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William Shakespeare
CAPÍTULO 1
LUNNA
Algumas coisas começam muito simples, e quando você se dá
conta, já tomou proporções gigantescas. Como minha história com um certo
sapo gostoso e filho da mãe metido a besta. A coisa entre nós era um flerte e
implicância gratuita. Tudo era para ser simples, mas não; tudo virou um
desastre... ou quase.
Tudo devia ser apenas provocações bobas que terminariam como
sempre termina: em risos e mais implicância de minha parte e ele com uma
carranca, mas como tudo na vida tem de mudar, a nossa pegou um rumo que
nós dois não queríamos ou talvez sempre quisermos, não é?
Eu procurava um relacionamento para casar. Sim, eu quero casar e ser
uma mulherzinha amada por meu homem, mas não pense que serei uma
típica dona de casa, isso não! Não nasci com essa índole de dona de casa toda
perfeita, longe disso, bem longe. Dondoca? De jeito nenhum! Mas cada vez
mais me vejo invejando minha amiga Julie e seu lindo marido, Adam. Droga,
eles são uns fofos apaixonados. Não é inveja maldosa, claro que não, eu só
quero uma vida assim para mim. Viver sozinha é terrivelmente chato, e
minha busca incansável pelo meu grande amor está se provando infrutífera
demais. Até agora.
Como sempre, estivemos jogando farpas durante todo o jantar, e em
certo momento, a conversa girou em torno da minha vida de solteira e dos
meus encontros, que sempre acabam mesmo antes de começar.
— Você sente inveja das suas amigas por ainda ser solteirona —
afirma o sapo, lançando um olhar provocador daquele que diz: “segura essa,
espertinha!” Ele me lê como ninguém. Vai direto ao ponto. Talvez ele esteja
me observando demais. Isso causa um frio na minha barriga. Saber que ele
presta atenção nesse nível. Talvez eu esteja deixando transparecer que sinto
certa invejinha e nem perceba esse fato.
— Antes solteira resolvida que um eunuco impotente — retruco e envio
o mesmo tipo de olhar para o outro lado da mesa — Quando foi a última vez
que pegou uma mulher, ancião?
Os risos de Adam e Nicolas explodem ao redor da mesa. Esses são
nossos amigos em comum, eles estão com minhas melhores amigas, Julie,
esposa de Adam, e Gabrielle, namorada de Nicolas. Estamos sempre nos
encontrando, os seis. Começou com Adam e Julie, no casamento deles;
Nicolas e Gabrielle começaram um “namoro” e estão até hoje juntos, isso foi
dois anos atrás. Eu... bem, eu sou a única que está sobrando e, lógico, o sapo.
Luc Alonzo, alto e loiro. Seus olhos pratas estão fixos em mim agora,
fazendo minha barriga doer uma dor que é bastante conhecida por mim
quando ele está por perto. Ele é amigo de Adam e Nicolas, e o conheço desde
o casamento de Julie. Adam e Julie eram amigos, na verdade, suas famílias
eram amigas, e quando eles resolveram casar foi quando todos nos
conhecemos, e como Nic e Gaby engataram um romance quase que
imediatamente.
— Eu não lembro — diz Adam sobre minha pergunta anterior — Na
faculdade, lembro de uma garota que ele pegava e depois, do nada, o cara
virou um celibatário.
— A esfinge do Antigo Egito tem mais sangue nas veias — Eu sei.
Estou provocando além da conta, mas esse Luc me tira a paciência.
— Lunna, para! — Gaby, com sua índole calma, tenta me manter na
linha, contudo, eu estou farta dele, sempre me olhando com frieza e
superioridade, como se eu não fizesse nada na vida que não fosse correr atrás
de um homem. — Vocês dois deviam parar com isso.
— Quando a mulher atinge certa idade e não tem um homem, ela tende
a ficar assim — ele baixa a voz e sussurra, conspirador: — Perturbada.
Atacando os machos no raio de cem quilômetros, afim de terem seus
orgasmos.
— A sua vó — retruco infantilmente, ofendida. Vai me pagar, meu
caro!
Enfio uma garfada de minha suculenta torta de avelã na boca, para não
dizer umas poucas e boas para ele. Deus, vivíamos a patadas e nesse joguinho
há alguns meses. E cada dia vai ficando pior. Na maioria das vezes eu o
ignoro. Faço de conta que ele não está no mesmo ambiente que eu, mas eu
sinto essa bendita atração por ele, que é meio inconveniente, por assim dizer.
— Que adulta! — ele realmente não tem amor à vida. Estreito meus
olhos para ele. Mas recebo um levantar de sobrancelhas de sua parte.
— Bem, tenho de ir, pessoal — digo e pego minha carteira para pagar
pelo meu jantar. Antes que eu tire as cédulas, a mão de Nicolas impede que
eu termine o ato.
— Lunna, você está envergonhado os homens desta mesa, deixe a conta
por nossa conta.
— Obrigada, Nicolas, mas faço questão — solto algumas notas sobre a
mesa. Olho para Luc e digo: — Posso ser acusada de exploradora, além de
perseguidora de homem.
— Tudo bem, essa será a gorjeta do garçom — ele, como todo homem
macho alfa, acha que mulher deve ser casta e submissa. Coitado do Andretti,
aquela ao qual ele está tão seguro que é casta e submissa age dessa forma
para mantê-lo na coleira e ele nem se dá conta. Gaby, com sua personalidade
tranquila, é a mais perigosa das três, pois os homens, quando percebem, já
estão apaixonados. E Nicolas não é diferente. Apesar de eles rotularem seu
namoro como algo banal, ambos se denominando “amigos de foda”.
Ando ao redor da mesa e paro atrás do sapo Luc, curvo-me e sussurro
ao seu ouvido:
—Tenho certeza que você adoraria ser o cara que quer ser atacado por
mim — digo suavemente — Pena que só vai ficar na vontade, Matusalém.
Hoje tem outro sortudo fazendo o trabalho sujo.
Ele cheira divinamente bem, um cheiro limpo de homem, tão gostoso
que tenho vontade de lamber seu pescoço acima da gola da camisa. Ainda
fungo discretamente seu pescoço. Devo ser uma pervertida.
Ele engole em seco, mas não se mexe. Luc tem essa característica que
me irrita sobremaneira. Ele se mantém como um maldito jogador de pôquer,
não dá uma pista do que ele realmente sente. Dou beijos de despedida nas
meninas, adeus para os outros e saio.
Eu não tenho hoje nenhum gostoso para expulsar certo tesão do meu
corpo, porque vou te contar, essas farpas com Luc me deixam acesa. Esse ar
inatingível dele é enlouquecedor.
Na verdade, não tenho nada para fazer, a não ser estudar o caso do meu
próximo paciente que tenho amanhã, nas primeiras horas da manhã. Tenho de
ver minha linha de trabalho de reabilitação para ele. Um atleta de judô que
teve um acidente quando estava treinando. Ele está com problemas sérios na
coluna pela forma violenta que seu adversário aplicou um ippon que quase
quebrou meu paciente ao meio, ou melhor, sua coluna.
Tratar um paciente que sabe que pode nunca mais voltar a lutar é um
pouco difícil, por isso quero estar por dentro de todos os detalhes de seu
prontuário. Um trabalho fisioterápico bem-sucedido requer paciência e
dedicação.
Mas amanhã à noite eu tenho um encontro com Leo, um dos
fisioterapeutas da clínica. Ele trabalha há pouco tempo lá, então é tipo uma
caridade que estou fazendo, se é que entende o que quero dizer. Só para
constar, ele é um lindo adônis de um metro e oitenta de pura gostosura.
Vamos sair depois do plantão, apenas um café. Tudo inocente. Eu não posso
resistir à vontade de fantasiar que esse será meu príncipe que virá em seu
cavalo branco me arrebatar para vivermos o “felizes para sempre. ”
Depois de tomar um táxi, chego em casa e vou direto para minha
garrafa de vinho que tenho na geladeira. Sirvo uma taça e volto para a sala,
chutando meu sapato para longe, ficando confortável. Deixo a taça na
mesinha e vou trocar de roupa, vestindo uma camiseta de algodão folgada.
Morar só tem suas vantagens, podemos vestir o que quisermos, ninguém vai
ver mesmo. Meu apartamento é confortável, não é nenhuma cobertura, mas é
grande o suficiente para mim. Decorado elegantemente, cumpre seu papel de
um teto sobre minha cabeça.
Os papéis com as informações do paciente estão em cima da mesa de
centro, de vidro. Estico-me no sofá macio e tomo um gole do meu vinho.
Pego os papéis e começo a ler.
No dia seguinte, passo um dia daqueles, onde mal tive tempo de
respirar corretamente. Meu novo paciente é um caso doloroso, como eu
imaginei que seria. Passei a manhã inteira avaliando seu estado físico. À
tarde, tive mais dois pacientes, por isso, quando saio da clínica às cinco e
meia da tarde, estou apenas o pó. Lembro que tenho um encontro hoje, e que,
portanto, já estou atrasada. Marquei com Leonardo às sete e meia, e tenho de
correr para estar apresentável. Só tenho tempo para um banho rápido quando
chego em casa. Visto um vestido preto básico, justo, acima do joelho, para
não errar. Escolher outra roupa levaria uma quantidade de tempo que não
disponho. Calço um sapato stiletto, maquiagem mais básica possível, mas que
destaca meus olhos, e pronto. Meu cabelo curto é prático, e às sete horas
estou saindo de casa para o pequeno café. Bem, se de lá esticarmos para outro
local, já estou preparada.
O café fica a poucas quadras da clínica onde trabalhos, e um táxi me
deixa lá às sete e vinte. Sento à uma mesa, esperando meu futuro príncipe, ou
não. Na hora marcada, ele aparece vestido com esmero. Vejo que ele
caprichou em um blazer casual, sem gravata, porém elegante.
— Lunna, que bom que veio! — ele diz quando beija meu rosto de cada
lado. Quando ele senta à minha frente, me olha com um leve rubor em sua
face, o que eu acho fofo — Tomei a liberdade de reservar um local para
jantarmos, em vez de apenas tomarmos um café.
Ele deveria ter feito o convite para um jantar, penso comigo mesma.
Bom, de qualquer maneira posso muito bem ir jantar em outro local,
por isso sou uma mulher precavida. Tirem o chapéu para mim, pessoal. Eu
sou foda! Rindo internamente de minha própria besteira, digo:
— Claro que sim — sorrio para ele, charmosa.
A noite se revela muito agradável. Leo tem uma conversa agradável e
leve, e em pouco tempo estamos entrosados e rindo. Bom, isso dura até a
metade do jantar, quando eu olho para o lado e duas mesas adiante avisto um
par de olhos cinzas me fitando, carrancudo, como de costume. Ele está na
mesa com mais duas pessoas e, pelo visto, homens de negócios. Luc Alonso
sabe acabar com a noite de uma mulher. Droga, eu não sei de onde vem tanta
animosidade entre a gente!
Tento levar o resto do jantar como se nada tivesse acontecido, mas isso
é impossível, estou sempre voltando meus olhos para o “senhor todo charme”
na mesa adiante. Eu não vou mentir dizendo que não acho Luc um homem
bonito, e ele sabe disso, eu cometi o erro de dizer isso quando nos
conhecemos. Esse lado idiota dele é mais um acréscimo para seu charme.
Devo ser o tipo de mulher que gosta desses tipos chatos, porque vou contar,
ele me deixa irritada e excitada em nanos segundos. Mas, além de tudo, me
divirto com sua irritação quando estou por perto. Ele totalmente me acha uma
dessas mulheres devoradoras de homens, ou não. Dependendo da conversa de
ontem, ele pode me achar uma encalhada.
Dou um sorriso discreto para ele, mostrando que não sou encalhada.
“Veja, Lucat, estou acompanhada de um homem, meu problema de orgasmo
não é problema nenhum.” Isso é o que eu quero que meu sorriso mostre. Suas
sobrancelhas se erguem em desdém óbvio. Olho para Leonardo, e ele está
falando sobre um paciente dele e não percebe que seu encontro está flertando
com o cara da mesa ao lado. Não sei o que me compele a fazer isso com Luc.
— Você está distraída — a voz de Leonardo me faz voltar minha
atenção para ele. — Estou entediando você?
— Não, claro que não! — eu estendo minha mão e seguro a dele, que
está repousada sobre o tampo da mesa. Faço isso mais como show para o gato
Luc — É bom escutá-lo, querido.
Ele fica vermelho mais uma vez e dou um sorriso sexy à la Lunna para
ele. Eu não devia ficar aqui, sentada com ele, e minha cabeça na outra mesa.
Deveria levantar e dizer que foi ótimo jantar com ele e o deixar seguir seu
caminho.
— Você quer ir embora? Um lugar mais reservado? — Hein?! Já?
Droga de homens, são todos cópias uns dos outros. Onde já se viu, primeiro
encontro e já querer lugar reservado?
— Bem, eu tenho de acordar cedo amanhã, então você pode me deixar
em casa — digo, nada sutil, e ele parece constrangido e desapontado por um
momento, mas esconde isso rapidamente e chama o garçom para pagar a
conta. Retiro minha parte do jantar e ele se recusa a pegar, mas, como
sempre, insisto. Tenho o péssimo hábito de não querer dever nada a ninguém.
Sou chata assim. Se queremos igualdade dos sexos, vamos dividir conta
também.
Quando estamos saindo, Leonardo coloca uma mão na base das minhas
costas. Se fosse outro momento acharia invasivo para meu primeiro encontro,
mas como hoje tenho um espectador cativo, deixo para lá. Olho para Luc e
vejo seus olhos nos acompanhando. Pisco para ele, maliciosa.
O deus Thor só parece rosnar de lá da mesa, para mim. Amo provocar
esse homem. Ele é tão pomposo. Rindo comigo mesma, seguro o braço de
Leonardo e saímos em direção ao carro dele.
LUC
Observo-a sair com o cara do restaurante e faço uma cara de desgosto.
Essa mulher não tem limites. Suas gracinhas me irritam e tenho vontade de,
às vezes, mandá-la para o inferno junto com os apelidos idiotas com os quais
ela me chama. Apesar disso tudo, eu me pego várias vezes respondendo a
essas gracinhas dela. Dando mais combustível para ela me irritar.
Essa mania dela de me chamar de eunuco me tira do sério. Vontade de
mostrar para ela o quanto sou um eunuco. Mas me controlo, porque esse cara
descontrolado não sou eu. Tenho total controle sobre as minhas ações e
vontade. Não sou um homem regido por seu pau. Mantenho-o dentro das
minhas calças, com certeza. E antes que diga algo, eu não sou gay, apenas
estou acima disso tudo. Eu transo, é claro, mas isso é feito de forma discreta,
com mulheres discretas e refinadas, não o tipo romântico e atirado, como
umas e outras que eu conheço. Contudo, o pior são as vezes que me pego
fantasiando fodendo-a até a exaustão, até arrancar toda essa tensão que nos
envolve cada vez que estamos no mesmo ambiente.
Olho para a porta do restaurante, por onde ela sumiu com o seu sabor
da semana — como suas amigas gostam de apontar — e curiosidade me
aperta. O que diabos foi aquilo ontem à noite, no restaurante? Ela
praticamente me farejou igual a um cão, que tipo de pessoa faz esse tipo de
coisa? Ela fungou meu pescoço, arrepiando até o ultimo fio de cabelo em
mim. Passei uma noite de cão, cheio de tesão, pensando em sua voz
provocadora.
— Conhece a moça? — Hadrian, o alemão que estou fazendo negócios,
pergunta em um sotaque carregado — Apresente-nos. — Ele aponta para
Hainz, seu sócio, e eu tenho a súbita vontade de dizer para ele que não tenho
vocação para cafetão, mas como quero fechar negócio com esses caras, então
eu digo apenas:
— Não a conheço, estava apenas... olhando. — resmungo. Esse cara
não está cansado de loiras, não? Na Alemanha, o que mais tem são loiras
naturais, e ele quer conhecer uma que tinge o cabelo?
Droga! Eu estou prestando atenção demais nessa mulher. Como inferno
sei que ela não é loira natural? Eu sempre a conheci com esse corte de cabelo,
curto e loiro. Estou sendo preconceituoso, melhor esquecer essa maluca.
CAPÍTULO 2
LUNNA
Depois que Leonardo me deixa na porta da minha casa, eu fico
inquieta e sem sono, mas nada tem a ver com o homem que acabou de me
deixar aqui, não. Tem tudo a ver com o sapo ranzinza que atormenta minha
mente.
A noite é longa e desejo ter um vibrador aqui, porque estou excitada
demais com nossa interação no restaurante, ou a falta dela da parte dele,
claro, mas sei que ele estava me notando, como sempre.
Reviro na cama às duas da manhã e me pergunto: por que eu não tenho
um vibrador? Vou amanhã mesmo mudar esse fato, vou ser sócia do clube
das mulheres que se resolvem por si mesmas.
Acho que dormi, pois quando o despertador toca eu estou grogue e
levanto para dar um tapa nele, que está no criado-mudo.
Uma hora e meia depois, estou na clínica para mais um dia de trabalho.
Verifico minha agenda do dia e percebo que tenho almoço com as meninas às
treze horas. Almoçamos juntas de duas a três vezes por semana. Isso vem
diminuindo com o tempo, já que Julie tem uma filha agora e Gabrielle está
em um estágio que mal dá uma hora de almoço para ela. Porém, ainda assim
nos encontramos quando dá.
A manhã passa voando, e às onze e meia meu telefone toca ao receber
uma mensagem. Pego meu telefone e verifico que é Julie, em nosso grupo de
conversa. Digito uma mensagem de volta e pego minha bolsa. No corredor da
ala fisioterápica encontro Leonardo, que vem em direção oposta.
— Oi — ele diz quando para à minha frente. Droga, isso é estranho,
esbarrar com seu encontro da noite anterior e a quem não mandamos nem um
oi nessa manhã.
— Tudo bem? — dou um sorriso como sempre, porque sou a pessoa do
sorriso constante. Alguém que me vê sisuda certamente saberá que algo está
errado comigo. “Sou dona Maria Toda Sorrisos”
— Tudo sim. Eu... — ele era tímido assim antes? Não notei isso — Foi
muito bom sair ontem.
Foi?
— Sim, realmente, gostei muito — E quando fui dormir não foi em
você que eu pensei, meu amigo. Penso, e acrescento em minha mente que
seria interessante lhe dar uma segunda chance. Está difícil achar um homem
que goste da fruta fêmea. Oh, meu Deus! Estou em devaneios aqui. Reprimo
uma gargalhada — Seria bom marcarmos outro dia. Tem um show da Maria
Gadú que gostaria de ir.
Ele sorri, feliz, ao saber que tem mais uma chance. Eu também estou
feliz por isso, eu gosto dele, apesar de não sentir como se minha calcinha
estivesse pegando fogo quando penso nele. E nem me imagino gemendo seu
nome como já fiz com você sabe quem.
— Claro, só dizer quando!
— Certo. Agora tenho de ir, estou atrasada para o almoço — dou um
aceno e passo por ele.
Chego no restaurante, e Julie e Gabrielle já estão lá, carrancudas
— Hey, não demorei tanto assim — digo, quando me sento.
— Você sabe que não tenho muito tempo. Meu chefe pode ter um
enfarto se eu chegar atrasada um milésimo de segundo. — Gabrielle diz —
Não vejo a hora desse estágio terminar. Como posso passar metade do meu
dia reclamando da vida?
— Então não reclama, minha flor de estufa — rio — Gaby, você devia
abrir seu próprio escritório. Pede ajuda ao seu amor milionário.
— Esquece que não posso fazer isso? Quero minha especialização
primeiro. — ela diz, teimosa.
— Tudo bem, mas ainda acho que você é boba demais — pegando o
cardápio, verifico minhas opções.
— E seu encontro ontem? — Julie pergunta. Elas sabem do meu
encontro, pois digo para elas minhas peripécias amorosas.
— Foi bem — digo, lacônica, e isso aguça a curiosidade das meninas,
ao que parece.
— O que houve? – as duas falam ao mesmo tempo, se inclinando para
frente.
— O que não houve, essa seria a pergunta certa — digo, rindo —
Leonardo é um fofo, mas não acendeu a chama.
— Ah... Lunna, você vai com muitas expectativas nos homens, achando
que eles são seu príncipe em um cavalo branco — Julie me olha, severa —
Vá aberta!
Eu estouro em uma gargalhada, chamando a atenção de nossos vizinhos
de mesa.
— Eu vou aberta, querida — balanço minhas sobrancelhas para cima e
para baixo, maliciosa — Contudo, temos outro encontro.
— Ah, menos mal — diz Julie, voltando a sentar corretamente, e acena
para o garçom vir anotar nosso pedido. Opto por uma salada de funcho e
camarão e molho cítrico, e para não ficar com a consciência pedindo algo
gordo, peço minha coisa favorita para sobremesa, torta de chocolate e avelã.
Um pedaço dos grandes.
— Isso ainda vai te deixar uma baleia — Gabrielle diz, quando escuta
meu pedido. Mas inveja, pedindo a mesma coisa.
— Isso que é viver perigosamente — brinco.
— Não esqueçam de deixar para comer as coisas gordurosas na festa de
aniversário de Adam, daqui a dois dias. — Julie lembra.
— Querida, nada que uma sessão de treino de cinco horas não resolva.
— rio.
— Você é uma exagerada, quem treina cinco horas por dia? O Usain
Bolt? — Gabrielle replica.
— Bem, nos conte os detalhes desse encontro — elas pedem, quando já
estamos comendo.
Quero contar sobre meu encontro com Luc, mas eu não consigo falar
dele com elas. Não sei a razão do retraimento, já que conto tudo para elas da
minha vida. Elas são mais que amigas; são irmãs para mim. Mas falar da
atração indesejada com Luc não é um assunto que tenho vontade de expor.
Por isso enrolo, falo apenas sobre o meu encontro sem sal, de ontem.
— Tenho umas compras para fazer — digo, de repente — Tenho de ir
ao sex shop comprar um dildo!
O vinho que Julie estava bebendo pula de sua boca com o riso, porque
eu falei isso alto e a senhora da mesa ao lado está me olhando com olhos
arregalados. Ela balança a cabeça em desaprovação óbvia.
— Você é louca? — Julie sussurra, enxugando o vinho derramado, e
acabamos caindo na gargalhada. — O quê? Os homens não estão dando
conta?
— Oh, não! Reparei que não tenho um — faço cara de inocente. — Por
isso tenho de reparar essa falha.
— Lunna, ninguém é mais louca que você. Eu não tenho um desses —
Gabrielle fica vermelha quando fala.
— Gabrielle, por que teria um dildo se você já tem um animal sexual
disponível para você, dia e noite? — ela é uma sortuda, isso sim.
Droga, estou ficando amarga. Será que o gato Luc tem razão? Estou
com inveja das minhas amigas?
Claro que não. Bom, talvez um pouquinho. Minhas duas amigas têm
homens deliciosos, prontos para os serviços sujos. E eu? Estou em busca
ainda, e isso causa uma tremenda frustração.
— Temos de ter essa conversa aqui? Estamos em um restaurante, pelo
amor de Deus! — Julie diz, exasperada. Dou um sorriso mau e assinto,
fazendo-a gemer baixo — Você me mata de vergonha.
Logo depois terminamos o almoço, e Gabrielle corre de volta para o
estágio, deixando Julie e eu ainda na mesa, conversando, mas ela recebe uma
ligação e também tem de ir, afinal ela é mãe, nossa farra tem de ser limitada,
agora.
— Às sete, na minha casa, e não precisa levar nada — ela diz, quando
beija meu rosto em despedida — Temos tudo organizado.
Claro que tem, ela é a mulher mais organizada que conheço. Bem,
Isadora veio para mudar isso um pouco.
Dois dias depois, estou na casa de Julie e meus olhos estão inquietos.
Avisto Adam e Nicolas, e nada de Luc, mas quem disse que vou perguntar a
alguém por ele? De jeito nenhum! Nem gosto dele, apenas gosto de implicar
com seu jeito almofadinha inabalável.
— Você está com alguma coisa coçando em algum lugar impróprio? —
Gabrielle, que está junto a mim, pergunta — Você está inquieta.
— Oh, não, é nada de mais, acho que esses canapés podem estar
estragados — disfarço.
— Como é, Lunna Maia? Meus canapés estão o quê? — Julie se
materializa do nada atrás de nós.
— Oh!
— Sim, oh, explique-se, mocinha — ela está disfarçando seu sorriso —
Eu contratei o melhor buffet e você diz que os canapés estão ruins?
— Então deve ser outra coisa — merda, isso não melhora em nada —
Desculpa, estou bem, amiga, de verdade.
— Você está com problemas? Você não é assim, toda inquieta — não
mesmo, eu sou um espírito livre e sem maiores preocupações, mas quando
estou prestes a responder, eu o vejo. Ah, chega atrasado para a festa do
amigo. Ele é uma presença máscula. Ele é muito alto, seus cabelos loiros
escuros são de uma textura macia que tenho vontade de puxar com força, e
sem falar nos olhos cinzentos, misteriosos e sérios. Eu acho que homem
bonito atrai outros homens igualmente bonitos para andarem juntos, porque
aquele trio me deixa quente. Mas Luc é diferente. Apesar do corpo
musculoso das idas à academia, ele é forte na medida certa e eu nunca o vi
sem roupas, mas seus ternos caem tão bem que eu tenho a certeza de que não
é decepcionante seu corpo nu.
Droga, está quente aqui!
— Estou bem mesmo — reforço e sorrio para elas — Preciso de uma
taça de champanhe para refrescar.
Eu saio ziguezagueando pelos convidados e consigo uma taça de
champanhe rosé, meu favorito, de um garçom, e olho ao redor para encontrar
um par de olhos cinzas cravado em mim. Eu pisco maliciosa para ele e recebo
um erguer de sobrancelha irônico.
A festa continua, e eu me divirto dançando tudo que eu posso dançar na
pista improvisada. Eu fico me perguntando por que eles não têm um salão de
festas, já que adoram dar festas. Dancei com todos, menos com Luc. Bem,
mas agora vou fazer meu movimento. Procuro até o encontrar em pé,
conversando com outro cara. Caminho até parar ao seu lado.
— Luc, querido, não vai me apresentar ao seu amigo? — digo e
encosto até uma posição que minha mão errante esteja protegida do homem
bonitão à nossa frente. Estou certa, homem gostoso atrai homens gostosos ao
seu círculo de amizade.
— Olá, sou Lunna — estico minha mão direita para ele e com a
esquerda aperto a bunda de Luc — Prazer.
— Jason Lewis — o amigo dele diz, e se não fosse pela cor de cabelo
diferente diria que são irmão, os dois têm olhos cinzas, lindos. Minha mão
esquerda entra em ação mais uma vez e aperta firme o bumbum durinho dele.
Luc está tenso ao meu lado, e ele olha firme para mim, mas eu não o
olho de volta. Ele se afasta um pouco de mim e eu vou junto. Cristo! Que
vontade de rir.
Olho disfarçadamente para seu rosto e não seguro o riso; sua cara é
impagável. Ele está furioso e chocado com minha ousadia.
— Por que vocês homens lindos só têm amigos um mais lindo que o
outro? — dou um sorriso avassalador para Jason — Estou pensando
seriamente sobre isso.
— Você é engraçada, Lunna — porra, eu não quero ser engraçada,
quero ser sexy.
— Você nos dá licença, Jason? — a voz cortante de Luc vem,
aborrecida.
— Claro. Vejo você por aí — Ele diz e se afasta.
Luc agarra meu braço e me arrasta para um corredor vazio, a meia-luz
dando um toque íntimo ao local. Ele praticamente me bate na parede e avança
sobre mim.
— O que diabos acha que está fazendo? — ele diz, letal, baixo e
furioso — Mantenha essas suas garras maliciosas longe de Jason, ele é um
homem casado!
O quê? E quem aqui está pensando em Jason?
— Gato Luc, você é tão mente suja — olho para minhas unhas,
displicentemente.
— E nunca mais toque em mim assim! — Ele não levanta a voz um
segundo, mas é como se fossem gritos ferozes saindo de sua boca sexy. Sua
postura exala esse poder magnético que me atrai. Quero provar sua boca,
como imaginei ontem na escuridão do meu quarto. Hoje provavelmente irei
usar meu novo vibrador. Maldito homem!
— Nem sei do que está falando — olho inocente para ele.
—Mulher irritante! Não querendo ser grosseiro — as palavras
contradizem sua expressão quando ele arrasta o olhar por toda extensão do
meu corpo. —você não faz meu tipo, querida. Gosto de minhas mulheres o
oposto de você.
— Quem disse que eu quero você, Matusalém? — chego bem perto de
sua boca — Só gosto de fazer você imaginar que eu quero alguma coisa com
você. — lambo meus lábios lentamente e sussurro, provocante: — Gosto dos
meus homens quentes e deliciosos, não icebergs congelantes como você,
querido.
Afasto-me e me encosto à parede de novo. Vejo suas narinas dilatar
quando ele avança para mim. Sua mão forte e grande agarra minha garganta,
me prendendo firme. Eu solto um pequeno gemido. E quando penso que ele
vai me beijar, ele para e dá um sorrisinho odioso. Estou tremendo? Oh, meu
Pai!
— Se eu tocasse em você agora, apostaria um milhão que estaria
molhada para mim, encharcada. — ele abaixa até estar praticamente me
beijando — Se eu beijasse você agora, você gozaria de tão desesperada por
atenção que está, Lu.
Minha respiração falha na tentativa de me controlar. Oh, merda. Ele
está certo, eu estou excitada além da conta agora, se ele me tocasse eu teria
um orgasmo em menos de um minuto. Me contorço quando raios de desejo
correm por minhas veias. Quero morder seus lábios sexy até ele gemer em
minha boca. Quero que ele me toque agora. Por que ele não faz isso?
— Mas eu não estou desesperado — ele continua, quando eu me
mantenho calada. Nojento! Ele se endireita e alisa seu terno — Cace outro,
querida.
— Porco! Nunca disse que queria suas mãos imundas em mim! —
vocifero, indignada.
— Nós dois sabemos a verdade. Tenha uma boa noite, Lunna — ele diz
e vai embora.
Eu fico lá, na parede, até me acalmar. Eu juro que ele vai engolir cada
maldita palavra!
LUC
Eu observo Lunna voltar para a festa e continuar com seu show,
dançando e bebendo champanhe como se fosse água. Deus, o que vou fazer
com essa mulher? Pegar em minha bunda em uma festa? Ela está passando
dos limites do caralho!
Meus olhos estão em sua bunda quando ela rebola em seu vestido curto.
Ela devia ser proibida de andar com roupas tão curtas. Se ela fosse minha
daria um maldito ultimato, para não sair na rua com esse vestido, que não
deixa muito para a imaginação dos homens aqui. Ajeito-me no sofá,
desconfortável.
— Você devia disfarçar — Adam diz, ao meu lado — Está ficando
óbvio. E nós pensando que você não apreciava a coisa.
— Do que está falando? — tomo um gole de minha água. Parei de
beber depois do segundo whisky, tenho de dirigir e não dirijo quando bebo
mais que um copo de álcool. E tenho pavor de quem faz esse tipo de coisa,
imprudência não faz meu feitio.
— Você sabe que nós pensamos que você é gay — Adam continua se
referindo a ele e Nicolas. Amigos de merda! — Se for não precisa se
preocupar, não vamos te julgar. Eu e Nicolas te conhecemos há muito tempo,
saberíamos respeitar sua preferência.
— Já disse que não sou — olho para meu melhor amigo e dou um
sorriso — Qual é? Não podemos ter uma vida privada? Sem tantas mulheres
em volta?
— Ela pode resolver seus problemas ou complicar mais ainda — ele
aponta Lunna, que está rebolando seu traseiro ao som de uma batida sexy.
Aliás, as mulheres estão dando um show à parte lá na pista improvisada.
Metade dos convidados já foi embora, e elas estão aproveitando — Lunna é
vibrante, e você poderia trazer um pouco de cor para sua vida, meu amigo.
— Não estamos tento essa conversa —digo e levanto do sofá onde
estive assistindo a dança das meninas.
— Eu vejo que você a deseja, só um cego que não percebe, isso entre
vocês dois é pura tensão sexual — ele diz alto.
— Esquece!
— Viva, cara!
Eu já vivo, só que à minha maneira, e não preciso de nenhuma mulher,
que vê romance até nos galhos das árvores, em minha vida. Gosto dela assim,
sem complicação, e Lunna estaria fazendo planos de nosso casamento uma
semana depois, se resolvêssemos foder com o outro. Não, estou
completamente fora. Já tenho coisas maiores para me preocupar.
— Você não vai para casa sozinha — diz Julie para Lunna. Nós somos
os últimos a sair da festa, como sempre. Nicolas e Gabrielle já estão
esperando fora da casa, e Lunna está meio bêbada, querendo ir para casa
dirigindo — Não vai dirigir, mesmo! Não assim. — ela aponta quando Lunna
se encosta na parede. — Luc, você devia deixá-la em casa.
— Acho que não — digo, direto. Essa louca pode fazer alguma merda
no caminho até seu apartamento.
— Sim, Lucat, eu vou com você — ela diz, com aquele tom malicioso
que usa para me provocar. — Você pode fazer isso, não é? Sei que você é um
cavalheiro.
Inferno que ela me acha um cavalheiro. Já disse para todo mundo ouvir
que sou esnobe, pretencioso e almofadinha. Olho para ela, e vejo seus olhos
dançando com divertimento.
— Definitivamente não vai — reitero minha decisão, hoje não estou no
clima para nossas implicâncias habituais. Na maioria das vezes eu até gosto
desse duelo sem o menor sentido, mas hoje, não. Eu simplesmente quero
distância dela. Mulher que vê romance em tudo? Eu quero correr milhas e
milhas em sentido contrário.
Hoje eu sinto que meu limite está por um fio. A sensação de sua mão
em minha bunda ainda me deixa duro.
— Não posso dormir aqui — ela diz, agora soando séria — Tenho que
estar muito cedo amanhã no trabalho. Não vou atacar você, Lucat.
Eu definitivamente não devia fazer isso, mas quando abro minha
maldita boca, me vejo dizendo:
— Tudo bem. Vamos!
CAPÍTULO 3
LUNNA
Fingir que estou bêbada poderia me colocar em apuros, mas,
naquele momento, quem disse que me importo?
— Sua cara feia não vai mudar o fato que vou com você — digo rindo,
quando ato o cinto de segurança no carro de Luc — Devia sorrir mais, caro
chofer. Ah, a propósito: sua bunda é muito sexy.
Digo só para provocar, mas tenho uma reação? Não! Ele permanece
duro no seu lugar e não dá uma demonstração que se importa com minhas
provocações.
Se um belo dia a empresa dele falir, ele vai ganhar dinheiro como
estátua humana, porém, posso dizer que elas ainda têm mais expressões que
Luc Gostoso Alonzo. E eu quero deixá-lo maluco, hoje. Está me pagando por
ofender as mulheres isentas de orgasmos. Não somos desesperadas, como ele
disse. Algumas de nós, mulheres, gostamos de estar com alguém, isso é
algum pecado?
— Você devia falar menos e beber menos também — ele resmunga,
quando dá partida no carro. Tenho vontade de acariciar sua coxa, só para ver
sua reação, mas como tenho medo de morrer jovem, retraio o ato. Mas dou
um sorriso, provocando um olhar frio dele.
— Você fica tão gostoso assim, mal-humorado — cantarolo —
Gostaria de saber se toma, a cada três horas, um copo de limonada com
tamarindo — pergunto, com falsa curiosidade.
Ele finge olhar pelo retrovisor, e sua mandíbula está pulando, isso quer
dizer que estou irritando-o. Isso é tão excitante. Ele acelera o carro nas ruas
desertas, como se tivesse pressa de se livrar de mim.
— Pressa para chegar? — cutuco sua coxa musculosa. Ele é um pecado
maldito, embrulhado para presente. E não via a hora de ter minha chance com
ele, apenas para provar um ponto.
— Lunna, quando vai agir como uma mulher adulta de trinta anos?
Parece até que tem seis — ele diz, e viro para olhá-lo de frente.
— Como é? Não tenho trinta anos! — digo, ultrajada.
— Não? Me desculpe — a voz dele sai cínica e debochada — Essas
rugas são o que, então?
— Seu joguinho não terá êxito, eunuco. E nunca diga esse tipo de coisa
para uma mulher — retruco —, pois pode ficar sem suas bolas. E desde
quando uma mulher de trinta, obrigatoriamente, tem de ter rugas? Nunca
ouviu falar de antirrugas, Múmia?
— Não estou preocupado com isso, velha senhora — ele ri, e eu fico
olhando para ele como uma boba. Ele nunca ri para mim, sempre estamos nos
alfinetando, e como já percebi, isso já não é mais implicância normal entre
pessoas diferentes, como nós dois somos. Ele é sem emoção, contido, e eu
cheia de emoção e não paro quieta no lugar. Quero encontrar meu príncipe
encantado e viver feliz para sempre, e ele quer coisa totalmente distinta,
segundo Adam e Nicolas.
Nós temos um mal disfarçado anseio, e qualquer hora dessas vai
explodir em nós. Ele liga o som do carro, e me pergunto se é para que eu não
puxe assunto. Mas isso só aguça minha vontade de conversar.
— Então, você tem problemas com sua mãe? — começo. Ele vira a
cabeça na minha direção, meio confuso com minha pergunta.
— E por que eu teria problemas com minha mãe, Lunna?
— Ora, não dizem que homens com problemas de relacionamento têm
problemas com suas mães? — sorrio.
— Acho que você bebeu demais, e para sua informação, tenho um
ótimo relacionamento com ambos os meus pais — ele aumenta o som, e sou
obrigada a ficar calada.
Pouco depois, ele para o carro na frente da minha casa e não faz
menção de descer do carro. Sério?
— Seria cavalheiro você abrir a porta para mim — digo, ainda sem
fazer nenhum movimento para sair.
— Lunna, não estou com paciência para isso hoje, apenas desça do
carro — Nossa! Grosso! Estúpido!
— Obrigado — ele diz, e percebo que não estive apenas xingando-o
mentalmente, mas em alto e bom som. Melhor ainda. Ele suspira, frustrado,
quando eu continuo lá sem me mexer para ir embora. — Você enlouquece
qualquer pessoa.
Ele desce e vem abrir a porta do carro para mim. — Senhora.
Estou rindo quando me agarro na frente de seu terno e olho para cima,
encontrando seus olhos.
— Você é tão gentil, Luc. Agora me leve até a porta — segurando seu
braço, tento arrastá-lo comigo, mas ele nem se mexe do lugar.
— Lunna, não. — Ele diz, sério — Eu não tenho tempo para essas
molequices com você. Chega. Essa porra acaba aqui, não vou tolerar esse tipo
de comportamento mais de você, seguiremos nossos caminhos sem esse tipo
de criancices. — Ele me encara e retira minha mão de seu braço. — Apenas
nos falaremos quando isso for estritamente necessário.
O que deu nele? Será que o ofendi, pegando em seus glúteos?
— Você entendeu? — Ele exige, quando eu apenas o olho. Nossa!
— Tudo bem, eu não ia estuprar você lá na minha casa, sabe — aponto.
— Só acho que deixar uma mulher bêbada na rua é, no mínimo, grosseiro.
— Jesus Cristo!
— Tudo bem, já vou, apenas se amanhã aparecer morta, diga às minhas
amigas que as amo — cambaleio na direção da entrada e o deixo lá. Moro no
primeiro andar do prédio, que a essa hora não tem alma viva acordada. Eu já
fiz esse caminho várias vezes antes, mas eu quero irritar Luc. Droga, ele está
certo, estamos sendo infantis com nossas trocas de farpas.
A brisa da madrugada me faz estremecer com o frio. Onde está meu
casaco? Acho que bebi demais, mesmo.
Brutus era mais gentil com Olivia Palito. Estúpido, sem um pingo de
cavalheirismo nas veias frias dele. Neandertal e...e...
Meu cérebro ferve com todos os tipos de xingamentos pela segunda vez
nesse pequeno intervalo de tempo que ele me trouxe, isso é para lembrar por
que não gostamos um do outro.
— Espera! — o escuto dizer, porém não paro. Aí que ando mais
apressada para alcançar o elevador. Estou praticamente correndo quando
entro e bato o dedo no botão para subir. Vejo-o vindo, e seus olhos estão
nublados. A porta está fechando quando ele entra, furioso. Eu bato minhas
costas na parede do fundo do elevador quando ele vem em minha direção.
— Você... – ele grunhe as palavras — Você fez um drama para que eu
te levasse até a porta...
— Não preciso de você, grosso! — Empino meu queixo, e nossos olhos
se encontram, e as coisas mudam entre nós. A próxima coisa que sinto são os
lábios dele nos meus.
Arrepios começam nas minhas costas e se alastram por meu corpo. A
boca de Luc não é gentil, ele beija como se me devorasse. Suas mãos
enormes agarram minhas coxas e me erguem do chão. Minhas pernas estão
em volta dele, minhas mãos em seus cabelos e...
As portas se abrem no meu andar e nós nos separamos. Engulo em seco
para depois lamber os lábios, e os olhos cinzas acompanham o movimento da
minha língua. Droga, estamos parados, ainda no elevador. Firmando-me nos
meus próprios pés, passo por ele e sigo para minha porta.
— Obrigada pela carona — digo, com a respiração entrecortada — Boa
noite.
Abro minha porta e o deixo no corredor, e pela cara dele, o deixo muito
frustrado. Encosto na porta e lembro a mim mesma por que não estamos
agora na cama, arrancando a roupa um do outro.
Isso seria terrível!
Nos dias seguintes não o vi, o que achei bom, pois a memória viva do
beijo, no elevador do meu prédio, só me faz ter vontade de finalizar o ato de
outra forma.
— Tem certeza que pode ficar com ela? — Julie cruza os braços e me
encara — Porque, se for demais, eu e Adam podemos enviar um pedido de
desculpas por nossa ausência.
— Está tudo bem— respondo, enquanto tento segurar uma inquieta
Isa nos braços.
— Nossa babá adoeceu e não pudemos chamar outra a tempo. E como
Adam acertou esse jantar de última hora, então...
— Está tudo bem, vamos nos divertir, não é, querida? — recebo um
sorriso de Isadora e beijo sua bochecha rosada.
Ela se distrai com meu colar, e caminho para a saída da casa de Julie,
onde Adam já espera pela esposa ao lado do carro.
— Tudo bem, qualquer coisa sabe onde me encontrar.
— Tchau, mamãe! — seguro a mão de Isadora quando acenamos para
seus pais. — Agora, querida, somos apenas eu e você! O que acha de
testarmos a maquiagem da mamãe em você? — digo, rindo para ela. Eu não
tenho a mínima experiência com crianças, mas adoro a Isadora, ela é tão fofa!
Passo a próxima hora no tapete do quarto dela, tentando alcançar suas
fugas para fora do quarto. Nossa, por que as crianças não têm botão de
desligar?
Porém, como um bom bebê, ela dorme por volta das nove, e eu fico na
casa sem saber o que fazer. Nem testamos a maquiagem.
Procuro uma garrafa de vinho na cozinha e me sirvo. Tomo o primeiro
gole, quando a campainha toca e corro antes que o som acorde o bebê.
Abro a porta e quase caio de surpresa quando vejo Luc. O que diabos
ele faz aqui?
Ele está com roupas casuais, jeans e camisa azul-marinho de manga
comprida, puxada até os cotovelos, deixando à mostra os antebraços fortes
com pelos dourados, sexy, à mostra.
Ele coloca as mãos nos bolsos da calça jeans e me dá um arremedo de
sorriso.
— Devo me preocupar por estar em todo lugar que vou?
— Acho que é o contrário, Matusalém, acho que você anda me
seguindo, deve ter gostado de nosso último encontro. — digo, me encostando
no limiar da porta — O que quer aqui?
— Sinto desapontar você, mas não foi com você que vim falar.
— Sabe que Adam não está, logo, é a mim que veio ver — sorrio,
maliciosa. Sei que não é isto que ele veio fazer aqui, porém, não vou perder
uma chance de alfinetá-lo.
— É verdade, vim vê-la. — Ele se aproxima, seu rosto bem perto do
meu. Ele baixa o tom de voz para um sussurro rouco — Penso, a cada minuto
do dia, como vou domá-la. Fazê-la gritar com cada toque meu.
Merda! Prendo a respiração, esperando que ele me beije bem aqui, mas
isso não acontece. Ele se endireita novamente, com um sorriso, seus olhos
cinzentos com um brilho de humor neles. Engulo em seco e percebo o que ele
está fazendo.
— Você acreditou, Lunna? — ele parece sinceramente divertido com a
ideia de que eu acreditei que ele passava o dia pensando em me devorar.
Idiota!
— Eu acreditaria se você tivesse sangue nas veias, Múmia — replico e
cruzo meus braços — Bem, o que quer?
— Falar com você é que não é, querida — ele tenta passar por mim,
mas impeço que ele entre — Sério?
— Adam e Julie não estão aqui, melhor ir embora.
— E o que você faz aqui, então?
— Estou de babá, não que isso seja de sua conta.
— Está de babá?
— Sua audição está afetada, senhor Alonzo?
— Quero me certificar de dizer a Adam, quando o vir, que a babá que
eles arranjaram bebe em serviço — ele agora consegue entrar, porque estou
paralisada com sua audácia.
— Eu não bebo em serviço — praticamente grito quando vou atrás
dele. Oh porque estou me justificando?
— Sinto o hálito de álcool daqui — ele para na sala de estar onde
deixei a taça de vinho — Isso é vinho, se não estiver enganado.
Como ele é odioso!
— Sim, mas isso não quer dizer que esteja bêbada.
— Se fosse a babá de um filho meu, despediria você imediatamente.
— Ainda bem que não tem filho, e para sua informação, nunca seria
babá de um filho seu!
Ele me olha sério e frio, sem replicar como de costume. Um músculo
pula em sua mandíbula.
— Ainda bem. — diz, por fim.
— Luc, adoraria passar a noite aqui trocando farpas com você, mas não
estou afim hoje — pego a taça de vinho, tomando um gole teatralmente.
— Onde está Isadora? — Pergunta, olhando ao redor.
— Dormindo — Será que Julie e Adam o mandaram aqui me vigiar?
Sério? Eles não confiam em mim com Isa? — Se não se importa, melhor ir.
— Talvez eu queira ficar aqui. Talvez seja preciso, pelo teor de álcool
em seu sangue.
Sorrio e caminho para ele.
— Talvez o motivo seja outro, Matusalém — paro à sua frente,
invadindo seu espaço pessoal — Você quer uma repetição da outra noite? É
isso? Só precisa pedir.
Ele me olha demoradamente, e toda a diversão some da minha mente
quando mergulho nos olhos intensos dele. Pareciam que iam me consumir
toda. A eletricidade estática entre nós é intensa e espessa. Contudo, ele
quebra isso e caminha para o sofá, onde se acomoda.
— Vou esperar Adam, tenho um assunto urgente a tratar com ele, e não
sabia que ele não estaria aqui — diz e me olha como se me desafiasse a
contestar.
Eu tenho a leve impressão de que ele mente. Para que serve os celulares
hoje em dia? Ele poderia muito bem ter ligado para Adam antes de vir.
— Como quiser — replico e sento no outro sofá, de frente para ele.
Beberico da minha taça e ficamos lá, calados, porém, nossos olhos presos um
no outro.
A faísca, que é tão peculiar quando sempre estamos no mesmo
ambiente, parece mais intensa e palpável.
Não sei por quanto tempo ficamos assim, mas em certo momento o
olhar dele desce por meu corpo, lentamente. Eu sinto como se ele estivesse
me tocando, cada centímetro de minha pele, que formiga em comichão
arrepiantes. Ele volta lentamente a fixar seus olhos nos meus. Suas pálpebras
parecem pesadas e preguiçosas, e a sala de repente está mais quente,
apertada. Fico desconfortável, e os arrepios se intensificam, com seu olhar
fixo em mim.
Bebo o resto do vinho da taça de uma vez e levanto.
— Você quer uma taça? — Pergunto, para desviar sua atenção de mim.
— Não quero vinho... — diz, e fico com vontade de perguntar o que ele
quer, contudo, minha irreverência pediu folga hoje e estou desconcertada.
— Como quiser — saio da sala, e tenho a leve impressão que ele dá
uma risadinha baixa. — Múmia! — resmungo.
Passa das dez quando, enfim, Adam e Julie retornam. Dou um suspiro
de alívio. Se eles demorassem mais, teriam encontrado eu e Luc agarrados no
sofá deles, porque estávamos simplesmente nos encarando por horas. Salvo
por alguma conversa sem sentido que trocamos. Sabemos que não é o lugar
nem a hora para o que queremos, porque é óbvio que está se construindo algo
entre nós dois. E é algo terrivelmente quente.
— Salvo pelo congo! — digo, quando escuto a porta abrir e os donos
da casa entrarem.
— Luc, não sabia que estava aqui. — Adam diz e nos olha com
expressão divertida, expressão essa que se reflete no rosto de Julie — Perdi
alguma coisa?
— Eu passei para falar com você e encontrei a senhorita Maia um
pouco indisposta — O quê? Não acredito que ele vai mesmo falar que estava
bebendo uma taça de vinho. Pelo tom, ele fala apenas porque sabe que vai me
irritar.
— Você está bem, Lunna? — Julie pergunta, preocupada — Devia ter
nos ligado.
— Estou bem. Eu já estou indo então, querida. — digo, sem muitas
delongas, quero sair de perto desse... desse... Argh!
— Lunna, fique mais um pouco, me faça companhia enquanto esses
dois conversam. — Julie agarra meu braço e praticamente me arrasta
escadaria acima. — Venha, preciso tirar esses sapatos.
— Julie, preciso ir — protesto.
— Quero saber o que está havendo entre você e Luc.
— O de sempre.
— Ainda acho que tem algo entre vocês.
— Sim, tem, minha vontade de socar aquele nariz perfeitinho. —
sorrio, porque o nariz dele é “perfeitinho”; é elegante, afilado e muito bonito.
Aristocrático.
Pergunto a ela sobre o jantar e tento desviar do assunto sobre Luc, e ela
não insiste. Pouco depois, dou uma desculpa sobre acordar cedo e me
despeço, não quero ter de cruzar com Luc.
CAPÍTULO 4
Lunna
Não acredito!
Definitivamente, ele está me seguindo. Hoje é noite de sábado, eu e os
outros fisioterapeutas da clínica estamos confraternizando em uma boate, e
faz uns dez minutos que o notei aqui. Ele está sozinho e não parece nada
satisfeito, sua testa tem uma ruga de preocupação, e parece irritado também.
Eu não me contenho e, imprudentemente, vou até ele.
— Não sabia que frequentava esses ambientes, Múmia — digo, quando
paro ao lado dele. O bar da boate é no centro, em um estilo redondo com os
banquinhos ao redor, e é onde ele está, com um copo entre os dedos. As cores
dentro da boate são multicoloridas e o deixa parecendo um deus nórdico,
requintado e misterioso. Ele está vestindo um terno cinza e destoa dos demais
frequentadores daqui.
Ele ri, sem graça, antes de voltar sua cabeça em minha direção.
— Lunna, hoje não!
— Ora, ora, de mal humor? Grande novidade.
— Hoje não! — ele rosna as palavras, seus olhos estão tempestuosos.
— Não vai gostar das consequências de me deixar mais irritado.
— O que vai fazer? Hum?
— Lembre-se, você está pedindo por isso — seu tom meu deixa quente
em todos os lugares.
Ele se levanta e segura meu braço, firme, porém eu sei que, se quisesse,
eu me soltaria. Ele me arrasta para fora da boate, agora com a mão em volta
da minha cintura.
— Vamos ver até onde vai essa sua ousadia — fala quando abre a porta
do carro dele e eu entro. Meu coração está batendo feito um louco e minha
respiração está um pouco entrecortada de ansiedade.
Ele não fala nada, mas sinto sua tensão irradiando em minha direção;
ele está realmente de mau humor. Vejo que ele me trouxe para casa e fico um
tanto decepcionada. Acho que ele mudou de ideia sobre o que iria fazer
comigo. Promessas!
Quando ele para o carro, eu me adianto e vou logo descendo.
— Obrigada por ter me trazido, apesar de que nem queria estar em casa
agora.
— Não tão depressa, temos algo para terminar. — ele desce e dá a volta
no carro — Venha, vamos ver o quando é corajosa.
— Você...
Ele me cala quando me beija. Não é gentil, e sim cru e com fome,
devora minha boca. O beijo termina rápido demais, contudo, ele segura
minha mão e me puxa para dentro do prédio.
É ridículo estar extremamente atraída por ele, um homem rude e nada
parecido comigo, mas meu corpo tem vontade própria, porque estou latejando
por toda parte. Aperto as coxas quando o desejo inflama com o pensamento
do que pode acontecer hoje, se ele não estiver apenas brincando comigo.
Abro a porta do meu apartamento e entro.
Sinto-o atrás de mim, e mal entramos, estou sendo devorada viva por
ele. O vestido curto que estou vestindo agora está amontoado na minha
cintura e o cume grosso do pau dele está fazendo sérios danos nos meus
neurônios.
Ele come minha boca com a dele. Agarro seus cabelos com força,
trazendo-o mais perto, se possível. Nenhum de nós diz nada, apenas sentimos
o calor do momento. Estou louca de tesão. Os músculos sólidos dos ombros
dele, por baixo do terno, flexionam, e eu quero suas roupas fora, mas temos
pressa. Minhas mãos vão para o cinto, que desafivelo em tempo recorde,
quero sentir tudo dele em mim. Assim que minha mão ganha acesso para
dentro da sua calça, ela avidamente entra na sua cueca para libertar seu pau,
que parece reagir ao meu toque. Afasto-me um pouco para olhar a sua
virilidade, que pulsa com desejo por mim, e fico boquiaberta com o que vejo.
Luc é um cara grande, eu sei disso, mas o homem é grande em todo
lugar. Jesus! Estou fodida. Ou vou ser pelo mostro do lago N...
— Seu queixo caiu no chão — ele sussurra em minha orelha, como se
isso fosse engraçado, mas só faz essa sensação de vazio aumentar na minha
pelve.
Volto meus olhos para os dele, mas não enxergo suas feições, já que
minha sala está com apenas a luz da rua entrando pelas cortinas abertas da
minha sala de estar. Mas as sombras do seu rosto só têm um intuito: me levar
à loucura. Seus olhos estão famintos, e não é por comida, posso ver; suas
pupilas estão dilatadas e cheias de algo pecaminoso dentro delas. Eu sou a
porra do prato principal dele hoje e sou a presa mais disposta para ser
devorada pelo gato Luc. Tigre, agora.
— Isso é fichinha, querido — digo, e deslizo minhas mãos fechadas em
punho para cima e para baixo em seu comprimento, duro e aveludado. Ele me
surpreende quando me vira para a parede, e eu gemo, empurrando minha
bunda em sua virilha para provocar seu membro duro.
— Você quer isso, não é, atrevida? — ele rosna em meu ouvido, seu
hálito quente me causando arrepios.
Oh, ele não alivia quando me enche com... Oh, Deus! O que é isso,
Senhor? Grito com luxúria, recebendo tudo que posso do homem mais odioso
do planeta
Nunca me senti tão preenchida na vida, e é tão bom. Sim, por favor...
— Vou tão profundo dentro de você que nunca esquecerá meu nome,
Lu — estremeço ante o tom sombrio de sua voz rouca. Essa promessa
grunhida, enquanto ele me penetra forte contra a porta da minha casa, me
deixa mais excitada do que já estou. Aliando isso aos movimentos firmes de
seus quadris, eu entro em parafuso e perco o controle.
Enquanto ele enfia seu pênis em mim de forma vigorosa, uma das suas
mãos se solta do meu quadril, onde segurava firme, e percorre o meu corpo
até chegar aos meus seios. Ele segura forte meu seio direito e intensifica suas
estocadas, me excitando ainda mais.
Quando o orgasmo está se aproximando, sua mão desliza mais uma vez
pelo meu corpo até chegar ao meu clitóris, e o movimento dos seus dedos
quando o encontram são iguais aos do seu pau me fodendo: enlouquecedores,
me levando ao ápice.
— Luc —gemo alto quando gozo, tão intenso que vejo estrelas
coloridas através dos meus olhos fechados.
Isso é mágico, surreal, esse calor e necessidades que ele está
despertando é muito mais do que imaginei que seria. Ele morde entre o meu
ombro e o pescoço quando enfia em mim profundamente, também
alcançando sua liberação dentro de mim. Eu amoleço como se estivesse
desossada, mas nem tenho tempo de pensar; ele sai de mim como se eu
tivesse lepra.
Quando me viro, ele já abotoou as calças. Jesus, nem usamos
preservativo! Esse é o primeiro pensando que vem à minha mente. Meu
Deus! Que loucura foi essa? O segundo pensamento é: ele já está indo
embora? Fecho meus olhos e me dou um soco mental, bem no meio da cara.
Droga, amanhã mesmo irei fazer exames. Homens não são confiáveis.
Porque, veja bem, ele acabou de transar comigo e já está indo...
— Percebeu que não usamos preservativo, Múmia?
Pergunto, porque ele não disse nada e já está pegando seu paletó no
chão. A única sugestão de que ele me escutou é o aperto que suas mãos dão
no terno em sua mão.
— Não se preocupe com alguma doença do mal, Lunna — ele diz e
segura a maçaneta, fazendo nossos corpos quase se tocarem, já que continuo
apoiada na porta. Minhas pernas estão bambas, o que posso fazer? — Espero
que daqui até a sua cama o bicho papão não pegue você.
— O quê?
— Você planejou isso, não é? Trazer-me aqui? Para isso acontecer? —
ele rosna as perguntas como se eu fosse uma criminosa. Ele aponta entre nós,
mostrando o quanto estamos desalinhados.
— Querido, por mais maravilhosa que eu seja, não tenho poderes
mentais de deixar os homens duros — sussurro — Foi seu tesão por mim que
fez isso, Lucat, sabia que você me queria muito.
— Essa merda não poderia ter acontecido, e é melhor eu ir embora.
Eu me afasto da porta.
— Está livre, senhor Alonzo, tenha uma boa noite — digo. Ele sai, e
quando estou prestes a fechar a porta, eu digo: — Devia praticar mais para
aperfeiçoar sua técnica, Múmia. Nota 6 para você.
Bato a porta em seu rosto sem esperar sua retaliação. Estou rindo
quando vou para meu quarto. Humm, ainda não preciso inaugurar meu novo
amigo que comprei. Ele vai permanecer na gaveta. Gato Luc vai voltar aqui,
dia menos dia.
— Idiota, odioso, imbecil, gostoso — resmungo, quando vou para o
banheiro me preparar para uma noite de sono tranquila.
LUC
Saio da casa de Lunna me estapeando mentalmente. Que merda foi essa
que fizemos? Ela é complicada demais para não pensar que poderíamos ter
um relacionamento. Deus! Luc Alonzo, você hoje bateu recorde em fazer
merda. Parece que não aprendo com meus erros.
Eu tenho apenas uma regra para jogos amorosos, e é não fazer sexo
com mulheres que estivessem em nosso ciclo de amizades ou que fossem
amigas próximas dos meus amigos. Ou seja, hoje foi o suprassumo da
idiotice. Ela vai achar que teremos alguma coisa igual aos nossos amigos.
Tenho certeza.
Quando entro na minha própria casa, meia hora mais tarde, estou me
sentindo eu de novo. Sempre funciona comigo, analisar as coisas e manter a
cabeça fria, para não gerar descontroles desnecessários. Tomo banho, me
jogo na cama e fico olhando para o teto.
Nota 6 para você.
Rio e coloco as mãos atrás da cabeça. Ela sabe como mexer comigo.
Essa história não merece tanta preocupação, afinal, podemos continuar
como sempre fomos, nem amigos nem inimigos; apenas nos tolerando para
que nossos amigos em comum não se sintam mal por não gostarmos um do
outro. O sorriso travesso que ela sempre tem para mim é contagiante, eu me
via sempre compelido a retribuir como um idiota toda vez que ela sorria e
piscava, maliciosa. Transar com ela pode não ter sido uma boa ideia. Posso
ter meu pau arrancado por suas amigas quando ela contar para elas que fiz
sexo e saí como se nada tivesse acontecido. Droga.
“Troca de parceiro muito rápido, deve ser por isso a solteirice, além de ser
uma provocadora. ”
Não respondo, mas deito com um sorriso. Ele que fique curioso.
O dia na clínica passa rapidamente, pois tive um dia exaustivo com
meu atleta com humor "urso pata quebrada", além de outro cliente na parte da
tarde. Não tive tempo para nada, nem pensar em Luc ou quem quer que seja.
Saio às seis da tarde e vou direto para casa da mamãe.
O jantar uma vez por mês é suficiente por uma vida, e a conversa é a
mesma.
— Quando irei conhecer um namorado seu? — sim, começa bem
assim, e minha resposta é a mesma.
— Quando tiver um, mãe — rindo, enfio uma colherada de sopa na
boca, talvez assim não fale o que não devo. Algo como, “cadê o papai que
você não segurou em casa e ele, por isso, formou outra família?
— O tempo está passando, filha, não seja tão exigente — ela continua.
— Não sou, mamãe, agora, cadê minha sobremesa? — respondo, rindo.
Meu encontro com Leo acontece no sábado, e em uma tentativa de tirar
Alonzo da cabeça, tento dar mais uma chance real ao sujeito. Quando saímos
do show onde fomos, vamos direto para minha casa.
— Quer tomar uma bebida antes de ir? — ofereço. Se eu não estivesse
com outro cara na cabeça, hoje seria o dia que tiraria o atraso, contudo, ainda
posso tentar, afinal Luc e eu não temos nada, pois tudo é apenas “fogo de
palha” entre nós.
— Obrigado, Lunna, aceito, sim — diz, quando caminhamos para
dentro.
Sirvo-nos uma bebida e sentamos no sofá. Escondo um sorriso quando
Leonardo fica sem saber onde colocar as mãos. Deus, ele é terrível!
— Pode me beijar, se quiser — facilito.
— Eu... Claro — sorrio quando o vejo colocar o copo na mesa em
frente, com parcimônia. — Não é que eu não queira muito beijá-la, mas é que
você deixou claro que não espera que possamos seguir depois de alguns
encontros...
Inclino-me e o beijo, cortando seu discurso exacerbado. Não é lá essas
coisas, pensei que só o primeiro beijo que era sem sal, mas esse também
segue a mesma linha...
O toque da campainha nos interrompe, fazendo-me tirar minha boca da
dele. Quem pode ser a uma hora dessas?
— Acho que tenho visita — digo o óbvio e levanto rapidamente para a
porta. Abro sem nem verificar quem está lá fora, e fico surpresa quando vejo
quem é.
Luc está parado na minha frente, e eu juro que estou tendo um ataque
do coração ou os porcos começaram a voar e o trouxe à minha porta outra
vez. Eu devoro cada parte dele, vestido em uma camiseta preta colada aos
músculos magros do seu tórax, os braços de pelos dourados expostos. Ele tem
uma barba por fazer deixando seu rosto ligeiramente áspero, e eu quero sentir
isso na minha mão. Ele me olha faminto também, e vejo claramente sua
fisionomia mudar quando ele percebe que não estou sozinha. Caramba!
— Luc! — digo, porque estou surpresa de vê-lo, e acrescento baixo,
distraindo-o de Leo que veio atrás de mim: — O que faz aqui?
— Acho não foi em uma boa hora — ele não tira os olhos das minhas
costas — Não sabia que estaria com visita.
— Ah... Em que posso ajudá-lo? — ele está claramente chateado. A
mandíbula dura dele diz que meu grande homem de gelo está a um passo de
entrar em erupção. Homens adoram demarcar território, mesmo quando nem
têm o direito de fazê-lo. Viro de lado para que possa ver Leo parado, logo
atrás — Esse é Leonardo, um amigo.
Eles apenas se cumprimentam com um aceno de cabeça, e claramente
estão medindo um ao outro.
— Bem, de qualquer forma... Melhor eu voltar outra hora — Luc se
vira para ir, todavia para, fazendo minha respiração falhar. Ele vira outra vez
para nós — Para falar a verdade, Lu, eu preciso falar com você. A sós.
Precisa? Desde quando? Ele é tão presunçoso e confiante, achando que
vou dispersar Leo.
— Não acho que seja... — começo, mas ele me corta.
— É muito importante. — garante, e olha outra vez para Leo — Você
não se importa, não é, amigo?
— Bom, eu já estava de saída — O quê? Viro para Leo quando ele vem
em direção à saída e para ao meu lado — Te vejo amanhã.
Amanhã? Talvez não, amigo!
Ele passa por Luc, que tem a sombra de um sorriso nos lábios. Deve
estar pensando que tipo de homem é esse, que nem luta um segundo para
impor sua presença. Estou me perguntando a mesma coisa. Leo acabou de
assinar a sentença “jamais tirará a calcinha da Lu.”
Quando ficamos a sós, a Múmia está com um sorriso de esfinge para
mim.
— Luc, você acabou de estragar a minha noite — não o convido para
entrar.
— Você poderia tê-lo impedido de ir, não é? Talvez estivesse querendo
que ele fosse embora de vez. — diz, como se tivesse conhecimento de causa.
— O que quer aqui, Luc? — ignoro sua alfinetada.
— Não é óbvio?
— Não, não é.
— Precisamos acabar com essa... — ele faz sinal, apontando entre mim
e ele — coisa entre nós, Lunna.
— Não há nada, Luc — dou as costas para ele e caminho para a sala.
Escuto o som da porta se fechando atrás dele e depois sinto sua mão
segurando meu braço. Ele me gira de frente para ele e bato em seu peito.
— Você me provocou além da razão, Lunna — ele segura meus
cabelos na nuca, fazendo minha cabeça inclinar e eu poder olhá-lo nos olhos.
— Um homem tem o seu limite. — O escuro e sensual tom de voz que ele
usa bate direto entre minhas pernas, e eu tenho que apertar os dentes com
força para não cair na tentação de novo. Isso é louco, porque eu também o
quero, porém tudo pode se complicar. Eu sei que vivo o provocando mais
como uma brincadeira por ele ser tão metido a besta, pois sou uma romântica
e ele um homem que não vive com ninguém – não que eu saiba – e jamais
esperei esse desejo intenso entre nós.
— Luc, melhor não — nem termino de falar e ele já está pressionando
sua boca na minha duramente, fazendo a luxúria me dominar quando mais
preciso me manter sã.
— Você não consegue admitir que me quer, Lunna? Mas quer, sabe
disso! — ele fala, com a boca junto da minha, nossos fôlegos se misturando,
e não resisto por muito tempo; eu o beijo, faminta. Que se dane, é o que
realmente quero! Quero e vou pegar o que puder desse homem.
Chupo seus lábios com vontade, nossas línguas tomam conta da boca
um do outro, e nós dois gememos juntos com a onda de tesão. Isso é tão bom!
— Me fode, Luc, mas faz isso rápido! — peço, ofegante. Não
conseguimos ir muito longe, caímos no tapete, rasgando nossas roupas fora
dos nossos corpos. Nos beijamos sofregamente, meus lábios doem com a
força que nossas bocas pressionam uma na outra, nossas línguas se
enroscando, e eu poderia muito bem gozar apenas por esse beijo quente e
cheio de tesão, pecado e ânsia. Parece que nosso tempo de provocação está
explodindo agora em nós.
Gemo em protesto quando ele arranca sua boca da minha, e tento puxá-
lo de volta, segurando-o pelos cabelos. Mas Luc apenas lambe meus lábios de
forma provocativa e desce sua boca pelo meu queixo, pescoço, fazendo um
caminho de beijos e pequenas mordidas vorazes até chegar aos meus seios.
Primeiro ele brinca com a língua em meu mamilo túrgido, de forma
provocadora, fazendo-me ansiar pela sua boca quente. Depois ele o suga.
Com força e intensidade, na mesma medida de paixão que o fez se
descontrolar e vir à minha casa, extravasar esse desejo intenso que há entre
nós.
Meu corpo arqueia enquanto ele chupa meu mamilo com fome,
querendo mais do seu toque. Sua boca libera o bico com um estalo, como se
relutasse em largá-lo, e se dirige ao outro seio para se fartar com ele, assim
como fez com o primeiro.
Meu corpo arde, preciso senti-lo dentro de mim outra vez, me
preenchendo, me fazendo completa, me dando todo o prazer que ele pode
arrancar do meu corpo.
— Me fode, quero você dentro de mim. — suplico, ofegante.
Cego de tesão, ele alinha nossos quadris e me penetra de forma intensa,
selvagem, fazendo-me gritar de prazer. A primeira vez foi bom, mas agora? É
delicioso sentir o corpo dele em cima de mim. Luc avança duro em minha
vagina, que se contrai em volta do seu pau duro, e meu aperto no seu membro
está deixando-o louco, percebo isso pelos seus gemidos ofegantes. Ele puxa e
entra novamente com voracidade, e não aguento. Fortes contrações e
sucessivas convulsões orgásticas ganham força dentro de mim. Arquejo
buscando ar, e sei que não posso lutar contra o prazer selvagem que ele
desencadeia dentro de mim. Quero prolongar essa noite. Ele está aqui,
profundamente enraizado, tocando profundamente dentro do meu corpo,
porém a busca para a satisfação de nossos corpos é urgente. Dois fortes
empurrões, e Luc rosna rouco, empalado completamente em mim... e
gozamos. Forte, muito forte. O jato quente me faz sentir esquisita. Quente,
pegajosa. Querendo mais, mais...
Ele não para. De repente, estou de quatro no tapete, recebendo outra
vez ele de volta, mais duro que nunca. Suas mãos seguram firmes meus
quadris e seu corpo impulsiona tão forte contra o meu que minha sala é
preenchida com o som dos nossos gemidos ofegantes e de nossos corpos de
chocando. Uma onda de energia e calor forte e potente me golpeiam, como se
houvesse recebido um choque elétrico, sacudindo nossos corpos como uma
explosão, deixando-nos sem ar, como se meu prazer irradiasse para o dele ou
vice-versa.
— Deus Luc, isso é... — digo, gemendo sem me reconhecer, sem
controle. Levanto meu corpo e cruzo minhas mãos em seu pescoço, minhas
unhas cravadas em sua nuca. Os braços dele me abraçam forte enquanto
nossos corpos dançam juntos, perfeitos, em sincronias frenéticas. Minhas
entranhas apertam mais uma vez, estrangulando o pau de Luc, e somos
levados para uma nova dimensão de prazer. Viro minha cabeça e nos
beijamos. Empurrando com força, ele começa a bombear, acelerando os
movimentos. Nessa posição é tão apertado, tão delicioso senti-lo, tão bom...
Se não fosse pela força com a qual me sustenta, as suas fortes investidas
desenfreadas poderiam me afastar para longe do seu corpo, mas parece que
nada pode nos desconectar. As mãos dele estão fazendo um trabalho extra em
meus mamilos, torcendo-os e apertando-os, e o prazer misturado com a dor
me deixa mais louca... e gozo descontroladamente.
— Lunna! — ele diz o meu nome quando goza, derramando seu prazer
mais uma vez dentro de mim.
Pouco depois, caímos em uma massa de braços e pernas suadas no
tapete da minha sala. Nunca mais sentarei aqui sem lembrar que meu mundo
se desintegrou em trilhões de fragmentos com a múmia em pessoa. Rindo,
viro para olhá-lo. Eu sinto nossos corações batendo, tão vivos. Deus, ele é
gostoso demais!
— Nada mau. — digo, provocando.
— Essa sua boca devia ser melhor aproveitada, Lunna!
— Sim?
— Me dê dois segundos e verá! Você é... deliciosa demais para resistir.
Retirando seu peso de cima de mim, ele se sustenta nos braços
musculosos, fazendo chover beijos por meu rosto, descendo por meu
pescoço, meus seios que estão pedindo por sua boca avidamente.
— Posso fazer isso durar muito, Lunna. — fala, antes de fechar os
lábios em meu mamilo, sugando ávido, enquanto torce forte o outro. Ele está
malvado hoje. Bastardo!
— Por Deus!
LUC
Eu tenho de lembrar dos meus motivos de manter-me longe de qualquer
coisa que pudesse dar motivos para que tudo que fiz até agora não tenha sido
em vão. Lunna não estava facilitando as coisas com essas provocações. E
agora estou tendo dificuldade de sair de seu apartamento. Mas vim hoje para
encerrar as coisas em definitivo com ela. E agora, nós dois devemos seguir
como antes, sem transas aleatórias.
— Vai embora? — Ela pergunta, incrédula — Sei que não tem nada
entre a gente, mas você está correndo depois de fazer sexo comigo, mais uma
vez?
— Precisamos conversar, e não estou indo embora — minto, porque eu
estou indo mesmo, mas ainda bem que ela não tem medo de falar o que
pensa. E tem razão, não devo sair como um fugitivo. — Por que não senta
aqui, perto de mim? — digo, sentando no sofá, e a espero vir sentar junto a
mim.
Nós tínhamos tomado um banho no chuveiro dela, onde batizamos o
lugar, e agora estávamos na sala outra vez, onde estive me vestindo.
— Estou bem aqui — diz de onde está, em pé atrás do sofá — Diga o
que tem de falar, Luc.
— Minha vinda aqui hoje foi para que isso tivesse um fim, Lunna —
olho seus olhos, firme — Nossas provocações terminam hoje.
— Não está sendo um pouco radical com isso? Não é grande coisa, Luc
— ela dá meia-volta, sai de trás do sofá e senta ao meu lado agora — Por
que essa bobagem toda?
— Não posso permitir distrações, e você tem sido uma das grandes —
não me sinto bem falando disso com ela — Nosso joguinho pode tomar um
rumo que nós dois não queremos. Eu não quero complicações de nenhum
tipo.
— Você é paranoico? De onde tirou que quero complicações com
você? — ela agora está parecendo ofendida. Merda!
— Você vai querer que isso mude, Lunna, está em seu DNA, é mulher,
vai querer estar na minha vida apenas porque estamos fazendo sexo. —
Levanto, incomodado. Odeio esse tipo de conversa, porém sei que é
necessário. — Acabou, nada de sexo mais, ok?
— Pelo menos devia dizer a razão de tanta besteira!
— Melhor deixar as coisas nesse nível — pego as chaves do carro e
paro em frente a ela, fazendo-a levantar. Seguro seu queixo delicado,
trazendo seu rosto para cima — Se tudo fosse diferente, eu não abriria mão
de ter você. De me sentir mais uma vez perdido em seu calor, Lunna, mas eu
não posso.
Ela permanece com seu rosto neutro, fico surpreso por ela não ser
dessas mulheres que implora e chora quando percebe que o cara está indo
sem o pensamento de voltar. Isso não me deixa lá muito satisfeito. Deus, eu a
espero pedir que eu não vá?
Melhor eu ir.
— Tudo bem. — Lunna diz — Sem sexo, sem remorso, sem neura. Ok!
— Certeza? — Pergunto, desconfiado. Ela balança a cabeça,
confirmando. Lunna sempre me deixa com a sensação que sou o maior
babaca do planeta. Devo ser mesmo, mas um babaca que não pode falhar
outra vez. Estou muito perto de finalmente ter uma pessoa importante em
minha vida, por que estragar isso por um capricho do meu pau?
— Acompanho você até a porta, Luc — a voz sai animada, mas noto a
nota falsa em sua animação.
— Te vejo por aí — digo, antes de baixar e plantar um beijo em seus
lábios macios.
CAPÍTULO 6
LUNNA
Com minha respiração acelerada, encosto na porta depois da
saída de Luc, desapontada comigo mesma por me sentir decepcionada. Esse é
exatamente o modo de agir dos homens. Transam e depois vêm com a
conversa que tudo foi errado. Alguns aliens venham aqui na terra, informar a
esses babacas que essa moda está ultrapassada? E avisar às mulheres como
eu, que permitem isso, que elas são piores que eles?
Mas sabe o que mais? Que Luc se dane! Serei uma condenada se
permitir esse joguinho com ele. Eu não espero nada dele, mas é a velha
desculpa que me irrita. Eu só queria transar e pronto, mas não, ele tinha que
vir e estragar com aquele papo, depois correr. Típico!
Minhas mãos estão tremendo e meus joelhos praticamente batem um no
outro. Por mais que não queira admitir, ele me causa um frenesi excitante que
me aquece de dentro para fora. É duro sentir esse tipo de coisa por um
cafajeste, sabendo que serei uma na sua listinha secreta.
Promessa que seguirei à risca de hoje em diante. Luc está morto e
enterrado. Fim.
Prometer é mais fácil do que cumprir, porque nos próximos dias eu me
mantenho longe dos encontros com os outros que envolva encontro com Luc.
Saio com as meninas quando sei que não vai haver a possibilidade de
encontro com ele. Passo a semana pensando que os homens não gostam de
receber o mesmo tratamento que as mulheres, e os de egos grandes bajulados
são os piores. Então, senhor Alonzo, se prepare para o pior.
Mas diante de tudo isso, meu encontro com Leonardo, depois da noite
de sexo com Luc, foi meio constrangedor. Só que não me apego a essas
besteiras, ele já está no passado por nem tentar ser um pouco mais homem e
tentar impedir Luc de invadir minha casa.
— Lunna! — ele cumprimenta quando chegamos os dois ao mesmo
tempo, na cantina da clínica. Ele olha para todos os lugares, menos nos meus
olhos. Ouch!
— Leonardo — digo de volta, dou um aceno, e já estou indo embora
quando ele fala.
— Podemos conversar? —Sério? Sim, ele tem razão, não gosto de
coisa mal-acabada com homem nenhum. Por isso essa coisa com Luc me
deixa inquieta, estamos muito mal resolvidos.
— Sim, claro. — digo, caminhando para pegar meu lanche. Almoço
hoje será impossível, tenho um paciente daqui a meia hora, e a única coisa
que dará tempo de comer vai ser um sanduíche, então daria tempo de dar um
basta com Leo. Brincar com dois homens não estava nas minhas coisas
favoritas a fazer. — Espere-me na mesa.
Quando me sento à sua frente, ele começa a falar como se tivesse
pressa em esclarecer.
— Espero não ter atrapalhado alguma coisa, no sábado à noite — O
quê? Esse homem existe? Eu que devia pedir desculpas por termos sido
interrompidos, mas não, ele é doce demais para minha diabetes. Sei que
muitas mulheres ficariam felizes com um cara assim, porém, euzinha
morreria de tédio. Talvez alguém me pergunte por que estou prestes a mandar
ele para a lista negra se eu vivo à caça do homem perfeito. Digo, em minha
defesa, que comeria esse cara no café da manhã.
Dou meu sorriso educado.
— Tudo bem, Leo, na verdade queria dizer que nós não daríamos certo
— disparo tranquilamente. — E que sua saída naquela noite me disse muito,
então podemos ser apenas colegas de trabalho, ok? Nem temos química para
namorar.
Ele parece espantado por eu admitir isso, mas digo mesmo.
— Se notou, nosso beijo não foi lá essas coisas — me curvo para frente
e baixo a voz — Desculpe falar assim, mas é a verdade.
— Você realmente sabe como baixar o ego de um cara — ele não
parece assim tão arrasado — Mas está certa, não temos essa química que
todos falam.
— Estão estamos acertados — estico minha mão por cima da mesa —
Amigos?
— Amigos — ele devolve, apertando minha mão — Mas ainda me
sinto curioso com você. É tão vivaz.
— Querido, isso é parte do meu charme avassalador, você vai superar
— digo, rindo — Leva tempo, mas supera.
— Você é terrível — diz, balançando a cabeça como se não acreditasse
nessa conversa maluca.
— Certeza? — Julie pergunta de onde está sentada, na frente da minha
mesa — Marquei com Gabrielle hoje à noite, precisamos colocar um pouco
de juízo naquela cabecinha louca.
Sim, Julie esteve me contando que Nicolas quer que Gabrielle tenha um
filho com ele, mas isso não seria tão estranho, se não fosse o absurdo de ela
ser apenas mãe de aluguel do bebê. Deus, eu odeio esse pomposo do Nicolas,
homem mau! Por isso que Julie veio me ver hoje, para irmos pôr alguma
coisa substancial naquela cabeça de vento. Ela é apaixonada pelo amigo da
múmia. Esqueça essa múmia, Lu!
— Certeza, sim — respondo à pergunta anterior — Tenho uma sessão
de fisio daqui a pouco, esse paciente está na intensiva e não posso deixá-lo
com outra pessoa.
— Tudo bem. Vou deixar você trabalhar, então— ela diz, levantando, e
levanto junto e caminho para abrir a porta para ela.
— Dê um beijo na Isa por mim — refiro-me à minha afilhada Isadora, a
linda e fofa filha de dois anos dela com Adam.
— Claro. Vejo você depois, querida. — diz, quando sai — Cuide-se e
não trabalhe demais.
Quando saio da clínica, são quase oito da noite e vou direto para a
academia, para uma aula de zumba. Saio de lá revigorada, mas ainda me sinto
inquieta. Termino a noite na minha banheira cheia de espuma e com uma taça
de vinho. Isso é para relaxar, mas me vejo tensa quando deito mais tarde.
Meus pensamentos têm destino certo. E tento mudar o rumo dele com a
reprise da minha série favorita no momento da Netflix: The Fall está no
penúltimo episódio da primeira temporada. Jamie é melhor que o antipático
Luc para sonhar.
Mas para minha surpresa eterna, recebo uma visita logo cedo na manhã
seguinte. Estou indo tombando de sono para a cozinha, pois fui dormir tarde
depois de finalizar a primeira temporada de The Fall, e agora estou
caminhando igual a um zumbi, quando o som estridente da campainha me faz
pular.
Olho pelo olho mágico e vejo um desconhecido com uma roupa de uma
empresa de floricultura. Abro a porta.
— Senhora Lunna Maia? — O rapaz fala, e quando aceno a cabeça,
porque estou operando em nível baixíssimo, ele continua: — Bom dia.
Entrega para a senhora.
Senhora é a sua mãe, meu rapaz. Penso.
— Humm...
— Assine aqui — ele me estende uma prancheta, e eu assino um meio
rabisco do meu nome e ele me entrega uma caixa comprida branca com um
laço azul lindo.
— Tenha um bom dia, senhora! — ele dá um aceno, já indo embora.
— Hummm...
Fecho a porta e olho para a caixa, curiosa, mas primeiro preciso
acordar. Cinco minutos depois, estou esperando minha pequena cafeteira
trabalhar no meu elixir e meus olhos correm para a caixa em cima do balcão
onde a coloquei. Ok, eu ia esperar tomar meu café, mas não sou forte o
suficiente. Puxo o laço e abro o volume para me deparar apenas com um
único botão de rosa azul. Fico olhando para ele um tempo enorme, porque o
apito da cafeteira avisando que o café está pronto me tira do transe. Quem
diabos mandou isso?
Vejo um cartão dentro da caixa e abro, curiosa. Será que deixei algum
ex apaixonado? Ou é um admirador secreto?
Descubro rapidamente que nem uma coisa, nem outra. Diz apenas:
“Pela outra noite. ”
O quê? Por que diabos ela me mandou isso? Ela está brava porque
enviei uma rosa? Quem entende as mulheres?
— O que faço com elas? — Marta, que ainda está parada com as
benditas rosas nos braços, pergunta.
— Faça o que quiser, não quero esse cheiro aqui — guardo o cartão e
sorrio. Mas é impertinente! Obviamente ficou brava com a quantidade de flor
enviada. Ela mandou um recado claro com essa quantidade de flores. Lunna,
Lunna, o que vou fazer com você?
Eu sei que não devo mexer mais com ela, porém Lunna mexe comigo
mais do que eu quero admitir. Nossas trocas de farpas sempre me deixam
excitado. Contudo, sei que não devo continuar, ela não vai aceitar um
envolvimento secreto comigo. Melhor deixá-la com raiva e, sendo assim,
longe de mim. Será melhor para nós dois. A tentação de tê-la me provocando
pode ser demais para me manter frio e no controle. Ela me exaspera de uma
boa maneira.
Amanhã tenho de viajar para o Rio, e isso que interessa agora. Quem
sabe um dia, quando tudo na minha vida for como eu desejo e ela ainda
estiver solteira, nós então poderíamos continuar com isso? Ela me instiga e é
gostosa, ainda por cima. Mas somos o completo oposto um do outro, e isso
nunca acaba bem.
Hoje é um dos dias mais difíceis para mim. Cada vez que venho aqui
eu saio como se o mundo tivesse caído sobre mim. Mas eu luto para o dia que
sairei daqui com um sorriso feliz e levando meu bem mais precioso comigo.
Saí de São Paulo para o Rio logo cedo, querendo passar o resto do dia
todo aqui com ela. O táxi para em frente a um prédio na Tijuca, onde tenho
um apartamento, e desço. Na verdade, o comprei para que ela morasse aqui,
mas ela jura que é de sua avó. Não tem noção que pago todo o gasto de sua
pequena vida. Amélia alimenta esse pensamento, com o único intuito de
nunca perder a boa vida que leva. Vou em direção ao elevador, e o guarda
que está aqui todas as vezes me cumprimenta pelo nome.
— Seu Luc — diz, levantando o boné azul da cor de seu uniforme. —
Faz um tempo que não o vejo por aqui.
Na verdade, eu venho apenas uma vez no mês, é o que eu era permito a
fazer, se quebrasse essa regra eu não a veria mais. Meu advogado parece uma
ave de rapina em cima de mim, para manter minha vida tão exemplar quanto
eu puder, para que Amélia não tenha motivos para denegrir ainda mais minha
imagem diante da juíza que era responsável pelo caso. Tive a infelicidade de
ter logo uma juíza cuidando do caso, e junto com a advogada maldita dela,
conseguiam distorcer qualquer deslize. Eu já perdi duas vezes, e essa terceira
vez tem de dar certo, estive me mantendo longe de qualquer coisa que
pudesse arruinar tudo. Eu tenho uma teoria sobre como ela tem informações
sobre minha vida. Tenho convicção que parte do dinheiro que envio a cada
mês é gasto com um detetive, para manter um olho em cada passo meu. A
obsessão de Amélia por minha vida amorosa beira à insanidade, porque ela já
jurou a mim que nunca serei feliz nessa parte da minha vida.
— Estive há exatamente um mês, João — respondo o comentário do
guarda. O elevador fecha as portas e sobe para o décimo andar.
Toco a campainha e espero. Não demora muito, e a própria Amélia
abre a porta. Ela é uma mulher elegante com seus cinquenta e tantos anos, e
meu dinheiro deve estar fazendo muito bem para ela, pois sempre a encontro
muito bem vestida cada vez que venho aqui.
— Ora, se não é meu genro. — a voz dela tem o poder de invocar toda
minha vontade de xingar. Me irrita sobremaneira essa mulher.
— Como vai, Amélia? — pergunto, educado, o que é para mim umas
das coisas mais difíceis de fazer, ser educado com ela.
— Estarei melhor no dia que não tiver que recebê-lo em minha casa —
é a resposta dela antes de virar sem nem me convidar para entrar, mas isso é
normal, cada dia que venho aqui esse tipo de conversa e atitude se repetem.
E isso ainda não é o pior. Sim, o pior ainda está por vir.
Selene consegue ser pior que sua avó em me ofender.
Eu suspiro e entro no apartamento. Dia longo, Luc. Carpe Diem.
CAPÍTULO 7
LUC
Quando entro na sala, não encontro Selene me esperando. Isso é
normal por aqui, tanto ela, quanto Amélia, fazem questão de deixar claro que
sou indesejado. Minha filha tem nove anos e me odeia, mas sei que esse ódio
foi embutido em sua cabecinha por Amélia, desde que ela começou a andar e
a falar. Conheci a mãe de Selene, Nádia, quando ainda era muito jovem e não
fiz o que alguns homens fazem quando descobrem que vão ter um filho: eles
casam. Não, eu tinha um futuro planejado por mim, e casamento não fazia
parte desse futuro, não em um tão próximo.
Eu não sou avesso a isso, claro que não, mas era algo que, naquela
época, eu não queria. E quando Nádia disse que estava grávida, eu
simplesmente deixei claro que faria tudo, menos casar. Eu propus apenas
cuidar dela e do bebê, mas ela na casa dela e eu na minha. E isso foi o início
do porquê eu estar aqui hoje, sofrendo as consequências das minhas atitudes.
Não contei para meus pais, eu queria resolver meus problemas sozinho.
Nádia e eu ficamos juntos até ela estar com seis meses de gravidez, e depois
Amélia veio morar com ela. Foi quando tudo desabou. Ela exigia que eu
casasse com sua filha, e Nádia, que já estava antes aceitando minha decisão,
começou a ser levada pela ideia da mãe e exigiu casamento. Eu, teimoso, não
cedi. Selene nasceu e mal vi minha filha. Tanto Nádia e Amélia fizeram
questão disso. Elas foram morar no Rio sem meu conhecimento, e quando
Selene tinha um mês de nascida, Nádia se suicidou. Segundo o médico dela,
o motivo foi a depressão pós-parto. No entanto, Amélia fez questão de deixar
isso fora das acusações que fez quando pedi a guarda de Selene.
A advogada dela me pintou diante da juíza como um espancador de
mulheres, que Nádia se suicidou porque eu, além de a agredir física e
psicologicamente, eu não assumi minha filha porque não a queria. E como
uma boa avó, Amélia ficou com a guarda de Selene. Apesar dos meus
esforços de tentar desmentir toda história, até hoje não pude ter minha filha
de volta. Amélia faz questão de manter Selene me odiando. Acusando sempre
que ela não tem mãe por minha culpa, que matei Nádia.
— Soube que entrou de novo com outro recurso na justiça, Luc. Pois
fique ciente que vai perder outra vez. Que juiz, em sã consciência, daria a
guarda a um homem violento, que levou a namorada ao suicídio?
— Chega, Amélia, estou farto de você! Vim ver minha filha e não
escutar a podridão que sai cada vez que abre a boca — digo e olho ao redor
da sala. — Onde está Selene?
— Saiu com alguns amiguinhos — ela informa, como se isso não fosse
nada. — Não sabia que viria.
Desde quando Selene tem amiguinhos? Até onde sei, ela não faz
amigos com facilidade.
— Sabia, sim, e fez questão de atrapalhar meu dia com ela. — sento no
sofá e cruzo a perna no estilo mais relaxado que consigo. — Pois então vou
esperar. E desde quando a deixa sair sozinha?
— Selene que pediu para sair, porque não queria vê-lo. Ela não saiu só,
tem um adulto com elas — ela esclarece. Pode até ser verdade, mas eu ainda
duvido disso — Quando vai perceber que ela não quer contato com você?
— No dia que você não estiver a envenenando, nesse dia tenho certeza
que Selene vai entender que a única pessoa que a ama de verdade sou eu e
você a usa para me ferir — faço sinal para o apartamento — Que a usa para
garantir sua boa vida, Amélia. No fim, você conseguiu se manter com meu
dinheiro, mesmo eu não casando com Nádia, não é?
— Não diga o nome da minha filha. Você a matou, e Selene tem de
saber disso! — ela brada, com tanto ódio que é como se não quisesse deixar
dúvidas do quanto ela não me suporta. Bem, eu também não gosto dela, então
estamos quites.
Não retruco, não tenho energia para isso hoje, só preciso ver Selene e ir
embora. Vendo quanto as suas palavras não tinham efeito sobre mim, ela sai
da sala.
— Se eu fosse você não esperaria muito — diz quando vai.
Estou há quase meia hora sentado lá, quando ouço vozes baixas em
algum lugar dentro do apartamento. Levanto e vou verificar, e minha raiva é
tão grande que meu primeiro instinto é de jogar Amélia por umas das janelas
do apartamento.
Sentadas à mesa da cozinha estão Amélia e Selene. Maldita mulher
mentirosa! Ela sabe que nunca invado o quarto de Selene, e por isso mentiu,
dizendo que ela estava fora, sabendo que não iria verificar. Bem, de agora em
diante não vou ser tão tolerante com as vontades de Selene.
— Vejo que nunca perde a oportunidade de me fazer de idiota, Amélia
— entro e puxo uma cadeira de frente para minha filha. Ela não me olha,
como sempre. Seus cabelos loiros, lisos, estão cobrindo parte de seu rosto.
Ela se parece tanto com Nádia.
— Oi, princesa — cumprimento. Meu coração aperta quando ela abaixa
ainda mais a cabeça. Como uma criança tão linda pode nutrir sentimentos tão
feios dentro de si? Como odeio Amélia por isso. — Como você está?
— Quero que vá embora. Não quero falar com você — a voz dela sai
abafada.
— Quero levar você comigo e passar o dia longe daqui, pode ser? —
insisto — Pode ser legal.
— Não quero fazer nada junto com você! — ela grita e sai correndo
para fora da cozinha. — Odeio você!
Fecho meus olhos e ouço o riso de Amélia.
— Se eu fosse você iria embora, Luc. Não é bem-vindo aqui.
— Eu vou acabar com você, Amélia, eu juro. — rosno as palavras —
Não vou ter misericórdia, pode acreditar. Vou deixar você na miséria, sem ter
onde dormir à noite. Porque você não terá Selene para a vida toda.
— Você nunca conseguirá a guarda dela, não enquanto eu estiver viva!
— ela late cruelmente.
— Não me dê ideias — digo e me arrependo imediatamente. Que
merda estou fazendo? Dando combustível para ela me acusar de ameaça de
homicídio?
Levanto e vou atrás de Selene, essas birras dela são de costume, e não
vou me dar por vencido.
O dia se prova pior do que eu imaginei. Apesar dos protestos e birras de
Selene, consigo tirá-la do apartamento e a levo para um passeio no qual ela
não me dirige a palavra
No fim da tarde, quando sentamos para lanchar, ela ainda não deu uma
palavra comigo.
— Você está bem na escola? — puxo assunto pela milionésima vez.
Diante do seu silêncio, insisto:
— Selene, você é grande o suficiente para entender que tudo que sua
avó fala não é verdade, então, filha...
— Não sou sua filha, e quero ir embora — ela me olha pela primeira
vez hoje, nos olhos — Odeio você.
— Mas eu amo você, Selene, e não sabe quanto me fere por ouvir você
falar assim — digo — Mas sei que não é culpa sua.
Ela me ignora o resto de nosso dia juntos, e quando a deixo em casa
nem recebo um olhar ou um adeus, quando ela vai direto para seu quarto.
Conquistar essa garota vai ser o desafio da minha vida. Primeiro eu
tenho de tirá-la de perto da fonte de veneno que ela vive. Como vou
convencer um juiz a me dar a guarda, quando não consigo o afeto da minha
própria filha?
LUNNA
"Posso ver você?"
Apenas isso, sem nome, sem nada. Lucat não tem limites.
A mensagem chega uma semana depois de eu ter gasto uma fortuna
com as rosas para ele. Estou à mesa com minhas amigas, em mais uma
discussão boba sobre a arrogância de Nicolas e a ainda não gravidez de Gaby,
quando meu celular apita uma mensagem dele.
Ainda estou rindo feito uma boba enquanto tomo um banho e deito.
Pego meu telefone e escrevo uma mensagem, mas não envio. Deixo-o no
vácuo um pouco. Mas estávamos no jogo de vontades aqui.
Três dias depois, estou na clínica quando recebo outra caixa, agora com
três botões de rosas azuis e mais uma vez um cartão sem assinatura.
"Jante comigo, tenho um assunto para falar com você"
Dessa vez eu pego meu celular e ligo para ele, curiosa. Ele atende
imediatamente.
— Pensei que só ligaria quando enviasse duas dúzias de flores — diz
assim que atende, seu tom é levemente descontraído.
— Minha curiosidade feminina levou a melhor — respondo.
— Jante comigo. Eu preciso falar com você, Lunna — ele diz,
deixando minha curiosidade mais aguçada. — Pego você às sete, esteja
pronta.
A ligação cai e fico olhando o aparelho, boquiaberta
Ele desligou?
Deus, o homem é grosso demais para mim, tenho vontade de ligar de
novo e dizer umas poucas e boas para ele.
— Ah, esse eunuco precisa de treino. — resmungo para mim mesma.
Às sete horas ele chega, e eu, como não sou uma boa menina, ainda
preciso terminar de me arrumar. De propósito, claro, gosto de viver
perigosamente. Apenas de lingerie e salto stiletto, abro a porta para ele. Vejo
quando seus olhos cinzentos se abrem, surpresos, e eu inocentemente digo:
— Oh, entre, entre, ainda não terminei de me arrumar, sabe como são
as mulheres. — dou as costas para ele e caminho para o quarto em um
rebolado sensual — Fique à vontade! Volto já.
— Lunna — o resmungo dele me faz rir. Estou em problemas?
— O quê? — Paro e o encaro.
Ele vem devagar em minha direção — Queria uma desculpa para ver
você, mas essa recepção é... — ele pausa, olhando ao longo do meu corpo
com cobiça — incentivadora. Ainda assim, quero propor algo para você. Mas
podemos falar disso no jantar.
— E desde quando precisa de um jantar para isso, Luc? — ele para a
apenas um passo de mim, posso sentir seu perfume suave e limpo daqui.
Mordo os lábios, excitada com sua proximidade.
— Acho que você vai precisar de ajuda com o zíper — sua voz máscula
sugestiva causa sérios danos aos meus pobres neurônios. Ele pega uma
mecha fina do meu cabelo, que está todo ondulado em um estilo sexy, que
gosto. — Está vestida assim para me tentar, sua pecadora?
— Jamais — digo, ofegante, antes que a boca dele caia sobre a minha.
Sou tomada por uma descarga de adrenalina e pura tensão sexual, e não
demoramos muito para estar tirando nossas roupas, ou melhor, a dele, porque
estou praticamente nua.
— E nosso jantar? — digo, teimosa, mas não tenho fome de comida,
não mesmo.
— Temos a noite toda para comer — ele me enlaça pela cintura, me
puxando forte de encontro a seu peito largo. E languidamente me agarro em
seu pescoço, voltando a beijá-lo.
— Sério? Não vamos a um restaurante? — Pensei que iríamos a algum
restaurante, mas, para minha surpresa, estamos parando em frente a uma casa
que imagino ser a dele. — Fez com que me arrumasse toda e não vamos sair?
Ele ri baixo.
— Outra mulher adoraria a ideia de jantar na minha casa — ele diz,
desligando o carro.
— Jura? Pois não sou as outras mulheres, e se me arrumei preciso
mostrar isso ao mundo. Devia ter avisado. — empino meu queixo, fazendo-o
rir mais — E tire esse sorriso idiota do rosto, Múmia.
— Realmente não é como as outras, é pior; uma dor no traseiro — ele
sai do carro e vem abrir a porta para mim, mas já estou descendo — Mas eu
preciso de privacidade para falar com você.
Eu desconfio que não é isso, talvez ele tenha vergonha de sair comigo.
— Lembre-se que essa é sua última chance comigo. Não repito muito
caso de uma noite — invento e vejo o humor em seus olhos mudar para algo
primitivo, feroz. Ele prende meu corpo na lateral do carro e seu peso fica todo
sobre mim.
— Cuidado com essa língua impertinente — rosna, segurando meu
cabelo.
— Adoro quando vem todo no modo macho alfa sobre mim — agarro
as lapelas do terno preto dele e o puxo mais perto do que ele já está — Me
deixa tão quente!
Ele corta as palavras roubando meu fôlego com um beijo, e me inclino
exigindo mais, meus braços ao redor de seu pescoço forte, minhas pernas
indo para sua cintura. A lembrança de mais cedo surge forte em minha
cabeça. A forma que fizemos sexo foi mágica, espetacular, só em pensar sinto
uma dor gostosa se alastrando por minhas entranhas, e aperto minhas pernas
em torno dele com força. Seu pau de encontro ao meu centro úmido só torna
isso melhor. Gemo contra sua boca como se tivesse dor, e é como jogar
combustível em palha seca e tocar fogo. Nosso beijo é voraz, úmido, cheio de
tesão, como se fizesse anos que nos beijamos, e não há pouco menos de uma
hora. Quando penso que ele me possuirá ali mesmo, Luc se afasta, ofegante:
— Deus, Lunna, você é uma ninfomaníaca — ele morde com força o
lóbulo de minha orelha antes de levá-lo à sua boca quente. Arrepio de puro
prazer me atravessa. Fecho meus olhos quando olhos cinzas nebulosos
surgem em minha cabeça enquanto ele mete forte dentro de mim, e quero
fazer tudo de novo, aqui e agora.
Certamente ele tem outros planos, porque segura minha bunda em suas
mãos e se afasta do carro, e caminha comigo nos braços em direção à casa.
— Sinto, mas terei de satisfazer sua fome mais tarde — sussurra, cheio
de promessas em minha orelha — Marta está esperando com nosso jantar.
— Temos a noite toda para comer, Múmia — repito suas palavras de
mais cedo.
— Não temos mais, esqueceu que gastamos parte dela na sua casa,
querida? — ele me coloca no chão quando chegamos à porta. A casa dele é
linda. A estrutura de cores claras e amplas janelas de vidro permitem
contemplar a vista externa. Duas escadas de mármore luxuosas com um
corrimão dourado levam para o segundo andar, e estou embevecida com a
arquitetura, quando uma senhora aparece com um sorriso largo.
— Seu Luc, demorou, tive de esquentar o jantar de vocês — ela vem ao
nosso encontro e estende a mão para mim. — Sou Marta, bem-vinda, querida.
— Obrigada.
— Lunna, essa senhora que não espera apresentações é minha
governanta. Marta, esta é Lunna, minha convidada — Luc dá um sorriso
sincero para Marta e vejo que ele não é tão mau assim, ele parece gostar
bastante de Marta. — Tenho certeza de que o jantar vai estar perfeito.
— Prazer, Marta!
— Venham, vou servi-los.
Ela é simpática, e quando Luc me puxa pela mão dou uma olhada pela
casa, gosto muito desse estilo moderno. Ele deve ser muito bem-sucedido
para possuir uma dessa.
Sentamos em uma sala de jantar, que tem uma decoração seguindo a
mesma linha de luxo da casa, equilibrada e requintada, com lustres pendendo
do teto e quadros nas paredes. A mesa está posta com sofisticação, e me
pergunto se ele mandou preparar isso especialmente para nós. Deve estar
querendo me impressionar, mas dou conta da bobagem dos meus
pensamentos. Para que ele quer me impressionar, já fomos para a cama
mesmo.
Depois de Marta nos servir ela nos deixa a sós. Bebo um gole do vinho
que Luc serviu e olho para ele com curiosidade.
— Então, vai me contar por que me trouxe aqui em vez de me levar a
um restaurante? — insisto. — Quer esconder das pessoas que temos algo,
senhor Alonzo?
Ele tem a decência de ficar vermelho. Então é verdade o que desconfio?
Estou ficando nervosa, e isso não é recomendável para o homem sentado à
minha frente, amanhã ele pode ter as bolas em um saquinho indo para o lixo.
— Lunna...
— Só responda, por favor. — exijo, toda séria.
— Como já deve ter notado, temos uma atração forte um pelo outro.
Quero levar isso adiante, mas já disse antes que não poderia ter no momento
nenhum tipo de envolvimento e, portanto, trouxe você aqui hoje para que
possamos ter uma conversa aberta sobre isso — ele diz, e eu não sei se estou
gostando desta "conversa". Ele continua: — Você já deve ter observado que
não apareço em público com mulheres, isso tem um tempo, já.
— E pode me dizer por quê?
— Teria que te matar — ele graceja, mas eu não rio de sua tentativa de
piada. Porque isso só mostra que ele não quer me dizer a verdadeira razão.
— E o que queria me propor? — pergunto, mas minha mente já
imagina os cenários que esta conversa está seguindo.
— Nós temos de explorar nossa atração, mas em particular, sem expor
isso para o mundo, entende? — o quê? Eu até contei algumas coisas para
Gabrielle e Julie sobre nós, e ele agora vem com isso? Manter um caso em
segredo? Nos dias de hoje? Em que mundo esse eunuco vive?
— E por que diabos acha que irei aceitar isso, Luc? — Levanto da
mesa, deixando claro que estou indo daqui — Acha que sou uma garotinha
que precisa esconder do mundo que ando transando com um homem?
— Lunna, escuta — ele começa, e eu o interrompo.
— Escute você, Luc! Ou me dá uma forte razão para essa atitude
infantil ou não temos mais nenhuma conversa. O que é tão terrível assim, que
temos de manter isso em segredo?
— Não me pressione demais, Lunna — ele também levanta — Eu não
posso ainda dar esse passo com você, envolvê-la nisso.
— Me leve para casa, Luc — céus, quando acho que dei um passo para
frente com ele, dou dois para trás — E quando você resolver confiar em mim,
talvez a gente possa conversar.
— Me dê um tempo — ele pede — Direi a você quando estiver pronto.
Olhamos um para o outro, e pela primeira vez eu cedo à vontade de um
homem, e, com isso, estou arriscando me perder nesse relacionamento com
Luc. Eu sinto que, se não tomar cuidado, posso me apaixonar por ele, e isso
não vai ser nada bonito de se ver.
— Duas semanas, no máximo — sou taxativa quanto a isso, e prossigo,
séria, olhando-o nos olhos: — Não terá outra chance, a não ser com a
verdade, Luc. Eu posso ser muito maluca, mas se eu sei de uma coisa, é me
valorizar como mulher. Sempre vou ser a favor de mim mesma. Lembre-se
disso.
Ele assente, mas percebo claramente que ele está lutando para aceitar
minha condição. Acho que ele está mesmo querendo me "pegar", esse safado.
Sinto-me toda alegrinha com este pensamento.
— E lembre-se, seu pau não é de diamante — sorrio, na tentativa de
quebrar o clima tenso — Apesar de, quando está rígido e pronto para o
combate, é tão duro quanto.
Ele balança a cabeça como se não acreditasse que fui do modo séria a
cheia de piada em nanos segundos.
— Você é impossível, Lunna! Mas eu não poderia pedir mais a você.
Duas semanas, então.
— Agora podemos comer, senhor Alonzo? — estou morta de fome
aqui, e essa conversa chata me deixou mais faminta.
O resto do jantar volta ao clima ameno, porém, no fim da noite, nós
estamos rolando na cama espaçosa do quarto principal.
LUC
Está se findando o prazo que Lunna deu para que possa contar para ela
o porquê de não querer expor nossa “vida amorosa". E ainda não tive certeza
se vale a pena trazer meus problemas para essa coisa entre nós. Nos damos
bem quando não queremos matar um ao outro.
Estou distraído, enquanto Nick e Adam falam sobre o novo negócio de
Nicolas com Jason Lewis. Minha cabeça está longe daqui. Tenho de ir
amanhã visitar Selene, e isso me desgasta.
— Luc? — a voz de Adam me faz olhar para ele, do outro lado da mesa
do clube, onde acabamos de cavalgar e sentamos aqui como de costume, para
um drink.
— O quê? — digo, distraído.
— Qual o problema com vocês dois? — ele aponta para Nicolas, depois
para mim.
— Do que está falando? — pergunto.
— O problema de Nicolas já sabemos, é Gabrielle, e você? Que diabos
tem? — ele continua.
— Nada, estou caçando um arquiteto para uma reforma e não encontrei
um ainda — digo de improviso, apesar de ser verdade.
— Tenho uma arquiteta louca para trabalhar, bem debaixo do meu teto.
— Nicolas diz, rindo — Devia contratá-la. Anda muito inquieta, precisando
tirar o foco da gravidez.
— Preciso de um experiente — esclareço.
— Ela dará conta, ela foi a melhor de sua turma. Já viu o projeto final
de Gabrielle? — Ele defende, todo eriçado.
— Ok, papai coruja, mande ela falar comigo. — me rendo rindo,
porque, pelo jeito, estou correndo sérios riscos de perder uma amizade de
anos.
— Ah, assim é melhor — Adam está dando risada, olhando para
Nicolas. — Você está se apaixonando pela Gabrielle, cara, admita — ele bate
com força no ombro de Nick.
— Cala essa boca! — Nick retruca carrancudo.
— Vai viajar? — A pergunta vem da minha cama, na manhã seguinte.
A cabeça loira surge através dos lençóis, e eu volto minha atenção para ela.
— Vai aonde?
— Rio — digo, apenas.
— Tem negócios lá? Oh, que pergunta a minha, o trio fodão tem
negócios em todos os lugares — Lunna puxa os lençóis para cima, e fico
vendo apenas seus olhos e cabelos — Posso dormir mais? São apenas cinco
da manhã.
— Fique à vontade. — vou até ela e beijo-a em despedida — Volto
amanhã.
— Tchau.
Saio em seguida. Meu prazo com ela está acabando, estivemos fodendo
essas semanas e nunca permiti que outra viesse aqui, mas quem disse que
Lunna tem limites? A mulher consegue sempre o que quer de mim. Quando
voltar amanhã, direi tudo sobre Selene para ela.
LUNNA
Eu vago na casa de Luc, depois que Marta me mima com um café da
manhã digno de uma rainha, e já era para eu ter saído, mas estou curiosa para
conhecer o resto da casa. Não tive tempo para exploração antes, às vezes que
vim aqui foi para me manter ocupada com outro tipo de exploração. O último
lugar que entro é uma sala, que imagino ser o escritório de Luc. Ele tem uma
parede repleta de livros, títulos clássicos, e me pergunto se Luc tem um lado
geek. Ele tem também um aparelho de som, e mexo nele até colocar uma
música. Sintonizo em uma rádio local, que está tocando Meghan Trainor, All
About That Bass. Amo essa música. Satisfeita, levanto para olhar ao redor.
Não devia estar mexendo nas coisas do Luc. Isso é feio, mas eu quero
descobrir mais dele, já que ele é uma barreira impenetrável.
Tem um ditado popular que diz que "a curiosidade matou o gato." Até
hoje eu não acredito nisso.
Rebolando e cantarolando baixinho a música, ando até a mesa e
bisbilhoto seus papéis, abrindo uma gaveta aqui e ali. Sua agenda está na
mesa, e eu abro, curiosa para saber o que ele faz quando não está me
imprensando em alguma parede.
Vou para a data de hoje e corro os olhos até bater em uma frase:
Rio, visitar Selene.
Engulo em seco. Quem é Selene?
CAPÍTULO 9
LUNNA
Fecho a agenda de Luc e vou até o aparelho de som, desligando-
o, em seguida caminho para fora da sala. Não sei o que pensar sobre isso. Ele
me disse que não tem uma mulher em sua vida. Mas quem é Selene? Os pais
dele vivem aqui, em São Paulo, pelo pouco que sei sobre eles. Eu realmente
não procurava saber de sua vida. Porém, agora desejo mesmo saber mais.
Pergunto-me o que essa múmia tem escondido em sua tumba, porque sei que
tem coisa aí.
Eu sou uma pessoa curiosa e sei que não vou ficar quieta sobre isso, e
quando ele voltar irei perguntar quem é essa. Se for uma mulher, ela estará
fora da vida dele em breve.
Selene, minha querida, você acaba de encontrar sua opositora nível
estelar.
Caminho pela casa e sigo sons de movimentação. Deve ser Marta. A
encontro nessa cozinha dos deuses, de tão linda. Se eu fosse outra mulher já
estaria me vendo aqui, dona do lugar, mas eu tenho juízo; não parece, mas
tenho. Acredite se quiser!
— Lunna, quer alguma coisa? — pergunta a governanta assim que me
vê chegar. Ela limpa as mãos em um pano e me dá um sorriso cordial. Ainda
bem que ela não é uma megera enjoada.
— Sim, quero saber quem é Selene! — Oh, não, minha boca é terrível.
— Quem?
— Selene — repito — Acho que é do Rio. — fico na expectativa
enquanto ela pensa um pouco.
— Nunca ouvi falar dessa pessoa — Ela faz um aceno — Venha, sente
aqui e me conte por que está me fazendo este tipo de pergunta. Vou servir
algo para você enquanto conversamos.
— Oh, não, não! Estou bem, na verdade, estou indo — pelo visto ela
não sabe quem é essa mulher. Talvez seja uma empresária lá do Rio e ele tem
negócios com ela. Não irei me abalar com isso. — Obrigada, Marta.
Quando volto para casa, o nome não sai da minha cabeça. Tento
esquecer, mas isso insiste, martelando em minha mente. Vou para a clínica
apenas na parte da tarde, onde fico trabalhando até as seis. Tenho de jantar
com mamãe hoje e não tenho muito ânimo para isso. Eu a amo, mas ela
consegue fazer o nosso jantar semanal muitas vezes insuportável. Minha mãe
é muito jovem ainda, ela tem apenas quarenta e cinco anos, quando me teve
tinha apenas vinte anos, mas você não diria que ela tem só essa idade.
A amargura dela por causa do meu pai é maior que ela. Ele saiu de casa
para morar com outra mulher, eu tinha menos de dez anos, e nunca, durante
esses anos, ela conseguiu largar essa ilusão que ele um dia voltará para ela.
Mas o que me deixa intrigada é: por que mamãe ainda acredita em
relacionamentos? Ela só fala que estarei bem quando encontrar um homem e
casar com ele. Se eu tivesse passado por uma situação que ela passou, sendo
abandonada por outra, eu nunca mais acreditaria no amor romântico. Mas ela
insiste em esperar pelo meu pai.
Quando paro o carro em frente à casa dela, respiro fundo e desço.
Vamos lá, Lu, você consegue, mais uma noite.
— Oi, mamãe — Digo, quando entro com minha chave da casa, mas
incomumente ela não grita de volta — Cheguei!
Tudo silencioso. Olho primeiramente na cozinha, que é o lugar onde ela
passa grande parte do tempo. Nada. Por que ela não ligou para mim? Vejo
um bloco de notas na mesa e pego para ler.
"Precisei sair, filha, sinto pelo nosso jantar".
Ela saiu? E não ligou para avisar? O que diabos está acontecendo,
mamãe?
Olho ao redor e vejo que ela começou a fazer o jantar, pois tem uma
tigela de legumes picados em cima do balcão. É como se ela tivesse saído às
pressas.
Isso é tão fora do comum. Estou imersa em um mar de preocupação e
não sei se vou embora ou a espero voltar.
Seria um milagre ela começar a sair com alguém, esquecer o passado
com meu pai. Eu não o vi mais desde o dia que ele foi embora e nem tenho
vontade de ver. Se eu não fui importante quando era uma criança, por que
seria importante para ele agora?
Deixando esses pensamentos de lado, resolvo voltar para casa, porém,
antes de sair, rabisco um recado para mamãe, pedindo que me ligue quando
chegar.
Não tive notícia de Luc durante o dia, mas isso é comum, nós só
mandávamos mensagens ou nos telefonávamos quando queríamos algo um
do outro, coisa que vem acontecendo muito desde aquele jantar. Enrosco-me
no sofá com a televisão ligada em qualquer coisa e entro no bate-papo com
Gabrielle e Julie.
São nove da noite, quando quebro o hábito e ligo para Luc.
— Alô — ele diz, distraído, quando atende.
— Hei, Múmia! O que está fazendo?
— Lunna, não posso falar agora. Quando voltar nos falamos. — sua
voz é impaciente, e ele desliga em seguida, sem esperar resposta de minha
parte.
Grosso! Estúpido!
Bem feito para mim, não devia quebrar as regras e ligar apenas para
conversar. Não temos esse tipo de relacionamento, e percebo que estou indo
no mau caminho para o amor não correspondido. Levanto do sofá, desligo a
TV e ligo o som alto, mas não alto para que o vizinho dispare um tiro na
minha porta.
E começo a dançar. Nada abalará minha alegria de viver, nem aquela
esfinge saída do sarcófago. Para melhorar, peço uma pizza. Se tivesse afim de
me arrumar iria sair e dançar a noite inteira fora. Só porque eu posso.
Estou no meio de um passo sensual de quizomba, quando recebo uma
ligação de mamãe. Ah, a Cinderela voltou para casa.
— Mãe, aonde você foi? — vou direto ao ponto.
— Deixe sua mãe ter um pouco de vida social, Lunna — ela responde,
e eu caio de bunda no sofá. Alguém abduziu minha mãe? Essa criatura
falando do outro lado deve ser uma impostora. — Saí com algumas amigas,
nunca saio, você sabe.
Amigas? Desde quando? Ela está mentindo para mim.
— Ah, que bom, mãe! — finjo um tom alegre, pois ela prefere mentir
que falar a verdade para sua única filha. Ela vive em casa e não tem amigas.
Se ela tiver seria apenas a Luiza, que mora ao lado. — Saiu com a Luiza?
— Filha, desculpe pelo jantar, acabei esquecendo de avisar mais cedo
— ela não me responde e ainda por cima diz que esqueceu? Quando na
verdade deixou o jantar iniciado na cozinha? Deixo quieto, afinal, se for
importante ela me dirá, não?
— Tudo bem, fica para outro dia — amenizo e conversamos por alguns
instantes antes de desligarmos.
— Ele está viajando. — diz Adam, quando Julie pergunta por Luc.
Sim, dois dias e ele não voltou e nem ligou, e eu tampouco repeti minha gafe
da outra noite. Estou com saudade dele, quer dizer, do sexo com ele. Ontem,
andando de volta do trabalho, fui fazer algumas compras de necessidades
básicas no shopping e entrei em uma perfumaria. Acabei na ala masculina e
borrifei Bleu de Channel no meu pulso apenas para sentir o cheiro dele.
Doente isso, eu sei... mas amo o cheiro gostoso dele.
— Negócios? — pergunto a Adam, despreocupadamente, tentando não
demonstrar interesse, mas não tenho sucesso porque Julie ri, maliciosa.
— Acredito que sim — ele responde.
— Você não sabe? — desconfiada, tento escavar.
— Nunca discutimos nenhum negócio dele lá — ele franze a testa e
seus olhos verde jade se fixam em mim — Pode ser pessoal. Mas por que a
curiosidade, Lunna? Vocês não são arqui-inimigos?
Dou um sorriso doce para ele.
— Estou apenas com vontade de xingar alguém, e ele é sempre meu
favorito.
— Ela mente tão mal — a abelhuda Julie se intromete. — Ouvi dizer
que tem outro tipo de xingamento por trás de todo esse ódio.
— Sabe de nada. — Pego Isadora, que anda em passos trôpegos à
minha frente, e sufoco a fofa com beijos, tirando o foco dessa conversa chata.
— Sua mãe é uma abelhuda, sabia disso, amor? — sussurro para Isa, que abre
um lindo sorriso banguela para mim.
LUC
O cenário repetitivo de sempre no Rio sofre uma mudança. Ao chegar
ao prédio, o segurança que sempre está lá vem ao meu encontro.
— Senhor — ele cumprimenta — A dona Amélia não está em casa.
Ah, Amélia e sua capacidade de me irritar assim que chego.
— Obrigado, João, vou esperar — digo. Não querendo ficar lá, dou
meia-volta acenando para ele, mas suas palavras me fazem parar, em choque.
— A dona Amélia foi para o hospital.
Hospital?
— O que houve? — pego meu celular e ligo para Amélia, sem esperar a
resposta do porteiro. Ela não atende. Insisto, e o aparelho toca e toca.
— Pelo que ouvi de dona Amélia, a menina Selene foi atropelada na
frente da escola.
O quê?
— Sabe dizer para qual hospital ela foi? Isso foi a que horas? — Rosno
para ele. O coitado não deve saber de nada. Eu agradeço e entro em um táxi.
Na escola, sim, saberão me informar o que fizeram com minha filha. Dou o
endereço ao motorista e digo:
— Faça esse carro chegar em cinco minutos e ganhe seu dia de trabalho
e um extra — ele me olha pelo retrovisor, já colocando o carro em
movimento. E cinco minutos depois, estou em frente à escola de Selene.
Tudo bem que não é tão longe, mas ele foi rápido. Mandei o motorista me
esperar, já indo para dentro do edifício.
A diretora da escola me recebe e diz para qual hospital ela foi levada.
Depois explicou por que uma criança foi permitida a sair e ser atropelada na
rua.
— Não foi tão grave, mas Selene tem tido um comportamento estranho,
além do normal. Ela já é muito quieta para uma criança de sua idade, mas
ultimamente tem se comportado mais quieta.
— Isso não explica por que ela foi atropelada hoje, quando era para a
escola ter responsabilidade sobre a integridade física da minha filha! —
esbravejo.
— Ela hoje estava tentando fugir da escola, por isso saiu correndo para
a rua quando devia entrar — ela explica — O senhor devia procurar saber,
senhor Alonzo, do motivo de Selene querer fugir.
— Sim, fugir de sua escola, por que a senhora não me diz? — sei que
minha preocupação está me fazendo ser injusto, porque o problema de Selene
é conhecido: a convivência com Amélia.
A caminho do hospital, eu ligo para meu advogado, porque estou
prestes a fazer a maior burrada da minha vida. Vou levar Selene daqui, nem
que seja à força.
Exponho para Andreas Durval, e ele fica furioso com minha decisão.
— Não faça nada ilegal, Luc, não estrague sua chance de ter sua filha!
— ele está berrando do outro lado.
— Talvez esteja na hora de ter um novo advogado, Andreas, porque
deixar em suas mãos não está tendo resultado. — Retruco e desligo. E vou
fazer exatamente isso, contratar o melhor advogado de família que tiver.
Ligo para minha secretária e dou uma missão para ela: encontrar o
melhor advogado que ela conseguir encontrar para eu contratar.
Eu perdi a pouca paciência que tenho, esperando agir dentro dessa lei
que não favorece um pai.
Assim que chego ao hospital, sou levado por uma enfermeira para o
quarto de Selene, e procuro por ela. Encontro-a dormindo, com curativos na
testa e no braço. Ela sofreu apenas escoriações pelo corpo, mas ficará aqui até
amanhã, segundo a enfermeira que me atendeu. Preciso falar com o médico,
mas, antes, precisava vê-la.
Amélia, que está sentada no sofá em um canto, solta a revista que está
lendo e me olha com raiva.
Eu a ignoro e vou até Selene. Ela parece frágil e pequena nessa cama.
Sua respiração suave é rítmica. Seguro seus dedos minúsculos e meu coração
aperta. Eu poderia tê-la perdido hoje sem nunca ter tido a chance de ser pai.
De ter o amor dela. Mas isso vai mudar em breve.
CAPÍTULO 10
LUC
Fico sentando ao lado da cama de Selene por um bom tempo.
Minha mandíbula dói de tanto que aperto. Amélia, como sempre, soltando
seu veneno ao meu lado. Viro-me para ela, grunhindo cada palavra, porque
tenho vontade de gritar tão alto que seria expulso do hospital.
— Tudo culpa sua, ela o odeia tanto que preferiu fugir a ter que ver
você — Ela está dizendo, e dessa vez eu não consigo me controlar e ignorar
seu veneno.
— Por que não cala a boca um instante, Amélia? Vou levar Selene
comigo quando ela tiver alta; e não há nada que me impeça quando eu disser
a um juiz o quanto negligente você é com sua neta. O quanto você está
tratando ela como fantoche. Isso está afetando Selene. Você pode ter a
custódia dela agora, mas isso não vai durar. — digo, em fúria mal contida —
Cale essa boca antes que a jogue daqui e acuse você de maus tratos. E terá de
explicar por que sua neta estava fugindo da escola, afinal, não é comigo que
ela vive.
— Você não se atreveria — ela rosna de volta, mas vejo que não está
tão segura — Acabo com você, Luc, e exponho tudo isso para quem quiser
saber o quanto o grande Luc Alonzo, com pais conservadores, tem uma filha
secreta, além de ser o culpado da morte de sua mãe.
— Essa história está ficando velha — Aponto a porta para ela — Saia
antes que peça para alguém vir retirar você daqui, ou mantenha sua boca bem
fechada.
Ela me fuzila com um olhar fulminante antes de voltar a sentar no sofá,
no canto da sala. Melhor assim, ou eu ia ser preso hoje. Não sei por que ainda
suporto essa mulher. Talvez no fundo ela tenha razão, se tivesse casado com
Nádia ela poderia estar viva, porém, como a maioria dos homens jovens, eu
não tive maturidade para assumir minhas responsabilidades.
Olho para meu celular. Não tenho nenhuma notícia da minha secretária
sobre um novo advogado. Envio uma mensagem, e pouco depois ela diz que
está enviando uma advogada para me encontrar no Rio de Janeiro. Espero
que ela seja melhor que meu então advogado.
Passo o dia todo no hospital com Selene, que está um pouco grogue
pela medicação, e quando ela acorda por um momento, pela primeira vez
desde que ela era um bebê, ela sorri para mim, fazendo meu coração falhar
uma batida. Receber um mero sorriso dela tornou-se algo muito raro ou
inexistente. Porém, em seguida, volta a ficar séria e desvia os olhos de mim.
Não fala e nem tento forçar uma conversa com ela também.
A advogada, Elizabeth Duarte, chega no fim da tarde e saio para falar
com ela na cantina do hospital, não quero me afastar tanto de Selene. Ela é
uma mulher em torno dos trinta e cincos anos, vestida elegantemente, sua
pele escura brilha, lustrosa e bem cuidada. Ela passa confiança com seus
modos decididos. Sentamos e faço um resumo da minha situação com Selene.
De nunca ter conseguido a guarda por ser acusado de ser um homem violento
e o responsável pelo suicídio de minha ex-namorada. E ter a infelicidade de
ter uma mulher como Amélia como avó da minha filha, que tem algum
distúrbio psicótico em me atormentar desde que Nádia faleceu. E como ela,
com a advogada dela, consegue sempre encontrar um jeito de a juíza, que lida
com o caso, não ir com a minha cara.
— Senhor Alonzo — ela começa — o senhor pode muito bem pedir a
guarda provisória de sua filha, alegando que ela pode estar sendo maltratada
pela avó. Diante de tudo que o senhor me falou até agora, está claro para mim
e será para um juiz sensato o abuso psicológico que essa criança vem
sofrendo. Depois disso, podemos entrar com um pedido definitivo. E vamos
entrar com uma ação de guarda em São Paulo, não aqui. Um novo juiz para o
caso será bom a seu favor, e claro que vamos jogar o jogo da avó de Selene.
Se ela joga com sua conduta moral, podemos fazer nosso dever de casa
também.
— Quero levar minha filha comigo, amanhã — digo, resoluto.
— Não vai ser assim tão rápido, senhor Alonzo. — Elizabeth afirma.
— Posso levá-la sem autorização. E me chame de Luc.
— Não sairia do estado com ela sem uma documentação, Luc, tenha
calma e não piore mais as coisas. Sua filha é menor de idade, e como não tem
a guarda, não pode viajar sem autorização.
— Então consiga a maldita autorização!
Chateado e impotente, é como me sinto. Hoje tem sido um miserável
dia de cão. Mas ainda posso ter esperança.
Não querendo ficar mais tempo longe do quarto dela, faço uma ligação
para meu advogado e peço que ele marque uma reunião urgente com
Elizabeth, para que ele dê todos os detalhes do caso.
Quando volto para o quarto de Selene, me sinto mais confiante que
terei sua guarda concedida. Encontro ela à espera e com Amélia do lado.
— Por que não vai para casa, Amélia? — digo, firme — Eu fico à noite
com minha filha.
— Claro que não irei, não vou deixar minha neta sozinha! — ela
retruca.
Pego seu braço e a levo para fora do quarto até o corredor relativamente
vazio, a não ser por alguns enfermeiros circulando ao redor. Não quero
Selene presenciando mais uma discórdia entre nós.
— Eu aconselho que siga minha sugestão ou irei até o posto policial
que há aqui no prédio e direi por que minha filha foi atropelada hoje, Amélia
— curvo meu corpo até estar nariz com nariz com ela — Então caia fora
daqui antes que durma na cadeia.
— O que quer provar? Que é um bom pai? Onde estava quando a mãe
dela cortou os pulsos? — ela diz, veneno destila de sua língua venenosa.
Meu celular começa a tocar, o pego e vejo o nome de Lunna na tela.
Que time perfeito ela tem. Caralho!
— Alô
— Hei, Múmia! O que está fazendo? — ela fala jovialmente do outro
lado.
— Lunna, não posso falar agora. Quando voltar nos falamos. — digo
rapidamente e desligo, não vou dar combustível à cobra à minha frente. Enfio
o telefone de volta no bolso e aponto a saída para Amélia — Melhor sair. E
mais uma coisa, Amélia. É melhor que esse acidente não tenha nenhuma
complicação para Selene, ou não respondo por mim.
— Não pense que ganhou essa, Luc — ela caminha de volta para o
quarto, pega sua bolsa e caminha para a saída — Amanhã logo cedo estarei
de volta e levarei Selene para casa.
Ela sai sem ao menos se despedir da neta, e volto a sentar na cadeira ao
lado da cama. Os olhos cinzentos de Selene me acompanham, desconfiados.
Percebo que somos como dois estranhos. Ela parece uma pequena adulta
séria, e não uma menina de nove anos que deveria rir mais; é exatamente o
oposto.
— Você está com fome? — me inclino para frente e tiro o cabelo loiro
da testa dela, onde tem um curativo. — Posso pedir qualquer coisa que quiser
comer.
Ela torce a boca como se não se importasse. Ela não está receptiva, mas
também não está me mandando sair como as outras vezes.
— Então? O que teremos para nosso jantar? — insisto. Eu tenho noção
do que ela gosta de comer, deve ser como todas as crianças que adoram fast
food.
— Qualquer coisa — a voz sai rouca e ela dá de ombros.
— Ok, princesa, você que manda — pesquiso rapidamente no celular e
faço um pedido de todo tipo de comida que crianças gostam. E um buquê de
flores, não quero saber se eles não vendem flores.
Não demora muito, e uma pequena tonelada de comida é trazida por um
entregador, fazendo a enfermeira quase ter uma síncope, porque não poderia
ter pedido comida aqui.
— Ora, tenho uma princesa com fome aqui — digo, com um sorriso
para o pequeno ser nada satisfeito à minha frente.
— Não é permitido alimentar os pacientes — levanto minha mão,
impedindo-a de continuar.
— Enfermeira, não tenho a menor vontade de escutar essa ladainha,
vou alimentar minha filha e conversa encerrada — viro para a cama, e vejo
que Selene tem uma sombra de sorriso nos lábios, provavelmente se
divertindo com minha "briga" com a pequena enfermeira enfezada. Viro
outra vez para ela com outro sorriso, agora um sedutor — Pode trazer um
jarro para as flores?
— Senhor, aqui não é um hotel — ela marcha para fora da sala, em um
raio de bata branca fumegante de raiva, parando na porta com o dedo em riste
antes de dar as costas mais uma vez e sair— Não somos seus empregados.
— Acho que ela se chateou. — aponto conspiratório para Selene, que
agora está rindo abertamente. E... droga, essa merda de discussão valeu a
pena.
Depois de comer todas as guloseimas que vieram, Selene deita de volta
na cama. Ela comeu calada, e essa falta de interatividade entre nós me
chateia. Ajudo-a a ficar mais confortável e a cubro, beijando sua testa. Volto
a sentar.
— Selene —chamo, fazendo-a olhar para mim. — Por que estava
fugindo? — indago suavemente.
Ela vira a cabeça rápido para o outro lado, e provavelmente não irá
responder.
— Não vou ficar bravo com você, querida. Apenas diga-me por que
estava chateada.
Ainda sem resposta. A pequena mão torce o lençol, e ela está
claramente nervosa.
Estou inclinado a ficar no Rio por uns dias, só assim poderei me
conectar com Selene, ou vou perdê-la de vez. Não temos qualquer tipo de
comunicação, telefonar para ela nunca funcionou. A avó sempre dava um
jeito de Selene não atender, e ela tampouco queria falar também.
Olho ao redor do quarto e vejo o buquê de flores ainda sem água.
Lembro de Lunna me chamando de muquirana por enviar apenas uma flor
para ela e me sinto culpado por mais cedo ter sido tão ríspido. Tenho de
comprar agora uma floricultura inteira para me redimir. Deve estar me
chamando agora de todo tipo de nomes. Além do preferido, "múmia".
— Você gostou das flores? — Selene parece entediada, mas ainda
assim ganho um aceno de cabeça. Estamos progredindo aqui, hein! Querendo
quebrar a tensão, digo:
— Sabe o que é uma múmia? — pergunto, com um sorriso. Ela acena,
dizendo que sim — Uma amiga diz que sou uma múmia porque sou assim
sério, igual a você.
— Eu não sou uma múmia! — ela diz, parecendo ofendida, mas tem
um brilho suave no sempre olhar carrancudo dela.
— Claro que não, é uma princesa muito linda, eu que sou velho e feio
igual uma múmia de verdade — sorrio quando vejo uma sombra de sorriso e
o revirar de olhos dela. Deus, de onde surgiu esse monte de besteira sobre
múmia? Lunna é a culpada disso. — Dizem que sou igual a um ogro de
desenho animado, acha que sou parecido com ele?
Faço uma pose ridícula, e ela ri, mas seu rosto se fecha logo em seguida
e dispara uma pergunta, fazendo meu coração sangrar por esse ser tão
inocente ser exposto a tanto veneno.
— Por que você matou minha mãe? — Deus, quando eu acho que dei
um passo na direção certa, tudo parece regredir.
— Selene, sabe que não matei sua mãe... — Jesus, como explicar essa
situação complexa a uma criança?
— Minha avó diz que você a matou, por isso odeio você — lagrimas
grossas descem por seu rostinho, e eu estou a ponto de perder a razão e sair
daqui e cometer um crime. — Não tenho mãe por sua culpa.
— Sua avó mente, meu amor. — tento segurar sua mão, mas ela se
afasta, se encolhendo na cama. Sento de volta na cadeira — Sua mãe... —
Deus, o que dizer a uma criança em uma hora dessas?
Eu olho para o teto em um pedido de socorro divino.
— Selene, sua mãe estava doente, por isso ela partiu.
— Por que devo acreditar em você?
— Porque é a verdade, pequena, eu nunca machucaria sua mamãe,
querida. Ela foi meu primeiro amor e você é fruto desse amor. Eu nunca faria
mal à mulher que me deu um presente tão lindo. — Ela funga e alcanço seus
pequenos dedos — Não pode acreditar em tudo que sua avó fala, ela só tenta
encontrar um culpado pela doença de Nádia, e ela não tem outra pessoa além
de mim para culpar. Mas eu amava sua mãe, Selene.
Ela não diz nada.
— Por que não dorme um pouco e amanhã terminamos essa conversa,
hein? — eu não devia estar falando disso hoje com ela. Lunna tem razão, eu
sou mesmo um grosso insensível. — Eu vou ficar aqui no Rio, até você ficar
boa.
— Você vai mesmo? — ela parece interessada, e as lágrimas estão
diminuindo agora.
— Se você quiser...
Ela dá de ombro outra vez, como se não se importasse, percebo que faz
muito isso quando falo com ela. E se não estiver engando, ela não me odeia
tanto assim.
LUNNA
Enfio a colher com tanta força no pote de sorvete que bate no fundo.
Quero enfiar o punho nas fuças de certo Matusalém. Estou frustrada enquanto
olho Jamie seduzindo uma adolescente, em The Fall. Safado psicopata.
Estou cheia de tesão, e aquele projeto de Matusalém achou de morar no
Rio, agora, porque faz quatro dias e nada de ele voltar. Pego uma colher
supercheia de sorvete e enfio na boca. Quase engasgo com meu exagero. Meu
celular começa a tocar, e eu pulo para agarrá-lo de cima da mesinha de café.
Múmia!
— Alô, quem é?
— Lunna?
— Quem é? — insisto, porque estou com muita raiva dele.
— Você não sabe fingir, a raiva denuncia que sabe que sou eu — ele ri
— Desculpe pelo outro dia, era uma má hora.
— Nada pode justificar uma grosseria com uma mulher. — digo — Seu
compromisso no Rio deve ser muito importante.
— Tem razão. Não sei quando volto.
E não me controlando, disparo:
— Por causa de Selene?
O silêncio do outro lado da linha é tão estranho que eu fico pensando se
a ligação caiu.
— O que você sabe sobre Selene? — fala baixo, e sei que ele está
furioso. Ai meu Deus, devo ter invadido demais.
— Nada.
— Lunna... — ele praticamente rosna.
— Está bem, apenas vi na sua agenda que foi visitar essa mulher —
droga, isso soa ruim até para meus ouvidos! Pareço uma amante ciumenta.
Argh!
— Estava invadindo minha privacidade? Bisbilhotando minha vida? —
ele esbraveja.
— Veja bem, eu estava por acaso olhando, não bisbilhotando, e quem é
essa pessoa? Você é tão misterioso com isso que só me deixa mais curiosa.
— Tinha planejado falar com você quando voltasse — ele fala — Mas
isso só prova que talvez não deva confiar em você.
— Luc...
— Tenho de desligar agora. — escuto barulho ao fundo.
— Espera, você não disse quando volta. Você não diz nada sobre o que
está havendo, Luc! — digo, chateada. Deus, ele é tão frustrante com esses
enigmas!
— Não importa. Até mais, Lunna. — ele desliga, como sempre, muito
delicado.
Droga, eu devia ser internada pela minha língua grande, fazer uma
cirurgia e cortar a metade.
Jogo meu celular do outro lado do sofá, mais frustrada do que antes.
Agora minha curiosidade não tem tamanho.
Luc está me enlouquecendo.
Quase uma semana depois, estou entrando em casa com sacolas de
compras e resmungando igual a uma velha senhora, enquanto me atrapalho
para abrir a porta.
Quando consigo entrar e tento fechar a porta, uma sacola de tomate cai
e os benditos se espalham pelo chão. Solto todos os palavrões que conheço.
Ainda bem que caíram para dentro de casa.
— Maldição! — rosno.
— Pensei que não chegaria nunca — a voz vem de dentro da sala
escura, e as sacolas que restavam nas minhas mãos seguem o caminho da
outra e minhas compras se espalham por toda a sala. E meu grito de susto não
é nada bonito.
— Jesus Cristo! — aperto meu peito com as mãos, caindo de encontro
à porta. — Luc, eu vou matar você!
— Acho que não, querida Lunna — A luz acende e ele aparece no meu
campo de visão — Tenho planos para você. Sabe, não gosto de gente
intrometida.
— Sabe, Múmia, eu vou gostar disso! Porque também não gosto de
gente invasora.
Ele ri, e meu coração falha uma batida quando ele atravessa o mar de
compras espalhadas e para à minha frente.
— Essa sua porta tem algo muito interessante nela. Vamos rebatizá-la.
Sim, por favor. Depois eu o mato e escondo o corpo. Agora, quero esse
corpo bem vivo...
— Estamos esperando o quê? — agarro sua gravata, puxando-o para
mim.
Como ele não estava esperando o movimento, se desequilibra em
minha direção, mas não hesita em me agarrar, pressionando seu corpo ao
meu, me fazendo senti-lo rijo contra mim. Ele me enlouquece de desejo.
—Estava com saudades? — ele pergunta, com um sorriso zombeteiro
no canto dos lábios, os olhos brilhando com desejo e divertimento.
—Cala a boca, Múmia! — respondo, colando meus lábios aos dele.
Quando nossas bocas se encontram, calor explode entre a gente de
forma intensa. E à medida que nossas línguas se enroscam uma na outra,
travando uma luta de puro desejo, esse calor gera uma combustão
instantânea, cujo incêndio nós sabemos como conter: com o saciar dos nossos
desejos.
Luc descola sua boca da minha para recuperarmos o fôlego, e quando
olho em seus olhos, a lascívia que vejo neles me faz arder e umedece meu
corpo de antecipação. Desperta em mim uma ânsia que precisa ser satisfeita
por completo, através da entrega dos nossos corpos.
Ele me beija novamente, pressionando forte seus lábios nos meus. Logo
ele passa a descer pelo meu pescoço, tomando posse de cada pedaço que
beija com possessividade, como se estivesse tomando posse de mim através
do toque ardente em minha pele. E eu, que nunca sou passiva, me entrego ao
seu contato em minha pele, que parece me liquefazer por dentro. E quando
Luc arranca minha blusa e meu sutiã em movimentos bruscos, impacientes, e
chega aos meus seios com sua boca voraz, gemo em antecipação, sabendo do
prazer que ele pode me proporcionar.
Porém, mesmo em meio à sofreguidão dessa névoa de tesão que nos
rodeia, ele se permite me provocar, dando leves mordidas e lambidas ao redor
do meu mamilo, deixando-me impaciente e mais louca pelo desejo de senti-lo
me tomando. Arqueio meu peito em um convite explícito para uma carícia
mais intensa, e Luc atende ao meu desejo ao sugar fortemente a ponta
enrijecida, como se estivesse com fome e o meu prazer fosse o seu alimento.
E assim ele alterna entre um seio um outro, elevando meus gemidos e
suspiros.
Excitada, esfrego minha pelve em sua virilha, sentindo o seu membro
duro através das nossas roupas, frustrada pelas barreiras de tecido que
impedem um contato mais íntimo.
—Roupas demais... — consigo ofegar, em meio ao turbilhão que me
consome.
Como se fosse penoso se afastar, Luc se abaixa lentamente, deslizando
seus lábios em minha pele, até chegar ao cós da calça. Já ajoelhado, ele abre o
botão e desce o zíper. Apoiando minhas mãos em seus ombros para me
equilibrar, aceito sua ajuda para tirá-la, ficando apenas de calcinha, enquanto
ele ainda está completamente vestido. Minha Múmia — que na verdade está
bem viva e cheia de tesão — alterna seu olhar entre meu rosto e minha
calcinha.
—Ela está encharcada com seu desejo por mim — se não fosse sua
respiração alterada e o fogo saindo do seu olhar, diria que essa afirmação
poderia ser arrogante, dada às nossas provocações. Mas os sinais claros da
sua excitação por mim fazem isso soar como algo primitivo, simplesmente
um homem que se sente satisfeito em ter despertado o corpo da mulher que
ele deseja com a mesma intensidade.
Luc retira minha calcinha lentamente, e sua respiração se acelera mais
quando vê meu sexo úmido, brilhante. Encostada ainda na porta, o espero se
erguer e me tomar com todo o ímpeto da paixão que leio em seu rosto, mas
ele ergue minha perna esquerda e a apoia em seu ombro, beijando a parte
interna com a boca aberta, dando uma leve sucção. Prendo a respiração,
antecipando seu próximo movimento, que não demora; Luc chega à minha
boceta ansiosa por seu toque e passa a língua lentamente pelas minhas dobras
íntimas.
Seus olhos fechados e sua expressão de prazer indicam que ele está me
saboreando, me provando, enquanto estremeço agarrada aos seus cabelos.
Finalmente sua boca chega ao meu clitóris, e após toques leves com sua
língua, ele se torna voraz novamente; o chupa com ímpeto, ávido pelo meu
gozo em sua boca audaciosa. Um tremor percorre meu corpo, não sei como
ainda continuo ali, em pé, com ele segurando meus quadris enquanto devora
minha boceta.
—Você é tão quente... gostosa — ele murmura, ainda ajoelhado —
Preciso sentir esse calor ao redor do meu pau.
Dizendo isso, ele se ergue e abre rapidamente a calça, se livrando dela
em seguida, junto com a cueca. Aproveito e arranco sua camisa, para sentir
seu peito firme e quente em contato com meus seios. Enlaço minhas pernas
em sua cintura quando ele me abraça firmemente e ergue meu corpo para se
alinhar com o seu. Grito quando ele me penetra de uma vez e começa a
impulsionar dentro de mim, entrando e saindo com ardor, cada impulso do
seu pau me fazendo delirar.
Ali, pressionada na porta, sentindo sua respiração ofegante no meu
pescoço, me encontro receptiva ao seu prazer enquanto ele estimula cada
sentido meu. Agarro-me a ele com medo de me perder nesse turbilhão de
sensações, nesse momento tão arrebatadoramente perfeito.
Sem sair de mim, Luc nos afasta da porta e caminha comigo agarrada a
ele até o sofá, onde me deita e, por cima de mim, continua seus impulsos
famintos com seus quadris. Gememos juntos ao sentir o clímax se
aproximando, tomando nossos corpos. Grito, extasiada, quando o calor que se
avolumou em meu ventre se espalha por mim, me tomando completamente,
me incendiando e me fazendo gritar.
Com um último impulso, Luc se pressiona mais em meu corpo, como
se quisesse alcançar o mais profundo âmago do meu ser, e goza
profundamente dentro de mim, gemendo o meu nome roucamente. Eu o
abraço, enquanto nossos corpos estremecem juntos, até nossas respirações se
acalmarem. Mas a calma é passageira; logo estamos buscando o prazer que
podemos dar um ao outro.
CAPÍTULO11
LUNNA
— O que está fazendo? — Luc pergunta, quando me vê
jogando as roupas dele em sua direção.
— Não é óbvio? Mandando você embora. — Paro o que estou fazendo
e o olho — Não devíamos ter partido para sexo sem antes você me explicar
algumas coisas. Eu sei que não somos nenhum casal, mas devemos respeito
um ao outro ao menos, e não estamos fazendo isso, Luc.
— Eu vim conversar com você como prometi que faria, mas você
estava tentadora e não resisti, e você não foi exatamente um exemplo de
resistência. — ele fala, rindo. — Estava louca para me agarrar, não é, Lu?
— Quando chegou do Rio? — visto a camisa dele que está em minhas
mãos e vou sentar no sofá onde ele está sentado, nu, ignorando sua gracinha
sobre querê-lo, pois não sou hipócrita, quero mesmo, mas tenho assunto sério
pendente com ele e quero isso em pratos limpos, já. — Por que não se veste?
— Perturbo você? — Ele cruza as mãos atrás da cabeça, evidenciando
seu corpo tentador, mas faço cara feia para sua exibição — Você é a mulher
mais tarada que conheci. Talvez seja por isso que arrisco as coisas com você,
pequena bruxa má.
— Falando em mulher, quero saber quem é Selene — o nome tem o
poder de o fazer levantar, vestir sua calça e o sorriso desaparecer de seu rosto.
— Não devia mexer nas coisas particulares das pessoas, Lunna— ele
repreende, voltando a sentar.
— Certo, mas ainda sim quero saber quem é a mulher que foi visitar.
Nunca falamos de exclusividade, mas eu não gosto da ideia de dividir
homem, querido — cruzo meus braços e o encaro.
Vejo seu debate interior e me pergunto por que é tão difícil esse homem
se abrir e falar de sua vida particular. O que é tão escabroso assim que não
possa ser falado?
— Selene é minha filha — ele diz, e só o encaro.
Filha? Ele disse filha?
Fico sem ação e sem saber o que dizer, e isso não é comum, alguém me
deixar sem fala.
— O quê? — sussurro, incrédula. Como ninguém sabe disso? Ele não
está mentindo, não é?
— Tenho uma filha — ele repete.
— Já escutei, apenas não entendo como tem uma filha e ninguém sabe
dela! — levanto, pois estou inquieta demais para ficar sentada lá, perto dele.
— Tem certeza que essa Selene não é uma mulher e você não quer dizer?
— Falar dela para alguém é difícil e você não está facilitando, Lunna
— ele levanta, e vejo que vou perder a oportunidade de uma conversa franca
com ele, então seguro seu braço, impedindo seu movimento.
— Tudo bem, estou apenas chocada. Não esperava isso — digo e o
puxo para que sente — Me conte sobre ela, Luc. Por que ninguém sabe dela?
Ele acata minha sugestão e volta a sentar, mas está tenso. Escorando os
cotovelos nos joelhos, ele se inclina para frente, as mãos nos cabelos louros
escuros que agora estão revoltos de seus dedos.
— Eu conheci a mãe dela quando era muito jovem, quando mal tinha
saído do ensino médio e entrado na faculdade. Algum tempo de namoro
depois, ela surgiu grávida. Eu não tinha planos de casar e disse isso para
Nádia, então acertamos que eu daria apoio sem que fosse necessário nos
casarmos. Estávamos indo bem, até que a mãe dela, Amélia, foi morar perto,
e como não aceitava que eu não casasse com sua filha, nosso convívio virou
um inferno. Nádia queria agora casar, pois sua mãe é do tipo persuasiva, mas
não cedi. Quando Selene nasceu, mal vi minha filha, elas foram embora sem
que eu soubesse para onde. Quando descobri já era tarde demais para
consertar certas coisas, porque pouco depois de elas terem ido, Nádia se
suicidou. Segundo os médicos, ele teve depressão pós-parto.
Ele para de falar, e eu fico lá absorvendo tudo que ele disse. Eu não
quero acreditar que ele não fez nada para ter a filha de volta. Não quero
julgar, mas deixo a questão escapar.
— Não tentou a guarda da sua filha?
Ele deixa escapar uma risada amarga e me olha firme, com seus olhos
cinzas nebulosos e cheios de dor.
— Acha que não tento isso há anos? Não fui qualificado para criar uma
garota, segundo a bosta da juíza que tem o caso amarrado no seu tribunal.
— Mas é o pai, Luc, você tem mais direitos que a avó.
— E acha que não sei disso? Acha que não luto para tê-la comigo? A
guarda ficou com a avó porque não fui considerado com condições de criar
um filho, pois Amélia, junto com a advogada, me retratou como um abusador
de mulheres e todas as atrocidades que as duas inventaram. E havia o suicídio
de Nádia para corroborar com o que elas diziam. Não tive chance de ganhar,
e desde então, tenho tentado em vão ter a guarda, mas parece que tudo dá
errado.
Tudo parece complicado demais para entender.
— Não sei o que dizer, mas ainda acredito que há alguma coisa errada
em não ter sua filha. Ela tem quantos anos agora? — Pergunto, curiosa.
— Nove anos. — diz, e exala forte quando continua: — Passei a
semana com a nova advogada que contratei. Selene foi atropelada quando
tentava fugir da escola, por isso passei a semana no Rio. Eu não posso mais
deixar minha filha com Amélia.
— Meu Deus, Luc, e ela está bem? — acaricio seu ombro. Para ele
estar aqui, ela não deve ter se machucado tanto — Ela precisa de você, Luc.
Devia ter ficado lá, com ela.
— Eu tinha um compromisso aqui e tive de voltar, mas estou voltando
para lá. Elizabeth garantiu que vai conseguir a guarda provisória, alegando
alienação parental e se embasando no fato que ela, junto da avó, não está tão
segura assim. Amélia faz de tudo para destruir o vínculo de pai e filha. Selene
me odeia, Lunna, e isso me mata. Ela induz Selene, desde novinha, a me
odiar. Isso é asqueroso, dizer para uma criança que seu pai matou sua mãe,
apenas com o intuito de me punir por Nádia ter feito o que fez.
— Ah, Luc, que horror, você não devia deixar sua filha passar por isso!
— digo, horrorizada.
— Acha que não quero tirá-la de lá? Mas penso que trazê-la à força
para morar comigo vai fazer mais mal que bem.
— Ela, quando estiver longe dessa mulher monstruosa, vai aprender a
amar você, Luc — eu não entendo nada disso, mas eu tenho certeza que a
filha dele não o odiará para sempre. — Só precisa enchê-la de amor, Luc, não
a abandonar lá.
— O que está dizendo? Eu não a abandonei! — ele levanta, furioso —
Nunca a abandonei!
— Talvez seja assim que ela se sinta, abandonada por você — eu
também estou brava e nem sei por que, só sinto uma dor no peito e meus
olhos ardem. Que droga, nem conheço essa garota, mas sinto sua dor. Porque
sei que ela deve sofrer mais que qualquer outro nessa história. — Sei bem
como é desejar ter um pai perto, Luc, não deixe sua filha pensar que não a
quer, depois pode ser tarde demais para os dois — Respiro fundo e tento
voltar ao foco que é sua história — O que acontecerá agora?
— Estou voltando para o Rio amanhã, só tenho de acertar as coisas, e
ainda tenho uma reunião com Gabrielle, sobre a reforma da casa. Agora, mais
do que nunca, devo agregar um quarto de menina lá — ele começa a calçar
seus sapatos.
— É por causa dela que não permite ninguém em sua vida? — me dou
conta que deve ser por isso que ele vive uma vida quase eremita.
— Uma das acusações de Amélia é que sou um homem promíscuo, por
isso minha casa não é um ambiente estável e saudável para se criar uma
menina, e a juíza foi na conversa da advogada — ele bufa, furioso — Por isso
deixei de lado muitas coisas e preferi não dar mais combustível para ela me
aviltar.
— Sério? Isso parece novela mexicana— digo, revirando os olhos —
Isso é arcaico, Luc.
— Bem pior. — Ele pausa e me olha por um longo momento — Lunna,
agora talvez não seja o momento de uma mulher entrar na minha vida — ele
fala, não tão convicto — Eu não permiti que nenhuma mulher se aproximasse
de mim em anos. Tive encontros muitos discretos, porque não quero
prolongar mais o tempo de minha filha longe de mim. Deixar você entrar na
minha casa foi o passo mais longo que dei em anos. E estou devendo um
pedido de desculpas por ser grosso com você ao telefone, foi um momento
ruim.
Ah, lá vamos nós outra vez.
— Está deixando toda a situação ditar sua vida — digo, decepcionada.
— Eu não tenho o direito de pedir que fique em um relacionamento
comigo. — Ele segura meu queixo até que nossos olhos se fixam — Você só
aceita se quiser. Mas tudo que posso oferecer nesse momento é o que já
temos. Apenas para nós.
— Tem razão, não sou obrigada. Mas já pensou na possibilidade que
talvez você, com alguém, mostrando o desejo de construir uma família, seja o
caminho mais acertado a ter sua filha de volta?
Ele ri e esmaga minha boca com a sua e me beija. Depois me solta para
me olhar atentamente.
— Encontrou uma forma de me pedir em casamento, Lunna? — ele
fala seriamente.
— Não estou dizendo que tem de ser eu a mulher, seu cabeça de vento!
Só quero ajudar — empurro seu peito largo e nu, lembrando que estou com
sua camisa, e começo a tirá-la, mas paro, colocando minhas mãos nos quadris
e fuzilando-o com meu olhar assassino. — Você devia perguntar à sua
advogada. E outra coisa: devia deixar seus melhores amigos conhecerem
você. Por que eles não sabem de nada disso? Por que mantém uma filha como
um segredo obscuro? É no mínimo estranho, mas o que posso esperar de
você, Múmia? Só essas coisas mesmo ou pior. Maldito homem louco!
— Vai devolver minha camisa? — ele aponta, como se eu não tivesse
dito nada.
— Não escutou nada do que disse, não é? Poderia ajudar a ter sua filha,
estúpido. — vocifero, indignada, jogando sua camisa em seu rosto — Tome,
seu idiota cabeça dura. E para constar, não quero casar com um...
— Obrigado.
— Falo sério, Luc! Devia se abrir mais com todos, porque mantém tudo
para si? — deixando minha raiva de lado, vou até ele outra vez — Posso
conhecer Selene? Vou para o Rio com você.
Deus, estou me metendo onde não sou chamada, mas estou curiosa com
essa história agora
— Lunna... não.
— Se mostrar que tem medo dessa mulher, ela vai atacar exatamente aí.
— aponto, com raiva.
— Não é medo, pequena bruxa, é cautela, e estou perto de tê-la comigo.
Talvez essa semana ela venha morar comigo provisoriamente, até ter uma
definição da guarda.
— Se quiser estou aqui, Luc, e falo sério. Lute com todas as armas por
sua filha.
Ele me abraça por um momento, antes de tomar minha boca com a sua
em um beijo exigente.
Eu sei que não devo deixar meu coração amolecer para Luc, mas estou
como uma manteiga derretida com essa história. Enlaço meus braços por seu
pescoço e o beijo de volta, dando todo meu conforto para ele nesse beijo. Não
vejo muito futuro para nós, e isso não devia me deixar triste, mas me deixa
com o peito pesado.
— Estou desculpado? — ele pergunta, depositando pequenos beijos ao
lado da minha boca.
— Nem em um milhão de anos e de fodas espetaculares irei desculpar
você — exagero.
— E se convidar você para conhecer Selene? — ele diz, com sorriso.
— Lucat, agora você começou a me conquistar, isso é melhor que
flores — devolvo. — Fala sério?
— Sim, mulher estranha — ele me pega, jogando-me por cima do
ombro, minha cabeça pendurada nas suas costas, e começa a caminhar para o
quarto.
— Você não ia embora? — grito e agarro sua bunda bem ao alcance de
minhas mãos. — Adoro isso.
— Você é a pior tarada de bunda, Lunna.
— Não sou, e você devia ir embora. — digo só por dizer, não quero
que ele vá.
— Você nua na minha frente e nem percebe a provocação — ele bate
na minha bunda nua na altura de seu ombro — Agora tenho que comer você
inteira.
— Oh!
Alcançamos o quarto, e ele me joga na cama, fazendo-me quicar no
colchão. Ele agarra minhas pernas e me arrasta de volta em sua direção até a
beira da cama. Ele se ajoelha entre minhas pernas, me expondo toda para ele.
Seus olhos cinzas famintos estão na minha boceta, e isso causa tremores
lânguidos por todo meu corpo, e ele nem me tocou devidamente ainda.
— Quer que te coma, pequena bruxa? — seu olhar devasso me faz
suspirar, excitada.
Ele não espera resposta, coloca minhas pernas por cima dos braços, de
forma que estou bem aberta e fácil para sua boca gananciosa, quando ele vem
para frente e me devora com sua boca quente, aberta, chupando forte e suave.
Gemo, caindo para trás e elevando meus quadris para mais. Ele chupa com
vontade meu clitóris e intercala com lambidas lentas de baixo para cima.
Estou fora de controle, minha cabeça roda quando onda após ondas de prazer
me percorrem como pequenos choques.
— Luc — murmuro roucamente, perdendo a pouca lucidez,
emaranhado a mão em seus cabelos e trazendo-o mais para perto. Ele me
devora viva com sua avidez pecaminosa. E eu gozo em sua língua uma e
outra vez.
— Gostaria que te fodesse agora ou posso ir embora? — ele levanta a
cabeça, depois que estou desossada na cama.
Levanto minha cabeça e olho para ele, que tem o sorriso mais safado
estampado no rosto, seus olhos famintos brilhando para mim.
— Se sair é um homem morto, Múmia.
Ele sorri e vem sobre o meu corpo.
CAPÍTULO 12
LUC
Empurro Lunna de volta à cabeceira da cama e enfio meu pau até
o fundo, sem dó, e ela grita em êxtase.
— Ah, sim, assim, querido — ela grita enquanto empurra para trás seu
traseiro vermelho das minhas mãos. — Você é tão gostoso, múm...
Dou uma palmada em sua bunda, fazendo-a engolir o maldito apelido.
Gemo rouco quando os músculos internos dela apertam meu pau em um
aperto de morte, fazendo-me quase gozar.
— Gosta disso, humm? — Inclinando, mordo suas costas e ela ofega.
Agarro seus cabelos curtos, segurando-a no lugar enquanto bombeio
dentro dela. Seu corpo começa a se contorcer, a sua necessidade de se saciar
me faz queimar vivo. Estou vidrado no prazer de Lunna, ela está mais uma
vez galgando seu prazer, e não demoro a me juntar a ela. Calor se espalha
através de mim e explode em jatos quentes. Dou gemidos roucos e me
esvazio dentro dela. Caio por cima de seu corpo minúsculo e ficamos os dois
ofegantes, lá. Eu deveria ter ido há muito tempo, afinal, irei voltar para o Rio
em poucas horas e tenho muitas coisas para resolver, mas o dia já está
amanhecendo e nós dois não paramos de provocar e foder um ao outro.
— Você deve ter uns cem quilos, Múmia, vai me matar — ela reclama
debaixo de mim.
— Pensei que você gostasse de ficar debaixo de mim, senhorita
insaciável —rolo de cima dela e caio ao seu lado. Mas ela é uma espevitada e
praticamente pula em cima de mim, sentando escarranchada em minha
barriga. Ah, merda, eu devia estar morto por hoje, mas sinto meu pau dar um
pulo quando sinto o calor molhado entre suas coxas em minha barriga. Ela se
esfrega descaradamente em mim, deslizando suave e lento.
— Você já deu tudo que tinha de dar hoje, eunuco? Ainda não
terminamos... — ela apoia seus braços um em cada lado da minha cabeça e se
inclina para frente. Os bicos duros dos seios roçam meu peito, e me beija
lentamente na boca.
Deixo-a ter seu momento. Meu foco está no deslizar lento do seu sexo
úmido em mim. O beijo lento, sem pressa que ela me dá, faz os músculos de
minha barriga enrijecerem. Essa pequena mulher faz meu coração trovejar no
peito em um torvelinho de sentimentos conflitantes.
Quero mantê-la por mais tempo comigo, como nenhuma outra esteve
antes, mas tanto tempo sozinho me faz duvidar que esse caso entre nós possa
ter um futuro. Tenho de pensar em Selene em primeiro lugar, antes de mim.
Não quero que nada atrapalhe nosso convívio antes que eu conquiste seu
amor, e não quero impor outra pessoa em sua vida.
E não procuro amor, mas penso nisso toda vez que estou com Lunna.
Parece que ela passa seu romantismo todo para mim por osmose. Livrando
uma das minhas mãos, agarro seu cabelo e aprofundo mais o beijo.
— Tenho de ir — digo, quando tiro sua boca sedenta da minha. Lunna
é tão sexy, e esse lado moleca dela me deixa vivo. Ser o alvo do desejo dela é
inebriante. Excitante pra caralho. — Tenho uma reunião com Gabrielle hoje,
mas antes tenho outras coisas na empresa que precisam de minha atenção.
— Você quer que eu vá para o Rio com você? — ela oferece. Deus, não
quero magoá-la, mas levá-la não será bom, não com aquela serpente em
forma de mulher que é Amélia.
A semana foi tão estranha com Selene sendo gentil, ela até riu para
mim algumas vezes, mesmo sendo um sorriso acanhado. Não gritou nenhuma
vez dizendo que me odeia. Se eu levasse Lunna junto, não sei como seria sua
reação. Deus!
— Acho que não seria uma boa ideia, Lunna — digo por fim, e a sinto
enrijecer em cima de mim. — Não sei se seria saudável envolver você nisso,
afinal só estamos fazendo sexo, daqui a uns dias estará com...
— Não termine isso! Tem razão, Luc, melhor ir embora. Eu que sou
uma idiota, mesmo. Cada vez que tento algo com você levo uma patada. —
ela sai de cima de mim e vejo quando vai em direção ao banheiro, batendo a
porta com força.
— Lunna?! — chamo, sentando na cama. Levanto para me vestir e
esperar que saia do banheiro, mas ela não sai. Sem dúvida cometi mais um
erro com ela. Abotoo minha camisa e vou até o banheiro, batendo na porta.
— Lunna?
A porta se abre e ela aparece, furiosa, os olhos soltando fogo.
— Melhor acabar com isso, Luc. Desejo que consiga a guarda da sua
filha, de verdade, mas para mim já deu! — ela respira fundo — Não teve
nada real entre nós, estávamos apenas fazendo sexo, mas isso não faz de
nosso caso algo feio e sem respeito. E ainda assim você não me respeitou
agora há pouco com seu comentário. Sabe por quê? Eu sempre dei a
impressão que era fácil para você. Que era apenas estalar os dedos e estaria
pulando na cama com você.
— Lunna... — tento falar, mas ela não terminou seu discurso.
— Só que não sou essa mulher insensível que acha que sou! Eu não
transo por aí aleatoriamente, mesmo que fosse, isso não te dá o direto de
dizer que amanhã estarei com outro cara!
— Porra, Lunna! Você interpreta tudo errado, caralho! — perco a
merda da paciência e berro, furioso também. — Não distorça o que quis
dizer, caramba!
— Distorcer? Mas foi exatamente o que você disse! "Não vou fazer
minha filha conhecer uma mulher que amanhã estará saindo com outros
caras!"
— Deus! Me ajude! — viro de costas para ela, porque tenho ganas de
agarrar esse pescoço delgado dela e torcer — Que diabos, Lunna! Não quis
ofender você com isso. Só acho que, para apresentar uma mulher à minha
filha, que ainda quero conquistar, por sinal, deveríamos ter algo mais que
sexo.
— E o que impede de fazermos isso? É você quem dificulta tudo com
sua conversa fiada!
— Não é conversa fiada. E por que diabos estamos brigando às quatro
da manhã? Acha que um casal que briga mais que qualquer outra coisa daria
certo, Lunna? — pergunto, apenas para ver o que ela diria a seguir. Porque
ela sempre tem um argumento.
Ela cruza os braços, petulante.
— Você que é um jumento, eu sou muito sensata e calma, não sou essa
mulher louca que você diz — levanta o queixo e me olha com olhos
entrecerrados. Estou prestes a rir do seu disparate, quando ela me fuzila com
olhos que prometem vingança — Vai me contradizer? Por acaso me acha
maluca?
— Ah, não. Você tem razão, eu sou o jumento dessa relação tsunami —
digo, prendendo o riso — Eu que sou meio louco.
— E um homem sem nenhum respeito pela mulher com quem passou a
noite rolando na cama — ela afirma, ainda de braços cruzados.
— Peço desculpas por isso, estou nervoso com tudo que aconteceu essa
semana, Lunna. Tem razão, estou desrespeitando você — digo, agora com
sinceridade. Ela tem razão, não meço minhas palavras com ela, talvez seja
porque ela é...
Apenas Lunna. Sem frescuras, sem maldade, alegre todo o momento.
Sabe mexer comigo como ninguém, me tira da minha zona de conforto, me
provoca, e eu estou me acostumando com isso rápido demais.
Seguro seu rosto entre minhas mãos e beijo sua testa.
— Irei partir às seis da tarde para o Rio, terá uma passagem extra. —
digo e me afasto para terminar de me vestir.
— Acabou, Luc — ela diz — Faça uma boa viagem.
— A passagem vai estar lá, de qualquer forma — Olhamos um para o
outro por um tempo que parece uma eternidade. Ela está vermelha de minha
barba por fazer. De repente, eu vacilo antes de sair. Caminho até a porta de
saída e paro. Deus, eu não quero terminar ainda com ela. E quebrando as
porras das regras de não envolvimento, volto para o quarto e paro, chocado,
na porta do quarto.
Nunca, durante mais de dois anos que nos conhecemos, eu a vi chorosa,
ou reclamando da vida, ou de cara feia. Ela sempre brilha com alegria e
vivacidade. Vê-la agora, deitada de bruços na cama, vulnerável, e ouvir o
som do choro sentido dela, me dá um golpe direto no intestino. Que porra eu
fiz com ela?
Atravesso o quarto e sento na cama, fazendo-a se assustar com minha
presença inesperada. Olha-me e enterra ainda mais seu rosto no colchão,
tentando conter o choro, em vão. Porque seu ombro convulsiona dizendo o
que ela quer esconder. Meu instinto protetor quer prendê-la nos braços, mas
não sei se é a coisa certa a fazer agora.
— Hei, querida, me desculpe, não mereço suas lágrimas — digo,
acariciando suas costas. Retiro meu sapato e subo na cama. Deixando toda
merda de lado, trago-a para meus braços, embalando-a apertada contra mim,
enquanto murmuro todo tipo de desculpas que eu consigo pensar. Que merda,
eu não sou um cara romântico, já fui com a mãe de Selene, e veja onde as
coisas foram parar. Mas, de repente, quero demais poder ser esse cara bom
com as palavras e poder retirar as merdas que disse mais cedo.
Mas ela não demora muito para voltar à atitude que conheço. Sai de
perto de mim.
— Luc, por favor, agora não é o momento — ela fala com firmeza e
aponta a porta. — Preciso dormir um pouco antes do trabalho.
— Tudo bem, sei que está chateada, por isso irei — acato, ficando de
pé.
Onde essa droga desandou? A noite começou perfeita e acabou mal.
LUNNA
Não devia ter começado essa brincadeira com Luc, porque estou
fazendo uma das coisas mais abomináveis: chorar por causa de um homem.
Eu nunca, nunca sou a que chora, mas ele me feriu mais cedo com suas
palavras, e posso estar fazendo uma tempestade em um copo de água, mas,
ainda assim, foi duro ouvi-lo dizer que não posso fazer parte de sua vida. Eu
sou, sim, digna de conhecer sua filha!
Tento conter o soluço, mas ele escapa por minha garganta dolorida da
força que faço para não deixar o choro sair livre. Não vou chorar!
Idiota! Isso que sou!
Sinto a cama mexer e dou um pulo de susto ao ver que ele não foi
embora. O que ele faz aqui ainda?
Ele me puxa para seus braços e fico lá apenas uns instantes, antes de
me afastar e pedir que saia. Eu realmente preciso de um pouco de sono, antes
de ir para a clínica.
— Vai ficar bem? — ele hesita na porta — Não gosto de vê-la assim.
Tarde demais, Múmia!
Dou um sorriso de boca fechada para mostrar que estou bem, mas acho
que não o convenço muito. Ele me olha por um momento e sai novamente.
Inferno! Preciso parar de sentir isso por ele. Vou acabar na fossa, isso
sim.
Se eu pensei que a noite anterior tinha sido ruim, essa foi pior. Estou
com humor de cão na manhã seguinte, ainda bem que tenho apenas um
paciente. Eu não estou me reconhecendo. Sempre desejei me apaixonar,
encontrar um príncipe encantado, porque convenhamos, por mais que
tenhamos uma carreira bem-sucedida e os melhores amigos, mas não temos
alguém especial em nossas vidas, ela perde um pouco o brilho. Nem que seja
um gato temos de ter para dividir aquele momento especial.
Eu estive tão cega com minhas brincadeiras com Luc, que não percebi
que ele estava se tornando esse alguém especial. Ele é complicado, sua vida
está complicada, e eu, como uma boa louca que sou, tinha de entrar em sua
vida justo agora. Eu tenho os melhores amigos e uma carreira que amo, mas
desejar alguém é coisa do século dezoito? Droga, então sou uma múmia
perfeita para outra múmia! Ele só precisa saber disso.
Sorrio quando entro no meu restaurante favorito de comida mexicana.
Hoje quero me empanturrar de guacamole e tacos. Sento sozinha em uma
mesa. O lugar é bem pitoresco, mas adoro a comida. Olho ao redor depois de
fazer meu pedido solitário. Eu poderia ligar para uma das garotas, mas sei
que estão com suas famílias. Eu que preciso fazer algo a respeito. Aviso que
meu pedido será para viagem, e pouco depois estou indo para casa. A noite
bem que poderia ser melhor que isso. E já sei como fazê-la melhor.
Ela enviou uma foto com essa legenda. Está em uma casa noturna, pelo
que posso ver do fundo da foto. Está suada e vermelha, igual quando estou
fodendo-a como um louco. Mas que diabos! Ela está com outro cara?
Bato meu dedo furiosamente no teclado e ligo para ela.
— Alô!
— O que diabos anda fazendo, Lunna? — berro, furioso, minha raiva
de mais cedo ganha proporções gigantescas.
— O que acha, Múmia? Me divertindo — ela fala, rindo feliz do outro
lado — E você?
— Com quem está aí? — não estou com cabeça para brincadeiras.
— Oh, isso é ciúme? Estou com um monte de gente.
— Lunna...
— Falo com você depois, querido, agora estou meio ocupada.
Ela desliga. Fico olhando o telefone na minha mão, sem acreditar.
Ligo outra vez, e só faz tocar e tocar, ela não atende.
Furioso não é como estou agora; estou em ebulição. Hoje é meu dia de
sorte.
Digito uma mensagem digna de um neandertal e envio. Espero que ela
não esteja fazendo nada do que minha mente ciumenta está projetando na
minha cabeça, ou juro por Deus que o filho de uma cadela que ousar tocar
nela vai ficar sem as bolas. Literalmente sem elas.
“Vá para casa! Ou receberá minha visita em breve e não vai gostar.”
Essa reposta só chega depois de uma hora, e eu, que já estou puto de
fúria, me sinto a ponto de explodir de raiva. Vontade de pegar o primeiro voo
e dar uma lição na pequena megera. Eu desço para a academia do hotel e
passo mais de duas horas socando o saco de pancadas. É isso ou um voo para
São Paulo. Exausto, caio sentado no banco e bebo de uma garrafa de água.
Minha cabeça clareia mais depois de extravasar minhas frustrações e raiva no
exercício, e percebo que Lunna Maia está jogando comigo.
CAPÍTULO 14
LUC
Depois que retorno para o quarto, tomo banho e volto a ligar para ela,
mas a ligação vai para a caixa postal. Jogo o telefone longe, com pura
frustração. Eu, Luc Alonzo, estou correndo atrás de uma mulher que já tive
vontade de esganar seu lindo pescoço de tão irritante que é. Com seus nomes
bobos e riso fácil, sempre soltando uma piadinha para me deixar irritado. É,
quem diria, hein, Luc? Você caiu no encanto dessa irreverente!
Ela quer me punir por não a ter trazido comigo, mas caramba, ela sabe
que eu a quero! Mesmo que nós dois fiquemos negando isso para todos, algo
está crescendo entre nós. Sair e ir festejar para que eu fique puto com ela e
faça algo a respeito é o que ela quer, e está conseguindo. Mesmo sabendo que
é um jogo de Lunna, eu, ainda assim, fico a noite toda remoendo se ela
terminou a noite sozinha.
O dia está clareando, eu preciso dormir mais um pouco, prometi ontem
a Selene que tínhamos um passeio especial hoje.
Algo zumbindo me desperta de vez. Desorientado, olho ao redor e vejo
que é mais tarde do que eu pensei: são nove da manhã. Faz anos que não
levanto às nove da manhã. Meu telefone está tocando em algum lugar onde o
joguei, no meio das cobertas.
Ele para de tocar e recomeça. O pego e vejo uma chamada de Selene.
Eu pulo da cama para retornar a ligação. Ela nunca me ligou. Apesar de ter
dado um celular de presente com meu número, algum tempo atrás, ela nunca
usou, não para falar comigo.
— Selene?!
— Você disse que íamos andar de barco hoje... — ela diz, hesitante.
Oh, merda! Agora estou acordado de vez. Que droga, é isso que dá passar a
noite acordado! — Você não vai mais...?
— Ah, minha pequena, não desistiria nunca. — Estou falhando com
ela, que merda! — Fique pronta, que chego em poucos minutos.
— Tudo bem, se não quiser ir...
— Selene? Temos uma aventura hoje, gatinha, nada de desistência,
pequena maruja — digo, rindo, e ouço seu suspiro aliviado do outro lado.
Saber que ela quer passar o dia comigo, por livre e espontânea vontade, me
deixa eufórico.
Eu a pego meia hora depois e seguimos para o nosso passeio, na Baía
de Guanabara. Ela está alegre e sorridente. O hotel me forneceu uma cesta de
piquenique especial para a minha garota.
— Eu nunca andei de barco, papai — ela diz, quando estou ajudando-a
com o colete salva-vidas e ela está pulando para cima e para baixo. Eu estou
rindo igual a um tonto, ao vê-la feliz com algo tão banal, mas que deve ser
uma verdadeira aventura para ela. Chamar-me de papai é novo, e um nó se
forma na minha garganta. Estou prestes a chorar? Caramba, essa garotinha
não sabe o que pode fazer para mim.
— Pequena maruja, hoje você pode ser promovida a capitã — digo,
com voz embargada, quando a pego no colo e a coloco em pé no barco
alugado. Ela ri.
— O que é isso? O que é maruja?
— É um aprendiz de capitão, ele ajuda o comandante do barco a
navegar pelos oceanos — invento, e ela parece impressionada. Aponto para
ela — Como nunca andou de barco, ainda não pode ser a comandante.
— Você é o comandante?
— Pode apostar, e vou precisar de uma maruja muito especial para me
ajudar. Conhece alguma?
— Eeeu, papai! — ela continua pulando, eufórica.
— Exato. Minha pequena maruja especial.
Acomodo-a sentada para que possa assumir o leme. O barco alugado
tem um nome na lateral: "Big Blue". É pequeno, mas é perfeito para o que
tenho em mente. Não tenho intenção de ir muito longe, não com uma criança
a bordo.
Navegamos por cinco minutos, quando ouço a voz ansiosa.
— Papai, posso ajudar agora? Já posso ser promovida a capitã? —
minha pequena maruja pergunta, balançando as pernas, impaciente.
— Daqui a pouco.
— Papai... — ela chama outra vez, menos de um minuto depois.
— Sim, querida.
— Você ainda vai me levar à sua casa? — seus olhos cinzentos me
olham com expectativas. Elizabeth não me ligou, mas eu sei que ela deve
estar providenciando isso.
— Espero que sim, pequenina. Mas saiba que, mesmo que não tenha
autorização de levá-la comigo, quando voltar para casa, eu amo você. —
encontro seus olhos tristes agora, o brilho anterior um pouco apagado — Mas
estou lutando para que você fique comigo.
Ela não responde. Olha para longe, franzindo sua testa jovem.
— Hei, maruja! — grito com voz empostada, quero que hoje ela só se
divirta. — Precisando de uma ajudinha aqui. Venha cá.
Puxo um pequeno banco e coloco diante do leme. Selene fica de pé
sobre ele e assume o leme do barco, comigo atrás dela. — Vamos lá, maruja,
mostre todo seu talento.
— Como estou indo, papai? — ela pergunta, toda séria, minutos depois
— Estou fazendo certo?
— Você é uma marinheira nata! Só precisa de algum treino e será a
capitã deste navio. — beijo sua cabeça carinhosamente.
— Este não é um navio, papai, um navio é enoooorme, bobo — ela
explica solenemente.
— Tem razão...
Gostaria que Lunna estivesse aqui, ela com certeza aproveitaria o
passeio. Eu preciso consertar as coisas com ela. Tenho vontade de falar com
ela, mas deixo para mais tarde, não quero fazer isso na frente de Selene.
Ainda estou muito puto com sua festinha de ontem.
O dia passa rápido demais. Quando atracamos, no fim da tarde, Selene
está saltitante. Ela tem um quepe de marinheiro na cabeça de sua promoção a
capitã. Nossa brincadeira ofuscou qualquer indício de tristeza que ela sempre
levava em seus olhos claros; agora ela está feliz. Eu não quero imaginar que
ela vai voltar para a casa de Amélia e esse brilho será apagado.
Isso me faz lembrar de ligar para Elizabeth.
— Luc, que bom que ligou — ela diz quando atende — Estive
querendo falar com você o dia todo. Estou no apartamento de sua ex-sogra.
Precisei conversar com ela sobre a autorização para Selene viajar, e vejo que
você não a comunicou sobre nada.
Merda, isso é verdade. Saí tão irado ontem de lá que não me ative a
isso. Sair com Selene sem comunicar à sua guardiã é um erro. Mas Elizabeth
está falando — Aqui no Rio o pai não precisa de uma autorização judicial,
mas como você não tem a guarda legal de sua filha, sua sogra terá de
autorizar a viagem, Luc.
— Mas que inferno! — esfrego meus olhos cansados e conduzo Selene
para o carro. — Irei falar com Amélia.
— Me desculpe vir aqui sem que você estivesse — fala — Irei esperá-
lo.
Quando entro no apartamento, Amélia começa a esbravejar todo tipo de
merda. A conduzo para falar com ela longe da presença de Selene.
— Como ousa agir pelas minhas costas, tentando tirar minha neta?
— O quanto quer para autorizar que Selene passe uma semana comigo,
Amélia? — pergunto sem preâmbulos, sem ser tocado por sua falsa
preocupação — O que quer?
— Você está disposto a pagar o preço, Luc? — ela ri.
— Diga seu preço.
— Quero que assuma total responsabilidade pela morte de Nádia.
— Por que insiste em trazer os mortos para o presente, Amélia? Você é
doente?
— Quero vê-lo apodrecendo na prisão, isso me fará imensamente feliz
— ele debocha — Porém, autorizo que Selene vá à sua casa, mas direi o que
quero depois, tenho de pensar em algo.
— Faça seu melhor! — talvez eu me arrependa de garantir isso para
ela, mas se Amélia está jogando, eu posso muito bem mentir sobre dar
alguma coisa para ela.
— Cuidado para não vender sua alma ao diabo, Luc.
Saio, deixando-a lá. Selene está na sala com Elizabeth, quando volto.
— Diga o que ela tem de fazer para me dar esse documento, Elizabeth
— sento, me sentindo velho e cansado. Essa luta parece interminável. A
advogada para ao meu lado.
— Isso vai acabar mais cedo do que imagina, Luc, seja paciente — ela
fala e segue atrás da cobra da minha ex-sogra. Olho para Selene, ainda com o
quepe, e calada no canto do sofá.
— Capitã, está com fome? — rio e aponto sua cabeça — Esse quepe já
pode ser tirado, hein.
— Gosto dele — ela ajeita o referido quepe ainda mais na cabeça loira
— Posso ficar com ele?
— Se você quiser. — levanto e dou minha mão para ela — Vamos lá,
vamos fazer seu jantar, pequena capitã.
— Obrigada, papai — ela me olha, curiosa, quando me segue para a
cozinha — Por que você e a vovó brigam tanto?
Na cozinha, coloco-a em cima do balcão e nivelo meus olhos com os
dela.
— Adultos cometem muitos erros, pequena. Eu e sua avó queremos
muito que você seja feliz — engulo a raiva, quando sei que falar a verdade só
irá magoar Selene — Ela quer que você more aqui e eu quero que você more
comigo, então ficamos bravos um com o outro.
— Podemos morar todos juntos — ela sugere, com sua lógica infantil.
— Infelizmente não podemos, princesa — toco a ponta de seu pequeno
nariz empinado — Mas não quero que fique pensando sobre isso. O que me
diz do nosso jantar?
— Quero espaguete com muito queijo!
— Saindo um espaguete, senhorita Alonzo.
Quando deixo o apartamento naquela noite, junto com Elizabeth, estou
mais calmo. Amélia, mesmo sob falsas ameaças, assinou a autorização.
Amanhã eu volto para casa, levando, mesmo que por poucos dias, a minha
filha.
A primeira coisa que faço, quando chego ao hotel, é ligar para Lunna e
contar essa pequena vitória.
LUNNA
— Você está me dizendo que tem mantido um relacionamento com Luc
esse tempo todo e não falou para suas amigas? — Julie está de braços
cruzados, com cara de zangada. Eu contei minhas escapadas com Luc para
ela, do meu coração abalado por ele e o impasse que fazíamos dar um passo
para frente e dois para trás. — E que está apaixonada?
— Estou falando com você, agora. Gaby tem muita coisa acontecendo
com ela para que eu a encha com meus assuntos do coração — Estou um
pouco vermelha, porque nunca fui de esconder nada delas, sempre contei de
meus namorados ao longo desses anos de nossa amizade.
— Vocês não se suportam.
— Supostamente não, mas não conseguimos manter as mãos longe do
outro — digo e bebo minha bebida, que até estão estava esquecida na mesa.
Estamos no Apollo, hoje sem Gabrielle. — A vida dele não tem lugar para
mim.
— Besteira! Se ele gosta de você o suficiente, achará um lugar na cama
e na vida dele para você — ela me dá aquele olhar severo dela e franze a testa
— Você está diferente. Está mudando, Lunna, é porque se apaixonou?
— Quem disse que estou apaixonada? Estou com tesão desenfreado, é
diferente — empino meu queixo em desafio, e ela apenas ri, balançando a
cabeça.
— Definitivamente apaixonada por Luc.
— Ele me enerva, me deixa tão... tão... quente.
— E por que não ficam juntos? O que impedem vocês dois? São jovens
e solteiros e obviamente estão se pegando igual a dois adolescentes.
— Ele tem alguns problemas — não quero falar da vida particular dele.
— Os homens problemáticos sempre são os mais charmosos e
irresistíveis.
— Obrigada por escutar. — dou meu melhor sorriso para ela, e ficamos
conversando por um tempo.
Ontem voltei para casa logo depois de falar com Luc, rindo horrores de
sua ligação mal-humorada. Ele definitivamente estava imaginando todo tipo
de sacanagem que eu poderia fazer com outro. Nada como uma concorrência
para deixar os homens meio loucos, mas eu fiz um ponto: ele não é tão frio
assim. Suas ligações de madrugada, quando eu já estava na cama, tornou
minha noite melhor.
Pensar nele deve atraí-lo, pois meu telefone vibra em cima da mesa,
com uma mensagem.
“Ainda festejando pelas minhas costas?”
Pego meu telefone e escrevo uma mensagem de volta, com um sorriso
nos lábios. Ele ainda está remoendo sobre minha noite.
“Tenho muito gás para festejar por dias.”
“Quero ligar para você, vai me atender, festeira?”
“Sempre o atendo, Múmia.”
O telefone toca em seguida
— Essa é minha deixa para ir? — Julie levanta e beija meu rosto —
Vejo você depois, querida. Cuide-se.
Aceno um adeus, e ela me deixa para atender Luc.
— Ei!
— Lunna — a voz profunda me aquece, mas mantenho uma certa
distância quando digo:
— O que precisa falar comigo?
— Volto amanhã para casa. Eu tenho uma novidade e não via a hora de
te contar — ele agora tem um tom alegre e leve como nunca ouvi.
— É? O quê?
— Selene irá comigo.
— Luc, que notícia maravilhosa! Eu fico tão feliz por você — eu estou
realmente feliz por ele.
— Não é definitivo, é apenas uma visita —ele continua — Mas estou
tão feliz, Lu.
— Sim.
— Quero que venha conhecê-la — ele solta o convite e me deixa sem
ação por um tempo — Se não quiser, irei entender, querida.
— Eu... eu irei, sim, obrigada por me convidar — tenho lágrimas
contidas nos olhos — Você vai ser um pai maravilhoso para ela daqui para
frente, Luc. E tenho certeza que ela vai amar você. De quem foi essa ideia?
— Bem, minha, e ela aceitou facilmente. Selene está começando a me
aceitar. — ele ri, feliz, e eu definitivamente estou chorando igual uma boboca
agora.
— Venha jantar amanhã — ele convida.
— Você não quer esperar? — agora estou nervosa com a reação de
Selene — Isso pode deixá-la insegura, Luc.
E eu também, se for sincera.
— Vou dizer que é um jantar de boas-vindas e que você é uma
convidada especial.
Ele deve estar muito feliz para admitir que sou especial, isso é um
começo. Eu mal posso esperar para vê-lo com a filha.
— Te vejo amanhã, Múmia. — digo, quando desligamos.
Olho ao redor, e tudo parece brilhar. Estou tão feliz por Luc começar
uma nova etapa com Selene, que parece que é comigo.
I Feel It Coming, de The Weeknd feat. Daft Punk, toca no fundo, e eu
quero levantar e dançar.
(...)
Baby I can take my time
(Querida, eu posso esperar)
We don't ever have to fight
(Não precisamos brigar)
Just take it step-by-step
(Vamos dar um passo de cada vez)
I can see it in your eyes
(Eu posso ver em seus olhos)
Cause they never tell me lies
(Pois eles não mentem)
I can feel that body shake
(Eu posso sentir teu corpo tremer)
(...)
CAPÍTULO 15
LUNNA
Estou excitada além da imaginação quando chego em casa, depois do
meu encontro com Julie, para continuar minha conversa com Luc . Eu não
devia, mas estou louca pela sua volta. Não posso negar, mentir para mim
mesma é muito chato e covarde, eu prefiro quebrar a cara e tentar do que não
tentar e ficar chupando dedo depois.
E não era bem um dedo que tenho em mente para o ato envolvendo
minha língua e certa parte da anatomia do Múmia.
Jogo-me no sofá e planejo um ataque a Luc. Sei que ele deve estar com
a filha, esse momento juntos é muito importante para consolidar esse laço
entre eles. Eu, com certeza, não irei disputá-lo com sua filha de jeito nenhum,
se eu não o ajudar, atrapalhar é que não vou. Saber que ela vem ficar por um
tempo me deixa feliz, como se a filha fosse minha.
Pego meu celular e digito uma mensagem, antes de enviar fico
preocupada se ele está com Selene. Seria constrangedor.
“Estou guardando todo tesão para quando voltar, quero passar horas
e horas enterrado dentro de você.”
“Luc, estou pensando em adiar esse jantar. Outro dia irei visitá-lo,
pois o primeiro dia de Selene em casa deve ser com você e seus pais.”
— Droga!
Volto para a cozinha onde Marta está ocupada e peço que prepare o
almoço de Selene e o sirva ao lado da piscina. Eu estou chateado por Lunna
não querer vir, e nem percebi que estava ansioso para que ela conhecesse
minha filha.
— Quanto tempo ela pode ficar? — pergunto para Luc, dois dias depois
que conheci Selene. Agora estamos os três no Aquário de São Paulo, em um
dia de diversão para Selene, que nesse momento tem o olhar vidrado no urso
polar. Ele me convidou novamente na manhã seguinte para vir com eles,
apesar dos meus protestos, porque acredito que os dois sozinhos se divertindo
é o certo, mas, para ser sincera, estou amando passar o dia aqui com eles.
— Uma semana é o máximo, e ela tem a escola — Luc responde minha
pergunta. A consternação em sua voz me faz voltar meu olhar para ele. Sua
tristeza faz esse ar soturno dele mais evidente. Eu sempre o achei frio e
distante, e impliquei ao extremo com isso, até pus apelidos ridículos nele.
Agora, talvez, eu compreenda de onde vem esse ar inatingível e frio.
— Sabe que ela sentirá sua falta quando a deixar lá, não é? Que vai ser
duro para ela?
Ele não responde, mas sua mandíbula aperta tanto que tenho receio de
ter sido invasiva demais com essa pergunta. Ele apenas olha perdido para
Selene, e meu coração dói por esses dois. Por que a vida tem que ser tão cruel
com eles? Por que a justiça tira de um pai o direito de ter de viver ao lado dos
filhos dessa forma? Selene é a que mais sofre no meio dessa guerra entre Luc
e a ex-sogra.
— Lunna! Papai — o gritinho feliz de Selene chama nossa atenção para
ela. — O urso é enorme, vem ver! Tira uma foto, papai!
— Já vamos, amor — digo, sorrindo, deixando um pouco a tensão de
lado.
Depois de sair do aquário, vamos jantar em um restaurante, e a
hiperatividade incomum de Selene é muito gratificante, ela não para de pular
para cima e para baixo, com entusiasmo.
Estamos na mesa há meia hora, vendo Selene devorar seus
hambúrgueres com ímpeto, como se tivesse comido há uns cem anos. Sob
meus protestos, ela pediu hambúrguer, e esse pai dela, que não nega nada,
permitiu. Criança não deveria comer isso no jantar. Ou melhor, hora
nenhuma.
— Lunna, você deveria comer um pedaço, está olhando o de Selene —
Luc me provoca, e eu apenas vou anotando para minha vingança.
Luc está ao meu lado, praticamente colado a mim. Isso causa um olhar
atento de Selene. Ela já me fez corar dois dias atrás, na piscina, quase
dizendo ao seu pai que eu quero ser a namorada dele. Essa garota vai ser
terrível, no bom sentido, claro. Eu já estou completamente apaixonada por
ela.
Disfarçadamente, deslizo minha mão para baixo e a coloco na coxa
musculosa de Luc. Me inclino na mesa e chamo a atenção de Selene para
mim, enquanto mantenho meu braço para baixo, longe de sua visão.
— Você quer mais alguma coisa, querida? — pergunto, amorosa,
fazendo-a corar com o carinho. Ela é tão suscetível a qualquer afago. Minha
mão desliza, acariciando Luc, e ele agarra tão rápido minha mão que acho
que vai quebrar.
— Ai! — gemo exageradamente.
— Está maluca? Me apalpando em público! — ele esbraveja no meu
ouvido, acho que ele não achou muita graça. Me dá vontade de rir, seu
desconforto é grande. Segura essa, múmia!
— O que vocês estão cochichando, papai? — a curiosidade de Selene
me faz rir, querendo saber como ele se sairá.
— Nada, filha, estou apenas dizendo para Lunna parar de cobiçar seu
sanduíche.
— Você quer, Lunna? — ela oferece.
— Obrigada, querida, você é um amor.
— Tudo bem.
Quando demos o dia por encerrado, ele me deixa em casa primeiro.
Encontro vários recados de Julie na minha caixa postal do celular, e percebo
que aqueles dois me fizeram esquecer o celular por um dia inteiro.
Julie quer saber por que não me comuniquei o dia todo e por que faltei
ao encontro semanal no Apollo. Caramba, eu esqueci!
Ligo para ela e sou atendida imediatamente.
— Lunna, onde estava? Ficamos preocupadas!
— Ah, eu tive que trabalhar e não olhei o celular. Desculpe, querida!
— Por que não acredito em você?!
Continuamos conversando por um tempo e depois me despeço, indo
tomar um banho e tentar dormir melhor hoje.
LUC
— E o processo, Elizabeth? Preciso que isso caminhe rapidamente —
estou com Elizabeth ao telefone, pois depois da conversa que tive mais cedo
no aquário, com Lunna, fiquei inquieto desde então. Selene está me
surpreendendo demais com a facilidade de me aceitar e às poucas pessoas
que eu a apresentei. E quando eu a deixar, daqui a três dias, com Amélia, vou
magoar minha filha mais uma vez. — O que posso fazer para isso caminhar
mais rápido?
— Luc, estou fazendo tudo que posso, mas só se passou duas semanas
desde que entrei com o novo processo, tenha um pouco de paciência. Como
ela está na sua casa?
— Melhor do que eu poderia imaginar. Selene parece que viveu
comigo a vida toda. Ela está feliz, Elizabeth, não quero levar minha filha de
volta para viver naquele inferno.
— Eu sei, mas se você se precipitar pode dificultar tudo. Amélia é uma
pessoa venenosa, percebi pelo pouco contato que tive. — ela suspira. —
Tenha mais um pouco de calma. Sabe que, no Brasil, a justiça é lenta.
— Não funciona, você quer dizer — digo, irritado — Poderia não levar
mais ela e você poderia alegar maus tratos, porque é isso que ela sofre
enquanto o processo não anda.
— Vou entrar amanhã com uma ação de tutela antecipada, mas eu
preciso de provas comprobatórias de que Selene sofre psicologicamente
vivendo com a avó. Um parecer de um psicólogo pode comprovar a alienação
parental, e isso é apenas o começo, Luc.
— Faço o que tiver de fazer, não importa. Eu não vou levá-la de volta.
— Pense antes de agir, se você der uma razão para sua ex-sogra, ela
não terá escrúpulos e vai usar tudo contra você.
Falamos por alguns minutos, e quando desligo, estou precisando de
certa espertinha. Ela está em casa, onde a deixamos na volta do passeio de
hoje. Preciso dela. São nove da noite e tenho certeza que uma visita não fará
mal a nenhum de nós dois. Ela me atormentou o dia inteiro com toques aqui e
ali. Provocadora! Sabia que não faria nada na frente de Selene, mas minha
filha não é boba. Toda vez que estamos os três juntos, ela tem esse olhar
divertido, parece saber que escondemos algo dela. Acho que não seria má
ideia dizer para ela que somos... O que diabos somos mesmo?
Caminho até o quarto de Selene e vejo que ela está dormindo. Sorrio.
Ela cansou hoje. Estava eufórica olhando os animais, não parou um segundo.
Fecho a porta do quarto e volto para a sala de descanso de Marta. Ela está
sentada, vendo tv, quando entro.
— Você precisa de alguma coisa? — ela sorri, prestativa.
— Na verdade, sim, eu preciso sair por algumas horas — digo — Você
poderia ficar de olho em Selene para mim?
— Vá tranquilo se divertir, seu Luc, eu tenho certeza que ela não
acordará até amanhã. — ela desliga a TV e me segue para fora — De
qualquer maneira, irei ficar por perto. Vá, dona Lunna deve estar impaciente.
— Vou apenas me encontrar com os caras para um drink — minto, e
ela ri.
— Sei, sim, senhor. Dê lembranças minhas aos meninos — ela diz,
referindo-se a Nicolas e Adam — Mas tenho certeza que você não os verá
hoje.
Começo a sair, quando ela diz:
— Vocês dois deviam casar e fazer essa criança feliz. Ela precisa de
um lar, seu Luc, e Lunna parece ser uma mulher muito amorosa, daria uma
ótima mãe para sua filha. Mas essa é apenas uma sugestão de uma velhota
boba romântica.
Casar?
— Você não é velha, Marta. Estou saindo. Qualquer coisa, ligue.
Saio, e o que ela disse martela na minha cabeça. Casar? Com Lunna?
Que ideia!
Chego em seu apartamento e bato. Um minuto mais tarde, a porta é
aberta por ela, que fica claramente surpresa por me encontrar ali.
— O que aconteceu?
Escoro meu ombro no limiar da porta, cruzando meus braços.
— A pergunta não é essa. A questão, minha querida, é o que vai
acontecer.
— Ah!
— Me convide para entrar.
— Você por acaso assistiu Crepúsculo? Só vampiros que precisam de
convite. Além disso, já entrou aqui antes sem esperar meu convite.
— O que é isso? O único crepúsculo que já vi é o ocaso e o anoitecer.
Fale minha língua. — entro, fechando a porta atrás de mim. Quero prolongar
e torturá-la por ter me provocado o dia todo, mas não consigo me controlar. E
simplesmente arrebato-a do chão e sigo para a superfície plana mais próxima,
que por acaso é o sofá. Eu quero memorizar cada detalhe dessa mulher na
minha mente, cada gemido, seu cheiro doce e viciante, para que eu possa
lembrar, sempre que eu precisar, quando estiver longe dela ou quando não
estivermos mais juntos, e esse pensamento me deixa insanamente louco.
Colo minha boca na dela, em um beijo avassalador de sentidos. Sua
língua é suave, e eu chupo forte, devoro cada recanto de sua boca delicioso
pra caralho. Ela coloca as mãos suavemente atrás do meu pescoço e me puxa
mais para ela. Lunna é a mulher perfeita para mim. Ela sabe, como nenhuma
outra, me atiçar.
Eu não tenho tempo para ir devagar, e arranco o pequeno short rosa do
corpo dela.
— Você é incrivelmente linda! — sussurro, deslizando minha mão por
sua barriga plana — Eu preciso tanto foder você.
— Eu amo isso. Luc?
— Sim?
— Me beija!
CAPÍTULO 19
LUNNA
Monto Luc como se ele fosse meu garanhão favorito. O prazer
queima através das minhas veias como lavas de um vulcão prestes a explodir.
Isso quase parece irreal. Ele, sentado no sofá, me deixando montá-lo em
busca do meu prazer. Do nosso prazer.
Cada golpe lânguido me massageia por dentro de uma forma que nunca
pensei que fosse possível, e isso apenas cresce mais e mais. Meus sentidos
intensificam, o prazer flui, até eu começar a tremer com a intensidade das
investidas, agora como uma britadeira, do quadril de Luc, que abraça minha
cintura firmemente para me deixar parada, recebendo os golpes do seu pau
dentro de mim. Gritos arfantes e incoerentes saem de minha garganta quando
ele me abraça e investe poderosos movimentos em busca do próprio prazer.
Sinto meu corpo tremer, em êxtase. Luc realmente sabe como me
enlouquecer. Deus, ele é tão gostoso que chega a ser pecado ser tão quente.
Levanto minha cabeça grogue de seu peito e distribuo beijos pelo peito
duro e masculino. Vou escorregando pelo seu corpo e deslizo minha boca em
sua pele lisa. A cada toque da minha língua, o sinto estremecer e seu pau
sacode levemente, ainda duro, inclinado em sua barriga. Ignorando esse
pedaço de pecado delicioso, desço por seu abdome, esse V que me deixa de
pernas bambas, e vou salpicando beijos e mordidinhas na pele dele, meus
olhos em seu rosto. Amo vê-lo perdendo esse ar frio e se rendendo a mim.
Escorrego até ajoelhar-me no chão ao lado do sofá, entre suas pernas,
contemplando seu belo corpo nu. O homem é realmente sexy, ele exala
pecado por cada poro.
— Vocês, homens, fazem isso de propósito, não é? — falo rouca,
traçando com a língua os músculos talhados — Sabe que isso deixa a
mulherada louca.
— A única que quero louca é você, loirinha — ele fala, me olhando
com pura malícia no olhar.
— Se me chamar disso de novo, eu mordo bem aqui, Múmia. —
inclino-me e passo a língua lentamente ao longo do seu pau grosso e lindo, da
base à cabeça rosada. Lambo olhando sensualmente para seu rosto. Ele
apenas joga a cabeça para trás, gemendo guturalmente. Safado, ele não tem
medo que eu cumpra a ameaça de mordê-lo. Ele gosta que o ameace, porque
seu pau só parece crescer na minha mão, longo e deliciosamente grosso. Amo
isso. — Loirinha? Sério?
— Caramba, loirinha, continue — ordena, me provocando, mas o
humor permeia sua voz rouca. Eu não sou muito obediente, mas tem hora que
a submissa incorpora e eu apenas faço o que ele manda. Afinal, a noite
apenas começou para nós.
Inclino-me novamente e passo a língua mais uma vez por seu pau. O
homem nem parece que acabou de gozar, pois seu pênis desperta ao toque da
minha língua, como se exigisse o calor úmido de minha boca. Ao chegar à
cabeça de seu pênis, a provoco levemente com a língua, fazendo-o suspirar.
Sem afastar em nenhum momento meus olhos dos dele, envolvo minha mão
ao redor do seu sexo e guio a ponta para minha boca. A chupo levemente,
observando seus olhos emitindo faíscas de luxúria que aquecem o meu corpo.
Sua respiração começa a ficar mais pesada, mas quero mais; quero fazê-lo
perder-se completamente por mim.
Liberto a cabeça do seu pau da minha boca e desço mais uma vez,
minha língua fazendo um caminho prazeroso até seus testículos. Depois de
um beijo de boca aberta, sugando levemente a pele sensível, o provoco com
os dentes, raspando bem levemente, apenas o suficiente para fazê-lo
estremecer e grunhir.
—Porra, Lunna...
—O que foi? Devo parar? — Pergunto, provocativa, massageando seu
pau com as mãos.
Não espero sua resposta; guio seu pênis à minha boca, consumindo-o
pouco a pouco, envolvendo-o, meus lábios se esticando ao seu redor, minha
língua fazendo o percurso mais prazeroso para ele. E para mim. Dar-lhe
prazer é tão prazeroso quanto sentir o prazer que Luc me proporciona cada
vez que nos entregamos um ao outro.
Em uma sucção firme, ergo minha cabeça lentamente, enquanto minha
língua o acaricia, sentindo cada centímetro daquela carne rija e deliciosa. Luc
geme alto e agarra meus cabelos, descontrolado, guiando os movimentos de
vai e vem de minha boca sobre seu pênis. Eu o devoro como se estivesse
faminta, acariciando seus testículos levemente com minhas unhas.
Depois de um momento, Luc tenta me puxar para longe dele, mas uma
das minhas mãos agarra firme seu pau, recusando-se a deixá-lo.
—Lunna, vou gozar... — ele diz, ofegante, e afasto minha boca só o
tempo suficiente para dizer:
—Quero provar o seu prazer... — e volto a chupar seu pau.
Luc geme, rouco, apertando meus cabelos. Mal sinto a dor; estou
queimando, consumida em chamas, tão excitada quanto ele. De repente, seu
corpo se tensiona e sinto seu gozo quente inundar minha língua. Continuo a
acariciá-lo até senti-lo relaxar completamente.
Quando ergo a cabeça, o encontro me encarando languidamente, a
respiração ainda um pouco agitada. Sorrio, satisfeita, lambendo os lábios
como uma gata saciada.
—Você acabou comigo, loirinha. Acho que merece uma retaliação. —
dito isso, se ergue do sofá e me levanta junto com ele. Dou um gritinho
surpreso quando ele me joga nos ombros e segue em direção ao banheiro,
onde me faz delirar sob o chuveiro. Maldito tesão acumulado, estamos
insaciáveis!
Depois de nos enxugarmos, caímos na cama, exaustos. Minha múmia
me prende entre seus braços e me aconchego entre eles, sentindo o calor da
sua pele firme. Ele beija meus cabelos e diz:
— Só mais um beijo e vou embora, loirinha — Luc passou a noite me
chamando disso, que chato.
— Luc, você não é original. Loirinha é a minha avó! Sem beijos para
você!
Ele gargalha e me cobre com seu peso, beijando-me. Ele me
enlouquece e excita.
— Não acredito nisso! — a voz de Luc me acorda, e eu só o vejo pular
da cama e começar a se vestir — Droga!
— Que foi? Onde é o incêndio? — pergunto, grogue.
— São cinco da manhã, Lunna, eu dormi aqui! — ele veste a camisa e
senta na cama, calçando os sapatos. Aproveito e o abraço por trás.
— Isso é ruim? Não vi você reclamando ontem à noite.
— Deixei Marta de olho em Selene e disse que voltaria logo. Que
merda! E ainda estou aqui, às cinco da manhã! — ele se recrimina,
levantando-se.
— Elas estão bem — digo, mas ele já está a meio caminho da porta do
quarto. Ele para com a mão na maçaneta e vira para mim.
— Lapso meu ter perdido a noção do tempo. Vejo você depois.
— Tudo bem — ele sai sem nem mais uma palavra
Levanto, pois não tenho mais sono para ficar na cama. Sento na sala
com uma xícara de café, olhando o vazio até dar a hora de ir para a clínica.
Acho que minha folga acabou.
LUC
Minha volta para casa é cheia de recriminações pelo meu lapso. Como
pude dormir fora de casa quando deveria ter voltado? Marta não é a babá de
Selene. Sei que quando ela estiver morando comigo vou ter de organizar toda
minha vida para ela, mas agora isso pode ter a merda de uma consequência.
Que caralho!
E se Amélia tem uma pessoa me espionando e usar isso contra mim?
Passar a noite fora, quando tem uma criança dormindo sozinha, em casa,
pode me comprometer perante um juiz, apesar de Marta ter cuidado dela
durante a noite, mas eu sei como a mente de Amélia funciona. Maldição!
Encontro Marta já acordada, na cozinha, mexendo na panela.
— Bom dia, seu Luc — ela fala assim que me vê, depois sorri — A
pequena ainda está dormindo, se isso é o que ia perguntar antes de dar bom
dia.
— Você tem razão. Eu perdi a noção do tempo, desculpe, você não é
babá de Selene. Não tem de passar a noite...
— Seu Luc, Selene já é uma mocinha, não é nenhum bebê que precisa
de atenção durante a noite e, além de tudo, ela não acordou nem nada. — ela
me olha atentamente — Não devia estar com essa ruga na testa, o senhor é
jovem e não está acostumado com uma criança em casa.
— Obrigado, Marta. — aceno — Vou lá em cima. Ah, tire o dia de
folga.
Ela começa a protestar, mas não dou atenção. Subo e vou direto para o
quarto de Selene. Ela ainda dorme, e vou para meu próprio quarto. Depois de
tomar um banho, pego meu celular e digito uma mensagem para Lunna, me
desculpando pelo modo grosso como agi com ela.
Vou para meu escritório trabalhar um pouco, tenho toneladas de
trabalho acumulado. Deixo a porta aberta, e nas próximas duas horas fico
concentrado lá, até uma voz infantil me tirar dos documentos que analiso.
— Oi, papai. — ela ainda está de pijama e toda descabelada, parada na
porta.
— Bom dia, anjo! Você dormiu bem?
— Sim.
— Ótimo. —levanto e a pego de surpresa, quando a seguro nos braços
e a jogo nos ombros, levando-a para tomar café da manhã. Ela solta gritos
surpresos com risadas enquanto a levo pendurada nos ombros.
— Ah, aí estão vocês — Marta diz, quando entramos na sala de jantar
onde a mesa está posta.
— Não dei folga para você? — digo, quando coloco Selene em uma
cadeira.
— Não tem porquê isso, seu Luc.
— Eu e Selene podemos nos virar sozinhos, não é, princesa? — pisco
para ela e sento à cabeceira da mesa.
— Sim.
— Resolvido, Marta, você está dispensada e não se fala mais nisso!
— E Lunna? — pergunta Selene. Ah, ela também quer certa loirinha
aqui também? Acho que vou sempre chamá-la assim, quando quiser ter uma
noite levando seus castigos. Porra, não foi à toa que perdi a hora, ela me
esgotou totalmente.
Marta me olha, também sorrindo, esperando minha resposta. Mulheres!
— Hoje Lunna tem de trabalhar, querida. Não pode ficar aqui todo dia.
— Ah, mas ela é sua namorada! — ela diz, taxativa, como se isso fosse
motivo suficiente para Lunna estar aqui. E de onde ela veio com essa
história? Será que Lunna disse isso a ela? Ou Marta? Que diabos!
— O quê? Quem disse isso a você, princesa?
— Ninguém. — ela ataca sua comida, abaixando a cabeça. Estico meu
braço e levanto seu queixo.
— Esqueça essa história de namorada, filha — Outra coisa que saiu do
meu controle. — Lunna e eu somos amigos.
— Ah...
Ela apenas diz isso e volta sua atenção para seu prato. Ela está
decepcionada? Agora tenho complô nessa casa? Primeiro Marta, ontem,
agora Selene parece triste. E só faz uns dias que elas se conhecem.
— Seu Luc, acredito que o senhor tem um problemão — Marta diz,
rindo, e aponta para Selene — Alguém parece triste.
— Marta, você não está de folga?!
— Claro, senhor, estou indo — ela caminha para fora da sala, ainda
rindo.
Viro-me para Selene.
— O que quer fazer hoje?
— Não sei!
— Ok, vamos achar alguma coisa para você.
Estamos terminando nosso café, quando meu celular começa a tocar e
vejo o nome de Elizabeth na tela.
— Bom dia, Elizabeth.
— Temos um problema, Luc — ela vai direto ao ponto — Sua ex-
sogra, ela deve odiar você de verdade. Ela alegou que você a obrigou a
assinar o documento para levar Selene.
— O quê? — Levanto tão rápido que a cadeira cai atrás de mim.
— Estou contendo os danos. Ela parece achar que pode brincar com a
justiça, só que isso vai custar mais caro para ela do que imagina. — Elizabeth
fala do outro lado — E isso pode contar a seu favor, Luc!
— Amélia não tem limites! — vocifero, furioso, e me contenho quando
vejo Selene se encolher e me olhar de olhos arregalados. — O que quer que
eu faça?
— Por enquanto nada, mas pode ser que antes de eu chegar lá no Rio,
uma ordem de prisão para você já possa ter sido expedida. — ela suspira —
Estou tentando tudo ao meu alcance para que isso não aconteça, estou falando
com todo mundo que eu posso pedir um favor, Luc. Tenho de ir agora.
— Obrigado — é apenas o que consigo dizer. — Ligue-me.
— Fique calmo.
— Estou calmo, Elizabeth, muito calmo.
Desligo, e a vontade de jogar a porra do celular contra a parede é
contida apenas pela presença de Selene.
— Está tudo bem, querida, desculpe o papai por gritar. — ela assente.
— Por que não troca de roupa e vamos nos divertir?
Sem falar nada, ela acena com a cabeça e corre para fora da sala.
Agarro meu cabelo com força e olho para o teto, tentando conter a fúria.
Chega de Amélia na minha vida, destruindo tudo com seu veneno.
CAPÍTULO 20
Luc
Sento-me na sala esperando por Selene e fecho meus olhos,
angustiado. O que aquela mulher pretende? Agora entendo por que ela deu a
autorização tão fácil, ela estava simplesmente planejando aprontar contra
mim. Deveria ter tido mais cautela, mas a vontade de livrar minha filha das
garras venenosas daquela mulher foi maior.
Selene aparece logo depois, vestida, e seu olhar assustado corta meu
coração.
— Venha aqui, querida — chamo, e ela corre para mim. Seguro-a firme
nos braços quando ela se agarra como se temesse o mundo lá fora. Talvez ela
deva mesmo, se aquela maldita avó dela conseguisse o que queria. Mas
minha confiança em Elizabeth é grande, acredito que ela dará um jeito de
Selene ficar aqui de vez. — Está tudo bem, querida, papai não está bravo com
você. Só fiquei chateado com o telefonema. — digo baixo. — Você está
bem?
Ela só assente. Fico um tempo com ela, enquanto solto beijinhos em
sua cabeça.
— O papai vai cuidar de você de agora em diante, querida, não vou
permitir que nada magoe você. — garanto, mas temo que nem tudo esteja em
meu poder para que isso não aconteça.
— Minha avó vem me buscar? — o fio de voz dela corta a porra do
meu coração, e eu aperto mais meus braços ao seu redor.
— Não se eu puder impedir, mas você sabe que tem de voltar para casa,
no Rio, não é? — eu tenho de ser realista. Se Elizabeth não conseguir que ela
fique agora, não vou cometer um crime e não devolvê-la para Amélia, como
era o combinado, e assim só piorar as coisas já tão complicadas, mas não
suporto a ideia de deixar Selene aos cuidados dela.
— Eu não quero voltar, papai, eu gosto daqui, por favor — o nó na
garganta me impede de responder. Ela vai voltar a me odiar quando eu a levar
de volta, sei disso. Que merda do caralho!
Fúria contra o sistema e contra Amélia cresce como um gigante dentro
de mim. Não é à toa que alguns pais fazem besteiras quando querem tanto a
guarda dos seus filhos.
— Não quero falhar com você mais do que tenho falhado, Selene. Eu
nunca quis, com minhas atitudes quando era mais jovem, fazer você sofrer as
consequências dos meus atos — começo a falar. Tenho de pedir desculpas à
minha filha por colocá-la nessa situação, eu devo isso a ela. Ela já tem idade
de compreender muitas coisas. — Você ainda pode voltar para a casa de sua
avó, mas não vou deixar um segundo apenas que viva do jeito que viveu
durante todos esses anos. Irei morar lá perto, se for preciso. Não irei deixá-la
sozinha outra vez.
— Tudo bem.
— Acredita em mim, pequena? — encosto meu queixo no topo de sua
cabeça. — Você é a garota mais forte que conheço, sabia?
Eu resolvo aproveitar esse dia com ela, mas Selene está se fechando
outra vez. Passo a manhã tentando de tudo para animá-la, contudo, ela só
assente, tímida como antes. A vivacidade que começou a despontar regrediu,
e isso só faz a raiva dentro de mim aumentar.
É quase uma da tarde, quando Elizabeth me liga, para me manter
atualizado do que está acontecendo.
— Luc, ainda não tenho nenhuma notícia boa para você — ela diz —
Estou esperando a decisão da minha solicitação para falar com o juiz de
urgência e seria interessante que você estivesse aqui.
— Não vou voltar, Elizabeth, só a levo de volta algemado— digo,
resoluto — Não vou magoar Selene dessa forma. Prometi para ela, Elizabeth.
— Eu sei, mas não será preso, afinal não fez nada errado, Luc. Ligo
para você mais tarde, depois que conseguir conter os danos por aqui.
— Obrigado.
Desligo e volto minha atenção para Selene, que está a pouca distância.
Provavelmente ela entende tudo que está havendo, por isso está tão calada.
Mesmo que não seja correto de minha parte envolver Lunna no meu
drama pessoal, eu não penso muito quando uma ideia surge. Estou fazendo
isso por Selene, vai ser bom para ela ter a vivacidade de Lunna por perto,
porque estou sem saber o que fazer com nós dois. Se eu estivesse com uma
crise na empresa ou qualquer outro problema, eu saberia que atitude tomar,
mas com uma criança? Com a minha filha, em particular, eu fico sem rumo.
— Que tal fazermos uma visita à Lunna? — digo, sorrindo. Ela
provavelmente está trabalhando e certamente não deveríamos ir lá, mas estou
precisando dela, talvez mais que Selene. Eu saí da casa dela como um
lunático, hoje cedo. Pelo que conheço dela, deve estar brava comigo. Sorrio
intimamente com o pensamento. Gosto quando ela fica brava comigo —
Então, que me diz, mocinha?
— Legal — ela dá de ombros.
Certo; não é a resposta que quero ouvir, mas dada as circunstâncias, é
mais que suficiente. Ligo para ela tentando saber onde está, porém, a ligação
cai na caixa postal e eu resolvo fazer uma surpresa.
LUNNA
Give me love like never before,
(Me dê amor como ela)
'cause lately I've been craving more,
(Porque, ultimamente, eu tenho desejado mais)
And it's been a while but I still feel the same,
(E faz algum tempo, mas ainda sinto o mesmo)
Maybe I should let you go...
(Talvez eu deva deixar você ir)
Meu dia não foi muito legal. A manhã começou superatarefada, já que
ontem tirei folga não planejada. Tenho dois pacientes pela manhã e não tenho
tempo de pensar em nada e ninguém, mas, à tarde, quando paro para um
almoço corrido, vejo ligações não atendidas de Gabrielle e de Luc. Eu não
quero retornar, contudo, não me domino muito quando o assunto é esse
homem. Deixo para ligar quando voltar para minha sala, mas me surpreendo
quando entro na recepção da clínica, pouco depois, e vejo os dois parados lá.
Luc e Selene.
Fico chocada, sem reação, quando Selene dispara para mim, ao me
avistar primeiro que seu pai. Ela envolve os braços ao redor da minha cintura,
enterrando o rosto no meu estômago. O que está acontecendo? O que eles
fazem aqui?
— Ei, querida! — digo, me abaixando para ficar no mesmo nível que
ela — Tudo bem?
Ela assente, tímida. Seu rosto está triste, sua alegria de dias atrás parece
distante, e lembra muito a Selene da foto que Luc enviou outro dia para mim.
Vejo Luc se aproximar e levanto para observá-lo vindo. Sua presença
marcante faz meu coração trovejar quando observo seu andar sexy, a camisa
de algodão preta colada nos músculos e o jeans deixando-o totalmente
diferente de como me acostumei a vê-lo: com terno e gravata, exalando poder
daquele ar frio que ele costuma exalar. Agora, o gelo derreteu, e tudo por
causa dessa menina linda que voltou a segurar minha cintura. Envolvo um
braço por seu ombro magro e a trago para mais perto de mim.
— A que devo a honra dessa visita? — pergunto, quando Luc para à
nossa frente.
— Selene estava com saudade — ele diz, todo sério. — Não é, filha?
— Sério? Como é mentiroso!
— Verdade, Selene? — cutuco sua costela, e ela solta um riso com a
cócegas.
— Ele que quis vir — ela denuncia calmamente, depois que paro de
tocar suas costelas.
— Eu sabia! — sorrio para ele, triunfante, e recebo uma careta sexy de
volta.
— Filha, essas coisas não se contam.
— Você não disse que não era para contar a ela, papai — retruca
Selene. Eu já disse que amo essa garota?
— É isso aí, garota! — faço uma pausa, e com o coração apertado,
digo: — Eu sinto muito, mas tenho de voltar ao trabalho. Amei a visita.
— Tudo bem, estávamos apenas passeando um pouco — ele me encara
nos olhos, e vejo no olhar cinzento de Luc que algo não está bem.
— Está tudo bem, Luc? — pergunto, agora preocupada, deixando as
gracinhas para outra hora. — Aconteceu algo?
— Pensei em convidar você para passar o resto da tarde conosco — ele
diz, mas sei que há outro motivo para a repentina visita. Ele nunca fez algo
parecido nesses meses que estamos tendo um relacionamento.
Eles dois parecem perdidos aqui, chamando minha atenção. E contra
toda lógica, eu anuncio:
— Ok. Só esperem por mim aqui um momento — beijo o topo da
cabeça de Selene e volto para minha sala. Eu vou acabar perdendo meu
trabalho nesse ritmo. Dez minutos depois de passar meu paciente da tarde
para outro fisioterapeuta com horário vago e prometendo horas extras depois,
volto para a recepção.
— Pronta para a diversão! — Selene segura minha mão quando
caminhamos para fora da clínica. — Aonde vamos?
— Vocês, garotas, decidem — Luc fala, quando nos acomodamos no
carro.
— O que está havendo, Luc? — pergunto baixo, para que Selene não
escute. Ele me lança um olhar rápido enquanto manobra para fora do
estacionamento.
— Amélia — é a resposta curta, porém, diz mais que qualquer outra
coisa. Essa mulher não tem limites. — Conversamos depois.
— Claro.
A tarde é para a distração de Selene. Vamos para um shopping, e ela
passa horas se divertindo, enquanto conversamos. Estou indignada com a ex-
sogra de Luc. Como essa mulher pode ser tão perversa com a neta que diz
amar?
— Você pode ser preso? — digo, com horror. Ele não fez nada errado,
como a justiça pode ser tão cega?
— Não acredito, mas caso isso aconteça, quando eu sair da prisão darei
motivo, eu juro — ele fala, com raiva.
— Ei, querido, não fale assim. Sei que está com raiva, mas fazer uma
loucura pode fazê-lo perder sua filha para sempre. — seguro sua mão na
minha — Tenho certeza que Elizabeth fará essa mulher mentirosa pagar. Fico
feliz que tenha ido me procurar. Deve compartilhar tudo isso, sim, Luc.
Estarei aqui para o que você quiser.
Inclino-me e beijo rapidamente sua boca
— Tudo?
— Tudo, Múmia.
— Não me dê ideias — ele agarra minha mão e beija a palma. — Se
não estivéssemos em um lugar público, com minha filha por perto, acho que
iria aceitar o convite agora.
— Você é tão certinho, ancião. — provoco, e fico feliz, pois isso distrai
sua mente das preocupações.
Vejo Selene vir correndo do simulador de carro em que ela estava
entretida e não me afasto de perto. Eu sei que ela está nem aí para nós dois
juntos.
— Estou com sede, papai — ela anuncia.
Após a declaração dela, decidimos procurar um local para comermos e
tomar algo.
— Tenho de atender, é Elizabeth – Luc diz, quando olha o visor do
celular que está tocando.
Ele se afasta de nós duas para atender. Estamos em uma sorveteria
vendo Selene devorar uma taça enorme de sorvete. Mantenho o ouvido atento
na conversa, e não perco a tensão da voz dele, apesar de não entender o que
ele fala.
— Então, por que você está tristinha, querida? — puxo assunto com
Selene, tirando a atenção dela de Luc. Ela parou de tomar o sorvete e olha
para ele com expectativa. Deve estar curiosa. Ela volta os olhos para mim.
— Acho que minha avó vem me buscar. — ela fala, pesarosa.
— Por que diz isso, querida? — Luc dissera a ela? Ele não falou nada
sobre Selene saber o que está acontecendo. Ela não deve ser exposta a nada
disso. Como essa criança crescerá em meio a tanta dor? Brigas?
— Porque sim.
— Ela não pode... — começo a falar, mas Luc volta para a mesa, e tem
o maior sorriso que já vi no rosto. Ele simplesmente levanta Selene da cadeira
e a abraça sem dizer nada. Mas eu sei que ele recebeu alguma notícia boa. Ele
a aperta tanto que ela começa a protestar. Estou rindo quando ele finalmente a
solta de volta na cadeira.
— Lunna — ele diz, antes de me beijar. Beijar de verdade, e na frente
de Selene. Bem, eu só faço retribuir.
CAPÍTULO 21
Luc
Porra! Estou quase enfartando enquanto espero Elizabeth falar.
Engulo em seco quando o medo faz meus poros transpirarem. Não posso
perder Selene agora, caramba!
— Luc, não quero que fique empolgado — a voz de Elizabeth, do outro
lado da linha, está animada. Ela ri, isso é um bom sinal. — Estou mentindo,
claro que quero que fique muito feliz! Consegui, por enquanto, que você
fique com Selene. Solicitei ao juiz uma investigação da conduta da sua ex-
sogra, joguei tudo que pude: difamação, calúnia e tudo que eu pensei. Joguei
tudo na mesa. E do abuso mental que Selene sofre. Ele acatou, e enquanto
isso estiver rolando, você fica com ela. Mas você tem de trazê-la em algumas
semanas, para uma avaliação psicológica por um psicólogo determinado pelo
juizado de menores. Isso é só o começo do processo, Luc, mas eu tenho fé
que tudo acabará bem dessa vez para você. Tenha fé!
— Obrigado, Elizabeth, eu sabia que você daria um jeito! Não sabe o
quanto está me fazendo feliz com essa notícia — estou eufórico, não me
contenho dentro de mim mesmo de tanta alegria. Porra, isso é bom demais!
— Vou continuar aqui por uns dias, Luc, e avisarei quando você poderá
vir — ela faz uma pausa — O ideal seria se o conselho tutelar conhecesse sua
casa, onde Selene irá viver. Se você tivesse uma vida familiar mais adequada
que sua ex-sogra, você ganharia esse processo imediatamente. Afinal, você
sempre garantiu uma vida confortável em termos financeiros para ela, agora
só precisa mostrar que pode dar um lar para ela, Luc.
O que ela quer dizer com isso? Que devo casar e dar uma família a
Selene? Viro de frente para a mesa onde estive sentado há pouco e observo as
duas mulheres na mesa. Talvez não seja uma má ideia.
— Entendo.
— Espero que sim. Aproveite com sua filha, Luc, manterei você
informado. — ela ri do outro lado — Amélia achou que poderia ganhar essa,
hein? O tiro saiu pela culatra.
— Mas ela não vai descansar até me atingir. — Mas eu tenho uma
forma de atingi-la também.
— Vá com calma, Luc, ela quer que você cometa um deslize.
— Eu fiquei calmo por muito tempo, Elizabeth, e ela sempre ganhou,
está na hora de isso mudar. — retruco.
— Talvez esteja certo. Tenho de ir agora. Ligo para você. Vá curtir sua
filha!
— É exatamente isso que irei fazer — Estou sorrindo como um maluco
quando volto para a mesa. Agarro Selene tão forte que ela protesta e tenta se
esquivar do meu aperto.
— Aiii, papai...
— Você é o bem mais precioso que tenho, filha. — sussurro contra
seus cabelos — Amo você.
Depois de sentá-la, vou até Lunna e não estou pensado coerentemente
quando a beijo profundamente, sussurrando seu nome, esquecendo onde
estamos.
Sua boca se abre recebendo a minha, receptiva. Ela solta um gemido
baixo, e eu aproveito para aprofundar mais o beijo. Estou tão empolgado que
esqueço que estou na frente de Selene.
— Vocês são namorados! — a voz entusiasmada dela nos tira do estado
febril, e solto Lunna que está vermelha e com um sorriso satisfeito nos lábios.
Olho para Selene, que nos assiste com atenção.
— O que a advogada falou? — questiona Lunna, já refeita de nossa
interação. Ela lança olhares ansiosos para Selene, que está rindo deliciada,
agora. Ah, temos uma torcedora de primeira aqui.
— Bem... — digo, voltando para minha cadeira — Tenho uma notícia
estupenda! Selene não vai ter de voltar para o Rio, não agora, e espero que
nunca mais — olho-a — O que acha disso, princesa?
— Verdade?! — ela praticamente grita — Vou poder ficar aqui com
você e... e... — ela olha para mim e Lunna, e não termina a frase, mas eu a
entendo. Essa semana praticamente foi passada com nós três juntos, e elas se
tornaram amigas de imediato. Eu sabia que se tirasse Lunna da minha vida
agora, coisa que nem cogito fazer, magoaria Selene. As duas têm uma
afinidade espantosa. E isso faz a sutil sugestão de Elizabeth criar mais raízes
em minha cabeça. Só não sei se posso dar continuidade a esse pensamento.
— Sim, princesa, vai sim, não terá de voltar para aquela casa. —
bagunço seu cabelo, e ela volta a atacar seu sorvete como se nada de mais
tivesse acontecido. Crianças!
— Fico tão feliz, Luc — Lunna se inclina, encostando a cabeça em meu
ombro carinhosamente, e sinto a felicidade começar a se construir dentro de
mim, substituindo a dor e a amargura que passei o dia sentindo. Um dia de
cada vez, Luc Alonzo, aconselho-me mentalmente. Tenho um nó na garganta
enquanto observo o motivo da minha existência do outro lado da mesa,
devorando seu sorvete. Sua inocência foi tão agredida por Amélia, mas ela
ainda é uma criança que precisa de mim mais do que nunca.
Eu tenho muita coisa para organizar com a permanência de Selene em
minha casa. Eu tenho de contratar alguém para ficar com ela nas horas que eu
estiver na empresa, mas, por enquanto, eu prefiro trabalhar em casa. Poderia
transferir meu escritório para casa até tudo entrar nos eixos.
Voltamos para casa um pouco mais das sete da noite. Selene está
sonolenta no banco traseiro, provavelmente com uma overdose de açúcar no
sangue. O silêncio no carro é cortado pela música suave que sai do alto-
falante.
— Quer que a leve para casa? — pergunto em algum momento, e
Lunna vira para me olhar, porém me apresso em dizer: — Eu quero que
venha conosco, tenho uma noite de comemoração pela frente.
— Não sei, Luc, tenho de ir trabalhar logo cedo, amanhã — ela diz,
alcançando minha coxa com uma das mãos — Você vai me fazer perder esse
emprego.
— Contrato você. Sabe, as múmias precisam de um fisioterapeuta
particular, não é? — gracejo, fazendo-a rir.
— Você ama que eu o chame assim, admita — ela belisca minha coxa.
— Tenho de pensar em um para você — tiros os olhos rapidamente do
trânsito e a olho — Venha conosco, Lunna.
— Tudo bem, mas preciso ir em casa. Não tenho roupa na sua.
— Isso é ótimo, não precisará de roupa.
— Temos uma criança no carro, papai — ela me repreende e olha para
trás, ao banco onde Selene despencou de sono.
— Gosto de ver seu lado mamãe em ação — Diabos, por que puxei
esse assunto?
Ficamos em silêncio até eu parar o carro na frente do seu apartamento,
algum tempo depois.
— Volto já — ela diz, quando desce do carro.
Observo-a entrar no prédio e suspiro. Lunna sempre buscou um cara
para casar. Pelo que ouvia sempre nos nossos encontros semanais com nossos
amigos, a conversa das mulheres sempre foi sobre a busca de Lunna pelo
príncipe encantado. Aperto o volante com as duas mãos e volto meus olhos
para minha menina no banco de trás.
Por que não? Nós três daríamos certo. Eu teria a guarda de Selene mais
rápido, Selene ganharia uma mãe e Lunna... Bem, ela teria o conto de fadas
dela, não é?
LUNNA
Volto para o carro com uma pequena mala de roupas e me pergunto no
que estou me metendo, mergulhando de cabeça nessa com Luc e sua filha. No
fim posso sair magoada, porque Luc não parece inclinado a levar isso
adiante, mesmo que tenha mudado tanto desde que começamos a transar.
Como não sou muito de lamentar, abro um sorriso quando o vejo descer
do carro e me ajudar com o porta-malas. Depois de acomodar a minha
pequena bagagem, enlaço seu pescoço com meus braços.
— O que vamos fazer hoje à noite, senhor Alonzo? — alcanço sua boca
e pego seu lábio inferior entre os meus dentes, puxando levemente. Uma mão
masculina me segura pela cintura, me mantendo no lugar, e a outra aperta
minha nuca. O beijo é lento e gostoso, e estou gemendo de tesão quando ele
me fasta. Luc está sério quando me olha firme nos olhos.
— Temos que conversar, Lunna — ele aponta para o carro — Vamos
embora, pequena sabichona.
— Conversar o quê? — curiosidade me corrói até a alma agora.
— Em casa, Lunna, em casa! — diz, antes de arrancar com o carro.
Acomodo-me no banco e encosto em seu ombro com um sorriso.
— Sabe que irei enfartar de curiosidade, não é?
— Casa.
— Ok, já sei...
Aumento a música e seguimos para sua casa. Dou-me conta do sorriso
que ostento e percebo que estou completamente perdida de amor.
A voz apaixonante de Ed Sheeran, cantando Friends, zomba um pouco
de mim.
Por que diabos eu desejei amor? Essa droga só faz doer. Não quero
saber de príncipes, de agora em diante será apenas Lunna Maia, sempre.
Sozinha. Sem Múmia e Mumiazinha. Uma nova torrente de lágrimas desce, e
eu as limpo. Sem chorar, boboca!
Devia ter uma garrafa de uísque aqui em casa, eu ficaria bêbada e feliz.
LUC
— Papai...
A voz incerta de Selene me tira dos meus pensamentos conflitantes.
Estive parado aqui desde que Lunna saiu. Ela é pavio curto, eu só preciso que
ela se acalme e irei falar com ela. Ela não pode nos deixar agora, eu estive
incluindo-a em todos meus planos, inconscientemente. Eu devia falar essas
merdas para ela, sei que ela quer ouvir essas porras românticas, mas sou uma
droga destreinado com mulheres. Afinal, passei anos sem me importar se eu
era grosso com elas ou não. Contudo, ela merece um tempo e vou dar isso a
ela.
Mesmo assim, não me contive e já liguei pelo menos umas dez vezes.
Que inferno! Eu não posso deixá-la ir embora sem fazer nada. A briga
conflituosa dentro de mim é grande, pois antes de mim eu tenho de pensar em
Selene.
— Sim, princesa?
— A Lunna vai voltar?
— Claro que vai, ela só teve de ir resolver umas coisas — digo, e vou
cumprir isso, nem que eu tenha de trazer certa maluca pelos cabelos.
— Acho que ela estava chorando — Selene diz, pensativa — A Marta
disse que era água da ducha.
— Provavelmente.
Tento mudar de assunto, perguntando o que ela quer fazer hoje. Ela diz
que vai esperar a Lunna chegar para decidir. Ah, sim, eu só estou muito
ferrado agora.
Ela sai, e tento trabalha um pouco, mas a tarefa é árdua quando meus
pensamentos não estão aqui.
São dez da manhã quando o meu celular apita, em resposta à
milionésima mensagem.
“O juiz pode gostar de saber a forma como expõe sua filha, vivendo com as
prostitutas que você mantêm sob o mesmo teto que uma menor de idade.”
Luc,
Nenhum juiz vai condenar você por namorar a Lunna e Amélia sabe
disso, só que ela já percebeu que você teme perder Selene, e ela vai tentar,
de todas as formas, desequilibrar você. Deixe-a falar o que quiser, ela não é
nenhum juiz. Fique calmo, já falei tanto isso que vou aumentar meus
honorários.
— Acha que Luc demora? — pergunto para Marta, que está nos
servindo o bolo favorito de Selene, na cozinha. Faz mais de meia hora que
estou aqui e não quero ir embora sem que tenhamos uma conversa.
Mas, no fim, acabo indo embora antes que ele volte. Estou no meio do
lanche com Selene, quando recebo um telefonema da minha mãe, e ela quer
que eu vá até sua casa, e pelo tom de sua voz, parece sério. Encontro-a
sentada no sofá, segurando um lenço entre os dedos, e pelo amassado, está
torcendo-o há bastante tempo.
— Ei, o que houve? — indago, preocupada, sentando-me ao lado dela e
pegando suas mãos nas minhas.
— Eu sinto muito que tirei você dos seus afazeres assim — ela fala —
Mas eu não tenho com quem falar desse assunto.
— Que assunto, mãe?
— Seu pai. — ela baixa a cabeça e espreme mais o lenço. — Ele veio
me ver.
Eu não digo nada por um longo tempo, porque simplesmente não sei o
que falar para ela agora. Ela não podia ter deixado esse homem chegar perto
dela, de nós, outra vez.
Mas parece que ela não se importa que eu não diga nada, já que
continua falando:
— Ele veio me pedir perdão — ela está dizendo — Que sair de casa foi
um erro.
— Mãe...
— Eu pensei que poderia mudar minha vida — ela me corta — Eu
passei anos esperando que seu pai voltasse para casa, que se arrependesse e
voltasse para sua família de verdade, mas isso nunca aconteceu. Quando eu
tomei a decisão de não esperar mais e tentar ser feliz de alguma forma, ele
voltou.
— Você ainda pode...
— Eu conheci uma pessoa que estava me fazendo enxergar outra vez o
amor, ou talvez uma nova forma de amor, e agora tudo está confuso. Eu
desejei tanto ter seu pai aqui, e quando isso finalmente aconteceu, eu estou
confusa. — ela lamenta.
— Você conheceu outra pessoa? E não me falou? Você anda estranha
porque está namorando? Mas me chama para falar desse homem? — eu
praticamente estou gritando agora.
— Não era importante antes, Lunna, mas agora seu pai quer ter sua
família de volta — ela me olha suplicante, como se eu tivesse as respostas às
suas dúvidas. No entanto, ela está certa, eu tenho resposta para dar, não a ela,
e sim a esse calhorda que acredita que pode voltar para nossas vidas como se
nunca tivesse saído.
Sinto raiva pura se construindo dentro de mim. Ele não tem o direito de
vir aqui à nossa casa e propor isso a ela. Entretanto, minha raiva maior agora
é com ela. Como ela pode ter alguma dúvida sobre isso?
— E você disse não a ele, não foi, mãe? — pergunto mansamente. Ela
está me decepcionando por apenas cogitar voltar para um homem desses.
— Eu não sei o que fazer, por isso chamei você. Eu preciso que saiba o
que está acontecendo, antes que eu tome uma decisão.
— Mãe, esse é o mesmo homem que abandonou você com uma filha e
foi embora com outra mulher para formar uma nova família. Nunca nem
ligou para você, e agora está confusa? Diga-me, qual a razão da confusão,
mamãe? — Levanto, furiosa — Você passou anos chorando por esse
cafajeste e agora, depois de anos de humilhação, você cogita aceitá-lo de
volta? Sério?
Não acredito nisso. Não acredito que tem mulheres por aí assim e
minha mãe é uma delas.
— Ele foi o homem que amei por toda vida e me deu uma filha
maravilhosa — diz, como se isso fosse razão para ele fazê-la sofrer.
— Ele é um canalha e não merece perdão, e você está me
decepcionando além da razão agora, mãe — pego minha bolsa e começo a
caminhar para a saída.
— Lunna?
— Eu não vou ficar e assistir você se humilhar dessa forma. — falo,
antes de virar as costas: —Tenha mais amor próprio, mãe. Não desista dessa
nova pessoa na sua vida, por uma que a humilhou por mais de vinte anos. —
aponto para ela — Você o terá em sua vida, mas irá me perder. Nunca
permitirei que esse ser chegue perto de mim. Inacreditável que você possa
pensar nisso.
— Lunna!
— Tchau, mãe. — a casa me sufoca, e caminho até meu carro, contudo,
não entro, começo a andar pela rua. Preciso clarear as ideias ou os
pensamentos irão me comer viva.
Quando eu entro no meu apartamento é quase meia-noite, e estou me
sentindo cheia de raiva contida. Quero extravasar, e, pelo visto, eu vou ser
atendida de alguma forma, porque eu o sinto antes de vê-lo. A sala está
escura, mas a sombra perto da janela faz meu coração começar uma corrida
maluca no meu peito. Solto minha bolsa no chão e caminho direto para ele.
— Ei...
Sua voz some quando eu fico na ponta dos pés, entrelaçando meus
braços ao redor de seu pescoço. Eu o beijo. A barba áspera causa um frisson
através do meu corpo. Nossos corpos são pressionados quando ele segura
minha cintura e me ergue, assumindo o controle do beijo. Estamos nos
beijando com fome, diferentemente da última vez que nos beijamos
delicadamente. Agora, tudo que eu posso sentir é o cheiro dele, o sabor
delicioso de sua boca na minha, nossas línguas esfregando uma na outra,
fazendo arrepios quentes e frios correrem por nossa pele. Nossas roupas são
uma barreira que precisa ser eliminada. Preciso sentir sua pele na minha outra
vez. O desejo tangível faz nossas ações caóticas e frenéticas, na tentativa de
sentir mais o outro. Luc me empurra para o sofá, fazendo-me virar de costas
para ele e inclinar para frente. Apoio minhas mãos no braço do sofá e sinto
sua boca deslizar por minhas costas, e não seguro o gemido rouco que sai do
fundo da minha garganta. Sua mão desliza por meu traseiro e entre minhas
pernas, acariciando para trás e para frente sobre o meu clitóris. Isso causa
sensações incríveis, arrancando mais e mais gemidos de mim. O enrijecer do
meu corpo não me prepara para o meu orgasmo, alguns segundos mais tarde.
— Luc!
— Tudo bem. — ele diz, beijando meu pescoço, os dentes raspando
minha pele, e uma renovada onda de desejo me faz arquear mais em sua
direção.
Esfrego minha bunda em sua virilha, sentindo seu pau duro e ansioso
para me foder. Quero sexo rápido e forte, necessito saciar a urgência que há
em meu corpo.
Luc geme quando continuo a provocá-lo, friccionando minha bunda em
seu sexo, e seu gemido é como um toque em minha pele, pois sinto, através
dele e do seu corpo excitado, a intensidade do seu desejo por mim.
—Me fode... quero sentir seu pau dentro de mim... — falo, de forma
direta e atrevida, sabendo que vou excitá-lo.
Luc não espera um segundo mais; com uma perna ele afasta as minhas,
deixando-as mais separadas. Eu me abro para ele, querendo senti-lo dentro de
mim, e quando seu pau me invade, em um golpe rápido e ansioso, solto um
gemido alto, quase um grito de prazer.
Quando sua virilha encosta em minha bunda, começo a rebolar,
exigindo suas estocadas. Mas Luc me controla com suas mãos fortes,
deixando-me passiva às suas arremetidas, que começam suaves,
provocadoras, atiçando ainda mais minha ânsia por ele. Meu corpo se agita
conta o dele, querendo mais.
—Impaciente, Loirinha? — Luc pergunta, sua respiração ofegante me
dizendo o quanto está perto do descontrole.
Não tenho tempo para respostas; ele agarra mais firme minha cintura e
começa a investir com força em meu corpo, que treme a cada batida do seu
quadril. Seu pau, a cada vez que é puxado da minha boceta, volta com mais
força, em uma carícia intensa e quente que faz minha vagina se umedecer
mais e mais. A sala é preenchida com o som dos nossos gemidos e com o
som das batidas cada vez mais rápidas e fortes do seu quadril na minha
bunda, cada vez que ele mete o pau com força na minha boceta. Embalados
pelo som luxuriante, somos levados a um êxtase que nos tira da nossa
realidade. Seu pênis pulsa dentro de mim, e minha vagina o aperta em um
abraço quente, absorvendo todo o seu prazer, que complementa totalmente o
meu.
Sexo rápido igual coelho, é o pensamento que vem à minha mente,
quando caio no sofá em cima do peito sólido de Luc.
— Deveríamos ter feito isso, loirinha? — Luc questiona, me apertando
entre os braços — Não que eu esteja reclamando, mas estou em uma missão
de conquista aqui e não quero estragar nada.
— Tudo bem, precisava disso. De sentir você — respondo.
Meu ouvido está em cima do seu coração acelerado, e eu sinto as
comportas se abrirem e eu liberar a raiva que senti toda a noite em forma de
lágrimas. Raiva de meu pai, de minha mãe, de suas malditas dúvidas e falta
de amor próprio. E agora eu só preciso da merda de um abraço, como um ser
humano normal.
— Ei? — Luc chama, quando sente meu corpo estremecer em soluços
silenciosos — Está tudo bem, querida.
Ele continua falando enquanto acaricia meus cabelos, e eventualmente
as lágrimas param.
— Quer conversar sobre isso? — Luc beija meu ombro carinhosamente
— Eu sou ótimo ouvinte.
— Você não é nada disso, Luc Alonzo — retruco, com um riso fraco
— Precisamos conversar sobre nós.
— Claro, mas não precisa ser agora.
— Sim, precisa.
— Tudo bem.
— Eu aceito me casar com você, Luc.
— O quê?
— Mas não agora. Precisamos ir devagar, eu preciso rever algumas
coisas antes de tomar uma decisão que afetará não só a nós, mas à sua filha.
— Já estamos indo devagar, Lunna — diz — E Selene gosta de você.
— Não estamos. No dia que eu usar aquele anel, quero ter certeza que
ele estará no meu dedo sem nenhuma sombra entre nós. — Retruco — E é
por Selene gostar de mim que devemos ir devagar e pensar nela antes de uma
decisão entre nós.
— Eu não tenho nenhuma dúvida mais sobre nós — ele fala com
certeza na voz, mas não vou entrar nisso enquanto os sentimentos de rejeição
por meu pai, dentro de mim, parecerem um tufão, aniquilando tudo. Além
disso, a vida dele também não é nada tranquila. E é o que tento deixar claro
quando digo:
— Temos uma custódia para ganhar, vamos nos concentrar nela. Selene
precisa de você nesse momento mais que qualquer outra pessoa, e eu estarei
aqui para vocês dois, sempre. Mas casamento nesse momento? Quando está
lutando pela guarda? Isso é precipitado. Prefiro esperar até você estar livre de
toda pressão e de sua ex-sogra do mal.
— Tudo bem.
— Só isso?
— Sim. Você não me disse não, isso já é um grande passo no longo
caminho para o seu coração. — ele se ergue do sofá, me toma nos braços e
me carrega pelo corredor em direção ao quarto — Vou conquistar você,
loirinha, eu juro.
— Eu amo você — as palavras saem, e eu levo minha mão à boca, na
tentativa falha de impedi-las de saírem.
Luc para no meio do quarto e me olha, chocado. Desejo cru, luxúria e
tantos sentimentos nos olhos cor mercúrio me incendeiam por dentro. Ele
está sem palavras
— Eu te amo. — digo novamente.
— Diga isso novamente! — ele ri.
— Luc Alonzo, é para dizer eu te amo de volta.
— Caramba, é mesmo, loirinha! Eu tinha todo um ritual para esse
momento. Você estragou meu momento.
— Luc! — grito, quando ele me joga no colchão e cai por cima de
mim.
— Eu amo cada pedacinho doce desse seu traseiro, Lunna Maia.
— Que original, Múmia!
— Palavras são superestimadas, eu prefiro mostrar o quanto é
importante para mim, Lunna.
CAPÍTULO 29
LUC
O dia está claro lá fora. Sei que são apenas cinco da manhã, pois
o despertador ao lado da cabeceira da cama me despertou.
Beijo o ombro de Lunna, enquanto observo-a dormir. Era para ter ido
embora faz tempo, mas estou ainda flutuando, meio embriagado de saber que
ela me ama, apesar de toda trapalhada que estamos passando. Ela é a louca
mais sensata que conheço, casar em meio ao caos que estou com Amélia vai
ofuscar esse momento importante para ela; momento importante para todas as
mulheres, acredito, e Lunna não é diferente nesse quesito. Ela quer romance e
toda coisa envolvida nisso, e como tenho sido um idiota a esse respeito, vou
tentar recompensá-la de alguma forma.
— Acorda, loirinha — cantarolo, descendo minha mão por seu abdome
reto, e sinto um arrepio quando penso nele volumoso com um irmãozinho
para Selene, lá.
— Um dia. — murmuro, descendo mais minha mão. Ela não está
dormindo, porque se eu não estiver enganado, minha doce menina está muito
excitada. Levanto um pouco e seguro o peso do meu corpo em um braço, e,
em seguida, deslizo a mão mais abaixo, para suas dobras molhadas e lisas.
Minha cabeça mergulha para abocanhar um dos seios, que agora estão bem
ao alcance da minha boca. Meu pau está lutando para sentir sua vagina
quente, estou tão duro que dói, mas não me importo, quero acordar minha
mulher da maneira mais deliciosa que há.
— Querida... — chamo em um sussurro, deslizando a palma da minha
mão para baixo, esfregando suavemente contra o monte delicado de sua
boceta, enquanto eu empurro dois dedos lentamente no calor molhado dela. O
suspiro dela me faz sorrir. — Você está acordada, meu doce? Hum?
Mordo o bico duro de seu seio, depois passo a língua lentamente. Meus
dedos deslizam lentamente no canal apertado, e eu quero sentir esse aperto no
meu pau, mas tenho o prazer da minha loirinha em primeiro lugar, e quero-a
mansinha para me contar o que a chateou tanto, ontem.
— Luc, sua delicadeza está me irritando — o resmungo mal-humorado
me deixa mais excitado. Olho-a, e seu rosto está rubro, a respiração ofegante,
seus olhos fechados, entregue ao prazer. Seu quadril sobe em busca de mais
atrito.
— Paciência.
— Faz meia hora que está fungando em mim, Alonzo — rio de seu mau
humor — Não ria. Aja, Múmia!
— Sim, senhora. — digo, antes de beijar seu lábios úmidos e
convidativos. — Estou aqui para seu prazer, loirinha.
— Você, definitivamente, tem de acabar com esse “loirinha”, Luc —
Lunna reclama do outro lado da mesa, do pequeno restaurante onde viemos
tomar nosso café da manhã. É perto de onde ela trabalha, e por essa razão
estamos aqui. Ela precisa trabalhar.
— Alguém acordou geniosa, hoje.
— Sério, é irritante.
— Isso é uma via de mão dupla, querida. Múmia tem de ir, também.
— Ah, sem chance!
Querendo mudar de assunto e correndo o risco de ter minhas bolas
arrancadas, pergunto inocentemente, enquanto tomo um gole de café:
— Que tal nós dois sermos sócios de uma clínica de fisioterapia? —
espero a explosão calmamente, mas ela não faz nada, a não ser me olhar sem
nada dizer.
— Sério? E você sabe o que sobre fisioterapia, Luc? Tem alguma
graduação na área que eu não sei? — ela finalmente devolve, com um sorriso.
Limpo minha garganta e sorrio de volta.
— Ora, eu seria um investidor e você a mão de obra.
— Que gracinha. — ela pega minha mão sobre a mesa minúscula entre
nós — É esse seu jogo de sedução, Múmia? Porque se for, você está em maus
lençóis.
— Claro que não, só acho que, sendo sócios, poderíamos ter mais
tempo juntos. — Eu, Luc Alonzo, não admiti isso em voz alta não, né? — O
que fez comigo, Lunna?
— Eu te falei, eunuco, que você ia ficar viciado em mim — ela sorri de
orelha a orelha, piscando maliciosa. Sinto a mão atrevida dela alcançar minha
perna, por baixo da mesa.
— Lunna!
— Chato! — ela retira a mão errante e eu respiro, aliviado. Lembro de
seu atrevimento, pegando em meu traseiro em uma festa na casa de Adam, e
balanço minha cabeça, afugentando a imagem da mente. Eu tinha ficado tão
puto naquele dia.
Deixando de lado nossa implicância natural, olho sério para ela. A noite
teria sido perfeita se não fosse pelo fato de Lunna ter chegado chateada e logo
depois ter uma crise de choro. Ela não é assim. Não vivia lacrimejante como
outras mulheres, e vê-la assim é inusitado, e por isso estou atrasado para ir
encontrar minha filha, que deve estar dando trabalho a Marta em casa.
— Vai me contar por que estava aborrecida, ontem? — pergunto, enfim
— Sei que não é mulher que vive chorando, Lunna, você me deixou
preocupado.
— Estou bem, apenas aborrecida com problemas familiares — espero-a
continuar, e quando isso não acontece, é minha vez de segurar sua mão sobre
a mesa.
— Lunna, eu não quero que seja apenas eu a dividir meus problemas
com você, quero que confie em mim para dividir os seus também.
— Não é grande coisa, Luc — fala e desvia os olhos para fora do
restaurante — Eu estive com mamãe ontem e tivemos uma conversa que me
chateou.
— Tudo bem, não quero ser invasivo — recosto-me na cadeira,
observando seu rosto. Isso está chateando-a realmente. Sua relutância em
falar já é sinal de que ela precisa de mais tempo.
— Eu... é apenas minha mãe sendo idiota, para variar — ela diz, por
fim, ainda olhando para longe de mim — Meu pai nos abandonou quando eu
ainda era muito pequena, ele foi embora sem olhar para trás e construiu uma
vida com outra pessoa. Nunca procurou saber se minha mãe estava bem, se
eu estava bem. Eu desejava todos os dias que ele me procurasse, mas nunca
veio. Parei de esperar e de desejar isso, passei a odiá-lo por anos e anos, pelo
simples fato de minha mãe não esperar que ele voltasse um dia. Ele nunca
voltou, quer dizer, ele voltou recentemente.
— Sinto muito por isso, Lunna...
— Eu passei mais de vinte anos sem um pai. Eu não sinto nada por esse
homem, nem amor nem ódio, apenas indiferença — ela sorri sem alegria
quando me olha — Me diga: por que uma pessoa deixa de se amar para
aceitar humilhação da outra? Não compreendo isso. Ele quer voltar para casa,
depois de anos e anos, e mamãe cogita aceitar.
— Não seja dura com ela e com você.
— Não aceito! E se ele voltar, ela não vai me ver — uma lágrima
solitária desliza por sua face, e eu me movo, colhendo-a antes que caia. Meu
polegar acaricia seu rosto. — Mas irei encontrá-lo e direi tudo que tenho
guardado por anos.
Depois de respirar fundo, ela continua:
— Sabe, talvez minha afinidade com Selene tenha sido tão rápida por
eu saber o que é desejar ter um pai presente. Eu entendo sua filha, Luc, por
isso que desejo que vocês dois fiquem juntos.
— Nós vamos. E quero você conosco.
— Você não vai me aguentar por muito tempo, Múmia.
— Quer apostar, loirinha, que te aguento até você ficar uma velhinha
decrépita?
— Luc, alguém precisa te ensinar a ser romântico. Velha decrépita?
— Melhor que caduca — provoco — Ou anciã.
— Múmia, isso não é melhor coisa nenhuma— ela reclama, me
jogando o guardanapo.
Sorrio, me inclino para frente e beijo seus lábios. Depois de saquear sua
boca, me afasto olhando seus olhos, agora sorridentes.
— Eu não posso prometer que não cometerei erros, Lunna, mas eu
posso prometer que nunca abandonarei você e nossos filhos por causa de
outra pessoa ou o que quer que seja. Porque não sei bem como isso
aconteceu, mas eu não consigo imaginar um futuro sem que você não esteja
nele — seguro firme em sua nuca, nossas bocas quase unidas — Ter você na
minha vida foi umas das melhores coisas que a vida poderia me dar, além da
minha Selene. Vocês duas, hoje, são o centro do meu universo.
— Múmia, isso foi romântico — ela ri, antes de colar sua boca na
minha, beijando-me com ímpeto. Gemo em sua boca quando assumo o beijo
quente. Ofegantes, nos afastamos ou íamos dar um show hoje aqui.
— Vocês dois também são tudo para mim. Eu amo sua filha, Luc.
— Eu estou ficando foda nesse negócio de romance. — digo apenas
para provocar, quando volto a sentar-me corretamente em minha cadeira.
— Menos, Luc!
Quando volto para casa, mais tarde, eu estou me sentindo leve.
Aumento o som e dirijo ao encontro da minha filha. A vida está entrando nos
eixos.
CAPÍTULO 30
LUNNA
Nossa relação dá um salto para algo mais consistente. É no que
eu estou acreditando, e, diante disso, eu acabo entregando o jogo para Julie.
Era para nós três, ela, Gabrielle e eu, termos essa conversa, mas como Gaby
tem seus próprios problemas, só nós duas sentamos no nosso ponto de
encontro e eu despejo tudo sobre ela. E até de Selene eu falo.
— Ah, enfim abriu o jogo! Mas, querida, já sabíamos disso. Vocês dois
são óbvios demais — ela ri enquanto bebe seu vinho — Mas eu fico muito
feliz que estejam começando a se entenderem.
— Temos muito pela frente — digo, pesarosa, pensando na próxima
semana, em que ele levará Selene para uma avaliação psicológica, e eu não
posso pensar que esse psicólogo não vá favorecê-lo e acabe dando um
parecer atestando que Selene não sofre morando com a avó. Ela tem
desabrochado com Luc cuidando dela, dando toda atenção para ela. Mas e se
isso for ruim para a consulta? E se o psicólogo achar que ela é uma criança
sem nenhum trauma? Meu estômago dói com o pensamento.
— Vão superar, Lunna, tenha mais fé em vocês dois — Julie diz, me
tirando dos pensamentos ruins.
— Eu tenho medo de que a justiça não seja feita, Julie, e aquela criança
volte a viver oprimida e coagida a odiar o próprio pai.
— Vamos torcer, minha querida — ela segura minha mão na dela —
Tenho certeza que tudo vai acabar bem, você vai ver.
Seguro essas palavras no coração, rezando para que ela tenha razão.
Nos dias seguintes, eu tento descobrir, por meio de minha mãe, onde
meu pai está morando, mas ela não diz nada. Eu preciso tirar esse homem de
minha mente, não o deixarei destruir minha mãe outra vez quando ele for
embora, porque ele vai. Ele não merece um pingo de confiança, é totalmente
indigno.
— O que vai fazer, Lunna? Você não precisa vê-lo por causa disso —
minha mãe diz, quando a questiono — A ideia de nos darmos uma chance
talvez seja boba, não se preocupe com isso, já deixou claro que não o quer
aqui.
— Sim, não quero esse homem perto de nós, mãe — enfatizo — Mas
eu não posso deixá-lo fazer sua cabeça e seu coração carente.
— Eu não sou uma menina boba, filha.
— Não? Você estava falando em voltar para ele, mãe, isso não é ser
boba? — cruzo meus braços, olhando-a com firmeza — Ele te humilhou e
você continua o amando, e vem dizer que não é boba? Realmente não é boba,
é masoquista e gosta de sofrer.
— Olhe como fala, Lunna Maia! — ela reprende com um sorriso
incipiente no canto dos lábios — Você pode ter razão, eu só... Não sei como
agir.
— Seja forte e pense no quanto doeu esses anos todos — sugiro. E
tentando fazê-la esquecer de uma vez por todas, digo: — Tenho outro pedido
para fazer.
— O quê?
— Quero muito conhecer essa outra pessoa que você está namorando
— dou um sorriso matreiro, quero esquecer que estou chateada com ela.
— Não sei se é uma boa ideia — ela começa, incerta, e vejo que aquela
mulher insegura foi a que convivi durante anos, e de quem é a culpa? Do meu
pai e dela mesma. Isso é tão triste! Eu vejo o quanto somos diferentes, eu e a
mulher que me deu a vida.
Eu alimentei essa raiva por meu pai por anos, porque a vi sofrendo.
Nunca tive trauma de não querer um relacionamento porque não tive pai, ao
contrário; sempre quis compartilhar minha vida com meu príncipe encantado.
Eu estou embarcando com Luc em um relacionamento, estou
apaixonada por ele e por sua filha linda, contudo, se um dia esse
relacionamento acabar, não vou me tornar como mamãe, jamais. Mendigar o
amor dessa forma, esquecendo de mim mesma. Eu iria sofrer muito
separando-me deles, mas nunca me humilharia para ter a atenção dele, nunca.
Provavelmente eu ficaria insana e louca se a múmia me desse um fora
definitivo. Planejaria sua morte. "Bem morta". Arrancaria suas bolas e
guardaria em uma caixa de sapato igual Perpétua fez com as bolas de seu
falecido... Ops, Lunna, querida, menos, por favor.
— Está rindo de que, querida? — A voz de mamãe está confusa, me
tirando dos devaneios esquisitos.
— Hum. De nada. — Dou um sorriso sem graça e continuo o assunto
anterior: — Marque um jantar, ok? Não hesite em ser feliz com outra pessoa,
mãe, aquele homem que deixou você não merece seu amor e nem um minuto
de seu pensamento.
— Está bem. — ela cede, e eu dou um abraço apertado nela.
— Você nunca me disse o nome dele. Fale-me dele.
— Gregório — ela diz — Ele é voluntário da igreja no bazar
beneficente que montamos. Ele faz um trabalho voluntário lá.
Ela discorre sobre o tal bazar e sobre Gregório, e eu apenas balanço a
cabeça. Ela parece diferente quando fala dele, e me pergunto se ela percebe
isso. Ela viveu tanto tempo com uma fixação no seu antigo relacionamento,
que não percebe que está apaixonada por essa nova pessoa.
Três dias depois, quando paro o carro em frente à casa dela, para enfim
conhecer Greg, eu nunca imaginei que fosse me surpreender tanto.
Entro na casa sem bater na porta, já que eu tenho a chave, e paro em
choque quando vejo um homem jovem segurando a cintura da minha mãe, na
sala de estar. Oh, meu Deus! Minha mãe namora um adônis! Minha mãe é
ainda muito jovem, mas o homem ao lado dela deve ter uns trinta anos.
Tento segurar o ataque de riso que estou prestes a ter. Mamãe
safadinha, por isso ela estava guardando segredo. Ela, agora mesmo, parece
muito nervosa.
— Olá! — dou um sorriso encorajador para mamãe. Ela pigarreia e me
apresenta a ele.
— Greg, essa é minha filha, Lunna. — ela fala, sem fôlego.
Nos cumprimentamos. Deixo o choque inicial de lado e passo a noite
analisando Gregório. Ele é alto e forte, sua pele escura contrasta lindamente
com minha mãe, de pele branca. Seus olhos cor de mel são diferentes,
parecem felinos no rosto jovem. Seu carinho por mamãe parece genuíno, mas
ele ainda vai demorar para ter totalmente minha benção de filha. Não que eu
seja contra, ao contrário, qualquer um é melhor que meu pai, pode acreditar.
— Então, Greg, o que você faz da vida? — pergunto, quando estamos
sentados ao redor da mesa. Deveria ter convidado Luc para vir, mas eu não
quis tirá-lo de Selene, afinal, estávamos tendo as noites juntos desde que
voltamos.
— Sou médico. Cirurgião geral. — ele diz — Sua mãe me disse que
você é fisioterapeuta.
— Verdade.
A conversa no jantar flui tranquilamente, e vejo minha mãe relaxar
durante nossa conversa descontraída. Eu gostei do Greg, apesar do receio de
sua idade com relação a de mamãe. Mas se tem alguém que pode fazê-la
esquecer o passado, é ele.
Quando me despeço dela, no fim da noite, cochicho em seu ouvido que
ela está de parabéns pelo gostosão. Ela cora terrivelmente, e saio de sua casa
mais tranquila.
Hoje é o dia que Luc irá com Selene à avaliação psicológica. Como
tudo está sendo no Rio de Janeiro, é para lá que eles vão. Eu não consigo
ficar em São Paulo e deixar esses dois sozinhos, por isso estou aqui, sentada
ao lado deles, em um voo para o Rio. Não sei bem como me portar caso a ex-
sogra dele me use para atingir Luc, mas a força que me faz ir com eles é
maior que qualquer temor.
Sinto a pequena mão agarrando a minha e volto meus olhos para
Selene. Ela parece assustada desde que Luc disse a ela para aonde estamos
indo.
— Vai ficar tudo bem, princesa — cochicho para ela, me inclinando em
sua direção — Estamos juntas nisso, hein?
— Não quero mais morar com minha avó — sua voz sai em um apelo
doloroso — Eu quero ficar com o meu pai.
Luc teve uma conversa franca com ela, alguns dias atrás, sobre o que
eles estavam indo fazer. Selene tem nove anos, mas sua carência afetiva
parece a de uma criança mais nova. Culpa do medo e da coação daquela
cobra da avó que ela tem.
— Você vai ficar, querida — sinto-me impotente, sem ter certeza
daquilo que estou prometendo a ela. Não está em minhas mãos o poder de
consertar tudo isso, mas não posso deixar essa criança com medo do futuro,
sem tentar amenizar o caos que deve estar a cabecinha dela. Luc está sentado
na outra poltrona e mantém os olhos em nós duas. Elizabeth está sentada ao
lado dele. Eu enfim conheci a advogada. Ele me lembra Kerry Washington,
uma atriz americana. O cenho franzido de Luc indica sua preocupação e que
ele tem a cabeça longe das palavras de Elizabeth. Ele tem se mantido calado
desde que passou no meu apartamento, a caminho do aeroporto. Sua
seriedade me deixa inquieta. Seus olhos encontram os meus por um instante,
e sinto um frio na barriga com a intensidade de sua íris cinzenta em mim. Eu
quero abraçá-lo, e em vez disso, transfiro meu afeto para a pessoinha mais
carente nesse avião. A consulta será à tarde, e segundo Elizabeth, o psicólogo
avaliará possíveis problemas comportamentais e emocionais de Selene. E
torço que seja eficiente nisso, que veja o que nós vemos: uma criança
assustada com a possibilidade de deixar seu pai.
Quando entramos no hotel onde iremos ficar, eu tenho ânsia de
encontrar Luc. Estou em uma suíte ao lado da de Luc e Selene, eu prefiro
assim, já que estamos perto da jararaca e ela pode jogar sujo com Luc.
Depois de deixar minha mala no quarto, vou até a suíte deles, pela porta de
comunicação. Estou precisando dos beijos de Luc, mais do que ar. Ele está na
sala ao telefone, e pelo teor da conversa, provavelmente é com sua mãe. Ele
me vê e prende seus olhos em mim.
— Ligo para você quando terminar. — ele diz, antes de desligar. Luc
vem em minha direção, e eu agarro sua camisa nas mãos antes de beijá-lo.
CAPÍTULO 31
LUC
Agarro seu rosto e colo a boca na dela. Por mais temeroso que o
dia me deixasse, ela é como um pedaço de céu. O gosto de Lunna e a
sensação dos lábios dela nos meus quase me faz perder o equilíbrio.
A tomo com minha boca, sinto seu corpo, seu cheiro. Seu cabelo suave
entre meus dedos é completamente insano, para mim, perfeito. O toque da
língua feminina na minha me faz estremecer. Quase nada no mundo importa
quando estou assim, com ela. Lunna é tão deliciosa que...
O riso infantil me faz soltar Lunna do beijo escaldante em que a tenho
presa. Eu seria capaz de ficar beijando-a ali para sempre, se não fosse essa
pequena interrupção. Levanto minha cabeça para me deparar com Selene na
porta do quarto, no qual eu a tinha mandado se trocar antes de ir ao
psicólogo. Estou tenso, e essa avaliação é muito importante para a decisão
judicial que iremos enfrentar nas próximas semanas. O processo está sendo
agilizado pelos conhecimentos e amizades de Elizabeth na área jurídica e por
ter se arrastado por tanto tempo, já que venho lutando pela guarda de Selene
por anos, e saber que, daqui a algumas semanas, teremos a primeira
audiência, me deixa eufórico e apreensivo ao mesmo tempo.
Estou confiante que, dessa vez, tudo vai ser diferente de antes.
Elizabeth me passa essa confiança no desenrolar do processo, que antes tinha
um parecer negativo para mim.
— Está pronta? — Pergunto, me afastando de Lunna e caminhando até
ela. Seguro sua pequena mão na minha — Vamos lá, garota. Isso é apenas
uma consulta, ok?
Mesmo que não seja, até para mim.
— Ok.
Seguimos para a porta, e Lunna engancha seu braço no meu outro lado,
quando fecho a porta da suíte atrás de nós. Parecemos uma família normal,
comum, e meu coração dá um salto com o pensamento. A prudência me diz
que Lunna aqui, nesse momento, pode ser um tiro no pé, todavia, meu
coração diz algo totalmente diferente. Ela me traz uma calma tão serena, que
tudo parece mais fácil que as outras vezes em que estive sozinho nesse
processo. Tudo isso é novo, nunca tive tampouco Selene aqui, comigo.
Elizabeth nos espera ao lado do elevador. Ela não é necessária aqui,
hoje, na consulta de Selene, mas ela quer dar esse apoio, como ela me
prometeu quando a contratei, que me seguiria a cada passo até a guarda
definitiva.
O local designado fica a cinco minutos do hotel que escolhi. Selene está
sentada entre eu e Lunna, sua pequena mão ainda grudada na minha. Minha
pequena garota, que há pouco meses parecia me odiar, agora parece
inconcebível para ela ficar longe de mim. Amo essa sensação, no entanto, a
razão pela qual ela chegou a esse estágio de insegurança me causa raiva
intensa de sua avó, mas hoje quero deixar esse sentimento longe, minha filha
é prioridade. Estive, nessas semanas, em constante contato com Elizabeth,
que me explicou que essa é apenas a primeira parte do processo, que isso
pode se estender, mesmo que ela esteja fazendo tudo que pode para que seja
agilizado. Essa consulta com o psicólogo é um tanto diferente, pelo que ela
me falou. Eu não tinha passando por nada disso antes, e estou nervoso que
isso seja demais para Selene.
Quando o carro para em frente ao prédio, seguro a mão das duas
mulheres da minha vida e seguimos Elizabeth para dentro do prédio.
Meia hora depois, todo procedimento tinha sido explicado para mim.
Eu, Selene e uma psicóloga estamos acomodados em uma sala. Pelo que
Elizabeth me explicou, um juiz poderia estar presenciando toda a entrevista
com Selene. Não na sala, mas assistindo em uma sala adjacente. Estou
sentado atrás da cadeira onde Selene foi acomodada, em frente à psicóloga.
Fui instruído a não falar durante todo o tempo, a não interferir nas respostas
de Selene, estou presente apenas como guardião dela.
A psicóloga se chama Dra. Cecília, e ela explica diretamente para
Selene por que estamos aqui, que ela vai passar por uma avaliação que fará
parte do processo de guarda dela.
Ouço-a falar com minha filha, dizendo que ela está segura, que ela
pode falar qualquer coisa que queira, que estou aqui e que nada pode
acontecer com ela. Não escuto as respostas de Selene, e imagino que ela
esteja assentindo com a cabeça, que foi o que ela mais fez desde que
entramos no prédio. A poltrona que ela foi acomodada tem o espaldar alto e
não a vejo totalmente. Acredito que é de propósito, para que não haja nenhum
contato visual entre nós.
— Você pode dizer o que quiser aqui nessa sala, Selene, e estou apenas
para ouvir você. Tudo que disser é importante. — Ela finaliza. Sua voz é
calma, tentando deixar Selene tranquila.
Segue um momento de silêncio, e a psicóloga se dirige a ela outra vez.
— Me conte sobre seu dia a dia como é, Selene.
— Agora que estou com meu pai é divertido — ela diz, alegre. —
Quando morava com minha avó, não era tanto. Não tinha ninguém lá para
falar nem nada.
— E como é morar na casa de sua avó Amélia?
— Legal — vem a resposta rápida de Selene, de quando ela não está
disposta a falar. Eu já tive muitos "legais" dela durante minha vida, e isso
nunca é bom. — Mas eu quero morar com meu pai para sempre, agora!
— Você não queria antes?
— Não.
— E agora mudou de ideia?
— O meu pai não matou minha mãe. — ela diz, e isso corta meu
coração. Maldita Amélia.
— E por que achava isso, Selene? — ela olha rapidamente em minha
direção e volta a olhar para minha filha — Você pode falar tudo que quiser
aqui. Sem medo.
Eu tenho receio que essa conversa não dê em nada. Selene gosta de
Amélia, pelo menos ela sempre pareceu gostar. Ela está crescendo, e talvez
essa mudança sobre mim seja pela curiosidade em não me ter durante sua
curta vida.
— Quando eu morava com minha vó, ela dizia que meu pai matou
minha mãe. — ela fala ligeiramente — Eu não gostava quando ela falava
assim.
— Você era feliz morando com sua avó?
—Não sei . — sua voz agora transmite tristeza e toda incerteza de uma
criança de sua idade. Sua apatia deve ser bem visível, para essa psicóloga ver
que minha filha não era feliz lá com Amélia.
— Pode falar o que quiser, Selene.
— A vovó gritava muito e queria que falasse para meu pai que eu o
odiava, eu não entendia por que, ele nunca foi mau comigo — trinco minha
mandíbula para impedir que eu comece a falar, porém, a voz de Selene me
mantém contido no lugar — Não quero voltar a morar lá. Não quero odiar
meu pai, não quero.
— Certo. Soube que você fugiu do colégio e se machucou, Selene, você
gostaria de falar sobre isso?
— Hã... eu não estava fugindo.
— Não?
— Não.
— E quer falar sobre isso? Você prefere que seu pai saia para que possa
ficar mais à vontade? — Eu não vou sair daqui e deixar minha filha sozinha.
Que droga!
— Não.
— Certo, fale o que quiser, então.
— Eu... eu escutei minha avó falando que meu pai estava vindo, e eu
não queria vê-los brigando, como sempre acontecia quando meu pai ia me
visitar na casa da minha avó. Eu pensei que, se eu fosse embora, eles não
poderiam brigar mais por minha causa.
— E morar com seu pai? Como é?
— É mais divertido lá, não tem escola — ela ri — Mas eu vou
começar, quando o juiz decidir se eu fico com meu pai — termina, com voz
séria.
— Me conte como é lá, então — ela induz — Só é legal porque não
tem escola?
— Lá tem a Marta, que faz um monte de coisas gostosas para mim. —
sua voz muda, fica alegre.
— É?
— Sim. E eu gosto da casa, também, tem uma piscina enorme, onde
posso ficar. Tem a vovó e o vovô, também, e eles são legais, além da Lunna,
ela é muito divertida. — Ah, não, Selene. Deixe a Lunna fora disso, penso,
aflito.
— Você entende o que está acontecendo com você agora? Por que
estamos tendo essa conversa?
— Talvez. Sei que não posso morar com meu pai, por causa da minha
avó. E ela disse que, se eu morar com ele, meu pai será preso.
A conversa se estende por um tempo, e Selene fala mais sobre como é
morar com Amélia. A psicóloga vai puxando sobre o assunto, e ela vai
falando sem perceber o quanto sua avó a induzia a me odiar. De como ela não
tinha amigos e morar em um apartamento isolado a deixava triste. Talvez ela
tenha mudado tanto, em tão pouco tempo morando comigo, pelo simples fato
de sentir-se mais livre em uma casa espaçosa. Penso no quanto falhei em
proteger minha filha.
— Fala-me do que tem mais medo, Selene — a psicóloga fala, e a
pronta resposta de Selene me faz ver que essa luta vale a pena.
— Não poder ficar com meu pai, já que não tenho uma mãe. —
responde, e sua voz traz um pesar latente. — Por que não posso morar com
ele?
—Selene, a justiça está aqui para nos dizer qual o melhor para nós, às
vezes — a psicóloga diz — Por isso está aqui hoje, para tentarmos fazer o
melhor para você.
— O melhor é eu ficar com meu pai. — Selene diz, petulante.
Quando enfim se encerra a consulta, estou mais exausto que Selene. De
ficar tanto tempo calado sem poder dar minha opinião dos fatos.
Encontramos Lunna na sala de espera junto com Elizabeth, seus rostos
em expectativa.
— Então? — Lunna pergunta para mim, quando nos aproximamos.
— Não sei, achei meio sem utilidade, mas quem sou eu para saber
algo?
— Posso tomar sorvete agora? — Selene reduz a situação a nada com
sua tirada.
— Podemos, princesa.
Elizabeth nos deixa para resolver outros assuntos, e nós três, depois do
sorvete de Selene, preferimos voltar para casa. Talvez fosse pedido um
confronto entre neta e avó, mas Elizabeth está tentando impedir isso,
alegando mais desgaste da criança, porém não é certo. O caso é longo e
desgastante, e temos que ter paciência.
Estamos saindo do hotel com as malas, já no final do dia, quando vejo
Amélia vindo em nossa direção.
Meu instinto é tirar Selene da linha de confronto, mas ela já viu a avó,
que para a poucos passos de nós.
— Já indo embora sem deixar eu ver minha neta, Luc? — ela fala,
olhando para Lunna em vez da neta — Por que a pressa? O que tem a
esconder?
— O que veio fazer aqui? Temos um voo para pegar — resmungo,
minha mão protetoramente no ombro de Selene. Penso no que Selene disse
sobre nossas discussões mais cedo e tento amenizar — Ligue-me, se precisar
me falar algo.
— Eu apenas vim dizer que está lutando uma guerra perdida, Luc. —
ela nos analisa — Selene, querida, venha dar um abraço na sua avó.
— Oi, vovó. — ela diz, de longe, em vez de fazer o que Amélia pede.
— Já colocou a cordeirinha contra mim, Luc? Não bastou minha filha,
agora é minha neta também?
— Luc, acomode Selene no carro, querido — a voz de Lunna é amável.
— Deixe que me apresente. Sou Lunna e não sou nada amável como
Luc, senhora, então a aconselho a sumir daqui antes que eu quebre suas duas
pernas.
Que droga, o que Lunna está fazendo? Ameaçar Amélia nunca é bom
caminho.
Amélia a ignora e fala com Selene:
— Selene, querida, em breve você volta a morar comigo, então
aproveite as férias com seu pai — ela se vira para Lunna, enfim — Ele está
usando você para passar a imagem de bom moço de família, e quando
conseguir a guarda da menina, a primeira coisa que ele vai fazer é se livrar de
você, como fez com minha filha.
Ela vira e vai embora.
Olho para Lunna, e seus olhos se prendem aos meus. Ela não pode
acreditar nessa mulher ordinária.
LUNNA
A volta para São Paulo é tensa, porém não me abato com nada. Eu
quero fazer esse dois sorrirem outra vez, nem que eu tenha de subir em cima
do telhado e dançar hula hula lá em cima.
— Você vai ficar conosco, hoje à noite? — Pergunta Luc, quando o
carro para na frente da casa dele, no começo da noite.
— Depende do que tem para oferecer, Múmia — pisco, maliciosa, e ele
levanta as sobrancelhas, indicando a criança presente.
— Sempre tenho o melhor.
— Meu pai é o melhor em todo mundo — Selene puxa o saco dele, no
banco de trás.
— Ok, vamos dar folga para Marta e colocar Luc Alonzo para fazer o
jantar.
Os planos são desfeitos quando entramos: Marta tem tudo preparado
como se fosse um banquete, para sua pequena hóspede.
Os dias seguintes passam rápidos e, nesse meio tempo, Gabrielle volta
para casa e fico feliz em ver que ela e Nicolas estão se dando bem. Os planos
para o casamento dela me fazem pensar que ainda não disse sim para Luc,
que o anel está lá guardado e não achei o momento certo de colocá-lo no
dedo e anunciar aos quatro cantos que estamos juntos.
Luc e Selene fazem outra viagem para o Rio durante esse tempo, e
dessa vez eu tinha um paciente que não podia adiar e fiquei com meu coração
na boca por não estar presente para eles lá.
Quando eles voltam, eu sinto o coração pular de felicidade em ver que
estão bem.
As coisas poderiam estar indo meio atropeladas, mas tudo vai ficar
bem, é o que gosto de dizer sempre para mim.
— Vamos fazer uma despedida de solteira para você — digo para
Gabrielle, quando por fim chega a semana do casamento dela com Nicolas —
Seu noivo vai ter uma despedida, e você também.
— Não tenho saco para isso, minha barriga pode explodir a qualquer
minuto. — ela fala, rejeitando a ideia de uns caras gostosos em sua
despedida.
— Estraga-prazer! E eu contando com esse dia — torço minha boca
com falso desgosto — Queria tirar Mini Lu da miséria.
— O quê? E Luc? — Julie praticamente grita lá do outro lado da mesa,
onde dá papinha para Isadora.
— Ei, Mini Lu pode querer variedade — brinco, mordendo uma fatia
de melão.
— Duvido. — Julie ri.
— Estou por fora dessa conversa, atualização, por favor — resmunga
Gaby.
— Nada que você já não sabe, querida, que nossa amiga continua
odiando Luc Alonzo.
Dou um sorriso para elas e fico calada.
— Vocês são tão misteriosas —Gabrielle diz, mas não leva o assunto
adiante, o que é bom.
O dia do casamento chega, e o pandemônio se instala quando Gabrielle
entra em trabalho de parto, em meio à cerimônia. Nunca vi Nicolas Andretti
verde como vejo agora.
— Não acredito que vão casar — digo, espantada, quando vejo Luc
oferendo um par de alianças para os dois loucos no altar.
Pouco depois, vejo minha melhor amiga ser levada para o hospital, e eu
fico tentando, junto com Alicia, a organizadora do casamento, conter os
convidados.
Depois de tudo organizado, eu vou ver Gabrielle no hospital, para sair
logo em seguida, pois ela está exausta.
Estou no corredor do hospital, indo para o carro, quando meu celular
toca e vejo o telefone de Marta na tela. Ela está de babá de Selene hoje. Mas
Luc deve estar chegando em casa nesse momento. Estranho, ela me ligar.
— Oi, Marta, querida.
— Lunna! — Pânico na voz dela faz os pelos da minha nuca eriçarem.
— O que houve, Marta?
— Alguém levou Selene de casa!
— O quê?
— Eu não consigo falar com o senhor Luc. — ela está chorando agora,
apavorada. Minhas pernas tremulam, mas já estou correndo para fora do
hospital.
— O que aconteceu?
— Eu não sei, ela simplesmente sumiu!
CAPÍTULO 32
LUC
Nicolas Andretti é o cara mais sem humor que eu conheço. Ele
simplesmente "buzinou" em alguns lugares que nossas empresas, a minha e a
de Adam, estavam entrando em falência, e nossas ações despencaram hoje.
Ele sabia que iríamos ter prejuízos astronômicos com isso, mas Nicolas
estava puto com a nossa ideia de despedida de solteiro, com Gabrielle
aparecendo de repente e o pegando com uma mulher no colo. E ainda mais
beijando-o. Sorrio quando termino de enviar os últimos e-mails, lembrando
da cena.
E é onde eu estou agora, no escritório, para conter os danos antes de ir
para casa, socorrer Marta do pequeno furacão de nome Selene. Já é noite, e só
tenho os guardas noturnos trabalhando. Estive tão concentrado no trabalho
que não notei que o celular não tocou nem uma vez. Pego o aparelho e vejo
um bombardeio de ligações na tela. Ele esteve no silencioso durante o
casamento, por causa do volume de ligações que recebi hoje dos meus
diretores, loucos com minhas ações caindo no mercado financeiro. E, por
consequência, eu esqueci de verificar nas últimas horas, com a iminência do
nascimento do filho de Nicolas. Após isso estive no trânsito, depois
trabalhando. Quando vejo o quanto tem de ligações de casa, eu retorno
imediatamente, minha mente em Selene. Ela é um pequeno foguete, e
Marta...
— Luc? — A voz de Lunna é tensa e rouca, fazendo-me praticamente
pular da cadeira na qual estive sentado.
— Lunna, o que houve?
— Onde você está, Luc? Estivemos ligando para você como loucas! —
escuto vozes ao fundo e reconheço como a da minha mãe, e soa preocupada.
O que ela faz lá?
— Vi isso agora. Estou na empresa — digo — O que está acontecendo?
Selene está bem? — minha filha é a única coisa que vem em minha mente
nesse momento.
— Não, Luc, Selene, ela...
— O que aconteceu com minha filha, Lunna?! — eu grito, meu pés
indo para fora, em direção ao elevador, como se eu estivesse sendo sugado
por uma força vital — Diga-me!
— Ela simplesmente sumiu, Luc — a voz dela falha — Você precisa
vir para casa agora. A polícia já está aqui.
— Polícia? — o elevador parece levar um tempo maior que o normal
para chegar à garagem do prédio. — Como ela sumiu, Lunna? Como minha
filha sumiu de dentro de casa assim? E Marta?
— Elas tinham acabado de chegar do parque, que fica a poucas quadras
de sua casa. Marta acredita que o portão de acesso ficou aberto quando elas
passaram e alguém entrou e levou Selene. Ela não sabe explicar, Luc.
— Minha filha pode estar ferida!
— Eu sei... — ela chora, pesarosa.
— Estou indo para casa. — digo, tentando manter o controle que está
por um fio. Eu vou perder a minha filha! Como eu vou explicar para a justiça
que não fui capaz de cuidar do bem-estar da minha menina?
Como isso pôde acontecer agora? Isso não é justo.
— E, Luc?... — Lunna está dizendo. Ela pausa, fazendo meu coração
falhar uma batida. O ar penetra em meus pulmões com dificuldade quando eu
tento respirar. — Amélia está aqui.
— O quê!? — choque me penetra, depois vem a raiva cega e
imediatamente a clareza dos fatos em seguida. Puta que pariu. Engulo os
impropérios que ameaçam sair da minha boca.
— Ela disse que veio tentar um acordo de paz com você — Lunna diz.
Eu quase tenho um ataque de riso incrédulo. Amélia acha que eu sou o
quê? Algum otário?
— Ela veio, é? — Conecto meu celular no carro e dirijo para fora do
edifício, cantando os pneus segundos depois. Amélia acabou de me fazer um
enorme favor. Não tenho nenhuma dúvida de quem é a responsável pelo
sumiço de Selene. Eu sabia que ela ia jogar sujo, mas prejudicar Selene, é
demais. Ela não machucaria minha filha, se ela tocasse apenas em um fio de
cabelo dela, eu juro que seria um homem condenado para ir à prisão ainda
hoje. Ela não ousaria. Bufo de raiva fulminante quando acelero pelas ruas.
Que se dane as multas que irei receber. A máscara de Amélia comigo não
funciona. Eu a conheço bem demais, são dez anos de inferno.
— Sim. — Ouço Lunna responder minha pergunta retórica anterior.
Depois continua: — Luc, por favor, encontre nossa menina — ela murmura, e
saber que ela está chorando por minha filha faz meu coração inchar no meu
peito. — Como alguém pode fazer mal a uma criança assim? Como?
— Eu vou, querida. Selene está bem, Lunna, eu tenho certeza. —
Garanto, quando avanço a porra de um sinal vermelho e uma buzina estronda
atrás de mim. Eu não ligo, eu quero chegar logo e tentar ter uma pista de
onde Selene foi levada. Eu posso ter inimigos na esfera dos negócios, mas
não acredito que seja sobre isso. Porém, sei quem tem interesse em me ver
sangrar até a morte — Me coloque com a polícia no telefone, querida.
— Tudo bem. O delegado Eduardo Teles é da delegacia da criança e do
adolescente, ele que está aqui. Ele foi chamado por mim, acha que fiz mal?
Quando não encontramos você, eu entrei em pânico.
— Você fez bem, loirinha, eu amo você por isso — falo isso tão
naturalmente, que não percebo o que acabei de dizer, apenas seu arfar de
surpresa e seu murmúrio do outro lado é que me faz consciente do que acabei
de jogar sobre ela.
— Só venha logo — diz baixinho, antes de a ligação ser cortada.
LUNNA
Eu movi céus e terra quando recebi o telefonema de Marta, sobre o
desaparecimento de Selene. Passou apenas uma hora desde que ela me ligou,
mas eu já tinha falado com tantas pessoas que poderia ajudar, que eu não sei
dizer com quem falei. O delegado tinha chegado há apenas vinte minutos, e
por coincidência, há mais de um ano fui fisioterapeuta do filho dele, e como
pai solteiro, ele sempre ia levar o filho para as sessões, e isso acabou criando
um vínculo de amizade. Quando o tratamento chegou ao fim, ele agradeceu e
disse que, se um dia eu precisasse de qualquer coisa, ele estaria pronto a me
ajudar. Eu na época ri, dizendo que era muito "do bem" para ter ajuda de um
delegado de polícia, mas eu agora quero beijar esse homem pela prontidão de
sua ajuda. Ele deixou tudo que estava fazendo e veio para a casa de Luc,
quando eu falei que minha enteada tinha desaparecido, que poderia ter sido
sequestrada. Caramba, assumi Selene como minha enteada. Meu Deus! Eu
sou louca! Mas eu amo essa garota, e saber que ela pode estar machucada,
nas mãos de criminosos, me causa calafrios. Meu corpo está congelado.
Eu não sou de chorar, raras são as vezes que faço isso, mas agora, o nó
na minha garganta é tão grande que me sufoca, e simplesmente não me
contenho mais.
Lágrimas teimosas caem, turvando minha visão, enquanto observo o
delegado Teles falar ao telefone com Luc. Luc se manteve frio e controlado
quando soube que Amélia está aqui. Antes que eu tivesse dito sobre isso, ele
pareceu mais preocupado com Selene, logo após ele mudou o tom de voz e
pediu para falar com Eduardo. Isso faz exatos cinco minutos que eles
conversam. O delegado se afastou de nós e fala baixo. Olho os pais de Luc,
que estão aflitos do outro lado da sala. Eu os conheço há algum tempo,
através de encontros superficiais. Encontrei-os mais cedo no breakfast, antes
do casamento de Gabrielle.
Olho para Amélia, e essa mantém os olhos no delegado, prestando
atenção na conversa. Eu me pergunto o que essa mulher faz aqui. Que
conveniente ela aparecer aqui, logo hoje.
O delegado caminha de volta à sala, depois de desligar o telefone, e
chama outro policial que veio com ele para uma conversa. Tudo parece
tranquilo demais. Levanto e vou para a cozinha, onde a coitada da Marta está
inconsolável.
— E seu Luc? — pergunta, quando me vê entrar.
— A caminho daqui. Ele estava na empresa — respondo — Você não
tem culpa de nada, Marta.
— Você tem razão, essa pobre mulher não tem mesmo, o culpado de
tudo isso é o pai dessa criança, que não tem a mínima condição de cuidar da
própria filha — a voz de Amélia diz, atrás de mim.
Viro-me, possessa de raiva.
— Melhor você se calar ou eu mesma irei fazer você calar a boca! —
ameaço, fora de mim. — Tenha um pouco de sentimento por sua neta.
Demonstre que se importa o mínimo com ela!
— É por isso que estou aqui, porque me importo. Vim vê-la, e o que
encontro? A menina sequestrada! Luc Alonzo não tem capacidade de ter a
guarda da filha, e o juiz saberá disso.
Eu perco a razão e faço o impensável não me importando que ela seja
mais velha que eu: bato com toda força em sua cara enrugada miserável.
Escuto Marta gritar meu nome, mas meu ódio, zanga e medo por Selene se
juntam, e eu bato repetidamente em Amélia. Sinto braços me enlaçarem pela
cintura, mas eu continuo soltando socos em todas as direções, junto com
lágrimas de raiva.
— Ei, Lunna! — A voz de Luc ao meu ouvido me acalma, e sou
arrastada para longe de Amélia, que está esbravejando contra mim todo tipo
de coisa. — Você tem de manter o controle, querida.
— Desculpe, ela simplesmente me tirou do sério. Essa mulher é
completamente sem noção, ela não tem um pingo de amor por Selene, será
que não veem isso?! — digo, em um desabafo, quando Luc me faz sentar no
sofá.
— Eu sei.
Ainda nervosa, vejo o delegado levar Amélia, que tem o lábio rachado,
para fora da casa.
— Para onde a estão levando?
— Para a delegacia. E eu preciso ir para lá também — Luc diz, me
surpreendendo — Eu acredito que Amélia sabe onde está Selene. O delegado
só vai fazê-la falar.
— Eu não duvido disso. Afinal, o que ela faz aqui? — Olho para ele. O
Luc que eu conheço parece totalmente abalado. — Você vai tê-la de volta.
— Eu sei — seus olhos cinzentos escurecem, e eu acaricio seu rosto —
Só não quero imaginar minha filha com medo, por aí. Venha comigo. Tenho
que ir à delegacia.
As horas seguintes são as piores de nossas vidas. Quando chegamos à
delegacia, Elizabeth nos espera lá com outro advogado. Luc presta uma
queixa formalmente contra Amélia, e a partir daí tudo começa a desenrolar.
Ela é pior do que imaginamos, e veio preparada com sua advogada
também. Eu quase sou presa por agressão. Maldita velha. A advogada dela
achou que ganharia de Elizabeth, com a acusação de maus tratos que Luc está
dando à filha e por isso fora sequestrada, mas o contra-ataque, em forma da
acusação de sequestro da própria neta, elas duas não esperavam.
Às duas horas da manhã, o delegado Teles recebe um telefonema com a
localização de Selene. Ela está no hotel onde Amélia se hospedou. Eu quase
morro de alívio quando chega a notícia que ela fora encontrada. Tinha saído
no noticiário a foto de Selene, e um funcionário do hotel reconheceu a
menina e ligou para a polícia.
Agora estamos indo buscar nossa garota. A mão de Luc aperta tanto a
minha que dói. Ele não tinha falado muito, apenas andou de um lado para
outro na delegacia, e quando ele soube que era mesmo Amélia que estivera
com Selene, ele se dirigiu para o advogado que estava com Elizabeth.
— Faça o seu melhor. Não quero que essa mulher tenha nem um dia livre pelo resto da
vida. — a voz profunda e cheia de raiva dele foi taxativa.
Eu sei que, se ela conseguir ficar em liberdade, ele pode fazer uma
loucura.
O carro para em frente ao hotel, e Luc praticamente corre para fora do
carro, me puxando com ele para dentro do edifício.
Selene está sentada no sofá da recepção e parece sonolenta. Ela levanta
a cabeça quando escuta a movimentação e nos vê. Ah, droga! Eu não devia
chorar de novo.
Mas ver Luc correr para abraçar sua filha me deixa chorosa como
nunca. Que droga, Múmia, não me faça ficar toda melosa. Caminho para eles
e envolvo meus braços ao redor dos dois. Enterro meu rosto entre eles.
— Ei, pequena mumiazinha, eu estava com saudade de você — digo
para Selene, com um sorriso — Amo você, pequena.
CAPÍTULO 33
LUC
Eu a agarro com tanta força que temo quebrar seus ossos frágeis.
— Filhinha — murmuro em seus cabelos, quando a tenho nos braços
—, o pai está aqui agora, meu amor.
— Eu estava com medo, papai — ela diz, em voz temerosa e baixa,
como se temesse que alguém a ouvisse — O amigo da vovó foi embora, ele
disse que ela queria me ver, mas ela não veio.
Sinto os braços de Lunna nos envolver em um abraço coletivo e passo
meu braço por ela, trazendo-a para o nosso pequeno casulo, em meio à
recepção do hotel.
— Ei, pequena mumiazinha, eu estava com saudade de você — ela fala
enrouquecida para Selene, com um sorriso que faz meu sangue aquecer nas
veias — Amo você, pequena.
Tenho vontade de esmagar sua boca com a minha. Eu não poderia ter
encontrado mulher mais perfeita para ser a mãe da minha filha. Minha
loirinha maluquinha. Ela não me disse que me ama, mesmo eu falando isso
para ela, contudo eu não preciso de palavras quando olho nos olhos de Lunna.
Isso é amor que vejo brilhar na íris clara dela, por mim, por minha filha. Não
tem como essa pequena mulher não nos amar. Selene e eu somos dois
sortudos por tê-la em nossas vidas.
— Senhor Alonzo?! — a voz do delegado Teles me faz levantar a
cabeça e encará-lo — Meus policiais estarão fazendo uma busca pelo hotel e
redondeza, e posso falar com sua filha? Claro, se isso não for incomodá-la.
Contudo, ela pode ajudar a capturar os homens que a levaram de sua casa.
— Acho que minha filha já passou por muita coisa hoje, delegado, vou
levá-la para casa — digo, firme. Eu o compreendo por querer ter uma
conversa com Selene e ter mais informações das pessoas que estiveram com
ela e que fugiram quando viram no noticiário a notícia sobre o sequestro, e
que a avó poderia estar envolvida. Eu, no fundo, agradeço por ela envolver
pessoas covardes suficientes para abandonar Selene no hall do hotel e fugir,
assim dando chance de alguém a ver e reconhecer. Caso contrário, ainda
estaria sem minha filha nos braços.
No entanto, chega por hoje de emoções, quero apenas levá-la para casa.
O delegado nos libera, mas diz que precisa de nossa colaboração com as
investigações. Estou bufando quando sento no carro, de volta para casa.
Amélia tem de agradecer de estar presa, ou ela não estaria viva agora. Eu
mesmo teria estrangulado aquela mulher com minhas mãos.
Selene dorme assim que entramos no carro, ela está exausta, e eu não a
solto em nenhum segundo, mantenho-a no colo, seu rosto enterrado no meu
peito.
— Tudo bem, linda? — pergunto, quando sento ao lado da cama de
Selene, mais tarde, em casa. Ela se aconchega debaixo das cobertas,
acenando que sim.
— Papai... — chama, depois de um tempo.
— Sim, bebê?
— Por que a vovó pediu para aqueles homens me levarem? — o sono,
que até agora há pouco parecia que a dominava, tinha desaparecido um pouco
— Eu não queria ir com aqueles homens.
— Depois falamos sobre sua avó, Selene, quero que você durma agora,
querida — digo, acariciando seus cabelos — Vai ficar tudo bem a partir de
hoje, eu prometo.
— Não vou mais morar com minha avó?
— Hoje sua avó cometeu um ato que não permitirá que ela tenha sua
guarda, Selene, isso significa que sim, você passa a viver comigo — digo
solenemente.
— Eu te amo, papai — diz apenas, e sinto a droga dos olhos arder.
— Amo você mais que minha vida, filha — abaixo e beijo sua testa.
Ela fecha os olhos, como se o fato de saber que ela não sairá mais daqui é o
que ela precisa ouvir para dormir em paz.
Não sei quanto tempo fico a velar seu sono. Só não quero me afastar do
seu lado. Sinto mãos femininas e delicadas envolverem meus ombros, e o
perfume suave de Lunna toma meus sentidos.
— Venha dormir um pouco, Luc, daqui a pouco ela acorda e vocês
podem ficar juntos o dia todo. — Sussurra.
Eu obedeço sem questionar. Dou uma última olhada em Selene e sigo
Lunna para fora do quarto.
— Venha comigo, Múmia, você precisa relaxar— ela me puxa pela
mão em direção ao quarto.
— Eu preciso de tratamento especial, loirinha — rio, enlaçando sua
cintura por trás e levantando-a do chão, terminando de entrar no quarto com
ela nos braços. Passou um longo tempo desde que a tive debaixo de mim,
gemendo meu nome. Giro-a nos braços, e as pernas dela prendem na minha
cintura, minha boca captura a dela com fome. Eu preciso da boca dela com
gana, como se tivesse passado semanas sem tê-la beijado. As minhas mãos
estão em sua bunda, apertando-a contra minha ereção proeminente. Minha
perna bate na beirada da cama e nós dois caímos nela, enroscados, devorando
um ao outro. Tiro minha boca da dela e arranco nossas roupas.
Giro o corpo e me ergo sobre o dela. Contemplo-a em abandono sobre
a cama, seus seios se erguendo e baixando de acordo com a sua respiração
agitada, seu ventre liso, suas pernas prontas a me acomodar entre elas.
Abaixo-me e beijo suas coxas de cima a baixo e sobre seu estômago plano,
enterrando minha língua em seu umbigo. Sua respiração é pesada, sôfrega, é
difícil dizer se isso é de tesão ou ansiedade para que minha boca toque seu
clitóris. Há apenas uma maneira de descobrir isso. Afasto duas pernas, depois
levo minhas mãos ao seu sexo molhado de excitação, o abro com os
polegares e passo minha língua ao longo de sua boceta, parando em seu
clitóris, e pressiono minha língua contra seu ponto sensível e duro. O gemido
que ela deixa escapar é tudo que eu preciso para comê-la com vontade. Eu
amo cada pedacinho dessa mulher, e nunca vou cansar de prová-la.
***
Marta não me olha durante o café da manhã, e isso depois de quase
meia hora de pedido de desculpas por ontem.
— Marta, sente-se — digo, depois que ela praticamente quase derruba
um bule de café em Lunna — Sente-se!
— Senhor...
— Marta! — corto com firmeza, fazendo os olhos cinzentos de Selene
arregalarem de onde ela está sentada à mesa, ao meu lado. Quando Marta me
obedece, eu continuo: — O dia de ontem não foi culpa sua, Marta, então não
quero você nervosa ao nosso redor por causa disso.
— Irei entender se me demitir, senhor Luc, irei embora sem reclamar,
pois fui...
— Não! — Selene me olha, suplicante — Papai, ela não pode ir
embora.
— Ela não vai, querida — olho firme de volta para minha governanta
— O que aconteceu ontem poderia ter acontecido com qualquer um, Marta.
Amélia, infelizmente, perdeu a razão sobre o ódio que sente por mim. E levar
Selene à força era uma forma de me atingir, só que ela calculou isso errado.
Ela não pode ganhar sempre, e isso só acelerou o processo da guarda que
passará para mim em definitivo. É só uma questão burocrática agora,
Elizabeth já está trabalhando nisso. Amélia vai ficar presa pelo sequestro da
neta.
— Que coisa horrível, meu Deus! — diz Marta, horrorizada.
— Agora, essa mocinha linda tem residência fixa com o papai dela —
Lunna pisca para Selene, conspiratória, e muda de assunto, já que o clima fica
pesado na sala — E vamos esquecer o dia de ontem! Odeio tristeza e chorei
muito ontem, estou igual uva passa hoje. Luc, querido, você precisa me dar
tratamento especial, hoje.
— Como meu pai vai fazer isso? — Selene pergunta, de testa franzida
— Ele vai... hã... Nos levar para jantar! As duas.
— Ah, legal! — Selene comemora, dando pulinhos em sua cadeira.
— E vamos comprar vestidos perfeitos!
Sorrio para as duas, que se envolvem em uma conversa sobre vestidos.
Mulheres, não importa a idade, falou em vestidos elas enlouquecem.
Eu passo o dia com elas, na verdade, viro chofer das duas, mas eu faço
isso com prazer. Selene precisa de distração, e passar um dia fazendo
compras com Lunna parece ser o remédio para isso, ela se mantém totalmente
distraída. Eu apenas faço meus telefonemas enquanto espero as duas nas
boutiques. Elizabeth me garante que, diante das circunstâncias, irei ter uma
audiência com o juiz apenas para ter a guarda. Sem precisar de tanto
desperdício de tempo. No fim, a loucura de Amélia me favoreceu.
— Eu estou trabalhando com seu advogado, sobre o caso de sequestro
de Selene, Luc, e tenho certeza que ela pegará uns doze anos de prisão, se
somar todos os crimes. — Elizabeth disse, em um telefonema que faço para
ela.
— Só isso? Quero essa mulher para sempre na cadeia.
— Vamos tentar tudo que pudermos, Luc. O que você mais quer está a
um passo de ter para sempre — ela fala suavemente — Você devia
comemorar e deixar as coisas chatas comigo, agora.
— Obrigado, Elizabeth.
— Só faço meu trabalho, Luc.
Desligamos, e vejo as duas mulheres da minha vida vir em minha
direção.
— Papai, a Lunna vai pedi que você cas...
— Selene, querida, você não disse que estava com fome? — Lunna diz,
com as sobrancelhas arqueadas para Selene.
— Mas você disse lá...
— Estou faminta, e você? — Lunna agarra a mão dela e caminha pelo
shopping, na minha frente.
— Hã... eu também — escuto a resposta desanimada de Selene e sorrio.
O que essas duas estão aprontando?
— Vamos, Múmia, não fique para trás!
— Amo a visão daqui, loirinha! — resmungo, malicioso, e recebo um
olhar que diz: um loirinha anotado, senhor Alonzo.
Abro mais largo o sorriso.
LUNNA
Nos dias seguintes, não vejo mamãe por estar envolvida na vida um
tanto conturbado de Luc e Selene, contudo, já podemos, enfim, respirarmos
aliviados. Selene não corre risco de viver com a avó. E essa mudança
definitiva dela para cá tem me mantido ocupada, estou praticamente vivendo
na casa de Luc, e nem um convite me fora feito. Mas tudo parece tão natural,
principalmente depois de declarar que me ama, naquele telefonema, apesar de
não termos conversado sobre isso.
No entanto, as circunstâncias e o amor que cresce a cada dia por
aqueles dois me fazem querer voltar ao fim de cada dia de trabalho para eles.
Mas hoje eu vim ver como minha mãe está e saber se ela já deixou as ideias
loucas de voltar para meu pai e ficar com o médico garotão.
Tenho um sorriso malicioso nos lábios, quando caminho em direção à
porta da frente. Procuro as chaves que costumo carregar na minha bolsa, mas
não acho, devo ter esquecido. Bato na porta e espero. Nada. Olha para o
relógio e percebo que são apenas 16:43hs. Estou quase desistindo, quando
escuto passos atrás de mim e uma voz masculina:
— Ela não está, estive batendo e não houve resposta — diz, fazendo-
me virar para olhá-lo de frente. Ele deve ter uns cinquenta anos, os cabelos
loiros escuros quase castanhos, e olhos claros familiares. As rugas ao redor
dos olhos são marcas de uma vida sorridente. Ele tem altura e corpo
medianos, vestido com calças social e camisa de botão comum. Olha-me
agora fixamente, e eu percebo que nunca estamos preparados para rever seu
pai, mesmo quando acredita estar durante toda sua vida. Eu tenho dito a mim
mesma que quero dizer um monte de desaforos a ele, e agora eu estou aqui,
apenas olhando, sem nada dizer.
— Você é a minha filha? — ele pergunta, sua voz baixa e um tanto
insegura. Ele nem tem certeza? Que patético! — Você se tornou uma mulher
linda. Vejo por que sua mãe tem tanto orgulho de você.
— Não posso dizer o mesmo de você — acho minha voz perdida,
quando devolvo com desprezo — O que você quer na porta da minha mãe? O
que acha que está fazendo com a cabeça dela, depois de todos esses anos?
— Sua mãe e eu temos uma história que precisa ser resolvida...
— Errado, meu senhor, essa história acabou no dia que você deixou sua
família para trás e buscou outra. Fique com sua família, não queremos você
aqui. — despejo, furiosa — Você é o pior tipo de canalha, aquele que acha
que pode voltar depois de anos e terá o mesmo lugar esperando. Deixa eu te
contar, velho caquético, você não é bem-vindo aqui, você não vai fazer minha
mãe sofrer outra vez. Eu juro!
— Lunna! — A voz da minha mãe vem de algum lugar, eu não percebi
que ela chegou da rua — O que está havendo aqui?
— Esse ser insignificante acha que pode vir aqui? Você deu liberdade
para ele vir, mamãe? — Olho-a com desconfiança. Raiva queima através das
minhas veias.
— Claro que não, filha.
— Então o que ele faz aqui? — questiono.
— Por que não estramos? Podemos conversar lá dentro, como pessoas
normais — sugere o homem que se diz meu pai.
— Acho que não, tenho visitas e você não é bem-vindo aqui — mamãe
diz, e escuto a porta do carro bater, depois vejo o namorado dela caminhar
para cá. Isso não poderia ficar melhor. — Você não tem mais espaço nessa
casa, e minha filha tem razão, você é o pior canalha que existe. Não abandone
sua família como abandonou a nós duas e depois volte, achando que eles
estarão lá esperando por você. Pode ser substituído mais rápido do que foi
aqui nessa casa. Passar bem!
Ela lhe dá as costas e caminha para a porta. A abre esperando por mim
e por seu novo amor. Eu olho para o estranho e balanço minha cabeça em
desprezo. Enfim, mamãe está colocando a cabeça no lugar. Se permitindo
viver além das lembranças de um amor que só lhe trouxe insegurança e
desgosto. Viro minhas costas e entro, deixando-o lá fora no lugar onde ele
sempre esteve.
CAPÍTULO 34
LUNNA
Entro na sala, e minha mãe me olha com o semblante
preocupado
— Sinto muito, querida, você não tinha que passar por isso, quando
nunca teve vontade de vê-lo — ela diz, em tom de desculpas.
— Não tem de pedir desculpas por esse homem, mamãe — vou até ela
e seguro suas mãos nas minhas — Já basta que passou a vida toda se
desculpando por ele. Estou muito orgulhosa de você hoje.
Dou a Greg, que se manteve apenas nos observando, um olhar que diz:
não faça igual a ele, ela merece um homem de verdade ao lado dela. Acho
que ele entende meu pedido silencioso, porque acena quase
imperceptivelmente para mim. Sorrio para ele.
Eu sinto um clima tenso na sala e resolvo deixar os dois a sós. Eu quero
ficar para a noite, para jantarmos juntas, mas me sinto um pouco intrusa ali.
Dou um abraço nela, dizendo: — Passei aqui apenas para vê-la rapidamente,
mas vejo que tem planos para a noite.
Ela cora. Observo que está parecendo mais jovem. O que um amor não
faz pela gente! Realmente é transformador. Alguns meses atrás, mamãe era
outra mulher. Se colocassem eu e ela juntas e nos analisassem agora,
poderíamos ser quase irmãs. "Greg, você tem meu total apoio, continue
fazendo o que vem fazendo, está funcionando."
— Você pode ficar, querida, eu e o Greg íamos fazer um jantar simples
e...
— Tudo bem. Na verdade, vou jantar com Luc e Selene. E mãe —
digo, e agora é minha vez de corar — Essa semana irei convidar você e o
Greg para um jantar, com o Luc e a Selene.
— O seu amigo? Querida, ficarei feliz em ir — ela ri — Estou tão feliz
que finalmente está criando raízes, minha filha. Quando ganharei um neto?
Como ela tem essa capacidade de mudança de assunto tão rápido?
— Você me envergonha com esse papo de raiz — reviro os olhos para
ela, ignorando a história de neto. Fico de ligar para marcar um dia e saio logo
em seguida. Eu nunca parei para pensar em ter seus netos ainda, eu e o Luc
temos um longo caminho a percorrer para isso. Ele precisa de um tempo
apenas com Selene antes de poder pensar em outros bebês, e para começo de
história, nós nem atingimos o primeiro estágio de um relacionamento, para
seguirmos para esse. Minha mãe é malévola, vindo com essa história, e
minha mente já começa a projetar pequenas mumiazinhas para o futuro.
Faço uma careta para mim mesma, quando fecho a porta atrás de mim.
Olho ao redor quando saio, mas meu pai deve ter ido embora. Sinto-me
aliviada. Não sinto raiva, apenas alívio, por saber que mamãe está superando
essa história toda. Acredito que é mais por essa razão, em não mais vê-la
remoendo o passado e deixando a vida passar. Pego meu carro e vou para
minha aula de zumba, gastar energia.
A academia a qual faço parte está lotada hoje, e eu rapidamente troco
minha roupa e vou para a aula que já teve início. André, meu professor, está
fazendo a mulherada aquecer e alongar antes de botar todo mundo para
dançar. Eu tomo meu lugar e, pouco depois, estou pronto para gastar minhas
calorias. Não tenho muito o que perder ultimamente, Luc Alonzo tem me
mantido ocupada, fazendo-me perder todas as calorias possíveis na sua cama.
André dá uns gritos lá na frente, chamando nossa atenção para eles.
— Vamos, meninas, levantem esses traseiros mais alto! — grita alto,
batendo palmas acima do som da música — Quero esse chão molhado com as
calorias perdidas, vamos lá!
Uma música agitada começa a tocar, contagiando todas, e minha mente
vai para Luc e meu pedido de casamento que estou planejando. Ele não falou
mais sobre ele. Eu agora ando com um anel Tiffany em minha bolsa,
querendo uma oportunidade para dizer sim ou pedi-lo. Mas eu quero um
momento especial e não o encontrei ainda.
Termino a aula, frustrada, e fico no carro uns bons cinco minutos,
pensando em uma forma de abalar o coração da múmia. Resolvo ir para meu
apartamento, onde tomo um banho e ligo para Julie.
— Hei, sumida — ela diz, quando atende.
— Preciso de ajuda.
— Em quê? O que anda aprontando, Lunna Maia?
— Quero aprontar, isso sim — digo, rindo — Eu preciso me encontrar
com você.
— Agora?
— Agora.
— Ah, Lunna, não vai ser possível, estou saindo para jantar com Adam,
na verdade, é um jantar de negócio — ela faz uma pausa — Estou me
arrumando para sair.
— Ah... — digo, frustrada — Tudo bem.
— Mas o que houve?
— Tudo bem, eu só queria conversar.
— Você disse que precisava de ajuda, então me conte o que está
havendo — ela insiste — Você está com problemas?
— Problema é meu segundo nome, queridinha, não se preocupe, estou
bem — depois de mandar um beijo para Isadora, eu desligo. Não quero tirá-la
de
seu jantar devido aos meus problemas do coração, então não digo nada.
Olho a parede em frente, pensando em uma forma de deixar Luc louco,
e nada vem à mente. Deito olhando o teto, agora, e tenho vontade de rir de
minha falta de ideia. Percebo que tudo isso está me afetando mais do que eu
pensei. Casar, mudar minha vida. Ter o que as minhas amigas têm com seus
maridos é uma das coisas que mais desejei para mim, e agora que estou às
vias de fato de ter, estou "amarelando."
Claro que não! Estou nervosa, feliz, e isso não podia sair errado, tinha
de ser perfeito. Minha relutância talvez se desse pelo fato de querer isso
terrivelmente.
Mas eu não sou totalmente séria, sou? Claro que não! Eu tenho de fazer
algo para deixar o múmia tão bravo comigo, que passe uma semana me
fazendo pagar tintim por tintim por minha falta de senso.
Agora tenho de colocar meus planos em ação, e tinha muito trabalho
pela frente. O próximo telefonema é para Marta, irei precisar de sua ajuda
para entrar na casa de Luc. E de, claro, minha principal aliada, Selene, para o
manter ocupado para mim.
LUC
— Que tal essa? — aponto o folheto da escola para Selene, a segunda
melhor escola que consegui encontrar mais próximo aqui de casa, mas ela
parece mais interessada em seu telefone celular. Ela está digitando nessa
coisa há uns bons dez minutos, e minha paciência está começando a minar.
Deus! Luc, você só a tem por umas semanas e já está no modo pai chato?
Estou a ponto de ser o "pai chato", quando ela diz:
— Podemos ir para o jardim?
— A essa hora, filha? Está frio lá fora, pode pegar um resfriado.
— Posso me agasalhar e nem está frio assim, papai, quero ver as
estrelas lá no céu — diz, com voz sonhadora, suspirando. Humpf! Ela está
estranha.
— Claro, querida, vá pegar um casaco. — cedo, a contragosto — E
você largue esse celular ou irei confiscá-lo.
— Tudo bem, papai, irei apenas mandar uma mensagem para Lunna,
posso? — ela pede, com esse olhar que me tem na palma da mão.
— Certo.
Ela digita algo e sai correndo em busca do casaco. Ela deixa o celular e
pego-o, verificando com quem ela tanto conversa. Não estou sendo invasivo,
estou sendo precavido. Criança, com nove anos, com um celular, os pais
devem ter um cuidado especial e olhar, a regra é clara aqui, e a impus quando
o dei para ela. Senha, jamais! Bem, ela tem me obedecido quanto a isso.
Selene é a criança mais linda que eu conheço, depois, é claro, que saiu do
meio do veneno de Amélia. Aquela criança que gritava e que parecia me
odiar, cada vez que me via, não parece a mesma que sorri para mim como se
eu fosse seu super-herói.
Meu sangue ferve quando vejo a última mensagem de Lunna para
Selene.
Lu: Apague esse SMS, lembre-se, seu pai olha seu celular.
Como é?
— Estou pronta, papai — Selene para à minha frente.
— O que é isso aqui? — questiono, balançando o celular na mão. — O
que estão escondendo de mim?
— Oh, não é nada...
— Selene...
— Vamos lá fora?
— Antes diga-me por que Lunna pediu que você apagasse suas
mensagens — olho duro para ela. Sei que deve ser bobagem das duas, mas
estou me sentindo de fora, aqui. Até Marta está estranha, hoje. Ela esteve
sumida na cozinha e praticamente não a vi ao redor.
Selene faz cara de cachorrinho perdido quando diz:
— Ela quer fazer uma surpresa de aniversário para você — ela abaixa a
cabeça, como se tivesse traído sua amiga. Olha para mim com um olhar
recriminatório e diz, com o mesmo tom: — Era uma surpresa, papai.
É isso?
— Não conta para Lunna que me contou — digo, rindo.
— E se ela me perguntar, devo mentir? — ela pergunta astutamente,
me encarando — Você diz que não devemos mentir.
Crianças, elas só querem uma oportunidade para colocar você à prova,
e essa minha filha é muito espertinha.
— Bom, nesse caso, pode dizer que eu fiquei sabendo. — digo, por
fim.
— A Lunna vai ficar muito brava. — cruza os braços com um sorriso,
como se soubesse que me pegou — Agora, podemos ir lá fora?
— Claro — concordo, mais rápido do que eu desejo — Mas não vamos
demorar. Já é tarde para você, mocinha, já deveria estar na cama...
Ela nem espera que eu termine de falar, sai correndo para a porta.
Desde o dia do sequestro que não permito que ela fique lá sem um adulto por
perto. Não sei do que Amélia, mesmo dentro da cadeia, pode fazer para me
atingir. Ela pode muito bem ter aqueles homens, que ainda não foram presos,
fazendo alguma coisa contra Selene. Tenho pesadelo com o pensamento.
Saio para o jardim e não vejo Selene em nenhum lugar. Meu coração
falha uma batida, apreensivo, e já estou quase chamando por ela quando
escuto sua voz me chamando, na direção da piscina, mas não a vejo em lugar
algum.
— Selene?! Não é hora de se esconder por aí — que diabos, ela nunca
faz esse tipo de travessura. Se esconder e nos deixar preocupados. Quando já
estou em uma mistura de furioso e preocupado, noto que a luz da casa da
piscina está piscando. Não acredito que Selene esta brincando de pisca-alerta
com a luz da casa. — Selene?!
Nada. A luz apaga de vez, deixando tudo no escuro. Temor começa a se
instalar. A lembrança de que ela já foi levada daqui uma vez me deixa com
uma dor latejante no estômago.
Abro a porta e fico paralisado com uma luz colorida, piscando e
acendendo na parede, formando a frase:
Casa comigo?
— Surpresa!!
Como ela fez isso e não vi?
A luz central acende e vejo as três lá. Selene e Marta, as duas
alcoviteira que são, têm plaquinhas na mão com os dizeres “Diga sim”,
escrito nelas. Mas estou além disso agora, estou furioso por elas não
pensarem que isso me deixaria preocupado com a segurança de Selene.
— O que estavam pensando? — esbravejo, olhando duramente para
Lunna.
— Essa não é a resposta certa, Múmia.
— Diga sim, papai — Selene está saltitante ao lado.
— Vamos, seu Luc! Termine logo com isso — Marta reitera.
— Isso não teve graça, fiquei preocupado que Selene tivesse sido
levada outra vez.
Observo o sorriso de Lunna se desfazer e dou um tapa mental em mim
mesmo por estragar seu momento. Puta merda, ela está me pedindo para
casar?
— Você é o pior pretendente que a humanidade já viu! Como se
ignora um pedido de casamento, Alonzo?
— Papai, você tem de dizer sim — Selene se intromete, impaciente.
— Ouça sua filha, seu Luc.
O sorriso de Lunna está de volta.
— Isso era para ser romântico — ela diz, e acabo prestando atenção
nela. No quão sexy ela está nesses saltos e vestido curto. — Queria que esse
momento fosse especial para todos, sua filha, Marta, você e eu. Uma nova
família Alonzo. Com as pessoas que realmente importam aqui, para celebrar
conosco.
Meu coração acelera no peito quando tomo conhecimento real do que
ela quer. Aceitar por fim meu pedido de casamento. Isso significa que ela está
pronta para nós...
— Múmia faraônica, você me dá a honra de casar comigo? — Ela me
estende agora o anel que dei para ela algum tempo atrás e que eu pedi que
guardasse e só usasse quando enfim aceitasse meu pedido de casamento, no
dia que a magoei com minhas palavras insensíveis.
— Lu..
— Diz sim, papai!
— Viu, tenho torcedora, assim você não pode mais fugir de mim.
— Siiiimmm — Selene aprova.
— Não era eu que estava fugindo, amor — digo, agora meu coração
bombeando sangue rápido nas minhas veias. Caminho para ela e pego o anel
de seus dedos, que estão trêmulos. Não acredito que estou deixando-a
nervosa. Ela deu uma surra em Amélia e nem piscou, e agora está nervosa
por causa da minha resposta, que ela sabe que será um sim? Ah, como ela é
fofa.
— Sabe que isso está tudo errado, não é? Teria que ser eu, de joelhos,
suplicando a você para ser minha para sempre — traço suavemente, com meu
polegar, os seus lábios pintados de vermelho. — Sabe que é a mulher mais
enervante, mais louca, mais irritante, mais linda e perfeita que existe, não é?
E que eu seria muito louco se te deixar escapar?
Ela funga, mordendo os lábios timidamente, e seus olhos se prendem
aos meus. Esquecemos, por um instante, que estamos com pessoas ao nosso
redor e que uma delas está muito impaciente.
— Papai, diz sim — Impaciente, Selene me cutuca na perna.
— Eu estou dizendo, filha. — Respondo, ainda olhando para Lunna.
— Não escutei “sim”, nem uma vez — ela teima, me fazendo rir.
— Sim, amor, vamos nos casar — coloco o anel suavemente no dedo
anelar de Lunna, antes de puxá-la para mim. Quero sua boca na minha mais
que o ar que respiro. — Amo você — sussurro, antes de tomar seus lábios.
— Eu também te amo, muito... — diz, quando ela quebra o nosso beijo,
mas o sussurro se perde quando volto a beijá-la. Seus lábios macios nos
meus me deixam com essa sensação de plenitude. De estar em casa. De estar
completo. Seus seios estão pressionados no centro do meu peito, e eu sinto
seus mamilos duros através do tecido desse vestido indecente que ela está
usando.
Nos separamos, e Selene vem para o meio de nós dois, segurando a
cintura de Lunna em um abraço. Isso me deixa mais feliz que qualquer outra
coisa. Sei que as duas serão amigas. Elas já são amigas. Poderiam ser mãe e
filha perfeitas.
— Seu Luc, estou tão feliz pelo senhor! — Marta está com o rosto
molhado de lágrimas.
— Obrigado, Marta.
— Menina, você demorou tanto — ela diz, agora para Lunna — Já
estava com vontade de falar em seu nome. —Lunna gargalha. Puxo Lunna
para mim outra vez e enterro meu rosto em seu pescoço, sussurrando:
— Já disse que você está pecaminosa com esse vestido? —beijo seu
pescoço, deslizando a língua até sua orelha. — Quero foder você como louco
agora. Além de fazer você pagar pelo susto que passei hoje.
— Eu te amo — ela enlaça meu pescoço com seus braços delicados —
Você é tão indelicado. Mas eu amo você.
— Por que vocês dois não saem para comemorar esse noivado? Eu e a
Selene podemos ficar aqui. — sugere Marta, em um tom conspiratório.
— Você tem razão, Marta, por que você duas não voltam para casa?
Tenho um assunto para tratar com minha noiva. — digo, austero.
— Vamos lá, menina — ela pega a mão de uma Selene relutante e a
arrasta em direção à saída — Vamos deixá-los a sós.
— Mas...
— Vamos lá, querida.
Quando a porta se fecha atrás delas, nós dois já estamos arrancando
nossas roupas. Que outra maneira melhor de comemorar?
— Nunca mais junte-se com minha filha para me matar do coração —
recrimino sem muita convicção, quando estou a ponto de mergulhar em seu
corpo receptivo.
— Claro que não — fala, ofegante — Eu prometo... por hoje.
CAPÍTULO 35
LUNNA
— Por que não me disse que vínhamos para meu
apartamento, senhor Alonzo?— vejo Luc parar o carro na frente do meu
prédio e descer rapidamente. Ele não falou muito, apenas dirigiu até aqui
feito um louco e agora está abrindo a porta do carro para que eu desça. Ele
está meio bestial depois do pedido de casamento. Ele não quis ficar em casa
depois da nossa festinha na casa da piscina. Ele comunicou à Marta que
íamos sair para jantar. Desculpa esfarrapada, pois já era tarde para isso.
Luc me beija assim que desço, me prensando contra a lataria do carro.
O desejo aumenta quando aquela mão grande dele aperta duro meus seios.
Ele aperta entre os dedos indicador e o polegar meu mamilo duro e receptivo
por cima do meu vestido, e eu gemo em sua boca. O beijo gostoso, erótico
que ele me dá tira meu fôlego. Luc chupa minha língua em sua boca,
disparando flashes de prazer, e eu quero mais. Minhas mãos vão para seus
cabelos e eu os agarro forte, pois o tesão é muito grande. Os lábios atrevidos
descem para meu pescoço, estou gemendo a cada mordidinha que ele dá, até
parar em minha orelha, que ele segura entre os dentes. Minhas pernas
bombeiam e me seguro em seus ombros para não cair. Estou sedenta dele.
Esfrego-me nele, buscando um atrito que me dê alívio.
— Eu preciso estar dentro de você, amor. — ele se arrasta para longe
de mim e me puxa para dentro do prédio.
Tropeçamos para dentro do meu apartamento como se estivéssemos
famintos um do outro. Ele me empurra para o sofá.
— De joelhos, amor. – Comanda, com voz gutural. Eu tremo e fico de
joelhos no sofá, segurando o encosto, e olho para ele. Ele segura meus
cabelos curtos e puxa meu rosto para ele, beijando-me furiosamente. Sua
língua enroscando-se na minha, e parece sugar tudo de mim. — Esse vestido
me deixou louco. — rosna. E me posiciona até que esteja com meu peito
colocado no encosto e minha bunda para o ar. Ele sobe lentamente minha saia
curta, expondo meu fio dental, também vermelho, e bate a palma aberta em
um tapa firme.
Maldição! Gemo, empinando o traseiro para ele.
— Isso é delicioso. — ele diz, ajoelhando-se, e o calor de sua boca em
minha vagina, quando afasta o tecido da calcinha para o lado, é como
choques elétricos percorrendo minha coluna. Isso é muito bom, gostoso. Luc
puxa minha calcinha para baixo, e gemo de ansiedade.
— Luc...
— Não posso esperar mais, amor, preciso de você — sinto seu pau
contra minhas dobras molhadas antes de ele enfiar até o fundo. Enfia rápido,
forte, indo todo até o fim, eu gritando seu nome agora a cada estocada firme
que ele dá. Uma de suas mãos desliza por minhas costas e segura meu ombro,
a outra na minha cintura me mantém no lugar. O pau grande me tomando,
saindo para voltar até o fim, minha vagina derretendo, e perco o controle de
mim mesma. Estou tão excitada, estou a ponto de gozar por todo seu pau.
Minhas sensações se intensificam quando ele desliza a mão que estava em
minha cintura até minha boceta, onde começa a acariciar meu clitóris com
movimentos circulares, tão intensos quanto as estocadas firmes do seu pênis
em minha vagina.
— Lunna! — ele geme meu nome, em total descontrole também —
Porra! — Meu interior parece ter uma ligação direta com sua voz, porque
sinto o redemoinho de prazer se alastrar por meu corpo, e essa quentura me
toma inteira, e eu simplesmente apago com o gozo puro. Êxtase.
Tremendo, volto à realidade e o encontro em furiosas estocadas
buscando seu próprio prazer, e saber que o fiz perder o controle, me faz ser
levada outra vez pelo orgasmo, quando o sinto gozar dentro de mim.
Caímos no sofá, e percebo, depois de um tempo, que estamos
completamente vestidos.
— Venha, vamos para um lugar confortável. — Ele me leva para o
quarto, onde começamos uma segunda rodada de sexo, agora calmo, porém
não menos intenso. A cada estocada de seu pau, ele diz que me ama.
— Amo você, loirinha. — ele prende minha cabeça entre seus braços,
seus quadris em um vai e vem lento e delicioso.
— Você é lindo e amo você, mas eu não o quero me chamando de
loirinha — resmungo, fingindo mau humor, porém, no fundo, amo que ele
me chame assim, só não vou dizer isso a ele. — Isso é tão inha.
— É carinhosinho, amorzinho. — ele ri, safado, quando praticamente
sai de dentro de mim e volta mais lento ainda.
— Isso é tortura.
— O que, loirinha? — provoca outra vez.
— Luc... — gemo, rendida.
Ficamos a noite inteira no meu apartamento. Nós tínhamos planos, e
isso incluía planejar um casamento e dizer a nossos amigos — oficialmente,
claro — que íamos nos casar, porque eles já sabiam, de qualquer forma, que
estamos tendo um relacionamento. Estivemos vivendo meses em uma bolha
onde era apenas nós três, praticamente. E eu amo isso, mas está na hora do
mundo exterior fazer parte de nossas vidas.
Na manhã seguinte, enquanto estou me arrumando para ir a uma
palestra, ele diz, divertido:
— Você demorou meses para dizer sim. Aquele pedido foi tudo que
conseguiu pensar? Você merece um castigo, senhorita Maia.
A meia preta 7/8 que estou colocando faz par com o vestido cinza
perolado e os saltos que vou usar. E ele me assiste de braços cruzados, ao
lado da janela do quarto, onde ele está apenas de calça jeans, causando sérios
danos ao meu cérebro, além de rir do meu pedido de casamento. Seu olhar
atento aos meus movimentos faz as bolhas na minha barriga parecer
champanhe borbulhante em uma taça.
— Você é tão bruto! — digo, levantando a segunda perna para vestir a
meia — Você devia ficar de joelhos e me adorar.
Caminhando para mim, ele se ajoelha entre minhas pernas. Estou nua,
apenas com calcinha e meias pretas. Lambo os lábios nervosamente — Eu
vou adorar você para o resto de minha vida, Loirinha. Eu sou completamente
louco por cada pedacinho de você.
Passo minhas pernas em torno dele, meus braços...
— Você anda me prometendo muitas coisas, e, falando nisso, quero me
casar, já. — sorrio.
— Lunna Maia, case comigo daqui a um mês, aliás, daqui a uma
semana!
— Fechado.
Digo, beijando-o.
A campainha toca, fazendo-nos separar, e olho para ele com indagação.
Eu não esperava ninguém a essa hora.
— Você pode ver quem é?
— Claro —diz, antes de beijar rapidamente meus lábios. — Volto já.
Ele sai e, pouco depois, escuto vozes na sala, que rapidamente ficam
em silêncio depois.
— Luc?!
— Estou aqui — viro-me para ele e fico abismada com o buquê de
rosas azuis em suas mãos — Eu deveria comprar uma dúzia de buquês para
que não fosse chamado outra vez de muquirana e não sei mais o que pela
minha futura esposa.
— Esse já é um título, seu múmia — mordo o lábio inferior, sorrindo
— Elas são lindas.
— Para você. A mulher mais rara e valiosa para mim.
— Você está melhorando — agarro as rosas e as levo ao nariz, inalando
o perfume das flores — Obrigada.
Tem um cartão e pego para ler, ansiosa.
“Minha resposta ao seu pedido de casamento
brega nunca poderia ser diferente de sim.
SIM, loirinha, eu quero pertencer a você
Porque você também é minha”
L.
— Brega? — olho feliz para ele.
— Humhum.
— Vocês, homens, não entendem o quanto é trabalhoso uma mulher
fazer um pedido. — resmungo, quando enlaço seu pescoço — Eu não ia
receber um não como resposta, teria te raptado e o feito meu refém, até você
dizer sim. Pena que foi tão fácil.
— Posso mudar de ideia — diz, contra meus lábios.
— Por favor — voltamos a nos beijar, e as rosas são esquecidas depois
disso. E eu? Bom, minha palestra ficou bem atrasada...
CAPÍTULO 36
LUNNA
Um mês depois...
Casar com Luc Alonzo não foi bem o que eu imaginava, quando
eu sonhava com meu príncipe encantado, mas aqui estou eu, caminhando
com Selene e Isadora à minha frente, para o homem que vai ser meu para o
resto de nossas vidas.
Bem, se eu não o estrangular antes.
Sorrio para a dúzia de convidados na igreja, apenas nossos amigos mais
chegados. Mamãe, Greg, minhas amigas e os amigos de Luc, em sua maioria.
Além dos seus pais.
— Você está linda — Luc beija meus lábios rapidamente, quando me
encontra no altar, com um sorriso de tirar meu fôlego.
— Você está um verdadeiro Lucat, minha múmia. — digo, de encontro
aos lábios tentadores dele.
— Está uma noiva linda!
Meu vestido de noiva, branco, é curto. O buquê é composto apenas por
três rosas azuis, símbolo de nossas "desavenças" e que eu passei a amar. Eu
as tinha recebido essa manhã, minha múmia muquirana está aumentando a
quantidade.
Ele disse que, no dia que eu der um bebê a ele, vou ganhar uma dúzia.
Mas vamos esperar. Seria de mau gosto ter um bebê agora. É tão recente que
ele tem Selene. Ela merece toda atenção para ela, um bebê toma toda atenção
dos adultos em volta, e eu não quero que ela se sinta rejeitada quando acabou
de ganhar seu papai.
— Eu te amo. — ele murmura.
— Amo você, também. — sussurro de volta.
A cerimônia é rápida e simples. Logo depois, recebemos os parabéns de
todos na frente da igreja. A felicidade é tanta que não noto de imediato
Amélia do outro lado da rua. O local é a igreja que mamãe conheceu Greg, e
acabei vindo fazer a cerimônia aqui, por ser um lugar especial para ela. O
parque em frente à igreja tem árvores, e quando levanto meus olhos
rapidamente, rindo quando Julie diz algo sobre eu e Luc esconder o jogo,
então a vejo.
Um carro passa no meio e a perco de vista um segundo, mas depois
olho, e ela ainda está lá. Meu sangue gela nas veias. Procuro Luc e Selene, e
eles estão nos degraus da igreja à minha frente. Luc tem a mão de Selene na
dele, e quero gritar para ele. Estou em completa paralisia.
— O que você tem? — Julie me cutuca, preocupada.
— Luc! — chamo, e vejo quando Amélia começa a caminhar para a
igreja. Sua mão no bolso do moletom que ela está vestindo sai, e a arma em
sua mão me põe em movimento. — Luc!
Parece que tudo acontece em câmera lenta. Quando eu grito, um tiro é
disparado e sons de freios de carro são ouvidos ao longe. Algo queima
através de mim. O susto me paralisa e me sinto ser segurada por Luc quando
ele chega perto de mim e me impede de cair . Eu não tinha percebido, em
meu medo, que eu estava caindo...
— Lunna!
CAPÍTULO 37
LUNNA
— O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o
amor não trata com leviandade, não se ensoberbece.
Sim, o amor sofre demais para mim...
Estou no hospital no dia do meu casamento, quando deveria estar na
minha quente lua de mel. Jesus, aquela mulher tinha de atrapalhar tudo?
— Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se
irrita, não suspeita mal; não folga com a injustiça, mas folga com a verdade.
Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta...
Não suporto perder minha lua de mel, isso sim... Quero pegar a múmia
de jeito e só soltar um mês depois..
A voz de mamãe para de recitar. Estou sonolenta dos remédios que
tomei. O tiro disparado passou de raspão por meu lado esquerdo, por pouco
não atingindo Julie. Pelo visto, Amélia saiu da cadeia e veio acabar com a
felicidade de Luc, porque ela disparou contra mim sabendo que iria atingi-lo
mais do que atirando nele. Seu ódio por Luc era tanto que ela não suportava
que ele fosse feliz. O pior foi para ela: em sua ânsia de atingir a nós, não
prestou atenção no carro vindo em sua direção. Agora está morta. E pior,
tudo isso na frente de sua neta. A mulher não tinha decência.
Gemo.
— Acordou, querida. — ela diz, e abro os olhos, deparando-me com ela
acima de mim. — Ah, bem-vinda de volta, os remédios derrubaram você.
— Mãe, você está melosa demais sobre o amor — digo, com uma
careta — Estou ficando enjoada com você falando aí.
— Você nem doente toma jeito — ela repreende com carinho.
— Cadê Luc? — questiono, meio grogue. Eu tinha vindo para o
hospital completamente consciente, até porque não foi nenhum ferimento
grave, mas estava com dor, e o analgésico me deixou muito sonolenta, acabei
dormindo.
—Ele foi levar Selene para casa. Ela estava querendo dormir junto com
você, aqui na cama.
— Ah, tadinha.
— Ela ama você, querida, estava preocupa quando viu você dormindo
depois de levar um tiro — mamãe afasta meu cabelo da minha testa em uma
carícia — Não faça isso comigo de novo. Não posso ter um susto desse outra
vez.
— Claro que não, mãe! — garanto, rindo debilmente.
— Amo você, criança— beijando minha testa, ela volta a sentar ao lado
da cama — Descanse, que seu marido volta daqui a pouco.
Marido. Caramba, eu agora sou uma Alonzo!
Como se tivesse sido invocado, a porta abre e Luc aparece.
— Viu? Não falei? — mamãe diz, olhando-me com uma piscadela.
— Vá para casa descansar, ficarei aqui — ele diz para minha mãe — O
médico disse que ela pode ir para casa agora, se quiser, mas eu prefiro que ela
fique aqui.
— Ei, estou bem, marido.
— Você levou um tiro — ele vem e me beija suavemente.
— Um tiro de raspão.
— Estou indo, crianças — mamãe levanta e vem pegar minha mão —
Qualquer coisa me ligue, não faça nenhuma bobagem.
— Ela não fará — Luc garante, e mamãe vai embora depois de se
despedir.
Quando ficamos a sós, sou sufocada de beijos.
— Você é minha existência, Lunna, perder você acabaria comigo.
— Não vai, Múmia, pare com isso, ainda temos uma lua de mel para ir
— sorrio.
— Claro que sim.
— E Amélia?
— Não quero saber, a advogada que fez de tudo para que ela fosse solta
que cuide para que o corpo dela seja enterrado decentemente, ou será
enterrada como indigente — ele diz, com raiva.
— Tem de pensar em Selene, é a avó dela. — amenizo.
— Não, quero minha filha longe dessa podridão.
E ficamos todos. Saio do hospital no dia seguinte, e não sabemos mais
nada sobre Amélia, toda questão do incidente foi tratada com os advogados
de Luc, enquanto nós três partimos em lua de mel. Sim, Selene está indo
conosco para a Grécia.
— Devíamos ir para o Egito — digo, quando decolamos.
Luc me olha, intrigado.
— Lá tem as tumbas dos faraós mumificados, seus parentes — digo,
séria, e Selene ri.
— Muito engraçado. Piada velha. — diz — Sabe que vai me pagar por
isso, não?
— De que jeito?
Ele se inclina e fala em detalhes ao meu ouvido como pretende me
castigar. Realmente, não vejo a hora de receber seus castigos.
CAPÍTULO 38
LUNNA
— Você está grávida?
— Sim
—Não acredito! Como isso aconteceu?
— Filha, como engravidamos? — ela dá um sorriso sem graça.
— Mamãe, você não tem mais idade para ter filho, isso pode ser um
risco para sua saúde — digo, chocada.
— Isso não me impede de engravidar, pelo visto. — mamãe está
radiante, e sua pele brilha, porém, atrás de tudo isso tem preocupação ali. —
Muitas mulheres, com mais de quarenta anos, têm filhos, Lunna.
— Vocês estão bem?
— Eu e o bebê? Sim.
— E você e o Greg?
— Bem... sim — sua hesitação diz mais que palavras.
— Estão bem, não é? Ele não está te deixando por causa do bebê, não
é?
— Não, isso não, mas temos problemas que vão além disso. Mas não se
preocupe, querida, vamos ficar bem — ela garante.
Saio de sua casa eufórica e preocupada, mas feliz que vou ter um
irmãozinho. Eu tinha ido dizer que estava planejando ter um bebê nos
próximos meses, mas eu prefiro esperar um ano agora.
Não temos pressa.
EPÍLOGO
LUNNA
— Você tem certeza? — pergunto ao telefone, minha voz
embargada.
— Claro que sim, Lunna. Parabéns, querida! — Dona, minha médica,
diz do outro lado.
— Obrigada — digo, em um fio de voz, antes de a ligação ser cortada.
Um felizes para sempre poderia até ser muito otimismo de minha
parte, afinal das contas, a vida real não é sempre felicidade eterna, mas o
vislumbre dele acontecendo é a certeza que nós estamos no caminho certo.
Os sapos faraônicos implicantes podem ser príncipes amorosos quando
encontram seu par oposto e se completam mais que perfeitamente. Eu e meu
oposto nos completamos por sermos exatamente assim, e eu sou feliz...
As coisas mudaram na minha vida completamente, nesses últimos
dois anos. Eu nunca imaginaria que ganharia uma filha e que nos daríamos
melhor que muitas mães e filhas naturais, mas aqui estou eu, sendo uma mãe
coruja de Selene há mais de um ano, desde que casei com seu pai. Está tudo
perfeito, ou quase. Minha múmia favorita está louco por um bebê, mas eu
ainda estou relutante em ter um filho, eu temo não ser capaz de cuidar de uma
vidinha nova.
Na verdade, eu morro de medo, e não contei isso para Luc. Eu amo os
filhos das minhas amigas e meu novo irmãozinho, que nasceu há um ano,
mas ter um bebê está me apavorando como nada jamais fez. O irônico disso
tudo é que já não está em minhas mãos decidir isso. Mas, por incrível que
possa parecer, eu estou feliz por acontecer agora.
Olho ao redor e sinto orgulho demais do dia de hoje.
Emoção é uma palavra rasa para descrever como me sinto, é uma
mistura louca de sentimentos dentro de mim. Um dia que minha vida
começou a mudar desde que acordei. A vida programou o dia de hoje, um dia
mais que especial. É o começo de uma nova etapa na minha vida e na minha
carreira como fisioterapeuta, um passo importante para mim. Eu sozinha,
talvez, não tivesse conseguido em um ano, desde que comecei a construção,
concluir esse projeto que sempre foi um dos meus sonhos. Mas eu tenho
pessoas maravilhosas ao meu lado e um marido que me faz me sentir como a
única mulher na terra. Todos tinham contribuído para esse dia ser perfeito, de
alguma forma. Minha mãe, minhas amigas, seus maridos, meu marido e
minha filha adotiva.
— Tudo está perfeito, Lunna — Gaby diz, orgulhosa, parando ao meu
lado— Não foi porque eu dei o meu melhor aqui não, mas sua clínica tem um
charme especial. Ficou tudo muito lindo.
Sim, ela tinha tomado para si o projeto da FisioCenter, meu sonho
realizado. Não poderia dizer que conquistei só, Luc e Gaby foram os mais
envolvidos junto comigo, para que tudo hoje estivesse perfeito.
Sorrio, agradecida, quando bato minha taça na dela e finjo beber
depois do brinde.
— Obrigada, querida — olho ao redor, para os convidados da
inauguração da clínica, que estão por toda parte. Sinto algo quente no peito
quando o sentimento de realização bate. — Você fez o projeto exatamente
como eu queria, então, sim, está perfeito.
— Mamãe! — Braços enlaçam minha cintura por trás, e a voz de
Selene aquece meu coração. — Demoramos por culpa do meu pai.
— Seu pai é sempre o culpado — digo rindo, quando me viro para
olhá-la — E onde ele está agora?
Ela está tão crescida, quase uma linda adolescente. Eu amo essa
garota. E, além disso tudo, me chama de mamãe. Na primeira vez que ela fez
isso, quase tive um infarto de emoção. Ela simplesmente passou a me chamar
assim do nada, e cada vez que ela me chama assim eu quero ser essa mãe
perfeita que ela merece.
— Lá fora, em uma ligação — ela revira os olhos, respondendo minha
pergunta.
— Lunna, querida, parabéns — minha sogra vem e me envolve em
um abraço também, depois que se afasta aponta ao redor — Isto aqui está
lindo. Tenho certeza que será um sucesso.
Assinto.
— Obrigada por vir.
— Não perderia por nada — quem disse que sogros eram ruins? O
meus são os melhores.
Avisto minha mãe e Greg e vou ao encontro deles.
— Hei, cadê meu irmão? — pergunto, quando dou um beijo na face
dela.
— Festa barulhenta não é lugar de bebês.
—Ele tem mais de um ano, mãe — bato no braço de Greg — Você a
deixou abandonar seu filho em casa, sozinho?
— Temos planos para depois daqui, querida enteada, então um bebê
não era apropriado — ele diz, depois dá uma olhada quente à minha mãe —
Não é, amor?
— Argh! Não quero ouvir isso, poupe meus ouvidos de certas coisas
— finjo horror do pensamento de mamãe e Greg juntos — Que bom que
vieram.
— Querida, é sua festa, sua clínica, e não quero perder nada de suas
conquistas — minha mãe segura em meus braços — Orgulho-me muito de ter
uma filha como você. Apesar de às vezes eu te decepcionar, você sempre foi
o contrário, me deu apenas alegria. Por sua causa eu me tornei o que sou
hoje. Então sua conquista é minha conquista e não posso perder nenhum
passo disso enquanto ainda estiver viva. Filha, nada me deixa mais feliz que
ver você feliz e realizando seus sonhos. Esse lugar brilhará apenas por você
estar aqui, você sempre foi minha maior estrela, esfuziante e irreverente.
Lágrimas bobas correm dos meus olhos e meu lábios estão trêmulos
na tentativa de conter as lágrimas que teimam em cair.
— Você não me decepcionou, mãe, mesmo que às vezes eu tenha dito
coisas assim, mas você sempre foi minha heroína favorita.
— Hei, por que essas lágrimas? — a profunda voz de Luc me alcança
e, segundos depois, estou sendo puxada para ele. — O que houve? Algo
errado na festa? Diga-me e daremos um jeito.
— Oh, senhor Alonzo, respire — retruco e me aconchego em seu
peito — Apenas um momento sentimental.
— Humm, Loirinha, eu me preocupo com você, amor — ele beija
meus lábios rapidamente. Suas palavras são como combustão, me deixam
quente em todos os lugares. A emoção parece aflorar mais a cada segundo
hoje.
— Eu te amo — sussurro, trazendo toda emoção para minha voz
embargada — Amo que você faça parte da minha vida, Luc Alonzo.
— Eu também te amo, sabe disso, Loirinha — mesmo que nós dois
estejamos no meio de nossos convidados, ficamos abraçados ali por um
momento, apenas desfrutando desse instante.
A festa, não é bem uma festa, é apenas um coquetel de inauguração de
minha clínica de fisioterapia. Eu circulo pelo ambiente, cumprimentando
todos meus amigos. Eu adiei esse momento até não poder mais, porém não
posso deixar de agradecer a todos por estarem aqui, pois sei que estou além
de emocionada com a notícia de Dona e tudo isso aqui.
Não adio mais, pego o microfone e chamo a atenção de todos.
— Hoje é um dia mais que especial para mim, de tantas maneiras
incríveis, que se eu ficar aqui muito tempo, falando, vai ser constrangedor.
Sou péssima discursando — dou um sorriso trêmulo — Eu agradeço a todos
por terem vindo aqui partilhar comigo dessa conquista. Obrigada a todos pelo
apoio, vocês são incríveis. Meus amigos, minha mãe, obrigada.
Fixo meu olhar em meu lindo marido e em nossa filha.
— Mas quero me dirigir especialmente ao meu marido e à minha
filha. Vocês dois têm sido meu centro de força e gratidão por serem tão... tão
maravilhosos. Sem vocês eu não teria isso agora, talvez mais para frente,
afinal, sou uma pessoa incrível, não esqueçam — todos riem, e espanto uma
lágrima antes de encarar Luc, que tem esse sorriso que me abala e aquece, e
esses olhos cinzentos que brilham, cheios de amor para mim — Eu queria
dizer isso em particular a você, mas eu não estou conseguindo segurar mais, e
esse momento é mais que perfeito para que todos saibam de uma vez, então.
Respiro fundo e continuo:
— Mais cedo, recebi um telefonema da minha médica e...
— Você está bem, Lunna? — Luc me corta, preocupado — Você...
— Estou ótima. Eu adiei isso por dois anos, porque eu não me sentia
preparada e você quis desde o início. Nem planejei para agora, mas, vejam
só, agora não tem mais volta. Múmia, vamos ter um bebê. E eu estou feliz,
tão feliz...
Eu não termino de falar, porque ele praticamente pula em cima de
mim.
— Deus, mulher, você me mata dessa forma! — a voz sai abafada, já
que ele tem a cabeça enterrada nos meus cabelos, que agora estão crescidos.
Escuto as palmas dos convidados, mas Luc me levanta nos braços e me tira
do salão onde acontece a recepção da clínica, e me leva direto para meu
consultório, deixando os convidados lá.
— Os convidados...
— Agora não, Lunna, eu preciso de você só para mim. — Ele fecha a
porta com um chute, nos insolando de todos — Você está falando sério?
— Sobre o bebê? Claro que sim, teremos uma mumiazinha, enfim —
seguro seu rosto com as duas mãos — Eu sei que demorei para que isso
acontecesse, mas eu acho que talvez agora seja o certo, mesmo que você seja
a babá, enquanto eu faço essa clinica crescer...
Ele me cala com sua boca voraz na minha. O beijo é cheio da emoção
que vibra entre nós, como algo palpável, intenso e maravilhoso. Gemo
quando a língua dele acaricia a minha, e apenas me entrego ao calor que vem
como chama através dele para mim.
— Te quero agora — ele sussurra, quando me empurra para o sofá no
canto da sala. — Hora de batizar sua sala, loirinha, porque estou feliz pra
caralho.
— Temos pessoas lá fora nos esperando, Luc
— Você tem ideia de como ter um filho com você é importante para
mim? — ele parece esquecer, por um instante, que queria fazer amor no sofá
e me encara, sério — Eu fui o pior pai para Selene quando ela nasceu e ainda
me sinto terrivelmente em dívida com ela por isso. Eu a rejeitei de uma forma
mesquinha e egoísta, e tenho tentado compensá-la de todas as formas até
hoje. E você não querer até agora um filho comigo era como um castigo por
meu egoísmo. Seria meu castigo? Nunca mais ter um filho? Para que eu
pudesse fazer diferente? Ou porque você tinha medo de que eu te
abandonasse como fiz com a mãe de Selene? Tudo isso tem me corroído por
dentro desde que casamos...
— Hei, não é nada disso. Por que não falou suas dúvidas, nesse
tempo todo? Não quero você se sentindo dessa forma — beijo seus lábios
repetidas vezes — Nunca, amor, nunca te faria algo mal intencionalmente.
— Eu sei, mas agora eu quero fazer diferente, amor.
— Já estamos fazendo. Você é lindo e maravilhoso com Selene, tenho
certeza absoluta que será o melhor pai que nosso filho poderia querer.
— Nosso filho! Porra, loirinha, eu amo o som disso — Ele se ajoelha
e beija minha barriga inexistente por cima do vestido, depois olha para cima,
aos meus olhos, e ri, malicioso — Agora podemos ir até o sofá? — ele sobe
as duas mãos por baixo da minha saia, e quero obedecer a sugestão, contudo,
resisto bravamente.
— Não! Podemos fazer isso mais tarde, então seja um bom menino.
— Não serei um bom menino, você me chamou de Múmia na frente
dos convidados? Ah Lunna Alonzo, eu...
A resposta dele é cortada por uma batida na porta, e a voz de Selene
vem de lá de fora.
— Papai?! Mamãe?!
— Viu? Falei...
Antes de abrir a porta, ele rouba meu fôlego com um beijo quente.
— Selene, filha, onde é o incêndio?
Ela o ignora e vem direto para mim, abraçando-me pela cintura
— Estou tããããão feliz porque vou ter uma irmã — ela fala, saltitante.
— Irmã ou irmão, querida — digo rindo — Você está bem com isso?
Ela assente, batendo palmas, feliz, e sinto as drogas das lágrimas
voltando. Nunca conversamos abertamente sobre irmãos com ela, mas vejo
que não é problemas para ela.
— Vai ser a melhor irmã do mundo, por ser tão generosa.
Voltamos os três para onde os convidados estão, e começa um
pandemônio de felicitações e abraços.
Eu apenas sorrio, transbordando com esse calor que aquece meu peito
de uma forma confortante. Eu sei que estamos no caminho certo do felizes
para sempre...
Fim
AGRADECIMENTOS
Nada sem Deus na frente vai bem, é por isso que agradeço a Ele por
ser meu guia. Tudo pertence a Ele.
Mas agradeço a todas as pessoas que cooperam para que eu continue
tentando e tentando. Obrigada.
Mas meu agradecimento especial vai para uma pessoa que sabe por
que estou agradecendo a ela. Minha revisora Lucilene Veira, tu sabe que
mora no meu coração. Obrigada.
Minhas leitoras lindas, O&P eu dedico também a vocês, suas lindas.
Sem vocês nada disso seria possível. Amaram meu Luc, minha Múmia
favorita, a louquinha Lunna e, claro, Selene.
Tem uns anjos que vieram com ajuda com capa, imagens, grata pela
ajuda. Joyce Dias, obrigada, amore.
Pat, Cat, Kele, Jenni, Joseania, Adriana, Raíra, Kelly, Drika, Rayanna,
Rosa, Mony, Alice, Nani, Su, Ellah, e todas mayzetes lá do meu grupo no
WhatsApp. Lindonas, cheiro para vocês e, claro, para minhas
seguidoras/leitoras do Wattpad.
Rosilene Rocha, obrigada pelo carinho e indicações dos meus livros
Obrigada pelo carinho,
MAYJO
TRILOGIA IMPERFEITOS