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Copyright © 2020 – Lis Santos

Capa: Thais Oliveira – TG Design


Revisão: Hellen Caroline
Diagramação: Denilia Carneiro

1ª Edição

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e


acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora.
Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é
mera coincidência.

Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua


Portuguesa.

Todos os direitos reservados.

São proibidos o armazenamento e / ou a reprodução de qualquer


parte dessa obra, através de quaisquer meios ─ tangível ou
intangível ─ sem o consentimento escrito da autora.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº.


9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.

Criado no Brasil
Sumário
Sinopse
Capítulo Um
Capítulo Dois
Capítulo Três
Capítulo Quatro
Capítulo Cinco
Capítulo Seis
Capítulo Sete
Capítulo Oito
Capítulo Nove
Capítulo Dez
Capítulo Onze
Capítulo Doze
Capítulo Treze
Capítulo Quatorze
Capítulo Quinze
Capítulo Dezesseis
Jade
Capítulo Dezessete
Rhuan Guilherme
Capítulo Dezoito
Jade
Capítulo Dezenove
Rhuan Guilherme
Capítulo Vinte
Rhuan Guilherme
Capítulo Vinte e Um
Capítulo Vinte e Dois
Capítulo Vinte e Três
Capítulo Vinte e Quatro
Capítulo Vinte e Cinco
Capítulo Vinte e Seis
Capítulo Vinte e Sete
Capítulo Vinte e Oito
Capítulo Vinte e Nove
Capítulo Trinta
Capítulo Trinta e Um
Capítulo Trinta e Dois
Capítulo Trinta e Três
Capitulo Trinta e Quatro
Capitulo Trinta e Cinco
Epílogo
Agradecimentos
Confira os outros livros da autora
Sobre a Autora
Sinopse

Rhuan Guilherme é um empresário de sucesso no ramo de


cosméticos. Em sua vida profissional não há motivos para reclamar,

já a amorosa... essa merece um pouco mais de atenção. Aversão a


relacionamentos não era problema, mas sim o interesse ambicioso

de algumas mulheres.

Tudo muda quando Jade, uma linda e independente mulher,


surge em sua vida. Traída por aqueles que mais confiava, Jade se

vê disposta a tentar de tudo, mesmo que não seja seu habitual.

Um forte sentimento surge de imediato entre eles, mas o

senhor destino ama pregar peças.

Quando dois sentimentos caminham em uma única direção,


nada é capaz de atrapalhar.

O destino seria o vilão ou mocinho dessa história?


Você entrou na minha vida, mudando tudo em
mim

E quando eu não acreditava mais

Você me disse: Não é o fim

O mundo me condenou, mas você me perdoou

E aquilo que eu não merecia você entregou

- Nova Chance

Thaiane Seghetto
Capítulo Um

Jade

Não sei como ainda consigo me surpreender com as pessoas.

Esperamos uma traição de qualquer um, menos da nossa


própria irmã. Tem uma semana que tive a pior notícia da minha vida.

Luciana, minha irmã caçula, simplesmente fugiu com o Carlos

Henrique, meu noivo e a pessoa com quem pensei que passaria o

resto da minha vida. Ficamos noivos há dois anos, quando saímos


para jantar e ele me surpreendeu com uma linda aliança. Não serei

hipócrita e dizer que morria de amores por ele, mas não esperava

ser abandonada dessa forma.

Após um longo dia de trabalho, cheguei a casa ansiosa para

contar a novidade. Depois de participar de uma intensa degustação

com diversas confeiteiras de São Paulo, fui escolhida para preparar


todo o cardápio de sobremesa da festa de inauguração da RGA
Cosméticos, uma empresa maravilhosa que agora vai abrir sede

aqui na Paulista.

Era uma felicidade que não cabia no peito, e assim que pude,
saí correndo no intuito de contar para minha irmã e, posteriormente,

ao Carlos. Lembro como se fosse hoje, tenho os detalhes vivos e

claros em minha mente.

Não posso acreditar. Foi uma disputa muito acirrada, tivemos

que servir várias sobremesas, até que finalmente uma pessoa fosse

escolhida. Dei muito duro para chegar onde estou. Apesar de ter
apenas vinte e cinco anos, comecei minha batalha muito cedo.

Meus pais sumiram no mundo, abandonando minha irmã e eu com

uma doce vozinha, a qual nos deixou no ano passado. Ela me


ensinou boa parte do que sei e despertou em mim esse desejo de

cozinhar, principalmente os doces.

Com muito sacrifício da minha avó, que ganhava uma miséria


de aposentadoria, consegui ingressar em uma faculdade de

gastronomia. Eu queria muito que na minha época tivesse tantas

opções de bolsas para a faculdade. Por dar valor ao esforço da


minha avó, fiz de tudo para ser a melhor e me destacar na turma, e

assim eu consegui. Formei-me com honras, logo começou a surgir

convites para cursos e mais cursos, não perdi a oportunidade.


Por isso posso dizer que tenho uma bagagem recheada, estou

sempre criando o cardápio de vários eventos em São Paulo e fora.


Quando vi essa oportunidade, não pensei duas vezes. Pela primeira

vez apresentei uma criação minha: pudim de leite ninho com calda

de pêssego.

Fiquei em êxtase ao ver as pessoas provando e se deliciando

com meu pudim. Quando meu nome foi anunciado como ganhadora,

só pensei em correr e contar para as duas pessoas que fazem parte


da minha vida. Luciana e Carlos Henrique. Depois de algumas

horas, entrei no meu carro e segui para meu destino, já com mil e

uma ideias para comemorar essa realização.

Não demoro muito para chegar a casa, o que me deixa

intrigada é o silêncio, pois são quase oito da noite e era para

encontrar minha irmã em casa. Mandei uma mensagem para o


Carlos, não tive resposta de sua parte.

Sou recepcionada por lambidas e mais lambidas, pandora,


minha cachorra, é a minha maior felicidade. Ela é minha grande

alegria, está conosco desde que tinha dias de nascida, e hoje não

consigo imaginar minha vida sem sua presença.


— Oi, mamãe, senti muito sua falta durante o dia, sabia? —
Ela me responde com seus beijos babados, jogando-se em cima de

mim, me levando ao chão com seus quase quinze quilos. — Agora

mamãe vai se tornar uma chef superconhecida, depois de muito


tempo, finalmente terei o reconhecimento que tanto almejo.

Passo mais alguns minutos brincando com pandora, depois


coloco ração e água em sua vasilha. Mandei uma mensagem para a

Luc e nenhum sinal até agora, estou começando a me preocupar

com sua falta de informação. Ela sai do trabalho às cinco da tarde,

por mais que São Paulo seja a cidade do engarrafamento, já era pra
ter chegado em casa.

Vou até meu quarto e encontro um envelope sobre minha


cama. Sento-me sobre ela, abrindo logo em seguida e retirando uma

folha, logo reconheço a letra da minha irmã.

E eu não imaginei que poderia ir de uma felicidade imensa


para a pior notícia da minha vida. Minha irmãzinha, aquela que eu

tanto amo, simplesmente fugiu com o meu noivo. Isso mesmo.


Nessas malditas palavras ela me conta como se apaixonou pelo
Carlos Henrique, e que por mais que seja difícil de entender, eles

não conseguiram controlar o sentimento que lhes atormentava por


tantos anos.
E a felicidade que eu sentia até poucos minutos, se transforma
em lágrimas e uma dor absurda se instala em meu coração. Não
posso acreditar que tudo isso está acontecendo, como pude ser tão

cega a ponto de não enxergar o que se passava debaixo do meu


nariz?

E essa é a minha saga. Ao invés de estar feliz e satisfeita com

os avanços na minha carreira, estou deitada nessa maldita cama,


lembrando das palavras da Luc, e pensando em quantas vezes eles
devem ter me traído em minha própria cama. Tentei entrar em

contato com eles, como não seria diferente, não obtive retorno de
nenhum dos dois. Não fiquei calada, mandei uma mensagem para
ambos falando tudo que eu estava sentindo e desejando a maior

infelicidade do mundo. Eu sei que não deveria desejar mal ao outro,


principalmente sendo minha irmã, mas nesse caso tenho certeza de
que Deus me perdoa.

Daqui a dois meses será o evento da RGA, preciso ter calma e


pensar em todo o menu. Não quero que minha vida pessoal se
sobressaia da minha vida profissional. Tenho um nome a zelar e não

deixarei esses dois idiotas acabarem comigo.

Recebi uma mensagem da minha amiga Camila, convidando-


me para uma festa. Ela é organizadora de eventos, então consegue
convite para as mais badaladas festas da cidade. É disso que estou
precisando, uma boa música, a companhia das minhas amigas e
umas doses de tequila.

Jade: Que horas vai ser essa festa?

Mando para o nosso grupo no WhatsApp e Camila não demora

a responder.

Camila: A festa de hoje foi cancelada, amiga. Nem por isso

vamos deixar de sair. Ás oito passo para te pegar na sua casa. Abriu
um restaurante mexicano na Paulista, então sem nossas tequilas
não vamos ficar.

Jade: Tudo bem. Qualquer coisa é melhor do que ficar em

casa, pelo menos eu acho.

Lorena: Não fui chamada para o jantar, mas sei que vou assim
mesmo. Camila, passa aqui para me pegar, depois seguimos para a

casa da Jade.

Michele: Jantarzinho nessa noite fria de São Paulo? Estou


mais que confirmada. Me passem o endereço que vou até lá. Eu
acho que fica mais fácil eu ir buscar a Jade, ela é caminho da minha
casa. O que acham?

Camila: Perfeito, vou te mandar a localização. Agora tenho


que arrumar algumas coisas por aqui. Amo vocês, vacas!

Já fiquei muito tempo me lamentando, não posso fazer mais

nada, essa foi a decisão deles e só me resta aceitar.

Dói? Sim.

Vai ser difícil esquecer? Com toda certeza.

No entanto, não posso parar minha vida por isso, tenho muita

coisa a fazer. O tempo de luto já acabou, agora é focar no meu


trabalho e dar o meu melhor no evento. De uma coisa eu tenho
certeza: eles ainda ouvirão falar do meu nome, e irão se arrepender

pela traição. Isso eu posso afirmar com todas as letras.


Capítulo Dois

Rhuan Guilherme

Muitas pessoas não acreditaram nos meus planos, até porque,

era uma empresa de cosméticos e muitos tinham preconceito por eu


ser homem. Batalhei bastante para fazer meu nome conhecido, e
hoje posso ficar calmo, pois finalmente a RGA Cosméticos assumiu

uma boa posição no mercado. Em todas as regiões do país, em


todas as esquinas dessas cidades, nossas maquiagens e produtos
para a pele estão na boca do povo, e desde o princípio era essa

minha intenção.

Com a intenção de renovar, nossos produtos saem para as


consumidoras praticamente com o preço de fábrica, minha intenção

é que todas conheçam e se beneficiem de nossos mais variados


produtos. Começamos com uma pequena empresa em Salvador,
criamos nosso público na capital baiana, até que os investidores
viram potencial, e hoje, com quase cinco anos de mercado, temos
sedes em várias capitais, e daqui a dois meses iremos inaugurar

nossa décima filial aqui no Estado de São Paulo.

Vários empresários foram convidados, então quero fazer o


melhor e deixar uma ótima impressão. Por isso estou investindo
pesado nisso e contratei a melhor produtora de eventos da cidade.

Tivemos algumas propostas de investidores da Espanha, e para me


deixar mais nervoso, eles aceitaram vir ao evento.

Tenho trinta e três anos, e graças a Deus não tenho do que

reclamar da minha vida profissional, porém, minha vida amorosa...


essa não tem jeito há uns bons anos. Todas as mulheres com que
me relacionei só queriam saber da minha posição ao invés de se

concentrarem no Rhuan pessoa. A única coisa que importava para


elas era a palavra CEO, por isso parei de sair com elas, hoje minha

vida se resume a casa e trabalho, por enquanto estou curtindo essa


vibe.

Meu amigo inaugurou um restaurante de comida mexicana,


estou há dias prometendo fazer uma visita, hoje finalmente tomarei

vergonha na cara. Meu círculo de amizades é bem seleto, então não


posso jogar fora nenhuma delas, pois sei que posso contar a

qualquer momento e pra tudo.


São quase sete da noite e recebo um e-mail da chef que ficará
responsável pelo cardápio de toda a sobremesa. Eu sei que deveria

ter participado mais da seleção, no entanto minha cabeça estava


uma loucura e tenho certeza de que o Marcos soube escolher bem.

Olá, tudo bem?

Estou entrando em contato para lembrá-lo


sobre nosso dia e horário marcado para falarmos
sobre suas preferências para o cardápio.

Aguardo a confirmação.

Atenciosamente,

Jade Oliveira.

Chef & Confeiteira.

Não tive o prazer de experimentar o prato servido por ela, mas


escutei comentários excelentes. Não tenho dúvidas de que foi
escolhida a melhor.

Olá, Jade. Podemos confirmar a reunião para


dia 15/02/2019, às 14 horas. Confesso que estou
ansioso para a degustação. Ouvi comentários
maravilhosos sobre seus pratos.

Atenciosamente,

Rhuan Guilherme Alencar.

CEO RGA Cosméticos.

Encaminho o e-mail e dou meu expediente por encerrado.

Ultimamente tenho trabalhado mais do que o normal, não posso


reclamar, pois para alcançar a vitória é necessário muito esforço.
Despeço-me da Claudia, minha secretária, e sigo para o

estacionamento. Vou passar em casa rapidinho antes ir até o


restaurante, prometi para o Fabricio que chegaria até umas nove da
noite, ou seja, tenho tempo de tomar banho e tirar essa roupa
formal.

O trânsito está a meu favor, em menos de vinte minutos já

estou no meu prédio. Falo rapidamente com o porteiro, retiro minhas


correspondências e subo até o último andar. Assim que entro, sinto
o cheirinho gostoso de limpeza, o que me faz ter a certeza de que a

dona Maria esteve aqui. Pelos menos duas vezes na semana ela
vem fazer uma limpeza geral no meu apê, além de preparar
comidas maravilhosas.

Moro sozinho desde os vinte anos, meus pais não quiseram vir
comigo para São Paulo, então pelo menos uma vez por mês vou
visitá-los em Salvador, cidade onde nasci e cresci.

Fabricio já me mandou uma mensagem, e mesmo se eu


quisesse, não teria como furar dessa vez com meu amigo. Devo
muita coisa a ele, até porque, foi meu maior incentivador e viemos

juntos do nordeste. Graças a Deus conseguimos crescer com


nossos negócios. Ele tem uma rede de restaurantes, me orgulho
muito do meu amigo.

Tomo um rápido banho, opto por uma calça jeans e uma

camisa social branca. Por incrível que pareça, hoje não está tão frio,
o que é bem estranho em São Paulo. Mando uma mensagem para
meu amigo, confirmando que já estou indo. Daqui para o restaurante

que fica na Paulista não gasto nem dez minutos, e com a fome que
estou, chegarei lá o mais rápido possível.
Capítulo Três

Jade

Com a temperatura favorável, opto por um macacão que fica

na altura do joelho, uma maquiagem leve e discreta, nos pés uma


sapatilha preta. Michele me mandou uma mensagem dizendo que
chegará em cinco minutos, é o tempo de passar um batom e pegar

minha bolsa. Dou um beijo na minha pandora, tranco o portão e fico


na porta à espera da minha amiga. Eu poderia dispensar sua carona
e ir em meu próprio carro, mas não estou com cabeça para dirigir.

Antes de sair de casa mando um e-mail para o CEO da RGA,


ficando surpresa com sua resposta. Além de responder rápido, ele
ainda demonstra interesse em provar dos meus doces. Quando

decidi que participaria dessa seleção, pesquisei o máximo que pude


sobre Rhuan Guilherme, e para minha surpresa encontrei poucas
fotos do homem. Parece que além de não aparecer tanto na mídia,
não deve ter rede social. Isso é muito difícil na era digital que
vivemos hoje. Encontrei algumas matérias e todas falando de seu
excelente trabalho e a forma como cresceu no mercado feminino.

— Uma tequila por seus pensamentos, minha amiga. —


Estava tão concentrada que não percebi a chegada do carro da
minha amiga, o que é um forte indício de que se não melhorar, serei

uma péssima companhia essa noite.

— Aceito até duas tequilas — comento, pensativa —, pois

estou precisando de uma bebida forte.

Entro e sento-me no banco do passageiro ao lado dela.


Cumprimento-a com um beijo na bochecha e logo ligo o rádio. Dou

sorte de colocar numa estação na qual está tocando minha música


predileta.

Alguém brincou com o seu sentimento

Tá com raiva do amor, compreendo

Do namoro ao quase casamento

Foi tenso, foi tenso

E pra se libertar dessa dor


Desse medo de ter outro amor

Leva um tempo

Stand By (part. Aldair Playboy)

Maria Clara

Por mais que eu tente, é impossível não lembrar do Carlos


Henrique. Nós sempre fomos amigos, até que resolvemos arriscar e
ver se daríamos certo como um casal. Para nossa surpresa,

vivemos três longos anos juntos antes do pedido de casamento. Eu


juro que tentei, mas não consegui lembrar de nenhum indício que
demonstrasse que ele não tinha mais a intenção de continuar a
nossa relação.

Se ele me dissesse, tudo seria muito mais fácil, evitaria


qualquer sofrimento e aborrecimento para ambas as partes. E ainda
tem a Luc, minha doce e adorável irmã. A gente espera uma traição
de qualquer pessoa, menos de alguém por quem daríamos a vida.

Só queria ter a chance de sentar-me com ela e perguntar: por


quê?

— Você está bem, Jade? — Michele pergunta, preocupada. —


Fico feliz que resolveu sair, pensei que ficaria mais tempo enfiada
dentro de casa.

— Não direi que estou ótima, só não ficarei mais me


lamentando — respondo, sincera. — Sei que os dois têm culpa,

porém, o que me dói é saber que a outra pessoa é a minha irmã.


Seja sincera comigo, amiga...

— Claro. — Ela para o carro em um acostamento, me dando

mais atenção e evitando qualquer imprudência. — Você sabe que


sou sincera até demais.

— Você percebeu alguma coisa entre eles? Em algum

momento, algo não pareceu ser o adequado? — Ela me encara


fixamente. — Eu já pensei por diversas vezes, mas não consegui
lembrar de nenhum indício. Não é possível que esse romance tenha
começado de uma hora para outra. Michele, me diz onde foi que eu
errei?

— Nem comece com isso, Jade. Os únicos culpados nessa


história são eles. Já conversamos sobre isso. Não importa se o
relacionamento de vocês esfriou, ou que você ficou muito ocupada
com seu trabalho. O mínimo que você merecia deles era respeito. —

Ela segura minha mão em um gesto de companheirismo. —


Sabemos que homem não prestam, então no fundo sempre
esperamos uma pisada de bola. Mas o que mais me surpreende em
tudo isso é a atitude da Luc.

— Sim, por mais que doa essa traição, não é pelo Carlos e sim
por parte da minha irmã. Somos sangue do mesmo sangue, ela
mais do que ninguém sabia de tudo que se passava em minha vida.

Erámos confidentes, pois nossa diferença de idade não era muito


grande. Depois da morte da minha avó, ela passou a ser a pessoa a
qual eu daria minha vida se fosse necessário — desabafo com a
minha amiga.

— Você fez tudo por ela, se sacrificou diversas vezes para lhe
dar o melhor. Eu bem sei disso, e sempre lhe disse que você fazia
demais por sua irmã. Eu juro pra você, se eu tivesse a felicidade de
cruzar com ela, aquela carinha de bebê iria ficar cheia de
hematoma, pois iria apanhar o que não apanhou durante toda a

vida.

Inevitável não rir com o comentário da minha amiga. De todas


a Michele é a mais calma, aquela que sempre tem um conselho e

uma experiência de vida maravilhosa para dar. Eu não lhe culpo,


minha vontade também é de dar uma surra na minha irmã.
Por ora encerramos o assunto. Eu sei que quando chegarmos
ao restaurante e encontrarmos todas as nossas amigas, o assunto
Luc e Carlos voltará à tona. E hoje eu quero apenas tomar umas
tequilas, comer uns deliciosos tacos e esquecer que tenho um par

de chifre na cabeça. Apesar de que, é impossível esquecer uma


coisa dessas, porém, farei o meu melhor e me concentrarei naquilo
que mais amo: cozinhar.

Não demoramos muito a chegar. Graças a Deus, nesse horário


não tem trânsito, então foi fácil chegarmos aqui. Lorena e Camila já
chegaram, minha amiga me mandou uma mensagem avisando que
é apenas para darmos nosso nome na recepção, que elas já estão a
nossa espera.

O lugar é realmente maravilhoso, assim como todo restaurante


mexicano Los Taccos, não poderia ser diferente, uma mistura de
cores intensas e que se casaram muito bem. Enquanto um vermelho
domina as paredes, as mesas e cadeiras são azuis, dando um

contraste surpreendente. Chapéus e frases mexicanas também


fazem parte de toda decoração.

Com certeza esse lugar já me conquistou pela aparência.


Cumprimentamos a recepcionista, que muito simpática nos
leva até a mesa das meninas no segundo andar, onde tem uma
decoração quase parecida com a de baixo, a diferença é um enorme
e magnifico aquário no canto esquerdo.

— Boa noite, chicas — Camila nos cumprimenta, animada,


sendo contagiada pelo espírito do lugar. — Sentem-se logo. Só
estávamos esperando vocês para pedir a primeira rodada de tequila.

— Nunca mais venho de carona com a Camila — Lorena fala


com cara de espanto, e nós começamos a rir, pois sabemos bem
como a Camila é no trânsito. — Eu estava vendo a hora de ela nos
matar. A cada cruzamento era uma oração.

— Pare de drama, Lorena, você não viu foi nada — rebate


Camila, dando sinal e chamando o garçom.

— Pior que você realmente não viu nada, amiga. Deixa só ela
inventar de apostar corrida. Principalmente quando algum homem
lhe desafia, ela se transforma — comento, deixando minha amiga
em choque.

— Deus me livre! Estou muito nova para morrer — Lorena


responde, com os olhos fixos na Camila.
Nesse clima gostoso e de descontração, começamos a
primeira rodada de tequila. Eu amo demais essas meninas. Nos

conhecemos no ensino médio e logo de cara sabia que as levaria


para toda vida. Claro que brigamos muito, o que é comum com toda
amizade, principalmente a nossa, que tem mais de sete anos. Se
não fosse elas, não sei como aguentaria as pancadas que eu já
levei na vida.

— Droga, começamos tudo errado! — Michele fala com uma


expressão preocupada.

— O que fizemos de errado? — pergunto, sem entender nada


do que está acontecendo.

— A tequila. Ela não pode ser bebida sem nenhuma emoção.

Vamos pedir outra rodada e fazer as coisas certas. — Quando eu


digo... Essas mulheres são todas malucas. — Garçom, nos traga
outra rodada, e dessa vez não esqueça o sal e o limão.

Aaaah, agora entendi tudo. Beber tequila com limão e sal. O


mais engraçado é que todas estão bebendo, e desse jeito teremos
que deixar o carro aqui no restaurante e voltar para casa de Uber,
pois eu não arriscarei entrar no carro com qualquer uma dessas
malucas dirigindo.
Nossa quarta rodada de tequila chega — sim, só agora ela
percebeu que tinha algo de errado —, e o garçom, como uma boa
pessoa, nos trouxe também um potinho de sal e vários pedaços de
limão.

— Agora preparem-se, garotas, o momento mais aguardado


da noite chegou. — Com o copo levantado, Michele nos incentiva a
fazer o mesmo. — Arriba, abajo, al centro — encostamos o copo ao
corpo —, a dentro.

Passamos a língua no sal, esprememos o limão na boca e


finalmente tomamos todo o líquido, que desce queimando na
garganta.

— Isso sim é uma maneira correta e sensata de beber uma


boa tequila, chicas.

Não sei de onde saíram, mas tem dois homens lindos de


morrer em nossa frente. Uma dupla perfeita, o que falou conosco é
alto e moreno, ele tem o corpo musculoso, um rostinho lisinho e os
olhos verdes encantadores. Já o que se encontra ao seu lado tem

uma expressão bem enigmática. Seus olhos são castanhos, o rosto


é lisinho, deve ter seus um metro e setenta e cinco, o corpo não é
musculoso como de seu amigo, mas também não é magrinho.
— Somos mexicanas falsificadas, mas somos — comento,

fazendo todos rirem, até o bonitão com o olhar enigmático.

— Sejam bem-vindas ao meu humilde restaurante. Espero que


estejam sendo bem atendidas. Eu sou o Fabricio — o moreno

musculoso se apresenta —, e esse é meu amigo, Rhuan Guilherme.

Rhuan Guilherme. Eu só ouvi esse nome uma vez na minha


vida, e era o CEO da RGA. Que coincidência!

— Rhuan Guilherme é um nome diferente, igual ao do CEO da


RGA — comento, pensativa, e vejo uma troca de olhares entre os
rapazes a minha frente.

— Você conhece o Rhuan Guilherme? — Fabricio pergunta,


olhando em seguida para o amigo.

— Bem que eu queria. Tudo que eu sei sobre ele descobri no


tio google. Acho que ele não é muito fã de fotos. Vai ter a
inauguração de uma das lojas dele aqui mesmo na Paulista, você
acredita menino que eu serei a chef da noite?

— Que bela surpresa, não?! — O bonitão que até agora estava


calado se pronuncia, e que voz, meu senhor. Rouca e gostosa. —
Muito prazer, Jade, eu sou o Rhuan Guilherme Alencar, CEO da
RGA Cosméticos.
Ele abre um sorriso de ponta a ponta e minha cara vai ao chão
nesse momento. Eu tenho tanta sorte nessa vida, que justamente no
dia que resolvo sair, tenho a felicidade, ou infelicidade, de cruzar

com esse homem. E que homem! Tão lindo que chega a ser um
pecado. Coisa que não tinha percebido nas poucas fotos que vi.

— Menina, estou chocada — Camila limita-se a dizer.

Assim como elas, estou surpresa e sem saber o que falar.

— Não era bem assim que eu queria encontrá-lo, mas muito


prazer, Rhuan Guilherme. — Estendo minha mão em um
cumprimento que é rapidamente retribuído.

Sorrio, ainda em choque, admirando a beleza do Rhuan


Guilherme. Precisa ser tão lindo desse jeito?
Capítulo Quatro

Rhuan Guilherme

Por pouco não deixei a preguiça falar mais alto, porém, algo
me dizia que eu tinha que ir até o restaurante do Fabricio. E dessa
vez minha intuição não me trolou. Quando estou entrando vejo um
carro parar à frente do lugar, de dentro saem duas mulheres lindas.
Uma, em especial, chama minha atenção.

Não deve ter mais que um metro e sessenta e cinco de altura,


seu corpo é tipicamente brasileiro, bunda e seios que chamam
atenção. Seus cabelos são cacheados e a aparência me encanta de

imediato. Por um momento escuto sua conversa com a amiga e fico


curioso para saber o restante.

Fiquei parado e aguardei que elas entrassem, falaram alguma

coisa com a recepcionista, que nessa hora agradeço por ser a irmã
do meu amigo, assim tenho como saber o nome dela.
— Debora, qual o nome delas? — pergunto, me aproximando
do balcão da recepção.

— Quer saber o nome delas por que, Rhuan? — Dirige a mim


um olhar de interrogação. — Não me diga que pegou a mesma
doença do meu irmão?! Você é minha única esperança nessa
sociedade cheia de cafajestes. Não se contamine com o Fabricio.

— O que tem eu? — Meu amigo aparece do nada, nos


assustando, a princípio.

— Nada. A Debora, que como sempre é exagerada, não é


mesmo? — Faço sinal para que ela não toque no assunto. Se ela já
é chata, o Fabricio consegue ser mil vezes pior. — Depois você me
responde o que lhe perguntei.

— Duas clientes chegaram, e coincidentemente o senhor


Guilherme veio rapidinho atrás. — Olho para ela furioso, pois falar
as coisas com a Deb é a mesma coisa que conversar com uma
porta. — Você acredita, maninho, que ele veio me perguntar o nome

delas?

— O senhor Rhuan Guilherme? — Ele finge estar espantado.


Um homem não pode se interessar por uma bela mulher? — Eu
sabia que finalmente esse dia chegaria, meu amigo. No fundo todo
homem precisa de uma mulher ao lado, ninguém resiste a um corpo
quente na cama.

— Que diabos! Agora lembrei o motivo de não sair de casa.

Vocês dois não negam ser irmãos. A chatice é de familia mesmo.


Vamos logo ao que interessa. Eu vim para conhecer o lugar e
comer, não ser pauta dos irmãozinhos.

Eu sei que às vezes pode ser espantoso, mas assim como


qualquer outro homem eu também tenho minhas necessidades. E
por mais que seja difícil de acreditar, pela primeira vez em muito
tempo, uma mulher me encantou de imediato. Nem conversamos ou
sequer sei seu nome, porém, posso afirmar que daria tudo por um
beijo dela.

Depois de conhecermos boa parte do restaurante, sei que


propositalmente fomos parar próximos a mesa da mulher misteriosa.
Assim como ela, outras mulheres também estão à mesa, e por um

momento me permito admirar seu lindo sorriso. Elas bebem e riem


muito, com certeza estão participando de alguma comemoração.

Fabricio começa a se aproximar, e por instinto vou seguindo

seus passos. Como imaginei, elas comemoram uma conquista de


uma delas.
Fico apenas calado, observando, enquanto meu amigo puxa
conversa com elas. Meu olhar está direcionado a uma única mulher,

e não sei se é coisa da minha cabeça, mas ela está retribuindo. E


quanto mais eu olho, mais hipnotizado eu fico.

Pra completar as surpresas, acabo de descobrir que a morena

é a Jade, a mulher que será responsável pelo cardápio da minha


recepção. Quando respondi seu e-mail, na minha cabeça veio uma
mulher totalmente diferente, o que nada combina com a mulher
maravilhosa que eu tenho a minha frente.

— Não era bem assim que eu queria encontrá-lo, mas muito


prazer, Rhuan Guilherme. — Estende sua minúscula mão em um
cumprimento, me aproximo e rapidamente retribuo.

Sua voz soa como música para meus ouvidos, e não sei se é
sorte ou destino, mas essa noite está começando a valer a pena.
Acho que a Jade tem tudo para ser a minha mais nova e deliciosa
descoberta.

— E como queria me encontrar, Jade?

— E-eee... — Ela morde os lábios, sem conseguir falar uma

única palavra.
— Ela não tem coragem de dizer, mas eu falo. — Uma das
mulheres na mesa toma a frente. — Minha amiga estava um pouco
preocupada com você, pois pesquisou sobre o tão famoso Rhuan
Guilherme e não encontrou muita coisa. Na verdade, ela queria ver

melhor você, pois na internet as únicas fotos que encontrou eram


muito formais. E tenho certeza de que ao vivo e em cores a visão é
maravilhosa.

Droga! Tenho certeza de que fiquei vermelho de vergonha.


Essa mulher da língua afiada formaria um belo casal com o Fabrício,
pois os dois têm o jeito certo de deixar os amigos em saias justas.

— Camila! — com o rosto corado, Jade repreende a amiga.

Acabo rindo com a situação, já que essa noite está se saindo


melhor do que eu imaginei.

Jade tem os olhos fixos em sua bebida, o que me faz ficar


mais encantado com seu jeito. Trocamos algumas palavras e meu
amigo diz que a bebida será por conta da casa.

Despeço-me das meninas e ocupo minha mesa, que não é


muito distante de onde elas estão. Como não seria diferente,
Fabricio conta o que aconteceu para a Deb, que rapidamente sai de
seu posto e vem torrar minha paciência.
Depois de umas boas doses de tequila, despeço-me do meu
amigo. Apesar de amanhã ser sábado eu ainda trabalho. Antes de
sair, resolvo passar rápido no banheiro. Não sei se foi uma boa ideia
ter bebido, agora serei obrigado a deixar meu carro e ir de taxi. Não
estou nem um pouco afim de ser parado em uma blitz.

Estou saindo do banheiro quando sinto um esbarrão. Se eu


não tivesse um bom reflexo a pessoa teria ido ao chão.

— Desculpe, moço, eu estava distraída.

Posso estar enganado, mas essa é a voz da Jade.

— Está desculpada. Pode ficar à vontade para se esbarrar


mais vezes.

Eu sei que esse é um jogo muito perigoso, mas pela primeira


vez estou disposto a jogar.

— Rhuan Guilherme... — Os cantos de boca dela curvam-se

em um pequeno sorriso. — Você é muito bonito. Não entendo o


motivo de não ter encontrado tantas fotos suas nas redes sociais.
Hoje em dia, quem não gosta de postar fotos?

Suas mãos pousam em meu peito e estou tentando fazer com


que meu cérebro entenda que ela está bêbada e não posso me
aproveitar disso.
— Não sou muito adepto a exposição, e isso também se
encaixa na minha vida pessoal. Apesar de ser quem sou, prefiro
ficar o mais próximo do anonimato possível.

— As pessoas costumam se aproximar de você por interesse,


né?!

— Digamos que uma grande parte, sim.

— Acho que estou começando a me encaixar nessa grande

parte.

— Posso saber por quê? — questiono confuso.

— Porque estou com um enorme interesse de te beijar.

— Jade, eu até gosto desse jogo. — Passo os dedos


lentamente pelo rosto dela —, mas prefiro fazer isso quando não
estivermos com álcool no sangue, e principalmente quando você
estiver sóbria.

— Guilherme, não pense que não estou apta a responder


pelos meus atos. Sim, eu tomei algumas tequilas, e talvez possa
estar dizendo coisas que não teria coragem de dizer quando estiver
sóbria. Mas, no fundo, eu só digo o que estou sentindo no meu
íntimo.

— Eu te beijo, mas com uma condição. Pode ser?


— E qual seria?

— Que quando você estiver sóbria, possamos repetir o que vai

acontecer nos segundos à frente. Temos um acordo?

— Sim!

Entendendo isso como seu aval, encosto o minúsculo corpo


dela na parede, aproveitando a pouca iluminação desse corredor.
Com a mão em sua nuca, puxo seus lábios para os meus, beijando-
a delicadamente, explorando cada centímetro de sua boa. Uma
mistura deliciosa de tequila, nachos e Jade, combinação que me

parece perfeita. As mãos dela sobem e descem em minhas costas,


e assim como eu, ela também se entrega e permito-me aproveitar o
momento.

— Jade, o Uber... — Nos afastamos rapidamente, mas não


antes de sermos pegos aos beijos. — Pode continuar, amiga, a
gente dispensa esse e chama outro, pode ficar à vontade.

— Não, Lore, vai indo na frente que eu já vou.

— Desculpe, não queria causar essa saia justa.

— Não precisa se desculpar, Rhuan.

— Estou me desculpando apenas por termos sido pegos, não

pelo beijo maravilhoso que acabamos de trocar.


— Me empresta seu celular? — Estende a mão e eu lhe

entrego, mesmo sem entender nada. — Esse aqui é o meu número.


Se quando o álcool sair do nosso sangue você ainda quiser
conversar, é só me mandar uma mensagem.

Dito isso ela entrega o celular de volta em minhas mãos,


então, na ponta dos pés, beija meus lábios. E de uma coisa eu
tenho certeza. Amanhã mandarei essa mensagem. Jade me parece
o tipo de mulher que vicia, e acho que já tive um gostinho.
Capítulo Cinco

Jade

Deus! Se tem uma coisa que odeio, é acordar de ressaca. Não


sei por que insisto em ouvir as minhas amigas. Estou com uma dor
de cabeça absurda, acho que as tequilas foram além da conta.

Estranho como a nossa mente funciona. Há poucas horas estava


pensando no maldito chifre que levei, agora só consigo pensar e
sentir os lábios do Rhuan Guilherme nos meus.

Santo Deus! Eu não deveria misturar negócios com prazer.


Apesar de que, ele não é bem o meu chefe, então acho que não tem
problema.

Eu tenho que agradecer às tequilas, pois tenho certeza de que

se estivesse sóbria, não teria me atirado em cima dele. Mas desde o


momento que nossos olhos se cruzaram, eu senti algo diferente, só
não sei explicar muito bem o que aconteceu.
Só me arrependo de uma coisa: não ter pedido o número dele.
Espero que ele me ligue, ou pelo menos me mande uma

mensagem. Não sou muito de fazer essas loucuras, mas por um


momento desejei perder a cabeça ontem à noite.

A pior parte de todas, com certeza, foi a volta para casa.

Minhas amigas não paravam de falar, principalmente a Michele, já


que ela ficou louca pelo amigo do Rhuan.

Hoje é sábado e já avisei que não tenho a menor pretensão de

sair de casa. Meu corpo só pede cama, água com gás e uma boa
série na Netflix.

Não posso esquecer do meu trabalho, em breve será a

inauguração da loja do Rhuan e já consegui pensar em três


cardápios. Esperarei até segunda para encaminhar as opções por e-
mail. Difícil vai ser ficar cara a cara com ele e não me lembrar de
suas mãos tocando o meu rosto, ou de seus lábios devorando os
meus.

Foco, Jade!

Olho no relógio e são quase duas da tarde. Talvez eu tenha

ficado tempo demais na cama. Lembro que não tem nada na


geladeira e estou com uma fome do cão, só me resta tomar
coragem, levantar, tomar um banho e pedir uma comida. Não estou
afim de ir para o fogão, pelo menos não por hoje.

As meninas estão tagarelando no grupo e mando apenas uma


mensagem avisando que estou viva, em seguida deixo o celular de
lado e entro no banheiro para tomar um banho. Hoje o tempo não
está muito agradável, um frio de lascar. Apesar de morar em São
Paulo há quase vinte anos, não consigo me acostumar com o frio,

sou fã de carteirinha do calor.

De banho tomado, peço uma lasanha em um restaurante


próximo daqui. A previsão para entrega é de vinte minutos, então

aproveito o tempinho para dar uma última checada no cardápio,


copio e envio para minhas amigas. A opinião delas é muito
importante nesse quesito. Enquanto estão debatendo no grupo —
sim, as loucas estão brigando porque uma prefere brigadeiro de
maracujá e outra de leite ninho —, dou uma rápida passada pelas
redes sociais. Ultimamente elas são palco de brigas,

desentendimentos e muita confusão. Por isso acabo não


aproveitando muito bem as minhas.

Duas coisas me chamam atenção: uma atualização dos stories

da minha irmã; e uma solicitação para me seguir no Instagram.


Optando pela parte mais fácil, acabo sorrindo que nem uma boba ao
ver que a solicitação é do poderoso Rhuan Guilherme. Não espero
muito tempo, aceito sua solicitação e o sigo de volta. Eu só não
estava preparada para ter sua resposta tão rapidamente, e
principalmente ser presenteada pela bela visão de seu feed rodeado
de fotos no ambiente de trabalho dele, mas uma me chama atenção
em especial. Ele está de bermuda, sem camisa e descalço na beira

da praia.

Um sonho.

Minha nossa, eu não estava preparada para esse choque de


beleza!

Um homem tão lindo não deveria ter medo de se expor, até


porque, o que é bonito é para se mostrar. A vontade é de mandar
um direct, mas consigo me controlar, vou aguardar uma mensagem
dele.

Movida pela curiosidade, acabo clicando no stories da minha


irmã, só para ter o desprazer de ver uma foto sua com o Carlos. Não
sei bem explicar o que estou sentindo nesse momento. Só consigo
me perguntar: o que fiz para minha irmã pra merecer isso?

É difícil de entender como eles ainda podem expor uma


situação dessas. Trair uma pessoa não é nada bonito, ainda mais
nessas circunstâncias. Eu só queria ter a chance de ficar cara a
cara com a minha irmã. Não ia gritar, bater ou fazer qualquer

xingamento, apenas lhe exigiria uma explicação. Pois macho


nenhum pode ser mais importante que sua única familia.

Resisto à vontade de reagir negativamente aos stories dela.

Mostrarei a ela que sou mais do que isso. Eu sempre soube que
Deus estava ao meu lado, e tenho certeza de que isso é um
livramento. Nada acontece por acaso, então, se aqueles dois
querem ficar juntos, que sejam felizes. A Luc ganhou um homem,
em compensação perdeu uma irmã, e sinto que não será possível
reconquistar.

Deixo o celular um pouco de lado para atender à porta,


achando que é o motoboy trazendo minha comida. É um motoboy,
mas ele não me traz lasanha e sim um lindo e enorme buquê de
flores. Olho para o rapaz sem entender nada, afinal de contas eu
nunca recebi flores na minha vida.

— Moço, você não errou o endereço? — pergunto, um pouco


desconfiada.

— A senhora é Jade Oliveira? — questiona, olhando para um


pedaço de papel nas mãos.
— Sim, mas...

— Então são suas, mesmo. — Ele sorri. — Assina aqui, por


favor, senhora.

Faço como ele pede, assino o pequeno recibo e entro,


fechando a porta atrás de mim. Procuro e não consigo encontrar
qualquer cartão ou sinal de fumaça da pessoa que me enviou. Não
posso negar, são belíssimas. Levo o buquê ao nariz, inalando o
cheiro delicioso dessas rosas. Não faço a menor ideia de quem me
enviou, mas sinto-me agradecida pelo belíssimo presente.

A campainha toca, dessa vez sendo realmente a minha


comida. Agradeço ao rapaz, lhe dando uma gorjeta pelo próprio
aplicativo. Assim que fecho a porta, meu celular vibra com a
chegada de uma nova mensagem.

Número Desconhecido: Gostou das flores?

Estranho, não reconheço esse número, mas responderei assim


mesmo.
Jade: São lindas! Seriam belíssimas se viessem com o nome
do remetente.

Rhuan Guilherme: Ficaram mais bonitas agora?

Dessa vez é uma mensagem no meu WhatsApp, em que


posso desfrutar da foto do Rhuan Guilherme.

Eu sou tão lerda que em momento nenhum passou seu nome


pela minha cabeça. Já que se pararmos para pensar, logo de cara
seria a opção mais sensata e óbvia. Pois foi a única pessoa,
digamos, que eu tive contato ultimamente.

Jade: Pode apostar que sim, senhor Rhuan Guilherme.


Obrigada pelas flores, elas são perfeitas.

Rhuan G: Fiquei pensando se mandaria ou não uma


mensagem, talvez hoje você não lembrasse que me deu seu

número.

Jade: Ei, eu não estava bêbada a esse ponto! Lembro da noite


passada e com o máximo de riqueza de detalhes. Me diga uma

coisa: como conseguiu meu endereço?

Rhuan G: Digamos que tenho alguns contatos, senhorita.


E assim eu passei boa parte do meu sábado, conversando e
conhecendo mais um pouco o Rhuan, que descobri que tem trinta e

três anos com carinha de vinte. A imagem do CEO velho e


rabugento que minha mente tinha formado a respeito dele já se
dissipou há séculos. Ele me parece um homem sensacional, e a
cada segundo fico com mais vontade de conhecê-lo.
Capítulo Seis

Rhuan Guilherme

Não pensei duas vezes e mandei as flores para a Jade.


Aproveitei que o Fabricio tem muitos contatos e lhe pedi para

descobrir seu endereço. Não consegui parar de pensar nela por um


minuto, queria entender qual foi a bruxaria que ela fez. Me encantei
por essa linda morena.

Há muito tempo que eu não sei o que é ter uma mulher em


minha vida. Desde que vim do nordeste, concentrei meus planos
apenas na minha empresa, então mulheres não eram prioridades.
Eu tive alguns encontros casuais, mas não passou disso. Nunca tive
aversão a relacionamentos ou coisas do tipo, apenas não encontrei
a mulher certa que fosse digna do meu coração. E o que me
preocupa é que acabei de conhecer a Jade e já estou pensando em
várias coisas que não deveriam aparecer tão rápido.
Mesmo com tudo isso, não posso esquecer do nosso lado
profissional. Em alguns dias teremos uma reunião e precisarei de
todo autocontrole do mundo para não lhe agarrar no meio da minha
sala.

É difícil descobrir o que mais me encantou nela, se sua beleza


estonteante, seu jeito tímido, ou a forma como seus enigmáticos
olhos me encararam. E pensar que por pouco não deixei de ir ao
restaurante.

Desde muito novo acredito na força do destino, e tenho certeza


de que era para nos encontrarmos naquela noite.

O final de semana passa voando e amanhã tenho uma reunião


muito importante. Nossos técnicos estão fazendo os últimos testes
em algumas fragrâncias, pois na inauguração da nova loja iremos
lançar o nosso mais novo perfume, e essa reunião é para mostrar
para aos investidores nosso novo trabalho. Eu estou confiante. Não
por ser um produto da minha empresa, mas por se tratar de um
perfume maravilhoso.

Respondo mais alguns e-mails, tomo um banho e me preparo


para dormir. Preparando-me psicologicamente para o dia de
amanhã.
Até parece que será a minha primeira vez. Quase não dormi
essa noite pensando em como seria o encontro com os investidores.
Apesar de minha empresa não depender disso, pois criei um grande
capital, é mais visibilidade para a RGA Cosméticos. Para acabar
com minha paciência, o trânsito de São Paulo está uma maravilha.
Se eu não tivesse saído de casa cedo, com certeza iria me atrasar.
Por isso que sempre marco as reuniões para o meio da manhã ou
tarde. Quanto mais cedo for, mais engarrafado a cidade estará.

Quase duas horas depois, em um trajeto que é feito em


quarenta minutos, finalmente consigo chegar no escritório. Não dá
nem tempo de sair do elevador e já sou bombardeado de

informações:

— Ainda bem que chegou, Rhuan! Precisamos conversar —


Marcos fala, afoito, e fico um pouco atordoado, pois não era bem
essa recepção que eu tinha em mente.

— Por Deus! Precisa falar dessa forma, Marcos? — questiono,


passando por ele e entrando em minha sala. — Aconteceu alguma
coisa grave?

Marcos é meu sócio, e assim como o Fabricio, uma peça


importante na minha vida. E eu agradeço muito, pois além de sócios
também somos amigos. Quando cheguei ele foi um dos poucos que
me estendeu a mão, acreditou e lutou algumas batalhas comigo, e
isso não tem preço.

— Claro que aconteceu, Rhuan. Onde está o seu celular? Te


liguei várias vezes e nada. — Coloco a mão no bolso, quando me
dou conta de que esqueci o celular desligado, então o ligo. —
Lembra que hoje é a entrega do carregamento para repor os
produtos nas lojas?

— Sim, as peças ainda não terminaram, então não tem


importância de eles atrasarem a entrega.

— Antes fosse um atraso, Rhuan. Eu recebi uma ligação logo


cedo, era o dono da transportadora. Logo pensei se tratar de um
atraso, mas ele informou que na divisa entre Minas Gerais e São
Paulo o caminhão foi assaltado e levaram todo o carregamento. Um

prejuízo enorme pra gente.

— Como isso foi acontecer, Marcos? — questiono, deixando o


nervosismo tomar conta de mim. — Já acionou o maldito seguro?

Sabemos da realidade do nosso país, então todas as nossas


entregas são asseguradas. Pagamos caro para ter uma comodidade
e espero que a seguradora não nos deixe na mão. Pior que é uma
carga valiosa, iríamos repor o estoque para os próximos três meses,

para justamente não ter que ficar transportando todo mês e


correndo esse risco.

— Estava agora há pouco em contato com eles, já lhe adianto

que não foi uma conversa nada fácil. Eles estão se recusando a
pagar o valor integral da carga. Segundo eles, só podem cobrir o
valor até cinquenta mil reais.

— Como assim só cinquenta mil reais? — falo um pouco mais


alto do que deveria. — Nossa carga tinha mais que o dobro, não é
possível que paguemos caro em um seguro, para justamente agora
que precisamos eles não cumprirem com a obrigação!

Por isso que ser empresário nesse país não é fácil. Levando
para o lado empresarial, essa carga equivale ao funcionamento de
uma de nossas lojas, e com esse prejuízo, o mais certo a se fazer
seria fechá-la e isso quer dizer desemprego. Eu sei o que passei na
vida, por esse motivo darei meu jeito, mesmo que não vá à falência
por conta desse dinheiro, apenas perderei uma porcentagem do
capital da empresa.

— Acione o jurídico. Não quero que meçam esforços para


ganhar essa causa com a seguradora. Pagamos uma grande
quantia de dinheiro, não é possível que não façam o trabalho deles
direito. E os assaltantes, alguma informação sobre eles?

— Não. A única coisa que o motorista nos disse é que era um


casal. Felizmente, no caminhão tinha câmeras, e em breve vão nos
mandar as imagens para que possamos prestar queixa.

Trocamos mais algumas palavras e Marcos se despede para ir


resolver com o jurídico.

Não posso acreditar nessa história. Em todos esses anos eu


nunca tive a infelicidade de ser assaltado, como sempre dizem: tem
uma primeira vez para tudo. E pensar que há uns meses pensei em
desistir do seguro, já que pegava a tanto tempo e não tinha
acontecido absolutamente nada.

Eu estava tão confiante para a reunião, agora não consigo me


recuperar mentalmente. Seria muito pior se eu cancelasse, nossa
imagem seria negativa e não é isso que queremos, muito pelo
contrário, a intenção é mostrar nosso melhor para eles.

Faço aquilo que tenho em mente. Envio uma mensagem para


a menina de olhos enigmáticos.

Rhuan Guilherme: Oi, bom dia! Queria saber se podemos


adiantar nossa reunião?
Sei que não estou agindo bem, mas nesse momento a razão
me abandona. Minha vontade é de me deliciar com seu beijo mais
uma vez, nos conhecemos há dois dias e no momento sei que ela
pode trazer a calma que estou precisando.
Capítulo Sete

Jade

Pego meu celular para ver as horas, quando escuto o bip e


vejo uma mensagem do Rhuan Guilherme. O meu bobo e fraco
coração acorda de imediato. Passei meu domingo pensando nele,
foi difícil esquecer o toque de seus lábios nos meus. Por muito
tempo fiquei em um relacionamento, então passei anos beijando a
mesma boca, estou surpresa com a mistura de sentimentos que
estou sentindo nesse momento.

Rhuan foi uma deliciosa e grata surpresa. Nesses dois dias me


permiti não pensar naqueles dois traidores, o que, para mim, foi
completamente maravilhoso. Eles não deram notícias e coloquei na

cabeça que também não quero mais saber deles. No fim, são
farinha do mesmo saco e se merecem.
Rhuan Guilherme: Oi, bom dia! Queria saber se podemos
adiantar nossa reunião?

Não seria nada ruim adiantar nosso reencontro, eu só preciso


confirmar na minha agenda se não tenho nada marcado. Quando se
trata do meu trabalho, isso não abro mão, e por mais que eu queira
vê-lo, faço tudo no seu determinado tempo.

Jade: Olá, bom dia. Pra quando você gostaria de adiantar?

Rhuan Guilherme: Sei que é uma pessoa muito ocupada,

mas se pudermos marcar para amanhã, seria ótimo.

Jade: Preciso olhar meu cronograma. Até à noite lhe dou uma
posição. Pode ser?

Rhuan Guilherme: Claro que sim. Estarei no aguardo. Tenha


um bom dia!

Eu acho que não tem problema misturar o lado pessoal com o


profissional. Rhuan Guilherme me parece ser um homem
maravilhoso, acredito que não seria tão estranho eu me envolver
com ele. Tudo me parece muito rápido, mas pela primeira vez na
vida estou disposta a arriscar. Já quebrei a cara, mesmo. Um
machucado não me fará diferença.

Analiso minha agenda e não tenho nada para amanhã. Eu


poderia lhe responder agora, mas irei esperar até à noite para
parecer que deu um pouco de trabalho. Hoje também não tenho

nada para fazer, irei apenas testar algumas receitas, estou cheia de
ideias. Uma delas é um brigadeiro de seriguela. Eu amo a fruta e
tenho certeza de que a junção com brigadeiro ficará perfeita. Se
minhas amigas gostarem, irei sugerir para o cardápio da
inauguração. Pensei em algumas coisas, como:

Brownie de chocolate com sorvete de melancia.

Brigadeiro de jaca.

Torta de limão siciliano.

Brigadeiro de seriguela.

Na seleção foi informado que tinham preferências por doces


fáceis de comer, até porque a sobremesa não precisa ser algo tão
grotesco. Muita gente pensa que brigadeiro é uma coisa simples,
mas quando é colocado em uma taça ele consegue ficar sofisticado,
e minha intenção é justamente essa.
Eu poderia optar por outras opções, porém, sei que não seriam
tão apreciadas. As meninas são minhas cobaias, então tudo que
testo elas provam. Nem sempre o sabor fica bom, a gente vai
tentando até conseguir. Foi assim com o Brownie e o sorvete. A
princípio elas não gostaram da combinação, viraram até a cara,
depois de experimentarem vivem pedindo para eu fazer.

Eu até tentei, mas não consigo imaginar minha vida sem a


cozinha. Apesar da pouca idade, já passei por poucas e boas nessa
vida, e assim como aconteceu com a minha avó, os doces foram
minha válvula de escape. Por isso não pensei duas vezes antes de
fazer faculdade de gastronomia, e por mais que muita gente vire a
cara, nós cozinheiros estudamos muito, nunca deixamos de
aprender e coisas novas estão sempre aparecendo.

Michele me liga e conversamos um pouco sobre os últimos


acontecimentos de nossas vidas. Falo sobre minha nova criação, e
como não seria diferente, ela comemora. Combinamos de ela

passar e pegar as outras meninas, sei que não perderão a


oportunidade, até porque, estou enrolando para falar do Rhuan, já
que Lore abriu a boca e disse o que não devia.

Sempre foi assim, impossível de esconder alguma coisa uma


da outra. Mesmo contra a vontade, se uma do grupo descobrisse,
automaticamente todas as outras também saberiam, pois nenhuma
das minhas amigas sabem guardar segredo.

Tomo um banho, deixo tudo preparado e espero minhas


amigas chegarem. Aproveito o tempinho livre para responder ao
Rhuan, e confesso que estou bem ansiosa para reencontrá-lo.
Mesmo sabendo que se trata de uma reunião de negócios, não
consigo não pensar em sentir seus lábios nos meus mais uma vez.
Não demora muito e recebo um e-mail de sua secretária,
confirmando o horário da reunião para as seis da noite.

Acho estranho o horário, mas não questiono, apenas mando


minha confirmação.

O relógio já marca sete da noite quando escuto batidas na


minha porta. Certamente são as minhas amigas. Quando se trata de
uma fofoca elas chegam até antes do horário marcado,
incrivelmente.

— Que demora para abrir essa porta, Jade — Camila reclama,


exagerada como sempre. — Quase congelei do lado de fora.

— Pare de drama, mulher. Todo mundo sabe que essa cena é


sua curiosidade tomando conta de você — Michele rebate, entrando
logo em seguida e indo direto para a geladeira.
— Nossa, como vocês são educadas, não é mesmo?! — falo,
fechando a porta atrás de mim.

Todas entram e se acomodam. Diferente das meninas, Lorena


não abre a boca até agora e isso me deixa completamente
preocupada, pois se tem uma coisa que minha amiga não fica, é
calada. Fala pelos cotovelos e sabemos que seu silêncio é

preocupante, algo deve estar lhe incomodando.

— Lore, aconteceu alguma coisa, amiga? — pergunto,


mostrando minha preocupação.

— Sim — limita-se a responder.

— Então desembucha, mulher — Camila diz, sem nenhuma


delicadeza. — Quem precisamos matar dessa vez?

Lore faz uma careta antes de nos responder:

— Não sei bem se matar dessa vez é uma boa opção, apesar
de minha vontade ser esganar as pessoas com minhas próprias
mãos. — Quando ela fala “pessoas”, rapidamente minha mente
associa aos traidores. — Vocês não assistiram jornal hoje?

Balanço a cabeça em negativa.

— Queria muito ter tempo para isso, mas minha vida


ultimamente se encontra muito corrida — responde Michele.
— Jornal? Faço nem ideia do que seja isso. Há tempos que
não paro pra assistir um. — Camila faz uma careta, o que acaba nos
fazendo sorrir.

— No jornal noticiava que um caminhão de mercadorias de


uma grande empresa foi roubado. A carga é bem valiosa, então
estão colocando todas as forças para encontrar essas pessoas. —
Não entendi até agora o motivo de tanto alarde da parte dela,
moramos em um país superperigoso, todos os dias vemos vários
assaltos. — O que me deixou em choque é que os assaltantes eram
um casal...

Opa! Meu alerta é ligado rapidamente diante da palavra


“casal”. Espero que não seja isso que estou pensando. Não posso
acreditar que minha irmã está fazendo uma coisa dessas.

— Divulgaram as imagens do caminhão — continua


calmamente a explicar. — Amiga, eu tenho noventa por cento de
certeza de que era a Luciana e o Carlos Henrique. Eu sei que é
difícil de acreditar, mas até filmei para mostrar a vocês.

Assim, ela pega o celular da bolsa e nos mostra o vídeo da


reportagem, e eu queria muito, mas não consigo pronunciar uma
única palavra no momento. É muita informação para assimilar nesse
momento, tornando-se difícil de acreditar que tudo isso esteja
acontecendo na minha vida.

Qual foi a parte da minha vida que deixei tudo isso acontecer?

Onde eu estava que não percebi que estava vivendo com uma
naja debaixo do meu teto?

Confusa, intrigada e em choque. É assim que me sinto nesse


momento. Afasto-me um pouco, vou até a geladeira e pego uma
garrafa de vinho. Encho minha taça e tomo tudo em um só gole.
Apenas com álcool no sangue para assimilar isso que acabei de ver.
Primeiro já foi complicado descobrir da pior forma a traição, agora
não sei o que pensar dessa nova informação, difícil entender que
esses dois resolveram virar assaltantes de caminhão.

E se alguma coisa acontecesse com a Luciana? Se dessem o


azar de encontrar uma pessoa armada? Será que agora eu estaria
recebendo a notícia de que o corpo da minha irmã me espera no
IML?

— Amiga, como está se sentindo? — Lorena pergunta, com a


preocupação estampada em seu rosto.

— Confusa.
— Se eu pego a Luciana, certeza de que arrebento a cara
dela. Essa menina sempre teve tudo na vida, não sei por que diabos
está indo por esse caminho — Camila se pronuncia depois de um

tempo em silêncio.

Estou me fazendo essa mesma pergunta. Nunca pensei que


Luciana fosse trilhar a vida por esse caminho. Na verdade, até outro

dia eu nem sabia que ela estava pegando o meu noivo, então tenho
que começar a me acostumar com as peças que a vida está me
mostrando sobre a minha irmã. Se os donos da carga que eles
levaram forem muito poderosos, tenho certeza de que não medirão
esforços para recuperá-las, e eu só posso orar para que o estrago
com a minha irmã não seja tão grande.
Capítulo Oito

Rhuan Guilherme

Ontem o dia foi bem corrido. Com toda essa história do assalto
essa empresa ficou uma confusão. Um entre e sai de policiais que já
estava me incomodando. Eu fui contra, mas eles acharam melhor
divulgar na mídia a imagem dos assaltantes, então minha única
ressalva foi o nome da empresa, não quero ficar conhecido por

mídia negativa, não é essa visibilidade que quero para a RGA.

Tudo está se encaminhando para a inauguração, todos os


convidados confirmaram presença, até mesmo os investidores da
Espanha. Algo me diz que será um grande sucesso, e eu só consigo

pensar nos meus pais, o quanto devem estar orgulhosos por eu ter
conseguido alcançar meus objetivos. Esse sempre foi o meu desejo,
deixar meus pais orgulhosos e, acima de tudo, dar uma vida digna
para eles, que tanto lutaram para me dar o melhor.
Assim que Jade me respondeu, pedi que minha secretária
cancelasse qualquer compromisso depois das quatro da tarde. Falei
para preparar um jantar na minha sala, e eu sei que a reunião a
princípio será profissional, mas nada me impede de estender para o

lado pessoal. Não posso negar que estou louco de vontade de beijá-
la, sentir o gosto de seus lábios e colocar minhas mãos em seu
corpo novamente.

Não sei explicar, mas ela não sai da minha cabeça. Jade me
parece frágil e ao mesmo tempo tão forte, que isso me deixa bem
confuso. Ainda mais que nos conhecemos há tão pouco, mas sinto
como se tivéssemos uma ligação há mais tempo.

Passei o dia enfiado na sala de reuniões, vídeos conferências


e pendurado no bendito telefone. Tudo que preciso nesse momento
é de uma cerveja, uma boa pizza e minha cama.

Estou quase indo embora quando lembro da reunião com a


Jade. Peço para minha secretária cancelar o jantar, tenho uma ideia
melhor para essa reunião.

Confiro o relógio e ele já marca seis horas, o horário


combinado para nossa reunião. Deixei o segurança avisado sobre a
chegada dela, assim não precisaria anunciar, mas apenas lhe
indicar o andar e a sala correta. Meu escritório fica no último andar e
nesse momento apenas eu me encontro por aqui.

O segurança liga informando que ela já está subindo, levanto

da minha cadeira e fico à sua espera. Não demora muito e ouço


batidas na porta, caminho alguns passos e abro a porta, dando de
cara com Jade, lindíssima como da última vez. Ela usa um vestido
na altura do joelho com um decote comportado e os cabelos presos.
Uma beleza simples que me encanta pra cacete.

— Boa noite, Rhuan — fala com a voz baixa e delicada. —


Desculpe o atraso, você sabe como funciona o trânsito de São
Paulo, nunca é como a gente quer.

— Boa noite, Jade. — Sinalizo para que ela entre. — Eu bem


sei como funciona, quase todos os dias me estresso na chegada e
saída de casa. Ainda não me acostumei com a confusão que é essa
cidade.

— Há quanto tempo você veio para São Paulo?

— Pouco mais de um ano — respondo e rapidamente as


lembranças da minha terra surgem na minha mente. — Pelo visto
acho que nunca me acostumarei, essa cidade é agitada demais
para um pacato como eu.
— Você não me parece em nada com um homem pacato,
Rhuan.

— Pode apostar que sim. Em breve perceberá isso.

Sento-me ao lado dela no sofá, nos encaramos por alguns


segundos e eu tento dissipar os pensamentos que rodeiam a minha
mente. Todos eles terminam com a Jade sem roupa e não quero
assustá-la.

— Vou te mostrar alguns cardápios, você me diz qual lhe


agrada mais. Tudo bem? — ela explica, tirando um tablet de dentro
da bolsa.

— Tudo bem.

Pego o aparelho de sua mão e olho a variedade de doces, não


fazendo a menor ideia de qual escolher. Sei que ela é boa no que

faz, então deixarei tudo em suas mãos. Tenho certeza de que ela
saberá escolher melhor, de acordo com a ocasião, o horário e a
estação.

— Eu poderia fingir que estou concentrado nas suas opções,


mas não faço a menor ideia do que escolher. — Ela sorri com meu
comentário. — Tenho certeza que o Marcos teve suas razões para
te escolher, então deixarei em suas mãos o cardápio.
— Mas você é o anfitrião, Rhuan.

— Me surpreenda, Jade! — rebato de imediato.

Um silêncio toma conta do ambiente, apenas nossas


respirações podem ser ouvidas. Jade tem os olhos fixos nos meus,
e a pior coisa que ela poderia ter feito foi morder o bendito lábio.
Não sei se é coisa da minha cabeça, mas acho que ela quer tanto
quanto eu esse beijo.

Parecendo ouvir meus pensamentos, ela sinaliza com a


cabeça. Então coloco o tablet na mesinha à frente, me aproximo
lentamente, pego suas mãos e deposito um beijo. Levanto-me,
trazendo-a comigo, com minhas mãos em sua cintura colo nossos
corpos, beijando-a logo em seguida. Sua língua rapidamente abre
passagem e o beijo até pode ser calmo, mas está carregado de
desejo. Ela segura meus cabelos, me fazendo apertá-la com mais

força contra meu corpo. Minhas mãos passeiam por suas costas
nuas, que só agora vim perceber o decote traseiro. Pra ferrar de vez
comigo, ela solta um pequeno gemido, deixando-me mais louco de
vontade por possui-la agora mesmo.

— Jade, se não quer levar isso adiante, é melhor pararmos


agora mesmo — falo, interrompendo o beijo.
Ela não diz nada, apenas me beija, e eu tomo isso como um

sinal para continuar. E assim eu faço. Sem desgrudar nossos lábios,


a pego no colo e lhe coloco sobre o sofá. Retiro seus sapatos e faço
o mesmo com os meus. Afrouxo a gravata e me deito sobre seu
corpo, beijando seu pescoço e intercalando com pequenas
mordidas. As mãos dela vão para minha camisa, desabotoando
botão por botão, até que pousa suas mãos sobre meu peito. Fixo os
olhos nos seus e vejo o desejo estampado neles, o que não deve
ser muito diferente dos meus.

Retiro seu vestido e tenho uma visão magnífica de seu corpo,


nesse momento coberto apenas por uma calcinha e um sutiã
vermelho. Fico parado, só admirando a menina-mulher a minha
frente.

— Se você continuar me olhando desse jeito, ficarei com mais


vergonha do que já estou, Rhuan — ela diz, cobrindo o rosto com a
minha camisa que acabei de tirar.

— Vergonha por que, Jade? Você é tão linda, não tem motivos
para se envergonhar. Pelo contrário, deveria ter orgulho do
mulherão que é.
Não dou tempo para ela falar e ataco seus lábios com um beijo
carregado de tesão. Essa menina está me deixando completamente
louco, e sinto que se não entrar nela nos próximos minutos, irei
explodir. E assim eu faço, não demora muito e estou dentro dela,
sentindo o contato delicioso de sua pele na minha. Posso dizer que
ela se entrega completamente, percebo isso com as contrações de
seu corpo e seus gemidos de prazer.

Se antes eu já estava vidrado nessa mulher, tenho certeza de


que acabei de assinar meu contrato vitalício. O corpo dela é viciante
e eu acabei de ser fisgado pela bela e linda morena.
Capítulo Nove

Jade

Pensei seriamente em remarcar a reunião com o Rhuan, mas


as meninas me incentivaram a não fazer isso. Não posso deixar que
o erro daqueles dois mexa mais ainda com a minha vida e agora
agradeço por ter vindo. Tentei ao máximo me concentrar na reunião,
o tempo inteiro pensei em como seria bom beijá-lo novamente.
Apesar do pouco tempo que nos conhecemos, ele consegue mexer
comigo de uma forma inexplicável.

Não consigo descrever a sensação deliciosa de tê-lo dentro de


mim. Rhuan venerou meu corpo de todas formas possíveis e só
agora consigo enxergar que o que eu tinha com o Carlos não
passava nem perto disso.

Eu nunca fui de sexo casual, mas como tem uma primeira vez
para tudo, estou afim de arriscar sem medo. Agora estamos em seu
carro, seguindo para sua casa. Eu poderia negar, porém, não me
perdoaria se isso acontecesse. No carro o silêncio é agradável, sua
mão fica o tempo inteiro na minha perna, me deixando à vontade
com a situação.

Sou péssima com nomes de ruas, então não sei bem para
onde estamos indo. Por precaução, mando uma mensagem para as
meninas, deixando-as avisadas de onde estou indo.

Mesmo me entregando ao momento, uma parte de mim ainda


pensa na minha irmã. É difícil de acreditar no que ela está fazendo
da própria vida. Resolvo ligar o rádio, e para minha surpresa a
primeira notícia é sobre o roubo. Escuto tudo atentamente e meu
estômago embrulha assim que ouço o nome dos dois. Antes eram
apenas imagens, agora o nome dos dois ficará estampado nas
páginas policiais. Nesse momento fico feliz que minha avó não
esteja mais entre nós. Ela não aguentaria uma decepção dessas.

Rhuan escuta tudo atentamente, percebo quando ele se


retorce no banco e fico sem entender o motivo, até que escuto o
nome da RGA. Fico em choque com a informação. Qual a
probabilidade de nossos destinos estarem interligados dessa forma?
Como posso olhá-lo tranquilamente depois de descobrir que
minha irmã foi a ladra que roubou sua empresa?

— Que diabos! — pragueja, desligando o rádio de imediato. —


Eu falei que não era para divulgar o nome da minha empresa. Não é
possível que não exija sigilo nessa droga de país.

O telefone dele toca, ele atende e uma voz do outro lado diz:

— Não sei o que aconteceu, Guilherme. Eu fui bem direto


quando pedi que não divulgassem o nome da empresa.

A pessoa parece preocupada.

— Não posso acreditar que tudo isso esteja acontecendo,

Marcos. Eu pedi uma coisa tão simples. Essa informação pode ter
saído tanto da polícia, como de alguém de dentro da RGA. — Está
evidente a chateação em sua voz e não posso culpá-lo por isso. —
Estamos próximos da inauguração e isso, definitivamente, não
deveria ter acontecido.

— Fique tranquilo. Farei o possível para descobrir quem vazou


essa informação. Mas agora precisamos pensar em algo. Temos
que afastar a imagem da empresa desse assalto.

— Agora estou dirigindo. Quando eu chegar em casa te ligo e


conversamos sobre isso.
Dito isso, ele desliga o celular. Eu queria falar alguma coisa,
mostrar minha solidariedade para um momento como esse. Pelo

pouco que pesquisei sobre Rhuan, todas as notícias eram sobre


coisas boas e ações feitas pela RGA. Mesmo se tratando da
realidade de nosso país, acredito que não seja o tipo de marketing
que qualquer empresa goste. O pior de tudo é que conheço os
assaltantes, e por mais que seja minha irmã, o certo a se fazer é
contar que os conheço.

Estava me preparando para falar, quando vejo que paramos


em frente a um condomínio luxuoso. Ele sai do carro, abrindo logo
em seguida a porta do passageiro para que eu saia. Sorrio em
agradecimento ao gesto de cavalheirismo. Ele não diz uma palavra,
apenas segura em minha mão e caminhamos em direção ao seu
apartamento. No elevador ele aperta o último andar e em poucos
segundos já estamos em frente ao apartamento de número 1550.
Entramos em seu apartamento e olho cada detalhe atentamente. As

paredes marrons criam um contraste com os móveis brancos. Uma


enorme janela de vidro traz um charme a mais ao ambiente.

— Você está bem, Jade? — pergunta, parando a minha frente.


— Estou te achando bem caladinha. Fiz algo que não gostou?
— Não é isso, é que... — Eu preciso contar a ele sobre minha
irmã, mas como nos conhecemos há pouco tempo, tenho medo da
reação dele.

— Jade, seja lá o que esteja te aborrecendo, pode me contar.


— Me puxa pelos braços, fazendo-me sentar no sofá.

— Recentemente eu recebi uma triste notícia que me abalou


muito. Além disso, tem o fato de a minha irmã ter fugido com o meu
noivo. Foi difícil de aceitar, mas aos poucos estou me acostumando
com essa ideia.

Eu queria, mas acho que ainda não é a hora de contar sobre a


minha irmã. Não é fácil chegar para ele e dizer que minha irmã é a
mulher que roubou sua empresa. Não sei se ele conseguirá separar
esse fato da nossa relação. Além do mais, eu lutei para ser
selecionada para trabalhar na inauguração, tenho certeza de que
será uma porta para outras propostas e não posso deixar que
aqueles dois estraguem minha vida mais uma vez.

— Não posso te dizer que entendo, mas sei que não deve
estar sendo nada fácil para você. Uma traição já é difícil de ser
assimilada, vindo de pessoas que amamos é muito pior. Sei que nos
conhecemos há pouco tempo, porém, saiba que pode contar comigo
sempre que quiser conversar.

Sorrio para o lindo homem a minha frente.

— Muito obrigada, Rhuan.

Ficamos um tempinho em silêncio apenas nos encarando. Ele


tem um olhar enigmático que me deixa louca de vontade por
desvendá-lo.

Acabei de sair de um relacionamento e tudo ainda é muito

novo, Rhuan parece que tem um imã e isso me deixa extremamente


confusa.

— Você não tinha que fazer uma ligação? — pergunto,

cortando o silêncio. — Acho que você tem muita coisa pra resolver,
então acredito que seja melhor eu ir para casa e podemos marcar
um outro dia.

— Claro que não. Sei que só vou me estressar na ligação,


então posso muito bem fazê-la amanhã. Eu disse que iríamos
assistir um filme e comer pizza, então é isso que faremos.

Ele se levanta, vai até a cozinha e volta com uma garrafa de


vinho e duas taças.
— Começaremos com um bom vinho, conversamos um pouco
e depois pedimos a pizza. Pode ser?

— Sim, pode.

Decido aproveitar essa atração entre nós. Por que fugir nesse
momento? Infelizmente, não posso mudar o fato de a minha irmã
ser uma ladra. Vai surgir o momento ideal de contar para ele, só não
é agora.
Capítulo Dez

Jade

Eu queria dizer que minha noite foi boa, mas não consegui
aproveitar completamente com o Rhuan. Mesmo contra minha
vontade, minha mente não parava de pensar na coincidência do
destino. O mundo tem bilhões de pessoas, por que eu tinha que
conhecer logo o dono da empresa que a traidora da minha irmã

roubou?

Queria ter a chance de falar com a Luc, tenho certeza de que


tem alguma coisa acontecendo. Já pensei em diversas

possibilidades, só que não entendo o motivo de tanta mudança. Por


um momento pensei em contar para o Rhuan, mas vi que esse era
um assunto que o deixava estressado, por isso continuei calada.

Cheguei em casa e tinha várias mensagens das minhas


amigas. Acontece que não estava com ânimo para responder
absolutamente nada. Sei que querem saber sobre a minha reunião,
eu também tenho muita coisa para contar, só não consigo separar
as coisas na minha mente e tudo que eu penso é no assalto.

Com a cabeça no travesseiro, pego o celular e leio algumas


mensagens no nosso grupo do WhatsApp.

Lorena: Jade, você vai nos dar um sinal de vida ou teremos


que ir a sua casa?

Michele: Eu acho que já podemos ir à casa dela.

Camila: Só vou perdoá-la por esse sumiço se ela disser que


estava até agora com o bonitão do Rhuan. Fora isso não aceito
nada.

Acabo rindo com essas malucas. Minhas amigas são tudo que

eu tenho na vida. Não sei se conseguiria passar por tudo sem o


apoio delas.

Jade: Parem de drama, estou bem. Apenas não estava com


vontade de falar nada. Gostaria, mas infelizmente as coisas não
saíram como eu queria.
Camila: Como assim? Não me diga que o pinto do Rhuan é
minúsculo!

Michele: Você, definitivamente, não presta, Camila. Isso é

coisa que se fale, mulher?

Camila: Só falei a verdade. Aposto que também estavam


pensando nisso.

Jade: Não tenho do que reclamar. Tivemos uma tarde


maravilhosa e eu me senti desejada como há muito tempo não me
sentia. Rhuan é um homem tão maravilhoso que acho que não é

para mim.

Michele: Como não é homem para você? Qualquer um daria


tudo para ter uma mulher como você: independente, linda e com

uma carreira maravilhosa pela frente. Não sei ainda o que


aconteceu, mas pode parar de se diminuir.

Jade: O caminhão que a Luc e o Carlos roubaram é da RGA,

empresa do Rhuan. Vocês têm noção da merda que isso vai ser?
Como posso trabalhar no evento sabendo que eles estão sendo
prejudicados pela minha irmã?

Camila: Estamos indo a sua casa agora mesmo, nem adianta

negar. Vou passar e pegar todas em meia-hora, não se atrasem.


Não digo nada. Sei que não vai adiantar eu dizer uma única
palavra. Quando elas colocam algo na cabeça, nem vale a pena
argumentar.

São quase duas da tarde, não tomei café, muito menos me


levantei para almoçar. Rhuan me mandou mensagem, não tive
coragem de ler. Sei que ele se decepcionou com nossa noite, no
entanto, foi mais forte que eu. Eu queria ter falado tudo para ele,
mas fiquei travada e não saiu uma única palavra. Nos conhecemos
há pouco tempo, não sei se Rhuan vai entender toda essa confusão
da minha vida.

Deveria me preocupar apenas com o evento. Por que toda


essa merda tinha que acontecer justo agora? Meu maior medo é de
as coisas saírem errado. Minha mente está uma completa confusão
e isso significa que todo o resto também está uma bagunça, e não
sei como administrar tudo isso.

Não percebi que tinha pego no sono até escutar batidas.


Levanto-me do sofá e abro a porta, dando de cara com as minhas
amigas.
— Pode ir contando tudo que aconteceu, não adianta inventar
desculpinhas, Jade — Camila exige, se acomodando no sofá.

As meninas fazem o mesmo e apenas me olham, aguardando


que eu me pronuncie. Confesso que não saberia lidar com boa parte
dos meus problemas se não tivesse essas malucas ao meu lado.
Basta só alguém dizer que não está bem, que formamos uma
comitiva para ajudar da melhor forma possível. Nos conhecemos tão

bem, que com um simples olhar sei dizer quando elas não estão
bem.

— Será que agora vou começar a pagar por todos os meus

pecados? Qual a probabilidade dos nossos destinos se cruzarem?

Sempre acreditei que as coisas acontecem por um propósito,


então sei que nada em nossa vida é em vão. Mas não consigo ver

um motivo válido para tudo que está me acontecendo. Primeiro


descubro que meu noivo me traiu com a minha irmã, fui selecionada
para participar de uma grande inauguração, onde tenho certeza de
que me trará grande visibilidade. E pra coroar tudo descubro que a
minha irmã é uma ladra, e ainda por cima roubou a empresa do cara
que me contratou.

Com tantas pessoas no mundo, tinha que ser logo o Rhuan?


— Você tem certeza de que é a RGA? — Michele questiona.

— Absoluta! Mesmo com a mente fervilhando eu fui para a


nossa reunião, tudo correu perfeitamente bem. Quando menos

esperei já estava em seus braços e me senti desejada como há


muito tempo não sentia — confesso para as minhas amigas, que me
olham com um enorme sorriso. — Só que nem tudo é perfeito. Ele
perguntou se eu gostaria de ir até a casa dele e não tinha motivos
para não aceitar, então eu fui. Mas quando estávamos no carro, na
rádio foi anunciado sobre o assalto e falaram o nome da empresa
dele. Ele ficou muito puto porque não queria o nome da empresa
vinculado ao assalto.

— E você falou pra ele a verdade? — Dessa vez é a Lorena


quem se pronuncia.

— Claro, porque eu iria chegar e dizer, “olha, Rhuan, os


ladrões são nada mais nada menos que a minha querida irmã e o
meu ex-noivo. Mas não se preocupe, pois eu não tenho relação com
eles”. Enlouqueceu, Lorena?

Dou um fraco sorriso, pois isso não tem a menor lógica. Ele
nunca mais vai querer olhar na minha cara e no seu lugar eu faria a
mesma coisa.
— Acho que o Rhuan é um homem inteligente, é claro que ele
vai saber separar uma coisa da outra. Acredito que você precisa ser
sincera e falar com ele, é muito melhor do que ele descobrir por
conta própria — Michele diz, me olhando fixamente.

— Não sei, acho que o melhor é eu me afastar. Vou dizer que


não poderei mais fazer o evento.

Não queria ter que renunciar a algo tão importante, mas nesse
momento se faz necessário.

— Agora quem enlouqueceu foi você! Nem pense em desistir


disso por causa daqueles dois filhos de uma mãe! Essa é a sua
chance e você não vai desperdiçar. Então acho bom falar com o
Rhuan antes da inauguração, porque se não, falo eu — Camila
decreta, assumindo uma expressão séria.

Sei que ela tem razão, mas não sei o que fazer.

— Não é tão fácil...

Michele não me deixa concluir, e diz:

— Não é fácil porque você fica complicando as coisas, amiga.


Você só precisa ir até ele e ser sincera. Sabemos que mentira tem
perna curta, então não adianta ficar mentindo ou inventando

histórias para ele. Caso não entenda e seja grosseiro, aí sim você
pode desistir do evento. Se não for o caso, está completamente fora
de cogitação desistir.

Ficamos uns minutos em silêncio e minha mente começa a


fervilhar de informações. Rhuan me parece um homem muito
inteligente. Acho que elas têm razão. Tenho alguns dias ainda para
pensar, ver que decisão tomar. Só espero optar pela coisa certa.

— Agora que nos resolvemos, bora pedir uma pizza porque


estou com fome — Camila fala, nos fazendo sorrir. Vou me permitir
não pensar nessa bola de neve. Pelo menos não por agora.
Capítulo Onze

Rhuan Guilherme

Os dias passam mais rápido que imaginei, e agora falta pouco


tempo para a inauguração. Confesso que estou com o costumeiro
nervosismo. Ainda estamos tentando localizar os assaltantes, mas
parece que eles desapareceram do mapa. Além da polícia, contratei
alguns detetives para tentar encontrá-los. Pedi para nossa
assessoria de impressa liberar várias notas na tentativa de ofuscar a

história do assalto.

Como se já não bastasse esse problema, estamos em uma


batalha com a seguradora, que ainda insiste em pagar apenas uma

parte do nosso prejuízo. Li e reli várias vezes o contrato, mas não


tem uma cláusula que diga que cobrem apenas setenta porcento do
valor.
Queria que meus velhos estivessem presentes, mas a minha
mãe não está muito bem de saúde, então enfrentar mais de duas
horas dentro de um avião não é uma boa ideia. Assim que todos
esses eventos terminarem, vou passar uns dias com eles. Estou
morrendo de saudade deles.

Não sei se fiz alguma coisa errada, mas a Jade tem me


evitado todos esses dias. Só trocamos alguns e-mails e foram
totalmente formais. Sei que ela passou por um momento difícil na

vida, então só por esse motivo estou deixando-a ter o tempo que
precisa. Porém, no sábado ela não terá escolha. Vai ser difícil fugir
de mim, já que estaremos no mesmo ambiente.

— Ainda pensando na Jade? — Fabricio pergunta, me tirando


do transe.

— Sua mãe não te ensinou a bater na porta antes de entrar?

— Me ensinou, mas como me sinto em casa aqui na sua


empresa, não vejo motivos para essas formalidades. Responda a
minha pergunta.

— Tento, mas Jade não sai dos meus pensamentos. Queria


entender o porquê de ela sumir desse jeito. Eu pensei que
estávamos nos conhecendo...
— Se você sabe onde ela mora, por que diabos ainda não foi

na casa dela?

Até pensei nisso, mas fiquei com receio de ela me colocar pra
fora. Afinal de contas, nos conhecemos há tão pouco tempo, e não é

porque tivemos um encontro casual que temos algum tipo de


relacionamento.

— Fiquei com receio, não é como se a gente tivesse algum

tipo de relacionamento, Fabricio.

— Não estou te reconhecendo, Rhuan. Você nunca foi de


esperar por nenhuma mulher. Se você quer a Jade, nada mais justo
que ir atrás dela. Só não pode ficar nesse joguinho. Você sabe onde

ela mora, tem a opção de ir ao encontro dela ou esperar o dia da


inauguração.

— Você tem razão, nunca fui de correr atrás de mulher

nenhuma, não será agora que farei isso. Será inevitável nosso
encontro, então vou esperar. Tenho muita coisa para resolver, o que
menos preciso nesse momento é de mais uma coisa para me
preocupar, não é mesmo?!

— É assim que se fala, meu amigo!


Pior que ele realmente tem razão. Não posso obrigá-la a falar
comigo, muito menos irei atrás dela. Minha vida estava ótima, não
posso permitir que a Jade bagunce tudo.

Trocamos mais algumas palavras até que meu amigo se


despede. Fabricio tem esse jeitão livre, mas as pessoas não
imaginam o quanto meu amigo sofreu nessa vida. Infelizmente não
temos muita sorte com as mulheres e o tempo faz questão de deixar
isso bem claro.

Mando mais alguns e-mails, até que vejo que o relógio já


marca seis da noite. Me despeço de alguns funcionários e sigo para

o estacionamento. Tudo que eu quero é tomar um bom banho e


descansar. Tenho que me concentrar no mais importante, e claro
que é a minha empresa.

Os dias passam voando, daqui a pouco começará a


inauguração. Pensei muito no meu discurso, para no fim das contas
deixar que as palavras apareçam. Não quero falar nada muito
engessado. Antes do horário combinado, chego ao local do evento e
olho tudo ao redor, respirando aliviado, pois tudo está perfeitamente
arrumado como eu queria. Muitos jornalistas já se encontram no
local, escolhi a dedo dois deles para uma exclusiva, então antes de
o evento terminar preciso me reunir.

Vejo alguns rostos conhecidos, políticos, empresários, atrizes e


influencers digitais. Ainda sou meio antiquado, mas achei uma boa
ideia fechar alguns contratos com os influencers. Eles acabam
saindo melhor que um comercial na televisão.

Avisto o Fabricio e caminho em sua direção. Surpreendo-me


ao encontrá-lo com a Lorena, uma das amigas da Jade. Ela está
lindíssima. Meu amigo sempre teve bom gosto.

— Boa noite!

Sorrio, cumprimentando o aparente casal.

— Boa noite, Rhuan. A festa está linda, parabéns! — Lorena


diz, com um enorme e acolhedor sorriso.

— Parabéns, amigo. Tenho certeza de que será um grande


sucesso. — Fabricio me cumprimenta com um abraço.

Fico bastante tentado a perguntar sobre a Jade, no entanto,


tento me controlar a todo instante. Trocamos mais algumas
palavras, até que as pessoas começam a vir em minha direção e me
cumprimentar. Confesso que odeio ser o centro das atenções, mas
para o bem dos negócios é sempre bom esses sacrifícios.
— Pode perguntar, amigo, sei que está louco de curiosidade
de saber sobre a Jade.

— Não sei de onde tirou isso, Fabricio. Estou apenas


admirando toda a festa.

Dou de ombros, tomando um pouco da minha cerveja.

— Aceitam, senhores? — Um garçom se aproxima com uma


bandeja de canapés e agradeço por ter nos interrompido.

Por ser um evento mais informal, optamos por não fazer o


clássico jantar. As comidas serão servidas em pequenas porções

para que as pessoas possam apreciar um pouco de cada coisa.


Como nem todo mundo aguenta ficar em pé a noite toda, o local
dispõe de algumas mesas com cadeiras.

— Isso aqui está extremamente delicioso — comento,


saboreando o canapé de salmão.

— Deixa só você experimentar as sobremesas! Estão

divinamente deliciosas! — Lorena elogia e só depois parece


perceber o que falou. — Desculpa. Dei mancada, não foi?!

— Claro que não. Tenho certeza de que a Jade tem mãos de


fadas. Não vejo a hora de experimentar os doces dela.
— Para quem experimentou seus lábios, certamente não será
nenhum sacrifício — Fabricio zomba e eu o fuzilo com o olhar.

— Olha, sei que minha amiga vai me matar, mas eu preciso te


dizer uma coisa. — Ela observa ao redor, certamente se certificando
de não ter mais ninguém por perto. — Jade está passando por
alguns problemas, por pouco não desistiu do evento. Mesmo com o
pouco tempo, ela sente sua falta, mas tem medo de você não

entender...

— Entender o que, Lorena?

— Não posso falar muita coisa porque só ela pode te explicar


tudo. Jade evitará todo tipo de contato com você, então caso não
esteja muito cansado, vá até a casa dela depois da festa.

Antes de eu falar qualquer coisa, sou puxado pelos meus


sócios para uma roda de pessoas. Se eu já estava confuso com
toda essa história, agora que não faço a menor ideia do que pensar
sobre a Jade. Infelizmente temos muito o que conversar, mesmo
que nosso contato não tenha passado de um único sexo casual.
Capítulo Doze

Jade

Agora vejo que foi uma boa ideia vir ao evento. Não tem coisa
melhor do que ver as pessoas elogiando meus pratos. Recebi
muitos cartões de visita, além de entregar o meu para muitos
empresários. Tenho certeza de que conseguirei muitos trabalhos
depois deste. Nada como uma boa propaganda boca a boca.

Evitei o Rhuan quase durante toda a noite. sei que precisamos


conversar, mas hoje não é o local nem horário para isso. Amanhã
vou até o escritório dele e abrirei o jogo de uma vez por todas.
Mesmo que ele não queira nada comigo, vou contar que a minha

querida irmã é a ladra e que farei o possível para que ela seja
encontrada. Acho que é o certo a se fazer. Nossa avó iria querer
que eu fizesse o correto.
— Meus parabéns! O jantar estava divino. Acho que minha
sobremesa predileta virou o brownie. Pode apostar que entrarei em
contato em breve — uma senhora muito educada diz, pegando o
meu cartão de visita.

Agradeço, apenas. Infelizmente não sei como lidar com


elogios, então sorrir é sempre a melhor escolha para essas
ocasiões.

Enquanto vejo o Rhuan fazendo seu discurso, meu coração


parece uma verdadeira escola de samba. Ele está divinamente lindo
lá em cima.

Apesar do pouco tempo em que nos conhecemos, sinto uma


forte ligação com ele. Tenho duas opções: tentar ser feliz mesmo
com todos os problemas a minha volta, ou deixar que as escolhas
da minha irmã interfiram mais uma vez na minha vida. Pensei muito
e vejo que a primeira opção é a melhor. Rhuan é um homem
maravilhoso, com certeza não deve ser difícil amá-lo.

Alguns jornalistas insistem em falar comigo, mas não gosto

muito de exposição, no entanto, achei que seria uma boa para os


negócios. Depois de quase duas horas o evento termina e pensei
que fosse sobrar comida, só que as pessoas devoraram tudo.
Encontro rapidamente com a Lorena, mas não sabia que ela

viria. Na verdade, não fazia ideia que estava encontrando com o


Fabricio. Amanhã convocarei uma reunião com as meninas, ela tem
muita coisa para nos explicar. Confesso que imaginei que a Camila
fosse investir no Fabricio, já que ela não tirou os olhos dele, muito
menos parou de falar o seu nome.

Pego minhas coisas, despeço de minha equipe e saio. Tenho


três pessoas que me ajudam, com certeza iria surtar sem eles. Eu
queria ficar para ajudá-los, mas eles insistem que não é necessário.

Cumprimento algumas pessoas, olho em volta e nem sinal do


Rhuan Guilherme. Admito que estou confusa. No mesmo instante
que gostaria de encontrá-lo no meio do salão, também desejo que
isso não aconteça.

Entro no meu carro e saio o mais rápido possível. Tudo que


meu corpo deseja nesse momento é um banho quente, colocar
minha roupa de mendigo e me jogar na minha cama. Meu celular
apita e aproveito o sinal vermelho para ler. Vejo que é do Rhuan
lamentando não ter encontrado comigo.

Sei que isso é culpa minha, evitei ao máximo não encontrá-lo.


Mesmo que para isso eu tenha mandado um dos meus subchefes
cumprimentá-lo. Tenho ciência de que é uma atitude infantil, porém,
o medo me faz ter essas atitudes idiotas. Uma noite de sono vai me
ajudar a pensar melhor. Eu sei seu endereço e onde ele trabalha,
nada me impede de ir ao encontro dele.

Há sonhos que parecem reais e estou quase achando que tem


realmente algum batendo na minha porta. Abro os olhos e vejo que
já são quase quatro da manhã, com certeza deve ser algum engano.
Do jeito que estou, levanto e vou até a sala, pegando a primeira
coisa que vejo, uma linda frigideira. Caminho na ponta dos pés, as
batidas não cessam e espero realmente que seja uma emergência.
Não irei perdoar se for uma das meninas de porre.

— Quem é?

— Sou eu, Rhuan Guilherme.

Meu corpo gela de imediato, em uma mistura de medo e


emoção.

— O que faz aqui uma hora dessas?

— Precisamos conversar, Jade. Fiquei a sua espera à noite


toda, mas pelo visto você soube se esconder bem. — Seu tom de
voz é baixo e não parece alterado pelo álcool.
— Não poderia esperar até amanhã? São quatro horas da
madrugada, Rhuan Guilherme.

— Você me deixa extremamente confuso. Pensei em esperar


até amanhecer, mas fiquei revirando na cama, toda vez que fechava
os olhos a imagem do seu rosto vinha em minha mente. — Meu
coração começa a bater forte, quase saindo pela boca. — Não sei o
que fez comigo, não consigo pensar em outra coisa que não seja
você.

Um silêncio se instala no ambiente, minha mente está


fervilhando de informações, entretanto, não consigo colocar para
fora o que estou sentindo.

Será que mereço um homem tão maravilhoso como o Rhuan?

Meus pais me abandonaram, meu noivo foi embora com a


minha irmã. O que me garante que o Rhuan não fará a mesma
coisa?

No fundo o meu medo é esse. Não quero me apaixonar e


depois ter o meu coração partido. Convenhamos que o meu
histórico não é lá essas coisas.

— Jade, abre a porta!


Coloco a frigideira no sofá e destranco a porta, dando
passagem para que ele entre. Seus cabelos estão bagunçados, sua
calça de moletom se encaixando perfeitamente em suas pernas
torneadas. Alguns passos e ele está no meio da minha sala, seus
olhos estão fixos nos meus, mas ele não diz uma única palavra.

Caminha em minha direção, a cada passo seu é como se o


meu coração fosse escapar. Ele para a minha frente, tão perto que
deve ser capaz de sentir a minha respiração pesada. Suas mãos me
seguram pela cintura, colando nossos corpos. Ele passa a ponta
dos dedos pelo meu rosto, permitindo-me sentir seu toque. Pensei
que fosse me beijar, mas fica parado, me olhando.

Em seus olhos vejo um brilho, mas não sei decifrar o que é.


Rhuan tem algo que me encanta, eu diria que me puxa para ele. Só
queria ser forte o suficiente e não encarar a verdade.

— Você tem noção do que está fazendo comigo, Jade?

— Não — digo em um fio de voz.

— Nunca fui de correr atrás de ninguém, mas você é como se

fosse um imã e me vejo atraído em sua direção. Sei que não


tivemos nada além de um sexo casual, só que eu sei que, assim
como eu, você sentiu que foi além disso.
Sei que foi, mas não posso admitir isso facilmente. Só pensarei
em viver qualquer coisa com o Rhuan depois de contar tudo que
está entalado na minha garganta.

— Você merece alguém melhor, sem complicações, medos ou


angústias. Eu acabei de sair de um relacionamento, minha mente
está confusa. Tenho certeza que merece alguém melhor, sem toda
essa bagagem ruim que carrego comigo.

— Todos nós temos segredos, medos, angústias e aflições.


Ninguém nesse mundo é perfeito e conosco não poderia ser
diferente. — Ele beija o canto dos meus lábios. — Não estou te
pedindo em namoro ou casamento, quero apenas que nos dê uma
chance. Permita-se começar de novo, Jade.

Eu quero começar de novo, mas tenho medo de não


conseguir.
Capítulo Treze

Jade

Não consigo desviar o olhar do dele. Rhuan me parece tão


entregue nesse momento que as dúvidas que tanto rondam na
minha mente, ficam pior a cada segundo. Tenho medo de nos dar
uma chance e machucá-lo, porque eu não conseguiria me perdoar.

— Tem muita coisa de mim que você não sabe...

— E quando você começará a me contar essas coisas, Jade?


Você diz que eu mereço alguém melhor, mas somente eu tenho o
poder de decidir isso. Se você não me contar nada, será impossível
de eu me decidir. Então ficarei no seu pé até que seja honesta
comigo.

— Tem certeza de que essa conversa não pode esperar até


amanhã?

Ele sorri, me fazendo admirar seu lindo sorriso.


— Não irei embora daqui, Jade. Pelo menos não antes de a
gente conversar.

Ainda não estou preparada para contar. Digamos que não sou
muito confiável às quatro da madrugada. Acontece que não gostaria
que ele fosse embora...

— Vamos fazer assim: estou morrendo de sono, acredito que


você também. — Ele iria falar, mas coloquei um dedo em seus
lábios. — Não vou mentir, estou muito confusa com tudo que está
acontecendo na minha vida. Tenho muita coisa para te contar, mas
agora não é a hora pra isso. Amanhã prometo que te conto tudo, por
ora nós vamos deitar e descansar.

Seguro em suas mãos e o arrasto até o meu quarto. Ele não


diz nada, apenas observa atentamente cada passo que nós damos.
Sei que ele veio em busca de respostas, mas no momento não serei
capaz de dá-las.

— Não sei o que faço contigo, Jade.

— Não faça nada, apenas deite na cama e me abrace. Quando


amanhecer será um novo dia e conversaremos sobre tudo o que
você quiser.
Ele assente, deita na minha cama e eu faço o mesmo. Rhuan
me puxa para seus braços e me abraça logo em seguida,
estranhamente me sinto bem. Eu diria até que, pela primeira vez,
estou me sentindo protegida.

Vou descansar, amanhã será um novo dia e tenho muita coisa


para resolver. A vida está me dando uma chance de ser feliz e eu só
tenho que agarrá-la com forças. Não posso deixar que o medo me
domine. Eu preciso ser mais forte que ele.

Acordo primeiro que o Rhuan, e como estamos na minha casa


não terei como fugir. Pensei muito durante essa noite e vi que o
melhor é abrir todo o jogo para ele. Não sei explicar bem, mas em
seus braços senti algo estranho, como se ali fosse o meu lugar
predileto no mundo e há muito tempo eu não me sentia assim.

Rhuan ainda dorme tranquilamente, sua expressão é serena,


típica de quem teve uma boa noite de sono. Tomei um banho rápido
e vim para a cozinha, certamente ele vai acordar com fome e nada
mais justo que encontrar um bom e delicioso café da manhã. Não
sei o que ele gosta de comer, então irei preparar o básico de um
café.
Meia-hora depois já estou com tudo pronto. Sento e aguardo o
Rhuan acordar. Mandei mensagem para as minhas amigas,
estranhamente a Lore já sabia que o que estava acontecendo e
suspeito que tenha dedo dela nessa visita inesperada.

— Pensando na vida, Jade?

Rhuan está com os cabelos molhados, um forte indício de que


acabou de sair do banho. Eu estava tão concentrada que não
escutei o barulho do chuveiro.

— Pior que eu estava.

Sorrio, tentando controlar o meu nervosismo.

— Tomei a liberdade de tomar um banho, espero que não se


importe com a invasão aos seus armários e banheiro. — Ele senta-
se na cadeira a minha frente.

— Não se preocupe, não é problema nenhum. — Nos olhamos


fixamente em uma batalha interna de sentimentos. — Pode se
servir. Espero que goste do que eu preparei.

— Pode apostar que sim.

Serve-se de um pouco de café, corta uma fatia de bolo e


começa a comer tranquilamente. Sei que ele espera que eu inicie o
assunto, vou fazer isso, mas só preciso formular as informações que
estão passando na minha cabeça. Tem muita coisa que quero falar,
mas tenho medo de acabar assustando-o.

— Eu tinha um relacionamento estável, tudo estava correndo


perfeitamente bem, até o dia em que voltei da seleção promovida
pela sua empresa. Cheguei ansiosa para contar para a minha irmã e
até então o meu noivo. — Ele escuta atentamente a cada palavra
minha. — Achei estanho o fato de não ter encontrado nenhum dos
dois em casa, mas pensei que fosse uma coincidência.

Ainda é difícil de digerir essa história, mas respiro fundo e


continuo:

— Imagine a minha surpresa ao descobrir que os dois tinham


fugido juntos? — Dou um fraco sorriso. — Fiquei mal, mas decidi
que não iria deixar que isso me abalasse. Foi quando te conheci no
restaurante. Eu estava disposta a me dar uma nova chance...

— E o que a fez mudar de ideia?

— No dia da nossa reunião, uma das minhas amigas chegou e


me mostrou um vídeo. Nele mostrava um roubo a um caminhão. —
Ele arregala os olhos, certamente já percebeu onde chegarei. —
Fiquei em choque com isso, pois não imaginava que a minha irmã
se prestaria a um papel desses. Quando estávamos no seu carro e
eu ouvi o nome da sua empresa, naquele momento eu daria tudo
para sair correndo. Não tinha coragem de te encarar.

— Por isso que ficou estranha... Você não se parecia em nada


com a Jade que conheci. Abrir o jogo comigo não era mais fácil?

— Sim, mas fiquei com medo de você não saber separar as


coisas. Além do nosso envolvimento, tinha o evento que se
aproximava a cada dia. Até pensei em desistir de tudo, mas as
meninas não deixaram.

Ele levanta de sua cadeira e caminha pelo cômodo. Por um


momento pensei que iria embora, mas logo ele para a minha frente.
Eu levanto e ele me segura pela cintura, deixando nossos corpos
bem próximos um do outro.

— Suas amigas fizeram certo em não deixá-la desistir. Seria


uma grande decepção para mim. — Ele passa a ponta dos dedos no
meu rosto. — Fica claro que não sabemos nada um do outro, se não
teríamos evitado esses contratempos. Nunca que eu te culparia por
um erro da sua irmã, somos todos maiores de idade e conscientes
de nossas faculdades mentais. Sei que não deve ser fácil para você
toda essa história...
— Ser traída já é difícil, nas minhas circunstâncias tudo fica
pior. — O abraço, sentindo o calor de seu corpo. — Desculpa por
toda essa confusão.

— Não vou te dizer que eu entendo o que você está passando,


mas compreendo todo o seu receio. Antes de mais nada preciso te
dizer uma coisa: estamos atrás dos assaltantes, então espero que
não seja um problema para você. Sei que ela é...

O interrompo.

— Pode tirar isso da sua cabeça. Mesmo ela sendo minha


irmã, eu gostaria que a justiça fosse feita. A Luc não tem
necessidade de pegar nada dos outros, então que ela pague o que
deve à justiça.

— Vamos recomeçar. Na sexta-feira você está livre?

— Você diz para um encontro?

— Sim, vamos começar com o pé direito dessa vez. Sem


impedimentos, receios, medos ou coisas do tipo. Vamos para um
primeiro encontro, você vai me falar mais sobre você, assim como
eu te contarei tudo sobre mim. O que acha?

— Acho uma ótima ideia! Já estou ansiosa para o nosso


encontro, senhor.
Ele não diz nada, apenas cola nossos lábios em um beijo
carregado de desejo. Entrego-me completamente ao momento,
sabendo que tivemos um começo conturbado, mas agora tentarei
fazer tudo diferente. Viverei o momento e me entregarei ao
sentimento que tenta se instalar no meu coração.
Capítulo Quatorze

Jade

Assim que o Rhuan foi embora, mandei mensagem para as

minhas amigas avisando o que tinha acontecido. Como não poderia


ter sido diferente, rapidamente formaram uma comitiva e em tempo
recorde já estavam batendo na minha porta.

— Se tivesse nos escutado, já estaria nos braços do bonitão


há muito tempo. — Camila diz, logo depois de eu contar tudo que
aconteceu com ao Rhuan.

— Dessa vez preciso concordar com a Camila. Rhuan desde o

primeiro momento se mostrou um homem maduro. Só sendo muito


idiota para culpá-la por um erro da sua irmã.

Lorena diz e sei que todas estão certas. Infelizmente deixei


que o medo falasse mais alto, mas graças a Deus as coisas com ele
já se resolveram. Na sexta vamos jantar e começar tudo de novo,
vou esquecer a minha irmã e todas as interferências a nossa volta.
Será apenas Rhuan Guilherme e Jade.

As meninas se despediram e me deixaram trabalhar em paz,

tenho muitos trabalhos a fazer. Não demora muito e já estou


colhendo os frutos do evento, minha agenda está cheia pelos
próximos seis meses e não sei nem o que pensar. Recebo um e-
mail de uma revista de gastronomia, eles querem marcar uma
entrevista comigo, disseram que amaram tudo que preparei.

Tem horas que penso que estou sonhando, até uns dias atrás
pensei que estava vivendo em um eterno pesadelo, agora as coisas
mudaram e para melhor.

Respondo alguns e-mails, recebo algumas propostas


tentadoras, mas no momento não tenho intenção de sair da minha
cidade. Esse é um projeto para o futuro, não agora.

Troco algumas mensagens com as meninas e Lorena depois


que assumiu seu relacionamento com o Fabricio só anda ocupada.
Confesso que ainda estou surpresa, não pensei que Fabricio fosse o
tipo da minha amiga. Ela é tão doce e delicada, bem ao contrário
dele, que me parece ser um cafajeste. Conversarei sério com ele,
porque se fizer minha amiga chorar estará lascado.
Pego o celular e vejo uma mensagem do Rhuan.

Rhuan Guilherme: Estou ansioso para o nosso primeiro


encontro, doce Jade.

Jade: Então compartilhamos do mesmo sentimento. Acho que


será, literalmente, o meu primeiro encontro.

Sorrio como uma boba. A cada troca de mensagem fico mais


encantada por esse homem. Ele é lindo, inteligente, fofo, poderoso e
humilde ao mesmo tempo. Talvez algumas pessoas achem que não
deveria entrar em um relacionamento tão rápido, já que até outro dia
eu estava com o embuste do Carlos. Mas percebi que a vida é muito

curta para não ser aproveitada. Talvez nosso envolvimento não vá


para frente, mas enquanto for possível eu aproveitarei.

Entramos em um acordo e não falaremos nada sobre a minha


irmã. Como o caso está por toda a mídia, me manterei atualizada
por eles. Meu único medo é que descubram nossa ligação. Estou
vivendo uma das melhores fases na mina carreira, não quero que
minha imagem seja manchada por uma burrice da minha irmã.
Minha avó ficaria muito decepcionada com tudo que está
acontecendo. Tenho certeza de que a Luc puxou aos nossos pais,
que foram tão sacanas e abandonaram duas crianças. Não vou
dizer que não quero conhecê-los. Houve uma fase da minha vida

que desejei esse momento, mas hoje eu gostaria apenas de dizer,


cara a cara, o quanto agradeço. Pois se eles não fossem uns
miseráveis, eu não teria a oportunidade de apender tanto com a
minha avó. Se hoje sou essa mulher, agradeço exclusivamente a
ela.

A tarde passa voando, só percebo que é noite porque minha


barriga começa a roncar. A única refeição que tenho no estômago é
o café da manhã. Não sei como não me senti fraca. Durante a
semana tenho algumas reuniões, então estou montando o cardápio
que mostrarei para os meus clientes. Em alguns casos pegarei
apenas a parte das sobremesas, outros irei preparar todo o menu do
evento.

Depois da rápida troca de mensagens com o Rhuan, não nos


falamos mais, pelo que parece ele tinha uma reunião muito
importante com uns investidores. Como gosto de ter uma opinião
sobre tudo, comprei alguns produtos da marca do Rhuan e estou
amando, principalmente os hidratantes corporais.

Arrumo toda minha sala e tomo um banho rápido, visto um


shortinho folgado e camiseta. Hoje o calor está castigando. Peço
uma pizza metade Romeu e Julieta e a outra calabresa. Mando
mensagem para as meninas, mas todas possuem algum
compromisso, isso em plena terça-feira.

Meu celular toca incessantemente e corro para atender, já que


deixei o bendito no quarto.

— Alô? — falo com a respiração pesada, cansada do meu


exercício forçado.

— Liguei em uma hora ruim? — Reconheço de imediato a voz


rouca e gostosa do Rhuan.

— Não, eu que deixei o celular longe, então quando começou


a tocar tive que correr para atender.

— Essas coisas não me surpreendem. — Dá uma gargalhada


gostosa do outro lado da linha. — Que tal sairmos para jantar?

— Eu acabei de pedir pizza, o entregador deve chegar a


qualquer momento...

— Que pena! Então fica para outra hora.


Percebo a decepção em sua voz.

Pensa em alguma coisa, Jade, diz meu subconsciente.

— Você se importa em comer pizza, sentado no chão da minha

sala e assistindo filme na Netflix?

— Sabia que essa é a minha programação predileta? Estou


saindo da empresa, chego em quinze minutos.

— Tudo bem. Estou te esperando.

Ele desliga e fico olhando alguns minutos para o celular, meu


coração batendo como uma escola de samba. Ouvir a voz dele me
faz bem, ele me transmite uma confiança que não sei bem como
explicar. Penso em trocar de roupa, mas como não é um encontro
ficarei desse jeito, apenas aguardando a sua chegada.

Só espero conseguir me controlar, pois só consigo pensar em


sentir o gosto de seus lábios mais uma vez.
Capítulo Quinze

Jade

O relógio parece que não está trabalhando a meu favor, tem


pouco mais de meia hora que falei com o Rhuan, a pizza chegou e
nada de ele dar sinal. Mando uma mensagem, porém, ainda não tive
nenhum retorno. Por um momento chego a pensar que ele tenha
desistido, mas pelo pouco que o conheço sei que ele não faria isso,
ou pelo menos me mandaria uma mensagem avisando.

Aproveito que estou sozinha e começo minha busca


incansável por um filme. A gente perde mais tempo procurando do
que vendo o filme em questão. Já estou ficando impaciente e com
fome, vou esperar mais dez minutos, se ele não aparecer seguirei
meus planos sozinha.

Escuto o bip do meu celular, abro e é uma mensagem do


Rhuan.
Rhuan Guilherme: Abre a porta! Estou aqui fora.

Termino de ler a curta mensagem e meu coração reage de


imediato, as batidas começam a ficar frenéticas e o sinto querer sair
pela boca. Eu não sabia o significado de borboletas no estômago
até conhecer o Rhuan.

Confiro minha aparência, passo a mão no cabelo e sigo até a


porta. Dou de cara com o homem que vem habitando meus
pensamentos, ele está com uma calça jeans e camisa social
dobrada até os cotovelos. Seus cabelos estão devidamente
arrumados, seu rosto que antes era lisinho está coberto por uma
barba. Confesso que gostei desse novo Rhuan, mais lindo e
enigmático.

— Desculpa a demora, mas percebi que precisava passar em


casa e tomar um banho. Trouxe isso aqui para você — diz, me
entregando uma caixa de bombons.

— Só vou te desculpar porque me trouxe chocolate e eu amo


chocolate.

O cumprimento com um beijo no rosto, quase perto da boca.


Rhuan parece não ter gostado, pois me segura pela cintura,
cola meu corpo ao seu e beija meus lábios, me deixando sem
reação por alguns minutos. Suas mãos me seguram firmemente e já
recuperada retribuo o beijo com toda intensidade do momento. Ele
suga minha língua e mordisca meu lábio inferior por algumas vezes,

deixando a atmosfera mais quente.

— Isso sim é um cumprimento a nossa altura — fala depois de


encerrar o beijo, sua respiração entrecortada, o que não deve ser
diferente da minha.

Ele entra e fecha a porta atrás de si, mas levo alguns minutos
para me recuperar. Confesso que fiquei sem fôlego com esse beijo.

— A pizza já deve ter esfriado, se eu soubesse que você


demoraria teria pedido para entregarem depois.

Sento-me no sofá e ele me acompanha, sentando-se ao meu


lado.

— Não me importo com isso, a verdade é que estou morrendo


de fome e isso é o de menos. — Não sei se é coisa da minha
cabeça, mas acho que não se referia apenas à comida.

— Que bom, porque compartilho do mesmo sentimento.


Nos olhamos fixamente, Rhuan tem um olhar que me deixa
encantada e fascinada. Esse homem tem muito o que mostrar, já

admiro o pouco que sei sobre ele. Apesar dos milhões na conta, ele
não parece em nada com esses riquinhos tirados a fodão. Rhuan
coloca a mão na massa em sua empresa, mesmo podendo delegar
para os outros funcionários.

— O que tanto se passa nessa sua cabecinha? — pergunta,


passando a ponta dos dedos carinhosamente em meu rosto.

— Estou pensando no que um homem como você faz na


minha humilde casa.

— O que quer dizer com um homem como eu? Se isso for pelo
fato de eu ter dinheiro, saiba que acho isso uma idiotice. Dinheiro
não me faz melhor que ninguém, troco qualquer jantar em um
restaurante chique por mais momentos como esse.

— O que foi que você viu em mim, Rhuan?

Essa é a pergunta que há muito tempo eu quero fazer. Na


inauguração vi diversas mulheres lindíssimas e bem arrumadas,
elas não esconderam o interesse nele.

— Você é linda, mas não me refiro apenas à beleza exterior.


Quando você estava chegando no restaurante do Fabricio eu me
encantei de cara, confesso que senti um enorme desejo de saber
pelo menos o seu nome. Essa foi a primeira coisa que perguntei à
recepcionista, porém, ela não sabia. — Sorrio com essa informação
nova. — Não sei explicar bem, mas desde o começo meu coração
bate mais forte quando te vejo. Não teve nada mais delicioso que
sentir seus lábios. Se você me perguntar o que tudo isso significa,
infelizmente não terei essa resposta agora.

— Você sabe que acabei de sair de um relacionamento,


também sabe de tudo que está acontecendo na minha vida. Mas
quando estou ao seu lado as coisas parecem funcionar melhor para
mim. Todos os dias minha irmã e o Carlos atormentavam minha
mente. — Seu rosto se contorce em uma careta. — Por mais que eu

tentasse pensar em algo diferente, eu não conseguia. A partir do


momento que decidi recomeçar, meus pensamentos diários são
habitados por você, Rhuan.

— Sei que tudo é muito novo e ainda temos muitas coisas para
resolver. Mas eu gostaria que você me desse uma chance, Jade.

Olho para ele confusa, pois eu pensei que já estivéssemos nos


dando uma chance.
Ele levanta do sofá e me puxa com ele, segura em minha
cintura e diz:

— Sei que você merece um pedido decente, mas confesso que


não consegui pensar em nada. — Sorri alegremente. — Jade, você
aceita namorar comigo?

Confesso que não estava esperando por um convite, ainda


mais sendo um pedido de namoro. Rhuan me encara com os olhos
esperançosos, me fazendo não ter dúvidas da minha resposta. Sei
que é tudo muito recente, mas não posso perder a chance de
recomeçar, e eu não poderia escolher um homem melhor.

— Se você precisa de um tempo para pensar, pode ficar


tranquila que eu saberei esperar...

— Não preciso de tempo, é claro que aceito namorar com um


homem maravilhoso como você, Rhuan. — Circulo meus braços em
seu pescoço e o beijo, sentindo cada pedacinho de sua boca
deliciosa. — Terá alguns momentos que surtarei, mas nada que um
bom chocolate não resolva.

— Sabia que tinha escolhido a mulher certa. — Deixa alguns


beijos por todo meu rosto. — Agora vamos comer, estou morrendo
de fome.
— Engraçado como conseguiu mudar o clima rapidamente,
Rhuan.

Sorrio, achando graça da sua mudança de assunto repentina.

— A fome faz essas coisas comigo. Vá se acostumando,


namorada.

Namorada.

Uma palavra simples, mas que tem um grande significado.


Rhuan será minha chance de recomeçar, e eu agarrarei com unhas
e dentes.

Começamos a comer a pizza, que nesse momento não está


mais fria e sim gelada. Terminamos de comer em um tempo recorde,
logo em seguida Rhuan retira os sapatos e deita-se no sofá, me
puxando para seus braços. E aqui, sentindo as batidas frenéticas do
seu coração, me sinto bem, como há muito tempo não sentia.
Capítulo Dezesseis

Jade

Hoje estou completando três meses de namoro, posso afirmar


com todas as letras que foram os melhores da minha vida. Rhuan é
um homem completamente maravilhoso, nos falamos quase todos
os dias e nos vemos aos fins de semana. Depois da inauguração
minha lista de clientes praticamente quintuplicou, então quase toda
noite estou em um evento diferente.

Depois dos últimos acontecimentos da minha vida, pensei que

não teria a oportunidade de ser feliz novamente, mas a vida sempre


nos surpreende. Combinamos de sair hoje à noite, e quando digo
combinamos é porque será uma saída em grupo. Nossos
namorados e minhas amigas. Sim, não sei o que está acontecendo,
pelo visto todas estão desencalhando.
Preparei toda minha agenda para que nada me atrapalhasse
hoje. Rhuan vai direto da empresa, por isso me mandou uma
mensagem avisando que não conseguiria me pegar. Como não

poderia ser diferente, iremos ao restaurante do Fabricio, que acabou


virando o point do pessoal.

Levei quase uma hora procurando a roupa perfeita, quando


meu celular sinaliza uma mensagem no meu grupo com as meninas.

Camila: Eu ainda acho que vocês deveriam sair para jantar


sozinhos, precisam de uma comemoração mais íntima.

Lorena: Quem te garante que depois eles não vão


comemorar? A noite é uma criança, Camila.

Jade: Não se preocupe, Camila. Se sua preocupação é ser


uma empata foda, pode ficar tranquila que isso não vai acontecer
hahahahaha. Vamos jantar com vocês e depois o Rhuan disse que
tem uma surpresa para mim.

Camila: Agora sim. Quero te encontrar no outro dia toda


dolorida. Porque a gente sabe que a noite foi boa quando nem
conseguimos andar direito hahahaha.
Jade: Não sei por que ainda te dou ouvidos, sua maluca. Vou
terminar de me arrumar, nos encontramos no restaurante.

Em um tempo recorde termino de me arrumar. Optei por um


vestido ligado no corpo que fica na altura do joelho. Ele é vermelho
vinho e tem um decote generoso. Não sou muito fã de maquiagem,

então passei apenas um batom e marquei um pouco os olhos. Meus


cabelos estão soltos e rebeldes, do jeito que eu gosto. As meninas
me mandaram mensagem avisando que já estavam a caminho,
assim como o Rhuan Guilherme. Eu não queria, mas vou acabar me
atrasando.

Pego minha bolsa e corro para o Uber, que já está a minha


espera. Tem muito tempo que eu não sinto essa felicidade, e posso
afirmar que boa parte dela é culpa do Rhuan, que é um homem
extremamente apaixonante. A coisa mais fácil foi eu me apaixonar
por ele e posso dizer que eu amo esse homem. Pode parecer cedo,
mas ele me conquista um pouquinho mais a cada dia.

Ainda não disse para ele os meus sentimentos, na verdade,


nem as minhas amigas sabem sobre isso. Achei que seria uma boa
ideia fazer isso hoje, não tem motivos para ficar adiando. Eu amo o
Rhuan e isso não posso negar.

No caminho até o restaurante acabo lembrando da minha irmã.


Ela não tentou nenhum tipo de contato comigo e a polícia não tem
rastros deles. Queria entender como uma pessoa pode sumir desse
jeito, assim como esses dois desapareceram. Como meu namoro
com o Rhuan veio a público, pensei que a mídia fosse descobrir
minha relação com a Luc, mas graças a Deus isso não aconteceu.
Tenho certeza de que isso atrapalharia minha vida, e mais uma vez
eu sofreria as consequências pelos erros dos outros.

Pago a corrida e entro no restaurante, cumprimento a Debora


e ela me indica onde o pessoal está. De longe consigo ouvir a risada
escandalosa da Camila, minha amiga é espalhafatosa e mostra
quando está nos lugares. Todos conversam animadamente e
rapidamente vejo o dono do sorriso que tanto amo, Rhuan
Guilherme.

— Oi, povo — digo, me aproximando da mesa e chamando


atenção de todos.

— Oi, amor — Rhuan fala, parando a minha frente e beijando


meus lábios. — Você está lindíssima, como sempre.
— Desculpa a demora. Acabei me atrasando, pra variar.

Sorrio, porque por mais que eu tente, sempre acabo chegando


atrasada nos lugares.

Cumprimento todas as minhas amigas, o Fabricio, e sento-me


ao lado do Rhuan. O garçom traz uma nova rodada de bebidas,
conversamos durante toda a noite e Rhuan não tira as mãos da
minha coxa. Tento a todo tempo prestar atenção na conversa, mas
fica difícil com o perfume do Rhuan invadindo as minhas narinas.

— Eu gosto de ficar com os nossos amigos, mas não vejo a


hora de ficar sozinho com você — Rhuan diz, próximo ao meu
ouvido.

Meu corpo reage instantaneamente a sua voz, causando


ondas de calor em minha pele.

— Estou ansiosa para nossa noite. Quero saber o que o


senhor preparou para mim.

— O que você acha de a gente sumir por alguns minutos?


Estou ansioso para beijá-la de verdade.

Não digo uma palavra, apenas pego minha bolsa, peço licença
e sigo para o banheiro. Sei que as meninas logo vão perceber nossa
jogada, mas não posso negar que estou louca de vontade de beijá-
lo. Esse homem me deixou completamente viciada nele.

Caminho e paro no mesmo local que nos beijamos pela

primeira vez.

— Você não imagina o quanto eu estava me controlando. Fica


difícil manter a concentração com você ao lado, Jade.

Rhuan diz, parando em minha frente e segurando-me pela


cintura. Ele me prensa na parede, beijando meu pescoço logo em
seguida. Suas mãos passeiam por minhas costas e o arrepio é

inevitável. Colo nossos lábios em um beijo delicado e cheio de


sentimentos, Rhuan começa a explorar cada pedacinho do meu
corpo e o beijo que antes era delicado, se transforma em uma
avalanche de desejo.

Quando estamos ficando sem fôlego, nos separamos.

— Vamos embora daqui? — sugiro ao mesmo tento que tenta


controlar sua respiração.

— O que vamos dizer para os nossos amigos?

— Nada. A gente manda uma mensagem e pronto. E aí, topa?


— pergunta, me olhando esperançoso.

— Sim, vamos logo.


Sorrio, sentindo a adrenalina correr por meu corpo. Essa noite
tem tudo para ser perfeita e eu aproveitarei cada segundo ao lado
do Rhuan.
Capítulo Dezessete

Rhuan Guilherme

Preparei tudo para que nossa noite fosse especial, Deixei as


coisas arrumadas antes de sair para o restaurante e só consigo
pensar na reação da Jade assim que chegarmos em casa.

Mando uma mensagem para o Fabricio, pedindo que avise aos


demais que fomos embora. Eu amo passar um tempo com todos,
mas tudo que eu mais penso é em tirar esse vestido da Jade e
beijar cada pedacinho do corpo dela.

Em tempo recorde chegamos ao meu apartamento e palavras


não são necessárias nesse momento. A viagem foi feita em silêncio,
mas em um silêncio agradável.

Seguro em suas mãos e caminhamos para o elevador,


confesso que se não tivesse outras pessoas eu lhe atiraria nessa
parede e a beijaria sem pensar duas vezes. Depois do que parece
uma eternidade, chegamos no meu andar, abro a porta e deixo
propositalmente a luz apagada, permitindo que o ambiente seja
iluminado pelo lustre. Puxo-a pelo braço, colando nossos corpos,
beijando logo em seguida seus lábios deliciosos. Nunca pensei que
fosse ficar tão viciado em uma mulher como sou na Jade.

Eu amo essa mulher, não me vejo com outra pessoa além


dela. Tudo na Jade me encanta, seu lindo sorriso, seu rosto de
menina e seu jeito moleca. Amo o quanto ela é batalhadora e não
deixa que a vida a derrube, mesmo depois de muitas situações para
isso.

Ela se entrega completamente ao momento, me deixando


desfrutar de seus lábios macios e deliciosos. Coloco a mão por
baixo de seu vestido, sentindo o calor de sua pele. Jade solta um
pequeno gemido entre o beijo, me deixando completamente maluco.
Com muito custo nos afastamos, seguro em sua mão e caminhamos
para o quarto, onde preparo uma pequena surpresa. Acendo a luz e
deixo que ela veja com seus próprios olhos.

— Que lindo, Rhuan. Você que preparou tudo isso? —

pergunta depois de ver o quarto coberto de pétalas de rosas


vermelhas e velas, além de uma pequena cesta com frutas, queijos
e um vinho.
— Pensei que essa data merecia uma comemoração especial,
então achei que seria uma boa ideia te surpreender.

— Acertou em cheio. Não tenho palavras para expressar o que


estou sentindo nesse momento. — Circula os braços em meu
pescoço, beijando meus lábios. — Eu te amo, Rhuan.

Ela diz, olhando fixamente em meus olhos. Quando digo que


essa mulher tem o dom de me surpreender... Pensei que seria o
primeiro a admitir que a amava, mas me enganei mais uma vez.

— Você é a mulher que eu tanto esperei, Jade. — Beijo a


ponta do seu nariz. — Eu te amo como nunca pensei que fosse
amar alguém.

— Obrigada por me ajudar a recomeçar... obrigada por ser


você, Rhuan.

Não digo uma palavra. Só colo nossos lábios em um beijo


quente e carregado de sentimentos. Sugo sua língua lentamente,
deixando em seguida pequenas mordidas em seu lábio inferior.
Essa mulher me deixa completamente maluco, e se eu não entrar
nela nos próximos minutos, irei enlouquecer de vez.

Nossas roupas começam a voar pelo quarto e admiro a


belíssima mulher a minha frente. Jade é tão linda, delicada e
perfeita... perfeita para mim.

Suas mãos vão para o meu cabelo e ela me puxa em sua


direção, beijando meu pescoço logo em seguida. Vejo o desejo
estampado em seu olhar, tenho certeza de que comigo não está

nada diferente. A pego nos braços, depositando seu corpo sobre a


cama. Paro por uns minutos, apenas admirando-a.

— Você sabe que fico com vergonha quando me olha assim,


Rhuan — diz, tentando cobrir sua nudez.

— Já te falei que não vejo motivos para isso. Você é tão linda
que seria um pecado não te admirar — digo, deitando ao seu lado.

Beijo seus lábios, sentindo o quanto Jade está entregue a mim.


Acho que se tem uma coisa que nunca enjoarei, é do corpo da
minha Jade. Ouvir seus gemidos de prazer não tem preço, assim
como sentir suas unhas fincarem em meu corpo.

No quarto os únicos ruídos que podem ser ouvidos é o de


nossa respiração acelerada, e do choque de nossos corpos em
busca do prazer. Nos entregamos ao momento até que atingimos a

libertação do prazer. Jade deita a cabeça em meu peito e sei que é


possível ouvir as batidas frenéticas do meu coração.
Quando estou com ela, esqueço completamente dos
problemas, até mesmo que sua irmã roubou outra carga. Tem uma
semana que isso aconteceu, mas sei que ela sofrerá com mais essa
decepção e não quero que ela perca o brilho no olhar por culpa das
escolhas dos outros.

— Eu te amo, Rhuan. Agradeço a Deus por você ter aparecido


em minha vida. — Beija o canto da minha boca.

— Eu também te amo, linda Jade.

Jade apareceu no melhor momento da minha vida e de uma


coisa eu tenho certeza, sou capaz de fazer tudo por essa mulher e
não deixarei que ela sofra mais uma vez por causa da irmã.
Capítulo Dezoito

Jade

Daria tudo para estar na minha cama agora, mas infelizmente


o dever me chama. Depois de passar um fim de semana
maravilhoso com o Rhuan, tive que viajar para Fortaleza a trabalho.
Por conta da visibilidade do evento da RGA, fechei muitos contratos
para fora de São Paulo, então não posso reclamar de nada. São
duas da tarde e estou de pé desde às seis da manhã, porém, posso
respirar aliviada já que todo o cardápio está pronto.

Mando uma mensagem para o Rhuan e não obtenho resposta,


provavelmente está enfiado no escritório com alguma reunião, e
nesses momentos ele evita olhar para o celular.

O evento que viemos fazer é a inauguração de um centro


comercial, pelo tamanho do espaço o aluguel de uma loja aqui deve
custar um rim, coisa que eu não posso pagar nem em sonho.
Algumas pessoas me cumprimentam, dizem que ouviram falar
maravilhas sobre a minha cozinha e estão ansiosas para
experimentar as variedades. Teve um momento da minha vida que
deixei o meu sonho de abrir um restaurante de lado, mas agora que
minha vida entrou novamente nos trilhos, essa ideia voltou a rondar
minha mente e dessa vez irei investir na possibilidade.

O lugar está repleto de pessoas que esbanjam dinheiro, o que


leva meu pensamento para o meu Rhuan. Apesar da conta bancária
recheada, ele é uma das pessoas mais humildes que já conheci.
Quem não associa o nome, não faz ideia de que ele seja o CEO da
RGA. Isso é uma das coisas que mais admiro nele. Não posso
esquecer que batalhou muito para chegar onde chegou, não é todo

mundo que consegue sair do Nordeste e conquistar um império em


uma cidade como São Paulo.

Estou ansiosa para conhecer meus sogros, tive a oportunidade


de falar com eles por telefone e foram tão amorosos que por um
momento fui transportada para os dias em que passava com a
minha vozinha. Estamos nos programando para uma viagem no
próximo mês, com isso precisei modificar toda minha agenda. E
apesar das reclamações, optei por não fechar nenhum contrato.
— Perdida em seus pensamentos, moça? — um homem alto e
barbudo diz, me trazendo de volta para a realidade.

Tem dias que fico tão concentrada em meus pensamentos que


perco a noção das coisas que estão ao meu redor.

— Desculpe, estava bem longe daqui. — Sorrio, sendo


simpática com o desconhecido.

— Você é a chef, não é mesmo?

— Sou eu mesma. Jade Oliveira, muito prazer.

Estendo minha mão em um cumprimento, ele demora um


pouco a retribuir, mas leva minha mão aos lábios e beija.

— Leonardo Duarte — diz, ainda segurando minha mão. —


Pode apostar que o prazer é todo meu. — Ele me olha de cima
abaixo, deixando-me completamente desconfortável. — Tive o

prazer de degustar do menu, realmente você está de parabéns, tudo


estava extremamente delicioso.

— Obrigada. Fico feliz que tenha gostado.

Tenho o hábito de tratar todo mundo como possível cliente,


mas percebo quando um homem quer apenas dar em cima de mim,
e esse Leonardo não sabe, ou não faz questão de disfarçar.

— Tenho muito trabalho a fazer, com licença.


Dou apenas dois passos antes de ele me segurar pelo braço.

— Pode me dar o seu cartão? Tenho um evento em São Paulo


e gostaria de contratar seus serviços.

Puxo meu braço, fazendo questão de lhe mostrar que não


gostei do contato.

— Infelizmente minha agenda está completa até o final do ano.


Fica para uma próxima, senhor Leonardo.

Retorno para a cozinha e fico lá até o fim do evento. Conheço


bem o tipo do Leonardo, e quanto mais longe eu ficar, melhor para
mim.

A inauguração foi um verdadeiro sucesso, com isso acabei


sendo convencida por meus companheiros de equipe a comemorar,
então vamos a uma balada no centro da cidade.

Termino de me arrumar, pego o celular e disco o número do


Rhuan, que atende no segundo toque.

— Pensei que não queria falar comigo — digo, brincando um


pouco.

— Oi, meu amor. — Ouvir sua voz é tão bom. Melhora meu
humor em questão de segundos. — Meu dia foi uma loucura, tive
três reuniões e todas foram maçantes.
— Imaginei que fosse isso.

— Mas e você, como foi o evento?

— Foi maravilhoso! Ainda fico surpresa com o tanto de elogios


que recebo. Acho que perdi a conta de quantos cartões de visita
entreguei. Pelo andar da carruagem minha agenda do ano vai lotar.

— Isso me deixa muito feliz. Você merece colher os frutos do


seu trabalho. — Tem algo de estranho em sua voz, só não sei dizer
o que é. — Vocês vão sair para conhecer a cidade?

— Sim, estou terminando de me arrumar, vamos para uma


boate no centro da cidade. Queria que você estivesse aqui...

— Não imagina como estou tentado a pegar um avião e te


encontrar, mas infelizmente tenho mais uma reunião hoje e amanhã
também. — Escuto seu suspiro e imagino como ele deve estar
cansado. — Preciso desligar, amor. Promete que me manda

mensagem quando chegar no hotel?

— Mando sim, pode deixar. Te amo.

— Também te amo, minha Jade.

Ele encerra a ligação e fico com um leve incômodo no coração.


Tenho certeza de que está acontecendo alguma coisa, mas se
conheço bem o Rhuan, ele não me dirá nada, principalmente por
telefone. Meu voo é amanhã à tarde, não vejo a hora de retornar
para casa.

Chegamos na boate, e como não poderia ser diferente, o local


está cheio, as pessoas dançam animadas ao ritmo de uma batida
eletrônica. Encostamos em um canto e pedimos nossas bebidas.
Não estou afim de me embriagar, então pegarei leve hoje.

As horas vão passando e posso dizer que sou a única sóbria


do meu grupo. Pedimos a conta e enquanto chamam um taxi, aviso
que irei rápido ao banheiro. Graças a Deus a fila não está muito
grande, assim não demoro tanto.

Estou passando por um corredor quando sinto um puxão em


meu braço.

— Ei, enlouqueceu? — Mesmo com a pouca iluminação,


reconheço o rosto do Leonardo.

— Surpresa maravilhosa encontrá-la por aqui, Jade — diz,


prendendo meu corpo ao dele. — Eu sabia que embaixo daquela
doma tinha uma mulher gostosa. Meu faro nunca erra.

— E meu faro para idiotas também não — retruco, tentando


me soltar de seus braços. — Acho bom me soltar, Leonardo.
— Isso não faz parte dos meus planos, mas se você me der
um beijo, prometo que solto. — Tenta me beijar, mas desvio

rapidamente.

— Não encosta essa boca suja em mim. — Acerto em cheio


uma joelhada nele, fazendo com que me solte e também urre de
dor. — Eu disse para me soltar! Da próxima vez não seja tão
inconveniente.

Deixo-o no chão e volto para os meus amigos. Graças a Deus


não terei o desprazer de encontrar com esse homem novamente.

Tanta mulher disponível por aí, não sei por que insistem em alguém
que não quer nada. Nesse momento, tudo que preciso é tomar um
banho e descansar.
Capítulo Dezenove

Rhuan Guilherme

Não gosto da ideia de esconder as coisas da Jade, mas não


poderia dizer que o motivo das reuniões era para discutirmos os
prejuízos de mais um roubo. Os ladrões são espertos, esperaram a
poeira baixar e roubaram novamente. O prejuízo estimado é de
duzentos mil reais, dessa vez a seguradora vai cobrir tudo, mas não

deixa de ser desgastante.

Sei que a Jade sofrerá mais uma vez com as consequências


dos erros dos outros, justamente agora que tudo está correndo
perfeitamente bem e ela está satisfeita com o caminho profissional
que está trilhando.

São dez da manhã e tudo que eu queria era ir para casa, mas

essa bendita reunião parece não ter fim. Jade chegará na parte da
tarde, espero conseguir pegá-la no aeroporto.
Acesso a internet e o primeiro link que aparece é de um site de
fofoca, um nome em especial me chama atenção. Jade Oliveira.
Movido pela curiosidade eu abro a matéria, dando de cara com a
Jade nos braços de um homem, e a matéria diz o seguinte:

“Jade Oliveira, namorada do CEO da RGA, é


vista nos braços de outro em Fortaleza. Pelo que
pudemos apurar, a morena estava na cidade a
trabalho, mas pelo visto resolveu esticar a noite,
digamos que até demais.”

Leio e releio várias vezes, tentando convencer meu cérebro de


que é isso mesmo que estou vendo. A foto não está tão nítida, o que
me deixa em dúvida do real contato deles. Coloco seu nome no
GOOGLE em busca de outras matérias, na verdade, na tentativa de
ver uma imagem de outro ângulo. Pelo visto todas são iguais e não
sei muito bem o que pensar. Ela me disse que iria para a boate e
não acredito que seja desse tipo. Não quando ela já foi vítima de
traição.
Pego meu celular e vejo uma mensagem do Fabricio
perguntando se estou bem, provavelmente ele deve ter visto a
mesma matéria que eu. Nunca gostei de tomar conclusões
precipitadas, eu já fui vítima da imprensa maldosa e conhecendo
bem a minha Jade, darei o benefício da dúvida.

Termino a reunião e sigo para o aeroporto, tentando convencer


a mim mesmo de que nada disso aconteceu. Provavelmente
ultrapassei uns três sinais vermelhos, tudo que eu preciso nesse
momento é ver a Jade e tirar minhas próprias conclusões.

A voz chata do aeroporto anuncia o pouso do voo da Jade,


respiro fundo e sigo para a área de desembarque, ansioso por sua
chegada. Minha assessoria de impressa pediu para divulgar uma
nota, mas mandei que aguardassem até a noite.

Daqui consigo avistar a Jade, seu semblante é sério, o que me


faz deduzir que ela também viu todas as matérias envolvendo seu
nome. À medida que ela vai se aproximando, as batidas do meu
coração ficam mais frenéticas. Acho que no fundo meu maior medo
é de que tenha sido verdade, não posso esquecer que nosso
relacionamento é recente, talvez ela tenha se sentido atraída por
aquele cara.
— Me diga que não acreditou nessas matérias mentirosas,
Rhuan. — Sua voz é baixa, demostrando claramente sua tristeza. —
Eu não te liguei porque sabia que o melhor era falar contigo
pessoalmente, para que você olhe em meus olhos e veja a verdade.

Fico calado, encarando a mulher a minha frente. Tudo que eu


precisava era olhar em seus olhos, e ter a certeza de que Jade não
seria capaz de me trair. O silêncio dura mais alguns minutos até que
a puxo para os meus braços e digo:

— Minha Jade, eu sabia que ao olhar em seus olhos teria


minha resposta. — Beijo seus lábios, matando um pouco da
saudade da minha mulher.

— Fiquei com medo de que acreditasse nessas mentiras. —


Ela limpa as lágrimas que molham seu rosto. — Até tentei adiantar o
meu voo, mas todos estavam cheios. Ontem no evento eu encontrei
com um idiota que deu em cima de mim, à noite tive o desprazer de
encontrá-lo novamente, ele me segurou pelo braço e tentou me
beijar.

Um ódio instantâneo toma conta de mim. Não quero acreditar


que o idiota teve a audácia de encostar a mão na minha mulher.
— Eu me desvencilhei, dei uma joelhada nele e fui embora.
Hora nenhuma eu dei abertura, mas ele foi um completo imbecil...

— Não se preocupe, meu amor. Eu conheço a mulher que amo


e sei que você não faria uma coisa dessas. — Puxo seu corpo para
um forte abraço. Sabia que tinha uma explicação, ainda bem que
não tomei nenhuma decisão precipitada. — Eu só queria ter a
chance de encontrar com esse idiota. Ensinaria uma boa lição a ele
e aprenderia a não mexer com a mulher dos outros.

— Eu te amo, sabia?!

— Claro que sim. Sou um homem completamente amável. —


Sorrio, feliz com o clima mais leve.

— Ah, como é convencido esse meu namorado.

Pegamos suas malas e seguimos para o meu carro. Assim que


eu chegar em casa mandarei soltar uma nota para a imprensa, e se
eles ousarem tocar novamente nesse assunto, não pensarei duas
vezes antes de acionar meus advogados.

Já passamos por esse pequeno momento conturbado, isso me


fez enxergar que preciso contar sobre o assalto, não quero que ela
saiba pela imprensa. Pedimos para que segurassem a matéria com
a promessa de uma coletiva, por isso tenho pouco tempo para
conversar com a minha Jade. Sei que será uma decepção, mas é o
melhor para ela.
Capítulo Vinte

Rhuan Guilherme

Tudo que eu queria era matar a saudade da minha Jade,


justamente por isso não consegui contar sobre o assalto. Sei que

tenho que fazer isso, mas sempre acabo deixando para segundo
plano.

Escuto batidas na porta e minha secretária avisa que o


Fabrício está chegando. Hoje, infelizmente, é um daqueles dias
onde fico cheio de trabalho e assuntos importantes para resolver.
Estamos negociando com uma empresa internacional de grande
porte, eles têm interesse em levar nossos produtos para a Itália,
então são dias e mais dias de reunião, fora o assunto das cargas
roubadas — que não contei a Jade, diga-se de passagem.

— E aí, cara?! — Fabrício me cumprimenta assim que entra na


minha sala. — Estava passando aqui perto, resolvi fazer uma
visitinha ao meu amigo.

— Desembucha logo, Fabrício.

Ele nunca foi de fazer visitas de momento, então aposto que


tem alguma coisa acontecendo, ou ele precisa de algum favor.

— O que te faz pensar que quero alguma coisa? — pergunta,


desconfiado.

— O fato de te conhecer muito bem, então desembucha logo.

Sorri, concordando com o que eu disse. Se tem uma pessoa


que conhece bem o Fabrício, essa pessoa sou eu, assim como ele
me conhece bem.

— Qual foi a reação da Jade ao saber do roubo?

— Ainda não encontrei o momento propício para contar.

— Então acho bom você contar, de preferência agora. — O


encaro sem entender bem o assunto. — Não viu os jornais, não é
mesmo?

— Não me diga que...

— Sim, a notícia do roubo está em todos os lugares. E


conhecendo bem você, tinha certeza de que não contou nada para
ela. — Caminha até o minibar e serve-se de uma dose de whisky. —
Estava com a Lorena quando vimos. Conversamos e ela vai pedir
para que as amigas não falem nada. Então acho bom correr pra
casa dela.

Inferno!

Eu deveria saber que não conseguiríamos segurar a imprensa


por muito tempo e tenho certeza de que a Jade gostaria de saber
por mim. Não dá para acreditar, estamos indo tão bem, não é
possível que mais uma vez a Luciana estrague a vida da minha
mulher.

Deixo Fabricio no meu escritório e acredito que tenha


ultrapassado uns três sinais vermelhos. Não vai demorar para que
as multas cheguem no meu apartamento. Enviei uma mensagem,
porém não obtive retorno da Jade. Não sei explicar, mas estou com
um péssimo pressentimento em relação a essa história.

Bato várias vezes na porta dela, mas nenhum sinal de


aparecer. Falo com alguns vizinhos e eles garantem que ela saiu
com uma bolsa grande. Mando diversas mensagens que nem
chegam ao seu destino, acho que ela desligou o celular. Não posso
acreditar que cheguei tarde, eu deveria ter falado antes, certamente
evitaria essa situação.
Saco o celular e disco o número da Lorena, aposto que ela
deve saber algo da minha Jade.

— Me diga que ela está com você — digo assim que ela
atende.

— Sinto muito, Rhuan, ela apenas me mandou uma


mensagem dizendo que precisava esfriar a cabeça. — Seu tom de
voz é baixo, evidenciando sua tristeza.

— Tudo isso por conta da Luciana?

Sei que é uma história chata e complicada ao mesmo tempo,


mas ela poderia ao menos ter me enviado uma mensagem. Acho
que eu merecia um pouco mais de consideração da parte da Jade.

— Não foi só por conta do roubo. Alguns sites descobriram a


ligação delas, então você já pode imaginar as barbaridades que
falaram sobre ela. — Droga! A cereja que faltava para completar o
bolo. — Vou te mandar alguns links, leia e tire suas próprias
conclusões.

Ela desliga e em segundos recebo sua mensagem. Abro o


primeiro link e fico com raiva só de ler o título.
Jade Oliveira, a mente por trás dos grandes
roubos a RGA Cosméticos.
Isso mesmo que vocês leram, meus companheiros.
Nossas fontes descobriram que a primeira dama da RGA é nada
mais, nada menos, que irmã e ex-noiva do casal de assaltantes.
Ainda não se sabe como tudo começou, mas tudo indica que
seu papel nisso tudo era distrair o bonitão do Rhuan Guilherme
(digamos que ela pegou a melhor parte. Quem não gostaria de
tirar uma casquinha desse homem?).

Primeiro ela foi vista aos beijos em uma balada de


Fortaleza, agora esse babado do tamanho do Titanic. Eu não sei
vocês, mas com tanta mulher honesta nesse mundo, difícil
acreditar que o todo poderoso caiu nesse golpe antigo.

Leio tudo enojado, não dá pra acreditar na cara de pau desse


pessoal. Como podem escrever uma matéria tão tendenciosa? Será
que não pensam na pessoa que está sendo acusada injustamente?

Nunca passou essa possibilidade pela minha cabeça. Esses


meses que passei ao lado da Jade foram os melhores da minha
vida. Posso garantir que não era fingimento. Agora consigo imaginar
o que a fez sair às pressas, aposto que deve estar se culpando por
tudo, como se ela tivesse algo a ver com os erros da irmã.

Agora, mais do que nunca, preciso encontrá-la. Mas antes


tentarei fazer com que tirem essas mentiras do site.

Minha Jade,

Sei que essa história caiu como uma bomba


em seus braços. Eu a conheço bem, não se
preocupe porque não acreditei nessas palavras
tendenciosas.

Por hoje deixarei você sozinha, mas saiba que


não desistirei de você.

Te amo, Rhuan G.

Entro no carro e retorno para a empresa. Se tem uma coisa


que me orgulho é do setor jurídico. Tenho certeza de que eles vão
saber como agir, o que não pode é esses jornais continuarem
postando besteira, já basta o episódio do suposto beijo em
Fortaleza.

Não sou um moleque, muito menos costumo viver em um


conto de fadas. Nunca fui de me deixar levar pelos outros, não será
agora depois de adulto que isso vai acontecer. Amo a Jade e desistir
está fora de cogitação. Irei atrás dela seja onde for, mesmo que para
isso eu precise ir até o outro lado do mundo. É minha mulher e
ninguém mexe com os meus.
Capítulo Vinte e Um

Rhuan Guilherme

Um mês... um maldito mês que minha Jade foi embora. Não


tem um só dia em que não mande uma mensagem para ela, mas
em nenhuma delas obtenho respostas. No começo pensei que se
tratava de dias, que no fundo ela só precisa esfriar a cabeça.
Porém, o tempo foi passando, passando, e nem sinal dela.

Suas amigas me dão notícias, já que elas mantêm contato


quase que diariamente com a Jade. Pelo visto é so a mim que ela
não quer ver.

Quero entender, já até tentei me colocar no lugar dela, mas


não vejo um motivo válido para ela ter ido embora desse jeito.
Sempre fiz questão de mostrar que não ligava para sites de fofoca,
muito menos me importava com a ligação dela com a irmã. Muito
me admira essa atitude da Jade, pensei que ela me amava, mas
agora não acredito que esse amor tenha força suficiente.

Estou tentando retornar à rotina da minha vida, amo a Jade, no


entanto não posso deixar minha vida passar diante dos meus olhos.
Se ela quiser aparecer e conversar, estarei aqui de braços abertos,
pronto e ansioso para ouvi-la e enxugar suas lágrimas se for
necessário.

Às vezes me surpreendo com o amor que sinto por ela, Jade é


tão apaixonante que a coisa mais fácil da vida foi ter me apaixonado
por ela. Eu só queria que ela me amasse com a mesma intensidade.
Se isso acontecesse ela não teria ido embora.

Me forço a parar de pensar nisso. Nesse fim de semana irei


viajar para o exterior, vamos finalmente fechar acordo com a
multinacional, por isso tentarei ao máximo me esforçar e parar de
pensar na Jade, pelo menos enquanto eu estiver na empresa.

As horas vão passando e graças a Deus consigo resolver tudo.


Agora posso ir pra casa tranquilamente. Despeço-me dos
funcionários e entro no meu carro, seguindo para o restaurante do
Fabricio. Preciso distrair um pouco a mente e tenho certeza de que

meu amigo vai me ajudar.


Não demoro muito para chegar, estaciono o carro e entro,
cumprimentando a Deb logo em seguida. Ela me indica uma mesa

em um local discreto, chamo o garçom e peço uma cerveja.

De longe avisto o meu amigo conversando com alguns


clientes. Ele percebe minha presença e caminha em minha direção.

— E aí, amigo?! Ainda bem que resolveu sair um pouco


daquela empresa. Pensei que você quisesse fazer parte dos móveis
— diz, divertido como sempre.

— Nunca é tarde para recomeçar, não é mesmo? — Dou um


fraco sorriso, pois estou tentando convencer a mim mesmo que o
melhor é começar de novo.

— Jade ainda não deu sinal de vida?

— Não, e acredito que não vá fazer. Ela tomou a decisão dela,


o mínimo que posso fazer é aceitar.

— E você vai desistir dela assim tão fácil?

— Não estou desistindo de ninguém, apenas seguindo uma


vontade dela. Não teve um único dia que não mandei uma
mensagem, e todas foram devidamente ignoradas. — Tomo toda
cerveja de uma só vez. — Eu pensei que tivéssemos uma relação
sólida, mas me enganei feio, meu amigo. Eu só queria que ela me
enviasse uma única mensagem. Só isso e nada mais.

— Talvez não esteja sendo fácil para ela. Sabemos que essa
história da irmã mexe muito com a Jade.

— Não estou pedindo para que ela apareça, até porque, sei

que a imprensa pode ficar no pé dela. Eu só queria que ela me


mandasse uma mensagem, pelo menos para dizer que está bem,
mesmo que seja para me dar um pé na bunda.

— Realmente não sei o que dizer...

— Não precisa dizer nada, vim aqui para espairecer a mente,


não ficar falando da Jade — digo, nervoso. Essa conversa está me

deixando com mais raiva.

— Tudo bem, vamos falar sobre outra coisa.

E assim mudamos de assunto. Falar sobre isso me deixa


extremamente chateado. Se eu soubesse onde a Jade está, não
pensaria duas vezes antes de ir ao seu encontro. Essa falta de
informações me deixa louco. Não queria ter que admitir, mas
entendo todo esse silêncio como um término e me dói ela não ter

me dito isso.
Tomo mais algumas cervejas e, mesmo não estando bêbado,
opto por chamar um Uber. Bebida e direção são coisas que não
combinam, e não quero arriscar a minha vida.

Em meia-hora chego ao meu apartamento e o porteiro me


entrega uma encomenda, dizendo que deixaram no período da
tarde. Entro em casa e abro a caixa pequena, dando de cara com o
colar de ouro que dei a Jade, acompanhado de uma espécie de
carta.

Ei, Rhuan.

Desde já gostaria de pedir desculpas, sei que


minha atitude não foi louvável, mas se tornou
necessária. Quando vi aquelas matérias mentirosas,
confesso que uma tristeza se instaurou de imediato
em meu peito. Em questão de minutos meu telefone
não parava de tocar e minha caixa de e-mail lotou.

Infelizmente, me vi obrigada a ir embora. A


princípio seriam só alguns dias, mas resolvi que o
melhor era me afastar. Não quero sujar sua imagem,
e ficando ao meu lado era isso que aconteceria.

Recebi uma proposta de trabalho no exterior,


então decidi que essa seria a melhor coisa a se
fazer.

Mais uma vez, desculpa por tudo. Eu te amo e


espero do fundo do meu coração que você seja feliz.
Não vou pedir para que me espere, pois não sei
quando voltarei para o Brasil. Esse colar você me
deu quando completamos dois meses de namoro,
ele agora é seu.

Não imagina como está sendo difícil escrever


essas palavras, me admira eu conseguir escrever
tudo corretamente, já que meus olhos estão
embaçados por conta das lágrimas.
Não vou me estender muito e encerro essa
carta com o coração apertado, mas confiante de que
você vai encontrar uma mulher que te mereça.

Adeus, sua Jade!

Leio e releio várias vezes, tentando me convencer de que


essas palavras são reais e não fruto do álcool no meu sangue. Não
posso acreditar que Jade está me punindo pelo erro dos outros. Não
quero crer que ela resolveu que o melhor era se afastar. Eu tanto
pedi por um contato seu, mas agora me amaldiçoo por ter que me
despedir dessa forma. Como ela pode decidir assim o que é melhor
para mim?

Não me importo com a merda da minha imagem desde que eu


tenha a Jade ao meu lado. Ela mandou uma carta, mas por que não
tem coragem de falar essas coisas olhando em meus olhos? Eu a
faria mudar de ideia.

Eu queria uma resposta, mas não tenho a menor intenção de


aceitar essa. Nos amamos e não deixarei que o erro dos outros nos
atrapalhe. O primeiro passo é conseguir prender os assaltantes,
depois irei atrás da minha Jade.
Capítulo Vinte e Dois

Jade

Eu queria dizer que estou bem, que minha vida está entrando
nos trilhos, mas eu seria uma grande mentirosa. Pensei que seria
mais fácil recomeçar, mas o Rhuan habita diariamente meus
pensamentos, tornando tudo impossível. Quando eu vi aquelas
matérias sobre mim, uma dor absurda tomou conta do meu coração.
Custei a acreditar que tudo aquilo estava acontecendo. Eu sabia
que uma hora iriam descobrir minha ligação com a Luciana, só não
pensei que fossem inventar tantas mentiras absurdas.

Recebi várias propostas para trabalhar fora do Brasil, mas


como eu estava namorando o Rhuan, neguei todas. Não sei dizer se
foi Deus, só que uns dias depois recebi uma nova proposta, foi
quando decidi que o melhor era me afastar.
Rhuan é um homem bom, sua imagem impecável é o que ele
mais luta para manter. Como eu poderia continuar ao seu lado,
sabendo que tudo iria por água abaixo por minha culpa?

Minhas amigas não concordaram com minha decisão, mas ela


já estava tomada e só uma pessoa tinha o poder de me fazer mudar
de ideia. Por isso me despedi apenas com uma carta. Não teria
coragem de olhar naqueles olhos que tanto amo.

A saudade é enorme, tento a todo custo não ligar ou responder


suas mensagens antigas, já que ele parou de enviá-las há um mês.

— Pensando em um certo Rhuan? — minha subchef, Maya,


pergunta, entrando na cozinha.

Eu precisava desabafar com alguém, e como ela foi


supersimpática quando cheguei aqui no Canadá, rapidamente nos
tornamos amigas.

— Queria dizer que não, mas você sabe que eu estaria


mentindo.

— Você sabe o que acho sobre isso. Não consigo entender por
que fica se sacrificando pelo erro dos outros. Por tudo que me falou
sobre o Rhuan Guilherme, acho que ele iria escolher você ao invés
de se preocupar com a imagem dele.
— Eu sei disso, e é justamente por esse motivo que vim
embora. Antes de ele se sacrificar por mim, achei melhor ir embora.
Eu amo o Rhuan e quero o bem dele, mesmo que o preço seja eu
ficar longe.

Respiro fundo, tentando dissipar as lágrimas que enchem


meus olhos.

— Se você o ama, por que não o deixar tomar a decisão


correta?

— Porque no amor, às vezes precisamos nos sacrificar pelos


outros, renunciar à nossa felicidade se isso for melhor para o nosso
companheiro. — Dou um fraco sorriso. — Eu amo o Rhuan, e por
mais que me doa diariamente, o melhor é ficarmos separados.

— Não consigo entender essa sua lógica, mas você é maior de


idade, então...

Somos interrompidas pelo garçom trazendo algumas


comandas. O movimento no restaurante começou a aumentar e
agradeço, pois só assim conseguirei ocupar um pouco a minha
mente e esquecer o homem dos olhos que tanto amo.
Minha semana passa voando e finalmente poderei ir para casa
e descansar um pouco. Maya tentou me arrastar para a noitada,
mas, definitivamente, hoje não estou no clima de curtição. Graças a
Deus o trânsito resolve colaborar comigo. O que menos preciso é
perder a paciência com esses motoristas imprudentes.

Chego em casa e corro para tomar um banho, com uma


sensação estranha de que algo pode acontecer. Não sei explicar
bem, da última vez que senti isso foi na morte da minha avó.

Mando uma mensagem para as minhas amigas, não obtenho


retorno, provavelmente estão dormindo. Preparo uma comida rápida
e sento-me no sofá de frente para a televisão. Não encontro nada
que me desperte o interesse, pego meu celular e resolvo me
martirizar um pouco vendo as redes sociais do Rhuan. Fico feliz que
ele tenha conseguido fechar o contrato com a multinacional, era
tudo que ele mais falava nos últimos dias que ficamos juntos.

Os sites de notícias não tocam mais no meu nome, pelo visto


as buscas pelo casal de assaltantes se intensificaram, já que eles
roubaram mais dois caminhões de empresas diferentes. Juro que já
pensei, pensei, e não consigo entender que diabos se passa na
cabeça desses dois. Eles tinham empregos que pagavam bem, não
havia motivos para entrarem no mundo do crime.
Uma foto em especial me chama atenção. Rhuan está
acompanhado de uma mulher ruiva e muito bonita. Tento puxar na
minha memória, mas não lembro de sua fisionomia. Na foto não há
nenhuma descrição, então não faço ideia de quem seja.

Eu deveria me importar com isso?

A possibilidade de ele seguir sua vida não deveria me deixar


mal, certo?

A quem estou querendo enganar? Só de ver essa foto meu


coração parece que vai sair pela boca. Eu disse para ele não me
esperar, só não imaginei que fosse ser tão rápido. Vê-lo tão perto de
outra mulher me dói, ainda mais porque eu o deixei partir.

Jade: Quem é a ruiva que estava com o Rhuan?

Envio para a Lorena. Como ela namora o Fabricio, deve saber


mais que as outras meninas.

Lorena: Bom dia, amiga. Não sei, onde você viu?


Copio o link e envio para ela.

Lorena: Ah sim, é a Liliane, a nova diretora de marketing da


RGA.

Jade: Não sabia que eles estavam precisando de pessoal


novo. Você chegou a falar com ela?

Lorena: Convenhamos que você não está muito por dentro


dos últimos assuntos, amiga hahahaha. A pergunta que você tinha
que fazer é: ela e o Rhuan estão saindo?

Jade: Pare de gracinha, Lorena. Responde da forma que você


quiser.

Lorena: Eles não estão saindo, mas isso não significa que não
tem interesse. Ela já deixou bem claro que está afim do Rhuan, só
ainda não aconteceu nada por escolha dele mesmo.

Até outro dia Rhuan tinha esperanças de que vocês se


acertassem, como isso não aconteceu, nada mais justo que ele

seguir a vida.

Jade: HUM.

Lorena: Então, se não quer vê-lo com outra mulher, melhor


correr, pois concorrentes não faltam.
Não respondo mais. Rhuan é um homem muito bonito, um
partido e tanto para qualquer mulher. Eu deveria prever que ele não
ficaria sozinho por muito tempo. O coração diz para eu correr para
seus braços, já a razão me manda deixá-lo seguir a vida em paz.
Capítulo Vinte e Três

Rhuan Guilherme

Sabe quando nos enterramos de cabeça no trabalho? Essa foi


a melhor decisão que eu poderia tomar. Decidi que não ficaria me
lamentando pela Jade. Ela fez a escolha dela, eu só precisava fazer

a minha. Ou pelo menos me convencer disso.

Daqui uma semana viajarei a negócios, graças a Deus a RGA


está tomando proporções internacionais. E para comemorar, hoje
iremos para uma boate que abriu. Chamei o Fabrício, mas ele anda
muito ocupado com o namoro e fico feliz pelo meu amigo, ele
finalmente está tomando jeito.

Tenho um motivo a mais para ficar feliz. A polícia finalmente


conseguiu prender o casal de ladrões. Confesso que queria correr
até a delegacia e olhar nos olhos deles, mas meus advogados
disseram que não seria uma boa ideia, pelo menos até a poeira
baixar. Nesse caso é inevitável não pensar na Jade. Tudo está se
ajeitando, e com a prisão deles os comentários sobre a participação
dela no crime serão esquecidos e ela ficará em paz. Infelizmente, as
coisas não seguiram assim e eu só lamento por isso.

Tudo que eu queria é que ela estivesse ao meu lado. Tem dias

que a saudade fica infernal. Já perdi as contas de quantas vezes


escrevi e apaguei várias mensagens. É difícil ir dormir e sentir seu
cheiro no meu travesseiro.

— Rhuan. — Liliane, a diretora de marketing, entra na minha


sala, chamando minha atenção. — Estou aguardando sua resposta
sobre o projeto que te enviei no e-mail, mas pelo visto você ainda
não olhou.

— Confesso que nem abri o e-mail, mas vou conferir e te dou


uma posição ainda hoje.

Liliane é a nossa nova aposta. Fizemos uma seleção com


vários candidatos e ela, de longe, se destacou como a melhor. Ela
não disfarça o interesse em mim e tenho que admitir que é uma
mulher muito bonita, mas ainda não estou pronto para entrar em
outro relacionamento. Não quando minha mente é invadida
diariamente pela Jade.
— Nossa saída hoje ainda está de pé? — pergunta com
entusiasmo.

— Sim, eu disse que podem contar comigo.

— Não imagina como estou ansiosa. — Morde o lábio inferior e


qualquer homem ficaria afetado com suas atitudes, mas não eu.

Não digo nada e ela se retira. Por mais que a empresa não
tenha restrições contra relacionamentos de funcionários, terei uma

conversa séria com ela. Preciso deixar claro que não tenho
interesse, não quando ainda não superei meu antigo
relacionamento. Me obrigo a pensar em outra coisa, pois não posso
ficar pensando nisso o tempo todo. Tenho muito trabalho a fazer
antes de encerrar o expediente.

Droga! Eu deveria dizer que estou me divertindo, mas a


verdade é que não estou. Meus amigos dançam alegremente no
ritmo da batida e eu deveria me sentir contagiado por eles, porém,
tudo que quero nesse momento é ir para o meu apartamento e
descansar. Sinto-me esgotado fisicamente e emocionalmente, nem
mesmo o fechamento de um grande contrato me anima.
Tomo todo o whisky de uma só vez, não tenho mais clima para
permanecer aqui. Vou até meus amigos e digo que vou embora.
Eles não gostam muito, mas entendem o meu lado. Antes que eu
saia da pista de dança, sou interceptado pela Liliane, que acaba de
chegar.

— Não acredito que já está indo embora — fala próximo ao


meu ouvido por conta do som alto.

— Não tenho mais clima para ficar aqui. Amanhã nos falamos.

Ela parece dizer algo sobre dançar, mas não tenho certeza se
foi realmente isso.

— Como? — pergunto.

— Dance uma música comigo e depois você pode ir. — Seus


olhos cor de jabuticaba estão fixos em mim, esperando
ansiosamente por uma resposta.

Pondero um pouco minha decisão. Eu posso negar e ir embora


tranquilamente, mas não custa nada uma única dança, não é
mesmo?

Não digo nada, apenas seguro em suas mãos e nos posiciono


no centro da pista de dança. Sendo traído mais uma vez pelo
destino, a música que antes era eletrônica é substituída por uma
batida mais lenta, nos obrigando a colar nossos corpos. Dançamos
conforme a batida cada vez mais próximos, se é que isso é possível.

— Por que você já ia embora?

— O combinado foi eu vir, não era necessário que eu ficasse


até o dia nascer. Além do que, não estou no clima para
comemoração.

Dou um fraco sorriso, sendo sincero com ela.

— Isso é por causa da sua namorada que foi embora?

— Digamos que em partes.

Ela não pergunta mais nada e eu opto por continuar em


silêncio até que a música termine e eu vá embora. Não posso negar
que Liliane é uma mulher muito bonita. Se fosse antes de eu
conhecer a Jade, certamente ela seria o tipo de mulher que me
despertaria o interesse, mas agora tudo é diferente, e nenhuma
mulher será a minha Jade.

— Obrigado pela dança, Liliane. — Sorrio amigavelmente.

— Eu que agradeço, Rhuan.

Se aproxima e beija o canto da minha boca, me deixando


completamente surpreso com sua ação. Ela sorri e fico mais
confuso do que já estava.
— Boa noite, Liliane.

Antes que eu me retire por completo, ela segura minha mão e


diz:

— Quando você esquecer a sua ex, me procura.

Não digo nada e me retiro antes de ela tomar qualquer


iniciativa. Será que me envolver com uma pessoa tão próxima é
uma boa ideia? A pergunta correta seria: estou pronto para
esquecer a minha Jade?
Capítulo Vinte e Quatro

Jade

Hoje o movimento está altíssimo, as pessoas resolveram sair

para jantar fora todas as mesmo tempo. Não consigo parar nem um
minuto, só de imaginar aparece alguém e me chama. Meu
expediente termina em meia-hora, espero de coração que não
precise fazer hora extra. Tudo que meu corpo precisa é de
descanso.

Graças a Deus o movimento acaba e posso finalmente me


arrumar e ir embora. Amanhã é meu dia de folga e já me preparei
para fazer vários “nadas”. Pela primeira vez no dia, pego meu
celular e vejo várias mensagens das minhas amigas.

— Jade, você não vai acreditar e quem está no salão. — Maya


entra correndo no banheiro, me assustando um pouco.

— Quem? — pergunto sem dar muita importância.


— Não vai nem chutar? — questiona, ansiosa.

— Minha mente está muito cansada para imaginar qualquer

pessoa, então você pode adiantar e me dizer.

Abro primeiro a mensagem no grupo do WhatsApp e pelo visto


elas precisavam muito falar comigo, pois tem várias sinalizações.

Camila: Jade do céu! Por que você não olha a droga da


mensagem?

Lorena: Já liguei diversas vezes e essa louca não atende. Só


espero que o destino a aguarde ler a mensagem, pelo menos.

Camila: JAAAAAADEEEE!

Lorena: O restaurante deve estar cheio, por isso ela não ficou
on-line hoje. Ela vai surtar quando descobrir que o Rhuan está no
Canadá.

Termino de ler e não consigo nem piscar. Não posso acreditar


que o Rhuan está aqui. O país é enorme, qual a probabilidade de
nos encontrarmos? Agora entendo o choque da Maya alguns
minutos atrás. Eu não imaginaria que fosse o Rhuan, mas como sou
uma pessoa sortuda, aposto que ele está no salão.
Rhuan Guilherme aqui no meu trabalho...

Será que o destino não cansa de ser sacana comigo?

— Rhuan Guilherme — falo, por fim, deixando Maya de boca


aberta.

— Como você adivinhou?

— Por isso.

Mostro as mensagens. Se eu tivesse visto mais cedo, não


seria pega de surpresa agora.

Meses se passaram e agora eu gostaria de dizer que estou


pronta para encontrá-lo, mas a verdade é que não estou. Eu não
saberia o que falar, não conseguiria olhar em seus olhos e não o
beijar.

Eu fugi.

Fui fraca.

Abri mão da nossa felicidade.

Como posso ficar cara a cara com o homem que eu amo? Se

ele estiver com uma mulher, será que eu aguentaria vê-lo com
outra?

— Você vai lá falar com ele, né?


— Não! Meu expediente acabou, estou indo embora — digo,
ajeitando minha bolsa no ombro.

— Você não tem que ir como chef, mas sim como a mulher
que o ama.

— Não temos mais um relacionamento, Maya. Eu só estaria

causando mais dor para ambos, o melhor é me manter afastada


mesmo. Estou indo, tchau.

Beijo a bochecha dela e sigo para o estacionamento.

Não tem um único dia que eu não pense no Rhuan. É difícil


esquecer seus beijos, o toque de suas mãos sobre minha pele,
muito menos a forma carinhosa com que me tratava. Com certeza
ele foi o melhor que aconteceu na minha vida, mas como nem tudo
são flores, o melhor é nos mantermos afastados mesmo.

Sinto um aroma familiar e paro abruptamente no meio do


estacionamento, tentando me convencer de que não é uma
miragem. E que sim, o Rhuan Guilherme está parado na minha
frente. Seus cabelos estão maiores, o rosto lisinho agora está
coberto por uma barba por fazer, deixando-o mais lindo e charmoso.

Tento falar, mas as palavras estão presas em minha garganta.


Meus batimentos cardíacos estão acelerados, minha boca está seca
e as borboletas habitam meu estômago.

— Oi, Jade. — Como senti falta de ouvir sua voz rouca e


gostosa.

— Oi — respondo em um fio de voz.

— Você está linda, como sempre. — Ele está encostado em


uma pilastra, com os braços cruzados, mostrando seus braços
musculosos.

— Que surpresa encontrar você aqui...

Consigo pronunciar depois de um tempo em silêncio, apenas


o encarando como uma boba.

— Fechei um novo contrato. Ouvi muitos elogios sobre esse


restaurante e me senti na obrigação de vir conhecer. Agora sei o
que estava me atraindo pra cá.

— O quê?

— Você — diz pausadamente.

Eu havia me esquecido de como meu corpo poderia reagir de


imediato a sua voz. Tê-lo tão perto me faz pensar no quanto fui
burra de ir embora. Rhuan é o tipo de homem que não pode ficar
sozinho, qualquer mulher daria tudo para ficar com ele, mesmo que
apenas para tirar uma lasquinha.
Ficamos nos encarando por muito tempo, não consigo formular
uma única palavra. Minha mente só pensa em matar a saudade.
Meu maior medo era esse, ficar cara a cara com o Rhuan.

— Será que podemos conversar em um lugar mais


sossegado? — Não sei em que momento ele andou, mas está tão
perto que sinto sua respiração acelerada.

— Não sei se é uma boa ideia, Rhuan Guilherme.

— Só vamos conversar, eu prometo.

Pondero minha decisão por alguns minutos. Sei que se ficar a


sós com ele não conseguirei resistir. O que fazer quando a razão e
emoção falam a mesma coisa? Meu corpo anseia pelo toque do
Rhuan. A saudade aperta no peito. Eu sei o que tenho que fazer.

— Vamos para minha casa.

Sei que estou correndo um grande risco, no entanto, pela


primeira vez em meses, decido seguir o meu coração, não a razão.
Rhuan está mais lindo do que nunca, vê-lo assim tão perto me faz
perder a cabeça. Eu anseio por esse homem, preciso senti-lo
mesmo que seja a última vez.
Capítulo Vinte e Cinco

Jade

Vinte minutos... Vinte minutos que estamos parados no meio


da minha sala. Rhuan não disse uma única palavra, eu muito
menos. Tem tanta coisa rodando em minha mente que formar uma
frase está quase impossível. Por vários dias eu sonhei com o
momento do nosso reencontro, só não estava preparada para que
fosse hoje.

— Agora podemos conversar. Dei tempo suficiente para que


você refrescasse sua mente — Rhuan diz, quebrando o silêncio
torturador.

— Sinceramente, não sei por onde podemos começar.

— Que tal você me dizer por que a melhor escolha foi fugir? —
Ele tem os olhos tão fixos em mim, que sinto como se queimasse
minha pele.
— Eu não fugi, apenas fui embora.

— Então por que não se despediu decentemente? Acha justo


eu ter que ficar um mês sem notícias suas ou levar um pé na bunda
através de uma carta?

— As coisas não foram bem assim, Rhuan. Você sabia que eu


precisava de um tempo, eu só quis deixar tudo mais fácil para nós
dois...

— Não, Jade, você deixou as coisas mais fáceis para você. —


Caminha lentamente, parando a centímetros do meu corpo. — Se
tivesse pedido a minha opinião, juntos poderíamos pensar em uma
solução melhor que essa. Não imagina como me senti impotente
com tudo que aconteceu.

— A minha intenção era preservar a sua imagem, Rhuan.

— Eu dei algum indício de que me importava com a droga da


minha imagem? — indaga, mostrando sua chateação.

— Não, mas...

Ele me interrompe rapidamente.

— A única coisa que me importava era você, Jade. — Vê-lo


falar no passado realmente me dói. — Se eu tivesse que escolher
entre a merda da minha imagem e você, pode ter certeza de que eu
escolheria a mulher que eu amava.

— Não ama mais? — A pergunta sai antes que eu consiga


filtrar.

Ele tem o olhar frio e fico com receio de sua resposta. Minha
intenção desde o começo não era essa? Por que esse maldito
aperto no peito?

— A questão não é se eu te amo, Jade. Eu só preciso


entender o que se passa em sua mente. Você está feliz?

— Eu tive medo, Rhuan. Você sabe que essa história da Luc e


do Carlos me fez muito mal. Eu poderia suportar tudo vindo deles,
mas só de pensar na possibilidade de te afetar... Na minha cabeça,
o melhor era eu me afastar e te dar a chance de ser feliz.

— Você está feliz, Jade? — Repete a pergunta, dando


conotação maior para o “você”.

— Não, Rhuan, eu não estou feliz.

Ser sincera é o melhor que posso fazer nesse momento. Se eu


disser que estou feliz é mentira. Aceitei essa proposta de trabalho
como uma válvula de escape. Na minha cabeça me ajudaria a
esquecer o Rhuan. Mas como posso ser feliz longe do homem que
amo?

— Pois nem eu... desde o maldito dia em que você foi embora.

— Por que não recomeçou sua vida, Rhuan? Vi que você


estava na companhia de várias mulheres lindíssimas. — Desvio o
olhar, tentando dissipar as benditas lágrimas.

— Nenhuma delas era você. Como eu poderia ser feliz? — Se


aproxima mais, acariciando meu rosto com a ponta dos dedos. —
Eu te amo, Jade. Como posso me interessar por outra quando você
habita vinte e quatro horas meus pensamentos? Durmo e acordo
pensando em você. Minha cama ainda tem seu cheio, seu perfume
é vivo em minha memória.

Ele roça os lábios nos meus, fazendo-me ansiar por um beijo


de verdade.

— Me diga, Jade. Como posso amar outra mulher, se já tive o


melhor de você?

— Eu queria ter essa resposta, Rhuan, mas não tenho. —


Respiro fundo antes de continuar. — Não posso negar que te amo,
na verdade, o difícil é tirar você da minha cabeça. Vinte e quatro
horas por dia. Todos os dias da semana. É assim que você habita
meus pensamentos. Mas é tudo muito complicado...

— Não, nós que complicamos as coisas. Por que não


podemos apenas nos amar? Qual a probabilidade de eu ter uma
reunião no restaurante onde você trabalha? — Pensando por esse
lado, ele tem razão. — O destino quer nos dar uma nova chance de
ser feliz, cabe a você, agarrar ou não, com unhas e dentes.

Penso por alguns minutos antes de tomar uma decisão. Meu


coração bate descompassadamente com sua aproximação, meu
corpo anseia urgentemente por seu toque. E ouvindo os meus
instintos, me aproximo mais, colando nossos lábios. A princípio é
um beijo calmo, apenas para matar a saudade. Mas o que era
delicado se transforma em uma disputa quente e intensa de nossas
línguas.

Rhuan Guilherme segura-me pela cintura, me fazendo sentir a


rigidez de seu corpo. Não me faço de rogada e exploro seu peitoral.
Eu sabia que estava com saudades, só não imaginei que fosse
tanto. Ele me pega no colo, grudo minhas pernas em sua cintura e
ele caminha até meu quarto. Sem nos desgrudarmos, com uma
maestria que só ele tem, retira meu vestido em um puxão, deixando-
me apenas de calcinha.
— Você não tem noção da saudade que eu estava, Jade —
diz, analisando-me de cima abaixo. — Eu sei que você merece ser
tratada com todo carinho e delicadeza, mas se tem uma coisa que
não combina com isso é o desejo que estou sentindo por você
nesse momento. Te prometo que depois te dou todo carinho do
mundo, mas...

— Sou toda sua, Rhuan, isso basta — digo, desejosa, quase


implorando para que ele me toque.

— Eu te quero tanto, Jade.

Antes que eu consiga formular qualquer frase, Rhuan deixa


pequenas mordidas em meu pescoço, fazendo com que meu corpo
inteiro se arrepie. Não vou mentir, o toque de suas mãos é como
brasa que incendeia minha pele.

Como eu pude passar tanto tempo longe desse homem?

— Até quando vai me torturar, Rhuan?

— Até você entender que não pode fugir de mim. Você é


minha, Jade, seu corpo me mostra claramente isso. — As mãos
dele passeiam vagarosamente por minhas pernas. — A noite está
apenas começando e te mostrarei que seu corpo é o encaixe
perfeito do meu!
Sim, esse homem veio com o objetivo de me enlouquecer, e
tenho que admitir, ele está conseguindo. Não sei o que vai
acontecer amanhã, mas, definitivamente, irei aproveitar o hoje.
Capítulo Vinte e Seis

Rhuan Guilherme

Minha mãe costuma dizer que nosso destino não fica em


nossas mãos. Eu já estava me acostumando com a ideia de ficar
sem a minha Jade. Essa viagem não estava nos meus planos, era

para a Liliane fazer, mas houve um imprevisto e eu tive que vir em


seu lugar. Qual a probabilidade de, além de vir para o mesmo país,
ainda parar no restaurante onde a Jade trabalha?

Não sei bem explicar, mas logo que eu cheguei ao local senti
algo diferente. Quando experimentei a comida, tive certeza de que
era a Jade. Para ter certeza perguntei ao garçom o nome do chef, e
foi a confirmação que eu precisava para continuar no lugar e
aguardá-la.

A noite de ontem foi maravilhosa, eu não sabia que estava tão


necessitado até ver a Jade apenas de calcinha na minha frente. Sou
viciado nessa mulher, e nem a distância foi capaz de apagar isso.

Tem pouco mais de uma hora que acordei, e tudo que consigo
fazer é admirá-la enquanto dorme. Tanta coisa aconteceu nos
últimos tempos, muitas situações poderiam ter sido evitadas, porém,
nem todo mundo sabe colaborar. Eu poderia facilmente ter ficado
com outras mulheres, só que na minha mente só tinha, ou tem,
espaço para a Jade. Não sei bem como vamos resolver, entretanto,
só irei embora depois de termos uma conversa franca e sincera.

Como pode uma pessoa ter o coração da outra em mãos?

Jade não tem ideia do tamanho do meu amor por ela. Se


soubesse...

— Vejo daqui as engrenagens do seu cérebro, Rhuan — Jade


diz, com a voz ainda sonolenta.

— Como sabe disso?

— Eu te conheço e aposto que envolve nós dois.

— Sim, temos muita coisa para conversar, Jade.

— Pode ser durante o café da manhã? Gostaria de tomar um


banho primeiro.

— Claro, fique à vontade.


Seus olhos estão fixos nos meus, vejo desejo estampado neles
e me controlo para não a atacar nesse exato momento. Jade tem
um gosto tão delicioso, difícil seria eu enjoar de senti-la. Ela levanta
da cama e o lençol que cobre seu corpo cai no chão, mostrando
assim sua nudez. Jade caminha lentamente até o banheiro,
deixando-me completamente hipnotizado por essa mulher.

— Você não vem, Rhuan Guilherme?

Sua voz é sexy e provocadora.

Pulo imediatamente da cama, seguindo ao seu encontro. Sabe


quando você percebe que não matou a saudade o suficiente? É
assim que estou me sentindo, louco, necessitado e cheio de desejo
por essa mulher.

Cada vez que a tenho em meus braços, percebo que viver sem
ela será uma tortura. Saímos do banheiro e vamos para a cozinha,
onde a ajudo a preparar nosso café da manhã. Tenho muita coisa
para conversar com ela, é até difícil saber por onde começar.

— Agora não tem mais como você fugir, Jade — digo, tomando
um pouco do meu café.

— Eu não sei por onde começar.


— Não se preocupe, eu sei muito bem por onde podemos
iniciar nossa conversa.

— Então fique à vontade, pois estou completamente perdida.

Ela tem os olhos fixos nos meus, mas não vejo o costumeiro
brilho. Só agora, depois de toda adrenalina, vejo o quanto Jade está
abatida e com o semblante triste.

— Você vai voltar comigo para o Brasil? — Não vejo motivos


para ela continuar no Canadá.

— Eu quero muito, mas...

— Sem arrumar desculpas, Jade — exijo, impossibilitando-a


de continuar. — Você veio para o Canadá por conta da história da
sua irmã e seu ex. Não sei se as meninas te contaram, mas eles
foram presos.

Por sua expressão de surpresa, acho que não falaram nada.

— Elas não me falaram. Quando isso aconteceu?

— Tem mais ou menos um mês. Eu entendo que a imprensa


pode ser muito cruel, mas estando ao meu lado é inevitável que eles
não comentem. Mas cabe a você saber filtrar as coisas. Agora que
eles foram presos, não vejo motivo para que continue aqui. A não
ser...
— O quê?

— Que você não queira mais nada comigo. — Levanto e vou


em sua direção, parando a centímetros do seu corpo. — Então,
Jade, é isso mesmo que você quer?

Ela fica um bom tempo em silencio e tenho medo de saber


qual será sua decisão. Eu não gostaria que as coisas terminassem
desse jeito, mas prometo que, seja lá qual for a escolha, eu irei
aceitar. Se Jade optar por continuar aqui, darei por encerrada nossa
história e irei seguir a minha vida. Mesmo que isso me doa
profundamente.

— Não precisa responder agora. Meu voo sai amanhã às dez


da manhã, te esperarei no aeroporto. Caso você não apareça,
entenderei como o nosso fim.

Seguro seu rosto com as duas mãos e colo nossos lábios.


Esse pode ser nosso último contato físico, então preciso aproveitar

cada segundo para gravá-la em minha memória.

Afasto-me e não dou nenhuma possibilidade de ela falar. Pego


minhas coisas e chamo um taxi, indo direto para o hotel. Minha
vontade era de levar a Jade à força, entretanto, não é assim que a
quero ao meu lado. Somos adultos e não podemos deixar que
atitudes de terceiros nos influenciem. Jade é uma mulher adulta, ela
já deixou que a irmã interferisse em sua vida, agora está nas mãos
dela o poder de dar um basta.
Capítulo Vinte e Sete

Jade

Eu já tinha decidido qual decisão tomar, mas o Rhuan não me


deu chance de falar. Perdi tempo demais longe do homem que eu
amo, preciso encerrar de uma vez por todas essa história da Luc e
do Carlos. Quando estive nos braços do Rhuan, não ficou a menor
dúvida de onde quero ficar para o resto da minha vida.

Em tempo recorde arrumo minhas malas.

Sou grata pelo tempo que passei aqui, mas chegou a hora de

voltar para casa. Como só vamos nos encontrar amanhã, aproveito


para resolver todas as pendências. Até porque, não sei quando
voltarei aqui novamente.

Pego meu carro e em menos de vinte minutos chego ao


restaurante, indo direto conversar com o gerente. Tenho muito que o
agradecer pela oportunidade que me deu. A conversa foi melhor do
que eu esperava, ele entende meus motivos e, para minha surpresa,
diz que estão prestes a abrir um restaurante em São Paulo e a vaga
de chef é minha.

Ainda fico surpresa com as voltas do destino. Deus nunca


deixou de me amparar e eu só tenho que agradecer. Despeço-me
dos poucos funcionários e chego a pior parte, me despedir da Maya.
Uma grande amiga que levarei para a vida.

— Então é verdade o que me disseram? — Maya pergunta


assim que chego na porta da cozinha.

Ela tem os olhos marejados, o que não é diferente dos meus.

— Sim, eu decidi que o melhor é voltar para o Brasil... para os


braços do meu Rhuan. — Maya vem em minha direção, me
puxando para um forte abraço.

— Saiba que apesar do pouco tempo você é uma pessoa que


quero levar para o resto da minha vida. — E fracasso ao tentar

segurar as lágrimas, em segundos meu rosto está encharcado. —


Torço muito por sua felicidade, e acima de tudo quero sempre o
melhor para você. Não deixe que os outros moldem seus passos.
Lembre-se que só você tem esse poder nas mãos.
— Obrigada, minha amiga. Você foi uma grata surpresa do
destino. Já sabe, se quiser respirar novos ares, será muito bem-
vinda em minha casa. Quando eu abrir meu restaurante você vai
trabalhar comigo.

— Então, bora abrir logo esse restaurante, minha amiga. Estou


precisando conhecer um brasileiro quente e que conquistará meu
coração.

— Só você para me fazer rir em um momento como esse,


Maya.

Maya é o tipo de pessoa que alegra todo mundo, acho que por
isso nos aproximamos tão depressa. Posso dizer que ela foi um dos
pontos altos dessa minha mudança temporária. Sei que posso
confiar.

Conversamos por mais algum tempo e ela me faz contar, nos


mínimos detalhes, como foi minha reconciliação com o Rhuan. É
claro que deixo de fora algumas informações, mas falo o suficiente
para que ela aceite. Nos despedimos com um forte abraço e uma
promessa de visita ao Brasil. Tenho certeza de que minha amigas
vão gostar dela, principalmente a Camila, que é doida.
Eu não vou conseguir resolver com o rapaz que me alugou o
apartamento, então Maya vai se encarregar disso para mim.

Penso em mandar uma mensagem para as meninas, porém,


vou fazer uma surpresa para elas. Tenho muita coisa para fazer
quando chegar e depois de matar a saudade de todos, irei fazer
uma visitinha para a minha irmã. Vou encerrar de uma vez por todas
essa história. Eu preciso viver a minha vida, independente das
merdas que ela fez ou vai fazer.

Chego a casa e termino os últimos ajustes. De malas prontas e


com o coração apertado, deito para descansar um pouco. Amanhã

tenho um encontro com o homem que amo.

Acordo bem antes do despertador, tão ansiosa que se


consegui dormir uma hora foi muito. Pego minhas coisas e chamo
um taxi. Como meu carro é alugado, eles vão vir buscar aqui no
apartamento. À medida que as ruas vão ficando pra trás, meu
coração parece querer sair pela boca. Eu não sabia o significado de
borboletas no estômago até conhecer o Rhuan.

Para minha surpresa, chegamos em um ponto de


congestionamento. O relógio marca nove da manhã, e se eu ainda
tenho intenção de embarcar com o Rhuan, preciso chegar em no
máximo meia-hora. Não posso acreditar que logo agora o destino
vai agir contra mim.

— Moço, não tem como ir por outro caminho? — pergunto,


nervosa, ao motorista.

— Infelizmente, não. Esse é o único caminho para o aeroporto


— ele me diz com uma expressão de pesar.

Pego o celular e disco o número no Rhuan, mas só cai na


caixa postal. Sem ter muito o que fazer, decido pela única coisa que
está ao meu alcance. Oro pedindo a Deus que tudo corra bem.

Ficamos mais meia-hora parados, até que o carro começa a


andar e finalmente chegamos ao aeroporto. O motorista me ajuda
com as malas, pago a corrida e corro para o saguão de embarque.
As pessoas devem me achar com cara de maluca, pois estou
correndo que nem uma doida. Não posso acreditar que ele foi
embora achando que eu desisti de nós. Vou até o balcão de
informações e pergunto sobre o voo para o Brasil, a menina me
informa que já encerrou o embarque.

Não consigo acreditar que isso aconteceu. Sento-me na praça


de alimentação e choro. Choro por não ter conseguido chegar a
tempo. Por mais que eu embarque no voo seguinte, não será a
mesma coisa.

— Espero que eu seja o motivo de suas lágrimas. — Levanto o


olhar, dando de cara com o meu Rhuan.

— Eu pensei que você tivesse embarcado.

Jogo-me nos braços dele, sentindo toda a emoção de vê-lo a


minha frente.

— Algo me dizia para não embarcar naquele voo. No fundo eu


não queria acreditar que não teria mais você. — Ele sorri, beijando
meus lábios.

— Mesmo antes de você sair eu já tinha tomado minha


decisão. Errei uma vez, não cometeria o mesmo erro outra vez. Eu
te amo, Rhuan Guilherme.

— Eu te amo, minha Jade.

Rhuan segura minha cintura e começa a rodar pelo salão, o


que acaba chamando atenção das pessoas. Dizem que o sorriso é
uma amostra da felicidade, acho que é por isso que não paro de
sorrir.

Eu não pensei que fosse amar tanto uma pessoa, mas o


Rhuan detém todo o meu amor e eu só tenho que correr atrás do
tempo perdido. Por pouco não o deixei escapar, isso nunca mais vai
se repetir.
Capítulo Vinte e Oito

Jade

Assim que chegamos ao Brasil vamos direto para a casa do


Rhuan. Por ser muitas horas de voo, o corpo implora por descanso.
Até pensei em mandar uma mensagem avisando sobre a minha
chegada, mas resolvo manter a minha ideia e fazer uma surpresa
para as minhas amigas. Tem muita coisa que quero fazer, e uma
delas é visitar a minha irmã.

Rhuan tinha uma reunião, então foi bem cedo para a empresa.
São dez da manhã e ainda estou deitada, pensando no que fazer da
minha vida. Tentando tomar vergonha na cara, levanto da cama e

corro para o banheiro, quem sabe um banho frio me desperte?!

De banho tomando, preparo algo leve para comer. Vou


precisar de uma parceira para colocar meu plano em prática, então
envio uma mensagem para a Lorena e peço que marque um almoço
com todas as meninas. No começo ela reclama por eu não ter dito
antes que cheguei, mas entende que eu queria fazer uma surpresa.

Tenho três horas até o almoço, então aproveito para colocar


esse apê em ordem. Parece que não vê a cara de uma limpeza há
um bom tempo. Não sei como vamos seguir daqui para frente, antes
de toda essa história eu estava praticamente morando com o
Rhuan. Agora não sei se o melhor é seguir de onde paramos, ou ir
com calma dessa vez.

Escuto o bip do meu celular, pego e vejo uma mensagem do


Rhuan.

Rhuan Guilherme: Jantar hoje à noite, topa?

ps: Contando as horas para te ver.

Sorrio com sua simples mensagem. Rhuan tem esse poder de


me deixar sorrindo como uma boba. Como pude pensar que o

melhor seria me afastar? Por pouco não o perdi e me arrependo


muito por isso.
Jade: Claro que topo. Já estou morrendo de saudades de

você, amor.

Clico em enviar.

Depois de encontrar as meninas, acho que farei uma visitinha


surpresa a ele para matar a saudade.

O clima hoje está superagradável, então posso me dar o luxo


de usar uma roupa mais fresca. Por isso opto por um vestido que
fica na altura do joelho, ele é branco e tem um pequeno decote atrás
e outro na frente, valorizando bem meus seios. Prendo meus
cabelos em um rabo de cavalo, passo um leve batom e calço
minhas sapatilhas pretas. Todo mundo sabe que nunca fui fã de
maquiagem, então nos rolês sou sempre a primeira a ficar pronta.

Chamo um Uber e sigo para o restaurante escolhido. Ele não


fica muito longe daqui, então agradeço por não ter que pegar o
trânsito infernal de São Paulo.

Não demoro a chegar, adentro o restaurante e busco com os


olhos as minhas amigas, mas não obtenho retorno. O lugar é bem
arrumado, as paredes em tons pastéis combinam com o tom
esverdeado das mesas, trazendo delicadeza para o local. Vou até a
recepcionista e informo o nome da Lorena, que confere uma lista e
logo em seguida pede que eu a acompanhe.

— Será que tem espaço para mais uma? — digo, chamando a


atenção de todas, que conversam animadamente.

— Não acredito! — elas dizem ao mesmo tempo.

Em segundos Lorena, Michele e Camila correm para me


abraçar. É impossível segurar as lágrimas, pois apesar de conversar
com elas quase que diariamente, não é a mesma coisa de ver essas
malucas pessoalmente.

— Não imaginam a saudade que eu estava de vocês — falo,

assim que nos afastamos.

— Sua vaca! Quando você chegou? — Camila pergunta,


tomando um pouco de sua bebida.

— Não tem nem dois dias. — Sento-me na cadeira vaga e


peço um suco de laranja ao garçom.

— E por que não avisou que tinha chegado?

Dessa vez é a Michele quem pergunta.

— A viagem foi longa e tudo que eu precisava era descansar.


Também não queria apenas mandar uma mensagem. Por isso pedi
para a Lore marcar o almoço.
— Bem que eu suspeitei desse convite repentino. Essa safada
só tem tempo para o Fabrício — Camila reclama, tomando um gole
do seu vinho.

— Não é bem assim, Camila. Eu só estava muito ocupada


ultimamente.

— Já foi falar com o Rhuan Guilherme? — Michele indaga, não


sabendo que ele é o motivo do meu retorno.

— Você quer saber da minha conversa com ele antes, ou


depois de retornar ao Brasil? — Acabo rindo, o que estraga minha
tentativa de suspense.

— Ah, safada! Quer dizer que já foi esquentar a cama com ele,
né?! — Camila e essa mania de nos fazer sorrir e ficar
envergonhados ao mesmo tempo.

Como temos muita coisa para conversar, começo contando


desde a carta que eu deixei. Elas ficam chateadas com isso, mas
acabam entendendo que meus motivos foram válidos. Conto como
foi nosso reencontro e como não poderia ser diferente, elas me
pedem para contar tudo nos mínimos detalhes, principalmente o
sexo de reconciliação. Claro que não digo tudo, falo o suficiente
para que elas não fiquem me apertando, principalmente a Camila.
Terminamos nosso almoço em um clima totalmente
descontraído, mas Lorena e Michele precisam voltar ao trabalho.
Como Camila não tem mais nenhuma consulta hoje, se oferece para
me acompanhar até a empresa do Rhuan. Vamos o caminho todo
conversando e fico sabendo que minha doida amiga está saindo
com um carinha, e pelo jeito que se refere a ele, acho que está se
apaixonando.

Chegamos na RGA Cosméticos e cumprimento a


recepcionista, que me recebe com um sorriso simpático. Entramos
no elevador e seguimos para o andar da presidência.

A secretária do Rhuan está em ligação, então a aguardo


terminar. Ele está sempre em reuniões, por isso não quero correr o
risco de entrar em sua sala e atrapalhar. Vejo quando uma mulher
sai da sala do Rhuan e a reconheço das fotos. Se não me engano é
a nova diretora de marketing. Sua cara de poucos amigos não é
nada convidativa.

— Posso ajudá-las? — Sabe aquela voz chata e


extremamente fina? Pois bem, a dela chega a ser pior.

— Acredito que não. Estou aqui para falar com o Rhuan.


— Ele está se preparando para uma reunião. Não acredito que
tenha tempo para conversar. Mas se quiser deixar recado, eu aviso
que esteve procurando por ele. — Seu ar de superioridade fica bem
evidente, deixando-me intrigada.

Olho para a Camila, tentando me convencer de que foi isso


mesmo que ouvi. Minha amiga está com cara de poucos amigos e
sei que está se controlando para não falar nada. Silenciosamente
peço para que fique quieta, pois eu vou resolver isso.

— Posso saber quem é você? — Não disfarço minha cara de


desgosto.

— Meu nome é Liliane, sou a diretora de marketing da RGA. —


Ela tem um sorriso tão forçado... Pensa que vai me intimidar.

— Muito prazer, Liliane. — Estendo a mão em um


cumprimento. — Eu sou a Jade Oliveira, namorada do Rhuan.

Vejo o exato momento que o sorriso dela some. Não gosto


dessas competições de quem é melhor, contudo, essa mulher não
fez a menor questão de ser simpática. E olha que nos conhecemos
há poucos minutos.

O barulho de uma porta se abrindo nos chama atenção e o


Rhuan aparece divinamente lindo, imponente e com um lindo sorriso
direcionado a mim.

— Meu amor! — Rhuan caminha na minha direção. — Isso sim


é uma surpresa maravilhosa. — Segura-me pela cintura, beijando
meus lábios logo em seguida.

Liliane agora me fuzila com o olhar e apenas sorrio para ela.


Não costumo agir desse jeito, mas desde o dia que vi a foto deles
juntos eu senti que tinha um interesse da parte dela. Agora estou de
volta, e se ela tinha alguma intenção com o meu Rhuan, pode ir
tirando o cavalinho da chuva.
Capítulo Vinte e Nove

Rhuan Guilherme

Pode parecer coisa da minha cabeça, mas sinto um clima


estranho quando chego na recepção. Tenho a leve impressão de
que uma merda pode acontecer a qualquer momento. Camila está
com cara de poucos amigos e minha secretária apenas observa as
duas mulheres no meio da recepção.

— O que estava acontecendo antes de eu chegar? —


pergunto, entrando e fechando a porta da minha sala.

Eu sempre deixei claro que nunca rolaria nada entre Liliane e


eu, então espero, sinceramente, que ela não tenha dito nenhuma
besteira para a minha Jade. Ela é uma ótima profissional, não quero
que misture as coisas, ou serei obrigado a demiti-la.

— Não estava acontecendo nada. — Jade tenta disfarçar, mas


sei quando ela está mentindo.
— Jade...

Puxo-a pela cintura, colando nossos corpos. Deixo pequenos


beijos em seu pescoço, indo para o seu queixo e tomando seus
lábios em um beijo carregado de desejo. Ficamos tanto tempo
afastados que se deixar não saímos do quarto.

— Não aconteceu nada que eu não pudesse resolver — ela diz


assim que nos separamos. — Estava almoçando com as meninas,
decidi que seria uma boa ideia te fazer uma surpresa. Espero que
não o tenha atrapalhado.

— Você nunca me atrapalha, amor. Estava pensando em você


agorinha. Se importa se cancelarmos o jantar de hoje?

— Surgiu alguma reunião de última hora? — pergunta,


preocupada, passando a mão por meus cabelos.

— Sim, eu tenho uma reunião com a mulher mais linda desse


mundo. Creio que não consiga me controlar em público.

Por um momento eu tive medo de ela não aparecer no


aeroporto, e só de pensar na possibilidade de recomeçar a minha
vida sem a Jade, um calafrio percorre o meu corpo. Juro que se não
fosse a reunião, eu estaria em casa matando a saudade da minha
linda mulher.
— É um bobo mesmo. — Cola nossos lábios, em um beijo
lento e gostoso pra caramba. — Acho que posso fazer o sacrifício
de cozinhar para nós dois, desde que a sobremesa seja você.

— Jade, Jade... — Com a ponta dos dedos, contorno seus


lábios. — Se eu não tivesse uma reunião, ia te pegar nos braços,
colocá-la no carro e correr o mais depressa para casa.

— Não quero te atrapalhar, por esse motivo vou embora. —


Está pronta para se afastar, quando a puxo pela cintura.

— Não antes de eu matar um pouco a saudade de você.

A puxo pela nuca, colando nossos lábios em um beijo intenso


e cheio de desejo. Suas mãos passeiam por dentro da minha
camisa e preciso de todo controle do mundo para não a jogar sobre
a mesa e possui-la aqui mesmo. Eu queria ser forte, mas quando
menos espero já estou sentado no sofá com a Jade em meu colo.

— Rhuan, a reunião... — Liliane entra sem se dar ao trabalho


de bater na porta.

Jade levanta e ajeita a roupa, em seu rosto rapidamente surge


uma coloração avermelhada e fuzilo a Liliane com o olhar. Ela sabia
que eu estava acompanhado, tenho certeza de que essa atitude não
foi um descuido.
— Eu não queria atrapalhar, desculpem, é que os sócios já
estão esperando, Rhuan. — Tenta disfarçar, porém percebo a
satisfação em seu rosto.

— Ok. Avise que já estou indo.

— Tudo bem, com licença. — Ela tem um sorriso estampado


no rosto, mas não vejo sinceridade nele.

— Liliane... — falo antes que ela saia da sala.

— Sim? — Sorri, me dando a confirmação de que ela fez tudo


de caso pensado.

— Espero que essa atitude não se repita. Da próxima vez bata


na porta. — Ela não disfarça que não gostou de ser repreendida,
mas isso é problema dela, não meu. — Estamos entendidos,
Liliane?

— Sim, Rhuan.

Então se retira, nos deixando a sós. Jade não diz uma palavra,
no entanto, sei que sua mente está a todo vapor. Vou precisar
conversar seriamente com a Liliane, esse tipo de atitude não pode
se repetir. Agora tenho quase certeza de que alguma coisa
aconteceu na recepção, e Jade vai ter que me contar o que houve.
— Eles estão te esperando, amor — Jade diz depois de sair do
transe. — Conversamos em casa, ok?

— Eu vou, mas conversaremos sobre isso, certo?!

— Sim. — Cola nossos lábios em um selinho. — Já vou indo


porque ainda tenho que passar no mercado. Pelo que me lembro
sua dispensa está praticamente vazia. Até mais tarde, amor.

Ela se retira e eu aproveito para ir de uma vez para essa


reunião. Agora, mais do que nunca, quero chegar logo em casa. Vou
ter uma conversa séria com a Liliane, mas em outro momento. O
desejo de ficar com a minha mulher é mais importante que qualquer
coisa.
Capítulo Trinta

Jade

Depois que saímos da empresa, tive que convencer a Camila a


deixar essa história da Liliane. Minha amiga tem um gênio forte e
queria resolver as coisas da pior maneira possível. Conversamos
por mais alguns minutos e cada uma vai para o seu canto. Passo no
mercado e compro tudo que preciso para o jantar. Lembro bem que
a dispensa do Rhuan está praticamente vazia, seria impossível fazer
um jantar decente.

Troco algumas mensagens com as minhas amigas enquanto o


Rhuan não chega, elas querem saber mais sobre a “Diretora de
marketing”, já que a Camila deu com a língua nos dentes e falou
tudo. Aposto que aumentando um pouco mais.

Eu, sinceramente, não entendo. Antes mesmo de saber quem


eu era, ela já me tratou com indiferença. Aposto que pensou que
seria uma concorrência.

Agora estamos nos deliciando com o jantar. Preparei um


macarrão com molho vermelho.

Eu sei que o Rhuan quer conversar, mas estou tentando não


tocar nesse assunto, pelo menos não por enquanto.

— Vai me dizer agora o que aconteceu mais cedo com a


Liliane? — Rhuan pergunta, levando um pouco de comida à boca.

Desde a hora que ele chegou do trabalho eu o estava


enrolando. Aquela mulherzinha não poupou esforços para ser

desagradável, e saber que ela trabalha diariamente ao lado do


Rhuan desperta em mim um ciúme possesso.

— Precisamos falar sobre isso mesmo? — Acena que sim. —


Tá bem. Eu estava aguardando sua secretária encerrar uma ligação
para que anunciasse a minha presença, porém, do nada a Liliane
chegou e começou a agir de forma estranha. Para ser sincera, ela
parecia querer mostrar posse, tanto que se apresentou como
Diretora de marketing.

Respiro fundo, lembrando da cara de antipática que ela dirigiu


a mim.
— Em momento nenhum ela pareceu simpática, pelo contrário,
estava na cara que não tinha gostado de mim. Poucos segundos
antes de você chegar eu tinha me apresentado como sua
namorada.

— Então esse foi o motivo de toda tensão?

— Basicamente, sim. Ela não escondeu que não gostou de


mim. Mas não me preocupo com isso, até porque, a recíproca é
verdadeira.

Sorrio, vendo o Rhuan tentando esconder o sorriso. Aposto


que está pensando que tudo isso foi por ciúmes, mas eu não agiria
assim se não fosse aquela sem sal.

— Vou conversar com a Liliane. Também não gostei da atitude


dela. Ela teve sorte que estávamos apenas nos aquecendo, pior
seria se nos pegasse sem roupa — diz, gargalhando logo em
seguida.

— Aí se apaixonaria de vez. Acho que você não é cego, deve


ter percebido o interesse dela por você.

— Ela pode se interessar quantas vezes quiser, mas eu só


tenho olhos para minha chef de cozinha gostosa pra caramba. Por
que eu olharia para outra mulher?
Na velocidade da luz, Rhuan caminha em minha direção,
parando logo atrás de mim. Seus lábios atacam o meu pescoço,
fazendo meu corpo inteiro se arrepiar com seu toque. Ele passa a
sussurrar palavras ao meu ouvido, sua voz rouca deixando tudo
mais delicioso e intenso.

— Como posso me interessar por outra mulher, quando tenho


a melhor de todas ao meu lado? — fala, passando a ponta dos
dedos por meus ombros, indo direto para os meus seios. — Seus
beijos são todos meus. Sou eu que detenho todos os seus gemidos
de prazer. Meu coração bate descompassadamente quando estou
ao seu lado. Acha mesmo que eu olharia para outra mulher?

— N-ãaaao. — A intensidade de seu toque é tão grande, que


quase não consigo falar uma simples palavra.

Desde que voltamos do Canadá nós não nos separamos. É


incrível como eu senti falta desse homem. E pensar que por pouco
quase o perdi. Como eu me arrependeria dessa loucura.

— Estou pensando se começo por aqui... — Distribui beijos por


todo meu pescoço — ou talvez por esse lado. — Suas mãos
passeiam por dentro da minha coxa. — Já sei! Seus lábios são o
caminho perfeito.
Dito isso, Rhuan toma meus lábios em um beijo intenso e
carregado de desejo. Suas mãos passeiam avidamente por todo
meu corpo, e como não sou imune a ele, aproveito para tocar cada
pedacinho do seu corpo másculo e extremamente delicioso. Não sei
explicar bem o que está acontecendo, mas tem uma verdadeira
guerra de línguas acontecendo nesse momento. Esse homem é tão
viciante e agradeço por ele ser todo meu.

Com muito custo nos separamos, nossa respiração está


acelerada, um forte indicativo da intensidade do momento.

— Por que me sinto tão viciado em você? — pergunta em um


sussurro, beijando meu pescoço.

— Não sei explicar, mas compartilho do mesmo sentimento.


Sinto como se cada vez que ficamos juntos não fosse suficiente
para esse louco desejo — falo, necessitada, ansiando por suas
mãos em meu corpo.

— Eu te quero tanto, Jade.

Vejo o desejo estampado em seus olhos, o que não deve ser


diferente dos meus. Caminhamos e paramos no meio da sala, o
desejo é tanto que o quarto nesse momento parece muito longe.
Nossas roupas são arrancadas em questão de segundos de nossos
corpos e fazemos o que necessitamos urgentemente. Nos
entregamos ao desejo carnal de nossos corpos.
Capítulo Trinta e Um

Jade

Os dias passam voando e será nesse fim de semana a


inauguração do restaurante. Graças a Deus minha equipe é
maravilhosa, nos demos tão bem que já temos todo o planejamento
do cardápio de amanhã, só vamos precisar colocar em prática
mesmo. Rhuan viajou a negócios, está abrindo mais uma filial no
Nordeste. Eu queria ter ido com ele, no entanto, nossas agendas

entraram em choque.

Pensei muito e decidi que preciso resolver de uma vez por


todas essa história com a minha irmã. Rhuan não gostou muito da
ideia de eu ir à delegacia, porém, é necessário para que encerre de
vez esse capítulo da minha vida e possa finalmente viver em paz.

As meninas se dispuseram a me acompanhar, só que eu


preciso fazer isso sozinha. Por esse motivo estou na recepção da
delegacia, aguardando apenas a liberação da minha visita. O lugar
não é tão nojento como mostra na televisão, talvez seja o fato de
não ser um presídio. Não entendi muito bem, mas o advogado disse
que ela ainda vai ficar mais uns dias aqui.

— Senhora, Jade — um policial chama minha atenção. — Me


acompanhe, por favor. Sua irmã já está a sua espera.

Aceno e sigo seus passos, passando por um corredor frio e um


pouco assustador. Vejo minha irmã sentada. Ou pelo menos se
parece com ela em uma versão mais magra. Agradeço ao policial e
entro na sala, parando em frente a Luc. Ela levanta o olhar e vejo o
quão diferente está a minha irmã. Seus olhos castanhos estão
opacos e sem vida, os cabelos que antes eram admirados estão
curtos e pintados de preto.

— Oi, Luc — digo, sentando a sua frente. — Quanto tempo,

não é mesmo?

— Sabe que achei estranho quando o policial me falou seu


nome?! De todas as pessoas, você foi a última a passar por minha
mente. — Seu tom de voz é áspero, mostrando que não está
contente com minha visita.
— Esse não é o lugar que eu gostaria de entrar, porém,
precisava ver com meus próprios olhos a mulher que você se
tornou. Me diga, há quanto tempo você e o Carlos estavam me
chifrando?

— Irmãzinha, você sempre foi muito ingênua, não tinha nada


mais gostoso do que transar com o seu namorado. Melhor ainda
quando era na sua cama. — Sorri, se vangloriando com a situação.
— Quando você ia para a faculdade, Carlos me fazia algumas
visitinhas. Já estávamos fazendo planos com o casamento de
vocês, seria uma delícia tê-lo todos os dias na minha cama. Aposto
que você nunca perceberia.

A gargalhada que ela solta é alta, o que faz meu estômago


embrulhar. É difícil fazer meu cérebro assimilar que essa mulher fria
seja a mesma Luc que eu cuidava com tanto carinho.

Em que momento eu perdi minha irmãzinha para essa mulher?

— Se estava tão cômodo para você, por que foram embora?


— questiono, tentando ainda assimilar suas palavras.

— O Carlos recebeu uma proposta para participar de um


esquema grande, colocamos na balança o que seria melhor para
nós dois. No fim achamos melhor ir embora, tinha muito dinheiro
envolvido — fala como se fosse uma proposta de emprego, não um
roubo.

— Então você virou assaltante?

— Se eu pudesse voltar no tempo faria tudo diferente, tomaria


mais cuidado para não ser pega — diz com tanta naturalidade que
parece ser normal. — Tinha muito dinheiro envolvido, Jade. Aposto
que não iria fazer diferença para os donos dos caminhões, eles são
podres de ricos.

— Você tinha um futuro belíssimo pela frente, Luc. Se envolver


com coisas erradas não deveria passar pela sua cabeça. Sabe dos
riscos que estava correndo? Imagine se nossa vozinha estivesse
viva... Já pensou no desgosto que ela sentiria?

— Não sejamos hipócritas. Todo mundo sabe que a vó só


ligava para você. Não importava o que eu fizesse, nunca estaria aos
pés da Jade Oliveira, a neta preferida. — Isso não é verdade, nunca
teve essa distinção entre nós. — Você sempre foi a mais bonita,
estudiosa, tinha os melhores namorados e tem uma profissão
estável. E eu? Quem é Luciana Oliveira?

— Você teve as mesmas oportunidades que eu, estudou na


mesma escola, frequentou os mesmos cursos e até tínhamos os
mesmos grupos de amigos. Não queira culpar ninguém pelo seu
fracasso, nada disso é motivo para se meter com coisa errada.
Adiantou alguma coisa toda essa adrenalina? Agora você está sem
dinheiro, longe do Carlos e presa.

Ela não diz nada, então continuo:

— Vida do crime só leva a pessoa para dois lugares: debaixo


de sete palmos de terra, ou atrás das grades. Você tinha tudo para
ter um bom emprego, uma casa e até uma familia. Mas optou pela
decisão errada.

— Nada disso é importante para mim. O que vale é que tirei de


você aquilo que mais amava, o Carlos. — Ela tem os olhos fixos nos
meus e o ódio que sinto em sua voz também está presente em seu
olhar.

— Pelo contrário, eu preciso agradecê-la. Você me mostrou


que eu não amava de verdade o Carlos. No fundo eu estava com
ele apenas por comodismo. Minha vida mudou muito, tive altos e
baixos, mas encontrei o homem da minha vida, esse sim eu amo
com todo o meu coração. — O sorriso dela some na hora. Acho que

ela queria me ver sofrer, mas isso não vai acontecer. — Quando
vozinha falava de destino, lembro que você sempre falava que era
besteira. Você pode não acreditar, porém, ele existe e sou prova
viva disso. Hoje eu tenho um namorado incrível, que me ama acima

de tudo. Sabe a coincidência da vida? Ele é dono da empresa a qual


vocês roubaram três caminhões.

— O dono da empresa de cosméticos? — Ela arregala os


olhos, em choque.

— Esse mesmo. E eu só tenho que te agradecer, porque o


Rhuan Guilherme é o amor da minha vida. Se não fosse sua
apunhalada pelas costas, não o teria conhecido. Então, muito, muito
obrigada, Luc.

Levanto-me da cadeira, indo na direção da porta.

— Aqui eu encerro de vez essa página da minha vida! Me dói


dizer isso, mas você não faz mais parte dela. Boa sorte, irmãzinha.

Saio sem olhar pra trás. Ouvir palavras tão duras da Luc me
fez mal, porém, eu não poderia fraquejar diante dela. Foi difícil, mas
importante. Hoje encerro de vez esse capítulo triste da minha vida.
Luciana fez suas escolhas, agora está apenas colhendo as
consequências.
Capítulo Trinta e Dois

Rhuan Guilherme

Hoje estamos completando dois anos de namoro e posso dizer


que foram os melhores momentos da minha vida. Não consigo
enxergar a minha vida sem a presença dela. Jade é a mulher que
sempre pedi a Deus, com isso não vejo motivos para adiar o tão
esperado pedido de casamento. Suas amigas vão me ajudar com o
plano. Não conseguiria sem a colaboração das meninas.

Enviei uma mensagem pedindo que ela me encontre no


restaurante do Fabricio e espero que não desconfie de nada, ou que
nenhuma das meninas acabe dando com a língua nos dentes.
Pensei muito em como seria o pedido, acho que um simples jantar
não combina muito com a gente. Meu amigo fechou o restaurante
hoje, nos dando mais privacidade para o momento.
Já estamos perto do horário combinado e pego meu celular
bem na hora que ela manda uma mensagem avisando que está
chegando. Os minutos vão passando e fico mais nervoso, o medo
de ela não aceitar martelando em minha cabeça, mesmo sabendo
que essa não é uma possibilidade. Ou pelo menos eu espero. Sei o
quanto ela me ama, isso deveria ser o suficiente para minha
ansiedade.

— Se você não parar de andar em círculos um buraco vai se


abrir nesse chão — Lorena diz, rindo do meu nervosismo.

— Não sei por que ele está nervoso desse jeito. Todo mundo
sabe que Jade tem os quatros pneus arriados por você — Camila
diz, tomando um pouco de sua bebida.

— Não são muitas as vezes que concordo com a Camila, mas


dessa vez ela está certa. — Michele tem um sorriso amigável, e
talvez eu tenha me acalmado um pouquinho. — Não se preocupe.
Jade é louca por você, pode ter certeza que ela vai aceitar o seu
pedido, Rhuan.

— Eu realmente espero, meninas. Não pensei que fosse ficar


tão nervoso.
Fabricio me ofereceu uma bebida forte, peguei de suas mãos e
tomei tudo em um único gole, acalmando-me um pouco. O tempo
todo venho tentando me convencer de que ela vai aceitar o pedido,
não tem nenhum empecilho que possa nos atrapalhar. Graças a
Deus ela encerrou de vez o capítulo da Luciana, acho que no fundo
elas precisavam ter uma conversa franca, e foi justamente o que
aconteceu.

— Eu já falei que odeio o trânsito de São Paulo? — Jade entra


no restaurante, nos pegado de surpresa. Ela está lindíssima, seus
cabelos que tanto amo estão soltos, o vestido preto casando
perfeitamente com suas belíssimas curvas. Se essa mulher não é a
mais linda do mundo, eu não sei quem é.

— Oi, amor — digo, tomando seus lábios em um beijo.

— Oi, Rhuan. — Ela sorri, mostrando seu sorriso que eu amo.


— Já até esqueci o estresse causado pelo trânsito. Só de ficar ao
seu lado meu humor já melhora cem por cento.

— Não sabe como fico feliz de ouvir isso, minha Jade. —


Coloco a mão em sua cintura, conduzindo-a para perto dos nossos
amigos.
Ela cumprimenta a todos com muita alegria, o costumeiro jeito
Jade de ser. Fico um bom tempo observando a minha mulher, seu
sorriso encantador, a forma amorosa como trata todos e,
principalmente, o jeito que demonstra seu amor por mim. Quando
menos espero, já estamos terminando nosso jantar. O clima de
descontração é bem evidente e, finalmente, chega o momento tão
esperado por mim.

As meninas pedem um drink para o garçom, que já sabe o que


deve fazer. Quando falei o que tinha em mente, elas começaram a
aplaudir e disseram que a ideia era maravilhosa, então espero que
seja mesmo. Quero surpreender a minha Jade.

— Amiga, você precisa provar esse drink — Camila diz,


oferecendo a bebida.

— Estou bebendo cerveja, sua louca. Não vou misturar as


bebidas. — Jade me dirige o olhar e vejo desejo estampado neles.

— Então prova o meu. O teor de álcool é baixo — Lorena


oferece, entregando a taça para Jade.

Já sabíamos que ela negaria de primeira, por isso invertemos


as posições.

No drink da Lorena tem a palavra “Aceita”.


No da Camila temos “Casar”.

E por último, mas nem menos importante, temos a Michele


com a palavra “Comigo?”.

As meninas posicionam os drinks estrategicamente à frente da


Jade, que olha confusa para as amigas, e assim que percebe dirige
o olhar para mim. Afasto-me da cadeira, ajoelhando no chão, e tiro
uma caixinha do bolso e mostro um lindo solitário com um pequeno
diamante no centro. Nesse momento Jade tem o rosto banhado em
lágrimas, e pela primeira vez desde que pensei nisso, vejo que foi

uma ideia acertada.

— Rhuan... — Uma simples palavra sai entrecortada por conta


das lágrimas que lhe atingem.

— Minha Jade, eu amo tanto você. Eu não sabia que estava a


sua espera, até o dia que você apareceu na minha vida. Não
consigo enxergar meu futuro se você não estiver ao meu lado.
Quero passar dez, vinte, trinta anos ao seu lado. Muita gente pode
não entender a intensidade do nosso sentimento, no entanto, só nós
sabemos a força do nosso amor. — Respiro fundo, tentando
controlar a emoção. — Quero acordar todos os dias ao seu lado, ter
você em meus braços, te amar e proteger para o resto de nossos
dias.

Com a mão livre seco as lágrimas que molham meu rosto.

— Você é a minha vida, e é ao seu lado que quero ficar. Então,


Jade Oliveira, você aceita se casar com um homem complicado,
confuso, mas que te ama muito?

— Meu Deus, Rhuan! Juro que não estava esperando tanta


emoção essa noite. Como posso negar, se é em seus braços que
quero passar o resto dos meus dias? Você não imagina o quanto
sou feliz ao seu lado, meus dias ganharam mais brilho, cor e sabor.
— Ela se abaixa e cola nossos lábios, o salgado de nossas lágrimas
deixando tudo mais especial. — Sim, mil vezes sim!

Nossos amigos aplaudem, animados. Com cuidado coloco a


aliança em seu dedo, beijando-a logo em seguida. Levanto e a pego
nos braços, girando-a pelo salão. Nossos lábios se encontram para
selar em grande estilo esse momento. Jade é tudo que eu mais amo
nessa vida, e não vejo a hora de ela ser oficialmente minha mulher.

— Eu te amo, Rhuan Guilherme. Te amo com toda força do


meu coração.
A ansiedade e o medo vão embora, deixando apenas a
felicidade e a certeza da escolha certa. E aqui, diante de nossos
amigos, agradeço a Deus por ter escolhido a mulher certa para mim.

Minha Jade! O brilho de todos os meus dias!


Capítulo Trinta e Três

Jade

Ainda estou em êxtase, não tem como deixar de admirar esse


lindo anel que brilha em meu dedo. Não tínhamos combinado nada
especial para hoje, todos as vezes que perguntei Rhuan dizia que
jantaríamos com nossos amigos e pronto. Esse homem não cansa
de me surpreender, isso faz com que eu o ame mais e mais. Foi
tudo muito rápido, então não tivemos tempo de conversar.

Não quero que nosso casamento demore muito, já estou


ansiosa para me tornar oficialmente sua esposa. A senhora Jade
Oliveira Alencar.

São cinco da manhã, Rhuan dorme serenamente, com um


tímido sorriso estampado, o que faz com que meu coração fique
aquecido. Tanta coisa aconteceu de dois anos pra cá, e pela
primeira vez estou sendo apenas feliz. A mídia não se refere a mim
como irmã da assaltante, agora sou Jade Oliveira, chef de cozinha e
namorada do Rhuan Guilherme, o todo poderoso da RGA.

Sabe quando você sente que chegou o seu feliz para sempre?
Pois bem, é assim que estou me sentindo. Tenho amigos
maravilhosos que são como irmãos, me tornei amiga do Fabricio e
tenho um noivo que me mima de todos as formas que se possa
imaginar.

Amo o Rhuan com toda força do meu coração, ele é como o ar


que eu respiro, essencial para a minha vida. Tivemos alguns
desencontros durante o caminho, mas no fundo eu sempre soube
que era pra ser. Eu sou toda dele, e o Rhuan é todo meu.

Resolvi fazer uma visita para o meu noivo — palavra que se

tornou minha predileta. Cumprimento a recepcionista e entro no


elevador, as portas estão se fechando quando escuto um pedido
para segurá-la. Em questão de segundos entra a Liliane, e seu
soubesse que era ela não teria ajudado.

— Olha... se não é a golpista — diz, me olhando de cima


abaixo.
Por um momento penso ter escutado errado, mas o sorriso
cínico não nega. Faço de conta que não estou ouvindo, sei que ela
quer me provocar, no entanto, não vou cair em seu jogo.

— Não finja que não escutou. Sei que sua audição é perfeita
— insiste em me provocar.

— Não vou cair nesse joguinho de infantilidade, Liliane.

— Todo mundo já está sabendo do seu noivado. A imprensa


anunciou esse golpe histórico. O que você fez para conseguir se
casar com ele?

— Sério que está me perguntando isso? Talvez você não


saiba, mas existe algo chamado sentimento. Rhuan e eu nos
amamos, temos um relacionamento, nada mais justo que nos
casarmos. — Me aproximo, ficando rente ao seu rosto. — Não seja
tão mal amada desse jeito. Não é porque o Rhuan não quis você,
que estou dando qualquer tipo de golpe.

Depois de um século o elevador finalmente chega ao seu


destino. Ela não ousou falar mais nada. Cumprimento a secretária
do Rhuan, que libera rapidamente minha entrada.

— Não gosto de tomar essas atitudes — falo, chamando a


atenção do Rhuan e fechando a porta logo em seguida. — Essa
situação só tende a piorar, então eu quero que você demita a
Liliane. Essa mulher é maluca e precisa de um psicólogo com
urgência.

Foram poucos minutos, mas ela tirou minha paciência.

— O que aconteceu, amor? — indaga ele, me abraçando.

— Encontrei com ela no elevador e a cara de pau teve a


audácia de falar que estou dando um golpe. Ela nem me conhece,
como pode tirar conclusões precipitadas?

— Não ligue para o que ela diz. Sabemos que não é nada
disso. Vou conversar com o RH e verei o que é melhor para as duas
partes.

— Obrigada. — Beijo seus lábios, sentindo um forte e delicioso


sabor de café.

— Mudando de assunto... — Senta-se no sofá, me puxando


para seu colo. — A que devo a honra da visita da noiva mais linda
desse mundo?

— Fiquei com saudade do meu noivo. Como estou de folga,


pensei que seria bom te fazer uma visitinha.

— Você sempre tem as melhores ideias, amor. — O sorriso


que tanto amo está presente, deixando-me mais encantada.
Seguro o rosto dele com as duas mãos, colando nossos lábios.
O beijo é calmo e delicado, exploro cada pedacinho de sua boca,
sentindo uma mistura deliciosa de Rhuan Guilherme e café.

— Meus pais chegam amanhã — Rhuan conta assim que nos


afastamos.

Pulo de seu colo na hora.

Apesar de conversar sempre com meus sogros pelas redes


sociais, não é a mesma coisa que os encontrar pessoalmente.

— Eles vão ficar lá em casa?

— Amor...

— Que pergunta idiota! É claro que eles ficarão na sua casa —


falo, andando de um lado para o outro. — Precisamos limpar a casa,
abastecer a dispensa...

— Jade, respire. Apenas respire. — Ele me segura pela


cintura. — Não precisa se preocupar com essas coisas. Eu queria
que eles ficassem com a gente, mas insistiram que não querem
atrapalhar nossa privacidade. Então vão ficar em um hotel, a única
coisa com que você precisa se preocupar é em fazer um jantar
delicioso. Nesse quesito minha mãe é bem exigente.
— Tenho que ir para casa. Já pensarei desde hoje no cardápio.
Não posso deixar minha sogra pensando que não sei cozinhar! Que
espécie de chef eu seria? — digo, nervosa, andando de um lado
para o outro.

— Amor, se tem uma coisa que você sabe fazer


maravilhosamente bem, é cozinhar. Então terá tempo de sobra para
pensar em um cardápio. Agora, creio que não seja uma boa ideia
deixar seu noivo sozinho.

Rhuan caminha até a porta, passando o trinco nela. O sorriso


que brinca em seus lábios já diz tudo, e no mesmo instante a minha
preocupação some. Não tem nada mais prazeroso do que ser
desejada e amada por esse homem.

Sem perder tempo, me aproximo dele lentamente, sem desviar


os olhos desse homem maravilhoso. Seguro seu rosto com as duas
mãos, beijando os lábios dele. Sua língua rapidamente pede
passagem, elevando o beijo para um outro nível. Sendo movida pelo
desejo, começo a desabotoar os botões de sua camisa, ansiando
pelo que está por vir. Nos afastamos por um momento para que
Rhuan possa tirar o meu vestido, e como se estivesse prestes a me
devorar, ele abre lentamente o zíper e fico completamente exposta a
sua frente.
— Puta merda, Jade! Precisava sair de casa sem sutiã? —
murmura, tomando meus seios em sua boca.

— Claro que precisava! Eu queria fazer uma surpresa para o


meu lindo noivo. — Sorrio, mordendo lentamente seu lábio inferior.

— Se sua intenção era me deixar louco, parabéns, você


conseguiu. — Beija-me de forma intensa e tenho certeza de que
meus lábios ficarão vermelhos.

Intercalando entre beijos no pescoço e leves mordidas, Rhuan


me pega nos braços, colocando-me no sofá. Fixo meus olhos nos
seus, o desejo estampado neles não é nada diferente dos meus.
Esse homem desperta em mim os mais intensos desejos, além de
não me deixar ter dúvidas do quanto o amo.
Capitulo Trinta e Quatro

Jade

Nunca fiquei tão nervosa como hoje.

Meus sogros chegaram, e por um momento pensei que fosse


ter um treco e cair dura na frente deles. Rhuan Guilherme é filho
único e meu receio é que minha sogra ache que estou o roubando
dela. Infelizmente, muitas sogras pensam desse jeito. Não quero
que esse seja um motivo para brigarmos.

O jantar ocorre superbem, seu Carlos nos faz rir o tempo todo.
Eu já imaginava que ele era divertido, mas a confirmação é perfeita.
Não sei dizer se é coisa da minha cabeça, no entanto, dona Lucia
não está sendo participativa na conversa, ela parece bem longe.

Rhuan e o pai vão para o escritório, nos deixando sozinhas.


Tenho receio de me aproximar, porém, sinto que tenho que
conversar com a minha sogra.
— Não precisa se preocupar com a louça, dona Lucia — digo,
no mesmo momento que ela se aproxima da pia. — Pode deixar que
limpo tudo em um minuto.

— Você já preparou o jantar, não vejo motivos para deixá-la


limpar tudo sozinha. Eu lavo e você guarda os pratos, pode ser?

Penso por alguns segundos e vejo que não vai adiantar eu


insistir.

— Tudo bem, então.

Rhuan e eu conversamos, vamos aproveitar que seus pais


estão aqui para adiantar nosso casamento. Ele, assim como eu, não
encontrou motivos para adiar a data. Moramos juntos há uns seis
meses, e de tanto ficarmos na casa um do outro, decidimos que o
melhor seria dividir o mesmo teto. É claro que a vida a dois não é
um mar de rosas, mas aos poucos vamos adequando nossa rotina.

Vendi o meu apartamento e coloquei o dinheiro em uma


poupança. Não foi pouco, mas ainda não é o suficiente para a
abertura do meu restaurante. Sei que poderia pedir ajuda ao Rhuan,
no entanto, quero fazer isso por conta própria, mesmo que demore
anos.

— Como você e meu filho se conheceram?


— Nos conhecemos no restaurante do Fabricio. Eu estava
comemorando o fato de ter sido escolhida para preparar todo o
cardápio da inauguração da nova loja. Logo ele se apresentou e
descobrimos a coincidência.

Ainda me espanto com as coincidências dessa vida. Se


alguém me dissesse que naquele dia eu conheceria meu grande
amor, com certeza não acreditaria.

— E então vocês começaram a namorar?

— Na verdade, não. Demorou um pouquinho até que a gente


se envolvesse. Eu tinha medo do que as pessoas poderiam achar,
ainda mais que eu tinha recém saído de um relacionamento e o fato
da nossa diferença social.

— Mas o meu filho nunca ligou para isso. Se ele pudesse


passava despercebido por todos — comenta, entregando-me alguns
talheres.

— Sim, não demorou para que eu percebesse isso. — Um dos


motivos de eu amar esse homem. — Acredito que a senhora tenha
visto as matérias que saíram a meu respeito. Ter meu nome ligado
ao da minha irmã foi doloroso. Na minha cabeça, o melhor era me
afastar do seu filho, então passei pouco mais de um mês fora do
Brasil. E mais uma vez o destino me surpreendeu.

— Como assim te surpreendeu? — Ela parece bem


interessada no assunto, me pergunto se o Rhuan não contou sobre
isso.

— Eu fui para o Canadá. Arrumei um emprego em um


restaurante por lá. A senhora acredita que o Rhuan foi jantar lá? —
Ela me olha em choque, deixando até a louça de lado. — Com
milhares de restaurantes, ele tinha que ir justamente onde eu estava
trabalhando. Conversamos e ele me deu um ultimato de que
esperaria por mim no aeroporto na manhã seguinte, e caso não
aparecesse ele seguiria com sua vida.

— E se vocês estão noivos, é sinal de que foi.

— Deu um trabalho, sogra... — Lembro bem do medo que


senti nesse dia. — O trânsito não colaborou comigo e cheguei
atrasada no aeroporto. O painel mostrava que o voo para o Brasil
tinha decolado, comecei a chorar só de pensar na ideia de ele ter
ido embora pensando que eu havia desistido de nós. Deus não nos
desamparou e Rhuan não tinha entrado no avião.
— Imagino a emoção que você deve ter sentido. Eu, no seu
lugar, iria sentar e chorar, a única coisa que estaria ao meu alcance.
— Agora podemos rir da situação, mas no dia foi sofrido. — Eu fico
feliz de o meu filho ter encontrado uma mulher como você. Qualquer
um percebe o quanto você o ama, isso está nítido quando você fala,
seus olhos ficam brilhando.

— Sim, eu amo demais o seu filho. Ele foi minha chance de


recomeçar, o presente que Deus me deu.

— Não vou negar que no começo eu tive receio dessa relação.


Quando fiquei sabendo quem era sua irmã, confesso que surtei um
pouquinho. Não queria que meu filho fosse vítima de uma armação.
Mas a cada ligação eu tinha a certeza de que as matérias estavam
erradas. Você é uma menina esforçada, batalhadora, e que merece
o mundo. — Se aproxima, segurando minhas mãos. — Meu filho
não poderia ter feito escolha melhor. Tenho certeza de que vocês
serão muito felizes.

— Muito obrigada, dona Lucia. Não imagina como suas


palavras me tiraram um peso de cima dos ombros. A senhora ficou
tão calada durante o jantar, comecei a pensar que não tinha gostado
de mim e como seria difícil disfarçar isso para o Rhuan.
— Me desculpe, a intenção não era essa. Minha mente às
vezes me leva para longe, fico perdida nos assuntos, então prefiro
ficar quieta.

Depois dessa conversa, terminamos de limpar tudo rápido e


um clima leve se instala entre nós, deixando tudo mais fácil.
Conversamos amenidades, ela me conta algumas histórias do
Rhuan, principalmente do quanto ele gostava de aprontar quando
era adolescente.

— O que as duas mulheres da minha vida tanto conversam?


— Rhuan entra na cozinha, beija o rosto da mãe e me abraça por
trás, beijando meu pescoço.

— Nada que você precise saber, meu filho. Coisas de mulher


— minha sogra diz, piscando para mim.

— Pelo visto vocês se entenderam — ele afirma próximo ao


meu ouvido.

Minha sogra se retira, nos deixando a sós.

— Sim, acho que temos tudo para sermos grandes amigas.


Sua mãe é uma mulher maravilhosa, você tem sorte.

— Tenho que concordar. — Vira-me, nos deixando cara a cara.


— Mas também tenho sorte de ter encontrado você. Como eu te
amo, minha Jade.

Rhuan roça os lábios nos meus, fazendo-me ansiar por um


beijo.

— Eu te amo tanto, Rhuan. Não me cansarei de agradecer por


tê-lo em minha vida. Hoje posso afirmar que você é o melhor de
mim.

Ele não diz nada, apenas cola nossos lábios. O beijo é


delicado, posso dizer que uma amostra dos nossos sentimentos.
Pode passar anos, mas tenho a plena certeza de que sempre o
amarei. Rhuan é minha metade da laranja, aquela que eu tanto
aguardei, mesmo sem saber que eu precisava.
Capitulo Trinta e Cinco

Rhuan Guilherme

Estou tão nervoso, nunca pensei que fosse ficar desse jeito.
Foi um mês de muita adrenalina, mesmo não participando dos
preparativos como gostaria. Jade teve ajuda da minha mãe e
agradeço por isso. Optamos por um casamento apenas para os
íntimos, por isso escolhemos casar na praia de Maresia, no litoral de
São Paulo.

A cerimonialista entra na tenda e diz que está na hora da


minha entrada, a música escolhida é de Bruno Mars - Just the way
you are. A tradução me faz lembrar da minha Jade, por isso, assim
que me disseram que eu precisava escolher, não pensei duas
vezes.

Oh, seus olhos, seus olhos fazem as estrelas parecem que


não está brilhando
O cabelo dela, o cabelo dela, encaixa-se perfeitamente sem ela
tentando
Ela é tão linda, e eu digo a ela todos os dias.

Com os pés descalços, caminho lentamente pela areia coberta


de flores do campo em direção ao altar. Vejo os rostos felizes de
nossos amigos e sorrio alegremente, contente por eles
compartilharem comigo de um dos momentos mais felizes da minha
vida. Lembro que há uns três anos eu tinha desacreditado do amor,
cheguei a pensar que nunca teria um relacionamento, afinal, as
mulheres queriam apenas o meu dinheiro.

Quando menos esperei o destino me presenteou com a minha


Jade, a mulher que habita diariamente todos os meus pensamentos.
É incrível como uma pessoa pode se tornar tão dependente da
outra. Durmo e acordo com Jade em minha mente. O cheiro do seu
shampoo está impregnado no travesseiro, o banheiro é uma
bagunça de maquiagem e minha dispensa sempre está cheia. As
mudanças foram necessárias, e eu faria tudo novamente.

E ao som de Juanes - Para tu amor, vejo a mulher mais linda


desse mundo caminhando em minha direção. Jade está belíssima
em um vestido branco que se arrasta pela areia, que tem um decote
generoso nos seios. Seus cabelos, que tanto amo, estão soltos,
deixando-a mais linda do que já é.

Olho para meus pais e vejo o quanto minha mãe está


emocionada, o que não é muito diferente das amigas de Jade. À
medida que ela vai caminhando, não desgrudamos nosso olhar, e
de longe vejo as lágrimas molharem seu rosto. Estou a todo

momento tentando controlar minhas emoções, mas creio que será


uma batalha perdida. Não tenho palavras para descrever o quão
linda ela está.

— Se tem uma noiva mais linda que você, desconheço


completamente — digo, depositando um beijo casto em seus lábios.

— Você também está muito bonito, senhor Rhuan Guilherme.


— Sorri, entregando o buquê de flores do campo para minha mãe.

O Juiz de Paz dá início à cerimônia, fico feliz que ele não tenha
economizado nas belíssimas palavras. Tenho certeza de que Deus
nesse momento está feliz com nossa união, o momento que tanto
aguardei finalmente se concretizando. A mulher a minha frente sorri
em meio as lágrimas, e as emoções que eu tanto tentei controlar me
atingem em cheio. Lembrar de tudo que nós passamos para chegar
aqui, o medo que senti no aeroporto do Canadá, tudo contribui para
esse momento.

— Podem começar os votos — diz o juiz, um senhor bem

simpático e educado.

Não consegui pensar em nada, deixarei que as palavras saiam


conforme as emoções.

— Como sou um homem educado, primeiro as damas. —


Sorrio, torcendo para que Jade não passe a bola para mim, ainda
não sei o que falar.

— Aposto que você não sabe o que falar — Jade comenta


próximo ao meu ouvido. — Durante nossa trajetória, por conta de
algumas atitudes da minha parte, eu quase o perdi. Hoje, olhando
para o passado, vejo que seria a pior decisão da minha vida. Você
chegou tão de repente, que quando menos esperei já estava
perdidamente apaixonada. — Sorrio em meio as lágrimas que
insistem em molhar meu rosto. — Eu não sabia que estava a sua
espera, até te conhecer e ter a certeza de que você é minha alma
gêmea. Passamos por muitos percalços, no entanto, o amor falou
mais alto e estamos aqui, diante de nossos amigos, selando nosso
amor.
Ela respira fundo, tentando controlar as lágrimas.

— Não tenho palavras para descrever o quanto eu te amo,


mas garanto que estarei ao seu lado para o resto de nossas vidas.
Quando precisar de um ombro amigo, abraço ou um beijo, não
importa a situação, eu estarei fielmente ao seu lado, Rhuan
Guilherme.

Controlar a emoção é em vão. Essa mulher sabe como mexer


comigo. Não tenho palavras para descrever o tamanho do meu
amor por ela, acho que nunca conseguirei colocar em palavras a
imensidão desse sentimento.

— Como posso falar qualquer coisa depois desses votos? —


Passo a ponta dos dedos por seu rosto, limpando suas lágrimas. —
Lembrar de como tudo começou me faz amá-la mais e mais. É
incrível como me encantei com você logo que nos conhecemos. Eu
sentia que você seria minha e fico feliz por hoje estarmos nos
casando. Amo seu jeito menina, amo quando acorda de mau humor
e tenta não descontar em mim sua chateação. Eu estarei aqui para
te amar e proteger para o resto de nossas vidas, e daqui uns anos
quero dizer para os nossos filhos como continua forte e intenso o
meu amor por você.
Seguro suas mãos, trazendo-as para o meu peito.

— Está sentindo essas batidas frenéticas do meu coração? —


Acena que sim. — Todas são por você, a mulher que sempre pedi a
Deus. Obrigado por ser essa mulher maravilhosa. Você chegou com
sua delicadeza e me conquistou por completo, eu te amei naquele
dia e te amarei para o resto de nossas vidas. Não tem lugar que eu
queira estar, senão ao seu lado.

Nossos amigos começam a aplaudir. Me aproximo da Jade e


tomo seus lábios em um beijo delicado, porém, carregado de
desejo. Eu amo tanto essa mulher que chega a doer.

— Depois de votos tão emocionantes, vamos concluir essa


linda cerimônia. Jade Oliveira, aceita Rhuan Guilherme como seu
legítimo esposo, para amá-lo e respeitá-lo até o final dos seus dias?

— Sim, eu aceito!

— Rhuan Guilherme, aceita Jade Alencar como sua legítima


esposa, para amá-la e respeitá-la até o final de seus dias?

— Com toda certeza!

— Pelo que afirmaram diante do Juiz, das testemunhas e dos


demais convidados, em nome da lei, eu os declaro marido e mulher.
Uma salva de palmas é iniciada, e tudo que penso nesse
momento é em beijar a minha esposa. Jade me mostrou o lado mais
belo da vida, se depender de mim, só nos separaremos na morte. O
beijo é intenso, nossas línguas travam uma deliciosa batalha,
fazendo-me desejar por um momento de privacidade com a minha
esposa. Com muito custo nos afastamos e passamos a receber os
cumprimentos dos nossos amigos.

Dançamos, comemos e trocamos muitos beijos. Nos


afastamos um pouco da festa e sentamos na areia, admirando o
belíssimo mar a nossa frente. Jade se aconchega em meus braços
e sorrio com as lembranças de um momento semelhante a esse. O
amor é cheio de facetas, mas, infelizmente, nem todos sabem viver
e aproveitar toda intensidade desse sentimento. Hoje posso respirar
aliviado, pois agora ela é oficialmente minha mulher.

— Obrigada, meu amor. Obrigada por ser o homem da minha


vida.

— Eu te amo, meu anjo.

Como se para selar nosso amor, uma estrela cadente nos


presenteia com sua presença. E para não quebrar a tradição, desejo
que sejamos muito felizes e que a rotina não seja um empecilho
para nós.

FIM.
Epílogo

Jade

Hoje meu dia foi uma completa loucura, as coisas no


restaurante estão indo a todo vapor e eu não poderia ficar mais
orgulhosa. Tem quase um ano que finalmente realizei meu sonho,
deixei o orgulho de lado e aceitei a ajuda do meu marido. Eu vi que
não tinha por que ficar adiando, e se ele podia me ajudar, por que
não aceitar?

Estamos casados há dois anos e são os melhores dias da


minha vida, se assim posso dizer. Rhuan vem se mostrando um
homem maravilhoso, mesmo com todas as reuniões na RGA ele
não deixa de me dar atenção. Tentamos jantar juntos pelo menos
três vezes durante a semana, e o domingo é todo nosso.

É incrível de ver as voltas que a vida dá. Minhas amigas estão


todas em seus respectivos relacionamentos.
A Lorena e o Fabricio foram pais há poucos meses, e eu
ganhei uma linda sobrinha chamada Manuela.

Estamos vivendo em uma constante lua de mel, e com isso as


pessoas não param de nos perguntar sobre filhos. Muita gente acha
que só porque casamos, automaticamente eu preciso aparecer
grávida logo em seguida. Conversamos muito sobre isso e
decidimos que nosso bebê virá quando ambos puderem dar total
atenção ao nosso filho. Lembro claramente desta conversa.

— Claro que quero ter filhos com você. Só acho que podemos
esperar o momento ideal para isso. Hoje eu não poderia me dedicar
integralmente ao nosso filho, e acredito que você também não —
digo, com a cabeça deitada no colo de Rhuan, que alisa meus
cabelos carinhosamente.

— É, você tem razão, uma criança requer tempo e no


momento nenhum de nós tem.

— Sim. Eu sempre sonhei em ser mãe, então quando esse


momento chegar quero me dedicar integralmente ao meu filho.
Quero ser uma mãe presente, levar na escola, ensinar os deveres
de casa e tudo mais.
— Você tem razão, meu amor. Tenho certeza de que chegará
a hora certa para termos uma mini Jade ou um mini Rhuan
Guilherme.

Eu tinha planos de abrir o restaurante, não conseguiria me


dedicar fielmente a uma criança. Além do mais, a RGA cresceu
absurdamente, então o Rhuan passa mais tempo em reunião do que
em casa. Meus sogros foram embora para Salvador logo depois do
nosso casamento, por mais que tenhamos insistido para que
ficassem em SP. Segundo eles, a cidade é muito agitada e preferem
a calmaria.

Hoje decidi que iria cozinhar para o meu maridinho, liguei e


confirmei se viria para casa. Sabe quando você acorda com
saudades? Foi isso que me aconteceu hoje. Ontem cheguei tarde
do restaurante, então quando o Rhuan saiu para trabalhar eu ainda
estava dormindo.

Deixo toda a comida preparada e vou tomar um banho. Quero


estar bem cheirosa quando ele chegar. Não demoro muito no
chuveiro e opto por uma lingerie preta com detalhes em dourado,
por cima uma camisola de seda vermelha. Passo um pouco de
perfume e uma maquiagem leve. Como sei que ele gosta, deixo
meus cabelos soltos e rebeldes.
Sento-me no sofá e com uma taça de vinho aguardo o Rhuan.

Soube que a Luciana saiu da cadeia recentemente, ela não me


procurou e também não fiz questão de ir atrás dela. Infelizmente,
minha irmã colheu apenas o que plantou, ninguém poderia fazer
isso por ela. Nunca mais soube nada do Carlos, também nem me
preocupei em procurar saber.

— O que tanto passa na cabecinha da minha esposa linda? —


Sou surpreendida com um beijo no meu pescoço que me arrepia
inteira.

— Coisas da vida, marido. — Viro-me, puxando-o pela nuca e


beijando ferozmente seus lábios.

— Opa! Isso sim é uma recepção em grande estilo — Rhuan


diz, com um enorme e sedutor sorriso.

— Estava morrendo de saudades de você.

— Compartilho do mesmo sentimento. Passei o dia inteiro com


você em minha mente. Quase joguei as reuniões para o alto e vim
correndo para casa. Eu só conseguia pensar em me perder nas
suas deliciosas curvas.

— Rhuan... eu tinha toda uma programação para essa noite,


mas estou começando a pensar que o melhor será partir para a
última parte. — Sorrio, tentando ser o mais sexy possível.

— Eu acho que poderíamos começar hoje a fazer nosso filho.


Quanto mais a gente tentar, melhor ele vai sair. O que acha?

— Uma ótima ideia. Podemos começar agora mesmo. — Pulo


em seus braços, beijando seus lábios e sentindo o delicioso sabor
do Rhuan Guilherme.

Esse homem é tudo que tenho de mais precioso nessa vida.


Podem passar dez, vinte ou trinta anos. De uma coisa eu tenho
certeza. Continuarei o amando intensamente. Nosso relacionamento
teve muitas pedras no caminho, juntos soubemos conduzir da
melhor maneira possível e eu agradeço imensamente por isso.

— Te amo, minha Jade — Rhuan diz, me segurando nos


braços.

— Eu também te amo, Rhuan Guilherme — declaro, circulando


minhas pernas ao redor de sua cintura, prendendo seu corpo ao
meu.

Minha vida ao lado do homem que amo está apenas


começando, e aproveitarei com unhas e dentes cada segundo ao
seu lado. Rhuan Guilherme é o recomeço que sempre pedi a Deus,
e nunca serei grata o suficiente por isso.
Eu amo esse homem e ele me ama com a mesma intensidade!
Agradecimentos

Quero agradecer primeiramente à Deus, por tudo que tem feito


por mim, à minha familia e amigas que sempre me apoiam, com
seus conselhos e puxões de orelha. E a você, leitor. Por me
acompanhar em mais uma obra, que foi escrita com tanto amor e
carinho.

Acho que é isso. Serei eternamente grata por me


acompanharem, até a próxima!
Confira os outros livros da
autora

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Sobre a Autora

Lis Santos é baiana, tem 23 anos e iniciou o gosto pela leitura


através de cinquenta tons de cinza. Apaixonada por séries, procura
sempre ter um tempo de colocar os episódios em dia. Resolveu se
arriscar na escrita em 2016, tendo seu primeiro ebook publicado na
Amazon em 2017 e lançamento do físico no ano seguinte. Com
mais de 13 títulos na plataforma, drama, superação e romances
leves são temas que marcam suas histórias.

INSTAGRAM: @autoralissantos

https://www.instagram.com/autoralissantos/?hl=pt-br

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