha curiosidade venceu.
— Não sei, por quê?
— Eu só queria saber quando ele vem ver Megan.
— Por que ele faria isso? Até onde eu saiba, ele está noivo de
uma das damas de honra de Mary.
— Ele está o quê?
Aquilo era interessante.
— Sim, Mary me disse que uma de suas amigas foi pedida
em casamento por ele no dia de nosso casamento.
— Sem chance...
— Aiden, o que está acontecendo?
— Eu gostaria de saber — murmurei. — De qualquer forma,
se isso é tudo que você queria dizer, é melhor eu voltar ao trabalho.
Eu tenho uma reunião mais tarde e preciso me preparar.
— Tudo bem. Lembre-se do que eu disse e diga a Megan que
vou ligar para ela mais tarde.
— Pode deixar.
Eu desliguei o celular e encarei a porta do escritório de
Megan sem expressão. Que diabos tinha acontecido na noite em
que fui para Bristol?
Capítulo 27
Megan
A conversa com meu irmão tinha sido mais do que estranha.
E a participação de Aiden não tinha ajudado nada. Se ele soubesse
o quanto eu queria contar a Owen o que havia acontecido.
Aparentemente, ele nem mesmo sabia que seu melhor amigo
poderia ser um babaca.
Quando Aiden veio me devolver o celular, ele estava agindo
de modo estranho.
— Está tudo bem? — eu perguntei, encontrando seu olhar
pensativo.
— Me diz você.
Eu franzi a testa, confusa.
— O que quer dizer com isso?
— Posso perguntar algo pessoal?
— Se a pergunta não me fizer dar um tapa na sua cara, vá
em frente. — Cruzei meus braços, esperando pela pergunta.
— Você está apaixonada por alguém?
Eu sorri.
— Por que se importa?
— Estou tentando entender algo, mas acho que não posso
fazer isso sem a sua ajuda.
— E o que minha vida pessoal tem a ver com o seu
problema?
— Sua vida pessoal é exatamente o que estou tentando
entender.
— Ok, Aiden. Eu não sei que jogo você está fazendo desta
vez, mas não conte comigo. Tudo que eu quero é...
— Você ama Jeff?
— O quê?
— Você me ouviu, Megan.
Agora eu estava realmente irritada.
— Quem disse isso a você? — eu perguntei, me aproximando
de Aiden.
Ele não recuou. Em vez disso, se aproximou ainda mais.
— Você o ama?
— Eu diria que não é da sua conta com muito prazer, mas já
que eu sei que você não vai parar, vou responder sua pergunta.
Não, eu não amo Jeff. Está feliz agora?
— Não exatamente. Responda mais uma pergunta, por favor.
— Você promete me deixar em paz depois disso?
— Prometo.
— Tudo bem. O que mais você quer saber?
— Por que você beijou Jeff se não sentia nada por ele?
E aquele foi o momento em que eu me desatei a rir.
— Você está louco? Eu nunca beijei Jeff!
— Mas eu vi vocês dois se beijando!
— O quê? Quando?
— No dia do casamento. Eu a segui até a casa dos seus pais
e vi você e Jeff se beijando na cozinha.
Por um segundo, eu pensei que estivesse em um hospício
onde todos eram um tanto loucos, inclusive eu.
— Ok, vamos começar do início. Naquela noite eu disse a
você que precisava me trocar, certo?
— Certo.
— Eu fui para casa e, sim, Jeff estava lá. Mas tudo que ele
queria era falar comigo.
— Sobre o quê?
— Ele queria se desculpar por tudo que aconteceu há alguns
anos.
— Você fugiu por culpa dele?
— Sim. E é exatamente por isso que ele veio até minha casa
na outra noite. Mas ele também veio encontrar outra pessoa.
— Uma das damas de honra de Mary?
— Sim, Zoe. Os dois namoram há dois anos, mas ele não
sabia se ela estava pronta para se casar com ele. Por isso ele me
pediu para falar com ela, porque ela estava comigo naquele
momento e ele sabia disso.
— Espere um segundo. — Aiden inspirou profundamente,
esfregando a testa. — Zoe estava vestindo o seu vestido naquela
noite?
— Ela precisou trocar a roupa porque seu vestido foi
arruinado e eu dei a ela o que eu deveria ter vestido naquele dia.
— Ah, meu Deus…
— Espere, por que você perguntou sobre o vestido?
— Porque eu vi Zoe e Jeff se beijando e pensei que ele
estivesse beijando você porque ela estava com o seu vestido!
— Ah...
— Eu estava tão irritado, Megan! Eu entrei em meu carro e
saí da sua casa e quando parei, estava em Bristol.
Eu não sabia o que dizer. Eu estava chocada e confusa e...
— Você realmente pensou que eu beijaria outra pessoa
depois da noite que passamos juntos? — Minha voz vacilou na
última palavra, pois eu não podia acreditar que Aiden tivesse uma
opinião tão baixa sobre mim.
— O que eu deveria pensar?
— Você não poderia pelo menos ter ligado a luz para ver o
que realmente estava acontecendo?
Acho que perdi o momento em que minhas palavras se
tornaram gritos, mas não me importava. Tudo que eu queria agora
era matar Aiden com as minhas próprias mãos.
— Sinto muito, Megan. Eu sinto muito.
— Não me toque! — eu gritei, recuando. — Você... eu não
consigo nem pensar na palavra certa para descrever o quão irritada
eu estou agora! — Peguei minha bolsa e me dirigi à porta. — E não
me siga! — Fechei a porta atrás de mim e corri pelas escadas, nem
mesmo me preocupando em explicar nossa briga para as pessoas
que aguardavam na recepção. Eu precisava sair dali o quanto antes.
Desta vez, eu peguei um táxi e fui para casa. Desliguei todos
os meus celulares, xingando Aiden e tudo que eu amava sobre ele.
Agora eu o odiava ainda mais do que no dia em que nos
conhecemos e eu não sabia quanto teria que pagar por me demitir,
mas não havia a possibilidade de eu voltar ao trabalho.
Mais uma vez, eu queria agradecer a Mary pelo vestido. Não
que eu a culpasse pelo que havia acontecido, mas de alguma forma
aquele maldito pedaço de tecido conseguiu arruinar minha vida.
Eu não sabia o que fazer em seguida. Obviamente, eu estava
sem emprego e parecia que a minha vida inteira estava
desmoronando. Eu sempre prometi a mim mesma que não deixaria
nenhum homem arruinar meu futuro e aqui estava eu — perdi tudo
por amor...
Escondi meu rosto entre as mãos e deixei as lágrimas caírem.
Não havia motivo para fingir; eu estava machucada e não sabia
quanto tempo levaria para curar as feridas.
A manhã seguinte se iniciou com a ligação de Owen. Ele
estava surpreso por ter notícias minhas às cinco da manhã, mas eu
não podia mais esperar.
— Me desculpe por ligar tão cedo, mas estou desesperada e
preciso da sua ajuda.
— O que aconteceu? — ele perguntou, bocejando.
— Acho que eu preciso de um advogado.
— Ah, meu Deus. O que você fez?
— Não se preocupe, eu não matei ninguém. Mas eu vou me
demitir e de acordo com o contrato, eu só posso fazer isso após seis
meses de trabalho.
— Entendi... bem, acho que você não precisa de um
advogado, mana. Você precisa ligar para Aiden e conversar sobre o
que a levou a uma decisão tão idiota.
— Ei, você deveria estar do meu lado! Que diabos, Owen?
— Escute, Megs. Eu não sei o que aconteceu entre vocês,
mas tenho certeza de que não vale a pena uma disputa judicial e
problemas desnecessários.
— Você não sabe do que está falando.
— Exatamente! Você não acha que é hora de explicar o que
está acontecendo? Porque parece que eu sou a única pessoa aqui
que não sabe de nada!
Então contei a Owen sobre o dia do casamento, as
conclusões estúpidas de Aiden e nossa briga. Ele ouviu tudo
cautelosamente e então... bem, ele começou a rir.
— Você não pode estar falando sério, Megs! É isso que vocês
vêm fazendo na última semana? Se comportando feito crianças?
Eu revirei meus olhos com seu comentário.
— Eu não deveria ter ligado para você. Eu sabia que você o
apoiaria!
— Não estou apoiando ninguém. Tudo que estou dizendo é
que vocês realmente precisam conversar. Tipo, se sentar e
conversar. Sem se acusarem.
— Conversar é o que vocês advogados sempre fazem. Nós,
pessoas normais, preferimos outros métodos para resolver nossas
questões.
— Seus métodos são uma droga, mana, e você sabe disso.
Ligue para Aiden.
— Não nesta vida!
— Bem, então não me ligue quando precisar de um
advogado. Eu não vou perder meu tempo com briga de criança.
— Obrigada, irmão!
A conversa se acabou com meu celular atingindo a parede.
Merda, eu não queria quebrá-lo, mas no momento aquilo parecia o
melhor a se fazer. E aquilo me fez sentir melhor; por alguns
segundos, é claro, mas ainda assim...
Quando ouvi a batida à minha porta, eu nem mesmo pensei
que meu visitante pudesse ser a única pessoa que eu nunca mais
queria ver.
— Me escute, Megan — Aiden disse, segurando a porta para
que eu não a fechasse em sua cara.
Eu não respondi.
— Eu sei que você está brava e eu entendo os seus motivos.
Mas você já tentou imaginar minha reação ao que vi naquele dia?
Eu recuei e deixei Aiden entrar sem dizer nada.
— Por favor, Megs, fale comigo! Grite comigo, me bata, faça o
que quiser, só não tente parecer tão indiferente!
— O que você quer, Aiden? Eu posso aceitar suas desculpas,
posso até entender os motivos para o seu comportamento, mas eu
não acho que possamos mais trabalhar juntos. Eu já liguei para
Owen e pedi a ele para ser meu advogado. Eu vou pagar a multa ou
o que quer que você queira para me deixar ir, mas não posso ficar
na O’Brian’s e não vou fazer isso.
— Tem certeza de que é isso que você quer?
A pergunta de Aiden foi quase inaudível e eu odiei o modo
que ela me fez sentir. Eu sabia que perderia minha paciência e
começaria a gritar outra vez e rezei silenciosamente para que Aiden
fosse embora antes que aquilo acontecesse. Eu não queria brigar
com ele, mas agora eu não pensava ser capaz de lidar com sua
presença.
— Tudo bem — ele disse. — Você pode sair da empresa
quando quiser. Eu não preciso de nenhuma compensação
financeira. Só pense no que vai fazer antes que seja tarde demais.
E então ele foi embora, me deixando ainda mais irritada do
que antes de sua visita.
Então agora era minha a decisão do que fazer com a bagunça
na qual havíamos nos metido? Por quê?! Ele queria que eu me
desculpasse? Pelo quê? Eu não fiz nada para arruinar sua vida!
— Vá se ferrar — eu murmurei para a porta fechada. Eu
raramente mudava de ideia e esta vez não seria uma exceção.
Mais tarde, naquele dia, eu reuni minha coragem e fui ao
escritório. Eu não sabia se veria Aiden outra vez, mas precisava
virar a página da nossa história e seguir em frente. Se fosse tão
simples assim...
— Olá, Josseline — eu cumprimentei nossa secretária. — O
Sr. Murphy disse alguma coisa sobre mim?
— Sim, ele passou aqui mais cedo para assinar alguns
documentos e disse que você sairia da empresa. Ele também
deixou a permissão para a sua resignação. Aqui. — Ela me deu um
papel que pareceu ser a coisa mais pesada que eu já havia
segurado. Eu assenti silenciosamente e fui para o meu escritório,
que logo pertenceria a outra pessoa.
Meu coração tripudiou quando eu parei na mesa de Aiden.
Havia algumas fotos de sua família e amigos ao lado do
computador. Uma delas era dele e de Owen em uma montanha;
outra havia sido tirada no churrasco antes do casamento de meu
irmão, com ele e Mary sorrindo felizes para a câmera. E a última
foto que vi era uma foto minha e de Aiden, tirada durante nossa
viagem a Cheddar Gorge. Meus olhos estavam focados na câmera,
mas os de Aiden... eles estavam olhando para mim com todo o amor
e adoração que eu sempre tinha sonhado em ver nos olhos do
homem que amava.
Cada parte do meu corpo queria gritar. Eu me sentia
despedaçando e quanto mais eu permanecia naquele escritório,
mais dolorosa a decisão de ir embora se tornava.
Olhei uma última vez para a foto que ainda segurava em
minhas mãos e assinei os papéis que me liberaram das minhas
obrigações; eu os deixei sobre a mesa de Aiden, ao lado da foto da
qual eu tinha certeza de que me lembraria para sempre...
Capítulo 28
Aiden
Eu não podia acreditar que ela tinha ido embora. Até o último
minuto, eu tinha certeza de que ela mudaria de ideia. Eu estava na
sala de reunião quando minha secretária trouxe os papéis assinados
por Megan.
— Obrigado — eu disse, encarando a assinatura dela. Será
que ela hesitou, pelo menos por um segundo, antes de assinar?
Será que ela realmente me odiava tanto assim?
Eu sabia que eu era o idiota que havia arruinado tudo, mas
todos merecem ao menos uma segunda chance, certo? Bem,
aparentemente, Megan tinha uma opinião diferente...
Meus dias se tornaram algo que eu nunca imaginei que faria
parte de minha vida — uma rotina. Eu ia ao trabalho, voltava para
casa, pedia comida, ia para a cama e dormia se a sorte sorrisse
para mim. Mas eu passava a maioria das noites encarando a
claraboia sobre minha cama distraidamente. Eu finalmente tinha
encontrado um apartamento, não muito distante de onde Megan
morava. Embora eu não gostasse de admitir, eu ainda estava
obcecado por ela. Mas neste caso, a sorte não estava do meu lado.
A dona do apartamento que ela havia alugado disse que ela havia
saído, mas a mulher não sabia nada sobre a data de seu retorno.
Mas até onde eu sabia, Megan ainda estava pagando pelo
apartamento, o que significava que, cedo ou tarde, ela voltaria para
casa.
Tentei perguntar a Owen sobre sua irmã, mas ele se recusou
a me dizer onde ela estava.
— Dê um tempo para ela se acalmar — ele disse. — Não
apresse as coisas. Megan não é uma pessoa ruim, mas você a
machucou e agora é sua vez de sofrer. Embora eu saiba que será
em dobro.
— Bem, obrigado, amigo. Mas realmente me ajudaria saber
onde encontrá-la.
— Não. Não ajudaria, Aiden. E sabe por quê?
— Vá em frente, me atinja com seu melhor sarcasmo.
Owen riu.
— Sarcasmo é o que você geralmente usa para impressionar
as pessoas. Eu uso pensamento racional. É mais eficiente.
— E o que isso quer dizer?
— Que ela não está pronta para ver você.
— Ah, eu já descobri essa parte.
— Seja paciente. Ela vai falar com você quando chegar a
hora certa.
— Espero que eu ainda esteja vivo quando isso acontecer.
A maior parte de minhas conversas com Owen acabavam em
nada. Mas seus discursos racionais eram uma destas coisas que
ainda me faziam esperar pelo melhor.
Certas vezes, eu ia a Bristol apenas para me animar e me
sentir vivo outra vez. Não significava que eu dormia com toda
mulher que via, não; mas eu tive alguns ‘encontros’ insignificantes.
Embora nenhuma outra mulher estivesse em minha mente além de
Megan e toda vez que eu transava com outra pessoa, meus olhos
ainda a viam.
Certo dia, Owen e eu nos encontramos em Londres. Ele foi a
uma reunião com nossos parceiros da França e nós conversamos
por alguns minutos entre negociações.
— Como você está? — ele perguntou casualmente. Era um
modo estranho de Owen iniciar uma conversa. Ele sempre era
objetivo.
— O que aconteceu? — perguntei cautelosamente.
— Nada.
— Vamos lá, Owen. Pare de me enganar.
— Você está namorando alguém?
— Não.
— Ainda está esperando que Megan volte para você?
— Talvez. Por quê?
— Só estou curioso. — Ele deu de ombros, bebericando seu
chá.
— Você falou com ela? O que ela disse? Ela está saindo com
alguém?
— Devagar, cara. Sim, eu falei com ela há algumas horas.
— E?
— E ela volta em duas semanas.
— De onde?
— Não, não vou morder a isca, Aiden. Eu sei que no
momento em que eu disser onde ela está, você vai se esquecer de
tudo e correr atrás dela.
Eu sorri.
— Ok, talvez você esteja certo. O que mais ela disse?
Owen me olhou com hesitação.
— Desembuche!
— Ela conheceu alguém.
— Tipo?
— Tipo, ela tem um namorado agora.
Ok, aquilo era um pouco... inesperado. Não, esqueça isso. Foi
como um balde de água gelada no meio de dezembro. Embora
fosse apenas meio de agosto, eu ainda podia sentir os arrepios
correndo pela minha espinha.
— Ótimo — eu disse, finalmente, indo até a janela. — Ela...
ah, parece feliz?
— Sim, eu acho que sim. Mas...
— O quê? Tem mais alguma coisa?
— Mary não queria que eu contasse isso a você, mas eu acho
que você precisa saber... bem, o cara que ela está namorando a
pediu em casamento.
Eu paralisei, estarrecido. Fazia quanto tempo que ela não
vinha a Londres? Dois meses? E ela já tinha encontrado um
marido?
Eu ri com nervosismo.
— Inacreditável!
— Eu não deveria ter contado a você.
— Não, tudo bem. Eu teria descoberto a verdade cedo ou
tarde.
A vista do lado de fora da janela ficou borrada
repentinamente. Eu acho que perdi o restante do discurso de Owen,
pois tudo em que podia pensar era o casamento de Megan.
Eu me lembrei de nossa conversa na fazenda Peterson e
suas palavras sobre o casamento na praia. Meu coração afundou...
— Você sabe onde vai ser o casamento?
— Na St. Paul. Por quê?
— Você quer dizer aqui, em Londres?
— Sim.
— O futuro marido é um príncipe ou algo assim?
— Tudo que eu sei sobre ele é que sua família é fabricante
têxtil.
— Que promissor — murmurei. Meu sangue estava fervendo
lentamente e eu não sabia se seria capaz de sobreviver até o fim
das negociações do dia. Eu sentia a necessidade de socar alguma
coisa. Ou melhor, alguém. E o Sr. Futuro-marido seria o candidato
perfeito para isso.
— Escute, Aiden. Eu sei que você ainda sente algo por ela...
— E a amo! Eu ainda a amo, porra! E isso não é qualquer
coisa Owen. Você me conhece bem o suficiente para saber o quanto
essas palavras significam para mim. E a sua irmã teimosa nunca me
deu uma chance de consertar o que fiz de errado! E sabe de uma
coisa? Eu não vou observá-la sofrer pelo resto da vida. Eu preciso
fazê-la mudar de ideia. E você vai me ajudar.
— Tuuuudo bem — Owen disse lentamente, me observando
com cautela. Ele pensava que eu iria socá-lo se ele não
concordasse em jogar no meu time? Bem tudo era possível. — Por
que você acha que ela vai sofrer?
— Você, dentre todas as pessoas, deveria saber que um
casamento na St. Paul não é o sonho da sua irmã.
— Como sabe disso?
— Por que eu fui descarado o suficiente para cavar mais
fundo e ver uma parte da alma dela que ninguém nunca viu. E o que
eu vi lá me faz pensar que eu estou certo.
— E como você vai fazê-la mudar de ideia?
— Antes de tudo, você precisa me dizer onde ela está.
— Não, Aiden. Eu sou seu amigo e entendo os seus motivos,
mas...
— Entende uma ova! Só me diga onde ela está, Owen. Ou eu
juro que nunca mais falo com você; nem nessa vida e nem depois
dela.
Owen sorriu, balançando a cabeça.
— Não acredito em você. Nós trabalhamos na mesma
empresa e admita que seria um pouco estranho se parássemos de
nos falar.
— Que seja. Vou manter minha palavra.
— Ok. Tem certeza de que o que quer fazer vai deixá-la feliz?
Porque essa é a única coisa que importa quando o assunto é minha
irmã.
— Vou tentar meu melhor.
— Não. Você deve tentar mais do que o seu melhor, Aiden.
Do contrário, ela vai matar você. E se você estragar tudo de novo,
vou ajudá-la.
— Chega de conversa. Onde está Megan? — Eu não podia
mais esperar para fazer meu plano se concretizar e tinha certeza de
que nunca tinha estado tão determinado a fazer alguma coisa. Bem,
que inferno, o amor pode ser uma maldição, no fim das contas.
— Eu menti sobre as duas semanas. Ela estará em Axbridge
amanhã à noite.
— É um inferno ser seu amigo, sabia? — eu disse, me
dirigindo à porta.
— As negociações ainda não terminaram. Aonde você vai?
— Assine tudo por mim. Eu preciso fazer algumas coisas.
Ligo para você mais tarde!
— Aiden! — Owen gritou atrás de mim.
Mas eu já estava correndo pelas escadas. Esperar pelo
elevador parecia demorado demais.
Antes de tudo, eu precisava encontrar uma agência de
viagens. Eu parei em uma próxima à minha casa e comprei um tour
pelas Maldivas. Eu esperava que Megan gostasse da beleza do
oceano e das praias.
O próximo lugar que visitei foi uma joalheria. Eu sabia que
Megan não gostava de ouro, por isso comprei um anel de platina
com um diamante redondo branco e pedi à dona da loja para gravar
algumas palavras no lado interior.
— Perfeito — eu disse, em tom de aprovação. Eu só
esperava que o anel não acabasse no fundo do Oceano Índico.
Agora eu estava pronto para ver Megan. Mas eu sabia que
ela nunca concordaria em falar comigo, ainda que Owen tivesse dito
que ela o faria quando estivesse pronta. Foi por isso que eu bolei
um plano para fazê-la sair de Axbridge e ir às Maldivas. Eu me
sentia mal pelo cara que ainda esperava se tornar seu marido. Eu
me sentia até mesmo um pouco culpado, mas meu próprio desejo
de estar com Megan ofuscava todo o resto.
Então, liguei para Owen e contei meu plano a ele.
— Isso é insano — ele disse, rindo.
— Mas você gosta da ideia, não é?
— Bem, eu gosto de como ela soa, e realmente espero que
Megan o perdoe por tudo que você a fez passar. Quando você quer
que eu entregue a carta a ela?
— Ela vai ao aeroporto às dez da noite, então acho que você
precisa entregar a carta perto das oito. Quanto menos tempo ela
tiver para descobrir o que está acontecendo, melhor.
— Ok, vou fazer isso — Owen disse.
— Obrigado, cara. Vou ficar devendo a você para sempre.
— Sim, você vai.
Owen me desejou boa sorte e eu voltei ao trabalho — eu
precisava escolher um vestido de casamento para Megan.
Eu sabia que ela não queria nada chique. Eu ainda tinha a
foto do vestido que vi quando Megan e eu estávamos procurando
um vestido para o casamento de Owen. Eu olhei alguns vestidos de
diferentes designers quando meus olhos pararam sobre um quase
idêntico ao vestido de minha foto.
— Tem certeza de que não quer que sua noiva o
experimente? — a moça da loja perguntou.
— Confie em mim, eu me lembro de cada curva do corpo dela
— eu disse, sorrindo para ela. Ela riu e foi embrulhar o vestido.
Eu também precisava reunir toda a minha coragem. Eu tinha
certeza de que Megan ficaria brava comigo arruinando seu
casamento. Mas quem quer que seu noivo fosse, eu sabia que ele
nunca seria melhor do que eu. E não importava o quanto Megan me
odiasse, eu iria mostrar a ela que o caminho do ódio ao amor não
levava mais do que um beijo...
Capítulo 29
Megan
Dois meses…
Eu não tinha estado na Inglaterra há dois longos meses e
cada momento do passado ainda passava em frente aos meus
olhos. Não havia lugar no mundo onde eu pudesse me esconder
dos meus sentimentos por Aiden e eu sabia que independentemente
do que acontecesse em seguida, eu nunca seria capaz de esquecê-
lo.
E a próxima coisa a acontecer seria meu casamento.
Conheci Richard, meu noivo, na Espanha, onde passei os
últimos sessenta dias. Ele estava lá a negócios e nosso romance —
embora eu não estivesse certa de que aquela palavra fosse boa o
suficiente para descrever nosso relacionamento — começou no
momento em que nos vimos em um restaurante de Barcelona.
Richard era britânico, educado e inteligente. Talvez alguns o
chamassem de entediante, mas para mim, ele era um homem de
estabilidade. Eu sabia que ele nunca me decepcionaria e tinha
certeza de que ele nunca me machucaria ou me deixaria por outra
pessoa. Eu me sentia segura com ele, o que foi o argumento mais
importante quando pensei em seu pedido de casamento.
Ele disse que me amava, mas de alguma forma, desta vez as
palavras de amor não fizeram meu coração pular. Isso era um mau
sinal? Eu não sei. Eu pensei que meu amor por ele viria mais tarde,
já que eu secretamente esperava ainda ser capaz de amar outra
pessoa além de Aiden. Naquele momento, me casar com Richard
parecia certo.
Eu sabia que Aiden descobriria sobre o casamento e nem
mesmo pedi a Owen que não contasse a ele sobre meus planos. Eu
não sabia nada sobre sua vida e, francamente, eu tinha medo de
descobrir se ele estava saindo com alguém. Não era a melhor coisa
para se pensar dias antes do casamento, eu sei. Mas, infelizmente,
não podemos fazer nosso coração parar de amar alguém, mesmo
sabendo que é o que precisamos fazer...
— Megan, querida, você está aí? — minha mãe me chamou
do hall de entrada. — Estamos esperando você descer!
— Estarei pronta em um minuto — eu disse, olhando meu
reflexo no espelho.
Hoje minha família conheceria os pais de Richard. Ele não
estaria no encontro, já que tinha uma emergência no trabalho. Meu
irmão e sua esposa também estavam lá. Eles haviam chegado há
alguns minutos e eu mal podia esperar para saber o que eles
pensavam sobre meu casamento repentino. Para a minha família —
e para mim mesma, — eu precisava parecer feliz, ainda que meu
coração continuasse sangrando. Eu não poderia passar o resto de
minha vida chorando e esperava que Richard fizesse o melhor que
pudesse para me fazer sorrir.
— Oi, mana — Owen disse, entrando no meu quarto.
— Oi. — Eu o abracei apertado. — Senti saudades.
— Eu também, raio de sol. Então... você está pronta para um
novo passo na sua vida?
Respirei fundo, tentando forçar um sorriso.
— Acho que sim.
— Ótimo, porque eu tenho uma surpresa para você — ele
disse, me entregando um envelope.
— O que é isso? — perguntei curiosamente.
— Abra e siga as instruções escritas na parte de dentro.
— Isso é de Richard?
— Apenas leia a carta — Owen disse antes de sair.
Meu noivo gostava de me surpreender, então quando
comecei a ler a carta, percebi que a nova surpresa seria
interessante.

“Querida Megan,

Cada segundo que passo sem você parece ser a pior tortura
de todas. Eu quero adormecer e acordar com você. Todos os dias,
pelo resto da minha vida...
Pegue o voo número 516. Vejo você em breve.

Amo você.”

Eu sorri, olhando para a carta. Talvez o homem com o qual eu


iria me casar fosse capaz de ofuscar o que eu sentia por Aiden, no
fim das contas.
Li a carta mais uma vez e liguei para o aeroporto para saber
mais sobre o voo mencionado. Eu precisava estar lá em menos de
trinta minutos, então fiz minhas malas apressadamente e desci; um
táxi esperava por mim. Eu também queria me despedir dos pais de
Richard, mas Owen disse que ele faria isso por mim.
— Se cuide, mana — ele disse, me abraçando. — Me ligue
quando você aterrissar e diga oi ao seu sequestrador.
— Pode deixar — eu disse, sorrindo. Depois, entrei no táxi e
fui para o aeroporto.
— Senhorita Brawley? — alguém chamou.
Eu me virei e vi uma mulher correndo em minha direção.
— Sim, sou eu.
— Tenho uma carta para você.
Outra carta? Parece que Richard pensou em cada detalhe da
minha aventura misteriosa.
— Obrigada — eu disse, pegando o envelope.
— Me siga, por favor — a mulher disse. Eu assenti, peguei
minha mala e coloquei a carta no meu bolso para ler mais tarde.
Embarquei no avião e havia apenas alguns passageiros
viajando comigo: dois deles estavam falando espanhol e eu achei
isso estranho, já que Richard e eu tínhamos acabado de voltar da
Espanha. Eu não sabia onde estava indo, já que a moça do
aeroporto havia dito que era uma surpresa.
Eu me lembrei da carta em meu bolso e pensei que era hora
de ler. Mas desta vez, não havia nada além do nome do hotel para o
qual eu deveria ir e o número do quarto reservado para mim.
Eu não tive muito tempo para descansar depois do voo para a
Espanha, então quando ouvi que haveria mais onze horas de
viagem, dormi — mal fechando os olhos — e acordei apenas
quando a aeromoça anunciou a aterrissagem.
— Bem-vindos ao Aeroporto Internacional de Gan — a voz
disse no speaker. — Esperamos que apreciem seu tempo nas
Maldivas.
Maldivas? Sem chance... eu estava no outro lado do mundo!
Felizmente, os funcionários do aeroporto falavam inglês,
então eu não tive problemas para achar o hotel. Ele era muito
bonito; decorado em branco, dourado e azul.
Depois de fazer o check-in, fui até meu quarto cujas janelas
davam para o oceano e uma praia de areia branca.
Olhei em volta, inspecionando o quarto, e vi um pacote na
cama com outra carta. Desta vez, dizia o seguinte:

“Este vestido é para você. Vista-o e me encontre na praia em


uma hora.
P.S.: Deixe o cabelo solto.”

Eu sorri com as palavras e abri o pacote.


Primeiro, eu paralisei, encarando o vestido que vi lá. Era o
vestido de casamento do meu sonho: simples, longo, creme e sem
alças. Como Richard soube que eu queria um vestido como aquele?
Eu o vesti e fui até o espelho.
— É perfeito — eu disse baixinho, tocando o tecido macio.
Lágrimas repentinas queimavam meus olhos e até mesmo a
beleza do vestido não podia diminuir a dor que meu coração sentia.
Eu inspirei profundamente e fechei meus olhos por um segundo.
Não era a melhor hora para chorar e eu não podia deixar meus
sentimentos arruinarem minha vida novamente.
— Não desta vez — eu disse firmemente para o meu reflexo.
Tomei um banho, sequei meu cabelo, me vesti e fui para a
praia. Eu não sabia exatamente aonde deveria ir, já que a carta não
dizia nada sobre isso. Então parei não muito distante da água,
apreciando o calor do sol e a areia fazendo cócegas nos meus pés
descalços.
As pessoas que passavam me observavam curiosamente.
Não era todo dia que se via uma noiva sozinha na praia.
Os braços de alguém envolveram minha cintura e a voz atrás
de mim disse:
— Você está exatamente como imaginei que ficaria com esse
vestido.
Eu me esqueci de como se falava por um momento.
Nenhuma palavra seria boa o suficiente para descrever o que eu
senti no momento em que reconheci a voz. Então, me virei
lentamente e arfei.
— Aiden?
Nós permanecemos nos olhando por pelo menos cinco
minutos e então eu pisquei e balancei minha cabeça, como se
tentando me livrar da visão em frente aos meus olhos.
— Isso não é real, é?
Aiden sorriu.
— Esta não é a primeira vez que você pensa que eu sou um
truque da sua imaginação.
— Ah, meu Deus... — Eu acho que meus joelhos tremeram,
porque os braços de Aiden estavam novamente ao meu redor e ele
me segurava firmemente, como se pensasse que eu fosse
desmaiar.
— Era a única maneira de fazê-la me ouvir — ele disse
suavemente.
Ugh, sua voz ainda era a música mais bonita que eu já tinha
ouvido. Meu coração tripudiou. Aquela coisa estúpida se recusava a
esquecê-lo e ele... bem, ele ainda era lindo; vestia um terno branco
sem gravata, mas com algumas flores presas à lapela. Hoje seus
olhos pareciam mais azuis do que cinzas, refletindo os tons do
oceano atrás de mim. O cheiro de seu perfume não poderia
pertencer a mais ninguém e apenas ele poderia me segurar com
tanta ternura.
— Podemos conversar? — ele perguntou, se certificando de
que eu estava firme para ficar de pé.
— Parece que eu vou fugir de novo? — Eu não sabia o que
mais dizer. Eu ainda estava chocada demais para pensar com
clareza.
— Não, mas eu a conheço bem o suficiente para pensar que
você vai encontrar um modo de desaparecer.
Balancei minha cabeça com exaustão.
— Não vou a lugar algum. Pelo menos não até descansar
depois dos dois voos que tive nas últimas vinte e quatro horas.
Eu nem mesmo queria pensar em Richard e seus pais, ou
sobre o casamento que estávamos planejando.
— Devemos ir a um lugar onde possamos nos sentar?
— Sim, seria ótimo.
Aiden me levou até uma árvore gigante perto da praia e nós
nos sentamos em um banco sob esta.
— No dia em que você foi embora, eu pensei que
enlouqueceria. Literalmente — Aiden disse. Seus traços eram tão
dolorosamente familiares; eu não podia tirar meus olhos dele. Meus
pensamentos ainda estavam um pouco embaçados, mas meus
sentidos me puxavam até o homem ao meu lado e eu não podia
evitar.
— Você virou meu mundo de cabeça para baixo, Megan.
Você me tornou seu escravo. Agora eu não consigo imaginar minha
vida sem você e não existe um dia em que eu não acorde não
pensando em você. Toda vez que eu respiro, sinto falta de ar. Como
se você fosse meu ar e eu não pudesse respirar quando você não
está por perto. Meu coração se aperta toda vez que eu olho para a
sua foto, porque eu não posso imaginá-la sorrindo com tanta
felicidade para ninguém mais além de mim. Eu não consigo
trabalhar, não consigo dormir, não consigo fazer nada, porque você
não está lá comigo. E... eu não sei o que mais dizer para fazer você
acreditar em mim.
Ele olhou dentro dos meus olhos e eu percebi que ele não
precisava dizer mais nada, porque na profundeza de seus oceanos
azul acinzentados, eu podia ver tudo que eu precisava para
acreditar nele. Amor...
Eu toquei sua bochecha suavemente. Ele fechou os olhos,
sorrindo de leve, e colocou a mão sobre a minha.
— O melhor toque de todos — ele disse, beijando as pontas
de meus dedos.
Eu não sei o que aconteceu com meus pensamentos
racionais ou planos para meu futuro pacífico, mas no momento, tudo
que eu queria era Aiden. E eu não me importava com o resto do
mundo, ele poderia esperar.
— Faça amor comigo — sussurrei contra seus lábios.
Não foram necessárias mais palavras para fazê-lo obedecer a
cada desejo meu. Ele pegou minha mão e me guiou até seu quarto.
Nenhum de nós quis apressar as coisas. Nós fomos até o
último andar e entramos na suíte de Aiden, de mãos dadas.
— Não tem saída — ele disse, fechando a porta atrás de si.
— E agora não tem mais conversa — eu acrescentei, sorrindo
para ele.
Ele se aproximou e me beijou, fazendo meu corpo doer de
forma agradável. Depois ele me levou até a cama e me deitou sobre
a superfície de cetim.
Seus olhos eram tão hipnotizantes quanto sempre foram, me
puxando lentamente para o mar de excitação e amor. Eu me inclinei
para sentir o sabor de seus lábios outra vez. Eles eram tão macios e
exigentes quanto eu me lembrava. E ainda que o beijo tivesse
parecido leve, foi repleto de fogo e paixão, mal podíamos nos
controlar.
Aiden começou a tirar suas roupas, sorrindo maliciosamente
para mim. Ele não tinha vergonha de ficar diante de mim em sua
nudez e eu não podia deixar de admitir que a visão de seu corpo era
simplesmente de tirar o fôlego. Ele era como um deus para mim;
meu próprio deus, lindo.
— Venha aqui — ele disse, esticando a mão.
Eu a peguei voluntariamente e ele me puxou para seus
braços — o único lugar onde eu queria estar.
Eu senti seus dedos abrindo o zíper de meu vestido e alguns
segundos depois, ele caiu aos meus pés e os olhos de Aiden me
olharam com fascinação.
— Você é tão linda — ele sussurrou. Seus lábios pareciam
quentes contra a minha pele e tão intoxicantes, como se tivessem
algum tipo de elixir com o qual ele cobria meu corpo, beijando e
mordendo suavemente as partes mais sensíveis deste.
Você já viu um homem de joelhos na frente de uma mulher
que ainda parecesse masculino e forte? Bem, eu já. E era a visão
mais excitante de todas. Especialmente considerando as coisas que
aquele homem estava fazendo, me olhando com olhos que eram
capazes de deixar qualquer mulher louca em segundos...
Capítulo 30
Aiden
Eu nunca pensei que o amor pudesse ser um sentimento tão
arrebatador. Mas agora eu sabia que ele não poderia ser comparado
a mais nada. Se ele destrói ou o torna mais forte, faz valer a pena.
E Megan era meu amor, o único e verdadeiro. Eu estava
pronto para trazer o mundo aos seus pés apenas para vê-la sorrir
daquele modo para mim: com felicidade e amor.
Retirei o restante de suas roupas, tomando meu tempo para
satisfazer seus desejos silenciosos. Quando me livrei da última
roupa no meu caminho, eu acariciei a parte recém exposta da parte
inferior de seu corpo com meus dedos e língua e ela gemeu em
resposta, tornando meus próprios desejos ainda mais difíceis de
controlar.
Depositei beijos suaves da sua barriga até seus seios,
deslizando minhas mãos pelas curvas perfeitas de seu corpo.
Depois, eu a posicionei na cama e levei meus lábios até a parte
interna de suas coxas, pausando ocasionalmente para mordiscar
sua pele delicada.
Quando eu deslizei um dedo para dentro dela, ela ergueu os
quadris, abrigando meus toques. Seus gemidos começaram a
aumentar ao que a frequência de meus movimentos se tornou mais
rápida. E eu sabia que nós dois precisávamos de muito mais do que
aquilo, então me inclinei sobre ela, me posicionando entre suas
pernas, e beijei seus lábios vorazmente.
— Eu amo você, Megan — sussurrei em seus lábios
entreabertos antes de entrar nela lentamente.
— E eu também amo você, Aiden — ela respondeu, cravando
as unhas nas minhas costas.
Eu me enterrei ainda mais nela, e ainda não era suficiente
para me fazer acreditar que ela finalmente pertencia a mim. Nossos
movimentos se tornaram uma dança selvagem que nenhum de nós
queria que acabasse. Com cada estocada, eu queria mostrar a ela o
quanto ela significava para mim, e com cada beijo que ela me dava,
eu percebia que estava me perdendo nela: em seu cheiro, em seu
calor, em seu amor e encanto.
Quando não podíamos mais esperar para nos derreter nas
ondas do prazer, eu dei mais algumas estocadas rápidas e nós dois
gememos em satisfação, cada centímetro de nossos corpos
tremulando.
— Nunca fiz amor tão bom assim — eu disse, ofegando.
Ela riu e rolou sobre o lado esquerdo do corpo, me olhando.
— Estou feliz que tenha gostado.
— Ah, sim. Adorei cada segundo disso. — Sorri, beijando
seus lábios. — Nunca vou deixá-la, Megan.
— É mesmo? E eu querendo checar os voos de volta para
Bristol.
— Nem pense nisso — eu disse estritamente, intensificando
meu aperto. — Tem mais uma coisa que precisamos fazer antes.
Eu me levantei, coloquei minha calça e fui até o closet, onde
havia colocado uma caixa com a aliança.
— O que você está fazendo? — Megan perguntou, se
movendo até a beirada da cama.
Eu voltei para onde ela estava sentada e me ajoelhei diante
dela, pegando sua mão.
— Houve um tempo em que Adão era o único homem criado
por Deus e eu aposto que sua vida era uma droga.
Megan riu com as minhas palavras.
— Agora eu sei que ficar sozinho é a maior punição de todas.
E eu não quero mais ficar sozinho. E se você concordar em passar
o resto de sua vida comigo, Megan, eu vou ser o homem mais feliz
do mundo. Eu não sou perfeito, mas eu a amo com todo o meu
coração e você é a única mulher que eu preciso e com quem quero
estar. Você me dá a honra de se tornar minha esposa?
Algumas lágrimas rolaram pelas bochechas de Megan e sua
mão tremeu dentro da minha.
— Talvez eu esteja louca... — ela disse, sorrindo para mim. —
Mas eu quero passar o resto da minha existência lutando com a sua
arrogância e temperamento impossível. Então, sim, eu acho que
quero deixar meus preconceitos de lado e me tornar a Sra. Atitude-
Terrível-Murphy.
Agora era minha vez de rir.
— Vou tomar isso como um sim — eu disse, dando a aliança
a ela.
— Diz ‘Seu para sempre’ — ela leu a inscrição. — Isso
significa que você pertence a mim agora?
— Assim como você pertence a mim — eu disse, beijando
sua mão.
— Eu não me importo.
Eu não sei quanto tempo se passou antes que estivéssemos
finalmente prontos para deixar o quarto. Depois, liguei para o padre
local com o qual havia conversado previamente naquele dia, ainda
esperando fazer Megan aceitar meu pedido, e pedi a ele que nos
casasse no pôr-do-sol.
Foi exatamente do jeito que Megan queria que fosse: com
uma orquídea em seu cabelo, o oceano cantando baixinho ao lado e
um altar feito de lírios brancos e rosas vermelhas.
Nós sabíamos que faríamos um casamento maior para
nossas famílias e amigos, mas agora, nós faríamos nossa cerimônia
pequena e perfeita, onde nada mais importava além dos nossos
votos e olhos cheios de amor. Era o início de uma nova vida que nós
dois planejávamos passar juntos.
Quando a cerimônia acabou, nós não voltamos para o hotel;
decidimos andar pela praia e tomar nosso champagne sob a lua.
Quem diria que duas pessoas que sempre tiveram medo de
perder sua independência sacrificariam cada parte dela apenas para
ficarem juntos? Acho que o ditado estava certo, no fim das contas.
Nós precisávamos encontrar algumas almas erradas antes de
encontrar a certa, que se torna nossa alma gêmea...

***

Nós ficamos nas Maldivas por mais duas semanas. Era uma
lua de mel, a qual não queríamos que acabasse, mas nossas
famílias e amigos estavam ficando muito impacientes. Todos
queriam saber o que havia acontecido na ilha. Nós não contamos a
ninguém sobre o casamento; deveria ser uma surpresa. E um
choque, de acordo com minha esposa.
Megan ainda estava preocupada com Richard, para quem ela
havia ligado há alguns dias para cancelar o casamento e explicar
tudo. Ele era a única pessoa que sabia de seu novo status. Ele não
ficou surpreso ao ouvir a notícia. Ele disse que sabia que o coração
de Megan pertencia a outra pessoa e estava feliz em saber que ela
havia encontrado a felicidade.
A única pessoa cuja reação nos assustava era da Sra.
Brawley. Ela sempre quis um casamento chique para sua única filha
e nós tínhamos certeza de que ela faria um assim que voltássemos
para casa.
Quanto à nossa casa, decidimos que seria Londres. Megan
concordou em se tornar minha assistente novamente e eu realmente
gostava da minha vida na cidade grande.
Owen nos encontrou no aeroporto com um sorriso enorme no
rosto.
— Estou feliz que vocês tenham chegado em casa em
segurança — ele disse, abraçando sua irmã, e depois a mim.
Megan e eu nos entreolhamos.
— Foi uma viagem agitada — ela disse, mostrando a aliança
a Owen.
— Você disse ‘sim’? — Os olhos dele se arregalaram em
surpresa.
— Por que está tão surpreso? — eu perguntei, rindo de sua
reação.
— Porque eu estava certo de que ela dificultaria tudo para ver
se você era digno de ter seu pedido de casamento aceito.
— Ele foi muito bom em me persuadir — Megan disse, me
abraçando.
— Não preciso dos detalhes — seu irmão disse, fazendo uma
careta. — Agora é hora de contar a notícia para o resto da família.
Seus pais estão aqui também, Aiden.
— Quando eles vieram?
— Há algumas horas. Eles não podiam mais esperar para vê-
lo, então seu pai me ligou e perguntou se podiam ficar na nossa
casa.
— Ótimo. Vai nos poupar horas de explicação.
Eu sabia o quanto minha mãe ficaria chateada por perder
meu casamento.
A primeira pessoa que vimos na casa de Owen foi seu pai.
Ele apertou minha mão dizendo o seguinte:
— No dia em que você disse que minha filha fez café da
manhã para você, eu soube que não seria o único que vocês
tomariam juntos.
Por um segundo, pensei que minhas bochechas estivessem
vermelhas. Homens sequer coram?
— Você estava absolutamente certo, papai — Megan disse,
vindo ao meu resgate. — Agora nós vamos tomar café juntos todos
os dias.
— Estou feliz por vocês — ele disse, beijando a testa da filha.
— Que Deus os abençoe. E eu espero ver meus netos logo.
Megan, Owen e eu rimos.
— Se prepare para ver o primeiro em cerca de sete meses —
Owen disse, fazendo Megan e eu arfarmos em surpresa. — Mary e
eu vamos ter um bebê — ele acrescentou, abraçando a esposa que
veio nos cumprimentar.
— Ah, estamos tão felizes por vocês! — Megan disse
animadamente. — Isso significa que eu vou ser tia! Mais alguém
sabe da notícia?
— Ainda não — Owen disse. — Primeiro, queríamos que você
chocasse a mamãe com a sua notícia e a nossa deveria ser meio
que uma consolação.
— Ok, vamos fazer isso. — Megan respirou fundo e sorriu
para mim encorajadoramente.
— Não se preocupe, querida; ela vai no perdoar assim que
dermos uma carta branca para tudo que ela gostaria de fazer para o
nosso segundo casamento.
— Amém — Megan disse, se dirigindo até a sala de estar,
onde sua mãe e meus pais já nos esperavam.
Não foi tão ruim quanto esperávamos. Nossas mães estavam
mais do que animadas com as notícias e mal podiam esperar para
começar as preparações. A notícia de Owen sobre o bebê foi uma
ótima adição à alegria de todos e passamos o restante do dia
discutindo o futuro de nossa grande família.
Megan e eu decidimos ter mais alguns dias para nós mesmo,
então fomos para Cheddar para compartilhar outro café da manhã
juntos; desta vez, como marido e mulher.
— Eu me apaixonei por esse lugar no dia em que você me
trouxe aqui — ela disse, se sentando no meu colo na frente da
lareira acesa.
— Eu acho que vamos ficar com essa casa para depois.
— Tipo para a época de filhos e netos?
— Exatamente.
— E quantos filhos você quer ter? — ela perguntou, brincando
com os botões de minha camisa.
— Pelo menos dois: um menino como eu e uma menina como
você.
— Nenhuma mulher em sã consciência vai concordar em
cuidar do seu filho — ela disse, rindo.
— Mas, de alguma forma, você concordou em cuidar de mim
— eu disse, acariciando suas costas e beijando seus lábios
suavemente.
— Você sabe como me fazer dizer sim.
— Vou dar algumas dicas ao meu filho quando ele crescer.
— Nem pense nisso! Se tivermos um filho, eu vou cuidar da
criação dele.
— Como quiser, amor.
Nós sorrimos um para o outro e mergulhamos no mar de
todas aquelas coisas incomparáveis que o amor faz as pessoas
sentirem.
Pela primeira vez na vida, eu não quis ir a lugar algum.
Finalmente, eu estava no lugar onde todo homem quer estar — nos
braços da mulher que ele ama. E a mulher ao meu lado era a figura
de tudo que eu sempre amei e quis.
— Foi ódio à primeira vista — Megan disse, me olhando. Seus
olhos brilhavam divertidamente e eu sabia o que ela queria dizer
com aquilo.
— Não, querida. No meu caso, foi amor à primeira vista — eu
disse, me lembrando do dia em que nos conhecemos.
— Você sabia que venceria a aposta e conquistaria meu
coração, não é?
— Eu realmente esperava conseguir.
Ela balançou a cabeça, passando as mãos por entre meus
cabelos.
— Você ainda é impossível, Sr. Murphy.
Eu depositei um beijo em seu ombro dizendo:
— E você está deslumbrante como sempre, Sra. Murphy.
— Você gosta do modo como meu nome soa, não é?
Eu ri, puxando-a para mais perto.
— Ah, sim, Megan. Você é a única mulher que eu sempre
quis que tivesse meu nome.
— E agora eu também tenho você. Todo para mim — ela
disse, ao que fechava os olhos e eu descansava minha cabeça em
seu peito.
— Sou todo seu, baby. Seu para sempre — respondi,
beijando a aliança que ela usava.
Desta vez eu não tinha medo de abusar de minha sorte. Eu
sabia que o que quer que fosse acontecer em seguida seria ótimo,
porque Megan estava comigo agora e nós dois poderíamos lidar
com qualquer coisa. Estarmos juntos já era o maior desafio e nós
estávamos amando cada segundo dele...

Fim.

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Agradecimentos
Minha querida família, amigos e leitores,
Eu nunca teria sido capaz de escrever esta história sem sua
ajuda e apoio. Vocês são os melhores e eu amo todos vocês!
Um agradecimento especial a Mona Tippins, Kristina Howells
e Tracy L. Stuber por sua ajuda na revisão.
Muito obrigada à minha designer de capa, Amina Black. Eu
me apaixonei pela capa deste livro no momento em que a vi! Você
fez um ótimo trabalho, Amina!
Espero que todos gostem da leitura de Ódio à Primeira Vista!

Com amor,
Diana.

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