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O amante do CEO

Um conto de JVLEITE
J. V. Leite
Todos os direitos reservados

1ª edição – 2021

Título: O amante do CEO

Capa: Crazyforhotbooks

Diagramação: J.V.Leite (By Kindle Creater)

Revisão: Flávia Borba

Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas. Nomes, personagens, lugares e
acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes,
datas e acontecimentos reais é mera coincidência.

Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa.

Todos os direitos reservados.

São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte dessa obra, através de
quaisquer meios — tangível ou intangível — sem o consentimento escrito da autora.

Criado no Brasil.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei n°. 9.610/98 e punido pelo artigo
184 do Código Penal.
Sonhos...

Essenciais na vida de qualquer ser humano.

Não falo de dormir e sonhar com coisas sem sentido, tipo você andando pelado numa avenida
movimentada. Estou falando de perspectiva de vida. De metas. De ter um ideal para sua vida e correr
atrás dele.

Muitas pessoas desistem desses sonhos, pois acreditam não serem capazes de realizá-los, e
seguem a vida frustrados, com aquela sensação de que algo está faltando. Outras continuam sonhando
e sonhando… apenas sonhando. E tem aqueles que conseguem realizá-los.

Eu posso dizer que sou aquele que conseguiu realizar um sonho: trabalhar na AB&C Corporation,
uma multinacional no ramo da tecnologia com sede nos Estados Unidos. Sou um dos gerentes de
Contas Especiais da filial de São Paulo, e se Confúcio disse: “trabalhe com o que você ama e nunca
mais terá que trabalhar na vida”, ele estava coberto de razão. Amo o que eu faço! Amo acordar às
cinco horas da manhã, vestir um terno slim que modela meu corpo esbelto, pegar o metrô na Vila
Prudente e descer no Trianon-Masp, em plena Avenida Paulista. Tenho carro, mas quem se atreve ao
trânsito de São Paulo quando o metrô funciona perfeitamente bem? Eu mesmo não!

Na movimentada Avenida Paulista, tomo café da manhã numa padaria lotada de gente bonita,
importante, bem vestida, com sangue nos olhos de quem vai conquistar o mundo, mas apenas estão ali
como eu, tentando matar um leão por dia. Depois do café da manhã, sigo com alguns colegas para a
sede da empresa e ali a vida acontece, pelo menos a minha. Sempre dou aquela checada no visual na
parede de espelhos, antes de entrar no elevador. Cabelos castanhos bem cortados, olhos claros,
bochechas coradas, lábios cheios e rosados, um metro e setenta e nove de altura, barriga lisinha,
bumbum arrebitado, eu sou o cara! Vaidoso? Sim! Aos vinte e sete anos de idade, minha
autoconfiança e autoestima pairam sobre mim!

Na AB&C Corporation sou tido como um tubarão nas negociações. Os clientes da empresa fazem
fila para terem suas contas administradas por mim, e não é por causa do meu rostinho bonito, é
porque eu sou comprometido com cada um deles, eu luto por eles! Sou adepto a conflitos, metas para
bater, superior cobrando resultando, eu cobrando resultado do meu pessoal, aquele leão que tenho
que matar, o sangue dos olhos quase minguando... e no final do dia eu sou um gigante. Quando o
expediente termina, eu sou aquele que faz hora extra, e quando saio da empresa com a adrenalina
ainda a mil, vou direto para academia extravasar. Quando volto para casa, é apenas para tomar um
banho, comer qualquer coisa e depois... a noite é uma criança! Não importa a cara, deu mole, estou
pegando!

Sou bi? Talvez! Mas quem precisa de rótulos? Aprendi com a vida que, quem se rotula se limita,
e sobre quem eu levo para cama, minhas opções são ilimitadas.

Ou era, há um ano, antes de ele entrar na minha vida.

E se meu sonho era ter a vida que citei anteriormente, hoje eu penso diferente.

Ainda sou apaixonado pelo que faço e pelos leões que tenho que matar todos os dias, mas amor
mesmo... eu sinto por ele. Só que eu cansei de ser apenas o amante do CEO. Eu quero mais, e esse
mais não sei se ele tem para me dar.

Para entender melhor essa história, vamos começar do começo. Vamos começar pelo dia em que
eu o vi pela primeira vez, saindo do mar, corpo cor de mel...

Por Deus, nunca vou esquecer aquele dia!


◆◆◆

― Reserva no nome de Luca Mariano. ― disse para o recepcionista da charmosa pousadinha,


que tinha aparecido para mim no feed do Instagram após eu ter feito uma pesquisa sobre as praias de
São Paulo.

Mesmo trabalhando no ramo da tecnologia e informática, ainda me impressiono com a


capacidade que essas redes sociais têm de adivinhar nossos pensamentos e ir ao cerne das nossas
necessidades. Eu queria desacelerar na minha última semana de férias, antes de voltar com tudo para
AB&C, e essa pousadinha apareceu para mim na hora certa.

Eu tinha comprado um apartamento, mas a reforma atrasou, eu já tinha entregado o antigo


apartamento ao novo proprietário, ou seja, estava desalojado e provavelmente teria que passar minha
última semana de férias num hotel, então, por que não numa praia? O dinheiro estava na conta, meus
móveis num galpão, eu não tinha muito o que fazer e queria relaxar, então, me dei a oportunidade de
passar uns dias recluso numa pousada isolada em Maresias, a cerca de cento e oitenta quilômetros de
São Paulo. Não foi difícil fazer a reserva, já que era início da semana, mais precisamente segunda-
feira. Eu ficaria hospedado até a quinta e o fim de semana seria para organizar o novo apartamento
antes da labuta começar. A mala já estava cheia de roupas, então foi só encher o tanque do carro,
tirar dinheiro no caixa eletrônico para o pedágio e imprevistos, e às duas em ponto eu estava fazendo
meu check-in na Pousada Marisol.

― Suíte pra um, certo? Com cama de casal? ― perguntou o recepcionista de nome Carlos,
segundo o crachá pendurado em seu pescoço, ao verificar a reserva na tela do computador.

― Exatamente. ― respondi sorrindo, pois ele era bonitinho, mas eu não estava ali para me
envolver com ninguém. Esse jogo da conquista pode ser muito cansativo, e eu queria relaxar.

― Por favor, preenche esse formulário, e assine no “x”. ― Quando ele esticou a mão, pude ver a
aliança em seu dedo.
Perfeito! Assim eu não cairia em tentação! Não curto pessoas comprometidas!

Fiz como ele pediu, depois ele me entregou a chave cartão de acesso ao quarto, cartões toalhas,
voucher para passeios e me indicou o caminho para o quarto.

― Segue por esse corredor, sua suíte é a cento e quatro, de frente para o mar. O café da manhã é
das seis às dez. Serviço de room service vinte e quatro horas, senha do wi-fi é seu nome e
sobrenome, tudo junto, já está cadastrado. Qualquer coisa que precisar eu me chamo Carlos.

― Muito obrigado! ― Acenei e saí arrastando minha mala, que não era grande, apenas o
essencial: shorts e camisetas!

O quarto era pequeno, mas aconchegante. Com uma decoração minimalista, tinha o essencial para
mim. Cama, frigobar, televisão, armário e ducha quente. Mas a vista... era qualquer coisa de louco, e
eu precisava dar um mergulho no mar para repor todas minhas energias e ainda criar um estoque
delas, pois eu sabia que em uma semana minha vida estaria a mil por hora. Então larguei minha mala
em cima da cama, vesti uma sunga de listras, calcei meus chinelos, peguei meu livro e fui aproveitar
o resto do dia, que ainda estava bonito e ensolarado.

A pousadinha ficava mais afastada do agito, o som das ondas e dos pássaros podia ser ouvido a
todo instante e no mar não havia ninguém, ou quase ninguém. Na areia tinha um quiosque onde
podíamos pedir uma bebida ou pegar toalhas. Deixei meus chinelos embaixo de uma espreguiçadeira,
o livro em cima e fui dar um mergulho e nadar um pouco, afinal o mar não era agitado, e eu queria me
exercitar antes de me alcoolizar.

Cocei os ralos pelos do meu peito, alisei a barriga, andando preguiçosamente em direção ao mar,
e minha vida virou de ponta cabeça. Parei até de andar.

Eu o vi, saindo do mar como uma divindade aquática, seu corpo dourado brilhava pelos raios de
sol incidindo na fina camada de água sobre a pele, seus cabelos se agitaram ao ar quando ele
balançou a cabeça de um lado ao outro, fazendo os respingos de água parecerem diamantes voadores;
seus ombros largos eram como a porta do paraíso, seu abdômen dividido em camadas de músculos
eram como areia marcada pelo vento, formando ondulações perfeitas que só a mãe natureza é capaz
de desenhar; sua sunga branca... como descrever a transparência daquele tecido? Tão perfeito,
marcado, rosado, minha boca salivando, meu queixo caído, pasmo, olhos grudados naquela sunga
branca e aquele par de coxas torneadas se aproximando de mim como um filme em slow motion...

Poseidon era nada comparado a ele!

― Vai pingar a baba... ― Ele colocou a mão no meu queixo e fechou minha boca quando passou
por mim, me atropelando com sua beleza de quase dois metros de altura.

Foi então que eu despertei, o suficiente para me sentir o cara mais panaca do planeta. Olhei para
trás para ter certeza de que aquele homem era real e não fruto da minha mente criativa e do meu
corpo carente de uma boa foda. Ele sorriu e piscou para mim.
Esqueci até o que eu estava indo fazer. Desisti do banho de mar, pedi uma caipirinha no bar e me
deitei de bruços na espreguiçadeira, sob a sombra de um coqueiro e resolvi que ler um livro seria
uma boa maneira de não pensar na cena ridícula que tinha acabado de acontecer: eu paralisado pela
beleza incomum de um... deus!

Quando a noite cobriu o céu, a fome apertou. Pensei em pedir um jantarzinho leve no quarto,
terminar o livro, dormir cedo, passar a noite sonhando com... ele?

Porra, eu precisava de distração!

Vesti uma camisa branca, bermuda em sarja caqui, chinelos de couro, cabelos muito bem
penteados, perfume amadeirado, chave do carro em mãos, e fui pedir ao Carlos, o cara da recepção,
a indicação de um bom lugar para comer e curtir a noite.

― Oi! ― Apoiei as mãos no balcão com força, chamando sua atenção quando a chave do carro
tilintou no granito.

― Oi, boa noite! ― Carlos tinha um sorriso fofo.

― Você tá de carro? ― Ele parou ao meu lado, camisa regata preta, bermuda jeans desfiada na
altura dos joelhos, sandálias havaianas...

Sim, eu o olhei da cabeça aos pés.

Parei de respirar porque seu perfume vetiver entrou nas minhas narinas e eu quis aprisioná-lo
dentro de mim. Abri a boca, mas lembrei de fechar rapidamente para não parecer que estava babando
por aquele espécime raro de homem novamente, mesmo que eu estivesse.

― Hãa... éee... O quê?

― Carro! ― Ele pegou a chave em cima do balcão e balançou na altura dos meus olhos. ― Você
tá de carro?

― Ah, sim! ― Sorri sem jeito. Meu pescoço e rosto pegando fogo. ― Eu tô de carro sim.

― Tá indo pra onde? Desculpa perguntar, é que eu resolvi dar um cochilo depois da praia e
acabei perdendo a hora e minha carona.

Além de lindo, o desgraçado tinha covinhas!

Jesus! Eu realmente estava precisando foder, porque meu pau traidor deu um pinote dentro da
cueca quando minha bunda apertou. E se fosse para foder com o Poseidon dos infernos, eu estava
cem por cento disposto!

― Na verdade, eu vim pedir uma sugestão pro Carlos, mas se você tiver um lugar pra indicar...
estou aberto a qualquer coisa. ― Qualquer coisa mesmo!
Comecei a assumir uma postura mais arrojada, entrando na jogada, demonstrando com gestos e
palavras que eu estava disponível. Como disse antes, nem sempre tenho paciência para o joguinho da
conquista, e deixar as cartas na mesa também é uma boa jogada, pois não perdemos tempo com
conversinhas desinteressantes, e vamos direto ao ponto.

― Você gosta de comida tailandesa? Conheço um restaurante mais intimista que fica na beira da
praia.

― Ótima pedida! ― Sorri e mordi o lábio inferior. ― A propósito, sou Luca. ― Estiquei a mão.

― Sou Alex. ― Ele apertou minha mão com firmeza, mas pude sentir seu dedão alisando de leve
as costas da minha mão.
◆◆◆

Definitivamente o lugar que Alex indicou não faz parte de um roteiro de turismo. Era um pequeno
espaço montado na varanda de uma casa à beira mar, localizada num enorme terreno cheio de árvores
e flores, numa parte não urbanizada de Maresias.

No caminho comecei a ficar com medo de ser roubado e assassinado por aquele rei da beleza
devido à falta de civilização à nossa volta. Assim que deixamos a pousada, Alex ligou para alguém
informando que não precisava ir buscá-lo, pois já tinha conseguido uma carona. A conversa durou
cerca de dois minutos e eu me senti um pouco babaca por estar servindo de motorista a um
desconhecido apenas porque estava enfeitiçado pela sua beleza. E talvez ele tenha percebido minha
cara de insatisfação quando encerrou a ligação e resolveu dar explicações.

― Era o Ilúcio, um...amigo. Ele ficou de me buscar na pousada, já que eu não vim de carro, mas
como eu não atendi suas ligações, ele pensou que eu já estava lá.

― Hm. ― Foi o máximo que consegui dizer.

― O lugar que vamos é bem reservado, mas a comida é deliciosa. Os donos são nativos da
Tailândia, mas moram aqui há mais de dez anos, e o restaurante fica na varanda da casa deles. Vire
aqui... ― Ele apontou para esquerda.

Era uma estradinha de cascalho cercada de papoulas, na qual o pneu do carro fazia um barulho
nostálgico à medida que avançávamos. Passamos por um portão de ferro, que já estava aberto, e no
terreno tinha alguns carros super caros estacionados. Três para ser mais exato!

― Agora é a hora que você me mata e rouba meu rim? ― brinquei quando puxei o freio de mão,
mas no fundo eu temia que fosse verdade.

Ele riu alto, uma gargalhada contagiante quando projetou a cabeça para trás, levantando o joelho
para contrair seu abdômen perfeito e eu fiquei segundos hipnotizado pelo seu pomo de Adão, que
subia e descia enquanto ele se divertia com meu comentário.
― Não, eu juro! ― Ele olhou para mim, mas foi como se fosse a primeira vez, porque nossos
olhos se prenderam, seu sorriso diminuiu uns centímetros e depois seus olhos desceram por todo meu
corpo, me fazendo estremecer da cabeça aos pés. ― Não precisa ficar assustado, somos todos
pessoas de bem. ― Ele apertou minha nuca antes de abrir a porta e descer do carro e, por Deus, sua
mão era quente!

Alex foi andando na frente e eu atrás. Estava escuro, mas dava para ver as luzes acesas na frente
da casa, assim como dava para ouvir as ondas do mar arrebentando na areia. Uma música indie
rolava numa altura agradável e quando contornamos a casa e chegamos à varanda, Alex foi recebido
de forma calorosa pelos seus amigos. Me senti um peixe fora d’água.

Eram dois casais e um tal do Ilúcio, que me olhou de cima a baixo quando cheguei acompanhando
o Alex. O sorriso nos seus lábios sumiu e talvez ele não esperasse a que a carona do seu crush
ficasse para o jantar, e que fosse um homem que não era de se jogar fora, diga-se de passagem!

Alex me apresentou ao primeiro casal.

― Jade, Helder, esse é o Luca, ele tá hospedado na pousada do Carlos!

A pousada é do Carlos? O recepcionista? Chocado!

― Oi... ― Estiquei a mão para ambos. ― Como vão?

― Aquela pousadinha do Carlos é mesmo uma graça! ― disse a Jade, uma mulher magra, negra,
cabelos de trancinhas que passavam da cintura e um sorriso largo e simpático.

― É sim... ― Estava um pouco tímido, mas sabia que seria passageiro, pois gosto de estudar o
terreno antes de me soltar, então sou sempre mais contido no primeiro contato.

O marido Helder era branco, ruivo, cheio de sardas no nariz e um sorriso tão simpático quanto da
esposa.

― Luca, esses são o Ricardo e Yuri. ― disse Alex me apresentando a dois rapazes muito
diferentes um do outro, pois um era alto e gordo, o outro era baixo e magro.

Eles me cumprimentaram de forma muito amigável e eu retribuí todo sorridente, tentando


imaginar a dinâmica daquele casal, mas me recriminei imediatamente, pois essa minha mania é
simplesmente terrível: imaginar como será determinado casal na cama. Já me perguntei se mais
alguém tem essa mania, mas é tão desconcertante perguntar isso para alguém, que eu prefiro pensar
que essa loucura é só minha. Depois de uma breve análise, cheguei à conclusão de que não era por
causa do físico e nem da altura, mas Ricardo e Yuri não tinham química alguma.

Jesus! Eu sou uma péssima pessoa!

― Ilúcio, esse é o Luca, ele tá hospedado...

― Na pousada do Carlos. Eu ouvi você falando pra Jade. ― O homem me encarou, sem sorrir,
claramente insatisfeito com minha presença. ― E aí? ― Ele acenou com a cabeça.

― Tranquilo. ― respondi sem muito entusiasmo.

Ilúcio encarou Alex por segundos, Alex desviou o olhar e coçou a nuca, Ilúcio passou por ele e
esbarrou em seu ombro, Alex virou-se para ver as costas do amigo indo em direção à mesa onde os
outros quatro já estavam sentados.

― Merda! ― Ele esbravejou.

― Parece que ele não gosta do Carlos. ― comentei para quebrar o clima.

Alex riu, balançando a cabeça em negação.

― Garanto que o problema dele não é o Carlos. ― Ele apontou para mesa com a cabeça. ―
Vamos?

― Esse problema não vai aumentar se eu for pra mesa com você?

Ele deu de ombros.

― Foda-se!

O casal tailandês era uma simpatia, o restaurante era pequeno e extremamente aprazível e a
comida... não tenho nem palavras para descrever. Uma mistura de aromas e sabores que cada garfada
era um pedacinho do céu que eu colocava na boca. Acompanhada de cerveja, a noite foi perfeita e o
jantar maravilhoso, não apenas por causa da comida e da bebida, mas pelas pessoas também. Ilúcio
foi embora logo após o jantar, dizendo que tinha um compromisso, mas eu não sou idiota e percebi
que seu compromisso se chamava dor de cotovelo, pois não foram poucas suas investidas em Alex,
que sempre dava um jeito de dispensá-lo de forma educada e discreta.

Assim que Ilúcio deixou o recinto, Alex se transformou em outra pessoa. Num momento ele era
contido e comedido, e no outro extravagante e expansivo, e confesso que o segundo tipo me agradou
bem mais que o primeiro. Alex ria alto, falava bobagens, contava piadas e eu me senti envolvido
pelo seu jeito de ser, naturalmente alegre e feliz. Era fácil estar ao lado dele, rir das coisas que ele
dizia, sentir a energia que emanava da sua alma, e não foram poucas as vezes que eu me peguei
olhando para ele e o admirando, e em todas as vezes ele percebeu. As trocas de olhares foram o
ponto alto na noite. Estávamos flertando, sem joguinhos de sedução, sem insinuações ou segundas
intenções, era algo que fluía, como um rio que segue seu curso, como se nós dois soubéssemos: a
noite iria terminar na cama, de um ou de outro. Pelo menos era o que eu desejava. E não me
importaria nem um pouco em ser o passivo. Eu o queria!

― Seus amigos são realmente legais... ― falei com a voz já trôpega de tanta bebida.

Estávamos indo para o carro, já atrás da casa, onde os barulhos da música, pessoas e mar não
eram tão altos quanto o som dos nossos passos no caminho de cascalho.
― E você ainda tem seus rins...

Foi a minha vez de rir alto, pois já havia me esquecido da piada que tinha feito quando chegamos,
mas ele não.

― E mais importante... ― Dei um passo à frente e me virei para ele, andando de costas. ― Eu tô
vivo! ― Levantei os braços ao ar e meu chinelo prendeu numa raiz. ― Oh! ― Cambaleei para trás.

― Opa! ― Ele me agarrou pela cintura antes que eu caísse de bunda no chão e eu me segurei em
seus bíceps, pois eram a única coisa a minha frente.

Foi uma cena de filme: Ele curvado para frente, eu curvado para trás, seu braço em volta da
minha cintura, minhas mãos em seus músculos, nossos olhos se prenderam... segundos sem ar... e o
beijo foi inevitável. O desejo de uma noite inteira de flerte sendo sanado pelo toque aveludado e
quente da sua língua na minha, seus lábios sugando os meus, a troca perfeita de salivas, seu gosto
invadindo meus sentidos, seus braços me pressionando contra seu corpo, meus dedos se fechando em
seus cabelos macios, e quando dei por mim, minhas costas estavam sendo pressionadas numa árvore
e ele estava moendo seu pau duro no meu.

― Ah! ― Busquei ar quando seus lábios deixaram os meus à procura do meu pescoço.

Sua mão boba foi parar no meu traseiro e a minha por baixo da sua camisa, tateando cada
gominho do seu abdômen dividido. Foi quando tudo mudou... Seus dedos entrelaçaram-se nos meus e
Alex levou minhas mãos para acima da cabeça. Nossos olhos se prenderam novamente, nossas
respirações se misturaram, e meu coração falhou uma batida, no exato momento que Alex quis se
alojar ali.

Precipitado? Extremamente!

Comecei a arfar descontroladamente, meu corpo à beira de um colapso, ansioso para sentir o seu
sobre o meu, sob o meu, me dominando ou sendo dominado, não importava onde e como, eu só queria
estar com ele, e nu.

― Me leva de volta pra pousada. ― Ele soltou meus dedos e me abraçou enquanto sua boca
reivindicava meu beijo, muitos mais ardente e arrebatador que a primeira vez.

Os gemidos vieram sem controle, pois meu pau já estava dolorido e eu completamente sem ar.

― Me solta, Alex, senão não vou conseguir dirigir. ― Puxei seu cabelo para trás, expondo seu
pomo de Adão, que eu lambi desde a goela até o queixo.

― Oh, Deus! ― Ele praguejou um palavrão em seguida. ― Vamos! ― E rompeu abruptamente


nosso enlace, andando em direção ao carro como quem está fugindo de alguém, mas era só pressa.
◆◆◆
Chegar à pousada foi uma tarefa árdua, primeiro porque meu pau estava duro como uma rocha, e
não foi negligenciado por Alex, que o alisava por cima da bermuda e beijava meu pescoço enquanto
eu tentava me concentrar no caminho e na direção. Jogo sujo? Sim, porque eu também queria sentir
seu volume em minha mão, mas precisava dela para passar marcha e segurar o volante do carro.

― Seu sacana! ― Mordi seu lábio quando ele me beijou e quase saímos da estrada.

Por sorte era pertinho e logo chegamos na pousada.

Estacionei o carro, desliguei o motor e antes de descermos, nos devoramos um pouco mais a
ponto de deixar os vidros do carro embaçados.

― Que delícia! ― sussurrou enquanto lambia meu pescoço.

― Você é quente, Alex! ― Já estava quase montando em seu colo.

Era boca contra boca, mãos em todas as partes do corpo e quando ele tentou abrir o botão da
minha bermuda, decidi que era hora de irmos para o quarto.

― Meu quarto ou o seu?

― Tanto faz... ― Ele mordeu meu lábio inferior. ― O seu, porque o meu é o último.

Descemos do carro, ele segurou minha mão e praticamente estramos na pousada correndo. Os
olhos de Carlos cresceram quando ele nos viu descabelados, lábios vermelhos, mãos dadas e uma
pressa injustificada, pelo menos para ele. Para nós, nossa pressa tinha todo fundamento, pois
tínhamos fome um do outro.

Enquanto eu tentava enfiar a chave na porta do quarto, Alex me abraçava por trás, pressionando o
pau duro na minha bunda, alisando meu abdômen, devorando meu pescoço, e eu entendi naquele
momento como seria a dinâmica da coisa, e porra... meu corpo estava em brasa. Quando a porta
finalmente abriu, ele enfiou a mão por dentro da bermuda e apertou meu pau por sobre a cueca.
Minhas pernas bambearam.

― Cristo!

― Não, Luca, sou eu mesmo, Alex... ― Ele mordeu minha orelha enquanto me alisava e me
conduzia para dentro do quarto.

― Por Deus, Alex, eu vou gozar só com as preliminares...

Logo nossas mãos estavam numa dança frenética e alucinada para tentar tirar nossas roupas sem
que o contato de nossos corpos cessasse. Primeiro ele arrancou minha camisa, depois eu segurei a
barra da sua e a levantei até a altura do peito, que ele terminou tirar enquanto eu lambia e mordia
seus mamilos e bicos do peito. Depois ele segurou minha cabeça e com ferocidade mordeu e beijou
meus lábios, tão forte que seus dentes me arranharam. Abri o botão e o zíper da sua bermuda jeans e
a abaixei até seus joelhos, que ele se encarregou de tirar sozinho, chutando para o lado. Quando ele
se ajoelhou na minha frente, eu me perdi. Ele abaixou minha bermuda e cueca, tudo junto, o suficiente
para livrar meu pau e logo o enfiou na boca, até a base, fazendo um arrepio percorrer minha coluna.

― Aaah! ― Tombei a cabeça para trás enquanto ele me chupava. Segurei seus cabelos com
força, empurrando sua cabeça no meu pau, fazendo ele ir fundo a ponto de ter ânsia.

― Isso, Luca... fode minha boca! ― Ele me engoliu novamente e olhou para mim, aquele olhar
sacana de quem sabe que está matando alguém de prazer, e esse alguém era eu.

― Foda! ― Eu estava perdido, porque há tempos não tinha um homem tão gostoso e sensual
chupando meu pau, disposto a tudo comigo, e talvez por carência ou coisa parecida, eu não queria
que fosse apenas uma noite.

Segurei sua cabeça e o puxei para cima, pois queria provar o sabor do meu pré-gozo na sua
língua, e porque, se ele continuasse me chupando daquele jeito, eu chegaria no meu limite rapidinho,
e eu queria aproveitá-lo o máximo possível.

Na cama, já com camisinhas e lubrificante na mesa lateral, e sem roupa alguma, ele foi gentil,
carinhoso e um inferno de tão quente. Estávamos deitados, ele de lado, eu de costas, ele alisando meu
corpo e beijando meus lábios, eu deitado em seu braço, olhos fechados, sentindo o prazer
indescritível dos seus lábios brincando com os meus, da sua mão quente passeando sobre minha pele
em chamas, seus dedos fazendo um carinho gostoso em meus cabelos, seu pau pressionado no meu
quadril e meu pau dando um pinote a cada vez que sua mão descia pela barriga e alisava os pelos da
pélvis.

― Isso é tortura... ― Segurei sua mão e levei ao meu pau, fechando seus dedos em volta, ansioso
pelo seu toque.

― Tá com pressa? ― Ele lambeu meu lábio inferior e deu uma punhetada de leve no meu pau.

― Oh! Não... ― Elevei meu quadril, tentando foder sua mão, mas ele me soltou.

Alex então se esticou para trás, pegou o lubrificante e derramou um bocado no meu pau.

― Ahh... ― Era gelado e um sorriso rasgou meu rosto. ― Malvado!

― Seu sorriso é lindo... ― Ele beijou minha bochecha. ― Levante essa perna... ― Ele puxou
minha coxa para cima. ― Segure seu joelho...

Sua voz rouca era sedutora e depois de ter feito tudo o que ele mandou, seus dedos roubaram um
pouco de lubrificante do meu pau e levaram à minha bunda. Virei-me um pouco de lado e deixei que
ele introduzisse seus dedos em mim, pois a espera já estava agonizante, e eu não via a hora de tê-lo
no meu traseiro.

Foi uma torturante e deliciosa preparação para recebê-lo. Alex não teve pressa, e enquanto ele
me maltratava de prazer, sussurrava palavras chulas em meu ouvido, me beijava, mordia, lambia,
metia os dedos lentamente, um, depois dois, aumentando o ritmo das estocadas, e quando meu corpo
convulsionou, prestes a explodir de prazer, ele pegou a camisinha, encapou seu pau e meteu em mim,
sem delicadeza alguma. Eu urrei de prazer e dor, mas logo seus lábios sugaram e beijaram os meus e
enquanto ele estocava com vontade, seus gemidos reverberavam em meu peito, que recebia golpes
violentos do meu coração.

Enquanto ele metia, me masturbava. Uma sincronia perfeita de movimentos, e eu, totalmente
entregue e passivo, deixei que ele comandasse o bailar dos nossos corpos, sem pudor algum, apenas
sentindo cada centímetro do seu pau bombando dentro de mim, das sua mão quente subindo e
descendo, dos seus lábios sugando os meus, seus dentes me arranhando, sua língua me provando, e
quando ele urrou de prazer, minha mente deu voltas e eu cheguei ao ápice, jorrando sobre meu
estômago, melando sua mão, sentindo seu ritmo desacelerar quando ele estocou com força, uma vez,
duas vezes, e depois parou, seu rosto fundo em meu pescoço, sua respiração arrepiando os pelos do
meu corpo, nossos corpos colados de suor, e ele saiu de dentro de mim, mas permanecemos deitados,
na mesma posição, corações se acalmando, o som do mar e de nossas respirações e eu simplesmente
adormeci em seus braços.

Acordei no dia seguinte me perguntado se tudo não passou de um sonho, mas apesar da cama
vazia, seu perfume vetiver estava impregnado no meu travesseiro, na minha pele, na minha alma...

Sempre fui um cara independente, saí de casa cedo e nunca me envolvi emocionalmente com
ninguém, apenas porque gosto de ser solteiro, gosto de baladas, joguinhos de sedução, cada dia uma
pessoa diferente para dividir a cama, dormir sozinho, andar pelado pelo apartamento, ter meu
próprio espaço... Mas depois daquela noite com Alex, eu me senti... vulnerável.

Acordei pensando nele, e ele nem ao menos me deixou um recado na recepção da pousada.
Simplesmente se foi, e eu passei os últimos dias das minhas férias lembrando de cada ínfimo detalhe
daquela noite, desde a hora que ele entrou no meu carro para irmos jantar, até a hora que ele saiu de
dentro de mim e eu dormi em seus braços.

Quando fiz meu check-out na pousada, tive que fazer um esforço sem precedentes para não cair na
tentação de pedir seu contato. Eu sabia que iria ligar, o problema é que Alex, aparentemente, era
como eu: não curtia de segundas vezes. O meu problema era que, com ele, eu teria até uma terceira
vez.

Dirigir sozinho até São Paulo foi outro martírio e, por diversas vezes, me amaldiçoei por ser tão
estúpido, pois meus pensamentos iam e vinham e lá estava Alex em cada um deles. E, pela primeira
vez na vida, eu estava sofrendo com dor de cotovelo, uma ressaca de amor, e a única cura era voltar
para casa e para caça! Foi o que eu fiz. Durante o dia organizava a bagunça do novo meu apartamento
e à noite arrumava a bagunça do meu coração. Na segunda feira, de volta ao trabalho, Alex não
passava de uma lembrança gostosa e ardente.
◆◆◆

― Chefinho tá querendo te ver! ― disse Hanna aparecendo na porta da minha sala. ― Acabei de
descer de lá e ele mandou te chamar.
Ela era minha colega de trabalho com quem eu tinha mais afinidades. Uma mulher incrível, de
cabelos pretos e curtos, e olhos grandes de cílios gigantes. Sua marca registrada eram as enormes
argolas que ela sempre ostentava em suas orelhas rosadas.

Éramos quatro gerentes de contas especiais, sendo a minha conta a maior e mais importante, pois
eu detinha quarenta por cento do faturamento bruto da empresa. Fabrício, outro colega e
grandessíssimo filho da puta, que tentava a todo custo ocupar meu lugar, tinha mais clientes que eu,
mas os meus eram os mais importantes, e os mais rentáveis também. O Jaime cuidava de pequenas
contas, pois era o mais novo da equipe, estando com a gente há pouco mais de seis meses.

Eu tinha acabado de entrar no setor de Gestão de Contas Especiais, cumprimentado meus colegas
e assim que me sentei à minha mesa, que ficava no fundo do corredor de paredes de vidro, Hanna
entrou pela porta, sem bater.

― Credo, mal me sentei! ― Eu estava ligeiramente atrasado, e por isso não tinha tomado café da
manhã, mas esperava ao menos conseguir tomar o cafezinho que me servi na copa assim que entrei na
sede da empresa.

― E se prepara, porque sua reunião com o chefinho vai ser junto com o Fabrício, e pela cara
dele...

― Reunião? ― Imediatamente verifiquei meu e-mail para ver se tinha perdido alguma
informação importante, mas não havia nada da empresa desde o dia que tinha saído de férias. ― Não
tenho nenhuma reunião marcada pra hoje.

― Modo de falar, Luca.

― Ah! ― Recostei-me na cadeira e sorvi um gole do meu café. ― Provavelmente o mala do


Fabrício tá querendo roubar algum cliente meu. ― Dei uma risadinha perversa, pois se tinha uma
coisa que me motivava era a tal da competição, e ser o número um da empresa, e ainda poder
esfregar isso na cara do Fabrício, era uma massagem no ego.

― Sendo assim, vai logo e me conta a resenha depois. ― Ela piscou o olho e saiu batendo seu
salto agulha no chão de porcelanato.

Não tive muita pressa, terminei meu cafezinho, enfiei uma bala Halls preta na boca e fui ter com
meu chefinho, ou melhor, com seu Antônio, o CEO da AB&C Corporation.

Assim que cheguei no andar da presidência, um acima do meu, a secretária do seu Antônio me
mandou entrar sem precisar me anunciar, pois minha presença já estava sendo aguardada.

― Bom dia! ― falei quando entrei na sala, mas ninguém respondeu.

Meu chefinho, que estava sentado atrás da sua enorme mesa de madeira maciça, apenas acenou
para que eu entrasse, e mandou eu me sentar na cadeira estofada de couro preta à frente.

― Sente-se, por favor.


Ao lado, outra cadeira, e eu só conseguia ver o braço de Fabrício, que nem se deu ao trabalho de
se virar para me ver minha beleza estonteante entrando no recinto.

Eu teria feito uma piada ou coisa parecida, mas logo entendi que o assunto era sério, pois tanto
seu Antônio quanto Fabrício estavam com caras de poucos amigos. Desabotoei meu terno e me
sentei, sem me recostar na cadeira. A respiração querendo acelerar no ritmo do meu coração, que
batia freneticamente.

Meu chefinho, um homem na casa dos seus cinquenta e poucos anos, grisalho e barrigudo, mas
sempre com um sorriso gentil no rosto, me encarou como quem quer me fuzilar com os olhos.
Fabrício apenas me observava pelo canto do olho e quando olhei para ele, ele bufou de raiva, como
se minha presença fosse uma ofensa à sua existência.

Estou ferrado! Pensei de imediato.

― Tudo bem aqui? ― Sorri de banda tentando parecer relaxado.

― Luca, você sabe por que saiu de férias, certo? ― Seu Antônio, que tinha os braços apoiados
sobre sua imponente mesa, cruzou os dedos.

― Porque... Eu fui obrigado?

Fabrício soltou uma risadinha. Ele, ao contrário de mim, nunca vendeu ou parcelou suas férias
para a empresa, pelo contrário, se ele puder fazer uma maracutaia para estender seus trinta dias de
férias em um ou dois dias, ele o faz. Tudo bem, é direito dele, mas eu não sou assim, porque amo o
que faço, meu estilo é workaholic, e procrastinação não faz parte do meu vocabulário. Se eu puder
me manter cem por cento do meu tempo ocupado, então assim eu faço.

― Exatamente, você foi obrigado, porque no Brasil nós termos que seguir o que manda a CLT.
Nós temos regras. E essas regras precisam ser respeitadas.

― Claro! ― confirmei, pois ainda não estava entendendo aonde iria aquela conversa.

― Isso significa que você não pode trabalhar nas suas férias, Luca. ― Ele me encarou, como se
esperasse de mim uma resposta.

Olhei do seu Antônio para Fabrício, que me encarava com ira, e voltei a olhar para seu Antônio,
foi só então que eu entendi que, o que ele tinha dito, não era uma afirmação e sim uma acusação.

― Oh! ― Foi então que eu relaxei, afinal, não tinha feito nada de errado. ― Não, seu Antônio,
eu não trabalhei nas minhas férias. Eu fui pra praia... ― Um sorriso rasgou meu rosto e eu suspirei,
pois a lembrança de Alex veio imediatamente à minha mente, mas eu já estava recuperado da
paixonite que nutri por ele por dias, que naquele momento não passava de uma lembrança gostosa, ou
melhor, uma foda gostosa.

Mas seu Antônio não sorriu, e continuou me encarando com aquele olhar acusatório e
desconfiado, mesmo que minha pele ainda denunciasse a verdade das minhas palavras, pois ainda
carregava um bronze de dar inveja a qualquer branquelo.

― Eu juro, seu Antônio. Eu passei minhas férias mudando de apartamento e em Maresias. Nem
abri meu notebook nem nada... Pelo contrário, só verifiquei minha caixa de entrada hoje, quando
entrei na minha sala.

― Mentiroso do caralho! ― Fabrício abriu a boca pela primeira vez no dia, justamente para me
xingar.

― Meu Deus, que absurdo! ― Levei a mão ao peito, como se estivesse ofendido pelo
xingamento, mas na verdade eu só queria xingá-lo de volta, ou dar um soco na sua cara, tanto faz. ―
Seu Antônio, eu não trabalhei nesse período, inclusive antes de sair de férias enviei e-mails pra
todos meus clientes avisando que estaria ausente durante duas semanas, e que, se eles precisassem de
alguma coisa, era pra falar com a Hanna.

― Não trabalhou, é? ― Fabrício se virou para mim. ― E o que o nome D’Angelo significa pra
você?

― Nada... ― Dei de ombros.

Na verdade, eu conhecia bem a D’Angelo, uma empresa que há tempos a AB&C Corporation
vinha tentando incorporar no seu hall de clientes. E quando a D’Angelo nos enviou uma carta convite
para participarmos da licitação para convocação de uma nova empresa de gestão de TI, Fabrício
logo se colocou à frente da negociação, pelas minhas costas, alegando ao seu Antônio que tinha
espaço em sua carteira para gerir essa nova conta, diferentemente de mim, que tinha uma agenda
lotada, e a D’Angelo, por ser uma grande corporação, precisava de atenção especial, algo que eu não
poderia dar. Grande mentira, pois ele tinha mais clientes que eu, que daria conta facilmente, pois sou
muito comprometido com meus clientes, mesmo que isso signifique horas e horas extras de trabalho.
E apesar de não gostar muito do Fabrício, e ter achado sua atitude pouco profissional, eu jamais
passaria por cima dele, e simplesmente abri mão da concorrência.

― Nada? ― Fabrício riu com sarcasmo. ― Você é um idiota, Luca.

Meu queixo caiu.

― O senhor tá vendo isso? Ele tá me xingando, pela segunda vez! ― Fiz queixa ao seu Antônio.

― Fabrício, por favor, mantenha a compostura.

― Me desculpa seu Antônio, mas não dá pra manter a compostura quando um filho da puta como
o Luca simplesmente age pelas costas e rouba uma conta que deveria ser minha.

― Hei! Calma aí, rapaz. Eu não roubei nada de ninguém, e não sei do que você tá falando. ―
Elevei o tom de voz, mas sem desrespeitar meu chefinho, um cara eu tinha um apreço enorme.

― A D’Angelo é nossa, Luca. ― disse seu Antônio com toda a calma do mundo.
Um silêncio se fez por segundos.

― Oh! Uau! ― Um sorriso de felicidade apareceu em meu rosto, não por mim, mas pelo seu
Antônio, pois eu sabia o quanto essa conta significava para a empresa. ― Porra! Parabéns, cara! ―
Apertei o braço de Fabrício.

― Vai pra merda! ― Ele puxou o braço, se levantou e saiu da sala, batendo a porta em seguida.

Que malcriado!

― O que deu nele? ― Apontei para a porta, olhando para seu Antônio.

― Eles querem você, Luca.

― O quê? ― Senti um baque com a notícia.

― O próprio Victorio Alexander me ligou na sexta-feira dizendo que nossa empresa tinha
vencido a licitação, mas que ele quer você pra gerir a conta, não o Fabrício.

― Mas como? Isso não faz o menor sentido... Sexta-feira eu ainda estava de férias... ― Meus
olhos cresceram e foi então que eu entendi toda a acusação de estar trabalhando no meu recesso. ―
Chefinho, pelo amor de Deus, eu juro que não tenho nada a ver com isso. Eu nem conheço o CEO da
D’Angelo.

― Chefinho? ― Ele cerrou o cenho, mas tinha um sorrio divertido nos lábios.

― Quer dizer, seu Antônio... Meu Deus, me desculpa, é que estou atônito...

― Tudo bem. E não se preocupe com Fabrício, que eu mesmo lido com ele. Agora você precisa
preparar sua equipe porque Victorio Alexander D’Angelo estará na sala de reuniões às dez horas da
manhã.

― Minha nossa, eu preciso correr então, porque só falta... ― Peguei meu celular para verificar
as horas.

― Uma hora. Vai lá... E parabéns!

― Obrigado, senhor. ― Eu queria sorrir, mas tinha pressa, e muita coisa para aprender sobre a
D’Angelo, começando pelo edital de licitação, que eu precisava ler o quanto antes.
◆◆◆

Às dez em ponto minha equipe e eu estávamos na sala de reuniões, munidos de todas as


informações que pudemos coletar sobre nossa nova empresa, assim como um plano de ação para
atender as necessidades do meu cliente. Não direcionei meus esforços para saber sobre Victorio
Alexander, o CEO da D’Angelo, pois ele não era meu foco, e sim sua empresa, mas Mariah, uma das
minhas assistentes, descobriu que ele era um homem na casa dos seus trinta e dois anos, muito focado
nos negócios, e o tipo do cara discreto que pouco aparece em mídias sociais. Não fazia diferença
para mim, eu não precisava persuadi-lo a gostar de mim ou confiar no meu trabalho, já que foi ele
mesmo que me escolheu. Eu precisava apenas provar para ele que sua escolha tinha sido a melhor. E
eu não pouparia esforços para provar isso ao senhor Victorio Alexander, CEO da D’Angelo.

Pela enorme parede de vidro que dividia a sala de reuniões do setor de Gestão de Contas
Especiais, pude ver seu Antônio se aproximando acompanhado de quatro caras de terno, e sua
secretária ao lado segurando uma prancheta. Eles conversavam animadamente e as vozes que
entravam abafadas na sala de reuniões me pareceram familiares, mas não consegui distinguir
nenhuma delas.

Quando eles pararam quase que em fila para entrar na sala, seu Antônio à frente de todos, e me
levantei para dar boas-vindas, fazendo minha equipe se levantar também.

Deveria ter permanecido sentado.

Quando ele entrou, foi como levar um soco no estômago. Todas minhas estruturas se abalaram
pela sua presença inesperada. O perfume vetiver invadiu minhas narinas, me fazendo sufocar. No meu
peito, o coração fazia batucada, e um calor sem precedentes subiu pelo pescoço e rosto. Minhas
pernas bambearam, meu queixo caiu...

Por Deus, ele era ainda mais bonito de terno!

― Victorio, esse é o seu garoto! ― disse seu Antônio. ― Luca, esse é o Victorio Alexander,
CEO da D’Angelo.

Ele esticou a mão, seu sorriso tinha um ar de perversão misturado a perversidade, pois sabia que
estava brincando comigo, pirando minha cabeça.

― A...Alex? ― Estava desnorteado, fora de mim. ― Alexander...Victorio Alexander, como vai?


― Apertei sua mão.

Aquela sensação de abrasamento que senti na pousada em Maresias voltou com força total. Sua
mão quente segurando a minha, seu dedão alisando discretamente as costas da minha mão, seu sorriso
sacana aberto, rasgando seu lindo rosto em dois, seus olhos conectados aos meus, e eu tonto com sua
presença, queria dizer tanta coisa, perguntar tanta coisa, fazer coisas... Apenas fiquei ali, mudo,
segurando sua mão, sentindo os mais confusos sentimentos tomar conta de mim. Queria xingá-lo por
ter sumido no dia seguinte sem nem ao menos dizer obrigado, queria abraçá-lo por estar ali, pois eu
sabia que era por mim. Mas como?

― Feche a boca! ― Ele empurrou meu queixo pra cima. ― Vai pingar...

― Rhm... ― Limpei a garganta, soltei sua mão e ainda confuso com o que estava acontecendo,
mantive a compostura que se exige a um profissional como eu, e apresentei minha equipe a ele, ele
apresentou a dele, seu Antônio nos deixou para começarmos e reunião e foram as duas horas mais
longas da minha vida.

Falar sobre trabalho foi fácil, era o que eu fazia de melhor. Propus algumas modalidades para as
principais necessidades da sua empresa, apresentei as soluções mais viáveis ao tipo do negócio,
garantindo uma gestão qualificada, ágil e segura para a D’Angelo. Alex, ou Victorio, me ouviu com
atenção, depois debatemos alguns assuntos pertinentes e por fim, estávamos todos satisfeitos com o
resultado da reunião.

Difícil foi manter os olhos longe dele, não sorrir feito um bobo enquanto ele falava, não respirar
fundo quando seu perfume invadia minhas narinas... Difícil foi manter a concentração no negócio e no
propósito da reunião.

Quando a reunião acabou e todos se levantaram, meu coração disparou. Nos cumprimentamos,
rasgamos sedas uns aos outros, e nos aproximamos todos da porta. Alex colocou a mão na base da
minha coluna quando nos enfileiramos para sair da sala e eu tive que conter um gemido.

― Almoça comigo? ― Ele sussurrou, sua boca bem na minha nuca e sua respiração quente
arrepiou todos os pelos do meu corpo.

Meu estômago afundou, e não foi de fome.

Saímos da sala e eu teria respondido sim, se todos não tivessem se virado e formado um círculo.
Dei uns passos à frente e fiquei na outra extremidade, de frente para Alex, desejando que seus olhos
cruzassem os meus para que ele visse o sim estampado ali.

― Obrigado, todos! Tenho certeza de que trabalhar com vocês vai ser de grande valia, para as
duas empresas.

― Eu que agradeço a D’Angelo por ter nos dado essa oportunidade.

― Não há de quê, Luca. Espero que possamos almoçar juntos um dia, só nos dois, assim eu
posso ter uma conversa mais intimista com o novo gestor da conta.

Puta merda! É agora...

― Bom, pode ser hoje se você quiser, estou disponível. ― Pra você, estarei sempre disponível,
Alex!

― Ótimo! ― Ele respondeu e seus olhos se prenderam aos meus, fazendo meu peito inflar. ―
Bom, senhores, eu encontro vocês na empresa daqui a duas horas. ― Ele disse para sua equipe.

Nos despedimos de todos mais uma vez, eu dei algumas instruções para Mariah, e quando
entramos no elevador, eu, Alex e os caras da sua equipe, a tensão sexual ricocheteou para todos os
lados. Alex ao meu lado, os caras na frente, os números em ordem decrescente no painel do elevador
e sua mão apertou minha bunda. Eu pulei e tossi, pois não esperava por aquilo. Um sorriso cínico
apareceu em seus lábios e naquele momento eu entendi: estava perdido!
A ansiedade em estar a sós com Alex novamente corroendo minhas vísceras.

Cada um seguiu para seu carro e Alex me conduziu para o dele. Uma Mercedes-Benz AMG GT,
vermelha, coisa mais linda. O vidro era tão escuro que posso garantir, ia contra as normas de trânsito
brasileira. Teria babado pelo seu carro, mas minha cota estava superada para aquele dia. Assim que
entrei no carro, com minhas expectativas nas alturas, me virei para pegar o cinto, mas Alex me puxou
pela gravata.

― Solta essa merda! ― Em seguida seus lábios estavam me devorando.

― Hmm... ― Difícil conter um gemido sendo que desejei aquele beijo desde o dia que tinha
acordado sozinho naquela cama de pousada.

Achei que tinha superado Alex e toda noite alucinada que vivemos, mas não! Estava tudo lá, nos
seus lábios, na sua língua, no seu sabor e na sensação de plenitude que sentia enquanto ele me
beijava, como se seus lábios fosse meu lar. Era um sentimento novo e inesperado, mas delicioso e
que preenchia necessidades que eu nem imaginava que possuía, como suas mãos em mim, seu cheiro
ao meu redor, seu calor me aquecendo... Eu estava sofrendo mais uma vez de paixonite aguda, e temi,
naquele momento, que meu quadro se agravasse terrivelmente, mas ao invés de me proteger, eu abri
as portas para que ele entrasse.

Ele me beijava com necessidade e desespero, sugando meus lábios de forma dominadora,
conduzindo o bailar das nossas línguas, me apertando com suas mãos, tão forte que chegava a ser
dolorido, mas delicioso como um inferno. Logo meu pau virou uma barra de aço dentro da cueca
boxer.

― Luca Mariano... ― Ele sussurrou em meu ouvido quando começou a beijar e mordiscar meu
pescoço. ― Que porra de feitiço você jogou em mim? ― Sua mão subiu pela minha coxa e apertou
meu pau por sobre a calça.

― Oh, droga! ― Meus olhos rolaram para trás, e o fato de querer foder com ele, ali mesmo, me
fez lembrar de onde estávamos. ― Alex! ― Eu o empurrei de leve, pois precisava respirar e pensar
ao mesmo tempo, e com suas mãos e lábios em cima de mim, era impossível. ― Não podemos...
você é meu cliente agora.

― Podemos sim, Lu... Ninguém precisa saber. ― Ele segurou meu rosto entre as mãos e me
puxou para mais um beijo, mas eu desviei.

― Faz parte das regras da empresa... Oh! ― Era difícil argumentar com ele lambendo meu
maxilar de uma forma que me deixava louco.

― Foda-se! ― Ele segurou minha mão e levou ao seu pau. ― Eu quero você!

Ele estava duro e a lembrança daquele monumento dentro de mim fez minha bunda se apertar. Eu
queria colocá-lo na boca, sentir o rastro do seu pré-gozo na minha língua, ter ânsia quando sua glande
grande e rosada atingisse minha garganta... Mas estávamos dentro de um carro, e no estacionamento
da empresa.

― Me tira daqui, Alex! ― Catei seus lábios com os meus, e comecei a comandar o beijo
enquanto alisava seu pau.

― Hmmm... ― Um gemido arranhou sua garganta quando ele projetou o quadril para frente.

― Vamos, Alex! Me tira daqui... ― sussurrei e depois lambi sua orelha.

― Ok! ― Ele pareceu sair do transe, ligou o carro e quinze minutos depois estávamos dando
entrada no primeiro hotel que avistamos na Avenida Paulista.

Já no quarto, parecíamos dois loucos sedentos à procura de água. Nossos lábios não se
desgrudavam e tirar as roupas foi um sacrilégio, pois tínhamos pressa, mas precisávamos preservar
os botões de nossas camisas. Quando finalmente conseguimos ficar totalmente nus, ele me pressionou
na porta e começou a moer seu pau duro no meu enquanto prendia minhas mãos acima da cabeça e
beijava meus lábios.

Alex tinha um estilo dominador, mas era carinhoso e se preocupava com meu prazer. Seus
movimentos não eram bruscos, e sua pegada, apesar de ser levemente dolorida devido à força que
ele empregava em seus dedos, era deliciosa e me deixava em estado de êxtase, pois cada vez que ele
me tocava e me beijava, mais eu queria tudo dele.

― Me chupa! ― Ele apoiou a mão na porta e se afastou para que eu me ajoelhasse na sua frente.

Admirei seu pau cheio de veias antes de enfiar na boca, apenas a cabecinha, depois até sua
glande atingir minha garganta, do jeitinho que eu imaginei. Alex segurou meu rosto entre as mãos e
começou a foder minha boca até o ar me faltar.

― Ah! ― O empurrei para poder respirar e olhei em seus olhos.

Por Deus, ele era ainda mais perfeito do que eu lembrava!

Aqueles pelos na sua pélvis, subindo pelo umbigo, seu abdômen dividido, seu peitoral musculoso
na medida certa, seus braços torneados, seu sorriso sacana, exalando luxúria, sedução, tesão... Porra!
Eu estava caidinho por ele! Era um caminho sem volta.

Logo seu sorriso se esvaiu com uma troca de olhar que mesmo em silêncio, disse tudo que eu
precisava saber: ele também estava caidinho por mim!

Alex me puxou e me beijou com paixão. Eu arfava descontroladamente e vez por outra um
gemidinho escapava da minha garganta quando ele me mordia, ou me apertava, ou bombava meu pau,
que pingava de tanta vontade.

― Você geme gostoso, Lu. ― Ele segurou minha coxa e no instante seguinte eu estava com as
pernas enlaçadas em sua cintura, nossos lábios grudados e ele me conduzindo para a cama. ― Quero
você gemendo assim quando eu meter no seu cuzinho apertado...
― Por favor, Alex, que eu já tô chegando ao meu limite.

Ele me colocou de quatro e antes de meter com vontade, me deu o beijo grego mais delicioso da
minha vida. Sua língua era ávida e as mordidinhas que ele dava na bochecha da minha bunda só
tornava o prazer ainda mais alucinante. Quando seu dedo entrou em mim e raspou minha próstata,
meus cotovelos cederam, e logo eu estava mordendo o travesseiro para conter a vontade de urrar de
prazer.

Alex me torturou a ponto de eu derramar porra no lençol, e quando ele percebeu que eu não
conseguiria resistir e logo gozaria feito um louco, ele se encapou, me lubrificou e meteu em mim
aquela forma ardida e gostosa. Dessa vez eu urrei, e quando as estocadas vieram, em seguida, eu não
aguentei e gozei antes do esperado.

― Isso, garotão! Goza pro seu macho! ― Ele sussurrou entre dentes enquanto meu corpo
convulsionava de prazer, e deu um tapa na minha bunda, que ardeu, e fez meu pau jorrar um pouco
mais.

Umas estocadas depois ele gozou, e eu pude sentir cada pulsação do seu pau em mim, pois já
estava sensível o suficiente para isso. Meus gemidos eram descontrolados e quando ele desabou
sobre mim, eu desabei na cama. Nossos corpos suados e colados, seu corpo pesando sobre o meu e
seus lábios depositando beijinhos no meu ouvido e bochecha. Eu estava no céu!

― Como você me achou? ― perguntei com a voz mole.

― Carlos me deu seu cadastro. Não foi difícil... ― Ele rolou e se deitou ao meu lado.

Nos viramos de lado para ficarmos cara a cara.

― Confesso que fiquei tristão por você ter ido embora no dia seguinte, sem dizer nada.

― Hm... Eu também fiquei magoado por você não ter perguntado por mim. ― Ele se deitou de
costas e me puxou para que eu me aninhasse em seu peito.

― Como você sabe que eu não perguntei?

― Eu perguntei pro Carlos... Somos primos.

Primos? Uau!

― Achei que tinha sido só uma noite pra você... Não quis criar expectativa sobre nós.

― Teria sido, se você não tivesse me enfeitiçado. ― Ele beijou meu cabelo e eu dei uma
risadinha de satisfação.

Suas palavras foram música para meus ouvidos, porque eu estava igualmente enfeitiçado por ele.

― Você sabe que não podemos, né? ― Eu alisava seu peito. ― Faz parte das normas da
empresa...

― Depois pensamos nisso. Vamos curtir o momento. ― Seus braços me envolveram num abraço
gostoso.

Eu queria não pensar, mas eu estava envolvido demais, mesmo que tivesse sido apenas duas
fodas deliciosas, meu coração já estava tomado por Alex, e eu queria, mais que tudo, curtir o
momento. Mas eu prezava muito pelo meu emprego!

Foi então que algo importante passou pela minha cabeça:

― Você escolheu a AB&C Corporation por minha causa? ― Olhei para ele.

― Sim... Quer dizer... Sua empresa tinha recebido a carta convite pra participar da licitação,
então já estava no páreo, e quando eu descobri que você era um dos gestores de contas especiais, foi
fácil tomar uma decisão. Difícil foi convencer os outros acionistas, mas como eu sou o presidente, a
palavra final é minha.

Sentei-me, pois comecei a ficar preocupado com o rumo da conversa.

― Como você descobriu que eu era um dos gestores?

Alex deu uma risada alta e gostosa, a mesma que ele tinha dado dentro do meu carro quando
perguntei se ele iria me matar e roubar meu rim.

― Sua cara faz parecer que sou uma pessoa terrível, Luca! ― Ele disse ainda com um sorriso
largo nos lábios. ― Sim, eu stalkeei você, mas não dessa forma perversa que você tá pensando!

― Você me stalkeou? ― Meu queixo caiu.

― Mais ou menos. Eu pesquisei seu nome no LinkedIn, apenas isso. Tem tudo lá...

― Hm... É verdade. ― Me deitei novamente em seu peito. ― Que bom que você é um psicopata.
Eu não teria sua coragem...

― Hei! Eu não sou um psicopata... ― Ele se deitou sobre mim e me fez cócegas.

― Ahh... Não faz isso! ― gritei ao tentar segurar suas mãos enquanto me contorcia sob seu
corpo.

― Só achei que você valia a pena. ― Seus olhos encontraram os meus. Ele engoliu em seco.

Ficamos sérios e meu coração disparou dentro do peito.

― Obrigado! Penso o mesmo sobre você. ― Engoli em seco.

Nos beijamos, dessa vez com calma e delicadeza. Aquele beijo que começa devagar e quando
nos damos conta, estamos querendo beijar aquela boca para sempre. Teríamos evoluído para outra
rodada de foda gostosa, mas eu precisava almoçar e voltar para empresa.
◆◆◆

Um ano depois e eu não estava apenas enfeitiçado por Alex, eu estava completamente apaixonado
por ele, amando aquele homem como eu nunca amei ninguém na vida.

Nosso relacionamento secreto amadureceu. Passamos a conhecer cada vez mais um do outro:
gostos, gestos, silêncios... Eu o admirava de todas as formas e sentia no meu íntimo que a recíproca
era verdadeira. Mas eu queria mais...

Mais que fodas quentes, que passar o fim de semana na pousada do Carlos, mais que jantares no
meu apartamento ou no seu, mais que tardes sentados no sofá maratonando séries, mais que o gestor
da sua conta, mais que o amante do CEO.

Eu queria dormir e acordar o seu lado pelo menos alguns dias da semana. Preparar seu café da
manhã, perguntar se ainda tinha meu iogurte preferido na sua geladeira, ou dizer a ele que suas meias
pretas estavam na primeira gaveta da minha cômoda. Eu queria ir ao cinema e passear no shopping
de mãos dadas, correr no Ibirapuera nas manhãs ensolaradas, sair para almoçar num restaurante
qualquer, e quando algum amigo em comum nos chamasse para sair, simplesmente responder: “Vou
falar com Alex”.

Profissionalmente, eu tinha Victorio Alexander D’Angelo para mim. Pessoalmente? Alex não me
pertencia de fato. E essa vidinha a dois era algo que parecia ser cada vez mais distante da nossa
realidade. Eu ainda era o gestor da sua conta na AB&C, ele ainda era meu cliente, e segundo as
normas da empresa, não podemos nos envolver amorosamente com nossos clientes, caso contrário,
eu poderia ser demitido por justa causa.

Não ter Alex publicamente como meu homem era algo que estava me matando aos poucos, e pior
que isso era quando nos encontrávamos por acaso numa happy hour qualquer. Nossos olhares se
colidiam, meu coração disparava e eu apenas o cumprimentava com aperto de mão, sorrisos sem
jeito e cada um ficava num canto do bar com seus amigos, e evitávamos ao máximo olhar um para o
outro, coisa que era um martírio para mim, principalmente quando ele estava cercado de homens
lindos. E eu já o conhecia tão bem, que sabia exatamente quando ele estava tentando impressionar
alguém ou não.

Chegamos até a ter umas briguinhas bobas por causa disso, nada que abalasse nosso
relacionamento, apenas quando, numa dessas vezes que nos encontramos por acaso, era justamente
Ilúcio que lhe fazia companhia.

Quis fazer um escândalo? Quis! Mas não fiz, obviamente. Apenas fiquei até o fim, e quando os
dois foram embora juntos, eu quis morrer. Alex me mandou um milhão de mensagens avisando que
não era nada demais, que estava apenas dando carona para um velho amigo, mas eu ignorei todas
elas, pois cada mensagem que eu recebia, um nó se formava na minha garganta.
Foi a primeira e única vez que brigamos feio, e foi justamente nesse dia que eu coloquei as cartas
na mesa.

Estávamos na sua luxuosa cobertura no Jardins, deitados em sua cama, eu de costas e ele sobre
meu peito, depois de termos feito as pazes, fodido feito loucos e a chuva do lado de fora deixava o
ambiente preguiçoso e aconchegante, e a única coisa que eu queria era dormir ali e abraçado a ele,
mas nosso relacionamento ainda não tinha evoluído para este nível, além disso, era meio da semana e
no outro dia eu precisava ir cedo para a empresa.

― Queria dormir aqui... ― Alisava suas costas.

― Queria que você dormisse sempre aqui. ― Ele disse com a voz meio embargada de sono.

― Sabe, Alex... ― Eu o empurrei para que nos sentássemos, pois seria um passo importante no
nosso relacionamento e eu queria estar cara a cara com ele. ― Eu andei pensando em conversar com
o seu Antônio... falar a verdade pra ele, tenho certeza que ele entenderia.

― Não, Lu. Não faça isso.

― Por que não? ― Coloquei a mão em seu rosto. ― Faz um ano que estamos juntos, nunca
tivemos problemas na empresa, pelo contrário... E seu Antônio é um homem muito justo.

― Não é prudente, meu amor. ― Ele segurou minha mão e beijou a palma. ― Além do mais,
estamos bem assim.

― Mas você acabou de dizer que queria que eu dormisse sempre aqui, com você.

Ele deu uma risadinha e se levantou, ficando de costas para mim, deixando seu traseiro redondo,
duro e perfeito disponível aos meus olhos.

― Não disse nesse sentido. ― Ele pegou sua cueca no chão e se vestiu.

― Não? ― Uma ruga se formou na minha testa ― Em que sentido então?

Nunca tive a intenção de me mudar para seu apartamento, mas a forma como ele falou me deixou
desapontado, e até magoado. Não era esse tipo de relacionamento que eu tinha em mente quando
propus falar com seu Antônio, eu queria apenas parar de me esconder, mas pelo que pareceu, Alex só
me queria para foder, e suas eternas palavras de amor e carinho me pareceram, naquele momento,
apenas... retóricas.

― Ah, Lu... ― Ele deu de ombros. ― Sei lá! Que você não precisaria ir embora, hoje.

― Hoje? ― Eu me levantei também. ― Você não quer que eu vá embora hoje, mas não se
importa que eu vá amanhã... Sendo que era sobre isso que eu estava falando, Alex. Sobre dormir aqui
hoje, e essa história de dormir sempre aqui veio da sua boca.

Ele franziu o cenho e colocou as mãos na cintura, sua postura de ficar na defensiva.
― Aonde você quer chegar, Luca? Porque, sinceramente, eu não quero brigar de novo.

E lá estava ele mudando de assunto, revertendo o jogo para seu lado!

Fiquei segundos mudo, sem saber o que dizer, seus olhos fixos nos meus, querendo me fuzilar,
sendo que eu não tinha feito ou dito nada de errado. Mas era claro como o dia que, sobre tudo o que
eu queria, ele não tinha interesse algum.

― Eu também não quero brigar, Alexander, só quero ir embora. ― Peguei minha cueca e calça no
chão do quarto e comecei a me vestir. ― Na verdade eu nem deveria ter vindo.

Saí do quarto a procura da minha camisa e sapatos que tinham ficado na sala de estar.

― Qual é, Luca? Vai ficar putinho agora? ― Ele veio atrás de mim. ― Estávamos bem dois
minutos atrás... até essa história de dormir aqui vir à tona. ― Ele me segurou pelo braço, ainda no
corredor e me virou para ele. ― Você pode dormir aqui quando quiser, e se você preferir, eu arrumo
um lugar no meu guarda-roupas pra suas coisas.

― Eu não quero um lugar no seu guarda-roupas, Alex! ― Me livrei da sua mão. ― Eu quero um
lugar na sua vida. Eu quero ser mais que seu amante, será que você não entende?

Minha voz mais alterada que o normal.

― Desde quando isso virou um problema pra você? Caramba... Achei que estávamos vivendo
bem dessa forma.

Eu seguia para a sala e ele ia atrás de mim, e enquanto eu me vestia, a discussão continuava.

― Nós estamos, Alex. Nós! Entende? Fodendo escondido e cada um dormindo na sua própria
cama. Mas há tempos que eu venho me questionando sobre o que eu quero. E o que eu quero é poder
entrar num barzinho, ver meu homem conversando com seu ex e poder me sentar ao seu lado sem
fingir que não me importo.

― Ah! ― Ele soltou uma risada sarcástica que atingiu meu âmago. ― Então estamos de volta ao
ponto: Ciúmes!

― Ciúmes? Você acha mesmo que tudo que eu disse tem a ver com ciúmes? ― Meu sangue
ferveu, e eu parei bem na sua frente, disposto a dar um soco na sua cara, e logo um caroço travou
minha garganta, meus olhos marejaram e pela primeira vez, eu chorei na sua frente. ― Por favor,
Alex! Não subestime meus sentimentos por você!

Seus olhos cresceram, seus lábios se separaram e a expressão de espanto no rosto teria me
desarmado se eu não tivesse tão magoado.

― Hei! ― Ele sussurrou e seus olhos brilharam.

Mas eu não estava disposto a me reconciliar naquele momento. Alexander tinha suas prioridades
e eu tinha as minhas que, naquele momento, era dormir na minha cama.

― Tchau, Alex!

Saí do seu apartamento e ele não veio atrás de mim.


◆◆◆

Faz exatamente uma semana que não tenho notícias suas.

O fim de semana chegou, foi embora e nem ao menos minhas mensagens ele visualizou, quiçá
atender minhas ligações. Eu me arrependia de tê-lo pressionado, pois sentia saudades sua a cada
segundo do dia. Temia que ele se sentisse sufocado por mim e pelos meus sentimentos e pulasse fora,
e esse sumiço fosse apenas o início do fim. Não sei dizer se isso me deixava triste, puto da vida ou
aliviado. Só sei dizer que não saber onde ele estava e com quem estava, estava acabando comigo.

Na D’Angelo apenas me diziam que o senhor Victorio Alexander estava numa vigem de negócios,
mas, como gestor da sua conta, eu tinha quase certeza que era mentira, afinal, faz um ano que eu
conheço bem seus passos no mundo dos negócios, e fora dele também.

Vinha me dedicando mais que o normal ao trabalho, pois ocupar a mente me ajudava a não pensar
demais, não imaginar que ele estava fugindo de mim ou que eu fiz a grande besteira de propor uma
conversa com seu Antônio para falar sobre nós. Se fosse isso, eu não apenas tinha dado um tiro no
pé, como no meu próprio coração. Sim, pela primeira vez na vida, eu estava sofrendo por amor, e
posso garantir, é a pior sensação do mundo, pois me sentia atropelado por uma carreta carregada de
cimento, sendo que a carga caiu sobre mim, e eu estava atolado, sem conseguir respirar direito,
sentindo meu peito pressionado pela avalanche de emoções cada vez que pensava nele, nos nossos
melhores dias e no último dia que o vi.

Sentado na minha confortável cadeira, na minha sala de paredes de vidro, olhos vidrados no meu
computador desde às sete horas da manhã, sentia minha vista ardendo e os pés formigando.

Alex

Alex

Alex

Meus pensamentos me traíam...

Apoiei os cotovelos na mesa, a cabeça nas mãos, respirei fundo e fechei os olhos, buscando no
meu íntimo calma e serenidade para lidar com aquela situação, e quando levantei a cabeça e abri os
olhos, Hanna estava em pé, do outro lado do vidro, acenando para mim. Chamei-a com a mão e ela
abriu um sorrio ao entrar na minha sala.

― Bom dia, garotão! ― Hanna é um ou dois anos mais velha que eu, então ela me chamar de
garotão, muitas vezes, me soa estranho, mas eu gosto, pois me sinto mais próximo dela, como se
fosse uma irmã.

― Bom dia, gata! Tá passeando?

― Fui tomar um cafezinho pra despertar e esticar as pernas. Acho que você devia fazer o mesmo.
― Sua feição demostrava preocupação.

― Tô atolado de coisas pra fazer. ― Não era de todo mentira, pois tempo para um cafezinho eu
tinha de sobra, mas desocupar a mente estava sendo perigoso para minha sanidade mental, pois sabia
que iria pensar nele, ligar para ele e ficar no vácuo mais uma vez sem notícias dele.

― Você vai enlouquecer assim, Luca! Faz quatro horas que você não desgruda os olhos dessa
tela, seus olhos estão até vermelhos.

Respirei fundo, resignado com sua preocupação comigo.

― Ok... ― Afastei minha cadeira e me levantei. ― Eu vou lá então... Tô precisando mesmo me


esticar.

Antes de saímos juntos da minha sala, Mariah entra feito um furacão, batendo a porta de vidro
com tanta força que temi estilhaçar a parede todinha.

― O que é isso, mulher?

― Luca, o que tá acontecendo? ― Os olhos de Mariah vidrados nos meus. ― Por que o CEO da
D’Angelo está na sala de reuniões com Fabrício e sua equipe?

― Alex? ― Senti meu sangue congelar ao passo que meu coração disparou, e me dei conta da
intimidade que era chamar Alex de Alex na frente do pessoal da empresa. ― Quer dizer, Alexander
está aqui? Na AB&C?

― Sim, e Fabrício está com ele.

― Puta merda! ― Hanna soltou sem nenhum controle, pois assim como eu, sabia o quanto esse
encontro poderia ser perigoso para meus negócios.

Meu olhar em direção à sala de reuniões, a um passo de correr até lá, e meu celular vibra dentro
do bolso. Quando vejo o número, meu coração praticamente para de bater. É seu Antônio, e para
estar me ligando no número pessoal, devia ser muito grave.

― Seu Antônio? ― Virei-me de costas para as duas. ― Tudo bem?

― Venha na minha sala! Agora! ― Ele desligou.

FO.DEU!
◆◆◆

Outplacement! Já ouviu falar sobre isso?

Esse palavrão é um processo que procura ajudar um funcionário demitido a se recolocar mais
rapidamente no mercado de trabalho, orientando-o durante esse período.

E se eu estava magoado com Alex e morrendo de saudades ao mesmo tempo, esses sentimentos
foram substituídos por uma vontade esmagadora de estrangulá-lo.

― Chefinho? ― disse assim que abri a porta da sua dala, tentando manter a calma e o clima
descontraído, afinal, “Venha na minha sala, agora!” era algo que não costumava ouvir todos os dias.

― Entre, Luca. ― Sua cara não era das melhores. ― Pelo amor de Deus, o que você fez?

Sua pergunta me deixou sem chão.

Seu Antônio, apesar de ser um cara mais velho, com suas raízes fincadas no século passado, é
muito mente aberta, e nunca tivemos problema com minha sexualidade ou de qualquer outro
funcionário, pelo contrário, a AB&C Corporation é uma empresa que valoriza o profissional segundo
suas capacidades e competências, e não por quem seus funcionários dividem uma cama. Isso é
totalmente irrelevante, como deveria ser em qualquer lugar do mundo, em qualquer circunstância.

Mas, por alguns segundos, sua pergunta me fez questionar esses valores, pois tudo me levou a
crer que ele estava indignado por eu ter me envolvido amorosamente com Victorio Alexander, e não
com o CEO da D’Angelo e consequentemente, um cliente. Não sei por qual razão cheguei a essa
conclusão, talvez por estar confuso e me sentindo rejeitado pelo cara a quem eu tinha entregado meu
coração. A verdade é que eu preferia que seu Antônio tivesse convocado minha presença por essas
razões mesmo, e não pelo que veio a seguir.

― Não sei a que o senhor está se referindo. ― Desabotoei meu terno e me sentei à sua frente.

Seu Antônio estava exasperado e passava a mão no rosto freneticamente, talvez procurando a
melhor forma de jogar a bomba no meu colo.

― Eu vou falar de uma vez, espero que você entenda minha posição como presidente dessa
empresa. ― Ele me encarou e seus olhos estavam tristes.

― Por favor. ― Eu me esforçava para respirar regularmente.

― Segunda-feira Victorio Alexander solicitou uma reunião urgente, num local neutro, para
acertarmos alguns detalhes do seu contrato com nossa empresa. Ele pediu pra mudar de gestor...

― O quê? ― Minha voz não passou de um sussurro rouco e sôfrego, e sem que eu conseguisse
controlar, meus olhos arderam, pois a dor da traição tinha sido demais.
― Exatamente isso que você ouviu, quem vai gerir as contas da D’Angelo, a partir de agora, será
Fabrício e sua equipe.

― Não! ― Levantei-me, disposto e meter o pé na porta de vidro daquela sala de reuniões onde
eu sabia que Alex estava, e tirar a limpo toda essa história.

Se ele queria mudar de gestor, que falasse comigo primeiro!

― Sente-se Luca, ainda não terminei.

― Ele não pode fazer isso! ― Fui em direção a porta. Não era mais profissional, era pessoal, e
talvez eu não o estrangulasse, mas dar um soco na sua cara eu daria.

― Volte aqui, Luca. ― Seu Antônio elevou o tom da voz e se levantou, batendo com força na
mesa. ― Victorio não quer apenas mudar de gestor, ele quer você fora...

Parei até de andar. Virei-me lentamente para seu Antônio, processando a informação.

― Fora? Como assim, fora?

Seu Antônio respirou longamente e apontou para cadeira à frente para que eu me sentasse. Eu
obedeci, pois estava num estado de torpor que o quer que fosse que ele me dissesse, eu já sabia que
não seria bom, e minhas mãos coçavam para apertar o pescoço de Alex até sua cabeça se desprender
do resto do corpo.

― Eu confesso que não queria perder um profissional como você, afinal, você é o melhor gestor
que tenho aqui em anos, o faturamento da empresa cresceu trinta por cento desde a sua chegada, e
avaliando toda situação econômica do país, posso garantir que não foi sorte, foi competência.

― Eu estou sendo demitido? ― Um caroço difícil de engolir fechou minha garganta. ― A pedido
dele?

A que ponto havíamos chegado? Em um dia estávamos trocando palavras de carinho e fodendo
na sua cama, e em outro ele estava roubando meus sonhos de uma forma cruel e mesquinha, me
deixando literalmente na merda.

― Não exatamente assim. Ele propôs realocar você, e até me indicou um profissional da área
nesse tipo de processo. Já enviamos seu currículo para ser avaliado e aprimorado. Você precisa
passar no RH ainda hoje pra assinar sua rescisão, a Elka está organizando toda a papelada, assim
como o contato do coaching que vai te orientar nessa, digamos, nova empreitada...

As palavras do seu Antônio viraram uma cacofonia aos meus ouvidos quando misturadas aos
meus pensamentos perturbadores e assassinos. Eu estava em transe, mas nada que ofuscasse a
profunda tristeza e decepção que se alojava em meu peito, abrindo um abismo gigantesco no qual eu
só pensava em pular de cabeça e morrer. Talvez essa sensação se chame coração partido.

― ... Entenda que a D’Angelo é uma empresa importante para nós, e quem sabe quando o
contrato acabar você volte a trabalhar conosco...

Sem conseguir ouvir mais uma palavra, simplesmente me levantei e saí, disposto a pegar minhas
coisas na minha sala e nunca mais pisar naquele prédio imponente no qual eu me sentia realizado e
importante, e fui tratado como um papel que será enviado para reciclagem para ser reutilizado.

Mas ao entrar no setor de Gestão de Contas Especiais, justamente Alex, Fabrício e suas
respectivas equipes, estavam saindo da sala de reuniões. E por Deus, sua voz penetrou em cada
célula do meu ser.

― Filho da puta! ― gritei do outro lado do corredor e todos olharam para mim. Fui andando a
passos largos em sua direção, coração martelando o peito, olhos nadando em lágrimas e cegos de
raiva. ― Eu esperava qualquer coisa de você, Alex, menos essa traição!

― Luca! ― Hanna tentou chamar minha atenção, mas foi em vão.

Eu tinha um objetivo: acertar a cara de Alex, e pretendia alcançá-lo!

― Se acalme, ok?! ― Alex elevou as mãos, como quem tenta domar uma animal feroz.

― Você mandou seu Antônio me demitir? Foi isso mesmo? ― Eu o indagava mesmo sabendo a
resposta, mas precisava ouvir de sua boca o quanto filho da puta ele estava sendo comigo.

Fabrício arregalou os olhos, provavelmente não esperava que a situação fosse tão séria.

― Lu... Não é como você tá pensando. ― Ele deu um passo à frente, uma dor estampada em seu
rosto que eu não conseguia decifrar.

― Não me chame de Lu! ― berrei, sem me importar com o escândalo, afinal eu não trabalhava
mais ali. ― Eu te proíbo, Victorio Alexander D’Angelo, de me chamar de Lu... Você podia ter
rompido comigo de várias formas, mas não de uma forma tão baixa!

― Por favor, pare com isso...

― E ainda por cima tem a cara de pau de propor a aplicação de outplacement? Comigo? ― Ri
alto em deboche, mas a mágoa estava estampada em cada pedacinho do meu rosto e no timbre da
minha voz. ― Você não presta, Alex. Não sei como não enxerguei isso antes...

― Pelo amor de Deus, Luca. Cale a boca! ― Alex elevou o tom da voz.

― O que está acontecendo aqui? ― A voz de seu Antônio bem atrás de mim.

Foi só quando me virei que percebi que o circo estava montado, pois uma plateia se formava
atrás de mim, e seu Antônio tentava atravessá-la. E naquele momento, eu precisei colocar para fora
tudo aquilo que estava me sufocando, porque depois eu não teria chance.

― Você fodeu com tudo, Alex. Tirou tudo que era importante pra mim. Roubou meu tempo, meu
coração, meu emprego e jogou tudo na lata do lixo. Como se eu fosse nada. Não precisava acabar
desse jeito...

― Meus Deus, Luca! Como você é dramático! ― Ele levantou as mãos ao ar e as soltou, como se
pedisse paciência aos céus. ― Ok! Eu tô fora! ― disse alto para todos ouvirem. ― A D’Angelo tá
saindo da AB&C...

― O quê? ― Fabricio foi o primeiro a se manifestar.

― Senhor.... ― Alguém da equipe de Alex tentou protestar.

― O que você fez? ― Seu Antônio parou bem ao meu lado.

Eu fiquei pávido, pois não só seria demitido, como seria demitido por justa causa, tamanha
proporção do meu pavio curto e falta de papas na língua.

Minha vida na sarjeta! Era minha perspectiva de futuro.

― Não! ― sussurrei. ― Não precisa sair, Alex. Eu tô fora! ― Virei-me e saí me esgueirando
pela multidão de funcionários curiosos atrás de mim. As lágrimas escorrendo pelas bochechas e a
certeza de que sofrer por amor era ruim, mas ser traído dessa forma, era devastador.

― Luca! ― Alex gritou e veio atrás de mim. Senti sua mão segurando meu braço e me virando de
supetão para si.

Antes que eu pudesse reagir, Alex me puxou e colou seus lábios nos meus num beijo duro, forte e
seco. Tão inesperado que nem ao menos consegui fechar os olhos.

Um burburinho se formou a nossa volta...

Fiquei paralisado, e quando ele descolou nossos lábios, sem me soltar da sua pegada firme,
minhas pernas estavam bambas, e meu rosto pegava fogo de tanta vergonha. Seu olhar penetrava
minha alma de tão profundo.

― Eu te amo, seu idiota! Mas não podemos estar juntos e na mesma empresa ao mesmo tempo.
Eu só fiz o que fiz porque quero você dormindo na minha cama, sempre! ― Seus olhos brilharam.

― Alex... ― Não sabia o que dizer. Estava sonhado? Acreditava que sim.

― Eu não pedi pra romper meu contrato porque tenho responsabilidades com a minha empresa,
coisa que você não tem aqui. Realocar você foi a forma que encontrei pra resolver essa situação que
já estava ficando insustentável... Eu te amo, Luca. Eu quero você!

Foi quando a ficha caiu. Eu era realmente um idiota por não ter ligado os pontos e entendido que
tudo não passava de um plano para ficarmos juntos, sem segredos.

― Oh, Deus! Eu sou tão burro.... ― Comecei a chorar, de felicidade e constrangimento. Tapei o
rosto com as mãos, mas queria mesmo cavar um buraco no chão e me enterrar.

― Meu amor, não chore. ― Alex me envolveu em seus braços num abraço quente e protetor.

― Eu também te amo, Alex.! ― O abracei de volta.

― Dispersando, gente! ― Ouvi a voz e as palmas da Hanna. ― Vamos dar privacidade ao casal.

― Vocês dois, na minha sala! ― Foi a vez de seu Antônio falar.

FO.DEU! De novo!

Alex me soltou do abraço, enxugou minhas lágrimas com os polegares e beijou minha testa.

― Vem... ― Ele segurou minha mão e eu me deixei guiar, andando de cabeça baixa, evitando os
olhares inquisidores na nossa direção.

Não estava constrangido por estar de mãos dadas ao meu homem, e sim pelo escândalo que tinha
feito, e com o desenrolar de toda situação. Além de tudo, ainda estava meio em transe com a
declaração de Alex na frente de todos. Era algo que eu guardaria para sempre na minha caixinha de
melhores recordações da vida toda.

“Eu te amo, seu idiota!”

Foi a melhor coisa que eu poderia ouvir dos lábios de Victorio Alexander D’Angelo, o meu
Alex.
◆◆◆

Dois anos depois...

Obviamente não fui demitido e Alex não rompeu contrato com a AB&C Corporation. Apenas tive
que renunciar à conta da D’Angelo para que Fabrício se tornasse o novo gestor.

Seu Antônio ficou furioso comigo, e com razão. Além de ter feito um escândalo nos corredores
da empresa, quase fui demitido por falta de comunicação, e quase fiz a empresa perder uma das suas
principais contas. Mas, além disso tudo, ele ficou bem chateado por não ter confiado nele e tentado
resolver a situação de uma forma mais racional.

― Temos regras, sim. Mas a felicidade dos nossos funcionários também é importante pra
empresa. ― disse seu Antônio.

Culpei Alex por tudo, que não me desmentiu. E seu Antônio, no fim das contas, nos desejou sorte
e felicidade.

Minha imagem na empresa não foi abalada, minha equipe ficou feliz por mim, me parabenizou
pelo novo e primeiro relacionamento fixo.

― Acho que primeiro e único! ― disse sinceramente. Eu tinha virado um cara assumidamente
comprometido, e isso me deixava radiante. Eu estava feliz.

Quando saímos da sala do seu Antônio, dois anos atrás, Alex fez questão de que eu me mudasse
para seu apartamento. Aliás, ele exigiu.

― Não menti quando disse que queria você na minha cama pra sempre. ― Foi seu argumento que
me convenceu.

Hoje meu apartamento está alugado, minhas coisas estão no apartamento de Alex e nós somos o
casal mais bobo e apaixonado que alguém sonha em conhecer, pois nosso amor é meloso e
descarado. Acho que quem nos olha, mesmo de longe, consegue ter certeza da química que rola entre
nós. Não há quem diga que não fomos feitos um para o outro.

― Valeu, gente! ― Ele disse para os últimos convidados, Ricardo e Yuri. ― Vejo vocês em
breve.

― Obrigado pelo jantar, estava ótimo. ― disse Yuri.

Fizemos uma social hoje em comemoração aos nossos três anos juntos. Vieram todos, Carlos e a
esposa, Jade e Helder, o casal Tailandês, Ilúcio e seu novo namorado, uns amigos da empresa de
Alex, outros meus e, inclusive, o último casal a ir embora, que por mais que eu me esforçasse, não
conseguia imaginá-los numa cena de sexo tórrido.

― Esses dois são legais pra caramba, mas são o tipo de casal que nem parece que transa. ―
Sussurrei no ouvido de Alex, assim que ele fechou a porta.

Ele soltou uma risada alta e histérica. Aquela risada que acelerava meu coração e me fazia
querer abraçá-lo forte e nunca mais soltar.

― Shh... ― Tapei sua boca, me divertindo com sua risada.

― Eu já pensei a mesma coisa. ― Seu sorriso do covinhas era realmente fascinante.

― Sei lá, é como imaginar Faustão com Justin Bieber. Não combina.

― Eles estão juntos há uns oito anos, então acho que transam sim. ― Alex me abraçou por trás,
nos conduzindo ao quarto.

― Imagino que sim, mas ainda assim, não dá pra imaginar. E nem quero... ― Sorri de banda.

― E nós dois? Dá pra imaginar? ― Ele depositou beijinhos molhados em meu pescoço, me
derretendo por inteiro.

― Acho que sim. Quero dizer... ― Virei-me para ele. ― Olha só você! Quem não imaginaria
você na cama? O CEO da D’Angelo? O cara mais lindo e gostoso do mundo?

― Hm, seu bobo! Quem se importa com isso? ― Ele me abraçou pela cintura e eu envolvi seu
pescoço com meus braços. ― Eu só consigo imaginar você na cama, na minha cama, nada mais... ―
Ele selou meus lábios. ― Meu amante!

― Amante, é? ― Beijei seus lábios. ― O amante do CEO?

― Sim... ― Ele olhou pra cima. ― Mais que amante, na verdade. ― Ele olhou para mim.

― Mais? ― Meus olhos foram dos seus para sua boca. Meu pau já duro feito uma rocha dentro
da bermuda de sarja. ― E o que mais?

― Hm... Meu amor. ― Um selinho. ― Meu homem... ― Outro selinho. ― Minha vida...

― Alex! ― Fui tomado pela paixão que sinto por ele, e meus olhos brilharam.

Então capturei seus lábios com um beijo ardente e apaixonado antes que ele percebesse o quanto
fiquei emocionado com suas palavras.

Sim, eu sou mais que o amante do CEO.

Eu sou dele, todo dele e para sempre dele. E ele é meu sonho realizado feito conto de fadas,
essencial na minha vida, onde somos felizes... e isso nenhum status ou contrato pode apagar.
Obrigada pela leitura!
Espero que tenha gostado, e se puder deixar uma avaliação, fará uma autora feliz!

Conheça outras obras minhas:


- High Definition – O amor não tem gênero (Duologia HD | Livro 1)

- Full HD - O amor não tem medida (Duologia HD | Livro 2)

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- RHYAN – spin-off de CADU

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