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Copyright 2023 © Aline Pádua

2° edição – DEZEMBRO 2023

Todo o enredo é de total domínio da autora, sendo todos os


direitos reservados. Proibida qualquer forma de reprodução total
ou parcial da obra, sem autorização prévia e expressa da autora.

Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência


.

Edição: AAA Designer


A Deus e as pessoas que acreditam em mim, mesmo
quando eu não o faço. Para tudo o que eu recebo, mesmo
acreditando não ser merecedora.
Sumário
Nota
Sinopse
Playlist
Parte I
Prólogo
Capítulo I
Capítulo II
Capítulo III
Capítulo IX
Capítulo V
Capítulo VI
Capítulo VII
Capítulo VIII
Capítulo IX
Capítulo X
Capítulo XI
Capítulo XII
Capítulo XIII
Capítulo XIV
Capítulo XV
Parte II
Capítulo XVI
Capítulo XVII
Capítulo XVIII
Capítulo XIX
Capítulo XX
Bônus
Capítulo XXI
Capítulo XXII
Capítulo XXIII
Parte III
Capítulo XXIV
Capítulo XXV
Capítulo XXVI
Capítulo XXVII
Capítulo XXVIII
Capítulo XXIX
Capítulo XXX
Epílogo
Nota
Redes Sociais
CASADA COM O HOMEM QUE NÃO ME AMA
Torres-Reis-Kang-Esteves
UMA GRAVIDEZ INESPERADA
CEO INESPERADO – meu ex-melhor amigo
O BEBÊ INESPERADO DO COWBOY
FELIZ NATAL, TORRES
UMA FAMÍLIA INESPERADA PARA O VIÚVO
GRÁVIDA DO CEO QUE NÃO ME AMA
O CASAMENTO DO CEO POR UM BEBÊ
A FILHA DO VIÚVO QUE ME ODEIA
GRÁVIDA EM UM CASAMENTO POR CONTRATO
UM CASAMENTO DE MENTIRA PARA O CEO
GRÁVIDA DO COWBOY QUE NÃO ME AMA
UMA FILHA INESPERADA PARA O CEO
UMA FILHA INESPERADA NA MÁFIA
GRÁVIDA DO MAFIOSO QUE NÃO ME AMA
REJEITADA POR UM MAFIOSO
UMA FAMÍLIA INESPERADA PARA O MAFIOSO
UMA GRAVIDEZ INESPERADA PARA O MAFIOSO
Junqueira-Dias
UM NAMORO DE MENTIRINHA COM O CEO
UMA FAMÍLIA DE MENTIRINHA COM O COWBOY
UMA GRAVIDEZ DE MENTIRINHA COM O VIÚVO
UM CASAMENTO DE MENTIRINHA COM O COWBOY
REJEITADA & GRÁVIDA DO VIÚVO QUE NÃO ME AMA
Nota

Oi!
Aqui estamos nós para finalmente trazer um cadinho do que
falta dos Soares. De todos os livros que eu já escrevi, essa foi a
primeira trilogia oficial que foi escalando para uma série, até se
tornar uma parte da pirâmide do #ALINEVERSO.
Intitulado anteriormente como “A quem amei para sempre”,
esse livro é o segundo dos Irmãos Soares, que já tem o primeiro
aqui na plataforma e estará listado abaixo. Estou muito feliz de
trazer Ella e Chris novamente, e seja sua primeira ou segunda vez
com eles, que consigam te levar diretamente para uma novela
mexicana, daquelas que nos fazem sentir a flor da pele.
Boa leitura,
Aline
Sinopse

Ela, se apaixonou pelo próprio “tio”.


Ele, dezoito anos mais velho do que ela.
Ela, se acredita totalmente nele.
Ele, a esconde como um segredinho sujo.
Ela, se casa escondido com ele.
Ele, finalmente consegue todo o dinheiro e poder que sempre
desejou.
Antonella sempre buscou amor nos olhos castanhos de
Christopher, o que não imaginou é que encontraria neles o
completo oposto: mentira e traição.
Playlist

Ainda é cedo – Legião Urbana


Camiseta – Manu Gavassi
Direção – Manu Gavassi
Eu amei te ver – Tiago Iorc
Há tempos – Legião Urbana
Índios – Legião Urbana
Let it go – James Bay
Monte Castelo – Legião Urbana
Scars – James Bay
Se olha no espelho – Maiara e Maraísa feat Cristiano Araújo
Secret Love Song – Little Mix
Skinny love – Bird
Teatro dos vampiros – Legião Urbana
Tempo perdido – Legião Urbana
Touch – Little Mix
Parte I
“Já estou cheio de me sentir vazio.
Meu corpo é quente e estou sentindo frio.
Todo mundo sabe e ninguém quer mais saber.
Afinal, amar o próximo é tão démodé...”
Baader-Meinhof Blues – Legião Urbana
Prólogo

“O melhor e o pior dia de junho


Foi aquele que te conheci
Com suas mãos nos bolsos
E seu sorriso de: Aposto que você queria me ter?” [1]

Antonella “Babi”

Acordo um pouco desorientada, sentindo-me completamente


fora de órbita. Foco meus olhos na parede a minha frente e me
sento rapidamente, tocando de leve o macio lençol e finalmente me
lembrando de onde estou.
É um lindo quarto, o qual agora se tornou meu. Seguro com
força o colar em meu pescoço e encaro o porta-retratos que fiz
questão de colocar na mesa de cabeceira, eu e Jô – minha mãe.
Ela se foi tão cedo, me deixando de modo inesperado. Além
da dor de sua perda, tenho que lidar com essa saudade imensa que
me invade a cada segundo que penso que não a terei mais ao meu
lado.
Aperto com força o pingente em formato de coração,
pendurado em meu colar, o qual ganhei de Jô em meu aniversário
de quinze anos. Encaro novamente a foto e divago sobre tudo que
passamos juntas, por ser quem sou por conta dela.
— Sinto sua falta, mãe. — digo e limpo uma lágrima que
desce.
Recoloco o porta-retratos na mesa de cabeceira e me levanto.
Ando pelo meu mais novo quarto e tento me acostumar. Mesmo
sempre tendo fugido, tentando não atrapalhar a vida de meu pai, sei
que sempre pertenci de certa forma a essa casa, a família Soares. Jô
sempre insistiu para que deixasse Caleb contar sobre minha
existência, mas o medo sempre falou mais alto.
Evitei ao máximo estar ligada aos Soares, ainda mais porque
o nome deles é conhecido e não queria trazer algum problema. Por
esse motivo não carrego o sobrenome deles, escolhi ficar apenas
com o de Jô, pois de qualquer forma, sentia medo de prejudicar
Caleb, já que ele me deu a opção de escolha em minha adoção.
Porém, ele se tornou meu pai desde sempre.
Saio do quarto a passos lentos, encarando o grande corredor
repleto de quartos. Ando devagar por esse, buscando as escadas.
Assim que as encontro, desço os degraus aos poucos, analisando
pela primeira vez esse lugar.
É uma casa imensa, perfeitamente decorada e linda. Mas
nunca imaginei que meu pai realmente moraria aqui, ele sempre foi
muito simples comigo, de forma que não combina com esse lugar.
Meio confusa chego à sala, olhando para os lados em busca
da cozinha. Arrisco meu caminho a esquerda, já que ainda estou
meio perdida, tenho quase certeza de que me deram algum
calmante.
Por sorte chego até a cozinha, ampla assim como toda a casa
e extremamente luxuosa. Encaro a grande geladeira de duas portas
a minha frente e abro um pequeno sorriso, lembrando da frase que
Jô sempre dizia
“Precisa ver a enorme geladeira que seu pai tem em casa,
parece até que estamos no Big Brother [2] .”
Ela sempre comparou tudo aos seus programas de televisão
favoritos.
Abro a geladeira e pego uma jarra com água. Coloco à jarra
em cima de uma das bancadas e começo a procurar um copo.
Quando finalmente abro uma porta do armário mais no alto,
acabado tendo que ficar na ponta dos pés, e vejo os copos. Tento
alcançar algum, mas falho várias vezes.
Resolvo então subir no balcão, já que parece firme. Subo aos
poucos e consigo alcançar o copo, sorrio por minha vitória, mas
quando menos penso, sinto meu corpo desequilibrar e cambaleio
para trás.
— Cuidado. — uma voz masculina diz e um corpo me segura
com força, o que impede minha queda.
Assim que consigo ficar de pé e de modo equilibrado, viro-me
para o homem que me ajudou.
Seus olhos são castanhos, de um modo enigmático, como se
escondesse o mundo neles.
— Obrigada. — digo sem jeito, pelo olhar intenso que ele me
lança.
— Babi, não é? — pergunta e assinto, ainda sem entender
como ele sabe meu nome ou o que faz na cozinha de meu pai.
— Parece que não me conhece. — diz e assinto. — Nos vimos
hoje mais cedo, ou melhor, ontem, no enterro. — diz sem rodeios,
fazendo meu estômago embrulhar, por me lembrar novamente
daquele momento.
Na realidade, tenho apenas flashes de tudo que houve.
Consigo ouvir meus próprios gritos de desespero nesse instante,
assim me inclino para trás, segurando no mesmo balcão que subi.
Fecho os olhos e coloco o copo no balcão, tentando afastar esses
pensamentos.
— Ei. — o tal homem diz e não consigo dizer nada.
Dói demais lembrar.
— Sou Christopher. — diz e toca de leve em meu rosto. Não
sei por que, mas sinto-me segura. — Sou irmão de Caleb, o mais
novo.
Abro meus olhos e ele está bem próximo. Sinto algo forte em
meu peito, não sei ao certo definir o que é isso.
— Me desculpe. — ele diz de repente e se afasta um pouco.
— Qual o seu verdadeiro nome? Bárbara? — pergunta, fazendo-me
rir por um instante.
— Meu nome é Antonella. — digo e ele arregala os olhos. —
Babi é apenas um apelido.
— Estranho. — diz e sorri pela primeira vez, mostrando um ar
intocável que apenas vi em filmes e li em livros.
— Todo mundo diz. — saio da frente dele e pego o copo,
pegando a jarra e colocando um pouco d'água. — Veio ver meu pai
na madrugada? — pergunto curiosa.
— Na realidade não. — responde e dá de ombros. — Vim ter a
certeza de uma coisa.
— Que coisa? — indago curiosa.
— De quem é você. — encaro-o sem entender. — Fiz um
julgamento errado, agora vejo isso.
— Como assim? — pergunto já perdida.
— Melhor esquecer isso. — diz e abre um sorriso sem dentes.
— Tenho que ir.
— Ah certo, até mais Christopher! — digo sem jeito.
— Pode me chamar de Chris. — assinto. — Até mais, Ella!
Ele então sai de perto, indo em direção a uma porta que não
faço ideia de onde dá.
Levo o copo a boca e a água gelada desce por minha
garganta. Penso então que por um instante não pensei em dor,
foquei apenas na conversa com esse homem.
Isso é estranho, mas ele despertou algo em mim. Mas não
faço ideia do que seja.
Capítulo I

“Longas eram as noites


Quando meus dias giravam ao seu redor
Contando meus passos
Rezando para o chão não desmoronar novamente” [3]

Antonella “Babi”

Três anos depois

Sinto braços fortes me envolverem e meu corpo relaxa


instantaneamente ao sentir seu cheiro. Viro-me ainda bocejando e
ele me aperta ainda mais ao seu encontro.
— Muito trabalho? — pergunto e ele apenas assente. — O que
foi?
— Apenas não acredito que está mesmo aqui, em meu
apartamento... — passa as mãos de leve em meu rosto. — Em
minha cama.
— Disse a você que estaria.
— Você também disse que nos assumiria e isso ainda não
aconteceu, Ella. — ele de repente se levanta e sai do quarto no
mesmo instante.
Sento-me frustrada na cama e balanço minhas pernas com
raiva. Por que nossos momentos felizes nunca duram mais do que
cinco segundos?
Sei que sou covarde e que tenho sido assim por um longo
tempo, para ser mais exata por praticamente dois anos. Desde
quando ele me roubou um beijo, e isso se repetiu entre momentos
em que não havia ninguém de nossa família por perto, e nunca
consegui fugi, pois ele sempre me encontra.
O problema é que não consegui ainda enfrentar minha família
e dizer a eles que amo meu tio adotivo... Simplesmente não consigo.
Saio do quarto em busca dele, e como sempre ele está em
frente a grande varanda olhando o movimento do lado de fora. Ele
veste apenas uma calça de moletom e é impossível não ficar mexida
com sua presença, ele é intimidante.
— Chris...
— O que inventou dessa vez? — se vira para mim. Seus olhos
mostram que sua raiva é ainda maior do que antes.
— Disse que fui dormir na casa de Mari e...
— Tem noção que tudo seria mais fácil se simplesmente
enfrentasse nossa família comigo? — suspira fundo e se aproxima
um pouco. — Tem noção que suas mentiras e viver essa relação
escondida de todos, pode ser muito pior que dizer a verdade,
Antonella?
— Chris...
— Estou cansado de tudo isso. Estou cansado de não poder te
ter no momento que quero, no momento que desejamos. — ele toca
meu rosto com cuidado. — Tenho quase 38 anos, Ella, não sou um
moleque que tem de se esconder dos pais. Porra, eu... — ele se
afasta e vai em direção ao quarto.
Quando volta ele está com uma camisa e calçou chinelos. Ele
pega as chaves do carro em cima do balcão e vai em direção a
porta.
— Onde você vai? — pergunto temerosa.
— Para um lugar onde as pessoas não tenham vergonha de
mim.
— Jamais tive vergonha de você Christopher, por Deus, eu
só...
— Não consegue admitir para nossa família e nem para
ninguém que é apaixonada por um cara praticamente dezoito anos
mais velho que você? — ele joga as chaves longe. — Esse é o
problema, não é? Minha idade? Não sou bom o suficiente para você?
— Não coloque palavras na minha boca. Nunca me importei
com a nossa diferença de idade, e você sabe bem disso. — respiro
fundo. — Sei que esperar é cansativo, mas...
— E mais nada, Antonella. — grita e eu me encolho. — Vou
sair porque já vi que essa discussão não vai nos levar a lugar algum.
Como sempre. — diz com pesar.
Ele vai até onde as chaves caíram e sem sequer olhar em
minha direção, sai do apartamento.
Sento-me transtornada no sofá e fico repensando sobre tudo
o que passamos. Desde o momento que aceitei finalmente meus
sentimentos por ele e me entreguei a essa relação proibida.
Tive medo desde o início de que fosse uma ilusão e que
jamais funcionaríamos, mas pelo contrário, nós simplesmente nos
completamos.
A diferença de idade nunca foi um problema para mim, e
tenho certeza que Christopher jamais se importou com isso. Tanto
que nossos gostos, por mais que seja mais nova, sempre
convergiram.
Por que simplesmente não assumo de uma vez que nascemos
um para o outro?
Algo me prende, tanto dentro de mim quanto ao meu redor.
As únicas pessoas que sabem sobre nosso envolvimento são Luna e
Felipe, e os dois me disseram para não me esconder. Mas temo pela
reação de meus pais, temo por talvez ser a culpada de desestruturar
toda nossa família. Não conseguiria viver com essa culpa,
justamente por ter sido eles quem me salvaram.
Pego meu telefone e disco o número de Luna, preciso da
minha irmã.
— Duas da manhã de um sábado, é bom ser importante ou...
— Christopher saiu do apartamento. — seguro as lágrimas. —
Ele não disse nada, mas com certeza não quer me ver aqui quando
voltar.
— O que houve, Babi? — seu tom muda drasticamente e sei
que está preocupada.
— Ele disse que está cansado de me esperar e que... —
soluço alto. — Que não quero assumir o que temos por conta da
diferença de idade.
— Ele é um idiota. — grita brava. — Mas você também é.
— Como assim, Lu? — pergunto confusa.
— Qual é, Babi? Desde que me contou sobre seu
relacionamento escondido, vocês vivem como se fossem
adolescentes fujões. Christopher já é um homem feito, com certeza
quer a mulher que ama ao lado dele no dia que assumir a
presidência.
— Mas...
— Mas nada Babi, você tem que se decidir. Pode ficar com
Christopher e assumir o que tem, ou abra mão do homem que ama
e deixe com que ele siga em frente. A escolha é sua.
Suas palavras me paralisam e só então sinto a dor de perdê-
lo. Imagino-o com outra mulher... As suas mãos, seus beijos
pertencendo à outra pessoa... Isso me corrói só de pensar.
— Babi?
— Não consigo imaginá-lo com outra pessoa que não seja eu,
muito menos imaginar meu futuro sem ele. — confesso decidida.
— Então já sabe o que fazer. — diz e logo nos despedimos.
Vou até o seu quarto e me deito novamente na cama. Pego
meu celular e olho as várias fotos e vídeos que tenho de nós. Coloco
o vídeo mais lindo que tenho, o qual ele fez quando me pediu em
casamento há duas semanas... O pedido que aceitei, mas nunca
mais falamos sobre, já que ele ficou magoado por mesmo tendo dito
“sim”, não ter contado a nossa família a respeito.
Escuto barulho vindo da sala, e sei que ele está de volta. Não
esperava que ele já voltasse, dói só imaginar que tudo possa estar
mesmo acabado. Levanto-me da cama e vou até a sala. Vejo-o
entrando na cozinha, e ouço o barulho da geladeira sendo aberta.
Vou até o balcão da cozinha e me escoro sobre ele, vendo-o
concentrado em beber um copo d’água. Sua cabeça está baixa e
tenho certeza de que está chateado apenas pelo modo como coça
fortemente a nuca. Tão bravo, tão meu.
— Chris. — o chamo e ouço seu suspirar fundo.
— Não vou mais discutir, Ella. Hoje não.
Vou até ele e toco de leve sua cintura. Ele se vira e me
encara, antes que ele diga algo, beijo-o e ele corresponde com
fervor.
Assim que nos afastamos, seus olhos castanhos parecem
perdidos e ele se afasta.
— O que significa isso, Ella? — pergunta incerto.
— Sim.
— O que? — pergunta sem entender.
— Eu aceito seu pedido. — digo e ele me pega no colo no
mesmo instante.
— Repete, por Deus, repete isso! — diz em um sussurro.
— Vou me casar com você, na semana que vem se quiser. —
ele arregala os olhos, claramente incrédulo. — Eu te amo, Chris.
— Você não sabe o que isso significa para mim Ella, não sabe
quanto sonhei... Deus, não consigo pensar em mais nada. — diz
com um sorriso nos lábios.
— Vegas, baby? — pergunto brincando e seu semblante muda
de repente, como se realmente cogitasse a ideia.
— Com toda certeza, baby. — sussurra próximo ao meu rosto.
— Em uma semana estaremos em Vegas e você será minha esposa.
— Está falando sério? — pergunto surpresa.
— Como nunca falei antes. — acaricia meu rosto. — Quero
que seja minha oficialmente antes de assumirmos o que temos,
assim ninguém poderá nos separar, mesmo que queiram.
Suas palavras me chocam e só assim me lembro do real
motivo de não tê-lo feito meu antes.
— Tenho medo, Chris. — o abraço em busca de proteção.
— Não precisará ter, pequena. Se for necessário, seremos nós
dois contra o mundo.
E assim me entrego ao abraço e ficamos perdidos um no
outro. Só quero estar certa sobre minha decisão, que realmente
possa ser feliz ao lado do homem que amo.
Capítulo II

“Você me pintou um céu azul


E voltou para transformá-lo em chuva
E eu vivia no seu jogo de xadrez
Mas você mudava as regras todo dia” [4]

Antonella “Babi”

Enrolo meu corpo ainda mais nos lençóis e sorrio sozinha ao


me lembrar das últimas horas. Encaro o rosto tranquilo de
Christopher e passeio meus dedos levemente por sua face.
— Tão lindo. — sussurro baixinho.
Continuo passeando as mãos por seu rosto e chego até seus
cabelos castanhos bem cortados. Os fios lisos caem perfeitamente
em cascatas em sua testa, como se ele os tivesse arrumado desta
forma.
Fico explorando suas marcas enquanto ele dorme, me
perguntando se o que estamos fazendo é o correto ou não. Se
deveria mesmo ter concordado em me casar com ele sem contar a
ninguém.
Desço minhas mãos até seu peito e meu corpo estremece
pelo calor que emana de sua pele. Esse desejo incontrolável que
sinto por ele, apenas faz com que todos meus pensamentos
racionais dissipem. Quero tocá-lo, quero tê-lo.
— Se aproveitando de mim? — pergunta de olhos fechados e
paro com minha mão no cós de sua calça de pijama.
Antes mesmo que possa responder, seu corpo grande cobre o
meu e ele me ataca em um beijo feroz.
— Chris...
— Fizemos uma promessa, Ella. — raspa os dentes em meus
lábios. — Não me obrigue a ter de quebrá-la.
Do mesmo modo que subiu em cima de mim, ele sai de
repente e vai em direção ao banheiro.
— Cretino! — grito transtornada e consigo ouvir sua
gargalhada de longe.
Deito-me novamente no travesseiro e lembro-me de todas as
promessas que fizemos. Christopher já é um homem vivido e tenho
certeza que várias mulheres passaram por sua cama, claramente o
oposto de mim. Nunca pensei em esperar até o casamento para isso,
mas ele quis assim. Disse que mereço isso. Mesmo sem entender
muito bem, resolvi atender seu pedido. Não me matará esperar um
pouco mais.
Minutos depois ele sai do banheiro. Apoio meu cotovelo no
colchão e o assisto desfilar com apenas uma cueca pelo quarto.
Todos os músculos parecem esculpidos e seguro minhas mãos para
não tocá-lo a todo o momento – ele é lindo.
— Gosta da visão? — pergunta convencido e reviro os olhos.
Levanto-me e vou em direção ao banheiro. Antes que chegue
até a porta, ele me puxa pela cintura e me beija com carinho.
— Não demore. — diz e passa as mãos de leve pelo meu
rosto.
Apenas sorrio e ele me solta. Entro no banheiro e não consigo
esconder o sorriso bobo em meu rosto. Christopher é romântico e
decidido, de um modo que me faz querer beijá-lo por horas. Seus
gestos, olhares, caretas, até seus enigmas me fascinam. Antes, tinha
medo por estar tão apaixonada assim, e ao mesmo tempo sou feliz
por ter a sorte de ele me corresponder.

— Então não precisamos sair do país para nos casar sem que
ninguém saiba? — pergunto e Chris nega com a cabeça. — Mas
como?
— Tenho vários contatos Ella, e um deles inclui meu advogado
Eduardo. Antes que pense que ele pode contar algo a Caleb, tenha
certeza de que não. Conheço Eduardo desde sempre, somos amigos
há anos... Ele sabe sobre nós e me ajudou com toda papelada
necessária. — ele diz e fico boquiaberta. — Eu jamais a levaria para
uma capela e deixaria que Elvis a acompanhasse até o altar! Jamais!
— diz nervoso, fazendo-me rir. — Quero que saiba que se estamos
fazendo isso às pressas é porque se tornou extremamente
necessário, mas você terá seu casamento dos sonhos. Terá o que é
seu por direito, baby.
Suas palavras me pegam de surpresa, pois nunca cogitei a
possibilidade de um casamento de princesa, muito menos com ele.
Não posso negar que sou romântica até o dedinho do pé e a
convicção em suas palavras me emocionam por completo. Mesmo
nunca tendo dito, sei que ele me ama.
— Tudo bem, querido. — digo e ele sorri. — Podemos assinar
agora?
Ele sorri levemente e me encara com um pouco de deboche.
— Não, baby. Mas pensei em começarmos com o correto. —
diz e se afasta um pouco, ajoelhando-se a minha frente, no tapete
da sala.
— Como assim? — pergunto surpresa e assustada com sua
atitude.
— Não posso ainda vê-la entrar num belo vestido branco, ou
até mesmo dançar a primeira dança na frente de todos. Mas quero
que isso seja real Ella, como sempre foi para mim. — ele tira algo do
bolso e logo noto ser uma caixinha de veludo. Levo às mãos a boca
e lágrimas já se formam em meus olhos. — Quando a pedi em
casamento pela primeira vez, lhe fiz um vídeo e coloquei pétalas
espalhadas pelo apartamento, porém faltou algo. — ele abre a
caixinha.
— Chris, meu Deus! — exclamo ao ver a aliança repleta de
pequenos diamantes.
— Espero ter acertado, baby. — sorri sem jeito. — Aceita ser
para sempre minha, senhorita Laira? — pergunta galanteador.
Sorrio emocionada e lhe estendo a mão. Ele coloca a aliança
com um pouco de dificuldade, pois minha mão está trêmula. Assim
que ele coloca, beija com carinho minha mão e sorri.
Sem conseguir acreditar, jogo-me em cima dele e caímos em
cima do tapete.
— Eu te amo. — digo repetida vezes, beijando seu rosto, sua
boca, seu pescoço. — Eu te amo, baby.
Ele segura meu rosto e me olha profundamente. Dedilhando
de leve com a mão esquerda meus lábios, onde sua grossa aliança
dourada brilha.
— Meu? — pergunto e uma lágrima desce, mesmo tentando
evitar.
— Sim, apenas seu. — diz e me beija.
Fico ali, perdida em seus braços. Apenas nos separamos para
recuperar o fôlego, e fico boba por cima de seu corpo, sem
conseguir acreditar que realmente fiquei noiva.
— Pensei em fazermos uma breve viagem, ao interior de São
Paulo, para podermos nos casar lá, sem correr risco algum. —
assinto de imediato, aliviada por ele não pedir para nossa família
estar junto. — Tem certeza?
— Absoluta, amor. — sorrio e beijo levemente seus lábios.
— Você me faz o homem mais feliz, Ella. — diz e suspira
fundo, fechando os olhos castanhos, os quais tanto amo, por alguns
segundos.
— E você me faz a mulher mais feliz também.
— Agora será apenas minha, baby. — vira-se sobre mim e me
puxa para cima, me ajudando a levantar.
Ele vai até o som e uma música invade o ambiente. Assim que
escuto a primeira melodia da canção, choro ainda mais em meio a
um sorriso.
— Me concede essa dança, baby? — ele me estende a mão e
aceito de bom grado.
Seu corpo grande me envolve e encosto a cabeça em seu
peito.
— Você se lembra mesmo da música, não é? — pergunto.
— Como esqueceria de você cantando para mim, Ella? —
nossos olham se encontram. — Você cantou essa música em um
almoço de família, uma mensagem implícita sobre nós dois. Foi
nesse dia que tive a certeza de que valia a pena.
— Valia a pena o que? — pergunto emocionada me lembrando
daquele almoço.
Cantar Secret Love Song [5] para ele, fez todo sentido para
mim. Pois essa música nos traduzia e ainda traduz perfeitamente.
— Ser apenas seu.
Nossos lábios se unem em um beijo apaixonado e minhas
mãos adentram seu cabelo, puxando-o ainda mais para mim.
— “I wish that it could be like that. Why can't it be like that? Cause I'm
yours [6] ...” — canto junto a música em seu ouvido e o sinto
estremecer.
A música continua a nos embalar e não consigo pensar em
outra coisa que não seja a aliança em meu dedo anelar esquerdo.
Estou noiva do homem que amo e vou me casar em breve com ele.
Por ora, deixarei nossos impasses do lado de fora desse
apartamento.
Capítulo III

“Bem, talvez os culpados


Sejam eu e meu otimismo cego
Ou talvez seja você e sua necessidade doentia
De dar amor e depois tomá-lo” [7]

Antonella “Babi”

— Serão apenas três dias, pai. — digo, forçando um sorrindo,


não querendo transparecer minha omissão.
— Mas por que ir buscar referências de design no interior? —
indaga curioso e fico sem fala.
Não vai ser fácil enganá-lo. Felizmente a porta da minha
pequena sala se abre.
— Sabia que iria encher a menina, irmão. — ouço a voz de
Chris e fico ainda mais nervosa. — Também vou nessa viagem, a
empresa tem negócios no interior paulista, ou acha que apenas
fazemos propaganda para cidades grandes? — debocha e meu pai o
encara inquisitivo por alguns segundos.
— Ok. — meu pai diz por fim e dá de ombros. — Sei que já é
de maior e toma suas próprias decisões, pequena, mas não consigo
não me importar.
— Entendo, pai. — digo e me levanto da cadeira, indo até ele
e o abraçando. — Eu te amo ainda mais por isso.
— Também te amo, pequena. — diz e beija meus cabelos. —
Só vim falar com você sobre isso, pois estranhei ter dito apenas a
sua mãe.
— Pare de ser ranzinza, Caleb. A idade só o deixa pior. —
Chris interfere, desviando a atenção de meu pai, que vai até ele e
lhe dá um soco no ombro. — Droga!
— Para ter ainda mais certeza sobre minha idade. — meu pai
sorri satisfeito enquanto Chris passa a mão pelo ombro. — Um bom
estágio, filha. Depois me conte ao certo quando vão.
— Pode deixar. — digo e ele assente, saindo de minha sala.
Encaro a porta sendo fechada e logo desvio minha atenção
para Chris. Ele sorri como sempre enigmaticamente e solto o ar que
tanto segurei.
— O que faz aqui? — pergunto, indo até minha cadeira e me
apoiando pelos cotovelos na mesa.
— Um passarinho me contou que Caleb estava aqui e resolvi
saber o por que. Ele quase nunca vem à empresa.
Fico ainda mais nervosa, pois sei que é verdade. Meu pai
nunca se envolveu muito com os assuntos da empresa de meu avô,
sequer gosta de algo relacionado a isso. Por isso, quando ele
apareceu em minha pequena sala hoje, fiquei completamente sem
jeito.
Meu estágio aqui é por apenas algumas horas, já que minha
faculdade é basicamente integral. Mas em praticamente dois anos de
estágio, ele quase nunca apareceu aqui.
— Ele está desconfiado de algo. — digo e Chris assente, vindo
até mim, encostando contra a mesa, encarando-me de forma
relaxada.
— Logo ele vai saber de tudo, Ella. — diz e me força a
levantar, trazendo meu corpo para próximo do dele. — Sabe que
tudo seria mais fácil se tivesse nos assumido antes, não é?
— Eu sei. — digo vencida, tocando seu peito. — Vou falar com
eles, assim que voltarmos.
— Fico feliz em saber disso, baby. — sorri e toca de leve
minha cintura. — Vou deixá-la trabalhar.
Ele beija de leve meus lábios e logo se afasta.
— Esse fim de semana tudo se resolverá, fique tranquila. —
diz e assinto, ainda preocupada. — Tem certeza que quer ir comigo?
— Por que não iria ao nosso casamento? — pergunto em
deboche e ele faz sinal de negação com a cabeça.
— Te busco amanhã cedo em sua casa. — diz e assinto. — Se
cuide, baby.
Ele meneia a cabeça e sai da sala, deixando-me ainda mais
perdida em pensamentos.
Após ter aceitado seu pedido de casamento, Chris começou a
preparar tudo e me surpreendeu com a rapidez de conseguir um
casamento em cartório para nós, só que isso, no interior de São
Paulo, onde ninguém poderá desconfiar.
Sei que ele fez por bem, mas mesmo assim, sinto-me
insegura com isso. Eu o amo, mas ainda tenho medo da reação de
meus pais.
Abro minha primeira gaveta e encaro a aliança ali guardada.
Toco-a de leve e levo até meu dedo anelar esquerdo. Nós dois ainda
não podemos usar as alianças, pois claro que alguém veria, mas sei
que quero a aliança aqui, mostrando que sou dele.
Ouço batidas na porta e retiro-a rapidamente, colocando na
gaveta novamente.
— Entra.
A porta se abre e o rosto de meu irmão surge. Lipe sorri
espontaneamente como sempre. Quem não o conhece ao certo,
classifica-o como arrogante ou até mesmo antipático, porém meu
irmão apenas é tímido, e demonstra pouco suas emoções.
— O que o garoto do direito faz em minha sala? — pergunto
brincando e ele se senta na cadeira a minha frente, ainda sorrindo.
— Mamãe mandou seguir nosso pai. — diz e arregalo os
olhos. — Fiquei escondido no corredor, esperando os gritos dele caso
encontrasse você e Chris.
— O que? Como assim? — pergunto sem entender.
— Nossa mãe sabe sobre vocês, apenas não confirmou em
palavras. — ele dá de ombros, encostando-se na cadeira. — Ela viu
que ele estava desconfiado sobre sua viagem repentina com a
empresa, e me ligou para vir até ele e evitar uma tragédia.
— Por que não me avisou, Lipe? — pergunto incerta. — E se
nosso pai entrasse na sala e me visse com Chris aqui, de modo
mais...
— Por favor, Babi, não me faça brigar com você. — diz
mudando o semblante, parecendo nervoso. — Nosso pai vai
descobrir de alguma forma, e já que não conta, ver vocês dois é
uma delas.
— Felipe, isso não te diz...
— "Não me diz respeito?" — pergunta com deboche e mal o
reconheço, Felipe parece estressado. — E todas as vezes que
encobri você para sair de casa? Acha que não sinto que engano
nossos pais também?
— Ei. — digo, encarando-o incrédula. — O que foi que houve?
— pergunto e ele apenas bufa.
— Olha, desculpa. — diz e passa as mãos pelos cabelos.
Ele se levanta de repente e vem até mim, dando-me um
abraço.
Sinto a tensão em seu corpo e um estalo vem em minha
mente.
— Ela não te reconheceu novamente? — pergunto e ele se
afasta, negando com a cabeça.
— Acho que nunca vai reconhecer. — diz com pesar e assinto.
— Desculpa ter descontado em você isso.
— Está tudo bem, Lipe. — digo e sorrio. — Não está errado
sobre o que disse, só seu tom que me surpreendeu.
— Estamos perdidos nessa merda toda. — diz e gargalho.
Lipe quase nunca diz palavrão ou alguma palavra como
"merda". Quando diz é impossível não gargalhar.
— Com certeza estamos.
Encaro meu irmão e noto que seu olhar parece perdido como
o meu. Mas ao contrário de Lipe, tenho a chance de ficar com a
pessoa que amo agora, pois sei que Chris me ama também. E de
certa forma, sei que devo aproveitá-la. Pois depois que nos
casarmos, por mais que tudo seja difícil, ninguém poderá nos
separar.
Capítulo IX

“Você deveria saber


Você não acha que eu era jovem demais?
Você deveria saber” [8]

Christopher

— Sim. — Antonella responde emocionada, e tento mudar


meu semblante, demonstrar algo, porém algo dentro de mim se
remexe no mesmo instante.
O que está havendo afinal?
A mulher a nossa frente diz algo, mas consigo apenas encarar
Ella. O modo fascinado com o qual me olha, quebra-me, de uma
forma que nunca imaginei. Há algo errado comigo.
— Eu os declaro casados. — a juiz de paz diz e solto uma
lufada de ar.
De canto de olho, vejo meu melhor amigo e cúmplice de tudo
isso – Eduardo – olhando-me como se finalmente tivesse feito algo
certo. Ele então meneia a cabeça e só assim me lembro de que é a
hora do simples beijo.
Viro-me para Antonella e toco levemente seu rosto macio, sua
pele pálida está um pouco avermelhada e uma lágrima desce por
seu rosto. Ela se aproxima de mim e toca minha barba por fazer.
— Eu te amo, baby. — diz e forço um sorriso.
Sem dar a ela tempo para questionamentos, beijo-a de leve
nos lábios, apenas para ouvir um simples grito de meu amigo e
palmas das outras testemunhas que consegui, pessoas aleatórias
que aceitaram dinheiro em troca de reconhecer meu casamento.
Bom, da parte do dinheiro, Antonella não faz ideia.
— Vamos? — pergunto após tudo estar devidamente assinado
e ela assente sorrindo.
Saímos do cartório da pequena cidade e seguimos até o meu
carro. Deixei tudo planejado e bem arquitetado, sem chance de
erros ou interferências. Porém, a desconfiança que Caleb
demonstrou há alguns dias, fez com que ficasse mais atento, pois
mesmo que o casamento agora esteja feito, falta muito para
conseguir o que realmente quero.
— Tão calado, senhor Soares. — Ella brinca e me encara
como sempre, com um encanto no olhar.
Desde quando nos conhecemos, ela me olha assim. Sem
contar o dia tórrido do enterro de Jô, o momento em que a encarei
pela primeira vez de fato – na penumbra da noite na cozinha da
casa de meu irmão – vi a mesma adoração em seus olhos, um brilho
sem igual, algo que mexeu comigo, dando-me a certeza que era
apenas uma menina frágil.
Frágil e extremamente valiosa.
Dirijo em silêncio, com uma das mãos na coxa esquerda de
Ella. Ela canta uma música baixinho, enquanto encara a aliança em
seu dedo anelar esquerdo. Ela realmente parece feliz, enquanto eu,
nunca estive tão perdido.
Assim que estaciono em frente a nosso hotel, dou a volta no
carro e abro a porta para ela. Antonella sorri para mim e beija
levemente meus lábios, algo que ela jamais fez tão
espontaneamente e sem parecer com medo.
— Está pensando muito. — diz, surpreendendo-me.
— Apenas quero curtir nosso dia, baby. — dou-lhe meu
melhor sorriso e ela me encara desconfiada.
Desde quando ela consegue ver através de minhas feições?
Subimos no elevador em silêncio, porém o corpo de Ella está
envolto pelo meu, de forma que me fez respirar no mínimo cem
vezes para que não faça alguma besteira. Estou adiando esse
momento há dois anos, mas hoje, sei que não terei como, porém
planejei até esse detalhe.
Abro a porta para ela, a qual estaca no lugar, olhando-me em
expectativa. Sem entender seu olhar, adentro o quarto e ela logo
também entra. Noto que ela não está tão bem...
— Parece decepcionada. — instigo e ela dá de ombros,
mexendo em algo atrás do vestido, ou ao menos tentando.
— Para ser sincera, nunca imaginei que seria assim. — diz
com pesar.
— Como assim? — pergunto sem entender e retiro meu terno.
Mesmo sendo apenas um casamento no civil, Ella
praticamente me intimou a estar vestido a caráter.
— Flores, corações, romance, pétalas de rosa... Palavras,
amor, paixão... — ela suspira fundo e não me olha, apenas caminha
até o outro lado do quarto, em direção a uma pequena sacada. —
Em vez de tudo isso, um hotel, uma cidade desconhecida, sem
minha família e principalmente...
Antes que ela possa dizer mais alguma coisa, vou até ela e a
puxo para meus braços.
— Você me tem, Ella. — toco seu rosto com leveza. — Isso
não é o bastante? — pergunto, sentindo novamente aquela
sensação de desconforto.
— É. — diz simplesmente e toca meu rosto. — Sempre será.
Sua pele alva brilha com a pequena fresta de luz que passa
pela janela, os seus olhos parecem me desnudar e sinto minha pele
queimar. Sem conseguir resistir, toco seus cabelos presos em um
coque alto e puxo a presilha, fazendo com que os fios pretos e lisos
caiam em cascata sobre suas costas.
— Linda. — digo sem pensar, e só assim noto que fui sincero.
Não as mentiras que disse durante esses dois anos... Mas sim,
a verdade. Antonella é linda e uma mulher que realmente me
enlouquece com sua ternura e olhar arrebatador.
Ela abre a boca para dizer algo, porém, toco seus lábios com
meus dedos, explorando sua boca. Ela solta uma pequena lufada de
ar e já noto suas bochechas coradas, como se estivesse esperando
por isso há muito tempo. E só assim percebo, que também a espero.
Esperei ardentemente o dia de poder tê-la completamente para
mim, mesmo sabendo que jamais iria o fazer.
Como se o time combinado fosse perfeito, meu celular toca
alto, quebrando nosso momento. Ella me encara decepcionada, mas
se afasta, voltando a encarar a sacada.
Vou até meu terno e tiro de dentro dele meu aparelho. Não
preciso sequer olhar para saber quem é que liga, mas mesmo assim,
faz parte de toda essa encenação.
— Alô. — digo e respiro fundo, tentando controlar a vontade
de jogar esse celular fora e trazer a mulher que tanto quero para os
meus braços.
— E aí? Perfeito, não? — Eduardo pergunta e ouço sua risada.
— Hora de arrasar na encenação, meu amigo. Boa sorte!
— O que? — praticamente grito, fazendo com que Ella se vire
para mim.
Hora do show!
— Não quero saber disso, Peter! — grito. — Estou ocupado,
não posso... Olha, eu... — desligo o celular e jogo na cama,
depositando toda minha falsa raiva nesse ato. — Merda! — digo e
levo as mãos aos cabelos, fingindo nervosismo e preocupação.
E pelo olhar de Ella, ela caiu nisso.
— Algum problema, Chris? — pergunta e se aproxima de mim.
— Uma conta que precisa ser analisada e o dono dela, quer
que o presidente o atenda amanhã. — digo e fecho os olhos,
aguardando ansioso pro sua resposta.
— Mas amanhã é domingo e... Como chegará a tempo no
Rio? E por que esse cara não espera até a outra semana? — ela
começa a dizer várias coisas, e eu apenas me afasto, indo até a
cama e me sentando.
— É um cliente antigo, que exige esse tipo de tratamento. Ele
sabe que já sou o presidente, mesmo que ainda não tenha tido a
festa de posse, enfim... — digo e ela me olha com pesar. — Não
quero perder o pouco tempo que temos juntos. — jogo meu melhor
charme e ela apenas suspira fundo, abaixando a cabeça.
Parada, vestida de noiva, com um simples vestido branco,
olhando para os próprios sapatos também dessa cor. Tento evitar o
sentimento que se apodera de mim, porém é impossível, desejo é o
que sinto. Caso Eduardo não tivesse acertado no tempo, sei que
teria feito algo que me arrependeria, teria feito-a minha.
— Ok. — Ella diz de repente. — Nunca quis ter uma lua de
mel escondida em um hotel da cidade que sequer sei o nome. — diz
e noto sinceridade em suas palavras.
Ok, minha veste de homem romântico e sedutor parece estar
falhando. Merda!
— Baby, não queria magoá-la e...
— Esqueça isso. — diz e vem até mim. — Se tivesse tido
coragem antes e contado a nossa família, vejo agora que tudo seria
mais fácil. Se ficar mais um segundo nesse hotel, a culpa que sinto
só vai aumentar. Preciso ir para casa, pensar no que fazer.
Assusto-me com suas palavras, então me levanto, indo até
seu encontro.
— Só quero sua felicidade, baby. — forço um sorriso e ela
desvia o olhar. — Ei. — ela então me encara. — Quero ser o homem
que merece.
— Você já é, Chris. — ela respira fundo e sorri de lado. — Mas
agora, depois do que fiz, nada mais faz sentido.
— Como assim? Se arrependeu de casar comigo? — pergunto
assustado. Temendo que ela use a palavra "divórcio".
— Não, baby. Apenas de não ter meu pai ao meu lado, um
caminho para percorrer com ele até você, nossa família assistindo
tudo... Foi tudo tão vazio sem eles, não acha? — pergunta, e mesmo
sem sentir nada do que ela diz, assinto.
— Vai se sentir completa, baby. — toco seus cabelos. —
Prometo a você, tudo será pleno em breve. — minto, e ela se
aconchega em meu peito.
Um misto de sentimentos se apodera de mim, mas no fim, sei
que minha ambição é maior que tudo. Se tudo correr tão bem
quanto correu até agora, logo terei o que sempre almejei, e
praticamente tudo, devo a Ella. Mesmo sabendo que algo está
mudado, os planos seguem como planejado. Terei tudo.
Capítulo V

“Eu vejo claramente agora, era errado


Você não acha que dezenove anos é muito jovem para ser envolvida
Em seus deturpados jogos sombrios, sendo que eu te amava tanto?
Eu deveria saber” [9]

Antonella “Babi”

Ando pelas ruas, ainda um pouco acanhada. Algumas pessoas


mais velhas passam por mim e me cumprimentam com carinho,
dando um simples e sincero sorriso. Tão diferente do que estou
acostumada no dia a dia, algo como ter uma palavra amiga para
começar mais um dia. E para todo lugar que vou por aqui, encontro
alguém que o faz.
É uma pequena cidade, chamada Águas de Lindoia, e que
com certeza vive do turismo, já que há vários hotéis. Christopher
voltou para o Rio ontem, sábado, após a ligação de alguém da
empresa. E eu, resolvi ficar, já que não quero levantar as suspeitas
de meu pai e muito menos, deixar que ele veja a aliança já colocada
em meu dedo.
Sento-me no banco do que parece ser a praça e pego meu
celular, vejo que há mensagens de meu irmão e de minha melhor
amiga, porém resolvo não responder. Christopher não mandou nada,
mas tenho certeza que está ocupado com o tal cliente, o qual, nesse
momento, não consigo não odiar.
Encosto-me no banco de pedra e encaro alguns casais que
passeiam de mãos dadas por aqui. Eles sorriem um pro outro, como
se guardassem algum segredo, algo apenas deles. E agora, depois
de dois anos, me escondendo e ao mesmo tempo demonstrando
meu amor a Chris, não sei mais se o que fiz foi correto. Já que o
casamento dos sonhos, o qual antes nem sabia que queria, se
tornou apenas uma união civil... A lua de mel ao lado do homem que
amo, se tornou eu em uma pequena cidade e ele no trabalho... Nada
como um dia imaginei, e sei que tenho uma parte de culpa disso.
Sinto meu celular vibrar e noto ser Felipe.
— Muito ocupada? — pergunta antes mesmo que possa dizer
algo e estranho seu tom de voz.
— O que houve, Lipe? — pergunto sem entender.
— Bom, ouvi nosso pai comentando que Chris voltou antes,
mas que quer saber o porquê de você ainda não ter voltado.
— Mas estou trabalhando, Lipe. — minto e ouço sua risada.
— Qual é, Babi? Eu te conheço. Volte para casa o quanto
antes e... Bom, dê um jeito de trazer algum trabalho feito aí.
— Mas Lipe, papai pode desconfiar ainda mais se voltar, pode
achar que não vim fazer nada...
— Olha. — diz de repente, cortando-me. — Ele me perguntou
se você tem namorado. Ele está possesso de ciúmes, Babi.
— Merda! — digo incrédula. — Vou para o hotel arrumar
minhas coisas.
— Me diz, você não... — ele para de falar de repente,
deixando o silêncio entre nós.
— O que foi? — pergunto.
Já me levanto e caminho em direção ao hotel novamente.
— Não fez nada que possa se arrepender, não é? — pergunta
e fico sem entender. — Ouvi uma conversa sua com Christopher,
sobre casamento e...
— Lipe. — chamo sua atenção.
— Juro que foi sem querer. Estava indo no seu quarto e...
— Ok. — digo por fim. — Mas não posso mentir para você.
— Babi. — diz em tom duro, fazendo-me sentir ainda pior que
antes.
— Eu me casei. — digo e desligo o celular.

Um dos motoristas da empresa sorri para mim e coloco minha


mala no porta-malas do carro. Sento-me no banco passageiro e ele
não diz nada, como sei que faria. Os seguranças de minha família
são discretos a respeito de tudo, ainda mais depois de tudo que
houve há alguns anos.
Pego meus fones de ouvido e seleciono uma playlist um pouco
mais animada. Say my name da Beyonce embala meu momento, e
me seguro para não cantar alto. Encosto a cabeça no vidro do carro,
e mando uma simples mensagem para Christopher, o qual sequer
está online e muito menos visualiza.
Sinto um aperto no peito, com o decorrer das horas na
estrada, encaro meu celular e vejo que Christopher visualizou, mas
também não respondeu. Tiro o fone e ligo para ele. Toca, toca,
toca... E a ligação então cai. O aperto em meu peito apenas
aumenta, e sequer posso ligar para alguém e pedir para que veja se
está tudo bem, sem que isso levante alguma suspeita.
Respiro fundo algumas vezes e começo a indagar-me sobre
como Chris conseguiu fazer tudo isso escondido de todos. Como
será que esse motorista não passará um relatório sobre nós para
Isaac, sendo que ele, como todos os outros, são obrigados a fazer
isso? Como ele conseguiu as testemunhas tão rapidamente? Tantas
perguntas que antes nem cogitei, e agora martelam em minha
mente.
Mente e peito apertados. Sinto algo errado, algo estranho. De
forma que senti apenas uma vez na vida. Quando fui acordada no
meio da noite por um homem estranho, no orfanato em que vivia...
Jogo esses pensamentos para longe, já que tudo que trazem é
tristeza.
Encosto novamente a cabeça no vidro do carro e começo a
praticamente contar os minutos para chegar em casa, já que terei de
ir ver minha família antes de ver Chris.
As horas intermináveis passam, e finalmente respiro fundo,
assim que o motorista para em frente a minha casa.
— A senhorita precisa descer aqui, foi o combinado com o
senhor Christopher. — o motorista diz, surpreendendo-me. — Diga a
sua família que veio de táxi.
— Mas... — apenas assinto, já que o homem sai do carro e
tira minha mala. — Ok, então. Obrigada.
Fico em pé, fora do carro com a mala em mãos e logo o carro
desaparece.
Aperto o interfone de casa e em poucos segundos os
seguranças liberam minha entrada. Só assim percebo, que aquele
homem, comigo no carro, não deve ser um deles. Com certeza,
Chris o contratou por fora, já que não queria levantar suspeitas. Isso
só piora.
Assim que entro em casa, encontro meus pais deitados no
sofá, abraçados um ao outro. Sorrio da cena, pois nunca vi pessoas
tão apaixonadas como os dois.
— Olhe só, a filha pródiga. — meu pai diz, e minha mãe o
cutuca com o cotovelo, levantando-se.
— Caleb. — chama sua atenção, e felizmente, meu pai sorri.
O que demonstra que tudo ainda está bem.
Mamãe se aproxima de mim e segura com força minha mão
esquerda, tirando de meu dedo algo que sequer me lembrei que
estava ali. Ela então me abraça com carinho e sussurra em meu
ouvido:
— Pegue comigo depois.
Ela se afasta e sorrio, mas sei que a qualquer momento vou
desabar na frente deles. Como não percebi que a aliança estava em
meu dedo? Meu Deus! E se meu pai visse isso?
Porém, meu pai vem até mim e me abraça, com toda força de
sempre. Praticamente, esmagando-me.
— Pai. — digo, tentando respirar.
Ouço sua risada e ele me solta, tocando meus cabelos.
— Quero seu namorado em nossa casa, o quanto antes. — diz
sério e arregalo os olhos. — Nada de viagens inusitadas, e ainda
mais, usar seu tio para te acobertar.
— Mas pai... — tento argumentar, porém ele balança a
cabeça, um gesto claro de que ainda não parou de falar.
— Estou feliz por você, juro. — diz e sinto-me ainda pior. —
Só não minta mais para mim.
— Ok. — digo sem jeito, e ele beija minha testa, afastando-
se.
— Bi! — ouço o grito de Miguel e me viro.
Ele vem nas costas de Lipe, o qual claramente estava
correndo com ele no jardim.
— Oi, Mi. — digo e ele praticamente pula de cima de nosso
irmão.
Ele vem até mim e pula em meu colo.
— Quero filme! — pede animado e não consigo negar nada a
seus olhinhos azuis brilhantes.
— Ok. — mamãe diz e vem até mim, pegando Miguel de meu
colo. — Depois diz que não é mais bebê.
— Não sou, mãe. — ele responde e faz bico, como sempre.
— Lipe, vamos pegar comida. — meu pai diz e passa por nós,
indo até a cozinha com meu irmão.
Fico então com minha mãe e Miguel na sala, sentados no
enorme tapete.
— Não faça mais isso com ele, Babi. — diz com pesar. — Ele
não merece.
Respiro fundo e seguro uma lágrima que quer descer.
Esqueço-me nesse momento de minha preocupação com Chris e
apenas foco em minha mãe, a qual parece decepcionada.
— Eu sinto muito. — digo e ela força um sorriso.
— Eu também, filha.
Fico ali, parada por alguns instantes, sem saber como agir.
Miguel fala comigo e só assim sorrio um pouco. Mas a decepção
estampada no rosto de minha mãe e o pior, o que em breve poderei
ver no rosto de meu pai, faz meu coração afundar no peito.
Tenho o homem que amo, e mesmo assim, pareço ter perdido
tudo.
Capítulo VI

“Está ficando escuro e está tudo muito quieto


E eu não consigo acreditar em mais nada agora
E está te tomando como se tudo fosse um grande erro” [10]

Antonella “Babi”

Coloco meus brincos em frente ao espelho, e encaro-me por


alguns instantes. Não sei por que, mas as últimas horas fizeram com
que sequer me reconheça, como se tivesse me tornado uma pessoa
diferente. Tentei ao máximo ontem a noite não demonstrar minha
tensão próxima a minha família, já que todos estavam tão animados
assistindo filmes. No caso, a culpa de ter escondido tudo de minha
família, faz com que sofra, e é um sofrimento que pode trazer ainda
mais dor.
Uma segunda-feira com a cara de domingo, já que estou
praticamente livre. Não tenho nenhuma aula na faculdade e não
tenho estágio nas segundas, isso me dará um tempo para conversar
com Christopher e tentar resolver o que me atormenta. Precisamos
contar a verdade para todos, antes que isso me sufoque.
Ouço batidas na porta de meu quarto e logo ela se abre.
— Oi, pequena. — minha mãe diz e força um sorriso.
Ela então fecha a porta e se senta em minha cama. Olhando
ao redor, como se pensasse em algo importante. E conheço esse
olhar em seu rosto, já tivemos várias conversas assim, e com toda
certeza, ela vai falar do passado.
— Quando Caleb me disse que tinha uma filha, nós estávamos
começando a nos acertar. Bom, num primeiro instante quis esganá-
lo. Pensei "Como assim uma filha fora do casamento?". — ela sorri
de lado e continuo apenas a encarando. — Depois que ele me
contou tudo, me surpreendi novamente com o tamanho do coração
desse homem. Caleb não é só um homem lindo por fora, ele é muito
mais que olhos azuis. E nós duas. — ela me encara com pesar. —
Nós duas sabemos muito bem disso.
— Mãe... — tento dizer algo, porém ela levanta a mão, um
gesto claro para que me cale.
— Quando me chamou de “mãe” pela primeira vez. — só
assim noto que uma lágrima desce por seu rosto e também, choro
baixinho. — Assim como Felipe também o fez, foi um sentimento
que jamais pensei ter novamente após Luna. Eu me senti completa,
sabe? De uma forma que tudo que passei ao lado de seu pai fez
ainda mais sentido. — ela então se levanta e vem até mim,
segurando minha mão esquerda. — Há coisas que estão destinadas,
Babi. Assim como eu e Caleb, Danielle e Castiel, seus avós, sua irmã
e Lucas... Tudo tem um propósito. Você e Chris também têm. Não
desperdice isso por medo ou insegurança. Não magoe aqueles que a
amam por conta de mentiras, a sinceridade é a chave para tudo.
Não tive pais que me amassem, mas mesmo assim, hoje tenho uma
família. Temos histórias complicadas, tristes... Mas o amor cura tudo,
a mentira não. — ela abre minha mão e coloca a aliança em minha
palma. — Eu te amo, filha. Mas não gosto do que fez.
— Me desculpa, não queria... — as lágrimas descem com mais
força e ela me abraça, dando-me mesmo sem que mereça, o carinho
do seu colo. — Eu nunca quis decepcionar vocês.
— Vai falar com ele, não é? — pergunta e assinto sem jeito.
Ela se afasta e toca meu rosto. — Não adie mais isso, conte logo pro
seu pai, e assim, quero saber de tudo também.
— Ok. — digo simplesmente e ela sorri, limpando minhas
lágrimas.
— Fique bem, pequena.
Ela então sai do quarto, deixando-me perdida em
pensamentos, sem saber o que fazer.
Escoro-me na penteadeira e encaro meu celular que vibra.
Pego-o e vejo que é apenas uma mensagem da operadora, entro em
minhas conversas e vejo que Christopher ainda não me respondeu,
mesmo após sucessivas mensagens, as quais ele também não viu.
Algo está errado. Algo além de nossas atitudes.

Passo pela portaria sem precisar ser anunciada e o velho


porteiro sorri em minha direção. Tenho certeza de que Chris o paga
alguma quantia, para que não chegue aos ouvidos de ninguém
minhas visitas no prédio.
Após minutos que pareceram intermináveis, o elevador
finalmente para, e sigo a passos lentos até o seu apartamento.
Encaro a porta por alguns segundos e resolvo tocar a campainha.
Passam-se alguns minutos e nem sinal de Christopher. Ligo em seu
celular algumas vezes e como sempre – caixa-postal. Sem conseguir
mais esperar, pego a cópia da chave que ele me deu e abro a porta.
O cenário que me espera é simplesmente assustador. Toda a
vidraçaria da sala parece quebrada e os cacos estão espalhados por
todo o lugar.
— Christopher. — sussurro para o vazio.
Olho para uma trilha de sangue no chão e a sigo,
transtornada. A porta do quarto de Chris está aberta e sinto a bile
vir a minha garganta.
— Chris! — grito alto e me jogo de joelhos ao seu lado.
Seu corpo está caído no chão e a camisa branca que usa está
manchada de sangue. Noto uma faixa enrolada em sua mão e não a
desenrolo, pela cor vermelha da faixa, sei que foi ali que ele se
cortou. Analiso todo seu corpo e procuro por mais algum ferimento.
Felizmente, não há mais nenhum.
O cheiro forte de álcool emana de seu corpo e choro
copiosamente tentando acordá-lo.
— Chris, amor, o que você fez? — choro sem me conter.
— Ella. — sua voz sai baixa e entrecortada. — Me perdoe.
— Shhh. — seguro sua mão machucada. — Não fale nada.
— Apenas saiba que... E... baby. — diz e seus olhos se
fecham.
Sua respiração parece tranquila e noto que ele dorme feito
pedra. Faço todo o esforço possível e o arrasto até o chuveiro. Chris
balbucia algumas palavras em seu sono, porém não se move contra
mim.
Dou-lhe um banho com cuidado e lavo sua ferida na mão. O
corte não foi tão profundo, e felizmente não sai mais sangue.
Enxugo-o com cuidado e coloco uma cueca limpa. Levo-o para sua
cama e faço um curativo decente em sua mão.
— Não me deixe, baby. — sua voz sai baixa e ele aperta os
olhos com força. Com certeza está sonhando.
— Não vou te deixar amor, nunca. — beijo seus lábios com
carinho e deito-me ao seu lado.
Puxo o lençol sobre nós e coloco um travesseiro debaixo de
sua mão ferida. Christopher balbucia mais algumas palavras
emboladas. Fico assim, guardando seu sono, sentindo-me culpada
por encontra-lo nessa situação. Ele parece apenas um garoto
imaturo, mas sei que é o homem da minha vida.
Deito-me em seu peito e como se fosse automático, seu braço
passa por cima de meu corpo. Encaro-o e noto que ainda dorme.
Sorrio por saber que ele sonha comigo. Poderia ser complicado
nosso casamento, porém vamos dar certo. Mesmo com toda
confusão e culpa que me cercam, sei que daremos um jeito, mesmo
que não tenhamos agido corretamente.
Eu o amo.
Ele me ama.
Nesse instante, isso basta.
Capítulo VII

“Vamos lá, vamos lá, não me deixe assim


Pensei que tinha te entendido
Alguma coisa deu terrivelmente errado
Você é tudo que eu queria” [11]

Christopher

Sinto uma forte dor em minha mão direita e tento levantá-la,


porém um peso me impede. Abro os olhos vagarosamente e estaco
ao ver Ella enrolada feito uma gatinha a mim. Como ela chegou
aqui?
Com cuidado para não a acordar, retiro minha mão debaixo de
seu corpo e solto um gemido de dor assim que a sinto livre. Encaro
o curativo bem feito e analiso meu atual estado. Estou com uma
cueca diferente, deitado em minha cama e Antonella dorme
serenamente ao meu lado.
Forço minha cabeça a se lembrar do que houve, mas ela dói
ainda mais. Com cuidado me levanto da cama e vou em direção à
cozinha. Estaco na entrada da sala, ao notar vários vidros
estilhaçados no chão. Lembranças vêm com força em minha mente.
— Disse que isso seria animado. — desafio Eduardo, que
apenas dá de ombros.
— Nossas convidadas especiais ainda não chegaram. — diz e
bebe algo. — Vá beber homem, aproveite que sua “esposinha” não
vai impedi-lo. — fecho a cara e ele gargalha.
— Cale a boca. — lhe dou um empurrão, e vou em direção ao
bar instalado na grande sala da casa.
Enquanto bebo mais uma dose de uísque, olho as pessoas se
esfregando uma nas outras, parece impossível não me sentir
deslocado aqui. Mas quantas vezes já não estive nessa mesma
situação? Desde que completei dezoito anos sair, beber e encontrar
mulheres diferentes tem sido meus passatempos favoritos. Faziam-
me esquecer completamente da pressão da empresa, de minha
família... Não consigo entender o que está errado agora.
Olho meu celular e vejo dezenas de chamadas perdidas de
Antonella. Remexo-me desconfortável no banco e solto um suspiro
frustrado. O que está acontecendo comigo, afinal?
— Um gatinho tão lindo não deveria suspirar assim. — encaro
a loira estonteante que aparece ao meu lado.
— O gatinho aqui pode estar mais para um leão. — zombo,
bebendo mais um gole.
Ela segura de leve meu copo e o pega. Vira de uma vez o
resto da bebida, sem sequer tirar os olhos dos meus. Analiso-a
minuciosamente, e sei que é o tipo perfeito que preciso para aliviar
minha tensão. Para me lembrar de quem realmente sou.
— Podemos pular essa parte maçante e ir para o quarto? —
pergunto e ela mostra um sorriso perfeito.
— Venha! — me dá a mão e nego com a cabeça. Pego-a pela
cintura e ela me indica para onde ir.
— Esse é meu garoto! — ouço o grito de Eduardo.
Assim que chegamos a um quarto a loira me joga na cama e
vem para cima de mim. Suas mãos tem pressa e ela arranca
rapidamente minha camisa.
— Em festas como essa, geralmente não há homens como
você. — diz beijando meu pescoço.
— Como? — pergunto ao segurá-la com força pela cintura.
— Lindos. — diz e seu elogio me faz viajar até Ella.
Ela sempre me diz que sou lindo.
Sinto um aperto no peito e resolvo ignorá-lo, puxo a cabeça
da loira em direção a minha e a beijo com fúria. Assim que seus
lábios tocam os meus, a única imagem que vem em minha mente é
Ella em cima de mim. Minha vontade de amar apenas seu corpo.
Separo-me de repente da loira e ela me olha estupefata.
Olhos azuis, cabelos loiros bagunçados e lábios inchados por conta
do beijo... Nada do que realmente meu corpo parece precisar.
— Ei. — ela grita assim que a jogo para o outro lado da cama.
— Tenho que ir. — coloco minha camisa com pressa.
— Mas...
— Mas nada. — a corto. — Simplesmente não posso. —
explico-me, sem saber o porquê de estar o fazendo.
— É casado? — pergunta. Encaro-a e não noto asco em seu
rosto, apenas compaixão.
O que diabos está acontecendo?
— Sim. — respondo rude ao me lembrar dos cabelos lisos
negros, olhos castanhos escuros e pele alva de Antonella... Minha
esposa.
Não pense nisso Christopher!
— Ela é uma mulher de sorte. — diz e noto sinceridade em
suas palavras.
— Como pode dizer isso? — rosno. — Poderia muito bem
estar com você e...
— Você não o fez, é isso que importa no fim. — dá de
ombros. — Você a ama.
— O que? — pergunto incrédulo.
— Pode negar a si mesmo, mas sabe da verdade.
— Quem você pensa que é para falar sobre meus
sentimentos? — pergunto enfurecido.
— Alguém que já esteve na sua situação antes, e acredite,
não aceitei o que sentia e perdi o homem que amo. — seus olhos
estão marejados. — Aproveite que ainda tem sua chance, depois
pode ser tarde demais. — diz e sai do quarto.
Sento-me ainda mais frustrado na cama e tento não pensar
no que a desconhecida disse. Eu não amo Antonella. Não posso
amá-la.
Saio do quarto com a fala da loira e imagens de Ella me
atormentado. Vou direto para o bar e peço três garrafas de uísque,
mesmo assustado, o barman as vende para mim.
— Ei, onde está indo? — Eduardo me para.
— Não interessa. — rosno e tento passar, porém ele me
interrompe novamente.
— O que Gabriela disse a você que te deixou assim? —
pergunta preocupado.
— Você conhece a loira? — pergunto sem entender e ele
apenas assente. — Cuide de seus problemas, que eu cuido dos
meus, ok?
— Chris...
— Me deixe em paz! — o empurro com força e saio da casa.
Dentro de meu carro, abro a primeira garrafa e começo a
beber direto do bico. O trânsito do Rio está tranquilo, porém a
distância até meu apartamento ainda é grande. Os flashes de meus
momentos ao lado de Antonella continuam me atormentando e não
consigo tirá-la de meu sistema. Bebo mais do que posso dirigindo,
mesmo sabendo que não deveria, mas é como se isso fosse ajudar a
tirá-la de mim.
— Não! — soco o volante do carro.
Paro em um acostamento e ligo para a única pessoa que pode
me ouvir, ou melhor, que sempre me ouve.
— Ei Chris, que bom que ligou. Maurício está louco para sair
novamente com você e...
— Paula. — a corto em um sussurro.
— O que houve? — pergunta rapidamente.
— Apenas me responda. — bebo mais um gole de uísque. —
Como sabe que ama Isaac?
— Chris, o que está havendo? Que voz é essa? Você andou
bebendo outra vez?
— Apenas me responda. — praticamente suplico e lágrimas
correm por minha face.
Não consigo entender o que está havendo. Tem algo errado
comigo.
— Me responda você, Chris. Você conseguiria viver sem Babi?
— Ela não tem nada a ver com isso Paula, eu só...
— Te conheço melhor do que ninguém Christopher, não ouse
achar que não vejo o que existe entre vocês.
— Eu me casei com ela. — confesso.
— Deus, Chris! — exclama assustada.
— Me sinto um idiota. — digo e levo a garrafa à boca
novamente.
— Vou perguntar de novo, você conseguiria viver sem ela? —
insiste.
— Onde você quer chegar com isso? — pergunto nervoso.
— Viveria sem Isaac, mas tenho certeza que de sem ele, parte
de mim morreria um pouco a cada dia. — confessa. — Se você
sentir o mesmo a respeito de Babi, já sabe.
Penso e repenso sobre sua fala. Sinto um bolo se formar em
minha garganta e não consigo raciocinar direito, perguntando a mim
mesmo o porquê de não ter conseguido transar com outra mulher.
A realidade é que desde que comecei esse plano não saí em
momento algum para as minhas festas costumeiras. E nesse
instante, não sei nem mais o porquê. Pode ser por estar apenas
concentrado no plano, mas... Isso não impediria.
— Não posso. — digo para Paula e desligo o celular.
Ligo o carro novamente e vou em direção ao meu
apartamento. Preciso apenas da bebida para me fazer esquecer, para
não sentir nada.
Assim que abro a porta do meu apartamento, o cheiro de
rosas e morango parece impregnado no local. O perfume de
Antonella parece estar em todo lugar, é como se ela realmente
estivesse aqui. Pego a garrafa e viro uma, duas, três... Até que não
vejo mais nenhum líquido nela.
Encaro um dos grandes espelhos da sala e minha imagem
deplorável me faz sentir ainda pior. Meu coração acelera assim que
os olhos castanhos de Ella invadem minha memória. Ella, minha Ella.
— Não! — grito e soco com força o vidro.
Minha mão arde e noto sangue escorrer. Sento-me ao lado do
sofá e abro a outra garrafa. Levo ela a boca e fecho os olhos
sentindo o líquido queimar em minha garganta. A bebida tem que
tirar esse sentimento de mim.
— Chris, querido! — viro-me em direção a sua voz, saindo de
meus pensamentos. Sinto-me ainda mais envergonhado ao notar
seu olhar preocupado. — Está com dor? — pergunta claramente
preocupada.
— Minha cabeça e minha mão. — digo e ela passa
rapidamente por mim, indo em direção à cozinha.
Ela abre o armário e retira de lá a caixa de remédios que
tenho por precaução. Pega uma garrafa d'água na geladeira e vem
até mim.
— Tome. — entrega-me os comprimidos. — Vai melhorar.
— Obrigado. — digo e tomo rapidamente.
Seu olhar não desvia do meu em momento algum e sinto meu
coração querer saltar do peito. Esse é o seu efeito sobre mim, por
mais que negue e não queira.
— Eu não me lembro. — sou sincero. — Depois que soquei
minha mão no espelho, não me lembro de praticamente de nada.
— Tive tanto medo. — diz baixinho e seus olhos ficam
marejados. — Te encontrei caído no chão do quarto, tinha sangue
em vários lugares e...
— Não chore, baby. — puxo-a para um abraço e ela soluça em
meu peito.
— Prometa para mim. — se afasta e toca meu rosto com
carinho. — Prometa que nunca mais vai beber assim, Christopher!
Me ligue, brigue, termine o que temos...
— Nunca mais cogite a ideia de se separar de mim. — digo
bruscamente, sem sequer processar as palavras antes de saírem de
minha boca. — Eu prometo, Ella.
Penso no que mais dizer, porém travo. Ella me encara um
pouco receosa, mas tem um simples sorriso nos lábios, o que indica
que sequer desconfia de onde estive.
— Você pediu para que não o deixasse, ainda bêbado e caído
no chão... Seria bem melhor ouvir isso de você sóbrio. — brinca,
forçando-me a sorrir.
Devia realmente ser um bêbado quieto. Merda!
— Não quero mesmo que me deixe, baby. — digo e os olhos
dela adquirem o mesmo brilho de sempre.
Aperto com força sua cintura e ela beija de leve meu pescoço.
— Sei disso, amor. — sorri lindamente. — Em minha vida,
aprendi que palavras não são nada, o que realmente importa são as
ações. Você sempre demonstrou seu amor por mim, mesmo não
dizendo em voz alta. — suas palavras fazem a culpa me invadir.
Realmente nunca disse que a amo, e sei que não posso sentir isso.
— Me perdoe, baby. — peço sincero, mesmo que ela não
saiba o real motivo disso.
Por mais que tenha minha ambição por trás de tudo,
Antonella é só uma menina, e a uso de forma que não deveria. E no
fim, sei que ela sairá machucada disso.
Em vez de dizer algo, ela simplesmente puxa minha cabeça de
encontro a sua e me beija. Finalmente estou no local correto, onde
quero estar.
Minhas mãos sobem até seu cabelo e o beijo se torna mais
lascivo e desejoso. Não havia planejado esse momento, pois pensei
que nunca chegaríamos a isso. Mas a quero, como nunca quis
alguém antes.
— Baby. — chamo sua atenção.
— Vem. — me oferece sua mão e a pego sem pensar.
Ela me leva até o quarto, e quando estamos em frente a
cama, ela fica de costas para mim.
— O que... — minhas palavras se perdem, assim que ela fica
nua na minha frente. — Não faça isso comigo, Ella. — ignorando
minha fala, ela se vira para mim e retira a única peça que cobre meu
corpo.
Ela toca minhas costas com as mãos trêmulas e quentes, e
solto um grunhido de satisfação. Pele com pele, olho no olho.
Um pedido explícito em seu olhar me faz esquecer
completamente de todas as mentiras, armações e pela primeira vez
na vida, esqueço minhas ambições. Apenas essa mulher me importa,
ela é meu único desejo. Beijo-a com delicadeza e deito seu corpo
sobre a cama. Suas mãos percorrem meu corpo minuciosamente,
como se ela quisesse gravar cada detalhe. E isso, tira meu fôlego.
Pela primeira vez na vida, faço amor com alguém.
Deixando meu corpo, alma e coração nas mãos de uma única pessoa
– Antonella Laira Soares.
Capítulo VIII

“Você e eu andamos em uma linha frágil


Eu sempre soube
Mas eu nunca pensei que viveria para vê-la arrebentar” [12]

Antonella “Babi”
Uma semana depois

— Tem algo estranho aqui. — sinto sua presença atrás de


mim. — Fui abandonado na cama, isso mesmo, senhora Soares? —
ele cheira meu pescoço.
— Baby. — digo e sinto seu sorriso em minha pele. — Estou
cozinhando para nós.
— Hum, então está com fome? — ele começa a beijar de leve
minha orelha.
— Eu...
— Sem fala, minha Ella? — pergunta e me vira para ele. —
Bom dia, baby.
— Bom dia. — sorrio e tenho certeza de que estou vermelha.
O olhar castanho sedutor faz com que volte há uma semana.
Quando estive totalmente entregue a ele pela primeira vez, quando
finalmente fizemos amor... Não tenho palavras para descrever o que
se remexe dentro de mim, uma mistura de felicidade, ansiedade e
vontade. Felicidade por estar assim com ele, ansiedade para poder
vê-lo a cada segundo e vontade de gritar ao mundo que sou dele, e
que ele é meu.
— Ella. — pisco duas vezes e volto à realidade.
— O que?
— A comida, baby.
Ele nem termina de dizer e praticamente pulo me virando. Por
um milagre as panquecas não queimaram e desligo o forno
rapidamente. Ouço ao meu lado sua gargalhada e sinto vontade de
bater nele com a frigideira quente.
Mas como ficaria sem esse cretino?
— Se continuar rindo, não vai comer. — digo brava.
— Amor, você tem que entender que sua falta de atenção é
um caso sério. — o ignoro e termino de colocar o recheio de
chocolate nas panquecas. — Baby. — me chama, e mesmo
contrariada, viro-me para ele.
Christopher está praticamente esparramado no sofá da sala e
seu peito está exposto. Lindo.
Você está brava! – recrimino-me.
— O que, Christopher? — pergunto e coloco as panquecas nos
pratos, em cima da mesa.
Ele não diz nada e vem até mim.
— Estou muito ferrado? — pergunta e me puxa pela cintura.
— Quando me chama pelo nome completo, tenho certeza de que
quer me bater.
Sorrio de seu comentário. Droga!
— Olhe só, um sorriso. — fecho a cara no mesmo instante. —
Amo suas variações de humor.
— Não seja cretino. — digo e tento sair de seus braços. —
Estou com fome, Chris.
— Então voltei a ser "Chris"? — pergunta convencido.
— Continua sendo um cretino. — instigo-o.
— E eu continuo te adorando desse jeitinho. — diz,
surpreendendo-me. — Doce, correta, delicada para o mundo...
Selvagem, corajosa e desafiadora para mim... Só para mim.
Antes que possa dizer algo, seus lábios tocam os meus. Ele
me segura com força, como se dependesse de mim. Isso me faz
sorrir, pois remete ao que sinto, do mesmo modo que dependo
inteiramente dele.

Christopher

Sentado em minha cama, aguardo ansioso para que Ella saia


do banho. Lembrei a pouco que em menos de uma semana, na
verdade em cinco dias, haverá a festa em comemoração a minha
posse da empresa. Claro, faz um tempo já que a presido, mas meu
pai quer tornar isso oficial, incluir como um marco de nossas vidas, e
infelizmente, temos que divulgar a sociedade.
Claro, amo festas de todo o tipo. Mas essas comemorações
com sócios e todo resto, sempre me cansam demais. Pessoas falam
de negócios o tempo todo, e jamais tive tempo de me divertir,
sequer tomar uma bebida forte, porque tenho que estar sóbrio.
Ela então sai do banheiro secando os longos cabelos negros.
Linda.
Os dias têm sido ainda mais confusos, não consegui colocar
em prática ainda o resto de meu plano, e sequer comecei a fazê-lo.
Após ter Antonella, senti-la, e ter me entregado a isso, senti-me o
pior ser humano e ao mesmo tempo, tive o melhor momento de
minha vida. Não sei ainda discernir o que está havendo, mas não
quero dar um passo em falso, portanto, tenho que dar continuidade
de alguma forma no plano, mesmo que esteja um pouco abalado
com tudo.
— Acho que quer falar comigo. — Ella deduz ao me encarar.
— Está pensativo desde o almoço.
— Bom, tenho um convite a te fazer. — digo.
Ela vai até o espelho e começa a pentear os cabelos.
— Diga.
— Sabe que a minha posse da empresa vai acontecer daqui
uns dias, não é? — ela assente e sorri para o espelho.
— Estou orgulhosa de você! — diz.
Se ela soubesse...
— Bom, quero que me acompanhe. — digo e ela se vira para
mim.
— Todo esse mistério por isso? — pergunta sorrindo. —
Sempre te acompanho a essas festas, porque mamãe quer que Lipe
saia com algumas garotas e não tenha como me levar.
— Vic é uma comédia. — sorrio. — Mas quero que vá como...
Respira Christopher!
— Como? — ela fica a minha frente, então a puxo para meu
colo.
— Como minha esposa.
Seus olhos se arregalam e sua face branca fica avermelhada.
Ela abre a boca repetidas vezes e nada sai. Pelo olhar triste que me
dá, tenho certeza de que não aceitará. E isso apenas adiará ainda
mais meus planos...
— Não vai, não é? — pergunto, tentando esconder minha
frustração.
— Chris, não é assim que as coisas funcionam. — diz e sai de
cima de mim. — Tentei por toda essa semana falar com meu pai e...
Eu não sei como agir, não sei como contar a ele tudo.
— Estou aqui, ao seu lado, sempre. — minto descaradamente
e ela me lança um olhar triste. — Vejo o quanto sofre por esconder
isso de nossa família, e acredite, eu também.
— Não sei como dizer a ele que escondi nossa relação... Que
nos casamos escondidos e... — Ella começa a chorar e meu peito se
aperta. Merda!
Levanto-me e vou até ela, abraçando-a com força. Ela se
agarra a mim como se fosse sua tábua de salvação, e sinto-me ainda
pior.
— Minha mãe me encara sempre magoada, como se
esperasse alguma atitude minha... Eu não sei mais lidar com tudo
isso. — diz em desespero e beijo seus cabelos.
— Então está decidido, iremos contar a eles. — digo convicto
e ela se afasta um pouco, encarando-me me expectativa.
— Mas e se...
— Nada de "mas" ou "se", Ella. A verdade sempre é o melhor
caminho, disse isso a você desde quando começamos a nos
relacionar.
Realmente sou um hábil mentiroso, pois Ella assente
algumas vezes e se agarra a mim novamente. Então é isso, iremos
contar a meu irmão a verdade, e a partir daí, terei tempo certo para
conseguir o que realmente quero.
Capítulo IX

“Vamos lá, vamos lá, não me deixe assim


Pensei que tinha te entendido
Não consigo respirar quando você não está aqui
Não dá para voltar atrás agora, eu estou assombrada” [13]

Christopher

Festa de posse da presidência

A noite transcorre normalmente, enquanto algumas pessoas


me cumprimentam, outras param para conversar comigo, pelo que
parece um século. Antonella veio comigo, mas como já havia dito,
não como minha mulher. Raiva se apodera de mim, a cada pessoa
que a chama de "filha de Caleb" ou até mesmo de minha sobrinha.
Ela é minha esposa!
Mesmo a convencendo de que o melhor é contarmos a
verdade para todos, ela conseguiu me fazer adiar isso mais um
pouco, deixando claro que assim que a festa passasse contaríamos
tudo. Porém, não posso mais esperar, e vou fazer uma pequena
surpresa para ela e todos os demais presentes.
— Parece pensativo. — Ella diz baixinho ao meu lado. — Seus
pensamentos estão em qualquer lugar, menos aqui.
— Que perspicácia, minha senhora. — ela sorri. — Apenas
pensando no momento mais feliz da festa.
— Qual? — pergunta curiosa.
Puxo seu corpo para mais perto do meu e sussurro em seu
ouvido:
— No qual vou estar em um quarto, só eu e você.
Antes que ela possa me dar uma resposta, Castiel aparece.
— Irmão, preciso falar com você um segundo. — diz
rapidamente. — Oi, pequena.
— Oi, tio. — Babi o abraça.
— É mesmo importante, Cas? — pergunto contrariado. — Em
alguns minutos vou ser anunciado como presidente no palco.
— Ok. Mas assim que descer do palco venha até mim. — pede
sério.
— É algo grave? — pergunto, já estranhando seu tom.
— Depende da resposta que me dará.
— Cas...
— Boa sorte, moleque. — diz e sai.
Fico parado alguns segundos, divagando sobre o que poderia
ser essa conversa tão importante. Mas se ele deixou para depois,
talvez não seja algo tão urgente assim.
Antonella segura em meu braço e a levo até a mesa de nossa
família.
— Preparado, filho? — mamãe pergunta, assim que me sento
ao seu lado.
— Espero que sim.
— Você vai dar conta, moleque. — Caleb intervém, fazendo
com que engula em seco. De certa forma, sinto-me a pior pessoa,
por ter de enganar meu irmão. — Tem talento para isso.
— Obrigado, irmão. — digo e tento afastar meu
constrangimento.
Caleb parece completamente alheio a tudo, e isso me rasga
por dentro. Saber que estou quebrando a confiança de meu irmão é
algo que nunca imaginei me importar, mas agora, algo dentro de
mim se remexe a cada dia que se passa e o fim desse plano se
aproxima.
— Boa noite a todos. — todos nos viramos para o palco, onde
meu pai está. — Hoje é um dia de grande felicidade para mim e
minha família. Nunca imaginei que acertaria apenas com o meu filho
caçula. — diz e todos sorriem. — Mas como todos devem saber,
Castiel me trocou pela medicina e Caleb pelo direito...
— Continuo sendo o favorito. — Castiel grita e todos
gargalham.
— Cale a boca, idiota. — Caleb retruca, o que me faz rir ainda
mais.
— Como podem ver, os dois sequer teriam maturidade para
gerir a empresa. — papai brinca e meus irmãos bufam ao meu lado.
— Hoje, não tenho palavras para descrever, como é ver o meu
caçula se tornar o presidente dessa empresa. E com vocês, o mais
novo presidente da Soares Mídia, Christopher Soares.
Levanto-me meio trêmulo, e Ella segura minha mão com
força. Seus olhos demonstram o que ambos queremos, queria beijá-
la e marcá-la como minha felicidade agora. Mas quando ela solta
minha mão, sei que ainda não é o momento certo. Pelo menos, mais
alguns minutos.
Mamãe se levanta e me abraça com carinho, e logo me
empurra em direção ao palco. Subo as escadas com cuidado e tento
não tremer mais do que já estou. Estou realizando oficialmente o
sonho de toda minha vida.
— Parabéns, meu filho. — papai me abraça. — Você merece.
— Obrigado, pai.
Assim que ele me dá espaço, vou até onde o microfone está
localizado. Tinha um discurso pronto há muito tempo, mas hoje,
falta-me até ar.
— Boa noite a todos. — digo cauteloso. — Primeiro, gostaria
de agradecer a meus pais. Não por terem confiança em mim e me
nomearem como presidente, mas por desde sempre, estarem ao
meu lado e constituírem a melhor parte de mim.
De longe, vejo minha mãe em lágrimas. Ela parece incrédula,
assim como todos de minha família sentados na mesa. Mas pelo
menos hoje, direi a eles o que sinto e o quão grato sou.
— Gostaria de agradecer aos meus irmãos, cunhadas,
sobrinhos... Por me ensinarem que a felicidade está nas pequenas
coisas. Por Castiel ter me ensinado a ter paciência, Dani me
ensinado o quão café é ruim. — Castiel gargalha alto. — Victória por
me mostrar que nem sempre sabemos sobre tudo e Caleb por me
ensinar alguns golpes de boxe.
— Ei. — Caleb grita indignado.
— Sem brincadeiras, agradeço a Caleb por ter me ensinado
que o amor não é um laço sanguíneo, e sim sermos família. — digo
e respiro fundo. Não posso fraquejar agora.
Olho para o lado e vejo meu melhor amigo, o qual faz um
sinal de negação com a cabeça. Não sei o que pensar, muito menos
o que fazer, portanto, resolvo continuar a falar.
— A Paula, pelos melhores conselhos e por ser minha melhor
amiga. A Joaquim e Isaac, por serem parte de todo meu
crescimento... Por todas as vezes que me derrubaram de cara no
tatame.
— Te derrubarei mais vezes. — Joaquim grita e todos sorriem.
— Tenho certeza disso. — sorrio.
Penso em como continuar minha fala, mas meus olhos se
encontram com os de Ella, que presta atenção a cada palavra minha.
Poderia recuar e deixar isso para depois, mas sei que não há
momento mais apropriado do que este. Preciso dar um jeito de
convencer a todos que a amo, mesmo que não passe de uma
mentira. E esse, com toda certeza, é o meu momento.
Deixo todas minhas incertezas de lado e apenas respiro fundo.
É a minha vez de conseguir o que quero.
— Há uma pessoa em especial que gostaria de agradecer. —
digo, encarando-a com um sorriso, e seus olhos se arregalam. —
Sempre ri de meus irmãos por parecerem dois bobos apaixonados,
até mesmo ri de Isaac e meu pai. Mas hoje, sei bem como é se
sentir assim. E essa pessoa, mudou tudo dentro de mim, por mais
impossível que isso possa parecer. Obrigado, baby. — complemento
e noto que todos voltam seu olhar para a direção que olho.
Eles agora sabem. Todos sabem.
— Há cerca de três anos atrás, conheci uma garota. No
começo, tenho que admitir, não fui a pessoa mais simpática com ela.
Mas hoje, quero apenas que ela saiba que é tudo para mim, e bom,
que minha família, aceite o sentimento que temos um para com o
outro. Não temos laços sanguíneos, como todos sabem, e por coisas
que não sei ainda dizer, nos apaixonamos. — Ella parece estática e
lágrimas correm de seus olhos. Caleb encara-me sem esboçar
qualquer reação, porém a maioria das pessoas nos olha assustadas.
— Não sei se é o melhor momento, mas quero que seja minha
mulher. — digo, saindo do palco e seguindo até onde Ella está
sentada.
Castiel está em alerta ao lado de Caleb, o qual continua
impassível.
— Irmão. — chamo-o, e ele me encara.
— Vai pedir a mão dela? — Caleb pergunta, encarando-me
sério. — Espero que tenha certeza do que está fazendo, os dois...
Depois conversaremos, mas agora, seja homem, Christopher.
Viro meu olhar para Ella, a qual sequer sabe o que fazer,
parece pasma ao lado de Felipe.
— Baby. — digo e ela faz um sinal de negação com a cabeça.
Assim, tomo coragem e me ajoelho, tirando a mesma caixinha
de veludo com a sua aliança, já que ela acabou deixando-a comigo.
— Aceita ser minha esposa? — pergunto e sinto pela primeira
vez insegurança ao fazer algo para ela.
— Chris... — diz e toca de leve meu rosto. Ela então se vira
para o lado, e sei que está olhando para meu irmão. — Pai...
— O que te fizer feliz, filha. — meu irmão diz, mas algo
parece estranho em sua voz.
— Eu te amo, pai. — ela diz e finalmente se vira para mim. —
E eu te amo, Chris. — diz, deixando-me colocar a aliança em seu
dedo anelar esquerdo.
Puxo-a para mim e nos abraçamos. Não tenho coragem de
beijá-la aqui, na frente de nossa família, sei que já há informação
demais por hoje. Uma salva de palmas é nosso som de fundo,
enquanto Ella se desmancha em meu colo.
— Eu disse que as coisas dariam certo, baby. — sussurro em
sua orelha.
— Obrigada, baby. — diz, surpreendendo-me.
Não sei pelo que ela está agradecendo, mas só sei que ao
abrir os olhos e ver meu melhor amigo, vendo a cena de longe, com
um semblante surpreso, que todo o plano ainda corre bem. E de
algum jeito, vamos concluí-lo.
Capítulo X

“Parece que sempre tem alguém que desaprova


Eles vão julgar como se soubessem algo sobre você e eu
E o veredito vem daqueles que não tem nada melhor pra fazer
O júri está dispensado, mas a minha escolha é você” [14]

Antonella “Babi”

Saio dos braços de Chris e vou até meu pai, o qual se levanta
da cadeira e me recebe nos seus. Ele me abraça com força, fazendo-
me chorar junto a ele.
— Está feliz? — pergunta em um sussurro.
Afasto-me um pouco dele, e tento decifrar seus olhos azuis.
Meu pai sempre foi completamente transparente, e não é difícil dizer
que ele parece confuso com a situação, mas por incrível que pareça,
ele não parece surpreso.
— Estou, pai. Eu o amo. — sou sincera, e meu pai sorri.
— Só quero o melhor para você. — diz, tocando de leve meu
rosto.
Logo minha mãe se aproxima e me abraça, sem dizer uma
palavra. Sei que ela não deve ter gostado de não ter contado
primeiramente a meu pai, mas não foi planejado assim por mim.
Acho que Chris pensou melhor e resolveu fazer isso, para que eles
não saibam do casamento escondido.
— Parabéns, pequena.
Toda nossa família me abraça, desejando felicidade. Muitos
aqui, sequer mostram surpresa, acho que no fundo, todos
conseguiam ver o que já acontecia entre eu e Chris.
— Bom, o novo presidente tem que ter sua primeira dança. —
uma voz diz auto no microfone, fazendo-me virar e ver o melhor
amigo de Chris.
Christopher se afasta do aperto de sua mãe e vem até mim.
— Me concede essa dança, baby? — pergunta completamente
galanteador, e sorrio.
Estendo-lhe a mão, a qual ele beija com carinho. Ele me leva
até o centro do salão, e logo uma música clássica começa a tocar.
Christopher rodopia comigo, fazendo-me sentir leve em seus braços.
Pela primeira vez, nossa relação parece real.
Sinto os flashes em cima de mim, murmurinhos e ademais...
Porém, a felicidade de minha família saber sobre nós, e melhor, meu
pai aceitar isso, faz com que nada mais importe.
Estou nos braços do homem que amo e finalmente estamos
fazendo o correto. Tenho certeza agora, de que seremos felizes.

Christopher

Passo água por meu rosto, tentando permanecer sóbrio. Há


tanta bebida nessa festa, porém não posso beber nenhuma, já que
prometi a Ella. Não que seja uma necessidade, mas a pressão e
ansiedade sobre mim faz-me querer buscar uma válvula de escape.
No caso, a bebida.
Ouço um barulho na porta, e encaro a pessoa que entra.
Meus irmãos vêm até mim, os quais não parecem tão incomodados
com a cena que Ella e eu protagonizamos há pouco.
— Irmão, olha, eu... — tento dizer algo, porém Caleb levanta
a mão, um gesto claro para que me cale.
— Sempre desconfiei, Chris. — diz, surpreendendo-me. —
Não sou burro e muito menos cego, sempre vi os olhares trocados
por vocês e a forma radical com que seu tratamento com Babi
mudou de repente... Eu só quero que parem de esconder de mim o
que fazem... Não quero mentiras entre nós. — diz sério.
Assinto para ele, sentindo-me o pior ser humano de todos.
— Faça- a feliz, irmão. — Caleb pede ainda sério, mas
parecendo emocionado. — Não existe pessoa no mundo a qual
confiaria minha filha com tanta segurança, que não seja você.
Espero que sejam felizes, de verdade.
Sem conseguir acreditar nas palavras de meu irmão, abraço-o.
Caleb bate algumas vezes em minhas costas, como quem diz – "faça
o certo, moleque." Ele nunca cansou de repetir essa frase.
— Que cena linda, preciso de lenços. — Castiel debocha, e
como sempre, seu sorriso cínico está estampado em seu rosto.
— Babaca. — digo, afastando-me de Caleb e dando um soco
no ombro de Castiel.
Porém, meu irmão é mais rápido e consegue atar meus
movimentos.
— Moleque, você nunca vai aprender. — Castiel zomba,
soltando-me.
— Acho que cheguei na hora boa. — Isaac aparece, já com os
punhos de prontidão. — Se quiser, posso dar uma lição nele. — diz,
encarando Caleb.
Não!
— Deixe o moleque em paz, Isaac. — Castiel diz, rindo da
carranca de Isaac. — Está na hora de crescer, amigo. E Chris,
parabéns, irmão. Era sobre isso que iria falar com você.
— Sério? — pergunto completamente surpreso.
— Estava planejando seu caixão para quando Caleb soubesse
de algo... Mas você foi mais esperto. — diz, claramente zombando
de Caleb.
Caleb revira os olhos e finge que vai passar por Castiel, mas
na realidade, acerta em cheio o estômago de Cas, o qual quase cai
no chão.
Eles nunca vão crescer.
— Vou te matar! — Castiel diz, segurando com os braços a
barriga.
— A dor é momentânea, cínico. Sabe muito bem disso. —
Caleb diz, sorrindo da cena de nosso irmão.
Eu que não quero levar um soco desses.
— Acho que fui usado como aviso prévio, caso Chris apronte
algo com Babi... — Castiel sorri cinicamente para mim, mesmo com
a face de dor. — Você está ferrado, irmão!
Isaac gargalha junto a Castiel, o qual parece sequer ligar para
dor. Caleb apenas assiste a cena, com um sorrisinho de lado.
— Vocês têm problemas. — digo, revirando os olhos.
A porta novamente faz barulho e nosso pai entra.
— Reunião particular? — pergunta, mas quando olha para
Castiel, seu olhar se torna de espanto. — Que merda aconteceu
aqui?
Ele se vira para Isaac, o qual dá de ombros. Então olha
diretamente para Caleb, o qual usa a melhor pose de bom moço...
— Caleb Soares! — diz alto, fazendo-nos gargalhar.
Até parece que ainda somos crianças.
Ouço a porta se abrir novamente e Felipe entra com Miguel
em seu colo, e Joaquim em seu encalço.
— Olhe só, estamos praticamente completos. Falta alguém
chamar Pedro e Lucas, para completarmos o time. — Castiel zomba
como sempre, pois não pode deixar nada passar.
— O que todo mundo está fazendo no banheiro? — pergunto,
sem entender.
— Acho que isso sim é uma amostra do que irá atropelar você
caso magoe Babi. — Castiel zomba novamente. — Você está mais do
que ferrado, está fod...
— Castiel Soares! — meu pai praticamente grita, assustando-
nos. — Tem uma criança aqui, controle sua boca.
Miguel olha para todos, porém seus olhos azuis parecem
furiosos para comigo.
— Cuide da Bi. — Miguel diz, ainda no colo de Felipe.
Felipe então me encara, ainda mais sério que Caleb.
— Repito o que Miguel disse, cuide dela, senão... — Felipe
coloca Miguel no chão, o qual corre até Caleb.
— Senão o que garoto? — pergunto, sem entender seu tom
sério.
— Vou mostrar que também sou um Soares. — diz convicto, e
abre os braços, para me abraçar.
Um pouco desconfiado, abro os braços e ele vem até mim.
Porém, em poucos segundos, caio de costas no chão.
Não deveria ter confiado em um Soares, ainda por cima, um
filho de Caleb.
Merda!
Ouço a gargalhada de todos e Felipe estica mão para que
levante, mas assim que o faço, ele me derruba novamente.
Merda dupla!
— Está avisado, tio!
— Esse é o meu garoto. — Caleb diz orgulhoso, enquanto
tento me levantar.
De repente, vejo nosso primo, Pedro, o qual é praticamente
um irmão para mim, já que crescemos juntos. Ele me estica a mão,
ajudando-me a levantar, porém não para de sorrir.
— Cara... — ele gargalha ainda mais.
— O que houve aqui? — viramo-nos para a voz, encontrando
Lucas, o marido de Luna, parado ao lado da porta.
— Só mais uma amostra de como os Soares são. — Castiel
diz, deixando Lucas ainda mais confuso.
Apenas curto o momento, ouvindo ainda mais besteiras de
meu primo e todos os outros. Realmente, não posso deixar que eles
descubram sobre minhas verdadeiras intenções, eles jamais me
perdoariam. Esses olhares de orgulho se tornariam de desprezo, e
isso, não posso aceitar.
Capítulo XI

“Você e eu andamos em uma linha frágil


Eu sempre soube
Mas eu nunca pensei que viveria para vê-la arrebentar
Nunca pensei que veria” [15]

Antonella “Babi”

O silêncio paira sobre nós no carro. Christopher dirige, já que


dispensou o motorista, e uma música toca baixinho. Fico perdida em
pensamentos, pensando se meu pai irá falar comigo a respeito do
pedido de casamento ou se sua falta de surpresa ao ouvi-lo, é algo
bom ou ruim.
— Está tão silenciosa. — Christopher diz e toca de leve em
minha coxa esquerda.
— Obrigada de toda forma pelo que fez, foi muita coragem. —
digo, lembrando-me de seu pedido inusitado.
Christopher me olha de canto de olho, como se não
entendesse.
— Fiquei me perguntando o porquê de ter me agradecido,
após colocar a aliança em seu dedo.
— É que tudo seria ainda mais difícil caso meu pai soubesse
do casamento escondido... Agora, ele pensa que ainda vamos nos
casar e nos deu a benção dele... Tornou tudo mais simples. — digo e
sorrio para ele, o qual parece espantado. — Não foi por isso que fez
o pedido? — pergunto incerta.
— Para ser sincero, não. — ele sorri fraco. — Apenas quis
fazer uma surpresa, baby. Mas fico feliz em te ver mais tranquila.
Analiso-o e posso jurar que nunca imaginei estar aqui hoje.
Nunca pensei ter tamanha coragem de me jogar nesse amor
"proibido".
— Quer ouvir algo melhor que isso? — pergunta e o encaro
sem entender. — Prefiro sua voz, Ella. — diz, fazendo-me sorrir.
Se há algo que praticamente todos em minha família
compartilham, é o amor pela música.
— Qual música? — pergunto.
— Bom, a que quiser. A que achar que... — ele pega minha
mão esquerda e dá um leve beijo. — Combina com o momento.
— Certo.
Penso em todas as músicas que marcaram nossos momentos.
Foram três anos desde que o vi pela primeira vez, mas há
praticamente dois anos que temos um relacionamento. E é nisso que
me baseio para cantar.

“Sempre precisei de um pouco de atenção


Acho que não sei quem sou
Só sei do que não gosto
E destes dias tão estranhos
Fica a poeira se escondendo pelos cantos
Esse é o nosso mundo
O que é demais nunca é o bastante
E a primeira vez é sempre a última chance
Ninguém vê onde chegamos:
Os assassinos estão livres, nós não estamos”

— O que? Como...
Sorrio para a cara de espanto de Christopher, ele continua
dirigindo, mas ao mesmo tempo, mantém os olhos arregalados.
Olhando-me de canto de olho.
— Sempre ouvi seu sussurro em meu ouvido, antes de
dormir... Ou até mesmo as noites que acordei com sede e o
encontrava sentado no sofá, tocando o violão e cantando baixinho.
— digo, e ele permanece em silêncio. — O que foi? — pergunto, sem
entender sua reação.
— Nada, só... — ele suspira fundo. — Não esperava por isso.
— Bom, é uma banda maravilhosa. — sorrio e ele finalmente
faz o mesmo. — Por que nunca cantou apenas para mim? —
pergunto, e ele apenas balança a cabeça.
Permaneço então em silêncio, sem conseguir entender seu
jeito estranho. Por mais que o ame, ele ainda se esconde um pouco
de mim. Sinto que há uma parte dele que não quer se mostrar, mas
aos poucos, sei que vou conseguir fazê-lo ser meu por completo.
Porém me surpreendo por completo, ele começa a cantar:

“Vamos sair, mas não temos mais dinheiro


Os meus amigos todos estão procurando emprego
Voltamos a viver como há dez anos atrás
E a cada hora que passa
Envelhecemos dez semanas”
Assusto-me, e o encaro sem acreditar. Ele finge não perceber
minha inspeção e canta ainda mais alto. Encanto-me, sentindo meu
coração acelerar rapidamente. Só quero permanecer aqui e ouvir sua
voz, a qual parece ser capaz de tranquilizar todos os medos de
minha alma.

“Vamos lá, tudo bem - eu só quero me divertir


Esquecer dessa noite, ter um lugar legal para ir
Já entregamos o alvo e a artilharia
Comparamos nossas vidas
E esperamos que um dia
Nossas vidas possam se encontrar

Quando me vi tendo de viver


Comigo apenas e com o mundo
Você me veio como um sonho bom
E me assustei
Não sou perfeito
Eu não esqueço
A riqueza que nós temos
Ninguém consegue perceber
E de pensar nisso tudo, eu, homem feito
[16]
Tive medo e não consegui dormir”

Ele de repente se cala, respirando fundo, e me lança um


simples olhar, o qual me faz sentir ainda mais feliz. E nunca imaginei
estar aqui, assim, ao lado dele.
Encaro minha mão esquerda e a aliança brilha em meu dedo
anelar. Passo de leve a mão direita sobre ela, analisando-a por
completo. Nunca imaginei, não tão cedo, que teria alguma joia aqui.
Sinto então a mão quente do homem que amo, envolver a
minha.
Ele logo estaciona e descemos. Encaro o grande portão da
casa de meus pais e olho Christopher sem entender. Ele parece
nervoso e indeciso, de um modo que nunca o vi antes.
— O que foi? — pergunto e ele me puxa para um abraço, o
qual parece eterno em alguns instantes.
Christopher se afasta e toca meu rosto. Vejo dor passar por
seus olhos e ele franze o cenho.
— O que houve? Por que não vai entrar? — pergunto já
perdida, ele então toca meus lábios com os dedos, e os sinto
trêmulos. — Chris!
— Preciso ir, mas... Me perdoe, Ella. — diz de repente,
praticamente correndo até seu carro.
Corro até ele e bato no vidro, porém ele arranca, deixando-me
na calçada, sem saber o que fazer.
O que aconteceu com ele?
Capítulo XII

“E se eu era um pouco de tinta, ela respingou


Sobre um homem maduro e promissor?
E se eu era uma criança, importava
Se você teve que lavar as suas mãos?” [17]

Christopher

Paro o carro bruscamente e bato a cabeça com força contra o


volante. Uma vontade assustadora de quebrar tudo ao meu redor se
apossa de mim, porém tento me controlar. Não posso explodir, sem
sequer saber qual a razão disso.
Passo as mãos pelos cabelos e saio do carro, encarando a rua
vazia, onde há apenas a luz de um poste. Não sei onde estou e
também não faço questão. Apenas quero ficar sozinho e entender
essa merda.
Ando em círculos e chuto as pedras soltas do chão. A voz, o
cheiro, o sabor, o toque de Antonella me perseguem. Consigo ouvir
novamente sua voz suave cantando uma de minhas músicas
favoritas e... Droga, nunca cantei para uma mulher na vida, e fiz
para ela hoje.
Lembro-me de quando era novo, mais ou menos tinha uns
sete anos, quando perguntei ao meu pai o porquê de ele não cantar
para minha mãe, já que sempre pedia para que cantasse para ela.
Suas palavras me marcam até hoje.
— Você ama sua mãe, Chris? — meu pai pergunta e
praticamente grito "SIM". — Então, cantamos para quem amamos.
— Mas você não ama a mamãe, pai? — pergunto, e meu pai
apenas sorri, sem dizer nada.
— Um dia vai entender que há algo pior que o amor, quando
ele não é o suficiente... Mágoa por exemplo, ela sim é eterna.
— Ah! — grito, socando o ar, com as lembranças a mil.
Naquela época suas palavras não me fizeram sentido algum,
meus carrinhos eram mais interessantes. Mas hoje... Hoje entendo
perfeitamente e pior, pareço entender a dor.
Encosto-me no carro e faço algo que há muito tempo não
fazia, choro. Choro por raiva de mim mesmo, por não entender o
porquê de estar assim e por ser fraco a respeito de Antonella.
Por que ela me surpreende?
Por que me importo?
Desde quando passei a me importar com isso?
— Merda! — digo nervoso e ouço o toque de meu celular. —
Alô! — digo ao atender.
— Ei, calma aí. O que foi, mano? — suspiro fundo, tentando
me controlar.
— Estou pirando, Edu. — sou sincero, pois sei que ao menos
com ele, posso ser.
— É sua esposa, não é? — pergunta, e apenas confirmo. —
Eu vi quando falou dela naquele palco, Christopher, não foi apenas
atuação.
— Do que está falando? — pergunto ainda mais perdido.
— Olha, esse plano é antigo, mas você poderia ter executado
ele há tempos. Ter feito Antonella se casar antes, pressionando-a a
aceitar tudo antes... Por que demorou tanto, mano? Tem algo errado
com você, sabe disso.
— Não, claro que não. Ela teria desconfiado e...
— Ela sempre esteve em suas mãos, basta olhar para ela. —
diz, fazendo-me lembrar do olhar doce de Ella para comigo. — O
problema é que demorou para perceber que estavam no mesmo
patamar.
— Traduz, porra! — digo nervoso, passando as mãos pelos
cabelos desesperado.
— Você bebeu, foi a festa e não transou com ninguém. Aliás,
desde que começou com esse plano não levou mais ninguém para
sua cama... Praticamente três anos desse plano Chris... Acha mesmo
que não significa nada ter ficado tanto tempo longe das várias
mulheres que o seguem? — pergunta, assustando-me.
Fico parado, pensando no que passou. No começo, ainda saí
com algumas mulheres, mas depois que a beijei...
— Só estava focado, e não podia estragar tudo. — digo já
nervoso.
— Estar focado não o impedia de transar com suas secretárias
antes, Chris. O que mudou então? Acorda!
— Edu, você está louco, cara... Eu não...
— Você a ama! — diz de repente, fazendo-me paralisar.
Não.
Não.
Não pode ser...
“Eu te amo, baby!”
Sua voz doce vem a minha mente, fazendo com que meu
coração acelere ainda mais, se é que é possível.
Eu não posso amá-la, não...
— Você jurou nunca casar. Por mais que precisasse disso para
conseguir o que quer, você não pensou duas vezes antes de o fazer.
Antes, com Paula, quando fingiam um relacionamento, você sequer
mencionou isso Chris. A diferença não está em você, é em
Antonella... Você a ama.
— Não! — grito e jogo o celular longe, vendo-o despedaçar na
parede.
Choro em desespero, sem conseguir entender mais nada.
Preciso beber.
Preciso respirar.
Preciso de... De Ella.
Pego os restos de meu celular e entro no carro. Jogo os
pedaços no banco carona e já parto dali.
Rodo pela cidade por vários minutos, até chegar à casa de
Paula. Só ela pode me ajudar.
Assim que chego, desço do carro e toco o interfone. Em
poucos minutos os seguranças liberam minha entrada, o que me faz
lembrar do erro que também cometi com minha amiga... Preciso
contar a verdade a ela.
Assim que entro na casa, logo sinto um pequeno corpinho
grudando minhas pernas.
— Saudades do tio. — brinco, abaixando e pegando Maurício
no colo.
— Precisamos jogar, tio. — diz animado, e praticamente pula
de meu colo, correndo para a sala. — Mãe! Tio Chris está aqui!
Sorrio, limpando rapidamente meu rosto, ao me lembrar de
meu estado de antes.
— Menino, se comporte! Estou indo! — ouço o grito de Paula
e logo a vejo descendo as escadas.
Ela abre um amplo sorriso quando me vê e praticamente se
joga em meus braços.
Não consigo dizer a verdade para ela... Sei que não. Mas ela
merece saber e não posso mais ser um crápula.
— Você sumiu, seu ingrato. — diz e sorri ao se afastar.
— Muito trabalho e...
— Vai se casar! — grita animada, e forço um sorriso. — Minha
cerimônia foi simples, quase ninguém foi, mas foi linda, a de vocês
dois tem quer ser também...
Ela começa a tagarelar e me calo. Noto a felicidade em seu
rosto, algo que há muito não via. Por mais que Isaac não preste, ele
a faz feliz. Como tenho direito de tirar isso dela?
Não posso, não por enquanto. Não sem saber como isso a
afetará. Mas cedo ou tarde, terei que o fazer. E espero que cedo.
— Ei. — chamo sua atenção e ela cora, com certeza percebeu
que falou demais.
— Desculpe, mas me diz... Por que esses olhos vermelhos? —
pergunta e respiro fundo.
— Estou confusa, pequena. — digo e ela me puxa pelo braço
até o sofá, fazendo-me sentar ao seu lado.
— Acha que não está preparado para casar, é isso? —
pergunta, parecendo nervosa.
— Não, só... Não sei definir o que sinto por Ella. — digo e
Paula apenas sorri, como se fosse um idiota. — Que foi?
— Chris, você a ama... Por que tem dúvidas disso? —
pergunta.
— Por que eu... Eu nunca disse isso a ela. — também, nunca
quis enganá-la, não dessa forma. — E não sei definir...
— Amor não se define, Chris. Amor apenas se sente. Nos
deixa louco, confusos, e principalmente, abalados. — sorri
docemente. — Amor é fazer loucuras, por mais simples que sejam.
— Mas e se... E se a loucura magoar essa pessoa amada? —
pergunto, lembrando-me do que realmente motivou minha
aproximação de Antonella. — Sei que mágoa não acaba e...
— Ei, não fique assim. Mágoa se supera sim, aos poucos, com
o tempo. — diz, dando a mim, uma esperança que não sei dizer de
onde veio. — Se magoou Babi, de alguma forma, ou se escondeu
algo dela, a melhor coisa a fazer é contar... Poderão superar isso,
juntos.
— Mas e se eu não a amar e estiver me confundindo com
toda pressão e...
— Se não a amasse, Chris. Tenha certeza de que não
estaríamos tendo essa conversa. — diz e tudo fica claro para mim.
Deus, eu amo Ella!
Amo Antonella Soares. Minha esposa, minha linda... Meu
amor.
— Preciso dizer isso a ela, preciso... — digo desesperado e me
levanto.
— Ei, se acalme. — diz, sorrindo para mim. — Pelo que Isaac
me contou foi uma noite e tanto, fale com ela amanhã. Vai dar tudo
certo.
— Obrigada, pequena. — a abraço e ela dá tapinhas em
minhas costas.
— Estou orgulhosa de você, queria ter ido para ver sua
declaração. — diz e noto tensão em sua voz.
Preciso dizer a verdade a ela, mas antes, tenho que dar
oportunidade de Isaac contar.
— Eu sinto muito, pequena. — digo e ela dá de ombros,
sorrindo novamente. — Tenho que ir.
— Vá e não se esqueça, faça por merecer com Babi.
Sim, pequena, eu farei.
Só espero que Ella, me dê uma chance para... Uma última
chance. Por mesmo que nem eu mesmo entenda, eu a amo. E tenho
que dizer isso a ela.
Capítulo XIII

“E se você nunca tivesse me salvado do tédio


Eu poderia ter continuado do jeito que eu era
Mas, Senhor, você fez eu me sentir importante
E depois você tentou nos apagar” [18]

Christopher
Alguns dias depois

Seguro forte em minha mesa, encarando os papéis que tanto


escondi. Três anos escondendo isso, tentando de todas as formas
que nunca fossem expostos ou que alguém além de mim e Eduardo
soubesse.
— Chris, você está fazendo o certo, cara. — Eduardo diz e
força um sorriso.
Estou nervoso, apenas esperando Ella vir até minha sala.
Eduardo me ajudou a pegar todos os papéis e repassou comigo
todos os passos, para que não esqueça de contar nada. Paula disse
que o melhor é contar a verdade, e pela ansiedade que corre em
meu corpo, tenho certeza que apenas isso me trará um pouco de
alívio.
Encaro a sala ao meu redor – a sala da presidência da Mídia
Soares. Por anos, sonhei com isso, e agora, tudo parece sem
sentido. Tentei entender a mim mesmo durante todos os dias que se
passam, tentei respirar e não pirar com tudo, mas os pesadelos que
venho tendo, sequer me deixaram dormir.
Por isso decidi chamar Ella até aqui hoje, após quase uma
semana fugindo e tentando me entender. Nossa família estranhou
meu jeito, com toda certeza, mas Ella também estava ocupada com
a faculdade, e acho que não percebeu minha distância.
Escolhi a empresa para contar a ela, porque acho que é um
local neutro. Acho que talvez seja mais fácil dela entender. Na
realidade, o único lugar que pensei foi aqui, pois não me sinto mais
digno de leva-la para meu apartamento. Nem me aguento, diante de
todas as mentiras que parecem impregnadas lá. Preciso contar a ela
que estou disposto a tudo, tudo mesmo para que me perdoe... Para
que me ensine a lidar com o que sinto por ela.
Batidas na porta me assustam, fazendo-me encarar Eduardo
que balança a cabeça e sorri, como se me incentivasse.
— Boa sorte, amigo. — diz e bate em meus ombros.
Ele logo se afasta e abre a porta, a qual revela minha esposa,
a mulher que amo e nunca sequer percebi.
Ela cumprimenta meu amigo e logo entra, fechando a porta
atrás de si. Quando volta seu olhar para mim, lança-me um doce
sorriso, o qual faz meu coração acelerar, ainda mais do que antes.
— O que houve? — pergunta como se conseguisse ler meus
pensamentos. — Chris, está tudo bem? — pergunta, vindo até mim
e tocando meu rosto.
Pego suas mãos nas minhas e beijo-as com carinho.
— Preciso contar a verdade a você, de quem sou e o que fiz.
— digo rapidamente, tentando não ser um covarde.
Seja homem, Christopher! – repreendo-me.
— Baby, o que está acontecendo? — pergunta, com o cenho
franzido e um ponto de interrogação claro no rosto.
— Você me ama, Ella? — pergunto de modo desesperado.
— Chris, é claro que eu te amo. — diz e sorri de lado. —
Percebi o modo como se afastou esses dias, tem algo errado, não é?
— pergunta, e assinto.
Levanto-me e pego a cadeira que fica frente à mesa e a
coloco ao lado da minha. Bato de leve no assento e Ella se senta.
Respiro fundo, fechando os olhos.
— Promete que não vai me deixar? — peço, na falha tentativa
de tentar melhoras as coisas.
— Chris, o que houve? — pergunta, já parecendo tão nervosa
quanto eu.
— Eu... Eu sempre tive um plano sobre tudo. — digo, e
gaguejo um pouco.
— Como assim? Plano? — pergunta com o cenho franzido.
— Sobre nós. — confesso e Ella arregala os olhos.
Sinto-me quebrar, ao ver dor passar por seus olhos. Ella
arregala os olhos e se levanta no mesmo instante. Ela começa a
andar de um lado pro outro a minha frente, como se tentasse digerir
o que disse.
— Do que está falando, Chris? — pergunta num tom mais
alto, perdendo totalmente o olhar doce que tem para comigo.
Eu sei, nesse instante, que a perdi.
— Há três anos, quando a vi no enterro de Jô e Caleb te
apresentou, eu... Eu pensei que fosse uma das amantes dele.
— O que? — pergunta num sussurro, olhando-me incrédula.
— Comecei a investigar sobre você, por isso, naquele mesmo
dia, estava na cozinha da casa de meu irmão. Queria ter certeza de
que não era o que pensava... A partir daí, investiguei mais a fundo e
descobri algumas coisas. Na realidade muitas.
— Do que está falando?
— Seu passado, um documento de minha família e... Planejei
tudo a partir daí. — confesso e sinto lágrimas descerem por meu
rosto.
Não consigo encarar Ella, a qual está do mesmo jeito e sei
que ainda me olha. Ela quer saber mais, e ela merece saber.
— O documento é esse. — digo e pego a folha deixada a
minha frente.
Coloca-a na extremidade da mesa e Ella se aproxima,
pegando-a com cuidado. Alguns segundos se passam e fico estático,
sem conseguir dizer nada. Fiz um discurso e pensei estar preparado
para isso, mas agora, tudo foi por água abaixo.
— Mas isso não faz sentido. Aqui diz que o casamento de um
Soares com um Donatello garante o poder das duas empresas ao
cônjuge mais velho. — diz fraco, o que me faz encará-la.
— Eu não sei como te dizer isso... Nunca falamos sobre seu
passado, mas sei quem é seu pai, Ella. — digo de uma vez, tentando
conter as lágrimas.
— Como pode? — pergunta, deixando o documento
novamente em cima da mesa. — Não! — grita de repente, dando
passos para trás. — Diz para mim que toda sua implicância com
Dominic nunca teve um motivo. Diz! — praticamente ordena.
Levanto-me e tento me aproximar, porém ela se retrai,
mostrando o quão frágil está.
— Eu não pensei que...
— Diz de uma vez! — exige. — Dominic Donatello é meu pai?
Por isso tudo? Por isso “nós”? — pergunta e não consigo mais
reconhecer a mulher a minha frente.
— Sim. — respondo simplesmente e sinto meu rosto arder em
seguida.
Ela me bateu.
Volto a olhar para Ella, a qual está com a mão na boca e
chora compulsivamente.
— Anos de um maldito plano... Por isso nunca disse que me
amava, não é? Por isso nunca me quis perto de Theo ou Dominic, ou
qualquer ligação com os Donatello? Por dinheiro? Poder?
— Ella, eu te...
— Fez toda aquela cena para enganar nossa família, a mim...
Por dinheiro, Christopher? — pergunta, e logo suas lágrimas cessam.
— Você é um lixo. — diz e antes que possa dizer algo, ela tira a
aliança do dedo e joga longe. — Isso é tão lixo quanto você.
Parabéns, senhor Soares, você tem tudo!
Ela então se afasta e vai em direção à porta.
— Ella, por favor, deixe-me...
— Chega de mentiras e fingimento. Não precisa mais disso,
fique com seu dinheiro que agora, tenho um passado e um futuro
destruído para lidar.
Ela então sai, e sinto a dor de sua ida ao mesmo instante.
Caio de joelhos e sinto minhas pernas arderem. Choro e
desabo, sem conseguir mais raciocinar. Paula disse que a verdade
ajudaria, que... Paula está errada sobre isso, por completo.
Ella não está magoada, ela me odeia agora. Perdi a mulher
que amo.
A porta da frente se abre novamente e desesperado me
levanto, imaginando ser Ella, porém, como dizem por aí, tudo que
está ruim pode piorar. Hoje, é um desses momentos.
— O que houve, irmão? — Caleb pergunta, e apenas o
encaro.
— Eu a magoei, Caleb. — confesso e Caleb me encara
incrédulo. — Por ambição, eu a perdi.
— De que merda está falando? — pergunta nervoso.
— Leia os documentos na mesa e vai entender. — digo e ele
passa por mim, indo até a mesa.
Continuo parado, de costas para ele. Nem penso em
perguntar o porquê de ele estar na empresa, ou pior, em minha sala.
Porém, em poucos minutos apenas sinto meu corpo sendo puxado e
o primeiro soco me atinge.
Ella disse que tenho tudo, mas pelo contrário, eu perdi.
Capítulo XIV

“E eu posso ir aonde eu quiser


A qualquer lugar que eu quiser, menos para casa” [19]

Christopher

Meu irmão continua me acertando e não consigo revidar.


Minhas mãos parecem inertes, apenas tento cobrir meu rosto. Mas
no fim das contas sei que mereço. Sei que esses socos não são nada
perto da dor que Ella está sentindo agora.
Caleb me levanta do chão e me joga sobre a cadeira de
presidente.
— Está feliz agora? Feliz com seu posto? — grita e morde uma
das mãos com força. — Como pode fazer isso com a minha filha? Ela
só tem vinte e um anos, Christopher!
Meu irmão leva às mãos a cabeça e passa com força pelo
rosto. Levo minhas mãos aos cabelos e choro, desabo. Não consigo
me controlar, não mais.
— Olhe para mim! — ele esmurra a mesa.
O encaro e vejo lágrimas descendo por sua face.
— Eu fiz de tudo por você, Chris. Toda nossa família fez. Eu
confiei em você e você me traiu. — ele respira fundo. — Eu sempre
desconfiei do envolvimento de vocês, não sou cego! Achei que
ninguém melhor para cuidar da minha filha do que meu próprio
irmão. — grita. — Mas por que fazer isso com ela? Eu pensei que a
amasse!
Fico em silêncio e absorvo suas palavras. Ele sabia! Ele
sempre soube.
— Diga algo! — exige.
— Eu a amo. — choro em desespero.
— Você ama o poder que ela te deu! — grita. — Você a fez se
casar com você. Como pode?
— Eu a amo, irmão.
— Não me chame de irmão, porra. Você deixou de ser isso
quando desenterrou o passado da minha filha e usou a seu favor!
Suas palavras são piores que os socos que ele desferiu
minutos atrás.
— Como pode? — pergunta enfurecido e joga um vaso na
parede, o qual se parte em mil pedaços.
— Caleb, eu...
— Quer saber? Chega! — me corta. — Quero apenas que
assine os papéis do divórcio o mais rápido possível.
— Não. — respondo de imediato.
— O que? — pergunta transtornado.
— Não vou deixá-la.
— Mas ela vai te deixar. — diz convicto e sorri amargo.
— Não pode obrigá-la a me deixar. — o encaro.
— Eu não farei isso, você se encarregou disso quando mentiu
e a usou deliberadamente para seus interesses. — sinto meu
coração se apertar.
Ela não vai me deixar. Ou vai?
— Valeu a pena Christopher? Ter a Soares é pouco para você?
Precisava mesmo da Donatello? — pergunta com desprezo.
— Era meu sonho. — confesso.
— Derrubar Dominic? — pergunta com desdém. — Desde que
encontrei Babi, evitei o máximo de saber quem são os pais
biológicos, mas por necessidade, tive que saber. Ela foi abandonada
num lugar onde quase foi estuprada aos dez anos! — grita e eu
arregalo os olhos. — Não descobriu isso também?
— Por que nunca cobrou nada de Dominic? — pergunto sem
entender.
— Babi nunca quis saber sobre o passado. Eu sempre soube e
disse a ela que diria quando quisesse, mas ela se nega. Eu nunca fiz
teste algum, apenas soube das testemunhas de pessoas a respeito
disso, o que aponta diretamente a ele. Se ela quisesse saber sobre
isso, iria atrás disso por ela. O fato é que por sua culpa ela descobriu
o que nunca quis.
— Eu só queria uma segunda chance, irmão. — digo já
desesperado.
— Você não vai destruí-la, Christopher. Eu não vou permitir.
Ela sofreu demais para que você chegue e tire tudo. Espero mesmo
que você a ame.
— Por que? — pergunto sem entender.
— Porque vai sofrer cada dia em que ela não quiser te ver.
Porque mesmo que ela não seja minha filha biológica, eu sou o pai
dela. E se tem algo que a ensinei a todos os meus filhos, foi a se
amarem antes de tudo.
— Caleb...
— E mais uma coisa... — ele fecha os olhos com força. —
Nunca mais se aproxime da minha casa e muito menos da minha
família. Você morreu para mim!
Ele então sai.
Aguardo alguns segundos alguém entrar, mas nem sinal de
vida. Jogo-me de joelhos no chão novamente e choro. Eu perdi a
mulher que amo e a minha família no mesmo dia. Tudo por uma
ambição burra e sem nexo.
Eu não quero mais ser presidente de nada. Eu só quero uma
chance de lhe explicar tudo.
Encaro os documentos espalhados na mesa, assim leio todo o
acordo, chorando ainda mais. Lembro-me do que descobri e o que
me fez ir atrás de Antonella a princípio.
Meus soluços já são altos e não consigo sequer encarar a
cópia do documento que está molhada por minhas lágrimas. Foco
novamente minha visão nas palavras que me fizeram insistir tanto
em ter Antonella.
"Caso um herdeiro dos Soares se case com um herdeiro dos
Donatello, o de maior idade assume a responsabilidade de presidir
as duas empresas."
Esse documento foi feito há mais de quatro décadas,
assinado por meu avô e pelo avô de Donatello. Porém, acabou com
minha vida nesse instante.
Capítulo XV

“Eu teria ficado de joelhos


E com certeza eu nunca teria dançando com o diabo
Aos dezenove anos
E a mais pura verdade é que aquela dor era o paraíso” [20]

Antonella “Babi”

Encaro o grande armário de bebidas trancado e meu ódio


parece aumentar ainda mais. Pego a chave que escondi dele, no seu
próprio apartamento, e abro o armário.
Pego a primeira garrafa que vejo e abro, sem me dar tempo
para pensar ou voltar atrás viro o primeiro gole. O líquido queima
em minha garganta e grito de angústia, grito de raiva.
Uma mentira!
Tudo uma grande mentira!
Por sorte ou azar, consegui pegar um táxi assim que saí da
empresa. Aqui estou, rodeada de garrafas de bebidas, logo vejo que
uma já está praticamente vazia e abro outra.
Eu nunca bebi antes, não desse modo. Sempre tentei
controlar Christopher a respeito disso, mas aposto que nunca
consegui. Quantas mentiras ele disse? Quantos segredos ele guarda?
Será que tem uma amante também?
Não consigo parar de pensar sobre meu passado... Como vou
encarar Dominic novamente?
Ele é meu pai.
— Não. — grito e jogo a garrafa vazia longe, fazendo-a
estilhaçar na parede.
Pois é, o que a bebida mais o ódio são capazes?
Tento me levantar e seguro firme na parede para conseguir.
Gargalho sozinha de meu desastre e ao mesmo tempo choro por
tudo que está acontecendo.
Ligo a tv com dificuldade e seleciono o YouTube. Escolho a
música perfeita e sento-me a frente dela, bebendo mais metade de
uma garrafa.
Sinto meu corpo mais pesado e as palavras saem com
dificuldade. Com certeza, não estou cantando bem.

“É óbvio que você foi feito para mim


Cada pedaço de você se encaixa perfeitamente em mim
Cada segundo, cada pensamento
Estou entregue profundamente
Mas nunca demonstrarei
Mas nós sabemos disto,
[21]
Temos um amor que é sem esperança”
Deito-me no tapete e continuo bebendo e cantando. Não sei
quanto tempo leva, mas tudo começa a girar e não consigo mais
pegar a garrafa. Meus olhos ficam pesados e minha garganta não
responde.
Lembranças de nossos momentos juntos, principalmente de
nosso primeiro beijo, invadem minha mente.
Ando pelo jardim da casa de minha "família". Isso ainda soa
estranho, imaginar que as várias pessoas, que estão dentro da
grande casa são agora parte de mim também, porém Jô tinha me
avisado sobre isso, que um dia aconteceria. Respiro fundo e tento
controlar as lágrimas que querem descer.
Jô se foi há pouco tempo, e mesmo quem disse que com o
tempo essa saudade melhora, tenho certeza agora de que não
estava certo. Sinto falta dela a cada instante, cada momento de meu
dia. Mas eu sinto por um lado que ela está bem, como sempre disse
que ficaria quando me deixasse. Ela foi mãe, amiga, companheira...
Tudo sem pedir nada em troca. E nesse mundo, onde fui
abandonada, tive a sorte de dois anjos me resgatarem.
Sento-me no balanço infantil e sorrio ao ver que ainda caibo
num desses. Seguro nas correntes e fecho os olhos, sentindo a leve
brisa tocar meu rosto. Sim, eu sinto Jô perto de mim.
Como se fosse automático sinto meu corpo formigar e algo
dentro de mim se incomoda. Abro os olhos no mesmo instante e me
assusto ao encontrar os olhos castanhos de Christopher... O que ele
faz aqui?
Ele é como um "tio" para mim, no caso, ou ao menos deveria
ser. Não sei por que, mas até agora não consegui enxergá-lo como
tal.
— Tudo bem? — arrisco perguntar, ele então fica em silêncio e
apenas se senta no outro balanço ao meu lado.
Fico o encarando, e noto um simples sorriso no canto de sua
boca. Queria poder negar e dizer que isso não me atinge, mas ele,
com toda certeza, é o cara mais belo que já vi na vida.
— Eu te vejo de longe, sei que pode parecer estranho mas...
Deve ter percebido que não a trato como Castiel faz. — diz,
deixando-me intrigada.
— Algum problema? — pergunto e ele nega. — Eu sei que é
estranho ter aparecido agora na sua família e...
— Não, o estranho é o que sinto próximo a você.
O que?
— Chris... Eu... — ele então toca meu rosto com a mão direita
e abre um sorriso branco, deixando-me completamente sem fala.
— Me chame assim, gostei de meu apelido em seus lábios...
Aliás, acho que vou gostar de muito mais. — diz, colocando uma
mecha de meu cabelo atrás da orelha. — Você é linda, Ella.
Respiro fundo e tento dizer algo. Mas quando penso em abrir
a boca para falar, os lábios de Christopher tocam os meus. Meu
primeiro beijo... E é magnífico. Sinto uma leve pressão de sua mão
em meu cabelo e faço o mesmo com ele, colocando meus dedos em
meio aos fios lisos e cumpridos.
Sinto seu gosto e pior, gosto disso.
Afasto-me de repente, ao perceber a burrada que fiz. Olho
rapidamente para os lados, nervosa, com medo de alguém ter visto.
Christopher parece tranquilo e não esboça nada além.
— Como imaginei, perfeita.
Fecho os olhos com força, tentando esquecer esse maldito
dia, o dia em que comecei a confiar nele... Perfeita? Só se for para a
ambição dele.
Bebo mais e mais, tentando esquecer tudo, cada detalhe do
que passamos juntos. Tento me levantar, pois meu corpo já protesta
contra o álcool, porém é em vão. Entro em sono profundo, e uma
paz descomunal me atinge.
Parte II
“Agora está tão longe ver,
A linha do horizonte me distrai
Dos nossos planos é que tenho mais saudade
Quando olhávamos juntos na mesma direção
Aonde está você agora
Além de aqui,
Dentro de mim?”
Vento no litoral – Legião Urbana
Capítulo XVI

“Eu não consigo esquecer isso


Eu luto com você enquanto durmo
A ferida não fecha
Continuo esperando por um sinal
Eu me arrependo de você o tempo todo” [22]

Christopher

Saio esbarrando nos corredores do hospital e meu coração


sangra. Alguns enfermeiros me param, com certeza assustados com
o estado de meu rosto e minha atual situação. Mas não lhes dou
atenção, eu apenas quero poder voltar no passado e consertar tudo.
Nunca ter me aproximado de Ella, pois eu sou a destruição da
mulher que amo. Eu nunca a mereci.
— Você vai voltar para lá agora! — ouço a voz fria de meu
irmão e ele me puxa com força pelo braço.
Não consigo impedi-lo e deixo ser guiado pelo ódio de um dos
homens que sempre foi minha inspiração.
Ele me joga em frente a uma parede de vidro e força meu
rosto contra ela. Fecho os olhos com força, tentando não gritar, pois
algo dentro de mim me sufoca.
— Você vai abrir a porra dos seus olhos e encarar o que fez!
— Caleb praticamente ordena ao meu lado. — Seja homem pelo
menos uma vez!
Abro os olhos incertos e encaro Ella deitada na cama. Minhas
pernas fraquejam e seguro com força contra o vidro.
— Quero que se lembre disso quando cogitar a possibilidade
de tentar se aproximar dela. — Caleb ameaça.
Encaro mais uma vez Ella e choro copiosamente. Não consigo
fingir mais nada, não consigo entender como pude ser capaz de
causar tanta dor a ela. Uma mulher inocente.
Me solto de meu irmão e o encaro, mesmo mantendo a pose
fria, sei que Caleb está se segurando para não me abraçar. Ele sabe
que estou arrependido, sempre foi o melhor de nós em enigmas.
Porém, ele não vai ceder, e isso só indica que além de perder a
mulher que amo, perdi meu irmão.
Viro-me e saio novamente pelos corredores, cambaleando
pela dor em meu peito e a falta de ar em meus pulmões. Esbarro
sem querer em algumas pessoas e peço desculpas sem encará-las.
Quando saio finalmente do hospital, solto uma breve
respiração e me seguro para não voltar atrás. Eu queria poder
enfrentar meu irmão e dizer que nada me afastará de Antonella,
mas fui o próprio culpado do afastamento. Não posso fazer mais
nada a respeito.
Vou em direção ao estacionamento e de longe vejo várias
pessoas chegando. Quando as reconheço, apresso o passo, para
chegar logo ao carro.
Infelizmente, meu irmão é mais rápido que eu.
— Christopher. — paraliso e volto meu olhar para Castiel.
Meus pais sequer se aproximam e Dani sai junto a eles. Eu
agradeço por isso, pois sei que meus pais estão decepcionados
demais para me encarar e Dani nem daria tempo para eu falar, já
teria me batido.
— Ei, moleque. — encaro Castiel, o qual balança a cabeça
negativamente. — Parece que Caleb já deu a coça que você merece.
Permaneço em silêncio e meu irmão me encara fielmente. Os
olhos verdes dele não parecem magoados ou decepcionados. Ele é
único até o momento que me encara como igual.
— Como está se sentindo? — pergunta, deixando-me
surpreso.
Ok, sua pergunta me pegou desprevenido. Ninguém o fez até
o momento, sequer se importaram. Não que eu mereça que eles se
importem, pelo contrário.
— Será que dá para parar de me encarar como se eu fosse
um ET? — Castiel debocha, porém, sei que está sério.
— Pode começar a despejar, Cas. — digo e passo as mãos
pelos cabelos. — Pode começar.
— Tenho certeza que os socos de Caleb e as verdades dele já
foram o suficiente. — diz convicto. — Além de que ver a mulher que
ama em coma a sua frente tenha bastado para abrir seus olhos.
E novamente a realidade bate em minha cara. Eu a vi
praticamente morta em minha frente. Dói, dói demais isso. Além de
ter sido por minha própria e exclusiva culpa.
Levo as mãos ao rosto e choro com a lembrança do estado
em que a encontrei.
— Vem aqui, moleque. — Castiel me puxa para um abraço, e
mesmo sem entender tal gesto, desabo.
Desabo de vez.
Assim que meu irmão sai de minha sala, disco no mesmo
instante o número de Ella. Preciso falar com ela nesse momento.
Como não obtenho resposta alguma, corro até o carro e dirijo
rapidamente até o meu apartamento. Com a esperança de que ela
esteja lá.
Em poucos minutos, meu novo celular toca e mesmo sem
querer, atendo de imediato.
— É melhor dizer que está com a minha filha e a trazer para
fora desse prédio agora. — Caleb diz com raiva.
Eu giro as chaves na fechadura do apartamento e entro.
— Do que está falando, Caleb? — pergunto sem entender.
— Babi sumiu! Eu sei que a levava em um apartamento
diferente do qual me recebe e todos nós, agora me diga qual a
merda do andar e apartamento. Sei que é o mesmo prédio!
Tento responder meu irmão, mas quando encaro o chão e
vejo líquido espalhado, assusto-me. Dou passos incertos pelo
corredor e ao chegar na sala, meu mundo para.
Meu coração se quebra.
Minha respiração falha.
Antonella está caída no chão com uma garrafa de uísque em
cima dela. Olho para o lado e há uma garrafa vazia, fora a que ela
tem em seu corpo.
— Não! — grito e desabo de joelhos ao lado dela. — Baby, por
favor, acorda!
Quando não obtenho resposta alguma, contato que o álcool
pode ter feito algo pior do que um desmaio.
— Caleb, preciso de ajuda. — digo, ao mesmo tempo que
pego Ella no colo.
— Eu não quero saber...
— Uma ambulância agora Caleb, estou descendo com Ella em
meus braços...
— Qual o andar? — meu irmão praticamente grita.
— Décimo segundo. — digo e ele desliga.
Quando estou saindo desesperado do apartamento, meu
irmão aparece e ignorando totalmente a mim, pega Ella no seu colo.
Tento entrar com eles no elevador, mas Felipe que vinha junto
com ele me impede.
— Fique longe da minha irmã. — ele grita e me encara
enfurecido.
Assim que as portas do elevador de fecham, deslizo pela
parede do corredor e choro.
Eu estou perdendo o amor da minha vida.
— Isso vai me custar uma camisa nova. — a voz de Castiel me
traz a realidade.
Só então percebo que meu choro molhou toda sua camisa.
— Sinto muito, eu...
— Aprendendo a pedir desculpas, irmão? — ele sorri
cinicamente. — Caleb não irá perdoá-lo, não agora. E sequer sei o
que Babi e nosso pai farão, mas fique de fora por enquanto, Chris.
Para o seu bem.
— Eu tenho que saber como ela está e...
— Eu te passarei informações sobre o estado dela. — diz
calmo. — Ela já saiu do coma alcoólico pelo que Caleb nos disse, só
precisa se recuperar totalmente.
— Por que está fazendo isso? Nossa família pode te julgar e...
— Somos irmãos, Chris. Eu entendo o lado de ambos, mas
por ser o mais velho tenho a responsabilidade de cuidar dos dois.
— Não somos mais crianças.
— Como perdi a oportunidade de fazer isso naquela época,
faço hoje. Agora mova sua bunda e não chegue perto de nenhuma
bebida alcoólica.
— Eu não vou. — digo vencido. — Obrigado, irmão.
— Seja agradecido, sumindo um pouco do mapa. — sorri
cinicamente. — Goodbye [23]
Assim que entro no táxi, noto que as lágrimas desapareceram
por alguns instantes. Por mais que não entenda a atitude de Castiel,
eu só consigo agradecer por tê-lo ao meu lado. Fora meu amigo
Eduardo, ele é a única pessoa que me resta.
Pois quem mais importa, perdi para sempre. Para minha
própria ambição.
Capítulo XVII

“Oh, você é uma crise da minha fé


Teria, poderia, deveria
Se ao menos eu tivesse sido cuidadosa” [24]

Antonella “Babi”

— Eu devia ter te colocado contra a parede assim que


desconfiei de vocês dois, assim nada disso teria acontecido. Assim
eu nunca teria que te ver desse jeito...
Parece uma voz longe, mas me dá forças para querer acordar.
Sinto meu corpo pesado e tento abrir os olhos. Forço mais um
pouco e consigo ver algumas frestas de luz, porém fecho
rapidamente, pois isso me incomoda. Espero mais alguns segundos
e tento novamente, devagar, esperando meu olhar se acostumar
com o local.
Tento mexer minha mão, porém algo me impede, viro-me e
tento focar ao lado. Em alguns segundos consigo identificar meu pai
e seus olhos azuis me encaram, seu semblante é triste e seu rosto
está vermelho.
Ver sua expressão me traz lembranças e dúvidas sobre tudo.
Lembro-me de Christopher e lágrimas vem automaticamente a
meu rosto. Meu pai me encara sem jeito e leva uma de suas mãos
até mim, limpando as lágrimas que insistem em descer.
— Pai, foi tudo verdade? — pergunto covardemente e ele
apenas se levanta, me abraçando em seguida.
Sinto meu mundo desabar novamente e tento raciocinar em
meio a toda confusão que minha vida se tornou. Tudo porque decidi
viver um amor proibido, um sentimento que nunca deveria ter se
instalado em mim.
Assim que meu pai se afasta, sinto falta de seus braços ao
meu redor, os mesmos que me salvaram há dez anos. Sinto a culpa
me invadir por ter sido tão covarde e escondido dele toda a verdade.
Se tivesse tido o mínimo de respeito e consideração com minha
família, não estaria aqui hoje, nem mesmo em um hospital sem
saber o por que.
— Você se lembra do que aconteceu depois que foi para o
apartamento de Christopher? — ele pergunta.
Franzo a testa e tento me lembrar. Lembro-me das várias
bebidas, de me sentir leve e tentar a todo custo cantar uma música,
mas de repente tudo se tornou escuro.
— Eu desmaiei? — pergunto, me sentindo ainda mais culpada.
— Você entrou em coma alcoólico. — conta e lágrimas
descem pelo seu rosto. — Eu senti tanto medo, filha.
— Pai. — levo as mãos ao rosto, sem saber onde ou como me
esconder.
Eu machuquei minha família de tantas formas que não sei
mais como agir.
— Eu sinto tanto, pai. — confesso. — Eu sinto muito por tudo.
— Não se preocupe com nada agora que não seja ficar boa e
voltar para casa. — ele aperta minha mão. — Eu te amo, minha
pequena.
— Também te amo, pai. — digo e o abraço.
A culpa me invade, mas não consigo deixar de pensar nos
meus sentimentos que foram usados e jogados fora. Em toda
mentira que vivi ao lado de Christopher imaginando que seria meu
“feliz para sempre”.
Em como todo romance que já li, tento encontrar na vida algo
que explique tudo isso. Algo que faça Christopher não ser apenas o
homem que me usou. Mas isso não parece um romance, parece
mais uma história de terror. Eu não sei se vou sobreviver a isso.

Christopher

Encaro a casa de Isaac e Paula, ainda sentado em meu carro.


Penso se devo ou não me aproximar, mas quando vejo, já estou a
passos incertos caminhando pelos seguranças, os quais sabem que
tenho passe livre.
Penso então no pedido de Castiel de me afastar e sei que é o
melhor por agora. Meu celular toca antes que eu possa abrir a porta
da casa, e finalmente consigo sorrir nesse dia.
Ela acordou e está bem.
Não se preocupe irmão, ela é forte.
Sinto vontade de estar ao lado dela, me ajoelhar no chão e
pedir perdão por tudo. Por ter sido ambicioso e pretensioso, por não
ter pensando sequer em seus sentimentos no início, por ter
pensando nem nos meus próprios... Sendo que sempre senti algo
forte perto dela, mas nunca quis admitir.
E aquela frase que sempre ouvi Paula dizer, vem em minha
mente: “Não me lembro mais qual foi nosso começo. Sei que não
começamos pelo começo. Já era amor antes de ser.” [25]
Então encaro novamente a porta da casa dela, sei que talvez
seja um erro fazer isso. Mas eu preciso contar a verdade a Paula,
uma das únicas pessoas que me resta, mas que sei que perderei
nesse momento. Tudo por conta de um bendito acordo que fiz com
Isaac.
Mas eu não posso sequer julgar Paula, pois omiti coisas a
respeito de sua própria família a partir do acordo que tenho com
Isaac. Ele sabia dos documentos que descobri entre os Donatello e
os Soares, e também sabia sobre eu e Ella, mas prometeu não
contar nada se eu não contasse a Paula o que ele vem escondendo
dela.
Que ele vem mentindo a cada dia, dizendo que Victória nunca
quis Paula por perto, que Lívia está sempre ocupada demais com
Joaquim ou com Castiel para que ela possa se aproximar... Não sei
em que momento me tornei essa pessoa horrível, que permite que a
melhor amiga seja subjugada por um homem inseguro e obsessivo,
mas eu vou mudar isso hoje. Mesmo que seja para perder Paula
para sempre, ela merece a verdade.
Então finalmente abro a porta e estaco assim que um
segurança me joga contra a porta.
— Mas que merda você pensa que está fazendo? — pergunto
furioso.
— São ordens. — diz simplesmente e antes mesmo que ele
possa pensar, o derrubo no chão.
Ter treinamento é algo fundamental em minha família, e
posso dizer que finalmente se tornou algo útil. O segurança faz
menção de se levantar, mas lhe aponto o dedo no mesmo instante:
— Nem pense ou vou te desmaiar em poucos segundos.
Ele, porém, não me obedece e vem para cima. Em poucos
segundos ele cai desacordado.
— Eu avisei.
Respiro fundo e penso em como fazer isso. Isaac não vai
permitir que eu me aproxime e conte a ela, e não posso fazer isso
pelo telefone, a machucaria demais.
Em poucos segundos Isaac desce as escadas e me encara
incrédulo. Ele chega próximo a mim e me empurra no mesmo
momento contra a parede.
— Você enlouqueceu? — pergunta baixo e sinto nojo dessa
situação.
Eu sei que sou um crápula e que não mereço Ella. Mas Isaac
não está muito longe disso, e não vou deixar que Paula sofra ainda
mais com ele.
— Vamos à sala de treinamentos, preciso falar com você. —
digo e ele continua a me encarar. — Já não basta a surra que levei
de meu irmão, nem tente relar em mim Isaac, ou vamos ficar aqui o
dia todo.
— Vamos logo, porra! — Isaac diz nervoso e caminha para
fora da casa.
Ok, tudo certo até agora! Sei que Paula virá atrás de nós, ela
é curiosa demais. E eu não sei ao certo como contar tudo a ela...
— Agora você me diz que merda veio fazer aqui? — Isaac
pergunta no mesmo instante que entramos na sala de treinamentos.
— Acho que sabe muito bem. — digo e ele arregala os olhos
no mesmo momento.
— Eu não descumpri nada do acordo. — diz solícito e o encaro
incrédulo. — Vá embora!
— Não percebe que ela está sofrendo? — pergunto já com
raiva. — Posso ter concordado com isso antes, mas não mais... Não
hoje.
— Você não pode ferrar com meu relacionamento só porque o
seu acabou. — ele leva às mãos a cabeça e passa várias vezes pelos
cabelos. — Paula é minha.
— Isso deixou de ser um relacionamento quando a roubou do
mundo e impediu que vivesse. — revido e ele me encara
embasbacado. — Seja homem Isaac e admita que cometeu erros
com ela.
Assim me viro para a porta da sala e encontro Paula nos
encarando assustada. Fecho os olhos com força e de repente tento
passar por Isaac, que me segura com força no mesmo instante. Isso
foi ridículo, mas é uma das poucas formas de tirar Isaac do controle,
tentar chegar perto de Paula.
— Já chega, Christopher! — grita de repente.
— Isaac. — sussurro. — Conte a ela. — peço, ao ver por seu
ombro o olhar surpreso de minha amiga. — Ela não merece isso.
— Você não vai ferrar a minha vida. — grita e me acerta um
soco.
Caio no chão e meu corpo lateja pela dor. Escuto o grito de
Paula com Isaac. Vejo-a tentar chegar até mim, porém Isaac a
prende em seus braços.
— Bata mais Isaac. — limpo minha boca e o encaro perplexo.
— Acha mesmo que me bater vai adiantar algo? Vai mudar o
passado ou as suas mentiras? — Paula me encara desconfiada e eu
faço apenas nego com a cabeça.
Ela sabe o que quero dizer, ela sempre saberá... Quando a
conheci, nunca pensei que se tornaria tão especial para mim, muito
menos que ela fingiria um relacionamento comigo como pedi há
tempos atrás, mas ela o fez... E desde então, temos nosso sinal, o
qual indica que algo está errado, o mesmo daquela época.
— Vá embora, agora! — Isaac exige.
Porém Paula, sem que qualquer um de nós espere, acerta em
cheio o abdome de Isaac com seu cotovelo, fazendo-o afastar um
pouco. Ela aproveita e vem até mim, tocando meu rosto, passando
as mãos de leve por meus lábios cortados.
— Chris, diz que não mentiu para mim. — pede, encarando-
me com tristeza, e lágrimas já se formam em seus olhos.
Paula nunca foi uma mulher ingênua, não do modo como
Isaac pensa. Se eu tivesse feito qualquer sinal antes, ela teria
desconfiado, porém, além de confiar nele, ela confiou plenamente
em mim, por isso não foi atrás da irmã, por isso não ficou próxima
de Lívia. É minha culpa também.
— Eu sinto muito, pequena. — digo baixinho. — Me perdoe.
Ela então se afasta, ficando de pé e passando as mãos pelos
longos cabelos loiros.
— Isaac. — Paula diz. — O que estão escondendo de mim? —
pergunta e sei que está perdida.
Dói vê-la assim, e ver que nunca fiz nada para impedir.
— Fora daqui, Paula. — Isaac diz e a pega pelos braços,
tentando tirá-la a força da sala.
Eu vou matá-lo!
— Chris! — ela grita em socorro e sem pensar duas vezes,
levanto-me mesmo com a dor e a solto de Isaac, derrubando-o em
seguida.
Um, dois, três, quatro socos... Para tentar amenizar a raiva
que sinto por vê-lo a tratar como uma idiota. Paula não merece isso.
— Pare, por favor! — ela pede e então estaco.
— Conte a ela, Isaac! — peço novamente, praticamente
implorando para que essa cena de terror acabe.
— Isaac, do que ele está falando? — pergunta e se ajoelha ao
lado dele, tocando seu rosto.
— Sereia...
Pelo olhar que Paula dá a ele, sei que ele não terá
escapatória, a não ser contar toda verdade para ela.
— Não escute o que ele fala, sereia. — Isaac diz, e sei que
não tem outro jeito. Eu mesmo tenho que falar.
— Victória sofre por estar longe de você. — digo, encarando-
a, sem deixar dúvida sobre a verdade. Ela sabe que não estou
mentindo.
E no fundo espero que ela também saiba que sinto muito.
— Diz para mim que é mentira. — pede e encara Isaac. —
Isaac! Me responda! — grita e ele tem a capacidade de negar.
Dói vê-la de tal forma, e como Isaac ainda insiste nessa
mentira.
— Ele disse a verdade. — Isaac finalmente confessa.
Então, tenho que ir embora daqui.
Encaro Paula mais uma vez, porém ela sequer me olha. Eu
sinto tanto!
— Eu prometo voltar, pequena. — digo, saindo da sala no
mesmo instante.
Entro em meu carro e encaro meu reflexo horrível através do
retrovisor. Penso para onde devo ir, mas me sinto completamente
perdido. Encaro meu reflexo novamente e pergunto alto:
— Quem é você, afinal?
Capítulo XVIII

“Que Deus me abençoe


Eu sinto falta de quem eu costumava ser
O túmulo não fecha
Vitrais manchados em minha mente
Eu me arrependo de você o tempo todo” [26]

Antonella “Babi”

A passos incertos entro em casa e Lipe vem abraçado a mim.


Ouço um gritinho masculino e logo meu anjinho está em meu colo.
— Oi, Mi. — digo e ele sorri.
— Vamos brincar hoje? — pede, com os grandes olhos azuis
brilhando.
Miguel sempre foi assim, amoroso com todos nós,
principalmente com Felipe. Mas agora, com seus quatro aninhos,
parece ter ficado ainda mais.
— Bom, eu...
— Eu brinco com você, Mi. — Felipe intervém. — Babi ainda
tem que dormir um pouco, lembra que disse que ela passou mal por
não comer salada e...
— Bi, você tem que comer salada. — Miguel chama minha
atenção e eu sorrio. — Papai não me deixa brincar lá fora se não
como, então ele pode fazer o mesmo com você.
— Que garotinho esperto, não é? — papai o tira de meu colo
e joga-o para cima. — Vamos levar sua irmã lá para cima e depois
todos brincamos, ok?
— Eba! — Miguel grita e pula do colo dele.
— Não corra! — mamãe diz, mas Miguel já está correndo
pelos degraus. — Teimoso como o pai.
Sorrio de sua provocação e meu pai a olha inconformado.
— Nem vem, bonitão. Miguel tem seu gênio, todo mundo
sabe disso.
— Ah meu Deus! — viro ao ouvir o grito de Luna. — Você está
bem irmã? Te trataram bem naquele hospital? Meu Deus, você está
ainda mais branca se possível! Eu senti tanto medo, vim o mais
rápido que pude e...
— Estou bem. — digo já abraçada a ela. — Obrigada por se
importar.
Antes que eu possa pensar, Luna bate em meu braço e me
abraça novamente.
— Para aprender a não me deixar preocupada mais. Te amo
muito, irmã. — sorrio, sentindo suas lágrimas em meus ombros.
— Abraço em família? — meu pai pergunta e ouço gritinho de
Miguel. Em poucos segundos sinto seus bracinhos ao redor de minha
perna.
Logo, papai, mamãe e Lipe estão a nossa volta. Esse é
sempre um dos meus melhores momentos, em meio das pessoas
que realmente me amam e que são minha família.
— Você sempre teve razão, Lipe. — confesso e meu irmão
para de fazer cafuné em meus cabelos. — Você sempre esteve certo.
Silêncio se instala entre nós e o único som ouvido é uma das
músicas de nossa playlist. Take your time de Sam Hunt - traz um
pouco de paz ao meu coração.
— Já pensou no que vai fazer? — ele pergunta e eu apenas
nego. — Descanse irmã, é o melhor por enquanto.
— Eu sei. — respiro fundo. — Até agora não consegui
assimilar tudo, acho que estou dentro de um pesadelo e...
— Eu sinto muito. — ele me abraça com carinho.
— Eu também.
— Laura me ligou. — diz sem jeito. — Ela estava te
procurando e bom, como não conseguiu acabou vindo até mim.
Contei o que houve e ela disse que logo estará aqui.
— Mas ela não está fora do país? — pergunto incrédula.
— Ela disse que ia pegar o primeiro voo. — Lipe dá de
ombros.
— Eu entendo. — respiro fundo. — Vou mandar uma
mensagem para eles depois e ver o que houve.
— Sabe que precisa conversar a respeito do que descobriu,
não é? — assinto. — Se não quiser falar comigo sobre, ao menos
não me esconda mais nada.
— Pode deixar, Lipe. — ele beija minha testa. — Só quero
ficar um pouco sozinha.
— Certo, nossos pais saíram com Miguel, pois prometeram
leva-lo para ver um filme. Luna teve outro problema com Lucas e
teve que sair a pressas atrás dele. — ele conta e sinto-me mal por
minha irmã. — Estarei em meu quarto, para qualquer coisa, ok?
— Ok. Obrigada. — o abraço novamente e ele em seguida, sai
do quarto.
Fico então parada, encarando o teto por alguns segundos.
Pensando em como minha vida virou de cabeça para baixo nos
últimos três anos. Desde quando vim morar de vez na casa de meu
pai, a perda de Jô que até hoje me machuca, o carinho de Victória e
a forma que ela se tornou uma mãe para mim, ter Lipe, Luna e
Miguel... E por fim, ter conhecido Christopher.
Quando nos conhecemos não tinha ideia de que chegaríamos
ao matrimônio um dia, por mais falso que seja. E abraçada à tristeza
desse falso relacionamento, deito-me na cama e apago. Querendo
esquecer tudo que houve.

Sinto uma sensação boa me invadir e abro meus olhos


devagar, encontro a luz do quarto apagada e um cobertor ao meu
redor. Com certeza Lipe fez isso. Fecho os olhos novamente e tento
focar apenas em voltar a dormir, e logo sinto meu corpo leve.
— Ella. — escuto sua voz rouca, e abro os olhos no mesmo
instante.
Christopher me encara sem jeito e sorri em minha direção.
Quero tocá-lo e questionar sobre tudo, mas não quero que esse
sonho termine.
— Eu te amo, baby. — diz próximo a mim e noto seu rosto um
pouco machucado. O que? — Eu não vou desistir de nós.
Fecho os olhos e tento acordar, mas não consigo. Não por não
conseguir fugir do sonho, mas por isso ser real. Christopher está
aqui.
Meu coração bate freneticamente e sento-me na cama, sem
conseguir encará-lo. Sinto raiva, nojo, ódio... Por ele insistir nessa
mentira. Por ainda querer brincar comigo.
— Já conseguiu tudo o que queria, senhor Soares. Pode ficar
com tudo, cada maldita ação das empresas. — digo o mais frio que
posso, mas por dentro estou acabada.
— Eu prometo voltar. — diz me ignorando. — Eu prometo
voltar e ser o homem que você merece. Adeus, baby!
Tento dizer algo, porém as palavras faltam. Sinto uma dor de
cabeça insuportável e vejo Christopher desaparecer pela porta.
Tento respirar, mas o ar parece escasso.
Não consigo entender como ele veio parar aqui, como ele
conseguiu entrar em meu quarto. Eu só posso estar delirando no
fim.
— Se acalma. — digo a mim mesma e vou até o banheiro.
Encaro o espelho e jogo água fria em meu rosto. Noto então
que a aliança que joguei em sua sala está colocada em meu dedo
anelar esquerdo, e tento não chorar por isso. Por que ele veio até
aqui? Por quê?
Saio do banheiro e acendo as luzes, em busca de provas de
que não é um delírio, fruto de todo cansaço e da recuperação após o
que houve. Mas um papel branco deixado em cima da mesinha de
cabeceira acaba por me deixar sem chão.
O pego e sei que é um envelope, leio o remetente,
assustando-me ao ver a letra de Christopher. Ele realmente estava
aqui, era ele e eu não tive reação alguma. A não ser querer me
convencer de que era um sonho e dizer que ele ganhou.
Como posso ser tão burra?
Aliás, foi disso que ele se aproveitou. De minha burrice e
inocência.
Penso em ler o que ele escreveu, mas não quero saber de
nada, não quero ter de entender suas razões, motivos, ou até
mesmo saber em como ele se sente bem com tudo isso.
Jogo a carta dentro de uma das gavetas e resolvo esquecer.
Lembrando-me que esse homem é tão ganancioso que não desistiu
até agora de me iludir, pois deve poder perder algo com o divórcio...
Mas dessa vez eu não serei mais a burra de antes, que caiu feito um
patinho em suas armações.
Christopher vai pagar pelo que fez a mim, desenterrando um
passado que nunca quis, o qual me obriga a encarar Dominic
Donatello um dia e descobrir que Theo, que é meu veterano na
faculdade e também estuda design, além de ser um grande amigo, é
meu irmão. E por todas as mentiras, as falsas juras de amor, por ter
me quebrado... Eu não serei mais a Ella que ele tanto conhece.
Eu vou quebra-lo, da mesma forma que estou. Se ele pensa
que pode fugir e se fazer de vítima está enganado, ele tem que
pagar. Começando pelo dinheiro e poder que conseguiu, darei um
jeito, e ele perderá tudo.
Capítulo XIX

“E agora que sou adulta


Tenho medo de fantasmas
As lembranças parecem armas
E agora que eu sei
Eu gostaria que você tivesse me deixado imaginando” [27]

Antonella “Babi”
Alguns dias depois

Seguro novamente a carta que ele deixou em minhas mãos,


penso em lê-la, mas sou covarde demais para isso. Sei que suas
palavras bonitas ou até mesmo cruéis, podem me machucar além do
normal. E tudo que menos preciso, é que minha dor piore. Pois
saber que o homem que amo não passa de um fantasma, já é o
suficiente.
Coloco um simples vestido e escovo meu cabelo já longo, o
qual vejo que precisa de um corte urgente. Pelo horário, sei que
Felipe deve estar na advocacia com nosso pai, mas esses dias, eu
tenho encontrado todos em casa, todos preocupados comigo.
Assim que saio pronta do quarto, encaro meu celular e vejo
que há várias ligações perdidas de Theo, mas como tenho feito,
ignoro. Não consigo encará-lo, sem pensar que somos irmãos. E me
pergunto como ele vai encarar isso. Pois nem eu sei ao certo se
conseguirei falar com Dominic Donatello novamente.
Vou em direção ao quarto de meus pais, mas antes mesmo
que possa bater na porta, escuto seus gritos, e isso parte meu
coração.
— Você não é um maldito deus, Caleb! Acha mesmo que pode
controlar a vida de sua filha? Ou melhor, de todos nós?
— Eu já disse que não estou fazendo isso! — papai grita
alterado. Eu nunca os ouvi de tal maneira. — Não vou deixar que ele
se aproxime dela e a quebre novamente.
— Ele é seu irmão, Caleb. Pelo amor de Deus, o que está
havendo com você?
— Eu não vou deixar mais que todos usem da minha calma
para magoar quem amo. — encosto-me na parede e lágrimas vem
aos meus olhos. — Não tem porque se intrometer nisso, Victória. A
decisão é minha.
— Esse o maior problema, Caleb. A decisão é apenas sua.
Está sendo o que nunca imaginei que fosse – egoísta.
— Vamos ser sinceros, Victória. Nunca me conheceu o
suficiente, não é?
— Saia desse quarto e não pense em sequer voltar a ele caso
continue a me dizer essas coisas. — mamãe exige e sinto meu
coração doer ainda mais.
— Essa também é minha casa, e o meu quarto.
— Ok, eu saio.
Afasto-me rapidamente e escondo-me no corredor. Mamãe sai
do quarto e a vejo limpar rapidamente o rosto. Escuto o estrondo de
algo no quarto deles, e sinto medo se apoderar de mim. Estou sendo
a culpada pelo que acontece, sei disso. Eu nunca os vi assim antes.
É minha culpa, e terei de resolver isso.

Encaro o imponente prédio e tento entender em que


momento cheguei aqui. Sendo que meu destino era a Soares Mídia.
Suspiro fundo e olho para trás, vendo os carros dos seguranças,
meu pai com certeza sabe onde estou agora. E sei que tenho que
ser rápida, antes que ele me impeça.
Tomo coragem e saio do carro, tentado me equilibrar nos
saltos, que mesmo sendo baixos, me fazem cambalear. Aperto entre
as mãos minha bolsa e a passos incertos entro no prédio. A
recepcionista sorri para mim e apenas fico sem fala.
— Eu preciso falar com Donatello, Dominic Donatello. — digo
de uma vez.
— Você é? — pergunta educadamente.
— Me desculpe, Antonella Soares. — digo rapidamente.
Aguardo por alguns instantes, e logo ela libera minha entrada.
Entro em um elevador e sigo para o último andar. Coloco meus fones
e tento me concentrar em não ouvir algo nostálgico, mas isso é a
única coisa que acalma minha ansiedade.
Abro minha bolsa e pego o papel em mãos, que graças a Lipe
tive acesso. A prova real de que sou filha de Donatello, de que ele
talvez seja a pessoa que me abandonou e deixou a própria sorte.
Mas há tantas outras perguntas, sobre minha mãe biológica, por
exemplo.
Ouço o bipe do elevador e assim que as portas se abrem,
encaro meus pés, com medo do que me aguarda. Assim que entro
no andar, Elena, sua esposa me recebe com um sorriso e um forte
abraço.
— Quando me disseram que era você, não acreditei. — tento
não demonstrar minha insegurança. — Dom vai ficar muito feliz em
vê-la, assim como Theo, ele está preocupado com você.
— Ah sim, eu vou falar com ele depois. — digo sem jeito.
Fico com medo de ela perguntar algo sobre o que tenho a
falar com seu marido, mas ela apenas passa alguns minutos,
tentando me distrair. Mesmo não dizendo nada, sei que ela percebeu
como estou, mas agradeço por não perguntar. Eu iria embora no
mesmo instante.
O seu celular toca e ela atende rapidamente. Encaro
novamente os papéis já amassados em minhas mãos e aproveito
para guarda-los.
— Não, estou indo aí. Ok.
Ela se vira para mim e sorri fraco.
— Babi, tenho que resolver um problema no andar debaixo,
mas já estarei de volta. — permaneço sentada onde ela me indicou.
— Essa é a sala de Dom, logo ele estará aqui. Me desculpe por isso,
eu...
— Está tudo bem, Elena. — forço um sorriso.
— Nem piscará e estarei de volta. — brinca e logo sai.
Encontro-me então, sentada em uma sala vazia, e meus olhos
finalmente vagam por ela. Levanto-me com cuidado e encaro o
porta-retratos colocado em sua mesa, na qual estão todos de sua
família. Será que fiz o certo de estar aqui? Não posso estragar mais
uma família.
Antes mesmo que possa dizer algo, a porta da sala se abre e
perco a fala. Encaro o homem que sorri para mim e tento buscar
alguma semelhança entre nós. Os seus olhos são da mesma cor que
os meus, mas não consigo me enxergar como sua filha. Mas aquela
sensação boa que sempre sinto perto dele está presente novamente.
— Como vai, Babi? — pergunta e tenta se aproximar.
Impulsivamente me afasto e lágrimas vêm aos meus olhos.
— Por que? — pergunto tentando não chorar. — Por que me
abandonou?
— Babi, quer se sentar querida? — pergunta e eu nego com a
cabeça.
Pego os papéis amassados e entrego a ele. Ele me encara
incerto, mas logo os lê e sua reação me deixa ainda mais sem chão.
Seus olhos voltam aos meus, parecendo assustados e surpresos,
como se ele não...
— Você... — gagueja e leva às mãos a cabeça, relendo os
papéis. — Você é minha filha?
— Você não sabia? — pergunto completamente perdida.
— Não, eu nunca... — ele leva as mãos aos cabelos e encara-
me sem saber o que fazer.
— Você não me abandonou então? — pergunto receosa, e ele
se aproxima.
— Eu jamais o faria, Babi. — percebo que estou chorando e
ele também.
E antes mesmo de dizer mais alguma coisa, ele me abraça e
assim desabo.
— Vocês estão bem? — escuto a voz de Elena e nos
separamos no mesmo instante.
Elena nos encara assustada, assim como Theo, que está ao
seu lado.
— Babi, o que houve? — ele pergunta e apenas o encaro
emocionada. Ele é meu irmão.
— Eu... — tento dizer algo, mas logo travo.
— Não precisa se explicar, vem cá. — me abraça com carinho.
Assim que nos afastamos, encaro Donatello que continua com
o olhar perdido, mas ao mesmo tempo parece feliz.
— Eu não sei como explicar isso. — digo sem jeito.
— Eu vim avisar que seu pai está aqui, Babi. — Elena diz. —
Caleb quer falar com você, Dom.
Paraliso no mesmo instante, e sinto que tudo ainda pode
piorar. Mas eu já sabia que meu pai não ficaria de fora dessa,
havíamos combinado de contar tudo a Donatello juntos, mas eu não
consegui esperar. Não sei se conseguiria fazer isso na frente dele.
Donatello me encara incerto e apenas assente em minha
direção, ele tem o semblante fechado, mas não sei nem ao certo o
que lhe dizer.
— Ele tem muitas coisas a me explicar. — diz de repente.
Prendo a respiração e Theo passa seu braço ao meu redor,
sorrindo com carinho, sem sequer entender a situação. Mas sinto
medo, porque nem eu mesma conheço minha história. E agora terei
de obrigar meu pai a dizer, de uma forma ou outra. Tanto para mim
quanto para Donatello.
Capítulo XX

“Oh, tudo que eu costumava fazer era rezar


Teria, poderia, deveria
Se você nunca tivesse olhado em minha direção” [28]

Antonella “Babi”

Sento-me num sofá, com Theo ao meu lado, ainda abraçado a


mim. Não sei o que dizer, e muito menos, o que me espera, assim
que meu pai entrar pela porta dessa sala. Mas por dentro, estou em
pânico. Elena teve algum contratempo e teve que sair, assim ficamos
apenas eu, Donatello e Theo.
O tempo de espera para meu pai aparecer é torturante, olho
de soslaio para Donatello a cada cinco segundos, e sempre,
encontro seu olhar em mim. Ele parece incrédulo com minha
revelação.
Ele realmente parece não saber de fato o que sou dele.
A porta da sala finalmente é aberta, e meu pai entra com
cautela. Ele olha para Dominic e assente, como se o
cumprimentasse. Seu olhar cai sobre mim, e noto novamente, o
mesmo olhar de decepção em seu rosto. Eu apenas sou um
desgosto para ele nesse momento, sinto isso.
— Não era para Babi ter vindo aqui sozinha e te contar o que
sabemos, mas sim, é verdade. — diz, sem formalidade alguma.
— Esse papel... É real? — Dominic pergunta e meu pai
assente, passando as mãos pelos cabelos. — Mas como é possível
alguém fazer um teste de DNA? Meu e dela, sem que eu tenha
noção disso? Aliás, esse teste é antigo... Quer dizer que só agora
descobriu, não é? — pergunta, e parece que vai surtar a qualquer
momento.
Meu corpo fica tenso e Theo me encara, procurando alguma
resposta. Eu apenas assinto para sua pergunta.
— Christopher não usou praticamente nada de meu
conhecimento ou de qualquer outra pessoa de nossa família, ele
pesquisou com a ajuda de um amigo, o qual também sumiu, justo
hoje. — meu pai diz, parecendo ainda mais nervoso. — Só o que
posso te adiantar é que não sabia, tinha uma leve desconfiança,
porém nunca pesquisei a fundo, pois Babi nunca quis saber.
— Nunca quis saber o que? — Theo pergunta, encarando-os.
— Filho... — Dominic começa a falar, mas logo se cala, como
se não tivesse encontrando as palavras certas.
Acho que elas não existem.
— Eu sou sua irmã. — digo baixinho e Theo arregala os olhos,
parecendo completamente surpreso. — Eu... Não sabia.
Theo me abraça ainda mais forte e eu choro em seu aperto.
Sinto-me quebrada, como nunca estive. Esse é um dos meus piores
momentos.
— O que Christopher fez a ela? — Dominic pergunta, mas
sequer o olho.
Não quero ouvir sobre Chris, eu só quero... Não sei ao menos
o que quero.
— Eu vi sobre o pedido de casamento, eu estava lá. —
Dominic insiste e eu suspiro fundo.
Como meu pai se cala, eu me afasto de Theo e limpo as
lágrimas que descem.
— Christopher me usou, por ambição, dinheiro... Eu me casei
com ele, achando que nos amávamos. Mas descobri que na
realidade, ele sempre soube que sou sua filha e por isso me
enganou nos últimos anos. — confesso, e minha garganta parece
arder.
Preciso sair daqui.
— Do que está falando? — Dominic pergunta e encara meu
pai. — Caleb?
— Não sei se seu avô lhe contou sobre, mas existe um
documento entre os Soares e os Donatello. — meu pai começa a
contar. — Nele, consta que se houver a união de dois membros das
famílias, como o casamento, o mais velho, assume as duas
empresas.
— O que? — Dominic praticamente grita. — Você só pode
estar brincando com isso.
— Acredite, eu queria estar. — meu pai diz sério.
Dominic anda pela sala e passa as mãos diversas vezes pelos
cabelos, como se não conseguisse acreditar nisso.
— Então, aquele moleque é dono da minha empresa? —
pergunta, parecendo furioso.
— Pai. — Theo o chama.
— Agora não! — diz ríspido e eu me encolho, sem saber o que
pensar. — Ele a usou... Por isso? — Dominic indica a sala e então
sorri frio. — Quem ele pensa que é, porra?
— Dominic. — meu pai o chama, olhando-o firmemente. —
Por mais que seja constrangedor dizer isso, precisam fazer o teste
de DNA. Ao menos um que os dois tenham noção de que estão
fazendo. Ainda não sei como Christopher agiu, mas logo saberemos.
— Não. — Dominic corta sua fala no mesmo instante. — Está
ali, a prova de que Babi é minha filha. Não preciso de mais nada
disso. Eu só consigo pensar que vou acabar com Christopher quando
o ver.
— Pai, não é hora para isso. — Theo diz, e Dominic apenas
faz um sinal com a cabeça. — Pai, não...
— Agora, Theo. — ele diz e Theo se afasta, ele beija minha
testa e logo se retira da sala.
— Pai... — olho para meu pai, o qual apenas parece perdido e
não diz nada.
Eu nunca vi Caleb Soares deste modo. O que foi que eu fiz?
— Soares, preciso de um minuto com ela. — Dominic pede, e
meu pai apenas me olha, como se buscasse respostas.
Eu assinto, e ele entende minha posição. Dói vê-lo sofrer por
tudo isso, sem saber como consertar meus erros.
Assim que ele fecha a porta da sala, o silêncio recai sobre
mim e Dominic.
— Eu sinto muito. — diz, de repente e eu o encaro. — Eu
juro, eu nunca soube, Babi... Eu nunca soube de nada.
Respiro fundo, absorvendo suas palavras.
— Você está sofrendo, querida. Vejo isso. Só pelo modo que
chegou aqui em busca de respostas. Eu nunca vi Caleb dessa forma,
ele está sem chão também. Imagino então, que você, esteja se
culpando por isso.
É como se ele pudesse ler minha mente.
— Ele me quis por ser sua... — as palavras travam em minha
língua. Ainda é difícil admitir que meu mundo cor de rosa, se tornou
negro de uma hora para outra.
— Filha. — diz, e me olha, parecendo emocionado. — Minha
filha.
Dominic começa a chorar e eu desabo junto a ele. Não sei
como, mas de repente estamos abraçados. Ele me conforta, pois ele
entende minha dor.
Não posso ousar dizer que minha vida faria mais sentido caso
soubesse de sua paternidade antes, pois eu tive tudo, eu tenho um
pai maravilhoso, uma família sem igual. Mesmo assim, o choro desse
homem, que parece ser tão impenetrável, deixa claro que nenhum
de nós sabe como lidar com isso agora.
— Eu perdi tantas coisas... — diz, e se afasta, enxugando as
lágrimas em meu rosto. — Eu não sei o que pensar, Babi. Mas eu
prometo, vou fazer o meu melhor, para te ver bem novamente.
Suas palavras rondam minha mente e uma ideia surge. A raiva
por Christopher, mesmo após todas as enganações e mentiras - de
ele ter ido até mim e me entregado uma carta - vem com força. Meu
choro cessa e só consigo pensar em uma coisa – ferir Christopher.
— Preciso de sua ajuda. — digo, sem saber o que me espera
ou como ele vai reagir.
Tenho pensado nisso há dias, uma maneira de dar adeus de
vez a Christopher.
— O que? — pergunta, encarando-me sem entender.
— Quero que ele perca tudo. — peço, fechando os olhos
rapidamente, sentindo a raiva aflorar dentro de mim. — Ele não tem
direito de assumir nada.
— Babi, escute bem. — diz calmamente e nem parece o
mesmo homem furioso de segundos atrás. — Eu não sei até que
ponto os papéis que Christopher valem, e muito menos se ele
realmente tem direitos sobre a minha empresa. Sendo que você não
tem o meu sobrenome ainda, correto? — assinto, prestando toda
atenção. — Posso correr atrás de tudo e descobrir, junto a Caleb, o
que realmente está acontecendo. Todos estão perdidos, eu imagino,
mas logo tudo entrará nos eixos. Tudo bem?
— Tudo bem. — respondo por fim, e ele abre um singelo
sorriso.
Um sorriso que agora percebo, assemelha-se com o meu.
Mas em vez de pensar sobre meu pai biológico e todo resto,
apenas uma coisa ronda minha mente – preciso tirar Christopher de
vez de minha vida.
Bônus

Dominic Donatello

Sento-me em minha cadeira e encaro a sala ao meu redor,


sem saber no que pensar. Forço minhas lembranças, tentando saber
de algum momento onde deixei passar algo em minha vida. Não
consigo sequer imaginar isso. Porém, encarando o papel que Babi
trouxe, sei que deixei muito para trás – uma filha.
A porta da sala se abre e respiro fundo, segurando com força
o tampo da mesa. Não preciso encarar a pessoa que entrou para ter
certeza de quem é. Apenas ela é capaz de desafiar uma ordem
direta minha. No caso que se referia a ninguém me incomodar assim
que Babi saísse.
— Theo está insano lá fora. — ela diz calmamente e logo está
parada ao meu lado, encostada na mesa. — O que aconteceu,
querido? — pergunta e toca de leve meu queixo, fazendo-me olhá-
la.
Elena é um bálsamo para tudo em minha vida.
Afasto minha cadeira e ela sabe muito bem o que quero,
automaticamente se senta em meu colo e passa as mãos em volta
de meu pescoço.
— Babi é minha filha. — confesso e ela arregala os olhos, tão
surpresa quanto eu devo ter ficado antes.
— Mas...
— Ela apareceu aqui com o teste de DNA já feito há algum
tempo, ao que tudo indica, Christopher, o mais novo dos Soares,
sabe? — pergunto e ela assente, ainda de boca aberta. — Ele armou
tudo, até aquela cena que vimos na posse dele, o pedido de
casamento, ela me confessou que eles na realidade, já estão
casados. Mas que ele contou a ela que tudo foi uma armação, que
ele o fez, pois tem um documento assinado por meu avô que...
Paro no mesmo instante e reflito sozinho. Lembrando o
quanto meu avô era bom, porém o quanto horrível meu pai era. Meu
pai era o homem mais perverso que já conheci, era frio e cruel. Ao
me lembrar disso, uma luz parece se acender em minha mente.
— Não pode ser! — digo enraivecido, tirando com cuidado
Elena de meu colo. — Ele não podia ter feito isso! — grito.
— Dominic! — Elena grita ainda mais alto e para a minha
frente, tocando meu rosto. — Precisa se acalmar, ok?
— Eu sei, mas...
Desvio de Elena e pego meu celular, ligando para meu
contato, o qual sempre me ajudou a resolver vários problemas, e
quem investiga sobre tudo ao meu redor, além de proteger minha
família. Pedi há algumas horas para que investigasse sobre todas
essas novas informações... Mas pensando com um pouco mais de
clareza, consigo apenas imaginar uma pessoa capaz de ter me
escondido isso e enganado todos.
— Foi meu pai quem a escondeu de mim, não foi? —
pergunto assim que ele atende, já surtando.
— Donatello, tenho as informações que pediu. Tenho os
documentos a respeito de tudo, além de uma testemunha. Uma
mulher chamada Kátia, uma prostituta que diz ter uma amiga já
falecida que engravidou de um jovem ricasso, e que ganhou dinheiro
para abortar o bebê, porém não o fez...
Ele continua contando, e tudo que faço é desmoronar
novamente na cadeira.
Lembro-me de anos atrás, de como estive perdido por aí. Eu
sequer me lembro da mãe biológica de Babi, dentre tantas
prostitutas com as quais saía na época... Isso parece um pesadelo
sem fim.
— Donatello? — ouço a voz de Leon me chamando.
— Apenas me diga, ela é realmente minha filha? — pergunto,
respirando fundo, mesmo já não restando sombra de dúvidas sobre
isso.
— Christopher teve amostra suficiente de seus cabelos e dos
de Antonella Soares. Descobri que tudo foi feito por debaixo dos
panos, ele pagou alto para conseguir fazer esse teste, sem sequer
dar o nome dos interessados. — diz e eu soco com força a mesa.
— E a empresa? — pergunto, já exausto, sentindo as
pequenas mãos de minha esposa tocarem minhas costas.
— Essa é a parte estranha. Ele não conseguiu a Donatello,
pois para isso, Antonella precisava ter o seu sobrenome. Portanto, o
plano dele não obteve sucesso.
— Ótimo, já desconfiava disso.
— Mas descobri algo, Donatello. Que quem encobriu tudo
isso, a respeito dos atos de Christopher, foi Isaac Morgan. — diz,
assustando-me.
— O que? — pergunto incrédulo.
— Conheço Joaquim há tempos, e falei com ele há poucos
minutos. Ele disse que essas informações chegariam a ele, pois a
segurança segue todos os Soares e os amigos mais íntimos. A
pessoa responsável pelos relatórios gerais é Isaac, caso haja algo
estranho, ele que comunica Joaquim sobre ou simplesmente resolve,
pois eles são os responsáveis por toda segurança dos Soares.
— Eu sei. — digo já vencido. — Obrigado, amigo.
— Sobre o que me pediu a mais, sobre alguma falcatrua de
Christopher...
— Sim, achou algo? — pergunto ansioso, lembrando-me do
pedido de Babi.
— Não há como ter acesso aos Soares sem ter alguém dentro
da própria empresa, portanto, teria que falar com Rodrigo
diretamente...
— Não. — nego veemente.
Não quero envolver meu amigo nisso, ainda mais porque seu
filho pode ter feito algo pior ainda, além de ter destruído o coração
de Babi e enganado toda a família.
— Deixe, eu vou resolver isso. — digo, lembrando-me de
minha última saída.
— Como quiser, até mais.
— Até. — desfaço a ligação.
Abaixo a cabeça e toco de leve meu queixo, pensando em
como realmente mexer com isso. Tudo nunca esteve tão confuso
quanto agora, mesmo com toda vida conturbada que tive e minhas
más escolhas.
— Não faça nada agora, Dominic. — Elena diz e me abraça
por trás, dando um leve beijo em minha bochecha. — Vamos
resolver isso.
Reflito sobre suas palavras, assim consigo me sentir um pouco
melhor. Coloco o telefone no lugar e resolvo não ligar. Melhor não
fazer nada para Babi, não ela estando tão nervosa assim, e eu ainda
mais perdido.
Meu celular toca e minha vontade é jogá-lo longe.
— Deixe. — Elena pede, e eu pego o aparelho de meu bolso e
a entrego.
Apoio meus cotovelos na mesa e seguro minha cabeça com
força, tentando assimilar tudo.
Preciso saber de tanta coisa ainda, sobre meu pai, sobre a
mãe biológica de Babi, sobre esse documento de um casamento
entre os Soares e os Donatello que sempre soube que existia, mas
que nunca pensei que seria usado... Sobre mim, como pai.
— Dom. — viro-me para Elena, a qual me olha alarmada. — É
melhor atender, querido.
Pego o celular e só pela expressão dela, sei que só pode ser
algo ruim.
— Pronto.
— Isaac nos passou para trás, como eu já suspeitava, por isso
toda essa merda está acontecendo. — espero alguns segundos,
reconhecendo a voz de Caleb. — Mas isso não importa agora, o que
importa é que descobri algo. — ele dá uma pausa. — Meu irmão
roubou a empresa.
— O que? — pergunto incrédulo.
— Isso mesmo!
— Por que ligou para me contar isso? — pergunto sem
entender.
— Não vou contar a meu pai agora, não sabendo de tudo o
que houve, tenho medo de que isso prejudique sua saúde. Babi me
pediu algo, e tenho certeza que te pediu o mesmo...
— Ela quer que ele perca tudo, certo? — pergunto e ele
confirma. — Precisamos conversar pessoalmente sobre tudo isso,
Caleb.
— Concordo plenamente.
Marcamos de nos encontrar amanhã, já que tudo está além
do que apressado e não sabemos o que fazer com essas
informações. Caleb parece enfurecido com o irmão, por tudo o que
fez por pura ambição, e eu não consigo parar de pensar que
Christopher me privou de saber que era pai... Fez-me perder ainda
mais tempo longe da minha filha.
— Vamos para casa, Dom. — Elena pede e segura minha
mão.
— Eu já fui um monstro um dia, Elena. Mas não sou mais
aquele homem. — confesso derrotado, abarrotado de lembranças.
— Sabemos que não, meu amor. — diz calma, como sempre.
— Mas eu preciso pôr um fim nisso, ou evitar que Caleb e
Babi façam algo que possa prejudicar sua própria família. — digo
decidido.
— Como assim? — pergunta, claramente perdida.
— Eles querem que Christopher perca tudo, e dependendo do
que façam, vou ajudar.
— Dominic! — Elena chama minha atenção.
— Não vamos mais falar sobre isso, minha estrela. — digo,
tocando seu rosto e me levantando. — Preciso sair daqui.
— Ok. — diz, mas seu tom deixa claro que essa conversa não
acabou.
Saímos de minha sala e olho ao redor de toda a empresa que
tanto luto para manter. Só consigo imaginar, colocando-me no lugar
de Christopher, o qual um dia me pertenceu – quando fazia tudo por
poder – se isso realmente vale a pena. No meu caso, percebi após
muitos erros, que não vale.
Capítulo XXI

“Vivendo pela adrenalina de te atingir onde dói


Me devolva a minha juventude, ela era minha em primeiro lugar” [29]

Antonella “Babi”

— Eu descobri algumas coisas, Babi. — Donatello diz,


sentando-se ao meu lado, no grande sofá de seu escritório
particular. — A primeira delas é que sim, sou seu pai biológico, não
há como ter algum erro no exame que Chris fez.
Respiro fundo, com a certeza de que não há mesmo como
fugir disso. Não mais.
— Mas como ele conseguiu? — pergunto, e ele passa as mãos
pelos cabelos já com alguns frios brancos.
— Bom, ele usou fios de nossos cabelos. No seu caso, com
certeza foi mais fácil, já comigo, suspeitamos que ele conseguiu
através de algum cúmplice, até mesmo pode ser alguma empregada
que teve acesso a uma escova de cabelos minha... Mas o que
importa aqui é que ele apenas confirmou algo que Caleb já
desconfiava. — diz e eu assinto.
— Meu pai não quis buscar além do meu passado, pois eu
pedi isso a ele. Acho que por isso nunca falou com você, além de
que ele pensou que fui abandonada e deixada naquele orfanato. —
digo e ele me encara com certa tristeza.
— Foi meu pai, seu avô biológico, ele te deixou lá. — diz e
fecha os olhos, encostando-se contra o encosto do sofá. Encaro- o e
noto que uma lágrima desce por seu rosto. — Eu não sou um santo,
acredite em mim, fiz coisas ruins nessa vida, mas meu pai... Se é
que posso chamar aquele homem assim, ele era um monstro.
Ele então se levanta de repente e vai até uma grande mesa,
pegando um envelope branco.
— Aqui. — diz e eu pego, encarando o envelope sem
entender. — Houve um tempo, quando mais jovem em que
realmente não fui um santo, e acabei me envolvendo com muitas
mulheres, uma delas foi Clara Nogueira. — ele então faz sinal para
que eu abra o envelope, e assim o faço.
Levo às mãos a boca, ao ver a foto de uma mulher que é
praticamente igual a mim. Lágrimas vêm ao meu rosto, e passo de
leve as mãos pela imagem. Minha mãe.
De repente Elena entra na sala e nos encara com pesar.
— Aconteceu algo, querida? — Donatello pergunta e ela
assente, vindo até mim.
— Babi, seus pais estão aqui. — informa e eu apenas peço
para que eles possam entrar.
— Disse a eles que viria? — Donatello pergunta e eu nego
com a cabeça. — Posso te dar um conselho? — apenas concordo. —
Não os afaste de você, não nesse momento tão delicado. Posso ver
pela mulher maravilhosa que é, o quanto eles são bons para você.
— Você está certo. — digo, enquanto vejo Elena sair do
escritório, e logo meus pais voltam junto a ela.
Minha mãe está com um olhar pesado, já o semblante de meu
pai é completamente triste, como se algo realmente ruim tivesse
acontecido.
— Desculpe, filha, nós só...
— Me desculpem, eu devia ter avisado antes. — digo,
seguindo o que Donatello aconselhou.
Por mais que esse momento seja difícil para mim e para
Donatello, meus pais também estão sendo prejudicados. Pelo olhar
que me dão e a forma como estão, sei que as coisas estão
completamente estranhas entre nós, mas não quero isso. Sei que
preciso deles, ainda mais agora.
— Se sentem, por favor. — Elena diz, e logo sai do cômodo.
Deixando-nos a sós.
O silêncio recai sobre nós, enquanto meus pais se sentam
lado a lado no outro sofá, que está a minha direita.
— Essa... — respiro fundo, tocando de leve a foto. — Essa era
minha mãe.
Mamãe no mesmo instante se levanta e vem até mim,
ajoelhando-se a minha frente. Ela encara a imagem, tocando de leve
em meu rosto, sorrindo.
Quando seus olhos azuis se encontram com os meus, vejo
que ela não está triste por isso, por saber que conheço meu
passado. Ela tem um certo brilho no olhar, como se estivesse
orgulhosa.
— Você é igual a ela. — diz, fazendo-me sorrir em meio às
lágrimas.
Meu pai permanece imóvel, sentado no outro sofá.
— Caleb. — mamãe o chama e ele suspira fundo.
— Eu também pesquisei a respeito de tudo, você é a cara
dela, filha. — diz, e abre um sorriso sem dentes.
— Bom. — Donatello diz e o encaro. — Eu preciso te contar
algo a respeito dela, tudo bem? — pergunta e eu assinto, sem saber
o que esperar. — Sua mãe era... Uma prostituta.
Arregalo os olhos surpresa, mas aos poucos deixo isso de
lado. O que ela fazia não interessa, eu apenas quero saber um
pouco mais dela.
— Ela me procurou quando soube da gravidez, mas eu estava
fora do país naquela época, então, meu pai, assumiu tudo. Pelo o
que uma amiga dela contou, Clara aceitou a proposta dele.
— Que proposta? — pergunto sem entender.
— Ele pagou para que ela tirasse você. — diz e fico sem fala.
— Ela aceitou, mas o que meu pai não sabia, era que ela foi até a
clínica clandestina e não fez o aborto, ela deu parte do dinheiro para
a dona de lá dizer que ela realmente o fez para meu pai, e a outra
metade, usou para fugir.
— Então ela...
— Ela te protegeu. — Donatello sorri, e minhas lágrimas
voltam. — Ela conseguiu enganar meu pai uma vez, porém com o
tempo, ele acabou descobrindo a verdade. Ele foi atrás dela, mas
quando a encontrou, você já tinha nascido e ela... Bom, ela morreu
no parto.
— Não. — digo, já suando frio. Sem conseguir imaginar o
quanto ela sofreu e se sacrificou por mim.
— Eu sinto muito, Babi. — ele diz, enquanto minha mãe
segura com força minha mão, com lágrimas em seu rosto.
— Então foi seu pai que me deixou naquele orfanato? —
pergunto e ele assente.
— Ele escondeu tudo de mim, de minha família... Eu juro, que
se eu tivesse sido informado, eu não te deixaria lá.
Seu rosto parece contorcido, e assim como eu e minha mãe,
ele tem lágrimas pelo rosto.
— Eu também falei com a amiga de sua mãe uma vez, ela me
confirmou toda a história. Contou o quanto Clara lutou para falar
com Dominic, mas não conseguiu, e assim, acabou convencendo o
pai dele de que ela realmente estava grávida. Sua mãe era uma
mulher forte, Babi. Hoje, depois de tudo o que descobri, não tenho
dúvida alguma. Eu sinto muito por não ter te contado o pouco que
sabia antes, mas eu apenas queria que você tivesse o direito de
escolha e... — meu pai para de falar de repente e vejo que ele
realmente não está bem.
— Eu sei, pai. — digo, sorrindo em direção a ele.
Vendo seu estado, levanto-me e vou até ele, abraçando-o com
carinho.
— Você sempre fez o seu melhor por mim, e acatou todas as
minhas decisões. Eu agradeço demais pelo respeito que sempre
teve. — ele chora em meu ombro, enquanto toco de leve seus
cabelos negros já grandes. — Eu te amo.
Assim que nos separamos, vejo o quanto o semblante dele
está mais leve. Sei que ele se culpa, mas sabemos que não precisa
disso.
— Agora, sobre Christopher. — Donatello diz, fazendo-me
engolir em seco. — Descobri algo que pode não ser muito bom, ou
pior, pode.
— Como assim? — meu pai pergunta, e assim, sento-me ao
seu lado.
Mamãe vem até nós e toca de leve meus cabelos, ficando de
pé.
— Houve um desfalque na Soares, há alguns anos. Após
muito pesquisar, descobri que foi Christopher que fez. — diz,
suspirando fundo. — Nesse envelope que te dei, tem as provas de
que ele nunca devolveu o dinheiro que pegou.
— Quanto? — pergunto sem conseguir acreditar.
— Cem mil reais. — arregalo os olhos no mesmo instante. —
Eu não sei por que ele fez isso, não conseguimos ainda descobrir
sobre o destino do dinheiro mas...
— Isso tira dele o direito de presidir a Soares? — pergunto e
Donatello nega coma cabeça. — Por que?
— Isso foi há muito tempo, pode ter alguma justificativa
válida para isso. — Donatello explica. — Mas a questão é que ele
não conseguiu a presidência da minha empresa.
— Por que não tenho seu sobrenome, não é? — pergunto e
ele assente. — Felipe havia me explicado um pouco sobre. —
confesso a meus pais.
— Você me pediu para te ajudar nisso, mas não sei como. —
Donatello diz e sorri de leve.
— Com o que? Como assim? — mamãe pergunta confusa.
— Eu queria dar um choque de realidade em Chris e... Bom,
fazê-lo ver que realmente machucou a todos. — tento explicar.
— Mas, Babi...
— Mãe, ele fez tudo isso por dinheiro, nada mais justo que...
— Ele perder tudo? — minha mãe pergunta e eu assinto. —
Isso não vai mudar nada, filha. Acha mesmo que seu avô está bem
com essa situação, acha mesmo que alguém está? Seu tio magoou a
todos, e sei que principalmente você, mas...
— Ela tem o direito de resposta, Victória. — meu pai diz firme,
o que me faz sentir completamente culpada.
— Ela não tem direito de se vingar. — mamãe diz e eu
entendo sua interpretação sobre isso.
Ela então se afasta do sofá e nos encara.
— Se querem continuar com esse joguinho idiota que
Christopher começou, ótimo. Mas eu pensei que o importante aqui
era você, Babi. Conhecer seus pais biológicos e em algum momento
confrontar Christopher a respeito de tudo.
— Victória... — meu pai tenta dizer algo, mas ela levanta a
mão.
— Eu não vou falar disso aqui, pois Donatello não tem que
ficar ouvindo minhas opiniões sobre nada. Mas vocês deveriam
pensar melhor no que estão fazendo. Ver que a situação vai muito
além da presidência da Soares. Isso tem a ver com a nossa família,
a única coisa que realmente importa.
Mamãe então dá as costas e sai da sala, indo em direção a
saída.
— Deus. — digo, e meu pai se levanta no mesmo instante
indo atrás dela.
Assim que ele sai, Donatello me encara com pesar.
— Se continuar com isso, de querer magoar Christopher, vai
piorar toda essa situação. Tem certeza que quer fazer algo contra
ele? — estranho por completo sua pergunta.
— Eu...
— Ele precisa de um choque de realidade, e podemos fazer
isso. Mas acha mesmo que compensa arriscar a felicidade de sua
família? — pergunto sério.
— Eu não quero que eles se prejudiquem ou outra coisa... Eu
só quero que Christopher pague pelo que fez.
— Você herdou um lado horrível meu. — diz sincero, e eu o
encaro espantada, mas sem querer voltar atrás. — Eu vou assumir
os riscos de tudo, vou fazer uma cena e acusar Christopher sobre o
desfalque, se quiser mesmo fazer isso. Mas terá que prometer que
irá fazer algo depois disso.
— O que? — pergunto afoita.
— Consertar as coisas. — diz, e eu fico perdida. — Você vai
conseguir.
E por puro impulso respondo:
— Ok, eu aceito.
Capítulo XXII

“Se há claridade na morte, então por que isso não morre?


Anos demolindo nossos estandartes, você e eu” [30]

Christopher
Dias depois

Encaro novamente o teto e divago sobre tudo. Releio mais


uma vez a mensagem que meu irmão me mandou e tento controlar
a euforia, e infelizmente, o remorso que explodem dentro de mim.
Eu sei que não deveria ficar assim, sei que com certeza nesse
momento, sequer seja ainda o marido de Antonella, mas eu não
consigo desistir.
Forço-me a levantar e vou ao banheiro. Encaro minha barba
por fazer e sorrio com a lembrança de que Ella gosta dela assim.
Escovo os dentes e lembro dos dias em que ela cantava no chuveiro
enquanto eu estava nessa mesma posição, mesmo esse banheiro
não sendo o nosso. Estou em um hotel, pois não tive coragem de
voltar a nenhum de meus apartamentos. O cheiro dela está
impregnado neles, assim como a culpa por tudo que fiz. E ainda não
consegui encarar isso.
Meu celular toca e novamente vejo uma mensagem de
Castiel. Ele me avisa praticamente sobre tudo, mas dessa vez não
tem certeza se o que Ella quer falar comigo é bom ou ruim, apenas
sabe que ela quer todos presentes. Isso mais parece meu
julgamento, mas eu não me importo, pois ao menos estarei perto
dela. Essas duas semanas, após vê-la praticamente sem vida em
meus braços, foram as piores possíveis. Eu nunca pensei que sentiria
isso, mas só de lembrar do seu doce sorriso, meu peito se aperta. Eu
preciso de apenas uma chance.
Essas últimas semanas tentei aceitar a oferta de meu amigo e
mudar minha vida, mas não sei, algo em mim ainda me impede. Não
consegui sequer fazer o que prometi a Castiel, que é ficar longe.
Aguardei Ella ler a carta que deixei, e espero que seja por isso que
ela me chamou.
Cerca de meia hora depois, já respirei fundo várias vezes
dentro de meu carro. Encaro meu reflexo e toco meu queixo,
tentando imaginar o que dizer para minha família. Pelo que Cas me
disse, foi Ella que chamou todos, então com certeza será a respeito
da carta, a respeito de sua decisão sobre nossa separação.
Batidas na janela do carro me assustam e finalmente abro a
porta. Castiel sorri cinicamente e me olha de cima embaixo.
— Péssimo. — sorri. — Assim como imaginei.
— Sempre engraçado, irmão. — debocho.
— Sempre lindo você quis dizer, não é? — nego com a cabeça
e ele toca meu ombro, guiando-me pela entrada da casa de Caleb.
— Só eu acho estranho tudo isso? — pergunta e eu o encaro.
— Aquele dia, deixei uma carta para ela. — coço minha nuca.
— Mas acho que ela chamou todos porque não quer mais esconder
nada de ninguém, já escondemos o bastante.
— Você e Caleb podem negar, mas são bem mais parecidos do
que acham. — diz e me para de repente. — Seja o que for que
escreveu, mexeu com ela, então só... Vá com calma!
— Certo.
Castiel abre as portas e eu entro logo em seguida, como se
fosse sua sombra. Meus pais estão sentados no sofá e de longe vejo
as crianças brincando com a babá, Sara. Busco o olhar da mulher
que amo, mas ela ainda não está aqui. Dani se aproxima de nós e
abre um sorriso fraco para mim, o que me surpreende. Todos
sabemos que ela é uma das pessoas mais difíceis de perdoar.
— Ela logo vai aparecer. — Cas diz e então se afasta, para
falar com a esposa.
Coloco as mãos nos bolsos e sinto meu coração bater
freneticamente. Minha mãe me olha com pesar e penso até em me
aproximar, mas não é minha casa, e duvido que ainda não esteja
decepcionada. Tanto porque sumi nas últimas duas semanas,
deixando de lado até mesmo a empresa. Não sei ao certo nem quem
esteve em meu lugar, e muito menos me interesso. Eu vou cumprir o
que prometi na carta e serei verdadeiro.
Olho para o chão, enquanto o ar parece ainda mais pesado
que antes. Passos me chamam atenção e como se ela fosse meu
imã, meus olhar vai em direção as escadas.
Linda - é a única definição que tenho.
Se antes estava com medo do que viria, agora estou
apavorado. O olhar de Ella vaga em qualquer lugar menos em mim,
e noto sua frieza.
Não, baby!
Continuo parado no mesmo lugar, enquanto Caleb e Victória
vêm atrás dela. Luna desce logo depois com Felipe, e eu fico ainda
mais em saber o que fazer. Essa ansiedade está me matando.
Castiel então vem em minha direção e antes mesmo de
chegar, Caleb o para, dizendo algo que deixa meu irmão nervoso.
— Que palhaçada é essa, então? — Cas pergunta nervoso.
— Bom, eu acho que todos estão se perguntando o que está
havendo aqui. — fico estático, ouvindo atentamente suas palavras.
Minha Ella . — Eu quero apenas dizer que sinto muito por tudo que
fiz a vocês, pela preocupação e por todas as coisas que omiti. — ela
sorri fracamente. — Além de que acabei me envolvendo com
Christopher e isso... Bom isso me mostrou um passado que não
queria, mas ao mesmo tempo me mostrou minhas origens.
— Ella... — digo em sussurro.
— Bom, enfim, nós nos envolvemos. — finalmente seu olhar
para em mim. — Christopher!
Fico sem reação e tento dar passos em sua direção. Assim
que estamos próximos, vejo um sorriso em seu rosto e isso me dá
esperança. Ela com certeza leu a carta.
— Eu posso dizer algo antes que continue? — pergunto,
tirando coragem através do sorriso que me lança, e ela
simplesmente assente.
— Eu sei que fiz tudo errado, na realidade desde sempre. —
suspiro fundo. — O que tenho para dizer é que amo Antonella, e por
ela eu quero ser melhor, por toda dor que causei a cada um dessa
sala, sem ao menos pensar... Que ela me abriu os olhos...Que eu
quero a chance de...
— De ter minha empresa sobre seu comando?
Paraliso.
Encaro Ella e seu sorriso doce não está mais lá, há apenas
ironia em seu semblante. Viro-me e Dominic Donatello, em seu terno
típico, me encara imponentemente.
— Mas o que está havendo aqui? — pergunto assustado.
— Como foi capaz disso? — Castiel pergunta de repente e
empurra Caleb. — E você Babi, como pode? Eu não reconheço mais
essa família! — grita. — Vamos sair daqui, Chris. — me encara, e
fico sem reação.
Danielle vai até as crianças, pega Gabriel no colo e Annie vem
atrás dela. Castiel continua a me encarar, e antes que possa dizer
algo, meu pai se levanta.
— Babi tem uma decisão para contar, e é por isso que
estamos aqui, não é. — pergunta nervoso e encara Babi. — Não
quero saber de empresa e muito menos o que Donatello faz aqui.
— Chris... — Castiel tenta, mas eu apenas nego com a cabeça
e me viro para Ella.
— Eu não vou abrir mão desse casamento. — ela diz de
repente, e minha respiração falha.
Será que ela realmente me dará uma chance?
— Eu não vou deixar tudo para você, Christopher. — diz e
sorri, pegando alguns papéis em cima da mesinha, jogando-os em
mim.
Espanto-me e sequer os olho.
— O que está havendo, baby? — pergunto sem entender mais
nada.
— Não vai me usar mais. — sorri com deboche. — Suas
palavras não me comovem, e junto com Dominic, consegui descobrir
muitas coisas interessantes sobre você.
— Como assim?
— Estão todas nesses papéis. — dá de ombros. — Tudo que
roubou da Soares.
— O que? — pergunto assustado. — Eu nunca...
— Qual é, Christopher? — se vira para meu pai. — Eu sinto
muito, vô.
— O que está fazendo, Antonella? — Caleb pergunta de
repente.
Meu pai me encara incrédulo e tenho certeza de que estou da
mesma maneira. Viro-me, olhando todos da sala, buscando
respostas sobre isso. Mas quando paro meu olhar em Donatello, seu
ódio parece emanar, e sinto como se uma faca fosse cravada em
meu peito.
— Ella, você leu a carta? — pergunto, tentando pela última
vez.
— Aceite que perdeu tudo, Christopher. — balança a cabeça.
— Qualquer tipo de roubo que tivesse cometido, pelo contrato que
assinei, faz com que perca a presidência imediatamente.
— Mas eu não quero mais...
— É bom ser enganado, não é? — se aproxima. — Achou
mesmo que iria vir aqui e eu iria cair no seu papinho de "vou ser o
que você merece"? Eu não caio mais nisso. E todos agora sabem
que sua ganância é o que sempre importou. Você é podre por
dentro.
Sinto uma mão em meu ombro e Castiel me puxa, tentando
me tirar daqui, mas não vou, fico apenas olhando-a.
— Antonella! — ouço o grito de Caleb, porém tudo fica
embaçado de repente.
Encaro Ella e não consigo mais a reconhecer.
Quem é essa mulher a minha frente?
Ela realmente não acreditou em nada do que disse na carta?
Mas também, como poderia? Tudo o que fiz foi enganá-la. E por
isso, assumo um erro que nunca cometi.
Dando passos para trás, saio da casa de meu irmão, vendo a
decepção estampada no olhar de todos. Quando Castiel fecha a
porta atrás de nós, encaro a rua e tento não pirar.
Preciso de um cigarro.
Preciso beber.
Preciso de algo que tire essa dor.
— Eu não sabia, Chris. — ouço a voz de Cas, e mesmo
sabendo que ele está ao meu lado, ela parece muito longe. — E
tenho quase certeza de que Caleb também não. Irmão, eu sinto
muito.
Levo as mãos à cabeça e lágrimas descem por meu rosto. Ela
quer me tirar tudo, achando que as empresas importam, mas nada
mais me importa que não seja ela.
Não sei como, mas de repente corro para meu carro. Dirijo
em meio as lágrimas e quando vejo já estou em frente ao
apartamento de Eduardo.
— Chris? — ele pergunta incerto.
— Aquela proposta ainda está de pé?
— Sim, mas...
— Eu vou. — digo de uma vez.
— Mas Chris, talvez seja melhor...
— Ela não é mais a mesma, eu a quebrei. — confesso. —
Preciso que ela entenda que não me importa o dinheiro. Eu não
preciso fazer isso por ela. Preciso fazer isso por mim.
— Ok, amigo. Vamos lá, então!
E com isso, digo adeus ao meu passado.

Antonella “Babi”

Christopher sai da casa de meus pais e o silêncio paira entre


todos nós. A raiva com que meu tio Castiel e Dani me olharam,
assim como encararam toda nossa família, faz-me sentir culpada
nesse instante.
Olho para meus pais e minha mãe apenas faz sinal de
negação com a cabeça e juntamente a Luna e Miguel, sobe as
escadas. Olho para meus avós e vejo que os dois estão horrorizados
com tal declaração. Encaro então meu pai e ele desvia o olhar,
parecendo realmente magoado, viro-me então para Donatello e ele
apenas assente para mim, como quem diz claramente “agora tem
que acertar as coisas”.
O que foi que eu fiz?
—Vô, eu não deveria ter feito isso, eu não...
Deus, eu não sou assim!
— Depois, minha querida. — minha vó diz e sorri para mim,
assim como meu avô.
Logos os dois saem da casa e deixam-me apenas com meu
pai, Donatello e Felipe.
Lipe fica alguns segundos me olhando e logo depois sai de
casa, sem sequer olhar para trás.
— O que houve aqui? — meu pai pergunta e olha de mim
para Donatello. — Eu pensei que fosse falar sobre divórcio, como
deixou subentendido que faria. Não pensei que seria uma cena para
se vingar de Christopher! Eu ajudei Donatello a descobrir algo sobre
ele, pois iria daí falar com Chris sobre, fazê-lo enxergar que errou.
Não essa cena ridícula! — diz claramente furioso.
— Pai...
— Você não precisa se vingar, muito menos se igualar com o
que Chris fez. Eu sei que está sofrendo, mas o que vi aqui hoje, a
minha Antonella não faria. — chama minha atenção e então encara
Donatello. — Não sei por que resolveu ajuda-la nisso, mas saiba que
não vou deixar com que destrua minha família. Quero que saia da
minha casa, o mais rápido possível.
Donatello sequer diz algo e apenas encara meu pai. Logo meu
pai sobe as escadas e nos deixa sozinhos.
— Eu não entendo. — digo, sentando-me no sofá e tentando
reorganizar meus pensamentos.
— Você me pediu algo, estando nervosa e com raiva. Eu sabia
que isso faria você pensar e ver que não precisa fazer nada contra
Christopher, pois isso pode magoar muitas pessoas, inclusive as
pessoas que mais ama. — Donatello diz, como se já soubesse que
isso realmente ia acontecer.
Como pude ser tão cega?
— Eu pensei que isso me faria feliz, que me sentiria bem. —
confesso, tentando controlar as lágrimas.
— Você tem um bom coração, Babi. Mal fez algo ruim e já
está vendo que errou, e melhor, admite isso. — diz e eu forço um
sorriso, sabendo que acabei magoando novamente a todos.
Burra!
— Olha, eu não tive a oportunidade de cria-la e sei que não
posso exercer agora esse papel de pai. Mas posso te dar um
conselho? — ele pergunta e eu assinto, encarando-o. — Dê um
tempo a si mesma, viaje, se isole um pouco... Às vezes precisamos
de tempo para discernir entre o certo e o errado.
— Eu não sei. — digo sem jeito, tentando imaginar como seria
tudo se não tivesse trocado os pés pelas mãos. — Não seria algo
como fugir dos problemas? — pergunto incerta.
— Às vezes, precisamos fugir, para finalmente encarar nossa
realidade. — diz convicto. — Já passei por isso antes, e me ajudou a
perceber o que errei e como poderia acertar no futuro.
— Por isso me deixou quebrar a cara? — pergunto e ele abre
um sorriso sem dentes.
— Por isso a vida nos ensina a cada dia mais. — diz e sorri
para mim. — Fale com sua família, seja sincera sobre o porquê fez
isso. Eu vou descobrir o porquê do desfalque de Christopher. Olha,
ele pode ser muitas coisas, mas apesar de que ele seja a última
pessoa que eu confio, duvido que seja um ladrão.
Paro um minuto para pensar sobre isso, e realmente, sei que
Christopher não iria tão longe. Apesar de que no momento não
consigo pensar muito sobre, não do modo que estou.
— Preciso mesmo de um tempo. — digo e Donatello assente.
— Eu quero estar na sua vida, Babi. Mas sei que precisa se
encontrar primeiro, antes de qualquer coisa. Porém, se precisar de
algo, só ligar. — diz e eu me levanto, abraçando-o.
— Obrigada por tudo. — digo e ele se afasta.
— Até mais.
Donatello logo sai de minha casa e eu me jogo novamente no
sofá. Penso nos erros que cometi e em como todos influenciaram
diretamente na situação em que me encontro. Preciso consertar as
coisas, e rápido.
Capítulo XXIII

“Nós nos reunimos aqui, fazemos fila, choramos em uma sala iluminada pelo
Sol
E se eu estiver em chamas, você também se transformará em cinzas” [31]

Caleb

Subo as escadas, sem acreditar no que minha filha foi capaz.


Vou até meu quarto e encontro Victória sentada na beira da cama.
Vejo que seu rosto está vermelho e essa é a mesma cor de seus
olhos. Não há brilho em seu olhar, não o de costume, muito menos
um sorriso estampa seu rosto. Victória está apenas presente,
encarando-me, esperando alguma iniciativa minha.
Nossas brigas tem sido constantes desde que descobrimos
tudo a respeito de meu irmão e Babi. Eu sei que em vários
momentos estive errado, sei disso agora. Sou homem protetor, ainda
mais com meus filhos, não quero de modo algum que alguém se
aproveite da bondade deles... E quando vi que meu próprio irmão foi
capaz disso, nada mais me fez discernir entre o certo e o errado.
Victória tentou por diversas vezes, mas nas quais respondi
acabamos discutindo. Então resolvi evitar brigas, mas no fim, sequer
acabamos conversando sobre o dia a dia, ou algo rotineiro. Não
lembro a última vez que a beijei desde que decidi tomar as rédeas
da vida de Babi. Isso não mudou nada, minha filha continua se
afundando após tudo que houve.
Ao evitar machuca-la, querendo ou não, machuquei uma das
pessoas que mais amo nesse mundo – meu irmão caçula.
Christopher errou muito, é um fato que não posso mudar, mas quem
nunca errou? Eu mesmo já errei muito antes, e continuo o fazendo.
— Divagando. — Victória diz, e finalmente saio de meus
pensamentos.
— Desculpe. — digo e ela força um sorriso.
Sei que ela está magoada, machucada e pior, acabada com
isso tudo. Isso realmente abalou nosso casamento, de uma forma
que pensei que nunca mais aconteceria. Não após tudo que
passamos para estarmos juntos.
— Eu te amo. — digo, deixando uma lágrima descer por meu
rosto. — Eu te amo mais do que tudo, minha rainha.
Seus lindos olhos azuis se fecham por um instante, e ao notar
sua fragilidade, vou até ela e abraço com cuidado. Victória se molda
a mim perfeitamente, como sempre aconteceu e sempre
acontecerá... Fomos feitos um para o outro, e sabemos disso.
— Eu sinto muito, me perdoe, minha rainha. Me perdoe. —
peço em seu ouvido, sentindo o cheiro doce de seus cabelos. —
Estava certa desde o começo.
Eu não posso sem ela, pois fico completamente perdido.
Vaguei por vinte anos esperando pelo seu amor, e eu não deixarei
que algum outro erro meu a leve de mim. Victória sempre foi uma
certeza em minha vida. Como pude permitir chegarmos a essa
situação?
Afasto-me dela por um instante e toco de leve seu rosto.
Limpo as lágrimas que ainda insistem em descer, e noto, aos poucos,
seu olhar para comigo, voltar a ser o mesmo. O mesmo desde que
demos nosso primeiro beijo.
— Eu errei, sei disso agora. Eu pensei estar protegendo nossa
família. Eu não sabia que ela faria isso com Chris. Eu me sinto tão
culpado, minha...
— Rainha. — diz e sorri de verdade, mostrando-se como a
mulher que amo. — Sua rainha.
— Me perdoe. — peço e ela toca meu rosto, passando os
dedos delicadamente por cada traço meu.
— Um dia eu olhei para você e não consegui imaginar nada,
absolutamente nada. Mas desde que olhei para você com todo amor
que sinto você se tornou meu tudo. Somos humanos, Caleb.
Erramos hoje, e vamos errar amanhã. Tem que entender que não há
como controlar o sentimento alheio e muito menos proteger a todos.
Sabe disso, eu também sei.
— Eu entendo, Vic. — digo, fechando os olhos por um
instante. — Acho que me senti impotente quando a vi deitada
naquela cama de hospital e... Tudo aconteceu debaixo do meu
nariz...
— Dos nossos narizes. — corrige, olhando-me inquisitiva. —
Tem que entender que todos nós estamos aqui por ela, e também
por Chris. Seja o que for que aconteça, somos uma família. Essa
cena que Babi fez, fazer isso foi tão errado quanto o que ele fez.
Babi tem que arcar com as consequências disso, assim como nós
arcamos com nossos erros.
Sorrio de sua sinceridade. Se há algo entre nós que sempre é
feito, é dizer a verdade. Victória e eu nunca conseguimos mentir um
para o outro, há algo em nós que não permite. Eu sei agora, vendo
tudo com clareza e calma que realmente errei, que não devia ter
agido como agi... Muito menos ter ajudado Donatello a descobrir
mais sobre meu irmão, na mas antes sequer pensei se era certo ou
errado, apenas queria encontrar algo que pudesse fazer meu irmão
acordar. Nada radical como o que aconteceu hoje. Mas o que me
resta é consertar o que posso, e encarar meu irmão.
— Obrigado. — digo sincero, e ela me encara sem entender.
— Obrigado por ser quem é.
— Caleb Soares, um romântico nato. — diz, fazendo-me sorrir
de lado. — Esse sorriso não, bonitão.
— Por que não? — instigo-a, e ela morde o lábio inferior,
olhando-me com os olhos ainda emocionados.
— Porque sabe muito bem o que isso faz comigo.
— Então estou perdoado, minha rainha? — pergunto,
segurando com força sua cintura, e ela enlaça os braços em volta de
meu pescoço.
— Vou pensar no seu caso. — diz, sorrindo.
Beijo seu pescoço de leve e noto que estremece no mesmo
instante.
— Está pensando ainda? — pergunto e continuo meus beijos,
até chegar próximo a sua boca.
— Não mude nunca. — diz de repente, fazendo-me parar e
olhá-la.
— Como assim? — pergunto perdido.
— O homem que amo protege a família, mas não deixo a
raiva o cegar. — diz, tocando meu rosto e puxando-me para perto.
— Eu te amo.
— Eu sei. — digo emocionado, mas logo me lembro de Babi e
isso me faz respirar fundo.
— Preocupado? — ela pergunta e eu assinto. — Luna está
com Miguel agora, acho que pedi para que ela o distraísse um
pouco.
— Felipe saiu de casa, claramente horrorizado com o que
houve. — digo e ela faz um sinal de negação com a cabeça.
— Ela vai ver que errou. — diz e eu concordo. — Mas agora,
preciso distraí-lo, senhor Soares.
— Como assim? — pergunto sem entender.
— Assim.
Antes mesmo que eu possa questiona-la, ela me puxa e
nossas bocas se encontram. Beijamo-nos com saudade, fome, e
todo amor que sentimos um pelo outro. Pego-a em meu colo e levo-
a para nosso quarto.

Deito-a sobre nossa cama e paro um minuto

apenas para olhá-la. Ela sorri lindamente, com o rosto corado e os

cabelos castanhos espalhados pelo lençol. Eu nunca abrirei mão

disso, de ter a mulher que amo em meus braços todas as noites,

pelo resto dessa vida... E todas as vidas que vierem.


Parte III
“E nossa história não estará
Pelo avesso assim, sem final feliz
Teremos coisas bonitas pra contar
E até lá, vamos viver
Temos muito ainda por fazer
Não olhe pra trás, apenas começamos
O mundo começa agora
Apenas começamos...”
Metal contra as nuvens – Legião Urbana
Capítulo XXIV

“Perdi lágrimas, jurei que sairia daqui


Mas nenhuma quantidade de liberdade limpa você
Eu ainda tenho você em mim” [32]

Christopher
Dois meses depois

— Nicholas, mesa dois!


Escuto o grito de Nala e acelero meus passos até a parte
externa da lanchonete. Ouço-a gritar o nome de Tânia, e começo a
rir de seu desespero. Sorte que os clientes não escutam isso. Ou
melhor, acho que não.
Coloco o guardanapo sobre meu ombro, segurando o
bloquinho de papel com a mão esquerda e pegando a caneta com a
mão direita. Encaro então as jovens sentadas na mesa, que devem
ter por volta de dezesseis anos, mas que de certa forma, me olham
assustadas.
— Bom dia, querem pedir? — pergunto, abrindo um sorriso
sem dentes.
Uma morena escora-se na mesa e levanta uma das
sobrancelhas para mim. Olhando-me de forma interessada, e ao
mesmo tempo estranha. Não sei ao certo quantas vezes já foram,
mas tive esses olhares sobre mim várias vezes. Realmente, há muito
tempo não gosto disso.
— O atendente está no menu? — ela pergunta e as outras
três gargalham, o que me faz rir também.
Apenas deixo em evidência minha mão esquerda, a qual tem
minha aliança colocada. A jovem continua me encarando e eu
apenas nego com a cabeça.
— Algum pedido que esteja no cardápio? — pergunto, e ela
sorri, pegando o cardápio de plástico na mesa.
Elas logo pedem e eu anoto tudo, saindo em seguida, indo
para de trás do balcão e deixando pedido pendurado em frente a
janelinha que dá na cozinha, para que Merlin – nosso cozinheiro – o
faça.
— Mais uma das suas admiradoras? — assusto-me com a voz
de Tânia atrás de mim, e me viro, sorrindo para ela.
Uma das poucas pessoas que realmente me fizeram bem nos
últimos tempos.
— Bom, mais uma das adolescentes que brincam na frente
das amigas, mas correm quando mostro minha aliança. — digo, e
ela bate com seu bloquinho contra meu ombro.
— Odeio você por isso. — diz, fazendo-me a olhar sem
entender. — Que foi? Eu daria tudo para que aquele seu amigo
bonitão, sentasse em uma dessas mesas e me cortejasse.
Gargalho de seu linguajar, perguntando-me quem em sã
consciência usa essa palavra hoje em dia. Em poucos segundos um
mar de lembranças me invade, fazendo-me lembrar de meus irmãos
e pai, principalmente Caleb, o romântico incurável da família.
Suspiro fundo, sentindo sua falta. Não sei ao certo se um dia
poderei encarar meu irmão novamente e isso me corrói por dentro,
sabendo que sequer tenho algo a dizer, a não ser pedir desculpas.
— Pare de pensar e vá trabalhar! — Tânia diz e passa por
mim, indo em direção as mesas.
Fico encostado contra a parede, olhando o movimento fraco
de manhã, já que apenas no horário do meio dia a lanchonete
começa a encher.
Esse tem sido meu dia a dia, olhar tudo isso à minha volta.
Eduardo me deu a oportunidade de recomeçar, longe de tudo,
respeitando o espaço de todos, e finalmente, vivendo um dia de
cada vez. Sem planos ou armações, apenas respirando. O pior é que
a cada momento, lembro-me de Antonella, a mulher que ainda amo
e demorei tanto tempo para dar o devido valor.
Escuto o barulho da porta da frente abrindo e vejo meu amigo
entrando. Sorrio de Tânia praticamente paralisada a frente de uma
mesa, encarando-o com admiração. Eduardo a cumprimenta, mas
duvido muito que tenha notado o olhar dela. De certa forma, ele
parece alheio a isso. O que me deixa mal, pois Tânia é uma boa
mulher.
Escoro-me no balcão e ele sorri convencido, como sempre faz
quando vem aqui. Palhaço!
— Tire esse sorrisinho idiota do rosto. — digo, e ele sorri
ainda mais. — Babaca!
— Ei, o babaca aqui conseguiu novamente. — diz animado,
deixando-me perdido.
— O que?
— Bom, estava atrás de mais um emprego, não é? —
pergunta e eu nego de imediato. — Não importa, agora está.
— Como assim? — pergunto sem entender.
— Sempre me disse que adora matemática, e lembro bem de
quando me ensinava os cálculos... Bom, tenho uma antiga
conhecida, amiga de minha tia. Ela tem uma neta, que está com
dificuldade na faculdade e não consegue passar em Cálculo I.
— Edu... — corto-o, já sabendo de suas intenções.
— Qual é? Sei que adora a lanchonete, que Nala é uma boa
pessoa, mas as aulas da garota serão à noite. Não precisa
abandonar nada. — diz, e eu apenas respiro fundo. — Sei que gosta
daqui, mas essa é uma boa oportunidade de fazer algo que
realmente é bom.
— Edu, eu não sei se...
— É um bom professor, sei disso. — diz, cortando-me. — Hoje
à noite te levo para conhecer a garota, Júlia, e a avó dela, Luíza.
Você vai ver, são ótimas.
— Ok. — digo vencido.
— Eu sou o melhor. — diz com soberba e eu jogo o
guardanapo nele. — Agora sobre Babi... Deixe-me falar! — pede e
eu apenas desvio o olhar.
— Eu sei que não quer que conte a ninguém que o desfalque
foi por minha causa, que você fez aquilo para me ajudar. Que não
quer Babi se sinta culpada por te acusar, e blá, blá, blá. — Edu
caçoa. — Mas já parou para pensar que talvez ela não se importe se
o desfalque foi real ou não? Que isso apenas foi a oportunidade
perfeita pare ela se vingar? — pergunta, surpreendendo-me. — Qual
é, Chris! Babi não é mais criança, sabe disso. Ela pode muito bem...
— Ela não é assim. — digo convicto. — Ela não agiria como eu
agi e...
— As pessoas mudam com o que acontece em suas vidas. —
diz, fazendo-me assim, parar para pensar. — Eu não estou te
absolvendo de culpa alguma, de jeito algum, mas não sei, Chris. O
jeito como ela te acusou na casa de seu irmão, ou melhor, como ela
reuniu todos...
— Não sabemos se foi ela que fez isso. Pode muito bem ter
sido Donatello e...
— Mas poderíamos saber se você perguntasse a Castiel. —
instiga-me.
— Esquece isso. — digo, batendo novamente com o
guardanapo nele.
— Nicholas! — Nala grita novamente e eu pisco para meu
amigo, correndo até ela. — Por que está papeando e não
trabalhando, posso saber? — pergunta de cara amarrada, fazendo-
me sorrir.
Nala é a dona da lanchonete, a qual se tornou muito especial
para mim em pouco tempo. Ela me deu um emprego, mesmo eu
sendo muito mais velho do que o cara que ela procurava para
atender.
Ela quis me registrar a todo custo, assim teve que saber meu
primeiro nome. Mas continuou mesmo assim me chamando de
Nicholas – que é meu segundo nome. E no fim, seus gritos,
lembram-me de dona Leandra Soares – minha mãe – a qual sempre
me chamava de Nicholas quando estava brava.
— Nala, sabe que se não fosse casado eu...
— Menino, me respeita! — diz, batendo com o braço em meu
ombro.
— Você e Tânia amam meu ombro, não é? — brinco e ela
continua de cara fechada.
— Só vou perdoar porque estava conversando com o bonitão
que minha filha está suspirando por aí, mas da próxima vez...
Ela faz um sinal estranho com a mão e eu apenas assinto,
sorrindo de sua cena.
— Vou falar com ele sobre ela, pode deixar. — digo.
— Bom mesmo, sirva para algo. — diz e sai, e eu apenas
meneio a cabeça, pensando em como tudo mudou.
Olho para trás e vejo Tânia entregando algo para Eduardo, o
que parece ser um bilhete. Ele me encara intrigado e eu dou de
ombros, já até imaginando o que seja.
Tânia logo sai de perto das mesas e passa o balcão,
praticamente correndo para a cozinha. Acho que foi difícil para ela
dar o primeiro passo. Vejo Eduardo abrindo o papel, e logo sua face
fica vermelha. Gargalho alto, vendo-o guardar o papel no bolso da
calça.
Ele me mostra o “dedo” e logo some pela porta da frente.
Acho que não vou mais precisar falar com ele sobre ela.
Sorrio disso, imaginando o como tudo deve ser mais fácil para
quem simplesmente deixa as coisas acontecerem. E não como eu, as
força. Sei hoje que de algum modo eu teria me apaixonado por Ella,
mesmo que ela um dia, no começo, tenha tentado me tratar como
tio. Sempre houve algo nela, e eu cego por dinheiro e poder, não
percebi.
Penso então em como tudo mudou de repente, como agora
tenho um trabalho completamente diferente, mas que me faz sorrir
no dia a dia, e acabo me perguntando sempre: Como Ella está?
Será que está tudo bem? Não só fisicamente, como Castiel
sempre me manda por mensagem, mas sim, por dentro. Será que
ela sente minha falta? Nem que seja um pouco.
Será que como Eduardo falou, minhas atitudes não a
mudaram?
Nunca tive coragem de perguntar a Castiel sobre o episódio
na casa de Caleb, apenas peguei minhas roupas e aceitei a oferta de
Eduardo. Que no caso consistia em me mudar por um tempo para
sua cidade natal, localizada no interior de Minas Gerais, na qual ele
tem hotel.
Sequer disse a meu irmão onde estou morando, e pedi para
que não investigasse. Caso, meus pais ou Donatello quisessem me
processar, eu apareceria, mas nada veio até mim, ao menos,
Eduardo não foi comunicado.
A única coisa que martela em minha mente é sobre Ella, sobre
como ela me acusou naquele dia, há meses atrás. Onde seu olhar
era outro, e eu sequer cogitei que ela realmente tinha mudado...
Mas será?
Tenho uma forma de descobrir isso, e sei que hoje não
dormirei sem saber. Pois finalmente, parei para pensar realmente
sobre. Pego meu celular, vendo que ninguém novo entrou na
lanchonete. Digito uma mensagem para Castiel. Agora, de algum
jeito, eu vou saber o porquê de Ella ter feito aquilo.
Só espero que não a tenha transformado em uma versão pior
de meu antigo eu.
Capítulo XXV

“Eu vivi e aprendi


E descobri como é se virar
E ver que nós
Nunca fomos destinados a estar juntos” [33]

Antonella “Babi”

Coloco minha mala ao lado da cama e encaro o simples


quarto de hotel. Simples, porém aconchegante.
Sento-me na cama, pego o celular e já ligo para meu irmão.
— Oi. — digo, assim que ele atende. — Já cheguei e estou
bem.
— Tem certeza de que não quer que eu vá aí e...
— Não, estou bem mesmo, Lipe. Sabe que preciso fazer isso
sozinha. Dois meses fora do Brasil com Laura foram o bastante para
colocar as ideias em ordem, agora estou mais do que pronta. — ao
menos espero que sim.
— Ok. — diz e ouço seu suspirar fundo. — Avisou nossos
pais? — pergunta.
— Avisei. Dessa vez não vou esconder nada de ninguém.
— Fico feliz em ouvir isso, irmã.
— Cansei de mentir e omitir. — digo, encarando o teto. —
Preciso falar com ele, e não é vergonha admitir isso.
— Não mesmo.
— Vou falar com Eduardo agora, te ligo mais tarde, ok? — ele
concorda e logo desliga.
Levanto-me da cama e vou até o banheiro. Jogo um pouco de
água no rosto e encaro meu reflexo.
Nunca antes em minha vida, senti-me tão preparada para algo
como agora.
Após toda a cena que causei, acabei decidindo que já estava
na hora de crescer, parar de agir como se a vida fosse um simples
jogo. Pedi perdão a todos de minha família, e resolvi passar um
tempo fora do Brasil, com minha amiga Laura.
Laura e eu nos aproximamos há uns dois anos, por sempre
estarmos nos mesmos eventos e termos quase a mesma idade.
Ainda mais por ela ser filha de um dos melhores amigos de meu pai
– Levi Gutterman. Ela tem passado um tempo fora do país
estudando. E quando contei a ela sobre querer espairecer, logo me
convidou a ficar com ela por um tempo. Contei a meus pais a
respeito, e eles felizmente me apoiaram. Assim, logo embarquei para
o Canadá, e por lá fiquei com ela.
Esses dois meses com Laura foram incríveis, mas sempre senti
que faltava algo, ou melhor, que faltava por um ponto final em algo.
Por isso, há uma semana, com a ajuda de meu pai, consegui o
número novo do celular do melhor amigo de Chris – Eduardo – e
assim, entrei em contato com ele.
Eduardo a princípio estranhou minha ligação, mas quando
expliquei a ele sobre tudo que descobri e como queria encarar
Christopher, ele cedeu e aceitou me ajudar a me aproximar de
Christopher, de um jeito menos invasivo.
Falei com ele a respeito do desfalque na Soares, e como todos
já sabem que Chris fez aquilo apenas para ajudá-lo. Meus pais me
contaram o necessário, além de que, o restante dos porquês não me
interessava muito. Eu apenas sabia que tinha errado com
Christopher ao acusa-lo, e por mais que ele tenha errado comigo
também, sabia que precisava encará-lo e colocar tudo em pratos
limpos.
E agora, vou fazer isso.
Ouço batidas na porta e vou até ela. Abro-a e Eduardo sorri
para mim.
— Como vai? — pergunta e eu apenas meneio a cabeça. —
Parece que ansiosa.
— Um pouco. — admito.
— Bom, tem algumas coisas que preciso te contar sobre Chris.
— diz e eu lhe dou espaço para entrar no quarto.
Eduardo fica parado ao lado de minha cama e coloca as mãos
nos bolsos da calça.
— Olha, eu me surpreendi quando me ligou. Ainda mais
quando me disse sobre seu arrependimento por ter feito aquela cena
com ele. Eu não posso falar por Chris, mas como o conheço muito
bem, sei que ele vai ficar feliz em te ver. — diz e eu apenas assinto.
— Ele mudou, na verdade mudou muito. Em poucos meses Chris
conseguiu dois empregos diferentes, um como atendente em uma
lanchonete e outro dando aula de cálculo para uma neta de uma
conhecida minha. Eu o conheço há anos, e nunca o vi tão bem
quanto hoje, tão realizado.
Fico boquiaberta com o que ele diz. Christopher em uma
lanchonete? Dando aulas?
— Entendo seu espanto. Castiel e seu pai também ficaram,
acho que toda sua família. Chris pediu espaço a Castiel, mas isso
não impediu o resto de sua família de vir até mim e perguntar por
ele. Ele não sabe que contei a respeito dele para todos. Me mataria
se soubesse. — sorri e eu apenas continuo atenta a cada palavra. —
Eu acho que ninguém veio até ele ainda, por respeitar o que ele está
fazendo. Ele está recomeçando a vida, de uma forma melhor, eu
acredito.
— Eu não tenho nem o que dizer. — sou sincera e ele abre um
grande sorriso.
— Bom, você pediu minha ajuda. Então, hoje às seis da noite,
eu passo aqui para te levar até a lanchonete que ele trabalha. Como
ele não dá aula de reforço hoje será fácil conseguir falar com ele. —
diz e eu assinto.
Eduardo logo se encaminha novamente para perto da porta.
— Espero que tudo dê certo. — diz e abre a porta para sair.
Antes que eu possa respondê-lo, ele sai, deixando-me sozinha
com minhas incertezas.
— Eu também espero.

Meu celular toca e levo as mãos ao peito, tentando me


acalmar. É uma mensagem de Eduardo, avisando que já está na
frente do hotel.
Saio de meu quarto ainda um pouco sem jeito, pensando em
como vou agir ou o que vou dizer para Christopher. Faz apenas dois
meses que não o vejo, mas tudo o que ele representou para mim
quando estivemos juntos, torna esses meses praticamente infinitos.
Não posso negar que a confiança entre nós dois não existe
mais, foi quebrada. Eu não sei classificar o que sinto, mas ao mesmo
tempo, tenho muitas dúvidas sobre o que ele sente.
A primeira pergunta que ronda minha mente é: Por que ele
não concluiu o plano e me contou a verdade antes?
Desço os dois lances de escada do hotel e logo me encontro
na rua e Eduardo espera por mim. Não tive coragem de sair do
quarto do hotel, pois temia encontrar Christopher antes. Pelo que vi
quando cheguei a cidade, é uma típica cidade do interior, pequena e
muito aconchegante. Por isso, senti que o melhor era ficar no
quarto, pois não queria esbarrar com Christopher em alguma
esquina.
— A lanchonete é perto daqui, então vamos a pé, tudo bem?
— Eduardo pergunta e eu assinto.
Caminhamos pelas ruas de paralelepípedos, o que mostra o
quanto ainda guardam do passado histórico da cidade. Há várias
subidas pelas ruas, deixando claro o contraste das serras de Minas
Gerais, o que torna ainda mais lindo esse lugar.
Atravessamos duas ruas e logo vejo uma lanchonete na
próxima esquina. Meu coração já acelera e obrigo meu corpo a
continuar andando.
As luzes dos postes são a iluminação, já que a noite caiu e as
estrelas povoam o céu. Assim que paramos do lado da lanchonete,
que tem grandes paredes de vidro, olho desesperada para Eduardo,
com medo de que Christopher me veja.
— Relaxa. — ele diz e eu tento não pirar. — Chris me mandou
mensagem há pouco, está na cozinha da lanchonete, resolvendo
alguma coisa com Nala, a dona.
— Certo. — digo, respirando fundo. — Deve me achar uma
completa idiota.
— Não. — diz de relance. — Acho você corajosa, por enfrentar
as coisas de frente assim, mesmo após tudo que houve. Agora sei
porque Chris...
O celular dele toca, fazendo-o parar de falar no mesmo
instante, atendendo-o.
Ele conversa com a pessoa do outro lado da linha e tento
imaginar se essa pessoa pode ser Chris ou não.
— Ok, babaca. Hoje tenho uma surpresa para você. —
Eduardo então pisca para mim e o encaro assustada. — Não seja
curioso, Chris. Estou te esperando aqui fora.
Fico em silêncio, e vejo Eduardo desligar a chamada. Olho
para dentro da lanchonete, e como as paredes de vidro me
permitem ver dentro, assusto-me ao ver Christopher de longe.
Ele está vestido totalmente despojado, com uma camiseta
simples e pelo que vejo, uma calça jeans. Ele tem um avental por
cima da roupa e está virado para o outro lado, portanto, não
consegue me ver.
— Ele vai sair a qualquer momento. — Eduardo diz e me viro
para ele, assentindo. — Precisa que eu fique? — pergunta e eu
nego. — Certeza?
— Sim, obrigada pelo que fez. — digo e ele assente.
— Qualquer coisa me ligue, ok? — apenas assinto e ele logo
sai, desaparecendo pelas ruas.
Encaro novamente o interior da lanchonete e vejo Christopher
tirando o avental, com um grande sorriso no rosto. Logo o motivo
dele sorrir aparece e meu corpo retesa no mesmo instante.
Uma mulher negra, de cabelos encaracolados dá um tapa em
seu ombro, sorrindo para ele. Ele sorri para ela e pega o avental,
jogando-o nela. Ela tenta revidar, mas logo os dois se abraçam.
Assim, meu coração se parte com a cena.
Abaixo a cabeça por um instante, procurando a razão de estar
assim. Não é preciso pensar muito para entender o porquê de doer
tanto ver isso.
Só agora percebo que ele parece realmente ter mudado,
assim como eu. E talvez, esse homem que está sorrindo e abraçando
outra mulher, não queira me ouvir, e muito menos colocar tudo em
pratos limpos. Mesmo assim, não posso fugir disso, pois eu preciso
deixar tudo resolvido, sem fugir novamente.
Respiro fundo e levanto meu olhar novamente para a
lanchonete, porém não o encontro.
— Ella?
Paraliso ao ouvir sua voz, impactada por saber de sua
proximidade só agora. Sei que se olhar para o lado vou vê-lo, e isso
me aterroriza, ao mesmo tempo em que me tranquiliza de algum
modo.
Tomo coragem e o encaro, sentindo meu coração pular dentro
do peito. Ele arregala os olhos, parecendo não acreditar que me vê.
Eu também não sei como estou aqui, a frente dele.
— Ella, o que faz aqui? — pergunta e noto seu cenho
franzido.
Os cabelos castanhos e lisos estão mais curtos, a barba bem-
feita e noto algo em seu braço esquerdo, o que parece ser uma
tatuagem.
Se concentre!
— Precisamos conversar. — digo, finalmente encontrando
minha voz.
Christopher assente, mas ainda continua estático, assim como
eu. Estamos perdidos em nossos pensamentos, mas de certa forma,
o que me uniu a ele antes, parece ainda estar presente aqui.
Infelizmente, encarando-o, tenho a certeza do que quis negar nos
últimos meses. Eu ainda amo esse homem.
Capítulo XXVI

“Então eu menti, e chorei


E vi uma parte de mim morrer
Porque nenhuma quantidade de liberdade limpa você
Eu ainda tenho você em mim” [34]

Antonella “Babi”

— É... — Christopher limpa a garganta e finalmente desperto


de meus pensamentos. — Tem uma praça aqui, se quiser...
— Pode ser.
Sigo-o, e logo avisto uma bela praça, em frente a uma grande
igreja. De repente ele para e se senta em um dos bancos de
madeira ali colocados e fico em pé, sem saber o que fazer.
— Isso é ainda mais estranho do que imaginei que seria. —
ele diz, e é impossível não sorrir de sua constatação. — Mas
confesso que estou surpreso em te ver.
— Acredite, eu também. — sou sincera e estralo meus dedos,
tentando me acalmar e dizer algo que faça sentido. — Não sei se
sabe o porquê de eu vir aqui, além dos motivos óbvios. Mas
primeiro, antes de tudo, quero me desculpar.
— O que? — ele pergunta e arregala os olhos. — Não tem
que...
— Christopher. — corto sua fala e ele apenas me encara. —
Eu errei quando o acusei em frente a nossa família, foi horrível
aquilo. Pedi perdão a todos, mas ainda faltava pedir isso a você. Eu
sei também, agora, que tudo o que aconteceu entre nós, foi em
parte minha culpa. Se eu tivesse dito a nossa família antes... Se eu
tivesse ao menos falado com meu pai... Eu sei que isso mudaria
muito o rumo das coisas.
— Ou não. — ele diz, surpreendendo-me. — Eu sou um cara
esperto, Ella. Eu conseguiria enganar a todos, por conta de ter ajuda
de Isaac, ele foi quem me encobriu. — assusto-me com sua
honestidade. — Eu te enganei e acredite, enganei a mim mesmo.
— Como assim? — pergunto sem entender.
— Eu nunca quis dinheiro, na realidade, o poder era algo que
sempre me interessou. Pensei que ter as duas empresas daria
orgulho aos meus pais e me sentiria realizado. — diz e respiro fundo,
sem ainda conseguir entender o que ele quer dizer. — Hoje, vejo o
quanto me enganei. A felicidade que tenho ao decorrer dos dias, ao
ver que gostam de mim aqui, sem eu ter que usar alguma máscara,
me faz sentir bem. Servindo, dando aulas... Eu mudei, Ella. Eu
percebi que poder não é nada, quando não se faz o que gosta. Eu
amo a Soares Mídia, mas hoje vejo, foi tudo em vão. Magoei as
pessoas que amo por um sonho besta adolescente...
— Olha. — digo, finalmente tomando coragem para ser
sincera. — Eu só quero que me desculpe e que possamos resolver
isso, como adultos.
— Certo. — diz e suspira fundo, parecendo decepcionado. —
Pode ter certeza, não precisa se desculpar por aquilo, mas tudo
bem. Agora, sobre nós... — ele respira fundo e eu o encaro,
sentindo meu coração falhar uma batida. — Eu não sei o que dizer,
Ella.
— Olha, não precisa me explicar nada. O que temos não
passa de um papel, e acho que o divórcio é uma boa saída... Mas só
quero te perguntar uma coisa.
— O que? — pergunta.
Reúno então todas minhas forças e resolvo perguntar de uma
vez.
— Por que me disse sobre o plano antes de conseguir tudo?
— pergunto e ele me surpreende ao sorrir.
— Tem certeza que precisa fazer essa pergunta? — pergunta
e eu assinto. — Bom, acho que mesmo não sendo um homem
romântico, isso pode soar como algo poético.
Fico ainda mais perdida.
— Eu percebi que te amava tarde demais. Na realidade,
quando me encontrou com a mão cortada e cuidou de mim. Eu tinha
ido a uma festa naquela noite, eu tentei transar com outra mulher,
mas eu não... Não consegui.
Encaro o chão, sem conseguir crer no que estou ouvindo.
— Eu nunca estive com outra mulher, desde que te beijei. —
diz e o encaro incrédula. — Eu já menti muito para você, omiti na
realidade, mas espero que acredite em mim hoje. Eu fui à festa,
para provar que ainda era o mesmo Christopher, o de farras e
mulheres. Porém, assim que aquela mulher me chamou de “lindo” e
me beijou, eu travei, e não consegui ir em frente. Porque não era
você.
— Christopher, não precisa continuar. Eu só quero...
— Por favor, me deixe continuar. — pede e mesmo sem saber
o que fazer, assinto.
— Foi ali que comecei a perceber o que sentia. Que há muito
tempo já sentia. Quando cantou “teatro dos vampiros” para mim, e
eu cantei para você... Eu nunca fiz isso para ninguém, Ella. A não
ser minha mãe. Foi naquele instante que soube, eu estava perdido.
Por isso deixei você em casa e praticamente fugi. Eu descobri que te
amava naquela noite. Falei com Paula, pedi algum conselho... Ela
disse que o melhor era a verdade, mesmo sem saber sobre tudo. Foi
por isso que...
— Me contou a verdade porque Paula te aconselhou a fazer
isso? — pergunto incrédula, tentando segurar as lágrimas.
— Não. — nega veemente. — Contei a verdade porque te
amava, porque apesar de tudo, queria te pedir uma segunda
chance.
Tento digerir suas palavras, mas nada fez sentido agora. Eu
quero acreditar nele, mas infelizmente, ainda não consigo, por mais
que ele se mostre sincero.
Ele me amava.
— Eu entendo. — digo simplesmente. — Acho que demorei
em processar muitas coisas, mas hoje sei o quanto fomos imaturos.
Fico feliz por você estar bem, mas precisava te ver, para poder
seguir em frente. — sou sincera.
— Eu também. — diz e sorri.
Porém seu sorriso só me remete a uma coisa – o modo como
ele sorriu para outra mulher hoje. Pois é, mesmo que estejamos
conversando e eu ainda o ame, sei que acabou... Nós acabamos há
muito tempo. Se é que existimos um dia de fato.
— Eu te amo, Ella. Por mais que isso pareça improvável,
apesar de todos os meus erros. Eu sempre te amei. — diz,
surpreendendo-me.
— Mas... — calo-me, sem saber o que mais dizer.
Ele ainda está brincando comigo?
— Eu vi você abraçado à outra mulher, Christopher. Não minta
para mim! Não há nada que eu possa te dar e...
— O que? — pergunta, parecendo não entender. — Ah, você
deve ter me visto abraçado a Tânia. Ela se tornou uma amiga,
apenas. Mas sobre você não poder me dar nada, Ella. Se um dia,
aceitar ser minha novamente, me dará tudo.
— Christopher...
— Eu não sou como meus irmãos. Não sou um homem
romântico, por Deus, nem sei como me declarar.
Ele então se levanta e se aproxima de mim.
— Eu vou estar aqui, no mesmo lugar, esperando você. — diz,
e eu fico sem fala, intimidada por sua aproximação. — O que quiser
de mim, você terá, Ella.
— Eu... Eu...
Travo, sem conseguir mais encará-lo. Olho para o chão e
penso sobre tudo... Ainda parece tão cedo para afirmar algo ou até
mesmo aceitar.
— Eu não sei o que dizer. — digo.
— Você leu minha carta? — pergunta e eu nego. — Por favor,
quando puder, se ainda a tiver, leia. — pede.
— Christopher, acho que está sendo precipitado e...
— Pela segunda vez em minha vida, estou deixando meu
coração falar por mim. — diz e sorri. — A primeira, foi naquela carta.
Há algo lá, que talvez te faça me dar apenas um voto de confiança...
Qualquer coisa que te faça querer me ver novamente.
O encaro novamente e seus olhos castanhos me confundem.
Ele parece tão perto, e dessa vez, perto por completo. Sem incerteza
ou medo. Nunca pensei que me sentiria assim, não mais. Mas sei
que se continuar aqui, posso fazer algo que vou me arrepender
depois.
Chega de agir por impulso!
— Preciso ir. — digo e ele me olha com pesar. — Acho que
precisávamos disso.
— Eu te levo até onde está hospedada. — diz, ignorando
minha última fala.
— Não...
— Por favor, Ella. — pede, e resolvo não negar mais.
Ele vem ao meu lado, e o silêncio cai sobre nós.
A noite está linda, e enquanto caminhamos, sei que isso
parece uma cena de um filme de romance. Mas não faço ideia de
qual a próxima atitude dele.
Porém, tenho que admitir. Nunca me senti tão confusa e
segura assim. Apenas quero poder em algum momento discernir
sobre o que estou fazendo.
— Bom, está entregue. — diz assim que paramos em frente
ao meu hotel.
— Obrigada. — digo e ele assente. — Tenha uma boa noite.
Viro-me para entrar, mas logo sinto sua mão em volta de meu
braço. Assim, encaro-o e ele apenas me olha, como se estivesse em
alguma luta interna.
— Algum problema? — pergunto, sentindo seu toque fazer
meu corpo todo estremecer.
— Eu sinto muito.
— Está tudo bem. — digo e forço um sorriso.
— Não pelo que fiz. — diz e fico sem entender. — Mas por
isso.
Então sinto apenas meu corpo bater contra o seu, e seus
lábios se encontram com os meus. Aos poucos me entrego ao beijo
e por um segundo, esqueço-me de tudo. Seu gosto, seu toque...
Nunca foi tão bom, tão certo.
Assim que nos afastamos, pela falta de ar, apenas continuo
olhando para ele, sem acreditar que isso é real.
— Não, eu não sinto muito por isso. — diz e sorri. — Boa
noite, Ella.
Ele então se afasta e se vira, indo embora. Levo dois dedos
aos lábios e sinto-os formigar. E apesar dos pesares, não me
arrependo desse beijo. Não agora.

Christopher
Seu gosto ainda parece tão presente em mim, que minha
vontade é de dar meia volta e puxá-la novamente para meus braços.
Nunca antes pareceu tão certo beijá-la.
Entro em meu novo lar, uma pequena casa a qual aluguei, e
penso em como queria mostrar esse lugar a ela. Não tem o luxo com
o qual estamos acostumados, e muito menos todo o design moderno
e bonito de meu antigo apartamento, mas aqui, sinto-me realmente
em casa.
É uma casa simples, a qual decorei aos poucos, da forma
como pude, com o dinheiro que fui recebendo da lanchonete. Não
tenho muitas coisas aqui, já que aluguei a casa praticamente
mobiliada, mas o pouco que comprei, como minha cama, faz-me ter
orgulho pela primeira vez de algo meu.
Engraçado que antes, quando praticamente ganhava o
quádruplo que recebo hoje, não dava sequer o valor ao dinheiro.
Porém, hoje, com o que ganho, consigo dar valor a cada pequena
coisa comprada, até mesmo um jogo de copos.
Meus pais me ensinaram todos os valores, por mais que os
dois sejam provenientes de famílias influentes e ricas, porém, nem
sempre me espelhei neles. Acho que hoje, faço pela primeira vez
isso. Ao menos, gostaria de saber se Antonella, pode me amar
sendo assim – apenas eu mesmo.
Sento-me no sofá e encaro o teto por alguns instantes,
lembrando-me do que Castiel contou a respeito de Ella. Ele me disse
que ela pediu perdão à família toda pela cena que fez para me
atingir, que por mais que ela tenha feito aquilo, planejado, se
arrependeu. Hoje, assim que saí do restaurante e a vi, soube que
sim, a minha Antonella, de certa forma, ainda continua a mesma.
Quando ela me pediu desculpas, antes mesmo de lhe
perguntar algo, fiquei em choque. Tenho certeza nesse instante, que
ambos erramos, acredito que eu mais, porém, finalmente admitimos
isso, e espero que possamos contorná-los.
Escuto o toque de meu celular e pego-o no bolso. Como já
imaginava, é meu amigo, o qual tenho certeza que ajudou Ella a
chegar até mim.
— Fala traíra. — digo ao entender, e escuto sua gargalhada.
— Pode me xingar do que quiser, mas sei que está feliz. —
diz, e eu sei que não posso negar.
Há tempos não tenho um sorriso tão aberto em meu rosto.
— Aposto que está sorrindo feito um idiota. — zomba e eu
respiro fundo, sem sequer querer revidar sua provocação. — Mas
então, está tudo bem? — pergunto e noto seu tom de voz mudar.
— É... Eu a beijei. — confesso e meu amigo fica mudo de
repente. — Edu?
— E eu pensando que você iria com calma. — diz, fazendo-me
rir.
— Eu a amo, Edu. — digo, fechando os olhos e lembrando-me
de como é bom estar próximo a ela.
— Espero que dessa vez não perca sua chance de ser feliz,
babaca. — chama minha atenção. — Agora, vou desligar, para que
possa sorrir feito bobo a vontade. Até!
— Até. E Edu?
— Diga.
— Obrigado, amigo.
Logo ele desliga e fico perdido novamente em meus
pensamentos.
Penso então em minhas chances, em como agir daqui por
diante. Eu não sei se devo ir até ela, ou simplesmente esperar com
que ela decida algo através daquela carta. Só sei que darei a ela
alguns dias para pensar, após isso, terei que tomar uma decisão.
Com toda certeza, seja qual for sua escolha, eu tentarei conquista-la
novamente. Dessa vez, da forma correta.
Capítulo XXVII

“Nós podemos plantar um jardim de memórias


Fazer uma oração solene, colocar uma coroa de flores em meu cabelo” [35]

Antonella “Babi”
Uma semana depois

Encaro a janela do carro novamente e quase imploro para que


Lipe vá mais rápido com o carro. Quando ele se ofereceu para me
trazer novamente para Minas, sequer pensei em como essa nova
viagem seria, porém tê-lo por perto me traz calma.
Quando voltei para casa após ver Chris, ele ainda continuava
gravado em minha mente, e pior, em meus lábios. Assim que
cheguei em meu quarto, após passar um tempo com minha família,
procurei pela carta, e a encontrei no mesmo lugar que a deixei há
meses atrás.
Foi difícil abri-la, foi ainda mais difícil lê-la. Pensei em vários
momentos simplesmente fazer pedacinhos do papel e esquecer
tudo. Porém, por ter ido até Christopher, o visto novamente e
percebido o quanto ele realmente parece diferente, permiti-me dar
um tiro no escuro.
A carta é pequena e simples, o contrário do que imaginei, mas
me surpreendi porque nunca imaginei Christopher escrevendo algo
assim. Ele deixou claro em cada linha o que sentia, pelo menos foi o
que meu coração, mente e alma, compreenderam. Porém o que me
assustou realmente foi muito além do escrito por ele, mas o
documento em anexo. Tentei por alguns instantes odiá-lo, após ler
cada linha, porém em poucos minutos me vi em lágrimas, apenas
querendo poder estar ao lado dele. Perguntando-me se o amor que
está na carta realmente existe.
Imaginei tantas coisas, aliás, coisas futuras. Nós dois morando
no interior, uma simples casa perto daquela linda praça, um gato e
um cachorro, até mesmo filhos. Imaginei uma menina com o seu
olhar intimidante e meus cabelos negros. Por um momento deixei
minha cabeça viajar dentre meus sonhos mais desejados, e por fim,
entreguei-me a esse sentimento.
Decidi que mesmo após tantos erros, e reviravoltas em nossas
vidas, eu iria até ele. Iria me arriscar pela última vez nesse amor, o
qual ainda está tão vivo em mim.
— Ei, sonhadora. — sorrio ao ouvir a voz de Lipe. — Pode
parar um pouco de parecer uma boba apaixonada? — zomba e eu
lhe dou um leve soco no braço.
— Você que quis passar mais de seis horas comigo nesse
carro. — revido e ele apenas nega com a cabeça.
— Voltou ainda mais chata do exterior. — diz brincando e
suspira fundo. Eu sei bem o que o exterior o lembra. — Nem pense
em falar nisso.
— Mas Lipe...
— Nem insiste, sabe que não vou falar sobre ela com você. —
disse por fim, e resolvi me calar.
Sei muito bem o quanto qualquer assunto sobre Laura mexe
com ele, então o melhor é não o aborrecer com isso agora. Mas
tenho certeza, um dia vou fazê-lo falar comigo abertamente sobre
ela.
— Sabe que logo todos virão ver Christopher, né? — pergunta
e eu assinto, lembrando da conversa que tive com meu pai.
— Nossa vó contou que foi até Minas atrás dele algumas
vezes, mas que sempre ficou o observando. Ela nunca esteve tão
orgulhosa de Christopher, assim como todos de nossa família. —
digo e ele concorda, pois sabemos o quanto nossa família sofre pela
distância.
Todos de certa forma já sabem onde ele está, ou até mesmo
foram até a cidade. Porém tio Castiel é quem realmente fala com
ele, já que todos estão apenas respeitando o espaço de Christopher.
Acho que o medo de dizer algo errado ou estragar esse novo
momento dele atormenta a todos, ainda mais meu pai, que por mais
que tenha agido para me defender antes, tenho certeza que se culpa
muito por tudo. Afinal, eles são irmãos.
— O que faremos o resto dessa viagem? — Lipe pergunta. —
Ainda faltam cerca de duas horas para chegarmos.
— Cantar? — indago e noto que ele sorri.
— Com toda certeza.
Mudo então o som para outra playlist e logo uma de nossas
músicas favoritas começa. Lipe me olha rapidamente e solta a voz,
fazendo-me cantar junto a ele. Por mais que não sejamos ligados
por laços de sangue, o laço fraterno que nos une é forte demais. Só
eu sei o quanto agradeço por ter Felipe, Luna e Miguel em minha
vida, eles são parte importante de meu ser.
— Chegamos! — Lipe diz e estaciona o carro em frente ao
mesmo hotel que fiquei quando vim para cá há duas semanas. —
Vou levar as malas e pedir um quarto. Trava o carro para mim. —
Lipe joga a chave e eu a pego no ar.
Assinto e ele logo sai com as malas, indo para o hotel. Olho
em meu celular e vejo que já é tarde, por volta das oito da noite.
Pensei que poderia falar com Christopher hoje, mas pelo jeito terei
que esperar até amanhã. Essa ansiedade ainda vai acabar comigo.
Pego minha bolsa e saio do carro, ligando o alarme em
seguida. Entro no hotel e encontro Lipe falando com a moça da
recepção, que apenas tem olhos para ele.
— Posso guardar o carro, então? — meu irmão pergunta e a
moça assente várias vezes.
Como ele consegue fazer isso?
Se tem algo que meu irmão nunca tenta ser é galanteador, e
muito menos dá em cima de alguém. Ele sempre é quieto, mas acho
que por conta de sua beleza, a maioria das mulheres acaba se
encantando instantaneamente.
— Sobe com as nossas malas enquanto eu guardo o carro,
ok? — pede e eu assinto, pegando a chave que a moça lhe entregou
e puxando minha mala.
A bolsa que Lipe trouxe sequer pode ser chamada de mala, já
que deve ter dois pares de roupas dentro. Está mais para uma
simples mochila, a qual carrego em cima de minha mala de rodinha.
Entro no elevador e começo a divagar sobre tudo comigo
mesma. Sem pensar sobre minha decisão, já que tenho certeza do
que quero e ela está tomada. Pela primeira vez na vida estou
confiante em algo, e por mais que possa quebrar minha cara depois,
sei que não vou me arrepender. Pois se faço isso, não é apenas pelo
que sinto, mas pelo que acredito.
— Vou tomar um banho. — Lipe diz e vem até mim, dando
um beijo em minha testa. — Toma cuidado, qualquer coisa me liga.
— Ok. — digo e ele logo se afasta, entrando no banheiro.
Vou até o espelho pendurado na parede, que fica de frente as
duas camas de solteiro, e prendo meu cabelo em um coque alto,
deixando alguns fios soltos. Pego meu celular, um pouco de dinheiro
e logo saio do quarto.
Por estar muito ansiosa, resolvi dar uma volta pela praça.
Perguntei a recepcionista mais cedo sobre o porquê de ver tantas
luzes de minha janela, e ela me contou que está tendo uma festa
típica da cidade, e por essa razão a cidade está muito iluminada em
um ponto.
Como Lipe está cansado de dirigir, pedi para que ele
descansasse, pois sei que de qualquer jeito, se eu ficar ou não nessa
cidade, ele voltará dirigindo, já que morro de medo de dirigir por
muito tempo.
Assim que saio na rua, caminho em direção à praça da cidade,
pois pelo que a recepcionista também disse, é onde ficam as
barraquinhas de comida. Após todo esse tempo no carro, por mais
que tenha comido algumas besteiras, sinto vontade de comer algum
doce.
Ando pelas ruas e logo me encontro de frente a praça, que
está repleta de luzes e várias barraquinhas pelas ruas. Pelo jeito
fecharam todas as ruas ao redor da praça, pois tudo está ocupado, e
tem várias pessoas andando livremente no meio delas.
Começo então a procurar algo para comer, e a única coisa que
vem em minha mente é um espeto de morango coberto com
chocolate. Ando então até encontrar uma barraquinha que venda
isso. Compro assim que acho e já começo a me deliciar. Divino!
Uma música espanhola toca e busco o lugar de onde ela vem.
No mesmo instante que me viro, choco-me contra outro corpo.
— Desculpe, eu não te vi. — digo de imediato, encarando a
mulher que sem querer esbarrei.
— Quem você pensa que é para tocar em mim? — a mulher
pergunta claramente alterada. — Sou Kimberly Mubarak [36] !
— Ah, claro. — respondo sem jeito, e muito sem entender sua
reação.
Ela me olha com ar superior, mas resolvo ignorar isso e sair de
perto, concentrando-me em chegar mais próxima de quem canta
essa música tão linda, mas que nem sei o nome.
Ando um pouco e logo vejo um pequeno palco e um homem
cantando. Realmente, ele tem uma bela voz.
Logo ele encerra essa canção e agradece, e todos que estão
próximos ao palco, assim como eu, batem palmas. Sinto meu celular
vibrar no bolso e me distraio um pouco, olho rapidamente e
respondo a mensagem de Lipe, que como sempre, está perguntando
se estou bem.
Volto minha atenção para o palco e sinto meu ar se esvair no
mesmo instante. Vejo Christopher falar algo com o cantor, o qual
assente algumas vezes e logo volta para o microfone. Christopher
está sorrindo e logo vejo Eduardo ao seu lado, o qual bate nos
ombros dele.
Logo os dois saem do palco, vindo para a rua. Paraliso no
mesmo instante, mesmo sabendo que talvez ele nem me veja.
Porém volto a realidade em instantes, assim que a melodia da
música começa a tocar.
Uma das músicas que me lembram Christopher. A qual ele
cantava baixinho, assim que eu fechava os olhos na hora de dormir.
Acho que na realidade, ele pensava que eu já estava dormindo.
Porém, sempre ficava acordada, querendo ouvi-lo cantar.
“Uma menina me ensinou
Quase tudo que eu sei
Era quase escravidão
Mas ela me tratava como um rei

Ela fazia muitos planos


Eu só queria estar ali
Sempre ao lado dela
Eu não tinha aonde ir

Mas egoísta que eu sou


Me esqueci de ajudar
A ela como ela me ajudou
E não quis me separar

Ela também estava perdida


E por isso se agarrava a mim também
E eu me agarrava a ela
Porque eu não tinha mais ninguém”

Como se fosse um imã, meu olhar é atraído para longe do


palco e logo pousa em direção ao homem que tanto atormenta e
único capaz de acalmar meu coração. Seus olhos castanhos que
eram tão enigmáticos, hoje parecem completamente transparentes.
Ele me encara, vindo em minha direção de imediato, parecendo não
acreditar em minha presença. Faço então o mesmo, indo até ele,
querendo o mais rápido possível estar próxima.

“E eu dizia ainda é cedo


Cedo, cedo, cedo, cedo
E eu dizia ainda é cedo
Cedo, cedo, cedo, cedo
Ah, eu dizia ainda é cedo
Cedo, cedo, cedo, cedo
Ah, eu dizia ainda é cedo

Sei que ela terminou


O que eu não comecei
E o que ela descobriu
Eu aprendi também, eu sei

Ela falou: Você tem medo


Aí eu disse: Quem tem medo é você
Falamos o que não devia
Nunca ser dito por ninguém

Ela me disse: Eu não sei


Mais o que eu sinto por você
Vamos dar um tempo
Um dia a gente se vê”

E eu dizia ainda é cedo...” [37]

A música me inebria, como se fosse a canção da nossa


relação, totalmente diferente de como nos definia antes. Somos
outros hoje, sei disso.
Logo estou a frente dele, tentando controlar minha respiração
e esquecendo-me por completo de meu doce, que ainda seguro. Ele
me olha indeciso e eu apenas tento segurar minhas lágrimas, não de
tristeza, mas de redescoberta. E nesse instante, toda aquela carta
passa em minha mente, e não consigo pensar em nada para dizer,
apenas demonstrar. Assim, o faço.
Mesmo sem saber ao certo, puxo-o para mim, abraçando-o,
como se minha vida dependesse disso. Ouço as palmas das outras
pessoas já que a música se encerra, mas a única coisa que me
importa é estar nos braços dele. O qual parece achar que a qualquer
momento vou fugir, pois realmente se agarra a mim.
Afasto-me um pouco e toco seu rosto, reconhecendo-o
novamente.
— Oi. — digo, sem ter mais palavras para falar sobre esse
momento.
— Oi. — diz e sorri, enquanto ainda acaricio seu rosto.
Ficamos em silêncio por alguns segundos, acho que ainda
sem conseguir acreditar nesse momento.
— Eu te amo. — diz, e já não consigo segurar minhas
lágrimas.
Poderia duvidar dele, questioná-lo novamente sobre tudo, mas
apenas consigo focar em seus olhos, os quais um dia me
enganaram, mas que hoje, mesmo não podendo tomar mais nada
de mim, olham-me do modo mais terno possível.
— Eu sei. — digo, acreditando em seu amor, e entregando-me
novamente a ele.
Somente a ele.
Capítulo XXVIII

“Olhou para mim com honra e verdade


Quebrado e triste, então eu mandei as tropas recuarem
Aquela foi a noite em que quase te perdi
Eu realmente pensei que havia te perdido” [38]

Christopher

— “Porque eu, que apenas tinha uma certeza na vida – a


empresa – me vi perdido, assim que percebi o que estava fazendo.
Não sou o melhor homem do mundo, nem mesmo o mais correto,
mas se tem algo que sei, é que sou o homem que te ama, e por
mais que existam milhares capazes de o fazer, eu quero ser o melhor
homem que te ama. Se for para ser algo daqui por diante, quero
apenas que seja ser seu. Por isso, eu quero que assine o divórcio,
me dê a chance de te conquistar novamente. Me dê a chance de ser
seu.”
Ela termina de ler a carta que escrevi meses atrás, que está
mais para um simples bilhete, mas foi na qual abri meu coração pela
primeira vez para alguém. Limpo as lágrimas que descem por seu
rosto, e suspiro fundo, sem conseguir explicar o quanto é bom ouvir
sua voz novamente.
Não sei ao certo, mas nada parece mais correto do que tê-la
aqui, em minha casa, sentada em meu sofá, enquanto apenas
falamos de nós. Nunca imaginei que a encontraria no meio da rua,
enquanto a música que tanto me lembra ela tocava em alto e bom
som. A música a qual pedi para que cantassem, porque me lembra
dela, a qual também reflete parte de nossa história.
— Ei. — digo, quando ela apenas fica em silêncio. — O que
foi? — pergunto, colocando uma mecha de seu cabelo atrás da
orelha.
— É que... Esse lugar...— sorri lindamente, olhando ao redor.
— Você... — seu olhar cai sobre o meu e fico apenas admirando o
modo como me olha, com seu jeito doce. — Eu nunca pensei que
seria tão fácil estar aqui, parece natural, entende? — pergunta, e
finalmente compreendo seu silêncio.
Sim, sei como ela se sente.
Puxo-a para os meus braços, abraçando-a novamente, assim
como fizemos no meio da rua, em meio à festa. Se tem algo que
nem eu entendi, foi como daquele abraço, demos as mãos e viemos
até minha casa. Há algo entre nós, como se precisássemos desse
momento, algo apenas nosso.
— Acho que desde que te contei a verdade, ou parte dela,
precisamos ter uma conversa. — digo, afastando-me de seu aperto.
— Eu te amo, Ella. Mas eu sei o quanto errei com você.
— Chris...
— Por favor. — peço, e ela então se cala, deixando-me
continuar. — Essa carta é apenas uma parte do que sentia naquela
época, mas não representa o que sou hoje, não tudo, nem o que
sinto por completo. Nunca pensei que dois meses valeriam muito
mais do que anos de uma vida dedicada a ser o herdeiro da
empresa. Eu parei e vi como é a vida simples, como ela pode ser
simples. Eu vi que dinheiro é sim algo essencial, mas não é tudo. Eu
não sou um novo homem, ainda tenho os mesmos gostos, porém,
com novas importâncias. Eu amo o que estou fazendo agora, Ella.
Após a lanchonete, em alguns dias da semana, dou aulas
particulares de cálculo para uma garota, e simplesmente adoro isso.
Sempre fui bom com números, mas nunca me senti tão vivo ao fazer
algo, nem quando me sentei na cadeira de presidente da Soares.
Respiro fundo, reparando nos olhos arregalados de Ella e
como o sorriso em seu rosto parece sincero.
— Nunca imaginei ouvir isso de você. Christopher Soares,
professor. — diz, como se testasse as palavras em sua boca. —
Gosto disso!
— Eu também. — assumo, passando as mãos por meus
cabelos. — Eu tenho duas pós-graduações em economia, e vi que
posso prestar concurso para ser professor. — confesso e ela leva as
mãos a boca, claramente surpresa. — Eu não sei ainda se vou fazer
a prova, porque tenho que estudar muita coisa antes, mas... É um
sonho em vista. Algo que nunca antes passou por minha cabeça.
— Um novo sonho. — diz, como se completasse minha fala. —
Completamente diferente.
— Pois é. — debocho de mim mesmo e ela sorri. — Assim
como a tatuagem que fiz, algo que de repente tive vontade e acabei
simplesmente me deixando levar.
Ela me encara curiosa então tiro minha camisa, expondo a ela
minha tatuagem, que fica em meu braço esquerdo. É uma simples
frase, a qual nunca fez sentido antes para mim, antes de toda minha
vida virar de cabeça para baixo... Mas no momento que a fiz, onde
me vi só e imaginando minha vida, fez todo sentido. E acho que
sempre fará.
— “Essa saudade que eu sinto de tudo que eu ainda não vi.”
[39]
— ela lê e me encara surpresa, como se absorvesse cada
palavra. — Qual o significado?
— Eu fiquei perdido nos primeiros dias aqui, eu sentia falta de
algo, como se tivesse um buraco no meu peito. Pensei em ligar para
todos, correr para alguém... Mas ao decorrer dos dias percebi que
sentia falta de algo que eu nem conhecia.
— Algo novo? — questiona e assinto.
— Como nós. — confesso. — Como tudo seria se eu não
tivesse planejado nada.
— É linda. — diz, tocando de leve a tatuagem.
— Mas e você? — pergunto interessado, colocando
novamente minha camisa. — Como estão as coisas? De verdade,
Ella. Eu não sei como te encarar após tudo o que fiz, após te ver no
meu colo completamente inconsciente e...
— Ei, esqueça isso. — diz, abrindo um fraco sorriso. Mas acho
que nunca me perdoarei, pelo momento que tive de ver a mulher
que amo, praticamente morta em meus braços, por minha culpa. —
Eu estou bem, Chris, não faça essa cara. — diz simplesmente e
tento conter minhas emoções. — Bom, eu tranquei a faculdade e
passei os últimos dois meses fora do país com Laura. Precisei de um
tempo para mim, e quando voltei, decidi que queria falar com você,
colocar os pingos nos “is” e... Bom, aqui estamos. — diz, fechando
rapidamente seus olhos.
— Eu sinto muito, Ella. — digo, tomando finalmente coragem
de tocar nesse assunto. — Sinto muito por ter te mostrado algo que
nunca quis saber. Por ter te machucado e... Quase... — digo, a
respeito de ter tocado em seu passado, e sem conseguir esquecer
aquele horrível dia, em que a vi em uma cama de hospital, por
minha única e exclusiva culpa.
— Acho que por mais que tenha agido de má fé, foi bom
saber. Eu descobri que minha mãe biológica me amava demais, e
que meu pai biológico é um homem incrível também. Além de já ter
uma família maravilhosa, consegui finalmente saber mais sobre tudo,
sobre minha origem. Não se culpe por isso. — diz simplesmente, e
noto a quão forte e segura ela é. — Sobre quando entrei em coma...
Não é algo do qual me orgulho, longe disso, mas me ensinou o
quanto devo lutar ao em vez de sucumbir à dor do momento.
— Acho que nunca vou conseguir parar de me culpar. — sou
sincero e abaixo a cabeça, encarando a almofada que ela tem em
seu colo.
— Ei. — diz e puxa minha mão esquerda, e a encaro no
mesmo instante. — Meu Deus! — exclama de repente,
surpreendendo-me.
— O que foi? — pergunto incerto.
— Você ainda usa sua aliança. — constata o óbvio e eu sorrio,
levantando minha mão esquerda e deixando ainda mais claro a ela.
— Desde que coloquei em meu dedo na festa de posse, nunca
a tirei. — confesso e Ella fica em completo silêncio. — Algum
problema com isso? — pergunto, temendo por sua resposta.
— É que nunca pensei que me surpreenderia tanto com você.
— diz, dando de ombros. — É como se eu não te conhecesse mais,
sabe? Mas ao mesmo tempo somos apenas nós.
Sorrio, vendo o quanto ainda mesmo sem entender nossa
atual situação, eu sei o que quero, e Ella também.
— Quando vi junto à carta, o seu pedido de divórcio, e que
abre mão de toda e qualquer quantia de dinheiro ou posição, eu vi
que não era mais o homem de antes. — diz, tocando meu rosto,
como se gravasse minhas expressões. — Mas quando te vi hoje,
naquele palco, dizendo algo para um cara e de repente a música
começou... Eu sabia que era você. O meu homem.
— Ella... — digo, sem saber como reagir a sua declaração.
É como se ela estivesse respondendo minha carta, como se
me aceitasse novamente.
— Você é meu e eu sou sua. Vamos ter problemas, somos
humanos, erramos... Mas se tem algo que aprendi com meus erros,
é nunca deixar de ser verdadeira e completamente honesta. E eu
quero estar com você, Chris. Poderia mentir e dizer que não crio
expectativas sobre nós, mas eu já criei várias em poucos minutos.
Seja o que for amanhã... Hoje, no agora, eu sou sua.
Não consigo mais raciocinar direito, e a única coisa que
consigo fazer é puxá-la para meus braços e beijá-la com todo amor
que sinto. Com o gosto de recomeço tão sonhado por mim.
Ella se agarra a mim, com a mesma fome, mesma vontade...
Deixando claro que um simples beijo não é o bastante para nós, não
hoje, não no “nosso” agora.
Nesse instante, tocando sua pele macia, sentindo o quanto se
entrega a mim, o quanto nossos corpos são perfeitos um pro outro,
apenas tenho novamente a certeza de que somos almas gêmeas,
somos únicos. Deito-me sobre seu corpo, segurando sua nuca,
encarando com devoção suas nuances, vendo seus olhos fechados,
em contraste com sua boca entreaberta. Ela assim como eu, não
consegue esconder o prazer que sente.
Mas nós somos muito mais que prazer, muito mais que uma
simples conexão carnal. Ella é minha, por completo, sem mais
ambições, mentiras ou armações.
Puxo de leve seu cabelo, e seus olhos se abrem no mesmo
instante. Nada no mundo paga isso, ter a mulher que amo, delirando
de amor, prazer, luxúria junto a mim. Mas sei que nada mais importa
do que novamente dizer a ela o que sou.
— Eu sou seu. — digo, encarando-a com toda sinceridade que
tenho, todo amor que transbordo.
Sei agora, que estamos juntos novamente.
Capítulo XXIX

“Não há manhã de glória, era guerra, não era justo


E nós nunca voltaremos
Para aquele sangue derramado, trevo carmesim” [40]

Antonella “Babi”

As coisas na vida são realmente estranhas. Se há um ano


alguém me perguntasse como eu estaria, logo diria que estudando,
estagiando e em um relacionamento. Nesse instante se alguém me
perguntar como estarei no futuro, não serei ousada em arriscar algo,
sequer mesmo meu status. Acho que finalmente aprendi a não
tentar previr nada, apenas viver um dia de cada vez.
— Um real por seus pensamentos. — sorrio e me viro,
abraçando-o, sem sequer precisar olhá-lo para saber que tem um
sorriso cínico em seu rosto.
— Pelo menos um dólar, tio. — brinco.
— Não dê bola, hoje ele acordou pior que o de costume. —
Tia Dani diz assim que se aproxima, me abraçando com carinho.
— Ela me ama. — Castiel implica e ela revira os olhos,
ajeitando meu cabelo.
— Parece nervosa. — ela indaga e eu assinto.
— E se ele não gostar e... — tento dizer, mas travo,
imaginando que possa estar estragando tudo.
Estragando o começo de algo tão bom que eu Chris estamos
construindo.
— Babi, se você quer mesmo viver esse amor, nada mais justo
que dar a ele a chance de ter quem o ama ao lado, que ele saiba
que todos nós apoiamos vocês. Por que ele ficaria mal com isso? —
pergunta, encarando-me desafiadora.
Nunca disse a ela, mas Dani me dá muito medo às vezes.
— Eu acho que só estou nervosa. — digo, tentando me
acalmar e ela sorri.
— Você está fazendo algo muito bonito. — diz e logo se
afasta, junto a Castiel.
Encosto-me contra a bancada da lanchonete e fico divagando
comigo mesma, vendo meus tios irem para o quarto de meus pais. A
família Soares praticamente lotou o hotel.
Meu relacionamento com Chris tem seguido, mas não sei ao
certo nem o que somos. Namorados, noivos, ou até mesmo casados
como está no papel, porém o que importa é que me sinto feliz e ele
também.
Passei alguns dias com ele após termos ficado juntos,
conhecendo seu dia, sua nova vida, seu novo eu... Acho que nunca
estive tão apaixonada quanto agora. E por isso e tantas outras
coisas, que revolvi fazer algo para vê-lo mais alegre.
Foi fácil perceber o quanto dói para ele essa distância de
nossa família, não só física, mas por completo. Sei que para ele é
muito difícil dar o primeiro passo, acho que ainda por receio do que
aconteceu conosco, porém, sei o quanto todos querem vê-lo, já que
estou ciente sobre o que acontece em ambos os lados,
principalmente o de meu pai.
Nossa família viu o quanto ele mudou, porque obviamente
ninguém realmente ficou longe, apenas o necessário para que ele
não notasse. Nunca vi meus avós tão felizes a respeito dele, e sei
que isso o fará muito feliz também. Porque por mais que ele não
tenha dito nada, sei que teme não dar orgulho a eles. Mas ele dá, e
precisa saber disso.

Christopher

— Não quer ir passear um pouco pela praça, fazer algo além


de ver um filme? — pergunto e Ella nega no mesmo instante,
praticamente me puxando pelo braço. — Ei, por que está assim? —
pergunto sem entender sua pressa.
— Nada, apenas cansada. — diz, mas não sinto firmeza em
suas palavras.
— Ella...
— Vamos logo, baby. — insiste, e mesmo sem entender,
caminho rápido junto a ela.
Ficamos juntos apenas para jantar fora, já que passei
praticamente o dia todo na lanchonete.
— Bom, agora para. — Ella diz de repente, e fico paradinho
em frente à porta de minha casa, sem entender nada do que está
havendo. — Você tem uma lembrança ruim de nossa família, eu sei,
e fui eu quem a fiz. Mas não é por isso que estamos aqui, é porque
eu... Eu te amo, Chris. — surpreendo-me no mesmo instante. —
Esses dias ao seu lado vem me mostrando o quanto nosso amor é
forte, e o quanto ele foi modificado ao decorrer de nosso
amadurecimento. Mas o meu amor não é o suficiente, ou melhor,
não é o único que você tem. Atrás dessa porta, tem todos aqueles
que te amam, e que se orgulham de quem é, e do que nós somos.
Fico estático, sem palavras, já entendendo o porquê de seu
nervosismo, o porquê de seu modo estranho. Apenas a encaro,
buscando alguma incerteza sobre o que disse
Ela disse que me ama, e disse que as pessoas que me ama
estão atrás dessa porta... Isso não é possível!
Viro-me para porta e abro devagar, sentindo meu coração
praticamente pular do peito e lágrimas se formam em meus olhos.
Assim que a abro totalmente, não consigo mais raciocinar direito.
Só agora sei o quanto senti falta deles, de cada um deles, das
pessoas que são tudo para mim – minha família. Em especial, o
homem que está no centro da minha sala, que nesse instante, por
mais que sejamos tão diferentes fisicamente, parece meu reflexo.
Um dia pensei que não fosse nem um pouco parecido com
Caleb, hoje sei, que somos mais do que isso.
— Irmão. — digo, e caminho até ele, sentindo as lágrimas
descerem por minha face.
O silêncio da sala não me assusta, mas sim o da pessoa a
minha frente.
— Moleque. — diz e praticamente me esmaga em seu abraço.
Choro em seu obro e sinto suas lágrimas molharem minha
camisa. Nunca pensei que sentiria tanta falta assim de alguém.
— Eu sinto muito, irmão. — digo, desabando por completo.
— Eu também, não sabe o quanto.
— Ok! — ouço o grito de Castiel e Caleb se afasta, já
encarando nosso irmão impaciente. — Eu sou o mais velho, o
primeiro abraço era meu. — Cas diz provocativo, fazendo-me sorrir
em meio às lágrimas.
Uma coisa que Castiel me mostrou no decorrer de tudo isso, é
que por mais que ele tenha passado por situações difíceis, algumas
que sequer conheço, isso não o impediu de ter um coração enorme.
E não sei se teria conseguido passar por tudo sem seu apoio, suas
mensagens todos os dias.
— Babaca. — Caleb diz, assim que Cas vem até mim e me
abraça também.
Senti falta do deboche dos dois.
— Eu preciso falar algo agora. — minha mãe diz de repente, e
as lágrimas voltam a descer por meu rosto. — Nicholas... Ah meu
Nicholas.
— Christopher, mulher. — meu pai retruca, como sempre o fez
quando ela me chama assim. — Nosso Christopher.
— Rodrigo, hoje não. — o corta e meu pai se cala no mesmo
instante, sorrindo. — Não sei se acreditou que realmente nos
afastamos de você, mas na realidade, apenas deixei você voar, como
fiz quando foi para aquele intercâmbio com dezesseis anos.
Ela se aproxima de mim e toca meu rosto com carinho,
fazendo-me sentir realmente em casa. Meu pai vem ao seu lado, e
apenas me encara como sempre fez, demonstrando sem palavra
alguma o que sente. E nesse momento arrisco dizer que ele sente
orgulho de mim.
— Você errou, meu filho. Mas quem nunca errou na vida? Eu
errei, assim como seu pai, Caleb, Castiel...
— Eu não! — Cas provoca e mamãe o encara, sorrindo do
mesmo modo que meu irmão. Tal mãe cínica, tal filho cínico. — Ok,
talvez um pouquinho.
— Vamos ignorar Castiel, já que ele ainda não cresceu. —
mamãe retruca, no mesmo tom de Cas e todos gargalham. — Mas
continuando... — ela diz e olha feio para meu irmão, que apenas
finge não entender nada. — Nós amamos você, meu amor. Por tudo
que foi, por tudo que é e ainda mais pelo que será. Queremos estar
ao seu lado para tudo. Quase morri tendo que vir até essa cidade e
te ver de longe. Parece o mesmo que fiz quando foi para o
intercâmbio.
— Mãe, você não fez isso! — digo incrédulo, sem conseguir
imaginar que ela foi até outro país quando eu era um intercambista.
— Sim, ela foi até o Canadá várias vezes só para ver como
você estava. — papai diz e mamãe dá de ombros, sorrindo para
mim.
— Ok. — mamãe diz de repente e me abraça, praticamente
me esmagando. — Você emagreceu mais ainda! — diz brava e se
afasta, olhando-me de cima embaixo, como se não acreditasse no
que vê. — Uma tatuagem! — grita e bate palmas. — O que tem
escrito aí? — pergunta.
— Uma frase de Legião. — conto e ela sorri amplamente,
assim como meu pai.
— Ok, agora me deixe abraçar nosso filho, minha rosa. —
papai pede e ela se afasta.
Todos vêm até mim e me abraçam, o que me deixa
completamente sem jeito, pois nunca imaginei ser tão querido
assim, muito menos que tão cedo voltaria a ter contato com todos.
Miguel, Annie, Luna, Pedro, Eduardo, Victória, Felipe, Dani... Todos
estão aqui. Além das duas novas pessoas que a vida me deu de
presente, Tânia e Nala.
Olho para o lado e vejo Ella assistindo a cena, ainda
encostada contra a porta.
Ela de repente se afasta, e penso que virá até mim, mas pelo
contrário, ela se vira e abre a porta.
— Oi. — escuto alguém dizer e fico curioso, assim como todo
mundo na sala, os quais encaram a porta no mesmo instante.
Paula entra a passos incertos e encara a todos nós,
claramente tímida. Estranho por ela estar só, mas feliz e surpreso
por ela estar aqui, porque agora sim está completo.
— Desculpa, eu me atrasei. — diz e vem até mim. — Senti
sua falta, playboy. — sem pensar duas vezes a abraço.
Tenho novamente nesse instante a certeza do quanto sou
abençoado por ter pessoas tão maravilhosas em minha vida. Pessoas
as quais eu vou mostrar que toda a fé que tem em mim, vale a
pena.
Assim que Paula se afasta, encaro Ella, a que nesse momento
tem toda minha atenção.
— Obrigado. — mexo com a boca, enquanto Annie vem até
mim e pula em meu colo.
Abraço minha sobrinha com toda saudade que sinto,
pensando em como um dia quero poder abraçar meus filhos. Um
sonho que nunca tive, mas começo a ter vontade nesse momento.
Com toda certeza agora, quero abraçar o mundo, mas dessa vez, da
forma correta, sendo honesto e apenas eu mesmo.
Capítulo XXX

“Eu ainda estou naquela corda bamba


Ainda estou tentando de tudo para manter você rindo para mim
Eu ainda acredito, mas não sei por quê
Eu nunca fui natural, tudo o que faço é tentar, tentar, tentar
Eu ainda estou naquele trapézio
Ainda estou tentando de tudo para manter você olhando para mim” [41]

Christopher

Passo um tempo incrível com minha família. Andamos pela


pequena cidade, mostrei a eles meus lugares favoritos e meus dois
trabalhos – mesmo que todos já saibam onde ficam. Contei a eles
sobre a cachoeira que tem há mais ou menos cinco quilômetros
daqui, e já acabamos combinando de ir até lá amanhã.
O modo como todos parecem gostar dessa cidade, e não me
julgam por estar aqui, deixa-me leve. Não que precise da aprovação
deles para algo, mas porque mostra que independente de tudo, eles
são minha família. E família é muito mais que apenas um laço
sanguíneo, é demonstrar amor. Isso, eles sempre fizeram e
felizmente, ainda o fazem.
— Irmão, posso falar com você um minuto. — Caleb pede e
eu assinto, indo com ele para um lugar mais afastado de todos.
Estamos na frente do hotel em que se hospedaram, enquanto
as crianças correm e brincam, assim como o resto de nós. Meus pais
já foram dormir, mas ainda assim, ficaram bastante tempo conosco,
sem ter muito para fazer, apenas nos divertir.
Paro a frente de Caleb e ele suspira fundo, abrindo um meio
sorriso. Eu já queria ter essa conversa franca com ele, mas não tinha
pensado que era o momento certo. Mas já que estamos aqui, nada
mais justo.
— Antes de tudo só quero pedir perdão, irmão. Sei o quanto
te magoei, o quanto magoei toda nossa família. — digo sincero e
Caleb me ouve atentamente. — Olhe só...— indico onde nossa
família está. — São incríveis, você também é. Não sei como fui capaz
de magoar tanto a cada um, não apenas com o que fiz a Ella, mas
por ter traído a confiança de todos e...
— Chris, você é parte dessa família, sempre será. Você errou,
magoou minha menina, mas nunca a vi sorrir tão verdadeiramente
como hoje. E isso é por sua causa, nada mais. O que aconteceu,
aconteceu, não podemos mudar. Mas o futuro é de vocês, sabe
disso. Quero que sejam felizes, e que um dia, me perdoe por ter
sido impulsivo, dito o que disse, agredido você.
— Caleb não tem que...
— Eu tenho, porque te amo, irmão. Por mais que tenha errado
conosco, também errei com você. E por isso, pelo homem que é,
pelo sorriso no rosto de Babi, trouxe isso, pois sei que vai precisar.
— diz e tira um pequeno envelope do bolso detrás da calça. —
Victória sempre soube onde ela a deixava, e bom, onde estava a
carta que deixou para Babi.
— Vocês leram? — pergunto, praticamente morto de
vergonha. Não pelo que escrevi, mas porque meu irmão sabe que fiz
como ele, escrevi uma carta.
— Não, mas Babi nos contou o necessário. — diz e me
estende o envelope, pego-o e encaro meu irmão. — Abre!
— Ok.
Abro o pequeno envelope e encaro meu irmão incrédulo ao
tirar o conteúdo de dentro.
— Ela vai dizer sim, sabemos disso. — Caleb diz e segura de
leve em meu ombro esquerdo. — Seja apenas você Chris, ela te ama
assim. Todos nós amamos.
— Obrigado, irmão. — digo e puxo-o para um abraço. —
Obrigado por tudo.
— Aliás... Não vou mais ter filhos, Christopher. — diz, e o
encaro sem entender. — Então me dê sobrinhos... Ou melhor, netos.
Deus, isso é estranho! — exclama e gargalho.
Vou caminhando ao seu lado, até onde todos estão. Guardo o
envelope no bolso de minha calça e fico próximo a Ella, que
conversa algo com Paula.
É bonito ver essa cena, não apenas de Ella com Paula, mas de
Paula com todos nós. Victória tem um sorriso gigante no rosto, com
certeza, feliz por ter a irmã próxima a ela, depois de tanto tempo.
Ainda não sei ao certo o que houve, mas pelo jeito, acho que as
duas já estão próximas.
— Vamos entrar, Mi. — Caleb diz e vai até o filho, pegando-o e
jogando-o para cima.
— Mas pai...
— Nada de “pai”, Miguel. — Victória interfere e vai até os dois,
bagunçando de leve o cabelo do filho. — Precisamos descansar
porque amanhã temos um dia na cachoeira.
— Eba! — ele grita animado e foge dos pais, indo até Felipe.
— Vou dormir com o Lipe, e o Gabi.
— Ok, meu amor. — Vic diz. — Boa noite, gente! Até amanhã!
— Você também, mocinha. — Dani diz para Annie. — Vamos
dormir!
— Quero dormir com a tia Paula. — diz, e emburra de
repente. — Por favor, mommy [42] .
Vejo que Paula está corada, mas sorri amplamente. Ok,
preciso entender logo o que está acontecendo por aqui.
— Vamos lá, princesa. — Paula diz e Annie solta um gritinho.
— Um dia eu fico surdo. — Cas retruca e todos gargalhamos,
Annie tem o gênio dele. — Vamos, sweet heart!
Ele então pega meu sobrinho mais novo, Gabriel, e o carrega
no colo, enquanto Annie corre a sua frente.
— Boa noite, gente! — Dani diz e pisca para nós, e logo todos
entram no hotel.
Ficamos apenas eu, Ella, Luna e Lipe. Eduardo acabou indo
embora logo, levando Tânia e Nala em casa, na hora não entendi
muito bem, mas aposto que ele e Tânia estão tendo algo, e fico
muito feliz por isso. Pedro, meu primo, já havia subido antes, pois
teve algum problema no restaurante e seu telefone não parava de
tocar, ainda não sei ao certo como ele consegue lidar com tudo
aquilo.
— Bom, vou indo dormir. — Luna diz e se espreguiça. —
Vamos, Lipe, antes que Miguel volte doido atrás de você.
— Isso vai acontecer se não subir. — Ella provoca e Felipe
sorri amplamente.
— Boa noite! — Luna e Lipe dizem ao mesmo tempo.
— Boa noite. — respondo e logo os dois entram no hotel.
— Então... — Ella começa a dizer e de repente para. —
Vamos? — pergunta e assinto, entrelaçando nossos dedos.
— Tudo bem? — pergunto e ela assente, com um sorriso no
rosto, enquanto caminhamos até minha casa.
— Acho que nunca estive tão feliz. — declara e eu sorrio
cúmplice.
— Não sei como planejou tudo isso, mas... Não tenho
palavras para agradecer. — sou sincero e ela dá um beijo de leve em
meu rosto.
Paro então por um instante para pegar a chave de casa no
bolso e abro a porta.
— Bem-vinda, madame. — brinco e ela faz uma reverência,
entrando. — Obrigado de verdade, Ella. — digo, assim que fecho a
porta, virando-me para ela.
— Não fiz nada demais, apenas o certo. — diz e vem até mim,
colocando os braços em volta de meu pescoço. — Eu te amo, baby.
— Eu também te amo muito. — digo, selando nossos lábios.
Ella me empurra contra a porta, e quando vejo já tira minha
camisa, olhando-me com devoção. Mal sabe ela o quanto mexe
comigo.
— Está selvagem hoje, senhorita? — pergunto, pegando-a em
meu colo de surpresa e beijando várias vezes seu pescoço.
— Senhora... Porque sou uma mulher casada. — diz e sorrio
de sua colocação.
— E seu marido sabe o que faz na casa desse futuro
professor? — pergunto e ela nega.
— Bom, digamos que meu marido é um homem muito
ocupado com a empresa e não tem tempo para mim. — diz,
continuando nossa brincadeira, fazendo-me quase gargalhar.
— Mas não estou vendo nenhuma aliança em seu dedo. —
digo, pegando sua mão esquerda, fingindo-me de desentendido.
— Bom, talvez ele possa ser deixado de lado... — diz,
piscando para mim e beijando-me com vontade.
Antes que continuemos com isso e a tome para mim, resolvo
então ter coragem para fazer algo. Algo que não quero adiar, pois
sei que cedo ou tarde, vou fazê-lo.
— Então está mentindo... Não é uma mulher comprometida.
— indago, colocando-a no chão novamente.
Ella me encara desafiadora e com um sorriso no canto da
boca.
— Porém acho que não vai ficar muito tempo sozinha. — digo
e ela me encara sem entender.
Tiro o envelope de meu bolso e ajoelho-me. Ella arregala os
olhos, e noto seus olhos marejados.
— Planejei muitas coisas em minha vida, Ella. Planejei cada
detalhe de todas as vezes que te pedi em casamento, mas essa...
Essa nem eu mesmo esperava.
Tiro a aliança de dentro do envelope e deixo a vista de Ella,
vendo lágrimas escorrerem por seu rosto.
— Caleb me trouxe a aliança. — explico rapidamente. —Sei
que pode parecer precipitado, mas... — respiro fundo, tentando
conter a emoção. — Nada é mais certo para mim do que nós, nada
mesmo. Eu, Christopher Nicholas Soares, quero que seja mais uma
vez minha esposa. Para que dessa vez realmente possa amá-la e
respeitá-la, do modo como merece, e do modo como a admiro. —
declaro-me de uma vez, sem pensar duas vezes, pois sei que é o
que quero.
Antonella é o que quero.
— Nenhum pedido seria mais lindo que esse, baby. Sim, mais
uma vez aceito ser sua esposa. — Ella diz em meio às lágrimas, e
me dá sua mão esquerda, na qual coloco sua aliança.
Beijo sua mão com ternura, encarando seus lindos olhos
castanhos, que me remetem apenas a doçura de uma mulher
incomparável.
— Onde estávamos? — pergunto, levantando-me
rapidamente, pegando-a em meu colo.
— Na parte em que somos felizes para sempre. — diz,
fazendo-me rir.
— Então quer dizer que sou um príncipe? — provoco, levando-
a até meu quarto, ou melhor, nosso.
— Bom, talvez o pior deles, mas o único que amo. — diz, e
jogo-a com cuidado na cama. — Ei!
Subo na cama e cerco-a com meu corpo.
— Apenas seu, baby. — digo, beijando de leve seus lábios.
— Apenas sua.
Assim, perco-me em seu corpo, sentindo meu mundo girar e
voltar ao normal a cada beijo, cada toque, cada olhar... Tudo que
compartilhamos parece único.
Porque por mais que tenhamos errado no passado, uma
certeza nunca mudou – nosso amor.
Epílogo

“Meu amor era tão cruel quanto as cidades em que vivi


Todos pareciam piores à luz
Há tantas linhas que eu cruzei sem perdão
Eu vou te dizer a verdade, mas nunca adeus” [43]

Antonella “Babi”
Quase dois anos depois

Acordo sentindo mãos em minha barriga. Sorrio antes mesmo


de abrir os olhos, por saber que ainda deve ser cedo, e Christopher
deve estar indo para o trabalho.
— Bom dia, dorminhocas. — diz, beijando minha barriga. —
Bom dia a mamãe dorminhoca. — diz e me dá um leve beijo.
— Bom dia, papai do ano. — brinco e Christopher já arregala
os olhos.
— Está sentindo alguma dor? — pergunta aparentemente
preocupado, e gargalho, sentando-me contra os travesseiros. — Ella,
não faz isso comigo.
— Só estou brincando, amor. — digo e toco de leve minha
barriga já enorme, de quase 38 semanas.
Não renovamos nossos votos como tínhamos pensado, mas
pretendemos nos casar ao ar livre, com toda nossa família junto a
nós. Esperamos que em breve, assim que nossas pequenas nasçam,
possamos realizar esse sonho.
Christopher tem sido muito mais que um marido atencioso,
tem sido um pai extraordinário antes mesmo de nossas pequenas
virem ao mundo. Nossa vida virou de cabeça para baixo assim que
descobri que estava grávida, tanto porque eu tomava
anticoncepcional, quanto porque realmente não esperávamos
sermos pais tão cedo. Mas isso nos uniu ainda mais.
Foi engraçado descobrir que estava grávida, pois meus
sintomas resolveram aparecer bem no dia da minha apresentação de
[44]
TCC . Assim que terminei minha apresentação e fui aprovada,
posar para as fotos com meus professores, foi uma das maiores
provações que passei em minha vida.
Sentia meu estômago se apertar, como se a qualquer
momento fosse colocar tudo para fora. Mas segurei firme,
infelizmente sem imaginar o que era a causa disso. Pensei apenas
ser o nervosismo da apresentação, mas quando desmaiei após a
última foto, aí descobrimos o real porquê.
O mais engraçado foi Christopher recebendo a notícia que
estava grávida. Ele poderia ter feito muita coisa, mas foi adepto ao
velho clichê – desmaiou. O melhor de tudo é que tenho uma foto
dele caído no chão do quarto, ainda inconsciente, pois consegui
capturar aquele momento. Felizmente ele não desmaiou quando
descobrimos que eram gêmeas, ao menos isso.
Desde então tudo mudou para nós, e felizmente para melhor.
Meus pais entraram em êxtase, assim como Donatello, o qual
aprendi a amar pelo que é e amo o cuidado que tem comigo. Ainda
mais o modo como ele se aproximou de Christopher. Claro, eles não
são os melhores amigos do mundo, mas se dão bem.
Minha relação com Donatello é ótima, mas ainda não consegui
chamá-lo de pai, não porque ele não seja um para mim, mas porque
esse lugar em minha vida, já pertence a alguém. Porém, minhas
filhas com toda certeza terão dois avós babões em cima dela, e
serão muito mimadas.
Sobre minhas pequenas... Ah, elas modificaram muito em
mim. Tanto seus nomes que escolhi especialmente para as duas
mulheres que mesmo não estando mais aqui – e uma delas não
tenha de fato conhecido – são especiais para mim: Josiane e Clara.
Tanto que acabei optando por não mais viver no Rio, já que tive de
ficar por lá por um bom tempo para terminar minha graduação. Vi
que meu lugar era em Minas, na pequena cidade, junto a Chris.
O que não sabia antes é que na cidade vizinha a essa, tem
um Instituto Federal, onde Christopher fez escondido à prova de um
concurso para ser professor, e acabou passando. Assim, como tudo
já estava certo para nós, ficamos nessa cidade, e escolhemos
construir nossa vida aqui.
Como sou formada em design, resolvi trabalhar com isso aqui
mesmo, indo até a casa das pessoas, mostrando para elas como um
ambiente pode ser modificado e ficar ainda mais aconchegante. E
assim, nossa vida foi seguindo.
Nossa família sempre vem nos visitar, ou nós vamos até o Rio
ver todos. Porém como minha cesárea está marcada para daqui uma
semana, nesse momento, praticamente nossa família toda está em
nossa casa, temendo que a qualquer momento eu possa sentir
alguma dor ou desconforto.
Ter uma gestação de gêmeos não tem sido fácil, mas
felizmente, minhas dores diminuíram e hoje sei que falta pouco para
ver as carinhas de nossas pequenas. Por isso, não tenho me
apavorado com nada, pois desde minha última consulta, onde
deixamos firmado o dia que será o parto, elas estão tranquilas, o
que me deixa assim também.
— Ei. — Chris diz, fazendo piscar algumas vezes e voltar a
realidade. — Estou indo trabalhar, mas qualquer coisa me liga, ok?
— assinto várias vezes, mostrando a ele que está tudo bem.
Christopher leu tantos livros sobre gestações, que de nós dois,
é o mais preocupado. Não me incomodo de forma alguma com isso,
mas no fim fico preocupada é com ele, que sempre parece nervoso e
ansioso demais.
— Relaxa, amor, nossas pequenas não... — paro de falar no
mesmo instante, em que sinto uma dor forte na barriga e algo sair
de dentro de mim. — Ah meu Deus! — exclamo incrédula.
— Dessa vez não vai me enganar. — ele diz e beija minha
testa.
Permaneço estática, rindo alto devido a surpresa, sem
conseguir acreditar nisso.
— Viu, sabia que estava...
— Chris, a bolsa estourou. — digo séria, e ele me encara
abismado. — Chama minha mãe, agora.
— Ah meu Deus! — ele diz e olha para baixo, vendo o
molhado nos lençóis.
— Respira! — digo e ele respira fundo, correndo para fora do
quarto.
Passo a mão de leve por minha barriga e converso com
minhas pequeninas.
— Sejam boazinhas com a mamãe.
— Elas vão nascer! — ouço o grito de Christopher e gargalho,
em meio à dor que sinto.
Sorrio de mim, de minha vida, do que temos. Nada um dia me
indicou isso, que teríamos esse momento juntos. E nada no mundo
paga por ter tudo o que tenho: o homem que amo, a vida que
levo... A fé que compartilhamos.
Aprendemos a olhar pro nosso hoje, nosso agora... E nesse
momento, somos muito mais que dois, somos quatro. Com novos
dois motivos para sorrir e celebrar ainda mais a vida. Que mesmo
que não seja perfeita, é a ideal para nós. Eu, ele, nossa família... E
como diria uma das músicas que ele tanto escuta e que retrata o
que acredito:
“Nem foi tempo perdido, somos tão jovens [45] .”
E sim, nada do que passamos foi perdido. Pois dentre todos
os erros e acertos, encontramo-nos novamente.
Nota

Oi!
E terminamos mais uma amarra, e deixamos agora, uma para
ainda ser fechada, com o último dos Soares: Castiel.
Espero de coração que o seu momento com Chris e Ella tenha
sido bom, e que esteja animada para conhecer mais sobre os
Soares, e mais sobre o meu trabalho. Caso queira isso, estará listado
abaixo algumas das obras do #ALINEVERSO e futuramente, teremos
o Soares que anda faltando.
Com muito amor (e gratidão),
Aline
Redes Sociais

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Tiktok: @autoralinepadua
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Meus outros livros: aqui
CASADA COM O HOMEM QUE NÃO ME AMA

Leia aqui
SINOPSE
Vinte anos de um casamento por contrato.
Ele, um homem reservado e completamente fechado.
Ela, passou por cima de tudo por um único e exclusivo amor,
sua filha Luna.
Ele, sempre fez de tudo para proteger a filha, e claro, sua
esposa.
Ela, contou os minutos para o divórcio e encontrar seu
verdadeiro amor.
Ele, apaixonado por ela desde a adolescência.
Ela, apenas o vê como o homem que nunca amou.
Existe alguma chance de um casamento por contrato de vinte
anos ter um final que não seja o divórcio?
Torres-Reis-Kang-Esteves

UMA GRAVIDEZ INESPERADA


Família Torres – Livro 1

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SINOPSE
Se no meio do caminho de algumas pessoas tem uma pedra,
no meio do caminho de Maria Beatriz, sempre teve Inácio. O herdeiro
da fazenda que fica ao lado das antigas terras de sua família, tornou-se um
homem bruto e fechado, que quando aparece na sua frente, ela já sabe que
só pode ser problema ou alguma proposta indecorosa. Maldito peão velho!
Inácio Torres é um homem de poucas palavras, mas que vê em uma
mulher tagarela, a oportunidade perfeita. Mabi precisa de dinheiro, ele o tem.
Ele precisa de um casamento falso, e ela é a escolha perfeita. Porém, a única
coisa que recebe de Mabi, como sempre, é uma negativa. Maldita criança
sonhadora!
No meio das voltas que a vida dá, uma noite de prazer os marca. E a
consequência será muito maior que o arrependimento: UMA GRAVIDEZ
INESPERADA.
CEO INESPERADO – meu ex-melhor amigo
Família Torres – Livro 2

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SINOPSE
Se nem tudo que reluz é ouro, Júlio é apenas a melhor imitação
de pedra preciosa em que Babi colocou os olhos.
O seu ex-melhor amigo, a abandonou e quebrou seu coração quando
eram adolescentes. Bárbara Ferraz jurou a si mesma que nunca mais o
deixaria ficar perto. Maldito CEO engomadinho!
Júlio Torres sabe que deixou uma parte de si para trás. Sua ex-melhor
amiga o odeia e ele, muitas vezes, teve o mesmo sentimento por si. Maldita
sombra!
Júlio sabe que não pode mais ignorar, porque ele não quer apenas a
sua melhor amiga de volta, ele a quer como sua.
Babi foge dele como o diabo foge da cruz. Entretanto, como fugir se
depois do reencontro e finalmente os pratos limpos, ela se descobre
grávida do seu ex-melhor amigo?
O BEBÊ INESPERADO DO COWBOY
Família Torres – Livro 3

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SINOPSE
Se existe amor à primeira vista, Abigail Alencar e Bruno Torres
compartilham o completo oposto. Abi o detestou desde o primeiro
momento, e com o passar dos anos, o sentimento permaneceu. Bruno é o
típico cowboy cafajeste, arrogante e popular, de quem ela não suporta a
presença um segundo.
A cidade pequena sabe de seu desgosto e desinteresse no mais novo
dos Torres, porém, ele sempre pareceu ficar ainda mais animado em
confrontá-la. Se existe algo sobre Bruno que ela conhece bem, é que ele não
foge de um desafio.
Assim, quando Abi o encontra como babá da sua filha de apenas um
ano, ela só consegue pensar que ele quer algo. Bruno jura que está ali apenas
para tirá-la do sério, como sempre, mas tudo acaba por mudar, naquele exato
instante.
Existe uma linha tênue entre o amor e o ódio... eles estarão
dispostos a cruzá-la?
FELIZ NATAL, TORRES
Família Torres – Livro Extra

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SINOPSE
O Natal parou de ser uma data festiva, e tornou-se dolorosa, assim que
Maria Beatriz perdeu os pais. No entanto, nesse ano, tudo mudou e ela vai
lutar para que essa data seja ressignificada. Que ela possa sorrir, o tanto
quanto, um dia fez, no passado. Assim, ela precisa que tudo saia PERFEITO.
Uma árvore de Natal destruída, enfeites perdidos pela casa, a ceia que
não vai chegar a tempo, um desmaio...
Será que ela terá o seu Feliz Natal ao lado dos Torres?
Esse é um conto natalino, narrado na visão de Mabi e Inácio (do livro
Uma Gravidez Inesperada), onde você poderá passar essa data tão especial ao
lado da Família Torres.
UMA FAMÍLIA INESPERADA PARA O VIÚVO
Família Torres – Livro 4

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SINOPSE
Olívia Torres sempre teve em mente que para bom entendedor
meia palavra bastava. Assim, quando se apaixonou perdidamente e
descobriu que o homem com o qual se envolveu era casado, o seu mundo
perdeu o chão. Ela apenas foi embora, sem olhar para trás.
Contudo, com Murilo, ela nunca pôde parar de olhar. Ainda mais,
quando descobriu que estava grávida.
Murilo Reis perdeu tudo. Nunca pensou, que em algum momento,
poderia voltar a sentir algo. Entretanto, bastou um olhar para Olívia, para ele
compreender que ainda existia uma chance. Chance essa, que se perdeu por
completo, quando ela o deixou.
Anos depois e uma coincidência do destino, Murilo descobre que não
apenas as lembranças daquele amor de verão permaneceram, mas sim, que
ele tem uma filha.
Um amor de verão pode ser o amor para a sua vida?
GRÁVIDA DO CEO QUE NÃO ME AMA
Família Reis – Livro 1

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SINOPSE
O triste é que aquele velho ditado se tornou real em sua vida:
Valéria que amava Tadeu, que amava Bianca, que amava Murilo, que
não amava ninguém. Desde que seus olhos pousaram em Tadeu Reis,
Valéria se apaixonou. Não sabia dizer se era pelo olhar escuro enigmático, o
sorriso que ela queria tirar daqueles lábios cerrados ou o fato de ele ser tão
atencioso com quem amava.
Porém, Tadeu apenas tinha olhos para outra mulher, e Valéria escondeu
aquele sentimento no fundo de sua alma, tentando matá-lo durante os anos
que se passaram. Uma coincidência do destino, os coloca frente a frente. Ela
sabe que ele é errado, mais do que isso, uma grande mentira, porém, seu
corpo não resiste.
E uma noite com o homem errado não é o fim do mundo, certo?
Para ela, tornou-se um outro começo, já que terá uma parte dele
consigo, para sempre. Valéria está grávida do homem que não a ama. E não
pretende deixá-lo descobrir.
O CASAMENTO DO CEO POR UM BEBÊ
Família Reis – Livro 2

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SINOPSE
Águas passadas não movem moinhos – era o que Lisa repetia a
si mesma. Contudo, estar sempre tão próxima do único homem que
realmente se apaixonou, fazia com que ela quisesse voltar, e na verdade, se
afogar com ele. Igor Reis era um erro, e ela sempre soube.
Ainda assim, não podia evitá-lo para sempre, já que seus círculos de
amizades eram tão próximos. Então, era apenas isso: Igor era um amigo. Um
ótimo fofoqueiro e uma pessoa para perder horas conversando – mesmo que
quisesse perder muito mais.
Todavia, quando ele bate na sua porta no meio da madrugada com um
bebê a tiracolo, ela não sabe o que de fato está acontecendo. Porém, nada é
tão ruim que não possa piorar, e ele a pede em casamento.
Nas voltas que a vida dá, Lisa se vê com o sobrenome Reis, um bebê
para chamar de seu e um contrato de casamento por um ano com o homem
que ama.
Até onde o casamento do CEO por um bebê será uma mentira?
A FILHA DO VIÚVO QUE ME ODEIA
Família Reis – Livro 3

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SINOPSE
Os opostos se atraem.
Carolina Reis queria jurar que isso estava errado, mas não pôde evitar a
forma como seu corpo reagiu ao cowboy bruto e grosso que, literalmente,
atravessou o seu caminho. Franco era uma incógnita, com um chapéu de
cowboy escuro e uma expressão tão dura, que lhe fazia indagar se ele em
algum momento sorria. Bruto insensível!
Franco Esteves não tinha tempo para perder, muito menos, com uma
patricinha mimada que encontrou sozinha no meio da estrada. Porém, não
conseguia evitar ajudar alguém, mesmo que este parecesse ser no mínimo
uma década mais novo, com olhos claros penetrantes e um sorriso
zombeteiro. Diacho de madame!
O que era para ser apenas um esbarrão no meio do nada, torna-se uma
verdadeira tortura, quando Carolina assume, por coincidência a função de
tutora da filha do cowboy. Ele só quer evitá-la. Ela só quer irritá-lo. No meio
do ódio e atração que lhes permeiam, uma adolescente se torna um vínculo
que eles não podem evitar.
Mas até onde ela será a única a uni-los?
GRÁVIDA EM UM CASAMENTO POR CONTRATO
Família Reis – Livro 4

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SINOPSE
Se no meio do caminho de algumas pessoas tem uma
pedra, no meio do caminho de Nero, sempre teve Verônica.
A matriarca dos Reis era uma mulher que intimidava a qualquer um,
e ele nunca conseguiu entender uma reação dela. Quando ela estava
à sua frente, ele sabe que tudo o que deve fazer é correr para a
direção oposta.
Verônica Reis é uma mulher que nunca demonstra o que
sente. Sendo assim, praticamente impossível desvendar o que se
passa em sua cabeça, e muito menos, em seu coração. Contudo,
sempre lhe intrigou o fato de que Alfredo Lopes – ou apenas Nero
para os demais – parecia querer enfrentá-la em uma simples troca
de olhares, e nunca a temer.
No meio das voltas que a vida dá, um contrato de casamento
é o que os une. O que ela e muito menos eles esperavam, era que
no único momento que deixassem a guarda baixar, teriam algo
maior do que o arrependimento para lidar: UMA GRAVIDEZ EM
UM CASAMENTO POR CONTRATO.
UM CASAMENTO DE MENTIRA PARA O CEO
Família Fontes – Livro 1

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SINOPSE
Nas voltas que a vida dá, Talita e Gael se encontram dizendo
“sim” no altar.
A rejeição à frente de várias pessoas foi o que Talita Kang vivenciou aos
dezessete anos, quando Gael Fontes a recusou e humilhou abertamente sobre
o possível noivado dos dois.
Porém, como o carma nunca falha, tudo o que o herdeiro dos Fontes
necessita quinze anos depois, quando retorna para recuperar a empresa da
família, é justamente um casamento por contrato.
O que ele não esperava era que justamente a mulher que quebrou seu
coração seria a candidata perfeita, e mais, que ela o escolheria novamente.
Ele a humilhou por um casamento por contrato.
Ele precisa dela agora, pelo mesmo motivo.
Talita se apegou a esse contrato pela sua família, e por uma promessa
que apenas ela pode cumprir. Mas nada lhe impede de se divertir com a
infelicidade do homem que estará preso nessa mentira com ela. Entre o
carma, uma rede de mentiras e corações partidos, até que ponto um
casamento por contrato significará apenas isso?
GRÁVIDA DO COWBOY QUE NÃO ME AMA
Família Esteves – Livro 1

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SINOPSE
Ter um ditado como aquele sendo uma realidade, depois de
tanto tempo, apenas fazia Guta duvidar se realmente queria tal
casamento. Augusta que amava Juan, que amava Pâmela, que amava
Franco, que amava Carolina, que felizmente, o amava de volta.
Deixada sozinha em casa, após finalmente ter o homem que amava da
forma que sempre desejou, Guta parou de se questionar do que era
necessário para que aquele casamento fosse real, e aceitou que o amor de
Juan Esteves nunca seria seu.
Ela então o deixa para trás, e com ele, todo o sonho do primeiro amor
que agora ela jurou que esqueceria. Contudo, o que ela não esperava, depois
de tanto tempo, era que criaria algum laço real com ele.
Guta apenas quer os papéis do divórcio e distância, mas se
descobre grávida do cowboy que não a ama.
UMA FILHA INESPERADA PARA O CEO
Família Esteves – Livro 2

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SINOPSE
Júlia Medeiros sempre pensou que para bom entendedor, meia
palavra bastava. Entretanto, ela não sabia o que entender, quando o
homem para o qual se declarou, a abandonou na cama, na companhia de um
chapéu. Ela só não tinha ideia do que mais acabou ficando para si.
Oscar Esteves sempre lutou por sua família, e seus irmãos eram seu
mundo, contudo, os olhos bonitos da mulher que o encantou desde que a
encarou pela primeira vez, sempre vagavam em suas memórias.
Anos depois e uma coincidência do destino, Oscar descobre que aquele
amor não resultou em apenas lembranças que ele não conseguia tirar da
mente, mas também, em uma filha.
UMA FILHA INESPERADA NA MÁFIA
Família Esteves – Livro 3

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SINOPSE
Se no meio do caminho de algumas pessoas tem uma pedra, no
meio do caminho de Flávio, sempre teve Dove Kang.
Ele, um cowboy de sorriso fácil e cheio de piadinhas.
Ela, uma mafiosa que sorri apenas de forma calculada.
Ele, não pode evitar a atração que sente.
Ela, adora ver a forma como o homem mais novo a teme.
O que nenhum deles imaginou é que no meio desse caminho que os
une, surgiria uma filha inesperada.
GRÁVIDA DO MAFIOSO QUE NÃO ME AMA
Família Kang – Livro 1

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SINOPSE
O ditado que ela não queria ter como uma realidade, mas era:
Hari que amava Kalel que amava Lea que não amava ninguém.
Ele, conhecido com o diabo da máfia Kang.
Ela, a mulher apaixonada por ele desde os dezoito anos.
Ele, se apaixona por outra, mas acaba na cama dela no fim da noite.
Ela, acorda sozinha na cama, com a notícia de que ele abandonou a
máfia.
Hari apenas quer seguir em frente após ser usada, porém se descobre
grávida do mafioso que não a ama.
REJEITADA POR UM MAFIOSO
Família Kang – Livro 2

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SINOPSE
E quando você se apaixona por um mafioso?
Ele, o segundo no comando da máfia Kang.
Ela, dez anos mais nova e que não confia em ninguém.
Ele, tenta ajudá-la de todas as maneiras a se abrir.
Ela, tenta vê-lo apenas como um irmão, mas acaba falhando.
Hinata se apaixona por um mafioso, só não esperava que seria
rejeitada por ele.
UMA FAMÍLIA INESPERADA PARA O MAFIOSO
Família Kang – Livro 3

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SINOPSE
Sara Hernández ficou viúva aos vinte e dois anos, com uma filha de
quatro anos, e fará de tudo para protegê-la. Até mesmo, se casar por contrato
com um homem estrangeiro, que pertence à máfia mais respeitada e temida.
Chae Kang está no México por uma razão: se responsabilizar pela
máfia da sua família e fazer o Cartel se reerguer. Ele só não esperava
encontrar algo além do seu objetivo e trabalho: uma família inesperada.
UMA GRAVIDEZ INESPERADA PARA O MAFIOSO
Família Kang – Livro 4

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SINOPSE
Se no meio do caminho de algumas pessoas tem uma pedra, no meio
do caminho de Paola, sempre teve Vincenzo Kang.
Ele, o chefe da máfia mais temida e respeitada.
Ela, à venda para um contrato de casamento desde que nasceu.
Ele, um homem que vive apenas para os irmãos e pelo seu legado.
Ela, uma mulher que tenta se livrar do fardo do seu sobrenome.
Nas brincadeiras que o destino lhes prega, os dois sempre se
encontram. Porém, o que nenhum deles imaginava era que em algum
momento seriam de fato unidos, e ainda mais, que seria por UMA GRAVIDEZ
INESPERADA.
Junqueira-Dias

UM NAMORO DE MENTIRINHA COM O CEO

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Sinopse
Iara Junqueira acreditou ter encontrado o cara certo.
Porém, tudo muda de figura, quando ela descobre que na verdade,
não passou de uma aposta para ele. O que ela menos imaginava
era que naquele exato o momento, Caio Vieira , o homem que ela
mais evitava e que era seu inimigo número um , faria a proposta
mais descabida possível para ajudá-la a se vingar: um namoro de
mentirinha.
UMA FAMÍLIA DE MENTIRINHA COM O COWBOY

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Sinopse

Helena Junqueira apenas aceitou que nunca encontraria o


cara certo. Porém, tudo muda de figura, quando ela viaja a trabalho
para o interior e acaba sendo literalmente atropelada por um
garotinho em uma bicicleta. O que ela menos imaginava era que em
algum momento, se autointitularia a madrasta dele e a falsa
namorada do seu pai, e eles formariam uma família de
mentirinha.
UMA GRAVIDEZ DE MENTIRINHA COM O VIÚVO

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Sinopse

Sabrina Junqueira tinha apenas um objetivo: cuidar e


proteger suas irmãs. O que ela menos imaginava era que em algum
momento, estaria de frente com o único homem que conseguiu
chegar até o seu coração a ponto de quebrá-lo, e que após uma
mentirinha de nada, ela se descobriria grávida dele.
UM CASAMENTO DE MENTIRINHA COM O COWBOY

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Sinopse

O que todo casamento de verdade tem que ter?


Os noivos, claro. Quem se importa e amamos, para se
celebrar. Surpresas especiais, com toda certeza. E uma pequena
confusão, para jamais ser esquecido.
Mas, é possível um casamento de mentirinha ter tudo
isso?
REJEITADA & GRÁVIDA DO VIÚVO QUE NÃO ME AMA

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Sinopse

Quando uma noite com o cara que sempre sonhou se torna


um pesadelo?
Eliana não acreditou, quando teve a chance de ter o homem
que sempre desejou, literalmente em suas mãos, mesmo que por
poucas horas. Contudo, ela ficou ainda mais incrédula, quando se
descobriu grávida dele.
O que ela não esperava era que aquela história terminaria
muito antes de qualquer começo: com ela grávida e rejeitada pelo
viúvo que não a ama.
[1] You Are All Over Me – Taylor Swift

[2] Big Brother é um reality show onde os participantes ficam


confinados em uma casa e são monitorados por câmeras 24 horas por dia.
Fonte: Wikipédia.
[3] Dear John – Taylor Swift
[4] Dear John – Taylor Swift

[5] Música pertencente a girlgroup britânica Little Mix, que foi lançada
no ano de 2015 e faz parte do álbum Get Weird. Fonte: Wikipédia.
[6] “Eu queria que pudesse ser assim. Por que não pode ser assim?
Porque eu sou sua...” Trecho da canção Secret Love Song pertencente a
girlgroup britânica Little Mix.
[7] Dear John – Taylor Swift
[8] Dear John – Taylor Swift
[9] Dear John – Taylor Swift
[10] Haunted – Taylor Swift
[11] Haunted – Taylor Swift
[12] Haunted – Taylor Swift
[13] Haunted – Taylor Swift
[14] Ours – Taylor Swift
[15] Haunted – Taylor Swift

[16] Trecho da canção Teatro Dos Vampiros da banda brasileira de


rock Legião Urbana.
[17] Would've, Could've, Should've – Taylor Swift
[18] You Are All Over Me – Taylor Swift
[19] my tears ricochet – Taylor Swift
[20] Would've, Could've, Should've – Taylor Swift

[21] Trecho traduzido da canção Secret Love Song da girlgroup


britânica Little Mix.
[22] Would've, Could've, Should've – Taylor Swift
[23] “Adeus” em inglês.

[24] Would've, Could've, Should've – Taylor Swift

[25] Citação pertencente a escritora Clarice Lispector.

[26] Would've, Could've, Should've – Taylor Swift


[27] Would've, Could've, Should've – Taylor Swift
[28] Would've, Could've, Should've – Taylor Swift
[29] Would've, Could've, Should've – Taylor Swift
[30] Would've, Could've, Should've – Taylor Swift
[31] my tears ricochet – Taylor Swift
[32] You Are All Over Me – Taylor Swift
[33] You Are All Over Me – Taylor Swift
[34] You Are All Over Me – Taylor Swift
[35] The Great War – Taylor Swift

[36] Kimberly Mubarak é o nome de uma personagem de ficção,


protagonista da Duologia A todo custo, da escritora brasileira Manuele Cruz.
[37] Trecho da canção Ainda É Cedo da banda de rock brasileira
Legião Urbana.
[38] The Great War – Taylor Swift

[39] Trecho da canção Índios da banda de rock brasileira Legião


Urbana.
[40] You Are All Over Me – Taylor Swift
[41] mirrorball – Taylor Swift

[42] “Mamãe” em inglês.

[43] Daylight – Taylor Swift

[44] É uma abreviação usada para Trabalho de Conclusão de Curso.

[45] Trecho da canção Tempo Perdido da banda de rock brasileira


Legião Urbana.

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